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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO C CO ON NF FI I G GU UR RA AN ND DO O A A C CI I D DA AD DE E C CO ON NT TE EM MP PO OR RÂ ÂN NE EA A E EM M N NA AT TA AL L: : O Os s p pr r o oc ce es ss so os s e es sp pa ac ci i a ai i s s e em m P Po on nt t a a N Ne eg gr r a a Eleika Rochelle de Carvalho Bezerra Fechine Natal/RN Setembro/2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

CCOONNFFIIGGUURRAANNDDOO AA CCIIDDAADDEE CCOONNTTEEMMPPOORRÂÂNNEEAA EEMM NNAATTAALL::

OOss pprroocceessssooss eessppaacciiaaiiss eemm PPoonnttaa NNeeggrraa

Eleika Rochelle de Carvalho Bezerra Fechine

Natal/RN Setembro/2009

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ELEIKA ROCHELLE DE CARVALHO BEZERRA FECHINE

CCOONNFFIIGGUURRAANNDDOO AA CCIIDDAADDEE CCOONNTTEEMMPPOORRÂÂNNEEAA EEMM NNAATTAALL::

OOss pprroocceessssooss eessppaacciiaaiiss eemm PPoonnttaa NNeeggrraa Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação – UFRN, para fins de obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ Professor Dr. Márcio Moraes Valença - UFRN

(Orientador)

____________________________________________ Professora Drª. Françoise Dominique Valéry - UFRN

____________________________________________

Professor Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - UFRN

____________________________________________ Professora Drª Regina Dulce Barbosa Lins - UFAL

Natal/RN

Setembro/2009

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AGRADECIMENTOS Ao Dr. Márcio Moraes Valença, pela liberdade que me proporcionou para

adentrar na interdisciplinaridade, sob a visão generosa e abrangente do

professor orientador, de quem recebi as chaves que me abriram as portas da

economia, das ciências sociais e da geografia, conhecimentos imprescindíveis

à compreensão do todo complexo que é a cátedra urbanismo. A sua

inteligência foi um leitmotiv para o meu desenvolvimento intelectual.

Aos membros do Núcleo de Pesquisa sobre a Habitação e o Espaço

Construído, especificamente, Thereza, Gilene, Felipe, Vaneska, Ana Cândida,

Águeda, Ivana e Camila.

A todos aqueles professores e colegas que conheci durante minha

caminhada de descobrimento científico pelo enriquecimento intelectual que

cada um deles me proporcionou. Meu agradecimento especial à professora

Dra. Maria do Livramento Clementino, pela generosidade acadêmica e pelo

constante sorriso no rosto.

Aos professores do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e

Urbanismo.

A professora Sylvia Abbott, pela excelente revisão de linguagem.

A Walkiria, pelo carinho e pela notável competência profissional com que

me ajudou, em momentos de grande dor pessoal, e ainda me ajuda na

contínua descoberta do meu eu.

A minha família, por acreditar em mim.

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A Glauber Fechine, pelo amor e respeito, pela paciência, pelo estímulo,

pelas discussões sobre os caminhos do meu trabalho e por me prover de foco!

Ele me inspira a querer ser sempre melhor.

E, por fim, agradeço a Stefano Aragona, um irmão adotado por mim, por

fazer-me olhar para o mundo, ver além da inteligibilidade.

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Verdade

A porta da verdade estava aberta,

mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade voltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso

onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela.

E carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Drummond

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RESUMO

A presente dissertação trata da configuração do espaço contemporâneo em Natal e os processos espaciais de Ponta Negra. O bairro de Ponta Negra sofreu, com a emergência do turismo, mudanças espaciais e sociais a partir da década de 1990, em particular considerando a intensificação de investimentos imobiliários a partir do marco temporal de 2000, devido ao início do funcionamento do novo terminal de passageiros do aeroporto Augusto Severo. Ponta Negra configura-se então como maior ponto de recepção, de lazer e alocação de investimentos públicos de Natal. Assim, produzem modificações no bairro, novos agentes da produção do espaço. O presente estudo tem por objeto os novos processos espaciais no bairro de Ponta Negra. Aqui, analisar-se a configuração resultante dos novos investimentos imobiliários, públicos e privados, realizados no bairro nos últimos anos, identificando a existência de áreas que, embora homogêneas, são diferenciadas entre si. Três grandes discussões teóricas – Produção do Espaço Capitalista, Desenvolvimento Urbano Contemporâneo e Dinâmica Espacial – dão suporte ao trabalho, além da pesquisa documental e de campo (levantamento de uso e ocupação do solo e levantamento fotográfico), transportada para mapas temáticos interpretativos e tabelas. Concluímos a pesquisa, com a análise detalhada dos processos espaciais do bairro de Ponta Negra sob a influência de processos globais contemporâneos.

Palavras-chave: Desenvolvimento Urbano, configuração urbana, processos espaciais, Natal, Ponta Negra.

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ABSTRACT

This dissertation is about the spatial configuration in Natal and processes in the Ponta Negra neighborhood today. Ponta Negra has undergone a number of critical social and spatial changes due to tourism development after the 1990s. It is of special interest to consider the intensification of real estate investment after 2000, when the new airport terminal, located in the neighboring municipality of Parnamirim, was in use. Ponta Negra is the place where most tourists go to, so attracting considerable public investments. New agents of transformation have produced change in the neighborhood as well. The present study aims at analysing the spatial processes in this part of the city. Here, the spatial configuration that resulted from extended real estate investments, both public and private, in recent years, is analysed in detail. The study identifies the multually differentiated, however internally homogenous areas. The concepts of production of space, contemporanean urban development and spatial dynamics are discussed. The research is based on document analysis and field work. Results were plotted to maps and tables. A detailed analysis of the spatial processes in the Ponta Negra neighborhood is undertaken as a conclusion, considering the contemporanean global scenario.

Keywords: Urban Development, urban configuration, spatial processes, Natal, Ponta Negra.

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LLIISSTTAA DDEE SSIIGGLLAASS

ECOCIL Empresa de Construção Civil Ltda

PRODETUR

SEMURB

Programa de Desenvolvimento do Turismo do Nordeste

Secretaria Municipal de Urbanismo

S.O.A.I

ZPA

Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária

Zona de Proteção Ambiental

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LLIISSTTAA DDEE FFOOTTOOGGRRAAFFIIAASS

FOTOGRAFIA 01 Vila de Ponta Negra

FOTOGRAFIA 02 Pousada e residência empobrecida

FOTOGRAFIA 03 Impacto visual das novas construções

FOTOGRAFIA 04 Apartamentos voltados exclusivamente para público europeu

FOTOGRAFIA 05 Vilas na vila de Ponta Negra

FOTOGRAFIA 06 Vilas na vila de Ponta Negra

FOTOGRAFIA 07 Vilas na vila de Ponta Negra

FOTOGRAFIA 08 Vista aérea da vila

FOTOGRAFIA 09 Igrejas (dentro da vila de Ponta Negra)

FOTOGRAFIA 10 Igrejas (dentro da vila de Ponta Negra)

FOTOGRAFIA 11 Conjunto Ponta Negra no começo da década de 1980

FOTOGRAFIA 12 Exemplo de residência reformada, com tipologia edilícia

dispare da construção original

FOTOGRAFIA 13 Exemplo de processo de coesão na Avenida limítrofe entre

os bairros de Ponta Negra e Capim Macio

FOTOGRAFIA 14 Exemplo de processo de sucessão no Conjunto Ponta Negra

FOTOGRAFIA 15 Exemplo de coesão das bordas do Conjunto Ponta Negra

FOTOGRAFIA 16 Exemplo de coesão comercial

FOTOGRAFIA 17 Exemplo de coesão comercial perto da feira de artesanato

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FOTOGRAFIA 18 Exemplo de rua (Rua Barra de Grossos) com processo

espacial de estabilidade

FOTOGRAFIA 19 Exemplo de pequeno comércio da Rua Praia de Búzios

FOTOGRAFIA 20 Exemplo de “restaurante de bairro” na Rua Praia de Búzios

FOTOGRAFIA 21 Exemplo de estabilidade espacial quanto ao uso e de

conservação da tipologia edilícia de quando em sua origem.

Na Rua Barra de Cunhaú.

FOTOGRAFIA 22 Exemplo de conservação da tipologia edilícia de quando em

sua origem.

FOTOGRAFIA 23 Feira de artesanato de Ponta Negra

FOTOGRAFIA 24 Condomínio Sports Park

FOTOGRAFIA 25 Estádio do ABC

FOTOGRAFIA 26 Corais de Ponta Negra

FOTOGRAFIA 27 Pool de condomínios: da esquerda para direita, Estrela do

Atlântico, dois condomínios da construtora Delphi, Studio

Praia e Varandas de Ponta Negra, Sports Park e um flat.

Processo espacial de Segregação

FOTOGRAFIA 28 Condomínio da construtora Delphi e logo a frente, o processo

de enobrecimento da área, valorizando o imóvel

FOTOGRAFIA 29 Condomínio Horizontal. Rua limítrofe do bairro

FOTOGRAFIA 30 Exemplo de enobrecimento do entorno. Rua Dr. Múcio Vilar

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Ribeiro Dantas. Entrada do Condomínio Horizontal

FOTOGRAFIA 31 Verticalidade e evidência quanto a escala dispare em relação

ao entorno

FOTOGRAFIA 32 Vista da Vila de Ponta Negra. Skyline do “Paredão”

FOTOGRAFIA 33 A verticalidade, a coesão e a segregação

FOTOGRAFIA 34 A verticalidade, a coesão e a segregação

FOTOGRAFIA 35 Esgoto em frente ao Beach Resort/ Beach Resort

FOTOGRAFIA 36 Esgoto em frente ao Beach Resort/ Beach Resort

FOTOGRAFIA 37 Orla 1. Morro do Careca

FOTOGRAFIA 38 Processo espacial de degradação

FOTOGRAFIA 39 Coesão e Enobrecimento espacial (atmosfera) e restaurante

Camarões

FOTOGRAFIA 40 Coesão e Enobrecimento espacial (atmosfera) e restaurante

Camarões

FOTOGRAFIA 41 Residências de alto padrão. Exemplos de tipologias edilícias

FOTOGRAFIA 42 Residências de alto padrão. Exemplos de tipologias edilícias

FOTOGRAFIA 43 Hotéis da Orla 2

FOTOGRAFIA 44 Hotéis da Orla 2

FOTOGRAFIA 45 Área non aedificandi

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FOTOGRAFIA 46 Vista aérea do Conjunto Alagamar

FOTOGRAFIA 47 Praça do Conjunto Alagamar – Gentrificação

FOTOGRAFIA 48 Apartamentos no Conjunto Alagamar

FOTOGRAFIA 49 Apartamentos no Conjunto Alagamar

FOTOGRAFIA 50 Ruas largas/Torres gêmeas

FOTOGRAFIA 51 Ruas largas/Torres gêmeas

FOTOGRAFIA 52 Coesão – Comércio voltado para o entretenimento

FOTOGRAFIA 53 Coesão – Comércio voltado para o entretenimento

FOTOGRAFIA 54 Coesão – Comércio voltado para o entretenimento

FOTOGRAFIA 55 Coesão – Comércio voltado para o entretenimento

FOTOGRAFIA 56 Exemplo de gentrificação na área de Alagamar

FOTOGRAFIA 57 Vistas de Alagamar com suas ladeiras

FOTOGRAFIA 58 Vistas de Alagamar com suas ladeiras

IIMMAAGGEENNSS

IMAGEM 01 Bairro de Ponta Negra

IMAGEM 02 Área da Pesquisa

IMAGEM 03 Roteiro Fotográfico da vila de Ponta Negra

IMAGEM 04 Roteiro Fotográfico do conjunto Ponta Negra

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IMAGEM 05 Roteiro Fotográfico do alto de Ponta Negra

IMAGEM 06 Roteiro Fotográfico do Paredão

IMAGEM 07 Roteiro Fotográfico da Orla 1

IMAGEM 08 Roteiro Fotográfico da Orla 2

IMAGEM 09 Roteiro Fotográfico do conjunto Alagamar

IMAGEM 10 Roteiro Fotográfico de Alagamar

MMAAPPAASS

MAPA 01 A cidade de Natal e localização do bairro de Ponta Negra

MAPA 02 Mapa temático da legislação vigente no período de 2000 à

2007 da área da pesquisa

MAPA 03 Mapa de uso e ocupação do solo da área da pesquisa em

Ponta Negra

MAPA 04 Áreas dinâmicas do mercado imobiliário.

MAPA 05 Processos espaciais na vila de Ponta Negra

MAPA 06 Processos espaciais do conjunto Ponta Negra

MAPA 07 Dinâmica imobiliária do conjunto Ponta Negra

MAPA 08 Processos espaciais do alto de Ponta Negra

MAPA 09 Processos espaciais da Orla 1

MAPA 10 Processos espaciais da Orla 2

MAPA 11 Processos espaciais do Paredão

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MAPA 12 Processos espaciais do conjunto Alagamar

MAPA 13 Processos espaciais de Alagamar

MAPA 14 Processos espaciais do bairro de Ponta Negra

QQUUAADDRROOSS

QUADRO 01 Evolução histórica de Ponta Negra

QUADRO 02

Esquema-pensamento dos processos (supostos) de

urbanização do bairro de Ponta Negra no momento

contemporâneo

LLIISSTTAA DDEE TTAABBEELLAASS

TABELA 01

TABELA 02

TABELA 03

TABELA 04

TABELA 05

TABELA 06

TABELA 07

TABELA 08

TABELA 09

Situação imobiliária da Vila de Ponta Negra

Situação imobiliária do Conjunto Ponta Negra

Situação imobiliária do Alto de Ponta Negra

Situação imobiliária do Paredão de Ponta Negra

Situação imobiliária da Orla 1

Situação imobiliária da Orla 2

Situação imobiliária do Conjunto Alagamar

Situação imobiliária Alagamar

Situação imobiliária do Bairro de Ponta Negra

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................... 16 2. PRODUÇÃO DO ESPAÇO CAPITALISTA E O DESENVOLVIMENTO URBANO CONTEMPORÂNEO ............................................................... 23 2.1 A produção do espaço capitalista ..................................................... 23 2.2 Renda da terra ................................................................................... 30 2.3 Agentes produtores do espaço .......................................................... 37 2.4 O desenvolvimento urbano contemporâneo ...................................... 45 3. A DINÂMICA E OS PROCESSOS ESPACIAIS .................................... 51 3.1 Teoria dos circuitos do capital de Harvey .......................................... 51 3.2 Processos espaciais .......................................................................... 62 3.3 Caracterização da área e a metodologia da pesquisa ...................... 76 4. OS PROCESSOS ESPACIAIS E A DINÂMICA IMOBILIÁRIA EM PONTA NEGRA ...................................................................................... 89 4.1 Caracterização dos processos espaciais e da dinâmica imobiliária em Ponta Negra ....................................................................................... 90 4.2 A Vila de Ponta Negra ....................................................................... 92 4.3 O Conjunto Ponta Negra ..................................................................... 103 4.4 O Alto de Ponta Negra ....................................................................... 119 4.5 O “Paredão” - A área verticalizada da avenida Engenheiro Roberto Freire ........................................................................................................ 130 4.6 A Orla 1 ............................................................................................... 139 4.7 A Orla 2 ................................................................................................ 146 4.8 O Conjunto Alagamar ........................................................................ 154 4.9 A área de Alagamar ........................................................................... 161 4.10 Análise geral das tabelas .................................................................. 168 4.11 Sobre a legislação urbanística .......................................................... 170 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 175 REFERÊNCIAS ....................................................................................... 180

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1 INTRODUÇÃO

A atividade imobiliária é hoje um dos símbolos da economia

globalizada. No recorte temporal dos anos 1980/1990 e no começo do novo

século, houve uma intensificação dessa atividade no Nordeste brasileiro. Muito

dessa intensificação surge a partir da implementação de políticas de

desenvolvimento voltadas para o turismo, o que fortaleceu a economia das

cidades litorâneas nordestinas.

A partir de meados dos anos 1990, o evidente desenvolvimento

do turismo transformou Ponta Negra, um dos bairros de Natal, RN, em

mercadoria nobre ─ no início da década, os empreendimentos ali implantados

eram para fins de serviços e comércio. Com a intensificação da atividade

turística, no novo século, surgiu uma nova modalidade, o turismo residencial ou

turismo de segunda residência. Em conseqüência disso, observaram-se

modificações socioespaciais do lugar e o surgimento de novos agentes

produtores do espaço e de novos processos espaciais.

O bairro de Ponta Negra tem-se configurado, cada vez mais,

embora com diferentes intensidades, como um ponto de recepção, de lazer e

de alocação de investimentos públicos, como no caso específico do

PRODETUR/NE e de investimentos imobiliários. Os investimentos localizam-se

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basicamente no fortalecimento do setor de serviços, no mercado imobiliário e,

consequentemente, na construção civil.

“Vender a cidade” tornou-se uma das principais funções

econômicas do governo local e em um dos principais campos de negociação

público-privada, mediante a oferta de infraestrutura viária (acessibilidade para

chegar até os pontos turísticos), de serviços turísticos (centros de convenções,

hotéis, restaurantes, equipamentos de lazer) e de serviços turísticos de

negócios1, muitos deles voltados para o setor imobiliário. Nesse caso

específico, o produto dos negócios é o espaço, o lugar, a paisagem de sol e

mar.

Identificado o espaço como o produto a ser vendido, é

imprescindível recorrer-se ao movimento city marketing para explicar como se

dá a transformação do espaço propício ao turismo por intermédio da venda do

imaginário paraíso natural com toda a infraestrutura informacional à disposição

do indivíduo contemporâneo. Esse novo processo é resultante da necessidade

de o governo local encontrar uma alternativa econômica por meio do

investimento privado face à crise do setor público advinda da globalização da

economia. A percepção de que o turismo seria a “tábua de salvação” para

1 De acordo com Andrade (1997, p.73-74 apud ANSARAH, 1999, p. ), constitui “o conjunto de atividades de viagem, de hospedagem, de alimentação e de lazer praticado por quem viaja a negócios referentes aos diversos setores da atividade comercial ou industrial ou para conhecer mercados, estabelecer contatos, firmar convênios, treinar novas tecnologias, vender ou comprar bens ou serviços” grifo nosso.

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muitas cidades tem levado administrações municipais a adotarem estratégias

competitivas para atrair empresas, turistas e investidores, na inserção dos

fluxos econômicos globais.

O processo de turistificação do bairro de Ponta Negra permite

apontar a emergência de alguns fenômenos, como novos processos sociais e

espaciais; novos equipamentos, como pousadas, hotéis, resorts, condomínios

fechados, flats, segundas residências, entre outros; e nova dinâmica de

emprego e renda nessas localidades.

No movimento city marketing, o turismo de negócios e o turismo

de eventos são elementos adicionais dessa “receita de bolo” junto com a

criação da “cidade espetáculo”, muito característica do urbanismo pós-

moderno. Segundo Sánchez (1999), o city marketing constitui-se na orientação

da política urbana à criação ou ao atendimento das necessidades do

consumidor, seja este empresário, turista ou o próprio cidadão.

No caso da cidade de Natal, esse movimento de vender a cidade

tornou-se uma das principais funções econômicas do governo local e em um

dos principais campos de negociação público-privada, mediante a oferta de

infraestrutura viária (acessibilidade para chegar até os pontos turísticos), de

serviços turísticos e de serviços turísticos/imobiliários (turismo de negócios). No

caso específico do turismo imobiliário, o produto dos negócios é o espaço, o

lugar, a paisagem, a idéia do paraíso: “o turismo é a única prática social que

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consome elementarmente o espaço” (CRUZ, 2003). Assim, a atividade do

turismo entra como “pano de fundo” para compreendermos as lógicas

estruturantes do espaço urbano em estudo.

A atividade do turismo é considerada, por muitos autores

contemporâneos de variadas áreas, como uma das principais formas de

domínio capitalista por parte dos países ricos em países e regiões de periferia

do capitalismo. Embutidas nesse processo estão as articulações de poder dos

grandes grupos econômicos e seus interesses, uma vez que as modificações

realizadas nas cidades visam concretizar os interesses de grupos ligados ao

turismo. Neste momento em que as cidades, com o objetivo de desenvolver

sua economia, caem na armadilha do turismo como solução, surgem, então, os

processos historicamente conhecidos de apropriação espacial movidos por

outra dinâmica, de relações ligadas ao setor imobiliário e ao turismo. Supõe-se

que esse novo processo se dê em consequência da imbricação do turismo de

negócios mais negócios imobiliários, processo chamado empiricamente de

turismo imobiliário2 (FERREIRA, 2008).

2 O chamado turismo imobiliário é aqui tomado como uma nova forma que o mercado imobiliário encontra para reestruturar-se, sem depender, diretamente, do financiamento público e sem depender das especificidades da economia local, isto é, da renda local. Essa modalidade de produção imobiliária está relacionada com a segmentação de espaços (em práticas sociais de lazer, ócio, descanso, alimentação etc.) e a possibilidade de novos capitais, advindos de investidores externos, sejam estes grupos ou indivíduos.

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Para Cruz (2000), a urbanização turística diz respeito ao processo

de reestruturação do espaço urbano ou de produção de novas áreas urbanas

decorrentes da refuncionalização turística e da turistificação do lugar, o

equivalente à urbanização para o turismo. A urbanização turística é voltada

para a qualificação do lugar mediante as correções em sua infraestrutura para

a implantação adequada dos “fixos” vinculados à atividade turística. Cruz

(CRUZ, 2000, p.12) explica a turistificação do lugar como a “criação de uma

infra-estrutura de suporte, indiretamente ligada ao turismo”.

Para Sánches (1991, p. 127 ),

[...] o aumento da demanda por espaços de lazer e turísticos viabiliza investimentos por parte do setor imobiliário, que atua no sentido de requalificar o espaço e promover sua re-funcionalização, possibilitando a produção de unidades residenciais num espaço em processo de valorização, onde se destaca a produção de segundas residências.

Diante dessas observações, surgem algumas questões: Quais

são os processos espaciais em curso no bairro de Ponta Negra? Quais são as

características que diferenciam entre si as áreas estudadas em função de sua

dinâmica imobiliária, sua tipologia e uso do solo e seu número de pavimentos?

Em face dessas questões e da intensificação dos investimentos

imobiliários a partir do marco temporal de 2000, devido à implementação do

novo terminal de passageiros do Aeroporto Augusto Severo, apresentamos

duas hipóteses:

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1. os investimentos no setor imobiliário, com capital investidor estrangeiro

no bairro de Ponta Negra, têm características advindas dos processos

contemporâneos de desenvolvimento urbano influenciados pelo sistema

capitalista global;

2. os novos processos econômicos em curso em Ponta Negra, no período

estudado, contribuem para uma nova produção do espaço e uma

mudança dos processos espaciais internos na qual evidenciam-se novas

formas de segregação espacial.

O presente estudo tem por objeto a produção do espaço e os

novos processos espaciais no bairro de Ponta Negra. Desse modo, busca-se

compreender, considerando a intensificação de investimentos imobiliários, no

período de 2000 a 2008, os processos espaciais em curso no bairro de Ponta

Negra.

Vinculados a esse intento, encontra-se o objetivo específico do

estudo, que é analisar a espacialização desses investimentos no bairro em

função da dinâmica do mercado imobiliário a fim de identificar a existência de

áreas que, embora homogêneas, são diferenciadas entre si.

Diante da complexidade que envolve os estudos referentes ao

urbanismo, a composição deste estudo exigiu um diálogo com teóricos das

diversas áreas do conhecimento, buscando o entendimento dos processos de

produção do espaço, em face do desenvolvimento urbano contemporâneo,

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relacionado diretamente com os mecanismos do sistema capitalista e a

globalização. Como contribuição empírica, o trabalho contribui para o

aprofundamento do saber sobre as especificidades dos processos espaciais

advindos da atividade imobiliária desenvolvida no bairro de Ponta Negra.

O presente estudo está dividido em cinco partes. Na primeira,

apresentamos a introdução. Na segunda, explicitamos o corpo teórico

fomentador do entendimento sobre a complexidade do tema, caminho em que

percorremos os principais conceitos sobre o espaço e a sua produção e a

renda da terra e os agentes produtores do espaço capitalista, além de

iniciarmos uma discussão sobre o desenvolvimento urbano contemporâneo. Na

terceira, aproximamos a teoria da dinâmica espacial, considerando a teoria dos

circuitos do capital e os processos espaciais, além de descrevermos a

metodologia utilizada no estudo empírico. Na quarta parte, estabelecemos o

diálogo entre a superfície factual das realidades que observamos e as frentes

teóricas do estudo acerca dos processos espaciais de desenvolvimento

urbano, a partir da análise dos dados coletados durante as pesquisas de

campo no bairro de Ponta Negra. E, por fim, na quinta e última parte,

apresentamos as considerações finais, seguidas das referências.

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2 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO CAPITALISTA E O DESENVOLVIMENTO URBANO CONTEMPORÂNEO

2.1 A produção do espaço capitalista

Os caminhos teóricos deste trabalho principiam-se pela produção

do espaço capitalista, na intenção de compor uma abordagem apropriada para

o entendimento do tema. Os postulados de Henry Lefebvre (1974), em seu livro

La production de l´espace, servem de base teórica para a compreensão da

produção desse espaço. Devido à fluidez e à abertura de seu pensamento, não

temos a pretensão de proceder a reflexões conclusivas sobre sua obra.

Apropriamo-nos, portanto, de alguns fragmentos desta para construir o

referencial instrumental da pesquisa.

Em sua teoria do espaço, Lefebvre fundamenta uma economia do

espaço ou, como nos estudos mais recentes, economia urbana ou da

urbanização. Esta última, aprimorada com a análise urbana realizada pelos

chamados “neomarxistas” e baseada na produção do ambiente construído

comandada pela lógica da acumulação, foi realizada por autores como David

Harvey e Manuel Castells, cujas contribuições teóricas serão utilizadas no

decorrer deste trabalho. Com a mesma intenção, recorreremos aos trabalhos

de Luiz César de Queiroz Ribeiro e Roberto Lobato Corrêa, dentre outros.

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De acordo com Castells (1983, p. 192),

[...] não existe teoria específica do espaço, mas simplesmente desdobramento e especificação da teoria da estrutura social, para prestar conta das características de uma forma social particular, o espaço, e de sua articulação a outras formas e processos dados historicamente.

Congraçando com essa afirmação, procuramos seguir a linha

acadêmica do materialismo histórico começando com uma breve revisão de

seus conceitos fundamentais.

Para Castells (apud SOJA, 2006, p.953),

Espaço não é um “reflexo da sociedade", é a sociedade... Portanto, formas espaciais, ao menos no nosso planeta, serão produzidas, como todos os outros objetos o são, pela ação humana. Elas expressam e representam os interesses da classe dominante de acordo com o modo de produção e com um específico modo de desenvolvimento. Elas expressam e fomentam as relações do poder estatal historicamente definidas na sociedade. Ao mesmo tempo, formas espaciais são marcadas pela resistência das classes exploradas, oprimidas e

3 “Space is not a "reflection of society," it is society ... Therefore, spatial forms, at least on our planet, will be produced, as all other objects are, by human action. They will express and perform the interests of the dominant class according to a given mode of production and to a specific mode of development. They will express and implement the power relationships of the state in an historically defined society. At the same time, spatial forms will be earmarked by the resistance from exploited classes, from oppressed subjects, and from dominated women. And the work of such a contradictory historical process on the space will be accomplished on an already inherited spatial form, the product of former history and the support of new interests, projects, protests, and dreams. Finally, from time to time, social movements will arise to challenge the meaning of spatial structure and therefore attempt new functions and new forms”. (CASTELLS apud Soja, 2006, p. 95).

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pelas mulheres. E o trabalho como um processo histórico contraditório no espaço é consumado por uma forma espacial herdada,o produto do precedente histórico e o suporte para novos interesses, projetos, protestos e sonhos. Finalmente, de tempos em tempos, surgem movimentos sociais para desafiar o significado da estrutura espacial e portanto empreendem novas funções e novas formas.

Esse autor entende que toda sociedade ─ e, portanto, toda forma

social ─ pode ser compreendida por intermédio da articulação histórica de seus

modos de produção, “matriz particular de combinação entre as ’instâncias’

[sistemas de práticas] fundamentais da estrutura social: econômica, político-

institucional e ideológica, essencialmente” (CASTELLS, 1983, p. 193).

Portanto, analisar o espaço implica estudar seu processo formador,

considerando os elementos do sistema econômico, do sistema político e do

sistema ideológico. Esses três sistemas se imbricam para a realização dos

seus objetivos.

Assim, Castells (1983, p. 193) explica o sistema econômico:

[...] o sistema econômico organiza-se em torno das ligações entre a força de trabalho, os meios de produção e o não-trabalho, que se combinam segundo duas relações principais: a relação de propriedade [apropriação do produto] e a relação de apropriação real [processo técnico de trabalho]. A expressão espacial destes elementos pode ser encontrada através da dialética entre dois elementos principais: produção [expressão espacial dos meios de produção], consumo [expressão espacial das forças de trabalho], e um elemento derivado, a troca, que resulta da especialização das transferências entre a produção e o consumo, no interior da produção e no interior do consumo.

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Sobre o sistema político-institucional, Castells (1983, p.195)

acredita que esse sistema se organiza pela relação de dominação-regulação e

pela relação de integração-repressão, nas quais sua expressão espacial se

constitui ora como simples divisão do espaço, ora, mais complexamente, como

ação sobre a organização econômica do espaço.

Sobre o sistema ideológico, Castells, como Lefebvre, acredita em

uma rede de signos rebatidos em formas espaciais e de significados com

conteúdo ideológico.

Lefebvre (1974) considera o capitalismo como um processo,

assim como o espaço o seu produto, não separando as dimensões políticas e

econômicas. Conforme esse autor,

O espaço (social) assim como o tempo (social), não mais como fatos da natureza mais ou menos modificada, nem como simples fatos de cultura, mas como produtos. O que acarretava uma modificação no emprego e no sentido desse último termo. A produção do espaço (e do tempo) não os considerava como objetos e coisas insignificantes, saindo das mãos ou das máquinas, mas como os aspectos principais da segunda natureza, efeito da ação da sociedade sobre a primeira natureza 4.

Desse modo, Lefebvre cria e difunde o termo produção do

espaço, salientando que a “ciência do espaço” indagada

4 LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. Trad. Grupo “As (im)possibilidades do urbano na metrópole contemporânea”, do Núcleo de Geografia Urbana da UFMG (do original: La production de l’espace. 4e éd. Paris: Éditions Anthropos, 2000). Primeira versão: início - fev. 2006. No prelo.

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1. Representa o uso do saber político, do qual se sabe que ele se integra às forças produtivas de uma maneira cada vez mais “imediata”, e de maneira “mediata” às relações sociais de produção; 2. implica uma ideologia designada a mascarar esse uso [...] ideologia que não carrega seu nome e se confunde com o saber para os que aceitam essa prática; 3. contém, no melhor dos casos, uma utopia tecnológica, simulação ou programação do futuro, ou do possível, com a infra-estrutura do real, isto é, do modo de produção existente. O ponto de partida de um saber integrado/integrador no modo de produção. Essa utopia tecnológica, que povoa os romances de ficção científica, se reencontra em todos os projetos concernentes ao espaço: arquiteturais, urbanísticos ou planos sociais. (LEFEBVRE, 1992, p. 8-9, tradução nossa).

Noutro ponto importante de sua teoria, Lefebvre (1992) afirma

que o espaço social contém: 1. relações sociais de reprodução (relações

biofisiológicas) e 2. relações de produção (a divisão do trabalho e sua

organização). Concatenadas, produção e reprodução, onde assim como a

divisão do trabalho repercute na família e aí se apóia; inversamente, a

organização familiar interfere na divisão do trabalho. Lefebvre (2006) entende

que, “com o capitalismo, e, sobretudo com o neo-capitalismo [moderno], a

situação se complica. Três níveis se imbricam, o da reprodução biológica (a

família) – o da reprodução da força de trabalho (a classe operária como tal) – o

da reprodução das relações sociais de produção”, ou seja, a progressão das

relações constitutivas da sociedade capitalista.

Em suma, para esse autor, a produção do espaço capitalista

relaciona-se com a reprodução das relações sociais, atendendo à reprodução

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da família, à reprodução da força de trabalho e à reprodução dos bens de

produção, construindo um encadeamento presente em diferentes momentos da

reprodução social de produção. Lefebvre acredita que o espaço social contém

representações específicas dessa dupla ou tripla interação entre as relações

sociais de produção e reprodução: as práticas espaciais, as representações do

espaço e os espaços de representação.

As práticas espaciais abarcam a produção e a reprodução social

das relações de produção e as localizações específicas e conjuntos espaciais

específicos de cada formação social. As representações do espaço, por sua

vez, estão ligadas às relações de produção e à ordem que estas impõem a

serviço de uma estratégia hegemônica (elite) e, portanto, ao conhecimento, a

um sistema de signos e códigos. Já os espaços de representação, que

materializam complexos simbolismos ─ por vezes codificados, por vezes não ─,

ligados aos aspectos não hegemônicos ou clandestinos da vida social,

encontram-se no domínio do imaginário.

Em seu livro Condição pós-moderna, Harvey sintetiza a

complexidade do pensamento lefebvreano evidenciando a relação da tripla

dimensão: o vivido, o percebido e o imaginado.

1. As práticas espaciais materiais referem-se aos fluxos, transferências e interações físicos e materiais que ocorrem no e ao longo do espaço de maneira a garantir a produção e a reprodução social. 2. As representações do espaço compreendem todos os signos e significações códigos e conhecimentos que permitem falar sobre essas práticas materiais e compreendê-Ias, pouco importa se

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em termos do senso comum cotidiano ou do jargão por vezes impenetrável das disciplinas acadêmicas que tratam de práticas espaciais (a engenharia, a arquitetura, a geografia, o planejamento, a ecologia social etc.). 3. Os espaços de representação são invenções mentais (códigos, signos, "discursos espaciais", planos utópicos, paisagens imaginárias e até construções materiais como espaços simbólicos, ambientes particulares construídos, pinturas, museus etc.) que imaginam novos sentidos ou possibilidades para práticas espaciais. (HARVEY, 2005, p. 201)5.

O geógrafo marxista David Harvey, trabalha o tema do

materialismo histórico juntamente com Castells desde os anos 80, porém

seu enfoque é centrado muito mais especificamente na lógica do capital,

ou seja, sobre o sistema econômico:

Capital representa em si, sob a forma de uma paisagem física criada em sua própria imagem, criada como valor de uso para reforçar a progressiva acumulação de capital. A paisagem geográfica que resulta na coroação da glória do passado capitalista desenvolvido. Mas, ao mesmo tempo que expressa o poder do trabalho morto ao longo do trabalho que vivem do trabalho e, como tal, aprisiona e inibe o processo de acumulação por um conjunto de constrangimentos físicos ... O desenvolvimento capitalista tem, portanto, de negociar pelo caminho uma faca de pontas entre a preservação do intercâmbio de valores do passado de investimentos capitalista no ambiente construído e destruindo o valor destes investimentos, a fim de abrir espaço para nova acumulação. Sob o capitalismo, há então uma luta permanente em que o capital constrói uma paisagem física adequada à sua própria condição em um momento específico no tempo, só para ter que destruí-lo, normalmente no decurso de crises, em um subseqüente ponto do tempo. A resolução espaçiotemporal escoa e o

5 Ver a grade das práticas espaciais elaboradas por Harvey (2005, p. 203). Harvey ainda relaciona quatro outros aspectos da prática espacial sob a perspectiva de compreensões mais convencionais, tais como: acessibilidade e distanciamento, apropriação e uso do espaço, domínio e controle do espaço e a produção do espaço.

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fluxo de investimento no ambiente construído pode ser entendido apenas em termos de um processo como esse. (HARVEY apud SOJA, 2006, p. 95, tradução nossa).

Certamente Harvey constitui nosso mentor intelectual para o

desenvolvimento da teoria do espaço, mais precisamente sobre a produção do

espaço capitalista. No entanto, antes de mergulharmos em seu pensamento,

necessitamos retomar os conceitos basilares da referida teoria, iniciando

novamente com Lefebvre, conjuntamente com Harvey e Ribeiro, com a

explicitação dos conceitos de renda da terra.

2.2 Renda da terra

Para a introdução do tema renda da terra e economia do espaço,

utilizamos novamente Lefebvre (2001). Em seu livro A cidade do capital, o

autor faz uma releitura da obra de Marx e Engels relativa à cidade e à

problemática urbana. No capítulo 5, Lefebvre faz uma série de reflexões acerca

do discurso teórico de Marx sobre o capital e a propriedade da terra. Inicia com

o tema mercadoria para explicar o valor de uso “correspondente à

necessidade, à expectativa, a desejabilidade” e o valor de troca

“correspondente à relação dessa coisa com as outras coisas, com todos os

objetos e com todas as coisas, no mundo da mercadoria” (LEFEBVRE, 2001, p.

135).

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Lefebvre (2001) afirma que a mais valia possui três níveis

básicos: primeiro, o do trabalhador individual, nível em que o que este produz

excede ao que ele recebe sob a forma de salário; segundo, o da empresa ou

do ramo da indústria, nível em que os capitalistas “recebem sua parte da mais-

valia global, proporcionalmente ao capital investido”; e terceiro, o da sociedade

inteira, isto é, nível em que o Estado, retentor importante da mais valia global,

age como base para a sociedade burguesa.

Segundo os estudos de Lefebvre (2001), o capital estuda,

sucessivamente, a formação da mais valia pelo trabalho e pelo sobretrabalho

por variados meios como a extensão da jornada de trabalho, causando

problemas de superprodução; da realização da mais valia, através do circuito

vicioso D-M-D (dinheiro-mercadoria-dinheiro) e da distribuição da mais valia,

em que a classe capitalista explora “o conjunto da sociedade, inclusive os não

proletários, camponeses, empregados etc.[...] A massa da mais valia se

distribui entre suas diversas frações, inclusive os proprietários da terra, os

comerciantes, as profissões ditas liberais etc.”

Em suas asserções, Harvey (1980) comunga com Lefebvre ao

considerar que o solo e suas benfeitorias são mercadorias, mas não

mercadorias quaisquer. Assim, somados aos aspectos da mercadoria, os

significados de valor de uso e valor de troca assumem significado especial.

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Harvey explora seis aspectos dessa intrincada relação. O

primeiro aspecto é a imobilidade, ou seja, o solo e suas benfeitorias não podem

deslocar-se, diferenciando-se das outras mercadorias por sua fixidez. A isso

Harvey chama de localização absoluta, conferindo-lhe privilégios de monopólio

de localização, atributo que institucionaliza a propriedade privada.

O segundo é a imprescindibilidade: o solo e as benfeitorias são

mercadorias indispensáveis devido ao fato de que não se pode existir sem

ocupar espaço.

O terceiro é a pouca frequência de troca. O solo e as benfeitorias,

para sua realização, requerem grandes somas de capital fixo em infraestruturas

urbanas e setores estáveis de moradia:

[...] o solo e as benfeitorias assumem a forma mercadoria com muito pouca freqüência. A interpenetração dialética do valor de uso e do valor de troca na forma mercadoria não se manifesta no mesmo grau nem ocorre com a mesma freqüência em todas as seções da economia urbana”. (HARVEY, 1980, p.135).

O quarto é a indestrutibilidade do solo: este e seu direito de uso

trazem a oportunidade do acúmulo de riquezas. “Numa economia capitalista

um indivíduo tem duplo interesse na propriedade, ao mesmo tempo como valor

de uso atual e futuro e como valor de troca potencial ou atual, tanto agora

como no futuro” (HARVEY, 1980, p. 136).

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O quinto é a longevidade do consumo, ou seja, “[...] a proporção

da freqüência de troca em relação à duração do uso é peculiarmente baixa”

(HARVEY, 1980, p.136).

O sexto e último aspecto é a multiplicidade de usos. A casa, por

exemplo, pode ter sete modos de uso diferentes:

1. abrigo; 2. uma quantidade de espaço exclusivo [...]; 3. privacidade; 4. uma localização relativa acessível [...]; 5. uma localização relativa que é próxima de fontes de poluição, áreas de congestionamentos [...]; uma localização de vizinhança que tem características físicas, sociais e simbólicas (status); 7. um meio para lucrar e aumentar riqueza. (HARVEY, 1980, p.136).

Harvey (1980) concebe o termo sistema de sustentação da vida

para explicar que os valores de uso refletem um misto de necessidades e

significações não por capricho da soberania do consumidor, mas sim formados

relativamente a um sistema de sustentação da vida do indivíduo,

permanecendo fora da esfera econômica e política. Para tanto, as análises da

teoria do uso do solo urbano “[...] se concentram, tipicamente, quer nas

características do valor de uso (através do estudo do sistema de sustentação

da vida) ou nas características do valor de troca (o sistema do mercado de

troca)” (HARVEY, 1980, p. 137).

Ribeiro (1997), que estudou especificamente a produção

capitalista da moradia, defende a tese de que a produção do espaço é

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subordinada ao capital de circulação, havendo uma sobreposição entre os

mecanismos de valorização e propriedade de terra. O autor entende que a

teoria da renda da terra “[...] se constitui, então num conjunto articulado de

conceitos que têm como finalidade dar conta das relações especiais que se

estabelecem entre capitalistas e proprietários da terra no interior da sociedade

capitalista” (RIBEIRO, 1997, p. 52).

Iniciamos aqui a explicitação de uma série de conceitos extraídos

da teoria da renda da terra, esboçados por Ribeiro (1997), com base no Livro III

de O capital, de Marx. São eles: propriedade fundiária, renda fundiária, preço

da terra, renda diferencial, renda absoluta e renda do monopólio.

A propriedade fundiária representa para o capital o monopólio

sobre uma condição necessária à produção (terra), não reprodutível, e pelo

qual o seu detentor pode cobrar um tributo.

Sobre a renda fundiária, diz o autor (RIBEIRO, 1997, p. 55):

[...] para compreender a renda fundiária no modo de produção capitalista é necessário pensar que as mercadorias são vendidas sempre ao seu preço de produção. Assim, a renda somente pode sair da diferença entre os preços de produção e preço de custo.

O preço da terra, de acordo com Ribeiro (1997, p.57), “[...] é

somente um reflexo da disputa entre os diversos capitalistas pelo controle das

condições que permitem os surgimentos dos sobrelucros de localização”. Em

outras palavras,

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A tese que esposamos é que a terra urbana somente adquire um preço porque o seu uso permite aos agentes econômicos obterem ganhos extraordinários nos investimentos que realizam na cidade. (RIBEIRO, 1997, p. 40).

A renda da terra, embora única, pode se dividir, para fins

analíticos, em três tipos: renda diferencial, renda absoluta e renda do

monopólio.

A renda diferencial “[...] tem como origem a maior produtividade

do trabalho realizado em condições de 1. maior fertilidade da terra (no caso da

terra rural); 2. melhor localização em relação ao mercado consumidor; e 3.

aplicação de maior quantidade de capital” (RIBEIRO, 1997, p. 58). Em

decorrência dessas condições privilegiadas, o processo de produção espacial

demanda menor esforço de trabalho em relação a processos que não possuam

estes privilégios peculiares. Desse modo, as vantagens permitem: “[...] o

surgimento de um lucro suplementar em relação ao lucro médio, transformado

em renda fundiária” (RIBEIRO, 1997, p. 58). Esse tipo de renda apresenta as

seguintes características:

(a) o preço de mercado é regulado pelo produtor colocado na pior condição de produção; entretanto, é importante assinalar que a regulação depende 1. da demanda solvável e 2. dos valores diferenciais de produção em cada terreno; (b) o volume do suplemento de lucro depende da posição do produtor no gradiente de condições diferenciais de produção; a entrada de um produtor, situado em condições piores, altera a posição de cada capitalista; (c) a magnitude do sobrelucro que se transforma em renda depende da relação de força entre capitalistas e proprietários; quanto maior a concorrência entre capitalistas para obter o uso de um terreno, maior

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será o poder do proprietário para impor um nível de renda que se iguale ao sobrelucro; ao contrário, quanto menor a concorrência, menor este poder, pois o proprietário fundiário, sendo um agente econômico vivendo da apropriação da renda, não terá interesse em manter seu terreno sem produção por longo período, esperando que as condições econômicas aumentem a competição entre capitalistas; (d) esta situação depende do grau de concentração da propriedade privada da terra; (e) o valor que se transforma em renda não é produzido na agricultura, mas no conjunto da economia; esta transferência acontece porque os produtos agrícolas, que compõem a alimentação da população operária, têm seus preços de mercado fixados pelo preço de produção do pior terreno, e não pelas condições médias de produtividade. (RIBEIRO, 1997, p. 60-61).

A renda absoluta, conforme Ribeiro (1997), resulta da diferença entre o

preço de produção e o valor das mercadorias agrícolas, mantendo-se como

fenômeno efetivo devido à propriedade fundiária. A “[...] parcela da diferença

entre preço de produção e valor das mercadorias agrícolas que se transforma

em renda absoluta depende de alguns fatores, fundamentalmente 1) da relação

entre oferta e procura, 2) da extensão das terras cultivadas” (RIBEIRO, 1997,

p.66 ).

Por fim, a renda de monopólio é aquela que tem “como fonte a diferença

entre o preço de produção regulador do mercado e o valor das mercadorias [...]

o preço de monopólio nasce quando tem-se um bem não-reprodutível ou

parcialmente reprodutível” (RIBEIRO, 1997, p. 66/). Ou seja, o preço de

monopólio apoia-se na condição da não reprodutibiliadde de um valor de uso,

tornando-o, assim, valor de uso especial devido à sua singularidade.

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Completando o pensamento desenvolvido por RIBEIRO, citamos

(LIMONAD e BARBOSA, 2003)6:

Na cidade a renda da terra realiza-se na utilização do solo tanto para fins industriais, comerciais, quanto em atividades intrínsecas à reprodução simples da força de trabalho, e articula-se ao próprio desenvolvimento da economia. Na produção do espaço urbano a terra não só como espaço físico da produção, mas também como insumo, necessita de intermediários, empreendedores, capazes de incorporar essa "mercadoria" monopolizável e impulsionar o processo de construção.

Apesar de sucinta, essa explanação sobre a renda da terra

mostrou-se essencial ao revelar a necessidade de entendermos quem são os

agentes produtores do espaço e de que forma eles atuam. Continuamos o

nosso embasamento teórico seguindo Harvey (1980) e Ribeiro (1997).

2.3 Agentes produtores do espaço

Ribeiro (1997, p. 80) defende a idéia de que “[...] a convivência

numa mesma sociedade de diferentes formas de produção e de circulação de

moradia significa que encontramos racionalidades distintas de fixação e

transformação do uso do solo urbano”. Para ele, são quatro os agentes

produtores do espaço para moradia: o incorporador, o construtor, as

instituições de crédito imobiliário e os proprietários rentistas.

6 Artigo extraído da internet: http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/Geousp/Geousp13/Geousp13_Limonad_Barbosa.htm.

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Já para Harvey (1980), há numerosos e diversos atores no

mercado da moradia, tendo cada grupo um modo distinto de determinar o valor

de uso e o valor de troca. Sob essa ótica relacional dos valores, intentamos

compreender as operações do mercado de moradia, de acordo com as

asserções de Harvey (1980) somadas às contribuições de Ribeiro (1997). Por

pertinência didática, adotaremos a categorização sugerida por Harvey: usuários

de moradia, corretores de imóveis, proprietários ou proprietários rentistas e

incorporadores.

Os usuários de moradia ou usuários proprietários são relacionados mais

com o valor de uso, contudo os usuários tendem a considerar o valor de troca

basicamente devido a dois fatores: na efetivação da compra e no momento de

reforma (quando são forçados a pensar suas restrições orçamentárias). Harvey

(1980, p. 140) enfatiza: “todos os usuários de moradia têm um objetivo similar

─ obter valores de uso através dos valores de troca”.

Os corretores de imóveis, que exercem ação no mercado para obtenção

do valor de troca, são considerados intermediários de compra e venda de

imóveis ou através da cobrança da intermediação das transações. A obtenção

do lucro por intermédio do valor de uso reside no volume de transações para a

obtenção do valor de troca.

Os proprietários ou proprietários rentistas objetivam, como os corretores

de imóveis, a obtenção do valor de troca. Para tanto, atuam com duas

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estratégias: comprar e alugar (com rapidez) o imóvel para o retorno do capital

investido maximizando a renda corrente; comprar a propriedade por meio de

financiamento hipotecário visando ao aumento do valor líquido e, em

conseqüência, à maximização da riqueza do proprietário.

Os incorporadores objetivam a criação de novos valores de uso a fim de

realizar valores de troca para si próprios. Sobre esses atores, comenta Harvey

(1980, p. 141): “A compra do solo, sua preparação (particularmente a provisão

de utilidades públicas) e a construção de moradia requerem considerável

desembolso de capital em adiantamento à troca”. As empresas envolvidas

nesse processo, que participam de grande concorrência para obtenção do

lucro, têm forte interesse em proporcionar os valores de uso necessários para

obter benefícios em valor de troca. “Há numerosas maneiras (legais ou ilegais)

para atingir isso, e certamente esse grupo no mercado de moradia tem forte

interesse empregado no processo de suburbanização e, em menor grau, no

processo de reabilitação e re-desenvolvimento” (HARVEY, 1980, p.141).

Por entendermos que um dos grandes protagonistas desse

processo de produção do ambiente construído no período em análise, em

Natal, é o incorporador, procuramos aprofundar o conhecimento acerca desse

ator nas ideias desenvolvidas por Ribeiro (1997). Ele acredita que o

incorporador é o gestor dos complexos processos produtivos desde o seu

começo, com as primeiras negociações com os proprietários fundiários,

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passando pelas construtoras e finalizando com o setor imobiliário ao assumir a

comercialização. O incorporador compra o terreno, obtém o financiamento para

a construção do empreendimento e a sua comercialização, além de escolher a

tipologia do imóvel a ser construído, como, por exemplo, as características

arquitetônicas, econômico-financeiras e de localização.

Ribeiro classifica os agentes presentes na realização de um

empreendimento imobiliário em três tipos, a saber: agentes promotores,

agentes financeiros e agentes instrumentais. Nas palavras do autor:

Agentes promotores – são os que mobilizam e coordenam a constituição dos fatores de produção necessários a edificação do imóvel e à sua comercialização. Agentes financeiros – São os que proporcionam o suporte financeiro as operações de construção e compra e venda de imóveis, suporte originário de recursos próprios ou de terceiros. Agentes instrumentais – São aqueles que proporcionam aos promotores os meios necessários à produção das unidades. (RIBEIRO, 1997, p. 92).

O incorporador é um agente que dá suporte financeiro para a

produção e à comercialização do espaço, conferindo-lhe certa particularidade

que o diferencia de um simples agente do capital. No ato de compra do terreno,

o incorporador assume também um controle sobre uma condição que permite o

surgimento de um sobrelucro de localização e transformação do uso do solo.

Ribeiro (1997) explica a relação que o incorporador estabelece

com o proprietário fundiário como uma relação dupla, em que, num mesmo

momento temporal, as relações são de capitalista comercial/proprietário

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fundiário e de proprietário fundiário/proprietário fundiário. Essa duplicidade

determina práticas que visam ao lucro e ao sobrelucro na comercialização, por

intermédio de técnicas de otimização da realização do negócio e o sobrelucro

de localização. Uma segunda relação dupla que o incorporador estabelece é

com o construtor, relação de proprietário/capitalista e de capitalista

comercial/capitalista “industrial”.

A superposição de funções gera consequências historicamente

problemáticas para o surgimento de um capital de circulação capaz de criar

condições de superar dois obstáculos ao investimento do capital. São eles: o

problema fundiário e o problema de insolvabilidade. A intervenção do agente

incorporador impossibilita a acumulação de altos níveis de capital para o

agente construtor.

Para esclarecer melhor esses dois fatores, transcrevemos abaixo

as afirmações de Ribeiro.

Sobre o problema fundiário, explicita o autor:

Isso se dá, em primeiro lugar, em razão de cada processo de construção implicar na necessidade de um novo terreno, já que a moradia fixa-se no espaço, enquanto que nos outros ramos, uma vez localizado o empreendimento, adquirindo a empresa o terreno, para sempre ou por um longo período através do aluguel, o processo reproduz-se sem que a propriedade privada se recoloque como obstáculo. Para a construção de moradias este obstáculo é recorrente, o que implica na necessidade de aplicação de uma certa quantidade de capital na formação de um estoque de terrenos que garanta a continuidade da valorização do capital empregado na construção. Este “investimento fundiário” pesará negativamente na

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rentabilidade da construção, uma vez que significa a imobilização improdutiva de uma parte do capital empregado na produção. Em segundo lugar, a construção está condicionada a existência de terrenos que possuam características de construtibilidade [...] Em terceiro lugar [...] muitos dos terrenos “construtíveis” servem como suportes de atividades “não-capitalistas” que conferirão conteúdos sociais à propriedade privada contraditórios com as leis que regem a produção capitalista de mercadorias [...] Por último, a propriedade privada da terra vai significar um enorme parcelamento do uso do espaço, dificultando ao capital o acesso a grandes extensões contínuas de terras. (RIBEIRO, 1997, p. 87/88/89).

Acerca do problema da solvabilidade, discorre o autor:

O “problema de solvabilidade” é definido pelo alto valor relativo de mercadoria moradia, comparativamente ao poder de compra do conjunto da população. [...] a propriedade privada do solo tem um importante papel na determinação do caráter manufatureiro e artesanal da construção. Mas, por outro lado, a demanda solvável tende a ser reduzida também na medida em que o desenvolvimento da produção capitalista leva à proletarização do conjunto de população, fazendo com que o salário seja a forma predominante de acesso aos bens necessários à reprodução da força de trabalho. Assim o salário contempla as necessidades imediatas de consumo: a moradia desta noite e não a do próximo ano. A conseqüência é que o valor da moradia somente pode ser realizado [...] na medida do seu consumo, isto é, a comercialização da moradia deve realizar-se necessariamente ao longo de um largo período de tempo. (RIBEIRO, 1997, p. 89/90).

As instituições financeiras têm a finalidade de obtenção de valores de

troca por meio de financiamentos de oportunidades para a criação ou aquisição

de valores de uso. As organizações de financiamento envolvem todos os

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aspectos do desenvolvimento do patrimônio real (industrial, comercial e

residencial). (HARVEY, 1980, p. 141).

As instituições governamentais, “usualmente surgidas de processos

políticos, apoiadas na carência de valores de uso disponíveis para os

consumidores de moradia, frequentemente, interferem no mercado de moradia”

(HARVEY, 1980, p. 142). As intervenções realizadas pelos órgãos

governamentais são oportunizadas de forma direta (a produção de valores de

uso com a provisão de moradias públicas) e de forma indireta (por meio de

subsídios a instituições de financiamento, incorporadores e construtores) para

a obtenção de valores de troca, provendo isenção de impostos, e,

consequentemente, garantindo o lucro e minimizando os riscos da produção do

espaço. Outra finalidade das instituições governamentais é mediar os

interesses dos agentes promotores da produção do espaço.

Para Limonad e Barbosa (2003), as práticas espaciais que

abrangem os conjuntos espaciais específicos de cada formação e as infra-

estruturas correspondem, no caso, a vários circuitos produtivos que envolvem

diferentes agentes com distintos papéis, superpostos ou complementares.

Dentre eles, se destacam:

e) a produção “ilegal” de habitações referente às favelas, as invasões, etc... – onde se defrontam proprietários fundiários e trabalhadores sem poder aquisitivo”. a) a produção de infra-estruturas e de habitações pelo Estado – onde os agentes são as instituições governamentais e o sistema de crédito e financiamento habitacional;

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b) a produção imobiliária de grande e médio porte viabilizada pela captação de financiamento pelo empreendedor – cujos agentes são os promotores imobiliários, os grandes proprietários fundiários, os empreendedores imobiliários, o sistema de financiamento habitacional;

c) a produção dos pequenos construtores, de potencial relativamente reduzido se considerados isoladamente, que por vezes realizam trabalhos por empreitada para os empreendedores – onde os agentes principais são os pequenos construtores e empreiteiros, os pequenos proprietários imobiliários e por vezes sistemas de financiamento privados;

d) a produção “informal” de habitações auto-construídas, que responde às necessidades de parcelas da classe trabalhadora com poder aquisitivo suficiente para adquirir seja um terreno, seja uma casa auto-construída – cujos agentes são os proprietários fundiários, os loteadores, os auto-construtores e eventualmente aqueles que adquirem estas habitações.

Por fim, a produção do espaço e o estudo sobre a renda da terra

e sobre os agentes produtores do espaço serviram de base para uma melhor

compreensão dos estudos empíricos no Bairro de Ponta Negra.

Como a produção do espaço não se dá sem receber influências

de fatores de desenvolvimento urbano globais, damos sequência à nossa

explanação, considerando agora o desenvolvimento urbano contemporâneo e

suas principais tendências. Para essa fundamentação, utilizaremos as teorias

expoentes de David Harvey, Edward Soja, Manoel Castells e Saskia Sassen.

Completaremos nosso estudo discutindo a contribuição de Carlos Vainer em

sua análise sobre o planejamento estratégico de cidades.

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2.4 O desenvolvimento urbano contemporâneo

Vivemos um momento de passagem histórica para um novo

modelo de desenvolvimento difundido pela globalização. Esse fenômeno é

apontado como uma “oportunidade de progresso” para as cidades que alçam a

classificação de polos ou nós na rede global. Para Veltz (1999), trata-se de um

modelo desterritorializado de desenvolvimento. Nesse modelo, as grandes

cidades continuam na dianteira, concentrando o poder econômico e político,

como, por exemplo, os três principais polos ─ Tóquio, Londres e Nova York ─,

que concentram dois terços das transações mundiais. Ligadas a redes

eletrônicas de comunicação, funcionam como “redes arquipélagos”, em que

prevalecem as relações horizontalizadas de negociação e parceria,

estabelecendo uma certa segurança contra as instabilidades econômicas. Além

da idéia do arquipélago, outra importante contribuição da obra de Veltz é sua

compreensão sobre a realidade social, o poder relacional, colocada na

conclusão de seu livro:

É tempo de compreender que a coesão social no sentido mais amplo do termo é a condição mesma da eficácia; que os países que melhor souberem preservar essa coesão são os que conhecem menos a pobreza e o desemprego, os que conhecem as disparidades de renda menos denunciadas, e não os que têm os mais baixos custos salariais e desmontam ou recusam a proteção social. (VELTZ,1999, p. 247).

Veltz (1999) apresenta o poder relacional como a força da sociedade

capaz de enfrentar as fragilidades e incertezas do novo sistema que acelera a

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acumulação do capital. Este poderá assim passar a não depender

exclusivamente das forças de mercado, e passar a depender também das

forças sociais, cujas características mais importantes são a solidariedade e o

civismo.

Procurando demarcar as características dessa globalização à luz do

pensamento de Sassen (1998), podemos afirmar que existem três tipos de

locais para a implantação dos processos globais: as zonas de produção, os

centros de turismo e os grandes centros comerciais. Como elucida o autor,

A globalização econômica tem exercido inúmeros impactos sobre as cidades e os sistemas urbanos da América Latina e do Caribe. Em alguns casos, contribuiu para o desenvolvimento de novos pólos de crescimento situados fora das grandes aglomeraçãoes urbanas. Tendo sido com frequência, o caso do desenvolvimento de zonas de exportação de manufaturas, agricultura voltada para exportação e turismo. (SASSEN, 1998, p. 57).

Os novos processos globais geram uma nova espécie de

assimetria interurbana, diferenciada das formas antecedentes há muito

presentes nas cidades e nos sistemas urbanos nacionais. Tal assimetria resulta

da implantação de uma dinâmica global, voltada para a internacionalização da

produção e das finanças ou para o turismo internacional. A dispersão global

das atividades voltadas para a economia e a integração global por meio de um

crescente domínio econômico e da propriedade são consequências do

desenvolvimento estratégico de cidades denominadas global cities. Essas

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cidades globais exercem a função de pontos de comando na gestão econômica

global; são cidades que ocupam lugar de destaque nas funções financeira e de

serviços de ponta (altamente especializados); são locais de inovações

tecnológicas voltadas para as indústrias (SASSEN, 1998).

Ribeiro (2004) analisa os processos contemporâneos de

planejamento urbano em que a diferença entre a atualidade e o período dos

“anos eufóricos” 7 está no fundamento que legitima tais intervenções. O atual

urbanismo, considerado de embelezamento e melhoramento, e, outrora, o

higienismo cederam lugar ao planejamento estratégico, que utiliza a imagem da

cidade ressignificada como vantagem competitiva na atração dos fluxos globais

do capital.

É visando a esses novos processos globais que as cidades estão

“perseguindo” o desenvolvimento econômico por intermédio de um novo

modelo de empreendedorismo urbano, entendido como gestão da política

urbana, voltada para a criação ou o atendimento das necessidades do

consumidor, seja este empresário, turista ou o próprio cidadão. Cria-se, assim,

a cidade espetáculo, muito característica do urbanismo pós-moderno, cujo

exemplo paradigmático é a cidade de Barcelona. Nesta, segundo Vainer

(2000), houve uma preparação para a aplicação desse novo modelo:

primeiramente, incutiu-se na população a cultura da crise iminente da

7 Refere-se à expressão “anos eufóricos”, de Olavo Bilac.

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economia com a manipulação da incerteza; em seguida, evidenciou-se a

necessidade da equalização dos conflitos de classe e a evidente unificação

política, como solução da crise. A partir dessas primeiras investidas

ideológicas, cria-se um planejamento para alavancar a cidade e alçá-la aos

espaços de fluxos globais. O city marketing, os planos estratégicos e o

urbanismo-espetáculo são os principais elementos formadores do chamado

“novo planejamento urbano”, que determina os novos modelos de gestão da

cidade e consolida a tendência para a internacionalização das cidades.

Esses processos globais localizam-se no capitalismo tardio, aqui

entendido como parte do processo do pós-modernismo em que novas formas

de reprodução do capital são baseadas no uso intensivo de alta tecnologia e

nos avanços no campo da comunicação. O pós-modernismo seria a lógica

cultural do capitalismo na fase em que este teria ampliado seu escopo

territorial, estabelecendo-se na imensa maioria dos países por todo o mundo.

Harvey (2005) defende a tese de que houve uma mudança de modelo gestor

da governança urbana. Dentre suas estratégias para a governança, esse novo

modelo de gestão, por meio do empreendedorismo, apresenta as seguintes:

A região urbana também pode buscar melhorar sua posição competitiva com respeito à divisão espacial do comsumo. É mais do que tentar atrair recursos financeiros para a região urbana por meio do turismo [...] (incluindo a mudança para estilos pós modernistas de arquitetura e design urbano), atrações para consumo (estádios esportivos, centros de convenção, shopping centers, marinas, praças

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de alimentação exóticas) e entretenimento (a organização de espetáculos urbanos em base temporária e permanente) se tornam facetas proeminentes das estratégias para a regeneração urbana. (HARVEY, 2005, p. 176).

Os processos globais de desenvolvimento das economias no

capitalismo tardio produzem uma dinâmica da organização assimétrica do

espaço e da acumulação capitalista flexível e novas nomenclaturas. Esses

novos processos de gestão urbana incluem o city marketing, por se tratar de

uma competição entre cidades, na qual cada uma busca uma porção que lhe

seja mais vantajosa no cenário econômico global. Como bem ressalta Vainer

(2000), a cidade não deve permitir que o “espaço objeto” e sujeito de negócios

se imponha sobre o “espaço do encontro” e do confronto de cidadãos ─ afinal,

esta é a finalidade única de ser e de existir da cidade.

Após o exposto, reportamo-nos, mais uma vez, a Veltz (1999)

para congraçar com seu pensamento quando afirma existir um imenso campo

onde se trabalhar, que é o do Estado, onde reinventar e manter a solidariedade

deveriam ser a égide da ação pública.

Após essa exploração do tema desenvolvimento urbano

contemporâneo, continuaremos nosso percurso abordando, a seguir, a

dinâmica e os processos espaciais, sob a perspectiva da teoria de Harvey,

extraída de alguns fragmentos de seu livro The urban experience (1989), e com

a contribuição de Valença (2008), fornecida pela sua análise desenvolvida em

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A dinâmica do imobiliário em Harvey. Entendemos como Harvey, que a

dinâmica imobiliária não se concentra somente na questão intraurbana; ela

também se move em razão das oscilações macroeconômicas do capital

globalizado.

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3 A DINÂMICA E OS PROCESSOS ESPACIAIS

Neste capítulo, faremos, inicialmente, um passeio pela teoria

harveyana acerca das leis da acumulação e pela teoria dos circuitos do capital,

pa5ra, em seguida, prosseguirmos com os processos ecológicos, assim

denominados por Castells (2006), aqui chamados de processos espaciais, ou

seja, expressões espaciais que moldam o espaço.

3.1 Teoria dos circuitos do capital de Harvey

Para introduzir a teoria de Harvey sobre a dinâmica imobiliária do

capital, faz-se necessário, em primeiro lugar, analisar o que ele denominava de

“destruição criativa8” inscrita na paisagem da geografia histórica da

acumulação do capital. Harvey (2004) explica objetivamente que

8 Termo marxista, introduzido na economia por Shumpeter. Apontamentos sobre a teoria do autor: SHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro, 1984. Zahar Editores. Para complemento do entendimento acerca da destruição criativa, cf. SCHUMPETER, Joseph A. Os economistas. A teoria do desenvolvimento econômico.. São Paulo, 1982 Abril Cultural.. Com o tema: O fenômeno fundamental do desenvolvimento econômico. “O desenvolvimento, no sentido que lhe damos, é definido então pela realização de novas combinações. Esse conceito engloba os cinco casos seguintes: 1 Introdução de um novo bem ou de uma nova qualidade de um bem; 2 Introdução de um novo método de produção [...] pode consistir também em nova maneira de manejar comercialmente uma mercadoria; 3 Abertura de um novo mercado [...] quer esse mercado tenha existido antes ou não; 4 Conquista de uma nova fonte de oferta de matérias-primas ou de bens semi-manufaturados; 5 Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria, como criação de uma posição de monopólio ou a fragmentação de uma posição de monopólio”. (p. 48-49)

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[...] o capital busca perpetuamente criar uma paisagem geográfica para facilitar suas atividades num dado ponto do tempo simplesmente para ter de destruí-la e construir uma paisagem totalmente diferente num ponto ulterior do tempo a fim de adaptar sua sede perpétua de acumulação interminável do capital. (HARVEY, 2004, p.88 )

Harvey serviu-se do termo “destruição criativa” reelaborado por

Schumpeter (1984), para quem o capitalismo é um processo evolutivo. Assim

este autor explica sua teoria:

[...] O Capitalismo, então, é, pela própria natureza, uma forma ou método de mudança econômica, e não apenas nunca está, mas nunca pode estar estacionário [...] O impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina capitalista decorre dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria [...] que incessantemente revoluciona a estrutura econômica [...] incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de Destruição Criativa é o fato essencial acerca do Capitalismo”. (SCHUMPETER, 1984, p.112).

A partir desse entendimento, passamos para a teoria,

propriamente dita, de Harvey e, logo ao final do capítulo, à explicação da

importância da destruição criativa no imobiliário. Harvey (1989), em seu livro

The urban experience, expõe, de forma clara, que o objetivo da análise da

dinâmica do capital é compreender o processo urbano sob o capitalismo,

abordando dois temas gêmeos imbricados e intrinsecamente relacionados

(acumulação e luta de classes). O autor coloca a classe capitalista no comando

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do processo de dominação sobre o trabalho, no qual o excesso laboral gera o

lucro, afirmando que a acumulação não pode, consequentemente, ser isolada

da luta de classes.

Harvey (1989) considera a forma capitalista promotora de

superávit/acumulação e exploração do trabalho para a obtenção do lucro, como

uma violência infligida à classe trabalhadora, processo em que o trabalhador

não tem forças para lutar de forma individual e encontra como caminho a luta

de classes. Em função da importância do entendimento das leis de

acumulação, Harvey (1989), baseado no livro O capital, de Marx, aborda o

tema, fazendo uma incursão breve no pensamento marxista. Para explicar a

lógica do processo de acumulação, são considerados três circuitos do capital: o

primário, o secundário e o terciário.

Harvey (1989) escreve sobre a urbanização do capital, a qual se

relaciona com a mobilização, a produção, a apropriação e a absorção de

excedentes econômicos. Parte da idéia de que a cidade é produzida como

mercadoria: “[…] a urbanização promove a circulação do capital através do uso

do espaço construído, favorecendo a produção, o consumo e a reprodução da

força de trabalho ─ o comando do capital sobre o espaço” (HARVEY, 1980, p.

). Trata-se da urbanização do capital. Para solidificar esse conceito de

produção da cidade como motriz do modus operandi capitalista de expansão,

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esse autor cria o termo spatial fix, traduzido por Valença (2008) como

“resolução espacial”. Valença explica que a resolução espacial de Harvey

[...] é um atributo de todas as atividades humanas. Estas têm de estar em algum lugar, o que requer investimentos em capital fixo no espaço construído (geralmente, edificações, equipamentos e infra-estruturas) que não podem ser transferidos sem que sejam destruídos total ou parcialmente. (VALENÇA, 2008, p. 244).

De acordo com Harvey (apud Valença, 2008), essa maneira ou

qualidade expansionista do espaço não se dá, sobremaneira, de forma

consensual, em que imperativamente ocorrem perdas com investimentos do

passado em detrimento dos novos investimentos do presente.

Complementando esse entendimento:

[...] sob o capitalismo, as crises deixam de ser produtos de circunstâncias externas, como desastres naturais e guerras, e passam a ser produto das manifestações das contradições internas do próprio sistema. Trata-se da tensão entre produzir e absorver excedentes de capital e trabalho. Essa tensão está na raiz da dinâmica capitalista e é associada à história da urbanização do capital. (HARVEY apud VALENÇA, 2008, p.246).

Feita a exposição de parte da teoria de Marx, continuamos a

pesquisa com a visão de Harvey sob jugo daquela teoria. Por entender que a

noção fundamental das crises do capital explica a recorrente “destruição

criativa” do espaço urbano.Para elucidar de forma clara o referido tema,

procuramos seguir a sequência estipulada por Harvey.

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• Circuito primário do capital (produção de mercadorias em geral)

O autor sustenta a tese de que o sistema de acumulação

capitalista, em reprodução ampliada, é o causador dos problemas de

realização que causam a desproporcionalidade entre os meios de produção e

os meios de consumo. Amparado por Marx, Harvey escolhe o volume três de O

capital para fazer uma síntese das contradições internas do capitalismo,

discorrendo sobre o tema da sobreacumulação. Afirmando que a tendência da

sobreacumulação se manifesta nas taxas de queda de lucros, no capital

excedente e no excedente de trabalho (desemprego em elevação) e/ou na taxa

de exploração da força de trabalho.

Harvey (1989) defende como “solução” dos problemas de

excedentes, a absorção parcial pelos seguintes fatores: o deslocamento

temporal mediante investimentos em projetos de capital de longo prazo ou

gastos sociais (como a educação e a pesquisa) onde uma combinação dessas

manifestações pode ocorrer simultaneamente. É o que se denomina de spatial

fix:, como podemos observar no fragmento que segue:

Nós temos visto como as contradições internas da classe capitalista geram uma tendência para a acumulação excedente dentro do circuito preliminar do capital. [...] esta tendência pode ser superada, temporariamente pelo menos, transferindo o capital para o circuito secundário e para o circuito terciário. (HARVEY, 1989, p. 66-68)

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• Circuito secundário do capital (produção no imobiliário)

Sobre esse aspecto, explicita Harvey (2004, p. 94): “No interior do

circuito secundário do capital, os fluxos se dividem em capital fixo para a

produção (instalações fabris e equipamentos, capacidade de geração de

energia, entroncamentos ferroviários, portos etc.) e a produção de um fundo de

consumo (habitação, por exemplo).

Ao abordar o tema do ambiente construído para o consumo,

Harvey afirma que

[...] o capital fixo do ambiente construído é imóvel no espaço, no sentido de que o valor incorporado nele, não pode ser movido sem ser destruído. O investimento no ambiente construído envolve conseqüentemente a criação de uma paisagem física inteira para finalidades da produção, da circulação, da troca, e do consumo. (HARVEY, 1989, p. 64).

Por essa razão,

Deve obviamente haver um “excesso” de capital de trabalho com relação às necessidades atuais da produção e do consumo a fim facilitar o movimento de capital na formação de bens em longo prazo, particularmente aqueles que constituem o ambiente construído. (HARVEY, 1989, p. 64).

O problema da sobreacumulação no circuito primário encontra

como solução a mudança dos fluxos de capital do circuito primário para os

circuitos secundário e terciário. Para Ferreira,

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Trata-se do fenômeno de transferência de capitais para o setor imobiliário quando há crise de superprodução, o que David Harvey denominou de “transferências entre circuitos do capital”. Quando se inicia uma crise, da qual decorre uma queda nas taxas de lucros, o congelamento dos investimentos e uma sobra de capital ocioso, o setor imobiliário serve como escoadouro para os investimentos. (FERREIRA, 2003) ANAIS

Conforme explica Harvey (1989), uma condição geral para o fluxo

de capital no circuito secundário é, conseqüentemente, a existência de um

mercado importante funcionando e de um Estado querendo financiar e garantir

projetos em longo prazo, em grande escala com respeito à criação do ambiente

construído. Essas mudanças dos recursos não podem ser realizadas sem uma

fonte de dinheiro e um sistema de crédito que crie capital fictício9 adiantado da

produção e do consumo reais. Isso se aplica tanto ao fundo do consumo (daí a

importância do crédito de consumidor, abrigando hipotecas, o débito municipal)

quanto como faz com o capital fixo. O Estado, portanto, serve de mediador das

relações entre o circuito primário e o secundário (HARVEY, 1989).

Assim, a natureza das instituições financeiras, do Estado e das

políticas que são adotadas podem jogar papéis importantes para realçar fluxos

de capital no circuito secundário do capital ou em determinados aspectos

específicos dele (tais como transporte, facilidades públicas, entre outros).

9 Ativos em títulos ou notas promissórias desprovidos de suporte material, mas que podem ser usados como dinheiro (a categoria “capital fictício” foi desenvolvida por Marx e estudada por Harvey no livro Limits to capital, cap.10)

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• Circuito terciário do capital (produção da educação, cultura, ciência e

tecnologia)

De acordo com o autor, o circuito terciário do capital compreende,

em primeiro lugar, investimento em ciência e tecnologia (aproveitar a ciência

para a produção e para contribuir nos processos que revolucionem as forças

produtivas na sociedade); em segundo, investimentos sociais em educação e

cultura que se relacionam com os processos da reprodução da força de

trabalho; e, em terceiro, investimentos dirigidos para a melhoria qualitativa da

força de trabalho do ponto de vista do capital (investimento em instrução e

saúde, com o realce na capacidade dos trabalhadores no processo do

trabalho).

Harvey (1989, p. 69) atenta para o fato de que “os capitalistas

como uma classe têm relações com o Estado, onde investem na produção das

circunstâncias que esperam serão favoráveis à acumulação [...] continuando

com sua dominação”. Um outro problema é a determinação de preços nos

circuitos secundários e terciários. Muitas das mercadorias para o segundo e o

terceiro circuitos não podem ser valoradas de forma simples, enquanto ações

coletivas pelo Estado não podem ser examinadas por critérios normais de

lucratividade.

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Esse movimento (transferência de capital) pode começar com um filete d´água até tornar-se uma enchente [...] mas a tendência para a sobreacumulação não é eliminada. É transformada em super investimento no segundo e terceiro circuitos. O super investimento está relacionado exclusivamente com as necessidades do capital e não com as reais necessidades das pessoas [...] (HARVEY, 1989, p. 70).

Segundo esse mesmo autor (HARVEY, 1989), há diferentes tipos

de crises nessas relações do capital: parciais, de comutação (switching:

redireção dos fluxos de capital de um espaço para outro), setoriais,

geográficas10 e, por fim, globais.

Resumindo: existe um momento em que o ambiente construído

entra em desvalorização do capital, quando esta, não necessariamente, destrói

o valor de uso, quando os “recursos físicos” são usados como capital

desvalorizado, com função de recuperar as bases para a acumulação. Harvey,

amparado em Marx, solidifica a idéia de que essas desvalorizações periódicas

do capital fixo suprem as necessidades de formação de um novo capital

estimulando a “destruição criativa” do espaço urbano.

Posteriormente, em seu livro O novo imperialismo, Harvey elabora o

que seria, para Valença (2008), a tentativa de atualização do conceito de

“acumulação primitiva”, pontuando-a como expansões geográficas,

10 “nós notamos que essa forma de crise é particularmente importante em relação aos investimentos no ambiente construído porque o fim é imóvel no espaço e requer fluxos de capitais inter-regionais ou internacionais para facilitar sua produção”. (p.71);

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[...] nitidamente associadas à urbanização e às novas formas de regionalização advindas da globalização atual. A expansão do capital em áreas onde o capitalismo ainda não havia se desenvolvido requer não só significantes investimentos em infra-estruturas físicas e sociais de longa duração, como em transportes e comunicações, como também a produção de um espaço reconfigurado para servir à acumulação. (VALENÇA, 2008, p.247).

Harvey comunga com o pensamento de Rosa Luxemburgo ao

afirmar que a acumulação do capital apresenta duplo aspecto: como processo

econômico puro, relacionado com o mercado de bens e ao lugar onde é

produzida a mais valia, e como relações entre o capitalismo e os modos de

produção não capitalistas, nas quais predominam a política colonial com um

sistema internacional de empréstimos, uma política de esferas de interesse e a

guerra. Em outras palavras, há o entendimento corrente entre os estudiosos do

capitalismo de que o este necessita, perpetuamente, de soluções externas para

suas crises.

Em continuidade ao desenvolvimento de sua teoria, Harvey

aborda os processos de acumulação por espoliação como uma das soluções

externas à crise. Trata-se de processo efetivo de exclusão social e segregação

socioespacial, com a criação de estoques de ativos desvalorizados em um lado

do mundo e estoques que podem receber uso lucrativo dos excedentes de

capital em outro lugar do mundo. O que Marx chamou de acumulação

“primitiva”, Harvey intitula de “acumulação por espoliação” ou “acumulação por

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despossessão”. E essa “solução” para a sobreacumulação revela-se por

inúmeros processos, como descritos no fragmento abaixo:

Estão aí a mercadificação e a privatização da terra e a expulsão violenta de populações camponesas; a conversão de várias formas de direitos de propriedade (comum, coletiva, do Estado etc.) em direitos exclusivos de propriedade privada; a supressão dos direitos dos camponeses às terras comuns; [...] processos coloniais, neocoloniais e imperiais de apropriação de ativos (inclusive de recursos naturais); a monetização da troca e a taxação, particularmente de terras [...] (MARX apud HARVEY, 2004, p.121).

Por fim, a “destruição criativa” de Harvey explica, de forma

metafórica, como se dá esse processo de “correção do capital” no espaço

construído sob o modo de produção capitalista. Finalizamos com algumas

conclusões de Valença (2008) acerca do tema:

Há inúmeras implicações da discussão de Harvey sobre os três circuitos, as persistentes crises de sobreacumulação e a idéia de resolução espaciotemporal (“spatio-temporal fix”) para a análise de situações concretas, inclusive em cidades terceiromundistas. Uma delas, por exemplo, é analisar, no contexto contemporâneo da globalização, as conseqüências que deve ter – diante de persistente crise – o deslocamento de capitais excedentes, do circuito primário, em particular para o secundário. Se Harvey aponta, para países em desenvolvimento, que tal deslocamento implica expansão geográfica (de várias ordens) associada ao que denominou de acumulação por espoliação (parte do processo mais geral de desenvolvimento desigual e combinado e, mais especificamente, também do que denomina novo imperialismo), isso quer dizer que restam cada vez menos recursos para o fundo de consumo (“consumption fund”) e

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para os demais investimentos em infra-estrutura. Se antes era predominantemente o Estado e agora passa a ser o capital a ter maior peso nos investimentos voltados para o circuito secundário, cada vez mais será restrito o acesso aos novos espaços públicos, já que são maiores as chances de se ter um custo regulado pelo mercado. Exacerba-se, assim, o problema da justiça social na cidade, em particular nos países menos desenvolvidos onde o sistema de welfare é também menos desenvolvido. (VALENÇA, 2008, p. 244).

3.2 Processos espaciais

Harvey (2005, p.69) afirma que no momento pós-modernista,

portanto atual, o tecido urbano é necessariamente fragmentado, semelhante a

um “palimpsesto de formas passadas superpostas umas às outras e uma

colagem de usos correntes, muitos dos quais podem ser efêmeros”. Ou seja,

apesar dos novos processos da produção do espaço, a cidade constitui-se

continuamente em forma de camadas espaciais (cristalizadas) somadas no

tempo. “Na verdade, paisagem e espaço são sempre uma espécie de

palimpsesto onde, mediante acumulações e substituições, a ação das

diferentes gerações se sobrepõe” (SANTOS, 1999, p. 103).

Corrêa inicia seu texto sobre processos espaciais influenciado

pela afirmativa de Harvey de que a cidade pode ser considerada como

expressão concreta de processos sociais na forma de um ambiente físico

construído sobre o espaço geográfico. “Tais processos sociais produzem

forma, movimento e conteúdo sobre o espaço urbano, organizando a

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organização espacial da metrópole” (CORREIA, 2005), organização que se

caracteriza por usos da terra extremamente diferenciados. Assim se estabelece

o processo espacial, como elemento mediador entre a organização espacial e

os processos sociais: tornando exequíveis a forma, o movimento e o conteúdo

sobre o espaço através de um pool11 de forças atuantes nas localizações,

relocalizações e permanência das atividades e população sobre o espaço

urbano. O autor segmenta esses processos em seis: centralização,

descentralização, coesão, segregação, invasão – sucessão e inércia.

Para alargar o conhecimento teórico sobre o tema, a partir da

sólida introdução de Corrêa, somamos os conhecimentos de Castells e Villaça.

Mas seguiremos, por pertinência didática, a divisão sugerida por Corrêa,

apenas acrescentando um sétimo processo, o de gentrificação/enobrecimento.

• Centralização

Partindo do pressuposto de que a centralidade é um tema que

conota questões-chave da estrutura urbana, Castells (1983) afirma que

[...] o termo de centro urbano designa ao mesmo tempo um local geográfico e um conteúdo social. [...] Para o urbanista médio, o centro é a partida da cidade que, delimitada espacialmente, por exemplo situada na confluência de um esquema radial das vias de comunicação, desempenha um papel ao mesmo tempo integrador e simbólico. (CASTELLS 1983, p. 311).

11 Proprietários dos meios de produção, proprietários de terras, empresas imobiliárias e de construção, associadas ou não ao grande capital, e o Estado (ator e árbitro dos conflitos).

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Nas palavras de Corrêa (2005), “uma das características comuns

da metrópole moderna é a existência de uma área onde se concentram as

principais atividades comerciais e de serviços, bem como os terminais de

transportes”. A partir da revolução industrial, a emergência da centralidade é

uma das resultantes das mudanças espaciais da época. Outro marco

importante para a centralidade seriam as ferrovias, que, a partir da segunda

metade do século XIX, garantem a fluidez das trocas da produção. A partir

desse momento, forma-se uma grande oferta no mercado de trabalho, fazendo

com que, assim, as áreas centrais colham os frutos dessa dinâmica e da

acessibilidade dentro do espaço urbano, acessibilidade responsável pelos altos

valores da terra urbana. Para Villaça (2005), não é possível prescindir de um

centro, pois, sem a atração do centro, a cidade se evaporaria.

Para esse autor (VILLAÇA, 2005, p. 330), “Nossas cidades foram

se estruturando sob o impacto de forças poderosas atuantes sobre a estrutura

urbana: o domínio, pelas burguesias, das condições de deslocamento espacial

do ser humano enquanto consumidor”. Em suas próprias palavras:

Os requisitos locacionais da residência, do secundário e do terciário12 disputam proximidade ao centro urbano pela acessibilidade. A luta pela localização entre as classes sociais é uma luta em torno de condições de consumo, não em torno de condições de produção. O espaço intra-urbano, no entanto, é estruturado sob a dominação dos interesses do consumo. (VILLAÇA, 2005, p. 329).

12 Indústria, comércio e serviço.

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• Descentralização

Corrêa (2005) aborda o tema da descentralização, afirmando que

esse processo é mais recente do que o da centralização, aparecendo em

decorrência de ajustes às deseconomias de aglomeração. Sobre a controvérsia

do desaparecimento dos centros, constata Castells:

É verdade que a concentração de certas atividades de troca num espaço em relação simétrica com as diversas zonas urbanas está cedendo o lugar a uma estrutura multinuclear ou uma espécie de difusão urbana. [...] em resumo, esta nova centralidade pode operar através de outras formas espaciais. (CASTELLS, 1983, p. 315).

As metrópoles tendem a desenvolver o que popularmente se

chama de um “centro novo”; e o centro tradicional vem sendo tomado pelas

camadas populares. Villaça entende este centro novo como:

[...] parte de um movimento que é fruto da interação de forças, o centro principal se deslocou e se transformou, os subcentros se formaram em função da inacessibilidade socioeconômica das camas populares ao centro principal; certas regiões das metrópoles se tornaram maciçamente populares, o centro principal “decaiu”; o sistema viário se aprimorou em determinada região (...) Enfim, foi-se formando e transformando o sistema de localizações que define o que é “bom ponto” e o que é “fora de mão”(...) As burguesias revolucionam o centro principal, produzem “centros expandidos”, o “seu” centro e o centro “dos outros”. A pulverização dos novos centros é a manifestação de expedientes das camadas de mais alta renda para trazer para mais próximo delas os equipamentos de

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centros mais adaptados a seu meio predominante de locomoção: automóvel [...] Surgem daí os centros novos espacialmente atomizados. (VILLAÇA, 2005, p. )

Esse processo se dá também devido ao próprio crescimento da

cidade tanto demográfica como geograficamente. Segundo Colby13 (apud

Corrêa, 2005), para a descentralização ocorrer, é necessário que haja um novo

fator atrativo a essas áreas, que se apresentam com características quase

opostas às da centralidade, tais como: valor baixo da terra, amenidades

espaciais e sociais e o threshold (mercado mínimo) capaz de suportar a

localização de uma atividade descentralizada.

• Coesão

De acordo com Corrêa (2005, p.60), a coesão foi descrita por

Hurd14 em 1903, que considerava ter o comércio a tendência à aglomeração

como garantia de atração maciça de consumidores: “O processo de coesão ou

economias de aglomeração tende, em realidade, a gerar conjuntos de

atividades espacialmente coesas [...]”. Para Corrêa, a aglomeração gera

alternativas de escolha, complementaridade de atividades, áreas

especializadas, entre outros benefícios.

“É preciso, portanto, notar que o processo de coesão pode-se verificar simultaneamente com os processos de centralização e

13 C.C. Colby – Centripetal and centrifugal forces in urban geography. 14 Toward and understanding of the Metropolis.

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descentralização, gerando o aparecimento de áreas especializadas dentro do espaço urbano, tornando assim sua organização espacial mais complexa. Como modo através do qual a relação custo-benifício tende a favorecer a reprodução do capital, o processo de coesão insere-se na linha de acumulação (CORRÊA, 2005, p. 60).

• Segregação

O termo segregação surge nos estudos acadêmicos da Escola de

Chicago, por intermédio de seu maior representante, Robert Ezra Park, em

artigo publicado em 1916, integrante os estudos norte-americanos sobre

conflitos étnicos e sociais.

[...] o isolamento das colônias raciais e de imigrantes nos assim chamados guetos e as áreas de segregação populacional tendem a preservar e, onde existia preconceito racial, a intensificar a intimidade e a solidariedade dos grupos locais e de vizinhança. Onde indivíduos da mesma raça ou da mesma vocação vivem juntos em grupos segregados, o sentimento de vizinhança tende a se fundir com antagonismos de raça e interesses de classe. (PARK apud VELHO, 1967, p. 34).

Para Castells:

A distribuição dos locais residenciais segue as leis gerais da distribuição dos produtos e, por conseguinte, opera os reagrupamentos em função da capacidade social dos indivíduos, isto é, no sistema capitalista, em função de suas rendas, de seus status profissionais, de nível de instrução, de filiação étnica, da fase do ciclo

de vida etc. (CASTELLS, 1993, p. 249).

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Castells compreende que, na composição do espaço residencial,

existe uma interação entre economia, política e ideologia. Sob sua perspectiva,

segregação urbana constitui parte de uma estratificação urbana na qual a

distância social tem uma expressão espacial forte, na qual existe

[...] a tendência à organização do espaço em zonas de forte homogeneidade social interna e com intensa disparidade social entre elas, sendo esta disparidade compreendida não só em termos de diferença, como também de hierarquia. (CASTELLS, 1983, p. 250).

Discorrendo sobre a segregação, Villaça a define como

[...] um processo segundo o qual, diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole [...] o que determina, em uma região, a segregação de uma classe é a concentração significativa dessa classe mais do que em qualquer outra região da metrópole. (VILLAÇA, 2005, p.142 ).

De acordo com Villaça (2005), a segregação urbana é um

processo que está longe de ser uma particularidade das décadas recentes e de

uma eventual atuação do capital imobiliário ou das leis de zoneamento

contemporâneo. Ele vem se constituindo no Brasil há mais de um século.

Como explicita Corrêa (2005, p. 132), “[...] a segregação parece

constituir-se em uma projeção espacial do processo de estruturação de

classes, sua reprodução, e a produção de residências na sociedade

capitalista”.

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Harvey denomina segregação de diferenciação residencial:

[...] a diferenciação residencial deve ser interpretada em termos de reprodução das relações sociais dentro da sociedade capitalista; significa acesso diferenciado a recursos escassos necessários para se adquirir oportunidades de ascensão social e significa diferencial de renda real. Proximidade às facilidades da vida urbana como água, esgoto, áreas verdes, melhores serviços educacionais, e ausência da proximidade aos custos da cidade [...] (HARVEY apud CORRÊA, 2005, p. 134). [esse recorte final está meio solto]

Para Villaça (2005), as camadas de alta renda nem sempre

moram em terra cara, e, além disso, não é rigorosamente verdadeiro que o

preço da terra determine a distribuição espacial das classes sociais. Lojkine

apud Villaça (2005) distingue três tipos de segregação urbana: 1. uma

oposição entre o centro, onde o preço do solo é alto, e a periferia; 2. uma

separação crescente entre as zonas e moradias reservadas as camadas

sociais mais privilegiadas e as zonas de moradia popular; 3. um esfacelamento

generalizado das funções urbanas disseminadas em zonas geograficamente

distintas.

E complementa o autor (VILLAÇA, 2005, p.350): “[...] a

segregação é um processo dialético, em que a segregação de uns provoca, ao

mesmo tempo e pelo mesmo processo, a segregação de outros [...]”. Para ele,

portanto, a segregação é um processo necessário para as dominações social,

econômica e política por meio do espaço, compreende que os preços do solo

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são frutos da segregação e acredita na relação entre a segregação e a

possibilidade de apropriação de vantagens econômicas. Nesse sentido, acorda

que a distribuição espacial das classes determina a distribuição espacial dos

serviços tanto privados como públicos. Fundamentando a hipótese de que a

disputa pelas localizações urbanas mais convenientes, Villaça (2005) defende

a ideia de que a tendência a otimizar tempo de deslocamento e energia é uma

característica inata dos seres humanos, ou seja, existe em todas as formações

sociais.

Sendo a disputa pelas localizações uma disputa pela otimização

dos gastos de tempo e energia, ela determina a estrutura intraurbana em

qualquer modo de produção. Villaça cita as investigações de Homes Hoyt, em

1959, nas quais este expõe as tendências das camadas de alta renda nas

cidades americanas. Hoyt considera nove tendências, das quais Villaça

destaca três, que podem ser aplicadas às metrópoles brasileiras: 1. as cidades

progredirem em direção a terrenos altos, livres de riscos de inundações e se

espalhar ao longo das bordas dos lagos, baías, rios ou oceanos, nos locais

onde tais bordas não são ocupadas por indústrias; 2. o crescimento das áreas

residenciais de alta renda permanecer numa mesma direção por um longo

período de tempo; 3. as áreas de apartamentos de luxo estabelecerem-se

próximas ao centro, em antigas áreas residenciais.

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Nas palavras de Villaça, o termo dominação é o processo

segundo o qual a classe dominante comanda a apropriação diferenciada dos

frutos, das vantagens e dos recursos do espaço urbano. Dentre essas

vantagens, a mais decisiva é a otimização dos gastos de tempo despendido

nos deslocamentos dos seres humanos, a acessibilidade às diversas

localizações urbanas, especialmente ao centro urbano.

Na visão do autor, o padrão espacial dominante da segregação é

segundo setores de círculo. Isso ocorre porque o padrão por setores possibilita

melhor controle, pela classe dominante, do espaço urbano do que o de círculos

concêntricos, uma vez que permite controlar com mais eficiência os

deslocamentos espaciais, o mercado imobiliário, o Estado e a ideologia sobre o

espaço urbano. As camadas de mais alta renda controlam a produção do

espaço urbano por meio do controle de três mecanismos: um, de natureza

econômica – o mercado imobiliário; outro, de natureza política ─ o controle do

Estado, e, finalmente, o da ideologia.

Para Castells (1983), a estrutura do espaço residencial sofre as

seguintes condicionantes: nível econômico, nível político-institucional, nível

ideológico e nível da luta de classes.

A segregação social no espaço é, portanto, a expressão específica dos processos que visam à reprodução simples da força de trabalho, mas estes processos estão sempre inseparavelmente articulados com o conjunto das instâncias da estrutura social. (CASTELLS, 1983, p. ).

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Sobre o mercado imobiliário, as burguesias interagem com o

centro principal, fazendo com que este se transforme e, simultaneamente, se

desloque no sentido em que o fazem aquelas classes, revolucionando-o

segundo seus interesses e produzindo os centros expandidos ou os novos

centros.

No controle sobre o Estado, suas localizações se comportam

exatamente como se estivessem sujeitas às leis do mercado, o que,

supostamente, não deveria ocorrer. O segundo mecanismo é a produção da

infraestrutura. A burguesia exerce controle sobre o Estado na implantação de

infraestrutura urbana. O Estado atua por intermédio da legislação urbanística,

que é feita pela e para as burguesias.

Neste segmento do estudo, Villaça (2005) faz um levantamento

das muitas conceituações da palavra “ideologia”, abalizado por autores como

Chauí, Marx e Engels e Gramsci. Abordando a ideologia como uma versão da

realidade social dada pela classe dominante com vistas a facilitar a dominação,

apresenta como exemplo de dominação ideológica mecanismos de

naturalização dos processos sociais. Palavras como “deterioração” e blight 15

são claramente colocadas para formar a ideia do natural e manter a visão da

15 Tradução literal: parasita que mata e seca ou impede o crescimento das plantas.

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população de camadas de baixa renda de que a burguesia não tem

responsabilidade sobre as “causas naturais”.

Nesse sentido, “[...] a ideologia inculca nas mentes da maioria a

idéia de que a cidade é aquela parte construída por onde estão os dominantes.

Essa ideologia facilita a ação do Estado, que privilegia essa parte” (VILLAÇA,

2005, p.350). E complementa o autor:

Há um conflito de tempos: um que se quer reduzir e outro que se quer ampliar. O tempo do desgaste, o tempo perdido (em deslocamentos) deve ser reduzido, mas o tempo de lazer e o tempo de repouso devem ser ampliados. Mais um fator que faz predominar o tempo de deslocamento do ser humano sobre os demais. [...] O setor imobiliário, representando os interesses das burguesias, escolhe uma determinada localização para um empreendimento, ele pesa os vários prós e contras envolvidos nessa escolha. Dentre os primeiros, destaca-se o meio ambiente e, dentre os segundos, os deslocamentos envolvidos. A infra-estrutura vem depois; ela é trazida pelas burguesias. (VILLAÇA, 2005, p. 354-355).

Por fim, Villaça conclui:

Segregação é uma determinada geografia, produzida pela classe dominante, e com a qual essa classe exerce sua dominação através do espaço urbano. Trata-se, portanto, de um caso de efeito do espaço sobre o social. Evidentemente esse espaço produzido é ele próprio, social. Só o social pode constranger ou condicionar o social. (VILLAÇA, 2005, p.360 , grifos nossos).

• Invasão-sucessão

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A implicação do processo invasão-sucessão reside no

caráter mutável do conteúdo social das áreas residenciais que constituem a

cidade. Corrêa (2005) assim enfatiza o surgimento do processo espacial:

Entretanto a segregação nem sempre é rígida, e, por meio da imagem que certos bairros projetam e da especulação imobiliária, é possível que não apresentem forte caráter de segregação. Mas é possível que esta reduzida segregação já esteja indicando a ação de outro processo, o de invasão – sucessão”. [...] “Foi verificado empiricamente que, no espaço urbano, há bairros que são habitados, durante um certo período de tempo, por uma classe social, e que a partir de um certo momento verifica-se a [invasão] de pessoas de outra classe social, via de regra, de classe inferior àquela que ocupa o bairro. Inicia-se então a saída da população preexistente e a chegada de novo contingente, ou o processo de invasão-sucessão. (CORRÊA, 2005, p.134-136).

• Inércia

Eis um processo espacial que nos leva a pensar em uma outra

lógica, fora da econômica. “A implicação do processo de inércia sobre a

organização do espaço intra-urbano é a de cristalização de certos usos da terra

que aparecem como não-racionais” (CORRÊA, 2005, p.137). Seria então a

preservação simultânea da forma e do conteúdo espacial. Corrêa (2005) lista

algumas razões para o processo de inércia, mas a que consideramos de maior

importância para o estudo é a força de sentimentos e simbolismos que se

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atribui as forma espaciais e ao seu conteúdo. Com base em estudos de Firey16

sobre a área central da cidade de Boston, o autor argumenta que

símbolos e sentimentos são variáveis que afetam o uso da terra, e que o espaço não tem apenas atributos econômicos como acessibilidade e amenidades, mas que possui um outro atributo, o de ser em certas circunstâncias, símbolo de determinados valores culturais que ali se acham associados. (CORRÊA apud FYREI, 1974, p77)

De acordo com os estudos de Firey, realizados na década de 40,

o impacto de sentimentos estéticos, históricos e familiares aparece na sua

preservação através de três modos: retenção – um bairro se diferencia dos

outros quando o aumento do número de habitantes de alto status é substancial

em somente um bairro central em comparação com o baixo status e a

degradação dos outros; atração – moradores do bairro compram casas do

mesmo bairro, com intenção de reforma (interior) e revenda para famílias de

alto status; e resistência – criam-se organizações ou associações com o intuito

de impedir a mudança de uso do solo (como para prédios de apartamentos ou

de uso comercial). Nos estudos de Firey, observamos a forte influência desse

processo de inércia pelo sentimento de representação de poder das classes

dominantes em manterem seus símbolos do passado.

16 In: Theodorson, G. A., 1974. Citado por Corrêa (2005) p.77.

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• Gentrificação e enobrecimento

Entendemos a palavra gentrificação como em um primeiro sentido

espacial de enobrecimento de um espaço, mas para ser gentrificado, terá de

ter passado por um processo de substituição de classes. O que não acontece

no processo de enobrecimento pura e simples. Essa é a diferença.

Como diz Cavalcante (2006. p. 62), “A origem do termo

gentrificação é associada à redefinição espacial pela “expulsão” de moradores

de menor poder aquisitivo que pode ser por remoção ou operada através do

mercado, no processo de compra e venda, em benefício daqueles que

possuem uma renda maior”.

3.3 Caracterização da área e a metodologia da pesquisa

Feitas as reflexões teóricas, passamos agora a caracterizar o

bairro onde foi realizada a pesquisa e a definir a metodologia empregada no

decorrer desta. O bairro de Ponta Negra compõe a região administrativa sul de

Natal, a capital do estado do Rio Grande do Norte, Natal. Seus limites são: ao

norte, o bairro de Capim Macio e a área de preservação do Parque das Dunas;

ao sul, o município de Parnamirim; ao leste, o oceano Atlântico, e, ao oeste, o

bairro de Neópolis.

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A lei de criação do bairro de Ponta Negra, de n. 4.328/93, foi

publicada no Diário Oficial do estado, em 07 de setembro de 1994. O referido

bairro possui uma área de 707,16 hectares, e, conforme os dados obtidos no

censo 2000, uma população residente de 23.600 habitantes, com 6.227

domicílios particulares permanentes, com estimativa de população residente

em 2005 de 30.212 habitantes, de acordo com estimativas feitas pelo mesmo

censo demográfico.

Ponta Negra compõe a Zona de Adensamento Básico, para a qual

o Plano Diretor de Natal, em suas Leis Complementares n. 07/94 e n. 22/99,

determinou a densidade máxima de 225 hab/ha e o coeficiente de

aproveitamento de 1,8. Ainda incidem sobre este bairro (segundo a Lei n.

3.607/87, que dispõe sobre uso e prescrições urbanísticas da Zona Especial

Turística 1, mantida através do artigo 62 do PDN/94) duas áreas consideradas

frágeis, do ponto de vista ambiental, denominadas ZPA–5 e ZPA–6, ainda não

regulamentadas. A ZPA–5 refere-se à área de associação de dunas e de

lagoas, e a ZPA–6 refere-se ao Morro do Careca e dunas associadas.

Em 2000, foi aprovada a Lei Complementar n. 027 que criou a

Zona Adensável de Ponta Negra, estabelecendo novos parâmetros de

densidade e aproveitamento, em função de melhorias implantadas na

infraestrutura do bairro.

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Quadro da evolução histórica de Ponta Negra

PERÍODO MARCOS HISTÓRICOS DESDOBRAMENTOS

Final do ano de 1631

Entrada das naus flamengas no litoral norte-rio-grandense

Pode-se supor a localidade apenas como ponto de apoio estratégico: “Sabe-se que, em 1635, o processo de ocupação começa oficialmente. Vagarosamente, os habitantes começaram a chegar, pois até 1930, as construções só circundavam a igreja ou estavam na praia”.

1823 Construção da igrejinha da vila

As ruas mais antigas são a Manoel Coringa de Lemos (considerada a principal via de acesso), a Rua do Corrupio e a Rua da Floresta.

1940... A partir da Segunda Guerra Mundial

Nota-se a chegada de equipamentos urbanos, como a luz elétrica e o arruamento, com o objetivo de proporcionar lazer.

Fim dos anos 50 Contenda jurídica entre Fernando Pedrosa e os moradores da vila

Questão finalizada com a doação, por Fernando Pedrosa, de parte da área da vila à Arquidiocese de Natal e uma grande parte para a Aeronáutica (Barreira do Inferno).

Anos 70 A elite da capital toma gosto pelo veraneio e elege Ponta Negra como ponto de referência para a nova praxe.

Urbanização da orla, que, anteriormente, só era possuidora de casas de pescadores. Mudança na tipologia edilícia das novas construções e novos usos. Substituição ou consolidação da área.

1978 Marco da entrega do conjunto Ponta Negra à cidade de Natal

Entrega de 1.839 unidades para uso exclusivamente residencial.

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PERÍODO MARCOS HISTÓRICOS DESDOBRAMENTOS

Anos 80 Consolidação do bairro como grande área residencial, com a chegada dos conjuntos.

Problemas com a falta de equipamentos de infraestrutura para os novos moradores, tais como transporte público e pontos de comércio (quase inexistentes).

Fim dos anos 90 PRODETUR-NE

Impulso na conformação do bairro como área turística da cidade. Turistificação do lugar. Fator causador do boom imobiliário, da grande valorização dos imóveis.

Anos 2000

Construção de grandes empreendimentos imobiliários, superaquecimento imobiliário. Tipologia imobiliária voltada para o público estrangeiro (segundas residências)

Mudanças na tipologia de uso do solo e na qualidade construtiva, enobrecimento, gentrificação, segregação e coesão em pontos do bairro.

2008 Crise econômica mundial, crise no mercado imobiliário

Pontos de degradação, prédios sem moradores e, ainda, “esqueletos” (construções paradas ou em ritmo lento).

2009 Nova administração municipal

Plano para geração de emprego e desenvolvimento do setor imobiliário, como medida em resposta à crise do setor imobiliário. Para Ponta Negra, definição das regras para a mudança de tipologia de uso (de hotéis/flats/pousadas/2ªs residências) para apartamentos residenciais com aumento também das áreas. Adequação à nova realidade.

QUADRO 01: Evolução histórica de Ponta Negra. ELABORAÇÃO: Compilação de históricos de Ângelo Silva e Gilene Moura Cavalcante, por Rochelle Bezerra.

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80

Para a elaboração da pesquisa, iniciamos um levantamento dos

usos do solo em todo o bairro de Ponta Negra. Nesse mapa, feito em AutoCAD

(ver mapa 01), havia informações sobre a tipologia dos usos (residencial, misto,

comercial ou serviço, vazio, em construção, em fase de demolição,

abandonado e institucional) o número de pavimentos de cada lote e a sua

dinâmica imobiliária. Este estudo de campo e a sua respectiva coleta de dados

foram realizados, em um primeiro momento, em julho de 2007, com o

levantamento das áreas do conjunto Ponta Negra, Orlas 1 e 2 e o Paredão de

Ponta Negra. Em um segundo momento, em dezembro de 2008, concluiu-se

todo o mapeamento de campo da pesquisa com as áreas da Vila de Ponta

Negra, do Alto de Ponta Negra, do Conjunto Alagamar e de Alagamar. Houve

então a necessidade de um ajuste, e um novo levantamento foi feito no

Conjunto Ponta Negra para não haver defasagem quanto aos processos

espaciais no intervalo de tempo.

Estabelecemos que não seria relevante incorporar toda a

extensão do bairro de Ponta Negra pelo fato de a parcela oeste do bairro,

viizinha ao bairro Neópolis, não pertencer à mesma lógica estruturante voltada

ao turismo e à mesma dinâmica imobiliária voltada à imagem do Morro do

Careca, vigente em sua parcela estudada na pesquisa.

Completada a primeira coleta de dados primários, digitalizamos e

qualificamos a pesquisa em mapas temáticos de uso do solo e em planilhas

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para quantificar estatisticamente os dados. A terceira fase foi de percepção e

análise das áreas dinâmicas do bairro, onde se observa uma homogeneidade

de usos e de dinâmicas imobiliárias particulares. Ressaltamos que as referidas

áreas pertencem a uma mesma lógica estruturante, mas se diferenciam como

unidades. A partir desse momento, elaboramos um mapa das áreas dinâmicas

do mercado imobiliário.

O bairro de Ponta Negra, por sua formação e características, não

constitui um bairro homogêneo, pois nele se observa uma diferenciação de uso

e de ocupação do solo que demarca, espacial e socialmente, oito áreas com

dinâmica imobiliária, tipologias edilícias e perfil socioeconômico distintos. Essas

oito áreas são uma construção metodológica cujo objetivo é pormenorizar a

compreensão das diferenciações que vêm ocorrendo no bairro nas últimas

décadas. Analisaremos especificamente a dinâmica imobiliária e as tipologias

edilícias e/ou arquitetônicas das seguintes áreas: 1. Vila de Ponta Negra, 2.

Conjunto Ponta Negra, 3. Alto de Ponta Negra, 4. Paredão, 5. Orla 1 6. Orla 2,

7. Conjunto Alagamar e 8. Alagamar (ver Mapa 02).

Em seguida, fez-se um exercício de abstração para compreender,

sob a ótica teórica estabelecida, os dados postos, mediante a projeção dos

mapas dos processos espaciais diferenciados. Para a realização dessa

atividade, apropriamo-nos de alguns conceitos dos processos espaciais e

criamos outros específicos para o bairro. Finalizamos o item empírico com o

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produto final da pesquisa, o mapa dos processos espaciais de todo o bairro de

Ponta Negra, e traçamos um esquema-pensamento com o intuito de entender

as lógicas específicas que aportam no bairro de Ponta Negra, fazendo uma

relação com a cidade de Natal e com o mundo.

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4. OS PROCESSOS ESPACIAIS E A DINÂMICA IMOBILIÁRIA EM PONTA NEGRA

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90

4.1 Caracterização dos processos espaciais e da dinâmica imobiliária em

Ponta Negra

Para nortear a análise, identificamos alguns processos espaciais

diferenciados para cada área decomposta, os quais se hibridizam em algumas

áreas e são bem pontuais e íntegros em outras. No bairro de Ponta Negra,

observam-se os seguintes processos espaciais: coesão, segregação,

enobrecimento, gentrificação, sucessão, degradação, estabilidade e fragilidade.

Eles serão dispostos em forma de imagem circular, que revela

onde eles se apresentam de forma mais intensa, o que não significa que, em

suas bordas e até em alguns pontos externos, não possamos encontrar

fragmentos da mesma tipologia espacial identificada nos círculos. Um outro

processo que permeia, ou seja, passa, de forma transversal, por todos esses

processos espaciais em Ponta Negra é a turistificação de todo o bairro. O

turismo é um fator importante na sua conformação atual.

Entendemos coesão como uma coalescência, ou seja, o

crescimento de uma tipologia ou de um uso, com uma força atrativa decorrente

de sua homogeneidade, dando forma a determinada área. Nos casos

específicos de coesão dos espaços diferenciados de Ponta Negra, a

homogeneidade prevalece sob a força do comércio e dos serviços.

A segregação é aqui entendida em conformidade com a idéia de

Villaça (2005, p. 360): “[...] segregação é uma determinada geografia,

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produzida pela classe dominante, e com a qual essa classe exerce sua

dominação através do espaço urbano”. Trata-se, como avalia Villaça, de um

efeito do espaço sobre o social, complementando a afirmação de Castells

(1983, p. 250) de que é “[...] a tendência à organização do espaço em zonas de

forte homogeneidade social interna e com intensa disparidade social entre elas

[...]”. A segregação também constitui, em alguns casos específicos, uma

autossegregação.

Com relação ao enobrecimento, entendemos esse processo como

tornar nobre algum espaço que já estava urbanizado ou não. Preferimos não

usar a palavra gentrificação em alguns dos casos porque esta tem sentido de

mudança para uma camada social de renda mais elevada. No nosso estudo,

este pode não ser o caso. Há não só casos de mudança de uso (serviços

voltados para hotelaria a restaurantes), como um enobrecimento em

decorrência de uma primeira urbanização da área, não chegando, portanto, a

caracterizar uma substituição. Verifica-se também, no entanto, a gentrificação

no bairro.

Para o termo sucessão, concordamos com a linha de pensamento

de Correa, mas suprimimos a palavra invasão por entendermos que, no caso

em estudo, existiu, sim, uma substituição pressionada pelo mercado. Esta,

porém, não é considerada uma invasão, por ter sido permitida e não espoliada.

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92

Acerca do processo espacial de degradação, observamos que a

própria palavra se explica. Refere-se a espaços onde se verificam processos

de degeneração edilícia e do arruamento (calçadas), de falta de conservação,

de descaso com áreas públicas e de queda da atividade econômica e social.

O termo estabilidade foi assim designado para caracterizar os

espaços onde se percebe certa constância no uso do solo, mantendo-se como

em sua gênese.

Por fim, fragilidade foi o termo eleito para explicar a tipologia

edilícia vulnerável, “favelizada” e com explícitos problemas sociais e de

infraestrutura.

4.2 A Vila de Ponta Negra

A Vila de Ponta Negra é onde aconteceu a gênese do bairro.

Nessa área se instalaram os primeiros moradores, e, por essa razão, suas

ruas, vielas e vilas apresentam um mosaico orgânico. Não houve nessa área

planejamento algum. A construção do seu tecido foi sendo criada de acordo

com as necessidades dos moradores. Por suas características peculiares, suas

quadras irregulares, grandes lotes vazios, entremeados de vilas geminadas, foi

necessária maior atenção na consideração dos dados da pesquisa.

Quanto ao fator dinâmica imobiliária, a área da Vila de Ponta

Negra passou recentemente por uma dinâmica agressiva de mudança de uso

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do solo, por mudanças na valorização dos seus lotes imobiliários. Como

consequência, ocorreu o que empiricamente se chama de “expulsão branca”,

ou seja, seus antigos moradores venderam seus imóveis, seduzidos por ofertas

atraentes (a um preço especulativo). Os percentuais da pesquisa (Tabela 1)

informam pouca atividade imobiliária (1,28%), mas pode haver uma pequena

distorção quanto a esses dados pelo fato de os tamanhos das glebas da Vila

de Ponta Negra serem irregulares e muitas delas possuírem vilas internas.

Quanto ao uso do solo, 74,79% é residencial, mas observa-se

uma acentuada ação do uso misto e de comércio (12.26%). Os lotes mistos e

de comércio concentram pequenas lojas, mercadinhos, padarias, lanchonetes,

e, em algumas ruas do principal eixo de acesso à Vila, como a Rua Manoel

Coringa de Lemos, o comércio de peixarias é bem tradicional. Outra

característica pujante da área é o seu sentimento de comunidade, muito

fortalecido pela oferta de inúmeros serviços institucionais, com a prevalência de

igrejas. São, ao todo, 27 instituições, número equivalente a 1,32% dos lotes

(Fotografias 9 e 10).

Os lotes vazios ─ em sua maioria, de grande extensão ─

representam 10,69% de toda a extensão da Vila. Não se trata de terrenos

convencionais, mas de grandes glebas com grande potencial construtivo.

Quanto à sua escala de pavimentos, a Vila mantém-se horizontalizada em

quase toda a sua área (Fotografia 8).

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Em decorrência de uma nova dinâmica voltada para a venda de

lotes também para remembramento, houve um processo espacial de sucessão

e de gentrificação. Esse processo, no entanto, só se verifica nas vias principais

e nas bordas, junto à Orla 1, devido à vista privilegiada do mar. A construção

de novos empreendimentos ─ como edifícios de apartamentos, flats,

condomínios de casas, pousadas, hotéis e também casas de maior porte ─

provocou uma mudança no uso do solo da área. Com relação a esse aspecto,

nota-se um aumento do número de lotes voltados ao comércio (muitos

mercadinhos) ou serviços (muitas pousadas e flats) e também lotes de uso

misto. Um fator que merece maiores cuidados diz respeito à infraestrutura,

ainda muito incipiente, apenas com as vias principais asfaltadas. Por se

constituir numa área pobre em relação ao todo do bairro, são perceptíveis

muitos problemas, tais como ruas estreitas com pouca iluminação, vilas com

falta de saneamento, ruas sem calçamento (ainda de areia). Um outro

problema sério são suas vias de entrada e saída, consideradas insuficientes,

tendo em vista a tendência expansionista de contingente de novos moradores.

Quanto à tipologia edilícia das casas, percebe-se ainda uma

maior quantidade de residências com características construtivas tradicionais,

ou seja, casas de alvenaria, de pequeno porte (30m² a 100m²), com quadro de

esquadrias de madeira, além de vilas em que predominam residências

geminadas, com pouca ventilação e insalubres. Em nossa análise dos

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processos espaciais, essa situação enquadra-se no processo de fragilidade

espacial. Já nos novos empreendimentos, veem-se mudanças nos quesitos de

uso e de qualidade construtiva e também na escala da construção em relação

à área total das edificações. Outro detalhe perceptível é que os novos

empreendimentos verticalizaram-se, e a existência de grandes construções ao

lado de menores causa um certo estranhamento visual e social.

As diferenciações não são só espaciais. É visível a mudança

súbita de edificações de melhor padrão de qualidade construtiva, vizinhas das

ocupadas por moradores mais antigos e de menor renda. Isso significa que

houve uma substituição de antigos moradores por outros de uma nova classe

social mais abastada ou até por imigrantes estrangeiros que vieram morar em

Natal por diferentes razões. A essa situação, chamamos de processo espacial

de sucessão e gentrificação (Fotografia 4).

A Vila de Ponta Negra ainda possui uma peculiaridade em relação

ao todo do bairro no seu entorno: a existência da ZPA-6, que percorre toda a

área do Morro do Careca até as imediações do condomínio horizontal de casas

Ponta Negra Boulevard. As mudanças da Vila de Ponta Negra também atingem

a condição social dos que ali residem, pelas novas formas e pelo acesso ao

mercado de trabalho com as múltiplas construções e empreendimentos e

também novos postos de trabalhos voltados ao setor turístico.

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A seguir, apresentamos os produtos da pesquisa na área do Alto

de Ponta Negra (TABELA 1, IMAGEM 3, FOTOGRAFIAS e MAPA 5), que

sintetizam os processos espaciais já discutidos, observando-se

detalhadamente a sua localização.

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VILA DE PONTA NEGRA

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS

DINÂMICA

IMOBILIÁRIA

N° LO

TE

Residencial

Misto

Com

ercial /

Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III

IV

V

VI

X

XXI

S.O.A.I

Vende

Aluga

Vende ou

Aluga

Fechado

Abandonado

Total

2039

1537

157

94

218

7 1

10

27

367

1441

220

11

3 1 0 0 1

2003

26

6 0 0

11

% TO

TAL

75,38%

7,70%

4,61%

10,69%

0,34%

0,05%

0,49%

1,32%

18,00%

70,67%

10,79%

0,54%

0,15%

0,05%

0,00%

0,00%

0,05%

98,23%

1,28%

0,29%

0,00%

0,00%

0,54%

TABELA 01 – Situação Imobiliária da Vila de Ponta Negra (Resumo). * S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária.Diagramação: Felipe Fernandes

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Fotografia 1: Vila de Ponta Negra Fonte :Rochelle Bezerra

FOTOGRAFIAS 2 E 3: Pousada e residência empobrecida./ Impacto visual das novas construções (com vista da vila de Ponta Negra). FONTE: Acervo da autora.

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Fotografia 4: Apartamentos voltados exclusivamente para público europeu. Fonte: Rochelle Bezerra

FOTOGRAFIAS 5, 6 e 7: Vilas na vila de Ponta Negra.

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FONTE: Acervo da autora. FOTOGRAFIA 8: Vista aérea da vila. Aprimoramento: Rochelle bezerra Fonte: Alex Fernandes. http://picasaweb.google.com/SOS.Ponta.Negra/PontaNegraEmAbril... Fotografias 9 e 10: Igrejas (dentro da vila de Ponta Negra) Fonte: Rochelle Bezerra.

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103

4.3 O Conjunto Ponta Negra

O Conjunto Ponta Negra originou-se em 1978, a partir da iniciativa do

governo federal para a construção de conjuntos habitacionais, financiada pelo Banco

Nacional de Habitação-BNH e promovida pelo Instituto de Orientação às

Cooperativas Habitacionais-INOCOOP (SILVA, 2003). Na época de sua construção,

o Conjunto Ponta Negra localizava-se fora da malha urbana da cidade e suas

unidades eram destinadas exclusivamente para o uso residencial. Não havia

comércio ─ como mercados, padarias etc. ─ nem serviços, e, além disso, os

transportes eram precários (Fotografia 11).

Quanto à tipologia edilícia, as residências do Conjunto Ponta Negra, em sua

fase inicial, possuíam padrão construtivo voltado à classe média, com construções

em alvenaria e com esquadrias de madeira. O telhado era de cerâmica (telha canal)

em parte do conjunto; em outro setor (na frente do conjunto), o telhado era de

amianto (Fotografia 11). Com o passar do tempo, alguns moradores do conjunto

reformaram as casas, fugindo do padrão de comportamento dos conjuntos

habitacionais brasileiros. Transformaram as suas casas de maneira individual e

peculiar, diferenciado-as umas das outras e assim melhorando o seu padrão

construtivo e aumentando a área das residências (Fotografia 12).

Ao longo das últimas décadas, esse conjunto, assim como todo o bairro

de Ponta Negra, passou por transformações que foram intensificadas com a

atividade turística no local. Na área do conjunto, no geral, essas transformações

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aconteceram predominantemente nas bordas limítrofes e nos seus eixos principais

de acesso (Fotografias 13 a 17, 19 e 20).

Quanto ao uso do solo, de acordo com a pesquisa de campo realizada

em dezembro de 2008 (Mapa 7 e Tabela 2), 87,4% dos 1.839 lotes ainda

permanecem como de uso residencial. Houve, entretanto, uma significativa

modificação no padrão construtivo das residências em relação ao modelo

originalmente construído, o que foi percebido pela observação sistemática da área

do conjunto. Essas transformações são relativas a reformas, mudanças na tipologia

edilícia e em seu padrão construtivo. Investigando 40 moradores do Conjunto, essa

mesma pesquisa revelou os seguintes dados: com a intensificação da valoração

imobiliária, o valor médio do aluguel é de R$ 790,00; em média, os moradores vivem

no conjunto 21,4 anos, notando-se a constante prevalência dos moradores quanto

ao uso e ocupação do solo; 72,5% dos moradores moram em casas próprias, 17,5%

vivem em casas alugadas e 10% em imóveis cedidos.

Analisando os dados da pesquisa (mapa de uso do solo, mapa de

áreas diferenciadas, mapa fragmentado das áreas e seus respectivos processos

espaciais, tabela referencial do mapa de uso do solo de sua área e o roteiro

fotográfico), tipificamos os processos espaciais em curso do Conjunto Ponta Negra.

Como eixo condutor, utilizamos a Tabela 2 e o roteiro fotográfico da área (Imagem 4)

e, por fim, o Mapa 7.

De acordo com as nossas observações, verifica-se, em primeiro lugar,

uma tendência inicial nas mudanças de uso das residências para edificações de uso

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misto e destinadas a estabelecimentos comerciais ou prestação de serviços, o que

perfaz um total de 11,62%. No caso de uso misto, trata-se de salões de beleza,

mercadinhos, marmitarias, restaurantes, lanchonetes, chaveiros, enfim, pequenos

comércios ou serviços destinados aos moradores do próprio conjunto. As fotografias

19 e 20 exemplificam o processo de coesão comercial que acontece internamente

no conjunto, em particular nos seus eixos viários principais internos, nas ruas Praia

de Búzios e Praia de Tibau. Os estabelecimentos de comércio ou serviços voltados,

em particular, para o turismo estão localizados nas bordas do conjunto, na avenida

Praia de Genipabu, formando o que chamamos de processo de coesão espacial

(Fotografias 13, 15 a 17 e Mapa 7) .

A coesão existente nas bordas entre o Conjunto Ponta Negra e seu

principal eixo viário, avenida Engenheiro Roberto Freire, dá-se por quase toda a sua

extensão, mas intensifica-se entre o Praia Shopping e a feira de artesanato

(Fotografia 23), espraiando-se pelo seu entorno (Fotografias 15 a 17 e Imagem 4).

Nesse espaço, encontram-se o prédio de estacionamento do Praia Shopping,

restaurantes, academia de ginástica, casa de câmbio, serviços de aluguel de carros,

comércio de pranchas de surf, clínica médica, entre outros.

Verificando o Mapa 7, observa-se que a mudança de uso do solo para

comércio e serviços ocorre nas bordas e nos principais eixos de acesso ao

Conjunto, enquanto as edificações de uso misto encontram-se no seu interior. O

processo espacial de coesão existente na área do entorno da feira de artesanato

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conflui objetivamente para o comércio e os serviços voltados para a atividade

turística.

Existe ainda outro ponto de coesão espacial ao norte do Conjunto que

se estende por metade da avenida Praia de Genipabu (Fotografia 13), processo

espacial híbrido, objeto de análise posterior.

Em segundo lugar, o processo espacial de maior extensão e evidência

na área do Conjunto de Ponta Negra é o de estabilidade (Fotografias 19 a 21). Essa

estabilidade foi favorecida por intermédio do controle exercido pela legislação

urbanística decretada como zona de controle de gabarito e adensamento básico

(Mapa 1). Esse espaço do Conjunto, por não possuir elementos atraentes à

atividade turística, ainda se encontra em estado de dormência imobiliária em relação

à grande atividade existente em suas bordas (Mapa 7). Verifica-se, no entanto, que

a dinâmica imobiliária distribui-se por todo o conjunto, indicando que, no futuro, essa

dinâmica poderá se intensificar de acordo com as necessidades do mercado.

Podemos constatar a manutenção de residências e, em alguns casos, no seu

modelo original (Fotografias 21 e 22), com tipologia edilícia preservada.

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A horizontalidade espacial do Conjunto Ponta Negra é observada

de forma categórica com 89,79% de suas edificações com um pavimento;

quanto à sua dinâmica imobiliária, o fator de maior importância é que 96,63%,

ou seja, quase sua totalidade, não tem ocorrência de atividade imobiliária

(Tabela 2), o que reforça ainda mais a sua estabilidade espacial.

Em terceiro lugar, ao norte do Conjunto, observamos também a

sucessão, processo espacial que surge com a entrada de novos moradores e

substituição de nova tipologia edilícia, como no exemplo da Fotografia 14. Esse

processo de sucessão deu-se pela proximidade com o principal eixo viário e o

Praia Shopping e pela chegada de novos moradores ao bairro. O conjunto

Ponta Negra se beneficia também pela proximidade com o bairro de Capim

Macio que dispõe de outras infraestruturas e serviços, tais como

supermercados, postos de gasolina, padarias, cinemas etc. Em suma, a área

ao norte do Conjunto é um híbrido, em se falando de processos. Verifica-se

tanto a sucessão de moradores quanto uma coesão comercial e de serviços,

como no seu vértice e em parte da avenida Praia de Genipabu, limite entre os

bairros Ponta Negra e Capim Macio (Fotografia 13). Essa coesão existente na

avenida limítrofe entre os bairros relaciona-se com o processo de coalescência

impulsionado a partir da inauguração do Praia Shopping, em 1997, trazendo

para essa área bares, lanchonetes e serviços como salões de beleza,

restaurantes, padarias etc. Essa avenida adquiriu tanta importância pelas

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inúmeras melhorias implantadas relativas à urbanização, que a configuração do

próprio shopping center foi redesenhada para ser voltada para essa via. Antes,

não existiam lojas voltadas para a avenida; recentemente, no entanto, observa-

se a abertura de uma lanchonete (do shopping). Verifica-se que esse trecho é

uma área instável quanto ao tempo de permanência dos comércios e serviços,

sendo constante a troca de proprietários ou de locatários.

Apresentamos, a seguir, os produtos da pesquisa na área do

Conjunto Ponta Negra (Tabela 2, Imagem 4, Fotografias e Mapas 5 e 6), que

sintetizam os processos espaciais já discutidos da área, observando-se

detalhadamente a localização dos referidos processos. Neste mapas,

procuramos fornecer informações como principais ruas em que se evidenciam

os processos e de manchas em camadas sob o mapa.

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CONJUNTO PONTA NEGRA

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS DINÂMICA IMOBILIÁRIA

N° LO

TE

Residencial

Misto

Com

ercial /

Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III

IV

V

VI

X

S.O.A.I.*

Vende

Aluga

Vende ou Aluga

Fechado

Abandonado

Total

1842

1610

130

84

4 2 7 0 5 13

1654

149

12

9 1 1 3

1780

35

20

1 5 1

% TO

TAL

87,40%

7,06%

4,56%

0,22%

0,11%

0,38%

0,00%

0,27%

0,71%

89,79%

8,09%

0,65%

0,49%

0,05%

0,05%

0,16%

96,63%

1,90%

1,09%

0,05%

0,27%

0,05%

TABELA 02 – Situação Imobiliária do Conjunto Ponta Negra (Resumo). * S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária. Diagramação: Felipe Fernandes

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111

Fotografia 11: Conjunto Ponta Negra no começo da década de 1980. Fonte: http://grito-verde.blogspot.com/2008/08/o-que-fizeram-com-ponta-negra.html

FOTOGRAFIA 12: Exemplo de residência reformada, com tipologia edilícia dispare da construção original. FONTE: Acervo da autora.

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112

FOTOGRAFIA 13: Exemplo de processo de coesão na Avenida limítrofe entre os bairros de Ponta Negra e Capim Macio. FONTE: Acervo fotográfico da autora.

FOTOGRAFIA 14: Exemplo de processo de sucessão no Conjunto Ponta Negra. FONTE: Acervo da autora.

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113

FOTOGRAFIA 15: Exemplo de coesão das bordas do Conjunto Ponta Negra. FONTE: Acervo da autora.

FOTOGRAFIA 16: Exemplo de coesão comercial. FONTE: Acervo da autora.

FOTOGRAFIA 17: Exemplo de coesão comercial perto da feira de artesanato. FONTE: Acervo da autora.

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114

FOTOGRAFIA 18: Exemplo de rua (Rua Barra de Grossos) com processo espacial de estabilidade. FONTE: Acervo fotográfico da autora.

FOTOGRAFIA 19: Exemplo de pequeno comércio da Rua Praia de Búzios. FONTE: Acervo da autora.

FOTOGRAFIA 20: Exemplo de “restaurante de bairro” na Rua Praia de Búzios.FONTE: Acervo da autora.

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115

FOTOGRAFIA 21: Exemplo de estabilidade espacial quanto ao uso e de conservação da tipologia edilícia de quando em sua origem. Na Rua Barra de Cunhaú. FONTE: Acervo fotográfico da autora.

FOTOGRAFIA 22: Exemplo de conservação da tipologia edilícia de quando em sua origem. FONTE: Acervo fotográfico da autora. Na Rua Praia de Alagamar.

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116

FOTOGRAFIA 23: Feira de artesanato de Ponta Negra. FONTE: Acervo da autora.

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119

4.4 O Alto de Ponta Negra

A área referente ao Alto de Ponta Negra está localizada em um

plano mais alto em comparação a todo o bairro, possibilitando uma vista

privilegiada do Morro do Careca e suscitando rendas de monopólio. O nome

dessa área ─ que faz fronteira com o Conjunto Alagamar, o Alagamar e a Vila

de Ponta Negra ─ originou-se da necessidade de enobrecê-la para valorizá-la.

Uma parcela dessa área fez parte de uma grande gleba do ABC

Futebol Clube, que passou a pertencer à empresa construtora ECOCIL. A

construção do estádio do ABC, um dos marcos espaciais de referência dessa

área, foi uma negociação de permuta em troca dos terrenos para a edificação

do Condomínio Sports Park e do Condomínio Estrela do Atlântico (Fotografias

23 e 24).

Os primeiros edifícios construídos foram duas torres residenciais

com 30 andares da Construtora Capuche (Fotografia 26), as quais dispõem de

apartamentos com aproximadamente 100 m2. No seu lançamento, ainda não

existia a intensa demanda do público estrangeiro, porém, com o passar do

tempo, ocorreram a revenda dos apartamentos e a substituição do antigo perfil

de morador por um novo, formando o que chamamos de turismo de segunda

residência.

Em seguida, a ECOCIL construiu quatro torres, de 23 andares

cada, privilegiando, de início, o público natalense; mas, como o momento de

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120

sua construção estava envolto no boom imobiliário voltado para os

estrangeiros, as torres foram ocupadas por um misto de moradores brasileiros

e estrangeiros. Contudo a sua tipologia não se assemelha à tipologia edilícia de

imóveis construídos para estrangeiros, por possuir 109 m2 de área, metragem

bem acima do tamanho vendido para o público de segundas residências.

Nessa mesma época, é lançado o empreendimento do condomínio horizontal,

chamado Ponta Negra Boulevard (Fotografia 29), na rua Dr. Múcio Vilar

Ribeiro Dantas, limítrofe entre a ZPA–6 e o bairro de Ponta Negra. Embora

tenha sofrido, como os outros empreendimentos, uma valorização imobiliária

especulativa, o condomínio ainda não se encontra totalmente consolidado, isto

é, com todos os seus lotes construídos. Ele possui características diferenciadas

dos demais condomínios da área, por não ter tido captação de capital quase

que exclusivamente estrangeiro [???], tal como ocorreu com os demais

condomínios vizinhos. Voltados para a área do Conjunto Alagamar, existem

ainda dois condomínios de apartamentos, que ficam de frente para uma praça

requalificada pela construtora Delphi (Fotografias 27 e 28).

Quanto à sua dinâmica imobiliária (Tabela 3), os dados não são

muito reveladores, dado que a pesquisa de campo verifica apenas a ocorrência

de placas anunciadas de venda e aluguel. Como predominam as altas torres de

apartamentos ─ muitos ainda à venda pelos próprios construtores ─, esses

dados não condizem com a realidade de um bairro que, ainda hoje, é

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121

predominantemente horizontal. De acordo com a análise estatística de uso do

solo, 47,92% das glebas são residenciais e 37,50% ainda são de lotes vazios,

ou seja, há ainda grande potencial construtivo. Verificamos intensa valorização

da área, que se estabelece, inclusive, por conta de um contínuo processo

espacial de enobrecimento (Fotografia 30). Há, pelo menos, dois fatores que

explicam tamanha valorização: a pujança do setor imobiliário à época, em

razão da grande entrada de capital estrangeiro, gerando especulação, e, além

disso, a sua posição bastante peculiar, em platô com vista para o mar e para o

Morro do Careca.

Um outro fator relevante é a verticalidade da área (Tabela 3), a

qual possui 10,40% de suas edificações acima de três pavimentos. Esse já

seria, por si só, um percentual significativo, mas convém destacar aqui que

esses 10,40% ocupam grande parcela da área do Alto de Ponta Negra. Nessa

contagem, não se consideram os empreendimentos individualizados dos

edifícios. Um dos destaques dessa verticalidade são as duas torres de 45

pavimentos (Fotografia 24, Tabela 3) que compõem o Condomínio Estrela do

Atlântico, cuja tipologia é voltada ao público para investimentos imobiliários de

capital externo.

Quanto à tipologia edilícia, observa-se alta qualidade nos

materiais construtivos para as residências de condomínio horizontal e grandes

estruturas verticais em concreto. Comportam, talvez, o maior gabarito (altura)

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122

de toda a cidade (Condomínio Sports Park, com 23 pavimentos; Condomínio

Corais de Ponta Negra, com 30 pavimentos, e Condomínio Estrela do Atlântico,

com 45 pavimentos).

Quanto às características de processo espacial, identificamos

segregação, enobrecimento ou autossegregação. A segregação verifica-se até

no transporte público, por só existir uma rota (uma linha) que percorre as

referidas áreas. A segregação observada nessa área opera no sentido de

agrupamento em função da capacidade social dos moradores, do status social,

do nível de instrução e, mais especificamente, em função de ser de outra

cidade ou de outro país (por ser uma área turística). O enobrecimento se dá

devido à mudança de uso da área: onde antes eram lotes vazios, figuram

faustosos condomínios residenciais, espraiando suas melhorias espaciais no

entorno (Fotografia 30). A autossegregação está presente nessa área como

nas formas de construção do espaço, em forma de condomínios fechados

verticais e horizontais.

A seguir, apresentamos os produtos da pesquisa na área do Alto

de Ponta Negra (Tabela 3, Imagem 5, Fotografias e Mapa 7), que sintetizam os

processos espaciais já discutidos, observando-se detalhadamente a

localização dos referidos processos.

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123

ALTO DE PONTA NEGRA

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS DINÂMICA IMOBILIÁRIA

N° LO

TE

Residencial

Misto

Com

ercial / Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III

VII

XXIII

XXX

XLV

S.O.A.I*

Vende

Aluga

Vende ou Aluga

Fechado

Abandonado

Total 48 23 0 4 18 2 0 1 0 21 13 9 1 1 1 1 1 47 1 0 0 0 0

% TO

TAL

47,92%

0,00%

8,33%

37,50%

4,17%

0,00%

2,08%

0,00%

43,75%

27,08%

18,75%

2,08%

2,08%

2,08%

2,08%

2,08%

97,92%

2,08%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

TABELA 03 – Situação Imobiliária do Alto de Ponta Negra (Resumo). * S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária. Diagramação: Felipe Fernandes.

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Fotografia 25: Estádio do ABC. Fonte: Acervo da autora.

Fotografia 24: Condomínio Sports Park. Fonte: www.ecocil.com.br

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FOTOGRAFIA 26: Corais de Ponta Negra. FONTE:http://media.photobucket.com/image/corais%20de%20Ponta%20Negra/pedromotta/Ponta%20Negra/DSC04431.jpg

FOTOGRAFIA 27: Pool de condomínios: da esquerda para direita, Estrela do Atlântico, dois condomínios da construtora Delphi, Studio Praia e Varandas de Ponta Negra, Sports Park e um flat. Processo espacial de Segregação. FONTE: Acervo da autora.

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127

FOTOGRAFIA 28: Condomínio da construtora Delphi e logo a frente, o processo de enobrecimento da área, valorizando o imóvel.

FOTOGRAFIA 29: Condomínio Horizontal. Rua limítrofe do bairro.

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128

FOTOGRAFIA 30: Exemplo de enobrecimento do entorno. Rua Dr. Múcio Vilar Ribeiro Dantas. Entrada do Condomínio Horizontal.

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130

4.5 “Paredão” - Área verticalizada da Avenida Engenheiro Roberto Freire

A área verticalizada da Avenida Engenheiro Roberto Freire, a que

chamamos de “paredão”, está contida entre a da Avenida Engenheiro Roberto

Freire e a Avenida Praia de Ponta Negra. Sua principal característica é a sua

escala construtiva, com volumetria díspare de todo o platô do Conjunto Ponta

Negra, (Fotografias 31 e 32), verticalidade essa e tipologias voltadas para

segundas residências, flats e hotéis.

Esta é a área de maior valorização imobiliária de todo o bairro,

devido à proximidade e visão privilegiada da praia, do mar, e de todo o bairro,

em particular do Morro do Careca. Sua tipologia edilícia se diferencia das

demais construções do bairro, através de grandes estruturas construtivas e

estilo arquitetônico contemporâneo. Referimos a esta área como formada por

processos espaciais de intensa auto-segregação, enobrecimento e coesão. Ou

seja, esta área apresenta um complexo e híbrido processo espacial, com um

processo fundindo-se ao outro de forma simultânea.

Quanto à tipologia edilícia, percebem-se construções

verticalizadas de concreto armado em conformidade com o padrão construtivo

da mesma, com esquadrias envidraçadas, alvenaria e concreto. Segundo

informação obtida através de conversas informais com corretores imobiliários

locais, uma característica da tipologia da área do paredão é quanto ao tamanho

exíguo das áreas dos apartamentos: uma média de 45 a 70 metros quadrados.

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131

Esse fato relaciona-se ao público-alvo das construtoras, no caso, capital

estrangeiro, através de investidores em segundas-residências. Uma peculiar

observação quanto à real presença de moradores ou turistas é evidente. Neste

momento presente, observa-se à noite todo um conjunto de apartamentos

vazios, com as luzes sempre apagadas, indicando que esses imóveis são um

evidente investimento financeiro, não sendo validada a sua primeira função

residencial.

A análise estatística dos dados evidencia que 45,24% do uso é

classificado como comercial ou de serviços, ou seja, quase sua metade voltada

para a atividade turística, através dos serviços de flat, hotéis e restaurantes. Da

mesma forma que na análise do Alto de Ponta Negra, observa-se que essas

referências são das glebas, dos edifícios, e não dos apartamentos individuais.

A área possui 30,95% de lotes residenciais, uma grande verticalidade em

relação ao todo do bairro de Ponta Negra e tem 47,62% das edificações acima

de três pavimentos, com seis torres acima de 21 andares. Quanto à dinâmica

imobiliária, 92,86% não representa a ocorrência de atividade, apresentando o

mesmo problema de mensuração dessa dinâmica observada no Alto de Ponta

Negra por não se conhecer precisamente as quantidades de imóveis a venda

ou para alugar no interior dos edifícios. O índice de 7,14% verificado é, mesmo

assim, alto em relação ao bairro, podendo esse percentual ser bem maior.

Outro importante fator de destaque quanto a sua dinâmica imobiliária é o

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132

número de lotes vazios (14,29%), indicando a tendência a crescimento

contínuo da valorização da área, ou seja, da especulação imobiliária.

A auto-segregação vigente nesta área, como o próprio prefixo já

explica, é uma intenção própria dos moradores, turistas ou comércio de em

primeiro momento se porem diferentes, acima (melhores), através do status

visual (arquitetura) e construtivo. Outro fator desta mesma auto-segregação

existente na área do “paredão” é a necessidade de exclusividade e proteção.

Então, percebem-se muros altos e seguranças privados. Os muros, neste

sentido, não são somente materiais, nesta área, a atmosfera é de exclusividade

e de intimidação quanto aos que não pertencem ao círculo coeso de ricos,

estrangeiros e trabalhadores fardados (para distinção), neste caso, os muros

são feitos de barreiras sociais invisíveis, contudo, perceptíveis.

O enobrecimento aqui posto limita-se à área por estar envolta

pela Avenida Engenheiro Roberto Freire, em seu mais valorizado ponto,

possuir ampla arborização, sempre bem cuidada, calçadas acompanhado a

mesma padronização do calçadão da orla do bairro (com pedras portuguesas),

cercado por restaurantes de qualidade, comércio (padarias sofisticadas,

farmácias, academias de ginástica etc), insigne símbolo de área nobre do

bairro. O enobrecimento espacial da área está contido também no “cartão

postal” da cidade, onde a área é tida como vitrine das políticas públicas do

turismo da cidade de Natal.

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133

A coesão deve-se à convergência do comércio e serviços

voltados quase que exclusivamente a atividade turística (restaurantes, hotéis,

apart-hotéis e prédios inteiros voltados para as segundas-residências)

Fotografia 31.

A seguir, os produtos da pesquisa na área do Paredão, TABELA

03, IMAGEM 06, FOTOGRAFIAS e MAPA 09, que sintetiza os processos

espaciais já discutidos da área, observando-se detalhadamente a localização

dos referidos processos.

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134

PAREDÃO DE PONTA NEGRA

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS DINÂMICA IMOBILIÁRIA

N° LO

TE

Residencial

Misto

Com

ercial / Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III

IV

VI

VIII

X

XII

XIII

XVI

XVII

XXI

XXII

XXIV

S.O

.A.I*

Vende

Aluga

Vende ou Aluga

Fechado

Abandonado

Total

40 13

1

19

4 2 0 0 1 4

13

3 3 1 1 1 4 1 1 1 1 2 1 2 37

2 1 0 0 0

% TO

TAL

30,95%

2,38%

45,24%

14,29%

4,76%

0,00%

0,00%

2,38%

19,05%

26,19%

7,14%

7,14%

2,38%

2,38%

2,38%

9,52%

2,38%

2,38%

2,38%

2,38%

7,14%

2,38%

4,76%

92,86%

4,76%

2,38%

0,00%

0,00%

0,00%

TABELA 03 – Situação Imobiliária do Paredão de Ponta Negra (Resumo). * S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária. Diagramação: Felipe Fernandes.

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136

FOTOGRAFIA 31: Verticalidade e evidência quanto a escala dispare em relação ao entorno. FONTE: Acervo da autora.

FOTOGRAFIA 32: Vista da Vila de Ponta Negra. Skyline do “Paredão”. FONTE: Acervo Particular da autora.

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137

FOTOGRAFIAS 33 e 34: A verticalidade, a coesão e a segregação.

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139

4.6 A Orla 1

A orla foi subdividida em duas porções pelas suas dinâmicas

imobiliárias díspares. A Orla 1 caracteriza-se pela parte à beira-mar, originada

conjuntamente com a Vila de Ponta Negra. Está localizada entre o Morro do

Careca e a rua Tívole (acesso de saída da praia), limitando-se a oeste com a

avenida Engenheiro Roberto Freire.

Quanto ao fator dinâmica imobiliária, nota-se, no final dos anos

1990, uma tentativa de enobrecimento do lugar com a urbanização do espaço

por intermédio da construção do calçadão e da retirada de ambulantes e

barracas de praia, as quais foram relocadas em barracas estilizadas. Contudo,

o fato de a manutenção do espaço não ter ocorrido de forma adequada causou

a sua degradação espacial. Observa-se também um ponto de coesão espacial

através do grande resort à beira-mar, o Beach Resort, e de pousadas e

comércio voltados para os turistas.

Quanto à tipologia edilícia, verificam-se ainda, na parte próxima

ao Morro do Careca, algumas construções dos anos 1970, como casas de

veraneio que posteriormente viraram pousadas e bares, com construções

simples de alvenaria e esquadrias de madeira. Logo em seguida às primeiras

edificações da orla, o Beach Resort ─ uma grande área, com tipologia edilícia

em alvenaria, arquitetura de estilo rústico ─ utiliza sofisticados materiais nas

esquadrias e tem um parque aquático em vários níveis. No resort, envolto por

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140

jardins e árvores (mantidas) frutíferas de grande copa e porte, constata-se uma

preocupação com a vegetação O partido arquitetônico aproveita os níveis do

terreno, com camadas orgânicas (deixando uma atmosfera de naturalidade

topográfica), mas sua estrutura construtiva (apartamentos/suítes) permanece

ortogonal.

Por toda a Orla 1, verificamos uma coesão no uso do solo em

relação à sua tipologia comercial e de serviços e, ao mesmo tempo, uma

degradação desses mesmos pontos. Outro fator de degradação é o seu

arruamento e as calçadas (calçadão) sem manutenção, com as pedras

portuguesas soltas formando crateras (Fotografia 38).

Quanto à análise estatística, 31,40% dos lotes da Orla 1 têm uso

residencial, possuindo uma relativa paridade com a porcentagem de lotes

comerciais, 32,78%, e de lotes vazios ainda em grande oferta, 33,07%, ou seja,

indicando possibilidades construtivas e de negócios imobiliários futuros.

A seguir, os produtos da pesquisa na área da Orla 1 (Tabela 5,

Imagem 7, Fotografias e Mapa 10), que sintetizam os processos espaciais já

discutidos da área, observando-se detalhadamente a localização dos referidos

processos.

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141

ORLA 1

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS DINÂMICA IMOBILIÁRIA

QU

ADR

A

N° LO

TE

Residencial

Misto

Com

ercial /

Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III

IV

V

VI

VIII

S.O.A.I.*

Vende

Aluga

Vende ou Aluga

Fechado

Abandonado

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS DINÂMICA IMOBILIÁRIA

Total

363

114

6

119

120

3 1 0 0

136

46

92

55

11

5

12

6

331

24

7 1 0 0

% TO

TAL

31,40%

1,65%

32,78%

33,06%

0,83%

0,28%

0,00%

0,00%

37,47%

12,67%

25,34%

15,15%

3,03%

1,38%

3,31%

1,65%

91,18%

6,61%

1,93%

0,28%

0,00%

0,00%

TABELA 05 – Situação Imobiliária da Orla 1. (Resumo) * S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária. Diagramação: Felipe Fernandes.

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143

Fotografias 35 e 36: Esgoto em frente ao Beach Resort/ Beach Resort Fonte: sospontanegra.com.br

Fotografia 37: Orla 1. Morro do Careca. Fonte: Folder do Beach Resort.

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Fotografia 38: Processo espacial de degradação. Fonte: Rochelle Bezerrra.

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146

4.7 A Orla 2

A Orla 2 começa a partir da rua Tívole até o começo da Via

Costeira, limitando-se, a oeste, com a avenida Engenheiro Roberto Freire e, ao

norte, com a avenida Senador Dinarte Mariz (começo da Via Costeira). Essa

orla de Ponta Negra era, épocas atrás, uma área de veraneio com terrenos

superiores, em tamanho, aos da Orla 1. O espaço pesquisado tem sido

enobrecido pela iniciativa pública (calçadas, arruamentos etc) e por

investimentos privados, como a intensa mudança de uso do solo com a

construção de hotéis. A área possui uma boa infraestrutura, com desnível

elevado, que se estende da área considerada não edificante até o limite da

praia. É composta por grandes residências de alto padrão, pontos comerciais

voltados para o turismo, um grande pool de restaurantes e hotéis, além de

pontos de serviços diversos, causando uma coesão espacial.

Quanto à tipologia edilícia, verificamos uma rica variedade de

padrões e estilos arquitetônicos. A área é possuidora de grandes residências

com estilos arquitetônicos, em sua maioria, contemporâneos e com alta

qualidade de materiais construtivos (Fotografias 41 e 42). Na análise das

tipologias edilícias dos hotéis, observamos a maioria de alto padrão construtivo

e de estilos rústicos/contemporâneos, procurando efeito estilizado da

rusticidade de edificações à beira mar, com a ambiência natural do lugar. Um

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147

expoente exemplo desse estilo arquitetônico é a edificação do restaurante

Camarões.

A análise estatística da área revelou a dimensão real do nível de

coesão de comércio e serviços, com 45,59% de sua totalidade voltado para os

serviços do turismo. Esse índice demonstra a intensidade e a força dessa área,

como um dos maiores processos de coesão, em porcentagem, de todo o

bairro. A área possui 13,24% de residências, salientando que estas residências

em sua grande maioria são grandes e possuidoras de qualidade quanto à

tipologia edilícia (Fotografias 41 e 42). [informações repetidas do parágrafo

anterior] Quanto à verticalidade, possui [a área / as residências/?] até cinco

pavimentos, mantendo o gabarito prescrito do Plano Diretor de Natal. Quanto à

dinâmica imobiliária, com 10,29% dos imóveis para vendas e 1,47%, para

aluguel, verificamos como constitui uma área de grande valorização imobiliária,

devido à sua posição espacial na praia.

Os processos espaciais identificados na Orla 2 são os seguintes:

coesão, enobrecimento e estabilidade. Possuidora de grandes lotes à beira

mar, reúne um pool de hotéis em uma coesão espacial linear (Fotografias 43 e

44). Um dos pontos mais marcantes dessa área é justamente a não edificante,

cujo objetivo é manter o potencial cênico, no caso, do mar e do Morro do

Careca, um dos ícones representativos da identidade de toda a cidade de Natal

─ essa situação caracterizando-se como processo espacial de estabilidade.

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148

Mas essa mesma área, mantida estática sob o aspecto construtivo pela

legislação, sofre de incorreções espaciais pelo fato de, “a olhos vistos”, possuir

algumas edificações (Fotografia 45). O processo espacial de enobrecimento

que permeia toda a extensão da Orla 2 ─ com seus hotéis, seus restaurantes

requintados, sua atmosfera agradável ─ causa a sensação de uma ilha voltada

ao turista.

A seguir, analisamos os produtos da pesquisa na área da Orla 2

(Tabela 6, Imagem 8, Fotografias e Mapa 11) que sintetizam os processos

espaciais já discutidos, observando-se detalhadamente a localização dos

referidos processos.

.

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149

ORLA 2

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS DINÂMICA IMOBILIÁRIA

QU

ADR

A

N° LO

TE

Residencial

Misto

Com

ercial /

Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III

IV

V

S.O.A.I.*

Vende

Aluga

Vende ou

Aluga

Fechado

Abandonado

Total

68 9

11

31

6 4 3 2 2 9

12

15

16

9 7 57

7 1 0 1 2

% TO

TAL

13,24%

16,18%

45,59%

8,82%

5,88%

4,41%

2,94%

2,94%

13,24%

17,65%

22,06%

23,53%

13,24%

10,29%

83,82%

10,29%

1,47%

0,00%

1,47%

2,94%

TABELA 06 – Situação Imobiliária da Orla 2. (Resumo) * S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária. Diagramação: Felipe Fernandes.

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151

FOTOGRAFIAS 39 e 40: Coesão e Enobrecimento espacial (atmosfera) e restaurante Camarões FONTE: Acervo da autora.

FOTOGRAFIAS 41 e 42 Residências de alto padrão. Exemplos de tipologias edilícias. FONTE: Acervo da autora.

FOTOGRAFIAS 43 e 44 : Hotéis da Orla 2. FONTE: Acervo da autora

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152

FOTOGRAFIA 45: Área non aedificandi. FONTE: www.tribunadonorte.com.br

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154

4.8 O Conjunto Alagamar

O Conjunto Alagamar tem sua origem logo após a formação do

conjunto Ponta Negra, em 1979. Localizado do lado leste do Conjunto Ponta

Negra e vizinho à Vila de Ponta de Negra, também foi promovido pelo

INOCOOP, para uso residencial, mas apresentava diferenças no tamanho dos

lotes e das residências, que eram maiores em relação aos do Conjunto Ponta

Negra.

Quanto à dinâmica imobiliária, percebe-se em todo o bairro uma

valorização da área, menor, no entanto, do que a do Alto de Ponta Negra, do

Paredão e da Orla de Ponta Negra. Uma mudança pungente foi a substituição

de uso do solo de residências para comércio e serviços em duas ruas

paralelas, a Doutor Manoel A. B. de Araújo e a Aristides Porpino Filho, e,

consequentemente, nas transversais, proporcionando o processo de coesão

espacial. Atualmente a área está voltada para o comércio de bares e

restaurantes, sendo considerada um dos principais pontos de entretenimento

tanto de natalenses quanto de turistas. Outro fator importante é a tendência

verificada de uso do solo voltado para flats e condomínios nessa área.

O processo espacial de gentrificação é notório, havendo uma

substituição dos antigos moradores de classe social mais baixa por novos

moradores de classe mais alta e também por indivíduos de outras

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155

nacionalidades. A gentrificação é também percebida pelos aspectos concretos

do bairro, tais como as novas residências de alto padrão.

Quanto à tipologia edilícia, percebe-se uma diferenciação para

melhor em relação ao padrão construtivo do Conjunto Ponta Negra, além da

presença de alguns edifícios voltados também a segundas residências. Um

marco visual da referida área são as duas torres gêmeas construídas na

esquina das avenidas Engenheiro Roberto Freire e Antônio Florêncio de

Queiroz (Rota do Sol) (Fotografia 26). Nas bordas do Conjunto Alagamar,

existe uma área intermediária entre o referido conjunto e a Orla 1 (nas

imediações da avenida Engenheiro Roberto Freire). Há, nesse espaço, uma

verticalização e alguns prédios voltados tanto para residências quanto para

flats ou segundas residências (consideramos, nesta pesquisa, que a área da

Vila de Ponta Negra tem seu limite nas ruas Poeta Jorge Fernandes e a dos

Golfinhos).

A seguir, os produtos da pesquisa na área do Conjunto Alagamar

(Tabela 7, Imagem 9, Fotografias e Mapa 12), que sintetizam os processos

espaciais já discutidos, observando-se detalhadamente a localização dos

referidos processos.

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156

CONJUNTO ALAGAMAR

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS DINÂMICA IMOBILIÁRIA

QU

ADR

A

N° LO

TE

Residencial

Misto

Com

ercial / Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III

IV

VII

VIII

X

XVI

XXI

XXXII

S;O.A.I.

Vende

Aluga

Vende ou Aluga

Fechado

Abandonado

Total

199

145

14

19

7 2

11

1 0 7

170

12

2 1 1 1 1 1 1 2

154

18

4 1 0 0

% TO

TAL

72,86%

7,04%

9,55%

3,52%

1,01%

5,53%

0,50%

0,00%

3,52%

85,43%

6,03%

1,01%

0,50%

0,50%

0,50%

0,50%

0,50%

0,50%

1,01%

77,39%

9,05%

2,01%

0,50%

0,00%

0,00%

TABELA 07 – Situação Imobiliária do Conjunto Alagamar (Resumo). * S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária. Diagramação: Felipe Fernandes.

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158

FOTOGRAFIA 46: Vista aérea do Conjunto Alagamar

FOTOGRAFIA 47: Praça do Conjunto Alagamar – Gentrificação.

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159

FOTOGRAFIAS: 48 E 49: Apartamentos no Conjunto Alagamar

FOTOGRAFIAS 50 e 51: Ruas largas/Torres gêmeas. FONTE: Acervo da autora.

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161

4.9 A área de Alagamar

A área a que convencionamos chamar Alagamar está contida

entre a Rua da Lagosta, Rua Dr. Manoel de Araújo, Avenida Engenheiro

Roberto Freire, Rua Poeta Jorge Fernandes e a Rua do Golfinhos. Sua

principal característica é o processo de gentrificação que sofreu nestes anos

recentes (Fotografia 52).

Outra característica importante; quanto aos usos e dinâmicas

imobiliárias é a quantidade de lotes vazios: 13,37%, um percentual alto em

comparação com o todo do bairro. Possui 57,56% de residências (maior

percentual), 18,02% de comércio e serviços. Em suas bordas, onde estão a

Rua da Lagosta e Av. Eng. R. Freire, estabelecem-se os comércios e serviços.

Possui 95,35% de lotes sem atividade imobiliária e 4,65% de imóveis à venda.

Mas uma vez, talvez estes referidos dados não sirvam referência real, porque

devido a elevada quantidade de lotes vazios, mesmo não identificando placas

de ocorrência imobiliária, significam que existe um potencial maior do que os

4,65% de dinâmica. Porque considera-se que se um lote está vazio, ainda

continua neste estado muito provavelmente porque espera e especula por um

valor de troca.

A área de Alagamar possui um fator diferenciador: é dona de

desníveis topográficos acentuados, proporcionado áreas mais valorizadas (no

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162

alto) e áreas menos valorizadas (nas partes baixas), em se falando de

valorização imobiliária (Fotografias 53 e 54).

A seguir, os produtos da pesquisa na área do Conjunto Alagamar,

TABELA 08, IMAGEM 10, FOTOGRAFIAS e MAPA 13, que sintetiza os

processos espaciais já discutidos da área, observando-se detalhadamente a

localização dos referidos processos.

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163

ALAGAMAR

USO DO SOLO N° DE PAVIMENTOS DINÂMICA IMOBILIÁRIA

QU

ADR

A

N° LO

TE

Residencial

Misto

Com

ercial /

Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III

IV

XIV

XVII

XIX

XXXV

S.O.A.I

Vende

Aluga

Vende ou

Aluga

Fechado

Abandonado

Total

172

99

8

31

23

3 0 5 3 32

113

19

1 3 1 1 1 1

164

8 0 0 0 0

% TO

TAL

57,56%

4,65%

18,02%

13,37%

1,74%

0,00%

2,91%

1,74%

18,60%

65,70%

11,05%

0,58%

1,74%

0,58%

0,58%

0,58%

0,58%

95,35%

4,65%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

TABELA 08 – Situação Imobiliária de Alagamar * S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária. Diagramação: Felipe Fernandes.

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165

FOTOGRAFIAS 52. 53. 54, 55 : Coesão – Comércio voltado para o entretenimento. FONTE: Acervo da autora.

FOTOGRAFIA 56: Exemplo de gentrificação na área de Alagamar.

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166

FOTOGRAFIAS 57 e 58: Vistas de Alagamar com suas ladeiras. FONTE: Acervo da autora.

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168

4.10 Análise geral das tabelas

Deixamos aqui as principais tendências avaliadas em cada área.

Como já explanado na análise detalhada dos processos espaciais, na Vila de

Ponta Negra, as grandes glebas, com o índice de 10,69% de uso de solo,

considerados como vazios, ou seja, terrenos disponíveis, possibilitam a

tendência forte da verticalização futura. Na área do Conjunto Ponta Negra,

verificamos o processo de coesão em sua forma linear nas bordas do Conjunto.

A tendência verificada, tanto no Alto de Ponta Negra quanto no Paredão, são

de segregação e verticalização suscitados por meio da valoração pela renda de

monopólio. Pontos de observação da Orla 1 indicam o alto índice de vazios e

comércio e serviços, com tendência à maior potencial construtivo voltado ao

turismo. Quanto em função dos pontos de degradação, como parte do ciclo já

estudado por Harvey. Já na Orla 2, identificamos uma “consolidada” área

voltada quase que exclusivamente ao turismo e com grandes glebas ainda para

serem ocupadas, muito provavelmente por hotéis ou flats. No Conjunto

Alagamar, verifica-se, com grande potencial de negócios imobiliários, distinto

do Conjunto Ponta Negra por possuir ruas mais largas e lotes maiores. Na área

que chamamos de Alagamar, uma peculiaridade fornece valorização em suas

ruas: os desníveis topográficos.

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N de Lotes

Residencial

Misto

Com

ercial / Serviço

Vazio

Construção

Dem

olição

Abandonado

Institucional

0 I II III IV V VI

VII

VIII

X XII

XIII

XIV

XVI

XVII

XIX

XXI

XXII

XXIV

XXIII

XXX

XXXII

XXXV

XLV

S.O.A.I

Vende

Aluga

Vende ou Aluga

Fechado

Abandonado

Vila de Ponta Negra

2039

75,38%

7,70%

4,61%

10,69%

0,34%

0,05%

0,49%

1,32%

18,00%

70,67%

10,79%

0,54%

0,15%

0,05%

0,05%

98,23%

1,28%

0,29%

0,00%

0,00%

0,54%

Conjunto Ponta Negra

1842

87,40%

7,06%

4,56%

0,22%

0,11%

0,38%

0,00%

0,27%

0,71%

89,79%

8,09%

0,65%

0,49%

0,05%

0,05%

0,16%

96,63%

1,90%

1,09%

0,05%

0,27%

0,05%

Alto de Ponta Negra

48

47,92%

0,00%

8,33%

37,50%

4,17%

0,00%

2,08%

0,00%

43,75%

27,08%

18,75%

2,08%

2,08%

2,08%

2,08%

2,08%

97,92%

2,08%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

Paredão

40

30,95%

2,38%

45,24%

14,29%

4,76%

0,00%

0,00%

2,38%

19,05%

26,19%

7,14%

7,14%

2,38%

2,38%

2,38%

9,52%

2,38%

2,38%

2,38%

2,38%

7,14%

2,38%

4,76%

92,86%

4,76%

2,38%

0,00%

0,00%

0,00%

Orla 1

363

31,40%

1,65%

32,78%

33,06%

0,83%

0,28%

0,00%

0,00%

37,47%

12,67%

25,34%

15,15%

3,03%

1,38%

3,31%

1,65%

91,18%

6,61%

1,92%

0,28%

0,00%

0,00%

Orla 2

68

13,24%

16,18%

45,59%

8,82%

5,88%

4,41%

2,94%

2,94%

13,24%

17,65%

22,06%

23,53%

13,24%

10,29%

83,82%

10,29%

1,47%

0,00%

1,47%

2,94%

Conjunto Alagamar

199

72,86%

7,04%

9,55%

3,52%

1,01%

5,53%

0,50%

0,00%

3,52%

85,43%

6,03%

1,01%

0,50%

0,50%

0,50%

0,50%

0,50%

0,50%

1,01%

77,39%

9,05%

2,01%

0,50%

0,00%

0,00%

Alagamar

172

57,56%

4,65%

18,02%

13,37%

1,74%

0,00%

2,91%

1,74%

18,60%

65,70%

11,05%

0,58%

1,74%

0,58%

0,58%

0,58%

0,58%

95,35%

4,65%

0,00%

0,00%

0,00%

0,00%

N Total de Lotes 4771

* S.O.A.I - Sem Ocorrência de Atividade Imobiliária. Diagramação: Felipe Fernandes.

USO DO SOLO DINÂMICA IMOBILIÁRIAN° DE PAVIMENTOSBAIRRO DE PONTA NEGRA

TABELA 09 – Situação Imobiliária do bairro de Ponta Negra

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170

4.11 Sobre a legislação urbanística

Apresentamos aqui um esforço de estabelecer o diálogo entre as

frentes teóricas do estudo e a superfície factual das realidades por nós

observadas ─ os processos espaciais em desenvolvimento no bairro de Ponta

Negra e suas ligações com o desenvolvimento contemporâneo. Neste trabalho

são analisados os dados coletados durante as pesquisas de campo,

procurando-se entender e tipificar os processos espaciais no bairro e analisar

os dados obtidos referentes à dinâmica imobiliária, à verticalidade (leia-se

número de pavimentos) e ao uso do solo.

Para um fechamento dessas questões de produção do espaço,

mesmo que parcial, não nos furtamos de compreender que todos esses

processos estão sob o julgo de seus agentes, já abordados na pesquisa

teórica. No entanto, um dos mediadores contundentes desse processo são as

instituições municipais e públicas que regulam os processos de

desenvolvimento urbano.

Aqui veremos o período entre 2000 a 2007, em que o bairro de

Ponta Negra foi sujeito a uma revisão do plano diretor da cidade, mais

especificamente mediante o plano setorial17, ou seja, um plano de bairro.

17 O plano setorial é um instrumento legal de planejamento urbano e ambiental que têm como objetivo detalhar o ordenamento do uso e ocupação do solo urbano de duas ou mais unidades territoriais contíguas da cidade, podendo ser de uma unidade territorial dependendo da área,

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171

Ponta Negra congrega uma diversidade de situações relativas à

legislação urbana de Natal não só por ser um bairro considerado de elite, onde

o turismo encontra a sua expressão maior, mas por ser considerado, no

imaginário da população, como um patrimônio natural e definidor da identidade

cênica da cidade de Natal. São pontos importantes para a sua legislação:

Zona de adensamento básico e as Zonas de Proteção Ambiental (ZPA-5, associação de dunas e lagoas do bairro Ponta Negra – região da Lagoinha – e ZPA-6 do Morro do Careca e dunas associadas), além da Zona Especial Turística (ZET-1) e Área Especial de Interesse Social (AEIS da Vila de Ponta Negra). São, ainda, encontrados no bairro problemas de ordem social e ambiental, com destaque para os relacionados com a paisagem, e infra-estrutura de saneamento e sistema viário. (SILVA, 2007).

O referido plano setorial manteve o coeficiente de aproveitamento

de 1,2, ou seja, retornando a área dos parques habitacionais do Conjunto

Ponta Negra e do Conjunto Alagamar a ser uma área de adensamento básico,

evitando-se ou “contendo-se” a especulação imobiliária e a descaracterização

dos referidos conjuntos. Outro fator de mediação para o bairro é a AEIS18

(ainda não formalizada) que se configura na área da Vila de Ponta Negra, além

densidade populacional e complexidade do lugar, com vistas a otimizar a função sócio-ambiental da propriedade e compatibilizar o seu adensamento `a respectiva infraestrutura de suporte (SILVA, 2007). 18 Configuram-se a partir da dimensão socioeconômica e cultural da população, com a focalização de renda predominante de até 3 (três) salários-mínimos, definida pela Mancha de Interesse Social (MIS), e pelos atributos morfológicos dos assentamentos, consonante com a Política de Habitação de Interesse Social para Natal. (SILVA, 2007).

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172

do controle exercido por intermédio do gabarito na área a que chamamos de

Orla 1 e 2.

A seguir, apresentamos o Mapa 14, síntese de todo o trabalho

aqui desenvolvido com os referidos processos espaciais, e o mapa da

legislação do bairro de Ponta Negra, com seus referenciados pontos de

interesse para a legislação urbana no Mapa 2. A junção sobreposta desses

dois mapas (no momento em que uma parcela dos dois conjuntos virou

adensável e a atual retorna a ser não adensável) explica muito dos processos

que iriam se desenvolver para o futuro do bairro.

Analisando, por exemplo, a área de maior verticalidade e de maior

valorização imobiliária do bairro de Ponta Negra, encontra-se a área a que

chamamos de “Paredão” logo atrás da área não edificante. Esse é só um dos

muitos exemplos de que a legislação é de fundamental importância para

“pintar” o quadro de mosaico urbano não só em Ponta Negra mas em todas as

cidades em que existem Planos Diretores.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O começo do ano 2000 marca em definitivo a conformação da

cidade de Natal em relação com seu modo de desenvolvimento urbano, com o

boom imobiliário-turístico. Seu auge se deu entre os anos de 2000 a 2007,

provocando a reconfiguração da tipologia de usos do bairro de Ponta Negra,

como efeito das políticas de empreendedorismo urbano de “vender” a cidade

como mercadoria . Ao concluirmos esta pesquisa, registramos que, durante

todo o estudo, balizamo-nos em um esquema-pensamento ou hipótese que

norteou todo o caminhar teórico e empírico, sintetizado no Quadro 2 e

explicado a seguir.

QUADRO 2: Esquema-pensamento dos processos (supostos) de urbanização do bairro de Ponta Negra no momento contemporâneo.

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O empreendedorismo urbano a que nos remetemos está voltado

para o marketing de cidades, uma gestão política voltada à demanda dos

consumidores, sejam eles turistas, investidores ou cidadãos comuns. Essa

ação política de transformação do espaço gerou processos espaciais pontuais

e evidenciou algumas tendências já advindas de outras camadas temporais da

urbanização do bairro de Ponta Negra, criando um mosaico de processos

espaciais ─ às vezes, puros e íntegros em sua tipologia e, às vezes, híbridos.

Outro fator paralelo a esse fenômeno foram as transferências de

capital para o setor imobiliário, talvez impulsionadas por uma crise do setor

produtivo base (1º circuito do capital), que migrou, depois, para o 2º circuito do

capital (imobiliário). Esses investimentos tiveram um rebatimento no espaço. As

demandas empreendedoras das políticas públicas e dos investimentos

privados, ou seja, as demandas capitalistas e resoluções de suas crises

internas, explicam, em parte, o fenômeno pesquisado no bairro de Ponta Negra

na atualidade.

As implicações desse fenômeno, seguindo o modelo

desterritorializado de desenvolvimento, são rebatimentos no espaço urbano de

desigualdades econômicas e sociais. O maior peso atribuído à transformação

do espaço do bairro de Ponta Negra como palco de interesses capitalistas

desconsidera a necessidade de atribuir o mesmo peso à justiça social dos que

ali vivem. Esses rebatimentos no espaço evidenciam principalmente, os

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processos espaciais de segregação, isto é, uma maior disparidade espacial e

social no bairro.

As estratégias de desenvolvimento urbano da cidade de Natal

elegem agentes do espaço tendo em vista o desenvolvimento econômico da

cidade. Mas de que tipo de desenvolvimento estamos falando? Essas

expressões da forma urbana são a reprodução dos interesses hegemônicos

de acordo com o modo de produção e com um específico modelo de

desenvolvimento, reproduzindo as relações do poder historicamente

estabelecidas.

Em contrapartida, existem agentes sociais de defesa da

equidade social, que contêm e são mediadores dessas transformações do

espaço ao defenderem as classes exploradas e transformarem o

palimpsesto urbano mais equilibrado, dando-lhe suporte, mestria e

equilibrando as forças opostas de intenções aos novos interesses.

Ciclicamente surgem movimentos sociais para desafiar o significado da

estrutura espacial e, portanto, empreender novas funções e novas formas

espaciais. Exemplo disso são os movimentos sociais de resistência, não

considerados nesta dissertação, os quais, no caso do bairro de Ponta

Negra, são bem atuantes.

Confirma-se assim o pensamento de Harvey (2006) quanto

ao desenvolvimento capitalista, esse fenômeno estudado do boom

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imobiliário-turístico na cidade de Natal e especificamente no bairro de

Ponta Negra. Os caminhos percorridos haverão sempre de considerar o

conflito entre a manutenção de valores do passado (investimentos capitalistas

no ambiente construído) e a destruição desses investimentos, processo a que

chamamos de destruição criativa a fim de abrir espaço para nova acumulação.

Como o próprio Harvey indica,

Sob o capitalismo, há então uma luta permanente em que o capital constrói uma paisagem física adequada à sua própria condição em um momento específico no tempo, só para ter que destruí-lo, normalmente no decurso de crises, em um subseqüente ponto do tempo. A resolução espaço-temporal escoa e o fluxo de investimento no ambiente construído pode ser entendido apenas em termos de um processo como estes. (HARVEY, 2006 p. 95).

Para entender a Ponta Negra dos dias atuais, foi necessário

compreender as lógicas de produção do espaço sob a vigência do capitalismo,

as nuances econômicas que envolvem esse processo, quais as ligações entre

a globalização, a economia e o desenvolvimento urbano dos e os específicos

fatores locais. Confirmamos aqui que esses processos continuam servindo a

mecanismos de fragmentação do tecido urbano através das suas soluções

sociais rebatidas no plano espacial.

A emergência do turismo na cidade de Natal e no bairro de Ponta

Negra, em particular, é apenas mais um componente desse complexo

emaranhado de fatores que se sobrepõem para a produção do espaço no

bairro. Não deixamos de considerar que muito do que está posto materialmente

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no referido bairro é um signo do que as elites da cidade de Natal objetivam,

seguindo um movimento maior do que o da atividade turística da cidade.

Entendemos que o palimpsesto, que o mosaico urbano que se

põe à nossa frente, é fruto de uma série de camadas ou de movimentos de

consumo do espaço, submetida, em algum momento, a variáveis tangíveis

(como a economia, o modo de produção, a política, os modelos econômicos de

desenvolvimento urbano) e variáveis intangíveis (os sonhos, as utopias etc).

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