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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MARCILENE FRANÇA DA SILVA TABOSA CORPOS QUE FALAM: OS OLHARES DOS DOCENTES E DOS ALUNOS SURDOS ACERCA DA INCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO MÉDIO DO IFRN NATAL 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MARCILENE FRANÇA DA SILVA TABOSA

CORPOS QUE FALAM: OS OLHARES DOS DOCENTES E DOS ALUNOS SURDOS

ACERCA DA INCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO

MÉDIO DO IFRN

NATAL

2019

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MARCILENE FRANÇA DA SILVA TABOSA

CORPOS QUE FALAM: OS OLHARES DOS DOCENTES E DOS ALUNOS SURDOS

ACERCA DA INCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO MÉDIO

DO IFRN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Educação da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa

Educação e Inclusão em Contextos Educacionais,

como requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Educação.

Orientador(a): Profa. Dra. Maria Aparecida Dias.

NATAL

2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Tabosa, Marcilene França da Silva. Corpos que falam: os olhares dos docentes e dos alunos surdos

acerca da inclusão nas aulas de educação física do ensino médio

do IFRN / Marcilene França da Silva Tabosa. - Natal, 2019. 130 f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós-graduação em

Educação. Orientadora: Profa. Dra. Maria Aparecida Dias.

1. Educação Física, Ensino Médio - Dissertação. 2. Inclusão -

Dissertação. 3. Surdez - Dissertação. I. Dias, Maria Aparecida.

II. Título.

RN/UF/BS Moacyr de Góes CDU 37:796-056.263

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CORPOS QUE FALAM: OS OLHARES DOS DOCENTES E DOS ALUNOS SURDOS

ACERCA DA INCLUSÃO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO MÉDIO

DO IFRN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa Educação e Inclusão em Contextos Educacionais,

como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.

Aprovada em: _____/______/_____

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Aparecida Dias – Orientadora

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

________________________________________________________

Profa. Dra. Maria Eleni Henrique da Silva – Avaliadora Externa

Universidade Federal do Ceará – UFC

________________________________________________________

Prof. Dr. Antônio de Pádua dos Santos – Avaliador Interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

________________________________________________________

Prof. Dr. José Pereira de Melo – Avaliador Interno

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

________________________________________________________

Profa. Dra. Michele Pereira de Souza da Fonseca – Avaliadora Externa

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

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Minha vida é só gratidão,

por tantas batalhas vencidas,

pela ajuda da Divina mão

aliada à minha fé

e minha humilde oração.

As vitórias que são escritas

nas muitas páginas da minha vida,

devo à graça infinita

de alguém que me protege,

me abraça

e ainda me oferece perdão!

Que fiz eu para merecer

tanto cuidado e tanto amor?

De alguém que ofereceu sua vida,

sentindo tamanha dor

para salvar uma outra vida

que já se dava por eternamente perdida!

[...]

Busquei muito na minha existência

a plena felicidade.

Que me completasse tanto,

que virasse realidade...

Ah, procurei em vários cantos

e encontrei no seu Espírito Santo!

Ele me consola todo dia,

me revela o perfeito caminho

por onde devo passar.

Nem sempre flores, nem sempre espinhos;

nele não há as temidas trevas.

É feito somente de luz...

É ele que me faz revelar

que no céu existe Deus, o Pai;

que me fez para me amar

e seu Espírito Santo.

Desvenda-me o grande milagre da cruz,

razão das minhas vitórias.

Mudou toda a minha história,

deu sentindo a minha vida.

Seu nome é Cristo Jesus!”

(Irineu Messias)

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AGRADECIMENTOS

Este é um momento primoroso: proferir neste espaço palavras de gratidão. Um coração

grato sabe reconhecer aqueles que, a sua maneira, fizeram sentindo e deram significado a nossa

vida.

Não posso começar sem agradecer ao autor da minha vida e o consumador da minha fé:

o meu Deus, que até aqui vem me ajudando com força, calma e inspiração para prosseguir; e

ao Senhor Jesus Cristo, a quem dedico toda a minha vida e o trabalho de minhas mãos. Nas

escrituras sagradas reconheço em sua palavra o que está em Colossenses (3:17): “tudo o que

fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele

graças ao Deus Pai”.

Agradeço aos meus pais, que com muitas dificuldades dedicaram o pouco que tinham

para me dar uma Educação de qualidade (e assim abriram as portas para o meu futuro

acadêmico), bem como por estarem neste momento comigo como a minha base, sempre me

dando forças e palavras de incentivo. Vocês são para mim um referencial insubstituível de

dedicação e amor quando se trata de família. A minha mãe, Maria da Penha, agradeço pelo seu

cuidado, paciência, proteção e pelas suas orações e súplicas a Deus em meu favor. Ao meu pai,

Benedito, que não pôde concluir os seus estudos para poder se dedicar ao trabalho, para que

não faltasse pão em casa... Que ama a sua família a sua maneira e sempre nos ajuda a superar

qualquer obstáculo com suas sábias, confortantes e acalentadoras palavras. Amo vocês e

obrigada por tudo!

Ao meu querido esposo, Saulo Tabosa, companheiro, amigo, incentivador, ajudador e

meu alicerce em todos os momentos. Sempre esteve ao meu lado estendendo a mão quando eu

me via sem chão e sem forças, sempre me ajudando a ficar de pé. Sou imensamente grata a

Deus pela sua vida e por ter você na minha.

Aos meus irmãos queridos e amados Marcelo, Márcia, Pedro e Michele. Sou uma

pessoa grata por ter a companhia de quatro pessoas maravilhosas, diferentes e únicas, que me

ensinam sempre que o amor entre irmãos é incondicional, que a família é um bem precioso.

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Não sei como eu estaria nesse mundo sem a presença de vocês ao meu lado. Vocês são o

significado perfeito de família criado por Deus.

A minha querida orientadora, Professora Dra. Maria Aparecida Dias, por ter acreditado

em mim e ter aceito o desafio de me orientar nesta pesquisa. Obrigada pelo carinho, pela enorme

paciência, pela pessoa tão humana, compreensiva, alegre e maravilhosa que você é. Pelas

palavras de incentivos e até pelos “puxões de orelha”, que me ajudaram a enfrentar os desafios

e dificuldades que tivemos pela frente. Tenho grande admiração pelo seu lindo trabalho como

docente e pesquisadora na UFRN.

Ao querido e estimado Professor Dr. Antônio de Pádua dos Santos, muito obrigada por

sempre acreditar em mim, pelas suas palavras de grande sabedoria, pelo carinho, por ser essa

pessoa maravilhosa e de um enorme coração. Um grande incentivador, ajudador, compreensivo

e paciente, é para mim como um pai e esteve comigo em diversos momentos nesta jornada

acadêmica. Me sinto honrada por ter sido sua aluna e carrego comigo muita admiração pela

pessoa que você é, e pelo trabalho maravilhoso que exerce como professor e pesquisador.

As amizades que se formaram durante esta etapa da minha vida, a citar, Sára Maria, Ana

Aparecida, Fabyana e todos os outros que passaram por esta fase comigo: muito obrigada pelas

trocas de experiências e aprendizados nas disciplinas, trabalhos, seminários, encontros de

orientação, nas escritas de artigos e nas viagens para congressos que nos aproximou e nos

rendeu boas lembranças.

A todos os docentes e discentes do lócus da pesquisa de inclusão, agradeço pelo

acolhimento, abertura. Como coautores deste percurso trilhado, que deram voz, inspiração e

movimento a minha caminhada.

Enfim, obrigada a todos aqueles que, de forma direta e indireta, estiveram comigo,

participaram desta caminhada até o presente momento (sejam eles familiares, amigos, colegas

de trabalho e professores).

Não posso encerrar sem agradecer mais uma vez a Deus por simplesmente tudo!

Deixo aqui a minha sincera, emocionada e verdadeira gratidão.

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“Aprende-se Libras para conhecer melhor as

pessoas, o mundo, o pensamento, refletindo,

construindo e constituindo-se de amor e respeito

pelas diferenças. Aprender Libras é respirar a vida

por outros ângulos, na voz do silêncio, no turbilhão

das águas, no brilho do olhar. Aprender Libras é

aprender a falar de longe ou tão de perto que

apenas o toque resolve todas as aflições do viver,

diante de todos os desafios audíveis. Nem tão

poético, nem tão fugaz... Apenas um ser livre de

preconceitos e voluntário da harmonia do bem

viver.”

(Luiz Albérico B. Falcão)

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RESUMO

Na presente pesquisa tratamos da inclusão no contexto educacional – inclusão essa que

considera as necessidades educativas e defende os direitos de todos os alunos com

deficiência/diferença ao conhecimento, tendo suas competências e aprendizagem contemplada.

Nosso objetivo foi analisar as concepções dos professores e dos alunos surdos em relação

inclusão nas aulas de Educação Física do Ensino Médio no Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN). Nos apropriamos como metodologia da

abordagem qualitativa e, na tentativa de atender aos propósitos da pesquisa, assumimos como

procedimentos metodológicos o estudo de caso, por se tratar de um caso único e singular (YIN,

2008) com aspectos relevantes para a realização da pesquisa. Optou-se por utilizar para a análise

dos dados o emprego da análise de conteúdo e buscamos em Bardin (2008) e Câmara (2013) o

nosso referencial teórico. Os resultados demonstram que os olhares docente e discente apontam

para um contexto escolar ainda em processo inclusivo, o qual se nota a tentativa docente de

incluir os alunos com deficiência/diferença, e dos alunos de observar o empenho desses

professores em incluí-los nas aulas – consequência da presença dos alunos com

deficiência/diferença ser mais evidente atualmente no ensino regular, o que faz com que os

docentes percebam a urgência de promover transformações metodológicas em suas aulas, se

adaptando ao novo contexto da Instituição. A partir das reflexões sobre as análises realizadas,

constatamos que os docentes concebiam seus olhares e suas construções e conceitos sobre a

inclusão de maneira divergentes, visto que esses olhares apontam para as marcas de suas

histórias de vida, experiências, aprendizagens e suas vivências ao longo da trajetória de trabalho

como docentes. Já os alunos com surdez, em seus olhares em relação a inclusão, nos revelaram

suas dificuldades de compreensão dos conteúdos, a necessidade de adaptações metodológicas

e a importância do profissional Intérprete na disciplina de Educação Física.

Palavras-chave: Educação Física. Inclusão. Surdez. Ensino Médio.

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ABSTRACT

In the present study we treat the inclusion in the educational context – an inclusion that

considers educational needs and defends the rights of all students with disabilities/differences

to knowledge, with their skills and learning contemplated. Our objective was to analyze the

conceptions of teachers and deaf students in relation to inclusion in high school physical

education classes at the Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do

Norte (IFRN). We appropriate as a methodology the qualitative approach and, in an attempt to

meet the research purposes, we assume the case study as methodological procedures, as it is a

unique and singular case (YIN, 2008) with relevant aspects for the research. We opted to use

content analysis for data analysis and in Bardin (2008) and Câmara (2013) we sought our

theoretical framework. The results demonstrate that the faculty and students views point to a

school context still in an inclusive process, which shows the faculty attempt to include students

with disabilities/differences, and of the students to observe these teachers' efforts to include

them in classes – consequence of the presence of students with disabilities/differences being

more evident today in regular education, which makes teachers realize the urgency of promoting

methodological changes in their classes, adapting to the new context of the institution. From

the reflections on the analyzes carried out, we found that teachers conceived their views and

their constructions and concepts about inclusion in different ways, since these looks point to

the marks of their life stories, experiences, learning and their experiences along the work

trajectory as teachers. While the students with deafness in their looks in relation to inclusion,

revealed their difficulties in understanding the content, the need for methodological adaptations

and the importance of the professional Interpreter in the discipline of Physical Education.

Keywords: Physical Education. Inclusion. Deafness. High School.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Fotografia da aula: “Classificação e habilidades de movimento” .................. 63

Figura 02 – Fotografia da aula: Dinâmica “Mãos dadas” ................................................. 64

Figura 03 – Fotografia da aula: “Atividades lúdicas e recreativas” .................................. 65

Figura 04 – Fotografia da aula: “Práticas de aquecimento” .............................................. 66

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Organização do estado da arte ..................................................................... 22

Quadro 02 – Os conteúdos de Educação Física propostos pelo IFRN .............................. 52

Quadro 03 – Mapeamento das pessoas com deficiência auditiva/surdez matriculados

nos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio do IFRN/CNAT ...................................

53

Quadro 04 – Identificação dos interlocutores surdos do IFRN/CNAT ............................ 54

Quadro 05 – Identificação/Formação dos colaboradores do IFRN/CNAT ...................... 54

Quadro 06 – Tema dos “Olhares sobre a inclusão na Educação Física” ........................... 59

Quadro 07 – Expressões e símbolos das transcrições das entrevistas ............................... 60

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LISTA DE SIGLAS

BDTD – Banco Digital de Teses e Dissertações

BNCC – Base Nacional Comum Curricular

CNAT – Campus Natal Central

DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica

EI – Educação Inclusiva

IE – Intérprete Educacional

IFRN – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte

LBI – Lei Brasileira de Inclusão de Pessoa com Deficiência

NAPNE – Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas

NEEs – Necessidades Educativas Especiais

ONU – Organização das Nações Unidas

PPC – Projeto Pedagógico do Curso

RN – Rio Grande do Norte

TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

TALE – Termo de Assentimento para Criança e Adolescente

TILS – Tradutor Intérprete de Libras

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 15

2 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO: A INCLUSÃO, OS

PROFESSORES E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ...............................................

26

2.1 A EDUCAÇÃO FÍSICA E O ENSINO MÉDIO: FRAGMENTOS HISTÓRICOS

E AS BASES LEGAIS ....................................................................................................

26

2.2 A INCLUSÃO, OS PROFESSORES E AS PRÁTICAS ESCOLARES NA

EDUCAÇÃO FÍSICA .....................................................................................................

33

3 O ALUNO COM SURDEZ NO CONTEXTO ESCOLAR: CORPOS QUE

FALAM ..........................................................................................................................

40

3.1 DEFICIÊNCIA AUDITIVA/SURDEZ E OS ALUNOS SURDOS NA ESCOLA:

CORPOS QUE FALAM .................................................................................................

40

4 DELINEANDO O CAMINHO METODOLÓGICO .............................................. 48

4.1 LÓCUS, PARTICIPANTES, INSTRUMENTOS, PROCEDIMENTOS E

ORGANIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS ................................................................

51

4.2 ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................................... 57

5 APRESENTAÇÃO DAS ANÁLISES E DISCUSSÃO DOS DADOS .................... 61

5.1 APRESENTANDO AS PRIMEIRAS ETAPAS: PARTILHANDO OLHARES ...... 61

5.2 DIÁLOGANDO COM OS SUJEITOS E COMPARTILHANDO OLHARES ......... 68

5.2.1 Inclusão – Significado ........................................................................................... 68

5.2.2 Inclusão – Educação Física .................................................................................. 74

5.2.3 Inclusão – Comunicação ....................................................................................... 88

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 98

7 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 101

APÊNDICES ................................................................................................................. 116

APÊNDICE 01 – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO ......................................................... 116

APÊNDICE 02 – ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................................................ 117

APÊNDICE 03 – ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................................................ 118

APÊNDICE 04 – TCLE-PAIS ......................................................................................... 119

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APÊNDICE 05 – TALE .................................................................................................. 122

APÊNDICE 06 – TCLE ................................................................................................... 125

APÊNDICE 07 – CARTA DE ANUÊNCIA ................................................................... 127

APÊNDICE 08 – TERMO DE IMAGEM ....................................................................... 128

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1 INTRODUÇÃO

Não haverá borboletas se a vida não passar por

longas e silenciosas metamorfoses

(ALVES, 2006, p. 83).

A abertura desta Introdução se dá por meio do texto de Rubem Alves, utilizando uma

analogia poética entre as borboletas e a metamorfose, que traz consigo a representação de

mudanças, renovação e transformação pessoal, bem como os ciclos pelo qual passamos ao

longo de nossa existência. A partir desse texto, convido1 todos a um diálogo.

Sou Tradutora Intérprete de Língua Brasileira de Sinais (TILS) a um pouco mais de

nove anos. Boa parte desse tempo atuei em escolas do Estado e Município do Rio Grande do

Norte. Atualmente, estou como TILS no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

do Rio Grande do Norte (IFRN), uma vez que fui aprovada em concurso público no ano de

2015 e assumi no mesmo ano.

Assim como a borboleta, que necessita passar por etapas para se tornar o que é, a minha

trajetória de vida na comunidade surda também possui ciclos. Aos seis anos de idade iniciei

meus estudos no Centro Educacional Evangélico Ebenézer, escola que pertence ao município

de Bayeux/PB. Nela, estudei da Educação Infantil ao 2º ano do Ensino Médio. Essa escola tinha

parceria com a prefeitura do município e cedeu um espaço para o funcionamento da Escola

Municipal João Belmiro2, a qual trabalhava com Educação de surdos e funcionava como um

espaço pedagógico de alfabetização e letramento. Alguns dos surdos que frequentavam a escola

João Belmiro também faziam parte das classes comuns de ensino do Ebenézer, com o auxílio

diário dos profissionais TILS. Graças a esse contato diário com os surdos na escola, desenvolvi

um aprendizado da Libras básico, assim como uma pequena lagarta que se alimentava e se

arrastava na comunicação com meus colegas surdos de maneira suficiente para compreendê-los

e criar um vínculo de amizade.

No bairro onde morei, na Paraíba, moravam muitos surdos. O contato diário me fez

aprender definitivamente a Língua Brasileira de Sinais (Libras3) e desenvolver uma

1 Eu inicio em primeira pessoa essa conversa por considerar isso uma forma autêntica de apresentar minha trajetória

de vida pessoal, profissional e acadêmica. E, além disso, tratarei sobre essa metáfora de Rubem Alves por me

identificar com o que representam as borboletas. 2 Atualmente, o espaço pedagógico de Educação de surdos se concentra na Fundação Centro Integrado de Apoio

ao Portador de Deficiência (FUNAD), em João Pessoa/PB. 3 Segundo Piacentini (2011), as siglas são “nomes abreviativos formados não apenas das letras iniciais das palavras

que os compõem, mas também de sílabas, adquirindo assim um caráter de palavra”. Então a Língua Brasileira de

Sinais é “Libras”, conforme essa regra.

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comunicação satisfatória. Em 2009, me mudei para a cidade de Parnamirim/RN e não tive mais

contato com esses sujeitos. Dessa maneira, assim como a lagarta que passa pela fase do casulo,

passei por alguns momentos de distanciamento, reflexão, amadurecimento e direcionamento

introspectivo, para que pudesse seguir minha caminhada pessoal com meus propósitos.

No ano de 2010 fui convidada para trabalhar como TILS em uma escola do Estado do

RN e, a partir daí, levei meu conhecimento da Libras ao status de profissão. Ainda em meu

casulo de amadurecimento, pude desfrutar de experiências diárias que determinaram novas

oportunidades e traçaram meu atual momento.

Em 2011 iniciei minha vida acadêmica no curso de Licenciatura em Educação Física na

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O curso de Educação Física sempre

esteve em minhas pretensões de escolha, pois as práticas corporais e esportes foram para mim

uma paixão desde menina. Mesmo com uma visão limitada do que era a Educação Física, iniciei

o curso tal como uma lagarta: me alimentava diariamente de conhecimentos adquiridos no meio

acadêmico. Assim, pude crescer e me desenvolver no decorrer dos estudos mudando minhas

concepções em relação ao sentido e significado da Educação Física.

No contraturno das disciplinas, trabalhei como TILS em diversas escolas do Estado e

Município do RN. Por estar em duas áreas divergentes, passei por um momento de crise de

identidade profissional – o que intensificou ainda mais a fase de casulo, por meio de reflexões,

de busca da identidade e do “eu” como profissional. Durante essa crise, eu tinha plena certeza

de que a Educação Física era o que queria cursar, porém o trabalho com os surdos ascendeu um

brilho diferente dentro de mim. Refletindo sobre essa questão, percebi que ambas as profissões

me davam muito prazer e que eu não necessitava optar por uma ou outra. O que eu precisava

era desenvolver meus conhecimentos em ambas as áreas em prol de uma Educação Física de

qualidade para os sujeitos surdos, com uma inspiração maior para seguir adiante em relação a

minha vida profissional – na certeza de me tornar uma borboleta, para que eu possa refletir a

luz do sol através das minhas asas com a força e a delicadeza, potência de quem ainda não está

completa, mas que sabe que enfrentará na vida metamorfoses longas, silenciosas e necessárias,

na busca de alcançar meu objetivo, que é da docência.

Durante meu trabalho como TILS nas escolas do Estado e Município do RN, movida

pela curiosidade que me instigava sobre a Educação Física inclusiva e suas relações com o

aluno surdo, constatei que nas disciplinas desse curso alguns professores não buscavam

construir práticas que considerassem esse grupo estudantil. Além disso, algumas práticas não

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tinham o cuidado de observar as especificidades do aluno com surdez, fazendo com que esses

se evadissem da disciplina.

Na minha pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)4, eu buscava

compreender a perspectiva do aluno surdo em relação a disciplina de Educação Física. Algumas

das respostas dos alunos me intrigaram quanto ao ensino ofertado por essa disciplina nas escolas

no que tange a inclusão dos alunos com surdez nas aulas. Ao concluir o TCC, percebi a

necessidade de uma investigação sobre a Educação Inclusiva nas aulas de Educação Física,

porém, dessa vez, buscando compreender os olhares dos docentes e dos alunos surdos em

relação a inclusão em sala de aula na disciplina de Educação Física.

Estabelecidas as particularidades que possibilitaram a construção desta dissertação,

continuaremos com essa conversa assumindo o discurso científico mais prototípico. A partir de

agora, estabeleceremos um diálogo mais intrínseco entre inclusão e Educação Física inclusiva.

Para ajudar nosso diálogo, trazemos os professores Mantoan (2003), David Antônio Rodrigues5

(2000; 2001; 2003; 2006; 2011; 2013; 2017) e José Francisco Chicon (2005; 2008; 2013; 2014),

que vão fundamentar nossa compreensão de uma Educação Física na perspectiva inclusiva e a

importância das experiências dos professores dessa área do conhecimento frente a inclusão e as

diferenças na disciplina.

Se procuramos falar da inclusão no ponto de vista social, vamos encontrar um

movimento que defende o direito de todos os indivíduos de participarem ativamente da

sociedade, exercendo seus direitos de cidadãos por meios políticos, através da garantia do seu

direito respeitado junto com as suas diferenças. Desse modo, a inclusão engloba as dimensões

social e política, por isso trataremos aqui da inclusão no contexto educacional: essa que

considera as necessidades educativas e defende os direitos de todos os alunos com ou sem

deficiência/diferença ao conhecimento, tendo suas competências aprimoradas visando a

cidadania desses sujeitos. Apresentamos inicialmente a seguinte compreensão:

A inclusão é um movimento educacional, mas também social e político que

vem defender o direito de todos os indivíduos participarem, de uma forma

consciente e responsável, na sociedade de que fazem parte, e de serem aceites

e respeitados naquilo que os diferencia dos outros. No contexto educacional,

vem, também, defender o direito de todos os alunos desenvolverem e

concretizarem as suas potencialidades, bem como de apropriarem as

competências que lhes permitam exercer o seu direito de cidadania, através de

4 Cf. SILVA, M. F. Educação Inclusiva: A Educação Física na Perspectiva do Aluno Surdo (2015). 5 Para mais informações, Cf. Currículo Lattes. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/1051828849553218. Acesso

em: 01 maio 2019.

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uma Educação de qualidade, que foi talhada tendo em conta as suas

necessidades, interesses e características (FREIRE, 2008, p. 05).

No contexto do ensino regular, a dinâmica escolar passou por diferentes mudanças nas

políticas públicas, buscando o respeito as diferenças dos educandos e empenhando-se em

garantir um ensino de qualidade para todos os alunos. Concordamos com o pensamento de

Rodrigues (2003, p. 69) quando diz que:

A escola inclusiva procura responder, de forma apropriada e com alta

qualidade, não só à deficiência, mas a todas as formas de diferença dos alunos

(culturais, étnicas etc.). Desta forma, a Educação Inclusiva recusa a

segregação e pretende que a escola não seja só universal no acesso, mas

também no sucesso.

De acordo com a Declaração de Salamanca, o princípio fundamental da escola inclusiva

“é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente

de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter” (UNESCO, 1994, p. 05). Tendo

esse princípio como base, Rodrigues (2000, p. 10) afirma que:

A Educação Inclusiva assume-se como respeitadora das culturas, das

capacidades e das possibilidades de evolução de todos os alunos. A Educação

Inclusiva aposta na escola como comunidade educativa, defende um ambiente

de aprendizagem diferenciado e de qualidade para todos os alunos. É uma

escola que reconhece as diferenças, trabalha com elas para o desenvolvimento

e dá-lhe um sentido, uma dignidade e uma funcionalidade.

No Brasil, a lei que rege a pessoa com deficiência se chama “Lei Brasileira de Inclusão

da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) – LBI, Lei nº 13.146, de 06

de julho de 2015, que tem o objetivo de assegurar e promover, em condições de igualdade, o

exercício dos direitos e das liberdades fundamentais para a pessoa com deficiência, visando à

sua inclusão social e cidadania (BRASIL, 2015). A LBI afirma que:

Art. 27. A Educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados

sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de

toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus

talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas

características, interesses e necessidades de aprendizagem (BRASIL, 2015, s.

p.).

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De acordo com a LBI, a Educação é um direito da pessoa com deficiência e por meio

dela está assegurado o aprendizado que considere as possibilidades, as capacidades, as

potencialidades, as habilidades e os talentos individuais, de forma a alcançar o máximo do

desenvolvimento de acordo com as características de cada educando.

A inclusão no âmbito da Educação Física escolar está ganhando visibilidade e espaço

nos dias atuais. Porém, assim como todo o contexto inclusivo brasileiro, ainda existem grandes

dificuldades, percalços no caminho. Há muito a ser feito. Entretanto, encontramos em alguns

estudos nessa área do conhecimento; alguns trabalhos tímidos que nos ascendem a esperança

de que incluir é possível em todas as instâncias escolares. E corroboramos com Chicon (2008,

p. 28) que diz:

No âmbito escolar, a inclusão de alunos com NEEs nas aulas de Educação

Física, a nosso ver, parece estar relacionada, predominantemente, com

aspectos atitudinais e procedimentais. O primeiro diz respeito ao preparo

profissional, à concepção de homem que se quer formar, à atitude de aceitação

e promoção da diversidade humana. O segundo está no caminho, no meio para

atingir os objetivos, ou seja, a escolha da metodologia de ensino, dos

procedimentos didáticos.

O autor cita os alunos por meio da sigla NEEs que significa “Necessidades Educacionais

Especiais”, se referindo aos alunos com deficiência/diferenças que carecem de um atendimento

educacional que compreenda as necessidades desses educandos, partindo do entendimento de

que os professores de Educação Física que atuam diretamente com os indivíduos com

deficiência/diferença necessitam de atitudes de respeito a condição humana da diversidade e

também de uma escolha metodológica satisfatória para atingir os objetivos. Afinal, em relação

ao aluno surdo, muitos se deparam com o desafio comunicativo somado aos demais desafios

do trabalho docente. Entendemos que “ser professor de alunos surdos significa considerar suas

singularidades de apreensão e construção de sentidos quando comparados aos alunos ouvintes”

(LACERDA; SANTOS; CAETANOS, 2014, p. 185.) Na tentativa de minimizar as barreiras

comunicativas, algumas escolas atualmente possuem o auxílio dos profissionais TILS, que

fazem a intermediação comunicativa nas aulas, colaborando com o trabalho inclusivo dos

professores.

Somos conscientes de que a inclusão não se restringe a deficiências ou a alguma

diferença específica; que o ensino individualizado e diferenciado de apenas um tipo de aluno

não se caracteriza como inclusão; e que, “na visão inclusiva, o ensino diferenciado continua

segregando e discriminando os alunos dentro e fora das salas de aula” (MANTOAN, 2003, p.

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36). Ao tratar do aluno com surdez, busca-se encontrar um ambiente escolar que considere os

limites e explore as possibilidades desses alunos, na tentativa de promover uma equidade nas

aulas – de forma mais específica, neste estudo, iremos pensar nas aulas de Educação Física no

Ensino Médio. Não tratamos os surdos de forma individualizada ou diferenciada por causa da

sua deficiência, visto que, abordamos a surdez movidos pelo desvelo de saber como está sendo

desenvolvido pelos docentes as potencialidades desses sujeitos na disciplina de Educação

Física, partindo do pressuposto de que as aulas são planejadas de forma que atenda a todos,

considerando as diferenças e deficiências dos alunos e sabendo que as práticas de ensino não

devem ser diferenciadas de forma específica, conforme aponta Mantoan (2003, p. 36):

A inclusão não prevê a utilização de práticas de ensino escolar específicas para

esta ou aquela deficiência e/ou dificuldade de aprender. Os alunos aprendem

nos seus limites e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor levará

em conta esses limites e explorará convenientemente as possibilidades de cada

um.

A escolha pelo Ensino Médio se deu por ser uma etapa importante para os alunos nesse

período escolar e pelo fato da Educação Física nessa fase do ensino não receber a devida

notoriedade em relação às outras áreas do conhecimento por causa dos seus aspectos corporais

e motores, sendo julgada como menos intelectual e cognitiva (SOUSA; VAGO, 1999) De

acordo com Nobrega, “temos disciplinas que cuidam do intelecto e uma disciplina que cuida

do físico, como se fosse possível separar o ser humano em departamentos estanques, ignorando

a sua complexidade” (NÓBREGA, 2005, p. 51). O pensamento sobre essa etapa é muitas vezes

de que a Educação Física é uma disciplina que cuida apenas do físico, que ela é diferente das

demais que são ligadas ao intelecto, tendo a complexidade dessa disciplina ignorada e como

consequência disso ela é desprezada ou inferiorizada por alguns alunos no Ensino Médio.

Isso posto, na busca por conceber uma análise dos olhares dos professores de Educação

Física e dos alunos surdos, dando voz aos sujeitos em relação ao processo educacional inclusivo

no meio escolar. Pretendemos ressaltar a importância da reflexão sobre a inclusão nas aulas

ofertadas na disciplina de Educação Física do Ensino Médio, possibilitando aos docentes e aos

alunos surdos se expressarem com suas palavras, garantindo-lhes assim o direito de declararem

os seus saberes. Como ilustra muito bem Freire (1996, p. 26): “cada um de nós é um ser no

mundo, com o mundo e com os outros. Viver, ou encarnar esta constatação evidente, enquanto

educador ou educadora, significa reconhecer nos outros, o direito de dizer a sua palavra”.

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Frente a tal contexto, ingressamos no Programa de Pós-graduação em Educação da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na linha de pesquisa Educação e

Inclusão em Contextos Educacionais. Tal oportunidade corroborou para essa interface entre a

surdez e as práticas pedagógicas na Educação Física numa perspectiva inclusiva, viabilizando

um objeto de estudo a ser explorado através de uma proposta de estudo de caso.

Na realização do estado da arte, foi feito um levantamento no Banco Digital de Teses e

Dissertações (BDTD), do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

(IBICT/BDTD); no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior (CAPES); nas revistas brasileiras de Educação procedentes de Reuniões Anuais

da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd); na Revista

Brasileira de Educação Especial; na Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação

Especial (ABPEE); e no Repositório de Dissertações e Teses da UFRN.

Tivemos como critério de busca as pesquisas com dados dos últimos onze anos,

compreendendo os anos de 2007 ao de 2018, visto que o estado da arte deve ser o mais

atualizado, completo e oportuno. Quanto à organização, e ainda à sistematização, encontramos

13 trabalhos, entre eles: uma tese, três dissertações e nove artigos de revistas publicados em

periódicos revisados por pares. Os descritores pesquisados nas diferentes bases foram: 1)

Educação Física e inclusão; 2) Educação Física e surdez; 3) Deficiência auditiva e Educação

Física; 4) Prática pedagógica e Educação Física inclusiva; 5) Corpo e surdez.

Para uma melhor sistematização das pesquisas encontradas para a elaboração do estado

da arte, organizamos o seguinte quadro:

Quadro 01 – Organização do estado da arte

MATERIAL ENCONTRADO AUTORES DESCRITORES

ARTIGO:

Rev. bras. educ. espec., Bauru, v. 24,

n. 2, abr./jun.

FIORINI, M. L. S.;

MANZINI, E. J. (2018)

Deficiência auditiva e

Educação Física

ARTIGO:

Anais do VIII congresso

Sulbrasileiro de ciências do esporte,

Criciúma-SC

RAMOS, L.;

MANDARINO, C. M.

(2016)

Educação Física e Inclusão

ARTIGO:

EFDeportes.com, Buenos Aires

SILVA, R. M.;

PORTO, C. S.

(2015)

Surdez e Educação Física

ARTIGO:

EFDeportes.com, Buenos Aires, Ano

18, n. 190

SILVA, F. D.; SILVA,

P. H. R.; SANTOS, W.

C. (2014)

Deficiência auditiva e

Educação Física

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ARTIGO:

Movimento, Porto Alegre, v. 20, n. 2,

p. 637-656, abr./jun.

MARTINS, C. L. R.

(2014)

Educação Física e Inclusão

ARTIGO:

Revista Kinesis, 32. ed., Santa Maria,

v. 2, jul./dez.

CONCEIÇÃO, V. J. S.;

VASSOLER, B. C;

FRASSON, J. S. (2014)

Prática pedagógica e Educação

Física inclusiva

ARTIGO:

Revista Eletrônica de Educação, v.

7, n. 3, p. 192-204

ALVES, T. P.; SALES,

Z. N.; MOREIRA, R.

M.; DUARTE, L. C.;

COUTO, E. S. (2013)

Surdez e Educação Física

ARTIGO:

Revista Formação Docente, Belo

Horizonte, v. 4, n. 1

GÓES, F. T.; ALVES,

A. C.;

JÚNIOR, P. R. V.

(2012)

Deficiência auditiva e

Educação Física

ARTIGO:

Ponto de vista, Florianópolis, n. 9, p.

75-85, 2007

MARQUES, R. R.

(2007)

Corpo de surdez

DISSERTAÇÃO:

Universidade

Regional de Blumenau – FURB.

MELLO, F. H. (2013) Surdez e Educação Física

DISSERTAÇÃO:

Universidade Federal de Juiz de Fora

SILVA JÚNIOR, J. A.

(2012)

Surdez e Educação Física

DISSERTAÇÃO:

UFSCar – São Carlos

MAHL, E. (2012) Prática pedagógica e Educação

Física inclusiva

TESE:

UFMG, CAMPO GRANDE/MS

MORAES,

F. C. C.

(2010)

Prática pedagógica e Educação

Física inclusiva

Fonte: Autoria própria (2019).

Durante o levantamento e reconhecimento bibliográfico para a composição do estado

da arte, encontramos algumas produções teóricas entre artigos, teses e dissertações com grandes

reflexões sobre a Educação Física inclusiva na área da Educação.

Também ficou muito visível que as discussões atuais acerca da Educação Física

inclusiva e da surdez são poucas e apresentam uma carência de produção de trabalhos

científicos e acadêmicos, mostrando que essa interface ainda é embrionária, o que aponta a

necessidade de estudos que proponham um diálogo mais aprofundado entre essas áreas.

No que tange às práticas pedagógicas e à Educação Física inclusiva, encontramos as

pesquisas de Fiorini e Manzini (2018), que apresentam essas práticas como objeto de estudo

visando analisar as estratégias de sucesso utilizadas por professores de Educação Física para

promover a participação de alunos com deficiência auditiva nas mesmas atividades que os

demais alunos da turma. O artigo de Ramos e Mandarino (2016) teve como principal objetivo

a análise das práticas pedagógicas inclusivas nas aulas de Educação Física no Ensino

Fundamental. Silva e Porto (2015) em seu artigo fizeram uma reflexão e compreensão da

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necessidade acerca do conhecimento e possibilidades da inclusão de alunos com deficiência

auditiva nas aulas de Educação Física. O artigo de Conceição, Vassoler e Frasson (2014) busca

compreender como os professores de Educação Física, tanto da rede pública quanto da

particular, organizam a sua prática pedagógica para as turmas com alunos com deficiência

incluídos. A dissertação de Mahl (2012) buscou investigar as concepções e ações que norteiam

as práticas pedagógicas de professores de Educação Física da rede pública de ensino de um

município do interior paulista frente a inclusão dos alunos com deficiência, cotejando essas

práticas com os seus discursos. E a tese Moraes (2010) buscou investigar as práticas

pedagógicas de professores de Educação Física que ministram aulas no Ensino Fundamental

para classes comuns com alunos com deficiência.

Em relação a inclusão na Educação Física do aluno surdo, encontramos as pesquisas de

Silva, Silva e Santos (2014), que elaboram uma revisão de literatura em busca de auxiliar

profissionais formados ou em formação na área de Educação Física a desenvolver aulas que

possam estimular tais capacidades, bem como quebrar paradigmas, ocasionando uma inserção

dos alunos surdos na sociedade. Alves, Sales, Moreira, Duarte e Couto (2013) buscaram

apreender as representações de alunos com surdez sobre sua inclusão nas aulas de Educação

Física escolares. Góes, Alves e Júnior (2012) analisaram as representações de alunos surdos

sobre sua inclusão nas aulas de Educação Física. A dissertação de Mello (2013) apresenta uma

pesquisa realizada com o objetivo de compreender as vivências de in(ex)clusão nas aulas de

Educação Física escolar por meio dos dizeres de estudantes com surdez. Silva Júnior (2012) em

sua dissertação divulga as narrativas que se cruzam nos diferentes dizeres, entre conflitos e

consensos, que, por fim, conformam práticas docentes passivas, além de uma postura asséptica

em relação à diferença estampada na fragilidade e limitações que atravessam as formas de

comunicação entre professor ouvinte e aluno surdo.

O artigo de Martins (2014) descreve as atitudes inclusivas de 53 docentes da disciplina

em questão a lecionar em escolas públicas do Distrito do Porto, em Portugal. E, por fim, o artigo

de Marques (2007) revela uma nova forma de ver a pessoa surda, não se encontrando, portanto,

nem no paradigma da deficiência, no qual a medicina se manifesta, tampouco na teoria das

representações, que fecunda a cultura para constituir o sujeito

Analisando os trabalhos selecionados, verificamos a importância desses estudos por

apresentarem contribuições significativas para a Educação Física inclusiva, as práticas

pedagógicas e a surdez. Assim, podemos deduzir que os trabalhos intitulados “Educação Física

e surdez”, apenas, demonstram uma necessidade de mais pesquisas abordando esse tema como

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foco de investigação. Por esse motivo, consideramos relevante trazê-lo para o diálogo ao longo

de nossas reflexões sobre Educação Física e as práticas escolares inclusivas que abrangem o

aluno surdo no sistema regular de ensino.

A maior parte das pesquisas elencadas acima se aproximam do objeto proposto neste

estudo, do ponto de vista da organização. Dos treze estudos evidenciados, quatro tratam da

importância da inclusão do aluno com surdez na disciplina de Educação Física e três tratam da

pessoa com deficiência auditiva6.

Sendo assim, com base no discurso até aqui explanado, denominamos a questão que

norteia a investigação desta dissertação: como são os olhares dos professores de Educação

Física e dos alunos surdos do IFRN em relação inclusão nas aulas do Ensino Médio?

Delimitamos como objetivo geral da nossa pesquisa: analisar as concepções dos

professores e dos alunos surdos em relação à inclusão nas aulas de Educação Física do Ensino

Médio no IFRN.

E propomos como objetivos específicos:

– Identificar como os professores de Educação Física do Ensino Médio estabelecem as

aulas em uma perspectiva inclusiva;

– Conhecer as vivências dos alunos surdos nas aulas de Educação Física.

Como metodologia, utilizamos uma abordagem qualitativa e, na tentativa de atender aos

nossos propósitos, assumimos como procedimentos metodológicos o estudo de caso (YIN,

2008) por se tratar de um procedimento relevante para a realização da pesquisa. Detalharemos

essa metodologia, mais à frente, no capítulo 3 desta dissertação.

Após este capítulo introdutório, no qual é explanada uma descrição do objeto,

manifestamos ao leitor uma breve análise dos demais capítulos desta pesquisa. A dissertação

está afigurada além desta apresentação, em mais outros três capítulos, buscando sempre

estabelecer uma continuidade entre eles.

O segundo capítulo é intitulado “A Educação Física no Ensino Médio: a inclusão, os

professores e as práticas pedagógicas”. Seguimos adiante com reflexões em relação à Educação

Física e ao Ensino Médio, abordando um breve histórico dessa disciplina e as bases legais que

regem tanto a Educação Física quanto o Ensino Médio. Para além, ponderamos sobre a inclusão,

as práticas inclusivas e o professor de Educação Física frente a inclusão.

No terceiro capítulo, “O aluno com surdez no contexto escolar: corpos que falam”,

discorremos sobre as diferenças entre surdez e deficiência auditiva, sobre o aluno com surdez

6 A diferença entre surdez e deficiência auditiva será tratada neste trabalho na revisão de literatura, mais adiante.

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no ambiente escolar e, finalmente, como esse sujeito aborda e compreende o seu corpo e sua

subjetividade.

No capítulo quatro, “Delineando o caminho metodológico”, é elaborada uma breve

explanação sobre o método utilizado na pesquisa (que é o estudo de caso), os instrumentos de

coleta de dados, os procedimentos éticos, a coleta de dados, a seleção do local e dos

participantes e a descrição dos participantes (os professores e os alunos surdos). Esses sujeitos

ganham vozes e revelam seus pensares, saberes e entendimentos sobre a prática pedagógica nas

aulas de Educação Física. Por fim, uma descrição das observações e das entrevistas realizadas,

bem como do método de análise dos dados coletados na entrevista.

No capítulo cinco, “Apresentação das análises e discussão dos dados”, veiculamos as

primeiras etapas dos registros feitos em diário de campo e as observações do cotidiano escolar.

Em seguida, desenvolvemos um diálogo com os sujeitos e compartilhamos olhares através das

análises de conteúdo das entrevistas com sujeitos pesquisados.

No desfastio desta pesquisa, esperamos que ela possa trazer novos sentidos e subsidiar

desdobramentos para estudos posteriores. Convidamos agora você, leitor, para um percurso

vivenciado, descortinado e compreendido através da sensibilidade dos olhares.

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2 A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO: A INCLUSÃO, OS PROFESSORES E

AS PRÁTICAS ESCOLARES

Nossa Educação Física

tem esporte, tem corrida,

tem bola, tem capoeira.

E a criança é convencida

a participar das aulas

pra melhorar a sua vida.

[...]

Cidadão esse que precisa

se preparar pra viver:

ter estudo, ter trabalho

pra melhor sobreviver.

E lutar por um futuro

sem precisar tanto sofrer.

E lutar significa

pregar a paz, o amor,

defender o meio ambiente,

o pobre, o trabalhador,

a saúde, a justiça,

e uma Educação de valor

(DINIZ, 2003, s. p.).

Inauguramos este capítulo com trechos de um cordel nomeado “A Educação Física na

escola”, de Francisco Diniz, professor de Educação Física e cordelista do município de Santa

Rita/Paraíba. Ele contribui com um belo trabalho engrandecendo a Educação Física, disciplina

essa que abarca processos históricos e culturais da sociedade de acordo com as necessidades, a

evolução e as particularidades de cada cidadão.

Trazemos aqui alguns fragmentos da história da Educação Física, mostrando indícios

que marcaram a trajetória dessa disciplina nos diversos cenários e no Ensino Médio.

Ressaltaremos também as bases legais que regulamentam a disciplina de Educação Física nesse

nível de ensino. Em seguida, discorremos sobre a inclusão, a Educação Inclusiva, as práticas

escolares numa perspectiva inclusiva e, finalmente, sobre o professor de Educação Física.

2.1 A EDUCAÇÃO FÍSICA E O ENSINO MÉDIO: FRAGMENTOS HISTÓRICOS E BASES

LEGAIS

A Educação Física sofreu diversas mudanças ao longo da história do homem. No século

XIX, ela recebeu influência da Europa e passou a dar uma atenção especial ao corpo, visto que

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“a educação do corpo das classes abastadas, que inicialmente era função da família, passou a

ser amplamente divulgada e efetivada na escola pública do século XIX” (PALMA; OLIVEIRA;

PALMA, 2010, p. 38). Visando manter o corpo disciplinado com saúde e disposição para o

trabalho, esse período passa a entender o corpo como uma fonte de lucro:

[...] se desenvolve e se fortalece fisicamente e moralmente por meio da

Educação Física e essa é uma das razões de sua existência. [...] O tema

principal da Educação Física, nesse período, está ligado aos cuidados com o

corpo, com a formação de hábitos higiênicos (banho, dentes, prática de

exercícios físicos) (PALMA; OLIVEIRA; PALMA, 2010 p. 39).

A introdução da Educação Física nas escolas do Brasil se deu por meio da reforma de

Couto Ferraz, em 1851. Em 1882, Rui Barbosa realiza uma nova reforma nas escolas, em que

recomenda que a ginástica fosse obrigatória para ambos os sexos e oferecida para as escolas

normais (DARIDO; RANGEL, 2008). A Educação Física passou por muitas transformações

conceptivas: de acordo com Ghiraldelli Junior (1998), na Educação Física do Brasil foi possível

identificar cinco concepções, por ele denominadas como tendências, que são: a Higienista (até

1930), a Militarista (1930 a 1945), a Pedagogicista (1945 a 1964), a Competitivista (após 64) e

a Educação Física Popular.

A concepção dominante na Educação Física inicialmente era chamada de Higienismo,

pela preocupação com os hábitos de higiene e saúde, bem como a valorização do físico e da

moral por meio do exercício.

Posteriormente, vieram as concepções militaristas, que visavam a formação de uma

geração capaz de suportar o combate, para atuar durante a guerra. Nela, havia a seleção de

indivíduos “perfeitos” fisicamente, excluindo os incapacitados (DARIDO; RANGEL, 2008). O

pensamento normativo, disciplinador e moral influenciou de forma definitiva para que as

pessoas com deficiência/diferença fossem compreendidas como doentes, que necessitavam de

cura, habilitação e preparação para participar da vida em sociedade, devendo receber

atendimentos segregadores em instituições de determinadas especialidades, caracterizando o

modelo médico que imputa, até hoje, a marca de subnormalidade nesses sujeitos (CHICON,

2008).

Segundo Ghiraldelli Junior (1998), no ano de 1921 foi adotado pelo Brasil como

“método oficial de Educação Física” o “Regulamento n. 07”. Esse regulamento foi um “marco

no sentido de romper com a hegemonia da concepção Higienista e dar impulso à Educação

Física Militarista” (GHIRALDELLI JUNIOR,1998, p. 35).

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A Educação Física Militarista atendeu ao objetivo de “obtenção de uma juventude capaz

de suportar o combate, a luta, a guerra. Para tal concepção, a Educação Física deve ser

suficientemente rígida para ‘elevar a Nação’ à condição de ‘servidora e defensora da Pátria’”

(GHIRALDELLI JUNIOR, 1998, p. 18). Por isso, essa concepção recebeu influência da

concepção anterior, através da preocupação com a saúde dos indivíduos.

No período pós-guerra, o discurso que predominava era em prol da educação do

movimento, reconhecendo a Educação Física como um meio de Educação. A proposta escola-

novista veio transformar as práticas e a postura dos professores dessa área do conhecimento,

posteriormente sendo reprimida pela ditadura militar no Brasil (DARIDO; RANGEL, 2008).

Durante a ditadura, predominou o Ensino Tecnicista, o ensino da Educação Física foi

direcionado para o esporte. O esporte é norteado pelos princípios de racionalidade, eficiência e

produtividade, que acabaram reorganizando a Educação Física escolar (PALMA; OLIVEIRA;

PALMA, 2010).

Com as críticas ao esporte pelo seu status de rendimento, surgiu um modelo no qual os

alunos decidiam o que iriam fazer nas aulas, escolhendo o que queriam em relação à prática e

ao jogo e o professor praticamente não faz intervenção alguma (DARIDO; RANGEL, 2008).

Esse modelo é chamado Recreacionista (KUNZ, 1994 apud DARIDO; RANGEL, 2008).

Com o propósito de romper com os modelos anteriores, surgiram novas concepções

denominadas de: Humanistas, Fenomenológicas, Psicomotricidade – baseadas nos jogos

cooperativos –, Cultural, Desenvolvimentista, Interacionista-construtivista, Crítico-superadora,

Sistêmica, Critico-emancipatória, Saúde renovada – baseada nos Parâmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL, 1998) (DARIDO; RANGEL, 2008). Essas concepções fazem parte do

cotidiano escolar, influenciando os docentes nos momentos de planejamento, execução e

condução das aulas.

As pessoas com deficiência/diferenças começaram a ser preocupação na disciplina de

Educação Física aproximadamente no final de 1950, com o enfoque médico inicial, em que os

programas eram denominados “ginástica médica” e objetivavam prevenir doenças, utilizando

exercícios corretivos e de prevenção, que eram relacionados com a reabilitação (COSTA;

SOUSA, 2004 apud CHICON, 2008).

Historicamente, a Educação no Brasil tem seu primeiro documento normativo

reconhecido em 1961, denominado de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)

(CERQUEIRA et al., 2013; MARCHELLI, 2014): a “Lei de Diretrizes e Bases nº 4.024/61,

sancionada em 20 de dezembro de 1961. Esta foi modificada por emendas e artigos, sendo

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reformada pelas Leis nº 5.540/68, 5.692/71 e, posteriormente, substituída pela LDB nº

9.394/96” (CERQUEIRA et al., 2013, p. 01). No que tange a LDB nº 9.394/96, essa foi alterada

pelas Leis nº 12.796, de 2013, e nº 13.415, de 2017, e pela Medida Provisória nº 746, de 2016.

Sobre os aspectos curriculares escolares, foi alterada pela redação no Artigo 26º:

Os currículos da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e do Ensino

Médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada

sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte

diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da

cultura, da economia e dos educandos (BRASIL, 2018, s. p.).

Na LDB, Artigo 26, inciso terceiro, trata da Educação Física como componente

curricular obrigatório da Educação Básica, integrado a proposta pedagógica da escola,

facultando sua prática ao aluno, que:

I – cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas;

II – maior de trinta anos de idade;

III – estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar,

estiver obrigado à prática da Educação Física;

IV – estiver amparado pelo Decreto-lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969;

V – (vetado);

VI – tenha prole (BRASIL, 2018, s. p.).

O Ensino Médio ao longo dos anos sofreu diversas modificações em relação às políticas

públicas educacionais. Nos anos 1980, “com a luta dos educadores comprometidos com a

educação pública e a superação das desigualdades de classe em todas as suas expressões e,

particularmente, na Educação, foi pela defesa da educação unitária, omnilateral e politênica”

(CIAVATTA; RAMOS, 2011, p. 30). Com a aprovação da LDB, a qual a questão principal não

foi mais a de preparação para o trabalho e, sim, para a vida (CIAVATTA; RAMOS, 2011): “sob

esse ideário, preparar para a vida significaria desenvolver nas pessoas competências genéricas

e flexíveis, de modo que elas pudessem se adaptar facilmente às incertezas do mundo

contemporâneo” (CIAVATTA; RAMOS, 2011, p. 30). De acordo com Melo e Duarte (2011):

[...] o ensino secundário recebeu a denominação de Ensino Médio, não

obrigatório, destinado aos jovens de 15 a 17 anos egressos do Ensino

Fundamental, e passou a contar com uma estrutura curricular única em todo o

território nacional. O seu eixo estruturante passou a ser a necessidade de oferta

de uma formação geral e polivalente que propiciasse a aquisição de saberes e

competências básicas que preparassem os jovens para a vida (MELO;

DUARTE, 2011, p. 232-233).

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Com duração mínima de três anos, o Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica

(BRASIL, 2018). O Artigo 35 da LDB trata das finalidades dessa etapa, que são: a consolidação

e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o

prosseguimento de estudos; a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para

continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade às novas condições

de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; o aprimoramento do educando como pessoa

humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do

pensamento crítico; a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos

produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina (BRASIL, 2018).

No que tocante ao currículo do Ensino Médio, existe uma proposta em tramitação da

LDB. No Artigo 36 diz que será “composto pela Base Nacional Comum Curricular e por

itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos

curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de

ensino” (BRASIL, 2018, p. 24). O Ensino Médio também poderá atender a formação geral do

educando e prepará-lo para o exercício de profissões técnicas (BRASIL, 2018).

Já sobre o Ensino Técnico, “a partir de 1997, a chamada reforma do Ensino Médio e da

educação profissional determina que o Ensino Técnico seja ofertado de forma complementar,

paralela ou sequencial e separado do Ensino Médio regular” (MELO; DUARTE, 2011, p. 233).

Segundo esses autores:

O primeiro aspecto a ser destacado refere-se ao processo deflagrado a partir

da edição do Decreto nº 6.095/2007 e a aprovação da Lei nº 11.892/2008, para

fins de constituição dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia

(IF) e reorganização da Rede Federal de Educação Tecnológica (MELO;

DUARTE, 2011, p. 235).

A condição de modalidade conferida à educação profissional na LDB em seu Artigo 40

diz que “a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por

diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente

de trabalho” (BRASIL, 2018, p. 30). Essa Lei também reconhece o conhecimento adquirido na

educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e

certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos. E, em seu parágrafo único, ela

afirma que “os diplomas de cursos de educação profissional de nível médio, quando registrados,

terão validade nacional” (BRASIL, 2018, p. 30).

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32

Atualmente, a Educação brasileira é norteada por um novo documento normativo,

concebido no ano de 2018, nomeado de Base Nacional Comum Curricular (BNCC):

[...] um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e

progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem

desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo

a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento,

em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE)

(BRASIL, 2018, p. 07).

Tendo como base a LDB, a BNCC integra a Política Nacional de Educação Básica, que

contribui para o alinhamento de “outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e

municipal, referentes à formação de professores, à avaliação, à elaboração de conteúdos

educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura adequada para o pleno

desenvolvimento da Educação” (BRASIL, 2018, p. 08).

Na Educação Básica brasileira, a BNCC “desempenha papel fundamental, pois explicita

as aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver e expressa, portanto, a

igualdade educacional sobre a qual as singularidades devem ser consideradas e atendidas”

(BRASIL, 2018, p. 15, grifo do autor). Desse documento espera-se que:

[...] ajude a superar a fragmentação das políticas educacionais, enseje o

fortalecimento do regime de colaboração entre as três esferas de governo e

seja balizadora da qualidade da Educação. Assim, para além da garantia de

acesso e permanência na escola, é necessário que sistemas, redes e escolas

garantam um patamar comum de aprendizagens a todos os estudantes, tarefa

para a qual a BNCC é instrumento fundamental (BRASIL, 2018, p. 08).

De acordo com a BNCC, todas “as práticas corporais podem ser objeto do trabalho

pedagógico em qualquer etapa e modalidade de ensino” (BRASIL, 2018, p. 219). Porém,

existem alguns critérios (chamados de “critérios de progressão do conhecimento”) que precisam

ser acolhidos como os elementos específicos das diferentes práticas corporais, que são: as

características dos sujeitos e os contextos de atuação, sinalizando tendências de organização

dos conhecimentos (BRASIL, 2018).

Seguindo os critérios de progressão do conhecimento, os elementos que concernem as

práticas corporais, considerando as especificidades e os contextos de atuação para essa

normativa, definem que “as práticas corporais na escola devem ser reconstruídas com base em

sua função social e suas possibilidades materiais. Isso significa dizer que as mesmas podem ser

transformadas no interior da escola” (BRASIL, 2018, p. 219).

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33

Para a BNCC, o Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, direito público

subjetivo de todo cidadão brasileiro (BRASIL, 2018). Todavia:

[...] a realidade educacional do país tem mostrado que essa etapa representa

um gargalo na garantia do direito à Educação. Para além da necessidade de

universalizar o atendimento, tem-se mostrado crucial garantir a permanência

e as aprendizagens dos estudantes, respondendo às suas demandas e

aspirações presentes e futuras (BRASIL, 2018, p. 461).

O Ensino Médio é uma etapa do conhecimento fundamental para a formação do

educando, porém nota-se hoje que a Educação Física, e em especial a do Ensino Médio, é um

componente que em grande parte das vezes é marginalizado, discriminado, desconsiderado,

chegando até por vezes a ser excluído dos projetos políticos pedagógicos de algumas escolas

(BARNI; SCHNEIDER, 2003, p. 02).

Observando essa problemática expressa pelos autores supracitados, procuramos saber

na BNCC como ocorre a organização curricular e dos conteúdos visando a organização

curricular no meio escolar, e essa normativa diz que:

No Ensino Médio, além da experimentação de novos jogos e brincadeiras,

esportes, danças, lutas, ginásticas e práticas corporais de aventura, os

estudantes devem ser desafiados a refletir sobre essas práticas, aprofundando

seus conhecimentos sobre as potencialidades e os limites do corpo, a

importância de se assumir um estilo de vida ativo, e os componentes do

movimento relacionados à manutenção da saúde (BRASIL, 2018, p. 484).

Segundo a BNCC, a disciplina de Educação Física no Ensino Médio está englobada nos

componentes de “Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa – observada a

garantia dos direitos linguísticos aos diferentes povos e grupos sociais brasileiros” (BRASIL,

2018, p. 481). Na área de Linguagens e suas Tecnologias, a Educação Física possibilita:

[...] aos estudantes explorar o movimento e a gestualidade em práticas

corporais de diferentes grupos culturais e analisar os discursos e os valores

associados a elas, bem como os processos de negociação de sentidos que estão

em jogo na sua apreciação e produção. Nesse sentido, estimula o

desenvolvimento da curiosidade intelectual, da pesquisa e da capacidade de

argumentação (BRASIL, 2018, p. 481).

Dessa forma, a BNCC permite a construção de propostas de currículos adequadas às

necessidades locais e à diversidade existente no meio educacional regular.

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2.2 A INCLUSÃO, OS PROFESSORES E AS PRÁTICAS ESCOLARES NA EDUCAÇÃO

FÍSICA

Partindo do entendimento do conceito de inclusão no âmbito escolar, conceito esse

amplo e complexo, exploraremos o reconhecimento das diferenças e de uma inclusão entendida

como um “produto de uma educação plural, democrática e transgressora” (MANTOAN, 2003,

p. 20). Fato esse que provoca nas escolas a necessidade de buscar caminhos necessários para

atender às diferenças, pois “o direito à diferença nas escolas desconstrói, portanto, o sistema

atual de significação escolar excludente, normativo, elitista, com suas medidas e seus

mecanismos de produção da identidade e da diferença” (MANTOAN, 2003 p. 20). Segundo

Pires (2006, p. 50, grifos do autor), o direito a integridade nos indivíduos está:

[...] diretamente associado ao processo de construção de si mesmo. A inclusão

não é manipulação de indivíduos. Não basta inscrevê-los numa escola e

fazerem parte da lista de alunos de uma classe. Como processo participativo,

com diferentes agentes em interação, ela só acontece quando é operada pelo

próprio sujeito, pois a inclusão não pode ser fruto de imposições aleatórias,

mas um processo que o próprio indivíduo concretiza em si mesmo, na

interação e convivência com os outros. Daí a importância e a necessidade do

sujeito com necessidades especiais acreditar na possibilidade de construir uma

auto-imagem positiva, descobrindo-se como valor, como um ser útil e capaz,

portador de potencialidades energia e dinamismo.

Em relação às nomenclaturas “diferença” e “deficiência”, entendemos que a

classificação (considerando a Educação Inclusiva) se dá pela especificidade que cada uma

apresenta, apesar de considerar que todos nós, com ou sem deficiência, somos diferentes e

únicos.

Rodrigues (2006) promove uma discussão sobre o termo “diferença”. Para ele, “a noção

de ‘diferença’ tem se baseado muito do discurso moderno sobre a ‘diferenciação pedagógica’”

(RODRIGUES, 2006, p. 05). Segundo esse autor, existe uma dificuldade de traçar uma fronteira

entre a deficiência e a normalidade. Ele afirma que “ser diferente é assim, na acepção comum:

viver numa sociedade que cujos valores consideraram determinadas características da pessoa

como merecedoras de serem classificadas como deficiência ou dificuldade” (RODRIGUES,

2006, p. 05). Porém, esse pesquisador entende que a diferença não apresenta estrutura

dicotómica, não existe um critério generalizado e objetivo que seja capaz de classificar alguém

como diferente. “A diferença é antes de mais nada uma construção social historicamente e

culturalmente situada. Por outro lado, classificar alguém como ‘diferente’ parte do princípio de

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que o classificador considera existir outra categoria que é a de ‘normal’ na que ele naturalmente

se insere” (RODRIGUES, 2006, p. 05). Contudo, o autor conclui seu pensamento dizendo que:

O certo é que não só os alunos são diferentes, mas os professores são também

diferentes e ser diferente é uma característica humana e comum e não um

atributo (negativo) de alguns. A EI dirige-se assim aos “diferentes”, isto é a...

todos os alunos. E é ministrada por “diferentes”, isto é... todos os professores

(RODRIGUES, 2006, p. 06).

Nessa mesma perspectiva, Skliar (2006, p. 23) afirma que:

Os “diferentes” respondem a uma construção, uma invenção, quer dizer, são

reflexo de um largo processo que poderíamos chamar de “diferencialismo”,

isto é, uma atitude – sem dúvida do tipo racista – de categorização, separação

e diminuição de alguns traços, de algumas marcas, de algumas identidades, de

alguns sujeitos, em relação ao vasto e por demais caótico conjunto de

diferenças humanas.

Sobre a Educação Inclusiva, corroboramos com Rodrigues (2011, p. 43) e demais

autores que realçam que a mesma “é uma reforma educacional que abarca um âmbito muito

alargado e diferentes níveis de mudanças”. Essa, reforma além de mudanças, traz consigo

também muitas incertezas no ambiente escolar: “[...] podemos imaginar o impacto da inclusão

na maioria das escolas, especialmente quando se entende que incluir é não deixar ninguém de

fora da escola comum, ou seja, ensinar a todas as crianças, indistintamente!” (MANTOAN,

2003 p. 20).

Por outro lado, encontramos dificuldades e empasses quanto à inclusão dos alunos com

deficiência nas instituições de ensino públicas e privadas. Mesmo com muitas lutas pela

garantia dos direitos desses sujeitos de serem incluídos no ambiente educacional, ainda nos

deparamos com notícias7 de jornais que tratam de instituições que rejeitam a matrícula dos

alunos com deficiência, negando o direto desses sujeitos de livre escolha. A LBI, por meio dos

seus artigos, garante o direito aos alunos com deficiência a livre escolha da instituição de ensino

que esse sujeito queira estudar – por isso, essa lei trouxe consigo reconhecimento e dignidade

para esses sujeitos. De acordo com a LBI, no Artigo 98º, a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de

1989, passa a vigorar com as seguintes alterações:

7 Cf. Escola do DF é condenada pela justiça por recusar matrícula de aluno com deficiência. Disponível em:

https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/08/22/escola-do-df-e-condenada-pela-justica-por-recusar-

matricula-de-crianca-com-deficiencia.ghtml. Acesso em: 01 out. 2019.

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[...] Art. 8º Constitui crime punível com reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos

e multa: I – recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar,

cancelar ou fazer cessar inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de

qualquer curso ou grau, público ou privado, em razão de sua deficiência [...].

Além desse problema, nos deparamos com diversos outros entraves no que tange a

Educação Inclusiva. Sabemos que eles, a passos lentos, estão sendo contornados. Anterior a

LBI, a LDB deu início as mudanças na Educação Inclusiva. Chicon (2008, p. 26) afirma que

com:

A homologação no Brasil da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394, de 24

de dezembro de 1996, fortemente influenciada pela Declaração Mundial sobre

Educação para Todos (1990) e pelas recomendações da Declaração de

Salamanca (1994), desencadeou amplo processo de mudanças no sistema

educacional, nos diferentes níveis e modalidades de ensino. Uma dessas

mudanças foi a implantação da política de inclusão das pessoas com NEEs na

rede regular de ensino, modificando a sistemática de atendimento adotada até

então, que segregava essas pessoas em instituições especializadas e em classes

especiais.

O autor destaca o cenário político brasileiro, que implementa leis e diretrizes

curriculares norteadoras, buscando orientar os professores quanto à organização e ao

planejamento das aulas. Porém, quando se trata de incluir a todos os alunos, se instaura um

conflito. A esse respeito, Chicon (2014 p. 816) nos diz que:

Essa nova tendência inclusivista, no cenário político educacional brasileiro,

tem deixado os dirigentes educacionais confusos diante da obrigação de ter

que trabalhar, no mesmo espaço e tempo, com crianças que apresentam as

mais diferentes formas de habilidades, capacidades, comportamentos e

histórias de vida.

Ainda nesse contexto, entendemos que o propósito da Educação Inclusiva está

resumido, de forma imediatista, a uma mera mudança curricular, ou de apenas permitir que os

alunos com deficiência tenham o acesso à escola regular: refere-se a uma reforma bem mais

profunda, abrangendo os valores e as práticas de todo o sistema educativo tal como ele é

comumente concebido (RODRIGUES, 2017). Segundo Martins (2006, p. 20), o processo

educativo inclusivo:

[...] traz sérias implicações para docentes e para as escolas, que devem centrar-

se na busca de rever concepções, estratégias de ensino, de orientação e de

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apoio para todos os alunos a fim de que possam ter suas necessidades

reconhecidas e atendidas, desenvolvendo ao máximo as suas potencialidades.

Nos processos de ensino do aluno com deficiência ainda se mantém as atitudes adotadas

pelo modelo da Educação Especial, no qual alguns educadores acreditam que o ensino

individualizado é eficaz no aprendizado do aluno com deficiência. No entanto, ao se realizar

um ensino individualizado para pessoas com deficiência, precisa-se considerar alguns

pormenores, uma vez que o ensino pode ser individual e não levar em conta as especificidades

do aluno, como também pode ser em grupo e considerar essas especificidades (RODRIGUES,

2006).

Podemos entender que não é apenas o ensino individualizado que promove o

aprendizado do aluno com deficiência, mas as estratégias empregadas pelo professor. Ele

precisa ser capaz de atender a todos os alunos com ou sem deficiência considerando suas

especificidades. Em seus trabalhos, Rodrigues defende que:

a gestão de uma sala de aula inclusiva pressupõe que os alunos possam ter

acesso a vários tipos de grupos de aprendizagem: grande grupo (que pode

determinar o contrato, os fundamentos e a missão da aprendizagem) grupos

de projeto, grupos de nível, trabalho em pares e trabalho individual. Todos

estes enquadramentos permitem, que as situações de aprendizagem sejam

adequadas às diferentes características do aluno e do trabalho. Desenvolver

uma gestão de sala de aula inclusiva não pressupõe, pois, um trabalho

individual, mas sim o planeamento e a execução de um programa em que os

alunos possam compartilhar vários tipos de interação e de identidade

(RODRIGUES, 2006, p. 12).

O processo de ensinar através da prática educativa se configura como um grande desafio

para muitos educadores quando esse processo entra no âmbito inclusivo, pois existe a

necessidade de considerar todos as características, as diferenças e as deficiências dos

educandos.

A respeito da prática de ensino numa perspectiva inclusiva, devemos ensinar atendendo

às diferenças, porém sem diferenciar o ensino, buscando abandonar o ensino transmissivo e

adotar uma pedagogia ativa dialógica, interativa e integradora, que se contrapõe a toda e

qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber

(MANTOAN, 2003).

As práticas pedagógicas na perspectiva inclusiva requerem do meio escolar

reestruturação metodológica, inovação, esforço e dedicação de toda a comunidade escolar. Em

relação as práticas, Booth e Ainscow (2002 apud RODRIGUES, 2006) sintetizam e ilustram os

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princípios e práticas necessários para que a escola se aproxime da inclusão, que são: valorizar

alunos e professores igualmente; aumentar a participação e reduzir a exclusão; reestruturar

culturas, políticas e práticas nas escolas, para que possam responder à diversidade dos alunos;

reduzir os obstáculos à aprendizagem e participação; observar as diferenças dos alunos como

um recurso para apoiar a aprendizagem; reconhecer o direito dos alunos; melhorar as escolas;

enfatizar o papel das escolas na construção de uma comunidade, no desenvolvimento de valores

e na melhoria dos sucessos; promover relações entre a escola e a comunidade; e reconhecer que

a inclusão na Educação é parte integrante da inclusão na sociedade.

Observamos princípios e práticas norteadoras que visam a inclusão, porém “não existe

uma receita a ser seguida” (MARTINS, 2006, p. 21, grifo da autora). O importante é que o

professor esteja apoiado no cotidiano escolar e esteja orientado de uma maneira que ele seja

capaz de refletir de forma crítica e constante sobre a sua prática, baseado nos recursos

metodológicos e teóricos, na busca constante de recriá-la. A reflexão não deve se restringir a

uma teorização que compreenda e explique a prática, mas que seja efetivamente crítica e seja

capaz de reformular e recriar a sua realidade vivenciada (MARTINS, 2006).

Gasparini, Barreto e Assunção (2005) afirmam que o professor compreende que o seu

papel ultrapassou a condição de mediador do processo de conhecimento do aluno, sendo

ampliada a sua missão para além do ambiente de sala de aula, visando garantir uma inter-relação

entre a escola e comunidade. Esses sujeitos, além da incumbência de ensinar, têm o dever de

participar da gestão e do planejamento escolar, necessitando de uma dedicação mais ampla e

estendida às famílias e à comunidade. Partindo desse entendimento, necessitamos compreender

que:

Os professores não são “funcionários”, no sentido de um profissional inserido

numa cadeia hierárquica e burocrática e que tem de seguir instruções precisas

e estritas. Os professores não podem também ser encarados como “técnicos”,

no sentido em que eles não se movimentam numa profissão que exerce uma

prática inquestionável, resolvendo através de metodologias claras os

problemas que se lhes deparam. A profissão de professor é bem mais

complexa e global: na verdade, trata-se de lidar com a gestão de um currículo,

o que implica uma multiplicidade de opções e caminhos possíveis

(RODRIGUES, 2011, p. 43).

Conforme Palma, Oliveira e Palma (2010), a profissão de professor é ampla e necessita

de uma sensibilidade em lidar com a diversidade escolar. Contudo, no exercício de sua função

em sala de aula, é importante que os docentes se apropriem de todos os conhecimentos

possíveis, pois ignorar qualquer viés de pensamento ou de prática pedagógica é como estar

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limitando a extensão e a complexidade das possibilidades pedagógicas que cada uma delas traz.

Quanto maior o conhecimento desse profissional, maior é a sua possibilidade e capacidade de

fomentar as suas aulas, com clareza e leveza, e sua criatividade na produção de estratégias de

ensino.

O saber docente é construído a partir de conhecimentos e ações práticas. O

conhecimento é um processo de apropriação e objetivação de todos os saberes

produzidos em suas atividades ao longo de sua carreira. Esse processo é algo

que se dá na vida cotidiana, nas suas reflexões e ações concretas (SILVA,

2003, p. 07).

Os professores de Educação Física, em sua organização curricular, muitas vezes

encontram dificuldades em relação a sistematização dos conteúdos. As demais disciplinas da

Educação Básica possuem um conteúdo historicamente mais definido e pautado pela

hierarquização do saber, mostrando bem o que deve ser ensinado ao longo dos anos escolares,

o que não acontece com a Educação Física, gerando dúvidas em relação aos procedimentos de

ensino e ensinos desarticulados e sem sequência lógica (PALMA; OLIVEIRA; PALMA, 2010).

Todavia, mesmo com essas dificuldades em relação à sistematização de conteúdo, a

visão que se tem dos professores dessa disciplina é de profissionais que desenvolvem atitudes

mais positivas diante dos alunos que os demais professores (provavelmente seja pelos aspectos

expressivos da disciplina), sendo indicados como profissionais de atitudes mais adequados à

inclusão e, como resultado, levantam menos problemas e encontram soluções para casos

difíceis. Essa imagem dos professores é um componente importante na identidade profissional,

sendo esses sujeitos constantemente convidados a participar em projetos de inovação nas

escolas (RODRIGUES, 2003).

Concordamos com o pensamento desse autor, no que concerne a ter conteúdos menos

claros, traz consigo vantagens em relação à inclusão, visto que o professor possuirá maior

liberdade para ousar em sua criatividade, atendendo aos conteúdos propostos, intenções

positivas diante das diferenças dos seus educandos. O autor explana que “os professores de

Educação Física têm aproveitado bem o potencial da área em que atuam, diversificando as suas

formas de intervenção e encontrando estratégias que lhes permitem interagir adequadamente

com classes heterogéneas” (RODRIGUES, 2017, p. 326). Mas, o autor trata da realidade de

Portugal. Ainda temos no Brasil uma perspectiva forte da Educação Física pautada na

competição, no individualismo, na performance, que ainda sofre grande influência das

tendências militarista e competitivista. Assim, é importante pontuar que essas relações também

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mostram um processo inclusivo prejudicado. Devido às consequências sofridas historicamente,

ainda nos deparamos com grandes dificuldades no processo de incluir os deficientes/diferentes

no contexto dessa disciplina escolar.

E mesmo que a Educação Inclusiva (EI) nas instituições de ensino sofra de

consequências históricas passadas, mas ela faz parte do cotidiano escolar no momento atual e

traz consigo uma reforma educacional e os profissionais docentes devem “ser encarados como

parceiros fundamentais para iniciar e desenvolver qualquer reforma educacional”

(RODRIGUES, 2011 p. 44). Através desse profissional que a EI busca atingir os seus objetivos,

considerando que ele é capaz de produzir e estimular o desenvolvimento de todos os seus

educandos, respeitando e abrangendo todas as diferenças existentes em sua prática educativa.

E compete a cada professor harmonizar os diversos procedimentos metodológicos, tornando-os

acessíveis aos alunos com deficiência e, com isso, remover as barreiras e proporcionar a

aprendizagem (CIDADE; FREITAS, 2002).

A seguir falaremos um pouco a respeito dos alunos com surdez, buscando compreender

sobre suas peculiaridades educacionais e comunicativa, como também conhecer sua

subjetividade.

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3 O ALUNO COM SURDEZ NO CONTEXTO ESCOLAR: CORPOS QUE FALAM

3.1 DEFICIÊNCIA AUDITIVA/SURDEZ E OS ALUNOS SURDOS NA ESCOLA:

CORPOS QUE FALAM

Buscaremos aqui compreender as diferenças entre deficiência auditiva e surdez. Para

isso, iniciaremos nosso entendimento através do significado da audição no desenvolvimento

humano. Segundo Santos, Lima e Rossi (2003, p. 71):

A audição é o meio pelo qual o indivíduo entra em contato com o mundo

sonoro e com as estruturas da língua que possibilitam o desenvolvimento de

um código estruturado, próprio da espécie humana. A língua oral é o principal

meio de comunicação entre os seres, e a audição participa efetivamente dos

processos de aprendizagem dos conceitos básicos, até a leitura e a escrita.

Além disso influi decisivamente nas relações interpessoais, que permitirão um

adequado desenvolvimento social e emocional.

Rinaldi et al. (1997) diz que existem dois problemas auditivos que afetam partes

diferentes do ouvido: as dificuldades auditivas condutivas e as de transmissão. O primeiro afeta

o ouvido externo ou médio, e o segundo envolve o ouvido interno ou o nervo auditivo. A

deficiência auditiva pode ser categorizada como de transmissão, que é quando o problema se

localiza no ouvido externo e médio; mista, quando o problema se localiza no ouvido médio e

interno, e neurossensorial ou sensorioneural, quando se origina no ouvido interno e no nervo

auditivo. Quando se perde o volume sonoro, como se tentasse entender alguém falando baixo e

distante, se caracteriza pela dificuldade condutiva. Quando se corta o volume sonoro e se

distorce os sons é caracterizado como perda neurossensorial (RINALDI et al., 1997).

Ao longo da vida, por diversos fatores, muitas pessoas desenvolvem ou nascem com

algum problema auditivo (RINALDI et al., 1997). Ao nascer em hospitais e maternidades, a

criança tem o direito de fazer a Triagem Auditiva Neonatal (TAN), popularmente conhecido

como “teste da orelhinha”, que possibilita a identificação de diversos problemas auditivos nos

recém-nascidos. Esse exame deve ser feito até o terceiro mês de vida do bebê. Grande parte dos

serviços de saúde realizam essa triagem antes da alta do bebê, contudo não há normativa que

indiquem se esse teste deve ser aplicado nas primeiras 24 ou 48 horas de vida (RIBAS et al.,

2013).

A deficiência auditiva pode ser classificada como congênita ou adquirida. A congênita

tem como causas: hereditariedade, viroses maternas, doenças tóxicas e ingestão de

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medicamentos ototóxicos pela gestante. Já a adquirida pode ser por predisposições genéticas,

meningite, traumas no ouvido, exposição a sons impactantes, viroses e entre outros (RINALDI

et al., 1997).

A definição da deficiência auditiva estabelecida pelo Decreto Federal nº 3.298, de 20 de

dezembro de 1999, aponta em seu Artigo 4º que se considerada pessoa portadora de deficiência

aquela que se enquadra nas seguintes categorias: “[...] II – deficiência auditiva, perda bilateral,

parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências

de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz (Redação dada pelo Decreto nº 5.296/2004)”

(BRASIL, 1999). A nomenclatura “portador de deficiência” foi substituída por “pessoa com

deficiência”, pois os textos mais atuais se referem a esses sujeitos como pessoas. Observamos

na LBI, no Artigo 2º, que se considera pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de

longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma

ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de

condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015). No que tange a definição da deficiência

auditiva, o autor Rinaldi (1997, p. 31, grifos do autor) denomina como:

[...] a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons, sendo

considerado surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum,

e parcialmente surdo, aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional

com ou sem prótese auditiva.

Em relação a surdez, Lima (2006) explana que ela é a perda maior ou menor da

percepção normal do som. Existem vários tipos de pessoas com surdez e de diferentes graus de

perda da audição. O indivíduo com surdez pode ser considerado como: parcialmente surdo (com

surdez leve ou moderada) e surdo (com surdez severa ou profunda). Para Coll (2004, p. 172),

“surdez é qualquer alteração produzida tanto no órgão da audição como na via auditiva.” O

Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, no Artigo 2º, considera pessoa surda como sendo:

[...] aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo

por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente

pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras.

Conforme o Decreto nº 5.626/05, o indivíduo surdo é aquele que possui uma perda

auditiva. Ele compreende, interage com o mundo e manifesta sua cultura por meio de

experiências visuais e do uso da Libras, já que a Língua de Sinais é sua língua principal e

materna (BRASIL, 2005) – diferente do deficiente auditivo, que não interage com a cultura

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surda por meio da Libras e nem compreende o mundo surdo, tendo como língua materna o

Português.

Para Skliar (1997), a surdez como uma deficiência se convencionou por meio do modelo

clínico-terapêutico. Nessa visão, a surdez e a deficiência auditiva são termos idênticos, pois “o

surdo é o indivíduo cujo sentido da audição não é funcional para os objetivos comuns da vida”

(SILVA, 2008, p. 11). Assim, colocando de forma patológica esse sujeito como um ser

“deficiente”, sem observar sua condição linguística e cultural diferenciada. Skliar (2005, p. 40)

afirma que:

Aquele que não ouve tão bem, ou não percebe algumas manifestações sonoras

na medida em que deveria, via de regra, passa a ser distinguido como alguém

com uma perda, com uma carência, com uma falta de, com uma deficiência, e

também como pessoa portadora de uma especialidade. Essa nomenclatura cria

uma circunscrição marcada pela inferioridade, pela deficiência, aprisionando

aquele que diz e aquele do qual se diz.

Os autores Costa e Reis (2009 apud SILVA, 2008), definem uma pessoa surda como

aquela que vivencia um déficit de audição que o impede de ouvir a língua oral-auditiva da

comunidade majoritária ouvinte, e que constrói a sua identidade baseado nessa diferença,

utilizando estratégias cognitivas e manifestações comportamentais e culturais diferente dos

ouvintes. Para Wrigley (1996 apud SKLIAR, 2005), a surdez não é uma questão de audiologia,

mas de grau epistemológico. De acordo com Skliar (2005, p. 13), “os surdos são definidos

somente a partir de supostos traços negativos, percebidos como exemplos de um desvio de

normalidade, no pior dos casos, ou de uma certa diversidade, no melhor dos casos”. Para os

pesquisadores Lopes e Veiga-Neto (2010, p. 128, grifos do autor), ser surdo pode ser

compreendido como:

[...] a possibilidade de ter uma existência construída sobre marcadores que

afirmam a produtividade da diferença, a presença imperiosa do ser sobre si –

um ser que não remete a uma essência, mas a subjetividades construídas e

conjugadas a partir do outro surdo. [...] Não há uma essência surda que possa

ser lida na forma de ser, mas há uma forma de ver-se de narrar-se que traz

marcas comuns a um grupo específico. Tais marcas inscrevem-se sobre o

corpo, dando sentidos outros para as muitas formas de sentir e de significar a

posição social ocupada pelos surdos que vivem em comunidade surda.

De acordo com Behares (1993), a surdez é reconhecida como uma diferença (social e

cultural) e a aceitação de uma língua implica sempre a aceitação de uma cultura, por meio dessa

aceitação o surdo passa a ser visto como um sujeito diferente, que tem uma língua própria, que

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é a Língua de Sinais, considerada como sua língua materna e adquirida no convívio com a

comunidade surda.

No que concerne a Língua de Sinais, Goldfeld (1997, p. 13) afirma que “As Línguas de

Sinais são línguas naturais, que utilizam o canal viso-manual, criadas por comunidades surdas

através de gerações. [...] têm estruturas gramaticais próprias, independentes das línguas orais

dos países em que são utilizados”.

Skliar (1999) explica que a concepção socioantropológica ainda descreve a surdez em

termos que divergem da ideia de patologia e de deficiência, não elucidando o fato de que a ela

está verdadeiramente incorporada dentro do discurso da deficiência. Considerando que a

diferença existente na surdez é marcada pela peculiaridade linguística e que suas identidades

são culturalmente construídas no seio das comunidades surdas, ao tratar sobre essa comunidade

necessitamos saber como se denomina a cultura surda. Segundo Strobel (2009, p. 27):

[...] cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-

lo a fim de torná-lo acessível e habitável ajustando-o com as suas percepções

visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas”

das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as

crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo.

Os surdos possuem categorias de identidades heterogêneas que significam para esses

sujeitos ter orgulho de ser surdo, e assumir ser surdo longe do paradigma da deficiência ou

incapacidade (ALMEIDA; SOUZA, 2015). Reconhecemos o surdo em sua diferença

linguística, sabendo que:

a surdez constitui uma diferença a ser politicamente reconhecida; a surdez é

uma experiência visual; a surdez é uma identidade múltipla ou multifacetada

e, finalmente a surdez está localizada dentro do discurso sobre a deficiência

(SKLIAR, 1999, p. 11).

No contexto escolar, a inclusão dos alunos surdos acontece de forma tradicional, em que

esses sujeitos são inseridos em sala de aula de predomínio ouvinte e estudam sem a presença

da cultura surda, sem o uso da Língua de Sinais, sem os seus pares surdos (CAMPOS, 2014).

O Ministério da Educação e Cultura (MEC) propõe uma política de Educação Inclusiva

baseada na teoria crítica que seja de acordo com a diversidade. A teoria crítica objetiva

incentivar a diversidade, e não a educação da alteridade, tendo em sua área uma pedagogia que

possibilita a inclusão integrando todos em um único sistema de ensino (CAMPOS, 2014). A

inclusão baseada na teoria crítica proposta pelo MEC, de acordo com a diversidade, acarreta o

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biculturalismo no contexto educacional em que se encontra o sujeito surdo. Para Perlin (1998,

p. 67):

A posição bicultural é algo que mantém o surdo pelo meio. É como se dissesse:

você é um, mas precisa ser dois ao mesmo tempo. Esta é uma exigência da

diversidade imposta pela sociedade anfitriã ao surdo, uma definição sujeita

ainda a manter cambaleante a comunidade surda.

Para Sá (2010), a inclusão dos surdos no ensino regular inviabiliza o desejo desse sujeito

por construir saberes, identidades e culturas a partir das duas modalidades linguísticas, oral e

Língua de Sinais, se tornando impossível a consolidação linguística, pois não é apenas aceitar

a Língua de Sinais, mas possibilitá-la, porque todo trabalho de cunho pedagógico que considera

o desenvolvimento cognitivo do aluno deve considerar primeiro a aquisição da língua natural.

Lacerda, Santos e Caetanos (2014) declaram que as estratégias metodológicas que

busque uma melhor compreensão do estudante são fundamentais para os alunos surdos.

Frequentemente, eles chegam nas escolas com conhecimento de mundo limitado se comparado

com os alunos ouvintes, já que constroem conceitos a partir de informações trazida pelos canais

de comunicação oral.

Conforme Campos (2014), atualmente o tipo de inclusão presente nas escolas é o misto,

no qual o surdo está inserido em sala de aula regular com colegas surdos e ouvintes, com a

presença do intérprete de Língua de Sinais mediando a comunicação e interpretando os

conteúdos abordados em sala.

A atividade de interpretação surgiu em instituições religiosas, em relações familiares e

amizades (SANTOS, 2006). Essa atividade só se tornou profissão no Brasil quando foi

reconhecida em 2010, por meio da Lei nº 12.319/10. O Artigo 6o trata das atribuições do

tradutor e intérprete, no exercício de suas competências de: efetuar comunicação entre surdos e

ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos-cegos e ouvintes, por meio da Libras

para a língua oral e vice-versa; interpretar, em Língua Brasileira de Sinais/Língua Portuguesa,

as atividades didático-pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos

níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares;

atuar nos processos seletivos para cursos nas instituições de ensino e nos concursos públicos;

atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e

repartições públicas; e prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos

administrativos ou policiais (BRASIL, 2010).

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Em relação ao dever do intérprete, o Art. 7o diz que esse profissional deve exercer sua

profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa

humana e à cultura do surdo e, em especial: pela honestidade e discrição; atuação livre de

preconceito; imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir; postura e

conduta adequadas aos ambientes; solidariedade e consciência de que o direito de expressão é

um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele

necessitem; e conhecimento das especificidades da comunidade surda (BRASIL, 2010).

Traduzir e interpretar são verbos que se interpenetram, um não existe sem o outro. A

diferença da terminologia exerce um fim didático que é valorizado apenas por tradutores e

intérpretes (MAGALHÃES JUNIOR, 2007). A singularidade dessa profissão está em sua

prática, uma vez que o ato de interpretar é complexo e necessita da presença física do sujeito,

deixando o profissional exposto física e emocionalmente à apreciação de todos espectadores

(ROSA, 2003).

Para se ter uma boa interpretação, o profissional necessita ter agilidade no uso das duas

línguas, visto que o intérprete recebe, armazena e reproduz as informações simultaneamente,

na maioria das vezes, e a falta de experiência na execução da atividade pode ocasionar falhas

na memória, comprometendo o resultado da interpretação (ROSA, 2003). Como esclarece

Magalhães Junior (2007, p. 21): “na interpretação, por dever de ofício, aprendemos a falar, a

calar; a lembrar e a esquecer”. A experiência e a prática evitam que ocorram falhas no ato

interpretativo. Para Rosa (2003, p. 241):

O intérprete não empresta ao surdo somente os ouvidos e as mãos, e sim todo

o corpo; a boa interpretação está relacionada com a expressão facial e

corporal; o ouvinte transmite suas emoções por meio de ruídos, melodia e

imposição de voz, o que, para o surdo deve ser materializado no corpo do

intérprete.

A área da interpretação em Língua de Sinais existe dois tipos de profissionais:

intérprete-profissional e o intérprete-professor (intérprete educacional). A primeira arca

profissionalmente com a sua função de interpretar Libras/Língua Portuguesa em eventos,

palestras, congresso, eventos religiosos reuniões. E o segundo é o intérprete educacional que

veicula Libras/Língua Portuguesa em sala de aula nas atividades didáticas pedagógicas,

culturais, reuniões, cursos, eventos da área educacional (CAMPOS, 2014). No contexto escolar,

“os intérpretes representam a ponte entre dois mundos diferentes, o mundo visual dos surdos e

o mundo oral dos ouvintes” (ROSA, 2003, p. 238).

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Sabe-se que a comunicação e a expressão dos surdos ocorrem através da Língua de

Sinais, que utiliza expressões faciais na produção de sentidos. “As Línguas de Sinais são

basicamente diferentes das línguas orais por causa da sua modalidade espaço-visual, que faz

com que sejam percebidas pela visão e produzidas por intermédio das mãos e das expressões

faciais corporais” (PEREIRA, 2008, p. 08), o que diferente das línguas orais que necessitam da

audição para ser expressa, a Língua de Sinais não necessita desse recurso se tornando uma

modalidade diferente de comunicação e expressão.

O sujeito surdo tem uma forma peculiar de se expressar, que é por meio do seu corpo.

No artigo “A percepção do corpo próprio e o ‘ser surdo’”, Marques (2007) apresenta uma nova

forma de ver a pessoa surda e o corpo surdo, não se encontrando, portanto, nem no paradigma

da deficiência, no qual a medicina se manifesta, tampouco na teoria das representações, que

fecunda a cultura para constituir o sujeito. Mostrando sua percepção de corpo, através da

identidade de “ser surdo”, esse autor ilustra bem sua percepção quando diz que:

Esse desconhecido corpo meu que se apresenta só me pode mostrar suas

façanhas a partir do encontro dele com as barreiras que surgem e impedem

que ele faça algo natural a ele mesmo. Partindo desse contraste, é nele que

identifico as potencialidades que nos diferenciam das pessoas não surdas,

porque é nelas que meu corpo se mostra diferente através da presença e da

ausência, e lhe constitui a genuína condição de ser surdo (MARQUES, 2007,

p. 80).

Para esse autor, as potencialidades do corpo do sujeito surdo encontram-se numa posição

que estigmatiza provocando sua inferioridade através da rotulação como “deficientes”. Trata

também da descoberta da essência na pessoa surda, mostrando que alguns estudiosos, abordam

a questão do corpo por meio de teorias patológicas de recuperação e correção, e o mesmo

corrobora com a proposta de Merleau-Ponty, que do contrário aborda a questão do corpo como

constituinte de características próprias, para além de uma interpretação mecanicista

(MARQUES, 2007).

Marques (2007) chama a atenção para o corpo da pessoa surda, narrando que esse corpo

possui propriedades inerentes a ele, como “a interpretação visual, o desejo de estar com outro

semelhante surdo, o tato mais aguçado, a Língua de Sinais, entre outras características que as

distinguem das pessoas não surdas” (MARQUES, 2007, p. 81). Na busca por mostrar a

essência, ele relata como a pessoa surda se apresenta no mundo narrando que:

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[...] As pessoas surdas são obrigadas, através da vibração do som, a identificar

as significações entendidas pelas pessoas não surdas. Mas nunca se perguntou

ou, talvez, nunca se pensou que significações, interpretações ou mesmo

emoções essa atitude despertou nas pessoas surdas e quais as funções advindas

daí. Ou, por exemplo, somos obrigados a entender o significado de uma

determinada palavra, que posta em alto volume nos expõe a “fisicalidade”;

uma característica produzida em movimentos curtos, alternados, verticais,

contínuos e, dependendo da palavra, esses movimentos podem inverter

aleatoriamente esses aspectos, bem como expandi-los ou diminuí-los. Podem

ainda provocar prazer, paz, lembranças, mas também podem provocar

irritações, impotências e revoltas. Muitos outros aspectos estariam sujeitos à

submissão pelas imposições que cerceavam a tentativa maçante de se perceber

apenas um aspecto que não outro a não ser da pessoa não surda, ou, mais

especificamente, a percepção da fisicalidade está condicionada à

decodificação da palavra através do som (MARQUES, 2007, p. 83-84).

E conclui sua obra dizendo que, ao refletir sobre a essência de sua subjetividade, ele se

encontra ligado à existência do corpo e do mundo, “é porque minha existência como

subjetividade é uma, a mesma existência minha como corpo e com a existência do mundo, e

porque finalmente o sujeito que sou, concretamente tomado, é inseparável deste corpo-aqui e

deste mundo-aqui” (MARQUES, 2007, p. 84). Por meio desse texto, observamos como é esse

corpo e que o corpo surdo fala de forma singular, subjetiva e única dando sentido e significado

a sua essência como corpo, como ser no mundo.

A seguir continuaremos com os delineamentos do percurso metodológicos tomado pela

pesquisa.

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4 DELINEANDO O CAMINHO METODOLÓGICO

Toda a nossa ciência comparada com a realidade,

é primitiva e infantil – e, no entanto, é a coisa mais

preciosa que temos

(EINSTEIN apud GERMANO, 2011, p. 35).

Este capítulo contém todo o delineamento do nosso percurso metodológico de pesquisa.

O ponto de vista adotado por Albert Einstein define a abertura deste capítulo, quando traz a

ciência, se comparada a realidade, como uma ação empírica, esboçada como primitiva e infantil,

porém preciosa. Quando se trata de ciência, Gil (2008, p. 03) a classifica em “formais e

empíricas. As primeiras tratam de entidades ideais e de suas relações, sendo a Matemática e a

Lógica Formal as mais importantes. As segundas tratam de fatos e de processos”. A ciência

empírica, que trata da realidade dos fatos, e seus processos é a que vamos versar nesta pesquisa.

Antes de iniciar esse delineamento metodológico, vamos compreender um pouco mais

sobre a ciência empírica. Ainda de acordo com Gil (2008, p. 03):

As ciências empíricas, por sua vez, podem ser classificadas em naturais e

sociais. Dentre as ciências naturais estão: a Física, a Química, a Astronomia e

a Biologia. Dentre as ciências sociais estão: a Sociologia, a Antropologia, a

Ciência Política, a Economia e a História. A Psicologia, a despeito de

apresentar algumas características que a aproximam das ciências naturais,

constitui também uma ciência social. Isto porque, ao tratar do estudo do

comportamento humano, trata-o sobretudo a partir da interação entre os

indivíduos.

Sendo assim, após explanar sobre o referencial teórico discorrido acima, apresentamos

todo o delineamento do nosso percurso metodológico para a estruturação desta pesquisa.

Ao projetarmos esta pesquisa, buscamos oferecer contribuições para a ascensão do

conhecimento dos docentes de Educação Física no que corresponde a um processo de inclusão

que abrange as diferenças e as particularidades dos alunos surdos no sistema regular de ensino

– e que essas contribuições possam reverberar em suas práticas escolares.

O percurso investigativo desta pesquisa está traçado em uma abordagem qualitativa,

visto que essa abordagem “é de particular relevância ao estudo das relações sociais devido à

pluralização das esferas de vida” (FLICK, 2009, p. 20). Ela considera a vivência do sujeito

como um dos elementos de seu fazer científico.

Para esta dissertação de base qualitativa optou-se pelo estudo de caso, por assim

entender que a mesma está de acordo com o nosso objetivo – analisar as concepções dos

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professores e dos alunos surdos em relação à inclusão nas aulas de Educação Física do Ensino

Médio no IFRN. E, conforme o que apresenta Lüdke e André (1986), o estudo do caso pode ser

similar a outros, mas é distinto, pois tem um interesse próprio, único e particular, mas deve ser

bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos. Goode e Hatt (1968), citados

por Lüdke e André (1986, p. 17), afirmam que:

[...] o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema

mais amplo. O interesse, portanto, incide naquilo que ele tem de único, de

particular, mesmo que posteriormente venham a ficar evidentes certas

semelhanças com outros casos ou situações. Quando queremos estudar algo

singular, que tenha um valor em si mesmo, devemos escolher o estudo de caso.

Por se tratar de um caso particular e único no IFRN – Campus Natal Central, foi

despertado um interesse pelo fato singular dessa Instituição, na busca de compreender

determinados acontecimentos pontuais da realidade escolar, uma vez que “[...] o estudo de caso

permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativa dos

eventos da vida real” (YIN, 2001, p. 21).

As características holísticas buscam entender os acontecimentos em sua totalidade. Por

isso, o estudo de caso se concentra no todo para chegar à compreensão do fenômeno na

globalidade e não na particularidade ou diferenciação de outros casos (STAKE, 1999). Dooley

(2002, p. 343-344) refere ainda que:

Investigadores de várias disciplinas usam o método de investigação do estudo

de caso para desenvolver teoria, para produzir nova teoria, para contestar ou

desafiar teoria, para explicar uma situação, para estabelecer uma base de

aplicação de soluções para situações, para explorar, ou para descrever um

objeto ou fenômeno.

O estudo de caso se sustenta nos momentos em que “os pesquisadores procuram

responder às questões ‘como’ e ‘por quê’ quando certos fenômenos ocorrem, quando há pouca

possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre

fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real”

(GODOY, 1995, p. 25). Para Yin (2001, p. 27):

O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos

contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos

relevantes. O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas

pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente

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não são incluídas no repertório de um historiador: observação direta e série

sistemática de entrevistas.

Essa metodologia oportuniza uma visão aprofundada, ampla e integrada de uma unidade

complexa, porém exige do pesquisador um trabalho de campo intenso e prolongado (ANDRÉ,

2005).

Godoy (1995) explana que o pesquisador no estudo de caso normalmente faz uso de

uma diversidade de dados coletados em diferentes momentos da pesquisa (por intermédio de

diversas fontes), bem como de sua técnica fundamental de pesquisa (a observação e a

entrevista), produzindo relatórios em um estilo mais informal, narrativo, ilustrado com citações,

exemplos e descrições fornecidos pelos sujeitos. Além disso, ele também pode utilizar fotos,

desenhos, colagens ou qualquer outro tipo de material que o auxilie na transmissão do caso.

Utilizamos esse método de pesquisa pela necessidade de encontrar a estratégia que mais

se adeque ao objeto pesquisado. Em relação a essas estratégias, Yin (2001, p. 23) revela que “a

visão mais apropriada dessas estratégias diferentes é pluralística. Pode-se utilizar cada

estratégia por três propósitos – exploratório, descritivo ou explanatório”. Essas estratégias se

diferenciam através de três condições: “a) no tipo de questão de pesquisa proposto; b) na

extensão de controle que o pesquisador tem sobre eventos comportamentais efetivos; e c) no

grau de enfoque em acontecimentos históricos em oposição a acontecimentos contemporâneos”

(YIN, 2001, p. 24).

No que concerne à coleta de dados, Yin (2001) alega que o estudo de caso tem como

base diversas fontes – como exemplo, documentos, entrevistas, observações etc. Quando se

utiliza várias fontes, permite-se o desenvolvimento de linhas convergentes de investigação,

possibilitando diversas avaliações de um mesmo fenômeno. “Organizar e analisar todo o

material obtido por meio de documentos, observações e entrevistas não é tarefa fácil e exige o

domínio de uma metodologia bastante complexa da qual a análise de conteúdo faz parte”

(GODOY, 1995, p. 27).

Assim, analisando o curso desta pesquisa, se faz necessário apresentar o

desenvolvimento empírico no qual nos baseamos. Faremos essa apresentação através da

exposição do campo investigativo, por meio da descrição dos sujeitos colaboradores e dos

procedimentos utilizados na investigação e análise.

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4.1 LÓCUS, PARTICIPANTES, INSTRUMENTOS, PROCEDIMENTOS E

ORGANIZAÇÃO DA COLETA DE DADOS

A pesquisa realizou-se no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Norte (IFRN). Nele, temos o ensino básico atrelado ao profissional, em que o aluno

dispõe de disciplinas elementares articuladas no currículo às disciplinas específicas da área

profissional escolhida pelo aluno no ato da inscrição do processo seletivo para o ingresso na

Instituição. Em relação ao curso técnico integrado ao Ensino Médio, o PPC diz que:

O IFRN, ao integrar a Educação Profissional ao Ensino Médio, inova

pedagogicamente sua concepção de Ensino Médio, em resposta aos diferentes

sujeitos sociais para os quais se destina, por meio de um currículo integrador

de conteúdos do mundo do trabalho e da prática social dos estudantes, levando

em conta o diálogo entre os saberes de diferentes áreas do conhecimento

(BRASIL, 2011, p. 09).

A nossa escolha pelo Ensino Médio já foi apresentada no capítulo introdutório desta

pesquisa, porém recobramos essas informações para confirmar nossa predileção por essa etapa

de ensino: inicialmente, por ser o espaço de atuação profissional da pesquisadora; e também,

por considerarmos essa uma etapa importantíssima da Educação – que não tem reconhecida sua

importância na vida escolar.

Desse modo, no final do segundo semestre de 2018, foi feito um levantamento

vislumbrando diagnosticar qual campus possuía o maior número de professores atuando com

alunos com surdez que cursam o técnico Integrado ao Ensino Médio, que abarca a disciplina de

Educação Física como componente curricular. Foi descoberto que o campus com maior número

de alunos com surdez e de professores atuando com esses alunos foi o Natal Central.

Fizemos uma pesquisa no site dessa Instituição buscando saber como ela era estruturada

fisicamente e obtivemos os seguintes dados: o campus Natal Central (CNAT) está instalado

num terreno de 90.000 m², divididos entre parte administrativa, acadêmica e esportiva. Possui

em sua estrutura física os seguintes componentes: auditório com 490 lugares; miniauditório

central com 130 lugares; miniauditório DIAC com 75 lugares; miniauditório museu com 65

lugares; estacionamento; biblioteca central; biblioteca setorial DIAC; cantina/lanchonete;

refeitório; unidade de assistência médico-odontológica e de acompanhamento psicológico. Para

a realização de atividades físicas, o campus possui um parque esportivo composto por: duas

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piscinas, três quadras esportivas, um ginásio poliesportivo e um campo de futebol com pista de

atletismo (BRASIL, 2018).

Quanto à organização administrativa e pedagógica, o IFRN é formado pela Direção

geral, Administrativa, de Ensino, Administração de Pessoal, Tecnologia da Informação,

Pesquisa e Inovação, Extensão, Atividades Estudantis e as Direções Acadêmicas, Coordenação

Pedagógica, corpo docente (professores e estagiários) e técnicos administrativos e funcionários

terceirizados para dar conta da demanda e dos serviços da Instituição. É o Diretor Acadêmico

de Ciências que assume as demandas relacionadas às disciplinas elementares. O campus CNAT

possuí atualmente 4 intérpretes efetivos atuando em sala de aula, junto com 5 intérpretes

estagiários.

A organização curricular do IFRN se baseia no Projeto Político Pedagógico (PPP) da

Instituição e nas Propostas de Trabalho para as Disciplinas do Ensino Médio (PTDEM)

referentes aos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio. O quadro abaixo mostra os

conteúdos proposto da disciplina de Educação Física do Ensino Médio.

Quadro 02 – Os conteúdos de Educação Física propostos pelo IFRN

CONTEÚDOS PROPOSTOS

NÚCLEO

ESTRUTURANTE

ANO

A CULTURA DE

MOVIMENTO

O JOGO A GINÁSTICA

1. Conceitos e

definições do

movimento humano.

2. Contexto atual da

Educação Física

escolar no Ensino

Médio.

1. Conceitos

2. Tipos e aplicações.

3. Criações e

ressignificação dos

jogos.

4. Brinquedos e

brincadeiras

populares.

1. Origem e

evolução do

exercício físico.

2. Conceito e

tipos de

exercícios físicos.

3. Exercícios

físicos e saúde.

ANO

O ESPORTE AS LUTAS AS DANÇAS

1. Histórico e evolução

do esporte.

2. Tipos de esportes.

3. Fundamentos

técnicos e táticos.

4. O esporte e a mídia.

5. Os investimentos e a

tecnologia no esporte.

6. O doping no

esporte.

7. O uso político e

econômico do esporte.

8. O trabalho no

esporte.

1. Aspectos

históricos e

socioculturais das

lutas.

2. Movimentos

básicos.

3. Sentidos e

significados

filosóficos das lutas.

1. História das

danças.

2. Tipos de dança.

3. Manifestações

culturais da

dança.

4. Dança e

consciência

corporal.

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NÚCLEO

ARTICULADOR

3º e

ANO

QUALIDADE DE

VIDA, SAÚDE E

TRABALHO

PRÁTICAS

CORPORAIS E

LAZER

PROGRAMA

DE ATIVIDADE

FÍSICA E

AUTONOMIA

1. Conceito de

qualidade de vida e

saúde.

2. Qualidade de vida e

saúde no trabalho.

3. Ginástica laboral.

1. Praticas corporais

regulares e seus

benefícios para a

saúde.

2. A relação trabalho,

atividade física e

lazer.

1. Conceitos e

tipos de ginastica.

2. Esporte

participação.

Fonte: IFRN (2016).

Como podemos observar, os conteúdos estão divididos em dois núcleos: o núcleo

estruturante, que contempla o 1º e o 2º ano, e o Núcleo articulador, para os 3º e 4º anos. O

núcleo estruturante abrange os temas: a cultura de movimento e o jogo e a ginástica, como

conteúdo para o 1º ano do Ensino Médio; e o esporte, as lutas e a dança, como conteúdo para o

2º ano. E no núcleo articulador são os conteúdos: qualidade de vida, saúde e trabalho, práticas

corporais e lazer, programa de atividade física e autonomia para os alunos do 3º e 4º ano do

Ensino Médio técnico integrado.

Antes de iniciar a pesquisa, fomos ao campus CNAT conversar com o Diretor

Acadêmico, fizemos a apresentação do projeto e pedimos autorização para a realização da

pesquisa na Instituição, via Carta de Anuência.

Posteriormente, buscou-se, por meio mapeamento geral fornecido pelo Núcleo de Apoio

às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE), a quantidade de deficientes

auditivos e surdos matriculados no CNAT no ano de 2019, visto que o foco na pesquisa é o

trabalho dos professores com o aluno com surdez no curso técnico integrado ao Ensino Médio.

Adaptamos o material disponibilizado pelo NAPNE como visto no quadro abaixo:

Quadro 03 – Mapeamento das pessoas com deficiência auditiva/surdez matriculados nos

cursos técnicos integrados ao Ensino Médio do IFRN/CNAT

DEFICIÊNCIA/

NECESSIDADE

ESPECÍFICA

QUANTIDADE CURSO/NÍVEL ADEQUAÇÕES

NECESSÁRIAS

DEFICIÊNCIA

AUDITIVA

01 (UM) Geologia/ Integrado Não houve solicitação.

SURDEZ 02 (DOIS) Informática para Internet/

Integrado

Intérprete de Libras e

acompanhamento

psicopedagógico.

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SURDEZ 02 (DOIS) Manutenção e Suporte em

Informática / Integrado

Intérprete de Libras e

acompanhamento

psicopedagógico.

DEFICIÊNCIA

AUDITIVA

UNILATERAL

01 (UM) Manutenção e Suporte em

Informática / Integrado Não houve solicitação.

Fonte: Autoria própria (2019, adaptado do NAPNE CNAT).

Esse quadro representa um levantamento dos alunos com surdez e deficiência auditiva

que fazem parte do Ensino Médio dos cursos técnicos integrado – foi colocado em destaque

nesse quadro a quantidade de alunos com surdez por fazer parte do objeto estudado nessa

pesquisa. Salientamos que a quantidade de deficiente auditivos e surdos no IFRN/CNAT é

maior que o apresentado no quadro, uma vez que ela oferta os cursos técnicos subsequentes e

de Ensino Superior e os demais alunos com deficiência auditiva e surdez ingressarem na

Instituição por meios desses cursos.

Na busca de caracterizar nossos interlocutores, tivemos como critério de escolha dos

sujeitos: o interesse em participar da pesquisa, quanto aos alunos surdos; e serem do quadro de

efetivos ou serem professores substitutos da Instituição em exercício da função na disciplina de

Educação Física, quanto aos professores.

Apresentamos a seguir o quadro de nossos participantes surdos nesta pesquisa. Ao longo

do nosso texto, eles serão identificados por nomes referentes as espécies brasileiras de

borboletas:

Quadro 04 – Identificação dos interlocutores surdos do IFRN/CNAT

SUJEITOS TURMA TURNO

LYCAENIDAE 1º ano Matutino

NYMPHALIDAE 1º ano Matutino

PIERIDAE 2º ano Matutino

MORPHO MENELAUS 2º ano Matutino

Fonte: Autoria própria (2019).

Os docentes colaboradores ao longo da pesquisa serão identificados pelas cores que as

algumas borboletas possuem:

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Quadro 05 – Identificação/Formação dos colaboradores do IFRN/CNAT

SUJEITOS FORMAÇÃO TEMPO DE DOCÊNCIA

NA INSTITUIÇÃO

AMARELO Graduação em Licenciatura Plena em

Educação Física e Mestrado em Educação

09 anos

AZUL Graduação em Licenciatura Plena em

Educação Física

39 anos

VERMELHO Graduação em Educação Física e Mestrado

em Educação

01 ano

MARROM Graduação em Licenciatura Plena em

Educação Física e Mestrado em Engenharia

da Produção

25 anos

Fonte: Autoria própria (2019).

Nesta pesquisa, contemplamos os nossos colaboradores como sujeitos fundamentais na

prática discursiva para a construção de dados, análises e interpretação. Assim, o primeiro

contato de observação com os professores de Educação Física foi anterior às aulas: após as

devidas apresentações da pesquisa, explicamos a proposta de pesquisa como também

fornecemos a Carta de Anuência, devidamente consentida pelo Diretor Acadêmico, para a

apreciação dos nossos sujeitos e para que pudessem observar o tipo de investigação que iríamos

desenvolver. Em seguida, concedemos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(Apêndice 06) e o Termo de Imagem (Apêndice 08) para serem devidamente assinados pelos

colaboradores da pesquisa.

Os instrumentos utilizados nesta pesquisa foram imprescindíveis e determinantes para

escrita desta dissertação. Diante do aporte metodológico, adotamos como procedimentos de

investigação para a construção dos dados:

a) Análise de documental da Instituição: Projeto Político-Pedagógico do IFRN (PPP), Projeto

Pedagógico de Curso (PPC) e Propostas de Trabalho para as disciplinas do Ensino Médio

(PTDEM);

b) Observação participante;

c) Fotografias, áudio e vídeos;

d) Diário de campo;

e) Entrevistas semiestruturadas com os sujeitos.

Começamos nossa pesquisa por meio de uma análise documental e tivemos acesso ao

PPP, elaborado e construído por meio de um processo democrático, coletivo e participativo.

Reformulado em 2012, esse documento estreitou nosso contato com a história, os princípios, a

função social, a caracterização e as concepções filosóficas e pedagógicas do IFRN. O PPC (do

curso de Manutenção e Suporte em Informática e o de Informática para Internet) e o PTDEM

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da Instituição são documentos criados com base no PPP também analisados por nós.

Privilegiamos compreender quais as propostas educacionais e se as mesmas contemplam os

alunos com deficiência/diferenças que fazem parte desses cursos na Instituição.

Logo após as análises documentais, iniciamos o processo de observação. “A observação

nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o

cotidiano (GIL, 2008, p. 100). Precisamos de um olhar cuidadoso durante a observação dos

sujeitos e do objeto que faziam parte do contexto da pesquisa.

Para dar seguimento a observação, organizamos um Roteiro de Observação (Apêndice

01) e fizemos registros fotográficos dos momentos observados, para assim auxiliar nossas

análises e interpretações dos dados. As filmagens feitas das falas dos alunos são apenas para

que se faça uma transcrição mais detalhada e precisa, respeitando o Estatuto da Criança e do

Adolescente8 (BRASIL, 1990): suas identidades foram mantidas em sigilo, de forma a preservá-

los; as imagens fotográficas dos alunos foram desfocadas, para impossibilitar que eles sejam

identificados. Os registros foram previamente autorizados por meio do Termo de Imagem,

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para pais ou responsáveis pelos alunos (TCLE-

PAIS) (Apêndice 04) e o Termo de Assentimento para Criança e Adolescente (TALE)

(Apêndice 05).

Dessa forma, fizemos os registos das observações – não participante – das vivências nas

aulas de Educação Física, visando observar a atuação docente com os alunos com

deficiência/diferença em sala de aula e se conduziam suas aulas de forma inclusiva,

contemplando a todos os alunos presentes. Sobre a observação, Gil (2008 p. 105) narra que “o

registro da observação é feito no momento em que esta ocorre e pode assumir diferentes formas.

A mais frequente consiste na tomada de notas por escrito ou na gravação de sons ou imagens”.

Denominamos a tomada de nota de “diário de campo”, para organização e coleta de dados.

Minayo (1994) diz que o diário de campo visa registrar, em tempo real, as atitudes, os

fatos e os fenômenos percebidos no campo de pesquisa. Por ele, podemos estabelecer relações

entre as vivências e o aporte teórico dado durante a pesquisa.

Ao final do nosso processo de observação e registro, demos início às entrevistas com os

participantes. Em relação aos tipos de entrevista, Gil (2008, p. 111) ressalta que:

8 Art. 17: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do

adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos

espaços e objetos pessoais” (BRASIL, 1990, s. p.).

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as entrevistas mais estruturadas são aquelas que predeterminam em maior grau

as respostas a serem obtidas, ao passo que as menos estruturadas são

desenvolvidas de forma mais espontânea, sem que estejam sujeitas a um

modelo preestabelecido de interrogação.

Procurando responder aos objetivos da pesquisa, decorreu a coleta de dados de ordem

prática, dividida em duas etapas.

A primeira etapa refere-se à realização de seis observações não participantes das aulas

ministradas pelos professores de Educação Física na turma do Ensino Médio que tinha alunos

surdos. Essas aulas foram registradas em diário de campo e por meio de imagens fotográficas,

e as observações foram feitas em sala de aula e em ambientes de quadra e ginásio poliesportivo.

A segunda etapa contemplou as entrevistas semiestruturadas com os alunos surdos.

Ressaltamos que a entrevista com esses sujeitos foi gravada em vídeo e interpretada por uma

servidora tradutora intérprete de Libras da Instituição e transcrita pela pesquisadora. Na

entrevista buscou-se apreender as várias compreensões dos sujeitos acerca da inclusão na

disciplina de Educação Física por eles vivenciada em sala de aula. Em seguida, entrevistamos

os professores de Educação Física, exibindo algumas considerações dos alunos surdos em

relação às vivências das aulas por eles ministradas.

Visando reflexões acerca dos olhares dos sujeitos em relação à inclusão nas aulas de

Educação Física, utilizamos as entrevistas semiestruturadas para a construção dos dados

empíricos. E, segundo Manzini (2004, p. 02):

A entrevista semiestruturada está focalizada em um assunto sobre o qual

confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por

outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o

autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais

livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de

alternativas

.

Diante do explanado, consideramos a entrevista semiestruturada a mais adequada a

nossa estratégia metodológica. Por isso, elas foram feitas com os participantes individualmente,

agendadas previamente com os sujeitos, de posse do TCLE, deixando em evidenciar o

anonimato de cada sujeito.

Nas entrevistas, as perguntas foram abertas, deixando que os docentes e os alunos surdos

se expressarem naturalmente sobre suas perspectivas.

4.2 ANÁLISE DOS DADOS

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Nesta pesquisa para análise dos dados, optou-se por utilizar o emprego da análise de

conteúdo. Elencamos Bardin (2008) e Câmara (2013) como nosso referencial teórico. Para

Bardin (2008, p. 44, grifos do autor), “a análise de conteúdo procura conhecer aquilo que está

por trás das palavras sobre as quais se debruça. A linguística é um estudo da língua, a análise

de conteúdo é uma busca de outras realidades através das mensagens”.

Bardin (2011 apud CÂMARA, 2013) prevê a utilização da análise de conteúdo em três

fases fundamentais: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados – a

inferência e a interpretação.

De acordo com Bardin (2008), a pré-análise abrange uma leitura “flutuante”, através de

um contato com os documentos a serem submetidos à análise, à escolha, à formulação das

hipóteses e objetivos, para então realizar uma elaboração de indicadores que orientarão a

interpretação e a preparação formal do material.

Durante a fase de exploração do material, faz-se a escolha das unidades de codificação,

adotando-se os seguintes procedimentos de codificação:

[...] [que compreende a escolha de unidades de registro – recorte; a seleção de

regras de contagem – enumeração – e a escolha de categorias – classificação

e agregação – rubricas ou classes que reúnem um grupo de elementos

(unidades de registro) em razão de características comuns], classificação

[semântico (temas, no exemplo dado), sintático, léxico – agrupar pelo sentido

das palavras; expressivo – agrupar as perturbações da linguagem tais como

perplexidade, hesitação, embaraço, outras, da escrita, etc...] e categorização

(que permite reunir maior número de informações à custa de uma

esquematização e assim correlacionar classes de acontecimentos para ordená-

los) (CÂMARA, 2013, p. 185).

Após a escolha da unidade de codificação, o que se se deve fazer em seguida é a

classificação em blocos expressando determinadas categorias, que confirmam ou modificam as

que estão presentes nas hipóteses e os referenciais teóricos inicialmente propostos. A ordem

dos materiais ou dos dados da pesquisa é feita em forma de colunas, deixando espaços vazios à

esquerda e à direita, para que se possa anotar e marcar as semelhanças encontradas (CÂMARA,

2013).

A última fase na análise de conteúdo é a do tratamento dos resultados – a inferência e

interpretação. Essa fase se apoia nos resultados brutos, e busca torná-los significativos e válidos.

Câmara (2013, p. 188) diz que:

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Esta interpretação deverá ir além do conteúdo manifesto dos documentos,

pois, interessa ao pesquisador o conteúdo latente, o sentido que se encontra

por trás do imediatamente apreendido. A inferência na análise de conteúdo se

orienta por diversos polos de atenção, que são os polos de atração da

comunicação. É um instrumento de indução (roteiro de entrevistas) para se

investigarem as causas (variáveis inferidas) a partir dos efeitos (variáveis de

inferência ou indicadores, referências).

Nessa fase, após as inferências, inicia-se à interpretação dos conceitos e das proposições.

Os conceitos dão sentido de referência geral, produzem imagem significativa, derivam da

cultura estudada e da linguagem dos informantes – e não de definição científica. Quando se

descobre um tema nos dados, é preciso fazer uma comparação dos enunciados e ações, na busca

por descobrir se existe um conceito que os agreguem. Ao encontrar temas divergentes, é preciso

encontrar semelhanças entre eles. A proposição é um enunciado geral baseado nos dados, elas

derivam do estudo cuidadoso dos dados (CÂMARA, 2013).

Destarte, enquanto realizava-se a leitura de pré-análise ou leitura flutuante – para fazer

a separação do conteúdo total em partes, sendo possível reunir um grupo de elementos sob um

título genérico de acordo com Bardin (2008) –, fomos à exploração do material obtido,

realizamos toda a leitura desde as observações junto aos registros do diário de campo até as

entrevistas transcritas dos sujeitos. Os olhares despontaram e logo foram construídas novas

categorias, separadas por temáticas. Para Bardin (2008, p. 46), “a análise categorial temática é,

entre outras, uma das técnicas da análise de conteúdo”.

Desse modo, demos início ao nosso processo de categorização, com o critério de

utilização de temáticas, ou seja, por meio da contagem de um ou vários temas ou itens de

significação (BARDIN, 2008), processo esse organizado através dos conteúdos identificados

nas falas dos professores de Educação Física e alunos surdos.

O quadro abaixo ilustra a organização das categorias tendo como eixo de análise os

olhares sobre a inclusão na Educação Física: no tema “Inclusão – Significado” encontramos nas

falas dos participantes os sentidos e significados atribuídos a inclusão; no tema “Inclusão –

Educação Física” estão as experiências com a disciplina em questão na inclusão, na

organização, no planejamento e na aplicação das práticas escolares; e no “Inclusão –

Comunicação” abordamos as dificuldades e os conflitos na comunicação e na formação

continuada para a comunicação.

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Quadro 06 – Tema dos “Olhares sobre a inclusão na Educação Física”

Fonte: Autoria própria (2019).

Convém ressaltar que, durante as transcrições das entrevistas, observamos que certas

expressões foram demasiadamente repetidas nas falas dos sujeitos. Contudo, foram criados

símbolos para fazer referência às expressões que mais se destacaram durante as entrevistas

transcritas.

Quadro 07 – Expressões e símbolos das transcrições das entrevistas

EXPRESSÕES SIGNIFICADOS SÍMBOLOS

Ahã/ahan, ah, eh ih,

óh, ééé.

Confirmação de resposta ou hesitação (++)

Né! Utilizado como afirmação ou interrogação (**)

Pausa indicadora de pensamento nas respostas [==]

Citação de nomes @

Transcrição parcial da fala com a eliminação de

algumas palavras ou frases.

[...]

Fonte: Adaptado de Mahl (2012).

EIXOS DE ANÁLISE BARDIN (2008) TEMA

OLHARES SOBRE A INCLUSÃO NA

EDUCAÇÃO FÍSICA

INCLUSÃO – SIGNIFICADO

INCLUSÃO – EDUCAÇÃO FÍSICA

INCLUSÃO – COMUNICAÇÃO

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5 APRESENTAÇÃO DAS ANÁLISES E DISCUSSÃO DOS DADOS

Este capítulo está dividido em dois subitens. No primeiro, apresentamos as primeiras

etapas com as observações realizadas em sala de aula e registradas no diário de campo.

No segundo, explanamos sobre os aspectos mais significativos dos nossos

colaboradores docentes e alunos surdos, bem como expomos um diálogo entre as falas deles,

no qual se dá a construção do diagnóstico da inclusão na disciplina de Educação Física.

Destarte, trazemos também neste capítulo o recorte das entrevistas, somado aos

vislumbres e expressões que marcaram a realidade observada.

5.1 APRESENTANDO AS PRIMEIRAS ETAPAS: PARTILHANDO OLHARES

Bem recebida pelo Diretor Acadêmico, que logo me apresentou o

departamento de Educação Física (EF) e lá tive primeiro contato com alguns

professores de EF, me apresentei e esbocei o que eu pretendia fazer na

pesquisa [...] (DIÁRIO DE CAMPO, 2019).

Nosso primeiro contato no IFRN/CNAT para fins de pesquisa foi bastante receptivo

devido ao fato de a Instituição desenvolver “[...] a pesquisa e a extensão, na perspectiva de

produção, socialização e difusão de conhecimentos. [...] a Instituição visa contribuir para as

transformações da sociedade, visto que esses processos educacionais são construídos nas

relações sociais” (BRASIL, 2012, p. 19). Ela valoriza a prática da pesquisa para fins de

transformações e contribuições para a sociedade. De acordo como PPP, a função social do IFRN

é de:

[...] ofertar Educação Profissional e Tecnológica – de qualidade referenciada

socialmente e de arquitetura político-pedagógica capaz de articular ciência,

cultura, trabalho e tecnologia – comprometida com a formação humana

integral, com o exercício da cidadania e com a produção e a socialização do

conhecimento, visando, sobretudo, a transformação da realidade na

perspectiva da igualdade e da justiça sociais (BRASIL, 2012, p. 21).

Demos início às nossas observações no Ensino Médio no curso técnico integrado em

Informática para Web e no curso técnico integrado de Manutenção e Suporte no turno matutino.

As atividades iniciavam às 7 horas da manhã com o professor de Educação Física e terminavam

às 8:20h horas. Iniciamos a pesquisa em uma aula teórica. Segue um trecho das observações

registradas em nosso diário de campo:

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[...] Na segunda visita ao nosso lócus, conforme marcada com antecedência,

observamos os alunos surdos e ouvintes curiosos para saber o que estávamos

fazendo ali, e o professor apresentou à pesquisadora e o tema da pesquisa, e a

partir de então se iniciaram as observações em sala de aula. Presenciamos que

a Instituição disponha de tradutores intérpretes de Libras em sala de aula

dando assistência profissional ao aluno surdo em relação a comunicação nas

aulas (DIÁRIO DE CAMPO, 2019).

Nesse dia, a nossa presença despertou grande curiosidade nos alunos. Mas, após a

explicação do professor e a nossa apresentação, os alunos entenderam os objetivos da pesquisa

e nos receberam com aceitação.

Após as primeiras impressões, constatamos que a Instituição disponibiliza o profissional

Tradutor Intérprete de Libras (TILS) na intermediação da comunicação na aula. Com isso, a

explicação dos conteúdos está contemplando os alunos surdos, promovendo o envolvimento

nas aulas e com a turma. A presença desse profissional em sala de aula é imprescindível, visto

que alunos surdos se comunicam por meio de uma outra língua, que é a Língua de Sinais.

Vejamos a seguir uma outra observação no registro feito da aula:

A aula observada é teórica/prática, e tem como tema “Cultura corporal do

movimento”, uma aula expositiva com slides. Nela, abordou-se sobre o jogo,

ginástica, dança, capoeira, esportes, atividades rítmicas e expressivas, mas o

foco central dessa aula era sobre “classificação e habilidades de movimento”,

abordando as fases motoras do desenvolvimento, os aspectos musculares [...]

O professor exibiu slides bem ilustrativos, facilitando a compreensão de todos

os alunos através da identificação dos conceitos por meio das imagens. Havia

a presença de Tradutores Intérpretes de Libras na aula auxiliando na

comunicação com os alunos surdos presentes.

[...] O professor convidava os alunos para exibir exemplos do que estava sendo

mostrado como conceito. Durante as explicações e exemplos mostrados, o

aluno surdo se pronunciou dizendo que não queria participar, pois a sala de

aula não era um espaço pra atividades práticas, mostrando que não estava

compreendendo o que estava sendo proposto, porém o professor explicou pra

ele que eram apenas exemplos e que a prática seria em outra aula no local

devido.

[...] Em um exemplo sobre manipulação, o professor pede que os alunos

peguem, balancem e depois ameassem uma folha de papel. Essa folha

amassada em formato de bola deveria ser jogada para cima e pegada de volta,

depois deveriam jogá-la para cima e bater palma, depois jogar, girar e tocar

no chão e pegar a bola de papel [...]

Essa atividade foi realizada por todos os alunos na turma, cada aluno de acordo

com as suas possibilidades (DIÁRIO DE CAMPO, 2019).

Podemos observar que a prática do professor foi organizada observando as necessidades

dos alunos no que tange a forma ilustrativa de transmitir seus conteúdos, assim facilitando tanto

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a compreensão dos alunos com surdez quanto a dos demais alunos ouvintes. Devido à presença

de profissionais TILS, a transmissão dos conteúdos propostos se tornou mais acessíveis aos

alunos surdos, possibilitando a participação e o envolvimento com o professor e com a turma.

Observamos que nessa aula todos os alunos participaram. O assunto abordado trazia significado

a eles por meio dos exemplos visuais e práticos transmitidos. Corroboro com os pensamentos de

González e Fraga (2012, p. 14) quando dizem que “educar é permitir que a aprendizagem sobre

o mundo, sobre si mesmo e sobre o outro aconteça para que possamos agir de maneira situada,

diversificada, criativa, crítica e atuante no nosso dia a dia”. Ao permitir que os alunos

experienciassem os conteúdos propostos, o professor permitiu a aprendizagem tanto de si quanto

do outro no momento que os exemplos culminaram em contatos com os seus colegas de turma.

Segue abaixo uma imagem da aula observada e dos exemplos práticos vivenciados pelos alunos.

Figura 01 – Fotografia da aula: “Classificação e habilidades de movimento”

Fonte: Autoria própria (2019).

Posteriormente, em uma aula prática observada, o professor iniciou suas ações na quadra

poliesportiva do campus, com atividades lúdicas e recreativas. Podemos observar o seguimento

da aula por meio desse registro:

Nessa aula, o professor faz atividades lúdicas e recreativas, e inicia com uma

dinâmica “Mãos dadas”. Com o auxílio dos intérpretes presentes, ele pede

para que os alunos deem as mãos e formem juntos um nó, e depois tentem

desatá-lo, sem a necessidade de soltar as mãos. Todos participaram da

dinâmica e se divertiram bastante, porém notamos que nas atividades

propostas não havia uma explicação sobre o que representava aquela prática,

e um dos alunos surdos olhou para a pesquisadora e disse em Libras: “parece

brincadeira de criança”. Em seguida, ele sorriu.

Na segunda atividade, ele virava de costa para os alunos e eles tinham que se

aproximar dele, mas ao virar se o professor percebesse algum movimento do

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aluno, o tutor saia da atividade. Um dos alunos surdos conseguiu atingir o

objetivo proposto pela atividade de se aproximar sem que tenha sido notado

seu movimento de deslocamento.

[...] Percebemos a interação de todos os alunos nas atividades e pudemos

observar que estavam se divertindo bastante (DIÁRIO DE CAMPO, 2019).

Nessa aula prática observamos que todos na turma participaram e se divertiram. Porém,

foi constatado também que, na prática docente, ao utilizar atividades lúdicas e recreativas, não

houve explicações nem esclarecimento aos alunos sobre o que cada atividade representava e

quais eram os benefícios de tais práticas. Quando uma prática ocorre sem significado, isso faz

com que o aluno a pratique por praticar, sem que haja um entendimento do que aquela atividade

quis trazer de significativo, tornando assim a aula infundada para os esses sujeitos – acarretando

o entendimento de que a aula é apenas um momento de recreação. Reforçando esse

entendimento, Faggion (2011 p. 03) afirma que:

Não é suficiente praticar por praticar, muito menos competir por competir. É

preciso discutir com o aluno o porquê da prática da atividade física. O aluno

precisa entender e vivenciar seu aprendizado para que isso o leve a assumir

novas atitudes no mundo vivido.

Figura 02 – Fotografia da aula: Dinâmica “Mãos dadas”

Fonte: Autoria própria (2019).

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Figura 03 – Fotografia da aula: “Atividades lúdicas e recreativas”

Fonte: Diário de campo (2019).

Em outro momento da visita para observação feita na turma a qual os surdos se faziam

presente, um outro professor que ministrava a aula. Nesse dia, observamos que:

A aula é prática com outro professor, que traz metodologia diferentes.

Observamos que não havia Tradutores Intérpretes de Libras na aula, porém

existe dois surdos presentes, e o professor faz atividades com os alunos de

aquecimento em quadra. [...]

A prática corporal proposta é conhecida como “polichinelo”. Para que os

alunos com surdez pudessem saber como seria a prática corporal, o professor

convida um aluno para demonstrar para a turma como irá ser executava a

prática. Assim, todos observam e fazem como o exemplo dado, fazendo três

séries de dez repetições.

[...] Ao final das práticas de aquecimento, o professor divide a turma em dois

grupos para dar início as atividades de vôlei na quadra, os surdos participaram

de todas as atividades, mas muitos alunos não quiseram participar e ficaram

fora da quadra observando, o que não acontecia nas aulas anteriores

observadas em que todos participavam (DIÁRIO DE CAMPO, 2019).

A observação feita na aula demonstra que a metodologia utilizada por esse professor

prioriza a prática corporal, com atividades de aquecimento antes iniciar o conteúdo dos

fundamentos esportivos. O professor que ministra essa aula tem mais de 30 anos na Instituição,

por essa razão experimenta a influência do viés técnico da formação inicial docente, por meio

do qual o professor adequou sua metodologia de ensino. Bracht et al. (2002) trata sobre a prática

pedagógica dos egressos dos cursos de licenciatura em Educação Física da década de 1990, que

antes possuía uma formação de caráter técnico-instrumental. Com o chamado “novo currículo”,

é promovida uma mudança de paradigma na formação profissional em EF, no qual

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necessitariam passar para uma formação de caráter mais crítico-reflexiva. De acordo com

Bracht et al. (2002, p. 10):

A tarefa de mudar a prática, no entanto, parece colocar mais obstáculos do que

se poderia prever. Para além dos que se situam num nível “macroestrutural”,

portanto das determinações econômicas e políticas, existem os de ordem

“micro”, obviamente àqueles ligados, mas que exigem tratamento específico,

ou seja, no plano da elaboração de sugestões de ação e mudança curricular.

Esse autor chama a atenção para uma “adesão “teórica” às propostas pedagógicas

críticas que parecem ser maiores do que sua efetiva prática (BRACHT et al., 2002). Segundo

Tani (2000 apud CHICON, 2008, p. 30), “[...] os cursos de graduação, salvo raras exceções,

oferecem uma formação eminentemente técnica em que o aprender a fazer predomina sobre o

conhecer”. As formações técnicas refletem no fazer do professor ao longo de sua atuação. Ao

se deparar com uma mudança curricular, o docente encontra dificuldades em transformar suas

ações pedagógicas, tentando muitas vezes adaptar suas técnicas ao novo currículo escolar.

Figura 04 – Fotografia da aula: “Práticas de aquecimento”

Fonte: Autoria própria (2019).

Dando seguimento as observações, queremos chamar atenção para um momento que

observamos durante a pesquisa no relato abaixo:

Tivemos a oportunidade de observar a semana dos jogos internos dos

estudantes do IFRN. Nesses jogos, observamos que dois dos alunos surdos,

que fazem parte do curso técnico integrado ao Ensino Médio, iriam participar

de algumas modalidades esportivas. Na visita a Instituição assistimos a um

dos jogos de futsal que esses alunos surdos participaram. Nesse jogo,

verificamos que ambos possuíam uma grande habilidade na prática esportiva,

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e um deles fez até um gol a favor do seu time. Constatamos que esses alunos,

mesmo não ouvindo o apito do juiz, conseguiam entender a dinâmica do jogo

perfeitamente. Por meio da percepção visual, eles sabiam quando o juiz estava

apitando alguma falta, ou qualquer outro lance do futsal que necessitasse dessa

intervenção sonora (DIÁRIO DE CAMPO, 2019).

Nesse evento estudantil que os surdos participaram, contemplamos que os eles possuíam

prática e autonomia esportiva. Isso os possibilitou executar a modalidade esportiva sem a

necessidade de algum tipo de adaptação. Esses alunos, mesmo com a diferença comunicativa e

a deficiência sensorial auditiva, conseguem se adequar ao ambiente social e exercer suas

habilidades com excelência, aguçando os demais sentidos e se ajustando ao meio inserido.

Segundo Santos Filha (2006, p. 03), “os surdos podem praticar qualquer tipo de esporte e de

atividade rítmica. No caso dos esportes, não há necessidade de qualquer adaptação na forma de

ensinar, conduzir ou arbitrar. Tampouco há adaptações nas regras de cada modalidade”. Ao

observar a prática esportiva, nos deparamos com um contexto emancipador no qual esses

sujeitos, por meio do esporte, podem ser cabais.

A partir das percepções elaboradas nas aulas de Educação Física, podemos compreender

que os professores estabelecem uma tentativa de inclusão dos alunos com deficiência/diferença,

visto que, em uma das aulas observadas, o professor organizou sua prática observando as

necessidades dos alunos transmitindo seus conteúdos forma ilustrativa, facilitando a

compreensão de todos de maneira significativa, envolvendo não só os alunos com

deficiência/diferença como também os demais.

Os professores geralmente buscam proporcionar a participação de todos os alunos em

suas aulas. Contudo, participar de uma aula não significar estar incluído nela. Durante uma

observação, presenciamos uma aula sem o profissional intérprete de Libras, o que dificulta a

comunicação e compreensão dos alunos em relação aos conteúdos ministrados. Mesmo com a

dificuldade de comunicação e a preocupação por parte docente, foi dado o seguimento da aula

– sem o entendimento efetivo por parte dos alunos surdos, visto que o professor explicava suas

atividades antes de executá-las, fato que condiciona os alunos a fazer apenas a repetição do que

estava sendo observado sem compreender o que de fato estava sendo feito. Também

constatamos que durante uma aula observada não houve explicações nem esclarecimento aos

alunos sobre as atividades, fazendo com que eles apenas repetissem os comandos do professor.

Durante essa aula, não houve um significado para os alunos, o que deixa apenas a condição de

recreação e a prática do movimento em si.

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Observamos também nas aulas que muitos alunos não estavam participando. Quando

não se tem o envolvimento de todos, percebemos que a aula não estava sendo conduzida com a

perspectiva inclusiva, pois possibilitava aos alunos o não desejo de estar presente nem de

participar. Sem o envolvimento da turma, o objetivo da aula não contemplava todos os alunos.

Diante do exposto, temos como potencialidades reais para o cenário da inclusão a

necessidade de construção de uma prática pensada em todos os alunos com

deficiências/diferenças, a qual envolva e traga significado nas aulas, em que o professor

compreenda a importância e a necessidade do intérprete de Libras em suas aulas. Sem esse

profissional não se pode dar seguimento da aula caso o professor não saiba a Língua de Sinais,

uma vez que esse aluno será prejudicado durante a aula pela falta da comunicação. O que se

deve fazer e buscar sanar o problema ou não dar segmento a aula, pois assim está se respeitando

a condição de diferente por não poder acompanhar as explicações. Se a escola não possuir o

profissional intérprete, cabe a gestão lutar para que esse serviço seja ofertado, pois ter esse

profissional é direito do aluno com surdez garantido pelo Decreto nº 5.626/2005 e pela Lei nº

13.146/2015.

A seguir, apresentaremos os olhares através das falas dos nossos colaboradores, sendo

eles exibidos por meio dos eixos de análise frente ao processo de categorização que se deram

por temáticas que surgiram durante o processo de transcrição.

5.2 DIÁLOGANDO COM OS SUJEITOS E COMPARTILHANDO OLHARES

Os dados apresentados nesta pesquisa serão analisados e discutidos a partir de três temas

identificados nas observações das entrevistas. Esses temas serão subdivididos em seis, com a

organização e ordenação dos “olhares”, a saber:

I) Tema: Inclusão – Significado;

II) Tema: Inclusão – Educação Física;

III) Tema: Inclusão – Comunicação.

5.2.1 Inclusão – Significado

Apresentamos nesta temática os discursos dos participantes em relação aos sentidos e

significados atribuídos por eles sobre a palavra “inclusão”. Estudar o processo inclusivo por

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meio dos olhares docentes nos proporcionou o entendimento do momento que a Educação está

passando.

Na entrevista, os participantes exibiram suas visões e perspectivas relacionadas aos

sentidos e significados que atribuem à inclusão. Ao serem questionados sobre o que entendiam

por esse termo, os professores mencionaram:

De forma bem objetiva, eu acho que [==] eu fico meio assim, indecisa em

dizer [==], mas eu acho que não necessitaria [==] de a gente ter esse termo de

inclusão, porque a Educação para mim parte do princípio que todos devem ter

o direito, se todos devem ter o direito eu tenho que me adaptar as necessidades

de cada um (**) (AMARELO).

Observa-se que o discurso dessa professora parte do princípio constitucional que se

encontra no Artigo 205, que diz que a Educação é um direito de todos (BRASIL, 1988). No que

tange a inclusão, o PPP (2012, p. 178) da Instituição afirma que:

Incluir é assegurar o que a Constituição Brasileira já prevê desde 1988. É a

garantia dos direitos a todos os cidadãos, indistintamente: pessoas com

deficiência; pessoas das diversas classes sociais e das diferentes etnias;

pessoas de formações culturais distintas, de gêneros e de orientações sexuais

diversos. Incluem-se, nesse rol, os povos indígenas; os afrodescendentes; os

campesinos; os quilombolas; as pessoas das grandes e das pequenas cidades,

dos distritos e das vilas.

No entendimento da professora Amarelo, a inclusão é direito de todos e por ser um

direito é seu dever como docente de adaptar suas aulas de acordo com as necessidades desses

indivíduos. Entretanto, se adaptar não garante a inclusão. Ela vai além de adaptar aulas para

que os alunos possam ser incluídos. Corroboramos com Chicon (2008) que afirma que incluir

na disciplina de Educação Física não é apenas adaptar com o intuito de uma pessoa com

Necessidades Educativas Especiais possa participar das aulas; trata-se de adotar uma concepção

educacional com objetivos, conteúdos e metodologias que valorizem a diversidade e se

comprometer com uma construção social inclusiva. Soares (2006, p. 13) diz que:

A Educação Inclusiva enfatiza a necessidade de integrar todas as crianças com

necessidades em escolas regulares, inclusive as crianças com necessidades

especiais e para que os educadores possam receber essas crianças é lógico que

teremos de ter uma Pedagogia voltada e centrada na criança, que atenda a

todos sem descriminação e sem a colocação de obstáculos que possam

comprometer o processo de ensino-aprendizagem.

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As mudanças de paradigmas educacionais provocam transformações nos ambientes

escolares que vão de encontro aos processos inclusivos.

Na minha míope visão (**) sobre inclusão, é você oportunizar de uma maneira

mais ampla, certo [==] e fazer com que todos os alunos e até mesmo a

comunidade também tenha a oportunidade de praticar alguma modalidade que

ele tenha interesse de aprender. De uma forma sintética e resumida é isso [...]

eu sou da linha de que a Educação Física deve ser inclusiva o máximo

possível, aqui na escola (++).

A inclusão, ela está mais evidente agora (**), do ano passado para cá [...]

(AZUL).

Como podemos observar, o professor Azul relata que, em sua visão, a inclusão se trata

de dar oportunidade para que os alunos e comunidade possam praticar alguma modalidade de

seu interesse. Ele expressa que é da linha de que a Educação Física deve ser inclusiva o máximo

possível na escola. Além disso, para esse professor, a inclusão está mais evidente agora, desde

o ano passado. Em relação a esse pensamento, podemos considerar que essa constatação resulta

das novas políticas de inclusão e do acesso das pessoas com deficiência nos sistemas de ensino,

por meio da Lei nº 13.409/16 – que alterou a Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012, nos Artigos

3º e 5º, para dispor sobre a reserva de vagas para autodeclarados pretos, pardos e indígenas e

pessoas com deficiência, em proporção ao total de vagas mínimo igual à respectiva quantidade

dessas minorias9 na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição. A

Resolução nº 05/2017 do CONSUP “aprova a normatização de reserva de vagas às pessoas com

deficiência nos processos seletivos de ingresso nos cursos técnicos de nível médio (integrado e

subsequente), de Graduação e Pós-graduação no âmbito do Instituto Federal da Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte” (BRASIL, 2017). Através dessa Lei, somada a

essa Resolução, o acesso dos alunos com deficiência se tornou mais frequente, fazendo com

que os professores evidenciem como atual a política de inclusão nas instituições federais de

ensino.

A minha perspectiva da inclusão é [==] que a gente tem uma falsa inclusão,

muitas vezes na sociedade e em determinados programas, por exemplo, a

gente fala do PROEJA, que são pessoas que estão fora de faixa, mas você

coloca dentro da Instituição e a Instituição não se prepara para esse aluno que

está recebendo e aí, seis meses depois ou um ano depois ele abandona a escola,

então é uma pseudo inclusão (MARROM).

9 Segundo o último censo da Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Já o professor Marrom traz uma questão em relação ao seu ponto de vista de como anda

a inclusão nas instituições de ensino regular. Ele aborda que existe uma falsa inclusão na

sociedade e em determinados programas governamentais, citando o PROEJA como exemplo.

Para ele, a Instituição não está preparada para receber determinados programas e não se dá

condições necessárias às instituições e ao aluno, fato que culmina na evasão escolar. Para Ferrão

e Fernandes (2003), os fatores internos e externos nas escolas que influenciam a inclusão são

imensuráveis. Como externos considera-se as condições econômicas das famílias, falta de

moradias, saneamento básico, desnutrição, desvantagem cultural e toda a soma de privações

que envolve os menos favorecidos. Já os internos são as relações entre professor-aluno, a

precariedade das escolas, o currículo e os métodos educacionais. Contudo, a união desses

fatores colabora para evasão escolar.

Em sua percepção de inclusão, o professor Marrom afirma que ela não acontece apenas

no momento do acesso do aluno a escola, porém ocorre também em sua permanecia e êxito.

Para esse professor, a inclusão se encontra nesses três pilares: na entrada, na permanência e no

êxito, assim configurando uma verdadeira política de inclusão.

Eu percebo a inclusão da seguinte forma: a inclusão não passa só pela

possibilidade de fazer com que o aluno entre na escola, mas que ele

permaneça. Então a inclusão, na sua plenitude, ela tem que focar na entrada,

na permanência e no êxito. Isso é inclusão: entrada, permanência e êxito,

porque tem uma terminalidade, para mim isso é uma política de inclusão.

[...] A verdadeira inclusão é fazer com que as pessoas se sintam acolhidas

pelas outras pessoas ditas “normais”. Então essa é a verdadeira política de

inclusão, quando você tem o princípio de entrada, o processo e a

terminalidade. Se isso não estiver em consonância, a inclusão não acontece, é

uma pseudo inclusão, que só tem entrada e saída (MARROM).

Para Marrom, a verdadeira inclusão faz com que as pessoas (com deficiência) se sintam

acolhidas pelas pessoas ditas “normais” (pessoas que não possuem deficiência). Para ele, se não

houver uma política de inclusão que parta do princípio de entrada, processo e terminalidade, a

inclusão não acontece – se trata de uma falsa inclusão com entrada e saída. Em relação a esse

pensamento, Dias (2007, p. 449) menciona que:

É bem verdade que, no Brasil, conquanto tenhamos avançado na definição e

regulamentação do direito à Educação, sua efetividade em termos de garantia

de acesso, permanência e qualidade de ensino ainda está por acontecer. É,

pois, tarefa de todos os que trabalham em prol da promoção da defesa dos

direitos humanos, lutar pela efetividade do direito à Educação ao tempo em

que também nos compete denunciar sua violação.

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Em contrapartida, o ponto de vista do professor Vermelho é de que a presença dos alunos

em sala de aula do ensino regular já é inclusão.

Eles estarem presentes ali já é uma inclusão, no meu ponto de vista. [...] Eu

acho que nós temos um trabalho muito árduo de incluir alunos com deficiência

nas aulas de Educação Física [...] (VERMELHO).

Vermelho reforça que o trabalho de incluir os alunos com deficiência nas aulas de

Educação Física é árduo. Chicon (2008) explicita que o processo de inclusão das pessoas com

deficiência é um desafio quando se trata de buscar meios para educar a todos, sem nenhum tipo

de distinção, no mesmo espaço-tempo. Isso também se caracteriza em problemas em relação à

desinformação, à falta de estrutura das escolas e ao despreparo profissional (por não haver

estudado esse assunto no período de graduação), pois os professores se deparam no momento

que estão em salas de aula com crianças que apresentam características peculiares.

Ao serem questionados sobre o que entendiam por inclusão, os alunos mencionaram:

“acho inclusão complicado, na escola é mais ou menos porque às vezes falta intérprete”

(MORPHO MENELAUS). O aluno Morfho Menelaus revela que a escola a qual ele estuda é

mediana, pois, para ele, a ausência do profissional tradutor intérprete dificulta o processo

inclusivo. Para o aluno Pieridae: “a inclusão é importante, porque na escola precisa ter

intérpretes para ajudar na comunicação, tenho muita dificuldade, acho que a inclusão está em

desenvolvimento aqui na escola”. Ele compreende a inclusão como importante, em evolução, e

necessita da presença dos intérpretes de Libras para ajudar na comunicação.

No que se refere as concepções de inclusão dos professores, eles demostraram suas

perspectivas, apontando o pressuposto que incluir é adaptar as necessidades dos educandos,

garantir o processo de entrada, permanecia e êxito, acolhendo as pessoas com

deficiência/diferenças, além de assegurar a oportunidade de praticar alguma modalidade da

escolha dos alunos e da comunidade escolar. Para eles o fato de estarem na Instituição já se

configurava inclusão – porém, um deles desabafa dizendo que o trabalho de incluir é árduo. Já

para os alunos surdos, a inclusão é complicada, mas importante no contexto escolar. Nessas

falas podemos observar que o termo “inclusão” para os alunos surdos está diretamente ligado à

presença do intérprete de Libras, tendo em vista que ele proporciona a comunicação em sala de

aula, fazendo com que os alunos possam interagir e aprender. Todavia, a presença desses

profissionais em sala de aula não garante uma inclusão efetiva, pois os docentes, além de ter

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esse profissional em sala, necessitam de mudanças metodológicas que contemplem a todos com

diferenças e deficiências (a exemplo, suas avaliações precisam proporcionar um exame que

consiga atingir a todos e uma correção a qual considere as especificidades de cada aluno, não

colocando-os no padrão comum).

Coletamos informações importantes para a compreensão em relação a concepção

docente e discente sobre a inclusão. Por meio das falas, podemos observar visões divergentes

sobre o mesmo tema, porém cada olhar desponta das suas experiências e histórias de vida – a

exemplo dos alunos surdos, que explanaram sobre o desenvolvimento inclusivo no meio

escolar, ambiente no qual enfrentam barreias arquitetônicas, obstáculos encontrados no meio

urbano que dificultam ou impedem a circulação livre das pessoas com deficiência ou

mobilidade reduzida (EMMEL; CASTRO, 2003).

Porém, esses obstáculos aos poucos estão sendo sanados. As barreiras comunicacionais

são obstáculos mais significativos que atingem as pessoas com deficiência sensorial, entre elas

a baixa visão, a cegueira, a surdo-cegueira, a deficiência auditiva e a surdez. O Artigo 17 da Lei

nº 10.098/00 estabelece que o Poder Público deve eliminar barreiras na comunicação e

estabelecer mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de

comunicação e sinalização às pessoas com deficiência sensorial e com dificuldades de

comunicação, garantindo-lhes o direito de acesso à informação, à comunicação, ao trabalho, à

Educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer (BRASIL, 2005).

Além disso, ainda existem as barreiras atitudinais, que são precauções nas relações

pessoais, em que uma tem uma predisposição desfavorável em relação à outra, por esta ser

significativamente diferente, em especial quanto às condições recomendadas como ideais

(AMARAL, 1998).

Existem possibilidades de alcançar novos olhares ou de ampliar os preexistentes em

relação a inclusão, como as mudanças de paradigmas e de atitudes em relação ao diferente, o

qual não faz parte do esperado como ideal, mas tem sua aprendizagem dentro das suas

especificidades. Cabe ao docente conhecer e reconhecer seus alunos dentro das possibilidades

de aprendizagem e junto com eles buscar maneiras de mudar a forma como se deve conduzir a

aula, permitindo o envolvimento de todos os alunos, que experimentarão o significado de fazer

parte daquele contexto e se sentir incluído nele.

5.2.2 Inclusão – Educação Física

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Esta categoria procurou atender às unidades de registro que aglutinaram elementos

comuns, tais como: as experiências profissionais e a inclusão, as práticas escolares exercidas

na disciplina de Educação Física e os olhares dos professores atribuídos aos alunos com surdez

e dos alunos com surdez aos professores de Educação Física. Foram esses elementos que

constituíram este olhar e considero-os imprescindíveis para a organização das ações realizadas.

Elaboramos uma entrevista com perguntas relacionadas ao percurso profissional,

indagando sobre as experiências dos professores de Educação Física em situações

compreendidas como inclusivas. Entretanto, é válido salientar que as perguntas não se referiam

apenas a inclusão do aluno com surdez, mas também a inclusão de pessoas com diferenças e

deficiências em geral, uma vez que desejávamos saber quais olhares eles tinham em relação a

inclusão desses sujeitos no sistema regular de ensino. A seguir, os relatos sobre as experiencias

profissionais e trajetórias no processo inclusivo educacional:

Aqui na Instituição, quando eu entrei, eu entrei como professora de EF (**),

como substituta, naquela época que o campus Natal Central a divisão era feita,

não era a partir dos componentes curriculares que a gente tem atualmente, com

os conteúdos que a gente tem. Então a gente definia uma modalidade esportiva

e trabalhava em cima daquela modalidade esportiva.

Naquela época não tive nenhuma pessoa assim, que [...]fosse identificado com

algum tipo de deficiência, já quando eu entrei como efetiva (++) e paralelo a

isso eu dava treinamento de atletismo e continuo dando. E aí [...] depois que

eu entrei como efetiva também não tive (**). A gente observa alguns

cadeirantes, algumas pessoas com dificuldade física mesmo e visual, mas a

minha experiência mesmo efetiva com pessoas com deficiência (++) foi com

os surdos (**). E, na turma deles, foi identificado alguns outros tipos de

deficiência, mas não foi passado para a gente, a gente observou mesmo, foi só

os surdos. E a experiência que eu tive com eles, foi apenas de um bimestre

(AMARELO).

A professora Amarelo conta sobre a organização curricular da IFRN no período da sua

inserção. Essa organização se dava por meio de modalidades esportivas, que atualmente são os

componentes curriculares que regem o documento da Instituição. Em relação a organização dos

conteúdos curriculares, Bracht (2010, p. 01) afirma que:

O entendimento de conteúdo em Educação Física foi marcado até

recentemente (meados da década de 1980) pela ideia de atividade, no caso, de

uma atividade física. Enquanto em outras disciplinas escolares o conteúdo

sempre foi entendido como um conhecimento de caráter conceitual, na

Educação Física, ele era visto como uma atividade. Essa atividade, à qual os

alunos deveriam ser submetidos, tinha como principal objetivo melhorar a

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aptidão física (com suas implicações para a saúde), além de influir no

comportamento, moldando o caráter dos alunos. A atividade física mobilizada

para atingir esses objetivos (os chamados meios da Educação Física) assumiu

diferentes formas, como a ginástica, as lutas, os jogos e os esportes.

Na sua experiência anterior, a professora não havia trabalhado com pessoas com

deficiência, sempre observava a presença desses sujeitos na Instituição, mas, na sua disciplina,

sua experiência efetiva é recente com os alunos surdos. Ela relata também que na turma que

estudavam alunos surdos também estavam alunos com outros tipos de deficiência, porém não

foi informado para os professores quais eram as deficiência e as necessidades que eles

apresentavam e o profissional não sabia identificar nem distinguir os tipos de deficiências que

os alunos externavam.

O professor Marrom conta sua experiência na disciplina de Educação Física da

Instituição. Ele iniciou o trabalho por meio de modalidade esportivas, atuando no período em

que a organização curricular tinha como conteúdo principal o esporte. Sobre isso, Bracht (2010,

p. 01) afirma que “embora a referência básica para a Educação Física estabelecida nessa norma

legal fosse a aptidão física, a forma de atividade física que, nas décadas de 1970 a 1990, se

tornou hegemônica como conteúdo das aulas de Educação Física, foi o esporte”.

Esse professor descreve uma experiência com um rapaz com deficiência física o qual

não fazia parte da Instituição, mas que recebeu treinamentos na modalidade do atletismo e se

tornou um atleta de alto rendimento.

Minha primeira experiência na Instituição foi no campus Mossoró, depois vim

de lá para Natal em 1995, e estou aqui no campus.

Sempre trabalhei com Educação Física escolar e com equipe de treinamento

[...]. Eu tive uma experiencia com um rapaz que não era do campus, ele tinha

a mão amputada. Ele corria bem e começou a se interessar pelo atletismo e

não tinha onde treinar, então ele veio conversar comigo para saber se tinha

aula e a gente começou a fazer um trabalho de treinamento no atletismo e esse

rapaz virou corredor paralímpico (**). Depois com pouco tempo participou de

duas Paraolimpíadas, também o Parapan-americanos, e hoje ele é um atleta de

alto rendimento na área dos deficientes (MARROM).

Marrom relata que em suas aulas anteriores como professor da disciplina de Educação

Física não teve oportunidade de trabalhar com pessoas com deficiência, que apenas teve contato

com essas pessoas enquanto diretor da Instituição. Ele relata que em sua experiência anterior

em outra escola, quando trabalhava com crianças, também não teve alunos com deficiência em

suas aulas. Sua experiência com pessoas com deficiência se tratava do trabalho executado com

o rapaz amputado, com deficiência física – para esse professor, não se caracterizava em uma

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deficiência grave. Ele faz uma relação entre os tipos de deficiência e, em sua perspectiva, a

deficiência física não é tão “problemática”, ou seja, não apresenta tanta dificuldade quanto as

demais deficiências. Para explicar, ele dá um exemplo do rapaz com deficiência física que

apresentava uma dificuldade na corrida: pela falta do membro, ele tinha problemas de

equilíbrio. Marrom cita que, por essa falta, ele necessitava fazer de uma compensação. Para o

professor, a comparação dessa deficiência em relação as outras é que ela pode ser considerada

uma deficiência leve. Ele relata também que seu primeiro contato como professor da disciplina

de Educação Física é com os dois alunos surdos e que, para ele, essa é uma outra experiência.

Com outras deficiências eu não tinha tido a oportunidade de trabalhar. Eu tive

contato enquanto diretor, mas como professor não (**). E na escola anterior

onde atuei, comecei cedo. Trabalhei com criança, mas também nunca tinha

tido a oportunidade de trabalhar com pessoas deficientes. Teve esse caso com

o rapaz amputado, era uma pessoa deficiente física que ele tinha, mas não era

uma deficiência grave para ele. Se a gente fizer uma relação entre outros tipos

de deficiência, a deficiência física não é tão “problemática” quanto as outras.

Ele, por exemplo, tinha problema na corrida, porque você perde um pouco

equilíbrio, já que você não tem as mãos, você tem que fazer uma

compensação, mas é algo que é relativamente leve se fizer comparação com

outros tipos de deficiência; a dele é deficiência física mesmo. O meu primeiro

contato agora é com dois alunos surdos, aí é uma outra experiência [...]

(MARROM).

Cada deficiência possui suas peculiaridades. Mensurar ou comparar os tipos de

deficiência não muda o fato de que esses alunos precisam ser considerados enquanto seres

únicos. Cabe ao professor proporcionar uma Educação de qualidade para todos os seus alunos

independente das diferenças. Conforme o pensamento de Sérgio Sá (2012, p. 69), “não é

certamente a falta da visão que nos afasta ou nos torna menos capazes de conviver e agir em

harmonia com quem vê. Será sempre a ignorância, preconceito, a falsa noção de compaixão”.

O professor Azul conta que por 14 anos foi técnico da equipe de natação da Instituição

e teve dois alunos com deficiência física que praticavam essa modalidade esportiva com os

demais alunos. Para Bracht (2010), os conteúdos esportivos no currículo educacional se devem

ao fato da disciplina de Educação Física ter sido gerada e integrada ao sistema esportivo

brasileiro e nas políticas públicas para o setor da Educação Física e do Esporte, com função de

promover a iniciação esportiva, visando reconhecer talentos que pudessem futuramente

participar das equipes que representassem a Nação no cenário esportivo internacional.

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Eu fiquei 14 anos como técnico da equipe de natação e dava aulas também de

Educação Física. Eu tive só 2 alunos deficientes, eles tinham problemas nas

pernas e faziam natação com os outros alunos (AZUL).

Para esse professor, ao longo da sua atuação como Educador Físico, a disciplina tinha

uma melhor funcionalidade quando havia o processo de escolha de horário e modalidades que

o aluno quisesse aprender (essas aulas ocorriam duas vezes por semana). Com a mudança

curricular atual, o processo de ensino é voltado para sala de aula e os alunos não escolhem o

que querem aprender como ocorria no processo de ensino anterior.

[...] ao meu ver nesses anos a Educação Física funcionou melhor quando ela

dava oportunidade ao aluno escolher aquela modalidade que ele queria

aprender. A Educação Física era realizada duas vezes na semana (++), o aluno

escolhia a modalidade que ele queria aprender e o horário também, mas as

coisas foram acontecendo e mudaram (**). Hoje os alunos não tem mais isso

a turma é a turma de sala de aula, os alunos não tem mais essa opção de

escolher aquela modalidade que eles querem aprender [...] (AZUL).

O professor Azul acredita que a escolha de modalidades esportivas de aprendizagem

funcionava melhor e que hoje, tal escolha fazia parte do modelo curricular Recreacionista

(KUNZ, 1994 apud DARIDO; RANGEL, 2008). E com as mudanças curriculares, as aulas não

são conduzidas baseadas nesse modelo curricular. As aulas atualmente são em sala de aula e os

alunos não escolhem modalidades do seu interesse pessoal. Em relação as modalidades

esportivas, Bracht (2010, p. 02) afirma que essas se fazem presentes no contexto das escolas e

que elas:

[...] ainda persistem, são o futebol/futsal, o voleibol, o basquetebol e o

handebol. A proeminência desses esportes tornou-se tão grande que em alguns

contextos são caracterizados como o “quarteto mágico”. Além dessas

modalidades, também o atletismo ganhou algum destaque e, em algumas

poucas escolas que dispõem de piscina, a natação.

Com a mudança curricular, as instituições de ensino precisaram reformular seus

currículos. Em relação a essa mudança Bracht (2010, p. 02) narra que, nos anos 1980, houve

uma grande movimentação social e política em favor da democratização da sociedade brasileira.

No âmbito da comunidade da Educação Física iniciou-se um movimento, posteriormente

chamado de “movimento renovador”, que representou uma forte crítica à função imputada até

então a essa disciplina no currículo escolar. Essa crítica ocasiona uma mudança radical do

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entendimento do conteúdo da disciplina, fazendo com que deixasse de ser apenas por

modalidades esportivas.

Eu iniciei meu processo didático pedagógico como professor no ano de 2006,

no primeiro concurso que eu passei, eu comecei a dar aula em João Câmara,

no interior. Lá eu já tive meu primeiro caso, sem nenhum preparo suficiente,

no meu modo de ver. Na Graduação eu tive um caso de uma criança surda e

lá comecei a ter essa preocupação de estudar a respeito, mas aí, eu não estudei

muito não, a demanda era muito grande. Eu acabei tendo que aprender a

conversar com ele do nosso jeito (**) (VERMELHO).

Observamos no relato do professor Vermelho que o mesmo iniciou seu processo

pedagógico no ano de 2006, e que na sua atuação como docente se defrontou com um aluno

com deficiência em sala de aula, considerando não ter nenhum preparo suficiente para atuar

com esse estudante. Durante a sua graduação, teve uma experiência com uma criança com

surdez e nesse período houve a preocupação em estudar a respeito, porém não muito por causa

da demanda excessiva. Em consequência disso, precisou desenvolver uma comunicação própria

para conseguir transmitir o seu conteúdo em sala de aula.

Em sua experiência atual, o professor relata sobre seu trabalho com uma aluna

cadeirante e desabafa sobre as dificuldades e angústias enfrentadas em sala de aula. Ele narra

que sua aluna cadeirante muitas vezes não participa da aula e fica apenas observando. Ele a

incentiva a participar, porém respeitando seus limites e possibilidades. O educador conta uma

experiência vivenciada em uma aula de tênis de mesa, em que ele diz ter tentado fazer um

trabalho com a aluna, porém teve dificuldades, pois ela tinha algumas limitações. Mas, mesmo

com as limitações, ela participou da aula.

[...] Eu estou com uma turma que tem uma cadeirante. Muitas vezes ela não

tem como participar da aula. Ela fica observando, eu converso com ela e

sempre pergunto se quer participar, se ela acha que dá para participar. Na aula

passada, nós trabalhamos o tênis de mesa e eu tentei fazer um trabalho com

ela para pegar nas raquetes, mas é um trabalho muito árduo, muito difícil. Ela

tem dificuldade de pegar, de movimentação. Ela tentou, deu pra perceber, ela

levantou, ajeitou a cadeira, se organizou, mas assim [==]. Quase não consegue

pegar na raquete, muita limitação, tinha muita limitação, então é bem difícil

para incluir (**) (VERMELHO).

Nesse relato, percebemos a aflição e a sensação de impotência na fala do professor

Vermelho em relação às limitações da aluna e às dificuldades de incluí-la em sua aula. Por isso,

ele conclui que é difícil incluir. O professor Vermelho explana que considera como um dever

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ter atividades voltadas para incluir os alunos com deficiência, mas para ele não existe a

possibilidade de fazem isso em todas as aulas.

O professor deve ter atividades voltadas, específicas, para em alguns

momentos inclui-los. Mas, infelizmente, não tem como fazer isso cem por

cento do tempo [...] (VERMELHO).

Mesmo sabendo que os educandos com deficiência possuem limitações e características

peculiares, “o que precisa ficar claro é que nossa angústia, sensação de impotência, não pode

nos paralisar, mas nos desafiar a ir à luta, investir na formação desse novo ser humano”

(CHICON, 2014, p. 822). Para Perrenoud, (2010 apud SILVA, 2011, p. 122):

É evidente que sem diferenciação pedagógica não podemos falar de inclusão.

No entanto, se a diferenciação não for inclusiva, isto é, se o trabalho que o

aluno com necessidades educativas especiais ou mesmo com dificuldades de

aprendizagem realiza é marginal relativamente ao que se passa com o resto da

turma, esse aluno está inserido na sua turma, mas não está incluído. Isto

significa que estes alunos, ainda que tenham problemáticas muito complexas,

devem, de acordo com as suas capacidades, participar nas atividades em que

essa participação é possível. Para tal, é desejável que os professores criem

ambientes de trabalho facilitadores desta interação e que a promovam, tendo

em conta, no entanto, que a diferenciação não é um método pedagógico, é uma

forma de organização de trabalho na aula, no estabelecimento e no meio

envolvente. Não se limita a um procedimento particular, nem pode atuar

apenas por grupos de nível ou de necessidade: Deve ter em conta, todos os

métodos, todos os dispositivos, todas as disciplinas e todos os níveis de ensino.

Quando o professor encontra muitas limitações no ambiente de sala de aula, manifesta-

se a angustia e a sensação de incapacidade de lidar com esses corpos não perfeitos. De acordo

com Ribeiro e Araújo (2004 apud CHICON, 2008), o que provavelmente ocasiona as

dificuldades em trabalhar com as diferenças, com os corpos não perfeitos (“incapazes” de

alcançar o rendimento desejado que se está habituado a alcançar com a “normalidade”), se

constitui, provavelmente, em resíduos deixados pela Educação Tecnicista, ou até pelo fato da

formação do professor de Educação Física ser feito em graduações que ainda representam essas

peculiaridades.

Os argumentos apresentados pelas escolas tradicionais, que resistem ao processo

inclusivo, são aqueles que refletem suas incapacidades de atuar com a complexidade, a

diversidade e a variedade da realidade nos sujeitos e nos grupos humanos (MANTOAN, 2003).

Trabalhar com a diversidade e a imperfeição causa nos professores o sentimento de

incapacidade, porém devemos “combater a descrença e o pessimismo dos acomodados e

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mostrar que a inclusão é uma grande oportunidade para que alunos, pais e educadores

demonstrem as suas competências, os seus poderes e as suas responsabilidades educacionais”

(MANTOAN, 2003, p. 29-30).

O nosso conteúdo no primeiro ano tem três grandes blocos, segundo o nosso

Projeto Político Pedagógico (**) da disciplina de Educação Física. Nós temos

a cultura de movimento, jogos e ginástica.

Então, como eu falei, nosso PTDEM dá um bloco de conteúdo, bloco geral

[==] a partir dele é que você vai retirar de acordo com a necessidade do curso,

do aluno, da turma (**). Você tem que levar em consideração tudo isso, para

que consiga realmente passar o que é de fundamental para o aluno, segundo o

curso, segundo a proposta da Instituição. Então você tem que estar interligado

nisso (**). Não no que vem da mídia, não no que vem de fora, que é o que fica

muito para os alunos e temos que explicar, debater, e dizer, porque somos

pagos para isso... Sou paga para fazer esse trabalho aqui [==] e eu tenho que

trabalhar em cima dele [==], é nessa perspectiva, o curso demanda isso, [==]

o aluno necessita disso [==] e eu preciso disso para quê? Para minha formação,

na vida, no trabalho. Eu tenho que ter todo esse zelo (**). Na formação do

meu aluno. Então passa por esse princípio (AMARELO).

A professora Amarelo diz que os conteúdos da Instituição possuem dois grandes blocos,

(como observamos no capítulo anterior, no Quadro 02). Essa professora aborda o documento

da Instituição chamado de PTDEM, em que, a partir dele, ela retira as necessidades do curso,

dos alunos e das turmas. Para ela, é necessário levar em consideração os documentos

norteadores, visando transmitir o fundamental para o aluno de acordo com o curso e a proposta

da Instituição. Para Santos (2008, p. 28), uma ação pedagógica bem organizada:

[...] prevê uma prática responsável, na qual se levam em consideração as

referências legais, a realidade sociocultural dos alunos e professores, os

condicionantes macrossociais e econômicos e uma compreensão do

conhecimento como resultado do devir histórico da humanidade e, por esta

razão, o legado cultural indispensável ao processo de escolarização.

A professora expressa que não se fundamenta no que parte a mídia, ou no que esteja

externo ao IFRN. Devido a esses meios influenciarem os alunos, ela esboça a necessidade de

explicar e debater sobre os assuntos que são externos a proposta institucional, trazendo os

estudantes para o que propõe a Instituição, mostrando a importância dos conteúdos abordados

para a formação e vida no trabalho, com zelo na formação do alunado.

No Ensino Médio, a gente tem uma base e discute alguns conteúdos teóricos

e depois sai para a prática. Dentro desse espaço da prática, eu uso alguns

artifícios para forçar também para que o aluno participe. [...] Toda aula prática

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tem uma pontuação para os alunos que participam da aula. Se ele não

participar da aula, ele não fica com falta, mas, em compensação, quando vou

fazer a pontuação geral das notas e ele não tem nota de participação, é zero

(MARROM).

Marrom menciona que no Ensino Médio, através de uma base, faz as discussões dos

conteúdos teóricos e, em seguida, realiza as atividades práticas de sala de aula. Ele diz que usa

artifícios no intuito de forçar os alunos a participar de suas aulas: em suas aulas práticas existe

um sistema de pontuação por participação e os que não participam das aulas ficam sem nota.

Esse professor utiliza o sistema de pontuação para estimular, de forma a forçar os seus alunos

a participar das aulas. Para Falcão (1984), existe a necessidade de os professores

compreenderem a pluralidade de fatores que influem na motivação do aluno. Esses fatores

podem determinar a motivação, sendo ações como contar a sua vida extracurricular até a forma

de condução das aulas. Elementos variados influenciam na participação. De acordo com Araújo

e Correia (2008, p. 03 apud FERNANDES E MÜLLER, 2009 p.03):

É preciso construir práticas organizacionais e pedagógicas que respeitem as

características das crianças e jovens que atualmente frequentam as escolas. A

organização do ano letivo, dos programas ministrados, das aulas, a arquitetura

dos prédios e das necessidades dos alunos, pois, quando a escola não tem

significado para eles, a mesma energia que leva ao envolvimento, ao interesse,

pode transformar-se em apatia ou explodir em indisciplina e violência.

Além disso, revela também que em sala de aula explana sobre a necessidade de vivência

corporal, visando a melhora da qualidade de vida e rendimento acadêmico do aluno. Ele afirma

que a atividade física tem o poder de facilitar a aprendizagem, e em sua aula ele traz elementos

teóricos, com o intuito de fazer o aluno perceber essa necessidade, porque, para ele, alguns

estudantes não reconhecem essa importância. A exemplo, o aluno que vem das escolas públicas

(porém, não apenas esses alunos) nem sempre teve acesso a uma atividade prática – talvez por

não ter quadra na escola ou por ter professores voltados para a teoria. Assim, para Marrom, eles

ficam sem praticar o verdadeiro conteúdo da Educação Física, que é a cultura corporal do

movimento, cultura essa que engloba tudo aquilo que “homens e mulheres acrescentaram à

natureza com finalidade de expressar sentimentos, emoções e desejos, aquilo que ultrapassa os

determinismos físicos e biológicos” (GAYA, 2013, p. 44). Dessa maneira, ele trabalha para que

o aluno entenda que a disciplina envolve o aprendizado de conteúdos relativos à expressão de

sentimentos a qual ultrapassa os aspectos físicos e biológicos e o conhecimento adquirido se dá

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pela internalização no momento da vivência. Ele conclui dizendo que essa é sua preocupação

enquanto professor, que os alunos sintam a necessidade da atividade física.

Dentro de sala de aula, a gente mostra a necessidade da vivência corporal para

que o aluno melhore a qualidade de vida e melhore o seu rendimento

acadêmico, porque a gente sabe que a atividade física pode facilitar a questão

da aprendizagem, então a gente traz esses elementos teóricos para que o aluno

perceba a necessidade.

Principalmente o aluno que vem de escola pública – mas não só ele. Durante

todo o percurso que ele faz na escola pública, nem sempre teve acesso à

nenhuma prática, quase sempre ele não teve acesso a nenhuma prática, ou

porque a escola não tinha quadra, ou porque o professor se preocupa muito

com conteúdo em sala de aula e não praticava o verdadeiro conteúdo da

Educação Física, que é a cultura corporal do movimento. Com isso, o aluno

acha que a Educação Física é aprender algumas noções de saúde e não

vivenciar, então você só consegue se apropriar desse conhecimento quando

internaliza. Na questão da corporeidade, você vai internalizar na hora que

vivencia. Essa é uma preocupação que a gente tem, (**) que todos os alunos

sintam a necessidade da atividade física para o bem-estar deles (MARROM).

Ao relatar sua preocupação com a qualidade de vida e o rendimento acadêmico dos

educandos, podemos observar o esforço dos professores em trazer um ensino significativo. Para

Silva (2013, p. 04): “[...] a Educação Física deve propiciar uma aprendizagem significativa, em

que os indivíduos possam compreender a importância de sua prática para possibilitar a

formação de sua autonomia e criticidade”.

A fala do professor Azul inicia com uma afirmação em relação a prática. Segundo ele,

“toda prática é inclusiva”, porém uma metodologia para que se configure como inclusiva

necessita nivelar a turma por baixo, não podendo nivelar a turma por cima. Em relação a essa

afirmação, ele cita um exemplo do ensino da modalidade esportiva vôlei, dizendo que, para

iniciar o ensino dessa modalidade, ele precisa iniciar com os fundamentos. Após esse ensino,

faz uma atividade coletiva com a turma, não permitindo que a turma jogue de qualquer forma

– em virtude de existirem alunos que dominam a habilidade esportiva, e isso pode acabar

excluindo os demais alunos que não sabem jogar.

Eu acho que toda a prática ela é inclusiva, agora a metodologia para que essa

atividade seja inclusiva é você ter o cuidado de nivelar a turma por baixo,

entendeu? [...] Dependendo da modalidade que for lecionar para os alunos,

você não pode nivelar por cima. Um exemplo, eu não posso chegar, pegar a

turma, eu vou ensinar vôlei, aí eu vou [...]. Eu tenho que ensinar os

fundamentos, para a pessoa jogar e participar tem que saber dos fundamentos.

Aí... eu faço os fundamentos e depois faço um coletivo com a turma. Não

posso chegar e liberar para a turma jogar de qualquer jeito, porque o meu medo

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é que entre os alunos pode ter um aluno que não saiba nada e pode ter o aluno

que pode ter treinado em uma equipe. Aí ele vai chegar e bater na bola com

força e vai bater numa menina. Essa menina vai se excluir naturalmente. Como

eles usam a expressão: eu não vou ficar aqui para não “pagar mico”. Então

tem que usar uma metodologia que você inclua a todos, desde aquele que está

iniciando àquele que está num nível mais alto. Só que você chega naquele do

nível mais alto e diz: olha, ninguém vai poder passa a bola atacando, o saque

não pode ser aquele por cima, vai ser aquele saque suave ou aquele por baixo.

Então, dessa forma você vai ter uma maior inclusão de todos os alunos

(AZUL).

Para esse professor, a metodologia que tem que ser utilizada é aquela que inclua a todos,

desde os iniciantes aos de nível mais alto. E ele isso demostra dizendo que, durante a execução

da aula, vai até os alunos que possuem um nível de habilidade alto e os orienta sobre como se

deve fazer no processo de iniciação da modalidade, para que todos possam participar. Dessa

forma, é possível ter a inclusão de todos na aula. Corroboramos com Senatore (2006 apud

RIBEIRO, 2009, p. 71) que diz que, ao oportunizar a prática esportiva para os alunos com

deficiência, os professores de Educação Física estarão rompendo e substituindo muitos

paradigmas: da incapacidade pela capacidade, da baixa estima pela autoestima, da exclusão

pela inclusão. Ao se tratar das práticas esportivas, compreendemos que oportunizar uma prática

esportiva para pessoas com deficiência estimula a capacidade e a autoestima desses indivíduos,

porém a realidade desejada para esses sujeitos é:

[...] o oposto da realidade atual da Educação Física escolar onde o objetivo

está exclusivamente na competitividade, cerceando assim as questões da

cultura corporal, elementos pedagógicos, o caráter lúdico, a socialização, a

integração e a reflexão, tornando as aulas totalmente desinteressantes (SILVA,

2013, p. 04-05).

Silva traz um modelo de Educação Física no qual dificilmente se tem o devido cuidado

com a inclusão. Tal modelo reflete a realidade em que ainda se encontra a Educação Física:

competitiva e excludente, visando resultados e rendimentos dos alunos, negligenciando suas

deficiências/diferenças.

No trecho abaixo podemos observar o olhar da professora Amarelo em relação aos

alunos surdos:

Em termos de modalidade esportivas, os dois surdos tinham muita habilidade.

Enfim, a gente conseguia, através das práticas mesmo, de gestos que eu não

sabia (**). Eu trabalhei com eles o futsal. Umas 3 aulas de futsal e eles super

habilidosos. Eles tiveram também uma experiência no judô com o professor

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@, chegaram a viajar para competir. Então teve esse momento em específico,

essa parte específica do esporte.

A surda @ já era mais tímida e não participava tanto [==], não participava das

aulas práticas. As minhas aulas eu considero teórico-prática, mas quando a

gente ia mesmo realizar o movimento em si [==], ela não participava, fugia

das minhas aulas (AMARELO).

Nesse trecho, ela conta que os dois alunos surdos em relação as modalidades esportivas

possuíam muita habilidade, que fez um trabalho com a modalidade futsal em suas aulas. Narra

sobre a experiência que eles tiveram com o judô e que chegaram a viajar para competir. E relata

também a sua experiencia com a aluna surda: considerava-a tímida e constata que não

participativa das atividades. A professora diz que considera suas aulas teórico-práticas e, no

momento da realização do movimento, a aluna não participava, chegando a fugir das aulas.

Conforme Chicon (2008), a inclusão de alunos com Necessidades Educativas Especiais nas

aulas de Educação Física parece estar relacionada aos aspectos atitudinais e procedimentais. O

primeiro trata do preparo profissional, da atitude de aceitação e da promoção da diversidade

humana. O segundo está no meio pelo qual se quer atingir os objetivos, ou seja, a escolha da

metodologia de ensino, dos procedimentos didáticos.

Em relação a essa professora, o aluno Morpho Menelau explana seu olhar dizendo que

ela o auxiliou bastante, que era uma professora preocupada em ajudá-los. Ela buscava aprender

o básico da Libras para poder melhorar seu ensino, e o aluno considerou essa característica dela

como positiva.

A professora @ nos ajudou bastante. Ela era sempre muito preocupada em nos

ajudar e queria aprender o básico da Libras para melhorar o ensino. Como

professora de Educação Física, essa é uma característica que acho positiva

nela (MORPHO MENELAUS).

Como podemos observar na fala desse aluno, a professora se mostrou preocupada e,

para ele, isso se configurou em uma característica positiva dela, pois a mesma buscava melhoria

no seu ensino, como explanam Duek e Naujorks (2008 apud RIBEIRO, 2009, p. 38):

O desafio de ensinar a todos os alunos, na escola que se quer inclusiva, exige,

pois, o compromisso com indagações e a subversão do ideal de turmas

homogêneas, à revelia dos alunos em questão. Significa ver além da

deficiência e as diferenças conceituadas peculiaridades que a escola precisa se

dispor a atender. Neste cenário, precisamos rever a nós mesmos, sujeitos da

ação, reconhecendo nossas atitudes, valores, limites, preconceitos. Desejos e

possibilidades, enquanto elementos contribuintes na efetivação do arquétipo

inclusivo.

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Nesse trecho abaixo, o professor Azul exprime que os alunos surdos são participativos

e interativos, que fazem parte do time de futsal da turma. Em suas aulas, o professor está dando

ênfase no momento a modalidade esportiva voleibol, por isso ele revela os alunos queriam o

futsal. Porém, observar o vôlei como uma nova modalidade despertou o interesse da turma.

Os alunos surdos são interativos, participam ativamente das aulas, eles fazem

parte do time de futsal da turma, mas nas minhas aulas estou enfatizando o

voleibol [==]. Nas aulas, os alunos sempre queriam o futsal, todos queriam...

Aí eles veem uma coisa nova e querem aprender, chama a atenção da turma

[==], começam a aprender. Tem um aluno que está empolgadíssimo, sabe?

Empolgado e participando dos jogos. Aí os colegas veem aqueles alunos que

não sabiam de nada e aprendem, eles vão vendo isso e pensam “pô, isso é

legal”! Tem uns alunos que trazem até bola de vôlei [...]. Eu venho notando

que os alunos surdos, da penúltima aula para cá [==], já estão se incluindo no

vôlei, está entendendo? [==] Eu uso apito e gesto na hora que eles vão sacar,

já ensinei também a posição, o posicionamento na quadra, e explico pra eles

a posição 1, 2, 3 [==], usando os gestos com os dedos e quando eles vão sacar.

Além de apitar, eu faço o sinal com a mão, quando a bola cai dentro, fora [...]

(AZUL).

O professor cita o exemplo de um aluno que estava com muita empolgação e

participando dos jogos. Esse aluno antes não sabia jogar essa modalidade e aprendeu. Com esse

exemplo, os demais alunos se sentem estimulados a aprender. Por meio dessa metodologia

utilizada, ele vem percebendo que os alunos com surdez estão se incluindo na modalidade do

vôlei. Para tal, ele utiliza o apito como instrumento sonoro para dos demais alunos ouvintes e

faz gestos para os surdos, orientando como e o que fazer (isto é, ele faz uso dos gestos para

demostrar as regras e os fundamentos a serem utilizados na aula para que o surdo possa

compreender o que está sendo solicitado). Concordamos com o pensamento de Bueno (1999

apud CASAROTTO; ROSA; MAZZOCATO, 2012, p. 07) em relação as concepções de

Educação Inclusiva no ambiente escolar:

[...] a perspectiva da inclusão exige por um lado, modificações profundas nos

sistemas de ensino, que não podem se ater somente a pretensas dificuldades

das crianças com necessidades educacionais especiais, mas que precisam se

estender aos processos de exclusão da mais variada gama de crianças; [...] a

gravidade e a prudência não podem servir de escudo para manutenção, sem

razão de processos segregados de ensino.

A Educação Inclusiva exige mudanças. Os métodos utilizados por esse professor para

alcançar os alunos com e sem deficiência no aprendizado de uma modalidade de ensino, para

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ele, têm surtido efeitos positivos, pelo fato dos alunos da turma que antes se sentiam excluídos

das modalidades hoje participarem das aulas e se sentirem estimulados ao ver sua evolução e a

evolução dos seus colegas de turma.

O professor @ para mim é o melhor professor de Educação Física. Ele tem

um ensino prático, utiliza alguns gestos que fazem com que eu entenda.

Sempre tenho aulas práticas com ele e acho muito bom (PIERIDAE).

Pieridae menciona o professor Azul dizendo que esse é o melhor professor e que sua

forma de ensino é prática, uma vez que ele faz uso de gestos, fazendo com o aluno entenda o

que está querendo transmitir. Além disso, o estudante afirma que sempre tem aulas práticas com

esse professor e as considera muito boas.

O professor @ que me ensina agora, eu o acho um ótimo professor, mas ainda

sinto dificuldade de aprender alguns conceitos da Educação Física. Algumas

avaliações são objetivas, mas ele sempre nos ajuda a resolver (MORPHO

MENELAUS).

Já para Morpho Menelaus, ele é um ótimo professor, porém a sua dificuldade em relação

a alguns conceitos ainda persiste. O aluno conta que algumas avaliações são objetivas e que o

professor os ajuda a resolver. Quando o professor que se encontra em um ponto de vista

favorável e afetivo dos alunos, oportuniza uma qualidade maior na aprendizagem, “Certamente

é muito importante para o aluno a qualidade de mediação exercida pelo professor, pois desse

processo dependerão os avanços e as conquistas do aluno em relação à aprendizagem na escola”

(LOPES, 2008, p. 05). Quando se trata da “relação professor-aluno baseada no afeto, de forma

alguma, confunde-se aqui afeto com permissividade” (LOPES, 2008, p. 07), vale ressaltar que:

[...] a ação do professor deve impor limites e possibilidades aos alunos,

fazendo com que estes percebam o professor como alguém que, além de lhe

transmitir conhecimentos e preocupar-se com a apropriação dos mesmos,

compromete-se com a ação que realiza, percebendo o aluno como um ser

importante, dotado de ideias, sentimentos, emoções e expressões (LOPES,

2009, p. 07).

O professor Marrom expressa sua visão dos alunos surdos relatando sobre uma atividade

de sala de aula proposta por ele à aluna surda e que ela participou e apresentou em sua língua,

sendo traduzida pelas profissionais TILS da Instituição. Diz que a aluna é esforçada, que não

falta a suas aulas, é observadora e atenta e faz todas as atividades práticas por ele propostas.

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A aluna surda @ em uma atividade que fiz em sala de aula, a parte que tinha

que fazer, ela falou [==], fez em Libras e as meninas traduziram o que ela

estava falando. Ela é bem esforçada, não falta aula, observa, presta atenção e

faz todas as aulas práticas. A única queixa que ela tinha no início era que

achava melhor que a aula fosse no ultimo horário para não precisar tomar

banho, mas até a isso ela já se adaptou. E o menino surdo @ é um pouco mais

acomodado, mas isso é uma questão de história de vida, comportamento (**).

Mas tem sido uma experiência bem interessante. Existem perfis de alunos

(**). E a crítica ao aluno surdo não veio só de minha parte, vem também de

outros professores, porque o perfil deles dois são diferentes (MARROM).

Já o outro aluno surdo, para ele, é um pouco acomodado, porém o professor frisa que

isso faz parte do perfil do estudante e que essa crítica não parte apenas dele, mas dos demais

professores. E conclui dizendo que esses alunos possuem perfis diferentes. Por mais que os

perfis sejam diferentes, estamos com Drouet (1990 apud ALVES, 2009, p. 02) quando diz que

“a aprendizagem é um processo pessoal, individual, isto é, tem fundo genético e depende de

vários fatores: dos esquemas de ação inatos do indivíduo; do estágio de maturação de seu

sistema nervoso; de seu tipo psicológico constitucional (introvertido ou extrovertido); de seu

grau de envolvimento, seu esforço e interesse”. Já para Piletti (1990 apud ALVES, 2009), existe

a necessidade de considerar fatores inerentes às características dos alunos, para não acabar

prejudicando a aprendizagem. Esses fatores são: a maturidade, o ritmo pessoal, os interesses e

as aptidões específicas, os problemas pessoais, nervosos e orgânicos. Para que haja a garantia

da aprendizagem a todos, se faz necessário reconhecer que os alunos são diferentes e

apresentam aptidões, interesses e ritmos de aprendizagem que são diferenciados, tornando-os

únicos.

O professor é muito bacana, ele tem afinidade pela causa surda, tem adaptado

suas aulas. Algumas vezes, ele esquece [==], mas quando esquece ele entrega

as atividades para nós e vai tentando junto com o intérprete tornar acessível

Ele faz com que eu lembre tudo que foi feito, tudo o que estudei anteriormente

e eu coloco no papel escrito. As aulas práticas eu frequento todas, são muito

boas porque ajudam a melhorar o nosso corpo, nosso movimento e a nossa

saúde. É muito bom (LYCAENIDAE).

Em relação ao professor Marrom, a aluna Lycaenidae relata que ele tem afinidade com

a causa surda e que está adaptando as aulas. Mesmo quando esquece de adaptar, com o auxílio

do profissional TILS, ele torna suas aulas mais acessíveis. Além disso, faz explicações para

estimular a aluna a fazer suas atividades, ela diz que frequenta todas as aulas práticas e

reconhece a importância delas para a sua saúde e seu corpo. Ao estimular um aluno [...] o

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professor deve estar consciente da busca por conteúdos diversificados e motivantes, para que

se consiga atender aos interesses contidos nas turmas, fazendo com que essa falta de previsão

que a motivação manifesta, não venha lhe causar dúvidas no que diz respeito à motivação de

seus alunos (CHICATTI, 2000, p. 100). Esse professor ao estimular e adaptar as aulas buscando

conteúdos diversificados para que os alunos possam estar presente e fazendo parte dessa

dinâmica, gera o aumento da motivação e consequentemente a permanência dos alunos nas

aulas.

Assim, nessa categoria, investigamos os olhares dos docentes em relação à disciplina de

Educação Física, às experiências vivenciadas por eles e como eles tiveram contato com o

processo inclusivo por meio da disciplina. Observamos como os professores estabelecem as

suas aulas de Educação Física e como eles buscam contemplar os alunos com

deficiência/diferença em suas aulas, vimos também como esses professores enxergam seus

alunos com deficiência/diferença e também observamos os olhares dos alunos em relação a

disciplina de Educação Física e aos docentes no que tange o processo inclusivo nas aulas de

Educação Física.

E, por meio dos olhares, analisamos que, em algum momento do tempo de carreira

desses docentes, eles tiveram o contato com as pessoas com deficiência/diferença em suas aulas.

Dessa maneira, o processo inclusivo está mais evidente e latente na vida desses docentes

atualmente. Por isso, esses professores estabelecem sua atuação na disciplina de Educação

Física por meio dos documentos norteadores da Instituição e por desse documento eles

planejam e executam suas aulas. Devido à presença das pessoas com deficiência/diferença em

sala de aula, eles se deparam com a necessidade de adaptar suas aulas na tentativa de incluir

esses sujeitos.

Quando nos deparamos com o relato dos alunos com surdez, observamos que eles

consideram alguns professores preocupados com o ensino inclusivo, além de demonstrarem

afinidade com a causa surda. São professores que possuem um ensino prático e que facilitam o

entendimento desses alunos. Por outro lado, também observamos algumas divergências em

relação às adaptações feita por alguns professores, as quais fazem com que os alunos ainda

possuam dificuldades de compreensão das aulas.

Por meio desses olhares, podemos compreender que existe uma investida por parte

docente de tornar as aulas inclusivas. O processo inclusivo em sala de aula parte da empatia, da

tentativa, da busca por melhorias e mudanças e da preocupação com o processo de

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aprendizagem de todos os alunos. Quando os professores se comprometem com a inclusão, isso

fica evidente no olhar do aluno que está sendo o alvo daquele processo educativo inclusivo.

5.2.3 Inclusão – Comunicação

Nesta temática, trataremos sobre a inclusão e a comunicação dos alunos com surdez em

sala de aula. Nela, vamos observar os olhares dos docentes e dos discentes surdos sobre

questões peculiares que exigem uma observação mais criteriosa.

Em relação a comunicação, os alunos relatam dificuldades na compreensão da disciplina

e das atividades. Eles dizem que:

Acho as aulas de Educação Física boas, mas fica muito difícil para mim os

termos usados na disciplina. Alguns professores são bons, mas tudo é em

Português. A disciplina é muito difícil na teoria (NYMPHALIDAE).

Então, [==] são muito boas as atividades de Educação Física com o professor,

nessas atividades ele usa palavras diferentes. Eu estou sempre tentando e

conseguindo fazer algumas atividades, mas tem alguns termos que eu

desconheço (LYCAENIDAE).

Na fala de Nymphalidae, ele relata sua dificuldade na disciplina de Educação Física com

a teoria, pois a metodologia executada nas aulas é apenas em Língua Portuguesa. Entendemos

que quando ele se menciona que “tudo é em português”, está se referindo as aulas expositivas

não visuais, que não possuem adaptações necessárias a compreensão dele, e isso acaba trazendo

prejuízos ao processo de aprendizagem dos alunos que necessitam compreender termos

relacionados a disciplina para conseguir ter o entendimento dela.

[...] eu acho que a preocupação maior com o surdo em si é porque é uma outra

linguagem, um outro mundo, então a gente tem que traduzir para eles e eu não

tinha esse conhecimento. Então eu tentava fazer esse diálogo a partir dos

gestos corporais, como te falei [...] (AMARELO).

A professora Amarelo entende que a maior preocupação como os alunos surdos é a

linguagem, porém a o surdo possui uma língua que foi reconhecida por esse status através da

Lei nº 10.436/02, que diz em seu Artigo 1º que a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros

recursos de expressão a ela associados são reconhecidos como meio legal de comunicação e

expressão (BRASIL, 2002). Em relação ao que significa “língua”, Saussure (2004, p. 17)

reflete:

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Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é

somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao

mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto

de convenções necessárias, adotada pelo corpo social para permitir o exercício

dessa faculdade nos indivíduos.

A língua é diferente da linguagem, visto que a linguagem “é um termo genérico, pois

pode referir-se a outras manifestações, além da sequenciação de sons, como em ‘linguagem das

cores’, ‘linguagem dos perfumes’, ‘linguagem das abelhas’, e outras muitas linguagens mais”

(CASTILHO, 2017, p. 02). Então, ao nos referirmos a Libras, podemos dizer que ela se

configura em uma língua assim como as demais línguas estrangeiras e a nossa Língua

Portuguesa. O que difere é que a Libras é expressa pelo canal visual-espacial e não oral-auditivo

(QUADROS, 2004).

Na fala da professora Amarelo, observamos que ela utiliza gestos para dialogar com os

alunos, porém admite o não conhecimento da língua e a necessidade de tradução para promover

um diálogo compreensivo. Quando ela não tinha acesso essa tradução, promovia seu diálogo

por meio dos gestos corporais. Utilizar de gestos na comunicação não garante uma comunicação

efetiva com os sujeitos surdos. Logo, é importante frisar que “os sinais não são gestos”

(GESSER, 2009, p. 23), que os gestos corporais têm uma compreensão limitada por parte dos

surdos, ficando a necessidade de produzir os sinais referentes ao gesto executado.

Na minha opinião, na disciplina de Educação Física é preciso usar a Língua

de Sinais no ensino para garantir a inclusão, porque é muito difícil para o

surdo, existem muitas complicações. Os surdos têm pouca informação,

diferente dos ouvintes. (NYMPHALIDAE)

No que se refere a esses fragmentos, podemos observar que a Língua de Sinais na

disciplina de Educação Física é uma exigência para o alcance da inclusão do aluno com surdez.

Pela falta desse canal comunicativo, esses alunos perdem muita informação. O esforço deles

para acompanhar as aulas é evidente e a sensibilização docente quanto as particularidades

desses sujeitos faz muita diferença na aprendizagem.

Não nego a questão de aprender Libras, porque é claro que se eu for para o

Japão e chegar lá, claro que vou ficar angustiado porque eu não sei nada de

japonês. As pessoas falando em japonês, meu Deus! O que estão falando? [==]

Fui para um show dos Beatles, eu consegui entender o contexto, mas minha

esposa não consegue entender nada de inglês, então ela disse que detestou o

show porque não conseguia entender o que estavam falando. [==] Então é só

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92

a gente se colocar em outro patamar enquanto brasileiro que vai para um país

onde você não domina a língua. Vai pra China, chegando lá, o que vai fazer

se não entende nada? [==] Essa questão da gente se colocar no lugar do outro

é importante para que a gente possa tentar entender essas dificuldades que eles

sentem [...] (MARROM).

O professor Marrom revela que não nega sua necessidade de aprender a Libras, citando

uma viagem hipotética ao Japão na qual não sabe se comunicar na língua do país. Relata

também uma experiência por ele vivenciada em um show, na qual sua esposa não conseguia

entender a língua cantada, e sobre uma pessoa que vai a outro país que não entende a língua por

lá falada. E conclui falando sobre empatia, da importância de entender as dificuldades dos

outros.

Eu vejo a minha necessidade de fazer o curso de Libras para interagir com

eles. [==] Às vezes, tenho vontade de conversar com eles, aí eu sempre

procuro os alunos que sabem falar mais com eles e peço: “fala isso” [...]

(AZUL).

Azul também explana a sua necessidade do aprendizado da Libras com o intuito de

interação e assume que, em certos momentos, tem vontade de conversar com os alunos surdos.

Para conseguir essa comunicação, procura outros estudantes que sabem Libras para intermediar

a conversa entre eles. Os alunos surdos enfrentam desafios comunicacionais e o professor Azul

trata da necessidade de aprender a língua para interagir com os alunos surdos. A interação

professor-aluno se dá através do diálogo e, para Freire (2008), diálogo implica no pensar crítico,

sendo capaz de gerá-lo. Quando não há diálogo, não há comunicação, e sem a comunicação não

há uma verdadeira Educação.

Nas aulas práticas, eu percebo que os ouvintes entendem claramente, mas os

surdos entendem mais ou menos. Nosso desenvolvimento acaba sendo mais

lento (PIERIDAE).

O aluno Pieridae chama a atenção para as suas dificuldades em relação ao entendimento

dos conteúdos e como isso traz prejuízo no seu desenvolvimento em relação aos ouvintes.

Os professores pensam que somos como os ouvintes, por isso que não tem a

Libras. Nós sempre precisamos de ajuda para tradução (MORPHO

MENELAUS).

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E, para do aluno Morpho Menelaus, os docentes não observam as características dos

alunos surdos, não atentando para o meio comunicativo desses estudantes e a sua necessidade

de intervenção tradutória. Com a barreira comunicacional, os surdos acabam prejudicando seu

desenvolvimento em relação aos demais ouvintes e em relação a essa problemática. Lacerda

(2006, p. 02) diz que:

Devido às dificuldades acarretadas pelas questões de linguagem, observa-se

que as crianças surdas se encontram defasadas no que diz respeito à

escolarização, sem o adequado desenvolvimento e com um conhecimento

aquém do esperado para sua idade. Disso advém a necessidade de elaboração

de propostas educacionais que atendam às necessidades dos sujeitos surdos,

favorecendo o desenvolvimento efetivo de suas capacidades.

Quando existe a barreira comunicacional dentro de sala de aula, o desenvolvimento do

aluno surdo acaba sendo prejudicado. Eles ficam em desvantagem em relação aos alunos

ouvintes e, consequentemente, têm o aprendizado lento e defasado no ambiente escolar.

Uma dificuldade é que os intérpretes não querem participar das aulas práticas.

Eu pedia para eles irem, porque nas minhas atividades eu explico, não faço só

jogar bola ou jogar queimada, por exemplo. Eu faço algumas atividades que

eles precisam entender a dinâmica do jogo, e quando os intérpretes não iam

era uma dificuldade muito grande (VERMELHO).

O professor Vermelho afirma que a dificuldade em relação as aulas práticas é que os

intérpretes não querem atuar nas aulas mesmo com o pedido que fossem, porque nas suas

atividades ele faz explicações e os alunos necessitam entender a atividade proposta. Para ele, a

dificuldade era grande quando esse profissional não se fazia presente na aula.

Podemos observar que, para os surdos, a aprendizagem fica prejudicada nas aulas

práticas por não entenderem bem as atividades propostas, bem como ocorre a dificuldade dos

professores de não terem o profissional TILS nas aulas. Em relação a presença do profissional

intérprete em aula, Lacerda (2006, p. 10) diz que:

A presença de um intérprete de Língua de Sinais em sala de aula pode

minimizar alguns aspectos deste problema, em geral, favorecendo uma melhor

aprendizagem de conteúdos acadêmicos pelo aluno, que teria ao menos acesso

(se conhecesse a Língua de Sinais, ou pudesse adquiri-la) aos conteúdos

trabalhados. Todavia, este aluno continua inserido em um ambiente pensado

e organizado para alunos ouvintes. Para que este ambiente se torne

minimamente adequado às necessidades de alunos surdos, são necessárias

mudanças e adaptações que se encontram distantes de serem realizadas.

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A dificuldade encontrada em sala de aula em relação ao profissional intérprete se dá

principalmente porque o aluno surdo está inserido em um contexto pensado e organizado para

ouvintes. Porém, o que não se observa na fala docente é que, mesmo com a ausência do

profissional, são necessárias mudanças e adaptações que garantam a inclusão desses alunos em

sala de aula.

Nas aulas de Educação Física precisa da presença do intérprete e de

adaptações. É muito bom ter um intérprete nas aulas práticas, porque fica

melhor. Eu não entendo nada nada do que os professores falam, e por isso

precisa da presença do intérprete para que eu possa interagir na aula prática.

A comunicação de um surdo é difícil sem o intérprete, e quando o intérprete

chega, tudo que está sendo dito fica claro pra nós (PIERIDAE).

O aluno Pieridae manifesta seu pensamento em relação a necessidade do tradutor

intérprete em nas aulas práticas. Para ele, é primordial a presença do TILS, pois através desse

profissional o diálogo desses sujeitos é reestabelecido, ficando os mesmos assegurados da

comunicação em sala de aula.

[...] eu acho que os alunos surdos têm razão no tocante ao intérprete, para que

eles tenham, de uma forma mais ampla, o conhecimento daquelas atividades

que são ministradas, postas na aula (**).

[...] eu não sei Libras. Aí, a gente fazia um circuito, certo? A gente fazia um

“circuit training”. Eu demonstro para eles o que eles têm que fazer, como é o

exercício, mostro o que o exercício trabalha, [==] trabalha isso, [==] isso aqui.

[...] Eu aponto o músculo, mas não digo pra eles o nome do músculo: bíceps,

tríceps, quadríceps, panturrilha, entendeu? [...] Então eu concordo quando eles

falam que precisam do intérprete na aula prática (AZUL).

Em concessão com a opinião dos alunos surdos, o professor Azul afirma que a presença

dos intérpretes em sala de aula amplia o conhecimento desses alunos. Em corroboração, o

professor Vermelho cita como exemplo uma aula ministrada por ele e a dificuldade de ministra-

la sem a presença do profissional.

Tive uma vantagem muito grande no IFRN, porque tinha três intérpretes em

sala de aula. Então isso é uma vantagem incrível, você não fica limitado, você

consegue manter um diálogo muito mais rápido, muito mais fluido. Quando

eu estava no interior, por exemplo, e não tinha intérprete nenhum, eu tinha que

ficar falando para o menino olhando para ele, para poder manter o diálogo. É

necessário o intérprete em sala de aula, é mais tranquilo se comunicar quando

se tem intérprete. Quando não se tem a comunicação fica difícil

(VERMELHO).

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Nas falas dos docentes fica evidente a importância do profissional intérprete em sala

de aula, visto que esse profissional ser a ponte comunicacional do aluno com surdez e os

demais alunos e professores. Contudo, o processo inclusivo é bem mais amplo que apenas

a inserção do profissional TILS. Devemos ficar alertas para o fato de que a presença de um

intérprete de Língua de Sinais em sala de aula não assegura as adequações metodologias

necessárias aos alunos surdos, visto que:

a presença do intérprete de Língua de Sinais não é suficiente para uma inclusão

satisfatória, sendo necessária uma série de outras providências para que este

aluno possa ser atendido adequadamente: adequação curricular, aspectos

didáticos e metodológicos, conhecimentos sobre a surdez e sobre a Língua de

Sinais, entre outros (LACERDA, 2006, p. 01).

O professor Vermelho diz que passa pelos alunos surdos e apenas os cumprimenta, que

não existe o diálogo entre eles. Porém, quando está na presença do TILS, ele conversa com

esses alunos e, para ele, é muito bom quando o intérprete está presente.

Eu passo pelos surdos e a gente se cumprimenta, mas é só cumprimentar, não

tem diálogo, não tem conversa. Com o intérprete junto a gente conversa, eu

falo as coisas para eles. É muito bom quando tem o intérprete (VERMELHO).

Entretanto, por mais que a presença do intérprete seja fundamental em sala de aula, os

professores precisam incutir o pensamento de que é necessário que eles reflitam sobre a

aprendizagem da Libras por meio da formação, para que se efetive a comunicação através do

diálogo com os alunos surdos. De acordo com Freire (2005, p. 91): “[...] o diálogo é uma

exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o refletir e o agir de seus

sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado”.

Ao permitir uma troca de conhecimento por meio do diálogo e através das ideias

partilhadas, se fomenta o processo de transformação de si e dos educandos.

Na aula prática algumas coisas são boas. O professor usa algumas expressões

faciais e gesto, mas precisa saber pelo menos o básico pra se comunicar

conosco, como por exemplo: “oi”, “tudo bem?”, “legal” [...]

(NYMPHALIDAE).

Nymphalidae conta que as aulas práticas são boas, e que o professor utiliza algumas

expressões e gestos para a comunicação com os alunos surdos. Porém, para esse aluno, os

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professores necessitam de pelo menos o aprendizado básico para a comunicação com eles. Na

visão desse aluno, nas aulas de Educação Física, fica evidente que:

O aluno surdo, apesar de presente (fisicamente), não é considerado em muitos

aspectos e se cria uma falsa imagem de que a inclusão é um sucesso. As

reflexões apontam que a inclusão no Ensino Fundamental é muito restritiva

para o aluno surdo, oferecendo oportunidades reduzidas de desenvolvimento

de uma série de aspectos fundamentais (linguísticos, sociais, afetivos, de

identidade, entre outros) que se desenvolvem apoiados nas interações que se

dão por meio da linguagem. A não partilha de uma língua comum impede a

participação em eventos discursivos que são fundamentais para a constituição

plena dos sujeitos (LACERDA, 2006, p. 10).

Para Nymphalidae, os gestos não são suficientes na comunicação, por isso que ele

aponta a importância de os professores aprenderem a se comunicar por meio da Língua de

Sinais.

[...] apesar de ter feito (o curso), eu sabia fazer alguns nomes conseguia fazer

ainda, lembrava do alfabeto, mas eu acho que a preocupação maior é

exatamente tentar fazer com que a gente consiga fazer esse diálogo, consiga

essa compreensão. A partir dessa compreensão, daí você conseguir transmitir

o conteúdo que ele é posto a partir do nosso PTDEM, que a gente chama [...]

E aí você traz esse conteúdo nas diversas metodologias, porque é assim a

experiência de vida, a experiência de cada um (AMARELO).

A professora Amarelo conta que, por ter feito o curso de Libras, conseguia expressar

uma comunicação básica por meio de alguns nomes (sinais) e o alfabeto manual, porém “[...] a

Língua de Sinais não é datilologia ou mímica (como muitos podem pensar), também não é

universal (igual em todos os países), muito menos artificial (uma língua inventada)” (GESSER,

2009, p. 33) e deve ficar claro também que “o alfabeto manual tem uma função de interação

entre usuários da Língua de Sinais. Lança-se mão desse recurso para soletrar nomes próprios

de pessoas, lugares, siglas, e algum vocábulo que não existe na Língua de Sinais, que ainda não

tenha um sinal” (p. 29) Então, “soletrar não é um meio com um fim em si mesmo. [...] podemos

afirmar que esse recurso funciona potencialmente nas interações para incorporar sinais a partir

do entendimento conceitual entre interlocutores” (GESSER, 2009, p. 30, grifo da autora).

Ela revela que sua preocupação era conseguir promover um diálogo com esses alunos

que proporcionasse uma compreensão e, a partir de então, conseguir transmitir os conteúdos

baseada no documento normativo da Instituição para a produção das diversas metodologias.

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Precisa urgente da Língua de Sinais nas aulas, para que a EF seja passada para

nós com mais qualidade, e seria bom que os professores tentassem aprender a

Libras para desenvolver alguns sinais conosco (MORPHO MENELAUS).

O aluno Morpho Menelaus registra o seu pedido de urgência da necessidade da Língua

de Sinais nas aulas e da aprendizagem por parte dos professores, na tentativa de criar um

vocabulário contemplando a disciplina e disseminando a Língua de Sinais nas aulas de

Educação Física.

[...] Eu, como profissional, confesso a você que às vezes fico pensando: “meu

Deus do céu! Eu precisava fazer um curso para aprender Libras”. Tanto que

me inscrevi em um, mas não tive tempo de ir.

Eu reforço a necessidade da gente se capacitar mais, até eu mesmo às vezes

fico assim, meio constrangido de não está desenvolvendo muito a linguagem

de sinais, porque era importante que pelo menos (++) essa troca de informação

mais simples eu tivesse o domínio, porque fica ruim, é muito ruim [...]

(MARROM).

O professor Marrom confessa sua necessidade de aprender a Libras para que haja a

comunicação com os alunos surdos. Ele relata inclusive que se inscreveu em um curso, porém

não teve tempo de participar. O educador reforça a necessidade de se capacitar e, por não estar

desenvolvendo a Língua de Sinais, se sente constrangido e explana sobre a importância de saber

a língua para poder transmitir informações básicas aos alunos surdos.

Eu acho que a escola poderia proporcionar para os professores (**). De uma

maneira geral, mas poderia oferecer um curso de Libras, já que está tendo a

inclusão desses alunos, ajudaria muito (AZUL).

Na opinião do professor Azul, a Instituição poderia oferecer para os professores um

curso de formação em Libras, visto que a presença desses educandos surdos é uma realidade

em sala de aula. Por meio dessa fala e das falas dos demais professores, fica evidente a

necessidade da formação em Libras para a comunicação com os alunos surdos, por meio da

oferta de uma capacitação para que esses professores possam se comunicar com os alunos. Os

autores Chicon e Rodrigues (2014, p. s816-s817) tratam sobre a necessidade da formação

continuada para os docentes na busca por melhorias na sua prática pedagógica, dizendo que:

[...] evidencia-se, no sistema educacional como um todo, a necessidade de

investimento em ações de formação continuada de professores, possibilitando

o aprimoramento de sua prática pedagógica. Cabe salientar que não estamos

falando de cursos que se distanciam da realidade dos profissionais da escola,

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mas sim daqueles que procuram se aproximar dessa realidade, trabalhando em

parceria com os professores, numa perspectiva de pesquisa-ação, isto é, de

mergulhar no cotidiano dos sujeitos e junto com eles ir buscando os meios de

resolver os problemas que emergem no dia a dia.

Evidenciar a necessidade de formação é um passo para a busca da mudança. De acordo

com Moreira (2002), a Educação como prática social promove a reinvenção da formação do

profissional da área. As formações continuadas evidenciam que tudo o que somos é um trivial

degrau de tudo que ainda podemos ser. Em relação a formação, podemos compreender que

muitos sistemas de ensino têm se tornado inclusivos por buscar constantes aprimoramentos,

visando à formação dos seus professores, bem como o êxito dos alunos na aprendizagem. E

essa busca exige esforços constantes (MANTOAN, 2003).

Diante disso, podemos compreender que os alunos surdos anseiam que os docentes

possam aprender a Língua de Sinais, visto que essa língua possibilita ao professor o diálogo

com os alunos surdos, facilitando a comunicação e a qualidade da aprendizagem desses

educandos. Corroboramos com Tricoli (2002, p. 98) que diz que: “[...] para que um professor

possa oferecer uma boa formação para seus alunos, ele precisa também estar bem formado”.

Ao tratarmos sobre os olhares dos alunos surdos em relação às dificuldades e aos

conflitos encontrados em sala na comunicação nas aulas de Educação Física, observamos que

esses alunos apresentam dificuldades e percebemos alguns conflitos no que concerne ao

desenvolvimento escolar e à compreensão dos conteúdos por parte desses sujeitos. No que se

refere às aulas práticas de Educação Física, os alunos pontuam a dificuldade no entendimento

dos conteúdos abordados, visto que os padrões estabelecidos nas aulas fazem com que os alunos

surdos se descubram em um conflito político inclusivo, devido ao fato de que o atendimento

deles não é por meio de uma pedagogia da diferença, que permita que esse sujeito construa sua

subjetividade como diferente do ouvinte (CAMPOS, 2014).

Os professores explanam em seus olhares a importância do profissional tradutor

intérprete em sala de aula e apontam que esse profissional se recusa atuar em aulas práticas. No

que tange essa recusa, há um questionamento sobre essa atitude: será que por não compreender

os conteúdos da disciplina na modalidade prática, o profissional intérprete não saiba que o

professor faz explicações em suas aulas? Ou a sua ausência se dá pela escassez de profissionais

em sala de aula e, consequentemente, se prioriza apenas as teóricas pelo desconhecimento da

condução da aula prática? São reflexões que devem ser respondidas em pesquisas futuras, nas

que acompanharão a dinâmica desse profissional nas instituições de ensino.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a feitura deste trabalho, procuramos dentro da abordagem qualitativa, pelo viés do

estudo de caso, tratar de uma circunstância particular e único. Por meio deste estudo,

procuramos observar o meio escolar numa perspectiva inclusiva e compreender os olhares dos

docentes e discentes surdos em relação às aulas na disciplina de Educação Física. E esses

olhares apontam para um contexto escolar ainda em processo inclusivo, o qual se nota a

tentativa docente de incluir os alunos com deficiência/diferença, e dos alunos de observar o

empenho desses professores em incluí-los nas aulas. Em virtude da presença dos alunos com

deficiência/diferença ser mais evidente atualmente no ensino regular, os docentes percebam a

urgência das transformações metodologias em suas aulas, se adaptando ao novo contexto da

Instituição.

A partir das reflexões sobre as análises realizadas, percebemos que os docentes

concebiam seus olhares e suas construções de conceitos sobre a inclusão com concepções

divergentes, visto que esses olhares apontam as marcas de suas histórias de vida, experiências,

aprendizagens e suas vivências ao longo da trajetória de trabalho como docentes da disciplina

de Educação Física. O trabalho com as diferenças na Educação Inclusiva ainda se mostra

desafiador para os professores, pois esse trabalho visa atender a todos dentro de um mesmo

espaço educacional e ao mesmo tempo (CHICON, 2008). Sabemos que incluir não é fácil por

se tratar de um processo de construção mútuo que envolve a todos que fazem parte do contexto

escolar. Mesmo sendo desafiador, incluir não é impossível, e esse processo inclusivo pode ser

alcançado com esforços e empatia em relação aos alunos com deficiência/diferença, trazendo

um ensino significativo e agradável aos estudantes.

Os alunos com surdez em seus olhares nos revelam que, nesse processo de inclusão na

disciplina de Educação Física, encontram dificuldades de compreensão dos conteúdos e

possuem a necessidade de adaptações metodológicas e da presença profissional intérprete em

sala de aula, visto que elas não contemplam uma pedagogia da diferença (CAMPOS, 2014).

Pedagogia essa que busca compreender as diferenças dos educandos e considerar as suas

especificidades. Em suas falas, observamos que eles identificavam o empenho docente em

construir as adaptações que, para eles, ajudavam na compreensão, porém não eram suficientes.

O que pode ser feito para organização de uma ação inclusiva do aluno com surdez é adaptar,

trazendo recursos visuais que beneficiarão não apenas os alunos surdos como também a todos

os alunos ouvintes. Somado a isso, é preciso estimular o aprendizado da Libras por todos, bem

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como a parceria entre o professor e o profissional intérprete, o qual irá junto com o professor

promover um ambiente inclusivo para o aluno com surdez. E mesmo com a predominância na

escola de ouvintes, a escola tem como papel social ser respeitadora das diferenças, permitindo

ao aluno o desenvolvimento cognitivo por meio da sua língua natural, fazendo com que esses

estudantes tenham condições de acompanhar o ensino regular.

Encontramos nas falas docentes e discentes a importância do profissional Tradutor

Intérprete de Língua de Sinais, uma vez que os alunos surdos consideram como inclusão a

presença desse profissional em sala de aula. No que tange a comunicação do aluno com surdez,

a falta desse profissional ocasiona um conflito escolar que traz sérios prejuízos ao

desenvolvimento e aprendizado dos alunos com surdez, causados pelas dificuldades de

obtenção das informações dos conteúdos escolares. Entretanto, sabendo que a presença esse

profissional em sala de aula não garante a inclusão (LACERDA, 2006). Mas, para além disso,

constatamos que ao ministrar a aula com a presença dos alunos surdos e sem o intérprete de

Libras, subentende-se que ou o professor sabe a língua ou não está respeitando a

deficiência/diferença desse aluno em suas aulas, já que a perda na comunicação acarreta

prejuízos educacionais. Para que o desrespeito em sala de aula possa se transformar em respeito

é necessário que o docente possa aprender a Língua de Sinais, não só ele, mas também a toda a

comunidade escolar, para quebrar a barreira da comunicação dentro das instituições de ensino.

Podemos afirmar que os professores necessitam de formação continuada, não só para o

aprendizado da Libras, mas também para se apropriarem de novos conhecimentos, técnicas,

metodologias, visando melhorias na sua ação pedagógica em sala de aula para a promoção de

uma Educação Inclusiva de qualidade para os seus educandos com deficiência/diferença. E

compreendemos que a formação continuada dos docentes para a Educação Inclusiva requer

mudanças das práticas convencionais, visando um processo de formação que seja indagador,

pesquisador e reflexivo sobre o seu saber-fazer pedagógico.

Diante dessas perspectivas, podemos inferir que incluir exige antes de tudo empatia,

mudanças de atitudes, transformações metodológicas e formativas dos sujeitos que fazem parte

do contexto do sistema regular de ensino. Exige também a participação, o envolvimento, o

esforço e a luta pelos seus direitos por parte dos alunos com deficiência/diferença. E respeito,

acolhimento e condições adequadas para que as pessoas com deficiência/diferença possam

permanecer e ter êxito nas instituições de ensino.

É preciso romper com a ideia de achar que a Educação Inclusiva é um sistema mais

barato. Não se pode fazer a opção por essa Educação por meio desse pensamento. Quando

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acabam com as escolas especiais e inserem os jovens com deficiência/diferença em escolas

regulares que não foram desenvolvidas para abarcar a diferença, não podemos considerar a

Educação Inclusiva como um saldo – o que ela não é, pois é sistema exigente, qualificado,

profissional e competente, fazendo com que ela seja um sistema caro. Porém se por um lado ela

é cara, por outro é melhor não sabermos o preço de uma exclusão (RODRIGUES, 2006).

Urge a necessidade de entender que, para que o processo inclusivo seja efetivado, é

necessário não só o envolvimento por parte docente ou da comunidade escolar, mas de

investimentos e incentivos que partam do sistema governamental, que não só promovam o

acesso dessas pessoas no ensino regular, mas também que assegurem condições para que as

escolas e a comunidade acadêmica possa promover uma Educação Inclusiva de qualidade para

todos, visto que estamos enfrentando atualmente desafios políticos que dificultam o avanço da

Educação no sistema regular de ensino.

Como possíveis desdobramentos deste estudo, apostamos a sua continuidade como

pesquisa de doutorado, pois acreditamos que essa temática necessita de continuação,

principalmente no que tange aos seguimentos das aulas de Educação Física numa perspectiva

inclusiva e na inclusão das pessoas com deficiências/diferenças no ambiente escolar.

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SILVA, F. D.; SILVA, P. H. R.; SANTOS, W. C. Educação Física inclusiva para alunos com

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(Org.). Inclusão e educação: doze olhares sobre a Educação Inclusiva. São Paulo: Summus,

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SOLAREVICZ, M. M. P. de L. A importância da formação continuada no caso do

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STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. 2. ed. rev. Florianópolis: ed.

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117

APÊNDICES

APÊNDICE 01 – ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

LINHA EDUCAÇÃO E INCLUSÃO EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS

ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO - VISITAS ÀS SALAS DE AULAS

ASPECTOS FÍSICOS E ESTRUTURAIS:

• Estrutura Física da Instituição e do local de aula;

• Estrutura dos equipamentos e materiais;

ASPECTOS DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO:

• Atividades pedagógicas individuais e coletivas;

• Execução das atividades;

• Organização do trabalho pedagógico das professoras;

• Participação e interação;

• Participação dos alunos surdos nas aulas;

• Participação de todos os alunos;

• Processos de mediação;

• Organização do trabalho pedagógico.

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118

APÊNDICE 02 – ROTEIRO DE ENTREVISTA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

LINHA EDUCAÇÃO E INCLUSÃO EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS SURDOS

1) Dados identificadores:

Nome:

Turma:

Turno:

Idade:

2) Qual a sua opinião sobre a disciplina de educação Física?

3) Você considera as aulas de Educação Física inclusivas?

4) Os professores preocupam-se com a aprendizagem e participação de todos os alunos?

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APÊNDICE 03 – ROTEIRO DE ENTREVISTA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGED

LINHA EDUCAÇÃO E INCLUSÃO EM CONTEXTOS EDUCACIONAIS

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Dados identificadores e de formação:

Nome:

Formação acadêmica:

Pós-Graduação/ cursos de aperfeiçoamento:

Tempo como professor (a):

Tempo na Instituição/ no IFRN:

Outras considerações:

1) Fale um pouco da sua experiência docente e na instituição

2) O que você compreende sobre Inclusão?

Experiência com a educação inclusiva (onde; quando; qual deficiência ou NEE;)

3) Como você estabelece suas práticas escolares?

E na perspectiva inclusiva?

Como você vê o processo inclusivo em suas aulas?

E o aluno com deficiência?

4) Como se dá a participação dos alunos com surdez nas aulas?

5) Considerando o relato dos alunos surdos em relação a disciplina de Educação Física, qual a

sua observação?

Para você, o que o ponto de vista desses alunos demonstra?

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APENDICE 04 – TCLE PAIS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

(CONSELHO NACIONAL DA SAUDE, 2012 – CNS 466/12)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PAIS OU

RESPONSÁVEIS PELOS ALUNOS

Eu______________________________________________________________,

Portador do RG:____________________ Declaro que ser pai/mãe ou responsável pelo aluno

________________________________________________________, e autorizo sua

participação na pesquisa: “Corpos que falam: Os olhares dos docentes e dos alunos surdos

acerca da inclusão nas aulas de Educação Física do ensino médio do IFRN”, realizada no

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte - IFRN, no

campus Natal Central (CNAT), que tem como pesquisador responsável Marcilene França da

Silva Tabosa e orientadora a Profa. Dra. Maria Aparecida Dias.

É de meu conhecimento que esse estudo será desenvolvido em caráter de pesquisa

cientifica, objetivando analisar os olhares dos docentes e dos alunos com Surdez em relação a

inclusão na disciplina de Educação Física, pretende também contribuir para uma reflexão sobre

a importância da inclusão na disciplina de Educação Física.

Estou ciente de que será realizada uma entrevista semiestruturada com o aluno. A

entrevista semiestrutura irá durar aproximadamente uma hora e será utilizado a gravação de voz

ou filmagem das falas, caso permita, para respaldar os registros da pesquisa, que posteriormente

serão transcritos e apresentados a você, para aprovação. Este último, só será utilizado mediante

autorização do participante da pesquisa no termo de autorização para gravação de voz e de uso

de imagem.

Estou ciente que serão registradas imagens das práticas pedagógicas dos professores de

Educação Física, a fim de registrar as ações dos professores

(as)____________________________________________________________.

Todavia, os alunos aparecerão nessas imagens, porém como não são o foco da pesquisa,

e conforme prega o artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente10, suas identidades e

imagens serão mantidas em sigilo de forma a preservá-los. Ou seja, nas imagens fotográficas,

10 Art.17 – O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a

preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

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a projeção das imagens dos alunos serão desfocadas para impossibilitar que os mesmos sejam

identificados.

Li e entendi as informações precedentes, sendo que fui informado (a) que quaisquer

dúvidas que venham a ocorrer, serão prontamente esclarecidas pela direção, professor (a) de

Educação Física, ou ainda, pela pesquisadora responsável, e em caso de possíveis denúncias de

descumprimento desse termo, poderei recorrer ao Comitê de Ética em Pesquisa CEP/HUOL,

localizado na Av. Nilo Peçanha, 620, no Espaço João Machado, Bairro Petrópolis, Natal/RN,

pelo telefone 3342-5003.

Informações da escola:

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte |

Natal - Central

Avenida Senador Salgado Filho, 1559, Tirol. Natal - RN I

CEP 59015-000 E-mail: [email protected]

Telefone: 84 - 4005 9843 / 9842/ 9841 / 9844

Informações da Pesquisadora:

Marcilene França da Silva Tabosa

Rua, Paraú, 48, Nova Parnamirim, Parnamirim/RN

CEP: 59152-360, Telefone: (84) 99126-7880

E-mail: [email protected]

Natal, ____de _________de __________.

______________________________________

Assinatura do pai/mãe e/ou responsável

______________________________________

Assinatura do aluno

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo “Corpos que falam: Os olhares dos docentes

e dos alunos surdos acerca da inclusão nas aulas de Educação Física do ensino médio do

IFRN”, declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os procedimentos

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122

metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados ao participante desse

estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido estarei

infringindo as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal, _____de ________________ de 201__.

_____________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

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APENDICE 05 – TALE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

(CONSELHO NACIONAL DA SAUDE, 2012 – CNS 466/12)

TERMO DE ASSENTIMENTO PARA CRIANÇA E ADOLESCENTE - TALE

(MAIORES DE 6 ANOS E MENORES DE 18 ANOS)

Você está sendo convidado para participar da pesquisa “Corpos que falam: Os olhares

dos docentes e dos alunos surdos acerca da inclusão nas aulas de educação física do ensino

médio do IFRN”. que tem como pesquisador responsável Marcilene França da Silva Tabosa e

orientadora a Profa. Dra. Maria Aparecida Dias. Seus pais permitiram que você participe.

E pesquisa pretende analisar os olhares dos docentes e dos alunos com Surdez em

relação a inclusão na disciplina de Educação Física, pretende também contribuir para uma

reflexão sobre a importância da inclusão na disciplina de Educação Física.

As crianças que irão participar desta pesquisa têm de 14 a 18 anos de idade.

A pesquisa será feita no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio

Grande do Norte - IFRN, no campus Natal Central (CNAT). Caso você decida participar, será

realizada uma entrevista semiestrutura com você, no intuito de conhecer como vem sendo

desenvolvida a ação docente diante das práticas pedagógicas acessíveis para os alunos com

Surdez.

A entrevista semiestrutura irá durar aproximadamente uma hora e será utilizado a

gravação de voz ou filmagem das falas, caso permita, para respaldar os registros da pesquisa,

que posteriormente serão transcritos e apresentados a você, para aprovação. Este último, só será

utilizado mediante autorização do participante da pesquisa no termo de autorização para

gravação de voz e de uso de imagem. Você não terá nenhum custo financeiro, nem receberá

qualquer dinheiro por isso, mas é possível ocorrer, toda a pesquisa envolvendo seres humanos

envolve risco, porém, a previsão de riscos é mínima. Caso você desista de responder as

perguntas, ou também, não se sentir confortável para respondê-las por não compreensão da

questão, por desconforto, ou pela não familiarização com a temática abordada. Caso ocorram

estas situações, a pesquisadora poderá auxiliar você, reformulando a pergunta para que ocorra

uma melhor compreensão ou para dirimir o desconforto. Se o participante se negar a responder

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124

qualquer questão serão respeitadas a sua decisão. Com isso, você poderá ler antecipadamente o

roteiro da entrevista, estando livre para tirar qualquer dúvida. Lembramos, ainda, que a

pesquisadora atuará na mediação desta entrevista semiestruturada, podendo auxiliá-la no

esclarecimento das perguntas.

Em caso de algum problema que você possa ter relacionado com a pesquisa, você terá

a assistência gratuita que será prestada pelo Departamento de Assistência à Saúde da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por se tratar de docentes desta

instituição e competentes para tal função.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas entrando em contato

com a responsável pela pesquisa: Marcilene França da Silva Tabosa pelo telefone (84) 99126-

7880 ou e-mail: [email protected]

A sua participação é voluntária portanto, tem o direito de se recusar a participar ou retirar

seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você. Os dados

que você nos irá fornecer serão confidencias e serão divulgados apenas em Congressos ou

Publicações Científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe identificar. Os

resultados deste projeto estarão à sua disposição quando finalizado, na biblioteca da UFRN.

Esses dados serão guardados pela pesquisadora responsável por essa pesquisa em local

seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo

pesquisador e reembolsado para você. Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente

desta pesquisa, você será indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética

em Pesquisa CEP/HUOL, localizado na Av. Nilo Peçanha, 620, no Espaço João Machado,

Bairro Petrópolis, Natal/RN, pelo telefone 3342-5003.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o

pesquisador responsável Marcilene França da Silva Tabosa.

______________________________________________________________________

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CONSENTIMENTO PÓS INFORMADO

Eu ________________________________ aceito participar da pesquisa “Corpos que falam:

Os olhares dos docentes e dos alunos surdos acerca da inclusão nas aulas de educação física

do ensino médio do IFRN”. Entendi as coisas ruins e as coisas boas que podem acontecer.

Entendi que posso dizer “sim” e participar, mas que, a qualquer momento, posso dizer “não” e

desistir e que ninguém vai ficar furioso. Os pesquisadores tiraram minhas dúvidas e

conversaram com os meus responsáveis.

Recebi uma cópia deste termo de assentimento e li e concordo em participar da pesquisa.

Natal/RN, ____de _________de __________.

______________________________________

Assinatura do menor

______________________________________

Assinatura do(a) pesquisador(a)

Contatos do Comitê de Ética em Pesquisa do HUOL: Endereço: Av. Nilo Peçanha,620, 1º Andar do Prédio Administrativo -

Espaço João Machado, Petrópolis, Natal/RN - Telefone (84) 3342-5003 - E-mail: [email protected]

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126

APENDICE 06 – TERMO DE IMAGEM

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGENS (FOTOS E VÍDEOS)

(CONSELHO NACIONAL DA SAUDE, 2012 – CNS 466/12)

Eu,............................................................................................................... AUTORIZO

o(a) Marcilene França da Silva Tabosa, coordenador(a) da pesquisa intitulada “Corpos que

falam: Os olhares dos docentes e dos alunos surdos acerca da inclusão nas aulas de educação

física do ensino médio do IFRN”, a fixar, armazenar e exibir a minha imagem por meio de foto

e vídeo, com o fim específico de inseri-la nas informações que serão geradas na pesquisa, aqui

citada, e em outras publicações dela decorrentes, quais sejam: revistas científicas, congressos e

jornais.

A presente autorização abrange, exclusivamente, o uso de minha imagem para os fins

aqui estabelecidos e deverá sempre preservar o meu anonimato. Qualquer outra forma de

utilização e/ou reprodução deverá ser por mim autorizada.

O pesquisador responsável Marcilene França da Silva Tabosa, assegurou-me que os

dados serão armazenados em meio de foto sob sua responsabilidade, por 5 anos, e após esse

período, serão destruídas.

Assegurou-me, também, que serei livre para interromper minha participação na pesquisa

a qualquer momento e/ou solicitar a posse de minhas imagens.

Natal , ............ de .......................................... de ......................

____________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

_____________________________________________________

Assinatura e carimbo do pesquisador responsável

ESTE DOCUMENTO DEVERÁ SER ELABORADO EM DUAS VIAS; UMA FICARÁ COM O PARTICIPANTE E OUTRA COM

O PESQUISADOR RESPONSÁVEL.

Contatos do Comitê de Ética em Pesquisa do HUOL: Endereço: Av. Nilo Peçanha,620, 1º Andar do Prédio Administrativo - Espaço João

Machado, Petrópolis, Natal/RN - Telefone (84) 3342-5003 - E-mail: [email protected]

Impressão datiloscópica do

participante

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APENDICE 07 – CARTA DE ANUÊNCIA

CARTA DE ANUÊNCIA

Por ter sido informado verbalmente e por escrito sobre os objetivos e metodologias da pesquisa

intitulada “Corpos que falam: Os olhares dos docentes e dos alunos surdos acerca da inclusão

nas aulas de educação física do ensino médio do IFRN”, da pesquisadora responsável

Marcilene França da Silva Tabosa, e orientadora Profª. Drª. Maria Aparecida Dias. Concordo

em autorizar a realização das etapas de levantamento e coleta de dados nesta instituição que

represento.

Esta autorização está condicionada à aprovação prévia da pesquisa acima citada por um

Comitê de Ética em Pesquisa e ao cumprimento das determinações éticas propostas na

Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde – CNS. Ressaltamos que os dados coletados

deverão ser mantidos em absoluto sigilo por tratar-se de pesquisa envolvendo seres humanos,

os dados será usado somente para a realização do estudo.

O descumprimento desses condicionamentos assegura-me o direito de retirar minha

anuência a qualquer momento da pesquisa.

Natal, ___ de ________________ de 201__.

___________________________________

Diretor (a)

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128

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

(CONSELHO NACIONAL DA SAUDE, 2012 – CNS 466/12)

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa: “Corpos que falam: Os olhares dos

docentes e dos alunos surdos acerca da inclusão nas aulas de educação física do ensino médio

do IFRN”, que tem como pesquisador responsável Marcilene França da Silva Tabosa e

orientadora a Profa. Dra. Maria Aparecida Dias.

A pesquisa pretende analisar os olhares dos docentes e dos alunos com Surdez em

relação a inclusão na disciplina de Educação Física, pretende também contribuir para uma

reflexão sobre a importância da inclusão na disciplina de Educação Física.

Caso você decida participar, será realizada uma entrevista semiestrutura com você, no

intuito de conhecer como vem sendo desenvolvida sua ação docente diante das práticas

pedagógicas acessíveis para seus alunos com Surdez.

A entrevista semiestrutura irá durar aproximadamente uma hora e será utilizado o curso

de gravação de voz, caso permita, para respaldar os registros da pesquisa, que posteriormente

serão transcritos e apresentados a você, para aprovação. Este último, só será utilizado mediante

autorização do participante da pesquisa no termo de autorização para gravação de voz. Você

não terá nenhum custo financeiro, nem receberá qualquer dinheiro por isso.

Toda a pesquisa envolvendo seres humanos envolve risco, porém, a previsão de riscos

é mínima. Caso você desista de responder as perguntas, ou também, não se sentir confortável

para respondê-las por não compreensão da questão, por desconforto, ou pela não familiarização

com a temática abordada. Caso ocorram estas situações, a pesquisadora poderá auxiliar você,

reformulando a pergunta para que ocorra uma melhor compreensão ou para dirimir o

desconforto. Se o participante se negar a responder qualquer questão serão respeitadas a sua

decisão. Com isso, você poderá ler antecipadamente o roteiro da entrevista, estando livre para

tirar qualquer dúvida. Lembramos, ainda, que a pesquisadora atuará na mediação desta

entrevista semiestruturada, podendo auxiliá-la no esclarecimento das perguntas.

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129

Em caso de algum problema que você possa ter relacionado com a pesquisa, você terá

a assistência gratuita que será prestada pelo Departamento de Assistência à Saúde da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), por se tratar de docentes desta

instituição e competentes para tal função.

Durante todo o período da pesquisa você poderá tirar suas dúvidas entrando em contato

com a responsável pela pesquisa: Marcilene França da Silva Tabosa pelo telefone (84) 99126-

7880 ou e-mail: [email protected]

A sua participação é voluntária portanto, tem o direito de se recusar a participar ou retirar

seu consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem nenhum prejuízo para você.

Os dados que você nos irá fornecer serão confidenciais e serão divulgados apenas em

Congressos ou Publicações Científicas, não havendo divulgação de nenhum dado que possa lhe

identificar. Os resultados deste projeto estarão à sua disposição quando finalizado, na biblioteca

da UFRN.

Esses dados serão guardados pela pesquisadora responsável por essa pesquisa em local

seguro e por um período de 5 anos.

Se você tiver algum gasto pela sua participação nessa pesquisa, ele será assumido pelo

pesquisador e reembolsado para você. Se você sofrer algum dano comprovadamente decorrente

desta pesquisa, você será indenizado.

Qualquer dúvida sobre a ética dessa pesquisa você deverá ligar para o Comitê de Ética

em Pesquisa CEP/HUOL, localizado na Av. Nilo Peçanha, 620, no Espaço João Machado,

Bairro Petrópolis, Natal/RN, pelo telefone 3342-5003.

Este documento foi impresso em duas vias. Uma ficará com você e a outra com o

pesquisador responsável Marcilene França da Silva Tabosa.

Consentimento Livre e Esclarecido

Após ter sido esclarecido sobre os objetivos, importância e o modo como os dados serão

coletados nessa pesquisa, além de conhecer os riscos, desconfortos e benefícios que ela trará

para mim e ter ficado ciente de todos os meus direitos, concordo em participar da pesquisa

“Corpos que falam: Os olhares dos docentes e dos alunos surdos acerca da inclusão nas aulas

de educação física do ensino médio do IFRN”, e autorizo a divulgação das informações por

mim fornecidas em congressos e/ou publicações científicas desde que nenhum dado possa me

identificar.

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130

Natal, ______de __________________ de 201__.

________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa

Declaração do pesquisador responsável

Como pesquisador responsável pelo estudo “Corpos que falam: Os olhares dos docentes

e dos alunos surdos acerca da inclusão nas aulas de educação física do ensino médio do IFRN”,

declaro que assumo a inteira responsabilidade de cumprir fielmente os procedimentos

metodologicamente e direitos que foram esclarecidos e assegurados ao participante desse

estudo, assim como manter sigilo e confidencialidade sobre a identidade do mesmo.

Declaro ainda estar ciente que na inobservância do compromisso ora assumido

infringirei as normas e diretrizes propostas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de

Saúde – CNS, que regulamenta as pesquisas envolvendo o ser humano.

Natal, _____de ________________ de 201__.

_____________________________________

Assinatura do pesquisador responsável

Contatos do Comitê de Ética em Pesquisa do HUOL: Endereço: Av. Nilo Peçanha,620, 1º Andar do Prédio Administrativo -

Espaço João Machado, Petrópolis, Natal/RN - Telefone (84) 3342-5003 - E-mail: [email protected]