universidade oeste do paranÁ centro de...
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UNIVERSIDADE OESTE DO PARAN
CENTRO DE EDUCAO, LETRAS E SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SOCIEDADE,
CULTURA E FRONTEIRAS - NVEL DE MESTRADO E DOUTORADO
REA DE CONCENTRAO: SOCIEDADE, CULTURA E FRONTEIRAS
MARIA DA GLRIA KARAN MARQUETTI
ANLISE DA INFLUNCIA DAS REDES SOCIAIS NO CONSUMO DE NARGUIL
POR ADOLESCENTES RESIDENTES EM FOZ DO IGUAU-PR
FOZ DO IGUAU PR
2017
MARIA DA GLRIA KARAN MARQUETTI
ANLISE DA INFLUNCIA DAS REDES SOCIAIS NO CONSUMO DE NARGUIL
POR ADOLESCENTES RESIDENTES EM FOZ DO IGUAU-PR
Dissertao apresentada Universidade Estadual do
Oeste do Paran UNIOESTE como pr-requisito
parcial para obteno do ttulo de Mestre em
Sociedade, Cultura e Fronteiras, junto ao Programa
de Ps-Graduao em Sociedade, Cultura e
Fronteiras, nvel de Mestrado e Doutorado rea de
concentrao Sociedade, Cultura e Fronteiras.
Linha de Pesquisa: Territrio, Histria e Memria.
Orientador: Prof. Dr Oscar Kenji Nihei
FOZ DO IGUAU PR
2017
MARIA DA GLRIA KARAN MARQUETTI
ANLISE DA INFLUNCIA DAS REDES SOCIAIS NO CONSUMO DE NARGUIL
POR ADOLESCENTES RESIDENTES EM FOZ DO IGUAU-PR
Banca de Defesa:
__________________________________________________
Profa. Dra Danielle Michelle Moura de Arajo - Membro Titular
Universidade Federal da Integrao Latino-Americana (UNILA) Foz do Iguau-PR
__________________________________________________
Profa. Dra. Neide Martins Moreira Membro Titular
Universidade Estadual do Oeste do Paran Foz do Iguau-PR
__________________________________________________
Prof. Dr. Oscar Kenji Nihei (Orientador) Membro Titular
Universidade Estadual do Oeste do Paran Foz do Iguau-PR
__________________________________________________
Prof. Dr Luciano de Andrade Membro Suplente
Universidade Estadual de Maring (UEM) Maring -PR
__________________________________________________
Profa. Dra Adriana Zilly Membro Suplente
Universidade Estadual do Oeste do Paran Foz do Iguau-PR
FOZ DO IGUAU PR
2017
RESUMO
Na idade entre 16 a 19 anos, a proporo de experimentadores do narguil elevada,
estando tambm associada idade escolar e ao perodo em que se estuda. O uso do narguil
tambm varivel entre diferentes culturas. Porm, apenas recentemente chegou aos bares e
restaurantes brasileiros, atraindo a ateno dos adolescentes e jovens por proporcionar um
aspecto de socializao, devido possibilidade do uso simultneo por vrias pessoas. Com a
popularizao desta prtica entre os jovens, no ano de 2013, o narguil acabou virando tema
da ao de preveno pelo Instituto Nacional de Cncer (INCA). O presente estudo justifica-
se pela importncia do tema relativo aos jovens usurios de narguil e a preocupao da
comunidade cientfica e mdica em relao ao uso abusivo do tabaco em forma de narguil,
associado dessa maneira com vrias patologias em potencial. O presente estudo objetivou
avaliar e analisar a influncia das redes sociais para o incio e continuidade da utilizao do
narguil por estudantes adolescentes de Foz do Iguau-PR. Para alcanar este objetivo foi
aplicado um questionrio estruturado autoaplicvel baseado no Vigescola (Vigilncia de
Tabagismo em Escolares) e no Global Youth Tobacco Survey (GYTS) a estudantes
adolescentes do ensino mdio de cinco escolas pblicas e uma escola privada do municpio de
Foz do Iguau-PR. Trata-se de uma pesquisa descritiva de natureza quantitativa. No total, 300
estudantes responderam o questionrio e a prevalncia de usurios de narguil foi de 76%,
que haviam experimentado pelo menos uma vez, enquanto 24% nunca utilizaram. A idade dos
entrevistados que experimentaram pela primeira vez ficou entre 12 a 15 anos (41%).
Constatou-se que adolescentes que usam narguil apresentam significativamente (p
ABSTRACT
At the age between 16 to 19 years old, the proportion of experimenters of narghile is high, it
is also associated to school age and the studying turn. The use of narghile is also variable
between different cultures. But only recently arrived in the Brazilian bars and restaurants,
attracting the attention of adolescents and youth by providing an aspect of socialization
because of the possibility of simultaneous use by several people. With the popularity of this
practice among young people, in 2013, the narghile became subject of preventive action by
the National Cancer Institute. This study is justified by the importance of the issue of the
young users of narghile and concern of the scientific and medical community in relation to
tobacco abuse in the form of narghile, associated with several potential pathologies. This
study aimed to evaluate and analyze the influence of social networks to start and continue
using the narghile by teenage students from Foz do Iguau-PR. To achieve this we applied a
self-administered structured questionnaire based on Vigescola (Smoking Surveillance in
School) and the Global Youth Tobacco Survey (GYTS) to high school adolescent students
from five public schools and a private school in the city of Foz do Iguau, PR. This is a
descriptive quantitative research. In total, 300 students responded to the questionnaire and the
prevalence of narghile users was 76% who have tried at least once, while 24% never used.
The age of respondents who have experienced for the first time was between 12 to 15 years
(41%). O local de preferncia para utilizao foi a casa de amigos (50%). It was found that
significantly (p
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Estrutura qumica da nicotina......................................................... 16
Figura 2
Figura 3
Componentes do narguil...............................................................
O municpio de Foz do Iguau localiza-se no extremo Oeste do
Estado do Paran, fazendo divisa com Paraguai e Argentina........
19
32
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CDC Centers for Disease Control and Prevention
CQCT Conveno-Quadro para o Controle do Tabaco
DNA cido Desoxirribonucleico
ECA Estatuto da Criana e do Adolescente
GATS Global Adult Tobaco Survey
GYTS Global Youth Tobacco Survey
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INCA Instituto Nacional do Cncer
INSNA International Network for Social Network Analysis
LENAD Levantamento Nacional de lcool e Drogas
NG/ML Nanograma por Mililitro
OMS Organizao Mundial de Sade
ONU Organizao das Naes Unidas
PeNSE Pesquisa Nacional de Sade em Escolar
PETab Pesquisa Especial de Tabagismo
PNS Pesquisa Nacional de Sade
RDC Resoluo da Diretoria Colegiada
SNC Sistema Nervoso Central
SNVS Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria
SUS Sistema nico de Sade
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
VIGESCOLA Vigilncia de Tabagismo em Escolares
WHO World Health Organization
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Escolas selecionadas e a quantidade de alunos participantes,
segundo entrega do TCLE e pesquisados no estudo, Foz do
Iguau, 2015.................................................................................
40
Tabela 2 Perfil dos adolescentes do ensino mdio, Foz do Iguau, 2015... 41
Tabela 3 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio, segundo a descendncia familiar paterna, Foz do
Iguau, 2015.
41
Tabela 4 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo a descendncia familiar materna, Foz do
Iguau, 2015.
42
Tabela 5 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio, segundo resposta sobre o incio do uso de
narguil e local de uso, Foz do Iguau, 2015...............................
43
Tabela 6 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo a frequncia de uso de narguil e local
de uso, Foz do Iguau, 2015.........................................................
44
Tabela 7 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo o uso e percepo sobre o narguil, Foz
do Iguau, 2015............................................................................
45
Tabela 8 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo os aspectos sociais do uso do narguil e
a possiblidade de vir a gostar do narguil, Foz do Iguau, 2015.
46
Tabela 9 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo experincia de dilogo sobre narguil no
contexto familiar ou externo, Foz do Iguau, 2015......................
46
Tabela 10 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo o uso de narguil e trabalho dos pais,
Foz do Iguau, 2015.....................................................................
47
Tabela 11 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo o grau de instruo dos pais, Foz do
Iguau, 2015.
47
Tabela 12 Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo as caractersticas da rede social dentre da
escola e fora da escola dos estudantes que fuma e que no
fumam narguil, Foz do Iguau, 2015..........................................
49
Sumrio
INTRODUO ........................................................................................................................................ 11
1.1. TABACO .............................................................................................................................. 12
1.1.1. Histria .......................................................................................................................... 12
1.1.2. Problema de sade pblica ............................................................................................ 12
1.1.3. Uso na adolescncia ...................................................................................................... 14
1.1.4. Dependncia e nicotina ....................................................................................................... 14
1.1.5. Preveno ...................................................................................................................... 17
1.2. NARGUIL ............................................................................................................................... 17
1.2.1. Histria ................................................................................................................................ 17
1.2.2. Os componentes do narguil ............................................................................................... 18
1.2.3. Narguil e a sade ............................................................................................................... 19
1.3. ADOLESCENTE .................................................................................................................. 21
1.3.1. Fase da adolescncia ..................................................................................................... 21
1.3.2. Viso antropolgica de adolescncia ............................................................................ 23
1.3.3. Adolescncia e identidade ............................................................................................. 24
1.3.4. Adolescncia e dependncia qumica ............................................................................ 25
1.4. REDES SOCIAIS .................................................................................................................. 27
1.4.1. Histrico e conceitos ..................................................................................................... 27
1.4.2. Redes sociais egocntricas ............................................................................................ 30
1.4.3. Redes sociais e uso de tabaco ........................................................................................ 31
1.5. FOZ DO IGUAU ................................................................................................................ 32
1.5.1 Imigrao rabe em Foz do Iguau ..................................................................................... 34
1. OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 36
2. DESENVOLVIMENTO ...................................................................................................................... 37
2.1. METODOLOGIA ...................................................................................................................... 37
2.1.1. Tipo de Pesquisa.................................................................................................................. 37
2.1.2. Populao de estudo ............................................................................................................ 37
2.1.4. Pr-teste ............................................................................................................................... 38
2.1.5. Contato com as escolas ....................................................................................................... 38
2.1.6. Aplicao do questionrio ................................................................................................... 38
2.1.7. Anlise dos dados ................................................................................................................ 38
2.1.8. Aspectos ticos da Pesquisa com Seres Humano ............................................................... 39
3. RESULTADOS ................................................................................................................................. 40
4. DISCUSSO .................................................................................................................................... 50
5. CONCLUSO .................................................................................................................................. 55
6. REFERNCIAS ..................................................................................................................................... 56
APNDICE A ........................................................................................................................................... 65
ANEXOS A .............................................................................................................................................. 72
11
INTRODUO
No perodo da adolescncia, os jovens esto vulnerveis ao consumo de drogas e
demais substncias prejudiciais sade. Essa vulnerabilidade deve-se a diversos fatores,
como a busca por novas experincias, necessidade de aceitao em determinado grupo social,
independncia, alm de fatores socioeconmicos, ambientais e culturais. H fatores
incentivados pela mdia, ao se transmitir uma imagem ilusria de sucesso, felicidade e bem-
estar associada drogadio (BRASIL, 2004).
Sabe-se que o tabagismo uma preocupao nacional, causadora de inmeras
doenas. Mesmo assim, em 2008, aproximadamente 1,4 milhes de adolescentes, entre 11 e
17 anos de idade, comearam a fumar (SILVA; SILVA e BOTELHO, 2008). No Brasil, o
incio do uso do tabaco ocorre precocemente na populao, sendo que em algumas cidades,
aproximadamente 40% dos jovens experimentam o cigarro com at 11 anos de idade
(BRASIL, 2004).
Um estudo mais recente realizado pelo LENAD Levantamento Nacional de lcool e
Drogas, realizado em 147 municpios em todas as regies do Brasil, com 4.607 participantes
de 14 anos ou mais aponta que idade mdia para incio do uso do tabaco no Brasil ficou em
16,25 anos (LARANJEIRA, 2012).
Grande nmero desses adolescentes experimenta diferentes formas de uso do tabaco,
como o narguil, que tambm conhecido como cachimbo dgua, waterpipe, narghile,
hookah, shisha, argileh e goza (KNISHKOWY e AMITAI, 2005; VIEGAS, 2008). O narguil
utilizado milenarmente como parte da cultura de pases asiticos e do oriente mdio, e
estima-se que cerca de 100 milhes de pessoas use narguil diariamente no mundo (VIEGAS,
2008).
A expanso mundial do narguil, influenciada pela cultura rabe e maximizada pela
mdia, torna-se um importante problema de sade pblica (KNISHKOWY e AMITAI, 2005).
No Brasil, a utilizao no narguil tambm tem preocupado as organizaes de sade
(BRASIL, 2013). A fumaa do narguil contm todos os agentes txicos da fumaa do
cigarro, porm, em maior quantidade, inclusive a nicotina que provoca o vcio (VIEGAS,
2008).
A rede social apresenta relaes entre pessoas e entre pessoas e objetos. Os modelos
de rede social so construdos para mostrar a influncia das relaes, das atitudes, crenas e
comportamentos (VALENTE, 2010).
12
Freeman (2014) reconhece as seguintes qualidades para se escrever sobre redes
sociais, so elas 1) Considera toda a estrutura da rede; 2) Argumenta como a estrutura da rede
influencia a ao individual; 3) Usam grficos; e 4) Utiliza frmulas matemticas.
Antes de 1990, com o advento da epidemia da AIDS, essa ferramenta de estudo foi
utilizada como importante recurso de investigao em sade pblica (VALENTE, 2010).
Uma lacuna do conhecimento na literatura cientfica que pouco se estuda a relao
das redes sociais e a utilizao do narguil.
H pouco tempo, os estudos eram voltados apenas para o uso do tabaco em forma de
cigarro, porm o consumo de narguil nos ltimos anos vem crescendo mundialmente,
preocupando os profissionais de sade. Recentemente, diversos autores esto considerando o
narguil como uma epidemia mundial, e outros estudos esto relacionando o uso do narguil a
vrias doenas (MAZIAK et al., 2014; AKI et al., 2015).
O presente trabalho visa analisar a influncia das redes sociais no incio e na
continuidade do uso do narguil em estudantes adolescentes de Foz do Iguau-PR.
Procurar-se- analisar, a partir da anlise das redes sociais, as caractersticas e natureza
dos vnculos entre os adolescentes que podem estar associados utilizao do narguil.
Visa-se assim contribuir com os estudos sobre a influncia das redes sociais nos
adolescentes e seus hbitos de fumar narguil e fornecer elementos para ampliar o papel das
polticas pblicas em aes mais eficientes de esclarecimento e preveno da drogadio por
tabaco.
1.1. TABACO
1.1.1. Histria
Na Espanha, em meados do sculo XIX, surge o cigarro, mas muito antes disso j se
fumava o tabaco enrolado em um papel que se chamava papelete. Em 1860, houve a
introduo do cigarro em Paris e em 1880 nos Estados Unidos, na poca criou-se uma
mquina que produzia 200 cigarros por minuto. As mquinas so capazes de produzir at
10.000 cigarros por minuto (ROSEMBERG, 2003).
1.1.2. Problema de sade pblica
Identificado como fator de risco vida, o tabagismo vem sendo alvo de inmeras
pesquisas e aes por parte da Organizao Mundial de Sade OMS (World Health
13
Organization WHO). Dessa forma, a OMS e os Centros de Controle e Preveno de
Doenas (Centers for Disease Control and Prevention - CDC) conduziram, em 14 pases, a
realizao da pesquisa Global Adult Tobaco Survey GATS, desde 2007 (WHO, 2015).
Esse projeto envolve tambm a CDC Foundation, a Johns Hopkins Bloomberg School
of Public Health e o principal financiador, a Bloomberg Philantropies. Entre os pases
envolvidos nessa pesquisa esto Bangladesh, Brasil, China, Egito, Federao Russa, Filipinas,
ndia, Mxico, Polnia, Tailndia, Turquia, Ucrnia, Uruguai e Vietn. No Brasil, as equipes
tcnicas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e do Instituto Nacional do
Cncer (INCA) desenvolveram a Pesquisa Especial de Tabagismo (PETab), sob orientao
do Comit Tcnico Internacional da GATS a partir de 2008 (WHO, 2015).
A partir de 2013 as questes centrais do GATS entraram definitivamente entre as
questes da Pesquisa Nacional de Sade (PNS). Com essa iniciativa o Brasil recebeu em 2014
o prmio Bloomberg da Bloomberg Philantropies, para o Controle Global do Tabaco. Essa
premiao pelo reconhecimento do trabalho do Ministrio da Sade e do IBGE no
monitoramento epidemiolgico em relao ao uso do tabaco e nas aes de polticas pblicas
na luta contra o tabagismo (INCA, 2015a).
Segundo a OMS, o tabaco causa aproximadamente cinco milhes de mortes a cada ano
e se nada mudar a expectativa que em 2030 esse nmero aumente para oito milhes (IBGE,
2009).
No Brasil, o tabaco ainda ocupa o quarto lugar no ranque dos fatores de risco vida.
Em primeiro lugar est a obesidade, seguida do lcool e da hipertenso arterial (BRASIL,
2011).
O tabagismo j considerado um importante problema de sade pblica devido s
doenas relacionadas ao uso de tabaco e a prevalncia de fumantes. No Brasil, o consumo de
tabaco entre adolescentes tem atingido prevalncias alarmantes em vrias localidades
(REVELES; SEGRI e BOTELHO, 2013).
Pesquisa realizada pela Agncia Brasil mostrou que em 2011 foram gastos R$ 21
bilhes em sade pblica e privada com doenas relacionadas ao fumo. Esse valor representa
quase 30% do valor destinado ao Sistema nico de Sade SUS (AGENCIA BRASIL, 2012).
O tabagismo o responsvel por 130 mil bitos ao ano no Brasil, equivalente a 13%
do total de mortes registradas no pas. Esses nmeros mostram o impacto do vcio relacionado
ao fumo na sade no Brasil (AGENCIA BRASIL, 2012).
O uso do tabaco a principal causa evitvel de morbidade e mortalidade em todo o
mundo. Vrias aes em sade pblica tm alcanado resultados positivos na diminuio do
14
uso do tabaco na populao dos Estados Unidos da Amrica (EUA), o que acarretou em uma
reduo pela metade dos usurios nos ltimos 45 anos (BROCKMAN et al., 2012).
1.1.3. Uso na adolescncia
Segundo pesquisas realizadas pelo programa Vigilncia de Tabagismo em Escolares
(Vigescola) do Ministrio da Sade do Brasil, entre 20% e 45% dos jovens entre 13 e 15 anos
j experimentaram o cigarro (IBGE, 2009). Uma pesquisa sobre tabagismo realizada pelo
IBGE em 2008 em parceria com o INCA, aponta a iniciao ao tabagismo antes da vida
adulta em 75% dos fumantes (IBGE, 2009).
Muitos estudos sobre adolescentes esto sendo realizados em relao ao uso do tabaco,
pois uma realidade o aumento expressivo da utilizao do tabaco principalmente sob outras
formas. Porm, a questo da utilizao do tabaco vem sendo preocupante por tornar-se uma
maneira inicial para o uso de outras drogas e comportamentos de risco.
Embora nem todos os adolescentes que experimentam cigarro acabem utilizando na
vida adulta, as pesquisas sugerem que entre 80 a 90% dos adultos fumantes comearam a
fumar antes dos 18 anos de idade (VALENTE et al., 2005).
Segundo a WHO (2006), os adolescentes que fumam tm trs vezes mais
probabilidade de fazer uso de bebida alcolica, oito vezes mais propenso ao uso de maconha
e 22 vezes mais propenso ao uso de cocana. O uso do tabaco tambm prejudica a aptido
fsica do indivduo. O tabagismo tambm est associado com uma srie de outros
comportamentos de risco, tais como brigas e envolvimento em relaes sexuais desprotegidas
e aumento do risco de cncer de pulmo.
O tabaco pode ser utilizado de diversas maneiras, tendo como objetivo a alterao do
sabor, do cheiro e suas propriedades farmacolgicas, porm em todas as suas formas existe
uma caracterstica comum que a liberao de nicotina para o sistema nervoso central (SNC).
Alm do cigarro comum, o tabaco tambm pode ser queimado na forma de charuto ou
utilizando-se cachimbo e narguil. Salientando ainda que o tabaco um produto
potencialmente mortal consumido em qualquer de suas formas (VIEGAS, 2008).
1.1.4. Dependncia e nicotina
A concentrao de nicotina no sangue arterial de um tabagista regular chega a ser dez
vezes maior que no sangue venoso. E essa concentrao apresenta uma rpida elevao aps a
tragada, chegando a atingir o pico mximo, cerca de 10 ng/mL no final de 5 a 10 minutos.
15
Estudos realizados com marcadores de carbono mostraram que em uma tragada, 70% a 90%
da nicotina absorvida no organismo (ROSEMBERG, 2003).
O tabagista est permanentemente intoxicado, pois parte da nicotina se degrada,
porm outra parte acumula-se no organismo, fazendo com que a intoxicao seja continua nas
24 horas do dia Nenhuma outra droga age dessa forma (ROSEMBERG, 2003).
Dos 600 aditivos que a indstria emprega no tabaco, para deix-lo mais agradvel ao
paladar, vrios tem a funo de liberar mais nicotina, sendo um deles a amnia
(ROSEMBERG, 2003).
Segundo Jalili et al. (2014), em um estudo realizado administrando nicotina em ratos,
observaram-se as alteraes que a mesma causa no SNC. Verificou-se que alguns dos efeitos
da nicotina so devido sua capacidade em estimular a liberao de neurotransmissores
diferentes. A estimulao de receptores de nicotina provocou aumento da liberao de
acetilcolina e dopamina no crebro. A via mesocorticolmbica da dopamina a principal via
ativada relacionada ao comportamento dependente, sendo que o sistema dopaminrgico tem
um papel vital no controle dos movimentos oscilatrios, cognio e memria.
A utilizao de drogas viciantes pode levar mudanas de comportamento e
mudana na morfologia dos neurnios. Em 1994, Mansour et al. descreveu os efeitos da
nicotina sobre o sistema dopaminrgico e os danos irreversveis na estrutura da membrana dos
neurnios. Com base nisso, pode-se considerar que a nicotina possui efeito destrutivo sobre o
crtex pr-frontal do crebro.
Em uma anlise aprofundada, Hallfors et al. (2004) revelou que adolescentes
envolvidos com bebidas alcolicas e uso de tabaco foram significativamente mais propensos a
sofrer de depresso e ter pensamentos e tentativas suicidas.
A nicotina um alcalide do grupo orgnico das aminas (Figura 1), de caracterstica
lquida oleaginosa e incolor em temperatura ambiente e na sua forma pura, porm oxida e fica
pardo-escuro em contato com o ar. Possui gosto amargo e extremamente txica, encontrada
nas plantas do tabaco, a partir das quais se faz o fumo, em uma concentrao que varia de 2%
a 8% (FOGAA, 2016; JALILI, 2014).
16
FIGURA 1: Estrutura qumica da nicotina
A nicotina responsvel basicamente por duas coisas: causa dependncia e
vasoconstrio. Duzentos e vinte toneladas desta substncia so consumidas por ano no
mundo, fumadas, aspiradas ou mascadas (ROSEMBERG, 2003).
A nicotina uma droga psico-estimulante e provoca uma compulso por fumar,
quanto maior o consumo de tabaco, maior a dependncia da nicotina. Atualmente a
dependncia da nicotina reconhecida como desordem mental, pois o mecanismo da
dependncia mais complexo do que se imaginava inicialmente. Portanto, a nicotina contida
no tabaco a responsvel pela dependncia qumica do usurio. O processo da dependncia
da nicotina semelhante ao da cocana e da herona. Essas drogas estimulam a liberao de
dopamina e aumentam a produo de norepinefrina (ROSEMBERG, 2003).
A maneira mais intensa da nicotina causar dependncia fumando o tabaco, porm
existem outras formas como mascar que tambm podem causar dependncia, mas em menor
grau (BRASIL, 2011).
A dependncia da nicotina tambm influenciada pela idade que se inicia o uso do
tabaco. Estudos mostram que dentre as pessoas que iniciam no tabagismo por volta dos 14
anos de idade, cerca de 90% esto dependentes aos 19 anos. O perodo da adolescncia tem
sido muito estudado em relao ao uso do tabaco, pois a nicotina provoca ao imediata sobre
a funo colinrgica, com alteraes persistentes, o que reflete no aprendizado e memria dos
adolescentes. A nicotina no adolescente provoca rpida alterao no sistema noradrenrgico e
dopaminrgico dos centros nervosos cerebrais, pois o crebro dos adolescentes ainda no se
encontra completamente desenvolvido (ROSEMBERG, 2003).
Dentre algumas alteraes que a nicotina provoca no organismo cita-se: dentes
amarelados, envelhecimento precoce devido ao aumento dos radicais livres, diminuio da
capacidade fsica e respiratria, diminuio da capacidade da circulao sangunea, aumento
da deposio de gordura na parede dos vasos sanguneos e sobrecarga no corao, podendo
levar ao infarto (ROSEMBERG, 2003).
17
1.1.5. Preveno
O Brasil tem diversas portarias e leis que foram criadas desde 1986, para o controle do
tabaco. Alm de proibir propagandas de tabaco na mdia, tambm adotou advertncias nos
maos de cigarro e restringiu a exposio fumaa do tabaco em ambientes pblicos
(BRASIL, 2013).
A Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa), criada em 1999, com a funo
de coordenar o Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria (SNVS), articulou rede nacional em
estados e municpios para a fiscalizao do cumprimento das leis relacionadas tambm ao
controle do tabaco. O Programa Nacional de Controle do Tabagismo teve como marco a
Conveno-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT), proposta em 1999 e aprovada em
2003. o primeiro tratado internacional de sade pblica, negociado por 192 pases com
apoio da OMS, envolvendo diversos segmentos em resposta internacionalizao da
epidemia do tabagismo. O programa tem o objetivo de beneficiar a populao mais vulnervel
e informar as pessoas sobre os malefcios do tabaco (BRASIL, 2013).
Os jovens esto trocando o cigarro pelo narguil, o tradicional cachimbo de gua
oriental. Em 2008, segundo dados do INCA, 270 mil brasileiros utilizavam o narguil. Em
outro estudo, realizado pelo INCA (2011), mostrou que um em cada cinco estudantes de
odontologia, em So Paulo-SP, usavam o tabaco no em forma de cigarro, e desta populao,
85% usavam o narguil.
1.2. NARGUIL
1.2.1. Histria
O narguil, termo que se origina no francs narguil e do persa narguileh, uma
espcie de cachimbo de gua, frequente em pases orientais e do Norte da frica
(DICIONRIO, 2008).
Pesquisas realizadas sugerem que o narguil tenha sua origem na ndia e que tenha
sido utilizado por mais de 400 anos (BARRY, 2005). Tambm conhecido por outros nomes
como cachimbo dgua, goza, waterpipe, argileh, shisha, hookan. Os narguils dessa poca
eram normalmente feitos de coco e madeira, e teria sido criado pelo mdico Hakim Abul Fath,
como um mtodo para retirar as impurezas da fumaa (BARRY, 2005).
O uso do tabaco no narguil popularizou-se na dcada de 1990 com a introduo de
maasel, um adoante e tabaco aromatizado, que acabava atraindo os jovens pelo cheiro.
18
Alguns relatos sugerem que a maconha, o haxixe e outras drogas podem estar sendo utilizadas
no narguil (BARRY, 2005).
Na Turquia, o narguil chegou a cerca de 500 anos atrs e tornou-se extremamente
popular entre aristocratas e intelectuais. Sua popularidade nos cafs da sociedade turca fez
com que os atendentes se especializassem em verdadeiros chefes no preparo e na etiqueta
entre os fumantes. O ato de fumar acabou virando um passatempo e um hbito da populao
do oriente Mdio e passou a ser associado ao cultivo da paz, do relaxamento e descanso
(GAZETA DE BEIRUT, 2013).
1.2.2. Os componentes do narguil
O narguil um cachimbo de gua utilizado para fumar. Existem diferenas em seu
formato e funcionamento de acordo com cada regio, assim como seu nome que muda em
diversos pases. Porm, seu princpio comum em todos os lugares. A fumaa passa pela
gua antes de chegar ao fumante.
O narguil um instrumento que pode ser de uso individual ou coletivo, feito de vidro
e usado para fumar, passando a fumaa pela gua para uma filtragem das impurezas. Ele pode
ser usado para fumar vrias substncias, como ervas e tabaco. Na China, ele tambm usado
para o consumo de pio (GAZETA DE BEIRUT, 2013).
A Figura 2 mostra o narguil, formado pelos seguintes itens: 1) Base ou vaso: onde se
coloca gua, pode ser feito de vidro, cermica ou metal; 2) Corpo: uma pea cilndrica que
sustenta o fornilho e projeta um tubo para dentro da gua e conduz a fumaa; 3) Fornilho:
pea de barro ou cermica onde se coloca o tabaco, e por cima deste, o carvo e a brasa; 4)
Abafador: pea de metal que protege a brasa do vento; 5) Mangueira: por onde se aspira a
fumaa, com uma ponta que termina numa piteira e outra que se encaixa acima da gua.
Alguns aparelhos de narguil apresentam mais de uma mangueira para que outras pessoas
fumem juntas.
19
FIGURA 2: Componentes do narguil. Fonte: GAZETA DE BEIRUT, 2013.
Quando o ar aspirado pelo tubo, h uma reduo da presso no interior da base, e o
ar aquecido pelo carvo passa pelo tabaco e produz a fumaa, essa desce pelo corpo at a
base, resfriada e filtrada pela gua. A fumaa segue pelo tubo at ser aspirada pelo usurio.
Existe um fumo especial para ser utilizado no narguil, geralmente feito com melao (um
subproduto do acar), frutas e flores ou aromatizantes, que confere um cheiro caracterstico
(pssego, maa-verde, coco, uva e outros) (GAZETA DE BEIRUT, 2013).
1.2.3. Narguil e a sade
O uso do narguil para utilizao do tabaco comea a ser alvo de pesquisas e aes por
parte de rgos competentes e campanhas educativas e de preveno.
O narguil tem uma aparncia extica e de uso coletivo, parecendo ser inofensivo por
utilizar um filtro de gua e produtos aromatizantes e flavorizantes, mas seu uso em longo
prazo pode causar cncer de pulmo, boca, bexiga, estreitamento das artrias, doenas
respiratrias, alm de outras patologias associadas ao compartilhamento do narguil, como
herpes, doenas de boca, hepatite C e tuberculose (INCA, 2015).
20
Embora se considere que o tabaco fumado no narguil seria menos prejudicial sade
do que o cigarro, estudos da OMS comprovam o contrrio: uma sesso de narguil equivale
a nada menos do que fumar 100 cigarros. A quantidade de fumaa e substncias txicas
inaladas nos dois casos a mesma (BRASIL, 2013).
Observa-se um verdadeiro renascimento do uso do narguil principalmente entre
adolescente e jovem de pases ocidentais. Atualmente, mais de 100 milhes de pessoas usam
o narguil diariamente. Em alguns pases europeus tambm existe uma crescente onda de uso
do narguil. No Brasil, isso tambm uma realidade. Um estudo de vigilncia global,
examinando tendncias temporais entre 1999 a 2008 sobre o uso do tabaco na juventude,
encontrou um aumento considervel de adolescentes utilizando o narguil (BROCKMAN et
al., 2012).
O contedo de nicotina no tabaco utilizado no narguil estimado entre 2% e 4%,
enquanto que o tabaco utilizado no cigarro apresenta em torno de 1% a 3%, e o monxido de
carbono tambm est presente na fumaa do narguil em maior percentual que na fumaa do
cigarro e ainda acrescido pela queima do carvo que essa modalidade apresenta. Analisando a
fumaa do narguil, foram encontradas quantidades elevadas de nicotina, alcatro e metais
pesados, tambm sendo encontrado arsnio, benzopireno, nquel, cobalto, berlio, cromo e
chumbo em grande quantidade comparada com a fumaa do cigarro (SHIHADEH; SALEH,
2005).
Existe uma grande iluso por parte dos usurios de narguil que a gua utilizada para
resfriar a fumaa a ser inalada, tambm filtra as impurezas do tabaco, porm essa afirmao
no representa a total verdade, pois no filtra como se imagina.
Segundo Shafagoj, Mohammed e Hadidi (2002) e Nuwayhid et al. (1998), a gua no
narguil absorve aproximadamente apenas 5% da nicotina, o que acaba fazendo com que os
usurios fiquem expostos a uma quantidade suficiente para tornarem-se dependentes e
expostos a 4.720 substncias txicas, entre cancergenos e gazes nocivos.
Essa percepo de segurana e reduo de danos est sendo refutada por muitos
estudos que documentam a presena de agentes txicos nocivos e cancergenos na fumaa do
tabaco inalado por meio do narguil. Vrios estudos demonstram os efeitos adversos em
muitos rgos e sistemas do corpo humano, como doena arterial coronariana, doena
pulmonar obstrutiva, aumento do risco de desenvolver cncer de pulmo, efeitos perinatais
em mes fumantes, doenas periodontais, entre outras (EL-ZAATARI; CHAMI e ZAATARI,
2015).
21
Em estudo realizado por Alexandrov et al. (2016), mostrou que fumantes que
consomem um mao de cigarros por dia, acumulam em mdia, em um ano, 150 mutaes a
mais em clulas do pulmo, em comparao com no fumantes. Muitos estudos indicam que o
fumo causa 17 diferentes tipos de cncer, porm pela primeira vez, foi provado baseado em
estudos genticos que o cigarro causa mudanas no DNA das clulas expostas diretamente
fumaa e indiretamente em outras clulas do corpo. Essa pesquisa foi realizada analisando o
genoma de mais de 5 mil amostras de clulas com cncer e embora a maior taxa de mutaes
foi verificada no pulmo, outras partes do corpo tambm foram analisadas e verificou que os
fumantes apresentaram 97 mutaes a mais na laringe, 39 na faringe, 23 na boca, 18 na bexiga
e 6 em outras clulas do fgado. De acordo com os cientistas, fumar parece acelerar um
relgio celular que provoca mutaes prematuras no DNA.
No Brasil, a ANVISA publicou a RDC n 14, de 15 de maro de 2012, que disps
sobre os limites mximos de alcatro, nicotina e monxido de carbono nos cigarros, proibiu o
uso de palavras como light, suave, soft, dentre outras e restringiu o uso de substncias
aditivas nos produtos fumgenos derivados do tabaco, permitindo somente a utilizao dos
aditivos indispensveis ao processo produtivo. Decretou a proibio de fumos com aditivos, a
determinao para os tabacos usados nos narguils passou a vigorar a partir de 2014
(ANVISA, 2012). A deciso da ANVISA sobre o tabaco com aroma, veio na onda da
proibio de cigarros com sabor (22% das marcas no pas), que passou a vigorar a partir de
setembro de 2013 (ANVISA, 2012). De acordo com a agncia, o sabor incentiva os jovens a
fumar (ANVISA, 2012).
No municpio de Foz do Iguau, segundo o PROJETO DE LEI N 70/2009, ficou
proibido o uso e a venda de cachimbo conhecido como narguil aos menores de 18 anos (FOZ
DO IGUAU, 2009).
1.3. ADOLESCENTE
1.3.1. Fase da adolescncia
Definir adolescncia e fases da adolescncia no to simples como parece, pois cada
indivduo vivencia esse perodo de modo diferente e depende muito da maturidade fsica,
emocional e cognitiva, entre outros fatores. Um segundo fator importante que complica essa
definio de adolescncia a ampla variao nas leis nacionais e internacionais, que
estabelecem limites mnimos de idade para cada atividade e compromisso considerados
exclusivas de adultos como, por exemplo, votar, casar, servir as foras armadas, fazer uso de
22
bebidas alcolicas, etc. No Ir, a idade em que as meninas alcanam a maioridade uma das
mais baixas do mundo: 9 anos, em comparao com 15 anos para os meninos (UNICEF,
2011).
Segundo o Art 2 do Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA, 1990), Considera-
se criana para os efeitos desta Lei a pessoa at doze anos de idade incompletos e
adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade. No presente estudo usaremos o
termo adolescente, pois o foco desse trabalho est direcionado populao de estudantes do
ensino mdio com at dezoito anos de idade.
Considerado um perodo de mudanas biopsicossocial que compreende, segundo a
OMS (1965), a segunda dcada da vida, ou seja, dos 10 aos 20 anos e pela Organizao das
Naes Unidas (ONU) entre 15 e 24 anos. No Brasil, o critrio adotado pelo Ministrio da
Sade do Brasil (BRASIL, 2007) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE)
(BRASIL, 2007) o mesmo da OMS.
O conceito de maioridade na maioria dos pases, do ponto de vista legal estabelecido
aos 18 anos, mas outros critrios existem e permanecem flexveis e confusos, de acordo com
os costumes e culturas locais.
Existe uma diferena etria em cada pas para classificar adolescentes e jovens, como
por exemplo: No Paraguai, a adolescncia compreende a idade entre 13 e 18 anos, segundo o
Cdigo de la Nies y a adolescncia, Lei n 2.169. Na Argentina, a faixa etria de 0 a 18 anos
compreende crianas e adolescentes, no separando as duas fases, segundo a Lei de Protecin
Integral de los Derechos de las nias e nios y adolescentes, Lei n 26.061 (PRIOTTO;
NIHEI, 2016).
Para Debert (2003), considerar uma faixa etria para estabelecer limites de uma fase
da vida extremamente arbitrrio, pois se pode correr o risco de que sejam ignorados
contextos sociais e culturais em que os indivduos vivem.
A adolescncia uma etapa do ciclo da vida marcada por profundas transformaes
biolgicas, psquicas, culturais e relacionais. o perodo em que o potencial criativo do
indivduo est no seu pice. O adolescente est buscando vida, desafios, sendo agente de
mudanas (MACEDO e CONCEIO, 2015).
Melvin e Wolkman (1993) fazem uma diferenciao e consideram que a maturao
fsica mais acentuada na puberdade pode variar entre meninas e meninos, sendo que para as
meninas essa maturao chega por volta dos 10 anos e nos meninos por volta dos 12 anos.
23
1.3.2. Viso antropolgica de adolescncia
Muito importante ter outras vises em relao a esse perodo da vida devido s
caractersticas de variabilidade e diversidade de parmetros biolgicos e psicossociais que
ocorrem nessa fase. Apesar de a idade cronolgica ser um quesito mais usado, pode muitas
vezes no ser o melhor critrio do ponto de vista antropolgico (EISENSTEIN, 1999).
Em entrevista sobre noes de juventude, Bourdieu (1983), apresenta uma frase que
define seu pensamento, a juventude apenas uma palavra, para mostrar que as divises
entre idades seria algo arbitrrio e esses cortes de idades em classificaes seria facilmente
objeto de manipulao.
Segundo Coleman (1961), a classificao dos indivduos em grupos por idade nas
escolas e separados da sociedade, acaba por criar um conjunto de relaes especficas de cada
faixa etria.
Essa ideia compartilhada por Aris (1978), em sua obra Histria Social da Criana e
da Famlia, que afirma que a escola, no final do sculo XVII, acabou dando condies para a
criao das noes de infncia e juventude como etapas, pois na escola havia um isolamento
que os separava da vida dos adultos, o que no acontecia no mundo medieval, onde no
existia essa fase de transio.
Para Green e Bigum (1998), essa noo de diviso por categorias est tomando outro
rumo, onde jovens e crianas que foram isolados desde o incio dos tempos modernos,
estariam recriando seu espao com novas demandas, pois segundo o autor esse isolamento
acabou permitindo um maior contato entre si e estabelecendo redes de sociabilidade, infantil e
juvenil especficas de cada fase, e tendo a escola como referncia. Os autores defendem a
ideia de estar surgindo uma nova gerao, denominada de aliengenas. O estudante ps-
moderno est mais aberto a novas tecnologias de comunicao e entretenimento, criando
assim grupos com ideias e interesses semelhantes.
Feixa (1996) em um artigo intitulado Antropologia de las edades, descreve que uma
das teclas de aproximao antropolgica da idade sua considerao como construo
cultural. Todos os indivduos experimentam ao longo de sua vida desenvolvimento fisiolgico
e mental determinado por sua natureza, e todas as culturas utilizam perodos prprios para
categorizar os indivduos em cada etapa, porm bvio que a idade como condio natural
nem sempre coincide com a idade como condio social e psicolgica.
A adolescncia passou as adquirir sentido em si mesmo, no sendo mais encarada
apenas como preparao para a vida adulta (FERREIRA, 2010).
24
1.3.3. Adolescncia e identidade
Alguns adolescentes sentem dificuldade em se comunicar e abdicam de viver e
descobrir as novidades do mundo por si mesmas, arriscando-se a perder a arte de serem
verdadeiros, de serem eles mesmos, submetendo-se aos anseios alheios. um perodo de
grande vulnerabilidade, emocional e comportamental onde o adolescente necessita de uma
boa base familiar para no se perder (AQUINO, 1998).
A famlia tem um papel fundamental no desenvolvimento do ser humano, ela a sua
primeira referncia e a mediadora entre o indivduo e a sociedade, porm existem outras
condies preexistentes que podem influenciar o desenvolvimento psicolgico, fsico e social
do indivduo, determinando seu comportamento frente ao consumo ou no de drogas
(AQUINO, 1998).
O perodo da adolescncia um perodo de transio entre a dependncia infantil e a
autonomia adulta que est vinculada a um processo de formao de identidade. Nessa
formao de identidade existem muitas transies afetivas, emocionais, sexuais que podem
ser encaradas de forma natural por alguns adolescentes ou de forma turbulenta por outros.
Pode-se considerar esse perodo como um salto para a vida em direo a si mesmo, como um
ser nico (GAULEJAC, 2006).
Segundo Gaulejac (2006), o adolescente necessita constantemente identificar-se e
diferenciar-se, ou seja, ele est em processo de construo de sua identidade. Porm, ao
mesmo tempo, ele busca sua individualidade, mas tambm se identifica com seu grupo de
amigos. Nessa dialtica existencial, ele permite-se ser um sujeito nico, singular, porm,
parecido com seu grupo.
Alteraes e transformaes biolgicas ocorrem juntas com as alteraes da
personalidade e o corpo vai adquirindo uma nova forma e essa nova forma vai alterar a
imagem mental da imagem corporal que o adolescente tem dele mesmo e algumas vezes essa
imagem desproporcional imagem idealizada (BRANCO; CINTRA e FIBERG, 2006). A
mdia tem um papel importante nessa fase e por vezes acaba gerando uma grande presso na
imagem ideal de corpo, gerando problemas psicolgicos e insatisfao pessoal por parte dos
adolescentes que no se sentem dentro dos padres gerados por essa mdia. Padres esses,
muitas vezes, levando o adolescente a se alimentar de forma inapropriada, causando
desordens em seu organismo e aumentando o risco de transtornos alimentares (BRANCO;
CINTRA e FIBERG, 2006; DINIZ, 2007). As meninas so as mais afetadas por essa imagem
padronizada veiculada pela mdia, onde a magreza valorizada ao extremo (RODRIGUES;
25
FISBERG e CINTRA, 2005). Isso mostra o poder da mdia e como os adolescentes so
facilmente influenciados por uma padronizao, sem se preocupar com a sade ou outras
questes.
Pode-se perceber que um perodo conturbado, pois ele tem sua individualidade, mas
essa individualidade muitas vezes construda na relao com o outro, ele est receptivo a
vrios estmulos internos e externos que interferem na formao de sua identidade, e isso
muitas vezes acaba sendo um problema para alguns adolescentes que apresentam uma
personalidade mais dependente da opinio alheia, e ele acaba transformando sua identidade
em uma cpia do outro, daquele que ele gostaria de ser, levando-o por vezes a confundir-se e
adotar comportamentos alheios sua educao (BRANCO; CINTRA e FIBERG, 2006).
1.3.4. Adolescncia e dependncia qumica
O crtex pr-frontal do crebro, em especial, est relacionado ao aspecto da
maturidade fsica. No perodo da adolescncia, existe imaturidade em alguns mecanismos
cerebrais, como por exemplo, no sistema de recompensa cerebral (via dopaminrgica
mesolmbica) que est associado ao processo de tomada de decises. Portanto, torna-se
complexo para os adolescentes tomar decises e fazer escolhas importantes, levando-os
impulsividade e comportamentos que envolvem riscos sade. Esse sistema motivacional do
crebro o mesmo ativado pelo uso de substncias psicoativas. Como um mecanismo ainda
em desenvolvimento no adolescente, a sua estimulao pelo uso de drogas pode acelerar
mudanas neurais que so prprias da dependncia, conferindo ao adolescente vulnerabilidade
ao desenvolvimento desse transtorno mental (GEIER et al., 2010).
A evidncia neurocientfica pode fornecer suporte adicional para evidncias
comportamentais, neurocincia fornece confiana adicional nas descobertas
comportamentais, auxiliando a compreeno de diversos fatores relacionados com o
comportamento do adolescente como, por exemplo, algumas mudanas importantes na
anatomia e na atividade do crebro. A adolescncia um perodo de maturao cerebral
substancial no que diz respeito estrutura e funo. (STEINGER, 2012).
De acordo com Steinger (2012), Notam-se quatro mudanas estruturais especficas no
crebro durante a adolescncia.
Primeira: existe uma diminuio na massa cinzenta nas regies pr-frontais do crebro
com consequente diminuio das sinapses, cujos neurnios foram eliminados. Com isso
observam-se melhorias nas habilidades cognitivas bsicas e no raciocnio lgico.
26
Segunda: importantes mudanas que envolvem a neurotransmissora dopamina, onde as
emoes so processadas e as recompensas e castigos experimentados, a dopamina
desempenha um papel crtico no modo como os seres humanos experimentam o prazer, essas
mudanas tm importantes implicaes na busca de sensaes.
Terceira: h um aumento na substncia branca no crtex pr-frontal durante a
adolescncia importante para funes cognitivas de ordem superior - planejar com
antecedncia, pesando riscos e recompensas, e tomando decises complicadas, entre outras.
Quarta: h um aumento na fora das conexes entre o crtex pr-frontal e o sistema
lmbico importante para a regulao emocional e autocontrole. Durante as tarefas que exigem
autocontrole, os adultos empregam uma rede mais ampla de regies cerebrais do que os
adolescentes.
Adolescncia no apenas um momento de tremenda mudana na estrutura do
crebro. tambm um momento de mudanas importantes no funcionamento do crebro,
como revelado em estudos usando ressonncia magntica funcional (STEINGER, 2012).
No perodo da adolescncia, os jovens esto vulnerveis ao consumo de drogas e
demais substncias prejudiciais sade. Essa vulnerabilidade deve-se a diversos fatores,
como a busca por novas experincias, necessidade de aceitao em determinado grupo social,
independncia, alm de fatores socioeconmicos, ambientais e culturais. Fatores que so
incentivados pela mdia que transmite uma imagem ilusria de sucesso, felicidade e bem-estar
relacionado ao consumo de drogas lcitas, que podem levar drogadio (BRASIL, 2013).
Outros fatores associados ao uso do tabaco por adolescentes a influncia de amigos,
curiosidade natural da idade, para identificar-se como liderana do grupo, para serem
socialmente aceitos em determinados grupos ou ainda para tornar-se mais popular entre os
amigos (VALENTE et al., 2005).
Durante a adolescncia muitas vezes o ambiente escolar ou de amigos fora da escola
so propensos a experimentar o narguil, por curiosidade, influncia dos amigos e/ou pelo
cheiro adocicado que o narguil proporciona. Constata-se o quanto difcil fazer preveno
entre adolescentes, porque eles tm uma postura extremamente onipotente e comportam-se
como se tivessem um pacto de imunidade contra os males deste mundo. Para eles, os perigos
parecem no ter existncia real, mas ser pura inveno de pais e educadores para tornar a vida
menos divertida (VALENTE et al., 2005).
27
1.4. REDES SOCIAIS
1.4.1. Histrico e conceitos
Anlise de redes sociais (social network analysis) uma ferramenta que apresenta um
conjunto de teorias e tcnicas especficas para compreenso de uma ampla gama de mudana
de comportamento humano e como as pessoas interagem umas com as outras. Essa ferramenta
ajuda a compreender melhor como as relaes de amizade, por exemplo, acontecem, como
uma pessoa influencia a outra, e ajuda tambm na implementao de programas de
orientaes e esclarecimento em diversas reas (VALENTE et al., 2015).
Essa anlise feita atraves de pesquisas sobre quem est ligada a quem, essas relaes
podem ser muito variadas e podem vir de vrias formas de levantamento de dados como
entrevistas, questionrios, entre outras. Os dados de uma rede social so utilizados para
verificar as medidas individuais dos componentes da rede, tais como o nmero de ligaes
que cada indivduo tem, a densidade da rede, etc. Existem alguns princpios fundamentais,
bem como softwares amplamente utilizados e ferramentas analticas (VALENTE et al., 2015).
Redes sociais apresentam uma anlise como uma perspectiva de investigao distinta
dentro das cincias sociais e do comportamento. Considerada distinta, pois uma anlise de
rede que se baseia na suposta importncia das relaes. A perspectiva das redes sociais
compreende teorias, modelos e aplicaes que se expressam em termos de conceitos e
processos de relacionamento. Os relacionamentos definidos como vnculos entre as unidades
constituem um componente fundamental das teorias de rede (WASSERMAN e FAUST,
2013).
Para o desenvolvimento de mtodo para anlise de redes sociais de suma
importncia o fato de que a unidade de anlise na rede no o indivduo, mas uma entidade
composta por um conjunto de indivduos e o vnculo entre eles. Os mtodos de rede podem
ser Dades (dois atores e seus vnculos), Trades (trs atores e seus vnculos) e sistemas
maiores (subgrupo de indivduos ou redes inteiras), para isso h necessidade de mtodos
especiais.
Os atores esto vinculados entre si por laos sociais, que pode ser amizade, parentesco,
etc (WASSERMAN e FAUST, 2013).
A anlise de redes sociais j tem uma longa histria em diversas reas do
conhecimento.
No final de 1800 e incio de 1900, cientistas sociais j estudavam questes sobre laos
sociais, teorias e terminologias para descrever as conexes sociais. Socilogos como Comte e
28
Georg Simmel so considerados como alguns dos primeiros a fornecer fundamentao para
anlise de rede social (LUKE e HARRIS, 2007).
A anlise das redes sociais apresenta um ponto importante de que a vida social
criada principalmente por relaes e padres formados por essas relaes. A rede social um
conjunto de ns socialmente relevantes e ligados por uma ou mais relaes. Nos estudos de
redes sociais, chamam-se de ns os membros de uma rede, que pode ser pessoas ou
organismos, ou qualquer outra unidade que pode ser ligada e ser estudada (MARIN;
WELLMAN, 2010).
Psiclogos educacionais tambm se interessaram por essa maneira de estudar os
relacionamentos e, na dcada de 1920, publicaram uma srie de estudos e relatrios sobre
caractersticas dos laos sociais como influncia, interao e companheirismo. Uma grande
contribuio, na poca, veio do psiquiatra Jacob L. Moreno em 1934, que desenvolveu uma
nova frmula de representar relacionamentos, chamado de sociograma. Um sociograma era
um desenho com pontos que representam relaes interpessoais. Em 1937, Moreno fundou o
Journal of Sociometry que publicou muitos estudos com abordagem de rede ou o
desenvolvimento da rede (MORENO, 1934).
Segundo Luke e Harris (2007), a partir de 1950 at o incio de 1970, vrias reas do
conhecimento como a sociologia, antropologia e matemtica tiveram grande contribuio nos
avanos metodolgicos, ajudando a consolidar a fundamentao moderna de anlise de redes
sociais. Em 1977, foi fundada a International Network for Social Network Analysis (INSNA)
ou Rede Internacional para a Anlise de Redes Sociais.
Em 1970 foram criados dezesseis centros de pesquisas em redes sociais, cada um com
seu desenvolvimento, conhecimento e aceitao das abordagens. Porm, nenhum desses
centros conseguiu alguma forma de reconhecimento da rede social como pesquisa cientfica.
Isso acabou mudando no incio da dcada de 1970 com Harrison C. White, que junto com
seus alunos em Harvard, construiu o decimo stimo centro de pesquisa em rede social e
comearam a produzir e publicar muitos trabalhos. No final da dcada de 1970, a anlise de
redes sociais passou a ser universalmente reconhecida entre os cientistas sociais, tornando-se
um campo reconhecido de pesquisas (FREEMAN, 2014).
A rede social composta por atores que representam indivduos, organizaes,
programas ou entidades. Uma rede pode ter quatro elementos diferentes: um modelo
conceitual, uma descrio de uma estrutura do mundo real existente ou sistema, um modelo
matemtico ou uma simulao. Os ns geralmente descrevem uma rede como um conjunto de
atores ligados por linhas ou setas que mostram alguma relao entre eles. A coleta de dados
29
em estudos de redes funciona de forma bastante diferente, para tanto toda rede deve ser
identificada antes da coleta de dados (LUKE e HARRIS, 2007).
Embora existam muitas maneiras de analisar os dados, trs abordagens gerais so
utilizadas. Em primeiro lugar, a visualizao da rede que permite ao pesquisador e ao pblico
visualizar as vrias representaes grficas de rede. Em segundo, a anlise descritiva das
propriedades da rede pode revelar detalhes importantes sobre posio dos atores na rede,
propriedades de subgrupos de rede, caractersticas de uma rede completa. Em terceiro lugar, o
trabalho recente de mtodos de rede longitudinais permite aos pesquisadores construir e testar
modelos de redes longitudinais (LUKE e HARRIS, 2007).
A visualizao das redes consiste em apresentao das informaes da rede em
grficos, que permite ao investigador fazer e responder perguntas sobre a rede que podem no
ser estatisticamente bvios. Existe software de rede que incorpora layout e apresentaes que
facilitam a interpretao dos grficos de maneira mais precisa.
Compreendendo uma ferramenta de anlise, o termo rede social (social network) vem
sendo utilizado em sistemas finitos de relacionamentos, para se estudar determinadas
problemticas. Utiliza-se de ferramentas e metodologias especficas para buscar compreender
o impacto sobre a vida social de grupos especficos. Essa anlise tem como base as relaes
entre indivduos em uma estrutura em forma de redes. Por esse motivo, pode ser aplicado a
diversas reas, estabelecendo um novo paradigma na pesquisa sobre a estrutura social.
So quatro os elementos morfolgicos distintos que compe um sistema de redes: ns,
conexes (relaes), posies e fluxo. Os ns representam os indivduos (agentes), as
organizaes ou instituies. As ligaes representam a relao entre pares de ns, as
posies delineiam o espao fsico onde os ns se encontram e os fluxos demonstram o
sentido das ligaes, podendo ser unidirecional, bidirecional ou adirecional (ausncia de
direo) (BRITO, 2002).
Scott (2000) relata que as redes no so necessariamente consequncia das relaes
que de fato existe entre os atores, mas ela tambm resultado de ausncia de relao ou falta
de laos diretos entre dois atores, o que chamado por Burtt (2000) de buraco estrutural.
O objetivo de estudar redes sociais verificar como os indivduos comportam-se e
como as conexes influenciam o comportamento.
A maioria dos estudos tem como foco a influncia dos pares sobre os indivduos e o
comportamento de suas redes sociais. Diferentes abordagens tm sido utilizadas para
determinar se a posio de um indivduo na rede social est realmente associada ao
comportamento dos demais integrantes do grupo (VALENTE et al., 2005).
30
Para Silva et al. (2006), Social Network Analysis ou Anlise de Redes Sociais tem uma
abordagem sociolgica, psicolgica e antropolgica.
Segundo Marterelo (2011), a rede (network) um sistema de nodos e elos, onde no
existe fronteira, uma comunidade no geogrfica, que se parece a uma rvore ou rede de apoio
a um sistema fsico. Passando assim a um conceito que representa um conjunto de
participantes autnomos, unidos por uma ideia ou interesses compartilhados. Estabelecendo
um novo paradigma na pesquisa sobre estrutura social, a anlise de redes sociais estuda como
o comportamento e opinies dos indivduos dependem das estruturas na quais se inserem, pois
a unidade de anlise atribuda ao conjunto de relaes e no aos atributos individuais.
Uma vez definido o ator, o grupo ou o relacionamento pode-se dar uma definio mais
clara da rede social. Uma rede social pode ser definida como um conjunto ou vrios conjuntos
finitos de atores e da relao ou relaes definidas entre eles. Essa informao de relao
uma caracterstica que vai definir a rede social (WASSERMAN e FAUST, 2013).
1.4.2. Redes sociais egocntricas
Uma rede egocntrica consta de um ator focal, denominado ego, um conjunto de alteri
que tem laos com o ego e as medidas sobre os laos entre os alteri que tem laos com o ego e
as medidas sobre os laos entre os alteri. Por exemplo, quando se estuda a pessoa, essa ser a
informante que leva amostras de informaes e cada pessoa que responde, informa sobre um
conjunto de alteri com os que esto vinculados e informa os laos entre esses alteri. Estes
dados geralmente denominam dados de rede pessoal, certamente estes dados so de
relacionamentos, porm so limitados, pois se mede os laos de cada ator individualmente
com alguns alteri (normalmente poucos) (WASSERMAN e FAUST, 2013).
H muito tempo a antropologia tem estudado as redes sociais para compreender o
ambiente social que envolve os indivduos (BOISSEVAIN, 1979). As redes sociais
egocntricas tambm so usadas com frequncia para estudar o apoio social, esse termo
apoio social tem sido utilizado para fazer referncia s relaes sociais que contribuem para
sade e bem-estar de um indivduo. Essa nfase nas relaes scias tem permitido aos
investigadores estudar o apoio social utilizando as redes sociais. Os estudos de redes podem
esclarecer questes de interesse da psicologia e sociologia, permitindo formular hipteses
para explicar como as relaes pessoais so afetadas e como so refletidas nas redes
egocntricas a respeito do bem-estar fsico e emocional dos indivduos (WASSERMAN e
FAUST, 2013).
31
1.4.3. Redes sociais e uso de tabaco
Segundo Valente et al. (2005), as redes sociais acabam influenciando os jovens no
incio da experimentao do tabaco, pois eles vivem em grupos, em comunidades e alguns
adolescentes acabam desenvolvendo uma liderana no grupo, influenciando os outros a um
comportamento prprio do grupo. A aprendizagem social postula que o comportamento
aprendido atravs da modelagem e imitao do comportamento dos outros e difuso de
inovaes.
Muitos estudos hoje procuram identificar a influncia dos amigos, tambm chamados
de pares, em estudos de redes sociais, no comportamento de risco dos adolescentes. A anlise
de redes uma abordagem de pesquisa especialmente adequado para descrever e compreender
os aspectos estruturais relacionadas com a sade (LUKE e HARRIS, 2007).
Os relacionamentos exercem importante influncia no comportamento, principalmente
dos adolescentes, como mostra alguns estudos, em particular, as redes de amizade que esto
fortemente relacionados ao uso de substncias, incluindo o uso de tabaco (POLLARD et al.,
2010). Algumas caractersticas importantes das redes sociais incluem sua dimenso, como a
quantidade de membros conectados e a frequncia do contato entre os membros (ROBERT et
al., 2015).
A anlise de redes sociais oferece uma ferramenta para entender a complexidade dos
relacionamentos sociais e biolgicos. O paradigma da rede social que comportamentos
individuais so independentes, ao mesmo tempo a estrutura da rede no um comportamento
independente. As redes so sistemas dinmicos e complexos em que os laos esto em
constante evoluo (SCHAEFER, 2014).
Vrios processos contribuem para estrutura de redes, as amizades so mais
provveis quando indivduos compartilham aspectos comuns com relao a atributos, como
por exemplo, a obesidade. Vrias explicaes foram invocadas para compreender o papel
complexo da obesidade na estrutura das amizades entre adolescentes. Dentre elas, duas
receberam especial ateno. Em primeiro lugar, os adolescentes obesos so marginalizados
socialmente e menos propensos a serem escolhidos como amigo de quem no obeso. Em
segundo lugar, por consequncia, os adolescentes tendem a desenvolver amizades com
colegas que apresentam um corpo semelhante ao seu (SCHAEFER, 2014).
Segundo Cohen-Cole e Fletcher (2008) a influncia das redes sociais to expressiva
que muitas mdias tm abordado esse assunto, inclusive uma matria que foi vinculada no
New York Times com a seguinte manchete A obesidade contagiosa referindo-se
32
influncia das redes sociais nos hbitos alimentares dos indivduos. Outros aspectos tambm
esto sendo estudado em relao s redes sociais, como o tabaco, o lcool e at mesmo a
orientao sexual (HATZENBUEHLER; MCLAUGHLIN e XUAN, 2015).
Consideram-se basicamente duas perspectivas, que se complementam, na anlise de
redes sociais. A rede egocntrica ou egocentrada (perspectiva ptolomaica) e a rede completa
(perspectiva copernicana). Na rede egocntrica a anlise esta voltada para determinado
n/ator (ego) e outros ns da rede com os quais o n egico tem relao. J na rede completa
as informaes sobre padro de laos entre todos os ns na rede usada, identificando
subgrupos com maior grau de coeso interna, quando os ns ocupam posies similares na
rede (WELLMAN, 1997).
No presente estudo, optou-se pelo estudo da rede egocntrica ou egocentrada.
1.5. FOZ DO IGUAU
A cidade de Foz do Iguau est localizada ao extremo oeste do Paran, na divisa do
Brasil com Paraguai e Argentina (Figura 3). Com uma populao de cerca de 256.088
habitantes, segundo censo de 2010, e uma projeo de 263.915 habitantes para 2016, o
municpio caracteriza-se pela diversidade cultural de sua populao. A populao iguauense
apresenta-se composta por aproximadamente 80 nacionalidades, oriundas dos mais diversos
pases, tais como Lbano, China, Paraguai, Argentina, entre outros. Alm disso, uma das
mais importantes cidades tursticas do Paran (IBGE, 2016).
FIGURA 3. O municpio de Foz do Iguau localiza-se no extremo
Oeste do Estado do Paran, fazendo divisa com Paraguai e Argentina
(IBGE, 2016).
33
A rea urbana de Foz do Iguau corresponde a 191,46 km, a rea rural apresenta
138,17 km, o Parque Nacional do Iguau apresenta 138,60 km, a rea do lago artificial de
Itaipu apresenta 149,10 km e a Ilha Acaray apresenta 0,38 km, de forma que o municpio
apresenta uma rea total de 617,71 km (IBGE, 2016).
Em 1881, Foz do Iguau recebeu seus dois primeiros habitantes, o brasileiro Pedro
Martins da silva e o espanhol Manuel Gonzles. Pouco depois chegaram os irmos
Goycocha que comearam a explorar a erva-mate. Aps oito anos, foi fundada a colnia
militar na fronteira, marco do incio da ocupao efetiva do local por brasileiros e do que viria
a ser o municpio de Foz do Iguau (FOZ DO IGUAU, 2016).
A populao de Foz do Iguau chega a 2.000 habitantes nos primeiros anos do sculo
XX. Em 1910, a colnia Militar passou condio de Vila Iguassu, distrito do municpio de
Guarapuava (FOZ DO IGUAU, 2016).
Em 14 de maro de 1914, foi criado o municpio de Vila Iguau, pela Lei 1383 e no
dia 10 de junho do mesmo ano toma posse o primeiro prefeito de Foz do Iguau, Jorge
Schimmelpfeng. Em 1918, o municpio passou a denominar-se Foz do Iguau (FOZ DO
IGUAU, 2016).
Em 1965 foi inaugurada a Ponte da Amizade que liga os dois pases, Brasil e Paraguai.
Em 1969, inaugura-se a rodovia BR-277 que liga Foz do Iguau Curitiba. A partir dos anos
1970, a cidade sofre fortes impactos com o aumento populacional decorrente da construo da
Hidreltrica de Itaipu (Brasil-Paraguai). De forma que em 1960, o municpio apresentava
28.080 habitantes, em 1970 apresentava 33.970 habitantes, e em 1980 passa a ter 136.320
habitantes, registrando um crescimento de 385% no perodo (FOZ DO IGUAU, 2016).
Com esse crescimento e desenvolvimento ligado direta ou indiretamente construo
de Itaipu, em meados da dcada de 1980, percebe-se uma ampliao das transaes entre
Brasil e Paraguai, e junto a isso uma ampliao do turismo de compras. Esses fatores
causaram movimento migratrio intenso para o municpio, as famlias de diversos pases eram
atradas pela localizao fronteiria de Foz do Iguau com grande comrcio aberto de
Ciudade del Este, no Paraguai (FOZ DO IGUAU, 2016).
Na cidade de Foz do Iguau, em 2015, segundo dados do IBGE (20167y), existem 45
escolas de ensino mdio, sendo elas: 16 escolas privadas, 28 escolas pblicas estaduais e 1
escola pblica federal.
Em 2015, teve um total de 12.420 matrculas no ensino mdio, sendo divididas da
seguinte forma: 1.983 matrculas em escolas privadas, 10.248 matrculas em escolas pblicas
estaduais e 189 matrculas em escola pblica federal (IBGE, 2016).
34
1.5.1 Imigrao rabe em Foz do Iguau
Em 1860, os primeiros srios e libaneses chegam ao Brasil. As pesquisas mostram que
o fluxo de imigrantes tem uma crescente elevao at a vspera da Primeira Guerra Mundial,
onde em 1913 foi registrada mais de onze mil pessoas e estimava-se em torno de cinco mil
entradas por ano (WANIEZ, 2001).
Apesar das dificuldades em conseguir quantificar o nmero exato de imigrantes
libaneses no pas, o IBGE, em 1991, identificou em torno de 25000 muulmanos e 86422
israelitas. Mesmo admitindo-se um enorme erro de estimativa, os muulmanos no chegariam
a 50000 habitantes. Porm, a Sociedade Beneficente Muulmana de So Paulo calculou em
um milho o nmero total de muulmanos no Brasil e quase cem o nmero de mesquitas ou
salas de orao (WANIEZ, 2001).
De acordo com Wurmeister (2011), na dcada de 1960, os primeiros imigrantes rabes
chegaram a Foz do Iguau, sendo que o maior nmero ocorreu entre 1986 e 1996. O mascate,
Ibrahim Barakat, foi o pioneiro a se instalar na cidade conhecida mundialmente como Terra
das Cataratas e por ter a Itaipu, maior hidreltrica do mundo.
Foz do Iguau, com 17 mil habitantes rabes, a segunda maior comunidade rabe do
pas, perdendo apenas para So Paulo-SP. A principal ocupao dessa populao o comrcio
e eles dominam a venda de importados em Ciudad del Leste no Paraguai. Tambm j tiveram
representantes na Cmara de Vereadores e alguns cargos executivos importantes. Com essa
representatividade, a colnia rabe mantem suas tradies culturais e religiosas
(WURMEISTER, 2011).
O contingente de imigrantes libaneses e muulmanos da cidade de Foz do Iguau
passou a constituir e integrar organizaes sociais na cidade como duas escolas rabes e as
mesquitas sunita e xiita. Dessa forma, a cultura rabe foi sendo mantida nas comunidades
como construo de identidade. As especificidades da cultura libanesa so a base para a
construo de sua identidade tnica, confrontando-se com as diversas etnias existentes
historicamente em Foz do Iguau, desde o desenvolvimento da cidade em funo da
construo da usina hidreltrica de Itaipu, o que marca a cidade pela sua pluralidade cultural
(YKEGAYA, 2006).
Segundo um estudo sobre reconstruo e manuteno da identidade libanesa em Foz
do Iguau, os libaneses participam ativamente da vida econmica da cidade por
administrarem vrios estabelecimentos como, lanchonetes, aougues, escolas de dana do
ventre, salo de beleza, supermercados, confeitarias, cyber cafs, mercearias especializadas
35
em produtos libaneses, escola de idiomas, entre tantos outros. Essa grande rede de comrcio
atende principalmente os imigrantes libaneses, porm atende os brasileiros que acabam se
integrando com famlias rabes e aderindo a alguns costumes da cultura como, por exemplo,
as comidas rabes, dana do ventre e at fumando narguil. A grande diversidade da vida
econmica dos libaneses acaba suprindo as necessidades da comunidade e assim eles mantm
uma vida social, visando manter sua identidade (BARAKAT, 2008).
36
1. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
- Analisar a influncia da rede social em relao ao uso do narguil em adolescentes,
estudantes do ensino mdio, no municpio de Foz do Iguau-PR.
2.2. OBJETIVOS ESPECFICOS
- Identificar os fatores para o incio do uso do narguil.
- Identificar os fatores relacionados continuidade do uso do narguil.
- Analisar as caractersticas da rede social de usurios e no usurios de narguil.
37
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. METODOLOGIA
2.1.1. Tipo de Pesquisa
Pesquisa descritiva, tipo inqurito, de natureza quantitativa.
2.1.2. Populao de estudo
Na presente pesquisa a populao estudada foi composta por adolescentes, de ambos
os sexos, com idade at dezoito anos, estudantes do ensino mdio de uma escola privada COC
Colgio COC Semeador e cinco escolas pblicas da cidade de Foz do Iguau, PR. Colgio
Estadual Arnaldo Isidoro de Lima, Colgio Estadual Dobrandino da Silva, Colgio Estadual
Bartolomeu Mitre, Colgio Estadual Sol de Maio, Colgio Estadual Tarqunio Joslin dos
Santos. A escolha das escolas foi baseada em trs critrios: 1) a sua representatividade nas
diferentes regies do municpio; 2) Nmero de alunos e 3) Aceite em participar da pesquisa.
Duas escolas privadas recusaram a participao na pesquisa.
Foi utilizado como critrio de incluso ter idade at 18 anos de idade, estar
devidamente matriculada em escola estadual ou privada do municpio de Foz do Iguau, PR.
Foram includos somente os adolescentes cujos pais assinaram o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE APNDICE A).
O critrio de excluso foi a incapacidade de responder o questionrio devido a algum
tipo de limitao fsica ou cognitiva.
2.1.3. Instrumento e procedimento de Coleta de Dados
Para a coleta dos dados foi utilizado um questionrio estruturado com questes
objetivas e subjetivas de fcil compreenso, redigidas de forma clara e com vocabulrio
acessvel. O questionrio utilizado foi baseado no Vigescola (Vigilncia de Tabagismo em
Escolares) e no Global Youth Tobacco Survey (GYTS) (BRASIL, 2004), adaptado pelos
pesquisadores para os objetivos do presente estudo, o qual continha questes referentes ao uso
do tabaco na forma de narguil, visando obter dados referentes rede social do adolescente
usurio ou no de narguil.
38
O modelo de questionrio para estudar a rede social foi a egocntrica, onde cada
adolescente colocou at oito amigos com os quais ele se relacionava na escola e oito amigos
com os quais se relacionava fora da escola (APNDICE B).
2.1.4. Pr-teste
Foi realizado um pr-teste em uma escola com dez alunos, utilizando-se o questionrio
elaborado, com o objetivo de verificar a adequao do questionrio quanto clareza e
compreenso do mesmo pelos adolescentes, assim como para verificar o tempo que seria
necessrio para responder todo o questionrio.
2.1.5. Contato com as escolas
Foi realizado um contato inicial por telefone para agendamento de uma reunio da
pesquisadora e o responsvel pedaggico ou diretor de cada escola envolvida na pesquisa. Na
reunio, foi apresentado o projeto e explicado como seria realizada a pesquisa, tambm foi
apresentado o parecer aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos da
Unioeste e o TCLE. Aps essa reunio foi marcado uma data para a pesquisadora entregar os
TCLE e explicar para os alunos a finalidade da pesquisa. No dia da entrega do TCLE a
pesquisadora conversou com os alunos e explicou a pesquisa e a importncia da participao
dos mesmos. Foi ento entregue os TCLE e os alunos levaram para casa para ser assinado
pelo responsvel e deveriam trazer para ser recolhido pelo lder de cada sala que ficaria
responsvel em entregar para a pesquisadora.
2.1.6. Aplicao do questionrio
No dia agendado para a aplicao do questionrio os alunos que tinham o TCLE
assinado foram levados para uma sala de aula e aps a explicao da pesquisadora e
esclarecimentos, responderam o questionrio. Os alunos de cada turma levaram
aproximadamente trinta minutos para responder o questionrio.
2.1.7. Anlise dos dados
Os questionrios passaram por processo de digitao. Na anlise dos dados foram
excludos 5 questionrios por estarem incompletos ou rasurados.
39
Os dados foram tabulados em planilhas do Excel (verso 2010, Microsoft Inc., EUA)
com dados codificados. A rede social foi analisada primariamente considerando a rede local
(egocntrica). O processamento da estatstica descritiva (mdias e percentuais) e a anlise de
rede social foi realizada utilizando-se o programa STATISTICA (Dell Software, EUA). A
associao entre as variveis foi realizada utilizando-se o Teste de Qui-quadrado de Pearson
(Qui-quadrado de verificao de associao) segundo Fonseca e Martins (1993). A anlise foi
realizada utilizando-se o programa Minitab, verso 17 (Minitab Inc. International, EUA).
2.1.8. Aspectos ticos da Pesquisa com Seres Humanos
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa com Seres
Humanos da Unioeste segundo o parecer 1.219.493 de 09/09/2015 (ANEXO A). Foram
includos na pesquisa apenas os participantes cujos responsveis assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aps serem esclarecidos sobre os objetivos da
pesquisa. Alm disso, a pesquisa foi realizada com a devida autorizao da direo das
respectivas escolas (APNDICE C).
Todas as informaes coletadas fazem parte de um banco de dados, sendo
confidenciais em respeito Resoluo 466/2012 do Ministrio da Sade sobre Normas
Regulamentadoras de Pesquisa envolvendo Seres Humanos.
40
3. RESULTADOS
A presente pesquisa foi realizada em cinco escolas pblicas e uma escola privada do
municpio de Foz do Iguau-PR. Na Tabela 1, apresenta-se o nmero de alunos do ensino
mdio de cada escola, o nmero de TCLE entregues e o nmero de TCLE devolvidos e
assinados. Houve uma perda grande entre o nmero de TCLE entregues e o nmero final de
participantes na pesquisa. Dos 1.145 alunos do ensino mdio das escolas includas no estudo,
apenas 300 (26,2%) aceitaram o convite e responderam o questionrio, e destes 17 (5,7%)
eram de escola privada e 283 (94,3%) de escolas pblicas.
Tabela 1: Escolas selecionadas e a quantidade de alunos participantes, segundo entrega do
TCLE e os que efetivamente participaram do estudo, Foz do Iguau, 2015.
Escola
Tipo
Total
alunos
TCLE
devolvidos
Total
pesquisados %
1. C.E. Arnaldo Isidoro de Lima Pblica 82 48 38 12,7
2. C.E. Dobrandino da Silva Pblica
131 22 22 7,3
3. C.E. Bartolomeu Mitre Pblica 397 112 112 37,3
4. C.E. Sol de Maio Pblica 76 55 54 18,0
5. C.E. Tarqunio Joslin dos Santos Pblica 233 91 57 19,0
6. COC Privada 226 26 17 5,7
Total 1145 354 300 100,0
Na Tabela 2 apresenta-se o perfil dos adolescentes pesquisados, sendo 132 (44,0%) do
sexo masculino e 168 (56,0%) do sexo feminino, a idade mdia foi em 16 1,1 anos. A
maioria, 107 alunos (35,7%), frequentava o 1 Ano do ensino mdio, seguido pelo 3 Ano,
com 99 alunos (33,0%), 2 Ano com 85 alunos (28,3%) e 4 Ano com 9 alunos (3,0%).
Quanto nacionalidade dos adolescentes, a maioria (96,7%) era brasileira, apenas 2
estudantes eram libaneses (0,7%).
Em relao descendncia familiar (Tabelas 3 e 4), houve uma prevalncia da
brasileira (50,33% paterna e 50,00% materna), seguido por um nmero menor de
descendentes de italianos (12,67% paterna e 16,33% materna) e alemes (12,34% paterna e
materna), e em nmero menor as demais descendncias relatadas. Observamos que entre as
culturas que tem por hbito o uso do narguil, a porcentagem foi pequena, 1,7% com
descendncia paterna rabe e libanesa e 0,6% com descendncia materna rabe e libanesa.
41
Tabela 2: Perfil dos adolescentes pesquisados do ensino mdio, Foz do
Iguau, 2015.
Varivel Categoria N %
Sexo Masculino 132 44,0
Feminino 168 56,0
Nacionalidade Brasileira 290 96,7
Libanesa 2 0,7
Argentina 1 0,3
Japonesa 1 0,3
Mexicana 1 0,3
*NR 5 1,7
Ano escolar 1 107 35,7
2 85 28,3
3 99 33,0
4 9 3,0
Total 300 100,0
*NR: No respondeu
Tabela 3: Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados
do ensino mdio, segundo a descendncia familiar paterna, Foz do
Iguau, 2015.
Varivel Categoria N %
Descendncia paterna Brasileira 151 50,33
Italiana 38 12,67
Alem 37 12,34
Paraguaia 16 5,34
Polonesa 8 2,67
Espanhola 7 2,33
Indgena 7 2,33
Portuguesa 6 2,00
Africana 5 1,67
Japonesa 4 1,34
Argentina 3 1,00
Libanesa 3 1,00
Uruguaia 3 1,00
rabe 2 0,67
Austraca 1 0,33
Belga 1 0,33
Chilena 1 0,33
Chinesa 1 0,33
Coreana 1 0,33
Jamaicana 1 0,33
Russa 1 0,33
No respondeu 3 1,00
Total 300 100,0
42
Tabela 4: Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio segundo a descendncia familiar materna, Foz do Iguau,
2015.
Varivel Categoria N %
Descendncia materna Brasileira 150 50,00
Italiana 49 16,33
Alem 37 12,34
Portuguesa 11 3,67
Indgena 10 3,34
Paraguaia 10 3,34
Espanhola 9 3,00
Polonesa 6 2,00
Argentina 4 1,33
Africana 1 0,33
rabe 1 0,33
Francesa 1 0,33
Japonesa 1 0,33
Libanesa 1 0,33
Marroquina 1 0,33
Mexicana 1 0,33
No respondeu 7 2,34
Total 300 100,0
Sobre a experimentao do narguil (Tabela 5), dos 300 alunos pesquisados, 228
(76,0%) j haviam experimentado pelo menos uma vez na vida e 72 (24,0%) nunca usaram.
Quando questionados sobre a idade que usaram o narguil pela primeira vez, 31,0%
relataram que foi entre 14 e 15 anos e 20,0% entre 12 e 13 anos. Esses dados indicam que
51% utilizaram narguil pela primeira vez entre 12 e 15 anos. Dentre os motivos que levaram
a experimentar o narguil, a curiosidade foi a resposta de 40,7% dos pesquisados, seguida
de influncia dos amigos (31,7%). Apenas 9 estudantes (3,0%) responderam influncia
familiar e 2 estudantes (0,7%) responderam tradio.
Em relao ao local que usou o narguil pela primeira vez, 151 estudantes (50,3%)
responderam que foi na casa de amigos, seguido de 37 (12,3%) estudantes que responderam
na casa onde moro (morava) (Tabela 5).
43
Tabela 5: Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do
ensino mdio, segundo resposta sobre o incio do uso de narguil e local de
uso, Foz do Iguau, 2015.
Perguntas Respostas N %
J fumou narguil? No 72 24,0
Sim 228 76,0
Idade da primeira vez? 7 ou menos 4 1,3
8 ou 9 anos 13 4,4
10 ou 11 anos 24 8,0
12 ou 13 anos 60 20,0
14 ou 15 anos 93 31,0
16 ou mais 34 11,3
Nunca 72 24,0
Motivo que levou a fumar? Curiosidade 122 40,6
Influencia de amigos 95 31,7
Nunca fumaram 72 24,0
Influencia familiar 9 3,0
Tradio 2 0,7
Onde fumou a primeira vez? Na casa de amigos 151 50,3
Nunca fumaram 72 24,0
Na casa onde moro
(morava) 37 12,3
Outro 17 5,7
Eventos sociais 15 5,0
Espaos pblicos 6 2,0
Em *EVPN 2 0,7
Total 300 100,0
*EVPN: Estabelecimento de venda de produtos para narguil.
Quando questionados sobre quantas vezes eles utilizaram o narguil nos ltimos 30
dias, 54,0% responderam que no utilizaram, seguido de 16,3% que utilizaram de 1 a 2 dias,
9,6% que utilizaram entre 3 a 5 dias e apenas 3,0% dos pesquisados responderam todos os
dias. Quando questionados sobre a utilizao de narguil no ltimo ano, 55,0% responderam
que utilizaram e 42,0% no utilizaram (Tabela 6).
Quanto ao local onde utilizou o narguil nos ltimos 30 dias, predominaram as
respostas na casa de amigos (32,0%) e na casa onde mora (12,0%), e 54% dos pesquisados
relataram no ter utilizado o narguil. Na questo quanto a compra de narguil por menores
de 18 anos, os dados mostram que 39,7% dos pesquisados no teve nenhum problema em
comprar produto relacionado ao narguil (Tabela 6).
44
Tabela 6: Distribuio de frequncia dos adolescentes pesquisados do ensino
mdio segundo a frequncia de uso de narguil e local de uso, Foz do Iguau,
2015
Perguntas Respostas N %
Frequncia de uso 0 162 54,0
nos ltimos 30 dias? 1 ou 2 dias 49 16,3
10 ou 19 dias 27 9,0
20 ou 29 dias 7 2,3
3 ou 5 dias 29 9,7
6 ou 9 dias 17 5,7
Todos os 30 dias 9 3,0
Fumou durante
ltimo ano? Sim 165 55,0
No 126 42,0
No sei 9 3,0
Onde fumou ltimos
30 dias? (mltipla
escolha)
Eu no fumei narguile nos ltimos 30
dias 162 54,0
Na casa de amigos 96 32,0
Na casa onde moro 36 12,0
Eventos sociais 28 9,3
Estabelecimento que vendem narguile 18 6,0
Espaos pblicos 9 3,0
Outros 7 2,3
Algum lhe recusou a
venda