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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – IESC Rachel Vitalino Bernardes de Andrade “O ensino da Bioética: É possível? Como os professores percebem o seu papel no desenvolvimento moral do aluno fonoaudiólogo” Mestrado em Saúde Coletiva Rio de Janeiro 2007. Mestrado em Saúde Coletiva

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Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – IESC

Rachel Vitalino Bernardes de Andrade

“O ensino da Bioética: É possível?

Como os professores percebem o seu papel no

desenvolvimento moral do aluno fonoaudiólogo”

Mestrado em Saúde Coletiva

Rio de Janeiro 2007.

Mestrado em Saúde Coletiva

2007

Andrade, Rachel Vitalino Bernardes de O ensino da bioética: é possível? Como os professores percebem o seu papel no desenvolvimento moral do aluno fonoaudiólogo / Rachel Vitalino Bernardes de Andrade. – Rio de Janeiro: UFRJ / IESC, 2007. xiii, 122 f. : il. ; 31 cm. Orientadores: Marisa Palácios e Sérgio Rego Dissertação (mestrado) – UFRJ/IESC, Programa de Pós-Graduação Saúde Coletiva, 2007. Referências bibliográficas: f. 122-132 1. Bioética – educação. 2. Princípios morais. 3. Ética profissional. 4. Educação superior. 5. Educação profissional em saúde pública - ética. 6. Docentes. 7. Desenvolvimento moral. 8. Humano. 9. Saúde Pública – Tese. I. Palácios, Marisa. II. Rego, Sérgio. III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, /IESC, Programa de Pós-Graduação Saúde Coletiva. IV. Título.

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ

Centro de Ciências da Saúde – CCS

Faculdade de Medicina – FM

Mestrado em Saúde Coletiva

Instituto de Estudos de Saúde Coletiva - IESC

Rachel Vitalino

O ensino da Bioética: É possível? Como os professores percebem o

seu papel no desenvolvimento moral do aluno fonoaudiólogo

Dissertação apresentada ao Programa de Pós

Graduação da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, para a

obtenção do grau de Mestre de Saúde Coletiva.

Área de concentração: Produção, Ambiente e Saúde

- PAS.

Orientadores: Profª. Drª. Marisa Palácios e

Prof. Dr. Sérgio Rego

Rio de Janeiro – RJ

2007

Rachel Vitalino

O ensino da Bioética: É possível? Como os professores percebem o seu papel

no desenvolvimento moral do aluno fonoaudiólogo

BANCA EXAMINADORA

Presidente e Orientador: ___________________________________________

Profª. Drª. Marisa Palácios – Instituto de Estudos de Saúde

Coletiva (IESC) - UFRJ

2° Examinador: ____________________________________ ______________

Profª. Drª. Kátia Regina de Barros Sanches – Instituto de Estudos

de Saúde Coletiva (IESC) - UFRJ

3° Examinador: ____________________________________ ______________

Profª. Drª. Renata Mousinho – Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ).

Resumo VITALINO, Rachel. O ensino da Bioética: É possível? Como os professores percebem o seu papel no desenvolvimento moral do aluno fonoaudiólogo. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Instituto de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. Este trabalho propõe uma reflexão sobre a construção dos valores morais do fonoaudiólogo através do olhar dos docentes. Para isso, o estudo analisa como os docentes orientam os alunos para uma atuação profissional coerente, pautada em atitudes responsáveis e princípios morais. O estudo investigou a compreensão dos 14 docentes do curso de graduação em fonoaudiologia de uma universidade no Rio de Janeiro a respeito da construção das percepções dos valores morais e como esta temática vem sendo trabalhada em sala de aula. A pesquisa teve enfoque qualitativo e se restringiu aos professores fonoaudiólogos. A partir da análise dos questionários aplicados, pôde-se observar que todas acreditam na faculdade como formadora de valores morais e sociais dos alunos. O tema ética é trabalhado por 85,7% delas em suas disciplinas, embora a maioria não o desenvolva como tema central, mas a partir de casos que surgem na clinica ambulatório-escola da faculdade. Grande parte das professoras avalia que os alunos formam seus valores através da interação social, da observação e da influência dos familiares e professores. O estudo demonstrou que a maioria das docentes entende a necessidade de uma formação específica em bioética. Embora reconheçam sua importância neste processo, algumas docentes não sabem como atuar neste sentido e, por vezes, repetem modelos antigos aplicados no período em que eram estudantes. As percepções dos professores, discutidas nesta dissertação, contribuem para que as graduações em fonoaudiologia repensem suas estratégias de ensino e os conteúdos de seus cursos.

Abstract

VITALINO, Rachel. Is it possible to teach Bioethics? How professors understand their roll in speech-language Pathologists and Audiologists students’ development. Rio de Janeiro, 2007. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Instituto de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

This research is intended to create a reflexion on moral values for speech-language Pathologists and Audiologists through the eyes of college professors. The research analyses how professors guide their students to have a coherent, responsible and moral attitude through their professional careers. Fourteen professors from one university in Rio de Janeiro were investigated in their understandings on the construction of moral values, and how they work this subject in class. It is a qualitative research, exclusively with speech-language Pathologists and Audiologists professors. It was possible to identify that all professors believe the university works building the idea of having social and moral values with their students. 85,7% uses these values in their classes, through clinics experiences from the university’s clinic-ambulatory and not as the main subject. Most professors believe that students build their on values through social interaction, observation and the influence of their own family and professors. The professors also understand the need of a specific bioethics formation, which would help acquiring moral competence. Even recognizing their importance in the process, some professors don’t know how to act in this area, and so, they repeat old models from their student days. These perceptions will contribute to Speech-language pathology universities to rethink their teaching strategies and the context of their courses.

Dedico este trabalho aos meus pais que, com carinho, me incentivaram nesta

empreitada.

Ao meu querido Rodrigo que, com muita paciência, compreendeu e

compartilhou comigo este sonho.

Aos meus professores da UFRJ que, com disponibilidade, me auxiliaram e,

com paixão, desenvolvem sua profissão.

Agradecimentos

Aos meus pais, Hubmaier e Ellen, pelas inúmeras demonstrações de

amor, por me ensinarem a alcançar meus objetivos de forma íntegra e pelo

enorme cuidado em minha educação.

Ao meu irmão, Ricardo, por sua paciência incondicional e por me

ajudar sempre com tanta destreza.

Ao meu namorado, Rodrigo, sempre companheiro, pelo afeto, carinho

e incentivo. Agradeço por tantas e tantas vezes pacientemente colocar-se em

meu lugar e sempre me compreender.

À Profa. Dra. Marisa Palácios que, desde o início, compreendeu e

acompanhou meu amadurecimento de maneira generosa, fazendo com que eu

me sentisse cuidada e, ao mesmo tempo, autônoma na produção da

dissertação.

Ao Prof. Dr. Sérgio Rego, pelos serviços prestados como “advogado

do diabo” e pelas orientações, que ajudaram a desvendar minha linha de

raciocínio e a amadurecer minha reflexão.

À Profa. Leila Nagib, minha eterna professora, conselheira e amiga,

que fez nascer o desejo da pesquisa.

À Profa. Dra. Renata Mousinho, pela contribuição decisiva na banca de

qualificação, pela disponibilidade e carinho.

À Profª. Drª. Kátia Sanches pela leitura atenta desta dissertação.

À Conceição Buarque, Mariângela Nigro e Carina Lino pela amizade,

pelas valiosas sugestões e pelo agradável convívio no decorrer das aulas.

Às minhas queridas amigas de profissão, Ana Paula Perez, Fabíola

Cortez, Isabela Poli e Patrícia Kickinger que, generosamente, dividiram comigo

cada momento das minhas angústias e incertezas nos últimos anos.

Aos meus pacientes que, sempre tinham uma mensagem de carinho e

motivação.

Às professoras do curso de graduação em fonoaudiologia da UFRJ,

que concordaram em contribuir para este trabalho.

Aos amigos Bruno Obadia, Daniel Moutinho, Danielle Manão, Flavio

Moutinho e Marcelli Tavares, entre tantos outros, por estarem ao meu lado,

ouvindo e apoiando sempre.

À querida Delvaci, pela incrível boa vontade nos momentos de

desespero.

Aos professores, funcionários do Instituto de Estudos em Saúde

Coletiva da UFRJ, pela dedicação, disponibilidade e carinho nesta trajetória.

“Há quem gostaria de melhorar os

homens e quem estime que isso

poderia acontecer melhorando antes

as condições de vida. Mas

rapidamente se vê que uma coisa

não anda sem a outra e não se sabe

por onde começar”.

ANDRÉ GIDE

Lista de Ilustrações

Figura I - Reconhecimento dos sujeitos da pesquisa - Anexos.

Lista de Siglas

CCS – Centro de Ciências da Saúde. CEP – Comitê de Ética em Pesquisa. CFFa – Conselho Federal de Fonoaudiologia D.E. – Dedicação Exclusiva. DOUT – Doutorado. ESP – Especialização. INDC – Instituto de Neurologia Deolindo Couto. IESC – Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. MEC – Ministério da Educação e Cultura. MESTR – Mestrado. OMS – Organização Mundial de Saúde. P – Professor. PAS – Produção Ambiente e Saúde SMS – Secretaria Municipal de Saúde. SUS – Sistema Único de Saúde. TCLE – Termo de Consentimento Livre Esclarecido. UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. UNIRIO – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Sumário

Resumo ---------------------------------------------------------------------

5

Abstract ----------------------------------------------------------------------- 6

Agradecimentos ------------------------------------------------------------ 8

1 Capítulo I - Introdução ---------------------------------------------------- 14

2 Capítulo II – Objetivos ---------------------------------------------------- 28

3 Capítulo III – Materiais e Métodos ------------------------------------- 29

4 Capítulo IV - Histórico da Fonoaudiologia no Rio de Janeiro ---

34

5 Capítulo V – Desenvolvimento da Competência Moral ----------

49

6 Capítulo VI – Ética e Bioética na Fonoaudiologia -----------------

62

7 Capítulo VII – Resultados e Discussão ------------------------------ 71

8 Capítulo VIII – Considerações Finais --------------------------------- 117

9 Referências ------------------------------------------------------------------ 120

10 Anexos ------------------------------------------------------------------------ 131

Termo de Consentimento

132

Figura 136

Questionário 137

14

1. Introdução

O presente trabalho propõe uma reflexão sobre a formação

moral e ética do fonoaudiólogo, enfocando o desenvolvimento do seu campo

de trabalho, as relações entre estes profissionais e a sociedade, e o modo de

produção capitalista, sob o prisma da saúde coletiva e da bioética, e através do

olhar dos docentes. Como estes percebem a construção de valores morais nos

alunos. A motivação para esta dissertação foi a escassez de publicações

científicas sobre a formação do fonoaudiólogo no Brasil, principalmente no que

diz respeito ao desenvolvimento das competências moral e ética.

A introdução promove o delineamento do campo a ser

estudado, justificando porque o trabalho percorre na área da saúde coletiva. No

capítulo 2, os objetivos deste estudo são apresentados. O terceiro esclarece a

metodologia deste projeto, o quarto traça um breve histórico da fonoaudiologia

no Rio de Janeiro, a partir de estudo de referências. O quinto capítulo

desenvolve o tema sobre educação moral e a formação moral. O sexto capítulo

analisa o que já foi discutido a cerca da educação da ética e da bioética na

literatura, buscando dar ênfase ao que é debatido na fonoaudiologia. O capítulo

7 apresenta os resultados e a discussão e no último capitulo são feitas as

considerações finais.

Para discutir a formação da competência moral e ética cabe,

então, discutir o que são os valores morais, ética e moral para assim

compreender como estes conceitos são integrantes da formação de cada

pessoa e do coletivo, além de como isto fundamenta o desenvolvimento dos

profissionais de saúde, mais especificamente do fonoaudiólogo.

15

O conceito de valor utilizado nesta dissertação faz referência à

expressão “valores morais” e diz respeito às características de tudo o que, em

maior ou menor grau, merece estima ou desperta desejo (HOLANDA, 1989,

pgs. 1750-1751). Valor, portanto, é aquilo que é estimado através de um juízo

individual ou coletivo.

Segundo FERIGOTTI (2001, pg. 24), Vazquez afirma que “valor

não é uma propriedade dos objetos em si, mas propriedade adquirida graças à

relação com o sujeito”. Por esta definição, os valores morais não seriam

absolutos, mas dinâmicos, já que podem ser construídos mediante a ação

dialógica. Este fato corrobora a reflexão sobre como o docente estimula a

reflexão e o desenvolvimento dos alunos.

Segundo CHAUÍ, (1999, pg.339), a moral diz respeito aos

“valores concernentes ao bem e ao mal, e ao proibido e à conduta correta”

válidos para todos os membros da sociedade, embora a cultura na qual cada

um está imerso determine quais são as atitudes morais e imorais. A ética é a

“filosofia moral”, isto é, o resultado de uma reflexão que discute, problematiza e

interpreta o significado dos valores morais. É comum usar as duas expressões

como sinônimas, como se as duas definissem um conjunto de princípios e

regras que devem ser obedecidos, caso contrário o transgressor deverá ser

punido. A partir de meados do século XX, a palavra moral passou a ter uma

conotação autoritária, muito vinculada a idéia de moralismo, e, por isso,

costuma ser evitada. Por isso, não raro, é dada preferência à palavra “ética” em

detrimento da palavra “moral”, uma vez que são tidas como sinônimos. “Ética”

tem um caráter normativo, diferente de “moral”. Segundo LA TAILLE (2004), a

palavra “moral” faz referência ao campo do agir e do dever, enquanto a palavra

16

“ética” remete à dimensão da reflexão sobre a ação. Dito de outra forma, moral

diz respeito à forma como se deve agir e “ética”, à vida desejada por um

indivíduo.

Neste trabalho, ética fará referência aos deveres a às

discussões sobre o agir dos indivíduos.

A ética se manifesta como uma exigência moral e é própria da

pessoa, do seu modo de atuar. Ela se manifesta no individuo pela conjugação

de fatores intrínsecos e culturais, formando a capacidade do sujeito de situar-

se e agir no mundo. MORIN (2005, pg. 29) sustenta que “todo olhar sobre a

ética deve perceber que o ato moral é um ato individual de religação” com o

outro, a comunidade, a sociedade e, finalmente, com a humanidade.

GOERGEN (2001) debate o tema com autores como Apel, Rawls, Hoffe,

Habermas, Rosty e Tugenhat, que, de forma geral, rejeitam seu caráter

dogmático. Segundo estes autores, uma versão única, ou seja, a verdade ética,

de valor absoluto, é rejeitada. Seguindo esta linha de raciocínio, não existiria

mais uma orientação teológica para o bem ou o certo, mas uma busca por

fundamentação teórica e o debate sobre ações morais no cotidiano.

O interesse pelo ato moral, este que impulsiona para o que

“deve ser feito”, está inserido no campo moral e ético. FERIGOTTI (2001) diz

que Vazquez considera os atos humanos que afetam outros indivíduos, grupos

sociais ou até mesmo a sociedade como um todo o objeto de estudo da ética.

No Brasil, durante o regime militar, que aconteceu no período

entre 1964 e 1985, a discussão sobre ética nas escolas foi inibida e

desestimulada, assim como refletir abertamente sobre educação e cidadania. A

formação do caráter do aluno fazia parte da educação formal a partir da

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ementa da disciplina Educação Moral e Cívica. Essa disciplina foi estruturada

pelo decreto-lei de 1969 com a finalidade de controlar a desordem que causava

malefícios à sociedade brasileira.

Na década de 90, o Brasil sente a crise estrutural do capitalismo

que se configura pela desestabilização do modelo taylorista e fordista de

acumulação e financiamento do estado, para um novo modelo econômico, no

qual prevalecem a livre regulação do mercado e do trabalho. Esta

reestruturação capitalista sobre a economia e as formas de trabalho também

afeta a educação. Inicia-se, a partir daí, um questionamento sobre o modelo

educacional vigente e os currículos acadêmicos, que começam a ser

modificados.

Hoje em dia, em decorrência das mudanças sociais, políticas e

econômicas, as instituições de ensino são co-responsáveis pelo aprendizado

dos valores morais. A concepção e abordagem do ensino da ética mudaram,

passando a somar esforços em prol da formação de um cidadão consciente

dos seus direitos e deveres. Entretanto, é visível a atual defasagem na

formação do sujeito ético decorrente, entre outros, do sucateamento da

educação primária, secundária e universitária, cuja principal e quase exclusiva

preocupação é preparar o indivíduo para etapa imediatamente posterior de sua

vida acadêmica e profissional, ou seja, a escola prepara para o vestibular e a

faculdade, para o mercado de trabalho (OLIVEIRA, 2001).

A educação, obedecendo à lógica da sociedade capitalista,

contempla os imperativos da economia e do mercado, levando ao fracasso da

formação da consciência moral. Desta crise, surge um dos instrumentos

usados para nortear as relações entre indivíduos e sociedade, bem como entre

18

ética e trabalho: o código de ética profissional. Com o intuito de harmonizar

internamente as relações de trabalho e sem prejudicar a noção de benefício à

sociedade, a ética profissional - deontológica - é prescritiva, ou seja, traz em

seu bojo a idéia de regras a seguir, determinando direitos e deveres, normas

que gerenciam interesses e obrigações.

Segundo Yves de La Taille, Kant prega que ”o homem somente

pode se tornar homem através da educação” (1996, pg. 149). Para Kant e

Piaget, a educação aperfeiçoa o homem. Logo, o dever da escola seria

envolver o aluno de maneira que ele se sinta comprometido com a sociedade,

seja capaz de respeitar o outro, recorrendo à sua capacidade critica, e se

desenvolva intelectualmente a partir do convívio com os outros. Para isso, a

questão relacional é essencial e o ensino deve incorporar o estímulo à reflexão

individual e coletiva através de uma perspectiva democrática, respeitando o

aluno, colaborando para que ele elabore, de forma autônoma, o raciocínio e

oferecendo ferramentas para que ele saiba atuar em situações-problema

(GOERGEN, 2001). Desse modo, cria-se o arcabouço para o crescimento de

pessoas prontas para o exercício da cidadania (LA TAILLE, 1996). Todas estas

questões nos remetem ao estudo das éticas – deontológica1 e aplicada –

necessário em todas as instâncias da sociedade.

1.1 Saúde Coletiva e Bioética

A vinculação entre trabalho e saúde dentro da saúde coletiva tem

origem na correlação entre os fenômenos biológicos, sociais e econômicos, isto

1 1Segundo o dicionário Aurélio, “deontos” deriva do grego, e significa necessidade, dever, portanto, a Deontologia é o estudo dos princípios e deveres de uma profissão. Dessa forma, cabe a ética deontológica a conceituação para o exercício profissional Regulamentando o exercício das profissões no convívio social.

19

é, na relação entre saúde, doença, morte e trabalho em um contexto

determinado por fatores socioeconômicos, culturais, ambientais e subjetivos. É

importante notar que, no modo de produção capitalista, os indivíduos e os

grupos populacionais estão submetidos de forma desigual a fatores de

proteção e de risco, o que reforça o papel da bioética neste campo de atuação

e conhecimento (BURLANDY, 1998).

No campo da saúde coletiva, o conceito de desigualdade diz respeito à

relação entre desenvolvimento e justiça social, passando, entre outros, por

pontos como distribuição de renda, acesso à educação, moradia, serviços de

saúde e emprego, que estão na base da idéia de qualidade de vida.

A história mostra que a livre iniciativa foi e continua sendo a base do

desenvolvimento econômico capitalista, que na ausência de regras morais e

legais, sacrifica de maneira decisiva a saúde e a segurança dos trabalhadores

e do ambiente (BURLANDY,1998).

A regulamentação das relações de trabalho com o ambiente reflete a

contradição entre os interesses das diversas partes envolvidas em sua

construção, ou seja, explicita as tensões entre capital e trabalhadores, e capital

e coletivo, por exemplo.

Nas últimas décadas, vem crescendo o interesse em elaborar

regulamentações para relações de trabalho, economia e saúde. Porém, nem

sempre as leis civis e penais, as regras de mercado, os códigos deontológicos

das profissões da área da saúde e o desenvolvimento da ciência dão respostas

conclusivas aos conflitos éticos nas relações do homem com o trabalho. Isto se

deve “à assimetria de forças entre os que usufruem as vantagens provenientes

20

do progresso industrial e os que sofrem seus danos”, segundo BERLINGUER

(2004, pg. 156).

Nesta lacuna surge a bioética, que analisa os argumentos morais que

podem alterar a qualidade de vida e são decisivos no que se refere ao bem-

estar de todos. Esta reflexão traz conseqüências importantes para a saúde, a

cultura e o ambiente; em suma, sobre as ações pessoais e interpessoais no

mundo. A bioética é um movimento interdisciplinar que nasce a partir do

questionamento dos valores morais tradicionais acerca do nascer, viver,

adoecer e morrer na sociedade atual, desenvolvida tecnologicamente,

globalizada e com contradições sócio-econômicas graves. Trata-se de um

instrumento de análise imparcial dos conflitos morais que pretende resolver,

questionando o caráter absoluto atribuído aos valores, direitos e princípios. De

acordo com PALACIOS et al. (2002, pg.466), Maurizio Mori afirma que o

surgimento da bioética marca uma profunda mudança cultural que traz consigo

novos princípios morais. Para ele, fatos históricos nas décadas de 60 e 70

provocaram “a queda do princípio moral que regia as ações humanas, o

princípio da sacralidade da vida”.

A partir disto, um novo olhar, o bioético, contribui para o

estabelecimento de outros critérios sobre os quais se fundamentam a proteção

da vida e as relações humanas, adotando paradigma da qualidade de vida.

Segundo a lógica da corrente principialista, os dilemas passam a ser resolvidos

a partir dos princípios morais não absolutos - beneficência, não-maleficência,

autonomia e justiça - devem permear e orientar as decisões dos indivíduos.

GARRAFA (1995) afirma que fazem parte do estudo da bioética a

exclusão social, a desigualdade de gênero, a precariedade da saúde, a miséria

21

e muitas outras questões ainda pendentes no mundo e, particularmente, no

Brasil. De acordo com REGO (2004, pg. 169), a ética tradicional foca a

moralidade do agente e a ética aplicada discorre sobre “a moralidade dos atos,

reconhecendo a complexidade dos dilemas e das relações sociais”.

A Saúde Coletiva, por sua vez, cresce a partir da década de 70,

contribuindo para o estudo de questões que englobam as relações entre o ser

humano, sua saúde e o seu ambiente, construindo uma análise estrutural das

questões da saúde a partir de sua inserção na sociedade capitalista. É um

campo de investigação e intervenção científicas, que abrange o estudo da

saúde da população; de uma coletividade. Toda e qualquer ação de um sujeito

em comunidade revela uma conseqüência para o coletivo no qual ele está

inserido. Dessa forma, a saúde representa, no contexto da realidade, um dos

desejos de um coletivo como parte do almejo de seu bem-estar e a saúde

coletiva contribui com o objetivo de estudar a melhoria da qualidade de vida da

coletividade (BURLANDY, 1998). Desta forma, articula saúde e sociedade ao

relacionar as questões de saúde ao sistema político-econômico. A Saúde

Coletiva também questiona o enfoque puramente biologicista na saúde e

propõe a compreensão da integralidade do indivíduo - sujeito e objeto social -,

buscando as correlações do processo saúde-doença (BERLINGUER, 2004).

A partir do paradigma da saúde coletiva, a atenção à saúde se dá

através de ações preventivas, coletivas e individuais, e requer uma abordagem

interdisciplinar, ou seja, social, política e cultural. Essas medidas preventivas

constam de estratégias propostas pela OMS, sugeridas pelo Ministério da

Saúde e incorporadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), embora os

22

recursos humanos e econômicos disponíveis não sejam suficientes para

promovê-las de forma plenamente satisfatória.

1.2. Profissionalização do Fonoaudiólogo

É neste contexto de humanização das políticas públicas, com a

finalidade de alterar a desigualdade na assistência à saúde no Brasil, que

culmina em 1988, com a criação do SUS – Sistema Único de Saúde, que em

1981, a fonoaudiologia é reconhecida pelo governo como a disciplina que

estuda a comunicação humana. O fonoaudiólogo é o profissional da área que

atua no setor da saúde, mais especificamente na prevenção e reabilitação das

alterações, e, portanto, é um dos responsáveis na elaboração da prevenção em

saúde e na promoção da qualidade de vida.

A fonoaudiologia se desloca para o campo da saúde de forma peculiar.

Surge na área da educação na década de 30, ainda como um conhecimento

técnico que, no contexto nacionalista do Estado Novo, combateu os desvios de

fala, em um processo de medicalização da educação. O fonoaudiólogo, nesta

época, fixava padrões de linguagem, determinando o “normal” e o “patológico”,

a partir da necessidade de correção e prevenção das alterações de linguagem

de crianças em idade escolar. Dava, então, uma dimensão patológica aos

distúrbios de comunicação dos indivíduos, retirando o foco das discussões

sobre as condições sociais e de trabalho da população. O profissional que

atuava na área exercia um papel “higienista” na educação (CARACIKI, 2004).

Entre as décadas de 50 e 70, estes profissionais passaram a ter um

enfoque clinico e individual do paciente em detrimento de ações preventivas de

23

maior alcance. A formação destes profissionais em cursos de graduação só

começaria a ocorrer na década de 80, com o reconhecimento e a autonomia no

campo acadêmico paralelos ao processo de redemocratização das políticas

públicas de saúde. Em 1981, a profissão foi oficialmente reconhecida. Na

prática, este reconhecimento continua a ser construído diariamente com a

absorção de novos saberes, práticas e paradigmas e a conseqüente

aproximação em relação à área da saúde (SILVEIRA, 1996).

“Fonoaudiólogo é o profissional, com graduação plena

em fonoaudiologia, que atua em pesquisa, prevenção,

avaliação e terapia fonoaudiológica na área de

comunicação oral e escrita, voz e audição, bem como em

aperfeiçoamento dos padrões da fala e da voz.”

(Documento Oficial: Decreto lei nº. 6965 de 09/12/1981

Parágrafo único – Artigo primeiro).

A partir desta progressão dos fatos, a fonoaudiologia, se desenvolve

em meio aos diferentes aspectos históricos, econômicos e sociais da década

de 80, enfatizando os aspectos sociais da linguagem. Deixa de ser uma área

técnica para repensar seus métodos e suas abordagens, absorvendo também

a incumbência de avaliar, diagnosticar e atender, se emancipando em relação

ao aval médico, porém ainda sem força determinante para se desenvolver no

bojo do capitalismo.

Se por um lado o reconhecimento oficial facilitou a aceitação do

fonoaudiólogo pela população, não abriu um espaço significativo para ele

dentro da máquina pública, já que a fonoaudiologia não foi prontamente

incorporada aos serviços públicos, o que restringiu seu mercado de trabalho à

24

atuação como autônomo. Outra lacuna do ensino em fonoaudiologia que

também corrobora a não inserção deste profissional nas unidades públicas é a

falta do ensino crítico, que contextualiza historicamente a profissão e que

contribua para o conhecimento do contexto geral da saúde pública. A formação

do fonoaudiólogo tem sido dirigida à atuação clínica autônoma. Isto contribui

para manter a desigualdade na assistência à saúde pública, uma vez que

apenas uma pequena parte da população pode pagar por ele, o que colabora

para uma formação de caráter elitista deste profissional e reforça a perspectiva

de reabilitação e cura, já que o atendimento particular é basicamente voltado

para clínica (SILVEIRA, 1996).

Os ideais neoliberais começam a exercer influência sobre a política

econômica brasileira no final do governo de José Sarney (1985/1990), mas só

se consolidam no governo Fernando Henrique Cardoso (1995/2002),

agravando de maneira significativa os problemas de geração de emprego e,

conseqüentemente, as dificuldades de colocação do fonoaudiólogo no mercado

de trabalho. Este modelo econômico traz em sua concepção um discurso de

flexibilização da economia, da competição e da importância da política fiscal

em detrimento das políticas sociais, que, no Brasil, se traduziu em aumento do

desemprego, resultante, entre outros, da baixa taxa de crescimento da

economia. Dessa forma, a fonoaudiologia, como uma profissão reconhecida

recentemente, tenta se adequar ao novo mercado de trabalho, onde empresas

de saúde e a terceirização da medicina começam a ganhar força. O mercado

de trabalho, que não absorve formados e recém-formados, torna a

universidade ainda mais refém das exigências deste mercado, entre as quais

25

não se encontram as questões sociais e éticas (ABRAMIDES, 2003 e

RAIMUNDO, 2000).

A visão puramente técnica e prática da atuação em saúde, por sua

vez, decorre da grade curricular da universidade, que recebe forte influência da

visão cartesiana do campo da medicina e das ideologias do mercado, que, por

sua vez, exige profissionais cada vez mais especializados e competitivos.

Como conseqüência imediata, a formação oferecida na universidade prestigia

as disciplinas eminentemente técnicas, que desenvolvem a capacidade

produtiva, e uma visão simplista da relação saúde/doença, que contribuem

para uma orientação mecânica do ato em fonoaudiologia, impedindo a análise

crítica e a ação dialética entre o fonoaudiólogo e o paciente.

Desta maneira, a formação dada pelo curso de fonoaudiologia não

desenvolve a capacidade crítica dos profissionais, reforçando uma vez mais

sua vertente tecnicista e fazendo prevalecer o discurso da dualidade entre o

normal e o patológico. As alterações da comunicação (que abrangem

problemas de audição, voz e distúrbios de linguagem, predominantemente)

passam a ser identificadas como dificuldades individuais, retirando toda a

questão social e histórica inerente a este quadro (FREIRE, 1992). O fracasso

escolar de uma criança ou a inaptidão de um adulto para o trabalho são

ratificados pelo “saber científico” do fonoaudiólogo como um elemento de

exclusão do sujeito, retirando-o de seu contexto social. No caso das alterações

de linguagem, o indivíduo que não faz uso do discurso padrão - tanto no que se

refere à forma quanto ao conteúdo - tende a ser marginalizado, lógica que

intensifica as diferenças sócio-históricas que constituem a linguagem

(SILVEIRA, 1996).

26

Esta análise exemplifica o processo pelo qual a sociedade molda e

define o ethos profissional, no caso, determinando a ação do fonoaudiólogo

como sujeito e objeto nas diferentes relações que trava com a população em

geral.

O ethos se configura como um conjunto de atitudes, convicções,

crenças morais e forma de conduta de uma pessoa ou grupo social. Trata-se

de um fenômeno cultural que pode se apresentar das mais diversas maneiras e

nunca estará ausente em uma cultura (SCHRAMM, 2005). WEBER (2004, pg.

283) o define como “um determinado estilo de vida regido por normas e

folheado a ética”. A ética faz parte constitutiva do ethos, que designa o

conjunto de ações e hábitos próprios do modo de atuar do fonoaudiólogo, bem

como de todos os profissionais.

A fonoaudiologia faz parte do campo da saúde, mas para se

desenvolver e trocar conhecimento de forma inter, multi e transdisciplinar2

(CHAVES, 1998), precisa delimitar melhor seu espaço de atuação, discutindo

de forma ampla o seu ethos profissional.

Para isso, será importante identificar como o currículo do curso de

graduação em fonoaudiologia da universidade objeto de estudo no Rio de

Janeiro contribui para esse debate e para o desenvolvimento dos valores

morais do aluno.

2 Chaves define disciplina como um corpo de conhecimento ensinável. Multidisciplinaridade ocorre quando 2 ou mais setores de conhecimento se envolvem em um processo. Interdisciplinaridade quando existem interações reais e reciprocidade no intercambio. Transdisciplinaridade ocorre quando há interação, intercâmbio e transpasse dos limites das disciplinas. Estas são tais quais as usadas neste trabalho.

27

A partir disso, será possível conhecer como o docente percebe sua

contribuição na construção de valores morais e éticos e a relação deste

processo com o de ensino-aprendizagem, permitindo assim que o profissional

formado por esta faculdade esteja apto a agir de maneira engajada na

sociedade.

SAPIRO (2000) afirma que a conduta moral e a competência ética são

subjacentes ao desenvolvimento social e cognitivo. Por isso, chama a atenção

para a necessidade do estudo da saúde coletiva e da bioética nos cursos de

graduação, que fundamentam a responsabilidade individual e, em última

instância, o exercício da cidadania nos profissionais da saúde. De acordo com

esta análise, o desenvolvimento de fonoaudiólogos engajados, colabora para o

debate sobre a saúde no âmbito econômico, político e social, criando uma

atitude cidadã para com a sociedade e colaborando para a construção de seu

papel na área da saúde.

O debate sobre ética e bioética e o desenvolvimento das competências

morais nos estudantes, mas especificamente no curso de fonoaudiologia da

faculdade de medicina de uma universidade pública no Rio de Janeiro é tema

deste trabalho. Esta pesquisa aborda questões referentes ao processo histórico

de desenvolvimento da fonoaudiologia e analisa a construção das percepções

morais dos alunos, a partir do recorte da percepção do desenvolvimento das

competências morais, na visão dos professores. O objeto desse estudo são os

docentes, responsáveis por sensibilizar os alunos para as questões éticas, sob

uma perspectiva reflexiva e dialógica e com o objetivo de proporcionar

educação eticamente competente.

28

2. Objetivos

2.1. Objetivo Geral

• Identificar e analisar como os docentes do curso de graduação em

fonoaudiologia da universidade que é objeto de estudo percebem o seu

papel e o da universidade no desenvolvimento de valores morais na

formação do profissional de fonoaudiologia.

2.2 Objetivos Específicos

• Identificar o perfil demográfico e profissional dos docentes do curso de

graduação em fonoaudiologia desta faculdade em questão no Rio de

Janeiro em 2007.

• Analisar as diferentes percepções dos docentes de graduação em

fonoaudiologia desta instituição sobre a construção de valores morais e

éticos, sobre o papel da universidade e dos professores nesse processo.

• Constatar como os docentes entendem que o conteúdo relativo à ética e

à moral deve ser trabalhado na graduação e como eles se vêem nesse

processo.

29

3. Materiais e Métodos

Este estudo teve uma abordagem quanti-qualitativa (MINAYO, 2002),

que busca uma compreensão e uma explicação mais específicas acerca do

objeto de estudo, ou seja, este é o ponto de partida para uma investigação

mais detalhada sobre as perspectivas da formação moral do estudante de

fonoaudiologia, sob a visão geral do docente (DESLANDES, 2002), e foi

dividido em duas etapas: documental e observacional (exploratória). A

pesquisa qualitativa trabalha com significados e valores. Segundo MINAYO, o

modelo qualitativo descreve, compreende e explica, exatamente nesta ordem

(MINAYO, 1992). A pesquisa identificou e analisou como se dá a formação de

valores morais e debateu a formação do fonoaudiólogo, focando no

desenvolvimento da competência moral, através do entendimento do corpo

docente.

Esta dissertação teve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do

Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, em 20 de março de 2007,

sob o número de processo 05/2007 aprovando o início dos trabalhos de

pesquisa referentes a este trabalho.

A primeira parte consistiu no levantamento histórico da implementação

dos cursos de graduação em fonoaudiologia e das transformações curriculares

sofridas pela faculdade de fonoaudiologia da universidade em questão, desde a

sua criação até hoje. Para isso, houve uma pesquisa em livros, revistas e

dissertações, que documentam o início da fonoaudiologia como curso superior.

Além disso, foram revistas as grades curriculares, as ementas das disciplinas

30

do curso e foi realizada uma entrevista (depoimento) com a coordenadora

responsável pelo curso de fonoaudiologia, para dar credibilidade aos dados

referentes ao surgimento do curso na instituição. A análise documental e a

confrontação de seus resultados com os obtidos na fase exploratória

contribuíram para o aprofundamento da dissertação uma vez que a memória

oral complementa as informações históricas colhidas nos documentos

(MINAYO, 1993).

A etapa observacional (exploratória) teve um recorte transversal, o ano

de 2007, e se apoiou na análise das respostas obtidas a partir de questionário

(em anexo III) aplicado ao grupo de 14 docentes do curso de fonoaudiologia da

universidade pesquisada, todos fonoaudiólogos e com vínculo permanente com

a instituição até a data desta dissertação. Estes docentes desempenham papel

decisivo na formação dos estudantes da graduação em fonoaudiologia, e não

apenas durante as aulas de ética e bioética. O grupo representa a totalidade

dos professores que cumprem tais requisitos, configurando, portanto, um

senso. Optou-se pela aplicação dos questionários em detrimento de entrevistas

individuais em virtude da relação entre os professores participantes e a

pesquisadora, ex-aluna dos mesmos, o que poderia constranger e

comprometer o discurso dos docentes.

As professoras foram convidadas a participar da pesquisa em reunião

realizada em abril de 2007 no campus da universidade após exposição e

discussão acerca dos objetivos do estudo. Inicialmente, foi feita uma sondagem

com o objetivo de averiguar a disposição dos membros deste grupo em

colaborar com a pesquisa. A partir disso, aqueles que demonstraram interesse

assinaram o termo de consentimento livre esclarecido (em anexo: ANEXO I e

31

II) e receberam o questionário. Em até 20 dias, todos foram respondidos e

devolvidos através da coordenadora do curso em envolopes não identificados.

Adaptado a partir do questionário padronizado pela Associação

Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). O

questionário utilizado é individual, anônimo, auto-aplicativo e estruturado -

dividido em perguntas fechadas, referentes a dados de escolaridade, e

perguntas abertas, que dizem respeito à maneira como os docentes entendem

o próprio papel e o da faculdade na construção dos valores morais dos alunos.

As perguntas fechadas têm como objetivo determinar o perfil dos entrevistados.

Já as perguntas semi-abertas permitem analisar a diferença de percepção

entre estes professores e como eles entendem e programam sua participação

no processo de ensino-aprendizagem. Com estas perguntas, o estudo

pretendeu discutir a viabilidade do ensino da bioética como disciplina isolada e

o tema ética como transversal, além de debater o papel da graduação e do

docente na formação moral do estudante.

Os dados qualitativos resultantes destas questões foram analisados

em sua dimensão objetiva. As informações prestadas pelos professores foram

comparadas, buscando-se semelhanças e diferenças em seus conteúdos, de

forma a elencar as categorias analíticas, que darão base para as interpretações

desta pesquisa (MINAYO, 2002 e MARTINS, 1998).

O resultado deste estudo foi obtido com base na analise de 14

questionários respondidos pelos professores sujeitos da pesquisa. Isto significa

que o senso foi obtido já que 100% da amostra forneceram dados para o

trabalho científico. As informações colhidas foram analisadas qualitativa e

32

quantitativamente, categorizando as respostas a partir dos padrões achados na

leitura dos questionários.

A análise foi dividida, assim como o questionário, em dois momentos: o

primeiro de descrição quantitativa do perfil dos docentes e o outro, que analisa

a maneira como os docentes entendem o próprio papel e o da faculdade na

construção dos valores morais dos alunos.

As respostas às perguntas que se referiam aos dados de identificação,

foram contabilizadas e lançadas em planilha para a análise quantitativa dos

resultados.

As informações apuradas através das perguntas abertas do

questionário da pesquisa passaram por processo de análise de conteúdo, no

qual foram divididas em quatro grupos:

1. Compreensão sobre os valores morais e sua formação - As respostas às

três primeiras perguntas revelam, de certa forma, a compreensão dos

professores acerca dos conceitos relativos à ética e à moral. Elas traçam

um panorama geral do que os professores pensam sobre os valores,

como estes são formados e quais devem pautar uma atuação ética do

profissional de fonoaudiologia.

2. Considerações sobre a atuação dos professores e da faculdade no

processo de aprendizagem - As questões 4 e 5 dizem respeito às

opiniões dos sujeitos da pesquisa a respeito do papel da universidade e

dos professores na transmissão de valores.

3. Opiniões sobre o ensino da ética. As perguntas 6 e 7 trazem as posições

dos docentes sobre como o conteúdo relativo à ética e à moral deve ser

transmitido na graduação e sua pertinência.

33

4. Constatações sobre a realidade da formação moral e ética dos alunos -

As respostas às duas últimas perguntas, 8 e 9, mostram como, de fato,

este conteúdo é trabalhado. Ou seja, apresentam a realidade da

construção moral e ética do discente na visão dos professores.

As respostas dos professores às perguntas do roteiro estruturado

foram agrupadas de acordo com as linhas de raciocínio coincidentes e, em

seguida, detalhadas para uma análise mais aprofundada. De início, as

respostas foram ordenadas e, posteriormente, interpretadas, para, em seguida,

serem cruzadas com os dados quantitativos, partindo do pressuposto de que

poderia haver relação entre as características dos sujeitos da pesquisa e suas

respostas.

Esta pesquisa realizou-se através do Instituto de Estudos de Saúde

Coletiva da UFRJ (IESC). Esta instituição tem como finalidade promover o

ensino da saúde coletiva para alunos de medicina, fisioterapia, fonoaudiologia

e de pós-graduação, além de participar do desenvolvimento de projetos de

pesquisa. Dentro do IESC, este estudo é desenvolvido pelo setor de Produção

Ambiente e Saúde, uma das cinco áreas de concentração de ensino e pesquisa

da instituição.

34

4. Histórico da Fonoaudiologia no Rio de Janeiro

4.1. A formação multidisplinar do campo da fonoaudi ologia

Não se sabe ao certo quando a fonoaudiologia emerge como campo de

conhecimento independente no Brasil. Existem divergências sobre o marco de

surgimento da profissão. Alguns atrelam o surgimento da profissão à sua

existência acadêmica. Para eles, os primeiros cursos técnicos, surgidos na

década de 60, seriam os responsáveis pela validação da fonoaudiologia. Outros

aceitam que a criação da especialidade está atrelada a uma demanda histórica,

vinculada aos processos sociais ocorridos no início do século XX, quando a

figura de um “professor especial” era imprescindível para “homogeneização” da

língua no Brasil. Ou ainda aqueles que associam o surgimento da especialidade

à criação do Colégio Nacional, voltado para a educação dos surdos, em 1855

(CARACIK,2004; SILVEIRA,1996; BERBERIAN,2000 e CAVALHEIRO,1996).

Há também, quem ligue a Fonoaudiologia à Foniatria, especialidade

médica existente no país desde o início do século XX e que também se detifdica

sobre os desvios na comunicação. Segundo os foniatras, estes desvios teriam

suas causas em perturbações de fonação resultantes de anomalia fisiológica do

aparelho fonador ou de posição errônea deste. Existiram poucos profissionais

desta especialidade - como os doutores Bloch, Spinelli e Tabith.

A dificuldade em apontar o período exato de surgimento da

fonoaudiologia decorre, entre outros, da característica de formação de seu

campo de saber, que ocorre a partir da apropriação de conhecimentos de, pelo

menos, quatro áreas: educação, medicina, teatro e música. Em sua dissertação

35

de doutorado, CAPPELLETTI, (2001) analisa a construção da área de

conhecimento do fonoaudiólogo a partir de uma “pesquisa ontológica” segundo a

qual o saber fonoaudiológico busca seus subsídios fundamentalmente nas

mesmas teorias sobre as quais se apóia o campo da educação

(SILVEIRA,1996).

4.2. Sob o enfoque da Sociologia das Profissões

Fazer esta análise histórica sob o enfoque da Sociologia das Profissões

pode ajudar a compreender melhor o debate sobre o surgimento e legitimação

da fonoaudiologia. Para isso, é necessário definir os conceitos de profissão e

trabalho usados nesta pesquisa.

O termo trabalho tem o significado compartilhado socialmente com

sentidos diferentes dependendo da contextualização do diálogo e dos

interlocutores. Pode fazer referência a um caráter punitivo, que converge para a

conotação dada pela igreja católica, ou um caráter estruturador do homem, visão

absorvida pelo capitalismo e doutrinária das igrejas protestantes (WEBER,2004).

Como já foi dito na introdução (saúde coletiva e bioética) o trabalho é um pilar da

sociedade, mas cada vez mais, o trabalho em si não é suficiente para estruturar

um indivíduo. Além disso, o adjetivo trabalhador perde lugar para um novo

conceito, o de profissional. Afinal, o que é uma profissão? Segundo o dicionário

Aurélio (HOLANDA), seu significado é atividade ou ocupação especializada, que

supõe determinado preparo. Ofício com prestígio pelo caráter social e intelectual.

Meio de subsistência remunerado através do trabalho.

36

A profissão vem então acompanhada de um status social, servindo em

nossa sociedade como um diferenciador de papéis sociais. A sociologia

(MACHADO,1995) especifica alguns elementos que constituem uma profissão:

autonomia, adesão ao serviço, forte identidade profissional, confecção do código

de ética, e a demarcação do território profissional. Entre as profissões de saúde,

destacam-se aquelas que desenvolveram sua base cognitiva, e delimitaram

fronteiras para interagir com as demais.

CARDOSO (2001) cita Greenwood que sistematiza os requisitos para

uma ocupação exercer autoridade profissional: base técnica própria, jurisdição

exclusiva, autoridade técnica, habilidade e padrões de treinamento, legitimação

perante o público de seus serviços, código de ética e cultura profissional,

formada por notoriedade e papel social. CARDOSO (2001) analisa que a base

cognitiva do conhecimento deve conter as técnicas próprias de cada profissão,

assim como visibilidade social. Dessa maneira, para a afirmação efetiva da

fonoaudiologia como profissão torna-se necessária a delimitação das

especificidades do seu saber, com instrumentos próprios de apropriação e

intervenção.

Com o cumprimento desta lista de atributos, a profissão é legitimada

pela sociedade, mas este movimento é contínuo, a profissão que não evolui em

sua técnica e habilidade, não cresce, não sedimenta seus sindicatos e conselhos

e não assegura sua credibilidade perante a comunidade, pode deixar de existir.

No decorrer destes últimos 26 anos a atividade do fonoaudiólogo tem

conquistado mercado, mantido as associações de classe, criado cursos de pós-

graduação na área. Atualmente, no Rio de Janeiro, o curso de fonoaudiologia é

ministrado em 10 universidades, sendo somente uma instituição pública. A

37

Fonoaudiologia não é mais simples técnica intuitiva. Os fonoaudiólogos

estudam, atualmente, o processo de comunicação humana e seus desvios. A

fonoaudiologia é caracterizada pela promoção da saúde. Cabe a ele prevenir,

avaliar, diagnosticar e tratar os distúrbios da comunicação humana, para

reabilitar o indivíduo. Além disso, este profissional está habilitado ao ensino e à

pesquisa em suas áreas de atuação: audiologia, voz, motricidade oral, fala,

fluência e linguagem (CRFa,2007; CFFa,2006 e VIEIRA,2000).

A autonomia técnica e a delimitação do campo de saber do

fonoaudiólogo ainda são questões delicadas no processo de profissionalização

deste profissional na área da saúde. Primeiro, por uma defasagem no ensino,

que é focado apenas na técnica e passa ao largo de questões como a

regulamentação da profissão e suas entidades representativas. A falta de

informação compromete a autonomia e restringe o campo de trabalho do

fonoaudiólogo, muitas vezes, visto equivocadamente como um técnico.

Outra questão relevante é a da hierarquia na atuação. Reconhecido

recentemente como profissional, o fonoaudiólogo tem dificuldades para impor a

sua autoridade profissional diante do ceticismo de alguns profissionais de

medicina, cuja credibilidade se apóia em séculos de existência.

Neste contexto, o desequilíbrio de gênero, com enorme prevalência de

profissionais de fonoaudiologia do sexo feminino, não deve ser ignorado. Em

abril de 2007, o conselho regional de fonoaudiologia do Rio de Janeiro - CRFa1

contava 5.207 profissionais inscritos e ativos, destes, 5.085 (ou 97,66%) são do

sexo feminino e 122 (ou 2,34%) são do sexo masculino (CRFa,2007a).

38

Este desequilíbrio poderia ser elucidado pela hipótese da sociologia da

educação, que discute as diferenças no processo de socialização analisando o

processo cultural de educação de homens e mulheres. O conceito de gênero

foi incorporado pela sociologia a partir da década de 80, quando foi

demonstrado que a variabilidade cultural seria responsável pelas

concentrações de gênero em determinadas funções. A adoção dessa

perspectiva reconhece que existem assimetrias nas relações de poder entre

mulheres e homens. O conteúdo moral do profissional, que varia de acordo

com valores culturais, pode, portanto, ser influenciado pela diferença de

gênero.

A relação do processo educacional com a predominância feminina na

Fonoaudiologia pode ser analisada ainda por um outro prisma. De forma geral,

as mulheres tendem a eleger a generosidade em detrimento da justiça para

influenciar suas ações morais. De acordo com LEITÃO (1999) em estudos com

crianças, Zahn-Waxler, Kochanska, Krupnick e McKnew, (1990, pg 22)

observaram que as “meninas demonstram maiores sinais de envolvimento

emocional com os problemas dos outros e maior responsabilidade para com os

problemas dos outros.” Outra autora importante neste debate é Carol Gilligan,

que será comentada no próximo capítulo. Logo, uma maior identificação com

atividades que demandem cuidado e envolvimento emocional, caso das

atividades terapêuticas, pode ser entendida como um movimento natural. Não

causaria surpresa, portanto, a predominância de mulheres entre os

profissionais de Fonoaudiologia, cuja origem, como já foi dito, está ligada à

área da educação e a saúde áreas que se identificam com o cuidado.

(CARDOSO,2001 e CFFa, 2006)

39

4.3. Marcos históricos do surgimento da fonoaudiolo gia

O primeiro país a reconhecer a profissão foi a Hungria, em 1900. No

Brasil, a fonoaudiologia foi o último curso no campo da saúde a ser

regulamentado, o que só ocorreu em 1981, (SILVEIRA,1996 e

BERBERIAN,2000) embora já existissem cursos na área de logopedia – ciência

voltada para o tratamento de distúrbios da fala - desde a década de 60 no Rio de

Janeiro. Segundo SILVEIRA (1996), o curso de logopedia do Hospital São

Francisco de Assis, da UFRJ, foi o primeiro a ser criado na cidade, em 1956, e

durou apenas um ano. Pouco depois, mais três cursos surgiram: o do Instituto

Cultural Henry Dunant, que em 1963 já estava vinculado à Universidade; o curso

em logopedia da Associação Pestalozzi, em 1964, e, no mesmo ano, o curso de

Terapeutas da Palavra, criado pela secretaria de Educação do antigo estado da

Guanabara (CARDOSO,2001 E CFFa,2006). Estes cursos ainda não tinham

uma grade curricular definida.

Outros movimentos determinantes para o surgimento da fonoaudiologia

ocorriam nesta mesma época. Profissionais como Lilia Nunes e Esther Leão,

ligadas ao teatro, atuavam na reabilitação dos problemas da voz de atores e os

orientavam sobre técnicas de impostação de voz. Enquanto isso, a ex-cantora

Edmeé Brandi iniciava trabalhos de aprimoramento vocal e de questões

relacionadas à voz falada e cantada também no Rio. Já o foniatra Pedro Bloch

começava a trabalhar na área de reabilitação da fala na ABBR. Além destes,

Maria da Glória Beuttermuller, Regina Morizot Leite e Beatriz Saboya, entre

outros, atuavam de maneira autônoma nas mesmas áreas. Na mesma década,

outros dois eventos evidenciam a importância destes novos profissionais. A

40

Secretaria de Educação cria o Serviço Especializado de Terapia da Palavra, que

atuava dentro das Escolas Municipais. Fechando a década, em 1969, é realizado

o primeiro Congresso de Terapia da Palavra no Brasil. Os cursos aliados aos

trabalhos pioneiros destas pessoas foram decisivos na legitimação do papel do

fonoaudiólogo como profissional especializado no tratamento e reabilitação da

linguagem (SILVEIRA,1996, e CRFa, 2007).

Já a primeira publicação no campo da fonoaudiologia é de autoria de

Edmée Brandi, uma cantora camerística que, em 1972, levanta estudos a

respeito da avaliação e do tratamento fonoaudiológico das disfonias e dislalias.

Um livro destinado aos profissionais da voz, em cuja introdução ela discorre

sobre a constituição do seu caminho na fonoaudiologia e sobre a implementação

do Setor de Foniatria no Serviço da Saúde Escolar do Instituto de Educação no

Rio de Janeiro. O segundo livro, de 1974, que corrobora a teoria da relação com

a educação, o teatro e a música, é de Gloria Beuttenmuller. Nele, ela também

explora a questão da voz e usa técnicas do teatro e da educação, trazidas de

seu trabalho com cegos e na escola de teatro da Unirio (CARACIKI,2004).

A convergência destas diversas vertentes que compõem, hoje, a

fonoaudiologia se daria no final da década de 60 e início da de 70, com a

criação das primeiras clínicas multidisciplinares para tratamento de deficiências

da linguagem oral e escrita, fala, voz e audição. (BERBERIAN,2000 e

CFFa,2006)

Esta trajetória se dá no período da ditadura no Brasil, e está

relacionada, de certa forma, à valorização da idéia positivista de ordem e

correção em todos os níveis - inclusive nas habilidades de fala, escrita, etc. -,

41

cuja conseqüência natural é a rotulação e a hiper-valorização dos desvios de

linguagem escrita e oral em detrimento da acolhida do sujeito e da sua

realidade (UFRJ,2007). À medida que estas idéias perderam força, a vertente

tecnicista da fonoaudiologia deu, aos poucos, lugar a uma visão mais

humanista da profissão. Nos anos 80, a produção de conhecimento leva ao

avanço das práticas e à conscientização dos profissionais, que passam a

questionar para quem e para que a fonoaudiologia deve ser exercida. Deste

debate resulta a organização teórica, prática e ética da atividade.

A Lei Federal 6965, aprovada em 1981, regulamentou a profissão e

dita os aspectos da competência técnica. No ano seguinte, associações de

fonoaudiólogos elaboraram o código de ética da profissão, que determina

aspectos políticos e deontológicos de forma a evitar abusos por parte dos

fonoaudiólogos e, desta forma, preservar sua credibilidade. Em 1995, o texto

do código foi revisado e, em 2004, novamente atualizado pela Resolução 305

do Conselho Federal de Fonoaudiologia (CFFa). De acordo com a lei e o

código de ética, é facultado a todo fonoaudiólogo assumir suas

responsabilidades com autoridade e autonomia para desempenhar suas

atividades técnicas, acadêmicas e políticas. Por isso, é a partir da criação

destes documentos que a fonoaudiologia é exercida de forma legal e se afirma

definitivamente como profissão, já que se estabelece como ciência e caminha

de forma independente dentro da área da comunicação (SILVEIRA,1996;

CARDOSO,2001 e CRFa,2007).

42

Os primeiros cursos em fonoaudiologia tinham duração máxima de

dois anos. Atualmente, duram quatro anos e são freqüentados apenas em meio

período. A intenção na universidade estudada é torná-lo integral.

Embora a regulamentação da profissão tenha ocorrido em 1981,

somente em 1983 foi fixado o currículo mínimo do curso de graduação. Os

cursos existentes até então, de formação técnica em sua maioria e com carga

horária de aproximadamente 1.800 horas, foram adequados à nova realidade

acadêmica, passando a ter duração mínima de 2.700 horas e estágios

supervisionados. As disciplinas foram, então, divididas entre básicas e

profissionalizantes. (CAVALHEIRO,1996 e CARDOSO,2001)

Em 1994, o curso de fonoaudiologia volta a ser oferecido pela UFRJ, já

que em 1956 havia sido oferecido por um ano somente, como curso de

logopedia no hospital São Francisco de Assis. Desta vez, dentro da Faculdade

de Medicina. O curso de graduação sobre os distúrbios de audição, voz,

palavra e linguagem preenche uma lacuna, já que se torna o único da rede

pública de ensino no Rio de Janeiro. Sua primeira grade curricular previa carga

de 2.845 horas. Em 1997, uma comissão formada pelo Ministério da Educação

e Cultura propõe a reformulação curricular de todos os cursos de

fonoaudiologia do país. Com isso, a grade do curso da universidade estudada,

agora, já aprovado pelo MEC, passa ter 3.430 horas. No primeiro semestre de

2002, a graduação passa a ser cursada em 3.615 horas, carga horária

cumprida em tempo integral (dois turnos) até hoje. (VIEIRA, 2000; CRFa,

2007ª; UFRJ, 2007). Uma das conseqüências do aumento da carga horária foi

o maior monitoramento dos alunos por parte dos professores, resultado da

43

inclusão dos estágios em ambulatório dentro da grade curricular do curso. A

aquisição de experiência clínica devidamente supervisionada faz com que o

aprendizado profissional seja, do ponto de vista ético, mais adequado. O

aumento de carga propicia também maior possibilidade de amadurecimento do

alunado que, por passar mais tempo na graduação, além de ganhar mais

embasamento teórico–prático, chega mais amadurecido ao mercado de

trabalho. As mudanças curriculares propostas pelo MEC enfocam as

necessidades sociais, ou seja, têm como objetivo formar um profissional atento

à sociedade, com perfil generalista e capaz de trabalhar de maneira inter e

transdisciplinar no campo da fonoaudiologia (MEC,2007).

4.4. O curso hoje

O currículo do curso de fonoaudiologia, hoje, é dividido em ciclos, que

mesclam o conteúdo básico e profissionalizante teórico-prático. A maior parte

do primeiro é cursada nos três períodos iniciais, e, através de disciplinas como

Anatomia, Fisiologia, Patologia Geral e Bioquímica, confere ao aluno

ferramentas fundamentais para a atuação na área da saúde. Nele, os

professores não são fonoaudiólogos necessariamente. Já a maior parte das

aulas referentes ao conteúdo teórico-prático se concentra nos cinco períodos

subseqüentes e tem enfoque específico, voltado para a fonoaudiologia. Visam

formar o profissional para que ele exerça plenamente as funções de prevenir,

diagnosticar, tratar e reabilitar, nas áreas de voz, fala, linguagem e audição

(MEC,2007).

O equilíbrio entre as diferentes características das disciplinas

oferecidas - generalistas x específicas, teóricas x práticas - é motivo de

44

constantes debates até hoje, já que a compreensão sobre a maneira de atingi-

lo difere de pessoa para pessoa. O desafio é concretizar um projeto

pedagógico que englobe a conduta, a teoria e a prática, formando profissionais

que atuem de maneira humanista e intervenham coletiva ou individualmente,

enxergando o paciente de maneira holística. Outro dilema enfrentado pela

faculdade é o de formar a identidade profissional na fronteira entre a educação

e a saúde.

Através da resolução CNE/CES5, de 19 de fevereiro de 2002, o

conselho nacional de educação superior instituiu as diretrizes curriculares para

o curso de graduação em fonoaudiologia, que vigoram até hoje. Os artigos 3º e

5º discorrem sobre o caráter amplo do currículo de fonoaudiologia e sobre as

competências que a formação deve objetivar:

Art. 3º O Curso de Graduação em Fonoaudiologia tem

como perfil do formando egresso/profissional o

Fonoaudiólogo, com formação generalista, humanista,

crítica e reflexiva. Capacitado a atuar, pautado em

princípios éticos, no campo clínico-terapêutico e

preventivo das práticas fonoaudiológicas. Possui

formação ético-filosófica, de natureza epistemológica, e

ético-política em consonância com os princípios e valores

que regem o exercício profissional. Conhece os

fundamentos históricos, filosóficos e metodológicos da

Fonoaudiologia e seus diferentes modelos de intervenção

e atua com base no rigor científico e intelectual.

Art. 5º A formação do Fonoaudiólogo tem por objetivo

dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o

exercício das seguintes competências e habilidades

específicas:

45

I - compreender e analisar criticamente os sistemas

teóricos e conceituais envolvidos no campo

fonoaudiológico, que abrange o estudo da motricidade

oral, voz, fala, linguagem oral e escrita e da audição, e os

métodos clínicos utilizados para prevenir, avaliar,

diagnosticar e tratar os distúrbios da linguagem (oral e

escrita), audição, voz e sistema sensório motor oral;

(...)

V - apreender e elaborar criticamente o amplo leque de

questões clínicas, científico-filosóficas, éticas, políticas,

sociais e culturais implicadas na atuação profissional do

Fonoaudiólogo, capacitando-se para realizar

intervenções apropriadas às diferentes demandas

sociais;

(...)

VII - reconhecer a saúde como direito e atuar de forma a

garantir a integralidade da assistência entendida como

conjunto articulado e contínuo de ações e serviços

preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos

para cada caso em todos os níveis de complexidade do

sistema;

VIII - desenvolver, participar e/ou analisar projetos de

atuação profissional disciplinares, multidisciplinares,

interdisciplinares e transdisciplinares;

IX - possuir recursos científicos, teórico-práticos e éticos

que permitam a atuação profissional e reavaliação de

condutas;

X - conquistar autonomia pessoal e intelectual

necessárias para empreender contínua formação

profissional;

(...)

Parágrafo único. A formação do Fonoaudiólogo deverá

atender ao sistema de saúde vigente no país.

46

A grade curricular, como foi visto acima, desafia à universidade a

formar profissionais cidadãos, embora haja dúvidas sobre seu cumprimento

eficaz. Atualmente, a universidade, o ensino médio e o ensino fundamental

sofrem uma crise de qualidade, o que faz com que cada etapa de ensino

prepare o aluno única e exclusivamente para a fase seguinte. Ou seja, o ensino

básico prepara para o vestibular e a faculdade, que por sua vez, enquadra o

discente no mercado de trabalho, de acordo com a demanda de profissionais.

Em todas estas etapas, a formação do indivíduo social tende a ser esquecida.

Para tentar minimizar este déficit, as diretrizes curriculares do MEC

para a fonoaudiologia sugerem uma proposta voltada para o desenvolvimento

não apenas das competências técnicas do individuo, mas também de sua

capacidade de compreensão de toda a dinâmica da saúde coletiva, fornecendo

ferramentas para que este profissional possa interagir com os demais e

aperfeiçoá-la. O caráter mercadológico seria abandonando em detrimento de

uma formação mais ampla e comprometida com a sociedade, que contribua

para a credibilidade da profissão junto à população, legitimando-a

(RUSSO,2004).

Complexa, a construção desta capacidade de construção e alteração

da realidade social requer um desenvolvimento permanente do profissional. Por

isso, não pode ser fomentada durante apenas um período do curso de

graduação; deve permeá-lo do início ao fim. A transdisciplinaridade tem,

portanto, papel primordial neste processo. Ligada nesta dissertação às idéias

de interação e intercâmbio, o conceito é mencionado por CHAVES em seu

ensaio: "trans indica e lida com o que está ao mesmo tempo entre as

47

disciplinas, através e além de todas as disciplinas. Sua finalidade é

compreender o mundo atual, onde um dos imperativos é a unidade do

conhecimento". (CHAVES, 1998)

Outra iniciativa que as novas grades curriculares incentivam cada vez

mais é o desenvolvimento de mestres e doutores na área de fonoaudiologia já

que o MEC exige estes títulos dos professores universitários. O aumento do

número de profissionais formados, aproximadamente 24 mil, por si só, gera um

aumento da concorrência e uma necessidade de continuidade da formação.

Mesmo assim, as pesquisas no campo da fonoaudiologia ainda não são

desenvolvidas em larga escala. Um dos motivos apontados para isto é o fato

de a maioria dos cursos de fonoaudiologia ser oferecida por instituições

particulares. Outro seria a falta de verba auxílio a pesquisa nesta área, já que

não há fomento por parte de instituições privadas. A pequena visibilidade, a

falta de reconhecimento dos pesquisadores dentro da profissão e o fato de ser

uma profissão jovem fazem com que poucos fonoaudiólogos tenham o grau de

mestre ou o doutorado (RUSSO, 2004).

Segundo levantamentos realizados, poucos são os trabalhos

defendidos na área de fonoaudiologia em doutorado. Até dezembro de 2003,

somente 203 teses foram defendidas. E o que é mais alarmante: até esta data,

só uma dissertação de mestrado foi defendida sobre o tema ética profissional e

fonoaudiologia, dentro da área de distúrbios da comunicação em 1999

(FERRIGOTTI,2001 e RUSSO,2004).

O Ministério da Educação propõe para todos os profissionais o

desenvolvimento de suas habilidades e competências técnicas específicas,

48

bem como as de pesquisador em sua área. A formação deve ser conduzida a

partir de uma visão crítico-reflexiva, pautada pelos princípios éticos e morais,

em consonância com os valores vigentes na sociedade. Os conceitos de

competência e desenvolvimento moral e ético, que devem pautar o exercício

profissional deste e de qualquer outro profissional da área da saúde, são

decisivos neste processo. Por isso, serão enfatizados nesta discussão sobre o

desenvolvimento moral do indivíduo e interferem na formação do profissional

de fonoaudiologia.

49

5. Desenvolvimento da competência moral

Como o desenvolvimento moral é objeto de estudo de várias vertentes

tanto das ciências humanas quanto da filosofia, é importante situar qual a

abordagem teórica empregada neste trabalho. A fundamentação aqui

empregada é a da psicologia do desenvolvimento e da moral, que analisa o

processo de desenvolvimento dos valores morais e éticos, estuda a natureza

dos juízos e das ações morais, bem como a legitimação das ações morais.

Piaget, Vigotsky, Turiel e Kohlberg são os principais autores nesta área e, por

isso, suas idéias serão debatidas aqui. A discussão, por vezes, poderá se

relacionar com outras perspectivas como a da sociologia, ou especificamente

teorias de Weber e Durkhein. Os referenciais psicanalítico e filosófico não são

debatidos neste estudo por não serem reconhecidamente o foco desta linha de

pesquisa (REGO,2003) .

Além do esclarecimento acerca das teorias empregadas, é importante

notar também por qual perspectiva apresenta-se o desenvolvimento ético e

moral. Para este estudo, entende-se que o que está sendo discutido são os

comportamentos humanos relacionados aos valores morais, à ética e à moral.

Estes comportamentos são julgados em um determinado tempo e por uma

determinada comunidade, a partir do que esta toma como ideal. Por isso,

sempre haverá margem para críticas e mudanças nestes comportamentos. Ao

estabelecer suas diretrizes de ensino, a faculdade adota um perfil de

profissional como modelo a ser perseguido no desenvolvimento de seus alunos

durante a graduação, que pode se chocar com a expectativa de cada um deles

e da sociedade. Ainda assim, as diretrizes adotadas na busca deste perfil,

50

associadas às suposições dos professores acerca dos conteúdos que devem

ser transmitidos, serão determinantes na formação do profissional. Por isso,

analisar a compreensão dos professores sobre o desenvolvimento ético dos

alunos, pode ajudar a entender o comportamento ético e moral dos

profissionais de fonoaudiologia.

Para discutir o processo de formação ética no curso de graduação a

partir de uma reflexão critica sobre a fundamentação e o significado de valores

mutáveis em uma determinada sociedade, é preciso levar em conta os

aspectos morais norteadores do comportamento desta comunidade, ou seja, o

que é considerado bom e mau. É justamente na faculdade que eles serão

discutidos a partir de uma ação dialética. Nela, é feita a ponte entre o

profissional formado e a sociedade, e será transformada a cultura das

profissões.

Os temas ética e moral eram transmitidos ao aluno

predominantemente de forma heterônoma, ou seja, sem que houvesse a

possibilidade de questionamento deste. Na a década de 70, isto foi

potencializada pela incorporação da disciplina educação moral e cívica, e a

partir disso, os temas são vistos com certo ceticismo pela sociedade, que

passou associar a educação moral à imposição de valores, à coação e ao

autoritarismo graças à ditadura. (REGO,2003 e LA TAILLE,2004).

As diretrizes curriculares determinam que os cursos de graduação em

fonoaudiologia tratem a ética como um tema transversal, além de recomendar

seu ensino como disciplina isolada. A graduação deve abarcar as dimensões

técnica e política do ensino, objetivando o desenvolvimento articulado das

51

capacidades potenciais do aluno. Este processo educativo se dá a partir da

socialização do aluno, compreendida como “um processo social no qual os

indivíduos adquirem habilidades, conhecimento, valores e papéis consonantes

com sua posição em um grupo ou sociedade”. REGO ainda afirma: “processo

pelo qual a personalidade é formada, como resultado das influências sociais”.

(2003)

REGO (2001) refere-se à compreensão de Merton sobre o processo

educativo para descrever como o método de aprendizagem influencia a

profissionalização. Ele apresenta duas formas de aprendizado: o direto, através

do ensino por disciplinas, e o indireto, a partir da interação e da mediação dos

professores e dos colegas. É a partir delas que a aquisição de conhecimento

técnico e comportamental, ou a formação do ethos, ocorre. Isso não significa

que o aluno inicie sua vida acadêmica destituído de saber e seja moldado no

decorrer do curso. Sua socialização prévia dá arcabouço para a sua formação

profissional, processo no qual esses valores morais continuarão a ser

desenvolvidos.

Para a psicologia do desenvolvimento, o despertar moral se inicia por

volta dos quatro anos e se apresenta sempre através de duas dimensões: a

afetiva e a cognitiva (REGO,2005). Os primeiros estudos sobre moralidade

realizados por Kant tinham como proposta a educação coercitiva, através da

punição. Piaget se baseia na filosofia kantiana para criar uma teoria acerca do

desenvolvimento moral e cognitivo da criança. Para ele, a interação entre as

bases biológicas e cognitivas com o ambiente constrói o desenvolvimento do

julgamento moral da criança (REGO,2003).

52

Sucessor dos estudos de Piaget, Kohlberg, estuda o raciocínio moral

dos sujeitos e a capacidade dos indivíduos em avaliar e refletir acerca de

questões morais. Estudando o juízo moral, ele identifica seis estágios

seqüenciais de competência moral, agrupados em três etapas: pré-

convencional, convencional e pós-convencional. Os estágios seriam uma

seqüência invariável e estruturada de transformações hierárquicas em que os

indivíduos são categorizados a partir de suas opções diante de dilemas

apresentados (REGO, 2003, 2001 e PUIG, 1998). Porém, foi Piaget que definiu

em seus estudos a existência de duas morais, construídas através da coação e

da cooperação. A coação, também chamada de moral heterônoma, trata

essencialmente do respeito unilateral às ordens dadas pelos indivíduos com

autoridade sobre determinada pessoa. Trata-se de uma moral da obediência.

Já no processo de cooperação, as partes interagem com vistas ao

desenvolvimento e à eficaz utilização da capacidade individual, dando origem à

moral autônoma, na qual o respeito mútuo e a reciprocidade são elementos

fundamentais. Esta representaria a superação da primeira. O autor ainda

descreve como fio condutor do desenvolvimento moral de um indivíduo a

progressiva superação da heteronomia pela autonomia à medida que a

personalidade moral é construída. Piaget destaca as relações de coação e

obediência no cenário das relações sociais infantis porque pretendia sublinhar

o fato de que o eixo central do desenvolvimento moral é a passagem da

heteronomia para a autonomia (REGO,2001).

No campo da Psicologia Moral, pesquisas mais recentes de 1986

feitas por Elliot Turiel mostram que crianças entre quatro e cinco anos já são

dotadas de uma sensibilidade moral mais ampla, que permitiria a adoção de

53

processos educativos que fogem à lógica da submissão à autoridade. Ele

verificou que a capacidade de avaliação do justo e do injusto poderia surgir

antes do que se supunha. (LA TAILLE,2006). Esta capacidade seria decorrente

de uma possibilidade precoce de abstrair regras necessárias à mínima

harmonia nas relações interpessoais e, por outro lado, de uma sensibilidade,

também precoce, ao bem estar alheio LA TAILLE (PUIG,1998a). Isso não quer

dizer, evidentemente, que a capacidade de julgamento moral já esteja formada.

O que ocorre a partir desta idade é a percepção da diferença entre as ações

que deveriam ser realizadas e as que o são efetivamente.

Com isso, é notório que o senso moral pode ser aprendido

cognitivamente. Segundo os autores citados até aqui, pode-se dizer que o

conteúdo moral é composto por regras e princípios. As regras, em uma

concepção heterônoma, são impostas, determinam o que deve ou não ser feito

e informam direitos e deveres, enquanto os princípios, embora possam ser

transmitidos, são pessoais e norteiam as ações morais. Para desenvolver uma

concepção autônoma e individual, é preciso que haja uma educação baseada

na reflexão sobre as regras (REGO,2003).

Além da dimensão cognitiva dada ao desenvolvimento moral através

do aprendizado de regras e princípios, há também uma vertente afetiva neste

processo. A obediência pode ser motivada pelo medo, pela esperança de

recompensa ou ainda pelo desejo de agir segundo a norma. Isto significa que a

ação está correlacionada ao medo e ao amor sentidos, no caso da criança,

pelo adulto, que é visto como uma figura poderosa, importante e digna de

apego. Segundo Piaget, estes dois sentimentos fazem com que a criança se

54

submeta pelo desejo de cumprir as ordens de pessoas consideradas boas para

ela. A partir de então, passaria a existir uma obediência espontânea, que está

relacionada à empatia que a pessoa sente pela autoridade (LA TAILLE,2006).

Visto dessa forma, os valores são investimentos afetivos, ou seja, são

construídos a partir de conceitos, mas estão ligados às emoções. A moral se

sustenta então sobre o afeto e o intelecto. Tomando por base as teorias de

Piaget (LA TAILLE,1996), pode-se afirmar que a afetividade não modifica

estruturas cognitivas. Para ele, a inteligência refere-se às estruturas enquanto

a afetividade, à energética que faz tais estruturas serem construídas e agirem.

Os valores que uma família julga importantes devem ser

compartilhados pelos pais e a escola, já que estas instituições vão cooperar

para a formação da criança. Do desenvolvimento moral, virá o amadurecimento

e a assimilação destes valores pelo indivíduo em formação (LA TAILLE,2000).

Em resumo, a construção moral pode ter sua fonte na empatia, que

gera ações de generosidade por ser um elemento desencadeador de

progressivas descentrações - capacidade da criança de estabelecer diferença

entre si e a realidade externa e de considerar um ponto de vista diferente ao

seu. A virtude da generosidade, que está presente no universo moral infantil,

deve ocupar um lugar de destaque nele a partir do estágio pré-operatório

descrito por Piaget. Ou seja, virtudes como justiça, generosidade, empatia e

dignidade são as bases para o desenvolvimento moral.

A justiça implica no equilíbrio entre direitos e deveres, e pressupõe

relações de reciprocidade, bem como os conceitos de igualdade e de eqüidade,

55

que as crianças no estágio pré-operatório ainda não são capazes de assimilar.

Portanto, a empatia e a generosidade precedem a justiça no desenvolvimento

moral da criança, já que correspondem a uma capacidade emocional precoce e

não pressupõem igualdade nem reciprocidade (LA TAILLE,2006).

Levando em conta as teorias descritas, pode-se dizer que o

desenvolvimento moral do individuo está intimamente atrelado ao

desenvolvimento social e intelectual. Essa forte ligação entre crescimento

moral e intelectual é analisada sob o prisma do construtivismo na obra de

Piaget. Para ele, existem dois tipos de relação que constroem o ser social, a

coação e a cooperação, que podem levar ou não ao desenvolvimento do

sujeito. A coação seria uma relação desigual, onde o indivíduo coagido tem

pouca possibilidade de desenvolver-se racionalmente. Piaget destaca que, nas

relações assimétricas de autoridade (coação), as noções e regras são

assimiladas superficialmente. Já o conceito de cooperação advém da relação

que possibilita a troca e o desenvolvimento integral do ser (LA TAILLE, 2000;

PIAGET,1996 e BIAGGIO,2000). As relações de cooperação promovem o

embasamento das noções e das regras na consciência, fazendo com que

conceitos sejam assimilados e articulados em redes de significado mais

amplas.

Para PUIG (PUIG,1998), que também elabora estudos sobre o

desenvolvimento moral, a conduta será motivada a partir da construção da

personalidade moral, que deriva da auto-imagem e da inter-relação entre

individuo e sociedade. Significa dizer que para construir a identidade são

necessárias representações valorativas de si mesmo e da relação com a

56

sociedade, que dependem, entre outros, dos valores caros à pessoa. Essa

auto-imagem traz um caráter afetivo que pode ser positivo ou negativo, ou seja,

a maneira como o indivíduo se vê no mundo afeta o seu desenvolvimento

moral. “A educação moral é essencialmente um processo de construção de si

mesmo”, diz PUIG. (PUIG,1998, pg 15). Este processo tem como base os

sentimentos do sujeito, sua capacidade de raciocínio e seu contexto social

(família, mídia, escola trabalho amigos, comunidade).

Na linha da psicologia moral há uma voz feminina, Carol Gilligan, que

critica as teorias de Piaget e Kohlberg, questionando o privilégio do ideal da

justiça em detrimento ao ideal do cuidado (generosidade) em suas teorias.

Segundo ela, a moralidade masculina teria uma orientação voltada para justiça

- o direito do outro - enquanto a feminina se daria a partir do cuidado com o

outro (LA TAILLE, 2006).

Vygotsky também contribui para a psicologia do desenvolvimento com

a criação do conceito de zona de desenvolvimento proximal, região na qual as

capacidades individuais são otimizadas através da relação com o outro. De

acordo com esta visão, o indivíduo teria sua capacidade desenvolvida a partir

da interação com outro sujeito. O desempenho do indivíduo em qualquer

atividade seria, então, o resultado da soma entre a capacidade latente

(competência individual) e o conjunto das capacidades do outro, o sujeito que

media a ação, fazendo, assim, com que o outro atinja um nível superior de

raciocínio. Este processo tem desdobramentos já que os modelos seguidos

podem ser reaplicados em outras ações experimentadas pelo sujeito

(REGO,2001).

57

Cabe aqui esclarecer o sentido da palavra “competência”, para facilitar

a compreensão da teoria de Vygotsky e das demais formulações acerca da

ética. Segundo o Ministério da Educação e Cultura, competência é a

“ capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação valores, conhecimentos

e habilidades necessárias para o desempenho eficaz e eficiente de atitudes

requeridas pela natureza do trabalho”. (BRASIL,1999) Para RIOS (2006),

“competência é igual a saber, fazer bem” (pg 46). A autora ainda explica que a

palavra “bem” tem uma dimensão técnica, relacionada ao domínio de

determinado conhecimento, e um aspecto político, vinculado à atitude

desejável de acordo com os valores da sociedade. Já o termo “habilidade” está

vinculado à competência já que descreve não apenas o “saber-fazer”,

relacionado com a atuação prática-técnica, mas também os conhecimentos, as

atitudes e as práticas no trabalho (BARBOSA,2007).

Vale lembrar que os dois conceitos estão subordinados à formação ou

ao aprendizado. Por isso é importante explicitar suas diferenças e

semelhanças, afinal, os conceitos de formação e de aprendizagem têm, cada

um, o seu campo semântico. Pode-se dizer que a formação se refere aos

procedimentos de aquisição e apropriação de saberes ou competências. A

aprendizagem, por sua vez, refere-se ao processo de transformação das

primeiras experiências em um determinado campo para um segundo patamar

dentro deste processo.

Educação também é um conceito importante, pois remete a um

processo contínuo de aquisição de conhecimento e elaboração de

conhecimento com aplicabilidade ou não. A lógica da educação, então, deve

58

ser a de instrumentalizar o aluno para que este construa as competências e

habilidades para a atuação profissional. Este processo de construção do

conhecimento possibilita um aprendizado constante, uma absorção intermitente

de saber prático ou do “saber fazer” (BARBOSA,2007).

Para estimular este aprendizado, a universidade procura construir, a

partir das diretrizes estabelecidas, um currículo que estimule o

desenvolvimento das competências pelos alunos. Entre estas competências

está a moral, desenvolvida a partir da reflexão e colocação de problemas para

discussão de casos. Logo, o educador não se resume a um mero transmissor

de dados técnicos, assumindo um papel de mediador do conhecimento

teórico/pratico e político. Por esta perspectiva, o objetivo do docente deixa de

ser o de ensinar e passa ser o de fazer aprender. Debatendo PUIG, La Taille

(PUIG,1998) afirma que o papel do professor é o de guia, o da pessoa madura

que, por ter mais experiência e consciência dos valores e regras (não

dogmáticas), colabora com o desenvolvimento do outro, resgatando-o para um

dialogo que o permita refletir e agir moralmente na sociedade.

Piaget enquadra os jovens na etapa “operatória formal” do

desenvolvimento cognitivo. Segundo o teórico, eles apresentam todos os

elementos necessários para utilizar o método experimental da ciência, formular

hipóteses e testá-las sistematicamente. Outra realidade deste período é a dos

questionamentos a respeito de ordens abstratas de valores, ideologias e futuro,

o que torna esta fase o ápice do desenvolvimento da inteligência,

correspondente ao nível de pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-

matemático (BIAGGIO,2000).

59

Kohlberg enquadra os alunos que ingressam nas universidades,

basicamente, em dois estágios de desenvolvimento moral. A maioria deles

estaria na fase “convencional”, caracterizada pelo julgamento calcado nas boas

ações (aceitação social) ou na orientação pela ordem e a lei (PIAGET,1996). A

menor parte estaria no nível “pré-convencional”, marcado por uma orientação

da moralidade regida por atos julgados a partir da relação ação-conseqüência,

a mesma lógica do Código de Hamurabi.

Durkheim (2003, pg 35) afirma que “a moral não é um sistema de

regras abstratas que as pessoas trazem gravadas na consciência ou que são

deduzidas pelo moralista no isolamento de sua sala”. Trata-se de uma função

social ou, mais que isso, de um sistema de funções formado e consolidado pela

a pressão das necessidades coletivas. Para Durkheim, a formação moral é um

processo no qual os indivíduos recebem da sociedade os valores e normas

vigentes. Tais concepções são impostas aos indivíduos a partir de uma

autoridade superior a qual não podem se opor, restando como alternativa a

submissão. As normas morais são impostas uma vez que são produzidas por

uma ação coletiva que não deixa margem de manobra aos indivíduos, que, por

sua vez, têm pouca influência sobre elas. Este processo tem como

conseqüência fundamental o conflito entre as normas impostas pelo coletivo e

o desejo individual, relacionado à natureza de cada um. As estratégias da

formação moral devem, então, estar associadas a estas duas facetas do

sujeito, ou seja, aos aspectos subjetivo/individual e social. A educação moral

deve, por isso, integrar os indivíduos na comunidade (DURKHEM,2003 e

GOERGEM,2005).

60

Dessa concepção de moral, na qual o desejo individual é reprimido

pelo coletivo, decorre um modelo de educação que transmite valores fixos.

Todos são levados a reconhecer a autoridade, seguir seus dogmas e

retransmiti-los. Este modelo pode ser compreendido como uma herança do

período em que a educação era diretamente ligada à religião. Hoje, o modelo

heterônomo sofre uma revisão, na qual assume traços de uma ética laica, mas

em muitas escolas, permanece como modelo vigente (PUIG,1998).

Neste caso, o sujeito não é livre para tomar suas próprias decisões, de

acordo com a sua consciência, assim se submete às normas e valores vigentes

na sociedade. Agir moralmente significa agir em conformidade com as normas

estabelecidas em sociedade. Para Durkheim, agir moralmente pressupõe

disciplina e, numa fase mais avançada, adesão, solidariedade e vinculação ao

grupo social. Para ele, os seres humanos reconhecem na sociedade algo

superior à sua individualidade e acreditam que, agindo segundo o interesse

coletivo, realizam de forma melhor sua própria natureza. (BIAGGIO,2000)

Para que os valores sejam transmitidos para o individuo e legitimados,

deve haver a aceitação e o reconhecimento das normas vigentes e, portanto, a

educação moral faria parte da socialização do indivíduo. Hoje, é consenso que

os alunos devem ser educados para reconhecer e aceitar as normas, que

levariam a uma convivência harmônica com os seus iguais. Segundo PUIG, é

tarefa da escola e do professor, enquanto autoridade moral, criar nos jovens o

sentimento de vinculação a uma coletividade. Desta forma, a educação moral

fica reduzida à adaptação heterônoma ao modelo social vigente, deixando em

segundo plano a questão da formação da consciência moral autônoma. Em

61

Durkheim, a autonomia moral não inclui a possibilidade de questionamento e

eventual recusa da norma (PUIG,1998).

Já Kolberg considera que a educação moral tem a finalidade de

estimular o juízo moral e um amadurecimento progressivo. Entender a lógica

da progressão moral nos estágios de Kolberg e da empatia neste processo é

importante para avaliar as questões éticas-profissionais que surgem durante a

atuação do fonoaudiólogo. A teoria de Kohlberg sobre o “role-taking” (ou a

empatia) corrobora a idéia de que, na graduação, o aluno deve ser incentivado

a tomar decisões ponderando o que é melhor para o paciente e tentando se

colocar no lugar do outro (REGO,2001).

A escola deve abrir espaço, através da educação moral, para

questionamentos sobre a vida, a existência, o conhecimento, a moral e a ética,

estimulando-os com aulas de filosofia, atividades de voluntariado, jogos de

representação (RPG), projetos transversais (que envolvem mais de uma

disciplina) e discussões sobre valores. O objetivo é fazer com que a interação

leve ao desenvolvimento do pensamento crítico e amplie a capacidade

analítica. Um ambiente intelectualmente rico propicia o desenvolvimento pleno

do potencial do indivíduo (DUSKA, 1994).

O modelo de ensino, da faculdade estudada, está sustentado sobre o

paradigma da integração entre profissionais e alunos, de forma que estes se

desenvolvam e amadureçam sua atuação prática. A universidade transmite

uma gama de conhecimentos para que o futuro fonoaudiólogo os articule com o

mundo que encontram e o futuro.

62

6. Ética e Bioética na Fonoaudiologia

Em 2002, as diretrizes curriculares do curso de fonoaudiologia foram

criadas e, neste processo, a discussão sobre como a ética deve ser ensinada

foi travada. Parâmetros a serem utilizados na montagem da grade curricular, as

diretrizes foram definidas a partir de uma compreensão construtivista do

desenvolvimento moral. A proposta é trabalhar a ética como um tema

transversal, ou seja, um ponto com abordagem sempre articulada em todas as

disciplinas, de maneira a formar um profissional capaz de pautar seus atos não

apenas por questões técnicas ou comerciais, mas também por valores

humanistas e caros à cidadania.

Art. 5º A formação do Fonoaudiólogo tem por objetivo

dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o

exercício das seguintes competências e habilidades

específicas:

...

V - Apreender e elaborar criticamente o amplo leque de

questões clínicas, científico-filosóficas, éticas, políticas,

sociais e culturais implicadas na atuação profissional do

Fonoaudiólogo, capacitando-se para realizar intervenções

apropriadas às diferentes demandas sociais;

Art. 6º Os conteúdos essenciais para o Curso de

Graduação em Fonoaudiologia devem estar relacionados

com todo o processo saúde-doença do cidadão, da

família e da comunidade, integrado à realidade

epidemiológica e profissional, proporcionando a

integralidade das ações do cuidar em fonoaudiologia. Os

conteúdos devem contemplar:

63

...

II - Ciências Sociais e Humanas – inclui-se a

compreensão dos determinantes sociais, culturais,

econômicos, comportamentais, psicológicos, ecológicos,

éticos e legais, lingüísticos e educacionais;

Art. 13. A estrutura do Curso de Graduação em

Fonoaudiologia deverá garantir:

I - Uma organização curricular estruturada em eixos de

formação que levem a um desenvolvimento coerente e

gradual, de modo a garantir a complexidade da formação

pretendida;

II - Estreita e concomitante relação entre teoria e prática,

ambas fornecendo elementos básicos para a aquisição

dos conhecimentos e habilidades necessários à

concepção clínico-terapêutica da prática fonoaudiológica;

III - Na área profissional, o conhecimento das

perspectivas ético/teórico/prática sustenta a formação

clínico-terapêutica que é básica às diferentes atividades

exercidas no campo fonoaudiológico. Apresentados em

uma perspectiva histórica, os princípios e métodos

fonoaudiológicos relacionados às questões éticas e

técnicas explicitam a natureza da atividade desenvolvida

em diagnóstico/terapia ou assessoria; e

IV - Os campos de conhecimento devem ser dispostos

em termos de carga horária e planos de estudo,

considerando-se a proporcionalidade entre atividades

teóricas, teórico-práticas, e estágios supervisionados;

priorizando na distribuição das disciplinas os conteúdos

específicos contidos na Ciência Fonoaudiologia. 3

3 RESOLUÇÃO CNE/CES 5, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2002. CNE. Resolução CNE/CES 5/2002. Diário Oficial da União, Brasília, 4 de março de 2002. Seção 1, p. 12 Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Fonoaudiologia.

64

Segundo os trechos retirados da Resolução, a preocupação dos

cursos é contribuir para a formação de um profissional com capacidade crítica-

reflexiva, instigando o caráter humano que a atuação social deve ter. A

pergunta “como devo agir?” pauta o ensino da ética.

Dada a idéia deste trabalho, de analisar a percepção dos professores

a respeito da construção de valores morais no curso de graduação em

fonoaudiologia, torna-se primordial fazer a distinção entre ética profissional e

bioética.

Discutir ética é refletir de forma crítica sobre os valores morais de uma

determinada sociedade. Em outras palavras, trata-se de uma busca pelo

fundamento dos valores construídos socialmente, que estão em constante

mutação.

O estudo da ética, entretanto, não deve ser reservado a especialistas,

mas disseminado entre todos os profissionais em formação, de forma a

estabelecer uma reflexão contínua sobre a ética e a vida moral. LA TAILLE

(2004) aponta para um aumento significativo no desenvolvimento de estudos

sobre o tema a partir de 2000. Este crescimento do interesse pelo tema pode

ser visto como uma demanda por um “instrumento de análise da sociedade”, o

que pode ser entendido como um termômetro do desenvolvimento educacional

na sociedade.

A idéia então seria desenvolver o tema ética nos cursos de graduação,

de forma que o aluno não tenha mais um ensino clássico, que pressupõe a

imposição dos deveres e da conduta moral, ou que se resuma à transmissão

de regras através da leitura do código de ética. O ensino deve ser dinâmico e

65

partir da discussão dos princípios morais, de forma a estimular uma reflexão

abrangente da atuação fonoaudiológica.

O código de ética do fonoaudiólogo tem 28 artigos, que estão sujeitos

a revisões periódicas, pois se tornam rapidamente ultrapassados devido ao

contexto histórico dinâmico atual. Desde a sua produção, em 1982, até hoje,

foram feitas duas alterações, uma em 1995 e a última em 2004. Essas

mudanças ocorreram, segundo NAGIB (2007), conselheira responsável pela

comissão de ética do Conselho Federal de Fonoaudiologia, em conseqüência

da abordagem negativa usada na primeira versão do código:

“As alterações ocorreram em virtude do caráter

autoritário e punitivo do primeiro código. Nesta última

versão a idéia era transformar a linguagem e a forma de

expor as orientações, para que o fonoaudiólogo pudesse

fazer do código um guia de orientação de forma mais

acessível”.

O código é, em geral, proibitivo e prescritivo, uma vez que faz

recomendações sobre o comportamento do profissional em diversas situações

sem esclarecer a lógica ou os princípios que justificariam tais atitudes. Como

nenhum código pode abarcar todas as situações possíveis e este não estimula

a reflexão principialista, pode-se dizer que o fonoaudiólogo, assim como

qualquer profissional, corre risco de se encontrar desamparado em diversos

momentos de sua trajetória profissional, já que não poderia recorrer ao código

nelas e tampouco à sua capacidade de julgamento em virtude do

desconhecimento dos valores que devem pautar sua atuação. A carência de

análise sobre a atuação dos fonoaudiólogos no código, torna ainda mais

66

relevante a discussão, na graduação, sobre o que deve ou não ser feito.

(CÓDIGO DE ÉTICA,2007)

A deontologia pode ser definida como uma moral aplicada às questões

profissionais. Dadas as relativizações possíveis em inúmeros casos, algumas

perguntas se tornam pertinentes. Até que ponto se justifica a existência de um

código profissional? Não deveria haver somente uma moral que pautasse o

comportamento de toda a sociedade? Como as regras devem ser ensinadas

aos alunos?

As regras são importantes porque deveriam orientar a ação de forma a

ajudar no relacionamento com o outro. O estabelecimento de uma regra, no

entanto, deve pressupor a possibilidade de sua desobediência, desde que bem

justificada, como única forma de garantir a sua evolução.

A ética profissional, porém, é tida, na maioria das vezes, como um

código deontológico, ou seja, um documento que formaliza regras pelas quais o

profissional deve se guiar para agir “corretamente”, como se determinados atos

se justificassem em qualquer caso. Um instrumento de controle e regulação.

Estudiosos afirmam que a ética profissional se situa como uma ponte

entre o campo individual e social da profissão. Seu objetivo, segundo

FERIGOTTI (2001, pg 61), “é possibilitar aos membros de uma categoria

melhores condições de compreensão e participação consciente na sociedade

em que vivem. (...) A profissão é o exercício da competência conduzida pela

ética”. Quer dizer, o conhecimento técnico e prático só é reconhecido pela

sociedade se usado de acordo com conceitos éticos bem delineados.

O código de ética, então, é compreendido como um instrumento no

qual o profissional busca subsídios para resolver situações eticamente

67

conflitantes do seu cotidiano. Um referencial para que ele defina o correto.

Segre e Cohen, citados por FERIGOTTI (2001), afirmam que, para o exercício

ético, não basta o conhecimento do código de ética. A assimilação e o

desenvolvimento de princípios são fundamentais.

“... um indivíduo só será ético quando puder

compreender e interpretar o código de ética, além de

atuar de acordo com os princípios pressupostos por ele.

Caberá, entretanto, também ao individuo, a possibilidade

de discordar, devendo responsabilizar-se frente ao

conselho, justificando a atuação diferente da proposta

pelo código. É justamente esse tipo de exercício que

propiciará a modificação dos códigos”. (pg 65)

O caráter mutável dos artigos do código de ética, a dinâmica social e a

busca por respostas sempre em harmonia com a comunidade fazem com que

novas metodologias de ensino sejam buscadas.

É importante notar que a ética não se esgota em seu caráter

profissional – deontológico. É evidente a importância de discutir as questões

relativas ao exercício da profissão. Outras realidades, que extrapolem a

fonoaudiologia, porém, poderiam ser abordadas durante o curso, introduzidas

na grade curricular dentro da disciplina Bioética. É necessário que o estudante

aprenda a tomar decisões, a se colocar de forma íntegra, a respeitar a

autonomia e a ter em mente sempre a beneficência. Pesquisas de Meira e

Cunha (1994) citadas por REGO (2003), questionam a eficácia da imposição

de normas hoje:

“A deontologia não atende mais a um dos objetivos

primordiais da educação, qual seja, o desenvolvimento

do comportamento moral nos alunos (...) O

68

comportamento moral é movido por valores interiores à

pessoa, não pelo conhecimento da norma e ou pelo

medo à punição” (pg 111).

Reitera-se assim, a complementaridade das disciplinas Ética

Deontológica e Bioética. Segundo SCHRAMM, citado em REGO (2004, pg

127), “ética profissional diz respeito à moralidade do agente, ao passo que a

bioética se refere à moralidade dos atos, reconhecendo a complexidade dos

dilemas e das relações sociais”. (2003,2001; e SCHRAMM,1994).

REGO (2003, pg 106) utiliza as teorias de Maturana (1998:72-73) para

enfatizar a idéia da preocupação com o desenvolvimento da competência ética

do futuro profissional e apresenta a ética como “preocupação com as

conseqüências que as nossas ações têm sobre o outro, (...) um fenômeno que

tem a ver com a nossa aceitação do outro”. Ou seja, para ele, é preciso utilizar

alguma estratégia para formar nos alunos a consciência de inclusão social e de

responsabilidade dos seus atos, o que não caberia mais à disciplina

deontologia.

Para que se possa pensar em um ensino dinâmico, em que o aluno

não tenha apenas participação passiva, é necessário retomar a discussão

acerca do desenvolvimento das competências moral e ética. O jovem que entra

na faculdade já se enquadra no nível máximo de desenvolvimento cognitivo.

Segundo Piaget e, para Kohlberg, estariam entre os estágios dois e quatro do

seu desenvolvimento moral, em sua maioria, na fase convencional

(REGO,2003 e OSWALD, 2003).

Os estágios um e dois correspondem ao nível pré-convencional, etapa

básica das atitudes morais na qual o indivíduo restringe-se a obedecer às

69

ordens simplesmente para evitar a punição (estágio 1) ou para estabelecer

contrapartidas fundamentadas no princípio da igualdade . A etapa convencional

corresponde aos estágios três e quatro, nos quais estariam, respectivamente,

os indivíduos que priorizam as expectativas pessoais e os que se preocupam

com o cumprimento das regras dentro da sociedade, as leis. Já na fase pós-

convencional - níveis cinco e seis, os mais elevados da classificação de

Kohlberg - estão os indivíduos que se baseiam em princípios, acatam normas e

reconhecem direitos sociais sem medo da coação, ou seja, exercem a

cidadania de forma plena (REGO 2003 e 2005).

A tarefa da faculdade seria então atuar de forma decisiva para o

amadurecimento do estudante de forma a transformá-lo em um agente moral

com capacidade de agir de acordo com a definição da fase pós-convencional:

Reconhecendo a existência de pontos de vista morais divergentes, analisando-

os quando em situação conflitante, buscando a conciliação e a integração, e

agindo conforme acordos sociais. Dessa forma, a formação meramente

tecnicista deve ser abandonada para que seja incluída a visão humanística,

considerando a autonomia, a beneficência e o respeito ao outro (REGO,2003).

A idéia é abandonar o modelo clássico de ensino, no qual o aluno é

passivo, e adotar a problematização e a sensibilização. Promover a

participação do aluno - a partir de debates em que o professor é mediador da

aprendizagem e apenas mais um no diálogo - torna o aprendizado contínuo e

mais próximo da realidade. (OSSWALD,2003 ) A base para esta abordagem

está na necessidade de compreensão do outro e de solidariedade. O objetivo é

estabelecer uma reflexão ética voltada para coletividade, em que a empatia

exerça papel fundamental. (SEGRE, 2003).

70

Esta formação ética, prática e técnica do fonoaudiólogo o

comprometeria decisivamente com a saúde coletiva, já que o tornaria

consciente, aberto ao diálogo, tolerante, responsável pela sua ação e por suas

decisões. Assim, o profissional não estaria sujeito a uma educação heterônoma

e seria estimulado a atuar de maneira engajada, de forma autônoma nas

relações entre colegas, pacientes e outros profissionais. Dessa maneira, em

harmonia com o defendido por REGO, julga-se que é responsabilidade da

graduação “agir de forma sistemática e concreta no campo da educação moral.

Introduzindo o conceito de competência e aplicando-o ao campo da moral. O

ensino da ética e dos direitos humanos deve haver como o objetivo é

desenvolver a capacidade do aluno em fazer uso critico da razão, desenvolver

seu compromisso e respeito aos diferentes e às diferenças” (2005ª, pg 77).

71

7. Resultados e Discussão

7.1 – Perfil demográfico e profissional dos profess ores

O senso é formado por 14 docentes, todas do sexo feminino e na faixa

que vai dos 36 aos 54 anos de idade. A média de idade do grupo é de 42,57

anos e a mediana, de 41 anos, o que mostra que não há desvio significativo. Já

o tempo de formação varia entre 15 e 29 anos. A média, neste caso, é de 19,36

anos e a mediana, de 18 anos. No que diz respeito ao nível de formação, o

grupo se divide em três grupos: 21,42% possuem título de especialista;

42,84%, de mestre, e outras 35,71%, de doutor. Dos que concluíram mestrado

ou doutorado, quatro o fizeram na área de fonoaudiologia, duas na de

psicologia, duas na de lingüística, uma na de educação e outra na de

linguagem. Estes dados mostram que o número de doutores entre os sujeitos

da pesquisa é pequeno, principalmente se for considerada a função acadêmica

exercida por eles, pressuposto para sua participação, que exige deles um

aprimoramento maior que o da média dos fonoaudiólogos. Esta tendência é

verificada na categoria dos fonoaudiólogos de forma geral, como mostra

FERREIRA (2001) e pode ser atribuída à sua baixa média (FREIRE,1989)

(CRFa,2007a).

O senso revela que a média de idade dos professores é de 42.5 anos.

Já a predominância feminina confirma o perfil característico e já delineado para

a categoria de fonoaudiólogos no Brasil.

72

FREIRE (1989) discute estes dois pontos em seu artigo, afirmando

que:

“A fonoaudiologia é uma profissão jovem, e o

fonoaudiólogo, tal qual a sua profissão, tem uma média

de idade de 30 anos de idade (...) Por ser ainda uma

profissão exercida predominantemente por pessoas do

sexo feminino, constata-se que a pequena porcentagem

de afastamentos temporários tem como motivação

gestação ou filhos pequenos”. ( pg. 106)

Outras autoras também discutem estes dados, caso de CARDOSO

(2001) que cita a prevalência feminina, e BERBERIAN, (2000) que também

aponta para a representação feminina e jovem da classe dos fonoaudiólogos.

Estas características estão intimamente ligadas à realidade de uma profissão

que ainda luta pela ampliação de seu mercado de trabalho e que enfrenta

dificuldades de reconhecimento diante dos demais profissionais da área da

saúde, uma vez compreendida sua interdisciplinaridade. A grande maioria dos

professores (85,68%) não se dedica exclusivamente à docência. A maior parte

das fonoaudiólogas que têm outra atividade (71,4%) trabalha em clínicas

particulares. Somente uma (7,14%) atua no serviço público. Cinco (35,7%) se

dedicam atualmente apenas à docência e duas (14,28%), apenas à

universidade em questão, o que confirma os estudos de BERBERIAN(2000),

FREIRE (1989) e FREIRE (1994, pg 46), em pesquisa realizada em 1989

constata “que já se tinha conhecimento através da prática cotidiana, o privilégio

da clínica sobre as outras formas de atuação é esperado”. CAPPELLETTI

(1989) discorre sobre a preocupação das faculdades com uma formação que

73

prepare o profissional para uma ação preventiva e menos “curativa” a partir

desta data, abrindo espaço na graduação para a reflexão sobre as ações em

fonoaudiologia.

“A atuação profissional até bem pouco tempo era quase

que exclusivamente curativa, mas a formação do

fonoaudiólogo vem ampliando o espaço habitado pelo

fonoaudiólogo, preocupando-se em formar o

fonoaudiólogo para atuar numa linha preventiva” (pg12).

MAIA (1987) discute a trajetória da profissão. Assim como as demais

autoras, ela concebe a fonoaudiologia como uma “profissão de natureza

clinica”:

“Definindo a atividade clínica como a natureza central da

sua prática, o fonoaudiólogo não reflete sobre o seu

significado”. (pg 162)

FERRIGOTTI (2001), em 1998, conclui que mais de 60% da população

da amostra atua na fonoterapia.

O pouco tempo decorrido desde a formação das professoras também

corrobora a idéia de uma profissão relativamente jovem, visto que a média

verificada foi de 19 anos.

7.2. Valores sociais e morais, como são adquiridos e como devem

ser usados na prática fonoaudiológica.

74

7.2.1. Como as professoras percebem os valores soc iais e morais

(O que você entende por valores sociais e morais?)

Nas respostas à primeira pergunta, as professoras discorrem sobre o

que elas entendem por valores sociais e morais. Dez professoras citam a

construção social dos valores morais a partir da interação e seu papel de

facilitador das relações entre os indivíduos, bem como o seu caráter mutável de

acordo com o tempo e o espaço. Três percebem os valores em sua dimensão

individual e fazem referência à relação com o outro. Apenas uma entende os

valores a partir da esfera coletiva e os atribui à sociedade:

“São valores nos quais uma sociedade se pauta ao agir,

ao estruturar suas práticas e o sentido de suas ações”.

(P10)

Os questionários respondidos pelas professoras P5 e P11 são os

únicos que relacionam os valores morais à ética, idéias que estão

decisivamente ligadas já que é a partir deles que a reflexão acerca da ética se

dará em sala de aula ou fora dela. No primeiro, a professora cita a construção

dos valores como um “processo contínuo e também dinâmico do sujeito com o

seu meio”, afirmando que ele se inicia no núcleo familiar:

“Acredito que os valores sociais e morais têm estreita

relação com a ética individual e coletiva. Funcionam

como uma bagagem relacionada ao conhecimento que é

construído em um processo continuo e também dinâmico

do sujeito com o seu meio, começando a se fundamentar

no núcleo familiar”. (P5)

75

Já a outra resposta coloca os valores morais como a base que

sustentará as ações e a interação nos seus núcleos de relacionamento:

“Os valores sociais e morais são a base que sustentarão

o eixo de ações que interagem nos núcleos familiar,

inicialmente, até os universos maiores de troca. Eles

instruirão as noções de ética do sujeito junto aos

núcleos”. (P11)

Uma das professoras, porém, afirma que os valores morais

independem do outro e dizem respeito somente ao indivíduo que os possui. A

resposta vai contra o que dizem os autores discutidos nesta dissertação.

“Valor social se refere ao comportamento e atitudes com

o outro, nas relações humanas do cotidiano. Valor moral

independe da relação com o outro, e se refere à postura

e as atitudes do indivíduo com ele mesmo”. (P2)

Outras duas professoras, as de idade mais avançada dentro do grupo

pesquisado, ligam os valores à religiosidade e classificam alguns deles de

“imutáveis”, o que pode ser atribuído a uma visão dogmática da conduta moral.

“São os princípios que norteiam a vida pessoal e da

sociedade. Alguns valores mutáveis de acordo com a

época e sociedade em que se vive. Outros são

imutáveis”. (P3)

76

“A moral se refere a conduta humana, e esta é

determinada pelos costumes de uma sociedade, que

segue os princípios religiosos e crenças”. (P9)

7.2.2. Compreensão a respeito da formação dos valor es e conceitos

éticos no aluno (Como você acha que os alunos forma m seus valores e

conceitos éticos?)

Questionadas sobre como consideram que o aluno forma seus valores

e conceitos éticos, as docentes deram respostas que, assim como as dadas na

questão anterior, evocam a família e as relações do sujeito como fatores

primordiais no processo. Nove professoras se referem à família como a

primeira fonte de contato do aluno com os valores éticos e à interação pessoal

contínua como elemento complementar posterior.

“Esses valores são formados ao longo da vida,

principalmente com a família e a escola”. (P8)

“Acho que formam através da experiência e da reflexão,

isto é, da possibilidade de adquirir conhecimento e operar

sobre este e suas implicações sociais, começando no

núcleo familiar”. (P5)

“Os alunos formam através da vivência na prática

acadêmica: sala de aula, clinica e também extra-muros

(estágios); pelos diálogos pessoais e profissionais nos

espaços que circula”. (P11)

77

“Primeiramente na família, depois no seu processo de

socialização, na escola e fora dela, devendo ser

continuado amadurecido e refletido ao longo da vida”.

(P13)

“Os valores morais, penso que na sua formação familiar

e durante toda a vida. Dito de outra forma, naquilo que a

sociedade nos oferece. Quanto aos conceitos éticos, faço

uma distinção entre valores, pois entendo que se refere

aos valores morais, penso que formação profissional (os

professores) tem uma grande responsabilidade nisso,

uma vez que será no exercício da profissão que cada um

de nós estará atuando no mundo e modificando os

valores morais da sociedade, que por ventura venham a

ferir seus princípios mais nobres de respeito ao ser

humano e aos seus direitos.” (P14)

Esta última professora (P14) entende que o professor tem “grande

responsabilidade” nesta dinâmica, pois colabora de forma decisiva para a

atuação profissional do indivíduo, através da qual o homem modifica o mundo.

Segundo ela, o profissional deve se resguardar para garantir o respeito à

dignidade e aos direitos dos homens (REGO, 2003).

Apenas uma dá importância à mídia neste processo. Ela coloca de

maneira interessante a diferença entre ação e discurso na construção dos

conceitos morais e é uma das duas únicas que falam de maneira explícita do

papel das instituições de ensino na formação moral do aluno.

“A formação se dá através do convívio e da interação,

observando o comportamento e o discurso de pais e

78

amigos, bem como na escola, na universidade e na

mídia”. (P7)

7.2.3. Compreensão a respeito da ética no exercício profissional (O que é

ser ético no exercício da profissão de fonoaudiólog o?)

Respondendo à questão “O que é ser ético no exercício da profissão

de fonoaudiólogo?”, oito professoras usaram a palavra “respeito” para definir o

que seria um exercício profissional ético do fonoaudiólogo. Vários interlocutores

aparecem como beneficiários desta atitude: pacientes, membros da família dos

pacientes, demais profissionais da saúde e até a própria pessoa que executa a

ação.

“Respeitar o outro. Tratar de forma digna os pacientes e

suas famílias, também é importante o respeito aos

colegas de profissão e aos de outras profissões

envolvidas no diagnostico e tratamento fonoaudiológico”.

(P4)

“Para mim é considerar que o objeto de estudo da nossa

profissão não é a fala, a linguagem, a voz ou a audição,

mas o sujeito que fala. Para isso, deve-se respeitar os

limites da sua atuação nos limites individuais de cada

um. Considerar o sujeito para além do interesse técnico,

e assumir totalmente as responsabilidades dos seus

atos, respeitando os pontos de vista dos outros”. (P5)

79

Também foram encontradas menções a outras virtudes e princípios

tais como a honestidade, a beneficência, a responsabilidade, a igualdade, a

justiça, a dignidade, a “preservação do outro” (como cuidado) e a autonomia.

“Estar aberto à reflexão sobre o significado de seus atos,

buscando agir em beneficio do outro e da construção de

um sistema de saúde mais justo igualitário, eqüitativo e

eficaz”. (P10)

Três lembraram das regras de conduta e do código de ética

profissional. Destas, duas advogam a favor do respeito e cumprimento fiel das

regras (P2 e P8), enquanto a terceira reflete sobre o tema de maneira singular

(P3):

“Ser ético é ser honesto com você mesmo, com os

pacientes e com colegas. Respeitar a privacidade dos

pacientes, seguir as normas e as leis da profissão. Atuar

com dignidade perante você mesmo, o paciente e a

sociedade como um todo”. (P2)

“Ser ético é seguir as regras estipuladas pela sociedade

e trabalhar em conjunto sem prejudicar o outro”. (P8)

“Não acredito que seguir o código de ética faça o

fonoaudiólogo ser ético. O código são regras

determinadas; ser ético vai além. Tem a ver com valores

e princípios morais, com a cidadania. Aquilo que você faz

por que acredita”. (P3)

80

Também são três as docentes que demonstram preocupação com a

reflexão contínua sobre os próprios atos. Apenas uma delas alega que a

construção de um profissional ético se dá a partir da empatia.

“Ser ético é, no exercício diário, colocar-se no lugar do

outro e sentir-se feliz neste lugar. É usar a empatia em

um exercício constante (...)Para mim, isto é ser ético,

este conjunto de ações, lidando com as diferenças”.

(P11)

Uma docente questiona se vale realmente a pena fazer uma distinção

entre ser ético na profissão e ser ético na vida, da seguinte forma:

“Não sei se há uma distinção em ser ético no exercício

da profissão e ético na vida, no entanto, mais

especificamente no exercício dos profissionais de saúde,

ser ético é fazer uma defesa da vida. A fonoaudiologia

tem como especificidade a defesa da vida naquilo que

nos dá mais autonomia, que é a capacidade de

comunicação”. (P14)

7.2.4. Temas conceituais relacionados à aprendizag em dos valores

morais

Para construir uma discussão teórica acerca das respostas dadas a

estas questões, cabe voltarmos às idéias a respeito dos conceitos de valores

morais exploradas na introdução.

81

Os valores morais ou sociais podem ser traduzidos como princípios

norteadores e indispensáveis, construídos através da experiência do próprio

sujeito, levando em conta sua bagagem cultural, econômica, política social e

intelectual. Ou seja, a partir dos juízos de valor que faz, a pessoa reconhece e

escolhe conceitos que considera desejáveis para a sua conduta e sua relação

consigo mesmo, com o outro e com meio ambiente (FERIGOTTI,2001 e

GOMES,1996). Isto é, não há valor em si nas ações, objetos ou pessoas. Só se

atribui valor a qualquer coisa a partir da relação construída pelo sujeito.

Na pergunta 1, busca-se o entendimento das docentes acerca dos

valores sociais e morais. Muitas se aproximam da idéia de construção social

dos valores a partir da interação e apenas uma se afasta ao afirmar que “valor

moral independe da relação com o outro, se refere à postura e atitudes do

indivíduo com ele mesmo”. (P2)

MORIN (2005) contribui para a discussão fundamentando a ética a

partir de três vertentes: a biológica, a individual e a social. Para ele, as três se

inter-relacionam para produzir no homem o caráter imperativo das ações

morais. Ele elucida o aspecto da interação da seguinte forma: “O ato moral é

um ato de religação: com o outro, com a comunidade, com uma sociedade e,

no limite, religação com a espécie humana” (2005, pg 29). SCHRAMM (1994)

comenta a respeito do “fundamento ontobiológico da ética” - através do qual ele

desconstrói o significado da palavra bioética - que é possível encontrar também

uma explicação para os valores morais e sua estreita vinculação com o

conceito de ética:

“Nesse sentido, a “dimensão” ética pode ser considerada

um princípio instituinte da vida humana, tanto individual

82

como coletivamente, ligada à experiência imaginaria e

interiorizada do outro”. (pg 327)

SCHRAMM (1994, pg 327) chama a atenção para o ato da

comunicação como um espaço relacional, ou seja, “uma rede entrelaçada de

linguagem e emoção, constitutiva da vida humana”. Esta idéia é colocada por

todas as professoras que citam a interação como aspecto fundamental na

construção dos valores. A noção de que o sujeito é ativo e dá significado aos

outros, às ações e ao ambiente ao atribuir valor a eles, ou seja, segundo suas

projeções afetivas, é que demonstra o caráter dialógico do processo.

Nas respostas à primeira pergunta, surgiu também a questão da

mutabilidade dos valores morais. Apenas duas abordam este ponto. Uma

entende que "alguns valores são mutáveis e outros imutáveis" (P3) e a outra,

que eles são determinados "pelos costumes de uma sociedade que segue

princípios religiosos e crenças" (P9), ou seja, princípios dogmáticos que não

cabe questionar.

O fato destes, P3 e P9, serem os professores de idade mais avançada

da pesquisa não deve ser encarado como simples coincidência. A idéia de

valores e princípios rígidos está intimamente ligada ao modelo educacional

baseado em valores absolutos, bem como em instrumentos de coação e

punição, modelo herdado do ensino e da moral religiosa que vigorou até as

últimas décadas do século XX. Nele, a base da relação entre docentes e

discentes é a disciplina rígida imposta de forma autoritária e o respeito

unilateral ao educador, características de uma pedagogia heterônoma. Essa

relação desigual torna o aluno refém de valores morais pré-estabelecidos já

83

que não estimula o debate acerca deles e prejudica, portanto, o

desenvolvimento da autonomia para a reflexão, aspecto fundamental na

formação de um profissional capacitado atualmente.

Todo o processo de construção dos valores deriva de um

compartilhamento não doutrinário e segue uma decisão pessoal motivada pela

experiência. Isso significa dizer que eles são recriados pelas ações morais dos

indivíduos, o que confere a eles um caráter mutável tanto no aspecto individual

quanto no coletivo. Mesmo que alguns valores sejam adotados ou até impostos

por normas orientadoras, sua assimilação e sua importância devem ser

determinadas intimamente pelo sujeito de acordo com o contexto histórico e a

sociedade, também mutável, em questão. Por isso, deve ser dada ao aluno a

possibilidade de questionar os valores e princípios vigentes. Se a simples

internalização fosse o único processo para construção da percepção dos

valores, haveria, sem dúvida, maior homogeneidade de pensamento.

MENIN (2002) cita Cabanas afirmando que:

“Valores são os critérios últimos de definição de metas ou

fins para ações humanas e não necessitam de

explicações maiores além deles mesmos para assim

existirem” (pg 91).

Além disso, ressalta que os valores são variáveis e dependem da

avaliação dos costumes locais e que, por isso, “algo considerado um dia como

correto e justo poderia ser, em outra época, errado ou injusto”.

Nas respostas da pergunta 2, as docentes fazem novamente menção

ao caráter interativo dos valores morais e apontam a família como principal

84

responsável pela sua formação. Uma delas, a P13, cita a socialização

secundária e profissional para explicar como a formação dos valores se dá.

Segundo REGO (2003), a socialização é o processo no qual os indivíduos

adquirem habilidades e conhecimento que vão dar significado para suas ações

na comunidade a que pertencem. Os primeiros agentes da socialização

primária são os pais, seguidos por outros agentes que podem cooperar para a

aquisição de novos conhecimentos e valores. A socialização profissional

promove um ajuste para que o indivíduo assuma as situações preestabelecidas

para a profissão escolhida.

A infância é uma fase crucial para a formação da personalidade, dos

hábitos e dos princípios. A aquisição de informações e sua assimilação como

forma de conhecimento tornarão possível que o ser atue sobre o mundo. A

educação é um processo contínuo, que determina sempre o desenvolvimento e

a absorção de novos patamares. De acordo com DIAS (1999, pg 460),

Kohlberg descreve um desenvolvimento seqüencial e progressivo, que se inicia

na infância. Esta passagem para etapas qualitativamente superiores se daria

através do raciocínio moral estimulado pelos conflitos morais vivenciados

cognitivamente. Ou seja, segundo Kohlberg, a interação tem uma grande

parcela de influência no desenvolvimento moral e, ao contrário do que

acreditam algumas professoras, os exemplos morais têm influência limitada

sobre o desenvolvimento moral, já que este modelo de educação não explora a

capacidade do indivíduo de experimentar a ação.

MORIN (2005) usa um trecho de Kostas Axelos para introduzir seu

capítulo sobre ética e sociedade.

85

“A moral é produzida pelo social, afirma-se com a razão,

mas sem se verificar que é o social também que é feito

pela moral” (pg 69).

Isto mostra o caráter cíclico de retro-alimentação do social pela moral e

vice-versa, pertinente à discussão sobre a influencia do campo relacional na

formação dos valores.

GOERGEN (2001) apresenta a educação moral como um processo

dialético e dialógico, no qual os conflitos devem ser resolvidos racionalmente a

partir dos costumes que cercam o indivíduo. Para ele, a assimilação dos

princípios se dá de forma conjunta, ou seja, o princípio moral é assimilado junto

com o seu contra-princípio. Este processo complexo só pode se dar a partir de

uma perspectiva de educação reflexiva para que cada um possa, de forma

autônoma, lidar com os conflitos, aprender a tomar decisões e se

responsabilizar por elas.

Esta forma de desenvolver os valores morais vai contra a coação

(educação heterônoma) e favorece um desenvolvimento autônomo, de respeito

mútuo e reciprocidade para aquisição dos conceitos morais (LA TAIILLE, 1996,

PUIG, 1998). A docente (P7), em sua resposta, chama a atenção para este

processo, lembrando a importância da coerência entre ações e discursos

morais, tanto da parte dos professores quanto dos alunos:

”A formação se dá através do convívio e da interação,

observando o comportamento e o discurso de pais e

amigos, bem como na escola, na universidade e na

mídia”. (P7)

86

Não é, portanto, a imposição dos valores que guia a construção, mas

as ações de reciprocidade. Assim, o sujeito assimila e assume suas idéias,

sem se sentir coagido a agir por força de uma autoridade, o que enfraqueceria

sua conduta, tornando-a ineficaz em sua formação moral.

Cabe ressaltar que esta mesma docente, P7, é a única a citar o papel

da mídia no processo de desenvolvimento das percepções morais e éticas. A

mídia apresenta de maneira sedutora um juízo acerca dos valores - através de

uma linguagem atrativa e dinâmica presente na internet, em jogos interativos,

em anúncios e em novelas, por exemplo -, o que aumenta de forma

significativa a possibilidade de assimilação destes julgamentos pelos jovens.

Consideradas boas ou ruins, estas ações morais nem sempre são socialmente

compartilhadas e reforçam crises de conduta na sociedade dado o grande

alcance dos meios de comunicação.

A observação de exemplos faz sentido para a construção dos valores

morais já que, para Piaget, o primeiro estágio de aprendizado, a fase sensório-

motora, passa necessariamente pela imitação de condutas. Mas, segundo o

teórico, mesmo esta primeira fase não se resume somente a isto. Segundo

ARAUJO (2007), os exemplos são importantes uma vez que é a partir do

processo pessoal de valoração que o sujeito estabiliza e organiza seus critérios

e percepções, ou seja, criando normas de ações e “escalas normativas” de

valores que o impulsionam a agir nas situações seguintes de acordo com a

própria consciência, através do processo de organização de valores que ele

mesmo criou.

A pergunta 3 diz respeito à compreensão das professoras sobre o que

é ser ético. A análise destas respostas está intimamente ligada à das respostas

87

anteriores na medida em que, como já foi dito, é a partir das complexas escalas

de valores que os indivíduos formam sua identidade moral. Se os valores

eleitos pelo indivíduo como prioritários forem desenvolvidos a partir de idéias

positivas ou aceitas pela comunidade, maior a chance dele se tornar um sujeito

de ações e comportamentos morais e posições éticas. O contrário também

pode acontecer, ou seja, uma pessoa construir uma personalidade moral

sustentada em ações e comportamentos que não correspondam a posições

éticas em relação aos outros, o que prejudicaria sua religação consigo mesmo,

com o outro, com a comunidade em que vive e, em última instância, com a

humanidade (MORIN, 2005; SCHRAMM, 1994;ARAUJO, 2007).

As respostas à pergunta 3 confirmam, de certa forma, as linhas de

raciocínio apresentadas nas respostas às questões anteriores. A idéia

tradicional sobre valores sólidos transmitidos pela família através dos exemplos

de conduta, de forma heterônoma, dá sentido à grande importância dada pelas

professoras à noção de respeito, tanto no que se refere aos outros quanto no

que diz respeito ao código de ética da profissão. Neste caso, a palavra vem

associada à idéia de submissão e disciplina. Da mesma forma, não

surpreendem as várias menções aos princípios por parte daqueles que

defendem uma educação moral autônoma, já que o respeito tem papel

fundamental no diálogo. Desta vez, a palavra aparece vinculada à idéia de

contrato social que garante um relacionamento harmônico entre os indivíduos.

Apesar de predominarem respostas que extrapolam o caráter

deontológico de ética, observamos que alguns pesquisados, P2 e P8,

relacionam a normatização e regulamentação da profissão à compreensão de

competência ética, como se ético fosse o que é orientado pela lei e pela ordem.

88

Para Kohlberg, segundo BIAGGIO (1997, pg 48), a maturidade moral,

estágio pós-convencional, só é atingida quando “o sujeito é capaz de entender

que a justiça não é a mesma coisa que a lei”, ou seja, que as leis podem estar

moralmente erradas, e por isso devem ser modificadas. Essa teoria faz com

que todo indivíduo seja potencialmente capaz de transformar a sociedade,

sendo esta nuance essencial para o processo de evolução de princípios para a

democracia e, em grande parte, responsável pelo desenvolvimento da

cidadania.

Algumas docentes também observam que o processo de formação de

valores é dinâmico e contínuo, e, portanto, reconhecem que o ensino da ética

se estende à universidade através da reflexão sobre a atuação em saúde.

Defendendo a tese de que não basta que o fonoaudiólogo tenha competência

técnica, mas também a competência ética, elas associam o ser ético ao

exercício da profissão. As docentes reforçam a idéia de que, para ser ético no

exercício profissional, o fonoaudiólogo deve ter habilidade para decidir como

agir em cada situação, considerando o respeito, a eqüidade, a igualdade, a

beneficência e a responsabilidade de suas ações sobre pacientes, sua família e

os demais profissionais. Logo, estas professoras relacionam o ser ético aos

hábitos de reflexão do profissional sobre suas atitudes em prol dos outros e de

um justo sistema de saúde, como lembra a P10. As ações devem ser

fundamentadas sobre a razão dialógica e levar em conta as condições

individuais e coletivas, de forma que haja uma convivência justa entre estas

demandas. Reconhecer os princípios mais notáveis para formação do caráter

do profissional de saúde - bondade, beneficência, justiça, respeito, não-

maleficência e autonomia - é um passo importante para o desenvolvimento das

89

competências éticas do profissional, mas ainda está longe de ser

suficientemente consistente para promover relacionamentos mais humanos no

cotidiano do profissional (PUIG,1998a e GOMES,1996).

“Não acredito que seguir o código de ética faça o

fonoaudiólogo ser ético.(...) Tem a ver com valores e

princípios morais, com a cidadania”. (P3)

“Não sei se há uma distinção em ser ético no exercício

da profissão e ético na vida, no entanto, mais

especificamente no exercício dos profissionais de saúde,

ser ético é fazer uma defesa da vida”. (P14)

Estes dois trechos corroboram a noção de que dilemas éticos vão

sempre desafiar os profissionais na prática cotidiana. Isto, porém, é mais

dramático quando este trabalhador atua com a saúde alheia. As competências

ética e técnica determinam a qualidade do profissional e também nos remetem

ao ideal da formação profissional conectado à cidadania (BERBERIAN,2002).

A professora 11 usa o termo empatia para definir a competência ética

profissional:

“Ser ético é, no exercício diário, colocar-se no lugar do

outro e sentir-se feliz neste lugar. É usar a empatia em

um exercício constante”. (P11)

Mais uma vez a visão dialógica é mencionada. Desta vez, porém, ela

traz claramente a idéia de equilíbrio entre a razão e a emoção, constitutiva da

competência ética. SCHRAMM afirma que “se aceitarmos a premissa, emoção,

90

sob a forma de compaixão, este será um dado primário do nosso agir no

mundo” (1994, pg 328). Ele também cita Maturana para ressaltar que “todo

processo de conhecimento tem como fundamento o observador”, que na sua

prática cognitiva estabelece e ressignifica suas ações e seu viver. A partir daí,

constrói o raciocínio de que, para toda ação, o realizador precisa se dar conta

de suas conseqüências sobre o outro. Isso significa que as questões éticas se

encontram quando o sujeito, na dinâmica relacional, se identifica na ação,

compartilhando-a com o outro. Ele afirma que o “fundamento da ética é um

emocionar-se para com o outro”. Idéia primordial da resposta da professora em

questão, o domínio da ética está vinculado à empatia, uma das formas mais

complexas de responsabilidade e preservação do outro (SCHRAMM,1994, pg

329).

Para uma consciência moral autônoma, capaz de se colocar no lugar

do outro, a pessoa deve, de maneira voluntária, agir conforme o que ela

mesma compreende por correto. Esta forma de encarar as ações morais

acarreta comprometimento e responsabilidades pessoais do indivíduo. Na

construção moral, ele, então, se mostrará disponível para a reflexão e o

debate, e estará atento aos demais de maneira solidária e ciente das

implicações de suas ações e palavras. A ação conforme a percepção ética

resulta em um aprendizado constante, pois permite a consciência da

possibilidade de reorganização dos conceitos e sentidos (SCHRAMM, 1994).

Por isso, é questionável que as docentes considerem que transferir

valores e virtudes como conceitos prontos e agir conforme normas torna suas

atitudes justas, respeitosas ou solidárias. Na perspectiva dos autores citados

91

nesta dissertação, é a reflexão dialógica a respeito das indagações morais que

constrói uma participação social ética.

O que chama atenção a respeito das construções realizadas pelas

professoras neste bloco de perguntas é que as respostas parecem se

contrapor de maneira equilibrada em diversos aspectos: percepção individual x

coletiva dos valores; dimensão deontológica x bioética da ética e educação

moral na infância x contínua.

7.3. Acerca da formação dos valores dos alunos (A f aculdade e os

professores devem intervir?)

7.3.1. A Faculdade

Todas as docentes consultadas acham que a faculdade deve intervir

na formação moral dos alunos. Oito delas justificam a opinião fazendo

comentários genéricos sobre o processo educacional e cinco defendem a

resposta com argumentos que se referem às possíveis situações-problema

durante a atuação como fonoaudiólogo.

Das oito que mencionam o processo educacional, sete lembram que a

construção dos valores é contínua, o que exigiria debate sobre todos os

âmbitos da vida do aluno.

“Porque valores sociais e morais são construídos na

relação com o ambiente e a educação profissional tem

papel primordial neste aspecto, junto com a família”. (P5)

92

“A faculdade, (...) interfere e deve interferir, pois existe

uma troca entre o professor – que é o que facilita a

experiência – e o aluno, entre o aluno – o que facilita a

experiência – e o paciente/cliente e os diferentes

segmentos. Mas a família e os outros ambientes também

devem e há muito tempo já intervêm”. (P11)

“Porque são valores que devem ser refletidos ao longo

da vida, inclusive na universidade, tendo o docente um

papel importante nesta formação”. (P13)

Já entre as cinco outras, que se referem especificamente à

fonoaudiologia, três consideram que a universidade não deve ir além das

questões próprias da profissão. Estas demonstram preocupação com a

possibilidade de dirigismo ideológico na intervenção dos professores. Para

elas, a faculdade deve interferir pouco, pois os valores dos alunos já foram

construídos (P12), cabendo à universidade, então, introduzir “algumas

questões especificas referentes à profissão”, além da discussão de valores que

“não firam o exercício da fonoaudiologia” (P14).

“Desde que esses valores morais não firam o exercício

ético da profissão de fonoaudiólogo”. (P14)

“Apesar de acreditar que o aluno já chega com esses

valores, há questões especificas que devem ser

discutidas antes do inicio do exercício da profissão”.

(P12)

93

“Acho que a faculdade interfere pouco, pois esses

valores começam desde cedo, nas crianças”. (P8)

Uma professora, porém, se contrapõe a esta visão. Esta acredita que a

universidade deve participar da formação do cidadão de forma ampla e, de

certa forma, corrigir as distorções na “visão de mundo” do discente, já que

atribui valor a ela:

”Toda instituição de ensino deve procurar melhorar a

visão de mundo e a forma de relacionamento dos seus

alunos”. (P7)

A posição de que a faculdade tem papel ativo na formação moral do

aluno é compartilhada por outra docente, que defende a tentativa de formação

de um profissional com determinado perfil pela instituição, mas não estabelece

uma hierarquia entre esta e outras possibilidades:

“Porque valores não são dados a priori nem são

imutáveis: se constroem, se reconstroem e se fortalecem

a partir das experiências de cada um. Sendo uma

responsabilidade da instituição formadora a definição do

perfil do profissional que deseja formar, e sendo uma de

suas metas a formação de um profissional que atua

segundo uma ética do bem, da beneficência, é sua

obrigação garantir espaços de reflexão sobre as práticas

cotidianas dos sujeitos, na saúde e na vida”. (P10)

94

Quando questionadas sobre como a instituição deve intervir na

formação de valores dos alunos, nove acham que o debate e a reflexão seriam

a bases das atividades propostas.

“Oferecendo informações, abrindo espaço para o debate

e expondo claramente as conseqüências de atitudes

imorais ou antiéticas para toda a sociedade”. (P7)

“Através de reflexões e debates”. (P9)

“Através de discussões pautadas em situações-problema

que envolvem questões éticas”. (P12)

“Mediante o debate de idéias presentes no bojo de suas

disciplinas que venham interferir na sua conduta

profissional”. (P13)

Cinco outras afirmam que a melhor forma de incentivar a construção

de valores é através do comportamento exemplar do professor.

“Por meio de exemplos de relação entre profissional e

pacientes e vivenciando a integração da atuação na

sociedade em termos mais amplos, além da

fonoaudiologia”. (P2)

“Através de uma postura ética. O exemplo aprendido em

casa deve ser reforçado através de um comportamento

ético e moral do professor ao lidar com os pacientes, seus

familiares e com os outros profissionais”. (P4)

95

“Os professores apresentando boa conduta, sendo éticos,

dando o exemplo”. (P8)

Destacam-se ainda algumas falas. Como a da professora 1, que

acredita que a universidade deve dar maior importância à cadeira de ética.

“Principalmente com o comportamento ético de todos

direta ou indiretamente envolvidos com a educação dos

graduandos. Valorizar disciplinas específicas, bem como,

conteúdos éticos durante toda a formação do aluno”. (P1)

Outra sugere a ampliação da possibilidade de ingresso nas

faculdades, de forma a torná-la mais plural e, assim, estimular o debate:

“De início oferecendo oportunidades de acesso à

universidade mais favoráveis e criando uma metodologia

que permita a reflexão social, com problematização da

própria formação acadêmica e da conduta de uma maneira

geral”. (P5)

Uma professora, além de citar a reflexão como uma ação que deve ser

priorizada nas instituições de ensino, sugere ainda formar grupos de estudos e

é a única resposta que faz referência à reflexão dos próprios docentes.

“Criando espaços de reflexão sobre os sentidos do agir,

não só nas disciplinas especificas, mas em fóruns,

grupos de supervisão, estimular a formação de comitês

de ética e a atuação junto aos professores, também

despertando neles estas reflexões para que possam

multiplicar esses espaços”. (P10)

96

Há ainda uma docente que critica a falta da disciplina Filosofia no

currículo, o que, segundo ela, acrescentaria aos debates sobre ética na

faculdade. A sugestão também é dada como resposta à pergunta seguinte:

“Em atividades que induzam a reflexão e a crítica, tanto

na prática clínica como em atividade coletivas. Penso

que uma de nossas dificuldades é não termos uma

cadeira de filosofia. Ela muito nos ajudaria a travar bons

diálogos”. (P14)

7.3.2. Os professores

Assim como na pergunta anterior, todas responderam afirmativamente,

ou seja, consideram que o professor deve intervir na formação moral do aluno.

Quatro justificam esta posição mencionando a interação.

“Porque a formação dos valores é importante para todos

e os professores podem ganhar muito com essa

integração”. (P2)

“Porque os valores éticos e morais fazem parte de uma

boa educação e da formação de verdadeiros cidadãos”.

(P4)

“Acredito que sim, pelas mesmas razões apontadas para

a faculdade. Vejo que o educador, de qualquer área, traz

embutido em sua função a necessidade de discutir os

97

valores sociais e morais da sociedade em que se atua”.

(P5)

Duas respostas falam da importância do professor como exemplo

marcante na formação do alunado e afirmam que seu comportamento é uma

referência para os discentes, mesmo que de maneira inconsciente. Uma avalia

que a simples observação da conduta do professor é mais profícua que a

discussão das questões relevantes.

“Através do próprio exemplo de conduta do professor,

acho que ser ético é mais importante para a

aprendizagem dos valores do que falar deles”. (P3)

“Pois toda ajuda é boa, ajuda a montar o caráter do

aluno”. (P8)

“Porque o modelo profissional que o aluno tem é o

professor, que deve participar dentro das disciplinas que

ministram e através das atitudes demonstradas na

clinica”. (P12)

Outras duas fazem referência à função de mediador do professor,

através da qual ele se torna um facilitador da formação técnica associada à

responsabilidade social e ética. Estas mesmas professoras fazem duas

observações: uma indaga se não é o momento de montar um projeto de

formação continua do professor para que este reflita sobre seu papel (P10),

enquanto a outra sugere que a instituição e o professor acompanhem o

98

profissional formado pela instituição para incentivar seu amadurecimento e sua

busca por conhecimentos (P11).

“Porque os professores são importantes e privilegiados

mediadores na formação do aluno. Vinculando a

formação técnica à responsabilidade ética e social do

nosso agir em saúde. Este projeto esbarra na própria

formação do professor, de forma que acredito que deva

haver um projeto que reflita sobre o papel do docente nos

rumos da formação”. (P10)

“O professor é o facilitador no processo de vivencia do

aluno, do paciente e dos outros segmentos

(sociedade).(...) Acho que o professor deva acompanhar

o aluno em sua trajetória no período da universidade, e

atualmente, com o advento e a evolução dos meios de

comunicação, penso que (extra-obrigação) deva

acompanhar esse sujeito egresso após a sua saída da

universidade”. (P11)

Não há muita divergência de idéias sobre como o professor deve

participar na formação de valores do aluno. Para oito professoras, dada a sua

situação de modelo profissional, seu comportamento exemplar em sala de aula

é fundamental na formação dos valores éticos do aluno. Várias citam a

incitação ao debate e à reflexão como importantes ferramentas:

“Na própria dinâmica da disciplina, avaliar o aluno como

um todo, postura, conduta, respeito aos outros, além de

cobrar o cumprimento das regras. Trazendo também

questões de debate social (...) favorecendo a reflexão”.

(P5)

99

7.3.3. Considerações sobre a atuação dos professore s e da faculdade no

processo de aprendizagem

As respostas acima apresentadas revelam as posições dos

professores sobre a pertinência de sua intervenção, bem como da faculdade,

na formação da competência moral dos alunos e a maneira como este trabalho

deve ser conduzido. Verificou-se que todas as docentes consideram importante

a participação da instituição de ensino.

A construção das percepções morais e éticas é contínua e inacabada.

Por isso, deve-se imaginar que todas as instâncias de convívio do individuo

colaboram para esta produção, entre elas, a educação superior, que deve,

desta forma, adotar estratégias que aumentem a possibilidade de os alunos

optarem por valores positivos como parâmetros fundamentais para seus

julgamentos. Este objetivo dificilmente será alcançado pelos alunos apenas

através da simples observação do comportamento de seus modelos, no caso,

os professores (ARAUJO,2007). Portanto, não se pode restringir a estratégia

de ensino à demonstração de bons exemplos de conduta. As instituições de

ensino devem, então, estimular a participação reflexiva ativa através de

debates constantes sobre os problemas sócio-morais de forma a elevar o nível

de consciência moral (DIAS,1999). Dez professoras se aproximam desta idéia.

P10 sugere a criação de espaços de reflexão enquanto P14 propõe a inclusão

da disciplina de filosofia no currículo. Dessa forma, os sujeitos se preparam

cognitivamente para estabelecer diálogos cada vez mais complexos a respeito

100

desta temática, promovendo não apenas o próprio amadurecimento ético

profissional, mas também o desenvolvimento da cidadania e da sociedade

(ARAUJO,2007).

A afirmação de que a faculdade deve estimular a adoção de valores

positivos levanta, no entanto, uma importante discussão, já que pressupõe um

juízo sobre os tais valores. Afinal, quais valores podem ser considerados

“positivos”? Como fazer este tipo de distinção sem desrespeitar posições

diferentes? O professor deve, então, estimular o aluno a agir e pensar de

maneira autônoma e, para isso, precisa “resistir à tentação da onipotência”

(PERRENOUD, 1998, pg. 217), lembrando-se de que, na educação, há um

hiato entre o seu conhecimento e o do aluno. O docente deve procurar diminuir

este gap, evitar que ele iniba a participação do aluno e dar possibilidade para

que este estruture seus projetos de ação, assumindo responsabilidade pelas

decisões e atos que o afetam e aos outros (PERRENOUD,1998 e

KOTTOW,2000).

PERRENOUD (PERRENOUD,1998) afirma que o professor não pode

ceder à vaidade de esculpir o aluno à sua imagem.

“Cada educador carrega em si a tentação de

Frankenstein (MEIRIEU, 1996) e, para combatê-la, deve

muitas vezes optar por ser menos eficaz e mais

respeitador das pessoas e de seu ofício” (pg. 217).

Ele ressalta ainda a necessidade de colocar os alunos em situações

que os estimulem em sua zona de desenvolvimento proximal e permitam a ele

dar sentido ao trabalho que realizam e ao saber, avaliando que, hoje, ensinar

101

não consiste mais em dar boas lições, mas em fazer aprender

(PERRENOUD,1998).

Segundo REGO, PALACIOS E SCHRAMM (REGO,2004), o

fundamental é a reflexão e não as conclusões obtidas através dela:

“O papel do professor é o de provocar conflitos cognitivos

em seus estudantes. É estimular que eles se questionem

sobre seus valores, isto é, questionar o senso comum. É

surpreendê-los com teses que contradigam este senso

comum ou o ’politicamente correto’. É este constante

desafio intelectual que é sua principal função, não o mero

repasse de teorias ou de valores. Para isso, é

fundamental que o docente respeite e estimule o

processo de construção da autonomia do estudante. É

indispensável que o professor compreenda que a sua

opinião sobre determinado assunto não só não terá de

prevalecer ao final de uma discussão, como, a rigor, não

é tão importante em sala de aula. O importante é que ele

respeite seus alunos como sujeitos autônomos. Se suas

convicções sobre determinado tema são tão fortes que

ele não consiga aceitar que alguém tenha posição

diferente, então não é a pessoa adequada para exercer a

função de docente” (pg 180).

As diferenças de opinião não se restringem ao papel do professor, mas

também ao da universidade. Um dos debates mais freqüentes hoje nas

instituições de ensino é aquele que coloca em lados opostos os que defendem

uma formação voltada fundamentalmente para o mercado de trabalho e

aqueles que acreditam em uma abordagem mais ampla no ensino superior, em

102

que o objetivo é dotar o profissional de maior capacidade crítica sobre o mundo

e a sociedade que o cercam.

Não se pode negar a importância de uma boa preparação para

mercado de trabalho, cada vez mais buscada pelas universidades e

universitários na sociedade contemporânea capitalista, assim como não

podemos conceber a faculdade como uma mera linha de montagem que

simplesmente molda os alunos às necessidades do mercado em detrimento de

sua autonomia. É inútil acreditar que o mercado de trabalho exige apenas

conhecimento técnico, já que nenhuma instituição moderna prescinde de

competência moral e teórica. Portanto, o desenvolvimento de um profissional

competente implica necessariamente em fazer com que o aluno elabore de

maneira individual e coletiva a capacidade de conviver e administrar de forma

autônoma princípios e valores.

Resumindo, o papel da instituição de ensino e dos professores é

provocar conflitos e estimular o questionamento sobre os seus valores

constantemente. Existem valores, como solidariedade e justiça, que estão na

Constituição Brasileira e devem ser reforçados pela argumentação do docente,

deixando ao aluno, porém, a possibilidade de aceitar ou não. A faculdade deve

escolher os seus valores, princípios e regras e torná-los claros aos seus

alunos. Além disso, sempre que possível, deve reciclá-los a partir da reflexão

moral (REGO,2004).

103

7.4. Ética e bioética

7.4.1. Sobre a transversalidade (Você reconhece a ética e a

bioética como temas transversais?)

Dez professoras consideram que ética e bioética devem ser temas

transversais, três acreditam que não e uma não se posiciona a respeito.

Vale notar que as três que responderam negativamente afirmam que as

disciplinas devem ser tratadas como temas isolados, medida que favoreceria

uma discussão mais ampla das questões pertinentes, e que poderia haver uma

divisão entre o estudo da “filosofia” ética e da bioética para complementar a

discussão no campo da ética prática.

“Por estabelecer a visão ampla, com responsabilidade

não ações de diagnostico e terapêutica, assim como nas

relações profissionais interdisciplinares”. (P6)

“Não acho que sejam transversais, considero

didaticamente, como se o grande tema fosse ética e a

bioética contemplasse tudo que está inserido na prática

ética”. (P11)

“Porque não considero que princípios éticos e bioéticos

‛atravessem’ a práxis fonoaudiológica. Eles ficam e

devem reger a conduta profissional”. (P13)

104

Contrárias a estas opiniões, duas professoras entendem que o

conteúdo deve ser tratado com tema transversal:

“São temas transversais e farão sentido se puderem ser

desdobradas na pratica cotidiana, se puderem se tornar

ferramentas para pensar a prática”. (P10)

“Por serem temas que são atravessados por diferentes

perspectivas, não podemos falar de bioética sem

levarmos uma questão a cabo: que tipo de sociedade e

humanidade que queremos para nós?(...)”. (P14)

7.4.2. Sobre a pertinência do ensino da bioética no curso de

fonoaudiologia (Você acha pertinente o ensino da di splina bioética no

curso de graduação em fonoaudiologia?)

Doze das 14 professoras afirmam que a disciplina de bioética deveria

fazer parte da grade curricular de fonoaudiologia nesta universidade e duas

não têm opinião formada a respeito.

É recorrente a idéia de que as aulas de bioética seriam um momento

apropriado para a reflexão. “A bioética é a grande caixa de ferramentas para a

reflexão”, afirma a P10. É a partir deste raciocínio que 11 professoras

desenvolvem suas linhas de argumentação.

“Porque não acredito em respostas prontas, em valores

absolutos, em códigos inquestionáveis e penso a bioética

como uma grande caixa de ferramentas para a reflexão”.

(P10)

105

“Porque apesar de ser um assunto que seja transversal

no curso, alguns conceitos formais e teorias mais

especificas, devem e podem ser discutidas

pontualmente”. (P2)

Em duas respostas, é ressalvada a necessidade de reflexão sobre a

prática diária e as implicações das próprias ações:

“É um momento que seria especifico para o exercício da

reflexão, para análise dos valores da sociedade e as

implicações na pesquisa e nos serviços”. (P7)

“(...) A disciplina é o espaço para discutir as implicações

das ações cotidianas”. (P11)

Duas crêem que a disciplina é importante porque, além de possibilitar

debates úteis ao desenvolvimento do senso crítico dos alunos, ela se prestaria

também a combater a idéia de que “o mais esperto tira vantagens”.

“Infelizmente assistimos diariamente a contra-educação

apresentada massificamente pelos meios de

comunicação, também constatamos falência da principal

instituição de ensino formal do país – os dois maiores

“educadores”, juntamente com o meio familiar, numa

sociedade como a nossa. Dessa forma, recebemos um

aluno fruto de uma sociedade de maus exemplos e de

maus formadores de valores sociais e morais. Fica então

um dever ainda maior por parte de qualquer graduação

que pretende formar profissionais merecedores dos seres

humanos por eles assistidos”. (P1)

106

“Para criar situações de reflexão sobre tais valores, e

confrontar com inúmeras práticas não éticas vivenciadas

e presenciadas a cada momento na vida pública do

nosso país. Vivemos em um momento onde o mais

esperto sempre tira vantagens e isso tem que acabar

através da educação”. (P4)

Outro ponto que justificaria o ensino da disciplina, levantado em cinco

respostas, é o surgimento de novas situações-problema decorrente da

constante evolução de técnicas e métodos na área da saúde, bem como do

surgimento de novas tecnologias.

“É importante a disciplina porque temos nos deparado

cada vez mais com situações novas na área, que devem

fazer parte das discussões de profissionais em formação

de toda a área da saúde”. (P12)

“É uma discussão atual que deve ser amplamente

discutida com a sociedade, e em particular com os

aparelhos formadores, uma vez que os avanços

tecnológicos da medicina, por exemplo, colocam

impasses éticos importantes, que não estão

suficientemente discutidos para que haja uma solução a

contento. Estamos no dia a dia vivenciando isso a todo

tempo, a engenharia genética é um bom exemplo, a

medicalização é outro tema importante”. (P14)

107

É interessante assinalar que uma das docentes que afirmam não ter

opinião formada sobre o assunto diz, logo em seguida, considerar a disciplina

necessária para que haja “um recorte para a reflexão do aluno”.

“Acredito que a disciplina é necessária e fundamental,

como um recorte para a reflexão do aluno que nem

sempre percebe com a devida atenção as questões

éticas que devem estar implícitas em qualquer disciplina”.

(P5)

7.4.3. Discussão a respeito das opiniões sobre o en sino da ética e

bioética

Apesar de algumas docentes afirmarem que a faculdade e os

professores teriam pouco a acrescentar à educação moral, todas acreditam

que os conteúdos de ética e bioética devem fazer parte do currículo do curso

de fonoaudiologia, seja como disciplinas isoladas no ciclo básico, seja como

tema transversal ou ambos.

Dez professoras concordam com a transversalidade, o que significa

que concebem o tema como um instrumento para trabalhar os conteúdos

tradicionais e técnicos articulados às preocupações sociais. Enfocar o ensino

da ética como tema transversal significa adotar um eixo reflexivo em toda a

faculdade e ter como finalidade uma formação voltada para a cidadania,

vinculando a competência técnica ao ensino democrático voltado para o

desenvolvimento das competências éticas.

108

O ensino da ética como tema transversal permite também a articulação

entre os conteúdos lecionados em disciplinas isoladas, criando uma

perspectiva interdisciplinar no curso. A ética, então, funcionaria como eixo que

perpassa diversos conhecimentos, abordagens e temas, estabelecendo uma

relação entre as disciplinas convencionais e dando sentido mais amplo ao

conhecimento adquirido na universidade.

Para isso, o projeto pedagógico, que prevê a transversalidade do

ensino da ética, deve ser observado com mais atenção, já que, muitas vezes,

os docentes não admitem o conteúdo como tal e, por isso, não realizam a

ligação entre a educação formal e a comunidade, deixando de lado o diálogo

sobre princípios como a justiça, solidariedade, respeito e beneficência

(ARAUJO,2007).

A P10, em sua resposta sobre a pertinência do ensino da bioética,

demonstra a noção de que não há valores absolutos que devam ser ensinados,

ou seja, que a educação moral não se presta a programar os discentes para

internalizarem normas corretas e pré-definidas, mas para desenvolver a

capacidade do sujeito de raciocinar e agir moralmente.

Apesar de dez professoras defenderem a articulação entre os

conceitos fundamentais da ética e a sua prática nas aulas no ambulatório-

escola da própria universidade, pode-se dizer que a prática, muitas vezes,

deixa a desejar já que seis delas consideram a imitação fundamental ou o até o

único processo para a aprendizagem moral, deixando de lado a promoção

voluntária da reflexão na formação do aluno.

Na universidade estudada, o tema ética, até o ano 2000, era dividido

em duas disciplinas - ética e bioética -, o que conferia 45 horas para a reflexão

109

dos fundamentos e a discussão sobre a competência ética na saúde e na

sociedade. Desde 2001 as duas foram condensadas em uma única disciplina,

Ética e Fonoaudiologia, que conta com apenas 30 horas para que o docente

desenvolva a ementa. A redução não pode ser encarada de outra forma senão

como uma demonstração do pouco prestígio deste tipo de conteúdo neste

momento. Apesar de reconhecer a importância do tema como disciplina

isolada, o corpo docente parece desconhecer esta redução da carga horária,

que em momento algum é citada.

Há quem considere que o ensino da ética é imprescindível na área da

saúde, já que seus profissionais lidam com o cuidado de pessoas de alguma

forma fragilizadas ou, dito de outra forma, com a promoção da qualidade de

vida. Segundo P5, esta característica da fonoaudiologia torna o ensino da ética

mais urgente, posto que o profissional formado deveria ter a habilidade para

fazer o uso crítico da razão, empenhar-se no cuidado do outro (e não da

doença) e respeitar os direitos humanos.

De fato, o delicado debate acerca da relação com o outro deve ter

especial atenção nos cursos de graduação na área da saúde, dada a

complexidade das relações e a enorme gama de desdobramentos possíveis

para este assunto. Para preparar de forma satisfatória o futuro profissional da

área, o ensino da ética requer, então, discussões aprofundadas e

democráticas, que demandam tempo e, portanto, um espaço específico para

seu desenrolar, as aulas de bioética.

Neste contexto, a idéia de trabalhar estes temas dentro da disciplina

Bioética, deixando a ética como conteúdo transversal, parece responder de

forma satisfatória à necessidade social de dar significado à competência moral

110

ou prática. É a bioética que trabalha com a idéia da complexidade dos

fenômenos cotidianos e, através da interdisciplinaridade e da

transdiciplinaridade, discute os paradigmas da sociedade. A tarefa deste tema

é entender as ações humanas, resolver “problemas morais que surgem na

práxis humana” (SCHRAMM,2002, pg 610), buscando articulação entre os

agentes e os pacientes morais. Ou seja, a noção de que os princípios éticos

“não atravessam a práxis fonoaudiológica” como na resposta da P13, se afasta

da compreensão que temos aqui desenvolvido de que a práxis se refere às

ações de um sujeito moral sobre os outros e sobre o ambiente, o que tem

conseqüências sobre os pacientes morais desta ação. Logo, a aula de bioética

compreende não apenas o fazer fonoaudiológico, mas toda e qualquer ação

moral, propiciando discussões como, por exemplo, a sugerida pela P1 e P4,

acerca do individualismo egoísta praticado na sociedade contemporânea em

detrimento do coletivo. Para elas, a falência de instituições como a família e as

escolas, bem como a “contra-educação” promovida pela mídia, têm grande

ligação com a corrupção no país. É importante lembrar que a abordagem

heterônoma, muitas vezes usada em aulas de ética deontológica, estimula este

tipo de comportamento já que não cria a percepção moral que se baseia no

contrato social e, portanto, estimula a ação individual, mantendo o indivíduo no

estágio convencional de Kohlberg.

O ensino da ética dentro de uma cadeira exclusiva e sob uma

perspectiva deontológica, como o que costuma ocorrer nos cursos de

graduação, leva também a um reducionismo grave já que, devido às limitações

de tempo, não pode abarcar a enorme diversidade de aplicações do tema que

a transversalidade permite, além de não possibilitar o pleno desenvolvimento

111

das capacidades morais do indivíduo. A bioética, por outro lado, oferece ao

estudo da ética a reflexão sobre as conseqüências dos atos na qualidade de

vida do outro, o que poderia ajudar a reduzir a defasagem da perspectiva

humanista na formação dos profissionais da saúde. A bioética pode ser

compreendida, então, como uma caixa de ferramentas que ajuda o aluno a

enfrentar novos desafios com autonomia e tendo como referência a justiça, a

beneficência e a eqüidade.

7.5. A prática

7.5.1 Sobre a abordagem em sala de aula (Você traba lha estes temas em

sua disciplina?)

Assim como na pergunta anterior, doze docentes responderam de

forma afirmativa e duas, de forma negativa. Mesmo as que afirmam não

trabalhar o assunto em suas aulas reconhecem que, na discussão de casos

clínicos, o tema é debatido de forma recorrente.

Seis entendem que a discussão dos casos clínicos é a ferramenta ideal para o

estudo da ética. Três defendem que debater a própria conduta é a melhor

maneira de trabalhar o tema.

“Com exemplos de atuação profissional ética, com

discussão de casos clínicos pautada também em conduta

ética e, ainda, com a própria atuação profissional –

quando na clínica-escola - respeitosa no que se refere ao

tratamento com o aluno, com o paciente, com o

112

funcionário e com o colega. O aluno deve ouvir um

discurso ético, mas, principalmente, deve ver e sentir na

prática, no dia-a-dia essa atuação em processo”. (P1)

“Por meio de exemplos práticos de atuação profissional e

de relação entre profissional/paciente e

profissional/comunidade. Sempre ressalto a importância

da postura de condutas e das relações com a sociedade”.

(P2)

“Atitudes perante os pacientes no ambulatório”. (P9)

Outras três abrem, em suas aulas, espaço para a discussão dos

procedimentos na prática com os pacientes e entendem que, desta forma, a

ética é discutida.

“No decorrer do conteúdo, os valores morais e éticos são

debatidos, especialmente em relação a saúde e

educação pública. Os alunos são levados a refletir acerca

dos interesses e valores implícitos em decisões

específicos”. (P7)

Duas professoras falam de alguns pontos - como respeito ao paciente

e responsabilidade sobre os próprios atos - sobre os quais acham que a

atuação do fonoaudiólogo deve estar embasada, dando a entender que

abordam estas questões em suas disciplinas.

“Com a demonstração da necessidade de compreensão

do sujeito em suas relações pessoais e na necessidade

113

de valorizar a responsabilidade de suas ações para com

o paciente”. (P6)

A professora responsável pela cadeira de ética relaciona o tema a três

aspectos da vida dos alunos.

“Sim trabalho. Na disciplina Ética e Fonoaudiologia fica

mais fácil, pois este assunto é o tema central. Trabalho

os conceitos de ética, moral e bioética, relacionando-os.

Primeiro, com o individuo em sua vida privada, segundo,

na vida em sociedade e, em terceiro, na sua vida

profissional (...) questionando dogmas, procurando

construir a responsabilização com os compromissos que

as nossas funções nos impõem”. (P10)

Finalmente, uma faz um contraponto sobre as situações que permitem

discussões profundas e ricas, e superficiais.

“(Trabalho) no ambulatório, pois é nas supervisões que

esses temas aparecem. Infelizmente, não temos um

currículo que abra (discussões) de forma a produzir

sentido para todas as questões. (...) faço uma defesa da

aprendizagem baseada em problemas, caso contrário,

cairíamos no reducionismo do Código de Ética, na

discussão assignificante (sic.)”. (P14)

7.5.2. Suporte didático (Você utiliza algum materia l para trabalhar esses

temas em sua disciplina?)

114

Das 14 professoras, metade afirma que usa algum tipo de material e a

outra metade, que não. Algumas disseram que utilizam os casos clínicos como

material para trabalhar os temas e outras, que não utilizam material, mas

promovem discussão dos casos clínicos. Das que usam material, quatro

mencionam filmes, livros, jornais, revistas, artigos, músicas e exposições.

É interessante notar que uma delas afirma que não usa, mas

questiona sua postura:

“Não uso, mas acho que deveria utilizar”. (P5)

Uma das professoras demonstrou dúvida sobre o que poderia ser

considerado como material.

“Material de ética específico não. Mas procuro ler os

direitos dos pacientes”. (P3)

7.5.3. Discussão a respeito das constatações sobre a realidade da

formação moral e ética dos alunos

Neste último bloco de respostas ocorre novamente um embate. Parte

das professoras acredita que os exemplos transmitidos pela própria conduta

bastam para ensinar as competências éticas e morais enquanto outras crêem

que os dilemas sociais e a discussão dos casos clínicos seria a melhor maneira

de habilitar os discentes para uma atuação ética e moral competente. REGO

(2005a) afirma em seu texto sobre competência técnica e ética na formação

dos profissionais da saúde que os exemplos são válidos, mas indaga se

alguém acredita que basta a pura observação de modelos para a formação

115

profissional no campo da saúde. Kohlberg e outros autores, já citados no

capítulo sobre o desenvolvimento da competência moral e educação,

criticavam a teoria de Durkhein, segundo a qual a internalização dos valores da

sociedade acontece através da heteronomia. Algumas docentes parecem estar

de acordo com esta posição. Elas julgam que o exemplo ou a leitura do “código

de conduta” seria a atividade ideal para promover a competência ética de seus

alunos, o que poderia ser confundido com doutrinação.

Kohlberg critica a doutrinação e se mostra favorável à prática de

discussões para o desenvolvimento do julgamento moral, já que, para ele, o

método doutrinário não faz com que o indivíduo se capacite para tomar

decisões. Assim, o papel dos professores é estimular o raciocínio dos alunos

para solucionar problemas, respeitando o processo de aprendizagem individual

e mediando para que, através do questionamento moral, as condições para

que todos de desenvolvam sejam promovidas (BIAGGIO,1997).

Para uma educação voltada para a humanização do atendimento em

saúde, REGO sustenta que os responsáveis pela formação devem “estimular,

promover o desenvolvimento da capacidade de cada estudante de refletir

criticamente e tomar decisões baseadas em uma reflexão ética” (2005ª, pg 74).

Uma instituição de ensino instrui, de maneira explícita, através de sua

grade curricular, mas também através de seu “currículo oculto”, que consiste

nas regras, procedimentos internos e nas questões e dilemas éticos que se

encontram implícitos no conteúdo de suas disciplinas (REGO,2003).

Daí a importância da reflexão ética também entre os docentes para

que estes possam identificar no “currículo oculto” as situações a problematizar,

a provocar ativamente o conflito cognitivo para que se possa contribuir

116

efetivamente para o desenvolvimento moral dos discentes, percebendo e

acompanhando de maneira crítica esta reflexão, e aperfeiçoando seu processo

de reorganização cognitiva.

A P10, responsável pela disciplina de Ética e Fonoaudiologia, discorre

sobre o questionamento de dogmas e a assimilação dos conceitos éticos em

três instâncias da vida do aluno: individual, social e profissional. Ela

compreende a função do debate ético como um fórum para a tomada de

decisões democráticas ou ainda como um incentivo para o desenvolvimento

das competências éticas e morais do sujeito e um momento para discussão do

ethos profissional. Desse modo, ela torna explícito o “currículo oculto” para

motivar o aluno a se engajar no processo de desenvolvimento da

personalidade moral. Sua limitação de carga horária exige, porém, que outras

disciplinas façam o mesmo ou que a faculdade incentive debates morais entre

alunos, professores e até membros da sociedade.

Para que isto ocorra, é necessário sensibilizar os professores de

maneira paulatina já que não se muda uma estrutura de maneira repentina.

117

8. Considerações Finais

Pode-se concluir que esta dissertação, de forma geral, alcança os

seus objetivos geral e os específicos. Identifica e analisa as percepções dos

docentes da graduação em fonoaudiologia sobre a construção de valores

morais e éticos através da análise das respostas aos questionários. O grupo é

formado por professoras com média de idade de 42,5 anos. O número de

mestras (42,84%) é superior ao de doutoras (35,71%).

Parte delas acredita que a interação influencia o desenvolvimento das

competências moral e ética dos estudantes, além de enfocar a questão da

formação constante dos valores e princípios. A menor parte ainda crê que os

exemplos são as referências para uma atitude ética por parte dos discentes no

futuro. Por um motivo ou por outro, a imensa maioria compreende que a

faculdade e os professores desempenham um papel fundamental neste

processo e parte delas aponta a problematização de casos como a ferramenta

mais eficaz neste sentido.

O estudo também demonstrou que boa parte das docentes entende a

necessidade de uma formação específica em bioética, e mesmo o seu ensino

como tema transversal, embora não haja homogeneidade sobre a maneira

como isso deve ser conduzido. As diferentes posições a respeito da forma

como a bioética deve ser transmitida, bem como a diminuição da carga horária

da disciplina Ética e Fonoaudiologia, que aborda o tema, evidenciam o

desprestígio do assunto nas discussões realizadas entre os docentes da

instituição. Acredito que este tratamento dado ao tema não some à busca pela

humanização da assistência à saúde ou colabore para a harmonia nas relações

118

entre alunos, professores, fonoaudiólogos, demais profissionais da área e a

sociedade de forma geral. Ao identificar esta realidade, considero que esta

pesquisa pode contribui para a adequação do ensino da ética e da bioética às

exigências da sociedade contemporânea.

O fato de o questionário ter sido respondido por escrito e sem a

presença da pesquisadora, de certa forma, contribuiu para que as respostas

fossem objetivas e sucintas já que não houve debate sobre o tema como

poderia ocorrer em entrevistas abertas. Por outro lado, a resposta escrita

permite maior reflexão para sua formulação. Além disso, a ausência da

pesquisadora inviabiliza uma possível interferência, dada sua relação pré-

existente, na qualidade de ex-aluna da instituição, com as professoras.

Algumas poucas perguntas poderiam ter sido redigidas de forma mais clara

para evitar dúvidas e confusões encontradas entre as respostas. Considero

ainda que, por falta de tempo, não foi realizado um trabalho de

acompanhamento de determinadas aulas, que muito poderiam ter contribuído

para a discussão levantada na dissertação.

De qualquer forma, acredito ter sido possível cumprir as metas pré-

estabelecidas para, assim, chegar a relevantes conclusões sobre o ensino da

ética na faculdade de fonoaudiologia estudada. Na formação acadêmica do

fonoaudiólogo, que como todo profissional da saúde lida com a vida, é

imprescindível que o desenvolvimento da competência moral seja enfatizado,

com o que todas as professoras concordam. A graduação deve fornecer as

ferramentas para que este aluno, futuro profissional, aproprie-se de

conhecimento técnico, científico e ético para o bom desempenho da sua

atividade.

119

O ensino da bioética nos cursos de graduação em saúde, em particular

no de fonoaudiologia, deve ter como objetivo formar profissionais que saibam

trabalhar de forma interdisciplinar, baseando suas ações em princípios como

justiça, beneficência, respeito e autonomia. Para isso, considero vital que ele

passe por uma reformulação que privilegie a discussão e problematização em

detrimento da abordagem heterônoma atual.

Alguns elementos não podem ser deixados de lado na elaboração de

um currículo mais eficaz. Ele deve prever, entre outros, a participação

sistemática dos docentes de diversas disciplinas em projetos transversais

sobre o tema - como pequenos grupos de discussão sobre situações-

problemas em cada disciplina -, bem como debates nas disciplinas de ética e

bioética, responsáveis por sua fundamentação teórica e filosófica. Outro

objetivo a ser perseguido é a participação ativa e democrática dos estudantes

nas aulas e no cotidiano da faculdade, além do engajamento de todos no

projeto de clinica-escola, experiência importante para o verdadeiro

amadurecimento do aluno em todas as vertentes de seu desenvolvimento.

É impossível formar fonoaudiólogos com reconhecida eficiência técnica

sem que estes tenham competência para agir moralmente. Estas duas

dimensões da experiência acadêmica são imprescindíveis na busca de um

profissional plenamente capaz de promover a saúde.

120

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131

10. Anexos

132

Termo de Consentimento

ASPECTOS ÉTICOS

Este projeto incorpora os aspectos éticos recomendados pela

Resolução 196/96 sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos, incluindo,

entre outros, a obtenção do consentimento livre e esclarecido dos indivíduos. O

estudo não apresenta atividades que possam causar danos físicos, psíquicos,

morais, sociais ou culturais a estas pessoas. Ele se propõe também a dar

retorno à sociedade de seus resultados.

A propriedade das informações geradas será de uso exclusivo da

equipe de pesquisa. O pesquisador responsável garante que nenhum estranho

à equipe terá acesso aos dados, para que se preserve a confidencialidade das

informações.

Cada participante receberá, individualmente, esclarecimentos quanto

ao conteúdo desta pesquisa. A divulgação dos resultados coletivos da pesquisa

deverá ser pública e, em primeiro lugar, endereçada aos participantes do

projeto.

Os sujeitos da pesquisa terão a garantia de livre consentimento

(modelo anexo) após total esclarecimento de todos os benefícios e possíveis

riscos que poderão advir do processo investigatório. Vale lembrar que o projeto

visa apontar, através de entrevistas não identificadas, as percepções dos

professores sobre a construção de valores morais na graduação.

O pesquisador responsável é a pessoa incumbida da coordenação e

realização da pesquisa e responsável pela integridade e bem-estar dos sujeitos

da pesquisa.

133

TERMO DE CONSENTIMENTO

O Instituto de Estudos em Saúde Coletiva - IESC, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, através da aluna de mestrado Rachel Vitalino

Bernardes de Andrade (tel. 93375163), realiza o estudo intitulado: “O Ensino da

Bioética: é possível? Como os professores percebem o seu papel no

desenvolvimento moral do aluno fonoaudiólogo”. Este projeto terá a orientação

da médica e professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva Marisa

Palácios (tel: 99975677).

O objetivo deste trabalho é - partir da análise de questionários -

identificar e analisar como os docentes percebem o seu papel e o da

universidade no desenvolvimento de valores morais na formação do estudante

de fonoaudiologia, ao longo do curso. Este trabalho tem o intuito de observar e

discutir como os docentes avaliam seu papel, produzindo assim um material

que pode ser usado para posterior reflexão e melhoria do desempenho do

docente para o ensino das disciplinas ética e bioética.

Serão realizadas entrevistas com perguntas abertas e fechadas. Os

resultados dos exames serão enviados aos entrevistados pelo pesquisador. A

coordenadora e a orientadora desta pesquisa, se comprometem a não revelar

dados das entrevistas a terceiros. As informações prestadas nas entrevistas

serão analisadas e divulgadas de forma que não seja possível identificar suas

fontes.

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A participação na pesquisa é VOLUNTÁRIA. Isso significa que aqueles

que forem convidados a participar dela decidirão se querem ou não participar

de livre e espontânea vontade. A recusa em qualquer momento deste projeto

não implicará em nenhum prejuízo ao convidado. Nenhum procedimento

oferece riscos para a saúde nem danos morais, sociais ou intelectuais aos

participantes da pesquisa.

Esta pesquisa que abrangerá o universo de 14 professores

fonoaudiólogos contratados do curso de fonoaudiologia de uma universidade

do Rio de Janeiro.

Levando em conta a relevância deste projeto, solicitamos sua

concordância e participação na resposta ao questionário, que é totalmente

anônimo e sigiloso. Deste modo, nos colocamos à disposição para quaisquer

outros esclarecimentos.

Agradecemos desde já seu engajamento e compreensão quanto a

importância desse projeto.

Atenciosamente,

Marisa Palácios/ Orientadora da Pesquisa.

Rachel Vitalino Bernardes de Andrade, discente do curso de

mestrado em Saúde Coletiva do IESC/UFRJ.

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Eu, ____________________________________________________, RG

no___________________, declaro estar esclarecido (a) sobre os termos

apresentados, e concordo com o que foi exposto. Dessa forma, autorizo a

minha participação nesta pesquisa.

Rio de Janeiro, ____ de _____________________ de 2007.

Assinatura

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Reconhecimento dos sujeitos da pesquisa

P Idade Tempo de formação Grau D.E. (UFRJ) Ativ Exclusiva? Áreas de atuação

1 36 15 Mest Não Não Clinica particular / assessoria a empresa

2 36 15 Dout Não Não Clinica particular

3 54 18 Dout Sim Sim ....

4 40 18 Dout Não Não prof outra faculdade/clinica particular

5 44 15 Mest Não Não Clínica particular

6 47 27 Esp Não Não Prefeitura do Rio - SMS

7 37 16 Dout Não Não prof outra faculdade/clinica particular

8 39 17 Mest Não Não clínica particular

9 52 29 Esp Não Não prof outra faculdade/clinica particular

10 38 18 Mest Não Não prof outra facul/clinica particular

11 46 23 Esp Sim Sim ....

12 38 16 Dout Não Não Clínica particular

13 42 20 Mest Não Sim prof outra faculdade

14 47 23 Mestr Não Não Clínica particular

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Questionário

Estudo exploratório sobre construção de valores no curso de graduação

em fonoaudiologia da universidade estudada – Visão dos docentes

I - Identificação do professor

Sexo: F M

Idade:_______

Tempo de formado:_______

Tem outro emprego?______________________________________________

Qual?__________________________________________________________

Nível de formação acadêmica: Especialista Mestre Doutor Outras

Em que área? __________________________________________________

II – Roteiro estrurado

1 - O que você entende por valores sociais e morais?

2- Como você acha que os alunos formam seus valores e conceitos éticos?

3- O que é ser ético no exercício da profissão de fonoaudiólogo?

4- A faculdade deve intervir na formação de valores sociais e morais dos

alunos?

Não Sim Não sei

4A – Por que?

4B – Como?

5- Os professores devem participar da formação de valores sociais e morais

dos alunos?

Não Sim Não sei

5A – Por que?

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5B – Como?

6 -Você reconhece as disciplinas ética e bioética como temas transversais?

Não Sim Não sei

6A – Por que?

7 - Você acha pertinente a disciplina Bioética no curso de graduação em

fonoaudiologia?

Não Sim Não sei

7A – Por que?

8 - Você trabalha estes temas em sua disciplina?

Não trabalho Sim trabalho

8A - Como?

9 - Você utiliza algum material para trabalhar esses temas em sua disciplina?

Não Sim Não sei

9A – Quais?