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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
FERNANDO LUIS CAZAROTTO BERLEZZI
FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO BÁSICA PARA
USO DE LINGUAGEM HÍBRIDA: A IMPORTÂNCIA DO ROTEIRO DE
AUDIOVISUAL NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
SÃO PAULO
2017
2
FERNANDO LUIS CAZAROTTO BERLEZZI
Formação de professores de Educação Básica para uso de
linguagem híbrida: a importância do roteiro de audiovisual no
processo de ensino-aprendizagem
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura.
Orientadora: Prof.ª Dra. Cláudia Coelho Hardagh
SÃO PAULO
2017
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DEDICATÓRIA
Aos meus primeiros educadores, meus pais:
Ivo e Neiva.
“Ouça, meu filho, a instrução de seu pai e não despreze o ensino de sua mãe”.
(Provérbios 1:8)
“Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor teu
Deus te dá”. (Êxodo 20.12, o quinto mandamento bíblico)
Ao meu amor:
Camila
“Mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede ao de rubis”.
(Provérbios 31.10)
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AGRADECIMENTOS
A Deus, o grande autor e primeiro professor do universo, o qual me ensina a viver a
cada dia, para realizar meu propósito neste mundo.
Ao Instituto Presbiteriano Mackenzie pela bolsa de estudos.
À Prof.ª Dra. Cláudia Coelho Hardagh, por toda a parceria e disponibilidade. Por
acreditar em mim e na proposta de que o audiovisual possa contribuir de fato com a
educação.
Agradeço ao Prof. Dr. Fred Izumi Utsunomiya, que tem acompanhado minha
trajetória como aluno-pesquisador desde a graduação e contribuiu muito com seus
apontamentos durante a banca de qualificação.
À Prof.ª Dra. Ana Maria Di Grado Hessel por sua contribuição durante a qualificação,
que ajudou muito no rumo desta dissertação.
Aos Professores Dra. Fernanda Nardy e Dr. Célio Martins da Matta pela
oportunidade de realizar o estágio docente em suas disciplinas.
Aos meus colegas de trabalho da “TV Mackenzie” pelo aprendizado profissional que
pude obter e que certamente contribuíram para a reflexão do tema.
A Prof.ª Dra. Maria de Fátima Ramos de Andrade, coordenadora do projeto de
pesquisa “Animando com massinha”, que me forneceu informações que contribuíram
também nesta dissertação.
A todos os colegas e professores do Programa em Educação, Arte e História da
Cultura pelas indicações, reflexões e contribuições neste trabalho.
Ao meu amor, Camila, pelos momentos de paciência, por minha ausência e pelo
incentivo a todo instante para a conclusão desta pesquisa.
Aos meus pais, familiares e amigos, padrinhos e madrinhas pela torcida e ajuda.
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Mesmo onde há ouro e rubis em grande quantidade,
os lábios que transmitem conhecimento são uma rara
preciosidade.
(Provérbios 20.15)
8
RESUMO O desenvolvimento das Novas Tecnologias de Comunicação e Informação, a
convergência de mídias e hibridização do ensino tem provocado mudanças no
campo educacional e em especial no processo de ensino-aprendizagem. Várias
iniciativas nesse campo têm-se utilizado de videoaulas e de outros tipos de
produções audiovisuais para substituir a abordagem tradicional de ensino centrada
na alfabetização textual e imagens representadas por livros didáticos e apostilas.
Propomos mostrar a importância do professor neste contexto de mudanças e a sua
apropriação da linguagem audiovisual para torna-la parte de sua estratégia de
condução pedagógica em suas aulas. O estudo apresentado para obtenção do grau
de mestre propõe fazer uma breve reflexão a respeito da importância da linguagem
audiovisual, do roteiro e a linguagem híbrida como recurso narrativo para
sistematização das ideias e como forma de traduzir o currículo escolar. Realizamos
uma pesquisa inicial que revelou necessidades dos docentes em desenvolver essas
habilidades, por isso a segunda parte da pesquisa procura valorizar o professor e
aluno, ambos em formação, como autores da produção audiovisual por meio de
trabalho colaborativo, uma vez que ambos podem compartilhar aprendizados
diferentes com a mudança de papel de consumidor para produtor e de aluno
receptor como produtor e colaborador na produção das aulas. A roteirização é parte
crucial nesse processo e o desenvolvimento do roteiro com objetivo educacional
requer uma preocupação pedagógica além da comunicacional para desenvolver
criatividade, sequencia e coerência de ideias, valorização estética, enfim categorias
que podem ou não emergir na segunda fase da pesquisa com professores e alunos.
Palavras-chave: formação de professores, roteiro para audiovisual, linguagem audiovisual.
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ABSTRACT The development of New Technologies of Communication and Information, the
convergence of media and hybridization of teaching has brought changes in the
educational field, especially in the teaching-learning relationship.Several initiatives in
this field have used video classes and other types of audiovisual productions field to
replace the traditional teaching approach focused on the textual literacy and images
represented by didactic and handouts books. We propose to show the importance of
the teacher in this context of changes and their appropriation of the audiovisual
language to make it part of their strategy of pedagogical conduction in their classes.
The study presented to obtain the master’s degree proposes to make a brief
reflection on the importance of the audiovisual language, the script and the hybrid
language as a narrative resource for systematization of ideas and as a way of
translating the school curriculum. We conducted an initial research that has shown
the needs of teachers in developing these skills, so the second part of the research
seeks to value the teacher and student, both in formation, as authors of audiovisual
production through collaborative work, since both can share learning different from
the change of role from consumer to producer and from student to receiver as
producer and collaborator in the production of classes. Role-play is a crucial part of
this process, and the development of the script for educational purposes requires a
pedagogical concern beyond communication to develop creativity, sequencing and
coherence of ideas, aesthetic appreciation, and finally categories that may or may not
emerge in the second phase of research with teachers and students.
Keywords: teacher training, script to audiovisual products, audiovisual language.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Escola Estadual República da Bolívia.......................................................58
Figura 2 – Logo do Projeto Animando com Massinha................................................58
Figura 3 – Crianças em atividades do Núcleo de Educomunicação..........................98
Figura 4 – Crianças em oficinas do Núcleo de Educomunicação..............................99
Figura 5 – Projeto Rede Media e Literacia...............................................................105
Figura 6 – Idade.......................................................................................................110
Figura 7 – Sexo........................................................................................................111
Figura 8 – Atuação docente.....................................................................................112
Figura 9 – Carga horária semanal...........................................................................114
Figura 10 – Atuação Profissional além da docência................................................114
Figura 11 – Consumo de produtos audiovisuais......................................................115
Figura 12 – Estímulo aos alunos para o uso de tecnologia nômade como
ferramentas educacionais.....................................................................116
Figura 13 – Uso de YouTube para preparar aulas...................................................117
Figura 14 – Interesse na formação audiovisual.......................................................125
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Desenvolvimento das Oficinas................................................................59
Quadro 2 – Trabalhos de Pós-Graduação sobre uso do audiovisual.........................78
Quadro 3 – Trabalhos de Pós-Graduação sobre uso do audiovisual em
Portugal...................................................................................................82
Quadro 4 – Formação Acadêmica............................................................................111
Quadro 5 – Docência na escola Atual......................................................................113
Quadro 6 – Uso de redes sociais como ambiente educacional...............................115
Quadro 7 – Contribuição do audiovisual para a aprendizagem...............................117
Quadro 8 – Uso do audiovisual como recurso pedagógico......................................119
Quadro 9 – Capacitação dos alunos para o uso do audiovisual..............................121
Quadro 10 – Formação de professores para o audiovisual.....................................123
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SUMÁRIO Introdução...................................................................................................................12
1. Organização da Educação Básica no Brasil..........................................................25
2. Audiovisual: Linguagem para o Ensino-Aprendizagem..........................................29
2.1 Definindo audiovisual.......................................................................................29
2.2 Trazendo a linguagem de audiovisual para educação: Concepções
pedagógicas e da linguagem...........................................................................31
2.3 Professor e aluno dialogismo para a aprendizagem........................................37
3. O roteiro para a produção audiovisual e sua contribuição para a formação do
professor e aprendizagem do aluno.......................................................................43
3.1 Definindo roteiro...............................................................................................43
3.2 A contribuição da produção audiovisual para o professor ..............................47
3.3 “Animando com Massinha”: Relato de experiência de uso de linguagem
audiovisual em escola de educação básica....................................................54
4. Metodologia............................................................................................................66
4.1 O Percurso da Pesquisa .................................................................................66
4.2 Descrição da Metodologia de Pesquisa...........................................................70
5. Pesquisa sobre Iniciativas na Formação de Professores para o
Audiovisual.............................................................................................................74
5.1. Trabalhos acadêmicos: o uso do audiovisual como ferramenta para a
aprendizagem................................................................................................77
5.2. Iniciativas de formação audiovisual para a Educação Básica........................84
6. Pesquisa com Professores de Escola Particular de Educação Básica na cidade
de São Paulo........................................................................................................107
6.1 A escola: informações e contexto..................................................................107
6.2. Resultados da Pesquisa...............................................................................110
7. Proposta de formação colaborativa entre professores e alunos para a produção
audiovisual na educação básica..........................................................................127
Considerações Finais...............................................................................................134
Referências Bibliográficas .......................................................................................136
Anexo A – Questionário da Pesquisa.......................................................................144
Anexo B – Respostas Do Questionários..................................................................148
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Introdução
Nos dias atuais, a maioria das pessoas não consegue separar o mundo
virtual do mundo real e é influenciada pelos meios tecnológicos. Por isso, para um
educador é necessário ter um olhar atento à sua formação constante, percebendo
seu papel social e cultural na educação, que tende, na contemporaneidade, a ser
híbrida. Isto é, antes destas demandas, o professor dentro da sala de aula
centralizava a fonte de conhecimento, agora, com a cibercultura enquanto o
educador expõe determinado conteúdo, o aluno levanta outras fontes de informação
em sites e plataformas de conteúdos da Internet, desenvolvendo a ação de “buscar”
no Google, no YouTube e em outras redes sociais, tornando-se assim, um
colaborador no processo de aprendizagem.
Essa ação do aluno impulsiona a educação para o processo de
hibridização – mesmo que a instituição escolar não permita esse acesso. O aluno
transgride as regras, a burocracia e a vontade de alguns professores que ainda
acreditam que são os donos do saber e que o conhecimento é uma verdade
absoluta presente exclusivamente na aula.
A cada momento, os usuários podem ser notificados em suas redes
sociais sobre um novo texto ou vídeo do tema pesquisado. E especialmente esta
última forma de expressar conteúdo é a que tem chamado atenção e despertado o
interesse desta pesquisa. Assim, acreditamos que o uso dos meios tecnológicos não
deverá ser visto como única fonte de saber, mas sim como ponte de colaboração
entre professor e aluno, ou seja, um trabalho cooperativo, onde eles pensem em
caminhos que tornem essa hibridização proveitosa, menos conflituosa, profunda, e
principalmente, contribua para novas práticas pedagógicas nas escolas.
Ainda não há um consenso se o celular pode ser considerado amigo ou
inimigo do professor e da aprendizagem. Às vezes, o professor não permite o uso
dos celulares e outras tecnologias por questões disciplinares ou porque desconhece
o seu verdadeiro potencial para a educação. O uso de celular e de outros
dispositivos móveis – o qual trataremos em nosso trabalho como tecnologias de
comunicação nômades – em sala de aula e até no ambiente escolar é fruto de
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discussão e resultou em legislação especifica em torno disso, por todo o país1. Nas
diversas leis que proíbem o uso de celulares em sala de aula, são poucas as que
trazem essa exceção para permitirem o uso desses aparelhos eletrônicos com fins
educativos. O uso para fins pedagógicos pode ajudar no aprendizado e facilitar a
didática do educador em sala de aula, se trabalhado de maneira correta. Nesse
sentido vem se desenvolvido algumas propostas para tornar a educação atrativa
pelas novas maneiras de adquirir o saber.
Graças ao acesso em larga escala de dispositivos móveis de
comunicação (celulares, smartphones, câmeras de vídeo DSLR), aliados ao acesso
à Internet de banda larga e plataformas para exibição desses conteúdos, tem havido
uma mudança de postura ao ponto que os usuários dessas tecnologias não apenas
recebem ou compartilham informações, mas se tornam protagonistas e produtores
de conteúdos.
Como exemplo, os chamados “YouTubers”, nome dado aos vloggers2 que
utilizam a plataforma YouTube para divulgação de seus vídeos, além de tornarem
personalidades, são também formadores de opinião, despertam o interesse em
adolescentes para seguir carreira nessa área (FOLHA DE SÃO PAULO, 2016)3. E
alguns deles começaram realmente novos, como é caso do curitibano Gustavo Horn
que produziu seu primeiro vídeo aos 12 anos de idade e não parou mais, hoje
1 O Site www.celularcomcamera.com.br traz uma relação de Leis que proíbem o uso do celular em sala de aula em diversas cidades e estados brasileiros: Lei nº 14.146/2000 (Estado do Ceará), Lei nº 14.486/ 2002 (Estado de Minas Gerais), Lei nº 3198/2007 (Estado do Amazonas), Lei nº 12.730/2007 (Estado de São Paulo), Lei nº 4734/2008 (Município do Rio de Janeiro-RJ), Lei nº 5222/2008 (Estado do Rio de Janeiro), Lei nº 12.884/2008 (Estado do Rio Grande do Sul), Lei nº 4.131/2008 (Distrito Federal), Lei nº 14.363/2008 (Estado de Santa Catarina), Lei nº 17.837/2012 (Município de Recife PE) e a Lei nº 18.118/2014 (Estado do Paraná). No Congresso Nacional também tramita o projeto de lei PL 2806/2011, que proíbe o uso de celulares em sala de aula em todo o Brasil. Disponível em: http://www.celularcomcamera.com.br/artigo/uso-de-celulares-em-sala-de-aula-proibido-por-lei. Acesso em 12/03/2017 2 Vloggers: um vlogger é uma pessoa que cria conteúdo em vídeo para distribui-lo pela Internet por meio de redes sociais. O conteúdo é disponibilizado num vlog (vídeo +blog) que funciona como um blog, mas em vez do conteúdo produzido ser escrito (textos) é feito em vídeo. Disponível em: https://www.diccionariopopular.net/que-significa/vlogger. Acesso em 12/04/2017. 3 FOLHA DE SÃO PAULO. 27/03/2016. Caderno Cotidiano, Autor: Juliana Gragnani. Ser criador de vídeo na internet vira sonho de carreira de adolescentes. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/03/1754403-ser-criador-de-video-na-internet-vira-sonho-de-carreira-de-adolescentes.shtml Acesso em 28/03/2016.
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Gustavo vive da produção audiovisual, possui mais de 550 mil seguidores e seus
vídeos somam mais de 32 milhões de visualizações em seu canal no YouTube
(YOUTUBE, 20164).
Seguindo a máxima do cineasta brasileiro Glauber Rocha, com “uma
câmera na mão e uma ideia na cabeça”, em frente a uma câmera num tripé. “O
sonho de ser YouTuber vem da questão da linguagem – hoje eles sabem e
gostam de se comunicar por vídeo” afirma a psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de
Pesquisas da Psicologia e Informática da PUC-SP. Em entrevista coloca, “Antes
as crianças brincavam de teatro. Hoje, brincam de vídeo” Tanto que a rede social
da moda entre os jovens é o SnapChat, de compartilhamento de imagens e
vídeos. (FOLHA DE SÃO PAULO, 20165). Se antes era um mero telespectador,
hoje com um celular na mão ele se torna um agente (re)produtor da notícia.
Enquanto o uso das mídias se multiplica entre essas crianças e
adolescentes, pesquisas divulgadas no portal Porvir (2016) revelam que escolas
usam meios audiovisuais, mas os estudantes produzem pouco conteúdo por meio
deles. O trabalho chamado “Projetos de mídia-educação nas escolas da rede
pública municipal do Rio de Janeiro e aprendizagem escolar” foi realizado em
2015 pelo Instituto Desiderata6, em parceria com o Grupo de Pesquisa Educação
e Mídia, da PUC-Rio, e a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
Foram usados nesta primeira fase, quantitativa, questionários respondidos por
911 escolas de ensino fundamental que ajudaram a fazer um panorama dos
projetos e práticas desenvolvidos nas áreas de análise de produtos midiáticos,
produção e uso de tecnologias na prática pedagógica. O levantamento também
4 YoutTube - Canal GusHorn Produções –disponível em https://www.youtube.com/user/GuguHorn. Acesso em 28/04/2016. 5 FOLHA DE SÃO PAULO. 27/03/2016. Caderno Cotidiano, Autor: Juliana Gragnani. Ser criador de vídeo na internet vira sonho de carreira de adolescentes. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/03/1754403-ser-criador-de-video-na-internet-vira-sonho-de-carreira-de-adolescentes.shtml Acesso em 28/03/2016. 6Instituto Desiderata: Fundado em 2003 no Rio de Janeiro, o Instituto Desiderata é uma OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que vem construindo uma história inovadora de atuação conjunta com os gestores públicos, unidos por objetivos comuns nas áreas de saúde e educação: o diagnóstico precoce e o acesso a tratamento de qualidade do câncer infanto-juvenil e a melhoria da qualidade do ensino de adolescentes do Rio de Janeiro. Disponível em: http://porvir.org/estudo-faz-diagnostico-uso-de-midia-ensino-rio-de-janeiro/ Acesso em 25/03/2016.
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mostrou que 80% das escolas têm como prática consolidada a análise de filmes e
vídeos (1ª posição – 90,6%), fotografias/imagens (2ª posição – 81,1%) e textos
jornalísticos (3ª posição – 80,8%). Entre as hipóteses levantadas pelos
pesquisadores para a proximidade entre a escola e o cinema estão programas
como cineclubes e encontros realizados por parceiros. No caso do material
jornalístico, é apontada a facilidade com que professores conseguem ter acesso a
esses conteúdos, o que afeta diretamente o dia a dia da escola. Outra dimensão
avaliada, a produção de mídia (escrita, audiovisual, sonora, eletrônica), é mínima,
somente 38% produzem material escrito (jornais, histórias em quadrinhos ou
revistas) e, em linha com os problemas de infraestrutura, 64% nunca realizam
produção de vídeo, foto, rádio ou publicidade. Além disso, 54% não fazem
atividades de produção de internet (blogs, sites, páginas em redes sociais).
(PORVIR, 2016)7.
Estudos da empresa norte americana Cisco (2015) apontam que em
2019 o vídeo dominará a Internet, sendo responsável 80% do tráfego de
conteúdo. O educador está diante dessa situação e não há como negar ou coibir
essa realidade. Faz-se necessário entender e interagir com essas novas
tecnologias e esse novo perfil de aluno presente especialmente no curso de
ensino fundamental II onde participam crianças de 12 anos e adolescentes. A
baixa produção de mídias nas escolas talvez seja explicada pela falta de
intimidade dos professores com a tecnologia que facilita a autoria, softwares,
aplicativos que facilitam a produção e devido à falta de informação e contato com
novas metodologias na formação inicial faz com que professores não se sintam
suficientemente seguros para implementar tais práticas com suas turmas. Desta
maneira o docente acaba pouco ou de nenhuma forma se apropriando de
recursos audiovisuais como linguagem no processo de aprendizagem do aluno.
(PORVIR, 2016).
Antes de imergir teoricamente no foco da pesquisa, apresentamos as
justificativas e motivações para a escolha do objeto investigado que é marcada e
7 PORVIR. Estudo avalia uso de mídia no ensino do Rio de Janeiro. Disponível em: http://porvir.org/estudo-faz-diagnostico-uso-de-midia-ensino-rio-de-janeiro/ Acesso em 25/03/2016.
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definida por diferentes razões: inicialmente, relato meu caminho como
pesquisador, minhas motivações pessoais e, posteriormente, procuro justificar a
relevância da temática, ampliando a discussão acadêmica, trazendo, neste
momento introdutório, estudos e notícias que ratificam a relevância do tema e a
contribuição que podemos fazer com esta pesquisa.
Para entender como ocorreu o percurso até este Mestrado
Interdisciplinar, na área de educação, se faz importante mostrar brevemente a
minha trajetória de vida. De uma pequena cidade do interior do Rio Grande do
Sul, para a maior cidade do Brasil, a capital Paulista. Esse foi o primeiro passo
para uma transformação que viria em muitos outros capítulos.
Aos 11 anos, esta foi a primeira grande mudança que vivenciei saindo
de minha cidade, deixando meus amigos, escola e professores juntamente com
minha família migrante. Logo de imediato sofri os impactos da mudança: de uma
escola comunitária onde cultivávamos uma horta e fazíamos nós mesmos a
limpeza das salas, além de cantar o hino nacional toda semana, para uma escola
estadual – com paredes pichadas. Passei por uma difícil adaptação ao ambiente
escolar naquele momento. Foram muitas trocas de escolas até a conclusão do
ensino médio: o total de cinco escolas em 2002.
Um segundo momento marcante foi, sem dúvida, o ingresso no Ensino
Técnico no curso em Edificações no Centro Federal de Educação Tecnológica de
São Paulo (CEFET-SP). Depois da conclusão do técnico em 2003, veio o ingresso
no Curso superior em Administração de Empresas na Universidade Paulista em
2004. Tudo isso por influência familiar e perspectivas empreendedoras na própria
família. Mas não era bem o que eu estava almejando, não pelo curso, mas pela
instituição.
Em 2005, prestei vestibular na Universidade Presbiteriana Mackenzie
onde, desde então, não parei mais de estudar e explorar diversas áreas de atuação.
No segundo semestre do curso de Administração de Empresas fui
convidado a participar de um processo seletivo de Iniciação Científica, o projeto foi
aprovado e então tive meu primeiro contato com a pesquisa científica. Até o final do
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curso, em 2008, vieram mais dois projetos de iniciação científica, artigos
apresentados em eventos acadêmicos e publicados, as primeiras publicações e a
experiência com monitoria, que me permitiu contato com outros colegas e uma
iniciação à docência.
Em 2009, passei a cursar outra graduação: Publicidade, Propaganda e
Criação. Mais duas iniciações científicas desenvolvidas, projetos experimentais e
ministração de oficina audiovisual juntamente com a Prof.ª Dr.ª Fernanda Nardy
Bellicieri, que na época também era minha orientadora de PIBIC. Nesse momento
estava mais convicto do que nunca que realmente queria fazer era continuar dentro
do universo acadêmico.
Ainda em 2012, no último ano da graduação em Publicidade, cursei duas
disciplinas como aluno especial no Instituto de Artes da UNESP (Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho)", no Programa de Mestrado em Artes, a
partir daí, ser professor tornou-se a minha aspiração profissional prioritária.
Em 2013, ingressei no Programa de Mestrado em Letras, e paralelamente
iniciei com alguns professores do Centro de Comunicação e Letras um Núcleo de
Produção Audiovisual, o “Mack Pro”, exercendo desde então o papel de tutor,
auxiliando e instruindo universitários diariamente, uma orientação constante. Realizei
todos os créditos do necessários no programa de Pós-graduação e quando estava
iniciando minha dissertação (agosto de 2014), ocorreu a mais recente transformação
que me trouxe ao mestrado no PPGEAHC (Programa de Pós-graduação em
Educação Arte e História da Cultura). Tornei-me produtor audiovisual da TV
Mackenzie e com uma atribuição especial: responsável pela produção audiovisual
dos Cursos de Educação a Distância (EAD) da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, juntamente com o Centro de Educação a Distância, da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, produzindo vídeo aulas e materiais complementares para
os cursos de Educação a Distância. Aliado a isso, por meio da coordenação do Mack
Pro, voltei a ter contato constante e intenso com a prática docente, diariamente
orientando universitários de cursos distintos e promovendo oficinas na área de
educação.
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Essa novidade me fez mudar a rota de pesquisa, voltando meus
interesses para a área de educação e novas tecnologias, especialmente para o
processo de formação para o professor inserido nesse contexto.
Uma vivência significativa para o surgimento deste trabalho foi minha
participação como apoio discente no projeto de extensão denominado “Atores do
Milênio” desenvolvido no núcleo do Mack Pro. Neste laboratório de produção
audiovisual, construímos um processo de aprendizagem e protagonismo estudantil
envolvendo um trabalho interdisciplinar com a participação de professores,
profissionais e alunos dos cursos de Jornalismo e Publicidade, visando a produção
de um web programa com a temática Objetivos do Milênio. Minha participação se
deu com o auxílio na elaboração de roteiro, coordenando a produção e edição
audiovisual, mas posso destacar que o aprendizado se deu pela observação e
contato direto com professores e alunos.
Por meio do projeto, percebi que os alunos têm deixado de serem
ouvintes para tornarem-se protagonistas no processo de ensino-aprendizagem. E
com objetivo de atender aos alunos da geração da cibercultura, ou seja, ao mesmo
tempo em que os alunos “monitorados” por professores praticavam a pesquisa
também produziam um conteúdo audiovisual – produto final do projeto – que seria
consumido por eles mesmos e por seus pares.
Em outras palavras, o aluno e professor, num processo colaborativo,
pesquisam, estudam, selecionam, retém e depuram sobre um tema que tem um
produto educacional tangível fruto do conhecimento (intangível) produzido. O
resultado final foi a proposta do desenvolvimento do programa-piloto visando realizar
uma série com oito web programas relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio (ODMs) conhecidos também com Oito jeitos de mudar o mundo. Portanto
um projeto que alia pesquisa do conteúdo, organização (roteirização) e prática de
ensino mediada por vídeos produzidos.
O Projeto de caráter de pesquisa e extensão teve início em 2014,
coordenado pelo Prof. Dr. Fred Izumi Utsunomiya, professor do Centro de
Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob a minha
coordenação de produção e a participação de seis alunos dos cursos de Jornalismo
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e Publicidade os quais sobre orientações e num processo colaborativo são
responsáveis pela produção do conteúdo. Esse trabalho colaborou com a ideia de
aprendizagem colaborativa uma vez que houve a troca de saberes entre gerações e
posições (alunos e professores).
O papel do professor neste processo de aprendizagem e autonomia foi
constante por meio de reuniões semanais específicas. Inicialmente, foram feitas
reuniões coletivas para realmente pesquisar o tema e depois realizados
atendimentos individuais para roteiro, além da troca de e-mails. Após a escrita dos
roteiros para o primeiro episódio o professor Fred esteve presente orientando e
acompanhando a produção e edição. Para o aluno que desempenhou o papel de
prosumer8 a experiência foi muito construtiva, pois ganharam autonomia para
produzir, porém com orientação necessária para atingir os objetivos desse projeto.
Os trabalhos de concepção e de materializações artísticas, em duas e três
dimensões, foram orientados de maneira positiva no processo de criação do fazer
técnico e artístico por meio de experimentos, testes e produções em ambiente
propício e controlado. Isso facilita a aprendizagem e diversifica o ensino ao aluno, ao
mesmo tempo em que cria conteúdo de auxílio à comunidade acadêmica e à
sociedade.
A pesquisa apresentada insere-se na linha de formação de professores
para a interdisciplinaridade. A oportunidade e relevância proporcionada ao cursar o
programa de mestrado está no fato de instruir melhor os que preparam outros tipos
de profissionais. Entendemos assim, que um professor com uma boa formação
produz um impacto imensurável na vida de seus alunos. Acima de tudo, nossa
motivação não é apenas a obtenção do título de mestre, mas que esta pesquisa
resulte realmente em descobertas que possam ser aplicadas e replicadas em
programas de formação de professores tendo como base o professor como produtor
audiovisual.
Os recursos tecnológicos de comunicação passam a fazer parte do 8 Prosumer é o resultado da contração de dois outros termos; “Producer” (produtor) com “Consumer” (consumidor) (produzir e consumir) termo que só pode ser pensado em um contexto de um período tecnológico nunca antes disponível. O termo foi citado pelo escritor Alvin Toffler no livro a Terceira Onda e reproduzido por outros autores.
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cotidiano das pessoas, obrigando-as a uma adaptação rápida e inevitável a esses
meios de informação que vão ocupando todos os setores da sociedade.
Uma vez que o papel dos meios de comunicação vem crescendo no
âmbito educacional, impõe-se a educadores o desafio de dialogar de forma mais
sistemática com as linguagens audiovisuais no sentido de entender seus processos
e dinâmicas de construção de sentidos e transmissão da informação.
A preparação e qualificação do professor para o uso adequado do
audiovisual nos processos de ensino-aprendizagem, é sem dúvida, um diferencial
em sua carreira, pois ao tornarmos a linguagem do áudio atrelada ao visual com uso
de tecnologias nômades9 como celular podemos ter resultados positivos
relacionados à comunicação com a geração “Y” e especialmente a “Z”, chamada de
“millennials”10 ou nativos digitais convivem com a realidade da comunicação
eletrônica digital dominada pela Internet desde a infância. Eles utilizam com domínio
estes meios, pois já nasceram mergulhadas nas TICs, absorvendo facilmente as
alterações tecnológicas às quais são expostos em velocidades exponenciais.
Veen e Vrackking (2009) estudam as modificações no comportamento,
aprendizagem e formas de produção e compartilhamento de conhecimento na
9 Tecnologias de Informação Nômades (nomadic) - Lyytinen e Yoo (2002) propõem o termo Computação Nômade (Nomadic Computing). Eles asseveram que um ambiente de informação nômade é “uma confluência heterogênea de elementos tecnológicos, sociais e organizacionais interconectados, que possibilitam a mobilidade física e social de serviços de comunicação e computação entre atores, tanto dentro quanto fora das fronteiras organizacionais” (p. 377) 10 Geração millennials: a Geração Y, também chamada geração do milênio ou geração da internet, é um conceito em Sociologia que se refere, segundo alguns autores, como Don Tapscott, à corte dos nascidos após 1980 e, segundo outros, de meados da década de 1970 até meados da década de 1990, sendo sucedida pela geração Z (pessoas nascidas da metade da década de 90 até o ano de 2010). Os “Millenials” cresceram num mundo digital e estão, desde sempre, familiarizados com dispositivos móveis e comunicação em tempo real, como tal são um tipo de consumidores exigentes, informados e com peso na tomada de decisões de compra. São a primeira geração verdadeiramente globalizada, cresceram com a tecnologia e usam-na desde a primeira infância. A internet é, para eles, uma necessidade essencial e, com base no seu acesso facilitado, desenvolveram uma grande capacidade em estabelecer e manter relações pessoais próximas, ainda que à distância. A tecnologia e os dispositivos móveis (tablets e smartphones) em particular, criaram condições para a geração Y ligarem-se e comunicarem entre si como nenhuma outra geração o tinha feito anteriormente, permitindo partilhar experiências, trocar impressões, comparar, aconselhar e criar e divulgar conteúdos, que são o fundamento das redes sociais. Em 2016, dados mostram que esses jovens millennials já estavam investindo mais tempo assistindo vídeos em smartphones do que assistindo TV ao vivo.
22
geração que tinha de 2 a 20 anos em 2000. Eles denominam essa geração de
hommo zappiens. Para os autores, o hommo zappiens processa ativamente as
informações, aprende de forma não-linear e não tem na escola o centro de suas
atenções. Diferentemente de seus pais, por viverem num universo plural de
videogames, canais de TV, aplicativos, blogs, redes sociais, entre outros meios,
tendem a buscar referências e a fazer pesquisas sobre temas de seus interesses
nesse ambiente muito mais do que em publicações tradicionais e oficiais (livros,
revistas, relatórios). Uma rede colaborativa de troca de informações construída por
usuários da Internet alimenta uma cadeia de produção e divulgação de conteúdos
que é compartilhado por todos.
Propor a autoria da produção de vídeos para YouTube, por exemplo, de
forma criativa, pode ser motivador e significativo, uma vez que resulta no
favorecimento da relação ensino-aprendizagem. Em outras palavras, o professor
domina o conteúdo mas não a técnica e, para este novo formato, precisa trabalhar
sua formação.
O estudo desenvolvido teve como metodologia a pesquisa bibliográfica e
a aplicação de questionários de caráter qualitativo, aplicados para os professores de
uma escola particular de São Paulo, além de 4 reuniões com alunos do 8º e 9º ano
da mesma escola. Realizamos também a experiência como aluno pesquisador no
Projeto Animando com Massinha11.
Esta dissertação teve como pergunta norteadora: A produção de
audiovisual pode ser um recurso pedagógico colocando professor e alunos como
protagonistas na criação? O processo de criação do audiovisual, em ambiente
escolar, propicia a formação colaborativa de professores e alunos?
O objetivo geral foi analisar teoricamente o uso de audiovisual, em
especial do roteiro, em uma abordagem prática para professores e alunos em
colaboração na educação básica.
11 Projeto Animando com Massinha: Projeto de Pesquisa desenvolvido durante os meses de agosto a dezembro de 2016, junto à escola Estadual República da Bolívia. O autor faz um relato de experiência de sua participação no Capítulo 3, exemplificando a aplicação de linguagem audiovisual na educação básica.
23
Como objetivos específicos:
1. Apresentar uma breve pesquisa da organização da educação
básica brasileira;
2. Fundamentar com teorias da educação, concepções
pedagógicas, a importância do áudio visual como recurso didático para a
aprendizagem;
3. Estudar a importância do roteiro para a sistematização das
ideias no processo criativo que será traduzido na produção audiovisual
valorizando o texto imagético;
4. Propiciar informações sobre o uso de Tecnologia de Informação
e Comunicação por professores de educação básica;
5. Propor um processo de formação de professores e alunos em
colaboração, junto ao grupo pesquisado.
Para isso realizamos um levantamento bibliográfico de experiências
realizadas, relataremos experiências do pesquisador em dois momentos: [1] como
participante em curso de formação e [2] como pesquisador-formador em escola de
educação básica na cidade de São Paulo e faremos uma proposta de formação de
professores em colaboração com os alunos.
Para fundamentação teórica do trabalho buscamos nos apoiar nos
seguintes autores:
Piaget e Mizukami dentro da concepção cognitivista que dialoga
também com Vigotski;
Vigostki e Bakhtin para educação e linguagem;
Lúcia Santaella que defende que estamos caminhando para a
convergência das mídias;
O sociólogo argentino Nestor Canclini que trabalha com a
hibridização da cultura;
Cláudia Hardagh que trata da escola expandida;
24
Ao estudarmos a importância do roteiro e a contribuição da
produção audiovisual, os autores que fundamentaram a pesquisa
foram Syd Field, Jean-Claude Carriere, Doc Comparato, Newton
Cannito e Leandro Saraiva sobre roteiro e Cebrián Herreros, Joan
Ferrés;
Sobre formação de professores, autores que tomamos para a
fundamentação da proposta de formação foram Paulo Freire,
Antônio Nóvoa e Perez Gomez;
E ainda recorremos a Ausubel e sua teoria de aprendizagem
significativa.
No momento do Exame de Qualificação, quando se tratava de uma
proposta de pesquisa ação, o trabalho contemplava ainda: Conhecer o potencial da
linguagem audiovisual para o grupo de alunos e professores estudados e levantar as
categorias de análise emergentes durante a elaboração do roteiro e audiovisual nas
oficinas. Esses objetivos não puderam ser realizados devido a mudança de tipo de
pesquisa e da não aplicação de oficinas.
O trabalho foi organizado da seguinte maneira: No capitulo 1, buscamos
levantar em fontes oficiais um breve panorama da Educação Básica no Brasil.
No capítulo 2, tratamos do audiovisual como linguagem híbrida a ser
incorporada como recurso didático, não como algo pronto e para ser assistido, mas
dinâmico e em construção. Mostramos que o aluno da cibercultura em colaboração
com o professor podem produzir, roteiros e narrativas de áudio e visual que
traduzam a aprendizagem dos conteúdos escolares de debates temáticos e o
desenvolvimento de habilidades artísticas e profissionais dos alunos. A
fundamentação teórica da área da educação apoia-se em Piaget e Mizukami dentro
da concepção cognitivista que dialoga também com Vigotski.
O capítulo 3 traz ao leitor a definição de roteiro, conhecimento que o
pesquisador com formação na área da comunicação pode trazer para a educação e
para ilustrar traremos a experiência do projeto de pesquisa “animando com
massinha” realizado em 2016 na escola estadual República da Bolívia localizada na
25
Cidade de São Paulo.
No capítulo 4 é apresentada a metodologia de pesquisa.
No capítulo 5, apresento a pesquisa bibliográfica realizada acerca de
iniciativas em formação de audiovisual.
No capítulo 6, é apresentada a análise de resultados da pesquisa
realizada numa escola particular de educação básica da cidade de São Paulo.
No capítulo 7, é apresentada a proposta de formação aos professores e
por fim, as considerações feitas durante o processo e ao final dele.
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1. ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO BRASIL
A estrutura organizacional da educação brasileira é dividida em três
níveis, com diversos graus em cada divisão: Ensino Fundamental, Ensino Médio e
Ensino Superior. O Ensino Fundamental é um dos níveis da Educação Básica no
Brasil, ele é obrigatório, gratuito para todos (nas escolas públicas, incluindo adultos),
e atende crianças a partir dos 6 anos de idade e seu objetivo é a formação básica do
cidadão. (INFOESCOLA, 2016).
A educação básica é o caminho para assegurar a todos os brasileiros a
formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes os
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. A educação brasileira é
regulamentada pelo Governo Federal, pelo Ministério da Educação (MEC), que
define os princípios orientadores da organização de programas educacionais.
Atualmente, os documentos que norteiam a educação básica são a Lei nº 9.394, que
estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Básica e o Plano Nacional de Educação,
aprovado pelo Congresso Nacional em 26 de junho de 2014. Outros documentos
fundamentais são a Constituição da República Federativa do Brasil e o Estatuto da
Criança e do Adolescente. A Secretaria de Educação Básica – SEB ligada ao MEC –
zela pela educação infantil, pelo ensino fundamental e pelo ensino médio. (MEC,
2017).
As crianças brasileiras agora têm que frequentar a escola por no mínimo
nove anos. No ano de 2006, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB
9394/96) foi alterada em seus artigos 29, 30, 32 e 87, através da Lei Ordinária
11.274/2006, e ampliou a duração do Ensino Fundamental de 8 para 9 anos,
estabelecendo como prazo para implementação da Lei pelos sistemas de ensino, o
ano de 2010.
O Ensino Fundamental passou então a ser dividido da seguinte forma:
Anos Iniciais – compreende do 1º ao 5º ano, sendo que a criança
ingressa no 1º ano aos 6 anos de idade.
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Anos Finais – compreende do 6º ao 9º ano.
Os sistemas de ensino têm autonomia para desdobrar o Ensino
Fundamental em ciclos, desde que respeitem a carga horária mínima anual de 800
horas, distribuídos em, no mínimo, 200 dias letivos efetivos.
Além da LDB, o Ensino Fundamental é regrado por outros documentos,
como as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, o Plano
Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001), os pareceres e resoluções do Conselho
Nacional de Educação (CNE) e as legislações de cada sistema de ensino.
Durante o Ensino Fundamental I cada grupo de alunos geralmente é
assistido por um único professor. Como para Ensino Fundamental II, há tantos
professores como disciplinas. O Conselho Federal de Educação define uma grade
curricular constituída de Língua Portuguesa, Matemática, história, geografia,
ciências, artes e educação física (do 1º ao 5º ano). A partir do 6ª ano as línguas
inglesa e espanhola também são adicionadas. Algumas escolas também incluem
informática como uma matéria.
Para isso, Em relação a organização dos aprendizados, o artigo 32º da
Lei de Diretrizes e Bases – LDB afirma que é necessário:
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios
básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
I - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a
aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.
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Em artigo publicado no site Brasil Escola, em 2016, a pedagoga Jussara
de Barros destaca que a transição do ensino fundamental I para o Ensino
Fundamental II exigirá do aluno uma nova postura. Ao entrar no ensino fundamental-
II, o aluno deverá desenvolver habilidades que são exigidas na sociedade
contemporânea e uma delas que é fundamental é a criatividade. Essas adaptações
não irão acontecer de forma brusca, mas sim dando condições para que o estudante
consiga vencer as etapas que se seguem. Por volta dos onze anos de idade, o
estudante consegue formular hipóteses acerca dos fatos sociais, podendo fazer
referências com as disciplinas que estuda em sala de aula, associando-as à
realidade. Dessa forma, conseguirá perceber a importância do seu conhecimento
para o coletivo, a sociedade. (BRASIL ESCOLA, 201612)
A Base Nacional Comum Curricular está prevista no Plano Nacional de
Educação (PNE) para 2014-2023, aprovado em 2014, por unanimidade, pelo
Congresso Nacional e sancionado sem vetos (Lei nº 13.005, de 25 de junho de
2014) pela presidente da República, Dilma Rousseff. A Base será mais uma
ferramenta que vai ajudar a orientar a construção do currículo das mais de 190 mil
escolas de Educação Básica do país, espalhadas de Norte a Sul, públicas ou
particulares. (UNDIME, 2017)
A outra fase no processo de construção coletiva da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC)13 foi a realização de Seminários Estaduais, voltados a
debater a segunda versão da BNCC. O Conselho Nacional de Secretários de
Educação (Consed) e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
(Undime) foram as instituições responsáveis pela articulação e organização dos
seminários. Em outubro de 2016 o presidente do Conselho Nacional de Secretários
de Educação (Consed) e secretário de Estado da Educação de Santa Catarina,
Eduardo Deschamps, e o presidente da Undime e Dirigente Municipal de Educação
de Tabuleiro do Norte (CE), Alessio Costa Lima, entregaram ao Ministro da
Educação, Mendonça Filho, o posicionamento com sugestões de melhoria do texto
da segunda versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O documento foi
12 Brasil Escola. "Alunos do Ensino Fundamental II", Autor: Jussara de Barros. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/educacao/alunos-ensino-fundamental-ii.htm>. Acesso em 18 de marco de 2016. 13Base Nacional Comum Curricular disponível em http://basenacionalcomum.mec.gov.br/#/site/inicio. Acesso em 28/08/2016.
29
elaborado a partir das contribuições de mais de 9 mil professores, gestores,
especialistas e entidades de educação que participaram dos seminários realizados
entre junho e agosto de 2016 em todos os estados brasileiros. (UNDIME, 2017).
Os currículos são desenvolvidos desde que obedeçam às seguintes
diretrizes14:
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e
deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem
democrática;
II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada
estabelecimento;
III - orientação para o trabalho;
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas
não-formais. (ART. 27º, LDB 9394/96)
A pesquisa sobre educação básica, realizada em sites oficiais e
legislação, foi importante para a minha inserção no nível de ensino no qual a
pesquisa colocou como foco. Devido a minha formação inicial penso ser relevante
entender como funciona a estrutura da educação básica.
Diante desse cenário, a relevância desse trabalho busca entender e
analisar a contribuição das linguagens audiovisuais para com a educação, a fim de
apresentar no final dele uma proposta de formação para professores que possa
atender às suas necessidades e que possa contribuir com para aprendizagem por
meio do desenvolvimento de mídias na escola pelos alunos e professores,
colocando-os na posição de autores.
14LDB Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm Acesso em 10/08/2016
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2. AUDIOVISUAL: LINGUAGEM PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM
Neste capítulo traremos algumas bases teóricas da educação para
fomentar a proposta de produção de áudio visual nas escolas para a aprendizagem
dos alunos e formação de professores.
2.1 Definindo audiovisual
A frase “uma imagem vale mais do que mil palavras” de Marshall Mc
Luhan (1968) é famosa e muito citada, quando o assunto é recursos audiovisuais.
Pouco aprofundada na educação e bastante repetida, a frase acima diz respeito ao
papel que os meios de comunicação têm sobre a cultura. Baseando-se em Vigotski
para entender o audiovisual e a importância das linguagens no contexto da escola,
Hardagh (2009) aponta que:
“como sistema simbólico dos grupos humanos. É ela [a linguagem] que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio da linguagem que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas de linguagem” (HARDAGH, 2009).
Sintetizando a tese defendida por Mc Luhan, em sua famosa frase acima
citada, para entendermos como ela afeta o foco desta pesquisa na educação,
enfatizamos que os meios de comunicação são eles mesmos modificados pela
cultura. Segundo esta tese, a informação transmitida pelo meio é muito menos
importante que o efeito do meio em si dentro de uma determinada cultura. Assim,
com a introdução da televisão em uma comunidade, ela mesma, alterará muito mais
a maneira como os elementos da comunidade se relacionam entre si e a maneira
como a comunidade se relaciona com o meio exterior do que os programas que
venham a ser assistidos pelas pessoas desta comunidade.
Ao abordar o termo audiovisual, é pertinente dizer qual conceito teórico
usaremos na pesquisa. Cebrián Herreros (1995) afirma que a palavra audiovisual
31
"resulta da aglutinação dos termos "áudio" e "visual" e refere-se: "a tudo o que
pertence ou é relativo ao uso simultâneo e/ou alternativo do visual e auditivo; a tudo
que tem características próprias para a captação e difusão mediante imagens e
sons" (HERREROS, 1995). Ou seja, todo meio de comunicação expresso com a
utilização conjunta de componentes visuais (signos, imagens, desenhos, gráficos
etc.) e sonoros (voz, música, ruído, efeitos onomatopeicos etc.). Como exemplo de
peças audiovisuais temos: a animação, o cinema, a televisão e o vídeo.
O audiovisual refere-se a toda a forma de comunicação sintética
destinada a ser percebida ao mesmo tempo pelo olho e pelo ouvido. “Esta
linguagem está perfeitamente integrada no tempo e no espaço – o movimento
acrescenta a dimensão temporal e casa-se com o som” (CLOUTIER, 1975).
Sabemos que vivemos numa sociedade pautada por estímulos visuais e
audiovisuais. Podemos observar isso, pelo sucesso obtido por redes sociais que
somam milhões de usuários conectados no mundo inteiro na Internet. Somam-se as
formas anteriores, como o convívio e a interação com a televisão, os jogos
eletrônicos, e também o computador e outras formas de interações com imagens e
sons.
Segundo Santaella (2003), “estamos caminhando para a convergência
das mídias” e Canclini (2000) ainda acrescenta o processo de hibridização da cultura
neste cenário.
Dessa forma, se faz necessário reconsiderar a mudança na educação
formal, com a hegemonia da linguagem verbal e textual, para a abertura de espaço
para a utilização de todas as linguagens, pois a “cultura da visualização” promove
uma reflexão e impacto sobre a estética dos conteúdos educacionais produzidos, e
requer que o professor repense sua prática, a seleção de materiais e promova o
hibridismo15 em suas aulas.
15 Hibridismo: na educação, refere-se à junção de dois tipos de tecnologia, por exemplo, educação presencial (o aluno na sala de aula/escola) e a distância (aluno depende apenas da Internet e um dispositivo para acessá-la).
32
Durante nossa pesquisa, constatamos a dificuldade de alguns docentes
se apropriarem das várias linguagens disponíveis no ciberespaço e culturalmente
próximas dos alunos, pois devido a atual realidade tecnológica, o áudio, o visual
(fotografia, iconografia, obras de arte) e o audiovisual são acessadas intensamente
com a mesma facilidade de texto escrito para a geração “millennials” – o que não
acontecia com a geração de professores quando estes estavam na escola.
Essa realidade impulsiona a necessidade de novas estratégias para usar
diversificados recursos pedagógicas que disseminem o uso e produção desses
textos para a escola. “O mundo da tela é muito diferente da página escrita, requer
uma vida intelectual, perceptiva, associativa e reativa muito distinta” (GÓMEZ, 2015,
p. 20). Aprender a “linguagem da tela”, das “tecnologias da interrupção” chega a ser
tão necessário como a alfabetização relacionada com a leitura e a escrita verbais.
Consequentemente, preparar os cidadãos não só para ler e escrever nas
plataformas multimídias, mas para que se envolvam com esse mundo,
compreendendo a natureza intrincada, conectada, da vida contemporânea, torna-se
um imperativo ético e também uma necessidade técnica. (GÓMEZ, 2015, p. 21)
2.2 Trazendo a linguagem de audiovisual para educação: Concepções
pedagógicas e da linguagem
Em Ensino: As Abordagens do Processo (1986), Mizukami apresenta um
levantamento sistêmico a respeito de certas abordagens pedagógicas evidenciadas
nas situações brasileiras de aprendizagem, partindo do pressuposto que estas foram
as que mais influenciaram professores em suas práticas docentes, e as evidencia
admitindo a cada uma delas seus aspectos frente às categorias homem, mundo,
sociedade-cultura, conhecimento, educação, escola, ensino-aprendizagem,
professor-aluno, metodologia e avaliação. Segundo a autora:
[...] o conhecimento humano, dependendo dos diferentes referencias, é explicado diversamente em sua gênese e desenvolvimento, o que condiciona conceitos diversos de homem, mundo, cultura, sociedade, educação, etc. Dentro de um mesmo referencial, é possível haver abordagens diversas, tendo em comum apenas os diferentes primados: ora do objeto, ora do sujeito, ora da interação de ambos (MIZUKAMI, 1986, p.03).
33
Estes aspectos implicam diferentes posições, e por consequência,
distintas atenções pedagógicas. De acordo com Mizukami (1986), para os
designados empiristas, que consideram o objeto como prioridade, o conhecimento é
sempre algo novo advindo do mundo externo, onde já habitava, e, portanto não
constitui a construção de novas realidades.
Do ponto de vista pedagógico, essa posição é orientada por um associacionismo empirista, onde todo o conhecimento fica reduzido a uma aquisição exógena, a partir de experiências, verbalizações ou recursos e materiais audiovisuais que são simplesmente transmitidos” (MIZUKAMI, 1986, p.02).
Na abordagem cognitivista da educação, o destaque é dado à interação
sujeito-objeto. “Homem e mundo serão analisados conjuntamente já que o
conhecimento é o produto da interação entre eles, [...] não se enfatizando nenhum
pólo da relação, como ocorreu nas abordagens anteriores” (MIZUKAMI, 1986, p.60).
Esta abordagem coincide e se apropria do pensamento piagetiano a respeito da
forma como o indivíduo adquire conhecimento. Conforme as considerações de
Piaget (1999), a abordagem cognitivista contraria o empirismo e o inatismo, e
evidencia o conhecimento como uma construção contínua, onde a passagem de um
estado de desenvolvimento para o seguinte é sempre caracterizada pela formação
de novas estruturas que não existiam anteriormente no indivíduo.
Segundo Piaget, a vida mental é “uma equilibração progressiva, uma
passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para um estado de equilíbrio
superior” (PIAGET, 1999) e a forma final de equilíbrio orgânico difere daquela para
qual tende o desenvolvimento da mente, onde o primeiro apresenta-se mais estático
e o segundo, mais instável, pois as funções de inteligência e afetividade aspiram um
“equilíbrio móvel” onde quanto mais estabilidade, maior flexibilidade, pois à medida
que se acrescenta algo a cada estágio de desenvolvimento, mais sólida se torna a
estrutura e assim, mais suscetível e apta à mobilidade.
Desta forma, toda a ação humana “consiste neste movimento contínuo e
perpétuo de reajustamento ou de equilibração” (PIAGET, 1999), onde, segundo o
autor, toda a necessidade incita a assimilação do mundo exterior às estruturas já
construídas, incorporando “as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito” e
reajusta estas estruturas às transformações ocorridas, acomodando-as aos “objetos
34
externos”. “Pode-se chamar ‘adaptação’ ao equilíbrio destas assimilações e
acomodações” (PIAGET, 1999). Adaptação esta, que se delineia e institui em sua
organização progressiva nas etapas definidas por Piaget, do recém-nascido ao
adolescente, onde “um paralelo constante entre a vida afetiva e a vida intelectual”
(PIAGET, 1999) existe de fato, no transcorrer de todo o percurso por onde caminha
o desenvolvimento mental.
À luz de Piaget, Mizukami (1986) aponta que os processos educacionais
delineados pela abordagem cognitivista, devem provocar “situações que sejam
desiquilibradoras para o aluno”, ou seja, motivadoras de um interesse, de uma
necessidade de mudança e acúmulo de novas estruturas ao progresso de
desenvolvimento. A conduta do professor deve zelar por esta ocorrência onde a
reciprocidade e relações mútuas aparecem como situações indispensáveis para o
processo de ensino-aprendizagem, uma vez que o compartilhar edifica-se e
identifica-se na afetividade. Segundo Mizukami (1986), o aluno sob esta forma de
ação educativa em sala de aula, é “considerado um sistema aberto, em
reestruturações sucessivas [...]” (MIZUKAMI, 1986) e deve ser instigado a reinventar
o mundo e sua educação visa à autonomia.
A proposta de colocá-lo como roteirista e produtor audiovisual em
colaboração com o professor, numa proposta coletiva, ou seja, o produto será
material de aula, didático, usado de forma coletiva, está em sintonia com as
concepções de Piaget, cognitivista e sócio histórica de Vigotstki.
Pela abordagem cognitivista, as situações de aprendizagem devem
procurar “estabelecer relações entre os diferentes ramos do saber e não reduzir
formalmente o conhecimento a matérias de ensino” (MIZUKAMI, 1986). Os alunos
devem ser instigados e levados à investigação e pesquisa no lugar de receberem o
conteúdo pronto e acabado. O conhecimento, ou melhor, o processo de busca pelo
conhecimento se dá de maneira progressiva, colaborativa e afetiva onde o aluno
sente-se interessado pelo conteúdo e é também agente em seu processo de
aprendizado. Desta forma, o conhecimento é considerado uma construção
interminável, essencialmente ativo e interacionista, onde o paralelo constante entre
afetividade e inteligência e a influência mútua entre homem e mundo são inerentes.
35
Sair da passividade de assistir ao filme, documentário, animação e passar a produzir
com proposta roteirizada e em sintonia com os conteúdos escolares instiga o aluno à
pesquisa, desenvolve a capacidade de coerência para elaborar roteiro, potencializa
a criatividade e o coloca como colaborador no processo de aprendizagem, assim
como no ensino pois ele pode trazer seus saberes para o professor.
Além do cognitivismo temos a teoria sócio histórica de Vigotski (1896 –
1934) e sobre linguagem e interação Bakhtin (1895 – 1975), que mesmo com seus
estudos no século passado com outras tecnologias, tem ainda suas ideias se
materializando contemporaneamente, sendo utilizadas para melhor compreender a
apropriação da linguagem pelo indivíduo nas relações interacionais e no contexto
em que estão inseridos. Para Vigotski, os sentidos são pessoais, são parte da
subjetividade; subjetividade esta que é construída/reconstruída ao longo da vida do
sujeito e que é apropriada por ele. Para Bakhtin, os sentidos são formados a partir
da situação histórica em que o enunciado é proferido.
Conforme Bakhtin (1986), são as relações com os outros que nos
constituem, ou seja, o sujeito procura interpretar ou conhecer o outro sujeito em vez
de buscar apenas conhecer um objeto.
Sua concepção sociointeracional da linguagem tem como elemento
articulador o dialogismo. Para ele, no princípio dialógico, o texto se define como
objeto de significação, produto da criação ideológica (contexto histórico, social,
cultural, etc.), ou seja, ele considera o dialogismo o princípio constitutivo da
linguagem e a condição do sentido do discurso. Assim, a língua concebida como
discurso, constrói significados e o sentido da linguagem está no contexto de
interação verbal e não no sistema linguístico.
Vigotski (1995) defende a tese que a linguagem é o mais elaborado
sistema de signos presente na cultura humana, sendo um referencial para
estabelecer comunicações interacionais entre as pessoas. Por meio da linguagem, o
ser humano, desde o início da humanidade, organiza seu pensamento e expressa-o
compreensivelmente seu discurso oral ou escrito.
36
Para Vigotski (2001a, p.409), “o pensamento não se exprime na palavra,
mas nela se realiza”. O pensamento se realiza na palavra constituída de
significações. Ex.: O pensamento da criança se estabiliza e se torna mais ou menos
constante quando a criança começa a utilizar a linguagem (VIGOTSKI, 1995, p. 278
apud ARAUJO et al, 2009), assim o que faz a mediação na relação
pensamento/linguagem é o significado.
O desenvolvimento da linguagem, produzida social e historicamente, e
dos significados permite uma representação da realidade no pensamento.
Significados e sentidos são momentos do processo de construção do real e do
sujeito, na medida em que a objetividade e subjetividade são também âmbitos de um
mesmo processo, o de transformação do mundo e constituição dos humanos.
Jamais poderão ser considerados e, assim, apreendidos dicotomicamente.
(ARAUJO et al, 2009)
Para Bakhtin (1986) apud Araújo, (2009), o social prevalece nas
composições textuais, no sentido de que um mesmo texto, sendo composto por
enunciados diversos de uma única pessoa, está repleto da fala de outros, o que
pressupõe um dialogismo.
Na perspectiva bakhtiniana, a transformação dos sentidos está
intrinsecamente relacionada às transformações sociais e históricas, nas quais a
significação dependerá da contextualização para ganhar sentido, que a partir das
contradições retorna com um novo formato apreciativo das coisas. Essas mudanças,
no entanto, correspondem a uma instabilidade de identificação de sentido, pois a
evolução histórica permite que novos sentidos sejam atribuídos ao que antes se
concebia como único.
Assim, no processo de formação docente, esse olhar transformacional de
sentidos é algo real quando o professor reavalia sua prática a partir de formações,
capacitações e reformula ou adiciona outros sentidos, outros olhares para os alunos,
os professores, os materiais e para si mesmo. É o que é afirmado também por
Bolívar (2002) quando enfoca que “baseada na continuidade e na globalidade dos
processos de formação dentro de uma vida, para ser significativa ela requer que
cada adulto compreenda, se aproprie de sua própria formação e a reconstrua a partir
37
de sua história de vida”. (ARAUJO et al, 2009).
Por isso, a utilização de um recurso audiovisual dentro da condução das
aulas nada mais é do que trazer para o universo da aprendizagem a reprodução do
que os alunos costumam vivenciar nos seus momentos de lazer – causando um
impacto de inter-relação entre o mundo cotidiano e o aprendizado.
Comenius, educador, cientista e escritor checo considerado o fundador da
didática moderna, considera aprendizado em relação ao seu aspecto visual ser mais
efetivo e que, provou a exploração da criatividade da criança como recurso
fundamental no processo do ensino e da aprendizagem, bem como também os
estudos de Piaget, Lev Vigotski (1989), que postulam uma dialética das interações
com o outro e com o meio, como desencadeador do desenvolvimento cognitivo e
sócio cognitivo, que por sua vez, impulsionam as metodologias educacionais a
explorar a inter-relação com o meio para que a aprendizagem aconteça as
interações que ocorrem fora do espaço escolar por meio da tecnologia que usa as
linguagens híbridas a todo momento para a comunicação, como vídeos por
whatsapp, vídeos no YouTube, alertas nos tablets com vídeos de propaganda ou de
disseminação de alguma ideia, é a linguagem usada para tudo e faz com que essa
geração tenha uma leitura mais ágil, inclusive com relação ao texto.
Segundo a teoria de Ausubel (1982) a construção das aprendizagens
significativas implica a conexão ou vinculação do que o aluno sabe com os
conhecimentos novos, quer dizer, o antigo com o novo. A clássica repetição para
aprender deve ser deixada de fora na medida do possível; uma vez que se deseja
que seja funcional, deve-se assegurar a auto estruturação significativa. O que é
sugerido é a participação ativa do sujeito, sua atividade auto estruturante, o que
supõe a participação pessoal do aluno na aquisição de conhecimentos, de maneira
que eles não sejam uma repetição ou cópia dos formulados pelo professor ou pelo
livro-texto, mas uma reelaboração pessoal.
38
2.3 Professor e aluno dialogismo para a aprendizagem
A diferença sócio histórica entre alunos e professores pode ser apontada
como uma das dificuldade para intensificar materiais didáticos e propostas de
produção de textos audiovisuais, por isso, é necessário ter uma capacitação,
orientação, avaliação, feedback e motivação dos professores ao conhecimento e
correta utilização das TDICs (Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação) na
educação, sendo que estes fatores impactarão na qualidade das aulas e
principalmente no rendimento da aprendizagem do aluno: de baixa e superficial
compreensão de mensagem, mal entendimento, falta de entusiasmo, pouca
motivação e evasão escolar.
Para propor uma formação de professores que valorize linguagens
híbridas, é importante parar de pensar somente no paradigma da escrita e leitura
como única forma de expressão, e somar ao que defendemos como aprendizagem
para a escola atual:
1) A relevância dos processos e contextos: apesar de não haver
aprendizado sem conteúdo, a capacidade de conhecer e aprender a aprender é hoje
mais importante do que o conteúdo da aprendizagem […] 2) A importância da
pluralidade e qualidade das redes: [...] o ato de aprender é mais um processo de
assimilação do que de aquisição, de apropriação pessoal dos significados,
proposições, modelos e mapas mentais que circulam, recriando-se, continuamente
nas redes de intercâmbio das quais cada indivíduo participa. 3) A importância
decisiva da externalização da informação. As limitações da memória humana, a
memória de trabalho do cérebro, sempre foram compensadas com artefatos
externos: livros, arquivos base de dados e ferramentas. [...] Os circuitos internos dos
seres humanos devem ser reservados para os processos mais complexos de
natureza superior: contraste, avaliação, síntese, inovação e criação. (GOMEZ, 2015,
p. 51-52)
É comum desclassificar as habilidades dos alunos que dominam
ferramentas computacionais, games, sites, etc. Mas como defende Gomez, essa
geração domina essas ferramentas, contrariando a ideia de falta de habilidade:
39
Estamos diante da primeira geração que domina as poderosas ferramentas digitais que são utilizadas para acessar e processar a informação que interfere na vida econômica, política e social, e ela faz isso melhor do que os mais velhos: pais, mães e professores. (GÓMEZ, 2015, p. 27)
Segundo a pesquisa apresentada pela professora Rosemar Rosa (2013)
sobre as dificuldades encontradas no uso das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) no desenvolvimento do trabalho docente, foram destacadas
três dificuldades pelos professores: falta de domínio no uso das tecnologias por
parte dos professores; a poucas aulas em relação a quantidade de conteúdos e o
receio de não corresponderem às expectativas dos alunos.
Ainda Rosemar Rosa (2013) destaca que as tecnologias propiciam
benefícios em relação ao avanço científico, educação, comunicação, lazer,
processamento de dados, busca e produção do conhecimento. Sendo assim, se
constitui como molas propulsoras e recursos dinâmicos para favorecer o trabalho
docente, à medida que, quando bem utilizadas pelos professores e alunos permitem
intensificar a melhoria das práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula e
fora dela.
Alguns professores precisam vencer o receio de usar as tecnologias em
seu trabalho docente, ainda mais quando se trata da ruptura paradigmática aos
modelos tradicionais (escrita e leitura). Pois, somente mediante esta mudança as
dificuldades serão superadas permitindo a utilização dos potenciais educativos das
TIC (ROSA, 2013).
A pesquisa realizada em escolas da rede estadual baiana, feitas pelas
professoras Silvia de Araújo e Abimailde Ribeiro, identificou como principais
problemas, em relação aos usos da tecnologia: a falta de formação para que os
professores utilizem os recursos, questões referentes à conectividade e manutenção
das máquinas. Verificou-se também que alguns recursos, como o computador, são
usuais na vida dos professores, apesar de que muitos docentes não os utilizam em
sala de aula. (ARAÚJO, RIBEIRO, 2014).
Trabalhos do pedagogo português António Nóvoa (2006; 2009) trazem
como tema central "Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo"
40
foram apresentados três dilemas sobre a escola, professores e alunos. O primeiro
dilema abordado por Nóvoa foi: A escola deve ser centrada no ensino ou na
aprendizagem?
Nóvoa faz uma crítica sobre o transbordamento da escola no qual se
esquece que o mais importante é a aprendizagem dos alunos. Para Nóvoa (2009), a
formação de professores deve assumir uma forte componente práxis – centrada na
aprendizagem dos alunos e no estudo dos casos concretos – tendo como referência
o trabalho escolar.
Se antes, o professor dentro da sala de aula era o detentor/referência
máxima do saber, hoje, enquanto o professor expõe determinado conteúdo o aluno
já está verificando outras fontes em sites e plataformas de conteúdos na Internet
(por exemplo, Google e YouTube). A educação tornou-se híbrida e de forma
constante. O aluno não assume mais o papel de espectador e sim de protagonista
na construção do conhecimento.
Mais do que nunca, faz-se necessário que o professor/educador perceba
que a utilização de atividades diferenciadas nas escolas contribui para os resultados
de aprendizagem dos alunos. Claro, que atividades de cunho lúdico não abarcam
toda a complexidade que envolve o processo educativo, mas auxiliam na busca de
melhores resultados por parte dos educadores interessados em promover
mudanças, pois servem como atividades mediadoras que contribuem para tornar a
sala de aula um ambiente mais alegre e favorável para a aprendizagem.
Sartori (2005) apud Silva (2011) chama a atenção para a dificuldade que
os educadores têm em lidar com a complexidade da “didatização” da linguagem
audiovisual, e justifica a necessidade de seu uso correlacionando-a às “múltiplas
inteligências” de Gardner.16Assim, a autora afirma ainda que:
[...] educar levando em conta essas inteligências implica mudanças na educação formal que deve se encaminhar para o abandono da fragmentação e da supremacia da linguagem verbal e acentuar a abordagem interdisciplinar, a resolução de problemas e a utilização
16 O autor defende a ideia de que cada um de nós possui uma combinação diferente das muitas inteligências, a saber: emocional, corporal-cinestésica, linguística, lógico-matemática, intrapessoal, interpessoal e naturalista.
41
de todas as linguagens. (SARTORI 2005, apud SILVA, 2011).
Daí a necessidade da capacitação e formação contínua de professores e
educadores que não tiveram em sua formação inicial o desenvolvimento de
habilidades voltadas as linguagens midiáticas, audiovisual com uso de tecnologia
nômade e computacional.
Dessa forma, trabalhar o audiovisual nas escolas não é inédito. Muitos
educadores adotam filmes ou vídeos variados para serem utilizados em discussões
sobre temas e conteúdos escolares diversos dentro da sala de aula, no entanto
sabemos que o vídeo por si só não garante uma aprendizagem significativa
(AUSUBEL,1982), pois a presença do professor na sala de aula torna-se
indispensável, já que é ele que com a sua criatividade e habilidade, quem percebe
as ocasiões adequadas.
Por outro lado, o uso do vídeo, mais que um suporte pedagógico, a
presença do audiovisual, e em especial o cinema na escola se tornou lei no Brasil. O
artigo 26 da Lei 13.006/96 prevê a obrigatoriedade de exibição de produções
audiovisuais brasileiras, no mínimo por duas horas mensais, em escolas de
educação básica, no entanto sabemos que apenas ser um mero não é o ideal, nem
tão pouco satisfaz essa geração que nasceu e respira audiovisual, interatividade e
manuseia celular com câmera cada vez mais cedo.
Hoje, o aluno quer criar o próprio conteúdo, faz uso de celular e tablet.
Sendo assim, por que não vincular esta ação ao desenvolvimento de habilidades à
produção de conteúdo de arte e outros, com a devida orientação necessária?
A proposta de levar o cinema para a escola, não apenas exibindo e
discutindo filmes não é inédita, pois podemos citar boas experiências tanto fora
quanto dentro do Brasil.
Entre 2000 e 2002, o professor e cineasta Alain Bergala assessorou o
Ministério da Educação francês na realização de um amplo projeto de cinema cuja
ideia central era trabalhar o cinema no espaço escolar de forma inédita, enquanto
“arte”. Sob esta perspectiva era necessário ir além das abordagens que focam no
conteúdo dos filmes, ultrapassando a pedagogia tradicional, que entende o cinema
42
apenas como uma linguagem e o professor como um decodificador de sentidos.
Bergala é o principal referencial teórico das atividades desenvolvidas no âmbito do
“Cinema para aprender e desaprender” (CINEAD), programa de extensão da
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(CINEAD/UFRJ), criado em 2006, coordenado pela professora de psicologia da
educação da UFRJ, Adriana Fresquet.
O projeto tem promovido novos espaços para o cinema no ensino
fundamental e médio de escolas públicas do Rio de Janeiro. Nascido para investigar
a infância no cinema, com participação de estudantes universitários e professores do
Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp UFRJ).
Em 2007 o projeto incorporou os próprios estudantes da educação básica
na pesquisa. No ano seguinte, é inaugurada a Escola de Cinema do CAp UFRJ
concebida como um lugar de pesquisa, mas também como projeto piloto para
criação de outras escolas de cinema no ensino básico (FRESQUET, 2013). Desde
2011, o projeto se multiplicou criando sete escolas de cinema em instituições,
municipais, estaduais e federais. Como forma de aprofundar o diálogo entre cinema-
educação, o programa organiza o Festival de Cinema de Escolas e a Mostra Mirim
de Minutos Lumière, que reúne filmes produzidos por crianças e adolescente em
idade escolar de todo o mundo.
Exemplos como esse apontam para outras possibilidades, que com a
chegada de novas tecnologias – especialmente de smartphones e celulares com alta
capacidade de captação de imagens e sons – abre as portas para essa interface
cada vez mais presente entre educação e audiovisual, e neste trabalho explorando a
produção do “vídeo independente” feito com equipamentos “não profissionais”,
refletindo sobre a questão da predominância do olhar e da técnica sobre a
tecnologia do equipamento.
Como foi fundamentado nas teorias Cognitivista (Piaget) e sócio histórica
(Vigotski) e ainda da linguagem por Bakhtin, o audiovisual é apresentado como
ferramenta facilitadora da compreensão, leitura crítica da informação, na qual a
problematização esteja presente. Ele provoca debates, sensibiliza, ilustra,
complementa informações, levanta sugestões dos alunos e dinamiza as aulas.
43
O audiovisual pode ser usado para exemplificar diversas situações porque
“consegue mostrar uma sequência de ações, closes, movimentos acelerados,
perspectivas múltiplas” (MOORE; KEARSLEY, 2007). Porém, para que sua
utilização seja eficaz e efetiva, é necessária a mediação pedagógica, capacitada e
propensa a compartilhar conhecimentos e que estabeleça contextos interativos, de
acordo com o público-alvo.
44
3. O ROTEIRO PARA A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL E SUA CONTRIBUIÇÃO
PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E APRENDIZAGEM DO ALUNO
Este capítulo traz ao leitor a definição de roteiro, conhecimento que o
pesquisador com formação na área da comunicação pode trazer para a educação.
Entramos na formação do professor na proposta de Gómez e dentro das
concepções pedagógicas que foram fundamentando este estudo e por fim o relato
de experiência do “Animando com Massinha” que participei como pesquisador no
ano de 2016.
3.1 Definindo roteiro
Existem diferentes formas de definir o roteiro. A primeira, simples e direta,
seria: a forma escrita de qualquer projeto audiovisual. Atualmente o audiovisual
abarca o teatro, o cinema, o vídeo e a televisão. Para Syd Field (1995), o roteiro é
“alguém (ou várias pessoas), em algum lugar, fazendo alguma coisa”. Ele define o
roteiro como uma “progressão linear de acontecimentos ligados uns aos outros,
levando a uma resolução dramática”. Em outras palavras, roteiro é uma história
contada em imagens, diálogo e descrição, dentro do contexto de uma estrutura
dramática. (FIELD. 1995).
Para Jean-Claude Carriere (1996), o roteirista está muito mais perto do
diretor da imagem do que do escritor, pois o roteiro é o princípio de um processo
visual e não literário. Doc Comparato (2009) defende a ideia de que:
“escrever um roteiro é muito mais do que escrever. Em todo caso, é escrever de outra maneira: com olhares e silêncios, com movimentos e imobilidades, com conjuntos incrivelmente complexos de imagens e de sons que podem possuir mil relações entre si, que podem ser nítidos ou ambíguos, violentos para uns e suaves para outros, que podem impressionar a inteligência ou alcançar o inconsciente, que se entrelaçam, que se misturam entre si, que por vezes até se repudiam, que fazem surgir as coisas invisíveis”. (COMPARATO, 2009 p.20)
45
Comparato (2009), complementa a ideia de Carriere ao afirmar que
“romancista escreve, enquanto o roteirista trama, narra e descreve”. O roteirista vai
além, pois precisa demonstrar no papel situações concretas que o leitor do roteiro
possa visualizar. O roteiro é o filme que transcorre no papel antes de ganhar vida
nas telas.
Trazendo o roteiro nessa perspectiva temos um instrumento valioso para
exercitar e desenvolver a criatividade utilizando a produção textual dos alunos, os
quais terão que sistematizar suas ideias utilizando a escrita de forma coerente, clara,
sequencial, que será traduzida, revelada em linguagem audiovisual. Este processo
rico em aprendizagem relacionada ao contexto sócio histórico do aluno e do
professor é interdisciplinar, pois exige uma ação sistêmica de criação. Podemos com
isso, visualizar as bases curriculares se entrelaçando neste processo de
aprendizagem que é significativo, desde que o professor entenda como trabalhar
com arte e a convergência das linguagens.
Para entendermos melhor como se produz um roteiro e suas
contribuições para a educação vamos trazer para este estudo algumas bases para a
produção do roteiro.
Como toda historia possui um começo, meio e fim, um roteiro também é
construído por etapas, um passo a passo. Em um nível prático, estas etapas podem
ser definidas assim:
a. ideia,
b. story line,
c. sinopse,
d. estrutura,
e. primeiro roteiro e roteiro final.
A ideia é “o sumo” do roteiro, a base onde existirá todo o outro contexto
(conflito, personagens e ação dramática). A story line é a forma de contar o conflito
46
motivado pela ideia de maneira objetiva e sucinta. A maioria dos autores (FIELD,
1995; CANNITO & SARAIVA 2004) é unânime em dizer que uma story line não pode
ultrapassar cinco ou seis linhas. Nela deve ser apresentado o conflito, seu
desenvolvimento e sua solução. A sinopse, também chamada de argumento, nada
mais é do que o desenvolvimento da story line. Enquanto esta última economiza as
palavras ao máximo, a sinopse deve ser justamente o contrário: uma forma de
esgotar literalmente a ideia que se pretende transmitir. Assim a sinopse, baseada na
story line, e de posse do conflito e dos personagens, descreve toda a ação
dramática de forma a revelar ao leitor a história que virá a ser contada de maneira
audiovisual.
O roteiro traduz os anseios do autor, denominado roteirista, e serve como
um documento/mapa para o diretor e equipe de produção realizar determinado
projeto. Este texto será trabalhado e poderá ser comprovado após a realização da
pesquisa, ou seja, o roteiro pode ser considerado o guia para a concepção de
qualquer produto audiovisual, sendo o seu objetivo alcançado quando “sai do papel”
e se torna algo concreto, visível.
Ainda que inconscientemente o professor é um roteirista em exercício.
Ele elabora uma série de "planos de aulas" que compõem um semestre letivo de
determinada disciplina. Para cada aula, ele possui um percurso pedagógico a
percorrer para expor determinado conteúdo e ao final de 90 minutos tem que obter
um desfecho de sua aula. Seria importantíssimo traduzir este roteiro do professor
para a linguagem audiovisual e mostrar que seu trabalho é um processo criativo.
O professor como roteirista não precisa saber todos os recursos
necessários para a produção, ele tem a responsabilidade de cuidar do conteúdo
(história), a parte de concepção técnica é papel do diretor e do produtor e de sua
equipe. No caso de um trabalho desenvolvido no ambiente da escola o professor
poderia contar com seus alunos ou parcerias com profissionais externos, além de
alunos de cursos de comunicação e audiovisual para desenvolver seu projeto.
A crescente oferta de publicações de vídeos também está abrangendo a
área da educação, onde professores além de atividades de ensino presenciais,
expandem a sala de aula fazendo com que o aluno aprenda onde quer que esteja.
47
Muitos professores criam canais no YouTube e compartilham conteúdos atingindo
milhares de alunos na rede.
Uma das "webteachers" - professores que estão no YouTube Carina
Fragozo, é formada em Letras, professora de inglês há mais de 10 anos e hoje cursa
o doutorado em Linguística. Desde o final de 2008 (29 de dezembro), ela
compartilha vídeos com dicas sobre tudo o que diz respeito ao ensino/aprendizagem
da língua inglesa: pronúncia, gramática, vocabulário, livros, dicas de estudo, cultura,
curiosidades e bate-papos descontraídos com convidados a respeito desses
assuntos em seu canal no YouTube, o “English in Brazil” que atualmente possui
6.776.947 visualizações e 224.651 inscritos. (YOUTUBE, 2016)17. Em entrevista ao
site UOL Educação, Carina comenta que a preparação de um roteiro de vídeo pode
ser muito mais trabalhosa do que a de uma aula presencial. "Não posso deixar o
vídeo aberto para dúvida. Ele precisa estar completo. Além disso, preciso pensar
que todo o tipo de gente assiste aos vídeos, alunos, profissionais e até nativos de
inglês". (UOL EDUCAÇÃO, 2016)18. A fala de Carina reitera os conceitos dos
autores citados anteriormente a respeito da importância do roteiro uma vez que ele
estabelece os recursos que serão utilizados e o principalmente o uso do tempo.
Outro “webteacher”, Ivys Urquiza, professor de física e dono do canal
"Físicatotal" sabe bem as diferenças entre lecionar nesses dois ambientes, pois,
ainda hoje, se divide nas duas atividades. "A sala de aula tem a imponderabilidade.
Você prepara uma aula e o aluno faz uma pergunta tão incrível que o papo muda de
rumo. Na sala de aula falamos para 30, 40, 100 alunos. Na internet, a gente fala
para centenas de milhares de pessoas. Isso dificulta o tempo de roteirização. Na
mesma fala, tenho que contemplar públicos muito distantes", contou o professor de
física, que costuma preparar três vídeos diferentes sobre o mesmo assunto, um
vídeo para consulta, outro mais longo com conceitos e variações e um terceiro,
17 Canal “English in Brazil” disponível em https://www.youtube.com/user/carinafragozo Acesso em 28/08/2016. 18UOL EDUCAÇÃO. Autor: Thiago Varela. Aula no YouTube tira poder da escola e repassa para aluno, diz "webteacher" disponível em: http://educacao.uol.com.br/noticias/2016/06/07/aula-no-youtube-tira-poder-da-escola-e-repassa-para-aluno-diz-webteacher.htm Acesso em 08/06/2016
48
completo, em que explora todos os aspectos para o ensino médio. (UOL
EDUCAÇÃO, 2016).
O professor divide os assuntos em pacotes que são entregues ao público
de acordo com o que eles querem. Essa organização de conteúdo só é possível
graças ao planejamento (roteiro) pensando no objetivo final de seus vídeos, a
aprendizagem dos alunos que acessam os vídeos.
Um dos mais recentes é o professor de história que prepara os alunos
para o vestibular nas aulas Vestibular em Cena. O canal do YouTube criado pelo
professor Fábio Monteiro traz conteúdos para vestibular da área de Humanas, que
envolve a interpretação de questões através de referências audiovisuais.
Ao propor a ideia de “professor roteirista” o próximo passo é desmistificar
a dificuldade em elaborar a produção audiovisual e mostrar a possibilidade de levá-
la para a escola.
3.2 A contribuição da produção audiovisual para o professor
No capítulo anterior, esclarecemos a concepção que adotamos de
aprendizagem baseada em Goméz. Para pensar a aprendizagem desta forma,
temos que ter professores com uma percepção ampla de escola e de sua profissão,
e não com uma perspectiva puramente tradicional, onde a escola como único
espaço de aprendizagem.
Continuamos com Gómez que aponta algumas questões referentes à
formação inicial de professores:
i) o velho paradigma de formação de docentes baseado na universidade, onde o conhecimento acadêmico é visto como uma fonte autoritária do conhecimento, deve ser substituído por outro, em que se favoreça um jogo não hierárquico entre o conhecimento da comunidade especialista, acadêmicos e estagiários; ii) a ausência de relação entre os cursos universitários e as experiências de campo são o calcanhar de Aquiles dos programas convencionais de formação de docentes. [...] experiências clínicas e práticas como o foco central na formação de docentes, desde que sejam
49
desenvolvidas em centros inovadores e submetidas ao estudo da investigação compartilhada; iii) a criação de um terceiro caminho entre as universidades e as escolas, para concentrar os processos de formação, prática e investigação, um espaço mais conceitual do que físico, que envolva uma mudança de mentalidade, para superar a insistente e perversa separação entre investigação e ação, bem como a concepção hierárquica da relação teoria e prática que despreza a sabedoria da experiência (GÓMEZ, 2015, p. 150).
Vamos nos deter ao último item, que Gómez (2015) nos traz, e está em
total sintonia com as propostas do grupo de estudo Convergência (Universidade
Presbiteriana Mackenzie): no qual defendemos que somente haverá apropriação das
linguagens híbridas na educação, se o professor mudar de mentalidade. Essa
mudança é interna, ou seja, a formação de professores deve ser uma atividade
prática na qual a ação é refletida com a base teórica, a valorização da experiência
do professor e do aluno e o diálogo histórico e cultural entre os dois.
Temos consciência que a produção audiovisual é um processo
complexo, pois são muitos os fatores e elementos a serem considerados, além das
variantes de estilo e gênero que se pretende adotar, acrescenta-se a isso que toda
produção audiovisual independente do formato requer planejamento e possui três
etapas básicas: a pré-produção, a produção e a pós-produção.
As etapas que vamos trabalhar na formação de professores serão
propostas para a produção de audiovisual, mas também levando em consideração a
profissão do professor no contexto brasileiro.
Pré-produção ocorre o desenvolvimento do que será
apresentado como produto final. É a parte do planejamento da
execução das tarefas. Para a elaboração de um filme é
necessário um roteiro bem detalhado e estruturado, da mesma
forma o professor precisa elaborar um plano de aula destacando
os objetivos de aprendizagem, os pontos que serão abordados e
quanto tempo de sua aula cada tema ganhará sua atenção e
quais recursos ele utilizará para atingir tais objetivos. A
elaboração da prova ocorre na pré-produção.
Produção é o momento de execução e solução de atividades
técnicas, criativas e operacionais; são competências que o
50
professor precisa ter em sala de aula, pois ele precisa gerenciar
os recursos a sua disposição: o tempo, o material didático ou
recursos áudio visuais a sua disposição e de seus alunos que
desempenham dois papéis: o de público que assiste a aula, e o
de elenco pois também participa ativamente da aula. Tal qual
um produtor precisa lidar com a dinâmica da produção, o
professor lida com os imprevistos e age rapidamente para
resolver as situações que possam surgir (por exemplo,
discussões, conflitos, etc). A aplicação da prova entra nessa
etapa.
Pós-produção, ocorre após as gravações em estúdio e envolve a
edição e inserção de elementos de pós–produção conforme
especificado previamente no roteiro. É a finalização na ilha de
edição. Levando para a educação, a etapa de pós-produção diz
respeito a continuação da aula, quando o professor faz seus
apontamentos sobre o que foi abordado, disponibiliza algum
conteúdo para leitura e promove uma discussão fora do
ambiente da sala de aula; quando os alunos vão para casa e
tem a tarefa de continuar a aula realizando determinada
pesquisa de campo ou assistir um filme sobre o que foi
abordado. A correção das provas e trabalhos e o lançamento de
notas no sistema entram nessa etapa.
Devido aos diversos conhecimentos e processos envolvidos, a produção
audiovisual costuma ser um trabalho desenvolvido por uma equipe, isso reforça sua
a multidisciplinaridade que pode se transformar em um trabalho interdisciplinar,
principalmente ao agregar aluno a sua equipe, o aluno deixa de ser consumidor e
passa a ser produtor, protagonista de suas aulas colaborando com o professor. O
tamanho da equipe e os envolvidos varia de projeto a projeto, de acordo com a sua
complexidade, por exemplo, para se criar um vlog (vídeo blog), uma mesma pessoa
pode fazer o papel de roteirista, apresentador, “apertar o rec” (gravar), editar e
depois publicar o vídeo nas redes sociais – o que de fato muitos vlogers famosos
fizeram no início de suas carreiras; diferente disso, para se fazer um filme, mesmo
51
que seja um curta-metragem, necessita-se de uma equipe com diferentes pessoas
exercendo diferentes papéis na concepção do projeto audiovisual.
Nessa dinâmica coletiva não trabalhamos apenas com conteúdos
escolares, mas temos que discutir e desenvolver outras competências, ninguém
manda e ninguém obedece: cada um cuida de sua parte, mas todos ouvem e
compõe uma obra audiovisual, cada competência individual é valorizada grupo. Na
produção audiovisual acontece o desenvolvimento de habilidades técnicas e
artísticas, de “pôr a mão na massa”, ou seja, há um treinamento do olhar,
manipulação de equipamentos e ferramentas que produziram uma história a ser
reproduzida futuramente. Além disso, desenvolvem-se as habilidades relacionais,
pois se faz necessário aprender a ouvir as sugestões e as críticas e a trabalhar
coletivamente, uma das características positivas deste trabalho, que permite a
democratização do processo criativo. Porém, isto não implica que cada um deva se
restringir a conhecer apenas uma parte, alienando-se dos outros processos.
O manual de Produção de vídeo em EAD da UFABC (Universidade
Federal do ABC 2010) organizado pela Profª Marilia Mello Pisani descreve os
envolvidos na equipe em uma produção de vídeo:
Roteirista: é ele que inicia o trabalho, desenvolvendo a ideia e
transformando-a em um roteiro.
Diretor: é aquele que apresenta a concepção de imagem e transforma
o roteiro em cenas de movimentos de câmera e planos; é ele quem
estabelece o tempo das cenas.
Produtor: participa das etapas de pré-produção, produção e pós-
produção e organiza todo equipamento e recurso necessário, garantindo
que o diretor possa acontecer.
Fotógrafo: ele cuida da imagem, trabalhando diretamente com o
diretor. Ele está sempre de olho nos elementos que compõem a forma
das imagens, como luz e cores.
Cinegrafista ou Diretor de Fotografia: é aquele que cuida da câmera.
Trabalha diretamente com o diretor e o fotógrafo. Quando ele não está
presente, é o diretor ou fotógrafo que cuidam da câmera.
52
Editor: ele é o artista da linguagem técnica, é ele que transforma as
imagens gravadas em imagens com efeitos e cortes, dando ritmo a
sequência às imagens. Seu trabalho cobre praticamente 50% da
produção de um final, segundo Alex Moletta (2009), e pode salvar ou
afundar de vez um projeto audiovisual.
Por minha experiência de quase uma década de produção (Cinema, TV,
Internet e Ensino a Distância) vou expor com mais cuidado, as principais funções de
um Produtor. O “Produtor” é a pessoa que viabiliza todo o processo de um projeto
audiovisual, desde a ideia até o produto final. De acordo com a complexidade do
projeto pode haver um produtor ou uma equipe de produtores cuidando de várias
áreas diferentes do projeto.
Porém, ao contrário do que pode parecer, o Produtor não é um mero
operacionalizador de atividades, mas ele é também um criador. Cada peça de um
cenário ou figurino participa da linguagem audiovisual e compõe, junto com o diretor
e o fotógrafo, a estética visual de um vídeo ou filme. Assim, junto com esses dois
outros personagens, se forma a tríade que cria a visão artística de um projeto, sendo
o produtor aquele que faz a ponte entre as diversas áreas, não se limitando apenas
à realização da obra audiovisual (MOLETTA, 2009, p.91).
Uma das grandes responsabilidades que o produtor deve ter diz respeito
à questão de direitos autorais. O produtor deve tomar muito cuidado ao utilizar a
IMAGEM, SOM ou TEXTOS de terceiros, pois existem leis específicas que servem
para impedir que uma obra seja indevidamente utilizada. Toda vez que for utilizar em
desses elementos, é preciso ter autorização e para isso entre em contato com os
autores ou detentores dos direitos; se não, não use e evite problemas futuros.
(MANUAL DE PRODUÇÃO DE VÍDEO EM EAD – UFABC, 2010)19.
As funções descritas acima são importantes na educação, em uma sala
de aula, pois cada um desses papéis desenvolve habilidades e competências
19.Produção de vídeo em EAD. UFABC, 2010. Disponível em: http://proec.ufabc.edu.br/uab/index.php/aulaslpt/49-rpv/aulas-producao-de-video/modulo-3/296-texto-13 Acesso em 12/03/2016.
53
importantes. O professor é o educador, responsável pelo processo de ensino e de
aprendizagem do aluno, porém, o professor contemporâneo assume uma série de
atividades pedagógicas que ultrapassam a elaboração de suas aulas no conceito
tradicional. As tecnologias exigem dele a criação de aulas que tragam a
convergência de linguagens e a hibridização de modalidades de ensino. A
associação dos papéis desenvolvidos pelo professor com os diferentes personagens
necessários para se realizar uma produção audiovisual mais bem estruturada é
oportuna e traz o aluno com suas habilidades de geração da cibercultura como
colaborador do professor.
Antes de ministrar aulas propriamente ditas, o professor no início do
semestre, precisa participar de reuniões com outros professores, coordenadores e
diretor da escola. O planejamento das atividades pedagógicas desempenhadas ou
orientadas por ele, não é um trabalho somente dele. O professor recebe um projeto
pedagógico da escola sob o qual desenvolve seu plano de aula, atividades,
trabalhos, forma de avaliação, etc, neste momento ele desempenha o papel de
roteirista, estruturando sua forma de trabalho, o como vai entregar o conteúdo para o
seu público (alunos).
Percebemos que professor e aluno não dialogam a respeito do que será
tratado ou utilizado como recurso, o aluno é consumidor da produção (aula) do
professor. A ‘co-laboração’ ou ‘co-operação’ e o compartilhamento de
responsabilidades não são considerados, e assim o professor continua carregando e
assumindo o protagonismo na sala de aula, ou seja, pode-se entender que o foco
fica no ensino e não na aprendizagem.
No momento em que o professor vai para a sala de aula, ministrando
determinado conteúdo, aplicando uma prova ou assistindo um seminário está no
papel de protagonista (ator principal) e produtor (gerente do projeto). Após a
exposição dos conteúdos acontece a aplicação da avaliação e depois a
publicação/divulgação destas notas/conceitos, o professor continua desempenhando
o papel de um produtor, realizando um relatório sobre a situação da produção
acadêmica em questão, fazendo a “prestação de contas” e realizando ações
necessárias de recuperação tais como provas substitutivas e trabalhos para
54
recuperação de notas. Nesta parte de avaliação final, e depois na recuperação ou
reforço escolar o professor também continua atuando como um editor, selecionando
seu próprio material (já preparado anteriormente) e expondo o que ele considera
fundamental para o aluno.
Mas como falamos; assim como em uma produção de filmes, nada
acontece somente com uma pessoa, a aprendizagem também não acontece
somente por causa do professor. O aluno, por sua vez representando a
aprendizagem, passa a ser o agente neste processo e desempenha também o papel
de ator e não só como ouvinte, mas é parte da equipe com suas habilidades e pode
colaborar. Nesse momento, o professor desempenha o papel de diretor, orientando
e supervisionando as ações para que o resultado final seja agradável para ambos.
Além disso, existe a comunidade, os pais, a direção, os órgãos competentes e a
coordenação que cuidam da organização escolar e juntos interferem no processo
educacional que não se restringe às paredes da instituição de ensino.
Ao falar no professor como produtor, não temos a intenção de torna-lo um
profissional do audiovisual, mas sim desmistificar a dificuldade da linguagem e
valorizá-la para a aprendizagem. Mostrar que as ferramentas: celulares e tablets e
as técnicas estão mais próximas dos professores do que eles pensam.
O objetivo é que alunos e professores possam conduzir um processo de
desenvolvimento de produtos didáticos na linguagem audiovisual a partir do
conteúdo estudado nas diversas disciplinas do currículo, pois a proposta possibilita o
trabalho coletivo entre os professores.
Do ponto de vista pedagógico, o professor saberá, portanto, qual
linguagem audiovisual está de acordo com a sua turma, objetivos do projeto e ainda
facilitará a aprendizagem do aluno em um determinado conteúdo, isto é, em alguns
casos pode-se entender muito bem a partir de uma entrevista, já em outros é
necessário uma animação ou ainda um documentário que promova um debate entre
os alunos, se faz importante ressaltar que o material didático produzido é parte da
memória da escola, do processo de aprendizagem e de avaliação.
55
3.3 Animando com Massinha: Relato de experiência de uso de linguagem
audiovisual em escola de Educação Básica
O Projeto “Animando com massinha”, coordenado pela Prof.ª Dra. Maria
de Fátima Ramos de Andrade, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em
Educação, Arte e História da Cultura (PPGEAHC) da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, teve suas atividades desenvolvidas no ano de 2016. Esse projeto contou
com recursos do “MackPesquisa” e uma equipe interdisciplinar composta por: 2
professoras do PPGEAHC (Prof.ª Dra Maria de Fátima Ramos e Prof.ª Dra. Ingrid
Hotte Ambrogi), e por 7 alunos-pesquisadores, sendo 2 de graduação (Elena Novo,
aluna de Licenciatura em Biologia e Leonardo Lahoz Melli, aluno de Publicidade) e 5
de pós-graduação (Helena Zanella Prates, Mariana Hossein Fontes, Maria Filippa
Jorge, Nathalia Nunes Teixeira e Fernando Luis Cazarotto Berlezzi - alunos do
Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura).
As atividades ocorreram, durante 4 meses, no segundo semestre de
2016, às sextas-feiras, no período das 07h às 11h. Como aluno pesquisador e
participante, descreverei um pouco sobre o processo de realização das atividades,
afim de exemplificar a aplicação do uso de linguagem audiovisual em uma escola da
rede pública de Educação Básica na cidade de São Paulo, dando uma atenção
especial a elaboração e aplicação do roteiro. A pesquisa-ação, de caráter
intervencionista, foi realizada com o objetivo de promover formação a alunos e
professores.
Assim, foi proposto como eixo do nosso projeto de intervenção: Oficinas
para a construção de textos audiovisuais – filmes de animação - como estratégia
para ampliação do processo de alfabetização. Nessa direção, o presente projeto, de
caráter eminentemente prático, mas fundamentado teoricamente, teve a intenção de
ampliar o conceito de alfabetização no campo de vários sistemas semióticos,
seguindo a ideia de que o conhecimento das conexões entre os códigos que
compõem a elaboração e organização do texto audiovisual possibilitam a ampliação
de sentidos de textos audiovisuais.
Além disso, o projeto foi realizado com a finalidade de atingir os seguintes
objetivos: o objetivo geral foi de ampliar o conceito de alfabetização no contexto
56
atual, contribuindo com a formação de alunos e professores da rede pública de
ensino. E os objetivos específicos foram:
oportunizar a participação dos alunos e professores nas atividades de
elaboração de filmes de animação;
oferecer aos alunos e professores oportunidades de acesso a uma
produção de mídia diversificada, desenvolvendo a sensibilização dos
sentidos em relação a novas formas de linguagem;
conhecer os elementos que compõem o filme de animação (linguagem
audiovisual);
elaborar filmes de animação com massinha e; ampliar as estratégias
de leitura do texto audiovisual.
Antes da descrição do que foi feito na escola, conceituaremos o que é
“filme de animação”. O desenho animado é uma das modalidades do cinema de
animação, assim como a computação gráfica e a animação de massa de modelar
(massinha). A oficina a ser descrita fez uso dessa técnica – animação com
massinha. Na produção do filme de animação com massinha, a arte manual é
bastante utilizada, é um trabalho que exige tempo e tem caráter experimental.
O “Filme de animação” é um processo cinematográfico que consiste,
basicamente, na filmagem quadro a quadro de imagens estáticas que parecem
mover-se apenas no momento da projeção. Logo, quem faz animação transforma o
que é estático em algo que se movimenta. É isto que faz com que seja totalmente
diferente da filmagem ao vivo, na qual o objeto é filmado em movimento.
Assim, animação com massinha não é ação ao vivo; fazê-la é criar a
ilusão do movimento e dar vida a objetos estáticos, ou seja, simular o movimento.
Enquanto no filme comum, quem faz os movimentos são os próprios personagens,
na animação, quem dá vida aos personagens é o animador (ilusionista) e, como tal,
deve buscar transcender a matéria ou a técnica com a qual se lida.
Sendo assim, ao idealizar os movimentos a serem criados se estabelece
um projeto a ser seguido: o que pretende animar, que história pretende narrar.
Quando o “filme de animação” é um projeto coletivo, os participantes
geralmente, elaboram um material para servir de referência para a construção da
imagem audiovisual – o roteiro. Esse documento, usualmente, pode ser feito por
meio da escrita ou do desenho (story board) ou pode usar os dois recursos ao
57
mesmo tempo. Há animadores que, a partir da construção de um personagem, vão
estabelecendo a trama da história a ser contada. São várias as estratégias que o
grupo/o animador pode usar para a confecção de seu filme.
Sabemos que uso da escrita interfere na construção da linguagem
audiovisual, ou seja, a linguagem escrita está disponível para colaborar na
construção da imagem. Vale lembrar que, ao aprendermos determinado conteúdo,
como por exemplo, a construção de filmes de animação, utilizamos conhecimentos
já assimilados de outras linguagens, o que temos de disponível é requisitado para a
aprendizagem de um novo conteúdo. Logo, a construção de filme de animação se
faz a partir do conhecimento já assimilado.
Por exemplo, se o animador decide iniciar o seu trabalho usando
linguagem escrita (roteiro), ele sabe que o tempo da linguagem escrita é diferente do
tempo da linguagem audiovisual. Assim, podemos compreender que a escrita perde
sua dimensão e é modelizada pela linguagem audiovisual, fazendo parte, nesse
caso, do processo de construção dos filmes, cuja elaboração depende das conexões
estabelecidas entre os códigos (sonoros, visuais e cinéticos). Assim, o conhecimento
de tais códigos interfere na produção de textos audiovisuais.
Enxergar a imagem e escutar o som que será divulgado, no momento em
que escreve o roteiro, assim como selecionar os elementos visuais e auditivos que
servirão de referência para despertar o interesse do espectador são passos
importantes a considerar.
O roteiro é um instrumento que visa transformar a linguagem
cinematográfica em palavras. Quem elabora o roteiro tenta, por meio da escrita,
alcançar a cinematografia ou vice-versa. Quando os alunos realizaram essa
atividade tiveram que passar de uma codificação para outras codificações e,
coletivamente, foram estabelecendo essas trocas.
Um dos elementos desse processo, como se viu, é a percepção de que o
tempo do texto escrito destinado para a construção do filme audiovisual é diferente
do tempo destinado para outros textos.
Outro aspecto importante é a preocupação, ao escrever, em “enxergar” a
imagem e “escutar” o som que será divulgado: a cena que será mostrada. Além
disso, selecionar os elementos visuais e auditivos que servirão de referência para
despertar o interesse do espectador.
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Ao criar seus textos (falas, personagens, cenários, etc.), o animador usa
as disponibilidades que existem nos sistemas e no ambiente. Propor que há
transformação, deslocamento, conexões é perceber que as linguagens estão
sempre num processo de expansão, de modificação, de criação, de experimentação.
Contudo, produzir filmes de animação é saber lidar com as mediações
presentes nesse formato; é uma experiência cognitiva de linguagem, pois o
animador, ao transformar códigos, estabelece novas formas de diálogo com o
mundo e com isso amplia seu conhecimento.
Assim como acontece no audiovisual, o projeto desenvolveu-se em 3
etapas:
1ª Etapa - Pré-Produção: encontros iniciais com os pesquisadores
visando à preparação para as oficinas. Nessa etapa, ocorreu a
“qualificação da equipe” com leituras de textos, com a intenção de
discutirmos a importância do trabalho a partir das diferentes
linguagens, em especial, a linguagem audiovisual. Também assistimos
vídeos de animação em massinha. Houve ainda, o planejamento das
oficinas e a obtenção da autorização da diretoria de ensino, para o
início do trabalho na Escola Estadual República da Bolívia.
2ª etapa – Produção: aplicação das oficinas: o projeto “Animando
com Massinha” foi desenvolvido em 15 aulas, num total de oito
encontros.
3ª etapa – Pós-Produção (atual): trata-se da divulgação, ou seja, da
publicação dos resultados da pesquisa em artigos científicos e
apresentações em eventos.
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Figura 1 – Escola Estadual República da Bolívia
Fonte: Foto de Mariana Houssein (2016)
O logo do projeto “Animando com Massinha” foi criado pela aluna de
mestrado Mariana Hossein Fontes, participante do projeto.
Figura 2 – Logo do Projeto Animando com Massinha
Fonte: Mariana Houssein (2016)
As atividades foram desenvolvidas numa classe de 5º ano do ensino
fundamental, no período matutino durante as aulas de artes, e as oficinas foram
divididas em 3 módulos:
Módulo I: 4h/aulas – Conceitos de animação;
Módulo II: 8h/aulas – Conceitos e elaboração de roteiro e
Módulo III: 4h/aulas – Criação de cenário, modelagem de
personagens, produção do filme, edição de som. O quadro abaixo
apresenta o desenvolvimento das oficinas.
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Quadro 1 – Desenvolvimento das Oficinas
Módulo I: 4h/aulas – Conceitos de animação
Encontro 1 1ª e 2ª aulas
Descrição
Apresentação de peça teatral: Mito do Imperador e Bailarina que conta como surgiu o Teatro de Sombras. Texto adaptado pela Helena Prates, integrante do projeto. Objetivos: Introduzir e ilustrar conceitos básicos para se pensar em encenação e animação.
Imagens do dia
Após a apresentação, os alunos tiveram seu 1º contato com animação, iniciando o processo como protagonistas de suas criações.
Encontro 2 3ª e 4ª aulas
Descrição Apresentação e explicação de técnicas de animação, utilizando brinquedos óticos. Atividade proposta: Criação de Taumatrópio. Objetivo: Compreensão do princípio de animação.
Imagens do dia
Módulo II: 8h/aulas – Conceitos e elaboração de roteiro e Módulo
Encontro 3 5ª e 6ª aulas
Descrição Apresentação de conceitos de roteiro: estrutura básica para se contar uma história, definições de cena e ação. Exibição comentada de filmes curtos de animação. Objetivos: Introduzir como se faz um roteiro. Criar bagagem referencial de roteiros,
personagens, cenários, processos de produção (making of), etc.
61
Imagens do dia
Encontro 4 7ª e 8ª aulas
Descrição
Escrita do roteiro: Primeiro escreve-se uma sinopse da história, depois o roteiro, pensando em cenas, falas de personagens e letreiros. Objetivo: Desenvolver a etapa do processo de traduções em que o aluno transforma a ideia à linguagem oral, e depois para a escrita.
Imagens do dia
Módulo III: 4h/aulas – Criação de cenário, modelagem de personagens, produção do filme, edição de som.
Encontros 5 e 6
9ª, 10ª, 11ª e 12ª aulas
Descrição Desenvolvimento dos cenários (em 2D e 3D) e personagens, modelando com a massinha. Objetivo: Exercitar a expressão através da modelagem da massinha, e também as traduções que o processo exige, agora da linguagem verbal à visual.
Imagens do dia
62
Como é feito um filme de animação? “Para fazer um filme de animação é preciso fazer um roteiro, fazer um roteiro de som, fazer a modelagem dos bonecos de acordo com o roteiro (massinha). Depois é só fotografar exemplo: um movimento fotografo, outro movimento fotografo de novo.” (Aluno participante)
“Eu queria mudar um pouco a história porque no filme verdadeiro o final dele é triste, o King Kong morre. Então eu queria mudar um pouco o final.” (Aluno participante)
Encontro 7 13ª e 14ª aulas
Descrição Produção dos filmes: Com o roteiro em mãos, o cenário e os personagens já posicionados, fotografamos com o celular através do aplicativo Estúdio Stopmotion. Objetivo: Aprendizado do processo de animação, colocar em prática os conceitos dados na elaboração do roteiro (cena, ação, entre outros). Exercitar a criatividade para solucionar questões como: fazer os personagens voar, representar emoções, continuidade entre as cenas, criação de artifícios para efeitos visuais (água), etc.
Imagens do dia
63
“Um filme de animação de massinha é feito com o personagens de massinha, cenários e é tirado várias fotos para dar a impressão de que o boneco está se movimentando.” (Aluno participante)
Encontro 7 15ª e 16ª aulas
Descrição Gravação de falas e sons. Escolha da trilha sonora, a partir de uma biblioteca de músicas que levamos, com 80 músicas subdivididas em: Dramáticas, Alegres, Tristes, Românticas, de Suspense, e de Ação. Escolha de efeitos sonoros, a partir de uma biblioteca com 50 áudios. Objetivo: dar mais recursos à criatividade deles. Aqui, o processo de tradução vai da linguagem escrita e visual para a sonora.
64
Imagens do dia
“Primeiro o grupo escreve um texto, que depois é transformado em um roteiro. Depois, de acordo com o roteiro é feito as personagens (de massinha) que vão fazer parte da história. Depois fazemos o cenário, gravamos o “stop-motion” e por fim, é colocado o áudio.” ( Aluno participante)
“Primeiro fazemos um texto com oque ira acontecer, depois as masinhas, o cenario, tire fotos e baixe um aplicativo e acrecente os sons.” (Aluno participante)
Encontro 8 Encerramento e Avaliação dos Alunos
Descrição Exibição dos filmes para toda a escola Conversa Questionário com 7 perguntas Objetivo: Avaliar o processo e identificar o que, na percepção deles, foi aprendido.
Imagens do dia
“Não é só por linguagem escrita ou oral, você pode se comunicar por música ou por filme ou por várias coisas.” (Aluno participante)
“Foi um trabalho divertido. Dá trabalho? Bastante! Mas no final é uma experiência que a gente dá vida a uma coisa que não tem, e cria qualquer personagem que a gente quer”. (Aluno participante)
Fonte: o autor (2017), Fotos de Fernando Berlezzi, Mariana Houssein e Camila Moreira
“Não é só por linguagem escrita ou oral, você pode se comunicar por
música ou por filme ou por várias coisas”. Essa fala de um dos alunos participantes
65
revela o objetivo alcançado no projeto que foi de levar a possibilidade de trabalhar
com outras linguagens (imagens e sons). Alguns alunos que não conseguiam se
expressar até mesmo verbalmente, desenvolveram ótimos trabalhos com o uso da
massinha e dos elementos da produção de animação.
O roteiro teve papel fundamental no planejamento dos videos a serem
produzidos, pois os alunos puderam colocar no papel todas as ideias e justamente
descartar as ideias “mirabolantes”, dificeis de serem produzidas. A experiência no
Projeto “Animando com Massinha” comprovou a importância do uso da linguagem
audiovisual, em especial a produção de roteiro como para a sistematização das
ideias, do processo criativo que foi posteriormente traduzido na produção
audiovisual valorizando o texto imagético.
Sabemos que a alfabetização semiótica – uma competência necessária
para a leitura e produção de textos audiovisuais na sociedade contemporânea – já
acontece fora da sala de aula, de maneira informal, iniciada pela família, dentro do
contexto social no qual a criança está inserida. Desde que nasce, a criança já
consome os bens culturais produzidos pelo seu universo cultural, interpreta a língua
materna, aprende a falar, a comunicar-se, faz uso da linguagem oral, gestual, escuta
rádio, vê televisão, algumas utilizam computadores, etc., enfim, ela está inserida em
contextos multilinguísticos, nos quais estabelece relações e constrói significados.
Assim, percebemos que somos sujeitos capazes de produzir e atribuir
sentidos no decorrer dos nossos processos comunicativos; estamos o tempo todo
ressignificando as mensagens, por meio da nossa estrutura cognitiva, as mensagens
que nos chegam das relações sociais que estabelecemos com o meio social e físico.
Logo, não podemos estabelecer um único caminho no processo de
aprendizado de um determinado conteúdo, como, por exemplo, o da linguagem
audiovisual. Devemos, sim, respeitar os conhecimentos prévios de nossos alunos e
utilizá-los como ponto de partida para o aprendizado de um novo conteúdo e isso
ficou claro na parceria entre as professoras que participaram da oficina, juntamente
com os alunos colocando literalmente a “mão na massa”.
Por mais que as tecnologias façam parte do nosso dia-a-dia, ainda são
poucas as possibilidades que temos de usufruí-las. Provavelmente, a sensação de
produzir um texto audiovisual é parecida com a que tivemos quando começamos a
escrever: o poder de transmitir uma ideia por meio de uma determinada linguagem.
66
Como vimos, as oficinas propiciaram momentos de sensibilização,
reflexão, experimentação e transformação de sistemas de representação. Com isso,
o trabalho desenvolvido esteve mais próximo de uma concepção construtivista, pois
os alunos, efetivamente, participaram: partilharam ideias e as praticaram,
concretizando-as em filmes de animação. Além disso, a dinâmica desenvolvida nas
oficinas assemelhou-se ao movimento de nossa cultura, uma vez que, alunos e
professores experimentaram e transformaram sistemas semióticos. O fato de
vivenciarem essa dinâmica cultural foi fator determinante para o processo de
alfabetização semiótica.
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4. METODOLOGIA
No decorrer da viagem, Alice encontra muitos caminhos que seguiam em várias direções. Em dado
momento, ela perguntou a um gato sentado numa árvore: - Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para
sair daqui? - Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o
gato. - Eu não sei.
O gato, então, respondeu sabiamente: - Sendo assim, qualquer caminho serve.
(Dialogo do filme Alice no País das Maravilhas, 2010, dirigido por Tim Burton, baseado no livro homônimo
de Lewis Carroll)
4.1 O Percurso da Pesquisa
Para onde você quer ir Fernando? Muitas vezes foi a pergunta de minha
orientadora e isso me remeteu a uma frase atribuída a Galileu Galilei, de que “não se
pode ensinar coisa alguma a alguém, pode-se apenas auxiliá-lo a descobrir por si
mesmo.” Por mais que eu tivesse auxílio de pessoas externas, a autoria da pesquisa
teria que ser minha e como falei anteriormente, entrei no programa de caráter
interdisciplinar justamente com o objetivo de contribuir com minha experiência
profissional como produtor audiovisual além de minha formação acadêmica nas
áreas de administração de empresas, publicidade e propaganda para o campo da
educação. Isso justifica-se uma vez que estamos inseridos num programa
interdisciplinar em que se busca a relação e contribuição de diversas conhecimentos
para dialogar com a educação.
Por trabalhar com audiovisual e ter experimentado outras áreas além do
vídeo (música, teatro, literatura) estou certo de que minha maior contribuição se dará
mostrando a potencialidade da linguagem audiovisual de expandir além da sala de
aula e dos muros da escola, o conhecimento produzido por seus professores e
alunos.
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A escolha pelo tema e desenvolvimento da pesquisa no ensino básico
deu-se justamente pela natureza do programa de pós-graduação no qual tem o
objetivo de contribuir com a formação de professores.
A linha de pesquisa “formação do educador para a interdisciplinaridade”
investiga processos de ensino e aprendizagem a partir de dimensões cognitivas,
técnicas, políticas, histórico-culturais e artísticas, tendo como eixo questões postas
pela tecnologia e contemporaneidade.
Assim, acreditamos que a escola é esse ambiente que possibilita a
pesquisa, mas também o lugar onde podem ser aplicadas as contribuições geradas
pela pesquisa acadêmica, além de revelar-se um campo com muito espaço para se
trabalhar. Portanto, buscamos na escola um local de aplicação do projeto de
pesquisa.
O primeiro contato com a escola foi por e-mail em janeiro de 2016,
solicitando uma reunião com a coordenadora do Ensino Fundamental II (EF II), o
aluno pesquisador e a orientadora. Conseguimos a reunião ainda no mesmo mês,
antes do retorno dos professores e dos alunos. Na conversa com a coordenadora,
ouvimos suas necessidades e realizamos a apresentação da proposta da pesquisa
cujo objetivo inicial era identificar o uso do audiovisual pelos professores da escola.
A coordenadora de EF II nos relatou algumas experiências envolvendo os
alunos e a produção audiovisual: um vídeo sobre bullying praticado por dois irmãos
a outro aluno, que acabou sendo compartilhado em redes sociais entre os colegas.
Lamentamos que esta “produção audiovisual” não chegou a ser analisada e
trabalhada de maneira a evitar futuros casos, debatendo e conscientizando sobre o
tema.
Outro caso aconteceu quando os alunos, para produzir um trabalho
complementar, produziram um vídeo nas dependências do colégio utilizando objetos
cenográficos reais (faca de cozinha) o que despertou a preocupação da segurança
do local e o caso foi parar na coordenação; os objetos foram apreendidos e os
alunos foram advertidos.
69
Notamos que não houve nenhuma instrução a esses alunos para a
realização do trabalho audiovisual, por isso nos oferecemos para realizar uma
conversa inicial de orientação aos professores na semana de planejamento de
atividades pedagógicas realizada antes do início do período letivo, visando falar
sobre legislação e usos dos vídeos produzidos. Não obtivemos resposta sobre essa
proposta de conversa com os professores.
Paralelamente foi desenvolvido um questionário, o qual enviamos no dia
19 de janeiro de 2016 à coordenadora para que ela fizesse suas observações e
revisão do instrumento de pesquisa. No dia 18 de fevereiro de 2016, tivemos a
resposta com a aprovação do questionário por parte da orientadora pedagógica e da
coordenadora e no dia 24 de fevereiro de 2016, enviamos por e-mail o link para a
aplicação da pesquisa juntamente aos professores, por meio de questionário online
a fim de facilitar a resposta dos professores.
Somente a partir do dia 05 de abril obtivemos as respostas de 16
professores do colégio e partimos para a análise dos dados. Na ocasião, a escola
pesquisada se mostrou aberta para dar continuidade aplicação da pesquisa de
caráter experimental-prático etnográfico, onde o pesquisador atuaria como
pesquisador-formador, aplicando oficinas de capacitação junto a professores e
alunos, após a banca de qualificação e suas considerações. Seria realizada uma
pesquisa de caráter etnográfico, no sentido de colocar o pesquisador dentro do
espaço pesquisado e em imersão com os sujeitos de pesquisa, professores e
alunos.
Até o momento da banca de qualificação (outubro/2016) o
desenvolvimento da pesquisa pode ser descrito da seguinte maneira:
1) Realizado a Pesquisa Bibliográfica
2) Definido o local para aplicação da pesquisa: Escola particular de
Educação Básica na cidade de São Paulo;
2) Definido o público da amostra da pesquisa: professores de ensino
fundamental II em diálogo com alunos;
70
3) Foi aplicado questionário com perguntas abertas para dezesseis
professores participantes, e a análise dos dados foi apresentado com a
apreciação da banca, a proposta para a continuidade da pesquisa-ação: a
realização da formação audiovisual dos professores com base nas
dificuldades identificadas pela pesquisa aplicada e novas entrevistas com
a amostra afim de descrever o processo e os resultados provocados por
ele.
Após a qualificação, mediante as apreciações da banca, avaliamos e
tentamos prosseguir com a continuação da pesquisa-ação por meio do
desenvolvimento da formação continuada.
Ainda em 2016, foram realizados quatro encontros com professores e
alunos que participaram desta segunda etapa da pesquisa: os dois iniciais, com a
finalidade de conhecer o grupo e apresentar a proposta de formação; no terceiro
encontro os alunos puderam fazer uma visita aos estúdios de fotografia, rádio e de
TV da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afim de conhecer espaços de
produção de “áudio” e “visual”; no quarto encontro, ocorreu somente entre o
pesquisador, sua orientadora e os professores, com o objetivo de desenvolver o
cronograma das oficinas.
O próximo passo foi apresentar às direções da Escola, do Programa de
Pós-Graduação e de outros envolvidos, um relatório parcial do desenvolvimento da
pesquisa ação, e do cronograma para a aplicação das oficinas de formação.
Durante os encontros, tivemos todo o apoio e interesse dos dois
professores envolvidos e, principalmente, o interesse de levar a linguagem do áudio
visual para a escola. Também a reação dos alunos nos encontros e o contato com a
Rádio e TV da Universidade Presbiteriana Mackenzie mostrou como é importante a
escola expandir seus espaços e utilizar recursos tecnológicos que podem se
transformar em pedagógicos.
O processo de um pesquisador se dá por meio de incertezas por mais que
acreditemos em nossas hipóteses, os caminhos escolhidos não são definitivos e
podem nos desviar da proposta original. No momento, não foi possível dar o
71
prosseguimento e aprofundamento da pesquisa junto aos educadores e alunos, por
isso a proposta de formação apresentada no capitulo 6, teve como fundamentos a
pesquisa bibliográfica e qualitativa, reveladas nos próximos capítulos deste trabalho.
Assim, podemos entender que a escola tem um cenário sócio cultural que
muda e os alunos fazem parte desse contexto. Podemos refletir à luz das teorias
cognitivas e sócio históricas para levar à escola propostas de uso de novas
linguagens ligadas à tecnologia digital numa abordagem cultural e cognitiva.
Ou continuamos indo ao encontro das inovações, ou fingimos que essas
tecnologias não existem e ainda que não podem ser aproveitadas para a melhoria
do aprendizado dos alunos.
Também refletindo sobre a formação dos professores voltamos a Gómez,
ratificando a ideia do autor quando ele coloca que um dos problemas está em que o
que prevalece: “velho paradigma de formação de docentes baseado na
universidade, onde o conhecimento acadêmico é visto como uma fonte autoritária do
conhecimento, deve ser substituído por outro, em que se favoreça um jogo não
hierárquico entre o conhecimento da comunidade especialista, acadêmicos e
estagiários”. (GOMÉZ, 2015, p.150).
4.2 Descrição da Metodologia de Pesquisa
A pesquisa é a atividade principal da ciência, ela possibilita uma
aproximação e um entendimento da realidade a investigar. De acordo com Fonseca
(2002), a pesquisa possibilita uma aproximação e um entendimento da realidade a
investigar, como um processo permanentemente inacabado. Processa-se por meio
de aproximações sucessivas da realidade, fornecendo-nos subsídios para uma
intervenção no real. (SILVEIRA E GERHARDT, 2009).
A pesquisa científica é o resultado de um inquérito ou exame minucioso,
realizado com o objetivo de resolver um problema, recorrendo a procedimentos
científicos. Investiga-se uma pessoa ou grupo capacitado (sujeito da investigação),
abordando um aspecto da realidade (objeto da investigação), no sentido de
comprovar experimentalmente hipóteses (investigação experimental), ou para
descrevê-la (investigação descritiva), ou para explorá-la (investigação exploratória).
72
Um tipo de pesquisa pode ser definido após identificar os diferentes tipos
de pesquisa. Sendo assim, apresentamos os tipos de pesquisa adotadas para este
trabalho e as suas justificativas.
1) Quanto à abordagem: Pesquisa qualitativa
A pesquisa qualitativa preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade
que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da
dinâmica das relações sociais.
Nesse tipo de pesquisa, o cientista é ao mesmo tempo: o sujeito e o
objeto de suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O
conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo da amostra é de
produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que
importa é que ela seja capaz de produzir novas informações (DESLAURIERS, 1991).
Para Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a
um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Aplicada inicialmente em
estudos de Antropologia e Sociologia, como contraponto à pesquisa quantitativa
dominante, tem alargado seu campo de atuação a áreas como a Psicologia e a
Educação. E ainda para ele, a pesquisa qualitativa é criticada por seu empirismo,
pela subjetividade e pelo envolvimento emocional do pesquisador.
Os pesquisadores que utilizam os métodos qualitativos buscam explicar o
porquê das coisas, exprimindo o que convém ser feito, mas não quantificam os
valores e as trocas simbólicas e nem se submetem à prova de fatos, pois os dados
analisados são não-métricos (suscitados e de interação) e se valem de diferentes
abordagens.
Escolhemos pela pesquisa qualitativa, pois permite uma análise de dados
para entender os fenômenos a partir da pesquisa realizada, com a aplicação de
questionários em questões abertas confrontando com o referencial teórico escolhido.
2) Quanto à natureza: Pesquisa aplicada
Objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigidos à solução
de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais.
A pesquisa pretende apresentar uma proposta de formação audiovisual
73
para o púbico pesquisado: professores de Educação Básica de uma escola
particular na cidade de São Paulo.
3) Quanto aos objetivos: Pesquisa exploratória
Este tipo de pesquisa tem como finalidade, proporcionar maior
familiaridade com o problema, a fim de torná-lo mais explícito ou construir hipóteses.
A maioria dessas pesquisas envolve: a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas
com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e c)
análise de exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2007).
Este trabalho foi realizado com: a) levantamento bibliográfico - pesquisou-
se iniciativas de trabalhos realizados, de forma a analisá-los ainda que não com a
profundidade requerida para cada um deles – devido limitações de tempo, mas
buscou-se conhecer e apresentar iniciativas.; b) aplicação de questionário eletrônico
com 16 professores de educação básica de uma escola particular da cidade de São
Paulo; c) desenvolvimento de metodologia para formação de professores que
atendam às necessidades levantadas na pesquisa com os professores.
4) Quanto ao procedimento: Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32).
Para Gil (2007), os exemplos mais característicos desse tipo de pesquisa
são sobre investigações sobre ideologias ou aquelas que se propõem à análise das
diversas posições acerca de um problema.
A pesquisa bibliográfica teve o objetivo de buscar por trabalhos recentes
sobre o tema em que analisamos afim de contribuir nas discussões e proposta final
deste trabalho.
A busca pelos trabalhos se deu nas seguintes plataformas: Biblioteca
Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), que tem por objetivo reunir, em
um só portal de busca, as teses e dissertações defendidas em todo o País e por
74
brasileiros no exterior, a BDTD foi concebida e é mantida pelo Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) no âmbito do Programa da Biblioteca
Digital Brasileira (BDB), com apoio da Financiadora de Estudos e Pesquisas
(FINEP), tendo o seu lançamento oficial no final do ano de 2002; Biblioteca Digital de
Teses e Dissertações da Universidade de São Paulo (USP); Repositório da
Produção Científica e Intelectual da Unicamp: e a Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Os termos pesquisados foram: “o uso do audiovisual como ferramenta
para a aprendizagem”, “formação audiovisual para professores” e “uso de
audiovisual como recurso na educação”.
75
5. PESQUISA SOBRE INICIATIVAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA
O AUDIOVISUAL
Um importante estudo publicado em Setembro de 2013 pela União
Europeia mostrou que as Indústrias Culturais e Criativas (ICC) - que incluem as
indústrias da TV, do cinema e dos videogames - já são a terceira maior empregadora
dos 28 países da União (UE28), atrás apenas das indústrias de construção e de
serviços de alimentos e bebidas (bares e restaurantes) e à frente das indústrias
automotiva, química e de telecomunicações. A mesma publicação revelou ainda que
as ICC são responsáveis por mais de 7 milhões de empregos e já representam 4,2%
do PIB da União Europeia. Além disso, as ICC empregam um número maior de
jovens entre 15 e 29 anos do que qualquer outro setor no Continente: eles ocuparam
19,1% do total de empregos nas ICCs em 2013, contra uma média de 18,6% dos
empregos da economia europeia como um todo.
Dados do estudo “Impacto econômico do setor audiovisual brasileiro”
(MPA-AL; SICAV, 2014), encomendado pela Motion Picture Association América
Latina (MPA-AL) e pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Audiovisual (Sicav)
apontam que, em 2013, o setor do audiovisual foi responsável por 0,57% do Produto
Interno Bruto (PIB) nacional, obtendo participação similar a outros grandes setores,
como têxtil, vestuário, autopeças e produtos farmacêuticos, chegando a movimentar
em torno de R$ 15,7 bilhões na economia brasileira.
As oportunidades para o mercado audiovisual apresentam-se de diversas
maneiras. A aprovação da Lei 12.485/2011 pelo Congresso Nacional e sua
regulamentação pela ANCINE expandiu e modificou o setor audiovisual. A chamada
“Lei da TV Paga” criou uma oportunidade para ampliar a escala da indústria
audiovisual brasileira, garantindo uma demanda maior e mais estável às produtoras
independentes. Em resumo, a importância da Lei está no fato da obrigatoriedade de
todos os canais por assinatura transmitirem semanalmente 3h30m de programação
produzidas no Brasil. Como resultado, muitos canais internacionais e programadoras
lançaram editais para produtoras independentes brasileiras produzirem estes tipos
de conteúdos para atender a estas demandas.
76
O mercado de produção independente para TV e novas mídias vive em
um momento de crescimento no Brasil e a aprovação da “Lei 13.006” que torna
obrigatória a exibição de filmes nacionais nas escolas de Educação Básica, além
das novas mídias e formas de distribuições de conteúdos (streaming, smart TVs,
vídeo sobre demanda-VoD) revelam boas perspectivas para a área audiovisual.
A indústria audiovisual é uma usuária intensiva de trabalho humano, pois
ela apresenta uma importante vantagem em relação às indústrias de alto conteúdo
tecnológico quando gera empregos, praticamente, todos os extratos sociais:
trabalhadores intelectuais (roteiristas, pesquisadores, diretores, artistas, artistas
digitais, editores, diretores de arte, etc); técnicos de formação especializada
(eletricistas, maquinistas, iluminadores, operadores de câmera, operadores de som,
cenógrafos); e, ainda, uma vasta mão-de-obra de habilidades diversas (costureiras,
maquiadores, cabeleireiros, motoristas, marceneiros, cozinheiros e assim por
diante). Isso sem falar numa ampla gama de serviços administrativos e
complementares como advogados, contadores, profissionais de marketing,
comunicação, publicidade, auxiliares administrativos e financeiros, etc.
Por esta razão, é possível afirmar que a produção audiovisual é um dos
melhores instrumentos de promoção da justiça social no campo do trabalho humano.
O jovem que possui contato com a as linguagens e a produção
audiovisual, ganha um aprendizado imensurável, ao trabalhar em equipe e melhora
seu olhar crítico sobre o mundo diante das tecnologias digitais e seus recursos. Um
trabalho sério dentro da escola sobre as tecnologias digitais e redes sociais,
disseminação de vídeos e imagens tende a formar uma geração mais responsável
neste uso, diminuindo, por conseguinte, as formas opressivas e violentas que temos
presenciado nos últimos anos.
Para Machado e Veléz (2007), a imagem torna-se um texto para ser lido e
decifrado criticamente, por isso, existe um processo de mediação intrínseco no ato
de assistir a um conteúdo audiovisual. A escola torna-se o espaço privilegiado para
77
analisar e pensar no cinema, na televisão, nos games e em todos os outros
conteúdos audiovisuais, não apenas para futuros profissionais e estudiosos do ramo,
mas também para espectadores de modo geral.
Portanto, cresce cada vez mais a ideia de que, a imagem em movimento
no mundo contemporâneo, deve ser ensinada desde os primeiros níveis de
escolaridade até os níveis mais avançados de pós-graduação. (MACHADO E
VÉLEZ, 2007).
Neste sentido, Néstor Garcia Canclini (2004) se pergunta: por que as
escolas continuam reduzindo o ensino das artes à plástica e à música? Insistem em
treinar as crianças para que se informem apenas em livros e revistas cultas, não no
rádio, televisão, cinema. Poucos países, como a França e a Suécia, incorporaram o
cinema como matéria na Educação Pública. Na França, desde 1984 começaram a
incluir filmes nos currículos do segundo grau, e em 2002 tornou-se obrigatório o
estudo do cinema como parte da educação artística nas escolas primárias. O
argumento principal é que, desde o século XX, o cinema constitui um recurso
equivalente às artes plásticas e à literatura como requisito do desenvolvimento
cultural. Isto requer que haja filmes nas escolas, mas num sentido semelhante ao
uso de livros e discos.
Precisamos renovar as aulas usando o audiovisual no ambiente escola,
universidades e centros de pesquisa. Trata-se de, simultaneamente, capacitar as
novas gerações para trabalhos melhor remunerados e flexíveis, capacitar
trabalhadores diante de inovações tecnológicas e estéticas, formar novos públicos e
investir em pesquisas na área de audiovisual (CANCLINI, 2004).
Existe o reconhecimento de que as linguagens audiovisuais contribuem
para o ensino-aprendizagem. Enquanto, países como a França e recentemente a
Argentina incorporam o cinema como disciplina na Educação Básica, no Brasil
constata-se que ainda existe a ausência de propostas pedagógicas de iniciação à
linguagem audiovisual nos currículos escolares, bem como programas reduzidos de
fomento que visem a iniciação à linguagem audiovisual nas escolas.
78
Atualmente, e ainda com a “Lei 13006/14” que obriga às escolas de
Educação Básica a projetar cinema brasileiro, faz-se necessário repensar as
potencialidades do lugar da formação e educação do audiovisual na sociedade e nas
formulações de políticas públicas.
A falta de políticas públicas de incentivo à formação, trabalhos recentes
voltados para a temática formação de professores utilizando o audiovisual tem sido
recorrente em trabalhos acadêmicos recentes de pós-graduação (Mestrados e
Doutorados) no Brasil, revelando que existe uma tendência nesse tipo de aplicação
de linguagem em diversas áreas na educação básica e por isso a necessidade de
formação de professores.
A seguir apresento uma pesquisa sobre experiências com este tipo de
trabalho. Dividida em duas categorias: 1) Trabalhos acadêmicos, pesquisas de
Programas de Pós-Graduação em Educação e outros programas e; 2) Iniciativas de
formação audiovisual para a Educação Básica (Projetos de Extensão, Cursos Livres,
etc).
5.1. Trabalhos acadêmicos: o uso do audiovisual como ferramenta para a
aprendizagem
A pesquisa bibliográfica teve o objetivo de buscar por trabalhos recentes
sobre o tema em que analisamos afim de contribuir nas discussões e proposta final
deste trabalho.
A temática formação de professores utilizando o audiovisual tem sido
recorrente em trabalhos acadêmicos recentes de pós-graduação (Mestrados e
Doutorados) tanto no Brasil como em outros países, revelando que existe uma
tendência nesse tipo de aplicação de linguagem em diversas áreas na educação
básica e por isso a necessidade de formação de professores. A seguir apresento
uma pesquisa sobre experiências com este tipo de trabalho.
79
Quadro 2 – Trabalhos de Pós-Graduação sobre uso do audiovisual
Ano
Autor
Título do Trabalho
Programa de Pós-Graduação Tipo (Mestrado ou Doutorado)
Instituição/
Cidade
2001 Maria Adélia Alves
Filmes na escola:uma abordagem
sobre o uso de audiovisuais (vídeo, cinema e programas de TV) nas aulas de sociologia do ensino médio
Educação Mestrado
Universidade Estadual de Campinas Campinas-SP
2004 Maria das Graças Labrunie
Máquinas didatizadas: uso das tecnologias de comunicação e informação na escola.
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2005 Camila Rodrigues Leite
O grupo nós na fita: análise de uma prática midiaeducativa realizada por jovens de comunidades de baixa renda
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2006 Jozelia Jane Corrente Tanaca
Educação para a mídia televisiva: prática de professores no contexto da recepção de alunos de 1a a 4a séries do ensino fundamental de Londrina
Educação Mestrado
Universidade Estadual de Londrina - UEL Londrina-PR
2006 Livia Klein Marques da Cunha
Concepções e práticas midiáticas de professores de salas de leitura da rede pública de ensino no M Município do Rio de Janeiro
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2007 Waldemir de Araujo Filho
Cinema e ensino de História na perspectiva de professores de História.
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2007 Fernando Rodrigo dos Santos
As artes de ver de uma comunidade de espectadores: a infância em cena
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2008 João Alves dos Reis Junior.
O livro de imagens luminosas: Jonathas Serrano e a gênese da cinematografia educativa no Brasil [1889-1937]
Educação Doutorado
Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2008 Marcelo de Carvalho Bonetti
A linguagem de vídeos e a natureza da aprendizagem
Ensino de Ciências Mestrado
Universidade de São Paulo -
USP São Paulo-SP
2008 Simone Monteiro de Araújo
A produção de audiovisuais na escola: caminhos de apropriação da experiência mídia-educativa por crianças e jovens
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
80
2008 Winston de Carvalho Vieira do Sacramento
A experiência televisiva como mediadora da relação de crianças com o cinema
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2008 Simone Cleuse Marconatto
Uma brincadeira para a infância: uma proposta que inclui a linguagem de imagem e som para a produção infantil
Educação Mestrado
Universidade Estadual de Campinas
Campinas-SP
2010 Ilana Elea Santiago
A escrita de nativos digitais Educação Doutorado
Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2010 Jonatas Maia da Costa
Educação física escolar e a linguagem audiovisual: uma proposta de ação pedagógica
Educação Física Mestrado
Universidade de Brasília/UnB
Brasília-DF
2010 Cintia Nascimento Pereira
O que os professores acham que aprendem com a televisão
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2010 Fernanda Luise Kistler Vidal
Recursos Audiovisuais na prática docente de professores de Ciências formados pela UFRJ
Educação em Ciências e Saúde Mestrado
Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ Rio de Janeiro-
RJ
2010 Mônica Cristina Garbin
Uma análise da produção audiovisual colaborativa: uma experiência inovadora em uma escola de ensino fundamental
Educação Mestrado
Universidade Estadual de Campinas
Campinas-SP
2010 Janaina Pires Garci
Reflexões sobre currículo e linguagem a partir de uma experiência da Escola de Cinema no CAp/UFRJ
Educação Mestrado
Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ Rio de Janeiro-
RJ
2011 Márcia Barbosa Silva
O lugar do estudo das mídias na formação de professores numa perspectiva emancipatória
Educação Doutorado
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte-UFRN
Natal-RN
2011 Cláudia de Almeida Mogadouro
Educomunicação e escola: o cinema como mediação possível (desafios, práticas e proposta)
Comunicação e Artes Doutorado
Universidade de São Paulo –
USP
São Paulo-SP
2011 Sergio Alberto Rizzo Junior
Educação audiovisual: uma
proposta para a formação de professores de Ensino Fundamental e de Ensino Médio no Brasil
Comunicação e Artes Doutorado
Universidade de São Paulo –
USP
São Paulo-SP
81
2011 Rodrigo Porto Sobre as formas de se aprender com o cinema: estudo da agenda-diário de cinema de Leandro Konder
Educação Mestrado
Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio
2012
Gisela Pascale De Camargo Leite
Linguagem cinematográfica no currículo da educação básica: uma experiência de introdução ao cinema na escola
Educação Mestrado
Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ Rio de Janeiro-
RJ
2012 Darlene Almada Oliveira Soares
Formação de professores: uma experiência de produção de audiovisuais abertos e colaborativos
Educação Mestrado
Universidade Federal da
Bahia
Salvador-BA
2013
Geraldo Magela De Oliveira-Silva
Cinema e formação de professores em cursos de licenciatura
Educação Mestrado
Universidade Estadual do
Ceará – UECE. Fortaleza-CE
2013 Marcelo de Carvalho Bonetti
As imagens em movimento e sua contribuição para o ensino das ciências físicas no Brasil - 1800 a 1960
Ensino de Ciências Doutorado
Universidade de São Paulo
USP
São Paulo-SP
2013 Marion Divério Faria Pozzi
Apreensão de sentidos em vídeos contemporâneos: contribuições teórico-metodológicas da semiótica à leitura de recursos de aprendizagem audiovisuais
Educação Doutorado
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRGS Porto Alegre-RS
2013 Glauber Resende Domingues
Cinema na escola: aprender a construir o ponto de escuta
Educação Mestrado
Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ Rio de Janeiro-
RJ
2014 Thiago Norton O cinema e o rural em uma escola no campo
Educação Mestrado
Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ Rio de Janeiro-
RJ
2015 Maria Romênia da Silva
A linguagem audiovisual do cinema como elemento integrador da arte e ciência na formação cultural dos professores de ciências e matemática.
Ciências Naturais e Matemática Mestrado Profissional
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte-UFRN
Natal-RN
2015 Priscila Juliê de Oliveira
Uma metodologia para a produção de audiovisual: o uso de tecnologias emergentes com os jovens
Artes Mestrado
Universidade Estadual de Campinas
Campinas-SP
82
2015 Danton De Oliveira Freitas
Ensino de geometria e tecnologia: potenciais do audiovisual na formação de professores das séries iniciais do ensino fundamental
Educação Mestrado Profissional em Gestão e Tecnologias Aplicada à Educação
Universidade do Estado da Bahia
Salvador-BA
2015 Regina Ferreira Barra
Cinema e educação: narrativas de experiências docentes em colégios de aplicação
Educação Doutorado
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ Rio de Janeiro-RJ
Fonte: Fernando Berlezzi (2017)
Nossa pesquisa encontrou 33 trabalhos entre os anos de 2001 e 2015.
Destes, 25 foram Dissertações de Mestrado e 8 Teses de Doutorado. Foram
encontrados 4 trabalhos apresentados em Programas de Pós-Graduação de Ensino
de Ciências e 2 Mestrados Profissionais em Educação. Além disso, dois trabalhos
foram encontrados em programas de Comunicação e Artes. Revelando a
interdisciplinaridade do tema e o interesse de outras áreas, não exclusivamente a
educação.
Bonetti (2008) conclui sua dissertação de Mestrado em Ciências defendida
na Universidade de São Paulo - USP denominada “A linguagem de vídeos e a
natureza da aprendizagem” afirmando acreditar que os professores, ao utilizar
audiovisuais em salas de aula, passam a mediar as situações de aprendizagem de
forma mais prazerosa, e os alunos experimentam o sentido da fruição explicitamente
explorada em audiovisuais que se expressam adequadamente por meio da linguagem
audiovisual. O autor afirma:
O audiovisual é uma entre as diversas formas de recuperar a fruição nas estratégias de aprendizagem, o que nunca deveria ter deixado de estar presente na escola, pois a fruição também está presente numa educação problematizadora e transformadora, em que o educando é protagonista e o professor tem o papel de educador e especialista, identificando e promovendo meios plurais de aprendizagem, construindo o conhecimento em comunhão. (BONETTI, 2008).
83
A falta de habilidade e de desenvoltura na utilização e na produção de
atividades educacionais que explorem o potencial dessa linguagem, contribui para
que os professores atuem de forma preconceituosa e inadequada em relação ao uso
de audiovisuais em sala de aula, pelo que precisamos buscar novos caminhos para
superar essa postura e trazer para a sala de aula as contribuições e a interatividade
desse meio de comunicação.
A temática formação de professores para a educação básica vai além dos
trabalhos em âmbito nacional. Analisamos também dois trabalhos recentes de
Portugal.
Quadro 3 – Trabalhos de Pós-Graduação sobre uso do audiovisual em Portugal
Ano
Autor
Título do Trabalho
Programa de Pós-Graduação Tipo (Mestrado ou Doutorado)
Instituição/ Cidade
2011 Ana Maria de Matos Ferreira Bastos
A utilização da tecnologia educativa pelos professores do 1º ciclo do concelho de vila real: os desafios para uma escola informada
Ciências da Educação
Doutorado
Universidade De Trás-Os-Montes e Alto Douro Vila Real
2015 Teresa Paula Gaspar Pratas Martins
O prazer em estar na escola: a gala de cinema na aula
Supervisão Pedagógica e Formação de Formadores
Mestrado
Universidade de Coimbra
Fonte: Fernando Berlezzi (2017)
Os trabalhos revelam experiências de aplicações de audiovisual em
escolas de Educação Básica em Portugal, confirmando a tendência já revelada
neste trabalho.
Apontamos também a pesquisa divulgada em 2016 por iniciativa do Porvir
em parceria com a Rede Conhecimento Social, a pesquisa “Nossa Escola em
(Re)Construção”: esta pesquisa foi realizada em três meses de mobilização, com a
participação de 132 mil jovens de 13 a 21 anos, de todas as regiões do Brasil. A
84
pesquisa perguntou a jovens e adolescentes o que eles pensam sobre a educação
atual e como seria a escola dos seus sonhos. As respostas geraram dados
desafiadores e a esperança dos idealizadores é que que interessados na educação
brasileira possam utilizar esses dados para realizar mudanças efetivas nas suas
instituições de ensino.
Entre as análises, os jovens disseram o que pensam sobre as aulas e
materiais pedagógicos – somente 4 em cada 10 estão satisfeitos com as aulas e os
materiais pedagógicos, estrutura física das escolas e uso de tecnologia, além de
avaliar a situação de questões como participação dos estudantes nas decisões da
escola, e existência de atividades voltadas para melhoria da qualidade vida:
esportes e artes. No campo das aspirações, os jovens refletiram sobre quais seriam
as características da escola ideal que os faria aprender mais, que respeitaria a
individualidade de todos, que seria mais inovadora e que os deixaria mais felizes.
Qual é a escola dos sonhos dos jovens? 36% desejam realizar atividades práticas ou
resolução de problemas; 27% querem usar tecnologia; 16% esperam que a escola
desenvolva suas habilidades de relacionamento; e 10% querem ter acesso a
conteúdos de política, cidadania e direitos humanos. (PORVIR, 2016).
Apesar do anseio desses alunos, dos trabalhos acadêmicos atuais e de
iniciativas de promoção de formação audiovisual para a educação básica (descritas
no próximo tópico), as competências midiáticas e seu papel na educação
contemporânea não são recentes.
A participação da mídia na formação das pessoas é tão importante que
chamou a atenção de órgãos internacionais como a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Desde a década de 1960
esse órgão vem promovendo discussões a respeito da importância dos estudos de
mídia e educação. Desde então, a UNESCO vem realizando reuniões com a
participação de representantes de diversos países, para a discussão da educação
para a mídia. Dentre elas se destaca a realizada na cidade Grünwald na Alemanha.
Ali foram estabelecidas as bases da mídia-educação que são citadas até hoje: nela
se chamava os dirigentes de cada um dos países participantes a “reconhecer as
suas obrigações respectivas na promoção de uma compreensão crítica do fenômeno
85
da comunicação entre os seus cidadãos”. Isso trazia para os governantes a
necessidade da criação de políticas de desenvolvimento dessa área junto aos meios
educacionais “do ensino pré-escolar ao ensino universitário e à educação de
adultos”. (UNESCO, 1982).
Não somente a escola do futuro, mas principalmente a escola do
presente, precisa ouvir o aluno e abrir espaços para que o aluno se torne cada vez
mais protagonista da aprendizagem. Ao desenvolver projetos de audiovisuais, o
aluno passa a ser o líder da sua própria aprendizagem e emissor de mensagens.
Normalmente um projeto nessa área e especialmente com enfoque educativo,
resulta da participação de um grupo de alunos, podendo cada um deles assumir a
responsabilidade por uma tarefa específica, tal como acontece numa produção
audiovisual profissional, por exemplo, conforme descrevemos no capitulo 2 sobre as
diferentes funções proporcionadas na realização audiovisual. A seguir,
apresentamos iniciativas nacionais e internacionais que promovem o protagonismo
jovem e a formação de professores para uso da linguagem audiovisual.
5.2. Iniciativas de formação audiovisual para a Educação Básica
O uso de audiovisual como ferramenta para o ensino-aprendizagem na
educação ainda é forte no aspecto de análise, isto é, na adoção de vídeos e sua
exibição em sala de aula ou atividades como cineclubes e o debate/discussão
promovidos após a mostra e mediado por professores.
Fernández (apud MORAN, 2009) lista 10 principais vantagens do uso do
vídeo:
1) Possibilita a inclusão, nas aulas, de formas comportamentais e gêneros textuais conhecidos; 2) Diversifica os materiais de apoio e torna as aulas mais dinâmicas e motivadoras; 3) Possibilita a interação entre diferentes materiais de apoio midiáticos (computador, os videogames, a internet, o rádio, a televisão, livros, jornais, etc.)
86
4) Espera-se que as atividades em sala de aula instiguem os alunos a ampliar seus conhecimentos e que desperte neles o interesse à pesquisa e à busca por mais informações em outros meios de comunicação; 5) Explicita nuances, normas comportamentais e aproxima o ambiente de aula ao cotidiano e às formas autênticas da língua-meta; 6) Representa uma maneira multilinguística de aprender. Espera-se que se tornem cada vez mais capazes de entender diferentes linguagens (diferentes recursos visuais, sonoros, imagéticos, icônicos etc.) e ler textos diversos com os quais têm contato diariamente, que sejam capazes de interpretá-los e expressar opiniões sobre eles de forma crítica e consciente; 7) Apresenta superposição de códigos e significações, predominantemente audiovisuais, mais próximos da sensibilidade e prática do homem urbano, mas ainda distante da linguagem educacional, mais apoiada no discurso verbal-escrito. Como os vídeos não foram criados inicialmente com objetivos pedagógicos, as cenas, linguagem e modelos comportamentais muitas vezes aproximam-se das situações do cotidiano dos alunos, por isso, pode ocorrer uma identificação maior com esse meio; 8) Evidencia elementos de contextos da vida real – verbais e não verbais – atitudes, comportamentos, gestos, distância ou aproximação entre os interlocutores etc.; 9) Apresenta situações comunicativas: localização espacial e temporal, atitudes e padrões interativos dos falantes e sensibilização dos alunos para as formas de organização do discurso; 10) Possibilita assistir às cenas várias vezes, examinar, rever, fazer pausas e reconstruir as sequências dos fatos, mostrar a imagem com ou sem som, trabalhar o som com ou sem imagens etc. (FERNANDEZ, 2009).
Todas essas vantagens de acordo com Fernández (2009), podem
contribuir para a aprendizagem do aluno, sendo que, o professor deve ter cuidado
ao preparar a sua aula, com objetivo, estratégia, habilidades a serem desenvolvidas,
e ampliar a aproximação de suas aulas com a sétima arte e a cultura. “O vídeo pode,
assim, proporcionar uma aproximação do aluno à escola”. (FERNANDEZ, 2009).
O professor pode proporcionar uma melhor aprendizagem ao seu aluno,
sem que ele perceba que está estudando, com a utilização do cinema em sala de
aula, e assim, conseguir criar vínculos entre a aprendizagem e sua vida, para então
conseguir um desenvolvimento da crítica reflexiva e do aprimoramento de leitura
semiótica. Em outras palavras, “vincula-se à sua formação como cidadão, conforma
postulam os documentos oficiais em especial os Parâmetros Curriculares Nacionais
para o ensino fundamental”. (FERNANDEZ, 2009).
87
Porém ao mesmo tempo que o vídeo pode beneficiar a aprendizagem
quando usado adequadamente, a sua utilização inadequada em sala de aula,
apresenta suas desvantagens. Para Fernández (2009), o uso inadequado do vídeo
traz as seguintes desvantagens:
sensação de não serem abordados conteúdos relevantes. Esse
tipo de sentimento é decorrente de aulas mal preparadas ou de
atividades mal aproveitadas pelos professores, pois, à medida que
os alunos se sentirem envolvidos com os materiais e vídeos, não
terão essa impressão; e
2) tempo e trabalho de preparação das atividades. É inegável que
trabalhar com materiais e metodologias novas ou pouco presentes
no contexto escolar exige um tempo maior de preparo, tanto das
atividades como do próprio professor, que precisará se atualizar e
se adaptar a elas. (FERNANDEZ, 2009).
Napolitano (apud MORAN, 2010) destaca cinco desvantagens do uso
inadequado do vídeo em sala de aula:
vídeo-tapa-buraco: colocar o vídeo quando há um problema
inesperado, como ausência do professor;
2) vídeo-enrolação: exibir um vídeo sem muita ligação com a
matéria, como forma de camuflar a aula.
3) vídeo-deslumbramento: o professor que acaba de descobrir o
uso do vídeo costuma empolgar-se e passa vídeo em todas as
aulas, esquecendo outras dinâmicas mais pertinentes.
4) vídeo-perfeição: existem professores que questionam todos os
vídeos possíveis porque possuem defeitos de informação ou
estéticos. Os vídeos que apresentam conceitos problemáticos
podem ser usados para descobri-los, junto com os alunos, e
questioná-los; e
5) só vídeo: Não é satisfatório didaticamente exibir o vídeo sem
discuti-lo, sem integrá- lo com o assunto da aula, sem voltar e
mostrar alguns momentos mais importantes.
88
Segundo Fernández (2009), o professor deve otimizar as vantagens, e
também aproveitar os elementos do vídeo que podem de início parecerem
negativos, mas com o uso correto pode ser uma excelente ferramenta. Para não ter
risco em relação ao uso inadequado de vídeos, o professor pode fazer uma reflexão
junto aos seus alunos, pois o vídeo pode ser sim uma grande vantagem para o
aprendizado.
O “Clube do Professor” é um serviço gratuito, desde 2001, a todos os
professores (de qualquer rede de ensino), com sessões aos sábados pela manhã
(11h). Os filmes exibidos são: os do circuito do “Espaço Itaú de Cinema” (antigo
Espaço Unibanco de Cinema) localizado no Shopping Frei Caneca, na cidade de
São Paulo. O mesmo programa existe em várias capitais do país.
Além disso, o “Clube do Professor” tem programação voltada para a
diversidade, com obras de várias nacionalidades, filmes inéditos e clássicos do
circuito comercial. O objetivo dessas sessões é ampliar o universo cinematográfico
dos professores, visando o prazer de ver um filme em uma sala especializada, sem o
compromisso de um trabalho pedagógico imediato à experiência cinematográfica. A
entrada é gratuita para quem tem a carteirinha do “Clube do Professor” e um
acompanhante. (CLUBE DO PROFESSOR, 2017)
Para deixar as aulas cada vez mais atrativas, a Secretaria da Educação
tem estimulado as escolas a exibirem filmes relacionados ao conteúdo do currículo e
levarem seus alunos a espetáculos culturais. Uma iniciativa interessante nesse
sentido é o projeto “Cinema vai à Escola” promovida pela Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo, consiste em exibir filmes nas unidades da rede estadual,
levando mais entretenimento e informação aos alunos. As sessões acontecem
conforme a necessidade dos professores para complementar o conteúdo da matéria
que lecionam. Quando a escola interessada adota o programa, ela recebe os filmes
em DVDs, o caderno de cinema e roteiro para discussão de cada filme.
O trecho a seguir foi retirado do primeiro caderno de cinema destinado ao
professor:
“Temas transversais e conteúdos interdisciplinares ganham uma abordagem mais inspiradora e dinâmica, adequada ao público jovem
89
a que se destinam. Assuntos delicados e complexos como preconceito, violência, exclusão social, sexualidade, injustiça, entre tantos outros, fazem parte do cotidiano dos jovens e de seus professores que, como todos nós, têm dificuldades em lidar com eles. Os filmes permitem que nos aproximemos deles de uma maneira ímpar: testemunhamos situações chocantes, que nos obrigam a refletir, observamos modos de vida, que nos aguçam a curiosidade, presenciamos diálogos, que nos despertam para o nosso próprio preconceito. Os textos e orientações deste Caderno visam, justamente, dar instrumentos para que você, professor, possa mediar essas discussões. E não se trata apenas de aprender mais e melhor os conteúdos curriculares, mas também de ampliar os conhecimentos em relação à própria linguagem cinematográfica — saber como ver e apreciar filmes dos mais diferentes tipos e não apenas aqueles veiculados pelos canais de televisão. Como a literatura, o cinema também é capaz de nos tornar seres humanos melhores. Acreditamos que todos — alunos e professores — se beneficiarão desta entrada do cinema na escola. Boas sessões e boas discussões!” (CADERNO DE CINEMA DO PROFESSOR, SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2008)
Em 2015, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo divulgou os
números de alcance do projeto “Cinema vai à Escola” realizados em 2014, onde teve
645 municípios alcançados e mais de 1,5 milhões de jovens atendidos e um acervo
de 64 filmes, dados relevantes para mostrar a importância da utilização dos filmes
nas aulas.
A professora e pesquisadora Cláudia Mogadouro, defende a importância
da inserção da linguagem audiovisual, tanto na formação inicial de professores como
na formação continuada em serviço. Como parte de sua pesquisa de doutorado,
Mogadouro analisou o projeto “O Cinema vai à escola” que distribuiu para todas as
3,8 mil escolas do Ensino Médio do estado de São Paulo: um conjunto de 70 DVDs
(divididos em várias caixas), com filmes da melhor qualidade, acompanhados de
“orientações” aos professores.
“A seleção dos filmes era ótima, porém, ao visitar as escolas contempladas com esse acervo, constatei que o material estava trancado “a sete chaves”, pois ninguém os utilizava. Vale a pena ressaltar que a maioria dos professores não sabiam da sua existência e os que sabiam não se sentiam preparados para integrá-los ao currículo. Para os gestores que desenvolvem materiais para as escolas, apenas distribuíram o material, imaginando que o professor saberia utilizá-los”. (MOGADOURO, 2016)
90
Mogadouro fez parte da equipe de 2015 que iniciou por meio do Núcleo
de Educomunicação da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, uma ampla
formação com professores dessa rede de ensino onde ministrou cursos de formação
cultural em cinema, roteiro, produção de vídeo, fotografia e stop motion a centenas
de professores. Nas avaliações dos cursos de cinema de 2015, os professores
apontaram o desejo de uma formação específica em relação ao cinema brasileiro,
desencadeada pela aprovação da “Lei 13.006/2016”.
Foram realizados em várias diretorias de ensino: cursos de formação com
carga horária de 18 horas. É certo que essa formação em 18 horas não é suficiente
para garantir o domínio de um repertório cinematográfico pelos professores, mas já
contribui muito para desconstruir a visão do cinema em sala de aula que alguns
professores têm como mera ilustração, e ainda, despertar no professor aspectos do
material audiovisual e da história do cinema. Ao aprender mais sobre a linguagem
audiovisual, os educadores passam a ter uma perspectiva da expressão artística,
que vai muito além da história que o filme conta. E a escola certamente se
beneficiaria. (MOGADOURO, 2016)
Entretanto, é preciso trabalhar a formação do professor para que ele
possa compreender a linguagem audiovisual, antes de leva-la para a sala de aula,
reforçando que o audiovisual não será utilizado como “passatempo” e sim como um
recurso de aprendizagem, proporcionando aos aluno o desenvolvimento de
habilidades, como: percepção, concentração, interpretação, imaginação, criatividade,
leitura semiótica, sonoridade etc. Além do fato de o professor interagir com
conteúdos e disciplinas escolares para a complementação do aprendizado do aluno.
A “Lei 13.006” de 27/06/2014 – de autoria do Senador Cristovam
Buarque, estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para ter a
exibição de filmes e audiovisuais de produção nacional nas escolas da Educação
Básica. Outra contribuição gerada pela Lei foi a qualificação de linguagem
audiovisual para professores. Por conta da exibição de 2h de conteúdo de cinema
nacional, começou-se o desenvolvimento de formação audiovisual para professores
para que eles juntamente com seus alunos se apropriassem da linguagem
audiovisual e começassem a desenvolver e exibir os próprios vídeos nas escolas.
91
O Minicurso “A produção audiovisual educacional: algumas observações
sobre o território, cultura e identidade”, ministrado pelo Prof. Dr. José Roberto
Severino, professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) no período de 16 a 18
de maio de 2016, das 18:00 às 22:00, com carga horária de 12 horas, foi promovido
pelo Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos (Diversitas) da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Sendo assim, esse minicurso teve como objetivo problematizar a
produção do audiovisual educacional na contemporaneidade. Além disso, foram
apresentados debates sobre o lugar das narrativas audiovisuais nas configurações
identitárias contemporâneas. Tratou-se das noções de memória, identidade, fronteira
e diversidade. Apresentou-se a trajetória da produção brasileira e a relação com a as
políticas públicas, principalmente aquelas voltadas para a educação e cultura.
Discutiu-se as interfaces com território e cultura na produção audiovisual
contemporânea. E, por fim, foi apresentada uma experiência de extensão
universitária pautada na produção audiovisual em comunidades quilombolas.
A proposta do minicurso foi altamente teórica, promovendo assim uma
reflexão aos aspectos históricos de iniciativas de audiovisuais educativos, trazendo
um panorama do audiovisual nacional e finalizando com uma experiência prática
realizada durante uma ação de extensão universitária que resultou num
documentário dirigido pelo próprio professor José Roberto Severino.
O segundo curso denominado: "A Escola nas Telas" foi realizado no
período de 14 de setembro a 05 de outubro de 2016, às quartas-feiras das 18:00 às
22:00, correspondendo ao total de 20 horas-aula. Promovido pelo Centro Brasileiro
de Estudos da América Latina (CBEAL) do Memorial da América Latina, a segunda
edição do curso contou com 50 participantes, sendo estes, professores de educação
básica e pesquisadores (mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos) interessados
no tema.
O curso do CBEAL teve como coordenação o cineasta Gregório Bacic,
diretor do programa “Provocações” da TV Cultura, e apoio de Katia Gavranich
Camargo, produtora cultural e de audiovisual. O objetivo dele foi o de apoiar a
formação de professores com novas ferramentas para ensino e debate em sala de
92
aula, em cumprimento à “Lei 13.006” de 27/06/2014, que tem como obrigação a
exibição de filmes e audiovisuais de produção nacional nas escolas da educação
básica. O curso teve como proposta: introduzir os participantes à linguagem e à
história audiovisual; fornecer noções sobre elaboração de roteiros, produção e
captação de sons e de imagens; e introduzir o uso do audiovisual em sala de aula.
Nesse curso, também foram trabalhadas noções de roteiro, linguagem
cinematográfica, e até de edição, sempre com exibição de vídeos com a finalidade
de reforçar a explicação dada pelo professor. Ao final como requisito para a
obtenção do certificado (além de 75% de frequência) a partir dos conteúdos
expostos, foi proposto um trabalho final, para desenvolver uma proposta a ser
realizada pelos professores nas escolas em que atuam.
Esta segunda experiência, por mais que tenha questão de limitação de
tempo e recursos na questão do experimentar, de fazer o professor “por a mão na
massa” e fazer um acompanhamento, trouxe um caráter mais prático no sentido de
fazer os participantes refletirem e colocarem no papel o que pretendiam desenvolver
em suas respectivas escolas.
Outras iniciativas de formação audiovisual de professores aconteceram
com cursos promovidos com intuito de ampliar o repertório cultural dos professores a
partir do estudo de cinema e audiovisual. No estado da Bahia dois projetos merecem
destaque.
Realizado de março a outubro de 2016, o Projeto “Formação e
Qualificação em Cinema e Educação” realizado pela Pró-Reitoria de Extensão
(PROEXT) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), incentivou a
formação de professores e coordenadores de Educação Básica da rede pública de
ensino das cidades de Amargosa, Cachoeira, Cruz das Almas, Santo Antônio de
Jesus e São Felix, a partir de atividades como seminários, cursos e oficinas que
promoveram a reflexão, o debate e a prática da linguagem audiovisual e suas
metodologias dentro do universo escolar, compondo a carga horária de 104 horas.
No encerramento do Projeto os educadores participantes foram certificados e
receberam o kit Cinema e Educação, contendo uma cartilha sobre a linguagem
audiovisual, um vídeo documentário discutindo esta temática e a disponibilização de
24 filmes escolhidos a partir das produções realizadas pelo Curso de Cinema
93
(CAHL/UFRB), abrangendo documentário, ficção e videoclipes para serem
trabalhados em suas escolas, em sessões de sala de aula ou cineclubes. (UFRB,
2016)
Promovido pelo Instituto Anísio Teixeira (IAT), por meio do Programa de
Difusão de Mídias e Tecnologias Educacionais - Rede Anísio Teixeira, em maio de
2016, professores e estudantes da Cidade de Vitória da Conquista concluíram o
curso de formação audiovisual e agora estão aptos para a produção audiovisual em
suas respectivas escolas. O Curso de Interpretação para TV e Produção Audiovisual
buscou estimular o interesse pelas artes e produção audiovisual de estudantes e
educadores.
O Programa de Difusão de Mídias e Tecnologias Educacionais da Rede
Pública Estadual de Ensino – Rede Anísio Teixeira visa contribuir no atendimento
das demandas relacionadas ao uso de mídias educacionais nas escolas públicas
estaduais. Entre seus projetos estão: o Ambiente Educacional Web, a TV Anísio
Teixeira e o Blog do Professor Web. Todos os conteúdos podem ser acessados no
Portal da Educação (educadores.educacao.ba.gov.br). (SECRETARIA DA
EDUCAÇÃO DO ESTADO DA BAHIA, 2016).
Como mencionado, a “Lei 13.006/14” trouxe consigo a obrigatoriedade de
exibição mensal de 2h de conteúdo de cinema nacional nas escolas. Apesar do
número de produções do Cinema Nacional aumentar a cada ano, segundo
informações da Agência Nacional do Cinema – ANCINE, em 2016 foram mais de
140 lançamentos, considerado um recorde histórico (ANCINE, 2017), mas ainda
existe uma carência muito grande no sentido de distribuição desses filmes. Com a
necessidade de exibir conteúdos audiovisuais nas escolas, uma alternativa surgida
foi a das próprias escolas produzirem e exibirem estes conteúdos.
Ações começam a serem desenvolvidas para formar professores e alunos
para produzirem seus próprios filmes no âmbito escolar e educativo. Essas
iniciativas são positivas no meio acadêmico por meio de trabalhos de pós-graduação
(mestrado e doutorado) que pesquisam e relatam tais ações, grupos de pesquisas
em Universidades e da própria indústria cinematográfica, uma vez que produtores de
audiovisual se associam a projetos e vão até a escola oferecer seu ensino aos
alunos.
94
Um dos projetos mais antigos quando se trata de Cinema e Educação é o
Cinema e Educação – Cineduc, uma entidade sem fins lucrativos, fundada em 1970
e declarada de utilidade pública pela Lei Municipal 500, de 17 de janeiro de 1984, no
Rio de Janeiro. Representante brasileiro junto ao CIFEJ (Centre International du Film
pour l' Enfance et la Jeunesse), órgão da UNESCO com sede em Montreal, em seus
40 anos de existência, o Cineduc passou por três fases bem distintas.
Na 1ª fase, de 1970 a 1980 o trabalho se desenvolveu basicamente
dentro das escolas particulares. Os cursos duravam 3 anos e
terminavam com a produção de um filme no formato Super-8. Mais
de 1500 alunos eram atendidos a cada ano e foram realizados 110
filmes.
A 2ª fase, de 1980 a 1990, contou com a entrada de patrocínios
que possibilitaram estender o trabalho às escolas públicas e foram
também criados cursos livres. O filme Super-8 desapareceu. A
solução foi usar películas de 35mm para as crianças produzirem
“diafilmes”. A experiência do Cineduc foi levada a outros estados
brasileiros e a vários países da América Latina através do OCIC-AL
(Organização Católica de Cinema da América Latina), com cursos
de Formação de professores para o Plan Deni (Plan de Niños) em
Lima, Peru, La Paz, Bolívia, Assunção, Paraguai; Montevideo,
Uruguai. Em 1980, foi lançado a primeira edição de Cinema: “Uma
Janela Mágica” de Bete Bullara e Marialva Monteiro, primeiro livro
sobre cinema escrito no Brasil para crianças e jovens. Em 1981, a
criação do programa “Olho Mágico”, veiculado durante 2 anos pela
TVE. Em 1986, a criação do Troféu Cineduc premiando filmes de
qualidade para jovens no 1º FestRio. No ano de 1989, aconteceu a
fundação do Cinema Criança - Festival Internacional de Filmes
para a Infância e Juventude.
A 3ª fase, tem início a partir de 1990 com a filiação ao CIFEJ
(Centre International du Film pour l'Enfance et la Jeunesse), órgão
da UNESCO, que trouxe o reconhecimento internacional. Com isso
o Cineduc começou a ser solicitado em festivais, seminários e
mesas-redondas no Brasil e no exterior. Desta forma, colabora
95
ativamente para a formulação de pontos de vista teóricos sobre
imagem/educação e sobre a criança e os meios de comunicação.
Foram produzidos nesse período o vídeo “Cinema para todos”, o
filme “Derrube Jack”, curta-metragem em 16mm, o programa de TV
“Trama da imagem”, e os dois conjuntos de exercícios Kitimagens.
Desde o seu início, o Cineduc teve como parceiros entidades como
Riofilme, SESC-RJ, Cinemateca do Museu de Arte Moderna, Casa
de Rui Barbosa, Fundação Banco do Brasil, Casa França-Brasil,
Instituto Goethe e secretarias de educação de vários estados e
municípios. (CINEDUC, 2017).
Entre as realizações atuais estão a Sessão Criança, aos sábados e
domingos, no Centro Cultural Banco do Brasil, a Curadoria da Mostra Geração do
Festival Internacional do Rio e apresentação do Programa Vídeo Fórum; o
Cineducando, na Caixa Cultural RJ e consultoria para a Secretaria Municipal de
Educação do Rio de Janeiro.
Entre os cursos oferecidos pelo Cineduc destaca-se o de “Introdução à
Linguagem Audiovisual” voltado para professores e público em geral. Com duração
de 20 horas e número máximo de 40 participantes, o curso traz em seu programa
temas como a leitura e análise dos elementos das linguagens audiovisuais, a
especificidade do cinema e o espectador / receptor: a percepção e a construção
social do olhar. O objetivo é oferecer aos professores informações e reflexões sobre
a construção das linguagens audiovisuais, sobre o uso cotidiano desses meios na
nossa sociedade e sua utilização em sala de aula, oportunizando o aprofundamento
da leitura crítica das obras audiovisuais e os recursos teóricos e práticos para a
melhor compreensão do papel da educação no mundo contemporâneo. (CINEDUC,
2017).
Em 2015 começou a articulação do núcleo de São Paulo, que ficou
sedimentado em maio de 2016, com uma oficina imersão de 30 horas para um
melhor entendimento da filosofia e da metodologia do Cineduc. A proposta é contar
com o excelente grupo em todas as realizações do Cineduc no Brasil e no exterior,
além de implementar em São Paulo alguns dos projetos já realizados no Rio de
Janeiro. O grupo Cineduc - São Paulo é coordenado pela professora Claudia
96
Mogadouro e conta com uma equipe afiada de profissionais de Cinema e Educação.
(CINEDUC, 2017).
O “Programa de Alfabetização Audiovisual” é um conjunto de ações
realizadas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com as
Secretarias Municipais da Cultura e da Educação de Porto Alegre, financiadas pelo
Ministério da Educação - Programa Mais Educação – que tem como objetivo
principal a aproximação de estudantes e educadores da Rede Pública de Ensino de
Porto Alegre com o audiovisual. O projeto trabalha com a alfabetização em mídias,
promovendo o acesso, a reflexão e a produção sobre os conteúdos ao afirmar a
importância da democratização do audiovisual e da sua inserção nos ambientes
educacionais enquanto linguagem.
Desde 2008, o “Programa de Alfabetização Audiovisual” promove ações
como o Festival Escolar de Cinema, que em 2016 chegou a sua 8ª edição e já levou
mais de 26.000 estudantes a salas de exibição da capital, promovendo o encontro
de alunos e professores da Rede Pública de Ensino com o cinema em sua exibição
de excelência: a sala escura. Destinado aos estudantes, o Programa promove
oficinas de Introdução à Realização Audiovisual e de Fotografia que proporcionam a
experiência da produção de peças audiovisuais, sendo orientadas por cineastas
convidados do PAA. Como meio de desdobrar as produções de conteúdo
audiovisual nas Escolas, desde 2011, é também promovida a Mostra Olhares da
Escola – em 2016 foi realizada a 6ª edição, evento no qual, ao final do ano letivo, os
professores e estudantes que trabalharam com audiovisual e fotografia nas escolas,
têm a oportunidade de assistir aos seus projetos na sala de cinema. (PROGRAMA
DE ALFABETIZAÇÃO AUDIOVISUAL, 2016).
O PAA produziu os documentários “Luz, Câmera, Educação” e “Como Vejo
Minha Escola” e lançou o livro “Escritos de Alfabetização Audiovisual” que reúne
textos de importantes profissionais das áreas do Cinema e da Educação. Em fase de
finalização, o Programa de Alfabetização Audiovisual publicará em breve o Livro
Virtual correspondente aos trabalhos apresentados no II Seminário Internacional de
Cinema e Educação: Dentro e Fora da Lei, realizado em 2014. Em agosto de 2015,
dentro das atividades desenvolvidas no PAA foi criado projeto Vagalume –
Laboratório de Estudos em Audiovisual e Educação, que nasceu com o objetivo de
97
ser um espaço de reflexão, experimentação e trocas de experiências sobre o
audiovisual e a educação, entre professores e estudantes da Rede Pública de
Ensino. As ações do Programa de Alfabetização Audiovisual são gratuitas aos
educadores e estudantes da Rede Pública de Ensino de Porto Alegre. (PROGRAMA
DE ALFABETIZAÇÃO AUDIOVISUAL, 2016).
O Laboratório do Imaginário Social e Educação – LISE é um espaço
destinado à realização de pesquisas, estudos e seminários. Buscando sistematizar a
relação entre Educação e Imaginário, em suas múltiplas possibilidades de
articulação, o LISE se organiza em núcleos temáticos de pesquisa, estando
atualmente com duas linhas: Imaginário, cultura e educação e Imaginário e
subjetividade.
É composto por professores doutores tanto da Faculdade de Educação,
em exercício e aposentados, quanto de outras unidades da UFRJ. Conta com a
colaboração de professores doutores de outras universidades, numa parceria para
congregar pesquisadores da área. Participam, também, alunos de graduação em
Pedagogia (alguns com bolsa), mestrandos e doutorandos. Os encontros de
pesquisa dos professores com seus grupos ocorrem na sala do LISE, no anexo da
Faculdade de Educação, em dias e horários combinados, sendo a Professora Nyrma
Souza Nunes de Azevedo, a atual coordenadora do laboratório. (LISE, 2016).
O “Cinema para aprender e desaprender” - CINEAD é um projeto
coordenado pela Profª. Drª Adriana Fresquet da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) que teve início em 2006, na Faculdade de Educação-UFRJ, visando
inicialmente, investigar a infância no cinema com professores e estudantes
universitários. Em 2007, o projeto se propõe a convidar como co-pesquisadores
estudantes (crianças e adolescentes) de Educação Básica, apostando na
capacidade da criança poder fazer uma leitura autoral de sua própria infância. Em
2008, o projeto identificou nos estudantes uma criativa potência de produção cultural
e criou a uma escola de cinema piloto no Colégio de Aplicação da UFRJ. Desde
2011, o projeto conseguiu multiplicar seus braços, foram criadas 6 escolas de
cinema a partir da experiência piloto do projeto Cinema para Aprender e
Desaprender no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
98
Desde 2008, no contexto da pesquisa Currículo e linguagem
cinematográfica na Educação Básica do Programa de Pós-graduação em Educação
da UFRJ, atualmente o projeto incluiu duas escolas municipais, duas estaduais e
duas federais (especializadas em estudantes cegos e surdos). O processo contou
com a consultoria de Alain Bergala para pensar a formação dos professores, as
atividades iniciais e a produção dos materiais didáticos. Na constituição do projeto se
articularam atividades de ensino, pesquisa e extensão envolvendo professores e
pesquisadores da educação e dos estudos de cinema, profissionais e técnicos,
doutorandos, mestrandos, bolsistas de extensão e iniciação científica de graduação
e de ensino médio. Os estudantes e professores das escolas contempladas também
participam diariamente renovando escolhas e contribuindo na produção de ensaios
audiovisuais e do currículo escolar. (CINEAD, 2017).
O Núcleo de Educomunicação é um setor integrado à Coordenadoria
Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação (SME) da cidade de São Paulo,
vinculado ao Núcleo Técnico de Currículo, tem como principal vetor ações formativas
que visam a ressignificação do currículo escolar por meio da incorporação das
linguagens da comunicação e de ações pedagógicas fundamentadas pela
Educomunicação.
A Educomunicação é um novo território do saber identificado pelo Núcleo
de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP) com o
conjunto de ações voltadas para a criação de ecossistemas comunicativos abertos e
criativos em espaços educativos, garantindo, desta forma, possibilidades de
expressão a todos os membros das comunidades educativas.
A atuação do Núcleo de Educomunicação pode abranger todos os
educadores da Rede Municipal de Ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Médio, Centros de Educação e Cultura Indígena (CECIs), Centros de Integração e
Educação de Jovens e Adultos (CIEJA), Escolas Municipais de Educação Bilingue
para Surdos (EMEBs). Os Objetivos do Núcleo de Educomunicação são: incentivar o
protagonismo infanto-juvenil; promover a apropriação crítica da mídia e de suas
linguagens e; garantir o exercício do direito à informação e à liberdade de
expressão.
99
Figura 3 – Crianças em atividades do Núcleo de Educomunicação
Fonte: Núcleo de Educomunicação (2017)
O Ações desenvolvidas pelo Núcleo de Educomunicação são as
seguintes: desenvolver propostas de formação para educadores e produção de
material de apoio didático em diferentes suportes com vista ao atendimento a
demanda de projetos educomunicativos, seja para ampliação da jornada escolar,
como também para o aperfeiçoamento de práticas pedagógicas nas aulas;
acompanhamento dos projetos por meio de visitas técnicas às unidades escolares
que estejam desenvolvendo ou que desejam implementar; divulgação das
produções dos estudantes pelos canais de comunicação do Núcleo (site, blogs,
redes sociais,eventos regionais) e; pesquisa e integração de tecnologias digitais aos
processos de formação e desenvolvimento de projetos e ações pedagógicas.
O Núcleo de Educomunicação promove oficinas e cursos para
educadores. O propósito dos cursos é formar educadores para o desenvolvimento
de projetos educomunicativos nas escolas, ampliando seus conhecimentos sobre as
linguagens da comunicação e aprofundando a reflexão sobre o papel da mídia na
sociedade contemporânea, de maneira que teoria e prática sejam permanentemente
alinhadas.
100
Figura 4 – Crianças em oficinas do Núcleo de Educomunicação
Fonte: Núcleo de Educomunicação (2017)
Compõem as diversas estratégias de formação a disponibilização de
material de apoio didático aos educadores e estudantes da Rede. Estes materiais
são produzidos pelo próprio Núcleo de Educomunicação para acompanhar as
formações e oferecer subsídios informativos para o desenvolvimento de projetos e
ações pedagógicas com as linguagens da comunicação e suas tecnologias. Todos
os cursos contam com material para download disponível no site do Núcleo, no
ambiente da Midiateca. Atualmente são oferecidos 26 cursos em 7 áreas diferentes:
rádio, cinema, fotografia, mídia impressa, gestão, imprensa jovem e mídia digital.
(NÚCLEO DE EDUCOMUNICAÇÃO, 2017)
Duas iniciativas no âmbito de formação acadêmica em nível de ensino
superior merecem destaque, ambas estão na cidade do Rio de Janeiro. Com a
responsabilidade em atender as demandas pedagógicas, acadêmicas, sociais e
culturais da comunidade, do Estado e do país, o Departamento de Cinema e Vídeo
da Universidade Federal Fluminense-UFF criou no ano de 2012 a Licenciatura em
Cinema e Audiovisual, como uma alternativa ao tradicional "curso de Cinema da
UFF", para aqueles que procuram uma formação acadêmica na área do Cinema e
do Audiovisual. A proposta de um curso de licenciatura visa a capacitação docente
no campo do Cinema e Audiovisual fundamentada na tradição do curso de cinema
101
da UFF. A estrutura curricular do curso é bastante semelhante à do bacharelado.
Porém, o foco do curso está em formar professores e pesquisadores na área. Os
licenciados em Cinema podem atuar como professores em cursos livres ou elaborar
projetos pedagógicos para escolas, museus, teatros e centros culturais. (UFF, 2017).
Quase na mesma época da implementação do Curso de Licenciatura em
Cinema na UFF, o Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio) iniciou um processo de intensas discussões e
encontros com representantes do mercado de trabalho e de diferentes cursos
universitários da própria universidade, e três anos depois, em 2015 começou a
oferecer um novo curso de graduação: o bacharelado Gestão de Mídias em
Educação. Com o objetivo de formar profissionais habilitados para criar, planejar,
desenvolver, gerenciar e avaliar projetos e ações voltados para o uso de mídia e
tecnologia com fins educacionais, buscando contribuir para a redução de
desigualdades educacionais. (PUC-RIO, 2017)
O currículo do Curso de Produção e Gestão de Mídias em Educação é
interdisciplinar: além da formação em Educação, congrega disciplinas dos
Departamentos de Artes & Design, Comunicação Social, Administração, Direito,
Psicologia, Informática e Ciências Sociais, ratificando o projeto educacional da
Universidade e o compromisso com o pioneirismo e incentiva a interdisciplinaridade.
O curso tem como eixos norteadores: inovação pedagógica; compromisso com a
sociedade, através da oferta de formação de qualidade para uma nova profissão;
compromisso com a excelência acadêmica e com os valores humanistas. (PUC-RIO,
2017)
Ações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura (UNESCO) merecem destaque neste campo. A UNESCO tem vasta
experiência em fomentar a alfabetização midiática, como a Declaração de Grünwald,
de 1982, a qual reconhece a necessidade de sistemas políticos e educacionais para
promover cidadãos com compreensão crítica dos fenômenos da comunicação. Em
2013, aconteceu o lançamento na versão em português da publicação:
"Alfabetização mediática e informacional - Currículo para a formação de
professores". A obra conta com a contribuição de diversos especialistas
102
internacionais que sugerem tópicos imprescindíveis para um currículo de
alfabetização mediática. A versão em português é resultante de uma parceria entre a
Representação da UNESCO no Brasil e o Centro de Educação a Distância e
Aprendizagem com Tecnologias da Informação e Comunicação (CEAD) da
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
A publicação mais recente aconteceu em 2017, em parceria com a
Fundação Telefônica Vivo, a UNESCO lançou o livro “Experiências Avaliativas de
Tecnologias Digitais na Educação”. A publicação aborda iniciativas do Brasil, França,
Chile, Uruguai e Argentina para medir o impacto das novas tecnologias de
informação e comunicação (TICs) em projetos pedagógicos. Com o volume, a
agência da ONU e seu parceiro esperam fomentar o debate sobre a importância de
monitorar programas de educação relacionados ao mundo digital. A publicação
reúne as vivências de especialistas nos diferentes países. O objetivo do livro é
auxiliar na descoberta de qual são os custos e benefícios reais da introdução de
novas tecnologias em sala de aula.
Além das Pesquisa e publicações no campo educacional, a Agência da
ONU procura ainda promover ações práticas na formação de professores. Em 2015,
em parceria com o Instituto Phorte Educação, a UNESCO ofereceu um curso online
para professores e especialistas em Educação. O curso tinha como principal objetivo
destacar subsídios para um bom planejamento pedagógico com a utilização de
novas ferramentas, passando pelo seu uso em avaliações escolares e favorecendo
o trabalho com competências e habilidades em sala de aula. O Apoio ao Professor é
um programa de extensão universitária para a formação continuada de educadores
e especialistas na área de educação de todo o território nacional. O curso é na
modalidade a distância, totalmente gratuito e divide-se em 4 módulos de 12 horas
cada. Especialmente preparado para quem busca aperfeiçoamento e crescimento
profissional.
O desafio com o surgimento de novas tecnologias motivou e levou à
concepção e elaboração de um curso que atualize os profissionais sobre o uso
dessas tecnologias e suas possibilidades para o ensino médio e fundamental,
capacitando-os a utilizar na prática as inúmeras ferramentas digitais como livros
didáticos digitais, blogs, wikis, rádio-web, videoaulas, tabelas e formulários de
103
avaliação, simuladores, podcasts e muitas outras ferramentas afim de promover a
aprendizagem por meio de novas tecnologias e a maioria delas faz uso das
linguagem audiovisuais.
Com ou sem formação adequada, encontramos casos de docentes que
adotam a linguagem audiovisual a incorporam como ferramenta de ensino-
aprendizagem. Um exemplo disso é o professor Nelton José Turcatto que
desenvolve nas suas aulas de Inglês na EEEB Padre Benjamim Copetti
(Sobradinho-RS) a atividade de construção de vídeos. Os vídeos são totalmente
produzidos pelos alunos, desde a atuação, filmagem e edição. As atividades
envolvem um tema e uma música em Inglês interpretada pelos próprios alunos.
Depois de concluída a produção há um concurso na escola para eleger o campeão.
O professor realiza essa atividade com os 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino
Fundamental e com os 2º anos do Ensino Médio. (SECRETARIA DA EDUCACAO
DO RIO GRANDE DO SUL, 2015).
O programa “Imagens em Movimento”, iniciado em 2011, oferece oficinas
de cinema para estudantes de escolas públicas, além de cursos de capacitação para
educadores interessados em arte cinematográfica e eventos de exibição das obras
realizadas nestes processos. “Imagens em Movimento” atua em parceria com o
programa internacional “Cinema, cem anos de juventude”, criado na Cinemateca
Francesa em 1995, que hoje agrega diversas organizações dedicadas à pedagogia
do cinema. Trata-se de uma ação em rede, na qual cineastas, professores e
estudantes de diversos países se unem para vivenciar a aventura da (re)descoberta
do cinema, praticando o exercício de ver, debater e realizar filmes ao longo de cada
ano letivo, a partir de propostas pedagógicas compartilhadas.
Os objetivos do projeto são: de despertar o encontro dos estudantes com
a arte cinematográfica, onde desenvolvem suas capacidades crítica e criadora;
oferecer alicerces para que cada estudante possa construir uma linguagem criativa
própria; promover um ambiente em que o jovem adquirirá cada vez mais recursos
para expressar sua percepção sensível; estabelecer uma relação entre professores
e alunos capaz de agir no sentido inverso à dinâmica tradicional, regida por uma
lógica vertical de transmissão de um saber pré-concebido.
104
Convida-se o aluno a expressar seus próprios conteúdos, transformando-
os em histórias e em imagens à sua maneira; além de criar uma rede de
comunicação entre os estudantes das escolas municipais participantes, de forma a
diluir fronteiras sociais e culturais entre estas instituições de ensino. Transformando,
portanto, a relação dos jovens com o espaço da escola, fazendo deste um local de
criação e experimentação, aberto a experiências de autoria e de responsabilidade
dos alunos, contribuindo para a diminuição da evasão escolar; com a finalidade de
promover intercâmbios pedagógicos, artísticos e culturais entre os nossos alunos e
os jovens envolvidos nas ações promovidas pelas organizações internacionais
parceiras, valorizando a diversidade cultural e estética presentes nas produções
audiovisuais desta rede e; e enfim, contribuir para a educação em tempo integral
nas escolas da rede pública. (IMAGENS EM MOVIMENTO, 2016).
Os frutos deste processo (chamado de filmes-ensaio) são apresentados, a
cada ano, em um Encontro Internacional na Cinemateca Francesa, do qual
participam comitivas de todas as organizações parceiras do programa “Cinema, cem
anos de juventude”. Entre 2011 e 2013, foram realizadas 30 oficinas de cinema, em
escolas públicas do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. As oficinas oferecidas pelo
projeto são gratuitas e acontecem sempre em horário extra-curricular, ministradas
por profissionais de cinema, em parceria com professores das escolas. Mais de 500
alunos já participaram das oficinas e 80 filmes foram produzidos por eles. (IMAGENS
EM MOVIMENTO, 2016).
O Grupo de Pesquisa em Educação e Mídia, vinculado ao Programa de
Pós-graduação em Educação da PUC-Rio e certificado pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq foi fundado em 2000 e desde
então vem realizando estudos sobre as relações que crianças, jovens e professores
estabelecem com a mídia.
Buscando compreender os processos educativos que ocorrem nas
relações dos espectadores/usuários com as diferentes mídias, em um sistema
complexo que integra produtores, usuários, receptores, lógicas de produção, lógicas
de recepção, indústria cultural, comunicação, cultura e política. Orienta as
investigações que realizamos o interesse em compreender melhor o que os meios
105
ensinam, o que se aprende com eles e como são construídos conhecimentos e
valores na interação de usuários-audiências com as mídias.
A título de exemplo da relevância do trabalho realizado pelo GRUPEM, a
pesquisa: “Projetos de mídia-educação nas escolas da Rede Pública Municipal do
Rio de Janeiro e aprendizagem escolar”, foi um projeto realizado a várias mãos,
envolvendo instituições de naturezas distintas e complementares: organização
social, gestão pública e universidade, realizada em 2015 e 2016, nasceu da iniciativa
do Instituto Desiderata, organização social que atua no Rio de Janeiro com foco no
segundo segmento do Ensino Fundamental, de conhecer mais profundamente a
realidade da mídia-educação nas escolas do Rio de Janeiro e reunir elementos que
subsidiem as políticas públicas educacionais. Sua realização só foi possível graças à
parceria com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME-Rio) que
abriu as portas das escolas e envolveu a Gerência de Mídia-educação diretamente
em todas as etapas da pesquisa; e o Grupo de Pesquisa Educação e Mídia
(GRUPEM), vinculado ao Programa de Pós-graduação em Educação da PUC-Rio,
especialista em estudos sobre as relações que crianças, jovens e professores
estabelecem com a mídia, que coordenou e executou a pesquisa. (GRUPEM, 2016).
A pesquisa foi realizada em 911 escolas de ensino fundamental do Rio de
Janeiro (RJ) e mostrou que 9 em cada 10 têm atividades pedagógicas relacionadas
com mídias, como cinema, filmes, imagens e vídeos. Entretanto, elas ficam
concentradas apenas na análise, e a produção, que ajuda na formação de alunos
mais autônomos, ao permitir que tomem iniciativa no processo de aprendizagem,
ainda é um ponto a ser desenvolvido na maior rede municipal da América Latina. Só
20% têm essa prática numa frequência considerada boa. (PORVIR, 2016).
Outra dimensão avaliada, a produção de mídia (escrita, audiovisual,
sonora, eletrônica) é mínima. Só 38% produzem material escrito (jornais, histórias
em quadrinhos ou revistas) e, em linha com os problemas de infraestrutura, 64%
nunca realizam produção de vídeo, foto, rádio ou publicidade. Além disso, 54% não
fazem atividades de produção de internet (blogs, sites, páginas em redes sociais).
(PORVIR, 2016).
O projeto Rede Media e Literacia de Portugal também merece destaque.
Desenvolvido desde 2008, trabalha com cinema e educação e educação para os
106
media, no contexto de inclusão, participação e expressão de crianças e jovens. O
projeto Media e Literacia surgiu juntamente com o mestrado (2004) em Ciências da
Comunicação realizado por Raquel Pacheco na Universidade Nova de Lisboa. A
ideia inicial foi dar um sentido positivo e transformador aos fenômenos que
relacionavam os jovens à violência, à pobreza e à miséria, utilizando a metodologia
da pesquisa participativa e etnográfica.
Figura 5 – Projeto Rede Media e Literacia
Fonte: Rede Media e Literacia (2016)
Este trabalho de campo durou seis meses e no final os jovens produziram
e realizaram um filme todo feito por eles. Na altura a educação para os “media” era
107
muito pouco divulgada e trabalhada em Portugal e não havia quase nenhuma
produção deste tipo: dar voz aos jovens considerados “problemáticos” pelo sistema e
desenvolver com estes jovens uma relação de educação participativa e possibilitar
que fossem autores, produtores e realizadores de um filme cujo tema foi escolhido e
desenvolvido por eles.
De sua experiência da pesquisa participativa e etnográfica realizada,
Raquel criou a Rede Media e Literacia, que atualmente trabalha para garantir uma
educação sobre os media através de: Consciencialização e capacitação de pessoas,
Projetos, Workshops, Palestras, Participação em Congressos e Eventos em geral,
Consultorias. Mostras e Produção de conteúdos. Todos os trabalhos são voltados
para a educação “para, com e sobre os medias” (REDE MEDIA E LITERACIA,
2016).
108
6. PESQUISA COM PROFESSORES DE ESCOLA PARTICULAR DE EDUCAÇÃO
BÁSICA NA CIDADE DE SÃO PAULO
Apesar da proposta inicial de pesquisa ação na escola não ter se
concretizado, este tópico na pesquisa leva em conta os questionários aplicados para
os professores. Desta forma, vamos trazer as informações contextuais da escola e
os resultados dos questionários.
6.1 A escola: informações e contexto
A Escola particular de Educação Básica escolhida para a pesquisa teve
início antes de 1900, e hoje agrega em suas quatro unidades (São Paulo, Barueri e
Brasília e Palmas) 7 mil alunos, reconhecida pela qualidade de ensino e educação.
Apesar da notável dimensão que a organização escolar tomou, ainda são mantidas
as raízes de um ensino igualitário – meninos e meninas, pobres e ricos, estudavam
lado a lado e sem castigos físicos ou lições decoradas – foram mantidas e
constituem seu grande diferencial. O ensino permanece voltado para a formação de
cidadãos com valores e princípios para atuarem conscientemente na sociedade.
Ao analisar os documentos disponíveis da escola, apresentamos as suas
diretrizes pedagógicas que seguem uma corrente pedagógica que estimula o
raciocínio dedutivo e utiliza um currículo enriquecido por diversas atividades, além
de oferecer ao aluno uma educação integral. Os conteúdos didáticos são
desenvolvidos por uma equipe técnico-pedagógica, capacitada e empenhada em
acompanhar a aprendizagem do aluno. Procura-se também fomentar a cultura
empreendedora na escola, propiciando aos alunos vivências e ajudando-os a
desenvolver habilidades que lhes permitam serem protagonistas de suas próprias
vidas de modo sustentável e responsável.
A incorporação dos temas que serão abordados no currículo ocorre por
meio de um planejamento anual (observado pelos orientadores pedagógicos). A
escola está associada ao Programa de Escolas Associadas (PEA) da Unesco
109
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e, em
2013 e 2014, viabilizou a participação de representantes do corpo docente no
Encontro Nacional de Educadores da Unesco.
Por ser uma escola associada à Unesco, trabalha em seu currículo os
temas anuais determinados por ela, para isso realiza encontros pedagógicos e
palestras transdisciplinares com seu corpo docente. Por exemplo, em 2013, o tema
gerador do ano foi “Agua, essência e vida”, enquanto em 2014 foram “Faço a
diferença, semeando a cultura de paz”, “Ano Internacional da Cristalografia” e “Ano
Internacional da Agricultura Sustentável” (temas da Unesco), e os temas centrais do
PEA: aprendizagem intercultural, paz e direitos humanos, educação para o
desenvolvimento sustentável e prioridades das Nações Unidas.
A Escola prima pela construção reflexiva do conhecimento, nos seus
aspectos cognitivos, afetivos, sociais e criativos e pelos princípios cristãos a fim de
formar indivíduos que exerçam a cidadania em sua plenitude e contribuam com a
sociedade de maneira empreendedora.
Seguindo uma corrente pedagógica que estimula o raciocínio dedutivo do
estudante e utilizando um currículo enriquecido por diversas atividades, busca dar ao
aluno uma educação integral. Esse trabalho é desenvolvido por uma equipe técnico-
pedagógica que está capacitada para acompanhar a aprendizagem do estudante,
que tem a oportunidade de participar de projetos integrados às aulas, de diversos
eventos e, também, de aulas de treinamento esportivo.
- Atividades pedagógicas e de orientação educacional
- Simulados do Vestibular
- Atividades Pedagógicas de Extensão
- Aulas de apoio pedagógico de Português e de Matemática
- Oficinas de Empreendedorismo
- Oficina de Robótica
110
- Oficina de Artes
- Laboratórios de Ciências e de Informática.
- Concurso de Poesia
- Jornal Laboratório para alunos do 9o ano do Ensino Fundamental.
- Mostra do Conhecimento
- Festival de Talentos
- Festa em Família
- Estudos de Meio
- Feira do Livro
- Desafio de Matemática)
- Sarau Lítero – Musical
Além disso, a escola procura vivenciar a arte e a cultura. Desta forma,
torna-se uma proposição para a construção da personalidade do aluno e sua
formação integral. É o espaço da reflexão, mas também da prática, tanto nas aulas
curriculares como nas oficinas do NDA- Núcleo de Desenvolvimento Artístico, que
realiza atividades de arte musical (violão), arte cênica (teatro e dança), arte circense
e arte visual (ateliê de pintura e artesanato).
Entre as atividades que merece destaque: a Mostra Unesco. A Mostra do
Conhecimento envolve os alunos em grande pesquisa e trabalho durante todo o ano
letivo. Nesse projeto, os assuntos abordados estão sempre relacionados ao tema da
UNESCO e/ou ao tema anual do colégio. Após as pesquisas, os alunos apresentam
à comunidade os resultados do trabalho e o que aprenderam sobre o tema
escolhido. O Objetivo é promover, por intermédio de trabalho interdisciplinar, não só
o contato do aluno com a pesquisa, mas também a produção de trabalhos
acadêmicos e projetos, respeitando o nível escolar. Além de desenvolver o
111
conhecimento sobre os temas trabalhados, a fim de que o estudante compreenda-se
como sujeito social o qual deve integrar uma comunidade atuante, capaz de trocar
informações e propor/realizar mudanças.
Antes do contato com a coordenação da escola, não foi constatada
nenhuma atividade oficial do Ensino Fundamental II, que envolvia a capacitação
para a produção audiovisual, nem para o professor nem para o aluno. Depois de
nosso diálogo e apresentação de resultados preliminares da pesquisa, quando
mostramos que era possível fazer uma inter-relação do Projeto Mostra do
Conhecimento com a apropriação da linguagem audiovisual, a escola solicitou o
apoio da edição de alguns vídeos experimentais produzidos pela equipe de alunos
do 9º ano do Ensino Fundamental II que realizam o jornal impresso para as
olímpiadas, e assim conseguimos mostrar que com a utilização da linguagem
audiovisual o projeto se potencializa.
6.2. Resultados da Pesquisa
Aplicou-se um questionário com perguntas objetivas e subjetivas
juntamente a 16 professores de Educação Básica da escola, a fim de identificar as
dificuldades dos professores de ensino fundamental II em produzir conteúdos “áudio
e visuais” como ferramenta didática, bem como seu uso em sala de aula. Os
resultados são apresentados a seguir e nos conduzirão à proposta apresentada
nesta Dissertação.
Figura 6 – Idade
Fonte: o autor (2016)
112
A amostra constatou que 8 professores, ou seja, 50 % da amostra possui
entre 41 e 50 anos. A segunda maior quantidade de professores possui entre 31 e
35 anos.
Sendo assim, a faixa etária nessa pesquisa é importante porque há
mudanças tecnológicas nos últimos dez anos, desta forma os professores formados
nas décadas de 60, 70 e 90 não tiveram uma formação com esses tipos de recursos.
A formação continuada nem sempre inclui a linguagem audiovisual como tema
importante e o uso das ferramentas como celular a tablets são sempre uma polêmica
na escola.
Figura 7 – Sexo
Fonte: o autor (2016)
A amostra da pesquisa indicou que a maioria dos professores
entrevistados eram mulheres, com a participação de apenas 2 homens
Quadro 4 – Formação Acadêmica
Professor Formação Acadêmica (Graduação/pós):
P1 Graduação em Pedagogia e Mestrado em Educação Cristã
P2 Mestrado em Educação PUC-SP
P3 Graduação/pós
P4 Licenciatura Plena em Matemática e Pedagogia e especialização em
Educação Matemática pelo Centro Universitário Fundação Santo André
P5 Letras/Pedagogia/Psicopedagogia
113
P6 Lic.Ed,Artistica -FASM, Bach.Desenho Industrial e Pós em Historia da Arte
F.São Judas
P7 Graduação em Educação Física e Pedagogia
P8 Bacharelado, Licenciatura e Mestrado em Geografia pela USP
P9 Pós-Graduação em Metodologia da Língua Portuguesa - UNI São Luís
P10 Letras USP
P11 Graduação em Letras-Tradução (Mackenzie) e especialização em Recursos
do ensino de língua inglesa (Mackenzie)
P12 Bacharelado em Matemática
P13 Graduação em Letras Universidade São Marcos
P14 Letras
P15 Graduação em Ciências Biológicas na USP e mestrado em Ciências na USP
P16 Graduação Universidade São Paulo, Pós-graduação Mackenzie
Fonte: o autor (2016)
Os professores têm formação variada, como revela o quadro 1, dos
dezesseis entrevistados, 11 professores possuem pós-graduação (sendo 3 mestres).
4 professores possuem formação em Pedagogia e 1 Mestrado em Educação.
Apesar de possuírem boa formação pedagógica, não é possível
assegurar práticas inovadoras e reflexiva sobre a prática docente, o que poderia
indicar mudanças no uso de metodologias de ensino voltadas para uma
aprendizagem mais significativa e compartilhada. De imediato estes dados dão
pistas desta hipótese, mas que podem ser aprofundados para conhecer a relação
entre formação e prática inovadora no ensino.
Figura 8 – Atuação docente
Fonte: o autor (2016)
Tempo de Atuação Docente
Até 10 anos De 11 a 20 anos De 21 a 30 anos
114
A amostra revelou um corpo docente experiente, uma vez que somente
um professor possui menos de 3 anos de profissão e 10 dos 16 professores
pesquisados possuem mais de 21 anos de exercício na docência. Porém será que é
um corpo docente que reflete a sua prática e adota novas tecnologias e
metodologias para contribuir com a aprendizagem do aluno?
Nóvoa (2001, p. 3) afirma que,
a experiência por si só não é formadora. John Dewey, pedagogo americano e sociólogo do princípio do século passado, dizia que quando se afirma que o professor tem 10 anos de experiência, dá para dizer que ele tem um ano de experiência repetido 10 vezes, ou que ele tem 10 anos de experiência. Experiência, por si só, pode ser uma mera repetição, uma mera rotina, não é ela que é formadora. Formadora é a reflexão sobre essa experiência, ou a pesquisa sobre essa experiência. (NÓVOA, 2001, p. 3)
Segundo Dewey (1989), a reflexão na formação de professores é uma
prática importante que tem início a partir do momento em que o docente se depara
com algo novo, que cause inquietudes e incertezas em relação a determinados
fenômenos.
Quadro 5 – Docência na escola Atual
Quantidade de Professores
Tempo de docência na escola atual:
8 0 a 3 anos
3 4 a 10 anos
2 11 a 20 anos
2 21 a 30 anos
1 Não respondeu
Fonte: o autor (2016)
A amostra revelou que 50% dos entrevistados possuem até 3 anos na
escola atual, ou seja, são professores com bastante tempo de atuação docente,
porém que estão há pouco tempo na escola atual. Três professores possuem de 4 a
10 anos de atuação na escola, dois professores entre 11 e 20 anos e dois com até
30 anos na atual escola.
115
Figura 9 – Carga horária semanal
Fonte: o autor (2016)
A carga horária semanal que apareceu com maior representatividade na
amostra foi de 30 horas, sendo que apenas dois professores apresentaram carga
horária inferior e quatro apresentaram carga horária maior que 30 horas (32h a 38h)
semanais.
Percebe-se que o corpo docente tem uma vivência na escola intensa com
somente dois professores com carga horária semanal abaixo de 30h (15 e 21 horas).
Isso revela um grande conhecimento da escola das necessidades por parte dos
alunos.
Figura 10 – Atuação Profissional além da docência
Fonte: o autor (2016)
116
Somente três respondentes afirmaram possuir outra ocupação além da
docência, sendo que somente um respondeu sua outra ocupação: escritor. Isso
caracteriza um corpo docente com alta atuação profissional no campo educacional.
Figura 11 – Consumo de produtos audiovisuais
Fonte: o autor (2016)
A amostra revelou uma maioria que está envolvida diariamente com o
consumo de produtos audiovisuais (75%).
Quadro 6 – Uso de redes sociais como ambiente educacional
Quantidade de Professores
Você utiliza redes sociais como ambiente educacional? Quais?
11 Não
1 Atualmente não, devido à faixa etária dos alunos
1 sim- moodle/YouTube/Facebook/WhatsApp
1 Sim
1
Sim. Muitas vezes utilizo as fotos de viagens que fiz e que foram postadas no Facebook para trazer um pouco sobre a
cultura dos países falantes de inglês para a sala de aula.
1 face, arte1, porvir...
Fonte: o autor (2016)
117
Do total de entrevistados, 12 afirmaram “Não” utilizar redes sociais como
ambiente educacional, sendo que um professor alegou a faixa etária dos alunos
como justificativa. Dos quatro respondentes que utilizam redes sociais como
ambiente educacional as redes sociais citadas foram: Moodle, YouTube, Facebook
(3 vezes), WhatsApp, Arte1 e porvir.
Uma das professoras afirmou “Muitas vezes utilizo as fotos de viagens
que fiz e que foram postadas no Facebook para trazer um pouco sobre a cultura dos
países falantes de inglês para a sala de aula”, exemplificando o como utiliza a rede
social como ambiente educacional.
Figura 12 – Estímulo aos alunos para o uso de tecnologia nômade como
ferramentas educacionais
Fonte: o autor (2016)
Dos 16 professores pesquisados, 66,7% afirmaram que os alunos são
estimulados a usar a tecnologia nômade como ferramentas educacionais. Na
pergunta anterior 11 dos 16 afirmaram que não utilizam redes sociais como
ambiente educacional, apesar disso os mesmos afirmam que os alunos são
incentivados a usar tecnologias nômades que trazem justamente a característica de
estar conectada à Internet e possuir acesso à tais redes sociais. Percebe-se que o
educador não utiliza, mas também não proíbe a tecnologia para uso educacional.
118
Figura 13 – Uso de YouTube para preparar aulas
Fonte: o autor (2016)
Apesar do corpo docente não utilizar redes sociais como ambiente
educacional, o YouTube foi citado por 68% como fonte de pesquisa para o preparo
de suas aulas. E um dos respondentes afirmou possuir um canal no YouTube para
seus alunos: “Sim. Inclusive, eu tenho um canal de videoaulas disponível para os
alunos”.
Quadro 7 – Contribuição do audiovisual para a aprendizagem
Professores De que maneira o audiovisual pode contribuir para a
aprendizagem? Conceito
P1
Creio que pode contribuir de várias formas, tornando as aulas mais atraentes, agradáveis.
Tem a capacidade de prender mais atenção do aluno.
Ensino/
Motivação
P2
O audiovisual torna concreto ou real, por incrível que pareça, qualquer assunto discutido em sala de aula. Como um referencial teórico que não basta você afirmar, é necessário o respaldo desta
mídia para ser real. Os discentes conseguem relacionar com a realidade se sair no noticiário, por mais absurdo que possa parecer.
P3 Chamando atenção do aluno e fazendo com que ele perceba de
modo diferenciado o que está sendo aprendido.
P4
O aluno pode utilizar este recurso extra casa, o que facilita para ele tirar dúvidas no momento em que ele não estiver com o professor. Acredito que desta forma o aluno também começa a ter autonomia
em procurar uma maneira diferenciada de estudo.
Híbrido
P5 Acredito que é um meio que motiva e estimula os adolescentes.
Dessa forma, a aprendizagem torna-se significativa. Motivação
P6 para compreensão de conteúdos, que acontecem em outras épocas,
em outros países, outras culturas
119
P7
Dar noções de algumas modalidades esportivas que não temos condições de pratica-las. Ou ainda o aluno se olhar durante sua
pratica também seria interessante para um feedback.
P8 Para ilustrar conceitos e situações, por exemplo.
P9
Por ser algo atual e de domínio dos alunos, o audiovisual traz imensa contribuição para a aprendizagem. Além disso, estimula o interesse
dos alunos, agregando conhecimentos.
P10 Estimula o aprendizado e facilita a compreensão principalmente para
alunos portadores de necessidades especiais DPAC, DLX, TDAH
Inclusão
Motivação
P11
No ensino de língua inglesa o recurso audiovisual é essencial. É uma pena que muitas vezes não conseguimos trazer esse recurso com muita frequência para a sala de aula, pois temos que cumprir um cronograma muito apertado e a exigência, na grande maioria das
vezes dos pais, é que se utilize as páginas dos livros em sua totalidade. O professor acaba ficando preso ao material didático e
acaba deixando de lado recursos mais interessantes como um vídeo diferente, um filme agradável que possa engajar os alunos no
conteúdo. Para o aluno da atualidade, ver um vídeo, mostrar fotos, escutar uma música é muito mais dinâmico e eficaz do que ficar
preso às páginas do livro. Por isso, sempre que possível (às vezes uma vez por mês ou até duas), é importante trazer algum vídeo,
algum filme para despertar o interesse dos alunos.
Material didático
P12
O audiovisual é uma excelente ferramenta para o ensino de matemática, o problema é a falta de material que não seja "aula
gravada". Com "aula gravada" estou me referindo aos vídeos onde a pessoa se filma falando e escrevendo (seja em papel ou lousa).
Material didático
P13
O audiovisual proporciona contato estimulante com conteúdos, anteriormente, considerados enfadonhos. A sensibilização para a leitura de livros paradidáticos feita com vídeos da internet trouxe mudança significativa no que se refere ao interesse pela temática
abordada nos livros.
Material didático
P14 Estimulando a aluno Motivação
P15
O audiovisual pode: - ajudar o professor a preparar uma aula que consiga potencializar a aprendizagem em diversos canais (visual, auditivo ou espacial,
por exemplo); - promover a aprendizagem ativa, com estratégias de aulas
invertidas, por exemplo; - tornar o conteúdo significativo para o aluno quando este (o
conteúdo) é ilustrado, com vídeos e imagens; - trazer opções variadas de material de estudo para os alunos, como
videoaulas, por exemplo.
Material didático
P16 Reforça e sustenta o conceito teórico/pratico, mas não substitui o
professor. É uma importante ferramenta que enriquece a aula,
Fonte: o autor (2016)
Diferentes posicionamentos pessoais acarretam distintas ações
educativas e assim, diversas situações de aprendizagem são enfrentadas. Por isso,
a complexidade da realidade educacional deve ser considerada e não tratada de
maneira reducionista e simplista. O estudo em torno das diversas abordagens
120
pedagógicas faz-se de extrema importância e pode fornecer diretrizes à ação
docente, ainda que a elaboração que cada professor faça delas seja particular e
intransferível.
A pesquisa revelou conceitos chaves tais como motivação, material
didático, inclusão e concreto, deste modo percebe-se que o audiovisual pode sim
contribuir não somente para o ensino, mas também para a aprendizagem, foco deste
trabalho.
A motivação para a aprendizagem ocorre como resultado de uma
combinação de influências distintas e que provêm do interesse do aluno ou pela
influência de outras pessoas. (Williams; Burden, 1999). Ela é intrínseca quando o
desejo de aprender parte da própria pessoa e extrínseca quando a decisão de
aprender parte de fatores externos. (Brown, 2001).
Os resultados dos tipos de motivações são diferentes: quando o aluno é
motivado de forma intrínseca ele se envolve espontaneamente na atividade porque
é geradora de satisfação, pelo desejo de integração e participa da tarefa de forma
agradável, buscando novidades e desafios. Já o aluno motivado de modo externo,
na forma extrínseca, executa sua atividade interessado em recompensa, que pode
ser um elogio, melhores notas ou uma premiação.
Quadro 8 – Uso do audiovisual como recurso pedagógico
Professores Você tem se apropriado do audiovisual como
recurso pedagógico? Você tem alguma estratégia de ensino para usá-lo?
Conceito
P1
Sim. Multimídia
Filmes Softwares no laboratório de informática,etc
P2
Telejornalismos, notícias on-line, fazem parte deste respaldo ao estudo da geografia, porém uma forma de conquista ao público é
participar do seu mundo através por exemplo, dos chavões usados na internet, como "já acabou Jéssica?" porque me dá
acesso fácil ao mundo jovem e mostra pró-ativa para eles. Desta forma, param para me ouvir quando me manifestar para fazer
alguma crítica ou intervenção social.
Linguagem próxima do aluno e de sua realidade.
P3 Às vezes
P4
Sim. Gosto de postar vídeos no moodle para que ele assista antes de vir para escola, pois desta forma o aluno já começa a ter contato sobre o assunto que será abordado em sala de aula.
Híbrida
121
Quando o aluno chega em sala conhecendo um pouco sobre o assunto, o aprendizado fica mais prazeroso e a troca de experiência sobre o vídeo faz com que o aluno consiga compreender o conteúdo de maneira mais significativa.
P5 Sim, Uso o audiovisual nos projetos de leitura, aulas temáticas,
entre outros.
P6
Sim. às vezes, utilizo para contextualizar as aula, por exemplo, para falar do manifesto futurista, escolho no YouTube, um video
apenas com palavras, numa montagem concreta do poema e uma narração em italiano que dá clara noção dos ideais
futuristas.
Ou seleciono frangmentos de uma mini série que aborda a semana de arte moderna.
P7
Sim, como disse anteriormente, utilizo videos de esportistas praticando esportes não praticados no Mack por falta de
recursos. Utilizo de power point, sobre assuntos e videos, não tenho muitas
estratégias.
P8 Sm. Vídeos e diferentes produções enriquecem as aulas.
P9 Sim. Já trabalhei com videoaulas para antecipação de estudos e com vídeos que venham ao encontro dos conteúdos ensinados.
P10 Não
P11
Sim. Tento usar fotos de viagens para contar sobre a cultura e os
lugares diferentes por qual passei. OS alunos ficam encantados, interessados e , na grande maioria das vezes, isso aproxima o
relacionamento que tenho com eles. Essas fotos não são aleatórias... se tem um texto sobre a Inglaterra, por exemplo, eu
mostro as fotos da viagem que fiz para esse país, conto fatos interessantes, falo sobre a cultura... sempre utilizando a língua
inglesa. Outras vezes, utilizamos filmes ou trechos de filmes para
trabalhar interpretação, descrição de personagens... ou até como uma forma de trazer um tema para a sala de aula e depois
escrever uma redação ou discutir , quando for aula de conversação, sobre o assunto principal abordado no filme.
P12
Gostaria muito de utilizar mais este recurso pedagógico, mas acabo não utilizando por não encontrar vídeos prontos de boa
qualidade.
P13
Sim, como mencionado, uso vídeos de mesmo tema dos paradidáticos numa abordagem diferente. Vídeos divulgados por outros estudantes, cenas de filmes e novelas têm aumentado o interesse pelas leituras e inspirado projetos, como por exemplo,
nossa fotonovela sobre o clássico A megera domada, de Shakespeare.
P14 Preparo minhas aulas em power point.
P15
Sim. Tenho um canal no YouTube de videoaulas, em que uso como material de estudo e quando quero variar a
estratégia em sala aula,propondo aulas invertidas. Uso também para ilustrar os conteúdos mais abstratos.
Proponho trabalhos ao alunos em que é necessário usar recursos audiovisuais, e ao longo do desenvolvimento do trabalho, ensino
técnicas e faça-os praticarem, de como podemos explorar algumas ferramentas.
122
P16
Uso filmes, material didático, minhas aulas utilizo multimídia. Muitas de minhas aulas são preparadas para exibição
com sistema multimídia.
Fonte: o autor (2016)
Para Litwin (1997, p.10) “A tecnologia posta à disposição dos estudantes
tem por objetivo desenvolver as possibilidades individuais, tanto cognitivas como
estéticas, através das múltiplas utilizações que o docente pode realizar nos espaços
de interação grupal.” Contudo, o regente é quem deve colocar em seus
planejamentos o uso dos recursos e implantar isso em sala de aula de maneira a
enriquecer a aprendizagem do aluno.
Nenhuma tecnologia substituirá o professor, mas ela pode agregar e
facilitar a aprendizagem, contudo o seu uso precisa ser planejado pelo docente para
melhor apropriação.
A pesquisa revelou que somente um docente não utiliza audiovisual como
recurso pedagógico, outros ainda se apropriam de forma tímida e grande parte
possui o desejo de conhecer mais, para se apropriar de vez desses recursos.
A tecnologia mediada pelo professor pode contribuir no processo ensino
e aprendizagem, e facilitar as situações de comunicação estimulando a participação
de todos e mudando o paradigma de educação centrada no professor e no texto
escrito.
Quadro 9 – Capacitação dos alunos para o uso do audiovisual
Professores Seus alunos estão capacitados para desenvolver
produtos/ narrativas audiovisuais? Conceito
P1 Muitos deles com certeza sabem, são capazes, mas não possuem um
norte ou direcionamento sobre como fazer da forma correta Papel do professor
P2
Estamos desenvolvendo isso esse ano mais que em outros em função da demanda. Os aplicativos são usados de forma ainda primária,
como por exemplo, o flipgram, mas o importante é que se interessem pelo aprimoramento.
Papel do professor
P3
Mais ou menos, por serem alunos das seres iniciais do fundamental II, alguns ainda não estão preparados, essa capacidade acontece no
decorrer do ano letivo.
P4
Alguns. Percebo que alguns alunos possui uma grande facilidade, porém outros não sabem nem salvar um arquivo e depois enviar o
mesmo via moodle.
Papel do professor
123
P5 Sim. Tenho vários projetos de leitura que os alunos desenvolvem no
laboratório de informática, após a leitura dos livros paradidáticos.
P6
Ás vezes eles fazem isso. Alguns dominam melhor estes recursos que outros, mas todos mostram-se dispostos quando propomos uma
atividade assim.
P7 Acredito que sim. Com eles nos realizamos pesquisas, vídeos e power
points sobre diversos assuntos. Eles dominam essa tecnologia.
P8 Alguns deles, sim.
P9 Desde que orientados, creio que sejam capazes de produzir esse
material. Papel do professor
P10 Sim
P11
Talvez. Este ano, como projeto , vamos tentar desenvolver diálogos que eles produzirão as falas e depois , eles terão que tirar fotos para
ilustrar as falas.
P12 Não sei responder
P13
Nosso projeto de fotonovela foi tão bem aceito e bem realizado pelos alunos que fará parte do Congresso de educação do ICLOC em maio
desse ano no Colégio Dante Aligheri.
P14 Sim
P15
Não tanto quanto eu gostaria. Eles são consumidores dos produtos audiovisuais, não estão acostumados e são pouco estimulados a
produzem. É bem difícil encaixar essa demanda dentro do planejamento do nosso currículo.
Papel do professor
P16 Sim,
Fonte: o autor (2016)
Pelas respostas destacadas no Quadro 6, fica evidente o papel do
professor no processo de ensino/aprendizagem, assim como sua intervenção na
produção do conhecimento, uma vez que este conhecimento é construído em
parceria com o aluno.
Paulo Freire (1996) enfatiza:
A tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não há intelegilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico.
(FREIRE, 1996, p.42).
A afirmação de Freire reafirma que a prática educativa do professor se
baseia na comunicação com o educando, em que ambos participantes do processo
de conhecimento em um movimento dialógico. A atuação do professor no processo
124
de ensino/aprendizagem não pode ser restrita a repassar conhecimento, mas
orientar e valorizar as habilidades do aluno.
Freire (1996, p.52) diz que “saber que ensinar não é transferir
conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua
construção”. O professor aberto às indagações dos alunos e a curiosidade.
O professor não deve privilegiar a memorização dos conteúdos. Estes
devem estar contextualizados a uma realidade sócio histórica, uma vez que o
educando faz parte de uma sociedade em constante transformação e os conteúdos
trabalhados na escola precisam estar relacionados à sua prática social. Nesse
sentido, o conhecimento de mundo do educando deve ser considerado relevante
para que a prática educativa seja concretizada e levada além do contexto escolar.
Atento à "natureza social" do ser humano, que desde o berço vive
rodeado por seus pares em um ambiente impregnado pela cultura, Vygotsky
defendeu que o próprio desenvolvimento da inteligência é produto dessa
convivência. Para ele, é através da aprendizagem nas relações com os outros que
construímos os conhecimentos que permitem nosso desenvolvimento mental. Essa
interação deve se concretizar em sala de aula através do estímulo para que os
alunos troquem ideias e opiniões.
Quadro 10 – Formação de professores para o audiovisual
Professores
O que seria necessário na formação de professores para ensinar os alunos a
trabalhar de forma pedagógica com as ferramentas e linguagens audiovisuais a favor da aprendizagem? Você teve essa
formação?
Conceito
P1 Curso de formação/rápido e prático. Não tive essa formação
Não teve formação
P2
Nenhum adulto de minha geração ou desta teve. Ninguém lê manuais de celulares. A arte e o grande aprendizado está em ter certeza que podemos aprender ou que alguém pode nos ensinar via YouTube. Somos auto-didatadas. Essa segurança é o melhor aprendizado. Sempre teremos um tutorial para nos capacitar, ou um aluno que nos dê uma dica. Estar próximo dessa meninada é a melhor maneira porque sempre que sai algo novo eles se encarregam de divulgar.
Relação de aprendizado com o
aluno
125
P3 Infelizmente não tive essa formação. Acho que mais vontade por parte dos professores e tempo para isso.
Não teve formação
P4
Realizar cursos de capacitação. Infelizmente na faculdade não, eu tento aprender em cursos e vendo vídeos.
Não teve formação
P5
Cursos preparatórios. Tive essa formação e também participo de cursos extras que trabalham com os recursos audiovisuais.
P6
Não tive, alguns recursos que aprendi foi buscando por interesse próprio, ou os alunos, me ajudaram. Eles sabem mais que nós.
Relação de aprendizado com o
aluno
P7 Como utilizar os recursos dessa tecnologia. Tenho feito alguns cursos para utilizar esses recursos.
P8
Capacitação técnica. Não tive essa formação na universidade, tive que complementá-la com cursos extras.
Não teve formação
P9
Seria necessário sistematizar a aprendizagem desses recursos, participando de treinamentos. * Disponibilidade somente às quartas-feiras em que tenho HTPE.
P10 Não tive. Não teve formação
P11
Não tive essa formação, então, antes de mais nada, seria importante capacitar o professor. Para que os alunos pudessem trabalhar dessa forma, o currículo escolar deveria ser repensado, assim como o número de aulas também.
Não teve formação
P12 Não sei responder, pois não tive esta formação Não teve formação
P13
Infelizmente, não nasci imersa nesse mundo tecnológico de hoje. Faço parte da geração Y, minhas habilidades foram adaptadas à necessidade. Busco aprimorar pelo interesse e contato diário com os adolescentes. Os educadores precisariam de formação mais adaptada aos recursos educacionais disponíveis na rede. Muitas vezes, observo que algumas dificuldades e resistências com os recursos audiovisuais refletem o desconhecimento das ferramentas e do vocabulário específico desse meio.
P14 Não
P15
Seria necessário que os professores tomassem propriedade sobre esses recursos. Acredito que só podemos ensinar algo que dominamos. Eu não tive essa formação, fui aprendendo na necessidade de querer inovar e de buscar novas estratégias de aula, pensando sempre em como melhorar minha prática docente e potencializar a aprendizagem dos meus alunos.
Aprender com o aluno
Troca de papéis
P16 Não tive a formação mas busco adaptar-me ao processo Não teve formação
Fonte: o autor (2016)
Constatou-se nas respostas que além da ausência de formação, eles não
procuram ter autonomia sobre o assunto, não dominam e tem medo, inclusive de
fazer a troca de conhecimentos com o aluno, fazer a troca de papéis e aprender com
ele.
126
O pesquisado P14 afirma “Acredito que só podemos ensinar algo que
dominamos.” Isso confirma o que já expomos anteriormente sobre a hibridização do
ensino e as novas maneiras de trabalhar de maneira colaborativa professor e alunos
juntos no processo de ensino-aprendizagem onde há uma troca de papéis e o
professor também aprende com o aluno, o nativo digital. Outro pesquisado afirma
que “Estar próximo dessa meninada é a melhor maneira porque sempre que sai algo
novo eles se encarregam de divulgar” (P2).
Trabalhar de maneira colaborativa significa “trocar e unir” os diferentes
conhecimentos em busca de um único objetivo: a educação. O professor como o
mentor pedagógico é aquele que conduz a discussão e análise, e por fim o aluno,
um exímio nativo digital, que cada vez mais está imerso na tecnologia ao seu dispor
e já faz uso constante dela em redes sociais.
As falas também revelam a necessidade e interesse em uma
“Capacitação técnica”, para que os educadores possam utilizar e entender os
potenciais da linguagem audiovisual. A fala do Pesquisado P13 defende isso: “[...]
algumas dificuldades e resistências com os recursos audiovisuais refletem o
desconhecimento das ferramentas e do vocabulário específico desse meio.” Sendo
assim, uma proposta de formação que uma teoria para os educadores conhecerem a
linguagem e a prática, para eles experimentarem se faz necessário.
Figura 14 – Interesse na formação audiovisual
Fonte: o autor (2016)
Somente dois professores demonstraram não haver interesse em realizar
a oficina. O interesse dos outros docentes em participar da formação reforça a
127
importância de trabalhar a linguagem audiovisual com esses alunos, fato que foi
apresentado nas considerações da qualificação de mestrado e defendido na
proposta de formação apresentada no próximo capítulo deste trabalho.
Antes de avançarmos para a proposta de formação (capítulo 7) resultante
das pesquisas bibliográfica e qualitativa realizadas, apontaremos agora para quatro
elementos revelados na pesquisa qualitativa a fim de serem desenvolvidos na
proposta de formação:
1. Uso de tecnologia de comunicação móveis para a educação: a
pesquisa revelou que os educadores são detentores destas
tecnologias, mas dependem de uma capacitação para o manuseio e
domínio dessas tecnologias nômades.
2. Capacitação técnica-pedagógica de audiovisual: existe uma carência
na formação do docente sobre a linguagem audiovisual e seus
elementos e a potencialidade de aplicação dela.
3. Audiovisual como estratégia de ensino: o desconhecimento das
possibilidades de aplicação provoca o “uso inaquedado” ou o “não-
uso” do audiovisual na sala de aula e em outros espaços de educação.
Alguns professores também relataram a falta de bons materiais para
serem utilizados em sala de aula como aplicações pedagógicas.
4. Produção de material audiovisual para servir de recurso pedagógico
em sua disciplina: além de conhecer e saber utilizar material
audiovisual já existente, os professores também sentem a
necessidade e possuem interesse em desenvolver seus próprios
materiais didáticos.
128
7. PROPOSTA DE FORMAÇÃO COLABORATIVA ENTRE PROFESSORES E
ALUNOS PARA A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
A pesquisa realizada junto aos 16 professores de Educação Básica de
uma escola particular na cidade de São Paulo com diversas formações, cumpriu a
primeira etapa de nossa pesquisa, num primeiro contato, ainda que de forma indireta
com o corpo docente da escola de educação básica, local de nosso pesquisa e
revelou algumas informações valiosas afim de responder ao nosso problema de
pesquisa. Esta dissertação teve como pergunta norteadora: A produção de
audiovisual pode ser um recurso pedagógico colocando professor e alunos como
protagonistas na criação? O processo de criação do audiovisual, em ambiente
escolar, propicia a formação colaborativa de professores e alunos?
O objetivo geral foi analisar teoricamente o uso de audiovisual, em
especial do roteiro, em uma abordagem prática para professores e alunos em
colaboração na educação básica.
Os dados obtidos, por meio da aplicação do questionário eletrônico,
revelaram que as políticas e gestão educacionais não têm priorizado efetivamente a
formação inicial e continuada do professor da Educação Básica, especialmente no
que diz respeito ao desenvolvimento das competências para a contribuição mídia-
educação, pois nenhum deles recebeu formação que inclui o audiovisual como
recurso pedagógico e pouco se utiliza dessa linguagem como recurso didático,
apesar de o considerarem importante em diferentes aspectos, e 87,5% (14 dos 16)
ter interesse em participar de uma formação voltada para a contribuição e o uso da
linguagem audiovisual na educação.
No cotidiano das escolas do Educação Básica são frequentes as
tentativas de convencimento do professor quanto ao uso das novas tecnologias da
informação e comunicação na sua prática pedagógica (SANTANA, 2007). Pesquisas
como a de Litwin (1997) e Santana (2007) revelam que o foco na simples
distribuição de equipamentos para as escolas pouco tem contribuído para usos
criativos e qualificados, que mostrem como esses meios são apropriados e fazem
parte do repertório do professor.
129
Apenas o aparato tecnológico não basta, é necessário construir junto ao
professor um diálogo e capacitação para que ele assuma essas tecnologias como
parte integrante do modo como se comunica e se expressa na sala de aula, em sua
didática, deste modo os equipamentos disponibilizados pela escola não se tornarão
ultrapassados sem que o professor tenha feito uso deles.
Outro aspecto interessante e por isso nossa pesquisa se iniciou nos
professores é a questão de estar atendo às suas necessidades e expectativas em
relação ao que determinada tecnologia permitirá ele fazer. Nessa direção, o
exercício de produção audiovisual feito pelo professor, se constitui como um dos
mecanismos capazes de transformar a relação deste professor com o audiovisual, a
partir da apropriação dos códigos da linguagem e da prática de expressão e
comunicação através desta linguagem. (SANTANA, 2007).
A ideia de que a linguagem audiovisual é universal, ou seja, acessível a
todos, sem a necessidade de uma formação específica seria inaceitável, como
considera Ferrés (1996). A integração ao processo educativo requer preparação em
diferentes níveis: formação técnica e tecnológica, formação expressiva e formação
didática. Ferrés (1996) analisa que o fracasso da integração dos audiovisuais nas
escolas se deve ao fato de que o professor não se apropriou, ainda, do meio para
sua expressão e comunicação, conforme o relato de um professor, transcrito a
seguir:
“A realização do exercício de produção audiovisual resulta na aprendizagem de que a elaboração dos recursos didáticos como elementos do processo de ensino, podem se encontrar ao alcance do professor, que assume a posição de autor de sua própria prática, dominando a leitura dos códigos audiovisuais, conhecendo as produções de qualidade realizadas pelos profissionais do meio e elaborando produções para uso didático em ambientes educacionais” (FERRÉS, 1996, p. 35).
Uma pedagogia da imagem requer, de acordo com Ferrés (1996) a
formação inicial e continuada do professor, que envolve o conhecimento da
linguagem audiovisual e dos mecanismos de funcionamento dos meios de
comunicação de massa, além da capacidade didática de educar os alunos no
contexto educacional. Nesse ponto entra o papel do pesquisador enquanto
130
formador compartilhando seu conhecimento do audiovisual para capacitar o
professor.
Ao lado do desenvolvimento da competência para a leitura e apreciação
da produção audiovisual feita fora do âmbito comercial, desvinculado de qualquer
compromisso de lucro ou de entretenimento e sim de educar, usar a linguagem para
transformar o receptor da mensagem. É necessário enfatizar a importância do
professor – especialmente em formação – de apropriar-se dos códigos da linguagem
para produzir audiovisuais para uso em ambientes educacionais.
Dessa maneira, o professor deixa a posição passiva de consumidor e
passa a ser também um produtor dos próprios recursos didáticos, motivando o
mesmo processo em seus alunos. Em nosso caso, o professor já passou pela
formação inicial e muitos pelo nível de pós-graduação, no entanto, ainda tem
carência no aspecto de experimentar e trabalhar com esses recursos, a fim de
incentivar seus alunos a fazer uso.
Assim, como a produção de cada produto audiovisual é única, a proposta
de formação apresentada procura atender inicialmente as necessidades e interesses
do público pesquisado, servindo de modelo a ser reproduzido em outros contextos,
adequando suas particularidades.
Desta forma, desenhamos o “Curso de Extensão para Produção
Audiovisual para Professores”, que envolve também alunos para a produção
audiovisual na Educação Básica.
Apesar de não ser concretizada a tentativa de pesquisa-ação, o trabalho
serviu para comprovar que existe por parte do aluno esse interesse em aprender a
produzir conteúdos por meio de tecnologias nômades.
A formação inicial tem carga horária: duração de 32h (8 encontros de 4h)
a ser oferecida em curso de extensão, com caráter de realização, ou seja, ou
participantes vão pôr a “mão na massa”, ou melhor a “mão na caneta e papel para
produzirem roteiros e nos celulares, câmeras e notebooks para produzirem seus
próprios vídeos” durante o curso. Voltando para a nossa base teórica como defende
131
Gómez (2015) “para superar a insistente e perversa separação entre investigação e
ação, bem como a concepção hierárquica da relação teoria e prática que despreza a
sabedoria da experiência”.
Por isso, propõe-se um programa de formação que tem por objetivo
compreender a relação entre mídia e educação de acordo com conteúdo
programático proposto para as oficinas de capacitação. Enfatizamos que o
diferencial é a formação do professor para ser leitor e autor de audiovisual, assim
como o aluno, ou seja, colocamos os dois atores como produtores e não apenas
consumidores.
O curso se centrará na utilização de tecnologias nômades como recursos
para as produções de áudio e vídeo. O mobile é a grande concentração de todo o
processo da produção audiovisual. Com o uso de um celular, conexão com Internet
e aplicativos de edição de vídeo (gratuitos) é possível realizar a captação de
imagens e sons, editar e compartilhar (e isto inclui o transmitir ao vivo). Tudo ao
alcance do participante. Parafraseando o cineasta Glauber Rocha “um câmera
(celular) na palma mão e uma ideia na cabeça (um roteiro estruturado, porque não,
no celular também)”.
Partindo de referências de “boas práticas” do audiovisual na educação
(como recurso de apoio de material já existente) até que o próprio professor no final
da capacitação esteja apto, produzindo conteúdos próprios. Enfatizamos que não se
tem a pretensão de tornar o professor um profissional do audiovisual, mas de inserir
o audiovisual na sua área de atuação de maneira que ele possa extrair o grande
potencial trazido por esta linguagem.
Sendo assim, propomos a abordagem dos seguintes conteúdos:
1. O Audiovisual
1.1 Os tipos de audiovisuais
1.2 Elementos constitutivos da linguagem audiovisual.
1.3 Audiovisual e Educação
132
2. Realizando uma produção audiovisual para fins didáticos
Propomos que a realização dos encontros/oficinas ocorra da seguinte
maneira:
1) Exposição oral com exibição de referências audiovisuais (treinar o
olhar/ linguagem);
2) Apresentação de ferramentas para a realização audiovisual;
3) Realização de exercícios de produção audiovisual para fins didáticos;
4) Realização de Projeto final de produção audiovisual para fins didáticos.
Programa de aulas
1º. Encontro: A nova realidade
Exercício: “O caminho inverso”
O primeiro momento do curso se dará num desafio aos participantes:
realizar uma narrativa de 1 minuto (“grave seu filme de 1 minuto”) dentro das
possibilidades do espaço onde o curso será realizado. A justificativa para o desafio
está no fato de o partícipe vivenciar o processo de produção audiovisual onde
acontece a não-linearidade. Primeiro a realização do exercício e depois uma
conversa sobre essa experiência de realização inicial.
Conteúdo expositivo/diálogo:
A Educação em constantes mudanças (O novo aluno, a nova
escola, o novo professor)
- Novo aluno: nativo digital, millennials, protagonista, uso da tecnologia
nômade (celular, tablets, etc);
- A nova escola - sala de aula híbrida; novas mídias;
- O novo professor – adaptação, novos papeis, professor co-aprendendo
com aluno, Mentor pedagógico (conduz a discussão / análise).
133
Discussão de questões contemporâneas em diferentes áreas da
vida cotidiana, trabalho, educação formal e informal,
profissionalização, empregabilidade, relações afetivas, vida
privada, segurança, saúde, cidadania, entre outras.
Diferenciação entre conceitos de cultura, ciberespaço, cultura
digital; Internet e recursos interativos; acesso à informação;
hipertexto; analise de produtos midiáticos nos diferentes espaços
digitais (blog, wiki, AVA, redes sociais; broadcasting); Multimídia e
Internet para fins pedagógicos; Comunidades virtuais de
aprendizagem; autoria, produção e remix.
2º. Encontro: Audiovisual: uma contribuição para a educação
Objetivo: Exposição sobre boas práticas do Audiovisual na educação
(Quem já utilizou / está utilizando: Como recurso de apoio (material já existente) e
produzindo conteúdos próprios).
Atividade: exibição do vídeo e análise dos elementos/recursos
audiovisuais (Exemplo: Série "É Muita História" (2007) FANTÁSTICO
https://www.YouTube.com/watch?v=YpyoZC0zDhI)
3º. Encontro: Conhecendo o Audiovisual e sua potencialidade.
Objetivo: exposição sobre o audiovisual: Cinema, rádio, televisão e Internet como
produtores de imagens e sons. As novas tecnologias de comunicação audiovisual.
Convergência da mídia. O hibridismo de linguagens, formatos e concepções da
comunicação audiovisual. As etapas de produção e os principais softwares
audiovisuais.
4º. Encontro:
Objetivo: Exposição sobre Elementos da linguagem audiovisual (planos,
ângulos movimentos de câmera, decupagens e noções básicas de montagem) e
roteiro audiovisual.
Atividade: Escolha de um tema e formato para o Projeto.
134
5º. Encontro: “Produzindo meu Audiovisual”
Objetivo: Exposição sobre o Planejamento de produção, a Produção e
Roteiro de Conteúdos para Mídias em Educação.
Atividade: Elaboração do roteiro para a produção do piloto (projeto final do
Curso)
6º. Encontro:
Atividade prática: Produção do roteiro produzido (piloto).
7º. Encontro:
Atividade prática: Finalização do piloto. (edição)
8º. Encontro:
Exibição e avaliação dos vídeos produzidos durante o curso. Estratégias
para a produção de oficinas de audiovisual em escolas.
135
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação teve como pergunta norteadora: A produção de
audiovisual pode ser um recurso pedagógico colocando professor e alunos como
protagonistas na criação? O processo de criação do audiovisual, em ambiente
escolar, propicia a formação colaborativa de professores e alunos?
O objetivo geral foi analisar teoricamente o uso de audiovisual, em
especial do roteiro, em uma abordagem prática para professores e alunos em
colaboração na educação básica.
Foi possível constatar que a presença do audiovisual (Rádio, TV, cinema,
vídeo) na educação é recorrente em trabalhos acadêmicos, no entanto, ainda
carente de formação para os professores que fazem uso dela. O autor Joan Ferrés
(1996) ainda na década de 1990, em seu livro escreve que nas conclusões do
Seminário Internacional sobre Meios Audiovisuais no Sistema Educativo, organizado
pelo Ministério de Educação e Ciência, reconhecia-se que inexiste uma formação
específica, sistemática e generalizada do professorado para o uso dos meios
audiovisuais em todos os níveis educativos.
Considera-se que a política atual de meios audiovisuais como forma de
inclusão não alcançará seu objetivo enquanto não seja criada uma estratégia de
formação cultura para o uso, desenvolvimento e apreciação crítica dos meios
audiovisuais. Este despreparo foi considerado a causa fundamental da subutilização
de tais meios. (FERRÈS, 1996).
Quase 30 anos depois, percebe-se algumas iniciativas – relatadas no
capítulo 4 deste trabalho – tanto no âmbito de pesquisa e aplicações acadêmicas,
quanto no âmbito de projetos de extensão e cursos de formação de professores para
uso da linguagem audiovisual, especialmente impulsionados pela criação da “Lei
13.006/14”. Citamos também duas iniciativas de formação em nível superior.
Programas governamentais para levar e incentivar o uso de audiovisuais
foram criados. Em São Paulo, foi criado o “Cinema vai à escola”, foram enviados
filmes a todas as mais de 3 mil escolas do estado, porém sem uma formação prévia
136
dos professores o que gerou desinteresse e falta de adesão ao uso do material
conforme relatado pela pesquisadora Cláudia Mogadouro (2016) em sua dissertação
de mestrado.
Dessa maneira, percebe-se que o simples envio dos equipamentos para a
escola não tem resultado em um uso qualificado dos meios, já que não se integram
à didática exercida pelo professor. A respeito desse ponto, Ferrès (1996) destaca
que a significativa quantidade de meios audiovisuais guardados em muitas
instituições educacionais confirma que a causa principal da não-integração dos
audiovisuais na escola não é a falta de meios, mas a desmotivação por parte do
professorado e seus alunos. A ideia pré-concebida de que a linguagem audiovisual é
universal, não se aplica no que diz respeito ao seu uso no processo de ensino-
aprendizagem. Não parece possível integrá-la ao processo educativo sem uma
preparação nos níveis: da formação técnica e tecnológica, da formação expressiva e
da formação didática.
Cada vez mais a “escola do presente” busca uma educação baseada na
aprendizagem compartilhada, onde professores e alunos aprendem juntos, um
contribuindo com o outro com os seus saberes.
Nossa pesquisa levantou importantes iniciativas deste tipo de trabalho e a
proposta é justamente unir os diferentes conhecimentos em busca de um único
objetivo: a educação. Eu, no papel de um Formador-Pesquisador, desejo
implementar o “Curso de Produção Audiovisual para Professores (CPAPP)”
contribuirei com minha experiência na área de roteiro e produção audiovisual. O
professor atuará no papel de mentor pedagógico, isto é, aquele que conduz a
discussão e análise, o “roteirista na sala de aula” para que possa estar apto a
implementar projetos e lidar com a nova geração de alunos, para que possam
também aproveitar esse potencial do audiovisual – já utilizado para fins pessoais –
na educação.
137
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150
Professor
PERGUNTA 1
Qual é a sua idade?
PERGUNTA 2
Sexo:
PERGUNTA 3
Formação Acadêmica (Graduação/pós):
PERGUNTA 4
Tempo de atuação docente:
PERGUNTA 5
Tempo de docência na escola atual:
P1 48 Feminino
Graduação em Pedagogia e Mestrado em Educação
Cristã 23 anos 11 anos
P2 48 Feminino Mestrado em Educação
PUC-SP 25 anos
P3 34 Feminino Graduação/pós 13 anos 3 anos
P4 37 Feminino
Licenciatura Plena em Matemática e Pedagogia e
especialização em Educação Matemática pelo
Centro Universitário Fundação Santo André 18 anos 3 anos
P5 47 Feminino Letras/Pedagogia/Psicoped
agogia 23 anos 13 anos
P6 50 Feminino
Lic.Ed,Artistica -FASM, Bach.Desenho Industrial e
Pós em Historia da Arte F.São Judas 27 anos 6 anos
P7 54 Feminino Graduação em Educação
Física e Pedagogia 27 anos 26 anos
P8 35 Masculino
Bacharelado, Licenciatura e Mestrado em Geografia
pela USP 12 anos 1,5 ano
P9 41 Feminino
Pós-Graduação em Metodologia da Língua
Portuguesa - UNI São Luís 24 anos 3 meses
P10 41 Feminino Letras USP 22 anos 10 anos
P11 31 Feminino
Graduação em Letras-Tradução (Mackenzie) e
especialização em Recursos do ensino de
língua inglesa (Mackenzie) 10 anos 7 anos
P12 26 Masculino Bacharelado em
Matemática 3 anos 1ano
P13 42 Feminino Graduação em Letras
Universidade São Marcos 22 anos 2 anos
P14 43 Feminino Letras 23 anos 2 meses
P15 31 Feminino
Graduação em Ciências Biológicas na USP e
mestrado em Ciências na USP 6 anos
1 ano e 4 meses
P16 63 Feminino
Graduação Universidade São Paulo, Pós-graduação
Mackenzie 30 anos 30 anos
151
Professor
PERGUNTA 6 PERGUNTA 7 PERGUNTA 8 PERGUNTA 9
Carga horária semanal:
Docência é a sua única atuação?
Além de ser professor, sou ____________.
Com que frequência você consome produtos audiovisuais ( cinema, TV, filmes, vídeos na Internet)?
Você utiliza redes sociais como ambiente educacional? Quais?
P1 30 horas Não Diariamente não
P2 37 horas Sim Diariamente
sim- moodle/YouTube/facebook/whatsApp
P3 30 horas Sim Mensalmente Não
P4 33 horas Sim Semanalmente Não
P5 30 horas Sim - Semanalmente não
P6 38 horas Sim ... Diariamente face, arte1, porvir...
P7 32 horas Sim Diariamente não
P8 30 horas Não Escritor Diariamente Atualmente não, devido à faixa etária dos alunos
P9 30 horas Sim Diariamente Não.
P10 30 horas Não Diariamente Não
P11 32 horas Sim Mensalmente
Sim. Muitas vezes utilizo as fotos de viagens que fiz e que foram postadas no facebook para trazer um pouco sobre a cultura dos países falantes de inglês para a sala de aula.
P12 30 horas Sim Diariamente Não
P13 30 horas Sim Diariamente Não
P14 32 horas Sim Diariamente sim
P15 21 horas Não
Mestrando em ensino de ciências. Diariamente Não.
P16 15 horas Sim Diariamente Não
Professor
PERGUNTA 10 Os alunos são estimulados a usar a tecnologia nômade (tablets e smartphones) como ferramentas educacionais?
PERGUNTA 11 Você realiza pesquisas no YouTube para preparar suas aulas?
P1 Não usamos como material didático Sim
P2 Sim Sim
P3 Sim Sim
P4 Sim Sim
P5 Não Sim
152
P6 Sim Sim
P7 Não Sim
P8 Sim Sim
P9 Às vezes Sim
P10 Não As vezes
P11 Não, pois no colégio não temos esse tipo de tecnologia Raramente
P12 Não Sim
P13 Raramente em sala de aula Sim
P14 Sim As vezes
P15 Sim Sim. Inclusive, eu tenho um canal de videoaulas disponível para os alunos.
P16 Sim Não
Professor
PERGUNTA 12 De que maneira o audiovisual pode contribuir para a aprendizagem?
P1 Creio que pode contribuir de várias formas, tornando as aulas mais atraentes, agradáveis. Tem a capacidade de prender mais atenção do aluno.
P2
O audiovisial torna concreto ou real, por incrível que pareça, qualquer assunto discutido em sala de aula. Como um referencial teórico que não basta você afirmar, é necessário o respaldo desta mídia para ser real. Os discentes conseguem relacionar com a realidade se sair no noticiário, por mais absurdo que possa parecer.
P3 Chamando atenção do aluno e fazendo com que ele perceba de modo diferenciado o que está sendo aprendido.
P4
O aluno pode utilizar este recurso extra casa, o que facilita para ele tirar dúvidas no momento em que ele não estiver com o professor. Acredito que desta forma o aluno também começa a ter autonomia em procurar uma maneira diferenciada de estudo.
P5 Acredito que é um meio que motiva e estimula os adolescentes. Dessa forma, a aprendizagem torna-se significativa.
P6 para compreensão de conteúdos, que acontecem em outras épocas, em outros países, outras culturas
P7 Dar noções de algumas modalidades esportivas que não temos condições de pratica-las. Ou ainda o aluno se olhar durante sua pratica também seria interessante para um feedback.
P8 Para ilustrar conceitos e situações, por exemplo.
P9 Por ser algo atual e de domínio dos alunos, o audiovisual traz imensa contribuição para a aprendizagem. Além disso, estimula o interesse dos alunos, agregando conhecimentos.
P10 Estimula o aprendizado e facilita a compreensão principalmente para alunos portadores de necessidades especiais DPAC, DLX, TDAH
P11
No ensino de língua inglesa o recurso audiovisual é essencial. É uma pena que muitas vezes não conseguimos trazer esse recurso com muita frequência para a sala de aula, pois temos que cumprir um cronograma muito apertado e a exigência, na grande maioria das vezes dos pais, é que se utilize as páginas dos livros em sua totalidade. O professor acaba ficando preso ao material didático e acaba deixando de lado recursos mais interessantes como um vídeo diferente, um filme agradável que possa engajar os alunos no conteúdo. Para o aluno da atualidade, ver um vídeo, mostrar fotos, escutar uma música é muito mais dinâmico e eficaz do que ficar preso às páginas do livro. Por isso, sempre que possível (às vezes uma vez por mês ou até duas), é importante trazer algum vídeo, algum filme para
153
despertar o interesse dos alunos.
P12
O audiovisual é uma excelente ferramenta para o ensino de matemática, o problema é a falta de material que não seja "aula gravada". Com "aula gravada" estou me referindo aos vídeos onde a pessoa se filma falando e escrevendo (seja em papel ou lousa).
P13
O audiovisual proporciona contato estimulante com conteúdos, anteriormente, considerados enfadonhos. A sensibilização para a leitura de livros paradidáticos feita com vídeos da internet trouxe mudança significativa no que se refere ao interesse pela temática abordada nos livros.
P14 Estimulando a aluno
P15
O audiovisual pode: - ajudar o professor a preparar uma aula que consiga potencializar a aprendizagem em diversos canais (visual, auditivo ou espacial, por exemplo); - promover a aprendizagem ativa, com estratégias de aulas invertidas, por exemplo; - tornar o conteúdo significativo para o aluno quando este (o conteúdo) é ilustrado, com vídeos e imagens; - trazer opções variadas de material de estudo para os alunos, como videoaulas, por exemplo.
P16 Reforça e sustenta o conceito teórico/prático, mas não substitui o professor. É uma importante ferramenta que enriquece a aula,
Professor
PERGUNTA 13 Você tem se apropriado do audiovisual como recurso pedagógico? Você tem alguma estratégia de ensino para usá-lo? Comente.
PERGUNTA 14 Seus alunos estão capacitados para desenvolver produtos/ narrativas audiovisuais?
P1
Sim. Multimídia Filmes Softwares no laboratório de informática,etc
Muitos deles com certeza sabem, são capazes, mas não possuem um norte ou direcionamento sobre como fazer da forma correta
P2
Telejornalismos, notícias on-line, fazem parte deste respaldo ao estudo da geografia, porém uma forma de conquista ao público é participar do seu mundo através por exemplo, dos chavões usados na internet, como "já acabou Jéssica?" porque me dá acesso fácil ao mundo jovem e mostra pró-ativa para eles. Desta forma, param para me ouvir quando me manifestar para fazer alguma crítica ou intervenção social.
Estamos desenvolvendo isso esse ano mais que em outros em função da demanda. os aplicativos são usados de forma ainda primária, como por exemplo, o flipgram, mas o importante é que se interessem pelo aprimoramento.
P3 As vezes.
Mais ou menos, por serem alunos das seres iniciais do fundamental II, alguns ainda não estão preparados, essa capacidade acontece no decorrer do ano letivo.
P4
Sim. Gosto de postar vídeos no moodle para que ele assista antes de vir para escola, pois desta forma o aluno já começa a ter contato sobre o assunto que será abordado em sala de aula. Quando o aluno chega em sala conhecendo um pouco sobre o assunto, o aprendizado fica mais prazeroso e a troca de experiência sobre o vídeo faz com que o aluno consiga compreender o conteúdo de maneira mais significativa.
Alguns. Percebo que alguns alunos possui uma grande facilidade, porém outros não sabem nem salvar um arquivo e depois enviar o mesmo via moodle.
154
P5 Sim, Uso o audiovisual nos projetos de leitura, aulas temáticas, entre outros.
Sim. Tenho vários projetos de leitura que os alunos desenvolvem no laboratório de informática, após a leitura dos livros paradidáticos.
P6
sim. às vezes, utilizo para contextualizar as aula, por exemplo, para falar do manifesto futurista, escolho no YouTube, um video apenas com palavras, numa montagem concreta do poema e uma narração em italiano que dá clara noção dos ideais futuristas. Ou seleciono fragmentos de uma mini série que aborda a semana de arte moderna.
Ás vezes eles fazem isso. Alguns dominam melhor estes recursos que outros, mas todos mostram-se dispostos quando propomos uma atividade assim.
P7
Sim, como disse anteriormente, utilizo videos de esportistas praticando esportes não praticados no Mack por falta de recursos. Utilizo de power point, sobre assuntos e videos, não tenho muitas estratégias.
Acredito que sim. Com eles nos realizamos pesquisas, videos e power points sobre diversos assuntos Eles dominam essa tecnologia.
P8 Sm. Vídeos e diferentes produções enriquecem as aulas. Alguns deles, sim.
P9
Sim. Já trabalhei com videoaulas para antecipação de estudos e com vídeos que venham ao encontro dos conteúdos ensinados.
Desde que orientados, creio que sejam capazes de produzir esse material.
P10 Não Sim
P11
Sim. Tento usar fotos de viagens para contar sobre a cultura e os lugares diferentes por qual passei. OS alunos ficam encantados, interessados e , na grande maioria das vezes, isso aproxima o relacionamento que tenho com eles. Essas fotos não são aleatórias... se tem um texto sobre a Inglaterra, por exemplo, eu mostro as fotos da viagem que fiz para esse país, conto fatos interessantes, falo sobre a cultura... sempre utilizando a língua inglesa. Outras vezes, utilizamos filmes ou trechos de filmes para trabalhar interpretação, descrição de personagens... ou até como uma forma de trazer um tema para a sala de aula e depois escrever uma redação ou discutir , quando for aula de conversação, sobre o assunto principal abordado no filme.
Talvez. Este ano, como projeto , vamos tentar desenvolver diálogos que eles produzirão as falas e depois , eles terão que tirar fotos para ilustrar as falas.
P12
Gostaria muito de utilizar mais este recurso pedagógico, mas acabo não utilizando por não encontrar vídeos prontos de boa qualidade.
Não sei responder
P13
Sim, como mencionado, uso vídeos de mesmo tema dos paradidáticos numa abordagem diferente. Vídeos divulgados por outros estudantes, cenas de filmes e novelas têm aumentado o interesse pelas leituras e inspirado projetos, como por exemplo, nossa fotonovela sobre o clássico A megera domada, de Shakespeare.
Nosso projeto de fotonovela foi tão bem aceito e bem realizado pelos alunos que fará parte do Congresso de educação do ICLOC em maio desse ano no Colégio Dante Aligheri.
P14 Preparo minhas aulas em power point. Sim
P15 Sim. Tenho um canal no YouTube de videoaulas, em que uso como material de
Não tanto quanto eu gostaria. Eles são consumidores dos produtos audiovisuais,
155
estudo e quando quero variar a estratégia em sala aula, propondo aulas invertidas. Uso também para ilustrar os conteúdos mais abstratos. Proponho trabalhos ao alunos em que é necessário usar recursos audiovisuais, e ao longo do desenvolvimento do trabalho, ensino técnicas e faça-os praticarem, de como podemos explorar algumas ferramentas.
não estão acostumados e são pouco estimulados a produzem. É bem difícil encaixar essa demanda dentro do planejamento do nosso currículo.
P16
Uso filmes, material didático, minhas aulas utilizo multimídia. Muitas de minhas aulas são preparadas para exibição com sistema multimídia. Sim,
Professor
PERGUNTA 15 O que seria necessário na formação de professores para ensinar os alunos a trabalhar de forma pedagógica com as ferramentas e linguagens audiovisuais a favor da aprendizagem? Você teve essa formação?
PERGUNTA 16
Você teria interesse em aprender a desenvolver produtos audiovisuais a partir de conteúdos de
sua disciplina de formação?
P1 Curso de formação/rápido e prático Não tive essa formação Sim
P2
Nenhum adulto de minha geração ou desta teve. Ninguém lê manuais de celulares. A arte e o grande aprendizado está em ter certeza que podemos aprender ou que alguém pode nos ensinar via YouTube. Somos auto-didatas. Essa segurança é o melhor aprendizado. Sempre teremos um tutorial para nos capacitar, ou um aluno que nos dê uma dica. Estar próximo dessa meninada é a melhor maneira porque sempre que sai algo novo eles se encarregam de divulgar. Sim
P3 Infelizmente não tive essa formação. Acho que mais vontade por parte dos professores e tempo para isso. Sim
P4 Realizar cursos de capacitação. Infelizmente na faculdade não, eu tento aprender em cursos e vendo vídeos. Sim
P5
Cursos preparatórios. Tive essa formação e também participo de cursos extras que trabalham com os recursos audiovisuais. Não
P6
Não tive, alguns recursos que aprendi foi buscando por interesse próprio, ou os alunos, me ajudaram. Eles sabem mais que nós. Sim
P7 Como utilizar os recursos dessa tecnologia. Tenho feito alguns cursos para utilizar esses recursos. Sim
P8 Capacitação técnica. Não tive essa formação na universidade, tive que complementá-la com cursos extras. Sim
P9
Seria necessário sistematizar a aprendizagem desses recursos, participando de treinamentos. * Disponibilidade somente às quartas-feiras em que tenho HTPE. Sim
P10 Não tive. Sim
P11
Não tive essa formação, então , antes de mais nada, seria importante capacitar o professor. Para que os alunos pudessem trabalhar dessa forma, o Sim
156
currículo escolar deveria ser repensado, assim como o número de aulas também.
P12 Não sei responder, pois não tive esta formação Sim
P13
Infelizmente, não nasci imersa nesse mundo tecnológico de hoje. Faço parte da geração Y, minhas habilidades foram adaptadas à necessidade. Busco aprimorar pelo interesse e contato diário com os adolescentes. Os educadores precisariam de formação mais adaptada aos recursos educacionais disponíveis na rede. Muitas vezes, observo que algumas dificuldades e resistências com os recursos audiovisuais refletem o desconhecimento das ferramentas e do vocabulário específico desse meio. Sim
P14 Não Sim
P15
Seria necessário que os professores tomassem propriedade sobre esses recursos. Acredito que só podemos ensinar algo que dominamos. Eu não tive essa formação, fui aprendendo na necessidade de querer inovar e de buscar novas estratégias de aula, pensando sempre em como melhorar minha prática docente e potencializar a aprendizagem dos meus alunos. Sim
P16 Não tive a formação mas busco adaptar-me ao processo. Não