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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA CURSO DE BIBLIOTECONOMIA Ezequiel da Costa Soares Neto USO ESTRATÉGICO DA INFORMAÇÃO: um conceito para a gestão de segurança pública Orientador: Profª. MSc. Renata Passos Filgueira de Carvalho NATAL 2009

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pelas professoras MSc. Maria do Socorro de Azevedo Borba e Renata Passos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

Ezequiel da Costa Soares Neto

USO ESTRATÉGICO DA INFORMAÇÃO: um conceito para a gestão de segurança pública

Orientador: Profª. MSc. Renata Passos Filgueira de Carvalho

NATAL 2009

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EZEQUIEL DA COSTA SOARES NETO

USO ESTRATÉGICO DA INFORMAÇÃO: um conceito para a gestão de segurança pública

Monografia apresentada à disciplina

Monografia, ministrada pelas professoras MSc. Maria do Socorro de Azevedo Borba e Renata Passos Filgueira de Carvalho, para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para a conclusão do Curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientador: Profª. MSc. Renata Passos Filgueira de Carvalho

NATAL 2009

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S676u Soares Neto, Ezequiel da Costa. Uso estratégico da informação: um conceito para a gestão de segurança pública. – Natal, 2009.

45 f.

Orientadora: Renata Passos Filgueira de Carvalho. Monografia (Graduação em Biblioteconomia). - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2005.

Referencias: 44 – 45.

1. Informação. 2. Gestão pública. I. Título UFRN/CCSA/Departamento de Biblioteconomia CDU 02:58

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EZEQUIEL DA COSTA SOARES NETO

USO ESTRATÉGICO DA INFORMAÇÃO: um conceito para a gestão de segurança pública

Monografia apresentada ao Departamento de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia.

Aprovado em: ___/____/2009

BANCA EXAMINADORA

Profª. MSc Renata Passos Filgueira de Carvalho

(Orientadora)

Profª. MSc Maria do Socorro de Azevedo Borba (Membro)

Profª Drª Eliane Ferreira da Silva (Membro)

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DEDICATÓRIA

Dedico o presente trabalho a Deus, a minha esposa, sempre presente em minha vida e que faz todas as coisas ter sentido, aos mestres do Curso de Biblioteconomia do CCSA/UFRN, pela incansável dedicação na minha formação profissional.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, que tudo criou; a minha esposa, por todo o apoio e compreensão e que sempre esteve ao meu lado, me orientando (técnica e emocionalmente), a quem amo profundamente e que me faz querer ser melhor; ao meu bebê que está por vir, pela alegria inspiradora; aos meus professores do Departamento de Biblioteconomia da UFRN, importantíssimos na minha formação acadêmica, em especial a Profª Borba que sempre tem sido um socorro nas oras de aperto acadêmico; e, minha orientadora, profª. Renata Passos, pela paciência, incentivo e apoio na elaboração deste trabalho.

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“Mas onde se achará a sabedoria? Onde habita o entendimento” (Jó 28, 12)

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RESUMO

Analisa o uso da informação visando à formulação e a avaliação de políticas que proporcionem melhorias no desempenho do gerenciamento das instituições públicas. Ressalta a atuação de profissionais da comunidade usuária da informação e dos paradigmas da informação como elemento decisivo para o desenvolvimento do processo como um todo na tomada de decisão, além da influência presente exercida pela comunicação, bem como o acesso facilitado às informações, através da rede mundial de computadores e a disseminação dos aparatos tecnológicos. Descreve o uso da informação no processo decisório. Destaca visão alternativa de segurança pública, partindo de uma perspectiva de dimensões plurais e transversais do problema, priorizando a prevenção como elemento paradigmático e assumindo a responsabilidade de múltiplas agências sociais na inibição da criminalidade através de instrumentos sistêmicos com base no uso estratégico da informação para as tomadas de decisões. Utiliza como metodologia a pesquisa bibliográfica e eletrônica. Objetiva difundir a importância do uso das informações de segurança pública no Brasil em seu caráter gerencial, para dotar policiais e agentes de segurança de instrumento teórico e conceitual para o desenvolvimento da prevenção a criminalidade a partir do uso estratégico da informação.

Palavras-chave: Uso estratégico da informação. Gestão pública.

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ABSTRACT

Analyzes the use of information for the formulaão and evaluation of

policies that provide improvements in performance management of public institutions. Emphasizes the atução professionals from the user community the information and paradigms of information as a decisive element in the development process as a whole in decision-making, and the influence exerted by this communication and easier access to information through the network World Wide Web and the spread of technological apparatus. Describes the use of information in decision making. Highlights VISION alternative public security, from the perspective of diverse and cross-sectional dimensions of the problem, emphasizing prevention as a paradigm and take responsibility for many social agencies in the inhibition of crime by means of systemic based on strategic use of information for decision making. Used as a methodology to literatureand electronics. It aims to spread the importance of using information from public safety in Brazil in its managerial character, to provide police officers and security to the instrument teérico and conceptual framework for the development of crime prevention from the strategic use of information.

Keywords: Strategic use of information. Governance.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9

2 ASPECTOS CARACTERÍSTO DA INFORMAÇÃO 12

2.1 CONSTRUINDO UM FORMATO ESTRATÉGICO DA

INFORMAÇÃO

13

2.2 PROCESSO E ARQUITETURA NO USO ESTRATÉGICO

DA INFORMAÇÃO NOS PROCESSOS DECISÓRIOS

15

2.2.1 Processo no uso estratégico da informação 17

2.2.2 Arquitetura no uso estratégico da informação 18

3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DESENVOLVIDO PARA

GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA

22

3.1 ESTRUTURA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO 23

3.1.1 Elaboração de sistemas de informação em gestão de

segurança pública com base em dados indicadores

sociais

24

3.1.2 Fonte de informação na segurança pública brasileira 29

4 SABERES CIENTÍFICOS PARA USO ESTRATÉGICO DA

INFORMAÇÃO COMO FERRAMENTA DE GESTÃO DE

SEGURANÇA PÚBLICA

32

4.1 SABERES COM BASE NA RACIONALIDADE 33

4.1.1 Fundamentos das ciências humanas e do positivismo

na construção dos saberes científicos

34

4.1.2 Contexto histórico do uso da estatística como

instrumento para a gestão pública

36

4.1.3 Saber científico na fundamentação da gestão pública 37

5 CONCLUSÃO 40

REFERÊNCIAS 44

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1 INTRODUÇÃO

O uso da informação, nos últimos anos, tem se constituído como um

importante e indispensável instrumento imprescindível nas tomadas de

decisões, principalmente quanto ao planejamento visando à formulação e a

avaliação de políticas que proporcionem melhorias no desempenho do

gerenciamento das instituições públicas.

Tal fato deve-se, em grande parte, às reformas nos formatos de gestão

do conhecimento direcionados a alcançar as melhores práticas para um

aperfeiçoamento das atividades desenvolvidas; aplicadas gradualmente

através do processo de democratização da informação no espaço político

brasileiro.

Nesse contexto algumas implicações são observadas, especificamente

as que correspondem com as exigências de visibilidade dos objetivos

propostos mediante um planejamento pré-definido, que respalde uma

previsibilidade dos pontos tratados, além das ações executadas de acordo com

a existência de controles administrativos mais eficazes.

Como agente importante na consolidação desse processo encontra-se a

atuação expressiva de profissionais atentos a realidade da comunidade usuária

da informação e dos paradigmas da informação como elemento decisivo para o

desenvolvimento do processo como um todo na tomada de decisão, além da

influência presente exercida pela comunicação, bem como o acesso facilitado

às informações, através da rede mundial de computadores e a disseminação

dos aparatos tecnológicos.

Frente a esses episódios, no âmbito da segurança pública quanto ao uso

da informação no processo decisório, verifica-se atualmente um

desdobramento das taxas de criminalidade e da percepção de insegurança das

populações nos grandes centros urbanos e a falta de reconhecimento público

dos governos como agentes capazes de solucionarem isoladamente o

problema.

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Em virtude deste quadro, não é mais possível a continuidade de uma

política reativa, pautada em um modelo tradicional de segurança pública que

priorize unicamente o incremento de armamentos e efetivos policiais, visto que

tais medidas apresentaram-se insuficientes para a redução da criminalidade

em diversas localidades.

Uma visão alternativa de segurança pública parte de uma perspectiva de

dimensões plurais e transversais do problema, priorizando a prevenção como

elemento paradigmático e assumindo a responsabilidade de múltiplas agências

sociais na inibição da criminalidade através de instrumentos sistêmicos com

base no uso estratégico da informação para as tomadas de decisões.

Neste contexto, o uso adequado de sistemas de indicadores sociais de

criminalidade e violência, torna-se indispensável aos formuladores de políticas

e aos analistas, na construção de sistemas informacionais e o uso de

estatísticas e mapas criminais estrategicamente, não só como apenas

ferramentas indispensáveis ao trabalho preventivo e investigativo da polícia,

mas à formulação de ações orientadas e permanentemente avaliadas.

Também se constituem uma fonte objetiva de orientação para entidades

civis, órgãos municipais, federais e estaduais, e população no geral, no

acompanhamento do controle da criminalidade, assumindo o compromisso com

o importante papel de disseminação e implementação do uso da informação

nos órgãos estaduais e municipais relacionadas à área de segurança pública.

Esses pré-supostos serviram como base para a metodologia aplicada

através da pesquisa bibliográfica e revisão de literatura na elaboração do

estudo sobre essa temática. Tem como objetivo difundir a importância do uso

das informações de segurança pública no Brasil em seu caráter gerencial, para

dotar policiais e agentes de segurança de instrumento teórico e conceitual para

o desenvolvimento da prevenção a criminalidade a partir do uso estratégico da

informação.

Com o intuito de atribuir um caráter predominantemente

teórico/conceitual ao tema, serão apresentados conceitos que proporciona o

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acesso a exposição de alguns processos de construção de sistemas de

informação estratégica para uso gerencial em segurança pública e também os

processos de uso desses sistemas como instrumentos de gestão.

A monografia encontra-se estruturada em cinco capítulos. No capítulo

introdutório se faz a justificativa da escolha do tema, descreve os objetivos e a

metodologia.

No segundo capítulo analisa os aspectos característicos da

informação, ressaltando como se constrói um formato estratégico da

informação, como se realiza o processo e arquitetura no uso estratégico da

informação nos processos decisórios, e como se aplica o processo no uso

estratégico da informação, destacando a arquitetura no uso estratégico da

informação

No terceiro capítulo se ressalta o sistema de informação desenvolvido

para gestão de segurança pública, abordando a estrutura de sistemas de

informação bem como a elaboração de sistemas de informação em gestão de

segurança pública com base em dados indicadores sociais, destacando a

fonte de informação na segurança pública brasileira, os saberes científicos para

uso estratégico da informação como ferramenta de gestão de segurança

pública , os saberes com base na racionalidade, os fundamentos das ciências

humanas e do positivismo na construção dos saberes científicos, o contexto

histórico do uso da estatística como instrumento para a gestão pública e o

saber científico na fundamentação da gestão pública.

E nas considerações finais, destaca a importância de se pesquisar sobre

o tema.

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2 ASPECTOS CARACTERÍSTO DA INFORMAÇÃO

A informação ao longo dos anos se configurou como fenômeno mundial,

que segundo Le Coadic (2004, p.4), “A informação é um conhecimento inscrito

(registrado) em forma escrita (impressa ou digital), oral ou audiovisual, em um

suporte”. Esse fenômeno segundo Barreto (1994), é resultante das revoluções

e do crescimento industrial. Isso devido principalmente, pela grande

produtividade informacional do pós segunda grande guerra.

Barreto, (1996, p.2) afirma ainda que esse fenômeno se caracterizou

também pela: “[...] percepção do conteúdo dos produtos de informação, pelos

sentidos e pela consciência”. Era a formação da consciência do indivíduo

desenvolvida através das estruturas ordenadas dos signos (palavras).

Desde o ano de 1948, quando da Reunião da Royal Society para Informação em Ciência e Tecnologia, realizada em Londres, na Inglaterra, para tratar do problema do grande volume de informação tornada pública, após a II Guerra Mundial, e da qual surgiu a fundação do Institute for Information Scientists e provavelmente, também, o termo ciência da informação, tem se procurado um conceito que possa exprimir as características e as qualidades da informação. (BARRETO, 1996, p.2).

Essas estruturas possibilitaram a construção da informação, que

segundo Le Coadic (2004, p. 4), “[...] É um significado transmitido a um ser

consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial –

temporal; impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc”., que facilitou aos

indivíduos a sistematização do processo de comunicação entre os membros da

sociedade através de mecanismos que contribuíram com a circulação da

informação nos processo decisórios.

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2.1 CONSTRUINDO UM FORMATO ESTRATÉGICO DA INFORMAÇÃO

A gama de informação gerada no pós-guerra levou as instituições

coletoras de informações a buscar mecanismos que cooperassem na gestão,

denominados de “estruturas significantes”, (BARRETO, 1994, não paginado).

O processo de tratamento da informação, organizada em armazéns

informacionais, possibilitou a construção de estruturas que facilitasse sua

recuperação para geração do conhecimento, partindo do princípio do seu

conteúdo expressivo, interessante.

Isso posto, a operacionalidade da produção da informação só foi

possível pelo uso das práticas bem definidas no tratamento. Essas práticas têm

como base a racionalidade técnica, são os processamentos pelos quais é

tratada a informação.

Nesse particular, o tratamento da informação necessariamente

precisaria de repositório informacional, chamado por Barreto (1994, não

paginado), de: “estoque potencial do conhecimento” ou “estruturas

significantes” (estocagem). Sem o qual, o processo de realização de

transferência da informação seria inviável.

Portanto a informação não é usada simplesmente com o intuito de

informar o ser humano, sem visar nenhum objetivo pragmático. Na realidade,

quando o homem sentiu a necessidade de transmitir a informação, ele tinha

como intuito obter um produto final, que viesse a facilitar algum mecanismo de

transformação do seu habitat. Essas informações são disponibilizadas ao

homem, que ao assimilá-la, passa a desempenhar nele outra função.

Araújo destaca sobre o tema com a seguinte afirmação:

Receber, gerar e transferir informações sobre si mesmo e sobre o mundo são atividades sem as quais não se poderia pensar o homem, pois é através dessas ações que ele constrói

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e reconstrói seu projeto de civilização. Assim, no nível das sociedades históricas, a produção e a reprodução de artefatos culturais realiza-se a partir do modo informacional. Nessas sociedades, toda prática social pode ser considerada como uma prática informacional, pois toda interação humana pressupõe recepção, geração ou transferência de informação.(ARAUJO, 2001 p.17).

Esses pressupostos da transferência de informação para geração do

conhecimento é um dos pontos muito importantes no ciclo informacional, é

neste momento, que o ser humano pode começar a desenvolver algo, para por

em prática o seu conhecimento, conseguindo com isso um desenvolvimento no

seu meio.

Para isso são necessárias ferramentas que possibilitem a construção, a

partir do conhecimento adquirido, da informação para uso estratégico. Segundo

Beal (2004, p.70), a estratégia é definida a partir de um planejamento: “[...]

planejar significa preparar-se para encarar o futuro, estabelecendo uma direção

a ser seguida”.

Ainda Beal, ressalta que:

[...] estratégia pode ser vista, na prática organizacional, como o conjunto de decisões tomadas para (a) a definição dos objetivos globais (estratégicas) associadas a um determinado período de tempo e (b) a identificação dos meios considerados mais adequados para a organização superar seus desafios e alcançar esses objetivos. (BEAL, 2004, p. 69).

Nesse contexto, os órgãos de segurança pública contarão com

instrumentos que auxiliem nas tomadas de decisões, principalmente na busca

das melhores práticas que definirão o futuro das operações de controle criminal

e prevenção ao crime. Bem como, estabelecer políticas que viabilize a

utilização dos sistemas de informação como instrumento definitivo nos

processo decisórios, tais como: processo e arquitetura da informação, ponto

analisado a seguir.

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2.2 PROCESSO E ARQUITETURA NO USO ESTRATÉGICO DA

INFORMAÇÃO NOS PROCESSOS DECISÓRIOS

Na atual conjuntura em que a sociedade depende de mecanismos que

propicie o uso da informação produzida por ela, como indicadores sociais para

controle de suas atividades mediante a identificação dos pontos fracos que

carecem de melhorias para o bem comum de todos, o uso estratégico da

informação visa a orientação nas tomadas de decisões pelos agentes públicos

na gestão de segurança.

Para Le Coadic (2004, p.39), tratando da questão da necessidade de

informação, uma das características que ela apresenta é: “A existência de um

problema a resolver, de um objetivo a atingi [...].”

No entanto, concentrar toda a gama de informações objetivando

contribuir com o desenvolvimento social através de ferramentas que auxiliem

nos processos decisórios, é o grande desafio dos órgãos governamentais,

tema tratado no escopo desse trabalho, que busca apresentar conceitos quanto

ao uso estratégico da informação para tomada de decisão na gestão de

segurança.

Para a efetividade necessária da existência de gerenciamento e controle

da informação, Le Coadic (2004, p.17) diz que deve existir: “[...] uma ciência

que estude as propriedades da informação e os processos de sua construção,

comunicação e uso.”

Como sendo o principal meio de compreender as questões sócio-

culturais, ela exerce a função de comunicação dos indicadores sociais nas

relações existentes entre os membros dessa sociedade.

Nas palavras de Le Coadic há a seguinte afirmação:

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Usar informação é trabalhar com a matéria informação para obter um efeito que satisfaça a uma necessidade de informação. Utilizar um produto de informação é empregar tal objeto para obter, igualmente, um efeito que satisfaça a uma necessidade de informação, que esse objeto subsista (fala-se então de utilização), modifique-se (uso) ou desapareça (consumo). (LE COADIC, 2004, p.38).

O gerenciamento da informação necessariamente precisará de um

formato que contribua, através de requisitos estratégicos, quanto ao seu uso.

Para McGee e Prusak (1994, p. 13), esse gerenciamento estratégico se

dá pela construção de: “[...] um processo de gerenciamento e arquitetura da

informação abrangente para a organização.” Todos os setores da organização

devem ser partes integrantes dos processos decisórios no uso da informação

para as tomadas de decisões.

Processo e arquitetura devem ser dimensões do gerenciamento de informação que se reforça mutuamente. Processo focaliza os aspectos dinâmicos do gerenciamento da informação. Como devem proceder as organizações para se tornarem mais explicitas e sistêmicas em suas formas de identificar, adquirir, avaliar, analisar, organizar e disseminar a informação? Quais as etapas e seqüências apropriadas que levam ao uso efetivo da informação no processo decisório? (McGEE; PRUSAK, 1994, p. 13).

Encontrar respostas para essas questões é o desafio primeiro que

norteará o sucesso das organizações quanto ao uso estratégico da informação

na tomada de decisão.

Para McGee e Prusak (1994, p. 4), o eventual sucesso de muitas

empresas norte-americanas se fundamentou por atribuir na sua forma de

gerenciamento “[..] o uso inteligente da informação e a exploração efetiva das

possibilidades inerentes à tecnologia da informação.”

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2.2.1 Processo no uso estratégico da informação

Essas possibilidades quanto ao uso das tecnologias da informação, para

a gestão através do uso da informação estratégica, é um importantíssimo

componente aperfeiçoador do uso dos recursos informacionais nos processos

decisórios. Esse pressuposto se confirmará quando forem estabelecidos como

ferramentas principais no gerenciamento desses recursos o processo e a

arquitetura da informação.

Para McGee e Prusak (1994), o uso dessas ferramentas proporcionará o

estabelecimento e a definição do espaço apropriado e efetivo da informação,

dentro do gerenciamento e uso estratégico da informação, quanto a sua

operacionalidade nos processos decisórios.

A palavra processo pode ter diferentes usos em vários ambientes organizacionais. Para os propósitos aqui desejados, o termo significa um conjunto de fatores conectados logicamente que de um modo geral cruzam limites funcionais e têm um proprietário responsável por seu sucesso final. (McGEE; PRUSAK, 1994, p. 14).

Nesse caso o processo é responsável pelo gerenciamento da

informação através de algumas atividades que atuem juntas, buscando

alcançar de forma coordenada para o foco desejado. Segundo McGee; Prusak

(1994,, p. 107):

Essa discussão de estratégia e do papel da informação dentro do

processo estratégico seria de pouco utilidade se não fosse discutido como uma organização inicia um processo para o gerenciamento da informação e uma abordagem para o desenvolvimento de uma arquitetura da informação que nasce do processo de gerenciamento de informação.

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Contudo, o processo apenas se apresenta como sendo uma parte

importante da estrutura do gerenciamento da informação, utilizando-se também

do recurso da arquitetura na construção de uma estrutura adequada para o uso

estratégico da informação nos processos decisórios.

2.2.2 Arquitetura no uso estratégico da informação

Na construção de ferramentas que auxiliem no gerenciamento da

informação para o uso estratégico, como uma premissa que norteará a gestão

de segurança pública nos processos decisórios, a arquitetura da informação

também constitui-se ema estrutura arquestrada no gerenciamento da

informação no formato estratégico.

Segundo McGee e Prusak (1994, p.132), a arquitetura da informação

defini-se como: “[...] uma formação ou construção resultante, ou como se fosse

resultante, de um ato consciente ou também definida como: ‘uma forma ou

estrutura coerente ou unificada’.

Arquitetura da informação é um termo que desde o início da década de oitenta vem sendo utilizado por vários grupos na comunicação de sistemas de informação. Foi utilizado como uma metáfora pelos especialistas em projetos de sistema e pelos teóricos para indicar um modelo de organização abrangente para a geração e movimentação de dados. Esse modelo e as metodologias nas quais ele se baseia tentaram sistematicamente documentar todas as formas de dados importantes numa organização [...]. (McGEE; PRUSAK, 1994, p.129).

Contudo, o processo e a arquitetura de informação justificam a

importância que essas ferramentas têm na construção de sistemas de

informação eficientes.

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Para McGee e Prusak (1994, p.129), “O objetivo era criar um ‘mapa’

abrangente dos dados organizacionais em seguida construir um sistema

‘baseado’ nesse mapa.”

Segundo Furtado (2002), é necessário que esse sistema de informação

quanto a arquitetura, seja uma forma que integre totalmente todo os dados

informacionais, possibilitando assim seu uso estratégico.

O uso estratégico da informação veiculada por sistemas apropriados de

acordo com a realidade da organização no contexto da arquitetura

informacional é proporcionado pela criação da rede de dados dentro de todo o

sistema de informação.

Essa ligação geral, que facilita a comunicação de dados entre os

diversos setores da organização, bem como o tratamento adequado de acordo

com a realidade da organização, é chamada por Furtado (2002, p.129) de

“Arquitetura Geral”.

A comunicação desses dados só é possível a contento, a partir de uma

“[...] infra-estrutura de rede que interliga todos os pontos de acesso[...]”, dentro

de um sistema de informação. (FURTADO, 2002, p.129)

A infra-estrutura que trata, torna-se um componente fundamental para o

bom funcionamento da comunicação de dados no âmbito da organização no

instante da aplicação dos processos decisórios.

Furtado (2002, p.131) afirma ainda que: “Esta rede deve ter mecanismo

de acompanhamento para que o nível de serviço seja mantido em patamares

elevados.”

Isto é, todo o processo de coleta de dados, análise informacionais,

tratamento da informação, construção de repositórios, armazenamento e

disseminação, deve ser um processo cíclico, possibilitando o constante

acompanhamento e atualização do sistema de informação da organização.

Furtado afirma que:

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A investigação policial e a elaboração de inquéritos consistentes são de fundamental importância na atividade policial e deve ganhar agilidade através do uso de soluções computadorizadas. A informatização dos distritos policiais e das delegacias especializadas visa agilizar o registro das ocorrências policiais e possibilitar o acesso imediato às informações, a fim de apoiar as unidades policiais nas investigações e elaboração de procedimentos consistentes. (FURTADO, 2002, p.132) (grifo nosso)

A arquitetura da informação é um procedimento que possibilita,

estrategicamente, o uso da informação para as melhores práticas na tomada

de decisão através de sistemas de informação eficientes.

Para Furtado (2002, p.129) o sistema de informação no contexto da

segurança pública necessita de uma arquitetura geral, que considera como “[...]

uma rede formada por um conjunto de equipamento que, interligados a uma

estrutura de comunicação (link de dados), possibilitam o tráfego dos dados

entre as delegacias de Polícia Civil e o Centro de Telemática Integrado (CTI)

da Secretaria de Segurança.”

No nível estratégico, as informações gerencias serão usadas pelos gestores da segurança pública para compreender o desempenho das áreas integradas e tomar decisões quanto à alocação de recursos ou o desenvolvimento de programas e ações específicas para combater um determinado crime em crescimento. Pode-se ainda identificar deficiências de produtividade em determinadas delegacias e/ou companhias que devem ser sanados com treinamento ou remanejamento de pessoal. (FURTADO, 2002, p.143)

Portanto, a estrutura formada para o uso estratégico da informação

partindo do princípio do processo e da arquitetura, tem por finalidade

estabelecer os fundamentos primordiais para a construção de sistemas de

informação adequados a realidade da gestão de segurança pública.

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Esses sistemas necessariamente devem ser desenvolvidos de acordo

com a realidade institucional, para a qual servirá como uma estrutura

significante de tratamento, armazenamento e disseminação da informação que

contribuíram efetivamente com os processos decisórios. Isso posto, segue a

apresentação de uma proposta para a estrutura de um sistema de informação

desenvolvido para a gestão de segurança pública.

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3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO DESENVOLVIDO PARA GESTÃO DE

SEGURANÇA PÚBLICA

Buscar responder as questões referentes ao uso de dados

informacionais que servem de indicadores de criminalidade e as principais

fontes de informação que serão utilizadas na composição e produtividade de

resultados estatísticos, são os elementos primordiais para alcançar uma

resposta satisfatória na construção de sistemas de informação que possibilitem

aos gestores de segurança pública eficiência nas tomadas de decisões.

O estudo apresentado nessa seção procura elencar as características

principais dos sistemas de informação para gestão, como também buscar fazer

reconhecer a importância dos indicadores sociais de criminalidade como

componentes do processo de coleta de dados para geração de informação,

posteriormente utilizadas nas tomadas de decisões. São esses instrumentos

que auxiliam os gestores públicos na aplicabilidade do uso de informação de

forma estratégica na gestão de segurança pública.

De acordo com dados da Secretaria Nacional da Segurança Pública1

(BRASIL, 2008), foi criado pelas nações unidas na década de 2000, um

departamento específico para tratar dos assuntos sociais e econômicos, que

por sua vez elaborou um manual, que na sua estrutura documental

apresentava um modelo de desenvolvimento de sistemas informacional para

uso de dados estatísticos da justiça criminal, objetivando as melhores práticas

na aplicação das informações coletadas e processadas para a sistematização

de políticas públicas na gestão de controle e combate a criminalidade.

De acordo com dados Secretaria Nacional de Segurança Pública, há a

seguinte informação sobre o tema abordado:

1 Órgão público ligado diretamente ao Ministério da Justiça Federal do Brasil. Site:

www.mj.gov.br/senasp.

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Foi uma das fontes principais que norteou a equipe técnica da SENASP na construção do Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança Pública e Justiça Criminal (SINESPJC). Um dos principais pontos discutidos foi a importância de se definir de forma clara os propósitos e usos para o sistema. A identificação dos propósitos é fundamental para identificarmos as informações que precisamos coletar e sistematizar. Mesmo que não tenhamos informações disponíveis, é preciso deixar bem estabelecido uma perspectiva de futuro, para direcionar processos de evolução que venham a ocorrer no processo de coleta de informações. (BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.4).

Evidentemente é indispensável saber como se estrutura um sistema de

informação que possibilite sua utilização com eficiência na gestão de

segurança pública, principalmente quanto à observação das diretrizes para sua

implantação. Garantir de forma correta essa implantação como fonte

qualificada, objetiva e permanente de informações.

É necessário estabelecer e difundir da forma mais clara possível todos

os processos de coleta de dados, processamento desses dados, análise da

informação e sua divulgação de forma eficaz e precisa.

3.1 ESTRUTURA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

Para a elaboração de um sistema de informação que corresponda com

as expectativas das reais necessidades institucionais, é necessário que haja o

comprometimento de profissionais responsáveis pela sua manutenção. É nesse

particular onde se destaca os profissionais da informação, pela sua formação

específica no tratamento da informação dentro dos patrões internacionais.

Segundo Souto (2005, p.64) “[...] o profissional da informação está apto

para trabalhar tanto com a informação, quanto com o conhecimento

organizacional.” Cabe a esse profissional o tratamento da informacional

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observando os procedimentos necessário a coleta, análise, classificação,

armazenagem e disseminação.

O profissional da informação por natureza é capacitado para promover a

evolução do uso de informação de forma sistematizada através dos recursos

tecnológicos e analíticos.

Para Souto (2005, p.60) “O profissional da informação, assim como o

gestor do conhecimento, possui competências pessoais no seu perfil

profissional, características essenciais para atua na gestão do conhecimento.”

Contudo, o profissional da informação proporcionará a utilização de

sistemas de informação de forma eficiente em qualquer seguimento da

sociedade, principalmente nessas últimas décadas em que a produtividade

informacional crescente é uma prática comum do mundo globalizado, que tem

a informação como principal veículo de geração do conhecimento.

Nesse contexto, a articulação dos conteúdos informacionais e as

estruturas dos sistemas de informação, serão concretizadas dentro de uma

normalidade satisfatória, não só pela sistematização dos dados coletados e sua

organização e disseminação, mas principalmente pela atuação de profissionais

que conhecem todos os procedimentos necessários a serem utilizados na

administração de sistemas de informação.

3.1.1 Elaboração de sistemas de informação em gestão de segurança

pública com base em dados indicadores sociais

Estabelecer as medidas certas nas escolhas dos indicadores para a

criação de instrumento de identificação das transformações dos fenômenos

sociais, é um desafio que necessariamente deve ter prioridade no contexto de

definição da importância de tais informações para uma agenda de gestão

pública.

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De acordo com dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública

(BRASIL, 2008), define essas medidas como ferramenta indispensável a

funcionalidade de um sistema de informação na gestão pública, quanto ao

estabelecimento de políticas adequadas no monitoramento das atividades da

sociedade e do desempenho dos órgãos de segurança.

Ressalta Januzii que:

[...] medidas usadas para permitir a operacionalização de um conceito abstrato ou de uma demanda de interesse programático. Os indicadores apontam, indicam, aproximam, traduzem em termos operacionais as dimensões sociais de interesse definidas a partir de escolhas teóricas ou políticas realizadas anteriormente. Prestam-se a subsidiar as atividades de planejamento público e a formulação de políticas sociais nas diferentes esferas de governo, possibilitam o monitoramento das condições de vida e bem-estar da população por parte do poder público e da sociedade civil e permitem o aprofundamento da investigação acadêmica sobre a mudança social e sobre os determinantes dos diferentes fenômenos sociais. (JANUZII, 2005, p.137).

Nesse pressuposto fica clara a importância de sistemas informacionais

que tem como base os indicadores de criminalidade, coletados a partir de

dados estatísticos correspondentes as constatações, observadas, do aumento

das taxas de violência e criminalidade.

Segundo Taraoanoff (2002, p.101) nos processos de tomada de decisão

a estatística apresenta-se como uma: “[...] ferramenta na avaliação de

atividades e do desempenho da organização.”

A avaliação tem por objetivo identificar os pontos fortes e fracos dentro

de um processo estratégico, visando um acompanhamento das atividades

sociais e o controle e desempenho das praticas desenvolvidas pelas

organizações de segurança pública, na busca de um desenvolvimento

administrativo nos processos de tomada de decisão.

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Sobre o tema abordado Beal assegura que:

A informação é um elemento essencial para a criação, implementação e avaliação de qualquer estratégia. Sem o acesso a informações adequadas a respeito das variáveis internas e do ambiente onde a organização se insere, os responsáveis pela elaboração da estratégia não têm como identificar os pontos fortes e fracos, as ameaças e oportunidades, os valores corporativos e toda a variedade de fatores que devem ser considerados na identificação de alternativas e na tomada de decisões estratégicas. Com base nas informações coletadas sobre os ambientes internos e esternos, a organização pode identificar alternativas e tomar decisões estratégicas para promover mudanças na estrutura e nos processo organizacionais, de modo a garantir a manutenção da sintonia com o ambiente esterno e oferecer respostas adequadas para sobrevivência e crescimento da organização. (BEAL, 2004, p.75).

Para Beal (2002), a utilização das tecnologias da informação como

ferramenta para uso estratégico, tem como finalidade: “[..] enriquecer todo o

processo organizacional, auxiliando na otimização das atividades, eliminando

barreiras de comunicação e melhorando o processo decisório.” Com isso,

agregar valores as atividades gerenciais nas organizações.

Essas análises levam a construção de políticas públicas direcionadas

especificamente ao controle criminal, combate e prevenção aos eventos

violentos.

O controle da criminalidade objetivando a prevenção de eventos

violentos através da estruturação de um sistema de informação que ofereça

dados concretos sobre os fenômenos sociais, possibilita aos gestores de

segurança pública, uma visão antecipada da realidade, pela qual poderá

estabelecer as melhores práticas na tomada de decisão quando se utilizar dos

indicadores sociais.

Em relação ao tema a Secretaria Nacional de Segurança Pública

destaca que:

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Para o acompanhamento dessas ações em termos de eficiência no uso dos recursos, da eficácia no cumprimento das metas e da efetividade dos seus desdobramentos sociais mais abrangentes e perenes, buscam-se dados administrativos e estatísticas públicas, que, reorganizadas na forma de taxas, proporções, índices ou mesmo em valores absolutos, transformam-se em indicadores sociais. O sociólogo Túlio Kahn nos diz que no campo da formulação de políticas públicas voltadas à prevenção da criminalidade, a construção dos indicadores sociais específicos e de sistemas de informações criminais pode atender a diferentes finalidades. (BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.7) (grifo do autor).

As finalidades para as quais os indicadores sociais estruturados dentro

de um sistema de informação, são construídos objetivando o aperfeiçoamento

na eficiência da troca de informação entre instituições de controle social da

criminalidade.

Essa troca possibilita o benefício da rapidez no estabelecimento de

políticas adequadas na gestão de segurança pública, bem como, reduzir os

gastos na administração dos sistemas, principalmente quanto aos bancos de

dados de suspeitos que tem seu histórico criminal registrado e compartilhado

entre as instituições policiais e jurídicas.

De acordo com dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública

(BRASIL, 2008), são elencados alguns benefícios trazidos pela criação de

sistemas informacionais que se utiliza de indicadores sociais como base de

dados estatísticos, tais como:

Providenciar dados estatísticos para fins de operacionalidade e

administração;

Busca eliminar todos os trabalhos oriundos de redundâncias,

objetivando aumentar a qualidade da informação;

Visa possibilitar emissão de certificados de bons antecedentes com

maior eficiência, reduzindo com isso erros na emissão desses

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certificados a pessoas com ficha suja, cujo histórico não faça parte de

um sistema integrado;

Manter um acervo de dados históricos de indivíduos criminosos, para

propósitos de pesquisa.

As condições apresentadas objetiva a construção e manutenção de um

banco de dados, que disponibilize as informações necessárias à estruturação

de um sistema de informação eficiente no auxílio aos gestores de segurança

pública nas suas tomadas de decisões.

De acordo com dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública há o

seguinte entendimento sobre o assunto:

[...] planejamento e alocação de recursos do sistema de justiça criminal, que armazene informações sobre pessoas desaparecidas, veículos e bens roubados, e que concentre informações de interesse para outros órgãos públicos, para a polícia comunitária, empresas de segurança e seguradoras, para a mídia e para o público em geral.

[...] Como pode ser observado, são múltiplas as possibilidades de uso de indicadores sociais de criminalidade. Entretanto, não esqueça para que a construção de um sistema de informações criminal atenda aos objetivos. (BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.7).

Portanto, é necessário está bem atento as estruturas dos conjuntos de

dados desejáveis, que na construção de sistemas de informação, definirão os

tipos mais adequados de indicadores sociais que serviram, no instante da

coleta de dados, para posterior sistematização. Esses indicadores sociais

devem partir de dados de fontes de informações dentro da gestão de

segurança pública confiável.

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3.1.2 Fonte de informação na segurança pública brasileira

Atualmente no Brasil existe difundida entre os pesquisadores dos

fenômenos sociais, uma perspectiva quanto ao ponto de vista do conhecimento

gerado pela busca de informação sistematizada.

Essa perspectiva se difunde entre os estudiosos da área de criminologia,

na conclusão de uma percepção da pesquisa social, de que não são

suficientemente relevantes as informações administrativas dos setores de

segurança pública quanto à compreensão desses fenômenos, mas sim, levar

em consideração as condições gerais do comportamento durante a vida das

pessoas, isto é, estar atento a situação em que se condiciona a população

durante toda a vida

Dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública destaca o seguinte

entendimento sobre o assunto:

[...] observa que o nível socioeconômico é um fator explicativo significante para a preponderância de eventos criminais específicos em determinadas localidades, muito embora a explicação de sua distribuição seja bastante complexa. Citando uma pesquisa realizada em diversos bairros da cidade de São Paulo, foi possível perceber que a distribuição espacial dos homicídios encontrava uma forte associação com o reduzido nível socioeconômico local, assim como também se observou que o maior cometimento de crimes contra o patrimônio situava-se em bairros cujos moradores apresentavam uma renda média bastante elevada. (BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.14).

Os fatores que identificam as reais situações dos fenômenos sociais

condicionados as questões de condições de vida da população, em que as

características das ocorrências de atos cometidos pelas pessoas, estão

relacionadas diretamente com o ambiente em que vivem. Outro sim, as

informações coletadas determinavam, após uma análise quantitativa, que cada

crime correspondia a um tipo de situação social da população.

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Nesse contexto é de relevante importância a informação

estrategicamente utilizada na construção de relatórios que caracterizam os

fenômenos sociais, que possibilite as orientações necessárias na domada de

decisão pelos gestores de segurança pública.

Com isso, fica claro o quanto é significante para o estabelecimento de

políticas de combate e controle da criminalidade, o gerenciamento de bases de

dados estatísticos de ocorrências criminais, bem como agregar a isso as

informações coletadas sobre os fatores de infra-estrutura urbana e as

informações da estrutura sócio-econômica da população.

Para a Secretaria Nacional de Segurança Pública, há o seguinte

destaque:

Você pode observar que é desejável, tanto quanto possível, que aos bancos de dados sobre criminalidade – geralmente compostos por dados administrativos policiais, tais como registros de ocorrências –, estejam agregadas informações sócio-econômicas das populações locais e da infra-estrutura urbana. Em geral, estas informações não são direcionadas especificamente para o uso na área de gestão. Assim, informações sociodemográficas dos infratores ou demandantes de serviços de justiça criminal raramente são levantadas, comprometendo-se a viabilidade de análises mais consistentes de tais bancos de dados. Bem, você pode ver que as bases podem não conter as informações necessárias para a avaliação de políticas públicas de segurança ou programas particulares. Em função disso, é preciso pensar criativamente na utilização de outras possíveis fontes de dados para complementar ou checar as informações fornecidas pelas bases de dados oficiais. (grifo do autor). BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.15).

Isso posto, há um consenso de que é necessário para a gestão de

segurança pública, toda uma estrutura informacional além de profissionais

capacitados no tratamento da informação, com base no estabelecimento de

critérios estrategicamente pré-definidos para o uso de informação aplicada ao

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controle, prevenção e combate a criminalidade. Essa estrutura, que trata a

informação como produto decisivo no processo decisório, tem como base

estrutural o conhecimento a partir dos conceitos científicos na construção do

saber e na geração do conhecimento como ferramenta para gestão.

Em se tratando da geração do conhecimento a partir do conceito

científico, a pesquisa científica, quanto ao desenvolvimento de conceitos

teoricamente construído na mensuração do saber com base na cientificação da

produção literária, é o instrumento articulador de todo esse processo.

Para as autoras Bufrem e Prates, sobre o tema afirmam que:

As atividades de identificação, análise e mapeamento dos termos representativos da prática de mensuração registrada na literatura visam a esclarecer implicações semânticas, apoiar pesquisadores no desenvolvimento de novas atividades científicas e também proporcionar um elenco de possibilidades de aplicação de instrumentos na mensuração da informação. (BUFREM; PRATES, 2005, p.10).

Nesse contexto a reflexão serve como pressuposto para a interpretação

dos fatos e a concepção das idéias formuladas mediante a interpretação

desses fatos na construção do saber científico.

Segundo Bufrem e Prates (2005, p.10), “[...] a reflexão sobre a prática de

pesquisa e sobre a terminologia [...] presta-se ao conhecimento da área em

suas características mais amplas, bem como ao embasamento teórico de

novas pesquisas no campo específico do conhecimento a que se destinam”.

Portanto, para que essas informações se configurem como uma

característica particular da produção da informação como fator decisivo no

processo de tomada de decisões quanto ao uso estratégico da informação,

será tratado mais especificamente no ponto seguinte o saber científico como

ferramenta indispensável na produção da informação para uso estratégico na

gestão de segurança pública.

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4 SABERES CIENTÍFICOS PARA USO ESTRATÉGICO DA INFORMAÇÃO

COMO FERRAMENTA DE GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA

No percurso da evolução da humanidade são observados muitos traços

de suas conquistas, marcados pelo acúmulo de conhecimento e

desenvolvimento tecnológico. Esse processo só foi possível devido ao uso da

informação na geração de conhecimento para formalização do saber científico

das gerações futuras.

Esse saber surgiu durante toda uma trajetória, traçada incessante pelo

ser humano na busca de acúmulo de conhecimento numa perspectiva da

realidade a partir de conhecimento fundamentado cientificamente, consolidados

através de diferentes etapas.

Historicamente as etapas do desenvolvimento e acúmulo do

conhecimento seguiam estágios na geração do saber exclusivamente, partindo

do princípio das experiências e observações individuais, as quais eram

utilizadas intuitivamente de forma empírica e espontânea – saberes não

comprovados e nem testados pela ciência – onde não se desprezavam os

conceitos tradicionais.

No entanto, com o surgimento e expansão do desenvolvimento da

filosofia e do saber especulativo, passa a surgir consolidadamente uma nova

forma de conhecimento com base na interpretação racional com estruturação

teorizada e fundamentada.

Com isso, o acúmulo de conhecimento dentro de um formato com base

no saber científico, serve de embasamento para o desenvolvimento da

temática a seguir, que consolida o uso de dados informacionais na gestão de

segurança pública.

Estabelecer elementos que proporcione a identificação de característica

do pensamento científico – Racional, e sua importância como ferramenta

indispensável na gestão pública, é um desafio que consolida a necessidade de

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investigação das estruturas informacionais que criem os vínculos necessários

ao uso da informação na criação de um ambiente propício à estruturação da

gestão de segurança pública.

4.1 SABERES COM BASE NA RACIONALIDADE

O saber científico teve sua concretização a partir do pensamento

filosófico, que segunda a Secretaria Nacional de Segurança Pública (2008,

p.5): “Com a filosofia grega, inaugura-se a sistematização do uso da lógica e

das ciências matemáticas para abordagem e interpretação das indagações

sobre os problemas da condição do homem no convívio em sociedade”.

Esse ideal constitui-se uma consolidação no século XVII do pensamento

científico moderno, legitimado pela construção dos saberes na observação da

realidade colocando a prova a experimentação.

De acordo com dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública, há

o seguinte entendimento:

A partir de então, o saber não repousa mais somente na especulação, ou seja, no simples exercício do pensamento. Baseia-se igualmente na observação, experimentação e mensuração, fundamentos do método científico em sua forma experimental. Assim, poderse-ia dizer que o método científico nasce do encontro da especulação com o empirismo. (LAVILLE; DIONNE, 1999 apud BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.5).

Partindo desse pressuposto, dar-se início o que chamam de “raciocínio

hipotético dedutivo” (BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA

PÚBLICA, 2009 p.5), como elemento de construção dos formatos de medidores

para compreensão dos fenômenos e identificação da realidade.

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Com isso, os saberes eram construídos não mais apenas pelas

experiências empiristas especulativas do exercício do pensamento, passando a

repousar nos instrumentos de observação, experimentação e mensuração num

processo de construção teorizante da interpretação da realidade.

Para Laville e Dionne (1999) (apud BRASIL. SECRETARIA NACIONAL

DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.5): “[...] o método científico nasce do

encontro da especulação com o empirismo,” constituindo-se como

fundamentação do método científico estruturante dos formatos experimentais.

“E o raciocínio que implica deduzir conclusões de premissas que são

hipóteses, em vez de deduzir de fatos que o sujeito tenha realmente

verificado”. (BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA,

2008, p.5).

Essa estrutura é fundamentada pelo surgimento do pensamento

positivista na fundamentação das ciências humanas.

4.1.1 Fundamentos das ciências humanas e do positivismo na construção

dos saberes científicos

As reflexões anteriores discorrem sobre as questões do saber científico

com base na racionalidade, e que, com o avanço das pesquisas e das novas

descobertas, novos caminhos foram traçados no campo desse saber.

Um momento novo surge na construção do saber a partir do século

XVIII, concretizando com as ciências Humanas. Segundo Laville; Dionne

(1999) apud Secretaria Nacional de Segurança Pública (2008, p.6), as ciências

humanas surgem:

[...] com o objetivo de trazer para as investigações sobre a condição do homem em sociedade, até então objeto restrito às

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especulações filosóficas, os mesmos preceitos e modelos aplicados nas Ciências da Natureza. Nesse sentido, o desenvolvimento inicial da área partiu dos preceitos de construção de um saber científico amparado no modelo positivista [...].

É nesse século que os ideais do positivismo são associados às ciências

humanas na construção do saber científico, em que: “As ciências humanas

referem-se àquelas que têm o próprio ser humano como objeto de estudo [...]”.

(BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.6).

As atitudes do indivíduo inserido no contexto social servem como

ferramenta de transformação das relações, nas quais são definidas as

condições desse indivíduo em relação à sociedade da qual faz parte.

É nesse campo onde são tratadas as investigações dessa condição

através do modelo positivista, que para Barbosa (1972) apud Keide; Jacó-Vilele

(2004, p.170), a humanidade: “[...] reconhecendo a impossibilidade de alcançar

noções absolutas, o espírito humano renuncia à busca das origens das coisas

para se preocupar com as leis naturais que regem os eventos”. Nisso se

concretiza a utilização de dados informacionais para as tomadas de decisões

na gestão pública.

Esses dados servem como elementos de investigação no contexto da

estatística, pela qual são observados os fenômenos naturais do

comportamento humano. O uso da estatística para averiguar as ações do

homem na sociedade da qual faz parte é uma prática antiga.

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4.1.2 Contexto histórico do uso da estatística como instrumento para a

gestão pública

Historicamente a gestão pública se utilizava de elementos estatísticos

como poderosa ferramenta de informação que contribuía na tomada de

decisão.

Segundo Lima (2005), os saberes científicos se desenvolvem a partir

dos elementos da estatística, que por sua vez contribui com esse processo na

interpretação dos fenômenos sociais, partindo do princípio da investigação.

Em relação ao tema dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública

ressaltam que:

Foi no contexto de desenvolvimento de um saber científico de cunho positivista que o conhecimento estatístico foi assumido como uma ferramenta para a construção da objetividade na investigação dos fenômenos sociais e na gestão pública em muitos países. [...]. A partir do século XIX, o uso de registros estatísticos passa a servir a uma série de levantamentos e pesquisas sobre os mais diferenciados assuntos. A difusão do uso da estatística surge como representação de um período em que a possibilidade de quantificação e controle da realidade constituía-se em pensamento reinante entre analistas sociais e dirigentes. (SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.11).

Lima, (2005, p. 19), afirma:

Em termos históricos, entretanto, nota-se que as primeiras pesquisas estatísticas remontam a períodos muito anteriores ao século XIX e foram, quase todas, voltadas ao levantamento de informações para fins de gestão e administração do estado, com ênfase nos negócios fiscais, militares e policiais. Suas origens podem ser identificadas nas civilizações antigas do Egito, da Mesopotâmia e da China, dos anos 5000 a 2000 a.C. Nelas o Estado (ou soberano) precisava dos dados para governar e organizar o território e é em torno dessa “necessidade” de conhecimento que a estatística irá florescer.

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Todo esse discurso leva a percepção de que as informações

consolidadas a partir dos dados para uma análise da realidade, constroem a

percepção para direcionamento das escolhas e limitações, muitas das vezes

sujeitas aos interesses e conflitos provenientes de todos os campos da

sociedade.

Neste sentido, é interessante ressaltar a reflexão que pauta o estudo de

Lima (2005).

[...] mais do que isentos, os números e as formas como eles estão organizados respondem às dinâmicas das disputas de poder em torno das regras sobre como e quem governa: eles são instrumentos de construção de discursos de verdade, que almejam a objetividade e a legitimidade enquanto pressupostos; são resultado de múltiplos processos sociais de contagem, medição e interpretação de fatos e, portanto, dependem da circulação do poder para se reproduzirem. (LIMA, 2005, p. 27).

Nessa estrutura conceitual, as informações geradas a partir de dados

quantitativos sevem potencialmente como identificadoras dos aspectos

fundamentais na construção de um sistema de informação que corresponda

com as expectativas da gestão pública com base nos saberes científicos.

4.1.3 Saber científico na fundamentação da gestão pública

Na elaboração de políticas com base em sistemas de informação que

correspondam com as expectativas dos gestores públicos, é necessário a

utilização de instrumentos que incorporem os elementos do saber científico e

que fundamente a visão científica da realidade e não apenas partir dos

conceitos subjetivos das estruturas sociais.

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Segundo Lima (2005), além desse formato de gestão de segurança

pública a partir da fundamentação do saber científico, faz-se necessário

adquirir vários conhecimentos intermediados pela experiência sensível,

descartando qualquer tipo de preconceitos que prejudicam uma visão

considerável da realidade. “A fundamentação do conhecimento em

experiências empíricas rigorosamente determinadas em termos

metodológicos.” (BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA

PÚBLICA, 2008, p.14).

Reforçando o assunto a Secretaria Nacional de Segurança Pública,

destaca que:

Um bom exemplo da aplicação dos princípios científicos à gestão de políticas públicas foi um estudo realizado pela Rand Corporation, em 1998, onde se avaliou os resultados de cinco ações diferentes realizadas nos Estados Unidos para retirar crianças do mundo dos crimes, em termos dos seus custos e benefícios. Este relatório fundamentou uma mudança significativa na ação do governo dos Estados Unidos em termos da gestão de políticas de segurança pública. (BRASIL. SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2008, p.14).

Dessa forma, é de fundamental importância a identificação das falhas

nos controles de dados informacionais, na busca de se estabelecer resultados

definidos dentro de uma previsibilidade aceitável. São as ações dos gestores

públicos fundamentadas em uma avaliação empírica, que a partir daí são

estabelecidos os conhecimentos, que resultaram em uma gestão com base no

conhecimento produzido pelas informações adquiridas nas observações da

realidade.

No entanto, é fundamental reafirmar a importância de um modelo de

gerenciamento das informações que proporcione sua utilização de forma

sistemática e metodológica.

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Esse modelo se dispõe de um sistema de informação que procura

corresponder com as características da unidade de controle e combate a

criminalidade, utilizando-se de dados informacionais quantitativos para a

elaboração de políticas pública na gestão de segurança.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após análise através de pesquisa bibliográfica e eletrônica pode –se

concluir que a criminalidade organizada no Brasil surgiu como um movimento

paralelo a sociedade, tendo se difundido numa velocidade crescente

principalmente por falta de políticas públicas eficazes no controle e combate a

essa criminalidade.

Pesquisar essa temática é um desafio constante e atual, isso porque a

realidade da situação da sociedade impõe um posicionamento cognitivo na

interpretação dos fenômenos sociais que interferem nas relações

estabelecidas entre os indivíduos da sociedade.

Isso posto, é de suma importância analisar as principais características

do fenômeno da criminalidade organizada, que são: a estrutura plurificada,

hierarquizada e permanente, com uma finalidade definida de lucro ou poder,

utilização de meios tecnológicos, conexão com o Poder Público,

internacionalização, uso da violência e intimidação para garantir a impunidade

dos delitos cometidos, substituição da presença do Estado-Oficial e o emprego

de lavagem de dinheiro.

Diante do exposto, fica clara a necessidade dos órgãos gestores da

segurança pública se utilizarem de ferramentas que auxiliem no combate e

controle da criminalidade com maior eficiência.

Nesse contexto, os órgãos que utilizam-se de elementos sistemáticos

através do uso estratégico da informação, proporcionam aos gestores de

segurança pública ferramentas eficazes na identificação dos pontos fracos que

necessitam de melhorias e adaptações à realidade do ambiente no qual está

inserido.

Nesse particular, o uso estratégico da informação se apresenta como

uma ferramenta que contribuirá com os processos decisórios, principalmente

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por favorecer a identificação através da informação, as reais condições em que

se encontram as comunidades de atuação dos agentes de segurança pública.

Se a ação do crime se infiltra nas camadas sociais, confrontando o

Estado, é o momento de reavaliar o sistema, principalmente quanto aos

formatos tradicionais no emprego da força e repressão pela violência. É nesse

contexto que os órgãos gestores da segurança pública devem priorizar o uso

da informação, através dos indicadores sociais para geração de políticas de

controle e combate a criminalidade, a partir do uso estratégico da informação.

No entanto, tem como destaque e eventual resultado da aplicabilidade

do uso estratégico da informação nos processos decisórios, as melhores

práticas no combate e controle da criminalidade, pelo gerenciamento das

informações produzidas através dos dados coletados referentes aos

indicadores sociais. Essas informações, após passar pelos processos durante

o tratamento informacional, passam por uma estruturação arquitetônica em

que são os construídos sistemas informacionais.

Tais sistemas servirão de suportes informacionais que contribuirão

com a prevenção ao crime, que diz respeito às causas da delinqüência, ou

seja, vai à raiz do conflito criminal e exige séria prestação social de educação,

socialização, bem-estar, qualidade de vida, etc. É prevenção de caráter não-

penal, baseada no fornecimento de ações e serviços públicos para evitar o

surgimento de fatores geradores da criminalidade.

É neste contexto que a aplicação da ciência como ferramenta

auxiliadora na identificação dos problemas/conflitos, também chamada saber

científico, exerce papel fundamental na construção de uma consciência mais

abalizada por parte dos gestores de segurança pública. Bem como, na busca

de metas a atingir, criar obstáculos ao criminoso, consistindo em mais

segurança.

Preocupando-se com as raízes do delito e com isso, dificultar a

execução do crime, criar-lhe obstáculos, mas não causar ações delitiva.

Operar a curto e médio prazo e se destinar a setores da sociedade

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especificamente as que apresentarem maiores índice de criminalidade, ou

seja, àqueles grupos e subgrupos que ostentam maior risco de protagonizar o

problema criminal.

Diante dessa realidade, os órgãos de segurança pública terão a

disposição instrumentos poderosos de identificação dos pontos fracos no

gerenciamento da segurança pública, a serem trabalhados mediante a

construção de sistemas estruturados.

Deve também, ater-se a construção de ferramentas que se utilizem da

informação no formato estratégico; que favoreça o uso estratégico da

informação nesse contexto e proporcione sua consolidação como

indispensável auxiliador nas tomadas de decisões e as melhores práticas pelos

gestores de segurança.

A criminalidade desafia o Poder Público e conseqüentemente o Estado

Democrático de Direito, sendo necessário enfrentar esta realidade, através da

criação de políticas públicas eficientes de segurança pública para combater às

os criminosos.

A melhor política de enfrentamento desta problemática, consiste na

adoção de medidas de prevenção ao crime. Neste particular não se tem a

imaginação de extinguir por completo o crime, posto que é do conhecimento de

todos que o crime é inerente a sociedade.

Entretanto, deve-se buscar soluções para reduzi-lo significativamente,

suprimindo suas formas e áreas de atuação. É preciso enfrentar esta triste

realidade e combatê-la, por isso que os formatos tradicionais não são mais um

referencial; a ordem agora é utilizar ferramentas estratégicas para que o

controle e combate a criminalidade seja mais eficiente e eficaz.

Tendo em vista que o objetivo primordial da maioria das ciências é

estudar o comportamento humano no contexto social que vive, sob a ótica de

suas causas e finalidades, em todos os seus aspectos, é primordial recorrer a

esta ciência para buscar perspectivas de enfrentamento dessa cruel

problemática.

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Portanto, é necessária a criação de políticas públicas de segurança de

caráter preventivo e repressivo, partindo do princípio da identificação dos

indicadores sociais como fonte importante para o estabelecimento de políticas

públicas que correspondam com a realidade de cada espaço social. E essas

políticas, necessariamente, devem está estruturadas a partir de sistemas

informacionais para uso estratégico nos processos decisórios.

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