universidade federal fluminense · a mi codirector juanjo, muchas gracias por la oportunidad y por...
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO BIOMÉDICO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIOMEDICINA
LARISSA GONÇALVES MACHADO
CARACTERIZAÇÃO DOS VENENOS DE
DIFERENTES POPULAÇÕES DE BOTHROPS
JARARACA E ANÁLISE DAS INTERAÇÕES COM
ANTIVENENO COMERCIAL
Niterói
2014
II
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
LARISSA GONÇALVES MACHADO
CARACTERIZAÇÃO DOS VENENOS DE DIFERENTES POPULAÇÕES DE BOTHROPS JARARACA E ANÁLISE DAS
INTERAÇÕES COM ANTIVENENO COMERCIAL
Monografia apresentada ao Curso de
Graduação em Biomedicina da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em
Biomedicina com Habilitação em Pesquisa
Científica, Ênfase em Fisiologia e
Farmacologia.
Orientadora: Profª Drª RUSSOLINA BENEDETA ZINGALI
Coorientador: Drº JUAN JOSÉ CALVETE CHORNET
Niterói
2014
III
M149 Machado, Larissa Gonçalves
Caracterização dos venenos de diferentes populações de
bothrops jararaca e análise das interações com antiveneno
comercial / Larissa Gonçalves Machado. - Niterói: [s.n.], 2014.
62 f. :il.
Trabalho de Conclusão de Curso ( graduação em
Biomedicina) - Universidade Federal Fluminense, 2014.
1.Veneno de cobra. 2. Jararaca (bothrops). 3. Toxina. I.
Título
CDD 615.942
IV
LARISSA GONÇALVES MACHADO
CARACTERIZAÇÃO DOS VENENOS DE DIFERENTES POPULAÇÕES DE BOTHROPS
JARARACA E ANÁLISE DAS INTERAÇÕES COM ANTIVENENO COMERCIAL
Monografia apresentada ao Curso de
Graduação em Biomedicina da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial
para obtenção do grau de Bacharel em
Biomedicina com Habilitação em Pesquisa
Científica, Ênfase em Fisiologia e
Farmacologia.
Aprovada em 05 de dezembro de 2014
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________________
Profª. Drª. Helena Carla Castro
Universidade Federal Fluminense
____________________________________________________________________
Prof. Drº. Plinio Cunha Sathler
Universidade Federal do Rio de Janeiro
____________________________________________________________________
Profª. Drª. Russolina Benedeta Zingali - Orientadora
Universidade Federal do Rio de Janeiro
___________________________________________________________________
Prof. Drº. Silas Pessini Rodrigues - Suplente
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Niterói
2014
V
À minha avó Regina, minha vida, meu tudo.
VI
AGRADECIMENTOS
Sempre em primeiro lugar, agradeço a Deus por ser meu melhor amigo e por me amar
incondicionalmente. Sem Ele eu nada seria. Muito obrigada, Senhor, porque por onde andei
nesse mundo, eu nunca estive sozinha.
Em segundo lugar, meu muito obrigado à minha família. Em especial, minha mãe,
vovó Regina, vovô Pedro e Laila. Nenhum apoio pode ser comparado ao de vocês. Não só
minha formação, mas tudo na minha vida é fruto da dedicação e carinho que vocês me dão. O
exemplo que eu tenho de vocês e o amor que nos une é algo imensurável. Agradeço também
ao meu pai (in memoriam) que sem dúvida está orgulhoso de mim de onde ele estiver.
Ao meu melhor amigo, companheiro, família, namorado... Rafael. Você significa
tantas coisas! Muito obrigada por acreditar tanto em mim, me entender e me apoiar nas
minhas decisões. Ao longo do eixo Campos-Niterói-Espanha você foi a certeza de que
nenhum lugar do mundo se compara a estar ao seu lado.
Em relação à conclusão desse curso, não poderia deixar de fazer um agradecimento
especial à minha amiga Paula Justen. Seus ouvidos e sua paciência em me aturar todos os dias
fazem de você uma santa com lugar garantido no céu! Meu muito obrigado à minha best,
psicóloga favorita, Maria Carolina... pra qualquer coisa que eu passe nessa vida você foi e
sempre será mais do que importante! À minha gêmea, Luisa, obrigada por me fazer tão feliz
com sua amizade! Às minhas amigas (rxs) Roberta e Bel, família brasucada em Valência,
agradeço a cumplicidade de todo coração. Vocês foram maravilhosas!
À minha orientadora, Lina, por ter me acolhido em seu laboratório e ter me dado
tantas oportunidades. Acredito que o que você faz é mais do que orientar. Me sinto feliz e
sortuda por ser sua aluna! A mi codirector Juanjo, muchas gracias por la oportunidad y por el
conocimiento que compartiste conmigo.
Gracias a mis queridos amigos españoles o casi españoles por todo el cariño y ayuda
que me han dado a lo largo de mi estancia en Valencia… Gema, Carmen, Yania, Alicia, Susi,
Anna, Libia, Jordi, Karla, Atik, Marvin, Donderis, Elena, Carla, Carles, Lorena... Habéis sido
todos estupendísimos, inolvidables y únicos. De manera muy especial, quiero agradecer a mi
florecilla Davi... sin tí, no hubiera hecho nada. No habría llegado hasta el final. Me has
enseñado todo lo que he aprendido en el laboratorio, me has ayudado en mis momentos
VII
difíciles y me has hecho muy feliz. ¡Ojalá pudiera ser la mitad de lo que tú eres algún un día!
Gracias también a Kike, un chico maravilloso y que tiene mucha suerte. También de manera
muy especial agradezco a mi amiga Raquel… ¡tienes un corazón enorme! No podía
imaginarme que encontraría alguien tan igual a mí (pero mucho mejor) al otro lado del
océano. La verdad es que no hay palabras para agradecerte lo que hiciste. José Fernando y
Ascensión, mis papas españoles, el cariño que tengo por vosotros no es normal. ¡Muchas
gracias por todo! ¡Vuestra amistad la llevaré siempre conmigo!
Aos melhores amigos desse mundo, meu muito obrigado! Graças a Deus eu tenho
tantos amigos maravilhosos! Sem vocês nem o TCC nem nada na vida teriam o mesmo
sentido: Raquel, Raissa, Leandra, Leticia, Gabriella, Livinha, Patricia, Mariana, Juliana,
Karol, Luciano, Lucas, Gabriel, Caio, Thaís, Cunhado, Larissa, Mauro, Mariana Couto,
Nathália, Júlia... amo vocês!
Aos meus amigos da UFF: Naty, Thalia, Fredinho, Lu, Lorena, Fernanda, Gabi,
Taiane, Bia, Maria Clara, Jéssica, Liu, Thays, Dáliti, Lucas, Docinho... muito obrigada por
terem compartilhado comigo esse momento tão especial da vida que é universidade. Aos
meus professores, funcionários e à coordenação de Biomedicina da UFF, em especial Ronald,
Nathalia, Renata, Luiz Mors, Helena Castro, Silvia Cavalcanti e Joacir. Aos meus amigos
inesquecíveis do Labiomol: Leo, Juliana, André e é claro, meus primeiros orientadores Plinio
e Helena! Aos queridos companheiros do LabHemoVen: Felipe, Marjolly, Nola, Vanessa,
Aninha, Rosane, Jessica, Rafael, Augusto, Denise, Dario, Maria Clara, Barbara, Victor,
Ricardo, Carlos, Taissa, Viviane, Dione, Hellen, Sandra, Silas e Luciana. Agradeço a Nola e
ao Carlos, mais uma vez, em nome de todos do IVB! Todos vocês foram cruciais para minha
formação!
Às pessoas especiais que me ajudaram tanto nesse tempo de UFF ou de alguma outra
forma ou que simplesmente são especiais pra mim: Tia Tânia, Seu Renê, Marcia, Liene,
Mariana Couto, Tia Lelena, Tia Jô, Priscila, Tia Dani, Tio Assis, Tio Antônio, Raissa prima,
Tia Luiza, Tio Luciano, Tia Sueli, vovó Maria, vovó Zezé, vovô Carlinhos, Tia Sônia... tantas
outras pessoas! Obrigada por fazerem parte da minha vida!
Agradeço ao programa Ciência sem Fronteiras (INCT/INBEB – CNPq) pela bolsa de
estudo concedida, em especial ao Drº Jerson Lima, às agências de fomento CNPq, CAPES e
FAPERJ e ao Instituto de Biomedicina de Valencia, CSIC – Espanha.
VIII
“Deus não nos fez perfeitos e não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos.”
Albert Einstein
IX
RESUMO
Os acidentes ofídicos são doenças tropicais negligenciadas que representam grande
causa de mortalidade e morbidade em todo o mundo. No Brasil ocorrem milhares de acidentes
ofídicos por ano, dos quais a maioria está associada ao gênero Bothrops. Uma das espécies de
maior importância médica, a Bothrops jararaca, possui uma distribuição geográfica ampla
associada à alta densidade demográfica e habilidade de colonizar e se adaptar a diferentes
ambientes. A caracterização proteômica dos venenos (venômica) descreve a composição
global das toxinas combinando técnicas de fracionamento de proteínas com identificação por
espectrometria de massas. Esse conhecimento gera uma melhor compreensão das
manifestações clínicas dos acidentes, identifica variabilidades entre venenos e ajuda na
idealização de melhores protocolos para o desenvolvimento de antivenenos e estratégias de
tratamento. Apesar de vários estudos envolvendo o veneno de B. jararaca, pouco se conhece
a respeito de variações populacionais e do perfil global do veneno pela abordagem venômica.
Através da antivenômica é possível caracterizar a interação de venenos e antivenenos,
elucidando quais toxinas são neutralizadas e quais as possíveis toxinas escapam desse
reconhecimento. Nesse trabalho foi realizado um estudo proteômico comparativo do pool de
venenos da espécie B. jararaca procedentes das regiões sul e sudeste do Brasil (extremos
pontos de distribuição) e do perfil de seus representantes individuais. Além disso, foi
investigada a capacidade do soro antibotrópico (SAB) do Instituto Vital Brazil em neutralizar
os venenos provenientes dessas populações (antivenômica). Comparando as proteínas
majoritárias, o veneno do sudeste possui mais metaloproteinases, enquanto o veneno do sul
apresenta maior quantidade de fosfolipase A2 (PLA2). A população do sul possui uma toxina
exclusiva em relação ao sudeste, identificada como uma Lys49-PLA2. Os cromatogramas
individuais apresentaram o mesmo padrão dentro da mesma população e em comparação ao
seu pool correspondente. Apesar dessas diferenças, o SAB foi capaz de reconhecer as toxinas
de ambas populações de maneira similar. Os resultados mostraram que a complexidade dos
venenos é notável e que o protocolo de imunização para produção do SAB é eficiente,
cobrindo as diferenças encontradas possivelmente pelo uso do veneno de cinco espécies no
pool de imunização, especialmente a B. jararacussu. É a primeira vez que um estudo
proteômico do veneno de B. jararaca é feito com um pool representativo dos extremos da
distribuição geográfica da espécie e os resultados apontam a existência de duas populações
bem distintas no território brasileiro.
X
ABSTRACT
Snakebite is a neglected tropical disease and represents a large cause of mortality and
morbidity in the world. In Brazil, thousands accidents are registered per year, most of them
associated with Bothrops genus. Bothrops jararaca is a medically relevant species, witch
pursuits a wide geographical distribution range associated with the most populated area in
Brazil. It is able to adapt and inhabit different environments. Venomics is a proteomic
approach applied to the study of venoms. It reveals the overall toxin profile combining
classical protein fractionating techniques and protein identification by mass spectrometry.
This knowledge allows a better comprehension of snakebite symptoms, identifies variability
among venoms and helps to design best antivenoms and treatment. B. jararaca´s venom has
been largely characterized, however population variation is unknown and there are no
proteomic studies describing the global composition using a venomic approach. Antivenomics
provides relevant information about the interaction between venoms and antivenoms,
describing which toxins are recognized or not. Significant variation on the venom could lead
to less recognition of some toxins by the antivenom. This study consists on the comparison of
venom composition of Bothrops jararaca from South (BjS) and Southeast (BjSE) of Brazil
(extreme points of distribution), analysing a representative pool from each population and
individual specimens. Besides we investigated the capacity of antibothropic antivenom
(SAB) from Instituto Vital Brazil to neutralize differences in these venoms (antivenomics).
We demonstrated noteworthy differences in each population. The major components in
Southeast population are metalloproteinase. Otherwise South population possesses more
PLA2 and has an exclusive toxin that was identified as a Lys49-PLA2. The individual
chromatograms showed a similar profile for all specimens from each population that complies
with chromatogram of the corresponding pool. The antivenomics results showed that the
immunoreactivity of SAB is similar against both population. The results indicate that venoms
have high complexity and immunization protocol is efficient and cover the differences among
population, possibly because the use of five species in the venom pool of immunization,
especially B. jararacussu. This is the first report of a proteomic study using a representative
pool of B. jararaca´s extreme points of distribution and the results confirms that there are two
different populations in Brazil.
XI
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Exemplos de famílias de proteínas expressadas nas glândulas de veneno do
Squamata. .................................................................................................................................. 1
Figura 2: Distribuição geográfica do complexo Bothrops jararaca com suas localizações
amostrais. ...................................................................................................................................7
Figura 3: Distribuição geográfica de Bothrops jararaca e indivíduos que originaram o pool
representativo da população do sudeste e do sul ......................................................................14
Figura 4: Sequência metodológica da venômica. ...................................................................15
Figura 5: Quantificação da abundância relativa das famílias de toxinas presentes no veneno
total. ................................................................................................................. .........................18
Figura 6: Etapas da incubação do veneno e a coluna de imunoafinidade. ..............................20
Figura 7: Cromatogramas das populações de Bothrops jararaca provenientes do Sul e do
Sudeste do Brasil utilizando-se cromatografia de fase reversa. .......................................24 e 25
Figura 8: Eletroforese das frações provenientes da fase reversa (RP-HPLC) ........................27
Figura 9: Cromatogramas individuais de representantes do sul e sudeste. .....................30 e 31
Figura 10: Dot blot da BthTX-I e dos venenos de B. jararaca e B. jararacussu frente a
anticorpos anti-BthTX-I. ..........................................................................................................33
Figura 11: Antivenômica do soro antibotrópico pentavalente (SAB) do IVB frente aos
venenos de B. jararaca do sul e sudeste. .................................................................................35
Figura 12: Western Blot dos venenos de B. jararaca do sul e do sudeste frente ao soro
antibotrópico pentavalente (SAB) do IVB. ..............................................................................36
Figura 13: Autodegradação do veneno de B. jararaca do sudeste..........................................37
Figura 14: Alinhamento múltiplo de Lys49-PLA2 do gênero Bothrops. ................................44
XII
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Acidentes por animais peçonhentos por tipo de serpente no perído de 2008 –
2013. ...........................................................................................................................................2
Tabela 2: Identificações dos peptídeos trípticos das proteínas majoritárias da população de B.
jararaca da região sul. .............................................................................................................28
Tabela 3: Identificações dos peptídeos trípticos das proteínas majoritárias da população de B.
jararaca da região sudeste. ......................................................................................................29
XIII
LISTA DE ABREVIATURAS
BjS População de B. jarararaca do sul
BjSE População de B. jararaca do sudeste
BPP Bradykinin-potentiating peptides
BthTX-I Bothropstoxina-I
CID Collision Induced Dissociation
CRISP Cysteine-rich secretory proteins
CTL C-type lectin
Cyt b Mitochondrial cytochrome b gene
FUNASA-MS Fundação Nacional de Saúde – Ministério da Saúde
HRP Horseradish peroxidase
IVB Instituto Vital Brazil
LC-MS/MS Liquid chromatography-tandem mass spectrometry
MS Espectrometria de massas ou aquisição de massa
MS Ministério da saúde
MS/MS Tandem mass spectrometry
m/z Relação massa/carga
ND4 NADH dehydrogenase subunit 4, mitochondrial gene
NHS N-hydroxysuccinimide
NOPA Núcleo de Ofiologia de Porto Alegre
OMS Organização Mundial da Saúde
PLA2 Phopholipase-A2
PVDF Difluoreto de polivinilideno
RP-HPLC Reversed-Phase High-Performance Liquid Chromatography
SAB Soro antibotrópico
XIV
SINAN Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SVS/MS Secretaria de Vigilância à Saúde / Ministério da Saúde
SVMP – I, II, III Snake venom metalloproteinase, type I, II or III
SVSP Snake venom serine protease
UPLC Ultra Performance Liquid Chromatograph
XV
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................................................1
1.1 – Venenos e acidentes ofídicos ................................................................................1
1.2 – Tratamento ............................................................................................................4
1.3 – Veneno de Bothrops jararaca ...............................................................................5
1.3.1 – Populações de Bothrops jararaca ................................................................6
1.4 – Caracterização e estudo de venenos ......................................................................8
1.5 – A importância de estudar venenos ........................................................................9
2 – OBJETIVOS .....................................................................................................................12
2.1 – Objetivo geral ......................................................................................................12
2.2 – Objetivos específicos ...........................................................................................12
3 – MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................................13
3.1 – Aspectos Éticos ...................................................................................................13
3.2 – Venenos e Antivenenos .......................................................................................13
3.3 – Caracterização dos venenos ................................................................................14
3.3.1 – Cromatografia de Fase Reversa ............................................................15
3.3.2 – SDS-PAGE e digestão in gel ................................................................16
3.3.3 – Espectrometria de Massas ....................................................................17
3.3.4 – Quantificação da abundância relativa das toxinas ................................17
3.4 – Antivenômica ......................................................................................................18
3.5 – Western Blot ........................................................................................................21
3.6 – Dot Blot ...............................................................................................................21
4 – RESULTADOS .................................................................................................................23
4.1 – Perfis cromatográficos dos pools ........................................................................23
4.2 – Perfis eletroforéticos dos picos cromatográficos ................................................26
4.3 – Cromatogramas individuais .................................................................................26
4.4 – Lys49-PLA2 .........................................................................................................32
4.5 – Antivenômica e Western Blot .............................................................................33
4.5.1 – Degradação na antivenômica ................................................................36
5 – DISCUSSÃO .....................................................................................................................37
5.1 – Perfis dos venenos das populações (pools) .........................................................37
5.2 – Perfis cromatográficos dos venenos individuais .................................................39
5.3 – Bothropstoxina-I ..................................................................................................40
5.4 – Antivenômica ......................................................................................................47
6 – CONCLUSÃO ..................................................................................................................51
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................52
8 – ANEXOS ...........................................................................................................................61
1
1 - INTRODUÇÃO
1.1 – Venenos e acidentes ofídicos
Os venenos de serpentes são misturas complexas de componentes proteicos e não
proteicos que ao longo da evolução foram recrutados de determinados genes e selecionados
para exercerem funções de toxinas, à fim de garantirem a obtenção da presa e sobrevivência
das espécies que as produzem (Calvete et al., 2009; Odell et al., 1997). Apesar da diversidade
da composição dos venenos e da variedade de atividades biológicas que as toxinas podem
exercer, o arcabouço estrutural disponível, isto é, o grupo de famílias de proteínas que
participam da composição das toxinas é restrito (Fry et al., 2006). Deste modo, os genes
responsáveis pela expressão de toxinas nas glândulas de veneno sofrem uma evolução
acelerada, que primeiramente decorre de uma duplicação gênica e posteriormente de várias
mutações que levam a perda e/ou ganho de atividade da toxina em um mesmo arcabouço
molecular (Fry et al., 2008, 2009 ; Calvete et al., 2009 ; Calvete, 2013).
Figura 1: Exemplos de famílias de proteínas expressadas nas glândulas de veneno do Squamata. Vermelho: toxinas sequenciadas por ambas as glândulas maxilares e mandibulares; Vermelho escuro:
toxinas sequenciadas apenas nas glândulas maxilares de Serpentes e Iguania; Laranja: toxinas sequenciadas apenas nas glândulas mandibulares do grupo Anguimorpha; Rosa: toxinas sequenciadas
apenas nas glândulas maxilares de Serpentes; Azul: glândula secretora de muco, forma ancestral das
glândulas de veneno. 3FTx, three-finger toxins ; ADAM, a disintegrin and metalloproteinase; CNP-
BPP, C-type natriuretic peptide-bradykinin-potentiating peptide; CVF, cobra venom factor; NGF,
nerve growth factor; VEGF, vascular endothelial growth factor ; PLA2, phospholipase A2. (Retirada e
adaptada de Fry et al., 2006)
2
Apesar dos venenos representarem o meio pelo qual as serpentes se alimentam e
sobrevivem, acidentes ocorrem quando o animal, para sua própria defesa, inocula veneno em
seres humanos e animais domésticos ou de grande porte. Os acidentes por animais
peçonhentos são considerados “doenças tropicais negligenciadas” pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) (WHO, 2010).
Como característica de uma doença negligenciada, o envenenamento por veneno de
serpentes é um problema de saúde pública, resultando não só em grande número de mortes,
como também em grande número de sequelas nas vítimas. De acordo com notificações
recentes do Ministério da Saúde, nos últimos 10 anos o número de acidentes com animais
peçonhentos vem crescendo acentuadamente. Só no período de 2008-2013 foram 791.425
casos notificados (Fonte: Sinan/SVS/MS). Embora o SINAN direcione os acidentes por
animais peçonhentos como notificação de agravo de interesse nacional, a problemática da
subnotificação é notável, pois justamente nas áreas rurais onde ocorre a maioria dos acidentes,
o relato dos casos é menos eficiente (Gutiérrez et al., 2013a). Os dados mostrados na tabela 1,
retirada do SINAN, apesar de mostrarem um aumento do número de casos notificados, ainda
representam uma notificação incompleta e insatisfatória, visto que a maior parte das
notificações não identifica a serpente causadora do acidente.
Tabela 1: Acidentes por animais peçonhentos por tipo de serpente no perído de 2008 – 2013.
Fonte: Ministério da Saúde/SVS - Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net. Cópia formato
CSV a partir de http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/tabnet/tabnet?sinannet/animaisp/bases/animaisbrnet.def.
Dados de 2008 atualizados em 25/04/2014 ; Dados de 2009 atualizados em 24/04/2014 ; Dados de 2010
atualizados em 24/04/2014 ; Dados de 2011 atualizados em 24/04/2014 ; Dados de 2012 atualizados em
01/09/2014 ; Dados de 2013 atualizados em 01/09/2014, sujeitos à revisão.
ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS
Notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net
Tipo Serpente 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Total
Ign/Branco 81533 97269 98485 110932 116269 134176 638664
Bothrops 20450 21799 21583 21790 20422 19583 125627
Crotalus 1987 2164 2378 2486 2163 1796 12974
Micrurus 186 204 210 227 236 235 1298
Lachesis 852 950 1031 1002 871 903 5609
Não Peçonhenta 1024 1228 1185 1247 1260 1309 7253
Total 106032 123614 124872 137684 141221 158002 791425
3
Mesmo com a subnotificação, é bem conhecido que o acidente botrópico representa a
grande maioria dos acidentes com serpentes peçonhentas no país, representando até 90% dos
mesmos (Queiroz, et al., 2008). Além do Brasil, o gênero Bothrops, pertencente à família dos
viperídeos, é o de maior relevância no que diz respeito ao número de acidentes ofídicos nas
Américas (Gutiérrez, 1995).
No Brasil, a espécie de maior importância médica é a Bothrops jararaca. A espécie
combina dois fatores contribuintes para isso: i) sua ampla distribuição geográfica, que vai do
sul do estado da Bahia até o norte da Argentina e se encontra dentro do domínio
morfoclimático da Floresta Atlântica. Além de compreender um território amplo, a
distribuição coincide com as regiões de maior densidade demográfica do país; ii) habilidade
de colonizar diferentes ambientes. Seu habitat típico é a floresta tropical de umidade perene
ou semidecídua. Porém, a espécie já foi relatada em locais de diferentes altitudes, áreas de
degradação, campos cultivados e ao redor de cidades, em áreas próximas a remanescentes de
cobertura vegetal (Sazima, 1992). O próprio Instituto Vital Brazil (Niterói-RJ) recebe vários
animais encontrados na própria cidade, ao redor dos principais bairros residenciais
(comunicação pessoal, grupo do serpentário, IVB).
A gravidade clínica do acidente botrópico é classificada em mediana, moderada ou
severa, dependendo dos sintomas e sinais clínicos (FUNASA-MS, 2001). Esse quadro clínico
está relacionado à quantidade de veneno que a vítima tem no sangue, isto é, depende também
de quanto veneno a serpente injeta no local da picada. As vítimas podem apresentar diversos
efeitos locais e sistêmicos, marcados, sobretudo por severa coagulopatia, necrose, edema,
sangramentos espontâneos e em alguns casos em síndrome compartimental (França et al.,
2003; Santoro et al., 2008). As consequências mais graves do envenenamento são as sequelas,
derivadas dos efeitos locais, associados muitas vezes ao uso popular incorreto de torniquetes.
Esses efeitos locais geram abscessos e necrose tecidual que levam à amputação de membros
(França et al., 2003). Complicações a nível sistêmico que levam ao óbito são mais raras e
geralmente ocorrem pela falta de administração do soro ou incompatibilidade ao mesmo
(reações adversas). Esses casos mais graves estão associados à hemorragia intensa, choque e
falência renal aguda (FUNASA-MS, 2001).
4
1.2 – Tratamento
O tratamento recomendado pela OMS, que representa a única forma existente eficaz
de tratar o paciente envenenado, consiste na administração intravenosa de soro hiperimune
(antiveneno) específico (WHO, 2010). O soro antibotrópico é produzido no Brasil através da
imunização de equinos com um pool de venenos constituído por B. jararaca (50%), B.
alternatus (12.5%), B. jararacussu (12.5%), B. moojeni (12.5%) e B. neuwiedi (12.5%) (Raw
et al., 1991 ; Queiroz et al., 2008). Esse pool exclui várias espécies brasileiras do gênero
Bothrops, que conta com mais aproximadamente 20 representantes (Queiroz et al., 2008)
como B. insularis, B. erythromelas, B. fonsecai, B. pirajai e B. atrox, sendo essa última uma
espécie de extrema relevância para o norte do país (Calvete et al., 2011). O tratamento segue
sendo um problema nos dias de hoje, pois os antivenenos apesar de evitarem o óbito quando
administrados corretamente e no devido tempo (ação sistêmica), se mostram muitas vezes
ineficazes na neutralização dos efeitos locais, o que gera severas sequelas e representa além
de um problema de saúde pública, um problema social, pela incapacitação das vítimas que
muitas vezes não podem dar continuidade ao trabalho que exerciam ou que por alguma outra
razão social são excluídas (Gutiérrez et al., 2013a).
A grande biodiversidade de espécies gera também diferentes tipos de envenenamento,
para os quais não há produção específica de antivenenos. Além da variabilidade encontrada
nos venenos de espécies filogeneticamente diferentes, variações interespecíficas e
intraespecíficas acontecem de acordo com idade, sexo, dieta e distribuição geográfica da
serpente (Núñez et al., 2009 ; Antunes et al., 2010 ; Calvete et al., 2011 ; Gibbs et al., 2011 ;
Madrigal et al., 2012). Tanto as variações interespecíficas como as intraespecíficas geram
mudanças na composição e na proporção de toxinas presentes nos venenos. Essa diversidade
pode resultar em diferentes reatividades frente às imunoglobulinas presentes no soro
antiofídico, e, portanto, numa eficácia possivelmente variável em neutralizar os efeitos
tóxicos do veneno a partir do mesmo arsenal disponível de antivenenos a serem usados para
terapia.
Após 120 anos do surgimento da soroterapia, inaugurada por nomes como Vital Brazil
e Calmette pouco mudou nos protocolos e na conduta da produção do soro antiofídico. No
esforço de otimizar as propostas de tratamento, muito se tem discutido em relação à criação
de antivenenos poli ou pan-específicos levando-se em consideração a neutralização das
5
toxinas majoritárias dos venenos e suas reatividades cruzadas frente a diferentes antivenenos.
Conhecendo melhor a composição dos venenos e identificando-se os possíveis epítopos
conservados entre a diversidade de venenos de relevância médica é possível sugerir melhorias
na produção desses soros, a fim de alcançar um melhor “custo-benefício” entre menor
quantidade de antivenenos e maior abrangência de reatividade frente a venenos homólogos e
heterólogos (Willians et al., 2011; Calvete, 2010 ; Gutiérrez et al., 2013b ; Sousa, et al., 2013).
1.3 – Veneno de Bothrops jararaca
O veneno de Bothrops jararaca é talvez um dos mais estudados, e já se mostrou que
seu veneno sofre uma marcada mudança ontogenética, de um veneno mais coagulante rico em
metaloproteinases do tipo III (SVMP-III), nos indivíduos neonatos, para um veneno que
aumenta a expressão de metaloproteinases do tipo I (SVMP-I) nos indivíduos adultos, o que
por sua vez acompanha a mudança de hábitos alimentares da espécie de uma alimentação
ectotérmica para uma alimentação endotérmica, respectivamente (Antunes et al., 2010;
Zelanis, et al., 2010, 2011, 2012). Acompanhando a mudança de composição de veneno, a
reatividade do antiveneno varia, sendo o veneno dos indivíduos neonatos pouco neutralizados
pelo soro antibotrópico, visto que o pool de imunização para produção do soro conta apenas
com representes adultos da espécie (Antunes et al., 2010). É bem estabelecido também que o
veneno da espécie é bastante variável: diferentes indivíduos possuem variações nos seus
venenos. Diferenças no proteoma e na atividade biológica entre indivíduos juvenis nascidos e
criados sobre as mesmas condições controladas de laboratório (mesma dieta, condições
climáticas, frequência de extração de veneno etc.) mostraram que as diferenças individuais
ocorrem na espécie desde os primeiros estágios de vida e parecem ser herdadas geneticamente
(Dias et al., 2013). Da mesma forma, espécimes adultos de uma mesma ninhada mostraram
diferenças individuais (Menezes et al., 2006).
O veneno de B. jararaca é majoritariamente composto por Petídeos Potenciadores de
Bradicinina (BBPs), metaloproteinases (SVMP), desintegrinas, serino-proteases (SVSP) e
lectinas do tipo-C (CTL) que em conjunto são responsáveis pelos distúrbios hemostáticos que
caracterizam o envenenamento pela espécie. Diversas toxinas pertencentes a essas famílias já
foram isoladas e caracterizadas, confirmando seu papel na hemostasia ou vias relacionadas,
dentre as quais se podem destacar: HF3, bothropasina e jararhagina, SVMP-III hemorrágicas
(Oliveira et al., 2009; Moura-da-Silva & Baldo, 2012); bothrojaractivase, SVMP-I ativadora
6
de pró-trombina (Berger et al., 2008); PA-BJ, ativador de plaquetas e KN-BJ, liberador de
cininogênio e ativador de fibrinogênio, ambas SVSP (Serrano et al., 1995; Serrano et al.,
1998); botrojaracina, inibidor de trombina e botrocetina, agregrante plaquetário dependente de
vWF, ambas CTLs (Zingali et al., 1993; Usami et al., 1993); jararacina e jarastatina,
desintegrinas inibidoras da agregação plaquetária (Wermelinger et al, 2009); BPPs
hipotensores (Ferreira et al., 1970; Camargo et al., 2012).
1.3.1 – Populações de Bothrops jararaca
Apesar dos vários estudos publicados em relação ao veneno de jararaca e muito se
conhecer de suas toxinas e variações intraespecíficas, pouco se sabe das possíveis variações
populacionais da espécie. O princípio de que existem duas populações bem definidas de
Bothrops jararaca no território brasileiro surgiu com o trabalho de Grazziotin e colaboradores
em 2006. Nesse trabalho, o rastreamento da variabilidade genética pelo acesso ao gene
mitocondrial do citocromo b (cyt b) de uma ampla amostragem (159 indivíduos de 94
localidades) é contrastada com a história da formação da Floresta Atlântica ao longo de
períodos geológicos como Plioceno e Pleistoceno, a fim de entender a formação da
biodiversidade nessa floresta tropical, nesse caso, mais detalhadamente compreender a
evolução do complexo Bothrops jararaca.
Os resultados mostraram que existe uma grande variedade entre os indivíduos e que a
espécie pode ser dividida em dois filogrupos ou clados geograficamente distintos, separados
por uma divergência basal e de proporção relativamente alta quando comparada a outras
espécies. Essa classificação dividiria a espécie em uma população do norte e outra do sul,
separadas por análises estatísticas dos haplótipos encontrados. A barreira geográfica, gerada
por análises estatísticas, corresponderia ao atual Rio Paranapanema, que está localizado
aproximadamente entre os estados de SP e PR (Figura 2). A barreira geográfica estipulada
corresponde à localização aproximada de onde termina e começa outra população e não
necessariamente estaria diretamente envolvida em uma barreira geográfica física que
fragmentou as populações no passado.
7
Figura 2: Distribuição geográfica do complexo Bothrops jararaca com suas localizações amostrais. A área
circundada em cinza claro representa a distribuição geográfica de B. jararaca. Os quadrados indicam os
indivíduos pertencentes ao clado “northern” (norte) a as cruzes indicam os indivíduos do clado “southern” (sul).
A linha sólida e a linha pontilhada representam a principal barreira geográfica como definido pelos métodos
SAMOVA e AIS, respectivamente. (Retirada de Grazziotin et al., 2006).
A divisão entre os grupos populacionais foi tão clara e evidente que de toda
variabilidade de haplótipos encontrados, cerca de 70% da diversidade está entre os dois
grandes clados. Do ponto de vista mitocondrial, B. insularis e B. alcatraz, que são
reconhecidamente espécies distintas, são mais próximas ao clado de B. jararaca do norte (na
verdade estão dentro desse clado) do que as duas populações de B. jararaca entre si. Não
existe até o presente momento nenhum trabalho na literatura que estude as possíveis
diferenças entre os venenos dessas duas populações. Além disso, há carência de descrições
oficiais de acidentes reconhecidamente causados por jararaca no sul do país, que possam ser
comparados ao quadro clínico gerado já descrito que está associado aos casos registrados, na
maioria das vezes, na região sudeste. Possíveis diferenças entre os venenos podem significar a
descoberta de toxinas ainda não conhecidas, ajudarem a compreensão da fisiopatologia do
8
envenenamento nas diferentes regiões e demonstrarem a necessidade de avaliar a eficiência
do soro antibotrópico frente às diferenças dos venenos das duas populações.
1.4 – Caracterização e estudo de venenos
Com o advento dos recursos metodológicos que acompanham o desenvolvimento das
ciências “ômicas” (transcriptômica, metabolômica, proteômica) e das ferramentas de
bioinformática tem sido cada vez mais possível desenvolver meios para estudar amostras
biológicas complexas, dentre elas, os venenos. Combinando técnicas de descomplexização
das amostras por separação de proteínas com técnicas de identificação como o
sequenciamento de Edman e a espectrometria de massas, pode-se alcançar o que se conhece
como caracterização proteômica do veneno, isto é, a descrição de sua composição protéica
(Fox & Serrano, 2008 ; Calvete et al., 2007, 2009 ; Calvete, 2010, 2013). O conceito de
venômica foi introduzido em 2007 e consiste em uma abordagem metodológica que permite
caracterizar o proteoma do veneno visando à identificação de proteínas (inclusive as menos
abundantes, mais hidrofóbicas e de pequena massa molecular que não podem ser recuperadas
de um gel 2D). Além disso, disponibiliza resultados reprodutíveis que permitem comparações
minuciosas entre venenos muito distintos ou similares (Calvete et al., 2007, 2009; Gutiérrez
et al., 2009; Calvete, 2010, 2011 ; Williams et al., 2011).
Se por um lado a venômica consiste na caracterização proteômica dos venenos, a
antivenômica aponta quais toxinas do veneno possuem epítopos reconhecidos pelo antiveneno
através de técnicas proteômicas. A primeira geração da antivenômica baseava-se em um
protocolo de imunodepleção (Lomonte et al., 2008; Gutiérrez et al., 2008, 2009; Calvete et al.,
2009; Núñez et al., 2009), enquanto a abordagem mais atual (segunda geração) baseia-se em
cromatografia de imunoafinidade combinada com técnicas proteômicas (Pla et al., 2012).
Portanto, com a associação da venômica e da antivenômica, contando ainda em alguns
casos com o auxílio de transcriptomas, é possível conhecer a composição dos venenos, sua
variabilidade e quais são as toxinas de importância médica que estão sendo neutralizadas pelo
antiveneno comercial. Ou seja, as ciências “ômicas” aplicadas ao estudo de venenos têm
contribuído imensamente na questão de saúde pública, possibilitando a interpretação dos
fenômenos clínicos que ocorrem com as vítimas de envenenenamento, a caracterização da
eficácia do tratamento e, sobretudo, propondo novas estratégias para melhoria dos protocolos
de produção dos soros (Calvete, 2011; Gutiérrez et al., 2009) Levando-se em consideração às
9
variações geográficas e ontogenéticas dos venenos, a epidemiologia dos acidentes ofídicos em
cada região e as possíveis reatividades cruzadas entre venenos pertencentes a espécies
taxonomicamente próximas, torna-se viável propor novas composições para os pools de
imunização à fim de gerar antivenenos mais eficazes para a população em questão (Calvete, et
al., 2009 ; Gutiérrez et al., 2009 ; Calvete, 2010). As diferenças interespecíficas e
intraespecíficas dos venenos, que contribuem para diferentes manifestações clínicas e
imunorreatividades, devem ser racionalizadas no planejamento de melhores protocolos,
dispondo-se do princípio de que toxinas que pertencem à mesma família, ainda que sejam de
espécies diferentes, podem compartilhar estruturas antigênicas em comum (Calvete, 2010;
Williams et al., 2011). Nesse contexto, muitos esforços tem sido somados para aprimorar a
terapia antiofídica em várias partes do mundo, sobretudo em locais que mais sofrem com
envenenamentos, como a Ásia e a África (Williams et al., 2011) e América Central
(Gutiérrez et al., 2013).
No Brasil, esse tema ainda é pouco explorado e há a necessidade de se conhecer mais
sobre a eficácia da reatividade dos antivenenos. O desafio se torna ainda maior, visto que a
biodiversidade e variabilidade dos perfis biológicos dos venenos das serpentes nacionais,
sobretudo as do gênero Bothrops, são imensas (Queiroz et al., 2008). Ensaios que avaliam a
neutralização dos efeitos hemorrágicos, coagulantes, desfibrinogenantes e miotóxicos,
relevantes no gênero na América Latina (Segura et al., 2010) e mais especificamente no
Brasil (Zamunér et al., 2004), já foram feitos e corroboram mais uma vez com o fato de que
existe reatividade cruzada entre venenos e antivenenos, ainda que essa reatividade possa
variar de cobertura.
1.5 – A importância de estudar venenos
A caracterização dos venenos gera um conhecimento que se mostra relevante para
diversas aplicações biológicas. Através da composição dos venenos, pode-se compreender:
como as serpentes evoluíram e como se deu sua distribuição espacial ao longo de milhões de
anos; elucidar e compreender a variabilidade que ocorre entre os venenos de diferentes
espécies, diferentes populações e ainda diferentes indivíduos de um mesmo grupo;
compreender melhor as manifestações clínicas do envenenamento; desenvolver novos
fármacos e produtos biotecnológicos pela descoberta de novas toxinas que possuam alvos
farmacológicos de interesse; caracterizar a interação do antiveneno com o veneno, elucidando
10
quais toxinas são ou não são neutralizadas pelo mesmo através da antivenômica (Calvete et al.,
2009 ; Gutiérrez et al., 2009 ; Calvete , 2010, 2011, 2013 ; Williams et al., 2011).
As toxinas de venenos de serpentes, assim como outros produtos de origem natural,
tem sido alvo de estudos para protótipos farmacológicos, marcadores de auxílio de
diagnóstico de doenças e para produtos biotecnológicos em geral (Marsh, 2001; Koh et al.,
2006 ; Kini, 2011 ; McCleary & Kini, 2013). O desenvolvimento do primeiro inibidor da
enzima de angiotensina-I (ECA) (Captopril®), utilizado para o tratamento da hipertensão
arterial, foi inspirado na descoberta dos peptídeos potenciadores de bradicina do veneno de
Bothrops jararaca (Rocha e Silva et al., 1949), assunto que continuou sendo explorado e que
foi responsável por incentivar a busca de moléculas bioativas nos venenos animais
(bioprospecção) (Camargo et al., 2012). Exemplos como DEFIBRASE® (purificado do
veneno de Bothrops atrox) e ARVIN® (purificada do veneno de Calloselasma rodhostoma)
são usados no tratamento da trombose venosa profunda (TVP) e doenças vasculares
periféricas oclusivas, bem como profilaxia para prevenir TVP no estado pós-cirúrgico e
recorrência de trombose após cirurgia vascular (Braud et al., 2000). A Botrocetina, uma
lectina tipo-C isolada do veneno de Bothrops jararaca, induz aglutinação plaquetária
dependente de fator de Von Willebrand (vWF) e é usada para ensaios de detecção dos níveis
plasmáticos desse fator (Marsh, 2001).
Como mencionado, o veneno de jararaca é bem conhecido em relação a seus efeitos
farmacológicos e caracterização de muitas toxinas. Contudo, ainda não se conhece o perfil
detalhado da composição desse veneno pela abordagem venômica (isto é, detalhamento das
toxinas constituintes com identidade e abundância relativa das mesmas), o que pode ainda
revelar toxinas desconhecidas para essa espécie. Tendo em vista o trabalho de Grazziotin e
colaboradores, que propõe a existência de duas populações filogeneticamente distintas de B.
jararaca no Brasil e a provável história evolutiva por trás dessa divisão (flutuações no clima e
vegetação ao longo da formação do seu habitat principal que é a Mata Atlântica), espera-se
que os venenos também apresentem perfis diferentes. Até o presente momento não há nenhum
trabalho que estude as diferenças a nível populacional do veneno de Bothrops jararaca.
Tanto os efeitos tóxicos do envenenamento causado pelo gênero Bothrops, que
representa a maior causa de acidentes ofídicos no Brasil, quanto o potencial de moléculas de
interesse biotecnológico contidas nesse grupo, sobretudo no que diz respeito à hemostasia,
11
trazem a importância da continuidade do estudo proteômico do seu veneno. Com a
caracterização das populações de jararaca poderão ser encontradas novas moléculas com
potencial bioativo, além de fornecer informações importantes para ajudar a protocolar a
purificação de moléculas já conhecidas a fim de que se possa investigá-las melhor.
A determinação das possíveis diferenças dos venenos dessas duas populações além de
fornecer dados importantes corroborativos acerca da evolução e distribuição da espécie, é de
extrema importância médica e de saúde pública, já que a espécie Bothrops jararaca é
responsável pela grande maioria dos acidentes ofídicos no Brasil. Variações consideráveis na
composição do veneno podem significar a ausência de reconhecimento de algumas toxinas
pelo antiveneno em decorrência de seu protocolo de produção, visto que o pool de imunização
para produção do antiveneno ainda que utilize diferentes animais (soro antibotrópico) não
leva em consideração a existência de mais de uma população da espécie.
12
2 - OBJETIVOS
2.1 – Objetivo Geral
Esse trabalho objetiva o estudo comparativo da composição dos venenos da espécie
Bothrops jararaca procedentes das regiões sul e sudeste do Brasil, por meio da análise de um
pool representativo de cada população e de representantes individuais, avaliando ainda a
capacidade de um antiveneno comercial em neutralizar as diferenças encontradas entre eles
(antivenômica).
2.2 – Objetivos Específicos
1. Separar os venenos por cromatografia de fase reversa (pools).
2. Realizar as eletroforeses das frações de massa molecular acima de 6 kDa.
3. Analisar por espectrometria de massas as frações intactas advindas das
cromatografias.
4. Separar os venenos individuais por cromatografia de fase reversa para averiguar
seu perfis e a representatividade das populações.
5. Analisar a reatividade entre o soro antibotrópico-IVB e os venenos das populações
do sul e do sudeste.
13
3 - MATERIAL E MÉTODOS
3.1 – Aspectos Éticos
O Instituto Vital Brazil, de onde são provenientes os animais do sudeste utilizados no
estudo, possui autorização do IBAMA-RJ para possuir o criadouro científico dos animais sob
o número de registro 1/33/95/0247-7. O NOPA (Núcleo de Ofiologia de Porto Alegre –
Museu de Ciências Naturais - Fundação de Zoobotânica, RS), por sua vez, possui registro no
IBAMA sob o número 1/43/1999/000764-9. O trabalho também está aprovado através
Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA) em Experimentação Cientifica do Centro de
Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro sob o número de referência
IBQM 077.
3.2 –Venenos e antiveneno
Dada a distribuição geográfica de Bothrops jararaca no território brasileiro (Figura 3,
A), foram incluídos representes adultos da espécie provenientes das duas regiões onde
estariam as diferentes populações à fim de constituir um pool representativo de cada uma
(Figura 3, B). Os indivíduos utilizados no estudo advêm dos extremos de sua distribuição, a
fim de evitar mesclas entre as populações. A população denominada como “do norte” no
trabalho de Grazziotin equivale à população do sudeste desse estudo, enquanto a “do sul”
continua sendo classificada como do sul. O pool constituinte do sudeste inclui um n=22,
correspondendo a indivíduos de diferentes procedências dentro do estado do Rio de Janeiro
(RJ), Espírito Santo (ES) e Minas Gerais (MG) que pertencem ao plantel do Instituto Vital
Brazil, Niterói-RJ. O pool do sul, por sua vez, conta com um n=22 proveniente de diferentes
localidades do Rio Grande do Sul (RS) fornecido pelo NOPA (Núcleo de Ofiologia de Porto
Alegre) – Museu de Ciências Naturais - Fundação de Zoobotânica, RS.
O antiveneno utilizado para os ensaios de antivenômica corresponde ao soro comercial
antibotrópico pentavalente (SAB) produzido pelo Instituto Vital Brazil – Niterói – Brasil.
Uma pergunta surgiu no decorrer do planejamento e primeiros ensaios desse trabalho: as
supostas diferenças populacionais são de fato populacionais ou seriam diferenças individuais
marcantes que estariam se sobressaindo na amostra agrupada? Para responder essa pergunta
foram efetuados cromatogramas referentes aos representantes individuais de cada região para
que o pool fosse validado como representativo de cada população.
A
14
3.3 – Caracterização dos venenos
A abordagem utilizada para realizar a caracterização proteômica do veneno de
Bothrops jararaca se enquadra na metodologia já bem descrita e reproduzida para proteômica
de venenos, que é a venômica (Calvete et al., 2007, 2009; Gutiérrez et al., 2009; Calvete,
2010, 2011). A sequência metodológica utilizada na venômica consiste, de maneira geral, no
fracionamento e recuperação do veneno bruto numa cromatografia de fase reversa (RP-
HPLC), seguida de análise dos picos cromatográficos por SDS-PAGE , digestão in gel das
bandas de interesse e sua posterior indentificação por espectrometria de massas. As frações
cromatográficas de baixo peso molecular (m/z ≤ 1700) são analisadas diretamente por LC-
MS/MS. A obtenção de espectros provenientes de CID- MS/MS permite a identificação, a
nível de família de proteínas, das bandas referentes a toxinas visualizadas e digeridas a partir
do gel de poliacrilamida e das frações de baixo peso. Uma vez identificadas, as toxinas podem
ter sua abundância relativa estimada no veneno (Fig. 4).
A BFigura 3: Distribuição geográfica de Bothrops jararaca (A) e indivíduos que originaram o pool
representativo da população do sudeste (círculos) e do sul (quadrados) (B). (Imagem de arquivo
pessoal de Diego Janisch Alvares, Laboratório de Herpetologia, Depto. de Zoologia, Instituto de
Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS).
15
3.3.1 - Cromatografia de Fase Reversa (RP-HPLC)
Para análise cromatográfica dos pools de cada população de Bothrops jararaca foram
utilizados 2-2,2 mg de veneno, ressuspendidos em 190 l de solução de acetonitrila (ACN)
5% + 0,1% de Ácido Trifluoroacético (TFA). Em alguns casos houve o acréscimo de 5 l de
Ácido Fórmico a 70%, dependendo da solubilidade da amostra. As amostras foram
centrifugadas a 13000 rpm por 10 min para eliminação de possíveis debris antes de serem
injetadas manualmente no sistema. A coluna utilizada para as corridas cromatográficas dos
pools foi uma Teknokroma Europa C18 (0.4 cm × 25 cm, 5 mm particle size, 300 Å pore size)
no sistema de gradiente de alta pressão Agilent LC 1100 equipado com detector DAD e
micro-autoinjeção. A taxa de fluxo foi setada para 1 ml/min e os experimentos foram
executados em gradiente linear de 0,1% TFA em água (solução A) e 0,1% de TFA em
acetonitrila (solução B) nas seguintes condições: isocraticamente 5% B por 5 min, seguido de
5-25% B por 10 min, 25-45% B por 60 min e 45-70%B por 10 min. A detecção dos picos foi
monitorada a 215 nm (com referência de comprimento de onda de 400 nm). Os picos foram
coletados manualmente, secos em uma centrífuga a vácuo (Savant) e posteriormente
ressuspendidos em água mili-Q para submissão das frações ao SDS-PAGE.
Para os cromatogramas individuais foram injetados 200 µg de veneno de cada
espécimen, ressuspendidos e centrifugados nas mesmas condições anteriores e utilizando o
microinjetor automático. As corridas foram realizadas utilizando uma coluna Dicovery® BIO
Wide Pore C18 (15 cm x 2.1 mm, 3 μm particle size, 300 Å pore size) nas seguintes
condições: isocraticamente 5% B por 1 min, seguido por 5-25% B por 5 min, 25-45% B por
RP-HPLCC18
12
3 45
SDS-PAGE
1 2 3 4 5
Digestãotríptica In-gel
CID – MS/MS
Identificação
Abundânciasrelativas
Figura 4: Sequência metodológica da venômica: o veneno bruto é fracionado por cromatografia de fase
reversa (RP-HPLC); as frações provenientes da cromatografia são submetidas a SDS-PAGE; digestão
tríptica das bandas de proteína de interesse; identificação dos peptídeos trípticos e naturais por CID -
MS/MS; análise dos resultados por interpretação manual ou uso de plataformas de busca frente aos banco de
dados, assinalando a família de proteína da amostra; estimação do perfil geral de toxinas expressada como
porcentagem total das proteínas do veneno.
16
35 min, e 45-70% por 5 min, com as mesma soluções e o mesmo sistema de alta pressão
utilizados para as análises dos pools.
3.3.2 - SDS-PAGE e digestão in gel
As frações provenientes do RP-HPLC, após terem sido secas em centrífuga a vácuo
(SPD SpeedVac®, ThermoSavant) foram devidamente ressuspendidas de acordo com a
proporção de cada pico, isto é, as frações não foram ressuspendidas nos mesmos volumes.
Cada uma foi ressuspendida de acordo com a área do seu pico, a fim de alcançar de maneira
aproximada uma proporção mais homogênea da concentração final de cada uma). As amostras
de cada fração foram preparadas nas seguintes condições: 10 µL de amostra + 2 µL de tampão
de amostra reduzido (200 mM Tris-HCl pH 6.8 + 6% SDS + 0.05% Azul de Bromofenol +
36% glicerol + 5% β-mercaptoethanol, 6X) ou não reduzido (200 mM Tris-HCl pH 6.8 + 6%
SDS + 0.05% Azul de Bromofenol + 36% glicerol 6X). Nas amostras que apresentaram, de
acordo com o indicador azul de bromofenol, uma coloração visual de pH abaixo da faixa
desejável (pH do gel de corrida) foram adicionados de 1–3 µL de tampão Tris 1.5 M pH 8.8
até que a amostra apresentasse uma coloração arroxeada indicativa do pH ideal para corrida.
Posteriormente, as amostras foram aquecidas a 100 ºC por 5 min em um Thermoblock. As
frações foram então submetidas à eletroforese em condições desnaturantes (SDS-PAGE),
utilizando o sistema Mini-PROTEAN® da Bio Rad em um sistema descontínuo de géis de
poliacrilamida de 0.75 mm (gel de stacking 4% e gel de corrida 15%, a partir de solução de
30% acrilamida/bis-acrilamida, 3,3% de cross-linker) na presença do tampão de corrida (25
mM Tris, 192 mM Glicina, 0.1% SDS, pH 8.3) e voltagem de 80 V nos primeiros 20 min,
seguidos de 110 V até o final da corrida eletroforética. Após três lavagens de 5 min com água
destilada, os géis foram corados com Coomassie Brilliant Blue (G250) (0.05 mg/ml de
Coomassie em água destilada + 0.15% de HCl 12 N) overnight sob agitação constante à
temperatura ambiente. Os géis foram descorados por sucessivas lavagens com água destilada
até que se eliminasse satisfatoriamente a coloração de fundo.
As bandas de interesse foram excisadas dos géis e posteriormente reduzidas,
alquiladas e digeridas com tripsina em um digestor automático (Genomics Solution ProGest
Protein Digestion Workstation) seguindo as intruções do fabricante (redução com 10 mM de
DTT, alquilação com 50 mM de iodoacetamida, digestão overnight com 0,25 µg de tripsina
por amostra em 25 mM de bicarbonato de amônio e 10% de acetonitrila). Os produtos da
17
digestão também foram secos em centrífuga a vácuo e posteriormente ressuspendidos em
0,1% de ácido fórmico para análise de LC-MS/MS.
3.3.3 – Espectrometria de Massas
Os peptídeos trípticos foram separados em uma coluna de ultra performance (nano-
Acquity LC® UPLC® com coluna BEH130 C18, 100 μm x 100 mm, 1.7 μm de tamanho de
partícula) acoplada a um sistema de espectrometria de massas de alta definição (Waters
SYNAPT G2). O fluxo da ultracromatografia foi setado para 0.6 μl/min nas seguintes
condições: isocraticamente 1% B, seguido por 1-12% B por 15 min, 40-85% B por 2 min,
utilizando as soluções 0,1% de ácido fórmico (solução A) e 0,1% de ácido fórmico em
acetonitrila (solução B).
Os íons de carga +2 ou +3 foram selecionados e submetidos a CID-MS/MS para
fragmentação e posterior elucidação da sequência. Os espectros adquiridos foram
interpretados manualmente ou utilizando a plataforma online MASCOT em
http://www.matrixscience.com (Mascot database search > Access Mascot Server > MS/MS
Ions Search) com busca na base de dados do SwissProt ou NCBI e taxonomia de busca dentro
do grupo “bony vertebrates”. Os parâmetros setados para a busca foram: ± 0,6 Da de
tolerância de massa; carbamidometilação dos resísuos de cisteína como modificação fixa;
oxidação da metionina como modificação variável. Os sequenciamentos de novo (manuais)
foram identificados submetendo as sequências encontradas à busca nos bancos de dados
disponíveis através do programa BLAST em http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi (Serpentes
taxid:8570).
3.3.4 – Quantificação da abundância relativa das toxinas
A obtenção de espectros provenientes de CID- MS/MS permite a identificação das
amostras analisadas a nível de família de proteínas. Uma vez identificadas, as toxinas podem
ter sua abundância relativa estimada no veneno a partir da soma das porcentagens das áreas
dos picos dos cromatogramas (Agilent ChemStation software), seguida pelo cálculo da
contribuição de cada banda dentro de cada fração por densitometria dos géis de poliacrilamida
(MetaMorph software, MDS Analytical Technologies) (Calvete, 2011). Se mais de uma
família de proteína for identificada em uma mesma banda, a quantificação é baseada na
intensidade dos picos no espectro de massas. Para cada grupo de toxina, extrai-se a média da
18
intensidade dos três picos mais intensos. As médias são somadas e o valor da soma é
normalizado para 100% e posteriormente dividido entre elas, dando um valor percentual para
cada grupo (Fig. 5).
3.4 – Antivenômica
Os ensaios de antivenômica foram realizados como descrito em Pla et al, 2012 com
algumas modificações. Seguem as etapas de preparo da coluna: 400 µL de matriz (NHS-
activated Sepharose 4 Fast Flow, Ge Healthcare) foram empacotados em um suporte de
coluna e lavados com 15 volumes de tampão frio 1 mM HCl. Para equilibrar a coluna para a
incubação com o antiveneno foram utilizados 2 volumes de tampão de acoplamento (0.2 M
Figura 5: Quantificação da abundância relativa das famílias de toxinas presentes no veneno total. Cálculo da porcentagem das áreas de cada pico do cromatograma (A). Cálculo da porcentagem que cada banda representa
dentro de cada pico (B). De acordo com a porcentagem de cada banda e de seu respectivo pico, cálculo da
porcentagem de cada banda em relação ao veneno total (C). Nos casos em que mais de uma família de proteína é
identificada em uma mesma banda, a quantificação é feita por Label-free MS, levando-se em consideração a
intensidade média dos três íons mais intensos de cada grupo (asteriscos). As médias de intensidade de cada
família são somadas (100%) e o valor total é dividido novamente entre elas. O valor percentual de cada família
de toxina é então dividido entre a porcentagem da banda (D).
18%
1
23 4
5+ + + + =100%
A1 A3 A4 A5A2
A
A4.1
A4.2
A4.3
densitometria A4.1 = 25%
A4.2 = 60%
A4.3 = 15%
B
A4.1
A4.2
A4.3
10,8% do proteoma total
C
D
m/z
Inte
nsi
dad
e
A4.2
**
*
**
*
PLA2
SVSP
No espectro:
55%
45%
No proteomatotal:
5,94%
4,86%
19
NaHCO3, 0.5 M NaCl, pH 8.3). Foram incubados 51 mg de soro antibotrópico pentavalente
(SAB, Instituto Vital Brazil) dissolvidos em 300 µL do mesmo tampão de acoplamento,
overnight a 4ºC em um agitador orbital. O antiveneno não unido a matriz foi recuperado com
mais 2 volumes de matriz de tampão de acoplamento e quantificado por densitometria
(MetaMorph software, MDS Analytical Technologies) de SDS-PAGE, usando uma curva-
padrão construída por quantidades conhecidas do antiveneno pré-incubado. A estimativa da
quantidade da fração do SAB não unido a matriz foi feita pela subtração do valor inicial pelo
não unido, dando um rendimento de ~13 mg. Após o acoplamento, os grupos NHS-ativados
que não reagiram foram bloqueados com 400 μL de 0.1 M Tris-HCl, pH 8.5 a 4C, overnight
usando agitador orbital. Para remover os resíduos de moléculas não unidas, a coluna foi
lavada, alternando-se 6 vezes, 3 volumes de tampão ácido (0.1 M acetato de sódio, 0.5 M
NaCl, pH 4,0-5,0) e 3 volumes de tampão básico (0.1 M Tris-HCl, pH 8,5).
Para o preparo das colunas de controle, da mesma maneira descrita para o SAB, foram
acopladas IgGs séricas de cavalos não imunizados à matriz NHS-Sepharose (controle IgGs)
com um rendimento de ~8 mg. A coluna de controle de matriz foi feita pelo empacotamento
de 400 µL da matriz NHS-Sepharose, lavados com 15 volumes de tampão frio 1 mM HCl
seguidos diretamente pelo bloqueio dos grupos NHS-ativados não reagidos com 0.1 M Tris-
HCl, pH 8.5 a 4C, overnight. As colunas controles foram incubadas com os venenos nas
mesmas condições da coluna experimental (SAB) a fim de acompanhar a especificidade da
interação dos venenos com a coluna SAB.
As colunas foram equilibradas com 5 volumes de PBS antes da incubação com 300 μg
do veneno de Bothrops jararaca do sul ou sudeste em ½ volume de matriz (razão
veneno:antiveneno ~1:45, coluna SAB). Os venenos foram incubados por 3 hs à temperatura
ambiente em agitador orbital. A fração não retida na coluna foi recuperada com mais dois
volumes de PBS enquanto a fração retida foi eluída com 2,5 volumes de tampão 0.1 M
glicina-HCl, pH 2.0. As frações eluídas foram imediatamente neutralizadas com tampão 1 M
Tris-HCl, pH 9.0. A coluna foi armazenada em 20% de etanol e entre a incubação do veneno
de uma região e outra foi regenerada com 3 ciclos de lavagem entre tampão ácido e básico
como na etapa de montagem da coluna. As frações não retida e eluída foram concentradas em
centrífuga a vácuo (Savant) e injetadas com 40 µL por microinjetor automático no sistema de
gradiente de alta pressão Agilent LC 1100. O fracionamento ocorreu utilizando-se uma coluna
Dicovery® BIO WidePore C18 (15 cm x 2.1 mm, 3 μm particle size, 300 Å pore size) na
20
presença de 0,1% TFA em água (solução A) e 0,1% de TFA em acetonitrila (solução B) nas
seguintes condições de corrida: isocraticamente (5% B) por 1 min, seguido por 5-25% B por 5
min, 25-45% B por 35 min, e 45-70% por 5 min, com fluxo de 400 µL/min.
A antivenômica é um ensaio que tem como objetivo avaliar in vitro a imunorreativade
de um veneno e um antiveneno (soro antiofídico). De maneira geral, os anticorpos do
antiveneno são imobilizados para compor a coluna de imunoafinidade (e portanto essa coluna
pode ser reutilizada), onde posteriormente o veneno de interesse é carregado e incubado à fim
de que ocorram os possíveis reconhecimentos entre antígenos e anticorpos. O que não fica
retido na coluna, à princípio não foi reconhecido por nenhum anticorpo ou possui baixa
afinidade, e portanto corresponde a toxinas não neutralizadas eficientemente pelo antiveneno.
A fração eluída em pH ácido, por sua vez, corresponde às toxinas reconhecidas pelo
antiveneno. Ambas as frações, retida e não retida, passam por uma cromatografia de fase
reversa, o que assinala os picos reconhecidos ou não pelo antiveneno (Pla et al., 2012). Essa
metodologia apresenta diversas vantagens em relação às clássicas de imunorreatividade, como
Western Blot e ELISA, pois é possível não só a obtenção de um resultado qualitativo do tipo
“tudo-ou-nada” como alcançar dados quantitativos, além de eliminar os artefatos que podem
ocorrer utilizando-se as outras técnicas.
A B C
Figura 6: Etapas da incubação do veneno e a coluna de imunoafinidade: o veneno bruto é
incubado com a coluna (A); os componentes não retidos na coluna são lavados e recuperados (B); os componentes imunocapturados pela coluna são eluídos em pH ácido (C). Todas as frações e o
veneno bruto contendo a mesma quantidade inicial incubada são analisados por cromatografia de
fase reversa.
21
3.5 – Western Blot
As frações cromatográficas dos venenos (BjS e BjSE) provenientes de RP-HPLC
foram submetidas a SDS-PAGE 15% em condições redutoras como descrito para venômica.
As proteínas dos géis foram transferidas para membranas Hybond-P PVDF (GE-Healthcare)
no sistema Bio-Rad Semy-Dry mini-transfer cell, com 200 mA durante 90 min (tampão de
transferência 25 mM Tris, 192 mM Glicina, 20% de etanol, 0.1% SDS, pH 8.3). As
membranas foram incubadas com 5% de leite desnatado em PBS overnight a 4ºC para
bloquear sítios reativos inespecíficos. Após o bloqueio, as membranas foram incubadas com o
soro antibotrópico (SAB, Instituto Vital Brazil) por 1h 30 min à temperatura ambiente em
agitador orbital.
Foi utilizada uma diluição 1:1500 (v/v) a partir de uma solução estoque de
concentração 28 mg/mL. Terminado o período de incubação, foram feitas 3 lavagens de 5 min
com PBS-Tween (20 mM fosfato, 135 mM NaCl, pH 7.3 + 0.1% Tween-20) para eliminar os
anticorpos não ligados a membrana. Seguindo a lavagem, as membranas foram incubadas
com os anticorpos secundários IgGs anti-horse conjugados a peroxidase (Sigma) numa
diluição 1:5000 (v/v). Após 1h 30min de incubação e 4 ciclos de lavagem as membranas
foram reveladas utilizando o reagente de detecção ECL Prime (Amersham) e as imagens do
sinal de quimiluminescência foram adquiridas em um Image Quant LAS 4000 mini (GE
Healthcare).
3.6 – Dot Blot
Os ensaios de dot blot foram realizados em colaboração com outro projeto do nosso
grupo, através da aluna de mestrado Eleonora Brazil-Más, do programa de pós-graduação do
IBqM-UFRJ e do Instituto Vital Brazil. No dot blot os venenos de B. jararacussu, B. jararaca
do sul, B. jararaca do Sudeste e a bothropstoxina-I (purificada de jararacuçu) foram diluídos
em PBS e aplicados diretamente na membrana de nitrocelulose (1 µg). Após bloqueios e
lavagens as membranas foram incubadas com anticorpos monoclonais (clones 1, 3 e 11) anti-
BthTX-I produzidos a partir de hibridomas em camundongos na concentração de 3 µg/ml.
Como controle positivo foi utilizado o soro policlonal produzido em cavalo a partir da
imunização com veneno total de B.jararacussu (diluição de 1:1000). Após 2 horas sob
agitação constante à temperatura de 37°C e sucessivas lavagens, as membranas foram
22
incubadas nas mesmas condições por mais 2 horas com anticorpo secundário marcado com
peroxidase na diluição de 1:500 antimouse (para os monoclonais) e 1:1000 antihorse (para o
policlonal) . A Revelação foi feita com o kit HRP da Bio Rad (colorimétrica) e visualizada a
olho nu.
23
4 – RESULTADOS
4.1 – Perfis cromatográficos dos pools
A cromatografia utilizada para caracterização e separação dos venenos foi a de fase
reversa (RP-HPLC). Os perfis cromatográfico dos pools representativos das regiões Sul (BjS)
e Sudeste (BjSE) do Brasil se demonstraram distintos entre si (Figura 7). Variações
quantitativas e qualitativas podem ser observadas em algumas regiões do cromatograma,
como por exemplo, a região compreendida entre os picos 18-28 BjS e 18-28 BjSE. Alguns
picos podem ser considerados por uma primeira análise visual como correspondentes, como
são os casos do pico 16 BjS e 15 BjSE e os picos 17 BjS e BjSE entre si.
A particularidade que merece ser destacada e que se revela como diferença marcante
entre as populações é a presença do pico 15 BjS, que sozinho representa uma porcentagem de
aproximadamente 13,8% do veneno total da região sul (ver quantificação em metodologia) e
que é inexistente na região sudeste. As características marcantes da região sudeste, por sua
vez, são evidenciadas pelos picos BjSE 33 e 36, que somados correspondem a
aproximadamente 27,7% do veneno total.
24
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12 13 14
15
16
17
20
19
22
21
23
1824
25
28
26
29
27
30
32
31
33
36
37
38
34
35
39
A
BjS
Figura 7: Cromatogramas das populações de Bothrops jararaca provenientes do Sul (A) e do Sudeste (B) do Brasil
utilizando-se cromatografia de fase reversa.
25
9
13
4
13
14 15 16
12
18
17
2
2221
19
20
27
24
23
26
2528
30
29
31
32
33
34
36
7
8
10
65
11
37
35
38
39
BBjSE
Figura 8: Cromatogramas das populações de Bothrops jararaca provenientes do Sul (A) e do Sudeste (B) do Brasil
utilizando-se cromatografia de fase reversa (CONTINUAÇÃO).
26
4.2 – Perfis eletroforéticos dos picos cromatográficos
Cada pico proveniente da coluna de fase-reversa foi manualmente coletado, seco
e ressuspendido em H2O Mili-Q. Cada fração foi então submetida a SDS-PAGE 15%
em condições reduzidas e não-reduzidas (Figura 8). As frações que não aparecem nos
géis são aquelas que não apresentaram cadeias polipeptídicas de massa molecular
suficiente para serem retidas no gel ou que não se coram com o Coomassie Brilliant
Blue G250, constituindo frações peptídicas.
Como resultado da quantificação e identificações, as bandas que constituem as
proteínas majoritárias do veneno do sul são: 16 kDa do gel reduzido, do pico 15 (13%
do veneno total, Lys-49 PLA2); 17 kDa do gel reduzido, pico 27 (5,7% do veneno total,
D-49 PLA2); e as bandas 26 e 23 kDa do gel não reduzido, pico 28 (juntas constituem
7,3% do veneno total, SVSP) (Tabela 2). Por outro lado, na região sudeste as proteínas
majoritárias são: a de 11 kDa, do gel reduzido, pico 11 (5,16% do veneno total,
desintegrina); 25 kDa do gel não reduzido, pico 33 (8,4% do veneno total, SVMP-I); e a
banda de 46 kDa do gel não reduzido, pico 36 (11,4% do veneno total, SVMP-III)
(Tabela 3). Cada pico da fase reversa é composto por várias proteínas, o que é
evidenciado pela eletroforese e confirma mais uma vez a divergência que existe entre as
populações.
4.3 – Cromatogramas Individuais
Ao longo do desenvolvimento desse trabalho, surgiu o questionamento sobre a
validação dos pools de cada população e perguntava-se: as diferenças observadas são de
fato uma característica populacional ou algumas variações em alguns indivíduos podem
se sobrepor ao perfil do pool? Para responder a essa pergunta, analisamos os
cromatogramas de 22 indivíduos de cada região a fim de validar os pools como
representativos de cada população. Todos os indivíduos demonstraram um mesmo perfil
cromatográfico de acordo com sua origem geográfica, apresentando apenas pequenas
variações individuais. O perfil se reproduz em todos os representantes da mesma região
e se reflete no padrão do pool correspondente, o que pode ser observado na figura 9,
onde estão representados cinco cromatogramas de cada população e seu respectivo pool.
É interessante destacar que todos os indivíduos da população do sul possuem o pico BjS
27
15, ainda que o mesmo varie um pouco em sua quantidade relativa em alguns
indivíduos.
55.4
116.3
36.5
66.397.4
31
14.4
6.0
21.5
55.4
116.3
36.5
66.397.4
31
14.4
6.0
21.5
3.52.5
55.4
116.3
36.5
66.397.4
31
14.4
6.0
21.5
3.52.5
55.4
116.3
36.5
66.397.4
31
14.4
6.0
21.5
S 1412 1613 15 17 18 19 20 216 225 23 24 25
S 1412 1613 15 17 18 19 20 216 225 23 24 25
S 3028 3229 31 33 34 35 3627 3726 38 39
S 3028 3229 31 33 34 35 3627 3726 38 39
200 200
200 200
A
55.4
116.3
36.5
66.397.4
31
14.4
6.0
3.5
21.5
55.4
116.3
36.5
66.397.4
14.4
6.0
3.5
21.5
31
55.4
116.3
36.5
66.397.4
31
14.4
6.0
3.5
21.5
55.4
116.3
36.5
66.397.4
14.4
6.0
21.5
31
S 1513 1714 16 18 19 20 2110 225 23 24S 6 11 25
S 1513 1714 16 18 19 20 2110 225 23 24S 6 11 25
S 2826 3127 30 32 33 34 35 36 37 38 39
S 2826 3127 30 32 33 34 35 36 37 38 39
200 200
200200
B
Figura 9: Eletroforese das frações provenientes da fase reversa (RP-HPLC). SDS-PAGE 15% em
condições reduzidas (acima) e não reduzidas (abaixo) dos picos provenientes da cromatografia de fase reversa
das populações do sul (A) e sudeste (B). O lane S corresponde ao padrão de peso molecular e às massas à
esquerda estão representadas em kDa. As setas indicam as bandas majoritárias de cada veneno, excisadas,
digeridas e identificadas por espectrometria de massas.
28
Tabela 2: Identificações dos peptídeos trípticos das proteínas majoritárias da população de B.
jararaca da região sul. ▼ – gel reduzido ; ■ – gel não reduzido. Score = Protein score. Derivado dos
scores individuais dos íons (-10*Log(P), onde P é a probabilidade da identificação observada ser um
evento randômico) como uma base não probabilística para ranquear a lista de proteínas. Mox = Metionina
oxidada.
Pico banda m/z z Sequências Score Identificação
15 28 ▼ 673,4 2 MoxILQETGKNPAK 287 B. jararacussu Q90249
767,3 2 SYGAYGCNCGVLGR PLA2
824,4 2 DKTIVCGENNPCLK
868,9 2 ELCECDKAVAICLR
533,8 2 ENLGTYNKK
546,8 2 YHLKPFCK
16 ▼ 665,3 2 MILQETGKNPAK 523 B. jararacussu Q90249
673,4 2 MoxILQETGKNPAK PLA2
767,3 2 SYGAYGCNCGVLGR
538,8 2 YSYSWKDK
824,4 2 DKTIVCGENNPCLK
868,9 2 ELCECDKAVAICLR
533,8 2 ENLGTYNKK
610,8 2 YHLKPFCKK
9 ▼ 665,4 2 MILQETGKNPAK 244 B. jararacussu Q90249
673,3 2 MoxILQETGKNPAK PLA2
767,3 2 SYGAYGCNCGVLGR
702,8 2 TIVCGENNPCLK
401,7 2 AVAICLR
27 17 ▼ 753,3 2 CCFVHDCCYGK 245 B. jararaca P81243
959,4 3 TDSYTYTYSEENGDVVCGGDDLCKK D-49 PLA2
595,9 3 QICECDRVAATCFR
812,4 2 DTYDTKYWLYGAK
576,7 2 NCQEESEPC
28 26 ■ 511,8 2 LGVHSIKIR 291 B. jararaca P81824
532,3 2 EKFICPNR SVSP
416,7 2 KDDVLDK
611,6 3 ISSTKETYPDVPHCAK
785,1 3 AAYTWWPATSTTLCAGILQGGK
1043,8 3 DTCEGDSGGPLICNGLQGIVSGGGNPCGQPR
410,7 2 KPALYTK
964,1 3 LDSPVSDSEHIAPLSLPSSPPSVGSVCR 64 B. jararaca Q5W959
640,3 2 AAYPELPAEYR SVSP
23 ■ 532,3 2 EKFICPNR 169 B. jararaca P81824
658,8 2 ETYPDVPHCAK SVSP
605,8 2 INILDHAVCR
785,1 3 AAYTWWPATSTTLCAGILQGGK
1043,8 3 DTCEGDSGGPLICNGLQGIVSGGGNPCGQPR
410,7 2 KPALYTK
29
Tabela 3: Identificações dos peptídeos trípticos das proteínas majoritárias da população de B.
jararaca da região sudeste. ▼ – gel reduzido ; ■ – gel não reduzido. Score = Protein score. Derivado
dos scores individuais dos íons (-10*Log(P), onde P é a probabilidade da identificação observada ser um
evento randômico) como uma base não probabilística para ranquear a lista de proteínas. Mox = Metionina oxidada.
Pico banda m/z z Sequências Score Identificação
11 11 ▼ 684,3 3 LRPGAQCAEGLCCDQCR 323 B. jararaca Q0NZX5
433,9 3 FMoxKEGTVCRR Desintegrina
904,7 3 ARGDDMoxDDYCNGISAGCPRNPFHA
829,0 3 GDDMoxDDYCNGISAGCPRNPFHA
33 25 ■ 625,3 3 YIELFLVVDHGMoxFMoxK 294 B. jararaca Q98SP2
533,8 2 YNGNSDKIR SVMP
494,3 2 KTDLLNRK
1028,9 3 RSTAVIEDHSETDLLVAVTMAHELGHNLGIR
913,7 3 HDTGSCSCGGYSCIMAPVISHDIAK
551,3 2 DNPQCILNK
36 46 ■ 915,0 2 YVELFIVVDQEMoxVTK 475 B. insularis Q8QG88
508,8 2 NNGDLDKIK SVMP P-III
797,4 2 MoxYELANIVNEILR
732,7 3 YLYMHAALVGLEIWSNGDK
1077,6 2 ITVKPDVDYTLNSFAEWR
423,7 2 KTDLLTR
590,5 3 SGSQCGHGDCCEQCK
526,7 2 GNYYGYCR
578,8 2 KIPCAPEDVK
615,8 2 DNSPGQNNPCK
776,8 2 VCSNGHCVDVATAY
508,8 2 NNGDLDKIK 293 B. jararaca P30431
806,4 2 MYELANIVNEIFR SVMP P-III
1077,6 2 ITVKPDVDYTLNSFAEWR
423,7 2 KTDLLTR
590,5 3 SGSQCGHGDCCEQCK
526,7 2 GNYYGYCR
578,8 2 KIPCAPEDVK
615,8 2 DNSPGQNNPCK
776,8 2 VCSNGHCVDVATAY
30
A.1
A.2
A.3 A.6
A.5
A.4A
Figura 10: Cromatogramas individuais de representantes do sul (A) e sudeste (B): A.1 – A.5 e B.1 – B.5, representantes individuais. A.6 e B.6, pool
representativo de cada população.
31
B.1
B.2
B.3 B.6
B.5
B.4B
Figura 11: Cromatogramas individuais de representantes do sul (A) e sudeste (B): A.1 – A.5 e B.1 – B.5, representantes individuais. A.6 e B.6, pool
representativo de cada população (CONTINUAÇÃO).
32
4.4 – Lys49-PLA2
Para elucidação da identidade do pico cromatográfico diferencial 15 BjS, as
bandas provenientes de SDS-PAGE (15%, reduzido) do lane correspondente foram
excisadas, digeridas com tripsina e posteriormente analisadas por CID-MS/MS. Os
espectros gerados pela análise dos peptídeos trípticos foram submetidos à plataforma
MASCOT (ver metodologia). Os peptídeos trípticos de todas as três bandas digeridas no
gel reduzido foram identificadas para mesma proteína, a bothropstoxina-I (BthTX-I),
uma Lys49-PLA2 do veneno de Bothrops jararacussu. A BthTX-I é um homodímero
em solução em pH neutro (Ruller et al., 2005), o que pode ser observado comparando
os géis reduzidos e não reduzidos, nos quais a forma dimérica é predominante no gel
não reduzido e a forma monomérica prevalece no gel reduzido com β-mercaptoetanol.
A banda de aproximadamente 9 kDa no gel reduzido provavelmente provém de uma
degradação em decorrência do processo de redução. O mesmo pico sem sofrer nenhum
tipo de tratamento foi submetido à análise por espectrometria de massas, a fim de ter sua
massa total estimada. A massa experimental média encontrada foi de 13715 Da,
utilizando-se um QTrap™ 2000 (Applied Biosystems) acoplado a uma fonte de
nanospray (Protana, Denmark). Essa massa praticamente coincide com a massa teórica
da BthTX-I de B. jararacussu (13713 Da), sugerindo fortemente 100% de identidade
entre as duas toxinas, ou pelo menos extrema homologia entre elas.
Para confirmar a identidade e presença exclusiva da BthTX-I na população do
Sul, foram realizados ensaios de dot blot em colaboração com outro projeto do nosso
grupo, através da aluna de mestrado Eleonora Brazil-Más, do programa de pós-
graduação do IBqM-UFRJ e do Instituto Vital Brazil. Os anticorpos monoclonais já
haviam sido previamente caracterizados, sendo os clones 1 e 3 específicos para BthTX-I
de B. jararacussu, enquanto o 11 possui reatividade cruzada com veneno de B. jararaca.
Os resultados de dot blot confirmaram mais uma vez que a BthTX-I somente está
presente no pool de B. jararaca do sul (Figura 10).
33
4.5 – Antivenômica e Western Blot
Tendo em vista o protocolo da antivenômica, a fração recuperada após a
incubação do veneno com a coluna de imunoafinidade corresponde ao que não foi
reconhecido pelos anticorpos unidos à matriz (não retido). O que fica retido é o que
permaneceu unido aos anticorpos e essa união antígeno-anticorpo é posteriormente
desfeita em pH ácido (eluído). Os resultados da antivenômica mostraram que a
imunorreatividade do soro pentavalente antibotrópico (SAB) do IVB é similar frente às
duas populações (Figura 11). Nos dois pools de veneno apenas as regiões das frações de
baixo peso molecular não são reconhecidas pelo antiveneno de forma eficiente. A
diferença encontrada nessa região de baixo peso corresponde aos picos 10 e 11 da
região sudeste (diferenciais em relação à região sul), que são consideravelmente
reconhecidos pelo antiveneno. Esse reconhecimento pode ser confirmado pelo Western
Blot (figura 12), no qual as bandas desses picos previamente visualizadas por
eletroforese são evidenciadas.
Bothropstoxina-I
Najussu clone 1 clone 3 clone 11
B. jararacussu (pool)
Najussu clone 1 clone 3 clone 11
B. jararaca Sudeste (pool)
Najussu clone 1 clone 3 clone 11
B. jararaca Sul (pool)
Najussu clone 1 clone 3 clone 11
Figura 12: Dot blot da BthTX-I e dos venenos de B. jararaca e B.jararacussu frente a
anticorpos anti-BthTX-I. Anticorpos monoclonais específicos para BthTX-I de B. jararacussu
(clone 1 e 3) e de reatividade cruzada com veneno de B. jararaca (clone 11). Najussu, anticorpos
policlonais frente ao veneno total de B. jararacussu .
34
O Western Blot, nessa abordagem metodológica, é uma técnica qualitativa e,
portanto, não é possível afirmar que uma banda foi mais reconhecida do que a outra
entre diferentes picos. Essa comparação não pode ser feita por motivos inerentes a
sequência metodológica. Por exemplo, no sentido de concentrar picos menores, a
quantidade de proteína de cada lane não é padronizada e além disso a transferência das
proteínas dos géis para a membrana não ocorre de maneira homogênea para proteínas de
diferentes massas moleculares. Portanto, poucas afirmativas nesse sentido podem ser
feitas e a técnica complementa de forma qualitativa a antivenômica. O que se conclui é
que todas as proteínas majoritárias de ambos os venenos são reconhecidas e de maneira
geral os venenos são reconhecidos pelo soro antibotróbico.
Na região sul, o pico diferencial BjS 15 foi fortemente reconhecido. As demais
proteínas majoritárias, dos picos 27 BjS e 28 BjS também foram reconhecidas, embora
as bandas do pico 28 BjS (identificadas anteriormente no gel não reduzido, com 23 e 26
kDa, como SVSP) pareçam ser reconhecidas com menor intensidade. Por outro lado, as
bandas dos picos 36 ao 39 BjS que estão na mesma altura dessas majoritárias do pico 28
BjS apresentaram forte reconhecimento em relação não só às proteínas majoritárias,
como também a proteínas mais abundantes dentro dos próprios picos. Alguns picos
parecem ter sido menos reconhecidos, como é o caso dos picos 12, 14, 18, 25+26 e 33
BjS. Na região sudeste, como mencionado, todas as proteínas majoritárias foram
reconhecidas. Nos picos 35, 38 e 39 BjSE proteínas não majoritárias obtiveram forte
reconhecimento. O pico 18 BjSE não obteve nenhum reconhecimento aparente.
Na antivenômica, após o veneno passar pela coluna a região final do
cromatograma, que corresponde às proteínas de maior peso molecular e/ou mais
hidrofóbicas, pode perder-se. Isso ocorre por diversos motivos, dentre os quais estão a
degradação do veneno que ocorre em B. jararaca (Sousa et al., 2001) e a ligação
inespecífica desses elementos à matriz Sepharose (Pla et al., 2012). Essas ligações
inespecíficas que são inerentes à metodologia ocorrem em baixa porcentagem e foram
monitoradas através dos controles de coluna de matriz e IgGs séricas de equinos não
imunizados. De todas as formas, apesar dos picos da região final não serem bem
observados na antivênomica do sul (Figura 11, A), o blot confirma que essa região é
bem reconhecida.
35
Não retido
Eluído
Veneno Total
A
Não retido
Eluído
Veneno Total
B
Figura 11: Antivenômica do soro antibotrópico pentavalente (SAB) do IVB frente aos venenos de
B. jararaca do sul (A) e sudeste (B).
36
4.5.1 – Degradação na Antivenômica
Como mencionado, o veneno de B. jararaca, sobretudo o do sudeste, sofre um
alto grau de degradação e autoproteólise quando incubado a pH 8.5 (Sousa et al., 2001).
Nos ensaios de antivenômica também foi observada essa degradação, motivo pelo qual
não foi possível realizar as quantificações permitidas pela segunda geração da
antivenômica. Em detrimento da degradação, os picos perdem resolução e outros “picos
fantasmas” aparecem. Vários testes foram realizados a fim de se reduzir esse fenômeno
e compreendê-lo melhor, como por exemplo, o uso de inibidores das principais
proteases do veneno (SVMP e SVSP). Contudo, a presença dos inibidores gerou ruídos
intensos nos cromatogramas, sendo incompatível com o uso da técnica. Para
exemplificar que a degradação de fato ocorre por uma característica intrínseca do
veneno, e não em decorrência da metodologia, o veneno de B. jararaca do sudeste foi
ressupendido no tampão da antivenômica (PBS, pH 7.4) e a partir dessa mesma alíquota,
200 µg de veneno foram separados em um microtubo, enquanto o estoque foi
imediatamente congelado. Os 200 µg ficaram em agitação rotatória em microtubo (sem
passar por colunas) durante 2 horas à temperatura ambiente, simulando os ensaios de
16
36
50
64
1513 1714 16 18 19 20 2110 225 6 11
16
36
50
64
23 24 25 2826 3127 30 32 33 34 35 36 37
36.5
55.4
21.5
66.3
31
38 39
6
16
22
36
50
64
98148
1412 1613 15 17 18 20 216 225 23 24
6
16
22
36
50
6498148
25+26 3028 3229 31 33 34 35 3627 37 38 39
A
B
Figura 12: Western Blot dos venenos de B. jararaca do sul (A) e do sudeste (B) frente ao soro
antibotrópico pentavalente (SAB) do IVB. Setas pretas, bandas majoritárias reconhecidas. Setas
vermelhas, picos com reconhecimento menos evidenciados. Astericos, bandas não majoritárias com forte
reconhecimento.
* * * *
* * *
37
antivenômica. Após o período de incubação, uma amostra de 200 µg foi extraída do
veneno congelado, e juntamente com a incubada foram submetidas à fase reversa como
descrito para antivenômica (figura 13).
Figura 13: Autodegradação do veneno de B. jararaca do sudeste. Sobreposição dos cromatogramas:
em vermelho, o perfil cromatográfico do veneno (congelado); em azul, o perfil cromatográfico do veneno autodegradado (incubado).
5 - DISCUSSÃO
5.1 – Perfis dos venenos das populações (pools)
Neste trabalho, caracterizamos parcialmente os venenos de B. jararaca de
espécies provenientes de duas regiões distintas do Brasil. Desta forma pudemos
observar uma grande divergência entre os proteomas dos venenos das populações de
serpentes B. jararaca do sul e do sudeste, evidenciada pelos cromatogramas que
apresentam perfis bem distintos e confirmada pela comparação da mobilidade
eletroforética das frações. As diferenças observadas são significativas e mais
importantes que diferenças elucidadas na variabilidade em venenos de Bothrops
jararaca já descritas na literatura (Menezes et al., 2006; Dias et al., 2013). No entanto,
esse achado vem ao encontro do trabalho de Grazziotin e colaboradores (2006), que
através do estudo do DNAmt de uma vasta amostragem de indivíduos provenientes de
ambas regiões demonstrou com alto suporte estatístico uma notável variabilidade
genética na espécie, que a divide em clados que coincidem com sua distribuição
geográfica. Em outro estudo de Dias e colaboradores (2013), no qual foram avaliadas as
38
diferenças individuais entre representantes juvenis de B. jararaca, foi feita uma análise
multivariada na qual a origem geográfica foi omitida da análise a fim de clusterizar os
indivíduos de acordo com os ensaios de atividades enzimáticas e concentração de
proteína. Ainda que os resultados não tenham sido muito conclusivos (amostra pequena,
indivíduos provenientes da mesma ninhada etc) os representantes provenientes do
estado de Santa Catarina (SC) formaram um clado próprio e os autores evidenciaram a
necessidade de estudos com maior amostragem de venenos das diferentes populações no
sentido de confirmar se as diferenças populacionais existem. Esta é a primeira vez que
um estudo proteômico do veneno de B. jararaca é feito com um pool representativo dos
extremos da distribuição geográfica da espécie e os resultados do perfil de cada um
apontam a existência de duas populações bem distintas no território da Floresta
Atlântica, fato que até então era desconhecido e que ganhou evidência pela primeira
contribuição dada a partir do trabalho de Grazziotin e col.
O gênero Bothrops é o gênero de maior sucesso evolutivo na América do Sul,
tendo colonizado e se espalhado por todo o continente de maneira ampla e eficiente. Tal
sucesso se deve a bem sucedida adaptação aos diferentes tipos de habitats e presas do
vasto território em que o gênero se distribui. (Martins et al., 2001). Nesse contexto, a
espécie B. jararaca é um exemplo central, já que pode ser encontrada em diversos
habitats, adaptando-se aos mais distintos ambientes e condições (Sazima, 1992). O
veneno de jararaca já é conhecido por sua diversidade de toxinas. Os perfis
cromatográficos dos venenos provenientes das duas regiões mostram que de fato a
complexidade dos mesmos é notável, o que pode ser observado pela diversidade de
proteínas encontradas em cada pico cromatográfico. É bem provável que a variedade no
arsenal de toxinas que a espécie possui, a tenha ajudado a colonizar um território tão
amplo. Além da diversidade de toxinas presente em cada pool de veneno, a variedade
“extra” que aparece na existência de uma segunda população bem distinta aumenta
ainda mais o espectro de possibilidades do veneno e reforça esse quadro da ampla
distribuição geográfica. A alta conservação dos venenos individuais da região sul e a
presença de um pico marcadamente diferencial e conservado nessa população (pico 15
BjS) sugere uma pressão evolutiva em relação a essa “nova variante” que permitiu a
irradiação da espécie para a região sul.
A mudança ontogenética que ocorre em B. jararaca é bastante evidente e
acompanha a mudança da dieta da espécie, que muda a dieta preferencial baseada em
presas ectotérmicas para presas endotérmicas (Sazima, 1992). Ela é caracterizada pela
39
mudança de um veneno rico em metaloproteinases do tipo P-III com alta atividade
coagulante nos invíduos neonatos para um veneno rico em metaproteinases do tipo P-I e
mais hemorrágico nos adultos (Zelanis et al., 2010; Antunes et al., 2010). A atividade
hemorrágica do veneno de jararaca está vinculada a presença de metaloproteinases do
tipo P-III. Esse fato contraditório que ocorre com a espécie, no qual o veneno dos
neonatos seria mais rico em P-III e menos hemorrágico é explicado por Antunes e
colaboradores (2010) pela falta da presença da jararhagina ou bothropasina, SVMP-PIII
de atividades hemorrágicas. As SVMP-III do veneno dos neonatos são mais pró-
coagulantes, o que fica demonstrado nesse mesmo trabalho ao se inibir essa atividade
com EDTA e EGTA, inibidores de metaloproteinases. Essa postulação da mudança no
perfil das metaloproteinases foi feita comparando-se a região das P-III e P-I em géis
bidimensionais de ambas faixas etárias. No entanto, por essa abordagem é difícil
quantificar de maneira minuciosa os valores absolutos de cada família de toxinas em
cada veneno. Pela metodologia de quantificação apresentada neste trabalho é possível
estimar de maneira mais real a quantidade relativa das toxinas. Assim foi possível
mostrar que a proteína majoritária do veneno de B. jararaca do sudeste, veneno que
corresponde ao padrão conhecido para espécie e com o qual a maioria dos estudos foi
realizada, é uma SVMP-P-III. Deste modo, os resultados aqui descritos mostram que
apesar de o veneno de adulto comparativamente ao veneno de neonato contenha mais P-
I, a proporção dentro do veneno de adulto de forma absoluta continue sendo de maioria
do tipo P-III. Para tal esclarecimento ainda é necessário identificar todo o proteoma
seguido das respectivas quantificações. Num primeiro momento caracterizamos
somente as proteínas mais importantes dos cromatogramas, num futuro próximo
pretendemos realizar toda a caracterização proteômica e especialmente comparar com
resultados de transcriptômica obtidos no laboratório. Este passo será importante para o
estudo de novas moléculas expressas nos venenos dos indivíduos da região sul.
5.2 – Perfis cromatográficos dos venenos individuais
Para validar a representatividade dos pools que constituem cada população do
estudo foram avaliados os cromatogramas individuais de representantes de cada região.
Variações intraespecíficas em venenos de serpente são bem descritas na literatura e
estão associadas à dieta, sexo, idade e distribuição geográfica das espécies. O veneno de
40
Bothrops jararaca possui uma alta variabilidade individual, o que tem sido vastamente
demonstrado em diversos estudos (Menezes et al., 2006; Pimenta et al., 2007; Dias et
al., 2013). Além das diferenças ontogenéticas, que dizem respeito à idade e que estão
presentes em muitas espécies de serpentes, a espécie Bothrops jararaca apresenta grande
variabilidade individual que pode estar relacionada às variantes já citadas, mas que de
acordo com um estudo recente parecem ser independentes de fatores ambientais,
sugerindo uma herança genética que se faz presente desde os primeiros estágios de vida
dos animais (Dias et al., 2013). Isso foi demonstrado por diferenças encontradas no
perfil proteômico e em vários ensaios de atividades biológicas de indivíduos de mesma
faixa de idade, nascidos ou não de uma mesma ninhada e mantidos sob às mesmas
condições controladas de laboratório (Dias et al., 2013). Portanto, ao avaliar os
cromatogramas individuais dos espécimes do presente estudo, era esperado encontrar
pequenas variações, que são características da espécie. Os cromatogramas apresentaram
um perfil que constitui um padrão que se reproduz em todos os indivíduos da mesma
população e que se reflete no padrão do pool correspondente. Os representantes da
região sul apresentam um maior grau de conservação, enquanto os do sudeste
apresentam maior variabilidade nos seus perfis, ainda que o padrão não seja perdido. De
todas as formas, essa variabilidade provém, sobretudo, de indivíduos machos, o que
condiz com estudos prévios que demonstram uma maior diversidade nos venenos desse
sexo (Menezes et al., 2006). Essa característica corrobora também com o trabalho de
Grazziotin e col. que através das análises estatísticas baseadas nas sequencias do gene
cyt b encontrou 14 haplótipos (com diversidade nucleotídica de ~0,007) na população
do sul e 31 haplótipos na do sudeste (com diversidade nucleotídica de ~0,01),
mostrando que também por esse aspecto a população do sudeste é mais variável do que
a do sul. Desse modo, o pool constituído foi validado como representativo de cada
população.
5.3 – Bothropstoxina-I
A bothropstoxina-I (BthTX-I) é uma Lys49-PLA2 básica isolada primeiramente
no veneno de Bothrops jararacussu. As Lys49-PLA2 são miotoxinas amplamente
conservadas e distribuídas nos venenos de serpente. A substituição do Asp49 por uma
Lys49 no sítio catalítico, entre outras mutações, interfere na ligação ao Ca2+
promovendo a perda da atividade catalítica fosfolipásica clássica da toxina. A alta
41
atividade miotóxica se dá por um mecanismo independente de Ca2+
de dano a
membranas fosfolipídicas que possui uma estreita influência estrutural do loop C-
terminal e da conformação homodimérica flexível que a PLA2 possui. (Fernandes et al.,
2010; Ruller et al., 2005) No veneno de B. jararacussu a BthTX-I constitui cerca de
15% do veneno total (Homsi-Brandeburgo et al., 1988), o que se reflete na
sintomatologia marcada por extensa mionecrose e edematogenicidade decorrente do
envenenamento por essa espécie . Curiosamente essa abundância relativa é similar à
encontrada no pool de veneno de B. jararaca da região sul (~13,8%) como descrito
nesse trabalho. É a primeira vez que a uma Lys49-PLA2 é descrita no veneno de B.
jararaca. Em um trabalho no qual foi realizada cromatografia de troca catiônica a fim
de purificar miotoxinas básicas de oito venenos do gênero Bothrops, nenhuma molécula
com esse perfil foi encontrada no veneno de B. jararaca (Andrião-Escarso et al., 2000).
Enquanto o veneno de B. jararacussu é miotóxico e hemorrágico, o veneno de B.
jararaca conhecido até hoje é fundamentalmente hemorrágico, no qual a mionecrose
ocorre prevalentemente de maneira secundária a partir de eventos hemorrágicos
intramusculares derivados da ação de metaloproteinases (Teixeira et al., 2005). De que
maneira a vítima envenenada por B. jararaca na região sul evolui sintomaticamente
permanece carente de informações. Muitas vezes o diagnóstico preciso da espécie que
causou o envenenamento é difícil e o tratamento de escolha é baseado na sintomatologia
do paciente que classifica o acidente de maneira geral como botrópico, crotálico,
laquético e elapídico (FUNASA-MS, 2001). Nesse contexto, o envenenamento por B.
jararaca e B. jararacussu na região sul não devem ser bem diferenciados e
possivelmente até confundidos.
A distribuição geográfica de B. jararacussu coincide em sua maioria com a de B.
jararaca. Ainda que especificamente no estado do Rio Grande do Sul a espécie esteja
ameaçada de extinção (Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção, 2008)
a jararaca e a jararacuçu são simpátricas nesse e em outros estados. As Lys49-PLA2 de
venenos de espécies do gênero Bothrops possuem alta homologia ainda que não sejam
totalmente idênticas. Através do acesso aos dados de dois transcriptomas, um de
jararaca do sudeste e outro do sul, adquirido pelo nosso grupo (dados em análise para
publicação) foi possível extrair a sequencia da “Bothropstoxina” da jararaca do sul. De
fato a sequencia do transcriptoma é 100% idêntica à sequencia já descrita da BthTX-I,
incluindo a região do peptídeo sinal, reafirmando os demais dados obtidos para
identificação dessa toxina. No alinhamento de algumas sequências maduras mais
42
próximas à BthTX-I (figura 13) é possível observar a alta homologia entre elas. O que
chama atenção é o fato das espécies B. jararaca e B. jararacussu pertencerem a grupos
filogenéticos distintos e ainda sim apresentarem identidade de 100% na toxina,
enquanto há variabilidade na sequencia da BthTX-I em relação a toxinas homólogas de
espécies filogeneticamente mais próximas da B. jararacussu como é o caso da B. brazili.
Da mesma maneira, as Lys49-PLA2 de B. n. pauloensis (BnSP-6 e BnSP-7) são as mais
homólogas depois da BjS, apresentando apenas uma substituição de aminoácido ao
contrário das sequências mais divergentes de B. asper, B. moojeni e B. atrox que
pertencem ao clado da B. jararacussu (Fenwick et al., 2009).
No trabalho mais completo sobre a biologia e ecologia de B. jararaca, Sazima
(1992), com base na literatura relata casos possíveis de ocorrência natural de indivíduos
híbridos entre B. jararaca e as espécies B. cotiara, B. neuwiedi e B. jararacussu, sendo
que a hibridação com B. jararacussu seria a mais provável de acontecer na natureza.
Essas observações foram feitas com base em características morfológicas, de padrão
eletroforético de proteínas plasmáticas e organização nucleolar. O autor também
menciona que um possível híbrido foi capaz de se reproduzir. Antigamente a hibridação
e a introgressão gênica eram vistas como eventos raros no meio animal que quando
ocorridos geravam descendentes inférteis. Contudo se tem demonstrado que o fluxo
gênico, a introgressão e a hibridação são uma realidade e participam ativamente da
história evolutiva das espécies. A hibridação pode gerar descendentes férteis, que por
sua vez podem se reproduzir com uma das espécies parentais ou com outros híbridos,
proporcionando o surgimento de diferentes populações e até mesmo de novas espécies
(especiação) (Trigo, 2008; Harrison & Larson, 2014). Todos esses processos dependem
de fatores como: mudanças ambientais, forças de seleção, arquitetura genética entre as
espécies (que pode funcionar como barreira ou ser semipermeável ao fluxo gênico)
entre outros. Existem diversas teorias que tentam explicar o surgimento de zonas
híbridas e seus diferentes tipos. Do ponto de vista da teoria da hibridação in situ, esta
ocorreria entre espécies simpátricas e as consequências evolutivas estariam sob
influência de padrões de seleção variáveis ao longo de gradientes ambientais. Indivíduos
híbridos poderiam ser mais adaptados e favorecidos em diferentes gradientes ambientais,
propiciando a dispersão da população híbrida em direção a outros habitats. Por outro
lado, a hibridação pode ocorrer por um contato secundário de espécies previamente
isoladas cuja barreira genética não foi totalmente rompida. (Barton, 2001 ; Durett et al.,
2000)
43
No trabalho de Grazziotin e colaboradores foi demonstrada a existência de dois
filogrupos geneticamente distintos de B. jararaca no Brasil. Os autores estimaram a
fragmentação das duas populações por volta de 3,8 milhões de anos, no período do
Plioceno. Esse período foi marcado por intensas mudanças climáticas e da
fisiogeografia da Floresta Atlântica, gerando sua fragmentação e favorecimento do
surgimento de vários grupos taxonômicos. Com base nesse resultado e em outros que
estimam baixa taxa migratória e baixo fluxo gênico, eles sugeriram que a fragmentação
das populações ocorreu durante esse período por isolamento geográfico da espécie
ancestral previamente bem distribuída ao longo do território. Os autores também
citaram o trabalho de Hoge e coloboradores (1977) que descreve uma variação
morfológica na distribuição das escamas ventrais da espécie B. jararaca que acompanha
a distribuição geográfica das populações, com presença de uma média de 188 escamas
ventrais nos indivíduos analisados dos estados de SC e PR e 203 escamas ventrais nos
indivíduos do RJ, ES e MG. O trabalho descreve esse padrão morfológico como
intermediário nos espécimes do estado de SP. Grazziotin sugere, então, que deve existir
uma zona híbrida entre as duas populações em SP. Por fim ele conclui que a teoria da
orogênese no Plioceno e outras teorias da formação da biodiversidade na Floresta
Atlântica não eram suficientes para explicar os resultados filogenéticos encontrados, e
que estudos mais profundos deveriam ser realizados com marcadores moleculares de
herança biparental para melhor compreensão a até mesmo revisão da taxonomia do
grupo.
44
Figura 14: Alinhamento múltiplo de Lys49-PLA2 do gênero Bothrops. De acordo com a sequência do transcriptoma (em análise), a única PLA2 idêntica a BthTX-I é a
de B. jararaca do sul. Vermelho, aminoácidos conservados; azul, aminoácidos não conservados; cinza, gap. Destaques para os aminoácidos divergentes em relação à
sequência da BthTX-I. Alinhamento utilizando Constraint-based Multiple Alignment Tool (COBALT) da plataforma BLAST.
|Q90249|B.jararacussu_BthTX-I
BjS_transcriptoma
|1PA0:A|PDBID|B.n.pauloensis|BnSP-7
|1PC9:A|PDBID|B.n. pauloensis|BnSP-6
|P58399|B.pirajai_PrTx-I
|P82287|B.pirajai_PrTX-II
|P86975|B.leucurus
|P24605|B.asper
|I6L8L6|B.brazili_MTX-II
|Q9I834|B.moojeni
|Q6JK69|B.atrox
|Q90249|B.jararacussu_BthTX-I
BjS_transcriptoma
|1PA0:A|PDBID|B.n.pauloensis|BnSP-7
|1PC9:A|PDBID|B.n. pauloensis|BnSP-6
|P58399|B.pirajai_PrTx-I
|P82287|B.pirajai_PrTX-II
|P86975|B.leucurus
|P24605|B.asper
|I6L8L6|B.brazili_MTX-II
|Q9I834|B.moojeni
|Q6JK69|B.atrox
45
A introgressão eventualmente produz indivíduos estáveis e independentes
sexualmente. Contudo, a diversificação de uma população originária de uma hibridação
não ocorre de maneira imediata, e um isolamento geográfico deve ocorrer em um tempo
suficiente que permita a estabilização da independência dessa nova população até que
ela possa coexistir com a parental. Ainda que os primeiros híbridos registrados na
literatura foram assim identificados pela morfologia intermediária entre as espécies
parentais, nem todo indivíduo híbrido possui morfologia intermediária e nem todo
aquele de morfologia intermediária é um híbrido (Dowling & Secor, 1997). Dado que a
introgressão gênica pode ocorrer de maneira assimétrica, uma geração híbrida pode ser
mais semelhante a uma espécie parental do que a outra. Além disso, de acordo com a
regra de Haldane, os descendentes híbridos heterogaméticos (no caso das serpentes, os
machos) por diversas características genéticas intrínsecas da heterogamia são mais
inviáveis ou estéreis (Wu et al., 1996). Portanto, a tendência reprodutiva é que ocorram
retrocruzamentos de indivíduos híbridos fêmeas com machos da espécie parental. De
fato, Sazima (1992) cita o cruzamento de uma suposta híbrida fêmea de B. neuwiedi e B.
jararaca com um macho de B. jararaca gerando 21 filhotes híbridos. Da mesma forma,
Balestrin e colaboradores (2002) relatam esse mesmo tipo de cruzamento de ocorrência
não natural (em cativeiro, no Núcleo Regional de Ofiologia de Porto Alegre -NOPA).
Recentemento foi realizado um trabalho extenso da filogenia do grupo neuwiedi,
baseado nas análises das sequencias mitocondriais do cyt b e ND4, no qual foi sugerido
que a divergência entre os clados ocorreu também nos períodos do Plioceno e
Pleistoceno (Machado et al., 2014). Os resultados sugeriram hibridação introgressiva
entre B. erythromelas e B. lutzi em decorrência da dinâmica de expansão e contração
dos biomas da Caatinga e do Cerrado durante o Pleistoceno. Também foi evidenciada
uma hibridação introgressiva entre as espécies simpátricas B. marmoratus e B.
pauloensis como um possível resultado de um contato secundário, justificado também
pela zona de transição de vegetação do Cerrado que ocorre na área central do Brasil,
onde a introgressão ocorre (Machado et al., 2014). Esses exemplos mostram que o fluxo
gênico pode ter contribuído mais do que se imaginava para a diversificação e interação
entre as espécies.
A presença de uma proteína altamente homóloga da BthTX-I na população de B.
jararaca do sul, demonstrada por esse trabalho, levanta a hipótese de que essa
população provém de uma hibridação entre B. jararaca e B. jararacussu, e
possivelmente, essa introgressão ocorreu no sentido da espécie B. jararaca, ou pelo
46
menos esse perfil foi mais favorecido. Estudos futuros utilizando ferramentas de
biologia molecular devem ser realizados a fim de se investigar melhor a história
evolutiva da espécie e sua intrigante variabilidade populacional. Diante dessa hipótese
ficam as seguintes possibilidades: i) a presença do gene codificante para BthTX-I na
população de B. jararaca da região sul é produto de uma introgressão gênica
proveniente de uma hibridação entre as espécies B. jararaca e B. jararacussu e isso
favoreceu a expansão e divisão populacional da espécie B. jararaca em direção ao sul
do país ; ii) a fragmentação ocorreu de acordo com a teoria sugerida por Grazziotin e as
populações derivam de um ancestral previamente distribuído, e que por alguma razão
esse gene deixou de ser expresso no sudeste e/ou foi selecionado no sul; iii) ou se ,ainda,
ambos os fatores contribuíram para o surgimento das duas populações.
Uma questão importante e que merece destaque é que a alimentação é um fator
relacionado à composição do veneno (Wasko & Sasa, 2012; Richards et al., 2012).
Além do fato bem conhecido da mudança ontogenética que ocorre nos venenos de
algumas serpentes, que acompanha a mudança na alimentação da espécie (no gênero
Bothrops, geralmente de presas ectotérmicas na juventude para presas endotérmicas na
fase adulta) (Martins et al., 2002), a evolução adaptativa do veneno em relação a presa é
uma evidência largamente discutida na literatura (Barlow et al., 2009). Um exemplo
claro é o caso da divergência dos proteomas dos venenos de Sistrurus taxonomicamente
próximas que se diferenciam em suas dietas. Notavelmente, a família de toxinas de
maior divergência entre elas foram as PLA2. (Sanz et al., 2006). Posteriormente, foi
sugerido pelos autores que os genes codificantes das PLA2 são resultado de uma
evolução rápida por seleção positiva nessas Sistrurus de diferentes hábitos alimentares,
evidenciando a divergência adaptativa dos venenos (Gibbs & Rossiter, 2008).
No estudo da distribuição geográfica do veneno de B. atrox ao longo do terrtório
amazônico foi demonstrado que classes de toxinas como as SVMP-III e CRISPs se
conservam entre as populações, enquanto as PLA2 apresentam alta variabilidade
intraespecífica de acordo com a localização geográfica (Calvete et al., 2011). No caso
do gênero Crotalus no Brasil, foi descrito um aumento da expressão de crotamina, uma
PLA2 miotóxica, que acompanha a dispersão de C. durrissus spp. em direção ao sul do
continente americano. De maneira interessante, a C. d. cascavella que se distribui mais
ao norte, no bioma mais seco da Caatinga, se alimenta de pássaros, lagartos e pequenos
mamíferos e ao invés de expressar crotamina, expressa maior quantidade de crotoxina e
D49-PLA2. As subespécies C. d. terrificus e C. d. collineatus, distribuídas do centro ao
47
sul do Brasil, possuem uma alimentação supostamente exclusiva de roedores quando
nascem e expressam mais crotamina, indicando uma especialização dessas moléculas
como adaptação a diferentes habitats. (Boldrini-França et al., 2010). Nesse e em outros
casos descritos na literatura, a família das PLA2 parece estar diretamente envolvida na
adaptação e evolução dos venenos.
No caso da jararaca, durante o período das mudanças climáticas que ocorreram
no Plioceno ocorreram modificações nas condições de humidade, vegetação e clima,
fragmentando a Floresta Atlântica. Essa fragmentação provavelmente influenciou na
disponibilidade e tipo de presas em uma região comparada à outra. De fato, Machado e
colaboradores (2014) citam diversos exemplos de grupos animais que correspondem ao
repertório de opções para alimentação da maioria das serpentes do gênero Bothrops que
se diversificaram concomitantemente no período do Plioceno-Pleistoceno.
Independentemente a qual teoria se deve a divergência entre as populações de B.
jararaca, a diferença na disponibilidade de alimentação em cada região deve ter sido
crucial na adaptação do veneno.
5.4 – Antivenômica
A antivenômica foi uma metodologia desenvolvida e que vem sendo
aperfeiçoada para estudar a imunoreatividade entre venenos e antivenenos. Essa
necessidade cresceu como consequência das limitações de metodologias pré-existentes
para esse tipo de análise como o Western Blot e protocolos de ELISA, que entre várias
limitações técnicas, pode-se destacar seus resultados do tipo “tudo-ou-nada” (Pla et al.,
2012). A primeira geração da antivenômica consistia basicamente em um protocolo de
imunodepleção no qual o veneno e o antiveneno (no caso, IgGs purificadas) eram
incubados em solução. Posteriormente eram adicionados anticorpos secundários ou
alguma molécula com afinidade de ligação às IgGs. A imunoprecipitação dos
complexos Ag-Ac depletava do sobrenadante as toxinas reconhecidas pelas IgGs,
enquanto as toxinas que permaneciam em solução correspondiam àquelas não
reconhecidas eficientemente pelo antiveneno. A identificação das toxinas reconhecidas
ou não era feita pela comparação entre o cromatograma de fase reversa da fração
imunoprecipitada e do veneno total já caracterizado pela venômica. Os resultados eram
então qualitativos e a técnica não era aplicável a todos os tipos de antivenenos
comerciais. Na segunda geração da antivenômica, baseada em coluna de
48
imunoafinidade, resultados qualitativos com maior resolução puderam ser gerados além
de, pela primeira vez, poder-se estimar valores quantitativos para a imunodepleção das
toxinas já identificadas previamente pela venômica. Comparações entre a primeira e a
segunda geração da antivênomica demonstraram diversas vantagens para a última (Pla
et al., 2012 ; Gutiérrez et al., 2014).
Entretanto, no presente estudo a vantagem de se poder quantificar a porcentagem
reconhecida e não reconhecida de um pico não pôde ser aplicada por uma característica
inerente ao veneno de Bothrops jararaca que é sua elevada autodegradação. Já foi
demonstrado na literatura que o veneno de jararaca, quando mantido em pH básico,
sofre maior autoproteólise e variações em diversas atividades biológicas em comparação
a sua manutenção em pH ácido. Esses efeitos são significativamente abolidos quando é
utilizado um conjunto de inibidores de proteases (Sousa et al., 2001). O pH do veneno
fresco ao sair da glândula é ácido, o que caracteriza um dos motivos pelos quais o
veneno não se ativa dentro da própria glândula. Ao encontrar o pH fisiológico da presa
ou vítima muitas toxinas se ativam e exercem sua atividade biológica (Mackessy &
Baxter, 2006). A incubação entre o veneno e a coluna no ensaio de antivenômica ocorre
em pH 7.4. Essa faixa de pH equivale às condições fisiológicas necessárias para que
ocorram os possíveis reconhecimentos entre antígeno e anticorpo, sendo por sua vez,
uma característica inerente à metodologia. Por esses motivos durante os ensaios de
antivênomica foi observado um alto grau de degradação dos venenos, sobretudo da
região sudeste. Essa degradação foi acompanhada por uma diminuição na resolução dos
picos resultantes da incubação com a coluna (figura 11). Vários testes foram feitos e
corroborando com os estudos prévios constatou-se que de fato a degradação ocorre ao
manter o veneno em pH 7.4 por poucas horas, mesmo sem o veneno passar por alguma
coluna (figura 13).
A degradação observada nos ensaios controle foi alta, inclusive com presença de
“picos fantasmas” resultantes da degradação majoritária de SVMPs. O fato da
degradação ocorrer principalmente nas SVMPs está de acordo com o estudo de Sousa e
colaboradores (2001), que demonstrou uma diminuição progressiva nas bandas entre
45-66 kDa ao longo da incubação do veneno em pH 8.5. De fato, os “picos fantasmas”
foram identificados com m/z equivalentes a peptídeos da jararhagina, uma SVMP do
tipo III que corresponde à toxina mais abundante do veneno do sudeste como
demonstrado nesse estudo (banda 46 kDa, pico 36 BjSE) e em estudos prévios (Paine et
al., 1992 ; Moura-da-Silva & Baldo, 2012). É provável que esses picos correspondam à
49
jararhagina-C, uma molécula de 28 kDa que consiste nos domínios disintegrin-like e
cysteine-rich da jararhagina. (Usami et al., 1994). O maior grau de degradação
observada nos controles se deve ao fato das proteases do veneno não estarem sendo
imunocapturadas e, portanto, estarem livres em solução para clivarem possíveis alvos.
Apesar de todos esses fatores, os resultados da antivenômica puderam responder
à principal pergunta que levou a esses ensaios: o soro comercial antibotrópico é eficaz
em reconhecer o veneno das duas populações? O reconhecimento do antiveneno frente
às duas populações foi similar e demonstrou-se eficaz em ambas. Era esperado que as
primeiras frações do veneno não fossem bem reconhecidas, já que se sabe que as
frações peptídicas dos venenos possuem baixa imunogenicidade e por isso não são bem
depletadas pelos antivenenos (Lomonte et al., 2008; Pla et al., 2013). No entanto, do
ponto de vista fisiopatológico do envenenamento, o escape no reconhecimento desses
tipos de frações não se manifestaram como relevantes em um estudo com o gênero
Lachesis (Pla et al., 2013).
Os ensaios de Western Blot foram realizados, então, a fim de complementar os
dados fornecidos pela antivenômica, já que a degradação dos venenos impossibilitou
uma visualização de cada pico separadamente. Para esse tipo de abordagem o blotting é
fundamentalmente não quantitativo (Gutiérrez et al., 2014) e portanto integra valor
qualitativo à antivenômica. As duas técnicas juntas constatam a capacidade do soro
antibotrópico em reconhecer os dois pools de veneno, de maneira abrangente,
interagindo pelo menos com as proteínas majoritárias de cada um (ver resultados, figura
11). Como já foi citado anteriormente, a região final do cromatograma (proteínas de
maior peso molecular e/ou mais hidrofóbicas) pode perder-se devido a ligações
inespecíficas desses elementos à matriz Sepharose (Pla et al., 2012). Nesse contexto, o
western blot confirma que esses picos são reconhecidos, apesar de na região sul se
“perderem” e na região sudeste diminuírem em quantidade no perfil cromatográfico.
Perdas na quantidade total de veneno final em relação à inicial (veneno total) são
previstas pela técnica, por motivos de manipulação da amostra. Quando uma
quantificação é feita numa segunda geração da antivenômica, a porcentagem de uma
fração retida (R) ou não retida (NR) é calculada por sua razão com a soma da área do
mesmo pico em questão nas duas frações provenientes da coluna (R/[R+NR] ou
NR/[R+NR]). Ou seja, a área total de um pico não é considerada como a área do pico
que aparece no cromatograma do veneno total, e sim da soma das áreas do mesmo que
aparecem nas frações não retida e eluída da coluna, compensando assim as possíveis
50
perdas que em teoria acontecem de forma proporcional em ambas as frações (Pla et al.,
2012). O cromatograma do veneno total é exposto apenas para comparação dos
resultados.
O protocolo do pool de imunização dos equinos para produção do soro
antibotrópico no Brasil utiliza as seguintes espécies e suas respectivas proporções:
Bothrops jararaca (50%), Bothrops jararacussu (12,5%), Bothrops neuwiedi (12,5%),
Bothrops alternatus (12,5%) e Bothrops moojeni (12,5%) (Raw et al., 1991). É muito
provável que o fato dessa mistura de venenos ser utilizada no protocolo de imunização
contribua para ampliar o espectro de abrangência do antiveneno. Nesse caso, a presença
da espécie B. jararacussu no pool de imunização parece ser crucial para que ocorra o
reconhecimento do veneno de B. jararaca da região sul, visto que sua principal
diferença em relação ao sudeste é a presença da BthTX-I.
Tendo em vista que esses ensaios são testes in vitro, futuros ensaios in vivo
devem ser realizados para comprovar a eficácia biológica do soro antibotrópico em
neutralizar o veneno do sul. Vale ressaltar que os pools utilizados para esse estudo
foram constituídos apenas de indivíduos adultos. Estudos prévios mostraram que o soro
antibotrópico não é capaz de reconhecer e neutralizar de forma eficiente os efeitos do
veneno de indivíduos neonatos de B. jararaca, dada a marcada mudança ontogenética
da espécie. Futuros estudos da imunorreatividade de antivenenos comerciais frente a
essa população de neonatos do sul são necessários. Uma possível falta de reatividade
reforçaria a questão já levantada previamente de que é necessário realizar melhorias no
planejamento dos protocolos de imunização, visto que nos protocolos atuais somente
são utilizados venenos de representantes adultos e isso se reflete no fato do soro
antibotrópico ser menos eficaz em neutralizar o veneno de neonatos (Antunes et al.,
2010; Zelanis et al., 2010). Além disso, os envenenamentos, em geral, podem levar a
diversas sequelas e incapacitação das vítimas, o que atesta a necessidade de buscar
sempre melhores protocolos e novas opções de tratamento para as vítimas envenenadas.
51
6 – CONCLUSÃO
Através desse trabalho foi confirmado que existem duas populações distintas de
Bothrops jararaca no Brasil, com diferenças marcantes em seus venenos. Essa é a
primeira vez que um estudo proteômico com pools de veneno dos extremos pontos de
distribuição da espécie é realizado. Apesar dos numerosos estudos com o veneno de B.
jararaca também é a primeira vez que um estudo é feito utilizando-se a abordagem da
venômica. No que diz respeito às proteínas majoritárias, por essa primeira análise pode-
se dizer que o veneno do sudeste, como previamente conhecido, é rico em
metaloproteinases, enquanto o veneno do sul possui uma maior quantidade de PLA2. O
pool de cada população foi confirmado como representativo e apesar das pequenas
diferenças individuais, os venenos parecem ser bastante conservados de acordo com sua
distribuição geográfica.
A presença de uma toxina exclusiva na população do sul abriu discussões acerca
da evolução e irradiação da espécie no território da Floresta Atlântica, o que deverá ser
estudado mais profundamente no futuro para um maior esclarecimento das possíveis
razões e história evolutivas. De todo modo, as diferenças encontradas entre os venenos
não resultaram na perda do reconhecimento das toxinas majoritárias pelo soro
antibotrópico comercial.
Do ponto de vista da bioprospecção, a elucidação de uma nova população de um
veneno tão complexo abre novas oportunidades para moléculas biologicamente ativas
como possíveis agentes terapêuticos. Conhecendo-se o perfil geral das toxinas de ambas
populações torna-se viável a purificação de proteínas de interesse para futuros estudos
de atividades biológicas.
52
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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61
8 - ANEXOS
Lista de indivíduos de B. jararaca da região sul
Número Procedência Sexo
3829 Salvador do Sul – RS F
3738 Veranópolis - RS F
3908 São José do Sul – RS F
3899 São José do Sul – RS F
3929 São José do Sul – RS M
3930 Ivoti – RS F
3935 São José do Sul – RS F
3996 Nova Petrópolis – RS F
3997 Nova Petrópolis – RS F
3998 Nova Petrópolis – RS F
3739 Novo Hambvurgo – RS F
3999 Nova Petrópolis – RS F
4000 Nova Petrópolis – RS F
3878 Dom Pedro de Alcântara - RS F
3963 São José do Sul – RS M
4055 E Dois Irmãos – RS F
3923 São Francisco de Paulo – RS F
4036 D São José do Sul – RS F
4055 B Dois Irmãos – RS M
4087 Sapucaia do Sul – RS M
4001 Nova Petrópolis – RS M
4018 São José do Sul – RS M
62
Lista de indivíduos de B. jararaca da região sudeste
Número Procedência Sexo
3345 Búzios - RJ F
3527 151/06 - ES F
3703 Guapimirim – RJ F
3779 Mendes - RJ F
4177 Nova Friburgo – RJ F
4367 Maricá – RJ F
5084 D. Caxias - RJ F
5268 Caxambu - MG F
5416 Areal - RJ F
5480 Pendotiba (Niterói) - RJ F
5507 Rio de Janeiro - RJ M
5921 Niterói – RJ F
6508 Seropédica – RJ F
6510 Rio de Janeiro - RJ M
6517 Petrópolis - RJ F
6702 Petrópolis - RJ F
6871 Petrópolis - RJ M
6880 Niterói - RJ F
6888 Niterói - RJ M
6942 Niterói - RJ ?
6879 Pendotiba (Niterói) - RJ M
4277 Itaipu (Niterói) - RJ M
A