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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS JEFFERSON SILVA DO NASCIMENTO DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS REGULATÓRIAS E RETORNO ANORMAL DE AÇÕES: UMA ANÁLISE DAS EMPRESAS DO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA Natal/RN 2017

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE …...01, orientando as concessionárias sobre a contabilização dos serviços públicos a entidades privadas. Tais esclarecimentos remetiam:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

JEFFERSON SILVA DO NASCIMENTO

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS REGULATÓRIAS E RETORNO ANORMAL DE

AÇÕES: UMA ANÁLISE DAS EMPRESAS DO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA

Natal/RN

2017

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JEFFERSON SILVA DO NASCIMENTO

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS REGULATÓRIAS E RETORNO ANORMAL DE

AÇÕES: UMA ANÁLISE DAS EMPRESAS DO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientador: Prof.Msc. Rodolfo Maia Rosado Cascudo Rodrigues

Natal/RN

2017

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Catalogação da Publicação na Fonte.

UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Nascimento, Jefferson Silva do.

Demonstrações contábeis regulatórias e retorno anormal de ações: uma análise das

empresas do setor de energia elétrica/ Jefferson Silva do Nascimento. - Natal, 2017.

43f.: il.

Orientador: Prof. Me. Rodolfo Maia Rosado Cascudo Rodrigues.

Monografia (Graduação em Ciências Contábeis) - Universidade Federal do Rio Grande

do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Ciências Contábeis.

1. Contabilidade Regulatória - Monografia. 2. Demonstrações Contábeis - Monografia.

3. Retorno anormal - Monografia. 4. Lucro societário - Monografia. 5. Lucro regulatório -

Monografia. I. Rodrigues, Rodolfo Maia Rosado Cascudo. II. Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 657.2

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JEFFERSON SILVA DO NASCIMENTO

DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS REGULATÓRIAS E RETORNO ANORMAL DE

AÇÕES: UMA ANÁLISE DAS EMPRESAS DO SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Contábeis.

Apresentado e aprovado em: ______/__________/______.

BANCA EXAMINADORA:

________________________________________________________ Prof. Msc. Rodolfo Maia Rosado Cascudo Rodrigues

Orientador

________________________________________________________ Prof. Dr. Adilson de Lima Tavares

Membro

________________________________________________________ Prof. Dr. Alexandro Barbosa

Membro

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Dedico este trabalho primeiramente a Deus,

por representar tudo em minha vida, sem ele

eu não estaria aqui. À minha família por todo

apoio e incentivo dispensados ao logo dessa

jornada, aos meus colegas de turma, aos

professores, coordenação do Curso, ao meu

orientador por todos os incentivos e

direcionamentos para que eu pudesse concluir

mais essa etapa de minha vida.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE …...01, orientando as concessionárias sobre a contabilização dos serviços públicos a entidades privadas. Tais esclarecimentos remetiam:

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por estar aqui hoje realizando mais um de

muitos sonhos que ainda irei realizar e sei que ele sempre estará ao meu lado, como

sempre.

Agradeço à minha mãe, pai e irmãos pelo carinho, ajuda, compreensão,

força e por estarem sempre comigo de forma incondicional; a todos os meus

familiares.

Aos meus amigos pelo incentivo e amizade verdadeira que temos uns com

os outros.

Aos professores que tive o prazer de conviver e aprender com eles durante

essa passagem acadêmica pelo curso de Ciências Contábeis, pelo companheirismo

e comprometimento em sempre me repassar os ensinamentos pertinentes a este

curso e, consequentemente, me ajudar a ser sempre uma pessoa melhor.

Ao meu professor orientador pela paciência e por todos os incentivos, ajuda,

correções, comprometimento e profissionalismo, estando sempre pronto para

responder aos questionamentos na execução do trabalho.

Enfim, a todos aqueles que direta ou indiretamente me ajudaram a concluir

esta etapa de minha vida, a todos vocês o meu muito obrigado.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE …...01, orientando as concessionárias sobre a contabilização dos serviços públicos a entidades privadas. Tais esclarecimentos remetiam:

“Como é feliz o homem que acha a sabedoria,

o homem que obtém conhecimento.”

Provérbios de Salomão 16:3

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RESUMO

Com a criação da Contabilidade Regulatória por parte da ANEEL através da resolução 396/2010, as empresas transmissoras e distribuidoras de energia elétrica passaram a serem obrigadas a divulgar outras demonstrações contábeis, as Demonstrações contábeis regulatórias. O objetivo desta pesquisa é identificar a relação entre os lucros societário e regulatório e o retorno anormal das ações de empresas de energia elétrica. Para isso foram analisadas as demonstrações contábeis no período de 2015 a 2016 de 18 empresas de transmissão e distribuição de energia listadas na B3. Foram utilizados dados do Beta e Alfa das empresas bem como retorno real, retorno estimado, retorno anormal e índice IBOVESPA. Através da estatística descritiva e do teste t-student duas amostras em par para teste de médias entre o lucro regulatório e societário pode-se inferir que existem diferenças significativas, apontando para o indicativo de que as diferenças na legislação em relação à elaboração das demonstrações contábeis societárias e regulatórias podem impactar de forma diferente o mercado. Por fim foi realizada uma regressão pelos mínimos quadrados ordinários, tendo como resultado a contabilidade regulatória como sendo a variável que influencia o retorno anormal das ações, concluindo-se que o mercado está avaliando a divulgação das demonstrações regulatórias para a tomada de decisão.

Palavras-chave: Contabilidade Regulatória, Demonstrações Contábeis, Retorno

anormal,Lucro societário, Lucro regulatório.

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ABSTRACT

With the creation of Regulatory Accounting by ANEEL through resolution 396/2010, the transmission and distribution companies of electric energy are now obliged to disclose other financial statements, the regulatory accounting statements. The objective of this research is to identify and the relationship between corporate and regulatory profits and the abnormal return of shares of electric power companies. For this purpose, the financial statements for the period from 2015 to 2016 of 18 transmission and distribution companies listed on B3. Beta and Alpha data from the companies were used as well as real return, estimated return, abnormal return and IBOVESPA index. By means of the descriptive statistics and the t - student test, two pairs of samples to test the means between regulatory and societal profit can be inferred that there are significant differences, pointing to the indication that as in the legislation in relation to the preparation of the corporate and regulatory accounting statements can impact in a different way the market. Finally, a regression was performed by the ordinary least squares, resulting in the regulatory accounting as the variable that influences the abnormal return of the shares, concluding that the market is evaluating the disclosure of the regulatory statements for decision making.

Key-words: Regulatory Accounting, Accounting Statements, abnormal return,

corporate profit, regulatory profit.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura contábil básica para contratos de prestação de serviço público-

privado .................................................................................................. 20

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Principais diferenças práticas entre contabilidade regulatória e

societária ......................................................................................... 22

Quadro 2 – Pontos de atenção e premissas específicas do Manual de

Orientação dos Trabalhos de Auditoria das Demonstrações

Contábeis Regulatórias ................................................................... 23

Quadro 3 – Detalhamento das empresas pesquisadas ..................................... 30

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estatística Descritiva .............................................................................. 34

Tabela 2 – Teste-t: diferença das médias do LR e LS para 2015 e 2016 ................ 35

Tabela 3 – Análise da Regressão ............................................................................ 36

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LISTA DE SIGLAS

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ART. Artigo

CIEFSE Central de Informações Econômico-Financeiros do Setor Elétrico

CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

DCR Demonstrações Contábeis Regulatórias

ICPC Interpretação Técnica

MCSE Manual de Contabilidade do Setor Elétrico

OCPC Orientação Técnica

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 13

1.1 Contextualização do Problema ............................................................... 13

1.2 Objetivos ................................................................................................... 15

1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................ 15

1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................. 15

1.3 Justificativa ............................................................................................... 15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................. 18

2.1 Contabilidade Regulatória ....................................................................... 18

2.1.1 Principais pontos que causam diferenças ................................................. 22

2.2 Retornos Anormais .................................................................................. 26

2.3 Estudos Recentes .................................................................................... 27

3 METODOLOGIA ........................................................................................ 30

3.1 Amostra e Coleta de Dados ..................................................................... 30

3.2 Tratamento dos Dados ............................................................................. 31

3.2.1 Cálculo dos Retornos Anormais ................................................................ 31

3.2.2 Análise dos Lucros Regulatórios e Societários .......................................... 33

4 RESULTADOS E ANÁLISES DA PESQUISA ........................................... 34

4.1 Estatística Descritiva e Teste de Média .................................................. 34

4.2 Análise da Regressão .............................................................................. 36

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 38

REFERÊNCIAS .......................................................................................... 40

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do Problema

No Brasil, a contabilidade tem passado por mudanças que visam à adoção

das normas contábeis internacionais e suas práticas, com o intuito de tornar cada

vez mais a Contabilidade uma ferramenta de fundamental importância para a

tomada de decisão.

A criação do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), por meio da

Resolução 1.055/2005, emitida pelo CFC, já apontava para a convergência das

normas contábeis, dando destaque: a) a redução de riscos dos investimentos

internacionais, bem como os créditos de natureza comercial, redução de risco

derivada por uma melhor interpretação das demonstrações contábeis; b) uma maior

comunicação no mundo internacional dos negócios, a partir da utilização de uma

linguagem contábil homogênea; e c) a redução do custo de capital que deriva dessa

harmonização, o que seria de suma importância para o Brasil (CFC, 2011).

Com o advento da Lei 11.638/07, tornou-se possível no Brasil a adoção das

Normas Internacionais de Contabilidade, podendo-se constatar diversas mudanças

tanto no aspecto societário, quanto no que diz respeito às demonstrações contábeis,

além do que as novas mudanças trouxeram desafios para o profissional contábil,

estudiosos do tema, administradores e o mercado de capitais (ANTUNES, et al

2012).

Ainda nesse contexto, remete-se a importância do CPC que tem como

objetivo o estudo, o preparo e a emissão de pronunciamentos técnicos sobre

Contabilidade, visando facilitar a divulgação e interpretação das informações,

priorizando sempre a uniformização dos processos e considerando a convergência

da Contabilidade brasileira aos padrões internacionais (CPC, 2011).

As demonstrações contábeis denotam grande importância para a tomada de

decisão dos investidores, pois representam a situação econômica e financeira das

entidades. Para tanto, precisam ser elaboradas de forma fidedigna a fim de

atenderem aos diversos usuários, não se limitando a alguma classe específica, haja

vista que os usuários externos, como por exemplo, os investidores precisam dessas

informações para tomada de decisões. Dessa forma podem se valer das

demonstrações contábeis para: a) decidir quando vender/comprar instrumentos

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patrimoniais; b) avaliar a recuperação dos investimentos feitos na entidade; c)

elaborar a distribuição de dividendos e lucros; d) avaliar o grau de retorno do

investimento, entre outros (CPC 00).

Diante deste cenário, as diversas mudanças ocorridas nas práticas

contábeis adotadas no Brasil, afetaram os diversos setores da economia, dentre os

quais o de energia elétrica. A partir disso, foi emitida a Interpretação Técnica ICPC

01, orientando as concessionárias sobre a contabilização dos serviços públicos a

entidades privadas. Tais esclarecimentos remetiam: a) tratamento do concessionário

sobre a infraestrutura; b) reconhecimento e mensuração do valor do contrato; c)

serviços de construção e melhoria; d) serviços de operação, entre outros (ICPC01,

2009, item 10).

Apesar da publicação de uma interpretação técnica, com o objetivo de

garantir à sociedade um conjunto de informações mais concisas e de forma clara,

visando à transparência das operações das empresas do setor de energia elétrica, a

Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) publicou a Resolução 396/2010,

sendo exigida das empresas uma contabilidade auxiliar, denominada de

Contabilidade Regulatória. Discorrendo em seu art.7°, a citada resolução dispõe que

ficam instituídas as Demonstrações Contábeis Regulatórias a terem seus modelos

definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica, devendo ser feitas pelas

concessionárias e permissionárias de serviços de distribuição e transmissão de

energia elétrica.

Outro fator importante a ser destacado encontra-se no art. 10º da mesma

resolução, o qual cita a criação do CIEFSE (Central de Informações Econômico-

Financeiras do Setor Elétrico), a ser disponibilizada no site da ANEEL, devendo

conter até o dia 30 de abril do ano subsequente do término do exercício social, as

demonstrações contábeis societária e regulatória a partir do ano de 2011.

Não obstante, ainda existindo lacunas quanto à contabilização nas

concessionárias, foi publicado a Orientação Técnica OCPC 05 (Contratos de

Concessão) em 2010, com o intuito de dirimir as dúvidas dos contadores,

administradores direcionadas para os setores de rodovia, ferrovia e energia elétrica.

No entanto, por analogia poderiam ser adotadas as práticas, no que coubessem, às

outras entidades reguladoras dos serviços de água, telecomunicações, distribuição

de gás, entre outros.

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Dessa forma, quando se compara o desempenho de uma empresa nas

demonstrações contábeis societárias e regulatórias, percebe-se uma diferença nos

resultados obtidos. Diante disso surge o seguinte questionamento: Qual a relação

entre os lucros societários e lucros regulatórios com o retorno anormal das

ações das empresas de energia elétrica?

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Identificar qual a relação entre os lucros societários e lucros regulatórios com

o retorno anormal das ações das empresas de energia elétrica.

1.2.2 Objetivos Específicos

Com o fim de alcançar o objetivo geral proposto, são traçados os seguintes

objetivos específicos:

Investigar de que forma reagem os investidores a divulgação dos

lucros regulatórios e societários;

Analisar de que forma o valor das ações das empresas de distribuição

e transmissão de energia é influenciado pela divulgação das

demonstrações contábeis regulatórias e societárias.

1.3 Justificativa

O setor de energia representa grande importância para o desenvolvimento

do país, sendo várias as empresas envolvidas nesse ramo, definido desde a

geração, passando pela transmissão e chegando até a distribuição de energia

elétrica, por se tratar de um setor estratégico e com grande impacto social, já que

atinge famílias, empresas, investidores, entre outros, o setor sofre forte influência

regulatória através da ANEEL.

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A partir da publicação da Resolução 396/2010 que instituiu a Contabilidade

Regulatória, as empresas transmissoras e distribuidoras de energia tornaram-se

obrigadas a realizar a Contabilidade regulatória, como forma auxiliar, além de já

realizarem a Contabilidade societária.

Por apresentar algumas diferenças no registro de operações e classificação

das contas contábeis, ocorre uma divergência entre os resultados apurados entre a

as contabilidades societária e regulatória, muito embora a realidade atual da

empresa seja a mesma.

Alguns trabalhos já mencionaram as diferenças existentes, demonstrando a

importância de haver uma maior aproximação da contabilidade societária e

regulatória, haja vista que a adoção de algumas práticas contábeis é diferente,

sendo assim necessária a conciliação dos saldos com maior detalhamento das

operações (HOPPE, 2012).

Assim, por apresentar dois resultados distintos devido à elaboração de dois

grupos de demonstrações contábeis, o resultado apresentado pelas empresas

distribuidoras e transmissoras de energia elétrica pode ocasionar alguma

interpretação errônea por parte dos usuários, ou de certa forma, gerar alguns

questionamentos quanto à fidedignidade das informações, levando-os a tomarem

decisões equivocadas.

Nisto, reside a importância da pesquisa proposta em verificar de que forma

os investidores podem ser afetados pela divulgação desses grupos de

demonstrações contábeis, como os lucros distintos apresentados por uma mesma

empresa podem influenciar na tomada de decisão relacionada a venda ou aquisição

de ações por parte dos investidores. Reforçando a ideia da importância da pesquisa,

percebe-se que os diversos trabalhos realizados anteriormente procuraram

demonstrar as diferenças significativas entre os resultados, a comparação entre os

lucros obtidos, discussões teóricas a respeito da adoção das instruções e normas

técnicas, mas não em relação ao impacto que as duas informações representam aos

investidores, através do retorno das ações das referidas empresas.

O presente trabalho procura entender essas diferenças sob a ótica do

impacto nos investidores do mercado de capitais através da mensuração do

relacionamento entre os retornos e os lucros societário e regulatório. Assim, se

diferencia dos estudos anteriores (BRUGNI et al, 2011; CARVALHO, 2013;

MONTEIRO, 2014; SALES, 2014), que buscaram analisar o impacto da adoção das

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normais internacionais e da contabilidade regulatória verificando a comparabilidade

das contas contábeis, os principais pontos de divergência entre as duas

contabilidades e a interferência na formação o preço tarifário.

O trabalho também se diferencia de Oliveira (2015), já que embora este

tenha analisado a comparabilidade entre o lucro líquido e o patrimônio líquido das

demonstrações contábeis regulatórias e societárias das empresas de geração,

transmissão e distribuição do setor elétrico brasileiro, a presente pesquisa aborda a

reação do mercado de capitais, mensurado pelo retorno da ação a essas diferenças

contábeis.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Contabilidade Regulatória

O processo da criação das agências reguladoras ocorreu em diversos

setores a partir do final da década de 1990, sendo o setor de energia elétrica o

pioneiro com o projeto de criação da ANEEL, a princípio num modelo de autarquia

convencional em 1995, sem nenhum poder ou autonomia decisória. Contudo, no ano

de 1996, após alguns debates entre os poderes legislativo e executivo houve a

decisão final e em 26 de dezembro de 1996, por meio da Lei n° 9.427 foi criada a

ANEEL, com autonomia decisória e financeira (PACHECO, 2006).

Conforme expressa Di Pietro 2013, as agências reguladoras seriam órgão

pertencentes tanto à Administração direta quanto à indireta, atendendo assim ao

princípio da especialidade, por tratarem apenas de uma atividade específica a qual

são incumbidas. Ainda em relação às agências reguladoras federais, pode afirmar

que são autarquias em regime especial tendo como características a presença de

dirigentes estáveis, mandatos fixos e um alto grau de especialização do setor

regulado (MAZZA, 2014).

Assim, vê-se a importância das agências reguladoras que foram criadas em

diversos setores, como por exemplo, energia, telecomunicações, saúde, meio

ambiente, transportes, defesa e saneamento, com o intuito de fiscalizar e controlar

setores abertos à iniciativa privada. Possuem diversas funções importantes, a saber:

a) controle da tarifa; b) universalização do serviço);c) fomento da competitividade; d)

cumprimento do contrato administrativo e arbitramento dos conflitos (SILVA,2006).

Devido à relevância das operações e do setor elétrico ser a base para

produção e funcionamento das mais diversas atividades do país, havia a

necessidade de se produzir informações que estivessem mais alinhadas aos

resultados obtidos nas atividades de regulação, trazendo mais transparência à

população.

No ano de 2009, foi emitida a Instrução Técnica ICPC 01 como o objetivo de

esclarecer forma de contabilização para os contratos de concessão, estabelecendo

alguns direitos e deveres dos concessionários e algumas premissas, sendo

aplicadas a entidades privadas que possuem a concessão de serviços públicos.

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Sendo o concessionário responsável por prestar os serviços de infraestrutura e

definir o preço do serviço realizado (ICPC01, 2009, item 5).

Ainda conforme a mesma Instrução, o concessionário deveria reconhecer o

ativo financeiro ao passo que tivesse o direito certo do recebimento de caixa definido

em contrato. No que diz respeito aos ativos intangíveis deveriam ser reconhecidos à

medida que houvesse a autorização para uso. As receitas deveriam ser

contabilizadas conforme o Comitê de Pronunciamentos Contábeis 30, os custos dos

empréstimos seguiriam as práticas definidas pelo CPC 20, sendo os custos

registrados como despesas no período em que ocorressem, havendo exceção no

caso de o concessionário ter definido em contrato um direito de recebimento de um

ativo intangível (ICPC01, 2009, itens 16 a 22). A interpretação do ICPC 01 remete ao

entendimento das obrigações dos concessionários, buscado esclarecer de que

forma deve ser seguida a contabilização levando-se em consideração sempre o

contrato estabelecido.

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Figura 1 - Estrutura contábil básica para contratos de prestação de serviço público-privado

Fonte: ICPC 01

No ano de 2010, por meio da Resolução nº 396, a ANEEL instituiu a

Contabilidade Regulatória e as alterações no Manual de Contabilidade do Setor

Elétrico datado anteriormente do ano de 2001. A referida resolução tem como

objetivo fornecer a sociedade um conjunto de informações que viabilizassem um

melhor entendimento da situação econômico-financeira das entidades de

transmissão e distribuição de energia elétrica, bem como trazer clareza aos ajustes

das tarifas cobradas à população e o valor dos investimentos realizados no setor. A

Contabilidade Regulatória auxilia o trabalho dos órgãos reguladores, possibilitando a

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geração dos índices financeiros, os quais permitem a análise da eficiência e

funcionamento das empresas concessionárias dos serviços. (REHBEIN;

ENGELMANN; GONÇALVES, 2008).

Outro fator a ser destacado foi a instituição das DCR (Demonstrações

Contábeis Regulatórias). Em seu Art. 7º a Resolução 396/2010, cita as referidas

demonstrações como sendo parte integrante da prestação de contas anual, devendo

ser encaminhadas pelo contador acompanhadas de notas explicativas, as quais

devem informar a conciliação dos saldos entre Demonstração do Resultado do

Exercício e a Demonstração Regulatória do Resultado do Exercício, devendo ser

auditadas pelo mesmo auditor ou empresa de auditoria. Alguns livros contábeis

também foram adotados, a saber: Livro Diário Auxiliar Regulatório e Livro Razão

Auxiliar Regulatório.

Sendo que as Demonstrações Contábeis Regulatórias devem ser

disponibilizadas no site das concessionárias ou permissionárias até o dia 30 de abril

do ano subsequente. Outra novidade foi a criação da Central de Informações

Econômico-financeira do Setor Elétrico, onde as concessionárias devem divulgar as

Demonstrações Contábeis, tanto societárias quanto regulatórias. (Art. 9-10

Resolução n°396/2010 da ANEEL).

Destaca-se também a criação dos ativos e passivos regulatórios que tem

como objetivo o registro de variações positivas ou negativas dos custos não

gerenciáveis levando em consideração o último reajuste anual, fazendo com que as

empresas possam confrontar os resultados obtidas com o novo valor tarifário

estabelecido, possibilitando o ajuste das contas (BRUGNI, et al 2011).

A OCPC 05 foi publicada para diminuir as dúvidas quanto à contabilização

em relação à divulgação do ICPC 01, tratando de assuntos relacionados às práticas

contábeis, não considerando aspectos tributários. Entre algumas considerações: a)

conhecimento sobre novo conceito de ativo e reconhecimento de receitas; b) o

conhecimento do arcabouço regulatório; c) análise individual de cada contrato como

concessão, distribuição; d) conhecimento dos direitos e deveres dos contratos; e)

conhecimento da formação dos preços das tarifas e f) conhecimento do fluxo de

caixa do negócio.

Concluindo entende-se a adoção de tais conceitos como forma de garantir

maior facilidade e entendimento no que diz respeito à operacionalização das

concessionárias, buscando facilitar o reconhecimento dos custos e despesas a

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serem registrados durante o prazo dos contratos de concessão. (ICPC05, itens 2 a

5).

2.1.1 Principais Pontos que causam diferenças

Com a adoção da Contabilidade Regulatória algumas divergências são

encontradas entre os resultados obtidos em relação às demonstrações contábeis

societárias.

Sobre esse assunto, Monteiro (2014), afirma que as principais diferenças

entre essas contabilidades decorrem do fato de que a ANEEL não aprovou a ICPC

01e do registro da infraestrutura sob responsabilidade do concessionário pelo Novo

Valor de Reposição na Contabilidade Regulatória como ativo imobilizado, atentando

somente para o Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico.

Consoante Hoppe 2012, as principais práticas adotadas para elaboração das

demonstrações contábeis e regulatórias divergem da forma como são classificados e

mensurados os ativos e passivos regulatórios e os custos de construção e receitas.

Quadro 1- Principais diferenças práticas entre contabilidade regulatória e societária

Tema Prática Contábil Regulatória Prática Contábil

Societária

Infraestrutura Reavaliação Compulsória a cada 4 anos

IFRIC 12: Ativos Financeiro e Intangível

Ativos e Passivos regulatórios Contabilizado Não contabilizado

Custos de Construção Não contabilizado Contabilizado

Receita de Construção Não contabilizado Contabilizado Fonte: Hoppe (2012).

Constatam-se outras diferenças práticas, sendo assim enumeradas: i) A

interpretação errônea do CPC 06 – havendo contrato de concessão entre empresas

de transmissão e distribuição, ocorre o registro da mesma conexão no imobilizado

das duas empresas; ii) Eliminação dos ativos e passivos regulatórios, operação esta

justificada pelo IASB, haja vista que esses ativos não tem direitos de natureza

líquida e certa e credores e devedores não poderem ser identificados; iii) Com a

aplicação do IFRIC 12 ocorre a divisão dos ativos das concessionárias e

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permissionárias em ativo intangível e ativo financeiro, sendo esse a parcela recebida

pelo concedente e àquele ao valor recebido pelo usuário; iv) A possibilidade de

atualização do ativo financeiro, culminado em receita financeira, ao passo que o

ativo intangível não pode ser atualizado. Conforme a ANEEL uma análise desse fato

pode não representar a realidade econômica do negócio. (RIBEIRO; SILVA, 2017).

Com a divulgação da Resolução 396/2010, a SFF (Superintendência de

Fiscalização Econômica e Financeira) emitiu o Manual de Orientação dos Trabalhos

de Auditoria das Demonstrações Financeiras Regulatórias com informações para os

procedimentos de auditoria a fim de atender ao que fora proposto pela Contabilidade

Regulatória.

Quadro 2 – Pontos de atenção e premissas específicas do Manual de Orientação dos Trabalhos de Auditoria das Demonstrações Financeiras Regulatórias Titulo Conteúdo

Ativos e

Passivos Regulatórios

Considerando que na Convergência às Normas

Internacionais (IFRS) não houve correspondência nas

referidas normas o tratamento de ativos e passivos

regulatórios, esses permaneceram registrados apenas nas

demonstrações contábeis regulatórias. Da mesma forma que

já vinha sendo feito na preparação das demonstrações

contábeis até 31/12/2008, o auditor independente na

aplicação dos procedimentos previamente acordados deverá

dar atenção especial para esses temas.

Obrigações Vinculadas ao Serviço

Público (Obrigações Especiais)

A partir do segundo ciclo de revisão tarifária as quotas de

reintegração acumulada das obrigações vinculadas devem

ter como contrapartida a despesa de depreciação para que o

efeito no resultado seja anulado, uma vez que esse valor não

é mais considerado na tarifa. Considerando a especificidade

desse subgrupo contábil e que está sendo apresentado nas

demonstrações contábeis societárias como conta redutora do

ativo financeiro de indenização das concessionárias de

distribuição e transmissão, o auditor independente deverá dar

atenção especial para esse tema, na aplicação dos

procedimentos previamente acordados.

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Ativo imobilizado

Com a adoção do ICPC 01 – Contratos de Concessão na

contabilidade societária, ao ativo imobilizado foi bifurcado em

ativo intangível e financeiro. Para fins regulatórios deverá ser

adotada a estrutura vigente no Manual de Contabilidade do

Setor Elétrico. As premissas específicas são:

a) garantir que o ativo imobilizado não seja afetado pelo

ICPC 01;

b) que os ativos estejam registrados contabilmente pelo valor

homologado pela ANEEL.

Custos e despesas operacionais

regulatórios

Para definição dos custos e despesas operacionais

regulatórios, na metodologia de revisão tarifária do 3º ciclo

foram considerados nas simulações os dados contábeis

obtidos do Balancete Mensal Padronizado e Relatório de

Informações Trimestrais. Dentre os dados estão os gastos

com pessoal, administradores, material, serviços de terceiros,

arrendamentos e aluguéis, seguros, tributos e outros.

Ressalta-se a importância na qualidade da informação

contábil visto que é insumo para as análises da

Superintendência de Regulação Econômica da ANEEL na

formação tarifária. As rubricas acima deverão ser objeto de

análise do auditor, que atentará se o comportamento dos

gastos está em conformidade com as práticas contábeis

aceitas. Caso esse ponto já esteja previsto no escopo da

auditoria societária, deverá ser excluído para não haver

retrabalho.

Fonte: Manual de Orientação Trabalhos de Auditoria das Demonstrações Contábeis Regulatórias (2013).

No concernente a essa situação sabe-se que com a instituição da

contabilidade regulatória ocorreram mudanças, no que diz respeito à contabilização

das operações, as quais são descritas por Brugni et al (2011):

a) Conta de ativo imobilizado em curso (utilizada para registros de

custos em construção) – foi mantida para os fins de regulação pelo

MCSE (Manual de Contabilidade do Setor Elétrico). No entanto, no que

diz respeito aos fins societários foi criada uma conta retificadora para

que fosse possível a transferência dos saldos para a conta custos de

construção para atender o que foi definido pela IFRIC 12.

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b) Conta de ativo imobilizado em serviço (utilizada para registros de

gastos findos com construção) – foi mantida para os fins de regulação

pelo MCSE. Todavia, deixou de existir para fins societários tendo seu

saldo alocado para as contas de ativo intangível e financeiro.

c) Conta de receita de construção – criada apenas para registro na parte

societária, sendo composta por saldos de ajuste a valor justo das

construções. Não figura no MCSE nem tampouco estará presente nos

demonstrativos elaborados.

d) Conta de receita financeira – Não existe no MCSE nem fará parte dos

demonstrativos elaborados com base neste, sendo utilizada na

contabilidade societária para representar a atualização do ativo

financeiro indenizável, isto é, o valor a receber do concedente.

e) Conta de outros créditos – Inexiste no Manual de Contabilidade do

Setor Elétrico nem aparece nos balanços societários. Na contabilidade

societária representa uma conta de ativo utilizada para o registro das

contrapartidas do fluxo de caixa recebido sob a forma de indenização

dos ativos financeiros.

Em novembro do ano de 2014 foi divulgada a Orientação técnica OCPC 08

com o intuito de tratar de alguns critérios de mensuração, reconhecimento e

evidenciação de algumas operações contábeis, sendo restrito aos contratos de

concessão e permissão de distribuição de energia do setor de energia brasileiro.

Outro fator motivador da citada orientação foi tratar do reconhecimento de alguns

passivos e ativos regulatórios, que outrora não eram contabilizados de acordo com

as normas internacionais. Para tanto, orienta a aplicação dos pronunciamentos

técnicos, CPC 23, relacionado às mudanças na política contábil, CPC 30 de receitas,

CPC 38 tratando dos instrumentos financeiros e CPC 40 para explicar a mensuração

decorrente do reconhecimento dos ativos e passivos definidos nas demonstrações

contábeis advindos da tarifa de energia elétrica brasileira (OCPC 08, itens 3 e 4).

A emissão da OCPC 08 possibilitou certa redução das diferenças entre os

valores apresentados na contabilidade societária e regulatória, mas ainda existe

certa dificuldade para encontrar uma forma de integrar os resultados contábeis,

unificando as duas contabilidades com o intuito de facilitar a análise e entendimento

da informação contábil por parte dos usuários. (RIBEIRO; SILVA, 2017).

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2.2 Retornos Anormais

Ao se tratar de uma organização como rentável, detentora de uma

capacidade financeira e econômica a ponto de atrair investidores e mantê-la como

referência de retorno de lucratividade a partir dos recursos investidos, considera-se

como medida de desempenho de uma empresa, o retorno anormal, podendo ser

expresso como o valor excedente à expectativa do retorno esperado. Cita-se que é

uma variável comumente utilizada na realização de pesquisas, de sobremaneira no

âmbito internacional (FALLER, et al 2016).

Ao realizar um investimento idealiza-se o retorno proveniente desta

operação, cabendo ao investidor a análise dos riscos inerentes ao negócio, visto que

o resultado é incerto, sendo necessário cada vez mais mitigar esses possíveis

riscos. Trazendo a uma definição mais clara, pode-se entender o retorno normal

como uma forma de retribuir os riscos assumidos, enquanto os retornos anormais

representam retornos que excedem a compensação dos riscos esperados pelo

investidor, sendo a diferença obtida entre o retorno efetivo e o retorno normal.

(MARTINEZ, 2004).

Costa Júnior e Neves (2011) em estudo desenvolvido buscaram explicar a

influência do valor das ações, os índices de preço e o valor de cada ação como

forma de entender a rentabilidade das ações negociadas na bolsa de valores de São

Paulo. Sendo apurado que há uma relação negativa entre a rentabilidade média das

carteiras do índice preço/lucro e o valor de mercado, enquanto o resultado passa a

ser positivo em relação à rentabilidade e valor patrimonial da ação.

Por se tratar de um tema de bastante relevância, trabalhos foram

desenvolvidos com o intuito de explicar esse retorno anormal sob vários temas.

Como exemplo, cita-se Santos, Lustosa e Ferreto (2011) que procuraram entender

os retornos das ações das empresas quando estas divulgavam em suas

demonstrações endividamentos de longo prazo, chegando à conclusão após a

finalização do estudo, da existência de uma relação positiva entre os

endividamentos de longo prazo e a variação no preço das ações das empresas

brasileiras.

Kos, Barros e Colauto (2017) vislumbraram como pesquisa o possível

retorno anormal das ações de empresas participantes da IBOVESPA após a

divulgação de resultados subsequentes, tendo como amostra 28 empresas. Após

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análise, 16 das empresas estudadas apresentaram no mínimo um retorno anormal

para a janela temporal definida, levando ao entendimento de que os gestores,

investidores são influenciados pelos eventos ocorridos entre o fechamento da parte

contábil e a autorização para divulgação das demonstrações contábeis.

A divulgação dos preços das ações representa grande importância para os

investidores, sendo necessário cuidar para que não exista o repasse de informações

privilegiadas, diminuindo assim, a assimetria informacional. Assim sendo pode-se

conceber o estudo dos retornos anormais para o estudo de eventos, visto que os

preços das ações e o mercado são influenciados diariamente por vários fatores

contingenciais, precisando, portanto, ser escolhido uma variável que seja referência

para garantir a não influencia de fatos alheios ao evento de estudo. (EID JÚNIOR;

ROCHMAN, 2006).

Os valores comerciais que representam as ações podem sofrer alterações

como mudanças dentre as mais diversas, com, por exemplo, mudanças na política

do país, expectativa de mercado e dos investidores, mudanças de conjuntura

econômica, entre outras, podendo impactar no preço das ações, inferindo-se que as

informações presentes nas demonstrações contábeis podem dar uma explicação

para o retorno das ações. (SILVA et al,2016).

2.3 Estudos Recentes

Muitos trabalhos foram realizados sob a temática da criação da

Contabilidade Regulatória por parte da ANEEL e os possíveis impactos para os

usuários das informações contábeis.

Brugniet al (2011) realizou uma pesquisa sobre o IFRIC 12, ICPC 01 e

Contabilidade Regulatória buscando identificar de que forma haveria influência na

formação das tarifas do setor elétrico, sendo feita uma abordagem qualitativa, por

meio de pesquisas bibliográfica e documental de caráter exploratório. Os resultados

obtidos demonstraram que o valor tarifário sofre influência devido à adoção das

normas, podendo-se também constatar que a Contabilidade Regulatória proposta

pela ANEEL deveu-se a impossibilidade da contabilização dos ativos e passivos

regulatórios conforme as normas internacionais.

Em sua pesquisa Hoppe (2012) analisou as diferenças das práticas

existentes nas demonstrações contábeis societárias e regulatórias das distribuidoras

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de energia elétrica no Brasil. Para tal foi realizada uma pesquisa de revisão

conceitual das práticas adotadas nas duas contabilidades além da análise dos

índices econômico-financeiros. Concluindo-se que apesar de existirem práticas

contábeis societárias e regulatórias com obrigatoriedade para as demonstrações

contábeis em 31 de dezembro de 2011, ocorreram divergências por falta de

aplicação das práticas contábeis da contabilidade regulatória.

O trabalho realizado por Monteiro (2014) investigou as possíveis influências

que as normas internacionais e de contabilidade regulatória podem causar à

contabilidade gerencial das companhias de energia elétrica brasileira. Como formar

de atender seus objetivos realizou entrevistas e aplicou questionários para 100

contadores integrantes da Associação Brasileira dos Contadores do Setor de

Energia Elétrica. Após análises chegou à conclusão de que as contabilidades

regulatória e societária influenciam a contabilidade gerencial das empresas

distribuidoras e transmissoras de energia elétrica, muito embora a maior parte dos

entrevistados atribuírem maior importância à contabilidade regulatória, a

contabilidade societária atrelada às normas internacionais é mais utilizada para fins

gerenciais nas empresas que foram entrevistadas.

Carvalho (2013) comparou as divergências existentes entre a contabilidade

regulatória e o IFRS nas demonstrações contábeis publicadas das empresas de

distribuição de energia brasileira, sendo definido o período entre os anos de 2009 a

2011. Foram selecionadas 22 empresas que fazem parte da Associação Brasileira

de Distribuidores de Energia Elétrica e que publicaram as demonstrações contábeis

e societárias. A partir desta análise e dos resultados obtidos, pode-se constatar que

há diferenças na comparação entre os grupos de contas patrimoniais, no entanto em

relação a alguns índices, a saber: endividamento, liquidez corrente, margem líquida,

não foram encontradas diferenças discrepantes.

Sales (2014) analisou as diferenças existentes na contabilidade regulatória

do setor elétrico e a contabilidade societária, tendo como conclusão a adoção de

apenas uma contabilidade, que atendesse as normas internacionais e aos diversos

usuários das informações contábeis, mantendo a relevância e representação

fidedigna.

A pesquisa de Oliveira (2015) buscou analisar a comparabilidade entre o

patrimônio líquido e o lucro líquido das demonstrações contábeis e regulatórias das

empresas de geração, transmissão e distribuição de energia nos anos de 2010 a

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2013, utilizando o índice Gray. Como resultado constatou-se que os resultados das

demonstrações contábeis referentes ao lucro líquido e patrimônio líquido foram

maiores na contabilidade societária.

Ribeiro e Silva (2017) buscaram em seu estudo, analisar o entendimento dos

profissionais responsáveis pelos relatórios de regulação em relação as diferenças

existentes entre a contabilidade regulatória e contabilidade societária. Foram

realizadas entrevistas individuais com cada profissional das empresas nos períodos

de outubro de 2015 a fevereiro de 2016. Chegando-se a conclusão de que as

mudanças ocorridas com a adequação às normas contábeis internacionais

impactaram visivelmente a relevância da informação contábil das demonstrações

contábeis elaboradas pelas empresas reguladas.

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3 METODOLOGIA

3.1 Amostra e Coleta de Dados

O universo da pesquisa compreende a todas as empresas listadas na B3 –

Brasil, Bolsa, Balcão, incluídas no setor de energia elétrica. A amostra utilizada para

análise corresponde às empresas concessionárias de transmissão e distribuição de

energia elétrica que possuem demonstrações contábeis regulatórias e societárias

divulgadas nos a nos de 2015 e 2016, listadas na B3 – Brasil, Bolsa, Balcão.

Assim sendo, foram obtidas informações de 18 empresas de transmissão e

distribuição de energia elétrica conforme quadro a seguir.

Quadro 3 – Empresas analisadas

Razão Social Abreviatura Código da

Ação AFLUENTE TRANSMISSÃO DE ENERGIA

ELÉTRICA S.A. AFLUENTE T AFLU3

CIA ENERGÉTICA DE BRASÍLIA CEB

CEBR3

CIA ESTADUAL DE DISTRIBUIÇÃO DE

ENERGIA ELÉTRICA CEEE-D CEED3

CENTRAIS ELÉTRICAS DE SANTA

CATARINA S.A. CELESC CLSC3

CELG DISTRIBUIÇÃO S.A. CELG

GPAR3

CENTRAIS ELÉTRICAS DO PARÁ S.A. CELPA

CELP3

CIA ENERGÉTICA DO MARANHÃO CEMAR ENMA3B

CEMIG DISTRIBUIÇÃO S.A. CEMIG CMIG3

CIA ENERGÉTICA DE SÃO PAULO CESP CESP3

CIA ELETRICIDADE EST. DA BAHIA COELBA

CEEB3

CIA ENERGÉTICA DO CEARÁ COELCE COCE3

CIA PARANAENSE DE ENERGIA COPEL CPLE3

CPFL ENERGIA S.A. CPFL CPFE3

ELETROBRAS PARTICIPAÇÕES S.A. ELETROPAR LIPR3

ELETROPAULO METROP. ELET. SÃO PAULO

S.A. ELETROPAULO ELPL3

EMPRESA METROP. ÁGUAS ENERGIA S.A. EMAE EMAE3

ENERGISA S.A. ENERGISA ENGI3

TRANSMISSORA ALIANÇA DE ENERGIA

ELÉTRICA TAESA

TAEE3

Fonte: Elaboração própria de dados da B3, 2017

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As informações analisadas referentes às demonstrações contábeis dos anos

de 2015 e 2016 foram obtidas nos sítios eletrônicos das empresas. Em relação ao

valor das ações e índices IBOVESPA foram extraídos do sítio eletrônico da B3.

Também foram necessárias as informações referentes aos índices Alpha e Beta

brutos das empresas sendo extraídos do banco de dados Bloomberg®.

3.2 Tratamento dos Dados

3.2.1 Cálculo dos Retornos Anormais

O tratamento e interpretação dos retornos foram realizados conforme a

metodologia utilizada por Mackinlay (1997). Para tanto, segue a representação do

cálculo dos retornos anormais:

ARiτ=Riτ – E (Riτ│Xτ)

Em que:

ARiτ: retorno anormal do ativo i na data τ

Riτ: retorno real do ativo i na data τ

E (Riτ│Xτ): retorno estimado do ativo i na data τ, dado o retorno de Xτ

O retorno estimado foi calculado através do modelo de precificação de

ativos, CAPM (Capital Asset Pricing Model).

Riτ=αi+βiRmt+Eiτ

Em que:

Riτ: retorno no ativo i,na data τ

αi e βi: coeficiente de intercepto alfa e de declividade beta para o ativo i

Rmt: retorno da carteira de mercado,na data τ

Eiτ: erro para o ativo i,na data τ

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Em relação ao retorno da carteira de mercado, vale ressaltar que o mesmo

foi calculado pelo índice Bovespa, considerado como benchmarking do mercado de

capitais brasileiro.

O estudo de evento trata-se de um método relacionado à investigação da

influência que alguns eventos podem desencadear no desempenho das empresas,

levando-se em consideração o valor de mercado, sendo importante para esse

estudo o cálculo dos retornos anormais. Outro fator a se destacar é a janela de

eventos que corresponde ao período em que os valores das ações serão

examinados, devendo ser consideradas datas importantes para a interpretação das

alterações. (SOARES et al,2002).

Para a presente pesquisa os cálculos do retorno normal e esperado foram

realizados para a janela de evento definida em 3 dias após a divulgação dos

resultados.

Por se tratar de uma janela de eventos superior a 1 dia foi utilizada para

interpretação dos retornos anormais a seguinte expressão:

CARi (τ1,τ2) = ARiτ

Em que:

CARi: retorno anormal acumulado do ativo i

τ1 primeiro dia da janela do evento

τ2 último dia da janela do evento

∑ τ=τ1 τ2

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3.2.2 Análise dos lucros regulatórios e societários

Inicialmente foi utilizado um teste de média t-student para verificar se os

lucros regulatórios e societários eram estatisticamente diferentes entre si através da

rejeição ou não rejeição de uma hipótese nula definida, de igualdade entre as

médias. Tendo como característica a sua utilização que pode conter variáveis com

valores positivos quanto negativos, sendo simétrica em torno da média (MASSAD et

al, 2004).

Posteriormente foi utilizada a regressão dos mínimos quadrados ordinários

(MQO) para a análise da relação entre os retornos anormais e os lucros regulatório e

societário. Na visão de Fávero et al (2013) esse modelo de regressão permite a

identificação de quais variáveis independentes são estatisticamente significativas na

análise da variável dependente.

Assim, regrediu-se o retorno anormal acumulado tendo como variáveis

independentes o lucro regulatório e o lucro societário de cada observação,

controlando para o tamanho através do logaritmo natural do ativo total societário.

Assim, a regressão pode ser visualizada da seguinte forma:

���� =∝ +���� + ���� +������� + �

Em que:

����: retorno anormal acumulado do ativo i

∝: Alpha bruto

����:Lucro regulatório na data i

����:Lucro societário na data i

�������:Controle do tamanho pelo ativo total societário

�: Erro da regressão

Em relação ao cálculo do Variance Inflation Factor para testar se existe

multicolinearidade, obteve-se o valor de 1,15, atestando que os dados não possuem

multicolinearidade, ou seja, as variáveis não apresentaram a mesma tendência

durante certos períodos.

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4 RESULTADOS E ANÁLISES DA PESQUISA

4.1 Estatística descritiva e teste de média

As medidas de estatística descritiva das variáveis em análise, dos períodos

2015 e 2016 estão demonstradas na tabela 1.

Tabela 1 - Estatística descritiva

Variáveis Média Desvio-padrão Máximo Mínimo

Lucro regulatório 0,034889 0,07532 0,20961 -0,17994

Lucro societário 0,07312 0,067628 0,226172 -0,0068

Alpha 1,013889 2,007013 7,184 -2,95

Beta bruto 0,421444 0,723544 1,982 -1,198

Retorno real 0,024205 0,085254 0,219794 -0,113354

Retorno Ibovespa 0,004625 0,026474 0,067981 -0,046428

Retorno estimado 1,018693 1,999443 7,174398 -2,9443

Retorno anormal -0,99449 1,983672 2,973712 -7,20729 Fonte: Dados da pesquisa (2017).

Conforme os dados obtidos, é possível identificar que a média do lucro

regulatório foi menor sendo registrada um resultado de 3,49% ao passo que o lucro

societário demonstrou um valor de 7,31%. Em relação ao desvio padrão observou-

se uma diferença discrepante entre os dois lucros. Já em relação ao máximo pode-

se constatar como destaque a empresa Eletrobrás com o índice de 0,20961 no que

diz respeito ao lucro regulatório enquanto no aspecto societário a empresa CELG

despontou como melhor ranqueada com o índice de 0,226172. O desvio padrão do

lucro regulatório foi superior ao do lucro societário, já os retornos anormais e

estimados apresentaram maiores valores de dispersão em comparação aos retornos

da Ibovespa e os retornos reais. Analisando-se o retorno real verifica-se como

empresa que apresentou maior resultado a Companhia Eletropaulo com o índice de

0,219794, enquanto o menor resultado foi da empresa Cemig.

Em relação ao retorno Ibovespa a média foi de 0,004625, apresentando a

empresa CEMIG com a de menor valor de retorno com -0,046428, a empresa com

melhor resultado foi apontado no valor de 0,067981 pela empresa Energisa. O maior

retorno estimado foi obtido pela empresa CELG, já o menor foi da empresa TAESA.

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Quanto aos retornos anormais pode-se perceber uma grande dispersão em

relação a média de -0,99449, tendo como empresas com o maior resultado a

empresa TAESA com 2,973712, houve o valor da empresa CEEE como menor,

representado por -7,20729.

Também foi realizado um teste t-student para averiguar se as diferença das

médias entre os lucros regulatórios e societários apresentados pelas empresas em

suas demonstrações financeiras nos anos de 2015 e 2016, eram estatisticamente

diferentes de zero, isto é, se as médias das variáveis investigadas são

estatisticamente iguais.

Tabela 2 – Teste-t: diferença das médias do LR e LS para 2015 e 2016

LR LS

Média 0,034889407 0,07311962

Variância 0,005673104 0,00457359

Observações 36 36

Hipótese da diferença de média 0

Gl 35

Stat t -2,29212451

P(T<=t) bi-caudal 0,028027181 Fonte: Dados da pesquisa (2017)

A partir da análise do teste t-student, o qual foi realizado para as diferenças

de médias entre o lucro regulatório e societário, pretendeu-se verificar se esses

lucros são estatisticamente diferentes ou não entre si. Para tanto, considerou-se que

a hipótese nula reporta ao fato de que esses lucros são estatisticamente iguais a

uma significância de 5%.

Portanto, cita-se o valor apresentado na tabela acima do P-bicaudal

referente à diferença de médias dos lucros regulatórios e societários, representados

por 0,028027181, o qual está fora da região de não rejeição a um nível de

significância de 5%. Dessa forma rejeita-se a hipótese nula, ou seja, que esses

lucros possuem diferenças estatísticas significantes. Logo, tem-se que isso é um

indicativo de que as diferenças nas práticas contábeis para a elaboração das

demonstrações contábeis e regulatórias estão impactando a comparabilidade e os

resultados apresentados nas demonstrações, podendo impactar de forma diferente o

mercado e consequentemente os investidores. Esse resultado corrobora os achados

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de Oliveira (2015) e Hoppe (2012) que verificaram diferenças significativas nas

demonstrações contábeis regulatórias e societárias.

.

4.2 Análise da Regressão

Antes da execução da regressão, procurou-se testar a heterocedasticidade e

multicolinearidade dos dados. Conforme o teste de White os dados se mostraram

homocedásticos, cujo P-valor foi de 0,8489. O pressuposto da normalidade pode

ser relaxado em função da amostra possuir mais de 30 observações conforme o

Teorema do Limite Central (FAVERO et al, 2015).

Assim, executou-se então a regressão pelos mínimos quadrados ordinários

(MQO), considerando os dados empilhados, cujos resultados são apresentados na

Tabela 3.

Tabela 3 – Análise de regressão

Nmberof obs. = 36

F( 3, 32) = 5.43

Prob> F = 0.0039

R - squared = 0.3375

Adj R-squared = 0.2753

AR Coef. Std.Err. t P>/t/

LR 12.76169 3.853052 3.31 0.002

LS .3485292 4.609763 0.08 0.940

LnATS .3472275 .2207079 1.57 0.125

Cons 6.723.319 3.513017 1.91 0.065

Fonte: Dados da pesquisa (2017)

A partir da análise da regressão buscou-se identificar se os retornos

anormais estão sendo influenciados pelo lucro societário e regulatório, isto é, se de

fato tais informações influenciam no retorno anormal da ação, podendo ser

identificados pela significância da variável.

Observando-se o p-valor da variável LR na Tabela 3, pode-se sugerir que a

variável lucro regulatório está influenciando o retorno anormal, sendo significante a

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1%, podendo-se considerar, portanto, que o mercado, e consequentemente os

investidores estão considerando a divulgação dos lucros regulatórios em suas

decisões. Além disso, a não significância do lucro societário sendo superior a 10%

em termos de significância, pode indicar que esses resultados não estão exercendo

influência sobre o retorno anormal das ações.

Os resultados vão de encontro ao trabalho desenvolvido por Cordeiro et al

(2017) que a partir de sua análise identificou que os resultados das demonstrações

contábeis regulatória não tem influência majoritária sobre as ações das empresas de

energia elétrica, atestando que os preços das ações dessas empresas podem ser

melhor explicadas pela contabilidade societária.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A contabilidade tem como objetivo auxiliar no processo decisório. Por isso

faz-se necessária maior clareza na divulgação da informação a fim de que seja

mantida a relevância e fidedignidade e que os usuários possam tomar decisões

acertadas.

Dessa forma, a ANEEL no ano de 2010 estabeleceu a criação da

Contabilidade Regulatória para o setor elétrico bem como o MCSE, com o intuito de

garantir à sociedade maior transparência em relação às alterações tarifárias. Para

tanto também instituiu as demonstrações contábeis regulatórias.

Com essas mudanças, houve a necessidade das empresas elaborarem dois

grupos de demonstrações contábeis, ocasionando a apuração de resultados

distintos, quando na verdade a empresa apresentava a mesma situação econômico-

financeira, devido à contabilização de algumas operações serem diferentes na

contabilidade regulatória, como por exemplo, os ativos e passivos regulatórios.

O presente estudo teve como objetivo investigar a possível relação entre o

retorno anormal das ações das empresas de energia elétrica e a divulgação das

demonstrações contábeis regulatórias.

Inicialmente foi realizado um teste t-student entre as médias dos lucros

regulatório e societário, tendo como resultado a evidência de que existem diferenças

estatísticas significantes entre si, sugerindo um prejuízo à comparabilidade entre as

demonstrações contábeis regulatórias e societárias.

Em seguida foi realizada uma regressão pelos mínimos quadrados

ordinários com as informações das empresas dos anos de 2015 e 2016, chegando-

se a conclusão de que os retornos anormais das ações possuem relação com os

lucros regulatórios, mas não possuem relação com os lucros societários.

A pesquisa apresentou algumas limitações quanto à apreciação dos dados

apenas dos anos de 2015 e 2016, e da pequena quantidade de empresas da

amostra, implicando em uma pequena quantidade de observações. Além disso,

durante a janela de eventos de três dias, outras variáveis e acontecimentos

ocorridos podem ter influenciado os retornos anormais das companhias, que não a

divulgação das demonstrações contábeis. Por fim, é importante destacar que os

resultados se restringem à amostra investigada, não sendo possível qualquer tipo de

generalização.

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Mesmo com tais limitações, o trabalho contribui para a literatura sobre a

contabilidade regulatória e a percepção que as informações regulatórias causam no

mercado de capitais brasileiro, sendo sugerida a realização de novas pesquisas com

um maior número de empresas, períodos e setores além de estudos que possam

averiguar a conciliação entre os resultados regulatório e societário a fim de

proporcionar a melhor interpretação dos resultados divulgados por cada empresa.

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