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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA LUCIANA MARIA ARAÚJO RABÊLO INDUÇÃO DE MORTE CELULAR EM CÉLULAS DE ADENOCARCINOMA CERVICAL HUMANO (HeLa) PELA LECTINA DA ESPONJA Cinachyrella apion (CaL) NATAL 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA

LUCIANA MARIA ARAÚJO RABÊLO

INDUÇÃO DE MORTE CELULAR EM CÉLULAS DE

ADENOCARCINOMA CERVICAL HUMANO (HeLa) PELA LECTINA DA

ESPONJA Cinachyrella apion (CaL)

NATAL 2011

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LUCIANA MARIA ARAÚJO RABÊLO

INDUÇÃO DE MORTE CELULAR EM CÉLULAS DE

ADENOCARCINOMA CERVICAL HUMANO (HeLa) PELA LECTINA DA

ESPONJA Cinachyrella apion (CaL)

Dissertação apresentada ao Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Bioquímica.

Orientador: Elizeu Antunes dos Santos.

NATAL 2011

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Dedico esta obra a meu filho Lucas Gabriel. Peço desculpas por todos os momentos em que não

estive presente e agradeço por todos os abraços, as brincadeiras e as declarações de amor que trocamos

todos os dias. Te amo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado forças para seguir meu sonho e por ter me

guiado, mesmo nos momentos em que eu achava que estava tudo perdido.

Ao meu filho, o menino mais bonito do mundo, quem me dá forças para levantar todos os dias, o

mais charmoso e mais querido. Agradeço a Deus a cada momento por ter me iluminado, me permitindo

ser mãe de uma pessoa tão especial. Te amo demais, gordinho.

A minha família, em especial aos meus pais João e Lúcia Rabêlo, pelo apoio em vários momentos da

minha vida, principalmente por me ajudarem cuidando de Lucas quando eu estava no laboratótio,

sempre preocupados com o seu bem-estar. Obrigado por suportarem comigo todas as dificuldades que

surgiram pelo caminho.

Ao meu namorado Thiago Cardozo, por ter ido além de seus limites para ficar comigo,

principalmente nos últimos meses, em que eu estava tão ocupada que mal tinha tempo para vê-lo. Te

amo muito e agradeço pela paciência e carinho. Sei que foi difícil, mas conseguimos superar mais essa

etapa.

A Gabriela Queiroz, a pincesa... Você pode estar a milhares de quilômetros de distância, mas vai

sempre parecer que está aqui do meu lado, escutando meus desabafos, rindo, me chamando pra ir fazer

exercícios na praia... Os anos podem passar... a impressão que dá é que você nunca foi embora. E nunca

foi mesmo. Você sempre esteve comigo, aqui no meu coração. Te amo, incondicionalmente.

Ao meu compadre André Vianna e sua ilustríssima mulher grávida Christiane Medeiros. Não

poderia ter escolhido melhor os padrinhos de Lucas. Tenho muito orgulho de vocês e agradeço todos os

dias a Deus pela nossa amizade; também agradeço a vocês pelo meu segundo filho, até que enfim Lucas

ganhou companhia! Amo muito os dois, ou melhor... os três!

A Marcela Ohana, por tudo o que nós passamos, por ter sido tão companheira por todos esses anos.

Muito obrigada por deixar que eu fizesse parte da sua vida e por ter “emprestado” sua família. Agradeço

a Patrícia, Dona Ítala, Seu Leão, Guilherme... Vocês são muito importantes para mim. Amo vocês.

Aos meus amigos da graduação, Marília, Aline, Tanágara, Kaline, Cleysyvan, Tiara, Tieme,

Anderson, Luíza Barros, Luísa, Marcela, Amanda, André, Chris, Duda, Virgínia, Denis, Raphael, Breno,

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Ludovico, Rodrigo... Só tenho a agradecer todos os momentos em que passamos juntos. Vocês são muito

especiais para mim.

Aos meus amigos da turma de mestrado, em especial a Ruth, Rafael, Leonardo, Jana Dara, Dayse

Caroline, Dayse Santos, Marcos, Angélica e Roberta. Obrigada por tudo, sem a ajuda de vocês tudo seria

mais difícil.

A Adeliana de Oliveira, minha mãe no laboratório. Uma das maiores pesquisadoras que já conheci,

muito determinada e preocupada com todos. Muitas pessoas devem a maior parte do conhecimento

adquirido em bancada a ela, inclusive eu. Não importa o quanto eu fale o quanto você é importante para

mim, nunca será o suficiente. Estarei sempre com você, em tudo o que precisar. Te amo.

A Norberto Monteiro, meu Best Friend Forever (risos). Sou uma das poucas pessoas que te conhece

de verdade. Você foi meu ponto de apoio em vários momentos (bons e ruins) da minha vida, sempre serei

grata pela sua amizade.

A Raphael Russi, uma das pessoas mais curtas e grossas que já conheci, acho que é por isso que nos

damos tão bem! Gosto demais de você. Não vou ser melosa, sei que você não gosta. Te adoro.

A Raphael Serquiz, meu aluno de Iniciação Científica mais guerreiro. Só você mesmo pra aturar

todas as minhas implicâncias. É o aluno de iniciação mais competente do laboratório, sei que você vai

longe. Mamãe ama.

A todos os meus amigos do LQFPB, Paula, Richele, Vanessa, Jonalson, Anderson, Ticiana, Roberta,

Dayse, Patrícia, Phelippe, Júlia, Marie, Joyce, Vanessa Lima, Fabiana, Fabíola, Jonas, Lorena e Alexandre

Serquiz, sem vocês o dia de trabalho seria muito chato. Obrigada por todos os momentos que

compartilhamos dentro e fora do laboratório.

Às professoras Adriana Uchôa e Ana Heloneida, por todos os conselhos, broncas e momentos de

descontração. Vocês foram uma parte essencial para o desenvolvimento deste trabalho e de muitos

outros. Obrigada.

Ao Dr. Elizeu Antunes dos Santos, por ter sido mais que um orientador para mim. Não tenho como

agradecer todo o tempo que eu fiz você perder com minhas sessões desabafo, minhas choradeiras e

reclamações. Considero-te como um pai, com o mesmo respeito e amor. Para mim, não existe no mundo

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alguém mais ético, honesto e inocente. Você sempre será o meu modelo, em tudo. Muito obrigada e me

desculpe por ter sido tão chata com você.

Ao Dr. Maurício Pereira de Sales (in memmorian), pela amizade, confiança e por ter me aceitado

em seu laboratório da primeira vez em que fui trabalhar no Departamento de Bioquímica. Nunca vou

esquecer nossas briguinhas, os gritos que você me dava e as vezes que você me fazia parar um

experimento para ir comer salgado na cantina. Obrigada.

Aos meus grandes amigos do BIOPOL, em especial Ruth, Rafael, Nednaldo, Leonardo, e Jailma. Sem

vocês meu dia não fica completo. Agradeço toda a ajuda, as brincadeiras, até as brigas com Ruth (a única

pessoa que brigou com todo mundo do departamento). Vocês, com certeza, contribuem para que eu seja

uma pessoa muito mais feliz. Adoro vocês.

Ao Dr. Hugo Rocha, por todos os conselhos na minha qualificação e por todos os momentos de

descontração. Obrigada por sempre permitir meu acesso em seu laboratório e por contribuir fortemente

para a conclusão deste trabalho. Só não vou agradecer o fato de você sempre roubar minha comida

(brincadeira)! Obrigada.

Aos professores do Departamento de Bioquímica, que de alguma forma, contribuíram para a minha

formação. Obrigada.

Aos integrantes dos demais laboratórios do Departamento de Bioquímica, em especial a Raquel, por

ter me acompanhado em meus experimentos finais. Muito obrigada pela sua ajuda!

Ao pessoal da limpeza, principalmente Jonas e Angela, pelo café e por sempre manter o

departamento em ordem. Muito obrigada.

Ao Programa de Pós-Graduação em Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

pelas condições necessárias para o desenvolvimento deste trabalho.

Á Coordenação de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento desta pesquisa.

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Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas

usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa.

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RESUMO

O câncer é um termo utilizado para representar um conjunto de mais de 100 patologias, incluindo tumores malignos de diferentes localizações. As neoplasias malignas constituem a segunda causa de morte na população brasileira, representando aproximadamente 17% dos óbitos de causa conhecida. Estratégias que induzem à diferenciação têm tido sucesso limitado no tratamento de cânceres estabelecidos. Neste trabalho, uma lectina purificada da esponja marinha Cinachyrella apion (CaL) foi avaliada quanto às suas atividades hemolítica, citotóxica, antiproliferativa e quanto à capacidade de indução de morte celular pela via de apoptose em células tumorais. A atividade antiproliferativa de CaL foi testada contra linhagens celulares, com maior taxa de inibição do crescimento para a linhagem tumoral HeLa, induzindo a inibição de maneira dose dependente na concentração de 10 µg/mL. A atividade hemolítica e a toxicidade contra células do sangue periférico foram testadas utilizando a concentração de IC50 para ambos os ensaios e o dobro da IC50 para a análise em citometria de fluxo, indicando que CaL não é tóxica para estes tipos celulares. Para avaliar o mecanismo de morte celular induzida por CaL nas células HeLa, foi realizada a citometria de fluxo e western blotting. Os resultados mostraram que a lectina induz morte celular por apoptose através da ativação da proteína pró-apoptótica Bax, além de promover a parada do ciclo celular na fase S, com acúmulo de células de aproximadamente 57% nesta fase, agindo tanto de maneira dependente como independente de caspases. Estes resultados sugerem que a CaL possui potencial para ser utilizado como fármaco no tratamento contra o câncer. Palavras-chave: HeLa. Lectina. Antitumoral. Esponja marinha. Cinachyrella apion.

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ABSTRACT

Cancer is a term used to represent a set of more than 100 diseases, including malignant tumors from different locations. The malignancies are the second leading cause of death in the population, representing approximately 17% of deaths of known cause. Strategies that induce differentiation have had limited success in the treatment of established cancers. In this work, a lectin purified from the marine sponge Cinachyrella apion (CaL) was evaluated due to its hemolytic, cytotoxic and antiproliferative properties, besides the ability to induce cell death via apoptosis in tumor cells. The antiproliferative activity of CaL was tested against cell lines, with the highest inhibition of tumor growth for HeLa, reducing cell growth at a dose dependent manner, with a concentration of 10 µg/mL. The hemolytic activity and toxicity against peripheral blood cells were tested using the concentration of IC50 for both trials and twice the IC50 for analysis in flow cytometry, indicating that CaL is not toxic to these cells. To assess the mechanism of cell death caused by CaL in HeLa cells, we performed flow cytometry and western blotting. The results showed the lectin probably induces cell death by apoptosis activation by pro-apoptotic protein Bax, promoting mitochondrial membrane permeabilization, cell cycle arrest in S phase, with accumulation of cells of approximately 57% in this phase, and acting as both dependent and/or independent of caspases pathway. These results suggest that CaL has the potential to be used as drug treatment against cancer.

Keywords: HeLa. Lectin. Antitumor. Marine Sponge. Cinachyrella apion.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Capacidades adquiridas por uma célula para que se torne cancerígena. . 18

Figura 2 – Esquema mostrando as alterações progressivas na célula em apoptose.20

Figura 3 - Ilustração esquemática das vias de morte celular por apoptose. .............. 22

Figura 4 - Figura esquemática dos órgãos reprodutores femininos. ......................... 26

Figura 5 - Interação célula-célula mediada por lectinas. ........................................... 29

Figura 6 - Estrutura das esponjas. ............................................................................ 34

Figura 7 - Esponja marinha Cinachyrella apion. ........................................................ 43

Figura 8 - Desenho esquemático dos passos de purificação da lectina de esponja Cinachyrella

apion (CaL). ...................................................................................................... 46

Figura 9 - Perfil cromatográfico de CaL em coluna de exclusão molecular e determinação da

massa molecular. .............................................................................................. 55

Figura 10 - Eletroforese (SDS-PAGE) da CaL, em presença do agente redutor DTT.55

Figura 11 – Inibição da hemaglutinação de CaL. ...................................................... 56

Figura 12 – Curva de termoestabilidade de CaL. ...................................................... 57

Figura 13 – Efeito do pH sobre a atividade hemaglutinante da lectina (CaL). ........... 57

Figura 14 – Efeito da CaL sobre a viabilidade das linhagens celulares PC3, HeLa e 3T3. 59

Figura 15 – Avaliação da citotoxicidade de CaL sobre a linhagem tumoral HeLa. .... 60

Figura 16 - Citometria de fluxo do sangue periférico humano na presença e ausência de CaL.

.......................................................................................................................... 60

Figura 17 - Avaliação do efeito hemolítico de CaL sobre hemácias humanas. ......... 61

Figura 18 – Micrografia de células HeLa tratadas com CaL. ..................................... 62

Figura 19 – Citometria de fluxo de células HeLa tratadas com Anexina V/PI e CaL (em presença

e ausência de Z-VAD-FMK). ............................................................................. 64

Figura 20 – Avaliação de parada de ciclo celular após exposição à CaL. ................. 65

Figura 21 – Immunoblotting de proteínas envolvidas em morte celular por apoptose.67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resultados da purificação da lectina da esponja Cinachyrella apion em diferentes

etapas. .............................................................................................................. 56

Tabela 2 - Análise do efeito citotóxico de CaL sobre sangue periférico total. ........... 61

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LISTA DE ABREVIAÇÕES/SIGLAS

AIF – Fator de indução para apoptose

Apaf-1 - Fator de ativação para apoptose-1 ATCC – American Type Culture Collection

ATP – Adenosina trifosfato

BSA – Albumina sérica bovina

CaL – Lectina da esponja marinha Cinachyrella apion

CvL – Lectina da esponja marinha Cliona varians

DAPI – 4',6-diamidino-2-fenilindol

DISC – Complexo de sinalização indutor de morte

DMEM – Dulbecco's modified Eagle's medium

DNA – Ácido Desoxirribonucleico

DRC – Domínio Reconhecedor de Carboidratos

DTT – Ditiotreitol

EGF – Fator de crescimento epidermal

ELISA – Ensaio de Ligação Imunoenzimática

EndoG – Endonuclease G

FITC – Isotiocianato de fluoresceína (Fluorescein isothiocyanate)

HPV – Papilomavirus Humano

IAPS – Proteínas inibidoras de apoptose

INCA – Instituto Nacional do Câncer JNK – c-Jun N-terminal quinase

MTT – Brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio

NF-Ƙb – Fator nuclear kappa B

Omi – Regulador negativo de IAPS

PBS – Tampão Fosfato Salino

PCR – Proteína C reativa

PI – Iodeto de Propídio

PVDF – Fluoreto de Polivinilideno

RPM – Rotações por minuto

SDS – Dodecil Sulfato de Sódio

SFB – Soro Fetal Bovino

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Smac - Ativador secundário mitcondrial de caspases

TBS – Tampão Tris Salino

TBST – Tampão Tris Salino com Tween 20

TEMED – N’,N’,N’,N’-Tetrametil-1-2-diaminometano

UH – Unidades de Hemaglutinação

Z-VAD-FMK - Carbobenzóxi-valil-alanil-aspartil-[O-metil]fluorometilcetona

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 17

1.1. CÂNCER ............................................................................................ 17

1.2. APOPTOSE ........................................................................................ 20

1.3. ADENOCARCINOMA CERVICAL HUMANO ..................................... 26

1.4. LECTINAS .......................................................................................... 28

1.5. CLASSIFICAÇÃO DAS LECTINAS .................................................... 29

1.6. DISTRIBUIÇÃO NOS ORGANISMOS ................................................ 31

1.7. LECTINAS EM INVERTEBRADOS .................................................... 32

1.8. ESPONJAS MARINHAS E LECTINAS ............................................... 33

1.9. LECTINAS DE ORIGEM MARINHA NO COMBATE DO CÂNCER .... 37

2. OBJETIVOS .............................................................................................. 40

2.1. OBJETIVO GERAL............................................................................. 40

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................. 40

3. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 41

3.1. MATERIAIS ........................................................................................ 41

3.1.1. Equipamentos ................................................................................ 41

3.1.2. Reagentes ...................................................................................... 42

3.1.3. Material Biológico ........................................................................... 42

3.2. MÉTODOS ......................................................................................... 44

3.2.1. Preparação da lectina de esponja marinha Cinachyrella apion (CaL) 44

3.2.2. Dosagem proteica .......................................................................... 46

3.2.3. Dosagem de açúcares totais .......................................................... 46

3.2.4. Eletroforese em gel de poliacrilamida descontínuo e desnaturante (SDS-PAGE)

46

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3.2.5. Citotoxicidade sobre células do sangue periférico humano e Atividade

Hemolítica in vitro ............................................................................................... 47

3.2.6. Cultura de células .......................................................................... 48

3.2.7. Ensaio de Proliferação Celular ....................................................... 48

3.2.8. Ensaio de Inibição da Atividade Lectínica em Cultura de Células . 49

3.2.9. Avaliação dos indicadores de apoptose por incubação com DAPI 49

3.2.10. Citometria de Fluxo ...................................................................... 50

3.2.11. Western Blotting ........................................................................... 51

3.2.12. Análises Estatísticas .................................................................... 52

4. RESULTADOS .......................................................................................... 54

4.1. Isolamento, purificação e caracterização de CaL ............................... 54

4.2. Ensaios em cultura de células ............................................................ 58

4.2.1. Efeitos de CaL sobre a Proliferação Celular .................................. 58

4.2.2. Avaliação da citotoxicidade sobre células do sangue periférico humano e da

atividade hemolítica de CaL ............................................................................... 60

4.2.3. Determinação de efeito apoptótico de CaL sobre células HeLa por incubação

com DAPI 61

4.2.4. Indução de morte celular em linhagem tumoral HeLa pela ação de CaL

62

5. DISCUSSÃO ............................................................................................. 68

6. CONCLUSÃO ........................................................................................... 77

7. REFERÊNCIAS ........................................................................................ 78

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INTRODUÇÃO - 17

1. INTRODUÇÃO

1.1. CÂNCER

Câncer é um termo utilizado para designar o conjunto de mais de 150 doenças que têm em

comum o crescimento desordenado de células, causadas por alterações nos programas de

crescimento celular. Portanto, o tumor é resultante do desenvolvimento anormal das células, pois

mesmo que o organismo possua mecanismos de defesa para evitar seu surgimento, as células

cancerosas encontram uma maneira de se desviar destes mecanismos e sobreviver, enquanto

células normais seguem programadas para manter o funcionamento do organismo (WEINBERG,

2008). Os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer podem ser hereditários ou

encontrados no meio ambiente, como o meio ambiente em geral (água, terra e ar), ambiente

ocupacional (quando insalubre), o ambiente social e cultural (estilo e hábitos de vida) e o

ambiente de consumo (alimentos, medicamentos). As mudanças provocadas no meio ambiente

pelo próprio homem podem determinar os diferentes tipos de câncer (ALMEIDA, 2005).

Durante o desenvolvimento normal, intrincados sistemas de controle genético regulam o

balanço entre o surgimento de novas células e sua morte em resposta a determinados

mecanismos de sinalização, dentre eles os sinais estimulantes e inibitórios de crescimento e

sinais direcionados à morte celular. Em tecidos específicos, a proliferação celular ocorre de

forma contínua, como uma estratégia de renovação tecidual. Contudo, em alguns determinados

tecidos, as células não proliferam exceto durante processo de regeneração. O câncer se

desenvolve devido a falhas nos mecanismos que geralmente controlam o crescimento e

proliferação celular (Figura 1) (WEINBERG; HANAHAN, 2000).

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INTRODUÇÃO - 18

Figura 1 - Capacidades adquiridas por uma célula para que se torne cancerígena. (WEINBERG; HANAHAN, 2000).

Mutações em duas grandes classes de genes estão envolvidas nos estágios iniciais do

câncer: proto-oncogenes e genes supressores de tumor. Os proto-oncogenes são ativados e

convertidos a oncogenes por mutações que causam ativação excessiva na promoção do

crescimento celular, enquanto os genes supressores de tumor geralmente suprimem o

crescimento da célula, portanto, danos a esses genes possibilitam o crescimento celular

inapropriado.

O câncer geralmente resulta de mutações que surgem durante certo período de exposição

à carcinógenos, dentre estes alguns reagentes químicos e radiação ultravioleta. Está claro agora

que milhões de mutações pontuais, translocações, amplificações e deleções contribuem para o

desenvolvimento do câncer, e que o alcance mutacional pode diferir mesmo dentro de tumores

histopatologicamente idênticos (STRATTON; CAMPBELL; FUTREAL, 2009). Essas mutações

induzidas que desencadeiam câncer ocorrem principalmente em células somáticas, não em

linhagens germinativas, e essas mutações não são transferidas para a próxima geração. Em

contraste, certas mutações herdadas, as quais são passadas para a linhagem germinativa,

aumentam a probabilidade do desenvolvimento de tumores em algum momento. Numa parceria

destrutiva, as mutações somáticas podem se combinar com as mutações herdadas, resultando

na iniciação e progressão de tumores. Mesmo que os danos genéticos apareçam em apenas

uma célula somática, a divisão desta célula irá transmitir o dano às células filhas, originando

clones de células alteradas. Raramente, a mutação em apenas um gene culmina do

desenvolvimento de câncer; séries de mutações em múltiplos genes geram uma proliferação

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INTRODUÇÃO - 19

celular acelerada que difere da proliferação normal celular, dando oportunidade ao aparecimento

de mutações adicionais. Os clones dessas células se desenvolvem em tumores, porém para que

estes tumores se expandam, é necessária a obtenção de um suprimento de sangue, proveniente

do crescimento de novos vasos capilares a partir de veias sanguíneas preexistentes

(angiogênese); este processo depende da ativação, migração e proliferação de células

endoteliais, rompimento da membrana basal vascular e a subsequente maturação de veias

sanguíneas. A angiogênese é fortemente controlada por fatores pró-angiogênicos (VEGF, Ang1

e Tie2, FGF, HGF, MCP-1, NOS, COX-2, quimiocinas) e anti-angiogênicos (VEGFR-1, Ang2,

TSP-1, -2, angiostatina, endostatina, VEGI, IL-4, IL-12, IL-18, maspina) que são acionados por

uma gama de fatores de crescimento e citocinas. O fator de crescimento endotelial vascular

(VEGF) é um dos fatores mais estudados que apresenta a capacidade de regular tanto

angiogênese fisiológica quanto patológica (DELGADO et al, 2011; CARMELIET; JAIN, 2000). De

acordo com os estágios de progressão do câncer, o tumor se torna um órgão anormal,

incrivelmente adaptado ao crescimento e à invasão de tecidos adjacentes, processo denominado

metástase. Muitas mutações oncogênicas, tais como as que previnem a apoptose ou geram

sinais promotores de crescimento inapropriados podem também ocorrer em células progenitoras

mais diferenciadas, porém que ainda possuem a capacidade de se replicar.

De acordo com o INCA (Instituto Nacional do Câncer), o tratamento do câncer pode ser

feito de várias formas: através de intervenções cirúrgicas, removendo o tumor de sua área

afetada; radioterapia, utilizando feixes de radiações ionizantes, gerando raios gama que

interagem com os tecidos criando efeitos químicos, como a hidrólise da água e a ruptura das

cadeias de DNA, levando á morte celular por vários mecanismos; fotorradiação, método que

permite a localização e destruição de tumores com maior seletividade, devido à radiação

específica com fluorescência (620-640 nm) com uso de fibras óticas; transplante de medula

óssea, que consiste na substituição de uma medula óssea doente, ou deficitária, por células

normais, com o objetivo de reconstituição de uma nova medula; ou quimioterapia, utilizando

medicamentos para o combate ao câncer, com aplicação dos medicamentos, em sua maioria, de

forma intravenosa. Em alguns casos, é necessário combinar mais de uma modalidade para o

tratamento do câncer.

Os tratamentos antineoplásicos citados são capazes de curar cerca de um terço dos

pacientes através de medidas locais (cirurgia e radioterapia) com sucesso quando o tumor ainda

não sofreu metástase. Porém, quando se faz necessário o uso de abordagens sistêmicas, a

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INTRODUÇÃO - 20

quimioterapia é a técnica mais empregada para o tratamento de tumores, induzindo a morte

celular via apoptose (ALMEIDA, 2005). O objetivo primário da quimioterapia é destruir células

neoplásicas, porém a maioria dos agentes quimioterápicos não atua de forma específica,

provocando lesão tanto de células malignas quanto células normais. Tal fato explica a maioria

dos efeitos colaterais relacionados a esse tratamento, como náuseas, perda de cabelo e maior

susceptibilidade a infecções.

1.2. APOPTOSE

Os processos de morte celular podem ser classificados de acordo com suas características

morfológicas e bioquímicas em: apoptose, autofagia, necrose e cornificação, além dos tipos de

morte celular atípicos, como a mitose catastrófica, anoikis, excitotoxicidade, degeneração

Waleriana, paraptose, piroptose, pironecrose e entose (KROEMER, 2009; OKADA; MAK, 2004;

DIMRI, 2005; CASTEDO et al., 2004). Alterações na coordenação desses tipos de morte celular

estão implicadas na tumorogênese (RICCI; ZONG, 2006).

KEER et al.(1972), em um estudo pioneiro, observou um novo tipo de morte celular,

denominado “apoptose”, que parecia ser diferente da morte celular necrótica de hepatócitos

induzida por toxinas. De fato, a apoptose pode ser vista como um processo que elimina células

que sofreram mutações, supérfluas, ectópicas ou com danos. Como mostrado por microscopia

eletrônica, células apoptóticas formam pequenos corpos arredondados, cercados por

membranas, contendo organelas citoplasmáticas intactas ou partes do núcleo. Estes corpos

resultam da progressiva condensação celular, as quais são eventualmente englobadas por

células fagocíticas (Figura 2) (KROEMER; GALLUZZI; BRENNER, 2007).

Figura 2 – Esquema mostrando as alterações progressivas na célula em apoptose. A apoptose em células animais inicia morfologicamente com a condensação e fragmentação da cromatina. Após isso, há a retração da membrana e formação de corpos apoptóticos, seguido de engolfamento por

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INTRODUÇÃO - 21

macrófagos ou células vizinhas. Fonte: Adaptado de: Nature Reviews Molecular Cell Biology, v.5, p. 305-315, 2004.

As mudanças morfológicas que caracterizam a morte celular por apoptose são a retração

celular, formação de núcleos picnóticos (condensação da cromatina), cariorréxis (fragmentação

nuclear), formação de “bolhas” e destruição da membrana, fagocitose por células vizinhas e

formação de corpos apoptóticos (KROEMER; GALLUZZI; BRENNER, 2007) (LIU et al., 2011).

Além das mudanças morfológicas, mudanças bioquímicas das células destinadas à morte celular

por apoptose são também observadas, como modificações no citoesqueleto e na membrana

celular para a retração das células, alterações na distribuição dos carboidratos na superfície

celular e a perda da simetria fosfolipídica, resultando na externalização de fosfatidilserina,

facilitando o reconhecimento das células por macrófagos e promovendo ligação diferencial dos

macrófagos às células apoptóticas (HANAYAMA et al., 2004).

Diversos fatores podem desencadear a apoptose, como a ligação de moléculas a

receptores de membrana, agentes quimioterápicos, radiação ionizante, danos no DNA, choque

térmico, privação de fatores de crescimento, baixa quantidade de nutrientes e níveis aumentados

de espécies reativas de oxigênio (EROS) (HENGARTNER, 2000).

Após o estímulo inicial, uma intricada cascata de sinalização pode ativar várias vias para

apoptose em células de mamíferos, destacando dentre estas vias duas principais, a via

extrínseca e a intrínseca (Figura 3).

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INTRODUÇÃO - 22

Figura 3 - Ilustração esquemática das vias de morte celular por apoptose. ORRENIUS; NICOTERA; ZHIVOTOVSKY, 2010) (ver descrição no texto).

Ambas as vias de morte apoptótica podem ser divididas em pelo menos três fases distintas:

iniciação, integração/decisão e execução/degradação.

A ativação de uma classe específica de proteases, as caspases, são requeridas para a

execução da apoptose. Contudo, nem todas as caspases são requeridas para a apoptose e o

processo geralmente resulta da ativação de um número limitado de caspases, particularmente as

caspases-3, -6 e -7 (KROEMER, 2007).

Na via extrínseca, receptores de superfície formam um complexo de sinalização de morte

induzida (DISC), resultando na ativação da procaspase-8. Em células tipo I, a caspase-8 ativa a

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INTRODUÇÃO - 23

procaspase-3, a qual cliva proteínas alvo, levando a apoptose. Em células tipo II, a caspase-8

cliva Bid, a qual induz a translocação, oligomerização e inserção de Bax e/ou Bak no interior da

membrana externa mitocondrial. A partir desta translocação, há uma liberação de várias

proteínas que pertencem ao espaço intermembrana da mitocôndria, incluindo citocromo c,

formando um complexo citosólico com Apaf-1 (fator de ativação para apoptose-1) e procaspase-

9 (apoptossomo), na presença de dATP. Isto resulta na ativação da procaspase-9, que tem como

alvo a procaspase-3, que age na cascata de sinalização da apoptose na via extrínseca.

Na via intrínseca, os sinais de morte agem direta ou indiretamente na mitocôndria,

causando a liberação de proteínas proapoptóticas de seu espaço intermembrana. Esta via de

morte celular é controlada pela família de proteínas Bcl-2 (regulação da liberação de citocromo

c), proteínas inibidoras de apopotose (IAPs) (inibição de caspases), ativador secundário

mitocondrial de caspases (Smac), e Omi (regulador negativo de IAPs). Bcl-2 é o protótipo da

família de proteínas que contêm pelo menos um domínio de homologia Bcl-2 (BH). Por medidas

de classificação, a família pode ser dividida em proteínas de multidomínio anti-apoptótico

(protótipos: Bcl-2, Bcl-XL), as quais contêm quatro domínios BH (BH1234); proteínas

multidomínio pró-apoptótico (protótipos: Bax, Bak), as quais contêm três domínios BH (BH123); e

proteínas pró-apoptóticas de apenas um domínio, BH3 (Bid, Bad) (LETAI et al., 2002). O sítio

principal de ação das proteínas Bcl-2-like é provavelmente a membrana mitocondrial

(KROEMER; REED, 2000). Como regra, as proteínas BH1234 residem principalmente na

membrana externa da mitocôndria, onde protegem a mitocôndria contra a permeabilização de

membrana, presumivelmente através da ligação e neutralização de outras proteínas pró-

apoptóticas da família Bcl-2, que, ao contrário, induzem a permeabilização da membrana da

mitocôndria.

Em condições fisiológicas, Bax é uma proteína citosólica. Contudo, sob indução de

apoptose, Bax se insere na membrana externa da mitocôndria (WOLTER et al., 1997), onde é

capaz de formar aberturas supramoleculares, sozinha ou em associação com outros membros

pró-apoptóticos como Bak e tBid (Bid truncada) (KUWANA et al., 2002). Tais aberturas devem

resultar da formação de poros a partir da oligomerização de Bax ou da desestabilização da

bicamada lipídica, resultando em descontinuidades transientes dentro da membrana externa da

mitocôndria. A relocalização de Bax é requerida para sua função pró-apoptótica. Se Bax fica

retida no citosol pela interação com autoantígeno Ku de 70 kDa (Ku70), assim como com os

peptídeos derivados de Ku70, o dano mitocondrial e a apoptose é eficientemente prevenida

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INTRODUÇÃO - 24

(SAWADA; HAYES; MATSUYAMA, 2003). Apesar das discussões a respeito dos mecanismos

de permeabilização de membrana (ZAMZAMI; KROEMER, 2003), a permeabilização de

membrana pode resultar de uma mudança conformacional de Bax ou Bak (com exposição de

seus terminais NH2), suas completas inserções na membrana mitocondrial como multímeros

homooligoméricos e a formação de poros permeáveis a proteínas. A formação destes complexos

ocorre de maneira independente de caspases e são inibidos completamente e especificamente

por Bcl-XL (NECHUSHTAN et al., 2001).

NF-κB, um fator de transcrição pró-sobrevivência, desempenha um papel essencial na

supressão de apoptose, influenciando na expressão de membros anti-apoptóticos da família Bcl-

2 e IAPS (proteínas inibidoras de apoptose) (PAHL,1999), promoção da proliferação celular e

inflamação, e está intimamente associada ao desenvolvimento do câncer. Em condições

normais, NF-κB se encontra no citoplasma como heterodímero composto por subunidades p50 e

p65, complexadas a IκB. A fosforilação de IκB por IKKβ, seguida pela ubiquitinização e

degradação proteassômica ativa NF-κB, liberando suas subunidades e com consequente

translocação nuclear e ativação de genes anti-apoptóticos (SHEN; TERGAONKAR, 2009).

A proteína treonina/serina quinase AKT, quando ativa, desempenha papel fundamental na

mediação de sinais para o crescimento celular, sobrevivência celular (anti-apoptótica),

progressão do ciclo celular, diferenciação, transcrição, tradução e metabolismo da glicose

(BRAZIL et al., 2004). A ativação de AKT leva a fosforilação de várias proteínas envolvidas na

sobrevivência celular e inibição da apoptose. Por exemplo, a fosforilação da subunidade inibitória

de NF-ƙB (IƙB) por AKT resulta na ativação da via de sobrevivência de NF-ƙB (OZES et al.,

1999). Além disso, a fosforilação dependente de AKT da caspase-9 bloqueia a indução de

apoptose (CARDONE et al., 1998). A fosforilação também implica em proteínas que afetam

diretamente a permeabilização da membrana mitocondrial. Um exemplo é Bad, que é

translocado do citosol para a mitocôndria, onde se liga e inibe Bcl-2 e Bcl-XL, de forma modulada

por seu estágio fosforilado. AKT também pode mediar a inibição de GSK-3β, que em sua forma

ativa (desfosforilada) é capaz de fosforilar a proteína anti-apoptótica da família Bcl-2 Mcl-1,

levando-a a ubiquitinização e destruição por proteassomos (MAURER et al., 2006). AKT pode

inibir apoptose promovendo a ligação de HKII à mitocôndria, que por sua vez pode prevenir Bax

de se ligar a VDAC, que favoreceria a permeabilização de membrana mitocondrial

(PASTORINO; SHULGA; HOEK, 2002).

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INTRODUÇÃO - 25

Dentre as inúmeras proteínas que são translocadas para a membrana externa da

mitocôndria, proteínas quinases pertencentes às quinases reguladoras de sinalização para

apoptose (ASK)/cascata de proteínas quinase mitogênio-ativadas (MAPK) podem desempenhar

papel primordial na permeabilização de membrana da mitocôndria. Por exemplo, a subfamília de

quinases c-Jun NH2-terminal (JNKs) são consideradas moléculas sinalizadoras essenciais nos

processos degenerativos do cérebro de mamíferos (HERDEGEN; WAETZIG, 2001). Sob

estresse celular, várias JNKs se associam com a mitocôndria (KHARBANDA et al., 2000;

KURINNA et al., 2004). JNKs inativam proteínas anti-apoptóticas e ativam proteínas pró-

apoptóticas da família Bcl-2 como Bcl-2, Bcl-XL, Bad, Bim ou Dp5 (SCHROETER et al., 2003;

YIN et al., 2005) e podem, desta forma, influenciar na permeabilização da membrana

mitocondrial. A via intrínseca também pode operar por mecanismos independentes de caspases,

os quais envolvem a liberação e translocação de pelo menos duas proteínas da mitocôndria para

o núcleo: o fator de indução para apoptose (AIF) e a endonuclease G (EndoG). Os efeitos

nucleares de AIF incluem a condensação de cromatina e a formação de fragmentos de DNA de

alto peso molecular. O papel de EndoG na morte celular é ainda desconhecido. Quando o dano

ao DNA é o gatilho para a resposta apoptótica, a primeira caspase a ser ativada é a procaspase-

2. Sua ativação também leva à liberação de citocromo c e a formação do apoptossomo, apesar

do mecanismo preciso deste processo ser desconhecido (ORRENIUS; ZHIVOTOVSKY;

NICOTERA, 2003; DIENER, 2010).

Em inúmeros modelos, a mitocôndria é um ponto de checagem crucial para o controle da

apoptose, devido a integração de vários sinais, incluindo fatores endógenos (concentrações de

prótons do citosol e organelas, Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, metabólitos como ATP, ADP, NAD(P),

glutationa, segundos mensageiros lipídicos e múltiplas proteínas incluindo quinases e fosfatases)

assim como fatores exógenos (proteínas específicas virais ou xenobióticos). As organelas

mitocondriais reúnem os sinais que induzem e protegem de morte celular a nível de membrana

e, a partir do momento que os sinais de indução de morte superam os de sobrevivência, ocorre a

permeabilização de membrana mitocondrial.

A apoptose na prática clínica é alvo para um potencial uso terapêutico da morte celular por

apoptose ou para a compreensão dos mecanismos de resistência à radioterapia e a

quimioterapia (NICHOLSON, 2000; KIM et al., 2003). A elucidação de alguns dos mecanismos

moleculares da apoptose abririam perspectivas de modulação desses processos. As estratégias

se baseiam em induzir a morte nas células tumorais através do bloqueio de genes com

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INTRODUÇÃO - 26

oligonucleotídeos antisense e fármacos convencionais, ou ainda a substituição de função desses

genes com o uso de moléculas recombinantes (NICHOLSON, 2000).

1.3. ADENOCARCINOMA CERVICAL HUMANO

O carcinoma é definido como o conjunto de tumores formados a partir de células epiteliais.

Cânceres derivados de tecidos não-epiteliais são denominados sarcomas, que representam

apenas 1% dos tumores encontrados em clínicas oncológicas.

O cérvix corresponde à parte inferior do útero, também chamado de cérvix uterino,

conectando o corpo do útero à vagina. A parte do cérvix próximo ao corpo do útero é chamada

endocervix, enquanto a parte próxima a vagina é denominada exocervix. Os dois tipos principais

de células que recobrem o cérvix são as células

escamosas (na exocervix) e as células glandulares (na endocervix). O local onde estes dois tipos

celulares se encontram é denominado zona de transformação. A maioria dos cânceres se inicia

nesta zona (Figura 4).

Figura 4 - Figura esquemática dos órgãos reprodutores femininos. (AMERICAN CANCER SOCIETY, 2010).

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INTRODUÇÃO - 27

Os cânceres e pré-cânceres cervicais são classificados de acordo com uma análise

histológica em microscópio. Existem dois tipos principais de cânceres cervicais: o carcinoma

escamoso cervical e o adenocarcinoma, derivados de células epiteliais secretoras (AMERICAN

CANCER SOCIETY, 2010).

Em 2008, a IARC/OMS estimou 12,4 milhões de casos novos e 7,6 milhões de óbitos por

câncer no mundo. No Brasil, as estimativas, para o ano de 2010, serão válidas também para o

ano de 2011, e apontam para a ocorrência de 489.270 casos novos de câncer. Os tipos mais

incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo não melanoma, serão os cânceres de próstata e

de pulmão no sexo masculino e os cânceres de mama e do colo do útero no sexo feminino

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Com aproximadamente 500 mil novos casos por ano no

mundo, o câncer cervical é responsável pelo óbito de, aproximadamente, 230 mil mulheres por

ano. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o número de casos novos deste tipo

de câncer esperados para o Brasil é de cerca de 18.000 novos casos.

A incidência de câncer do colo do útero torna-se evidente na faixa etária entre 20 a 29 anos

e o risco aumenta gradualmente com a idade. A etiologia deste tipo de câncer está associada à

infecção pelo Papilomavirus Humano (HPV), transmitido sexualmente, e à interação entre

diversos fatores de risco, tais como fatores genéticos, ambientais, reprodutivos, uso prolongado

de anticoncepcionais, hormônios, tabagismo, etilismo, má higiene pessoal, deficiências

nutricionais, agentes infecciosos, processo inflamatório de diversas etiologias, agentes

imunossupressores, exposição a carcinógenos químicos e à radiação ionizante e condições

socioeconômicas (BAUER et al., 1993; INCA, 2000; MENDES; SILVEIRA; PAREDES, 2004;

LEAL et al., 2003; SCHIFFMAN, 1995; TABORDA et al., 2000).

Na década de cinquenta, George Gey, um cientista que trabalhou vários anos em

colaboração com Warren Lewis, recebeu uma amostra de células tumorais provenientes de

câncer cervical de uma mulher negra, chamada Henrietta Lacks (MASTERS, 2002). As células

de câncer cervical geralmente apresentam crescimento lento, mas de acordo com os médicos da

época, este tumor apresentava várias características que o diferia dos cânceres comuns: ele era

macio e roxo, não respondia a radioterapia e se mostrava, sem dúvidas, ser um adenocarcinoma

raro – um câncer glandular. A linhagem celular foi denominada HeLa, devido às iniciais do nome

de Henrietta Lacks e se tornou um modelo na pesquisa do câncer.

A cada ano, desde o ano de 1980 até 2000, o número de citações relacionadas à linhagem

HeLa quadruplica. Apenas no ano de 2011, mais de 8.500 trabalhos foram publicados

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INTRODUÇÃO - 28

envolvendo esta linhagem celular. Determinação de vias de morte celular através da indução de

biomoléculas como peptídeos (HSU et al., 2011), carboidratos (COSTA et al., 2011), lectinas

(LIU et al., 2008) e inibidores (ZHANG et al., 1999) tem sido pesquisada.

Em virtude sua alta especificidade de interações com carboidratos, as lectinas podem servir

como moléculas marcadoras de glicoconjugados específicos de células tumorais. Além disso,

elas podem ser conjugadas a uma gama de agentes transportadores, agindo especificamente

em células malignas. Atualmente, os efeitos citotóxicos das lectinas estão sendo rigorosamente

estudados para o estabelecimento da eficácia farmacológica destas biomoléculas.

1.4. LECTINAS

Atualmente, o termo lectina é amplamente empregado para designar todas as proteínas

e/ou glicoproteínas que possuem ao menos um domínio não-catalítico, que se liga

reversivelmente e especificamente a mono ou oligossacarídeos (PEUMANS; VAN DAMME,

1995; VIJAYAN; CHANDRA, 1999). Alternativamente, lectinas também são definidas como

proteínas de origem não-imune, com um ou mais sítios por subunidade, que podem se ligar

reversivelmente a segmentos glicídicos específicos, através de pontes de hidrogênio e

interações Van der Waals (LIS; SHARON, 1998). Elas interagem com os segmentos glicídicos

através de uma região chamada domínio reconhecedor de carboidratos (DRC) que é altamente

conservada em cada tipo de lectina (NI; TIZARD, 1996).

Ao interagirem com glicoconjugados de superfície celular, as lectinas podem promover a

formação de ligações cruzadas entre células adjacentes, desencadeando o processo

denominado aglutinação (Figura 5) (ALONSO, et al., 2001; PEUMANS; VAN DAMME, 1995).

Ensaios de inibição de aglutinação, em que as lectinas são incubadas com diversos tipos de

carboidratos ou glicoproteínas antes da adição das células modelo, constituem um meio de

estabelecer a especificidade das lectinas (MARQUES; BARRACO, 2000).

Devido à interação específica das lectinas com glicoconjugados, seja em solução ou em

superfície celular, essas proteínas encontram-se envolvidas em uma variedade de atividades

biológicas, como: adesão celular, interações célula-matriz, apoptose e citotoxicidade em células

e organismos (AKAHANI et al., 1997; DANGUY; CAMBY; KISS, 2002; SALES et al., 2000).

Propriedades como atividade mitogênica, efeitos antibacterianos e antitumorais também foram

relatadas (ENGERING; GEIJTENBEEK; VAN KOOYK, 2002; HAJTO et al., 2005; MOURA et al.,

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INTRODUÇÃO - 29

2006; SHARON; LIS, 2004; TATENO et al., 2002). Essas propriedades tornam tais moléculas

poderosas ferramentas nas pesquisas biomédicas e biotecnológicas, com aplicações nos

processos de isolamento, caracterização e tipagem de macromoléculas, como por exemplo a

imobilização de lectinas em matrizes de cromatografias de afinidade para o isolamento de

carboidratos, diferenciação de células normais e tumorais e identificação de microrganismos; na

utilização em procedimentos de diagnóstico e estudo das funções do sistema imune, tais como

indução da proliferação de linfócitos e produção de interferons e outras citocinas (TURNER,

2003); na diferenciação de células malignas e benignas e no nível de glicosilação associado à

metástase (ARENAS et al., 1999; GORELIK et al., 2001). Além de todas essas citadas, muitas

lectinas têm sido capazes de induzir apoptose em diferentes linhagens de células, dessa

maneira destacando mais uma importante propriedade, a citotoxicidade (KIM et al., 1993;

MIYOSHI et al., 2001; OHBA et al., 2004; PAJIC et al., 2002; RAO et al., 2005; YOON et al.,

1999).

Figura 5 - Interação célula-célula mediada por lectinas.

1.5. CLASSIFICAÇÃO DAS LECTINAS

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INTRODUÇÃO - 30

As lectinas estão posicionadas, por comparação do seu domínio reconhecedor de

carboidratos (DRC), dentro de, no mínimo, seis famílias: lectinas de legumes, lectinas de cereais,

lectinas do tipo C, P, S e Pentraxinas. Dentre as famílias mencionadas somente as quatro

últimas podem ser encontradas no Reino animal (SHARON, 1993; DRICKAMER; TAYLOR,

1993), identificadas em vários sistemas de identificação.

Lectinas do tipo C constituem o grupo mais diversificado com relação à estrutura,

localização e especificidade de ligação com o açúcar. Elas incluem subfamílias como colectinas,

selectinas, receptor de manose de macrófagos, receptores transmembrana do grupo NK (do

inglês Natural Killer cells) e receptores de asialoglicoproteínas (NI; TIZARD, 1996; KILPATRICK,

2002), requerendo a presença do íon cálcio para exercerem suas atividades (NI, 1996). As

colectinas são encontradas no plasma e outros fluidos do corpo (HOLMSKOV et al., 1994; REID;

TURNER, 1994) e desempenham um importante papel no sistema imune, participando na

agregação, ativação do sistema complemento, opsonização e ativação da fagocitose, além de

inibir o crescimento microbiano. Além disso, as colectinas podem modular respostas

inflamatórias e alérgicas, induzir a morte celular por apoptose e modular o sistema imune

adaptativo (VAN DE WETERING, 2004). Essas moléculas são constituídas por subunidades

triméricas ligadas por pontes de sulfeto ou interações não covalentes. A porção N-terminal

consiste de um domínio que se liga a colágeno e permite que as três moléculas fiquem unidas

entre si (NI; TIZARD, 1996) As selectinas são encontradas na superfície das células e o seu

DRC está separado da região de ligação à membrana por um domínio semelhante ao fator de

crescimento epidermal (EGF) e uma sequência consenso ou domínio de proteínas regulatórias

do complemento (ARASON, 1996). Existem três tipos de selectinas: as L-selectinas, encontradas

nos leucócitos, E-selectinas, em células endoteliais e P-selectinas, nas plaquetas e células

endoteliais (NI; TIZARD, 1996). As selectinas medeiam a adesão inicial dos leucócitos ao

endotélio vascular durante o movimento leucocitário, processo conhecido como rolamento

(ARASON, 1996). Lectinas do tipo S consistem nas proteínas que se ligam à beta-galactosídeos,

portanto, agora chamadas de galectinas (BARONDES et al., 1994). Essas lectinas dependem da

redução do grupo tiol para o desenvolvimento de suas atividades e são classificadas, com base

na estrutura de suas subunidades, em três tipos: tipo proto (com um único domínio), tandem-

repeat (dois domínios homólogos) ou quimera (dois domínios diferentes). As galectinas vêm

sendo estudadas intensamente e a elas têm sido atribuídos importantes papéis, tais como

adesão celular, regulação do crescimento e diferenciação (KILPATRICK, 2002). Pentraxinas são

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INTRODUÇÃO - 31

um grupo de proteínas plasmáticas que incluem a proteína C reativa (PCR), componente P

amilóides do soro e possivelmente outros membros (STEEL; WHITEHEAD, 1994). Constituem

moléculas compostas por subunidades proteicas, arranjadas em ciclo, em uma simetria

pentamérica, que se ligam a múltiplos ligantes de uma maneira cálcio dependente. Segundo NI e

TIZARD (1996), as pentraxinas possuem múltiplas funções biológicas, incluindo ativação do

sistema complemento e estimulação da fagocitose pelos macrófagos (NI; TIZARD, 1996).

1.6. DISTRIBUIÇÃO NOS ORGANISMOS

As lectinas estão presentes em quase todos os organismos vivos, ou seja, microrganismos,

animais e plantas. Entretanto essas substâncias são encontradas em maior quantidade em grãos

de leguminosas e gramíneas (PUSZTAI, 1989). O fato das lectinas terem larga distribuição em

plantas sugere alguma importância fisiológica para estas moléculas (LIENER, 1976; ETZLER,

1985). As funções das lectinas podem ser variadas e parecem ter relação com os estágios de

maturação e germinação das sementes (HOWARD et al., 1972), assim como parecem estar

relacionadas com os mecanismos de defesa da planta contra o ataque de fungos (LIENER,

1976).

Em bactérias, protozoários e vírus, há indícios que as lectinas podem promover adesão

destes microrganismos a estruturas celulares de seus hospedeiros, um pré-requisito para que

ocorra a infecção (LIS; SHARON, 1998; CARMOLLI et al., 2009; CAMBI et al., 2004; SAIFUDDIN

et al., 2000).

Peumans e Van Damme (1995) estudaram os relatos de ocorrência de lectinas em plantas

superiores e observaram que estas proteínas já haviam sido detectadas em cerca de 500

espécies. Muitas das lectinas vegetais são encontradas nas sementes, embora sua presença já

tenha sido observada em todos os tipos de tecidos vegetais, como casca, folha, caule, fruto e

raízes (PEUMANS; VAN DAMME, 1995). As funções destas lectinas provavelmente estão

relacionadas à defesa contra microrganismos patogênicos, insetos fitófagos e animais

herbívoros, além de atuarem como proteínas de reserva, uma vez que, em algumas sementes

de plantas, as lectinas representam a principal função de proteínas solúveis, sendo degradadas

durante a germinação (PEUMANS; VAN DAMME, 1995).

Com relação às lectinas de origem animal, a primeira delas foi provavelmente identificada

em cobras, por FLEXNER e NOGUCHI, no ano de 1902, quando estudando veneno de

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INTRODUÇÃO - 32

cascavéis, observou que o mesmo era capaz de aglutinar células vermelhas do sangue. Alguns

anos depois, outras lectinas de animal foram descobertas, tais como: aglutininas de caranguejo

ferradura, conglutinina (primeira lectina animal associada com o sistema imune); aglutininas de

enguia, que teve sua aplicação na determinação de tipo sanguíneo; lectina hepática de coelho

(primeira lectina de mamífero); eletrolectina (de peixe elétrico); selectinas e outras.

Nos animais vertebrados, distinguem-se duas categorias de lectinas: as citoplasmáticas,

que são extraídas em soluções aquosas ou salinas, e as lectinas de membrana, que requerem o

uso de detergentes para sua solubilização. Muitas das lectinas ligadas à membrana são

receptores para ligantes fisiológicos, como o receptor manose-6-fosfato que se liga a enzimas

lisossomais (KORNFELD, 1987), e receptores para asialoglicoproteínas, que ligam-se a

asialoglicoproteínas do soro (ASHWELL; HARDFORD, 1982). Embora as lectinas presentes nos

animais apresentem uma incontestável variedade de funções, a maioria delas é considerada

molécula de reconhecimento, uma vez que age no processo de defesa contra patógenos e

participa do tráfego celular, da regulação imunológica e na prevenção de doenças auto-imunes

(KILPATRICK, 2002), além de promover estimulação mitogênica de linfócitos e aglutinação de

células cancerosas (LIS; SHARON, 1973; LIENER, 1981). O papel biológico destas proteínas

tem sido alvo de estudos já há muitas décadas. Esta situação é totalmente compreensível devido

à enorme quantidade de interações nas quais as lectinas podem engajar-se. É muito improvável

que um papel fisiológico geral para todas as lectinas possa ser encontrado. Mesmo lectinas que

são muito similares em suas estruturas primárias e conformações podem servir a diferentes

propósitos. Provavelmente, as lectinas encontram-se empregadas pela natureza em diferentes

funções, dependentes de sua localização, especificidade e do momento de sua síntese.

1.7. LECTINAS EM INVERTEBRADOS

Muitas pesquisas têm dado ênfase ao possível papel das lectinas no reconhecimento de

moléculas não-próprias nos organismos invertebrados e vertebrados (RENWRANTZ, 1986;

ARASON, 1996; MATSUSHITA, 1996; VASTA et al., 1999; WILSON et al., 1999). Os

invertebrados não possuem um sistema imune adaptativo baseado na magnitude de anticorpos

altamente específicos e receptores de antígenos como aqueles que ocorrem nos vertebrados.

Devido ao fato das lectinas terem a habilidade de ligar-se a carboidratos e promover a

aglutinação de diferentes células, tais como bactérias e outros patógenos invasores, é razoável

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INTRODUÇÃO - 33

assumir que essas moléculas possuem um considerável e potente papel nas reações de

reconhecimento do não-próprio nos invertebrados. Assim como as imunoglobulinas dos

vertebrados, as lectinas podem aglutinar microrganismos e favorecer sua fagocitose, por mediar

a ligação entre a superfície do hemócito e o corpo estranho (papel de opsonização). Existem três

diferentes rotas para o reconhecimento de partículas estranhas, nas quais as lectinas podem

interagir: a primeira é através da interação da lectina da membrana do invertebrado com o

carboidrato da membrana do microrganismo; a segunda ocorre pela ligação entre a lectina da

membrana do patógeno e o açúcar presente na membrana das células do invertebrado; e a

terceira rota ocorre através de lectinas humorais com glicoconjugados presentes nos

microrganismos, formando um complexo que se une ao receptor de opsonina da célula de

defesa dos invertebrados (RENWRANTZ, 1983).

Nos invertebrados marinhos, a maioria das lectinas encontradas pertence à família de

lectinas do tipo-C. Essas lectinas foram obtidas de organismos de diferentes filos: arthropoda

(Tachypleus tridentatus), echinodermata (Anthocidaris crassispina, Cucumaria echinata) e

outros. Lectinas com atividade hemolítica têm sido recentemente encontradas no caranguejo

ferradura, que se liga ao ácido siálico, e outra com especificidade à galactose, isolada de

Cucumaria echinata. Esse processo de lise celular ocorre após ligação da lectina com a cadeia

de carboidrato presente na superfície dos eritrócitos. Lectinas com atividades mitogênica e

quimiotática têm sido identificadas em veneno do ouriço do mar (Toxopneustes pileolus),

sugerindo seu envolvimento na toxicidade. Outras funções atribuídas às lectinas de

invertebrados são: cristalização de carbonato de cálcio (Megabalanus rosa), morfogênese

(Polyandrocarpa misakiensis) e lise da membrana vitelínica (espermatozóide de Mytilus edulis).

Esses exemplos demonstram que é grande a variedade de lectinas encontradas nos

invertebrados e que, portanto, podem ser inúmeros os papéis fisiológicos desempenhados por

essas moléculas nesses referidos organismos (HATAKEYAMA et al., 1995; TAKAGI T., 1994;

MUTA et al., 1991).

1.8. ESPONJAS MARINHAS E LECTINAS

Com origem no período cambriano, o filo Porifera contém atualmente descritas cerca de

6.000 espécies de esponjas. As esponjas são organismos aquáticos primitivos, em sua maioria

marinhos, que não possuem tecidos bem definidos, nem órgãos estabelecidos. Sua organização

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INTRODUÇÃO - 34

é muito simples e apresentam um crescimento assimétrico, com grande diversidade de cores e

tamanhos. São animais filtradores, que realizam digestão intracelular, e cuja respiração e

excreção ocorrem por difusão direta entre células e a água circulante através dos canais do

corpo (BELL; BARNES, 2001).

A parede do seu corpo é formada pela epiderme, pelo mesênquima e pelo revestimento

interno de células flageladas, chamadas coanócitos, que realizam a digestão do alimento que

chega ao interior do animal. No mesênquima, encontram-se os amebócitos que distribuem o

alimento pelas diversas células do corpo. Existem poros inalantes (óstios), por onde a água entra

no porífero; e um poro exalante (ósculo), por onde a água sai do porífero. A cavidade central,

forrada de coanócitos, é denominada de átrio. No mesênquima, podem ser encontradas

espículas calcárias ou silicosas que fazem parte da sustentação do corpo do animal (Figura 6).

Há, contudo, esponjas sem espículas (esponjas córneas), com esqueleto de fibras de espongina

(BELL; BARNES, 2001).

Figura 6 - Estrutura das esponjas. Adaptada do site: http://fossil.uc.pt/pags/fbm_porifera.dwt (acesso em: 19 de Junho de 2011).

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INTRODUÇÃO - 35

Esponjas marinhas apresentam-se como um reservatório biológico de moléculas bioativas.

Possivelmente este fato decorre do longo período evolucionário que esses animais percorreram,

ao longo de seus 800 milhões de anos de existência, convivendo com uma ampla diversidade de

ambientes e outros seres vivos, numa luta incessante pela conquista do habitat. As esponjas

produzem uma ampla variedade de toxinas e outros componentes moleculares com o objetivo de

repelir predadores (PAWLIK; MCFALL; ZEA, 2002), competir por espaço com outros organismos

sésseis e para a comunicação e proteção contra infecções (BECERRO; TURON; URIZ, 1997). O

interesse em estudar esponjas marinhas foi intensificado após o isolamento e caracterização de

um componente anti-HIV chamado niphatevirin presente na esponja Ninphates erecta (O’KEEFE

et al., 1997).

Historicamente, o primeiro registro de lectinas isoladas de esponja foi feito por Dodd e

colaboradores em 1968 (DODD et al., 1968). No ano de 2000, Miarons e Fresno investigaram 22

espécies de 12 famílias de esponjas tropicais. Dentre elas, 10 apresentaram atividade

hemaglutinante para eritrócitos de vários animais, inclusive quando estes foram submetidos a

variados tratamentos enzimáticos (MIARONS; FRESNO, 2000). Em esponjas do gênero

Suberites domuncula foi encontrada uma lectina de 27 kDa, com atividade bactericida

(SCHRODER et al., 2003). Na espécie Aphrocallistes vastus foram encontradas duas lectinas do

tipo-C com afinidade para galactose e com atividade de adesão celular (GUNDACKER et al.,

2001). Xiong e colaboradores isolaram da esponja Craniella australiensis uma lectina com massa

molecular de 54 kDa (nativa), trimérica, com subunidades de 18 kDa unidas por pontes

dissulfeto, especificidade para a glicoproteína mucina e independência de íons bivalentes para a

aglutinação de eritrócitos (XIONG et al., 2006).

De outra esponja, Haliclona cratera, foi isolada uma lectina de 29 kDa, dependente de íons

metálicos sem pontes dissulfeto e com afinidade para galactose. Essa lectina apresentou

atividade citotóxica sobre células tumorais HeLa (câncer cervical) e FemX (melanoma), e

atividade mitogênica em linfócitos (PAJIC et al., 2002). Efeitos mitogênicos em leucócitos foram

observados para lectinas de esponjas de várias espécies como Pellina semitubulosa (ENGEL;

BACHMAN; SCHROEDER, 1992), Cinachyrella alloclada (ATTA et al., 1989), Craniella

australiensis (XIONG et al., 2006) e Geodia cydonium (BRETTING et al., 1981b).

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INTRODUÇÃO - 36

Da espécie Axinella polypoide foram isoladas quatro lectinas com especificidade para

galactose (lectinas – I, II, III e V) e uma com afinidade para ácido hexurônico (lectina IV) (BUCK

et al., 1992). Posteriormente BUCK e colaboradores (1998), observaram que as lectinas I e II

dessa espécie apresentavam 65% de homologia em sua região N-terminal, massa molecular

muito similar, pontes dissulfeto entre os resíduos 4 e 46 e ausência de glicosilações (BUCK et

al., 1998).

Na esponja Aaptos papillata já foram isoladas três lectinas, conhecidas como Aaptos lectina I, II

e III, respectivamente. A primeira delas apresentou uma especificidade para N-Acetil-

glicosamina, enquanto as outras duas foram inibidas por N-Acetil-galactosamina, N-Acetil-

glicosamina e ácido siálico (BRETTING; SCHOTTELIUS, 1978). Uma lectina purificada da

espécie Suberites domuncula possuía uma massa molecular de 27 kDa e atividade bactericida

(SCHRODER et al., 2003). Na espécie Aphrocallistes vastus foram encontradas duas lectinas do

tipo C com afinidade para galactose e com atividade de adesão celular (GUNDACKER et al.,

2001). XIONG e colaboradores (2006) isolaram da esponja Craniella australiensis uma lectina

com massa molecular de 54 kDa (nativa), a qual apresentava três subunidades de 18 kDa unidas

por pontes dissulfeto, especificidade para a glicoproteína mucina e independência dos íons Ca+2

e Mg+2 para a aglutinação de diferentes eritrócitos.

MOURA e colaboradores, em 2006, mostraram a purificação e caracterização de uma

lectina da esponja marinha Cliona varians, denominada CvL (MOURA et al., 2006). Esta

apresentou dependência pelo íon cálcio, especificidade pelo monossacarídeo galactose, efeito

citotóxico sobre bactérias Gram-positivas e a capacidade de aglutinar formas promastigotas de

Leishmania chagasi coradas com Coomassie blue. Em 2008, QUEIROZ e colaboradores

mostraram que a CvL apresentou atividade pró-inflamatória, induzindo a migração de neutrófilos

em camundongos. Baseado no potencial dessa lectina, anticorpos IgG anti-CvL foram gerados

com a finalidade de pesquisar lectinas similares em esponjas diferentes, através da técnica de

imunodifusão radial (MEDEIROS et al, 2010). A variedade de lectinas presentes em esponjas

marinhas e que apresentam características diversificadas intensifica o interesse pela descoberta

dessas moléculas em novas espécies de esponjas. A espécie Cinachyrella apion utilizada neste

trabalho é comumente encontrada no litoral brasileiro, principalmente fixada a substratos

rochosos e arenosos. Além da abundância de sua ocorrência no nosso litoral, a seleção da

esponja está relacionada ao fato de haver poucos relatos na literatura sobre a descrição de

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INTRODUÇÃO - 37

lectinas nesta espécie, além do fato desta lectina já ter sido trabalhada anteriormente por nosso

grupo de pesquisa.

1.9. LECTINAS NO COMBATE DO CÂNCER

A morte celular é uma estratégia essencial para o controle do equilíbrio dinâmico em seres

vivos, removendo células com os mais diversos problemas. Ela pode ter papel destacado na

patogênese de muitas doenças. Existem doenças ligadas à supressão de morte celular como o

câncer, aterosclerose e desordens autoimunes. Outras, ligadas ao aumento do índice de morte

celular como infecções virais, infecções bacterianas, desordens neurodegenerativas, desordens

autoimunes, desordens hematológicas e ainda doenças induzidas por toxinas (FADEEL et al.,

1999).

Tratamentos bem-sucedidos contra o câncer, utilizando quimioterápicos, são dependentes

de sua habilidade em desencadear a morte celular nas células transformadas. Muitos dos

agentes citotóxicos disparam o mecanismo de morte celular pela indução de apoptose. A

susceptibilidade celular para estes agentes pode ser influenciada por fatores genéticos que

regulam a apoptose, pelo aumento da expressão ou atividade de proteínas anti-apoptóticas,

assim como pela expressão insuficiente dos membros pró-apoptóticos (AMARANTE-MENDES et

al., 1998; BRIMMELL et al., 1998; EVAN; VOUSDEN, 2001; RAMPINO et al., 1997).

O entendimento aperfeiçoado dos diversos mecanismos de morte celular e da resistência a

esses processos ainda parece ser a peça chave para o desenvolvimento de novos agentes

terapêuticos, mais ativos e/ou menos tóxicos que os usados atualmente no tratamento de

diversas doenças, incluindo o câncer.

Existem poucos trabalhos na literatura que relacionam propriedades de lectinas de

organismos marinhos com efeitos citotóxicos o com a indução de apoptose em linhagem de

células malignas para o combate do câncer. Em trabalhos realizados por Wang e colaboradores

(2000), uma lectina da alga marinha Ptilota plumosa (PPL), com especificidade para resíduos de

D-galactose, mostrou fraca atividade citotóxica contra linhagens de células de hepatocarcinoma,

coriocarcinoma (tumores das vilosidades coriônicas da placenta), osteosarcoma (WANG et al.,

2000). Da esponja marinha Haliclona cratera foi isolada uma lectina de 29 kDa, dependente de

íons metálicos, sem pontes dissulfeto e com especificidade para galactose. Esta lectina

apresentou atividade citotóxica sobre linhagens de células tumorais de câncer cervical (HeLa) e

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INTRODUÇÃO - 38

melanoma (FemX). Concentrações de 9 µg/mL e 11 µg/mL causaram 50% de diminuição da

sobrevivência celular (IC50) em HeLa e FmX, respectivamente. Porém, o mecanismo do efeito

citotóxico causado nessas células ainda não foi desvendado (PAJIC et al., 2002). A lectina

extraída da alga marinha vermelha Euchema serra (ESA), com especificidade para resíduos de

manose, induziu morte celular e apoptose em muitos tipos de células cancerosas humanas

(SUGAHARA et al., 2001). Estudos têm mostrado que ESA inibiu o crescimento e induziu a

morte celular em células de adenocarcinoma de cólon em camundongos, pela expressão de

caspase-3 e translocação de fosfatidilserina, sugerindo a indução de morte celular através da via

de apoptose dependente de caspases, demonstrando que esta lectina foi efetiva in vitro e in vivo,

podendo ser potencialmente utilizada como um fármaco contra o câncer (FUKUDA et al., 2006).

Recentemente, nosso grupo de pesquisa purificou e caracterizou uma lectina da esponja

marinha Cliona varians, que possui atividade hemaglutinante dependente de Ca2+ contra

eritrócitos do tipo A, tratados com papaína. Esta lectina, chamada CvL, é uma glicoproteína com

massa molecular de 106 kDa, formada por quatro subunidades de 28 kDa ligadas por pontes

dissulfeto. CvL mostrou especificidade preferencial para D-galactose, efeitos antibacterianos

contra bactérias patogênicas gram positivas e atividade aglutinante sobre promastigotas de

Leishmania chagasi (MOURA et al., 2006). Além destes efeitos, Queiroz e colaboradores (2009)

comprovaram o potencial antitumoral de CvL sobre as linhagens K562 (leucemia mielogênica

crônica) com a IC50 de 70 µg/mL, porém não afetou a viabilidade celular de linfócitos normais de

sangue periférico humano nas mesmas concentrações testadas (1 – 80 µg/mL). As células K562

tratadas com CvL na concentração de 70 µg/mL mostraram núcleos com diferentes níveis de

condensação de cromatina e fragmentação nuclear, sinais típicos de morte celular por apoptose

e a quantificação do índice apoptótico mostrou aumento significativo do número de células

apoptóticas, alcançando o valor de 43 ± 5% do total da população celular (p<0,05). Finalmente,

CvL, na concentração de 70 µg/mL, desencadeou a liberação de catepsina B dos

compartimentos vesiculares dentro do citoplasma com subsequente translocação para o interior

do núcleo. Dentro deste contexto, recentemente foi purificada e caracterizada uma lectina de C.

apion, denominada CaL. CaL mantém sua atividade lectínica a amplas faixas de pH e

temperatura e apresentou atividade hemaglutinante preferencial para eritrócitos do tipo A, sem

dependência por íons bivalentes para exercer sua atividade. O dissacarídeo lactose foi

identificado como inibidor da atividade lectínica de CaL. Esta lectina apresentou capacidade de

aglutinar formas promastigotas do protozoário Leishmania chagasi, quando testada isoladamente

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INTRODUÇÃO - 39

(sem a presença de seu inibidor específico). Após incubação com seu inibidor específico, CaL

perde a capacidade de aglutinação de L. chagasi, indicando que receptores compostos por

lactose estariam presentes nesse estágio de vida do protozoário, sugerindo possíveis aplicações

biotecnológicas de CaL como ferramenta para diagnóstico da forma patogênica de L. chagasi

(MEDEIROS et al., 2010). Contudo, até o presente momento, outras possíveis atividades

relacionadas a lectina não foram investigadas.

Levando em consideração a grande incidência de adenocarcinomas cervicais na

população feminina brasileira e as condições agressivas às quais os pacientes estão expostos

ao serem submetidos a tratamentos tradicionais do combate ao câncer, novas terapias estão

sendo adotadas como agentes adjuvantes para esta doença. Devido à especificidade de

reconhecimento e ação das lectinas sobre células tumorais, estas biomoléculas devem oferecer

boas oportunidades para o desenvolvimento de novos agentes no tratamento do

adenocarcinoma cervical humano.

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OBJETIVOS - 40

2. OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar o efeito da lectina purificada (CaL) da esponja marinha Cinachyrella apion sobre

linhagens celulares normais e tumorais.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Obtenção de CaL purificada, de acordo com metodologia descrita por MEDEIROS et al

(2009);

Avaliar citotoxicidade de CaL contra células do sangue periférico, utilizando IC50 como

concentração teste;

Avaliar efeito hemolítico de CaL;

Avaliar a capacidade de CaL em influenciar a proliferação de diferentes linhagens de células

tumorais;

Analisar o processo de morte celular utilizando marcação com anticorpos anti-anexina V

(marcador de fosfatidilserina externalizada) e iodeto de propídio (marcador de DNA

fragmentado);

Propor um mecanismo de ação desta lectina no tratamento do adenocarcinoma cervical

humano.

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METODOLOGIA - 41

3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. MATERIAIS

3.1.1. Equipamentos

Além dos aparelhos usuais do laboratório, pode-se destacar:

Banho Maria (Tecnal – Te 056)

Balança analítica eletrônica - BEL Engineering

Balança eletrônica – Tecnal (mod. B-tec 2200)

Centrífuga refrigerada HITACHI CR G

Cuba de eletroforese BIORAD

Espectrofotômetro Pharmacia Biotec (mod, ultrospec 2100 – pro)

Purificador de água Milli-Q® Water System (Millipore Corp.)

PowerPacTM Power Supply; MiniPROTEAN® Tetra Cell; Mini Trans-blot Cell®

(BIORAD, mod. Power PAC 300)

FPLC AKTA Purifier (GE Healthcare Bio-Sciences Corp.)

Bancada de Fluxo Laminar (PACHANE Pa300)

Incubadora Thermoforma Serie II Water CO2 Incubator HEPA Filter Model 3110

Liofilizador TERRONI FAUVEL – LB 1500 TT

Microcentrífuga para eppendorf 5410

Microcentrífuga para hematócrito (Modelo spin 1000)

Microscópio invertido NIKON Eclipse TE300

Peagâmetro Analyser (pH 300)

Citômetro de Fluxo modelo FACSCANTO II, BD Bioscience

Microscópio de Fluorescência OLYMPUS BX41

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METODOLOGIA - 42

3.1.2. Reagentes

Meios de cultura DMEM (Dulbecco MEM), RPMI-1640, Estreptomicina, Penicilina,

Soro fetal bovino e solução de tripsina/EDTA da Cultilab (Campinas, SP, Brasil);

D-glucose, D-galactose, D-frutose, L-fucose, D-manose, D-arabinose, D-xilose, N-

acetil-D-glicosamina, D-glucosamina, D-galactosamina; os dissacarídeos melibiose,

lactose, sacarose, glicoproteína mucina e Triton X-100 da Sigma (Sigma-Aldrich Co.

LLC);

TEMED da Amersham Biosciences (São Paulo, Brasil);

Ditiotreitol e Nitrato de prata da GE Healthcare (Bio-Sciences São Paulo, Brasil);

Acrilamida/bisacrilamida da Bio-rad (NY, USA);

Tris-(hidroximetil)-aminometano, acetona, glicina, ácido clorídrico, cloreto de sódio,

cloreto de magnésio, cloreto de manganês, ácido fosfórico, álcool etílico, álcool

metílico, ácido acético da VETEC (Duque de Caxias, RJ, Brasil)

DAPI (4´,6´-diamidino-2-phenylindole), MTT e FITC/Annexin V Dead Cell Apoptosis

Kit with FITC Annexin and PI, for Flow Cytometry da Invitrogen (Carlsbad, CA, USA);

Anticorpos policlonais produzidos em coelho (Bax e Bcl-2) e anticorpo secundário

conjugado com peroxidase produzido em cabra anti-coelho foram obtidos da Cell

Signaling Technology (Beverly, MA, USA). Os anticorpos policlonais produzidos

em coelho (JNK, p-Akt, NF-ƙB) e conjugados com peroxidase e anticorpos

secundários obtidos a partir de cabra anti-coelho da Santa Cruz

Biotechnology (Santa Cruz, CA, EUA).

Membrana de PVDF da Millipore Corp. (Bedford, MA, USA);

3.1.3. Material Biológico

3.1.3.1. Esponja marinha Cinachyrella apion

A esponja marinha Cinachyrella apion foi coletada na praia de Santa Rita, localizada no

litoral norte da região metropolitana de Natal, estado do Rio Grande do Norte. Os animais

coletados foram armazenados em caixas de isopor devidamente refrigeradas, contendo água do

mar para preservação do material biológico, sendo em seguida transportadas para o Laboratório

de Química e Função de Proteínas Bioativas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

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METODOLOGIA - 43

onde foram armazenadas sob uma temperatura inferior a 4˚C. A identificação da espécie de

esponja marinha foi realizada anteriormente pelo professor Dr. Eduardo Hadju, do Museu

Nacional do Rio de Janeiro, sendo mantida nas coleções com o número MNRJ 10142 (Figura 7).

FILO: PORIFERA

CLASSE: DEMOSPONGIAE

SUBCLASSE: Tetractinomorpha

ORDEM: Spirophorida

FAMÍLIA: Tetillidae

GÊNERO: Cinachyrella

ESPÉCIE: Cinachyrella apion

Figura 7 - Esponja marinha Cinachyrella apion. Detalhe apresenta a esponja em corte transversal

3.1.3.2. Eritrócitos humanos

Os eritrócitos humanos foram obtidos através de doações de bolsas de sangue pelo

HEMOCENTRO – RN. As bolsas fornecidas encontravam-se fora do prazo de validade para

transfusões.

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METODOLOGIA - 44

3.1.3.3. Linhagens celulares

HeLa, uma linhagem de células tumorais humanas de cólon uterino (ATCC número CCL-

2), 3T3, uma linhagem fibroblástica normal de camundongo (ATCC número CL-173) e PC3, um

adenocarcinoma de próstata humano (ATCC número CRL-1435) foram obtidas da American

Type Culture Colletion (ATCC, Rockville, MD, USA). As linhagens celulares HeLa e 3T3 foram

cultivadas em meio DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle’s Médium), suplementadas com 10% de

soro fetal bovino. Ao meio DMEM foram adicionados Estreptomicina (5000 µg/mL) / Penicilina

(5000 UI). As células da linhagem PC3 foram cultivadas em meio RPMI-1640, suplementadas

com 10% de soro fetal bovino e tratadas com Estreptomicina (5000 µg/mL) / Penicilina (5000 UI).

As células foram mantidas em ambiente estéril com 5% de CO2.

3.2. MÉTODOS

3.2.1. Preparação da lectina de esponja marinha Cinachyrella apion (CaL)

A lectina da esponja Cinachyrella apion foi purificada de acordo com a metodologia de

Medeiros et al. (2010). A esponja Cinachyrella apion foi triturada em liquidificador com tampão

Tris-HCl 50 mM, pH 7,5, na proporção de 1:2 (p/v), onde a extração foi realizada em banho de

gelo. O material foi mantido sob agitação por quatro horas e, em seguida, centrifugado a 8000 x

g por 30 minutos a 4 ˚C. Os sobrenadantes foram descartados e o sobrenadante obtido foi

designado de Extrato Bruto. O Extrato Bruto foi submetido a fracionamento em três etapas de

precipitação com acetona: 0,5 volumes, 1,0 volume e 2,0 volume. Em cada etapa, após a adição

da acetona, a solução permaneceu em repouso a 4˚C por, no mínimo, quatro horas. Após esse

período, as frações foram centrifugadas a 8000 x g por 30 minutos a 4˚C. O sobrenadante foi

descartado e os precipitados foram recolhidos, solubilizados em tampão Tris-HCl 50 mM pH 7,5

após a retirada completa da acetona, e armazenados a 4 ˚C. As frações obtidas foram

denominadas F 0,5, F 1,0 e F 2,0, respectivamente. A fração F 1,0 apresentou maior atividade

hemaglutinante específica e foi submetida a cromatografia de afinidade de Imunoglobulina G

anti-CvL desglicosilada Sepharose 4B (2,0 x 1,5 cm). A coluna foi equilibrada com tampão Tris-

HCl 50 mM pH 7,5 e o pico correspondente à CaL foi eluído com tampão Tris-Glicina 50 mM, pH

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METODOLOGIA - 45

11,5. Os eluatos foram monitorados por espectrofotometria a 280 nm, onde a lectina reunida foi

dialisada contra água, liofilizada e sua atividade hemaglutinante foi analisada (Figura 8).

Os ensaios de atividade hemaglutinante foram realizados em microplacas com fundo em

“V” por meio de diluição seriada das amostras testes (1/2, ¼, 1/8...) (DEBRAY, et al., 1981). Em

cada poço foram adicionados 25 µL de NaCl 0,15 M, 25 µL da amostra teste e 25 µL da

suspensão de eritrócitos tipo A a 4%, tratados enzimaticamente com papaína (BENEVIDES et

al., 1998). A reação foi incubada a temperatura ambiente. Após uma hora a aglutinação foi

observada, e o título expresso em unidades de hemaglutinação (UH), que foi definido como o

inverso da maior diluição da amostra que tenha apresentado nítida aglutinação (MOREIRA &

PERRONE, 1997).

Os ensaios de inibição da hemaglutinação foram realizados da mesma forma que descrito

anteriormente para os ensaios de atividade hemaglutinante, no entanto, após a diluição seriada

da amostra foram adicionados 25 µL do inibidor teste, na concentração de 0,1 M, e deixados em

contato por uma hora, à temperatura ambiente, antes da adição dos eritrócitos. Os inibidores

testados foram os monossacarídeos: D-glucose, D-galactose, D-frutose, L-fucose, D-manose, D-

arabinose, D-xilose, N-acetil-D-glicosamina, D-glucosamina, D-galactosamina; os dissacarídeos

melibiose, lactose e sacarose; e a glicoproteína mucina. Os resultados foram avaliados através

da observação da inibição da hemaglutinação, devido à ligação específica da lectina ao seu

inibidor.

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METODOLOGIA - 46

Figura 8 - Desenho esquemático dos passos de purificação da lectina de esponja Cinachyrella apion (CaL).

3.2.2. Dosagem proteica

A determinação da concentração de proteínas das amostras foi realizada pelo método

colorimétrico de BRADFORD (1976), utilizando albumina sérica bovina (BSA) como padrão. O

ensaio foi feito à temperatura ambiente por 10 minutos e a leitura das amostras foi verificada em

leitor de ELISA à absorbância de 595 nm. A concentração proteica da amostra foi calculada a

partir da equação da curva previamente construída com o padrão.

3.2.3. Dosagem de açúcares totais

Açúcares totais foram quantificados pelo método de fenol/ácido sulfúrico, utilizando como

padrão o monossacarídeo glicose (1 mg/mL) (DUBOIS et al., 1956). O ensaio foi realizado em

tubos de ensaio, com 10 µL de CaL e 990 µL de água destilada, seguidos de 25 µL de fenol 80%

e 2,5 mL de ácido sulfúrico P. A. A solução foi deixada em repouso por 10 minutos, onde cada

tubo teste foi agitado, com auxílio de vortex, e deixados por 30 minutos em banho-maria a 37 ˚C.

A leitura foi realizada em espectrofotômetro no comprimento de onda de 490 nm.

3.2.4. Eletroforese em gel de poliacrilamida descontínuo e desnaturante (SDS-PAGE)

Com o intuito de avaliar o grau de pureza das amostras proteicas, as mesmas foram

submetidas à eletroforese em gel de poliacrilamida a 12% em presença de SDS, de acordo com

a metodologia descrita por Laemmli (1970). O gel de separação foi preparado com 1,25 mL de

acrilamida-bisacrilamida 30%; 1,25 mL de tampão Tris-HCl 1,5 M pH 8,8; 2,425 mL de água

destilada; 50 µL de SDS 10%; 5 µL de TEMED concentrado e 25 µL de persulfato de amônio

30%. O gel de concentração continha 0,33 mL de acrilamida-bisacrilamida 30%; 625 µL de

tampão Tris-HCl 0,5 M pH 6,8; 1,5 mL de água destilada; 25 µL de SDS 10%; 5 µL de TEMED e

12,5 µL de persulfato de amônio. O tampão de corrida consistia de Tris 25 mM; glicina 192 mM e

SDS 10%. Uma vez diluída em tampão de amostra Tris-HCl 0,0625 M, SDS 2%, glicerol 10% v/v,

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METODOLOGIA - 47

0,01% de azul de bromofenol e 1 mM de DTT, num volume de 20 µL, a alíquota foi aplicada no

gel (10 x 14 cm, com espaçadores de 0,75 mm), o qual foi submetido a uma amperagem

constante de 30 mA por, aproximadamente, 2 horas. O gel foi corado em solução de nitrato de

prata. As bandas proteicas foram descoradas após a imersão do gel em solução descorante

(etanol 30% e ácido acético 10%). Após a eletroforese, o gel foi desidratado gradativamente, por

três lavagens consecutivas com a solução de etanol 50%, tendo cada lavagem a duração de 20

minutos. Uma solução de tiossulfato de sódio (0,2 mg/mL) foi adicionada em seguida e mantida

sob agitação por 1 minuto. Posteriormente, foram feitas três lavagens rápidas com água

destilada, adicionando logo em seguida uma solução de nitrato de prata (200 mg de nitrato de

prata + 74 µL de formaldeído em 100 mL de água destilada), mantendo sob agitação por 20

minutos. O gel foi lavado rapidamente em água destilada (três vezes), e imerso em solução

reveladora (6 g de carbonato de sódio, 50 µL de formaldeído e 2 mL de tiossulfato de sódio 0,2

mg/mL para um total de 100 mL de água destilada). Para cessar a revelação, foi utilizado ácido

acético 13% logo após o aparecimento das bandas protéicas. Para determinar a massa

molecular da proteína isolada, foram utilizados marcadores padrão de proteínas (PageRulerTM

Plus Prestained Protein Ladder, Ferramentas Life Science).

3.2.5. Citotoxicidade sobre células do sangue periférico humano e Atividade Hemolítica in vitro

Os efeitos de CaL sobre a viabilidade celular foram avaliados sobre células do sangue

periférico humano. Cerca de 1 mL de sangue total foi incubado com CaL, nas concentrações de

10 µg/mL e 20 µg/mL; BSA foi utilizado como controle, em diferentes concentrações (5 a 50

µg/mL), por 15 minutos a 37 ºC para avaliar possíveis alterações hematológicas. A viabilidade

das células foi analisada por contador de células sanguíneas (CHCELL 6019 – LABORLAB).

Com o intuito de avaliar o efeito hemolítico de CaL sobre eritrócitos humanos, hemácias

humanas foram separadas do plasma por sedimentação e lavadas três vezes com Tampão Tris-

HCl 0,01M pH 7,4 contendo NaCl 0,15M. O mesmo tampão foi utilizado para preparar uma

suspensão 1% (v/v) de hemácias e solubilizar as amostras. Em tubos de 1,5 mL, 100 µL da

suspensão de hemácias foram incubados com 100 µL da amostra por 60 minutos, à temperatura

ambiente. As referências de 100% e de 0% de hemólise foram feitas incubando-se 100 µL da

suspensão de hemácias com 100 µL Triton X-100 1% (v/v) ou com 100 µL do Tampão Tris,

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METODOLOGIA - 48

respectivamente. Após a incubação, os tubos foram centrifugados a 3000 x g por 2 minutos e

alíquotas de 100 µL dos sobrenadantes foram transferidas para placas de microtitulação de 96

poços, analisadas em leitura de 405 nm.

3.2.6. Cultura de células

As linhagens de células HeLa, 3T3 e PC3 foram cultivadas em meio DMEM (Dulbecco’s

Modified Eagle’s Médium) e RPMI-1640, respectivamente, suplementado com 10% de soro fetal

bovino (SFB), em atmosfera úmida de 5% de CO2. As células foram semeadas (5 x 103

células/mL) em microplacas de cultivo de 96 poços com fundo chato, carenciadas por 24 horas e

estimuladas a sair do estágio de ciclo celular G0 pela adição de meio com SFB 10% na ausência

(controle) e presença de CaL, em concentrações que variaram de 0,5 µg/mL a 10 µg/mL em

dois diferentes tempos: 24 e 48 horas. Além dos poços correspondentes ao tratamento com a

lectina, poços controle foram semeados, sem a presença de CaL, para avaliação da viabilidade

celular.

3.2.7. Ensaio de Proliferação Celular

A proliferação celular foi determinada pelo teste de redução do brometo de 3-(4,5-

dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazólio (MTT) (MOSMANN, 1983). O teste de MTT avalia a

integridade da membrana mitocondrial das células testadas baseada na redução enzimática do

corante até o produto chamado formazan, pela ação das desidrogenases mitocondriais em

células viáveis. Após os períodos de tratamento de 24 e 48 horas com as diferentes

concentrações de CaL (0,5 µg/mL a 10 µg/mL), as células foram incubadas em meio de cultura

sem soro fetal bovino contendo 1 mg/mL de MTT por 4 horas. Posteriormente, o meio foi

aspirado, adicionando 100 µL de etanol P.A. para a dissolução dos cristais de formazan

formados e precipitados, mantendo as células sob agitação moderada por 10 minutos, mantendo

a placa teste protegida da incidência da luz. A quantificação em absorbância foi realizada em

leitor de microplacas, em comprimento de onda de 570 nm. O ensaio foi realizado em triplicata.

O cálculo de inibição da proliferação celular foi realizado em comparação com o controle

contendo células não tratadas com a lectina isolada, da seguinte forma:

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METODOLOGIA - 49

% de Inibição = Abs 570 nm Controle – Abs 570 nm amostra x 100

Abs 570 nm Controle

3.2.8. Ensaio de Inibição da Atividade Lectínica em Cultura de Células

Para avaliação do efeito da presença de carboidratos na inibição da proliferação celular

induzida por CaL, o ensaio de MTT foi realizado como descrito anteriormente, exceto que a

concentração correspondente a IC50 de CaL foi incubada previamente com uma concentração

fixa do respectivo inibidor específico (lactose, 0,1M) por uma hora, à temperatura ambiente, de

acordo com a metodologia descrita por POHLEVEN et al. (2009). Após o período de incubação,

as células então foram tratadas com a lectina ligada ao inibidor nos diferentes tempos testados,

onde a porcentagem de inibição de viabilidade celular foi monitorada em comprimento de onda

de 570 nm, em leitor de microplacas. O ensaio foi realizado em triplicata.

3.2.9. Avaliação dos indicadores de apoptose por incubação com DAPI

Mudanças na morfologia celular indicativas de apoptose (condensação de cromatina e

fragmentação nuclear) foram avaliadas utilizando o corante DAPI (4’,6-diamidino-2-fenilindol)

(DE CARVALHO et al., 2006; GUICCIARDI et al., 2000). A linhagem celular HeLa foi semeada

em lamínulas circulares de 13 mm, em uma placa de 24 poços (35,55 x 104 células/poço). Após

45 minutos a 37 ºC, tempo necessário para as células sedimentarem, adicionou-se meio de

cultura DMEM (Dulbecco’s Modified Eagle’s Médium) suplementado com 10% de SFB, em

atmosfera úmida de 5% de CO2, para o volume final de 1 mL. 24 horas depois, o meio foi

removido e as células foram carenciadas por mais 24 horas com meio sem soro. Após o

tratamento com CaL solubilizada com meio suplementado, na concentração de 10 µg/mL (80,65

nM), concentração correspondente a IC50, as células foram lavadas com tampão fosfato gelado

(PBS), fixadas com 4% de paraformaldeído por 20 minutos e permeabilizadas em Triton X-100

0,1% por cerca de 20 minutos. Posteriormente, as células foram lavadas novamente com PBS e

incubadas com DAPI na concentração de 1 µg/mL por 30 minutos, protegidas da luz, em

temperatura ambiente. Após a incubação com o DAPI, as células foram colocadas sobre lâminas

e mantidas em Fluoromount-G/PBS na proporção de 2:1 v/v, com intuito de preservar a

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METODOLOGIA - 50

morfologia das células. As células foram visualizadas por microscopia de fluorescência utilizando

o filtro de fluorescência 330-380 nm. O experimento foi realizado em duplicata.

3.2.10. Citometria de Fluxo

3.2.10.1. Avaliação da Viabilidade Celular e Morte Celular por Anexina V-FITC/

Iodeto de Propídeo

Para a avaliação dos efeitos de CaL sobre a morte celular, foi utilizado o kit FITC/Annexin

V Dead Cell Apoptosis Kit with FITC Annexin and PI, for Flow Cytometry (Invitrogen, Catalog no

V13242). O marcador anexina V-FITC permite detectar os estágios iniciais de apoptose, devido

ao fato de se ligar preferencialmente a fosfolipídios negativamente carregados (fosfatidilserina)

expostos no início do processo apoptótico, enquanto o iodeto de propídeo permite avaliar os

momentos finais deste processo de morte celular, por ser um marcador que interage com o DNA,

mas não é capaz de atravessar a membrana plasmática, devido ao seu alto peso molecular.

Assim, a marcação positiva para PI indica que há poros na membrana, fenômeno característico

de processos de necrose ou estágio final de apoptose. As células foram cultivadas em placas de

6 poços até atingirem a confluência de 2 x 105 células/mL, carenciadas com meio sem soro e

estimuladas a sair de G0 na presença da lectina purificada por 24 horas. Além da incubação das

células com a lectina teste, um controle negativo foi preparado, sem a presença de CaL, e

também foi testada a ação da CaL incubada com o inibidor geral de caspases Z-VAD-FMK

(carbobenzóxi-valil-alanil-aspartil-[O-metil]-fluorometilcetona) (0,02 mM), para a confirmação do

mecanismo de ação pelo qual a lectina induz a morte celular, sendo este mecanismo

dependente ou não de caspases. Após a exposição a 10 µg/mL (80,65 nM) de lectina por 24

horas, as células HeLa foram tripsinizadas, coletadas e lavadas com tampão PBS gelado. O

sobrenadante foi descartado e as células foram ressuspendidas em 200 µL de Binding Buffer 1X.

Adicionou-se 5 µL de Annexin V – FITC e 1 µL da solução de PI a 100 µg/mL a cada 100 µL de

suspensão celular. As células ficaram sob incubação por 15 minutos, a temperatura ambiente,

mantidas sob proteção de luz. Após o período de incubação, foram adicionados 400 µL de

tampão de ligação para anexina V 1X e as células foram analisadas em citômetro de fluxo,

medindo a emissão de fluorescência para anexina V (530-575 nm) e PI (630-22 nm). A

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METODOLOGIA - 51

população foi separada em 4 grupos: células viáveis (baixos níveis de fluorescência), células em

estágio inicial de apoptose (fluorescência verde), células em estágio final de apoptose

(fluorescência em verde e vermelho) e células em necrose (fluorescência vermelha). A

porcentagem de células em apoptose foi determinada a cada 20 mil eventos e os gráficos

obtidos no experimento representam dados oriundos de três experimentos independentes. Para

análise dos dados, o software FlowJo v. 7.6.3 (Tree Star, Inc., CA, USA) foi utilizado.

3.2.10.2. Análise do Ciclo Celular

Para a avaliação dos efeitos da lectina sobre o ciclo celular, os tubos de citometria

utilizados no ensaio anterior foram utilizados. As células HeLa foram lavadas com tampão PBS

gelado e o sobrenadante foi descartado. O pellet com as células foi então incubado com

paraformaldeído 2%, lavado com PBS gelado e permeabilizado com saponina 0,01% por 15

minutos. Após este procedimento, as células foram incubadas com 10 µL de RNAse (4 mg/mL) a

37ºC por 30 minutos. Foram adicionados 5 µL de Iodeto de Propídeo (25 mg/mL), juntamente

com 200 µL de PBS gelado às células e levadas ao citômetro de fluxo para análise de parada de

ciclo celular (630/22 nm). A porcentagem de células em apoptose foi determinada a cada 20 mil

eventos e os gráficos obtidos no experimento representam dados oriundos de três experimentos

independentes. Para análise dos dados, o software FlowJo v. 7.6.3 (Tree Star, Inc.) foi utilizado.

3.2.11. Western Blotting

As células HeLa em cultura foram plaqueadas numa concentração de 9,6x105 células em

discos estéreis de 100 mm e incubadas por 24 horas para adesão. Após esse período, o meio foi

removido e as células foram carenciadas por mais 24h com meio sem soro. Posteriormente,

esse meio foi removido e as células foram estimuladas a sair do estado G0 pela adição de meio

suplementado com 10% SFB na ausência (controle) ou presença de 10 µg/mL de CaL, em

tempos diferentes de incubação (0h, 6h, 12h, 18h e 24h), foram lavadas em gelo com PBS e

removidas com 200 µL de tampão de lise [50 mM Tris-HCl (pH 7,4); 1% Tween 20; 0,25%

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METODOLOGIA - 52

desoxicolato de sódio; 150 mM NaCl; 1 mM EGTA; 1 mM Na3VO4; 1 mM NaF e inibidores de

proteases: 1 µg/mL de aprotinina, 10 µg/mL de leupeptina e 1 mM de fluoreto de

fenilmetanosulfonila] por 2 horas em gelo. Os extratos proteicos totais foram obtidos por

centrifugação e sonicação, onde a concentração de proteínas foi determinada usando o método

de BRADFORD (1976). Alíquotas equivalentes (30 µg) dos extratos protéicos dos diferentes

tratamentos foram adicionados separadamente a um volume igual de tampão de amostra

concentrado 2x com dodecil sulfato de sódio (SDS) (100 mM Tris-HCl (pH 6,8), 200 mM DTT, 4%

de SDS, 0,1% azul de bromofenol e 20% de glicerol) que foram, em seguida, fervidas por cerca

de 5 minutos. O gel de poliacrilamida, na presença de SDS, foi produzido seguindo metodologia

já estabelecida (LAEMMLI, 1970). O gel de separação foi preparado a 12%, enquanto que o gel

de concentração a 4% de acrilamida. A eletroforese foi processada em uma amperagem

constante de 20 mA durante 2 horas.

Os extratos proteicos resolvidos eletroforeticamente foram transferidos para a membrana

de PVDF (Millipore, Bedford, MA, USA) (PLUSKAL et al., 1986). Após a transferência, as

membranas foram submetidas a bloqueio de seus sítios inespecíficos com Tampão de Bloqueio

[1% de leite desnatado ou 2% de soro fetal bovino (BSA) em tampão salino Tris (TBS) com

0,05% Tween 20 (TBST)], permanecendo nesta solução por uma hora; e então, foram incubados

por cerca de 12 horas a 4 ˚C com apropriado anticorpo primário diluído em tampão bloqueador

na proporção de 1:1000. Após lavagem em TBST, as membranas foram incubadas com

anticorpo secundário anti-coelho conjugado com peroxidase, em diluição 1:2000, em tampão de

bloqueio por 1 hora. A detecção foi realizada usando quimioluminescência (FERREIRA, C. V. et

al., 2004).

Para construção do gráfico da expressão relativa, as bandas obtidas foram quantificadas

por densitometria e, posteriormente, foi feita uma razão entre o valor obtido no tempo zero

(controle) para todas as proteínas e o valor obtido para a β-actina também no tempo zero. Este

cálculo foi feito sucessivamente para todos os tempos. Para a construção do gráfico, cada valor

encontrado entre a razão proteína/ β-actina foi dividido por sua razão no tempo de 0 horas

(controle).

3.2.12. Análises Estatísticas

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METODOLOGIA - 53

Todos os dados representam pelo menos três experimentos independentes e foram

expressos com média ±DP (Desvio Padrão), exceto fosse indicado de outra maneira. As

diferenças entre os grupos foram comparadas pelo teste Student-Newman-Keuls ou pelo teste

de Tukey, utilizados para comprovar algumas similaridades encontradas pela ANOVA. Foram

consideradas diferenças significativas quando o valor de p foi inferior a 0,05. Os dados

estatísticos foram analisados pelo software GraphPad InStat 3.05 (GraphPad Software Inc.,

2000).

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RESULTADOS - 54

4. RESULTADOS

4.1. Isolamento, purificação e caracterização de CaL

A lectina da esponja marinha Cinachyrella apion foi extraída em tampão Tris-HCl, 0,05M, pH

7,5 por 4 horas, sendo subsequentemente fracionada pela adição de volumes crescentes de

acetona. Este fracionamento resultou na obtenção de três frações proteicas, F 0,5, F 1,0 e F 2,0,

correspondentes aos volumes adicionados de acetona. Todas as frações foram testadas com

eritrócitos humanos nativos, tratados enzimaticamente com as proteases papaína e tripsina, na

presença ou não de íons bivalentes. Dentre elas, a fração F 1,0 se destacou por apresentar

maior atividade hemaglutinante contra eritrócitos humanos do tipo A papainizados. A F 1,0 foi

submetida a uma cromatografia de afinidade de IgG anti-CvL desglicosilada Sepharose 4B e

posteriormente a uma Superose 12 10/300, utilizando o sistema FPLC/AKTA Purifier (Figura 9).

A atividade hemaglutinante coincidiu com único pico obtido em perfil cromatográfico pós-

FPLC/AKTA e a pureza da amostra foi confirmada em eletroforese SDS-PAGE, em presença de

agente redutor DTT (Figura 10). A lectina apresentou atividade específica de aproximadamente

1211 UH/µg e foi purificada 871 vezes, conforme mostra a tabela de purificação (Tabela 1).

Monossacarídeos (D-glucose, D-galactose, D-frutose, L-fucose, D-manose, D-arabinose,

D-xilose, N-acetil-D-glucosamina, D-glucosamina, D-galactosamina), dissacarídeos (melibiose,

lactose e sacarose) e uma glicoproteína (mucina) foram utilizados objetivando identificar a

especificidade da lectina purificada CaL. Dentre os inibidores testados o dissacarídeo lactose se

destacou por reduzir 100% da atividade hemaglutinante. Os demais carboidratos apresentaram

pouco ou nenhum efeito sobre a lectina purificada utilizada (Figura 11).

A lectina CaL apresentou-se estável até a temperatura de 60 ˚C, perdendo sua atividade

total em temperaturas superiores a 90 ˚C. Temperaturas inferiores à temperatura ambiente (25

˚C) não afetaram a sua atividade (Figura 12).

A Figura 13 mostra o efeito do pH sobre a atividade hemaglutinante após diálise da lectina

em diferentes tampões e retorno ao seu tampão inicial. Observa-se uma atividade constante

independentemente do pH ao qual a mesma foi submetida.

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RESULTADOS - 55

Figura 9 - Perfil cromatográfico de CaL em coluna de exclusão molecular e determinação da massa molecular. (A) Perfil cromatográfico de CaL em coluna de gel filtração Superose 12 10/300 (FPLC/AKTA). A coluna foi previamente estabilizada em tampão Tris-HCl, 0,05M, pH 7,5. As frações (0,5mL/tubo) foram monitoradas a 280 nm e 215 nm. A atividade hemaglutinante foi detectada na presença de 4% de eritrócitos humanos do tipo A. (B) Determinação da massa molecular de CaL (~124 kDa). Os marcadores de massa molecular padrão foram: (a) β-amilase (200 kDa), (b) álcool desidrogenase (150 kDa) e (c) anidrase carbônica (29 kDa). Log Mr, logaritmo da massa molecular; Ve/V0, razão entre volume de eluição e volume total da coluna.

Figura 10 - Eletroforese (SDS-PAGE) da CaL, em presença do agente redutor DTT. Linha 1 – Extrato Bruto; Linha 2 – F0,5; Linha 3 – F1,0; Linha 4 – CaL; M – Marcador de peso molecular (KDa): β-galactosidase (116,0), BSA (66,2),ovoalbumina (45,0), lactato desidrogenase (35,0), enzima de restrição Bsp981 (25,0), β-lactoglobulina (18,4) e lisozima (14,4). As proteínas foram visualizadas através da revelação com nitrato de prata.

A B

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RESULTADOS - 56

Fração Total de

proteína (µg) x 103

Atividade total (UH) x

103

Atividade específica (UH/µg)

Purificação (vezes)

Rendimento (%)

Extrato Bruto 475,49 660,93 1,39 1 100

F1 (Precipitação por acetona) 28,26 786,19 27,82 20 5,944

CaL (Cromatografia de afinidade) 0,05 40,26 805,22 579 0,011

CaL (Superose 6 10 300 GL) 0,02 30,93 1211,18 871 0,005

UH: Unidade de Hemaglutinação.

Tabela 1 - Resultados da purificação da lectina da esponja Cinachyrella apion em diferentes etapas.

Figura 11 – Inibição da hemaglutinação de CaL. Após a diluição seriada da amostra, foram adicionado 25 µL do inibidor teste, na concentração de 100 mM, e deixados em contato por 1 hora antes da adição dos eritrócitos.

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RESULTADOS - 57

Figura 12 – Curva de termoestabilidade de CaL. A lectina foi submetida a temperaturas de 4, 25, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 100 ˚C durante 1 hora. Após a incubação, ensaios de hemaglutinação com a lectina foram realizados à temperatura ambiente.

Figura 13 – Efeito do pH sobre a atividade hemaglutinante da lectina (CaL). A lectina purificada da esponja Cinachyrella apion foi submetida aos diferentes tampões: Glicina-HCl 50 mM pH 2 e 3; Acetato de sódio 50 mM pH 5; Tris-HCl 50 mM pH 7,5, 8 e 9; Glicina-NaOH 50 mM pH 11. Seguida de uma nova diálise contra o tampão Tris-HCl 50 mM pH 7,5 a 4 ˚C durante 24 horas. Terminando esse tratamento, ensaios de hemaglutinação foram realizados.

A análise da presença de carboidratos totais na estrutura protéica de CaL foi avaliada pelo

ensaio de DUBOIS et al. (1956). Não foi observada a presença de carboidratos ligados a

estrutura da lectina purificada, utilizando como curva padrão o monossacarídeo glicose (1

mg/mL).

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RESULTADOS - 58

4.2. Ensaios em cultura de células

4.2.1. Efeitos de CaL sobre a Proliferação Celular

A proliferação celular das linhagens PC3 (adenocarcinoma de próstata humano - ATCC

número CRL-1435), 3T3 (linhagem fibroblástica normal de camundongo - ATCC número CL-173)

e HeLa (linhagem de células tumorais humanas de cólon uterino - ATCC número CCL-2) foram

analisadas após incubação por 24 e 48 horas com concentrações crescentes de CaL (0,5 µg/mL

a 10 µg/mL). O tempo de 48 horas foi utilizado no ensaio para avaliar se o efeito da lectina sobre

as linhagens celulares testadas estava relacionado ao tempo de exposição de CaL às células ou

se o efeito antiproliferativo era dose dependente. Após este período, foi possível observar uma

considerável redução da taxa de proliferação celular das linhagens tumorais PC3 e HeLa, em

resposta a aumentos na concentração de CaL, sem alteração significativa com relação ao tempo

de exposição da lectina às células, contudo houve uma pequena alteração na taxa de

proliferação das células normais de camundongo 3T3 (Figura 14), no mesmo intervalo de

concentrações testadas e sob as mesmas condições experimentais. O valor da IC50 (a IC50

corresponde a concentração de CaL que diminui a proliferação celular em 50%) foi obtida com a

concentração de 10 µg/mL de CaL para as células HeLa, que apresentaram maior taxa de

inibição da proliferação pela incubação com CaL visualizado pelo ensaio de MTT, e esta

linhagem foi escolhida para os ensaios posteriores, indicando a presença de uma atividade

seletiva da lectina contra células de adenocarcinoma cervical humano.

Para investigar a influência da associação da lectina a seu inibidor específico na viabilidade

das células testadas, a concentração correspondente a IC50 de CaL (10 µg/mL) foi incubada

previamente com uma concentração fixa do seu inibidor específico (lactose 0,1 M) por uma hora.

O dissacarídeo lactose (0,1 M) também foi utilizado como composto teste (sem a presença de

CaL associada) na análise da proliferação celular, com intuito de investigar a capacidade deste

carboidrato em reduzir a proliferação das células. A molaridade da lactose escolhida para o

ensaio antiproliferativo foi determinada de acordo com a molaridade padronizada em nosso

laboratório para ensaios de inibição de hemaglutinação. Após o período do ensaio, observou-se

que a lactose reduz de forma significativa a proliferação celular. A lectina associada ao

dissacarídeo foi incubada nas células teste nos diferentes tempos de ensaio (Figura 14). Neste

resultado se observa que, quando a lectina está associada à lactose, há uma redução na inibição

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RESULTADOS - 59

da proliferação das células testadas, reduzindo o efeito antiproliferativo de CaL e lactose

observados quando testados isoladamente.

Figura 14 – Efeito da CaL sobre a viabilidade das linhagens celulares PC3, HeLa e 3T3. A avaliação da citotoxicidade de CaL sobre as linhagens tumorais PC3 e HeLa e sobre a linhagem fibroblástica normal de camundongo 3T3 foi feita pelo ensaio de redução de MTT. As células teste foram tratadas com diferentes concentrações de CaL (0,5 µg/mL – 10 µg/mL) por 24 e 48 horas em microplacas de cultura. CaL (10 µg/mL) incubada com o inibidor específico lactose (0,1 M) foi utilizada como controle. A viabilidade das células tratadas com CaL foi expressa como porcentagem da viabilidade das células controle não tratadas. ***p<0,001 em relação ao controle (Student-Newman-Keuls test).

A concentração de 20 µg/mL de CaL, correspondente ao dobro da IC50, foi incubada para

confirmar a ação inibitória da proliferação de CaL contra a linhagem HeLa. Após o período de

incubação de 48 horas, foi possível observar que, aplicando 20 µg/mL da CaL, a viabilidade das

células tumorais é reduzida em quase 100% (Figura 15). A incubação da lectina na concentração

de 20 µg/mL com lactose 0,1M reduziu em quase 100% a atividade antiproliferativa tanto da

lectina quanto do dissacarídeo, mostrando que, após a associação da lectina ao inibidor, ambos

reduzem a citotoxicidade frente à linhagem tumoral.

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RESULTADOS - 60

Figura 15 – Avaliação da citotoxicidade de CaL sobre a linhagem tumoral HeLa. Após o período de 48 horas de incubação, em diferentes concentrações, avaliou-se o efeito citotóxico da lectina ao incubar as células com o dobro da IC50 (20 µg/mL) (***p<0,001 em relação ao controle (Student-Newman-Keuls test).

4.2.2. Avaliação da citotoxicidade sobre células do sangue periférico humano e da atividade hemolítica de CaL

A toxicidade da lectina purificada CaL foi avaliada contra células do sangue periférico

humano, nas concentrações de 10 µg/mL e 20 µg/mL. CaL não apresentou citotoxicidade contra

células do sangue periférico humano quando avaliadas em contador de células sanguíneas e

citometria de fluxo (Figura 16 e Tabela 2).

Figura 16 - Citometria de fluxo do sangue periférico humano na presença e ausência de CaL. (A) Sangue periférico humano na ausência de CaL; (B) Sangue periférico humano na presença de CaL, 10 µg/mL (80,65 nM); (C) Sangue periférico humano na presença de CaL, 20 µg/mL (161,29 nM).

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RESULTADOS - 61

Tabela 2 - Análise do efeito citotóxico de CaL sobre sangue periférico total. BSA, Albumina sérica bovina; Controle, ausência da lectina. Leucócitos (x 103/µL), Eritrócitos (x 10

6/µL) e

Plaquetas (x 103/µL). Não houve diferença estatística significativa com relação ao controle.

Também não foi observada a atividade hemolítica para CaL a 10 µg/mL como visto em

ensaio hemolítico em placa de 96 poços (Figura 17).

Figura 17 - Avaliação do efeito hemolítico de CaL sobre hemácias humanas. Como controle negativo e positivo foram utilizados tampão fosfato salino (PBS) e Triton X-100 1%, respectivamente. ***p<0,001 em relação ao controle positivo (ANOVA; teste de Tukey).

4.2.3. Determinação de efeito apoptótico de CaL sobre células HeLa por incubação com DAPI

Controle BSA (µg/mL) CaL (µg/mL)

5 25 50 10 20

Eritrócitos 5,45±0,070 5,1±0 5,35±0,07 5,05±0,07 5,8±0,11 5,6±0,11

Linfócitos 39,35± 0,49 38,95±0,49 40,1±1,69 39,95±0,35 40,5±0,62 39,83±0,94

Leucócitos 4,825±0,007 4,44±0,09 4,50±0,02 4,54±0,16 4,46±0,04 4,58±0,07

Plaquetas 131±4,24 113,5±2,12 128±8,48 112,5±3,53 129,33±10,06 134,0±5,29

-50%

0%

50%

100%

150%

200%

CaL (10 µg/mL) Controle negativo Triton X-100 1%

% A

tivi

dade

Hem

olít

ica

***

***

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RESULTADOS - 62

Para avaliar se o efeito de CaL sobre a redução da viabilidade celular da linhagem celular

HeLa determinaria a indução de apoptose, mudanças morfológicas nucleares foram monitoradas

pela coloração com DAPI (Figura 18). Como pode ser visto na Figura 18 (A), as células do grupo

controle exibem organização nuclear normal com a cromatina dispersa e íntegra. Em

contrapartida, as células tratadas com 10 µg/mL (80,65 nM) de CaL por 24 horas mostraram

núcleos com diferentes alterações morfológicas, como núcleos picnóticos, condensação do

material nuclear e fragmentação nuclear, indicadas pela fluorescência com DAPI (Figuras 18 B-

D).

Figura 18 – Micrografia de células HeLa tratadas com CaL. Células da linhagem HeLa (2 x 105/mL) foram incubadas com 10 µg/mL (80,65 nM) de CaL por 24 horas e marcadas com DAPI para evidenciar sua morfologia nuclear. (A) Controle, células HeLa sem CaL; (B, C e D) células HeLa tratadas com CaL, mostrando alterações morfológicas nucleares, como picnose e fragmentação (setas).

4.2.4. Indução de morte celular em linhagem tumoral HeLa pela ação de CaL

4.2.4.1. Detecção e quantificação de células apoptóticas induzidas por CaL

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RESULTADOS - 63

Os resultados obtidos com células HeLa submetidas à marcação com a solução Anexina

V/PI após a exposição à concentração de 10 µg/mL de CaL podem ser observados na Figura 19.

A detecção da marcação positiva de 23,2% das células para Anexina V foi observada e o fato de

esta marcação ter-se dado apenas para o fluoróforo FITC-AnexinaV (sem ser positivo para o

iodeto de propídio), é indicativo de fase inicial de apoptose.

Muitos indutores de apoptose podem disparar a morte celular pela ativação de caspases.

Por essa razão, foi examinado o efeito de CaL sobre a ativação da via de caspases, quando as

células foram incubadas com a lectina na presença de 20 mM de Z-VAD-FMK, um inibidor geral

de proteases cisteínicas. Após um período de 24 horas de tratamento, o bloqueio do efeito

indutor de CaL sobre a morte celular pela via das caspases foi avaliado através de citometria de

fluxo, com indicações de marcação positiva para anexina V de 15,5%. A redução da marcação

para anexina V em 7,7% após a incubação com Z-VAD-FMK sugere a participação de ambas as

vias de ativação de apoptose, ou seja, CaL pode induzir a morte celular tanto por uma via

dependente da ativação de caspases como por uma via independente da ação destas proteases.

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RESULTADOS - 64

Figura 19 – Citometria de fluxo de células HeLa tratadas com Anexina V/PI e CaL (em presença e ausência de Z-VAD-FMK). As células foram mantidas na presença de 10 µg/mL de lectina (com ou sem Z-VAD-FMK) por 24 horas, coradas com FITC-Anexina V e Iodeto de propídio e analisadas em citômetro de fluxo FACScanto II com marcação para apoptose/necrose. Q1:Anexina V negativo/PI positivo; Q2: Anexina V/PI positivos; Q3:Anexina V positivo/PI negativo; Q4: Anexina V/PI negativos. (A) Células controle, sem a presença de CaL; (B) Células

(A)

(B)

(C)

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RESULTADOS - 65

incubadas com 80,65 nM de CaL; (C) Células incubadas com 80,65 nM de CaL, juntamente com ZVAD-fmk, inibidor de caspases. A análise dos dados de citometria de fluxo foram realizados utilizando o software FlowJo v. 7.6.3.

4.2.4.2. Avaliação da parada de ciclo celular induzida pela atividade lectínica de

CaL

Para conseguir minimizar os efeitos adversos de situações fisiológicas estressantes à

célula, uma parada da progressão do ciclo celular pode ser rapidamente providenciada após a

exposição a estresse. Assim, foi analisado o efeito da lectina sobre a distribuição das células nas

diferentes fases do ciclo celular. Após incubação por 24 horas com CaL (em presença ou não de

Z-VAD-FMK), numa concentração fixa de 80,65 nM, observou-se um acúmulo de células

aprisionadas na fase S do ciclo celular, um indicativo de direcionamento das células tumorais a

iniciarem o processo de morte celular por apoptose, já que uma das características marcantes da

formação de tumores é justamente a proliferação incontrolada de células malignas (Figura 20).

Figura 20 – Avaliação de parada de ciclo celular após exposição à CaL. Após 24 horas de tratamento com a CaL, as células HeLa foram fixadas, tratadas com RNAse, coradas com Iodeto de Propídeo e analisadas em citometria de fluxo para avaliação da distribição do ciclo celular. A análise dos dados para parada de ciclo celular foram realizados utilizando o software FlowJo v. 7.6.3.

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RESULTADOS - 66

4.2.4.1. Efeitos de CaL na modulação da atividade de Bax, Bcl-2, JNK, p-NFƙB e

da proteína de regulação do ciclo celular p-AKT em células HeLa

Os resultados obtidos para os ensaios de viabilidade celular, citometria de fluxo, análise

da parada de ciclo celular e das mudanças morfológicas na estrutura nuclear das células

tumorais sugerem morte celular por apoptose. Para determinar as proteínas-chave envolvidas na

indução de morte celular, a técnica de Western Blotting foi utilizada. Uma concentração fixa de

CaL (80,65 nM) foi incubada juntamente com as células HeLa, em diferentes tempos de

incubação (controle, 6 horas, 12 horas, 18 horas e 24 horas).

Como pode ser observado na Figura 21, houve um considerável aumento na ativação da

proteína BAX (proteína pró-apoptótica pertencente à família Bcl-2) até o tempo de 18 horas,

onde esse aumento foi gradual, de maneira tempo dependente; outro aumento considerável se

dá na proteína NF-ƙB (fatores de transcrição do fator nuclear ƙB), sob a forma precursora de 105

kDa. A forma ativa de NF- ƙB (50 kDa) reduziu proporcionalmente ao aumento de sua forma

inativa, de 105 kDa. A proteína anti-apoptótica Bcl-2 apresentou redução considerável em sua

ativação, exceto no tempo de 24 horas, com aumento pouco significativo em sua ativação se

comparado ao controle. Western Blotting de outras proteínas relacionadas à morte celular por

apoptose também foram avaliadas, como a JNK e p-AKT, onde não houve aumento considerável

na expressão de JNK, exceto para o tempo de 24 horas; um pequeno aumento na ativação de p-

AKT foi observado na presença da lectina, porém este aumento não é significativo em relação ao

controle (Figura 21). Estes dados, juntamente com os resultados obtidos na citometria de fluxo,

indicam o efeito tóxico de CaL frente a linhagem de células tumorais HeLa, sugerindo indução de

morte celular por apoptose através da ativação de Bax, uma proteína pró-apoptótica, tanto por

via dependente quanto independente da ação de caspases.

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RESULTADOS - 67

Figura 21 – Immunoblotting de proteínas envolvidas em morte celular por apoptose. (A) Bandeamento de proteínas oriundas do Western Blotting; (B) Gráfico da expressão de BAX, Bcl-2, JNK, p-NFƙB (105 kDa e 50 kDa) e p-AKT. ***p<0,001; **p<0,01; *p<0,05, em relação ao controle (Student-Newman-Keuls test).

(B)

(A)

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DISCUSSÃO - 68

5. DISCUSSÃO

Após um quarto de século de avanços, a pesquisa sobre o câncer gerou uma complexa e

rica fonte de conhecimento, mostrando o câncer como uma doença que envolve mudanças

dinâmicas no genoma. A base foi estabelecida na descoberta de mutações que produziam

oncogenes com ganho dominante de função e genes supressores de tumor com perda recessiva

de função; ambas as classes de genes relacionados ao câncer foram identificados através de

sua alteração em células tumorais de animais e humanos e pela elicitação de seus fenótipos,

utilizando modelos experimentais (BISHOP; WEINBERG, 1996). Várias linhas de evidências

indicam que a tumorogênese em humanos é um processo de várias etapas, e que estas etapas

refletem alterações genéticas que levam a transformações progressivas de células normais

humanas a derivativos altamente malignos. Análises patológicas de um número de regiões de

órgãos revelam lesões num processo o qual as células evoluem progressivamente da

normalidade via uma série de estágios pré-malignos em cânceres invasivos (CARDIFF;

BOROWSKY, 2010).

Nas últimas décadas, um grande número de pesquisas tem desvendado os caminhos da

transdução de sinais no controle da morte celular e da maquinaria molecular responsável por

estes processos, conduzindo a numerosas possibilidades de intervenção farmacológica e

delineamento de fármacos (GREEN; KROEMER, 2005). Entre os novos fármacos utilizados na

terapia contra o câncer com potencialidade para interferir no mecanismo de regulação do

crescimento de tumores celulares, os produtos naturais têm chamado devida atenção como

importantes fontes de agentes quimioterápicos e/ou de modelos químicos e estruturais para o

desenvolvimento de uma infinidade de compostos (CLARDY; WALSH, 2004; CRAGG et al.,

2006; FERREIRA et al., 2006; JUSTO; FERREIRA, 2005; STROHL, 2000). As lectinas

constituem uma classe de proteínas largamente distribuída entre os organismos vivos, e

algumas têm atraído atenção como potenciais ativadores de morte celular em tecidos tumorais

por desencadear cascatas de sinalização apoptótica (BANTEL et al., 1999; HAJTO et al., 2005;

KIM et al., 2003; LAVASTRE et al., 2002; MIYOSHI et al., 2001; OHBA et al., 2004; PARK et al.,

2000; RAO et al., 2005).

Nosso grupo de pesquisa há vários anos tem dado ênfase na purificação, caracterização e

determinação de atividades heterólogas de proteínas bioativas, principalmente as encontradas

em organismos marinhos (MEDEIROS et al, 2010; QUEIROZ et al, 2009; QUEIROZ et al, 2008;

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DISCUSSÃO - 69

MOURA et al, 2006). Recentemente, em nosso grupo de pesquisa, uma lectina da esponja

marinha C. apion (CaL) foi purificada, caracterizada e sua atividade lectínica foi testada contra

formas promastigotas de L. chagasi. Tendo em vista a potente atividade aglutinante desta lectina

ao protozoário, novos estudos em busca de outras atividades heterólogas de CaL foram

necessários. O presente trabalho teve como objetivo investigar a atividade citotóxica de CaL

frente a linhagens celulares, avaliando a capacidade desta lectina em induzir morte em células

tumorais.

Primeiramente, o procedimento de purificação de CaL foi reproduzido de acordo com

Medeiros et al. (2010). A lectina foi purificada seguindo os mesmos passos de purificação e

apresentou atividade hemaglutinante preferencial para eritrócitos do tipo A papainizados, sem

dependência de íons bivalentes e manteve estável sua atividade lectínica a alterações de pH e

temperatura; após ensaios de inibição, foi possível comprovar a especificidade seletiva de CaL

para o dissacarídeo lactose, como observado por Medeiros et al. (2010). Análises de peso

molecular em sistema FPLC-AKTA e eletroforese SDS-PAGE em condições redutoras também

comprovam que se trata da mesma lectina purificada anteriormente.

Atualmente, o número de trabalhos publicados avaliando a atividade antiproliferativa de

lectinas de esponjas marinhas tem aumentado consideravelmente (PAJIC et al, 2002; QUEIROZ

et al, 2009; Ye, X. J.; Ng; T. B., 2010), contudo ainda são poucos os relatos de lectinas

purificadas de esponjas marinhas com essa atividade se comparado aos achados em lectinas de

outros organismos, como os vegetais. Por este motivo, a atividade antiproliferativa de CaL sobre

linhagens celulares foi testada. CaL foi capaz de induzir a inibição da proliferação em todas as

linhagens testadas, principalmente na linhagem HeLa, de forma dose dependente, com IC50 de

10 µg/mL. Além da incubação de CaL com as células, seu inibidor específico (lactose 0,1 M) foi

testado, tanto isoladamente quanto em associação com a lectina, para avaliação de sua

atividade antiproliferativa. Não há relatos de atividade antiproliferativa induzida pelo dissacarídeo

lactose, portanto este dado é particularmente importante, já que a lactose foi capaz de reduzir

em aproximadamente 40% a proliferação de células tumorais, além de estimular a proliferação

de células fibroblásticas normais de camundongo (3T3), o que a torna uma forte candidata a

estudos mais aprofundados sobre seu mecanismo de ação. Ainda mais interessante é a redução

de ambas as atividades antiproliferativas, tanto de CaL quanto da lactose, ao se associarem

previamente à incubação com as células. O efeito citotóxico de CaL é comprovado ao dobrar a

concentração da IC50 no ensaio antiproliferativo, alcançando aproximadamente 100% de inibição

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DISCUSSÃO - 70

do crescimento celular, quando testada isoladamente. Da mesma forma, ao incubar a lectina (20

µg/mL) com a concentração fixa de seu inibidor específico (lactose 0,1 M), há uma redução de

94% da inibição da proliferação, comprovando o efeito antiproliferativo de CaL frente a linhagem

HeLa, já que, ao estar associada ao carboidrato, o efeito citotóxico de ambas as biomoléculas se

anulam. Resultados semelhantes foram encontrados para a lectina do fungo Agrocybe aegerita

(AAL), que apresentou citotoxicidade contra várias linhagens tumorais, dentre elas a linhagem

HeLa, com IC50 de 10 µg/mL (ZHAO et al, 2003); a lectina purificada da angiosperma Sophora

flavescens apresentou citotoxicidade contra as células de adenocarcinoma humano com IC50 de

1 µg/mL, induzindo a apoptose pela via das caspases (LIU et al., 2008); outra lectina com

atividade antitumoral foi purificada da esponja Haliclona cratera e exibiu um efeito citotóxico

contra células HeLa e FmX (melanoma), com IC50 de 9 µg/mL e 11 µg/mL, respectivamente

(PAJIC et al., 2002). A atividade antiproliferativa da lectina purificada da raiz de Astragalus

mongholicus (AMML) foi determinada, com uma IC50 de 40 µg/mL para a linhagem tumoral HeLa,

concentração superior à utilizada com CaL (YAN, et al., 2009).

Células do sangue periférico humano e suspensão de eritrócitos humanos a 1% foram

utilizadas para avaliação da toxicidade de CaL. Através da contagem diferencial de células do

sangue periférico por citometria de fluxo e ensaios de atividade hemolítica com eritrócitos do

sangue humano, foi possível comprovar que CaL não apresenta toxicidade em células

sanguíneas humanas quando incubada até o dobro da sua IC50 (20 µg/mL ou 161,3 nM). A

toxicidade de lectinas contra eritrócitos já foi observada para outras espécies de esponjas

marinhas. Dresh et al. (2005), em seu trabalho, analisou extratos aquosos de vinte espécies de

esponjas da costa Atlântica brasileira para a verificação da presença de atividade lectínica e

hemolítica. Através desta varredura, foi possível observar que, dentre as vinte espécies testadas,

apenas duas apresentaram atividade hemolítica contra eritrócitos de diversos organismos.

Ambos os resultados são importantes, já que muitos dos agentes quimioterápicos tradicionais

exibem toxicidade severa contra células normais, causando efeitos colaterais indesejáveis e

dessa forma limitando sua aplicação no campo clínico. Além disso, muitos dos agentes

terapêuticos ministrados na prática clínica ou não conduzem à cura, ou possibilitam a

sobrevivência, em longo prazo, de muitos tipos de câncer, provavelmente permitindo o

desenvolvimento de mecanismos de resistência à doença. Por essa razão, fica clara a

necessidade de novos agentes com diferentes mecanismos de ação que possam ser utilizados

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DISCUSSÃO - 71

no tratamento direto dessas doenças e/ou como adjuvantes no aperfeiçoamento da terapia do

câncer (CRAGG et al., 2006; REN, 2005).

A análise da morfologia nuclear das células é uma ferramenta rápida e importante na

diferenciação dos diversos tipos de morte celular (YAN et al., 2009; PRIYADARSINI et al., 2010;

OGDEN et al., 2001; HADARI et al., 2000; SCHWARZ et al., 1999; KROEMER et al., 2009). A

visualização das alterações morfológicas de células da linhagem HeLa, após a exposição à CaL,

foi observada por microscopia de fluorescência, marcadas com o corante DAPI. Os resultados

mostraram que a atividade antiproliferativa de CaL sobre a linhagem HeLa se dá provavelmente

por indução de morte destas células. Apesar de as alterações nucleares observadas

(fragmentação nuclear, formação de núcleos picnóticos, presença de corpos apoptóticos e outras

alterações morfológicas nucleares) serem indicadoras de morte celular por apoptose, outros

ensaios para a análise de caracteres moleculares foram necessários para corroborar os

resultados obtidos em microscopia.

A apoptose é um processo de morte celular altamente regulado, ocorrendo como um

componente normal do desenvolvimento. A distinção entre as fases iniciais e finais da apoptose

está relacionada a mudanças morfológicas e bioquímicas, incluindo a compactação e

fragmentação nuclear da cromatina, retraimento do citoplasma e perda da assimetria da

membrana. Este último evento pode ser evidenciado pelo emprego combinado da anexina V e o

iodeto de propídio. A anexina V é uma proteína de 35-36 kDa, dependente de Ca2+ e que se liga

a fosfolipídios, com alta especificidade para fosfatidilserina. Ela é marcada com um fluoróforo ou

biotina e pode identificar células apoptóticas, já que nestas a fosfatidilserina é translocada da

face interna da membrana plasmática para a externa. Por outro lado, o iodeto de propídeo é um

marcador nuclear que penetra exclusivamente em células que apresentam a membrana celular

danificada, permitindo a identificação de células em estágio final de apoptose/necrose. A

capacidade de CaL em induzir a apoptose foi visualizada através de citometria de fluxo, com

marcação para anexina V-FITC/PI. Após o período de 24 horas, foi possível comprovar a

indução de apoptose inicial em células tumorais HeLa pela ação da lectina purificada, com

aproximadamente 23% das células marcadas exclusivamente para anexina V. As células foram

também tratadas com CaL na presença de Z-VAD-FMK, um inibidor geral de caspases, no intuito

de revelar detalhes acerca da via de indução de morte celular promovida pela lectina. A

citometria de fluxo mostrou que a presença do inibidor reduziu em 7,7% a porcentagem de

células em apoptose inicial, indicando que a lectina promove a morte celular de HeLa por

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DISCUSSÃO - 72

apoptose, tanto dependente quanto independente da via das caspases. Estes dados podem ser

comparados aos de Miyoshy e colaboradores (2001), que observaram o efeito das aglutininas de

farelo de arroz (RBA), gérmen de trigo (WGA) e aglutinina de Viscum album (VAA) na indução de

apoptose em células U937, comprovando a indução da condensação de cromatina,

externalização de fosfatidilserina (visualizada em citometria de fluxo) e fragmentação de DNA,

além de sugerir que o mecanismo de morte celular com parada de ciclo em G2/M promovido por

RBA é semelhante ao de WGA, porém diferente para VAA.

Outro aspecto importante a ser observado é a influência da CaL sobre a progressão do

ciclo celular, já que o aprisionamento das células em determinadas fases do ciclo celular é um

dos pontos que caracterizam a morte das células. A divisão celular consiste de dois processos

consecutivos, caracterizados principalmente pela replicação do DNA e segregação dos

cromossomos replicados, em duas células distintas. Originalmente, a divisão celular foi dividida

em dois estágios: Mitose (M), isto é, o processo de divisão nuclear; e interfase, o interlúdio entre

as duas fases M. Os estágios da mitose incluem: prófase, metáfase, anáfase e telófase. Pela

observação no microscópio, as células em interfase apenas aumentam de tamanho, porém

diferentes técnicas revelaram que a interfase inclui as fases G1, S e G2 (NORBURY; NURSE,

1992). A replicação do DNA ocorre em uma parte específica da interfase chamada fase S. A fase

S é precedida de um intervalo chamado G1, durante o qual a célula é preparada para a síntese

de DNA e é seguido de outro intervalo chamado G2, no qual a célula se prepara para a mitose.

As fases G1, S, G2 e M são subdivisões tradicionais do padrão de ciclo celular. Células em G1

podem, antes de se comprometer com a replicação do DNA, entrar em um estágio chamado G0.

Células em G0 contabilizam a maior parte das células não-proliferativas e que não estão em

crescimento no corpo humano. A regulação da dinâmica das diferentes fases do ciclo celular

está relacionada a diferentes fatores e mecanismos. Muitos agentes anti-câncer e agentes

modificadores do DNA aprisionam as células nas fases G0/G1, S ou G2/M, induzindo a morte

celular por apoptose (KESSEL; LUO, 2000).

A análise das células por citometria de fluxo indicou que as células HeLa, após incubação

com CaL por 24 horas, foram aprisionadas (aproximadamente 57% das células) na fase S do

ciclo celular, tanto na presença quanto na ausência do inibidor de proteases cisteínicas Z-VAD-

FMK. A citometria de fluxo indica que a lectina do fungo Volvariella volvacea (VVL) aprisiona a

proliferação celular pelo bloqueio da progressão do ciclo celular na fase G2/M (LIU et al., 2001).

Contudo, várias lectinas são capazes de induzir mecanismos de acumulação em G1 e G2/M sem

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DISCUSSÃO - 73

causar apoptose (LYU et al., 2001; SIEGLE et al., 2001). A aglutinina-I de Viscum album (VAA-I)

induziu a acumulação de células de câncer de pulmão A549 em G1 sem causar apoptose

(SIEGLE et al., 2001).

A parada de ciclo celular em fase S não é um evento comum nos estudos com lectinas.

Uma rara referência a esse efeito foi relatada para a lectina extraída das raízes de Astragalus

mongholicus (AMML), que ocasionou o aprisionamento de células HeLa em fase S, após 24

horas de exposição, num grau menor (34-39%) que a CaL e em uma faixa de concentração

maior (20-40 µg/mL) que o dobro da usada com CaL (YAN, et al., 2009). Parada da progressão

do ciclo celular em fase S foi observada em algumas linhagens celulares tratadas com ascorbato

de sódio (LIN et al., 2006) e com um inibidor de tirosino-quinase Jak em células AG490 (FUKE et

al., 2007). Contudo, o mecanismo responsável por esse efeito permanece obscuro. Os

mecanismos de pontos de checagem para danos no DNA na fase S são pouco conhecidos,

porém alguns estudos demonstram a supressão de ambas as fases de iniciação e elongação da

replicação do DNA (PAINTER, R. B. 1986; PAULOVICH, A. G.; HARTWELL, L. H., 1995).

Existem evidências que a fosforilação mediada por ATM (síndrome de quebra de Nijmegen

1(NBS1) é requerida para indução de parada do ciclo celular em fase S, durante a checagem

desta fase (LIM, D. S. et al., 2000).

O fato de CaL agir por mais de um mecanismo de indução de morte celular levanta a

possibilidade do envolvimento de outras proteases, diferentes das caspases, na indução de

apoptose em células HeLa. Embora as caspases estejam bem estabelecidas como principal via

de ativação da apoptose, outras proteínas devem ser necessárias para o desencadear de tipos

alternativos de morte celular programada (BROKER et al., 2005). A liberação de proteínas que

compõem o espaço intermembranar da mitocôndria desencadeada por permeabilização da

membrana mitocondrial externa constitui o ponto sem retorno de muitos casos da morte celular.

Membros da família Bcl-2 controlam este processo fortemente (GREEN; KROEMER, 2004). Sob

sinais apoptóticos, proteínas pró-apoptóticas da família Bcl-2 como Bax e Bak são ativadas,

resultando na permeabilização da membrana externa da mitocôndria. Em contraste, membros

anti-apoptóticos da família Bcl-2, como Bcl-2 e Bcl-XL podem prevenir essa ocorrência pela

heterodimerização com proteínas Bax-like. Outras proteínas pró-apoptóticas Bcl-2 que contêm

apenas o domínio BH3 (Bad, Bim, Bid, Bmf e Noxa) agem tanto em oposição ao efeito inibitório

de Bcl-2 e Bcl-XL quanto pela ativação de proteínas Bax-like por ligação direta. Um segundo

mecanismo de permeabilização da membrana externa mitocondrial seria a abertura de um poro

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DISCUSSÃO - 74

de permeabilidade de transição na membrana interna mitocondrial, de acordo com uma

variedade de estímulos. Isto permitiria a passagem de água e pequenas moléculas, causando o

inchaço do espaço intermembrana e, consequentemente, a ruptura da membrana mitocondrial

externa (GREEN; KROEMER, 2004).

Neste trabalho também foi analisada, por Western Blotting, a ativação de proteínas

relacionadas às vias de indução de apoptose pela incubação com CaL. Os resultados indicaram

uma mudança na permeabilidade da membrana mitocondrial provocada por CaL, já que foi esta

foi capaz de induzir o aumento crescente dos níveis de Bax até 18 horas, diminuindo

posteriormente em 24 horas, enquanto os níveis de Bcl-2 não sofreram alteração. Estes dados

sugerem que, provavelmente, CaL induziu permeabilização da membrana mitocondrial em

células HeLa, ativando a via intrínseca de apoptose.

Os níveis da proteína anti-apoptótica NF-ƙB, em sua forma inativa, ou seja, ligada ao seu

inibidor IƙB, aumentaram progressivamente de acordo com o tempo de exposição à CaL,

enquanto a expressão de Akt permaneceu praticamente inalterada. Esses eventos favorecem a

ativação da apoptose, já que estas proteínas estão envolvidas na ativação de membros anti-

apoptóticos da família Bcl-2 e IAPS, dentre outras moléculas que favorecem a sobrevivência

celular. A via de indução de morte celular pela ação de JNK não foi descartada, apesar da

alteração nos níveis de ativação desta proteína ser percebida apenas no tempo de 24 horas.

Estudos futuros poderão esclarecer o papel desta proteína no mecanismo antiproliferativo de

CaL.

Estudos sistemáticos mostram que a mitocôndria libera para o citoplasma as proteínas

solúveis presentes no espaço intermembranar a partir da formação de poros em sua membrana

externa. Várias dessas proteínas apresentam atividade pró-apoptótica, contudo, dentre estas

proteínas, apenas o fator indutor de apoptose (AIF) e a endonuclease G (EndoG) são capazes

de atuar em via independente de caspases (KROEMER, 2007). Tanto AIF como EndoG induzem

condensação nuclear e fragmentação do DNA, com possibilidade de atuarem de forma conjunta

para potencializar seus efeitos. Contudo, o processo de liberação dessas proteínas da

mitocôndria para o citosol e consequente translocação do citosol para o núcleo permanece

obscuro, com trabalhos mostrando tanto dependência (ARNOULT et al., 2002; ARNOULT et al.,

2003) quanto independência de mecanismos relacionados à atividade de caspases (ARNOULT

et al., 2003; CANDE et al., 2002). A endonuclease G é evolucionariamente conservada em

ortólogos conhecidos de bactérias e fungos e é capaz de induzir fragmentação do DNA em

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DISCUSSÃO - 75

núcleos isolados, independente de caspases (LI; LUO; WANG, 2001). É provável que a

endonuclease G coopere com exonucleases ativadas por caspases e DNase I para gerar

fragmentos de DNA internucleossomal, sob condições fisiológicas (WIDLAK et al., 2001),

permanecendo desconhecido se a endonuclease G define uma via de fragmentação de DNA

mitocondrial em células de mamíferos (JAATTELA, 2004). AIF foi primeiramente descrito por

Susin et al. (1996) e está normalmente retido no espaço intermembranar mitocondrial, onde

desempenha função de oxidorredutase (MIRAMAR et al., 2001). Similar à atividade bifuncional

do citocromo c, AIF torna-se uma assassina de células ativa quando é liberada para o citosol; ela

então é translocada para o núcleo e desencadeia, possivelmente em conjunto com a

endonuclease G (WANG et al., 2002) a condensação periférica da cromatina e perda de DNA de

alto peso molecular (50 kDa) (LOEFFLER et al., 2001; SUSIN et al., 1999; YU et al., 2002).

Curiosamente, a protease lisossomal catepsina D foi relatada por desencadear a liberação de

AIF de maneira independente de caspases (BIDERE et al., 2003). Este fato é reforçado por YU e

colaboradores, que mostraram que a liberação de AIF e subsequente morte celular pode ser

desencadeada independente de caspases pelo influxo excessivo de Ca2+, resultando na

superativação de poli(ADP-ribose) polimerase-1 (YU et al., 2002). De fato, atualmente existem

evidências tanto in vitro como in vivo sugerindo que AIF pode atuar como um executor de morte

garantido em células tumorais, sem necessidade da ativação de caspases (ALONSO et al.,

2003; JOSEPH et al., 2002; LIAO; DICKSON, 2003; BROKER et al., 2005). Whiteman e

colaboradores desenvolveram um trabalho, utilizando marcadores de morte celular (análise de

SubG1, condensação de cromatina, TUNEL, ligação de Anexina V, retração do corpo celular,

extravasamento de LDH e estudos de viabilidade), onde foi observado que a morte celular

mediada por ácido hipocloroso (HOCl) induzia uma rápida ativação de Bax, colapso da

permeabilidade de membrana mitocondrial e liberação de proteínas intra-mitocondriais, AIF,

EndoG e citocromo c, o que resultou em morte celular sem ativação de caspases, porém o

mecanismo responsável pela rápida ativação de Bax e os mecanismos precisos de inibição das

caspases ainda estão sendo investigados (WHITEMAN et al., 2007).

Sendo assim, pode-se sugerir que CaL atua nas células HeLa induzindo a morte celular

por apoptose através da ativação (não exclusiva) da via intrínseca mitocondrial, atuando tanto de

forma dependente como independente de caspases, estimulando a permeabilização da

membrana mitocondrial e, consequentemente, a liberação de proteínas como AIF, EndoG e

citocromo c (ativa o apoptossomo, composto pelo complexo Apaf-1, procaspase-9 e ATP/dATP

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DISCUSSÃO - 76

e, consequentemente, as caspases -9 e -3, induzindo a apoptose). Vários modelos de morte

celular por apoptose envolvendo a participação de caspases iniciadoras e executoras, além de

mecanismos independentes da participação de caspases para apoptose foram estabelecidos,

porém estudos mais aprofundados com relação à participação de outras proteínas relacionadas

a este tipo de morte celular são necessários para a determinação do mecanismo de ação de CaL

na apoptose de células de adenocarcinoma humano (HeLa).

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CONCLUSÃO - 77

6. CONCLUSÃO

Uma lectina (CaL) foi purificada da esponja Cinachyrella apion (CaL), de acordo com a

metodologia descrita por Medeiros e colaboradores (2010). CaL apresentou potencial

antiproliferativo frente as linhagens de células tumorais testadas, em especial a linhagem tumoral

HeLa, agindo de forma dose dependente, não apresentando atividade hemolítica ou toxicidade

contra células do sangue periférico, nas concentrações de IC50. Além do efeito antiproliferativo

induzido por CaL, seu inibidor específico, o dissacarídeo Lactose (0,1 M) também apresentou

citotoxicidade frente as linhagens tumorais testadas, estimulando a proliferação de células

fibroblásticas de camundongo. CaL induz a morte celular de HeLa pela ativação da apoptose por

mais de um mecanismo de morte celular por apoptose, tanto dependente quanto independente

da via das caspases, pela ativação das proteínas pró-apoptóticas BAX e JNK, que atuam de

forma conjunta para a progressão do estímulo apoptótico, como também pela inibição da

proteína pró-sobrevivência celular NF-ƙB (105 kDa), porém estudos mais aprofundados dos

componentes destas vias de apoptose dependentes e/ou independente de caspases serão

realizados futuramente.

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