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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA
DIAGNÓSTICO DO CULTIVO ORGÂNICO E CONVENCIONAL E
INSETOS ASSOCIADOS NO MUNICÍPIO DE PARAÍBA DO SUL-RJ
MILENA SOARES DOS SANTOS
ORIENTADOR: Profª. Drª. Ângela Alves de Almeida
CO-ORIENTADOR: Dr. Fábio Souto de Almeida
TRÊS RIOS - RJ
JUNHO – 2016
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA
DIAGNÓSTICO DO CULTIVO ORGÂNICO E CONVENCIONAL E
INSETOS ASSOCIADOS NO MUNICÍPIO DE PARAÍBA DO SUL-RJ
MILENA SOARES DOS SANTOS
Monografia apresentada ao curso de Gestão Ambiental,
como requisito parcial para obtenção do título de
bacharel em Gestão Ambiental da UFRRJ, Instituto Três
Rios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
TRÊS RIOS - RJ
JUNHO – 2016
Santos, Milena Soares dos, 1992-
Diagnóstico do cultivo orgânico e convencional e insetos associados no
município de Paraíba do Sul-RJ. Milena Soares dos Santos – 2016
35f.; grafs., tabs.
Orientadora: Ângela Alves de Almeida.
Monografia (graduação) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Instituto Três Rios.
Bibliografia: f. 34-35.
1. Agroecologia – Conservação – Produção de alimentos. Almeida, Ângela
Alves de. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Instituto Três Rios.
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO TRÊS RIOS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA
DIAGNÓSTICO DO CULTIVO ORGÂNICO E CONVENCIONAL E
INSETOS ASSOCIADOS NO MUNICÍPIO DE PARAÍBA DO SUL-RJ
MILENA SOARES DOS SANTOS
Monografia apresentada ao Curso de Gestão Ambiental
como pré-requisito parcial para obtenção do título de
bacharel em Gestão Ambiental da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, Instituto Três Rios da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Aprovada em ___/___/______
Banca examinadora:
__________________________________________
Profª. Orientadora: Drª. Ângela Alves de Almeida
__________________________________________
Prof. Co-Orientador: Dr. Fábio Souto de Almeida
__________________________________________
Prof. Dr. Leonardo Mitrano Neves
_____________________________________________
Profª. Drª. Erika Cortines
TRÊS RIOS - RJ
JUNHO – 2016
Dedicatória
“Dedico a Deus, aos meus pais, meus irmãos, professores e amigos. ”
AGRADECIMENTO
A Deus, pelo dom da vida.
Aos meus pais, Antônia e João. Sou muitíssimo grata pelo amor, carinho e incentivo
em todos os momentos. Desejo sempre honrá-los por tudo que fizeram pela nossa família.
Aos meus irmãos, Douglas e Taísa. Agradeço pela força, determinação, o amor e a
cumplicidade pois nos tornam mais unidos. Agradeço a florzinha mais linda do meu jardim,
minha sobrinha Samyra, mesmo sendo de pequena estatura carrega dentro de si um enorme
amor e possui a habilidade de apresentar a felicidade através de pequenos gestos
acompanhados de um sorriso encantador.
A todos os meus amigos o meu muito obrigada, por cada abraço, dos puxões de orelha,
as risadas compartilhadas, dos movimentos estudantis, das viagens e aventuras que tivemos
durante todo esses quatro e incríveis anos, saibam que vocês sempre estarão em meu coração.
Agradeço em especial aos amigos Fátima Trombini e Júnior Florenzano pelas
experiências profissionais as quais me permitiram amar ainda mais a profissão do gestor
ambiental, toda minha gratidão a vocês! Dessa mesma forma, agradeço a toda equipe da Vale
Verde – Soluções e Serviços Ambientais que possibilitou um avanço nas áreas pessoal e
profissional. Sinto-me privilegiada em ter participado deste grupo. Os momentos em que
estive nesse lugar estarão para sempre em minha memória.
Aos professores e aos meus orientadores, Ângela Almeida e Fábio Souto. Obrigada
por todo conhecimento transmitido, pela paciência e por acreditarem no meu trabalho.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Instituto Três Rios, agradeço pela
oportunidade de aprendizado.
“Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem
que adquire o conhecimento. ” Provérbios 3:13
RESUMO
O trabalho teve como objetivo elaborar um diagnóstico comparativo da ocorrência de
plantas e insetos em dois sistemas de cultivo (orgânico e convencional) nas comunidades
rurais de Paraíba do Sul, Estado do Rio de Janeiro. De novembro de 2015 a abril de 2016
foram aplicados questionários em 20 propriedades rurais, sendo 10 do sistema orgânico de
produção e 10 do sistema convencional. A área média ocupada pelos plantios foi
expressivamente maior nas propriedades que adotam o cultivo convencional (3,42 ± 5,44
ha) que nas propriedades onde produzem alimentos orgânicos (0,48 ± 0,56 ha). O tempo
médio de cultivo também foi maior nas propriedades com o cultivo convencional (8,50 ±
7,44 anos) que sob manejo orgânico (2,20 ± 0,92 anos). Foi observado que 62 espécies são
cultivadas nas propriedades que praticam o cultivo orgânico e apenas nove espécies estão
presentes nas propriedades com cultivo convencional. As espécies mais frequentes nos
cultivos orgânicos foram o aipim, o capim-limão, a alface e a citronela, enquanto que nas
propriedades que fazem o cultivo convencional foram o maracujá, o pimentão-verde e o
tomate. O número médio de espécies de plantas cultivadas foi aproximadamente nove vezes
maior nas propriedades com cultivo orgânico (24,4 ± 20,04 espécies) que com cultivo
convencional (2,70 ± 1,77 espécies). Foram citadas 18 plantas benéficas nas propriedades
com cultivo orgânico, sendo o capim-limão e a citronela as mais frequentes. Por outro lado,
apenas uma espécie benéfica (milho) foi citada em uma propriedade com cultivo
tradicional. O número médio de espécies de plantas benéficas por propriedade rural com
cultivo orgânico foi 3,60 ± 3,72 espécies e com cultivo convencional foi 0,1 ± 0,11
espécies. Nas propriedades rurais que praticam o cultivo convencional foram citados 17
insetos no total, enquanto que nas propriedades com cultivo orgânico foram 15 insetos. O
número médio de espécies de insetos danosos às plantas cultivadas foi maior nas áreas com
cultivo orgânico (4,80 ± 2,94 espécies) que convencional (3,50 ± 1,58 espécies). O mesmo
ocorreu com o número médio de espécies de insetos benéficos, pois foi maior nas áreas de
orgânicos (4,10 ± 1,52 espécies) que nas convencionais (1,6 ± 1,78 espécies). A
diferenciação entre os sistemas de cultivo se deve as diferenças na utilização de insumos
agrícolas.
Palavras-chave: agroecologia, conservação, produção de alimentos.
ABSTRACT
This work had as main goal to elaborate a comparative occurrence diagnostic of plants and
insects in two cultivation systems (organic and conventional) in rural communities of Paraiba
do Sul, state of Rio de Janeiro. Since November 2015 until April 2016, questionnaires were
applied in 20 rural proprieties, where were 10 for organic production system and 10 for
conventional system. The average area occupied for plantations were most expressed in
proprieties which it adopted conventional cultivation (3,42 ± 5,44 ha) than in proprieties
where it produces organic foods (0,48 ± 0,56 ha). The average time for cultivation was
highest in proprieties with conventional cultivation as well (8,50 ± 7,44 years), than via
organic management (2,20 ± 0,92 years). It was observed that 62 species are cultivated in the
proprieties where it is practicing organic cultivation and only 9 species are present in
proprieties with conventional cultivation. Species most frequent in organic cultivation were
cassava, lemon-grass, lettuce and citronella, while in proprieties that make conventional
cultivation were passion fruit, green pepper and tomato. The average number of species of
cultivated plants was approximately nine times more in proprieties via organic cultivation
(24,4 ± 20,04 species) and with conventional cultivation (2,70 ± 1,77 species). It was cited 18
benefic plants in proprieties with organic cultivation, being the most frequent lemon-grass and
citronella. On the other hand, only one benefic specie (corn) was cited in a propriety with
traditional cultivation. The average number of benefic plants per rural propriety with organic
cultivation was 3,60 ± 3,72 species and with conventional cultivation was 0,1 ± 0,11 species.
In rural proprieties who it is practicing conventional cultivation were cited 17 insects in total,
while in proprieties with organic cultivation were 15 insects. The average number of damages
insect species to cultivated plants was higher in organic cultivation areas (4,80 ± 2,94 species)
than conventional cultivation (3,50 ± 1,58 species). This same fact occurred to the average
number of benefic insect species, where it was higher in organic areas (4,10 ± 1,52 species)
than in conventional (1,6 ± 1,78 species). The differentiation between these cultivation
systems is originated from the differences in the agricultural inputs utilization.
Key-words: agroecology, conservation, food production.
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS
ABIO – Associação de Agricultores Biológicos.
EMBRAPA- Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
PMPS – Prefeitura Municipal de Paraíba do Sul.
SMAAPS – Secretaria Municipal do Ambiente e Agricultura de Paraíba do Sul.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização geográfica do município de Paraíba do Sul-RJ..................6
Figura 2. Imagem de Sebollas................................................................................7
Figura 3. Imagem de Queima Sangue....................................................................8
Figura 4. Imagem de Rio Manso............................................................................8
Figura 5. Área total dos sistemas de cultivo orgânico ou convencional.................9
Figura 6. Tempo médio de cultivo.........................................................................11
Figura 7. Tamanho médio (±EP) da área de escape por propriedade....................11
Figura 8. Número médio de plantas cultivadas......................................................14
Figura 9. Número médio (±EP) de insetos praga e de insetos benéficos...............16
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Lista de plantas cultivadas e número de produtores rurais que praticam cultivo
orgânico ou convencional................................................................................12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Insetos presentes nos cultivos orgânicos e convencionais.............15
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
1.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................................ 5
1.1.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................... 5
2. MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................................... 5
2.1. ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................... 5
2.2. DIAGNÓSTICO COMPARATIVO ................................................................................... 7
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................... 9
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 19
5. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 21
1
1. INTRODUÇÃO
A agricultura inicia-se possivelmente, por volta de 10.000 a.C. no período neolítico,
durante a transição da predação para a agricultura. Essa transição modificou os conhecimentos
técnicos, a qualidade de vida, a cultura e economia (Mazoeyr & Roudart 2010). A população
mundial cresceu rapidamente entre 3.000 e 1.000 a.C. pois passou de cerca de 50 a 100
milhões de pessoas. Uma das explicações para esse aumento populacional são os avanços na
agricultura, como os observados em civilizações da Mesopotâmia e do Nilo, que
possibilitaram o surgimento de elevadas densidades populacionais (Mazoyer & Roudart
2010). Os efeitos da agricultura europeia no crescimento da população mundial ocorreram
principalmente a partir da Idade Média, fruto da revolução agrícola. A população europeia
chegou a quadruplicar entre os séculos XI ao XIII, apoiada pela criação e aperfeiçoamento de
métodos e tratos culturais, como o plantio em pousio e o uso de tração pesada (Veiga 2003).
O sistema de produção agrícola passou por diversas modificações, com o avançar das
tecnologias agrícolas. A partir da década de 1960, a Revolução Verde permitiu a produção em
larga escala, mas com poucas variedades de plantas, utilização de sementes geneticamente
modificadas, de agrotóxicos e da irrigação por aspersão. Estas técnicas, causam problemas
como a elevação dos custos para a aquisição de tecnologias, perdas na diversidade cultural e
na diversidade genética das plantas cultivadas, pois o produtor acaba por abandonar a
utilização de sementes crioulas (Altieri 2012). Muitos agricultores tornaram-se dependentes
das multinacionais e, em alguns casos, tornam-se cada vez mais endividados, na busca por
obter todos os exageros tecnológicos da agricultura moderna (Penteado 2012). Além disso,
outros problemas decorrentes da agricultura convencional, praticada com agrotóxicos, são: a
incidência de doenças em seres humanos em função do consumo de alimentos contaminados;
a poluição ambiental; o surgimento de insetos e fitopatógenos resistentes aos insumos
químicos; e a escassez de polinizadores.
Grande parte dos agricultores convencionais utilizam agrotóxicos em suas culturas
para controlar pragas e doenças. A agricultura de cunho industrial possui a característica de
ocupar uma vasta área de produção, promovendo a perda dos habitats naturais, conversão de
áreas em paisagens agrícolas homogêneas, perda de espécies silvestres benéficas, como por
exemplo as abelhas, organismos polinizadores e dispersores de plantas que beneficiam o
2
sistema de cultivo, e de agrobiodiversidade como consequência direta dos usos de
agroquímicos e outras práticas (Altieri 2012).
Do ponto de vista social, a população tem consumido alimentos com a dosagem de
agrotóxicos acima do limite máximo permitido pela ANVISA e, com ingredientes ativos não
autorizados, segundo as amostras analisadas por cultura nos anos de 2011 e 2012 (ANVISA
2012). O alimento que se encontra em primeiro lugar na análise de 2011 foi o pimentão, que
apresentou resíduos de agrotóxicos não autorizados em 84% das amostras, e ainda apresenta
uma quantidade de resíduos acima do limite máximo permitido em 4,7% das amostras
(ANVISA 2012).
Devido aos problemas gerados pela agricultura convencional, muitos produtores rurais
têm se voltado para a produção orgânica de alimentos. Para Gleismann (2009), o sistema de
produção orgânica está baseado em normas de produção específicas, a qual estabelecem
estruturas de cunho sustentável, do ponto de vista social, ecológico e econômico. Segundo o
Ministério da Agricultura e Abastecimento (IN nº 007, de 17 de maio de 1999), o sistema de
produção orgânica é:
“Todo aquele em que se adotam tecnologias que aperfeiçoem o
uso de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a
integridade cultural e tendo por objetivo a auto sustentação no
tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a
minimização da dependência de energias não renováveis e a
eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos
artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados
OGM/transgênicos ou radiações ionizantes em qualquer fase do
processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os
mesmos, privilegiando a preservação da saúde ambiental e
humana, assegurando a transparência em todos os estágios da
produção e da transformação.”
Na natureza, os seres vivos interagem entre si e com o ambiente, para que possam
promover a troca de energia e nutrientes por meio das relações que formam a cadeia
alimentar. Menezes & Menezes (2005) comentam que os seres vivos possuem funções
distintas e ocupam diferentes níveis tróficos, pelos quais movem-se a energia e os nutrientes.
A base da cadeia trófica é ocupada pelos produtores, sendo representado pelas plantas, que
convertem a radiação solar para energia química. A energia que estes produzem é transferida
aos que não produzirem seu próprio alimento, conhecidos como organismos heterotróficos, e
se classificam como consumidores e decompositores. Os consumidores pertencem ao nível
3
intermediário e se alimentam de materia orgânica vegetal e matéria orgânica animal
(carnívoros). No último nível trófico estão inseridos os decompositores, que utilizam a
materia orgânica morta como alimento, realizando a decomposição e devolvendo os
elementos ao ambiente. Os insetos pertencem a essa cadeia e cada espécie desempenha suas
próprias funções. Essas interações que ocorrem entre os seres vivos, como a herbivoria,
predação, parasitismo, competição, entre outros, são de extrema importância para que ocorra
o controle biológico das populações de insetos. A densidade populacional de uma espécie
influencia diretamente no número de indivíduos de outra espécie (Menezes & Menezes 2005).
Na história da agricultura, os problemas sucedidos de pragas aconteceram a partir do
momento em que uma forma organizada de agricultura permitiu ao ser humano estabelecer
centro de civilização, propondo, inicialmente com plantas cultivadas e animais domesticados
trazidos de outras regiões (Atkis 1978). Dessa forma, durante muito tempo as espécies de
plantas e de animais foram movidas para novas áreas e, como consequência, muitas outras
pragas tiveram origens como componente do ecossistema natural no qual as culturas foram
plantadas. Portanto, os animais que se alimentavam de plantas nativas se dispersaram para as
plantas cultivadas introduzidas, na maioria das vezes podendo ser relacionadas
taxonomicamente, as quais obtiveram um aumento da disponibilidade de alimento e, em
decorrência disto, além da preferência alimentar alcançaram um acréscimo populacional em
níveis suficientes para causar prejuízos econômicos (Menezes & Menezes 2005).
Os organismos que atuam como agentes reguladores das populações de insetos podem
ser agrupados em três categorias: predadores, parasitoides e patogênicos. Os dois primeiros
são considerados como agentes entomófagos e, o último entomopatogênico, o qual é abordado
dentro do controle microbiano (Bueno 2005).
Os predadores são organismos dependentes de suas presas, basicamente, alimentam-se de
sua presa tanto na fase imatura quanto na fase adulta, sendo necessário consumir certa
quantidade de presas para que a fase imatura conclua seu desenvolvimento na fase adulta, o
qual continua alimentando para manter-se. Alguns dos principais insetos predadores estão
agrupados nestas ordens:
Coleoptera (Coccinellidae, Carabidae, Staphylinidae, Cicindellidae e Histeridae).
Hemiptera (Anthocoridae, Pentatomidae, Reduviidae, Nabidae e Nononectidae).
Hymenoptera (Vespidae e Formicidae).
Diptera (Syrphidae e Asilidae).
4
Para Altieri (2012) os parasitoides são organismos que parasitam um hospedeiro,
completam seu ciclo em um único hospedeiro e, usualmente, mata esse hospedeiro. Este é de
vida livre, podendo se alimentar de néctar, pólen, secreções de cochonilhas e pulgões.
A relação parasitoide/hospedeiro apresenta-se apropriada para uso em programas de
controle biológico, uma ocasião em que, geralmente, os parasitoides são mais específicos e
apresentam maior habilidade de procura e encontro por seus hospedeiros. A maioria pertence
as Ordens Hymenoptera, como as famílias; Braconidae, Chalcicidae, Encyrtidae,
Trichogrammatidae, Scelionidae e Bethylidae. E da Ordem Diptera, as famílias, Tachinidae e
Phoridae (Menezes & Menezes 2005).
Os entomopatógenos são constituídos de microrganismos que causam doenças em
insetos e pertencem, principalmente, aos seguintes grupos: fungos, bactérias, vírus e
nematoides. Na agricultura, cerca de 80% das doenças são causadas por fungos, representados
pelos gêneros Aspergillus, Beauveria, Enthomophthora, Erynia, no entanto, os vírus possuem
uma alta especificidade e alta virulência ao inseto hospedeiro, e as famílias que ocasionam
essas doenças são: Baculoviridae, Reoviridae, Poxviridae, Ascoviridae e Iridoviridae. Em
relação às bactérias, as espécies que mais causam doenças nos insetos são os gêneros Bacillus
e Chlostridium (Menezes & Menezes 2005).
O município de Paraíba do Sul encontra-se no estado do Rio de Janeiro, localizado na
Região do Centro Sul Fluminense e faz divisa com o Estado de Minas Gerais (IBGE 2010). A
cidade é caracterizada como Estância Hidromineral, e de acordo com a Secretaria de Meio
Ambiente e Agricultura, esta tem sido reconhecida através da adesão à projetos que
beneficiam produtores rurais mediante a implantação de unidades produtivas com tecnologia
sustentável e na conservação ambiental (PMPS 2016). O presente trabalho apresenta os
resultados de um levantamento de plantas cultivadas e insetos presentes propriedades
agrícolas com cultivo orgânico de alimentos e com cultivo convencional no município de
Paraíba do Sul.
5
1.1. OBJETIVO GERAL
Elaborar um diagnóstico do cultivo orgânico e convencional e insetos associados nas
comunidades rurais de Paraíba do Sul-RJ.
1.1.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Realizar um levantamento das plantas cultivadas, insetos praga, insetos
benéficos e as áreas cultivadas nas propriedades rurais.
Comparar os resultados do levantamento nos dois sistemas de produção:
convencional e orgânico.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. ÁREA DE ESTUDO
O município de Paraíba do Sul encontra-se no estado do Rio de Janeiro, localizado na
Região do Centro Sul Fluminense (Figura 1). Localizada a 306 m de altitude, Paraíba do Sul
fica na latitude 22º09'43" sul e na longitude 43º17'34" oeste. Possui área de 580,525 km² e
cerca de 41.084 habitantes. A cidade se divide em quatro distritos e 42 bairros: 1º Distrito
Paraíba do Sul (sede), 2º Distrito Salutaris, 3º Distrito Inconfidência e o 4º Distrito Werneck
(IBGE, 2010). O levantamento de dados foi realizado nos bairros Queima Sangue, Sebollas e
Rio Manso.
6
Figura 1. Localização geográfica do município de Paraíba do Sul no Rio de Janeiro. Fonte:
Paraíba do Sul (Website).
Sebollas (Figura 2) representa a sede do 3º Distrito de Inconfidência do município de
Paraíba do Sul, possui atualmente cerca de 1.500 habitantes (sede) e 3.000 habitantes
aproximadamente no 3º distrito em sua totalidade, abrangendo Rio Manso, Rio Acima,
Sardoal, Membeca, Sertão do Calixto e Retiro de Sebollas. Os moradores vivem basicamente
de prestação de serviços como lavouras, turismo, serviços públicos e outros (Fonte: Sebolas,
RJ (Website)).
Rio Manso (Figura 3) localiza-se no 3º Distrito Inconfidência, bairro onde estão
grande parte dos produtores convencionais da cidade. Na localidade o Rio Fagundes é
responsável por abastecer a população local e pela irrigação nas áreas agrícolas. A maioria
dos cultivos nesta área são de tomate e pimentão, em escala menor couve-flor, maracujá,
repolho, entre outros, há também, criações de gado de leite e de corte (SMAAPS 2016).
O bairro Queima Sangue (Figura 4) situado no 2º Distrito Salutaris, pertence a uma
área onde existem poucos agricultores familiares e grande parte da localidade é de utilizada
7
para pastagem. A produção desta área compõe desde hortaliças, a legumes, verduras e frutas
(SMAAPS 2016).
2.2. DIAGNÓSTICO COMPARATIVO
Para a coleta de dados foram aplicados questionários entre novembro de 2015 a abril
de 2016, nos bairros Sebollas (Figura 2), Queima Sangue (Figura 3) e Rio Manso (Figura 4)
no município de Paraíba do Sul/RJ.
Figura 2. Imagem de Sebollas. Fonte: Google Earth
8
Figura 3. Imagem de Rio Manso. Fonte: Google Earth.
Figura 4. Imagem de Queima Sangue. Fonte: Google Earth.
9
Os questionários foram aplicados à 20 proprietários rurais, sendo que 10 adotam o
sistema orgânico de produção e 10 o sistema convencional. Todos os produtores orgânicos
visitados encontram-se devidamente certificados pela Associação dos Agricultores Biológicos
(ABIO).
Nos questionários, foram elaboradas 10 questões as quais pontuam sobre as seguintes
informações: o tipo de sistema de cultivo o produtor adota; o tamanho da área cultivada; a
quantidade de tempo existente do cultivo; quais espécies de plantas são cultivadas; se adota
ou não o uso de espécies benéficas no sistema; os tipos de caldas ou inseticidas já utilizados
pelos produtores no sistema; quantas vezes este manejo foi feito durante os ciclos das
culturas; se na propriedade existe área de escape (definida como área sem uso ou área em
pousio); quais insetos praga e quais insetos benéficos ocorrem no sistema.
Os dados foram digitalizados em uma planilha eletrônica. Posteriormente, foram
analisados com estatística descritiva, por meio da frequência absoluta e média aritmética.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A área total ocupada pelos plantios foi expressivamente maior nas propriedades que
adotam o cultivo convencional que nas propriedades onde se produzem alimentos orgânicos
(Figura 5).
Figura 5: Área total dos sistemas de cultivo orgânico ou convencional, no município de
Paraíba do Sul-RJ.
10
Em países como Alemanha, Espanha e Itália as áreas com cultivos orgânicos possuem
média de 27,7 a 43,0 ha, enquanto que na Argentina, Inglaterra e Uruguai, países onde as
áreas de cultivo orgânico predominam pastagens, podem ultrapassar 2.000 ha (Santos &
Monteiro 2004), sendo substancialmente maiores que as avaliadas no presente estudo pois
apresentaram-se em proporções que variam de 200m² a 500m². Mesmo no Chile, onde o
tamanho médio é de 10 ha (Santos & Monteiro 2004), a diferença para as áreas cultivadas do
presente estudo é notória, devido as propriedades rurais agroecológicas serem divididas em
pequenos lotes, possuindo cerca de 1,5 ha de sua área total. Portanto, não é considerado
significativamente diferente a produção por área nos sistemas de cultivo, o que as difere é o
tempo de produção por área, no caso do sistema orgânico o qual adota o policultivo e no
convencional o monocultivo (Tivelli 2012).
Uma característica dos cultivos agroecológicos é a otimização da área cultivada
através da diversificação do número e da quantidade de espécies por m². Em uma propriedade
rural deste mesmo sistema, foram citadas as espécies como: ervilha pepino, brócolis, banana,
alface, espinafre, agrião, couve-flor, tomilho, orégano, manjericão, vagem, citronela, pimenta-
malagueta, aipo e outros. Enquanto no sistema convencional, as espécies mencionadas foram:
maracujá, pimentão, tomate, repolho, aipim e jiló.
O tempo médio de cultivo também foi maior nas propriedades convencionais que sob
manejo orgânico (Figura 6). A adoção da agricultura orgânica pelos produtores de Paraíba do
Sul é relativamente recente. Mas cabe ressaltar que o número de propriedades com cultivos
orgânicos vem aumentando rapidamente no Brasil, pois passou de 6.719 produtores (2014)
para 10.194 produtores (2015) no período de um ano (Portal Brasil, 2015).
11
Figura 6: Tempo médio (±EP) de cultivo, em anos, nas áreas sob manejo orgânico ou
convencional, no município de Paraíba do Sul-RJ.
A área de escape média foi maior nas propriedades sob manejo convencional que com
cultivo orgânico. Todavia, todas as propriedades visitadas que produzem alimentos orgânicos
possuem áreas de escape. Por outro lado, apenas 40% das propriedades convencionais
apresentam área de escape. Uma propriedade convencional se destacou devido ao elevado
tamanho da área de escape (6 ha), ocupando cerca de 45% da propriedade (figura 7).
Figura 7: Tamanho médio (±EP) da área de escape por propriedade com cultivo orgânico ou
convencional, no município de Paraíba do Sul-RJ.
12
Foi observado que 63 espécies são cultivadas nas propriedades que praticam o cultivo
orgânico e apenas nove espécies estão presentes nas propriedades com cultivo convencional
(Tabela 1), sendo este dado comum devido os produtores orgânicos utilizarem o policultivo e
o método de rotação de cultura, o qual aumenta na produtividade das culturas, diminui o uso
de fertilizantes, regula as populações de inseto praga e melhora a qualidade do solo e da água
(Mariani & Henkes 2014).
Tabela 1: Lista de plantas cultivadas e número de produtores rurais que praticam o cultivo
orgânico ou convencional, no município de Paraíba do Sul-RJ.
Plantas Cultivadas Tipo de Cultivo
Orgânico Convencional
Abacate Persea americana Mill. 1 0
Abobora Cucurbita spp L. 3 2
Abobora-d’água Cucurbita spp L. 1 0
Abobrinha-verde Cucurbita spp L. 1 0
Acerola Malpighia glabra DC. 1 0
Agrião Nasturtium officinale W.T. Aiton 1 0
Aipim Manihot esculenta Crantz 9 1
Aipo Apium graveolens L. 4 0
Alecrim Rosmarinus officinalis L. 2 0
Alface Lactuca sativa L. 6 0
Alfavaca Ocimum spp L. 3 0
Alho-poro Allium porrum L. 2 0
Arruda Ruta graveolens L. 1 0
Banana Musa spp L. 4 0
Batata-doce Ipomoea batatas L. 4 0
Berinjela Solanum melongena L. 1 0
Beterraba Beta vulgaris L. 3 0
Boldo Plectranthus barbatus Andrews 2 0
Brócolis Brassica oleracea L. 2 0
Caqui Diospyros kaki Thunb. 1 0
Capuchinha Tropaeolum majus L. 1 0
Capim-limão Cymbopogon citratus (DC.) Stapf 7 0
Cebola Allium cepa Mill. 1 0
Cebolinha Allium fistulosum L. 2 0
Cheiro-verde Petroselinum sativum (Mill.) Fuss 3 0
Citronela Cymbopogon winterianus Jowitt 6 0
Couve Brassica oleracea L. 4 0
Couve-manteiga Brassica oleracea L. 1 0
Couve-flor Brassica oleracea L. 3 0
13
Cravo-de-defunto Tagetes patula L. 1 0
Dama-da-noite Cestrum Nocturnum L. 1 0
Erva-cidreira Melissa officinalis L. 1 0
Erva-doce Foeniculum vulgare Mill. 1 0
Ervilha-pepino Pisum sativum L. 1 0
Espinafre Spinacia oleracea L. 1 0
Fava Vicia faba L. 1 0
Feijão Phaseolus vulgaris L. 2 0
Graviola Annona muricata Vell. 1 0
Hortelã Mentha spp L. 4 0
Inhame Colocasia esculenta (L.) Schott 1 0
Jiló Solanum aethiopicum L. 0 1
Jamelão Syzygium cumini (L.) Skeels 1 0
Laranja Citrus sinensis (L.) Osbeck 4 0
Limão Citrus limonum (L.) Burm.f. 3 0
Mamão Carica papaya L. 1 0
Manjericão Ocimum basilicum L. 4 0
Maracujá Passiflora edulis Sims 3 6
Melancia Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai 1 0
Milho Zea mays L. 4 2
Ora-pro-nobis Pereskia aculeata Mill. 2 0
Orégano Origanum vulgare L. 2 0
Pimenta-malagueta Capsicum frutescens L. 1 0
Pimentão-verde Capsicum annuum L. 1 6
Pitanga Eugenia uniflora L. 1 0
Quiabo Abelmoschus esculentus (L.) Moench 4 1
Repolho Brassica oleracea L. 1 2
Rúcula Eruca sativa Mill. 3 0
Salsa Petroselinum sativum (Mill.) Fuss 2 0
Taioba Xanthosoma sagittifolium (L.) Schott 2 0
Tangerina Citrus reticulata Blanco 2 0
Tomate Solanum lycopersicum L. 3 5
Tomilho Thymus vulgaris L. 1 0
Vagem Phaseolus vulgaris L. 2 0
Coentro Coriandrum sativum L. 1 0
Continuação: Tabela 1: Listagem das plantas cultivadas e a frequência de cada espécie nas
propriedades rurais que praticam o cultivo orgânico ou convencional, no município de Paraíba
do Sul-RJ
A agricultura de base ecológica tem a característica de promover uma maior
diversidade de espécies tanto de plantas como de animais. E é esta característica que garante a
sustentabilidade deste tipo de ecossistema.
14
As espécies cultivadas foram relacionadas aos sistemas de cultivo e, em seguida,
apresentaram variações nas frequências ocasionadas pela incidência nas propriedades rurais.
O orgânico permite maior diversificação e manejo ecológico, priorizando o
redimensionamento da escala das unidades produtivas (tabela 1). Dentro dessa listagem
encontram-se espécies de plantas aromáticas as quais beneficiam o sistema de cultivo. A
monocultura ficou caracterizada no sistema convencional pela baixa frequência de espécies
diferentes e a não utilização de espécies benéficas.
Figura 8: Número médio de plantas cultivadas (±EP) nas propriedades rurais com cultivo
orgânico ou convencional, no município de Paraíba do Sul-RJ.
Foram citadas 18 plantas benéficas nas propriedades com cultivo orgânico, sendo o
capim-limão e a citronela as mais frequentes. Por outro lado, apenas uma espécie benéfica
(milho) foi citada em uma propriedade com cultivo tradicional. O número médio de espécies
de plantas benéficas por propriedade rural com cultivo orgânico foi 3,60 ± 3,72 espécies e
com cultivo convencional foi 0,1 ± 0,11 espécies (figura 8).
As espécies benéficas têm várias funções ecológicas como: atrair insetos
polinizadores, repelir alguns tipos de pragas como nematoides a exemplo o cravo de defunto.
Além do alecrim, erva-doce, capim limão, citronela, hortelã, erva cidreira dentre outras
aromáticas que podem confundir os insetos pragas no momento de identificação das plantas
hospedeiras. Muitas plantas benéficas também podem atrair insetos predadores.
Nas propriedades rurais que praticam o cultivo convencional foram citados 16 tipos
insetos no total, enquanto que nas propriedades com cultivo orgânico foram 14 tipos de
15
insetos (Quadro 1). Nas áreas sob o manejo convencional destacou-se a ordem Lepidoptera
(citadas cinco vezes) e Hemiptera (citadas quatro vezes). Nas áreas sob manejo orgânico as
ordens com maior número de insetos citados foram Hymenoptera (citadas seis vezes) e
Hemiptera (citadas três vezes).
Os insetos são animais bem sucedidos evolutivamente e estão presentes em todos os
tipos de ecossistemas. Muitas espécies de ordens como Hymenoptera, Lepidoptera,
Coleoptera e Orthoptera, por exemplo, coevoluíram com a transformação dos ecossistemas
naturais em ecossistemas agrícolas, e tornando importantes pragas agrícolas (Gallo et al
2002).
Os lepidópteros (borboletas e mariposas) na fase jovem podem ser pragas das plantas
cultivadas, por se alimentarem das folhas e ramos jovens, mas, por outro lado, são
importantes polinizadores na fase adulta. A maioria dos hemípteros, sugam a seiva das plantas
e podem ser vetores de doenças. Contudo, existem espécies de hemípteros que são predadoras
de outros insetos podendo ser benéficas nas áreas cultivadas. Dentre os himenópteros, as
formigas-cortadeiras (saúvas e quenquéns) estão entre as mais sérias pragas da agricultura,
por cortarem as folhas das plantas para realizar o cultivo de um fungo, do qual se alimentam.
Os outros himenópteros como as abelhas e vespas, muito provavelmente, trazem apenas
benefícios às plantas cultivadas. As joaninhas são coleópteros predadores, inclusive de
pulgões, entretanto, a vaquinha é um coleóptero desfolhador. Os ortópteros citados também
são desfolhadores (Ruiz 2014).
Quadro 1: Frequência de insetos nos cultivos orgânicos e convencionais, no município de
Paraíba do Sul-RJ.
Insetos
Tipo de Cultivo
Ordem Orgânico Convencional
Abelha-cachorrinho Hymenoptera 9 4
Abelha-comum Hymenoptera 6 5
Bicho-de-fruta Diptera 0 1
Bicho-mineiro Lepidoptera 0 3
Borboleta Lepidoptera 8 2
Cupim Blatodea 5 0
Formiga (quenquém) Hymenoptera 2 1
Formiga (saúva) Hymenoptera 6 1
Gafanhoto Orthoptera 2 0
16
Grilo Orthoptera 3 1
Joaninha Coleoptera 7 2
Lagarta Lepidoptera 1 3
Lagarta-branca Lepidoptera 2 1
Lagarta-preta Lepidoptera 3 0
Mangangá Hymenoptera 8 5
Mariposa Lepidoptera 4 3
Mosca-branca Hemiptera 0 1
Mosca-mineira Diptera 0 1
Mosca-preta Hemiptera 0 1
Percevejo Hemiptera 6 5
Piolho Hemiptera 2 0
Pulgão Hemiptera 7 5
Tripes Thysanoptera 0 1
Vaquinha Coleoptera 2 1
Vespa Hymenoptera 3 0
O número médio de espécies de insetos danosos às plantas cultivadas foi maior nas
áreas com cultivo orgânico que convencional, o mesmo ocorreu com o número médio de
espécies de insetos pragas e insetos benéficos (Figura 9). Isso provavelmente decorre da
utilização de inseticidas químicos sintéticos nos cultivos convencionais, que afetam
negativamente não só as espécies alvo, mas também as espécies de insetos benéficas.
Figura 9. Número médio (±EP) de insetos praga e insetos benéficos (±EP) por tipo de cultivo,
em propriedades agrícolas no município de Paraíba do Sul-RJ.
17
O método dos produtores convencionais para o combate de insetos é através do uso de
inseticidas e fungicidas de origem química, tais como:
Premio (Diamida antranílica – inseticida - classificação toxicológica III)
Pirate (Pirazol – inseticida – classificação toxicológica II)
Mirex (Sulfonamidas fluoroalifáticas – inseticida – classificação toxicológica
III)
Nativo (Estrobilurina e triazol – fungicida – classificação toxicológica III)
Lannate (Metilcarbamato de oxima – inseticida – classificação toxicológica I)
Dentre os agrotóxicos supracitados pode-se observar pelas classes toxicológicas e
grupos químicos que eles variam de altamente tóxicos, classe toxicológica I a pouco tóxicos,
classe toxicológica III. Entretanto, observa-se que os produtores ainda utilizam pesticidas
altamente tóxicos como é o caso do Lannate.
Após a utilização destes os produtores relataram que houve a diminuição da
problemática das pragas, enquanto os demais perceberam que os insetos permanecem
resistentes.
Esse problema ocorre, principalmente, em função do uso excessivo e frequente do
mesmo produto e na mesma área. Quanto maior a aplicação de agrotóxicos nas áreas de uma
mesma plantação, maior será a resistência dos insetos-pragas e da geração posterior. Os
pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vêm trabalhando
no mapeamento de populações resistentes aos agrotóxicos para propor estratégias que possam
evitar a resistência e garantir segurança e sustentabilidade à produção agrícola no Brasil.
Para uma relação maior de dependência dos produtores rurais convencionais para as
empresas de biotecnologia como: Monsanto, Basf, Dupont e a Syngenta. Responsáveis por
fabricar além de adubos, insumos químicos e sementes geneticamente modificadas, também
chamadas de transgênicas. Estas sementes manipuladas em laboratório com a intenção de que
sejam nelas incorporadas uma ou mais características encontradas naturalmente em outras
espécies (Londres 2013).
No caso dos produtores orgânicos, a forma adotada para controle desses insetos-pragas
se dá através de métodos menos agressivos ao meio ambiente. Os métodos citados foram a
calda bordalesa, calda com água e limão e calda de fumo. Além de fazerem uso de
biofertilizantes naturais e do Nim. Cerca de 50% dos produtores orgânicos ainda estão em
18
fase de iniciar o controle de pragas e por isso não consta nas respostas nenhum tipo de manejo
efetuado.
Alguns aspectos como a riqueza de espécies de plantas cultivadas e o uso de espécies
de plantas benéficas, permite no sistema de cultivo orgânico maior presença de insetos uteis
em relação à ocorrência de inseto/praga, devido ao arranjo de plantas associadas por meio da
policultura. Para (Bittencourt 2008) o uso de policultivos se destaca como uma alternativa
promissora para a pequena propriedade rural, caracterizada pela limitação de recursos
estruturais e financeiros. Assim os policultivos são vantajosos devido:
Estabilidade de produção;
Índice de equivalência de área ou uso eficiente da terra;
Mão-de-obra;
Complementação de culturas;
Diversificação alimentar.
A estabilidade de produção ocorre quando os riscos de perdas de produção são
minimizados quando se cultivam duas ou mais espécies, por não coincidirem muitas vezes
seus períodos críticos em exigências climáticas. Ao longo do tempo, a prática da consorciação
e diversificação de culturas promove maior estabilidade na rentabilidade da propriedade como
um todo.
O índice de equivalência de área ou uso eficiente da terra é a consorciação de culturas
aumenta a produtividade agrícola pela melhor utilização do espaço físico. Com o emprego dos
policultivos, grande número de produtores que têm como fator limitante à produção a
disponibilidade de área, tem conseguido manter a posse da terra.
A mão-de-obra é o cultivo de várias espécies na mesma propriedade promove uma
utilização mais uniforme e constante da mão-de-obra familiar durante quase todo o ano. A
complementação de culturas são associar duas espécies em uma mesma área ocorre uma
interação interespecífica, geralmente implicando em vantagens para uma ou ambas, isto é, as
espécies se complementam na utilização da água, dos nutrientes do solo, da luz e na ocupação
do espaço físico. Como resultado se tem um maior rendimento da propriedade como um todo.
A diversificação alimentar segue conforme os cultivos consorciados, pode obter no
mínimo dois produtos utilizados na alimentação humana ou animal, incrementando a dieta
familiar.
19
Outro tópico importante está relacionado ao tipo de inseticida ou calda utilizado no
sistema. No sistema convencional a utilização de inseticidas é pratica corriqueira assim como
a monocultura que oferece um ambiente ideal para o aumento da população de inseto/praga,
principalmente por disponibilizar maior oferta de um mesmo tipo de alimento.
Deste modo, os dados reafirmaram a importância dos insetos presentes nos dois
sistemas de cultivo. Ajudou a compreender a frequência de cada espécie relacionada ao
sistema. Demonstrou que o sistema de cultivo orgânico apresenta uma maior diversidade tanto
de espécies de plantas como de insetos. Demonstrando que o sistema convencional se destaca
pelo uso intensivo de pesticidas e pela menor incidência de espécies benéficas tendo como
consequência sistemas bastante simplificados e instáveis.
O processo de aplicação dos questionários aos proprietários rurais do município de
Paraíba do Sul-RJ, sofreu limitações na parte de coleta e identificação dos insetos praga no
cultivo, onde somente 30% sabiam identificar quais eram as espécies causadoras de pragas e
doença. Outro fator limitante foi acessibilidade às propriedades, devido as condições de ruas e
estradas danificadas. O acesso ao transporte público foi um dos mais complexos, por causa
dos horários disponíveis pela empresa de transporte local.
A partir dos resultados obtidos a perspectiva é que em trabalhos futuros, seja feita a
coleta e identificação dos insetos em nível de espécie, possibilitando melhor entendimento das
relações entre estes e os sistemas de cultivo orgânico e convencionais.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As áreas sob manejo orgânico em Paraíba do Sul, apesar de menores que as com
cultivo convencional, possuem maior número de plantas cultivadas e número médio de
insetos, ou seja, maior biodiversidade associada. Desse modo, colabora para a conservação
ambiental, promovida pela a maior diversidade de plantas cultivadas. Nas propriedades com
cultivo orgânico nota-se a maior presença de espécies de insetos benéficos, colaborando para
o controle biológico de pragas e a polinização das plantas cultivadas, demonstrando maior
sustentabilidade nos cultivos orgânicos.
A diferenciação entre os sistemas de cultivo se deve ao manejo e a utilização de
insumos agrícolas. A não utilização de pesticidas pelos produtores de alimentos orgânicos
20
corrobora com a crescente a busca por produtos obtidos de maneira limpa promovendo a
melhoria da saúde do agricultor e do consumidor.
21
5. REFERÊNCIAS
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