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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA A UTILIZAÇÃO DAS ÁRIAS ANTIGAS DE PARISOTTI NO ENSINO DO CANTO: UMA IMPLICAÇÃO ESTILÍSTICA FELIPE DIAS DE OLIVEIRA NATAL, 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

LICENCIATURA PLENA EM MÚSICA

A UTILIZAÇÃO DAS ÁRIAS ANTIGAS DE PARISOTTI NO ENSINO DO CANTO: UMA IMPLICAÇÃO ESTILÍSTICA

FELIPE DIAS DE OLIVEIRA

NATAL, 2010

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A Utilização das Árias Antigas de Parisotti no Ensino do Canto:

Uma Implicação Estilística

por

FELIPE DIAS DE OLIVEIRA

Monografia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a conclusão do curso de Licenciatura Plena em Música, sob a orientação da Professora Claudia Roberta de Oliveira Cunha.

Natal, 2010

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A Utilização das Árias Antigas de Parisotti no Ensino do Canto: Uma Implicação Estilística

por

FELIPE DIAS DE OLIVEIRA

Monografia apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Licenciado em Música.

Aprovado em:____/____/______

BANCA EXMINADORA

_______________________________________________ Profa. Cláudia Roberta de Oliveira Cunha (orientadora)

_______________________________________________ Prof. Dra. Valéria Lazaro de Carvalho

_______________________________________________ Prof. Ms. João Raone Tavares da Silva

Natal, 2010

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Catalogação da Publicação na Fonte Biblioteca Setorial da Escola de Música

O48u Oliveira, Felipe Dias de. A utilização das árias antigas de Parisotti no ensino do canto:

uma implicação estilística / Felipe Dias de Oliveira. – Natal, 2010.

58 f.: il.

Orientador: Cláudia Roberta de Oliveira Cunha. Monografia (Graduação) – Escola de Música,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2010.

1. Educação musical. 2. Música vocal. I. Cunha, Cláudia Roberta de Oliveira. II. Título.

RN/BS/EMUFRN CDU 78:37

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RESUMO

Este trabalho aborda as implicações estilísticas na utilização da coletânea de árias antigas Arie Antiche de Alessandro Parisotti no ensino do canto. Também reflete sobre a presença da música antiga na atualidade e sua influência na formação dos músicos. O trabalho aborda as características da música vocal no início do século XVII e a obra Le nuove musiche, de Giulio Caccini, que contém a monodia Amarilli mia bella, uma peça amplamente utilizada no repertório de alunos iniciantes. É feita uma comparação da publicação original de Amarilli mia bella com a edição do século XIX, realizada por Parisotti. Nessa comparação se constata as numerosas modificações que Parisotti fez nessa peça.

Palavras-chave: Arie Antiche; Parisotti; Amarilli mia bella; Caccini; ensino do

canto; música vocal.

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ABSTRACT

This work is about the stylistic implications of the use of Arie Antiche, by Alessandro Parisotti, in the teaching of singing. This work reflects on the presence of early music and how it influences in the musical formation. The approach presents the characteristics of vocal music in the early seventeenth century, the work Le nuove musiche, which contains the monody Amarilli mia bella, a song widely used in the repertoire of beginner singers. The work compares the original publication of Amarilli mia bella with the nineteenth-century edition held by Parisotti. In this comparison it turns out the numerous changes made by Parisotti.

Key words: Arie Antiche; Parisotti; Amarilli mia bella; teaching of singing; vocal music.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................6

CAPÍTULO 1 - A PRESENÇA DA MÚSICA ANTIGA NA ATUALIDADE....................9

1.1 A AUTENTICIDADE NA PERFORMANCE DA MÚSICA ANTIGA........................10

1.2 MÚSICA ANTIGA E A FORMAÇÃO DO MÚSICO ................................................12

1.3 A NOTAÇÃO MUSICAL E A PERFORMANCE DE MÚSICA ANTIGA.................13

CAPÍTULO 2 - PARISOTTI E SUA COLETÂNEA ARIE ANTICHE ...........................17

2.1 AS EDIÇÕES DE PARISOTTI CONFRONTADAS COM AS SUGESTÕES DE

DART ............................................................................................................................21

CAPITÚLO 3 – PARISOTTI E O ENSINO DO CANTO ..............................................25

3.1 CACCINI E ASPECTOS DA TÉCNICA VOCAL .....................................................27

CAPÍTULO 4 - A MÚSICA VOCAL NO INÍCIO DO SÉCULO XVII: A MONODIA, A CAMERATA DE BARDI E CACCINI............................................................................29

3.1 O PREFÁCIO DE LE NUOVE MUSICHE...............................................................31

CAPÍTULO 5 - AMARILLI MIA BELLA: UMA ILUSTRAÇÃO....................................34

5.1 COMPARAÇÃO DA EDIÇÃO DE AMARILLI DE PARISOTTI COM O FAC-SÍMILE

DE 1602........................................................................................................................35

5.2 EDIÇÕES MODERNAS DE AMARILLI MIA BELLA...............................................41

CONCLUSÃO...............................................................................................................43

REFERÊNCIAS............................................................................................................44

ANEXOS.......................................................................................................................46

CÓPIA DO FAC-SÍMILE DE AMARILLI MIA BELLA

CÓPIA DA EDIÇÃO DE AMARILLI MIA BELLA, POR PARISOTTI

OUTRAS EDIÇÕES MODERNAS

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INTRODUÇÃO

A coleção de árias antigas, em três volumes, editada por Alessandro

Parisotti e intitulada Arie Antiche é amplamente utilizada na pedagogia do canto

erudito em todo o mundo, pois são consideradas como uma introdução ao

repertório barroco ou como uma etapa preparatória para peças tidas como

mais avançadas. Essas árias e canções dos séculos XVII e XVIII foram

editadas no final do século XIX e sofreram adaptações e modificações

importantes que as tornaram mais palatáveis ao público habituado à música do

romantismo. Configurações rítmicas, melódicas e harmônicas foram alteradas,

tonalidades foram adaptadas, fórmulas de compasso e andamentos foram

modificados, indicações de dinâmicas e expressão foram acrescentadas e até

mesmo poemas foram, por vezes, alterados.

Essas modificações foram realizadas sem levar em consideração o estilo

e escrita dos compositores antigos, pois no romantismo quando se revisitava

obras dos períodos anteriores era usual modernizá-las, adaptando-as à

estética musical corrente. A utilização desse tipo de partitura leva o estudante a

ter uma visão de música antiga muito distante do estilo original.

No início do século XX, devido ao retorno à música histórica para a vida

musical contemporânea ocorrido desde o século XIX, começou-se a discutir e

estudar como a música antiga deveria ser executada. Surgiu, então, o conceito

de interpretação autêntica ou historicamente orientada da música antiga.

Kerman (1985) aponta que músicos do século XIX se voltaram para a

música barroca, mas não tentaram reconstituir suas tradições de performance.

Os músicos do século XX fizeram essa tentativa, o que estimulou muitas

pesquisas e publicações a respeito da interpretação da música antiga.

Kerman (1985) explica que a corrente musicológica prega que, na

medida do possível, a execução de música antiga reproduza as condições de

seu próprio tempo e lugar. Trata-se de uma eterna busca pela atmosfera e

maneira pela qual a música, tanto instrumental quanto vocal, era executada.

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Baseado no fato de que hoje em dia a música histórica ocupa um

espaço preponderante no cenário musical e que uma interpretação

historicamente orientada e em consonância com os preceitos estilísticos de

cada época é exigida dos intérpretes, abordarei as implicações da utilização

das árias antigas editadas por Parisotti na formação inicial de cantores.

No capítulo 1 refletirei sobre a presença da música antiga e da

performance histórica no cenário musical contemporâneo. Para isso usarei

como referência O Discurso dos Sons, de Nikolaus Harnoncourt. Também

abordarei como essa presença demanda conhecimentos específicos que

devem ser contemplados na formação dos músicos atuais, inclusive cantores.

No capítulo 2 abordarei a apropriação que intérpretes do século XIX

fizeram da música dos períodos anteriores e comentarei como eles não se

preocupavam em observar preceitos estilísticos da música barroca. Também

abordarei as edições de música antiga publicadas nesse período (as árias

antigas editadas por Parisotti, por exemplo) e como o editor pode influenciar no

processo de interpretação musical e no ensino do canto. Para tanto, utilizarei

como referência A Interpretação da Música, de Thurston Dart.

No capítulo 3 abordarei o emprego de Arie Antiche de Parisotti no ensino

do canto, constatando sua presença em currículos e editais de processos

seletivos de universidades do Brasil. Também mostrarei aspectos da técnica

vocal abordados por Caccini em seu prefácio.

No capítulo 4 abordarei a música vocal do início do século XVII, o

surgimento da monodia e do estilo recitativo. Neste contexto surge a importante

figura do compositor Giulio Caccini e sua obra Le nuove musiche, que contém

o madrigal Amarilli mia bella, também presente na coleção Arie Antiche de

Parisotti. Giulio Caccini fez significativas contribuições para o desenvolvimento

do canto. Ele é um dos primeiros compositores que descreve com precisão

como gostaria que suas monodias fossem cantadas, revelando aspectos da

interpretação e da técnica vocal. Le nuove musiche contém um prefácio com

informações sobre idéias e técnicas da composição e execução da monodia no

início do século XVII.

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No capítulo 5 o madrigal Amarilli mia bella ilustrará nosso problema, uma

vez que é uma das peças mais representativas de sua época e é amplamente

utilizada no repertório inicial de alunos de canto erudito. Para isso abordarei

aspectos estilísticos e técnicos presentes nessa peça e suas implicações na

formação do aluno que a executa. Utilizarei o fac-símile dessa peça e a edição

de Parisotti, publicada no final do século XIX. Também serão comentadas e

citadas outras edições alternativas publicadas mais recentemente e suas

diferenças e características.

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1 A PRESENÇA DA MÚSICA ANTIGA NA ATUALIDADE

No início do século XIX Mendelssohn redescobriu a obra de Bach, há

muito tempo ausente da vida musical. Em 1829, na Igreja de São Tomás, em

Leipzig, Mendelssohn dirigiu a primeira audição da “Paixão Segundo São

Mateus” depois da morte de Bach, como aponta Roland Candé em História

Universal da Música, de 1992. Jean e Brigitte Massin contam, em seu livro

História da Música Ocidental, de 1998, que graças a Mendelssohn obras para

piano de Mozart voltaram a ser executadas nas salas de concerto. Oratórios de

Händel, como O Messias e Israel no Egito também voltaram a ser

apresentados.

Segundo Massin (1998), ao reapresentar grandes obras de

compositores dos períodos barroco e clássico, Mendelssohn não só demonstra

sua admiração e conhecimento sobre a música do passado, e impõe uma nova

concepção de “concerto histórico”.

A música antiga, que segundo Harnoncourt (1984) é “qualquer música

que não tenha sido composta pelas gerações atualmente vivas”, assumiu um

papel preponderante na vida musical de nossos dias. Desde o início do século

XX houve uma mudança de atitude em relação à música contemporânea e um

retorno à música antiga.

Para Harnoncourt (1984) esse retorno à música antiga se deu porque a

música do presente não pode nos oferecer a beleza que nós esperamos dela.

Como a música se tornou um ornamento para preencher o tempo vazio ou para

servir de fundo para outras atividades, nós a reduzimos a algo simplesmente

belo. Logo, a música contemporânea, que é perturbadora, não nos agrada.

Houve, então, segundo Harnoncourt, uma mudança de valores entre os

homens dos séculos passados e os homens do presente que se refletiu no

papel que a música desempenha no cotidiano. Ele constata que o homem de

nossa época se dedica mais à tecnologia e ao conforto, dando mais valor a um

automóvel que ao violino.

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A música transformava o homem – tanto o ouvinte como o músico.

Devia sempre ser criada com o novo, da mesma forma que os

homens deviam construir para si novas moradas que

correspondessem a um novo modo de existência, a uma nova

modalidade da vida espiritual. (HARNONCOURT, 1982, p. 13).

O homem antigo tratava a música como parte essencial da vida, por isso

ela deveria nascer do presente. Só seus contemporâneos poderiam entendê-la,

pois a música refletia a realidade de sua época. Quando já não era capaz de

compreender a música dos períodos anteriores restava apreciar sua perfeição

artística. O autor citado aponta que a música antiga era tida como uma etapa

preparatória. Também podia ser tratada como um material de estudo, mas

raramente era reapresentada em concertos.

Harnoncourt (1984) afirma que a presença predominante de música

histórica nas salas de concerto atuais é uma situação nova na história da

música. Para ilustrar essa afirmação ele escreve:

Se hoje em dia retirássemos de uma hora para a outra a música

histórica das salas de concerto e só executássemos obras modernas,

as salas estariam rapidamente desertas – exatamente como teria

acontecido no tempo de Mozart se retirassem do público a música

contemporânea e só lhes fosse oferecido a música antiga (a barroca,

por exemplo). (HARNONCOURT, 1984, p.18).

1.1 A AUTENTICIDADE NA PERFORMANCE DA MÚSICA ANTIGA

Harnoncourt (1984) aponta que há, basicamente, duas concepções que

podem conduzir a execução de música antiga. Uma a transporta ao presente,

adaptando-a às técnicas e condições contemporâneas, e outra tenta vê-la sob

o prisma da época em que foi concebida, reconstituindo as tradições de

execução musical do seu contexto. Essa última é a mais exigida dos intérpretes

hoje em dia e, por vezes, negligenciada na formação dos alunos por parte dos

professores, às vezes por falta de conhecimento ou por uma equivocada

marginalização do repertório anterior aos séculos XVIII e XIX.

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A interpretação historicamente orientada e contextualizada passou a ser

chamada de interpretação autêntica da música antiga. Essa concepção de

autenticidade na interpretação da música é recente e data aproximadamente

do início do século XX, tornando-se cada vez mais presente desde então.

Arnold Dolmetsch, como aponta Kerman (1985), foi um dos pioneiros

do início do século XX que escreveu sobre como deveria ser a interpretação da

música antiga. Kerman cita que Dolmetsch afirmou em seu livro The

Interpretation of Music of the 17th and 18th Centuries: “o estudante deve tentar

e preparar seu espírito entendendo plenamente o que os Velhos Mestres

sentiram a respeito de sua própria música”.

Um sucessor de Dolmetsch foi Thurston Dart, que em 1954 publicou o

livro The Interpretation of Music. Esse livro é todo sobre música antiga, apesar

do título genérico. Kerman (1985) critica Dart por entender que este

menospreza a interpretação ao considerá-la normativa e não individual.

Kerman também aponta que o único conselho de Dart foi que o intérprete fosse

“elegante” e sua execução fosse “idiomática”, ou seja, bem ajustada aos seus

instrumentos.

Kerman (1985) explica o que Dart chamou de “elegante” era conhecido

por todos como “autêntico”. A respeito da autenticidade Joseph Kerman, em

seu livro “Musicologia”, afirma que a autenticidade não deve ser valorizada em

si mesma, mas somente a serviço de uma interpretação cada vez melhor da

música. Também afirma que a autenticidade não é garantia de uma boa

performance.

Segundo Harnoncourt (1984) a autoridade do compositor é tida por nós

como suprema e nós nos esforçamos para recriar a música de maneira

“autêntica” não por razões históricas, mas porque essa parece a única maneira

“digna” e “viva” de executá-la na atualidade. Ele explica:

Quando executamos atualmente música histórica, não podemos fazê-

lo como os nossos predecessores das grandes épocas. Perdemos

aquela espontaneidade que nos teria permitido recriá-la na época

atual. (HARNONCOURT, 1984, p. 19).

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1.2 MÚSICA ANTIGA E A FORMAÇÃO DO MÚSICO

Para Harnoncourt (1984) a última época em que a música

contemporânea foi realmente viva e criativa, constituindo-se como uma

expressão de seu tempo, foi o final do romantismo. Ele aponta que a formação

dos músicos nos conservatórios ainda preserva as características dessa época.

Entretanto esse modelo de educação musical não atende a demanda do

cenário musical atual, voltado para a música histórica e suas tradições de

execução.

Harnoncourt mostra que o modelo conservatorial tem suas origens no

Conservatório de Paris, criado com a Revolução Francesa, e promoveu uma

mudança na forma como se aprende música. Antes a formação musical se

processava através da relação mestre-aprendiz, que foi substituída por uma

instituição, o conservatório. Esse modelo se dedica ao estudo do repertório

europeu dos séculos XVIII e XIX e possui uma abordagem que prioriza a

técnica. Também tem como objetivo formar o virtuose.

Harnoncourt (1984) considera que se atualmente é a música histórica

que está preponderantemente presente na vida musical, a formação dos

músicos deveria se processar de maneira diferente, atendendo a essa

realidade. A formação do intérprete deveria ser mais coerente com as

necessidades de conhecimento a respeito do repertório a ser executado,

oferecendo recursos, técnicas e metodologias que se adequem ao repertório

em execução. Quando a formação musical é demasiadamente técnica, em

detrimento do conhecimento histórico e estilístico, acaba resultando em um

músico “acrobata” que não compreende o significado da música que executa.

Ele afirma:

Como executamos a música de aproximadamente quatro séculos,

precisamos, ao contrário dos músicos das épocas anteriores, estudar

as condições ideais para a execução de cada gênero de música.

(HARNONCOURT, 1982, p. 31).

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Giulio Caccini escreveu em seu prefácio para a obra Le nuove musiche

uma consideração a respeito da importância da formação teórica dos cantores

aliada a sua prática. Essa preocupação com a formação teórica dos intérpretes

já era presente no século XVII. Caccini escreve:

A graça do canto só pode ser adquirida perfeitamente após o estudo

da teoria e de suas regras referidas quando posta em prática; prática

que, em todas as artes, é o modo pela qual se pode chegar ao mais

perfeito, mas especialmente na profissão do perfeito cantor e da

perfeita cantora. (CACCINI, 1602, conforme tradução de MULLER,

2006).

1.3 A NOTAÇÃO MUSICAL E A PERFORMANCE DE MÚSICA ANTIGA

A presença da música antiga no repertório de concerto atual pode gerar

problemas de interpretação, uma vez que não há uma continuidade na tradição

de execução dessas obras, que caíam em desuso abrindo espaço para novas

obras. Muitas informações de como essas obras antigas deveriam ser cantadas

ou tocadas se perderam. Muitos instrumentos e técnicas caíram em desuso ou

foram transformados.

Durante séculos não se revisitava o repertório antigo. Os músicos do

barroco não executavam música renascentista. Os músicos clássicos não

executavam música barroca. Cada nova geração rompia com a estética do

período anterior. Raramente obras de períodos anteriores eram reapresentadas

e, quando isso ocorria, era considerado indispensável adaptá-las ao estilo

corrente.

Um exemplo disso é o oratório Messiah de Händel que foi rearranjado

por Mozart, como aponta Donald Burrows, em seu livro Handel Messiah, de

1991. Em 1788 Mozart fez arranjos de alguns oratórios de Händel a pedido de

Baron van Swieten, que pretendia apresentar esses oratórios em concertos

fechados nas casas de membros da corte vienense.

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Burrows explica que Mozart realizou algumas alterações em sua versão

de Messiah de Händel porque algumas características composicionais e

orquestrais eram consideradas arcaicas, mesmo com menos de cinquenta

anos decorridos desde a composição da obra. O órgão que executava o baixo

contínuo, por não ser disponível nos locais de apresentação, foi substituído

pelas partes dos instrumentos de sopro, por exemplo.

A notação musical é um exemplo dos aspectos da prática musical que

sofreu modificações ao longo do tempo. Muitos símbolos continuaram a ser

escritos da mesma maneira, porém com outros significados. A notação

matemática e precisa, por exemplo, só se tornou usual no século XIX, como

aponta Harnoncourt (1984). A ornamentação e improvisação é uma prática

musical inerente à execução musical até o fim do século XVIII, no entanto, não

é contemplada pela notação musical.

Dart exemplifica como a notação musical sofreu alterações ao longo do

tempo:

Para o homem do século XII, uma breve, como seu próprio nome

sugere, tinha curta duração – de fato, era a mais rápida das notas

então existentes. Hoje, uma breve sempre equivale a quatro mínimas;

no século XIV, podia equivaler de quatro a vinte e quatro mínimas, de

acordo com a nacionalidade de quem a escrevesse e o contexto em

que isso ocorresse. Hoje, uma indicação de compasso 3/2 é apenas

uma indicação de compasso; no século XV, indicava tanto o

andamento, como a estrutura métrica da música. (DART, 1960, p. 6).

Para Thurston Dart a notação musical é o principal elemento em que se

deve basear uma interpretação. Ele aconselha:

Antes de mais nada, precisamos conhecer os símbolos exatos

usados pelo compositor; depois, devemos descobrir o que

significavam à época em que foram escritos; por fim, devemos

expressar nossas conclusões em termos da nossa própria era, pois

vivemos no século XX e não no século XVIII ou XV. (DART 1950 p.

6).

A notação musical se adequou às necessidades da música e dos

compositores de cada época. Não observar essas mudanças de significados

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dos símbolos pode causar equívocos e embaraços nas execuções do

repertório.

A notação musical que é aprendida por alunos iniciantes como válida

para todo tipo de música é a notação do século XIX. Isso pode causar

estranheza a um aluno iniciante que se depara, por exemplo, com o fac-símile

de uma partitura do início do século XVII. O aluno que estudou a notação

musical moderna não será capaz de decodificar a partitura antiga.

No período barroco, por exemplo, o compositor não escrevia tudo que

ele esperava que acontecesse na execução. Existia um código de interpretação

entre compositor e intérprete e seus papéis, muitas vezes, se misturavam.

Giulio Caccini e Jacopo Peri são exemplos de compositores que também eram

cantores.

Harnoncourt (1984) explica que no século XIX existia um princípio de

que tudo que o compositor quisesse que fosse executado estaria notado na

partitura e o que não estivesse não era vontade do compositor e, por isso, seria

uma “deformação arbitrária da obra”. Ele aponta que essa maneira de se tocar

exatamente o que está escrito na partitura funciona para a música do século

XIX, mas é inadequada para a música dos períodos anteriores. Os

compositores do barroco e do classicismo, por exemplo, não poderiam seguir

esse princípio, pois ele não existia em suas respectivas épocas.

Quanto mais retrocedemos na história da notação musical podemos

perceber que menos indicações de execução são utilizadas, pois maior é a

confiança do compositor depositada no intérprete.

Os compositores da música antiga escreviam para seus

contemporâneos, que conheciam como as suas composições musicais

deveriam ser executadas. Conheciam as convenções musicais da sua própria

época e lugar. Os compositores antigos não imaginavam que suas músicas

seriam estudadas e apresentadas até hoje. Em prefácios e tratados se

preocupavam em explicar o novo e o específico e não aquilo que era óbvio

para a época, não havendo necessidade de se dedicar a explicar ou descrever

as práticas de execução correntes. Entretanto, para Harnoncourt, são

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justamente essas informações que para eles eram óbvias que nos fazem mais

falta na hora de interpretar suas composições.

Todos esses aspectos revelam a necessidade de um estudo

aprofundado sobre cada época, suas práticas e preceitos musicais para atingir

uma interpretação autêntica e uma performance historicamente adequada. Não

podemos nos guiar apenas pela intuição e pelos nossos próprios

conhecimentos, mas buscar os conhecimentos específicos que nos possibilitem

atingir um alto grau de autenticidade na interpretação.

Segundo Kerman (1985), a musicologia faz sua contribuição, buscando

reconstruir e compreender a música do passado e tentando estabelecer todas

aquelas características musicais que a notação por si só não contempla. Por

exemplo: andamento e outros aspectos rítmicos, ornamentos locais (como

trinados e mordentes) e embelezamentos de melodias longas, cadências e

outros.

Para isso a musicologia se utiliza a investigação e pesquisa de antigos

tratados, prefácios de obras, cartas e outros registros que sobreviveram em

bibliotecas e museus. Muitas vezes essas fontes antigas contêm informações e

opiniões contrastantes, deixando lacunas para interpretações, como aponta

Harnoncourt. A musicologia também contribui pesquisando e reconstituindo

instrumentos e partituras de música antiga.

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2 PARISOTTI E SUA COLETÂNEA ARIE ANTICHE

A musicologia, além de outros objetivos, busca reconstituir a música do

passado e suas características. De acordo com a doutrina musicológica a

música antiga deve, na medida do possível, ser apresentada de acordo com as

tradições da execução reconstituída e com as condições de seu próprio tempo

e lugar. Como já vimos, essa concepção chamada de autêntica ou

historicamente orientada é recente, datando do início do século XX. No

entanto, no século XIX, segundo Kerman (1985) o romantismo se apropriou da

música barroca sem tentar reconstituir suas tradições de performance.

Editores de partituras no século XIX publicaram suas edições de música

antiga acrescentando símbolos e indicações de execução não usuais nos

períodos anteriores. Eles também realizaram modificações nas músicas,

movidos pelos ideais musicais e estéticos do romantismo. Alessandro Parisotti

é um exemplo de um desses editores.

Parisotti publicou, no final do século XIX, uma coleção denominada “Arie

Antiche” (Árias Antigas), em três volumes, contendo árias e canções de

compositores do século XVII e XVIII como Caccini, Monteverdi, Carissimi,

Vivaldi, Scartlatti e Caldara. Esta obra foi originalmente publicada em 1885, em

Milão, pela editora Ricordi. Sua edição foi pensada para canto solo e

acompanhamento de piano forte.

Em suas edições, Parisotti altera harmonias que eram consideradas

dissonantes, elimina longos melismas, que haviam caído em desuso, e também

altera ritmos e adiciona andamentos e sinais de dinâmica e expressão do

período romântico. Muitas vezes não é possível distinguir quais indicações são

da escrita dos compositores e quais são do próprio Parisotti.

Parisotti inclui em sua coletânea peças que abrangem compositores

desde o início do século XVII, como Caccini e Monteverdi, passando por

Vivaldi, Scarlatti e Händel, até os pré-clássicos, como Gluck e Pergolesi. Esse

vasto período compreende estilos diversos, e por vezes, contrastantes.

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Algumas árias e canções são atribuídas erroneamente a outros

compositores. A ária Quella fiamma che m’accende, por exemplo, é atribuída a

Benedetto Marcello quando na verdade foi composta por Francesco

Bartolomeo Conti. A ária Se tu m’ami, uma composição do próprio Parisotti, foi

atribuída por ele a Giovanni Battista Pergolesi, como aponta John Glenn Paton,

em sua coleção de árias antigas Twenty-six Italian Songs and Arias.

Parisotti não informa os poetas e libretistas das peças. Alguns poemas

foram modificados ou mutilados por Parisotti e a prosódia também foi, por

vezes, alterada. Na música do início do século XVII o texto exercia uma

importância suprema e o compositor tinha a intenção expressa de realçar o

sentido de cada palavra, valorizando sua acentuação e ritmo. Ao realizar essas

mudanças no texto, Parisotti deforma importantes características

composicionais das árias em questão.

Na introdução de sua publicação Parisotti explica que recolheu as árias

de manuscritos e edições antigas, resgatando-as do esquecimento. Ele afirma

que, ao transcrevê-las, teve o cuidado de não mudar nada do original:

Ao transcrever as árias, tive o máximo cuidado em não mudar nada

do original e muitas vezes consultei diversos manuscritos para

aproximar-me da forma mais elegante e correta. (PARISOTTI, 1885).

Também afirma que ao harmonizar e realizar os baixos contínuos para o

acompanhamento teve como principal cuidado não adicionar nada que não

estivesse de acordo com a índole das palavras, com o caráter da composição,

com a personalidade do autor e do século. Entretanto, sabemos que na

realidade suas edições não são coerentes com essas afirmações que ele

publicou. Os acompanhamentos, por exemplo, são escritos de acordo com os

preceitos da técnica pianística do romantismo.

Nessa introdução Parisotti dá algumas orientações que contradizem as

características da música vocal dos séculos XVII e XVIII. Ele faz explicações

muito genéricas sobre as peças como se houvesse uma uniformidade de estilo

entre elas e essas explicações valessem igualmente para todas a árias.

Parisotti afirma:

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Por conseguinte é necessário principalmente evitar na execução das

árias antigas todo exagero de colorido, toda enfática declamação. O

canto há de ser puro, ingênuo, sereno, ligado; os movimentos

bastante tranquilos e sem precipitações de nenhuma classe.

(PARISOTTI, 1985).

Ele aconselha, por exemplo, que na execução das árias antigas se evite

uma execução com declamação enfática, quando a declamação é um dos

fundamentos do canto no século XVII. Também pede uma interpretação

precisa do que está escrito na partitura, quando essa prática só se tornou usual

no século XIX.

Essas árias antigas são aplicadas ao repertório do aluno iniciante como

uma introdução ao repertório barroco ou como uma etapa preparatória para

peças tidas como mais avançadas.

Por terem sido editadas no século XIX, as árias antigas editadas por

Parisotti não retratam as características originais do período barroco. O aluno

não tem a oportunidade de ter consciências das diferenças estilísticas

contrastantes do estilo barroco e do estilo do século XIX. Essa falta de

consciência das diferenças estilísticas limita o aluno a uma performance

segundo a visão de Parisotti, sem contemplar a possibilidade de uma

performance segundo as fontes originais, ou seja, historicamente orientada.

Dart aponta esse problema:

Mas, infelizmente, é difícil encontrar edições modernas de música

antiga onde seja feita alguma distinção entre as indicações do próprio

compositor e aquelas que o editor, por uma ou outra razão, houve por

bem acrescentar. Como resultado dessa combinação de

arbitrariedade editorial e publicação irresponsável, a maioria dos

estudantes do século XX é levada a ver a música antiga com os olhos

de alguém muito diferente do compositor. (DART, 1954 p.13).

Dart considera que as edições Urtext foram um “passo na direção certa”.

Ele aconselha que o aluno que não tenha como comprar essas edições, que

são caras ou estão esgotadas, busque nas bibliotecas e compare as edições.

Assim, o estudante poderá anotar as diferenças e tirar dúvidas quanto à música

original. Dart também escreve uma lista de edições Urtext de obras de música

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antiga para teclado. Ele considera que, assim, o estudante poderá conhecer o

texto original do compositor e decidir se quer adotar as opiniões do editor. Ele

também explica que fazer uma lista semelhante para a música vocal, orquestral

e de câmara seria uma tarefa difícil e afirma que “o estudante sensato”

procurará por edições coerentes com o texto original.

A peça Amarilli mia bella, segundo Dart, não deveria estar presente no

repertório do estudante de canto como um exercício, já que se trata de uma

monodia. Ele afirma:

Entretanto, é infelizmente verdade que quase nenhum editor ou

cantor de canções tão conhecidas como Amarilli mia bella, de

Caccini, modele sua interpretação de acordo com as instruções

expressas pelo autor. A monodia jamais deve ser cantada como um

exercício de bel canto: ela é um estudo de declamação apaixonada,

de um tipo altamente emocional. (DART, 1954, p. 129).

Algumas características contribuem para que Arie Antiche de Parisotti

seja tão empregada pelos professores de canto:

Essa edição é acessível e facilmente encontrada em bibliotecas e

livrarias do ramo musical;

Contém canções belas e simples, com acompanhamentos que são

relativamente fáceis;

A extensão é mediana, o que é oportuno, pois deve-se primeiro trabalhar

a região média da voz para depois explorar os registros extremos, agudo

e grave;

É uma oportunidade de trabalhar o idioma italiano e os textos são curtos

e repetitivos, facilitando a memorização.

Contém árias como Caro mio bem, oportunas para trabalhar o legato e a

respiração.

A edição de árias antigas feita por Parisotti pode resultar em uma bela

interpretação, mas o aluno raramente tem consciência que está executando

uma partitura que foi modificada e, portanto, sua execução será diferente

daquela que o compositor planejou. Um exemplo de que as partituras de

Parisotti podem resultar em uma interpretação bem sucedida é o álbum Arie

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Antiche Se tu m’mami, da mezzo-soprano italiana Cecília Bartoli, gravado pela

Decca, em 1992. Esse álbum contém a faixa Amarilli mia bella, de Giulio

Caccini. Em 2001 essa mesma cantora grava o DVD Cecília Bartoli Live in Italy,

em que opta por uma performance historicamente orientada de três árias

antigas de Giulio Caccini, entre elas Amarilli mia bella.

2.1 AS EDIÇÕES DE PARISOTTI CONFRONTADAS COM AS SUGESTÕES DE DART

No segundo capítulo do livro “A interpretação da música” Thurston Dart

aborda o papel do editor e constata a dificuldade de se encontrar edições

modernas de música antiga em que seja fácil perceber que indicações são

originais do compositor e que indicações são opiniões do editor.

Para Dart (1954), na maioria das partituras publicadas mais

recentemente pode-se perceber indicações completas sobre instrumentação,

nuances exatas de dinâmica e andamento, ornamentos, fraseados e assim por

diante. Para música moderna (séculos XX e XXI) podemos crer que a maioria

dessas indicações é do próprio compositor, mas tratando-se de música antiga é

mais provável que essas indicações sejam opiniões do editor, e quando o

editor desconhece ou opta por não seguir estilo original dos compositores isso

representa um problema para o aluno inexperiente.

Harnoncourt (1984) também aborda as edições modernas de música

antiga publicadas no século XIX e diz:

Nas edições de música antiga do século XIX sempre eram

acrescentadas as indicações que estavam “faltando”. Nestas edições

encontramos, por exemplo, as grandes ligaduras ditas “fraseado” que

desfiguram gravemente a “linguagem” das obras e que praticamente

as transportam ao século XIX. (HARNONCOURT, 1984, p.44).

Dart faz uma série de sugestões aos editores para que suas edições

sejam mais adequadas a uma interpretação fiel da música antiga. Tomando

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essas sugestões como uma referência, irei confrontá-las com as edições de

Parisotti, citando alguns exemplos.

Em sua primeira sugestão Dart recomenda que a contribuição do editor

possa ser distinguida da do compositor. Indicações do editor podem, por

exemplo, vir em itálico, entre colchetes ou em fontes mais claras. Na edição de

Parisotti não é possível fazer esta distinção já que ele se apropria

deliberadamente da música dos compositores antigos. Isso se torna evidente

quando se compara a edição de Parisotti aos manuscritos ou edições originais.

Na sugestão número dois ele recomenda que o editor forneça ao

intérprete e aos estudiosos sinais de referência, que economizam tempo na

hora de localizar um determinado compasso. Ele explica que a convenção mais

aceita é numerar cada quinto e décimo compasso. A edição de Parisotti não

oferece esses sinais de referência.

Em sua terceira sugestão Dart considera que a notação musical

moderna é, geralmente, baseada na semínima como unidade de tempo e

sugere que o editor faça ajustes na notação antiga, tornando-a mais acessível

e evitando uma noção equivocada do andamento das peças. Nas edições de

Parisotti, geralmente, a semínima é unidade de tempo. Ele faz sugestões de

andamento e caráter das árias que nem sempre correspondem ao estilo

barroco.

Na sugestão número quatro ele aconselha o editor a utilizar armaduras

de clave usuais da prática moderna. No início do século XVII uma ária em sol

menor teria apenas um bemol na armadura, por exemplo. Parisotti faz essas

adaptações nas armaduras de suas edições.

Na sugestão número cinco Dart recomenda a adoção de claves usuais.

Nas antigas partituras e edições eram utilizadas claves de dó para as vozes de

soprano (clave de dó na primeira linha), tenor (clave de dó na quarta linha) e

contralto (clave de dó na terceira linha). Parisotti utiliza a clave de sol, que é a

mais usual para o canto, excetuando o caso do baixo que é escrito na clave de

fá sempre.

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Em sua sexta sugestão Dart afirma que uma edição moderna bem

concebida pode responder a muitas questões sobre como era a notação

original música. Ele sugere que no início da composição o editor mostre a

clave, a armadura e a fórmula de compasso originais. Esta convenção ocupa

pouco espaço e demonstra a notação original. Parisotti não indica essas

informações.

Nesta sexta sugestão ele também constata que muitos autores de

manuscritos para música vocal lidaram com os textos verbais omitindo-o ou

indicando apenas as primeiras palavras, pois às vezes o texto vinha escrito em

separado embaixo da partitura. Isso causa controvérsias sobre como o texto

deveria ser distribuído sobre a melodia.

Parisotti trata os textos verbais das árias que editou com liberdade. Ele

modificou palavras e até frases completas e também alterou, por vezes, a

maneira como o texto é distribuído sobre a melodia.

Na sétima sugestão Dart recomenda que o editor localize e identifique as

fontes que utilizou e avisa que observações como “de um manuscrito do Museu

Britânico” ou “da Edição Original” são inúteis por serem vagas. Parisotti omite

suas fontes. Nas partituras ele acrescenta após o título da peça expressões

como: “dai Madrigali” ou “da una cantata”. Às vezes ele indica de qual ópera ou

obra ele retirou determinada ária, mas não indica a qual personagem o a qual

tipo de voz essa ária se destinava originalmente. Na introdução de sua

coletânea ele afirma apenas ter consultado diversos manuscritos e edições

antigas.

Em sua oitava sugestão, Dart aconselha que o editor advirta o leitor

sobre qualquer alteração feita no texto original. Parisotti não adverte o leitor

das diversas alterações que realizou na música e nos textos. Pelo contrário, ele

afirma na sua introdução que se preocupou em não mudar nada do original.

Dart, em sua nona sugestão aos editores, recomenda que seja feita a

distinção entre os termos “reproduzir”, “editar”, “transcrever”, “orquestrar” e

“realizar”. Ele explica que reprodução deve ser uma cópia literal da fonte

original; a edição deve ser a reprodução pronta para ser executada. A

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transcrição é alguma alteração do original (um violino substituindo a parte de

uma flauta, por exemplo). Orquestração é a adaptação para um novo e maior

conjunto de instrumentos de uma obra escrita para um conjunto menor. Por fim,

a “realização” deve ser usada apenas para as partes escritas do contínuo.

Parisotti utiliza o termo “transcrever” com o sentido de editar e utilizá-la o termo

“harmonização” dos baixos contínuos no lugar de realização.

Na décima e última sugestão ele recomenda que o editor forneça ao

intérprete uma ou duas linhas de informação sobre a música que ele vai

comprar e executar. Ele sugere um prefácio breve e compreensível. Parisotti

escreve uma introdução para sua coletânea de árias antigas, no entanto as

informações que ele fornece ao leitor são muito genéricas e, por vezes,

contradizem o estilo do canto no século XVII e XVIII. Parisotti também aborda

breves biografias de alguns compositores presentes em sua coletânea, embora

às vezes essas biografias contenham alguns erros. Algumas publicações

imprensas mais recentemente trazem correções a respeito dessas biografias

em notas de rodapé.

Parisotti demonstra em sua introdução para Arie Antiche uma admiração

pela música antiga e pelos seus compositores, no entanto suas interferências

nas obras desses compositores são muito numerosas e acabam por distorcê-

las e descaracterizá-las de seu estilo original.

É inegável que Parisotti realizou uma importante contribuição a

pedagogia do canto e ao repertório de câmara, redescobrindo e publicando

essas árias há muito esquecidas. Durante muito tempo as edições de Parisotti

representavam o único meio acessível de se introduzir o repertório de canto

barroco e pré-clássico aos alunos, no entanto, hoje temos a disposição edições

de árias antigas mais coerentes com as fontes originais.

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3 PARISOTTI E O ENSINO DO CANTO

Alessandro Parisotti nasceu e viveu sua vida inteira em Roma. Ele se

tornou secretário da Accademia di Santa Cecilia e destinguiu-se como um

musicólogo, por pesquisar e editar numerosas árias dos períodos barroco e

pré-clássico. Seus trabalhos foram publicados em 1885, pela editora Ricordi,

de Milão. Essa publicação, intitulada Arie Antiche, seria utilizada para o ensino

do canto e para performance.

Parisotti demonstra na introdução de Arie Antiche sua profunda

admiração pelas árias do período barroco. Para ele a música de seu próprio

tempo era “neurótica” e cheia de sobressaltos e violentos contrastes, enquanto

as árias antigas eram singelas e serenas.

Contata-se que Arie Antiche de Parisotti ainda é empregada na

pedagogia do canto e está atualmente presente na bibliografia de editais de

processos seletivos e currículos de diversas universidades no Brasil. A

Universidade Federal de Santa Maria indica para a bibliografia complementar

da disciplina Canto III a coleção de árias antigas de Alessandro Parisotti.

Algumas peças são exigidas em provas práticas para o ingresso em cursos de

bacharelado em canto e licenciatura em música com habilitação em canto.

Também são exigidas em concursos para contratação de músicos

correpetidores. Abaixo segue uma tabela contendo alguns exemplos coletados

através de uma exploração na web:

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Instituição Tipo de Prova Exigência

Universidade Estadual de

Minas Gerais

Prova Prática de Canto

para Ingresso no

Bacharelado em Música –

Habilitação em Canto -

2010

Ária Sento nel core, de

Alessandro Scarlatti

(Coleção Arie Antiche

Parisotti – 3 volumes)

Universidade Estadual de

Minas Gerais

Prova Prática de Canto

para Ingresso na

Licenciatura em Música –

Habilitação em Canto -

2010

Uma ária antiga da

coletânea de Alessandro

Parisotti, 3 volumes

Universidade Federal de

Alagoas

Prova Prática para Cargo

de Músico Correpetidor –

Piano

2009

Arias Antiguas (volumes 1

e 2), de Alessandro

Parisotti (transcrição e

revisão), Ricordi

Universidade Federal de

São João Del - Rei

Prova Prática para Cargo

de Músico Correpetidor –

Piano

2009

Arie Antiche, Raccolte ed

elaborate da A. Parisotti –

Colezione Completa – vol.

1,2 e 3 – Ed. Ricordi

Universidade Federal de

Pelotas

Prova Prática de Canto

para Ingresso no

Bacharelado em Música –

Habilitação em Canto -

2010

Uma Ária Antiga da

coleção Parisotti, em

italiano

Escola de Música de

Brasília

Seleção para 31º Curso

Internacional de Verão

2009

Uma ária antiga italiana,

base: “Parisotti”, “La flora”.

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3.1 CACCINI E ASPECTOS DA TÉCNICA VOCAL

Caccini foi o mais famoso cantor e professor de canto de sua época,

além de compositor de ópera e monodia. O prefácio de Le nuove musiche

serviu como modelo para pedagogos de canto das gerações posteriores a

Caccini, como aponta Stark (2003).

As composições de Caccini ajudaram a estabelecer o estilo recitativo

como um importante estilo narrativo, enquanto seus madrigais foram exemplo

de um novo estilo de canto afetivo. Mas seu grande número de celebrados

pupilos foi o que o levou ao patamar de importante pedagogo do canto. Stark

(2003) o coloca ao lado de Lamperti e Garcia. Entre os pupilos de Caccini

encontram-se seus familiares, como: Lucia, sua primeira esposa; Margherita,

sua segunda esposa e Francesca Caccini, sua filha, que se tornou uma

conhecida compositora.

Em seu prefácio Caccini aborda, além de aspectos estilísticos, aspectos

da técnica vocal, como: respiração, falsete e extensão vocal.

Um dos pilares da técnica vocal é a respiração, que no canto deve ser

mais profunda. É a respiração que produz a coluna de ar que sustenta a voz.

Uma respiração adequada é indispensável não apenas para a qualidade do

canto, mas para preservar a saúde vocal do estudante. Existem exercícios

técnicos que os professores de canto utilizam para desenvolver nos alunos a

respiração adequada para o canto.

Em seu prefácio Caccini afirma que o controle da respiração é essencial

para uma boa voz e para a execução de dinâmicas (o crescer e diminuir da

voz) nas canções. Ele defende a economia do ar para evitar a perda do fôlego.

Enfim, já que existem tantos efeitos a serem utilizados para a

excelência desta arte, uma boa voz é tão essencial quanto uma boa

respiração do ar para desta se valer onde for mais necessário. Será

útil, portanto, tal advertência para aquele que professa esta arte, já

que deve cantar sozinho, acompanhado por um chitarrone ou por um

outro instrumento de cordas, sem ser forçado a acomodar-se a não

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ser a si próprio, escolhendo um tom no qual possa cantar com voz

plena e natural, para escapar das notas falsas, pois ao empregá-las,

ou ao menos aquelas que são forçadas, ocorre que se gasta a

respiração a fim de descobri-las muito (uma vez que na maioria dos

casos costumam ofender o ouvido), e a respiração é necessária para

dar mais espírito ao crescer e diminuir da voz, à exclamação e a

todos os outros efeitos que mostramos. (CACCINI, 1602, conforme

tradução de MULLER, 2006).

Neste trecho podemos perceber alguns princípios de Caccini para o

canto. Além de ressaltar a importância de uma boa respiração, Caccini

desaconselha o emprego de falsete. Ele defende que o cantor escolha um tom

em que possa cantar com a voz plena e natural, sem forçar a voz e sem

precisar recorrer a o falsete. Em Le nuove musiche Caccini compõe dentro de

uma extensão relativamente média e acessível, o que possibilita que o cantor

entoe as canções com conforto.

Stark (2003) aponta que Caccini se refere a dois registros vocais: voce

piena e naturale (voz plena e natural) e voce finta (voz falsa). Caccini afirma

que da “voz falsa não pode nascer a nobreza do bom canto”. Segundo ele, a

voz deve ser cômoda em toda sua extensão. Stark (2003) explica que nas

composições de Caccini o tenor raramente precisa ultrapassar os limites da voz

de peito. O aspecto da extensão deve ser observado pelo professor, para

preservar a saúde vocal do aluno e para atingir uma qualidade vocal adequada.

Normalmente o professor começa trabalhando o registro médio, antes de

explorar os extremos da voz.

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4 A MÚSICA VOCAL NO INÍCIO DO SÉCULO XVII : A MONODIA, A CAMERATA DE BARDI E CACCINI

A criação do stile rappresentativo ou recitativo, cerca de 1600 foi

considerado um giro decisivo na história da música ocidental. Houve uma

renúncia deliberada ao estilo polifônico e o nascimento de um novo princípio: a

melodia para solista com um acompanhamento concebido em acordes, ou seja,

a monodia.

A monodia foi criação dos intelectuais, aristocratas, filósofos, artistas e

músicos que se reuniam em Florença, no palácio do conde Giovanni Bardi de

Vernio. Esse grupo passaria a ser conhecido como a Camerata de Bardi. Eles

se dedicavam à pesquisas visando reforçar o impacto expressivo das palavras

na música vocal. Jacopo Peri, Vincenzo Galilei, Emilio de’ Cavalieri, Marco da

Gagliano, Ottavio Rinuccini são alguns exemplos de membros da Camerata de

Bardi.

Dentre os artistas e compositores que se reuniam na Camerata estava

também Giulio Caccini. Caccini era cantor e compositor, além de famoso

professor de canto e alaudista. Sua coleção de monodias intitulada Le nuove

musiche é considerada o símbolo de uma nova era na música, o barroco.

O prefácio de Le nuove musiche é um conhecido texto sobre as idéias e

procedimentos composicionais de monodias e das técnicas do canto no

primeiro barroco. Essa publicação, que data de 1602, contém o madrigal

Amarilli mia bella, hoje mundialmente conhecido e presente no repertório de

cantores profissionais e alunos iniciantes.

Caccini, assim como toda a Camerata de Bardi, foi defensor da idéia de

que o contraponto é inadequado à música vocal, pois torna o texto

incompreensível ou maltrata o poema em favor da sonoridade musical. Para

Caccini o contraponto devia ser reservado à música instrumental e a música

vocal deveria seguir preceitos que Platão dita em A República, que dizia que

primeiro vem o texto, depois o ritmo e por último o som.

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Um dos membros da Camerata de Bardi, também chamada de

Camerata Florentina, foi Vincenzo Galilei. Ele acreditava que, por causa da

polifonia, a música vocal de sua época não era capaz de comover. Em seu livro

A Ópera Barroca Italiana, Lauro Machado Coelho concorda que a superposição

de vozes em camadas muito numerosas pode dificultar o entendimento das

palavras, mas lembra que “o mais simples dos madrigais de Monteverdi é um

desmentido formal” da tese de que a polifonia seja incapaz de nos comover.

Claudio Monteverdi, em 1605, estabeleceu uma divisão na forma como a

música trata o texto na polifonia e na monodia. Ele chama a polifonia, em que o

texto se subordina à música, de primeira prática (Prima Prattica). Para a

monodia, em que a música se subordina ao texto, ele utiliza o termo segunda

prática (Seconda Prattica). Monteverdi adere ao novo estilo monódico para

algumas composições, sem renunciar ao estilo polifônico para outras.

O expresso propósito dessa nova música vocal era afastar todo artifício

que interferisse fortemente na compreensão do sentimento e do sentido do

texto. Logo, textura polifônica e desenvolvimento contrapontístico foram

descartados em favor da monodia, em que uma única linha vocal era projetada

sobre um acompanhamento harmônico, dando muito mais valor expressivo ao

texto cantado. O acompanhador improvisaria esse acompanhamento se

baseando em uma única linha de notas graves presente em todo percurso da

obra, por isso, baixo contínuo. Também podia haver figuras em cima ou

embaixo desse baixo que guiavam a harmonia, daí a expressão baixo figurado.

Também havia convenções sobre como o baixo deveria ser realizado.

A Camerata formulou alguns princípios para composição das monodias.

Deveria haver uma união perfeita entre o texto e a música. O papel da música

na monodia vocal limitava-se a realçar cada nuance das palavras, como explica

Dart. O texto deveria ser declamado aderindo às inflexões naturais da fala.

Segundo Dart a monodia era considerada pelos monodistas uma música

capaz de “despertar as paixões de modo raro”. Era descrita por eles como “a

compreensão do conceito e do humor das palavras”.

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Aos olhos da Camerata era exatamente a qualidade extremamente

afetiva do recitativo que o diferenciava dos métodos da renascença. Aos olhos

dos compositores que ainda seguiam as técnicas composicionais

renascentistas o recitativo não foi mais que um experimento ridículo que

demonstra que seu autor “não é um bom músico”, como cita Manfred F.

Bukofzer, em seu livro Music in the Baroque Era. Para um compositor

renascentista nada era mais fácil que criar um recitativo, desde que se tivesse

a mais superficial familiaridade com a técnica musical.

A invenção do recitativo foi intimamente conectada com o nascimento da

ópera, em que a Camerata tentou recriar elementos e estruturas da antiga

tragédia grega. A adequação do ritmo e da entoação, a variedade da

expressão dramática, a leveza e a sobriedade dos ornamentos melódicos são

algumas características que os monodistas utilizavam na sua busca pela

expressividade musical.

4.1 O PREFÁCIO DE LE NUOVE MUSICHE

Publicada em 1602, a importante coleção de canções para solista e

baixo contínuo intitulada Le nuove musiche impulsionou importantes mudanças

estilísticas que aconteceram no início do século XVII.

Segundo Tim Carter, em seu artigoOn the composition and Performance

of Caccini’s Le nuove musiche (1602), Le nuove musiche foi impresso por

Marescotti, em Florença. A dedicatória data de 1601, mas a licença para

impressão é de 1602. Esse volume também foi impresso em Veneza, em 1607,

por Alessandro Raverii e em 1615, por Giacomo Vincenti.

O prefácio desta obra, intitulado “Aos leitores” traz informações sobre os

ideais composicionais de Caccini e como suas monodias deveriam ser

cantadas. Caccini explica que foi necessário escrever esse prefácio, pois suas

canções, que já haviam atingido popularidade entre famosos cantores da Itália,

estavam sendo “deformadas” e ”danificadas”.

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Ele considerava, também, que recursos como o crescendo e o

decrescendo da voz e ornamentos como grupo, trilo, exclamação e outros eram

empregados de maneira indiferente, sem considerar o sentido das palavras,

apesar de pertencerem ao bom estilo de cantar. Ele utilizou-se de

ornamentação graciosa para quebrar a austeridade de suas composições e

agradar ao público que apreciava o virtuosismo.

O dicionário The New Grove afirma que a ornamentação no primeiro

barroco italiano foi indissociável da expressão musical. Cantar e tocar com

“graça” era um conceito estético tão ligado a ornamentação que o termo grazie

era utilizado para designar pequenas escalas ornamentais presentes na música

da época. Segundo Robert Donington, em seu livro Baroque Music: Style and

Performance: A Handbook, a ornamentação no barroco é mais que uma

decoração é uma necessidade, mas lembra que deve ser feita observando-se

as regras.

Caccini explica que ornamentos como trillo (trilo) e gruppo (grupos) são

“elementos necessários a tudo que se pode escrever e vincular à graça”, mas

adverte que dependendo da maneira como são escritos podem causar o efeito

contrário. Por isso ele descreve, em seu prefácio, como empregá-los. Este é

um exemplo de que apenas a notação musical não diz tudo a respeito da

execução de uma peça do início do século XVII.

A respeito da maneira como compôs seus madrigais e árias e como se

utilizou da ornamentação, Caccini escreve:

Nestes madrigais, assim como nestas árias, sempre busquei a

imitação do sentido das palavras, procurando as notas mais ou

menos expressivas de acordo com o sentimento delas, e que

tivessem particular graça, dissimulando o mais que pude a arte do

contraponto. Coloquei consonâncias nas sílabas longas, as evitei nas

breves, observando as mesmas regras na elaboração das

passagens, ainda que para alguns ornamentos eu tenha utilizado às

vezes algumas poucas notas, até o valor de um quarto ou de meio

compasso, geralmente sobre a sílaba breve.

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Estes se permitem porque sendo breves e não sendo passagens,

acrescentam graça e também, porque, de acordo com o

discernimento pessoal, para cada regra existem algumas exceções.

(CACCINI, 1602, conforme a tradução de MULLER, 2006).

Caccini explica que se a música pudesse reforçar o sentimento das

palavras seria capaz de mover os afetos. Esse era seu objetivo. Também

acreditava que estava dando um passo inicial para outros, que depois dele,

pudessem chegar à perfeição.

No decorrer desse prefácio Caccini aborda também o conceito de

sprezzatura, uma maneira livre e expressiva de cantar quase falando e rubato.

Mas explica que esse estilo especial de canto declamatório e apaixonado é

próprio desse tipo de composição monódica. Não caberia, por exemplo, nas

árias com ritmo de dança, onde o texto se sujeita à música e o canto deve ser

vivo e alegre. Dart usa esta citação de Caccini ao abordar a diferença entre as

árias e monodias:

Compreenda-se, por conseguinte, que nas árias ou correntes

para dançar, em vez dessas paixões, deve-se usar apenas um tipo de

canto vivo e alegre, a ser sustentado e regido pela própria ária.

Nesta, como às vezes pode haver lugar para alguma exclamação,

essa vivacidade de cantar deve ser omitida em tal lugar, e paixão

alguma que saiba a languidez deve ser usada. Em conseqüência do

que, vemos quão necessário para um músico é ter certo critério, que

às vezes costuma prevalecer sobre a arte. (CACCINI, 1602, conforme

a tradução em DART, 1954).

O prefácio de Le nuove musiche contém fundamentos e informações

sobre os rumos que a música vocal tomou a partir de 1600 e é uma fonte de

conhecimentos específicos para a interpretação das monodias de Caccini.

Entre as monodias que Caccini compôs uma se destaca por sua grande

difusão na Europa no início do século XVII. É o madrigal Amarilli mia bella,

presente até hoje em diversas antologias de música vocal e amplamente

utilizada na pedagogia do canto. Tomaremos Amarilli mia bella como um

exemplo que ilustrará alterações musicais realizadas por Parisotti em sua

edição. Essas diferenças se evidenciarão através da comparação da edição de

Parisotti com a edição fac-símile de 1602.

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5 AMARILLI MIA BELLA: UMA ILUSTRAÇÃO DO PROBLEMA

Amarilli mia bella é talvez a canção mais conhecida e executada de

Caccini e existem diversas edições desse madrigal. O autor do poema

musicado por Caccini é Alessandro Guarini.

Tim Carter, em seu artigo Caccini’s Amarilli mia bella: Some questions

(and a Few Answers), explica que antes de ser publicado em 1602, esse

circulou em diversas versões manuscritas.

Em 1610 Robert Dowland inclui Amarilli mia bella em sua coletânea de

canções de vários compositores intitulada A musicall banquet. Lá Amarilli

aparece com acompanhamento realizado para alaúde. Em 1623 Nauwach

publicou a coleção Arie passegiate que inclui uma versão ornamentada de

Amarilli. E é possível encontrar algumas outras fontes além dessas, no século

XVII, demonstrando a popularidade de Caccini.

A peça Amarilli mia bella, segundo Dart, não deveria estar presente no

repertório do estudante de canto como um exercício, já que se trata de uma

monodia. Ele afirma:

Entretanto, é infelizmente verdade que quase nenhum editor ou

cantor de canções tão conhecidas como Amarilli mia bella, de

Caccini, modele s sua interpretação de acordo com as instruções

expressas pelo autor. A monodia jamais deve sr cantada como um

exercício de bel canto: ela é um estudo de declamação apaixonada,

de um tipo altamente emocional. (DART, 1954, p. 129).

5.1 COMPARAÇÃO DA EDIÇÃO DE AMARILLI DE PARISOTTI COM O FAC-SÍMILE DE 1602

Ao comparar a edição de Amarilli mia bella por Parisotti com o fac-símile

da publicação de 1602, podemos constatar as numerosas modificações que

Parisotti realiza na música e na escrita de Caccini.

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Para efeito de comparação os sinais de dinâmica e expressão e demais

acréscimos e modificações de Parisotti estão destacados em vermelho. Para

identificar essas passagens no fac-símile foram acrescentados sinais

numéricos e círculos verdes, como referência. Em seguida uma legenda,

explicitando essas modificações.

A primeira partitura que se segue é a edição de Parisotti, presente em

Arie Antiche, volume II, do final do século XIX . A partitura após a de Parisotti é

retirada do fac-símile de Le nuove musiche, do início do século XVII.

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1 Parisotti acrescenta a indicação de andamento Moderato affettuoso.

2 Parisotti muda a armadura original (com um único bemol) para a armadura

moderna de sol menor (com dois bemóis). Esta é uma convenção editorial que,

segundo Dart, evita equívocos.

3 Parisotti troca o compasso original 2/2 por 4/4. Segundo Paton, o estudante é

levado a uma execução demasiadamente lenta, devido a essa modificação de

compasso.

4 Parisotti altera o baixo contínuo. A nota original era um fá sustenido.

5 Parisotti acrescenta indicações de respiração. Essas indicações de

respiração podem ser oportunas para o aluno iniciante, mas Parisotti altera as

frases para inseri-las, o que descaracteriza a peça.

6 Parisotti troca a clave de fá na terceira linha pela clave de fá na quarta linha,

que é mais usual. Esta é uma convenção editorial que torna a leitura da peça

mais acessível, segundo Dart.

7 Parisotti acrescenta apojaturas, que não aparecem na escrita de Caccini.

8 Parisotti altera o texto do poema. Ele troca o verso prendi questo mio strale

(pegue esta minha flecha) por dubitar non ti vale (você não deve duvidar). Essa

substituição dos versos causa uma perda dramática no sentido do poema.

9 Parisotti altera a configuração rítmica deste ornamento.

10 Parisotti muda a configuração rítmica deste ornamento e acrescenta

apojatura dupla, não usual na escrita de Caccini.

11 Parisotti altera a configuração rítmica para acrescentar uma respiração no

meio da frase.

12 Parisotti altera a harmonia indicada por Caccini. No original este era um

acorde de sol maior e não menor, caracterizando a terça da picardia, comum

na escrita de Caccini.

13 Parisotti, novamente altera a configuração rítmica para acrescentar uma

respiração.

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14 Parisotti altera a configuração desta cadência melódica. Estas

semicolcheias eram fusas no original. Ele também acrescenta uma acciacatura,

que não é usual na escrita de Caccini.

15 Parisotti altera configuração rítmica da terminação. Esta terminação não é

comum na escrita de Caccini.

4.2 EDIÇÕES MODERNAS DE AMARILLI MIA BELLA

Embora seja possível encontrar o madrigal Amarilli mia bella em

diversas antologias de música vocal, uma das versões mais familiares e

acessíveis a intérpretes e estudantes de canto ainda hoje é a de Parisotti,

presente em Arie Antiche volume 1 publicada em Milão, pela editora Ricordi,

em 1885.

Parisotti mudou a música de Caccini de muitas maneiras. Ele utilizava a

fórmula de compasso 4/4, que segundo o editor John Glenn Paton, leva os

alunos a uma execução demasiadamente lenta e faz o tempo ficar muito

estrito.

H. Wiley Hitchcock publicou, em 1970, uma edição moderna integral de

Le nuove musiche contendo também uma versão traduzida do prefácio,

tradução de cada poema, fontes e comentários sobre Caccini e Le nuove

musiche. Recentemente, em 2009, Hitchcock publicou uma reedição dessa

mesma obra. Essa edição de Hitchcock, por ser limpa e não ter realização do

baixo contínuo é mais adequada para um aluno avançado ou um profissional.

Em 1949 Knud Jeppesen publicou uma coletânea de árias antigas que

inclui Amarilli e outras canções de Caccini. Intitulada La flora, em três volumes,

essa coleção provê uma edição fiel à música original de Caccini. As indicações

de execução que são do editor são facilmente distinguidas por estarem em

itálico. Hitchcock considera essa a melhor versão para canto e piano. É uma

opção de edição performática que se mantém coerente com a música original.

Pode ser oportuna para um aluno de nível médio.

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Em 1961 Luigi Dallapiccola publica também uma coletânea de árias

antigas. Pode-se perceber que ele foi bem fiel a música de Caccini, exceto a

realização do baixo contínuo. Caccini, através do baixo figurado, estabelecia

exatamente em que oitava os acordes seriam construídos. Dallapiccola utiliza

acordes muito abertos.

O professor John Glenn Paton dedicou-se, por quinze anos, a pesquisar

as fontes originais de árias antigas que eram cantadas e utilizadas no ensino

do canto. Em 1991 ele publicou, pela editora Alfred Publishing, a coletânea

Twenty-six Italian Songs and Arias, que contém uma edição de Amarilli mia

bella, de Caccini.

A edição de Paton é didaticamente interessante por oferecer um texto

explicando a idéia poética, o acompanhamento, as fontes e transcrição fonética

da peça. Também traz um fac-símile da primeira publicação. É uma opção de

partitura performática, com muitas informações didáticas e adequada para um

aluno que está sendo introduzido às árias antigas.

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CONCLUSÃO

A música histórica ocupa um papel preponderante no cenário musical

atual. A performance historicamente orientada é amplamente exigida dos

músicos. Essa realidade demanda dos intérpretes uma formação musical que

contemple os conhecimentos musicais, estilísticos e técnicos de cada época.

No século XIX muitas edições de música antiga foram publicadas

contendo acréscimos de indicações de execução e modificações radicais.

Muitas vezes essas indicações e modificações descaracterizam o estilo da

época e a escrita dos compositores. A notação musical se adaptou a cada

época e às suas necessidades. O conhecimento das diferenças da notação

musical e escrita dos compositores é pontual para a interpretação de suas

composições com estilo.

O movimento da performance histórica da música antiga estimulou

muitas pesquisas e publicações musicológicas sobre a música do passado e

suas tradições de execução. Embora a coletânea de árias antigas Arie Antiche

editada por Parisotti tenha sido uma importante contribuição para a pedagogia

do canto nos século XIX e XX, hoje temos a disposição outras edições de árias

antigas mais coerentes com as fontes originais e, portanto, mais oportunas

para introduzir os alunos de canto iniciantes ao repertório vocal de música

antiga.

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