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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS CURSO DE BIOMEDICINA IANCA QUEIROZ ANDRADE Imunodeficiências Primárias: Uma revisão sobre aquelas de maior prevalência na população. NATAL Junho, 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE BIOMEDICINA

IANCA QUEIROZ ANDRADE

Imunodeficiências Primárias: Uma revisão sobre aquelas de maior

prevalência na população.

NATAL

Junho, 2019

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Imunodeficiências Primárias: Uma revisão sobre aquelas de maior prevalência na

população.

por

IANCA QUEIROZ ANDRADE

Orientadora: Prof. Dra. Janeusa Trindade de Souto

NATAL

Junho, 2019

Monografia Apresentada à

Coordenação do Curso de

Biomedicina da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como

Requisito Parcial à Obtenção do

Título de Bacharel em Biomedicina.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

CURSO DE BIOMEDICINA

A Monografia: Imunodeficiências Primárias: Uma revisão sobre aquelas de maior

prevalência na população.

elaborada por Ianca Queiroz Andrade

e aprovada por todos os membros da Banca examinadora foi aceita pelo Curso de

Biomedicina e homologada pelos membros da banca, como requisito parcial à

obtenção do título de

BACHAREL EM BIOMEDICINA

Natal, 07 de junho de 2019

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Profª. Drª. Janeusa Trindade de Souto - Orientadora

Departamento de Microbiologia e Parasitologia

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_________________________________________

Profa. Dra. Fabiana Lima Bezerra Departamento de Microbiologia e Parasitologia Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_________________________________________

Me. Cássio Ricardo Medeiros de Souza

Instituto de Medicina Tropical

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Kaline e Chrystian, por sempre lutarem para que eu tivesse

uma educação de qualidade e irem contra a opinião de todos me colocando nas

melhores escolas para que eu tivesse uma boa formação. Além de toda dedicação e

cuidado por toda minha vida.

À minha avó e meu avô por sempre terem nos ajudado nessa jornada da vida.

Ao meu irmão Apolo, por não ter atrapalhado meus estudos depois que ficou

grande, e um conselho: estude por que no final vale a pena.

Ao meu namorado, Arthur, por toda paciência do mundo nessa fase, por toda

ajuda e carinho, e por ter me acalmado muitas vezes.

Ao meu cachorro, Jon Snow, por ser o animal mais amável desse mundo, por

ter me proporcionado tantos momentos de felicidade.

À cantora, Beyoncé por ter me ajudado com as suas músicas perfeitas nos

momentos mais difíceis e estressantes.

À minha orientadora Profa Dra. Janeusa Trindade, por toda paciência, todos os

ensinamentos e por ter ajudado tanto no processo de escrita e correção, sem você

esse TCC não teria saído. Realmente não tenho como agradecer, gratidão é o que

sinto por você!

Aos membros da banca Profa. Dra. Fabiana Lima e ao Me. Cássio Ricardo, por

terem aceitado participar do processo de avaliação.

Aos meus amigos de curso por toda ajuda acadêmica, risadas, momentos e

por terem aguentado meu mau humor diário, sem vocês teria sido difícil aguentar.

À Deus e aos espíritos de luz que nos acompanham nessa jornada de evolução.

Por fim, gostaria de agradecer a UFRN, por ser uma das melhores

universidades do Norte/Nordeste, por ter sido minha casa durante esses 4 anos e

meio, graças a investimentos na educação superior. Sem a UFRN eu não teria tido a

chance de ter uma graduação de qualidade. Gratidão enorme, espero um dia poder

retribuir.

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RESUMO

As imunodeficiências primárias são doenças causadas por falhas no sistema

imunológico do indivíduo. Essas falhas podem ocorrer devido a problemas genéticos

que impedem a expressão de proteínas cruciais para o desenvolvimento de células,

de receptores e de moléculas envolvidas nas vias de sinalização bioquímicas. As

imunodeficiências primárias são doenças subnotificadas principalmente em países em

desenvolvimento como o Brasil, e que não possuem sistemas de notificação. Além

disso, por serem doenças consideradas raras e pouco difundidas, não levantam

suspeitas na comunidade médica, levando muitas vezes o paciente a óbito por não

terem o tratamento correto. Dados epidemiológicos do Centro de Referências de

Déficits francês (CEREDIH), registra uma prevalência de 4,4 pacientes por 100 mil

habitantes, já dados dos Estados Unidos mostram uma prevalência de 1 para 1.200

pessoas, sendo a maior prevalência mundial. Na Europa, foram identificados 28 mil

pacientes em mais de 125 centros médicos. Dados da Sociedade Latino Americana

de Imunodeficiências (LASID), mostram que foram registrados 7.506 pacientes em

abril de 2019 no continente latino-americano, sendo que o Brasil registrou 1.528

pacientes em seu banco de dados, nesse mesmo período. Das imunodeficiências

primárias as mais prevalentes são as deficiências de anticorpos, sendo a mais comum

a deficiência seletiva de IgA, seguida das síndromes bem definidas com

imunodeficiência, destacando-se a Ataxia-telangiectasia como a mais prevalente. As

deficiências de células T ou combinadas, estão em terceiro lugar como as

imunodeficiências mais prevalente, sendo mais conhecidas como Imunodeficiência

combinada grave (SCIDs), e por fim as deficiências nas células fagocitárias, como a

Doença Granulomatosa Crônica, ambas aproximadamente com a mesma

prevalência. A deficiência seletiva de IgA, que é relatada como a mais frequente, pode

ocorrer de forma esporádica ou familiar, ou seja, com um gene hereditário, e já foram

descritas heranças autossômicas recessivas e autossômicas dominantes. A Ataxia-

telangiectsia é uma imunodeficiência de herança autossômica, causada por mutações

no gene da ATM, uma proteína com papel essencial na regulação e sobrevivência

celular. As deficiências de células T ou combinadas, são doenças complexas e que

possuem diversos mecanismos a serem entendidos, pois um paciente que possua

deficiência de células T não realizará a resposta imune mediada por células e pode

ter alterada também a resposta humoral. Já as deficiências nas células fagocitárias,

podem ser causadas por diversos fatores, como defeitos na migração das células até

o sítio da infecção, ou a deficiência na produção de espécies reativas de oxigênio que

matam os microrganismos dentro do fagolisossoma. Dessa forma é importante

entender os mecanismos, os aspectos clínicos e tratamentos para essas doenças,

pois a vida do paciente depende de um tratamento rápido e eficaz.

Palavras chave: Imunodeficiências primárias, revisão, epidemiologia, diagnóstico, tratamento.

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ABSTRACT

Primary immunodeficiencies are diseases caused by failures in the individual's immune system. These failures may occur because of genetic problems that prevent the expression of crucial proteins for the cell’s development, receptors, and molecules involved in biochemical signaling pathways. Primary immunodeficiencies are diseases mainly underreported in developing countries such as Brazil and do not have notification system. Moreover, because they are diseases considered rare and not widespread, they do not raise suspicion in the medical community, often leading to death due to the lack of correct treatment. Epidemiological data from the French Center for the Study of Deficits (CEREDIH) shows a prevalence of 4.4 patients per 100,000 inhabitants. Data from the United States show a prevalence of 1 to 1,200 people, the highest prevalence worldwide. In Europe, 28,000 patients were identified in more than 125 medical centers. Data from the Latin American Society for Immunodeficiency (LASID) show that 7,506 patients were registered in April 2019 in the Latin American continent, with Brazil registering 1,528 patients on its database in the same period. From the primary immunodeficiencies, the most prevalent are antibody deficiencies, being the most common from IgA deficiency, followed by well-defined immunodeficiency syndromes, highlighting Ataxia-telangiectasia as the most prevalent. T cell deficiencies or combined ones, are the third most prevalent immunodeficiencies and are more commonly known as Severe Combined Immunodeficiency (SCIDs), and finally deficiencies in phagocytic cells, such as Chronic Granulomatous Disease, both with approximately the same prevalence. The selective deficiency of IgA, which is reported as the most frequent, may occurs in sporadically or familiar way, that is, with a hereditary gene, and have been already described as autosomal recessive and autosomal dominant inheritances. Ataxia-telangiectsia is an autosomal inherited immunodeficiency, caused by mutations in the ATM gene, a protein with a crucial role for regulating and surviving cells. T cell deficiencies or combined ones are complex diseases and have several mechanisms to be understood because a patient who has T cell deficiency will not perform the cell-mediated immune response and may also have altered the humoral response. The deficiencies in phagocytic cells can be caused by several factors, such as cell migration defects to the site of infection, or deficiency in the production of reactive oxygen species that kill the microorganisms within the phagolysosome. In this way, it is important to understand the mechanisms, clinical aspects and treatments for those diseases, since the patient's life depends on a fast and effective treatment.

Key words: Immunodeficiencies, primary immunodeficiencies, review, epidemiology, diagnosis, treatment

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ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS 9

LISTA DE FIGURAS 11

LISTA DE TABELAS 12

1. INTRODUÇÃO 13

2. OBJETIVO 16

3. METODOLOGIA 16

4. HISTÓRIAS DAS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS 17

5. ASPECTOS EPIDEMIOLOGICOS DAS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS 19

6. PRINCIPAIS TIPOS DE IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS 28

6.1 DEFICIÊNCIA SELETIVA DE IgA 30

6.1.1 A IMUNOGLOBULINA A (IgA) 30

6.1.2 TROCA DE CLASSE PARA IgA 32

6.1.3 DEFICIÊNCIA SELETIVA DE IgA 34

6.1.4 PATOGENESE DA DEFICIÊNCIA SELETIVA DE IgA 36

6.1.5 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DOS PACIENTES COM SIgAD: 38

6.1.6 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE SIgAD 39

6.2 ATAXIA-TELANGIECTASIA 41

6.2.1 TELANGIECTASIA EM PACIENTES COM AT 44

6.2.2 ATAXIA-TELANGIECTASIA E IMUNODEFICIÊNCIAS 45

6.2.3 ATAXIA-TELANGIECTSIA E COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS: 46

6.2.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE AT 47

6.3 IMUNODEFICIÊNCIA QUE AFETAM A IMUNIDADE CELULAR E HUMORAL

48

6.3.1 SCID LIGADA AO X (XSCID) 52

6.3.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SCID 54

6.4 DEFEITOS NAS CÉLULAS FAGOCITÁRIAS 56

6.4.1 OS FAGÓCITOS 56

6.4.2 TIPOS DE DEFEITOS NAS CÉLULAS FAGOCITÁRIAS 57

6.4.3 MECANISMOS MICROBICIDAS DOS FAGÓCITOS DEPENDENTES DO O2 59

6.4.4 DOENÇA GRANULOMATOSA CRÔNICA 62

6.4.5 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO 65

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 68

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69

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9

LISTA DE ABREVIATURAS

AD Autossômica Dominante

AID Citidina desaminase induzida por ativação

AR Autossômica Recessiva

AT Ataxia-telangiectasia doença

ATM Ataxia-telangiectasia gene mutado

BCR Receptor de células B

BRAGID Grupo Brasileiro de Imunodeficiências

BTK Tirosina quinase de Bruton

CDs Células dendríticas

CGD Doença Granulomatosa Crônica

CSR Troca de classe de imunoglobulina

CVID Imunodeficiência variável comum

ESID European Society for Immunodeficiencies

GVHD Doença do enxerto versus hospedeiro

HLA Antígenos leucocitários humanos

HSC Células-tronco hematopoiéticas

IDP Imunodeficiência Primária

IDS Imunodeficiência secundária

IFN-ɣ Interferon gama

IgA Imunoglobulina A

IgD Imunoglobulina D

IgG Imunoglobulina G

IgM Imunoglobulina M

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10

IL-2 Interleucina 2

IL-4 Interleucina 4

IL-7 Interleucina 7

IL-9 Interleucina 9

IL-15 Interleucina 15

IL-21 Interleucina 21

IUIS Especialistas em Imunodeficiências Primárias da União Internacional de Sociedade Imunológicas

LASID Latin American Society for Immunodeficiencies

MHC Complexo principal de histocompatibilidade

ROS Espécies reativas de oxigênio

SCID Imunodeficiência combinada grave

SIgAD Deficiência seletiva de IgA

TCR Receptor de células T

TLRs Receptores semelhantes ao Toll

XLA Agamaglobulinemia ligada ao X

XR Recessiva ligada ao X

XR-CGD CGD ligada ao X

XSCID SCID ligada ao X

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11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Diferenças entre imunidade inata e adaptativa.......................................... 13

Figura 2 Prevalência das imunodeficiências primárias na Europa... ........................ 20

Figura 3 Prevalência estimada das imunodeficiências primárias no mundo.. ........... 23

Figura 4 Número de casos de IDPs registrados na plataforma LASID em abril e maio

de 2019.. ................................................................................................................... 24

Figura 5 Número de casos de IDP registrados por país da América Latina até maio

de 2019.. ................................................................................................................... 26

Figura 6 Estruturas da IgA.. ...................................................................................... 31

Figura 7 As várias funções da IgA de mucosa.. ....................................................... 32

Figura 8 Mecanismos indutores da produção de IgA................................................ 34

Figura 9 Mapa demonstrativo da frequência de SIgAD em populações ao redor do

mundo. ...................................................................................................................... 35

Figura 10 Telangiectasia oculocutânea.. .................................................................. 42

Figura 11 Cascata de reparo do dano ao DNA, em consequência de radiação

ionizante. ................................................................................................................... 43

Figura 12 “O garoto da

bolha”..........................................................................................................................49

Figura 13 Defeitos no desenvolvimento dos LT e dos LB que causam

imunodeficiências ...................................................................................................... 50

Figura 14 Diagrama mostrando os possíveis fenótipos e defeitos genéticos que

podem ocorrer nas SCIDs T-B+ e T-B-. .................................................................... 51

Figura 15 Imagem mostrando os receptores de IL-2, IL-4, IL-7 e IL-9...................... 53

Figura 16 Imagem de um neutrófilo em sangue periférico e de um macrófago tecidual..

.................................................................................................................................. 56

Figura 17 Imagem mostrando a migração do monócito para o tecido.. .................... 58

Figura 18 Fagocitose de neutrófilos e processo microbicida. ................................... 60

Figura 19 Representação diagramática das formas em repouso e ativada da NADPH

oxidase fagocítica.. .................................................................................................... 61

Figura 20 Imagem ilustrando o processo de ingestão de microrganismos e a formação

do fagolisossomo. ..................................................................................................... 62

Figura 21 Doença inflamatório do intestino, em paciente com DGC.. ...................... 64

Figura 22 Citometria de fluxo em pacientes normal e paciente com DGC.. ............. 66

Figura 23 Figura mostrando citometria de fluxo do teste DHR. ................................ 67

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12

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Número de pacientes com IDP acompanhados pela Jeffrey Modell

Foundation entre 2013 e 2018 e alteração percentual por regiões. .......................... 22

Tabela 2. Número de casos reportados por centro, destaque para o Centro de IDP do

Rio Grande do Norte.. ............................................................................................... 26

Tabela 3. Número de casos de IDP de acordo com o tipo da doença. ..................... 30

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13

1. INTRODUÇÃO

O sistema imunológico é fisiologicamente responsável pela defesa do corpo

contra os microrganismos infecciosos ou mesmo contra substâncias estranhas não

infeciosas e produtos de células danificadas. Dessa forma, a resposta do corpo contra

esses agentes é mediada por dois tipos básicos de resposta imunológica: a imunidade

inata e a imunidade adaptativa. Assim, quando um antígeno estranho entra no corpo

sinais de células da imunidade inata podem gerar uma resposta imunológica

adaptativa e dessa forma, uma resposta imunológica geralmente não age de forma

independente, mas sim de forma interligada entre a imunidade inata e a adaptativa

(MURPHY; WEAVER, 2017).

A imunidade inata é a primeira linha de defesa do corpo, com suas barreiras

epiteliais, suas células (ex. fagócitos, células dendríticas, células linfóides inatas,

células NK, etc) e suas proteínas plasmáticas (ex. proteínas do sistema complemento,

proteína C reativa, proteína ligadora de manose, etc.). Já a imunidade adaptativa é a

imunidade mediada pelos linfócitos T e B e anticorpos e sendo responsável pela

memória imunológica de longa duração (Figura 1). A ativação dos linfócitos T e B por

um antígeno é o principal evento da resposta da imunidade adaptativa (ABBAS,

LICHTMAN & PILLAI, 2019).

Figura 1. Diferenças entre imunidade inata e adaptativa. Como se vê na figura

a imunidade inata é a primeira linha de defesa, representada na figura pelas barreiras

epiteliais, fagócitos, células dendríticas, mastócitos, sistema complemento e células

NK. É o primeiro componente do sistema imune a chegar no organismo, nas primeiras

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14

horas de infecção, já a imunidade adaptativa representada na figura pelos linfócitos T,

B e anticorpos, é ativada alguns dias após a infecção, resultando também em uma

memória imunológica. Fonte: Abbas, Lichtman, Pillai (2019).

O correto funcionamento tanto da imunidade inata quanto da imunidade

adquirida é essencial para a defesa contra organismos infecciosos e para

sobrevivência de todos os indivíduos. Defeitos em um ou mais componentes do

sistema imunológico pode levar a sérios problemas de saúde, podendo algumas vezes

ser fatais. Esses defeitos são chamados de imunodeficiências (MURPHY; WEAVER,

2017).

Existem dois grupos de imunodeficiências, as primárias ou congênitas e as

imunodeficiências secundárias ou adquiridas. As imunodeficiências primárias são

causadas por defeitos genéticos em componentes que fazem parte do sistema

imunológico e são classificadas com base no componente defeituoso envolvido.

Dessa forma pode-se ter imunodeficiências afetando os componentes da imunidade

inata, assim como aquelas que afetam os componentes da imunidade adaptativa

(MURPHY; WEAVER, 2017). É importante ressaltar que defeitos na imunidade inata

podem levar a defeitos na imunidade adaptativa e vice-versa.

Os defeitos da imunidade inata podem resultar em infecções por diferentes

categorias de microrganismos, dependendo da via ou do tipo celular afetado. Esses

defeitos podem acometer componentes do sistema complemento, componentes dos

fagócitos, vias de sinalização de receptores semelhantes ao Toll (TLRs) ou defeitos

em outras moléculas como os receptores da família NOD e moléculas envolvidas na

migração dos fagócitos. Os defeitos da imunidade adaptativa por sua vez incluem

imunodeficiências que comprometem células T ou B, nesse último caso com

deficiência de anticorpos, ou imunodeficiências combinadas que são aquelas que

comprometem ambas as imunidades mediadas pelas células T e B (MURPHY;

WEAVER, 2017). Defeitos na imunidade humoral normalmente resultam em infecções

por bactérias encapsuladas piogênicas e alguns tipos de vírus, já defeitos na

imunidade celular levam às infecções por vírus e outros microrganismos intracelulares

como as micobactérias e reativação de infecções latentes. As imunodeficiências

combinadas, por sua vez, tornam os indivíduos susceptíveis a todas as classes de

microrganismos (ABBAS, LICHTMAN & PILLAI, 2019).

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15

A descrição de imunodeficiências primárias (IDP) aumentou significativamente

com o avanço dos métodos de detecção laboratoriais (SCHMIDT, GRIMBACHER &

WITTE, 2017). Atualmente estão listadas mais de 300 IDPs, e nos últimos anos novos

defeitos genéticos e doenças vem sendo descritas, aumentando ainda mais esse

número (GOUDOURIS et al., 2017; PICARD et al., 2018). As formas mais graves das

IDPs se apresentam normalmente na infância com insuficiência de crescimento e

infecções graves, que são geralmente fatais (THRASHER & WILLIAMS, 2017).

Embora as IDPs sejam doenças raras, tem sido observado aumento na sua incidência

(PICARD et al., 2018).

As imunodeficiências secundárias (IDS), também conhecidas como adquiridas,

são mais comuns. Esses tipos de imunodeficiências, como o nome diz, são adquiridas

devido a fatores externos, como desnutrição, infecções das células do sistema

imunológico, como aquela causada pelo HIV, câncer disseminado, como as leucemias

e tratamento com drogas imunossupressoras (ABBAS, LICHTMAN & PILLAI, 2019).

A desnutrição afeta principalmente a imunidade mediada por células. Um reflexo disso

é que pessoas desnutridas morrem principalmente por infecções oportunistas

(MURPHY; WEAVER, 2017). Uma das explicações para esse fato pode ser a relação

existente entre o sistema endócrino e o sistema imune, já que os adipócitos (células

que armazenam gordura) produzem um hormônio chamado leptina, cujos níveis são

diretamente proporcionais aos níveis de gordura no corpo. A leptina, além de seus

efeitos primários na regulação da energia, atua na inibição de ingesta de alimentos e

aumentando o gasto energético, verificou-se também seu papel regulador no sistema

imune inato e adaptativo (ABBELA et al., 2017). Em relação à imunidade inata, a

leptina aumenta a citotoxicidade das células natural killer (NK), induz a ativação de

granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos), macrófagos e células dendríticas. Na

imunidade adaptativa, a leptina atua na estimulação da proliferação de células T e B

naives e estimula a maturação dos linfócitos nos seus órgãos geradores. A leptina

atua também estimulando a diferenciação dos linfócitos TCD4+ para os perfis Th1,

Th2 e Th17, ao passo que diminui a diferenciação das células T reguladoras (Treg)

(PROCACCINI et al., 2016). Dessa forma, deficiência na nutrição, causa diminuição

nesse hormônio e consequentemente alterações nas respostas imunológicas.

Além da desnutrição, outras doenças também são responsáveis pelas IDSs,

como tumores da medula óssea, incluindo cânceres com metástases para medula

óssea e as leucemias que se desenvolvem na medula e que podem comprometer o

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16

desenvolvimento das células de defesa nesse órgão. Além disso, os tumores também

podem produzir substâncias que podem interferir com o desenvolvimento e as funções

dos linfócitos, alterando assim o correto funcionamento do sistema imunológico

(ABBAS, LICHTMAN & PILLAI, 2019).

Normalmente as imunodeficiências possuem características clínicas muito

variáveis, mas possuem uma em comum que é a presença de infecções recorrentes.

A depender do tipo de imunodeficiência e de qual componente do sistema imunológico

está deficiente, infecções recorrentes podem aparecer em estágios diferentes da vida

do indivíduo, na infância ou até mesmo na vida adulta. Além de infecções,

complicações não infecciosas como alergias, neoplasias malignas e doenças

autoimunes também podem acometer pacientes com imunodeficiências a depender

do tipo de defeito encontrado (RAGE & DINAKAR, 2015).

2. OBJETIVO

Levando em consideração a importância do conhecimento envolvendo os

aspectos epidemiológicos e clínicos das imunodeficiências, esse trabalho tem como

objetivo central a elaboração de uma revisão bibliográfica para esclarecer e explicar

as imunodeficiências primárias de maior frequência na população mundial e seus

principais aspectos, trazendo suas etiologias e seus mecanismos, para que elas sejam

melhor entendidas e compreendidas. Isso é importante pois quanto mais cedo o

diagnóstico ocorrer, mais rápida será a aplicação da terapêutica e melhor poderá ser

a resposta ao tratamento, o que pode reduzir as chances do paciente vir a óbito por

infecções oportunistas. O retardo no diagnóstico das imunodeficiências ocorre,

provavelmente, devido ao baixo índice de suspeita de médicos comunitários sobre

essas doenças, por isso a importância de se esclarecer melhor sobre o assunto e

difundi-lo na comunidade biomédica.

3. METODOLOGIA

Diante do exposto, para esta revisão foi utilizada a literatura disponível em

diversos bancos de dados da literatura biomédica, como livros didáticos, MEDLINE,

PubMed, SciELO, periódicos CAPES e Google. Para a realização desta revisão foram

considerados materiais de língua portuguesa e inglesa. Para a realização das buscas

nesses bancos de dados foram utilizadas as seguintes palavras chaves: “historical

primary immunodeficiency”, “primary immunodeficiency”, “imunodeficiência primária”.

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17

4. HISTÓRIAS DAS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS

Antes da Segunda Guerra Mundial, embora os conhecimentos não fossem

suficientes para se chegar a um diagnóstico de imunodeficiência, houve alguns relatos

descrevendo síndromes clínicas características que anos depois foram categorizadas

como imunodeficiências primárias. Os primeiros relatos que remetem às

imunodeficiências, foram os achados neurológicos associados à telangiectasia

conjuntival, descritos por Syllaba & Henner em 1926, e que 15 anos depois foram

descritos por Madame Louis-Bar como característica da ataxia telangiectasia (OCHS

& HITZIG, 2012), hoje sabidamente uma imunodeficiência. Em 1937, o Dr. Alfred

Wiskott, pediatra alemão, descreveu casos clínicos de três irmãos que apresentavam

trombocitopenia, diarreia sanguinolenta, eczema e otites de repetição. Todos

morreram nos primeiros anos de vida devido à hemorragia intestinal e septicemia. O

Dr. Wiskott associou a disfunção plaquetária como causa da hemorragia e ainda

observou que, numa mesma família, os três irmãos do sexo masculino eram afetados,

mas, as quatro irmãs não, elaborando a hipótese que esta síndrome era uma

trombocitopatia hereditária, mas, na época, sem associação a algum defeito no

sistema imunológico (OCHS & HITZIG, 2012).

Em 1950, dois patologistas, Eduard Glanzmann e Paul Riniker, descreveram

um caso de duas crianças aparentadas com uma linfopenia progressiva, que segundo

eles era consequência direta de infecções graves por Candida albicans. Eles não

conseguiram estabelecer uma conexão com a imunodeficiência (OCHS & HITZIG,

2012).

Após 17 anos da descoberta do Dr. Wiskott, em 1954, Dr. Robert Aldrich e

colaboradores acompanharam seis gerações de uma mesma família e observaram

que dezesseis dos 40 homens morreram de uma doença semelhante à descrita pelo

Dr. Wiskott. Da mesma forma, nenhuma paciente do sexo feminino apresentou esta

evolução, sugerindo, desta forma, uma herança ligada ao cromossomo X. Esta

condição foi denominada síndrome de Wiskott-Aldrich (WAS) após a descrição feita

pelos dois médicos (MASSAAD, RAMESH & GEHA, 2013).

No entanto, o grande marco para a história das imunodeficiências primárias

veio da descoberta do pediatra americano Ogden Carr Bruton, chefe de pediatria no

Walter Reed Army Hospital, que descreveu o primeiro caso de agamaglobulinemia em

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18

uma criança do sexo masculino com infecções pneumocócicas recorrentes, relatada

em 1952. Até aquela época, uma completa ausência de gamaglobulina no soro

humano (com proteína total normal) nunca havia sido relatado. E Bruton foi mais

longe, mostrou que que a suscetibilidade às infecções poderia ser corrigida pela

administração de gamaglobulinas humanas, o que de fato representou a primeira

evidência de uma relação direta entre gamaglobulinas e proteção contra infecções

(BURGIO et al., 1991).

Em 1954, o grupo do Dr. Charles Janeway descreveu numa reunião científica

casos de crianças do sexo masculino com hipergamaglobulinemia associada a

infecções crônicas graves não específicas (JANEWAY et al., 1954). O Dr. Robert

Good, da Universidade de Minesota, estava presente naquela e também havia

observado pacientes semelhantes em sua instituição. Diante das situações, ele se

questionou se a hipergamaglobulinemia seria o resultado e não a causa das infecções

observadas naqueles pacientes. Com isso em mente, ele testou sua hipótese e

descobriu doença granulomatosa crônica fatal da infância (DGC), publicando sua

hipótese em 1959 (BRIDGES et al., 1959).

Em 1958, oito anos depois das descobertas de Glanzmann e Riniker, em que

estudaram duas crianças com linfopenia progressiva, dois grupos suíços descreveram

casos de crianças que morreram de infecções fúngicas e bacterianas graves e as

autópsias mostraram que esses pacientes, dois deles primos dos pacientes do estudo

de 1950 de Glanzmann e Riniker (crianças com linfopenia progressiva), apresentaram

atrofia ou ausência de órgãos linfoides e desenvolvimento anormal de plasmócitos e

linfócitos. Devido aos achados a doença foi denominada deficiência celular-humoral

combinada. Em 1970, a OMS denominou essa doença de Imunodeficiência

Combinada Grave ou SCID (do inglês, Severe Combined Immunodeficiency) (OCHS

& HITZIG, 2012).

Nos últimos 69 anos, o campo das IDPs avançou muito. Com o advento da

tecnologia genética de ponta, mais de 320 defeitos genéticos associados à IDPs foram

identificados e o número continua aumentando (PICARD et al., 2018).

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19

5. ASPECTOS EPIDEMIOLOGICOS DAS IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS

A importância de se entender as imunodeficiências primárias (IDPs) é que são

doenças de difícil diagnóstico e reconhecimento, diminuindo assim sua estimativa de

incidência real. A distribuição e prevalências das IDPs é bastante variada entre as

populações. No mundo alguns países como Irã, Austrália, Estados Unidos, França e

outros países da Europa e 12 países da América Latina criaram registros para

identificação da doença. Como por exemplo, têm-se o CEREDIH (Le Centre de

Référence Déficits Immunitaires Héréditaires), o centro de referência francês que

registrou em 2014 uma prevalência de 4,4 casos por 100 mil habitantes, já dados dos

EUA mostram uma prevalência de 1 para 1.200 pessoas, sendo a maior prevalência

mundial. Por outro lado, na Europa, o ESID (European Society for

Immunodeficiencies) registra que foram identificados 28 mil pacientes em mais de 125

centros médicos (considerando que a Europa possui 741,4 milhões de habitantes)

sendo o centro que mais registrou pacientes no banco de dados do ESID, foi o centro

francês CEREDIH, com 5.426 pacientes registrados até 2014 (AMAYA-URIBE et al.,

2019). O ESID também traz dados da prevalência das IDPs por país a cada 100.00

habitantes (Figura 2), com destaque para a França, Espanha, Suíça, Países Baixos,

que possuem as maiores prevalências do continente (European Society for

Immunodeficiencies, 2019).

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Figura 2 Prevalência das imunodeficiências primárias na Europa. Prevalência/100 mil

habitantes, mostrando uma maior prevalência em países como França, Espanha,

Suiça e Países Baixos. Fonte: European Society for Immunodeficiencies, 2019.

Nos Estados Unidos, a Fundação Jeffrey Modell (JMF), a fim de aumentar a

conscientização sobre imunodeficiências primárias e com o objetivo geral de reduzir

a morbidade e mortalidade associadas a essas doenças, estabeleceu uma rede de

centros especializados para identificar, diagnosticar, tratar e acompanhar melhor os

pacientes com IDPs. Na última década, a Rede de Centros Jeffrey Modell (JMCN, do

inglês Jeffrey Modell Centers Network) disponibilizou uma infraestrutura para aceitar

referências, fornecer diagnósticos e oferecer tratamentos. Atualmente, a rede consiste

de 792 especialistas médicos em 358 instituições, em 277 cidades do mundo e 86

países em 6 continentes. Para avaliar a prevalência geral de pacientes acompanhados

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e identificados com uma imunodeficiência específica na JMCN, a prevalência relatada

por médicos entre os sites da Rede de 2013 foi comparada com a de 2018. De modo

geral, o número de pacientes acompanhados nesse período, na JMCN, aumentou em

57% nos EUA e 35,4% no mundo.

Para identificar tendências regionais das IDPs, o número de pacientes seguidos

pela JMCN nos últimos 5 anos (2013 a 2018) foi comparado em nove diferentes

regiões do mundo. Dessa forma, quando se avalia o número de paciente

acompanhados em 2013 e compara com 2018, observa-se que houve um aumento

bastante significativo principalmente na Austrália (2,071.6%) e América Latina

(132.2%), seguidos pelos Estados Unidos com 57% de aumento (Tabela 1, lado

esquerdo). É interessante notar que na Ásia houve uma redução no percentual de

pacientes acompanhados. O estudo não discute o dado, mas por se tratar de IDPs

pode se relacionar à mortalidade dos pacientes e uma falta de procura de novos

pacientes pelos centros de referência.

A tabela 1 também traz dados sobre o número de pacientes identificados com

IDP específicas nos últimos 5 anos. Acompanhando os dados globais, na Austrália

houve um aumento de quase 2 mil pontos percentuais de pacientes identificados com

IDP específicas, na América Latina esse aumento foi de 64%, nos EUA houve

aumento de 32,5%, no Oriente Médio de 29,6%, na Ásia e na África esse aumento foi

de 27,9% e 25,5%, respectivamente (MODELL et al., 2018). De modo interessante

houve uma redução no percentual de pacientes identificados com IDP específicas no

Canadá e na Europa oriental. Da mesma forma, que nos dados globais, o estudo não

detalha o possível motivo para essa ocorrência, mas como falado anteriormente, pode

se relacionar à mortalidade dos pacientes e uma falta de procura de novos pacientes

pelos centros de referência.

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Tabela 1. Número de pacientes com IDP acompanhados pela Jeffrey Modell

Foundation entre 2013 e 2018 e alteração percentual por regiões.

OBS: À direita a tabela mostra a quantidade de pacientes identificados com IDP entre

2013 e 2018 e à esquerda são dados por IDP específicas (de acordo com o defeito

que causa a IDP). Fonte: MODELL et al., (2018).

Dentre as IDPs, as que possuem maior número de notificações por órgãos de

notificação são as Deficiências predominantemente de Anticorpos, as síndromes bem

definidas com imunodeficiência, as imunodeficiências combinadas e os defeitos

congênitos dos fagócitos, essas duas últimas apresentando a mesma incidência

(Figura 3). Por serem as mais comuns, este trabalho irá focar as doenças mais

prevalentes desses 4 tipos de IDPs.

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Figura 3 Prevalência estimada das imunodeficiências primárias no mundo. Gráfico

mostrando a prevalência estimada das imunodeficiências primárias no mundo. Fonte:

CONDINO-NETO et al., (2015).

Na América Latina existe a Sociedade Latinoamericana de Imunodeficiências

(LASID), que relata 3.321 pacientes, destes 53,2% possuem deficiências de

anticorpos (AMAYA-URIBE et al., 2019).

Em maio de 2019, o sistema da LASID registrou 7.559 casos de pacientes com

IDPs (Figura 4) desde sua criação (dado atualizado até maio de 2019). Como

comparativo, entre abril e maio de 2019, o LASID tinha 7504 casos registrados em

abril, tendo um aumento 55 casos registrados em maio.

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Figura 4 . Número de casos de IDPs registrados na plataforma LASID em abril e maio

de 2019. Fonte: LASID (Latin American Society for Immunodeficiencies) (2019),

disponível em: https://lasid.org/homepage (opção PID registry).

Os países que estão registrados na plataforma são Argentina, Bolívia, Brasil,

Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, Guatemala,

Honduras, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Fazendo uma avaliação de

como ocorre a distribuição das IDPs entre esses países, temos os dados

apresentados na figura 5, mostrado que a Argentina (2.565 pacientes), o México

(1.698 pacientes) e o Brasil (1.530 pacientes) são os países que apresentam os

maiores números de pacientes registados na plataforma da LASID. Embora a

população do Brasil seja maior que as da Argentina e do México somadas, e que

teoricamente poderia ter bem mais pacientes com IDPs, não observamos essa

relação. Isso pode ser devido a problemas no correto diagnóstico de IDPs ou uma

subnotificação dessas doenças no nosso país, fato esse que precisa ser

cuidadosamente avaliado pelas políticas públicas de saúde do governo brasileiro.

No Brasil, o Grupo Brasileiro de Imunodeficiência (BRAGID, do inglês Brazlian

Group for Immunodeficiency), conseguiu que a “Consolidação do Registro Eletrônico

para o Armazenamento de Fenótipos e Genótipos de Pacientes com

Imunodeficiências Primárias na América Latina", fosse aprovado pelo Conselho

Nacional de Saúde do Brasil, para início imediato do Registro Internacional de

Imunodeficiências Primárias da América Latina, juntamente com o LASID (CONDINO-

Abril Maio

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NETO, 2008). Então, com esse registro temos dados importantes sobre o registro de

IDPs no nosso país.

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Figura 5 Número de casos de IDP registrados por país da América Latina até maio de

2019. Gráfico mostrando o número de casos de IDP já registrados na plataforma do

LASID, desde a sua criação, pelos países da América Latina, com destaque para o

Brasil. Fonte: Fonte: LASID (Latin American Society for Immunodeficiencies) (2019),

disponível em: https://lasid.org/homepage (opção PID registry).

De acordo com os dados da LASID (Tabela 2), no estado do Rio Grande do

Norte, o Centro de Imunodeficiências Primárias (Centro de IDP), que funciona no

Hospital Universitário Onofre Lopes, é responsável por lançar os dados na plataforma

na qual há o registro de 16 pacientes até maio desse ano.

Tabela 2. Número de casos reportados por centro, destaque para o Centro de IDP do

Rio Grande do Norte. Fonte: LASID (Latin American Society for Immunodeficiencies)

(2019), disponível em: https://lasid.org/homepage (opção PID registry).

O centro do termo representa cada instituição (hospital, universidade) devidamente autorizada a participar

do registro PID do LASID.

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A dificuldade de diagnóstico em países em desenvolvimento como o Brasil, que

não possui um sistema próprio de notificação e difusão da doença, dificulta que os

números reais de pacientes com IDPs sejam registrados, por isso a importância de se

conhecer e difundir ainda mais os tipos de IDPs, na comunidade médica e biomédica.

Para maior esclarecimento da população, a Fundação Jeffrey Modell lançou

junto com a Cruz Vermelha Americana os 10 sinais de alerta para IDPs em crianças,

que foi adaptado para cada país de acordo com as doenças mais comuns, e eles são:

1. Duas ou mais Pneumonias no último ano;

2. Oito ou mais novas Otites no último ano;

3. Estomatites de repetição ou Monilíase por mais de dois meses;

4. Abscessos de repetição ou ectima;

5. Um episódio de infecção sistêmica grave (meningite, osteoartrite, septicemia);

6. Infecções intestinais de repetição / diarreia crônica;

7. Asma grave, Doença do colágeno ou Doença autoimune;

8. Efeito adverso ao BCG e/ou infecção por Micobactéria;

9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada a Imunodeficiência;

10. História familiar de imunodeficiência. Fonte: BRAGID (2019).

Além dos 10 sinais de alerta para IDP em crianças, foi lançado os 10 sinais de alerta

para IDP em adultos, e eles são:

1. Duas ou mais Pneumonias no último ano;

2. Oito ou mais novas Otites no último ano;

3. Estomatites de repetição ou monilíase por mais de dois meses;

4. Abscessos de repetição ou ectima;

5. Um episódio de infecção sistêmica grave (meningite, osteoartrite, septicemia);

6. Infecções intestinais de repetição/diarréia crônica;

7. Asma grave, Doença do colágeno ou Doença autoimune;

8. Efeito adverso ao BCG e/ou infecção por Micobactéria;

9. Fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada a Imunodeficiência;

10. História familiar de imunodeficiência.

Fonte: BRAGID (2019).

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28

6. PRINCIPAIS TIPOS DE IMUNODEFICIÊNCIAS PRIMÁRIAS

Um Comitê de Especialistas em Imunodeficiências Primárias da União

Internacional das Sociedades Imunológicas (IUIS), se reuniu em fevereiro de 2017

para atualizar a classificação das IDPs (PICARD et al., 2018), que foram classificadas

como segue:

1. As imunodeficiências que afetam a imunidade celular e humoral ou combinadas, ou

sejam que afetam as células T e B e os anticorpos (Exemplos: T-B-SCID com ausência

de linfócitos T e B, T-B+SCID com ausência de linfócitos T e presença de linfócitos B,

Deficiências de RAG-1 ou de RAG-2 (enzimas que desempenham papel importante

no rearranjo e recombinação dos genes das imunoglobulinas e do receptor de células

T), Deficiência de CD40 ou de CD40L (ligantes importantes na sinalização entre

linfócitos T e B); deficiência da cadeia c do receptor da IL-2, etc)

2. As imunodeficiências combinadas com características sindrômicas, também

chamadas de síndromes bem definidas com imunodeficiência (Exs: Síndrome de

Wiskott-Aldrich (doença decorrente de imunodeficiência do tipo hereditária,

caracterizada pela produção anormal de anticorpos , células T anormais, por uma

quantidade reduzida de plaquetas e por eczema.), Ataxia-telangiectaisa

(caracterizada por problemas na marcha (ataxia), imunodeficiência variável,e outras

características), Síndrome de DiGeorge (causada pela deleção de um pequeno

pedaço do cromossomo 22, causando também imunodeficiência, devido à ausência

de timo), etc;

3. As deficiências predominantemente de anticorpos (Ex: Agamaglobulinemia ligada

ao X, Deficiência Imunológica variável Comum - CVID, Deficiência seletiva de IgA,

Deficiência da enzima desaminase induzida por ativação - AID ou Síndrome da hiper

IgM, etc);

4. As doenças de desregulação imune. Exs: Deficiência de FoxP3 (uma proteína

reguladora do sistema imune, que em sua ausência causa o comprometimento no

desenvolvimento de células T reguladoras), deficiência de CD25 (cadeia alfa do

receptor de IL-2, molécula de expressão essencial para o desenvolvimento de

linfócitos T), deficiência de CTLA-4 (proteína 4 associada a linfócitos T citotóxicos é

um receptor proteico que funciona como checkpoint imunológico e regula

negativamente as respostas imunes), etc;

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5. Defeitos de número ou função de fagócitos. Exs: deficiência de elastase (proteína

liberada dos grânulos primários dos neutrófilos ajudando a matar os microrganismos),

deficiência de adesão de leucócitos, fibrose cística, doença granulomatosa crônica,

etc;

6. Defeitos na imunidade intrínseca e inata. Exs: deficiência da cadeia β1 dos

receptores de IL-12 e IL-23 (essencial para a via de sinalização dessas citocinas),

deficiência da subunidade p40 da IL-12 e IL-23, deficiência do receptor 1 ou do

receptor 2 de IFN-ɣ, deficiência de STAT1, etc;

7. Doenças autoinflamatórias. São doenças que afetam molécula envolvidas na

produção de citocinas inflamatórias, como os inflamossomas, ocorrendo mutações

com ganho de função nessas moléculas e produção excessiva dessas citocinas. (Exs:

Febre mediterrânea familiar, Síndrome de Blau, Síndrome de Muckle-Wells, Síndrome

autoinflamatória de frio familiar 1, etc)

8. Deficiências de complemento. Exs: Deficiência de C1INH (atua como um regulador

da ativação da via clássica do sistema de complemento), Deficiência de C8,

Deficiência de CD59, etc;

9. Fenocópias de erros inatos da imunidade, que ocorrem quando um fenótipo,

produzido pelo ambiente, simula o efeito de uma conhecida mutação. Exs: Síndrome

linfoproliferativa autoimune, Criopirinopatia, Candidíase mucocutânea crônica, etc.

Dessa forma, é importante entender onde se encaixam as doenças que serão

abordadas neste trabalho. Como mostrado na figura 2, as IDPs com maior prevalência

na população são as imunodeficiências predominantemente de anticorpos, as

síndromes bem definidas com imunodeficiência ou imunodeficiências combinadas

com características sindrômicas, as deficiências de células T e B ou combinadas e as

deficiências dos fagócitos. As deficiências predominantes de anticorpos são o tipo

mais frequente de distúrbios de IDP, com mais de 13.000 pacientes sintomáticos

registrados globalmente (aproximadamente 20% de todos os pacientes com IDP

relatados até o momento) (BAGHERI et al., 2019). De acordo com os dados obtidos

no site da LASID (Tabela 3), das imunodeficiências predominantemente de anticorpos,

a que apresentou o maior número de casos registrado em maio de 2019 foi a

deficiência seletiva de IgA. Sobre as imunodeficiências combinadas com

características sindrômicas, a que apresentou o maior número de casos foi a ataxia-

telangiectasia. Já nas deficiências de Células T e B ou combinadas, as que se

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destacaram foram as SCIDs T negativa, B negativa (T-B-SCID) com o defeito genético

desconhecido e T negativa, B positiva (T-B+SCID) com o defeito genético

desconhecido e aquelas cujo defeito é na cadeia comum (c) compartilhada pelos

receptores das interleucinas 2, 4, 7, 9 e 15. Por fim, a doença que teve maior registro

de casos entre as deficiências dos fagócitos foi a Doença Granulomatosa Crônica

(CGD, do inglês chronic granulomatous disease) com defeito genético desconhecido,

seguida pela CGD ligada ao X (defeito na gp91phox).

Tabela 3. Número de casos de IDP de acordo com o tipo da doença. Fonte: LASID

(Latin American Society for Immunodeficiencies) (2019), disponível em:

https://lasid.org/homepage (opção PID registry).

6.1 DEFICIÊNCIA SELETIVA DE IgA

6.1.1 A IMUNOGLOBULINA A (IgA)

A IgA é o segundo isotipo dominante na circulação sanguínea, depois da IgG e

o predominante nas secreções mucosas. Esse anticorpo pode ser encontrado nas

formas monomérica, dimérica e até trimérica e quadrimérica, que são mais raras

(SCHROEDER & CAVACINI, 2010). A IgA da circulação sanguínea está na forma

monomérica, enquanto a IgA dimérica está presente nas secreções mucosas. A

estrutura da IgA monomérica apresenta 2 cadeias pesadas, cada uma consistindo de

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uma região variável e 3 regiões constantes, e 2 cadeias leves, cada uma composta

por região uma variável e uma região constante (Figura 6A). A IgA dimérica é formada

por dois monômeros de IgA unidos pela cadeia J através de ligações dissulfídricas

(Figura 6B) (SCHROEDER & CAVACINI, 2010; MURPHY; WEAVER, 2017).

A B

Figura 6 Estruturas da IgA. Em A: IgA monomérica. Em B: IgA dimérica, formada pelo

seus dois monômeros, unidos por pontes dissulfídricas com a cadeia J. Fonte:

(MURPHY; WEAVER, 2017).

Em humanos existem duas subclasses de IgA: a IgA1 e a IgA2, cujas estruturas

diferem principalmente em suas regiões de dobradiça. A IgA1 tem uma região de

dobradiça mais longa com um trecho duplicado de aminoácidos que não existe na

IgA2. Esta região de dobradiça alongada aumenta a sensibilidade da IgA1 às

proteases bacterianas, apesar da proteção parcial fornecida pelos glicanos. Essa

proteção aumentada contra a digestão de proteases pode explicar porque a IgA2

predomina nas muitas secreções mucosas, enquanto que mais de 90% da IgA sérica

está na forma de IgA1 (SCHROEDER & CAVACINI, 2010). Dessa forma a razão de

IgA1 para IgA2 no sangue e trato respiratório superior é de 10:1, no intestino delgado

é de 3:2 e no cólon é de 2:3 (MURPHY; WEAVER, 2017).

A IgA é fundamental para proteger as superfícies das mucosas contra toxinas,

vírus e bactérias por neutralização direta ou por impedir a ligação à superfície da

mucosa (Figura 6, painel A). A IgA pode agir também durante seu transporte,

neutralizando patógenos no endossomo (Figura 7, painel B). Pode ainda se ligar aos

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microrganismos ou suas toxinas na lâmina própria e transportá-los de volta ao lúmen

da mucosa (Figura 7, painel C) e pode auxiliar na ativação das células dendríticas

(Figura 7, painel D). Diariamente 3 a 4 g de IgA são secretadas nos tecidos mucosos,

sendo a maior quantidade de imunoglobulinas produzidas no corpo. E essa grande

quantidade de IgA é produzida mesmo na ausência de patógenos invasores,

ocorrendo normalmente devido ao contato das células B com produtos da microbiota

comensal (MURPHY; WEAVER, 2017).

Figura 7 As várias funções da IgA de mucosa. Painel A: neutralização de toxinas e

patógenos na superfície das mucosas. Painel B: neutralização de antígenos

internalizados nos endossomos durante seu transporte vesicular. Painel C: IgA pode

ligar a patógenos e toxinas na lâmina própria e transportá-los ao lúmen da mucosa

para sua eliminados. Painel D: IgA ligado a seu antígeno no lúmen, interage com

dectina-1 e é transportada para a lâmina própria onde interage com as CDs. Fonte:

(MURPHY; WEAVER, 2017).

6.1.2 TROCA DE CLASSE PARA IgA

Para que haja a produção de IgA é necessário o processo de troca de classe

de anticorpos, produção e secreção de IgA, e sobrevivência a longo prazo de linfócitos

B de memória e plasmócitos de vida longa. Essas etapas podem ser afetadas por

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defeitos genéticos, citocinas e seus receptores, e também pela microbiota intestinal

(BAGHERI et al., 2019).

Como mostrado na figura 8, a troca de classe para IgA no intestino ocorre por

duas vias: a via dependente de células T, que ocorre no centro germinativo das placas

de Peyer (tecido linfoide secundário logo abaixo do epitélio intestinal) e necessita da

interação de células B e T CD4+. Essa interação permite a ligação do CD40 presente

nas células B e o CD40 ligante (CD40L) presente nas células T, que envia o sinal de

troca de isotipos para as células B e TGF-β1 que sinaliza para troca de classe para

IgA (BAGHERI et al., 2019; ABBAS, LICHTMAN & PILLAI, 2019). Já a via de troca de

classe independente de célula T, ocorre por envolvimento de diferentes receptores,

fatores de transcrição e moléculas como óxido nítrico, ácido retinóico (AR), IL-6,

ativador transmembrana e modulador do cálcio interativo do ligante da ciclofilina

(TACI, do inglês transmembrane activator and calcium-modulator and cyclophilin

ligand interactor), Fator de ativação de células B (BAFF, do inglês B cell activating

fator) e um ligante indutor de proliferação (APRIL, do inglês a proliferation-inducing

ligand). Essas moléculas podem ser produzidas por células dendríticas e macrófagos,

as quais podem promover sinais co-estimuladores e de sobrevivência para a ativação

de células B e troca de classe para IgA. Após a mudança de classe, células dendríticas

e células epiteliais secretam APRIL, BAFF e IL-10 que estimulam os plasmócitos a

produzirem e secretarem a IgA secretora. O TGF-β1 desempenha o seu papel via os

fatores de transcrição SMADs e RUNX3 para induzir a troca de classe para IgA

(BAGHERI et al., 2019).

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34

Figura 8 Mecanismos indutores da produção de IgA: Círculo laranja: a via

dependente de células T ocorre no centro germinativo e necessita da interação de

células B e T CD4 através de CD40-CD40L e da produção TGF-β1. Círculo verde:

na via T independente, a troca de isotipo para IgA ocorre por envolvimento de

diferentes receptores, fatores de transcrição e moléculas como óxido nítrico, ácido

retinóico, IL-6, TACI, BAFF, APRIL e TSLP na lâmina própria. O TGF-β1 desempenha

o seu papel via SMADs, RUNX3, para induzir a troca para IgA. As DCs agem nas

duas vias por captura de antígeno e apresentação ou secreção de citocinas. Após a

mudança de classe, DCs e células epiteliais continuam produzindo APRIL, BAFF e IL-

10 que induzem a diferenciação dos palsmócitos. Fonte: BAGHERI et al., 2019.

6.1.3 DEFICIÊNCIA SELETIVA DE IgA

A deficiência seletiva de imunoglobulina A (SIgAD, do inglês Selective IgA

deficiency), é a mais prevalente das IDPs, sendo caracterizada pela diminuição do

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35

nível sérico de IgA menor que 7 mg/dL (níveis normais 35 mg/dL) em indivíduos com

mais de 4 anos, com níveis normais de IgM e IgG no soro e exclusão de outras causas

de hipogamaglobulinemia (YEL, 2010). Porém, em pacientes com deficiência de IgA

que desenvolvem infecções recorrentes, pode ser associada a um defeito na

subclasse IgG2 também (MURPHY; WEAVER, 2017).

A incidência mundial da SIgAD varia dependendo da origem étnica (Figura 9),

sendo 1:143 na Península Arábica, 1:163 na Espanha, 1: 252 na Nigéria, 1:875 na

Inglaterra e 1:965 no Brasil. A incidência é menor entre as populações asiáticas, por

exemplo, de 1: 2.600 para 1: 5.300 na China e de 1:14.840 a 1:18.500 no Japão. Em

geral, a deficiência de IgA é mais comum em caucasianos. Nos EUA, a frequência é

estimada de 1:223 a 1:1.000 em estudos comunitários e de 1:333 a 1:3.000 entre

doadores de sangue saudáveis. (YAZDANI et al., 2017).

Figura 9 Mapa demonstrativo da frequência de SIgAD em populações ao redor do

mundo. Países vermelho com uma frequência maior que 1:500. Países amarelos com

uma frequência entre 1:1.000 e 1:500. Países verdes com uma frequência entre

1:10.000 e 1:1.000. Países azuis com uma frequência entre 1:20.000 e 1:10.000.

Fonte: Yazdani et al. (2017).

Frequência de SIgAD

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36

Esses relatos podem ser maiores, pois muitos indivíduos com SIgAD são

assintomáticos e não há um programa de rastreamento de rotina estabelecido para a

deficiência de IgA. Além disso, em países com altas taxas de casamentos

consanguíneos, a taxa de casos múltiplos desse tipo de IDP em uma família é maior

do que nos outros países (YEL, 2010; YAZDANI et al., 2017).

6.1.4 PATOGENESE DA DEFICIÊNCIA SELETIVA DE IgA

Embora vários estudos venham sendo realizados no intuito de determinar a

etiologia da SIgAD, a sua exata patogênese ainda não é totalmente conhecida. Uma

vez que essa IDP tem uma natureza heterogênea, os achados sugerem que diferentes

etiologias podem estar envolvidas no seu desenvolvimento. Dessa forma, a SIgAD

tem sido associada a defeitos intrínsecos nas células B, a anormalidades nas células

T e, mais recentemente, a alterações nas redes de citocinas envolvidas na troca de

isotipos para IgA (YAZDANI et al., 2017).

A via de troca de classe de IgA dependente de células T só ocorre devido a

interação de CD40 com CD40L e a presença de TGF-β1. A interação CD40L-CD40,

induz a ativação do fator nuclear kappa da ativação (NF-κB) da célula B, que por sua

vez ativa a expressão da enzima citidina desaminase induzida pela ativação (AID),

uma enzima que age nos sítios de troca de isotipo de anticorpos. Porém, nessa

interação dos LB com os LT, não basta a interação do CD40 com o CD40L para que

a mudança de classe de anticorpos seja acionada, há necessidade também da ação

de citocinas. No caso da IgA, essa citocina é TGF-β1, que é o sinalizador envolvido

no processo troca para esse anticorpo (MURPHY; WEAVER, 2017).

O TGF-β1 tem um papel importante na indução da troca de isotipo para IgA por

meio de diferentes fatores de transcrição, como SMADs, fator de transcrição 3

relacionado ao Runt (Runx3) e PU1 (BAGHERI et al., 2019). Para entender melhor o

papel dos receptores de TGF-β1, estudos usaram modelos de camundongos com

defeitos seletivos nos receptor I e II do TGF-β1 em células B. Camundongos com

defeito no receptor II tinham uma maior deficiência de produção de IgA do que aqueles

com defeito no receptor I (CAZAC & ROES, 2000; BORSUTZKY et al., 2004). Embora

a diminuição da secreção de IgA no modelo de camundongos deficientes em receptor

de TGF-β demonstre o possível papel dessa via na SIgAD humana, para esclarecer o

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37

real papel dessa citocina na patogênese da SIgAD, estudos adicionais são

necessários.

Como já citado, as proteínas SMAD, atuam como fatores de transcrição da via

TGF-β1. Nesse sentido, camundongos deficientes em SMAD2 especificamente em

células B, apresentam uma redução nos níveis de IgA (KLEIN et al., 2006). Por outro

lado, a perda de SMAD7 nas células B resultou num aumento na produção de IgA,

que se correlacionou com o pico de fosforilação de SMAD2 após estimulação com

TGF-β (LI et al., 2006). Outro dado aponta que a super expressão de SMAD3 e

SMAD4 em células B esplênicas aumenta a expressão de IgA (PARK, LEE & KIM,

2001), mas camundongos deficientes em SMAD3 foram relatados como tendo

produção normal de IgA (YANG et al., 1999), indicando que in vivo, SMAD2 e SMAD3

podem executar funções redundantes e/ou SMAD2 possa ser o ativador dominante

na troca de classe para classe IgA. Além desses fatores, os linfócitos de camundongos

com deficiência de Rel-A (subunidade de NF-kB, também conhecida como p65)

apresentam um defeito seletivo na secreção de IgG1 e IgA, o que sugere um candidato

para estudos futuros (DOI et al., 1997). Portanto, defeito nos receptores de TGF-β e

fatores de transcrição podem ter um papel importante na patogênese da SIgAD

(BAGHERI et al., 2019).

Por outro lado, como já mostrado anteriormente, produção de IgA independente

de células T ocorre por meio do envolvimento de diferentes receptores, fatores de

transcrição e citocinas, como receptor de óxido nítrico (NO), ácido retinóico (RA), IL-

6, TACI, BAFF e APRIL (BAGHERI et al., 2019). TACI é uma proteína transmembrana

da superfamília dos receptores do TNF, codificada pelo gene TNFRSF13B, tendo um

papel importante nas respostas de anticorpo contra diferentes tipos de antígenos.

Várias mutações polimórficas foram encontradas no gene TNFRSF13B em indivíduos

com deficiência de IgA. Além disso, estudos têm mostrado que os camundongos

nocautes de TACI têm baixos níveis séricos de imunoglobulinas, particularmente IgA

e apresentam respostas imunes fracas a antígenos T independentes (VON BULOW

et al., 2001; TSUJI et al., 2011). Outro estudo mostrou que a estimulação de células

B murinas com APRIL in vitro via TACI estimulou a troca de isotipo para IgA, IgG e

IgE nessas células, enquanto que células B deficientes para TACI não foram capazes

de fazer troca de isotipo para IgA quando estimuladas por BAFF, outro ligante desse

receptor, mas permaneceram com a capacidade de fazer a mudança de classe para

IgG e IgE. Assim, esses dados sugerem que as interações dos ligantes ao receptor

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38

TACI são necessárias para a produção de IgA (MACPHERSON et al., 2008, CASTIGLI

et al., 2005), podendo alterações em TACI ou em seus ligantes, estarem envolvidos

na patogênese da SIgAD.

Outro estudo mostrou que a mudança de classe para IgA é prejudicada em

camundongos deficientes da enzima sintetase de óxido nítrico induzível (NOSi). O

óxido nítrico (NO) é produzido pelas células dendríticas. Ele é produzido e está

envolvido na via de sinalização para troca de classe para IgA, ou seja, ele sinaliza

para a célula B que ela precisa produzir IgA. A transferência de células dendríticas

(CDs), que são as boas produtoras de óxido nítrico, do tipo selvagem para os

camundongos nocautes da NOSi, resgatou a produção de IgA nesses animais. Assim,

devido ao importante papel das CDs no processo de troca de classe, defeitos na

sinalização da NOSi podem estar envolvidos na patogênese do SIgAD (TEZUKA et

al., 2007); no entanto, mais estudos sobre moléculas e fatores acima mencionados

são necessários em humanos.

Do ponto de vista genético, 3 cromossomos, o 18, 14 e 6, foram

significativamente associados à deficiência de IgA. Certos haplótipos de antígenos

leucocitários humanos (HLA), tem sido associado à SIgAD. O sistema HLA codifica

proteínas de superfície que reconhecem e apresentam antígenos próprios ou externos

para o sistema imune adaptativo, essas proteínas são os MHCs I ou II (molécula de

histocompatibilidade), então essas proteínas são de extrema importância na

apresentação do antígeno da célula B para as células T auxiliares, para ocorrer a

produção de imunoglobulinas. Isso ajuda a garantir o estabelecimento de células B de

memória de longa duração produtoras de IgA. E também genes não-HLA, como os

genes que codificam JAK3 e RAG1, têm sido associados à deficiência de IgA

(BAGHERI et al., 2019).

6.1.5 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DOS PACIENTES COM SIgAD:

Apesar de a maioria dos pacientes com SIgAD permanecerem assintomáticos

durante a vida, alguns podem apresentar infecções pulmonares recorrentes, alergias,

doenças autoimunes, distúrbios gastrointestinais, alguns tipos de câncer, tais como

carcinomas e linfomas, especialmente em pessoas idosas, entre outras complicações

(RAWLA; JOSEPH, 2019). As manifestações mais comuns associadas à deficiência

seletiva de IgA são as infecções pulmonares recorrentes causadas por bactérias

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39

encapsuladas extracelulares, como Streptococcus pneumoniae e Haemophilus

influenzae. Também tem sido observada uma maior incidência de doenças

autoimunes em pacientes com deficiência de IgA, como doença celiaca, lupus

eritematoso sistêmico, artrite reumatoide, colite ulcerativa e doença de Crohn

(RAWLA; JOSEPH, 2019).

Estudos também mostram forte associação entre a deficiência de IgA e a

alergia, uma vez que as doenças alérgicas podem ser a primeira e/ou única

manifestação clínica em alguns pacientes com SIgAD. De fato, existe uma alta

prevalência de doenças alérgicas em pacientes com SIgAD (AGHAMOHAMMADI et

al., 2009; SHKALIM et al., 2010), uma vez que foi estimado que 25-50% dos pacientes

com SIgAD são reconhecidos pela avaliação de doenças alérgicas que podem

aumentar durante o curso da doença (CUNNINGHAM-RUNDLES, 2001). As doenças

alérgicas mais comumente associadas à SIgAD são: conjuntivite alérgica, rinite,

urticária, eczema, alergia alimentar e asma (YAZDANI et al, 2017). De fato, a IgA

secretora ajuda a prevenir a absorção de alérgenos na corrente sanguínea, assim, a

IgA nas barreiras mucosas desempenha um papel significativo na prevenção da

alergia.

Em situações raras são observadas reações transfusionais anafilactóides

graves em doentes com SIgAD, considera-se que estes indivíduos correm um maior

risco de anafilaxia quando recebem produtos sanguíneos que contêm alguma IgA.

Acredita-se que isso seja devido a anticorpos IgG anti-IgA (ou possivelmente IgE anti-

IgA), que podem ser encontrados em alguns indivíduos com deficiência de IgA

(KUMAR, SHARMA & SETHI, 1993; WEI et al;, 1996). Uma vez que esses indivíduos

não têm IgA, poderão fazer reação a esses anticorpos, logo quando recebem uma

transfusão sanguínea com IgA podem se sensibilizar, e num segundo contato, pode

haver a reação anafilactóide citada.

6.1.6 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE SIgAD

Como já citado, a percepção de que um indivíduo está com níveis baixos IgA

ocorre muitas vezes de forma acidental, em exames laboratoriais de rotina. Para o

diagnóstico de SIgAD foi criado um novo critério pela European Society for

Immunodeficiencies (ESID), que incluem os seguintes pontos: (RAWLA; JOSEPH,

2019)

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40

● Níveis sérico de IgA indetectáveis (abaixo de 0,07 g/l, níveis normais seriam de

113-248 mg/dL), com níveis séricos normais de IgG (739-1475 mg/dL) e IgM

(65-134 mg/dL) (avaliados por nefelometria pelo menos duas vezes);

● Maior suscetibilidade a infecções, especialmente respiratórias;

● Diagnóstico em uma idade maior que 4 anos;

● Doenças autoimunes concomitantes e/ou um membro da família com a doença;

● Causas secundárias de hipogamaglobulinemia excluídas;

● Resposta normal de anticorpo do tipo IgG a todas as vacinas;

● Exclusão de defeito de células T.

Formas graves e fenótipos clínicos de alergia tendem a se manifestar na infância,

enquanto infecções leves e fenótipo de autoimunidade seriam diagnosticados na

meia-idade. É possível que, durante a vida, a SIgAD assintomática possa desenvolver

outros fenótipos sintomáticos, incluindo quadros infecciosos, alérgicos e autoimunes

mais leves (YAZDANI et al., 2017).

Não existe um tratamento específico recomendado para pacientes com SIgAD,

por isso os pacientes devem ser tratados individualmente. Existem também, casos de

pacientes que mesmo sem o tratamento desenvolvem níveis normais de IgA

(YAZDANI et al., 2017). Os cuidados com os pacientes incluem uma conscientização

da condição, monitoramento periódico, tratamento de condições alérgicas ou doenças

autoimunes associadas, antibioticoterapia prolongada ou mesmo profilática,

administração de vacinas pneumocócicas polivalentes e terapia de reposição

intravenosa ou subcutânea de imunoglobulinas (YAZDANI et al., 2017).

A conscientização do paciente é de extrema importância, para prevenir reações

anafiláticas secundárias a transfusões sanguíneas (YAZDANI et al., 2017). Pois é

indicado que pacientes com deficiência de IgA, sejam transfundidos com bolsas

provenientes de doadores deficientes em IgA, pois esses pacientes podem ter reações

imunes devido aos anticorpos que reagem com a IgA, como descrito previamente

(KUMAR, SHARMA & SETHI, 1993; WEI et al;, 1996;). Nos pacientes com níveis

indetectáveis de IgA sérica e também em pacientes com reações à transfusão de

hemoderivados, recomenda-se realizar teste de triagem para anticorpos anti-IgA para

avaliar melhor o risco dos pacientes para futuras reações à infusão de hemoderivados.

Nestes doentes, todos os produtos sanguíneos devem ser administrados com

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41

cuidado, e a equipe deve estar preparada para tratar uma potencial reação anafilática

(YAZDANI et al., 2017).

O tratamento dos casos de alergias associadas à SIgAD é semelhante ao

tratamento de alergias em geral. A principal questão no tratamento das doenças

autoimunes associadas ao SIgAD é o diagnóstico precoce, independente da detecção

de anticorpos IgA, no entanto, independente disso, o tratamento desses distúrbios é

semelhante ao autoimune em indivíduos saudáveis, ou seja, naqueles que não têm

essa IDP (YAZDANI et al., 2017).

Pacientes com infecções das vias áereas recorrentes e crônicas, exige um

tratamento agressivo com antibióticos para condições como rinite alérgica/asma,

rinossinusite crônica, mas o uso de antibióticos profiláticos, particularmente nos

meses de inverno, é indicado para esses pacientes, quando não estão apresentando

quadro infeccioso. Idealmente, a terapia antibiótica deve ser direcionada ao organismo

específico que causa a infecção. Infelizmente, nem sempre é possível isolar e

identificar esses microrganismos e suas sensibilidades antibióticas com precisão,

portanto, o uso de antibióticos de amplo espectro pode ser necessário (YAZDANI et

al., 2017).

6.2 ATAXIA-TELANGIECTASIA

A ataxia-telangiectasia (AT) é uma desordem autossômica recessiva,

caracterizada por macha anormal (ataxia), devido a um comprometimento do

cerebelo, que é responsável pelo equilíbrio e coordenação, e malformações

vasculares (telangiectaisas) (ABBAS, LICHTMAN & PILLAI, 2019). Os pacientes com

AT apresentam diversas manifestações clínicas incluindo ataxia cerebelar

progressiva, telangiectasia oculocutânea (Figura 10), de orelhas e cotovelos,

imunodeficiência variável, sensibilidade a radiação ionizante, distúrbios metabólicos e

maior susceptibilidade a câncer (leucemias e linfomas). Além de outras anormalidades

como, falha de crescimento, desenvolvimento puberal ruim, diabetes resistente à

insulina, atrofia gonodal doenças pulmonares, anormalidade cutânea e doenças

cardiovasculares (TEIVE et al., 2015; NISSENKORN et al, 2016; ABBAS, LICHTMAN

& PILLAI, 2019).

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42

Figura 10 Telangiectasia oculocutânea. Fonte: (LÓPEZ; QUINTERO, 2016).

Além disso, pacientes com AT têm um mau prognóstico, com um tempo de

sobrevida de 25 anos aproximadamente. As duas causas de morte mais comuns

desses pacientes são doenças pulmonares crônicas e câncer (CRAWFORD et al.,

2016).

A doença é causada por mutações no gene que codifica a proteína

serina/treonina quinase ataxia-telangiectasia mutada (ATM, do inglês ataxia

telangiectasia mutaded). A ATM é uma proteína grande (∼350 KDa), com função

extremamente importante no reparo de quebra de DNA de cadeia dupla, além de agir

na estabilidade genômica, na regulação do ciclo celular e na sobrevivência celular

(AMIRIFAR et al., 2019).

A AT é relatada em todo o mundo com uma prevalência estimada de 1:40.000

a 1:100.000 (ROTHBLUM-OVIATT et al., 2016) e a deficiência de ATM é a segunda

IDP monogênica mais comum após a febre familiar do Mediterrâneo, com 2.514

pacientes relatados globalmente (1.262 na América do Norte, 251 na América Latina,

696 na Europa, 199 pacientes na Ásia e Oceania, 106 pacientes na África) (MODELL

et al., 2018).

O gene que codifica a proteína ATM contém 66 exons localizado no lócus

11q22–23. Os níveis da expressão da proteína têm sido relatados em altos níveis de

forma ubíqua na maioria das células e órgãos humanos, com exceção do fígado,

tecidos moles e adiposo (AMIRIFAR et al., 2019). A maioria das mutações que afetam

o gene ATM gera a uma proteína truncada e sem função, mas menos comumente,

mutações ou defeitos nas regiões promotoras do gene resultam em expressão de

baixo nível da proteína ATM funcional, resultando em uma forma mais branda de

ataxia-telangiectasia (AMIRIFAR et al., 2019).

Durante a vida, o DNA genômico de um indivíduo é submetido a danos por

radiação ionizante, radiação ultravioleta e espécies reativa do oxigênio. Estes agentes

causam quebras nas duplas-fitas (DBS, do inglês double-strand breaks) de DNA, que

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43

precisam ser reparadas. A ATM atua como um sensor de dano ao DNA ativando a

sinalização contra apoptose e estresses genotóxicos, como radiação ionizante (figura

11). Um evento precoce durante a resposta ao dano ao DNA é a monomerização e

ativação da ATM, levando à rápida fosforilação de várias proteínas envolvidas no

reparo do DNA, no ponto de controle do ciclo celular e na transcrição (AMIRIFAR et

al., 2019). A quebra da dupla fita (DSB), devido a uma radiação ionizante, por

exemplo, leva à ativação de ATM, que causa o aumento dos níveis e fosforila a

proteína de reparo de DNA p53. A ATM é recrutada ao local da lesão pelo complexo

MRN (NBS1-MRE11-RAD50) e, depois de ativada, fosforila as proteínas de histona,

H2AX, BRCA1, 53BP1 e NBS1, que irão participar do acesso à região lesionada,

sinalização e reparo do DNA (AMIRIFAR et al., 2019).

Figura 11Cascata de reparo do dano ao DNA, em consequência de radiação ionizante.

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-6-Cascata-de-reparo-do-dano-ao-

DNA-em-consequencia-de-radiacao-ionizante-A_fig6_283034503

O reparo do DNA é regulado com base no estágio do ciclo celular e na forma

da cromatina, e não na natureza da lesão. Esses processos envolvem mecanismos

que modificam transitoriamente ou localmente a estrutura da cromatina para promover

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44

o reparo do DNA. O DNA de dupla fita está na forma de heterocromatina e o ATM é

essencial para o desdobramento da heterocromatina, dando acessibilidade a

maquinaria de reparo do DNA. Além disso, a ATM envolve mecanismos

especializados de reparo da dupla fita de DNA em condições fisiológicas como

recombinação meiótica, montagem dos genes do receptor de células T e

imunoglobulina (Ig) pela recombinação V(D)J e recombinação eficiente para de troca

de classe (CSR) em linfócitos B maduros. Logo, mutação na ATM promove a

patogênese da AT, que resulta em disfunção imune, predisposição a linfoma e

esterilidade (BEDNARSKI & SLECKMAN, 2012; ALVAREZ-QUILON et al, 2014).

Tem sido mostrado também que as células de pacientes com AT têm telômeros

curtos e isso resulta em uma instabilidade do telômero, mimetizando o estado

canceroso, porém ainda não está claro como a ATM e essa instabilidade estão

relacionadas (AMIRIFAR et al., 2019).

6.2.1 TELANGIECTASIA EM PACIENTES COM AT

As causas da telangiectasia estão relacionadas a vasos sanguíneos dilatados

que se manifestam principalmente na esclera ocular e em áreas da pele expostas ao

sol, especialmente a face e as orelhas, mas principalmente os olhos (CABANA et al.,

1998). A telangiectasia ocular não afeta a visão, embora às vezes seja diagnosticada

erroneamente devido a conjuntivite crônica ou alergia no contexto de imunodeficiência

e imuno desregulação (FARR et al., 1998). A base fisiopatológica da telangiectasia

em pacientes com AT não foi totalmente compreendida. No entanto, tem sido

postulado que telangiectasias oculocutâneas em pacientes com AT estão associadas

a anormalidades vasculares devido à superexpressão do fator 1 induzido por hipóxia

(HIF-1, do inglês hypoxia inducible factor 1) (OUSSET et al., 2010). O HIF-1 é um fator

de transcrição que, em condições hipóxicas, aumenta a expressão do fator de

crescimento endotelial vascular (VEGF) e, portanto, está envolvido na angiogênese

(SCHOFIELD & RATCLIFFE, 2004). Logo, a superexpressão de HIF-1 em células

deficientes em ATM pode explicar anormalidades vasculares como doença

cardiovascular, telangiectasia e desenvolvimento tumoral em pacientes com AT.

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45

6.2.2 ATAXIA-TELANGIECTASIA E IMUNODEFICIÊNCIAS

Imunodeficiências primária são observadas em pelo menos 70% dos pacientes

com AT, devido aos problemas de recombinação V(D)J nos receptores de antígenos

de células T e B. É comum encontrar nesses pacientes linfopenia de células T e B,

baixos níveis de células T CD4+ e CD8+, sendo mais significante a diminuição nos

LTCD4+. Ocorre deficiência na produção e anticorpos, deficiência seletiva de IgA,

hipogamaglobulinemia e deficiência de subclasses de IgG. As deficiências humorais

mais comuns estão relacionadas a diminuição ou ausência de níveis séricos de IgA,

IgE, IgG2 e IgG4, especialmente de IgA e IgG2 (STRAY-PEDERSEN et al., 2004;

DRIESSEN et al., 2013). Além disso, células T imaturas expressam receptores

gama/delta ao invés de receptores alfa/beta (LÓPEZ; QUINTERO, 2016).

Em consequência dessas imunodeficiências, estima-se que quase 80% dos

pacientes com AT sofram de infecções. Geralmente, as manifestações mais comuns

são infecções sinopulmonares que frequentemente se manifestam no início da vida

(NOWAK-WEGRZYN et al., 2004; BOTT et al., 2007). Pacientes AT com perfil de Ig

normal ou deficiência de IgA manifestam infecções respiratórias brandas, enquanto

os pacientes AT com defeito na recombinação de troca de classe de Ig (CSRD, do

inglês class switch recombination defect) apresentam infecções graves, como otite

média, pneumonia e infecções mucocutâneas, juntamente com autoimunidade,

hepatoesplenomegalia, linfadenopatia e neutropenia (GHIASY et al., 2017). Além

disso, os pacientes AT com CSDR apresentam um curso mais grave da doença,

levando a uma menor qualidade de vida e menor sobrevida em idades mais precoces

do que outros pacientes com AT (CHEN et al., 2010).

O processo pelo qual a deficiência de ATM causa imunodeficiência não é

totalmente esclarecido, porém já foi reconhecido que essa proteína desempenha um

papel fundamental no reconhecimento e reparação da dupla fita de DNA durante o

rearranjo do TCR e troca de classe de imunoglobulinas (KOJIS, GATTI, SPARKES,

1991; MICOL et al., 2011, BREDEMEYER et al., 2006). Por outro lado, postulou-se

que a translocação cromossômica nas regiões dos cromossomos 7 e 14 que estão

associadas a receptores de células T e regiões codificadoras de Ig de cadeia pesada

pode estar envolvida na imunodeficiência em pacientes com AT (KOJIS, GATTI,

SPARKES, 1991). Esses pacientes também apresentam disfunção tímica. Como a

ATM regula a resposta ao estresse oxidativo e protege os timócitos contra a apoptose,

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46

essa disfunção pode ser causada pelos efeitos do estresse oxidativo devido a

deficiência de ATM observada na AT. Além disso, as células T virgens podem ser mais

suscetíveis que as células T maduras em condições de estresse oxidativo (AMIRIFAR

et al., 2019).

6.2.3 ATAXIA-TELANGIECTSIA E COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS:

O principal aspecto da manifestação clínica de pacientes com mutações em

ATM são processos neurodegenerativos. A neurodegeneração progressiva e

espinocerebelar geralmente se manifesta entre os 6 e os 18 meses de idade. A Ataxia

muitas vezes é o primeiro sinal diagnóstico que ocorre nesse período. Após os 10

anos, os problemas de movimento normalmente fazem com que uma criança fique

confinada a uma cadeira de rodas (HOCHE et al., 2012). Os pacientes AT manifestam

sinais de disfunção cerebelar, como balanço truncal, ataxia de marcha, dissinergia,

hipotonia muscular e quedas súbitas (BODER & SEDGWICK, 1970; AMIRIFAR et al.,

2019), e podem ter movimentos involuntários anormais, incluindo coreia, distonia,

disfagia, atetose, sacudidelas mioclônicas ou vários tremores. Geralmente, uma forma

grave de coreia e distonia é observada em 90% dos pacientes (SHAIKH & MARTI,

2011; SHAIKH et al., 2013). Movimentos oculares anormais e distúrbios visuais

causados pela degeneração do córtex cerebelar é também observado em AT (Lewis

et al., 1999).

Até o momento, a correlação entre o fenótipo neurodegenerativo e a deficiência

de ATM permanece sem solução, mas a hipótese sugerida é que a ATM pode

funcionar como o principal agente na manutenção da homeostase celular e na

prevenção de doenças no sistema nervoso. A proteína ATM normal pode permitir que

os neurônios possam reparar o DNA danificado ou iniciar o caminho da apoptose

(KRUMAN et al., 2004; LEE & MCKINNON, 2007). Por outro lado, a

neurodegeneração pode ser atribuída à homeostase deficiente de espécies reativas

do oxigênio (ROS) após a disfunção da ATM nos neurônios (HOCHE et al., 2012).

Outro fator sugerido para a neurodegeneração é a concentração sérica elevada da

alfa-fetoproteína (AFP), um marcador para o diagnóstico de pacientes com AT, que

tem sido associado ao mecanismo do processo neurodegenerativo.

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47

6.2.4 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE AT

Existem alguns distúrbios semelhantes a AT com características clínicas e

laboratoriais parecidas. Como por exemplo a ataxia-telangiectasia tipo desordem 2

(ATLD2), ataxia oculomotora apraxia tipo 1 (AOA1), ataxia oculomotora apraxia tipo 2

(AOA2), síndrome de RIDDLE (deficiência de RNF168) e ataxia espinocerebelar com

neuropatia axonal (SCAN1) (AMIRIFAR et al., 2019)

A alfa fetoproteína sérica alta é um dos achados laboratoriais da ATM, mas

também está alta em outras doenças como AOA2 e RIDDLE. Dessa forma, é de

extrema importância fazer o exame genético e comprovar a mutação no gene da ATM,

além de observar a presença de ataxia, imunodeficiência, telangiectasia,

radiossensibilidade e aumento da AFP, que são fatores que ajudam a diferenciar a AT

de outras doenças (AMIRIFAR et al., 2019).

Porém os critérios da ESID (European Society for Immunodeficiencies)

esclarecem que para o diagnóstico de AT o paciente precisa ter ataxia e pelo menos

mais duas dessas manifestações: telangiectasia oculocutânea, alfafetoproteína

elevada cariótipo AT em linfócitos T e hipoplasia na ressonância magnética

(AMIRIFAR et al., 2019)

O transplante de células-tronco hematopoéticas para esses pacientes é uma

possibilidade e mostrou certa eficácia com o sistema imunológico, mas a sobrevida

dos pacientes não melhorou, uma vez que esse transplante não melhora o fenótipo

neurodegenerativo da doença. Apesar de nenhum tratamento ser completamente

efetivo para a doença, os pacientes podem fazer uso de medicamentos para diminuir

os sintomas neurológicos, como amantadina, fluoxetina, buspirona, triexifenidila,

baclofeno e clonazepam. Além disso, os glicocorticóides (especialmente

dexametasona e betametasona), têm sido relatados por melhorarem os sintomas

neurológicos (AMIRIFAR et al., 2019).

O uso de imunoglobulinas é uma solução viável para diminuir as infecções

recorrentes em pacientes com AT, além de tratamento profilático com antibióticos

(VAN OS et al., 2017) e a vacinação contra patógenos bacterianos respiratórios

comuns, como Hemophilus influenzae, vírus influenza e pneumococos, que melhora

o status da imunidade nesses pacientes (NOWAK-WEGRZYN et al., 2004).

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48

6.3 IMUNODEFICIÊNCIA QUE AFETAM A IMUNIDADE CELULAR E HUMORAL

As imunodeficiências combinadas graves (SCIDs, do inglês Severe Combined

Immunodeficiencies) compreendem um grupo de doenças hereditárias que são

caracterizados por um comprometimento do desenvolvimento de linfócitos T, com um

efeito sobre o número e/ou função de células B e células NK. (BUCKLEY, 2004;

FISCHER et al., 2005; ALURI et al., 2019). Esse impedimento decorre desde

bloqueios intrínsecos no programa de diferenciação de linfócitos à falha na

organogênese do timo. Os linfócitos B podem também ser intrinsecamente afetados,

mas a ausência de células T auxiliares nas SCIDs impede que as células B gerem

respostas normais de anticorpos, levando a déficits "combinados" de imunidade

celular e humoral, após o que a condição é denominada (FISCHER et a., 2015; ALURI

et al., 2019).

As crianças afetadas como esse tipo de IDP sofrem de infecções recorrentes,

principalmente infecções por microrganismos oportunistas, como Pneumocystis

jiroveci, diarréia crônica, insuficiência de crescimento e candidíase mucocutânea

persistente (SPONZILLI & NOTARANGELO, 2011).

O Consórcio de Tratamento de Imunodeficiência Primária (PIDTC, do inglês

Primary Immune Deficiency Treatment Consortium) classifica os pacientes em SCID

típica, aqueles com contagem total de células T (CD3+) <300 células/microL de

sangue. Dependendo do status das células B e NK na análise por citometria de fluxo,

os pacientes são ainda classificados como: T−B+NK−, com ausência de células T e

NK e presença de células B; T−B−NK+, com ausência de células T e B e presença de

células NK; T−B−NK− com ausência de células T, B e NK. (SHEARER et al., 2014).

O relato de caso dos patologistas Eduard Glanzmann e Paul Riniker sobre duas

crianças aparentadas com uma linfopenia progressiva, que segundo eles era

consequência direta de infecções graves por Candida albicans, é considerado a

primeira descrição de uma SCID (FISCHER et al., 2015) e essa doença se tornou

amplamente conhecida durante os anos 1970 e 1980 como "doença do menino bolha",

quando o mundo soube do caso de David Vetter (Figura 12), um menino com uma

SCID ligada ao X que viveu por 12 anos, num hospital, em uma bolha de plástico

fechada e estéril, antes de morrer após uma tentativa de transplante de medula óssea.

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49

Figura 12 “O garoto da bolha”. Fonte: https://www.immunology.org/boy-in-the-bubble-

1972

Aluri e colaboradores, (2019) em seu estudo com 57 pacientes indianos com

SCID demonstraram que 39% eram T-B- SCID e 28% eram T- B+ SCID. Outro dado

proveniente do estudo foi que a deficiência de MHC de classe II foi responsável por

10,5% do grupo de pacientes. Além disso, foi demonstrado que entre os pacientes

havia uma grande heterogeneidade genética, mas deficiências em alguns genes se

destacaram como o gene RAG1/2 (12 pacientes) seguido por defeitos de IL2RG (9

pacientes) e JAK3 (9 pacientes). Formas raras de SCID como deficiência de

nucleosídeo fosforilase de Purina (PNP), disgenesia reticular, deficiência de DNA-

Proteína Quinase (DNA-PKcs), seis casos de deficiência de MHC de classe II e duas

deficiências de ZAP70 também foram identificadas.

São características de pacientes com SCID: infecções virais, fúngicas e

bacterianas, infecções respiratórias frequentes, candidíase oral, falhas no

crescimento, linfopenia, infecções por microrganismos raros, infecções oportunistas e

recorrentes, doenças sanguíneas e processos autoimunes (VAILLANT; MOHSENI,

2019).

As imunodeficiências combinadas incluem as imunodeficiências combinadas

graves (SCID) definidas molecularmente e imunodeficiências combinadas com

defeitos menos profundos. As SCIDs consistem em defeitos genéticos que envolvem

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vias de sinalização, como mutações na cadeia ɣ comum (ɣc) e defeito em proteínas

das vias de sinalização do pré-TCR e do TCR, mecanismos anormais de reparo de

DNA que são cruciais para a recombinação V(D)J e o desenvolvimento do amplo

repertório de células T e B, exemplificado por deficiências de RAG1/2, ou que resultam

em um defeito metabólico que leva à apoptose de linfócitos (como a deficiência de

adenosina desaminase - ADA) (FISCHER et al., 2005; ORCH & HAGIN, 2014). Na

figura 13, os balões em vermelho mostram todos os defeitos que podem resultar nas

SCIDs citadas.

Figura 13 Defeitos no desenvolvimento dos LT e dos LB que causam

imunodeficiências. As mutações nos genes que causam as IDP que afetam LT e LB

são indicadas nas caixas vermelhas. Todos os defeitos que levam às as SCIDs estão

sinalizadas. XSCID: SCID ligada ao X. Fonte: MURPHY; WEAVER, (2017)

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51

Além, da classificação da IUIS de 2015, em 2017 eles lançaram uma

classificação fenotípica para IDPs. Na figura 14, pode ser observado como ficou o

diagrama para as Imunodeficiências afetando a imunidade celular e humoral, onde as

SCIDs estão alocadas. Um algoritmo foi atribuído a cada um dos nove grupos

principais da classificação e a mesma cor foi usada para cada grupo de condições

similares. Os nomes das doenças são apresentados em vermelho e os genes em

negrito e itálico. Modo de herança é expresso quando adequado; se não for expresso,

o modo padrão de transmissão é autossômico recessivo. As características clínicas

que apontam para várias doenças são apresentadas em itálico antes dos nomes das

doenças.

Figura 14 Diagrama mostrando os possíveis fenótipos e defeitos genéticos que podem

ocorrer nas SCIDs T-B+ e T-B-. NL: normal. XL- Ligada ao X; IL2RG – gene produtor

da cadeia gama comum; AR – Autossômica recessiva; JAK3 – Janus quinase 3; IL7R

– Receptor de IL-7; CD3D – gene que codifica a proteína CD3 cadeia delta que forma

o complexo receptor de células T; CD3E – gene que codifica a proteína CD3 cadeia

episilon que forma o complexo receptor de células T; CD247 – gene que codifica a

proteína CD3 cadeia zeta que forma o complexo receptor de células T; PTPRC - A

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proteína tirosina fosfatase tipo receptor c; ADA – Adenosina desaminase; AK2 –

Adenilato quinase 2; NHEJ1 - O fator de ligação final não homólogo 1; PRKDC – gene

que codifica a proteína quinase ativada por DNA, subunidade catalítica; RAG 1 e 2 –

Enzimas de recombinação e ativação gênica; DCLRE1C – Gene reparo cross-link de

DNA 1C que codifica a proteína ARTEMIS. Fonte: Bousfiha et al. (2017)

6.3.1 SCID LIGADA AO X (XSCID)

A SCID ligada ao cromossomo X é a forma mais frequentemente diagnosticada

de SCID em 1993, e foi inicialmente descrita como mutações na cadeia gama do

receptor de IL-2, e posteriormente foi renomeada como mutação na cadeia gama do

receptor de citocinas (c) (NOGUCHI et al., 1993; PUCK et al., 1993). A apresentação

clássica do XSCID ocorre nos primeiros meses de vida com infecções persistentes

por microrganismos oportunistas, diarreia persistente e déficit de crescimento

(BUCKLEY et al., 1997).

A XSCID é causada por mutações no gene IL2RG. O gene IL2RG codifica a

cadeia comum (c) do receptor das citocinas IL-2, IL-4, IL-7, IL-9, IL-15 e IL-21 (figura

15). Duas dessas citocinas, e claro, seus receptores são essenciais para o

desenvolvimento dos progenitores de células T e NK, a IL-7 e a IL-15,

respectivamente. Dessa forma, pacientes com SCID ligada ao X (XSCID) terão

defeitos na sinalização de toda família das citocinas IL-2. Devido aos defeitos na

cadeia c dos receptores da IL-7 e IL-15, as células T e NK terão uma falha no seu

desenvolvimento, enquanto o número de células B será normal. No entanto, a

funcionalidade das células B não será normal, pois não recebe a sinalização dos

linfócitos T, evento necessário para sua ativação e secreção de imunoglobulinas

contra antígenos T dependentes (RAVIN & MALECH, 2009). Além disso, os pacientes

com XSCID são todos do sexo masculino e as mulheres que são portadoras do alelo

mutante são fenotipicamente normais. Como as células inativam randomicamente o

cromossomo X, o alelo X normal não será expresso em metade das células

precursoras linfoides. Porém, somente as células com alelo normal se tornarão

linfócitos maduros (ABBAS; LICHTMAN; PILLAI, 2017).

Aproximadamente 200 mutações diferentes já foram encontradas no gene

IL2RG em mais de 320 pacientes com XSCID (LIM et al., 2019). De acordo com o

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53

banco de dados de mutações para esse gene cerca de 48% das mutações

correspondem as do tipo missense e nonsense, enquanto mutações de

inserção/deleção e splicing representam 29% e 23% das mutações, respectivamente.

As mutações levam à produção de uma cadeia c não funcional ou impedem que a

proteína seja produzida, resultando em uma parada no desenvolvimento dos linfócitos

T e células NK (LIM et al., 2019). A cadeia comum c possui um sítio de ligação da

proteína tirosina quinase JAK3, ela inicia uma via de sinalização via STAT, que induz

diversos processos na célula, como a proliferação celular. Após a ligação da citocina

ao receptor IL-2, por exemplo, a JAK3 é ativada e cria um local de ancoragem para o

fator de transcrição STAT. Depois de sofrer a fosforilação mediada por JAK3, a STAT

é translocada para o núcleo, se liga a região promotora de genes específicos e induz

a sua expressão. Por isso essa cadeia é tão importante para a sinalização celular.

Outro tipo de SCID é causada pela deficiência ou ausência de JAK3 (RAVIN &

MALECH, 2009)

Figura 15 Imagem mostrando os receptores de IL-2, IL-4, IL-7 e IL-9. Todos os

receptores possuem a cadeia gama comum. Fonte: SPOLSKI; GROMER; LEONARD,

(2017).

A doença geralmente é letal nos primeiros anos de vida. Porém, já foram

relatadas mutações diferentes que estão associadas a fenótipos menos severos,

denominada XSCID atípica, onde alguns pacientes podem ser menos suscetíveis a

infecções, a redução das células T é relativamente moderada e a proliferação normal

dos linfócitos é observada (RAVIM & MALECH, 2009).

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54

Lim e colaboradores (2019), mostram em seu estudo que, dependendo do exon

em que ocorre a mutação a doença pode apresentar um fenótipo mais leve. Mutações

no exon 5, que codifica o domínio extracelular incluindo uma região essencial para o

adequado dobramento de proteínas e, portanto, o seu transporte intracelular, bem

como o receptor extracelular de ligação, espera-se que interrompa a configuração da

cadeia comum c. Da mesma forma, um efeito clinicamente severo semelhante é

previsto quando as mutações ocorrem no exon 3. De fato, mutações em algumas

regiões do exon 5 e 7 estão relacionadas com XSCID atípica, pois essas mutações

levam a defeitos na função linfocitária e não afetam diretamente seu desenvolvimento

e ainda possuem um timo normal. Porém, essa é uma área que precisa ser melhor

explorada e o mecanismo de ligação da JAK3 com a cadeia comum precisa ser ainda

melhor elucidado para uma possível relação mutação-fenótipo (LIM et al., 2019).

6.3.2 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SCID

Os bebês com SCID desenvolvem diarreia intratável, insuficiência de

crescimento, pneumonia e candidíase oral nos primeiros meses de vida. O curso da

doença é incessante com um desfecho fatal antes do primeiro ano de idade, quando

não tratado adequadamente (FISCHER et al., 2015). Comparado com a

agamaglobulinemia (ausência de células B e anticorpos protetores associados à

pneumonia pneumocócica recorrente), as SCIDs têm um início mais precoce (<6

meses de idade) e um curso mais rápido com infecções virais, fúngicas e por bactérias

piogênicas. As marcas das SCIDs incluem infecções que são recorrentes e

persistentes apesar da terapia, frequentemente causadas por patógenos oportunistas

(FISCHER et al, 2015).

O diagnóstico ocorre primeiramente com um indicador de presença de IDP,

devido ao histórico clínico do paciente, ao mesmo tempo deve ser acompanhado o

perfil de leucócitos no sangue periférico e uma análise funcional de tipos celulares

específicos. Assim a investigação deve se basear nos 10 sinais clínicos de alerta para

Imunodeficiências Primárias em crianças (adaptado pelo BRAGID) e a possibilidade

de HIV deve ser descartada (BARREIROS, 2018).

Para o diagnóstico fechado de SCID a criança afetada deve ter menos de 2

anos de idade e o número de células T CD3+ (células T com o complexo CD3:TCR)

deve ser menor que 300 células por mm3 de sangue, ou com número maior que 300,

porém sem células T naive (CD3+, CD45RA+) (BUELOW, VERBSKY, ROUTES,

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2016). Por outro lado, o diagnóstico provável ocorre em pacientes com menos de 2

anos, que apresentam menos de 20% de linfócitos CD3+, com contagem absoluta de

linfócitos menor que 3000/mm3 e resposta linfoproliferativa a mitógenos menor que

10% (BARREIROS, 2018). Além disso, exames de citometria de fluxo para determinar

as populações de linfócitos T, B e NK são necessários para fechar o diagnóstico

(ILLHO, 2004).

Um dos exames que pode ser prescrito é o sequenciamento do gene IL2RG. O

laboratório Genomika do Hospital Israelita Albert Einstein, realiza o exame de

sequenciamento do gene a partir do DNA extraído de forma automatizada

(QIASymphony), porém o exame apresenta limitações pois só detecta deleções e

duplicações até 17 bp (pares de base). Inversões e translocações também não são

detectadas (GENOMIKA DIAGNÓSTICOS, 2019).

Dessa forma, crianças com suspeita de SCID devem passar por um tratamento

profilático para proteção de infecções bacterianas, fúngicas e virais (DORSEY et al.,

2017). Esses pacientes também devem receber imunoglobulina subcutânea ou

intravenosa, para prevenir infecções, especialmente do trato respiratório e digestório

(GASPAR et al., 2013). Além disso, esses pacientes não podem receber vacinas vivas

ou atenuadas, uma vez que elas podem causar doenças nesses pacientes pelo

quadro de imunossupressão (GASPAR et al., 2013). Praticamente todos os pacientes

são encaminhados para o transplante de células-tronco hematopoiéticas (PAI et al.,

2014).

O primeiro transplante de medula óssea para SCID foi realizado em 1968 e

mostrou que é possível a correção efetiva do sistema imune do paciente. Um número

crescente de casos tem sido documentado com aumento de sobrevivência dos

pacientes e recuperação imune. A melhora desse tipo de transplante se deve a criação

de um banco de dados com a tipagem de HLA (human leukocyte antigen) que

disponibilizam doações compatíveis de doadores não aparentados (BARREIROS,

2018)

Terapia gênica e terapia de reposição enzimática são opções para pacientes

com certos tipos de SCID, como por exemplo a SCID causada por ausência da enzima

ADA (adenosina desaminase). Porém um dos fatores limitantes do transplante é a

doença do enxerto versus hospedeiro (GVHD, do inglês graft versus host disease). A

compatibilidade com o antígeno HLA é o maior fator de risco para GVHD. O doador

ideal seria um irmão do paciente e encontrar doador irmão ou parente próximo não é

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56

muito incomum em populações com alta taxa de consanguinidade, como na Arábia

Saudita, por exemplo (AL-SAUD et al., 2019).

6.4 DEFEITOS NAS CÉLULAS FAGOCITÁRIAS

6.4.1 OS FAGÓCITOS

Os fagócitos, incluindo neutrófilos (Figura 16A) e macrófagos (Figura 16B), são

células, cuja função primária é ingerir e destruir microrganismos e se livrar de tecidos

danificados. O processo de inflamação em que eles participam ocorre nas seguintes

etapas: recrutamento de células para o local da infecção, reconhecimento e ativação

pelos microrganismos, ingestão dos microrganismos e sua destruição. Além disso

eles, através do contato direto e por meio de citocinas, eles se comunicam com outras

células, de maneira a promover ou regular as respostas imunes (ABBAS, LICHTMAN

& PILLAI, 2019).

Figura 16 Imagem de um neutrófilo em sangue periférico e de um macrófago tecidual.

Fonte: (MURPHY; WEAVER, 2017).

Os neutrófilos, também chamados de leucócitos polimorfonucleares, são as

células mais abundantes no sangue e são responsáveis pelas fases iniciais das

respostas inflamatórias. Está no grupo de células chamadas de granulócitos, pois seu

citoplasma contém dois tipos grânulos, os grânulos específicos, que são os mais

abundantes e ricos em lisozima, colagenase e elastase. Estes grânulos não coram

fortemente nem com corantes ácidos nem básicos, daí a nomenclatura dessas

A B

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57

células. O restante dos grânulos dos neutrófilos são denominados de azurófilos e

consiste de lisossomas que contém enzimas e outras substâncias microbicidas,

incluindo os peptídeos antimicrobianos defensinas e catelicidinas. A produção dos

neutrófilos na medula óssea é induzida por ação do fator estimulador de colônia de

granulócitos (G-CSF) e um adulto produz mais de 1 x 1011 neutrófilos, que circulam

por horas ou poucos dias no sangue. Essas células são as primeiras a chegar num

sítio de inflamação e após entradas nos tecidos, os neutrófilos vivem por no máximo

dois a quatro dias (ABBAS, LICHTMAN & PILLAI, 2019).

Os macrófagos são células residentes na maioria dos tecidos corporais, sendo

a forma madura dos monócitos, que são células sanguíneas. Ambas células são

fagócitos, mas como a maioria das infecções acontecem nos tecidos, os macrófagos

exercem predominantemente essa função. Os macrófagos são células de vida

relativamente longa e além de fagocitose, essas células auxiliam na indução da

inflamação (pela produção de citocinas pró-inflamatórias) coordenam respostas

imunes e atuam também limpando os tecidos, através da captura de células mortas e

restos celulares (MURPHY; WEAVER, 2017).

As células dendríticas compõem a terceira classe das células fagocíticas do

sistema imunológico. A maioria das células dendríticas têm longos processos

membranosos semelhantes a dedos como os dendritos das células nervosas, daí sua

nomenclatura. Elas têm a capacidade de capturar substâncias particuladas por

fagocitose, mas também ingerem uma grande quantidade de líquido extracelular por

macropinocitose. Como macrófagos e neutrófilos, elas degradam os patógenos que

capturam, mas sua principal função não é a eliminação de microrganismos, mas sim,

uma vez capturado um patógeno, ela vai ativar, através do processo de apresentação

de antígenos, as células T naives no órgão linfoides secundários (MURPHY;

WEAVER, 2017).

6.4.2 TIPOS DE DEFEITOS NAS CÉLULAS FAGOCITÁRIAS

Defeitos congênitos na quantidade ou função dos fagócitos estão associados a

defeitos severos na imunidade. As imunodeficiências fagocíticas podem ser

agrupadas em quatro tipos gerais: neutropenias congênitas, defeitos na motilidade,

defeitos na explosão respiratória e outros-defeitos não-linfoides (PICARD et al., 2018).

As deficiências hereditárias de produção de neutrófilos são classificadas como

neutropenias congênitas severas (SCN, do inglês severe congenital neutropenia) que

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podem ser herdadas na forma dominante ou recessiva. As causas mais comuns de

SCN são mutações esporádicas ou dominantes autossômicas do gene que codifica a

elastase neutrofílica (ELA2), um componente dos grânulos específico envolvido na

degradação de microrganismos fagocitados (LANINI et al., 2016).

Outro tipo de IDP que afetam os fagócitos são defeitos na migração de células

para sítios extravasculares (Figura 17), o que resulta em imunodeficiência grave.

Sabe-se que os leucócitos migram dos vasos sanguíneos para o local da infecção por

um processo regulado por diversas moléculas. O primeiro estágio é a aderência móvel

dos leucócitos nas células endoteliais vasculares por meio de ligações fracas entre

carboidratos presentes nos leucócitos e selectinas presentes no endotélio vascular

ativado. Num estágio posterior, a adesão firme entre integrinas de alta avidez nos

leucócitos e seus ligantes no endotélio vascular permite a parada do rolamento celular

e sua diapedese para dentro do tecido onde ocorre o processo inflamatório (MURPHY;

WEAVER, 2017)

Figura 17 Imagem mostrando a migração do monócito para o tecido.

Fonte: (MURPHY; WEAVER, 2017)

Qualquer deficiência nas moléculas envolvidas nesse processo de adesão

pode impedir que os neutrófilos e monócitos consigam penetrar nos tecidos e esses

defeitos são conhecidas como deficiência de adesão dos leucócitos (LADs, do inglês

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leukocyte adhesion deficiencies). São descritos três tipos de LAD e cada variante tem

um padrão autossômico recessivo de hereditariedade e causa infecções bacterianas

ou fúngicas graves com risco de morte e que são caracterizadas por cicatrização

prejudicada e infecções bacterianas piogênicas (LANINI et al., 2016).

6.4.3 MECANISMOS MICROBICIDAS DOS FAGÓCITOS DEPENDENTES DO O2

Outro defeito importante é aquele que afeta os mecanismos microbicidas dos

fagócitos. O mais frequente desses é o que causa a Doença Granulomatosa Crônica

(CGD, do inglês chronic granulomatous disease) (LANINI et al., 2016).

Um dos mais importantes mecanismos para destruir micróbio invasores é a sua

fagocitose por macrófagos e neutrófilos, após o que o micróbio deve morrer dentro

dos vacúolos fagocíticos, devido aos seus mecanismos microbicidas. A captura de

micróbios pelos fagócitos é acentuada pela opsonização através de proteínas do

complemento e anticorpos (Figura 18). As ações microbicidas dos fagócitos podem

ocorrer por diferentes vias, sendo uma das principais aquela que envolve a produção

de radicais tóxicos do oxigênio (O2), como ânion superóxido (O-2) e peróxido de

hidrogênio (H2O2). A produção desses intermediários tóxicos acontece por um

processo complexo que resulta em mudanças no pH e no potencial de membrana do

fagossomo, bem como a produção de fatores microbicidas ativos. Estas mudanças

são críticas para criar um ambiente microbicida dentro do fagossomo, que facilita a

ativação e função de enzimas que ali são liberadas (KOBAYASHI & DE LEO, 2009).

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Figura 18 Fagocitose de neutrófilos e processo microbicida. Ligação e a fagocitose de

um microrganismo opsonizado com anticorpo ou complemento sérico. A fagocitose

desencadeia a produção de ânio superóxido (O2˙−) a partir do qual se formam outras

ROS secundários, incluindo peróxido de hidrogênio (H2O2) e ácido hipocloroso

(HOCl). Fonte: KOBAYASHI & DE LEO, 2009.

Para que essa via tóxica do oxigênio seja iniciada, há necessidade que enzima

NADPH oxidase seja acionada. A NADPH oxidase é um complexo enzimático que

contém proteínas citosólicas e ligadas à membrana do fagossomo e que trabalham

em conjunto para produzir as espécies reativas de oxigênio (ROS, do inglês reactive

oxigen species) em fagócitos ativados. O núcleo catalítico da NADPH oxidase (phox)

é o gp91phox, uma glicoproteína integrada à membrana. Gp91phox forma um

heterodímero com a proteína menor, p22phox, associada à membrana e juntos

formam o componente central da NADPH oxidase, o flavocitocromo b558. Quatro

componentes citosólicos também pertencem ao complexo: p47phox, p67phox,

p40phox e a pequena proteína G Rac1 ou Rac2. A regulação do sistema fagocítico

depende da segregação espacial desses componentes essenciais. A enzima é

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dissociada em células em repouso, mas rapidamente reunida após ativação por

exposição a micróbios ou mediadores inflamatórios (Figura 19) (MACCANN &

ROULSTON, 2013).

Figura 19 Representação diagramática das formas em repouso e ativada da NADPH

oxidase fagocítica. A subunidade catalítica, gp91phox, juntamente com p22phox

constitui o flavocitocromo b558, associado à membrana da enzima. As três proteínas

phox, p47, p67 e p40 formam um complexo citosólico na célula em repouso e, após

ativação, translocam-se para a membrana, atracando com o flavocitocromo b558. A

pequena proteína G-Rac, na sua forma ligada ao GDP, é estabilizada por RhoGDI no

estado de repouso e também transloca-se para a membrana após a ativação. Quando

montada, a enzima gera o ânion superóxido (O-2) aceitando elétrons (e−) da NADPH

e doando-os ao oxigênio molecular (O2). Fonte: MACCANN & ROULSTON, 2013.

Nos neutrófilos em repouso, como falado, as subunidades do citocromo b558

(gp91 e gp22) do NADPH oxidase estão localizadas nas membranas dos grânulos

secundários. Já os outros componentes (p40, p47 e p67) estão localizados no citosol.

Durante o processo de captura de um patógeno, a sinalização por receptores fMet-

Leu-Phe (fMLP) ativa Rac2. Isso induz a união das subunidades citosólicas com o

citocromo b558 para formar NADPH oxidase ativo na membrana do fagolisossoma, o

qual foi formado pela fusão do fagossomo com lisossomas e grânulos primários e

secundários (Figura 20) (MURPHY; WEAVER, 2017)

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Figura 20 Imagem ilustrando o processo de ingestão de microrganismos e a formação

do fagolisossomo. Fonte: (MURPHY; WEAVER, 2017).

6.4.4 DOENÇA GRANULOMATOSA CRÔNICA

A Doença Granulomatosa Crônica (DGC) é causada por um defeito em um dos

componentes da NADPH oxidase e caracterizada por infecções recorrentes e graves,

inflamação desregulada e autoimunidade. A DGC é uma das imunodeficiências

primárias clássicas da infância; a doença é diagnosticada na maioria das crianças nos

primeiros 3 anos de vida (ARNOLD & HEIMALL, 2017). Embora varie de acordo com

a etnia, a incidência estimada de DGC é de 1 em cerca de 200.000 nascidos vivos

(KUHNS et al., 2010). Dada a coorte anual de nascimentos nos EUA de quase 4

milhões de crianças, aproximadamente 20 crianças nascem por ano com a DGC. Por

comparação, a imunodeficiência combinada grave ocorre em aproximadamente 40

nascidos vivos por ano nos Estados Unidos. As estimativas da incidência de DGC na

Europa e na Ásia são semelhantes, embora algumas populações sejam mais

afetadas, incluindo a população árabe de Israel, em que a incidência é estimada em

1,5 por 100.000 nascidos vivos. Por causa do modo predominante de transmissão

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genética, pessoas do sexo masculino são mais afetadas que as do sexo feminino (~

2:1) (WOLACH et al., 2017).

Relatórios da Europa, Estados Unidos e Japão mostraram que a DGC mais

comum é a que possui herança ligada ao cromossomo X (XDGC), que causa um

defeito na proteína gp91-phox (60% dos casos) em comparação com a CGD de forma

autossômica (AR) (40%). Cerca de 30% da DGC AR é devido a deficiência de p47phox

e cerca de 10% dos casos são devidos a deficiência de p22phox e p67phox (cada um

com cerca de 5%). Em contraste, estudos iranianos e turcos relataram AR como a

forma predominante da DGC devido à alta frequência de casamentos consanguíneos

(CHIRIACO et al., 2016).

Geralmente as mutações dos pacientes com DGC, são pequenas deleções,

inserções dos tipos missense e nonsense, e splicing, que são facilmente detectadas

por sequenciamento. Grandes deleções e duplicações são eventos raros em

pacientes com DGC, provavelmente devido à dificuldade de se detectar por métodos

convencionais, como sequenciamento e PCR (CHIRIACO et al., 2016).

A DGC (XR-DGC) recessiva ligado ao X é causado por mutações no gene

CYBB (ChrXp21.1) que codificam a proteína gp91phox. Já as formas recessivas

autossômicas do DGC (AR-DGC) são devidas a mutações no CYBA (Chr16q24),

NCF1 (Chr7q11.23), NCF2 (Chr1q25) ou NCF4 (Chr22q13.1) codificando as proteínas

p22phox, p47phox, p67phox e p40phox, respectivamente (ARNOLD & HEIMALL,

2017). As mutações da XR-DGC mais frequentes são do tipo missense e atuam no

nível de expressão de gp91phox em células fagocíticas levando a diferentes variantes:

X910 (atividade de proteína e oxidase ausente), X91 (baixos níveis de proteína

mutada e atividade oxidase residual) e X91+ (proteína mutada normalmente expressa

mas atividade oxidase ausente). As mutações AR-DGC estão associadas à atividade

residual da NADPH oxidase em A470 (ausência de proteína), A220/+ (proteína

mutada ausente ou normalmente expressa) e A67/0 (proteína mutada em nível baixo

ou ausente) (CHIRIACO et al., 2016).

Complicações bacterianas e/ou fúngicas são geralmente as primeiras

manifestações da DGC. A maioria dos pacientes são bebês ou crianças com idade

menor que cinco anos. Mas pode ocorrer um diagnóstico tardio ainda na adolescência

do paciente, devido a atividade residual da NADPH oxidase. Na maioria dos pacientes

o defeito na NADPH oxidase é grave, resultando em baixa ou nenhuma produção de

ROS (RIDER, JAMESON & CREECH, 2018). Pacientes com DGC são suscetíveis a

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bactérias catalase positivas, embora esse mecanismo não seja totalmente elucidado,

pois apenas um grupo de bactérias catalase positivas aparece em pacientes com

CGD. O local mais comum de infecção é o pulmão, seguido por linfonodos, pele,

fígado e trato gastrointestinal. Os patógenos mais frequentes são Aspergillus,

Staphylococcus aureus, Serratia marcescens, Burkholderia cepacia, Nocardia e

Salmonella spp. Infecções Mycobacterium tuberculosis foram relatadas na China, Irã

e América Latina (ARNOLD & HEIMALL, 2017; RIDER, JAMESON & CREECH, 2018).

Até o momento, não foi vista evidência de correlação entre a idade dos

pacientes e o início e a gravidade das infecções bacterianas ou fúngicas. A

suscetibilidade a infecções por pacientes com DGC surge do período neonatal até a

fase adulta avançada, e o resultado depende do reconhecimento imediato do

patógeno e da terapia para a infecção (RIDER, JAMESON & CREECH, 2018).

Outra complicação da DGC é a formação de granulomas, na tentativa do

sistema imune de conter o patógeno, são formados basicamente pela união de

macrófagos e o próprio patógeno. Os granulomas da DGC são tipicamente não

caseosos e podem ser encontrados em múltiplos órgãos, incluindo o cérebro,

pulmões, fígado, baço e trato gastrointestinal, podendo assim obstruir a área afetada.

(MAGNANI et al., 2014).

Um estudo mostra que as inflamações gastrointestinais foram as complicações

mais frequentes em pacientes com DGC (Figura 21), tanto em número de pacientes

acometidos quanto no número de episódios. A taxa de inflamação gastrointestinal é

muito maior na forma de XR do que na forma de AR. Porém, o mecanismo envolvido

da desregulação inflamatória ainda é desconhecido (MAGNANI et al., 2014).

Figura 21 Doença inflamatório do intestino, em paciente com CGD. A mucosa

hiperêmica, edemaciada, congestionada com micro e macroulcerações; sangramento

espontâneo. Fonte: CHIRIACO et al. (2016).

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65

6.4.5 DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

O diagnóstico da CGD é baseado nos achados clínicos e laboratoriais que

comprovem a falha na produção de reativos de oxigênio. Alguns testes laboratoriais

podem ajudar no diagnóstico, como o teste NBT (nitroblue tetrazolium), que é um teste

antigo e simples, que mede a capacidade de fagocitose dos neutrófilos, sendo um

teste auxiliar. O nitroazul de tetrazólio é um composto amarelo pálido que na presença

de NADPH oxidase assume uma cor azul intensa. Basicamente o teste consiste em

colocar um 1 ml de sangue em 0,5 ml de solução NBT em salina em temperatura de

37 ºC. Em seguida, a amostra é incubada por 15 minutos. Após a incubação são feitos

esfregaços em lâmina, e são contados 100 neutrófilos que possuem inclusão azul no

citoplasma. Assim o resultado é dado em porcentagem, ou seja, a porcentagem de

neutrófilos corados em 100 células (YU et al., 2018).

Porém, atualmente existe o teste de oxidação da di-hidrorrodamina (DHR), que

pode ser realizada por citometria de fluxo, que possui maior sensibilidade que o NBT,

mesmo com um número pequeno de neutrófilos funcionais, fornecendo ainda pistas

de acordo com os padrões apresentados na citometria, sobre a herança da doença,

ligada ao X ou autossômica (FLUERY MEDICINA E SAÚDE, 2014).

O teste DHR baseia-se na formação de H2O2 pela ação da enzima superóxido

dismutase e consequentemente na formação de um composto fluorescente 1,2,3-

rodamina, permitindo a quantificação de H2O2 pela ação da NADPH oxidase. Durante

o teste os neutrófilos são estimulados com forbol miristato acetato (PMA), que é um

potente estimulador da atividade da NADPH oxidase (FLUERY MEDICINA E SAÚDE,

2014) (Figura 22).

No caso da CGD ligada ao X, como em toda doença ligada ao X, mulheres

portadoras apresentam metade das suas células com o cromossomo X possuindo o

alelo mutante e a outra metade com o alelo normal, por isso no teste DHR é possível

ver uma dupla população de neutrófilos (YU et al., 2018) (Figura 23).

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Figura 22 Citometria de fluxo em pacientes normal e paciente com DGC. Figura

superior mostrando citometria de fluxo de paciente normal, mostrando o resultado pós-

estímulo dos neutrófilos. Figura inferior mostrando citometria de fluxo de paciente com

DGC, percebe-se que mesmo após o estímulo os neutrófilos quase não apresentaram

atividade da NADPH oxidase, sem alteração na fluorescência. Fonte: FLUERY

MEDICINA E SAÚDE, 2014.

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67

Figura 23 Figura mostrando citometria de fluxo do teste DHR. A em paciente masculino

com CGD XR. B em paciente feminina portadora do gene afetado de CGD XR.

Fonte: YU et al., (2018).

Os cuidados profiláticos são de extrema importância para indivíduos com essa

doença, que incluem a prevenção das infecções por imunizações, uso de antibiótico

profilático e o uso de interferon gama humano recombinante. O uso de

trimetoprim/sulfametoxazol e itraconazol, reduzem a frequência de infecções

bacterianas e fúngicas. No início de quadros infecciosos é recomendado o uso

precoce e agressivo de antibióticos parenterais. Para os casos de persistência do foco

infeccioso ou difícil tratamento pode ser necessário a drenagem cirúrgica. O antibiótico

de uso deve ter a capacidade de penetração e ação intracelular, como antibióticos

lipofílicos (ROSS, 2016).

Em relação ao uso profilático de IFN-, ainda é assunto de debate, pois estudos

retrospectivos não mostraram evidência que justifique o seu uso. Apesar da profilaxia,

os pacientes ainda apresentam de 3 a 4 infecções graves a cada ano. Cada episódio

infeccioso deve ser considerado potencialmente perigoso, por isso todo esforço deve

ser feito para identificar o microrganismo responsável (ROOS, 2016).

O uso de corticosteroides foi controverso antigamente, porém foi demonstrado

que seu uso tem sido bem-sucedido quando coadministrado com antibióticos

apropriados. O transplante de células-tronco hematopoéticas pode ser indicado para

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pacientes com atividade ausente de NADPH oxidase e mau prognóstico, porém não

são todos os pacientes com CGD que são indicados para o transplante, devido às

complicações como a doença do enxerto versus hospedeiro (ROOS, 2016).

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, por meio de uma revisão de literatura, o objetivo principal foi

aprofundar e esclarecer melhor sobre as Imunodeficiências Primárias mais prevalente

na população mundial. Foram apresentados os aspectos clínicos, dados

epidemiológicos, mecanismo patológicos, e diagnóstico e tratamento das quatro

doenças mais prevalentes: Deficiência seletiva de IgA, Ataxia-telangiectasia, SCID

ligada ao X e Doença Granulomatosa Crônica.

Sabe-se que as imunodeficiências primárias ainda são doenças pouco

conhecidas e por isso precisam ser difundidas para que existam políticas públicas de

registros e acompanhamento desses pacientes, principalmente em países em

desenvolvimento como o Brasil. Apesar de possuir bancos de dados como o LASID,

é preciso que o Brasil crie o seu próprio banco para ter um controle melhor dos

registros e melhor difundi-los.

As perspectivas para o futuro são que essas informações sejam ainda mais

difundidas e esclarecidas por trabalhos como este e que surjam mais pesquisas e para

que os mecanismos sejam ainda mais elucidados para que haja cada vez mais um

diagnóstico precoce e melhora da sobrevida dos pacientes.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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