universidade federal fluminense · albuquerque, ricardo diego duarte galhardo de. estudo...
TRANSCRIPT
-
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS
FACULDADE DE FARMÁCIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIAS APLICADAS A PRODUTOS PARA SAÚDE
ESTUDO FITOQUÍMICO E BIOLÓGICO DE FOLHAS DA ESPÉCIE VEGETAL
Xylopia ochrantha (Mart.)
RICARDO DIEGO DUARTE GALHARDO DE ALBUQUERQUE
NITERÓI
2013
-
ii
ESTUDO FITOQUÍMICO E BIOLÓGICO DE FOLHAS DA ESPÉCIE VEGETAL
Xylopia ochrantha (Mart.)
RICARDO DIEGO DUARTE GALHARDO DE ALBUQUERQUE
Dissertação de mestado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Ciências
Aplicadas a Produtos para Saúde da
Faculdade de Farmácia da Universidade
Federal Fluminense como requisito
parcial para obtenção do Grau de Mestre
na Área de Concentração: Pesquisa e
Desenvolvimento de Produtos para a
Saúde.
Orientadora: Profa Dr
a THELMA BARROS MACHADO
Niterói
2013
-
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
Albuquerque, Ricardo Diego Duarte Galhardo de.
Estudo fitoquímico e biológico de folhas da espécie
vegetal Xylopia ochrantha (Mart.)/ Ricardo Diego Duarte
Galhardo de Albuquerque; orientadora: Thelma Barros
Machado. ____Niterói, 2013.
81f.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal
Fluminense, 2013.
1. Xylopia 2. Óleos essenciais 3. Planta medicinal 4.
Atividade antimicrobiana 5. Atividade antioxidante 6.
Atividade citotóxica 7. Esteroides 8. Flavonoides I.
Machado, Thelma Barros II. Título
-
iv
RICARDO DIEGO DUARTE GALHARDO DE ALBUQUERQUE
ESTUDO FITOQUÍMICO E BIOLÓGICO DE FOLHAS DA ESPÉCIE VEGETAL
Xylopia ochrantha (Mart.)
Dissertação de mestado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Ciências
Aplicadas a Produtos para Saúde da
Faculdade de Farmácia da Universidade
Federal Fluminense como requisito
parcial para obtenção do Grau de Mestre
em Área de Concentração: Pesquisa e
Desenvolvimento de Produtos para a
Saúde.
Aprovado por:
Prof ª. Dra. THELMA BARROS MACHADO - Orientadora
Universidade Federal Fluminense - UFF
Profª. Drª. SABRINA CALIL ELIAS
Universidade Federal Fluminense - UFF
Prof ª. Drª. NAOMI KATO SIMAS
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Profª. Drª. ADRIANA PASSOS DE OLIVEIRA - Revisora
Universidade Estadual da Zona Oeste - UEZO
Niterói
2013
-
v
Este trabalho foi
realizado sob a
orientação da Profª. Drª.
Thelma de Barros
Machado.
-
vi
DEDICATÓRIA
“... à minha família, primeiramente, aos
amigos e a todos que contribuíram para o
alcance do meu sucesso e me deram forças
para seguir meu caminho...”
-
vii
“... A amizade é um meio de nos isolarmos da
humanidade cultivando algumas pessoas...”
(Carlos Drummond de Andrade)
“... Os únicos limites do homem são: o tamanho
das suas ideias e o grau da sua dedicação...”
(Autor desconhecido)
“... O primeiro passo para a vitória é acreditar que
ela exista e que possamos ser os protagonistas em
conduzi-la, não importando o quão longínqua e
tortuosa esta venha a se mostrar...”
-
viii
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela saúde, força e luz que tem me dado durante todo o
percurso.
Aos meus pais e minha irmã pelo apoio e por acreditarem sempre no meu sucesso.
Aos meus familiares, inclusive aqueles que infelizmente não estão mais presentes neste
mundo, que sempre estiveram dispostos a me apoiar e torcendo pelas minhas conquistas.
Aos meus amigos que fazem parte do LTPN pela força, incentivo, companhia, acolhimento e
aprendizado profissional.
Aos meus demais amigos que me incentivaram e deram todo apoio nos momentos de
necessidade.
À coordenação do PG-CAPS pelo suporte e apoio científico durante todo o projeto.
À Faculdade de Farmácia e Universidade Federal Fluminense pela oportunidade de iniciar
minha vida científica.
À CAPES pelo suporte e apoio científico.
À minha orientadora Profª Drª. Thelma Machado.
Ao Prof. Dr. Marcelo Guerra pelo conhecimento e apoio científico.
À Profª Drª. Kátia Lima pelo suporte técnico e científico.
Ao saudoso Prof. Dr. Moacélio Silva-Filho e ao mestre Róber Bachinski pela colaboração e
conhecimento.
Ao Arthur, Bruna e Profª Drª. Ivana Leal pela avaliação antimicrobiana.
À Mariana e Suellen pela colaboração durante todo o projeto.
Aos técnicos Pedro Couteiro, Débora Eiriz e Aline Marques pelas análises em CG-MS.
Ao Laboratório de Interações Celulares – UFRJ pela colaboração com a avaliação citotóxica.
-
ix
Ao Instituto de Tecnologia de Fármacos (FIOCRUZ) pelas análises em LC-DAD-MS.
Ao Laboratório de Epidemiologia Molecular e Biotecnologia (Faculdade de Farmácia – UFF)
e Laboratório de Infecção Hospitalar (UFRJ) pela colaboração com a avaliação
antimicrobiana.
Aos Profs. Dr. Ciro Pregnolatto e Drª. Maria Abadia Vera pelo apoio e conhecimento.
À Profª Drª. Adriana Passos pelo apoio científico e revisão do projeto.
À Profª Drª. Deborah Quintanilha pelas sugestões de modificação durante a defesa do projeto.
Às Professoras Drª. Sabrina Calil e Drª. Naomi Kato pela participação na banca de avaliação.
-
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Árvore de Xylopia ochrantha (p.3)
Figura 2 – Folhas e fruto de Xylopia ochrantha (p.5)
Figura 3 - Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (Carapebus - RJ) (p.10)
Figura 4 - Fruto de Xylopia aethiopica (p.11)
Figura 5 - Folhas e flores de Xylopia parviflora (p.11)
Figura 6 - Frutos de Xylopia aromática (p.12)
Figura 7 - Árvore de Xylopia brasiliensis (p.12)
Figura 8 – Espatulenol (X.laevigata e X.brasiliensis) (p.15)
Figura 9 – Estrutura química do ácido kovalênico (X.aethiopica) (p.15)
Figura 10 – Estrutura química do ácido ent-kaur-16-en-19-óico (X.aethiopica) (p.15)
Figura 11 – Estrutura química do ácido traquiloban-19-óico (X.aethiopica) (p.15)
Figura 12 - Estrutura química do ácido ent-kaur-16-en-19-óico (X.cayennensis) (p.15)
Figura 13 - Estrutura química do ent-kaur-16-en-19-ol (X.cayennensis) (p.15)
Figura 14 – Estrutura química da emarginatina 1 (X.emarginata) (p.15)
Figura 15 – Estrutura química da emarginatina 2 (X.emarginata) (p.15)
Figura 16 - Estrutura química do ácido ent-3-beta-hidroxi-16-caruren-19-óico (X.laevigata)
Figura 17 - Estrutura química do ácido ent-16-cauren-19-óico (X. laevigata) (p.15)
Figura 18 - ent-atisano-7alfa-acetoxi-16alfa-ol (X.langsdorffiana) (p.15)
Figura 19 - ent-atisano-7-oxo-16alfa-ol (X.langsdorffiana) (p.15)
Figura 20 - Estrutura química do α-pineno (1) , terpin-4-ol (2) , β-pineno (3) e Δ-3-careno (4)
(X.aromatica e X.aethiopica) (p.16)
Figura 21 – Quercetina-3-α-raminosídeo (X. emarginata e X. langsdorffiana) (p.17)
Figura 22 – Dicentrinona (X. championii) (p.19)
Figura 23 – Buxifolina (X buxifolia) (p.19)
Figura 24 – Nornantenina (X. danguyella) (p.19)
Figura 25 – Danguielina (X. danguyella) (p.19)
-
xi
Figura 26 – o-metilmoscatolina (X. Championii) (p.19)
Figura 27 - Cromatografia em Camada Delgada das frações obtidas do extrato hexânico. Fase
estacionária: silica gel ALUGRAM® SIL G/UV254 TLC (MACHEREY – NAGEL). Eluente:
Acetato de Etila: Hexano (50%). Revelador: NP/PEG em UV 365nm. (p.28)
Figura 28 – Cromatograma da fração H27 obtido por CG-EM. (p.29)
Figura 29 – Espectro de massas da substância 1. (p.30)
Figura 30 – Espectro de massas da substância 2. (p.31)
Figura 31 – Espectro de massas da substância 3. (p.31)
Figura 32 – Campesterol (p.33)
Figura 33 – Estigmaesterol (p.34)
Figura 34 - γ-sitoesterol (p.35)
Figura 35 - Cromatograma obtido por LC-MS da partição em acetato das folhas de Xylopia
ochrantha. (p.37)
Figura 36 – Identificação dos íons moleculares [M-H] 447 e 593 e cromatograma LC-MS do
extrato etanólico bruto foliar de Xylopia ochrantha. (p.37)
Figura 37 – Análise SIM do íon molecular [M-H] 447, relacionado à estrutura da quercitrina.
Figura 38 - Análise SIM do íon molecular [M-H] 593, relacionado à estrutura da luteolina-7-
O-rutinosídeo. (p.38)
Figura 39 – Espectro de absorção na região de UV-Vis do flavonoide majoritário presente na
partição acetato foliar de Xylopia ochrantha em LC-DAD. (p.39)
Figura 40 – Espectro de absorção na região de UV-Vis do flavonoide presente no extrato
etanólico bruto foliar de Xylopia ochrantha em LC-DAD. (p.39)
Figura 41 – Cromatograma obtido por CG-MS do óleo essencial de frutos de Xylopia
ochrantha (Mart.) (p.41)
Figura 42 – Cromatograma obtido por CG-MS do óleo essencial das folhas de Xylopia
ochrantha (Mart.). (p.41)
Figura 43 – Estrutura química do alfa-bergamoteno (p.44)
Figura 44 - Estrutura química do alfa-bisaboleno (p.44)
Figura 45 - Estrutura química do alfa-copaeno (p.44)
-
xii
Figura 46 - Estrutura química do alfa-felandreno (p.44)
Figura 47 - Estrutura química do alfa-humuleno (p.44)
Figura 48 - Estrutura química do alfa-pineno (p.44)
Figura 49 - Estrutura química do alfa-terpineno (p.44)
Figura 50 - Estrutura química do alfa-terpineol (p.44)
Figura 51 – Estrutura química do alfa-tujeno (p.44)
Figura 52 - Estrutura química do beta-bisaboleno (p.44)
Figura 53 - Estrutura química do beta-cubebeno (p.44)
Figura 54 – Estrutura química do beta-elemeno (p.44)
Figura 55 – Estrutura química do beta-felandreno (p.45)
Figura 56 – Estrutura química do beta-ocimeno (E) (p.44)
Figura 57 – Estrutura química do beta-ocimeno (Z) (p.45)
Figura 58 – Estrutura química do beta-pineno (p.45)
Figura 59 – Estrutura química do biciclogermano (p.45)
Figura 60 - Estrutura química do cariofileno (p.45)
Figura 61 – Estrutura química do cipereno (p.45)
Figura 62 – Estrutura química do delta-elemeno (p.45)
Figura 63 – Estrutura química do delta-elemeno (p.45)
Figura 64 – Estrutura química do espatulenol (p.45)
Figura 65 – Estrutura química do eucaliptol (p.45)
Figura 66 - Estrutura química do gama-muuroleno (p.45)
Figura 67 - Estrutura química do gama-terpineno (p.45)
Figura 68 - Estrutura química do germacreno b (p.45)
Figura 69 - Estrutura química do germacreno d (p.45)
Figura 70 – Estrutura química do linalool (p.45)
Figura 71 - Estrutura química do mirceno (p.45)
Figura 72 - Estrutura química do orto-cimeno (p.46)
-
xiii
Figura 73 - Estrutura química do óxido de cariofileno (p.46)
Figura 74 - Estrutura química do sabineno (p.46)
Figura 75 – Estrutura química do sesquisabineno (p.46)
Figura 76 – Estrutura química do silvestreno (p.46)
Figura 77 - Estrutura química do terpinoleno (p.46)
Figura 78 - Estrutura química do terpinen-4-ol (p.46)
Figura 79 – Curva Padrão de Ácido Gálico preparada para o método de doseamento de
fenólicos totais. (p.49)
Figura 80 - Avaliação da viabilidade e proliferação celular de células AtT20 na presença do
extrato etanólico de Xylopia ochrantha. (p.51)
Figura 81 – Avaliação da viabilidade e proliferação celular de células AtT20 na presença do
óleo essencial das folhas de Xylopia ochrantha. (p.51)
-
xiv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Fragmentos, intensidades relativas e íon molecular dos fitoesteróis encontrados
em Xylopia ochrantha. (p.32)
Tabela 2 - Constituintes químicos do óleo essencial de frutos de Xylopia ochrantha (Mart.)
(p.42)
Tabela 3 - Constituintes químicos do óleo essencial das folhas de Xylopia ochrantha (Mart.).
(p.43)
Tabela 4 - Rendimento do óleo essencial foliar em diversas espécies do gênero Xylopia.
(p.43)
Tabela 5 – Resultado da Avaliação Antimicrobiana do Óléo Essencial e Extratos de Xylopia
ochrantha frente S.aureus. As lacunas em amarelo indicam inibição do crescimento
bacteriano. Controle positivo: Vancomicina. A análise foi realizada em duplicata (colunas 1 a
5 e 7 a 11). (p.47)
Tabela 6 - Espécies e cepas bacterianas testadas pelo método de diluição em placa e seus
resultados. Extrato diclorometânico (DCM), extrato em acetato de etila (AE) e óleo essencial
(OE) demonstraram atividade. (p.48)
Tabela 7 - Valor ORAC de extratos e óleo essencial das folhas de Xylopia ochrantha (Mart.).
(p.49)
-
xv
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AI - Índice Aritmético
ATCC – American Type Culture Colection
AtT20 – Linhagem de Tumor Hipofisário Murino
µL – microlitro
CCF - Cromatografia em Camada Fina
CG - Cromatógrafo em Fase Gasosa
CG-DIC – Cromatógrafo a Gás acoplado a Detector por Ionização em Chama
CG-EM – Cromatografia com Fase Gasosa acoplada a Espectrometria de Massas
CLAE-DAD-EM – Cromatografia com Fase Líquida de Alta Performance acoplada a Diodo
de Arranjo Eletrônico e Espectrometria de Massas
DMEM – Dulbecco’s Modified Eagle Medium
DMSO – Dimetilsulfóxido
ELISA – Enzyme-linked Immunosorbent Assay
EM - Espectrometria de Massas
eV- elétron volt
mg- miligrama
min. - minuto
mL - mililitro
m/z - massa/carga
-
xvi
NIST- National Institute of Standards and Technology
nm – nanômetro
NP/PEG – difenilborioxetilamina/polietilenoglicol
PBS – Phosphate Buffer Saline
Rf - Fator de Retenção
TE- Trolox Equivalent
Trolox – ácido 6-hidróxi-2,5,7,8-tetrametilcroman-2-carboxílico
UV- Ultravioleta
-
xvii
RESUMO
ALBUQUERQUE, Ricardo Diego Duarte Galhardo de. Estudo fitoquímico e biológico de
folhas da espécie vegetal Xylopia ochrantha (Mart.). Niterói, 2013. Dissertação de
Mestrado (Mestrado em Ciências Aplicadas a Produtos para Saúde), Faculdade de Farmácia,
Universidade Federal Fluminense.
Xylopia ochrantha (Mart.) é uma espécie endêmica do Brasil, ocorrendo principalmente na
Floresta de Restinga localizada ao longo da costa brasileira. Os estudos químico e biológico
presentes neste trabalho são os primeiros relacionados a esta espécie. No estudo fitoquímico,
os óleos essenciais das folhas e frutos foram obtidos através de extração por hidrodestilação e
analisados por GC-MS e GC-FID. No total, foram identificadas 36 substâncias, das quais,
germacreno D, biciclogermacreno e silvestreno (folhas), α-felandreno, β-felandreno e
sabineno (frutos) foram os principais componentes identificados. Os fitoesterois campesterol,
estigmaesterol e gama-sitosterol, provenientes do extrato hexânico foliar, além dos
flavonoides majoritários quercitrina e luteolina-7-O-rutinosídeo, encontrados no extrato de
acetato de etila foliar, foram identificados através de análises em CG-EM e CLAE-DAD-EM.
Análises realizadas em CCF demonstraram a presença de terpenos, alcaloides e cumarinas,
sendo estas, portanto, classes de substâncias representativas da espécie. A atividade
antioxidante do óleo essencial e seis extratos das folhas de Xylopia ochrantha foram avaliadas
utilizando o método ORAC, com valores na faixa entre 0,42 ± 0,01 e 1,85 ± 0,03 mmolTE / g.
A atividade antimicrobiana do óleo essencial e extratos de Xylopia ochrantha também
puderam ser analizados através dos métodos de diluição em placas e microdiluição em caldo.
O óleo essencial e as partições diclorometânica e de acetato de etila das folhas de Xylopia
ochrantha apresentaram atividade contra diferentes cepas de Staphylococcus aureus, além de
serem ativos também contra Enterococcus faecalis, Staphylococcus haemolyticcus,
Staphylococcus epidermidis, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Staphylococcus
capitis e Staphylococcus hominis. O extrato diclorometâncio apresentou um MIC de 128
mcg/mL contra ORSA sanguíneo. Nas demais análises, os extratos ativos apresentaram MIC
de 512 mcg/mL. O extrato etanólico demonstrou atividade citotóxica contra células de tumor
hipofisiário (AtT20), sendo possível observar uma diminuição significativa da proliferação e
viabilidade celular dentro de 24 horas.
Palavras-chave: Xylopia ochrantha, óleo essencial, fitoesteróis, flavonoides, antioxidante,
antimicrobiano, Staphylococcus aureus, citotoxidade.
-
xviii
ABSTRACT
ALBUQUERQUE, Ricardo Diego Duarte Galhardo de. Phytochemical and Biological studies of
leaves from vegetal species Xylopia ochrantha (Mart.). Niterói, 2013. Master’s dissertation (Master
in Applied Sciences to Health Products), School of Pharmacy, Fluminense Federal University.
Xylopia ochrantha (Mart.) is a endemic species from Brazil, occurring mainly in the Restinga
Forest located along the Brazilian coast. The chemical and biological studies in this work are
the first related to this species. In phytochemical study, the extraction of essential oils from
leaves and fruits of this species was performed by hydrodistillation and analyzed by GC-
MS/GC-FID. In total, 36 compounds were identified, of which germacrene D,
bicyclogermacrene, silvestrene (leaves), α-phellandrene, β-phellandrene and sabinene (fruits)
were the main components. The phytosterols campesterol, stigmasterol and gamma-sitosterol,
from the foliar hexane extract, besides the majority flavonoids quercitrin and luteolin-7-O-
rutinoside, found in the foliar ethyl acetate extract, were identified through analysis on GC-
MS and HPLC-DAD-MS. Analyzes made in TLC showed the presence of terpenes, alkaloids
and coumarins, which are also representative substances of the species. Regarding the study
of biological species, the antioxidant activity was held to six extracts and essential oil from
the leaves of Xylopia ochrantha using the ORAC method, with values in the range between
0.42 ± 0.01 and 1.85 ± 0.03 mmolTE / g. The antimicrobial activity of essential oil and
extracts of Xylopia ochrantha could be analyzed by plate dilution and broth microdilution
methods. The essential oil and extracts of dichloromethane and ethyl acetate from leaves of
Xylopia ochrantha showed activity against different strains of Staphylococcus aureus, and
were also active against Enterococcus faecalis, Staphylococcus haemolyticcus,
Staphylococcus epidermidis, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Staphylococcus
capitis and Staphylococcus hominis. Dichloromethane extract showed a MIC of 128 mcg / mL
against ORSA blood. In other analysis, active extracts showed MIC of 512 mcg / mL. Ethanol
extract showed cytotoxic activity against tumor cells of the pituitary (AtT20), where was
possible to observe a significant decrease in cell viability and proliferation within 24 hours.
Keywords: Xylopia ochrantha, essential oil, phytosterols, flavonoids, antioxidant,
antimicrobial, Staphylococcus aureus, cytotoxicity.
-
xix
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
2. OBJETIVOS 6
2.1 Objetivos gerais 6
2.2 Objetivos específicos 6
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 7
3.1. História dos produtos naturais 7
3.2. Floresta de Restinga e seus recursos vegetais 9
3.2.1. Restinga de Jurubatiba (RJ) 9
3.3. O gênero Xylopia 9
3.3.1. Xylopia aethiopica 10
3.3.2. Xylopia parviflora 11
3.3.3. Xylopia aromatica 12
3.3.4. Xylopia brasiliensis 12
3.3.5. Xylopia discreta 13
3.4. Principais grupos de metabólitos do gênero Xylopia 13
3.4.1. Metabólitos primários e secundários 13
3.4.2. Biossíntese de metabólitos secundários 13
3.4.3. Terpenoides 14
3.4.4. Flavonóides 16
3.4.5. Alcalóides 17
4. METODOLOGIA 20
4.1. Material vegetal 20
-
xx
4.2. Extratos e partições 20
4.3. Extração do óleo essencial 21
4.4. Determinação estrutural 21
4.5. Avaliação de atividade biológica 22
4.5.1. Atividade antimicrobiana 22
4.5.1.1. Método Qualitativo 23
4.5.1.2. Teste da Microdiluiçpão em caldo e Determinação da concentração mínima inibitória
(CMI) 23
4.5.1.3. Método da diluição em placa 24
4.5.2. Atividade antioxidante 24
4.5.2.1. Capacidade de absorção de radicais de oxigênio (ORAC) 24
4.5.2.2. Doseamento dos fenolicos totais 25
4.5.3. Atividade citotóxica 25
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 27
5.1. Obtenção do extrato etanólico bruto, partições e resíduo aquoso 27
5.2. Separação e identificação de substâncias majoritárias 27
5.2.1. Identificação de fitoesteróis por CG-EM 29
5.2.2 Análise do conteúdo flavonoídico por LC-MS e LC-DAD 36
5.3. Composição química dos óleos essencias de folhas e frutos de X. ochrantha 40
5.4. Atividade antimicrobiana 46
5.5. Atividade antioxidante 48
5.6. Atividade citotóxica 51
6. CONCLUSÃO 53
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 54
ANEXO 1 – ARTIGO SUBMETIDO 72
-
1
1. INTRODUÇÃO
A necessidade da obtenção de produtos naturais com fins farmacológicos remonta
desde o início da formação das civilizações, onde os primeiros achados arqueológicos são
datados de mais de 60 mil anos, ainda na era dos neandertais. Ao longo dos séculos, a
utilização de plantas medicinais para a obtenção de extratos, elixires, óleos essenciais e outros
produtos, foi amplamente inserida na medicina popular de diversos povos pelo mundo, ao
passo que, as técnicas utilizadas para a obtenção destes produtos foram gradativamente
otimizadas. Com o advento do desenvolvimento da química, já no século XIX, foram isoladas
as primeiras substâncias oriundas de produtos naturais, surgindo então, uma revolução na
síntese de produtos farmacológicos. (Bevilacqua, 2010).
O avanço da química também permitiu o desenvolvimento da produção de substâncias
químicas sintéticas, que rapidamente encontraram espaço no mercado, levando a um
abandono gradual da utilização de produtos naturais, embora esta jamais tenha deixado de ser
uma alternativa bastante usual em terapias medicamentosas e na produção de fármacos,
principalmente medicamentos anticancerígenos e anti-infecciosos (McChesney et. al., 2007).
Somadas a isso, as novas tendências globais de utilização de fitoterápicos e aproveitamento da
biodiversidade, a necessidade da obtenção de novas drogas, e ainda, o desenvolvimento de
novas técnicas químicas e biológicas - como a otimização de metodologias de separação e
identificação de substâncias, além de plataformas de bioensaios - a pesquisa no âmbito dos
produtos naturais, vem retomando uma posição proeminente no desenvolvimento de fármacos
(Bevilacqua, 2010; McChesney et. al., 2007).
A utilização de produtos naturais no Brasil é documentada desde a chegada dos
portugueses, sendo descrito o uso de plantas pelos habitantes indígenas, com diversas
finalidades, desde a obtenção de corantes e venenos utilizados para caça, até a utilização de
drogas vegetais para fins curativos ou paliativos. Devido à riqueza de complexos vegetais ao
longo do território brasileiro, o país vem sendo alvo de interesse científico para pesquisa de
novas substâncias de origem natural, visto que há um aumento significante de publicações
recentes de pesquisas sobre espécies vegetais consideradas nacionais (Bevilacqua, 2010).
Um importante exemplo desses ricos complexos vegetais são as restingas, que situadas
entre a Mata Atlântica e o mar, ocupam os solos arenosos de origem marinha ao longo do
-
2
litoral brasileiro. Estes solos foram formados através de uma série de regressões e
transgressões marinhas ocorridas durante o período Quaternário, onde cordões arenosos foram
depositados paralelos ao mar, delineando as planícies costeiras (Rizzini et. al, 1997; Scarano
et. al, 2002; Suguio & Tessler 1984).
O Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (PNRJ) está localizado no litoral norte
do estado do Rio de Janeiro (Brasil), abrangendo os municípios de Macaé, Quissamã e
Carapebus. Está disposto em uma planície arenosa com vegetação distribuída em moitas, além
de apresentar mata periodicamente inundável (Araújo et al. 1998). Entre as principais famílias
botânicas presentes na restinga de Jurubatiba, podemos citar Myrtaceae, Clusiaceae e
Rubiaceae, embora outras famílias também sejam encontradas significativamente, como
Asteraceae, Bromeliaceae e Annonaceae (Santos et al. 2009).
Xylopia L. pertence a família Annonaceae e inclui cerca de 150 espécies entre árvores e
arvoretas aromáticas, das quais 40 espécies são encontradas na América Tropical (Costa et al.,
2011). As espécies mais amplamente estudadas, tais como X. aethiopica, X. parviflora e X.
brasiliensis, apresentam-se na literatura científica como possuindo diversas classes de
substâncias, principalmente ácidos graxos, esteróides, saponinas, taninos, glicosídeos
cianogênicos, além de sesquiterpenos e diterpenóides, alcalóides e acetogeninas. Muitas
dessas substâncias demonstraram ser responsáveis por diferentes atividades farmacológicas
encontradas nesse gênero, entre elas, propriedades analgésica, antiinflamatória, antibacteriana,
antifúngica, sedativa, antiparasitária, antitumoral, entre outras (Colman-Saizarbitoria et. al.
1994a; Colman-Saizarbitoria et. al. 1994b; Ezekwesili et. al. 2010; Nishiyama et. al. 2006).
Uma das representantes desta família na restinga de Jurubatiba é a espécie Xylopia ochrantha
(Mart.), popularmente conhecida como “imbiú-prego”, sendo utilizada pela população local
apenas para a fabricação de cabos de ferramentas (Figura 1 e 2). Esta espécie vegetal é uma
arvoreta de cerca de 4 metros de altura e está presente nas formações vegetais arbustivas
abertas de Clusia e na mata periodicamente inundada da Restinga de Jurubatiba (Santos et.
al., 2009). Segundo um estudo botânico de espécies da família Annonaceae de Restingas
Fluminenses, as demais características botânicas da espécie são as seguintes: pecíolo marrom
com tamanho de 6 mm de comprimento, lâminas foliares de 6 x 10 a 2,5 x 4 cm, cartáceas a
subcoriáceas, elípticas, verdes discolores, glabras em ambas as faces, brilhantes na adaxial,
base aguda, ápice acuminado, acúmem de 5 a 10 cm de comprimento, nervura primária
impressa na face adaxial e proeminente na abaxial; flores em inflorescência caulinares, botão
piramidal 1 a 2 x 1 cm, pedicelo com 2 a 5 mm de comprimento, 1 a 4 brácteas, sépalas e
-
3
pétalas densamente cobertas por tricomas ferrugíneos adpressos, sépalas de 5 x 8 mm, pétalas
do ciclo externo de 17 – 20 x 20 mm, pétalas do ciclo interno de 15 x 7 mm, estames com 1 a
2 mm de comprimento; fruto apocárpico, carpídios, de 15 – 40 x 6 x 10 mm, deiscentes,
densamente cobertos por tricomas ferrugíneos adpressos, com 4 a 7 sementes (Lobão et al.,
2005).
Figura 1 – Árvore de Xylopia ochrantha
O potencial efeito antioxidante de substâncias encontradas no reino vegetal, como é o
caso dos flavonoides e alguns terpenoides, vem sendo apontado como um dos fatores
responsáveis no tratamento de diversas patologias que possuem como origem a degradação de
estruturas celulares causada por agentes oxidantes. (Simões & Spitzer, 2004; Zuanazzi &
Montanha, 2004). Alguns estudos toxicológicos demonstraram a relação entre o mecanismo
de estresse oxidativo e o desenvolvimento de retinopatia diabética, aterosclerose e patologias
neurodegenerativas, como o Mal de Alzheimer, responsáveis pela diminuição progressiva da
qualidade de vida dos pacientes, e que são frequentemente fatais em um curto período de
tempo. A avaliação da atividade antioxidante de produtos de origem natural e estudos que
avaliam a sobrevida e proliferação de células neuroniais são de grande importância para o
tratamento destas patologias, que atualmente encontram apenas medidas paliativas, e não
curativas. (Vidya et. al., 2011; Al-Aly, 2011; Rojas et. al., 2006; Citron, 2010). A presença
majoritária de flavonoides e terpenoides, substâncias relacionadas com atividade antioxidante,
-
4
para diversas espécies do gênero Xylopia é um indicativo do possível uso das mesmas no
tratamento de patologias relacionadas a efeitos oxidativos (Costa et. al., 2011; Diderot et.
al.,2005; Andrade et. al., 2004; Moreira et. al., 2003a; idem, 2006; Santos et. al., 2011;
Moreira et. al., 2003b; Silva et. al.,2009).
A hipófise é uma glândula responsável pela secreção de hormônios que regulam
funções de essencial importância em nosso organismo, como por exemplo, o crescimento, o
ciclo menstrual e o controle diurético. O desenvolvimento de adenomas hipofisários reflete no
desempenho destas funções, aumentando ou diminuindo-as, sendo que vários mecanismos
contribuem no crescimento deste tipo de tumor, incluindo a expressão do gene de
transformação de tumor hipofisário (PTTG) e angiogênese. (Santos-Ortiga et. al., 2010). A
necessidade do tratamento para este tipo de tumor, visto que, os medicamentos atualmente
existentes para este fim causam efeitos colaterais indesejados, ou ainda, sendo necessária a
realização de procedimento cirúrgico em diversos casos, implica na continuação da busca por
alternativas que possam tratar a patologia sem que haja uma perda significativa da qualidade
de vida dos pacientes. (Merza, 2003; Katznelson, 2003; Wand, 2003). Algumas espécies do
gênero Xylopia demonstraram possuir atividade contra células tumorais, sendo este fato
frequentemente relacionado com a presença de acetogeninas, abundantes na família
Annonaceae (Colman-Saizabitorria et .al., 1994a; idem, 1995; Alfonso et. al., 1996).
O sucesso do tratamento de infecções bacterianas por antibióticos desde a descoberta
da penicilina por Fleming, em 1928, vem sofrendo um declínio no que se concerne à eficácia
destes medicamentos, devido ao uso indiscriminado e surgimento de novas cepas resistentes
aos antibióticos comumente utilizados. Algumas espécies bacterianas causadoras de
conhecidas patologias em seres humanos, tais como Staphylococcus aureus, Pseudomonas
aeruginosa, Enterococcus faecalis, entre outras, apresentam cepas com inúmeros fatores de
resistência contra antimicrobianos, responsáveis pelo surgimento de infecções hospitalares,
ocorrência de infecções generalizadas, frequentemente levando ao óbito de pacientes
internados. Deste modo, a busca por novas alternativas medicamentosas para o tratamento
destas doenças é algo estritamente necessário nos dias atuais, visando contornar um grande
problema de saúde pública, que por sinal, existe em âmbito mundial (Sangappa & Padma,
2012; Remy et al., 2012; Master et al., 2012; Huo et al., 2010). Em estudos envolvendo
avaliação de atividade antimicrobiana com espécies do gênero Xylopia foi relatado o poder
inibitório contra diversas espécies bacterianas como Staphylococcus aureus, Pseudomonas
aeruginosa, Kleibsiella pneumoniae e Bacillus subtilis (Oloyede & Aduramigba-Modupe,
-
5
2011; Fleischer et al., 2008; Ilusanya et al., 2012).
Figura 2 – Folhas e fruto de Xylopia ochrantha
A identificação e quantificação de substâncias vegetais nos dias atuais estão cada vez
mais relacionadas ao uso de técnicas cromatográficas hifenadas como é o caso da
cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa (LC-MS) e da cromatografia gasosa
acoplada a espectrometria de massa (CG-EM), esta última especialmente utilizada para a
detecção de componentes com característica apolar como derivados do extrato hexânico ou
componentes de óleos voláteis. Para a detecção de componentes de característica polar, como
os flavonoides, o LC-MS é uma poderosa ferramenta analítica que explora a capacidade
elevada de resolução da cromatografia líquida juntamente com a confiabilidade e acurácia da
identificação de moléculas por espectrometria de massa. A utilização desta técnica é
compatível ainda com outras áreas da ciência como a química orgânica e analítica,
bioquímica, toxicologia e ciências forenses (Colegate & Molyneux, 2008).
-
6
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Realizar o estudo fitoquímico e avaliação do potencial biológico das folhas da espécie
vegetal Xylopia ochrantha (Mart.).
2.2 Objetivos específicos
- Identificar a estrutura química dos constituintes químicos das folhas de Xylopia
ochrantha através de diferentes técnicas cromatográficas e espectroscópicas;
- Avaliar as atividades antimicrobiana, antioxidante e citotóxica dos extratos e óleo
essencial obtido das folhas de Xylopia ochrantha
- Submeter, ao menos, um manuscrito para revista com conceito mínimo B1 CAPES
Interdisciplinar, abrangendo conteúdo relacionado ao trabalho realizado nesta dissertação.
-
7
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. História dos produtos naturais
A utilização de plantas no tratamento de doenças é considerada tão antiga quanto a
própria humanidade, sendo este costume presente em todas as civilizações existentes. Além
de outras utilidades, como o uso para fabricação de ferramentas, confecção de roupas, armas
de caça, e ainda, o uso alimentício, o ser humano percebeu a capacidade de cura através de
vegetais, bem como o poder nocivo, ou de produzir alucinações, causados por algumas
espécies (Bevilacqua, 2010).
A relação do homem com o poder curativo das plantas foi por um grande período
baseado em observações, e quase sempre, associada a mecanismos espirituais. A produção de
elixires, tinturas e outros derivados do processo de destilação, já era desenvolvida desde o
século XI, inicialmente pelos egípcios, sendo que estes produtos eram frequentemente
relacionados com propriedades espirituais das plantas de onde foram extraídos. Com a
revolução da ciência na era renascentista, os estudos com produtos naturais passaram a tomar
uma diretriz mais baseada em experimentações e investigações médicas (Beltran, 1996).
As primeiras descobertas arqueológicas mostram o uso de diversas plantas pelos
neandertais, entre elas, a alteia (Althaea officinalis), há mais de 60 mil anos, na região onde
hoje se situa o Iraque. Mais tardiamente, por volta do ano 4000 a.C., os sumérios e babilônios
utilizavam espécies como o tomilho, mostarda, canela, alho e folhas de sene para fins
farmacológicos. No Antigo Egito, no século XVI a.C., já eram utilizadas cerca de 700 drogas,
incluindo a babosa, o absinto, a hortelã, a mirra e o cânhamo (Bevilacqua, 2010). Na China,
Índia e Grécia antigas, também existem relatos da utilização de compêndios que descrevem
diversas plantas e suas respectivas finalidades curativas (Beltran, 1996).
No século II a.C., o médico grego Galeno, foi o pioneiro em experimentos com
animais, desenvolvendo as primeiras teorias médicas baseadas em experimentações
científicas, revolucionando o estudo da medicina, e sendo importante posteriormente para a
compreensão da atuação dos medicamentos no organismo humano. Após uma relativa
paralisação no desenvolvimento de estudos médicos e sobre plantas medicinais, devido ao
controle do conhecimento médico pela Igreja, o Renascimento proporcionou um avanço no
-
8
que se refere a estudos científicos, se iniciando os primeiros estudos feitos com o corpo
humano, onde se descrevia com precisão a anatomia humana. Nesta época também se
destacou a figura de Paracelso, que foi o primeiro a defender a importância da química na
preparação de medicamentos, além de ser considerado o primeiro a propor a cura através de
princípios homeopáticos (Bevilacqua, 2010).
No Brasil, a utilização de produtos naturais pelos índios foi descrita desde a vinda dos
portugueses em 1500, onde diversas espécies vegetais eram citadas, como é o exemplo da
Bixa orellana (urucum), Carapa guianensis (andiroba) e Chlorophora tinctoria (tatajuba),
utilizadas como produtoras de corantes, sendo que a última produz a substância morina, ainda
hoje, largamente utilizada como reveladora de açucares em cromatografia de camada delgada.
Outras espécies, como é o caso da Hymeneae coubaril (jatobá), produtora de resina, e
Strychnos guianensis, que dá origem ao curare, também foram bastante procuradas por
exploradores europeus, ainda antes do século XVIII (Pinto, 1995).
No início do século XIX, com o desenvolvimento da química, foram isoladas as
primeiras substâncias ativas oriundas de produtos naturais, entre elas, a morfina, um alcaloide
proveniente da papoula (Papaver somniferum), considerada uma planta com propriedades
anestésicas e soníferas. O avanço do conhecimento químico e de técnicas laboratoriais
permitiu o surgimento das indústrias farmacêuticas, que utilizavam os constituintes básicos
das drogas naturais como matéria-prima para a produção de medicamentos, ou como
precursores de medicamentos mais potentes.
O desenvolvimento da química orgânica contribuiu para o aumento da produção de
medicamentos baseados em substâncias sintéticas, que gradativamente, ocuparam o lugar dos
medicamentos de origem natural, devido à diminuição do custo e de quantidade de matéria-
prima utilizada para os testes e atendimento da demanda (Bevilacqua, 2010). No entanto,
muitos medicamentos anticancerígenos e antiinfecciosos têm sua origem em substâncias
obtidas de produtos naturais, como é o caso do paclitaxel, um agente anticancerígeno oriundo
da espécie Taxus brevifolia (McChesney et. al., 2007).
Com o aumento da procura de novos medicamentos para atender a demanda
mercadológica, e outros fatores como a valorização da biodiversidade e desenvolvimento de
metodologias químicas e de testes biológicos, os investimentos em pesquisas para obtenção
de medicamentos baseados em produtos naturais estão atualmente em ascensão, e cada vez
-
9
mais, sendo necessários para o desenvolvimento da indústria farmacêutica (Bevilacqua,
2010).
3.2. Floresta de Restinga e seus recursos vegetais
Os sistemas de classificação dos diversos tipos de vegetação presentes no Brasil
variam de acordo com a abordagem de cada autor, e na tentativa da realização de uma
classificação universal, reunindo pontos de concordância entre os autores, podemos dividir os
tipos de vegetação em seis sistemas de classificação: fisionômico-ecológico, formações
pioneiras, de transição, relíquias, vegetação disjunta e vegetação secundária (IBGE, 1992).
As restingas, classificadas como formações pioneiras, abrangem comunidades
vegetais em contato direto com águas marinhas, como é o caso dos gêneros Remirea e
Salicornia, bem como comunidades presentes em dunas, tendo como exemplo de espécie
nativa o Schinus terebinthifolius, e também presentes em pontais rochosos, caso de várias
espécies da família Bromeliaceae. As formações vegetais podem ser classificadas em:
arbustivas abertas de Clusia, mata periodicamente inundada, mata permanentemente
inundada, arbustiva aberta de Ericaceae, arbustiva de pós-praia, arbustiva aberta de Palmae,
vegetação aquática, herbácea brejosa, mata de cordão arenoso, halófila/psamófila reptante e
vegetação alterada (IBGE, 1992).
3.2.1. Restinga de Jurubatiba (RJ)
A restinga de Jurubatiba (Figura 3) abrange os municípios fluminenses de Macaé,
Carapebus e Quissamã (Araújo et. al, 1998), onde segundo a informação de um especialista
local, existe a ocorrência de 119 espécies utilizadas para diversos fins, distribuídas em 100
gêneros e 49 famílias (Santos et al, 2009), embora existam de maneira total, o registro de 618
espécies vasculares para o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (Araújo et. al, 2001).
As famílias mais representativas em número de espécies são a Myrtaceae, Clusiaceae e
Rubiaceae, no entanto, algumas famílias também foram consideradas muito importantes do
ponto de vista florístico e etnobotânico, como a Asteraceae, Bromeliaceae e Fabiaceae. O uso
medicinal predominou em 45 espécies, sendo 29 destas utilizadas exclusivamente com
-
10
propósitos medicinais. Em relação às formações vegetais da restinga de Jurubatiba, as que
apresentaram maior número de espécies utilizadas medicinalmente foram a arbustiva aberta
de Clusia e mata periodicamente inundada - formações onde é encontrada a espécie Xylopia
ochrantha - além das formações arbustivas abertas de Ericaceae e mata permanentemente
inundada (Santos et. al, 2009).
Figura 3 - Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba (Carapebus - RJ)
3.3. O gênero Xylopia
Diversas espécies do gênero Xylopia tiveram sua composição química e atividade
biológica investigadas por pesquisadores em várias regiões do mundo, sendo que algumas
foram mais extensivamente estudadas, obtendo-se informações mais detalhadas a respeito da
sua natureza química e ação farmacológica.
3.3.1. Xylopia aethiopica
A espécie X. aethiopica (Figura 4) é a mais amplamente estudada e ocorre
principalmente na África subsaariana. A espécie demonstrou variadas atividades biológicas,
dentre elas, reguladora de desordens inflamatórias e ação analgésica. Seus extratos
apresentaram principalmente ácidos graxos, carboidratos, glicosídeos cianogenéticos,
acetogeninas, taninos, saponinas e flavonoides (Ezekwesili et. al., 2010; Colman-Saizabitorria
-
11
et. al., 1994b). Além disso, identificou-se nessa espécie a atividade hipotensiva e
vasodilatadora relacionada aos diterpenóides caurênicos, que atuam pela antagonização do
cálcio (Somova et. al., 2001). A ação antioxidante também foi verificada experimentalmente,
por ação de monoterpenos presentes no óleo essencial de folhas, frutos, caule e raiz, tendo
como um dos componentes principais o germacreno-D (Karioti et.al., 2004). Outras
atividades interessantes também foram encontradas para esta espécie, tais como, atividade
citotóxica, demonstrada pela ação de dois alcalóides oxoaporfínicos - a oxofebina e a
liriodenina - além da inibição da trombina e prolil endopeptidase, por ação de diterpenóides
como o ácido colavênico e ácido traquiloban-19-óico, sugerindo que esses últimos podem ser
úteis no tratamento da trombose e da demência (Harrigan et. al., 1994; Diderot et. al.,2005) e
atividade contra diversas espécies bacterianas (Oloyede & Aduramigba-Modupe, 2011;
Fleischer et al., 2008; Ilusanya et al., 2012).
Figura 4 - Fruto de Xylopia aethiopica
3.3.2. Xylopia parviflora
A espécie X. parviflora (Figura 5) é originária do leste da África e o decocto de suas
raízes é muito utilizado pelos povos da região para desordens gástricas, cólicas menstruais e
enxaquecas. Os alcalóides oriundos do extrato metanólico da casca demonstraram possuir
efeito nociceptivo, enquanto que, mais especificamente, alcalóides do tipo isoquinolínico
presentes nas raízes e também nas cascas da árvore, demonstraram atividade analgésica e
antiespasmódica. (Nishiyama et. al., 2006).
Figura 5 - Folhas e flores de Xylopia parviflora
-
12
3.3.3. Xylopia aromatica
O óleo essencial obtido de frutos da espécie Xylopia aromatica (Figura 6) ao ter sua
composição investigada, mostrou a presença de β-felandreno, p-cineno, β-mirceno,
majoritariamente, dentre outros compostos voláteis (Stashenko et al., 2004). As acetogeninas
oriundas do extrato etanólico de cascas do caule demonstraram atividade citotóxicas frente a
diversos tipos de células tumorais, principalmente pela inibição da NADH-ubiquinase óxido-
redutase e da enzima NADH oxidase, sendo que algumas substâncias ativas desta classe já
foram isoladas, como é o caso da venezenina, xilopeína, aromina e aromacina. (Colman-
Saizabitorria et .al., 1994a; idem, 1995; Alfonso et. al., 1996).
Figura 6 - Frutos de Xylopia aromática
3.3.4. Xylopia brasiliensis
Estudos realizados com a espécie Xylopia brasiliensis demonstraram a atividade
antifúngica proveniente de terpenoides presentes no óleo volátil oriundo das folhas, entre eles,
o espatulenol (Figura 7), sendo que outros compostos como esteroides e alcaloides aporfíricos
também se encontram presentes em frutos e nas cascas do caule, podendo estar relacionados
com atividade sedativa e analgésica, propriedades que são descritas para a espécie na
medicina popular. (Moreira et. al., 2003, idem, 2005a)
Figura 7 - Árvore de Xylopia brasiliensis
-
13
3.3.5. Xylopia discreta
O óleo essencial e extratos obtidos de folhas e sementes de Xylopia discreta
demonstraram atividades anti-leishmania e imunomodulatória. Estas atividades foram
relacionadas ao aumento da atividade de macrófagos e indução da produção de MCP-1,
possivelmente levando à diminuição da carga do parasita no hospedeiro através do aumento
da produção de quimiocinas pró-inflamatórias (Lopes et. al., 2009).
3.4. Principais grupos de metabólitos do gênero Xylopia
3.4.1. Metabólitos primários e secundários
Dá se o nome de metabolismo ao conjunto de reações químicas que continuamente
ocorrem em uma célula, classificando-se como metabolismo primário o conjunto de reações
participantes de processos essenciais à vida, sendo comuns aos seres vivos, como é o exemplo
da glicólise e síntese de aminoácidos. O metabolismo secundário, mais presente em vegetais e
microorganismos, embora também seja encontrado em vida animal, é capaz de produzir,
transformar e acumular inúmeras substâncias não necessariamente relacionadas de forma
direta à manutenção da vida do organismo produtor. Os metabólitos secundários já foram
considerados por diversos autores como simplesmente produtos de excreção vegetal,
entretanto, atualmente, sabe-se que muitas destas substâncias estão diretamente envolvidas
com a adequação do seu produtor ao meio, como por exemplo, a defesa contra herbívoros e
microorganismos, proteção contra raios UV, atração de polinizadores ou animais dispersores
de sementes, entre outras. Alguns autores também citam o termo metabolismo intermediário,
que descreve as várias reações químicas envolvidas na transformação de moléculas de
nutrientes nas unidades constitutivas essenciais da célula. (Santos, 2004).
3.4.2. Biossíntese de metabólitos secundários
Muitos metabólitos secundários demonstraram ter interessantes atividades biológicas,
sendo já há algum tempo, objeto de estudo para descoberta de novos fármacos. As vias do
-
14
metabolismo secundário se originam na via glicolítica, que produz dois intermediários
principais: o ácido chiquímico e o acetato. A partir do ácido chiquímico tem-se a formação
dos aminoácidos aromáticos, precursores da maioria dos metabólitos secundários aromáticos,
sendo esta etapa conhecida como via do chiquimato. Os derivados do acetato podem ser
classificados, segundo a via metabólica, como: provenientes da via cíclica do ácido cítrico;
oriundos da via mevalonato; e produtos da condensação do acetato, tendo como exemplo, os
glicosídeos cianogenéticos, saponinas e heterosídeos cardiotônicos. Outros metabólitos
secundários são derivados da combinação de uma unidade de ácido chiquímico e uma ou mais
unidades de acetato ou derivados deste, como é o caso das antraquinonas, dos flavonoides e
dos taninos condensados (Santos, 2004).
3.4.3. Terpenoides
Os terpenoides constituem uma classe de substâncias cuja origem biossintética deriva
de unidades de isopreno, que por sua vez, são originadas a partir do ácido mevalônico. De
acordo com a quantidade de unidades isoprênicas, os terpenos podem ser classificados em
isopreno (1 unidade), monoterpenoides (2), sesquiterpenoides (3), diterpenoides (4),
sesterpenoides (5), triterpenoides (6), tetraterpenoides (8) ou polisoprenoides (maior que 8
unidades). Esta classe de substância pode ser encontrada preferencialmente como principal
constituinte de óleos voláteis e em extratos apolares, como o hexânico ou diclorometânico.
(Simões & Spitzer, 2004). A identificação de óleos voláteis pode ser feita através de
diferentes métodos, desde métodos cromatográficos de análise, ressonância magnética
nuclear, até a análise por testes organolépticos, visto que os óleos voláteis apresentam com
uma das mais evidentes características o odor.
Exemplos de terpenoides são o mirceno, linalol, geraniol, cânfora, mentona, limoneno,
e mais especificamente dentro do gênero Xylopia (Figuras 8 a 19), o espatulenol (X. laevigata
e X. brasiliensis), os ácidos kovalênico, ent-kaur-16-em-19-óico e traquiloban-19-óico (X.
aethiopica), o ent-kaur-16-en-19-ol e o ácido ent-kaur-16-en-19-óico (X. cayennensis), as
emarginatinas 1 e 2 (X. emarginata), e o ent-atisano-7-oxo-16-alfa-ol (X. langsdorffiana)
(Costa et. al., 2011; Diderot et. al.,2005; Andrade et. al., 2004; Moreira et. al., 2003; idem,
2006; Santos et. al., 2011).
-
15
Figura 8 – Espatulenol (X.laevigata e X.brasiliensis) Figura 9 – Ácido kovalênico (X.aethiopica)
Figura 10 – Ácido ent-kaur-16-en-19-óico (X.aethiopica) Figura 11 – Ácido traquiloban-19-óico (X.aethiopica)
Figura 12 - Ácido ent-kaur-16-en-19-óico (X.cayennensis) Figura 13 - ent-kaur-16-en-19-ol (X.cayennensis)
Figura 14 – Emarginatina 1 (X.emarginata) Figura 15 – Emarginatina 2 (X.emarginata)
Figura 16 – Ácido ent-3-beta-hidroxi-16-caruren-19-óico (X.laevigata) Figura 17 – Ácido ent-16-cauren-19-óico (X. laevigata)
Figura 18 – ent-atisano-7alfa-acetoxi, 16alfa-ol (X.langsdorffiana) Figura 19 – ent-atisano-7-oxo-16alfa-ol (X.langsdorffiana)
-
16
Quanto a importância farmacológica, muitas propriedades são estabelecidas a respeito
dos terpenoides, entre elas, ação carminativa, antiespasmódica, ação estimulante gastro-
intestinal, secretolítica, estimulante do SNC, anestesia local, atividade anti-inflamatória e anti-
séptica. (Simões & Spitzer, 2004). Algumas espécies do gênero Xylopia são conhecidas como
produtoras de óleos voláteis de importância farmacológica, tendo como alguns exemplos, a X.
aromatica e a X. aethiopica, que apresentam em seus óleos, terpenoides como o 1,8-cineol,
terpinen-4-ol, β-felandreno, Δ-3-careno, α-pineno, β-pineno e β-mirceno (Nguemtchouin et.
al., 2009; Kouninki et. al., 2007; Lago et. al., 2003).
1 2 3 4
Figura 20 - α-pineno (1) , terpin-4-ol (2) , β-pineno (3) e Δ-3-careno (4) (X.aromatica e X.aethiopica)
3.4.4. Flavonoides
Os flavonoides constituem uma importante classe de polifenóis, presentes em relativa
abundância entre os metabólitos secundários de vegetais, sendo divididos em várias
subclasses: flavonas, flavonóis, antocianos e antocianinas, chalconas, auronas, di-
hidroflavonoides, isoflavonoides, flavanas, leucoantocianidinas e proantocianidinas,
neoflavonoides e biflavonoides. Também podem ser classificados como agliconas ou
heterosídeos. As agliconas aparecem geralmente sob a forma de cristais amarelos, sendo
normalmente solúveis em solventes orgânicos apolares, e por possuírem caráter fenólico, em
soluções aquosas alcalinas, enquanto que os heterosídeos são geralmente solúveis em água,
em álcool diluído, mas insolúveis nos solventes orgânicos habituais. A caracterização pode
ser realizada diretamente no farmacógeno (histoquímica), ou em extratos vegetais, por ensaios
cromáticos, cromatográficos, espectroscópicos ou fotométricos. As antocianinas são
facilmente caracterizadas devido a sua coloração, particularmente em flores e folhas
(Zuanazzi & Montanha, 2004).
-
17
Esta classe de substância possui inúmeras atividades biológicas, incluindo atividade
antiviral, antioxidante, anti-inflamatória, antitumoral, atividade sobre a permeabilidade capilar
e atividade hormonal (Zuanazzi & Montanha, 2004). As espécies Xylopia emarginata e
Xylopia langsdorffiana são produtoras do flavonóide glicosilado denominado quercetina-3-α-
ramnopiranosídeo (Figura 21) (Moreira et. al., 2003b; Silva et. al.,2009).
Figura 21 – Quercetina-3-α-raminosídeo (X. emarginata e X. langsdorffiana)
3.4.5. Alcaloides
Os alcaloides são definidos como compostos nitrogenados farmacologicamente ativos
e são encontrados predominantemente nas Angiospermas. Em sua maioria, possuem caráter
básico, tendo exceções como colchicina, piperina, oximas e alguns sais quaternários. A
denominação alcaloide exclui compostos nitrogenados como aminas simples, aminoácidos,
peptídeos, proteínas, ácidos nucléicos, nucleotídeos, porfirinas e compostos com grupos nitro
e nitroso. Também pode-se utilizar a denominação alcaloides verdadeiros, para alcaloides
contendo um átomo de nitrogênio em um anel heterocíclico, protoalcaloides, para alcaloides
com átomo de nitrogênio não pertencente ao anel, e ainda, pseudoalcaloides, para alcaloides
sem anéis e não-derivados de aminoácidos. Possuem grande variedade estrutural, tal como no
caso dos terpenoides, sendo classificados de acordo com o precursor biogenético:
a) Derivados da L-ornitina: pirrolidínicos, tropânicos, pirrolizidínicos e
fenantroindolizidínicos.
b) Derivados da L-lisina: piperidínicos, quinolizidínicos e indolizidínicos.
c) Derivados do ácido nicotínico: piridínicos.
d) Derivados dos policetídeos: piperidínicos e lactamas policetídicas.
-
18
e) Derivados do isopreno: monoterpênicos, sesquiterpênicos, diterpênicos e triterpênicos.
f) Derivados do ácido antranílico: quinolínicos e quinazolínicos.
g) Derivados do ácido antranílico: acridínicos.
h) Derivados do L-triptofano: indóis simples, beta-carbolinas, indol-monoterpênicos,
quinolínicos, pirroloindólicos e ergolinas.
i) Derivados da L-fenilalanina: feniletilaminas.
j) Derivados da L-tirosina: feniletilaminas, tetraidroisoquinolínicos,
benzilisoquinolínicos, aporfínicos, aristolactamas, morfinanos, bisbenzilisoquinolínicos,
protoberberinas, isoquinoleínicos-monoterpênicos, betalaínas, benzilisoquinolinas e
fenetilisoquinolinas.
k) Derivados da L-histidina: imidazólicos.
l) Derivados de vários aminoácidos: ciclopeptídeos.
m) Derivados da purina: xantinas.
Devido a variedade estrutural dos alcaloides, são utilizados diversos métodos de
detecção específicos, sendo que de maneira geral, com exceção dos alcaloides contendo
nitrogênio quaternário, são extraídos através de reações ácido-base.
A função dos alcaloides nos vegetais ainda é objeto de estudo, sendo que algumas
hipóteses foram formuladas, como proteção contra predadores, por causa do sabor amargo,
reserva de nitrogênio, hormônios reguladores de crescimento, e proteção contra raios UV,
devido a presença de núcleos aromáticos.
Várias espécies do gênero Xylopia são produtoras de diversos grupos de alcaloides
(Figuras 22 a 26), entre eles, o-metilmoscatolina e dicentrinona (X. championii), discretamina
(X. langsdorffiana), buxifolina (X. buxifolia), nornantenina (X. danguyella), deidroxilopina e
deidroaporfina, alcalóides isoquinolínicos (X. vieillardi), e a danguielina, um alcalóide
aporfínico isolado de X. danguyella (Wueratine et. al., 1996; Silva et. al., 2009; Jossang et.
al., 1991; Hocquemiller et. al., 1981).
-
19
A variedade estrutural dos alcaloides implica na diversidade de atividades
farmacológicas inerentes a esta classe, entre elas, ação repelente de herbívoros (alcaloides
pirrolizidínicos), atividade emética (emetina), anti-hipertensiva (reserpina), antimalárica
(quinina), antitussígena (codeína), estimulante do SNC (cafeína), miorrelaxante (tubocurarina)
anticolinérgicos (atropina), entre outros (Henriques et. al., 2004).
Figura 22 – Dicentrinona (X. championii) Figura 23 – Buxifolina (X buxifolia) Figura 24 – Nornantenina (X. danguyella)
Figura 25 – Danguielina (X. danguyella) Figura 26 – o-metilmoscatolina (X. championii)
-
20
4. METODOLOGIA
4.1. Material Vegetal
Folhas (3600 g) e frutos (200 g) de X. ochrantha foram coletados na Restinga de
Jurubatiba, localizada no município de Carapebus (22º13’5,08”S - 41º35’10,24”W), RJ,
Brasil nos dias 27 de outubro de 2010, 14 de julho de 2011 (folhas) e 3 de agosto de 2012
(frutos). A identificação da espécie vegetal foi realizada pelo Prof. Dr. Marcelo Guerra Santos
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A herborização do material vegetal foi realizada
e a exsicata foi depositada no Herbário da Faculdade de Formação de Professores da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sob o registro de nº 14.500. As folhas foram
submetidas ao processo de secagem em estufa com ventilação forçada, com temperatura de
aproximadamente 35°C durante o período de 48 horas.
4.2. Extratos e Partições
460 g de folhas secas foram moídas em moinho de facas e em seguida submetidas à
extração por maceração a frio, em etanol 96%, durante um período de 15 dias com agitação
diária. Após este período, o macerado foi filtrado e concentrado em evaporador rotatório,
obtendo assim o extrato hidroetanólico das folhas, após ressuspensão em etanol 90%. Em
seguida, este extrato foi submetido ao particionamento com solventes de polaridade crescente
(hexano, diclorometano, acetato de etila e n-butanol), utilizando volume de 250 mL. As
partições hexânica, diclorometânica e de acetato de etila foram submetidas aos processos de
purificação e identificação dos componentes majoritários através de métodos cromatográficos
usuais com prévia revelação das principais classes de substâncias em cromatofolhas utilizando
reagentes específicos.
-
21
4.3. Extração do óleo essencial
Folhas e frutos frescos de X.ochrantha (1237 g e 200 g, respectivamente) foram
colocados separadamente em um balão de 5L sob uma manta térmica, e então, submetidas à
hidrodestilação durante 4 horas em um aparato do tipo Clevenger. Ao final da extração, os
óleos essenciais foram coletados e acondicionados em geladeira para posteriores análises
químicas e verificação de atividade biológica (antioxidante, antimicrobiana e citotóxica).
4.4. Determinação Estrutural
As metodologias utilizadas na determinação estrutural de substâncias foram realizadas
na Faculdade de Farmácia-UFF e Instituto de Tecnologia de Fármacos – FIOCRUZ.
O óleo essencial e os esteroides foram analisados por cromatografia acoplada a
espectrometria de massa (CG-EM), onde os espectros de massas foram obtidos em um
aparelho Shimadzu QP 5000 utilizando ionização por impacto de elétrons (70 eV; 1 scan/s)
sob as seguintes condições: temperatura do injetor: 260ºC (para o óleo essencial) e 200ºC
(para fração hexânica); temperatura do detector: 290ºC (para ambos); fase móvel: hélio; fluxo
médio de 1 mL/min (para ambos); injeção no modo split (1:40); temperatura inicial do forno:
60ºC (o.e.) e 40ºC (fr.hex.); rampa de aquecimento: 3ºC/min até 290ºC (o.e.); 3ºC/min até
110ºC e 2ºC/min até 280ºC (fr.hex.); concentração inicial da amostra: 1:100 mg/uL (o.e em
diclorometano.) e 1:500 mg/uL (fr.hex. em diclorometano); quantidade para injeção: 1 uL
(para ambos). As amostras foram injetadas em coluna RTX-5 (0,25 mm X 30 m X 0,25 µm).
A composição percentual dos óleos foi calculada pelo método de normalização das
áreas de pico CG-DIC. A identificação das substâncias foi realizada comparação do índice
aritmético (AI), determinado em relação ao tempo de retenção de uma série de n-alcanos (C7-
C40 – Sigma Aldrich Corp.), com dados de referência correspondente (Adams, 2007) e o
padrão de fragmentação do espectro de massas foi comparado com bibliotecas de espectro de
massas NIST.
A elucidação estrutural dos esteroides foi feita de acordo com o padrão de
fragmentação, os valores dos íons e as respectivas intensidades relativas que foram
comparadas com os descritos na literatura para a respectiva classe química (Jain & Bari, 2010;
-
22
Moreira et al., 2005; Silva et al., 2012; Balamurugan et al., 2011; Manoharan et al., 2005;
Sales, 2007).
Para a análise da composição flavonoídica primeiramente, foi utilizada a técnica de
cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) integrada a um detector de feixe de diodos
(DAD - Shimadzu SPD-M10Avp) na região de 200 a 600 nm e fluxo de 1 mL/min. Todas as
análises em CLAE foram efetuadas em coluna de fase inversa Symmetry (4,6mm x 15 cm),
utilizando partículas de 5µm (analítica). Os solventes utilizados foram metanol e acetonitrila
grau CLAE/UV (TEDIA). A água foi obtida por destilação em sistema Milli-Q e os solventes
previamente filtrados em filtro 0,45 µm (Millipore). Também foi possível realizar a análise
dos componentes flavonoídicos através da técnica cromatografia líquida de alta eficiência
acoplada a DAD e espectrometria de massas (CLAE-DAD-EM) utilizando ionização por
“eletrospray” em aparelho LC Micromass triplo – quadrupolo Q-4000, no modo negativo. A
detecção dos íons moleculares foi feita através do monitoramento selecionado de íons (SIM).
Como solventes, foram utilizados ácido trifluoroacético 0,1% (A) e acetonitrila (B). A
composição do gradiente de eluição foi a seguinte: 0–15min, 0–20% B em A (gradiente
linear); 15–35 min, 20–40% B em A (gradiente linear); 35 – 50 min, 40 – 100% B em A. As
condições utilizadas para o “eletrospray” foram: voltagem do spray, 3.5 kV; velocidade do
fluxo de gás de revestimento, 40 unidades; velocidade do fluxo de gás auxiliar, 15 unidades;
temperatura de dessolvatação, 300° C; voltagem do capilar, 10 V.
4.5. Avaliações de atividade biológica
4.5.1. Atividade antimicrobiana
Para a determinação da atividade bacteriana de extratos, partições e óleo essencial
foliares de Xylopia ochrantha, foram realizados os métodos qualitativo e quantitativo
(microdiluiçao em caldo e ensaio da diluição em placas). As análises foram realizadas nos
Laboratórios de Epidemiologia Molecular e Biotecnologia (Faculdade de Farmácia – UFF) e
Laboratório de Infecção Hospitalar (UFRJ).
-
23
4.5.1.1. Método Qualitativo
Placas contendo meio cromogênico CPS semeadas com Staphylococcus aureus ATCC
29213 foram utilizadas para verificação de atividade antimicrobiana do extrato bruto,
partições e óleo essencial foliares de Xylopia ochrantha. Pequenos discos de papel de filtro
Whatman nº1, com raio de 0,5 mm, inseridos em solução metanólica das amostras (100
mg/mL), foram postos em contato com a placa semeada com a cepa bacteriana (106
UFC/mL)
a ser analisada. Após incubação pelo período de 24 horas, a leitura foi realizada visualmente.
A formação de halos em volta dos papéis de filtro demonstra a existência de atividade
antimicrobiana.
4.5.1.2. Teste da Microdiluição em caldo e Determinação da Concentração Mínima
Inibitória (CMI)
Oito tubos de 20 cm, com exceção do primeiro, foram preenchidos com 2mL de caldo
Mueller-Hinton (MH) estéril. No primeiro tubo foram inseridos 3,8mL do caldo e 0,2 mL do
extrato, fração ou óleo essencial de Xylopia ochrantha a serem testados, diluídos em dimetil
sulfóxido (DMSO), na concentração final de 500 µg/mL. Metade do volume do primeiro tubo
foi transferida para o próximo tubo, repetindo-se o procedimento para os tubos subsequentes,
obtendo-se assim um gradiente de concentração. Em seguida, foram aplicados na microplaca
0,2 mL de cada diluição nos poços de uma fileira, em duplicata, sendo que, como controle
negativo, duas colunas da placa foram preenchidas com 0,2 mL de caldo MH sem a amostra.
Também foram utilizados poços para diluições contendo vancomicina, o antibiótico de
referência. Logo após, 0,01mL da suspensão bacteriana de Staphylococcus aureus ATCC
29213 (102 UFC/mL), previamente ajustada em salina estéril, foi aplicada em cada poço. As
placas foram incubadas por 24 horas, a 35ºC, dentro de sacos plásticos. Após o tempo de
incubação foram adicionados 30 µL do corante resazurina (Sigma-Aldrich) e as placas
incubadas por mais 24 horas à 35ºC. Após este período, a leitura foi feita visualmente
observando-se a coloração nos poços, e identificando-se a presença ou não de células
bacterianas viáveis, pois a presença de células bacterianas viáveis promove o descoramento da
resazurina. A CMI corresponde à primeira diluição na qual não for observada coloração rosa
(CLSI, 2008).
-
24
4.5.1.3. Ensaio da diluição em placa
Suspensões bacterianas de diferentes cepas (Tabela 5) contendo cerca de 1x106
UFC /
mL foram depositadas em cavidades de um replicador de Steers. Posteriormente, foram
semeadas sobre a superfície de placas de Petri contendo ágar Mueller-Hinton em quatro
concentrações seriadas 512 - 64 mcg / mL de extratos foliares de Xylopia ochrantha diluídas
em ágar. Para analisar a atividade de óleo essencial da folha foram dispensados 10 e 20 µL do
mesmo em placas contendo ágar Mueller-Hinton previamente semeados com diferentes
espécies bacterianas (106 UFC/mL). As placas foram incubadas a 37 ° C durante 24 horas.
Após este período, a leitura foi realizada. A CMI corresponde à concentração mais baixa na
qual ocorreu a inibição do crescimento bacteriano (Shadomy et al., 1985).
4.5.2. Atividade antioxidante
Na determinação da atividade antioxidante foliar de Xylopia ochrantha, foram
avaliadas a capacidade de absorção de radicais de oxigênio (ORAC) e concentração de
fenólicos totais. Ambas as análises foram realizadas na Faculdade de Farmácia – UFF.
4.5.2.1. Capacidade de absorção de radicais de oxigênio (ORAC)
Este ensaio é baseado na determinação da atividade antioxidante através da reação de
oxidação da fluoresceína, onde componentes geradores de radicais livres inativam a proteína,
diminuindo sua fluorescência.
Neste método, 20 μL das partições, extrato bruto e óleo essencial diluídos foram
inseridos em uma microplaca para fluorimetria com 96 poços. Logo em seguida, 120 μL da
solução de fluoresceína foram adicionados em cada poço, misturando bem a solução, e a placa
incubada por 10 minutos a 37ºC. Posteriormente, 60 μL do iniciador de radicais livres foram
inseridos em cada poço, homogeneizando com auxílio de uma pipeta, e imediatamente após,
as placas com a amostra e o padrão (Trolox) foram postos no leitor de fluorescência, ajustado
o comprimento de onda excitatório em 480nm, e o comprimento de onda de emissão em
530nm. A leitura foi feita em intervalos de 15 minutos, dentro de um tempo total de 60
minutos.
-
25
Para calcular os resultados do ensaio, foi construída a AUC para cada amostra e para o
padrão usando os valores finais e a seguinte fórmula de regressão linear:
AUC = 1 + RFU1/RFU0 + RFU2/RFU0 + RFUn/RFU0 + ... + RFU60/RFU0
Onde,
RFU0 = valor de fluorescência relativa no tempo zero
RFUn = valor de fluorescência relativa em um determinado tempo (minutos)
Finalmente, após o tratamento adequado da AUC, foram calculados os equivalentes
em μmol das amostras em comparação com o padrão (Trolox equivalent – TE). Os resultados
foram expressos em TE/g da amostra e realizados em triplcata. (Cao et.al., 1993).
4.5.2.2. Determinação dos fenólicos totais
O conteúdo de compostos fenólicos totais foi determinado pelo método de Folin-
Ciocalteau (Ebrahimzaded et al., 2008; Nabavi et al., 2008). Diluições em triplicata de 1
mg/mL do extrato etanólico bruto de Xylopia ochrantha foram misturadas com o reagente de
Folin-Ciocalteu (5 mL, 1:10 diluído com água destilada) durante 5 min, posteriormente
adicionando-se Na2CO3 aquoso (4 mL, 1 M). A mistura foi deixada em repouso durante 15
minutos e os fenóis foram determinados por colorimetria a 765 nm. A curva padrão foi
preparada nas concentrações de 0,001, 0,01 e 0,1 mg/mL de ácido gálico em metanol:água
(50:50, v/v). A concentração de polifenóis totais é expressa em termos de equivalente de
ácido gálico (EAG) (mg/g de massa seca).
4.5.3. Atividade citotóxica
A avaliação da atividade citotóxica de folhas de Xylopia ochrantha foi analisada na
presença de células de tumor hipofisário murino (linhagem AtT20). Os ensaios foram
realizados no Laboratório de Interações Celulares – UFRJ.
As culturas das células AtT20 foram realizadas em meio de cultura DMEM
-
26
suplementado com 10% de soro fetal bovino e mantidas em estufa à 37ºC, com 5% de CO2.
Posteriormente, as células AtT20 foram transferidas para placas de 24 poços (103
células/poço) e mantidas por 48 horas com DMEM acrescido de 10% de soro fetal bovino. A
avaliação dos efeitos dos extratos e do óleo essencial foliar de Xylopia ochrantha foi realizada
utilizando o MTT, para avaliação da viabilidade celular. Para avaliação da proliferação
celular, foi utilizado o Cristal Violeta. Nesta avaliação, apenas os extratos foram avaliados. O
tratamento com os extratos de Xylopia ochrantha foi realizado nas concentrações de 10, 50 e
100 µg/mL, enquanto que para o óleo essencial, as concentrações foram de 0,5, 1, 5, 10, 25,
50, 75, 100, 150 e 200 µg/mL. O controle foi realizado com o meio de cultura sem soro e com
meio de cultura sem soro veiculado com etanol 0,5%.
No ensaio de viabilidade celular com MTT, o tratamento foi retirado após o tempo
estimado (24 e 72 horas para o extrato bruto e 48 horas para o óleo essencial) e adicionado
200 µL de MTT em cada poço. Após duas horas de incubação em estufa à 37ºC, todo o MTT
foi retirado e adicionado 200 µL de DMSO em cada poço. Em seguida, o conteúdo foi
retirado e transferido para uma placa de 96 poços (100µL/poço).
No ensaio de proliferação com Cristal Violeta, o tratamento foi retirado após o tempo
estimado (24 e 72 horas) e as células lavadas com solução PBS 0,05% e fixadas com 400 µL
de etanol P.A. Em seguida, o etanol foi retirado, adicionando-se 300 µL de Cristal Violeta em
cada um dos poços. Após 10 minutos, cada poço foi lavado com água destilada até a
clarificação da água. Na sequência, foram adicionados 300 µL de metanol em cada um dos
poços, e então, a placa foi incubada por 5 minutos à 37ºC. O conteúdo foi passado para uma
placa de 96 poços (100µL/poço).
As leituras dos resultados foram feitas após 24 e 72 horas (tempos intermediários). A
análise dos resultados foi realizada em leitor de ELISA, a 570 nm. (Mozman, 1983; Nicks &
Otto, 1990). Os ensaios foram realizados em triplicata.
-
27
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. Obtenção do Extrato Etanólico , Partições e Resíduo Aquoso
Na realização da primeira extração, o material vegetal foliar (460 g) submetido à
extração por maceração à frio em etanol, e posteriormente evaporado, apresentou massa de
24,58 g, com um rendimento final de 5,343%. Após o particionamento do extrato etanólico
bruto em solventes de polaridade crescente (hexano, diclorometano, acetato de etila e n-
butanol), a massa final obtida de cada partição, com seu respectivo rendimento em relação ao
material foliar foi o seguinte:
a) Partição hexânica: 7,1 g. (1,54%)
b) Partição diclorometânica: 3,73 g (0,81%)
c) Partição de acetato de etila: 1,56 g (0,34%)
d) Partição n-butanólica: 3,64 g (0,79%)
Uma segunda extração foi realizada posteriormente para análise da fração alcaloídica,
onde o extrato bruto etanólico apresentou uma massa total de 120 g obtidos a partir de 1250 g
de folhas (rendimento de 9,6%).
Os rendimentos das partições hexânica e diclorometânica das folhas de Xylopia
ochrantha, de acordo com a literatura, são considerados satisfatórios, visto que, na espécie
Xylopia aromatica, o rendimento da partição hexânica foi de 1,33% e da diclorometânica de
0,45%, enquanto que na espécie Xylopia emarginata, o rendimento da partição hexânica foi
de 0,91% (Martins et al., 1998; Moreira et al., 2003b).
5.2. Separação e Identificação de Substâncias Majoritárias
As partições hexânica e diclorometânica foram submetidas à separação cromatográfica
em coluna, utilizando Sílica Gel 60 e Sephadex, como fases estacionárias, e gradiente de
hexano:acetato e acetato:metanol (100% hexano no início, 30% metanol em acetato no final)
-
28
como fase móvel. Posteriormente, suas frações foram recolhidas, analisadas em cromatofolhas
e reveladas com o auxílio de reagentes colorimétricos e absorção na região do UV em 254 e
365 nm. Após o fracionamento da partição hexânica, foram obtidas 101 frações denominadas
H1 a H101, que foram reveladas com Reagente de Kedde, NP/PEG e ácido sulfúrico a 10%.
Após a revelação, foi observada nas placas de CCF a presença de bandas com coloração
característica de ácidos graxos e esteroides, além de cumarinas, visíveis em UV 365 nm
(Figura 27). Na separação da partição diclorometânica, os procedimentos cromatográficos,
incluindo os gradientes de eluição, e os reveladores específicos foram os mesmos utilizados
na análise da partição anterior, sendo obtidas 133 frações, nas quais puderam ser observadas
principalmente cumarinas, terpenoides e flavonoides. As duas últimas classes são descritas
amplamente na literatura para espécies do gênero Xylopia, inclusive relacionando-as com
atividades farmacológicas.
Figura 27 – Identificação de cumarinas (em azul fluorescente). Cromatografia em Camada Delgada de frações obtidas do extrato hexânico
(H86-H100). Fase estacionária silica gel ALUGRAM® SIL G/UV254 TLC (MACHEREY – NAGEL). Eluente: Acetato de Etila: Hexano
(50%). Revelador: NP/PEG em UV 365nm.
Também foi possível realizar a obtenção da fração total alcaloídica (FTA) através do
método de extração ácido-base, partindo de 120 g de extrato bruto, com um total de 331 mg
de FTA (0,028% de rendimento). Posteriormente, a fração obtida foi cromatografada em
coluna de sílica-gel, utilizando um gradiente de diclorometano e metanol como eluente (99%
de diclorometano no início e 70% no final), com proporção constante de 1% de dietilamina.
Foram coletadas 25 frações. Após a análise qualitativa em CCF, utilizando o Reagente de
Draggendorf como revelador e um sistema eluente de tolueno:acetato de etila:dietilamina
(7:2:1), foi constatada, de acordo com as manchas características em coloração amarela sob
fundo laranja, a presença de pelo menos três alcaloides majoritários, apresentando Rf de 0,20,
0,35 e 0,45. Ambas as manchas não foram visíveis em 365 nm.
-
29
O rendimento da FTA, comparativamente com outros estudos realizados com espécies
do gênero Xylopia, foi abaixo do esperado. As espécies X. viellardi, X. buxifolia e X.
danguyella apresentaram um rendimento de 0,33%, 0,22% e 0,20%, respectivamente (Jossang
et al., 1991; Hocquemiller et al., 1981).
5.2.1. Identificação de fitoesteróis por CG-EM
A fração H27 (17,5 mg), proveniente da separação cromatográfica primária da partição
hexânica, apresentou-se como uma mistura de um sólido cristalino em formato de agulha, um
sólido amorfo de coloração bege, além de um pó branco. Após análise em CCF, utilizando
ácido sulfúrico a 10% como revelador e uma mistura de hexano/acetato (7:3) como eluente, a
amostra apresentou uma mancha de coloração azul e outra avermelhada, mais distendida, em
ordem crescente de Rf (Ratio of Front).
O cromatograma da fração H27 obtido por CG-EM obtido apresentou três sinais
principais, conforme ilustrado na Figura 32.
Figura 28 – Cromatograma da fração H27 obtido por CG-EM.
-
30
Substância 1 (Tabela 1 e Figura 35)
O sinal 1 do cromatograma (Figura 28) apresentou o tempo de retenção de 30,2 min e
o respectivo espectro de massas com uma série de íons fragmentos de m/z característicos de
núcleos esteroidais, ilustrados na figura 29. O íon molecular [M+] apresentou m/z 400. Os
principais fragmentos e suas respectivas intensidades relativas (em %) foram os seguintes: m/z
43 (63,49), 81 (86,11), 95 (81,05), 105 (85,33), 145 (100), 255 (46,71) e 273 (24,56), 315
(47,01), 367 (41,83) e 382 (35,61). O íon m/z 43 é referente ao radical propila terminal da
ramificação ligada ao anel D, enquanto os íons m/z 81, 95 e 105, 145 são referentes às
clivagens na mesma ramificação. Os fragmentos de m/z 255 e 273 são inerentes à perda da
ramificação somada à perda da molécula de água. Além disso, o íon m/z 315 corresponde à
clivagem da ramificação e formação de radical C6H13. Os fragmentos de m/z 367 e 382 são
referentes à perda do íon metila (m/z = 15) e molécula de água (m/z = 18) e o íon m/z 382,
referente à perda da molécula de água (m/z = 18) (Sales, 2007). De acordo com estes dados
espectrais, foi possível caracterizar a molécula como sendo o fitoesteroide campesterol (1)
(Jain & Bari, 2010; Sales, 2007), já identificado na espécie Xylopia laevigata (Silva et al.,
2012).
Figura 29 – Espectro de massa da substância 1.
Substância 2 (Tabela 1 e Figura 36)
O sinal 2 do cromatograma (Figura 28) apresentou tempo de retenção de 30,8 min e
íons fragmentos de m/z característicos de núcleos esteroidais, ilustrados na figura 30. O íon
molecular (M+) apresentou m/z 412. Os principais fragmentos e suas respectivas intensidades
relativas (em %) foram os seguintes: m/z 43 (24,86), 55 (99,03), 69 (68,77), 83 (100), 255
(55,09), 273 (7,73), 301 (4,76), 379 (12,50), 394 (11,05). O íon m/z 43 é referente ao radical
propila terminal da ramificação ligada ao anel D. Enquanto, os íons m/z 43, 55, 69 e 83 são
referentes à perda sucessiva de CH2 presentes na ramificação. Os fragmentos m/z 255 e 273
ocorreram devido à perda da ramificação somada à perda da molécula de água. O íon m/z 301
-
31
é devido ao rompimento de uma ligação simples adjacente a um dos carbonos sp2
da
ramificação ligada ao anel D e consequente perda de fragmento (m/z = 112). O fragmento
iônico m/z 379 é inerente à perda do íon metila e molécula de água e o m/z 394 está
correlacionado com a perda de uma molécula de água (Sales, 2007). Desta forma, foi possível
a identificar da substância 2 como sendo o fitoesteroide estigmaesterol (2) (Jain & Bari, 2010;
Sales, 2007), já identificado no gênero Xylopia (Moreira et al., 2005; Silva et al., 2012)..
Figura 30 – Espectro de massa da substância 2.
Substância 3 (Tabela 1 e Figura 37)
O sinal 3 do cromatograma (Figura 28) apresentou tempo de retenção de
aproximadamente 32 mins e íons fragmentos característico de núcleos esteroidais, ilustrados
na figura 31. O íon molecular [M+] apresentou m/z = 414. Os principais fragmentos (m/z) e
suas respectivas intensidades relativas (em %) foram os seguintes: 43 (75,25), referente ao
radical propila terminal da ramificação ligada ao anel D, 57 (62,85), 81 (93,66), 93 (67,87) e
107 (94,53), 145 (100), referentes às clivagens da mesma ramificação, 255 (55,76) e 273
(33,20), devido à perda da ramificação somada à perda da molécula de água, além de 303
(43,81) e 329 (56,63), relacionados com a clivagem de ligações entre carbonos sp3 presentes
na ramificação, 381 (45,24), relacionado à perda do íon metila e molécula de água e 396
(46,40), referente à perda da molécula de água (Sales, 2007). De acordo com os dados
espectrais de massa, foi possível identificar a substância como o fitoesteroide γ-sitoesterol (3)
(Balamurugan et al., 2011; Manoharan et al., 2005).
Figura 31 – Espectro de massa da substância 3.
-
32
Os fragmentos e as respectivas intensidades relativas são mostrados na Tabela 1. A
ilustração e origem de alguns íons fragmentos derivados destas substâncias, de acordo com a
literatura (Sales, 2007), é mostrada nas Figuras 32, 33 e 34.
Tabela 1 – Fragmentos, intensidades relativas e íon molecular de fitoesteróis encontrados em Xylopia ochrantha e dados encontrados na
literatura.
Substância [M+] m/z (Intensidade relativa%) exp. m/z encontrados na literatura
43 (63,49), 55 (59,75), 57 (50,79),
67 (45,40), 71 (43,25), 81 (86,11),
91 (65,38), 93 (65,31), 95 (81,05), 43, 55, 57, 67,
Campesterol 400 105 (85,33), 107 (82,33), 121 (61,95), 81, 91, 93, 95, 105, 107, 145,
(Jain & Bari, 2010; Sales, 2007) 131 (56,60), 133 (56,09), 145 (100), 147, 159, 163, 213, 255,
147 (66,62), 159 (65,15), 163 (50,37) 315, 367, 382
213 (74,64), 255 (46,71), 315 (47,01)
367 (41,43), 382 (35,61)
43 (24,86), 55 (99,03), 69 (68,