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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ESCOLA POLITÉCNICA CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Taíssa Albertazzi de Araujo Santos MERCADOS DE PREVISÃO CORPORATIVOS COMO UMA FERRAMENTA DE APOIO À TOMADA DE DECISÃO RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL JULHO DE 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA POLITÉCNICA

CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Taíssa Albertazzi de Araujo Santos

MERCADOS DE PREVISÃO CORPORATIVOS COMO UMA FERRAMENTA DE

APOIO À TOMADA DE DECISÃO

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

JULHO DE 2015

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MERCADOS DE PREVISÃO CORPORATIVOS COMO UMA FERRAMENTA DE

APOIO À TOMADA DE DECISÃO

Taíssa Albertazzi de Araujo Santos

Projeto de Graduação apresentado no curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro de Produção.

Orientador:

Prof. Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

JULHO DE 2015

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ii

MERCADOS DE PREVISÃO CORPORATIVOS COMO UMA FERRAMENTA DE

APOIO À TOMADA DE DECISÃO

Taíssa Albertazzi de Araujo Santos

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Aprovado por:

________________________________________________

Prof. Heitor Mansur Caulliraux,D.Sc. (Orientador)

________________________________________________

Prof. Vinicius Carvalho Cardoso,D.Sc.

________________________________________________

Prof. Adriano Proença,D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

JULHO DE 2015

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iii

Santos, Taíssa Albertazzi de Araujo

Mercados de Previsão Corporativos Como Uma

Ferramenta de Apoio à Tomada de Decisão / Taíssa Albertazzi de

Araujo Santos. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.

XI, 50 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Heitor Mansur Caulliraux

Projeto Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia de Produção, 2015.

Referências Bibliográficas: p.47-48

1. Mercados de Previsão Corporativos 2. Apoio à Decisão

3. Sabedoria das Multidões.

I. Caulliraux, Heitor Mansur. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia de Produção. III.

Mercados de previsão corporativos como uma ferramenta de apoio

à tomada de decisão.

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iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Solange e Rogério, que sempre me

incentivaram a alcançar meus sonhos e me proporcionaram todo apoio, amor e compreensão ao

longo da minha jornada de estudo e formação.

Ao meu irmão, Breno, e minha tia, Rosane, pelas palavras de incentivo e auxílios

prestados.

Aos meus amigos e meu namorado pela compreensão, paciência e carinho que tiveram

durante minha graduação.

Ao professor Heitor pela motivação, liberdade e atenção oferecida na elaboração deste

trabalho.

Aos professores Luiz Antônio Meirelles, Renato Cameira e Vinícius Cardoso, que me

ajudaram a crescer profissional e pessoalmente através dos conhecimentos compartilhados.

Ao Instituto ILOS por permitir aplicação prática dos conhecimentos adquiridos ao do

curso e pela oportunidade de desenvolvimento profissional oferecida.

Por fim, a todos aqueles que contribuíram de alguma maneira na minha formação.

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v

“Todos os seus sonhos podem se tornar realidade se você tem coragem para

persegui-los”

(WALT DISNEY)

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

MERCADOS DE PREVISÃO CORPORATIVOS COMO UMA FERRAMENTA DE

APOIO À TOMADA DE DECISÃO

Taíssa Albertazzi de Araujo Santos

Julho/2015

Orientador: Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc

Curso: Engenharia de Produção

Enfrentar cenários de incertezas é visto como um dos grandes desafios pelos quais as

empresas do século XXI enfrentam. Adicionalmente, as companhias vêm necessitando de

maior agilidade na adaptação de suas operações frente às mudanças necessárias sob as quais

são submetidas, de modo a garantir sua competitividade. Neste sentido, o presente trabalho

descreve uma ferramenta de apoio à decisão, denominada mercados de previsão, que vem

ganhando espaço nas companhias norte americanas e europeias, por sua capacidade de mostrar,

rapidamente, previsões acuradas e a baixos custos. Apresenta-se quatro princípios propostos

por Surowiecki (2004), atendendo-os, uma multidão seria capaz de tomar boas decisões.

Descreve-se o funcionamento do mercado de previsão, abordando-se as principais decisões a

serem tomadas em relação à modelagem de mercados discorrendo sobre algumas opções

comumente adotadas pelas empresas que se utilizam de tal mercado. No trabalho é apresentada

uma análise do método de previsão de demanda, adotado pela empresa Souza Cruz e como o

mercado de previsão poderia ser modelado de acordo com o cenário da mesma, descrevendo

algumas questões empresariais internas que devem ser consideradas no momento da

estruturação de um mercado de previsão corporativo.

Palavras-chave: Mercados de Previsão Corporativos, Apoio à Decisão, Sabedoria das

Multidões

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vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Production Engineer.

CORPORATE PREDICTION MARETS AS A SUPPORTING TOOL FOR

DECISION MAKING

Taíssa Albertazzi de Araujo Santos

Julho/2015

Advisor: Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc.

Course: Production Engineering

Facing uncertainties scenarios is seen as one of the great challenges that the companies in the

XXI century face. In addition, the companies have been in need of better flexibility in

adapting their operations to necessary changes that they are submitted in order to ensure

competitiveness. In this way, this paper describes a decision support tool called prediction

markets, which is becoming more popular in North American and European companies, for

their capacity in quickly showing accurate forecasts and at low costs. The four principles

proposed by Surowiecki (2004) are stated, and if followed, a crowd should be capable of take

good decisions. The operation of the prediction markets is related, raising the major decisions

to be taken in modeling process of the market, with commentaries about some options generally

adopted by the enterprises that utilize such market. This paperwork shows an analysis of

the forecasting method adopted by Souza Cruz and how does the prediction market may

be modeled according to the enterprise scenario, describing some corporate internal issues

that should be considered when structuring a corporate prediction market.

Key-Words: Corporate Prediction Markets, Decision Making, Wisdom of Crowds

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viii

Sumário

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 12

2 MOTIVAÇÃO ............................................................................................................... 14

3 METODOLOGIA .......................................................................................................... 15

4 LIMITAÇÕES ............................................................................................................... 17

5 SABEDORIA DAS MULTIDÕES ............................................................................... 18

5.1 DIVERSIDADE ........................................................................................................... 19

5.2 INDEPENDÊNCIA ...................................................................................................... 19

5.3 DESCENTRALIZAÇÃO ............................................................................................. 21

5.4 MECANISMO DE AGREGAÇÃO ............................................................................. 22

6 MERCADOS DE PREVISÃO ...................................................................................... 24

6.1 ELEMENTOS BÁSICOS ............................................................................................ 26

6.2 MODELAGEM DOS MERCADOS DE PREVISÃO ................................................. 28

6.2.1 Seleção do evento ..................................................................................................... 28

6.2.2 Duração do mercado ............................................................................................... 29

6.2.3 Participantes ............................................................................................................ 29

6.2.4 Tipo de contrato ....................................................................................................... 29

6.2.5 Configuração inicial do mercado ........................................................................... 32

6.2.6 Tipo de Incentivo ..................................................................................................... 33

6.2.7 Mecanismo de troca ................................................................................................. 34

6.2.8 Limitações ................................................................................................................ 34

7 MERCADOS DE PREVISÃO CORPORATIVOS .................................................... 35

7.1 PARTICIPANTES ....................................................................................................... 35

7.2 CONTROLE DE INFORMAÇÕES ............................................................................. 36

7.3 DURAÇÃO DOS MERCADOS .................................................................................. 36

7.4 INCENTIVO ................................................................................................................ 36

8 PROPOSTA DE APLICAÇÃO .................................................................................... 38

8.1 A COMPANHIA SOUZA-CRUZ ................................................................................ 38

8.2 PREVISÃO DA DEMANDA ...................................................................................... 38

8.3 MODELAGEM DO MERCADO ................................................................................ 40

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8.3.1 Definição do evento .................................................................................................. 40

8.3.2 Seleção dos participantes ........................................................................................ 40

8.3.3 Definição do tempo de duração do mercado ......................................................... 41

8.3.4 Definição do tipo de contrato .................................................................................. 42

8.3.5 Definição da configuração inicial ........................................................................... 42

8.3.6 Definição do incentivo ............................................................................................. 43

8.3.7 Definição do mecanismo de troca ........................................................................... 43

8.3.8 Definição das limitações .......................................................................................... 44

8.4 RESULTADOS ESPERADOS .................................................................................... 44

9 CONCLUSÃO ................................................................................................................ 45

9.1 CRÍTICAS AO TRABALHO ...................................................................................... 45

9.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................................................ 45

9.3 APRENDIZADO .......................................................................................................... 46

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 47

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x

Índice de Figuras

Figura 1: Etapas da metodologia ........................................................................................ 16

Figura 2: Prós e contras da descentralização ...................................................................... 22

Figura 3: Elementos de um mercado de previsão ............................................................... 26

Figura 4: Decisões da configuração inicial do mercado de previsão ................................. 32

Figura 5: Participação da Souza Cruz no mercado formal (2010-2014) ............................ 39

Figura 6: Opções disponíveis para seleção dos participantes do mercado de previsões .... 41

Figura 7: Perfil da configuração inicial do mercado de previsão de demanda da Souza Cruz

.................................................................................................................................................. 42

Figura 8: Decisões acerca do sistema de incentivo para o mercado de previsão da demanda

da Souza Cruz. .......................................................................................................................... 43

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xi

Índice de Tabelas

Tabela 1: Principais diferenças entre os mercados de previsões, bolsa de valores e mercados

de apostas. ................................................................................................................................. 25

Tabela 2: Resumo dos dois principais tipos de contratos ................................................... 31

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1 INTRODUÇÃO

Na rotina de uma empresa, os funcionários lidam com questões de grande

complexidade. Aos que possuem cargos mais destacados dentro de uma companhia, são

delegadas decisões críticas para a sobrevivência da companhia. Os diretores executivos, ou

Chief Executive Officer (CEO), tem de lidar com inúmeras tomadas de decisões estratégicas ao

longo de sua carreira. Neste cenário, uma previsão pouco acurada, ou atrasada, pode causar um

aumento significativo nos custos de uma empresa, reduzindo a sua competitividade, ou mesmo,

causando a sua eliminação do mercado.

Há longo tempo, estudiosos, principalmente da área de exatas, procuram meios de se

prever eventos futuros. Previsões confiáveis sobre a ocorrência de um evento de interesse geram

a possibilidade de um planejamento eficaz por parte das empresas. Com isso, uma melhora no

desempenho é esperada. Apesar dos diversos métodos de previsão disponíveis, como estatístico

e o Delphi, existem situações nas quais não se consegue oferecer previsões satisfatórias. Estimar

a demanda para novos produtos, investir ou não em um novo segmento de mercado ou escolher

um novo sistema de tecnologia da informação para empresa, são alguns exemplos de decisões

complexas as quais as companhias vivenciam rotineiramente.

Nos últimos 10 anos uma nova ferramenta de apoio à decisão tem chamando a atenção

de empresas e estudiosos. Denominada mercados de previsão, ela vem demonstrando sua

eficácia nas mais diversas áreas com uma ampla gama de finalidades. São narrados diversos

casos em que a previsão por ela feita foi mais acurada que aquelas realizadas por outros

métodos.

Pode-se dizer que o interesse pelos mercados de previsão teve grande alavancagem após

ao trabalho de Surowiecki, J (2004). Nele, o autor defende que uma multidão é mais inteligente

do que especialistas e é capaz de tomar melhores decisões. Entretanto, para que isso seja

verdade, existem alguns princípios que precisam ser seguidos. Quando bem estruturado, um

mercado de previsão consegue atender a todos esses apresentando resultados satisfatórios.

Neste contexto, apresenta-se aqui os elementos críticos na modelagem de mercados de

previsão, discutindo as mais adotadas pelas as empresas que fazem uso do mercado de previsão.

É dada ênfase para mercados de previsão corporativos, aqueles aplicados dentro de empresas.

É realizada, também, uma breve análise sobre algumas questões à cerca do método de previsão

que é utilizado atualmente na empresa Souza Cruz. Para esta, é elaborada uma sugestão de

modelo do mercado de previsão, apresentando as justificativas das escolhas efetuadas para cada

um dos elementos críticos na modelagem do mercado de previsão corporativo. O

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desenvolvimento e execução do mercado não foi realizado, pois extrapolaria o tempo de

formação da graduação.

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2 MOTIVAÇÃO

As principais motivações do atual trabalho são: descrever os princípios para que uma

multidão consiga tomar boas decisões; expor um método de previsão recente que vem sendo

utilizado pelas empresas e estudiosos de diferentes áreas; apresentar os elementos críticos para

a modelagem do mesmo; apontar as formas mais comumente aplicadas e expor fatores que

devem ser considerados numa modelagem do método.

O método abordado é o mercado de previsão, que consiste em um método relativamente

novo com uma abordagem diferenciada, em relação aos demais disponíveis. Este é capaz de

apresentar resultados confiáveis rapidamente a baixos custos de implantação e manutenção. Um

grande fator de interesse em tal método é que este leva em consideração o comportamento

humano para realizar a previsão. Diversos métodos de previsão tradicionais buscam uma

maneira lógica de se chegar ao melhor resultado, porém muitas das vezes desconsideram o

comportamento social dos indivíduos responsáveis pela sua execução.

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3 METODOLOGIA

O trabalho aqui apresentado foi desenvolvido com base nos princípios abordados no

texto de James Surowiecki (2004), denominado ‘A Sabedoria das Multidões’. Tal texto é de

alta relevância por ter impulsionado diversos estudos sobre temas ligados à sabedoria coletiva.

Tal autor apresenta métodos eficientes de se agregar informações e de fornecer previsões.

Dentre tais métodos, foi escolhida a ferramenta chamada ‘mercados de previsão’, por esta ter

grande aplicabilidade no ambiente corporativo, para ser trabalhada.

A ideia inicial deste projeto de graduação foi a de buscar bibliografias disponíveis sobre

estudos de caso em que um mercado de previsão tenha sido utilizado para realizar previsões

sobre um tema específico, como previsão de demanda. Com base no material selecionado,

identificar-se-iam os fatores de sucesso, e de insucesso, nas previsões realizadas por tais

mercados. Esta opção não se mostrou eficaz, por não ter sido possível localizar uma quantidade

satisfatória de diferentes estudos com informações suficientes sobre um tema específico para

realizar a comparação e eleger os fatores anteriormente citados. Assim, optou-se por explorar

as diferentes configurações possíveis de um mercado de previsão.

Para analisar questões chaves na modelagem de mercados de previsão, foi utilizado,

como base, o trabalho de Luckner et al (2012), Prediction Markets, como base. Como literatura

complementar foram realizadas buscas pelo tema nos periódicos na base da Coordenação de

aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e em sítios virtuais busca aberta.

O esquema da Figura 1 apresenta as etapas da metodologia utilizada. Primeiramente

buscou-se compreender os princípios propostos por Surowiecki (2004), entender o

funcionamento dos mercados de previsão para então analisar como as grandes empresas

multinacionais estão utilizando-os de forma a agregar valor para o seu negócio. Com os

resultados destas análises, elaborou-se uma proposta de aplicação em uma empresa com

características favoráveis à implantação desta filosofia.

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16

Figura 1: Etapas da metodologia

Fonte: Elaboração própria

Sabedoria das

multidões

Mercados preditivos

Aplicação nas

Empresas

Elaboração da proposta

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4 LIMITAÇÕES

O presente trabalho não aborda problemas relacionados a conflitos entre agentes

internos que se possa encontrar no momento de implementação de um mercado preditivo numa

empresa, bem como, não analisa a microestrutura dos mercados de previsão. Outro ponto

importante a ressaltar é que este trabalho não exaure as diversas possibilidades de modelagem

de um mercado nem as formas de se transformar os preços definidos pelos mesmos em

previsões reais.

Por se tratar de um assunto relativamente novo, ainda são poucas as empresas que

divulgaram os resultados obtidos com mercados de previsão. Desta forma, a literatura

encontrada sobre mercados de previsão corporativos está restrita a poucos casos reais. A

maioria do material disponível é relativa a experiências realizadas com estes mercados.

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5 SABEDORIA DAS MULTIDÕES

Na literatura, existem diversas descrições de situações nas quais um grupo de pessoas,

de dimensão variável, consegue chegar a uma boa previsão de variados eventos. Surowiecki

(2004) argumenta, através de diversos estudos de casos e simulações realizadas em salas de

aula e laboratórios, que uma multidão é melhor em realizar previsões do que especialistas

isolados. Como seres humanos, lidamos diariamente com situações em que a sabedoria coletiva

é utilizada e, em muitos casos, isso não é percebido.

Podemos observar que, em um mercado competitivo, as pessoas estão dispostas a pagar

até um determinado valor por um item e os ofertantes a aceitar um valor de venda mínimo. De

acordo com a teoria microeconômica, esses indivíduos seriam capazes de chegar ao ponto

ótimo, representado pela intersecção entre a curva da demanda e da oferta. Em outras palavras,

pessoas com informações parciais e imperfeitas são capazes de atingir objetivos complexos e

mutuamente benéficos.

O sucesso da plataforma de pesquisa aberta do Google está diretamente relacionado ao

seu algoritmo de busca. Diferente de seus concorrentes, na época do seu desenvolvimento, o

algoritmo não buscava quantas vezes a palavra pesquisada estava presente na página principal

de um sítio, mas sim quantas vezes outros sítios redirecionavam links ao primeiro. Desta forma,

seu algoritmo considerava mais importante aquelas páginas que eram mais mencionadas por

outras. O Google Acadêmico funciona de maneira semelhante. Ele considera que a relevância

de um artigo está diretamente ligada à quantidade de vezes em que este foi citado.

Ainda no campo da informática, pode-se citar o desenvolvimento do sistema

operacional Linux. Por se tratar de um sistema de código aberto, diversos programadores

ajudaram a encontrar bugs e apresentaram soluções. Assim, o seu desenvolvimento apresentou

um custo consideravelmente mais baixo quando comparado com aqueles atrelados ao

desenvolvimento do Windows ou do Macintosh.

Outro termo que vem chamando a atenção nos últimos 10 anos é “crowdsourcing”. De

acordo com o dicionário online de Cambrige, crowdsourcing é o ato de delegar tarefas para um

grande grupo de pessoas, ou para o público em geral, ao invés da tradicional execução de tarefas

dentro de uma empresa. O próprio caso do Linux pode ser citado como um exemplo desta

prática.

Todos os exemplos mencionados até aqui mostram situações nas quais os indivíduos

tomam decisões independentes. Quando se trata de uma situação de coordenação, ou seja,

quando a decisão de um indivíduo depende de outro anterior, ainda que mais complexa, a

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multidão também pode ser capaz de apresentar bons resultados (ARTHUR, 1994 e BELL;

SETHARES; BUCKLEW, 2003).

Através desses exemplos, pôde-se perceber que existem situações nas quais uma

multidão pode, de fato, tomar decisões melhores que os especialistas. Porém, existem alguns

princípios que precisam ser seguidos e situações a serem evitadas, para que informações

individuais sejam utilizadas de forma eficiente.

5.1 DIVERSIDADE

Diversidade de grupos, no sentido conceitual e cognitivo, é essencial para que se chegue

a boas decisões. No momento em que se tenha um grupo homogêneo, as ideias apresentadas

tenderão a ser semelhantes entre si. Quanto mais diversificado for um grupo, maior será a

chance de que algum componente do grupo apresentar uma ideia mais radical ou improvável.

Em multidões, certo grau de diversidade já está garantido. Quando se trata de grupos

menores, comuns dentro das empresas, garantir diversidade se torna ainda mais importante do

que em grandes coletividades, uma vez que em pequenos grupos, é mais fácil que poucos

indivíduos influenciem os demais.

Em um grupo, indivíduos inteligentes não garantem diferentes perspectivas para um

determinado problema, pois, grupos homogêneos são bons em sua especialidade, mas são

menos capazes de explorar alternativas. No outro extremo, um grupo de pessoas inteiramente

desinformadas dificilmente tomará boas decisões. Em um grupo heterogêneo, com pessoas que

possuam diferentes graus de instrução e ideias, as soluções propostas para questões importantes

trarão maiores benefícios quando comparadas com aquelas apresentadas por um ou dois

indivíduos.

5.2 INDEPENDÊNCIA

Para se garantir uma diversidade de informações em um determinado grupo, é

importante que as decisões sejam tomadas de forma independente. Surowiecki (2004) defende

que seres humanos e outros animais tendem a repetir o comportamento de outros indivíduos de

sua espécie como uma forma identificação de algum grupo. Além disso, quando um grupo de

indivíduos tem acesso a poucas fontes de informação, tendem a apresentar opiniões

semelhantes. Estes fatos geram problemas para a tomada de decisão independente.

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O autor menciona ainda que existem dois tipos de imitação: a inteligente e a cega. A

primeira se dá quando o indivíduo observa o outro e acrescenta sua opinião sobre o fato. Já a

imitação cega se dá quando o primeiro indivíduo apenas imita o outro, sem julgamento. Poucas

são as pessoas que admitem estar copiando irracionalmente o comportamento de outrem, e isso

dificulta a identificação entre os dois tipos de imitação.

Quando a imitação cega ocorre sucessivamente, é criado um efeito cascata de

informações. Um exemplo típico, alvo de muitas brincadeiras na televisão, é quando um ator

está no meio da rua e finge estar observando algo muito interessante no alto de um prédio.

Inevitavelmente, alguns passantes começam a olhar na mesma direção, sem haver motivo algum

para tal comportamento.

Pode-se dizer que a grande depressão de 1929 teve uma grande contribuição do efeito

cascata de informações. Devido à subida dos valores das ações da bolsa de Nova-York, uma

elevada especulação levou centenas de americanos a investirem pesadamente nos mercados de

ações e subir ainda mais os valores, gerando uma bolha econômica. No dia que esta bolha

estourou, deu-se início da crise econômica, sendo denominado de quinta-feira negra.

Indivíduos que são capazes de realizar uma imitação inteligente teriam a habilidade de

parar o efeito cascata de informações, por valorizar mais as informações pessoais do que as

públicas. Além disso, estas pessoas acabam por encorajar outras a confiarem em si mesmas ao

invés de apenas seguir as demais. Em muitos casos, mesmo pessoas avessas ao risco não imitam

cegamente.

Um estudo realizado por Ryan e Gross (1943), sobre o modo pelo qual os fazendeiros

de Iowa adotaram uma nova semente de milho híbrido, que prometia um aumento na produção

em 20%, é um exemplo da imitação inteligente. Apesar de muita informação disponível, os

fazendeiros optaram por observar o resultado dos demais, mas antes de aplicarem a nova

semente na totalidade da produção, realizaram testes em partes da mesma. Apesar de parecer

um efeito cascata, esta ocasião demostrou uma imitação inteligente. O tempo entre o primeiro

fazendeiro utilizar a semente em toda produção e metade dos fazendeiros da região a utilizarem

demorou um total de nove anos.

O surgimento do efeito cascata depende diretamente da importância de uma decisão a

ser tomada. O cuidado que um fazendeiro terá ao decidir qual tipo de semente será utilizada na

plantação deve ser maior do que uma pessoa tem ao escolher uma blusa para comprar. Essa

última provavelmente seguirá um padrão de acordo com a impressão que ela quer causar.

O problema principal do efeito cascata é que as decisões são feitas sequencialmente, e

não ao mesmo tempo,

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21

[...] se você quer melhorar a tomada de decisões de uma organização ou de

uma economia, uma das melhores coisas a fazer é assegurar, tanto quanto possível,

que as decisões sejam tomadas simultaneamente (ou perto disso), e não uma após a

outra (Surowiecki, 2004 p.94).

Portanto, um ponto chave para que decisões grupais sejam bem sucedidas é fazer com

que as pessoas prestem muito menos atenção no que os outros estão dizendo, e muito mais nas

informações individuais, mesmo que estas sejam imperfeitas.

5.3 DESCENTRALIZAÇÃO

Surowiecki (2004) defende a descentralização das decisões. Entende-se por

descentralização a repartição de um poder central, ou seja, a tomada de decisão é realizada por

agentes locais e não um poder único. Segundo o dicionário do Aurélio, descentralização

corresponde a um sistema oposto à acumulação de poderes no governo central.

A descentralização já era defendida por Smith (1983) em seu livro Riqueza das Nações.

Ele cita que uma economia descentralizada seria gerida por uma “mão invisível”. Esta mão,

além de coordenar as escolhas individuais, “deve moldar os indivíduos em seres sociais

construtivos” (EVENSKY, 1993 p.197).

Outra grande vantagem da descentralização está no fato de que, quanto mais próxima

de um problema uma pessoa está, melhor conhecerá os detalhes do mesmo e, provavelmente,

será capaz de oferecer uma solução mais adequada. Tais detalhes permitem uma avaliação mais

elaborada da informação, com maior qualidade na análise das mesmas, e quanto mais pontos

de vista colocados em pauta, mais inteligente tenderá a ser a decisão final, quando comparada

a uma decisão tomada por um único indivíduo. Um problema recorrente é que estas pessoas

estão no nível operacional da empresa e, frequentemente, não participam de decisões

importantes envolvendo suas atividades.

A descentralização confere maior independência na tomada de decisões, na coordenação

das atividades e na autonomia da resolução de problemas além de uma maior especialização.

Ela também permite às pessoas coordenar suas atividades e solucionar problemas mais

complexos. Uma prática que vem chamando a atenção de empresários e estudiosos é o

empowerment. Esta prática incentiva funcionários a assumirem maiores compromissos sobre o

planejamento do seu trabalho e a assumirem responsabilidades por decisões que normalmente

estariam relacionadas à gerência (CORRÊA; CORRÊA, 2012).

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Em contrapartida, ao descentralizar o sistema de decisão não se garante que informações

locais, eventualmente de grande valia, estejam acessíveis aos demais indivíduos participantes

do mesmo. Para isso ocorrer, é preciso o auxílio de um mecanismo capaz de concentrar todas

estas informações. A Figura 2 abaixo apresenta os pontos contra e a favor da descentralização

do sistema.

Figura 2: Prós e contras da descentralização

Fonte: Elaboração Própria

5.4 MECANISMO DE AGREGAÇÃO

Garantir a diversidade de opiniões e a descentralização na tomada de decisões não

garante que a melhor solução será identificada. Um sistema só conseguirá produzir resultados

inteligentes no momento em que as informações de todo o sistema forem agregadas. Hayerk

(1945) define que, para uma determinada sociedade, a melhor alocação de recursos possível é

um problema econômico gerado pela falta de agregação das informações. Os conhecimentos

das circunstâncias, que deveriam ser utilizados, não estão agregados e integrados, mas sim

muito disperso e incompleto, sendo frequentemente contraditórios entre si.

Para um bom funcionamento do sistema, deve-se garantir que essas informações locais

e úteis consigam ser acessadas por qualquer indivíduo pertencente a tal sistema, tornando-o

Pontos a favor Pontos contra

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global e coletivamente útil. Isso, sem permitir que cada informação deixe de possuir caráter

local e específico, assegurando que não se fira a diversidade do sistema.

Por mais que pareça paradoxal, torna-se necessário centralizar as informações locais.

Para que isso ocorra, é preciso haver um mecanismo de agregação. Por exemplo, em um sistema

de votação, a centralização seria dada por uma ou mais pessoas contabilizando os votos. Já no

livre mercado, ela seria proporcionada pelo preço que, ainda que imperfeito, seria capaz de

traduzir as intenções dos vendedores e compradores. O mesmo raciocínio é válido para o valor

de uma ação na bolsa de valores, pois ele reflete o quanto o mercado acredita ser o valor de

uma empresa.

A disponibilidade de um mecanismo agregador não garante, porém, que indivíduos irão

compartilhar suas informações. Torna-se necessário que as pessoas sejam incentivadas a fazê-

lo. Desta forma, a presença de um sistema de incentivo, que instigue os indivíduos a dividir

suas expectativas reais sobre determinado evento, deve operar conjuntamente ao mecanismo.

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6 MERCADOS DE PREVISÃO

Agregar informações individuais, dispersas e úteis de um sistema para se chegar à uma

previsão é um dos pontos mais críticos na utilização da sabedoria coletiva. Surowiecki (2004)

cita algumas formas de agregação e mostra que uma maneira rápida e simples para unir tais

informações é através de um sistema no qual uma gama de apostadores tenta acertar uma

variável e, aqueles que apresentarem o valor mais próximo do correto ganhará um prêmio. Esta

opção é exemplificada por um jogo durante uma feira rural. No caso, os apostadores deveriam

acertar o peso de um boi e aqueles que apostassem nos pesos mais próximos do real ganhariam

prêmios. O interessante foi que a média das apostas realizadas foi mais acurada que a maioria

dos valores apresentados pelos participantes, diferenciando-se apenas por quinhentos gramas

do peso real do boi.

Recentemente, um novo método de agregar informações vem chamando a atenção de

estudiosos no campo relacionado a previsões chamado de prediction markets, ou, como serão

chamados aqui, mercados de previsão. Estes mercados são encarados como a melhor estimativa

de eventos futuros (PLOT, 2000). No mundo acadêmico não existe uma definição precisa do

que seja um mercado de previsão (LUCKNER et al, 2012). A definição para um mercado de

previsão proposta por Berg e Rietz (2003) seria aquele mercado que funciona com o principal

papel de agregar informações, de modo que os preços determinados por tal mercado se traduza

em previsões de eventos futuros. Essa definição atende, de maneira satisfatória, os fins do

trabalho aqui apresentado.

Além de prometerem previsões mais acuradas no curto e médio prazo, estes mercados,

quando modelados de forma adequada, possuem custos relativos mais baixos e são capazes de

apresentar resultados mais rapidamente do que outros métodos de previsão, tais como as

pesquisas de mercado. A grande motivação do uso dos mercados de previsão como um

mecanismo de agregação deriva da hipótese de que mercados eficientes são capazes de refletir

todas as informações relativas a um evento futuro de modo a gerar previsões melhores que as

do melhor especialista (LUCKNER et al, 2012).

As promessas dos mercados de previsão ainda podem causar certo incômodo e

descrença. No entanto, existem diversos casos, tanto de situações laboratoriais quanto de

situações reais, nos quais as previsões realizadas foram mais acuradas que outros métodos de

previsão comumente utilizados.

A Universidade de Iowa – Estados Unidos criou o primeiro mercado de previsão.

Voltado para a previsão dos resultados das eleições americanas, ele foi criado para estudar o

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comportamento de tais mercados. Nomeado de Iowa Eletronic Markets (IEM), tal mercado

realizou previsões mais acuradas do que as pesquisas de intenção de voto (BERG et al., 2000).

Diferente das pesquisas de opinião, que são baseadas em perguntas como “se as eleições

ocorressem hoje, você acha que votaria no candidato democrata ou no candidato republicano?”

realizadas com uma amostra significativa, no mercado de previsões os negociadores recebem

retorno financeiro ao responder corretamente à pergunta “Em quem todos votarão no dia das

eleições?”.

Outra questão interessante é que o IEM consegue atingir tais resultados mesmo que a

quantidade de participantes não componha uma parcela representativa dos eleitores, como

ocorre nas pesquisas de opinião. O IEM é um dos mercados de previsão mais famosos e é

comumente utilizado como modelo básico para a criação de outros mercados.

É importante mencionar as diferenças existentes entre os mercados de previsões, as

bolsas de valores e os mercados de apostas. O mercado de previsões é diferente da bolsa, pois

este não tem a função primária de alocar recursos, partilhar riscos e levantar capital. Além disso,

as ações da bolsa de valores são baseadas em ativos reais. A diferença entre e o mercado de

previsões e o mercado de apostas é tênue. Os mercados de apostas são voltados para o

entretenimento no qual os riscos assumidos podem ser interpretados como diversão enquanto a

função fundamental dos mercados de previsão é a própria previsão. As principais diferenças

entre os mercados mencionados acima podem ser encontrados na Tabela 1.

Tabela 1: Principais diferenças entre os mercados de previsões, bolsa de valores e mercados de

apostas.

Fonte: Elaboração própria

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6.1 ELEMENTOS BÁSICOS

Um mercado de previsão é composto por quatro elementos básicos: um evento a ser

previsto; títulos disponíveis para comercialização; participantes, que compram e vendem estes

títulos; e um sistema responsável por gerenciar as negociações. Na Figura 3, abaixo, estão

representados estes elementos.

Figura 3: Elementos de um mercado de previsão

Fonte: Elaboração própria

Como é de se esperar, um mercado de previsão deve ser utilizado para prever alguma

situação específica que ocorrerá no futuro. Existem diversas situações em que tal mercado já

tenha sido aplicado, em setores que vão desde a educação até o farmacêutico. Para cada evento,

deve-se ter um leque de situações possíveis representadas em forma de títulos negociáveis.

Quando se deseja prever as eleições, como no caso do IEM, deve-se ter dois títulos disponíveis:

um referente à vitória do candidato de um partido e outro referente à vitória do candidato de

outro partido.

Em qualquer mercado de previsão, existe um grupo de comerciantes que compram e

vendem estes títulos de acordo com suas expectativas em relação ao evento futuro em questão.

Como mencionado anteriormente, títulos disponíveis representam uma aposta no resultado do

evento. Assim que eles ocorrem, os participantes recebem um retorno de acordo com os

resultados de tal evento, podendo ele ser financeiro ou não.

Os preços estabelecidos pelo mercado, de alguma forma, irão refletir a probabilidade de

ocorrência de determinado evento. Os preços representam estatísticas que indiquem a agregação

de informações próprias dos indivíduos. O agrupamento destas informações ocorre no momento

em que os negociadores passem a observar o comportamento do mercado e adicionam suas

crenças, comprando ou vendendo títulos, até que se atinja um equilíbrio de preços (PLOT,

2000).

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Todas as transações, assim como o cálculo dos preços, são suportadas por um sistema.

O funcionamento dos mercados de previsão em plataformas online permite que ele seja

acessado praticamente de qualquer lugar, a qualquer momento, aumentando-se a possibilidade

de se ter um maior número de participantes, além de oferecer a opção do anonimato, que é

especialmente importante quando se trata de um mercado corporativo, que será detalhado mais

adiante.

De acordo com Spann e Skiera (2003), o retorno oferecido aos participantes detentores

dos títulos (payoff) deve ser calculado em função do resultado de um evento em um determinado

instante ou período de tempo relevante para a determinação do resultado, através de uma função

matemática (função transformação). Apesar de não ser uma regra, tal instante é previamente

estabelecido, porém, existem situações nas quais ele não é definido. Os mercados de previsão

são utilizados para prever quando acontecerão ataques terroristas, ou onde ocorrerão estes

ataques. Nestes casos, o tempo é uma variável, o que o torna o próprio objeto de uma aposta.

Uma função de transformação não é única para todas as situações. Serão apresentadas no item

6.2.4 deste texto, algumas opções de tais funções.

Conforme já mencionado, o preço estabelecido por um mercado de previsão deve

corresponder à expectativa de um grupo quanto ao resultado de um evento. Caso as expectativas

de um indivíduo não estejam condizentes com o que o mercado esteja dizendo, ele pode

comprar ou vender títulos de modo a aumentar o seu retorno. Na realidade, os participantes

negociam expectativas.

Para ilustrar o funcionamento de mercados de previsões, apresenta-se um exemplo: o

evento em questão será uma eleição à presidência entre os representantes de apenas dois

partidos, A e B. Inicialmente, cada um dos candidatos possuí 50% de chance de ganhar as

eleições, e assim, na abertura do mercado, cada título valerá U$0,50. Cada participante irá

comprar títulos do candidato que acredita que irá vencer as eleições, esperando obter U$1,00

de retorno para cada título adquirido, caso ele vença. Supondo que, depois de determinado

tempo de funcionamento deste mercado, 60% dos títulos vendidos tenham sido relativos à

expectativa de vitória do candidato do partido A, este número pode ser interpretado como a

porcentagem da chance de vitória de tal candidato e o valor do título relativo à vitória deste

candidato valerá U$0,60. Por outro lado, um apostador em particular acredita que o mesmo

candidato tenha chance de 70% de vitória, então ele estaria disposto a pagar até U$0,70 por um

título ou vendê-lo por no mínimo U$0,70. A venda ou compra de títulos realizada por tal

apostador irá alterar o valor de mercado de U$0,60 para outro valor de acordo com a quantidade

títulos vendidos ou adquiridos. Dessa forma, o novo valor ajustado representará a crença do

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grupo como um todo, relativa aos resultados das eleições presidenciais. Esses ajustes ocorrem

até o momento em que o mercado se estabilize ou até o encerramento do mesmo.

Por fim, o dia das eleições chega e, após as apurações, é anunciada a vitória do candidato

A. Aqueles participantes que compraram os títulos que defendiam a vitória candidato B não

recebem retorno algum. Já aqueles que apostaram no vencedor recebem o valor de U$1,00

multiplicado pelo número de títulos adquiridos.

É importante mencionar que nem todos os mercados funcionam de forma análoga.

Existem diferentes formas de modelagem dos títulos, incentivos e outros aspectos que serão

tratados mais detalhadamente no item a seguir.

6.2 MODELAGEM DOS MERCADOS DE PREVISÃO

A flexibilidade dos mercados de previsão permite que eles sejam utilizados em uma

vasta gama de campos. Tais mercados são aplicados para prever desde ataques terroristas pela

Agência Central de Inteligência, ou Central Intelligence Agency (CIA), até comportamentos

temperatura global vinte anos à frente. É de se esperar, portanto, que, para ser possível sua

aplicação do mesmo em diferentes situações, existam diferenças na forma como eles são

estruturados.

A modelagem de cada mercado deve assegurar que ele esteja sob as condições

levantadas por Surowiecki (2004), tendo participantes diversos e descentralizados. De acordo

com Hayek (1945) um mercado eficiente é aquele que represente todas as informações

disponíveis no sistema. Portanto, assegurar o envolvimento de indivíduos que possuam valiosas

informações, de modo a gerar uma boa previsão, requer, além de um sistema de fácil acesso,

um esquema de incentivo bem elaborado. Outra questão importante no mercado é a mitigação

dos riscos considerados, não apenas por parte dos participantes do mercado, mas também da

entidade responsável pelo mercado como um todo.

Sob tais perspectivas, apresenta-se aqui uma discussão acerca das diferentes

possibilidades na modelagem de um mercado preditivo. Spann e Skiera (2003) descrevem

decisões a serem tomadas a cerca desse mercado, apresentadas e comentadas a seguir.

6.2.1 Seleção do evento

Um evento é uma situação sobre a qual se deseja prever os resultados. A primeira

decisão a se tomar é a definição do evento que será previsto. A descrição do mesmo deve ser

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entendida por todos os participantes, para que se evite qualquer mal-entendido. A partir das

características do evento, outras decisões poderão ser tomadas.

6.2.2 Duração do mercado

A duração do mercado de previsão é relativa ao tempo disponível para a

comercialização de títulos entre os participantes. Importante ressaltar que o período entre o

início de um mercado e o seu encerramento não deve ser longo. De acordo com Surowiecki

(2004), os vieses responsáveis por gerar uma bolha especulativa nos mercados de ações

ocorrem, entre outros motivos, por longos períodos de tempo sem uma “confirmação” se o

mercado está indo na direção correta ou não.

Page e Clemen (2013) demonstram que um mercado de previsão funciona

razoavelmente bem quando seu tempo de duração é relativamente curto, mas quando se

consideram eventos mais distantes, eles apresentam vieses significativos. Adicionalmente, o

entusiasmo dos participantes se perde ao longo do tempo, devido à menor taxa de atividade

(PLOTT; CHEN 2002).

6.2.3 Participantes

A princípio, quanto maior for o número de participantes de um mercado, mais acurada

será sua previsão, pois ele seria capaz de agregar um maior número de informações e mitigar

manipulações. Para Hayek (1945) os participantes devem possuir informações sobre o evento

em questão, do contrário o mercado irá operar de forma randômica.

Nos casos em que mercados são realizados por uma empresa, sobre questões

estratégicas, a participação necessita ser restrita, o que pode causar problemas de liquidez no

mercado. Esta situação será melhor desenvolvida no item 7.1 deste trabalho.

6.2.4 Tipo de contrato

Contratos traduzem como será calculado o retorno dos participantes de acordo com os

resultados do evento. A escolha do contrato a ser utilizado está diretamente relacionada ao

modo com o qual se deseja prever uma determinada variável, que pode assumir diferentes

formas, assim descritas:

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a) números absolutos, tais como o peso de uma vaca na feira rural ou a quantidade de

computadores demandados num mês seguinte;

b) números relativos, como usados para a previsão de representatividade no mercado,

market-share, ou porcentagem de votos recebidos por um candidato em uma

eleição;

c) variáveis binárias, tais como a aceitação ou rejeição de um medicamento pela

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Para cada variável descria acima, existem diferentes formas de se estabelecer um

contrato. São abordadas aqui as possibilidades mais comuns.

Para os dois primeiros tipos de variável, números absolutos e relativos, pode-se lançar

mão de equações lineares em função dos resultados dos eventos para se calcular o payoff dos

contratos. O retorno dos contratos pode corresponder, por exemplo, a uma fração da quantidade

de computadores vendidos ou a cem vezes o market-share (SPANN; SKIERA, 2003). Este tipo

de contrato é conhecido como vote-share (no caso do IEM), linear ou indexado. Naquele caso

do IEM, os títulos disponíveis no mercado representavam o candidato de cada partido, de forma

semelhante ao exemplo apresentado no item 6.1 deste trabalho. A diferença reside naquilo que

se deseja prever, que é a porcentagem de votos que cada um dos candidatos irá receber, e não

quem irá vencer as eleições. Os preços estabelecidos pelo mercado devem refletir as

expectativas em relação ao percentual de votos e o payoff de cada título será calculado de acordo

com a porcentagem de votos recebida por cada candidato. Então, caso um participante acredite

que um determinado candidato obterá 60% dos votos, ele aceitará pagar até $0,60 pelo título

correspondente, ou vendê-lo por valores maiores, uma vez que o seu retorno será de $1,00

multiplicado por 60%, caso a expectativa de tal participante se concretize.

Convém ressaltar que, existem casos em que empresas se utilizam de intervalos para

realizar previsões de números absolutos. No Google Inc., por exemplo, são estabelecidas de 2

a 5 opções de títulos mutuamente exclusivos entre si (COWGILL; WOLFERS; ZITZEWITZ,

2009). Para se prever a quantidade de usuários do Gmail, existiriam respostas como: “Menor

que X”, “Entre X e Y” e “Maiores que Y”. Desta forma, não se realiza a previsão de um número

exato, mas sim de um intervalo que conterá o número esperado pelo mercado.

Esse último caso já teria sofrido uma alteração no perfil da variável. Tratar-se-ia agora,

de intervalos. Os participantes deveriam apostar no intervalo que conteria o número esperado

em mente. Caso o número revelado estivesse dentro daquele intervalo escolhido, o apostador

ganharia um valor de payoff pré-fixado. É comum o retorno de uma unidade monetária para

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cada título vencedor, entretanto podem-se considerar outros valores. Com valores mais altos, é

conferida maior liquidez ao mercado, mas em contrapartida eles podem representar maiores

custos para o organizador, caso os portfólios iniciais sejam doados aos participantes. Neste tipo

de contrato, o preço, estabelecido pelo mercado, reflete a probabilidade de ocorrência de um

evento. Esta alternativa é conhecida como winners-takes-all, vencedores levam tudo, e é a mais

comum. A decisão de prever números absolutos através de intervalos de valores, ocorre devido

às experiências de Pott e Sunder (1988) que mostram a dificuldade de se agregar informações

no primeiro método, comparado a um mercado contendo contratos no modelo Arrow-Debreu

(payoff uma unidade monetária por título para o vencedor e zero para o perdedor). Este tipo de

contrato também é comumente utilizado para variáveis binárias.

Além das formas de cálculo de preços e payoffs aqui citadas, existem diversas outras,

como, por exemplo, as descritas por Chen, Fine e Huberman (2003), que propõem a construção

de funções não lineares com base em observações dos riscos assumidos pelos participantes.

Tais autores acreditam que o nível de risco assumido pelos agentes é capaz de revelar aqueles

que possuem informações mais relevantes para um evento. Outra opção para se prever números

absolutos, seria similar à primeira na qual os preços são determinados pela média. Neste caso,

entretanto, os preços estabelecidos seriam determinados pela mediana das apostas. Para que

isso seja possível, os preços dos títulos são pré-fixados e não determinados pela oferta e

demanda.

Na literatura existem estudos sobre a utilização de outros tipos de contratos, mas por

não ser o foco deste trabalho, não será apresentada uma lista extensa das opções existentes. A

Tabela 2, apresenta um quadro resumo das duas principais formas discutidas aqui.

Tabela 2: Resumo dos dois principais tipos de contratos

Fonte: Elaboração Própria

Tipo de Contrato Exemplo Payoff Previsão do(a)

Vencedores Levam Tudo

(Winners-takes-all)

"Produto X irá ultrapassar o

número de vendas do ano

passado"

$100 se o evento

ocorrer, caso

contrário $0

Probabilidade de

occorência do evento

Lineares ou Indexados

"Porcentagem de votos

recebida pelo candidato A nas

próximas eleições"

$1 multiplicado pelo

percentual de votos

Percentual de votos

recebidos

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6.2.5 Configuração inicial do mercado

A configuração inicial do mercado irá determinar como serão distribuídos/adquiridos

os títulos inicialmente.

No caso do IEM, por exemplo, aqueles que desejem participar do mercado devem

investir dinheiro real para adquirir. Já no Google Inc e na Best-Buy as aquisições são realizadas

através de dinheiro fictício. Outra opção possível foi adotada no caso da previsão de demanda

da Hewlett-Packard (HP): certa quantidade de dinheiro e títulos foi dividida entre os

participantes. A divisão dos títulos pode ser feita de maneira heterogênea, para incentivar a

troca entre os participantes, ou homogênea (PLOT; CHEN, 2002). Com isso, têm-se três grupos

de decisões, representados na Figura 4.

Figura 4: Decisões da configuração inicial do mercado de previsão

Fonte: Elaboração própria

Slamka, Soukhoroukova e Spann (2008) mostram que mercados, tanto os que usam dinheiro

real quanto os que usam dinheiro fictício são capazes de apresentar resultados satisfatórios.

Além disso, um estudo comparando estes dois tipos de mercado, TradeSports.com (dinheiro

real) e NewsFutures.com (dinheiro fictício), mostrou que o último funcionou tão bem quanto o

primeiro (SERVAN-SCHREIBER; 2004). Importante lembrar que um mercado que utilize

dinheiro real pode ser considerado ilegal.

• Fictício

• RealTipo de dinheiro

• Sim

• Não

Será distribuído dinheiro?

• Comprados

• Repartidos entre os participantes• Heterogênio

• Homogênio

Títulos

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6.2.6 Tipo de Incentivo

Como descrito no item 5, atrair diversos participantes é um dos princípios que devem

ser seguidos para que se tenham bons resultados através sabedoria coletiva. Além disso, é

esperado que os participantes com maior experiência nos mercados de previsão apresentem

melhor desempenho do que os novos (COWGILL; WOLFERS; ZIZTZEWITZ, 2009). Desta

forma, um método de incentivo elaborado de maneira adequada deverá conseguir não apenas

atrair indivíduos que possuam informações relevantes em relação ao que se deseje prever, mas

também manter o seu envolvimento. Tais indivíduos podem ser relutantes em participar e

estarem pouco dispostos a investir seu tempo e dinheiro nos mercados de previsão. O sistema

de incentivo estabelecido deve, então, estimular os participantes a revelarem suas reais

percepções sobre os eventos.

Existem diferentes formas de manter o interesse dos participantes em atuar no mercado

de previsão. O tipo de incentivo pode ser dividido em basicamente três tipos: monetários, não

monetários e de reputação (COWGILL; ZITZEWITZ, 2014).

Luckner e Weinhardt (2006) realizaram experimentos demonstrando que sistemas de

pagamentos diretamente relacionados às performances dos participantes não conduzem,

necessariamente, à uma maior eficácia de um mercado. Segundos os autores, isto pode ser

explicado pela aversão ao risco dos agentes, fazendo com que cenários de ranqueamento fossem

mais eficientes. Este modo de recompensa é utilizado pelo Google Inc, onde os melhores

apostadores recebem prêmios tais como camisas. Bo Cowgill, responsável pelos mercados de

previsão do Google Inc., relata que, em certas ocasiões, já se esqueceu de pagar os prêmios em

dinheiro e ninguém percebeu. Porém, todos sentiram falta quando as camisas que mostram os

vencedores, prêmio não monetário, não chegaram (DYE, 2008). Apesar de se tratar de uma

situação específica, existe a indicação de que os indivíduos sejam mais motivamos a participar

do mercado devido aos prêmios não monetários.

Existem ainda empresas, como a Microsoft e a Ford, que fazem o uso de prêmios

meramente ligados à reputação, como leaderboards (COWGILL; ZITZEWITZ, 2014). Há

outras maneiras de incentivar a participação sem que prêmio esteja atrelado ao desempenho dos

agentes apresentadas por Spann e Skiera (2003), como sorteios entre os participantes.

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6.2.7 Mecanismo de troca

Outro elemento que deve ser escolhido cuidadosamente para o funcionamento adequado

do mercado é o mecanismo de troca. Este é responsável por gerenciar a oferta e demanda dos

títulos presentes no mercado de previsão. No IEM e em outros mais antigos, um mecanismo

chamado de leilão duplo, double-auction (DA), é utilizado. Esse associa as ofertas com as

demandas de título diretamente.

Importante frisar que, em mercados com um número reduzido de participantes e sob as

condições acima, pode-se incorrer em falta de liquidez ou poucos participantes gerenciando

número elevado de títulos. Uma solução encontrada para mitigar tais problemas são os

Automated Market Makers (AMMs), onde as transações não ocorrem mais entre os

compradores e vendedores, mas entre os participantes e o próprio AMM atuando como um

desses participantes, existindo diferentes algoritmos de compra e venda de títulos por parte de

tais AMMs. Esta solução oferece liquidez instantânea ao mercado (LUCKNER et al, 2012).

Entretanto, este mecanismo for adotado em um mercado funcionando com dinheiro real, pode

causar um risco para o operador do mesmo, uma vez que o montante repassado aos participantes

pode ser maior que o aplicado (SPANN; SKIERA, 2003).

6.2.8 Limitações

A fim de se evitar manipulações no mercado, existem diversas opções de limitações que

podem ser impostas (SPANN; SKIERA, 2003). Restrições quanto ao valor máximo aplicado,

taxas de transação, ou número máximo de títulos por participante, são algumas práticas

adotadas nos mercados de previsão com este fim.

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7 MERCADOS DE PREVISÃO CORPORATIVOS

Mercados de previsão são utilizados no mundo dos negócios para realizar previsões de

eventos no curto e médio prazo. Quando são realizados dentro de uma empresa, eles são

chamados de mercados de previsão corporativos. Geralmente, estão relacionados a assuntos

específicos da mesma e, em muitos casos, os eventos a serem previstos podem representar

questões estratégicas confidenciais. Diferente dos mercados públicos, nos quais informações

relevantes podem ser de conhecimento público, existe reduzido número de informações

disponível ou nenhuma (PLOT; CHEN, 2002).

A implementação de um mercado de previsão em uma corporação apresenta diversos

desafios, desde a liberação do projeto até a manutenção do interesse dos participantes ao longo

do tempo. Alguns critérios de seleção dos participantes e algumas limitações impostas pelo

negócio são de extrema importância para o devido funcionamento desse mercado. Nos tópicos

a seguir são abordadas as principais diferenças existentes entre mercados públicos e

corporativos.

7.1 PARTICIPANTES

Nos mercados corporativos é comum que a participação de indivíduos seja restrita aos

funcionários da empresa, principalmente quando estes tratam de alguma questão estratégica. A

participação restrita a este mercado os torna menores e os agentes enviesados podem acabar

tendo maiores influência sobre os preços.

Existem empresas, como o Google Inc., que permitem a participação de alguns

fornecedores e clientes (COWGILL; WOLFERS; ZITZEWITZ, 2009). Há relatos de empresas,

como a HP, que optaram pela participação de um número restrito de funcionários nos mercados

de previsão, de 7 a 26 pessoas, onde os escolhidos trabalhavam em diferentes partes da

operação, pois se acreditava que eles teriam informações diferentes sobre o evento em questão,

no caso, a previsão da demanda. Em situações como a da HP, a escolha dos participantes deve

ser realizada cuidadosamente para que não se deixe de fora um indivíduo que possa agregar

informações relevantes e, ao mesmo tempo, evitar a inclusão de muitas pessoas sem nenhuma

informação (PLOT; CHEN, 2002). Além disso, deve-se assegurar a diversidade do grupo de

modo a garantir a diversidade das informações.

Uma restrição adicional aos participantes deve ser a separação geográfica dos mesmos.

Pessoas que trabalham próximas geograficamente uma das outras tendem, de forma geral, a

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apresentar opiniões semelhantes quanto a um determinado assunto (COWGILL; WOLFERS;

ZIZTZEWITZ, 2009). Isso ocorre mesmo quando existem transferências internas dentro de

uma firma. Por mais que um indivíduo tenha trabalhado durante longos períodos de tempo num

mesmo lugar, quando este é transferido para outra sala ou departamento, ele é suscetível a

adaptar suas concepções sobre alguns temas.

7.2 CONTROLE DE INFORMAÇÕES

O problema da cascata de informações deve ser considerado como um ponto de atenção

quando se trata de mercados de previsão corporativos tendo, em vista a restrição do público

participante. Deve-se evitar a divulgação das informações através de qualquer via que possa ser

acessada pelos participantes. No caso de previsão de demanda da HP, por exemplo, a empresa

não disponibilizou as previsões oficiais durante a execução do mercado (PLOT; CHEN, 2002).

7.3 DURAÇÃO DOS MERCADOS

Diferente do considerado no caso do IEM, os mercados de previsão corporativos operam

em espaços de tempo menores, o que pode gerar diferenças de modelagem entre os dois

mercados. Um menor tempo de duração se justifica principalmente quando há pressões por

respostas rápidas, a fim de conferir menor tempo de reação a uma determinada situação,

trazendo maior flexibilidade nas operações da empresa. Os mercados de previsão da HP,

discutidos no artigo de Plot e Chen (2002), operaram em torno de uma semana, apenas fora do

horário do expediente.

Apesar de ser desejável que um mercado opere 24 horas por dia, de modo a evitar o

conflito com outras atividades, um mercado, sem muitos movimentos e novidades, pode causar

o desinteresse dos participantes. Parece ser claro que o número de transações realizadas não

está apenas diretamente relacionado apenas ao tempo de abertura do mercado, mas também à

quantidade de participantes.

7.4 INCENTIVO

Um sistema de incentivo ganha ainda mais importância quando o mercado ocorre dentro

de uma empresa. Quando se trata de funcionários de uma empresa, o custo de oportunidade do

tempo dedicado ao mercado pode ser significativo. O sistema de incentivo adotado deve ser

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atraente o suficiente para que se consiga atrair as pessoas com informações relevantes. Por outro

lado, quando se tem um incentivo muito visado e o resultado de um evento em questão depende

de funcionários, estes podem manipular os resultados de forma a se beneficiarem.

A experiência de Cowgill, Wolfers e Ziztewitz (2009) também foi importante para

mostrar que existe um aprendizado por parte dos participantes ao longo do tempo. Por isso,

manter o interesse das pessoas em colaborar com os mercados é de extrema importância para o

aprimoramento das previsões.

Em contrapartida, este incentivo não pode ser tão grande a ponto de instigar os

participantes a manipular os resultados (CHERRY, 2007). No caso da previsão de lançamento

de um software pela Microsoft, por exemplo, um participante pode introduzir bugs, defeitos,

para afetar a data de lançamento.

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8 PROPOSTA DE APLICAÇÃO

A empresa aqui escolhida para aplicação do mercado de previsão corporativo foi a

Souza Cruz por ser de grande porte e pelos ganhos potenciais que a mesma teria com a utilização

dos mercados de previsão para prever a demanda de seus produtos. A modelagem dos mercados

de previsão para a empresa, apresentada a seguir, considera as teorias de sabedoria das

multidões e mercados preditivos, explicitada anteriormente. O universo da prática também

afeta a escolha dos quesitos a serem adotados na modelagem de um mercado de previsão, tendo

em vista que teorias abstratas ou experimentos em laboratório podem ser úteis, mas não

conseguem oferecer respostas concretas (PLOT; CHEN, 2002).

8.1 A COMPANHIA SOUZA-CRUZ

Com 112 anos de existência, a Souza Cruz atua no setor de fumo e é líder no mercado

nacional com 78,4% de market-share no mercado formal em 2014 (SOUZA CRUZ, 2015). Ela

possui controle sobre todo ciclo produtivo, desde a produção e processamento de fumo até a

fabricação e distribuição de cigarros, diretamente, para mais de 330 mil varejistas espalhados

em mais de cinco mil municípios pelo Brasil. Adicionalmente, a empresa produz mais de 108,6

mil toneladas de fumo destinadas à exportação.

Atualmente, a Souza Cruz conta com seis diferentes marcas de cigarro sendo produzidos

em duas fábricas (Cachoeirinha - RS e Uberlândia - MG). O fumo é processado por três usinas

(Santa Cruz do Sul - RS, Blumenau - SC e Rio Negro - PR). Além disso, conta com seis Centrais

Integradas de Distribuição, 31 Centros de Distribuição, 75 Postos de Abastecimento e 217

pontos de cross-docking distribuídos pelo país.

Naturalmente, a empresa conta com uma estrutura logística complexa, para atender às

centenas de milhares varejistas espalhados por todo território nacional e para atender o cliente

em até 24 horas, garantindo o seu market-share e a lucratividade. Para assegurar um fluxo, que

permeia todo o ciclo produtivo, adequado às necessidades da empresa, é necessário que haja o

planejamento prévio da produção e das demais atividades da cadeia logística.

8.2 PREVISÃO DA DEMANDA

Além da elevada complexidade de operação, existem alguns fatores complicadores que

afetam a lucratividade como: elevada carga tributária (81% em 2015) sobre o cigarro; mercado

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ilegal de cigarros; restrições de publicidade e propaganda e campanhas advertindo os malefícios

causados pelo fumo.

Esta conjuntura, além de reduzir a quantidade de cigarros consumidos, como

apresentado na Figura 5, pressiona a lucratividade da empresa. Como resposta a tal situação,

uma empresa pode elevar o preço final e/ou tornar o processo mais eficiente de modo a reduzir

os custos operacionais. Desta maneira, uma previsão de demanda antecipada e acurada traz a

possibilidade de melhor planejamento das operações.

Figura 5: Participação da Souza Cruz no mercado formal (2010-2014)

Fonte: Relatório Anual Souza Cruz (2014)

Atualmente, a Souza Cruz utiliza o processo de Sales & Operations Planning (S&OP),

ou, em língua portuguesa, Planejamento Integrado de Vendas e Operações (PIVO).

Responsável por desdobrar o plano estratégico em diretrizes para o nível operacional, assim

como realimentar a estratégia com indicativos de desvios e tendências da realidade de mercado

e operações, o S&OP conta com a participação de vários departamentos para analisar

alternativas de planejamento para atendimento da demanda, oferecendo maior visibilidade do

negócio, melhorando a integração entre áreas de operação, e balanceando os custos das

operações, garantindo o nível de serviço aos clientes (BREMMER; AZEVEDO; MATHEUS.,

2008).

O tempo total de execução do processo de S&OP é de aproximadamente um mês.

Participam ativamente do processo cerca de 30 funcionários de diferentes áreas, que permeiam

a cadeia produtiva. Além desses funcionários, existem outros que fornecem inputs ao processo.

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8.3 MODELAGEM DO MERCADO

Serão seguidas as decisões apresentadas no item 6.2 deste trabalho adequando-se à

realidade da Souza Cruz. Conforme já abordado, o mercado a ser modelado neste caso será

relativo à previsão de demanda.

8.3.1 Definição do evento

A definição do nome do evento possui certa liberdade, mas é importante que a variável

seja definida de forma precisa e intuitiva, para se evitar confusões dos participantes. Será

proposto que os títulos possuam o seguinte formato:

Número de unidades demandadas do produto X no mês Y.

Os elementos em negrito devem variar de acordo com o que se deseje prever. As

unidades podem ser, entre outras opções, cigarros, maços e toneladas. O produto X deve

representar uma família de produtos, ou outras segmentações, conforme for necessário. O mês

deve ser relativo àquele para qual se deseje a previsão.

8.3.2 Seleção dos participantes

Ao se escolher quem deverá participar de um mercado de previsão deve-se considerar

três itens relevantes: risco de compartilhamento das informações; liquidez do mercado e poder

de manipulação de um indivíduo. A Figura 6 ilustra o levantamento das opções disponíveis para

escolha dos participantes.

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Figura 6: Opções disponíveis para seleção dos participantes do mercado de previsões

Fonte: Elaboração própria

A previsão de demanda em uma empresa geralmente é considerada como uma questão

estratégica e na Souza Cruz não é diferente. Abrir informações de forma livre, ou até mesmo

aos principais clientes de fumo, pode ser considerado um risco para a empresa.

Conforme apresentado no tópico 8.2, o S&OP da Souza Cruz envolve diversas áreas da

empresa, tendo estas, portanto, indivíduos com informações relevantes para a previsão de

demanda. O mercado de previsão deve ser aberto para todos os indivíduos que trabalhem nas

áreas envolvidas no processo de S&OP. Assim os riscos de baixa liquidez do mercado, de

elevado poder de influência dos participantes e de deixar de fora do mercado de previsão

pessoas com conhecimento úteis são mitigados.

8.3.3 Definição do tempo de duração do mercado

A decisão sobre o tempo de duração de um mercado de previsão possui certa liberdade,

assim como o nome do evento. Entretanto, mercados com longas durações possuem maior

probabilidade de apresentar vieses e causar menor interesse por parte dos participantes. Devido

ao sucesso das previsões realizadas pela HP, é aqui sugerida a duração de uma semana de

mercado.

Seleção direta dos participantes

Restrita à áreas funcionais selecionadas

Fechada aos funcionários da empresa com a participação de

alguns clientes.

Aberto

Número de Participantes

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8.3.4 Definição do tipo de contrato

Foram apresentadas anteriormente, duas principais opções de tipo de contrato,

vencedores levam tudo e lineares, conforme ilustrado na Tabela 2. Como o tempo de duração

sugerido para o mercado é de uma semana, existe a necessidade de uma convergência de preços

relativamente rápida, característica presente nos contratos do tipo “vencedores levam tudo”.

Outro motivo para a escolha deste modelo de contrato é devido a sua ampla adoção pelas

empresas, com previsões realizadas pelo mercado razoavelmente acuradas, como na HP e no

Google Inc (COWGILL; ZITZEWITZ, 2014).

8.3.5 Definição da configuração inicial

Por se tratar de um mercado de previsão corporativo, é recomendado que o tipo de

dinheiro a ser utilizado seja o fictício. Esta escolha se dá pela redução nos custos de manutenção

do mercado e por evitar problemas legais. O dinheiro deverá ser dividido igualmente entre os

participantes que desejarem participar do mercado, para que possam comprar e vender títulos

utilizando-o. Optou-se por não haver distribuição de títulos por não ter encontrado na literatura

outro caso, além da HP, que tenha ocorrido tal doação. As decisões tomadas nesta etapa estão

representadas na Figura 7.

Figura 7: Perfil da configuração inicial do mercado de previsão de demanda da Souza Cruz

Fonte: Elaboração própria

Dinheiro Fictício

distribuídos entre os participantes

com títulos adquiridos através da compra

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8.3.6 Definição do incentivo

Com base nas opções apresentadas no item 6.2.6 deste texto, representadas na Figura 8,

foram selecionadas aquelas que na referida figura possuem bordas vermelhas. Devido à possível

aversão ao risco por parte dos envolvidos no mercado, optou-se que os prêmios a serem

distribuídos não deverão estar diretamente relacionados à performance dos mesmos.

A fim de conseguir um maior número de participantes, é sugerida a utilização dos três

tipos de incentivo. Os prêmios monetários deverão ser estabelecidos de acordo com o

orçamento estabelecido. A prática mais comum é um saldo disponível em uma loja, geralmente

através de cartões vale-compra. Os prêmios não monetários podem ser de vários tipos: camisas,

canecas, porta-retratos entre outros. Jeff Severts, representante do mercado de previsão da Best-

Buy, alega que para manter o interesse no mercado, a cada trimestre, os prêmios são revisados,

sendo sempre modestos, e que é o ambiente competitivo que mais impulsiona o mercado (DYE,

2008). Por último é sugerido o uso dos leaderboards, quadro de líderes, para aumentar o clima

de competição.

Figura 8: Decisões acerca do sistema de incentivo para o mercado de previsão da demanda da

Souza Cruz.

Fonte: Elaboração própria

8.3.7 Definição do mecanismo de troca

Existem dois principais mecanismos de troca nos mercados de previsão, como

mencionado no item 6.2.7. Como a participação do mercado de previsão, aqui ilustrado, ficou

restrita às áreas envolvidas no processo de S&OP, o mecanismo utilizado será o AMM para se

garantir maior liquidez do mercado. Tal escolha foi reforçada pelo grande número de empresas

Quanto a performace do participante

Diretamente relacionado

Indiretamente relacionado

Quanto ao tipo de incentivo

Prêmios Monetários

Prêmios não monetários

Somente Reputação

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que utilizam esse mecanismo em comparação ao DA, de acordo com o levantamento feito por

Cowgill e Zitzewitz (2014) encontrado no Anexo 1.

8.3.8 Definição das limitações

Por ser um mercado de curta duração e pelo o evento depender de agentes que não

estariam participando do mesmo, pode-se oferecer maior liberdade para compra e venda dos

títulos. Com esta decisão, espera-se que aqueles agentes que possuam informações relevantes

se aproveitem dos vieses do mercado para obter maiores retornos e, com isso, tornar o preço do

mercado mais aderente às suas expectativas.

8.4 RESULTADOS ESPERADOS

Assim como ocorreu em diversas empresas, é esperado que os resultados deste mercado

de previsão seja mais acurado do que as previsões oficiais da empresa. Além disso, tal mercado

terá a duração de apenas uma semana, permitindo um tempo maior para o planejamento das

operações. Outra vantagem relacionada ao menor tempo necessário para realizar a previsão, é

o menor custo de oportunidade dos funcionários que participam ativamente do processo de

S&OP. No caso da Souza Cruz, uma previsão de demanda mais aderente à real permitirá

economia de custos na produção, na armazenagem e no transporte de cargas, permitindo ainda

a oferta de um nível de serviço maior aos seus clientes.

Ressalta-se também que, como os mercados de previsão produzem melhores previsões

quando se têm participantes com mais experiência, faz-se necessária a adoção de políticas de

retenção para cargos que possuam maior rotatividade. Inicialmente, resistências à participação

por parte dos funcionários podem ocorrer, geralmente por não terem conhecimento sobre o

mesmo. Para reduzir este risco, no momento da implantação treinamentos são necessários,

assim como apresentações periódicas, a cada três meses, por exemplo, para acompanhar os

resultados e tirar dúvidas.

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9 CONCLUSÃO

9.1 CRÍTICAS AO TRABALHO

Os mercados de previsão corporativos já ganharam a aderência de diversas companhias

multinacionais, mas parece que ainda são pouco conhecidos no Brasil. A maioria do material

encontrado durante as buscas em sites abertos e periódicos foi produzida nos Estados Unidos

da América e em alguns países da Europa, como França, Portugal e Alemanha. Pode ser que

diferenças culturais afetem as previsões realizadas e a aceitação por parte dos participantes.

A modelagem de tais mercados permite uma vasta gama de possíveis combinações de

formas dos seus elementos. Os elementos permitem grande flexibilidade, o que incentiva

estudos sobre novas opções de estruturação, fazendo com que as possibilidades sejam ainda

maiores. Existem evidências de empresas que se utilizaram dos moldes mais convencionais e

conseguiram realizar previsões melhores que as oficiais. Apesar da grande quantidade de

estudos realizados, a reduzida exposição dos modelos de mercados de previsão adotados pelas

empresas na previsão de temas comuns não permitiu maior embasamento prático.

9.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Conforme discutido no tópico anterior, existem poucos trabalhos divulgados detalhando

como o mercado de previsão foi modelado. Adicionalmente, são poucos os relatos das

dificuldades encontradas nas companhias para a implantação e envolvimento dos diversos

agentes de interesse. Adicionalmente, não é levantada, no presente trabalho, as diferentes

possibilidades existentes de como transformar os preços estabelecidos pelos mercados de

previsão em estatísticas de previsão, assim como, as múltiplas possibilidades disponíveis para

a microestrutura dos AMMs e para o cálculo do payoff relacionado à performance dos

participantes de tal mercado.

Para o prosseguimento da etapa de abordagem das decisões necessárias acerca da

modelagem dos mercados de previsão corporativos, seria interessante incluir: opções de

AMMs, outras opções de cálculos de payoff e adicionar métodos de transformação do preço

estabelecido por tais mercados em estatísticas. Além disso, aplicar e testar diferentes

configurações de tais mercados em diferentes empresas a fim de relacionar as características

delas com os modelos de mercados de previsão corporativos que resultaram em melhores

previsões.

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9.3 APRENDIZADO

A autora conseguiu por meio deste trabalho, ter conhecimento sobre mais uma

ferramenta de apoio à decisão, que vem apresentando resultados significativos para as empresas

que a adota, além de se aprofundar nas diferentes formas de modelagem existentes de tal

ferramenta.

É válido destacar que a ferramenta escolhida no trabalho permitiu que o assunto

estudado pudesse ser relacionado a algumas disciplinas da graduação, podendo ser citadas

Logística, Estatística I e Microeconomia, além de outras que complementam o arcabouço

teórico utilizado no trabalho. Somando a isso, adquiriu-se conhecimento da uma ferramenta

com crescente adoção pelo mercado e ampla aplicabilidade.

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ANEXOS

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ANEXO 1 – RESUMO DOS MERCADOS DE PREVISÃO CORPORATIVOS NO

GOOGLE, FORD, FIRM X E OUTRAS EMPRESAS SELECIONADAS.