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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM RECURSO PEDAGÓGICO QUE FAVORECE O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DAS CRIANÇAS JONATAS NUNES RODRIGUES Natal/RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA

A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM RECURSO PEDAGÓGICO QUE

FAVORECE O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DAS CRIANÇAS

JONATAS NUNES RODRIGUES

Natal/RN

2016

JONATAS NUNES RODRIGUES

A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM RECURSO PEDAGÓGICO QUE

FAVORECE O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DAS CRIANÇAS

Artigo apresentado ao Curso de

Pedagogia do Centro de Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como requisito parcial para

obtenção do Grau de Licenciatura em

Pedagogia, com orientação da Profª. Dra.

Heles Cristina Ferreira de Souza.

Natal/RN

2016

A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM RECURSO PEDAGÓGICO QUE

FAVORECE O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DAS CRIANÇAS

JONATAS NUNES RODRIGUES

Artigo apresentado ao Curso de

Pedagogia do Centro de Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte como requisito parcial para

obtenção do Grau de Licenciatura em

Pedagogia.

Aprovado em 15 de junho de 2016 com nota 9,0

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Dra. Heles Cristina Ferreira de Souza (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________

Ms. Andrea Morais Diniz (Avaliadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________

Edilma Vasconcelos Negreiros (Avaliadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Sumário

Resumo........................................................................................................................5

Introdução.....................................................................................................................6

O que a música proporciona às crianças...................................................................12

A música e sua relação com as outras áreas ou eixos do

RCNEI........................................................................................................................17

Considerações Finais.................................................................................................23

Referências................................................................................................................25

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A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM RECURSO PEDAGÓGICO QUE

FAVORECE O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DAS CRIANÇAS

Jonatas Nunes Rodrigues

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Resumo

Este artigo discute e reflete a importância do trabalho com a música na Educação Infantil, favorecendo os processos de ensino e aprendizagem, bem como o desenvolvimento das crianças em várias instâncias (cognitivo, motor, etc.) e na aquisição dos conhecimentos das diversas áreas (eixos do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil). Procura destacar como o professor, mediando o processo, pode aliar a música como recurso pedagógico para tornar o ensino e a aprendizagem mais lúdica e eficaz, de acordo com as necessidades intelectuais e físicas das crianças de Educação Infantil, visando seu desenvolvimento integral. Tomamos com referência teórica as ideias de: Ilari e Broock (2013), Bastian (2009), Souza (2009), dentre outros, além de documentos como o Referencial Curricular para Educação Infantil (BRASIL, 1999). Os estudos destacam que é possível trabalhar com a Música na Educação Infantil, envolvendo as artes visuais, o movimento, a linguagem oral e escrita, entre outros campos de experiências.

Palavras-chave: Criança. Música. Educação Infantil.

Licenciado em Pedagogia. E-mail: [email protected] Artigo apresentado a Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do Grau de Licenciatura em Pedagogia, sob orientação da Profª Dra. Heles Cristina Ferreira de Souza. Natal, 2016.

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A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM RECURSO PEDAGÓGICO QUE

FAVORECE O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DAS CRIANÇAS

Introdução

A música é um elemento cultural e social, elaborado historicamente por

diferentes grupos sociais e sujeitos. Possivelmente acompanha o homem em todas

as etapas da vida, da vida intra-uterina até a vida adulta e a velhice. A mãe com

suas cantigas de ninar, se comunica com o bebê desde o inicio da gestação.

Posteriormente, o bebê ouve sons, vozes e até cantigas de ninar. Esse “aconchego”

cultural e afetivo vem carregado de emoções, sentimentos e atitudes. O RCNEI

(BRASIL, 1998, p. 51) confirma que:

Encantados com o que ouvem, os bebês tentam imitar e responder, criando momentos significativos no desenvolvimento afetivo e cognitivo, responsáveis pela criação de vínculos tanto com os adultos quanto com a música. Nas interações que se estabelecem, eles constroem um repertório que lhes permite iniciar uma forma de comunicação por meio dos sons.

Nesse sentido, entendemos que a música e a interação com objetos sonoros

proporciona, aos bebês, uma compreensão do mundo. Ao nascer, a criança vai

progredindo na prática do balbucio, imitação de sons, da fala, do canto, explorando

um universo sonoro que pode ser produzido por ela mesma e, também, através do

manuseio de algum objeto sonoro, percebendo que ela pode acompanhar o ritmo

com seu corpo e estabelecer relação com o som, expressando-se.

Na primeira infância, dependendo do núcleo social e acesso a cultura local e

global, a criança vai sendo inserida na cultura e na sociedade também através da

música. As crianças ouvem e cantarolam músicas em casa e na escola. Às vezes as

classificamos como de criança ou musicas de adulto, enfim, um repertório musical

amplo de acordo com o meio cultural ao qual pertencem. Nessa perspectiva, cabe à

escola oferecer um repertório musical de boa qualidade: letras que falem da infância,

da amizade, do brincar, dos valores humanos etc. Temos um repertório cultural e

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musical imenso, principalmente no Brasil, assim, é papel da escola e dos

educadores selecionar as músicas, conhecer o significado das letras. As creches e

pré-escolas, no Brasil, cada vez mais introduzem em sua rotina diária o momento do

cantar, seja no momento da roda de conversa (roda inicial) ou no momento da

Música, ou do brincar propriamente dito.

Na Educação Infantil se tem a necessidade de um fazer pedagógico rico em

ludicidade, movimento, interação com o meio e com o outro, para atender às

necessidades de crianças que, nessa faixa etária de zero a cinco anos, estão se

desenvolvendo em vários aspectos: físico, intelectual, psicológico e social.

A música, bastante conectada ao lúdico e ao brincar, contribui para

desenvolvimento desses aspectos (físico, intelectual, psicológico e social) e para a

construção do conhecimento social e cultural no sentido de que:

Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos etc., são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados (BRASIL, 1998, p. 48).

Portanto, não se trata simplesmente de aula de música, mas de música na

aula. O que se pretende demonstrar aqui não é a formação de profissionais de

música, mas proporcionar às crianças a vivencia e o usufruto dos benefícios e

prazeres que a música favorece nos espaços de Educação Infantil. A música já é

bastante presente no cotidiano das crianças, Ilari e Broock (2013, p. 69) afirmam

que:

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010, p. 12) definem Educação Infantil como sendo a primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social.

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No âmbito da educação musical infantil não é diferente, uma vez que bebês e crianças estão fazendo música e brincando com ela em seu cotidiano. Elas cantam sozinhas ou em grupo, tocam um instrumento musical ou uma latinha, dormem acalantadas por seus pais, dançam ouvindo diferentes tipos de música, brincam de jogos de mãos, envolvem-se com músicas, independentemente do contexto, da cultura, da classe social ou da idade.

Souza (2009, p. 10), em relação às experiências das crianças com a música,

também ressalta que:

Também as crianças frequentemente escutam rádio ao lado de outras atividades. Elas o aproveitam como meio de retração ou em companhia de outras crianças quando assume a função de acompanhamento de outras atividades. Ver televisão e ouvir rádio simultaneamente lhes parece uma tarefa muito simples. Coloca a criança em situações de selecionar, escutar, cantar e dançar [...]. As mídias auditivas/visuais estão firmemente ancoradas no dia a dia das crianças. Em seu uso, reflete-se principalmente a variedade de funções da música à qual elas recorrem. A música corresponde à necessidades de relaxamento, autodeterminação, movimento corporal e animação.

Esse relato nos faz pensar nos contatos das crianças com a música, que em

décadas atrás acontecia através da televisão, do rádio e das radiolas. Atualmente,

com o avanço das tecnologias, a criança tem contato com os tabletes, os celulares,

os aparelhos de dvd’s e outros aparelhos que reproduzem música. Diante dessas

constatações, questionamos por que não utilizarmos um recurso tão presente nos

ambientes familiares e escolares, contribuindo para o desenvolvimento das crianças

e atendendo as suas necessidades físicas, emocionais e cognitivas?

Ilari e Broock (2013, p. 34), ao discutirem sobre a interação das crianças com

o mundo da música, afirmam que: “as crianças mergulham na escuta com uma

prontidão que não é simplesmente do ouvido, mas do corpo, da mente e do afeto”.

Nessa direção, a música contribui para a expressividade das crianças, para

percepção, reflexão, imaginação, movimento, equilíbrio, autoestima, integração

social, ampliação do vocabulário, dentre vários outros aspectos.

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É importante estar atento a que tipo de música (gênero musical, repertório) os

alunos gostam, ao que eles ouvem. Que significados e conhecimentos essa música

está trazendo, que mensagem é repassada através dessas canções que as crianças

entoam diariamente, toda essa percepção contribui para que o professor possa levar

em consideração os conhecimentos prévios dos alunos e contextualizar os novos

conhecimentos de forma mais precisa. Para Ilari e Broock (2013, p. 131):

Abordar o conhecimento novo com base no que a criança já sabe pode ser uma forma de tornar as aprendizagens mais significativas. Pode também significar transformar o conteúdo a ser aprendido em uma espécie de jogo, característico dessa fase de desenvolvimento humano, por meio do qual a criança possa aprender brincando. Podemos ainda entender que considerar a criança como ponto de partida é propor atividades de som e movimento, de modo que ela vivencie como corpo aqueles elementos necessários à compreensão musical. Por fim, um modo antigo e não menos difundido entre os professores é aquele que aproveita o mundo mágico, a fantasia e a imaginação infantis como motivação para o aprendizado. De modo geral, a reflexão pedagógica que dá suporte a esses enfoques tem em comum a preocupação em engajar as crianças em atividades que capturem o seu interesse, para então introduzir os conhecimentos novos.

Essas músicas que fazem parte do cotidiano das crianças carregam em sua

composição alguma mensagem que atribui significado à vivência da criança que a

ouve e capta, guardando em sua memória. Talvez nem tudo que a criança ouça lhe

faça sentido naquele determinado momento, mas ela pode se deixar levar pelo ritmo

e pela emoção que lhe é proporcionada e que de certa forma faz parte de sua

realidade, como sujeito que vive em meio a uma sociedade produtora de cultura.

Segundo Ilari e Broock (2013, p. 13)

Imbuídos de significados, sons tornam-se música. Motivos, gestos, temas, melodias, passagens e movimentos inteiros assumem sentidos, sugerem ideias, provocam associações, evocam memórias. Como escrevia Hanslick (1957, pp. 87-88), arabescos e caleidoscópios de sons, formas plásticas e ondas de movimento soam graciosos ou desengonçados, delicados ou enérgicos, doces ou agressivos. Vivências e memórias de hesitação, monotonia, contraste, continuidade ou grandiosidade operam como plano de

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fundo e espelham padrões análogos percebidos nas músicas: frases curtas ou fragmentadas; gestos longos, expansivos; frases hesitantes, retraídas; temas assertivos e eloquentes.

As crianças associam a música com experiências, emoções e informações

que elas já vivenciaram no seu dia a dia com o outro (família, amigos, etc.),

possibilitando ainda mais a aprendizagem. Na atualidade, pode-se observar que

muitas canções e intérpretes bastante apreciados pelas crianças pequenas, trazem

canções educativas, repassam valores e conhecimentos (respeito, não mentir,

cuidado com os animais, se alimentar bem, etc.) que podem ser trabalhados em sala

de aula e atrelados aos conteúdos pedagógicos propostos. Sendo assim, trazendo

para a sala de aula algo lúdico que faz parte do dia a dia da criançada e que

contribui em inúmeros fatores para desenvolvimento do aluno, facilitando a

assimilação e aquisição durante os processos de aprendizagem formal.

Ilari e Broock (2013, p. 133) declaram que:

A cultura musical infantil é hoje reconhecida como um saber a partir do qual as crianças compreendem a vida em sociedade. A continuidade dessas aprendizagens na escola traz a necessidade de refletirmos sobre os fins da música na educação e de como podemos auxiliar as crianças na aquisição de conhecimentos que enriqueçam suas experiências cotidianas com a música.

Sendo assim, a música efetua forte atração sobre as crianças, ainda que de

maneira inconsciente, faz com que se relacionem com ela. Quando trabalhada em

conexão com as linguagens exploradas no universo da Educação Infantil, a música

exerce grande influência contribuindo para a construção e ampliação das mesmas,

de forma mais alegre e prazerosa. Entretanto, os professores e professoras devem

estar atentos ao que se está cantando com as crianças e desenvolver as atividades

com um objetivo claro. É necessário desenvolver a criticidade, saber o que se está

cantando ou tocando, para quê e para quem. Pois, apesar do canto já estar presente

diariamente na rotina da maioria das escolas de Educação Infantil, pode ser

explorado de forma mais criteriosa e também de acordo com os conhecimentos

curriculares, elegendo um repertório que envolva as crianças e definindo objetivos a

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serem alcançados a partir do trabalho com aquela canção. De acordo com o RCNEI

(1998, p. 59):

O canto desempenha um papel de grande importância na educação musical infantil, pois integra melodia, ritmo e — frequentemente — harmonia, sendo excelente meio para o desenvolvimento da audição. Quando cantam, as crianças imitam o que ouvem e assim desenvolvem condições necessárias à elaboração do repertório de informações que posteriormente lhes permitirá criar e se comunicar por intermédio dessa linguagem. É importante apresentar às crianças canções do cancioneiro popular infantil, da música popular brasileira, entre outras que possam ser cantadas sem esforço vocal, cuidando, também, para que os textos sejam adequados à sua compreensão. Letras muito complexas, que exigem muita atenção das crianças para a interpretação, acabam por comprometer a realização musical. O mesmo acontece quando se associa o cantar ao excesso de gestos marcados pelo professor, que fazem com que as crianças parem de cantar para realizá-los, contrariando sua tendência natural de integrar a expressão musical e corporal.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, quanto à Educação

Infantil, em seu Art. 29º destaca que “A educação infantil, primeira etapa da

Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até

5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,

complementando a ação da família e da comunidade” (Lei nº 12.796, de 2013). A

música é um eixo que pode propiciar o desenvolvimento de todos esses aspectos

contemplados de uma forma lúdica e interativa, portanto essencial para o alcance da

finalidade da Educação Infantil.

Considerando muitos avanços nas políticas para a Educação Infantil,

encontramos o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,

1999), que foi um documento elaborado na década de 1990 e que ainda tem uma

forte influência nas práticas dos professores de todo o Brasil. O documento propõe

um currículo amplo para as creches e pré-escolas brasileiras, com base em teorias

sócio interacionistas e progressivas, de acordo com os eixos: Movimento, Artes

visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade, Matemática e também

Música que é considerada um dos eixos integrantes para ser trabalhado com as

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crianças, e que pode contemplar os conteúdos de todos os outros eixos, se for

contextualizada e trabalhada de uma forma direcionada.

O Referencial Curricular (BRASIL, 1999) e outros documentos, valorizam o

ensino de Música como recurso educativo facilitador, potencializador e transversal

do processo de ensino-aprendizagem, que envolve os demais eixos. Considerando

também que, através das canções, são oportunizadas, às crianças, experiências

lúdicas que ampliam a exploração dos seus sentidos e da sua criatividade. Portanto,

muito importante para a formação das crianças.

O que a música proporciona às crianças

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010, p. 12)

definem criança como sendo:

Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.

Levando em consideração a criança, no período em que se encontra na

Educação Infantil, deve-se oferecer atividades que auxiliem o seu desenvolvimento

nas esferas sócio afetivas, cognitivas, linguísticas e psicomotoras, pois são

elementos interligados de forma intrínseca ao desenvolvimento. Com isso, a música

se torna essencial nos processos de ensino e aprendizagem, visto que:

Ela é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível aos bebês e crianças, inclusive aquelas que apresentem necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social (BRASIL, 1998, pág. 49).

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Segundo Langer (1957 apud ILARI; BROOCK, 2013, p. 15): “basta uma

mínima semelhança entre sons e as nossas experiências para que a imaginação

ganhe asas”. Sendo assim, a música contribui para o desenvolvimento cognitivo no

que se refere à construção do repertório simbólico das crianças e de sua capacidade

de imaginar e refletir. Swanwick (1992 apud ILARI; BROOCK, 2013, p. 14) ressalta

esse valor simbólico afirmando que:

Ainda que obras musicais não denotem elementos ou emoções específicos, nossas vivências e memórias de delicadeza, agressividade, vigor, hesitação, monotonia, contraste ou continuidade ateiam brasas à imaginação. Eventos plásticos de peso, espaço, movimento e tensão relativos, contidos em uma obra, relacionam-se a eventos vividos e guardados em nossa memória.

Ilari e Broock (2013, p. 20) ressaltam a importância da música na Educação

Infantil, dizendo que:

Desde as primeiras vivências, é fundamental experimentar música em toda a sua riqueza, seu fluxo, suas surpresas e sensações. Diferentes culturas, gostos, épocas e estilos são excelentes fontes de ideias e significados musicais. Cada criança sorverá a escuta a seu modo, conforme seu amadurecimento cognitivo e musical lhe permitem.

A música na sala, nas atividades com as crianças tem sua importância não só

na ludicidade, mas também no aprendizado e na análise crítica da mesma e sua

totalidade, desenvolvendo habilidades, definindo conceitos e construindo

conhecimentos, estimulando o aluno a observar, indagar, examinar e compreender.

Através da música facilita-se a aprendizagem, tornando-a mais prazerosa e

fazendo com que o ambiente de ensino e aprendizagem se torne mais agradável e

leve, acolhedor às crianças. De acordo com Bastian (2009, p. 08) “os estudantes

que se submetem a experiências musicais alcançam níveis mais elevados de

sociabilidade, sentindo-se emocionalmente mais seguros, menos agressivos e

integrados em suas salas de aula”.

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Portanto, a prática de música em grupo na Educação Infantil, desenvolve

simultaneamente aspectos que contribuem como um instrumento eficaz de

transformação social, onde os espaços de ensino e aprendizagem podem favorecer

novas relações sociais e afetivas. A música como uma linguagem artística, pode

contribuir para a formação de valores humanos e ações nas crianças: o respeito pelo

próximo, a amizade, a afetividade, a cooperação exigida em atividades coletivas, a

comunicação, a concentração, a reflexão e a união da turma no intuito de seguir as

regras e obter resultados que lhes sejam comuns, como cantar e realizar

coreografias por exemplo. Nesse sentido, Ilari e Broock (2013, p. 123) confirmam

que:

O poder agregador das atividades musicais propicia às crianças um modo peculiar de se relacionarem; cantando, dançando e recitando versos, elas aprendem uma linguagem comum capaz de criar e manter seus laços de amizade. Compartilhando o mesmo tempo, por meio da música, as crianças aprendem o que é preciso saber para viver em grupo.

Na formação global das crianças, devemos nos preocupar também em

propiciar condições para o desenvolvimento da expressividade, das habilidades

motoras, da afetividade e da percepção sensorial, para além do ensino de

conhecimentos sistematizados. A música intervém na nossa maneira de pensar e

agir, pois ela mexe com os nossos sentidos. Interagindo com a música os sujeitos

poderão: refletir, imitar, criar, sentir, imaginar, perceber, expressar sentimentos,

ideias e valores, desenvolver a linguagem, estimular a memória e a concentração,

além de facilitar a comunicação do aluno consigo mesmo, com o outro e com o meio

em que se está inserido, promovendo a inclusão social e cultural.

Ilari (2006 apud ILARI; BROOCK, 2013, p. 64) atesta a música como sendo

facilitadora de “atividades que promovem a aproximação de indivíduos e da criação

de cenários (i.e., a criação dos chamados ‘climas propícios’) para o desabrochar das

relações interpessoais de natureza amorosa que constituem a base da continuação

da espécie”. Por meio da música, as crianças conhecem-se a si mesmas e ao outro,

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atrelando mais sentido à vida, tornando-se aptas ao progresso e sustendo da

imaginação e da criatividade.

Desde que nasce, a criança necessita se desenvolver ritmicamente. O mundo

que a cerca já expressa uma abundância de ritmos que são expressos, por exemplo,

nos passos das pessoas, nos ponteiros do relógio, nas batidas do coração, no piscar

dos olhos, na voz humana etc. Como meio sonoro, a música contribui para a noção

rítmica da criança desde seus primeiros anos de vida, fazendo com que ela

compreenda melhor também o mundo que a envolve.

As execuções musicais propiciam incontáveis oportunidades para que a

criança aperfeiçoe sua habilidade motora, aprendendo a ter controle sob seus

músculos e movendo-se com desenvoltura. Atividades de dança, cantar fazendo

gestos, bater palmas e pés, são práticas importantes para a criança, pois concedem

o desenvolvimento da noção rítmica, da coordenação motora e do equilíbrio. O

corpo converte-se em um aliado nos processos de ensino e aprendizagem,

propiciando, através de movimentos distintos, oportunidades para a aprendizagem.

Vale ressaltar o que garante o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 58) ao certificar que:

O professor estará contribuindo para o desenvolvimento da percepção e atenção dos bebês quando canta para eles; produz sons vocais diversos por meio da imitação de vozes de animais, ruídos etc., ou sons corporais, como palmas, batidas nas pernas, pés etc.; embala-os e dança com eles. As canções de ninar tradicionais, os brinquedos cantados e rítmicos, as rodas e cirandas, os jogos com movimentos, as brincadeiras com palmas e gestos sonoros corporais, assim como outras produções do acervo cultural infantil, podem estar presentes e devem se constituir em conteúdos de trabalho. Isso pode favorecer a interação e resposta dos bebês, seja por meio da imitação e criação vocal, do gesto corporal, ou da exploração sensório-motora de materiais sonoros, como objetos do cotidiano, brinquedos sonoros, instrumentos musicais de percussão como chocalhos, guizos, blocos, sinos, tambores etc.

“A audição de obras musicais enseja as mais diversas reações: os bebês

podem manter-se atentos, tranquilos ou agitados”. (BRASIL, 1998, p. 51). Além

disso, Ilari e Broock (2013, p. 45) salientam o contato dos bebês com a música

desde cedo e sua relevância afirmando que:

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Pequenas brincadeiras que os pais estabelecem com os seus bebês – como cantar, dançar, dar palmadinhas, jogar com sons variados – são a base da comunicação emocional, mas também as primeiras lições na aquisição de competências linguísticas e musicais.

A música prende a atenção da criança e a permite ouvir, cantar e dançar,

despertando-a para que produza diversos movimentos. O uso de distintos tipos de

música é uma questão atrelada a cada situação, acompanhada de gestos e

movimentos, deve-se tomar cuidado para não se tornem mecânicos e repetitivos,

sem autenticidade. Quando a criança ouve uma melodia, cada uma internaliza e

interpreta-a de maneira singular e particular. Com isso, a música deve contribuir para

o desenvolvimento cognitivo e motor permitindo que a criança desperte a

criatividade e externalize seus sentimentos e emoções. Conforme Schubert e

McPherson (2006 apud ILARI; BROOCK, 2013, p. 55):

Aos três anos de idade, a correspondência direta entre música e emoções básicas é evidente, e que ela se mantém até aos sete anos, idade a partir da qual as associações culturais começam a influenciar a apreciação emocional, possibilitando também a discriminação de emoções pouco intensas.

A música é um recurso muito rico, “ao se juntar música, voz e corpo, a

atividade tem grande potencial lúdico” (ILARI e BROOCK, 2013, p. 179). Quando se

trabalha com os sons, a audição é aguçada, passando a distinguir e separar melhor

os tipos de som; ao dançar ou acompanhar movimentos se desenvolve a

coordenação motora e também a atenção, a visão passa a ser utilizada com maior

intensidade; ao cantar ou imitar sons a criança descobre suas capacidades e

estabelece ligações com o meio em que está inserida. A música consegue encantar

as crianças com seus elementos: melodia, harmonia e ritmo.

Diversas atividades podem ser desenvolvidas a partir do trabalho com a

música, como: cantigas, brincadeiras de roda, rimas, parlendas, apreciação de

letras, ritmos e sons, produção de materiais sonoros, etc. O espaço da música na

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Educação Infantil não necessita ser definido precisamente por aulas exclusivas de

música e não precisa se ter uma formação específica em Música para se

desenvolver essas atividades, o próprio professor de Educação Infantil pode

concretizá-las na rotina. É importante que o exercício dessas atividades não seja

superficial e desprendido do projeto pedagógico, mas que esteja interligado ao

currículo. O RCNEI (BRASIL, 1998, p. 67) reconhece que:

Integrar a música à educação infantil implica que o professor deva assumir uma postura de disponibilidade em relação a essa linguagem. Considerando-se que a maioria dos professores de educação infantil não tem uma formação específica em música, sugere-se que cada profissional faça um contínuo trabalho pessoal consigo mesmo no sentido de: sensibilizar-se em relação às questões inerentes à música; reconhecer a música como linguagem cujo conhecimento se constrói; entender e respeitar como as crianças se expressam musicalmente em cada fase, para, a partir daí, fornecer os meios necessários (vivências, informações, materiais) ao desenvolvimento de sua capacidade expressiva.

A Música e sua relação com as outras áreas ou eixos do RCNEI

Portanto, se a Música produz tão grandes estímulos para o desenvolvimento

infantil, por que não utilizar essas capacidades para desenvolvimento dos

conhecimentos curriculares? A música propicia o relacionamento interpessoal,

enriquece e é aprendida juntamente com os diversos eixos ou áreas do

conhecimento, como a matemática, linguagem oral e escrita, movimento, etc. Ilari e

Broock (2013, p. 70) afirmam que:

Podemos entender o interesse das diferentes áreas de conhecimento na vida musical das crianças, uma vez que elas, fazendo e brincando com música, se desenvolvem não só musicalmente, mas em outros aspectos também. (...) Todavia, não há um único educador musical que não tenha ouvido de algum pai ou colega de outra área que ensinar música para crianças pequenas é muito importante, porque isso as torna mais inteligentes ou porque as auxilia em outras áreas do conhecimento – especialmente no aprendizado da matemática ou na aquisição de línguas estrangeiras.

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Como recurso facilitador dos processos de ensino e aprendizagem, vasto

para preparação de atividades, a música atende distintos aspectos do

desenvolvimento infantil: emocional, mental, físico e social. Assim, o trabalho

sistemático com Música promove diversas áreas do conhecimento e torna as aulas

mais atraentes e animadas, também como ferramenta de suporte nas brincadeiras,

enriquecendo as metodologias com essa estratégia pedagógica, consoante sugere o

RCNEI (BRASIL, 1998, p. 59)

É muito importante brincar, dançar e cantar com as crianças, levando em conta suas necessidades de contato corporal e vínculos afetivos. Deve-se cuidar para que os jogos e brinquedos não estimulem a imitação gestual mecânica e estereotipada que, muitas vezes, se apresenta como modelo às crianças.

Através da música, a criança pode se expressar livremente com o corpo

explorando gestos e movimentos, pode ainda explorar o espaço através da

locomoção e se situar nele. Por meio da manipulação de objetos sonoros, as

crianças podem produzir ritmos, desenvolvendo sua capacidade de planejar e

antecipar ações, pensar antes de agir, “estabelecendo, desde então, um jogo

caracterizado pelo exercício sensorial e motor com esses materiais (BRASIL, 1998,

p. 51)”. Danças, brincadeiras rítmicas e de movimento a partir da música propiciam

habilidades de controle dos movimentos do corpo pela criança “explorando gestos

sonoros, como bater palmas, pernas, pés, especialmente depois de conquistada a

marcha, a capacidade de correr, pular e movimentar-se acompanhando uma música

(ibid.)”, atendendo aos objetivos postos pelo eixo MOVIMENTO, ampliando as

capacidades de expressividade, equilíbrio e coordenação.

O RCNEI (BRASIL, 1998, p.15) nos revela que:

As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e

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pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo.

E também confirma a relação música-movimento afirmando que:

Brincadeiras que envolvam o canto e o movimento, simultaneamente, possibilitam a percepção rítmica, a identificação de segmentos do corpo e o contato físico. A cultura popular infantil é uma riquíssima fonte na qual se pode buscar cantigas e brincadeiras de cunho afetivo nas quais o contato corporal é o seu principal conteúdo, como no seguinte exemplo: “• Conheço um jacaré • que gosta de comer. • Esconda a sua perna, • senão o jacaré come sua perna e o seu dedão do pé • ”. Os jogos e brincadeiras que envolvem as modulações de voz, as melodias e a percepção rítmica — tão características das canções de ninar, associadas ao ato de embalar, e aos brincos, brincadeiras ritmadas que combinam gestos e música — podem fazer parte de sequências de atividades. Essas brincadeiras, ao propiciar o contato corporal da criança com o adulto, auxiliam o desenvolvimento de suas capacidades expressivas. Um exemplo é a variante brasileira de um brinco de origem portuguesa no qual o adulto segura a criança em pé ou sentada em seu colo e imita o movimento do serrador enquanto canta: “• Serra, serra, serrador, • Serra o papo do vovô. • Serra um, serra dois, • serra três, serra quatro, • serra cinco, serra seis, • serra sete, serra oito, • serra nove, serra dez! • ” (BRASILI, 1998, p. 30, grifo do autor).

O RCNEI (BRASIL, 1998) acusa a prática de como a música vem sem sendo

tratada nos espaços de Educação Infantil, de forma mecânica e estereotipada, com

mera reprodução automática de gestos corporais:

A música no contexto da educação infantil vem, ao longo de sua história, atendendo a vários objetivos, alguns dos quais alheios às questões próprias dessa linguagem. Tem sido, em muitos casos, suporte para atender a vários propósitos, como a formação de hábitos, atitudes e comportamentos: lavar as mãos antes do lanche, escovar os dentes, respeitar o farol etc.; a realização de comemorações relativas ao calendário de eventos do ano letivo simbolizados no dia da árvore, dia do soldado, dia das mães etc.; a memorização de conteúdos relativos a números, letras do alfabeto,

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cores etc., traduzidos em canções. Essas canções costumam ser acompanhadas por gestos corporais, imitados pelas crianças de forma mecânica e estereotipada (p. 47).

Assim sendo, se faz necessário que o trabalho com a música em integração

com os demais eixos permita a livre expressão da criança, sendo executado de

maneira a proporcionar um pensar crítico e reflexivo e voltado para um contexto

educacional amplo. “A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras

capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por

meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio.”

(BRASIL, 1998, P. 45). E ainda que:

A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente. (BRASIL, 1998)

No que se refere ao eixo das ARTES VISUAIS, as crianças podem expressar

sensações, sentimentos e pensamentos que tiveram ao ouvir ou produzir música,

desempenhando diversas atividades de fazer artístico, apreciação e reflexão, como:

pinturas, desenhos, dramatização, etc. Alguns dos atributos da criação artística são

também inerentes ao fazer musical.

O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são atributos da criação artística. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo às Artes Visuais (RCNEI, 1998, p. 85).

O ritmo, o movimento, o equilíbrio, a coordenação motora fina e grossa,

desenvolvidos também através do trabalho com a música, são importantes para a

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produção do fazer artístico. Produção de objetos sonoros, por exemplo, também

envolve Artes Visuais por meio da colagem, montagem e justaposição de sucatas,

embalagens diversas, elementos da natureza, tecido, etc. (BRASIL, 1998). Na

Educação Infantil, todas as áreas de conhecimentos são entrelaçadas no fazer

pedagógico.

Deve ser considerado o aspecto da integração do trabalho musical às outras áreas, já que, por um lado, a música mantém contato estreito e direto com as demais linguagens expressivas (movimento, expressão cênica, artes visuais etc.), e, por outro, torna possível a realização de projetos integrados (BRASIL, 1998, p. 49).

Ilari e Broock (2013, p. 94) ainda firmam que “é preciso compreender que o

desenvolvimento musical e a aquisição de leitura e escrita das crianças pequenas

integram o importante e global processo de desenvolvimento infantil”. A música

possui forte ligação com o desenvolvimento da LINGUAGEM ORAL E ESCRITA.

Para o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 117) “a aprendizagem da linguagem oral e escrita

é um dos elementos importantes para as crianças ampliarem suas possibilidades de

inserção e de participação nas diversas práticas sociais”. Sem dúvidas, é bastante

notório que a música propicia o desenvolvimento da linguagem, quer seja oral ou

escrita. Através da escuta, do canto e da exploração da letra das canções a criança

melhora sua dicção e amplia o seu vocabulário. A música como situação

comunicativa, amplia o universo discursivo das crianças.

Em sua obra, Ilari e Broock (2013) trazem estudos que atestam que a

consciência fonológica facilita a aquisição de leitura e escrita em crianças pequenas.

E que o trabalho com atividades musicais (canções especialmente) aperfeiçoa as

habilidades de consciência fonológica. A consciência fonológica é “entendida como

habilidade de análise da linguagem oral a partir de suas unidades sonoras

(BARRERA; MALUF, 2003 apud ILARI; BROOCK, 2013)”.

A música proporciona que a criança possa interagir com o meio e favorece a

integração social, pois permite o brincar e o faz de conta, explorando o ambiente e

se relacionando com as pessoas. O RCNEI (BRASIL, 1998) também aborda a

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relação entre a música e o eixo NATUREZA E SOCIEDADE, pois sugere a

“participação [da criança] em atividades que envolvam histórias, brincadeiras, jogos

e canções que digam respeito às tradições culturais de sua comunidade e de outros

grupos (p. 177, grifo nosso)”. Também ressalta que “valendo-se das diferentes

linguagens (oral, desenho, canto etc.), nomeiam e representam o mundo,

comunicando ao outro seus sentimentos, desejos e conhecimentos sobre o meio

que observam e vivem (ibid., grifo nosso)”.

De acordo com BRASIL (1998, p. 179):

O trabalho com as brincadeiras, músicas, histórias, jogos e danças tradicionais da comunidade favorece a ampliação e a valorização da cultura de seu grupo pelas crianças. O professor deve propiciar o acesso das crianças a esses conteúdos, inserindo-os nas atividades e no cotidiano da instituição. Fazer um levantamento das músicas, jogos e brincadeiras do tempo que seus pais e avós eram crianças pode ser uma atividade interessante que favorece a ampliação do repertório histórico e cultural das crianças. (grifo nosso).

Com a MATÉMATICA também não é diferente, está fortemente associada ao

trabalho com a música na Educação Infantil. Isso está evidente no RCNEI (BRASIL,

1998, p. 213)

Diversas ações intervêm na construção dos conhecimentos matemáticos, como recitar a seu modo a sequência numérica, fazer comparações entre quantidades e entre notações numéricas e localizar-se espacialmente. Essas ações ocorrem fundamentalmente no convívio social e no contato das crianças com histórias, contos, músicas, jogos, brincadeiras etc. (grifo nosso).

O RCNEI (BRASIL, 1998) aponta que a construção de competências

matemáticas pela criança, ocorre simultaneamente ao desenvolvimento de outras

naturezas, como o canto. Propõe utilização da contagem oral, de noções de

quantidade, de tempo e de espaço também através de músicas. Nesse sentido,

ressalta que:

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O folclore brasileiro é fonte riquíssima de cantigas e rimas infantis envolvendo contagem e números, que podem ser utilizadas como forma de aproximação com a sequência numérica oral. São muitas as formas possíveis de se realizar o trabalho com a Matemática nessa faixa etária, mas ele sempre deve acontecer inserido e integrado no cotidiano das crianças (BRASIL, 1998. p. 218).

Portanto, a música como eixo aqui considerado transversal, isto é, que

perpassa todos os conteúdos, tem uma natureza integradora que se articula com

todos os conhecimentos inerentes a essa etapa da vida da criança na escola e tem

seu papel e importância decisiva como um eixo estruturante do currículo da

Educação Infantil.

Considerações Finais

A música já se faz presente no dia a dia das creches e pré-escolas da

Educação Infantil, entretanto, necessita ser uma prática construída, reflexiva e bem

fundamentada teoricamente, conforme mostrou o RCNEI (BRASIL,1998). Precisa

ser explorada com objetivos que atendam às necessidades das crianças em seu

desenvolvimento integral e na construção do conhecimento, diferente de como vem

sendo executada de maneira mecânica e estereotipada por alguns professores e

suas práticas.

Os estudos demonstraram que a Música, como área de conhecimento, tem

sua importância e precisa ser valorizada na Educação Infantil, pois ela propicia

desenvolvimento de capacidades individuais e coletivas essenciais para formação

da criança e de suas relações sociais e afetivas.

Os conhecimentos trazidos sobre o trabalho com a música nas atividades

cotidianas da Educação infantil, atrelados aos demais eixos de conhecimentos

presentes no RCNEI, indicam como o professor pode explorar o fazer musical

durante suas atividades e contribuir para o desenvolvimento intelectual, motor,

linguístico e social da criança.

O fazer musical, portanto, diante do que foi exposto, propicia a aprendizagem

a partir de experiências que a criança realiza no mundo, agindo e interagindo,

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criando sentidos e estabelecendo comunicação e relações com o meio e com o

outro, tendo o educador infantil como mediador desse processo.

Como ferramenta didático-pedagógica, a música tem a possibilidade de tornar

os processos de ensino e aprendizagem mais significativos e estimulantes,

favorecendo um espaço de aprendizagem alegre e agradável. As crianças

respondem de forma afetiva e corporal, pois o fazer musical as afeta tanto

fisicamente, quanto psicologicamente. Um recurso tão rico jamais poderia deixar de

ter seu espaço, pois além de contribuir com os conhecimentos curriculares, também

influencia no comportamento, na interação e expressividade dos educandos. A

prática da música no espaço de Educação Infantil combate a agressividade, acalma

os ânimos, reduz o estresse e decai comportamento de rejeição entre as crianças,

favorecendo um clima propício para um bom aprendizado e para compreensão do

que é preciso para se viver em grupo. Sendo assim, a música também é favorável

para construção da identidade e do respeito mútuo em as crianças.

O fazer musical na Educação Infantil tem caráter lúdico e educativo, de forma

indissociável. A música tem valor cultural, gera competências sociais despertando

qualidades humanas, desenvolve a criatividade, a concentração, a coordenação

motora, dentre vários outros aspectos que já foram explanados. A música soa em

cada criança mesmo que de maneira inconsciente, formando uma personalidade

ampla, deve-se apenas criar espaço para que ela possa usufruir das maravilhas e

privilégios que a música proporciona os ser humano.

Por fim, acreditamos que os benefícios que a prática da música proporciona

no espaço de Educação Infantil também são valorizados em outros espaços sociais

fora do contexto escolar. A música educa para a harmonia e a boa relação

interpessoal, por meio de diferentes ações como: tocar, cantar, dançar, improvisar,

encenar, etc. Portanto, é de responsabilidade do educador infantil organizar espaços

e metodologias favoráveis à prática da música na escola, contemplando atividades

de trabalho com a voz, com diversos objetos sonoros, canções, atividades rítmicas e

de movimento, danças, cantigas de roda, jogos e brincadeiras, sonorização de

histórias, coreografias, etc. Contribuindo, assim, para qualidade na Educação Infantil

e garantido a formação humana integral da criança em toda sua plenitude.

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REFERÊNCIAS

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em 10 de maio de 2016.

________. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&aliaa=9769-diretrizescurriculares-2012&category_slug=janeiro-2012-pdf&Itemid=30192>. Acesso em 26 de novembro de 2015.

BASTIAN, H. Música na Escola: a contribuição do ensino da música no aprendizado e no convívio social da criança. São Paulo: Paulinas, 2009.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: Conhecimento de Mundo. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/volume3.pdf>. Acesso em 26 de novembro de 2015.

ILARI, B.; BROOCK, A. (orgs.). Música e Educação Infantil. São Paulo: Papirus, 2013.

SOUZA, J. (org.). Aprender e Ensinar Música no Cotidiano. 2ª ed. Porto Alegre: Sulina, 2009.