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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO – TEQ RECURSOS NATURAIS E HEGEMONIA: UMA REFLEXÃO SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS PETROLÍFEROS PARA O DESENVOLVIMENTO MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO JONATHAN BASTOS BARROSO 1

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA

QUÍMICA E DE PETRÓLEO – TEQ

RECURSOS NATURAIS E HEGEMONIA: UMA REFLEXÃO

SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS PETROLÍFEROS

PARA O DESENVOLVIMENTO

MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PETRÓLEO

JONATHAN BASTOS BARROSO

1

JONATHAN BASTOS BARROSO

RECURSOS NATURAIS E HEGEMONIA: UMA REFLEXÃO

SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS PETROLÍFEROS

PARA O DESENVOLVIMENTO

Monografia apresentada ao Curso de Engenharia de Petróleo da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos para a obtenção de Grau de Engenheiro de Petróleo.

Orientador: Prof. Geraldo de Souza Ferreira

3

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Este trabalho é dedicado a minha professora Josinete, que me acompanhou da 1 ª série até a 4ª série, além da minha professora de matemática Nádia e o de física, José Carlos. A todos vocês meu muito obrigado.

6

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por me permitir chegar até aqui

Aos meus pais e meus avós por estarem sempre presentes na minha vida

Ao meu irmão William, por ser muito mais que um simples irmão.

A minha noiva Gisele, por estar sempre ao meu lado, apesar dos semestres estressantes que todos os engenheiros experimentam.

Ao professor Geraldo de Souza Ferreira, mestre, incentivador e orientador, sempre disposto a ajudar nas dificuldades extremas.

Ao professor Roberto Meigikos por me proporcionar o primeiro contato com um laboratório.

Ao professor Arlindo, mais que professor, um amigo, sempre pronto a ajudar e acrescentar muito no desenvolvimento de um engenheiro.

7

Aos amigos que sempre me apoiaram.

8

EPÍGRAFE

Vários judeus piedosos rezavam numa sinagoga, quando começaram a escutar uma voz de criança dizendo:

­A, B, C, D, E ...

Tentaram concentrar­se nos versos sagrados, mas a voz repetia:

­A, B, C, D, E ...

Aos poucos foram parando de rezar. Quando olharam para trás, viram um menino que continuava dizendo:

­A, B, C, D, E ...

O rabino aproximou­se do garoto:

­Por que você está fazendo isto?

­Porque não sei os versos sagrados – respondeu o menino. – Então, tenho a esperança de que, recitando o alfabeto, Deus pegue estas letras e forme as palavras corretas.

­Obrigado por esta lição – disse o rabino. – E que eu possa entregar a Deus os meus dias nesta terra da mesma maneira que você entrega suas letras.

9

Paulo Coelho – “Maktub”

10

RESUMO

As descobertas recentes da Petrobrás na camada do pré­sal deixaram o Brasil com a

possibilidade de alcançar uma posição privilegiada no âmbito econômico mundial num

futuro próximo. Neste contexto, é fundamental uma análise precisa de como o país deve

se comportar para que toda essa expectativa se concretize. Este trabalho realiza um

estudo de alguns países que no passado tiveram tal oportunidade de crescimento, e que

não conseguiram se desenvolver conforme a expectativa da população, devido

principalmente, ao fato do país ter sido afetado pelo “Mal dos Recursos Naturais”. Por

outro lado, outros países conseguiram um crescimento econômico de sucesso, evitando

este problema em suas economias. Por fim, é avaliado como o político brasileiro utiliza

os recursos provenientes do petróleo. Como o país ainda não é um grande exportador de

petróleo, esta análise foi realizada com municípios brasileiros, comparando a evolução

do IDH­M dos cinco municípios que mais receberam royalties no período de 1991­2007

com outros municípios do mesmo estado que apresentavam esses índices próximos.

Palavras­chave: Mal dos Recursos Naturais, desenvolvimento econômico, exploração do

pré­sal.

11

ABSTRACT

Recent discoveries of oil in pre­layer of salt left Brazil with the possibility of achieving

a privileged position in the economic world in the near future. In this context it is

essential an accurate analysis of how the country should behave so that all this

expectation is fulfilled. This work makes a study of some countries that previously had

such an opportunity, and could not develop as the expectation of the population, due

mainly to the fact the country has been affected by the "Dutch Disease." On the other

hand, other countries have achieved an economic growth success, avoiding this problem

in their economies. Finally, it is evaluated as the Brazilian politician uses the income

from oil. As the country is not yet a major exporter of oil, this analysis was performed

with the Brazilian cities, comparing the evolution of the HDI­M of the five cities that

received more royalties for the period 1991­2007 with other municipalities in the same

state that had these indices next.

Keywords: Dutch disease, economic development, exploration of the pre­salt.

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Esquema de Fundo de Estabilização.......................................................... 13

Figura 3.1 – Alterações no Sistema de Tributação no Setor do Petróleo – 1999 a 2005................................................................................................................................ 26

13

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 – Relação para 144 países entre taxa média de crescimento da economia (1975­2005) e participação de produtos primários na exportação de bens em 2005................................................................................................................................ 14 Gráfico 2.2 – Exemplo numérico do modelo Sachs e Warner (1995) – A maldição dos recursos naturais............................................................................................................. 16 Gráfico 2.3 – Oferta e procura........................................................................................ 18 Gráfico 3.1 – Produção de petróleo da Nigéria ao longo de 1990 a 2008...................... 31 Gráfico 3.2 – Produto Interno Bruto da Nigéria............................................................. 32 Gráfico 3.3 – Índice de Desenvolvimento Humano da Nigéria e de países vizinhos..... 33 Gráfico 3.4 – Valor de mercado do GPF e taxa de câmbio – 2001 a 2008.....................36 Gráfico 3.5 – Evolução do IDH da Noruega no período 1975­2007...............................37 Gráfico 3.6 – Evolução do IDH da Rússia no período 1975­2007................................. 39 Gráfico 3.7 – PIB da Venezuela a preços de mercado, 1908/1935.................................40 Gráfico 3.8 – Exportações de petróleo e exportações totais da Venezuela, 1920/1973 (em milhões de bolívares)............................................................................................... 41 Gráfico 3.9 – Evolução do IDH da Venezuela e sua posição no ranking mundial no período 1975­2007.......................................................................................................... 42 Gráfico 4.1 – Evolução da produção de petróleo e gás natural no Brasil em mil BEP (barris equivalentes de petróleo)..................................................................................... 47 Gráfico 4.2 – Evolução da arrecadação dos royalties (1998­2009)................................ 48 Gráfico 4.3 – Evolução da arrecadação dos royalties por beneficiário (1998­2009)..... 48 Gráfico 4.4 – Evolução da arrecadação da participação especial................................... 49 Gráfico 4.5 – Evolução da arrecadação da participação especial entre a União, os Estados e os Municípios entre 2000 e 2009................................................................... 49 Gráfico 4.6 – Evolução do pagamento de royalties entre 1991­2007............................ 50 Gráfico 4.7 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Campos dos Goytacazes no período de 2000­2005...................................................................... 51

14

Gráfico 4.8 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Macaé no período de 2000­2005..................................................................................................... 51 Gráfico 4.9 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Rio das Ostras no período de 2000­2005..................................................................................... 52 Gráfico 4.10 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Cabo Frio no período de 2000­2005........................................................................................ 53 Gráfico 4.11 – Evolução da composição das receitas correntes do município de Quissamã no período de 2000­2005............................................................................... 53 Gráfico 4.12 – Comprometimento da receita dos municípios com a máquina administrativa................................................................................................................. 54 Gráfico 4.13 – Grau de investimento dos municípios entre 2000 e 2005...................... 54 Gráfico 4.14 – Investimento per capta dos municípios entre 2000 e 2005.................... 55 Gráfico 4.15 – Dependência de transferência de recursos dos municípios (sem royalties) entre 2000 e 2005........................................................................................................... 56 Gráfico 4.16 – Dependência de transferência de recursos dos municípios (incluindo royalties) entre 2000 e 2005........................................................................................... 56 Gráfico 4.17 – Autonomia financeira dos municípios entre 2000 e 2005...................... 57 Gráfico 4.18 – Comparativo do IDH­M entre o município de Quissamã e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDH­M próximos................................... 59 Gráfico 4.19 – Comparativo do IDH­M entre o município de Campos dos Goytacazes e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDH­M próximos................. 60 Gráfico 4.20 – Comparativo do IDH­M entre o município de Campos dos Goytacazes e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDH­M próximos................. 62 Gráfico 4.21 – Comparativo do IDH­M entre o município de Cabo Frio e Macaé e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDH­M próximos................. 63

15

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).................. 25 Tabela 3.2 – Formas de apropriação da renda proveniente do petróleo entre 1998­2007. ........................................................................................................................................ 27 Tabela 3.3 – Maiores exportadores líquidos de petróleo – 2006 (em mil barris/dia)..... 29

Tabela 3.4 – As vinte maiores reservas de petróleo do mundo – 2009.......................... 29

Tabela 3.5 – Rússia ­ Balança Comercial (em US$ Bilhões)......................................... 37

Tabela 3.6 – PIB e exportações da Venezuela e preço do petróleo, 1990/2006............. 43 Tabela 4.1 – Distribuição dos royalties de 5%............................................................... 46 Tabela 4.2 – Distribuição dos royalties acima de 5%..................................................... 46 Tabela 4.3 – IDH­M dos cinco municípios que mais receberam royalties no Brasil (1991­2000).................................................................................................................... 58 Tabela 4.4 – Evolução da posição do ranking nacional de IDH­M do município de Quissamã e outros com IDH­M próximos...................................................................... 59 Tabela 4.5 – Evolução da posição do ranking nacional de IDH­M do município de Quissamã e outros com IDH­M próximos...................................................................... 61 Tabela 4.6 – Evolução da posição do ranking nacional de IDH­M do município de Quissamã e outros com IDH­M próximos...................................................................... 62 Tabela 4.7 – Evolução da posição do ranking nacional de IDH­M do município de Cabo Frio, Macaé, e outros com DH­M próximos.................................................................. 64

16

Sumário CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

1.1 – INTRODUÇÃO

1.2 – OBJETIVO

1.3 – RELEVÂNCIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO

1.4 – JUSTIFICATIVA

1.5 – METODOLOGIA

1.6 – ESTRUTURAS DO TRABALHO

CAPÍTULO 2 – A “DOENÇA HOLANDESA” OU “MAL DOS RECURSOS NATURAIS”

2.1 – INTRODUÇÃO

2.2 – ORIGENS E O CONCEITO DO TERMO “DOENÇA HOLANDESA”

2.3 – SINTOMAS DA DOENÇA HOLANDESA

2.4 – NEUTRALIZAÇÕES DA DOENÇA HOLANDESA

2.5 – CARACTERÍSTICAS/SÍNTESE DA DOENÇA HOLANDESA

2.5 – CONCLUSÃO

CAPÍTULO 3 – EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL COM A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO

3.1 – INTRODUÇÃO

3.2 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)

3.2.1 – Classificação dos países através do Índice de Desenvolvimento Humano

3.3 – ARRECADAÇÃO DE DIVISAS PELO GOVERNO PROVENIENTES DO PETRÓLEO

3.4 – PAÍSES PRODUTORES E EXPORTADORES DE PETRÓLEO

3.4.1 – Nigéria

3.4.2 – Noruega

3.4.3 – Rússia

3.4.4 – Venezuela

3.5 – CONCLUSÃO

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DO BRASIL

4.1 – INTRODUÇÃO

4.2 – A HISTÓRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL

4.3 – CÁLCULO E DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES

4.4 – INFLUÊNCIAS DO PETRÓLEO NA ECONOMIA BRASILEIRA

17

4.5 – OS CINCOS MUNICÍPIOS QUE MAIS SE BENEFICIARAM COM OS ROYALTIES ENTRE 1991 – 2007.

4.6 – ANÁLISES DO IDH DOS CINCO MUNICÍPIOS QUE MAIS RECEBERAM ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL.

4.7 – CONCLUSÃO

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ANEXOS

ANEXO 2.1

ANEXO 4.1

18

CAPÍTULO 1 – APRESENTAÇÃO DO TRABALHO

1.1 – INTRODUÇÃO

No final do ano de 2007, a Petrobrás anunciou a descoberta de um mega

campo localizado em Santos. Seria uma descoberta relativamente normal, se não fosse o

fato deste reservatório se localizar na camada conhecida como pré­sal (trata­se da área

de rochas abaixo de uma camada de sal com cerca de dois quilômetros de espessura e

que se estende no oceano desde em frente ao Espírito Santo até Santa Catarina). No ano

seguinte, a Petrobrás anunciaria novas duas descobertas na mesma bacia, tendo uma

estimativa de 33 bilhões de barris, classificando­o como o terceiro maior campo do

mundo. Após sucessivas descobertas de novos campos realizadas por nossa estatal no

ramo petroleiro, as previsões atuais chegam a se aproximar de 100 bilhões de barris . 1

A partir deste fato, grande euforia, por partes da população, políticos e

mídia, tem ocorrido, com a possibilidade de um rápido desenvolvimento econômico no

Brasil, o que pode levar o país a uma posição privilegiada no âmbito econômico

mundial num futuro próximo. Mas como alerta Augusto:

“O desenvolvimento econômico é um processo complexo de mudanças e transformações sociais, através do qual a sociedade torna­se capaz de produzir maior quantidade de bens e serviços, destinados a satisfazer as sempre crescentes e diversificadas necessidades humanas. De modo mais simples, pode­se dizer que o desenvolvimento econômico é o processo de crescimento da economia de uma nação, que implica mudanças qualitativas associadas, como melhores condições de vida para a população.” 2

Ou seja, para um desenvolvimento econômico que transforme o Brasil

em uma das grandes potenciais econômicas mundiais e beneficie toda a população

brasileira, é necessária uma cooperação entre o governo e as empresas, sempre com o

objetivo de desenvolver o país como um todo, e não só uma região ou um setor

1 http://www.revistabrasileiros.com.br/edicoes/14/textos/282/, acesso em 25 março 2010. 2 AUGUSTO, C. A aplicação e os impactos dos royalties do petróleo no desenvolvimento econômico dos municípios confrontantes da Bacia de Campos. Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, 2003. (Monografia de bacharelado em Economia), p.12.

19

específico. Como afirma Furtado : “O projeto de desenvolvimento brasileiro deveria 3

conciliar a preservação de uma das propriedades fundamentais do sistema industrial ­ a

integração das cadeias ­ com a consolidação de posições competitivas cada vez mais

sólidas, fundadas em competências dinâmicas, de base tecnológica e inovativa”.

Com o início da produção e exploração das reservas de petróleo da

camada do pré­sal, o Brasil pode aumentar em muito seu Produto Interno Bruto (PIB), 4

sendo uma excelente oportunidade para o Brasil usar esses recursos para reduzir as

desigualdades regionais e sociais.

Para um projeto desse porte é necessário grande investimento em

pesquisa e tecnologia para viabilizar essa retirada do óleo na camada do pré­sal,

podendo ser um ótimo estimulo para a criação de tecnologia de ponta, além de favorecer

outros setores da economia do país, como por exemplo, o setor naval . Em 5

contrapartida, estudos indicam que países ricos em recursos naturais freqüentemente

apresentam um nível de desenvolvimento humano muito baixo. Um exemplo para este

fato são países membros da OPEP: “indicadores relativos ao ano de 2005 apontam que

apenas quatro deles puderam ser considerados de alto desenvolvimento humano e dois

estão entre as nações mais pobres do mundo e consideradas de baixo desenvolvimento.

Além disso, a desigualdade de renda nestes países tende a ser mais elevada” . 6

Este fenômeno foi identificado pela primeira vez na década de 1960,

quando a Holanda descobriu um grande depósito de gás natural. Conseqüentemente,

este país começou a exportá­lo, acarretando um aumento de renda significativo.

Entretanto, com a entrada de divisas externas provenientes das vendas deste recurso

natural, houve uma forte apreciação do florim holandês (moeda local), o que acarretou

3 FURTADO, J. Muito além da especialização regressiva e da doença holandesa oportunidades para o desenvolvimento brasileiro. Novos Estudos, CEBRAP, Edição 81­ Julho de 2008, p.46.

4 O PIB representa a soma de todos os bens e serviços, em valores monetários, produzidos no país durante um determinado período. Este indicador é um dos mais utilizados na macroeconomia, e o seu objetivo é de mensurar a atividade econômica de uma região.

5 CARVALHAES, F. & PINTO, A. L. O petróleo do pré­sal: os desafios e as possibilidades de uma nova política industrial no Brasil. Pesquisa & Debate, SP, volume 19, número 2 (34), 2008, p. 257.

6 OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Texto para discussão No 1412, p.7.

20

em menor competitividade das exportações dos outros produtos do referido país. Este

cenário foi denominado “mal dos recursos naturais” ou “doença holandesa” . 7

Para evitar tal problema, muitos países têm adotado a criação de fundos

soberanos e de estabilização, que, de acordo com Carvalhaes , “servem basicamente a 8

dois propósitos: controlar a demanda, para evitar a inflação de custos que se segue ao

aumento de preços e salários, e evitar que a taxa de câmbio sofra apreciação uma vez

que os recursos advindos da venda do petróleo não entram na economia doméstica”.

Com esta medida e uma política eficaz, alguns países conseguiram

transformar o sonhado desenvolvimento em uma realidade com a utilização dos recursos

provenientes do petróleo. Atualmente a Noruega, que possui o maior Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) no mundo, mostrou a todos os países que é possível 9

transformar todos esses recursos em um legado para toda a população atual e futura.

Este trabalho procura compreender as diversas questões envolvidas para

um adequado aproveitamento das oportunidades geradas pelas recentes descobertas de

petróleo, devido aos recursos financeiros que o mesmo possa receber e, ao mesmo

tempo, entender alguns aspectos relacionados à administração eficiente de tais recursos,

de modo que as futuras gerações também recebam esse benefício, evitando erros que no

nosso passado foram tão freqüentes.

1.2 – OBJETIVO

Este trabalho visa realizar um estudo de casos de alguns países que

tinham como objetivo, por meio dos recursos provenientes da produção de petróleo,

crescer e se desenvolver economicamente, sonhando, em pouco tempo, conseguir uma

economia forte e estável. Porém poucos são os exemplos dos países que conseguiram tal

sucesso.

7 NAKAHODOS, S. N.; JANK, M. S. A falácia da doença holandesa no Brasil. Instituto do Comércio e Negociações Internacionais: Documento de Pesquisa. São Paulo, 2006, p.2.

8 CARVALHAES, F. & PINTO, A. L. O petróleo do pré­sal: os desafios e as possibilidades de uma nova política industrial no Brasil. Pesquisa & Debate, SP, volume 19, número 2 (34) pp. 255­271, 2008, p.261.

9 O cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) será explicado no Capítulo 3.

21

Por meio desse estudo, espera­se, como objetivo principal, colaborar com

a produção de material fonte para futuros debates relativos às atitudes que o Governo

brasileiro deva implementar com relação às reservas de petróleo do pré­sal, de modo a

identificar o seu potencial para o fortalecimento e crescimento da indústria petrolífera e

outros setores do país.

Como primeiro objetivo específico, este trabalho apresenta uma melhor

compreensão da postura adotada pela Noruega, que conseguiu obter altas taxas de

desenvolvimento econômico por meio da exploração do petróleo, sendo, neste assunto,

uma referência mundial de caso bem sucedido, diante de tantos casos de fracassos,

encontrados na literatura.

O segundo objetivo específico a ser explorado é uma explicação da falha

de mercado que ficou conhecido como doença holandesa ou mal dos recursos naturais.

Busca­se compreender quando este fenômeno ocorre, quais os países que correm o risco

de adquirir esta doença, além de analisar os países que já sofreram ou apresentam tal

problema.

Como terceiro e último objetivo específico, analisa­se como têm sido

utilizados os recursos provenientes da exploração do petróleo no Brasil, enfocando­se

alguns exemplos de municípios que têm recebido royalties de petróleo. Além disso,

apresentam­se algumas perspectivas para a utilização dos recursos financeiros, para o

caso do petróleo encontrado na camada do pré­sal.

1.3 – RELEVÂNCIA E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO

Após as descobertas de grandes reservas de petróleo na camada do

pré­sal, o Brasil se encontra em um momento de grande euforia, fato que pode entrar

como marco na história deste país. Após anos dependentes de dinheiro externo, o Brasil

pode, por meio deste recurso natural, se firmar e se estabelecer como uma potência

econômica mundial. Para isso terá que conseguir vencer grandes desafios na parte

econômica, como dito por Celso Furtado para o caso da Venezuela, e que se encaixa

perfeitamente nos dias atuais:

22

“As etapas de rápido crescimento com base em estímulos externos, quando não produzem mudanças estruturais no sistema econômico, tendem necessariamente a um ponto de estagnação. Tem­se observado casos de economias que, com o impulso da expansão de suas exportações, crescem com inusitada intensidade durante um ou dois decênios para afogarem­se depois em permanente estagnação. Esta é tanto mais difícil de vencer quanto se constituem poderosos mecanismos de defesa de uma ordem de privilégios que se vê ameaçada pelas mudanças estruturais que uma nova fase de desenvolvimento exigiria” . 10

Com isso, percebe­se a importância de um estudo que avalie

cuidadosamente como o país pode utilizar os recursos financeiros provenientes do

petróleo, com o objetivo de desenvolver sua economia de forma sustentável, fazendo

com que após a escassez deste recurso natural, o país possa continuar se desenvolvendo

economicamente. Na parte social, também fazendo referência a Celso Furtado:

“Em pequenos países, nos quais as vantagens comparativas se baseiam na exploração dos recursos não renováveis — caso extremo são os emirados petroleiros —, pode ocorrer que a modernização conduza a homogeneização social mediante ação redistributiva do Estado. São sociedades que vivem de renda auferida sobre um patrimônio que receberam como dádiva. Para atender as exigências dos custos crescentes das formas de vida que adotaram num processo rápido de aculturação, essas sociedades são levadas a depredar as suas reservas de bens não renováveis. São sociedades que não vivem do próprio trabalho, de hoje ou do passado. Nasceram sobre uma mina de ouro. Quanto mais alto o nível de vida das gerações presentes, maiores problemas deverão enfrentar as futuras, quando começar a esgotar­se o tesouro que receberam” . 11

Assim, reservas que seriam usadas durante décadas para melhoria de

qualidade de vida de toda a população de um país, são exaustivamente exploradas,

fazendo com que a reserva resista poucos anos, em benefício de pequena parcela da

população, que recebem grandes quantidades de dinheiro, enquanto a maior parte da

população não percebe melhorias em sua qualidade de vida.

Estes mesmos problemas já foram encarados por países como a Holanda,

Nigéria, Venezuela, Noruega e outros, uns conseguindo sucesso nos seus objetivos,

tendo uma economia estabilizada e passando a figurar entre os países com maior Índice

de Desenvolvimento Humano (IDH), enquanto outros colhem profundos problemas

10 FURTADO, C., 1920­2004. Ensaios sobre a Venezuela: subdesenvolvimento com abundância de divisas. Rio de Janeiro: Contraponto: Centro Internacional Celso Furtado, 2008, p.160.

11 FURTADO, C. Globalisation ET exclusion: Le Brésil dans l’order mondial émergent. Paris: Publisud, 1995, p.40.

23

acarretados por falta de planejamento correto, como desindustrialização do país,

estagnação de sua economia, e uma série de outros problemas.

Tal desafio consiste em saber administrar esse grande volume de recurso

que o país irá receber, proveniente do petróleo, alocando esta quantidade de dinheiro em

investimentos, e não a ajudar o Estado em gastos públicos ou especulações, o que

acarreta numa atrofia no sistema fiscal tradicional. Um passo importante é analisar a

maior quantidade possível de países que passaram por situações semelhantes e avaliar

suas atitudes em relação a esse assunto.

A Holanda passou a exportar gás natural em grandes proporções, o que

provocou uma maciça entrada de divisas decorrente de suas receitas de exportação. O

efeito da entrada de moeda estrangeira foi a forte valorização de sua moeda local (na

época, o florim). A valorização cambial atingiu de maneira direta o setor industrial,

afetando sua competitividade externa, estimulando as importações, o que levou a um

processo de desindustrialização . 12

A partir deste problema enfrentado pela Holanda, houve um extenso

estudo sobre o ocorrido neste país. O fenômeno de declínio pelo qual passava o setor

industrial na Holanda após a descoberta de grande fonte de gás natural foi denominado

“doença holandesa” ou “mau dos recursos naturais” (o termo em inglês, “dutch disease”,

parece ter sido utilizado inicialmente pela revista The Economist).

Os governantes têm que ter muita cautela em relação à doença holandesa.

Devido à sua difícil detecção, devem ser realizados estudos regulares sobre: a

desindustrialização do país, a avaliação de sua economia, avaliação do impacto da

exportação do petróleo no PIB e avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH). Atualmente já há a preocupação se o Brasil esta sofrendo desse mal. Affonso

Celso Pastore e Maria Cristina Pinotti dizem ser “tentadora a analogia da situação 13

brasileira com o fenômeno ocorrido na Holanda”.

12 SOUZA, G. L. J. Doença holandesa: o Brasil corre este risco? Disponível: http://www.viannajr.edu.br/site/menu/publicacoes/publicacao_economia/artigos/edicao8/holandesa.pdf. Acessado em: 20 fev. de 2009.

13 PASTORE, A. C. & PINOTTI, M. C. Câmbio, reservas e doença holandesa, Jornal Valor Econômico, 2006. Citado por NAKAHODOS, S. N.; JANK, M. S. A falácia da doença holandesa no Brasil. Instituto do Comércio e Negociações Internacionais: Documento de Pesquisa. São Paulo, 2006. p.2.

24

Outro país que passa por problemas semelhantes é a Nigéria, que possui

uma reserva de petróleo estimada em 36,2 bilhões de barris . Estima­se que o país já 14

tenha recebido cerca de 400 bilhões de dólares de 1960 até 2008. Atualmente este setor

é responsável por 95% do valor das exportações. Porém, o país se encontra em 85.°

lugar na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (0,47) elaborado pelo

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. A expectativa de vida é de 43,3

anos e o índice de mortalidade infantil é de 98 por mil, um dos mais altos da África. Ou

seja, todo este recurso não está melhorando a qualidade de vida da população, sendo

este um típico caso de fracasso na utilização dos recursos provenientes do petróleo pelo

Estado. Alguns autores estão chamando o que está ocorrendo neste país de doença

nigeriana, devido ao fato de as petrolíferas estarem destruindo as terras agricultáveis,

além de esgotar o seu petróleo e fazer com que a população continue vivendo na

miséria, cada vez mais séria e com menores quantidades de reservas de petróleo e

esperança de um futuro melhor.

A Venezuela possui uma reserva de petróleo estimada em 99 bilhões de

barris. Como o petróleo representa 75% da receita de exportação e é responsável por 1/3

do PIB , percebe­se claramente que não houve ao longo das décadas um investimento 15

visando à substituição da importância da exploração do petróleo, sendo claramente uma

economia muito dependente deste recurso natural.

A Noruega ficou em 1o lugar no IDH em 2007, atingindo um patamar de

0,971. Esse país apresenta uma reserva atual de 7,8 bilhões de barris de petróleo . O 16

governo norueguês, com a preocupação de não ficar apenas dependente da exploração

do petróleo, criou em 1990 o Fundo Petrolífero Estatal Norueguês. Este fundo tem como

objetivo a garantia da estabilidade macroeconômica, além da construção de uma

poupança. O patrimônio deste fundo estava avaliado em US$ 213 bilhões, em 2005 , 17

14 ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA) NIGÉRIA, Country Analysis Briefs, 2009, p.1. Disponível em: www.eia.doe.gov/cabs/nigeria.htm. Acessado em: 22 fev. de 2009.

15 ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA) VENEZUELA, Country Analysis Briefs, 2009, p.2. Disponível em: www.eia.doe.gov/cabs/venezuela/background.html. Acessado em: 22 fev. de 2010.

16 ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA) NORWAY, Country Analysis Briefs, 2009, p.2. Disponível em: www.eia.doe.gov/cabs/Norway/Background.html. Acessado em: 22 fev. de 2010.

17 ENRIQUEZ, M. A.. “Equidade intergeracional na partilha dos benefícios dos recursos minerais: a alternativa dos Fundos de Mineração”. Revista Iberoamericana de Economia Ecológica, v. 5, 2006, p. 67. Citado por INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).Estudo

25

sendo que sua receita é aplicada em ações e títulos no exterior numa eventual elevação

do preço do petróleo, fazendo com que a Noruega não sofra impacto em suas atividades

econômicas.

Com isso, o fundo protege a economia norueguesa da volatilidade do

preço do petróleo. Fasano argumenta que o fundo tem logrado êxito na tarefa de 18

amenizar os ciclos dos preços do petróleo, bem como de promover a poupança. Medidas

prudentes têm permitido a manutenção de superávits orçamentários, mesmo nos

períodos em que o preço do petróleo cai. Portanto, a Noruega tem demonstrado uma

preferência por poupar os recursos do petróleo, sendo referência mundial de um caso

bem sucedido de exploração de recursos naturais.

De acordo com o IEDI : 19

O Brasil se encontra numa posição extremamente privilegiada com relação à oferta de petróleo de gás natural. As recentes descobertas na área do pré­sal deverão conduzir o país a uma posição relevante como exportador no mercado internacional. Esta condição poderá se constituir numa excepcional oportunidade para alcançar programas estruturadas visando supriras carências nacionais, em matéria de saneamento básico, saúde, educação e infra­estrutura. Mesmo que os preços internacionais venham a cair, o incremento da produção permitirá a geração de níveis elevados de royalties. Este aumento pode proporcionar uma base nova de recursos para a União, estados e municípios. Qualquer forma de financiar novos programas federais de desenvolvimento envolveria o redesenho da estrutura de royalties. Foi demonstrado que alternativas nesta direção são possíveis, conciliando o interesse nacional e preservando as condições de arrecadação dos municípios e estados limítrofes das jazidas de petróleo.

A tarefa de promoção do desenvolvimento utilizando os recursos naturais

é, portanto, extremamente complexa. São necessárias, ao menos, duas etapas

fundamentais para a consecução dos objetivos: a criação do fundo soberano e a criação

de mecanismos de controle da aplicação dos royalties.

sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.81. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

18 FASANO, U. (2000) Review of the experience with oil stabilization and savings funds in selected countries. IMF Working Paper, n. 112. Washington, D.C.: International Monetary Fund. Disponível em: http://www.imf.org. Acessado em: 02 mar. de 2010. P.4­5. Citado por INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.81. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

19 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.98. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

26

O presente trabalho é motivado pela relevância associado a esta temática

e procura contribuir para a compreensão dessa questão.

1.4 – JUSTIFICATIVA

Algumas nações que tinham o petróleo como uma grande oportunidade

de esperança para o futuro de suas populações, como melhorias de condições e

qualidade de vida, por exemplo, viram­se em algumas décadas posteriores sem esse

recurso natural, sem o desenvolvimento esperado e, em alguns casos, lidando com a

ocorrência de desindustrialização, fatos que causaram forte frustração na população, que

passou a não ter esperança num futuro próximo.

Outros países, com a utilização dos recursos proveniente do petróleo,

conseguiram crescer e se firmar economicamente. Por meio de uma política cuidadosa e

específica, fortaleceram outros setores da economia e conseguiram o desenvolvimento

esperado.

Com base nos fatos ocorridos em outras regiões, fica evidente a

importância da discussão do tema, das análises de problemas e soluções encontradas em

outros países, além de se antecipar e prever possíveis problemas que o Brasil possa

enfrentar no futuro.

Com o estudo aqui realizado espera­se entender a dinâmica associado ao

uso dos recursos do petróleo e seu impacto sobre o desenvolvimento, buscando­se

elementos para a compreensão das iniciativas e decisões que constituam numa lógica

necessária para que o país entre nas estatísticas futuras como um caso de sucesso das

utilizações dos recursos provenientes do petróleo.

1.5 – METODOLOGIA

Este trabalho baseou­se em pesquisa bibliográfica, utilizando teses de

mestrado, doutorado, monografias, além de artigos disponíveis na internet.

27

Deseja­se analisar países que possuíam (ou ainda possuem) grande produção de

petróleo, avaliando os que sofreram da “doença holandesa” e os que conseguiram um

desenvolvimento econômico significativo. Os dados obtidos podem ser usados como

referência para futuros trabalhos de apoio a discussões e debates em relação ao pré­sal,

no Brasil.

1.6 – ESTRUTURAS DO TRABALHO

Este trabalho se encontra dividido em 5 capítulos. Neste capítulo inicial é

apresentado um breve resumo do problema que esta monografia irá estudar, mostra­se o

objetivo do trabalho, a sua justificativa, além da metodologia utilizada. Também será

apresentada a relevância e contextualização do trabalho, além de uma introdução ao

assunto.

O segundo capítulo aborda o conceito de doença holandesa ou mal dos

recursos naturais. Mostram­se as estratégias e ações adotadas pelos países abundantes

em recursos naturais, antes e durante a produção de petróleo, destacando­se, em

especial, os tipos de fundos existentes, bem como o seu funcionamento. Também é

realizada uma comparação entre os países abundantes em recursos naturais e os que não

apresentam tal abundância com relação ao PIB. Por fim, é discutido como os países

podem neutralizar a doença holandesa.

O terceiro capítulo desta monografia explica os diferentes métodos

utilizados pelos países para se apropriarem dos recursos provenientes do petróleo. Em

seguida é realizada uma análise de como alguns países estão utilizando tais recursos

apropriados para o seu desenvolvimento, sendo avaliados quais destes países estão

sofrendo da forma mais grave da doença holandesa.

No quarto capítulo é mostrada uma breve história do petróleo no Brasil,

explicando como o país tem se apropriado da renda do petróleo e avalia como os

governantes brasileiros estão utilizando tais recursos para poder avaliar se o país está

preparado para utilizar de forma correta a quantidade de recursos provenientes do

pré­sal que está por vir num futuro próximo. Como o país ainda não se apresenta como

28

um grande exportador de petróleo, foram analisados os cinco municípios que mais

arrecadaram com os royalties para se ter uma visão geral do comportamento dos

políticos brasileiro.

Nesta etapa do trabalho serão feitas as considerações finais, chegando a

uma conclusão de qual caminho trilhado no Brasil até o momento e tentar construir um

referencial para análise das atitudes que o Governo brasileiro deve implementar com

relação às reservas de petróleo do pré­sal, de modo a identificar o seu potencial para o

fortalecimento e crescimento da indústria petrolífera e outros setores do país.

29

CAPÍTULO 2 – A “DOENÇA HOLANDESA” OU “MAL DOS RECURSOS NATURAIS”

2.1 – INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta o conceito de doença holandesa, ou mal dos

recursos naturais, explicando os fatores que levam alguns dos países a contrair este mal,

além de indicar as dificuldades enfrentadas pelos governos que são afetadas por esta

doença.

Serão mostrados métodos para a sua neutralização e os sintomas que este

mal apresenta quando um país está contaminado.

2.2 – ORIGENS E O CONCEITO DO TERMO “DOENÇA HOLANDESA”

O termo doença holandesa foi utilizado pela primeira vez pela revista

“The Economist”, no ano de 1977, para descrever o fenômeno ocorrido na Holanda, que

sofreu forte declínio no setor industrial. Após a descoberta de grandes reservas de gás

natural em seu território, a Holanda passou a explorar e a exportar grande quantidade

deste recurso natural, fazendo com que suas receitas referentes à exportação tivessem

um grande aumento. Este fato proporcionou uma entrada maciça de dinheiro

estrangeiro, ocasionando forte valorização da moeda local, na época o florim. Esta

valorização afetou diretamente o setor industrial, o que inviabilizou suas exportações,

estimulou a importação e conseqüentemente, levou a Holanda a um processo de

desindustrialização . 20

Após este estudo, vários outros trabalhos foram realizados para esclarecer

o fenômeno. Apesar de um grupo de pesquisadores se referir à doença holandesa como

sendo “maldição dos recursos naturais”, há outra linha de pesquisa , que diferencia 21 22

20 NAKAHODOS, S. N.; JANK, M. S. A falácia da doença holandesa no Brasil. Instituto do Comércio e Negociações Internacionais: Documento de Pesquisa. São Paulo, mar 2006, p.2.

21 SACHS, J. D. AND A. M. WARNER “The big push, natural resource booms and growth”. Journal of Development Economics, 59: 43­76, 1999. Citado por: BRESSER­PEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:47­71,São Paulo, 2008, p.7.

30

estes dois problemas: enquanto a doença holandesa seria uma falha de mercado, onde a

exportação de grande quantidade de recursos naturais baratos por um país seria a causa

de uma taxa de câmbio maior quando comparado a taxa de câmbio média que viabiliza

o setor econômico do determinado país, a maldição dos recursos naturais seria uma

conseqüência do rent seeking e corrupção, fato constatado em países dotados de uma 23

sociedade atrasada e de instituições fracas . O presente autor não fará distinção entre as 24

duas nomenclaturas, considerando equivalentes a utilização de maldição dos recursos

naturais ou doença holandesa.

A doença holandesa é uma falha de mercado, ocorrendo principalmente

em países que possuem abundância em recursos naturais. Trata­se da entrada de grande

quantidade de dinheiro em determinado país, acarretando numa alta taxa de câmbio que

equilibra a conta­corrente (que é a taxa de mercado) e a taxa de câmbio que viabiliza

setores econômicos eficientes e tecnologicamente sofisticados. Como a maior parte

deste recurso é basicamente proveniente de um setor específico, o aumento desta taxa de

câmbio se resume em menor competitividade para outros setores da economia,

acarretando numa desestimulação e uma possível desindustrialização do país produtor e

explorador de tais recursos . 25

Países abundantes em recursos naturais devem levar em conta alguns

fatores antes ou durante a exploração destes bens para neutralizar ou minimizar seus

efeitos. Como primeira estratégia, deve­se diminuir a velocidade de produção quando há

incapacidade de gestão das receitas provenientes da exploração deste recurso natural.

Com esta medida, grande parte desta riqueza permaneceria guardada e seriam

diminuídas as distorções macroeconômicas provenientes da doença holandesa. Como

segunda medida, seria importante implementar uma política de investimento, fazendo

22 BALAND, JEAN­MARIE & FRANCOIS, P. “Rent­seeking and resource booms”. Journal of Development Economics, 61: 527­542, 2000. Citado por: BRESSER­PEREIRA, L. C.The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:47­71,São Paulo, 2008, p.7.

23 Orent seekingé a tentativa de um grupo específico obter vantagens sobre a esfera governamental, fazendo com que a renda proveniente dos recursos naturais seja investida, por exemplo, para reforçar seu poder político, ou promover luta armada contra grupos nacionais rivais ou países vizinhos, fato ocorrido com as elites do Oriente Médio e países africanos (IEDI, 2008, p.6). Este tipo de atitude impede o investimento para o desenvolvimento da nação, como investimento em infra­estrutura e na indústria.

24 BRESSER­PEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:47­71,São Paulo, 2008, p.7.

25 Ibidem. p.6.

31

com que essas economias diminuíssem suas dependências em função das atividades

relacionadas ao recurso natural. O ideal que ocorra em países que exploram

commodities é, com o passar do tempo, apresentar dependência desta receita cada vez

menor, por meio de fortalecimento de outros setores. Como terceira medida está a

criação de um fundo cambial proveniente das receitas geradas pela exploração dos

recursos naturais. Em época de alta dos preços das exportações, esses recursos são

aplicados no fundo, e durantes as épocas de queda do preço das exportações, os recursos

do fundo são utilizados para eliminar ou atenuar os impactos dessa queda ∙. 26

De acordo com o Fundo Monetário Internacional , os fundos se dividem 27

em cinco grupos, dependendo dos seus interesses:

a. Fundos de estabilização (stabilization funds): os países que constituem

este grupo são ricos em recursos naturais. Este fundo tem o objetivo de

proteger o orçamento fiscal e a economia doméstica das oscilações dos

preços dos produtos primários (sobretudo petróleo). Durante a alta dos

preços dos recursos naturais, a receita proveniente da exploração destes é

aplicada no fundo, preparando o país para um período de queda dos

preços;

b. Fundos de poupança (saving funds for future generations): este fundo

tem o objetivo de compartilhar as riquezas geradas atualmente para as

futuras gerações. Este processo consiste na transferência de ativos não

renováveis para um portfólio diversificado de ativos financeiros

realizados pelos países ricos em recursos naturais para suprir futuras

gerações ou outro objetivo de longo prazo;

c. Companhias de investimentos de reservas (reserve investment

corporations): este tipo de fundo tem o objetivo de seguir políticas de

investimento com alto retorno;

26 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.6­8. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

27 FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (2007). Global Financial Stability Report, September 2007, Annex 1,2. Sovereign Wealth Funds. Washington, D.C., p.45­51. Disponível em: http://www.imf.org. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.8. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

32

d. Fundos para o desenvolvimento (development funds): tem como objetivo

alocar recursos para financiamento de projetos socioeconômicos

prioritários – em infra­estrutura ou em política de desenvolvimento

industrial – a fim de ampliar o potencial de crescimento dos países;

e. Fundos de reserva para o sistema de aposentadoria (contingente pension

reserve funds): este fundo tem o objetivo de alocar recursos para o

sistema de aposentadoria na contabilidade do setor público.

A aplicação dos recursos destes fundos de estabilização é,

usualmente, feita em moeda estrangeira. Assim, com a tendência de apreciação da

moeda local em época em que as exportações são altamente favoráveis, esses recursos

são transferidos ao sistema financeiro internacional. Em períodos adversos, quando a

receita do Estado sofre grande queda, o recurso do fundo é direcionado para o Estado,

diminuindo o déficit público e contrabalanceando a queda das divisas.

A Figura 2.1 abaixo exemplifica este esquema de estabilização utilizando

o fundo . O Anexo 2.1 apresenta informações de alguns países que possuem fundos, 28

com os seus respectivos nomes, ativos, ano de criação além de informar a riqueza per

capita.

28 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.10. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

33

Figura 2.1 – Esquema de Fundo de Estabilização Fonte: IEDI

Os autores Sachs & Warner perceberam que os países com abundância 29

em recursos naturais tendiam a mostrar uma queda no crescimento econômico, devido à

doença holandesa, mostrando uma menor taxa de crescimento do PIB que os demais

países, como por exemplo, a Nigéria e a Venezuela, apesar de existirem histórias de

sucessos quando se observa países como a Noruega e Botsuana. Esses casos serão

estudados mais detalhadamente no próximo capítulo. Em contrapartida, países pobres

em recursos naturais apresentaram um bom crescimento econômico nas últimas

décadas, como foram os casos dos países localizados no Sudeste Asiáticos.

Para ilustrar este fato, o gráfico 2.1 mostra a distribuição de 144 países,

quando considerados, no eixo das abscissas, a participação de produtos primários na

exportações em 2005, e nas ordenadas, a taxa de crescimento médio da economia entre

1975 e 2005.

29 SACHS, J. D. & WARMER, A. M. Natural Resources Abundance and Economic Growth. NBER Working Paper 5398, 1995. Citado por: OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil.Texto para discussão No 1412, 2009, p.3.

34

Gráfico 2.1 – Relação para 144 países entre taxa média de crescimento da economia (1975­2005) e participação de produtos primários na exportação de bens em 2005 Fonte: Sachs & Warner 30

Na construção do gráfico, os eixos das abscissas e das ordenadas se

cruzam em 42%, relativo ao dobro da média mundial da participação dos produtos

primários no total das exportações em 2005, e 1,4%, que é a média mundial de

crescimento do PIB per capita no período de 1975­2005. Esta distribuição facilita a

visualização no gráfico de países com abundância em recursos naturais, que estão

localizados a direita do eixo das ordenadas, enquanto que os países com escassez em

recursos naturais se localizam à esquerda. Os países que apresentam taxa de crescimento

do PIB acima da média, estão localizados acima do eixo das abscissas, enquanto que os

países que apresentam crescimento do PIB abaixo da média mundial se localizam

abaixo deste eixo.

O gráfico 2.1 apresenta claramente uma correlação negativa entre

abundância relativa de recursos naturais e o crescimento do PIB per capita. Traçando

uma reta de melhor ajuste pelo gráfico, obtém­se a equação:

. Esta equação mostra que, para cada aumento unitário de x

30 Ibidem. p.3.

35

(aumento de 1% nas exportações de bens primários), há uma queda de 0,0315% no PIB

per capita. Isto mostra uma tendência mundial de decréscimo do PIB per capita em

países com abundância em recursos naturais.

Ainda pelo gráfico, percebe­se que, no 2º quadrante (acima do eixo das

abscissas e à esquerda do eixo das ordenadas) encontra­se uma quantidade expressiva de

países que exibem escassos recursos naturais e um crescimento do PIB acima da média

mundial. Em situação oposta, os países que se encontram no 4º quadrante (abaixo do

eixo das abscissas e à direita do eixo das ordenadas) mostram abundância em recursos

naturais, mas apresentam crescimento do PIB abaixo da média mundial. Esses são os

países que possuem a tendência de estarem contaminados pela doença holandesa . 31

Sachs & Warner também construíram um modelo em que explicam que 32

um aumento de recursos naturais leva a uma queda na taxa de crescimento. Para tais

autores, a elevação da exploração dos recursos naturais faz com que haja uma maior

demanda por trabalhadores para bens e serviços não­transacionáveis, levando a uma

situação inusitada dentro do país abundante em recursos naturais: se por um lado, parte

da população está sendo deslocada para este tipo de trabalho, a quantidade de

trabalhadores qualificados no setor transacionável diminui consideravelmente.

Como este modelo se baseia no fato de a economia de um país crescer

dependendo da quantidade de trabalhadores no setor transacional, ou melhor, na

alocação de capital humano no setor dinâmico, temos que, nesse contexto, o

crescimento deste país será menor, pois há menos mão­de­obra deslocada para este

setor. Abaixo se encontra o Gráfico 2.2 utilizando este modelo. A economia 1 é

simulada como não possuindo recursos naturais. A economia 2 explorou os recursos

naturais por dois períodos, e a economia 3 explorou durante 20 períodos os recursos

naturais. Todas as economias possuem como ponto de partida uma taxa de crescimento

de 5% por período (para visualizar toda a formulação do problema, inclusive as

equações do modelo, consultar).

31 OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil.Texto para discussão No 1412, 2009, p.4.

32 SACHS, J. D. & WARMER, A. M. Natural Resources Abundance and Economic Growth. NBER Working Paper 5398, 1995. Citado por: OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil.Texto para discussão No 1412, 2009, p.7­9.

36

Gráfico 2.2 – Exemplo Numérico modelo Sachs e Warner (1995) – A maldição dos recursos naturais Fonte: OLIVEIRA, B. & BRUNO . 33

Pode­se perceber que de acordo com este modelo, na economia 1, onde

não há exploração de recursos naturais ocorre um ajuste crescente para a taxa de

crescimento, atingindo um valor de longo prazo próximo de 7%. Para a economia 2, há

duas fases distintas: a primeira que se estende até o 2º período, que é justamente

enquanto esta economia explora recursos naturais, percebe­se que a taxa de crescimento

econômico desta economia tende para 4,5%. Após a exploração de tais recursos, a taxa

de crescimento volta a crescer até atingir a taxa próxima de 7%, que é a taxa de

crescimento de uma economia sem recursos naturais. É importante frisar que esta

economia demora cerca de mais 5 períodos para atingir a trajetória da economia 1, fato

ocorrido apenas no 7 período. Neste intervalo, a taxa de crescimento fica abaixo do

alcançado pela economia sem recursos. Para a economia 3, que explora os recursos

33 OLIVEIRA, B. & BRUNO, M. Sobre Maldições e Bênçãos: é possível gerir recursos naturais de forma sustentável? Uma análise sobre os royalties e as compensações financeiras no Brasil.Texto para discussão No 1412, 2009, p.9.

37

durante todo o processo, percebe­se a condenação a maldição dos recursos naturais, pois

a taxa de crescimento desta economia estabiliza perto de 4,5%.

2.3 – SINTOMAS DA DOENÇA HOLANDESA

Um país que possua a doença holandesa pode ter sido afetado por duas

situações distintas: a primeira é aquela onde sempre existiu tal doença impedindo sua

industrialização; uma segunda maneira seria um país que neutralizou durante um

período o mal dos recursos naturais, porém em algum momento, essa neutralização

parou, fazendo o país crescer a taxas muito menores. No primeiro caso o país nunca

neutralizou a doença holandesa, como é o caso de países petroleiros. Um dos principais

sintomas neste caso é a do país em questão não produzir outros bens comercializáveis

além dos causadores da doença holandesa. Bons exemplos para este tipo de caso são a

Venezuela e a Arábia Saudita.

No segundo caso, apesar do país explorar os recursos naturais, ele

conseguiu se industrializar, fazendo com que a doença holandesa fosse neutralizada,

através do uso de tarifas de importação e subsídios à exportação. Contudo, após sofrer

grande pressão internacional sob alegação de prática de protecionismo, tais países

realizaram a liberalização comercial deixando de neutralizar uma falha de mercado, o

que acarretou a possibilidade de serem afetados pelo mal dos recursos naturais. São

exemplos deste caso os países latino­americanos que, a partir dos anos 1990

abandonaram seus mecanismos de neutralização e sofreram uma desindustrialização . 34

De acordo com Oomes & Kalcheva , são quatro as maneiras de perceber 35

se o país em questão possui a doença holandesa ou não:

a) A percepção da taxa cambial estar sobre­apreciada;

b) Baixo crescimento no setor manufatureiro;

c) Rápido crescimento do setor de serviços;

34 BRESSER­PEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:47­71,São Paulo, 2008, p.4.

35 OOMES, NIENKE & KATERINA KALCHEVA. Diagnosing Dutch disease: does Russia have the symptoms?, IMF Working Paper 07/102, 2007. Citado por: BRESSER­PEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:47­71,São Paulo, 2008, p.19.

38

d) Salários médios elevados dos trabalhadores e alto desemprego.

Apesar de essas características serem conhecidas, países que sofrem uma

desindustrialização causada pela doença holandesa possuem grandes dificuldades em

sua identificação e neutralização, sendo até mesmo previsível que economistas

convencionais e dos associados aos interesses de curto prazo de manutenção do sistema

recusem tal diagnóstico, sendo inclusive este fato um dos sintomas desta doença.

Utilizando demonstrações empíricas para negar o mal dos recursos naturais presente no

país, ou mesmo ciente dos fatos e afirmando que, mesmo com a desindustrialização, o

país pode apresentar taxas de crescimento econômico elevadas, fica evidente que essa

região sofre e deve utilizar recursos viáveis para neutralizar este problema . 36

2.4 – NEUTRALIZAÇÕES DA DOENÇA HOLANDESA

Como visto anteriormente, percebe­se uma tendência que os países que

mais exploraram os recursos naturais foram os que apresentaram a menor taxa de

desenvolvimento. Com a constatação da doença holandesa, e várias pesquisas

diagnosticando­a em países variados, começou a busca do “antídoto”, que seria sua

neutralização. Atualmente, sabe­se que isso só é possível com uma administração da

taxa de câmbio, ou seja, apesar do câmbio ser flutuante, ele deve ser sempre

administrado.

Praticamente todos os países administram suas taxa de câmbio por meio

da manutenção de um nível de taxa de juros baixo, internamente, ou da compra de

reservas internacionais, apesar de as autoridades negarem que estejam administrando a

taxa de câmbio. Uma terceira medida só seria necessária caso o país estivesse com o

mau dos recursos naturais: uma taxação sobre os bens que geram a doença holandesa.

Neste caso, o imposto deve ser equivalente à percentagem da diferença entre a taxa de

câmbio de equilíbrio corrente que seu custo mais baixo proporciona e a taxa de câmbio

de equilíbrio industrial que viabiliza setores comercializáveis. Uma última medida para

36 BRESSER­PEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:47­71,São Paulo, 2008, p.21.

39

países que se encontram gravemente atingidos por esta doença seria a imposição de

controles de entrada de capitais . 37

A arrecadação relativa aos impostos dos recursos naturais não deve ficar

no país, e sim ir para um fundo de investimentos de ativos financeiros, evitando assim a

reapreciação da taxa de câmbio. Apesar de todos os países produtores de petróleo

taxarem suas exportações, em geral, essa taxação está em um nível insuficiente para a

neutralização do mal dos recursos naturais. Esse imposto deve ser tal que eleve a curva

da oferta do bem para cima de forma a trazer seu custo marginal próximo para o nível

dos demais bens, corrigindo e equilibrando as duas taxas de câmbio, a de equilíbrio

corrente e a taxa de câmbio de equilíbrio industrial. A primeira equilibra

intertemporalmente a conta­corrente do país, sendo a taxa de câmbio que o mercado

tende a determinar. A segunda viabiliza setores industriais relativos a esse país.

As dificuldades dos Governos que sofrem do mal dos recursos naturais

são claros: os exportadores dos bens causadores da doença holandesa vão se opor a

taxação de seus produtos, apesar do objetivo desta medida não ser de reduzir o lucro e

sim de evitar a apreciação da moeda local. Como o imposto desloca a curva de oferta

para cima (Gráfico 2.3) faz com que o seu custo marginal se aproxime dos demais bens,

equilibrando as duas taxas de câmbio existentes, fazendo com que o exportador receba

de volta em termos de aumento de sua receita em moeda local o imposto pago. Caso o

país seja grande exportador mundial deste bem, este imposto pode aumentar o preço do

produto internacionalmente, fato que acarretaria num processo mais severo da doença

holandesa.

Um segundo problema enfrentado pelos governos é devido ao fato de,

enquanto a moeda está sobre­apreciada pela doença holandesa, a população apresenta

um salário artificialmente elevado. Com a tentativa de neutralização deste mal dos

recursos naturais, tem­se a diminuição dos rendimentos reais dos trabalhadores que

habitam essa região, fazendo com que estes moradores tenham que comprar a preços

mais caros os bens comercializáveis, além de inviabilizar futuras viagens, etc.

37 BRESSER­PEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:47­71,São Paulo, 2008, p.14.

40

Gráfico 2.3 – Oferta e procura Fonte: QUIJANO, F. & Y 38

Um segundo problema enfrentado pelos governos é devido ao fato de,

enquanto a moeda está sobre­apreciada pela doença holandesa, a população apresenta

um salário artificialmente elevado. Com a tentativa de neutralização deste mal dos

recursos naturais, tem­se a diminuição dos rendimentos reais dos trabalhadores que

habitam essa região, fazendo com que estes moradores tenham que comprar a preços

mais caros os bens comercializáveis, além de inviabilizar futuras viagens, etc.

Outro problema apresentados por esses países é o fato de que, com a

criação do fundo no exterior e um fundo de estabilização das commodities, apenas os

países desenvolvidos ou que possuem fortes instituições são capazes de reservar toda a

receita proveniente dos impostos. Em países que não possuem tais características, esta

receita acaba sendo utilizada para financiar gastos do Governo, fazendo com que tal

doença não possa ser neutralizada.

38 QUIJANO, F. & Y. Agregando Todos os Mercados: O Modelo AS­A. Disponível em: vsites.unb.br/face/.../OFERTA%20BLANCHARD%20CAP07.ppt. Acessado em: 10 fev de 2010.

41

De acordo com Sachs & Warner , o principal problema dos países que 39

sofrem deste mal é a utilização das verbas provenientes da exploração dos recursos para

fins não­produtivos, enquanto deveriam ser alocados para a criação de infra­estrutura e

diversificação produtiva. Ainda de acordo com os autores, a abundância de recursos

tende a proporcionar uma falsa sensação de segurança e riqueza, desestimulando os

governos nacionais a implementar reformas e políticas voltadas para a obtenção de

maior nível de crescimento e desenvolvimento econômico.

2.5 – CARACTERÍSTICAS/SÍNTESE DA DOENÇA HOLANDESA

De acordo com Bresser­Pereira , a doença holandesa pode ser resumida 40

em oito itens (não levando em consideração a noção de doença holandesa ampliada que

não foi tratada neste trabalho):

i. a doença holandesa ou mal dos recursos naturais afeta países que sofrem uma

sobre­apreciação relativamente permanente da taxa de câmbio, devido à

exploração de grandes quantidades de recursos naturais, cujo custo marginal

baixo é compatível com uma taxa de câmbio de mercado substancialmente mais

apreciada do que a taxa de câmbio de equilíbrio industrial;

ii. há duas situações distintas de manifestação da doença holandesa: a primeira

seria permanente, quando o país explora recursos naturais desde sempre,

impedindo sua revolução industrial; a segunda se refere a algum fato que levou o

país a deixar de neutralizar a doença, apesar de ser industrializado, acarretando

em uma futura desindustrialização;

iii. para se neutralizar a doença holandesa é necessário aplicar um imposto tanto

sobre a venda interna quanto a venda externa dos bens causadores desse mal, e

39 SACHS, J. D. & WARNER, A. M. (1999). Natural resource intensity and economic growth. In MAYER, Jörg; CHAMBERS, Brian & FAROOQ, Ayisha (Org.). Development policies in natural resource economies, Cap. 2. Edward Elgar, Cheltenham, UK, e Northampton, Massachusetts. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.6. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

40 BRESSER­PEREIRA, L. C. The Dutch Disease and its neutralization: a Ricardian approach. Revista de Economia Política, v. 28, n. 1:47­71,São Paulo, 2008, p.30­32.

42

esse imposto deve ser proporcional à diferença da taxa de câmbio de equilíbrio

industrial necessária para que as empresas industriais utilizando tecnologia

sejam competitiva e a taxa de câmbio de equilíbrio corrente;

iv. a neutralização da doença holandesa depende da gravidade com que esta doença

se apresenta em determinado país, ou seja, se o país apresenta uma grave doença

holandesa, sua neutralização será muito difícil, assim como será menor a

probabilidade de que esse país se industrialize e cresça;

v. os recursos provenientes dos impostos que têm como objetivo neutralizar a

doença holandesa não devem ser internalizados, exceto para estabilizar os preços

dos bens ao qual incide, sendo aplicados em um fundo financeiro internacional

para evitar a reapreciação da moeda local com a entrada dos recursos na

economia interna;

vi. as principais dificuldades encontradas pelos países que apresentam a doença

holandesa em neutralizá­la se devem a resistência à taxação por partes dos

exploradores de commodities; além da própria população, que enfrenta uma

baixa real de seus salários;

vii. os países que sofreram a doença holandesa sem ao menos conhecê­la no

passado, e mesmo assim conseguiram se industrializar, realizaram tal feito

apenas pelo fato de, na prática, neutralizarem a doença holandesa por meio de

aplicação de impostos aos produtos importados e subsídio aos produtos

exportados, disfarçando o imposto sobre as commodities;

viii. a doença holandesa é uma grave falha de mercado porque sua ocorrência não

neutralizada implica uma externalidade negativa causada pelos recursos baratos;

2.5 – CONCLUSÃO

Este capítulo teve por objetivo esclarecer ao leitor sobre a doença

holandesa, que é um problema característico de vários países, principalmente os que

apresentam grande exportação de recursos naturais.

No próximo capítulo serão analisados os países que apresentam este mal

e outros que conseguiram controlar ou neutralizar este problema.

43

44

CAPÍTULO 3 – EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL COM A EXPLORAÇÃO DO PETRÓLEO

3.1 – INTRODUÇÃO

Neste capítulo será explicado o conceito de Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH), além do seu cálculo. Também serão analisados os métodos de

arrecadação dos recursos provenientes do petróleo utilizados pelos países produtores

desta commodity.

Em seguida serão analisados alguns países exportadores de petróleo e

avaliadas suas atitudes em relação à prevenção da possibilidade de adquirirem a doença

holandesa. Ao final, será feita uma análise da evolução do IDH desses países.

3.2 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi desenvolvido em1990

pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq. Desde 1993, este índice vem sendo

utilizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no seu relatório

anual. É uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem­estar de uma

população. Todo ano, ospaíses membros da ONU são classificados de acordo com essas

medidas. Apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1990, o índice foi

recalculado para os anos anteriores, desde 1975. O IDH trata­se de uma medida

comparativa que engloba três dimensões:riqueza(R),educação(E) eesperança média de

vida(L) . 41

a. Índice de educação (E): para avaliar a dimensão da educação o cálculo do IDH

considera dois indicadores. O primeiro, com peso dois, é ataxa de alfabetização

de pessoas com 15 anos ou mais de idade — na maioria dos países, uma criança

já concluiu o primeiro ciclo de estudos (no Brasil, o Ensino Fundamental) antes

dessa idade. Por isso a medição doanalfabetismo se dá, tradicionalmente a partir

41 http://pt.wikipedia.org/wiki/Indice_de_Desenvolvimento_Humano. Acessado em: 20 fev. de 2010.

45

dos 15 anos. O segundo indicador é a taxa de escolarização: somatório das

pessoas, independentemente da idade, matriculadas em algum curso, seja ele

fundamental, médio ou superior, dividido pelo total de pessoas entre 7 e 22 anos

da localidade. Também entram na contagem os alunos do supletivo, de classes

de aceleração e de pós­graduação universitária. Apenas classes especiais de

alfabetização são descartadas para efeito do cálculo.

b. Longevidade(L): O item longevidade é avaliado, considerando a esperança de

vida ao nascer. Esse indicador mostra a quantidade de anos que uma pessoa

nascida em uma localidade, em um ano de referência, deve viver.

c. Renda(R): A renda é calculada tendo como base o PIB per capita (por pessoa)

do país. Como existem diferenças entre o custo de vida de um país para o outro,

a renda medida pelo IDH é em dólar PPC (Paridade do Poder de Compra), que

elimina essas diferenças . 42

Para calcular o IDH de uma localidade, faz­se a seguinte média

aritmética:

(1)

Onde: L = Longevidade; E = Educação; R = Renda

O valor L provém de:

(2)

Onde: EV = Esperança média de vida;

O valor de E provém de:

42 http://pt.wikipedia.org/wiki/Indice_de_Desenvolvimento_Humano. Acessado em: 20 fev. de 2010.

46

(3)

Onde: TA = Taxa de Alfabetização; TE = Taxa de Escolarização;

E finalmente:

(4)

Onde: log10PIBpc = logaritmo decimal do PIB per capita.

nota: pode­se utilizar também a renda per capita (ou PNB per capita) . 43

3.2.1 – Classificação dos países através do Índice de Desenvolvimento Humano

A classificação dos países através do Índice de Desenvolvimento

Humano varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano

total).

As quatro diferentes formas de o país ser classificado dependente deste

índice são apresentadas pela Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Fonte: Elaboração própria.

3.3 – ARRECADAÇÃO DE DIVISAS PELO GOVERNO PROVENIENTES DO PETRÓLEO

43 http://pt.wikipedia.org/wiki/Indice_de_Desenvolvimento_Humano. Acessado em: 20 fev. de 2010.

47

O Governo, por meio de negociações com as empresas privadas

nacionais e estrangeiras, define a parcela de apropriação dos recursos provenientes do

petróleo. Essas negociações devem levar em conta os diferentes cenários para as

tendências futuras do setor, tais como estimativas de preços, custos, capacidade de

produção, tamanho da reservas e introdução de novas tecnologias. Havendo frustração

de parte dos agentes, sempre há pressão para a reformulação dos contratos estabelecidos

anteriormente.

Um exemplo deste fato foi verificado ao longo das décadas de 1980 e

1990, quando houve uma elevação nos preços do petróleo forçando os governos

nacionais a ampliarem as cargas tributárias sobre as atividades relativas ao petróleo. As

empresas, em contrapartida, intensificaram suas queixas alegando crescente custo de

produção devido à expansão da demanda por bens e serviços específicos à extração e

refino de petróleo, fato que ocorre nas altas de preços do petróleo. Assim, a legislação

do país deve ser tal que viabilize ampliar a participação do Estado através de tributação

sobre o setor e, ao mesmo tempo, garantir a competitividade das empresas . 44

No Figura 3.1 é apresentados os países que sofreram tais alterações ao

longo dos últimos anos.

Figura 3.1 – Alterações no Sistema de Tributação no Setor do Petróleo – 1999 a 2005 Fonte: Johnston 45

44 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.11­12. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

45 JOHNSTON, D. (2008) Changing fiscal landscape. Journal of World Energy Law & Business, vol. 1, n. 1.Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).

48

Segundo Johnston , existe três formas de apropriação da renda 46

proveniente do petróleo pelo Estado:

i. Royalties e impostos

ii. Contrato de partilha de produção (Producting Sharing Contracts)

iii. Contratos de cooperação (Service Agreement)

Na da Tabela 3.2, a seguir o autor expõe o tipo de apropriação para vários

países.

Tabela 3.2 – Formas de apropriação da renda proveniente do petróleo entre 1998­2007.

Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.12. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

46 Ibidem. p.13.

49

Fonte: IEDI 47

As formas de arrecadação do tipo royalties constituem uma das mais

antigas formas de arrecadação do mundo, consistindo num pagamento a sociedade pela

47 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.14. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

50

utilização de recursos naturais escassos e não renováveis . Nos dias atuais, os royalties 48

e os impostos são as principais formas utilizadas pelos governos para a apropriação da

renda do petróleo, o que é demonstrado na tabela 3.2. Essa taxação tende a aumentar

quando há um aumento na exploração e uma diminuição nos riscos e nos custos.

Os governos utilizam várias formas para o cálculo dos royalties que

devem ser pagos pelas empresas, que pode ser sobre o volume produzido, sobre o lucro

das empresas, sobre o volume e a variação do preço de mercado de petróleo, além de

outros parâmetros.

O tipo de arrecadação no contrato de partilha de produção consiste em

um contrato entre o governo detentor dos recursos naturais e as empresas responsáveis

pela exploração. Neste contrato se estabelece a divisão do petróleo extraído entre esses

dois agentes, acompanhado de um acordo que encarrega a empresa da venda da parcela

do petróleo de propriedade do governo.

O terceiro e último tipo de arrecadação é o de contratos de cooperação,

onde o governo contrata a empresa para realizar os serviços desejados. Neste modelo, o

governo é proprietário de todo o petróleo extraído, tendo que pagar para as empresas

pelos serviços realizados. Como geralmente os governos entregam parte da produção de

petróleo como pagamento pelos serviços realizados, esse modelo acaba se assemelhando

com o modelo contrato de partilha.

Enquanto que, nos dois primeiros modelos, o risco das operações é

geralmente suportado pelas empresas, pois elas são as responsáveis pela maior parte dos

investimentos, o risco das operações no terceiro modelo é suportado pelo governo,

sendo função das empresas apenas operar como prestadora de serviços. Neste último

modelo permite­se que os governos, assumindo o risco de preço da operação, participem

do mercado de petróleo, definindo diretamente a quantidade a ser comercializada ou

mantida como reservas. Geralmente o que ocorre é um país adotar mais de um modelo,

sendo relevante para tal decisão a localização da jazida (continental ou marítima) e

profundidade da reserva . 49

48 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.52.

49 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.17. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

51

Para os modelos de arrecadação dos tipos contratos de partilha de

produção e contrato de cooperação, a arrecadação do governo estará associada à

evolução do preço do petróleo, já que nesses casos o governo possui parte da produção e

a vende a preço de mercado. Enquanto que no caso da arrecadação por meio de royalties

e impostos está vinculado ao método de cálculo utilizado . 50

3.4 – PAÍSES PRODUTORES E EXPORTADORES DE PETRÓLEO

O país que apresenta o maior volume de produção de petróleo é a Arábia

Saudita, seguida pela Rússia e o Emirados Árabes. Abaixo encontra­se uma tabela com

os maiores exportadores de petróleo mundiais.

Tabela 3.3 – Maiores Exportadores Líquidos de Petróleo – 2006 (em mil barris/dia)

Fonte: IEDI 51

A tabela 3.4 apresenta a localização das maiores reservas de petróleo no

mundo. A Arábia Saudita apresenta a maior reserva seguida pelo Canadá e Irã.

50 Ibidem. p.17. 51 Ibidem. p.47.

52

Tabela 3.4 – As vinte maiores reservas de petróleo do mundo – 2009

Fonte: EIA . 52

Em seguida, serão apresentados alguns países que são grandes produtores

e exportadores de petróleo, sendo analisado como os mesmos têm utilizado a renda

proveniente deste recurso para desenvolver o país. Os países analisados serão Nigéria,

que foi o 8º maior exportador de petróleo em 2006 e possuía uma reserva de 36,2

bilhões de barris de petróleo, a Rússia, que foi o 2º maior exportador de petróleo em

2006 e possuía uma reserva de 60 bilhões de barris de petróleo, a Venezuela, que foi o

7º maior exportador de petróleo em 2006 e possuía uma reserva de 80 bilhões de barris

de petróleo e a Noruega, que foi o 4º maior exportador de petróleo em 2006 e possuía

uma reserva de 7,8 bilhões de barris de petróleo.

3.4.1 – Nigéria

52 US ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA). Disponível em <http://www.eia.doe.gov>. Acessado em 25 mar. 2010.

53

Em 1956, a Shell­BP, que possuía exclusividade de concessão na região,

descobriu o primeiro campo petrolífero da Nigéria, em Oloibiri, localizado no Delta do

Níger, fato ocorrido após meio século de exploração. A produção deste campo foi

realizada dois anos depois, alcançando 5100 barris por dia. Após 1960, os direitos de

exploração dos campos petrolíferos deixaram de ser exclusivos para a Shell­BP, sendo

permitidas outras empresas . 53

País mais populoso da África com cerca de 140 milhões de pessoas, parte

expressiva da população da Nigéria (54% ou cerca de 72 milhões de pessoas) vive com

menos de $1 dólar por dia . 54

Entretanto, este país se apresenta desde 1971 entre os países que mais

exportam petróleo, fazendo parte, inclusive, da Organização de Países Exportadores de

Petróleo (OPEP). A quantidade de petróleo exportado superou 2,5 milhões de barris por

dia em 2005 (gráfico 3.1).

Gráfico 3.1 – Produção de petróleo da Nigéria ao longo de 1990 a 2008. Fonte: EIA 55

Apesar desta grande quantidade de exportação e, conseqüentemente de

recursos para o país, a Nigéria não conseguiu um crescimento econômico satisfatório

53 http://www.nnpcgroup.com/history. Acessado em 15 de abril 2010. 54 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p 4.

55 ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (EIA) NIGERIA, Country Analysis Briefs, 2009, p.3. Disponível em: www.eia.doe.gov/cabs/nigeria.htm. Acessado em: 22 fev. de 2009.

54

nas últimas quatro décadas, vários fatores contribuíram para esse problema:

instabilidade política, corrupção, baixos investimentos em infra­estrutura, mal dos

recursos naturais, etc. Entre 1970­2000, o país cresceu a uma média anual de 0,12% ao

ano, ou seja, ficou praticamente estagnada. A partir de 2000, o desempenho econômico

da Nigéria começou a melhorar, passando a crescer em média a 6% ao ano. Este

crescimento tem sido atribuído ao crescimento da produção agrícola e das exportações,

porém, uma análise mais profunda, percebe­se que também se deve a um aumento

expressivo ao aumento do preço do petróleo, principalmente em meados de 2008 . 56

O petróleo representa cerca de 40% do Produto Interno Bruto (PIB)

nigeriano (Gráfico 3.2), 98% das exportações e cerca de 85% da receita do governo

(Collier et al., 2008). Ainda neste gráfico, é possível perceber a o aumento da

importância do petróleo para o PIB do país, enquanto há uma queda na participação dos

produtos manufaturados. Segundo Gary & Karl , a Nigéria estaria gastando muito e 57

poupando pouco os recursos do petróleo, além de estar aplicando os recursos em

benefício de uma minoria, o que não gera benefícios através da melhora de sua

economia, tampouco proporciona rentabilidade para as futuras gerações com a aquisição

de ativos.

Apesar de representar quase 40% do PIB, o setor petroleiro na Nigéria é

responsável por apenas 4% dos empregos, ou seja, grande parte da população não se

beneficia da boa remuneração proveniente deste trabalho. Já a agricultura representa

60% do emprego no país e a 28% do PIB nigeriano. A economia não petroleira cresceu

entre 2004­2007 a uma taxa de 10% a.a. e não criou muitos empregos formais, pelo

contrário, aumentou o número de trabalhadores informais na região. O desemprego

entre os jovens é próximo de 60% . 58

56 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p.6.

57 GARY, Ian. KARL, Terry L. Bottom of the barrel: Africa’s oil boom and the poor. Baltimore: Catholic Relief Press, 2003. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.77. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

58 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p 4.

55

A Nigéria tem investido menos que 10% de seu PIB internamente. Tal

investimento tende a construir maior infra­estrutura do país, aumentando a capacidade

produtiva e ajudando no desenvolvimento econômico. Com baixo investimento, tal

crescimento tende a se realizar com taxas bem pequenas . O gráfico 3.3 mostra a 59

evolução do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na Nigéria em comparação com

países vizinhos. Percebe­se que países nos quais os recursos naturais não são

abundantes, apresentam maior IDH quando comparados com a Nigéria, além de um

crescimento muito parecido.

Gráfico 3.2 – Produto Interno Bruto da Nigéria Fonte: CIDA & DFID , modificado pelo autor. 60

59 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p.8.

60 Ibidem. p.47.

56

Gráfico 3.3 – Índice de Desenvolvimento Humano da Nigéria e países vizinhos. Fonte: CIDA & DFID , modificado pelo autor. 61

Infelizmente, a Nigéria é estudada

nos dias atuais como exemplo de um país que sofre do “mal dos recursos naturais” e que

não soube aproveitar da melhor maneira os recursos provenientes do petróleo,

encontrando­se ainda como país de desenvolvimento médio de acordo com a

classificação do IDH.

3.4.2 – Noruega

A Noruega apresenta uma gestão dos recursos naturais provenientes da

exploração do petróleo muito bem sucedido, sendo inclusive o país referencia de como

evitar grande parte dos efeitos da doença holandesa. As primeiras descobertas

importantes de reservas de petróleo foram realizadas na década de 1970 nos campos

Tor, Ekofish e Eldfisk, no mar do Norte. A partir de 1975 o volume de exploração se

tornou relevante . 62

61 FINAL REPORT TO CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOPMENT AGENCY (CIDA) AND DEPARTMENT FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT (DFID), Gender and growth Assessment – Nigeria, 2009, p.47.

62 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.26. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

57

Com o aumento da exploração deste recurso, o país tratou rapidamente de

discutir sobre a taxação e utilização dos mesmos. Desde o início das atividades as

autoridades já se mostravam conscientes dos possíveis efeitos da exploração do petróleo

na economia interna. Uma das medidas adotadas foi à utilização de uma estratégia

gradualista na extração, por meio de controle do nível de produção, devido ao receio do

tipo de resposta da economia norueguesa, provenientes da demanda de trabalhador e do

investimento necessário no setor, além da preocupação em redefinir como deveria ser

absorvida a renda adicional. Assim, ficou decidido que a produção anual seria mantida

entre 25 e 90 milhões de toneladas . 63

As crises do petróleo, ao longo da década de 1970, e, conseqüentemente,

o seu elevado valor até meados de 1980, expuseram a dependência da receita do

governo ao ciclo do petróleo. O controle sobre a produção se mostrava ineficiente. Com

o valor deste recurso valorizado no mercado internacional, o governo passa a ver o setor

petrolífero, não mais como uma ameaça à economia, mas como uma locomotiva para a

mesma. Verificou­se que o mercado de trabalho não era um fator limitante para a

expansão da atividade petroleira, exceto em algumas ocupações altamente

especializadas. Com essa nova visão de mercado, a Noruega flexibilizou o limite de

produção anual, além de criar um fundo de estabilização com o intuito de isolar a

economia interna dos ciclos do preço do petróleo . 64

O fundo de estabilização criado pela Noruega serviu de modelo sobre

como isolar a economia interna. De acordo com Larsen , além do fundo, outros fatores 65

foram responsáveis pela redução do impacto da doença holandesa no país, como a

negociação salarial, que dependia da produtividade da indústria, como um todo e não só

do setor petroleiro, além do fortalecimento do balanço patrimonial do setor público, que

reduziu suas dívidas.

63 Ibidem. p.27. 64 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.27. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

65 LARSEN, E. R. (2004) Escaping the Resource Curse and the Dutch Disease? When and Why Norway Caught up with and Forged ahead of Its Neighbors. Statistics Norway, Discussion Papers n. 377, 2004. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI).Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.52. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

58

Com o intuito de depender cada vez menos dos recursos provenientes do

petróleo, o governo norueguês lançou mão de política industrial favorável a

diversificação produtiva e fortaleceu o desenvolvimento de setores. Atualmente, existem

três instituições que operam a política industrial, voltadas para criar um ambiente

propício à inovação tecnológica: Innovation Norway, Industrial Development

Corporation of Norway (SIVA) e Research Council of Norway . 66

A Innovation Norway foi criada em janeiro de 2004, a partir da fusão de

quatro outras instituições. Por meio de financiamentos, consultorias, criação de

networks e promoções internacionais, o objetivo de sua criação foi que as empresas

norueguesas tivessem o incentivo para o desenvolvimento de novos produtos e se

internacionalizassem. A SIVA foi criada, em 1968, com o objetivo de incentivar a

formação de agrupamentos industriais regionais por meio da compra de participações

em companhias e de projetos de infra­estruturas e centros de inovação, auxiliando o

desenvolvimento econômico de regiões remotas. As ações da SIVA são nas áreas de

construção, indústria, inovação e cooperação internacional. A Research Council foi

fundada em 1993 com a fusão de cinco instituições diferentes. Seu objetivo é fornecer

suporte aos projetos de investimentos avaliados como estratégicos, em função do

potencial de criação de valor, dados as atividades de maior vantagem competitiva na

Noruega . 67

O fundo de Estabilização Norueguês

Para evitar que a economia interna do país sofresse com o ciclo do preço

do petróleo, o parlamento criou, em 1990, um fundo de reservas capaz de captar receitas

obtidas com a exploração deste recurso natural, o Government Petroleum Fund. Em

2006, o fundo foi renomeado para Government Pension Fund (GPF), que reúne o 68

66 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.27. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

67 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.28. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

68 Como afirma Gronvik (2006), não existe nenhuma vinculação legal entre os recursos do fundo e o pagamento de pensões; a alteração de nome teve por objetivo indicar à sociedade norueguesa que os recursos acumulados nesses fundos fazem parte de um direito da coletividade e não será gasto pelo governo.

59

Government Pension Fund­Norway (GPF­N) e o Government Pension Fund – Global

(GPF­G), com o objetivo de facilitar a poupança do setor público para os gastos futuros

com a seguridade social (pensões e aposentadorias), além de garantir a gestão de longo

prazo das receitas provenientes do petróleo . 69

Os objetivos do GPF­G são : 70

a) proteger a política fiscal e monetária de desdobramentos das oscilações

do preço do petróleo (meta de estabilidade);

b) transformar recursos naturais de ativos reais em ativos financeiros, a fim

de permitir que as gerações futuras possam ser beneficiadas (meta

intergeracional);

c) evitar a apreciação cambial e o demasiado aquecimento da demanda

interna, com possíveis repercussões nos preços internos (meta de

competitividade).

Os tipos de arrecadação que o governo Norueguês utiliza são os royalties,

dividendos, taxas sobre emissão de CO2, e, principalmente, pela taxação de

rentabilidade proveniente da propriedade e licenciamento das reservas de petróleo e gás

natural, apropriada por meio do State’s Direct Financial Interest (SDFI) . 71

Pelo Gráfico 3.4 consegue­se perceber que o fundo norueguês conseguiu

evitar a sobrevalorização da moeda local, pois, em 2001, a relação NOK (moeda

local)/US$ valia nove, enquanto que em 2008 este valor caiu cerca de 40%, alcançando

5.1. Ao mesmo tempo, as reservas no fundo GPF aumentaram mais que oito vezes,

chegando a 382 bilhões de dólares . 72

69 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.28. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

70 Ibidem. p.28. 71 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.29. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

72 Ibidem. p.29.

60

Gráfico 3.4 – Valor de mercado do GPF e taxa de câmbio – 2001 a 2008 Fonte: IEDI 73

Uma das principais medidas adotadas pelo país foi limitar as

transferências anuais para o orçamento público em 4% do patrimônio do fundo, desde

que possa ser capaz de financiar a política fiscal em momentos de recessão ou

desaceleração da economia, além de conseguir estabilizar a taxa de câmbio. Essa taxa de

4% representa o retorno real esperado anualmente sobre seus ativos, o que conservaria o

valor do estoque de riqueza para as gerações futuras . 74

Ao longo dos anos, é notável o crescimento do IDH norueguês. Desde

2000, a Noruega vem apresentando o melhor IDH mundial, sendo classificado como

país de desenvolvimento muito alto. O gráfico 3.5 apresenta a evolução do IDH da

Noruega e a posição deste país no ranking do índice.

73 Ibidem. p.29. 74 Ibidem. p.31.

61

Gráfico 3.5 – Evolução do IDH da Noruega no período 1975­2007. Fonte: Elaboração própria. 3.4.3 – Rússia

Como pode ser verificado na tabela 3.5, a Rússia apresentou a segunda

maior produção e exploração de petróleo do mundo em 2006, perdendo apenas para a

Arábia Saudita. O Fundo Monetário Internacional estima que o setor tenha sido

responsável por 20% do PIB no país no ano de 2005, desempenhando um importante

papel no equilíbrio das contas do governo. Ainda neste ano, este setor foi responsável

por 61% das exportações do país (Tabela 3.5) . 75

O governo utiliza uma elevada tributação sobre as atividades

relacionadas à exploração de petróleo e gás natural desde a crise cambial de 1998,

evitando pressões inflacionarias devido ao crescimento interno elevado. A Rússia

também criou um fundo internacional em 2004 (Oil Fund Stabilization), fato que

garantiu uma maior disciplina fiscal, evitou uma brusca apreciação da moeda nacional

(rublo) e reduziu as de pressões inflacionárias . 76

75 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.38. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

76 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.39. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

62

Tabela 3.5 – Rússia ­ Balança Comercial (em US$ Bilhões)

Fonte: IEDI 77

De acordo com Owen , a partir da criação do fundo de estabilização, foi 78

possível uma maior transparência em relação aos recursos provenientes do petróleo, já

que, anteriormente à sua fundação, as receitas do petróleo e do gás eram integradas ao

orçamento fiscal do governo.

O fundo consiste em um fundo de estabilização, em moeda estrangeira,

evitando a apreciação da moeda local. Os recursos são provenientes dos impostos sobre

a extração de recursos naturais e no imposto sobre exportação do petróleo bruto a partir

de um limite estabelecido para o preço internacional do produto, que corresponderia a

um preço de equilíbrio de longo prazo . 79

No ano da criação do fundo, foi estabelecido um preço limite de US$

20/barril. Assim, toda vez que o preço do petróleo ultrapassasse este valor, os recursos

captados por meio de impostos deveriam ser depositados no fundo. Além disso, todo o

dinheiro previsto para o orçamento do governo, que não era utilizado, deveria ser

depositado no fundo. O governo só poderia retirar recursos do fundo se o mesmo

alcançasse 500 bilhões de rublos, valor alcançado em 2005. Os valores excedentes

foram utilizados para o pagamento antecipado da dívida externa ao FMI . 80

77 Ibidem. p.38. 78 OWEN, D. Russia: Revenue Management without an Oil Fund. Fundo Monetário Internacional, Washington DC, 2002. Citado por: INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.41. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

79 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.41. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

80 INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL (IEDI). Estudo sobre o pré­sal. Análise IEDI, 2008, p.42. Disponível em: http:// www.iedi.org.br. Acessado em: 03 mar. de 2010.

63

A falta de clareza com que o governo utiliza para definir o preço limite

vem sendo motivo de criticas, pois há a possibilidade deste preço ser estabelecido

propositalmente alto de forma a reduzir o comprometimento das receitas fiscais com a

injeção de capital no fundo . 81

Devido ao rápido crescimento do patrimônio do fundo, o governo russo

dividiu esse fundo em dois: Reserve Fund e o National Wealth Fund. O Reserve Fund,

cujo patrimônio deve ser mantido em 10% do PIB, funciona como um fundo de

estabilização, pois realiza investimentos em títulos públicos estrangeiros de baixo risco

e pode ser utilizado se os preços do petróleo e do gás caírem, não afetando o orçamento

do governo. Já o National Wealth Fund tem como objetivo investir em ativos de maior

risco e que proporcionem maiores retornos sobre o investimento, ou seja, é um fundo do

tipo investimento de reserva . 82

Em relação à diversidade de produção russa, o setor industrial continua

concentrando um número pequeno de empresas. Cerca de 50% de toda a produção

industrial no país são provenientes de cerca de 12 empresas, entre elas estão as grandes

estatais de gás e de eletricidade.

Em 2007, o governo criou o Russian Development Bank, a partir da

reestruturação do banco estatal Vnesheconombank, com objetivo de contribuir para o

desenvolvimento de infra­estrutura no país . 83

Em relação à evolução do IDH, a Rússia não tem conseguido um

crescimento contínuo e uma posição de destaque, apesar de ser classificado como país

de desenvolvimento alto.

No gráfico 3.6 é apresentada a evolução do IDH da Rússia, bem como a

posição deste país no ranking. A posição do ranking só é apresentada a partir de 2000,

devido à inclusão de vários países no ranking este ano, levando a conclusões incorretas

caso fosse colocado nos anos anteriores.

81 Ibidem. p.43. 82 Ibidem. p.43. 83 Ibidem. p.45.

64

Gráfico 3.6 – Evolução do IDH da Rússia no período 1975­2007. Fonte: Elaboração própria.

3.4.4 – Venezuela

Em 1912, iniciaram­se os primeiros estudos geológicos na Venezuela.

Dois anos depois foi perfurado o primeiro poço. Em meados da década de 1920 o país já

era o segundo maior país produtor de petróleo no mundo. Em 1922, o Congresso

venezuelano promulgou a lei do petróleo, que ditava os termos para as concessões,

impostos e royalties. As decisões políticas tomadas pelos diferentes governos a respeito

do petróleo e da indústria petrolífera constituem os fatores determinantes do

desenvolvimento econômico da Venezuela. Em 1928, o país se tornou o maior

exportador de petróleo do mundo e permaneceu neste posto até 1970 . 84

Nos primeiros anos pós descoberta de petróleo, o PIB venezuelano teve

forte aumento, exceto próximo ao ano de 1929, quando a economia mundial sofreu com

a queda da bolsa de Nova York (Gráfico 3.7) . 85

84 BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Pós­Graduação em Economia), 2008, p.58.

85 Ibidem. p.62.

65

Em 1948, o governo impôs um imposto adicional, segundo o qual os

lucros da exploração petroleira seriam divididos em partes iguais entre o Estado e as

companhias estrangeiras (acordo fifty­fifty). Houve um aumento na receita que

possibilitou que o governo investisse em educação, saúde, obras de saneamento,

agricultura e indústria . 86

Gráfico 3.7 – PIB da Venezuela a preços de mercado, 1908/1935 Fonte: Batista, R. 87

Em 1959, o novo governo rompeu o acordo fifty­fifty, passando a ficar

com a maior parte da renda petrolífera e abrindo espaço para a estatização das indústrias

petrolíferas. Com esta possibilidade, as empresas começaram a explorar as reservas de

forma predatória. O país estava cada vez mais dependente do petróleo, principalmente

após o primeiro e o segundo choques do petróleo, ocorridos em 1973 e 1979. No gráfico

3.8 consegue­se perceber esta dependência: se por um lado as exportações cresciam a

cada ano, por outro era fortemente dependente do petróleo . 88

Em 1988, apesar do país crescer 6,1%, o preço do petróleo estava em

queda, o endividamento externo crescendo, as reservas internacionais se exaurindo e a

inflação chegava quase aos 100%. Batista argumenta ainda que o aumento da renda 89

86 BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Pós­Graduação em Economia), 2008, p.68.

87 Ibidem. p. 61. 88 Ibidem. P.71. 89 Ibidem. p.98.

66

petrolífera, decorrente dos dois choques do petróleo, aumentou a burocracia estatal e os

subsídios, gastos que não se reduziram nos momentos desfavoráveis da atividade

petrolífera.

Após 1973, houve uma desaceleração econômica devido a desequilíbrios

econômicos, sobretudo inflação alta, fato agravado pela queda da renda petrolífera. Este

fato se deveu à redução das exportações para os EUA, que era seu principal mercado.

Até o ano de 1999, a Venezuela não conseguiu promover um crescimento econômico

com melhorias sociais, fato que facilitou a chegada de Hugo Chaves ao poder . 90

Gráfico 3.8 – Exportações de petróleo e exportações totais da Venezuela, 1920/1973 ( em milhões de bolívares) Fonte: Batista, R . 91

Em 1999, o governo venezuelano criou um Fundo de Investimento para a

Estabilização Macroeconômica (FIEM), composto pelos excedentes das divisas do setor

do petróleo. Com este fundo, seria possível manter a estabilidade do país, apesar das

futuras quedas de preço ou queda nas exportações. Em 2002, o governo criou a nova lei

90 BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Pós­Graduação em Economia), 2008, p.140.

91 Ibidem. p.82.

67

dos hidrocarbonetos, e a estatal PDVSA passou a ter participações obrigatórias em todas

as atividades da indústria petrolífera. Esta lei tinha cinco objetivos . 92

a) recuperar o papel central do governo na questão petrolífera, através do

Ministério de Energia e Minas;

b) aumentar as receitas fiscais, em franca decadência desde os anos 1970;

c) fortalecer a OPEP, com a firme adesão da Venezuela;

d) romper com as tendências favoráveis à privatizações da PDVSA;

e) estimular a participação de empresários petrolíferos nacionais.

O Gráfico 3.9 mostra que, antes de 2000, o crescimento do IDH da

Venezuela foi pequeno ao longo dos anos, chegando a 69o posição no ano de 2000,

sendo classificado como país de desenvolvimento médio. A partir deste ano, houve um

aumento considerado do IDH a cada ano, até se chegar a 0,844 em 2007, quando a

Venezuela alcançou o 58º lugar no ranking mundial de IDH, o que classifica o país

como em desenvolvimento alto.

.

Gráfico 3.9 – Evolução do IDH da Venezuela e sua posição no ranking mundial no período 1975­2007. Fonte: Elaboração própria.

92 SEVERO, Luciano.Petróleo e Venezuela: 1920­2002. São Paulo: PUC. (Monografia para Bacharelado em Economia), 2003, p. 82­83. Citado por: BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Pós­Graduação em Economia), 2008, p.115.

68

Contudo, a Venezuela ainda não conseguiu diminuir a dependência do

petróleo nas suas exportações, fato que aumenta a cada ano e se agravou com o aumento

do preço do petróleo na década de 2000 (Tabela 3.6).

Segundo Corden & Neary , foi identificado à doença holandesa na 93

Venezuela no período de 1973 a 1982, pois o impacto do petróleo neste período na

economia passou a ser negativo pela valorização da moeda local. Já o estudo realizado

por Souza & Alvim , no período de 1950 a 1998, envolvendo várias determinantes do 94

crescimento econômico venezuelano, não comprovou a presença da doença holandesa.

Tabela 3.6 – PIB e exportações da Venezuela e preço do petróleo, 1990/2006

Fonte: BATISTA, R. 95

Obs: PIB e exportações em US$ milhões a preços de 1995 (1990 a 2002) e a preços de 2000 (2003 a 2006).

3.5 – CONCLUSÃO

93 CORDEN. W.M. & NEARY, J.P. Booming sector and Dutch disease economics: a survey. Economic Journal, Vol.92. 1982. Citado por: BATISTA, R.O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Pós­Graduação em Economia), 2008, p.149.

94 SOUZA, R. B. L., Souza, Nali de J., ALVIN, A. Fatores do crescimento econômico da Venezuela, 1950/1998. Revista Análise Econômica. Porto Alegre. Ano 26, n. 49, 2008, p. 65­86. Citado por: BATISTA, R. O desenvolvimento econômico da Venezuela 1920/2006. Rio Grande do Sul: Faculdade de Ciência Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. (Pós­Graduação em Economia), 2008, p.140.

95 Ibidem. p.140.

69

Este capítulo monstrou as atitudes de alguns países em relação à

arrecadação dos recursos provenientes dos royalties. Ficou evidenciada a preocupação

de alguns governantes, como no caso da Noruega, onde, havendo a possibilidade de

contração da doença holandesa, o governo tomou atitudes em prol do bem da nação,

sempre com um pensamento de desenvolvimento sustentável.

Já em outros países, como no caso da Nigéria, não se verificou esforço

neste sentido, fazendo com que a população não obtivesse benefícios com a riqueza

gerada pelo petróleo.

No próximo capítulo será feita uma análise de como o Brasil está

tratando as receitas provenientes do petróleo.

70

CAPÍTULO 4 – ANÁLISE DO BRASIL

4.1 – INTRODUÇÃO

Este capítulo apresenta uma breve história do petróleo no Brasil e explica

a forma com que o país arrecada os recursos petrolíferos. Em seguida, é feita uma

análise de como o país utiliza tais recursos para o desenvolvimento. Como o Brasil não

se apresenta ainda como grande exportador de petróleo, esta avaliação foi feita com base

em um estudo dos cinco municípios que mais receberam estes recursos. Espera­se ser

possível delinear uma tendência de como os governantes brasileiros utilizarão o dinheiro

proveniente do petróleo.

4.2 – A HISTÓRIA DO PETRÓLEO NO BRASIL

Em 1881, no estado de Alagoas, foram realizadas as primeiras pesquisas

diretamente relacionadas ao petróleo no Brasil. As pesquisas foram motivadas pela

existência de sedimentos argiloso­betuminosos no litoral deste estado. Contudo, o

primeiro poço só foi perfurado seis anos depois, no município de Bofete­SP, alcançando

uma profundidade de 488 metros, sendo extraídos dois barris de óleo . 96

Em 1907, foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro

(SGMB), e, em 1933, o Departamento Nacional da Produção Mineral, órgão do

Ministério da Agricultura, fatos que mostram a tentativa de organização,

profissionalização e especialização dos órgãos públicos voltados para a prospecção do

petróleo. Porém, a grande dificuldade encontrada pelo Brasil para o desenvolvimento da

exploração e produção no Brasil foi a ausência de capital humano especializado e

qualificado, como geólogos e engenheiros, e a falta de recursos e equipamentos . 97

96 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.20.

97 Ibidem. p.20.

71

Em 1939, no governo Getúlio Vargas, foi criado o Conselho Nacional do

Petróleo (CNP), órgão gestor do setor petrolífero. Também foi assinada a primeira lei

que estruturava e regularizava as atividades petrolíferas no país. Com estas medidas,

foram realizadas mais perfurações e, conseqüentemente, mais descobertas. Em 1941, em

Candeias­BA, foi descoberto o primeiro poço comercial do país . 98

Em 1953, após forte apelo popular com a campanha “O Petróleo é

nosso”, quando grande parte da população ficou a favor do controle nacional do

petróleo, foi criada a Petróleo Brasileiro S/A Petrobrás, por meio da Lei 2004. Em 1954,

a Petrobrás já se encontrava em operação . 99

Em 2006, a Petrobrás conseguiu a auto­suficiência na produção de

petróleo. Em 2007, anunciou a descoberta de petróleo na camada pré­sal.

4.3 – CÁLCULO E DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES

No Brasil, o pagamento de royalties foi estabelecido em 1953, na mesma

lei em que foi criada a Petrobrás. Esta lei previa o pagamento de royalties na proporção

de 4% sobre o valor de produção terrestre de petróleo e gás natural aos estados e 1% aos

municípios onde se encontravam e exploravam esse recurso natural . 100

Atualmente, os royalties da produção de petróleo no Brasil são

calculados pela fórmula : 101

(5)

(6)

Sendo:

98 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.21.

99 Ibidem. p.22. 100 Ibidem. p.59. 101 Ibidem. p.59.

72

i. Royalties = valor decorrente da produção do campo no mês de

apuração, em reais;

ii. Alíquota = percentual previsto no contrato de concessão do

campo (entre 5% e 10%);

iii. V petróleo = volume da produção de petróleo do campo no mês

de apuração, em m³;

iv. P petróleo = é o preço de referência do petróleo produzido no

campo no mês de apuração, em R$/m³;

v. P gn = preço de referência do gás natural produzido no campo no

mês de apuração, em R$/m³;

Com a arrecadação dos royalties, os mesmos devem ser distribuídos da

seguinte maneira, conforme estabelecido na legislação pertinente:

Tabela 4.1 – Distribuição dos royalties de 5%

Fonte: Amélia . Modificado pelo autor. 102

102 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.58.

73

Para a distribuição dos royalties que exceder os 5% obrigatórios, a

distribuição é dada conforme a tabela 4.2.

Além dos Royalties, os concessionários estão sujeitos ao pagamento de

Participação Especial, compensação financeira extraordinária estabelecida pela Lei do

Petróleo para campos de grande volume de produção ou de grande rentabilidade, e ao

pagamento pela ocupação ou retenção de área . 103

Tabela 4.2 – Distribuição dos royalties acima de 5%

Fonte: Amélia . Modificado pelo autor. 104

4.4 – INFLUÊNCIAS DO PETRÓLEO NA ECONOMIA BRASILEIRA

103 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.

104 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.58.

74

Com o aumento da produção de petróleo, que em 2000 estava próxima de

470000 mil BEP (Barris equivalentes de petróleo) e em 2008 já se aproximava de

700000 mil BEP (gráfico 4.1), também houve o aumento da arrecadação dos royalties,

que passaram de R$ 284 milhões em 1998 para R$ 7,984 bilhões em 2009 (gráfico 4.2).

Como o estado do Rio de Janeiro é responsável por cerca de 80% da produção de

petróleo nacional, este foi o estado que mais se beneficiou com este aumento de

arrecadação, recebendo, em 2009, um total de R$ 2,61 bilhões.

Gráfico 4.1 – Evolução da produção de Petróleo e Gás natural no Brasil em mil BEP (barris equivalentes de petróleo) Fonte: ANP . Modificado pelo autor. 105

105 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.

75

Gráfico 4.2 – Evolução da arrecadação dos Royalties (1998­2009) Fonte: ANP 106

Esta arrecadação dos royalties está distribuída entre os Estados,

Municípios, União e o Fundo Especial. O Fundo Especial é responsável pela

distribuição entre todos os estados, territórios e municípios. A arrecadação de cada um

dos beneficiários no período de 1998 a 2009 está representada no gráfico abaixo:

106 Ibidem.

76

Gráfico 4.3 – Evolução da arrecadação dos Royalties por beneficiário (1998­2009) Fonte: ANP 107

Em regiões onde há grande volume produzido ou grande rentabilidade

das empresas, outra taxação, denominada Participação Especial (PE), além dos royalties,

é aplicada pelos municípios e pela União aos produtores de petróleo e gás natural. O

gráfico 4.4 mostra quanto o país arrecadou por meio da PE desde 2000, ano de sua

criação. Pelo gráfico percebe­se que, em 2000, a arrecadação da PE foi de 1039 milhões

de reais, e que, em 2009, esse valor foi superior em 8 vezes, chegando a 8453 milhões

de reais.

Gráfico 4.4 – Evolução da arrecadação da Participação Especial Fonte: ANP 108

Do valor arrecadado pela PE, parte é destinada para a União, parte para o

estado e parte para o município. O gráfico 4.5 mostra a distribuição da PE entre os anos

de 2000 a 2009.

107 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.

108 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.

77

Gráfico 4.5 – Evolução da arrecadação da Participação Especial entre a União, os Estados e os Municípios entre 2000 e 2009 Fonte: ANP 109

4.5 – OS CINCOS MUNICÍPIOS QUE MAIS SE BENEFICIARAM COM OS ROYALTIES ENTRE 1991 – 2007.

A Bacia de Campos produz atualmente cerca de 85% de todo o petróleo

produzido no Brasil, além de ser responsável por mais de 40% da produção de gás

nacional. Em conseqüência deste fato, os municípios localizados nesta região são os

principais beneficiários dos royalties do petróleo.

Neste trabalho serão analisados os municípios de Rio das Ostras, Cabo

Frio, Quissamã, Macaé e Campos, os principais municípios beneficiados com os

royalties provenientes do petróleo no período de 1991 a 2007. O gráfico 4.6 mostra a

evolução do pagamento de royalties a esses municípios neste período. Percebe­se um

crescimento acentuado da receita a partir de 1998, principalmente de Campos e de

Macaé.

109 AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO (BRASIL). Tabelas contendo dados de pagamento dos royalties aos municípios. Disponíveis em: <http://www.anp.gov.br/participação_gov/royalties.asp>. Acesso em 11 maio 2010.

78

Gráfico 4.6 – Evolução do pagamento de royalties entre 1991­2007. Fonte: AMÉLIA 110

Em relação à dependência dos royalties para a composição das receitas

correntes para os cinco municípios pesquisados no período de 2000 a 2005, percebe­se

um crescimento da participação dos royalties e uma diminuição das participações das

receitas tributárias. Assim, tais municípios se encontram na contramão de uma situação

ideal, onde se diminui a dependência do petróleo com o tempo e torna­se o município

cada vez mais sustentável, evitando um futuro colapso no caso deste recurso natural

acabar, ou mesmo se tal recurso sofrer grande queda de valor internacionalmente.

No município de Campos dos Goytacazes, em 2000, os royalties

representavam 56,9% das receitas totais, já em 2005 representavam 71,6%. A receita

tributária sofreu uma queda de 6,5% em 2000 para 3,4% em 2005. O gráfico 4.7 mostra,

a cada ano, a evolução desta composição.

110 AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.81.

79

Gráfico 4.7 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Campos dos Goytacazes no período de 2000­2005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 111

No município de Macaé os royalties representavam 53% das receitas

correntes em 2000, passando para 56,6% em 2005. Já as receitas tributárias cresceram

de 10,1% em 2000 para 16,1% em 2005. O gráfico 4.8 mostra a evolução desta

composição entre os anos de 2000 a 2005.

No município de Rio das Ostras, em 2000, os royalties representavam

74,8% das receitas totais, já em 2005 representavam 73,6%. A receita tributária sofreu

uma queda de 4,6% em 2000, para 4,3% em 2005. O gráfico 4.9 mostra a evolução

desta composição entre os anos de 2000 a 2005.

111 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.82.

80

Gráfico 4.8 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Macaé no período de 2000­2005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 112

Gráfico 4.9 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Rio das Ostras no período de 2000­2005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 113

112 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.82.

113 Ibidem. p.83.

81

No município de Cabo Frio, em 2000, os royalties representavam 29,7%

das receitas totais, já em 2005 representavam 50,7%. A receita tributária sofreu uma

queda de 17,3% em 2000, para 9,8% em 2005. O gráfico 4.10 mostra a evolução desta

composição entre os anos de 2000 a 2005.

Gráfico 4.10 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Cabo Frio no período de 2000­2005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 114

No município de Quisamã, em 2000, os royalties representavam 58,5%

das receitas totais, já em 2005 representavam 62,8%. A receita tributária sofreu um

pequeno aumento percentual de 1,4% em 2000 para 2,2% em 2005. O gráfico 4.11

mostra a evolução desta composição entre os anos de 2000 a 2005.

114 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.83.

82

Gráfico 4.11 – Evolução da composição das Receitas Correntes do município de Quissamã no período de 2000­2005. Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (2006)

A administração pública deve buscar o equilíbrio entre suas receitas

(previstas e realizadas) e suas despesas (fixadas e realizadas). Quanto menor forem os

gastos com a máquina administrativa, mais dinheiro sobra para outros tipos de

investimentos. O gráfico 4.12 mostra o comprometimento da receita dos municípios

com a máquina administrativa no período de 2000­2005.

Gráfico 4.12 – Comprometimento da receita dos municípios com a máquina administrativa Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 115

115 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.84.

83

Pode­se notar que todos os municípios analisados tiveram um aumento

do comprometimento de suas receitas com a máquina administrativa. O município que

teve o menor crescimento foi o de Rio das Ostras, que também apresenta a menor

porcentagem de comprometimento de suas receitas.

O grau de investimento é dado pela relação dos investimentos públicos

divididos pela receita total. Percebe­se, pelo gráfico 4.13, que esta relação chegou a

aproximadamente 17% em 2005 para os municípios estudados, com exceção de Rio das

Ostras, que obteve resultado acima de 40%.

O gráfico 4.14 mostra o investimento per capita dos municípios, que é a

razão entre o investimento do município e sua população, calculando assim o montante

que cada habitante recebeu através de benefícios e direitos. Como se percebe, a partir de

2002, Rio das Ostras apresenta o melhor grau de investimento dos municípios

analisados, enquanto Campos e Cabo Frio apresentam os piores índices. Também se

percebe uma evolução do indicador de 2002 para 2004 e queda de 2004 para 2005.

Gráfico 4.13 – Grau de Investimento dos municípios entre 2000 e 2005 Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 116

116 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.85.

84

Gráfico 4.14 – Investimento per capita dos municípios entre 2000 e 2005 Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 117

Dividindo­se as transferências correntes e de capital , sem royalties, 118 119

pela receita realizada dos municípios da pesquisa conforme gráfico 4.15 verifica­se uma

aparente redução na dependência do repasse de outros entes da federação no período de

2000 a 2005.

Gráfico 4.15 – Dependência de transferência de recursos dos municípios (sem royalties) entre 2000 e 2005

117 Ibidem. p.82. 118 Transferências correntes são dotações para despesas às quais não corresponda contraprestação direta em bens ou serviços, inclusive para contribuições e subvenções destinadas a atender à manutenção de outras entidades de direito público ou privado. (Lei 4320/64, Art. 12 § 2 °). Ou seja, uma entidade transfere a outra entidade dinheiro sem um fim específico.

119 Transferências de capital são as dotações para investimentos e inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado deve realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições, segundo derivem diretamente da Lei do Orçamento ou de lei especial anterior, bem como as dotações para amortização da dívida pública. (Lei 4320/64, Art. 12 § 6 °).

85

Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 120

Contudo, quando se soma os royalties nestes cálculos, percebe­se que a

dependência de recursos transferidos foi acima de 80% nos municípios pesquisados em

2005, sendo que Quissamã alcançou uma dependência de 95%, conforme mostra o

gráfico 4.16.

Gráfico 4.16 – Dependência de transferência de recursos dos municípios (incluindo royalties) entre 2000 e 2005 Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 121

A autonomia financeira dos municípios estudados pode ser compreendida

a partir de contribuição da receita tributária própria do município no atendimento às

despesas com a manutenção dos serviços da máquina administrativa, dividindo­se a

receita tributária própria pelas despesas de custeio. A partir do gráfico 4.17, constata­se

que, na maioria destes municípios analisados, houve uma queda de autonomia no

período de 2000 a 2005, sendo exceção apenas o município de Macaé. Com isso,

pode­se concluir que houve uma tendência à menor capacidade de gestão dos

municípios em manter as atividades e serviços próprios da administração com recursos

oriundos de suas competências tributárias, o que os torna mais dependentes de

transferências de recursos financeiros dos demais entes governamentais.

120 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.86.

121 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Estudo Econômico 2006. Rio de Janeiro, 2006. Citado por: AMÉLIA, R. Riqueza e exclusão social: o paradox dos royalties do petróleo. Rio de Janeiro: departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal Fluminense (Mestrado profissional em Sistema de Gestão), 2008, p.86.

86

Gráfico 4.17 – Autonomia financeira dos municípios entre 2000 e 2005 Fonte: Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro 122

4.6 – ANÁLISES DO IDH DOS CINCO MUNICÍPIOS QUE MAIS RECEBERAM ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL.

Quando se analisa a evolução do IDH –M (Índice de Desenvolvimento

Humano nos municípios) entre 1991 e 2000, percebe­se que os cinco municípios que

mais receberam royalties do petróleo no Brasil continuam na categoria de municípios

com médio desenvolvimento humano (tabela 4.3).

Campos dos Goytacazes caiu 221 posições no ranking nacional de 2000,

quando comparado com 1991, passando da posição 1591ª para a 1812ª. Macaé caiu 200

colocações neste mesmo ranking, passando do 606ª para a 806ª colocação. Cabo Frio

subiu 126 posições no ranking nacional e é o município que possui a melhor

classificação entre os cinco estudados, passando da colocação 871ª para a 745ª.

Quissamã evoluiu 130 posições no ranking nacional, apesar de possuir a pior colocação

entre os municípios pesquisados, passando de 2519ª para 2389ª colocação. Rio das

Ostras foi o município que mais melhorou sua posição no ranking, subindo 453

posições, passando de 1641ª para 1188 ª colocação.

Tabela 4.3 – IDH­M dos cinco municípios que mais receberam royalties no Brasil (1991­2000)

122 Ibidem. p.87.

87

Fonte: Elaboração própria.

Em seguida foi realizada uma comparação da evolução do IDH­M, entre

1991 e 2000, desses municípios com outros municípios do estado do Rio de Janeiro que

possuam IDH­M próximos (ANEXO 4.1).

O primeiro município a ser analisado foi Quissamã, que em 1991 possuía

um IDH­M de 0,641 e em 2000 passou a 0,732. Os municípios escolhidos para a

comparação foram: Guapimirim, que em 1991 possuía um IDH­M de 0,639 e em 2000

passou a 0,739, Carapebus, que em 1991 possuía um IDH­M de 0,649 e em 2000 passou

a 0,740, Japeri, que em 1991 possuía um IDH­M de 0,643 e em 2000 passou a 0,724,

Tanguá, que em 1991 possuía um IDH­M de 0,625 e em 2000 passou a 0,722, Italva,

que em 1991 possuía um IDH­M de 0,659 e em 2000 passou a 0,724 e Silva Jardim, que

em 1991 possuía um IDH­M de 0,628 e em 2000 passou a 0,731. No gráfico 4.18

percebe­se que Guapimirim, que possuía um IDH­M próximo de Quissamã em 1991,

conseguiu uma evolução maior que a obtida por esse município. Também percebe­se

que Italva não cresceu conforme os outros municípios, estando em primeiro na análise

de 1991 entre os municípios analisados, e ficou em quinto em 2000.

88

Gráfico 4.18 – Comparativo do IDH­M entre o município de Quissamã e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valores de IDH­M próximos. Fonte: Elaboração própria.

Quando se analisa a evolução do ranking, percebe­se que Guapimirim

evoluiu 376 posições, Carapebus, evoluiu 210 posições, Italva caiu 367 posições, Silva

Jardim evoluiu 325 posições, Japeri caiu 55 posições e Tanguá evoluiu 184 posições

(tabela 4.4). Com esses dados consegue­se perceber que, apesar de uma evolução de 130

posições no ranking nacional, vários municípios do estado do Rio de Janeiro que se

encontram com os valores de IDH­M próximos ao de Quissamã conseguiram uma

evolução maior na posição do ranking nacional.

Tabela 4.4 – Evolução da posição do ranking nacional de IDH­M do município de Quissamã e outros com IDH­M próximos

89

Fonte: Elaboração própria.

O segundo município a ser analisado foi Campos dos Goytacazes, que em

1991 possuía um IDH­M de 0,684 e em 2000 passou a 0,752. Os municípios escolhidos

para comparação foram: Seropédica que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,688 e em

2000 passou a 0,759, Macuco que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,671 e em 2000

passou a 0,769, Cachoeira de Macacu que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,664 e em

2000 passou a 0,752, Magé que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,663 e em 2000

passou a 0,746, Bom Jesus do Itabapoana que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,662 e

em 2000 passou a 0,746 e Porto Real que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,677 e em

2000 passou a 0,743.

No gráfico 4.19 percebe­se que Macuco conseguiu uma maior evolução

entre os sete municípios analisados, sendo o quarto colocado em 1991 e indo para

primeiro em 2000. Campos dos Goytacazes estava em segundo entre os municípios

analisados e foi para terceiro, empatado com Cachoeira de Macacu, um município que

se encontrava com seu IDH­M menor que Campos dos Goytacazes em 1991.

Gráfico 4.19 – Comparativo do IDH­M entre o município de Campos dos Goytacazes e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valor de IDH­M próximos.

90

Fonte: Elaboração própria.

Quando se analisa a evolução do ranking percebe­se que Seropédica caiu

122 posições, Macuco evoluiu 530 posições, Cachoeira de Macacu evoluiu 231

posições, Bom Jesus do Itabapoana evoluiu 109 posições, Magé evoluiu 75 posições e

Porto Real caiu 320 posições (tabela 4.5). Com esses dados, consegue­se perceber que

Campos dos Goytacazes retroagiu em relação à evolução de IDH­M entre 1991 e 2000.

Alguns dos municípios que apresentaram uma posição no ranking nacional de IDH­M

próximos de 1800, provêm de posições acima de 2000 no ranking anterior.

Tabela 4.5 – Evolução da posição do ranking nacional de IDH­M do município de Quissamã e outros com IDH­M próximos

Fonte: Elaboração própria.

O terceiro município a ser analisado, Rio das Ostras, em 1991 possuía um

IDH­M de 0,681 e em 2000 passou a 0,775. Os municípios escolhidos para a

comparação foram: Itaguaí que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,687 e em 2000

passou a 0,768, Vassouras que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,678 e em 2000

passou a 0,781, Mendes que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,694 e em 2000 passou a

0,775, São João de Meriti que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,707 e em 2000 passou

a 0,774, Paracambi que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,681 e em 2000 passou a

0,771 e Rio Bonito que, em 1991, possuía um IDH­M de 0,694 e em 2000 passou a

0,772.

91

No gráfico 4.20 percebe­se que o único município, dentre os analisados,

que obteve uma evolução no IDH­M melhor que o de Rio das Ostras foi Vassouras.

Todos os outros municípios demonstraram uma evolução menor.

Quando se analisa a evolução do ranking percebe­se que Itaguaí evoluiu

144 posições, Vassouras evoluiu 680 posições, Mendes evoluiu 195 posições, São João

de Meriti caiu 134 posições, Paracambi evoluiu 341 posições e Rio Bonito evoluiu 101

posições (tabela 4.6). Com esses dados, consegue­se perceber que Rio das Ostras, que

subiu no ranking nacional em 453 posições, evoluiu de forma considerável no período

de 1991­2000.

Gráfico 4.20 – Comparativo do IDH­M entre o município de Rio das Ostras e outros seis municípios do Rio de Janeiro com valor de IDH­M próximos. Fonte: Elaboração própria.

Tabela 4.6 – Evolução da posição do ranking nacional de IDH­M do município de Quissamã e outros com IDH­M próximos

92

Fonte: Elaboração própria.

O município de Cabo Frio, que em 1991, possuía um IDH­M de 0,716 e

em 2000 passou a 0,792, e será analisado juntamente com Macaé, já que esses dois

municípios apresentam valores de IDH­M próximos. Macaé apresentou, em 1991,

IDH­M de 0,730, e em 2000, passou para 0,790.

Os municípios escolhidos para a comparação foram: Iguaba Grande que,

em 1991, possuía um IDH­M de 0,708 e em 2000 passou a 0,796, Pinheiral que, em

1991, possuía um IDH­M de 0,727 e em 2000 passou a 0,796, Armação de Búzios que,

em 1991, possuía um IDH­M de 0,691 e em 2000 passou a 0,791, Arraial do Cabo que,

em 1991, possuía um IDH­M de 0,723 e em 2000 passou a 0,790, Mangaratiba que, em

1991, possuía um IDH­M de 0,706 e em 2000 passou a 0,790 e Teresópolis que, em

1991, possuía um IDH­M de 0,700 e em 2000 passou a 0,790.

No gráfico 4.21 percebe­se que vários municípios tiveram crescimento

melhor que Cabo Frio e Macaé, como é o caso de Iguaba Grande, Teresópolis e,

principalmente, Armação de Búzios. Macaé, que possuía o melhor IDH­M dentre os

municípios analisados, em 1991, passou a um dos piores em 2000.

93

Gráfico 4.21 – Comparativo IDH­M entre o município de Cabo Frio e Macaé e mais seis municípios do Rio de Janeiro com valor de IDH­M próximos. Fonte: Elaboração própria.

Quando se analisa a evolução do ranking, percebe­se que Iguaba Grande

evoluiu 409 posições, Pinheiral evoluiu 7 posições, Armação de Búzios evoluiu 666

posições, Arraial do Cabo caiu 55 posições, Mangaratiba evoluiu 301 posições e

Teresópolis evoluiu 433 posições (tabela 4.5). Com esses dados consegue­se perceber

que Cabo Frio, apesar de ter evoluído 126 posições, percebe­se que outros municípios

conseguiram evoluir muito mais. O caso de Macaé é ainda pior, pois não conseguiu

evoluir no ranking nacional e caiu 200 posições.

Tabela 4.7 – Evolução da posição do ranking nacional de IDH­M do município de Cabo Frio, Macaé, e outros com DH­M próximos

94

Fonte: Elaboração própria.

Com estas análises fica evidente que o único município, dentre os cinco

que mais receberam royalties, que obteve uma evolução no ranking nacional de IDH­M

compatível com a quantidade arrecada proveniente do petróleo foi Rio das Ostras, que

conseguiu uma evolução de 453 posições. Cabo Frio e Quissamã, apesar de evoluírem,

conseguiram menos posições que outros municípios que se encontravam com o IDH­M

próximos e não tinham os recursos provenientes dos royalties. Macaé e Campos dos

Goytacazes não conseguiram evoluir, e caíram no ranking nacional.

4.7 – CONCLUSÃO

Neste capítulo foi mostrado como o Brasil arrecada o dinheiro

proveniente do petróleo e distribui para os municípios. Foi apresentada a dependência

das economias dos cincos municípios que mais arrecadaram os royalties no período de

1990 a 2007, sendo verificado que estas economias não apresentam uma tendência de

diminuir a dependência da arrecadação de tais recursos. Também foi mostrado como

ocorreu a evolução do IDH­M destes municípios entre 1991 e 2000, chegando­se à

conclusão que apenas Rio das Ostras conseguiu uma evolução compatível com o

esperado para um município que arrecada grande quantidade de recursos, enquanto

Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Macaé e Quissamã tiveram um desenvolvimento

no IDH­M abaixo do esperado.

95

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES

Quando se analisa os grandes produtores de petróleo, no período

posterior a década de 1970, pode­se perceber que a existência da riqueza mineral não foi

suficiente para estimular o desenvolvimento econômico destes países. Este fato pode

ser explicado pela contração da “doença holandesa” ou “mal dos recursos naturais” por

esses países.

A “doença holandesa” ou “mal dos recursos naturais” são diferentes

fatores econômicos que afetam um país, como distorções na taxa de câmbio, perda de

competitividade dos setores industriais não associados ao petróleo e ao gás natural,

oportunismo das elites contemporâneas, além de conflitos armados.

Um dos grandes problemas deste mal é a falsa sensação de segurança e

riqueza que a abundância deste recurso proporciona aos governantes, desestimulando

implementações de reformas e políticas voltadas para a obtenção de maior nível de

crescimento e desenvolvimento econômico.

Como foi visto neste trabalho, um exemplo de país que sofreu do “mal

dos recursos naturais” foi a Nigéria, fato caracterizado pela utilização das verbas

provenientes da exploração dos recursos para fins não­produtivos, ou seja, o governo

não investiu em infra­estrutura e diversificação produtiva, o que resultou num

desenvolvimento de IDH incompatível com a arrecadação do país.

A análise de alguns países demonstrou a dependência de suas receitas

com a arrecadação da renda do petróleo, uma situação em que uma variação no preço da

commodity afeta diretamente a receita de alguns desses países.

Para evitar estes problemas, muitos países estão criando fundos

intergeracional ou de estabilização, onde deve ser depositada grande parte da receita do

petróleo em moeda estrangeira, diminuindo a dependência da receita do país com esta

arrecadação, além de se preparar para futuras quedas de renda provenientes do petróleo

e a apreciação da moeda local.

Atualmente, os recursos provenientes da arrecadação do petróleo estão

sendo utilizados para redução da dívida pública externa; investimentos em

96

infra­estrutura, em especial àquela vinculada aos setores de petróleo e gás natural;

reinvestimento nas empresas petrolíferas; apoio à agregação de valor à cadeia do

petróleo, sobretudo à indústria petroquímica; políticas de diversificação produtiva, ainda

que de caráter limitado; financiamento de política de bem­estar social; e ao orçamento

público anual, de forma a complementar as receitas tributarias não vinculadas às

atividades do petróleo.

Com as descobertas recentes na camada do pré­sal e com uma estimativa

de cerca de 50 bilhões de barris de petróleo nas reservas brasileiras, o governo brasileiro

tem que planejar formas de utilização eficiente da renda futura proveniente da

arrecadação do petróleo, para um desenvolvimento sustentável.

Para avaliar a situação atual de como os políticos brasileiros agem,

analisou­se os cinco municípios que mais arrecadaram royalties no Brasil (Campos dos

Goytacazes, Macaé, Cabo Frio, Rio das Ostras e Quissamã). Apesar de uma evolução

extraordinária no recebimento das receitas dos royalties entre 1991 e 2006, ao

comparar­se a evolução dos indicadores sociais (IDH­M) destes cinco municípios com

os indicadores sociais dos municípios que apresentavam IDH­M próximos a estes,

verifica­se que apenas a evolução de Rio das Ostras foi compatível com o esperado para

um município que arrecada grande quantidade de recursos, enquanto Cabo Frio,

Campos dos Goytacazes, Macaé e Quissamã tiveram um desenvolvimento no IDH­M

abaixo do esperado.

Quando se analisa os IDH­M dos cinco municípios, percebe­se que os

cinco permanecem na categoria de municípios com médio desenvolvimento humano.

Apesar de Campos dos Goytacazes ser o município que mais recebe royalties do

petróleo no Brasil, foi o que apresentou o pior desempenho, apresentando queda de 221

posições no ranking nacional de IDH­M..

O pré­sal apresenta ao Brasil uma oportunidade única de se tornar uma

das grandes economias mundiais em alguns anos. Para isso, o país deve rever a relação

entre o Estado e os demais agentes do setor petrolífero, com o intuito de maximizar o

aproveitamento. Deve ser criado um fundo soberano para auxiliar na prevenção dos

efeitos adversos da nova riqueza, além de perpetuar os seus benefícios. Além disso,

deve­se evitar a corrupção na administração pública.

97

Enfim, é preciso que haja um planejamento sustentável para a aplicação

dos recursos públicos para que o país consiga, no futuro, o sonhado desenvolvimento.

98

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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99

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100

ANEXOS

101

102

ANEXO 2.1

103

ANEXO 4.1

104

105