universidade paranaense unipar€¦ · autora: nome: elen thays gouveia santos curso: direito ra:...

29
UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS MODIFICAÇÕES NO BENEFÍCIO DA PENSÃO POR MORTE: retrocesso social e afronta às disposições constitucionais Umuarama 2016

Upload: others

Post on 08-Oct-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR

ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS

MODIFICAÇÕES NO BENEFÍCIO DA PENSÃO POR MORTE: retrocesso social e

afronta às disposições constitucionais

Umuarama

2016

Page 2: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS

MODIFICAÇÕES NO BENEFÍCIO DA PENSÃO POR MORTE: retrocesso social e

afronta às disposições constitucionais

Artigo apresentado ao curso de Direito, como

exigência parcial para obtenção do grau de

Bacharel em Direito.

Orientadora: Profª Elirani de Sousa Chinaglia

Umuarama

2016

Page 3: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

Autora:

Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS

Curso: Direito RA: 01051453

CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR

End. Res.: Rua Gilio Furlaneto, 397 – Centro – CEP: 87.560-000 – Iporã-PR

Fone: (44) 9922-5580 E-mail: [email protected]

Professora Orientadora:

Nome: ELIRANI DE SOUSA CHINAGLIA

Titulação: Especialista em Direito Civil e Processual Civil; Especialista em Direito

Previdenciário

End. Res.: Avenida Paraná, 5636 – CEP: 87.502-000 – Umuarama-PR

Fone: (44) 9967-0324 E-mail: [email protected]

Page 4: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

FICHA DE AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CURSO

Critérios:

Considerando que a supressão da apresentação oral do Trabalho de Curso (TC)

não significa critérios aleatórios para atribuição da nota pelo Professor Orientador, relaciona-

se as questões de avaliação de acordo com o Art. 18 do Regulamento Geral das Atividades

de Elaboração do Trabalho de Curso do Curso de Graduação em Direito, as quais

deverão servir de parâmetros orientadores para atribuição da nota.

I Etapa - análise do levantamento bibliográfico (mínimo de cinco obras) realizado pelo aluno

em consonância com o tema proposto e discutido com o Professor Orientador, com peso de

até 1,0 (um vírgula zero) na composição da nota final;

II Etapa - linhas gerais do desenvolvimento do trabalho com base no levantamento

bibliográfico, elaboração do Resumo Expandido e apresentação na Mostra de Trabalhos

Científicos do Curso de Direito, com peso de até 3,0 (três vírgula zero) na composição da nota

final;

III Etapa - término do desenvolvimento do trabalho conforme item anterior, com peso de até

2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final;

IV Etapa - introdução e conclusão do trabalho, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na

composição da nota final;

V Etapa - análise geral do trabalho: conteúdo e apresentação escrita (organização seqüencial,

relevância do tema e correção gramatical) do trabalho, de acordo com as normas para

publicação, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final;

UNIVERSIDADE PARANAENSE

Curso de Direito – Umuarama – Unidade - Sede

Page 5: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

NOTA FINAL DO TC

APROVADA

REPROVADA

TÍTULO DO

ARTIGO

MODIFICAÇÕES NO BENEFÍCIO DA PENSÃO POR MORTE:

RETROCESSO SOCIAL E AFRONTA ÀS DISPOSIÇÕES

CONSTITUCIONAIS

O trabalho será encaminhado para publicação pela

professora orientadora?

SIM

NÃO

ACADÊMICA: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS

R.A. 01051453 SÉRIE

4º B

PERÍODO NOTURNO

ORIENTADORA: ELIRANI DE SOUSA CHINAGLIA

Observações:

Umuarama, 10/11/2016.

_______________________________

ELIRANI DE SOUSA CHINAGLIA

Page 6: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço à Deus pelo dom da vida, por nunca ter me desamparado

e por ter me permitido chegar até aqui.

Aos meus pais e ao meu namorado por todo o apoio, incentivo e por sempre terem

acreditado em mim.

Aos meus amigos pelas alegrias, dores e tristezas compartilhadas.

À Universidade Paranaense e todo seu corpo docente pela oportunidade de

realizar este curso e por contribuírem para minha formação profissional.

Agradeço especialmente à minha Professora Elirani de Sousa Chinaglia por todo

carinho, dedicação e empenho a mim ofertados. Foi uma satisfação imensa a ter como

orientadora.

E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a elaboração do presente

trabalho, meu muito obrigada.

Page 7: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

MODIFICAÇÕES NO BENEFÍCIO DA PENSÃO POR MORTE: RETROCESSO

SOCIAL E AFRONTA ÀS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo analisar aspectos da Medida Provisória nº 664,

de dezembro de 2014, que trouxe modificações consideráveis no que concerne ao benefício de

pensão por morte, analisando-os à luz das disposições constitucionais, uma vez que tais

alterações restringem os direitos sociais por meio da ampliação dos requisitos necessários à

concessão do benefício em comento. Neste contexto, são indicados e discutidos os principais

aspectos que cingem as novas regras introduzidas para concessão deste benefício. Dentre as

principais alterações, pode-se citar as situações que acarretam à perda do benefício e a

necessidade de se ter vertido 24 prestações à autarquia para gozo do benefício. Ainda merece

destaque a minoração do valor mensal e a exigência de um tempo mínimo de casamento ou

união estável anterior à morte do segurado. Além da diminuição do prazo de recebimento da

pensão por morte para o cônjuge supérstite e a não manutenção da cota ao filho universitário

maior de vinte e um anos. Cotejando esses aspectos, é apresentado a inconformidade com as

disposições constitucionais e o retrocesso social trazidos por tais alterações. Para a realização

deste trabalho, utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica com a utilização de

material específico em publicações de artigos científicos, monografias, dissertações e livros,

sendo este último a principal fonte referencial.

PALAVRAS-CHAVE: Direitos Sociais; Retrocesso Social; Benefício Previdenciário;

Inconstitucionalidade.

MODIFICATIONS TO THE BENEFIT OF THE DEATH PENSIONS: SOCIAL

SETBACK AND AFFRONT TO CONSTITUTIONAL PROVISIONS

ABSTRACT: This study aimed to analyze aspects of provisional measure No. 664,

December 2014, which brought considerable changes in the pension benefit for death,

analyzing them in light of the constitutional provisions, since these amendments restrict the

social rights through the expansion of the requirements necessary for the granting of the

discussed benefit. In this context, are indicated and discussed the main aspects that affect the

new rules introduced to grant this benefit. Among the main changes, one can cite the

situations that entail the loss of the benefit and the need of having poured 24 benefits the

municipality for enjoyment of the pension. Even the mitigation of monthly value and the

requirement for a minimum time of marriage or stable union prior to the death of the insured.

In addition to the reduction in the period of receipt of death benefits to the surviving spouse

and the termination of the share for the son at the university older than twenty-one years. By

matching these aspects are the non-conformity with the constitutional provisions and the

social backlash brought by such changes. For this study, it was used the methodology of

bibliographical research with the use of specific material in publications of scientific articles,

monographs, dissertations and books, the latter being the main reference source.

KEYWORDS: Social Rights; Social Backlash; Pension Benefit; Unconstitutionality.

Page 8: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

7

1 INTRODUÇÃO

Em dezembro de 2014, com a edição da Medida Provisória nº 664 pela Presidente

da República, houve redução na cobertura e alterações nos requisitos para gozo de benefícios

previdenciários, dentre eles a pensão por morte.

O presente trabalho irá fazer uma análise acerca dessas modificações introduzidas

pela Medida Provisória nº 664 no concernente ao benefício da pensão por morte sob o viés da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

Em nosso país, a Seguridade Social é instituída pela Constituição Federal e tem o

condão de proteger a população contra riscos sociais que possam causar transtorno e

intranquilidade social, conferindo assim maior segurança à população. Esse sistema é formado

por regime não contributivo, qual seja, a saúde pública e a assistência social e pelo regime

contributivo: previdência social.

O benefício previdenciário da pensão por morte encontra-se inserido no regime

contributivo e visa proteger os dependentes do segurado, sendo tratado na Constituição

Federal como um “risco social”, denominação inclusive questionada por muitos

doutrinadores, os quais preferem o chamar de “necessidade social”.

Tal benefício é abordado nos artigos 74 a 79 da Lei 8.213/91; nos artigos 105 a

115 Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999 e, nos artigos 364 a 380 da Instrução Normativa

do INSS nº 77, de 21 de janeiro de 2015.

O Direito Previdenciário possui seus princípios próprios, como Universalidade da

cobertura e do atendimento, Irredutibilidade do valor dos subsídios, Precedência da Fonte de

Custeio, dentre outros, além de ser norteado por vários Princípios Constitucionais Gerais.

Desta feita, neste trabalho, num primeiro momento será explanado acerca da

Seguridade Social e os Princípios Constitucionais Gerais aplicados ao Direito Previdenciário.

A seguir será feita uma conceituação do benefício da pensão por morte, além da

indicação dos dependentes e dos documentos necessários à comprovação da condição de

dependente.

Por fim, será feita uma análise acerca da inconstitucionalidade e retrocesso social

trazidos pelas modificações introduzidas pela Medida Provisória 664/2014, adotando-se como

método de trabalho a revisão bibliográfica e entendimentos jurisprudenciais.

Neste sentido, o presente artigo visa agregar valor às reflexões acerca do tema,

oferendo subsídios para uma interpretação crítica.

Page 9: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

8

2 DA SEGURIDADE SOCIAL

A Seguridade Social consiste em um conjunto integrado de ações de iniciativa dos

Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à

previdência e à assistência social, nos termos do artigo 194 da Constituição Federal de 1988.

A natureza jurídica da Seguridade Social, Amado (2016) diz que ela ostenta

simultaneamente a natureza jurídica de direito fundamental de 2º e 3º dimensões, vez que tem

natureza prestacional positiva (direito social) e possui caráter universal (natureza coletiva).

Todavia, a respeito da responsabilidade do Estado no que se refere à Seguridade

Social, Ibrahim (2015) diz ser obrigatória a intervenção estatal por meio de ação direta ou

controle, a qual deve atender a toda e qualquer demanda referente ao bem-estar da pessoa

humana. Complementando este entendimento, ele assim dispõe:

Para uma completa compreensão da seguridade social, é necessário vislumbrar-se a

importância e alcance dos valores do bem-estar e justiça sociais, os quais são, de

fato, bases do Estado brasileiro, assim como diretrizes de sua atuação. A seguridade

social é então meio para atingir-se a justiça, que é o fim da ordem social. Ibrahim,

(2015 apud BALERA, 2004, p. 15)

Primando pelo bem estar e a justiça social, a Constituição previu a intervenção do

Poder Público nas mais diversas áreas, reunidas no Título da Ordem Social, sendo desse modo

os direitos à previdência, à assistência social e à saúde, considerados direitos sociais.

Desse modo, por abranger direitos sociais, que são aqueles que têm o fito de

garantir ao indivíduo a usufruir de seus direitos e garantias fundamentais, garantindo-lhes uma

vida digna, a Seguridade Social é regida por disposições e princípios constitucionais.

2.1 Princípios Gerais aplicáveis à Seguridade Social

O Direito Previdenciário, como ramo autônomo do Direito, possui seus princípios

próprios, porém diversos outros princípios gerais são aplicáveis à Seguridade Social. Dentre

esses podemos citar os Princípios da Igualdade, do Direito Adquirido, da Dignidade da Pessoa

Humana e o Princípio do não retrocesso social.

Segundo Amado (2016) é possível definir os princípios como espécie de normas

jurídicas com maior carga de abstração, generalidade e indeterminação que as regras, haja

Page 10: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

9

vista não disciplinarem por via direta as condutas humanas, dependendo de uma

intermediação valorativa do exegeta para a sua aplicação.

Assim, tais princípios devem ser seguidos como ideias orientadoras pelo

legislativo a respeito de elaboração das leis para devida proteção à Seguridade Social.

O Princípio da Igualdade está expressamente previsto no caput do art. 5º da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e, segundo Ibrahim (2015) a

igualdade aqui tratada não é mera isonomia formal, mas sim a material ou geométrica, no qual

os iguais são tratados de modo igual e os desiguais de modo desigual.

Complementando este entendimento, assim preleciona Alexandre de Moraes

(2016):

O que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o

tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é

exigência tradicional do próprio conceito de Justiça, pois o que realmente protege

são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando

o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo

direito. A igualdade se configura como uma eficácia transcendente, de modo que

toda situação de desigualdade persistente à entrada em vigor da norma

constitucional deve ser considerada não recepcionada, se não demonstrar

compatibilidade com os valores que a Constituição, como norma suprema.

(MORAES, 2016. p. 137 )

A Constituição Federal do Brasil não define o que vem a ser o Princípio do direito

adquirido, porém este instituto é um direito fundamental previsto no inciso XXXVI, do art. 5º

da Carta Magna. No entanto, Gilmar Mendes (2016) afirma que o conceito de direito

adquirido ajusta-se à concepção que lhe dá o próprio legislador ordinário, a quem assiste a

prerrogativa de definir, normativamente, o conteúdo evidenciador da ideia de situação jurídica

definitivamente consolidada.

A corroborar com este ensinamento, veja-se o que preceitua outro consagrado

doutrinador:

Constitui-se num dos recursos de que se vale a Constituição para limitar a

retroatividade da lei. Com efeito, está em constante mutação; o Estado cumpre o seu

papel exatamente na medida em que atualiza as suas leis. No entretanto, a utilização

da lei em caráter retroativo, em muitos casos, repugna porque fere situações

jurídicas que já tinham por consolidadas no tempo, e esta é uma das fontes

principais da segurança do homem na terra. (BASTOS, 1994. p.43)

Já o Princípio do não retrocesso social vem a complementar o Princípio do Direito

Adquirido, tendo em vista que ele tem como escopo resguardar um estado de coisas já

Page 11: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

10

conquistadas, proibindo a sua restrição ou supressão. Nas palavras de Canotilho (2003), assim

é conceituado este princípio:

O núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de medidas

legislativas deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo

inconstitucionais quaisquer medidas estaduais que, sem a criação de outros

esquemas alternativos ou compensatórios, se traduzam na prática numa “anulação”,

“revogação” ou “aniquilação” pura e simples desse núcleo essencial.

(CANOTILHO, 2003, p. 87)

Por fim, o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, conforme Alexandre de

Moraes (2016) menciona, “[...] é o princípio basilar da República [...]”, ou seja, por este

princípio é possível inferir que qualquer que seja o ato ou a lei que se edite deve ser levado

em consideração o oferecimento de condições mínimas para que o indivíduo tenha uma vida

digna.

Todavia, recentemente, com a edição da Medida Provisória 664/2014 em

dezembro de 2014 vários desses postulados constitucionais acima foram violados.

3 BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA PENSÃO POR MORTE

O benefício da pensão por morte é tratado nos artigos 74 a 79 da Lei 8.213/91

com as alterações introduzidas pela Lei 13.135, de 17 de junho de 2015; nos artigos 105 a 115

do Regulamento da Previdência Social – Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999 e, nos

artigos 364 a 380 da Instrução Normativa do INSS nº 77, de 21 de janeiro de 2015.

3.1 Conceito

A pensão por morte, como o próprio nome aduz, é um benefício devido aos

dependentes do segurado no caso da morte deste, ou, que em caso de desaparecimento, tenha

sua morte presumida declarada judicialmente, sendo ele aposentado ou não.

O objetivo original desse benefício previdenciário foi possibilitar aos dependentes

uma maneira de garantia para suprimento de sua existência, tendo caráter substitutivo

impróprio, pois não visa substituir uma renda que o segurado viria a conquistar, mas sim a

substituir uma renda anteriormente existente.

Page 12: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

11

A Lei 8.213/91, em seu artigo 74 e incisos dispõe acerca da legitimidade assim

como do marco inicial da concessão do benefício, veja-se:

Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado

que falecer, aposentado ou não, a contar da data:

I - do óbito, quando requerida até noventa dias depois deste;

II - do requerimento, quando requerida após o prazo previsto no inciso anterior;

III - da decisão judicial, no caso de morte presumida. (BRASIL, 1991)

Conforme visto, para o gozo do benefício, dentre outras exigências, há a

necessidade do fator gerador principal, qual seja, o óbito. A morte pode ser comprovada

através de certidão de óbito expedida pelo Cartório de Registro Civil. Porém, a legislação

previdenciária admite ainda a morte presumida – aquela pautada em hipóteses e/ou suposições

– para fins de concessão do benefício.

Leitão (2015) preceitua que se admitem duas espécies de morte presumida: por

ausência e pelo desaparecimento do segurado em consequência de desastre, catástrofe ou

acidente.

Sendo por ausência, a morte é declarada pela autoridade judicial competente,

depois de 6 (seis) meses da ausência do segurado; e na situação de desaparecimento do

segurado em consequência de desastre, catástrofe ou acidente independe de declaração

judicial e do prazo de 6 (seis) meses.

Todavia, por óbvio, o §2º do artigo 78 da Lei 8.213/91 dispõe que caso o segurado

reapareça, cessará imediatamente o pagamento da pensão, sendo, porém, desobrigados os

dependentes a restituição dos valores que tenham percebido, salvo se tiverem agido de má-fé.

Além, obviamente, do evento morte, outros aspectos devem ser observados na

concessão do benefício, tais como: os legitimados à percepção do benefício; qualidade de

segurado do “de cujus”, consoante se verá a seguir.

3.2 Dependentes

O benefício previdenciário da pensão por morte será pago aos dependentes do

segurado que falecer. Não é o segurado que indica quem serão seus dependentes. A própria

legislação previdenciária já prevê e indica taxativamente quem tem direito ao benefício.

Page 13: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

12

Nesse sentido, os dependentes estão listados no art. 16 da Lei nº 8.213/91 e são

divididos em três classes:

1ª CLASSE: Cônjuge; Companheiro (a); Filho menor de 21 (vinte e um) anos,

desde que não emancipado; e Filho inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou

deficiência grave, que o torne relativamente incapaz, declarado judicialmente (neste caso, não

importa a idade).

2ª CLASSE: Os pais do segurado

3ª CLASSE: Irmão menor de 21 (vinte e um) anos, desde que não emancipado;

Irmão inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave, que o

torne relativamente incapaz, declarado judicialmente (nesta situação também não há limite de

idade).

O mesmo artigo ainda aduz expressamente que a existência de qualquer das

classes exclui o direito das demais ao percebimento do benefício.

Outrossim, os dependentes da 1ª Classe possuem dependência econômica

presumida, enquanto das demais classes para fazerem jus ao recebimento da pensão morte

necessário se faz que se prove esta dependência.

Ainda, o enteado e o menor tutelado serão equiparados a filhos do segurado,

desde que o mesmo assim os declare e contanto que seja comprovada a existência de

dependência econômica através de documentos.

A autarquia dispõe ainda que com relação à incapacidade e invalidez do filho,

enteado ou irmão maior de 21 (vinte e um anos) do segurado, deverá tal situação ser

comprovada por avaliação médico-pericial do INSS que avaliará os seguintes critérios:

Se a incapacidade para o trabalho é total e permanente; se a invalidez é anterior à

eventual causa de emancipação civil ou anterior à data em que completou 21 anos; se a

invalidez manteve-se de forma ininterrupta até o preenchimento de todos os requisitos de

elegibilidade ao benefício; se a invalidez seja anterior ou simultânea ao óbito do segurado.

Contudo, será considerado companheiro aquele que, não sendo casado, mantém

união estável com o segurado.

Os doutrinadores pátrios, como Washington de Barros Monteiro (2004) e Silvio

Rodrigues (2004), por exemplo, salientam que a união estável só é reconhecida em

relacionamentos mostrados à sociedade, sem qualquer clandestinidade.

Page 14: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

13

Atualmente não é mais requisito o relacionamento por mais de cinco anos e a

concepção de filhos para que se configure a união estável. O artigo 1723 do Código Civil

suprimiu qualquer fixação de tempo, bastando apenas o relacionamento “público, contínuo e

duradouro” para a caracterização da união estável.

Desse modo, havendo litígio, caberá ao juiz exercer um juízo de valor ao caso

concreto para certificar se a duração da relação foi ou não suficiente para configuração da

união estável. São aplicáveis ainda à união estável os dispositivos que versam sobre o

casamento, tais como a necessidade de capacidade civil e os impedimentos previstos no art.

1521, incisos I a V e VII.S Sobre a capacidade civil, eis as brilhantes palavras do respeitável

doutrinador Washington de Barros Monteiro (2004):

Em se falando de capacidade civil, a união estável só é válida quando a

pessoa atinge a idade núbil, sendo que essa não pode ser suprida por

autorização dos pais ou responsáveis nem tampouco pela decisão emanada

pelo Poder Judiciário. (MONTEIRO, 2004, p.33)

Assim, a partir de dezembro de 2010, com a edição da Portaria 513/2010 pelo

Ministério da Previdência Social integrou-se no rol de dependentes o companheiro ou

companheira do mesmo sexo com quem o segurado manteve união estável, desde que

comprovada tal relação, passando a concorrer juntamente com os demais dependentes

previstos.

Por fim, de acordo com a Instrução Normativa nº 77/2015 do Instituto Nacional

do Seguro Social (INSS), fará jus ao recebimento da pensão por morte o cônjuge separado de

fato, divorciado ou separado judicialmente, desde que beneficiário de pensão alimentícia,

mesmo que este benefício já tenha sido requerido e concedido à companheira ou ao

companheiro.

3.3 Da inscrição e dos documentos comprobatórios à condição de dependente

Assim, os dependentes da Classe 1 não necessitam provar dependência

econômica, tendo em vista que neste caso, tal dependência já é presumida. Porém ao solicitar

Page 15: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

14

a sua inscrição como dependente junto ao INSS, basta a apresentação dos seguintes

documentos:

Para os dependentes preferenciais, ou seja, cônjuge e filhos, necessário se faz a

juntada de certidões de casamento e de nascimento.

No caso de companheira ou companheiro é preciso a certidão de casamento com

averbação da separação judicial ou divórcio, quando um dos companheiros ou ambos já

tiverem sido casados, ou de óbito, se for o caso e, ainda documentos comprobatórios da união

estável.

Ainda no caso de indivíduo equiparado a filho deve-se apresentar certidão judicial

de tutela e, em se tratando de enteado, certidão de casamento do segurado e de nascimento do

dependente. Deverá ainda comprovar a dependência econômica e apresentar declaração de

que não é emancipado, além de declaração escrita do segurado falecido manifestando a

intenção de equiparação, no caso de pensão por morte.

Entretanto, em se tratando da Classe 2, qual seja, os pais, deve-se oferecer

certidão de nascimento do segurado e no caso da 3ª Classe, o dependente deve apresentar a

sua certidão de nascimento a fim de que comprove que eram irmãos.

As duas últimas classes deverão também apresentar declaração firmada perante o

INSS de inexistência de dependentes preferenciais, bem como documentação probatória de

dependência econômica.

Todavia, para a comprovação da união estável ou da dependência econômica, a

legislação previdenciária requisita a apresentação de no mínimo 3 (três) dos documentos a

seguir listados:

Certidão de nascimento de filho havido em comum; Certidão de casamento

religioso; Declaração do imposto de renda do segurado, em que conste o interessado como

seu dependente; Disposições testamentárias; Declaração especial feita perante tabelião;

Prova de mesmo domicílio;

Também é válido a Prova de encargos domésticos evidentes e existência de

sociedade ou comunhão nos atos da vida civil; Procuração ou fiança reciprocamente

outorgada; Conta bancária conjunta; Registro em associação de qualquer natureza, onde

conste o interessado como dependente do segurado; Anotação constante de ficha ou livro de

registro de empregados; Apólice de seguro da qual conste o segurado como instituidor do

seguro e a pessoa interessada como sua beneficiária;

Além de também formarem o rol de documentos probatórios a Ficha de

tratamento em instituição de assistência médica, da qual conste o segurado como

Page 16: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

15

responsável; Escritura de compra e venda de imóvel pelo segurado em nome de dependente;

Declaração de não emancipação do dependente menor de 21 (vinte e um) anos; ou

Quaisquer outros que possam levar à convicção do fato a comprovar.

Não havendo possibilidade de o dependente apresentar 3 (três) dos documentos

acima elencados e desde que haja pelo menos 1 (um) documento consistente, deverá ser

oportunizado o processamento de Justificação Administrativa para tal comprovação.

3.4 Procedimento da Justificação Administrativa (JA)

O conceito do procedimento da Justificação Administrativa (JA) vem

expressamente disposto no art. 142 do Decreto 3048/99 onde preleciona que tal instituto

constitui recurso utilizado para suprir a falta ou insuficiência de documento ou produzir prova

de fato ou circunstância de interesse dos beneficiários, perante a previdência social.

Embora trate de um procedimento administrativo com suas características

próprias, o §2º do artigo supracitado veda a tramitação da justificação administrativa como

processo autônomo, exigindo que seja parte do processo antecedente. Como principais

requisitos para a JA estão a existência de ao menos início de prova material e indicação de no

mínimo três e no máximo seis testemunhas, não sendo permitido, no entanto, prova

exclusivamente testemunhal. O início de prova material diz respeito ao fato de que é

necessária a existência de provas documentais, que embora por si só não comprovem a

existência do vínculo ao qual se pretende provar, corroborem os fatos alegados pelas

testemunhas.

Conforme os juristas Carlos Alberto Ferreira de Castro e João Batista Lazzarin

(2013), a prova material seria a prova documental contemporânea ao fato alegado, ou seja,

indícios (um ou mais) como marco inicial, e marco final, que possam levar a convicção do

que se pretende comprovar.

Entretanto, a exceção da exigência de apresentação de início de prova material se

perfaz no §2º do art. 143 do Decreto acima citado, os quais enquadram ocorrência notória, tais

como incêndio, inundação ou desmoronamento devendo ser comprovada mediante registro da

ocorrência policial feito em época própria ou apresentação de documentos contemporâneos

dos fatos. As testemunhas indicadas pelo interessado devem ser ouvidas separadamente, de

modo que nenhuma delas tenha acesso ao depoimento das outras. Essas testemunhas ainda

são advertidas de que serão enquadradas nas penas previstas no art. 299 do Código Penal, no

Page 17: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

16

caso de falso testemunho. O procedimento da JA depende de requerimento da parte

interessada, não podendo ser processada de ofício, ou seja, o requerente deve requerer e expor

claramente os pontos que deseja justificar.

Por fim, o INSS ainda sustenta que não será admitido nova convocação

das testemunhas ou um novo pedido de JA para o mesmo objeto, quando a anterior já tiver

sido analisada e concluída com o devido parecer conclusivo e, que em hipótese alguma,

caberá recurso de tal decisão conclusiva.

4 MEDIDA PROVISÓRIA

A medida provisória é um instrumento inserido em nosso Sistema Constitucional,

consagrado no artigo 62, da Constituição Federal, nas quais o Presidente em condições de

relevância e urgência pode expedi-la, quando tal situação não pode ser sanada por outros

mecanismos jurídicos. Tal artifício tem força de lei, em sentido formal, porém para ser

convertida em lei depende de aprovação do Poder Legislativo. A medida provisória perderá

sua eficácia se não convertida em lei dentro do prazo estabelecido pela Constituição.

Há uma grande discussão com relação à natureza jurídica da medida provisória.

Alguns defendem que por integrar o rol do art. 59 da Constituição Federal, o qual disciplina

as espécies normativas e ainda por ela ter força de lei, deve ser considerada um ato normativo.

Porém, doutrinadores como Marco Aurélio Grego (1991) e Ivo Dantas (1991) defendem que

ela não é um ato legislativo tendo em vista que uma norma jurídica com força de lei não é o

mesmo que lei.

Celso Bandeira de Melo (1998) faz parte desta mesma corrente que não vê a

medida provisória como lei, onde assim dispõe:

As medidas provisórias são formas excepcionais de regular determinados

assuntos, enquanto que as leis são vias normais de discipliná-los. No caso de

não conversão da medida provisória, a mesma perde sua eficácia ex tunc. A

lei, em contra partida, nessas condições, perde sua eficácia ex nunc. As

medidas provisórias só podem ser expedidas se estiverem presentes a

urgência e a relevância. Para a produção de uma lei, determinados

pressupostos não são uma condição. (MELO, 1998. p. 77-78)

Page 18: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

17

José Celso de Mello Filho (1990) defende que a justificativa da medida provisória

é a existência de um estado de necessidade. Onde sustenta que há momentos em que é

necessário adotar providências legislativas imediatas, inalcançáveis através do processo

legislativo ordinário.

Em que pese tais posicionamentos, a doutrina majoritária entende assim como

Jose Afonso da Silva (1995) e Pontes de Miranda que essa espécie normativa é uma espécie

de lei sob condição resolutiva.

5 MODIFICAÇÕES INTRODUZIDAS PELA MEDIDA PROVISÓRIA 664/2014

A Medida Provisória nº 664/2014, de 30 de dezembro de 2014, trouxe várias

modificações nas regras para concessão de benefícios previdenciários, dentre os quais trouxe

significativas alterações para concessão do benefício de pensão por morte.

Essas mudanças, contudo, acabaram por restringir direitos anteriormente

conquistados, trazendo assim maior dificuldade à concessão do benefício previdenciário e

fazendo-se necessários requisitos antes inexistentes.

Entre as alterações trazidas pela Medida Provisória 664/2014 merecem destaque

as situações de perda do benefício, o período de carência, o valor mensal do benefício, a

duração do casamento ou da união estável para que se possa gozar do benefício e a duração do

recebimento do benefício.

5.1 Perda do benefício

Foi implementado através da Medida Provisória os casos de perda do benefício

previdenciário da pensão por morte. O primeiro deles diz respeito ao companheiro ou a

companheira que use de simulação ou fraude no casamento ou na união estável com o fim

exclusivo de constituir benefício previdenciário, sendo tal situação apurada em processo

judicial.

A outra situação é relativa ao dependente que tenha dolosamente provocado a

morte do segurado, após ser condenado por sentença judicial com trânsito em julgado. Essa

situação enquadraria, por exemplo casos como o de Suzane Von Richthofen.

Page 19: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

18

5.2 Carência

A Medida Provisória introduziu um período de carência para a concessão do

benefício, onde determinou que para gozo da pensão por morte há a necessidade de se ter

vertido 24 contribuições à autarquia, excetuando-se os casos em que o segurado estiver

fruindo de auxilio doença, aposentadoria por invalidez ou que a morte advenha de acidente de

trabalho ou doença profissional. Carência é um tempo mínimo de contribuição que o

trabalhador precisa ter vertido à autarquia para ter direito ao percebimento de um benefício.

Na letra do artigo 24 da Lei 8.213/91 a carência é definida como o número

mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício,

consideradas a partir do transcurso do primeiro dia dos meses de suas competências.

Nessa perspectiva, Amado (2016) assim assevera:

Esse conceito legal é incompleto, tendo em vista que ainda será preciso que as

contribuições previdenciárias sejam pagas tempestivamente para fins de carência,

sendo imprestáveis as recolhidas com atraso. Ou seja, a carência se realizará não

apenas como o pagamento das contribuições previdenciárias, mas também com o

seu recolhimento em dia. (AMADO, 2016. p. 345)

Ademais, os recolhimentos não podem ocorrer após a morte do segurado,

conforme pode ser observado nos entendimentos jurisprudenciais:

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. CONCESSÃO. QUALIDADE DE

SEGURADO DO "DE CUJUS". NÃO COMPROVAÇÃO. CONTRIBUINTE

INDIVIDUAL. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. REGULARIZAÇÃO

APÓS A MORTE. IMPOSSIBILIDADE.

1. A concessão do benefício de pensão por morte depende da ocorrência do evento

morte, da demonstração da qualidade de segurado do de cujus e da condição de

dependente de quem objetiva a pensão.

2. Não será concedida a pensão aos dependentes do instituidor que falecer após a

perda da qualidade de segurado, salvo se preenchidos, à época do falecimento, os

requisitos para obtenção da aposentadoria segundo as normas então em vigor.

3. Hipótese em que não restou caracterizado o cumprimento dos requisitos legais

para concessão da pensão morte, uma vez que o falecido não mais ostentava a

qualidade de segurado na data do óbito.

4. Se o contribuinte individual não houver efetuado o recolhimento de ditas

contribuições relativas ao período imediatamente anterior ao óbito - ônus que lhe

competia, conforme o art. 30, inciso II, da Lei de Custeio - perdeu a qualidade de

segurado e, em consequência, não se cumpriu um dos requisitos necessários ao

deferimento da pensão por morte a seus dependentes (conforme art. 74, caput, da Lei

de Benefícios), salvo em duas hipóteses: a) quando o óbito houver ocorrido durante

o chamado período de graça, previsto no art. 15 da Lei n.º 8.213/91; b) se

preenchidos os requisitos para a obtenção de qualquer aposentadoria, segundo a

legislação em vigor à época em que foram atendidos, nos termos dos parágrafos 1º e

Page 20: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

19

2º do art. 102 desta última Lei e da Súmula 416 do STJ. (TRF-4 – APELAÇÃO

CÍVEL - AC 50522757220134047100 RS 5052275-72.2013.404.7100, Relator:

Rogério Favreto, Data do Julgamento: 14/07/2015, Quinta Turma, Data da

Publicação: D.E. 16/07/2015).

PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. SEGURADO OBRIGATÓRIO.

CONTRIBUINTE INDIVIDUAL. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS.

RECOLHIMENTO POST MORTEM. IMPOSSIBILIDADE.

1. Para a concessão do benefício de pensão por morte, faz-se necessária a

comprovação da condição de dependente de quem o requer, bem como da qualidade

de segurado do instituidor ao tempo do óbito, sendo, na hipótese de contribuinte

individual, imprescindível o recolhimento das contribuições previdenciárias

respectivas pelo próprio segurado. Não há, por conseguinte, espaço para inscrição ou

recolhimento das referidas contribuições post mortem.

2. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que foi firmada no sentido da

impossibilidade de recolhimento, pelos dependentes, para fins de concessão do

benefício de pensão por morte, de contribuições vertidas após o óbito do instituidor,

no caso de contribuinte individual. Precedentes. Agravo Regimental improvido.

(STJ – Agravo Regimental no AREsp 636048 PR 2014/0312132-1, Relator:

Ministro Humberto Martins, Data do Julgamento: 19/05/2015, Segunda Turma, Data

da Publicação: DJe 26/05/2015).

Contudo, à luz do artigo 27, II da lei supracitada, se forem contribuições

recolhidas em atraso após a inscrição e a primeira paga em dia, estas são consideradas para

integralização do período de carência, sendo necessário não ter havido a perda da qualidade

de segurado.

Nesse sentido a Turma Nacional de Uniformização (TNU) assim pacificou o

entendimento:

PREVIDENCIÁRIO. CARÊNCIA. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL.

RECOLHIMENTO COM ATRASO DAS CONTRIBUIÇÕES POSTERIORES À

PRIMEIRA. AUSÊNCIA DE PERDA DA QUALIDADEDE SEGURADO.

POSSIBILIDADE DE CÔMPUTO DAS CONTRIBUIÇÕES ATRASADAS. 1.

Devem ser consideradas, para efeito de carência as contribuições previdenciárias

recolhidas com atraso, desde que posteriores à primeira paga sem atraso. 2. A

possibilidade do cômputo, para efeito de carência, dessas contribuições recolhidas

em atraso decorre diretamente da interpretação do disposto no art. 27, II, da Lei nº

8.213/91. Importa, para que esse pagamento seja considerado, que não haja perda da

qualidade de segurado. Precedente do STJ. (TNU - IUJ: 200772500000920 SC,

Relator: JUIZ FEDERAL DERIVALDO DE FIGUEIREDO BEZERRA FILHO,

Data de Julgamento: 21/11/2008, Turma Nacional de Uniformização, Data de

Publicação: DJ 09/02/2009)

Diga-se que, tal alteração traz um retrocesso social, tendo em vista que a data do

fenômeno morte é imprevisível. Aliás, o artigo 226 da Carta Magna confere proteção à

entidade familiar.

Page 21: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

20

Assim, não há que se falar que esta proteção constitucional foi resguardada, pois

no caso de o trabalhador não ter vertido o número mínimo de contribuições seus dependentes

não farão jus ao benefício e a família se encontrará totalmente desamparada.

5.3 Valor mensal do benefício

Outra alteração considerável diz respeito ao valor mensal do benefício que de cem

por cento, passou a ser de 50% do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou que

tivesse direito caso estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento, com

acréscimo de cotas individuais de 10% por dependente, não ultrapassando o valor de 100%.

Tal medida fere o disposto no artigo 195, §5º, que preleciona que nenhum

benefício previdenciário pode ser extinto ou minorado, sem a correspondente diminuição na

contribuição previdenciária vertida. Nesse sentido, Amado (2016) afirma que [...] este

princípio não poderá ser excepcionado nem em hipóteses anormais, pois a Constituição é

taxativa.

Silva (2015) declara que a “Medida Provisória 664/2014 reduziu benefícios,

todavia deixou incólume a contribuição que recebe dos segurados, ocasionando, por

conseguinte, um inconstitucional desequilíbrio no sistema”.

Desse modo, o Princípio da Prévia Fonte do Custeio, previsto na Constituição

Federal de 1988, não foi respeitado, tendo em vista que houve minoração no benefício, mas

não houve diminuição no valor de arrecadação.

5.4 Duração do casamento ou da união estável

Passou-se a exigir para percebimento do benefício que o casamento ou a união

estável tenha ocorrido há pelo menos 2 (dois) anos anteriores a morte do segurado.

Conforme já mencionado, para a configuração da união estável, o artigo 1723 do

Código Civil indica que há a necessidade de um relacionamento “público, contínuo e

duradouro”.

No entanto, esse conceito de “duradouro” é aberto, tendo em vista que havendo

litígio, caberá ao juiz analisar o caso concreto para certificar se a duração da relação foi ou

não suficiente para caracterização da união estável.

Page 22: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

21

Tal modificação procurou resguardar pessoas mal intencionadas que tentassem

burlar a lei. Porém, com a inserção desse caráter limitador prejudicou pessoas dignas e

honestas, onde seria muito mais fácil fiscalizar e punir aqueles que agissem de má fé a

restringir os direitos daquelas.

5.5 Prazo de duração do recebimento do benefício

a) Para o filho

O filho tem direito ao recebimento de sua cota até complementar 21 (vinte e um)

anos de idade, com exceção dos casos em que ele for inválido ou tiver deficiência intelectual

ou mental ou deficiência grave, conforme assevera o inciso II, do parágrafo §2, º do artigo 77,

da Lei 8.213/91.

Essa situação não é inovação introduzida pela Medida Provisória, a modificação

consiste na situação de o filho ao completar vinte e um anos de idade sua cota cessar e não ser

transferida e rateada aos demais dependentes. Na contemporaneidade, é possível constatar que

muitos filhos com essa idade ainda estão estudando e na maioria das vezes ainda estão

morando com os pais, situação na qual ainda dependem economicamente de seus genitores.

A esse respeito, a jurisprudência já se posicionou:

PENSÃO POR MORTE – FILHO MAIOR DE 21 ANOS – UNIVERSITÁRIO. O §

4º do artigo 16 da Lei nº 8.213/91 versa sobre uma presunção relativa,

estabelecendo, assim, a dependência econômica como requisito para que alguém

receba um benefício da Previdência Social na qualidade de dependente, ou seja, o

fator preponderante não é a idade ou o grau de parentesco e sim a dependência

econômica, razão pela qual a apreciação deste fato é imprescindível para a adequada

interpretação do aludido dispositivo legal. No direito de família, a jurisprudência é

pacífica no sentido de que a pensão alimentícia é devida ao alimentando

universitário até que ele complete 24 anos de idade ou conclua seu curso superior,

não se justificando, assim, que o filho universitário de um segurado do INSS seja

considerado dependente no âmbito cível e até tributário (depende do imposto de

renda), mas não seja considerado dependente para fins previdenciários. (TRF-3ª

Região – Ap. Civ. 1053377 – 10ª Turma – Rel. Des. Galvão Miranda – Publ. Em 13

set.-2006).

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL. PENSÃO POR MORTE. FILHO

MAIOR DE 21 ANOS. UNIVERSITÁRIO.

I - Filho universitário de segurado da Previdência Social faz jus à pensão por morte

até vinte e quatro anos de idade, ou até a conclusão do curso superior, desde que

comprovado o ingresso em universidade.

II - A Lei nº 9.250/95 que regula o imposto de renda das pessoas físicas, dispõe que

os filhos, poderão ser considerados dependentes quando maiores até 24 anos de

Page 23: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

22

idade, se ainda estiverem cursando estabelecimento de ensino superior ou escola

técnica de segundo grau (artigo 35, inciso III, parágrafo 1º).

III - O benefício deverá ser restabelecido a contar da data em que o demandante

completou 21 anos de idade, momento no qual se verificou a cessação da pensão por

morte em apreço, devendo o benefício ser mantido até que complete 24 anos de

idade ou que conclua o curso universitário, evento que ocorrer primeiro.

IV - Apelação do autor provida. (TRF-3 - APELAÇÃO CÍVEL: AC 6063 SP

0006063-90.2012.4.03.6114, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL SERGIO

NASCIMENTO, Décima Turma, Data do Julgamento: 16/04/2013).

AGRAVO LEGAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO.

PENSÃO POR MORTE. FILHO MAIOR DE 21 ANOS UNIVERSITÁRIO.

DEPENDÊNCIA PRESUMIDA.

1. O pedido de concessão de pensão por morte formulado por filho de segurado da

Previdência Social, maior de 21 (vinte e um) anos, que cursa o ensino superior e não

exerce atividade remunerada, induz à presunção de dependência econômica,

justificando a manutenção do benefício até os 24 (vinte e quatro) anos de idade ou a

conclusão do curso de graduação.

2. Tal entendimento encontra-se em sintonia com a disciplina trazida pelo

art.35, III, § 1º, da Lei n.º 9.250/95, e com o entendimento jurisprudencial

consolidado na esfera estadual cível (art. 1.694 do Código Civil), no sentido de que

se consideram dependentes os filhos maiores com até 24 (vinte e quatro anos) que

estejam matriculados em curso de ensino superior ou em curso técnico de segundo

grau.

3. Considerando ainda a natureza alimentar do benefício em comento, que constitui

no caso dos autos o risco de dano irreparável ou de difícil reparação, impõe-se o

deferimento da antecipação da tutela pleiteada. (TRF-3 - AGRAVO DE

INSTRUMENTO: AI 2013 SP 0002013-93.2013.4.03.0000, Relator: JUIZ

DOUGLAS GONZALES, Sétima Turma, Data do Julgamento: 17/06/2013).

Guimarães (2009) assevera que “não há argumento que justifique conferir à

pensão por morte uma aplicação diversa da que é atribuída aos alimentos advindos da relação

de parentesco, regulada pelo Direito Civil.”

Complementando este entendimento, a mesma autora assim aduz:

É preciso considerar o caráter assecuratório do benefício, para o qual o segurado

contribuiu durante a sua vida com vistas a garantir, no caso de seu falecimento, o

sustento e o pleno desenvolvimento profissional de seus descendentes que, se vivo

fosse, manteria com o resultado de seu trabalho, por meio do salário ou da

correspondente pensão. (GUIMARÃES, 2009. p. 09)

A inconstitucionalidade e o retrocesso aqui encontrados dizem respeito a não

proteção da entidade familiar ao cessar a cota devida àquele dependente e o não rateio entre

os demais nas situações em que aquele filho ainda se encontra em situação de dependência

econômica.

Todavia, necessário seria a inserção de um dispositivo no qual houvesse a ressalva

de que haveria o rateio da cota entre os demais dependentes no caso de o indivíduo ao

Page 24: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

23

completar a idade prevista em lei comprovar documentalmente sua dependência econômica,

pois assim continuaria, de modo indireto, se beneficiando de sua cota, além de ter a proteção

constitucional de sua família garantida.

b) Para o cônjuge sobrevivente

Outra significativa mudança implementada é no que tange a duração de

recebimento do benefício, que antes era vitalício, agora é proporcional ao período de

sobrevida do companheiro ou cônjuge supérstite a contar do momento do óbito.

A expectativa de sobrevida foi baseada em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística). Assim, transcorridos os períodos estabelecidos no artigo 77, §2º, V,

“c” o benefício cessará para o cônjuge sobrevivente, conforme tabela constante da Medida

Provisória:

Expectativa de sobrevida à idade x do

cônjuge, companheiro ou companheira,

em anos (E(x))

Duração do benefício de pensão por morte

(em anos)

55 < E (x) 3

50 < E (x) ≤ 55 6

45 < E (x) ≤ 50 9

40 < E (x) ≤ 45 12

35 < E (x) ≤ 40 15

E (x) ≤ 35 Vitalícia

Fonte: Medida Provisória nº 664/2014

De modo mais específico, pode-se afirmar que de acordo com a expectativa de

sobrevida do IBGE do ano de 2015, o cônjuge sobrevivente que na data do óbito tiver até

vinte e um anos receberá o benefício por apenas 3 anos; o que tiver idade compreendida entre

vinte e um e vinte e seis anos receberá por seis anos; o dependente que tiver de vinte e sete

a vinte e nove anos receberá a pensão por dez anos; o que tiver entre trinta e quarenta anos

irá receber por quinze anos; os de idade compreendida entre onze e quarenta e três anos

receberão por vinte anos e os que possuírem quarenta e quatro anos ou mais o benefício será

vitalício.

Page 25: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

24

Essa modificação acabou por trazer um retrocesso social, haja vista que o

legislador ao conceder o benefício temporariamente contraria a cobertura securitária garantida

em letra expressa de nossa Carta Magna.

6 A LEI 8.213/91 APÓS AS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI 13.135/2015

Conforme já exposto, a Medida Provisória se não convertida em lei dentro do

prazo estabelecido pela Constituição Federal perde a sua eficácia. Tendo em vista isso, a

Medida Provisória 664/2014 foi convertida na Lei 13.135/2015 que trouxe algumas alterações

à Lei 8.213/91, que versa sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social.

Entretanto, haja vista as inconstitucionalidades e retrocesso social que permearam

essa Medida Provisória, nem todas as alterações foram consideradas para a sua conversão em

Lei. Em primeiro lugar, destaca-se o período de carência, no qual a Medida Provisória previa

a necessidade de se ter vertido vinte quatro contribuições à autarquia para se ter gozo do

benefício. Contudo, tal alteração não foi acatada, mantendo desse modo a independência de

carência para a concessão do benefício.

No que tange ao valor do benefício, a medida provisória também foi derrogada.

Os dependentes do benefício previdenciário da pensão por morte terão direito a 100% (cem

por cento) do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou daquela a que teria direito se

estivesse aposentado por invalidez na data de seu falecimento.

Neste diapasão, Soares (2015) faz o seguinte comentário:

Qualquer diminuição que se dê aos direitos sociais implicará, em algum momento,

em violação aos direitos individuais, sobretudo se forem considerados os grandes

índices de desigualdade social e de pobreza que marcam o nosso país. Colocar os

problemas orçamentários como limitadores à efetivação é frustrar a vontade do

constituinte, contribuindo para tornar nossa Carta Magna “letra morta”. (SOARES,

2015, p. 166)

Porém, às situações de perda da pensão por morte, à duração do casamento ou da

união estável e do prazo de recebimento do benefício para filhos e cônjuge sobrevivente as

alterações introduzidas pela Medida Provisória foram mantidas.

Apesar de não haver carência, após a conversão da medida provisória em lei, ficou

instituído que a cota do cônjuge cessará em meses se o óbito ocorrer sem que o segurado

Page 26: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

25

tenha vertido dezoito contribuições mensais ou se o casamento ou a união estável tiverem sido

iniciados em menos de dois anos antes do óbito do segurado.

Além do mais, caso o segurado tenha vertido as dezoito contribuições e o

casamento ou união estável ocorrido há mais de dois anos antes do óbito, o prazo de

recebimento do benefício para o cônjuge fica como sendo aquele instituído pela Medida

Provisória.

Conforme já dito, esse prazo para o gozo do benefício leva em consideração o

período de sobrevida do cônjuge sobrevivente. Todavia, essa restrição não afeta em nada a

cota dos demais dependentes, ou seja, é aplicável somente ao cônjuge.

7 CONCLUSÃO

Nota-se que as modificações introduzidas pela Medida Provisória suprimiram e

restringiram direitos mínimos do segurado, prejudicando a entidade familiar, o que não se

coaduna com as premissas da Carta Magna.

Foi possível constatar o retrocesso e inconstitucionalidades que permearam tal

medida, tendo em vista que nem todas as alterações foram convertidas pelo preceito citado no

corpo deste trabalho. Assim, necessário se faz mudar o enfoque das reformas onde os cortes

orçamentários sejam feitos em setores que realmente sejam necessários e não nos direitos

mínimos dos cidadãos, uma vez que isso só tende a aumentar as desigualdades sociais.

Pelo que foi analisado pode-se concluir que, tal medida deve ser repudiada seja no

diz respeito à minoração e restrição dos direitos fundamentais dos indivíduos, seja pelo

aspecto de proteção à entidade familiar de modo a proporcionar a todo e qualquer cidadão um

vida digna.

Page 27: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

26

É nesse âmbito que a Previdência Social deve atuar, trazendo à tona seu papel

fundamental que é o de proteger o segurado e seus dependentes dos riscos sociais que vierem

a ocorrer em suas vidas.

REFERÊNCIAS:

AMADO, F. Direito Previdenciário. 7. ed. rev., ampl. E atual. Salvador: Editora Jus

Podivm, 2016. 717 p.

BASTOS, C. R. Dicionário de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1994.

BRASIL. Código Penal. São Paulo: Manole, 2016. 176 p.

______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em

5 de outubro de 1988. In: Constituição da República Federativa do Brasil. 52. ed. São

Paulo: Saraiva, 2016.

______. Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência

Social, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decret

o/d3048.htm> Acesso em: 24 ago. 2016.

______. Medida Provisória nº 664, 30 dez. 2014. Altera as Leis no 8.213, 24 jul. 1991, nº

10.876, 2 jun. 2004, nº 8.112, 11 dez. 1990, e a Lei nº 10.666, 8 maio 2003. Convertida na Lei

Page 28: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

27

13.135, 17 jun. 2015. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-

2018/2015/Lei/L13135.htm>. Acesso 19 maio 2016.

______. Previdência Social. Instrução Normativa do INSS Nº 77, de 21 de janeiro de

2015. Disponível em: <http://sislex.previdencia.gov.br/paginas/38/inss-pres/2015/77.htm>.

Acesso em 19 maio 2016.

______. Previdência Social. Portaria Ministro de Estado da Previdência Social nº 513, de

09 de dezembro de 2010. Disponível em: < http://www.normaslegais.com.br/legislacao/porta

riamps513_2010.htm> Acesso em: 25 jul. 2016.

______. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial

Nº 636.048/PR. Parte litigante Elaine Barros, Relator Humberto Martins, 19 maio 2015.

Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=A

TC&sequencial=48151868&num_registro=201403121321&data=20150526&tipo=5&format

o=PDF> Acesso em: 03 out. 2016.

______. Tribunal Regional da 3ª Região. Agravo de Instrumento nº 0002013-

93.2013.4.03.0000/SP. Parte litigante Douglas Chabaribery Capi, Relator Roberto Haddad, 17

jun. 2013. Disponível em: <http://web.trf3.jus.br/acordaos/Acordao/BuscarDocumentoGedpro

/2866687> Acesso em: 03 out. 2016.

______. Tribunal Regional da 3ª Região. Apelação Cível nº 0006063-90.2012.4.03.6114/SP.

Parte litigante Felipe Carlos dos Santos Rodrigues, Relator Sergio Nascimento, 16 abr. 2013.

Disponível em: <http://web.trf3.jus.br/acordaos/Acordao/BuscarDocumentoGedpro/274553

5> Acesso em: 03 out. 2016

______. Tribunal Regional da 3ª Região. Apelação Cível nº 2005.03.99.037558-0/SP. Parte

litigante Marcelo Luís Pepe, Relator Galvão Miranda, 26 jun. 2006. Disponível em:

<http://web.trf3.jus.br/consultas/Internet/ConsultaProcessual/Processo?NumeroProcesso=200

503990375580> Acesso em: 03 out. 2016.

______. Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Apelação Cível nº 5052275-

72.2013.4.04.7100/RS. Parte litigante Dalva Garcia Nicolau, Relator Rogerio Favreto, 14 jul.

2015. Disponível em: <http://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/imprimir.php?selecionados=

%27TRF409263283%27&pp=previdenciario%20pensao%20por%20morte&cp=> Acesso em:

03 out. 2016.

______. Turma Nacional de Uniformização. Incidente de Uniformização de Jurisprudência nº

200772500000920/SC. Parte Litigante Eleusa Maria De Oliveira, Relator Derivaldo de

Figueiredo Bezerra Filho, 21 nov. 2008. Disponível em: <https://www2.jf.jus.br/phpdoc/virt

us/> Acesso em: 03 out. 2016.

CANOTILHO, J. J. G. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed. Coimbra:

Almedina, 2003.

CASTRO, C. A. F.; LAZZARIN, J.B. Manual de Direito Previdenciário. 15. ed. São Paulo:

Método, 2013.

Page 29: UNIVERSIDADE PARANAENSE UNIPAR€¦ · Autora: Nome: ELEN THAYS GOUVEIA SANTOS Curso: Direito RA: 01051453 CPF: 082.553.109-83 RG: 10.839.684-9 SSP/PR End. Res.: Rua Gilio Furlaneto,

28

DANTAS, I. Aspectos Jurídicos da Medida Provisória. Recife: Editora Ciências Jurídicas,

1991.

GRECO, M. A. Medidas Provisórias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991.

GUIMARÃES. J. R. Pensão temporária ao universitário: A maioridade como fator de

suprimento da dependência econômica. Disponível em: < http://coad.com.br/app/webroot/file

s/trab/pdf/ct_net/2009/ct0109.pdf> Acesso em: 03 out. 2016.

IBRAHIM, F. Z. Curso de Direito Previdenciário. 3. ed. rev. e atual. Niterói: Impetus,

2015.

LEITÃO, A. S.; MEIRINHO, A. G. S. Manual de Direito Previdenciário. 3. ed. São Paulo:

Saraiva, 2015. 896 p.

MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo.10. ed. São Paulo: Malheiros, 1998.

MELLO FILHO, J. C. Considerações sobre as Medidas Provisórias. Revista da

Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, São Paulo, n. 33, p. 204-205. jun. 1990,

MENDES, G. F. Curso de Direito Constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva,

2015.

MIRANDA, F. C. P. Comentários à Constituição de 1967 com a emenda n. I, de 1969. 2.

ed. São Paulo: RT, 1979.

MONTEIRO, W. B. Curso de Direito Civil. Direito de Família, vol. 2, 37. ed. São Paulo:

Saraiva, 2004

MORAES, A. Direito Constitucional. 32. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016.

SILVA, A. C. P. As modificações no benefício da pensão por morte e a flagrante

inconstitucionalidade. Disponível em: < http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8918/As

-modificacoes-no-beneficio-da-pensao-por-morte-e-a-flagrante-inconstitucionalidade>

Acesso em: 20 maio 2016.

SILVA, J. A. Curso de Direito Constitucional Positivo. 10. ed. São Paulo: Malheiros, 1995.

503 p.

SOARES, R. M. F.; BASTOS, S. M. L. A proteção à dignidade da pessoa humana e as

medidas provisórias nº 664/2014 e 665/2014: Uma análise à luz da vedação ao retrocesso

social. Revista Jurídica, Curitiba, v. 3, n. 40, p. 149-172, jul./set. 2015.