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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO CURSO DE TURISMO PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO ARQUEOLÓGICO EM RIO CLARO - RJ POR MEIO DA VISITAÇÃO DAS RUÍNAS DE SÃO JOÃO MARCOS THAIS ARANTES PADINHA Niterói 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TU RISMO

CURSO DE TURISMO

PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO ARQUEOL ÓGICO EM RIO CLARO - RJ POR MEIO DA VISITAÇÃO DAS RUÍNAS DE SÃO JOÃO

MARCOS

THAIS ARANTES PADINHA

Niterói

2009

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THAIS ARANTES PADINHA

PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO ARQUEOL ÓGICO EM RIO CLARO - RJ POR MEIO DA VISITAÇÃO DAS RUÍNAS DE SÃO JOÃO

MARCOS

Trabalho de Conclusão do Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

ORIENTADORA: Prof. M.Sc. TELMA LASMAR GONÇALVES

Niterói

2009

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THAIS ARANTES PADINHA

PROPOSTAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO ARQUEOLÓGICO EM RIO CLARO - RJ POR MEIO DA VISITAÇÃO DAS RUÍNAS DE SÃO JOÃO

MARCOS

Trabalho de Conclusão do Curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense, apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Niterói, 03 de Julho de 2009. ____________________________________________

Profª. M.Sc.Telma Lasmar Gonçalves, Orientadora - UFF

__________________________________________ Prof. Dr. Aguinaldo César Fratucci, UFF - Convidado

_________________________________________ Profª. Esp. Simone Dantas Costa, UFF

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Sergio e Denise, por me apresentarem São João Marcos e

despertarem em mim tanto interesse pela história do local.

Aos meus irmãos, Lucas e Gabriel, por dividirem comigo as trilhas, banhos de rio e

as aventuras em Rio Claro.

Aos meus amigos, pelo apoio e compreensão da minha ausência e estresse.

A professora e orientadora Telma, pela paciência, atenção e conhecimento

compartilhado.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e de Turismo de Rio Claro, pela

disposição em me ajudar sempre.

A ONG Instituto Cultural Cidade Viva, por compartilhar as informações técnicas do

projeto Parque das Ruínas de São João Marcos.

A todos que, de alguma forma, contribuíram pra a realização desse trabalho.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Foto das ruínas de Xunantunich – Belize 22

Figura 2: Foto de Macchu Picchu – Peru 23

Figura 3: Foto dos Guerreiros de Xi’an 24

Figura 4: Foto das ruínas de Pompéia – Itália 26

Figura 5: Foto das ruínas de São Miguel Arcanjo/RS 27

Figura 6: Foto das escavações no Parque Estadual de Canudos / BA 28

Figura 7: Foto das ruínas no Parque Estadual de Canudos / BA 29

Figura 8: Objetivos do Planejamento Turístico 33

Figura 9: Processo de Planejamento – Esquema básico 34

Figura 10: Planta de São João Marcos e arredores 40

Figura 11: Foto da maquete de reconstrução do extinto município 40

Figura 12 Mapa digital da Serra das Araras, indicando a Represa de

Ribeirão das Lages

41

Figura 13: Mapa de localização e acesso a São João Marcos 45

Figura 14: Foto da Trilha da Independência / São João Marcos 48

Figura 15: Pescaria na Represa Ribeirão das Lages 48

Figura 16: Foto da cachoeira de Santana – Rio Claro 49

Figura 17: Foto da restauração de documentos do antigo município de São

João Marcos

50

Figura 18: Casa de Cultura de Rio Claro 50

Figura 19: Foto da prospecção / estudo do potencial Arqueológico nas

ruínas de São João Marcos- IAB

52

Figura 20: Foto da área das ruínas de São João Marcos sendo utilizada

como pasto

55

Figura 21: Foto da área das ruínas de São João Marcos sendo utilizada

como estacionamento

55

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LISTA DE ABREVIATURAS

AART/RJ – Associação de Artesãos e Produtores Rudimentares do Estado do Rio

de Janeiro

CEDAE – Companhia de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro

CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CNRC – Centro Nacional de Referência Cultural

IAB – Instituto de Arqueologia Brasileiro

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEF / RJ – Fundação Instituto Estadual de Florestas do Rio de Janeiro

INEPAC – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural

ISS – Imposto sobre Serviços

IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

LIGHT – The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Co. Ltd.

Mtur – Ministério do Turismo

OMT – Organização Mundial de Turismo

ONG – Organização Não-Governamental

PIB – Produto Interno Bruto

PRCH – Programa de Reconstrução das Cidades Históricas

PRODETUR – Programa de Desenvolvimento do Turismo

SISTUR – Sistema Turístico

SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

SWOT – Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats

TurisRio – Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do Estado do Rio de Janeiro

UNESCO - Órgão da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e

Cultura

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RESUMO

Este estudo trata da proposta de estruturação e desenvolvimento do turismo no

município de Rio Claro, no Estado do Rio de Janeiro, por meio da visitação dos

vestígios arqueológicos da extinta cidade de São João Marcos, atualmente distrito

de Rio Claro. Para isso, analisa-se a construção do conceito de patrimônio cultural e

seu contexto no turismo arqueológico e a importância de um planejamento

participativo para o desenvolvimento sustentável dessa prática. Uma série de

diretrizes são sugeridas para orientar as atividades turísticas esperadas com a

visitação das ruínas históricas no município de Rio Claro e assegurar que elas

ocorram de forma adequada e compatível aos objetivos do município.

Palavras Chaves : Turismo arqueológico. Planejamento participativo. Rio Claro - RJ.

São João Marcos.

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ABSTRACT

This study is about the tourism structuring and development of Rio Claro city, located

in Rio de Janeiro State, through the visitation of the archeological tracks of São João

Marcos’ extinct city, nowadays the district of Rio Claro. With that purpose, the

construction of the cultural patrimony concept and his context in the archeological

tourism was analyzed and the importance of a participative planning for the

maintainable development of that practice. Some guidelines were suggested to

guide the tourist activities trough the visitation of the historical ruins in the city of Rio

Claro and to assure that they will occur in an appropriated way according to the

objectives of the city and its population.

Key-words: Archeological tourism. Participative planning. Rio Claro – RJ. São João

Marcos.

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INDÍCE

1. INTRODUÇÃO 10

2 TURISMO CULTURAL EM SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS 13

2.1 A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE PATRIMÔNIO

CULTURAL

14

2.2 TURISMO E CULTURA 17

2.3 TURISMO E ARQUEOLOGIA 19

2.3.1 Exploração Internacional dos Atrativos do Arqueoturismo 21

2.3.1.1 Belize 22

2.3.1.2 Peru 23

2.3.1.3 China 24

2.3.1.4 Pompéia 26

2.3.2 Exploração dos Atrativos do Arqueoturismo no Brasil 27

2.3.2.1 São Miguel das Missões (RS) 27

2.3.2.2 Belo Monte ou Arraial dos Canudos (BA) 28

3 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO DO TURISMO 31

4 A EXTINTA SÃO JOÃO MARCOS E O ATUAL MUNICÍPIO

DE RIO CLARO

38

4.1 LOCALIZAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA

SITUAÇÃO ATUAL

44

4.1.1 Análise Macroambiental 55

5 PROPOSTAS DE DIRETRIZES DE DESENVOLVIMENTO DO

TURISMO NO MUNICÍPIO DE RIO CLARO POR MEIO DO

SÍTIO ARQUEOLÓGICO DE SÃO JOÃO MARCOS

59

5.1 DIRETRIZES GERAIS DE DESENVOLVIMENTO DO

TURISMO NO MUNICÍPIO DE RIO CLARIO

60

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5.1.1 Diretriz 1 - Organização, informação e comunicação 60

5.1.2 Diretriz 2 – Articulação e incentivo 62

5.1.3 Diretriz 3 – Capacitação 64

5.1.4 Diretriz 4 - Envolvimento das comunidades 65

5.1.5 Diretriz 5 - Infra-estrutura 66

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

68

REFERÊNCIAS

71

APÊDICE A - RIO CLARO / RUÍNAS DE SÃO JOÃO

MARCOS

76

ANEXO A - RIO CLARO / RUÍNAS DE SÃO JOÃO MARCOS

79

ANEXO B – ESTRADA RIO CLARO/MANGARATIBA -

PRODETUR

80

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1 INTRODUÇÃO

O turismo tem se transformado em um fenômeno de grande importância para

a sociedade. O fator econômico foi o primeiro a despertar atenção para esta

atividade, vista como geradora de emprego e renda através dos benefícios diretos e

indiretos que proporciona. De acordo com Coriolano (1998, p. 9), “a importância e o

significado do turismo no mundo tem crescido de forma tão expressiva que vem

dando a esta atividade lugar de destaque na política geoeconômica e na

organização espacial, vislumbrando-se como uma das atividades mais promissoras

para o futuro milênio”.

Mas o turismo não é apenas responsável pela geração de renda e empregos

no setor econômico de uma sociedade. Ele age também na esfera social, ecológica

e cultural, por meio de “um processo cuja ocorrência exige a interação destes

sistemas com atuações que se somam para levar ao efeito final”. (BENI, 2001, p.18)

Com ênfase no âmbito cultural, o turismo “mantém a continuidade cultural,

forma um nexo dos povos com o seu passado” e tem sido “tradicionalmente

empregado para revalorizar culturas e lograr que as mesmas sejam conhecidas pela

humanidade”. (SIMEL apud BARRETTO, 2000, p. 43; ACERENZA, 2000, p. 123)

É nesse contexto que o turismo, em especial, o segmento turístico

denominado turismo arqueológico ou arqueoturismo se destaca. Ele aparece como

um instrumento capaz de proteger, promover e potencializar o patrimônio

arqueológico, além de proporcionar ao residente e visitante o acesso aos

testemunhos do passado anteriormente restritos aos arqueólogos.

A arqueologia se integra ao turismo quando o conhecimento observado e

produzido por meio das prospecções e escavações em sítios arqueológicos

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transcende o meio acadêmico disponibilizando-se o local estudado para visitação

das camadas mais amplas da população.

No entanto, o desenvolvimento desordenado da atividade turística em sítios

arqueológicos tem acelerado o processo de degradação dessas áreas. Isso porque,

na maioria dos casos, tal atividade é praticada de maneira incorreta, sem

planejamento, estudos ou políticas que ordene e estruture o desenvolvimento do

turismo com a utilização do patrimônio cultural.

O sítio arqueológico de São João Marcos, localizado no município de Rio

Claro, no Estado do Rio de Janeiro, está inserido nesse contexto. Atualmente, há um

grande interesse municipal em desenvolver o turismo, ainda incipiente no município,

utilizando o sítio arqueológico como principal atrativo, no entanto, sem considerar a

estruturação da atividade, através de um planejamento turístico.

Assim, o problema abordado nesse trabalho é como estruturar e desenvolver

o turismo arqueológico no município de Rio Claro, de forma a envolver a

comunidade local nesse processo, por meio de um planejamento turístico integrado

e participativo, possibilitando o desenvolvimento sustentável da atividade, que

garanta a preservação dos atrativos e proporcione a melhoria da qualidade de vida

da comunidade.

O objetivo geral dessa pesquisa é analisar a situação turística atual de Rio

Claro e avaliar a gestão anterior e atual da Secretaria de Desenvolvimento

Econômico e de Turismo do município, além de indicar uma série de diretrizes a

serem seguidas para garantir o desenvolvimento planejado do turismo,

acompanhando a criação do parque. Esse estudo buscou, ainda, fazer o

levantamento histórico do extinto município de São João Marcos, conceituar

patrimônio cultural e analisar seu contexto no turismo cultural, mais especificamente,

no turismo arqueológico; avaliar os impactos positivos e negativos da utilização de

sítios arqueológicos na atividade turística, por meio de exemplos no Brasil e no

exterior.

A metodologia utilizada para a realização deste estudo descritivo-exploratório

consistiu de pesquisas bibliográfica, documental, além de um levantamento de

dados realizado por meio de entrevistas com a ex-secretária de Desenvolvimento

Econômico e de Turismo do município de Rio Claro, Elvira Brum, com funcionários

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da atual gestão da Secretaria e com a Organização Não Governamental Instituto

Cultural Cidade Viva.

O trabalho estrutura-se em seis capítulos incluindo a presente abordagem

introdutória.

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2 TURISMO CULTURAL EM SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS

O turismo cultural é um dos segmentos que mais crescem em todo mundo.

De acordo com pesquisa feita pelo Ministério do Turismo1, ele aparece em terceiro

lugar na preferência daqueles que viajam pelo Brasil, só perdendo para o ecoturismo

e turismo de aventura. Devido à diversidade de seus atrativos, o Brasil tem um

grande potencial para o desenvolvimento do turismo cultural e para a estruturação

de novos produtos diferenciados.

À medida que o processo de globalização uniformiza padrões, aumenta a

motivação e o desejo das pessoas em ver e conhecer outras culturas, fugir do “não-

lugar”. “A procura é pela cultura atual e também passada. Assiste-se a uma procura

sem precedentes por lugares históricos, ligados a petite histoire ou aos grandes

feitos da história política e social mais ampla.” (BARRETTO, 2000, p. 22) Pires

(2002, p. 9) afirma que “o amadurecimento da população mundial nos países com

renda suficiente para empreender viagens de turismo... terá como conseqüência

direta o crescimento do turismo cultural”.

Por outro lado, o crescimento e a exploração desordenada de visitantes

podem e têm provocado a degradação de alguns patrimônios culturais. A

observação comum a respeito dos impactos culturais é que “o turismo reduz os

povos e sua cultura a objetos de consumo e ocasiona desajustes na comunidade

receptora”. (JAFARI, 1994, p. 12 apud BARRETTO, 2000, p. 30)

1 Pesquisa encomendada pelo Ministério do Turismo, cujos resultados foram disponibilizados no site deste Ministério, em março de 2006, sobre a Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil: Prodetur NE II e Prodetur Sul acerca das preferências daqueles que viajam pelo país.

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Nos últimos anos, contudo, houve uma sensibilização para a importância da

conservação do patrimônio cultural para a humanidade. Os turistas não

institucionalizados (Cohen, 1972 apud BARRETTO, 2000, p.26) – aqueles que

organizam sua própria viagem – procuram um contato autêntico com a população

local, fazendo questão de respeitar o modo de vida desta última, sem pretender

impor seus gostos, seus valores e seu ritmo de vida.

Percebe-se atualmente o aumento da oferta de atrações e eventos

tradicionais como produtos turísticos e uma tendência na revitalização de sítios

arqueológicos e núcleos históricos urbanos, na criação e desenvolvimento de

museus e centros culturais com o intuito de atrair o turista. O uso dos recursos

culturais para fins turísticos é cada vez mais freqüente e tem possibilitado a

revitalização de inúmeras localidades, compatibilizando os interesses da

preservação e da valorização da memória histórica, do crescimento econômico e do

desenvolvimento social.

No entanto, para que o turismo cultural cause o menor impacto possível e

promova o desenvolvimento local, torna-se necessária a elaboração de um

planejamento turístico que considere os impactos culturais da atividade, a

comunidade receptora e a capacidade de carga das áreas.

A existência de uma demanda em busca por um contato com novas culturas,

costumes, patrimônios que remetem ao passado, faz com que a preservação desses

elementos sejam essenciais para o surgimento e perpetuação do turismo cultural.

Assim, é de extrema importância a criação de instrumentos de proteção de todo e

qualquer patrimônio cultural com relevante potencial tanto para garantir a qualidade

da atividade turística, como para garantir o desenvolvimento local.

2.1 A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE PATRIMÔNIO CULTURAL

O homem tem o passado como referência, representado por aquilo que nos

habituamos a denominar patrimônio. “O patrimônio cultural é o conjunto de bens

materiais e imateriais que foi reconhecido como expressão fiel e legítima de um

determinado período, de um grupo, um legado da história, da riqueza e do poder de

uma sociedade”. (FORTE, 2006, p. 19) No entanto, perde-se no tempo o

entendimento do conceito de patrimônio. Camargo (2008) afirma a “inexistência do

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conceito de patrimônio histórico em outras sociedades, que não aquelas advindas da

Revolução Industrial em fins do século XVIII”. Para Rodrigues (2003, p. 16), essa

“criação de patrimônios nacionais” intensifica-se no século XIX.

A Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação

(UNESCO) órgão responsável pela definição de regras e proteção do patrimônio

histórico e cultural da humanidade, no âmbito mundial, faz a seguinte descrição

sobre patrimônio cultural:

[...] compreende a criação isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo uma significação histórica. (II CONGRESSO, 1964)

O conceito de patrimônio é resultado de um processo histórico e está

relacionado diretamente com a questão de acumulação e propriedade. O patrimônio

cultural, mais do que um fenômeno social de importância política, procura fornecer

um sentido de pertencimento a um determinado grupo social.

O patrimônio cultural, mais do que atrativo turístico, é fator de identidade cultural e de memória das comunidades, fonte que as remete a uma cultura compartilhada, a experiências vividas, a sua identidade cultural e, como tal, deve ter seu sentido respeitado. (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2006)

Até a primeira metade do século passado, patrimônio cultural esteve

intimamente associado com o conceito de propriedade, de obras de arte

consagradas, propriedades de grande luxo, sempre ligadas às classes dominantes.

Entendia-se patrimônio como arquitetura, pintura e escultura.

A mudança no conceito de patrimônio cultural para algo muito mais amplo,

que passou a incluir também todo o fazer humano e a cultura dos menos

favorecidos, se consolidou após a Segunda Guerra Mundial, quando houve uma

mudança de comportamento.

Nessa esteira, o patrimônio deixou de ser definido pelos prédios que abrigaram reis, condes e marqueses e pelos utensílios a eles pertencentes, passando a ser definido como o conjunto de todos os utensílios, hábitos, usos e costumes, crenças e forma de vida cotidiana de todos os segmentos que compuseram e compõem a sociedade. (BARRETO, 2000, p. 11)

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No Brasil, a política de proteção ao patrimônio se inicia e se concretiza,

efetivamente, a partir do anteprojeto para a criação de um órgão que legislasse e

executasse a preservação dos bens culturais, criado por Mário de Andrade, a pedido

do então, Ministro da Educação Gustavo Capanema, durante o Estado Novo.

O anteprojeto de Mário de Andrade, como afirma Fonseca (1997), por ter

desenvolvido uma concepção de patrimônio bastante avançada para seu tempo e,

até mesmo, antecipando-se às discussões que resultaram na elaboração da Carta

de Veneza de 1964, teria, ainda o mérito de reunir “num mesmo conceito – arte –

manifestações eruditas e populares e defendeu o caráter, ao mesmo tempo,

particular/nacional da arte autêntica, ou seja, a que merece proteção”. (MARTINS

apud FONSECA, 1997, p. 4)

As diretrizes desse anteprojeto deram origem ao Serviço do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), que foi criado pelo Decreto-Lei nº. 25 em 30

de novembro de 1937, com o objetivo de regulamentar a proteção do patrimônio

histórico nacional. Entretanto, a política autoritária do período acrescida da

dificuldade, por parte do povo e da intelectualidade, para absorver a importância da

preservação do patrimônio, limitou as políticas públicas de preservação,

‘privilegiando a preservação de “pedra e cal” em detrimento dos fazeres e saberes

que hoje constituem patrimônio imaterial’.(FORTE, 2006, p. 20)

Nesse panorama, o Brasil buscou, por meio das diretrizes gerais

estabelecidas de acordo com organismos internacionais, um modo que tornasse

possível a conciliação da preservação do patrimônio cultural, o desenvolvimento

econômico e uma maior participação social sobre os rumos da cultura no país.

Como resultado, houve a fusão do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional (SPHAN) com o Programa de Reconstrução das Cidades Históricas

(PRCH) e com o Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), ocorrida em 1979,

aspecto fundamental na construção do atual conceito de patrimônio cultural.

Nos anos 80 e 90 do século XX, ocorreram mudanças na estrutura

administrativa do Estado que culminou com a criação do Ministério da Cultura, órgão

desvinculado do Ministério da Educação. Além disso, a instalação da Constituinte

Brasileira em 1988, também foi um marco considerável na mudança de pensamento

do conceito de patrimônio, uma vez que as forças dos partidos de esquerda, dos

grupos intelectuais e dos órgãos de cultura “juntaram-se para construir um conceito

de patrimônio cultural mais vivo, mais popular e, acima de tudo, que favorecesse o

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exercício de cidadania, processo que vinha sendo construído desde os anos 70”.

(MARTINS, 2006, p. 11)

No artigo 216, da Constituição Federal verifica-se a conceituação do

patrimônio cultural, incluindo bens de natureza material e imaterial. Essa

conceituação constitucional vai de encontro com a teoria moderna de patrimônio

cultural, “que considera o valor cultural de um bem imaterial a ser tutelado”.

(RODRIGUES, 2006, p. 475)

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. (BRASIL, 1988)

Amparado por mecanismos legais, o patrimônio cultural brasileiro pode ser

utilizado para fins turísticos, desde que de forma responsável, respeitando os

princípios legais e pensando na preservação do mesmo.

2.2 TURISMO E CULTURA

“O turismo tem se transformado em um fenômeno de notável importância nas

sociedades modernas” e que “ainda em épocas de crises e recessão econômica tem

mantido uma dinâmica relevante em comparação com outros setores da economia”.

(MOLINA E RODRIGUEZ, 1999, p.9)

A veracidade desta afirmação pode também ser constatada pelos dados

fornecidos pela Organização Mundial de Turismo – OMT – (2001, p.07) quando

destaca que este setor tem gerado cerca de 225 milhões de empregos no mundo,

sendo o que mais contribui para a economia em geral, com mais de 10% do produto

interno bruto mundial o que “representa investimentos de capital superiores a US$

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18

766 bilhões em novas instalações e equipamentos e contribui anualmente com mais

de US$ 650 bilhões de impostos diretos e indiretos”.

No entanto, Molina e Rodriguez (1999, p.9) destacam que “quando o Turismo

se realiza sobre uma perspectiva reducionista, por exemplo, a partir de aspectos

econômicos ou somente dos bens financeiros, cria desequilíbrios evidentes no resto

das dimensões de uma sociedade e sua cultura, que lhe servem de contexto”,

gerando resultados negativos como, por exemplo, “a descaracterização do

artesanato, vulgarização das manifestações culturais, arrogância cultural”.

(RUSCHMANN, 1999, p.53)

Em âmbito cultural, o turismo pode ser utilizado como um instrumento capaz

de proteger e valorizar aspectos de determinada sociedade em benefício próprio

representando “um tipo de ação pessoal que enriquece os conhecimentos, uma

reação contrária à cultura massificada e uma oportunidade para atingir um meio

verbal de comunicação” (BENI, 2001, p.87).

A origem da relação entre cultura e turismo pode ser situada no grand tour

europeu quando jovens da aristocracia viajavam principalmente para contemplar

monumentos, ruínas e obras de arte dos antigos gregos e romanos, com o intuito de

reforçar a pedagogia por meio de viagem.

Desde o século XVII até a atualidade, a cultura continuou a ser uma das

principais razões para a viagem. Com o tempo, modificou-se, porém, a forma como

os inúmeros turistas visitam atrativos culturais. A própria noção de cultura,

anteriormente ligada à ideia de civilização, ampliou-se e passou a incluir todas as

formas de ser e fazer humanos. Dessa forma, entende-se que todos os povos são

detentores de cultura. Esta é definida como “a totalidade ou o conjunto da produção,

de todo o fazer humano de uma sociedade, suas formas de expressão e modos de

vida” (MTUR, 2006, p. 15).

Diferentes são as definições encontradas para turismo cultural. Para a

Organização Mundial do Turismo – OMT (1998, p. 137),

turismo cultural está baseado nas atrações culturais que possui um destino, sejam elas permanentes ou temporárias, ou ainda, baseado em características culturais e sociais de uma população que dispõe de um estilo de vida tradicional ou com características próprias.

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Para Barretto (2000, p.16), turismo cultural é definido “todo turismo em que o

principal atrativo não seja a natureza, mas algum aspecto da cultura humana e esse

aspecto pode ser a história, o cotidiano, o artesanato.“

Assim, a essência do turismo cultural é o contato com outros povos, seus

costumes e patrimônio. Ele permite o intercâmbio entre duas ou mais culturas ao

mesmo tempo e no mesmo espaço. Enquanto a comunidade receptora considera

esses elementos culturais como parte integrante de seu patrimônio cultural, para os

visitantes e/ou turistas, estes são atrativos turísticos culturais. Tais elementos foram

construídos por essa comunidade e, por isso, despertam um sentimento de

pertencimento e orgulho deles.

Essas características fazem com que o turismo cultural apresente

segmentações desdobrando-se em tantos outros títulos como antropológico,

religioso, arqueológico, entre outros. (Beni, 2001)

2.3 TURISMO E ARQUEOLOGIA

O turismo arqueológico ou arqueoturismo constitui-se a partir da associação

entre o turismo e a arqueologia. A origem da palavra arqueologia vem do grego

arkhaikos (antigo) e logos (ciência) significando o estudo dos vestígios das antigas

sociedades, “o conhecimento dos primórdios” (FUNARI, 1988, p. 10). Tal estudo não

se limita ao material remanescente das antigas sociedades, mas estuda também os

“sistemas socioculturais, sua estrutura, funcionamento e transformação no decorrer

do tempo” através de “uma leitura particular, pois seu texto não é composto de

palavras, mas de objetos concretos, em geral mutilados e deslocados do seu local

de utilização original” (FUNARI, 1988, p.8 e p. 22).

Todos os objetos “que a arqueologia estuda estão ligados, de uma maneira

ou de outra, à presença e à atividade humana; sem isto, caberiam a uma ‘ciência

natural’, como a geologia ou a palenteologia, e não a uma ciência humana”.

(BRUNEAU, 2008)

Autores como Prous (1992), Nogueira (2008) e Funari (1988) destacam a

importância da arqueologia na atualidade, entre eles, Rathz que considera,

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a arqueologia não é apenas divertida, altamente educativa e intelectualmente agradável para a pessoa, mas é decisiva para a sobrevivência do homem neste planeta e deve receber grande prioridade e muitos recursos da sociedade moderna (RATHZ, 1989, p. 11)

Os vestígios arqueológicos representam elementos de uma identidade, são as

raízes que constituem cada sociedade em seus mais diferentes aspectos: históricos,

culturais econômicos e sociais. Estes vestígios, compreendidos como objetos

constitutivos dos sítios, de acordo com Nogueira (2008) não são “apenas cor,

textura, matéria-prima, forma e função, é tudo isto, e mais história, contexto cultural,

emoção, experiência sensorial e comunicação corporal”.

Segundo Prous (1992, p. 25) os vestígios arqueológicos são “todos os

indícios da presença ou atividade humana”, das antigas civilizações. Pallestrini e

Morais (1980, p. 17) descrevem que os vestígios arqueológicos podem ser “um

artefato de pedra, de cerâmica, um tipo de forno de cocção, de fogueira, de casa ou

de sepultamento” e que “distribuídos em determinada superfície constitui o sítio

arqueológico”. Os sítios arqueológicos localizam-se dentro de abrigos rochosos,

como cavernas ou a céu aberto e até debaixo d’água.

Os vestígios arqueológicos, na visão de Nogueria (2008), são capazes “de

vencer as barreiras temporais e espaciais. Vencem o tempo e a idade, porque

perduram para além de sua época. Vencem espaços e distâncias, porque ‘viajam’

para além de suas fronteiras originárias”. Portanto, “a destruição de um objeto pode

simultaneamente ser a destruição de uma memória cultural”.

A carta de Lausanne elaborada através do Conselho Internacional de

Monumentos e Sítios – ICOMOS (2008), define o patrimônio arqueológico,

Como aquela parte do patrimônio material para a qual os métodos arqueológicos são os que proporcionam uma informação primordial que não somente inclui todos os vestígios da existência humana como também envolve lugares relacionados com qualquer manifestação de sua atividade, estruturas abandonadas e restos de todo tipo, assim como os bens móveis associados aos mesmos

A associação entre o turismo e a arqueologia resultando em um formato que

vem sendo denominado de turismo arqueológico ou arqueoturismo “pode ser

altamente educativa e apresentar um quadro totalmente autêntico do passado” e

este “deve ser protegido não só porque é herança que uma vez destruído é

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irrecuperável, mas porque também é uma oportunidade para o progresso da

sociedade atual.” (MANZATO, 2005, p. 44)

O turismo arqueológico

consiste no processo decorrente do deslocamento e da permanência de visitantes a locais denominados sítios arqueológicos, onde são encontrados os vestígios remanescentes de antigas sociedades, sejam elas pré-históricas ou históricas, passíveis de visitação terrestre e/ou aquática. (MANZATO, 2005, p. 46)

Atualmente, inúmeros países utilizam os vestígios arqueológicos existentes

em seus sítios como atrativos turísticos. De acordo com Mortensen (2001, p. 112),

“nos últimos 25 anos, o turismo arqueológico tem crescido como uma importante

indústria mundial”, no qual “governos, organizações locais e empresários, inspirados

e regulados por organizações internacionais se mantêm ocupados na identificação,

categorização, produção e desenvolvimento de recursos do passado para o

consumo turístico”.

Nos sítios arqueológicos utilizam-se recursos para explicar as etapas mais

remotas de nossa história. Nos museus, a mensagem educativa dos objetos fica

limitada pela dificuldade para colocá-los em um contexto cultural e físico, enquanto

nos sítios conta-se com uma realidade objetiva apoiada em seu contexto original.

Para Silverman (2002), a exploração de atrativos arqueológicos por meio do

“Turismo Arqueológico propicia a oportunidade para uma seleta recreação e a

reconstrução do passado”, além de contribuir para a “proteção e preservação de

monumentos arqueológicos e testemunhos de culturas passadas, os quais

constituem a herança cultural da civilização atual”. Dessa forma, pode-se

proporcionar a um número maior de pessoas o acesso, a observação e a

compreensão da cultura do outro, dado que quanto mais singular ela for maior será

seu poder de atratividade.

2.3.1 Exploração Internacional dos Atrativos do Arqueoturismo

De acordo com Rahtz (1989, p. 45) os sítios arqueológicos, na Inglaterra, são

utilizados “para instrução pública, por meio do turismo”. Essa exploração turística

desenvolve-se também em outros países da Europa – como por exemplo, na

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França, em países da América Central, como Belize, em países da América do Sul,

como Peru e, em locais distantes ao Brasil como a China, no continente Asiático.

Esses locais podem servir de base para o crescimento e desenvolvimento

direcionando o turismo arqueológico no Brasil e subsidiando as ações a serem

tomadas a partir de um planejamento capaz de adicionar as experiências positivas

em nosso contexto territorial e excluir as experiências negativas, como mostram os

exemplos a seguir.

2.3.1.1 Belize

Figura 1: Foto das ruínas de Xunantunich – Belize Fonte: Mongabay, 2009

Situada no oeste de Belize - pequeno país da América Central - San Jose de

Succotz é uma aldeia de 1.400 habitantes, onde se situam as ruínas de Xunantunich

(Figura 1), que significa “mulher de pedra”. Xunantunich foi um importante centro

comercial entre os séculos VII e X, e dele fazem parte 6 praças, 25 templos e

palácios, além do ‘El Castillo’, monumento que ultrapassa 40m de altura e onde se

conservam os restos de um friso de massa fina com representações do deus Sol e

outros motivos astronômicos como Vênus e Lua.

Segundo Medina (2003), “as ruínas da antiga cidade maia é agora o sítio

arqueológico mais visitado em Belize” e durante o ano de 1999 “27.614 turistas

visitaram Xunantunich dado que o lugar é antes de tudo ‘uma excursão de um dia’

para os turistas alojados em Belize ou para passageiros de cruzeiros. Poucos

turistas pernoitam na aldeia” de Succotz.

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Neste caso, o turismo arqueológico propicia o conhecimento sobre a

antiguidade maia aos visitantes de Xunantunich, além de ocasionar um “efeito sobre

as hierarquias locais porque na medida que os turistas demonstram interesse pela

cultura da antiguidade maia e geram demanda de bens que reflitam esta cultura” a

população local se vê cada vez mais “incentivada para a aprendizagem da cultura

maia” (MEDINA, 2003).

O turismo arqueológico “tem gerado um maior respeito pelo conhecimento da

antiguidade maia por parte de alguns succotzeños empregados nas escavações”e

“tem valorizado o conhecimento mais tradicional que faltava a maioria dos jovens

succotzeños” que sentiam vergonha de sua origem e atualmente esta origem é

questão de orgulho. (MEDINA, 2003)

2.3.1.2 Peru

Figura 2: Foto de Macchu Picchu - Peru Fonte: Across the divide expeditions, 2009

Machu Picchu (Figura 2) é o sítio arqueológico mais conhecido da América do

Sul. Situado a aproximadamente 150.000 m de Cuzco foi localizado pelo historiador

americano Hiram Bringman no ano de 1911. Os monumentos deste sítio

arqueoturístico estão distribuídos sobre uma área de 200.000 m2 , a 2.600 m de

altitude. Existem mais de seis mil degraus neste sítio que foi construído para ser o

refúgio e a morada para a aristocracia em caso de um ataque surpresa a cidade

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incaica. Os caminhos para este refúgio eram proibidos para a população comum e

sua localização foi um segredo militar.

Machu Picchu consta na lista do Patrimônio Mundial, mas este aspecto não

impede as degradações que tendem a descaracterizar o sítio, como descreve

Martorell (2002) “há uma controvérsia generalizada para construir um teleférico de

acesso entre o povoado de Machu Picchu e a Cidade incaica”. Esse autor observa

ainda que existe a “falta da participação da população tanto no que tange a sua

inserção nos aspectos turísticos como quanto a seu descaso no âmbito social,

como, por exemplo, a falta de tratamento do Rio Vilcanota-Urubamba”.

Como se não bastassem tais contratempos, o sítio enfrenta um excesso de

visitantes que nos meses de alta temporada chega a 1.200 turistas por dia, que vem

crescendo desde 1993 onde o número anual de visitantes foi de 270.000, em 1994

esse número aumentou para 400.000 e em 1996 foram 600.000 visitantes

(CASADO, 1998). A fim de minimizar pelo menos este impacto negativo foram

estabelecidas novas regras para os visitantes que chegam em Machu Picchu, entre

elas

não poder haver mais de 500 pessoas simultaneamente na rota, se proíbe cozinhar ou aquecer alimentos utilizando lenhas, os turistas tem que estar a cargo de agências autorizadas, com pessoal treinado e guias registrados submetidos a exames sanitários e conscientes da preservação ecológica. (LAMA, 2001)

2.3.1.3 China

Figura 3: Foto dos Guerreiros de Xi’an Fonte: www.chinaonline.com.br

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Os guerreiros de Xi’ An (Figura 3) representam o exército em formação de

combate e disposto a proteger o imperador Jingdi (188-141 a.C.), em sua viagem até

a imortalidade. Seu mausoléu localiza-se nas proximidades de Xi’ An, a 1200 km de

Pequim, na China. “O achado da denominada Tumba de Yang Li em 1990 se

constituiu em um dos mais importantes sítios arqueológicos das últimas décadas no

que se refere a monumentos funerários e pode ser visitado com a permissão do

Instituto Arqueológico de Shaanxi” (CERVERA, 1997).

A relevância deste sítio arqueoturístico é demonstrada pela autora não

apenas por ser o achado mais importante dos últimos tempos, mas também pela

construção do mausoléu “que se iniciou em 153 a.C., cobrindo uma superfície total

de 96.000 m2, sua tumba tem uma superfície de 170 m2, e uma altura de 31 m”.

Nele também foram encontradas mais de mil figuras feitas a partir de argila cozida,

algumas destas tinham seus braços feitos de madeira articulados ao ombro

permitindo o movimento e a adoção de diferentes posturas. Quanto aos rostos, a

autora destaca que “ofereciam também um interesse artístico e histórico indiscutível

porque foram tratados individualmente e acrescentados mais tarde ao corpo,

mostram mediante um detalhado e preciso molde uma grande variedade de

expressões” (CERVERA, 1997).

Além das visitas arqueológicas permitidas neste sítio arqueoturístico pelo

Instituto Arqueológico de Shaanxi, alguns exemplares destes guerreiros participaram

de exposições em diversos países, entre eles, no Brasil, no Parque Ibirapuera, em

São Paulo, em fevereiro de 2003, permanecendo aqui por quase três meses.

Durante este período, a mostra denominada Guerreiros de Xi’ An e os Tesouros da

Cidade Proibida” recebeu 817.782 visitantes, de acordo com Novaes (2003).

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2.3.1.3 Pompéia

Figura 4: Foto das ruínas de Pompéia - Itália Fonte: www.historiaviva.com.br

Situada a 22km de Nápoles, no sul da Itália, Pompéia (Figura 4) é hoje um

importante Sítio Arqueológico, recebendo cerca de 2,6 milhões de turistas por ano.

Soterrada pela erupção do vulcão Vesúvio, no ano de 79 d. C., Pompéia foi

redescoberta por um agricultor no final do século XVIII que, ao trabalhar na região,

localizou um muro da cidade. Nos dois séculos seguintes, a cidade foi escavada por

arqueólogos. Casas, prédios públicos, aquedutos (sistema de condução de água),

teatros, termas, lojas e outras construções foram encontrados. Os arqueólogos

acharam também objetos e afrescos (pinturas em paredes) que revelaram

importantes aspectos do cotidiano de uma cidade típica do Império Romano.

Com o objetivo de elaborar uma estratégia de combate à negligência e

degradação na cidade histórica, devido à visitação desordenada de turistas, o

governo italiano decretou, no mês de agosto de 2008, estado de emergência durante

um ano.

Afrescos na antiga cidade romana, um dos pontos turísticos mais populares da Itália, desbotam sob o sol causticante ou são descascados dos muros e paredes por caçadores de lembranças. Pisos de mosaico suportam as passadas de milhares de pés calçados com tênis ou sandálias. Colunas e paredes prestes a desmoronar são escoradas por andaimes de madeira ou aço. Cadeados enferrujados impedem o acesso às casas recentemente restauradas, e os vigias são poucos. (GAZETA MERCANTIL, 2008, p. 08)

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O objetivo é que, durante um ano, as muitas casas e vilas, que no momento

estão fechadas ao público, mas continuam expostas aos saqueadores e vândalos,

sejam reabertas e protegidas. O ministro da Cultura da Itália, Sandro Bondi,

pretende implantar "formas de gerenciamento inovador" de modo que os

patrocinadores privados possam ser recrutados para financiar as melhorias.

Segundo Pietro Giovanni Gusso – superintendente das ruínas - a burocracia italiana

é culpada por algumas das ineficiências em Pompeia. "Se preciso consertar uma

parede quebrada, primeiro tenho que lançar uma concorrência para obter um

arquiteto para avaliar os danos.” (GAZETA MERCANTIL, 2008, p. 08)

2.3.2 Exploração dos Atrativos do Arqueoturismo no Brasil

No Brasil, o crescimento e desenvolvimento do turismo arqueológico ou

arqueoturismo vem demonstrado que este país não é composto apenas por atrativos

culturais formados por belas praias e natureza exuberante, mas que detém “um

legado histórico reconhecido mundialmente como Ouro Preto, Olinda e Missões, e

tradições populares de importância ímpar”. (PIRES, 2001, p. 28)

Em território nacional , pode-se observar, mesmo que de forma lenta, a

exploração turística de alguns sítios arqueológicos, como em São Miguel das

Missões (Rio Grande do Sul) e Belo Monte ou Arraial de Canudos (Bahia).

2.3.2.1 São Miguel das Missões (RS)

Figura 5: Foto das ruínas de São Miguel Arcanjo/RS Fonte: www.pampasonline.com.br

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São Miguel Arcanjo (Figura 5) foi uma das sete reduções (povoamento)

fundadas, dirigidas e governadas por jesuítas na região sul do Brasil no ano de

1687. Essas reduções não foram apenas aldeias, mas verdadeiras cidades que se

instalavam entre as matas, possuindo igreja, hospital, escolas, habitações, oficinas,

pequenas indústrias para a fabricação de instrumentos musicais e alimentação para

todos os indígenas e jesuítas que ali viviam. O projeto missioneiro entrou em

declínio a partir da instituição do Tratado de Madri, em 1750. O resultado deste

tratado em território brasileiro culminou, em 1756, na batalha de Caibaté.

Entre os vestígios remanescentes deste período está a igreja de São Miguel,

que em dezembro de 1983, juntamente com San Ignácio Mini, na Argentina, foram

reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. A igreja tem 70m de

comprimento por 30m de largura e uma altura de 20m, ao seu lado direito, há uma

torre, com 25m de altura, onde originalmente, existiram cinco sinos, um dos quais

com mil quilos, está no museu existente nas ruínas.

2.3.2.2 Belo Monte ou Arraial de Canudos (BA)

Figuras 6 e 7: Foto das escavações e ruínas no Parque Estadual de Canudos / BA Fonte: www.portfolium.com.br/fotografias

Localizado no município de Canudos, dentro do Parque Estadual de Canudos

(PEC), no nordeste do Estado da Bahia, a cerca de 450.000m de Salvador, foi

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fundada pelo Antonio Conselheiro e palco de um movimento denominado Guerra de

Canudos contra as reformas instituídas pelo governo republicano e que Euclides da

Cunha defendeu como um movimento social enraizado na miséria e no abandono do

sertão do Nordeste.

Este local permaneceu encoberto pelas águas por cerca de 30 anos e a partir

de 1996 ressurgiu em função do recuo das águas e do rebaixamento do açude

Cocorobó. Paulo Zanettini, diretor da Zanettini Arqueologia e consultor do Governo

do Estado da Bahia para o Projetos Canudos, observa que Euclides da Cunha foi o

responsável pela perpetuação de Canudos, evitando seu esquecimento como

aconteceu com outros movimentos sociais similares. No entanto, sua obra Os

sertões “ao mesmo tempo em que revelava Canudos para os brasileiros do litoral,

acabava por lançar um imenso manto sobre inúmeros aspectos desse episódio e da

história da comunidade que fincou pé na fazenda Canudos, às margens do Vaza

Barris”. (ZANETTINI, 2003)

Em comemoração ao Centenário da Guerra de Canudos uma equipe de

arqueólogos “procedeu ao reconhecimento superficial de uma área equivalente a 50

hectares da margem esquerda do Vaza-Barris” e o “levantamento resultou no

cadastro de 60 estruturas, envolvendo habitações, edifícios comerciais e de servos,

cemitérios, edifícios de função religiosa, espaço e equipamentos públicos e de

caráter privado” (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA, 2002, p. 90)

Na descrição de Zanettini (2003) pode-se encontrar informações relevantes

sobre o Arraial de Canudos:

é possível ver no chão cartuchos, pentes e projéteis relacionados aos combates, trincheiras, sepulturas, restos de edificações [...] Escavando ao redor das ruínas da casa sede da fazenda recolhemos uma enormidade de fragmentos de louças inglesas, francesas e holandesas, características da produção européia dos séculos XVIII e XIX [...] Por outro lado, no mesmo chão onde encontramos materiais bélicos da guerra, temos uma enormidade de vestígios que nos remetem a outros momentos de ocupação dessa região. Não há canto do parque onde não se possa observar lascas e utensílios de pedra produzidos há milhares de anos, mostrando que Canudos constituía um local extremamente interessante para a ocupação humana em tempos pretéritos (ZANETTINI, 2003)

Atualmente, o parque é administrado pelo Centro de Estudos Euclides da

Cunha, órgão da Universidade do Estado da Bahia. Sua visitação é possível

somente através de uma autorização obtida no Memorial de Canudos. “O PEC

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[Parque Estadual de Canudos] conta com acessos viários e sinalização de pontos e

locais de interesse histórico e arqueológico (Alto do Mário, Fazenda Velha, Pedreira

do Conselheiro, Vale da Morte, entre outros)” e em breve será construído um

memorial na cidade que abrigará uma mostra com o material resgatado durante as

pesquisas arqueológicas, segundo o site da Arqueologia Brasileira (2008).

Mediante os exemplos citados, em âmbito nacional e internacional, percebe-

se que a implantação do turismo em uma localidade sem um planejamento turístico

adequado gera impactos negativos, podendo levar a degradação e até destruição do

patrimônio cultural e ambiental, prejudicando o ciclo de vida do destino. Para que a

atividade turística obtenha êxito, devem-se levar em conta os fatores que constituem

e simbolizam a região. Se esses aspectos forem relevantes frente ao processo de

planejamento, haverá maior chance de evitar os impactos negativos e maximizar os

efeitos positivos que podem ser gerados pela atividade.

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3 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO DO TURISMO

O turismo está baseado em uma série de variáveis tais como, capacidade de

suporte do ecossistema, infra-estrutura e serviços básicos, complementares e de

apoio à atividade - ordenadas e inter-relacionadas; e produz e sofre influências

culturais, econômicas, sociais e ambientais no meio em que está inserido. Devido a

essa característica, para melhor compreender a atividade turística, é possível

estudá-la através da Teoria de Sistemas. Para Beni (2001, p. 37), sistema pode ser

entendido como

um conjunto de partes que interagem de modo a atingir um determinado fim, de acordo com um plano ou princípio, ou conjunto de procedimentos, doutrinas, ideias ou princípios, logicamente ordenados e coesos com intenção de descrever, explicar ou dirigir o funcionamento de um todo.

Baseado na visão sistêmica para análise da totalidade do fenômeno do

turismo, Beni (2001, p.37) construiu o sistema turístico – SISTUR – que em linhas

gerais

apresenta como elementos do estudo o espaço turístico, perfil sócio-econômico da área receptora, estudo e previsão do comportamento do mercado de turismo na área receptora e elaboração do diagnóstico do turismo na área receptora, analisando-se seu potencial de influência no

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processo de desenvolvimento econômico, possibilitando elaborar um prognóstico que possibilitará a otimização das áreas vocacionadas para o processo de ocupação turística.

Assim, a estrutura do SISTUR comprova uma relação entre outros sistemas,

como o econômico social, político, ecológico e tecnológico, não sendo o turismo uma

atividade isolada. Ele deve ser analisado numa perspectiva sistêmica, como uma

atividade inserida dentro de um contexto de produção de uma determinada área ou

região. O meio em que está inserido já tem relações estabelecidas por outras

atividades que devem ser consideradas para um melhor entendimento do sistema.

O planejamento surge então como uma ferramenta imprescindível para o bom

funcionamento do SISTUR, desde que contemple e integre todos seus

componentes. Através dele, é possível determinar antecipadamente o caminho a ser

tomado pelas organizações, assim como as melhores ações a serem postas em

prática e objetivos a serem atingidos. Por meio de ações planejadas as empresas

conseguem mapear seu futuro, traçar suas metas e controlar seus resultados.

Ao determinar os objetivos e o futuro que a organização deseja, o

planejamento estabelece uma importante “ponte entre onde estamos e onde

queremos chegar” (ROBBINS apud PETROCCHI, 2001, p.67), indicando aos

membros da organização a direção a seguir e os mecanismos a serem utilizados

para tal finalidade, evitando desperdícios de esforços, recursos e tempo.

No turismo, cabe à administração pública de cada município planejar a

atividade, baseada na legislação vigente em cada localidade. O planejamento é

imprescindível para a estruturação e desenvolvimento do turismo, pois “ajuda a

contribuir para formas mais sustentáveis de turismo nas quais se vê o equilíbrio das

metas econômicas, ambientais e sociais e que geram resultados mais justos às

partes interessadas.” (HALL, 2004, p.35)

O planejamento turístico pode ser definido como:

o processo que tem como finalidade ordenar as ações humanas sobre uma localidade turística, bem como direcionar a construção de equipamentos e facilidades, de forma adequada, evitando efeitos negativos nos recursos que possam destruir ou afetar sua atratividade. Constitui o instrumento fundamental na determinação e seleção das prioridades para a evolução harmoniosa da atividade turística, determinando suas dimensões ideais para que, a partir daí, se possa estimular, regular ou restringir sua evolução. (RUSCHMANN, WIDMER, 2001, p.67)

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Mediante esta definição, a palavra planejar, neste estudo, vem em

contraposição a aleatoriedade. O planejamento envolve as dimensões sociais,

ambientais, políticas e culturais sobre o local onde é realizado. A necessidade de

mudança, aliada a essas dimensões, pode desencadear muitos fatores positivos.

Porém, a aleatoriedade não combina com esse processo, que exige organização e

revisão constantes para focalizar o objetivo principal e realizar direcionamento das

ações quando necessário.

O planejamento turístico tem como objetivo atingir algumas metas, como

mostra a figura 8.

Figura 8: Objetivos do Planejamento Turístico Fonte: Elaboração própria a partir de RUSCHMANN, 1999, p. 85

Para atingir esses objetivos de forma sustentável, as organizações devem

seguir todas as fases do processo de planejamento (Figura 9). Na primeira fase, é

Tabela 1 Objetivos do Planejamento Turístico determinar políticas e processos de implementação da infra-estrutura e atividades e os prazos para o cumprimento dos mesmos; coordenar e controlar o desenvolvimento turístico espontâneo; estimular a implantação de equipamentos e serviços turísticos, por meio de vários tipos de incentivos, tanto a empresas privadas, como a públicas; minimizar os custos da implantação e desenvolvimento da atividade e maximizar seus benefícios socioeconômicos, garantindo o bem-estar da população receptora e a rentabilidade dos empreendimentos; minimizar a degradação dos locais e dos recursos naturais e culturais nos quais os se desenvolve e proteger aqueles considerados únicos; garantir a construção de uma imagem forte e positiva da destinação perante a demanda real e potencial; atrair assistência técnica e financiamentos nacionais e internacionais para o desenvolvimento da atividade; integrar o turismo com as demais atividades, alinhando o plano turístico com o demais planos econômicos e físicos da localidade.

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feita uma análise da situação atual. É realizado um diagnóstico que servirá de base

para as ações posteriores, por isso há a necessidade de um diagnóstico detalhado

para garantir a qualidade do processo como um todo.

Em seguida, são definidos os objetivos. Define-se a situação futura que se

pretende alcançar através da ação planejada. Toda a organização deve estar focada

para alcançar os objetivos estabelecidos.

A terceira fase compreende a criação de alternativas de intervenções. Nesse

momento, são elaborados os planos, programas e projetos. São definidos as

estratégias e os meios necessários.

Através dos planos, iniciam-se a implementação e o controle, num processo

marcado pela ação. Reúnem-se os recursos humanos, financeiros e institucionais

para o andamento do projeto. Ruschmann (1999, p.42) afirma que esse “é o

momento de se capacitar o setor operacional, obter recursos efetivos, obter leis se

necessário e efetuar testes”. Nessa fase inicia-se a vida do produto, colocando em

prática os passos previstos nas fases anteriores.

A última fase do processo de planejamento é a avaliação. É realizado um

feedback em todo processo, verificando se este ocorreu de modo satisfatório, se os

objetivos iniciais foram alcançados e se a metodologia foi alcançada. A partir dessa

avaliação, novos problemas serão apontados, sendo que o planejamento continuará

com outros projetos para realização de adequações e resolução de novas

dificuldades.

Figura 9: Processo de Planejamento – Esquema básico Fonte: Petrocchi, 2001

Diagnóstico

Objetivos

Estratégias

Ações Controle

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Além disso, é importante que o planejamento tenha uma abordagem voltada

para a comunidade local, com ênfase no papel desempenhado pela comunidade na

atividade turística, permitindo assim o desenvolvimento de diretrizes de maior

aceitação social para a expansão do setor.

McIntosh e Goeldner apud Hall (2004, p. 54) identificaram a necessidade de

maior envolvimento da comunidade na atividade turística em suas cinco metas de

desenvolvimento turístico. São elas:

• proporcionar uma estrutura para elevar o padrão de vida dos residentes locais por meio dos benefícios econômicos gerados pelo turismo;

• desenvolver uma infra-estrutura e oferecer instalações recreativas para residentes e visitantes;

• assegurar que os tipos de avanços ocorridos nos centros de visitantes e resorts sejam adequados aos objetivos dessas áreas;

• criar um programa de desenvolvimento consistente com a filosofia cultural, social e econômica do governo e das pessoas que vivem na região visitada; e

• otimizar a satisfação do visitante.

Atualmente, o planejamento participativo tem sido apontado como um dos

caminhos para o futuro sustentável. O desenvolvimento sustentável requer que as

comunidades locais, mesmo com as limitações políticas impostas pelo Estado,

obtenham maior controle sobre seus recursos e seu futuro. Tal controle possibilita

uma considerável redefinição do que constitui de fato os recursos e o futuro das

localidades. (GOODEY, 2002)

No entanto, para que o planejamento seja efetivamente participativo ele

deve qualificar a participação. Nesse sentido, a participação não pode ser confundida como mera colaboração ou distribuição de competências. Só devemos considerar efetivamente participativo o planejamento que compartilha o poder. (CAMARGO, 2004, p.18)

Nesse sentido, o planejamento participativo se mostra de extrema validade

porque os desejos da comunidade constituem uma etapa importante para a

mudança, tornando o processo de tomada de decisão mais rico, melhor informado,

mais adequado à realidade das pessoas e pautado por meio de consensos (COSTA,

2003).

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É importante ressaltar que as necessidades de uma comunidade vão variar

de acordo com suas características próprias e do contexto em que está inserida.

As necessidades de um povo não se restringem as necessidades de ordem econômica. Os aspectos político, educativo, cultural, sócio-econômico, representam também eixos do processo. A participação é pré-requisito essencial, pois é a própria sociedade que deve identificar as suas necessidades. (IRVING, 1998 apud SILVA, 2003, p. 47)

Nos últimos anos, os mecanismos de participação têm sido discutidos,

ocorrendo avanços na metodologia de planejamento participativo. Entretanto,

mesmo com os avanços, as iniciativas de participação, promoção e a articulação

social ainda são tímidas. Outro problema é a falta de interesse da população nesse

processo, relacionada “à falta de credibilidade na efetivação das políticas sociais e

nos próprios governantes. Para reverter esse quadro, diálogo, transparência e

cooperação entre os atores e instituições comprometidas são fundamentais.”

(ROCHA E BRUSZTYN, 2005, apud SILVA, 2003, p. 48)

É notório, sob a perspectiva de planejamento e participação, que ainda

existem muitos casos de despreparo da comunidade local para o envolvimento

efetivo no processo de planejamento. Fatores como despolitização e desarticulação

da comunidade local, além de seu nível educacional são apontados como os

principais problemas.

Além disso, o interesse econômico e político pode se tornar uma barreira na

busca pelo desenvolvimento local a partir da participação social. Isso pode ser

percebido em casos de planejamento onde foram priorizadas ações que beneficiam

os interesses individuais de um determinado grupo.

Por outro lado, iniciativas vêm sendo tomadas na busca do planejamento de

forma que a comunidade possa participar efetivamente do processo, entre elas a

criação de foros representativos locais com a participação de pessoas de todos os

interesses e setores da comunidade, opinando e participando ativamente do

processo de planejamento. Dessa maneira, a participação passa a ser vista como

um instrumento da democracia e não somente um instrumento para o sistema de

interesse de grupos específicos.

Beni (2006, p.32) ressalta que

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o modelo de gestão participativa pode trabalhar em prol da integração entre as diversas esferas em que atuam os agentes decisórios, mas na democratização da informação e de dados para permitir a construção de uma nova forma de agir, fora dos velhos paradigmas do assistencialismo e do paternalismo, utilizando, em vez disso, um planejamento participativo, integrado e, mais importante, convergente com os anseios da população, sendo um multiplicador do conhecimento, de histórias e de identidades locais.

Assim, as comunidades precisam buscar seus interesses e participar das

decisões que irão influenciar seu cotidiano, para que exista realmente um

desenvolvimento democrático.

O planejamento turístico participativo deve organizar a atividade de tal modo

que envolva a comunidade local em todos os seus aspectos, preocupando-se em

tornar seu impacto nos ambientes ecológicos, socioculturais e econômicos seja o

mais favorável possível para as regiões receptoras. Ele deve evitar a degradação

dos recursos naturais e culturais, garantindo sua continuidade ao longo dos anos.

O desenvolvimento do turismo sem o planejamento adequado provoca a

degradação do meio ambiente natural, social e cultural. Como consequência, há

uma diminuição dos principais benefícios que o turismo proporciona, um

agravamento dos impactos, uma diminuição da competitividade e, por último, a

perda de visitantes para outras regiões.

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4 A EXTINTA SÃO JOÃO MARCOS E O ATUAL MUNICÍPIO DE RIO CLARO 2

A história do município de São João Marcos está diretamente ligada à história

de desenvolvimento da região sudeste do Brasil, tendo seu surgimento incentivado

durante o ciclo do ouro e seu auge no século seguinte, durante o Ciclo do Café.

A colonização do extremo oeste fluminense teve início com a necessidade de

comunicação de São Paulo e Minas Gerais com o Rio de Janeiro. Durante os 100

primeiros anos da colonização, além da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro,

surgiram apenas povoados localizados no litoral ou no recôncavo da Baía de

Guanabara, além do município de Campos dos Goytacazes.

A interiorização do povoamento e a abertura de novos caminhos ocorreram

em decorrência da doação de sesmarias, da instalação de postos de fiscalização e

do estabelecimento de freguesias e vilas. Nestes terrenos, além das roças de

gêneros para subsistência e da criação de bois, cavalos e porcos, foram construídos

engenhos de açúcar e, ao longo dos caminhos, assentaram-se ranchos com

estalagens para os tropeiros e postos de fiscalização do ouro.

A abertura de estradas proporcionava sesmarias ao executor em troca dos serviços prestados bem como isenção de serviço militar, privilégios fiscais e imunidades no campo judicial. Quanto aos patrimônios, cuja extensão variava de meia légua em quadra no caminho a 3 léguas em quadra no sertão, exigiam-se a apresentação dos títulos em um prazo de 6 meses, a demarcação dos lotes em 2 anos e a exploração agropecuária em, no máximo, 3 anos. (FRIDMAN, 2008, p. 28)

2 História do extinto município de São João Marcos baseada no livro História de Rio Claro, de autoria da historiadora Dilma Andrade de Paula. Prefeitura Municipal de Rio Claro – RJ, 2004.

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Uma das aberturas de trilhas resultou no Caminho Velho dos Paulistas, ou

Estrada Real. Ele partia de São Paulo, passava pela Penha, Itaquaquecetuba, Mogi

das Cruzes, Guararema, atingindo o Vale do Paraíba, em Jacareí . Estendia-se até

Taubaté onde se unia ao trajeto do Caminho Velho de Paraty, até atingir a garganta

do Embau.

Na medida em que, durante o século XVIII, aumentou a produção de ouro na

região das minas gerais, o governo português intensificou o controle da circulação

das riquezas minerais. Medidas drásticas eram tomadas para se evitar o

contrabando de ouro e de pedras preciosas. Apesar das leis e do rigor da

fiscalização o contrabando continuou.

Para impedir os desvios do ouro e melhorar a ligação das capitanias de São

Paulo e do Rio de Janeiro, as autoridades coloniais decidiram construir um caminho

para transitar o gado comercializado e enviado para o Rio de Janeiro,

acompanhando as trilhas existentes na Serra do Mar. O Caminho de São Paulo ou

Caminho Novo foi construído nas primeiras décadas do século XVIII. Partia entre os

limites de Guaratinguetá e Lorena, alcançava o Planalto da Bocaina e dali seguia em

direção a Bananal e aos limites das capitanias. Uma bifurcação no alto da Serra

permita chegar-se ao litoral, via Mambucaba.

Se, inicialmente, a abertura de caminhos respondia às necessidades de

segurança e rapidez, nos transportes e comunicações, logo passou a se constituir

em frentes de ocupação e de povoamento interior. E, principalmente, em

importantes eixos futuros de expansão econômica.

Em meio ao trânsito comercial intenso do Caminho Novo, formaram-se em

suas margens os povoados de Resende e São João Marcos, no lado fluminense, e

Bananal, São José de Barreiro e Areias, em território paulista.

A abertura dessa estrada (Caminho de São Paulo) no lado ocidental da serra

fluminense, aliada à dispersão causada pela decadência da mineração, permitiu o

fluxo constante de colonos para o Vale Paraíba. O povoamento esparso e

localizado, principalmente, nas vias de passagem, deu início a um núcleo mais

centralizado. A região de Campo Alegre da Paraíba Nova, atual Resende, surgiu da

fusão dos caminhos dos bandeirantes com o Caminho de São Paulo. A partir desse

núcleo central, as terras vizinhas foram sendo povoadas, incluindo as de São João

Marcos e Rio Claro.

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São João Marcos se transformou em freguesia, em 12 de janeiro de 1755, no

entanto, a ocupação ainda ocorria de forma isolada, concentrada nas fazendas. A

partir de 1804, os moradores da região, agora aglomerados em um núcleo urbano,

em volta da igreja matriz (Figura 10), construída em 1801, iniciaram uma campanha

de emancipação da freguesia. A emancipação ocorreu em 21 de setembro de 1811,

após alguns desentendimentos com as autoridades de Resende, que não queiram a

separação.

O município tornou-se um dos principais centros cafeeiros do Brasil,

produzindo, em meados do século XIX, cerca de 2.000.000 de arrobas de café por

ano e tendo como maior produtor o comendador Joaquim José de Souza Breves, o

“Rei do Café” no período Imperial.

Figura 10 e 11: Planta de São João Marcos e arredores e foto da maquete de reconstrução do extinto município

Fonte: Departamento de Patrimônio da Light, 1913. Acervo Pessoal

A cidade era composta por duas escolas públicas, uma agência de correios, dez ruas, três lagos, a igreja Matriz, uma antiga capela, pertencente à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e dedicada a São Benedito, dois cemitérios, o da Irmandade e o da Caridade para os pobres, um teatro, o Tibiriçá, mandado construir pelos barões do café para seu entretenimento, no qual João Caetano teria se apresentado, por volta de 1839, dois clubes: o Marquense, frequentado pela elite, com futebol e danças e um mais popular, o Prazer das Morenas, um hospital, uma pensão, um jornal local. (ARAUJO, 2008, p. 18)

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Foi também em São João Marcos que construíram a primeira estrada de

rodagem do Brasil, em 1856, com 40km de extensão, para escoar o café das

fazendas do Vale do Paraíba para o Porto de Magaratiba. Em 1854, Irineu

Evangelista de Souza inaugurou a primeira ferrovia do país, ligando Mauá a Raiz da

Serra, no fundo da Baía de Guanabara. A proliferação de trens causou a decadência

de muitas vilas e povoados, visto que diminuiu o movimento de tropeiros pelo

Caminho Velho, que vinha de São Paulo. Esse fato causou uma grave perda no

comércio de São João Marcos. Além disso, teve início a crise do café, em

decorrência do esgotamento de terras, da abolição da escravidão e da queda dos

preços do café no mercado internacional.

Após ter sofrido economicamente com a decadência do café, São João

Marcos teve que enfrentar outra crise. Com o crescimento acelerado do Rio de

Janeiro, então Distrito Federal, era necessário expandir as fontes de energia elétrica.

Em 1905, a solução encontrada pela empresa The Rio de Janeiro Tramway, Light

and Power Co. Ltd., de origem canadense com capitais ingleses e norte-americanos,

foi a construção de uma nova hidrelétrica, a Usina de Fontes, no município de Piraí,

que necessitou do represamento e do desvio de vários rios, formando a represa de

Ribeirão das Lajes. O término da construção da usina deu-se em 1908.

Figura 12: Mapa digital da Serra das Araras, indicando a Represa de Ribeirão das Lages Fonte: Serqueira, 2005

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A formação dessa represa modificou a geografia local e suas águas

alcançaram São João Marcos, alagando as fazendas e destruindo plantações.

A falta de cuidados sanitários fez proliferar a malária no município. A doença

se espalhou e se tornou uma epidemia. Metade dos habitantes foi contaminada pela

doença e os poucos que resistiram no centro urbano do município sobreviveram

isolados, esquecidos pelo governo estadual que entrou em acordo com os grandes

jornais da época e a Light visando ao interesse da expansão do Rio de Janeiro.

A partir de 1905, o município entrou em um processo de decadência

econômica e política. Entre 1898 e 1922, o número de habitantes caiu de 18.000

para 7.400. O êxodo populacional, aliado a crise econômica, levou o governo

estadual a decretar a sua anexação a Rio Claro em 1938, através do decreto 635,

de 14 de dezembro de 1938, o que contribuiu ainda mais para sua destruição

definitiva.

Durante década de 30, a Light começou a projetar a expansão da represa de

Ribeirão das Lajes, o que levaria, inevitavelmente, a extinção de São João Marcos.

Os argumentos que a Light, as autoridades governamentais e alguns jornais do Rio

de Janeiro utilizavam para justificar a necessidade de destruição completa da cidade

eram:

• A necessidade urgente de ampliar o abastecimento de água para a cidade do Rio de Janeiro, então Capital Federal, que se abastecia com pequenos mananciais que já não atendiam mais às necessidades de consumo;

• Ampliar a capacidade de geração de energia elétrica no Estado, motor fundamental da industrialização. (PAULA, 2004, p. 54)

Em 1939, uma reportagem de O Globo informava que a Light havia comprado

78 fazendas e a maior parte das casas da cidade, pretendendo adquirir toda área de

São João Marcos para inundá-la. No mesmo ano, o SPHAN resolveu tombar a

cidade com o objetivo de impedir sua destruição. São João Marcos foi classificada

oficialmente como “raro exemplo intacto de arquitetura colonial” e considerada

patrimônio nacional.

O tombamento da cidade desencadeou uma batalha política. A Light defendia

a necessidade de expandir a represa e, consequentemente, destruir São João

Marcos. No mesmo ano, o governo cedeu à pressão da Light e o presidente Getúlio

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Vargas entregou a cidade, desconsiderando a decisão do SPHAN e as

reivindicações da população. Este foi o primeiro caso de "destombamento" no Brasil.

O decreto-lei nº 2.269, de 03 de junho de 1939, autorizou a desapropriação de

terrenos, prédios e quaisquer benfeitorias que viessem a ser inundadas.

No contexto autoritário do Estado Novo, a população não teve outra saída. Como a desapropriação era obrigatória, a Light ficou à vontade para ignorar o valor de mercado e avaliar as propriedades conforme a sua própria conveniência. Os moradores receberam indenizações miseráveis que não lhes permitiram comprar sequer um lote nas cidades vizinhas de Lídice, Rio Claro, Mangaratiba, Itaguaí ou Piraí. Para a opinião pública da capital, os jornais descreveram um quadro muito mais favorável que a realidade. Promessas foram feitas e decretos assinados com o objetivo de garantir a reconstrução da cidade em outro local - e nada foi cumprido. A desocupação foi cruel: a Light "indenizava" e imediatamente as pessoas tinham que sair de casa, levando apenas os móveis, em caminhões da empresa. Imediatamente entravam os operários com marretas e demoliam tudo. O madeirame era empilhado e queimado. Em vão, os moradores pediam para levar as madeiras para construírem barracos em outros lugares. (SERQUEIRA, 2009)

A inundação do município é um tema que gera controvérsias. Há relatos de

que a cidade teria sido inundada apenas uma vez, o que não justificaria sua

destruição e comprovaria que o cálculo dos técnicos da Light, na época, foi falho.

Segundo a historiadora Dilma Andrade de Paula, não há documentação que

assegure que a cidade ficou submersa. O que se tem conhecimento é que a cidade

ficou descoberta a maior parte do tempo e hoje, devido à baixa do nível da represa,

ela não pode ser inundada. De acordo com a Prefeitura de Rio Claro, a única parte

de São João Marcos inundada foi o antigo distrito de São Sebastião do Arrozal, na

parte baixa.

A versão da Light sobre a inundação é diferente. Segundo a companhia, em

1943, o nível das águas da represa de Ribeirão das Lajes foi ampliado para 420m e

inundou completamente a cidade. A empresa garantiu ainda que, entre 1943 e o

início dos anos 80, a cota de água ficou acima dos 415m inúmeras vezes e a cidade

voltou a ficar submersa. A partir da década de 1980, não houve mais inundação.

São João Marcos nunca teve efetivamente sua inscrição de tombamento

nacional cancelada. Em 16 de fevereiro de 1990, a Ponte Bela, que pode ser vista

entre os meses de outubro e fevereiro, quando o nível das águas da represa baixa, e

as ruínas do centro histórico de São João Marcos foram tombadas em âmbito

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estadual, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural - Inepac, a pedido da

Secretaria de Cultura do Município de Rio Claro, encontrando-se hoje em fase de

tombamento provisório, tramitando pelo processo E-18/000.062/90.

Assim, por ser uma área de importância na construção da história do Estado

do Rio de Janeiro e por possuir características potenciais para o desenvolvimento,

especialmente do turismo arqueológico, o município de Rio Claro, onde se localiza o

atual distrito de São João Marcos, necessita de um planejamento para o

desenvolvimento sustentável da atividade turística.

4.1 LOCALIZAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO ATUAL

DE RIO CLARO

Localizado no sul do Estado do Rio de Janeiro, mais precisamente na Serra

do Mar e na Bacia do Rio Paraíba do Sul, São João Marcos é o 3º distrito dos cinco

– Lídice, Passa Três e Getulândia – que formam o município de Rio Claro. O

principal acesso ao distrito é realizado por Rio Claro, há 27km pela estrada de chão

da RJ-149, rumo sul para Mangaratiba. O acesso a Rio Claro se dá pela RJ-155,

que alcança Angra dos Reis, a sudoeste, e Barra Mansa, a noroeste. A RJ-139

acessa Piraí, a nordeste, conectando-se também com a RJ-145 na localidade de

Passa Três.

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Figura 13: Mapa de localização e acesso a São João Marcos Fon te: Prefeitura Municipal de Rio Claro, 2008.

O município, que possui 18.181 habitantes, de acordo com o Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2009), é um dos maiores do Estado do

Rio de Janeiro, com 868km2 de extensão. Encontra-se localizado entre duas

importantes capitais, há 120km da cidade do Rio de Janeiro e 270km da cidade de

São Paulo. Sua economia é baseada na pecuária, avicultura e artesanato.

O artesanato é composto por cestaria em taboa, tradicional desde o Ciclo do

Café, trabalhos em madeira e couro e tecelagem. Atualmente, a instituição

PRODUZIR, vinculada a Secretaria de Desenvolvimento do Estado do Rio de

Janeiro, e em parceria com a Associação de Artesãos e Produtores Rudimentares

do Estado – AART/RJ – possui um projeto, no município, de preservação e resgate

das raízes culturais, apoio à qualificação dos artesãos e organização e

São João Marcos

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fortalecimento de associações e cooperativas. Junto com os municípios de Barra do

Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio das Flores,

Valença e Volta Redonda, Rio Claro integra o núcleo de produção artesanal da

Região do Médio Paraíba.

Com relação à hidrografia, a maioria dos cursos d'água da região nasce nas

vertentes da serra. São rios torrenciais, alguns deles constituídos de saltos e

rápidos.

O município de Rio Claro detém 80 % do maior reservatório de água potável da América Latina, a Represa de Ribeirão das Lages, recurso estratégico de enorme importância para a região metropolitana do Rio de Janeiro, pois abastece parte da metrópole, área esta com aproximadamente 26.000 ha, administrada pela LIGHT. (VIVA TERRA, 2009)

A região possui o maior remanescente do ecossistema Floresta Ombrófila

Densa (IEF, 2009), que ocupava as encostas e topos das serras do Mar e da

Mantiqueira e as terras baixas adjacentes.

Foi graças ao seu relevo, fortemente acidentado e cheio de declives, que essas áreas se mantiveram bem preservadas, embora se situem perto das duas maiores metrópoles do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro. É uma das regiões mais ricas em diversidade biológica da Mata Atlântica, apresentando, por exemplo, a maior diversidade de mamíferos de pequeno porte e a maior concentração de aves ameaçadas e/ou endêmicas (MESQUITA, 2004, p. 15).

Encontram-se ainda, no município, áreas de preservação ambiental, como a

Estação Ecológica de Ribeirão das Lages, com 270 milhões de m2 de terra,

abrangendo espécies da fauna como: pacas, tatus, capivaras, antas, javalis, onças

pintadas, tucunarés, tilápias, traíras, piaus, acarás, jacus e macucos.

O clima local é quente e úmido, com verão chuvoso e inverno mais seco.

Sendo assim, o verão apresenta chuvas mais intensas e, no inverno, as massas de

ar frio podem provocar geadas. As temperaturas médias anuais ficam entre 18° e

22°C.

Segundo a classificação da Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer do Estado

do Rio de Janeiro – TurisRio, Rio Claro está localizado na região turística da Costa

Verde, formada pelos municípios de Angra dos Reis, Itaguaí, Mangaratiba, Paraty e

Rio Claro.

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A Região dispõe de uma grande diversidade de tipos de atrativos turísticos, principalmente aqueles relacionados com o meio ambiente natural. Além de um litoral extremamente privilegiado formado pelas baías da Ilha Grande e de Sepetiba, o interior da Região apresenta importante remanescente de Mata Atlântica concentrado, principalmente, nos municípios de Rio Claro, Paraty e Angra dos Reis, indicando uma forte potencialidade para o desenvolvimento do ecoturismo. (TURISRIO, 2009)

Rio Claro possui atrativos naturais e culturais ideais para o desenvolvimento

da atividade turística. A cidade destaca-se pelo potencial hídrico e pela diversidade

cultural e natural, com áreas da Mata Atlântica, grande variedade da fauna e flora,

além da possibilidade da prática de esportes de aventura. Alguns de seus atrativos

são (Brasil Channel, 2009):

• Pedra do Bispo – formação rochosa com 1.400 metros de altura.

Oferece vista panorâmica do município e de parte de Volta Redonda.

Propícia a escaladas que podem ser feitas através de trilhas. Abriga

uma rampa de vôo livre.

• Pedra do Rastro – Formação rochosa com 7m de comprimento e 4m

de largura situada no topo do Morro do Rastro. Oferece vista

panorâmica da parte da sede do município. Segundo uma lenda, um

homem encontrava-se sentado na pedra, durante uma procissão de

São Benedito, fazendo zombarias, quando a pedra afundou e fixou a

marca do homem e de seus pertences. Nela, estão as marcas de uma

pegada com sapato, a pata de um cachorro, o contorno de um guarda-

chuva e o local onde o homem estava sentado.

• Pedra do Descanso – Formação rochosa onde a população

descansava, durante o ato do cortejo fúnebre, para após seguir ao

cemitério.

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Figura 14: Trilha da Independência / São João Marcos Fonte: Acervo pessoal • Trilha da Independência – Parte preservada do caminho de São Paulo,

construído em pedra por escravos em 1728 para levar o ouro que

vinha de Minas Gerais para Angra dos Reis. Em 1822 foi utilizada por

D. Pedro I quando seguia para São Paulo onde proclamou a

Independência.

• Ruínas de São João Marcos – Ruínas do extinto município de São

João Marcos. Nelas, é possível observar a Ponte Bela e o cemitério,

ainda intactos. Estão em processo de tombamento através do Inepac.

• Casa de Cultura de Rio Claro – Abriga objetos, fotos e documentos da

extinta cidade de São João Marcos. É possível conhecer a história do

antigo município por meio de painéis explicativos.

Figura 15: Pescaria na Represa Ribeirão das Lages

Fonte: Prefeitura Municipal de Rio Claro, 2009

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• Represa Ribeirão das Lages – Represa formada pelos rios Pires, da

Prata e Machado e pelo Rio Piraí , possui uma área total de 204m2.

Suas águas seguem para a estação de tratamento de Guandu, por

tubulação, para abastecimento do município do Rio de Janeiro. Foi

transformada em reserva ecológica e pode ser percorrida por diversas

trilhas. Os rios que compõem a represa também são utilizados para a

prática de rafting e pesca.

Figura 16: Foto da Cachoeira de Santana – Rio Claro Fonte: Prefeitura Municipal de Rio Claro, 2009 • Cachoeiras – O município possui cerca de 10 cachoeiras conhecidas e

frequentadas por moradores e visitantes, entre elas a Cachoeira do Rio

Claro, com 130m de altura; e a cachoeira do Macundu, conhecida pela

queda d’água alta e a formação de um poço propício para mergulhos, e

por receber excursões do Club Med Rio das Pedras, resort do

município de Mangaratiba.

Apesar de possuir um grande potencial turístico, para ter um processo de

produção capaz de transformá-la em produto acabado para o consumo, a cidade

ainda necessita de uma infra-estrutura urbana, bem como a equipamentos e

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serviços de apoio. Hoje, Rio Claro conta com apenas 198 leitos, distribuídos entre

sua sede e seus quatro distritos.

O acesso rodoviário à cidade de Rio Claro encontra-se em bom estado de

conservação, porém a rodovia RJ-149, que liga Rio Claro a Mangaratiba, trecho

onde está localizado o distrito de São João Marcos, não é asfaltado. As más

condições da RJ-149 dificultam o acesso às ruínas. O asfaltamento da rodovia, que

consta no Programa de Desenvolvimento do Turismo, o PRODETUR – uma

iniciativa do Ministério do Turismo, está previsto para 2010. Com ele, a rodovia, que

é uma alternativa à rodovia federal Presidente Dutra (Anexo B), se em bom estado,

poderá atrair o fluxo de visitantes da Costa Verde e de São Paulo.

Em 2004, no início do mandato do ex-prefeito Didácio Pena, foi criada uma

Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, comandada pela ex-

Secretária Elvira Brum. A Secretaria contava com nove funcionários, entre eles dois

turismólogos concursados, uma administradora de empresa e uma museóloga. Hoje,

a Secretaria, que é comandada pelo atual Secretário Jacir Justo Correa, funciona na

Casa de Cultura, no centro de Rio Claro, onde também é realizada uma exposição

permanente de São João Marcos, com um vasto acervo documental, fotográfico e de

objetos.

Figuras 17 e 18: Foto da restauração de documentos do antigo município de São João Marcos e Casa de Cultura de Rio Claro Fonte: Acervo pessoal

Segundo Elvira, o município não possui um inventário turístico. A ex-

Secretária, no início de sua administração tentou levantar verbas e firmar convênios

com faculdades de Turismo da região, durante dois anos, com o intuito de realizar o

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inventário, mas não obteve sucesso. A ausência de um inventário também

impossibilitou a criação de um plano diretor de turismo, como afirma a Secretária.

A atual Secretaria diz que seu objetivo é dar continuidade aos projetos da

gestão anterior, seguindo a mesma linha de governo na área do turismo, mas não

foram apresentadas propostas para a área durante a candidatura e eleição do atual

prefeito Raul Fonseca Machado.

Com relação às políticas de apoio ao fomento do turismo no município, em

âmbito estadual, a Constituição Estadual do Rio de Janeiro, capítulo II, artigo 227,

declara que o Estado fica responsável por

promover e incentivar o turismo, como fator de desenvolvimento econômico e social bem como de divulgação, valorização e preservação do patrimônio cultural e natural, cuidando para que sejam respeitadas as peculiaridades locais, não permitindo efeitos desagregadores sobre a vida das comunidades envolvidas, assegurando sempre o respeito ao meio ambiente e à cultura das localidades onde vier a ser explorado.

Baseada nessa Constituição, foi sancionada, em 2001, a lei no 3670, que cria

o Programa Integrado para o Desenvolvimento do Turismo Pró-Turismo na região do

Médio Vale do Paraíba, englobando as cidades de Itatiaia, Resende, Porto Real,

Quatis, Rio das Flores, além de Rio Claro.

A lei tem como objetivo definir ações integradas de atuação, seguindo

algumas diretrizes responsáveis pelo desenvolvimento do turismo na região, como a

viabilização de recursos financeiros para criação e adequação da infra-estrutura, por

meio de convênios, implantação de políticas de incentivos, apoio e estímulo à

economia informal, entre outras. No entanto, a atual Secretaria declara que foi

esquecida pelo Estado e que são poucos os investimentos de promoção e

desenvolvimento da atividade turística.

A cidade alega ter como principal foco econômico o turismo e, no entanto, os

recursos não estão sendo bem administrados. Hoje, Rio Claro tem feito um alto

investimento, cerca de R$900.000,00, no projeto de construção do Parque das

Ruínas, no distrito de São João Marcos, considerado o principal atrativo turístico do

município. Além da Prefeitura e do Governo do Estado, o projeto recebe

investimentos de outras organizações como a Light e a Eletronuclear e o apoio do

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Instituto de Arqueologia Brasileiro e da Organização Não Governamental Instituto

Cultural Cidade Viva, responsável pela coordenação do projeto.

O objetivo do projeto, que recebe o nome de Parque das Ruínas de São João

Marcos, é criar um centro de atrações turísticas, utilizando as ruínas da extinta

cidade. O projeto, que teve início na gestão anterior, conta com uma equipe

multidisciplinar qualificada, que já finalizou a 1ª fase – levantamento, limpeza e

diagnóstico – constituído pelo estudo do potencial arqueológico, drenagem,

levantamento topográfico, diagnóstico ambiental, instalações elétricas e hidráulicas,

paisagismo e museografia.

Figura 19: Foto da prospecção/estudo do potencial Arqueológico nas ruínas de São João Marcos- IAB

Fonte: Acervo pessoal

Segundo a coordenação do projeto, “o desafio não se limita apenas ao

resgate da memória de São João Marcos, mas também à identificação e

desenvolvimento das várias possibilidades que se apresentam no local”. Para isso,

além da construção de um centro de memória - edificação de aproximadamente

300m2 que abrigará exposição permanente sobre a cidade de São João Marcos – o

projeto prevê a implantação das outras obras a seguir:

• guarita de acesso;

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• casa do vigia/caseiro;

• cafeteria e banheiros;

• sede administrativa e de fiscalização;

• escola de Canoagem – afastada 800m das ruínas e mais próxima das

margens de Ribeirão das Lages, em local onde hoje encontram-se

algumas construções em péssimo estado, será construída a base de

administração e fiscalização, bem como a estrutura da Escola de

Canoagem (garagem de barcos, alojamento).

A segunda fase do Parque das Ruínas, que se encontra em processo de

elaboração do orçamento, está dividida em:

• legalização dos projetos e licenciamento das obras e atividades;

• execução das obras – urbanização do acesso, canteiro de obras,

Centro de Memórias, guarita, Sede de Administração e Fiscalização e

Escola de canoagem;

• Paisagismo – limpeza, plantio, reflorestamento, recuperação de áreas

degradadas, adubagem;

• Arqueologia – construção dos serviços de preservação, pesquisa;

• Museografia – planejamento e montagem da exposição permanente;

• Programa educacional;

• Programa de Ecoturismo e Esportes;

• Sinalização Programação visual – placas, letreiros.

O município preocupa-se também em desenvolver programas educacionais,

de ecoturismo e esporte para maior participação e integração da comunidade local.

Além disso, contratação de moradores para auxiliar as obras do Parque das Ruínas

visa despertar e reforçar o sentimento de pertencimento e orgulho da origem e

história do lugar na comunidade local.

São João Marcos, hoje situada em área do Sistema Light e vizinha ao Parque

Estadual da Cunhambebe, ocupa também posição privilegiada dentro da Reserva da

Biosfera da Mata Atlântica. Segundo a ONG Instituto Cultural Cidade Viva (2008),

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Além de seu valor histórico e patrimonial, (São João Marcos) acha-se diretamente ligado a duas Unidades de Conservação de grande importância nacional e internacional, onde as propostas de intervenção de cunho cultural deverão caminhar imanadas com soluções ambientais de caráter preservacionistas, conservacionistas e de recuperação de áreas impactadas e degradadas no interior da reserva da Biosfera da Mata Atlântica.

Assim, a recuperação de São João Marcos enquanto bem cultural, irá

possibilitar também a recuperação ambiental das áreas degradadas situadas em

suas zonas de influência direta e indireta através de processo paisagístico

ecogenético, capaz de criar ecossistemas de substituição que tem como base o

ecossistema primitivo. (PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO CLARO, 2008)

Percebe-se que o projeto Parque das Ruínas de São João Marcos é bem

elaborado e abrange pontos importantes para a preservação do patrimônio cultural e

natural da região e participação da comunidade local, além de aspectos legais.

Ainda recebe recursos financeiros da Light, o que permitiu a contratação de

especialistas para cada etapa do projeto como Maurício Prochnik, responsável pelo

projeto de implantação das escadas-rolantes do Cristo Redentor, na cidade do Rio

de Janeiro e o projeto Som e Luz, em Petrópolis. O velejador e ex-Ministro do

Esporte e Turismo, no governo de Fernando Henrique Cardoso, Lars Grael ficou

responsável pela implantação e desenvolvimento da Escola de Canoagem.

Apesar do projeto, o município continua sem infra-estrutura básica e de apoio

ao turismo e sem nenhum plano que contemple esta área. De nada adianta a

Prefeitura investir tanto em um centro turístico se não há estrutura para receber os

turistas atraídos para a cidade, o que impossibilita a formação de um produto

turístico, composto por serviços e atrativos.

Segundo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e de Turismo de Rio

Claro, está sendo adotada uma política de incentivo fiscal para atrair empresários

que queiram abrir empresas que prestem serviços turísticos. A política é baseada na

redução dos impostos ISS por cinco anos e IPTU por dez anos, podendo chegar até

a cessão de terrenos, no caso de um grande empreendimento.

No entanto, a forma mais eficaz de atrair investimentos para o município é

demonstrando que todas as variáveis do turismo estão sendo administradas

corretamente, “por meio de planejamento, gestão participativa, investimentos

públicos, seriedade no tratamento das posturas municipais” e “propiciam condições

estruturais para o desenvolvimento do turismo”. (PETROCCHI, 2001, p. 311)

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Mesmo com a finalização da 1ª fase do projeto, a área onde ficam localizadas

as ruínas não foi demarcada e está sem fiscalização, sendo utilizada por criadores

de gado da região como local de pasto (Figura19). Além disso, é comum observar

visitantes com seus veículos estacionados dentro da área das ruínas (Figura 20), o

que pode provocar a degradação da área.

Figuras 20 e 21: Fotos da área das ruínas de São João Marcos sendo utilizada como pasto e estacionamento para visitantes Fonte: Acervo pessoal

É possível perceber, diante do cenário atual, o despreparo e desinteresse dos

órgãos públicos pela falta de organização e planejamento da atividade turística,

como também pela ausência de verba pública destinada ao setor. Assim, torna-se

inviável o desenvolvimento de projetos e a atração de iniciativas que desenvolvam e

fomentem a atividade turística de forma responsável e duradoura.

4.1.1 Análise Macroambiental

Baseando-se nas visitas realizadas no município de Rio Claro e, em especial,

no sítio arqueológico de São João Marcos, e pesquisas realizadas com a Secretaria

de Desenvolvimento Econômico e de Turismo, nas gestões anterior e atual, é

possível realizar uma análise macroambiental, identificando os fatores internos e

externos que podem influenciar o desenvolvimento da atividade turística no

município.

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O objetivo da análise macroambiental externa consiste no estudo das

variáveis culturais, sociais, políticas e econômicas, fora do sistema turístico, que

podem influenciar positivamente (oportunidades) ou negativamente (ameaças) o

desenvolvimento do turismo.

Dessa maneira, a análise macroambiental externa de Rio Claro levantou as

seguintes oportunidades e ameaças:

Oportunidades:

• Crescimento do mercado interno do turismo no Brasil;

• Aumento do interesse pela cultura no Brasil e no mundo;

• Proximidade entre as duas capitais mais importantes do Brasil, São

Paulo e Rio de Janeiro;

• Está inserido na região turística da Costa Verde, uma das mais

visitadas do Estado, com visibilidade nacional e internacional;

• Asfaltamento da rodovia estadual RJ-149, com linhas de crédito do

PRODETUR;

• Investimentos da iniciativa privada na construção de atrativos culturais

(Parque das Ruínas de São João Marcos);

Ameaças:

• Instabilidade econômica no Brasil e no mundo;

• Descontinuidade das políticas de incentivo ao desenvolvimento do

turismo;

• Carência de recursos estaduais;

• Concorrência com outros municípios da região da Costa Verde;

Já a análise macroambiental interna consiste na análise de todo o sistema,

identificando suas forças (pontos fortes) – características internas que facilitam o

cumprimento de seus objetivos – e fraquezas (pontos fracos) – deficiência interna

capaz de prejudicar o cumprimento dos objetivos. Ambas podem ser monitoradas e

controladas pelo próprio sistema. Sob a perspectiva turística, são analisados infra-

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estrutura, infra-estrutura turística e de apoio, hospitalidade, meio ambiente, nível de

qualidade na prestação de serviços, ofertas de lazer etc.

Assim, fazendo a análise macroambiental interna do município de Rio Claro,

têm-se como pontos fortes e pontos fracos:

Pontos fortes:

• Facilidade de acesso e transportes para o município;

• Sinalização turística em bom estado de conservação.

• Existência das ruínas de São João Marcos, em processo de

tombamento pelo INEPAC;

• Casa da cultura de São João Marcos, com um vasto acervo

documental, fotográfico e de objetos;

• Possibilidade de implantação dos seguintes segmentos de turismo:

arqueológico, de aventura, ecoturismo e rural;

• Construção do projeto Parques das Ruínas de São João Marcos;

• Parte de seu território está inserida na Reserva da Biosfera da Mata

Atlântica;

• Grande potencial hídrico;

• População hospitaleira;

• Existência de cachoeiras selvagens;

• Artesanato local.

Pontos fracos:

• Ausência de um Plano Diretor de Turismo no município;

• Precariedade da infra-estrutura turística;

• Ausência da qualificação da mão-de-obra;

• Falta de consciência da população local sobre a importância do

turismo;

• Degradação das ruínas de São João Marcos devido à ausência de

demarcação da área e de fiscalização;

• Difícil acesso às cachoeiras;

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Mediante a análise macroambiental de Rio Claro, é possível afirmar que o

município apresenta um grande potencial para o desenvolvimento da atividade

turística, mas, por falta de investimentos e de um plano diretor capaz de

regulamentar e nortear o turismo, é impedido de se consolidar como destino

turístico.

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5 PROPOSTAS DE DIRETRIZES DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO

MUNICÍPIO DE RIO CLARO POR MEIO DO SÍTIO ARQUEOLÓGI CO DE SÃO

JOÃO MARCOS

O desenvolvimento do turismo cultural em todo o mundo desperta a

necessidade de implantação de um planejamento da atividade, que garanta a

preservação das culturas, costumes e patrimônios, além de assegurar o

desenvolvimento local. Por seu conjunto único de atrativos culturais, históricos e

sociais, o Brasil possui um grande potencial para o desenvolvimento deste segmento

de turismo e para a estruturação de novos produtos.

O arqueoturismo, surge como uma segmentação do turismo cultural,

utilizando os vestígios arqueológicos identificados em sítios como patrimônio cultural

que, ao serem explorados turisticamente, possibilitam uma vivência e compreensão

menos artificial se comparada a um museu, por exemplo, por se encontrarem em

seu contexto original.

Entretanto, os sítios arqueológicos no Brasil, em especial no Estado do Rio de

Janeiro, não possuem planos, políticas e ferramentas de regulamentação das

atividades desenvolvidas nesses locais, colaborando para uma exploração

desordenada e provocando, conseqüentemente, sua degradação.

O sítio arqueológico do extinto município de São João Marcos está inserido

nesse contexto de ausência de planejamento. Percebe-se o início do interesse para

essa área específica, no entanto, sem considerar o desenvolvimento da atividade

turística como um todo, estabelecendo planos e políticas que contemplem aspectos

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culturais, econômicos, sociais e ambientais do município de Rio Claro, sob uma

perspectiva sistêmica, essencial para o desenvolvimento de um turismo sustentável.

Sendo assim, com a finalidade de orientar as atividades turísticas esperadas

com a construção do Parque das Ruínas de São João Marcos e assegurar que elas

sejam realizadas de forma adequada e compatível às metas da área, propõe-se uma

série de diretrizes para a organização do turismo no município de Rio Claro.

5.1 PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO NO MUNICÍPIO DE RIO

CLARIO

As diretrizes apresentadas são baseadas e adaptadas do documento

“Diretrizes para o desenvolvimento do turismo rural”, do Ministério do Turismo

(2008). Esse documento tem como objetivo, em linhas gerais, o ordenamento do

turismo como atividade capaz de agregar valor a produtos e serviços e contribuir

para a conservação do meio ambiente e valorização da cultura local.

5.1.1 Diretriz 1 - Organização, informação e comunicação

Visa adequar e estabelecer normas, critérios e procedimentos técnicos e legais que

orientem e estimulem a atividade turística de Rio Claro, além de produzir,

disponibilizar e disseminar informações para orientar o planejamento, a gestão e a

promoção do turismo. Deve ficar sob responsabilidade da Prefeitura, mais

especificamente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, com

participação da iniciativa privada e de Organizações não-governamentais, os

recursos financeiros e a contratação de uma equipe com técnicos em diversas áreas

para a conclusão desta etapa. Seus resultados poderão ser utilizados como

subsídios para a tomada de decisões.

Estratégias:

1 – Estudo e identificação da legislação pertinente em âmbito federal, estadual e

municipal.

Torna-se necessário realizar o levantamento da legislação aplicada ao

desenvolvimento da atividade turística no município, contemplando aspectos

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ambientais, culturais, sanitários, turísticos, de uso do solo, identificando a viabilidade

e os entraves legais do processo de desenvolvimento turístico. Alguns exemplos de

legislação que contemplam o desenvolvimento do turismo no município, citadas

nesse estudo, são o PRODETUR, de iniciativa Federa; a Constituição Estadual do

Rio de Janeiro, capítulo II, artigo 227; a lei 3670/010, referente ao Pró-Turismo e o

guia de utilização dos bens tombados, do Inepac. Estudos devem ser feitos para a

criação de normas que facilitem e beneficiem as decisões.

2- Levantamento do inventário turístico da região, classificação e cadastramento dos

serviços e análise SWOT.

Para garantir o sucesso e a qualidade de um planejamento turístico, deve-se realizar

o levantamento do inventário turístico do município, classificação e cadastramento

dos serviços, bem como a análise SWOT. Convênios com instituições

governamentais e privadas – CNPQ, SEBRAE, universidades e ONGS – podem ser

uma alternativa à viabilização desta fase.

3 – Promoção de reuniões entre todos os agentes sociais envolvidos com a

atividade.

Os setores, atividades, associações e instituições envolvidos direta e indiretamente

com o turismo devem promover e participar de debates, com o objetivo de contribuir

para a organização do turismo, propondo ações e ferramentas para o

desenvolvimento turístico integrado com qualidade e competitividade.

4 – Identificação da demanda.

Para atender às expectativas do consumidor, além de tornar mais eficientes as

ações de estruturação, divulgação e comercialização, é preciso considerar a análise

das características e das variáveis da demanda na oferta de produtos e serviços

turísticos. Deve-se levar em consideração, nesta etapa, o possível aumento da

demanda em decorrência do asfaltamento da rodovia RJ-149, alternativa a rodovia

federal Presidente Dutra, citado no capítulo anterior.

5 - Incentivo à produção, criação e disponibilização do conhecimento.

Por se tratar de um segmento ainda não consolidado no Brasil, a qualidade e

estruturação do turismo arqueológico em Rio Claro dependem do desenvolvimento

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de pesquisas e do intercâmbio com diversas áreas de conhecimento, visando à

aplicação de novas tecnologias e ao envolvimento da área acadêmica na realidade

local. As pesquisas, estudos e técnicas que de alguma maneira possam beneficiar a

atividade turística arqueológica precisam ser incentivados e divulgados, com o

objetivo de nortear empresários, pesquisadores, alunos e instituições públicas e

privadas. O conhecimento e a informação produzidos devem ser disponibilizados e

divulgados de forma eficiente e por meios adequados, considerando a capacidade

de entendimento dos diferentes interessados.

6- Fortalecimento e consolidação do turismo arqueológico na região da Costa Verde.

Promover discussões sobre turismo arqueológico na região, divulgar casos de

sucesso e também os possíveis problemas, explorando campanhas informativas e

de divulgação, e despertar o interesse das comunidades e dos gestores dos setores

público e privado, demonstrando a importância da agregação desse novo segmento

ao turismo histórico e natural, já estruturados na região da Costa Verde, são ações

indispensáveis para a consolidação e o sucesso da atividade.

5.1.2 Diretriz 2 – Articulação e incentivo

Tem como objetivo estimular e promover a cooperação no processo de

desenvolvimento e fortalecimento da atividade no município de Rio Claro. Viabilizar

e disponibilizar recursos visando à implantação, adequação e melhoria de infra-

estrutura, produtos e serviços na região.

Estratégias:

1 – Estímulo à criação e fortalecimento de instituições e órgãos representativos do

turismo arqueológico.

A criação de instituições e órgãos representativos em Rio Claro, composto pela

união das organizações, estruturadas a partir da base local, visa garantir o

desenvolvimento ordenado da atividade. Um foro representativo, formado por todos

os setores da comunidade, deve trabalhar pelos interesses comuns prestando

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assistência e orientação, fiscalizando e também criando, acompanhando e

difundindo novas tecnologias e informações em âmbito regional.

2 – Identificação de fontes de cooperação e captação.

A cooperação técnica e financeira de fontes nacionais e internacionais, como o caso

da Light e Eletronuclear que, juntas, estão investindo cerca de R$ 900.000,00 no

município de Rio Claro, e o trabalho de levantamento e prospecção coordenado pela

ONG Instituto Cultural Cidade Viva, com a participação do IAB, constitui estratégia

fundamental para o fomento do turismo, devendo ser incentivada e seus resultados

divulgados. Atualmente, a Light apresenta os resultados de seus investimentos em

sua sede administrativa, através de uma exposição, no centro do Rio de Janeiro.

4 - Negociação de crédito diferenciado e simplificação dos mecanismos de

concessão de crédito.

Um dos entraves para o desenvolvimento turístico de Rio Claro é a ausência de

empreendimentos turísticos e de interesse de investimentos por parte da iniciativa

privada. A diminuição das taxas de juros, a adequação dos valores oferecidos e a

extensão do prazo de financiamento para empreendimentos turísticos, negociadas

junto aos agentes financeiros, tornam-se ações básicas para a capitalização do

empreendedor e o desenvolvimento da atividade no município.

5 – Definição de critérios para alocação de recursos para financiamento de infra-

estrutura.

Faz-se necessário que recursos sejam direcionados à Prefeitura, com o objetivo de

criação, melhoria e adequação da infra-estrutura básica e de apoio ao turismo, a fim

de viabilizar o desenvolvimento do turismo em Rio Claro. Atualmente, este é um dos

principais entraves para o desenvolvimento do turismo no município, segundo a

Secretaria de Desenvolvimento Econômico e de Turismo.

6 – Fomento e apoio a iniciativas de pequenos e micro empresários.

A Prefeitura e os agentes financeiros devem valorizar e incentivar os micro e

pequenos empresários que visem a estruturação e consolidação do turismo em seus

empreendimentos. Atualmente, o município oferece uma política de incentivo fiscal

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de redução de impostos, além de cessão de terrenos, para atrair novas empresas do

setor turístico.

7 - Elaboração e efetivação de estratégias e ações eficientes para a promoção e

comercialização de produtos e serviços.

A elaboração e a comercialização de roteiros, produtos e serviços turísticos devem

ser desenvolvidas de forma integrada e regionalizada, inserindo nos roteiros de Rio

Claro atrativos dos municípios da Costa Verde. Nessa etapa,deve-se considerar as

especificidades e a capacidade de carga do município, com o intuito de manter as

características locais e preservar o meio ambiente.

8 - Criação de mecanismos que priorizem a qualidade de produtos e serviços.

A criação de normas e certificações para a comercialização de produtos, serviços e

roteiros devem ser utilizados com o objetivo de legitimar o profissionalismo da e

impulsionar o desenvolvimento e evolução do turismo no município. A utilização de

normas e certificações garante a qualidade dentro de uma região com o mercado

competitivo, promovendo a satisfação e fidelização dos visitantes, além da

disseminação da propaganda boca-a-boca.

5.1.3 Diretriz 3 - Capacitação

Objetiva a capacitação de todos os envolvidos na atividade turística no município,

com a finalidade de garantir a qualidade dos serviços prestados.

Estratégias:

1 - Identificação das diferentes necessidades de capacitação.

O primeiro passo para atingir a prestação de serviços com qualidade, é realizar um

levantamento das necessidades de qualificação necessárias para os diferentes

empreendimentos e na comunidade. A população de Rio Claro, apesar de

hospitaleira, é tradicionalmente rural e necessita desenvolver habilidades e

competências na área de atendimento ao visitante.

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2 - Elaboração conjunta de políticas, programas, planos e projetos específicos de

profissionalização.

Ações como cursos técnicos e profissionalizantes para o turismo devem ser

prioridade do município, e desenvolvidas em parceria com instituições públicas e

privadas. Atualmente, o Projeto das Ruínas de São João Marcos, possui programas

de capacitação de guias de turismo para visitação em sítios arqueológicos e

sensibilização de estudantes, através de uma aula chamada Defesa do Patrimônio,

realizada durante as escavações do IAB. Ambos os programas são coordenados

pela ONG Instituto Cultural Cidade Viva.

3 - Promoção de cursos de qualificação e de aperfeiçoamento profissional.

A capacitação e atualização constante de todos os profissionais envolvidos na

atividade turística, acompanhando tendências e novas tecnologias são fatores

essenciais para garantir a competitividade e sucesso dos empreendimentos

turísticos. É importante estimular os empresários na contratação de mão-de-obra

local, o que, além de gerar a redução de desemprego e a melhoria de qualidade de

vida da comunidade, valoriza os talentos locais.

5.1.4 Diretriz 4 - Envolvimento das comunidades

Visa o envolvimento da comunidade no processo de planejamento e

desenvolvimento do turismo, considerando suas necessidades e opiniões, e

valorizando a comunidade receptora.

Estratégias:

1 - Promoção de encontros e intercâmbios.

A realização de ações visando à participação e engajamento da comunidade local,

por meio da criação de um foro representativo, deve ser incentivada e apoiada.

Nessa fase, é preciso ouvir a opinião da comunidade local em relação ao

desenvolvimento do turismo. Cabe a equipe planejadora do turismo, mostrar à

população que eles são peça fundamental do processo de estruturação do turismo.

2 - Planejamento do desenvolvimento turístico de forma integrada e participativa.

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Um plano diretor de turismo deve ser desenvolvido, com o suporte de uma equipe de

diversas áreas, devido à multidisciplinaridade da atividade turística, e com a

participação ativa e contínua da comunidade local, levando em consideração suas

opiniões e necessidades, e valorizando suas características. Dessa forma, o

processo de planejamento torna-se mais adequado à realidade da comunidade e

assim, aumentando as possibilidades de sucesso de sua implantação.

5.1.5 Diretriz 5 - Infra-estrutura

Tem como objetivo a implantação e adequação da infra-estrutura básica e turística

do município, considerando as especificidades sociais e culturais de Rio Claro.

Estratégias:

1 - Mapeamento regional para identificar as necessidades de infra-estrutura.

A análise do levantamento do inventário turístico para mapear e identificar as áreas

com necessidade de implantação e aprimoramento da infra-estrutura básica e

turística são ações prioritárias no planejamento do turismo em Rio Claro, visto que

estas são incipientes no município.

2 - Identificação das responsabilidades e competências dos envolvidos e

implantação da infra-estrutura.

Após a identificação das necessidades de infra-estrutura, faz-se necessário definir o

que compete ao setor público e em que âmbito e área, e quais são as atribuições da

iniciativa privada, definindo a responsabilidade de cada setor nesse processo, para

que, as entidades públicas e privadas, associações e comunidade, juntas,

apresentem e negociem suas propostas e projetos aos órgãos competentes.

Assim, para que o desenvolvimento do turismo, esperado pela Secretaria de

Desenvolvimento Econômico e Turismo de Rio Claro com a construção do Parque

das Ruínas de São João Marcos, ocorra de forma ordenada e sustentável, é preciso

que o município planeje a atividade turística. As diretrizes acima têm como objetivo

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orientar os agentes e atores envolvidos com esta atividade, na construção de um

Plano Diretor de Turismo para Rio Claro.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo da arqueologia é fundamental para a compreensão da sociedade

moderna. É por meio dos vestígios remanescentes que a compõem que se tem

acesso aos antigos sistemas socioculturais, estruturas arquitetônicas, utensílios do

cotidiano, entre outros.

Os vestígios arqueológicos identificados em sítios constituem-se como

patrimônio cultural e, ao serem explorados turisticamente, possibilitam uma vivência

e compreensão de modos de vida remotos.

Observou-se que em países da Europa, Ásia e da América esta atividade

turística avança cada vez mais, na identificação e disponibilização de sítios

arqueológicos ao público. No Brasil, verificou-se que o turismo arqueológico não se

apresenta consolidado como produto turístico, sendo uma segmentação do

chamado turismo cultural.

O turismo cultural, pelo modo como tem sido implementado em muitos

lugares, tem se revelado prejudicial ao patrimônio cultural, seja pela falta de

recursos humanos especializados, pela ausência de planejamento da atividade, pela

visitação descontrolada, pelo desrespeito em relação à identidade cultural local, pela

imposição de novos padrões culturais, ou pelo próprio despreparo do turista para a

experiência turística cultural.

A implantação do turismo em Rio Claro, no Estado do Rio de Janeiro, por

meio da utilização das ruínas do sítio arqueológico de São João Marcos, não tem

sido feita de forma planejada e controlada. Apesar de haver um grande interesse

municipal em desenvolver o turismo no local, utilizando o sítio arqueológico como

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principal atrativo, a cidade necessita de infra-estrutura urbana, além de

equipamentos e serviços de apoio turístico.

De acordo com a Constituição Estadual, deve ficar a cargo do Estado

promover e incentivar o turismo como fator de desenvolvimento econômico e social,

a partir de ações de planejamento e, no entanto, o município não possui nenhum

plano diretor que estruture e planeje a atividade de forma sustentável.

O turismo arqueológico, quando considerados os impactos da atividade e a

capacidade de carga da região, pode estimular a reabilitação e preservação dos

sítios arqueológicos, propiciar a revitalização das atividades tradicionais de áreas em

declínio, promover o fortalecimento do sentimento de identidade e cidadania à

comunidade local, além da diversificação da economia, por meio de novas

atividades.

Deve-se considerar, no planejamento do turismo arqueológico, a importância

de uma gestão participativa e compartilhada entre o poder público, a iniciativa

privada e os atores sociais, na preservação dos sítios históricos, além de considerar

a importância da revitalização econômica, social e cultural, que possa garantir um

desenvolvimento dentro das práticas sustentáveis.

O envolvimento da comunidade, de forma ativa e contínua, é uma das ações

básicas para o desenvolvimento sustentável do turismo arqueológico, visto que é

necessário que ela conheça e valorize seu patrimônio. Além disso, é imprescindível

que o processo de planejamento esteja alinhado com os desejos e necessidades da

comunidade, o que garante a maior aceitabilidade.

As diretrizes apresentadas nesse estudo tiveram como objetivo nortear o

processo de desenvolvimento turístico do município de Rio Claro. A estruturação do

da atividade turística na cidade deverá estar vinculado às definições estratégicas e

políticas públicas, que privilegiem os bens culturais cujo uso turístico seja compatível

às demandas dos consumidores, aos interesses e à autenticidade das comunidades,

e ao ordenamento do espaço, integrando-se os diferentes componentes culturais e

ambientais a complementaridade da oferta de serviços turísticos, por meio de uma

infra-estrutura adequada às características de Rio Claro.

No entanto, para que as diretrizes sejam válidas, torna-se importante o

envolvimento de todos os agentes e atores que participam da atividade, incluindo o

poder público, a iniciativa privada e a comunidade receptora. Além disso, é

importante a continuidade, fiscalização e revisão das políticas de planejamento.

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Diante do efeito multiplicador da atividade turística, considera-se que esta

pode representar uma excelente alternativa para o desenvolvimento local e/ou

regional de maneira a preservar a identidade local, conservar os patrimônios -

natural e cultural - e dinamizar a economia de Rio Claro. Lembrando, que para que

uma localidade seja turística não basta possuir atrativos. É necessário que a

localidade além de atrativos, disponha de uma rede de serviços de acesso e infra-

estrutura.

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APÊNDICE A – RIO CLARO / RUÍNAS DE SÃO JOÃO MARCOS

Sinalização turística no centro de Rio Claro – RJ ( 2009)

Sinalização turística no centro de Rio Claro – Ruín as de São João Marcos (2009)

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Caminho que leva às ruínas de São João Marcos (2009 )

Prospecção do IAB nas ruínas de São João Marcos cob erta por lona para proteção (2009)

Trilha da Independência / Ruínas do extinto municíp io de São João Marcos (2009)

Ruínas de São João Marcos encoberta pela vegetação( 1998)

Ruínas da antiga Fazenda Olaria – São João Marcos

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Ponte Bela (1997) / Antigo cemitério de São João Marc os, ainda intacto, ao fundo da vegetação (2009)

Fotos, painéis e objetos do antigo município de São João Marcos na Casa de Cultura de Rio Claro – RJ

Restauração do acervo documental de São João Marcos exposto na Casa de Cultura (2009)

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ANEXO A - RIO CLARO / RUÍNAS DE SÃO JOÃO MARCOS

Equipe do IAB trabalhando nas ruínas de São João Ma rcos (2009)

Trabalho de recuperação de construção em São João M arcos (2001)

Ruínas de São João Marcos / Estrada de Mangaratiba – Acesso às ruínas (2009)