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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA LICENCIATURA PLENA CAMILA LARISSA FIRMINO DE LUNA MÚSICA POPULAR: ferramenta de educação musical para público de jovens e adultos no contexto das escolas regulares NATAL/RN 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA

LICENCIATURA PLENA

CAMILA LARISSA FIRMINO DE LUNA

MÚSICA POPULAR: ferramenta de educação musical para público de jovens e adultos no contexto das escolas regulares

NATAL/RN 2010

CAMILA LARISSA FIRMINO DE LUNA

MÚSICA POPULAR: ferramenta de educação musical para público de jovens e adultos no contexto das escolas regulares

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, realizado na área de Educação Musical, como requisito para obtenção do título de licenciado em Música.

ORIENTADORA: Profa. Ms. Cristiane Hatsue Vital Otutumi CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. Jean Joubert Freitas Mendes

NATAL/RN 2010

Catalogação da publicação na Fonte Biblioteca Setorial da Escola de Música

L961m Luna, Camila Larissa Firmino de. Música popular: ferramenta de educação musical para

público de jovens e adultos no contexto das escolas regulares / Camila Larissa Firmino de Luna. – Natal, 2010.

66 p.: il.

Orientador: Cristiane Hatsue Vital Otutumi. Co-orientador: Jean Joubert Freitas Mendes. Monografia (Graduação) – Escola de Música, Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, 2010.

1. Educação Musical. 2. Música Popular. 3. Ensino de jovens e adultos. I. Título.

CDU 78:37

CAMILA LARISSA FIRMINO DE LUNA

MÚSICA POPULAR: ferramenta de educação musical para público de jovens e adultos no contexto das escolas regulares

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, realizado na área de Educação Musical, como requisito para obtenção do título de licenciado em Música.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Jean Joubert Freitas Mendes

Co-Orientador

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

____________________________________________________

Valéria Lazaro de Carvalho

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

____________________________________________________

Ticiano Maciel Damore

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

AGRADECIMENTOS

Primeiramente quero agradecer ao meu melhor amigo, o qual posso contar a qualquer

hora do dia: o meu Deus. Mais uma vez Ele provou Sua fidelidade e não me deixou em

nenhum momento. Se entrei nesse curso, e após quatro anos estou me formando apesar das

dificuldades, foi porque Ele permitiu. Toda a honra é para o Senhor!

Aos meus queridos pais, que sempre investiram confiança nos meus projetos, e com

amor e cuidado, orientaram e incentivaram, estando sempre presentes sendo a minha base.

Aos meus estimados amigos que foram meu conforto e minha alegria nos momentos

de cansaço. Quero agradecer em especial a Isabel Brasiliano (Bel), pelos momentos divididos

durante esses quatro anos. Muitos momentos bons e inesquecíveis, mas também difíceis e

com muitas barreiras, que vencemos juntas em uma relação de amizade e parceria. Obrigada,

Bel! Sem você, esses quatro anos não teriam sido os mesmos.

Ao meu namorado João Paulo Furtado, por suportar com carinho e paciência toda a

minha correria de finalização do curso, além de ter enriquecido uma das aulas ministradas

com sua musicalidade. Muito obrigada, meu querido, por todo apoio dado.

À minha orientadora Cristiane Otutumi, que não mediu esforço algum para a

realização deste projeto, se disponibilizando – mesmo depois de um dia inteiro de trabalho, ou

nas folgas dos fins de semana – a passar algumas horas me orientando via skype, não apenas

compartilhando informações acadêmicas, mas também momentos divertidíssimos, fazendo da

relação entre orientadora e orientanda um laço de amizade muito prazeroso.

Ao meu co-orientador Jean Joubert, pelas orientações, disponibilidade e apoio a este

projeto, mesmo tendo que dividir seu tempo com outros compromissos, além de ter feito um

trabalho de revisão com total competência e paciência.

À minha querida supervisora de estágio, e acima de tudo, amiga Cleide. O seu amor

pela profissão tem inspirado muitos dos seus ex-alunos, grupo no qual me incluo. Sem sua

iniciativa, este trabalho não teria experimentação prática. Obrigada por toda a ajuda, pelo

acolhimento no ambiente do estágio e por sempre estar disponível nas horas de dúvidas. Você

foi peça fundamental no decorrer do meu curso.

Ao meu professor de instrumento (violino), Ronedilk Dantas, pela compreensão dada

durante esses anos e, principalmente, nessa reta final. Os meus sinceros agradecimentos.

A todos os professores que fizeram parte dessa caminhada acadêmica contribuindo

com conhecimentos imprescindíveis para a formação da nossa prática. Muito obrigada por

proporcionarem tais momentos valiosos.

Aos meus colegas de curso por caminharem junto a mim nessa fase da vida. Sou

grata por todos os momentos de trocas de conhecimentos e experiências em sala de aula, ou

em simples conversas no corredor. Com certeza vocês fazem parte da minha história. Quero

agradecer especialmente pela parceria dos meus amigos Kaique Paulo e André Phillipe. Nosso

laço de amizade vai além da graduação!

À Equipe CIART pelos dois anos e meio de parceria. Vocês fortaleceram a minha

formação acadêmica nos momentos de trocas de experiências, e no profissionalismo cordial

sempre presente no nosso trabalho. Aprendi a respeitar cada um com suas individualidades,

que quando juntas, trazem estimados resultados.

Por fim, a todos aqueles que fazem parte da Escola de Música da UFRN, e que de

certa forma, contribuíram para minha formação.

RESUMO

Este trabalho teve como objetivo apresentar uma proposta de metodologia utilizando a música popular brasileira como meio de aprendizagem nas aulas de música do ensino regular, com público de jovens e adultos. A intenção final é discutir aspectos importantes tais como aproveitamento do histórico musical dos estudantes e a questão da interdisciplinaridade na escola. Primeiramente, fiz um levantamento de alguns referenciais teóricos relacionados ao tema, refletindo aspectos colocados por autores da área; depois, relatei acerca da utilização da metodologia no Estágio Supervisionado IV a partir do projeto “Conheça a música no Brasil”; e por fim, avaliei o projeto através de questionários aplicados a todos os envolvidos, podendo refletir sobre a prática.

Palavras chave: música popular; educação musical; jovens; adultos; escola regular.

RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo proponer una metodología de uso de la música popular brasileña como un medio de aprendizaje en las clases de música para la educación pública regular con adultos y jóvenes. La intención final es para discutir temas importantes, tales como el uso histórico de los estudiantes musical y la cuestión de la interdisciplinariedad en la escuela. En primer lugar, hizo un estudio de algunos marcos teóricos relacionados con el tema, lo que refleja las cuestiones planteadas por los autores en la zona, informó a continuación sobre el uso de la metodología en Encuadramiento del proyecto "Descubre música de Brasil", y, por último, evaluar el proyecto a través de cuestionarios a todos los involucrados, que pueden reflexionar sobre la práctica. Palabras claves: música popular; la educación musical; jóvenes; adultos; escolares regulares.

LISTA DE FIGURAS

Fig.1 Calendário de aulas......................................................................................... 23 Fig.2 Quadro geral de horários e turmas.................................................................. 23 Fig.3 Períodos da música brasileira......................................................................... 25 Fig.4 Plano de aula I................................................................................................ 41 Fig.5 “Garota de Ipanema” (partitura de arranjo).................................................... 43 Fig.6 “Lobo bobo” (partitura de arranjo)................................................................. 44 Fig.7 Plano de aula II............................................................................................... 45

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................ 10

1. O CONTEXTO MUSICAL NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA.............. 12

2. A EDUCAÇÃO MUSICAL PARA JOVENS E ADULTOS E O USO DA

MÚSICA POPULAR NAS ESCOLAS REGULARES................................................

15

2.1. Definindo o conceito de jovem e adulto na educação................................................. 15

2.2. A educação musical para jovens e adultos.................................................................. 17

2.3. A música popular brasileira no ensino de jovens e adultos......................................... 18

3. RESULTADO DA PESQUISA: O PROJETO “CONHEÇA A MÚSICA

NO BRASIL” E AS PRÁTICAS NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO.....................

21

3.1. O estágio e a estrutura da Escola Estadual Profa. Maria Queiroz............................... 21

3.2. Projeto “Conheça a música do Brasil”........................................................................ 24

3.3. Aulas............................................................................................................................ 27

3.3.1. Aulas observadas...................................................................................................... 29

3.3.2. Aulas ministradas..................................................................................................... 38

3.3.3. Observações sobre o sistema de avaliação............................................................... 46

3.4. Avaliação do projeto................................................................................................... 46

3.4.1. Questionário aplicado aos alunos............................................................................. 47

3.4.2. Avaliação do projeto pela docente e estagiários....................................................... 51

3.4.3. Auto-avaliação do projeto e do estágio supervisionado........................................... 56

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 59

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 61

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................................................ 63

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS CONSULTADOS..................................................... 64

ANEXOS............................................................................................................................ 65

10

INTRODUÇÃO

No decorrer do curso de Licenciatura em Música, tive a oportunidade de vivenciar

diversas experiências, tanto relacionadas à performance (no Curso Técnico de Violino, que

ocorreu paralelamente à graduação), quanto à educação musical (como monitora estagiária do

Curso de Iniciação Artística da UFRN – CIART).

Apesar de meu instrumento ser considerado erudito, a minha relação com a música

popular sempre esteve presente, na medida do possível, na minha prática pedagógica;

elementos musicais encontrados nesse tipo de música foram inseridos, por muitas vezes, em

arranjos meus para as apresentações do CIART. Tais elementos foram “ganchos” para

discussões e trocas de conhecimento de grande valia entre eu e os alunos.

A partir disso, surgiu a idéia de investigar uma metodologia baseada na música

popular brasileira, visando, como concluinte do curso de licenciatura, as escolas regulares. Os

aspectos metodológicos que foram levantados na minha reflexão inicial se aproximaram

melhor do público de jovens e adultos, pelo fato de abarcar uma visão geral do patrimônio

musical do país, considerando aspectos tanto musicais, quanto histórico-sociais; além do

aproveitamento da bagagem cultural do aluno, já que esse público possui certa experiência de

vida e, geralmente, opiniões formadas.

Tal idéia aprimorou-se a partir da participação no Estágio Supervisionado IV,

ocorrido no último período do curso de graduação, na Escola Estadual Profa. Maria Queiroz,

sendo supervisionado pela professora Cleide Alves. Nesse estágio, pude observar fatores

relacionados ao uso da música popular brasileira em sala de aula, através de um projeto

pedagógico intitulado “Conheça a Música do Brasil”, planejado pela própria professora,

tornando-se uma experiência enriquecedora para minha prática como docente, em se tratando,

principalmente, da escola pública.

No decorrer desse estágio, experimentamos aulas com diversas metodologias, em

torno do tema em questão, e pudemos avaliar aspectos relevantes de acordo com cada turma,

sendo assim, “lapidada” aos poucos, a nossa prática pedagógica com relação ao público jovem

e adulto e a música popular.

Partindo da relação da teoria com a prática, desenvolvi este trabalho com intuito de

investigar e refletir sobre a utilização dessa metodologia e seus resultados. Tal projeto contou

com a orientação da profa. Cristiane Otutumi, e co-orientação do prof. Jean Joubert, e está

dividido em três capítulos.

11

No primeiro capítulo será abordado sobre o contexto das escolas regulares e a recente

obrigatoriedade da música no currículo escolar, apontando aspectos da importância dessa

disciplina na formação do indivíduo, a partir de discussões levantadas por autores da área.

O segundo capítulo está dividido em três partes: a primeira aborda aspectos gerais do

público em questão, com relação ao universo escolar; a segunda, sobre a educação musical

com jovens e adultos, discutindo pontos relevantes que devem ser considerados pelos

educadores musicais; e por fim, a terceira parte apresenta a música popular brasileira como

recurso de aproximação dos discentes à nova disciplina inserida no currículo.

No terceiro capítulo, entraremos na abordagem do estágio: a caracterização da

escola, o projeto pedagógico montado pela professora responsável, o desenvolvimento das

aulas observadas e ministradas, e a aplicação de questionários avaliativos envolvendo todas as

partes inseridas no projeto.

Por fim, as considerações finais sobre o desenvolvimento da pesquisa aliada à

experiência do estágio, refletindo sobre as contribuições para a prática pedagógica.

12

CAPÍTULO 1 O CONTEXTO MUSICAL NAS ESCOLAS DE EDUCAÇÃO BÁSICA

A volta da obrigatoriedade da música, através da Lei nº 11.769 sancionada em agosto

de 2008, depois de décadas ausente do currículo escolar, me incentivou a pesquisar sobre os

aspectos relevantes da educação musical no contexto da escola regular, observando as

discussões e expectativas dos profissionais da área.

A partir de tal fato, elenquei alguns autores importantes que referenciam idéias e

representam parte do fundamento teórico da minha pesquisa, a qual tem como foco a música

na escola.

Por muito tempo, a arte foi vista como mera atividade lúdica, de divertimento e lazer,

fazendo com que seu espaço no currículo escolar fosse reduzido, diferentemente das

atividades “úteis” das demais disciplinas (DUARTE JÚNIOR, 1991). Por isso, o espaço

concedido à arte poderia até há pouco tempo ser considerado ínfimo, tendo a música uma

“virtual inexistência” na escola (HENTSCHKE, 1991).

Mas há outros aspectos como o que Fonterrada (2005) aborda, sobre a falta de

clareza do corpo docente das instituições escolares com relação à funcionalidade da música,

sendo essa, na maioria das vezes, destinada apenas como auxiliadora de outras disciplinas.

Esses argumentos explicitam a desvalorização dada à música na educação: “a

inexistência de uma tradição em se ensinar música na escola regular no Brasil pode levar a

diferentes idéias da sociedade a respeito dos conteúdos, objetivos e funções dessa disciplina”

(COUTO; SANTOS, 2009, p. 111), e esse é um desafio para a organização no momento atual.

Porém, com o desenvolvimento de pesquisas na área, vários educadores como:

Fonterrada (2005), Schafer (1991), Arroyo (1990), Penna (1991), etc., publicaram trabalhos

que estão permeados por argumentos que levam aos diversos motivos da inserção da música

no currículo escolar, mostrando os benefícios que tal disciplina pode trazer à formação do

indivíduo.

A presença da música na escola pública tem como objetivo “democratizar a

linguagem musical” através de profissionais capacitados que tenham formação na área e uma

“sólida fundamentação teórica” (COUTO; SANTOS, 2009, p.115). Segundo Pérez Gómez

(1992) esses profissionais precisam ser reflexivos e auto-avaliativos acerca da sua própria

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prática; Shön (1992) ainda considera que a formação do professor precisa atingir uma

dimensão participativa, flexível e investigadora no processo de formação do aluno.

Para a educação musical destinada à escola regular, o conceito de tal disciplina

ultrapassa a idéia tradicional que a sociedade tem de um ensino de música baseado somente

na performance em algum instrumento. França e Swanwick (2002) acreditam no que chamam

de “uma educação abrangente” que, além da execução musical, inclui a apreciação e a

composição como elementos de uma formação musical enriquecedora, capaz de atingir outras

áreas cognitivas do ser humano, além de trabalhar o senso crítico do indivíduo. Couto e

Santos (2009) concordam com tal metodologia quando afirmam que:

É preciso conhecer as potencialidades da música no desenvolvimento humano, desde o aspecto físico até o mental, explorando todos os níveis de compreensão da música enquanto linguagem. Se conseguirmos oferecer esse tipo de educação musical, estaremos dando importantes contribuições para que tenhamos, num futuro próximo, indivíduos mais capazes de agir de maneira crítica e consciente sobre o produto artístico de sua sociedade, e isso poderá se refletir em questões sociais, políticas e, sobretudo, aquelas intrinsecamente humanas. (COUTO; SANTOS, 2009, p.123)

Ainda segundo os autores, “a performance que estará presente numa educação

musical dentro da escola regular vai além da idéia de virtuosismo instrumental

tradicionalmente conhecido”. A performance musical presente na execução que França e

Swanwick (2002) abordam, “abrange todo e qualquer comportamento musical observável”,

indo muito mais além da performance instrumental que requer anos de estudo e prática.

Continuando a pedagogia da “educação abrangente” (FRANÇA; SWANWICK,

2002), lembram os autores que a apreciação, quando intercalada com a intervenção do

professor, por exemplo, oportuniza ao aluno o desenvolvimento do pensamento crítico sobre

sua realidade. Tal situação acarreta na transformação de um consumidor passivo do que a

mídia impõe, passando a ter condição de refletir sobre aquilo que ouve (HENTSCKHE, 1991,

p.59).

Por fim, completando a tríplice do “fazer musical”, que auxilia o aluno a alcançar a

compreensão da música enquanto linguagem, temos a composição, que constitui na criação

musical através da manipulação dos elementos (FRANÇA; SWANWICK, 2002). O professor

não deve se prender apenas ao sistema tonal tradicional, e sim, ampliar a visão do aluno para

as inúmeras possibilidades possíveis na criação, como formas/estruturas musicais distintas e

uso de materiais que produzam timbres incomuns, por exemplo.

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Além da utilização desses três aspectos, o educador também não deve descartar o

contexto no qual o aluno está inserido; Green (1997) alerta que o docente deve considerar

como o aluno se relaciona com a música, caso contrário, provavelmente o seu trabalho em

sala de aula será afetado. Quanto a isso, Joly (2003) propõe que:

O professor também pode desenvolver uma pesquisa de sons e diferentes tipos de música que fazem parte da história de vida de cada um de seus alunos. Trazer a cultura específica de um grupo para compartilhar e refletir sobre ela poderá motivar o aluno a ouvir música por si só e prestar atenção aos sons que estão à sua volta. (JOLY, 2003, P.119)

Finalizando a discussão sobre os aspectos significativos do ensino da música para

escola regular, quero ressaltar o uso dessa disciplina como ferramenta interdisciplinar.

Segundo Japiassu (1976), a finalidade da interdisciplinaridade é a interação entre as

disciplinas, objetivando uma visão mais ampla dos conteúdos, através da contextualização e

ampliação da visão acerca desses, pressupondo uma organização e uma articulação voluntária

e coordenada das ações disciplinares orientadas por um interesse comum de todos os

membros da unidade escolar.

Há variadas maneiras de se construir essa interdisciplinaridade através da música,

como por exemplo, estudar o período de determinado gênero musical, seu contexto social e

histórico, entre outros. Quanto a isso, Joly (2003) também levanta outra possibilidade:

Estudar a vida de um compositor significa se transportar para determinado país e para determinada época, na qual se usa um estilo de roupa específico, na qual os costumes sociais e culturais são diferentes dos que assumimos agora. Todos esses fatores podem gerar temas integradores para o ensino e a aprendizagem de diferentes matérias. (JOLY, 2003, p.119)

Como educadores musicais, todos os fatores aqui elencados servem para nossa

reflexão sobre o papel da música na escola.

Com a atual obrigatoriedade, os objetivos da música precisam estar claramente

traçados pelo docente, visando uma pedagogia significativa, que vai além de conceitos e de

um ensino de música tradicional, para que o aluno crie uma relação de envolvimento

significativo com o discurso musical.

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CAPÍTULO 2 A EDUCAÇÃO MUSICAL PARA JOVENS E ADULTOS E O USO DA MÚSICA

POPULAR NAS ESCOLAS REGULARES

2.1. Definindo o conceito de jovem e adulto na educação

A escola é um local de democratização de saberes, a qual tem como objetivo a

formação do indivíduo como um ser capaz de conviver e contribuir para a sociedade; tal

formação é proporcionada ao aluno desde o Ensino Infantil até o Ensino Médio, alcançando

várias faixas etárias.

Muitos estudos já foram e continuam sendo desenvolvidos na área de educação,

investigando as particularidades de cada faixa etária – já que reconhecer as características de

cada público aumenta as possibilidades para criação de metodologias baseadas nas suas

particularidades. Porém, pesquisas sobre jovens e adultos, público alvo desse trabalho,

ganharam maiores proporções no Brasil somente a partir da década de 80, sendo

caracterizadas como recentes.

A conceituação dos termos “jovem” e “adulto” é, na maioria das vezes, imprecisa,

pelo fato de depender de vários motivos, como: influências sociais, culturais, históricas,

biológicas, psicológicas, etc.

Na fase de saída da adolescência para a juventude, o indivíduo passa por diversas

mudanças, porém, de maneiras distintas; além de cada pessoa possuir um ritmo de

desenvolvimento biológico diferenciado do outro, encontramos fatores sociais, culturais,

familiares, por exemplo, que dificultam a definição desses grupos em termos etários. Quanto à

delimitação da faixa etária desse grupo, Corti e Souza argumentam que “um traço

característico na concepção de juventude [no século XX] é a sua descronologização, ou seja,

há uma dissolução das referências cronológicas para a definição desse ciclo da vida” (CORTI;

SOUZA, 2004, p.19).

A transformação da juventude para a fase adulta ainda é menos definida; fatores

como: “a inserção no mundo do trabalho, a saída da casa dos pais, a constituição de um novo

núcleo familiar e, a procriação, continuam sendo aspectos importantes para a entrada na vida

adulta” (CORTI; SOUZA 2004, p. 21), mas que não delimitam a divisão etária entre os

grupos em questão, pelo fato de cada indivíduo ter suas respectivas vivências com grupos e

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contextos sociais, culturais, históricos, entre outros, o que influi na sua passagem da juventude

para a fase adulta.

Observando os argumentos colocados, constatamos que há inconstâncias na

definição dos conceitos relacionados aos grupos centrais dessa pesquisa, o que acaba

refletindo na relação desses com a escola, a qual precisa estar preparada para lidar com

tamanha diversidade presente no público em questão. Sendo essa uma problemática de grande

importância para este trabalho, vejamos a seguir alguns aspectos da relação entre os jovens e

adultos e a escola.

Pesquisadores como Dayrell (2003) e Corti e Souza (2005), por exemplo, apontam

uma distância entre o mundo da escola e o mundo dos jovens e adultos, o que causa um

descompasso na relação. Dessa forma, registramos um sentimento de desinteresse do público

referente ao ambiente escolar, o que parece ser uma forte tendência marcada pela

incompreensão da instituição. Corti e Souza afirmam que a escola tem uma concepção do

estudante apenas como um aluno:

[...] a escola assume para os jovens diversos sentidos que são, muitas vezes, desconhecidos ou até negados. Uma das faces desta questão está ligada à forma como a instituição define e se relaciona com os sujeitos que pretende ensinar. Quando pensamos em como a escola costuma localizar e tratar o jovem, percebemos logo que predomina a categoria aluno. É difícil que este seja visto como um jovem marcado por uma maior complexidade de relações e vivências que não se limitam à escola. (CORTI; SOUZA, 2005, p.18)

Além disso, Dayrell (2002a) argumenta que as aulas e os conteúdos precisam ser

contextualizados de acordo com a realidade do discente, para que façam sentido ao indivíduo;

caso contrário, tal situação acabará “constituindo a vida do aluno na escola um tempo vazio

de sentido, um não-tempo” (2002a, p.84).

O público em questão geralmente está situado nas três séries do Ensino Médio; a

faixa etária que normalmente encontra-se nesses anos, é dos 15 aos 17 anos. Porém, há

escolas que sistematizam seu funcionamento para receber alunos fora da faixa estipulada,

como é o caso da instituição que será citada no capítulo 3 desse trabalho como o local do

estágio a ser relatado.

Ainda quanto ao Ensino Médio, a LDB apresenta como finalidades específicas dessa

modalidade:

A consolidação e o aprimoramento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento dos estudos; a preparação

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básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a compreensão dos fundamentos científicos-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. (BRASIL, 1996)

Com as breves discussões que foram colocadas neste capítulo, é possível situar a

localização dos jovens e adultos no panorama do contexto escolar: suas divisões como grupos,

a relação com a escola, e as séries específicas que esse público geralmente se encontra. A

partir disso, podemos abordar o ensino de música nessa realidade.

2.2. A educação musical para jovens e adultos

A relação dos jovens e adultos com a música na realidade da Escola Básica é um

fator a ser investigado com atenção pelos educadores musicais, observando toda a diversidade

presente nesse público, pelos vários motivos já citados no capítulo anterior. Como também já

foi dito, pesquisas focadas nesse grupo são recentes, e ainda mais quando o destaque é sua

relação com a música, como já foi constatado que as pesquisas voltadas para tal âmbito só

foram desenvolvidas a partir dos anos 2000.

Segundo Dayrell (2002b), esse grupo quando entra em contato com a música, acaba

tendo um envolvimento até satisfatório, pelo fato de ser algo muito presente no cotidiano

desses indivíduos; porém, há muitos fatores que colaboram para que essa relação na sala de

aula seja considerada um tanto artificial.

Arroyo (2007, p. 8) aponta alguns exemplos causadores da dificuldade de interação

do público com a música, como: “as precárias condições de trabalho nas instituições

escolares, a falta de preparo dos professores, o desinteresse dos estudantes e a crise da

escola”.

Um fato muito importante a ser considerado é, por muitas vezes, a falta de sentido da

disciplina para a vida diária do aluno. Se o discente não tem como interligar os conteúdos das

musicais ao seu cotidiano, ao terminar a aula, tais conteúdos serão “descartados”, pelo fato da

turma agregar inutilidade ao que foi dado. Para que algo significativo seja construído e que

haja uma utilização dos conhecimentos artísticos na vida cotidiana por parte dos alunos, os

Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s do Ensino Médio argumentam que:

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[...] A concretização e apreciação de produtos artísticos pelos alunos requer aprender a trabalhar combinações, reelaborações imaginativas – criativas, intuitivas, estéticas – a partir de diversos elementos de experiência sensível da vida cotidiana e dos saberes sobre a natureza, a cultura, a história e seus contextos. É na travessia dessas mútuas e múltiplas influências entre reelaborações imaginativas de arte e experiências com as realidades culturais em que vivem que os adolescentes, jovens e adultos da escola média vão desvelando o sentido cultural da Arte e de seu conhecimento para suas vidas. (BRASIL, 2000, p.49)

Além disso, de certa forma, os jovens e adultos tem autonomia para criar suas

preferências e identidade musical, através da apropriação da mídia. O consumo cultural pode

ser considerado como resultados das escolhas estéticas individuais correspondentes aos seus

estilos de vida, e isso não deve ser desconsiderado pelo professor. O aproveitamento das

escolhas dos alunos é abordado por Silva (2008), a qual defende que:

Compreender os motivos que estão atrelados a essas escolhas talvez seja um dos caminhos para começar a se pensar em uma pedagogia musical coerente com o mundo vivido. A mídia, ao invés de ser tornada pelos professores como uma ameaça ao ‘gosto musical construído passivamente’, poderia ser pensada como uma aliada, no sentido de compreendermos os motivos que levam os jovens a buscá-la como ponto de referência. (SILVA, 2008, p.56)

Se o educador fizer um trabalho investigativo nas turmas trabalhadas, poderá

perceber que há distinções de opiniões, pelo fato das preferências individuais, mas também

encontrará concordâncias por vários fatores, como o contexto social no qual estão inseridos, e

o repertório explorado pela mídia, por exemplo.

Elaborando uma pedagogia baseada nesses fatores, acredito que o educador musical

é capaz de alcançar resultados bastante satisfatórios na educação dos jovens e adultos,

tomando como ponto de partida os seus interesses, mas ampliando seus saberes com a

inserção gradual de novos conteúdos.

2.3. A música popular brasileira no ensino de jovens e adultos

Continuando a discussão acerca do ensino da música para jovens e adultos, e

refletindo sobre aspectos que facilitem a aproximação desse público com a disciplina, coloco

um elemento a ser visto como recurso para tal fim.

Já que o ensino musical planejado para Educação Básica não visa a formação de um

instrumentista, e sim, tem como objetivo desenvolver a sensibilidade, a criatividade, a

musicalidade, a estética, o senso crítico, entre outros, além de contextualizar os conteúdos

19

musicais de acordo com a realidade do aluno, a música popular brasileira pode ser

considerada uma ferramenta que engloba todos esses elementos, de acordo com a metodologia

do professor.

Isso se dá pelo fato desse tipo de música ser o mais presente na vida cotidiana do

aluno, o que, como já foi colocado, acaba trazendo sentido à disciplina e também à escola,

para o indivíduo. Tal sentido é abordado na fala de Arroyo (2005) quando ela argumenta que:

O cenário escolar, de modo geral tão marcado pela fragmentação do ser (partes significativas da vida de seus atores ficam fora da cena escolar ou camuflada em resistências, rebeldia, apatia etc.), propiciou aos estudantes [...] uma forte experiência de coesão (no sentido da união das partes em um todo, ou da conexão, do nexo, da coerência) [...] [Talvez] a coesão que a música popular possa conferir à vida escolar dos jovens diga respeito à música popular ser um campo de interação significativa para esses jovens na vida diária. Poder expressar no cenário da escola essa interação, implica manter no espaço escolar momentos de não fragmentação de si mesmo. (ARROYO, 2005, p.25-26)

A teoria de DeNora (2000) demonstra-nos que a relação dos jovens com a música

popular envolve sentimentos, percepção, cognição, consciência, corporalidade, etc. Já,

segundo Gimeno Sacristán (2005) alguns desses aspectos, como sentimentos e corporalidade,

tendem a ser negados pela cultura escolar, o que acaba se tornando um desafio para o

educador musical o acesso a eles.

Um ponto relevante abordado por muitos autores acerca do uso da música em sala de

aula, é que podemos identificá-la como símbolo de identidade social. Afirma Green (1997),

que, ao escutarmos alguma música, identificamos aspectos extramusicais, mesmo que

inconscientemente, como por exemplo: o tipo de pessoa que escuta aquele determinado estilo,

as características do intérprete, etc. E, Joly (2003) ainda afirma o seguinte quanto à utilização

da música como elemento social:

Ela gera formas sonoras que expressam e comunicam emoções, sensações, percepções e pensamentos que refletem o modo de sentir, perceber e pensar de um indivíduo, de uma cultura ou época. É por isso que diferentes povos ou culturas possuem um repertório musical específico, um diferente do outro, assim como existem, na história da música, diferentes estilos e formas de composição (JOLY, 2003, p.114-115)

Com isso, nos remetemos à identidade cultural daquele repertório, contextualizando-

o e utilizando-o como elemento de ampliação dos conhecimentos dos alunos; Hentsckhe

20

(1991) defende que a educação musical nas escolas pode ser utilizada como forma de

preservação cultural do país.

Sendo assim, a utilização da música popular brasileira em sala de aula faz com que

os alunos tanto utilizem músicas que já são do conhecimento deles, como também conheçam

obras de outras décadas e que fazem parte do patrimônio musical nacional, as quais serão

aprofundadas à medida que vão estudando seus aspectos musicais simultaneamente aos

aspectos históricos, políticos, sociais, etc.

Com tal repertório pode-se desenvolver atividades musicais, alcançando os aspectos

artísticos a serem desenvolvidos, como também sua contextualização, usando a música

popular como elemento de interdisciplinaridade.

Experiências com a música popular brasileira foram feitas no Estágio Supervisionado

IV, dentro de um projeto pedagógico que foi planejado para ser utilizado com o público de

jovens e adultos do Ensino Médio de uma escola pública de Natal-RN, e que tem como

proposta alguns aspectos que foram elencados nesse texto; tal experiência será relatada a

seguir.

21

CAPÍTULO 3 RESULTADO DA PESQUISA: O PROJETO “CONHEÇA A MÚSICA NO BRASIL” E

AS PRÁTICAS NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

3.1. O estágio e a estrutura da Escola Estadual Profa. Maria Queiroz

O Estágio Supervisionado IV do curso de licenciatura em Música da UFRN, é o

último a ser cumprido pelos graduandos, e tem como foco o público do Ensino Médio, com

carga horária de 135h e, minha participação como estagiária teve início em agosto de 2010.

As aulas semanais, sempre às quintas-feiras, ocorreram das 19h às 22h, com cinco horários,

para três turmas, sendo cada horário de 40 minutos. A previsão de conclusão do estágio foi

marcada para dia 09 de dezembro (quinta-feira), um dia antes do fim do período letivo na

escola.

Tal atividade curricular foi feita em dupla, juntamente com a aluna Isabel Brasiliano,

também concluinte da graduação – licenciatura em Música, turma do primeiro semestre de

2007. A estagiária Isabel ficou responsável em ministrar aulas na primeira turma; a segunda

turma ficou apenas em observação, tanto por mim quanto por ela, durante todo o estágio; e eu

fiquei responsável em ministrar aulas na terceira turma.

Pela minha experiência em outros estágios e sabendo da importância do docente

responsável, optei pela Escola Estadual Prof. Maria Queiroz pelo fato da professora Cleide

Alves – competente profissional e minha ex-professora na EMUFRN, onde trabalhou como

substituta – ser responsável pela disciplina de Arte na referida escola. Cleide é graduada em

Educação Artística com habilitação em Música pela UFRN, Especialista em Educação –

Ensino Fundamental pela Universidade Potiguar – UnP e mestranda em Educação Musical

pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. É atuante na área desde 1994, professora

concursada na rede pública municipal de ensino há seis anos, e na rede pública estadual há

dois anos. A disciplina curricular é Arte, porém, por sua habilitação em Música, a docente

optou pelos conteúdos referentes à sua especialização.

Para que o vínculo de estágio seja feito, a EMUFRN, o orientador da disciplina envia

uma carta de apresentação à diretoria da respectiva escola. Dessa forma, a diretora Anne

Isabele de Souza nos recebeu muito bem, e nos fez sentir à vontade para atuarmos em sala de

aula, contando com a supervisão da profa. Cleide, titular da disciplina.

22

A Escola Estadual Prof. Maria Queiroz está situada no bairro de Felipe Camarão,

localizado na cidade de Natal/RN, e conta com uma boa estrutura física: possui 12 salas de

aula, banheiros, diretoria, secretaria, sala dos professores, além disso, o corpo discente conta

também com espaços próprios para pesquisas, como uma biblioteca, contendo um bom acervo

bibliográfico mantido pelo governo; sala de vídeo, computador, data show, caixa de som e

uma sala de informática, a qual está disponível para acesso dos alunos também aos sábados

pela manhã.

Antes de iniciarmos o estágio, foram feitas duas reuniões preparatórias. Na primeira,

estiveram presentes a professora responsável e mais cinco estagiários – três atuaram no

Ensino Fundamental, e eu e a aluna Isabel, no Ensino Médio. Nessa reunião foram abordados

alguns tópicos de suma importância: profa. Cleide falou do seu projeto pedagógico “Conheça

a Música do Brasil”, descrevendo de forma objetiva em que consistia a sua metodologia, os

tipos de aulas que se enquadrariam no contexto do projeto, os materiais utilizados, as formas

de avaliação, entre outros. Comentou também sobre o sistema pedagógico atual do Ensino

Médio de Natal, no qual toda escola conta com uma divisão das turmas em dois grandes

grupos: o Bloco I estuda as disciplinas de humanas, enquanto o Bloco II estuda as disciplinas

de exatas; e no semestre posterior alterna-se a ordem, seguindo nesse mesmo sistema durante

os três anos do Ensino Médio.

A escola, que já possui a estrutura física dividida em dois blocos – a qual facilita tal

divisão pedagógica –, conta com profissionais das duas áreas que se revezam semestralmente,

cumprindo a sistematização sugerida. Esse é um projeto piloto criado pelo Governo Federal

para diminuir a evasão no Ensino Médio, ainda em fase de implantação, tornando Natal uma

das primeiras cidades do Brasil a se adaptar a esse sistema, com Portaria1 de Avaliação nº

1033/2008 – SEEC/GS2.

A segunda reunião foi marcada apenas entre eu e a professora responsável, após a

leitura e o conhecimento por parte dela acerca do projeto inicial deste trabalho de conclusão

de curso. Semelhanças entre as minhas propostas para o ensino da música na escola regular e

o projeto pedagógico idealizado por ela foram encontradas em grande número. Pontos em

comum como: a utilização da música brasileira como principal ferramenta para educação

musical, principalmente no contexto de jovens e adultos; a sensibilidade quanto à realidade do

público e suas condições sociais; e a ligação da música com outras disciplinas do currículo,

1 Ver Anexo A 2 Secretaria de Estado da Educação e da Cultura

23

utilizando-a como meio de interdisciplinaridade, enriquecendo os conhecimentos dos alunos

através da contextualização da música brasileira.

A partir daí, começamos a relacionar a minha pesquisa com seu projeto, havendo

troca de idéias, sugestões e bibliografias. Além disso, a profa. Cleide comentou sobre a

realidade atual da sala de aula na escola pública, no contexto de jovens e adultos, contando

suas dificuldades, as quais justificam a criação de tal projeto. Tal troca de informações me

trouxe maior interesse pelo projeto e me estimulou ainda mais a prosseguir a pesquisa,

podendo agora ter algo na prática para experimentar o que pode e o que não pode dar certo na

metodologia que utiliza a música brasileira como principal ferramenta para as aulas no ensino

regular.

Para maior clareza, seguem duas tabelas de acordo com o funcionamento da escola,

com o calendário de aulas e quadro de horários das turmas durante o período do estágio:

FIGURA 1

FIGURA 2

CALENDÁRIO DE AULAS

Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

12 02 07 04 02

19 09 14 11 09

26 16 21 18

23 28 25

QUADRO GERAL DE HORÁRIOS E TURMAS

Horário – Início Turmas

19h 1º ano H

19h35min. 1º ano H

20h10min. 1º ano I

20h45min. 2º ano E

21h20min. 2º ano E

24

3.2. Projeto “Conheça a Música do Brasil”

Desde o início de 2009 a profa. Cleide trabalha na rede pública estadual, com a faixa

etária de jovens e adultos. Nos dois primeiros semestres, foram desenvolvidos conteúdos

como: propriedades do som, introdução à percepção, criação musical, mercado fonográfico

brasileiro, etc. Porém, os resultados não foram satisfatórios devido às dificuldades

encontradas em seu cotidiano de sala de aula, relacionadas à indisciplina e falta de interesse

por parte dos alunos.

Então, com o intuito de solucionar os grandes desafios que tem enfrentado na

realidade da escola pública atual, a profa. Cleide montou um projeto pedagógico intitulado

“Conheça a Música do Brasil”, pensado para entrar em atividade no primeiro semestre letivo

de 2010, com o objetivo, não de musicalizar, mas de levar conhecimento ao corpo discente

através de variadas formas de apreciação da música brasileira.

O primeiro semestre de atividade do projeto foi a fase de implantação, no qual tanto

a professora, quantos os estagiários que estavam atuando no respectivo período, foram

sensíveis aos resultados obtidos, avaliando os pontos positivos e negativos, utilizando-os

como base para uma reformulação da metodologia utilizada. A partir daí, o projeto foi

reformulado para o segundo semestre de 2010, sendo essa uma segunda edição, já contando

com a experiência mais apurada da docente com relação às dificuldades encontradas, e

adaptações à realidade do público.

Tal projeto foi construído visando o exercício de apreciação musical pelo indivíduo,

trabalhando com a bagagem cultural do aluno e favorecendo o enriquecimento de

conhecimentos gerais através da música. A partir do estudo das diversas divisões da história

brasileira, é apresentado o repertório musical de tais períodos, contextualizando-os

historicamente, politicamente, socialmente e geograficamente, além de abordar compositores

e cantores, assim como também suas contribuições para o país.

No início do período letivo, a professora tem a prática de entregar para os alunos

uma “linha do tempo”, onde está escrito e dividido todos os períodos da música brasileira. A

partir daí, é realizada uma votação na turma para decidir qual tema será estudado durante o

decorrer do semestre. Os períodos são os seguintes:

25

PERÍODOS DA MÚSICA BRASILEIRA

Choro Por volta de 1880

Samba 1930 – 1950

Era do Rádio 1900 – 1950

Bossa Nova 1955 – 1970

Jovem Guarda 1960 – 1970

Festivais 1964 – 1968

Tropicália 1968

Anos 70 -

Anos 80 -

Anos 90 - FIGURA 33

Após a escolha do tema, a turma passa a estudar o respectivo período escolhido,

aprofundando e enriquecendo o conhecimento do aluno acerca do patrimônio cultural

nacional.

A metodologia foi pensada de acordo com a faixa etária dos jovens e adultos que

cursam o Ensino Médio na referida escola, tendo diferentes tipos de aulas, dividindo-se em

três: 1. Teórica; 2. Audiovisual; 3. Prática.

Nas aulas teóricas a professora leva para a turma um texto sobre o tema escolhido, e

no decorrer da leitura vai abordando todos os aspectos do respectivo período, discutindo com

os alunos, colhendo suas opiniões; ao mesmo tempo, relaciona o conteúdo musical com

algumas disciplinas do currículo. Observo que nessas ações a professora utiliza a

interdisciplinaridade como ponte de integração entre a música e outras áreas do conhecimento

– e a bagagem cultural do discente.

Vejo que sua metodologia está aliada aos Parâmetros Curriculares Nacionais, os

quais abordam constantemente a utilização da interdisciplinaridade como maneira eficiente de

trabalho:

A interdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia

3 Segundo material da profa. Cleide.

26

uma disciplina isolada e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez vários (BRASIL, 2002, p. 88-89).

Quanto à bagagem cultural do aluno, que a profa. Cleide também considera em sua

metodologia, Souza (2000) afirma que a preocupação dos professores hoje tem sido de

compreender as experiências musicais dos estudantes em relação às suas realidades e que sem

essa tentativa não há como propor uma pedagogia adequada.

As aulas de audiovisual são estruturadas com materiais colhidos, principalmente na

internet, como músicas, vídeos e fotos. Com essa metodologia aborda-se todo o conteúdo que

foi aplicado na aula teórica, porém, de forma ilustrada, fazendo com que os alunos conheçam

musicalmente a discussão feita anteriormente, utilizando a apreciação como meio de

interiorização dos conhecimentos.

Nesse tipo de aula, a profa. Cleide utiliza recursos tecnológicos como: notebook, data

show e caixa de som – todo material pertencente à escola. Esse tipo de aula geralmente é feito

ou na sala de vídeo, ou na biblioteca quando disponível.

Nas aulas práticas, podemos vivenciar as músicas do respectivo período estudado,

utilizando o repertório referido ao tema. Todos cantam juntamente com a professora, que

acompanha no violão, e discutem sobre as músicas, fazendo uma análise sobre a estética,

letra, forma, e contexto em que foi criada. São feitas também atividades com percussão

corporal e instrumentos de percussão levados pela professora, como agogô, alfaia, tamborim,

cajón4, maracá, pandeiro, chocalho, clavas, entre outros, trabalhando os aspectos rítmicos da

música.

Quanto ao sistema avaliativo da disciplina de Arte, a professora optou por fazer três

avaliações, sendo repetida a última nota, já que é requisitado como padrão da escola ter quatro

notas ao fim do semestre.

A primeira avaliação consiste em uma pesquisa feita por parte do aluno acerca do

tema escolhido. Antes de iniciarem o trabalho, é entregue um pequeno questionário contendo

quatro questões para nortear a pesquisa, exigindo as informações básicas para a compreensão

da totalidade do conteúdo. A professora, com o objetivo de incentivar a escrita e evitar que

haja algum tipo de cópia de conteúdo da internet, pede um trabalho feito à mão, com letra

4 O cajón é um instrumento de percussão que teve sua origem no Peru colonial, onde os escravos africanos, separados de seus instrumentos de percussão pelos feitores da época, utilizaram-se de caixas de madeira e gavetas (outra tradução para cajón) para tocarem seus ritmos. Com o passar do tempo o instrumento transformou-se no que conhecemos hoje por cajón.

27

própria, de apenas uma folha, fazendo uma apresentação geral sobre o tema como forma de

resumo de tudo que foi pesquisado.

A segunda avaliação segue com a mesma intenção da primeira, porém, nessa

pesquisa, o aluno deverá investigar sobre um artista à sua escolha do respectivo período

estudado, apresentando itens como: vida, obras, estilo, entre outros.

Por último, na edição atual do projeto, a professora planeja uma avaliação baseada

nas aulas práticas, com intuito de ser diferente e dinâmica. Na edição anterior, a docente

aplicou uma prova contendo todos os conteúdos abordados durante o semestre; porém, os

resultados não foram satisfatórios, contando com notas muito baixas; a professora acredita

que o grande número de faltas durante as aulas foi um dos motivos que acarretaram tal

resultado, além da falta de prática na escrita, principalmente na construção de argumentos.

Com isso, a profa. Cleide pensou em uma avaliação em forma de apresentação

musical em sala de aula, dividindo a turma em grupos, e apresentando para os colegas

músicas do repertório trabalhado nas aulas práticas utilizando a voz, os instrumentos

percussivos, e contando com o acompanhamento harmônico do violão.

Além das três avaliações, algumas atividades extras são encaminhadas durante o

semestre, que quando somadas equivalem a um ponto, caso o aluno precise reforçar sua média

final. Essas atividades normalmente são passadas com uma semana de antecedência do prazo

de entrega, geralmente sendo questionários subjetivos, muitas vezes contando com respostas

pessoais dos alunos.

O projeto pedagógico criado pela professora Cleide está baseado nos princípios dos

Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s do Ensino Médio. Porém, tal projeto está em

constante reformulação à medida que a docente ganha experiência com as atividades já feitas

e colhe informações acerca da realidade da turma através dos questionários, pensando novas

metodologias, atividades e dinâmicas, ao mesmo tempo em que ela, a cada semestre, recebe

novos estagiários – com suas respectivas idéias e experiências – que, em momentos de

discussões e trocas, vão contribuindo para o desenvolvimento da metodologia de ensino

baseado na música popular.

3.3. Aulas

A carga horária total do Estágio Supervisionado IV é de 135h e está dividida em:

130h de observação e 5h de prática. O combinado foi que observaríamos três turmas e, em

28

apenas uma delas ministraríamos as 5h de aulas. Sendo assim, a professora nos deu a opção

de escolhermos uma das três turmas que são trabalhadas às quintas-feiras.

O primeiro dia em que nós fomos à escola, eu e Isabel, companheira de estágio, foi

tanto o nosso primeiro contato com as turmas, quanto o da profa. Cleide, já que era o primeiro

dia de aula da disciplina para esses alunos que, no semestre anterior, só estudaram os

conteúdos da área de exatas. Nesse primeiro dia os alunos nos conheceram, e nós observamos

as três turmas para cada estagiária ficar com sua respectiva classe.

Cada turma tinha um perfil diferenciado uma da outra; o único fator comum entre as

três era o número de alunos matriculados que constava na lista da secretaria, totalizando

quarenta alunos cada sala.

O 1º ano H, a turma do primeiro horário, era uma classe com alunos disciplinados e

alguns com facilidade de expor suas opiniões, com faixa etária entre dezoito a quarenta anos.

Porém, poucos alunos em sala, sem muito entusiasmo para participar das aulas, além de

possuir muitos discentes faltosos e desistentes, tendo uma média de apenas quinze alunos

frequentando assiduamente.

No 1º ano I, a faixa etária era um pouco mais avançada que as outras duas turmas,

tendo alunos na faixa dos vinte cinco a cinquenta e oito anos; além de possuir um público

feminino em sua maioria. Era uma turma calma, mas com muitas conversas paralelas na hora

da explicação; alunos organizados, porém, sem muita disponibilidade para estudar e fazer

trabalhos no dia a dia, devido às obrigações durante os outros períodos. Em suma, uma turma

razoável, disciplinada, mas sem muita participação e exposição de opiniões.

A última turma do dia era o 2º ano E, a mais equilibrada na faixa etária, com a

maioria dos alunos tendo entre dezoito a vinte oito anos; porém, a mais agitada e heterogênea

– em termo de personalidade, opinião, bagagem cultural e formação social. Muita conversa

paralela e muita brincadeira fora de hora, tornando-a a mais indisciplinada das três turmas.

Porém, pelo fato de possuir muito aluno distinto um do outro, era a turma mais fácil de extrair

diversidade, em termo de opiniões e discussões.

Depois de traçarmos os perfis das três turmas, eu e Isabel chegamos à conclusão que

não seria interessante trabalharmos com a segunda (1º ano I), já que era a turma com menor

tempo de aula, apenas um horário, dificultando a realização das propostas planejadas, com

relação ao tempo. Então, pelo fato da experiência de Isabel ser apenas como professora

individual de instrumento, ela optou pela primeira turma, já que eram alunos calmos e

disciplinados, aparentemente fáceis de trabalhar, ficando para mim a responsabilidade da

29

terceira turma (2º ano E). Tal divisão percebi como forma de desafio à minha formação

profissional, e aceitei satisfatoriamente, entrando ambas estagiárias em um consenso.

3.3.1. Aulas observadas

O número de aulas observadas chegou a oito quintas-feiras, ficando as três turmas

desse dia sob nossa observação.

Nessas oito aulas, presenciei os três tipos planejados (teórica, audiovisual e prática),

podendo observar a metodologia da docente, ficando bem mais fácil de perceber que tipo de

aula se adequaria melhor ao perfil da turma quando eu fosse ministrar.

Essa fase de observação foi de extrema importância para compreensão do

funcionamento do projeto e a criação de vínculo com as turmas. Apesar de falarmos pouco

durante esse período, os alunos foram se acostumando com a nossa presença em sala e, ambas

as partes – estagiárias e alunos – foram se familiarizando uma com a outra, já fazendo parte

do cotidiano das aulas de Arte.

Abaixo relato cada uma das aulas observadas e as particularidades de cada turma:

primeira turma: 1º ano H; segunda turma: 1º ano I; e terceira turma: 2º ano E.

Aula 1 – 12/08/2010

A primeira aula foi utilizada pela professora para explicação acerca da disciplina, seu

conteúdo (já que o enfoque é Música), bem como sobre o “Projeto Conheça a Música do

Brasil” e o sistema avaliativo. Quanto a este último, houve reclamação de todas as turmas

quanto à presença da realização de pesquisa, aparentando indisposição à procura de novos

dados, e também por ser escrita à mão, argumentando que a maioria não possui uma boa

grafia. Porém, a docente mostrou incentivo à pesquisa e ao exercício da organização da letra.

Apesar das reclamações, muitos alunos mostraram interesse em saber da data de entrega dos

trabalhos e da estruturação pedida pela professora.

Depois do conhecimento do esquema semestral da disciplina, os alunos receberam a

“linha do tempo”, distribuída pela coordenadora do projeto, e conheceram as opções de temas

que poderiam ser estudados durante o semestre. A partir daí, Cleide abriu a votação para

escolha5.

5 Os temas “Samba” e “Jovem Guarda” já haviam sido escolhidos por outras turmas, sendo eliminados automaticamente da votação.

30

No 1º ano H houve em princípio um empate entre “Bossa Nova” e “Anos 80”, o que

acarretou um rico debate entre os alunos. Nessa discussão alguns ficaram neutros em suas

opiniões, outros se destacaram pelo fato de falarem e argumentarem seus pontos de vista. Um

dos alunos colocou que Bossa Nova seria “música de rico”, que todos deveriam votar na

música dos Anos 80 pelo fato de ser algo da realidade deles, já que muitos dessa turma já

eram nascidos na época, além da grande maioria das bandas daquela década ainda serem

escutadas pelos jovens de hoje em dia.

Os que eram a favor da Bossa Nova argumentaram que esse é um estilo que pouco se

conhecia, mas se interessariam em conhecer. Quando a professora falou sobre o repertório, os

alunos falaram que conheciam as músicas por ouvir em novelas e programas que ainda as

relembram, porém, não conheciam os artistas – com exceção de Tom Jobim – e nem a história

de como se iniciou esse período.

Por fim, alguns alunos que estavam neutros na discussão mudaram seus votos da

Bossa Nova para a música dos Anos 80, com objetivo de desempatar. Finalmente o tema foi

escolhido e a turma apresentou interesse em saber mais acerca de bandas como Legião

Urbana, Barão Vermelho, Kid Abelha, entre outras.

Na segunda turma, o 1º ano I, também houve um empate, agora entre “Tropicália” e

“Anos 90”6. Mas, depois de um dos alunos colocar que o último período seria o mais recente e

mais fácil de vivenciar, já que conheciam muitas músicas dessa década, grande parte do grupo

que havia votado na Tropicália mudou o voto para os Anos 90. Em princípio, pelo fato dessa

turma ser a mais experiente em termo de idade, pensei que eles fossem escolher um período

mais antigo, no qual eles pudessem reviver algumas músicas, mas para minha surpresa,

optaram pelo último período em votação.

Por último ficou o 2º ano E que, diferente das turmas anteriores, teve maior

diversidade quanto às opiniões, sendo vários períodos votados. Vendo que as opiniões

estavam bastante mistas, a profa. Cleide decidiu explicar sobre cada tema que ainda restava

para votação, para que todos soubessem a diferença entre cada um. Ao comentar sobre os

períodos a serem votados, alguns comentários interessantes surgiram por parte dos alunos,

como por exemplo, quanto ao Choro, que a grande maioria achou o nome de certa forma

engraçada, demonstrando nunca ter ouvido falar; a Era do Rádio, que um dos alunos brincou

dizendo que estação costumava ouvir em casa; e a Bossa Nova que, assim como na primeira

turma, foi considerado um gênero “elitizado”, mas que chamou atenção pelo fato de, mesmo 6 O repertório do respectivo período será mais detalhado nos relatos de aula posteriores a esse.

31

sendo muito falado pela mídia, não conhecerem repertório, nem artistas. A partir daí, a Bossa

Nova foi a escolha dessa turma.

Aula 2 – 19/08/2010

A segunda aula teve um caráter teórico, na qual a professora explicou e encaminhou

uma atividade extra para ser feita em casa, compensando a falta dela na quinta-feira posterior.

Tal atividade era constituída de um pequeno questionário sobre o cotidiano musical dos

alunos, contendo perguntas subjetivas sobre quais músicas eles costumam ouvir em diversas

situações, sendo essa uma ferramenta importantíssima para colher dados sobre o perfil

musical da turma7. As questões eram as seguintes:

1. Uma música que gosto de ouvir com frequencia;

2. Uma música que escuto raramente;

3. Uma música que conheci recentemente;

4. Uma música que ouvi num comercial da TV;

5. Uma música que escolheria para minha formatura;

6. Uma música que é trilha sonora de um filme;

7. Uma música que gosto de cantar;

8. Uma música que me deixa feliz;

9. Aquela música que me faz dançar;

10. Uma música que daria de presente a um amigo;

11. Uma música que me deixa triste;

12. Aquela música que me faz ficar pensativo(a).

Depois do encaminhamento da atividade, a profa. Cleide iniciou a explicação acerca

da “linha do tempo” entregue na aula anterior, com o objetivo de abordar um breve histórico

da música brasileira, desde sua origem até os dias de hoje. Isso se deu por meio da explicação

verbal, utilizando exemplos da atualidade, curiosidades acerca de cada período e aproveitou a

bagagem cultural dos alunos. Também fez um paralelo com o contexto histórico, geográfico,

social e cultural de cada época, explicando como se deu o surgimento de cada gênero.

7A professora foi recebendo as atividades nas duas aulas posteriores a essa, as quais ela compartilhou conosco e, observando os questionários entregues, percebemos que havia muitas respostas parecidas quanto ao repertório, mudando apenas a funcionalidade que cada um dava para cada música, de acordo com o questionário. Concluímos que isso se deu pelo fato de morarem na mesma região, terem o contexto e a formação social similar, e serem bastante ligados e influenciados pela mídia, o que fazia eles ouvirem o mesmo repertório.

32

A primeira turma obteve um bom rendimento. Questionaram, discutiram, opinaram,

e trouxeram os próprios conhecimentos adquiridos anteriormente, inclusive em outras

disciplinas, para contribuir com a aula. Porém, os alunos da última turma, o 2º ano E,

atrapalharam a explicação constantemente pedindo à professora para adiantar o horário pelo

fato de estarem sem aula, já que estava faltando professor de português8.

Então, ao terminar a aula do 1º H, a profa. Cleide juntou as duas próximas turmas em

uma mesma sala, já que o conteúdo seria o mesmo – explicação da “linha do tempo”. Tal fato

atrasou o início da aula por causa da demora da acomodação de todos, o que causou grande

agitação por parte dos muitos alunos que se encontrava no mesmo ambiente. Quando

finalmente todos se acomodaram, a professora levou um bom tempo explicando novamente o

sistema avaliativo para os alunos faltosos da última semana, o que atrasou o andamento da

aula. Depois, começou a explicação sobre a “linha do tempo”, porém, o rendimento dessas

turmas foi bem menor que a primeira pela pouca atenção e participação por parte dos alunos.

Em todas as turmas não deu tempo de terminar a explicação, ficando para a próxima

aula.

Aula 3 – 02/09/2010

A data dessa terceira aula foi o prazo estipulado pela profa. Cleide para a entrega da

atividade extra (encaminhada na aula anterior) e da pesquisa referente à primeira avaliação.

Houve a entrega de um bom número de trabalhos nas três turmas, inclusive, alguns já

entregaram – juntamente à primeira – a próxima pesquisa referente à segunda avaliação.

Após o recolhimento dos trabalhos, continuou-se a explicação sobre a “linha do

tempo” iniciada na aula anterior. Na primeira turma a aula transcorreu tranquila, assim como

vinha acontecendo anteriormente; já na segunda turma, a aula foi bem mais calma que a

anterior, sem outra turma dividindo a sala permitindo que a explicação da professora

obtivesse bom desenvolvimento e fosse assimilada pela turma. Na terceira turma, muitos

alunos foram embora por não haver aula de Português, consequentemente, não tiveram

paciência em esperar pela aula de Arte, já que a professora decidiu não adiantar9 o horário

nesse dia.

Os alunos que saíram, deixaram seus trabalhos com os que ainda ficaram na escola

esperando pela aula, e esses, em sua maioria, eram as mulheres do grupo. A profa. Cleide

8 Tal situação persistiu até o fim do semestre. 9 Ocupar o horário do prof. ausente.

33

continuou a explicação, porém, sem muita atenção dos poucos alunos que ficaram, com

exceção de alguns (que mesmo achando ruim aguardar tanto tempo, aproveitaram a aula já

que tiveram de esperar).

Pelo fato dessa aula ter sido apenas o recolhimento dos trabalhos e a explicação

restante da “linha do tempo”, iniciada na aula anterior, a metodologia novamente teve um

caráter teórico.

Aula 4 – 09/09/2010

Essa aula estava planejada para ocorrer na sala de vídeo, sendo a primeira de caráter

audiovisual; porém, a chave da sala estava na posse da diretora, a qual teve dificuldades de

chegar à escola nesse dia devido às fortes chuvas. Então, a professora, que havia levado

alguns textos sobre os temas estudados, já contando com algum imprevisto, fez novamente

uma aula teórica nas três turmas.

Para cada sala a profa. Cleide levou cópias de um texto que abordava um dos

períodos escolhidos, ficando cada turma com o texto do seu respectivo tema. Ela leu

juntamente com a turma, pausadamente, explicando e discutindo os assuntos contidos no

texto.

O material foi recolhido na internet, no qual a professora teve o cuidado de

selecionar os conteúdos, os quais continham informações históricas, sociais, econômicas,

políticas e musicais do período, para uma compreensão geral do tema.

As aulas da primeira turma sempre foram calmas, contando com a participação de

alguns; mas, essa turma era a que tinha maior número de alunos faltosos, muitos ainda não

tinham aparecido em nenhuma aula de Artes até então, sendo prejudicados ao levar faltas e

perder prazos importantes para entrega dos trabalhos.

A aula da segunda turma começou um pouco mais cedo devido ao fato de não

acontecerem as aulas dos primeiros horários; ou seja, novamente houve o pedido para o

adiantamento da aula de Arte, algo concedido pela professora. O horário foi curto, não dando

para concluir a leitura do texto.

Na terceira turma a profa. Cleide contou com uma boa participação dos discentes,

porém, os alunos desse último horário sempre se apresentavam dispersos, ansiando pela hora

da saída, passando a sensação que havia algo mais importante para fazer fora da escola, e isso

de certa forma, tirava o foco na aula.

34

Aula 5 – 23/09/2010

Finalmente chegamos à aula de audiovisual, a qual foi realizada na sala de vídeo e

tendo os seguintes materiais utilizados: notebook, caixa de som e data-show. Os vídeos

utilizados fazem parte do resultado de pesquisas feitas na internet, tanto pela professora,

quanto pelos estagiários que trabalharam juntamente com ela no semestre anterior. As aulas

audiovisuais são constituídas na exposição de vídeos, ao mesmo tempo em que a professora

interfere com rápidos comentários que enriquecem a apreciação.

A primeira turma assistiu vídeos de algumas bandas muito conhecidas nos anos 80, e

que exemplificam o auge do rock brasileiro daquela década, tais como: Blitz, Kid Abelha,

Barão Vermelho, Legião Urbana, etc. Os alunos dessa turma assistiram com atenção e

perguntaram à professora quando tinham algum questionamento sobre as bandas que eles já

conheciam.

Na segunda turma, a profa. Cleide levantou a questão da mistura de ritmos/gêneros

que marcou os anos 90. Chico Sciense e Nação Zumbi foram nomes os quais a docente

explorou bastante nessa turma, por serem referências na mistura de ritmos, utilizando os

tambores de maracatu como base musical, além das letras pregarem a cultura negra e a defesa

do mangue.

Na terceira turma, como geralmente vinha ocorrendo, os alunos não esperaram até o

último horário. Dessa vez o número de presentes foi apenas dois: um rapaz e uma moça.

Mesmo assim, a profa. Cleide deu aula normalmente e passou vídeos com músicas de grandes

nomes da Bossa Nova, como: Tom Jobim, Vinícius de Morais, Nara Leão, Carlos Lyra,

Ronaldo Bôscoli, entre outros. As músicas de tais vídeos são composições que marcaram o

período estudado, expondo uma parte do repertório principal de tal tema. Os dois alunos

foram bastante participativos, questionando e contribuindo com seus conhecimentos para as

discussões que se abria entre eles e a professora.

A próxima aula seria dia 30 de setembro, porém, a professora precisou viajar devido

a um congresso na área; a aula posterior a essa, seria no dia 07 de outubro, mas por motivo da

aplicação de provas de outras disciplinas nessa quinta-feira, a profa. Cleide precisou ceder sua

aula para tal fim. Portanto, faço a narrativa da aula 6 no dia 14 de outubro de 2010.

35

Aula 6 – 14/10/2010

Essa sexta aula, assim como a do dia 09 de setembro, estava prevista para ser

novamente de audiovisual. Porém, a diretora não compareceu à escola, o que novamente nos

impediu de nos deslocar para sala de vídeo e termos acesso ao material necessário.

Sendo assim, a professora encaminhou uma atividade para casa – baseada nos textos

que foram lidos anteriormente em sala – explicando-a e orientando os alunos sobre como

respondê-la. As questões inseridas na atividade eram as seguintes:

1. Resuma o período (O que é? Como foi? Quando foi?)

2. Destaque três músicos/bandas.

3. Comente algo curioso.

4. Destaque três músicas que lhe chamaram atenção.

5. Resuma o contexto histórico do período.

Após a explicação em cada turma, a professora liberou os alunos.

Aula 7 – 22/10/2010

A aula audiovisual que estava prevista para semana anterior ocorreu nessa sétima

aula e, dessa vez, diferentemente da primeira, aconteceu na biblioteca. O estilo da aula seguiu

como a primeira desse tipo: intercalando os vídeos com comentários da professora.

A primeira turma continuou vendo os vídeos das bandas de rock dos anos 80, agora

incluindo o Ultraje a Rigor. Mas, além do rock, nessa aula também foi explorado o brega,

gênero surgido naquela década, sendo passados vídeos de nomes como: Odair José e Amado

Batista. Tal gênero é mais familiar para eles, pelo fato do repertório desses cantores ser muito

tocado no contexto social no qual estão inseridos. A turma estava calma, e não foram

participativos nesse dia – o que não costumava acontecer.

Na segunda turma, continuou-se estudando sobre a mistura de ritmos/gêneros com

vídeos de Chico Sciense e Nação Zumbi. Além disso, alguns nomes também foram vistos

nessa aula, como: Titãs, Raimundos, Amado Batista, Djavan, e Leandro e Leonardo. As

músicas dessa última dupla fizeram toda a turma cantar junto ao vídeo, transformando a sala

de aula em um ambiente agradável, onde a gente pôde sentir nesse momento um

envolvimento da turma com a aula.

36

Na última turma se encontrou um bom número de alunos presentes, diferente da

primeira aula audiovisual (apenas dois alunos). Como a maioria não assistiu aos vídeos

anteriores (da outra aula), a professora passou alguns novamente. Músicas que marcaram o

período como: “Chega de Saudade”, “Desafinado”, “Águas de Março”, “Influência do Jazz”,

“Samba de uma nota só”, foram passadas e algumas contextualizadas. Os alunos identificaram

aquelas que já conheciam, ou ouviram através da mídia, e alguns até opinaram dizendo que

gostaram, achando as músicas “muito bonitas”. Um dos alunos que estava sentado perto de

mim até comentou sobre a harmonia dizendo: “Ele não dá um acorde ‘normal’”, referindo-se

a João Gilberto cantando e tocando “Chega de Saudade”. Percebi então que ele já tinha certo

conhecimento de música, mesmo que informal.

Aula 8 – 04/11/2010

A última aula observada teve um caráter prático, sendo essa a última metodologia a

se aplicar. A aula ocorreu na sala de vídeo, por ser um espaço amplo e disponível para

organizar a turma em círculo10; os materiais utilizados foram instrumentos percussivos

pertencentes a Jânio Basilio11, também aluno da Licenciatura em Música que, com muita boa

vontade, os disponibilizou para utilização dos alunos do projeto durante as aulas práticas do

mês de novembro. Instrumentos como: cajón, pau-de-chuva, pandeiro, caxixi, tamborim,

alfaia, entre outros.

Ao iniciar a aula, a profa. Cleide colocou todos os instrumentos no meio do círculo e

pediu para que cada um pegasse um instrumento de livre escolha. Em todas as turmas os

alunos ficaram intimidados em ir ao meio e pegar, com exceção de alguns que eram mais

desinibidos. Eles utilizaram o argumento de que não sabiam tocar – principalmente as

mulheres –, mas a professora incentivou argumentando que não necessitava saber a técnica do

instrumento, apenas queria que todos experimentassem algum; aos poucos cada um pegou o

que queria, trocando à medida que a profa. Cleide pedia. Geralmente, os primeiros a serem

pegos eram os instrumentos pequenos, por motivo de timidez; os alunos mais desinibidos

sempre pegavam os instrumentos maiores. Em todas as salas a professora deixou os alunos

livres para tocarem e experimentarem os instrumentos; nessa experiência demonstraram

pouco ritmo, com exceção de alguns.

10 O que na sala de aula é impossível de se organizar, por conter grande número de cadeiras. 11 Aluno do Curso de Licenciatura em Música, da turma do primeiro semestre de 2006.

37

Depois de todos pegarem um instrumento, algumas músicas do repertório de cada

período foram trabalhadas, com cópias das letras trazidas pela professora para que todos

cantassem juntos, à medida que ela acompanhava no violão.

Após tal prática, a profa. Cleide fez uma dinâmica para os alunos assimilarem o

conceito de regência: pediu para que todos tocassem os instrumentos de uma só vez enquanto

ela cantava e tocava a música trabalhada e uma pessoa ficava no centro, a qual se alternou

entre eu e a estagiária Isabel. A pessoa que ficava no meio apontava para um aluno à sua

escolha ao mesmo tempo em que a música ia sendo tocada, e o aluno que era escolhido parava

de tocar de imediato; assim, cada instrumento ia parando à medida que a “maestrina” ia

escolhendo, até só findar a professora.

No 1º ano H o repertório trabalhado foi: “Alagados” e “Meu erro”, ambas da banda

Paralamas do Sucesso. A professora falou um pouco sobre o histórico da banda, e abordou o

contexto político da música “Alagados”; a segunda música era bem mais conhecida pela

classe, o que fez alguns alunos cantarem. Essa turma, que em princípio se apresentava

participativa, se tornou tímida e introspectiva com o passar do tempo, dando a impressão de

que eles se identificavam mais com as aulas teóricas. Alguns alunos que chegaram bastante

atrasados nesse dia, tiveram resistência em pegar os instrumentos, sentando fora da roda em

princípio, mas com a insistência da professora se juntaram aos colegas.

Na aula do 1º ano H houve poucos alunos presentes, sem muito ânimo e pouca

participação. O repertório trabalhado foi: “Pelados em Santos”, da banda Mamona Assassinas,

a qual Cleide abordou um pouco sobre a carreira e o sucesso estrondoso que obtiveram na

década de 90, e “Não aprendi dizer adeus”, da dupla Leandro e Leonardo.

O 2º ano E, diferentemente das aulas iniciais, começou a demonstrar participação e

interesse. A música trabalhada nessa aula foi “Chega de Saudade”, de João Gilberto, a qual eu

e Isabel cantamos primeiramente, depois todos cantaram junto acompanhando a letra; quando

foram tocar os instrumentos, pararam de cantar pela falta de prática em executar os dois ao

mesmo tempo. O aluno que na aula passada comentou sobre a harmonização de João Gilberto

mostrou ótimo desempenho no cajón ficando com tal instrumento do começo ao fim da aula,

demonstrando musicalidade.

38

3.3.2. Aulas ministradas12

As aulas ministradas aconteceram consecutivamente, logo após as aulas observadas.

Como foi dito anteriormente, a turma a qual fiquei responsável em ministrar aulas foi o 2º ano

E, a última em horário e a qual o tema escolhido foi a “Bossa Nova”.

Já que a professora havia dado aulas teóricas, audiovisuais e práticas, decidi estruturar

as minhas na mescla das três, fazendo uma revisão do que foi dado anteriormente e

adicionando novos elementos à aula.

O período de observação facilitou o nosso vínculo com os alunos que,

consequentemente, nos respeitaram como estagiárias assistindo às aulas e mantendo a

disciplina.

Aula 1 – 11/11/2010

Nesse dia tivemos um bom número de alunos presentes, mesmo assim, pelo fato

dessa turma ser bastante numerosa, ainda houve um significativo número de faltas.

Essa primeira aula foi dividida em dois momentos: o primeiro teve um caráter teórico

(mas com uso de audiovisual), no qual fizemos uma atividade de apreciação e análise; e o

segundo teve um caráter prático, através de uma atividade rítmica.

Ao iniciar a aula, coloquei o áudio da música “Influência do Jazz”, do cantor Carlos

Lyra, e pedi para que todos escutassem com bastante atenção e percebessem o máximo de

elementos musicais possíveis. Em princípio, alguns alunos mostraram certa resistência através

das fisionomias, mas depois pude perceber que eles aceitaram a idéia de escutar algo que não

está presente no cotidiano deles e ficaram atentos, como foi pedido.

Após a primeira audição, fiz várias perguntas. De início, perguntei sobre a primeira

sensação ao escutarem aquela música; algumas pessoas acharam “alegre”, “animada”, porém,

o que me chamou atenção foi o argumento de uma das alunas: ela disse que achou a música

“triste”, e eu perguntei o porquê, (já que o andamento no qual é tocada é razoavelmente

rápido); então, ela argumentou que não era uma música da época dela, não era o que

costumava ouvir. Cheguei à conclusão que ela não gostou da música e o termo “triste” foi o

primeiro que ela achou para utilizar e expor sua opinião.

Depois, questionei sobre o andamento que, em unanimidade, responderam que era

rápido; a instrumentação, a qual a maioria não percebeu instrumentos importantes de base, 12 Ver Anexo B

39

como por exemplo, o piano, ao mesmo tempo em que perceberam a flauta, que por vezes

ficava em evidência, fazendo alguma introdução ou interlúdio13, a forma, que todos

concordaram que a música possuía duas partes, de estilos diferentes14 que se repetiam; e por

fim o texto.

Quando chegou a hora da análise do texto, a professora Cleide distribuiu cópias da

letra e a analisamos juntamente ao áudio novamente, observando o conteúdo que estava sendo

tratado. Depois da leitura da letra, perguntei qual era o contexto que estava sendo abordado,

porém, não obtive resposta; após um silêncio, uma aluna arriscou dando a resposta que a

música contava que o samba estava sendo influenciado “por esse tal de jazz”, que ela não

sabia o que era; então, começamos a discutir sobre o tema.

A música que foi escolhida para ser trabalhada pôde ser utilizada como um

importante recurso, já que a mesma trata acerca da influência do jazz sobre o samba, e esse é

um dos principais aspectos a ser abordado sobre a Bossa Nova. Enquanto os alunos foram

fazendo seus apontamentos, pude interferir com idéias novas, entrelaçando a bagagem do

aluno com os conteúdos programáticos da disciplina.

Aproveitando a letra da música, coloquei um vídeo de um trio de jazz15– formação

tradicional/padrão do gênero – para comparar com aspectos musicais e instrumentais da

música estudada, buscando suas semelhanças. Depois expus outro áudio, dessa vez um

samba16, fazendo o mesmo tipo de análise. Após a escuta dessas duas músicas, discutimos

sobre as semelhanças e diferenças, exemplificando auditivamente a influência do jazz sobre o

samba, o que pode ter resultado na Bossa Nova.

Essas atividades tiveram como objetivo exercitar a percepção, a análise e a atenção

dos alunos em relação à produção musical do respectivo período, além de observar aspectos

comparativos com outros gêneros, visando as semelhanças e diferenças musicais e sócio-

culturais.

O segundo momento da aula contou com uma atividade rítmica, abordando pulsação

e timbres. Primeiramente, expliquei o que seria pulso e uma das alunas relacionou com o

pulso sentido no nosso punho. Aproveitando o comentário, fiz uma relação com o pulso do

coração, usando-o como exemplo de batida que segue um andamento, o que facilitou a

13Ao perguntar quem fazia a melodia principal, muitos responderam que era flauta. Porém, pedi para que eles se certificassem e coloquei o áudio mais uma vez, quando uma aluna respondeu que era a voz. 14 Primeiramente um samba, depois uma salsa. 15 “Jazz Baltica” – Kenny Barron Trio 16 “Conversa de Botequim” – Maria Rita

40

assimilação do conceito por parte da turma. Após a explicação, exemplifiquei um andamento

e pedi para que todos batessem palmas no andamento que dei, seguindo a pulsação.

Depois que perceberam e assimilaram o conceito de pulso através da palma, coloquei

o áudio da música “Samba de uma nota só”, de Tom Jobim, e pedi para que todos imitassem o

que eu fizesse, percebendo primeiro qual movimento estava sendo feito, para depois

começarem a imitar. Segui o pulso da música utilizando várias partes do corpo, ou seja,

explorando timbres distintos como de: batidas e arrastado de pés; batidas de mãos nas pernas;

palmas fechadas e abertas; estalo de dedos; sons vocais (língua e lábios), entre outros. Após

essa atividade, apliquei o conceito de timbre, exemplificando as variações da voz de um

indivíduo para outro, e os sons distintos que podemos extrair do nosso corpo, sendo

trabalhado tanto pulso, quanto timbres.

Ainda abordando sobre a pulsação, a atividade posterior a essa foi uma variação da

primeira atividade rítmica, e a chamamos de “Passa a palma”. O pulso continuou a ser

trabalhado ainda juntamente com a música escolhida, porém, a palma ia sendo “passada” para

o colega do lado, a qual percorreu a roda várias vezes até o fim da música, o que fez com que

todos sentissem o pulso na mente até chegar a sua respectiva vez de bater.

Porém, alguns alunos tiveram certa dificuldade; por isso, pedi para Isabel bater o

pulso no cajón, facilitando a percepção do andamento que estava sendo trabalhado, o que

ajudou a alguns. Um dos alunos me chamou atenção pelo fato de ser portador de necessidade

especial, e não demonstrar nenhuma dificuldade na atividade, esperando sua vez para bater a

palma, sempre com exatidão.

Sendo essa uma das primeiras experiências rítmicas da turma visando uma

organização dos tempos (já que na primeira experiência eles ficaram livres para tocarem da

forma que quisessem os instrumentos levados pela professora), o conteúdo escolhido para ser

trabalhado foi o pulso, utilizando-o como ponto de partida para o desenvolvimento de

atividades posteriores, programadas para outra aula.

Os resultados obtidos nessa primeira aula foram satisfatórios; a turma demonstrou

que assimilou os conteúdos discutidos no primeiro momento, no qual analisamos uma música

do repertório da Bossa Nova, discutindo aspectos sociais do período, além de outras

características musicais. No segundo momento, apresentaram desempenho razoável nas

atividades rítmicas, podendo ser melhor trabalhado, mas já sendo satisfatório pelo fato de ter

sido uma das primeiras experiências da turma.

Vejamos na próxima página o plano de aula:

41

PLANO DE AULA I

Escola Escola Estadual Prof. Maria Queiroz

Estagiário Camila Larissa Firmino de Luna

Prof. responsável Cleide Alves

Disciplina Arte

Turma e horário 2º ano E – 4º e 5º horário

Aula n.01 Tema principal: Bossa Nova – parte I

Estrutura da aula

1º momento: atividades de apreciação e análise a partir de áudios e vídeos Identificação de elementos Análise da letra da música – discussão sobre o contexto Observação de aspectos comparativos entre gêneros

(Bossa Nova – Jazz – Samba) 2º momento: atividades rítmicas abordando pulso e timbres

Conceito de pulso e assimilação através da palma Conceito de timbre e assimilação através de batidas em variadas

partes do corpo Atividade “Passa a palma”

Conteúdos

Análise dos aspectos musicais e do contexto histórico-social da Bossa Nova

Pulsação Timbre

Materiais

1. Notebook 2. Caixa de som 3. Cópias da letra da música “Influência do Jazz”

Objetivos

Exercitar a percepção, a análise e a atenção dos alunos em relação à produção musical do respectivo período estudado, partindo dos conceitos da turma e ampliando a discussão acerca do tema com novas informações. Observar aspectos comparativos com outros gêneros, visando as semelhanças e diferenças musicais e sócio-culturais.

FIGURA 4

42

Aula 2 – 18/11/2010

Nessa segunda aula tivemos maior número de alunos presentes que a aula anterior,

inclusive, alguns que não me lembro de ter visto em nenhuma aula de Arte até então,

confirmando o fato de que há grande número de alunos ausentes nas turmas que foram

trabalhadas nesse semestre.

Para iniciar, a professora Cleide comunicou que eu ministraria novamente a aula e

apresentou o músico convidado por mim, o violonista João Paulo Furtado.

Para iniciar a aula, comecei conversando com eles a respeito da aula anterior, para

relembrar os aspectos que foram abordados e situar os alunos 'faltosos' aos conteúdos. Me

deixou muito satisfeita o fato dos alunos presentes na última aula lembrarem da nossa

discussão acerca da influência do jazz sobre o samba, na qual abordamos o contexto histórico-

social do gênero. Quanto aos conteúdos relacionados ao pulso e timbre, quando eu perguntei

se eles se recordavam, muitos tentaram responder, mas nenhum dava uma resposta concreta;

apenas argumentos soltos que os demais não compreendiam. Percebi que ainda lembravam-se

dos conceitos dados, mas não sabiam transmiti-los, sem encontrar termos para utilizar nas

respostas. Os ajudei na formulação das respostas, o que facilitou a organização das idéias.

Depois da revisão da aula anterior, fiz uma atividade de imitação rítmica com várias

partes do corpo17, revisando o conceito de timbres e exercitando a atenção e a prática da

utilização do corpo como instrumento musical. Nesse momento da aula, uma das alunas

comentou que essa atividade era “coisa de criança”, talvez pelo fato de não estarem

acostumados a serem expostos à experiências utilizando o corpo e movimentos com o mesmo.

Contra-argumentei que existem vários grupos musicais de adultos no Brasil, que não

trabalham com instrumento musical, fazendo a utilização apenas do corpo humano, dando

exemplo o grupo de percussão corporal Barbatuques18, conhecido tanto nacionalmente como

internacionalmente. Percebi que ela entendeu a proposta que eu levei à aula, aceitando e

continuando a participar da atividade.

Após a imitação, parti para a próxima atividade, agora com folhas de papel ofício:

cada um pegou uma folha e, à medida que eu mudava o movimento, todos imitavam. Explorei

vários sons do material utilizado das seguintes maneiras: batendo com a mão aberta, fechada,

17 As mesmas utilizadas na aula anterior, adicionando sopros diferenciados e tipos distintos de palmas. 18 Fundado em 1996 pelo músico Fernando Barba, produz música orgânica utilizando o próprio corpo como instrumento musical, desenvolvendo pesquisas sobre o tema e descobrindo grande quantidade de timbres pelo corpo.

43

um dedo, apoiando a folha na perna e batendo com a mão, balançando a folha no ar, atritando

em materiais diferentes como o chão e a perna, entre outros.

Após a exploração do material, abordei sobre as inúmeras possibilidades de extrair

som de qualquer objeto, podendo utilizar até mesmo uma folha de ofício como instrumento

percussivo. A partir daí, dividi a turma em dois grupos e apliquei duas células rítmicas

diferentes, cada grupo com sua respectiva célula. O primeiro grupo batia na folha com a mão,

enquanto estava apoiada na perna; já o segundo grupo foi orientado a esfregar a folha na

perna, obtendo um timbre diferenciado do primeiro. Segue a partitura do arranjo:

FIGURA 5

O primeiro grupo teve certa dificuldade pelo fato da célula rítmica conter quatro

semicolcheias e uma pausa de semínima, o que fez com que sempre invadissem com som a

pausa estipulada. Pedi para que tivessem atenção quanto à quantidade de batidas, já que a

música é constituída de som e silêncio, e que esse último precisa ser respeitado para que haja

a organização que foi prevista pelo arranjador. A partir de tal comentário já pude explicar o

papel de um arranjador, comentando que o que estávamos executando era um arranjo feito por

mim para acompanhamento de folha de ofício de uma música que eles saberiam na sequência.

Depois de todos assimilarem o ritmo, executando numa sequência sem interrupção,

comecei a cantar (sem aviso prévio) – contando com o acompanhamento do violão – a música

“Garota de Ipanema”, de Tom Jobim, a qual foi planejada para encaixar com as células

rítmicas que estavam sendo executadas. Ao começar a cantar, percebi através da fisionomia

dos alunos, que eles ficaram surpresos com o fato de estarem acompanhando percussivamente

uma música conhecida, e de como o que eles estava executando se encaixava com a música.

44

Quando enfim chegou o término, todos bateram palma, demonstrando satisfação com o que

ouviram.

Antes de iniciar a próxima atividade, cantei outra música e pedi para que todos

escutassem a letra com atenção; a música cantada foi “Lobo bobo”, de João Gilberto. Depois

de cantar perguntei sobre a história da música, e um dos alunos respondeu com exatidão o

contexto que estava sendo tratado, demonstrando atenção no que foi pedido; a partir daí, fiz

um breve comentário sobre as letras do gênero estudado, as quais demonstram romantismo,

até mesmo em uma história divertida, como da música em questão.

Depois do breve comentário, a próxima atividade a ser aplicada teve um perfil

parecido com a anterior; a diferença é que dessa vez a turma foi dividida em três grupos e o

material a ser explorado foi o próprio corpo. Três células rítmicas foram trabalhadas: uma

sempre constante, com batidas no peito; e duas intercalando como pergunta e resposta,

constituindo-se em estalo de dedos e de língua, cada grupo com a respectiva parte do corpo

estipulada. Esses dois grupos que ficaram responsáveis em executar as células de pergunta e

resposta tiveram dificuldade em “controlar” a pausa; então, pedi para que a estagiária Isabel

ajudasse o grupo que estava fazendo os estalos de dedos, e a professora Cleide, o grupo que

estava fazendo os estalos de língua19, o que ajudou no desenvolvimento da execução. A

seguir, a partitura do arranjo trabalhado:

FIGURA 6

Um dos alunos que estava no grupo estipulado para executar as batidas no peito,

começou a bater a célula rítmica no pé; então, eu pedi que fizesse como se estava pedindo. O

rapaz disse que não queria fazer na região estipulada, e sim no pé; a partir de tal comentário,

19 Contração da língua com o céu da boca.

45

argumentei que se ele executasse em uma região diferente do restante do grupo, reproduziria

um timbre diferente, não planejado para o arranjo, fugindo da organização original. Tal

argumentação o convenceu, o que fez seguir executando na mesma região que os colegas do

grupo.

Após assimilarem – mesmo com a dificuldade encontrada em princípio – executaram

sequencialmente, sem interrupções, e eu comecei a cantar “Lobo bobo” novamente; agora,

juntamente à execução da voz e o violão, a percussão corporal executada pelos alunos. A

reação depois de tal reprodução foi igual à primeira e, mesmo demonstrando cansaço pelo fim

do dia, percebi que ficaram satisfeitos com a aula.

Apesar da revisão no início ter tido um caráter teórico, as atividades seguiram com

um perfil prático, sempre contando com a participação da turma.

Vejamos a seguir o plano de aula:

PLANO DE AULA II

FIGURA 7

Escola Escola Estadual Prof. Maria Queiroz

Estagiário Camila Larissa Firmino de Luna

Prof. responsável Cleide Alves

Disciplina Arte

Turma e horário 2º ano E – 4º e 5º horário

Aula n.02 Tema principal: Bossa Nova – parte II

Estrutura da aula

Revisão dos conteúdos da aula anterior Atividade de imitação rítmica com variadas partes do corpo Exploração timbrística da folha de papel ofício Atividade com folha de papel ofício – arranjo da música “Garota de

Ipanema” Atividade com percussão corporal – arranjo da música “Lobo bobo”

Conteúdos Timbres – partes do corpo e materiais (ex.: folha de papel ofício) Conceito e execução de arranjos

Materiais 1. Violão 2. Folhas de papel ofício A4

Objetivos

Ampliar os conhecimentos acerca da exploração de diferentes timbres através de materiais distintos;

Possibilitar vivências musicais “organizadas”, previamente planejada.

46

3.3.3. Observações sobre o sistema de avaliação

Como já foi dito na apresentação do projeto “Conheça a música do Brasil”, o sistema

é constituído de três partes, sendo repetida20 a última nota. Assim, é dividida em: uma

pesquisa geral sobre o respectivo tema estudado; uma pesquisa sobre algum artista do período

escolhido pela turma; e uma apresentação musical entre os colegas, utilizando o repertório

trabalhado.

Nas duas primeiras, estive presente nos dias de entrega dos trabalhos; porém, na

última atividade, não pude estar em sala devido a um problema de saúde. Tal avaliação era de

suma importância ser observada, pelo fato de ser uma amostra dos conhecimentos práticos

adquiridos pela turma.

Com isso, me comuniquei com a professora responsável via e-mail, com o intuito de

colher seu depoimento à respeito do desenvolvimento da avaliação ocorrida no dia 25 de

novembro de 2010. A seguir, apresento a fala da docente, em mensagem enviada no dia 26 de

novembro de 2010:

Como planejado, cada turma, em seu horário, se dividiram em grupos de cinco ou seis alunos, escolheram sua música e instrumentos de percussão que iriam tocar. Dei o suporte harmônico e rítmico com o auxílio do violão. Cada grupo se apresentou para os demais, na disposição de roda, para não haver algum tipo de inibição. Esse momento, em ambas as turmas, foi marcado pela descontração, animação e colaboração em grupo, e em nenhum momento foi registrado a falta de interesse em participar, pelo contrário, se engajaram rapidamente em grupos e executaram a música como lhes foi pedido.

Nesse dia, estavam presentes as turmas do 1º ano I e 1º ano H, contando com a

ausência do 2º ano E que foi à uma aula de campo, que foi avaliada posteriormente no dia 09

de dezembro de 2010.

3.4. Avaliação do projeto21

Para ter considerações sólidas, paralelas às minhas acerca do projeto, considerei de

suma importância colher depoimentos de todos os envolvidos – docente, estagiários e alunos

20 O sistema avaliativo da escola tem como padrão quatro notas ao fim do período letivo. 21 Ver Anexo C

47

– através de questionários, com objetivo de avaliar a proposta idealizada pela profa. Cleide e

verificar aspectos do uso da música popular brasileira na escola.

A pesquisa nessa fase teve uma mescla em relação à metodologia, seguindo uma

direção tanto qualitativa, quanto quantitativa. Os questionários com o público de aluno seguiu

mais a linha quantitativa, pelo fato do número de questionários e das respostas objetivas; já

aqueles aplicados à professora e estagiários, seguiram uma linha qualitativa, partindo da

investigação dos acontecimentos em sala de aula, com perspectiva de entender os fenômenos,

abrindo para reflexão de forma mais livre.

A análise dos questionários teve como fundamentação a análise de conteúdo de

Bardin (2002), através da análise categorial.

Uma análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2002, p.38), é, em síntese, “[...] um

conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens”.

Quanto à análise categorial ou temática, Bardin (2002) defende que é a mais antiga

dessas técnicas e também a mais utilizada; baseia-se em operações de desmembramento do

texto em unidades, ou seja, descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a

comunicação, e posteriormente realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias.

3.4.1. Questionário aplicado aos alunos

O questionário direcionado para esse grupo foi estruturado de acordo com a realidade

observada durante o estágio, ou seja: as questões não foram elaboradas em grande número, e

alternaram-se entre objetivas e dissertativas, pelo fato dos alunos já terem demonstrado pouco

interesse pela escrita – algo constatado logo no início do semestre quando a professora

encaminhou os trabalhos referentes às primeiras avaliações –, além das opções serem

apresentadas com fácil linguagem.

A aplicação dos questionários ocorreu no dia 25 de novembro de 201022 (quinta-

feira), e ficou a cargo da professora Cleide23.

As turmas presentes foram o 1º ano H e 1º ano I, o que totalizou a entrega de 2824

questionários. O 2º ano E, turma na qual ministrei aulas, não esteve presente nesse dia, devido

22 Dia no qual ocorreu a última avaliação do semestre. 23 Não pude estar presente por motivo de saúde. 24 Cada turma possui 40 alunos matriculados, totalizando 80 alunos nas duas turmas; o fato de ter recebido apenas 28 questionários demonstra a média da quantidade de alunos 'faltosos' nas aulas.

48

à uma aula de campo, o que me impossibilitou de aplicar uma possível avaliação da minha

metodologia pelos discentes. Porém, mesmo o 2º E não estando, resolvi enviar o questionário

com o intuito de colher opiniões das demais turmas sobre as aulas de música, o projeto e a

metodologia aplicada.

Um fato interessante que ocorreu no momento da aplicação, relatado pela

professora25, foi que alguns alunos questionaram a necessidade de sua identificação através do

nome, perguntando à profa. Cleide se eram obrigados a colocar. A professora percebeu que

eles ficaram, de certa forma, constrangidos, pelo fato do questionário se tratar de uma

avaliação da disciplina; com isso, ela falou que não precisava colocar o nome.

A seguir, as perguntas inseridas no questionário que foi aplicado com esse público: 1. Como foi aprender música com a turma? ( ) Divertido ( ) Cansativo ( ) Interessante ( ) Relaxante ( ) Outra opinião, cite: _____________________________________________ 2. Qual dos três tipos de aulas você mais se interessou? ( ) Teórica (leitura e explicação do texto trazido pela professora) ( ) Audiovisual (vídeos de cantores e músicas do período estudado) ( ) Prática (cantando, tocando instrumento, fazendo percussão corporal, etc.) 3. Que música e qual cantor mais lhe marcou durante as aulas de música? _______________________________________________________________________________________________________________ 4. O que você achou de estudar a música do Brasil? ( ) Divertido, experimentamos as músicas de várias maneiras ( ) Pra mim não fez diferença nenhuma, não aprendi nada ( ) Interessante, conheci muitos cantores e músicas que nunca ouvi falar ( ) Não posso responder, pois faltei a maioria das aulas ( ) Outra razão, cite: ___________________________________________________ 5. Se você fosse dar uma nota para a idéia do projeto qual seria? (de 0 a 10) ________ E qual seria sua nota de participação? (de 0 a 10) _________ Porquê?____________________________________________________________________________________________ 6. Se você fosse dar uma nota para a metodologia da professora, qual seria? (de 0 a 10) ___________ 7. Você tem sugestões para outras edições do projeto? Cite aqui. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

25 Através de uma ligação telefônica.

49

Para uma melhor análise das respostas, dividi as perguntas em três categorias:

1. Preferências e envolvimento com a música: questões 1, 3 e 4;

2. Avaliação do projeto: questões 2, 5 (primeira parte), 6 e 7;

3. Auto-avaliação de participação no projeto: segunda parte da questão 5.

Inicialmente apresentarei os dados da primeira categoria 'Preferências e

envolvimento com a música', começando pela questão 1) Como foi aprender música com a

turma?, que trata do envolvimento do aluno com a disciplina.

Das 28 respostas26, 19 opinaram que foi divertido, 8 acharam interessante, e 1 colocou

que foi cansativo.

Ainda dentro da mesma categoria, a questão 3) Que música e qual cantor mais lhe

marcou durante as aulas de música? trata das suas preferência relacionadas ao repertório que

foi trabalhado. Houve muitas respostas iguais, o que me levou a perceber que o envolvimento

da turma com as respectivas músicas foi quase que geral27. As mais citadas foram “Fixação”,

de Kid Abelha, “Pelados em Santos”, dos Mamonas Assassinas, e “Que pena”, de Raça

Negra; além de alguns terem citado a dupla Leandro e Leonardo, mas não souberam colocar o

nome da música.

Tal envolvimento com o repertório foi visto em sala de aula quando essas músicas

foram trabalhadas; essas escolhas musicais fazem parte do cotidiano dos alunos, o que

facilitou a participação da turma, que cantou aquelas que mais conheciam.

A questão 4) O que você achou de estudar a música do Brasil? se assimila à

primeira, porém, agora tratando mais especificamente da música do Brasil. Nessa questão, 10

alunos marcaram a primeira opção, mostrando que se agradaram das diferentes atividades

musicais que fizemos no decorrer do semestre, principalmente nas aulas práticas; e 18 alunos

marcaram a terceira opção, demonstrando ter ampliado seus conhecimentos acerca do

patrimônio musical brasileiro.

Na segunda categoria 'Avaliação do projeto', abordamos a avaliação do projeto por

parte do corpo discente, com intuito de colher a opinião sobre a metodologia aplicada.

Primeiramente, a questão 2) Qual dos três tipos de aulas você mais se interessou? envolve os

três tipos de aulas que a profa. Cleide escolheu para trabalhar os conteúdos; e, nas respostas

tivemos 2 alunos que marcaram a primeira opção (teórica), 4 que marcaram a segunda

26 Nenhum aluno marcou a última opção (“relaxante”). 27Lembrando que duas turmas com temas, e consequentemente, repertórios diferentes, responderam esse questionário.

50

(audiovisual), e a grande maioria, totalizando 21 alunos, marcou a terceira opção (prática),

tendo 1 aluno que não marcou nada nessa questão.

Podemos constatar que houve quase que uma unanimidade quanto ao tipo de aula,

sendo demonstrado tanto nas respostas dessa questão, quanto nas respostas da questão 4. Isso

nos leva a refletir que a metodologia prática talvez seja mais eficaz na aproximação desse

público com a disciplina, tornando-se um fator a ser considerado nos planejamentos.

A primeira parte da questão 5) Se você fosse dar uma nota para a idéia do projeto

qual seria? (ainda inseria na segunda categoria) está relacionada à avaliação do projeto pelos

alunos, a partir de um sistema de notas. Dois alunos não colocaram nota alguma nesse item, 4

colocaram entre 8,0 e 9,0, e 22 deram a nota máxima para o projeto. Alguns ainda colocaram

depoimentos abaixo como: “é uma idéia bastante interessante”, “o projeto foi muito

interessante, pois muita gente que era vergonhosa teve mais participação”, “aprendi muito

mais do que sabia”.

A questão 6) Se você fosse dar uma nota para a metodologia da professora, qual

seria? foi elaborada com o intuito de avaliar a metodologia da professora, assim como sua

relação com os alunos, mantendo o sistema de notas. Um aluno não respondeu esse item,

apenas 4 alunos colocaram entre 8,0 e 9,0, e a grande maioria, totalizando 23 alunos,

colocaram nota máxima, tendo um dos alunos escrito: “com certeza 10”.

Esse bom relacionamento das turmas com a professora era perceptível no decorrer

das aulas, pois havia troca e respeito de ambas as partes.

Na questão 7) Você tem sugestões para outras edições do projeto?, convidei os

alunos à sugerirem algo que achassem relevante para próximas edições do projeto. Alguns

alunos não responderam essa questão, ou colocaram que não tinham sugestões. Dos alunos

que responderam, surgiram idéias como: mais vídeos; aulas de violão, e até de sanfona, para

ampliação dos conhecimentos musicais; aulas relacionadas à voz, que um dos alunos colocou

que “a professora deveria testar ‘o vocal’ dos alunos”; e ainda, a presença de peças teatrais

nas próximas edições.

Foram sugestões válidas, algumas viáveis, e outras nem tanto (como é o caso do

ensino de violão e sanfona, por fugir da proposta de educação musical da professora), mas a

partir do recolhimento dessas opiniões é possível ter uma noção do que eles sentiram falta no

projeto.

51

Tiveram também aqueles que colocaram que estava bom do jeito que está, querendo

que a professora prosseguisse com a idéia, como um dos alunos escreveu: “o projeto é muito

legal, precisamos fazer mais uma vez”.

Quanto à última categoria ‘Auto-avaliação de participação no projeto’ está inserida

da segunda parte da questão 5) E qual seria sua nota de participação? Porquê? continuando

as questões avaliativas. Obtivemos um número de 27 respostas, com 13 contendo nota

máxima; na resposta posterior acerca do motivo da nota, esses alunos que deram 10,0 à sua

participação argumentaram que sempre participaram e estavam presentes em todas ou na

maioria das aulas.

Porém, o que me chamou atenção foram as notas entre 7,0 e 9,0, além de outras

muito baixas, como 5,0, por exemplo. Os motivos dados pela maioria foi o grande número de

faltas e a pouca participação, reconhecendo o pouco envolvimento com a aula. Outros

motivos também foram colocados: um dos alunos que deu nota 8,0 à sua participação

argumentou: “não sei tocar os instrumentos”; outro28 que se deu nota 7,0 escreveu: “eu não

dou muito valor a cantar”; e ainda um terceiro depoimento que me chamou atenção foi de um

aluno que colocou nota 9,0 argumentando: “eu não me trozei bem nas múzicas”. As

dificuldades na escrita foram evidentes, porém, não afetou na expressão da opinião, a qual

serviu para reflexão sobre algumas reações presentes nas aulas.

A análise dessas questões pôde nos mostrar um pouco dos resultados obtidos com o

método planejado e as preferências musicais dos alunos de forma geral.

3.4.2. Avaliação do projeto pela docente e estagiários

Após o recolhimento das opiniões do público de alunos, o próximo grupo

questionado foi aquele que teve contato direto com a prática pedagógica: a docente

responsável pela criação do projeto, e os estagiários, que se envolveram durante um semestre

com a metodologia utilizada. Os questionários direcionados para esse grupo foram enviados

pela internet, através dos endereços eletrônicos individuais.

O questionário direcionado aos estagiários possuía apenas uma pergunta, a qual

requeria uma resposta que abordasse aspectos gerais do estágio, deixando o indivíduo livre

para refletir sobre o projeto e sua auto-avaliação acerca da participação.

A seguir, a questão encaminhada a esse grupo: 28 Esse aluno foi um dos poucos a se identificar, colocando o nome.

52

Conte um pouco de sua experiência como estagiário participante do projeto “Conheça a Música do Brasil”. (Pontos relevantes – tanto positivos, quanto negativos – de sua atuação, do projeto, da fase de observação, etc.)

O grupo total de estagiários participantes da 1ª e 2ª edição do projeto, composto de

dez pessoas, foi o público pretendido, por isso, para todos os envolvidos foram enviadas

mensagens via e-mail. Porém, só obtive respostas de dois29: Elindemberg Lisboa e Isabel

Brasiliano, ambos da 2ª edição, e que atuaram no Ensino Médio da E.E. Profa. Maria Queiroz,

em dias e turmas diferentes.

O grupo de estagiários que era pretendido atingir é constituído de pessoas que

participaram da 1ª edição do projeto, constando três estagiários; e também, os que

participaram da 2ª edição, constando sete estagiários.

As respostas deles foram analisadas a partir de três categorias:

Avaliação do projeto;

A importância do projeto na fase do estágio supervisionado;

Desafios e dificuldades em sala de aula.

Na primeira categoria ‘Avaliação do projeto’ ambos estagiários acharam a idéia de

grande importância para as aulas de música na escola. A estagiária Isabel argumentou que:

O Projeto foi interessante porque exploramos vários estilos musicais de épocas diferentes com os alunos da escola, pois cada turma escolheu um tema para que fosse estudado durante todo o semestre. Os alunos puderam ouvir, apreciar, cantar e executar as músicas da época que escolheram para estudar, e também tiveram acesso a alguns instrumentos de bandinha rítmica que emprestamos de um colega de Curso. Com isso pudemos trabalhar elementos musicais como ritmo, timbre, famílias de instrumentos.

Elindemberg ainda levantou a questão da metodologia da professora e como era sua

relação com a turma falando o seguinte: “pude observar a forma como minha orientadora

conduzia a turma e como conseguia acalmá-la quando estava muito agitada”.

Aspectos importantes do projeto foram apresentados por eles, mostrando uma boa

assimilação da metodologia baseada na música popular brasileira.

Na segunda categoria ‘A importância do projeto na fase do estágio supervisionado’

foram encontrados argumentos que valem ser salientados. Pude perceber nos depoimentos que

a utilização de três tipos de aulas propiciou aos estagiários um contato com várias

29Ambos os estagiários autorizaram a utilização de seus nomes para essa pesquisa.

53

possibilidades e resultados. Elindemberg ainda falou da relevância do estágio para sua

formação profissional:

Esse estágio serviu com grande valia para minha experiência como futuro docente, porque pude sentir na pele como é ser um professor. [...] Foi uma experiência muito gratificante.

Além disso, o comportamento da professora frente à turma refletiu na atuação dos

estagiários nas aulas ministradas por eles. Isabel levantou em sua fala que:

Foi bom poder observar a aulas da professora Cleide e ver qual a linguagem que ela utilizava com os alunos, qual a forma de passar o conteúdo, como ela reagia frente a imprevistos. Tudo isso me ajudou a conhecer e entender melhor os alunos e escolher uma forma própria de ministrar minhas aulas posteriormente.

Na última categoria ‘Desafios e dificuldades encontradas’, muitos pontos foram colocados,

relacionados à escola, ao desinteresse por parte dos alunos, aos imprevistos nas aulas ministradas, às

dificuldades na prática docente, às reações da turma quanto a alguns tipos de aula, à preparação dos

planejamentos, etc. Quanto a esse último ponto, relacionando-o com a prática docente, Elindemberg

comentou:

Na minha primeira atuação, fiquei tenso e meio sem jeito, pois não sabia muito como agir diante dos alunos, tendo em vista que era minha primeira atuação como professor. Diferentemente do outro estagiário que já tem certa experiência em sala de aula. Mas na segunda em diante já me senti bem à vontade pelo fato de ter planejado melhor a minha aula, me senti mais seguro.

Quanto a isso, Isabel também apresentou que:

Na minha atuação como professora deparei-me com um quadro não convencional: planejei uma aula para a minha turma, mas devido à falta do professor da turma do horário seguinte, tivemos que unir duas turmas numa aula só, mas o tema da minha sala era diferente do da outra turma que se juntou a nós, ficamos com um número grande de alunos na sala e não deu para dar continuidade ao conteúdo que havíamos trabalhado na aula anterior porque nem todos estavam por dentro do assunto. Tive que improvisar junto à professora Cleide.

Ainda sobre a falta de docentes na instituição, o que acabava atingindo as aulas de

Arte, Isabel colocou esse fato como ponto negativo, juntamente ao desinteresse dos alunos.

Segundo a estagiária :

54

O ponto negativo é que a escola estava com falta de alguns professores de outras matérias, isso fazia com que os alunos ficassem ansiosos para ir embora logo, principalmente quando a aula de música era nos dois últimos horários. Além disso, alguns alunos se mostravam muito desinteressados nas aulas.

Na sua fala, o estagiário Elindemberg levantou observações acerca das aulas que

envolveram os instrumentos percussivos, apresentando reações de algumas pessoas da turma,

e mostrando como eles juntamente à professora responsável, como grupo docente, souberam

lidar com a situação colocando que:

No início alguns alunos ficavam meio que envergonhados e com medo de tocar e errar. Nós, professores, não nos prendíamos a forma correta de tocar cada instrumento e cada aluno tocava da maneira que achasse melhor [...].

Algumas falas podem ser consideradas similares às minhas nos relatos das aulas,

pelo fato de haver pontos em comum na observação e fatos que se repetiram, mesmo em

horários e turmas diferentes.

Partindo para o próximo elemento do grupo, o questionário da professora Cleide foi

planejado para que ela, além de avaliar o projeto, contasse um pouco da trajetória de criação,

implementação, relaboração, etc. Então, para uma melhor análise, o questionário foi dividido

em duas categorias:

1. Fundamentação e metodologia: questões 1, 3, 4 e 5;

2. Observações sobre as edições do projeto: questões 2, 6, 7 e 8.

A partir do depoimento da docente, podemos constatar na primeira categoria, os

motivos da criação do projeto, da escolha da metodologia e do sistema avaliativo, e a estrutura

das aulas práticas.

Na segunda categoria, as perguntas estão relacionadas às duas edições já aplicadas

(aspectos comparativos entre elas e avaliação da 2ª edição) e o trabalho em equipe juntamente

aos estagiários.

Pelo fato da tamanha importância da docente na realização do projeto, o questionário

e as respostas da profa. Cleide serão a seguir, apresentadas na íntegra:

55

1. Quais as motivações e desafios iniciais para a criação do projeto “Conheça a Música do Brasil”? Constatei, além de outras coisas30, ao trabalhar no ano anterior na mesma escola, e propor atividades de percepção e apreciação, que havia uma supervalorização das músicas atuais, aqueles veiculadas no rádio. Então, o desafio foi implementar uma metodologia que abarcasse esse universo musical popular brasileiro. 2. Atualmente o projeto está na sua 2ª edição: é possível traçar um breve comparativo com a experiência anterior? Sim. Quando o projeto foi idealizado, havia apenas duas partes: a teórica e a áudio-visual. Na segunda edição do projeto foi ‘adicionada’ a parte prática. Outras diferenças na etapa inicial:

1. O tema na segunda edição foi escolhido por votação em sala de aula, o que não ocorreu anteriormente. 2. O foco da pesquisa mudou, em vez de um compositor “aleatório”, a turma passou a pesquisar o tema geral da sala. E, um segundo trabalho de pesquisa foi acrescentado, os alunos pesquisariam um compositor dentro da temática eleita.

3. Sobre as referências teóricas, quais autores você destaca nesse projeto? A elaboração do projeto não teve um aprofundamento teórico, por ter sido fruto de experiências passadas que tiveram resultados insatisfatórios. 4. Quais os aspectos essenciais na escolha da metodologia e sistema de avaliação? Uma vez que, no meu entendimento deveria haver a parte teórica e a prática (não que antes não pensasse assim, só que faltou a idéia da implementação da parte prática), resolvi escolher na segunda edição do projeto três fases: uma teórica, para que houvesse uma localização temporal/espacial da temática do projeto; uma áudio-visual, na qual eles poderiam ver e ouvir tudo o que antes fora discutido; e a terceira, prática, para que eles pudessem vivenciar o que já tinham discutido, o que já tinham visto e ouvido. Para avaliar um projeto que tem essa dinâmica, na minha visão, era necessário separar em duas partes: a escrita e a participação nas aulas práticas. Na primeira parte, as pesquisas sobre a temática e sobre os músicos detiveram a metade da nota do semestre. E a outra metade foi a observação das aulas com recursos audiovisuais, e a participação nas aulas práticas, em que envolvia canto e instrumentos de percussão, culminando o processo avaliativo numa apresentação para os colegas na própria sala de aula, divididos em pequenos grupos. 5. Quanto às aulas práticas, há uma estrutura ou tipo de atividade recorrente? E quais os critérios para escolha do repertório? Sim, há uma estrutura definida, com atividades recorrentes. Na aula prática sempre há o interesse na experimentação sonora, o que ocasionou a mesma dinâmica de trabalho, permeado pelas lembranças da parte teórica. A estrutura da terceira parte do projeto:

Conhecer os instrumentos de percussão e livremente experimentá-los. A partir de pequenas interferências, induzi-los a tocarem desta, ou daquela forma,

dependendo do repertório ou necessidade musical (propriedades do som, arranjo, instrumentação, formações instrumentais, etc.).

Observar a afinação do grupo, bem como a desenvoltura rítmica (apenas observar, e 30 Uma vez que já tinha experiência em ensino médio, já suspeitava da supervalorização da música contemporânea, em detrimento das “músicas antigas”. Apenas constatei in loco.

56

não avaliar) Re-lembrar, muito que resumidamente, algumas partes teóricas relevantes para o

momento. Mesmo que timidamente, introduzir conceitos sobre as propriedades do som, sobre a

valorização do aspecto composicional desvinculado da temporalidade da peça, sobre família de instrumentos e formações instrumentais, a função dos maestros, a prática de conjunto, etc.

6. Como você observou o trabalho em equipe dentro do projeto? Qual seu parecer sobre o desempenho dos estagiários? O trabalho em equipe foi muito oportuno. São nesses encontros, trabalhando juntos, que há a possibilidade de melhorias nas aulas. Sempre após cada aula, havia uma espécie de ‘mini-avaliação’ do dia, em que comentávamos como tinha sido a aula, as surpresas, as desenvolturas, o grupo em si, a participação, as dificuldades de alguma atividade, etc. Na hora em que os estagiários se adequaram à proposta, era hora de construírem suas aulas. Esse momento foi rico metodologicamente, no qual a partir da temática existente, somado com as suas experiência anteriores, puderam propor atividades relevantes. Citando uma das Estagiárias, Camila Luna propôs atividades e as realizou com desenvoltura; uma das atividades chamou minha atenção, quando a mesma, propôs que os alunos explorassem a sonoridade de uma folha de ofício, seguindo a proposta com a adição de pequenas células rítmicas, enquanto a estagiária, acompanhada de um músico convidado por ela mesma, cantava, enquanto os alunos executavam o ritmo proposto na folha de ofício. Atividades como essa, bem como outras propostas trazidas pelos outros estagiários, foram enriquecedoras ao projeto proposto. Vale salientar que, do encontro com os estagiários da primeira edição do projeto, numa reunião avaliativa, foi que surgiu a segunda edição do projeto. Esse tempo foi significativo, pois foi oportunizado o momento de avaliação mútua. Refletimos juntos sobre a prática docente, conteúdos, metodologia e avaliação do projeto. 7. Como você avalia essa 2ª edição? A segunda edição do projeto trouxe coisas mais pontuais do ponto de vista da organização do conteúdo, da metodologia e da avaliação. Minha percepção é de que houve um aproveitamento maior por parte dos alunos quanto à temática. Julgo o projeto não como "pronto", mas a pretensão para o próximo ano é implementá-lo nas turmas de 1º Ano. 8. Quais suas perspectivas para o projeto? A experiência de idealizar um projeto, testá-lo e implementar uma segunda edição, me deu fôlego para refazê-lo para 2011 com uma temática diferente, nas turmas de 2º e 3º ano; ainda tenho dúvidas quanto à temática, mas algo se aproxima a “conheça as músicas do mundo"; estudarei nas férias essa possibilidade.

3.4.3. Auto-avaliação do projeto e do estágio supervisionado

A prática no estágio supervisionado aliada à pesquisa de uma metodologia baseada

na música popular, me fez observar e investigar as possibilidades desse método, olhando os

57

benefícios e os aspectos que podem ser aperfeiçoados, além de vivenciar ricos momentos que

contribuíram para minha formação profissional.

A reestruturação do projeto para a 2ª edição foi bastante válida, por inserir elementos

que facilitem a assimilação dos conteúdos, como por exemplo, as aulas práticas. Os alunos

puderam vivenciar o repertório estudado, fazendo com que eles tivessem um envolvimento

mais próximo com o tema.

Nessas aulas práticas, eram disponibilizados aos alunos alguns instrumentos

percussivos, oportunizando à turma a experiência desse contato, sendo algo novo para eles.

Ao experimentarem, a professora deixava-os livres para explorarem e executarem os

instrumentos como preferissem, da forma mais cômoda para eles, sendo essa metodologia

considerada por mim como muito válida na fase de experimentação dos novos elementos

inseridos na aula.

Porém, no decorrer dessa metodologia prática, acredito que a execução dos

instrumentos poderia ter sido mais aprofundada, por exemplo, inserindo gradualmente

elementos de organização musical, como: dinâmica, instrumentação e células rítmicas

particulares de cada gênero, ampliando a sensibilidade dos alunos com relação à execução.

Com o meu olhar pedagógico, observei essas possibilidades as quais deixo como sugestões,

podendo ser aplicadas no processo de aprimoramento do contato com tais instrumentos.

As aulas teóricas e audiovisuais foram muito válidas para embasar os conhecimentos

com relação ao patrimônio musical nacional; o contato com outros cantores, bandas e suas

músicas, paralelamente ao repertório já conhecido por eles, propiciou a ampliação dos

conhecimentos, tanto dos aspectos musicais, quanto histórico-sociais do período estudado.

Com relação à escola, um ponto que dificultou um melhor desenvolvimento do

projeto, principalmente na última turma do dia (2º ano E), foi o fato da falta de professores de

outras disciplinas, o que acarretou impaciência por parte dos alunos ao esperarem os horários

da disciplina de Arte 31. Outro aspecto a ser citado, foram os imprevistos quanto à utilização

da sala de vídeo e seus respectivos materiais, pelo fato da ausência da diretora em dois dias

que estavam planejados para ocorrer aulas audiovisuais, fazendo com que a professora sempre

tivesse algo extra para ser utilizado caso houvesse situações como essa.

Quanto aos planejamentos, infelizmente não foram feitos em grupo, devido à falta de

disponibilidade de ambas as partes (docente e estagiários); todavia, conversas antes e depois

31 Esse aspecto também foi apresentado pela estagiária Isabel em seu depoimento.

58

das aulas ajudavam na troca de sugestões, o que contribuiu a construir os nossos

planejamentos das aulas ministradas.

Ao entrar na sala de aula como estagiária docente, deparei-me com desafios

relacionados ao público, que geralmente já tem opiniões individuais formadas, muitas vezes,

questionando a execução de alguma atividade. Porém, pude enfrentar essas argumentações

com naturalidade, o que me fez cada vez mais sentir segurança na minha prática pedagógica.

O tema da turma que fiquei responsável (Bossa Nova) contribuiu para uma melhor

desenvoltura em sala de aula, devido a já possuir certo conhecimento adquirido anteriormente

e uma identificação com o repertório estudado, o que me deixou mais à vontade na

transmissão de novos conhecimentos para a turma.

Ao planejar as aulas, pensei em atividades mais práticas, envolvendo locomoção;

porém, conversando com a professora, fui orientada a não aplicar atividades desse perfil logo

de início, pelo fato da resistência encontrada nesse público à atividades que envolvem

movimentos. Se tivesse mais aulas para ministrar, a possibilidade de desenvolver a minha

metodologia até chegar ao ponto da locomoção seria maior, e poderia constatar os resultados

que seriam obtidos através desse tipo de atividade.

Por fim, deixo registrada a tamanha importância desse estágio na minha prática

pedagógica, principalmente, por desenvolver um método relacionado à música popular, o que

tem sido investigado por mim através de pesquisas e diálogos com os autores da área; tal

experiência enriqueceu aos meus conhecimentos e me fez observar, na prática, (ou 'de forma

vivencial') aspectos relacionados ao público e à metodologia.

59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após todo o trabalho de pesquisa sobre a inserção da música no currículo escolar, os

aspectos característicos dos jovens e adultos, e a possibilidade de criar uma metodologia

usando a música popular como elemento base, pude perceber uma relação muito tênue entre

as colocações dos autores com a realidade vivida no estágio supervisionado.

Quanto a esse último, foi uma experiência na qual possibilitou a aplicação do projeto

pedagógico planejado, já reformulado após uma 1ª edição; pudemos experimentar diferentes

perfis de aulas, e a partir dos questionários aplicados, avaliamos opiniões de todas as partes

envolvidas.

Os depoimentos colhidos tanto da professora responsável, quanto dos estagiários, por

muitas vezes entraram em concordância, o que nos mostrou que algumas dificuldades foram

encontradas em comum, sendo fatores constantemente presentes na realidade escolar atual.

Esses aspectos nos servem para refletirmos acerca de prováveis mudanças na prática

pedagógica, para que cada vez mais, nós como docentes, ampliemos a visão para os motivos

que levam a tais problemáticas, podendo desenvolver uma metodologia adequada para tais

fins.

Quanto aos questionários aplicados aos alunos, as respostas colhidas nos fez perceber

o olhar crítico do corpo discente sobre o projeto, o que nos ajudou a entender um pouco de

suas preferências, podendo tomá-las como base para o aperfeiçoamento do método.

O projeto “Conheça a música do Brasil” ainda tem vários fatores a serem

aperfeiçoados, porém, essa metodologia utilizada é bastante válida em se tratando de uma

proposta musical para escolas regulares. Os resultados obtidos no fim do semestre letivo

foram satisfatórios, nos quais observamos aspectos como: a participação dos alunos nas aulas,

a desinibição gradual da turma com relação à exposição de opiniões, conteúdos

correlacionados ao cotidiano dos jovens e adultos, entre outros.

No desenvolvimento do trabalho, cada vez mais fui convencida que essa proposta

pedagógica é uma das muitas possibilidades que nós, como educadores musicais, podemos

explorar e aplicar em sala de aula, utilizando-a como uma metodologia viável e condizente à

realidade encontrada nas escolas regulares, mas especificamente, nas escolas públicas, onde

encontramos grupos bastante heterogêneos, como foi o caso das turmas trabalhadas nesse

estágio supervisionado.

60

Espero ter contribuído para uma reflexão acerca do aperfeiçoamento da nossa

prática, bem como apresentar possibilidades de ensino musical de acordo com a realidade

atual no ensino público.

61

REFERÊNCIAS 32

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ENDEREÇOS ELETRÔNICOS CONSULTADOS

Escola Estadual Prof. Gerson Lopes/Apodi-RN <http://escolaestadualprofessorgersonlopes.blogspot.com/2010/04/estudo.html> Grupo de Percussão Corporal Barbatuques <http://br.barbatuques.com.br/> MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf> Normas da ABNT 2002 – UFRGS <http://www.ufrgs.br/faced/setores/biblioteca/referencias.html

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ANEXOS

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Anexo A – Documento da Portaria de Avaliação nº 1033/2008 – SEEC/GS

RIO GRANDE DO NORTE SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA

COORDENADORIA DE DESENVOLVIMENTO ESCOLAR- CODESE SUBCOORDENADORIA DE ORGANIZAÇÃO E INSPEÇÃO ESCOLAR – SOINSPE

SUBCOORDENADORIA DE ENSINO MÉDIO ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO MÉDIO ORGANIZADO EM SÉRIOS ANUAIS COM OS

COMPONENTES CURRICULARES DISTRIBUIDOS EM BLOCOS SEMESTRAIS 1- O Ensino Médio, 3ª etapa da etapa da Educação Básica, será oferecido em três séries com matrícula anual. A série será organizada em blocos semestrais de componentes curriculares, correspondendo cada bloco a 100 dias letivos. 2- A organização curricular em blocos semestrais observará as determinações legais previstas nos Parâmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio; 3- A estrutura curricular do Ensino Médio organizado em blocos semestrais está constituída de três áreas de conhecimento: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; 4- Na estrutura curricular do Ensino Médio, consta o total de horas de cada componente curricular da base nacional comum e da parte diversificada; 5- O Ensino Médio, organizado em blocos semestrais, terá uma carga horária de 3.000 horas-aula distribuídas na base nacional comum e na parte diversificada, trabalhadas com aulas de 50 minutos; 6- Em cada bloco semestral, deverão ser utilizados 04 registros formais de avaliação. Observados os procedimentos da Portaria de Avaliação nº 1033/2008 – SEEC/GS; 7- Após a computação dos resultados do rendimento do aluno em cada semestre, o professor deverá divulgar, em sala de aula, a média final e o total de faltas de cada componente curricular; 8- Será considerado a provado no componente curricular a aluno que, ao final do período letivo, obtiver média aritmética igual ou superior a 6,0 (seis) de acordo com a seguinte fórmula: MS= na1+na2+na3+na4 4

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Legenda MS – Média Semestral Na1- nota da avaliação 1 Na2- nota da avaliação 2 Na3 – nota da avaliação 3 Na4- nota da avaliação 4 9- Após o exame final, o aluno que não atingir o mínimo de aproveitamento estabelecido para aprovação em até dois componentes curriculares no bloco semestral, prosseguirá para o bloco subseqüente com direito a dependência que será oferecida por meio de um plano especial de estudo, de acordo com as NORMAS Básicas para organização e funcionamento administrativo e pedagógico das escolas da rede estadual de ensino; 10- O aluno com rendimento insatisfatório em três componentes curriculares no bloco semestral terá uma nova oportunidade de verificação da aprendizagem por meio de avaliações especiais realizadas na própria escola, logo após divulgação dos resultados finais do semestre; 11- Será assegurado ao aluno o aproveitamento de estudos dos componentes concluídos com êxito, quando a reprovação ocorrer em mais de três componentes curriculares na série; 12- O Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar deverão ser refeitos em função da nova organização do Ensino Médio.

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Anexo B – Registro fotográfico das aulas ministradas

1. Aula ministrada nº 1

Fonte: Dados de Campo, 2010

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2. Aula ministrada nº 2

Fonte: Dados de Campo, 2010.

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Anexo C – Modelos dos relatórios aplicados

1. Questionário aplicado aos alunos

PROJETO “CONHEÇA A MÚSICA DO BRASIL” Questionário – aluno(a) participante

Proposta de Camila Luna Licencianda em Música, UFRN

Nome do participante: __________________________________Turma:_______________ Data:______________Local de preenchimento:___________________________________ 1. Como foi aprender música com a turma? ( ) Divertido ( ) Cansativo ( ) Interessante ( ) Relaxante ( ) Outra opinião, cite: _____________________________________________ 2. Qual dos três tipos de aulas você mais se interessou? ( ) Teórica (leitura e explicação do texto trazido pela professora) ( ) Audiovisual (vídeos de cantores e músicas do período estudado) ( ) Prática (cantando, tocando instrumento, fazendo percussão corporal, etc.) 3. Que música e qual cantor mais lhe marcou durante as aulas de música?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. O que você achou de estudar a música do Brasil? ( ) Divertido, experimentamos as músicas de várias maneiras ( ) Pra mim não fez diferença nenhuma, não aprendi nada ( ) Interessante, conheci muitos cantores e músicas que nunca ouvi falar ( ) Não posso responder, pois faltei a maioria das aulas ( ) Outra razão, cite: ___________________________________________________ 5. Se você fosse dar uma nota para a idéia do projeto qual seria? (de 0 a 10) ________

E qual seria sua nota de participação? (de 0 a 10) _________ Por quê? _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

6. Se você fosse dar uma nota para a metodologia da professora, qual seria? (de 0 a 10)

___________

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7. Você tem sugestões para outras edições do projeto? Cite aqui.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Você autoriza a utilização desse questionário para pesquisa e citação no trabalho de conclusão de

curso da estagiária Camila Luna?: ( ) SIM ( ) NÃO

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2. Questionário aplicado aos estagiários

PROJETO “CONHEÇA A MÚSICA DO BRASIL” Questionário – estagiário(a) participante

Proposta de Camila Luna Licencianda em Música, UFRN

Nome do participante:________________________________________________________ Data:__________ Local de preenchimento: ______________________________________ Você autoriza a utilização desse questionário para pesquisa e citação no trabalho de conclusão

de curso da estagiária Camila Luna?: ( ) SIM ( ) NÃO Conte um pouco de sua experiência como estagiário participante do projeto “Conheça a Música do Brasil”. (Pontos relevantes – tanto positivos, quanto negativos – de sua atuação, do projeto, da fase de observação, etc.)

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3. Questionário aplicado à professora participante

PROJETO “CONHEÇA A MÚSICA DO BRASIL” Questionário – professora participante

Proposta de Camila Luna Licencianda em Música, UFRN

Nome: _____________________________________________________________________ Data:___________ Local de preenchimento:______________________________________ 1. Quais as motivações e desafios iniciais para a criação do projeto “Conheça a Música do Brasil”?

2. Atualmente o projeto está na sua 2ª edição: é possível traçar um breve comparativo com a experiência anterior? 3. Sobre as referências teóricas, quais autores você destaca nesse projeto?

4. Quais os aspectos essenciais na escolha da metodologia e sistema de avaliação?

5. Quanto às aulas práticas, há uma estrutura ou tipo de atividade recorrente? E quais os critérios para escolha do repertório? 6. Como você observou o trabalho em equipe dentro do projeto? Qual seu parecer sobre o desempenho dos estagiários?

7. Como você avalia essa 2ª edição?

8. Quais suas perspectivas para o projeto?

Você autoriza a utilização desse questionário para pesquisa e citação no trabalho de conclusão

de curso da estagiária Camila Luna?: ( ) SIM ( ) NÃO