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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos Ludmilla Batista Louzada PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FILMES BIODEGRADÁVEIS DE AMIDO E FARINHA DE FRUTA-DE-LOBO (Solanum lycocarpum A. St.-Hil) DIAMANTINA 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos

Ludmilla Batista Louzada

PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FILMES BIODEGRADÁVEIS DE AMIDO

E FARINHA DE FRUTA-DE-LOBO (Solanum lycocarpum A. St.-Hil)

DIAMANTINA

2018

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Ludmilla Batista Louzada

PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FILMES BIODEGRADÁVEIS DE AMIDO

E FARINHA DE FRUTA-DE-LOBO (Solanum lycocarpum A. St.-Hil)

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos da

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e

Mucuri, como requisito para obtenção do título de

Mestre.

Orientadora: Profa. Dra. Franciele Maria Pelissari

Diamantina

2018

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Elaborada com dados fornecidos pelo(a) autor(a).

Ludmilla Batista Louzada

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PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FILMES BIODEGRADÁVEIS DE AMIDO

E FARINHA DE FRUTA-DE-LOBO (Solanum lycocarpum A. St.-Hil)

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos daUniversidade Federal dos Vales do Jequitinhonha eMucuri, como requisito parcial para obtenção dotítulo de Mestre.

Orientadora: Profa. Dra. Franciele Maria Pelissari

Data de aprovação 29 / 11 / 2018

Profa. Dra Giselle Pereira Cardoso Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM

Profa. Dra Heloisa TibollaUniversidade Estadual de Campimas - UNICAMP

Prof. Dr João Vinícios Wirbitzki da Silveira Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM

Diamantina

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Dedico este trabalho aos meus pais, Carlos e

Landa, pelos imensuráveis esforços realizados para

a minha formação.

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AGRADECIMENTOS

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Á Deus, por ter me dado sabedoria para a execução deste trabalho, sendo minha fortaleza e se

mostrando presente em todos os detalhes.

Aos meus pais, Carlos e Landa, exemplos de caráter para mim. Obrigada por sempre

incentivarem os meus estudos de maneira incondicional, não medindo esforços para a minha

formação. Obrigada por entenderem minha ausência em diversos momentos e por me

tranquilizarem quando o desespero e cansaço se faziam presentes.

Ao meu irmão Ludsom, pelas orações e companheirismo.

Aos docentes da EAL e do PPGCTA, por transmitirem a Engenharia de Alimentos com tanto

amor, fazendo com que eu também me apaixonasse por esse curso.

Aos técnicos Keyla, Vinícius, Tiago, Teles e Lúcio, pelo auxílio na realização de análises.

As meninas do grupo de pesquisa, em especial a Dani e Fabi, pela amizade, disponibilidade

em ajudar e pelos conhecimentos compartilhados.

A República TPM, pela convivência diária e por serem minha família em Diamantina. Vou

sentir muito a falta de vocês.

As minhas amigas tão queridas, presentes de Diamantina em minha vida, que fizeram essa

caminhada ser mais leve: Bárbara, Tita, Ana Luísa, Míriam, Cássia e Martinha.

A Fran, exemplo de profissional para mim. Agradeço por todos os conhecimentos

transmitidos, por ser uma “mãe científica”, mostrando sempre onde devemos melhorar e

puxando a orelha quando era necessário. Obrigada por toda dedicação para o meu

desenvolvimento profissional.

A UFVJM e CNPq pelo apoio financeiro.

Enfim, a todos que contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho e a realização de mais

um sonho, muito obrigada.

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“Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem se

desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com

você por onde você andar"

Josué 1:9

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

CAPÍTULO 1

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Figura 1.1- Fotografias da fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum St.-Hil): (A) planta, (B) flor,

(C) parte externa da fruta, e (D) parte interna da fruta.............................................................28

Figura 1.2 - Estrutura química da amilose (A) e da amilopectina (B)......................................30

Figura 1.3 - Micrografias dos grânulos de amido de diferentes fontes: (A) mandioca, (B)

fruta-de-lobo, (C) batata-doce, e (D) banana............................................................................32

Figura 1.4 - Classificação dos polímeros biodegradáveis.........................................................35

CAPÍTULO 2

Figura 2.1 - Fluxograma para obtenção da farinha de fruta-de-lobo.......................................51

Figura 2.2 - Fluxograma para obtenção do amido de fruta-de-lobo........................................53

Figura 2.3 - Aspecto visual da farinha (A), do amido (B) de fruta-de-lobo e da fruta-de-lobo

(C).............................................................................................................................................61

Figura 2.4 - Micrografias eletrônicas de varredura da farinha (A) e do amido (B) de fruta-de-

lobo (2000x, barra de escala = 20 µm).....................................................................................62

Figura 2.5 – Espectros de FTIR da farinha e do amido de fruta-de-lobo................................63

Figura 2.6 - Efeito da temperatura sobre o poder de intumescimento......................................65

Figura 2.7 - Microscopia óptica da farinha (A) e do amido (B) de fruta-de-lobo em diferentes

temperaturas de gelatinização: 1) 55ºC, 2) 65ºC, 3) 75ºC, 4) 85ºC em aumentos de 40x........68

CAPÍTULO 3

Figura 3.1 - Fluxograma da elaboração dos filmes de farinha de fruta-de-lobo.......................77

Figura 3.2 - Dimensões das amostras de filmes utilizados para as análises de propriedades

mecânicas (A) e o equipamento utilizado (B)...........................................................................79

Figura 3.3 - Filme biodegradável da farinha de fruta-de-lobo..................................................84

Figura 3.4 - Tensão dos filmes de farinha da fruta-de-lobo em função da (a – b) concentração

de glicerol e temperatura de processo (Ts = 55 ºC), (c – d) concentração de glicerol e

temperatura de secagem (Tp = 82,5 ºC), (e – f) temperatura de processo e temperatura de

secagem (Cg = 22,5%). Os índices superiores s e c denotam superfície de resposta e curva de

contorno, respectivamente........................................................................................................95

Figura 3.5 - Elongação dos filmes de farinha da fruta-de-lobo em função da (a – b)

concentração de glicerol e temperatura de processo (Ts = 55 ºC), (c – d) concentração de

glicerol e temperatura de secagem (Tp = 82,5 ºC), (e – f) temperatura de processo e

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temperatura de secagem (Cg = 22,5%). Os índices superiores s e c denotam superfície de

resposta e curva de contorno, respectivamente.........................................................................96

Figura 3.6 - Módulo de Young dos filmes de farinha da fruta-de-lobo em função da (a – b)

concentração de glicerol e temperatura de processo (Ts = 55 ºC), (c – d) concentração de

glicerol e temperatura de secagem (Tp = 82,5 ºC), (e – f) temperatura de processo e

temperatura de secagem (Cg = 22,5%). Os índices superiores s e c denotam superfície de

resposta e curva de contorno, respectivamente.........................................................................97

Figura 3.7 - Solubilidade em água dos filmes de farinha da fruta-de-lobo em função da (a – b)

concentração de glicerol e temperatura de processo (Ts = 55 ºC), (c – d) concentração de

glicerol e temperatura de secagem (Tp = 82,5 ºC), (e – f) temperatura de processo e

temperatura de secagem (Cgs = 22,5 %). Os índices superiores s e c denotam superfície de

resposta e curva de contorno, respectivamente.......................................................................100

Figura 3.8 - Otimização simultânea das condições de processo para elaboração de filmes de

farinha de fruta-de-lobo em função das variáveis de processo, variáveis respostas preditas e

perfis de desejabilidade...........................................................................................................102

CAPÍTULO 4

Figura 4.1 -Fluxograma da elaboração dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo........116

Figura 4.2 – Microscopia eletrônica de varredura superficial e transversal dos filmes de

farinha (A – C) e amido...........................................................................................................119

Figura 4.3 – Curva típica do teste de tração para filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo

.................................................................................................................................................124

Figura 4.4 – Aspecto visual dos filmes de farinha (A) e amido (B) de fruta-de-lobo............126

Figura 4.5 - Espectros de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) dos filmes de

farinha e amido de fruta-de-lobo.............................................................................................127

LISTA DE TABELAS

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CAPÍTULO 1

Tabela 1.1 - Composição de fruta-de-lobo in natura.................................................................29

Tabela 1.2 - Composição centesimal do amido e da farinha na fruta-de-lobo (g/100 g em base

seca)..........................................................................................................................................33

CAPÍTULO 2

Tabela 2.1 - Composição centesimal da farinha e do amido da fruta-de-lobo (g/100 g em base

seca., exceto umidade)..............................................................................................................58

Tabela 2.2 - Parâmetros de cor para a farinha e o amido de fruta-de-lobo..............................60

CAPÍTULO 3

Tabela 3.1 - Valores das variáveis independentes estudadas no DCCR para a elaboração de

filmes de farinha de fruta-de-lobo.............................................................................................80

Tabela 3.2 - Parâmetros utilizados na otimização das condições de processo..........................82

Tabela 3.3 - Matriz do delineamento experimental e algumas propriedades dos filmes de

farinha de fruta-de-lobo............................................................................................................86

Tabela 3.4 - Resultados do delineamento composto central.....................................................88

Tabela 3.5 - Resultados para coeficientes de regressão e análise de variância (ANOVA) das

variáveis dependentes do delineamento experimental..............................................................90

Tabela 3.6 - Validação experimental sob as condições otimizadas para a produção dos filmes

de farinha de fruta-de-lobo......................................................................................................103

Tabela 3.7 - Propriedades de filmes preparados com diferentes tipos de farinha...................105

CAPÍTULO 4

Tabela 4.1 – Composição centesimal dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo (g/100 g

em base seca)..........................................................................................................................118

Tabela 4.2 - Propriedades dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo...........................120

Tabela 4.3 – Comparação entre os filmes de farinha e amido provenientes de diferentes fontes

.................................................................................................................................................122

Tabela 4.4 - Parâmetros de cor dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo....................126

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

SF – Solução Filmogênica

Cg – Concentração de Glicerol

DCCR – Delineamento Composto Central Rotacional

FTIR – Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier

MEV – Microscopia eletrônica de varredura

PI – Poder de intumescimento

Tp –Temperatura de Processo

Ts – Temperatura de Secagem

R2 – Coeficiente de Regressão

S – Solubilidade

mi – Massa inicial

mf – Massa final

Op – Opacidade

Opn – Opacidade sobreposta ao fundo negro

Opb – Opacidade sobreposta ao fundo branco

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SUMÁRIO

Apresentação...........................................................................................................................23

Introdução.............................................................................................................................23

Objetivos e Metas.................................................................................................................25

Objetivo Geral.......................................................................................................................25

Objetivos Específicos............................................................................................................25

Capítulo 1.................................................................................................................................27

1.1 Fruta-de-lobo de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil)...........................................27

1.2 Amido e farinha de fruta-de-lobo................................................................................29

1.3 Embalagens biodegradáveis........................................................................................33

1.4. Conclusão...................................................................................................................38

1.5 Referências..................................................................................................................39

Capítulo 2.................................................................................................................................47

Resumo.................................................................................................................................47

2.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................48

2.2 MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................50

2.2.1 Materiais..................................................................................................................50

2.2.2 Obtenção da farinha de fruta-de-lobo......................................................................50

2.2.3 Obtenção do amido de fruta-de-lobo.......................................................................52

2.2.4 Caracterização das matérias-primas.........................................................................54

2.2.4.1 Composição centesimal........................................................................................54

2.2.4.3 Propriedades de cor..............................................................................................54

2.2.5 Análise estatística.....................................................................................................57

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................57

2.3.1 Composição centesimal...........................................................................................57

2.3.2 Análise de cor...........................................................................................................59

2.3.3 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)...........................................................61

2.3.4 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR).................62

2.3.5 Poder de intumescimento e solubilidade..................................................................64

2.3.6 Microscopia óptica...................................................................................................66

2.4 CONCLUSÃO...............................................................................................................68

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2.5 REFERÊNCIAS............................................................................................................69

Capítulo 3.................................................................................................................................73

Resumo.................................................................................................................................73

3.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................74

3.2 MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................76

3.2.1 Material....................................................................................................................76

3.2.2 Composição centesimal da farinha de fruta-de-lobo...............................................76

3.2.3 Produção dos filmes.................................................................................................76

3.2.4 Caracterização dos filmes........................................................................................78

3.2.4.1 Espessura e densidade..........................................................................................78

3.2.4.2 Umidade................................................................................................................78

3.2.4.3 Propriedades mecânicas.......................................................................................78

3.2.4.4 Solubilidade em água............................................................................................79

3.2.5 Planejamento experimental......................................................................................80

3.2.6 Otimização e validação das condições de processo para elaboração de filmes.......81

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................................83

3.3.1 Caracterização centesimal da farinha de fruta-de-lobo............................................83

3.3.2 Caracterização dos filmes de farinha de fruta-de-lobo............................................84

3.3.3 Análise estatística.....................................................................................................87

3.4 Superfícies de resposta................................................................................................92

3.4.1 Propriedades mecânicas.....................................................................................92

3.4.2 Solubilidade em água...............................................................................................98

3.5 Otimização e validação...........................................................................................101

3.6 CONCLUSÃO.............................................................................................................107

3.7 REFERÊNCIAS..........................................................................................................108

Capítulo 4...............................................................................................................................112

Resumo...............................................................................................................................112

4.1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................113

4.2. MATERIAL E MÉTODOS.......................................................................................115

4.2.1 Materiais.................................................................................................................115

4.2.2 Produção dos filmes...............................................................................................115

4.2.3 Caracterização dos filmes......................................................................................116

4.2.3.1 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)......................................................116

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4.2.3.3 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)...........117

4.2.4 Análise estatística...................................................................................................117

4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................118

4.3.1 Microscopia eletrônica de varredura (MEV).........................................................118

4.3.2 Espessura e densidade............................................................................................120

4.3.3 Conteúdo de umidade............................................................................................121

4.3.4 Solubilidade em água.............................................................................................121

4.3.5 Propriedades mecânicas.........................................................................................123

4.3.6 Propriedades ópticas..............................................................................................125

4.3.7 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)...............127

4.4 CONCLUSÃO.............................................................................................................128

4.5. REFERÊNCIAS.........................................................................................................128

CONCLUSÕES GERAIS.....................................................................................................133

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Resumo

No sentido de atender as demandas ambientais que surgiram a partir do impacto

de embalagens produzidas por polímeros convencionais, nas últimas décadas, tem-se

estimulado a pesquisa para viabilizar a substituição destes materiais por produtos que além de

serem biodegradáveis provenham de fontes renováveis. Devido à alta concentração de amido,

componente responsável pela formação da matriz polimérica, uma fonte promissora e não

convencional para a elaboração de filmes biodegradáveis é a fruta-de-lobo (Solanum

lycocarpum A. St.-Hil), proveniente da região do Cerrado brasileiro. O presente trabalho teve

como objetivo estudar o potencial do amido e da farinha de fruta-de-lobo para a elaboração de

filmes biodegradáveis. Não há relatos na literatura sobre o emprego da farinha na produção de

filmes, o que comprova o grande caráter inovador desta pesquisa. Para isso, o amido e a

farinha foram extraídos da fruta-de-lobo e caracterizados. Em seguida foi determinada a

influência das condições de processo (concentração de glicerol: Cg, temperatura de processo:

Tp e temperatura de secagem: Ts) sobre as propriedades dos filmes de farinha de fruta-de-

lobo, empregando um delineamento composto central rotacional (23). As variáveis respostas

analisadas neste delineamento foram as propriedades mecânicas e solubilidade em água dos

filmes. Ambas matérias-primas apresentaram considerável conteúdo de carboidratos (87,3 e

61,7%, para o amido e a farinha), além de fibras, proteínas e lipídeos. No geral, os filmes de

farinha de fruta-de-lobo exibiram transparência, uma superfície homogênea sem bolhas ou

rachaduras, bem como boas características de manuseio. A espessura dos filmes variou de

0,11 a 0,28 mm. A variável Cg foi a que mais afetou a solubilidade em água dos filmes. De

fato, filmes com maior concentração de plastificante em sua composição foram mais solúveis

quando comparados com aqueles com Cg inferior, resultado do alto caráter higroscópico do

glicerol. O uso de altas temperaturas de processo (82,5 – 90 ºC) e temperaturas de secagem

mais brandas (40 – 55 ºC) favoreceram a formação de filmes com maior tensão na ruptura e

elongação. Ao analisar o efeito da Cg sob as propriedades mecânicas dos filmes, observou-se

que conforme o aumento do teor de plastificante, os filmes tornaram-se mais flexíveis (maior

elongação) e menos rígidos (menor tensão e o módulo de Young). Além disso, foi realizado

um estudo comparativo entre os filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo. Filmes elaborados

a partir de amido se mostraram mais rígidos porém menos flexíveis que os filmes de farinha,

sendo este comportamento de acordo com a composição centesimal das matérias-primas.

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Desta forma, a farinha e o amido de fruta-de-lobo parece ser um material muito promissor

para produção de filmes e coberturas biodegradáveis.

Palavras-chave: biopolímeros, embalagens biodegradáveis, lobeira, variáveis de processo,

otimização, propriedades mecânicas.

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Abstract

Due to the environmental demands that arose from the impact of packaging

produced by conventional polymer, in the last decade have stimulating research in this field.

to make it feasible, the substitution of these materials by products that besides being

biodegradable come from renewable sources, is an alternative. Due to the high concentration

of starch, a component responsible for forming the polymer matrix, a promising and

unconventional source for the production of biodegradable films is wolf fruit (Solanum

lycocarpum A. St.-Hil) from the Cerrado region in Brazil. The present research had the

objective of studying the potential of starch and fruit of wolf flour for the elaboration of

biodegradable films. There are no descriptions in the literature about the use of its flour in the

production of films, which provides the great innovative character of the research. For this

purpose, the starch and flour were extracted from wolf fruit and characterized by centesimal

composition and color parameters. The influence of the process conditions (glycerol

concentration: Cg, process temperature: Tp and drying temperature: Ts) was determined on

the properties from the fruit of wolf flour films, using a central composite design (23). The

variables responses analyzed in this design were the mechanical properties and water

solubility of the films. Both raw materials presented considerable carbohydrate content (87.3

and 61.7 wt %, for starch and flour), as well as fiber, proteins and lipids. Overall, wolf fruit

flour films exhibited transparency, a homogeneous surface without bubbles or cracks, as well

as good handling characteristics. The thickness of the films ranged from 0.11 to 0.28 mm. The

Cg variable was the one that most affected the water solubility of the films. In fact, films with

higher process temperatures (82.5-90 ˚ C) and milder drying temperatures (40-55 ˚ C) favored

the formation of films with higher tensile strength in elongation and rupture. By analyzing the

effect of Cg on the mechanical properties of the films, it was observed that as the plasticizer

content increased, the films became more flexible (greater elongation) and less rigid (less

tension and Young’s modulus). In addition, a comparative study was carried out between flour

and starch films of the wolf fruit. Films made from starch showed to be more rigid but less

flexible then flour films, this behavior is a result of the centesimal composition of the raw

materials. As a result, the wolf fruit seems to be a very promising material for the production

of films and biodegradable coverings.

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Keywords: biopolymers, biodegradable packaging, wolf fruit, process variables, optimization,

mechanical properties.

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23

Apresentação

Introdução

Adequando-se as necessidades, padrões e público a que se destinam, novos

produtos e embalagens para alimentos têm surgido. Além disso, as embalagens são uma fonte

primordial para proteção, estocagem, transporte, conservação dos alimentos e conveniência ao

consumidor. Diversos materiais são utilizados em embalagens para alimentos como o plástico,

vidro, alumínio, papel, papelão e materiais metálicos (SUDERMAN et al., 2018). Dentre

estes, os materiais plásticos são os mais utilizados como embalagens devido às vantagens que

apresentam frente a outros materiais, como baixo custo e boa estabilidade (CANDIAN et al.,

2007). Em virtude do crescente volume de utilização destes materiais, sabe-se que o volume

de plásticos sintéticos gerados é cada vez maior, sendo estas embalagens na maioria das vezes

são destinadas a aterros e uma minoria ao processo de reciclagem (CARISSIMI et al., 2018).

Desta maneira, visando uma redução nos impactos ambientais causados pelas

embalagens sintéticas atreladas a grande dificuldade no processo de reciclagem, as

embalagens biodegradáveis se apresentam como uma possível alternativa (DAVIS e SONG,

2006). Estas embalagens podem ser degradadas no meio ambiente pelos microrganismos,

além de serem classificadas de duas maneiras: como coberturas, quando uma fina camada é

aplicada sobre a superfície do alimento ou como filmes, quando uma estrutura independente é

formada podendo esta ser aplicada posteriormente para embalar o produto (GONTARD e

GUILBERT, 1995; KROCHTA e DE MULDER JOHNSTON, 1997; MIR et al., 2018).

Diversos biomateriais podem ser utilizados como fontes de matéria-prima para a

produção de filmes biodegradáveis, como proteínas, fibras, lipídeos e polissacarídeos

(FARAHNAKY et al., 2018). Dentre os polissacarídeos, o amido é o biopolímero mais

estudado para o desenvolvimento de filmes biodegradáveis, devido ao seu baixo custo, alta

disponibilidade e capacidade de formar filmes. Porém, a obtenção de embalagens

biodegradáveis elaborados apenas com este biopolímero trazem algumas características

indesejáveis dependendo da aplicação, como alta solubilidade e materiais quebradiços

(GUTIÉRREZ e ÁLVAREZ et al., 2017; MALI et al., 2010).

Uma maneira de contornar estes problemas é a utilização de misturas naturais de

mesma origem para elaboração de filmes biodegradáveis, denominado o grupo das farinhas. A

combinação de diversos componentes como amido, proteínas, lipídeos e fibras em uma

mesma matriz traz o benefício de aproveitar as características inerentes de cada uma delas,

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dependendo das interações existentes entre estes (BORNEO et al., 2016; SOO e SARBON,

2018; VARGAS et al., 2017).

Devido à alta concentração de amido, componente responsável pela formação da

matriz polimérica, uma fonte promissora e não convencional para a elaboração de filmes

biodegradáveis é a fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil) proveniente da região do

Cerrado brasileiro. Alguns estudos foram realizados sobre a extração e caracterização do

amido de fruta-de-lobo (CLERICI et al., 2011; MEDEIROS et al., 2014; PASCOAL et al.,

2013), e em outro trabalho foi avaliado o potencial desse amido para a elaboração de filmes

biodegradáveis (SANTOS, 2009). Entretanto, são escassos na literatura estudos sobre o

emprego da farinha extraída da fruta-de-lobo na produção de filmes biodegradáveis, assim

como uma comparação entre os filmes de amido e de farinha de lobeira, o que comprova o

grande caráter inovador deste projeto.

Sendo assim, a presente pesquisa tem como objetivo avaliar o potencial do amido

e da farinha extraídos da fruta-de-lobo para a elaboração de filmes biodegradáveis. A

conciliação dos conhecimentos adquiridos por esta pesquisa contribui para a elucidação do

potencial de novas fontes do Cerrado brasileiro, como sinônimo de avanço na área de

desenvolvimento de novos materiais para produção de embalagens biodegradáveis.

Objetivos e Metas

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Objetivo Geral

Desenvolver novas coberturas e filmes biodegradáveis à base de amido e farinha

extraídos a partir de fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil) proveniente do Cerrado

brasileiro.

Objetivos Específicos

Etapa 1: Revisão bibliográfica

Realizar um levantamento bibliográfico sobre as características da fruta-de-lobo, a

utilização de amido e farinha de fruta-de-lobo para a elaboração de filmes

biodegradáveis, assim como resultados obtidos em estudos que utilizaram outros tipos

de amido e farinha para obtenção de filmes.

Etapa 2: Obtenção e caracterização do amido e da farinha de fruta-de-lobo

Selecionar frutas-de-lobo no estádio de maturação verde, provenientes da região do

Cerrado para a produção de filmes biodegradáveis;

Extrair o amido e a farinha a partir desta fruta;

Caracterizar o amido e a farinha de fruta-de-lobo quanto a sua composição química,

cor, microestrutura, grupos funcionais e propriedades de pasta.

Etapa 3: Otimização dos filmes biodegradáveis de farinha de fruta-de-lobo

Produzir filmes biodegradáveis a partir da farinha de fruta-de-lobo empregando o

método de casting, que consiste na desidratação de uma solução filmogênica sobre um

suporte;

Determinar a influência da formulação e condições de processo: concentração de

glicerol, temperatura de processo e temperatura de secagem sobre as propriedades dos

filmes de farinha de fruta-de-lobo, empregando um delineamento composto central

rotacional.

Etapa 4: Comparação dos filmes de amido e farinha de fruta-de-lobo

Produzir filmes de amido e farinha de fruta-de-lobo nas condições ótimas de

formulação e processo encontradas;

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Caracterizar os filmes em relação à microestrutura, propriedades mecânicas, ópticas,

térmicas, solubilidade em água e grupos funcionais;

Determinar a influência do teor de proteínas, lipídeos e fibras da farinha de fruta-de-

lobo sobre as propriedades do filme elaborado a partir dessa matéria-prima quando

comparado com filme de amido de fruta-de-lobo.

Capítulo 1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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Com o intuito de reduzir os impactos ambientais causados pelas embalagens

sintéticas, nas últimas décadas tem-se estimulado a pesquisa para viabilizar a substituição

destes materiais por produtos que, além de serem biodegradáveis, provenham de fontes

renováveis. A grande demanda por novos materiais que atendam a todas as especificações

tecnológicas, de qualidade e da legislação ambiental têm conduzido ao estudo e utilização de

matérias-primas, processos e produtos “amigáveis” ao meio ambiente.

1.1 Fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil)

Ocupando uma área em torno de 2 milhões de quilômetros quadrados, cerca de

22% do território nacional, o Cerrado é considerado o segundo maior bioma da América do

Sul, ficando atrás apenas da Amazônia. A sua área contínua incide totalmente no Distrito

Federal e boa parte de Goiás (97%), de Tocantins (91%), do Maranhão (65%), do Mato

Grosso do Sul (61%) e de Minas Gerais (57%), além de cobrir áreas menores de outros seis

estados brasileiros. Neste espaço territorial encontram-se as nascentes das três maiores bacias

hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta

em um elevado potencial aquífero e favorece a sua biodiversidade (BRASIL, 2009).

Considerado como um dos hotspots mundiais de biodiversidade, o Cerrado

apresenta extrema abundância de espécies endêmicas. Do ponto de vista da diversidade

biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo, abrigando

11.627 espécies de plantas nativas já catalogadas (BRASIL, 2009). Essas plantas são

adaptadas as condições de clima estacional e solo pobre apresentando grande potencial para

aplicabilidade em diversos setores, tais como área cosmética, farmacêutica e alimentícia.

Contudo essa biodiversidade ainda é pouco explorada e estudada (KLINK e MACHADO,

2005).

Característica da região do Cerrado, a espécie Solanum lycocarpum Saint Hilaire

pertencente à família Solanacea, popularmente conhecida como fruta-de-lobo, é uma planta

com aproximadamente 4 metros de altura, com folhas simples, alternas, lanceoladas e

coriáceas, cujos frutos apresentam-se em forma de bagas arredondadas achatadas e coloração

esverdeada, com 8 a 12 cm de diâmetro e endocarpo rico em polpa (ALMEIDA, 2004;

OLIVEIRA JUNIOR et al., 2003; SANTOS, 2009). Na Figura 1.1 é possível observar a

morfologia externa e interna da fruta-de-lobo.

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Figura 1.1- Fotografias da fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum St.-Hil): (A) planta, (B) flor, (C) parte externa da

fruta, e (D) parte interna da fruta

A fruta-de-lobo tem período de floração durante todo o ano, porém a melhor

época para se realizar a colheita compreende o período de Julho a Janeiro (SILVA et al.,

1994). Além dos dispersores comuns, as formigas do gênero Atta e o lobo-guará (Chrysocyon

brachyurus Iliger) são os maiores responsáveis pela dispersão das sementes dessa planta. Por

ser uma espécie muito apreciada pelo lobo-guará atribuiu-se assim o nome de fruta-de-lobo ou

lobeira (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2004).

Em regiões endêmicas, as populações rurais utilizam os frutos da lobeira no

preparo de geleias e doces, sendo empregados também na medicina popular, em tratamentos

contra o diabetes e a obesidade, além de ser eficaz na redução dos níveis de colesterol

(GALLON et al., 2015). Em virtude dessas características torna-se necessário um estudo da

composição da fruta-de-lobo, para assim determinar a possível aplicação que possa ser

destinada. A Tabela 1.1 apresenta a composição em relação a alguns constituintes da fruta-de-

lobo in natura.

Tabela 1.1 - Composição de fruta-de-lobo in natura

Constituinte g/100g de fruta-de-lobo

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Umidade 71,40

Amido 19,53

Proteínas 3,47

Açucares redutores 1,67

Açucares não-redutores 0,89

Potássio 0,46

Enxofre 0,082

Vitamina C 0,061

Fósforo 0,027

Magnésio 0,012

Ferro 0,0015

Fonte: Oliveira Junior (2003)

1.2 Amido e farinha de fruta-de-lobo

O amido pertence ao grupo dos agropolímeros, é um polímero de alta massa

molar, de ocorrência natural, formado por unidades de glicose. Constitui o principal

reservatório de energia de espécies botânicas, sendo a fonte de energia mais importante na

dieta de humanos e animais. Junto com a celulose, o amido é um dos carboidratos mais

abundantes encontrados nos alimentos. Pode ser subdividido em amidos de cereais (ex. trigo e

arroz) e amidos derivados de tubérculos ou raízes (ex. batata e mandioca). Em plantas, é

armazenado na forma de grânulos semi-cristalinos, tendo sua composição, tamanho e forma

variados, conforme as diferentes fontes (SOUZA, 2010). Os grânulos ainda podem ser

classificados de acordo com a disposição em simples, quando um grânulo de amido está

presente em cada plastídeo ou composto, havendo a presença de vários grânulos no mesmo

amiloplasto (LINDEBOOM et al., 2004).

Estruturalmente, o amido é um polissacarídeo composto por cadeias de amilose e

amilopectina. A amilose (Figura 1.2A) é formada por unidades de α-D-glicopiranose unidas

por ligações α-1,4, dando origem a fração linear do amido. Já a amilopectina (Figura 1.2B) é o

componente ramificado do polissacarídeo sendo formada por unidades de α-D-glicopiranose

unidas por ligações α-1,4 com ramificações ligadas por α-1,6 em sua estrutura.

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Figura 1.2 - Estrutura química da amilose (A) e da amilopectina (B)

Fonte: Adaptado de Johhed (2006).

A proporção desses biopolímeros varia de acordo com a fonte botânica,

variedades de uma mesma espécie e, mesmo numa mesma variedade, de acordo com o grau

de maturação da planta (LI et al., 2011; SYAHARIZA et al., 2013). Na lobeira o amido é o

constituinte presente em maior porcentagem tendo seu teor variado conforme seu estádio de

maturação (PEREIRA, 2011). A maior proporção de amido no fruto está presente no estádio

de maturação verde e isso ocorre porque durante o amadurecimento do fruto, o amido é

hidrolisado a açúcares (OLIVEIRA JUNIOR et al., 2004).

Estudos recentes têm reportado a extração do amido da fruta-de-lobo com

sucesso. Medeiros et al. (2014) e Pascoal et al. (2013) encontraram resultados satisfatórios

empregando a seguinte metodologia: primeiramente realiza-se a moagem da polpa da fruta na

presença de solução contendo um agente antioxidante (ácido cítrico ou metabissulfito de

sódio) a fim de se evitar o escurecimento enzimático. A mistura resultante é então peneirada e,

em seguida, o líquido sobrenadante (fração rica em amido) é lavado sucessivamente com

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soluções de NaOH e álcool etílico com o intuito de eliminar a presença de resíduos e gomas

que possam estar presente na fração sedimentada. Após esse procedimento o material

precipitado (amido) é submetido à secagem em estufa à 45ºC até atingir peso constante.

Pascoal (2014) descreveu a obtenção de um pó fino, branco e inodoro como

resultado da extração do amido proveniente da fruta-de-lobo, apresentando um rendimento de

51,0% de teor de amido em relação à polpa pura, contendo em torno de 34,7% de amilose e

65,3% de amilopectina. Em outro estudo, investigou-se a extração do amido e da farinha

através da desintegração da fruta em água até a formação de uma suspensão homogênea, a

qual foi peneirada para separação das frações de farinha (material retido na peneira) e amido

(líquido sobrenadante), sendo este último decantado e submetido à secagem (CLERICI et al.,

2011). De acordo com os autores, o conteúdo de amilose presente no amido extraído da fruta-

de-lobo foi de 25%, apresentando um teor de amido resistente de 32%, sendo o amido

resistente aquela fração que resiste a digestão enzimática e consequentemente não fornece

glicose ao organismo (VERNAZA et al., 2012).

Devido à grande variedade de aplicações em que o amido pode ser usado, tais

como na indústria de alimentos, têxtil e farmacológica, os estudos sobre as propriedades

físico-químicas e nutricionais de cada tipo de amido tornam-se de extrema importância para o

direcionamento de aplicação. A estrutura, forma e tamanho dos grânulos de amido,

cristalinidade e viscosidade da pasta são algumas das caraterísticas importantes para se

determinar o uso do amido proveniente de cada fonte (FALADE, 2013; JOSHI et al., 2013).

Os grânulos de amido de fruta-de-lobo apresentam forma esférica e irregular com

diâmetro médio de 18,05 μm (SANTOS, 2009). O diâmetro médio do amido de batata-doce

(Ipomoea batatas) varia entre 16,1 – 19,4 μm, sendo similar ao do amido da fruta-de-lobo,

contudo suas características diferem quanto a aparência dos grânulos por apresentarem um

formato circular poliédrico (LEONEL, 2007). Já o amido de banana (Musa paradisiaca)

possui um formato alongado com diâmetro médio superior (47,3 μm) ao do amido da fruta-

de-lobo (PELISSARI et al., 2013). Na Figura 1.3 é possível observar o formato dos grânulos

de amido provenientes de diferentes fontes.

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Figura 1.3 - Micrografias dos grânulos de amido de diferentes fontes: (A) mandioca, (B) fruta-de-lobo, (C)

batata-doce, e (D) banana

Fontes: (A) – Zhang et al. (2017), (B) – Pascoal (2013), (C) – Leonel (2007), (D) – Pelissari (2012).

A cristalinidade dos grânulos de amido é atribuída principalmente à amilopectina

e não à amilose, que embora seja linear, apresenta uma conformação que dificulta sua

associação regular com outras cadeias. O amido nativo pode ser classificado em três tipos de

estruturas cristalinas a partir das diferenças dos difratogramas de raios-X: amidos de cereais

de tipo “A”, amidos de tubérculos de tipo “B” e amidos de raízes e legumes de tipo “C”, uma

mistura de “A” e “B” (ZHANG et al., 2005). Estudos com diferentes resultados quanto ao tipo

de cristalinidade da fruta-de-lobo têm sido reportados na literatura, tipo B (SANTOS, 2009) e

tipo A (PASCOAL, 2014).

O grânulo de amido pode ser submetido ao processo de formação de gel, que

consiste no aquecimento de uma solução de amido-água até uma determinada temperatura,

variando de acordo com a fonte botânica do amido. Durante esse fenômeno ocorre a ruptura

das estruturas cristalinas do grânulo de amido, o qual absorve água e intumesce

irreversivelmente, adquirindo tamanho maior que o original. A amilose encontrada no interior

dos grânulos é liberada durante e após a gelatinização, formando uma fase contínua de gel ao

redor destes grânulos, resultando em um aumento da viscosidade (HERMANSSON;

SVEGMARK, 1996; ZHOU et al., 2002). Após esse processo, quando a temperatura é

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reduzida à ambiente, ocorre um rearranjo das moléculas por ligações de hidrogênio, fator que

favorece a recristalização, comumente chamada de retrogradação. No processo de

retrogradação, há liberação de moléculas de água anteriormente ligadas às cadeias de amilose,

esse fenômeno é denominado sinérese (ISHIGURO et al., 2000).

Em vista da sua característica linear, a amilose forma filmes com melhores

propriedades de barreira e mecânicas do que os filmes de amilopectina (FORSSELL et al.

2002; RINDLAV et al., 1997; RINDLAV-WESTLING et al., 1998). Por outro lado, o tamanho

volumoso da amilopectina causado pelas ramificações, reduz a mobilidade e previne esses

polímeros de se aproximarem o suficiente para que haja a formação de ligações de hidrogênio.

Como resultado, as soluções aquosas de amilopectina são transparentes e mais resistentes à

formação de gel durante a estocagem (HERMANSSON e SVEGMARK, 1996).

Na Tabela 1.2 é apresentada a composição do amido e da farinha obtidos a partir

da fruta-de-lobo. O amido e a farinha de lobeira são materiais promissores a serem

empregados na elaboração de filmes biodegradáveis, dada sua interessante composição

centesimal. Cabe ressaltar seu considerável conteúdo de amido com alto teor de amilose, além

de fibras, proteínas e lipídeos. Em virtude da composição centesimal do amido e da farinha,

estas matérias-primas apresentam diferenças quanto às suas características físico-químicas,

funcionais e térmicas, o que poderia influenciar nas propriedades dos filmes resultantes.

Tabela 1.2 - Composição centesimal do amido e da farinha na fruta-de-lobo (g/100 g em base seca)

Constituinte Amido da fruta-de-lobo * Farinha da fruta-de-lobo **

Umidade a 10,97 ± 0,09 11,57 ± 0,03

Cinzas 0,22 ± 0,01 3,81 ± 0,44

Proteínas 0,36 ± 0,01 7,31 ± 0,37

Lipídeos 0,08 ± 0,01 1,04 ± 0,02

Fibras 0,03 ± 0,01 23,39 ± 0,34

Amilose b 28,79 25,00

a em base úmida.b g/100 g de amido seco. * Pereira (2011)** Clerici et al. (2011)

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1.3 Embalagens biodegradáveis

Os materiais plásticos são os polímeros mais presentes no nosso dia-a-dia,

destinados a aplicações em diversos setores. Segundo a PlasticsEurope (2017), a produção

mundial de materiais plásticos (termoplásticos, poliuretanos, termo endurecidos, adesivos,

revestimentos e selantes), em 2015, foi de 322 milhões de toneladas, e em 2016 teve um

aumento para 335 milhões de toneladas. Sendo, o setor de embalagens o que mais demanda

por materiais plásticos (39,9%), seguido pelo setor de construção civil (19,7%). No Brasil, em

2015, as embalagens de materiais plásticos representaram um valor bruto de produção

(34,1%), e dentro deste patamar, as principais indústrias usuárias dos plásticos foram as

alimentícias e de bebidas (ABRE, 2015). Grande parte deste volume de produção dos

plásticos sintéticos acaba tendo como destino final os aterros sanitários, contribuindo para a

poluição ambiental. Uma das maneiras de se minimizar os efeitos negativos seria através de

processos de reciclagem.

Em 2016, foi o ano que pela primeira vez os valores de plásticos reciclados

mundialmente superaram os valores de plásticos que tiveram como destino final o aterro

sanitário, sendo de 31,1% e 27,3%, respectivamente (PLASTICSEUROPE, 2017). Porém,

sabe-se que estes valores ainda são baixos comparados ao volume de produção dos plásticos,

e esse fato é devido a grande diversidade de matrizes poliméricas que são produzidas, o que

resulta em uma limitação para o processo de reciclagem.

O estudo de materiais e suas propriedades que sejam capazes de substituir e/ou

minimizarem os impactos que estas embalagens sintéticas produzem devido a sua alta

durabilidade é de grande importância para a humanidade, do qual são denominados:

biopolímeros. Os biopolímeros são constituídos por macromoléculas que possuem alto peso

molecular e assim se classificam de acordo com o monômero e a estrutura formada pelo

biopolímero (ALBUQUERQUE; MALAFAIA, 2018). Além disso, são definidos como

materiais que podem ser completamente degradados por microrganismos (RHIM et al., 2013),

sendo formados por estruturas finas e flexíveis obtidas através de fontes renováveis,

apresentando a capacidade de atuar como uma estrutura independente (ASSIS et al., 2017).

Os polímeros biodegradáveis podem ainda serem classificados de acordo com

conteúdo de material renovável, grau de biodegradabilidade e processo de obtenção

(BRODIN et al., 2017). A Figura 1.4 demonstra a classificação dos polímeros biodegradáveis

de acordo com a via de obtenção.

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Figura 1.4 - Classificação dos polímeros biodegradáveis

Fonte: Adaptado de Averous e Boquillon (2004)

Diversos polímeros naturais têm sido estudados para a elaboração de filmes

biodegradáveis, tais como: polissacarídeos (amido, pectina, quitosana), proteínas (colágeno,

queratina, proteínas do soro de leite, proteína de trigo) e lipídeos (ceras, ácidos graxos). Cada

biomolécula e sua fonte de extração fornecem propriedades específicas para os filmes, como

flexibilidade, solubilidade, resistência mecânica, umidade, cor e opacidade (MALI et al.,

2010; QIAO et al., 2017; TONYALI et al., 2018).

1.3.1 Plastificantes

Na produção de filmes biodegradáveis é usual a adição de uma agente

plastificante, sendo os mais utilizados o glicerol e o sorbitol. Os plastificantes são adicionados

à solução formadora de filme, a fim de reduzir as forças intermoleculares, aumentando o

volume molecular e consequentemente a flexibilidade do filme formado (MALI et al., 2006).

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Além disso, para que os filmes sejam formados, são empregadas técnicas de produção, como

extrusão e o método de casting. A extrusão torna-se uma escolha atrativa de processamento

devido à rapidez, por requerer menos espaço e um número menor de etapas de produção em

comparação ao método de casting (SOTHORNVIT et al., 2007) e por ser o método pelo qual

é produzido grande parte dos filmes comerciais. Contudo, este equipamento apresenta elevado

custo e necessita de mão-de-obra especializada (FISHMAN et al., 2000). Já a técnica de

casting é altamente difundida entre os procedimentos empregados para formação e aplicação

de filmes e consiste na secagem de uma solução formadora de filme sobre um suporte.

Entre os primeiros filmes biodegradáveis estão os produzidos a partir de amido,

que se apresentam como uma alternativa economicamente viável comparado as resinas

tradicionais além de serem provenientes de fontes renováveis (VEIGA e DRUZIAN, 2007).

1.3.2 Filmes biodegradáveis de amido

Dentre os polímeros naturais, o amido tem sido considerado o mais promissor

para a elaboração de filmes biodegradáveis, devido à sua capacidade de formar uma matriz

contínua e coesa, além da combinação atrativa de preço, disponibilidade, ser proveniente de

recursos renováveis, não-toxicidade e biodegradabilidade (LIU et al., 2017). O amido é

composto pela interação da amilose e amilopectina, sendo a amilose sido mais relacionada

com a capacidade de formação de filmes e coberturas, devido à sua natureza linear (CEREDA

et al., 2002; KRAMER, 2009).

Os filmes biodegradáveis compõem parte importante do cenário de pesquisa

nacional e internacional, com trabalhos significativos quanto à caracterização, formulação e

aplicação destes materiais. Existem grandes possibilidades de utilização para os sistemas de

embalagens biodegradáveis à base de amido, em especial na área de alimentos. Vu e

Lumdubwong (2016) avaliaram a influência de diferentes plastificantes sobre as propriedades

mecânicas de filmes à base de amido de mandioca e feijão-mungo. Segundo os autores, os

filmes plastificados com glicerol apresentaram melhores resultados quando comparados aos

filmes plastificados com sorbitol. Basiak et al. (2017) produziram filmes de amidos extraídos

de diferentes fontes botânicas, incluindo milho, batata e trigo. Lourdin et al. (1995) avaliaram

a influência da proporção de amilose/amilopectina sobre as propriedades mecânicas de filmes

biodegradáveis e reportaram que amidos com maior teor de amilose produziram filmes mais

resistentes e flexíveis. Araujo-Farro et al. (2010) estudaram o efeito de algumas variáveis de

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formulação e processo sobre as propriedades de filmes à base de amido de quinoa, e

otimizaram a formulação e as condições de processo para esses filmes.

A maioria dos trabalhos utilizam fontes de amido convencionais e comercias, tais

como milho, mandioca e batata para a elaboração de filmes, entretanto há estudos na literatura

reportando o emprego de amidos provenientes de fontes não convencionais. Larotonda (2007)

realizou em seus estudos a elaboração de filmes biodegradáveis a partir do amido extraído da

bolota de sobreiro, fruto produzido por árvores da família do carvalho. Pelissari et al. (2013)

elaboraram filmes a partir do amido de bananas verdes (Musa paradisiaca) e caracterizaram

quanto às propriedades mecânicas, de barreira, ópticas, estruturais e térmicas. Saberi et al.

(2016) otimizaram as propriedades físicas e ópticas de filmes produzidos a base de amido de

ervilha e goma guar. Com base no apresentado, a utilização do amido extraído da fruta-de-

lobo seria uma interessante matéria-prima para elaboração de filmes biodegradáveis.

Embora a utilização de diferentes amidos na elaboração de filmes tenha sido

muito estudada, a produção de embalagens exclusivamente deste biopolímero não é viável

devido à sua higroscopicidade e baixa flexibilidade, o que torna estes materiais sensíveis ao

contato direto com a água e quebradiços (ZHANG, 2005). Algumas alternativas para

promover a melhoria dessas propriedades são as modificações químicas, físicas, enzimáticas,

adição de plastificantes, ou então a preparação de filmes compósitos obtidos a partir da

combinação de proteínas, polissacarídeos, lipídeos e fibras (BIDUSKI, 2016; MANIGLIA et

al.; 2014).

1.3.3 Filmes biodegradáveis de farinha

Uma alternativa para contornar os problemas apresentados pelos filmes

compósitos devido a incompatibilidade de biopolímeros (lipídeos, proteínas e carboidratos) de

diferentes fontes, seria o emprego de misturas naturais de uma mesma origem, caracterizando

o grupo de farinhas. As propriedades dos filmes dependem, entre outros fatores, das

interações formadas entre seus componentes (amido, proteína e fibras), da concentração de

cada um deles na etapa de elaboração do filme e da interação destes junto a matriz do filme

(BORNEO et al, 2016; ANDRADE-MAHECHA et al., 2012).

O emprego de misturas naturais de uma mesma origem para elaboração de filmes

biodegradáveis é uma tendência recente, havendo poucos estudos relatando o uso de farinha

como uma matéria-prima para a elaboração de filmes. Daudt et al. (2016) reportaram em seus

estudos as propriedades dos filmes elaborados com farinha de pinhão (Araucaria

angustifolia). Tapia-Blácido et al. (2005) elaboraram filmes produzidos à base de farinha de

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amaranto (Amaranthus caudatus), estudando as condições ótimas de processos e observaram

que estes apresentaram boas propriedades de barreira.

Maniglia et al. (2017) elaboraram filmes através da farinha do mesocarpo de

babaçu para avaliação das suas propriedades mecânicas, ópticas, morfológicas, solubilidade e

umidade.; concluíram que o maior conteúdo de proteínas e fibras atribuiu características como

maior resistência, flexibilidade e opacidade. Andrade-Mahecha et al. (2012) desenvolveram

filmes a partir da farinha de achira (Canna indica L.), planta cultivada nos países

concentrados na América Latina e Ásia, e ao otimizar as condições de processo obtiveram

filmes com alta resistência mecânica (7,0 MPa), elongação adequada (14,6%) e baixa

solubilidade (38,3%). Pelissari et al. (2013) otimizaram as condições de processo, sendo elas

19 g de glicerol/100 g de farinha, 81 ºC para a temperatura de processo, 54 ºC de temperatura

de secagem e umidade relativa de 48%, para a elaboração de filmes com farinha de banana

verde (Musa paradisiaca). Dias et al.(2010) realizaram um estudo comparativo entre os

filmes biodegradáveis de amido e farinha de arroz utilizando como plastificante tanto o

sorbitol quanto o glicerol. Gutiérrez et al. (2016) desenvolveram em seus estudos, filmes

biodegradáveis a partir de farinha de berinjela com farinha de banana e avaliaram o efeito da

composição química destas farinhas sobre as propriedades dos filmes elaborados. Nouraddini

et al. (2018) elaboraram filmes de farinha de berinjela com amido de milho para avaliar a

influência de diversas proporções nas características mecânicas, físicas, de barreira e

biodegradabilidade destes; concluíram eu os filmes puros obtiveram maior resistência

mecânica e elongação quando comparados aos outros filmes. Com isso, estudos com

enfoque na utilização de farinhas provenientes de diversas fontes têm sido estudados, afim de

ter maior aproveitamento da matéria-prima e melhores propriedades dos filmes.

1.4. Conclusão

Os estudos citados nesta revisão bibliográfica sobre o uso de amido e farinha obtidos a

partir de fontes vegetais evidenciaram que estes materiais são promissores para a produção de

filmes biodegradáveis, devido a suas propriedades mecânicas, ao melhoramento da barreira ao

oxigênio, vapor de água e solubilidade, além do seu caráter renovável e biodegradável.

A fruta-de-lobo, típica da região do Cerrado, apresenta-se como uma fonte em

potencial para a produção de filmes biodegradáveis, devido ao seu alto teor de amido. Desta

maneira, a compatibilidade das matérias-primas (amido e farinha) obtidas da mesma fonte

vegetal (fruta-de-lobo) foi avaliada a partir das propriedades dos filmes resultantes. Além

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disso, não há relatos na literatura sobre o emprego de farinha isolada da lobeira para a

produção de filmes, o que comprova o grande caráter inovador desta pesquisa.

1.5 Referências

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extracts on the techno-functional properties of biodegradablepackaging films

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Effect

of plant extracts on the techno-functional properties

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of biodegradablepackaging films

Effect

of plant extracts on

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the techno-functional properties of biodegradablepackaging films

Effect

of

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Capítulo 2

Extração e caracterização da farinha e do amido de fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum

A. St.-Hil)

Resumo

Farinha e amido foram obtidos a partir de fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil) e

suas características químicas, físico-químicas e estruturais foram determinadas. A farinha e o

amido de fruta-de-lobo apresentaram um rendimento de extração de 14,5% e 7,4%. A análise

dos grupamentos presentes nas matérias-primas revelaram através do FTIR a presença de

estiramentos C-H, presença de amidas primárias e terciárias além de região no espectro

atribuída a presença dos carboidratos. A microscopia eletrônica de varredura para o amido e

farinha de fruta-de-lobo demonstrou um tamanho médio de grânulos de 13,33 µm e 12 µm,

respectivamente, com formato arredondado irregular. Ao observar o poder de intumescimento

e solubilidade das matérias-primas verificou-se um aumento destas propriedades em

temperaturas acima de 75ºC, sendo que a farinha apresentou uma maior solubilidade em todas

as faixas de temperatura, quando comparada ao amido. Em relação à composição centesimal,

o amido obteve valores inferiores de lipídeos, proteínas, cinzas e fibra bruta quando

comparado a farinha, demonstrando eficiência no método de extração e isolamento do amido.

A farinha destacou-se com um alto valor de fibra bruta (19,97%) em sua constituição, sendo

uma matéria-prima promissora na formação de compósitos de alta resistência. Além disso, o

amido total encontrado na farinha foi de 40,62% e no amido 86,84%. Devido a estas

características apresentadas por ambas as matérias-primas, o amido e farinha de fruta-de-lobo

demonstram serem materiais promissores para serem utilizados na elaboração de filmes

biodegradáveis..

Palavras-chave: Solanum lycocarpum A. St.-Hil, caracterização físico-química, FTIR, MEV,

poder de intumescimento e solubilidade

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2.1 INTRODUÇÃO

A fruta-de-lobo é o termo popular atribuído as frutas da espécie Solanum

lycocarpum A. St.-Hil, pertencente à família Solanacea. Típica da região do Cerrado, a

planta da fruta-de-lobo tem como características um porte arbustivo e pequeno,

aproximadamente 4 metros de altura, galhos pouco tortuosos e ramos fistulosos. São

altamente resistentes, crescendo em condições climáticas extremas, como clima árido

e na ausência de água por prolongados períodos. Cada planta ainda pode gerar de 40 a

100 frutos com peso variando de 400 a 900 g (ALMEIDA, 2004; SANTOS, 2009).

Estudos demonstraram que devido às características e consistência firme

da polpa, a fruta pode ser utilizada na elaboração de geleias, doces e marmeladas

(SANTOS, 2009). Além disso, a fruta-de-lobo tem características interessantes em

relação a composição, já que apresenta teores semelhantes ou superiores de sacarose,

vitamina C e alguns minerais, quando comparada a outras frutas como abacaxi,

banana, laranja e manga (OLIVEIRA-JUNIOR, 2003).

Entre os constituintes da fruta-de-lobo, alguns estudos destacam a

quantidade de amido presente em frutos verdes. Oliveira-Junior et al. (2004) realizou

estudos sobre as alterações físico-químicas, químicas e enzimáticas que a fruta-de-

lobo sofre durante os estágios de amadurecimento e determinou que a medida que o

fruto amadurece, os teores de sólidos solúveis aumentam, e consequentemente ocorre

uma redução nos teores de amido. Pascoal et al. (2013) extraiu e caracterizou o amido

de fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil) e concluiu que esta matéria-prima

apresenta-se como uma fonte amilácea potencial.

Recentemente, estudos foram realizados sobre a extração do amido de

fruta-de-lobo. Pascoal (2014) utilizou no processo de extração solução de ácido cítrico

(0,8% p/v), nas etapas de lavagem do amido, e álcool etílico para ressuspender o

amido decantado. Clerici et al. (2011) realizaram a desintegração da polpa de fruta-de-

lobo em água e após o processo de peneiragem, separou-se o líquido sobrenadante, o

qual foi seco, da fração que ficou retida na peneira, denominados de amido e farinha,

respectivamente.

Uma maneira de se obter um maior aproveitamento da fruta-de-lobo é

através da extração da farinha, aproveitando os teores de amido, fibras, lipídeos e

proteínas que apresenta. Porém, na literatura encontra-se reportado apenas este

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trabalho de Clerici et al. (2011) sobre as características físicas, químicas e tecnológicas

da farinha. Além disso, uma maior elucidação dessas características possibilita o

possível direcionamento para utilização do amido e farinha na indústria de alimentos.

Dessa maneira, o objetivo deste trabalho foi a realização de um estudo das

características centesimais, físico-químicas e estruturais do amido e da farinha com

enfoque na produção de filmes biodegradáveis, já que na literatura ainda não foi

reportado a utilização de farinha de fruta-de-lobo com esta finalidade, mostrando-se

este estudo como uma inovação na área de embalagens elaboradas a partir de materiais

compósitos.

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2.2 MATERIAL E MÉTODOS

2.2.1 Materiais

O amido e a farinha foram obtidos através de frutas-de-lobo (Solanum

lycocarpum A. St.-Hil) em estágios de maturação verde sem qualquer tipo de

tratamento pós-colheita. As frutas foram colhidas na cidade de Diamantina-MG, Brasil

(-18.228930, -43.610849) no período de agosto de 2017 e armazenadas sobre

refrigeração até a etapa de extração do amido e da farinha. Todos os reagentes

químicos utilizados no decorrer do projeto são de grau analítico.

2.2.2 Obtenção da farinha de fruta-de-lobo

A extração da farinha de fruta-de-lobo seguiu a metodologia de Pelissari et

al. (2012), com modificações. As frutas-de-lobo imaturas foram lavadas, descascadas e

suas sementes retiradas. Em seguida, foram cortadas em formato cúbico e imersas em

solução de metabissulfito de potássio (1% p/v), por 15 minutos, a fim de evitar o

escurecimento enzimático. O material foi desintegrado em liquidificador na proporção

1:3 (polpa de fruta:água destilada). A pasta obtida foi disposta em bandejas e seca em

estufa de convecção forçada à 45 ºC por 72 horas. Em seguida, o material foi moído

em moinho de facas (modelo 226102, Lucadema Científica Ltda), peneirado

consecutivamente em mesa vibratória (24, 32, 48 e 65 meshes), a fim de eliminar

partículas maiores, e armazenado a 4 ºC em recipiente hermeticamente fechado. A

Figura 2.1 mostra o processo de obtenção da farinha de fruta-de-lobo.

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Figura 2.5 - Fluxograma para obtenção da farinha de fruta-de-lobo

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2.2.3 Obtenção do amido de fruta-de-lobo

Para a obtenção do amido de fruta-de-lobo, as frutas verdes foram lavadas,

descascadas, suas sementes retiradas e então a polpa foi cortada em formato cúbico.

Os pedaços foram imersos em solução de metabissulfito de potássio (1% p/v), por 15

minutos, para evitar o escurecimento enzimático. A seguir, o material foi desintegrado

em liquidificador na proporção 1:1 (polpa de fruta:água destilada). O homogenato foi

peneirado consecutivamente através de peneiras de 65 e 100 meshes resultando em

dois produtos: farelo (rico em fibras) e solução de amido (componente de interesse). A

solução de amido foi submetida à decantação durante cinco horas e o sedimento

resultante foi lavado sucessivamente com álcool etílico hidratado (92,8º INPM) até a

obtenção de uma cor branca uniforme no produto. O sedimento branco foi disposto em

bandejas e seco em estufa de convecção forçada à 45 ºC por 48 horas. Após a obtenção

do produto seco, o amido foi submetido à moagem em moinho de facas (modelo

226102, Lucadema Científica Ltda) e armazenado a 4 ºC em recipiente

hermeticamente fechado. O processo de obtenção do amido da fruta-de-lobo seguiu a

metodologia descrita por Pelissari (2012), com algumas modificações e é demostrado

na Figura 2.2.

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Figura 2.6 - Fluxograma para obtenção do amido de fruta-de-lobo

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2.2.4 Caracterização das matérias-primas

2.2.4.1 Composição centesimal

O conteúdo de umidade, cinzas, proteína e fibra bruta foram determinados

pelos métodos da AOAC (2005). Para a análise de teor de lipídeos foi empregado o

método de Soxhlet (1995) e o conteúdo de carboidratos foi calculado por diferença. A

determinação do teor de amido foi realizada seguindo o método de Lane Eynon .

Todos os ensaios foram conduzidos em triplicata.

2.2.4.2 Determinação de rendimento

O cálculo do rendimento de extração foi realizado comparando o peso obtido de

farinha e amido ao final do processo em relação ao peso inicial da fruta-de-lobo integral.

2.2.4.3 Propriedades de cor

As amostras de farinha e amido de fruta-de-lobo foram submetidas à

análise de cor através do colorímetro espectrofotômetro CM-5 (Konica Minolta) em

modo de reflectância, utilizando o iluminante D65 (luz do dia) e sistema de

classificação CIELab (HUNTERLAB, 1996). As medidas, realizadas em

quadruplicata, foram expressas em termos dos parâmetros L* (Luminosidade,

variando do preto L* = 0 ao branco L* = 100), a* (+a* = vermelho e -a* = verde) e b*

(+b* = amarelo e b* = azul). Com esses parâmetros, foi calculado, através da Equação

2.1 a diferença total de cor (ΔE*):

b¿−b0

¿¿

2

a¿−a0

¿¿

2+¿

¿L¿

−L0¿¿

2+¿

¿¿

∆ E¿=¿

[2.1]

Onde L* e Lo são o grau de intensidade da amostra e padrão, respectivamente, a* e b* os

parâmetros croma da amostra e ao* e bo* os parâmetros croma padrão.

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2.2.4.3 Determinação do conteúdo de amido

O conteúdo de amido nas amostras de farinha e amido de fruta-de-lobo foi

determinado através do método de Lane-Eynon. As amostras foram pesadas,

hidrolisadas com HCl concentrado autoclavadas e então neutralizadas com auxílio de

NaOH (40%). Após decantação e filtração das amostras, as mesmas foram tituladas

utilizando o azul de metileno (1%) como indicador. A análise foi conduzida em

triplicata e os resultados obtidos foram expressos de acordo com a média.

A percentagem de amido em cada amostra foi determinada através da

Equação 2.2:

Amido ( )=V x f x 100 x 0,9

v x P[2.2]

Onde V é o volume final da solução com a amostra, v o volume gasto na titulação, f o fator da

solução de Fehling e P o peso da amostra.

2.2.4.5 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

A farinha e o amido de fruta-de-lobo foram analisados através da

microscopia eletrônica de varredura para avaliação da microestrutura. As amostras

foram fixadas com auxílio de fita dupla face e revestidas com uma camada de ouro

(Sputter Coater POLARON, modelo SCD050), a fim de melhorar a condutividade. As

amostras revestidas foram visualizadas sob o microscópio eletrônico de varredura

(TESCAN, modelo VEGA-LMH, Brno – República Checa), com tensão de aceleração

de 10 kV e através do software o tamanho dos grânulos de amido foram medidos

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2.2.4.6 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)

A análise de FTIR foi realizada em um espectrofotômetro com

transformada de Fourier (Varian, modelo 640-IR), provido de acessório UATR

(atenuador de reflectância total universal). As análises foram realizadas na região do

infravermelho, com 64 varreduras e comprimento de onda entre 4000 a 400 cm-1 para

uma resolução espectral de 4 cm-1.

2.2.4.7 Poder intumescimento e solubilidade

O poder de intumescimento (PI) e solubilidade (S) da farinha e do amido

de fruta-de-lobo foram determinados em triplicata, seguindo a metodologia de Li e

Yeh (2001). Foram pesadas, aproximadamente, 0,1 g (b.s.) de amostra em 10 mL de

água destilada e as amostras foram submetidas ao aquecimento (55, 65, 75 e 85 ºC)

por 30 minutos. As amostras foram resfriadas até temperatura ambiente e

centrifugadas a 3000 rpm por 15 minutos, para separação do sobrenadante e

precipitado. O sobrenadante foi transferido para um pesa-filtro, seco a 105 ºC por 24 h

e então pesado. O precipitado, considerado sedimento úmido, foi pesado para

determinação do poder de inchamento dos grânulos. O poder de intumescimento (g/g)

e a solubilidade (%) foram estimados com as Equações 2.3 e 2.4, respectivamente:

PI=PsP x Pd

[2.3 ]

S=PdPx 100

[2.4 ]

Onde P é o peso da amostra (g), Ps o peso do sedimento úmido (g) e Pd o peso do

sobrenadante seco (g).

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2.2.4.8 Microscopia óptica

As amostras de farinha e amido de fruta-de-lobo gelatinizadas nas

temperaturas de 55, 65, 75 e 85 ºC foram colocadas na lâmina do microscópio óptico

(Nikon, EPIPHOT 200) e coradas com solução de iodo 2%. Com auxílio da câmera

(PREMIÈRE, MA88-900) acoplada ao microscópio, as amostras foram fotografadas

com ampliação de 40x.

2.2.5 Análise estatística

Para a estatística das propriedades de composição centesimal e óptica da

farinha e do amido de fruta-de-lobo foi realizada a análise de variância (ANOVA) e o

teste T ao nível de 5% de significância, com auxílio do programa Statistica 7.0

(StatSoft Inc, Oklahoma, EUA).

2.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.3.1 Composição centesimal

Nas etapas de descascamento e fatiamento foi observado o escurecimento

da polpa de fruta-de-lobo, sendo evitado posteriormente, utilizando solução de

metabissulfito de potássio (1% p/v). Segundo Zhou et al. (2018), os compostos

fenólicos presentes nas frutas são responsáveis pela predisposição ao escurecimento. O

escurecimento enzimático ocorre quando certos compostos fenólicos existentes nos

tecidos vegetais sofrem oxidação para ortoquinonas em reação catalisada pela enzima

polifenoloxidase. As quinonas, por sua vez, se polimerizam formando pigmentos

vermelhos, marrons ou pretos. A oxidação desses compostos fenólicos ocorre quando

os tecidos vegetais são cortados ou danificados (JIANG et al., 2016).

O amido obteve um rendimento em base seca de 7,4%, valor este muito

inferior ao reportado por Pascoal et al. (2014), de 51%, porém similar aos estudos de

Santos (2009) e Clerici et al. (2011), de 5,9% e 4,8%, respectivamente. Há poucos

estudos na literatura sobre a farinha de fruta-de-lobo. No presente trabalho, o

rendimento encontrado para esta matéria-prima foi de 14,5%, sendo superior ao

relatado por Clerici et al. (2011), de 7,4%. O maior valor de rendimento para farinha

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deve-se a menor quantidade de etapas realizadas durante o processo de obtenção.

Ademais, diferentes estádios de maturação da fruta, condições sazonais e processos de

extração, são provavelmente os principais fatores que influenciaram nas diferenças dos

rendimentos encontrados tanto da farinha como do amido em relação aos estudos da

literatura.

A composição centesimal da farinha e do amido de fruta-de-lobo é

apresentada na Tabela 2.1.

Tabela 2.3 - Composição centesimal da farinha e do amido da fruta-de-lobo (g/100 g em base seca., exceto

umidade)

Componente Farinha Amido

Umidade 8,50 ± 0,12 a 8,06 ± 0,05 a

Proteínas 3,33 ± 0,24 a 0,58 ± 0,41 b

Lipídeos 4,10 ± 0,42 a 2,55 ± 0,06 b

Cinzas 2,40 ± 0,15 a 0,16 ± 0,05 b

Fibra bruta 19,97± 0,33 a 1,57 ± 0,23 b

Carboidratos * 61,70 ± 0,75 a 87,23 ± 0,64 b

* Valor calculado por diferença.

a,b Médias com expoentes diferentes na mesma linha indicam diferença estatística (p < 0,05) pelo teste T.

De acordo com a Tabela 2.1, os componentes proteínas, cinzas,

carboidratos, lipídeos e fibra bruta apresentaram diferença estatística significativa (p <

0,05) entre as matérias-primas. De maneira geral, ambas as matérias-primas

apresentaram importantes valores de teor de carboidratos para a elaboração de filmes

biodegradáveis. Ademais, os valores mais baixos de cinzas, proteínas, lipídeos e fibra

bruta no amido do que na farinha demonstram que esses componentes foram

amplamente extraídos durante a preparação do amido. O alto teor de fibras encontrado

na composição centesimal da farinha mostrou-se como um fator importante para

utilizar essa matéria-prima na elaboração de filmes biodegradáveis, já que este

componente contribui nas propriedades mecânicas dos filmes, tornando-os mais

flexíveis.

Resultados similares aos encontrados neste trabalho foram reportados por

Pereira (2011), tendo o amido nativo valores de 10,97% de umidade, 0,22% de cinzas,

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0,08% de lipídeos, 0,03% de fibras e 0,36% de proteínas. No presente estudo, os

valores da composição química da farinha de fruta-de-lobo em termos de conteúdo de

proteínas (3,33%), cinzas (2,40%), e fibras com carboidratos (81,67%) foram

inferiores aos encontrados no trabalho de Clerici e colaboradores (2011) (7,31%,

3,81% e 76,32%, respectivamente). Exceto para o teor de lipídeos, que apresentou

valor superior de 4,10% em nosso estudo comparado a 1,04%.

O processo de extração de farinha utilizado por cada trabalho é diferente, o

que justifica a divergência nos resultados encontrados. No presente estudo, a obtenção

da farinha é realizada através da trituração da polpa da fruta, seguida de secagem e

peneiramento para retenção das partículas maiores. Enquanto que no estudo de Clerici

et al. (2011), o material desintegrado foi filtrado através de peneira resultando em dois

produtos: farinha (componente retido na peneira, rico em fibras) e leite de amido

(material filtrado pela peneira). Desta maneira, constata-se que o método utilizado

nesse trabalho contabiliza a fração amilácea, além da etapa de peneiramento promover

uma maior retenção das macromoléculas, justificando os valores inferiores

encontrados na composição centesimal da farinha de fruta-de-lobo.

A quantidade de carboidratos determinada engloba a fração amilácea das

matérias-primas, sendo que os valores obtidos foram de 40,62% para a farinha de

fruta-de-lobo, enquanto que o amido de fruta-de-lobo apresentou uma pureza de

86,84%. Esses valores do teor de amido demonstram que ambas as matérias-primas

têm potencial para serem avaliadas no desenvolvimento de filmes biodegradáveis.

2.3.2 Análise de cor

Os parâmetros de cor estão descritos na Tabela 2.2.

Tabela 2.4 - Parâmetros de cor para a farinha e o amido de fruta-de-lobo

Parâmetro Farinha Amido

L* 89,89 ± 0,05 b 91,71 ± 0,09 a

a* -0,97 ± 0,0 a -0,17 ± 0,0 b

b* 6,17 ± 0,15 a 3,47 ± 0,09 b

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ΔE* 11,88 ± 0,04 a 8,98 ± 0,05 b

a,b Médias com expoentes diferentes na mesma linha indicam diferença estatística (p < 0,05).

De modo geral, as matérias-primas extraídas da lobeira apresentam

coloração verde (parâmetro a* negativo) e amarelada (parâmetro b* positivo), sendo

os valores mais intensos para a farinha, conforme visualizado na Figura 2.3. Os

resultados encontrados podem ser justificados pelo estádio imaturo da fruta, bem

como da cor amarela presente em sua polpa. Além disso, a coloração amarelada mais

acentuada para a matéria-prima farinha está relacionada com a presença de proteínas

(TÁPIA-BLÁCIDO et al., 2007). A farinha de fruta-de-lobo obteve um menor valor de luminosidade (L*),

apresentando-se, portanto mais escura que o amido. Isto se deve à presença de maiores

concentrações de outros componentes (proteínas, lipídeos, cinzas e fibras) na

composição da farinha. Com base nos baixos valores de diferença de cor (ΔE*), ambas

as matérias-primas podem ser recomendadas para uso em produtos que requerem uma

cor uniforme (por exemplo, sorvetes, sucos, doces).

Figura 2.7- Aspecto visual da farinha (A), do amido (B) de fruta-de-lobo e da fruta-de-lobo (C)

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2.3.3 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

As micrografias eletrônicas de varredura da farinha (FIG 2.4A) e do amido (FIG

2.4B) de fruta-de-lobo mostram que os grânulos de amido apresentam-se no formato

arredondado irregular, similares aos reportados nos estudos de Medeiros et al. (2014) e

Pascoal et al. (2013). O diâmetro médio dos grânulos de amido na farinha e no amido de

fruta-de-lobo foi de 13,33 µm e 12 µm, respectivamente, valores estes inferiores, porém

próximo ao relatado por Santos (2009) de 16,55 µm. A presença de fibras entremeadas aos

grânulos de amido da farinha pode ser vista na Figura 2.4B.

Figura 2.8 - Micrografias eletrônicas de varredura do amido (A) e da farinha (B) de fruta-de-lobo (2000x, barra deescala = 20 µm)

Os grânulos de amido da farinha e do amido da fruta-de-lobo

apresentaram-se íntegros, revelando que o processo de extração foi efetivo e não

alterou a morfologia do grânulo.

2.3.4 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)

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A Figura 2.5 apresenta os espectros de FTIR para a farinha e o amido de fruta-de-

lobo.

Figura 2.9 – Espectros de FTIR da farinha e do amido de fruta-de-lobo

Object 19

As amostras apresentaram uma banda larga na faixa de 3262 cm-1 o qual é

atribuído às vibrações de ligações O-H. Essa região apresenta uma base larga e arredonda que

segundo Solomons et al. (2013), indica a contribuição majoritária das moléculas de água,

localizada teoricamente em 3500 cm-1.

Ambas matérias-primas exibiram uma banda em 2850 cm-1 atribuída a

vibração de estiramento das ligações C-H. A região com comprimento de onda 2254

cm-1 está relacionada a presença de CO2 (SUBRAMANIYAM et al., 2014). Entre 1200 e 1700 cm-1 estão as bandas referentes ao grupo das proteínas.

Neste caso foi possível analisar a banda em 1581 cm-1, relacionada as amidas

primárias (que são encontradas entre 1560 e 1640 cm-1) e a banda 1332 cm-1, que

indica a presença de amidas terciárias (presentes entre 1200 e 1350 cm-1) (SINGH,

1999). Esta última surge do alongamento da ligação C-N e da flexão da ligação N-H

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do grupo amida das proteínas. Estas bandas foram observadas em todas as matérias-

primas estudadas.A região entre 1143 a 400 cm-1 é associada a presença de carboidratos nas

amostras de amido e farinha de fruta-de-lobo. A banda 1110 cm-1 indica a vibração do

estiramento de C-O e as bandas presentes em 1029 cm-1 e 987 cm-1 correspondem ao

estiramento C-O-C e C-OH, respectivamente (FAN et al., 2012; PAVIA et al., 2010). Exceto as bandas características dos carboidratos, todas as demais foram

mais pronunciadas (intensas) na farinha do que no amido de fruta-de-lobo. Estes

resultados estão em concordância com a composição centesimal das matérias-primas.

2.3.5 Poder de intumescimento e solubilidade

O poder de intumescimento (PI) e a solubilidade (S) da farinha e do amido de

fruta-de-lobo são demonstrados na Figura 2.6. A faixa estudada compreende a faixa da

temperatura de gelatinização dessas matérias-primas.

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70

Figura 2.10 - Efeito da temperatura sobre o poder de intumescimento

O amido e a farinha de fruta-de-lobo apresentaram uma maior variação

para o poder de intumescimento a partir da temperatura de 75ºC, tendo essa

temperatura maior influência sobre as matérias-primas. O poder de intumescimento

está relacionado com a capacidade do grânulo em absorver água com a variação de

temperatura (ASAOKA et al., 1992). Sendo que o aumento da agitação térmica tende a

impulsionar a quebra das ligações de hidrogênio, fazendo com que as moléculas de

água se liguem as hidroxilas presentes na estrutura e assim permite identificar o poder

de intumescimento e solubilidade dos grânulos (LEOPOLDINO, 2017).

A

B*A barra de erros representa o desvio padrão das medidas

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O poder de intumescimento da farinha e do amido de fruta-de-lobo variou

de 8,83 a 15,08 e 8,78 a 22,21 g/g, respectivamente. Sendo que a farinha apresentou

menores valores para temperaturas acima de 65ºC. Segundo Ye e colaboradores

(2018), a presença de outros componentes na farinha como lipídeos, proteínas e fibras

influencia a permeação da água durante o processo de gelatinização, restringindo o

poder de inchamento dos grânulos. A temperatura afetou gradualmente a solubilidade das matérias-primas,

sendo os valores obtidos para farinha superiores do que do amido para todos os

pontos; variando de 6,66 a 14,73% e 1,01 a 6,73%, respectivamente. Este fato pode ser

o resultado da maior presença de materiais solúveis como açúcares (redutores e não

redutores) e fibra solúvel (pectinas, gomas, mucilagens e algumas hemiceluloses)

presentes na farinha. Comportamentos similares foram reportados por Andrade-

Mahecha et al. (2012) e Pelissari et al. (2012) para farinhas de biri e banana quando

comparadas com o amido da mesma espécie vegetal, respectivamente. Ademais, este

comportamento também foi observado nos estudos de Mir e Bosco (2014) que ao

analisar a solubilidade de determinadas cultivares de farinha de arroz, concluiu que a

alta solubilidade da farinha comparada ao amido se deve ao maior teor de

amilopectina. Portanto, a solubilidade é inversamente proporcional ao teor de amilose

presente na matéria-prima, pois a sua estrutura permite uma maior inibição a

degradação quando comparada a estrutura da amilopectina. De acordo com Pascoal

(2014), o amido de fruta-de-lobo possui um teor de amilose de 34,66%. A máxima

solubilidade que o amido apresentou neste experimentou foi de 6,73% para 85 ºC,

valor este superior, porém comparável ao encontrado por Santos (2009), de 6,14%

para 90ºC.

2.3.6 Microscopia óptica

A Figura 2.7 permite visualizar o comportamento dos grânulos de amido com o

aumento da temperatura na faixa estudada. Nestas fotografias, a estrutura dos grânulos foi

colorida com solução de iodo. Nota-se que o incremento na temperatura resulta em um

aumento no tamanho dos grânulos, seguido pela ruptura destes e liberação de amilose. Esta

liberação pode ser visualizada a partir de 75°C (FIG. 2.7A3 – A4, FIG. 2.7B3 – B4), onde

aparece regiões azuis ao redor dos grânulos de amido inchados. As imagens demonstram um

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intumescimento dos grânulos mais pronunciado a partir de 75°C, estando de acordo com os

resultados encontrados para o poder de intumescimento e solubilidade, o qual tem-se um

aumento maior nos valores de ambas estas propriedades, observadas para temperaturas

superiores a 65°C.

Figura 2.11 - Microscopia óptica da farinha (A) e do amido (B) de fruta-de-lobo em diferentes temperaturas de gelatinização:1) 55ºC, 2) 65ºC, 3) 75ºC, 4) 85ºC em aumentos de 40x

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2.4 CONCLUSÃO

Pode-se concluir durante a extração e a caracterização do amido e da farinha de

fruta-de-lobo que o rendimento e a composição centesimal de ambos os materiais varia

conforme diversos fatores, tais como o método de extração da matéria-prima, a região que a

fruta foi obtida, as características do solo, a variedade, entre outros. O amido e a farinha de

fruta-de-lobo apresentam aumento no poder de intumescimento e solubilidade a partir de 65

ºC,sendo de 11,49 g/g e 1,67 % para o amido e 11,85 g/g e 11,24 % para a farinha,

respectivamente, podendo sugerir aplicações e/ou substituições em determinados produtos.

Além disso, as matérias-primas e principalmente a farinha apresentaram em sua composição

centesimal a presença de macromoléculas, com enfoque aom alto teor de fibras, podendo ser

incorporadas em produtos alimentícios como enriquecimento. Devido a presença do amido na

fruta-de-lobo, esta matéria-prima pode ainda ser estudada como potencial fonte na elaboração

de filmes biodegradáveis.

2.5 REFERÊNCIAS

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Capítulo 3

Otimização das propriedades mecânicas e solubilidade dos filmes biodegradáveis de

farinha de fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil)

Resumo

Filmes biodegradáveis a base de farinha de fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil)

foram elaborados pelo processo de casting utilizando o glicerol como agente plastificante. Foi

realizado um estudo sobre a influência das condições de processo: concentração de glicerol

(Cg), temperatura de processo (Tp) e temperatura de secagem (Ts) sobre as propriedades

mecânicas e solubilidade em água dos filmes, empregando-se um delineamento composto

central rotacional (DCCR) 23, totalizando 17 ensaios. Os resultados foram analisados

estatisticamente por metodologia de superfície de resposta e função de desejabilidade (análise

multiresposta), e as condições ótimas de processo dos filmes foram determinadas. O estudo

revelou que as variáveis de processo influenciaram significativamente (p < 0,10) sobre as

propriedades mecânicas (tensão, elongação e módulo de Young) e solubilidade em água dos

filmes, exceto pela temperatura de processo para o módulo de Young. A função desejabilidade

permitiu encontrar as condições ótimas de processo para a elaboração dos filmes de farinha de

fruta-de-lobo: Cg = 17,06 g/100 g de farinha, Tp = 85 ºC e Ts = 53 ºC, provando ser uma

ferramenta eficaz para este tipo de estudo. Os filmes produzidos sob estas condições

apresentaram 17,74 MPa de tensão na ruptura, 12,30% de elongação, 612,43 MPa de módulo

de Young e 33,22% de solubilidade em água.

Palavras-chave: biopolímeros, embalagens biodegradáveis, ensaios mecânicos, solubilidade

em água, planejamento experimental, função desejabilidade.

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3.1 INTRODUÇÃO

Conceitos de sustentabilidade são aplicados rotineiramente na sociedade e

indústrias como forma de minimizar os impactos ambientais causados pela geração de

resíduos sólidos. Geralmente estes impactos são adversos e implicam em danos ao

meio ambiente quando não são gerenciados adequadamente. Segundo a PlasticsEurope

(2017), cerca de 40% dos produtos alimentícios são embalados em materiais

sintéticos, e com isso há grande preocupação sobre o descarte inadequado e/ou

dificuldade de reciclagem destes materiais (LUCHESE et al., 2018). Nesse sentido,

diversos estudos têm sido realizados no âmbito do desenvolvimento de embalagens

biodegradáveis a fim de minimizar os impactos ambientais ocasionados pelas

embalagens sintéticas (LI et al., 2018). Entre os polímeros naturais, o amido é o polissacarídeo mais estudado para

elaboração de filmes biodegradáveis, devido a sua grande disponibilidade e por ser de

baixo custo (BASIAK et al., 2017; JAN et al., 2017). Porém, filmes elaborados apenas

com este polissacarídeo apresentam algumas características indesejáveis, tais como

serem quebradiços e sensíveis a umidade. Uma maneira de melhorar as características

destes filmes é através da incorporação de outros componentes na matriz polimérica

como proteínas, fibras, lipídeos, entre outros, denominado filmes compósitos

(BIDUSKI, 2016). Entretanto, a incompatibilidade entre os componentes pode ocorrer

por serem advindos de fontes diferentes. Uma alternativa de contornar este problema é

a utilização das farinhas como matéria-prima (DAUDT et al., 2016). Alguns autores têm estudado o potencial das farinhas de diversas fontes

para a elaboração de filmes biodegradáveis, como centeio, biri, arroz e banana

(ANDRADE-MAHECHA et al., 2012; DIAS et al., 2010; DRAKOS et al., 2018;

PELISSARI et al., 2013). Uma matéria-prima interessante e não convencional para a

elaboração de filmes biodegradáveis é a fruta-de-lobo. Típica da região do Cerrado,

conhecida popularmente como a fruta-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil), esta

planta se desenvolve em ambientes hostis em relação ao solo e clima (KLINK e

MACHADO, 2005).

Ainda não há relatos na literatura da utilização da farinha de fruta-de-lobo para

elaboração de filmes biodegradáveis, porém devido ao teor significativo de amido encontrado

na farinha elaborada neste estudo, 40,62% (Secção 2.2.4.3), esta matéria-prima mostra-se

como uma alternativa viável de estudo.

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Sabendo que diversos fatores podem influenciar nas características dos filmes,

neste capítulo foi realizado um estudo sobre a influência da concentração de glicerol (Cg),

temperatura de processo (Tp) e temperatura de secagem (Ts) sobre as propriedades mecânicas

e solubilidade em água dos filmes. Desta maneira, o objetivo deste estudo foi determinar as

condições ótimas de processo para obtenção de filmes de farinha de fruta-de-lobo com

maiores valores para propriedades mecânicas e baixa solubilidade dos mesmos, utilizando

para este fim a metodologia de superfície de resposta e análise da função desejabilidade.

3.2 MATERIAL E MÉTODOS

3.2.1 Material

A farinha foi obtida através de frutas-de-lobo (Solanum lycocarpum A. St.-Hil) em

estágios de maturação verde sem qualquer tipo de tratamento pós-colheita. As frutas foram

colhidas na cidade de Diamantina-MG, Brasil (-18.228930, -43.610849) no período de agosto

de 2017 e armazenadas sobre refrigeração até a etapa de extração da farinha. A farinha foi

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elaborada de acordo com a metodologia descrita na Seção 2.2.2 do Capítulo 2. Todos os

reagentes químicos utilizados no decorrer do projeto são de grau analítico.

3.2.2 Composição centesimal da farinha de fruta-de-lobo

O conteúdo de umidade, cinzas, proteína e fibra bruta foram determinados pelos

métodos da AOAC (2005). Para a análise de teor de lipídeos foi empregado o método de

Soxhlet (1995) e o conteúdo de carboidratos foi calculado por diferença. Todos os ensaios

foram conduzidos em triplicata.

3.2.3 Produção dos filmes

Os filmes biodegradáveis foram elaborados de acordo com a técnica de

casting seguindo a metodologia aplicada por Krstic et al. (2017) que fundamenta-se na

aplicação da solução filmogênica (SF) sobre um molde. A metodologia consistiu na

homogeneização de uma solução aquosa contendo 4% (p/p, em base seca) de farinha

de fruta-de-lobo em um agitador magnético (modelo TE-0851, Tecnal) durante 30

minutos. Em seguida, realizou-se o aquecimento desta solução até a temperatura de

processo (Tp: 75 a 90 ºC). Assim que a SF atingiu o valor de Tp foi adicionado o

glicerol como plastificante (Cg: 15 a 30 g de glicerol/100 g de farinha), mantendo-se a

solução nesta temperatura por 15 minutos. A adição do plastificante tem o efeito de

promover o melhor deslizamento dos componentes. Após esta etapa, 70 g da solução

formadora de filme foram vertidas em placas de acrílico (18 x 21 cm), onde a

quantidade de solução utilizada foi determinada através de ensaios preliminares a fim

de obter uma espessura constante. O controle deste parâmetro é fundamental dado sua

influência nas propriedades dos biofilmes (SOBRAL, 2000). Os filmes foram então

submetidos à secagem em estufa de convecção forçada com controle de temperatura

(Ts: 40 a 70 ºC).

Os filmes secos foram acondicionados em dessecadores sob umidade

relativa (UR) de 58% a 25 ºC por 48h, para posteriormente serem caracterizados

quanto ao conteúdo de umidade e propriedades mecânicas.

A Figura 3.1 demonstra o fluxograma para a obtenção dos filmes

biodegradáveis a partir da farinha de fruta-de-lobo.

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Figura 3.12 - Fluxograma da elaboração dos filmes de farinha de fruta-de-lobo

3.2.4 Caracterização dos filmes

3.2.4.1 Espessura e densidade

A análise de espessura dos filmes foi realizada através da utilização de um

micrômetro digital (modelo Digimatic Micrometer Series 293 MDC-Lite, Mitutoyo

Corporation, Japão), com precisão de 0,0001 mm, em 10 posições diferentes. A

espessura de cada filme foi determinada a partir da média de 10 medidas aleatórias.

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Para determinação da densidade, as amostras dos filmes foram cortadas em

quadrados (20 x 20 mm) e a espessura das mesmas foi medida. As amostras foram

secas a 105 ºC por 24 h e após esse período foram pesadas. A densidade foi calculada

em função da razão entre a massa e o volume (espessura x área) do filme. A densidade

foi avaliada em triplicata e os dados foram relatados como valores médios.

3.2.4.2 Umidade

O conteúdo de umidade foi realizado através do método gravimétrico

padrão da ASTM D644-99 (ASTM, 2007), através da secagem dos filmes em estufa a

105 ºC por 24 h. A análise foi conduzida em triplicata.

3.2.4.3 Propriedades mecânicas

As propriedades mecânicas de tensão, elongação e módulo de Young

foram realizadas em um texturômetro (Stable Micro Systems, modelo TA.TX Plus,

Surrey, Inglaterra), empregando-se o programa Texture Exponent Lite. Os parâmetros

foram selecionados de acordo com o método padrão da ASTM D882-12 (ASTM,

2012), sendo realizado seis determinações por cada amostra. Os corpos de prova

foram cortados em dimensões de 10 mm de largura e 50 mm de comprimento (Figura

3.2A), e submetidos ao teste de tração com velocidade de 1,0 mm/s, partindo-se de

uma separação inicial de 30 mm até a ruptura do filme (Figura 3.2B). A tensão na

ruptura e a elongação na ruptura foram obtidas diretamente da curva de tensão em

função da elongação, e o módulo de Young foi obtido pela tangente na região linear da

curva.

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Figura 3.13 - Dimensões das amostras de filmes utilizados para as análises de propriedades mecânicas (A) e oequipamento utilizado (B)

3.2.4.4 Solubilidade em água

A solubilidade foi determinada conforme a metodologia proposta por

Gontard et al. (1992), na qual três discos de cada amostra de massa seca inicial

conhecida e com 1,9 cm de diâmetro foram imersos em 50 mL de água destilada a 25

°C por 24 horas, sob agitação esporádica. Decorrido esse tempo, a matéria sólida

insolúvel foi obtida por filtração e levada à secagem em estufa a 105 °C por 24 horas

para determinação da massa seca final da amostra. As análises foram conduzidas em

quadruplicata e a solubilidade em água foi calculada conforme a Equação 3.1:

%S=mi−mfmi

×100[3.1]

Onde %S é a porcentagem de material solubilizado, mi é a massa seca inicial da amostra (g), e

mf é a massa seca final da amostra (g).

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3.2.5 Planejamento experimental

A fim de otimizar o processo de produção de filmes de farinha de fruta-de-

lobo empregou-se um delineamento composto central rotacional (DCCR) 23, com três

pontos centrais e seis pontos axiais, totalizando 17 ensaios (RODRIGUES e IEMMA,

2005). Com o intuito de avaliar a influência das condições de processo sob as

propriedades dos filmes, estudou-se três variáveis independentes: concentração de

glicerol (Cg), temperatura de processo (Tp) e temperatura de secagem (Ts). As

variáveis dependentes (respostas) foram tensão, elongação, módulo de Young e

solubilidade em água. Os valores reais e codificados dos níveis das variáveis

independentes encontram-se na Tabela 3.1. As faixas de estudos para as variáveis

foram selecionadas a partir da literatura e ensaios preliminares.

Tabela 3.0-5 - Valores das variáveis independentes estudadas no DCCR para a elaboração de filmes de farinha de

fruta-de-lobo

Variável independente CódigoNíveis

-1,68 -1 0 1 1,68

Concentração de glicerol (%) X1 15,0 18,0 22,5 26,9 30,0

Temperatura de processo (ºC) X2 75,0 78,0 82,5 86,9 90,0

Temperatura de secagem (ºC) X3 40,0 46,0 55,0 63,9 70,0

Um modelo de segunda ordem (Equação 2) foi adotado para ajustar as

variáveis respostas:

Y=β0+∑ β i X i+∑ β i2X i

2+∑ β ij X iX j

[3.2]

Onde Y são as variáveis dependentes, Xi e Xj são as variáveis independentes codificadas, β0 é

o coeficiente de valor constante, βi é o coeficiente linear, βi2 é o coeficiente quadrático, e βij é

o coeficiente de interação.

A análise estatística dos dados experimentais e a metodologia de superfície

de resposta foram realizadas usando o software Statistica 7.0 (StatSoft Inc, Oklahoma,

EUA), com nível de significância de 10%.

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3.2.6 Otimização e validação das condições de processo para elaboração de filmes

Através da metodologia de superfície de resposta e a função

desejabilidade, proposta por Derringer e Suich (1980), foram obtidos os valores das

condições de processo ótimas para a produção de filmes de farinha de fruta-de-lobo.

Este método realiza primeiramente a obtenção da função desejabilidade individual (di)

para cada variável resposta (Yi), de acordo com os critérios estabelecidos, sendo 0 ≤ di

≤ 1. Uma resposta totalmente desejável é atingida quando di = 1 e uma resposta

indesejável com di = 0. Para as respostas de tensão na ruptura, elongação e módulo de Young as

funções de desejabilidade individuais foram maximizadas, de acordo com a equação

(3).

d i=Y i−YminY max−Y min

[3.3 ]

Onde di é a função de desejabilidade individual, Yi é cada variável resposta, Ymax é o valor

máximo da resposta e Ymin é o valor mínimo de resposta.

Para a resposta de solubilidade em água, foi realizada a minimização da

função di (Equação 3.4).

d i=Y max−Y iY max−Y min

[3.4 ]

Em uma segunda etapa foi realizada a combinação das funções

desejabilidades individuais (di) em uma função composta denominada desejabilidade

geral (D), possibilitando assim a otimização de várias respostas em uma única função

(Equação 3.5).

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D=(d1n1 , d2

n2,…,dknk )

1k

[3.5 ]

Onde D é a desejabilidade geral, di a desejabilidade individual, k o número de resposta e ni o

peso de cada uma dessas respostas.

Na Tabela 3.2 são demonstrados os valores das variáveis respostas com os

respectivos níveis que foram utilizados na etapa de determinação do ponto ótimo para a

formulação do filme de farinha de fruta-de-lobo. As propriedades almejadas para o filme

foram de alta tensão, elongação e módulo de Young (atribuindo o nível 1 para essas variáveis

respostas na função desejabilidade), e baixa solubilidade em água (atribuindo nível 0).

Tabela 3.0-6 - Parâmetros utilizados na otimização das condições de processo

Variável resposta Níveis Valores Desejabilidade Função

Alto 10 1,0

Tensão na ruptura (MPa) Médio 6 0,5 Maximizar

Baixo 2 0,0

Alto 17 1,0

Elongação (%) Médio 15 0,5 Maximizar

Baixo 13 0,0

Alto 600 1,0

Módulo de Young (MPa) Médio 400 0,5 Maximizar

Baixo 200 0,0

Alto 45 0,0

Solubilidade (%) Médio 40 0,5 Minimizar

Baixo 35 1,0

Através da função desejabilidade foi possível obter a formulação no ponto ótimo,

assim como os valores preditos para as variáveis respostas (Tabela 3.6). Para validação do

delineamento é necessário que os valores experimentais sejam próximos dos valores preditos

e obtenha desvios relativos satisfatórios. A validação do experimento foi conduzida em

triplicata.

3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

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3.3.1 Caracterização centesimal da farinha de fruta-de-lobo

A farinha obtida com menor granulometria (65 mesh, 212 mm) foi

selecionada para caracterização, uma vez que partículas de menores tamanhos

apresentam uma maior uniformidade e homogeneidade, características importantes

para produção de filmes biodegradáveis.

O rendimento de extração da farinha de fruta-lobo foi de 14,5%, sendo

superior ao relatado por Clerici et al. (2011), de 7,4%. Provavelmente, os principais

fatores que influenciaram nas diferenças do rendimento encontrado neste trabalho em

relação ao estudo da literatura foram: o processo utilizado para extração da matéria-

prima, o estágio de maturação da fruta, assim como as condições sazonais.

A composição centesimal determinada, em base seca (com exceção da umidade)

foi: 8,5% ± 0,12 de umidade, 3,33% ± 0,24 de proteínas, 4,10% ± 0,42 de lipídeos, 2,40% ±

0,15 de cinzas, 19,97% ± 0,33 de fibra bruta e 61,70% ± 0,75 de carboidratos, sendo este

calculado por diferença. A composição química da farinha obteve valores inferiores em

termos de conteúdo de proteínas (3,33%), cinzas (2,40%), e fibras com carboidratos (81,67%)

em relação aos valores encontrados no trabalho de Clerici e colaboradores (2011) (7,31%,

3,81% e 76,32%, respectivamente). Exceto o teor de lipídeos, que apresentou valor superior

de 4,10% em nosso estudo comparado a 1,04%. O processo de extração de farinha utilizado

por cada trabalho é diferente, o que justifica a divergência nos resultados encontrados. Em

uma mesma etapa é realizada a separação da farinha e do amido de fruta-de-lobo através do

uso de peneira, resultando na retenção da parte nomeada como farinha, e o líquido decantado

e centrifugado denominado de amido (Clerici et al., 2011). Já no presente estudo, nota-se que

as sucessivas peneiragens utilizadas para extração da farinha promove uma maior retenção

das macromoléculas, justificando os valores inferiores encontrados na composição centesimal

da farinha de fruta-de-lobo nesse trabalho.

3.3.2 Caracterização dos filmes de farinha de fruta-de-lobo

Em geral, todos os filmes exibiram uma superfície homogênea sem bolhas

ou rachaduras, bem como boas características de manuseio, como observado na Figura

3.3. As estruturas foram facilmente destacadas dos suportes, sem rasgar, não sendo

pegajosas ou muito frágeis. Os filmes de farinha de fruta-de-lobo apresentaram

transparência, com coloração amarelo claro e uma espessura média de 0,21 mm.

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Figura 3.14 - Filme biodegradável da farinha de fruta-de-lobo

A Tabela 3.3 demonstra o tempo de secagem, espessura, densidade e

umidade dos filmes obtidos nas diferentes condições de processo testadas no

planejamento experimental. A densidade dos filmes variou de 1,22 a 0,76 g/cm3. A

temperatura de secagem influenciou o tempo de secagem. O uso da condição extrema

de Ts reduziu o tempo de secagem dos filmes em cerca de 80%, em média, como pode

ser notado quando se passa da condição menos drástica (Ts mais baixo – ensaio 13)

para a mais drástica (maior Ts – ensaio 14), considerando a mesma Cg e Tp. Por outro

lado, a variável Cg foi a que mais afetou o teor de umidade dos filmes após o período

de condicionamento (58% UR, 48 h). De fato, filmes com maior concentração de

plastificante em sua composição exibiram maiores valores de umidade quando

comparados com aqueles com Cg inferior, resultado do alto caráter higroscópico do

glicerol. Ao adicionar o agente plastificante glicerol na solução formadora de filme

ocorre um ligeiro rompimento das ligações entre polímeros e água–polímeros, além da

formação de ligações de glicerol–polímero e glicerol–água (JOUKI et al., 2013).

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Portanto, quanto maior a concentração de glicerol no filme, maior será a tendência

deste em absorver água.

Ademais, o ensaio com maior Cg resultou em um filme mais espesso,

sendo este comportamento similar ao observado no estudo de Sadeghi-Varkani et al.

(2018). Menores concentrações do plastificante resultaram em filmes mais densos, já

que os espaços intermoleculares eram menores e consequentemente uma estrutura

mais coesa, resultando em filmes menos espessos. Ao avaliar as propriedades

mecânicas e de barreira dos filmes comestíveis sintetizados a partir da mucilagem de

sementes de Balangu, estes autores justificaram o aumento da espessura com o teor de

glicerol devido ao rompimento das interações moleculares que este plastificante

ocasiona, aumentando assim o espaço entre as moléculas e consequentemente a

espessura dos filmes obtidos (SADEGHI-VARKANI et al., 2018).

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Tabela 3.7 - Matriz do delineamento experimental e algumas propriedades dos filmes de farinha de fruta-de-lobo

EnsaioVariáveis independentes * Tempo de secagem

(h)Espessura

(mm)Densidade

(g/cm3)Umidade

(%)X1 (Cg) X2 (Tp) X3 (Ts)

1 -1 (18,04) -1 (78,04) -1 (46,08) 8,5 0,21 ± 0,02 1,09 ± 0,04 16,83 ± 0,62

2 1 (26,96) -1 (78,04) -1 (46,08) 21,2 0,22 ± 0,02 1,17 ± 0,03 19,36 ± 0,71

3 -1 (18,04) 1 (86,96) -1 (46,08) 7,0 0,21 ± 0,03 1,06 ± 0,01 16,36 ± 0,59

4 1 (26,96) 1 (86,96) -1 (46,08) 9,4 0,18 ± 0,01 1,14 ± 0,06 20,74 ± 0,44

5 -1 (18,04) -1 (78,04) 1 (63,92) 5,0 0,11 ± 0,01 1,12 ± 0,02 15,39 ± 0,38

6 1 (26,96) -1 (78,04) 1 (63,92) 6,5 0,20 ± 0,01 1,22 ± 0,08 22,27 ± 0,38

7 -1 (18,04) 1 (86,96) 1 (63,92) 5,5 0,15 ± 0,01 1,02 ± 0,05 15,46 ± 0,83

8 1 (26,96) 1 (86,96) 1 (63,92) 2,5 0,25 ± 0,02 1,12 ± 0,08 21,45 ± 0,12

9 -1,68 (15,00) 0 (82,50) 0 (55,00) 6,3 0,20 ± 0,02 1,13 ± 0,01 13,73 ± 0,16

10 1,68 (30,00) 0 (82,50) 0 (55,00) 8,5 0,28 ± 0,01 1,03 ± 0,02 24,38 ± 0,90

11 0 (22,50) -1,68 (75,00) 0 (55,00) 3,5 0,23 ± 0,01 1,11 ± 0,04 21,88 ± 1,50

12 0 (22,50) 1,68 (90,00) 0 (55,00) 4,5 0,20 ± 0,02 1,00 ± 0,05 18,74 ± 0,39

13 0 (22,50) 0 (82,50) -1,68 (40,00) 20,0 0,21 ± 0,01 0,76 ± 0,08 20,85 ± 0,91

14 0 (22,50) 0 (82,50) 1,68 (70,00) 4,0 0,23 ± 0,01 1,20 ± 0,04 17,71 ± 0,56

15 0 (22,50) 0 (82,50) 0 (55,00) 6,0 0,16 ± 0,02 0,93 ± 0,01 15,91 ± 0,34

16 0 (22,50) 0 (82,50) 0 (55,00) 6,5 0,23 ± 0,03 1,01 ± 0,08 16,93 ± 0,76

17 0 (22,50) 0 (82,50) 0 (55,00) 6,0 0,23 ± 0,03 1,15 ± 0,08 16,12 ± 0,35* Cg = concentração de glicerol (g/100g de farinha), Tp = temperatura de processo (°C), Ts = temperatura de secagem (°C).

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3.3.3 Análise estatística

A Tabela 3.4 traz os resultados obtidos em relação às propriedades

mecânicas e solubilidade em água dos filmes, de acordo com o planejamento

experimental. Dentro dessas condições de processo, os valores de tensão variaram

entre 1,18 e 10,17 MPa, a elongação de 2,89 a 17,05%, o módulo de Young entre

134,53 e 752,73 MPa e a solubilidade em água apresentou valores de 33,24 a 47,46%.

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Tabela 3.8 - Resultados do delineamento composto central

EnsaioTensão na ruptura (MPa) Elongação na ruptura (%) Módulo de Young (MPa) Solubilidade em água (%)

Y1 Y2 Y3 Y4

1 8,52 ± 0,87 7,59 ± 0,54 429,13 ± 14,73 33,65 ± 0,78

2 5,76 ± 0,28 11,75 ± 0,73 281,06 ± 25,09 41,12 ± 1,82

3 9,23 ± 0,32 12,84 ± 0,78 519,20 ± 14,22 39,49 ± 0,31

4 4,92 ± 0,33 17,05 ± 0,63 197,15 ± 7,49 47,46 ± 0,84

5 4,33 ± 0,65 2,89 ± 0,64 444,66 ± 43,27 34,41 ± 0,92

6 5,20 ± 0,34 11,53 ± 1,58 247,03 ± 24,83 36,40 ± 1,32

7 10,17 ± 0,34 13,17 ± 0,38 442,00 ± 7,21 37,72 ± 1,01

8 3,01 ± 0,18 8,93 ± 0,61 234,26 ± 34,39 42,26 ± 0,21

9 9,73 ± 0,48 8,79 ± 0,43 752,73 ± 9,99 33,24 ± 0,74

10 4,71 ± 0,39 16,77 ± 0,97 134,53 ± 9,19 43,58 ± 1,19

11 1,18 ± 0,15 3,98 ± 0,82 248,50 ± 22,23 34,06 ± 0,70

12 7,30 ± 0,68 12,64 ± 0,72 359,03 ± 23,85 39,53 ± 1,04

13 4,98 ± 0,77 14,29 ± 1,47 266,58 ± 12,73 42,99 ± 1,33

14 4,36 ± 0,40 10,66 ± 1,60 160,76 ± 14,64 37,21 ± 0,84

15 8,89 ± 1,67 13,18 ± 2,70 352,60 ± 26,88 35,24 ± 0,85

16 7,55 ± 0,62 13,68 ± 0,70 336,43 ± 1,55 36,44 ± 0,48

17 8,24 ± 0,15 12,16 ± 1,66 321,73 ± 25,56 36,94 ± 0,74

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Os dados foram analisados estatisticamente, incluindo o ajuste para a

Eq. [3.2], seguido por análise de variância (ANOVA) com nível de significância de

10%. Somente os parâmetros estatisticamente significativos foram utilizados para

análise do comportamento dos modelos matemáticos ajustados:

Y 1=8,03−1,60 X1+1,01X2−1,12X 22−0,97 X3

2−1,20 X1 X2

[3.6 ]

Y 2=12,61+1,92 X1+2,40 X2−1,64 X22−1,38 X3−1,60 X1 X2

[3.7 ]

Y 3=328,51−140,24 X1+45,88 X12−35,43 X3

2 [3.8 ]

Y 4=36,58+2,89 X1+0,79 X12+2,24 X2−1,51 X3+1,39 X3

2−1,11 X1 X3

[3.9 ]

Onde Y são as variáveis dependentes (Y1 = tensão na ruptura, Y2 = elongação na ruptura, Y3 =

módulo de Young e Y4 = solubilidade em água) e X são as variáveis independentes codificadas

(X1 = Cg, X2 = Tp e X3 = Ts).

A Tabela 3.5 resume os resultados da ANOVA, incluindo os coeficientes

de regressão para a equação polinomial codificada de segunda ordem, os coeficientes

de determinação (R2), e os valores de F e p. Para determinar se as equações ajustadas

são preditivas, elas devem satisfazer um determinado critério baseado nos valores de

Fteste (Fcalculado e Ftabelado), que por sua vez dependem do valor da razão de F calculado

para as regressões relacionadas aos resíduos (Fcalculado/Ftabelado). O critério é que o valor

dessa relação seja superior ao Ftabelado (KHURI e CORNELL, 1996), permitindo assim

a construção das superfícies de resposta.

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Tabela 3.9 - Resultados para coeficientes de regressão e análise de variância (ANOVA) das variáveis dependentes do delineamento experimental

Parâmetro a CoeficienteTensão na ruptura (MPa) Elongação na ruptura (%) Módulo de Young (%) Solubilidade em água (%)

Y1 Y2 Y3 Y4

Média β0 8,03 12,61 328,51 36,58

Linear

X1 β1 -1,60 1,92 -140,24 2,89

X2 β2 1,01 2,40 – 2,24

X3 β3 – -1,38 – -1,51

Quadrático

X12 β1

2 – – 45,88 0,79

X22 β2

2 -1,12 -1,64 – –

X32 β3

2 -0,97 – -35,43 1,39

Interação

X1X2 β12 -1,20 -1,60 – –

X1X3 β13 – – – -1,11

X2X3 β23 – – – –

Fcalculado 7,76 15,68 33,01 39,17

Ftabelado b 2,45 2,45 2,56 2,46

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Fcalculado/Ftabelado 3,17 6,40 12,89 15,92

p-valor < 0,005 < 0,0001 < 0,00001 < 0,00001

R2 c 0,78 0,87 0,88 0,96

a X1 = concentração de glicerol (g/100 g de farinha), X2 = temperatura de processo (°C), X3 = temperatura de secagem (°C).b Valores do Ftabelado para p < 0,10; c R2 = coeficiente de determinação.

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As equações ajustadas são previsíveis para todas as propriedades

estudadas, uma vez que os valores de F (Fcalculado/Ftabelado) são maiores do que os

valores de Ftabelado correspondentes (Tabela 3.5). Esses resultados sugerem que os

modelos ajustados são adequados (significativos e preditivos) para as propriedades

mecânicas (tensão, elongação e módulo de Young) e solubilidade em água,

levando a uma regressão significativa, baixos valores residuais, nenhuma falta de

ajuste e coeficientes de determinação satisfatórios. No geral, os modelos

encontrados explicam de 78 a 96% as variações dos dados observados.

3.4 Superfícies de resposta

3.4.1 Propriedades mecânicas

A propriedade que se deseja em um material para embalagens de alimentos

está relacionada com a aplicação. Geralmente, os requisitos são embalagens com baixa

deformação e que forneça integridade estrutural aos alimentos. Porém, há casos em

que filmes com alta deformação são desejáveis (GONTARD et al., 1992), como no

caso das embalagens flexíveis, em que o produto a ser embalado será acomodado de

acordo com o seu formato, o que exige uma certa deformação do próprio filme.

As Figuras 3.4 a 3.6 representam as superfícies de resposta e curvas de

contorno obtidas para as propriedades mecânicas dos filmes de farinha de fruta-de-

lobo. Ao analisar o efeito da concentração de glicerol sob as propriedades mecânicas

dos filmes, observou-se que menores concentrações de glicerol (Cg) resultaram em

maiores valores de tensão na ruptura e módulo de Young, porém menor elongação dos

filmes, conforme confirmado pelas Equações 6 – 8. Resultados similares foram

reportados por diversos autores, estando de acordo com o efeito plastificante do

glicerol (BEIGOMI et al., 2018; JOUKI et al., 2013; SOBRAL et al., 2001). Filmes

contendo glicerol como plastificante apresentam forças intermoleculares mais fracas

ou forças atrativas entre as cadeias poliméricas adjacentes, o que resulta na maior

mobilidade molecular em toda a estrutura do filme (ANDRADE-MAHECHA et al.,

2012). Consequentemente, o filme torna-se mais flexível (maior elongação) enquanto

que a tensão e o módulo de Young diminuem (Figuras 3.4a – d, 3.5a – d e 3.6a – d).

Este comportamento do teor de glicerol, também foi observado no trabalho de

Pelissari et al. (2013), o qual realizou a otimização das condições de processo

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(concentração de plastificante, temperatura de processo, temperatura de secagem e

umidade relativa durante a secagem) sobre as propriedades mecânicas, ópticas e de

barreira de filmes de farinha de banana da variedade Terra (Musa paradisiaca). Torres

e colaboradores (2011) produziram filmes com amido de mandioca e batata doce e ao

avaliar suas propriedades mecânicas também notaram que o incremento na

concentração de glicerol resultou na redução da tensão de ruptura e no aumento da

elongação dos filmes. Farahnaky et al. (2013) elaboraram filmes de amido de trigo

para avaliação da influência do glicerol sobre as propriedades mecânicas e de barreira

dos filmes, observando comportando semelhante ao relatado neste estudo.

A variável Tp afetou positivamente as propriedades de tensão na ruptura e

elongação (Figuras 3.4a – b/e – f, 3.5a – b/e – f), tornando os filmes mais flexíveis e

resistentes mecanicamente. Temperaturas de processo intermediárias à altas (82,5 – 90

ºC) facilitaram a absorção da água pelos grânulos de amido, promovendo um aumento

da viscosidade e auxiliando na formação de uma estrutura mais coesa nos filmes.

Sabe-se que a Tp está diretamente relacionada à temperatura de gelatinização do

amido. Portanto, as altas temperaturas de gelatinização podem ter favorecido a

lixiviação da amilose ocasionando uma aproximação das cadeias do polímero, o que

favoreceu as interações intermoleculares e a formação de uma matriz contínua, densa e

consequentemente com maior resistência mecânica (ANDRADE-MAHECHA, 2012).

Este comportamento também foi observado no trabalho de Tapia-Blacido et al. (2011)

que ao otimizar as condições de processo para a obtenção de filmes de farinha de

amaranto teve um aumento na rigidez dos filmes a baixas concentrações de glicerol

com maiores temperaturas de gelatinização (82 – 87ºC). Pelissari et al. (2013)

elaboraram filmes de farinha da banana em seu trabalho e descreveram resultados

similares quando relacionaram a temperatura de gelatinização com as propriedades

mecânicas; atribuindo esse comportamento ao processo de um melhor alinhamento e

ligação das cadeias de amido e de proteínas. Não houve influência significativa (p >

0,1) da variável de processo Tp sob a propriedade módulo de Young, conforme pode

ser observado pela Equação 3.8 e Figura 3.6a – b/e – f.

Ao avaliar a Ts observou que esta variável teve efeito contrário sob as

propriedades mecânicas, ou seja, baixas à intermediárias temperaturas de secagem (40

– 55 °C) promoveram um aumento na tensão na ruptura, elongação e módulo de

Young dos filmes tornando-os mais flexíveis e resistentes mecanicamente. Segundo

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Santos (2009), a elaboração de filmes biodegradáveis de amido de fruta-de-lobo

utilizando temperatura de secagem de 45 ºC apresentou materiais com boa

estabilidade. Este fato foi observado no presente trabalho (Figuras 3.4e – f, 6e – f)

onde temperaturas de secagem brandas, próximas a 55 ºC, para os filmes, resultaram

nos valores máximos para as variáveis respostas tensão e módulo de Young, porém

não teve tanta interferência na resposta para a elongação (Figura 3.5e – f). Este

comportamento pode ser justificado pelo fato de baixas à intermediárias Ts implicarem

em um maior tempo de secagem para os filmes, sendo este tempo primordial para que

ocorra as interações entre as moléculas, favorecendo a formação de uma matriz mais

estável e coesa nos filmes de farinha da fruta-de-lobo.

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Figura 3.15 - Tensão dos filmes de farinha da fruta-de-lobo em função da (a – b) concentração de glicerol e temperatura de processo (Ts = 55 ºC), (c – d) concentração de

glicerol e temperatura de secagem (Tp = 82,5 ºC), (e – f) temperatura de processo e temperatura de secagem (Cg = 22,5%). Os índices superiores s e c denotam superfície de

resposta e curva de contorno, respectivamente

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Figura 3.16 - Elongação dos filmes de farinha da fruta-de-lobo em função da (a – b) concentração de glicerol e temperatura de processo (Ts = 55 ºC), (c – d) concentração de

glicerol e temperatura de secagem (Tp = 82,5 ºC), (e – f) temperatura de processo e temperatura de secagem (Cg = 22,5%). Os índices superiores s e c denotam superfície de

resposta e curva de contorno, respectivamente

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Figura 3.17 - Módulo de Young dos filmes de farinha da fruta-de-lobo em função da (a – b) concentração de glicerol e temperatura de processo (Ts = 55 ºC), (c – d)

concentração de glicerol e temperatura de secagem (Tp = 82,5 ºC), (e – f) temperatura de processo e temperatura de secagem (Cg = 22,5%). Os índices superiores s e c

denotam superfície de resposta e curva de contorno, respectivamente

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3.4.2 Solubilidade em água

O estudo da solubilidade dos filmes em água é de grande importância para a

determinação da aplicação em embalagens para os alimentos. Filmes elaborados com

materiais que apresentam alta permeabilidade e solubilidade podem ser aplicados como pré-

embalagem de produtos prontos para cozinhar, por exemplo produtos frescos (REIS et al.,

2014; SOBRAL, 2000). Já produtos desidratados e encapsulados exigem uma maior proteção

contra a umidade do ambiente, exigindo assim embalagens que possuam baixa

permeabilidade e solubilidade (MAIZURA et al., 2007).

A Figura 3.7 representa as superfícies de respostas e curvas de contorno da

solubilidade em água dos filmes de farinha da fruta-de-lobo, onde analisando os efeitos das

variáveis de processo através da Equação 3.9, observou-se que a medida que Cg e Tp

aumentaram e a Ts diminuiu filmes biodegradáveis mais solúveis foram produzidos.

A molécula de glicerol apresenta três grupamentos hidroxilas, os quais em solução

filmogênica tende a maior interação com as moléculas de água, justificando assim a maior

solubilidade dos filmes neste estudo. Comportamento similares foram reportados em outros

trabalhos como nos estudos de Tapia-Blácido et al. (2005), onde esses autores observaram que

o incremento na concentração de glicerol resultou numa maior solubilidade dos filmes de

farinha de amaranto, aumentando de 40 até 60%. Saberi et al. (2016) ao estudar a otimização

das condições de formulação para obtenção de filmes comestíveis à base de amido de ervilha

e goma guar ressaltou que o aumento na concentração de glicerol favorece a solubilidade dos

filmes, já que o caráter hidrofílico do plastificante proporciona uma maior interação do

mesmo com as moléculas de água. Santos (2009) elaborou filmes de amido a partir da fruta-

de-lobo e constatou que o aumento da Cg caracterizou em filmes com maior solubilidade,

com variação de valores de 28,65 a 42,67%. Ademais, o autor observou que quando as

soluções filmogênicas eram submetidas a menores temperaturas de secagem e altos valores de

Cg os filmes eram mais solúveis, comportamento semelhante ao apresentado neste estudo.

Filmes mais solúveis em água foram obtidos nas formulações com maiores

temperaturas de processos e menores temperaturas de secagem (Figura 3.7e – f). Prates e

Ascheri (2010) analisaram o efeito da concentração de sorbitol (0,1 a 0,3%) e faixa de

temperatura de secagem (33 a 43ºC) sobre as propriedades de filmes de amido de fruta-de-

lobo. Os autores concluíram que o intervalo selecionado para a variável Ts provocou uma

diminuição na solubilidade dos filmes, de 26,59 para 26,11%. No presente estudo a faixa de

concentração de glicerol utilizada foi relativamente superior (15 – 30%), e em baixas

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temperaturas de secagem, em torno de 40 – 45 ºC, teve-se o aumento da solubilidade dos

filmes, que comparado aos resultados acima corroboram-se, pois em ambos os estudos as

menores temperaturas de secagem proporcionaram maiores solubilidades. Além disso,

maiores Tp favorecem a solubilidade dos filmes (Figura 3.7a – b), comportamento este

semelhante ao encontrado por Tapia-Blácido et al. (2011). Os autores realizaram um estudo

sobre a influência da concentração do plastificante e temperatura de processo (Tp) sobre as

propriedades mecânicas e de solubilidade dos filmes de farinha de amaranto para a sua

otimização e concluíram que o aumento de Tp (73 a 87 ºC) favoreceu a gelatinização

completa dos grânulos, produzindo assim filmes mais solúveis. Este comportamento também

foi observado por Diéguez et al. (2015), o qual concluíram que quando ocorre o processo de

desnaturação das proteínas solúveis e a gelatinização dos grânulos de amido de forma parcial,

tende a favorecer a produção de filmes menos solúveis.

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Figura 3.18 - Solubilidade em água dos filmes de farinha da fruta-de-lobo em função da (a – b) concentração de glicerol e temperatura de processo (Ts = 55 ºC), (c – d)

concentração de glicerol e temperatura de secagem (Tp = 82,5 ºC), (e – f) temperatura de processo e temperatura de secagem (Cgs = 22,5 %). Os índices superiores s e c

denotam superfície de resposta e curva de contorno, respectivamente

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3.5 Otimização e validação

Como resultado da otimização multiresposta, para cada variável de processo

estudada (concentração de glicerol, temperatura de processo e temperatura de secagem) foram

obtidos os perfis preditos para as variáveis respostas (tensão, elongação, módulo de Young e

solubilidade em água), os quais apresentaram modelos matemáticos válidos com os seus

respectivos perfis da função desejabilidade (Figura 3.8).

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Figura 3.19 - Otimização simultânea das condições de processo para elaboração de filmes de farinha de fruta-de-lobo em função das variáveis de processo, variáveis respostas preditas e perfis dedesejabilidade

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Ao analisar o perfil da função de desejabilidade para as variáveis independentes estudadas

(Cg, Tp, Ts) foi possível observar que a melhor formulação foi alcançada com baixas

concentrações de glicerol, alta temperatura de processo e intermediária temperatura de

secagem. Diante disso, as condições ótimas de processo que atingiram um valor de

desejabilidade global máximo (R2 = 0,90) para a produção de filmes de farinha de fruta-de-

lobo são: 17,06 g/100 g de farinha para concentração de glicerol, 85 ºC para temperatura de

processo e 53 ºC para temperatura de secagem, com variáveis respostas preditas de: 11,09

MPa para tensão na ruptura, 12,67% para elongação, 600,00 MPa para módulo de Young e

35,34% para solubilidade em água.

A validação experimental foi realizada em triplicata e os resultados são

apresentados como valores médios na Tabela 3.6.

Tabela 3.10 - Validação experimental sob as condições otimizadas para a produção dos filmes de farinha de

fruta-de-lobo

Propriedade Valor predito Valor experimental a Desvio relativo b

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Tensão na ruptura (MPa) 11,09 10,74 ± 1,10 -3,22

Elongação (%) 12,67 12,30 ± 1,03 -2,97

Módulo de Young (MPa) 600,00 612,43 ± 59,35 -1,20

Solubilidade (%) 35,34 33,22 ± 2,04 -6,37a Valores obtidos na condição de otimização: Cg = 17,06 g/100g de farinha, Tp = 85 ºC, Ts = 53 ºC.b Desvio relativo = [(valor experimental – valor predito)/valor experimental] x 100.

Com base nos valores de desvio relativo obtidos para cada variável resposta, a

metodologia de otimização empregada foi considerada satisfatória. O valor apresentado para a

variável solubilidade foi inferior ao valor predito pela função desejabilidade, promovendo a

produção de um filme menos solúvel em água. A redução desta propriedade está associada a

menor elongação e maior módulo de Young obtida quando comparado com o valor predito.

Cabe ressaltar que, como resultado da otimização, as propriedades do filme de farinha de

fruta-de-lobo apresentaram valores muito semelhantes aos esperados com baixos desvios

relativos, sendo altamente satisfatório. Ao analisar a farinha de fruta-de-lobo nota-se que é

constituída por uma mistura natural de carboidratos, proteínas, lipídeos e fibras (Tabela 2.1,

Capítulo 2), os filmes elaborados a partir desta matéria-prima apresentam propriedades

mecânicas e solubilidade em água comparáveis com filmes de outros tipos de farinha, como

archira, banana e mesocarpo de babaçu, conforme demonstrado na Tabela 3.7.

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Tabela 3.11 - Propriedades de filmes preparados com diferentes tipos de farinha

Tipo de farinha

Propriedade Achira Banana Amaranto Quinoa Mesocarpo debabaçu

Fruta-de-lobo

Plastificante (g/100g de farinha) 17,00 19,00 22,50 21,00 19,00 17,06

Tensão (MPa) 7,00 ± 0,30 9,20 ± 0,20 1,50 ± 0,10 4,10 ± 0,50 12,50 ± 1,23 10,74 ± 1,10

Elongação (%) 14,60 ± 1,10 24,20 ± 1,90 83,70 ± 5,10 88,40 ± 8,90 2,85 ± 0,16 12,30 ± 1,03

Módulo de Young (MPa) 231,70 ± 19,90 583,40 ± 46,40 21,50 ± 1,40 138,00 ± 40,00 483,80 ± 135,97 612,43 ± 59,35

Solubilidade (%) 38,30 ± 1,90 27,90 ± 1,30 42,30 ± 1,80 18,70 ± 0,10 39,02 ± 0,31 33,22 ± 2,04

Referência Andrade-Mahecha et al.,

(2012)

Pelissari et al.,(2013)

Tápia-Blácidoet al., (2006)

Araujo-Farro etal., (2008)

Maniglia et al., (2017)

Este trabalho

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Em geral, os filmes de farinha de fruta-de-lobo apresentaram excelentes

propriedades mecânicas quando comparado aos demais estudos (segundo maior valor para

tensão na ruptura e maior valor de módulo de Young), podendo ser atribuído devido ao alto

teor de fibras (19,97%) que a farinha de fruta-de-lobo apresenta. Em relação a propriedade de

elongação, os valores obtidos foram próximos aos dos filmes elaborados com farinha de

archira. Os filmes de farinha de fruta-de-lobo demonstraram apresentar o maior valor para o

módulo de Young, sendo assim filmes com propriedade de alta rigidez. Além disso, os filmes

elaborados neste trabalho são mais insolúveis do que a maior parte dos filmes de farinha, fator

este que pode está relacionado ao teor de lipídeos da farinha de fruta-de-lobo.

3.6 CONCLUSÃO

A farinha de fruta-de-lobo é uma matéria-prima promissora para obtenção de

filmes biodegradáveis, devido à presença nativa de proteínas, lipídeos, e alto teores de fibras e

amido em sua composição. Pela primeira vez, foi empregado um delineamento composto

central rotacional juntamente com a função desejabilidade (análise de multirespostas) para

otimizar as condições de processo envolvidas na produção de filmes de farinha de fruta-de-

lobo. Essa técnica de otimização foi muito útil para um entendimento completo do processo,

possibilitando através dos modelos gerados pelo desenho experimental a produção de filmes

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com as características desejadas dentro dos limites estudados. . Todas as condições de

processo (concentração de glicerol, temperatura de processo e temperatura de secagem)

tiveram influência significativa (p < 0,10) sobre as propriedades dos filmes (mecânicas e

solubilidade em água), exceto pela temperatura de processo para a propriedade módulo de

Young. A função desejabilidade permitiu encontrar as condições ótimas do processo de

casting: Cg = 17 g/100 g de farinha, Tp = 85 ºC e Ts = 53 ºC e valores experimentais de

tensão na ruptura em 10,74 MPa, elongação 12,30%, Módulo de Young em 612,43 MPa e

33,22% de solubilidade, conduzindo a filmes mais resistentes, de menor solubilidade em água

e flexibilidade satisfatória.

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Capítulo 4

Estudo comparativo das propriedades dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo

(Solanum lycocarpum A. St.-Hil)

Resumo

Nas condições determinadas como ótimas para o processo (Cg = 17,06 g/100 g, Tp = 85 ºC e

Ts = 53 ºC), foram elaborados filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo (Solanum

lycocarpum A. St.-Hil). Devido a composição centesimal apresentada pelas matérias-prmas,

foi de interesse realizar uma comparação entre os filmes elaborados com farinha e o amido.

Os filmes obtidos foram caracterizados em termos de solubilidade, estrutura, propriedades

mecânicas e ópticas. Apesar das diferenças obtidas na caracterização da farinha e do seu

filme, esta matéria-prima se mostrou interessante para a produção de filmes biodegradáveis,

visto que estes apresentaram resistência mecânica e flexibilidade. Os filmes de farinha foram

menos resistentes mecanicamente porém com maior flexibilidade em relação aos filmes de

amido. As microestruturas dos filmes revelaram filmes de farinha mais porosos, menos

compactos e consequentemente mais solúveis. Grupamentos como amidas primárias e

terciárias foram encontradas em ambas as amostras. Além disso, os filmes de farinha

apresentaram-se com coloração tendendo ao amarelado (típico de materiais com alto teor de

proteínas). Estatisticamente os dois filmes não se diferenciaram apenas em relação as

propriedades de tensão e densidade. Porém, em geral ambos os materiais demonstraram ter

potencial para a elaboração de filmes biodegradáveis.

Palavras-chave: biopolímeros, estudo comparativo, propriedades mecânicas, ópticas,

estrutural, lobeira, solubilidade.

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4.1 INTRODUÇÃO

Os materiais plásticos são os mais utilizados como embalagens devido ao baixo

custo, baixa permeabilidade e boas propriedades mecânicas. Porém, na maioria das vezes são

descartados em um curto espaço de tempo e de maneira inadequada, contribuindo assim para

a poluição ambiental. Por consequência dos diversos impactos que os resíduos sintéticos

ocasionam no meio ambiente, pesquisas têm sido desenvolvidas em torno de materiais

sustentáveis para substituir os polímeros da indústria petroquímica (HONG et al., 2018;

LUCHESE et al., 2018; PLASTICSEUROPE, 2017). Uma alternativa interessante é a utilização de filmes biodegradáveis, visto que

este tipo de material é degradado no ambiente por microrganismos. Inúmeros biopolímeros

podem ser utilizados na obtenção de filmes biodegradáveis, como as proteínas e os

polissacarídeos (ARSHAD et al., 2016). Dentre os polissacarídeos, o amido tem se destacado

nas pesquisas devido ao seu baixo custo, disponibilidade e capacidade de formar uma matriz

filmogênica (AGUIRRE-LOREDO et al., 2018). Porém, embalagens elaboradas apenas com

este biopolímero são higroscópicas e possuem baixa flexibilidade, o que torna estes materiais

sensíveis ao contato direto com a água e quebradiços (ZHANG, 2009). Desta forma, as

chamadas farinhas, misturas naturais contendo componentes de mesma origem botânica,

torna-se uma alternativa interessante para a elaboração de filmes biodegradáveis. Inúmeros

trabalhos reportaram o potencial das farinhas de diferentes fontes, tais como achira

(ANDRADE-MAHECHA et al., 2012), amaranto (TAPIA-BLÁCIDO et al., 2005), arroz

(DIAS et al., 2010), banana (PELISSARI et al., 2013), quinoa (ARAÚJO-FARRO et al.,

2008), triticale (BORNEO et al., 2016), entre outras, na produção dos filmes. A utilização da farinha para este fim parte do interesse em combinar os diversos

componentes (polissacarídeos, lipídeos, proteínas e fibras) de uma mesma fonte botânica,

atribuindo propriedades diferenciadas aos filmes biodegradáveis devido a função de cada

componente presente e a compatibilidade entre estes. Ademais, pode fornecer informações

importantes sobre o tipo de interações formadas na matriz polimérica.

Uma fonte interessante para a produção de filmes biodegradáveis é a Solanum

lycocarpum A. St.–Hill, conhecida popularmente como fruta-de-lobo. Típica da região do

Cerrado, esta fruta apresenta 8 a 12 cm de diâmetro e endocarpo rico em polpa (ALMEIDA,

2004; OLIVEIRA JUNIOR et al., 2003; SANTOS, 2009). O alto teor de amido desta fruta

demonstrado em trabalhos anteriores despertou o interesse por esta matéria-prima para a

elaboração de filmes biodegradáveis. Alguns estudos foram realizados em torno da

caracterização e utilização do amido de fruta-de-lobo para a obtenção dos filmes (CLERICI et

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al., 2011; MEDEIROS et al., 2014; PASCOAL et al., 2013), porém, são escassos os trabalhos

na literatura que envolvam a utilização da farinha na elaboração de filmes biodegradáveis.

Ademais, como um estudo comparativo das características dos filmes de farinha e amido da

lobeira ainda não foi explorado, o objetivo do presente estudo foi investigar a influência dos

componentes proteínas, lipídeos e fibras da farinha de fruta-de-lobo sobre as propriedades do

filme produzido a partir desta matéria-prima quando comparado com o filme de amido de

fruta-de-lobo.

4.2. MATERIAL E MÉTODOS

4.2.1 Materiais

A farinha e o amido foram obtidos através de frutas-de-lobo (Solanum

lycocarpum A. St.-Hil) em estágios de maturação verde de acordo com as metodologias

descritas nos itens 2.2.2 e 2.2.3. Todos os reagentes químicos utilizados no decorrer do projeto

são de grau analítico.

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4.2.2 Produção dos filmes

Os filmes biodegradáveis de farinha e de amido da fruta-de-lobo foram elaborados

de acordo com a técnica de casting seguindo a metodologia aplicada por Krstic et al. (2017)

usando como condições ótimas de processo os valores estabelecidos durante a elaboração dos

filmes de farinha no Capítulo 3: Cg = 17,06 g/100 g de farinha, Tp = 85 ºC e Ts = 53 ºC. Os

filmes secos foram acondicionados em dessecadores sob umidade relativa (UR) de 58% a 25

ºC por 48h, para posteriormente serem caracterizados quanto ao conteúdo de umidade e

propriedades mecânicas.

A Figura 4.1 demonstra o fluxograma para a obtenção dos filmes

biodegradáveis.

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Figura 4.20 -Fluxograma da elaboração dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo

Cg = 17,06 g/100g de farinha, Tp = 85 ºC, Ts = 53 ºC

4.2.3 Caracterização dos filmes

Os filmes biodegradáveis de farinha e amido de fruta-de-lobo foram avaliados

quanto à espessura, densidade, umidade, propriedades mecânicas e solubilidade em água. As

metodologias para determinação dessas análises estão descritas no Capítulo 3, Seção 3.2.4.

4.2.3.1 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

A superfície e secção transversal dos filmes foram analisadas através da

microscopia eletrônica de varredura a fim de avaliar a microestrutura. As amostras

foram cortadas em tamanhos de 20 x 20 mm e condicionadas em dessecador com

sílica gel (≈3% UR) por 3 semanas, para desidratação das mesmas. Decorrido este

período, as amostras secas foram fraturadas com o auxílio de pinça. Os fragmentos

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foram fixados em uma fita dupla face e revestidos com camada de ouro (Sputter

Coater POLARON, modelo SCD050), a fim de melhorar a condutividade. As amostras

revestidas foram visualizadas sob o microscópio eletrônico de varredura (TESCAN,

modelo VEGA-LMH, Brno – República Checa), com tensão de aceleração de 10 kV.

4.2.3.2 Propriedades ópticas

As amostras dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo foram

submetidas à análise de cor através do colorímetro espectrofotômetro CM-5 (Konica

Minolta) em modo de reflectância, utilizando o iluminante D65 (luz do dia) e sistema

de classificação CIELab (HUNTERLAB, 1996). As medidas, realizadas em

quadruplicata, foram expressas em termos dos parâmetros L* (Luminosidade,

variando do preto L* = 0 ao branco L* = 100), a* (+a* = vermelho e -a* = verde) e b*

(+b* = amarelo e b* = azul). A partir desses parâmetros, foi calculado, através da

Equação 4.1 a diferença total de cor (ΔE*):

b¿−b0

¿¿

2

a¿−a0

¿¿

2+¿

¿L¿

−L0¿¿

2+¿

¿¿

∆ E=¿

[4.1]

Onde L* e Lo é o grau de intensidade da amostra e o padrão, respectivamente, a* e b* são osparâmetros croma da amostra e ao* e bo* os parâmetros croma padrão.

A opacidade (Op) foi obtida através da relação entre a opacidade do filme

sobreposto ao fundo negro (Opn) e sobreposto ao um fundo branco (Opb), obtendo assim uma

medida entre 0 e 100% (SOBRAL, 2000). Foi calculada através da equação 4.2:

Op=OpnOpb

x100 [4.2]

4.2.3.3 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)

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A análise de FTIR foi realizada em um espectrofotômetro com

transformada de Fourier (Varian, modelo 640-IR) provido de acessório ATR

(atenuador de reflectância total). As análises foram realizadas na região do

infravermelho, com 64 varreduras e comprimento de onda entre 4000 a 400 cm-1 para

uma resolução espectral de 4 cm-1.

4.2.4 Análise estatística

Para a comparação entre as propriedades dos filmes de farinha e amido de

fruta-de-lobo foi realizada a análise de variância (ANOVA) e o teste T ao nível de 5%

de significância, com auxílio do programa Statistica 7.0 (StatSoft Inc, Oklahoma,

EUA).

4.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No geral, os filmes de fruta-de-lobo exibiram superfície homogênea, sem bolhas e

rachaduras, e boas características de manuseio. A composição centesimal dos filmes de fruta-

de-lobo é apresentada na Tabela 4.1. O filme de amido exibiu um alto teor deste componente,

enquanto que o filme de farinha obteve teores superiores para todos os demais componentes,

destacando-se o alto teor de fibras.

Tabela 4.0-12 – Composição centesimal dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo (g/100 g em base seca)

Componente a Filme de farinha Filme de amido

Glicerol 17,06 17,06

Proteínas 4,01 0,69

Lipídeos 4,94 3,06

Cinzas 2,89 0,19

Fibra bruta 24,07 1,89

Amido 47,03 77,11 a Calculado com base na composição centesimal da farinha e amido de fruta-de-lobo (Tabela 1 do Capítulo 2).

4.3.1 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

A Figura 4.2 apresenta as micrografias de superfície e seção transversal

dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo. Em relação a superfície, o filme de

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farinha (Fig. 4.2 A-C) apresenta uma estrutura irregular com imperfeições, enquanto

que o filme de amido exibe uma superfície mais uniforme (Fig. 4.2 B-D). Esta

diferença encontrada nas superfícies pode ser explicada através do maior conteúdo de

componentes presentes no filme de farinha , conforme apresentado na Tabela 4.1.

Estas macromoléculas (amido, proteínas, lipídeos e fibras) presentes na matriz

polimérica possibilitam uma série de interações, influenciando nas propriedades

estruturais do filme. É importante ressaltar o alto teor de fibras presente na farinha, o

que contribui mais ainda para a rugosidade visualizada no filme produzido a partir

desta matéria-prima.

Figura 4.21 – Microscopia eletrônica de varredura superficial e transversal dos filmes de farinha (A – C) e amido (B – D) de fruta-de-lobo

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Ao analisar a secção transversal dos filmes nota-se que o filme elaborado

com farinha exibiu uma estrutura menos densa e homogênea com fissuras em

comparação ao filme de amido. Comportamento similar foi reportado por Maniglia e

colaboradores (2017), o qual realizaram um estudo comparativo entre as propriedades

dos filmes de farinha e amido do mesocarpo de babaçu. Apesar das diferenças

estruturais entre os filmes, ambos materiais apresentaram matriz homogênea,

indicando integridade estrutural e, portanto, boas propriedades mecânicas, como

corroborado pelos resultados.

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4.3.2 Espessura e densidade

O conhecimento da espessura tem grande impacto sobre as propriedades dos

filmes. Podendo desta maneira avaliar a homogeneidade, repetibilidade e aplicabilidade dos

mesmos. Por se tratar da técnica de casting para a produção dos filmes, há uma certa

dificuldade no espalhamento da solução viscosa de amido e de farinha sobre os suportes, bem

como no nivelamento da superfície durante o processo de secagem, tornando difícil o controle

sobre a espessura dos mesmos (ALMEIDA, 2010). De acordo com a Tabela 4.2, o filme de

farinha apresentou espessura média superior (0,1640 mm) ao filme de amido (0,1053 mm),

sendo estatisticamente diferente (p < 0,05). Filmes elaborados apenas com amido tendem a

exibir aspecto mais linear devido à concentração de amilose, o que faz com que as moléculas

se aproximem, diminuindo assim o espaço entre elas e consequentemente a espessura do filme

(FAKHOURI et al., 2007).

Tabela 4.0-13 - Propriedades dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo

Propriedade Filme de farinha Filme de amido

Espessura (mm) 0,16 ± 0,02 a 0,11 ± 0,01 b

Densidade (g/cm3) 0,82 ± 0,07 a 1,09 ± 0,04 a

Umidade (%) 15,48 ± 0,28 a 12,10 ± 0,02 b

Solubilidade em água (%) 33,22 ± 2,04 a 25,15 ± 1,17 b

Tensão na ruptura (MPa) 10,74 ± 1,10 a 12,58 ± 0,66 a

Elongação (%) 12,30 ± 1,03 a 4,22 ± 1,46 b

Módulo de Young (MPa) 612,43 ± 59,35 a 1027,05 ± 33,44 b

a,b Médias com expoentes diferentes na mesma linha indicam diferença estatística (p < 0,05) pelo teste T.

Desta maneira, devido a aproximação das moléculas e maior compactação nos

filmes, os filmes de amido apresentam-se com menos espaços intermoleculares (observado na

análise de MEV) e consequentemente mais denso, tornando os filmes de farinha com menores

valores de densidade ao se comparar com os filmes de amido de fruta-de-lobo.

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4.3.3 Conteúdo de umidade

A determinação do conteúdo de umidade nos filmes é de grande importância para

a caracterização dos mesmos, sendo este parâmetro relevante nas propriedades de barreira das

embalagens como permeabilidade ao vapor de água e aos gases (ISOTTON, 2013).

Na análise de umidade foi possível observar que o filme de farinha exibiu maior

valor quando comparado ao filme de amido de fruta-de-lobo, 15,48 e 12,10%

respectivamente. Este comportamento é explicado devido a composição na matriz polimérica

do filme de farinha, pois componentes hidrofílicos como proteínas e fibras estão presentes em

maior quantidade na farinha possibilitando uma maior interação com as moléculas de água.

Ademais, na análise de microestrutura dos filmes (MEV) observou-se que o filme de farinha

possui uma estrutura com fissuras, porosa, menos densa e compacta, propiciando maior

absorção de água no meio.

4.3.4 Solubilidade em água

O conhecimento da solubilidade dos filmes é necessário para que ocorra um

melhor direcionamento para aplicação dos mesmos, sendo que neste trabalho objetivou-se

obter filmes com menor solubilidade. A solubilidade em água variou de 33,22 a 25,15% para

os filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo, respectivamente. Mesmo apresentando

diferença significativa (p < 0,05) para esta propriedade, ambos os filmes estavam inteiros

após as 24h de imersão em água. A solubilidade dos filmes de farinha é relativamente baixa e

dos filmes com amido é intermediária, comparada a outros filmes (Tabela 4.3).

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Tabela 4.14 – Comparação entre os filmes de farinha e amido provenientes de diferentes fontes

Propriedade Achira Banana Mesocarpo de babaçu Fruta-de-lobo

Far

inha

Plastificante (g/100g de farinha) 17,00 19,00 19,00 17,06

Tensão (MPa) 7,0 ± 0,3 9,2 ± 0,2 12,50 ± 1,23 10,74 ± 1,10

Elongação (%) 14,6 ± 1,1 24,2 ± 1,9 2,85 ± 0,16 12,30 ± 1,03

Módulo de Young (MPa) 231,7 ± 19,9 583,4 ± 46,4 483,80 ± 135,97 612,43 ± 59,35

Solubilidade (%) 38,3 ± 1,9 27,9 ± 1,3 39,02 ± 0,31 33,22 ± 2,04

Am

ido

Plastificante (g/100g de amido) 17,00 19,00 19,00 17,06

Tensão (MPa) 18,6 ± 0,3 19,3 ± 1,9 63,00 ± 4,1 12,6 ± 0,7

Elongação (%) 1,4 ± 0,1 4,5 ± 0,7 0,7 ± 0,20 4,2 ± 1,5

Módulo de Young (MPa) 1772,0 ± 10,1 2268,7 ± 96,8 4285,9 ± 208,8 1027,0 ± 33,4

Solubilidade (%) 28,4 ± 1,7 21,3 ± 1,7 24,32 ± 0,8 25,1 ± 1,2

ReferênciaAndrade-Mahecha

et al. (2012)Pelissari et al.

(2013)Maniglia et al.

(2017)Este trabalho

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A composição centesimal das matérias-primas, assim como a análise micro

estrutural dos filmes confirmam esses dados. O filme de farinha possui alto teor de

componentes hidrofílicos, 16,56% de fibras e 2,76% de proteínas, em contrapartida dos 1,30%

de fibras e 0,48% de proteínas do filme de amido. A presença de outros constituintes na

farinha e a estrutura irregular do filme produzido a partir desta matéria-prima, promove uma

menor organização das interações e alinhamento das moléculas de amilose, favorecendo a

presença de espaços intermoleculares, o que permite que ocorra a difusão de água no meio,

maior absorção por esse material e, consequentemente maior solubilidade e umidade.

Durante a etapa de secagem dos filmes, as interações do tipo amilose-

amilose, amilose-amilopectina e amilopectina-amilopectina são mais favorecidas em

relação às interações destas moléculas com a água. Desta maneira, filmes com maior

teor de amido tendem a possuir menor interação com a água quando comparado com

filmes de farinha, resultando em filmes com menor teor de umidade e solubilidade.

Comportamento similar foi reportado em outros trabalhos os quais estudaram as

propriedades de filmes de farinha e amido provenientes da mesma fonte botânica

(MANIGLIA et al., 2017, PELISSARI et al., 2013, VARGAS et al., 2017).

4.3.5 Propriedades mecânicas

A tensão na ruptura está relacionada a resistência do material até o

rompimento do mesmo, quando submetido a uma força. A elongação indica a

flexibilidade do material em relação ao seu tamanho inicialmente, já o módulo de

Young ou módulo de elasticidade é a rigidez característica deste filme (DE MORAES

et al., 2015; SARANTÓPOULOS et al., 2002). As propriedades mecânicas para os

filmes de fruta-de-lobo são apresentadas na Tabela 4.2, e suas curvas típicas são

demonstradas graficamente na Figura 4.3.

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Figura 4.22 – Curva típica do teste de tração para filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo

0 5 10 150

4

8

12

16

Filme de farinhaFilme de amido

Elongação (%)

Ten

são

na r

uptu

ra (M

Pa)

Ao analisar as propriedades mecânicas dos filmes (Tabela 4.2), foi

possível avaliar que o filme de farinha apresentou maior elongação e o filme de amido

maior valor para o módulo de Young. Estatisticamente, a elongação e o módulo de

Young dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo se diferenciaram (p < 0,05). No

entanto, não houve diferença estatística significativa (p > 0,05) para a propriedade

tensão na ruptura para os filmes de fruta-de-lobo. O filme de farinha possui excelente

elongação e boa resistência mecânica, enquanto que o filme de amido é mais rígido e

resistente. Esses resultados corroboram com o teor de umidade e a composição

centesimal da matriz polimérica dos filmes, pois o maior teor de proteínas e lipídeos

presente no filme de farinha contribui para um efeito plastificante (BEIGOMI et al.,

2018; JOUKI et al., 2013). O filme de amido tem maior módulo de Young em relação ao filme de

farinha, sendo, portanto, mais rígido. Essa propriedade pode ser atribuída devido ao

maior conteúdo de amilose presente no amido puro o que permite que os filmes

produzidos a partir desta matéria-prima sejam resistentes mecanicamente devido a

amilose possuir uma orientação linear, o que possibilita maior proximidade entre as

cadeias, uma matriz mais coesa e consequentemente filmes mais rígidos e menos

flexíveis (LOURDIN et al., 1995; MALI et al., 2010). Shellhammer e Krochta (1997) e Batista et al. (2005) reportaram que

interações lipídeos-proteínas melhoram a flexibilidade dos filmes, além disso o teor de

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umidade nos filmes é responsável pelo efeito plastificante nos mesmos. A presença de

fibras tem sido vista como uma possibilidade de material de reforço em diversos

materiais, ou seja, teoricamente a presença destas aumentaria a resistência do material.

Contudo, neste caso o alto teor de fibras não contribuiu com essa propriedade podendo

este comportamento ser atribuído a uma maior desordenação da estrutura na matriz

polimérica, tornando-a menos compacta e consequentemente menos resistente

mecanicamente. Comparando com outros filmes biodegradáveis (Tabela 4.3), os filmes de

farinha e amido de fruta-de-lobo apresentaram comportamentos semelhantes aos

estudos realizados com filmes de amido e farinha provenientes de outras fontes. Os

filmes elaborados com amido de fruta-de-lobo apresentaram características de maior

resistência, porém menor elongação quando comparado aos filmes de farinha. Este

comportamento foi apresentado também pelos filmes de amido de Babaçu que se

apresentaram mais rígidos e menos flexíveis em relação ao filmes de farinha

(MANIGLIA et al., 2017). Filmes de amido de pinhão exibiram 18,56 Mpa para

tensão a ruptura, 1025 MPa para o módulo de Young e 2,8% de elongação (DAUDT et

al., 2016). Já o estudo realizado com a adição de amido de arroz vermelho a matriz

polimérica teve efeito contrário, resultando em filmes mais elásticos em relação aos

filmes de farinha da mesma fonte (VARGAS et al., 2017). Ademais, os filmes de fruta-de-lobo apresentam excelentes propriedades

mecânicas como alto valor para tensão na ruptura e elongação, e maior valor no

módulo de Young para filmes de farinha comparados na Tabela 4.3.

4.3.6 Propriedades ópticas

O parâmetro luminosidade não apresentou diferença estatística (p > 0,05;

Tabela 4.4) para os filmes de fruta-de-lobo, no entanto, o valor de L* foi maior para o

filme de amido, indicando um material mais claro. De acordo com o valor b*

observado na Tabela 4.4, o filme de farinha exibiu uma coloração mais amarelada do

que o filme de amido (FIG. 4.5).

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Tabela 4.15 - Parâmetros de cor dos filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo

Parâmetro Filme de farinha Filme de amido

L* 96,51 ± 0,84 ª 97,09 ± 0,13 ª

a* -0,18 ± 0,04 ª 0,06 ± 0,02 b

b* 5,17 ± 0,16 ª 1,54 ± 0,05 b

ΔE* 4,98 ± 0,16 ª 1,38 ± 0,05 b

Op 11,48 ± 1,22 ª 8,35 ± 0,03 b

a,b Médias com expoentes diferentes na mesma linha indicam diferença estatística (p < 0,05) pelo teste T.

Figura 4.23 – Aspecto visual dos filmes de farinha (A) e amido (B) de fruta-de-lobo

Para o parâmetro a*, este foi negativo para o filme de farinha e positivo

para o filme de amido, próximos de zero para ambos os filmes, indicando

características de tom esverdeado e avermelhado, respectivamente. Esses resultados

refletem os tons característicos de suas respectivas matérias-primas. Ademais, filmes

de farinha apresentam uma coloração amarelada devido ao maior teor de proteínas

presente em sua composição. Resultados similares foram reportados em outros

trabalhos comparativos com filmes produzidos a partir da farinha e do amido de uma

mesma fonte vegetal (ARAUJO-FARRO, 2008, PELISSARI et al., 2013).

O cálculo de ΔE* está relacionado com a diferença total de cor entre os

filmes de farinha e amido em relação ao filme padrão de polietileno (Lo* = 96,812;

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ao* = 0,045; bo* = 0,152). Os valores obtidos para ΔE* foram baixos (próximos a

zero), indicando filmes com cor mais uniforme e estatisticamente diferentes entre si,

sendo a variação de cor maior para o filme de farinha, o que demonstra a influência da

presença de macromoléculas na composição centesimal desta matéria-prima.

Em relação a opacidade, os filmes de farinha se mostraram mais opacos

em relação aos filmes de amido. A composição das matérias-primas tem influencia

sobre esta propriedade, já que outros estudos demonstraram que um maior teor de

fibras, proteínas e lipídeos tornaram os filmes mais opacos (MAHECHA, 2009;

TAPIA-BLÁCIDO et al., 2007).

4.3.7 Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier (FTIR)

Os espectros de FTIR demonstram os grupos funcionais presentes nos

filmes de farinha e de amido de fruta-de-lobo (Figura 4.6). As amostras apresentam

uma banda larga na faixa de 3270-3278 cm-1 relacionada ao estiramento OH sendo

atribuída ao plastificante glicerol. Bandas entre 2800 e 3000 cm-1 indicam variações

quanto a presença de amilose e amilopectina. Como podem ser observadas, as bandas

para os filmes de amido tiveram maior intensidade quando comparados aos filmes de

farinha, podendo este comportamento ser atribuído ao menor teor de amilose presente

nos filmes de farinha de fruta-de-lobo (FERNANDES et al., 2015; KIZIL et al., 2012).

As bandas apresentadas em 1604 e 1631 cm-1 são relacionadas as ligações C-O

associadas as amidas primárias pertencentes ao grupamento de proteínas; enquanto

que as bandas 1052, 1145 e 1334 cm-1 indicam a presença de amidas terciárias,

também atribuídas as proteínas e típicas de ligações C-N (PELISSARI et al., 2012;

SINGH, 1999). Observou-se a presença de bandas em 1052 cm-1 e 914-921 cm-1

correspondentes aos estiramentos C-O-C e C-OH, respectivamente (PAVIA et al.,

2010).

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4009001400190024002900340039000

20

40

60

80

100

120

Filme de farinhaFilme de amido

Comprimento de onda (cm-1)

Tra

nsm

itân

cia

(%)

Figura 4.24 - Espectros de infravermelho com transformada de Fourier (FTIR) dos filmes de farinha e amido defruta-de-lobo

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4.4 CONCLUSÃO

As diferenças na composição do amido e da farinha de fruta-de-lobo refletiram

nas propriedades dos filmes elaborados. Ambas as matérias-primas apresentaram como uma

fonte importante para elaboração de filmes biodegradáveis, contudo o destaque é para a

utilização da farinha, visto que o seu processo de obtenção é mais simples, tendo um maior

aproveitamento da fruta quando comparada a extração de amido. O filme de farinha de fruta-

de-lobo mostrou-se mais flexível e menos resistente mecanicamente em relação ao filme de

amido, contudo a propriedade de tensão na ruptura não apresentou diferença estatística entre

ambos os filmes. Este comportamento está relacionado com os componentes presentes e as

interações que ocorrem entre eles. O maior conteúdo de fibras, lipídeos e proteínas presentes

no filme de farinha contribuiu para um efeito plastificante, além de facilitar a absorção de

água, promovendo a formação de um filme mais flexível. A análise de MEV mostrou que o

filme de farinha possuem uma estrutura menos compacta, devido as interações serem de

menor intensidade quando comparado ao filmes de amido, com isso os filmes de farinha

apresentaram alta solubilidade. Outra característica interessante foi a coloração tendendo ao

amarelado que os filmes de farinha apresentaram, sendo atribuído a presença de proteínas no

meio. Com isso, pode-se observar que a composição do amido e da farinha afetaram nas

propriedades estudadas dos filmes obtidos.

4.5. REFERÊNCIAS

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CONCLUSÕES GERAIS

A farinha e amido de fruta-de-lobo são materiais promissores para serem

utilizados na elaboração de filmes biodegradáveis, contudo há um destaque para a

farinha devido ao seu aproveitamento quase integral e consequentemente maior

rendimento de extração. A farinha e o amido foram obtidos a partir da fruta-de-lobo

(Solanum lycocarpum A. St.-Hil) em estádio de maturação verde e o rendimento de

extração foi de 14,5 % e 17,4%, respectivamente. A composição centesimal para a

farinha e amido de fruta-de-lobo, em base seca (com exceção da umidade) foi: 8,50%

± 0,12; 8,06% ± 0,05 de umidade, 3,33% ± 0,24; 0,58% ± 0,41 de proteínas, 4,10% ±

0,42; 2,55% ± 0,06 de lipídeos, 2,40% ± 0,15; 0,16% ± 0,05 de cinzas, 19,97% ±

0,33; 1,57% ± 0,23 de fibra bruta e 61,70% ± 0,75; 87,23% ± 0,64 de carboidratos,

respectivamente.

A condições de processo escolhidas como variáveis independentes de

estudo demostraram ter influência sobre as propriedades dos filmes, sendo elas a

concentração de glicerol (Cg), temperatura de processo (Tp) e temperatura de secagem

(Ts), realizada através de um delineamento composto central rotacional (23). Através

da função desejabilidade foi possível maximizar as respostas para as propriedades

mecânicas dos filmes de farinha e minimizar a resposta para a solubilidade dos

mesmos. Com as condições ótimas de processo determinadas (Cg = 17,06 g/100g, Tp

= 75 ºC, Ts = 53 ºC), foram elaborados filmes de farinha e amido de fruta-de-lobo

afim de comparar suas propriedades. Devido a composição centesimal, características

de estrutura, óptica e interações formadas entre os componentes (proteínas, lipídeos,

fibras), os filmes de amido se mostraram mais resistentes, compactos, menor teor de

umidade e solubilidade, assim como menor flexibilidade em relação aos filmes de

farinha. O alto teor de fibras da farinha conferiu uma maior absorção de água para

estes filmes, além de apresentarem coloração mais amarelada devido ao teor de

proteínas.

Com base nos resultados obtidos neste estudo, a farinha e o amido de fruta-de-lobo

podem ser utilizados para elaboração dos filmes biodegradáveis.

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SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

A utilização de biopolímeros para elaboração de filmes biodegradáveis a

fim de minimizar os impactos causados pelas embalagens sintéticas ainda constitui um

grande desafio. Desta maneira, estudos cada vez mais aprimorados devem ser

realizados. A partir dos resultados obtidos neste trabalho pode-se sugerir os seguintes

estudos:

Isotermas de sorção para avaliar a quantidade de vapor sorvido; Testes para avaliar a biodegradabilidade dos filmes em solo; Elaborar também coberturas a partir das duas matérias-primas e realizar um

estudo comparativo entre ambos; Aplicar as coberturas elaboradas em determinados alimentos, afim de analisar

o efeito deste tipo de embalagem sobre a qualidade do alimento.