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UNIVERSIDADE GAMA FILHO
VICE-REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO
E ATIVIDADES COMPLEMENTARES
PÓS-GRADUAÇÃO EM TRADUÇÃO DO INGLÊS
CONSISTÊNCIA TERMINOLÓGICA: ANÁLISE DE UM RECORTE DE TERMOS
DO TEMA LIGAÇÃO QUÍMICA EM DOIS MANUAIS DIDÁTICOS DE QUÍMICA
TRADUZIDOS DO INGLÊS PARA O PORTUGUÊS
Daviane Zottis Contini
Porto Alegre
2012
UNIVERSIDADE GAMA FILHO
VICE-REITORIA ACADÊMICA
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO E ATIVIDADES COMPLEMENTARES
PÓS-GRADUAÇÃO EM TRADUÇÃO DO INGLÊS
CONSISTÊNCIA TERMINOLÓGICA: ANÁLISE DE UM RECORTE DE TERMOS
DO TEMA LIGAÇÃO QUÍMICA EM DOIS MANUAIS DIDÁTICOS DE QUÍMICA
TRADUZIDOS DO INGLÊS PARA O PORTUGUÊS
Monografia apresentada à UGF como
requisito parcial para a conclusão do curso de
pós-graduação latu sensu em Tradução do
Inglês
Por
Daviane Zottis Contini
Professora orientadora
Nina Bandeira Seabra
Porto Alegre
2012
DAVIANE ZOTTIS CONTINI
CONSISTÊNCIA TERMINOLÓGICA: ANÁLISE DE UM RECORTE DE TERMOS
DO TEMA LIGAÇÃO QUÍMICA EM DOIS MANUAIS DIDÁTICOS DE QUÍMICA
TRADUZIDOS DO INGLÊS PARA O PORTUGUÊS
Monografia apresentada à
Universidade Gama Filho como
requisito parcial para a obtenção
do grau de especialista em
tradução do inglês. Orientadora
Professora Nina Bandeira Seabra.
Aprovada em
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Professor Carlos Nougué (Universidade Gama Filho)
_________________________________________________
Professor José Luis Sánchez (Universidade Gama Filho)
_________________________________________________
Professora Meritxell Almarza (Universidade Gama Filho)
RESUMO
Este trabalho teve como base a pesquisa interdisciplinar entre a Área de Educação
Química do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o
projeto de pesquisa TEXTQUIM do Instituto de Letras da mesma universidade, em que
analisamos aspectos linguísticos em cinco manuais didáticos de Química Geral, frutos de
tradução do inglês para o português. Neste trabalho, o corpus consistirá em dois desses
manuais: “Chemical Principles” (manual A), cuja tradução é “Princípios de Química”, e
“University Chemistry”, cuja tradução é “Química: um curso universitário” (manual B) com o
tema Ligação Química, que compreende quatro capítulos, dois de cada manual. Fizemos a
análise da tradução de dez termos escolhidos em inglês para verificar se eles seguiram o
princípio da consistência terminológica, em que escolhida uma tradução para um termo X,
esta deve ser mantida ao longo de todo o texto. Esses capítulos foram digitalizados, colados
em documento do Word e os textos foram alinhados em parágrafos em L1 (inglês) e L2
(português) com a ajuda do recurso Viewer & Aligner da suíte de aplicativos Wordsmith Tools
V3. Fizemos uma tabela com os termos escolhidos e o número de ocorrências de cada um
deles nos quatro capítulos para ajudar na verificação da consistência. Observamos que houve
inconsistência na tradução de 80% dos termos selecionados, considerando que nem todos os
termos foram encontrados em ambos os manuais. Dos dez termos selecionados, o manual A
apresentou nove, sendo cinco deles com problema de inconsistência, 55% dos casos. No
manual B, encontramos ocorrências de oito dos dez selecionados, sendo que quatro deles
tiveram problema de inconsistência, ou seja, 50% dos casos. A consistência terminológica é
um requisito importante da tradução técnica, pois sua inobservância pode levar o leitor a
pensar que o tradutor está introduzindo conceitos ou termos diferentes na tradução, em vez
retomar algum termo ou conceito já mencionado.
Palavras-chave: Consistência terminológica, tradução técnica, termos, manual didático de
Química.
ABSTRACT
This work is based on the interdisciplinary research carried out by the Chemistry
Education Department from the Chemistry Institute at Federal University of Rio Grande do
Sul (UFRGS), and the TEXTQUIM research project from the Language Institute at the same
university, in which linguistic aspects were analised in five didactic manuals from General
Chemistry, and were translated into Brazilian Portuguese. In this work the corpus consisted of
two of these manuals: “Chemical Principles” (manual A), “Princípios de Química” in
Portuguese, and “University Chemistry”, “Química: um curso universitário” (manual B) in
Portuguese, whose subject is Chemical Bond, which covers four chapters, two from each
manual. We analised the translation of ten terms selected in English to verify whether they
followed the consistent terminology principle, which states that once a translation is chosen
for a certain term, it must be maintained throughout the whole text. These chapters were
scanned, pasted into Word documents and aligned into paragraphs in L1 (English) and L2
(Portuguese) with the help of Viewer and Aligner feature from the application suite
Wordsmith Tools V3. We organized the selected terms, and the number of occurrences of each
one in the four chapters in a table to help in verifying the terminology consistency. We
noticed that there was inconsistency in the translation of 80% from the selected terms,
considering that not all the terms were found in both of the manuals, among the ten selected
terms, the manual A had nine terms, and five out of them with inconsistency issues, 55% of
the cases. In the manual B, we found occurrences of eight out of the ten selected terms, in
which four had inconsistency issues, that is, 50% of the cases. The terminology consistency is
an important requirement for the technical translation, because if the translator fails to follow
it, the reader might think a new term or concept is being introduced into the translation rather
than referring to a term or concept which was mentioned before.
Keywords: Terminology consistency, technical translation, terms, Chemistry didactic manual.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Davino e Elaine, pelo apoio durante o período desta pós-
graduação e pelo incentivo aos estudos.
Agradeço ao meu marido Ângelo pelo incentivo e pela compreensão nos finais de
semana de ausência por causa das aulas.
Agradeço especialmente à professora do curso de Letras da UFRGS, Maria José
Bocorny Finatto, que foi minha orientadora no projeto TEXTQUIM entre os anos de 2003 a
2005, pelo fornecimento do material para análise deste corpus e pelo incentivo à pesquisa na
área da tradução.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................7
1.1 Consistência terminológica.........................................................................................8
1.2 Justificativa.................................................................................................................10
1.3 Objetivo......................................................................................................................11
1.4 Metodologia................................................................................................................12
2. REFERÊNCIAS TEÓRICAS.......................................................................................13
3. ESTUDO DE CASO.....................................................................................................16
4. CONCLUSÃO..............................................................................................................30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................32
7
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como base a pesquisa interdisciplinar entre a Área de Educação
Química do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
com a coordenação do Prof. Dr. José Cláudio Del Pino, e o projeto de pesquisa TEXTQUIM1
do Instituto de Letras da mesma universidade, com a coordenação da Profª. Drª. Maria José
Bocorny Finatto. Um dos objetivos desse projeto era analisar aspectos linguísticos de cinco
manuais didáticos de Química Geral usados no curso de graduação em Química, todos eles
frutos de tradução do inglês para o português. Como havia queixas de dificuldade na
compreensão dos manuais por parte dos alunos, decidimos verificar se havia problemas na
tradução desses textos por meio da análise de termos, expressões anunciadoras de paráfrase e
advérbios.
Para este trabalho, selecionamos dois desses manuais didáticos em inglês “Chemical
Principles” (manual A) e “University Chemistry” (manual B), cujas traduções para o
português são “Princípios de Química” e “Química: um curso universitário”, respectivamente,
e o corpus consistirá em quatro capítulos, dois de cada manual, que tratam do tema Ligação
Química. O aspecto analisado será a consistência terminológica na tradução de dez termos
frequentes nesses quatro capítulos.
De modo a realizar essa análise, esses quatro capítulos em inglês e português foram
digitalizados, colados em documento Word e alinhados em parágrafos com ajuda do recurso
Viewer & Aligner da suíte de aplicativos Wordsmith Tools V32. Com esse alinhamento, feito
pela equipe de participantes do projeto TEXTQUIM, a análise da tradução pôde ser feita com
mais facilidade para a detecção dos possíveis problemas.
1 A autora participou deste projeto de pesquisa entre os anos de 2003 e 2005, quando cursava a graduação em
Letras Bacharelado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Para obter mais informações sobre o projeto, acesse http://www6.ufrgs.br/textquim/. 2 Versão demonstrativa disponível para download em http://www.lexically.net/wordsmith/version3/index.htm.
8
1.1 Consistência terminológica
Segundo Finatto e Krieger (2004, p. 66), os termos técnico-científicos são elementos-
chave dos textos especializados, pois consistem na expressão própria da comunicação
profissional, o que possibilita que conceitos comuns de uma determinada área sejam
compartilhados e difundidos entre seus especialistas. O tradutor deve conhecer a área em que
está traduzindo para utilizar a terminologia adequada e familiar entre os profissionais, de
modo que quando leiam os textos, observem que o vocabulário específico foi usado
corretamente.
Ao enfrentarem uma série de requisitos textuais para uma prática competente, os
tradutores compreendem que os termos técnicos e científicos consistem numa forma
de expressão própria da comunicação profissional, possibilitando que sejam
objetivamente veiculados conceitos próprios de uma área. É nessa medida que os
termos configuram-se como elementos lingüísticos de representação e de divulgação
do conhecimento, além de funcionarem como recurso para conferir univocidade e,
conseqüentemente, eficácia à comunicação entre especialistas. (op. cit.)
Além da tradução adequada dos termos, outro aspecto deve ser observado, que é a
consistência terminológica. Conforme Norman (2001, p.1), a variação terminológica é válida
em textos criativos, em que não é original usar repetições, mas não em textos técnicos, em que
a variação pode causar confusão na compreensão do leitor. Ou seja, escolhida uma tradução
para um termo X em um determinado texto, esta deve ser mantida até o fim. A inconsistência
na tradução dos termos pode levar o leitor a entender que um novo conceito está sendo
apresentado, em vez da retomada de um conceito previamente mencionado, e também
compromete a coesão e a coerência no texto.
Segundo Koch (2003, p. 16),
a coesão, por estabelecer relações de sentido, diz respeito ao conjunto de recursos
semânticos por meio dos quais uma sentença se liga com a que veio antes, aos
recursos semânticos mobilizados com o propósito de criar textos. A cada ocorrência
de um recurso coesivo no texto, denominam “laço”, “elo coesivo” (grifos da autora).
Já a coerência “responsável pela continuidade dos sentidos no texto, não se apresenta,
pois como mero traço dos textos, mas como o resultado de uma complexa rede de fatores de
9
ordem lingüística, cognitiva e interacional” (op. cit., p. 17). Portanto, a coesão e a coerência
são elementos que estabelecem a estruturação e a relação entre as ideias do textos, e podem
ser comprometidas com a falta de consistência na tradução dos termos.
10
1.2. Justificativa
Os manuais didáticos de Química Geral “Princípios de Química” (manual A) e
“Química: um curso universitário (manual B)” em português eram usados como instrumento
de aprendizagem no curso de graduação em Química da UFRGS e eram alvo de muitas
críticas devido à falta de compreensão por parte dos alunos. Pelo fato de serem manuais
traduzidos, decidimos fazer uma análise da tradução para verificar a incidência (ou não) de
problemas.
Os termos são elementos que fazem parte da difusão do conhecimento dos textos
técnico-científicos, portanto devem ser traduzidos de modo que sejam compreendidos pelos
profissionais da língua-alvo. A observância da consistência terminológica é um dos requisitos
para uma tradução consistente e coesa, fazendo com que o texto fique compreensível para o
público-alvo.
A importância da tradução de termos na tradução técnica e o impacto da inobservância
da consistência terminológica na compreensão do texto traduzido estimularam a elaboração
deste trabalho.
11
1.3 Objetivo
O objetivo deste trabalho é verificar se o princípio da consistência terminológica foi
seguido na tradução de dez termos selecionados na língua de partida em um corpus
constituído de quatro capítulos de dois manuais didáticos de química traduzidos do inglês
para o português. Para enfatizar a importância da tradução adequada e consistente dos termos
em textos técnicos, Rónai (apud OTTONI, 1998, p.1) afirma que
Em regra geral o nível da tradução técnica é mais elevado que o da literária, pelo
menos no que diz respeito à fidelidade. Um erro na versão de uma peça de
Shakespeare, quando muito, indignará um crítico; mas na de uma bula de remédio
ou de um formulário de materiais de construção pode ter conseqüências
imprevisíveis.
Além de serem textos técnicos, os dois manuais são textos didáticos para alunos do
curso de Química e, por isso, a observância da consistência deveria ser mais criteriosa, pois a
introdução de um novo termo impactaria negativamente na compreensão do texto. Com vista
na carga semântica dos termos técnicos em textos especializados e em sua função de difusão
do conhecimento, analisamos a uniformização (consistência) na tradução desses dez termos
ao longo do corpus.
12
1.4 Metodologia
O corpus deste trabalho consiste em quatro capítulos referentes ao tema Ligação
Química do manual A e do manual B em inglês e português, que foram digitalizados e
colados em documentos do Word no projeto TEXTQUIM. Depois, com o auxílio do recurso
Viewer & Aligner do software Wordsmith Tools v.3, a equipe do projeto alinhou os parágrafos
em inglês e português para facilitar a observação da tradução. Para este trabalho, escolhemos
apenas dez termos para análise, e os capítulos foram colados em documento de texto (.txt)
para poderem ser carregados na ferramenta ApSIC XBench3 para visualização dos contextos e
quantificação do número de ocorrências de cada termo.
Para análise quantitativa, fizemos uma tabela com o número de ocorrências de cada
termo em inglês nos quatro capítulos dos dois manuais e outra tabela com o número de
ocorrências de cada termo traduzido. Com a ajuda da ferramenta ApSIC XBench, analisamos
os contextos por meio do recurso de busca de termos na língua de partida e na língua de
chegada.
Dessa maneira, verificamos se os dez termos escolhidos foram traduzidos de modo
consistente dentro do corpus deste trabalho.
3 Versão para download gratuito disponível em http://www.apsic.com/en/products_xbench.html.
13
2. REFERÊNCIAS TEÓRICAS
Partindo da perspectiva de que o tradutor é um especialista em comunicação
intercultural, e não um mediador entre línguas, Azenha (1999, p. 38) nos afirma que
Essa posição de responsabilidade na administração de muitas variáveis redimensiona
o papel do tradutor que, de diletante subjugado a uma visão de linguagem e de texto
marcada pela parcialidade, passa a participante ativo no processo de tradução, nele
atuando como “técnico”, como “especialista” para a produção de textos, cujo
objetivo é viabilizar a comunicação entre culturas.
Visto que a terminologia da tradução deve ser adequada à respectiva área técnica e
levar em consideração elementos culturais, o tradutor deve utilizar a terminologia
adequadamente, contribuindo “para o alcance da precisão semântico-conceitual, requisito que
toda tradução de texto especializado obrigatoriamente requer” (Krieger e Finatto, 2004, p.67).
Anteriormente, foi destacada a relevância do termo na tradução especializada, pois constituem
conceitos próprios de uma área e possibilitam a comunicação profissional. Além da
adequação da tradução dos termos técnicos à área especializada e ao público-alvo, o tradutor
também deve traduzi-los de modo consistente. Conforme Norman (2001, p.1),
Escolha a forma correta da palavra certa e use-a até o fim. Nos cursos de inglês,
provavelmente as pessoas aprendem a variar as palavras por causa da variação. Isso
é válido para textos criativos, mas não para textos científicos. Lembre-se de que essa
variação pode ser confusa. (tradução nossa).
A variação terminológica em textos técnicos também é abordada por Maillot (1975, p.
105), que afirma que “o tradutor não deve se preocupar com a repetição na tradução de textos
técnicos e não deve mudar as traduções dos termos sob o pretexto de variar o estilo”. Tanto a
tradução adequada dos termos quanto a consistência terminológica devem ser observadas pelo
tradutor para não haver estranhamento e interpretações incorretas e/ou ambíguas na leitura do
texto pelos profissionais da área.
Para Azenha (1999, p.12), o tradutor é quem define
14
a partir das características específicas das culturas envolvidas e das instruções da
tarefa de tradução, uma estratégia de trabalho que, ao mesmo tempo, 1) preserve a
referência à instância que transfere o saber científico (...) e 2) possa ser eficaz na
cultura a qual o texto é transportado.
Por isso, ele deve ter conhecimento da linguagem especializada e familiaridade com a
terminologia. Devido a seu caráter especializado, a tradução técnica não permite a variação
terminológica, que acarretaria ambiguidades e/ou problemas na compreensão do texto. Por
exemplo, em um manual de usuário de um aparelho, traduzido para o português, essa variação
poderia resultar no procedimento de uso incorreto do equipamento.
A escolha de palavras, longe de ser determinada de modo aleatório, torna-se
essencial quando o texto original fornece apenas um termo ao qual podemos atribuir
diversos significantes na língua-alvo. Na tradução, essa escolha é fundamental para
que o leitor compreenda o texto da maneira mais próxima possível da (questionável)
intenção do autor (POLCHLOPEK e AIO, 2009, p.11).
O tradutor deve ter um manejo terminológico competente e selecionar na língua de
chegada os termos equivalentes aos usados pelo profissional da língua de partida (KRIEGER
E FINATTO, 2004, p. 67). Obviamente, isso não assegura a total qualidade da tradução
técnica, pois ela não se constitui somente de componentes lexicais especializados. Essa
tipologia de tradução é feita por um indivíduo que colocará sua visão do texto de partida, ou
seja, o texto de chegada incluirá elementos subjetivos.
Segundo Azenha (1999, p. 9), muitos erros em traduções técnicas se devem ao
desconhecimento de uma terminologia específica pelo tradutor. Os textos técnicos eram
considerados um universo à parte de modo distinto dos literários, sujeitos aos ditames do
mercado e à estabilidade de sentido dos termos técnicos. Admitia-se para a tradução técnica a
noção de sentidos estáveis, centrada numa operação de transcodificação, processada à
margem de um enquadramento cultural. Porém, há aspectos subjetivos, incluindo uma
terminologia dinâmica e um elevado número de variáveis.
É certo que a tradução técnica não é de modo algum um exercício literário, mas,
sendo o estilo na verdade a maneira de exprimir o pensamento com o auxílio dos
recursos da língua, os mesmos problemas hão de surgir sempre, qualquer que seja o
domínio no qual se exerce a atividade do tradutor. (MAILLOT apud OTTONI,
1998, p.3).
15
Para Azenha (1999, p.12), a tradução não pode desconsiderar a dimensão cultural. Não
pode ser vista como uma simples substituição de signos, mas como transferência e adaptação
cultural de conteúdos extralinguísticos (op. cit.). Isso também é enfatizado por Rónai (apud
OTTONI, 1998, p.4), “Ainda que o tradutor supere todas as dificuldades da terminologia
técnica, só poderá fazer trabalho satisfatório se manusear com igual eficiência os termos não-
técnicos: verbos, pronomes, conjunções e preposições”.
Portanto, além do conhecimento específico, o tradutor tem que lidar com aspectos
como gramática e interpretação, pois são muito relevantes para o fazer tradutório. O
conhecimento específico envolve o bom emprego da terminologia e a consistência na
tradução dos termos.
16
3. ESTUDO DE CASO
Primeiramente, com a ajuda do recurso de busca de palavras na língua de partida e
língua de chegada da ferramenta ApSIC XBench, fizemos uma tabela com o número de
ocorrências de cada termo em inglês nos quatro capítulos dos dois manuais. A tabela abaixo
mostra os dez termos selecionados para análise.
Termos Chemical Principles University Chemistry
Ligação Química (cap. 2)
Ligação Química (cap. 3)
Valência e ligação química (cap. 6)
A Ligação Química (cap. 11)
Stiff Bond 3 0 0 0
Strong Bond 2 0 2 0
Lattice energy 6 0 0 0
Electron-dot diagram
0 0 40 18
Ionic Bond 15 1 12 17
Dipole moment
8 10 36 9
Electron affinity
9 0 0 10
Electron configuration
19 14 0 8
Fluorine atom 4 5 0 1
Diatomic molecule
10 23 5 4
A partir dessa lista, analisamos a tradução de cada um dos termos. Abaixo, estão os
contextos com os dez termos analisados:
Termo :stiff bond
Manual A
L1: A stiff bond (like a stiff spring) experiences a strong restoring force, even for quite small
displacements, so in this case k is large. A loose bond (like a weak spring) experiences only a
weak restoring force, even for quite large displacements, so its associated k is small.
L2: Uma ligação dura (como uma mola dura) experimenta uma força de restauração forte,
mesmo para deslocamentos relativamente pequenos, então seu k associado é grande. Uma
17
ligação fraca (como uma mola fraca) experimenta uma força de restauração fraca, mesmo
para deslocamentos grandes, de modo que seu k associado é pequeno.
L1: The frequency at which a molecule vibrates depends on the masses of its atoms and the
stiffness of its bonds: a molecule made up of light atoms joined by stiff bonds has a higher
vibrational frequency than one made up of heavy atoms joined by loose bonds.
L2: A freqüência com que a molécula vibra depende da massa de seus átomos e da força de
suas ligações; uma molécula constituída de átomos leves unidos por ligações fortes tem
freqüência vibracional mais alta que uma constituída de átomos pesados unidos por ligações
fracas.
Este termo não teve ocorrências no manual B.
Percebemos que este termo apresenta problemas de inconsistência terminológica no
segundo contexto, no manual A. O termo “ligação forte” tem o seu equivalente na língua de
partida como “strong bond”. Essa tradução poderia acarretar problemas de compreensão do
texto pelo leitor, pois “ligação forte” e “ligação dura” são dois conceitos diferentes.
Termo: strong bond
Manual A
L1: Because of its strong bonds, the polymer is very resistant to chemical attack. Only a tiny
fragment of the polymer molecule is shown here: the actual polymer consists of thousands of
-CF2CF2- units in long chains.
L2: Por causa de suas ligações fortes, o polímero é muito resistente ao ataque químico.
Somente um pequeno fragmento da molécula do polímero é mostrado aqui: o polímero real
consiste de milhares de unidades -CF2CF2- em cadeias longas.
L1: A high dissociation energy indicates a strong bond because a lot of energy has to be
supplied to break the bond. The strongest known bond between two nonmetal atoms is the
triple bond in carbon monoxide, for which the dissociation energy is 1062 kJ.mol-1.
L2: Uma alta energia de dissociação indica uma ligação forte porque muita energia teve que
ser fornecida para quebrar a ligação. A ligação mais forte conhecida entre dois átomos não-
metálicos é a ligação tripla no monóxido de carbono, para a qual a energia de dissociação é
1.062 kJ.mol-1.
18
Manual B
L1: The distance for H2 is 0.7414 x 10-8 cm, or 74.14 pm. Bond distances vary from 1 A to
about 3.5 A. The shorter distances occur in molecules with only a few electrons and in those
with strong bonds.
L2: A distância para o H2 é 0,7414 x 10-8 cm, ou 74,14 pm. As distâncias mais curtas
ocorrem em moléculas com apenas uns poucos elétrons e naquelas com ligações fortes.
L1: Many other atoms do form strong bonds both with their own kind and with other kinds
of atoms. Historically the property of an atom to form bonds was called its valence, and the
thinking that went into the early theories of valence helped develop our present understanding
of chemical bonds.
L2: A maioria, entretanto, forma ligações fortes com átomos da própria espécie e com outros
tipos de átomos. Sob o ponto de vista histórico, a propriedade de um átomo de formar
ligações foi descrita como sendo sua valência.
Notamos que esse termo não apresentou problemas de inconsistência terminológica.
Termo: lattice energy
Manual A
L1: In the last step, we used the relation 1n 2 = 1 -1/2 + 1/3 - 1/4 +. Finally, we multiply V by
2 to obtain the total energy arising from interactions on each side of the ion and then by the
Avogadro constant, NA, to obtain an expression for the lattice energy per mole of ions:
L2: Na última etapa, usamos a relação 1n 2 = 1- 1/2+ 1/3- 1/4 +. Finalmente, multiplicamos V
por 2 para obter a energia total proveniente das interações de ambos os lados do íon e a seguir
pela constante de Avogadro, NA, para obter uma expressão para a energia do retículo por
mol e íons:
L1: Our aim is to calculate the lattice energy of the solid, the difference in potential energy of
the ions between the solid and a gas of widely separated ions (so the lattice energy is
positive). A large lattice energy indicates that the ions interact strongly with one another to
give a strongly bonded solid.
L2: Nosso objetivo é calcular a energia de rede do sólido, a diferença em energia potencial
entre os íons no sólido e a de um gás de íons totalmente separados (assim a energia de rede é
19
positiva). Uma energia de rede grande indica que os íons interagem fortemente entre si para
dar um sólido fortemente ligado.
O manual B não apresentou ocorrências deste termo. Nestes dois contextos,
observamos que houve inconsistência na tradução desse termo.
Termo: electron-dot diagram
Manual B
L1: Question. What are the electron-dot diagrams for F2 and CF4?
L2: Pergunta. Como ficam as estruturas de Lewis para o F2 e o CF4?
L1: Example 6.3 What are the electron-dot diagrams for CN¯ and for formic acid?
L2: Exemplo 6.3. Como fica a representação de Lewis para o CN- e para o ácido fórmico?
L1: For the N atom its valence form to give three bonds is N and the electron-dot diagram
for NH3 is
L2: Para o átomo de N, a representação de sua camada de valência, para formar três ligações é
e o diagrama de Lewis para o NH3 fica
L1: In the electron-dot diagram for HF, the fluorine atom's octet is formed from its 2s
atomic orbital, from the (x and (y molecular orbitals, and by the shared pair in the bond.
L2: Na estrutura eletrônica de Lewis do HF, o octeto do átomo de F é formado pelos
elétrons que ocupam seu orbital atômico 2s, os orbitais moleculares (x e (y e o par de elétrons
compartilhado na ligação.
L1: The exact placement of the H atoms in ethylene is not an important part of the electron-
dot diagram
L2: A colocação exata dos átomos de H no etileno não é uma parte importante da
representação estrutural de Lewis.
L1: The major additional information supplied by the electron-dot diagram is to show that
CH30H has closed octets and should be a Lewis base similar to H2O.
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L2: A informação mais importante transmitida por essas estruturas é que o CH3OH
apresenta octetos completos e que deve c ser uma base de Lewis semelhante a água.
No caso deste termo, encontramos cinco traduções diferentes no manual B. No manual
A, não encontramos ocorrências.
Termo: Ionic bond
Manual A
L1: An ionic bond results from the electrostatic attraction of oppositely charged ions. Once
we know what ions an element is likely to form, we shall be able to predict the formulas of its
compounds and explain some of their properties.
L2: Uma ligação iônica resulta da atração eletrostática de íons com cargas opostas. Desde que
conheçamos quais íons um elemento pode formar, poderemos estar aptos a predizer as
fórmulas de seus compostos e explicar algumas de suas propriedades.
Manual B
L1: If all chemical bonds were ionic, our only problem in describing the chemical bond would
be to decide when electrons jump from one atom to another to form ions. The formation of the
ionic bond will be described in the next section, but here it is sufficient to emphasize that
most chemical bonds are covalent, not ionic.
L2: Se todas as ligações fossem iônicas, bastaria conhecermos as condições necessárias para
que os elétrons pudessem ser transferidos de um átomo para outro para descrever uma ligação
química. A formação da ligação iônica será discutida na próxima seção. No momento,
gostaríamos de frisar que a maioria das ligações químicas são covalentes.
L1: The boiling points are very high for LiCI, NaCI, and some other compounds on the left
side of the table, which is consistent with the picture of ionic bonds, and they are very low for
CCI4, SiCI4, and BCI3, which is consistent with our understanding of covalent bonds.
L2: Os pontos de ebulição são maiores para o LiCl, NaCl e alguns outros compostos do lado
esquerdo da tabela, o que é consistente com o comportamento dos compostos iônicos, e são
muito baixos para o CC14, SiC14 e BC13, como seria esperado para compostos covalentes.
21
O manual A não apresentou inconsistência na tradução deste termo; porém, o manual
B apresentou uma inconsistência, com a tradução por “compostos iônicos”, cujo equivalente
na língua de partida é “ionic compounds”. Observamos que, no primeiro contexto do manual
B, não foi traduzida a última palavra do texto de partida “ionic”, que estaria enfatizando que a
maioria das ligações químicas são covalentes e não iônicas.
Termo: Dipole moment
Manual A
L1: 3.24 There are three different difluoroethenes, C^H^F^, which differ in the locations of
the fluorine atoms. (a) Which of the forms are polar and which are nonpolar? (b) Which has
the largest dipole moment?
L2: 3.24 Existem três diferentes difluoretenos, C,H,F,, que diferem entre si pelas diferentes
localizações dos átomo de flúor, (a) Quais das formas são polares e quais são não-polares? (b)
Qual tem o maior momento dipolar?
L1: In an older notation for dipoles, which is also shown in (43), an arrow of the form +:o+ is
used: the + marks the positive end of the dipole. The debye is named for the Dutch chemist
Peter Debye, who made important studies of dipole moments.
L2: Em uma notação antiga para dipolo que também é mostrada em (43), é usada uma seta na
forma + : o + marca o lado positivo do dipolo. O debye é assim chamado por causa do
químico holandês Peter Debye, que fez importantes estudos dos momentos de dipolo.
Manual B
L1: Polarization In Chapter 6 we showed that the electric dipole moment of NaCI is about
25% smaller than that calculated for ionic bonds.
L2: Polarização No Cap.6 mostramos que o momento de dipolo elétrico do NaCl é cerca de
25 % menor do que o calculado considerando que as ligações são iônicas
L1: The first effect of this polarization is to decrease the dipole moment of the molecule.
This occurs because, as Fig. 11.5 shows, the polarization induces a dipole moment in the Cl-
ion that opposes the ionic dipole moment.
22
L2: O primeiro efeito observado é a diminuição do momento dipolar da molécula. Isto
ocorre devido ao aparecimento de um momento dipolar induzido no íon Cl- que se opõe ao
momento dipolar da molécula, como pode ser observado na Fig.11.5.
Em ambos os manuais, este termo foi traduzido inconsistentemente, “momento
dipolar” e “momento de dipolo”.
Termo: Electron affinity
Manual A
L1: The electron affinity is defined as energy released when an electron attaches to a gas-
phase neutral atom or ion ( Section 1.20). A positive electron affinity represents a released of
energy.
L2: A afinidade eletrônica é definida como a energia liberada quando um elétron liga-se a
um átomo neutro ou a um íon na fase gasosa (Seção 1.20). Uma afinidade eletrônica positiva
representa uma liberação de energia.
L1: The electron affinity of chloride atoms is +349 kJ.mol-1 (see Fig.1.47), so we also know
that 349 kJ.mol-1 of energy is released when electrons attach to chlorine atoms to form anions
in the process
L2: A afinidade eletrônica dos átomos de cloro é +349 kJ.mol-1 (ver Fig. 1.47), assim
sabemos que 349 kJ.mol-1 de energia são liberados quando elétrons são ligados aos átomos
de cloro para formar ânions no processo
Manual B
L1: If the difference between the ionization energy of the electropositive atom and the
electron affinity of the electronegative atom is not too large, the coulombic potential between
ions will stabilize molecules with ionic bonds.
L2: Se a diferença entre a energia de ionização do átomo eletropositivo e a afinidade
eletrônica do átomo eletronegativo não for muito grande, o potencial coulômbica entre os
íons irá estabilizar as moléculas com ligações iônicas.
23
L1: Note that the coulombic potential -U is just equal to 11 + 12 for Ca2+. If we include the
electron affinity. of the two CI atoms, our calculations show that ions can be present in the
CaCl2 molecule.
L2: Note que o potencial coulômbico -U é exatamente igual a I1 + 12, no caso do Ca2+.
Combinando o valor acima com a afinidade eletrônica dos dois átomos de Cl, podemos
concluir que íons podem estar presentes na molécula de CaCl2.
Não encontramos inconsistências na tradução deste termo. Em ambos os manuais, ele
foi traduzido como “afinidade eletrônica”.
Termo: Electron configuration
Manual A
L1: FIGURE 2.5 When a main-group metal atom forms a cation, it loses its valence s- and p-
electrons and acquires the electron configuration of the preceding noble-gas atom. The
heavier atoms in Groups 13 and 14 behave similarly, but the resulting core consists of the
noble-gas configuration and an additional complete subshell of d-electrons.
L2: FIGURA 2.5 Quando o metal de um grupo principal forma um cátion, ele perde seus
elétrons de valência s e p adquire a configuração eletrônica do átomo de gás nobre que o
precede. Os átomos pesados do Grupo 13 e 14 comportam-se similarmente, mas o core
resultante tem configuração do gás nobre acrescida de uma subcamada completa de elétrons
d.
L1: The Lewis symbol for nitrogen, for example, represents the valence electron
configuration 2s22pX12py12pZ1 (see 4), with two electrons paired in an s-orbital and three
unpaired electrons in different p-orbitals.
L2: O símbolo de Lewis para o nitrogênio, por exemplo, representa a configuração dos
elétrons de valência 2s22px12pY12pZ1 (ver 4), com dois elétrons emparelhados no orbital s
e três elétrons desemparelhados nos orbitais p.
L1: In general, that core has an ns2 np6 outer electron configuration, which is called an octet
of electrons. For example, sodium ([Ne]3s1) forms Na+, which has the same electron
configuration as neon ([He]2s22p6).
24
L2: Em geral, este core tem configuração de camada mais externa igual a ns2 np6, que é
conhecida como um octeto de elétrons. Por exemplo, o sódio ([Ne]3s1) forma Na+, que tem a
mesma configuração que o neônio ([He]2s22p6).
Manual B
L1: Example 11.6. Use Fig. 11.17 to predict the electron configuration and bonding in the
lowest triplet state of H2 where its two electrons have unpaired spins.
L2: Exemplo 11.6. Use a Fig.11.17 para prever a configuração eletrônica e a ordem de
ligação do estado triplete de menor energia do H2, no qual seus dois elétrons se encontram
desemparelhados.
No manual A, encontramos inconsistências na tradução deste termo: duas ocorrências
de “configuração dos elétrons”, duas ocorrências de “configuração” e o resto das ocorrências
foi traduzido como “configuração eletrônica”. No manual B, todas as ocorrências de “electron
configuration” foram traduzidas como “configuração eletrônica”.
Termo: Fluorine atom
Manual A
L1: STRATEGY A fluorine atom forms only single bonds, so we anticipate that the Lewis
structure consists of a shared pair between the central S atom and each of the four surrounding
F atoms. However, each F atom has three lone pairs and supplies one bonding electron, and
the S atom already has six electrons in its valence shell. So, there are two extra electrons.
Because sulfur is in Period 3 and has empty 3d-orbitals available, it can expand its octet.
L2: ESTRATÉGIA Um átomo de flúor forma somente ligação simples, assim antecipamos
que a estrutura de Lewis consiste de um átomo de S central, compartilhando um par de
elétrons com cada um dos quatro átomos de F. Entretanto, cada átomo de F tem três pares
isolados e fornece um elétron de ligação, e o átomo de S tem seis elétrons em sua camada de
valência. Assim, há dois elétrons extras. Como o enxofre está no Período 3 e tem seus orbitais
3d disponíveis, ele pode expandir seu octeto.
L1: According to the VSEPR model, the fluorine atoms are farthest apart when four lie in a
square around the equator and the remaining two lie above and below the plane of the square
25
(see Fig. 3.4). By referring to Fig. 3.1, we see that the molecule should be classified as
octahedral. All its bond angles are either 90° or 180°, and all the F atoms are equivalent.
L2: Conforme o modelo VSEPR, os átomos de fluoreto estarão mais afastados entre si
quando quatro átomos se encontrarem em um quadrado localizado no equador e os dois
remanescentes se encontrarem acima e abaixo do plano (ver Fig. 3.4). Observando a Figura
3.1. podemos classificar a molécula como octaédrica. Todos os seus ângulos de ligação são
iguais a 90° ou a 180° e todos os átomos de F são equivalentes.
Manual B
L1: The (x and (y nonbonding orbitals result largely from the 2px and 2py atomic orbitals on
the F atom. In the electron-dot diagram for HF, the fluorine atom's octet is formed from its
2s atomic orbital, from the (x and (y molecular orbitals, and by the shared pair in the bond.
L2: Os orbitais não-ligantes (x e (y são provenientes dos orbitais atômicos 2px e 2py do flúor.
Na estrutura eletrônica de Lewis do HF, o octeto do átomo de F é formado pelos elétrons que
ocupam seu orbital atômico 2s, os orbitais moleculares (x e (y e o par de elétrons
compartilhado na ligação (.
Observamos que este termo foi traduzido de duas maneiras no manual A: “átomo de
flúor” e “átomo de fluoreto”, os quais são elementos diferentes, pois o fluoreto é a forma
iônica do flúor4.
No manual B, o termo tem somente uma ocorrência que aparece com o símbolo do
flúor, F. Como na frase anterior esse símbolo é mencionado, o tradutor optou por traduzi-lo
por “flúor”, e traduzir o elemento químico por extenso, “fluorine”, pelo símbolo F.
Termo: Diatomic molecule
Manual A
L1: Tables 2.1 and 2.2 give a selection of typical dissociation energies. Apart from the values
for diatomic molecules, the values given in the table are average dissociation energies for a
range of molecules. For instance, the strength quoted for a C - O single bond is the average
strength of such bonds in a selection of organic molecules, such as methanol (CH3 - OH),
ethanol (CH3CH2 - OH), and dimethyl ether (CH3 - O - CH3).
4 Esta informação foi obtida do “Guia de recomendação para o uso de fluoretos do Brasil” na página da Web do
Ministério da Saúde em http://cfo.org.br/wp-content/uploads/2010/02/livro_guia_fluoretos.pdf.
26
L2: As Tabelas 2.1 e 2.2 dão uma seleção de energias típicas de dissociação. Embora os
valores sejam dados para moléculas diatômicas, os valores contidos na tabela são a média
das energias de dissociação para uma coletânea de moléculas. Por exemplo, a força estimada
para uma ligação simples C - O é a média das forças desta ligação para uma seleção de
moléculas orgânicas, tais como metanol (CH3 - OH), etanol (CH3CH2 - OH), e dimetileter
(CH3 - O - CH3).
Manual B
L1: In addition, it is a diatomic molecule, and the structure of H2 depends only on a single
bond distance. For the molecule CH4 we can again assume that only the hydrogen 1s orbitals
are involved, but the carbon must utilize its 2s, 2px, 2py, and 2pz orbitals.
L2: Além disso, o hidrogênio é uma molécula diatômica e sua estrutura depende
exclusivamente de uma única distância de ligação. No caso da molécula CH4, novamente,
precisamos supor que apenas os orbitais ls do H estão envolvidos, mas o carbono usa seus
orbitais 2s, 2p x' 2p y e 2p z
L1: Table 6.6 gives values for the bond energies and equilibrium bond distances of some
diatomic molecules. The values of re can often be determined very accurately from
spectroscopic examination of the gaseous molecules, and we know the distances between the
nuclei in diatomic molecules to great accuracy.
L2: Na Tabela 6.6. são dados os valores das energias de ligação e das distâncias de equilíbrio
para algumas moléculas biatômicas. Os valores de re podem ser determinados pelo exame
espectroscópico das moléculas gasosas, de forma que conhecemos as distâncias entre os
núcleos em moléculas biatômicas com grande precisão.
No manual A, verificamos somente uma tradução para esse termo, “molécula
diatômica”. Por outro lado, no manual B, encontramos além de “molécula diatômica”, uma
segunda tradução, “molécula biatômica”, comprovando a inconsistência na tradução desse
termo no manual B.
Na tabela a seguir, quantificamos as traduções encontradas para cada um dos dez
termos selecionados. É importante observarmos que os plurais de cada termo também entram
na contagem das traduções.
Termos Princípios de Química Química: um curso universitário
27
Ligação Química (cap. 2)
Ligação Química (cap. 3)
Valência e ligação química (cap. 6)
A Ligação Química (cap. 11)
Stiff Bond Ligação dura (2), Ligação forte (1)
0 0 0
Strong Bond Ligação forte (2) 0 Ligação forte (2) 0
Lattice energy Energia do retículo (2), Energia de rede (4)
0 0 0
Electron-dot diagram
0 0 Representação de Lewis (5), Estrutura de Lewis (22), Estrutura (2), Diagrama de Lewis (1), Representação estrutura de Lewis (1)
Estrutura de Lewis (12), Estrutura eletrônica de Lewis (2), Diagrama de Lewis (3)
Ionic Bond Ligação iônica (15) Ligação iônica (1)
Ligação iônica (7), Compostos iônicos (1)
Ligação iônica (14)
Dipole moment
Momento de dipolo (6), Momento dipolar (1)
Momento de dipolo (7), Momento dipolar (3)
Momento de dipolo (22), Momento dipolar (10)
Momento de dipolo (3), Momento dipolar (4)
Electron affinity
Afinidade eletrônica (9)
0 0 Afinidade eletrônica (11)
Electron configuration
Configuração eletrônica (14), Configuração dos elétrons (1), Configuração (2)
Configuração eletrônica (13), Configuração (1)
0 Configuração eletrônica (7)
Fluorine atom Átomo de flúor (4), Átomo de flúor (3), Átomo de fluoreto (2)
0 Átomo de F (1)
Diatomic molecule
Molécula diatômica (10)
Molécula diatômica (23)
Molécula diatômica (1), Molécula biatômica (4)
Molécula diatômica (3)
Observamos que algumas contagens de termos não coincidem com o número de
termos no texto de partida, devido à omissão e adição de alguns termos no texto de chegada.
28
Por exemplo, no capítulo 6 do manual B, encontramos 36 ocorrências para o termo “dipole
moment”, mas no texto de chegada do mesmo manual encontramos 22 ocorrências.
L1: It is a sum over each charge in the molecule multiplied by the coordinate of each charge
in any convenient axis system. Thus the dipole moment is a vector that points from the
negative to positive charge. The x component of the dipole moment is given by
L2: Matematicamente, o momento é dado pela soma de cada carga na molécula multiplicada
pela coordenada correspondente, em um sistema conveniente de eixos. O componente x do
momento de dipolo é dado por
Neste contexto, percebemos que a frase em que está o primeiro “dipole moment” na
L1 foi omitida na L2, e isso, consequentemente, refletiu nas contagens. Como exemplo de
adição de termo em L2, temos o seguinte exemplo:
L1: While we do not know the electron affinity for O-, we can assume that it is only slightly
negative since 02 -is a closed-shell ion.
L2: Apesar de não conhecermos a afinidade eletrônica do O-, podemos supor que seja um
pouco mais negativa do que a afinidade eletrônica do O2-, pois este é um íon de camada
fechada.
A segunda ocorrência de “afinidade eletrônica” não existia em L1 e foi adicionada em
L2.
Como o texto traduzido tem uma função comunicativa, nesse caso, são manuais
didáticos que visam ao ensino de Química aos alunos, o tradutor deve saber o público-alvo do
texto que está traduzindo e ter plena consciência das consequências que seus atos que
“fogem” ao texto de partida, como adições, omissões e inconsistências podem acarretar. Na
tradução técnica, as consequências podem ser desastrosas, por exemplo, uma inconsistência
na tradução de um termo em um manual de um trator pode levar ao mau funcionamento do
equipamento. No caso de nossa análise, são manuais didáticos que tem a função de ensinar
Química aos alunos, e esses problemas reportados podem comprometer o aprendizado e,
conforme mencionado anteriormente, confundir a compreensão do texto.
Para Azenha (1999, p. 37), é importante observar a função comunicativa do texto.
29
(...) função comunicativa do texto, uma noção central dessa orientação dos estudos
tradutológicos. Entre os autores, parece haver um consenso em torno do fato de que,
uma vez definida, a função comunicativa da tradução — e é bom esclarecer que não
se trata aqui da função comunicativa do TP, mas sim da função comunicativa do TC,
na situação e na cultura de chegada —, é a bússola que deverá nortear toda estratégia
de produção da tradução.
O autor afirma que o tradutor é o responsável pela adequação do texto de chegada ao
público e à cultura-alvo (na citação acima, TP é texto de partida, e TC, texto de chegada). No
caso dos manuais de Química, tanto o manual em inglês quanto o manual em português tem a
mesma função didática e se destinam a alunos. Por isso, embora não exista uma tradução
possível para um texto, pois toda tradução carrega as escolhas tradutórias e a visão do tradutor
perante o texto, o tradutor deve pesquisar a terminologia da área do texto técnico para obter o
máximo de precisão, podendo até consultar profissionais da área.
Um dos critérios para um texto técnico ter mais aceitação na língua de chegada é o uso
de uma terminologia apropriada.
Sob o enfoque aplicado, uma utilização adequada da terminologia contribui para o
alcance da precisão semântico-conceitual, requisito que toda tradução de texto
especializado obrigatoriamente requer. Além dessa qualificação, a transposição de
uma língua para outra dos termos próprios de uma área confere ao texto traduzido
grande parte das características expressivas comumente usadas pelos profissionais
do mesmo campo de atuação. (KRIEGER e FINATTO, 2004, p. 67)
Portanto, a tradução adequada dos termos e a consistência dessa tradução tornam o
texto de chegada familiar aos profissionais da área que o usarão.
30
4 CONCLUSÃO
Vimos neste trabalho a importância dos termos na tradução técnica e como eles
auxiliam na divulgação do conhecimento especializado, sendo que o tradutor deve ter um
manejo terminológico competente para fazer com que o texto seja bem recebido na língua de
chegada e tenha aceitação dos profissionais da área, que têm familiaridade com os termos.
Além da tradução adequada à área especializada dos termos, o tradutor deve traduzi-los de
modo consistente ao longo do material, de modo a retomar o que já foi mencionado
anteriormente e não introduzir variações que podem levar o leitor a pensar que um conceito
novo está sendo apresentado.
Na análise da tradução dos dois manuais de Química selecionados, o escopo foram dez
termos na língua de partida e suas respectivas traduções na língua de chegada. Observamos
que houve inconsistência na tradução de oito, dos dez termos selecionados, isto é, em 80%
dos casos. Considerando que nem todos os termos foram encontrados em ambos os manuais,
dos dez termos selecionados, o manual A apresentou nove, sendo cinco deles com problema
de inconsistência, 55% dos casos. No manual B, encontramos ocorrências de oito dos dez
selecionados, sendo que quatro deles tiveram problema de inconsistência, ou seja, 50% dos
casos.
Dessa maneira, percebemos que a porcentagem de inconsistências é significativa e
pode ser uma das causas da dificuldade na compreensão dos textos por parte dos alunos do
curso de Química. Notamos também que houve adições e omissões de frases e parágrafos,
principalmente no manual B, o que compromete ainda mais a compreensão do texto.
Segundo Cechin, Contini e Finatto (2009, p. 33), o nível de intervenção do tradutor no
texto original afeta o entendimento do texto.
A intervenção do tradutor pode ser “facilitadora de compreensão” ou pode resultar
em dificuldades de compreensão para os seus leitores, estudantes iniciantes de
graduação. Há que se considerar a possibilidade e as conseqüências didáticas de
casos de apagamentos e inserções em enunciados que contenham explicações
fundamentais sobre determinados conceitos de Química.
Obviamente, levamos em consideração que o texto de chegada carrega a interpretação
do tradutor perante o texto de partida e que a tradução fica com escolhas pessoais do tradutor,
pois um texto de partida pode ter várias traduções possíveis. Entretanto, inserções e
31
apagamentos de parágrafos e enunciados tornam-se intervenções críticas, visto que o tradutor
poderia, então, escrever um texto próprio, e não fazer uma tradução.
Conforme Snell-Hornby (1998, p. 2, apud Azenha, 1999, p. 53),
“a tradução começa com o texto-em-situação que é parte integrante de um pano de
fundo cultural (...). Ademais, o texto não pode ser visto como um exemplar estático
da língua (...), mas fundamentalmente como expressão verbalizada da intenção de
um autor, tal como entendida pelo tradutor-leitor, que então recria este todo para
outro grupo de leitores em outra cultura. Este processo dinâmico explica porque as
obras literárias são constantemente retraduzidas e porque não existe a tradução
perfeita”. (grifos do autor).
No caso desses manuais, que são instrumentos de aprendizagem, as consequências dos
apagamentos de frases e parágrafos e da inconsistência na tradução de termos são muito
negativas, pois os leitores, que são alunos, não conseguem entender o conteúdo dos textos.
Portanto, concluímos que o tradutor deve ser cuidadoso na tradução dos termos técnicos, pois
eles desempenham um papel muito importante na tradução técnica, e deve sempre manter
uma uniformização (consistência) no texto de chegada. Há ferramentas de tradução que
ajudam a manter a uniformização dos termos, como ApSIC XBench, muito útil para os
tradutores que trabalham com tradução especializada.
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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America: Ed. Freeman, 1998.
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Advérbios terminados em –mente (L2) e em –ly (L1): um estudo sobre condições de tradução
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33
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