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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL DO MUNICÍPIO DE ITAGUAÍ:
O CAPITAL SOCIAL E O PAPEL DAS MICRO,
PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS.
LEONARDO MARCO MULS
Orientadora: Profa. Dra. Lia HASENCLEVER (IE/UFRJ)
Co-Orientador: Prof. Dr. Yves André FAURE (IRD/França)
Tese apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como um dos pré-requisitos para a obtenção do título de Doutor em Economia.
Rio de Janeiro, março de 2004
O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL DO MUNICÍPIO DE ITAGUAÍ:
O CAPITAL SOCIAL E O PAPEL DAS MICRO,
PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS.
LEONARDO MARCO MULS
Tese apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como um dos pré-requisitos para a obtenção do título de Doutor em Economia.
Banca examinadora:
_____________________________ Prof.a Dra. LIA HASENCLEVER
(Presidente da Banca)
________________________ Prof. Dr. YVES A. FAURÉ
(IRD/França)
_________________________________ Prof. Dr. MAURO BORGES LEMOS
(CEDEPLAR/UFMG)
_________________________ Prof. Dr. JOÃO L. M. SABOIA
(IE/UFRJ)
________________________________ Prof. Dr. LUIZ MARTINS de MELO
(IE/UFRJ)
Para Vanise,
companheira em todos os momentos
Aos meus pais
Aos meus irmãos
Ao Pedro e José Victor
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer ao Instituto de Economia da UFRJ por todo este tempo de
doutoramento na Instituição. Este agradecimento se estende ao pessoal da cantina, aos
funcionários da casa, aos professores e aos colegas de doutoramento que nestes quatro anos
partilharam comigo uma vida acadêmica. Sou especialmente grato ao Instituto de Economia
pela concessão de uma bolsa de doutorado durante os três anos permanecidos no Brasil.
Gostaria também de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e ao Institut de Recherches pour le Développement (IRD/França) por
terem, através do convênio CNPq/IRD, apoiado e viabilizado a execução do Programa de
Pesquisa “As Transformações das Configurações Produtivas Locais no Estado do Rio de
Janeiro: instituições, interações, inovações”, que também foi financiado pelo
FNDCT/FINEP. Este Programa de Pesquisa, executado pelo Grupo de Inovação do Instituto
de Economia e coordenado pelos Professores Lia Hasenclever e Yves A. Fauré, foi
fundamental para a elaboração e a execução da minha própria pesquisa de doutoramento.
Pude contar, de maneira irrestrita, não apenas com o material de pesquisa concebido pelo
Grupo (questionários, guia de entrevistas, tabulações de dados e demais fontes de
informações), mas também com as discussões teóricas e metodológicas que resultavam das
reuniões de coordenação, pacientemente organizadas e conduzidas pela Professora Lia e pelo
Professor Yves.
Tive o privilégio de fazer um ano de minha pesquisa de doutorado na França, mais
particularmente no Centre d’Études pour le Développement (CED) da Universidade de
Montesquieu-Bordeaux IV. Para este período de doutoramento sanduíche foi fundamental o
apoio da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
que através de seu Programa de Doutorado no País com Estágio no Exterior (PDEE) pôde
financiar a minha estadia na França. Sendo assim, gostaria também de agradecer a todo o
pessoal administrativo do CED e da Universidade Montesquieu-Bordeaux IV, ao seu corpo
docente e aos colegas franceses de doutoramento que me acolheram em Bordeaux. Mas um
especial agradecimento deve ser feito ao Professor Jean Pierre Lachaud, Diretor do Centre
d’Études pour le Développement e que foi também o meu orientador durante este período em
que lá estive. O Professor Lachaud não apenas discutiu comigo algumas diretrizes
metodológicas da minha pesquisa de doutoramento, que estava em curso, como me recebeu
com todas as regalias, direitos e deveres que são também concedidos a todos os estudantes do
CED, tanto estrangeiros como franceses.
No âmbito de minha participação no Programa de Pesquisa e de minha formação acadêmica
enquanto pesquisador, tenho que fazer alguns agradecimentos em separado.
Coloquemos em primeiro plano a minha orientadora, a Professora Lia. Em primeiro lugar, por
ela ter aceitado o enquadramento do meu objeto de pesquisa no âmbito do Programa
supracitado e a partir daí termos trabalhado, juntos, para que esta tese de doutoramento fosse
um dos produtos do Programa de Pesquisa. Em segundo lugar, como Coordenadora Geral do
Programa (função dividida com o Prof. Yves), por ela ter disponibilizado, para a elaboração
de minha tese, tanto o material de pesquisa utilizado pelo Grupo como alguns dos resultados
parciais obtidos ao longo da execução da pesquisa. Em terceiro lugar, um agradecimento
particular pelas funções que a Professora Lia exerceu enquanto orientadora. Além de ter
sabido separar com sabedoria a minha contribuição junto ao Grupo de Pesquisa do meu
trabalho de tese, preservando assim as minhas escolhas e conclusões parciais, a Professora
sempre me mostrou, desde a elaboração inicial do Projeto de Tese, o caminho a ser seguido e
os passos teóricos e metodológicos que me levaram à conclusão deste trabalho de tese.
Através de suas inúmeras leituras e sugestões, e das várias reuniões de orientação motivadas
pelo interesse mútuo em um tema comum – o desenvolvimento econômico local –, a
Professora Lia soube me mostrar em que consiste uma pesquisa empírica e como deve se
desenvolver um trabalho de campo, a fim de se chegar a um resultado que se pretende original
e digno de uma tese de doutoramento.
Uma segunda pessoa a quem não poderia deixar de agradecer é o Professor Yves. Em
primeiro lugar, porque ele foi o mentor e o principal responsável pelo meu doutoramento
sanduíche na Universidade Montesquieu-Bordeaux IV. Em segundo lugar, pelo seu papel,
junto com a Professora Lia, de Coordenador Geral do Programa institucional de pesquisa, da
parte do Institut de Recherche pour le Développement (IRD/França). Portanto, todos os
agradecimentos que se referem à minha participação neste Programa de Pesquisa se estendem
também ao Professor Yves. Em terceiro lugar, o Professor Yves foi co-orientador deste
trabalho de tese, sendo chamado em vários momentos para compartilhar de algumas dúvidas e
escolhas acerca do trajeto a ser seguido durante a sua elaboração. Além do que, durante a fase
do trabalho de campo, ele deu preciosas contribuições de como proceder em momentos de
dúvida ou de tensão metodológica.
Uma outra pessoa a quem sou grato é o Professor Luiz Martins, que me acompanhou e me
supervisionou, como Coordenador do Grupo de Itaguaí, durante a pesquisa de campo. Além
de termos tido várias discussões sobre o tema que foi objeto da pesquisa, o Professor Luiz me
abriu portas institucionais importantes através das quais pude obter depoimentos que foram
imprescindíveis para a elaboração de minhas conclusões parciais. As entrevistas obtidas a
partir de contatos estabelecidos através do Professor Luis, bem como os Seminários dos quais
pudemos participar graças à sua intervenção, foram fundamentais para enriquecer os
resultados da pesquisa e para fazer com que sua consecução empírica tivesse uma dimensão
mais institucional, de acordo com a abordagem institucionalista que desenvolvemos na parte
teórica da tese.
Agradeço também aos Professores Renata e René, ambos Coordenadores do Grupo de Estudo
de Campos dos Goytacazes, pelas inúmeras oportunidades de discussão, sugestões e pelo
interesse que eles demonstraram ao longo do meu trabalho de tese, não deixando também de
me fornecer bases de comparação entre o sítio por mim pesquisado e aquele cuja pesquisa eles
próprios conduzem.
Ao meu companheiro de visitas e parceiro inseparável durante toda a fase de pesquisa de
campo, o jovem pesquisador e doutorando francês Mathieu Bécue. A vinda do Mathieu foi,
mais uma vez, orquestrada pelo Professor Yves, que junto ao Institut de Recherche pour le
Développement (IRD/França) viabilizou sua estadia no Instituto de Economia, entre
novembro de 2002 e outubro de 2003, para fazer parte da equipe de pesquisa do Grupo de
Inovação. Com o Mathieu pude dividir, além das angústias e insatisfações por um
questionário mal respondido ou por uma entrevista ratée, várias discussões acerca da
problemática de desenvolvimento econômico local de Itaguaí, discussões recheadas por
pontuações teóricas e comparações com outras cidades e vilas portuárias francesas. Além do
companheirismo demonstrado durante o período em que esteve no Brasil, tenho uma dívida
com o Mathieu pelo enorme trabalho de tabulação e sistematização dos dados primários e
secundários relativos à pesquisa, que ele efetuou durante o seu estágio no Instituto de
Economia.
Estes foram os agradecimentos institucionais e pessoais que cercaram o ambiente de trabalho
e que dizem respeito, mais especificamente, à vida profissional e acadêmica. Mas é claro que
por trás de toda esta engrenagem acadêmica e institucional correspondeu uma base emocional
e afetiva, curtida no seio familiar, que me proporcionou o equilíbrio e a perseverança
necessários para chegar ao final deste trabalho. Trata-se do companheirismo, da afetividade e
do amor proporcionados por Vanise, que durante todo o percurso me instigou, me apoiou e
me desafiou a fazer o melhor que estivesse ao meu alcance, dividindo lamúrias, idéias e
compartilhando comigo a teoria e a prática do desenvolvimento econômico local de Itaguaí.
RESUMO
O objetivo desta tese foi verificar se existem, no sítio de Itaguaí-RJ, as precondições
necessárias para o estabelecimento de um processo de desenvolvimento econômico local.
Estas precondições estão ligadas à formação de redes entre os principais atores do
desenvolvimento local, que se fazem representar através de formas intermediárias de
coordenação que são o poder público, o tecido empresarial e a sociedade civil locais. Buscou-
se verificar até que ponto existem relações sinérgicas entre estas três instâncias de
coordenação, de forma a possibilitar a elaboração, pelo ambiente institucional local, de uma
estratégia autônoma de desenvolvimento local. Foi utilizado como suporte teórico a teoria do
desenvolvimento econômico local que integra o território como principal variável e agente
promotor do desenvolvimento, enfatizando os seus aspectos institucionais, sociais e
econômicos.
O conceito de capital social foi utilizado para refletir a densidade e a coesão das redes de
relações entre o tecido empresarial local, as instituições do poder público e os organismos da
sociedade civil. Buscou-se averiguar se estas redes são suficientemente densas e coesas a
ponto de levar à elaboração de uma estratégia de reação autônoma por parte do território, que
subverta e redirecione o movimento imposto pela pressão heterônoma. Tratando-se de uma
tese empírica, o instrumento utilizado para medir a existência de redes inter-empresariais e de
redes entre as empresas e o ambiente institucional local foi um questionário aplicado às
empresas. Já o instrumento utilizado para medir a existência de redes entre a sociedade civil e
as demais formas intermediárias de coordenação representadas pelo poder público local e pelo
tecido empresarial foi uma série de entrevistas abertas às instituições e lideranças políticas e
econômicas locais.
Chegamos ao resultado de que as redes de relações sociais e o ambiente institucional local
ainda não estão suficientemente desenvolvidos de modo a permitir a elaboração conjunta de
uma estratégia de reação territorial. As instâncias intermediárias de coordenação ainda não
estão suficientemente integradas e articuladas em torno de um projeto comum de
desenvolvimento local que, no caso de Itaguaí, poderia se referir à absorção, pela economia
do município, das externalidades econômicas geradas pelo Projeto de Ampliação e
Modernização do Porto de Sepetiba.
ÍNDICE
Lista de Figuras ......................................................................................................................... x
Introdução geral ........................................................................................................................
1
PARTE I – A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL 11
Capítulo 1: Por uma teoria do desenvolvimento econômico local
Introdução ................................................................................................................................. 12
1.1. A falência dos modelos canônicos de desenvolvimento: o Estado versus o mercado ....... 13
1.2. O surgimento das teorias institucionalistas ........................................................................ 15
1.2.1. O papel da história e das instituições no crescimento: Douglas North ........................ 18
1.2.2. A endogeneização das instituições e o conceito de capital social ................................ 20
1.3. O desenvolvimento econômico endógeno e a integração do território ............................. 24
1.3.1. A dialética do heterônomo e do autônomo: o global versus o local ............................ 25
1.3.1.1. As formas contemporâneas da pressão heterônoma ........................................... 27
1.3.1.2. A reação autônoma ............................................................................................. 28
1.3.2. A territorialização: introduzindo a variável territorial ................................................. 30
1.3.2.1. A região e o espaço local ................................................................................... 31
1.3.2.2. A delimitação do espaço (ou o espaço como ele é percebido pelo ator) ............ 32
1.3.2.3. A construção de uma identidade territorial ........................................................ 34
1.3.3. A passagem do nível de análise macro para o nível meso ........................................... 38
1.3.4. As redes como forma de manifestação da reação autônoma ........................................ 43
1.3.4.1. As relações econômicas de tipo aparelho ........................................................... 44
1.3.4.2. As relações sociais de tipo rede .......................................................................... 46
1.3.4.3. A interação entre as relações econômicas de tipo aparelho e as relações
sociais de tipo rede .............................................................................................. 48
1.4.Conclusão ............................................................................................................................ 50
Capítulo 2: O nível aplicado da teoria do desenvolvimento local
Introdução: Filiação do desenvolvimento econômico local ...................................................... 52
2.1. A análise dos Distritos Industriais ..................................................................................... 58
2.1.1. Alfred Marshall ............................................................................................................ 58
2.1.2. Os distritos industriais italianos ........................................................... ....................... 60
2.2. Os Sistemas Produtivos Localizados ................................................................................. 62
2.2.1. Principais características dos sistemas produtivos localizados .................................... 66
2.3. A noção de configuração produtiva local .......................................................................... 68
2.4. O papel das micro e pequenas empresas no desenvolvimento econômico local ............... 70
2.5. O ambiente institucional e o fortalecimento das micro e pequenas empresas ................... 79
2.5.1. A contribuição do conceito de capital social ................................................................ 80
2.5.1.1. Capital social e desenvolvimento econômico ..................................................... 81
2.5.1.2. Definições, propriedades e formas assumidas pelo capital social ...................... 84
2.5.1.3. Fontes do capital social ...................................................................................... 95
2.5.1.4. As aplicações do conceito de capital social ....................................................... 99
2.6. O conceito de governança e o ambiente institucional ........................................................ 109
2.6.1. O papel das instituições locais e dos programas de apoio ........................................... 111
2.6.2. O desenvolvimento das micro e pequenas empresas e a questão do seu financiamento .............................................................................................................
119
2.7. Conclusão ........................................................................................................................... 124
PARTE II – UM ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE ITAGUAÍ 126
Capítulo 3: Metodologia
Introdução: a intermediação entre a parte teórica e a parte empírica ....................................... 127
3.1. Pressupostos teórico-metodológicos .................................................................................. 128
3.1.1. Redes e desenvolvimento econômico local ................................................................. 128
3.1.2. Retorno ao conceito de capital social: definições e operacionalização ....................... 134
3.2. Procedimentos metodológicos ........................................................................................... 141
3.2.1. Método e fontes de informação .................................................................................... 142
3.2.2. O trabalho de campo .................................................................................................... 145
3.2.2.1. A problemática do desenvolvimento econômico local de Itaguaí ...................... 145
3.2.2.2. Definição da amostra de empresas entrevistadas e dos setores escolhidos ........ 148
3.2.2.3. Os instrumentos de coleta de dados primários: o questionário aplicado às empresas e o guia de entrevistas institucionais ...................................................
152
3.2.2.4. Limitações do trabalho de campo e estratégia de controle ................................. 155
3.2.3. Considerações sobre o quadro de análise .................................................................... 157
3.3. Conclusão .......................................................................................................................... 160
Capítulo 4: Itaguaí: História e situação econômica atual
Introdução ................................................................................................................................. 162
4.1. Histórico de sua ocupação territorial e principais atividades econômicas desenvolvidas.. 162
4.2. A realidade econômica atual: dados e principais atividades ............................................. 167
4.2.1. Estrutura e evolução da atividade econômica, da população e do nível de desenvolvimento ...........................................................................................................
168
4.2.1.1. Estrutura da atividade econômica local em 2001 ................................................ 168
4.2.1.2. Evolução recente da atividade econômica, da população e do desenvolvimento 170
4.2.1.3. Uma análise da evolução dos setores de atividade econômica ............................ 172
4.2.2. Emprego, estabelecimentos e finanças públicas .......................................................... 174
4.2.2.1. O emprego e os estabelecimentos ........................................................................ 175
4.2.2.2. Análise da evolução setorial do volume de emprego e do número de estabelecimentos ..................................................................................................
175
4.2.2.3. As finanças públicas municipais ......................................................................... 179
4.2.3. Os setores selecionados para a pesquisa de campo ...................................................... 182
4.2.3.1. O setor portuário e a cadeia de transportes .......................................................... 183
4.2.3.2. Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas ................... 189
4.2.3.3. Construção civil ................................................................................................... 191
4.2.3.4. A indústria extrativa mineral e outras indústrias presentes em Itaguaí ............... 194
4.3. Caracterização do ambiente institucional de Itaguaí: a sociedade civil, os sindicatos e as associações locais ..............................................................................................................
198
4.3.1. Associações de moradores e ONGs ............................................................................. 200
4.3.2. Sindicatos de trabalhadores e associações de classe .................................................... 202
4.3.3. Sindicatos e associações patronais ............................................................................... 203
4.3.4. Entidades mistas e/ou organismos tripartites ............................................................... 205
4.4. Conclusão ........................................................................................................................... 208
Capítulo 5: A pesquisa de campo: precondições para o desenvolvimento econômico local de Itaguaí
Introdução: a teoria e a pesquisa de campo .............................................................................. 212
5.1. Apresentação e sistematização dos dados .......................................................................... 217
5.2. Caracterização das empresas e do ambiente econômico .................................................... 217
5.2.1. Tamanho das empresas e setor de atuação ................................................................... 218
5.2.2. Características das empresas ........................................................................................ 222
5.2.3. Perfil dos dirigentes (ou da pessoa entrevistada) ......................................................... 226
5.3. Organização e desempenho interno das empresas ............................................................. 227
5.3.1. Uso de tecnologias de informação e de gestão ............................................................ 227
5.3.2. Financiamento de empresas ......................................................................................... 229
5.3.3. Trabalho e capacitação profissional ............................................................................. 231
5.3.4. Investimento ................................................................................................................. 237
5.3.5. Inovação ....................................................................................................................... 239
5.4. O mercado e a geografia das transações econômicas das empresas .................................. 243
5.4.1. Localização dos principais concorrentes ..................................................................... 243
5.4.2. Procedência dos equipamentos .................................................................................... 244
5.4.3. Procedência das matérias-primas utilizadas ................................................................. 245
5.4.4. Origem dos demais fornecedores ................................................................................. 246
5.4.5. Destino das vendas ....................................................................................................... 248
5.5. Relações com o ambiente empresarial e institucional ....................................................... 249
5.5.1. Vantagens e desvantagens de localização .................................................................... 249
5.5.2. Impactos sobre as empresas de mudanças no ambiente macroeconômico .................. 251
5.5.3. Redes de cooperação (relações interfirmas) ................................................................ 253
5.5.4. Relações com o ambiente institucional ........................................................................ 258
5.6. Problemas, expectativas e previsões .................................................................................. 263
5.7. Análise e interpretação dos dados: uma tentativa de mensuração qualitativa do capital social ..................................................................................................................................
266
5.8. Conclusão ........................................................................................................................... 271
Capítulo 6: Diagnóstico sobre as possibilidades de se alavancar um processo de desenvolvimento local endógeno na região
Introdução: a hipótese adotada para a construção de redes e relações sinérgicas .................... 274
6.1. Confrontação de aspectos da realidade econômica e social de Itaguaí com algumas propriedades dos sistemas produtivos localizados ............................................................
279
6.2. O Projeto Sepetiba: ponto de bifurcação para a economia local? ..................................... 284
6.2.1. Idealização e concepção do Porto de Sepetiba: o Projeto e a Obra ............................ 287
6.2.2. Implementação e expansão do Projeto Sepetiba ......................................................... 290
6.3. Situação atual e perspectivas: as alternativas de desenvolvimento local ........................... 293
6.3.1. Um porto verticalmente integrado aos requerimentos produtivos de uma grande empresa nacional ..........................................................................................................
293
6.3.2. Um porto concentrador de cargas conteinerizadas (hub port) ..................................... 294
6.3.3. Uma economia portuária localmente integrada ........................................................... 296
6.4. Os desafios institucionais e os programas de apoio ........................................................... 299
6.4.1. Os programas de apoio num quadro de institucionalização precária das relações sociais .........................................................................................................................
299
6.4.2. O grau de mobilização da população e da sociedade civil em torno do Projeto Sepetiba ......................................................................................................................
307
6.4.3. Sobre a possibilidade de formação de capital social a partir da elaboração do Plano Diretor ........................................................................................................................
312
6.5. Conclusão ........................................................................................................................... 316
Conclusão geral ........................................................................................................................ 319
Bibliografia ............................................................................................................................... 326
Anexos ..................................................................................................................................... 338
Anexo 1: Questionário aplicado às empresas .................................................................. 339
Anexo 2: Guia das entrevistas institucionais ................................................................... 365
Lista de Figuras
Pág.
Capítulo 1: Por uma teoria do desenvolvimento econômico local
Figura 1: O desenvolvimento econômico local como um objeto de estudo situado em um nível intermediário de análise .................................................................. 39
Quadro 1: Formas intermediárias de coordenação ........................................................ 41
Figura 2: O Aparato regulador local: funções administrativas/burocráticas ................. 46
Quadro 2: Tipos de relações econômicas e sociais ........................................................ 47
Capítulo 2: O nível aplicado da teoria do desenvolvimento local
Quadro 3: Diferenças entre os distritos industriais e os sistemas produtivos localizados ................................................................................................... 64
Quadro 4: Formas assumidas pelo Capital Social ......................................................... 93, 94
Capítulo 3: Metodologia
Figura 3: Relações bilaterais de créditos e obrigações entre atores sociais ................... 139
Figura 4: Relações sociais e econômicas tripartites entre as formas intermediárias de coordenação ................................................................................................... 141
Quadro 5: Matriz para identificação de vetores de crescimento – Itaguaí .................... 149
Tabela 1: Representação dos quatro setores escolhidos na economia de Itaguaí .......... 150
Tabela 2: Proporções de cada setor no conjunto dos quatro setores escolhidos ............ 151
Capítulo 4: Itaguaí: História e situação econômica atual
Figura 5: Mapa do Município de Itaguaí ....................................................................... 164
Gráfico 1: Peso dos diferentes setores de atividade no PIB de Itaguaí – 2001 ............. 169
Tabela 3: Evolução do PIB entre 1994-2001 (Itaguaí e Estado do Rio de Janeiro) ...... 170
Tabela 4: População residente estimada (Estado do RJ, interior e Itaguaí) ................... 171
Tabela 5: Evolução do PIB per capita: Interior do Estado x Itaguaí (1994-2000) ........ 172
Tabela 6: Evolução dos valores adicionados por setor de atividade – Itaguaí (1996/2001) .................................................................................................... 173
Gráfico 2: Evolução do número de empresas e do volume de empregados por setor de atividade econômica (1994/2001) ........................................................... 176
Tabela 7: Número de empresas e volume total de empregados por setor de atividade econômica em Itaguaí (1994-2001) ............................................................... 177
Gráfico 3: Finanças públicas do município de Itaguaí .................................................. 181
Gráfico 4: Movimentação de cargas no Porto de Sepetiba (1997/2001) ....................... 184
Quadro 6: Dados do setor de transportes referentes às empresas vinculadas à cadeia de atividades do Porto de Sepetiba .............................................................. 186
Gráfico 5: Evolução do número de empregados e de estabelecimentos no setor portuário e atividades anexas (1994-2001) .................................................. 187
Quadro 7: Dados do setor de prestação de serviços referentes às empresas vinculadas à cadeia de atividades do Porto de Sepetiba ................................................ 190
Gráfico 6: Evolução do número de empregados e dos estabelecimentos no setor dos serviços prestados às empresas (1994-2001) ............................................... 191
Quadro 8: Dados do setor da construção civil referentes às empresas vinculadas à cadeia de atividades do Porto de Sepetiba ................................................... 192
Gráfico 7: Evolução do número de empregados e de estabelecimentos para três sub-períodos (1994-98, 1998-2001 e 1994-2001) .............................................. 193
Quadro 9: Dados do setor industrial (Itaguaí – 1994/2001) .......................................... 197
Gráfico 8: Evolução do número de empregados e de estabelecimentos em alguns subsetores da indústria de Itaguaí (1994-2001) ........................................... 198
Quadro 10: ONGs e associações de moradores ............................................................. 201
Quadro 11: Sindicatos e associações de classe presentes em Itaguaí ............................ 203
Quadro 12: Organismos e associações patronais ........................................................... 204
Quadro 13: Lista dos Conselhos Municipais e Comissões Municipais ......................... 206
Capítulo 5: A pesquisa de campo: precondições para o desenvolvimento econômico local de Itaguaí
Tabela 8: Número de empresas entrevistadas por setor e subsetor de atividade 218
econômica ......................................................................................................
Tabela 9: Comparação entre o peso de cada setor na amostra e o peso de cada setor na economia de Itaguaí .................................................................................. 219
Tabela 10: Tamanho das empresas por número de empregados ................................... 222
Tabela 11: Empresas filiais e não-filiais e propensão em formar associações, cooperar e fazer parcerias com outras empresas .......................................... 223
Tabela 12: Idade média das empresas ........................................................................... 223
Tabela 13: Tempo de atuação no sítio pesquisado ........................................................ 224
Tabela 14: Tempo de atuação em Itaguaí, grau de adesão institucional e relações econômicas de proximidade ........................................................................ 225
Tabela 15: Principais fontes de financiamento do capital de giro utilizadas pelas empresas ...................................................................................................... 230
Tabela 16: Principais fontes utilizadas pelas empresas para financiamento do investimento ................................................................................................. 230
Tabela 17: Distribuição do pessoal empregado por faixa de escolaridade .................... 232
Tabela 18: Fatores explicativos da evolução salarial .................................................... 233
Tabela 19: Instituições utilizadas como local de treinamento e freqüência de sua utilização ...................................................................................................... 237
Tabela 20: Formas de desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos ............. 240
Tabela 21: Fontes de informação/conhecimentos especializados que a empresa utiliza e localização dessas fontes ........................................................................... 241
Tabela 22: Formas de desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias ............. 242
Tabela 23: Principais inovações adotadas pelas empresas ............................................ 243
Tabela 24: Localização dos principais concorrentes segundo a importância atribuída aos concorrentes ........................................................................................... 244
Tabela 25: Geografia das transações: procedência dos equipamentos .......................... 245
Tabela 26: Geografia das transações: procedência das matérias-primas ....................... 246
Tabela 27: Geografia das transações: procedência dos demais fornecedores ............... 247
Tabela 28: Geografia das transações: destino das vendas ............................................. 249
Tabela 29: Vantagens da localização segundo os empresários ..................................... 250
Tabela 30: Desvantagens da localização da empresa na região .................................... 251
Tabela 31: Formas de adequação, utilizadas pelas empresas, ao processo de abertura de mercado promovido nos anos 1990 ........................................................ 252
Tabela 32: Formas de reação ao investimento externo direto (IED) ............................. 253
Tabela 33: Tipo de relação que a empresa estabelece com os seguintes tipos de empresas ...................................................................................................... 255
Tabela 34: Áreas terceirizadas e freqüência de terceirização pelas empresas entrevistadas ................................................................................................ 256
Tabela 35: Avaliação da parceria por parte das empresas concernidas ......................... 258
Tabela 36: Índice de participação em associações locais não-profissionais .................. 260
Tabela 37: Utilização de infra-estrutura regional .......................................................... 260
Tabela 38: Motivos citados para a não-utilização da infra-estrutura regional ............... 261
Tabela 39: Expectativas de atuação conjunta com instituições no município ou na região ........................................................................................................... 261
Tabela 40: Participação em organismos, sindicatos e outras associações profissionais 262
Tabela 41: Utilização dos serviços das instituições técnicas da região ......................... 263
Tabela 42: Principais dificuldades enfrentadas pela empresa ....................................... 264
Capítulo 6: Diagnóstico sobre as possibilidades de se alavancar um processo de desenvolvimento local endógeno na região
Quadro 14: Possíveis cenários futuros do Porto de Sepetiba e o desenvolvimento local ............................................................................................................ 296
Gráfico 9: Tendências e cenários para o Porto de Sepetiba ........................................... 297
Tabela 43: Proporção das empresas entrevistadas que se beneficiaram de algum apoio ............................................................................................................ 300
Quadro 15: Lista dos programas de apoio pontuais identificados ................................. 302
Tabela 44: Efeitos do programa Porto de Sepetiba sobre alguns dos domínios da empresa ........................................................................................................ 305
Quadro 16: O processo de elaboração do atual Plano Diretor de Itaguaí (em curso durante o ano de 2003) .............................................................................. 313
Introdução geral
Ao escolher como tema de tese o desenvolvimento econômico local de Itaguaí muitos colegas
de doutoramento me perguntavam: “Mas Itaguaí? O que é que tem em Itaguaí que te chamou
a atenção?” Pois bem, esta pergunta, difícil de ser respondida em poucas palavras, também
me atiçou a curiosidade e ficou fermentando a minha curiosidade científica durante um bom
tempo. A primeira decisão que eu tomei foi reler a obra O Alienista, de Machado de Assis,
cujo cenário é exatamente a cidade de Itaguaí, para ver se no mar revolto da ficção
machadiana eu poderia encontrar algum elemento de realidade ou algum fato histórico que me
desse alguma pista do que foi Itaguaí no passado. As visitas quase que diárias que empreendi
durante o trabalho de campo 1 me fizeram ver que Itaguaí não se diferenciava muito das
inúmeras cidadezinhas satélites, localizadas na periferia dos grandes centros urbanos, que
habitam os espaços regionais pelo Brasil afora. Caracterizada por uma perda de identidade
que vem se agravando nos últimos trinta anos, Itaguaí é hoje conhecida pelo estigma de
cidade dormitório, onde pelo menos 70% de sua população vive – ou depende – da renda que
é gerada pela região metropolitana conduzida pelo município do Rio de Janeiro.
Mas existe uma expectativa, por parte da população local, de que este perfil de cidade
dormitório venha a mudar. A recente consolidação e posterior expansão das atividades
portuárias ligadas ao Porto de Sepetiba 2 tem acendido uma chama entre as autoridades
municipais, as lideranças empresariais e os representantes da sociedade civil: a chama dos
milionários negócios portuários, da atração de empresas multinacionais, da sofisticação do
mercado de trabalho, do aumento na arrecadação de impostos e da construção de uma nova
imagem de Itaguaí perante o mundo dos negócios onde circulam os grandes armadores do
comércio marítimo transnacional. O Porto de Sepetiba seria, doravante, a porta de entrada do
Atlântico Sul e a nova vitrine da economia sul fluminense, com o município de Itaguaí
fazendo o papel de centro irradiador na transmissão de novas cadeias agregadoras de valor
que surgiriam a partir da integração da recém nascida economia portuária às economias dos
municípios vizinhos e de sua região de entorno.
1 As visitas de campo foram empreendidas entre novembro de 2002 e setembro de 2003. 2 A consolidação ocorreu em 1998, com a concessão da área portuária à iniciativa privada (como veremos no capítulo 6). A grande expansão no volume de negócios a partir de então pôde ser constatada através da leitura de dados secundários, que serão mostrados e analisados no capítulo 4.
No entanto, esta mudança na identidade coletiva local ainda tem um longo caminho a
percorrer. Em primeiro lugar, se a identidade coletiva e o imaginário social dependem da
prosperidade econômica, é necessário que a expansão do Porto de Sepetiba se consolide e que
este venha realmente a se firmar como alternativa econômica aos Portos do Rio de Janeiro e
de Santos, como é o desejo da principal operadora portuária que hoje administra o Porto de
Sepetiba. Os números relativos à expansão da atividade portuária local, apesar de
apresentarem um vetor de crescimento, estão ainda bastante aquém daquilo que se espera a
partir do pleno aproveitamento da potencialidade do Porto. 3 Em segundo lugar, supondo que
a atividade portuária esteja plenamente desenvolvida, será necessário ocorrer uma integração
entre esta economia portuária e a economia do município de Itaguaí, gerando um cenário de
desenvolvimento endógeno que chamamos, no capítulo 6, de economia portuária localmente
integrada.
A economia tradicional do município de Itaguaí, aquela que existia antes da revitalização
recente do Porto de Sepetiba, é atrasada e dependente do seu pólo de atração que representa a
metrópole do Rio de Janeiro. Uma economia que tinha por base a atividade agrícola até os
anos 1970, se desmorona por completo com a política desordenada de ocupação territorial
promovida pelo governo do Estado da Guanabara e posteriormente pelo governo fluminense,
ambos com o objetivo de ocupar tanto a Zona Oeste do município do Rio de Janeiro como a
Baixada litorânea do sul do Estado, promovendo para isto uma reordenação do espaço rural
que foi prejudicial para a atividade agrícola.
Nos anos 1980 e até o final dos anos 1990, frente a uma economia nacional estagnada e uma
economia regional que perde algumas posições relativas para economias de outros estados, a
economia do município de Itaguaí passa a depender cada vez mais do pequeno comércio e das
pequenas atividades de subsistência, da prestação de serviços de proximidade e da renda
gerada pelo suprimento de víveres e demais produtos locais (doces e produtos da terra), na
beira da estrada, aos viajantes da BR-101. Vai se consolidando assim uma economia local de
subsistência, onde os estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços no centro do
município substituem os estabelecimentos agrícolas como núcleos geradores de renda, e as
poucas unidades industriais remanescentes tiveram que lutar para superar as dificuldades
3 Uma idéia da capacidade de operação do Porto de Sepetiba e do seu potencial de aproveitamento poderá ser obtida através da leitura da seção 6.3, no capítulo sexto.
impostas pela estagnação e pela concorrência dos outros municípios da Baixada Fluminense e
do interior do Estado de São Paulo.
Entretanto, esta economia local de subsistência, baseada na prestação de serviços e no
pequeno comércio local, é incapaz de fornecer emprego e postos de trabalho em quantidades
compatíveis com o tamanho da população. As externalidades econômicas que poderiam ser
absorvidas a partir da expansão do Porto de Sepetiba estão ainda longe de chegarem à
economia-sede do município, localizada no centro de Itaguaí. 4 Em um Seminário que
participamos na agência Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), em julho de 2003,
lembramos que estas externalidades econômicas geradas a partir da expansão da atividade
portuária poderia beneficiar a economia de Itaguaí de três formas: a) aumento da arrecadação
de Imposto Sobre Serviços (ISS) pela Prefeitura Municipal, b) compra, pelas operadoras
portuárias, de bens e serviços provenientes dos fornecedores locais, e c) emprego direto e
indireto oferecido pelas empresas sediadas no Porto de Sepetiba aos moradores de Itaguaí. 5
A promoção desses “vasos comunicantes” entre a economia portuária e a economia do
município poderia dinamizar esta última e promover uma articulação e uma integração entre
estes dois espaços econômicos. Mas os vasos comunicantes entre uma economia e outra não
devem ser apenas de caráter econômico ou se pautar apenas por transações ou variáveis
econômicas. Tais vasos comunicantes devem também ser entendidos como canais de diálogo
entre a sociedade civil, as instituições locais e os órgãos de classe que representam a
economia portuária, sob a intermediação, necessária, do poder público municipal. As
múltiplas relações entre a sociedade civil, o quadro institucional local e o seu tecido
empresarial (tanto no que se refere às operadoras portuárias quanto às empresas do município)
serão tratadas no capítulo 6.
4 Esta referência à economia-sede se deve ao fato de o Porto de Sepetiba estar geograficamente localizado nos arredores do município, numa região conhecida como Ilha da Madeira, banhada pela Baía de Sepetiba. Digno de nota é o fato de que o dia-a-dia do Porto de Sepetiba e das operações portuárias aí desenvolvidas não afetam em nada a rotina comercial e econômica do município propriamente dito, ou da “sede” econômica e administrativa do município, localizada no centro da cidade. 5 O recolhimento de ISS e a sua destinação (uso) no orçamento da Prefeitura de Itaguaí será discutido na seção 4.2 do capítulo 4; as transações econômicas entre as empresas portuárias e as empresas do município serão tratadas quantitativamente através do quadro de análise (capítulo 5) e qualitativamente, através de entrevistas e depoimentos, no capítulo 6; e as relações de emprego entre as operadoras portuárias e o mercado de trabalho local serão tratadas no capítulo 4, onde faremos uma análise mais minuciosa do volume de emprego oferecido pelos quatro setores de atividade tidos como mais dinâmicos, e também no capítulo 6, através dos depoimentos e entrevistas.
Feita esta constatação, a de que existem no município duas realidades econômicas distintas, o
desafio deste trabalho consiste em avaliar quais são as condições institucionais locais para a
captura da economia portuária pela economia do município de Itaguaí. Quais são as
possibilidades das instituições locais virem a integrar, à economia tradicional do município de
Itaguaí, hoje caracterizada por várias atividades de sobrevivência, a economia portuária, que
vem se consolidando e que recebe, das autoridades políticas regionais, a propriedade de ser
detentora de um forte potencial revitalizador com efeitos estruturantes importantes sobre a
economia de toda a região? Esta articulação entre a economia portuária e a economia do
município, se bem sucedida, poderá ativar o início de um processo de desenvolvimento
econômico local, cuja sustentabilidade dependeria do grau de adesão institucional do tecido
empresarial local e de envolvimento da população (sociedade civil) em um projeto comum de
desenvolvimento.
O agente mobile desta integração é o quadro institucional local. Por quadro institucional local
entendemos todo o conjunto de redes de relações entre as formas intermediárias de
coordenação econômica e social presentes no município. Essas formas de coordenação são
fundamentalmente territoriais e se colocam entre os níveis de intermediação macro (o Estado
como agente regulador máximo e o mercado como esfera autônoma de coordenação e de
alocação dos recursos econômicos) e micro (as firmas enquanto organizações e os arranjos
setoriais selados entre atores mais ou menos homogêneos). Correspondem, portanto, aos
modos de coordenação social e de resolução de conflitos que se estabelecem entre o poder
público municipal, o tecido empresarial local e a sociedade civil existente no município. É
neste sentido que ganham relevo todas as formas de organização social, produtiva ou
institucional que representam acordos cooperativos entre diferentes atores sociais e que são o
suporte das redes formais e informais criadas para promover algum objetivo econômico ou de
inserção social. A esse conjunto de arranjos cooperativos e formas intermediárias de
coordenação, que incluem todos os atores sociais relevantes para a organização produtiva de
um território, chamamos de quadro institucional local.
Portanto, a articulação entre a economia portuária e a economia do município de Itaguaí
dependerá da maturidade alcançada por este quadro institucional local. Entende-se por
maturidade a qualidade e a densidade das redes, o grau de coesão entre os diversos atores
sociais em torno de um projeto comum, a coerência de uma estratégia de desenvolvimento
elaborada pelas diversas instituições representativas do município e o diálogo permanente
entre os três conjuntos de atores (poder público local, tecido empresarial e sociedade civil). A
maturidade institucional é o ingrediente fundamental para a construção de um processo
endógeno de desenvolvimento econômico local. As redes entre as empresas, mas também a
aderência deste tecido empresarial junto aos organismos e instituições municipais voltados
para o apoio às micro e pequenas empresas, o engajamento da classe empresarial em relação
às demandas exercidas pela sociedade civil e, finalmente, o poder de participação e de
intervenção desta sociedade civil junto ao poder público municipal, constituem-se em fatores
impulsionadores de um processo de desenvolvimento realizado de baixo para cima, ao invés
de um desenvolvimento realizado de cima para baixo. 6 Para haver desenvolvimento
econômico local o território deve contar com os seus próprios meios, elaborar uma estratégia
de reação autônoma que afirme suas necessidades locais e redirecione, em seu próprio
proveito, as forças heterônomas impostas pelas leis de funcionamento da economia global.
A ênfase no papel das instituições na canalização das transformações e mudanças empresta e
este trabalho uma filiação teórica de cunho institucionalista. Se este aparato institucional local
for suficientemente forte e coeso a ponto de formular uma estratégia de reação autônoma
capaz de redirecionar as forças exógenas que incidem sobre o território, então diremos que
este território tem um bom acúmulo de capital social. Haverá desenvolvimento econômico
local se as instituições locais forem capazes de internalizar e endogeneizar um estímulo que
vem de fora (ou de cima), redirecionando, a partir de suas próprias forças, um movimento de
expansão cujo fator impulsionador teve, inicialmente, uma origem externa. No caso de
Itaguaí, este estímulo foi e está sendo dado pelo Projeto de Ampliação e Modernização do
Porto de Sepetiba, que foi concebido como um vetor externo de estímulo para a expansão
econômica da região. Neste choque e nesse movimento dialético entre a pressão heterônoma e
6 Stöhr e Taylor (1981) lançaram as bases da teoria que pode ser definida como desenvolvimento realizado de baixo para cima, em contraposição ao modelo de desenvolvimento realizado de cima para baixo. Este modelo de desenvolvimento (realizado de baixo para cima) pode ser definido como partindo das potencialidades socioeconômicas originais do local, no lugar de um modelo de desenvolvimento de cima para baixo, isto é, partindo do planejamento e intervenção conduzidos pelo Estado nacional. Ele opõe, ao capitalismo dominante, o potencial local de organização. Face à lógica do lucro que se impõe, submete e destrói, o modelo propõe uma lógica de autonomia, de desenvolvimento endógeno e localizado que conta com os seus próprios meios. Essa teoria opõe-se às características do modelo de cima para baixo nos seguintes termos: a) o desenvolvimento econômico é multiforme e adaptado à cada território, e não uniforme; b) os efeitos de indução não têm exclusivamente uma origem exógena (relações input-output, estratégias mundiais de firmas multinacionais, etc.), mas resultam da afirmação das necessidades locais e se desenvolvem graças à especialização e à diversificação regionais; c) o desenvolvimento econômico apoia-se em uma intensificação no uso de fatores locais escassos pelas pequenas e médias empresas e não em uma intensificação do capital que permite uma acumulação em uma escala supra-regional, alavancada pela grande empresa (W. Stöhr e F. Taylor: Development from Above or Below ? New York: J. Wiley, 1981).
a estratégia de reação autônoma, acionada e colocada em prática pelas instituições locais, está
o vetor do desenvolvimento econômico endógeno.
O objetivo deste trabalho é diagnosticar a existência de redes e de capital social no município
pesquisado. Em outras palavras, qual é a aptidão do quadro institucional local em redirecionar
o fator impulsionador originado pelas atividades portuárias a favor da economia do município
de Itaguaí; ou se este quadro institucional está preparado e será capaz de internalizar, para a
economia do município, este foco de expansão econômica que se localiza, até este momento,
dentro dos limites representados pela economia portuária (inclusive sendo limitado
geograficamente pela área administrativa do Porto de Sepetiba). A nossa hipótese é a de que
este crescimento ficará restrito à economia portuária se as instituições do município de Itaguaí
(e de sua região de entorno) não forem coesas o suficiente e não se mobilizarem para
reivindicar, em prol da economia local, uma articulação entre esta e as atividades portuárias.
O material utilizado para medir a existência de redes e de capital social e, portanto, a
maturidade do quadro institucional local, foi a aplicação de questionários a um número
significativo de empresas do município, bem como a realização de entrevistas abertas às
instituições locais (tanto do poder público municipal quanto aos organismos, associações de
classe e serviços técnicos oficiais), às lideranças e aos órgãos representativos da sociedade
civil. Através das entrevistas aplicadas às empresas pudemos medir a existência de redes entre
essas empresas, os vínculos entre elas e o aparato institucional local e diagnosticar a
propensão dos micro e pequenos empresários em formar parcerias e associações, seja com as
grandes empresas locais, seja com os serviços técnicos oficiais de apoio e de suporte.
Através das entrevistas abertas às instituições e lideranças locais, pudemos diagnosticar e
constatar os entraves, os obstáculos e os desafios que se colocam aos atores sociais para que
estes promovam arranjos cooperativos entre as diversas unidades produtivas e selem acordos
de cooperação técnica entre os organismos oficiais e o conjunto de empresas do município
(principalmente as micro e pequenas). As entrevistas abertas também nos ajudaram a
esclarecer o jogo político que se estabelece entre as representações da sociedade civil e as
instâncias do poder público municipal, onde, nas constantes brigas políticas entre a Prefeitura
(Poder Executivo) e a Câmara Municipal (Legislativo), a população é muitas vezes utilizada
como massa de manobra para legitimar ou inviabilizar determinados projetos que poderiam
ter impactos econômicos importantes para a localidade. No processo atual de elaboração do
novo Plano Diretor do Município, por exemplo, o Executivo só conseguiu levar adiante o
Projeto depois de ter mostrado, com muito custo, os benefícios que poderia trazer para a
população a regulamentação de um novo Plano Diretor, fundado no recém criado Estatuto das
Cidades e que poderia reverter um quadro de degradação humana, econômica e ambiental
pela qual passa o município. Esse exercício de cooptação foi feito apesar da resistência e das
críticas de alguns representantes da Câmara Municipal à forma “autoritária e dirigida com a
qual a Prefeitura estaria tentando impor, à população, a aprovação de um novo Plano
Diretor”. 7
Estes dois instrumentos utilizados para a pesquisa de campo – o questionário aplicado às
empresas e o guia de entrevistas institucionais – nos foram cedidos pela Coordenação Geral
do Programa de Pesquisa “As Transformações das Configurações Produtivas Locais no
Estado do Rio de Janeiro: instituições, interações, inovações”, implementado pelo Grupo
de Inovação do Instituto de Economia da UFRJ no âmbito de um convênio entre o CNPq, o
Institut de Recherche pour le Développement (IRD/França) e o próprio Instituto de Economia.
Esta tese é um produto deste programa de pesquisa, cuja aplicação compreende, além do
município de Itaguaí, os municípios de Campos, Macaé e Nova Friburgo, e como tal
beneficiou-se das discussões da coordenação geral e da operacionalização da pesquisa
passadas para o conjunto das equipes.
A originalidade desta tese está em definir um quadro de análise particular enfatizando um dos
aspectos estudados na pesquisa: as relações entre o capital social, as redes de micro e
pequenas empresas e o ambiente institucional local. Nossa hipótese principal é de que o
estabelecimento de relações sinérgicas entre as formas intermediárias de coordenação pode
constituir e criar capital social e por isso iniciar um processo de desenvolvimento econômico
local que não será linear nem progressivo, mas implicará em rupturas e cuja trajetória poderá
ser marcada por descontinuidades e reconstruções.
Esta tese está dividida em duas partes e seis capítulos. A primeira parte refere-se ao suporte
teórico e está dividida em dois capítulos. A segunda parte refere-se à investigação empírica e
está dividida em quatro capítulos, sendo que o primeiro deles (capítulo 3) expõe a base
7 Pudemos chegar a esta conclusão depois de termos assistido a várias reuniões do Comitê de Gestão e de Implantação do novo Plano Diretor do Município, coordenadas e promovidas pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura.
metodológica do trabalho de campo e o último (capítulo 6) possui um caráter conclusivo. Os
dois capítulos intermediários da parte empírica referem-se à pesquisa de campo propriamente
dita: o capítulo 4 à investigação e análise dos dados secundários e o capítulo 5 à exploração
dos dados primários.
No primeiro capítulo da primeira parte, mostramos como estão defasadas as teorias do
desenvolvimento centradas na intervenção do Estado ou na atuação do mercado como únicos
agentes impulsionadores deste desenvolvimento. As teorias tradicionais do desenvolvimento
mostraram-se incapazes de explicar as diferenças de desempenho econômico entre os países,
mesmo que estes tivessem partido de situações semelhantes em termos de dotação de fatores e
tivessem adotado políticas econômicas parecidas. Estas teorias mostraram-se defasadas na
medida em que não consideravam o contexto e as particularidades das regiões, e através
destas particularidades os fatores institucionais específicos a cada território. A partir da
constatação do fracasso dessas teorias tradicionais, os fatores institucionais passam a ser cada
vez mais contemplados como fatores explicativos do desenvolvimento, passando as novas
teorias, de filiação institucionalista, a incorporar ou a endogeneizar os elementos
institucionais que são específicos a um determinado território ou região. Por serem
específicas, essas variáveis institucionais suscitam uma teoria situada em um nível de análise
meso-econômico, que é por definição um nível de análise que está situado no campo aplicado
das ciências econômicas, suscitando o diálogo com outras áreas do saber estabelecidas no
terreno das ciências sociais. Daí o surgimento da nova sociologia econômica (anos 1980) e da
abordagem institucionalista da teoria do desenvolvimento, o que faz com que esta teoria
adquira um caráter cada vez mais sistêmico e multidisciplinar. A integração das variáveis
territoriais e a compreensão do desenvolvimento a partir da mobilização dos atores e
instituições locais nos fazem deslocar o eixo de análise do global, ou mesmo do nacional, para
o local. O nosso objeto de estudo é, portanto, o local.
No capítulo 2 passamos de um nível mais abstrato e geral da teoria do desenvolvimento
econômico local para o seu nível aplicado, realçando o ambiente institucional e as relações
econômicas de proximidade (redes) como sendo o fermento e a matéria-prima a partir dos
quais se cria e se reproduz o capital social de um território. Começaremos o capítulo 2 através
de uma descrição da filiação da teoria do desenvolvimento econômico local, para em seguida
observarmos as aplicações desta teoria às análises dos distritos industriais marshallianos e dos
sistemas produtivos localizados. No capítulo dois discutimos também a maneira como
operacionalizamos o conceito de capital social, através da mensuração e da quantificação das
redes e dos vínculos institucionais entre o tecido empresarial local e o conjunto de
organismos, instituições e associações que permeiam a vida econômica e social do município.
Mas antes de apresentar essa proposta de operacionalização do conceito de capital social,
fizemos um estado das artes do debate que o cerca: exposição crítica de suas múltiplas
definições, propriedades e formas, bem como uma descrição das fontes do capital social e dos
ambientes sociais e institucionais mais propícios à sua criação.
O capítulo 3 é o primeiro capítulo da segunda parte da tese. Como esta segunda parte refere-se
ao seu conteúdo empírico, tratar-se-á de expor a base metodológica sobre a qual se erigiu o
trabalho de campo. Desta forma, o capítulo 3 (Metodologia) foi dividido em duas partes:
pressupostos teórico-metodológicos (seção 3.1) e procedimentos metodológicos (seção 3.2),
fora a sua conclusão (seção 3.3). Na seção 3.1 recuperamos, de forma sintetizada, alguns
conceitos e premissas teóricas discutidos na primeira parte da tese para podermos avançar
rumo a uma teorização do papel das redes e do capital social no desenvolvimento econômico
local, com o objetivo final de operacionalizar o conceito de capital social e de quantificar a
sua existência no sítio pesquisado. Na seção 3.2, ao se fazer uma exposição dos
procedimentos metodológicos adotados na pesquisa de campo, iniciamos com algumas
observações necessárias sobre o método utilizado e as fontes de informação e pesquisa dos
dados secundários. Em seguida, passamos para a descrição metodológica do trabalho
empírico. Antes, todavia, de definir quais foram os procedimentos adotados para a seleção da
amostra, foi feito um resumo da problemática de desenvolvimento local do município
pesquisado. Colocada a problemática inicial, que é também a principal questão que a pesquisa
empírica visa responder, começamos por fazer algumas considerações sobre a definição da
amostra das empresas entrevistadas e sobre os setores de atividade econômica aos quais
pertencem estas empresas. Em seguida, descrevemos os instrumentos de coleta dos dados
primários e a forma como estes dados foram trabalhados para responder às questões
pertinentes às nossas hipóteses teóricas.
No capítulo 4 procedemos ao tratamento das variáveis secundárias (muito embora a terceira
seção do capítulo – Caracterização do ambiente institucional de Itaguaí – esteja mais
fundamentada em nossas pesquisas de campo do que em pesquisas de fontes secundárias). O
objetivo deste capítulo é o de caracterizar o ambiente econômico e institucional local. Para
tanto, ele se divide em três seções. Na seção 4.1 discutimos a história econômica e a da
ocupação populacional e territorial de Itaguaí, com o objetivo de traçar o perfil do município e
especular sobre a existência de alguma vocação econômica para o mesmo. Na seção 4.2
fizemos uma exposição dos dados econômicos secundários e uma discussão da dinâmica
econômica recente do município. Observamos então como evoluíram, na segunda metade da
década de 1990, as principais variáveis econômicas e qual o impacto destas evoluções sobre a
inserção produtiva atual do município. Na seção 4.3 fizemos uma caracterização da infra-
estrutura institucional de Itaguaí. O objetivo foi o de confrontar esta caracterização com os
depoimentos e testemunhos obtidos nas entrevistas abertas aos responsáveis pelas instituições
e lideranças locais, obtendo assim uma confirmação da importância destas instituições
elencadas para a formação de arranjos cooperativos e para a constituição de modos
intermediários de coordenação.
No capítulo 5 tratamos das variáveis primárias, coletadas através de questionário. Esta
apresentação e sistematização dos dados primários foi organizada em cinco seções que
tratarão, cada uma delas, de um conjunto de variáveis que julgamos relevantes para medir a
existência de redes e de capital social no sítio pesquisado. Como esta exposição dos dados
primários diz respeito ao questionário aplicado às empresas, o estoque de capital social aí
diagnosticado se refere às redes de relações entre as empresas e entre estas e os organismos e
instituições locais, com o que deixamos para o capítulo 6 a análise da formação de capital
social entre as instituições locais e a sociedade civil. Desta forma mostramos, para o sítio
pesquisado, quais são as principais redes de relações aí presentes e qual é a percepção dos
atores em relação ao funcionamento dessas redes e ao seu impacto sobre as variáveis reais da
economia e/ou de suas empresas. Para terminar o capítulo 5, coube uma palavra final sobre o
estoque e a mensuração de capital social percebida no sítio escolhido. A partir daí, já tendo
caracterizado o quadro institucional local (capítulo 4) e a densidade dos vínculos entre as
empresas e as instituições (capítulo 5), verificamos, no capítulo 6, quais são as possibilidades
de construção de relações sinérgicas entre as três formas intermediárias de coordenação
(incluindo a sociedade civil).
O capítulo 6 é o capítulo final, conclusivo e sintetizador da investigação empírica, à luz dos
aportes teóricos trazidos a tona nos capítulos 1 e 2. Porém, esta síntese se faz sobre a análise
qualitativa dos depoimentos colhidos nas entrevistas abertas às instituições, lideranças e
empresariado local e trará, como um novo elemento de investigação, a participação da
sociedade civil na elaboração, conjuntamente com as outras formas intermediárias de
coordenação (poder público local e tecido empresarial local), de uma estratégia de reação
autônoma que coloque o território como o principal ator de um processo de desenvolvimento
endógeno, sobrepondo-se aos atores externos que personificam a pressão heterônoma que
incide sobre o território. Neste capítulo discutimos os problemas e os entraves que se colocam
para as alternativas de desenvolvimento local da região, bem como as possíveis saídas
institucionais que estão presentes no território, mas que precisam ser desenvolvidas e
depuradas.
PARTE I
A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL
Capítulo 1: Por uma teoria do desenvolvimento econômico local
Introdução
Neste capítulo apresentaremos as abordagens do desenvolvimento econômico local como um
resultado da falência dos modelos tradicionais de desenvolvimento, fundados seja na
compreensão do Estado nacional como principal agente promotor do desenvolvimento, seja
nas funções alocativas do mercado como facilitador do ótimo econômico. A abordagem
institucionalista do desenvolvimento local, que será aqui adotada, surge nos interstícios das
contribuições dos estudos regionais, que desembocaram, na segunda metade do século XX,
nas análises da economia regional e urbana, e das teorias macroeconômicas tradicionais do
crescimento, que na década de 1980 incorporaram os avanços da teoria do crescimento
endógeno (Romer, 1986; Lucas, 1988). No entanto, a abordagem institucionalista do
desenvolvimento econômico local vai além da visão economicista desenvolvida por estes dois
conjuntos de teorias, na medida em que incorpora trocas sociais que ultrapassam as relações
puramente mercantis (Coleman, 1990; Pantoja, 1999).
Na primeira parte deste capítulo (seção 1.1), veremos como a dicotomia entre o Estado e o
mercado, que prevaleceu durante boa parte do século XX como fonte de inspiração para a
formulação das teorias tradicionais do crescimento, vai progressivamente abrindo espaço para
a introdução de novos fatores explicativos do crescimento, cuja mobilização encontra-se
numa zona intermediária entre o Estado e mercado. Estas formas intermediárias de
coordenação suscitam um nível de análise que se situa entre a micro e a macroeconomia, e
que chamaremos de análise meso-econômica.
Na segunda parte do capítulo (seção 1.2), veremos como vai se desenhando uma abordagem
do desenvolvimento econômico local que integra as variáveis institucionais como fatores
explicativos, ao lado de fatores econômicos como o capital e o trabalho. Veremos como essas
variáveis institucionais estão intrinsecamente articuladas ao território, constituindo-se num
conjunto de redes de relações sociais e econômicas que fazem emergir as várias manifestações
de reação autônoma por parte do território. Após uma breve digressão sobre o surgimento da
Nova Economia Institucional (NEI), esta seção culminará numa descrição de como as teorias
tradicionais do crescimento endogeneizaram os fatores institucionais e o papel do conceito de
capital social nesta endogeneização.
Na terceira e última seção do capítulo (seção 1.3), definiremos e precisaremos o quadro
conceitual a partir do qual serão verificadas as condições existentes para o alavancamento de
um processo de desenvolvimento econômico endógeno em uma região escolhida como campo
de aplicação da teoria. Nesta terceira seção esboçaremos uma teoria do desenvolvimento
econômico local que integra não apenas as instituições, mas também o território, a partir da
compreensão do movimento dialético entre a pressão heterônoma exercida pelas leis de
funcionamento de uma economia global e a reação autônoma suscitada pelas redes e
instituições locais.
1.1. A falência dos modelos canônicos de desenvolvimento: o Estado versus o mercado
As pesquisas sobre desenvolvimento, sempre marcadas pela oposição entre a necessidade de
uma intervenção estatal e o caráter auto-regulador do mercado, desembocaram, a partir do
final dos anos 1990, em uma síntese que preconiza uma abordagem sistêmica e a consideração
de variáveis institucionais e políticas. Os problemas de coordenação, as externalidades e as
interações sociais foram incorporados e se aplicam, hoje, tanto aos países desenvolvidos
quanto aos países em desenvolvimento (Boyer, 2001).
Os revezes de várias estratégias de desenvolvimento provocaram a seguinte reflexão por parte
dos teóricos: como explicar que a maior parte das teorias, fundadas sob um mecanismo
simples e único (um único fator explicativo), tenham rapidamente mostrado seus limites no
que diz respeito à explicação do desenvolvimento? Porque as teorias do desenvolvimento
convergiram, ao final dos anos 1990, para uma concepção institucionalista e sistêmica que
reprova uma análise puramente econômica e centrada na tecnologia, no mercado e na
demografia, ao mesmo tempo em que rechaça uma crença no Estado como agente promotor
único do desenvolvimento? Estas perguntas são lançadas por Boyer (2001) e sugerem que a
busca pelas explicações do desenvolvimento desigual ou do atraso econômico, de países,
regiões ou territórios, deve ultrapassar os paradigmas econômicos e buscar suas causas na
interseção da economia, da história e de outras ciências sociais:
“A procura de um fator explicativo único guiou as pesquisas tanto teóricas quanto empíricas em matéria de desenvolvimento ao longo de toda a segunda metade do século XX. Enquanto disciplina, a economia parece incapaz de reconhecer que tal fator não existe, que uma política de desenvolvimento requer uma compreensão mais complexa dos sistemas, que combinam instituições econômicas, sociais, culturais e políticas,
cujas interações mudam ao longo do tempo. As prescrições dirigidas a um dado país devem estar fundamentadas na compreensão de sua situação, da trajetória que o conduziu até o presente através do estudo de seu tempo histórico longo (...) O desenvolvimento implica sempre uma modificação dos mecanismos, modalidades, agentes e instituições necessárias à sua promoção. A única constante no desenvolvimento é sua mudança dinâmica sistemática” (Boyer, 2001: 14-39).
Vários fatores rogam pela emergência de uma concepção mais equilibrada do
desenvolvimento. O papel das instituições e a necessidade de uma abordagem mais sistêmica
são aspectos cada vez mais reconhecidos. O processo de desenvolvimento econômico é ao
mesmo tempo multi-dimensional e não-linear. Ele provoca transformações dinâmicas não
apenas nos modos de produção e na tecnologia, mas também nas instituições sociais, políticas
e econômicas. A questão não é mais a da escolha entre princípios alternativos e exclusivos de
coordenação: o mercado ou o Estado. Reconhece-se que uma dosagem apropriada entre o
Estado e o mercado é necessária à promoção do desenvolvimento. Não há um fator
explicativo único do desenvolvimento (ou da ausência de desenvolvimento), mas um conjunto
de fatores que intervêm na trajetória observada. Convém estabelecer cada diagnóstico em
função do seu contexto. Os processos de desenvolvimento caracterizam-se por uma notável
carga de historicidade.
Desde o pós-guerra até meados dos anos 1980, o conceito de desenvolvimento foi
consideravelmente alterado, a ponto de englobar uma série de definições, mostrar uma
alternância no que diz respeito aos seus fatores explicativos, condições requeridas para o
desenvolvimento e objetivos a serem alcançados. Antes pontual e limitada à esfera
econômica, para não dizer economicista, a definição se estendeu a quase todas as esferas da
vida social e às suas inter-relações, coroando uma abordagem sistêmica do desenvolvimento.
Originalmente, os economistas do desenvolvimento seguiam os ensinamentos das teorias do
crescimento. Colocava-se em primeiro plano a taxa de investimento como determinante do
crescimento de longo prazo. Mas as evidências empíricas mostraram que tal relação não é
uniforme, uma vez que instituições sociais e econômicas definem incitações favoráveis à
utilização produtiva dos recursos alocados ao investimento e à inovação.
A partir dos anos 1980, os teóricos liberais e as organizações internacionais reconheceram que
o Estado tem uma responsabilidade na construção das instituições necessárias à manifestação
das vantagens do mercado e ao afloramento do espírito empreendedor: a existência de uma
unidade monetária estável, um sistema de pagamentos eficaz, um direito comercial atuante,
um sistema jurídico independente e um mínimo de infra-estrutura de transporte e
comunicação que assegurem a unidade do território nacional; tais seriam as condições
mínimas necessárias ao estabelecimento do mercado. Alguns economistas novos-keynesianos
vão ainda mais além, sustentando que as intervenções públicas são necessárias para corrigir as
falhas de mercado devido às assimetrias de informação, que impedem a formação de
equilíbrios de mercado; estas intervenções melhorariam a eficiência na alocação e na
distribuição de recursos (Stiglitz, 1994).
Desta forma, o Estado reencontraria uma função particular que não pode ser preenchida pelo
mercado. As teorias contemporâneas convergem para a aceitação da idéia de que o Estado é
importante. A forma da intervenção é que muda segundo as matizes teóricas. A maior parte
dos teóricos concordam que o mercado é eficaz na produção e na alocação de bens típicos,
mas o mesmo não é válido para o crédito, o trabalho e os bens de equipamentos. Estas
mercadorias não podem ser integralmente governadas pela lógica do mercado; as intervenções
públicas e/ou regulamentações coletivas são necessárias à sua gestão. A necessidade de uma
forma de coordenação que escapa ao mercado impõe-se também nas escolhas em matéria de
infra-estrutura pública, meio-ambiente e políticas educacionais e de inovação (P&D).
Em matéria de teorias, assistimos hoje a uma convergência entre duas concepções que antes
eram dicotômicas e se defrontaram por muito tempo na economia do desenvolvimento. Nem
planificação autoritária nem generalização das vantagens do livre mercado: o que está em
jogo é um equilíbrio bem temperado entre intervenções públicas e ajustamentos
descentralizados. A sucessão dos relatórios anuais do Banco Mundial (1996, 1997, 1998,
2001) ilustra bem esta conscientização. Esta concepção intermediária pode ser reforçada se
levarmos em conta duas concepções do papel do Estado que não são de forma alguma
equivalentes. Para os novos keynesianos, as intervenções públicas têm por função corrigir as
falhas do mercado (Stiglitz: 1988, 1994). Para os novos institucionalistas, a ordem política
tem um papel fundamental para gerar um sistema de incitações econômicas (North, 1990).
1.2. O surgimento das teorias institucionalistas
Os desenvolvimentos precedentes inscreveram-se no plano Estado-mercado, supondo que
estas fossem as duas únicas formas de coordenação na economia. Entretanto, para reconstruir
uma teoria do desenvolvimento que leve em conta os ensinamentos da história econômica e a
diversidade das configurações nacionais, devemos considerar as formas intermediárias de
coordenação que desempenham um importante papel na evolução econômica e se situam
entre o Estado e o mercado. Como formas intermediárias de coordenação entendemos a firma
(ou organização) e a sociedade civil, esta última podendo ser representada pelas comunidades,
associações e redes de relações sociais (formais e informais). 8
Nos últimos vinte anos várias pesquisas procuraram explicar as diferenças de desempenho
entre regiões através da existência desta forma de coordenação que chamamos de sociedade
civil. A idéia central é que a sociedade civil é a matriz a partir de onde se forjam uma série de
convenções, regras e hábitos que permitem e facilitam as transações propriamente
econômicas, através da formação de redes (Granovetter, 1978), da criação e do
desenvolvimento da confiança, tão necessária ao livre desenvolvimento das trocas mercantis
(Fukuyama, 1996), ou ainda devido à emergência da cooperação (Axelrod, 1984). A
sociedade civil também guarda relações com a firma, na medida em que lhe impõe regras que
não são necessariamente reconhecidas pelo Estado nem veiculadas pelo mercado, como, por
exemplo, em matéria de emprego (Akerlof, 1984). O processo democrático também não é
estranho à maturação da sociedade civil ao nível local (Held, 1987; Putnam, 1993), uma vez
que preocupações de justiça social têm um impacto evidente sobre as demandas dirigidas ao
Estado (Rawls, 1971).
Este tecido de relações sociais mantém relações multiformes com as transações propriamente
econômicas, a ponto de, em certos casos, se tornar o fator essencial para explicar o dinamismo
econômico de um país ou região. A questão central para o desenvolvimento passa a ser como
8 Por se situarem entre o Estado e o mercado, essas formas de coordenação serão estudadas sob uma perspectiva de análise meso-econômica, destacada na subseção 1.3.3. Podemos, no entanto, avançar que a análise destas formas intermediárias de coordenação e a sua relação com as variáveis econômicas e o desempenho econômico dos territórios e das nações corresponde ao objeto de estudo da economia institucional. De uma maneira geral, a noção de instituição refere-se às regras do jogo que prevalecem em uma determinada sociedade e a maneira de se fazer respeitá-las. J. Rodgers (1994), em “Economie institutionnaliste, économie du développement et économie du travail”, Informations et Commentaires no 87, pp. 11-17, assinalou que as instituições podem assumir diferentes formas e que é possível reparti-las em cinco categorias: i) as organizações, das quais fazem parte as firmas, os sindicatos e o Estado; ii) as instituições formais, das quais fazem parte os contratos e as regras que regem os acordos e as negociações; iii) as instituições informais que se fundamentam em mecanismos implícitos, procedimentos ou modos de comportamento difusos e aceitos pelas partes concernidas; iv) regras sociais formais que incluem direitos e deveres editados pelo poder público; e v) as regras sociais informais que englobam as normas e os valores impregnados em uma determinada coletividade.
articular essas quatro instâncias ou formas de coordenação (Estado, mercado, firmas e
sociedade civil). Tarefa ainda mais árdua se considerarmos que a sociedade civil pode ser
desmembrada em três outras instâncias, que são as redes (formais e informais), as associações
e as comunidades.
A questão não é mais a de uma oposição dicotômica entre o Estado e o mercado, mas a da
compatibilização de um conjunto de comportamentos que se inscrevem simultaneamente em
várias esferas da sociedade e são regidos por lógicas distintas. O papel do Estado encontra-se
renovado no cerne da distribuição dos poderes, da imposição de restrições e na formação de
incitações que atuam sobre os outros agentes e atores. Esta é a conclusão para a qual
convergem vários trabalhos, desde historiadores (North, 1990) até pesquisas em ciência
política que mostram a importância da ordem constitucional como instrumento para se
alcançar a coerência de um conjunto de lógicas e de formas de organização, mas também de
sua transformação (Sabel, 1997). Os trabalhos da sociologia econômica mostram a
importância dessas redes sociais para a estratégia e a inovação das firmas e, por extensão, para
as formas de competitividade (Streeck, 1997).
Os processos de desenvolvimento das economias contemporâneas não podem mais se pautar
pela escolha entre a lógica mercantil e a lógica da intervenção estatal, ou por uma combinação
de ambas, mas por um arranjo intermediário entre essas duas formas extremas – integrando-as
– que leve em conta a variedade e a complementaridade entre as formas intermediárias de
coordenação apresentadas. Nenhuma forma de coordenação, tomada individualmente, é
susceptível de suplantar qualquer uma das outras, qualquer que seja o setor, a época, o
contexto social, político e/ou tecnológico. Nenhuma dessas formas é intrinsecamente superior
ou mais eficaz do que outra. Cada uma delas satisfaz objetivos diferentes e é de sua
combinação que resultam as performances macroeconômicas, assim como é a qualidade da
arquitetura institucional que determina a viabilidade de uma estratégia de crescimento. Uma
tal abordagem é particularmente pertinente em matéria de desenvolvimento, uma vez que a
interação entre determinantes políticos, a evolução econômica e fatores culturais tem sido
freqüentemente invocada para explicar tanto os casos de sucesso quanto os fracassos (Révue
Économique du Développement, 2000, 2001).
O papel do Estado seria o de constituir uma ordem jurídica e econômica que sinalizasse para
os demais agentes sociais a primazia de padrões de organização de relações sociais fundados
em redes horizontais ou redes de parceria (ao invés de padrões de organização hierárquico-
verticais, que estabelecem formas competitivas de interação social) e de modos democráticos
de regulação de conflitos, ao invés de modos autocráticos de resolução dos mesmos. Essa
ordem constitucional e jurídica, mas também econômica e social, definiria o quadro das
restrições e das incitações a partir do qual se desenvolveriam os diversos arranjos
institucionais (Franco, 2001).
Por sua vez, as organizações públicas e privadas (tanto as firmas quanto a sociedade civil) só
se tornam viáveis quando se inscrevem neste quadro mais geral de restrições e incitações que
veiculam os arranjos institucionais. Além disso, temos as convenções, que nascem de uma
interação espontânea e repetida entre os agentes. As convenções têm um papel importante na
socialização dos agentes e na viabilidade das organizações. A principal função dos arranjos
institucionais é definir a posição dos atores, reduzir a incerteza e canalizar os
comportamentos, o que é uma contribuição vital para a viabilidade de um sistema econômico
(North, 1990).
Desta forma, a partir dos anos 1990, a teoria do desenvolvimento econômico tornou-se
sistêmica e institucionalista; beneficiando-se dos ensinamentos da história e dos avanços da
teoria econômica ela chegou a uma elaboração conceitual própria. Nenhuma estratégia pura,
fundamentada seja sobre a onipresença do Estado seja sobre a infalibilidade do mercado,
provou ser eficaz, e a teoria confirma os limites inerentes a um regime econômico fundado em
apenas um desses dois mecanismos de coordenação (Estado ou mercado).
A economia do desenvolvimento tornou-se o terreno favorito das pesquisas institucionalistas
sobre o funcionamento da economia, a partir do momento em que sua agenda de pesquisa
privilegia os fatores institucionais situados numa esfera intermediária entre o Estado e o
mercado. Ao invés de insistir numa oposição canônica entre o Estado e o mercado, a
economia do desenvolvimento nos convida a uma reflexão que busca respeitar a diversidade
das situações locais, bem como incorporar os ensinamentos do tempo histórico longo. Tal é o
desafio para a análise das estratégias de desenvolvimento.
1.2.1. O papel da história e das instituições no crescimento: Douglas North
O ponto de partida de North (1990) consiste em instituir uma hipótese segundo a qual os bens
e os serviços são definidos não apenas em função de um conjunto de características físicas,
mas também a partir de direitos: a posse de bens, ativos ou recursos garante ao seu possuidor
o direito de vender esses bens, de utilizá-los à sua maneira, de alugá-los, de excluir os outros
da possibilidade de consumi-los, etc. Esse conjunto de direitos é agrupado sob o conceito de
“direitos de propriedade”, noção desenvolvida por Demetz (1967) e retomada por North.
Os direitos de propriedade aplicam-se ao campo das teorias neo-institucionalistas a partir do
momento em que North integra à sua análise as regras formais e informais existentes numa
sociedade. As regras formais incluem o conjunto das regras políticas e judiciárias, as regras
econômicas (que regem os direitos de propriedade) e os contratos. As regras informais são
constituídas por códigos de conduta (valores), normas de comportamento (normas sociais) e
convenções.
A ponte feita por North entre os direitos de propriedade e a nova economia institucional
(NEI)9 refere-se ao fato de que a identificação, a proteção e a aplicação dos direitos de
propriedade envolvem um custo, uma vez que as informações concernidas são imperfeitas.
Assim, aparecem custos de transação quando um agente econômico quer dispor dos direitos
de propriedade dos bens que possui. A partir deste ponto North faz uma síntese das
contribuições da NEI ao definir as “más” instituições como sendo aquelas que aumentam os
custos de transação e reduzem a eficiência econômica, produzindo direitos de propriedade
ineficazes; as “boas” instituições reduzem os custos de transação e asseguram um clima
favorável às transações econômicas.
A ineficácia dos direitos de propriedade encontra sua origem no comportamento das
instituições políticas (principalmente onde se encontram os legisladores) e dos grupos de
poder que agem no setor público. Os legisladores, com a preocupação de não descontentar as
instituições mais poderosas (sindicatos, lobbies, coalizões importantes, grandes corporações,
etc.) decretariam leis econômicas (direitos de propriedade) que favorecem estas instituições
9 A nova economia institucional (NEI) encontra sua origem em abordagens que têm em comum os fundamentos neoclássicos herdados de Marshall (escola inglesa) e os fundamentos da escola austríaca herdados de Menger, Van Wieser e Hayek. Hodgson (1999) classifica como “novos” institucionalistas Coase, Williamson, Olson e North. O que caracteriza esta escola, segundo este autor, é a sua proximidade com a teoria neoclássica e a sua dificuldade em abandonar as premissas do individualismo metodológico. Ao contrário, os “velhos” institucionalistas (Veblen, Mitchell, Commons, Ayres e Hirschman) postulam a primazia das instituições e do ambiente social sobre o indivíduo e estão muito mais próximos, teoricamente, da abordagem evolucionista.
em detrimento do bem comum: prática do clientelismo e do fisiologismo. Em suma, a
estrutura institucional pode criar condições que desfavoreçam o bom desempenho econômico.
North utiliza esse argumento para defender a idéia de que “... os países do terceiro mundo são
pobres porque as suas restrições institucionais produzem um conjunto de efeitos nefastos
ligados à atividade política/econômica que desencorajam a atividade produtiva” (North,
1990: 110).
Mas esse quadro pessimista pode ser revertido: a estrutura institucional pode ser modificada
quando ocorre uma transformação dos preços relativos (North e Thomas, 1973) ou quando há
uma mudança das preferências coletivas (North, 1990). Uma situação antiprodutiva pode criar
um efeito de reversão ao modificar as instituições existentes, tendo em vista a instalação de
um ambiente econômico favorável. Esta reversão pode ser “natural”, se a população reage a
partir de sua própria iniciativa; ou “imposta”, se as instituições internacionais fazem alguma
pressão sobre um país para que ele promova uma reforma em suas instituições.
De uma maneira geral, as “boas” instituições desenvolvem um clima de confiança que reduz a
incerteza e favorece as trocas. Este ambiente estável pode ser obtido em uma sociedade que se
impõe um conjunto de restrições formais e informais, representadas pelas instituições. A
análise de North sobre as instituições viria abrir um amplo campo de investigação nas ciências
econômicas durante toda a década de 1990 e de certa forma foi a precursora de outras análises
de autores que vieram a tornar-se uma referência nesta década. Como Putnam, que, em 1993
(apesar dele ter começado a sua pesquisa nos anos 1970), propôs uma teoria do capital social
baseada no impacto das boas e das más instituições sobre a boa governança e o desempenho
econômico das regiões – ver a análise sobre Putnam desenvolvida no capítulo 2.
A literatura empírica imediatamente se apropria desta análise e testa o impacto das
instituições sobre a taxa de crescimento dos países. A grande maioria das conclusões
fornecidas pelos estudos econométricos corrobora a tese de North de que há uma correlação
positiva entre boas instituições e uma elevada taxa de crescimento. Estes trabalhos identificam
como boas instituições aquelas que: i) diminuem o risco país; ii) caracterizam um regime
político democrático, no qual as liberdades políticas são respeitadas; iii) reduzem a
instabilidade política; e iv) favorecem o desenvolvimento social aumentando as capacidades
individuais (Banco Mundial, 1998, 2001).
1.2.2. A endogeneização das instituições e o conceito de capital social
Um número crescente de estudos empíricos parece nos indicar que países com dotações
semelhantes de capital (físico, humano e financeiro) possuem diferentes taxas de crescimento
(Feldman e Assaf, 1999: Social Capital Initiative, Relatório do Banco Mundial). Os fatores
econômicos tradicionais, apesar de não se negar a sua importância para o crescimento, não
são mais considerados como fatores explicativos suficientes dos diversos ritmos de
crescimento e tampouco dos diferentes graus de desenvolvimento alcançados pelos territórios
e regiões. Em suma, a integração de características que refletem a complexidade do mundo
real parece ser, mais do que uma necessidade científica, uma urgência política. Neste sentido,
o trabalho de Putnam (1993) parece ter sido pioneiro ao incluir, na explicação das diferenças
de desempenho econômico entre duas regiões da Itália, uma amostra da complexidade do
mundo real pertencente ao campo das ciências políticas, que ele sintetizou sob o conceito de
capital social. 10
Na seção 1.1. deste capítulo vimos que, ao longo das quase cinco décadas que se seguiram a
Segunda Guerra Mundial, as discussões sobre o desenvolvimento limitavam-se a propor ora a
intervenção do Estado como modelo propulsor do crescimento econômico, ora a atuação, sem
outras formas de coordenação, do liberalismo de mercado, visto como um mecanismo
suficiente para a alocação e a apropriação ótima de recursos. Essa falsa dicotomia ocultou,
durante mais de 40 anos, um ator privilegiado do desenvolvimento econômico: a sociedade
civil (Edwards, 1999; Woolcock, 1999).
O início dos anos 1990 foi testemunho de uma renovação de interesse, por parte dos
economistas, pelos domínios social e institucional. Desde então, uma parte dos trabalhos que
abordam estes temas tem sido reagrupados sob a denominação mais geral de capital social.
10 Putnam (1993) foi o primeiro autor a fazer um amplo estudo empírico assimilando as instituições ao capital social. Este autor identifica o capital social às características das organizações sociais tais como as redes, as normas e a confiança, que facilitam a coordenação e a cooperação em vista de um benefício mútuo. As redes sociais desenvolvem a confiança e instituem normas sólidas de comportamento que estimulam a reciprocidade. São também excelentes fontes de informação, o que permite identificar a credibilidade dos membros que a compõem e torna mais eficaz a ação coletiva. Putnam vai ao encontro de North ao enfatizar a idéia de que as boas instituições favorecem um ambiente econômico estável, uma vez que elas reforçam os laços sociais e a confiança, o que por sua vez reduz a incerteza e favorece a coordenação. O argumento de Putnam é o de que regiões que têm uma forte tradição de engajamento cívico (elevado estoque de capital social) conseguem acionar mecanismos que melhoram o desempenho das instituições e dos governos locais: “o capital social que existe nas normas e nas redes de engajamento cívico parece ser uma condição necessária tanto ao desenvolvimento econômico quanto à eficácia dos governos” (Putnam, 1993: p. 37).
Alguns institucionalistas (Grootaert, 1998) vêem no conceito de capital social o elo que
faltava entre as variáveis explicadas e as variáveis explicativas dos modelos de crescimento
econômico. Outros autores perguntam, ainda, se um conceito que é comum à sociologia
(Bourdieu, 1980 e 1986; Coleman, 1988, 1990), à economia (Putnam, 1993 e 1995) e às
ciências políticas (Fukuyama, 1995) não corre o risco de se tornar amplo demais, vago e
fluido.
Os autores supracitados trataram o conceito de capital social sob diferentes enfoques.
Enquanto Bourdieu preocupou-se em mostrar como a construção de uma rede durável de
relações permitiria ao indivíduo (ou grupo de indivíduos) arregimentar um capital que
estivesse fora do circuito estritamente econômico, mas que mesmo este capital (cultural e
social) poderia ser usado para fins econômicos como a acumulação e a reprodução social,
Coleman mostrou como os dilemas da ação coletiva poderiam ser resolvidos através da noção
de capital social. 11 Fukuyama, por sua vez, argumentou que a capacidade de cooperar
socialmente depende de hábitos, tradições e normas anteriores, virtudes que são encontradas
no estoque de capital social de uma determinada comunidade, capital social este que não pode
ser adquirido simplesmente por indivíduos agindo por conta própria, uma vez que é uma
construção coletiva e histórica.
Todos estes autores, no entanto, não fizeram – como Putnam (1993) – uma mediação micro-
macro-micro, ou seja, partindo-se de fundamentos comportamentais micro e analisando como
este comportamento influencia o desempenho agregado e voltando deste nível agregado para
o indivíduo, num mecanismo de retroalimentação que cria um círculo virtuoso entre
comportamento social (normas, valores, hábitos políticos, etc), desempenho macro (seja o
bom desempenho político, econômico ou institucional), aumento do capital social de uma
comunidade ou região para novamente retornar ao comprometimento dos agentes com as
11 O interesse de Coleman (1988, 1990) no conceito de capital social está no fato deste recurso possibilitar ao agente engajar-se em uma ação social (coletiva). Coleman estava preocupado com os fundamentos da teoria da ação coletiva e, partindo de um quadro conceitual que privilegia o agente racional, em explicar o que leva o indivíduo a agir coletivamente (ou a participar de uma ação coletiva). Importando a análise custo-benefício e a premissa de maximização do interesse próprio – ambas do domínio econômico – para o campo sociológico, Coleman estabelece os fundamentos da ação coletiva. A definição dada por Coleman do capital social é funcional. O conceito é percebido como uma entidade cujos componentes são impossíveis de serem identificados, a não ser pelo fato de pertencerem a uma estrutura social e que esses elementos do capital social facilitam algumas ações dos atores (individuais ou coletivos) no interior desta estrutura.
normas sociais e de comportamento preestabelecidas, por sua vez criando mais capital social.
Este esforço de Putnam, ao mesmo tempo em que se constitui em uma porta de entrada para
uma das críticas mais fortes à sua tese (como veremos no capítulo 2), constitui-se também
num recurso analítico que o diferencia dos outros autores que estudaram o conceito de capital
social. Vejamos como se dá esta mediação.
Em primeiro lugar, fazer a associação de Putnam (1993) com a dimensão micro é fácil, até
porque ele se inspirou bastante em Coleman (1990). Mas para associar Putnam com a
dimensão macro, aproximando-o de North (1990) e assimilando o conceito de capital social às
instituições, devemos fazer algumas mediações. Até porque a progressiva incorporação das
instituições e do capital social na explicação do desenvolvimento econômico somente se
justifica se tomados como variáveis agregadas; portanto, em um nível de análise
macroeconômico.
Entretanto, este recurso analítico não nos impede, num momento posterior da elaboração
teórica, de fragmentar o agregado “instituições” e de tratá-lo de maneira mais desagregada, o
que corresponde a descer de um nível teórico abstrato (o papel das instituições no
desenvolvimento econômico) para outro aplicado (empírico), saindo do campo
macroeconômico da economia do desenvolvimento e adentrando no campo da economia das
instituições, este eminentemente empírico e aspirante à contribuição dos campos conexos do
saber (história, sociologia, antropologia, cultura e ciências políticas). Estaremos, assim,
fazendo uma mediação entre a economia do desenvolvimento – com as instituições e o capital
social já integrados como fatores explicativos – e a economia institucionalista, que busca
explicar, em um nível intermediário de análise, como as instituições e a sociedade civil
contribuem para o desenvolvimento econômico.
Para fazermos o caminho da análise putnamiana em direção a uma análise macroeconômica
do papel das instituições no desenvolvimento econômico, substituindo o conceito de capital
social pelo de instituições e aproximando-nos da análise institucionalista (North, 1990),
podemos tomar emprestada a abordagem proposta por Collier (1998).
Como um primeiro passo, Collier (1998) propõe desagregar o capital social em capital social
governamental e capital social civil: o primeiro faz referência às instituições acionadas pelo
governo e destinadas à concretizar os objetivos que seriam impossíveis de serem atingidos
pela intervenção única do mercado; o segundo termo diz respeito às instituições da sociedade
civil. Nesse estágio, a distinção entre civil e governamental permite ao capital social assumir
(recuperar) a identidade das instituições sob suas diferentes formas.
Em um segundo momento, Collier propõe que o capital social civil e o capital social
governamental possam ser substitutos ou complementares entre si, e Narayan (1999) vai mais
além, ao operacionalizar esses conceitos e especificar o tipo de relações (ou passarelas) entre
os diferentes grupos da sociedade civil e as instituições governamentais, utilizando critérios
de governança para mensurar as interações entre esses dois tipos de capital social e as suas
contribuições ao desenvolvimento econômico. A análise de Narayan explora as relações de
substituição e de complementaridade entre essas duas categorias de capital social e apresenta
várias ilustrações de experiências internacionais.
Finalmente e como terceiro passo, Knack (1999) adota a decomposição do capital social
proposta por Collier e apresenta uma revisão da literatura empírica sobre o papel das
instituições no desenvolvimento econômico. A grande maioria dos resultados empíricos que
concernem o papel das instituições no desenvolvimento podem ser vistos como uma
interpretação do impacto do capital social sobre o desempenho econômico dos países e
regiões. Resta agora definir mais precisamente o conceito de capital social e encontrar um
indicador que nos permita medir e quantificar a contribuição do capital social (ou das
instituições) para o crescimento econômico, o que será feito no segundo capítulo. 12
1.3. O desenvolvimento econômico endógeno e a integração do território 13
12 O capital social é o resultado de um consenso entre teorias econômicas (a Nova economia institucional) e sociológicas (Bourdieu, 1980, 1986; Coleman, 1990), o que o reveste de um caráter multidimensional (micro, meso e macroeconômico) e multiforme (civil, governamental, estrutural e cultural). O caráter fluido e amplo do quadro analítico a ele associado dificulta a escolha de uma definição precisa. Uma alternativa seria a adoção da definição dada por Bourdieu, que corresponde a um conjunto de recursos que podem ser mobilizados por um indivíduo em função de sua rede de conhecimentos. Uma mensuração (indicador) do conceito passa a ser possível desde que leve em conta: (i) os contatos de um agente com outros membros de sua rede de conhecimentos; (ii) os recursos disponíveis no interior desta mesma rede. 13 Os desenvolvimentos teóricos expostos nesta seção não poderiam ter sido feitos sem o acesso às bibliotecas e o intercâmbio acadêmico (com pesquisadores, professores e colegas de doutoramento), possibilitados pelo estágio de doutoramento sanduíche feito na Universidade Montesquieu-Bordeaux IV, na França, no período compreendido entre novembro de 2001 e outubro de 2002. Foram fundamentais para a elaboração desta parte teórica da tese as pesquisas bibliográficas (que não se restringiram apenas à Biblioteca de Bordeaux-IV, mas a várias bibliotecas francesas), a participação em grupos de estudo (particularmente o grupo Régulation, Sociétés et Territoires, com sede no CEPREMAP-Paris) e as conversas que tive pessoalmente com o Professor Bernard Pecqueur, que ao final do período de estágio concordou em me receber, na Universidade Pierre Mendes-France
Vimos na seção anterior de que forma o debate sobre o desenvolvimento incorporou,
progressivamente, elementos institucionais como fatores explicativos do desempenho
econômico. Nesta seção ultrapassaremos o paradigma das teorias tradicionais do
desenvolvimento e incluiremos em nossa análise a variável territorial. O que queremos
introduzir nas teorias do desenvolvimento é algo mais do que o papel das instituições nas
distintas trajetórias de crescimento dos diferentes países ou regiões. Queremos também
endogeneizar o papel do território nessas trajetórias de crescimento. Para além das
instituições, o território. Saímos do campo das teorias tradicionais do desenvolvimento para
adentrar o campo da teoria do desenvolvimento econômico endógeno ou, simplesmente, da
teoria do desenvolvimento econômico local.
Os territórios são um construto sócio-econômico e institucional. As relações entre os agentes
inscrevem-se em boa parte fora das relações mercantis; o peso das regras, normas e símbolos
da comunidade de origem é elevado. As instituições estão amplamente implicadas no
funcionamento e na dinâmica das economias locais. Nossa análise inscreve-se nessa
perspectiva e sublinha o papel das instituições na construção, com as firmas, dos recursos
necessários aos processos de produção e de inovação no seio dos territórios. Uma abordagem
precisa do papel das instituições no funcionamento e na evolução dos territórios se impõe.
Esta abordagem não tem nada a ver com a abordagem clássica que acentua a necessidade de
corrigir as falhas de mercado e deve, ao contrário, privilegiar e integrar em uma só análise a
dinâmica territorial e a dinâmica das instituições (Courlet, 2001: 53-54).
Em termos teóricos, introduzir o território como uma das variáveis explicativas dos processos
de desenvolvimento, significa confrontar as leis de funcionamento de uma economia global às
estratégias infranacionais que surgem como resposta e reação aos imperativos da competição
internacional. Significa opor o local ao global e entender que as estratégias locais retroagem
sobre as forças globais, a ponto de redirecionar suas leis funcionais, podendo então iniciar um
movimento autônomo de crescimento e de auto-regulação.
(Grenoble), para discutirmos sobre o meu projeto de pesquisa. Como já foi feito na Introdução Geral desta tese, gostaria, mais uma vez, de agradecer à CAPES pelo financiamento deste período de pesquisas no exterior.
Estão se desenvolvendo modos de desenvolvimento centrados no território que resultam da
combinação de uma lógica funcional que se impõe aos atores e de uma lógica territorial que
impulsiona as estratégias desses atores. Essas formas de reação que se manifestam nos
espaços infranacionais trazem modelos de comportamento que questionam as teorias
tradicionais do desenvolvimento. Uma capacidade de adaptação e de inovação, novas
estratégias de desenvolvimento, novas formas de valorização e de repartição da produção
emanam dos espaços infranacionais e aparecem como uma variável explicativa que não estava
contida nas teorias tradicionais: a introdução da variável territorial nos ajuda a compreender
estas diferentes formas de reação.
O desenvolvimento econômico local exige uma abordagem específica que concilia ao mesmo
tempo as restrições externas e o potencial endógeno. Ao seu estudo aplica-se um método de
análise intermediário (meso-analítico), na medida em que a dinâmica de desenvolvimento
repousa sobre grupos de atores que se situam a um nível intermediário entre a análise
psicossociológica do comportamento dos indivíduos e a análise global que classifica os
indivíduos por grupos que exercem funções.
1.3.1. A dialética do heterônomo e do autônomo: o global versus o local
Destanne de Bernis (1977) mostrou que a transnacionalização do capital e a crise rompem
com os procedimentos sociais da regulação e destroem a coerência dos sistemas produtivos
nacionais, fazendo com que estes percam a autonomia sobre seu processo de acumulação. A
tendência à formação de cadeias produtivas mundiais provoca desordens profundas nas
economias nacionais, colocando também em crise a análise macroeconômica dos sistemas
produtivos nacionais que se organizavam por fluxos econômicos entre setores de atividade
bem delimitados e representados na contabilidade nacional. Os setores dos sistemas
produtivos nacionais tendem a se internacionalizar para formar um sistema mundial
(Humphrey, 2003).
A crise do papel do Estado regulador e do Estado de bem-estar é patente. A confrontação
entre os efeitos da dominação da esfera supranacional e os atores na esfera territorial efetua-
se, cada vez mais, fora da mediação estatal. A tendência a uma confrontação direta entre a
pressão heterônoma e a reação autônoma, que coloca em xeque o sentido da regulação estatal,
não significa que os Estados nacionais deixem de desempenhar um papel no plano
econômico. Apesar deste nível de regulação estar em crise, tornando mais explícita a relação
global/local, ele aparece também em mutação. Assistimos, em vários países, a uma
transformação progressiva da relação entre o poder público central e os poderes locais
(Pecqueur, 1987: 132-133).
O sistema produtivo nacional aparece como local de transmissão/repercussão dos movimentos
de pressão e reação; é também o local da crise. Sua coerência está ameaçada enquanto quadro
espacial, uma vez que a pressão heterônoma desestrutura o equilíbrio intersetorial. Ao
contrário, as dinâmicas territoriais levam ao surgimento de novos fatores e modelam os
contornos de uma nova geografia econômica que privilegia os recursos locais como principais
fontes do desenvolvimento econômico. Pela nova geografia econômica, os contornos de um
território muitas vezes não correspondem ao seu contorno administrativo, pois as redes de
relações sociais e produtivas nele existentes podem extrapolar suas fronteiras administrativas.
Devemos articular a pressão exercida pela esfera supranacional (pressão heterônoma) à reação
de autonomia produzida pelos territórios (reação autônoma). Formulamos a hipótese de que o
espaço econômico é definido pela dialética desses dois movimentos. Há desenvolvimento
econômico local a partir do momento em que é possível determinar claramente os efeitos da
reação autônoma e quando esta reação subverte de alguma maneira o modo de produção
imposto pela pressão heterônoma (Pecqueur, 1987: 135).
1.3.1.1. As formas contemporâneas da pressão heterônoma
Uma das primeiras manifestações da pressão heterônoma, a divisão internacional do trabalho,
continua a exercer a sua influência no sentido de ditar aos territórios o que devem produzir,
quais os mercados devem almejar e a que preço devem vender os seus produtos no mercado
internacional. A divisão internacional do trabalho tem mudado de forma ao longo dos anos,
mas o seu poder de imposição sobre as dinâmicas territoriais locais tem demarcado de
maneira mais ou menos clara em quais setores os espaços infranacionais podem competir e
quais são os seus nichos de mercado.
Nos anos 1990, com a abertura dos mercados, a desregulamentação financeira e comercial, o
programa de privatizações e a adoção de modelos de ajuste macroeconômico baseados no
congelamento do câmbio, juntamente com a crescente mercantilização dos quadros de vida
(particularmente nos modos de consumo e acesso a serviços), a pressão heterônoma tem
gerado efeitos cada vez mais perversos sobre a capacidade de auto-regulação dos territórios.
Laços de interdependência cada vez mais fortes no que concerne aos modos de produzir e de
consumir introduzem um modelo uniformizante que tem por conseqüência principal destruir a
estrutura do espaço local tradicional.
A pressão heterônoma constitui-se num forte elemento de regulação que destrói, pela
uniformização das normas e hierarquização das tarefas, as estruturas do espaço local
tradicional e recompõe uma divisão internacional do trabalho, renovando-a e instituindo-a sob
novas bases. A grande empresa tem um papel fundamental nesta pressão que é exercida
globalmente, dominando os territórios e estabelecendo com estes uma relação assimétrica
pelo simples fato dela poder, em detrimento destes, escolher o local onde irão agir: “o
domínio sobre o espaço pertence àquele que possui o bônus da escolha. A grande empresa
tem a aptidão de poder escolher entre vários espaços, vários parceiros, várias coletividades,
várias subcontratantes” (Pecqueur, 1987: 137-138).
A pressão heterônoma é sentida pelos atores e integrada como tal em suas estratégias.
Entretanto, se nos retivermos à análise dessa única pressão como força motriz do processo de
desenvolvimento econômico, teremos um quadro de observação das mutações espaciais que
supõe a submissão dos territórios a uma ordem funcional mundial. As dinâmicas territoriais
vêm perturbar a regulação pela pressão heterônoma (uniformização e hierarquização dos
espaços) e se apresentam sob a forma de reações autônomas criadoras de novas normas que
retroagem positivamente sobre as maneiras de produzir.
1.3.1.2. A reação autônoma
A reação autônoma reflete uma persistência das características comportamentais de atores
ligados entre si pela proximidade, pela identidade comum provocada pela identificação a um
espaço vivenciado e pelo pertencimento a uma cultura de comunidade. A internacionalização
da economia produz, sob a pressão heterônoma, uma modificação profunda nas estruturas
espaciais dos territórios. A reação autônoma será mensurada pela capacidade dos atores que
vivem neste território em desviar o movimento imposto pela pressão heterônoma e de
redirecioná-lo positivamente para a criação consciente de valores adicionados (recursos
específicos) localmente (Pecqueur, 1987: 138).
A reação autônoma pode se manifestar de várias formas. Laços de solidariedade e de
reciprocidade, instâncias e organismos de regulação local, mecanismos de emulação de um
espírito de cooperação e de um sentimento de coletividade são formas, entre outras, de
expressão da resistência local, acionadas em momentos de grande pressão externa do ponto de
vista econômico e competitivo. Como veremos adiante, a formação de redes não representam
senão uma das formas de manifestação da reação autônoma.
Várias pesquisas mostram a reativação de comportamentos e de laços diferenciados de
solidariedade, e não apenas familiar (Granovetter, 1973, 1985; Evans, 1996). A reciprocidade
remete às especificidades socioculturais que participam plenamente na regulação local. A
identidade coletiva, o sentimento de pertencer a uma coletividade, o espírito de cooperação e
de inovação fazem parte de um conjunto cultural que encontra sua contrapartida nas estruturas
familiares, comunitárias e sociais, sempre ancoradas na tradição do passado pré-industrial
(Courlet, 2001: 38-39).
Não podemos propor uma definição da estrutura ideal de desenvolvimento local que seria
transponível como modelo. Entretanto, já há alguns anos, nos interstícios deixados pelo
fordismo, vimos emergir verdadeiros sistemas produtivos locais que têm em comum uma
estrutura que valoriza as estratégias dos atores locais e a solidariedade entre eles. Estes
sistemas, que afirmam a necessidade de diálogo entre as empresas e o território, abrem
perspectivas de reflexão sobre as novas formas de industrialização.
A emergência de uma solidariedade territorial como meio de adaptação às restrições mundiais
não concerne apenas às grandes empresas mas também às micro, pequenas e médias. A
modernização industrial passa por redes de solidariedade que, rompendo o isolamento das
empresas, facilitam a circulação das informações, reforçam as estruturas financeiras, dividem
os custos e os riscos da pesquisa e confrontam os modos de organização do trabalho e de
gestão das relações sociais.
Uma reação local autônoma se apresenta como uma dinâmica espontânea de
desenvolvimento, um processo natural que surge sem ter sido necessariamente premeditado.
Esta característica precede os meios de política econômica que podem eventualmente ser
acionados para favorecer o início de um processo de reação autônoma ou a sua
intensificação.14
Há, portanto, um jogo dialético permanente entre as restrições impostas pela heteronomia e as
reações autônomas, cujo espaço de ação é o território local. No entanto, esta reação autônoma
permaneceria em um alto nível de abstração se não pudéssemos apresentar as formas
concretas pelas quais ela se manifesta, ou as modalidades pelas quais ela se exprime. É esta a
questão que se coloca quando buscamos saber porque e como, em certos casos, observamos
bifurcações produtivas que geram transformações positivas nas estruturas territoriais.
A percepção da reação autônoma é feita quando deslocamos o foco da análise das funções
macroeconômicas em direção às estratégias individuais e coletivas dos atores. Essas
estratégias só passam a ter um sentido como reação autônoma quando podemos identificar sua
convergência e sua coerência em torno de uma dinâmica de reação. O método meso-analítico
não é senão uma proposição de passagem entre a macro e a microeconomia que mostra como
a soma das estratégias individuais e coletivas retroage sobre as funções macroeconômicas e
produzem novas normas de desenvolvimento. As modalidades da reação autônoma aparecem
como um denso sistema de trocas que se manifesta principalmente através de relações sociais
de tipo rede e relações econômicas de tipo aparelho (Pecqueur, 1987: 140).
1.3.2. A territorialização: introduzindo a variável territorial
A análise da organização da produção em territórios locais permite enfatizar novas variáveis
no processo de transformação econômica: as relações de colaboração entre empresas, as
14 Cabem aqui algumas considerações de ordem metodológica. Não podemos sobrepor à análise teórica do território considerações de ordem normativa ou propositiva. A separação analítica e conceitual entre o espaço local (território) e a estratégia de desenvolvimento local deve ser clara, tratando em dois tempos distintos os aspectos teóricos e os operacionais. Uma coisa é a redefinição teórica do espaço econômico; outras são os fundamentos de uma política econômica local. Ou seja, deve-se separar o fenômeno (desenvolvimento local) de sua aplicação em termos de política econômica. O fenômeno existe independentemente de sua aplicação. Muitas vezes, o desenvolvimento é observado através das ações do desenvolvimento local: esta mistura de dois tempos distintos da análise pode levar a uma confusão entre causas e conseqüências e levar a supor que o desenvolvimento local não existe senão como conseqüência de uma ação voluntariosa existente em um espaço qualquer. A introdução da variável territorial é totalmente independente da intervenção pública. Estamos nos baseando em uma análise que parte do comportamento dos atores locais, antes de qualquer intervenção. A intervenção pública poderá, isto sim, retroagir sobre o comportamento dos atores. Assim, o desenvolvimento local e a intervenção econômica dos poderes públicos locais são duas questões distintas que devem ser separadas para efeitos de análise.
relações entre o sistema produtivo e o sistema institucional, as habilidades e a mobilidade dos
trabalhadores nas aglomerações produtivas, o papel de instituições sociais específicas que
intervêm para apoiar o desenvolvimento das empresas (centros tecnológicos, centros de
serviços especializados às empresas, escolas de formação profissional, agências de
desenvolvimento local, etc.). Em muitos casos, o território é a base sobre a qual se estrutura a
competitividade das firmas e das nações (Porter, 1996).
Em outras palavras, a análise dos territórios mostra que o desenvolvimento se desdobra a
partir de um sistema de inter-relações, de circulação de informações, de produção e de
reprodução de valores que caracterizam um modo de produção. Isto significa que os fatores
críticos para o desenvolvimento estão enraizados na realidade local e não são facilmente
transferíveis a outros espaços: o desenvolvimento aparece como um fenômeno social e
territorial e não como um processo unicamente técnico.
O território torna-se assim um fator privilegiado do desenvolvimento na medida em que ele
inclui todos estes outros fatores – históricos, sociais e culturais – que estão na base de
modelos específicos de organização, que por sua vez dão origem a diferentes mundos reais de
produção, promovendo uma contínua interação entre a esfera econômica e a esfera social. O
território torna-se um lugar definido pela proximidade de problemas e pela proximidade dos
aparelhos de coordenação das expectativas e das ações dos indivíduos. Somente a
proximidade geográfica é incapaz de explicar a existência de sistemas econômicos territoriais
se ela não é remetida a um sistema de valores atrelado a uma comunidade, a uma história que
se encarna nas regras e nas representações coletivas (Courlet, Pecqueur, Soulage, 1993). A
contribuição desta abordagem para a renovação do papel do território no desenvolvimento
econômico remete tanto ao campo da história e do tempo histórico (Braudel, 1985) quanto ao
campo da geografia e do espaço; o esforço do analista caminha no sentido de articular
história, território e temporalidade.
1.3.2.1. A região e o espaço local
A ciência econômica tradicionalmente considera o espaço como neutro e passivo, e as
diferenças espaciais provêem seja de características físicas ou climáticas seja de fenômenos
de dominação expressos sob a forma de leis intangíveis e deterministas (imperialismo, teoria
da dependência, ciclos de vida dos produtos, etc.). As mudanças recentes nas hierarquias
espaciais vêm relativizar esta visão estática e mecânica do papel cumprido pelo espaço na
economia (Pecqueur, 2000: 18).
O espaço é uma dimensão importante da análise econômica. Sob diferentes formas de
expressão, ele se torna uma forma eficaz de organização da produção com importantes efeitos
de amplificação sobre a produção e o crescimento. O espaço não é apenas um quadro de
localização dos agentes econômicos, mas é também o quadro de emergência de um ator
particular: o território. O espaço não é mais um quadro no qual inscrevem-se fenômenos
econômicos, mas um importante fator de seu modo de organização e de sua dinâmica.
Os distritos industriais e os sistemas produtivos localizados (SPL) são a perfeita ilustração
daquilo que opõe o espaço para os economistas – um espaço aprioristicamente vazio onde se
justapõem firmas atomizadas – e o espaço de uma geografia sócio-econômica, entendido
como uma trama de relações, uma cultura, uma atmosfera, um espaço que dá toda a sua
significação à proximidade. Trata-se de uma inversão em relação à concepção clássica do
desenvolvimento que reserva ao Estado o papel de ator central, cuja política econômica tem
como objeto principal as grandes empresas e os setores de atividade econômica.
Pecqueur (1987) nos propõe uma distinção entre o espaço regional (região) e o espaço local
como um primeiro recurso para se definir o território. A região nasce da necessidade de
corrigir os desequilíbrios infranacionais criados pelo crescimento desigual. Disto decorre que
a região é parte de um todo e é definida tomando-se como referência o conjunto que
corresponde ao sistema produtivo nacional. A região é, portanto, um subconjunto da nação; só
existe porque faz parte desta última e como tal é o espelho de uma coerência externa
reivindicada pelos formuladores da política econômica, que assumem para si a
responsabilidade de injetar, na região, os estímulos necessários e suficientes para o seu
crescimento.
O modo de representação dominante na análise regional está diretamente filiado à noção do
espaço como produto de funções econômicas. A região é concebida com o intuito de se agir
externamente sobre ela e funciona como local de gestão dos setores nacionais com o auxílio
das ferramentas da macroeconomia. Ela não existe nem decide por si mesma (sua coerência
provém do exterior), pois é objeto de decisão do centro, que detém sua coerência. A análise
regional persegue objetivos da política econômica nacional e é calcada na dinâmica dos
sistemas. A região é o local de predileção das análises funcionais; serve a um projeto de
racionalização das localizações onde a funcionalização e o zoneamento substituem-se à
territorialização. Isto impede de compreender as especificidades da reação local, as
disparidades internas à região e a natureza dos processos de decisão oriundos do interior do
território considerado.
Já o espaço local (território) é definido pela confrontação entre atores feita da negociação
entre interesses diversos, o que significa que não levamos em consideração apenas os fluxos
de compra e venda entre as empresas, mas também a dimensão social e cultural das trocas
entre os atores. Os territórios se distinguem das regiões pela natureza dos fluxos que circulam
entre os atores. O território, ao contrário da região, não é delimitado fisicamente; ele se
constrói pela confrontação dos espaços individuais e pela percepção de cada indivíduo de seu
espaço vivenciado. O estudo das redes de relações entre atores permite dar um contorno mais
concreto aos territórios. A análise local é calcada na dinâmica dos atores.
O espaço local é definido como o local de encontro e de confronto de dois movimentos
opostos: de um lado, uma pressão heterônoma que se constitui numa restrição exógena que
pesa sobre as estratégias dos atores; de outro, uma reação autônoma que é expressão das
estratégias dos atores que buscam se adaptar às restrições externas. O jogo dialético destes
dois movimentos leva ao surgimento de novas configurações espaciais.
1.3.2.2. A delimitação do espaço (ou o espaço como ele é percebido pelo ator)
Em termos analíticos, o ator tem um papel central na organização do espaço. Sua ação, sua
percepção individual e diferenciada torna-se um princípio explicativo dos comportamentos,
mais do que qualquer lei funcional que poderia submetê-lo. A abordagem pelos espaços
infranacionais faz aparecer sistemas de relações sociais fundadas sobre o comportamento
interativo dos atores e não sobre funções econômicas exógenas. A conduta dos atores não é
ditada exclusivamente pelas restrições exteriores que pesam sobre eles. Deve-se levar em
conta a subjetividade das percepções que cada ator possui sobre o seu ambiente. Cada ator
controla uma parte do ambiente que o contorna. Os geógrafos chamam isto de “espaço
vivenciado”. Cada ator tem sua própria percepção do espaço. O espaço infranacional é um
espaço vivenciado no qual circula um sentido para os atores. A partir do momento em que não
há mais esta vivência do sentido para os atores, o espaço vivenciado cede lugar ao espaço
passivo (que corresponde à imposição de leis funcionais que incidem exógena e verticalmente
– de cima para baixo – sobre a região).
O espaço-território é a concretização de uma percepção, delimitado pela extensão das redes
através das quais os atores estabelecem suas relações com finalidades produtivas e sociais. A
percepção do espaço pelo ator e a construção que ele faz do seu espaço é um fenômeno
subjetivo, sendo um corolário de sua ação e de sua interação com outros indivíduos e/ou
instituições. A percepção do espaço é um atributo dos indivíduos que o habitam. Cabe ao
pesquisador, ao observar os fenômenos locais, integrar na sua elaboração teórica uma
concepção do espaço que leve em conta não apenas os atores e o sistema econômico, mas
também a percepção que eles fazem do espaço que os circunda.
O “horizonte espacial efetivo” do ator representa o conjunto dos locais efetivamente levados
em consideração pelos atores para estabelecer suas estratégias. A dinâmica local está na
confluência (é o local de articulação) entre o espaço percebido pelos atores e as restrições
externas que lhes são impostas e às quais eles tentam se adaptar (Pecqueur, 1987: 111-112).
As delimitações espaciais não são fixadas objetivamente (determinadas por uma série de
critérios universais), mas determinadas subjetivamente. O espaço é um local praticado,
vivenciado, percebido pelos atores. O espaço local definido através da noção de território tem
um papel central nos processos de desenvolvimento, atuando como uma variável explicativa.
A variável territorial é a que estrutura o espaço econômico, provoca novas externalidades
ligadas ao desenvolvimento e insere, nas práticas da economia do setor público, as
coletividades territoriais.
O território torna-se então o campo de ação e de gestão do local:
“Os territórios evocam solidariedades espaciais (reciprocidade) que estabelecem sinergias entre atores. Os fluxos de troca que concretizam estas solidariedades espaciais constituem-se em redes de comunicação mais ou menos densas cuja extensão definem os limites dos territórios. Assim, o território somente existe se ele gera externalidades (solidariedades e/ou relações de reciprocidade) que se concretizam a partir de uma combinação positiva de relações de aparelho e de relações de rede. Esta combinação produz a capacidade de adaptação do território às restrições externas” (Pecqueur, 1987: 11).
O território aparece como uma construção coletiva, ao mesmo tempo produto e condição de
processos de produção de recursos específicos. Deve ser apreendido como algo mais do que a
economia: é a emanação de uma lógica de ação coletiva que se encarna nas instituições
sociais que produzem normas. É também uma criação coletiva, um campo de ação no qual os
conflitos, as negociações, os dispositivos formais e informais de cooperação e de arbitragem
dos conflitos ou de regulação das diferenças formam um conjunto complexo que os cortes
disciplinares acadêmicos tornam de difícil compreensão (Courlet, 2001: 34).
Os territórios são entidades sócio-econômicas construídas. Engendram processos de criação
de recursos para resolver problemas produtivos inéditos. O território não é simplesmente uma
escala geográfica de coordenação entre atores, mas uma dimensão que se situa entre o
indivíduo e os sistemas produtivos nacionais. O território é então mais do que uma rede, é a
constituição de um espaço concreto de cooperação entre diversos atores, que possuem uma
identidade territorial, com a finalidade de produzir recursos particulares e soluções inéditas.
Um modo de organização da produção fundado no território constitui-se numa modalidade
original de criação de recursos econômicos. Esta modalidade pode coexistir com lógicas a-
espaciais como a dos estabelecimentos de firmas transnacionais que são nômades, pouco
baseadas em um sítio e que respondem a uma busca sistemática por menores custos de
produção (Pecqueur, 2000: 15).
1.3.2.3. A construção de uma identidade territorial
Para descrever e explicar os processos de desenvolvimento, a ciência econômica nos habituou
a utilizar as ferramentas da micro e da macroeconomia. Tanto em uma quanto em outra, o ator
(o empreendedor) não é essencial. O que importa são as leis funcionais que o fazem agir. É a
racionalidade ou a objetividade dos modos de agir que são realçadas. O Homo oeconomicus
aparece como um agente racional e maximizador, capaz de se adaptar passivamente às leis do
mercado.
Dar aos atores um papel central em detrimento das funções econômicas é condição necessária
mas não suficiente. O desenvolvimento local deve ser sistematicamente identificado a um
projeto coletivo, sendo a consequência de uma combinação favorável de projetos individuais
(Pecqueur, 2000: 40).
A globalização fragiliza a possibilidade de desenvolvimento de “nichos” de mercado para as
pequenas e médias empresas e favorece uma divergência entre as trajetórias dos grupos que
atuam na economia mundo (Braudel, 1985) e as trajetórias dos territórios. Estes devem,
portanto, desenvolver novas estratégias de adaptação a este movimento global através do
desenvolvimento de uma oferta específica capaz de fixar, o máximo que puderem, as firmas.
Em outras palavras, os territórios estão sendo desafiados a freiar a tendência ao nomadismo
das firmas da economia mundo.
As dinâmicas territoriais podem ser definidas como um encontro entre, de um lado, as
estratégias empresariais e, de outro, um potencial de recursos locais que ativam estas
estratégias. A questão decisiva torna-se então a da ativação desse potencial, que poderá
emergir a partir do momento em que se define e se aciona um projeto de desenvolvimento
local implicando atores públicos e privados.
O encontro dessas estratégias empresariais com o potencial de ativação de recursos
específicos existentes no território poderá alavancar um processo de desenvolvimento
endógeno que, por sua vez, não pode fazer – sob o risco de esvaziar-se tão logo ganhe algum
fôlego – tábula rasa nem do passado nem da origem cultural presente nas sociedades
concernidas. A ativação desse potencial e o alavancamento deste processo decorre de três
condições que devem estar presentes no território considerado: a propensão para inovar, a
capacidade de adaptação e de reação às restrições externas e a capacidade de regulação. E,
como veremos mais adiante, são as redes com finalidade produtiva, sua densidade e ação
dinâmica que permitem a realização concreta destas três condições.
Propensão para inovar
Uma inovação pode ser técnica (produto ou processo), pode se aplicar à organização da
produção e do trabalho no seio de uma empresa ou pode ainda alterar a organização social de
um conjunto de empresas. Para captar os procedimentos inovadores, o empreendedor deverá
ir buscar no ambiente onde o conhecimento foi acumulado. É o meio que é favorável à
inovação e não uma empresa individual, e quanto maior a densidade das relações
interempresas maior será a propensão deste meio para inovar. A difusão da inovação também
é uma função da existência de redes de relações interempresas. A mobilidade do pessoal
qualificado permite uma difusão lateral da inovação (Pecqueur, 2000: 47).
As empresas são forçadas a buscar uma renovação permanente de sua vantagem
concorrencial. Esta renovação apoia-se sobre uma capacidade de criação, pela empresa, de
recursos próprios que se conjugam com recursos externos que a empresa deve mobilizar.
Podemos falar então de uma “dinâmica de aptidão”. Esta pode ser definida como a capacidade
de uma empresa e de uma organização em aumentar sua capacidade de criação de recursos e
de competências organizacionais (Courlet, 2001: 24).
Capacidade de adaptação e de reação
O potencial de inovação de um território, expresso através de sua capacidade coletiva em
impulsionar tal processo inovativo, tem a função de permitir a este meio de se adaptar e de
reagir às mudanças freqüentemente bruscas das condições do mercado mundial. Esta
capacidade de reação é diretamente proporcional ao nível de solidariedade encontrada neste
território e promovida por seus atores. Esta solidariedade, por sua vez, só pode existir se as
redes presentes no território forem suficientemente densas. Ao mesmo tempo, para que as
relações entre os atores possam se intensificar, é necessário que exista um suporte urbano
suficientemente estruturado, com redes de transporte, uma densidade populacional suficiente
para permitir uma oferta razoável de mão-de-obra e um número importante de pequenas e
médias empresas.
A solidariedade em um espaço geo-econômico não pode ser decretada nem instaurada no
curto prazo. As redes informais, mais ainda que as institucionais, precisam do tempo para
amadurecer, sendo construídas apenas no longo prazo. Esta solidariedade espacial, vivenciada
em torno de um coletivo empresarial, será tanto mais eficiente ao reagir às restrições e
mudanças externas quanto mais este coletivo estiver aberto a outros atores (por vezes até
externos): bancos, poderes públicos, associações de consumidores, etc. O coletivo de
empreendedores deve estar inserido na cultura do meio onde ele está implantado. Deve ter
uma consciência clara e positiva de sua identidade local e de sua cultura industrial, mas deve,
da mesma maneira, ser reconhecido como tal pelo conjunto do corpo social (Pecqueur, 2000:
49).
Regulação local
A regulação local é uma noção abrangente que pode ser definida, de forma simplificada,
como a regularidade e a relativa estabilidade das formas de solidariedade que levam à
reprodução das condições favoráveis à inovação. Ela é feita de regras de comportamento que
podem ser explícitas e institucionais ou implícitas e informais. A regulação local se torna uma
conivência (cumplicidade, acordo tácito) entre os atores diretamente implicados na produção
e na cultura social do território, conivência que organiza as relações entre os atores à sua
maneira, buscando uma certa autonomia em relação às regras, mais rígidas, que vigoram no
nível nacional e internacional. A capacidade de regulação refere-se então à capacidade de um
meio econômico local em produzir um conjunto de regras em harmonia com as regras que
prevalecem nacionalmente e que perenizam a existência de uma solidariedade social e cultural
entre os atores sociais (Pecqueur, 2000: 49-50).
O processo de desenvolvimento econômico, de um modo geral, aparece como a expressão de
uma tripla capacidade de uma sociedade econômica: inovar, ser solidário para reagir e regular.
No caso do desenvolvimento local, são as redes informais e institucionais que criam o espaço
onde é possível articular estas três instâncias ou etapas. Este retorno a partir do potencial local
não significa um fechamento do território aos agentes externos; ao contrário, ele se define em
relação a outros níveis (nacional e internacional) e em função deles.
Segundo a natureza dos recursos mobilizados e o tipo de coordenação entre os atores, os
territórios podem seguir trajetórias diferentes e passar de um modo estratégico de
desenvolvimento local à outro. É o que Pecqueur (2000) definiu como a “plasticidade dos
territórios”. As configurações das dinâmicas territoriais podem assumir diversas formas, e
nestas diferentes trajetórias a variável comum e central parece ser o maior ou menor grau de
dependência territorial das firmas, ou seja, sua maior ou menor vinculação em relação às
estratégias dos atores locais.
Para captar as externalidades produzidas pelo processo de construção territorial, processo em
que as empresas podem ter um papel ativo a partir do momento em que participam
diretamente da elaboração das externalidades das quais vão se beneficiar, basta às empresas
criar uma forma de irreversibilidade de sua atuação naquele território, atuando como um dos
principais sujeitos da construção. As estratégias dos atores locais não constituem senão apenas
um dos determinantes das motivações das firmas, os outros sendo as flutuações da economia
mundial e a conjuntura dos mercados globais. As dinâmicas territoriais resultam dessas
escolhas das firmas mas também do jogo das instituições locais e de sua capacidade em
intervir na oferta de recursos.
Se quisermos analisar corretamente as dinâmicas territoriais, temos que admitir que suas
trajetórias não são inicialmente pré-determinadas. As evoluções não são lineares nem
definitivamente fixadas sobre uma trajetória única e os territórios, em função de sua história,
das dinâmicas que lhes são próprias e das restrições colocadas pela ordem macroeconômica
mais geral, podem passar de uma trajetória à outra (Pecqueur, 2000 : 99-100).
Antes de vermos como as redes (ou de uma maneira mais ampla a rede de relações sociais e
institucionais) atuam como formas de expressão da reação autônoma, cabe uma digressão
sobre o método de análise do funcionamento das redes, análise esta situada em um nível
intermediário.
1.3.3. A passagem do nível de análise macro para o nível meso
Para entender as formas da reação autônoma e a maneira como essa reação é construída, fruto
da articulação entre atores sociais e as várias instâncias que permeiam a vida societal e
produtiva de um determinado território, deve-se fazer a passagem de um nível de análise
macro para um nível intermediário. Isto porque os instrumentos de ação que permitem a
reação autônoma estão situados em um nível intermediário de análise. Não basta termos em
mente e quantificarmos o número de instituições que atuam ou estão presentes em uma
determinada localidade.
O nível de análise meso nos permite buscar a lógica que ilumina a atuação dos atores locais e
modifica as relações econômicas funcionais sem se substituir a elas. A confrontação entre os
atores, através de suas inúmeras redes de relações, constitui-se na variável territorial das
mudanças econômicas espaciais. O desafio metodológico consiste em situar-nos ao mesmo
tempo sobre o plano microeconômico e o plano macroeconômico, combinando o papel das
funções econômicas à capacidade de reação do meio local. Deve-se integrar e combinar ao
mesmo tempo os efeitos da dominação externa sobre o território considerado e os mecanismos
de reação e de adaptação produzidos pelo território. A esse método de análise chamaremos de
meso-analítico. Esse é, por excelência, o método de abordagem do desenvolvimento
econômico local. 15
A abordagem meso-analítica pode ser esquematizada recorrendo-se à noção de bi-polaridade:
os processos organizacionais locais se constituem na interface de uma polaridade individual
micro e de uma polaridade coletiva macro (ver figura a seguir):
Figura 1: O desenvolvimento econômico local como um objeto de estudo situado em um nível intermediário de análise
FONTE: elaboração própria a partir de Pecqueur (1987).
15 Bernard Pecqueur (1987: 121-122) destaca alguns princípios da análise intermediária (meso-análise): (a) abordagem que fica no meio do caminho entre a micro e a macroeconomia, com um nível de agregação intermediário que busca resolver o no-bridge entre as variáveis individuais e as variáveis globais; (b) a unidade de produção não deve ser estudada apenas sob o ângulo da otimização dos recursos (abordagem neoclássica) ou da lógica da valorização, mas, sobretudo, como portadora de uma lógica própria; (c) a abordagem meso-analítica é dinâmica (cada comportamento de uma unidade de produção se inscreve em um processo de adaptação ou de reação a uma dada situação); (d) a análise setorial e o estudo da organização industrial tentaram ocupar este lugar na teorização das ciências econômicas, mas nessas análises o corte por setores é estático e segue critérios fiéis à funcionalização da economia.
Pólo coletivo Pólo individual
Desenvolvimento econômico
Força funcional: lógica da intensificação da concorrência capitalista e da especialização produtiva (mercado)
Lógica da produção: processo de trabalho e organização industrial
Força territorial: lógica do tipo ecológico
Forças organizacionais
Forças organizacionais
Lógica do consumo e do quadro de vida
Um número cada vez maior de trabalhos enfatiza a importância das formas intermediárias de
regulação nos fenômenos de territorialização das atividades industriais e, particularmente, em
sua constituição e renovação. Estas formas intermediárias, para além do mercado, articulam
interesses públicos e privados, aspectos sociais e econômicos e tornam compatíveis eficácia e
eqüidade. Em uma dinâmica longa de mudança e de transformação, as instituições e as
coletividades territoriais podem ter um papel importante, principalmente em períodos de crise
e de profunda reestruturação nos sistemas. Os desenvolvimentos de ações coletivas em prol de
um sistema de empresas locais implicam amplamente as instituições. Estas devem
acompanhar e/ou impulsionar ações coletivas que favoreçam interesses comuns em uma
perspectiva de renovação da atmosfera industrial. Estas ações devem ter por objetivo renovar
os laços entre a economia, a sociedade e as instituições locais (Courlet, 2001: 49-52).
O estudo das instituições em um nível de análise meso-econômico, bem como dos
instrumentos utilizados pelos atores em suas estratégias competitivas, é necessário para se
entender a trajetória de crescimento ou de retração econômica dos territórios locais. Em um
nível intermediário de análise podemos explicar as transformações produtivas observadas em
um território como resposta a vetores externos, entender sua dinâmica interna e ter respostas
quanto a direção seguida em pontos de bifurcação. A trajetória produtiva de um território
encontra bifurcações cujas saídas devem ser buscadas no grau de mobilização interna de seus
atores.
Na seção 1.2, falamos em formas intermediárias de coordenação que se situam entre o Estado
e o mercado. São arranjos institucionais intermediários que não excluem a regulação estatal
nem tampouco as forças provenientes do funcionamento do mercado, mas se complementam e
se integram a essas duas formas antagônicas de regulação, por vezes revertendo-as e mesmo
redirecionando as suas leis funcionais. Essas formas intermediárias de coordenação também
devem ser estudadas sob uma perspectiva de análise meso-econômica, pois se situam nos
interstícios da organização governamental, ao mesmo tempo em que procuram ofertar, aos
atores locais, oportunidades de negócio e de criação de valores que encontram uma
ressonância no mercado, sempre tendo como terreno de atuação os territórios locais.
Ao se fazer apelo a essas diversas formas de coordenação devemos deixar de lado uma
abordagem estritamente mono-disciplinar e fazer uso de outra que enfatize também o papel
dos fatores políticos, do direito, da natureza dos laços sociais e das lógicas que motivam a
ação coletiva, e não apenas o princípio da racionalidade econômica. Hollingsworth e Boyer
(1997) fizeram uma taxonomia que pode ser mobilizada pelas diversas disciplinas das
ciências sociais, destacando, além do Estado e do mercado, quatro outras formas de
coordenação que se colocam em um campo intermediário de análise:
Quadro 1: Formas intermediárias de coordenação : Propriedade
Mecanismos de coordenação
Lógica de ação (se guiado pelo interesse individual ou coletivo)
Tipo de relação (horizontal ou vertical)
Condições para o acionamento de cada uma
dessas instâncias
Aptidão em fornecer bens coletivos e em incorporar
externalidades
Eficácia na alocação de
recursos
Conformidade aos objetivos de justiça
social
Possível contribuição ao desenvolvimento
local
Mercado Lógica de ação governada pelo interesse individual
(utilitarista)
Forma de coordenação horizontal
Regime monetário estável; aceitação de uma lógica
mercantil; acordo sobre as regras comerciais
Em geral extremamente difícil, salvo dispositivos
adequados acionados pelas autoridades públicas
Grande para alocação de bens
típicos (divisíveis)
Difícil em um mercado puro
Oferta de bens essenciais que não apresentam
nenhuma externalidade
Comunidade Intercede sob o registro da obrigação social (interesse
coletivo)
Relações a priori igualitárias (locus da
confiança)
Sentimento de lealdade, fundado sobre um
sentimento de se pertencer a uma comunidade
Internalização dos bens coletivos que expressam
externalidades no espaço da comunidade
Limitada pelo tamanho do grupo e
dependente da estabilidade da coesão social
Assegurado pela integração do
econômico na teia de relações sociais
Ambígua: fornecimento de bens coletivos locais e
de solidariedade; mas limitado quanto à busca
de eficácia e de inovações
Rede Ocupa um lugar central
nesta tipologia. Combina obrigação e interesse
Diversas modalidades em função de seu caráter
mais ou menos igualitário
Complementaridade estratégica da contribuição
dos diversos membros
Boa, desde que as externalidades possam ser
internalizadas no interior da rede
Boa, desde que tenha certa estabilidade
Possível, desde que ultrapasse a esfera
econômica
Papel positivo em matéria de inovação
Associação
Profissional ou sindical, combina defesa e promoção
de interesses econômicos (individuais) e políticos
(coletivos)
Em princípio relações igualitárias, mas depende
da estrutura interna de poder
Reconhecimento da existência de objetivos e
interesses comuns
Boa no que diz respeito ao estabelecimento de normas, regras ou fornecimento de
serviços coletivos específicos (ex: formação
profissional)
Boa quanto ao fornecimento de
serviços coletivos; moderada no que diz respeito aos
bens típicos
Problemática se houver uma situação de
balcanização de associações com
objetivos espúrios
Positivo, porém ambíguo: oferta de
alguns serviços coletivos (códigos, normas
técnicas, formação profissional), mas
possivelmente com alguma captação de
renda
Hierarquia (Firma)
Lógica de ação governada pelo interesse individual
Relações desiguais verticalizadas
Reconhecimento da assimetria interna de poder;
divisão do trabalho
Por definição inexistente, exceto por intervenção
pública
Grande em matéria de produção
Completa desconexão, embora
haja exceções (cooperação)
Junto com o mercado, papel positivo na divisão
do trabalho e nas inovações
Estado
Princípio de obrigação baseado no princípio do
direito e do dever de cada cidadão
Assimetria de poder própria à estrutura do
Estado.
Reconhecimento da legitimidade da ordem política e equilíbrio dos
poderes
Grande se a informação é perfeita ou suficiente; mais problemática para serviços
diferenciados
Condicionada pelas relações entre
cidadãos e poder público, política e
administração
Possível se os objetivos estão
claramente discernidos pelo processo político
Socialização e difusão de informações;
fornecimento de serviços coletivos de base
(educação, saúde, etc.)
Fonte: Boyer, 2001: 44.
Dessa forma, entre as duas formas extremas de coordenação (Estado e mercado), encontramos
quatro formas intermediárias que se situam em um nível de análise meso-econômico. Além de
se situar em um nível meso, são específicas a uma determinada dinâmica territorial,
circunscrita no tempo e no espaço.
Todas essas formas de coordenação são importantes ao considerarmos uma estratégia de
reação autônoma às pressões exteriores, engendrando laços de solidariedade e reciprocidade
em instâncias mais ou menos formalizadas de organização local. Todas elas são formas de
manifestação desta reação autônoma. Entretanto, em busca de uma simplificação analítica,
consideraremos, na seção seguinte, somente as redes como parte constituinte da reação
autônoma. Por elas representarem a parte mais visível desta reação, ou simplesmente por
adaptarem-se de maneira mais instantânea a uma formalização pretendida, as relações de tipo
rede e de tipo aparelho serão privilegiadas em termos de análise.
Uma razão forte para a escolha das redes em detrimento das outras formas de coordenação e,
portanto, de reação autônoma, consiste no fato de que estas são mais propensas a
apresentarem mecanismos de criação de recursos específicos e a gerar valores adicionados
que serão apropriados pelos atores locais; em outras palavras, nas redes as finalidades
econômicas estão mais explicitadas do que nas outras formas intermediárias de coordenação,
estas mais voltadas para a promoção de cidadania e do bem-estar coletivo (como parece ser o
caso para as associações e comunidades). Ou seja, as redes possuem uma finalidade produtiva
que não pode ser negligenciada quando estamos discorrendo sobre o campo do
desenvolvimento econômico local. Um último argumento refere-se ao fato de que as redes
são, sob o ponto de vista do território, um dos mecanismos mais importantes na criação e na
difusão das inovações.
Um território que se encontra em um momento de inflexão (ponto de bifurcação) não buscará
se opor à lógica da dominação vertical (funcional), mas adaptar-se a ela. As práticas
territoriais não podem ser isoladas dos efeitos da dominação extraterritorial (a referência à
regulação local permite integrar em um mesmo quadro de análise as relações suscitadas pelos
atores e pelas forças externas ao território). Os casos de transformações produtivas e
reconversões industriais e o encadeamento, ao longo do tempo, de soluções encontradas para
a resolução de problemas produtivos inéditos, explicam-se menos pela dinâmica setorial numa
perspectiva macro do que pela dinâmica meso-econômica interna dos territórios, que mistura
elementos institucionais a comportamentos coletivos específicos de cada espaço local.
O momento seguinte a um ponto de bifurcação tanto pode ser um caso de sucesso como um
caso de fracasso. O que explica estas duas possibilidades distintas? O que leva um
empreendedor a tomar uma atitude inovadora ou o que leva um coletivo de empresários,
pertencentes a um dado território, a reunirem de maneira produtiva as sinergias existentes
neste território para impulsionar uma trajetória de crescimento auto-sustentado? As respostas
a estas questões serão discutidas quando falarmos da hipótese de constructability (na subseção
2.5.1. do capítulo 2).
Para responder a essas questões propomos uma grade de análise dos fenômenos de
desenvolvimento local que busca articular o modo de relações interterritoriais ao modo de
relações intraterritorial. Partiremos da idéia de que os efeitos positivos ou negativos do jogo
de confrontação entre os atores explicam-se pela natureza das relações que se estabelecem
entre eles, através de redes de relações formais ou informais. Para além do mercado, existe
um campo muito mais vasto de relações sociais (trocas não-econômicas) que funcionam na
maneira de redes. O funcionamento dessas redes é o que produz uma reação de autonomia
face ao funcionamento setorial ao qual os atores locais estão submetidos. Redes de
informação à serviço dos empreendedores, sem no entanto haver a necessidade destes
recorrerem à mercados de informação, redes de proximidade geográfica ou profissionais,
redes de parentesco, redes financeiras (microfinanças) são exemplos de relações sociais que se
estabelecem nos interstícios das relações mercantis, e que contribuem para a inserção de um
território no espaço econômico regional (Pecqueur, 2000: 41). 16
1.3.4. As redes como forma de manifestação da reação autônoma
O conceito de rede está no cerne da problemática das mutações espaciais. As redes são a
expressão da reação autônoma que coexiste com a pressão heterônoma. As redes de relações
contribuem para definir o espaço das empresas, o seu território específico. O uso das noções
16 O modelo de produção em massa camuflou, até aqui, a utilidade desta forma de troca social. O fordismo nunca precisou de solidariedade para se expandir, sendo-lhe apenas suficiente estender de maneira extensiva o seu modo de valorização a cada vez mais lugares, submetendo um número cada vez maior de sociedades. Veremos de que maneira o fordismo cedeu às novas formas de manifestação da reação autônoma na Introdução do capítulo 2.
de relações de tipo aparelho e de tipo rede nos permite qualificar os processos de criação de
sinergias locais para entender melhor as causas das bifurcações observadas, buscando definir
o papel dessas relações na constituição do meio econômico local (Pecqueur, 1987: 141-142).
A noção de território econômico local como espaço de reação autônoma evidencia um jogo de
atores que não pode ser reduzido a uma racionalidade funcional. Cada ator-indivíduo percebe
o espaço e suas relações de maneira subjetiva, criando em torno dele uma constelação de
relações. As constelações individuais, ao se cruzarem, formam redes onde se emaranham
relações entre indivíduos, entre instituições e entre indivíduos e instituições. Não podemos
reduzir o fluxo de relações à uma matriz de funções, pois isto seria negligenciar o jogo das
relações inter-individuais que funda a dinâmica dos territórios locais.
Limitaremos as nossas observações às relações que influem sobre a capacidade das empresas
em produzir e vender, e chamaremos estas relações de redes com finalidade produtiva. A
densidade destas redes é que vai indicar o potencial de uma trajetória endógena de
desenvolvimento local. Os empreendedores mobilizam em seu entorno dois tipos de redes
com finalidade produtiva.
Um primeiro tipo, que chamaremos de “relações de tipo aparelho”, refere-se ao conjunto de
instituições cujos objetivos são claramente definidos, concretizam funções burocráticas e
administrativas que podem ser distintas em cada local. Um segundo tipo, que chamaremos de
“relações sociais de tipo rede”, refere-se ao conjunto de relações pessoais e informais, são
específicas de uma cultura local, representam estratégias territorializadas e constituem-se em
relações de solidariedade que completam a rede institucional (Pecqueur, 2000: 42-43).
1.3.4.1. As relações econômicas de tipo aparelho
O sistema de relações de tipo “aparelho” provém de uma arquitetura de relações espaciais
claramente definidas e hierarquicamente integradas. São relações oficiais que se estabelecem
através de instituições que possuem um estatuto e uma constituição formal, ambos
reconhecidos juridicamente para legitimar a regulação operada pelo aparelho. Este tipo de
relação remete a relações de funcionalidade: são impostas. As relações possibilitadas pelas
redes institucionais, entretanto, não se limitam à compra de mercadorias ou à aquisição de
capital. Elas concernem todas as transferências de saber-fazer e de informações que facilitam
o processo inovativo, o financiamento, a formação e a circulação de informações (sobre o
mercado, os produtos, as tecnologias, etc.) (Pecqueur, 2000: 42).
As relações institucionais do tipo aparelho são relações do empreendedor com organismos do
sistema político-administrativo local, que têm por função a regulação política, econômica e
cultural no nível descentralizado do território. O empreendedor se torna associado a um
conjunto de aparelhos institucionais voltados ao apoio e à criação de empresas. Encontramos
aí, de um lado, os interlocutores, que se colocam como consultores, que são as associações de
classe (associações comerciais e industriais, associações profissionais), os serviços
econômicos das cidades e as firmas privadas de consultoria; de outro lado, as estruturas de
apoio pelas quais os empreendedores devem necessariamente passar, que são os bancos, os
estabelecimentos financeiros e a administração local. O “Aparato Regulador Local”, conjunto
de organismos e instituições voltadas para a criação de empresas e para a regulação da
atividade econômica, constitui-se, pois, em organismos interlocutores e em estruturas de
suporte (ver Figura 2 abaixo).
Os organismos interlocutores servem de filtro entre o empreendedor e as estruturas de
suporte. Têm um papel mais difuso, devendo socializar um projeto empreendedor através da
prestação de serviços, enquadrando e preparando o empreendedor na realização de seu
projeto. Assim, por exemplo, as associações profissionais ajudam a definir o tipo do produto,
a organização do trabalho e dão informações sobre a configuração do mercado. Os
organismos de desenvolvimento e os serviços técnicos oficiais participam da elaboração do
dossier administrativo e favorecem a implantação física da empresa. Os organismos
profissionais permitem uma melhor inserção no meio profissional. Finalmente, os produtores
de serviços privados: consultorias contábeis e conselhos jurídicos. Sua função principal é a
mediação entre o empreendedor e as estruturas de suporte. Estas, por sua vez, são a passagem
obrigatória do empreendedor que pretende ter acesso ao mercado.
As estruturas de suporte são os organismos pelos quais o empreendedor é obrigado a passar
quando ele cria a sua empresa: elas financiam (bancos e estabelecimentos financeiros) e
regulamentam (organismos administrativo-fiscais, regulamentadores do uso da mão-de-obra,
etc.) as atividades que são conexas às atividades principais das firmas.
Esquematicamente, o Aparato Regulador Local pode ser apresentado da seguinte forma:
Figura 2: O Aparato regulador local: funções administrativas/burocráticas
Organismos interlocutores: Estruturas de suporte: • Associações profissionais e
órgãos de representação de classe
• Bancos
• Serviços técnicos oficiais • Estabelecimentos financeiros
• Serviços econômicos dos municípios
• Administração
• Serviços privados FONTE: Pecqueur, 1987.
Mercado Empreendedor
1.3.4.2. As relações sociais de tipo rede
O sistema de relações de tipo “rede” provém de uma arquitetura muito mais flexível que não
define fronteiras estáveis e não são organizadas tendo em vista a regulação. As relações de
tipo rede são um fim em si mesmo, tendo por objetivo uma sociabilidade. Em uma rede, não
há regras do jogo conscientemente estabelecidas visando à regulação do conjunto, as relações
são informais, não há espaço para a regulação e as suas relações remetem à relações de
territorialidade: são autônomas.
Existem relações que não são destinadas a exercer qualquer tipo de regulação ou função
reguladora. Certas informações e conhecimentos dificilmente são trocados ou têm um custo
de transmissão muito elevado, mesmo com os recentes progressos nas tecnologias de
informação. Os conhecimentos mais úteis continuam no domínio do tácito e são transferidos
através de contatos. Firmas próximas geograficamente têm mais chances de trocar entre si
conhecimentos formais e informais. Tudo isto confirma a importância da proximidade
geográfica entre os atores econômicos e incita a levar em consideração o peso das redes de
conhecimento. A abordagem meso-econômica necessita levar em consideração essas relações,
na medida em que elas participam dos processos de dinâmica econômica (Courlet, 2001: 68).
Na hierarquia destas relações, encontramos em primeiro lugar as redes familiares. A
solidariedade familiar está na base da criação de numerosas empresas e de seu
desenvolvimento, pois permite mobilizar capital e energia humana, onde os serviços mútuos
prestados saem da esfera de uma relação mercantil. O remarcável desenvolvimento da
“Terceira Itália” em matéria industrial repousa em grande parte sobre as solidariedades
familiares. 17 Em seguida, podemos fazer menção às relações profissionais. A convivência
entre profissionais em uma pequena região permite a circulação informal de saber-fazer e de
informações sobre tecnologias, modos de gestão etc.
Desde a fase de criação da empresa, as redes do empreendedor com o seu ambiente são
essenciais. A motivação para criar uma empresa aparece como uma combinação da
experiência pessoal com a experiência profissional, ambas vivenciadas pelo empreendedor. A
cada um destes espaços vivenciados corresponde uma rede específica: de um lado, a rede
familiar; de outro, a rede profissional (Pecqueur, 2000 : 62-63).
A rede familiar motiva o empreendedor e freqüentemente o permite mobilizar o capital
necessário. Antes de se expor aos bancos, o pequeno empreendedor reúne o patrimônio
familiar. A rede profissional constitui, ela também, um ambiente mais ou menos favorável ao
criador de empresa. Os atores desta rede são antigos colegas de trabalho, seu ex-patrão, seus
clientes e os fornecedores que ele pode ou não abandonar. No quadro abaixo podemos ver as
diversas configurações possíveis, as fontes, os principais atores, o tipo de ação envolvida e
alguns exemplos para os dois tipos de redes abordados nesta seção (as relações econômicas de
tipo aparelho e as relações sociais de tipo rede).
Quadro 2: Tipos de relações econômicas e sociais
Fontes econômicas ou
sociais da relação
Tipos de atores
Ação social ou econômica
(substância ou fluxo que circula)
Exemplos Tipo de ação
Administração pública
Organismos públicos e
empreendedores
Sinergia com a pesquisa e o desenvolvimento; impulso
à inovação
Administrações públicas (prefeituras,
estados e união)
Procedural
Sistema financeiro
Bancos, cooperativas de
crédito
Financiamento do capital de risco; fluxos contábeis e
financeiros
Bancos estaduais, de desenvolvimento ou
privados Procedural
Sistemas de formação
Centros de treinamento,
universidades e escolas técnicas
Adaptação e multiplicação das qualificações
SENAI, SENAC, SEBRAE, etc. Procedural
Relações econômicas de tipo aparelho
(redes institucionais)
Serviços privados Organismos profissionais Consultorias e assessorias Associações e
federações Procedural
Empresariado e redes de empresas
Indivíduo (empreendedor)
Fluxos não-mercantis, informais e que escapam à
análise econômica Redes profissionais
Estratégias de valorização de
recursos territoriais
Relações sociais de tipo
rede (formais e informais) Organismos e
instituições profissionais
Associações profissionais,
sindicatos Circulação de informações Associações de classe Compartilhamento
de valores comuns
17 Bagnasco (1977), Granovetter (1973, 1985).
Redes familiares e sociais
Situação coletiva feita de conexões
e de atores
Cultivo de normas, procedimentos e hábitos de
cooperação
Família, parentesco e vizinhança
Pertencimento à mesma comunidade
FONTE: elaboração própria a partir de Pecqueur (1987).
1.3.4.3. A interação entre as relações econômicas de tipo aparelho e as relações sociais de
tipo rede
Na fase de criação das empresas, o empreendedor não se confronta diretamente com relações
de tipo aparelho. No entanto, uma vez que a decisão de criação da empresa foi tomada, o
empreendedor entra diretamente em contato com instituições (bancos, administrações, outras
empresas). Esta confrontação leva o empreendedor a estabelecer, ao mesmo tempo, relações
de aparelho e relações de rede, fazendo interagir os dois tipos de relações. O empreendedor
tece em torno dele uma série de relações que são: funcionais quando ele age como
representante de sua empresa junto aos aparelhos de regulação; ou territoriais quando ele age
como um indivíduo através de contatos informais com outros indivíduos. Esta distinção é
fundamental para compreender a dupla natureza dos fluxos que circulam entre atores.
Mas não é apenas durante o processo de criação das empresas que devem aparecer as
vantagens das redes de relações e das solidariedades institucionais. Ao longo de toda a sua
vida as empresas devem ter consciência da importância de nutrir, com o seu ambiente, redes
de solidariedade. Esta nova abordagem da concorrência supõe, em primeiro lugar, uma
circulação da informação muito mais rápida, fluida e eficaz. O ponto fundamental é a abertura
da empresa ao seu ambiente imediato, criando estruturas de circulação da informação
(Pecqueur, 2000 : 64).
O empreendedor tem relações do tipo rede que afetam a regulação exercida pelas relações
funcionais de aparelho. A regulação funcional exercida pelos aparelhos é perturbada pela
existência multiforme de trocas do tipo rede. A rede de relações informais, que se combina às
relações de tipo aparelho, veicula um fluxo de informações necessário ao empreendedor que
não passa pelos canais oficiais dos aparelhos. O papel dessas redes em seu conjunto é o de
estimular a circulação de informações: quanto mais ampla for a rede individual do
empreendedor, maior serão as chances dele realizar o seu projeto (maior será o seu capital
social, como veremos no capítulo 2). A natureza das informações que circulam também é
determinante. É o meio que favorece ou desfavorece a criação da empresa. As redes veiculam
fluxos de informação que enriquecem a eficácia do dispositivo regulador dos aparelhos ou
então atrofiam o seu alcance.
O espaço do empreendedor não é apenas o espaço delimitado pelas funções exercidas pela sua
empresa. 18 Este espaço é também limitado pelas informações que ele capta e que ele pode
integrar em sua estratégia empresarial. Mostramos que para criar uma empresa, o
empreendedor deve mobilizar, além das instituições, uma série de contatos (redes) pessoais.
No curso do desenvolvimento da empresa, o problema é o mesmo.
A apreciação da dinâmica local de um território combina procedimentos e estratégias. As
relações de tipo aparelho definem procedimentos que estruturam os respectivos papéis dos
aparelhos através de funções macroeconômicas (a empresa produz, o banco financia, a
administração coleta impostos e os redistribui). As relações de tipo rede concretizam as
estratégias de cada ator. Estas estratégias vêm perturbar o papel regulador dos procedimentos
exercidos pelos aparelhos (Pecqueur, 1987: 164-165).
As mutações espaciais recentes recolocam em primeiro plano a figura do empreendedor
schumpeteriano, mas agora não mais como empreendedor individual e isolado, mas na figura
de um empresário coletivo (redes empresariais). A crise pela qual atravessam as grandes
unidades de produção reatualizam a função do empreendedor. As manifestações das reações
autônomas de um território se exprimem pela sinergia entre os atores, fazendo com que o
empreendedorismo se exprima coletivamente. A função de empreendedor não pode mais ser
encarada a partir do estudo de um comportamento individual que pudesse ser generalizado a
todos os chefes de empresa, mas sim a partir de um meio empresarial. As redes são os vetores
das relações constitutivas do meio empresarial, que perturbam a regulação inter-aparelhos
numa direção positiva ou negativa (Pecqueur, 1987: 156-157).
Desta forma, acabamos de definir os elementos constitutivos do meio econômico local. No
que concerne à causalidade das bifurcações utilizamos a noção de rede, distinguindo-a da
18 As redes não se limitam apenas às relações interempresas. As experiências de revitalização do tecido industrial mostram que o universo da empresa tende a se enraizar na cultura dos territórios econômicos. As conexões se multiplicam entre as empresas e os outros atores. Estas conexões entre as empresas e o quadro institucional local serão fundamentais para a emergência de uma estratégia de reação autônoma ancorada localmente e, portanto, para o início de um processo de desenvolvimento endógeno.
noção de aparelho. Há, em toda relação entre atores, uma dimensão explicitamente reguladora
que passa pelas instituições e uma dimensão mais informal sem objetivo de regulação.
1.4. Conclusão
Este capítulo teve por objetivo discorrer sobre as teorias do desenvolvimento econômico que
sempre consideraram o desenvolvimento das nações como resultante da ação estatal ou da
livre atuação das forças do mercado, alternando políticas econômicas que ora privilegiavam o
planejamento central ora sucumbiam ao receituário liberal, dependendo do momento vivido
pela economia mundial e da correlação de forças políticas internas que se sucediam no poder.
Para estas abordagens, o desenvolvimento das regiões é uma função do desenvolvimento do
todo e os territórios só existem como espaço de aplicação de funções econômicas.
A partir dos anos 1990 passou-se a ter uma percepção mais sistêmica e menos maniqueísta do
desenvolvimento dos países, territórios e regiões. As teorias do desenvolvimento econômico
incorporaram, pouco a pouco, elementos institucionais que trazem para o seu campo de
investigação a contribuição de outras áreas do saber. Ao considerar o desenvolvimento como
fruto de interações sociais que repercutem no amadurecimento de instituições e desenvolvem
formas intermediárias de coordenação que vão se opor e se complementar à atuação do Estado
e do mercado, a abordagem institucionalista incorpora elementos sociais e históricos que estão
arraigados no território, presos aos costumes e à tradição de uma região.
Os fatores explicativos tradicionais (capital, trabalho e tecnologia) são complementados pela
variável territorial, que além de abranger as instituições locais incluem as redes, que vai se
constituir e impulsionar uma reação autônoma do território frente às leis funcionais que fazem
agir os interesses econômicos individuais e coletivos. O conceito de capital social sintetiza a
incorporação dos fatores institucionais nas teorias do desenvolvimento econômico, mas a falta
de precisão em sua definição e o caráter ainda prematuro de seus estudos epistemológicos
dificultam sua operacionalização e a delimitação de seu real alcance para o objeto que nos
interessa. No capítulo 2, tentaremos delimitar os fundamentos desse conceito e retirar dele as
suas contribuições para o estudo do desenvolvimento econômico local.
Vimos também neste capítulo de que maneira as redes de relações econômicas e sociais se
constituem na forma por excelência de manifestação da reação autônoma de um território,
reação que é entendida como uma força dinâmica que incorpora e redireciona a pressão
heterônoma exercida pelas leis de movimento do capitalismo. No nosso estudo de caso, a
pressão heterônoma se exprime na forma de uma mobilização política pela ampliação e
modernização do Porto de Sepetiba (Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de
Sepetiba), projeto este visto, pelas autoridades, como forma por excelência de se resolver os
entraves para o desenvolvimento do país colocados pela deficiência na infra-estrutura de
transportes (redução do custo Brasil). A região onde se situa o Porto de Sepetiba é vista, pelas
forças políticas que representam a pressão heterônoma, como um local de aplicação de
funções macroeconômicas e de submissão às regras operacionais da logística de transportes.
Capítulo 2: O nível aplicado da teoria do desenvolvimento local
Introdução: Filiação do desenvolvimento econômico local
A ascensão do desenvolvimento local na fase atual do capitalismo deve ser vista no quadro
mais geral de crise do modelo fordista. A origem de uma transformação profunda na produção
está na necessidade de uma busca permanente de níveis de flexibilidade impossíveis de serem
atingidos no quadro da grande empresa vertical fordista e da rigidez do Estado de bem-estar.
A reciprocidade ressurge como forma de integração e regulação social, em detrimento das
políticas centralizadas de redistribuição promovidas pelo Estado keynesiano.
Podemos dizer que houve, na história do capitalismo moderno, três momentos cruciais do
desenvolvimento regional que se alternaram com a concentração em grandes unidades de
produção.
O primeiro momento marcou a fase dos distritos ou das pequenas aglomerações industriais.
Desde o início do capitalismo as regiões funcionaram como sedes das aglomerações e das
especializações das atividades de produção. Importantes entidades de produção constituíram-
se a partir de pequenas empresas, sem integração vertical, que formaram densas redes de
relações, inaugurando os distritos industriais marshallianos clássicos (Courlet, 2001: 28).
Na origem da revolução industrial, a indústria desenvolveu-se apoiando-se sobre distritos
industriais. A densidade destas pequenas unidades de produção deu origem aos grandes
complexos industriais. Uma profusão de pequenas unidades, freqüentemente artesanais,
criaram uma tradição de saber-fazer a partir de uma intensa circulação de informações sobre
os ofícios emergentes (tecelagem, mecânica, metalúrgico etc.). A grande indústria não nasceu
por geração espontânea. A revolução industrial teve na sua origem aglomerações de distritos
industriais que, num momento seguinte - de concentração em grandes estabelecimentos -
gerou as grandes indústrias ou complexos industriais (Pecqueur, 2000: 129).
Os ganhos de produtividade foram obtidos por efeitos de proximidade e por uma propagação
de saber-fazer que criou uma população de artesãos profissionais (base técnica artesanal). Em
seguida, o desenvolvimento das atividades provocou uma concentração em grandes
estabelecimentos. Os ganhos de produtividade passam então a resultar das economias de
escala e da divisão do trabalho no seio das empresas. O crescimento do tamanho das
empresas, a concentração dos capitais, a uniformização da produção e também dos
comportamentos sociais contribuíram, posteriormente, para instaurar um modo extensivo de
consumo e de valorização de riquezas, mas que tiveram como ponto de partida os distritos
industriais (Pecqueur, 2000: 78; 130).
Estes distritos industriais do início do século XIX desapareceram na sua maior parte, seja por
causa do corolário natural da revolução industrial (concentração da produção em grandes
unidades), seja por causa de uma ação do estado que privilegiou a centralização produtiva,
também com o objetivo de favorecer a formação de grandes grupos nacionais (como foi o
caso da França, por exemplo).
O segundo momento, marcado pelo fordismo, se caracterizou pelo estabelecimento de
relações de polarização e de difusão periférica entre as principais regiões industriais e um
conjunto de zonas periféricas dependentes. Essas relações podem ser essencialmente
resumidas por uma tendência, no que concerne às regiões de centro, em evoluir como
aglomerações que concentram as atividades de alto salário e, no que concerne à periferia,
evoluir como local de recepção de empresas que utilizam mão-de-obra barata (Courlet, 2001:
28).
O crescimento industrial do pós-guerra deu às grandes unidades de produção um papel
central. Os ganhos de produtividade estavam baseados na grande escala e na produção em
massa de produtos homegêneos. Às PME estavam reservadas as funções de subcontratação
em nichos muito estreitos, deixados pelas grandes empresas e pelas firmas multinacionais,
estas últimas estruturas hierárquicas e verticalizadas (Pecqueur, 2000: 28).
A crise das grandes unidades de produção se desenvolve em seguida ao primeiro choque do
petróleo naqueles setores que tiveram um papel central como motores do período de
crescimento (bens de consumo duráveis e bens intermediários). Este período se caracteriza
pela incerteza econômica e pela necessidade de se transformar os modos de gestão, pela busca
de uma maior flexibilidade e de uma capacidade em se adaptar às evoluções rápidas dos
mercados internacionais. Concretamente, este movimento se traduz por reduções maciças no
emprego industrial, pelo abandono de sítios industriais, pela eliminação e pela seleção de
alguns poucos e privilegiados subcontratantes. Novos modelos de produção são buscados e
testados: neo-taylorismo, neo-fordismo, toyotismo, pós-fordismo, etc.
O fordismo, num contexto de crescimento, permitiu fortes ganhos de produtividade
exatamente ao relaxar a importância das redes locais de solidariedade e reciprocidade,
impondo normas internacionais e desqualificando a força de trabalho. Desde então, a
exploração de recursos humanos locais não tinha mais utilidade e, pelo contrário, poderia
obstruir o consenso geral necessário ao funcionamento do sistema fordista. A crise do
fordismo, entretanto, implicou em uma reaparição sintomática dos sistemas locais (Pecqueur,
2000: 79).
A principal consequência da crise da empresa de grande dimensão e de seus ajustamentos
consecutivos será o retorno da possibilidade de um espaço de desenvolvimento às PME. A
crise submete a grande unidade de produção à evolução de um sistema de trocas que ela não
mais domina. As PME (até então subordinadas) revelam-se mais dinâmicas, sua renovação
fazendo-se sentir principalmente na criação de empregos. Estas pequenas e médias empresas
começam a crescer em número e em massa de trabalhadores empregados. Esta inversão pode
ser explicada pelo desemprego estrutural na grande indústria que, ao liberar sua mão-de-obra,
possibilita aos seus egressos criarem as suas próprias empresas. 19
A emergência das novas tecnologias de automação flexível também ajuda a redistribuir as
cartas do jogo no que diz respeito à competitividade das firmas. Na medida em que as
mudanças tecnológicas possibilitam a adaptação rápida a novos mercados e clamam por
qualificações radicalmente diferentes, as resistências encontradas nas grandes empresas, pelos
efeitos gerados por uma base técnica rígida voltada para a produção em massa de produtos
homegêneos, tornarão quase impossível a estas grandes unidades uma rápida reconversão de
sua base produtiva. Ela tem que respeitar os ritmos e os procedimentos ligados à sua
dimensão (Pecqueur, 2000: 31-32).
19 Algumas precauções devem ser tomadas quanto à interpretação dos efeitos desta inversão para a importância do tamanho das empresas na criação de emprego. Em primeiro lugar, as pequenas empresas criam menos empregos do que se pode pensar à primeira vista. Em segundo lugar, a estabilidade destes empregos é frágil, uma vez que a taxa de mortalidade das pequenas empresas é bastante elevada. Uma boa leitura sobre este ponto específico pode ser encontrada em um estudo do INSEE: Collections de l’Insee, 10/10, série Entreprise, 1988.
Assim, a evolução quantitativa e qualitativa da demanda acrescida do surgimento de novas
tecnologias da automação flexível, permitiu às PME mais competitivas contornarem o
obstáculo da concentração em grandes unidades produtivas e da produção em larga escala
para encontrar mercados em expansão adaptados às características de seu tamanho e de sua
estrutura. O conjunto de PME estruturadas em redes se substituíram à produção em massa.
Podemos então dizer que a crise da unidade fabril de grande dimensão levou os grandes
grupos a restruturarem profundamente os seus modos de gestão, o que favoreceu as iniciativas
das pequenas e médias empresas. O conjunto das unidades de produção passa a se constituir
num continuum ou, se preferimos, num tecido produtivo. É esta noção de tecido que nos vem
em primeiro plano na análise dos sistemas produtivos. Ela ilustra a complexidade nas relações
entre os atores econômicos que ultrapassam uma simples relação mercantil.
As PME tiram proveito desta nova situação, organizando-se em torno de serviços comuns e
beneficiando-se de seu agrupamento e de sua cooperação para tirar daí uma massa cinzenta
suficientemente capaz de inovar (articulando pesquisa, indústria e serviços às empresas) e
beneficiando-se também da maior capacidade de adaptação permitida pelo tamanho de suas
unidades. As relações de troca não se dão apenas em torno de um produto, mas também em
função de parcerias, de um modo mais informal e visando a eventualidade de se concretizar
negócios no futuro. A proximidade geográfica e cultural é um elemento determinante na
circulação eficaz de informações úteis a cada empreendedor (Pecqueur, 2000: 32-35).
As regiões que apresentaram, durante o auge do fordismo, um forte dinamismo e um
crescimento sustentado, apresentam hoje um declínio relativo. Em regra geral são os grandes
centros urbanos que atraíram para si as grandes unidades de produção verticalizadas. Isto
ocorre em parte porque as deseconomias de aglomeração são uma conseqüência econômica
do crescimento; de outro lado porque o seu aparelho de produção, adaptado a um certo tipo de
tecnologia dominante, não pode se reconverter, sem custos, às normas da nova onda
tecnológica e de um novo paradigma de produção.
O saber-fazer articulado à indústria pesada (siderurgia, metalurgia, metal-mecânica), que se
constituiu na base do crescimento do pós-guerra, está enraizado nas regiões de
industrialização antiga. Quando aparecem e se desenvolvem os mercados da eletrônica, da
informática e da robótica, o saber-fazer não é mais o mesmo e é mais vantajoso em termos
econômicos localizar essas produções em regiões que podem adquirir a tecnologia sem ter que
se desfazer de velhos hábitos e de estruturas industriais inadequadas (Pecqueur, 1987: 98).
O terceiro momento, marcado pela especialização flexível, apoia-se sobre sistemas industriais
caracterizados por uma forte descentralização e desintegração. Concerne a criação de um
conjunto de novos espaços industriais a favor de um processo de industrialização flexível.
Paralelamente ao ressurgimento de distritos industriais e de aglomerações em várias partes do
mundo, constatamos a proliferação de redes flexíveis de produção em setores tão diversos
quanto a biotecnologia e os serviços financeiros (Courlet, 2001: 28).
Piore e Sabel (1984) desenvolveram esta idéia de maneira sistemática, num quadro de análise
macroscópico. Estes autores propõem uma periodização do capitalismo em termos de
sucessão de paradigmas técnico-econômicos que se superpõe às questões da industrialização
local. Na análise das formas emergentes de organização industrial, eles mostram que o
capitalismo passa por uma segunda bifurcação, ao se redescubrir as virtudes da cooperação
industrial. A primeira teria ocorrido no século XIX com a emergência das tecnologias de
produção de massa que suplantaram a produção artesanal, substituindo a cooperação pela
concorrência. Esta segunda bifurcação aparece a partir dos anos 1970, com o esgotamento do
modelo produtivo fordista e a emergência de crises nacionais e internacionais que
estimularam o redirecionamento a um novo modelo de produção, modelo este que se
reconcilia com alguns princípios da produção artesanal. O conceito que capta esta mudança
organizacional é o de especialização flexível. 20
O trabalho de Piore e Sabel apoia-se amplamente sobre os exemplos dos distritos industriais e
dos sistemas produtivos localizados, mas os insere em um modelo mais global inspirado pelos
20 Piore e Sabel (The Reemergence of regional economies, working paper, MIT Cambridge, dezembro de 1987) nos dá vários exemplos de grandes firmas que adotaram uma estratégia de especialização flexível, qual seja uma reconciliação das tarefas de concepção e execução em pequenas unidades descentralizadas para incentivar as relações de cooperação no seio do mesmo grupo empresarial. A sociedade Bosch na Alemanha, Montedison na Itália, a Rank-Xerox e Ford Motors nos EUA e Magna no Canadá foram empresas que adotaram elementos da estratégia de especialização flexível sem romper totalmente com os princípios da produção em massa (Pecqueur, 2000: 33-34). O conceito de especialização flexível vem reforçar a tese do small is beautiful, lançada por E. F. Schumacher em 1970 (a tradução brasileira, “O negócio é ser pequeno”, pela Zahar Editores, é de 1983). No entanto, para além do estigma da tese que “o bom é ser pequeno”, Schumacher desenvolveu o conceito de tecnologia intermediária, uma tecnologia que não seja nem moderna nem tradicional mas que seja “apropriada a um certo ambiente socioeconômico em dado momento”. As tecnologias “apropriadas” apresentam três características: favorecem o desenvolvimento do emprego, é fraco o seu custo em capital, permitem a satisfação das necessidades fundamentais.
temas regulacionistas. A especialização flexível é apresentada como uma alternativa global ao
fordismo. Sua abordagem permite entender que se trata de estruturas institucionais e
organizacionais dispostas em torno de pequenas unidades engajadas em uma comunicação
direta intensa e inseridas em uma rede social densa (Courlet, 2001: 73).
Após termos visto como, durante a longa maturação do capitalismo moderno, alternaram-se
fases em que a industrialização baseou-se em aglomerações de pequenas unidades produtivas
com outras em que a industrialização ganhou impulso a partir de sua concentração em grandes
unidades verticalmente integradas, veremos, nas seções seguintes (particularmente as seções
2.1 e 2.2), como se deu a renovação de interesse, por parte dos economistas, pelos chamados
distritos industriais e pelos sistemas produtivos localizados. Ao mesmo tempo, veremos que a
noção de distrito industrial é anterior à fase áurea do fordismo, o que confirma a hipótese
discutida ao longo desta introdução de uma convivência entre aglomerações de pequenas
empresas e as grandes empresas típicas do fordismo.
Na seção 2.3 introduziremos uma noção alternativa à de distrito industrial ou de sistema
produtivo localizado, com a qual trabalharemos e que chamaremos de configuração produtiva
local. Veremos o porque da utilização deste conceito e como ele se aplica ao nosso estudo de
campo.
Na seção 2.4 discutiremos sobre o papel das micro e pequenas empresas no desenvolvimento
econômico dos países e regiões, contrapondo argumentos a favor da proliferação das micro e
pequenas empresas como redenção para a crise estrutural do emprego e como produto
exclusivo das reconfigurações produtivas atuais, ao argumento de que, ao contrário, as micro
e pequenas empresas sempre funcionaram como um “colchão amortecedor” em épocas de
crise e sempre estiveram presentes na evolução do chamado capitalismo industrial. Um meio
termo desta discussão, e que nos levará a uma espécie de conclusão, é a co-existência de
modelos híbridos que recolocam e reconfiguram a importância das micro e pequenas
empresas no processo de acumulação.
Na seção 2.5 introduziremos o conceito de capital social e a sua pertinência para os estudos de
caso do desenvolvimento local. Como já adiantamos no capítulo 1, o capital social sintetiza
todos aqueles fatores sociais e institucionais que não foram levados em conta como variáveis
explicativas nos modelos tradicionais de desenvolvimento. Nesta seção iremos mais adiante
ao precisarmos o conceito, suas definições, suas propriedades e suas possibilidades de
aplicação empírica.
Finalmente, na seção 2.6, faremos uma apreciação teórica do papel do ambiente institucional
no desenvolvimento econômico local, primeiramente através da utilização da noção de
governança, para em seguida discorrermos sobre o papel das instituições locais e dos
programas de apoio. Por último, discutiremos a questão do financiamento das micro e
pequenas empresas, por se tratar de um tema que faz parte de uma questão maior que é o
ambiente institucional local no qual elas se inserem.
2.1. A análise dos Distritos Industriais
A noção de distrito industrial representa, na literatura econômica recente, um dos eixos a
partir dos quais se cristalizou a reflexão consagrada às relações entre dinâmica industrial e
dinâmica territorial. Herdado da análise marshalliana, o conceito de distrito encontra sua
origem em duas fontes complementares principais: uma essencialmente teórica que provém de
uma releitura da obra de Marshall; outra, mais empírica, que vem principalmente da Itália e
diz respeito ao estudo das formas espaciais de industrialização difusa que apareceram nas
regiões do centro e do nordeste da Itália ao longo dos anos 1960 e 1970 (Courlet, 2001: 59-
60).
2.1.1. Alfred Marshall
O interesse manifestado por Marshall pela questão do distrito industrial está ligado ao estudo
da localização das firmas, mas trata-se também de um quadro de análise apropriado à
compreensão da dinâmica industrial. A localização das atividades é abordada no capítulo 10
do Livro IV dos Principes d’économie politique (1890) e de maneira recorrente em The
Economic of Industry (1879) e Industry and Trade (1919).
Marshall já tinha percebido a importância dos meios industriais e das vantagens que poderiam
ser retiradas da cultura industrial local a partir do momento em que um empreendedor se
encontra diante de diversas competências reunidas em torno de uma produção dominante. Ele
fala de distritos industriais que se parecem bastante aos sistemas produtivos locais dos quais
falaremos adiante. Esta noção estará na base de sua teoria dos efeitos externos (ou efeitos de
aglomeração). A coesão cultural não quantificável dos atores em um território é hoje uma
variável que age positivamente sobre a atividade produtiva e que pode portanto ser
considerada como uma fonte importante de externalidade positiva.
Marshall mostra a possibilidade de um funcionamento eficaz de uma organização industrial
caracterizada pela existência de uma rede de pequenas empresas: são os distritos industriais
que podem existir ao lado da produção em grande escala. O primeiro germe dessa instalação
industrial deve-se a características geográficas, históricas e político-psicológicas da região,
mas uma vez que a escolha é feita, é provável que ela se torne durável em virtude de
economias externas de aglomeração que a indústria passa a se beneficiar depois de algum
tempo. Essas economias de aglomeração são economias de produção e de transação das quais
uma empresa pode se beneficiar quando ela está inserida em uma aglomeração industrial
suficientemente grande (Marshall, 1920).
A reflexão de Marshall sobre as empresas dos distritos efetua-se essencialmente em termos de
eficiência. Em primeiro lugar, um distrito industrial pode ser eficiente se há uma bem
organizada divisão de trabalho e divisão de tarefas entre empresas especializadas. Mas ele não
deixa de incorporar em sua análise elementos menos tangíveis que ele traduz pela expressão
atmosfera industrial, fenômeno ligado à competência e à experiência profissional dos
trabalhadores de uma indústria concentrados em um dado local (Courlet, 2001: 60-61).
Para Marshall, estas vantagens de proximidade podem ser explicadas por quatro razões
principais:
a) a divisão de tarefas não existe apenas no seio de uma empresa, mas entre as empresas. A
proximidade dos locais de produção não apenas diminui os custos de transporte mas também
facilita a circulação da informação;
b) o contato permanente entre os empreendedores torna mais fluida e menos custosa a troca
de informações sobre o estado do mercado;
c) criação de uma atmosfera industrial, favorável à criação e à difusão de novos saberes
profissionais;
d) a proximidade de várias empresas favorece a inovação (processos coletivos de inovação
através da circulação de informação).
Finalmente, as economias externas de aglomeração são serviços gratuitos que as empresas se
rendem mutuamente através da ação sobre o ambiente econômico e social: luta contra os
custos de transação, economias de escala, formação da mão-de-obra, circulação da inovação
etc. Estas economias externas estão para Marshall enraizadas territorialmente e apresentam
uma certa irreversibilidade, uma vez que repousam sobre as estruturas históricas e sociais de
um distrito. O distrito é uma construção a partir de vantagens criadas e não a partir de
vantagens inatas. Nesta perspectiva, a eficácia de um sistema localizado de pequenas
empresas seria em grande parte o produto de sua inscrição sócio-territorial e não o mero
resultado do jogo entre empresas (como no caso da teoria dos pólos de crescimento).
Esta descrição analítica dos distritos industriais do início do século passado se aplica aos
locais que foram uma referência para a revolução industrial na Europa, ao mesmo tempo em
que continua incrivelmente atual no que diz respeito aos processos contemporâneos de
desenvolvimento local. A originalidade do modelo de Marshall consiste em articular os
recursos econômicos, sociais e culturais de um território (Courlet, 2001: 61).
2.1.2. Os distritos industriais italianos
A análise contemporânea da industrialização difusa e sua sistematização sob a forma de
distrito industrial vêm da Itália, cujas pesquisas remontam do final dos anos 1970 e início dos
anos 1980. Os pontos de partida foram os trabalhos de Bagnasco (1977), Brusco (1982) e
Garofoli (1981, 1983) sobre a Terceira Itália, onde a presença difusa de pequenas empresas
engajava-se vitoriosamente sobre o mercado mundial através da especialização industrial. Os
primeiros estudos de sociólogos, geógrafos e economistas regionais insistiam sobre as
dinâmicas endógenas de desenvolvimento e sobre as características sociológicas e culturais
dessas regiões como fatores explicativos dessas dinâmicas (Courlet, 2001: 61-62).
Como observa Florence Vidal (1998), o distrito industrial é um grande complexo produtivo
onde a coordenação entre as diferentes fases e o controle da regularidade de seu
funcionamento não são submetidos a regras preestabelecidas ou a mecanismos hierárquicos
como acontece na grande empresa. Estes universos cobrem o conjunto do ciclo produtivo
(criação, produção, comercialização nacional e internacional) e possuem um setor de
concepção e de produção de máquinas ligados à sua atividade. Comportam igualmente toda
uma gama de serviços oferecidos às empresas: contabilidade, design, engenharia, assistência
científica e técnica, marketing, formação, aconselhamento jurídico, certificação de qualidade,
bancos de dados, etc. (Courlet, 2001: 62).
O desenvolvimento dos distritos industriais efetua-se em um espaço que é típico da Itália das
comunas (Fuà, 1985). O território é uma constelação de cidades médias e pequenas. São
centros com diversas funções urbanas, com tradições de administração local e democrática
eficaz e que gozam de uma intensa atividade privada no comércio, nas profissões liberais e no
artesanato. O território é suprido por uma densa rede de transportes. Cada cidade dispõe de
todas as infra-estruturas sociais. Não há ruptura entre a cidade e a área rural, a ponto de
Becattini (1989) falar de uma “zona rural urbanizada”.
Muitos desses distritos são de formação antiga e remetem ao papel particular da agricultura na
sua formação. Os trabalhadores do campo, em busca de um complemento para a sua baixa
renda, buscavam desenvolver uma primeira atividade industrial. Esta estrutura de relações de
produção permitiu à indústria, a partir de pequenas iniciativas, apoiar-se sobre uma
reprodução social e econômica fundamentalmente familiar e rural (oferta de mão-de-obra
flexível e a baixo custo, organização de uma pluri-atividade no quadro familiar). Esta pequena
agricultura foi não apenas necessária à reprodução da força de trabalho industrial, como
impulsionou o campesinato para as atividades manufatureiras, estando na base de uma
mobilização das iniciativas empresariais. Isto explica em grande parte a intervenção freqüente
da família na produção e a existência de relações de solidariedade tanto no quadro da família
como no das relações de vizinhança (Courlet, 2001: 64-66).
Nos distritos industriais existe o que Marshall chamou de atmosfera industrial, fenômeno
ligado à competência e à experiência profissional dos trabalhadores de uma indústria
concentrada em um dado local. Becattini (1989) deu um sentido mais contemporâneo a esta
noção, elencando as seguintes características de um distrito industrial:
a) coexistência singular entre concorrência e solidariedade entre as empresas, o que reduz os
custos de transação do mercado local;
b) emulação entre os membros do distrito, tanto para atender objetivos econômicos quanto
para melhorar o ambiente geográfico e social do distrito;
c) abundância de inovações que vêm da base, favorecidas pelo “clima” industrial do distrito;
d) grande mobilidade horizontal e vertical dos postos de trabalho (apud Courlet, 2001: 66-
67).
O distrito industrial aparece como uma forma típica de organização produtiva territorializada
na qual as relações entre as firmas são regidas por um conjunto de normas, implícitas ou
explícitas, que aliam regras do mercado com código social. Nesta ótica, o distrito funciona
segundo uma lógica territorial onde o princípio da hierarquia é substituído pelo da
reciprocidade. Em suma, o distrito é “uma entidade sócio-territorial caracterizada pela
presença ativa de uma comunidade de pessoas e de uma população de empresas em um
espaço geográfico e histórico dado” (Courlet, 2001: 67).
A plataforma sobre a qual estes sistemas foram construídos podem ser definidos como de
industrialização “difusa” (ou “espontânea”). Este tipo de industrialização resulta de uma
mutação das zonas preponderantemente agrícolas que dispõem de uma população jovem,
abundante e disponível, mas cujo nível de vida é relativamente baixo. Estas zonas, na periferia
da Europa industrial, permaneceram relativamente à margem do grande movimento de
crescimento econômico experimentado pelos países desenvolvidos entre os anos 1950 e 1970.
Este processo se concretizou pela criação de empresas que se instalaram em segmentos
deixados livres pela grande indústria e que buscaram valorizar o saber-fazer artesanal há
muito inserido na cultura local.
A imersão das PME em seu ambiente social e cultural imediato caracteriza-se pelo papel ativo
das redes de relações entretidas pelos atores sociais. Os laços familiares constituiram-se,
nestas zonas de industrialização difusa, no principal tipo de rede de relações. A família foi o
locus de uma solidariedade que forneceu aos empreendedores as fontes iniciais de
financiamento e também as capacidades de gestão e de qualificação técnica que, embora
modestas, são polivalentes e imediatamente utilizáveis. A presença de uma cultura familiar
contribuiu ao consenso social e à gestão local dos conflitos em um clima de confiança
recíproca (Pecqueur, 2000 : 83-84).
Os sistemas produtivos locais, produtos da industrialização difusa, são organizados segundo
formas muito específicas. As condições sócio-econômicas necessárias à sua aparição não são
reprodutíveis. Trata-se de casos particulares de distritos industriais. Entretanto, esta forma é
suficientemente importante para ser uma referência de uma dinâmica de desenvolvimento que
se apoiou nos recursos locais, opondo-se aos esquemas uniformizantes do desenvolvimento
imposto pelo modelo fordista. Esses sistemas existem na Itália, na França, na Espanha, em
Portugal, em algumas zonas periféricas no norte da Europa, na América do Norte e no Brasil
(Pecqueur, 2000: 87).
2.2. Os Sistemas Produtivos Localizados
Ao observar as características dos sistemas industriais locais mais recentes, podemos fazer a
hipótese do surgimento de uma segunda geração de sistemas derivados do modelo de distritos
industriais. Seu nascimento se deu em um contexto diferente daquele da industrialização
difusa e seu desenvolvimento ocorreu como consequência de um “salto tecnológico”
(Pecqueur, 2000: 90).
O Silicon Valley é o caso típico desta forma de sistema produtivo local. Apesar de ter
aparecido grosso modo nos anos 1970, a sua gênese é muito anterior e o seu processo de
maturação é longo, datando de pelo menos 50 anos. No caso do Silicon Valley, é importante
ressaltar que os comandos militares americanos dos anos 1950/60 foram fundamentais para
impulsionar a industrialização local, ao oferecer um mercado cativo aos empreendedores e
promover a interação entre as empresas e as universidades.
A origem do sistema produtivo localizado difere significativamente daquela dos distritos de
industrialização difusa, mas também apresenta algumas semelhanças. Entre essas, observamos
o longo tempo de maturação, geralmente em torno de mais de meio século, o fato de ambos os
tipos apresentarem uma massa crítica de grande densidade (em termos de número de
habitantes) e também o fato de estarem perto de grandes centros urbanos (Pecqueur, 2000:
92).
O distrito tecnológico pode ser apresentado como uma metamorfose moderna dos distritos
industriais. Eles conservam suas características fundamentais, como a presença de PMES em
torno de uma especialização produtiva, laços informais densos entre as empresas, um
ambiente social específico e uma combinação de relações entre mercado e reciprocidade
(Courlet, 2001: 81).
Além destas semelhanças, a forma do distrito tecnológico é específica e distingue-se do
distrito industrial em vários aspectos (Pecqueur e Rousier, 1991). Em primeiro lugar, como
pode ser visto no Quadro 3 abaixo, seu desenvolvimento está calcado em um “salto
tecnológico”, ou seja, a adoção de tecnologias de ponta que se cruzam com o saber-fazer
acumulado localmente. Em segundo lugar, as redes dominantes que estruturam as relações
entre os atores não são familiares, mas antes profissionais. As experiências mútuas
estabelecem-se sob a base de formações tecnológicas comuns, de uma identidade de práticas
profissionais ou ainda de origens universitárias e científicas comuns. Em terceiro lugar, o
papel de incubadora caracteriza este tipo de sistema, na medida em que a difusão do projeto
provém cada vez mais das próprias empresas e menos a partir de estruturas de solidariedade
local. Os distritos tecnológicos são essencialmente urbanos e seu desenvolvimento
corresponde à emergência de uma competição entre cidades (aglomerações) e não entre
regiões ou entre territórios de um país industrializado (Courlet, 2001: 81).
Quadro 3: Diferenças entre os distritos industriais e os sistemas produtivos localizados Tipologia de SPL SPL de industrialização difusa :
distritos industriais “clássicos” SPL ditos “incubadores” :
de alto conteúdo tecnológico Período de surgimento: Anos 1950-1960 Anos 1970-1980
Tipo de saber-fazer: Valorização de um saber fazer artesanal
Valorização de um saber-fazer técnico
Tipo de produto: Produtos tradicionais Produtos novos
Processo técnico e inovação: Mutações tecnológicas incrementais Salto tecnológico
Evolução da mão-de-obra: Contratação regular de mão-de-obra Contratação à curto prazo
Mobilização do capital: Mobilização interna de capital (redes familiares)
Mobilização interna e externa de capital
Fonte: Pecqueur (2000: 91).
Nos sistemas produtivos ditos “incubadores” as redes que estruturam as relações entre os
atores são redes profissionais, não familiares. O sistema se insere numa cultura urbana onde
os poderes públicos têm uma importância crucial como parceiros destes “pólos tecnológicos”.
São antes relações de aparelhos institucionais que inauguram e reforçam a vitalidade das redes
e que num segundo momento vêm aguçar as relações pessoais. A difusão dos projetos
industriais é um fenômeno interno às empresas, tendo sua origem dentro dos quadros. A
mobilização dos recursos estratégicos não se faz diretamente a partir de estruturas de
solidariedade social que circundam as empresas, mas a partir de práticas internas a elas,
induzindo, em seguida, solidariedades sociais. Desta forma, a cultura da empresa se substitui à
cultura familiar.
A extensão dos sistemas produtivos locais de industrialização difusa limita-se às zonas não
tocadas pela produção de massa, desde que as condições do ambiente sociocultural o
permitam. Em revanche, os sistemas “incubadores” podem se propagar em zonas de
reconversão, desde que o estoque de saber-fazer local seja redirecionado. De fato, nestas
zonas atingidas pelo fordismo já existe uma densidade mínima de população em meio urbano
e a cultura industrial já está presente (Pecqueur, 2000 : 92-93).
As características gerais dos sistemas produtivos locais encontram-se presentes nos seguintes
casos:
a) os setores representados, as tecnologias empregadas e os produtos são compatíveis com a
pequena dimensão das unidades de produção. Em geral, os produtos permitem a utilização
de um saber-fazer artesanal historicamente presente no sítio. Estes sistemas não se limitam
aos setores tradicionais, podendo se apresentar em setores de tecnologia de ponta;
b) o sistema de interdependência entre pequenas e médias empresas é bastante avançado,
estreito e complexo. Observamos uma divisão do trabalho muito avançada e um denso
sistema de trocas de serviços e de circulação de informações;
c) a produção desses sistemas é suficientemente importante para cobrir uma parte apreciável
da produção e das exportações nacionais;
d) a condição de densidade mínima da rede de empresas é muito importante, o que se verifica,
por exemplo, na Terceira Itália;
e) existência de uma miríade de pequenas e médias empresas, mas inexistência de empresa
líder;
f) especialização da produção em torno de um produto fundamental (Pecqueur, 2000 : 81-82).
A noção de sistema produtivo localizado não deriva apenas dos distritos industriais, mas
igualmente das recentes análises da economia industrial e da economia regional sobre a
inovação. Trata-se de uma abordagem que se opõe a uma concepção funcional do progresso
técnico, segundo a qual a inovação é definida por parâmetros técnicos que podem ser
aplicados em qualquer lugar e da mesma maneira. Podemos perceber a inovação de uma
maneira mais territorializada: é a criação de um meio social, é fruto da inventividade desses
meios e responde a uma necessidade de desenvolvimento local. As noções de distrito
industrial e de meio inovador (milieu innovateur) abraçam uma concepção evolucionista da
tecnologia que introduz a idéia de não-linearidade; ambas reconhecem a importância das
externalidades não-mercantis e dos efeitos da proximidade nos processos de inovação
(Courlet, 2001: 68-69).
A noção de sistema produtivo localizado é emprestada da economia industrial. Pode ser
definida como um conjunto caracterizado pela proximidade de unidades produtivas (no
sentido amplo: empresas industriais, de serviços, centros de pesquisa e de formação,
interfaces, etc.) que entretêm relações mais ou menos intensas. A densidade dessas ligações
depende antes de tudo da organização e do funcionamento do sistema de produção. As
relações entre essas unidades são variadas a apresentam-se sob diversas formas: formais,
informais, materiais, imateriais, mercantis e não-mercantis. Essas relações tratam de fluxos
materiais, de serviços, de mão-de-obra, de tecnologia ou de conhecimento. O conceito de
sistema produtivo localizado não é definitivo, susceptível de uma definição acabada e
unânime, mas é a tradução de fenômenos originais de desenvolvimento localizado (Courlet,
2001: 71).
Esta rápida exploração da análise em termos de SPL nos permite sublinhar como os conceitos
teóricos desenvolvidos por Alfred Marshall ecoam numa série de trabalhos contemporâneos
que descrevem estas realidades. Os SPL nos permitem entender o tipo de organização que une
as empresas em um território e explicar a natureza das externalidades geradas pela
proximidade. Entretanto, o SPL está longe de se constituir em um conceito, uma vez que
várias interpretações o atravessam. Não há desenvolvimento linear e determinista dos SPL.
Estes evoluem, transformam-se e desaparecem. Estão submetidos a tensões contínuas que
provêm tanto de seu ambiente externo quanto de suas transformações e contradições internas.
2.2.1. Principais características dos sistemas produtivos localizados
Essas propriedades e características dos sistemas produtivos localizados serão retomadas no
capítulo 6, quando formos discutir a aplicação destes conceitos ao nosso campo de
investigação empírica. Veremos, na referida seção, se estas características encontram-se
presentes no sítio estudado e, caso não se encontrem, porque. Ao longo desta subseção
veremos três características que se complementam às propriedades já discutidas no início da
seção.
A) Conjunto de estabelecimentos especializados
Os SPL caracterizam-se, em primeiro lugar, pela concentração e especialização de atividades
(produção e serviços) em um dado local e, freqüentemente, em empresas de pequeno e médio
porte. Este modelo concerne tanto os setores tradicionais (Terceira Itália) quanto os setores
avançados (zonas metropolitanas das regiões mais desenvolvidas). Nos SPL estabelece-se
uma divisão do trabalho e uma rede de interdependência entre as unidades. A origem desta
divisão do trabalho vai desde a busca por uma produção especializada, que uma empresa
apenas não é capaz de realizar, até o desenvolvimento de importantes economias de escala
(Courlet, 2001: 76).
B) Flexibilidade e economias de aglomeração
A flexibilidade produtiva está baseada na pequena dimensão das unidades de produção, na
densidade de relações entre as empresas e na rapidez de resposta das PME às novas condições
externas e internas. Mas esta flexibilidade também significa capacidade de adaptação às novas
tecnologias. Neste domínio, o pequeno porte das empresas e um sistema integrado de PME
parecem se constituir num fator favorável. Essa adaptação diz respeito às matérias utilizadas,
às novas técnicas e máquinas, à aplicação de novos serviços, à adoção de uma outra
organização, etc.
As economias de aglomeração provêm de quatro tipos de sinergia. O primeiro é conseqüência
de relações intensas entre as empresas locais, o que permite ampliar a divisão do trabalho e
aumentar a especialização, diminuindo o custo unitário de produção e possibilitando o
aumento da quantidade oferecida nos mercados nacionais e internacionais. O segundo tipo de
economia externa refere-se ao mercado de trabalho local organizado com uma alta mobilidade
de competências e de saber-fazer entre as empresas e um tipo de relação de trabalho fundado
no reconhecimento mútuo ligado ao meio social e profissional. O terceiro fator de economia
externa é o sistema de informações que se forma no espaço em questão, que garante a
circulação rápida de informações relativas ao mercado e à tecnologia, às novas matérias
primas e às novas técnicas financeiras e comerciais. Finalmente, devemos acrescentar os
elementos que fazem parte da estrutura de apoio ao conjunto das empresas e que dizem
respeito ao funcionamento do conjunto do SPL: atividades de apoio técnico, comercial,
financeiro, de formação e de pesquisa nos meios inovadores. Estes serviços são mobilizáveis a
partir da formação de redes de instituições que têm por vocação manter relações com as
empresas. Esse aprovisionamento de serviços constitui-se numa verdadeira economia externa
de organização a favor das empresas (Courlet, 2001: 77-79).
C) Mercado e reciprocidade
Os sistemas de empresas fortemente ancoradas em um território fazem apelo ao jogo
combinado de dois mecanismos de funcionamento:
- o mercado, mecanismo necessário de regulação da demanda e da oferta de bens;
- a reciprocidade, que consiste em uma troca de serviços gratuitos.
A reciprocidade diz respeito a uma relação que possui vida própria para além da transação
puramente comercial. Na sociedade contemporânea, as relações de reciprocidade estão
presentes na família, nas relações de amizade ou em certas formas de relações comunitárias
ou sociais. A reciprocidade remete à fidelidade, à gratuidade e à identificação. A
reciprocidade está enraizada na identidade coletiva (social) do agente, o que supõe que este
sentimento de identificação seja suficientemente amplo ao nível de uma coletividade e/ou de
um território (Courlet, 2001: 79).
Esta combinação entre o mercado e a reciprocidade define um modo de funcionamento
(regulação local) muito diferente daquele que regia o sistema de produção em massa. Este
jogo combinado entre mercado e reciprocidade intervém em vários níveis:
1) Em primeiro lugar, a dinâmica dos SPL está relacionada a um fenômeno coletivo de
tomada individual de risco: os indivíduos são incitados ao empreendedorismo por imitação,
por desejo de reconhecimento social ou por tradição, herdada das gerações anteriores.
2) O mercado de trabalho funciona efetivamente como um mercado regulado pelo jogo da
oferta e da demanda, mas isto no seio de relações de reciprocidade próprias aos SPL. A
informação e a aquisição de competências profissionais são condicionadas pelo fato de se
pertencer à comunidade. A formação e a identidade pessoal estão ligadas à aceitação por parte
de um grupo de produtores e ao domínio de conhecimentos profissionais.
3) Enfim, apesar das relações entre as empresas serem reguladas pelo mercado, o
reconhecimento mútuo, a partilha de um ofício e em alguns casos o parentesco permitem criar
um bom clima entre os negócios. A confiança recíproca e as transferências de conhecimento e
de informação facilitam o funcionamento do mercado, o que permite construir relações mais
sistemáticas e mais estáveis entre as empresas, de tal modo que estas relações não se resumem
a uma simples soma de compra e venda no mercado (Courlet, 2001: 78-80).
2.3. A noção de configuração produtiva local
A noção de configuração produtiva local é mais adequada, para o nosso estudo de caso, do
que as noções de distrito industrial ou de sistema produtivo localizado. Isto porque não
sabemos, à priori, que tipo de arranjo produtivo e institucional iremos encontrar em nosso
sítio. As noções de distrito industrial e de sistema produtivo localizado, já bastante utilizadas
na literatura para apontar casos bem sucedidos de desenvolvimento local, trazem consigo todo
um arcabouço de relações institucionais e produtivas que podem não se aplicar ao sítio
estudado, como veremos nos capítulos 5 e 6.
A estes conceitos estão atrelados uma alta densidade de relações interfirmas, um nível de
especialização produtiva aprofundado, uma articulação bastante desenvolvida entre as
empresas e o ambiente institucional local e, por fim, uma infra-estrutura de serviços
condizente com a dinâmica produtiva apresentada pelo distrito industrial ou sistema produtivo
localizado. Se os utilizássemos estaríamos vinculados à estrutura e ao desempenho econômico
apresentados por esses sistemas (ou distritos) sem saber, de antemão (antes da pesquisa de
campo), qual seria a realidade apresentada pelo sítio estudado.
Não querendo ficar preso a um conceito e às características que ele carrega, apresentamos
uma expressão que nos deixa livres para retratar a realidade econômica local investigada, o
seu quadro institucional e a relação existente entre esse ambiente institucional e as redes
sociais e produtivas verificadas in locu. Queremos, assim, deixar em aberto o que poderíamos
vir a encontrar na pesquisa de campo do sítio escolhido. Só após o conhecimento
proporcionado pela aplicação dos questionários (cujos resultados serão abordados no capítulo
5) e pelo estudo de campo poderemos classificar a realidade econômica e institucional
verificada.
Como já dissemos na Introdução Geral deste trabalho, as nossas hipóteses e nossos
pressupostos teóricos estão em grande parte atrelados ao Projeto de Pesquisa “As
transformações das configurações produtivas locais no Estado do Rio de Janeiro:
instituições, interações, inovações”, e por isso não hesitamos em tomar emprestado deste
projeto o conceito de configuração produtiva local (CPL):
“As CPL são entendidas simplesmente como conjuntos de atividades, de produção, comércio e serviços, situados em espaços de proximidade mais ou menos delimitada e empreendidas por empresas de tamanho modesto, eventualmente estruturadas em torno de empresas maiores. Essas empresas encontram-se envolvidas em uma problemática comum de desenvolvimento e sua dinâmica, real, mas que precisa ser retomada ou criada, supõe uma organização adaptada, o aumento das relações inter-empresas, uma melhoria na coordenação das atividades e a adoção de inovações de todos os tipos. É aliás esta conjunção de problemas e de desafios, mas também de perspectivas de solução, que explica a existência de projetos de apoio e de ações coletivas correlacionadas” (IE/IRD, 2000: 09).
Esta definição nos deixa um quadro de interpretação mais aberto para o que encontraremos
após a investigação de nosso objeto de estudo. Na mesma linha de investigação que é
proposta pelo projeto supracitado, se as relações verticais, as redes e a cooperação horizontal
não forem sistemáticas no campo investigado, refletindo uma baixa integração entre as
empresas e um ambiente institucional relativamente frágil, veremos em quais condições
poderá ser criada uma sinergia entre os agentes públicos locais, as empresas e as
representações da sociedade civil, o que será feito no capítulo 6 deste trabalho.
2.4. O papel das micro e pequenas empresas no desenvolvimento econômico local
Na introdução deste capítulo, relatou-se que a abordagem do desenvolvimento regional não
era nova e que ela foi, durante grande parte do século XX, ocultada pelo fordismo. Quando
nos referimos à abordagem do desenvolvimento regional, estamos nos referindo tanto ao
estudo das aglomerações industriais quanto ao estudo das pequenas e médias unidades de
produção, que já estavam presentes na passagem do capitalismo mercantil para o capitalismo
industrial.
O que discutiremos nessa seção é a importância das pequenas e médias empresas no
desenvolvimento econômico das nações ou de suas regiões. As pequenas e médias empresas
podem ser creditadas como o vetor do crescimento econômico? Elas são capazes, por si só, de
alavancar um processo de acumulação e de elevar as taxas de crescimento de um país ou de
uma região? Qual é o papel das pequenas e médias empresas no desenvolvimento econômico?
Muito se tem falado sobre a importância das pequenas e médias empresas na criação de
empregos e na sustentação do nível de atividade econômica em épocas de crise e de
reestruturação industrial. Fala-se também no dinamismo destas empresas, na facilidade com
que são criadas e no aumento expressivo de seu número, enquanto as empresas que possuem
grandes plantas industriais estariam desaparecendo e/ou fundindo-se. Dessa forma, com o
desemprego estrutural, as pequenas e médias empresas seriam as responsáveis pela criação de
empregos e pela sustentação do nível de atividade econômica.
Curiosamente, a retomada da discussão sobre a crescente importância das pequenas e médias
empresas coincide com um extenso período de estagnação econômica, e isto tanto nos países
centrais como no Brasil. Desde a década de 1980, as economias nacionais encontram-se
estagnadas, escasseiam-se os projetos de retomada do crescimento industrial e fala-se nas
pequenas e médias empresas como salvadoras dos níveis de emprego e da atividade
econômica.
Mas dificilmente encontra-se na literatura a defesa de uma correlação direta entre aumento do
número de pequenas e médias empresas e retomada do crescimento econômico em termos
sustentáveis e duradouros. Defender a hipótese de que as pequenas e médias empresas podem
se apresentar como vetores de um novo ciclo de crescimento para um conjunto de economias
nacionais seria uma tarefa árdua tanto do ponto de vista teórico quanto empírico. É o que se
tem tentado fazer quando se discute a questão da transferência do modelo de distritos
industriais, do qual o caso da Terceira Itália é paradigmático (mas neste caso trata-se de uma
profusão de pequenas e médias empresas em rede e com um longo tempo histórico de
maturação), para espaços regionais ou infranacionais alheios.
Independente da questão de se as pequenas e médias empresas podem iniciar um processo de
desenvolvimento econômico de longo prazo ou inaugurar um novo círculo virtuoso de
crescimento numa economia que hoje se encontra cada vez mais internacionalizada, vários
historiadores econômicos enfatizam a importância que tiveram as pequenas unidades de
produção no início da industrialização capitalista (Braudel, 1980; Chandler, 1977, 1990;
Landes, 1969; Weber, 1923).
As pequenas unidades de produção dominaram o cenário econômico durante os séculos XVIII
e XIX, passaram um período de latência na primeira metade do século XX e ressurgiram,
desde os anos 1970, sob a apelação moderna de PME. Ao longo da primeira metade do século
XX, o seu obscurecimento foi corolário do surgimento das formas modernas da grande
indústria, mas isto não significa que as pequenas e médias empresas tenham deixado de existir
ou que tenham deixado de ter um papel importante a desempenhar no florescimento e na
expansão da grande empresa verticalmente integrada.
Ao fazermos uma análise de longo prazo podemos reconstituir as rupturas e as continuidades
constitutivas das trajetórias dessas pequenas unidades de produção até as formas modernas
que hoje se convencionou chamar de PME, e que para muitos representa o “novo”, cuja
adesão deve ocorrer sob a forma de implantação de distritos industriais ou sistemas
produtivos localizados. As pequenas unidades de produção sempre fizeram-se presentes nas
mais distintas formas de produção capitalista, e sempre foram importantes para a sustentação
do emprego e do nível de atividade econômica. E, mais do que isso, para alguns historiadores,
essas pequenas unidades foram importantes para o surgimento, no século XX, das grandes
unidades de produção. Eles nos alertam para o fato de que as origens das pequenas empresas
remontam às origens do capitalismo, o que pode ser contextualizado na passagem do
feudalismo para o capitalismo. Estas pequenas unidades de produção ocuparam um lugar
central no que eles chamam de fase pré-industrial, já iniciada na Inglaterra em meados do
século XVIII. Esta fase pré-industrial, também chamada de proto-indústria ou industrialização
infante, corresponde à produção artesanal, sendo anterior à burocratização dos métodos de
trabalho, que viria a ser progressivamente adotada ao final do século XIX (Braudel, 1980;
Landes, 1969; Weber, 1923). 21
21 A pequena empresa tem no início a forma de uma pequena oficina a domicílio, seja ela artesanal, rural ou urbana. Constitui-se na matriz a partir da qual emergirá a empresa industrial e que abrigará em seguida as diferentes indústrias de tamanho mais importante. Esta mutação ocorreu lentamente. Para o período que vai da Idade Média até fins do século XVII, é certamente prematuro falar de “empresa”, pois as estruturas de produção dominantes desta época dizem respeito a autoprodução cotidiana ou à troca de excedentes nas proximidades, e a noção de mercado como espaço de valorização ainda está ausente. É necessário esperar o século XVIII para que apareçam os primeiros empreendedores capazes de organizar a produção e a distribuição, fazendo uso, principalmente, da mão-de-obra rural dispersa. São esses negociantes que exercerão o papel de coordenação entre os produtores e os clientes, iniciando o período de gestação do capitalismo que, em sua primeira forma, é mercantil. A maioria dos autores restringem a denominação de sistema proto-industrial à fase mais arcaica da produção artesanal, assimilado ao trabalho à domicílio disseminado nas áreas rurais (putting-out system). O termo pré-industrial é mais geral, dado que engloba o primeiro mas também as formas produtivas urbanas que concorrem a este tipo de exploração do trabalho. Os conceitos utilizados por Braudel (1980) também são reveladores da falta de fronteira clara entre estas formas produtivas: “indústria artesanal”, “indústria campesina” ou “indústria rural”.
A celebração atual das PME não pode ser vista nem como um puro e simples retorno ao
passado (sob a forma de uma eventual recuperação da produção artesanal ou comunitária),
nem como um produto exclusivo das reconfigurações produtivas e industriais do presente (sob
a forma de um novo paradigma que substituiria o modelo da produção em massa). É mais
produtivo, do ponto de vista científico, questionarmos sobre as sucessivas mutações pelas
quais passaram estas pequenas unidades de produção, as alterações em suas formas concretas
de produção, as mudanças atribuídas em sua importância para os processos de acumulação e,
sobretudo, o lugar que a elas foi destinado pelas instituições sócio-políticas e as mudanças de
enfoque que sofreram em virtude dos esforços de teorização que lhes foram consagrados.
Sob a ótica da história social da empresa, a pequena unidade de produção de fins do século
XVIII aparece como um local de ocupação doméstica, perpassando uma tradição
domiciliar/familiar, depois de patronato e patrimonial para enfim caracterizar-se como uma
relação social paternalista. Isto tudo antes de sua burocratização e profissionalização, na
virada do século XIX para o século XX. Esta forma paternalista de produção domiciliar
resiste durante muito tempo à ordem fabril, mas também à racionalização taylorista e ao
capitalismo financeiro ou gestionário, até que finalmente abandona o seu papel de regulação
social às grandes concentrações industriais monopolistas que se tornam, ao mesmo tempo,
instituições (Chandler, 1977).
Predominam então duas configurações de pequenas empresas: de um lado, uma forma que vai
ser progressivamente dominada e que consiste em minúsculas oficinas familiares, dispostas de
maneira aleatória. Constituem-se em um mestre, dois ou três agregados, um ou dois
aprendizes, trabalhando sob o teto onde vive apenas uma família ou em um conjunto de
pequenos estabelecimentos de caráter familiar ou artesanal, em unidades elementares ou
“monocelulares”, executando tarefas indiferenciadas ou contínuas que escapam em grande
parte ao mercado ou às normas habituais do lucro (Braudel, 1980).
De outro lado, sob uma forma progressivamente dominante, pequenas unidades de produção
que testemunham a entrada em cena dos primeiros empreendedores, que são os negociantes.
Estas unidades constituem-se no núcleo duro do trabalho a domicílio e consistem em oficinas
dispersas, mas ligadas através de um espaço mais ou menos homogêneo. O negociante, ao se
substituir ao senhor local ou à comunidade local, organiza, através da subcontratação, o
trabalho a domicílio e promove desta forma a comercialização ampliada da pequena produção
artesanal. Ele age como um “patrão-subcontratante”, impõe a sua ordem sem se misturar à
esfera da produção, avança as matérias-primas e deixa o artesão efetuar o trabalho de
transformação para vender sua produção final nos diferentes locais onde têm mercados e
feiras. O trabalho à domicílio se estende então à redes de oficinas corporativas ou familiares,
ligadas entre si pela organização mercantil que as domina e as anima. Podemos falar que se
trata de um sistema em rede que apresenta os primeiros traços de um capitalismo mercantil
que visa dominar, e não transformar o processo de produção artesanal.
Esta polarização, que não deve nos levar a esquecer as múltiplas configurações
intermediárias, é progressivamente acompanhada de uma divisão técnica, setorial e territorial
do trabalho, de uma crescente segmentação entre uma mão-de-obra artesanal e uma mão-de-
obra especializada, entre trabalhadores rurais e trabalhadores urbanos.
Este desenvolvimento simultâneo da indústria rural a domicílio (e das pequenas oficinas
urbanas) e das concentrações manufatureiras, que depois se tornam indústrias, constitui-se
ainda no século XIX uma marca característica da industrialização nos países centrais. Esta
coexistência marca uma interdependência, uma continuidade, e não uma ruptura. A indústria
rural ou a pequena oficina urbana é, sobretudo, uma pequena empresa ligada às exigências de
um mercado crescente e das manufaturas, que começam a proliferar no meio urbano. Tal é a
realidade da proto-industrialização: uma forma produtiva híbrida, de transição mas ao mesmo
tempo defasada e resistente, combinando um modo de produção doméstico com um mercado
capitalista em plena expansão.
Assim, ao longo dos séculos XVIII e XIX, aonde pouco a pouco vai se construindo a imagem
moderna da empresa, o papel econômico e o lugar social ocupado pela pequena unidade de
produção nunca deixou de evoluir. A partir de formas embrionárias de organização social da
produção, de auto-subsistência ou de proximidades baseadas no espaço doméstico, das aldeias
ou das corporações, estas unidades de produção evoluíram e resistiram o quanto puderam aos
imperativos da burocratização e da racionalização (Braudel, 1980 ; Weber, 1923).
Na virada do século XIX para o século XX, o que passa a existir de novo é a constituição da
grande empresa, a internalização das unidades produtivas, as novas modalidades de gestão e
de direção (burocratização, hierarquização, figura do manager), o novo lugar ocupado pela
subcontratação e as novas formas de dependência que se estabelecem entre as grandes e as
pequenas empresas. Em termos macroeconômicos, assistimos à emergência de novos setores,
o papel da ciência e da técnica e suas relações com a inovação e o crescente peso das
mobilizações financeiras necessárias para se inaugurar um processo produtivo. Mas este
processo de concentração está longe de ser linear e de repercutir de maneira indiferenciada
sobre todos os setores produtivos. Muito menos ele ocorre de maneira concomitante ou
simultânea em todos os países industrializados. 22
A partir dessa fase inicial de expansão da industrialização, o sistema produtivo entra num
sistema burocratizado, marcado pela adoção de novas tecnologias e de princípios tayloristas
de organização da produção. Progressivamente se instaura uma separação entre o antigo
dirigente proprietário e o novo manager. Novas formas de regulação e de controle social
emergem num sistema produtivo que passa a ser cada vez mais ordenado sob a forma de
contratos. Instaura-se pouco a pouco o modelo societário. O centro da regulação das relações
de trabalho pende das pequenas empresas fundadas em relações familiares e de proximidade
relacional, essencialmente comunitárias, para as grandes unidades de produção onde as
relações sociais, doravante em vias de institucionalização, são marcadas por um
aprofundamento das lógicas contratuais e societárias (Weber: 1921, 1923).
No século XX, com o florescimento do modelo fordista, a interação entre as pequenas
unidades de produção e as grandes empresas verticalmente integradas não deixou de
privilegiar estas últimas, cujas capacidades produtivas, modelos de gestão e compromissos
sociais passaram a impor o seu modo de funcionamento. Entretanto, fazendo uma releitura
crítica desta fase, podemos notar que mesmo neste período as pequenas e médias empresas
não deixaram de ter um papel importante, ao permitir que as grandes empresas se
concentrassem nas economias de escala enquanto elas cumpriam a função de variável de
ajuste, tanto em termos da pequena produção diferenciada, onde a grande escala não
penetrava, quanto em termos do ajustamento do nível de emprego nas inflexões econômicas
de curto prazo. Quantitativamente, as PME continuavam sendo majoritárias no tecido
produtivo das sociedades industriais. As pequenas empresas atuaram como um colchão
22 Neste sentido, sabemos que a Inglaterra e os Estados Unidos são pioneiros, enquanto França, Alemanha e depois o Japão experimentam uma industrialização tardia. Na França, por exemplo, o modelo da empresa familiar e patrimonialista persistirá e resistirá ao “sistema industrial” por muito mais tempo. Esse modelo francês, da empresa familiar-patrimonialista, avessa à racionalização, só viria a sucumbir após a segunda-guerra mundial, assim mesmo com uma forte intervenção governamental, que a partir daí passou a privilegiar, sem subterfúgios, a grande empresa verticalizada (Trouvé e Courault, 2000).
amortecedor no sistema de produção então dominante, fazendo prova de uma grande
capacidade de adaptação através da variedade de suas combinações produtivas. 23
Assim, durante os trinta anos gloriosos do fordismo, a grande empresa foi dominante e sua
forma de organização produtiva foi veiculada pelos atores econômicos, acompanhada e
reforçada pelos principais atores da regulação institucional e social: as organizações
profissionais e patronais, o aparelho do Estado, os sindicatos e os próprios teóricos
(especialmente os trabalhos iniciais da escola francesa da regulação) que quiseram divulgar
um modelo típico a ponto de mascarar a extrema diversidade do tecido produtivo. Entretanto,
releituras mais recentes do modelo fordista nos mostram que é exatamente a coexistência de
modelos estreitamente imbricados – um baseado na concentração da grande unidade
verticalmente integrada e outro na dispersão de pequenas unidades flexíveis de produção –
que tornou possível esse modo de acumulação, uma vez que as PME desempenharam um
papel central na realocação dos recursos humanos e materiais (Veltz, 1996). 24
O modelo do arquipélago de Veltz sugere a convivência de grandes unidades produtoras com
redes de pequenas e médias empresas nas mais diversas formas hierárquicas e padrões de
organização, e isto exatamente durante a fase áurea do fordismo. Nos esteios do modelo
dominante se dissimula a diversidade do tecido produtivo, prefigurando novas formas de um
modelo de desenvolvimento econômico alternativo.
Durante o fordismo, podemos dizer que, em termos de estratégia econômica e de
sobrevivência, as PME estão menos fixadas territorialmente do que integradas verticalmente
em estruturas setoriais dominadas por grandes empresas. É mais importante para elas fixar-se
a um setor ou a uma grande empresa, integrando-se a uma cadeia de valor ou a uma matriz
setorial, do que se fixar a um território. Entretanto, a partir da crise do fordismo e sob as
23 Convivem aí desde as pequenas unidades tradicionais de produção (familiares e independentes) até as pequenas e médias empresas subcontratadas. Mas a diversidade de outras formas de pequenas estruturas começa a ser objeto de investigação, destacando seja os modelos alternativos, como as “usinas rurais” e as cooperativas industriais, seja os modelos baseados nos distritos industriais à italiana ou nos sistemas produtivos localizados, que inauguram um novo esforço de teorização com a descoberta dos tecidos localizados de pequenas empresas. 24 A subcontratação foi uma prática muito comum mesmo nos anos de auge do fordismo. As grandes empresas dos setores dominantes da produção em massa des-localizaram a sua produção e as atividades de execução e montagem para regiões onde a mão-de-obra era mais barata e dominada por médias empresas (Lipietz, 1988; Veltz, 1996). Dessa forma, as PME subcontratadas foram uma característica marcante deste período, participando ativamente desta hierarquização espacial e da divisão territorial do trabalho. Estes autores mostram que há uma forte interdependência entre as PME e as grandes empresas dominantes do fordismo.
novas relações industriais que se estabelecem, as novas interdependências são mais
horizontais, enquanto as da fase fordista eram verticais e hierarquizadas. Essa mudança na
forma de interdependência entre as pequenas e médias empresas e as grandes consagra a
passagem do paradigma das PME subcontratadas ao das PME em rede (Trouvé e Courault,
2000).
O final do período de crescimento e a entrada em uma fase de crise, em meados dos anos
1970, vão marcar o “ressurgimento” das pequenas e médias empresas. O período pós-fordista,
que se inicia na segunda metade dos anos 1970, corresponde, historicamente, a uma nova fase
de prosperidade das PME. Essa reemergência se traduz por uma maior interdependência entre
as pequenas e médias empresas, de um lado, e as grandes empresas de outro, assim como por
uma miríade de configurações de PME que tornam qualquer tentativa de modelização difícil e
arriscada.
É justamente esta dificuldade em caracterizar um modelo único, que inclua em seus principais
contornos a importância atribuída às pequenas e médias empresas, mas sem deixar de
considerar o papel das grandes unidades de produção, que leva a uma confusão feita pela
literatura entre as PME de sobrevivência (aquelas que se situam na margem do sistema
dominante, empregando uma mão-de-obra menos qualificada, menos protegida e restrita ao
segmento secundário do mercado de trabalho mas que, apesar de tudo, asseguram a
flexibilidade do sistema) e as PME de base tecnológica (aquelas que derivam da identificação
de uma oportunidade de negócio, tanto sob o ponto de vista do mercado quanto sob o ponto
de vista tecnológico, e que introduzem inovações no sistema produtivo) (Hasenclever, 2003:
38).
A constatação desse “ressurgimento” das pequenas e médias empresas, ao qual nos referimos
no parágrafo anterior, deve fazer a distinção entre estes dois grupos de PME: aquelas que são
um subterfúgio para os náufragos da reestruturação industrial e as outras que estão baseadas
em genuínas janelas de oportunidade.
Neste sentido, as PME flexíveis e dinâmicas, que se inserem no segundo grupo, são bastante
diferentes das pequenas empresas que caracterizaram a fase proto-industrial e que não
resistiram ao movimento de concentração e agigantamento das unidades produtivas. Essas
novas PME não são organizações familiares de subsistência nem correspondem a sistemas de
putting-out que complementavam o sistema de comercialização pré-capitalista; elas são
empresas com estruturas burocráticas bastante desenvolvidas e que utilizam vários
instrumentos de tecnologias de informação e comunicação, atuando em redes que compensam
a sua desvantagem de tamanho. Por outro lado, as PME de sobrevivência, ao continuarem se
reproduzindo baseadas no trabalho familiar e se colocando apenas como uma alternativa à
falta de emprego, sem a participação de programas de apoio que visem o seu amadurecimento
e a sua inserção competitiva, continuarão a operar como se estivessem em um sistema arcaico
pré-industrial.
A maior parte das transformações em curso foi marcada por um redescobrimento das PME e
por uma série de questionamentos sobre o lugar que elas deveriam ocupar nos sistemas
produtivos emergentes, na oferta de emprego e nas formas pós-industriais da regulação social.
Duas ordens de considerações são em geral aventadas para explicar o seu papel no centro das
mudanças estruturais: de um lado, o movimento de desconcentração produtiva das grandes
empresas, assim como o imperativo da flexibilidade que emerge para fazer face a mercados
cada vez mais voláteis; de outro, a sua suposta capacidade de gerar novos empregos em
tempos de desemprego estrutural e de massa. 25
Na organização da produção que se configura a partir dos anos 1970, as economias de escala
importam menos do que as interações entre as unidades produtivas, interações estas que estão
na origem de novas fontes de eficiência coletiva. Trata-se menos de criar bens materiais em
grande quantidade do que criar e adicionar valor para clientes cujas necessidades são cada vez
mais diferenciadas, combinando recursos multilocalizados sem a constituição de estoques.
Donde os remanejamentos dos espaços de produção e de distribuição, nos quais as pequenas
estruturas assumem uma importância crescente e a organização sob a forma de redes se torna
ideal.
25 Para Aglietta (1997), o sucesso das PME deveria antes ser creditado às transformações do mercado de trabalho (desregulamentação dos direitos trabalhistas e flexibilização das normas de contratação e da relação salarial) do que à sua capacidade de agir como motor da reestruturação industrial. No que concerne as formas do contrato de trabalho vigentes nas pequenas e médias empresas, opera-se uma desconstrução da norma de emprego que vigorava na empresa fordista. Ainda no que concerne ao potencial de criação de emprego pelas pequenas e médias empresas, outros estudos (Boccara, 1997, 1998) têm demonstrado que são exatamente aquelas PME que evoluem em torno das grandes unidades de produção que criam ou mantêm a maior parte dos empregos. Por causa da complexidade das reconfigurações atuais por que passam os sistemas produtivos, torna-se quase impossível atestar cientificamente a contribuição específica das PME para o emprego. De fato, a redescoberta das PME não poderia se prestar a uma interpretação linear e unívoca. Se, por um lado, acentua-se a sua capacidade em gerar novas atividades e empregos, por outro, revela-se a sua crescente inserção em cadeias de valor e matrizes setoriais dominadas por grandes grupos e pela concentração financeira (Humphrey, 2003).
Com o passar do tempo, constatou-se que a flexibilidade organizacional e a maior capacidade
de reação das PME não se mostraram incompatíveis com a expansão da concentração
financeira e o aprofundamento do controle de várias pequenas e médias empresas por grandes
conglomerados industriais. Em vários casos, os processos de externalização produtiva tiveram
como finalidade rebaixar os custos das grandes unidades de produção, principalmente através
da subcontratação e da terceirização, o que levou a uma precarização das relações industriais
que pôde ser observada, por exemplo, nas indústrias automobilísticas e têxteis.
A alteração no quadro demográfico do porte das empresas deve-se em grande parte a um
processo de fragmentação das grandes empresas, não apenas através de sua externalização
(subcontratação), mas também através de reconfigurações produtivas internas, sob a forma de
abertura de filiais, franquias e outras sucursais. Este fenômeno de “Pmização” do aparelho
produtivo é, antes de qualquer coisa, de ordem demográfica e estrutural, resultado da
tendência a uma diminuição do tamanho médio das empresas e a uma diminuição do peso das
grandes empresas no emprego total, mas também reflexo do desenvolvimento de funções
terciárias ligadas à prestação de serviços. Este movimento se acompanha de um controle
crescente das grandes empresas sobre as pequenas, controle não só financeiro mas também
através da difusão de normas de gestão e de qualidade, prazos, preços etc. Assim, torna-se
impossível estudar as relações entre grandes grupos e pequenas empresas sem aprofundar a
questão de sua respectiva posição no sistema de produção.
Dentre essas diversas trajetórias possíveis, ao invés de um distanciamento ou de um abismo
que pudesse separar as pequenas e médias empresas das grandes, o que assistimos é a uma
progressiva complementaridade entre estes dois tipos de unidades produtivas, cuja noção de
rede seria a mais apropriada para traduzir este movimento de aproximação e de
interdependência entre as grandes empresas e as pequenas e médias. Entre dois cenários
extremos (de um lado, redes centralizadas a partir de uma grande empresa dominadora; de
outro, redes homogêneas e horizontais, com várias empresas de porte semelhante), teríamos
uma miríade de situações intermediárias: pequenas empresas independentes (self-
employment), micro empresas do comércio, serviços, artesanato ou da indústria.
É a apreciação dessas múltiplas interações interempresas que melhor pode dar conta da
dinâmica das PME no regime pós-fordista, quer elas dêem origem a sistemas hierarquizados,
quer dêem origem a formas de cooperação horizontal que podemos chamar de redes no
sentido estrito. É por isso que os dois modelos extremos descritos acima pertencem, ambos,
ao paradigma emergente da firma flexível em rede, seja este paradigma um produto de
relações de coordenação e de cooperação horizontais, inspirados no modelo localizado dos
distritos industriais ou da industrialização difusa, ou um produto da fragmentação dos grandes
grupos industriais.
As teorias nascentes das redes também distinguem dois modelos que correspondem às figuras
extremas que destacamos acima. O primeiro modelo mais hierarquizado, onde predomina uma
empresa pelo fato de seu tamanho, seu poder de mercado e/ou sua capacidade financeira. O
segundo modelo faz referência a uma cooperação mais horizontal, mais igualitária ou
constituída por firmas com um potencial semelhante, operando em um mesmo sítio geográfico
ou em uma mesma especialização. Nos dois casos, a flexibilidade está presente. 26
2.5. O ambiente institucional e o fortalecimento das micro e pequenas empresas
Como vimos na seção anterior, a organização de micro, pequenas e médias empresas em rede
é a melhor forma delas compensarem a ausência de economias de escala e as perdas advindas
da falta de concentração financeira. Estejam elas ligadas a uma grande empresa ou,
alternativamente, ligadas entre si sem a ingerência de uma firma maior, a sua organização na
forma de rede é a que melhor favorece a sua inserção competitiva e a sua capacidade de
inovação. Entretanto, a organização de PME em forma de rede deve estar articulada ao quadro
institucional do meio econômico em que estas empresas estão localizadas. As relações
interempresas (redes de empresas) são uma condição necessária, mas não suficiente para o
surgimento de uma dinâmica de reação autônoma por parte do território, como resposta à
pressão exercida pelas forças heterônomas. É necessário também que estas redes de empresas
estejam integradas a um ambiente institucional cujas características foram resumidas no
Quadro 2 (capítulo 1). Deve-se constituir, no território, relações suficientemente densas entre
o que chamamos de Aparato Regulador Local (composto pelos organismos interlocutores e as
estruturas de suporte) e a rede de empresas propriamente dita.
26 Disto não poderíamos deduzir que as configurações em rede são exclusivas das pequenas e médias empresas. Veltz (1996: 76) nos lembra que, no regime pós-fordista, as grandes empresas também operam entre si através de redes, e isto em função da própria economia de escala, uma vez que estas economias resultam cada vez menos da concentração pontual da produção do que de efeitos de coordenação e de integração de produtos, processos e bens de capital no seio de redes de empresas.
Em outras palavras, como foi discutido no capítulo 1, as redes de empresas devem buscar o
estabelecimento de relações sinérgicas com outras formas intermediárias de coordenação,
representadas pela sociedade civil (comunidades, associações e outras formas de relações
sociais formais e informais) e pelo ambiente institucional local. Desta forma, teremos um
ambiente caracterizado por relações sinérgicas entre o poder público local, as empresas e as
demais formas de representação da sociedade civil, cuja funcionalidade para o
estabelecimento de uma dinâmica de desenvolvimento endógeno, bem como sua aplicação
prática a este estudo de caso, poderão ser melhor compreendidos a partir da exposição da
parte empírica da tese (Parte II).
Por ora, nos limitamos a dizer que a densidade das relações interempresas, mas também das
relações entre as empresas e o quadro institucional local, bem como a fertilidade destas
relações para a criação de recursos locais específicos, reflete o estoque de capital social
presente em uma região (ou território). Os desenvolvimentos até aqui apresentados nos
credenciam para introduzir o conceito de capital social e suas possíveis (e esperadas)
contribuições à teoria do desenvolvimento econômico local.
2.5.1. A contribuição do conceito de capital social 27
Esta subseção será integralmente dedicada ao conceito de capital social. Em primeiro lugar,
faremos uma discussão sobre a relação entre capital social e desenvolvimento econômico, sem
deixar de qualificar o lugar ocupado pelas instituições (subseção 2.5.1.1). Em seguida,
adentraremos em conceitos mais precisos, como as definições do capital social, suas
propriedades e as formas que ele assume (subseção 2.5.1.2), para na subseção 2.5.1.3
discorrermos sobre as suas fontes (ou os ambientes institucionais propícios à sua criação). Na
subseção 2.5.1.4 faremos algumas discussões de caráter mais aplicado (sua adequação ao
campo de estudo e a sua operacionalização).
2.5.1.1. Capital social e desenvolvimento econômico
27 No que se refere à redação desta subseção sou especialmente grato ao colega de doutoramento da Universidade Montesquieu-Bordeaux IV, Nicolas Sirven, que me ajudou, numa etapa inicial da pesquisa, a ter mais clareza em relação ao conceito e a demarcar os objetivos e metas a serem alcançadas no que tange à contribuição do conceito de capital social.
O conceito de capital social, antiga idéia tocquevilliana que se referia à capacidade da
sociedade em auto-organizar-se e cujo uso estava restrito ao campo das ciências políticas,
passa a ser apropriado pelos economistas quando estes começam a perceber que fatores extra-
econômicos por vezes explicam melhor os diferentes níveis de desenvolvimento entre regiões
(Putnam, 1993) ou nações inteiras (North, 1990) do que os fatores estritamente econômicos. É
consenso entre uma parte dos economistas que fatores econômicos, mas também extra-
econômicos do desenvolvimento (tais como conhecimento, cultura, relações de poder, meio
ambiente, hábitos, rotinas e instituições), são variáveis que sempre estão presentes, mas que se
combinam de maneira diferente para cada contexto, além de suas inter-relações serem
desconhecidas. As relações de mútua dependência que se estabelecem entre essas variáveis
não podem ser captadas pelo olhar mecanicista e linear que ainda prevalece em boa parte das
ciências econômicas.
A introdução do conceito de capital social nos leva a repensar, por exemplo, a relação linear e
unívoca que os economistas estabeleceram entre crescimento econômico e desenvolvimento
econômico. Até os anos 1970, parece ter havido um certo consenso de que para haver
desenvolvimento o crescimento econômico deveria precedê-lo, numa clara relação de
causalidade entre crescimento e desenvolvimento (nesta ordem). Hoje está claro que o
crescimento econômico não leva ao desenvolvimento, e poderíamos até mesmo inverter esta
relação de causa e efeito, postulando que o desenvolvimento é um pré-requisito para o
crescimento econômico: sem atingir um certo nível de desenvolvimento social, as sociedades
têm grandes dificuldades para se expandir economicamente.
O conceito de capital social nos ajuda a entender a inversão desta relação de causalidade
(entre crescimento e desenvolvimento) e a captar os mecanismos e os fatores extra-
econômicos que contribuem para o desenvolvimento econômico e social, instituindo a
importância dos fatores institucionais para a compreensão das relações econômicas. Para
entender as razões pelas quais se deve trabalhar com o conceito de capital social é necessário
admitir que existe alguma coisa além do Estado e do mercado como formas de coordenação
dos agentes econômicos. Os teóricos do desenvolvimento devem admitir que existem outros
atores sociais e instituições (formais e informais) que se colocam como arranjos sociais
intermediários entre o Estado e o mercado, cujo conjunto pode ser chamado de forma
abrangente pelo nome de Sociedade Civil (compreendendo as comunidades, as associações e
as redes de relações formais e informais). A realidade social é composta de vários campos ou
“esferas” com racionalidades próprias, regidas por lógicas distintas.
Coleman (1990), um sociólogo que se apropriou do instrumental analítico utilizado pelo
mainstream econômico (trazendo o individualismo metodológico para o campo da sociologia)
preocupou-se em elaborar o conceito de capital social de tal forma que este o ajudasse a
resolver, teoricamente, os dilemas da ação coletiva (o velho problema do oportunismo e do
altruísmo no comportamento humano, que tantas discussões causaram entre os economistas).
Ele assume um construto de homem econômico semelhante ao usado pela economia clássica e
que seria posteriormente desenvolvido pela sua vertente liberal, baseado na premissa de que o
agente econômico age racionalmente e movido pelo interesse próprio. A partir destes
axiomas, Coleman postula que somente aquelas sociedades que detêm um alto nível de capital
social são capazes de resolver os seus dilemas de ação coletiva, pois este estoque de capital
social faz com que os agentes econômicos, mesmo que eles sejam racionais e maximizadores
de utilidade, prefiram cultivar a confiança e a cooperação nas suas relações econômicas a
observar apenas o seu interesse de curto prazo. Numa sociedade sem capital social,
prevaleceria o interesse imediato e o lucro de curto prazo.
Em termos metodológicos, Coleman têm consciência do caráter ainda embrionário do
conceito de capital social e aponta para a dificuldade de sua operacionalização:
“Se o capital social se tornará um conceito quantitativo tão útil para as ciências sociais como são os conceitos de capital financeiro, capital físico e capital humano ainda é uma questão em aberto; o seu valor atual repousa sobretudo em sua utilidade para análises qualitativas dos sistemas sociais e para análises quantitativas que adotam indicadores qualitativos.” (Coleman, 1990: 305-306).
No que se refere à relação entre o conceito de capital social e o desenvolvimento econômico
local, essa mediação passa pelo entendimento de que os fatores representados pela variável
capital social são específicos a um determinado contexto e território. Todos os fatores extra-
econômicos aos quais nos referimos acima, e que seriam um elemento a mais na explicação
do desenvolvimento (além das variáveis convencionais) são fatores que assumem funções e
relações específicas com outras variáveis atuantes em determinado contexto, funções e
relações que são intransponíveis para outros contextos. Portanto, a variável capital social, se
pretende captar todos os fatores extra-econômicos, deve estar inserida em um território. O
capital social seria a síntese das formas de reação autônoma observadas no território, formas
que foram tratadas na subseção 1.3.4.
Esses fatores extra-econômicos, por serem específicos a um contexto territorial dado, não são
redutíveis a variáveis gerais, não podendo tampouco compor uma teoria geral que identifique
satisfatoriamente os mecanismos de produção, manutenção e crescimento do capital social.
Muita pesquisa tem sido feita sobre as implicações de se ter ou não capital social, mas não
sobre como ele é produzido (Pantoja, 1999: 18-19).
Dado que o contexto mais fértil para o surgimento de empresas e instituições econômicas é
aquele que possui uma densa rede de relações interpessoais, situado em uma localidade com
vasta tradição comercial e recursos naturais e humanos abundantes, um determinado conjunto
de características, que denominaremos capital social, constitui-se num trunfo adicional e num
ativo específico de determinada localidade que, somado às tradições comerciais e históricas
locais e aos seus recursos econômicos, representará um impulso para o desenvolvimento
econômico local. 28
Desta forma, o conceito de capital social está na origem de redes de relações interpessoais e
de interações bem sucedidas. É o instrumento através do qual uma coletividade torna
endógeno o processo inovativo e alcança um alto grau de eficiência coletiva através da
geração e da difusão do aprendizado tecnológico que estimulam a competitividade das
pequenas e médias empresas (Schmitz, 1995). A consolidação do capital social no entorno de
uma localidade promove o surgimento de uma “infra-estrutura social empreendedora”
promotora do desenvolvimento econômico local (Flora et al., 1997).
2.5.1.2. Definições, propriedades e formas assumidas pelo capital social
A) Definições
28 Entendemos o capital social como sendo propriedade de uma comunidade cujos principais ativos são: engajamento civil, promoção da cidadania, participação de seus membros em associações de classe e um alto grau de confiabilidade, lealdade e reciprocidade entre os atores sociais participantes das redes de relações interpessoais. Esse capital social pode ser facilmente identificado em contextos econômicos, sociais e políticos sempre associados a comunidades fortes e identificadas com as suas tradições e a sua história.
Para Coleman (1990), cuja forma de abordagem já foi discutida acima, o capital social é
definido por sua função. Recursos estruturais imersos nas relações sociais são concebidos
como ativos (capital asset) para os indivíduos pertencentes a um determinado grupo social.
Esta carteira de ativos é por ele denominada de capital social. O capital social não é um
recurso único, mas é composto por uma soma de recursos que têm duas características em
comum: todos os seus elementos consistem em algum aspecto da estrutura social; e facilitam
ações dos indivíduos que estão dentro desta estrutura. Diferentemente de outras formas de
capital, o capital social está inserido na estrutura de relações entre pessoas. Não é uma
propriedade dos indivíduos nem está incorporado em utensílios físicos da produção (Coleman,
1990: 302). 29
Para Pantoja (1999), a definição dada por Coleman é válida na medida em que nos dá a
oportunidade de conceitualizar o capital social como um recurso social e relacional inerente às
redes sociais. Definindo o capital social funcionalmente em termos de fatores relacionais ou
estruturais, torna-se claro que os recursos ligados à existência de capital social são
condicionados pela história e pelo contexto, algo como constitutivo de uma determinada
localidade. Em outras palavras, o fenômeno descrito pelo conceito de capital social não é a-
histórico e universal, mas intangível, extremamente dinâmico e em contínua transformação.
Ainda para Pantoja, o capital social aloja-se nas estruturas sociais e não nos indivíduos,
preenchendo o espaço social em torno de indivíduos ou grupos, na medida em que é
intrínseco à estrutura social na qual estas relações estão inseridas. A definição de Coleman
seria ainda útil na medida em que inclui relações horizontais e verticais de indivíduos, grupos
de indivíduos, associações e organizações (Pantoja, 1999: 16-17).
Putnam (1993) estava preocupado em investigar as causas do atraso econômico do Sul da
Itália em relação ao Norte, e encontrou na forte participação cívica do Norte o elemento que o
diferenciaria do Sul, onde as relações eram hierárquicas e autárquicas. Assinalou que padrões
hierárquicos de organização da sociedade e formas autárquicas de resolução de conflitos
(regulação social) são dois obstáculos, por excelência, à produção, acumulação e reprodução
do capital social. Como percebeu Putnam, no Sul da Itália o clientelismo (como exemplo de
29 Edwards e Foley (1997) argumentam que a definição dada por Coleman, bastante funcional (o que implica que o capital social pode ser qualquer coisa que facilita a ação coletiva ou individual), torna difícil, senão impossível, separar o que o capital social é do que ele faz (Pantoja, 1999: 16).
relação hierárquica vertical) e a violência (como modo de regulação autárquica) são os
grandes exterminadores do capital social (Franco, 2001: 23).
Em sua definição do capital social podemos notar como Putnam é influenciado pela leitura
que ele faz de Coleman (1990), ao associar o conceito de capital social à capacidade de uma
sociedade em resolver os seus dilemas da ação coletiva. Entretanto, como o nível de análise
de Coleman é essencialmente microeconômico e Putnam quer explicar diferenças no
desempenho econômico entre duas regiões de maneira agregada, este último passa do nível
micro para o nível macro através de mediações que enfatizam a importância de instituições
intermediárias, como as associações, os governos regionais, os partidos políticos e até a
Igreja. Desta forma, para Putnam, o capital social encontra-se nas relações entre pessoas e
grupos de pessoas e as instituições intermediárias seriam os canais por onde se manifestariam
as diferentes formas de capital social. Vejamos a sua definição:
“A superação dos dilemas da ação coletiva e do oportunismo contraproducente daí resultante depende do contexto social mais amplo em que determinado jogo é disputado. A cooperação voluntária é mais fácil numa comunidade que tenha herdado um bom estoque de capital social sob a forma de regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica. Aqui, o capital social diz respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas (...) A confiança é um componente básico do capital social (...) A confiança promove a cooperação. Quanto mais elevado o nível de confiança numa comunidade, maior a probabilidade de haver cooperação. E a própria cooperação gera confiança (...) O capital social facilita a cooperação simultânea” (Putnam, 1993: 177-180). 30
Pantoja (1999), que fez um amplo estudo sobre duas comunidades mineradoras na Índia,
mostrou que estratégias ou políticas de redução da pobreza devem levar em conta o estoque
de capital social existente nas comunidades alvo, dando suporte às formas já existentes de
capital social e apoiando a criação de novas formas. O seu estudo, essencialmente qualitativo,
30 Edwards e Foley (1997) criticam a fragilidade do argumento de Putnam quando este diz que a “confiança é um componente essencial do capital social”, uma vez que ela “lubrifica a cooperação”. Segundo estes autores esta associação pode ser válida, mas ainda é um ponto de partida muito geral na procura pelas fontes do capital social. A análise de Putnam focalizaria excessivamente a confiança entre pessoas (interpersonal trust), dando pouca ênfase à confiança entre instituições. Particularmente não concordamos com esta crítica à Putnam. Este último faz referência, várias vezes, à confiança que a população deposita em instituições eleitas de forma democrática (notadamente os governos regionais e o parlamento). É bem verdade, entretanto, que Putnam não fala do Estado enquanto agente da mudança. Ainda para Edwards e Foley (1997), a confiança interpessoal pode ser um pré-requisito para relações de cooperação e para a ação coletiva, mas algumas formas particulares de intervenção governamental, por exemplo, podem abrir caminho para a cooperação econômica independentemente da confiança entre os agentes (Pantoja, 1999: 19). Segundo estes autores, seria um engano assumir que traços individuais como tolerância, confiança e o fato de pertencer à associações são indicadores consistentes do capital social, independente do contexto (Edwards e Foley, 1998; citados em Pantoja, 1999: 16).
focou-se sobre estratégias de redução da pobreza – através de dois projetos financiados pelo
Banco Mundial – baseadas no desenvolvimento de orientações voltadas para a comunidade.
Comparando a forma como essas duas comunidades receberam os projetos do Banco
Mundial, quais foram suas respectivas reações e formas de integração, Pantoja se preocupou
em entender como o capital social é criado, destruído e recriado ao longo dos processos de
desenvolvimento dessas comunidades, processos estes que são dinâmicos e cujos ciclos de
conflito e cooperação evoluem na medida em que as regras do jogo mudam e a confiança
social implode e explode, sendo constantemente fraturada e reconstruída. A sua definição de
capital social vai de encontro à definição de Putnam, e pretende-se mais ampla e complexa:
“o capital social é um recurso comum que pode facilitar o acesso a outros recursos (...) Seria inclusive algo extremamente limitador abordar o capital social focalizando exclusivamente o associativismo, as normas de reciprocidade e confiança e assumindo que o capital social sempre produz formas benéficas de engajamento cívico, ou, de forma análoga, postular que mais capital social é intrinsecamente bom para uma comunidade. Como nossa pesquisa sugere, cada forma de capital social pode ter efeitos diferentes e até mesmo contraditórios (...) A construção de capital social também engendra a construção e a reconstrução dos significados e das identidades sociais” (Pantoja, 1999: pp. vii e 2).
Segundo Pantoja, o capital social não pode ser entendido apenas como uma qualidade
exclusiva de grupos. As relações que se passam fora dos grupos e os recursos que os
indivíduos podem acessar através destas relações são negligenciados. As pessoas podem ter
muitas relações que estão fora do contexto de grupos e vários destes laços, que Granovetter
(1973) chamou de “laços frágeis” (weak ties) podem se constituir em fontes substanciais de
capital social. Neste sentido, índices de associativismo ou de participação em grupos tornam-
se medidas grosseiras e triviais de capital social. O fato de se pertencer ou não a um grupo não
pode ser tomado como base para a definição de capital social. O capital social pode ser mais
precisamente definido como um recurso social comum que facilita e/ou impede o acesso do
indivíduo a outros recursos sociais, econômicos ou naturais (Pantoja, 1999: 18).
Bourdieu (1980, 1986) é um sociólogo que procura, de alguma forma, dar um sentido
econômico para a noção de capital social. Em seu primeiro texto ele traça algumas “notas
provisórias” (esta expressão está no título do texto do autor) em direção a uma formulação
posterior e mais completa do conceito de capital social, que aparece em 1986. Este último
texto é, definitivamente, muito mais “economicista” do que o de 1980.
Desta forma, em 1980 ele associa o capital social ao pertencimento a uma rede durável de
relações, sem se preocupar com a funcionalidade do capital social (com que fins ele poderia
ser utilizado e que tipo de retorno econômico pode ser creditado à sua posse) e limitado aos
aspectos sociológicos e antropológicos de sua aquisição, manutenção e reprodução,
analisando o significado da posse de capital social em termos de relações de poder 31 e os
mecanismos de delegação e de representação dentro de um grupo social que possui grandes
estoques de capital social. Em seu texto de 1986, publicado na forma de um artigo em um
manual americano de Sociologia da Educação, Bourdieu está claramente preocupado com as
formas de transmissão e reprodução da riqueza (capital) entre as gerações de uma mesma
família. Em 1980, Bourdieu define o capital social da seguinte forma:
“Le capital social est l’ensemble des ressources actuelles ou potentielles qui sont liées à la possession d’un réseau durable de relations plus ou moins institutionnalisées d’interconnaissance et d’inter-reconnaissance; ou, en d’autres termes, à l’appartenance à un groupe, comme ensemble d’agents qui ne sont pas seulement dotés de propriétés communes mais sont aussi unis par des liaisons permanentes et utiles (...) Le volume du capital social que possède un agent particulier dépend donc de l’étendue du réseau des liaisons qu’il peut effectivement mobiliser et du volume du capital (économique, culturel et symbolique) possédé en prope par chacun de ceux auquels il est lié. Ce qui signifie que, quoiqu’il soit relativement irréductible au capital économique et culturel possédé par un agent déterminé ou même par l’ensemble des agents auxquels il est lié, le capital social n’en est jamais complètement independant du fait que les échanges instituant l’inter-reconnaissance supposent la re-connaissance d’un minimum d’homogénéité ‘objective’ et qu’il exerce un effet multiplicateur sur le capital possédé en propre” (Bourdieu, 1980: 02; negritos no texto original). “O capital social é o conjunto de recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de interconhecimento e de inter-reconhecimento; ou, em outras palavras, ao pertencimento a um grupo, como conjunto de pessoas que são não apenas dotadas de propriedades comuns mas que estão também unidas por laços permanentes e úteis (...) O volume de capital social que possui um agente particular depende então da extensão da rede de relações que ele pode efetivamente mobilizar e do volume de capital (econômico, cultural e simbólico) possuído por cada indivíduo ao qual este agente está ligado. O que significa que, ainda que ele seja relativamente irredutível ao capital econômico e cultural possuído por um agente determinado ou mesmo pelo conjunto de agentes aos quais ele está vinculado, o capital social não é nunca completamente independente do fato de que as trocas que instituem o inter-reconhecimento supõem o re-conhecimento de um mínimo de homogeneidade ‘objetiva’ e que ele exerce um efeito multiplicador sobre o capital possuído em espécie” (Tradução livre).
31 Variáveis políticas e as relações de poder devem constituir-se como uma parte central de qualquer definição de capital social. Uma das principais críticas de Tornquist (1998) é que o paradigma da sociedade civil/capital social, tal como desenvolvido recentemente, tem negligenciado a questão central das relações de poder. Questões de poder já eram centrais na definição original de Bourdieu (1986) sobre capital social (Pantoja, 1999: 18).
Portanto, neste primeiro texto o capital social está vinculado ao pertencimento a grupos
sociais e a redes de relações, sem nenhuma menção ao seu caráter fungível (propriedade de se
converter em outras formas de capital) ou rentista (provimento de um retorno monetário a um
capital acumulado). Ao definir desta forma o capital social, podemos nos perguntar porque
Bourdieu utiliza o termo capital. Uma das respostas está no fato de que, para ele, as redes
sociais são fontes de recursos para o indivíduo, o que nos leva a considerar o capital social
como um estoque constituído e armazenado graças às relações sociais. Uma outra resposta
possível reside na intenção do sociólogo em considerar a conversibilidade dos recursos sociais
atribuídos ao pertencimento a redes em outras formas de capital, essencialmente econômicas
ou monetárias: “O capital social é um atributo do indivíduo em um contexto social. Podemos
adquirir capital social por meio de ações intencionais e transformar o capital social em
ganhos econômicos convencionais” (Bourdieu, 1986).
Apesar dele não alterar a sua definição estrita de capital social em seu texto de 1986, neste
texto Bourdieu parece querer dialogar com a sociologia americana em seu próprio campo e
acaba tendo que fazer algumas concessões ao método de análise desta sociologia. Uma destas
concessões (e talvez a mais grave) foi revestir o capital social de uma propriedade de
conversibilidade, pois só assim ele poderia atingir o seu objetivo de atribuir ao capital social a
função de propiciar, às classes dominantes, uma estratégia alternativa, e por vezes mais
segura, de reprodução e de transmissão, entre duas gerações, de seu patrimônio e estoque de
riqueza. 32
32 Para Bourdieu, existem trocas não-mercantis (formas de trocas sociais que não são consideradas pela teoria econômica) que asseguram a conversão de tipos materiais de capital (o capital econômico strictu sensu) em formas imateriais, tais como o capital cultural ou o capital social. A conversão e a reconversão do capital econômico em outras formas imateriais de capital constitui-se numa estratégia de perpetuação do estoque de capital possuido por um agente qualquer. As formas materiais de capital podem apresentar-se – ou estarem metamorfoseadas – em suas formas imateriais (capital cultural ou capital social), menos visíveis, tangíveis ou apreensíveis do ponto de vista econômico e fiscal, tanto para os subgrupos concorrentes como para as instituições econômicas, políticas e arrecadadoras. Ficam claras as intenções teóricas de Bourdieu quando ele diz que a questão da arbitrariedade na apropriação da riqueza social aparece com maior nitidez durante o seu processo de transmissão de uma geração à outra, o que faz com que cada processo de transmissão seja ao mesmo tempo uma estratégia de busca de legitimidade e um ato que garanta uma apropriação privada e exclusiva. Quando a sociedade encontra meios institucionais de fragilizar os mecanismos de legitimação utilizados pela classe dominante para transmitir sua riqueza de uma geração à outra (como, por exemplo, através do imposto sobre grandes fortunas), questionando a automaticidade e a naturalidade da perpetuação da riqueza e do poder econômico, os detentores do capital têm o maior interesse em recorrer à estratégia de reprodução que melhor dissimula a transmissão entre gerações, apelando para as várias possibilidades de conversão e reconversão das formas materiais do capital para suas formas imateriais, mesmo que isto implique em perdas ou riscos: “The more the official transmission of capital is prevented or hindered, the more the effects of the clandestine circulation of capital in the form of cultural capital [and social capital] become determinant in the reproduction of the social structure” (“Quanto mais a transmissão legal de capital for regulada ou restringida, mais os efeitos
Entretanto, apesar deste prolongamento no uso do conceito de capital social pelo seu texto de
1986, ficaremos com a sua definição de 1980, a qual institui o capital social como o conjunto
de recursos que estão ligados à posse de uma rede durável de relações, o que faz do capital
social um atributo de um grupo de pessoas ou de redes de relações. É inegável que Bourdieu
identifica a rede como sendo a estrutura social de referência na qual o capital social é
construído, e propõe quantificar o capital social de um agente medindo o número de seus
contatos pessoais (sociais) e a capacidade desses contatos (redes) em fornecer recursos, como
pode ser depreendido da citação já feita acima: “O capital social que possui um agente
depende da extensão da rede de ligações que ele pode efetivamente mobilizar e do volume de
capital possuído por cada indivíduo ao qual este agente está ligado”. Apesar de Bourdieu
sinalizar, em seu texto de 1986, que esta rede de conexões é proporcional ao capital humano
possuído por um grupo de pessoas, partiremos da premissa de que mesmo naquelas
comunidades que têm um baixo estoque inicial de capital humano é possível desenvolver
formas maduras, positivas e virtuosas de capital social.
B) Propriedades e formas assumidas pelo capital social
Ao discorrer sobre as propriedades do capital social temos a possibilidade de refletir sobre
suas formas de manifestação, fazendo-nos refletir sobre o conceito e a sua aplicabilidade.
Com isto podemos identificar com maior facilidade aquelas sociedades que são mais
propensas a criarem e a desenvolverem formas amadurecidas de capital social. Constitui-se,
portanto, num passo importante para o diagnóstico da existência do capital social e sua
posterior operacionalização. Enquanto as propriedades dizem respeito a características que
são um tanto quanto intangíveis e mesmo abstratas, ao falarmos das formas assumidas pelo
capital social estaremos tratando de características mais concretas e passíveis de mensuração.
B. 1. Propriedades e características do capital social
Tendo em vista a discussão anterior sobre as definições do capital social, podemos concluir
que o capital social não é propriedade de um indivíduo (como as outras formas do capital
econômico), mas pertence e está presente nas interações sociais e nas redes de relações
da circulação clandestina de capital, nas formas de capital cultural e social, serão determinantes na reprodução da estrutura social”) (Bourdieu, 1986: 254).
interpessoais. É um ativo que pertence a uma determinada comunidade ou localidade. Mesmo
o mais qualificado indivíduo ou agente econômico precisa de outros parceiros para realizar e
executar projetos, sendo que a confiança, a lealdade e a boa intenção são ativos caros capazes
de proporcionar um fluxo de rendas futuras bem superior àquele proporcionado pela posse de
ativos fixos. Nascem então as relações de confiança entre vizinhos econômicos que operam
numa mesma área ou num mesmo setor de atividade.
De uma maneira mais geral, podemos destacar quatro propriedades do capital social:
a) Inalienabilidade: o capital social tem algumas propriedades que o distinguem dos bens
privados, divisíveis e alienáveis tratados pela teoria neoclássica. Uma delas é a sua
inalienabilidade. Embora seja um recurso que tenha valor no seu uso, ele não pode ser
facilmente trocado. Como um atributo da estrutura social na qual um indivíduo está inserido,
o capital social não é propriedade privada de qualquer uma das pessoas que dele se
beneficiam (Coleman, 1990: 315).
b) Bem público: uma segunda propriedade, que deriva de seu caráter de bem público, pode
ser melhor explicada comparando-o com o capital físico. Este é ordinariamente um bem
privado, e os direitos de propriedade possibilitam àquele que nele investe capturar os
benefícios que ele proporciona. Desta forma o incentivo para investir em capital físico não é
restringido, porque quem nele investe se apropriará de todo o benefício por ele proporcionado.
Para o capital humano, o mesmo acontece. Mas para a maioria das formas de capital social
isto não ocorre. Por exemplo, as estruturas sociais que tornam possível a emergência das
normas e das respectivas sanções ao seu não cumprimento podem por vezes não beneficiar as
mesmas pessoas cujos esforços foram necessários para trazer à tona tais normas e sanções.
Justamente porque vários dos benefícios decorrentes das ações que fazem emergir o capital
social são apropriados por pessoas outras do que aquelas que o fizeram emergir, muitas vezes
não é do interesse destas últimas fazê-lo emergir. O resultado disto é que muitas das formas
de capital social são criadas ou destruídas como um subproduto de outras atividades, que não
estão diretamente vinculadas à criação e/ou à destruição de capital social: “muito capital
social aparece ou desaparece sem ser o produto de nenhum desejo pessoal” (Coleman, 1990:
315-318). 33
Citando Coleman (1990: 317), Pantoja refere-se ao caráter muitas vezes não intencional do
ato de criação do capital social, o que se explica pela sua propriedade de ser um bem público:
“Social capital is an important resource for individuals and can greatly affect their ability to act and their perceived quality of life. They have the capability of bringing such capital into being. Yet because many of the benefits of actions that bring social capital into being are experienced by persons other than the person so acting, it is not to that person’s interest to bring it into being. The result is that most forms of social capital are created or destroyed as a by-product of other activities” (Pantoja, 1999: 19; nota de rodapé no 50). “Capital social é um importante recurso para indivíduos e pode afetar sobremaneira sua habilidade para agir e sua qualidade percebida de vida. Tais indivíduos têm a capacidade de fazer emergir este tipo de capital. Justamente porque vários dos benefícios decorrentes das ações que criaram capital social são experimentados por pessoas outras do que aquelas que tomaram a iniciativa de sua criação, não é do interesse destas últimas fazê-lo emergir. O resultado é que várias formas de capital social são criadas ou destruídas como um sub-produto de outras atividades” (Tradução livre).
c) Perecibilidade (depreciação): o capital social é uma destas formas de capital que se
depreciam com o tempo. Como o capital humano e o capital físico, o capital social se deprecia
se ele não é renovado. Relações sociais morrem se não são mantidas; expectativas e
obrigações desaparecem com o tempo; e normas dependem de uma comunicação regular
(Coleman, 1990). Esta característica de perecibilidade do capital social é reforçada por
Putnam quando ele afirma que:
“muitas das formas de capital social existentes – confiança, por exemplo – são o que Albert Hirschman denominou ‘recursos morais’, isto é, recursos cuja oferta aumenta com o uso, em vez de diminuir, e que se esgotam se não forem utilizados (...) Também outras formas de capital social, como as normas e as cadeias de relações sociais,
33 A idéia do autor é a de que ocorrerá freqüentemente investimentos sub-ótimos em capital social, já que este tem uma natureza eminentemente de bem público. É o que o autor chama de sub-investimento em capital social, devido às externalidades (positivas) que ele cria. Neste caso, o sub-investimento se explica pelo fato de que o retorno para a sociedade de um investimento feito em capital social é maior do que o retorno obtido pela pessoa (ou grupo de pessoas) que, individualmente (ou em grupo), fizeram o investimento inicial (Coleman, 1990: 316-317). Putnam também destaca a propriedade do capital social como sendo um bem público e podemos notar em sua passagem sobre este tema a clara influência que sobre ele exerceu o trabalho de Coleman: “Uma característica específica do capital social [confiança, normas e cadeias de relações sociais] é o fato de que ele normalmente constitui um bem público, ao contrário do capital convencional, que normalmente é um bem privado (...) Assim como todos os bens públicos, o capital social costuma ser insuficientemente valorizado e suprido pelos agentes privados (...) Isto significa que o capital social, à diferença de outras formas de capital, geralmente tem que ser gerado como subproduto de outras atividades sociais” (Putnam, 1993: 180).
multiplicam-se com o uso e minguam com o desuso. Por todos esses motivos, cabe esperar que a criação e a dilapidação do capital social se caracterizam por círculos virtuosos e círculos viciosos” (Putnam, 1993: 179).
d) Reprodutibilidade: esta quarta propriedade do capital social, destacada por Putnam
(1993), irá aproximá-lo sobremaneira da interpretação dada por Bourdieu (1980, mas
sobretudo 1986) ao conceito de capital social. Trata-se do fato, simples mas não evidenciado
pelos outros autores, do capital social possibilitar, àqueles que o possuem, o acesso a mais
capital social no futuro. Estamos falando aqui da acumulação de capital social: “Tal como
sucede com o capital convencional, os que dispõem de capital social tendem a acumular
mais” (Putnam, 1993: 179).
B. 2. Formas assumidas pelo capital social
Analisar as formas assumidas pelo capital social é o primeiro passo para entender como ele
pode ser criado ou promovido (fontes do capital social, que veremos na próxima subseção),
mas também constitui-se num caminho necessário para a sua operacionalização e mensuração.
O estabelecimento de indicadores do estoque de capital social existente em uma determinada
sociedade passa, antes, pelo entendimento das formas que este assume e dos ambientes sociais
e institucionais propícios à sua criação. Várias das formas assumidas pelo capital social
podem se constituir em indicadores de sua existência em uma sociedade, o que irá facilitar a
tarefa de sua operacionalização.
Entretanto, essas formas assumidas variam conforme as definições e as propriedades do
conceito e variam até mesmo em função do arcabouço teórico a partir do qual o conceito foi
construído. Desta forma, como poderemos ver no quadro a seguir, Coleman privilegiará as
formas do capital social que moldam e regulamentam relações bilaterais entre agentes
individuais, enquanto Pantoja dará mais ênfase a aspectos sociais e ao ambiente institucional
no qual grupos de indivíduos estão inseridos. Mas o que estas formas têm em comum, tanto
para um autor como para o outro, é que todas elas podem afetar a ação coletiva, a governança
e a performance econômica, e todas elas têm um papel na criação e na manutenção da
confiança social.
Algumas destas formas, inclusive, não têm limites claros e definidos. Indicaremos aqui dois
conjuntos de formas assumidas pelo capital social, e algumas formas pertencentes a estes dois
conjuntos poderão eventualmente se sobrepor ou estar inseridas em outras formas de capital
social. O primeiro conjunto refere-se à leitura do trabalho do Coleman (1990), enquanto o
segundo refere-se à leitura do autor Pantoja (1999). Esses tratamentos estão apresentados no
quadro a seguir:
Quadro 4: Formas assumidas pelo Capital Social, segundo Coleman (1990) (continua) Forma 1 : Forma 2 : Forma 3 : Forma 4 : Forma 5 : Forma 6 :
Obrigações e expectativas: Se A faz alguma coisa por B e confia que B irá compensá-lo no futuro, isto estabelece uma expectativa em A e uma obrigação da parte de B em não quebrar a confiança nele depositada por A. Esta obrigação pode ser entendida como uma promissória (“credit slip”) detida por A e a ser honrada, no futuro, por alguma prestação de B. Se A possui várias promissórias deste tipo, de várias pessoas com quem ele tem relações, então a analogia com o capital financeiro é direta: as promissórias constituem uma ampla carteira de créditos com os quais A pode contar se necessário (p. 306).
Potencial de informações: Uma importante forma de capital social é o potencial informativo inserido nas relações sociais. Informação é importante pois provê a base para a ação. Mas a aquisição da informação envolve custo, e um meio pelo qual a informação pode ser adquirida é usar relações sociais que são preservadas para outros propósitos (p. 310).
Normas e sanções efetivas: Quando uma norma real existe (os atores sociais sabem que ela será aplicada), ela se constitui numa forma poderosa – mas algumas vezes frágil – de capital social (p. 310).
Relações de autoridade: Se o ator A transfere para o ator B o direito de controlar algumas de suas ações, então B tem capital social disponível que se exprime na forma destes direitos de controle. Se um número suficientemente grande de atores transferiu direitos de controle similares para B, então B tem disponível um extenso conjunto de capital social, que pode ser concentrado em determinadas atividades (p. 311).
Organização social adequada: Associações e organizações são formadas para perseguir objetivos fixados pelos seus constituintes. Entretanto, depois de atingido o seu objetivo inicial, estas organizações podem vir a ser apropriadas por outro grupo de pessoas que têm outros objetivos, mas que usarão o capital social acumulado por estas associações quando elas perseguiram os seus objetivos iniciais. Assim, organizações que devem a sua existência a um conjunto preciso de metas e objetivos, podem ajudar a alcançar outros objetivos pertinentes a outro grupo de pessoas ou a um grupo mais extenso, sem que ela perca a sua característica constitutiva e fazendo desta associação um estoque de capital social a ser usado pela comunidade (pp. 311-312).
Organização intencional: O uso do conceito de capital social dependerá dele ser ou não visto como um subproduto de atividades que foram concebidas para outros propósitos (não com o objetivo específico de criar capital social). Pelo fato do capital social ser um bem público, muitas vezes há pouco ou nenhum interesse, por parte de indivíduos atomizados, em investir em capital social. A partir do momento em que uma organização produz um bem público (capital social), sua criação por um grupo de pessoas torna os seus benefícios disponíveis para outras pessoas, quer estas pessoas participem diretamente da organização ou não. É exatamente esta característica que fará com que o primeiro grupo de pessoas estarão menos propenso a criar uma organização deste tipo (p. 312).
Fonte: Coleman, 1990.
Quadro 4 (continuação): Formas assumidas pelo capital social, segundo Pantoja (1999) Forma 1 : Forma 2 : Forma 3 : Forma 4 : Forma 5 : Forma 6 :
Família e laços de amizade: Inclui a família matrimonial, a família estendida e está baseada em fortes laços consangüíneos e de afinidade.
Redes sociais e vida associativa: Inclui redes de indivíduos, grupos e organizações que unem indivíduos de diferentes famílias em atividades comuns para vários propósitos. Esta é a forma de capital social mais próxima à definição em termos de “redes de engajamento cívico” ou “associações locais”. Estas formas de capital social cobrem um amplo leque de arranjos horizontais formais e informais.
“Redes de redes”: São formadas de redes de organizações de vários setores da sociedade (ONGs, associações comunitárias, agências governamentais, firmas privadas etc.) que permitem combinar recursos e diferentes tipos de conhecimento e informação para se achar soluções de problemas mais complexos. Através destas redes são estabelecidos laços inter-setoriais público/privados, estabelecendo-se relações de suporte mútuo e de complementaridade. Esta forma de capital provê articulações horizontais e verticais entre associações e organizações.
Capital político: Inclui as normas e as redes que talham as relações entre a sociedade civil e o estado, permitindo à sociedade mediar os conflitos através de uma resposta efetiva às múltiplas demandas do cidadão. O capital político também está relacionado a arranjos institucionais informais que podem resultar em clientelismo, patrimonialismo ou exclusão, ou inversamente pode se traduzir na representação efetiva e participativa. Esta é a forma de capital social que pertence ao campo da ‘sociedade política’.
Quadro institucional e político: Inclui as regras e normas formais (leis, constituição, regulação, políticas) que regulam a vida pública. É o que tem sido geralmente identificado como capital social no nível macro. Tem uma espécie de natureza dupla, a partir do momento em que tanto pode induzir a criação de outras formas de capital social como se constitui, ele mesmo, um recurso que facilita ações coordenadas.
Valores e normas sociais: Inclui o amplo espectro das crenças culturais comuns a uma dada sociedade e os efeitos que tais crenças têm no funcionamento mais geral da sociedade. Crenças e valores suportam outras formas de capital social assim como representam as formas mais gerais e difíceis de serem definidas.
Fonte: Pantoja (1999).
É interessante notar que Putnam (1993) não faz nenhuma referência explícita em relação às
formas que assumem o capital social. Por isto não o incluímos no quadro acima. Entretanto,
ao longo do seu texto podemos perceber que ele destaca algumas características do sistema
social como sendo portadoras do capital social. Estas características, ou as formas assumidas
pelo capital social, segundo Putnam, são: (a) a confiança social ou generalizada, (b) as normas
sociais, (c) as cadeias formais e informais de relações sociais e (d) os sistemas de participação
cívica. Como Putnam tratará destas formas muito mais no sentido de se referir a um ambiente
propício à criação de capital social, falaremos destas características na subseção a seguir.
2.5.1.3. Fontes do capital social
Examinar as fontes do capital social significa identificar os terrenos mais propícios à sua
criação. À parte algumas características mais gerais que dizem respeito à estabilidade do
sistema político, à legitimidade das instituições, à propensão de uma população para cooperar,
aos padrões de organização e aos modos de governança de uma sociedade, podemos inferir
algumas características mais específicas que incentivam a criação e a formação de capital
social. Para Coleman (1990) estas características mais específicas seriam a lealdade e a
confiança depositadas entre as pessoas em uma sociedade, enquanto para Putnam (1993) estas
características referem-se às regras de reciprocidade e aos sistemas de participação cívica.
Assim, para Coleman, o capital social é criado quando
“... relações entre pessoas se transformam de modo a facilitar sua ação (...) O capital social é ainda menos tangível [do que o capital físico e o capital humano], pois está incorporado em relações entre pessoas. Capital físico e capital humano facilitam a atividade produtiva, assim como o capital social. Por exemplo, um grupo cujas pessoas manifestam lealdade e depositam confiança uns nos outros será capaz de realizar bem mais do que outro onde não exista lealdade e confiança” (Coleman, 1990: 304; negrito no original).
Como fatores gerais Coleman enfatiza a estabilidade política e social, a propensão a cooperar
(que ele chama, impropriamente, de ideologia) e o grau de dependência que se estabelece
entre os indivíduos de uma sociedade:
“Um segundo fator que afeta a criação e a destruição de capital social é a estabilidade da estrutura social. Todas as formas de capital social dependem de estabilidade. A perturbação da organização social ou das relações sociais podem ser altamente destrutivas ao capital social (...) Um terceiro fator que afeta a criação e a destruição de capital social é a ideologia. Uma ideologia pode criar capital social quando ela impõe a um indivíduo que ele aja em benefício de algo ou alguém que não ele próprio. Existem
também ideologias que podem afetar negativamente a criação de capital social. Uma ideologia da auto-suficiência pode inibir a criação de capital social (...) Embora vários outros fatores possam afetar a criação e a destruição de capital social, apenas uma categoria mais ampla nos é especialmente importante. Trata-se da categoria de fatores que tornam as pessoas menos dependentes umas das outras. A opulência é um elemento importante desta categoria; fontes públicas de apoio em tempos de escassez constitui-se em outro elemento. A presença destas alternativas faz com que qualquer capital social criado se deprecie e não seja renovado (...) Quanto mais as pessoas chamam umas às outras para ajudá-las [clamam por ajuda], maior será a quantidade de capital social criado. Quando, por causa da opulência, ajuda governamental, ou por algum outro fator, as pessoas precisam menos umas das outras, menos capital social é criado” (Coleman, 1990: 320-321).
Para Putnam (1993), sociedades nas quais os indivíduos têm um alto grau de engajamento
cívico são as que apresentam os maiores índices de capital social. O engajamento cívico, por
sua vez, está ligado às tradições que uma comunidade possui em se associar e em formar
redes de relações horizontais (tanto com os seus semelhantes quanto com os seus
representantes nos governos e nas assembléias), ao invés de primar pelas relações verticais
hierárquicas. Assim, para se criar capital social as sociedades devem estar prontas a estimular
a confiança social entre seus membros. A criação da confiança social, que por sua vez é a base
do capital social, depende de duas fontes: (a) das regras de reciprocidade (ou regras sociais), e
(b) dos sistemas de participação cívica.
As regras de reciprocidade são incutidas e sustentadas seja pelo condicionamento e
socialização (regras internas), seja pelas normas e sanções (regras externas). Existem dois
tipos de reciprocidade, a reciprocidade balanceada (ou específica) e a reciprocidade
generalizada (ou difusa). Para Putnam, é a reciprocidade generalizada que será a responsável
pela criação de capital social:
“a reciprocidade generalizada diz respeito a uma contínua relação de troca que a qualquer momento apresenta desequilíbrio ou falta de correspondência, mas que supõe expectativas mútuas de que um favor concedido hoje venha a ser retribuído no futuro (...) A regra da reciprocidade generalizada é um componente altamente produtivo do capital social (...) As comunidades em que esta regra é obedecida têm melhores condições de coibir o oportunismo e solucionar os problemas da ação coletiva” (Putnam, 1993: 182).
Já os sistemas de participação cívica representam todas as associações que se constituem em
palcos por excelência do exercício cívico. Esses sistemas criam capital social ao:
a) aumentar os custos potenciais para o transgressor em qualquer transação individual;
b) promover sólidas regras de reciprocidade;
c) facilitar a comunicação e melhorar o fluxo de informações sobre a confiabilidade dos
indivíduos;
d) na medida em que corporificam o êxito alcançado em colaborações anteriores, criando
assim um modelo culturalmente definido para futuras colaborações;
e) na medida em que englobam diferentes categorias sociais e, portanto, promovem uma
cooperação mais ampla.
Para Putnam,
“Os sistemas de participação cívica, assim como as associações comunitárias, as sociedades orfeônicas, as cooperativas, os clubes desportivos, os partidos de massa e similares ... representam uma intensa interação horizontal: quanto mais desenvolvidos forem estes sistemas numa comunidade, maior será a probabilidade de que seus cidadãos sejam capazes de cooperar em benefício mútuo” (Putnam, 1993: 183).
Podemos listar, a seguir, o que Putnam considera os indicadores de uma comunidade cívica
(as virtudes e as características de uma comunidade cívica):
a) Participação cívica e observância da lei (sistema de normas e sanções):
“numa comunidade cívica, a cidadania se caracteriza primeiramente pela participação nos negócios públicos. O interesse pelas questões públicas e a devoção às causas públicas são os principais sinais de virtude cívica (...) O significado básico da virtude cívica parece residir em um reconhecimento e uma busca perseverante do bem público à custa de todo interesse puramente individual e particular (...) Na comunidade cívica os cidadãos procedem corretamente uns com os outros e esperam receber em troca o mesmo tratamento (...) Nas regiões cívicas os cidadãos demonstraram maior confiança social e maior fé na disposição de seus concidadãos para obedecer à lei do que nas regiões menos cívicas (...) A vida coletiva nas regiões cívicas é facilitada pela expectativa de que os outros provavelmente seguirão as regras. Sabendo que os outros agirão assim, o mais provável é que o cidadão faça o mesmo, satisfazendo assim às expectativas deles” (Putnam, 1993: 101-124).
b) Igualdade política:
“na comunidade cívica, a cidadania implica direitos e deveres iguais para todos. Tal comunidade se mantém unida por relações horizontais de reciprocidade e cooperação, e não por relações verticais de autoridade e dependência. Os cidadãos interagem como iguais, e não como patronos e clientes ou como governantes e requerentes” (Putnam, 1993: 102).
c) Solidariedade, confiança social, honestidade e tolerância:
“As relações de confiança permitem à comunidade cívica superar mais facilmente o que os economistas chamam de oportunismo [dilemas da ação coletiva], no qual os interesses comuns não prevalecem porque o indivíduo, por desconfiança, prefere agir isoladamente e não coletivamente. Análise recente sobre iniciativas comunitárias na América Latina ressalta a importância social da cooperação local e da mobilização
política justamente por contribuírem indiretamente para combater o isolamento e a desconfiança mútua” (Putnam, 1993: 103).
d) Associações enquanto estruturas sociais de cooperação:
“Certas estruturas e práticas sociais incorporam e reforçam as normas e os valores da comunidade cívica. Neste campo, o teórico social mais importante continua sendo Alexis de Tocqueville. Ao analisar as condições sociais que sustentavam a democracia na América, Tocqueville atribuiu grande importância à propensão dos americanos para formar organizações civis e políticas (...) Diz-se que as associações civis contribuem para a eficácia e a estabilidade do governo democrático (...) As associações incutem em seus membros hábitos de cooperação, solidariedade e espírito público (...) Os membros das associações têm mais consciência política, confiança social, participação política e ‘competência cívica subjetiva’. A participação em organizações cívicas desenvolve o espírito de cooperação e o senso de responsabilidade comum para com os empreendimentos coletivos” (Putnam, 1993: 103-104).
Para Pantoja (1999), a questão da criação do capital social – por este ser intrínseco e ao
mesmo tempo um produto da institucionalização das relações sociais em uma dada estrutura –
passa pela institucionalização das relações sociais. Embora atores sociais específicos
(corporações ou associações) possam intencionalmente criar capital social, este também pode
ser produzido ou destruído como resultado de outras atividades. Pantoja enfatiza ainda que a
capacidade da sociedade civil em produzir e destruir capital social é influenciada de modo
importante pelo contexto social, político e econômico de uma dada localidade. A questão
principal é determinar quais são os fatores e os agentes que ajudam a criar ou a destruir o
capital social e quais são as políticas e os atores em melhor posição para promover o capital
social (Pantoja, 1999: 19-20).
Para Bourdieu (1980; 1986) a questão da criação de capital social está muito mais ligada às
estratégias individuais de reprodução econômica e de perpetuação do status e das relações de
poder. A criação de capital social é produto de um investimento orientado de forma
consciente ou inconsciente para a reprodução de relações sociais suscetíveis de serem
utilizadas, no futuro, sob uma ótica econômica:
“Le réseau de liaisons est le produit de stratégies d’investissement social consciemment ou inconsciemment orientées vers l’institution ou la reproduction de relations sociales directement utilisables, à court ou à long terme, c’est à dire vers la transformation de relations contingentes, comme les relations de voisinage, de travail ou même de parenté, en relations à la fois nécessaires et électives, impliquant des obligations durables subjectivement ressenties ou institutionnellement garanties (...) La reproduction du capital social est tributaire d’une part de toutes les institutions visant à favoriser les échanges légitimes et à exclure les échanges illégitimes en produisant des occasions, des lieux ou des pratiques rassemblant de manière apparemment fortuite des
individus aussi homogènes que possibles sous tous les rapports pertinents du point de vue de l’existence et de la persistance du groupe; et d’autre part du travail de sociabilité, série continue d’échanges où s’affirme et se réafirme sans cesse la reconnaissance et qui suppose, outre une compétence spécifique et une disposition, acquise, à acquerir et à entretenir cette compétence, une dépense constante de temps et d’efforts (qui ont leur équivalent en capital économique) et aussi, bien souvent, de capital économique” (Bourdieu, 1980 : 2-3). “A rede de ligações é o produto de estratégias de investimento social consciente ou inconscientemente orientadas para a instituição ou a reprodução de relações sociais diretamente utilizáveis, a curto ou a longo prazo, ou seja para a transformação de relações contingenciais, como as relações de vizinhança, de trabalho ou mesmo de parentesco, em relações ao mesmo tempo necessárias e eletivas, implicando obrigações duradouras subjetivamente ressentidas ou institucionalmente garantidas (...) A reprodução do capital social é tributária, por um lado, de todas as instituições que visam favorecer as trocas legítimas e a excluir as trocas ilegítimas, produzindo ocasiões, eventos ou práticas que reúnem de uma maneira aparentemente fortuita indivíduos tão homogêneos quanto possível sob todas as relações pertinentes do ponto de vista da existência e da persistência do grupo ; de outro lado, do trabalho de sociabilidade, série contínua de trocas onde se afirma e se reafirma sem cessar o reconhecimento e que supõe, além de uma competência específica e de uma disposição, adquirida, em conquistar e em manter esta competência, um gasto constante de tempo e de esforço (que têm seu equivalente em capital econômico), mas também, quase sempre, de capital econômico” (Tradução livre).
Aqui podemos observar uma diferença entre Bourdieu e os autores americanos que tratam do
capital social. Enquanto estes estão preocupados em mostrar como a criação voluntária de um
alto estoque de capital social é uma condição para a emergência de uma reciprocidade
generalizada e para uma situação de bem estar coletivo, Bourdieu (1986) fala da reprodução
do capital social como uma estratégia de perpetuação, pelas classes dominantes, de seu
estoque de riqueza e de poder econômico.
Terminamos aqui a nossa contribuição, mais teórica e abstrata, sobre o conceito de capital
social, que se desenvolveu sob a forma de uma resenha crítica dos principais autores que
tratam o conceito. Essa discussão foi inserida num tema mais amplo que é o do ambiente
institucional responsável pelo fortalecimento das micro e pequenas empresas, que por sua vez
articula-se com outras formas intermediárias de coordenação que são as próprias redes de
empresas, o poder público local e as representações da sociedade civil.
2.5.1.4. As aplicações do conceito de capital social
Nesta subseção iremos confrontar duas hipóteses que se fazem presentes na literatura sobre o
capital social. A primeira refere-se à hipótese do determinismo histórico de Putnam (1993); a
segunda refere-se à hipótese do construtivismo social de Evans (1996). Enquanto a primeira
dialoga com a escola americana do associativismo, cuja ascendência podemos remeter a
Alexis de Tocqueville, a segunda hipótese nos remete a um diálogo entre a nova sociologia
econômica e o velho institucionalismo.
A hipótese do determinismo histórico pretende que o estoque de capital social existente em
uma sociedade seja o resultado de um longo processo de acumulação que se auto-reforça a
cada fato histórico, político ou social novo, o que acaba criando um círculo virtuoso de
engajamento cívico, bom desempenho econômico e legitimação das instituições, o que por
sua vez reforça ainda mais os sistemas de participação cívica. Tem-se então uma espécie de
subordinação à trajetória (path dependency), na qual as sociedades que apresentam (desde a
sua constituição na época moderna) sistemas democráticos de representação, fortes vínculos
horizontais e modos não-autárquicos de resolução de conflitos formam instituições fortes que
se legitimam com o tempo e reforçam os sistemas de participação cívica.
Segundo esta interpretação, o estoque de capital social de uma determinada sociedade seria
um legado histórico que dificilmente pode ser construído em períodos curtos de tempo. Disto
se depreende que sociedades arcaicas, cujas relações sociais sejam fortemente marcadas pela
hierarquia e que utilize modos autárquicos de resolução de conflitos, incentivando o
clientelismo e o assistencialismo, não são sociedades capazes de produzir boas instituições
nem tampouco de criar hábitos, rotinas e convenções que promovam regras de reciprocidade e
confiança generalizada. Tais sociedades possuem um baixo estoque de capital social ou, até
mesmo, um estoque de capital social no sentido negativo do conceito, o que promove a
apropriação da riqueza social por um grupo fechado que detêm o poder e o comando destas
sociedades. Ambas as situações, opostas, são situações de equilíbrio social que perduram e
que tendem a auto-reforçar-se com o tempo. Não existem, para esta linha de argumentação,
pontos de bifurcação que permitem a passagem de uma trajetória à outra.
Já a hipótese de construtivismo social admite esta passagem. Uma sociedade pode construir
boas instituições a partir do engajamento de sua população em programas de apoio que visem
a reformulação destas instituições. Existem pontos de bifurcação, que podem ser originados
por fatos históricos, políticos e econômicos, externos ou não ao ambiente sócio-produtivo,
que podem significar a passagem de uma trajetória à outra, de um círculo vicioso a outro
virtuoso. Apesar desta transformação exigir uma certa maturação das instituições locais, o que
implica a passagem do tempo, o que está em jogo para a tese do construtivismo é que esta
passagem não está condicionada a uma dotação prévia de capital social acumulado. Como
veremos a partir do item B abaixo, pequenas ações de integração social, ações que promovam
a sinergia entre o poder público local e a sociedade civil, esta representada tanto pelas suas
instituições informais como pelas redes de relações existentes em seu território, são capazes
de promover a criação de capital social e de legitimar, progressivamente, suas instituições.
A) A hipótese do determinismo histórico de Putnam
Resumindo a argumentação de Putnam (1993), em todas as sociedades os dilemas da ação
coletiva obstam as tentativas de cooperar em benefício mútuo, seja na política ou na
economia. A coerção de um terceiro (o Estado) seria uma solução inadequada para esse
problema e a cooperação voluntária depende do capital social acumulado. As regras de
reciprocidade generalizada e os sistemas de participação cívica estimulam a cooperação e a
confiança social porque reduzem os incentivos a transgredir, diminuem a incerteza e fornecem
modelos para a cooperação futura. Os estoques de capital social, como confiança, normas e
sistemas de participação cívica, tendem a ser cumulativos e a reforçar-se mutuamente. Os
círculos virtuosos redundam em equilíbrios sociais com elevados níveis de cooperação,
confiança, reciprocidade, civismo e bem-estar coletivo. Eis as características que definem a
comunidade cívica.
Por outro lado, a inexistência dessas características na comunidade não-cívica também é algo
que tende a auto-reforçar-se. A deserção, a desconfiança, a omissão, a exploração, o
isolamento, a desordem e a estagnação intensificam-se reciprocamente num miasma sufocante
de círculos viciosos. Tal argumentação sugere que deve haver pelo menos dois equilíbrios
gerais para os quais todas as sociedades que enfrentam os problemas da ação coletiva tendem
a convergir e que, uma vez atingidos, tendem a auto-reforçar-se (Putnam, 1993: 186-187).
Putnam parece insistir na hipótese de que existem dois equilíbrios sociais que são estáveis e
contínuos ao longo do tempo, pois são retroalimentados. Ao mesmo tempo, estas duas
trajetórias são opostas e levam as respectivas sociedades a caminhos opostos, como se as suas
convenções, rotinas, hábitos e modos de resolução de conflitos fossem estabelecidos de uma
só vez. De fato, a seguinte passagem de Putnam nos mostra como a sua argumentação é
bastante linear e determinista, não havendo espaço para alterações de rotina ou mudança nas
regras:
“Tanto ‘desertar sempre’ quanto ‘retribuir ajuda’ são convenções fortuitas, ou seja, regras que se desenvolveram em certas comunidades e que, tendo-se desenvolvido desta forma, são estáveis, mas poderiam ter-se desenvolvido diferentemente. Em outras palavras, tanto reciprocidade/confiança quanto dependência/exploração podem manter unida a sociedade, mas com diferentes níveis de eficiência e desempenho institucional. Uma vez inseridos num desses dois contextos, os atores racionais têm motivos para agir conforme suas regras. A história determina quais desses dois equilíbrios estáveis irá caracterizar uma dada sociedade. Assim, momentos históricos decisivos podem ter consequências extremamente duradouras (...) Por reagirem racionalmente ao contexto social que lhes foi legado pela história, os indivíduos acabam reforçando as patologias sociais. Teóricos da história econômica apelidaram recentemente esta característica dos sistemas sociais de ‘subordinação à trajetória’: o lugar a que se pode chegar depende do lugar de onde se veio, e simplesmente é impossível chegar a certos lugares a partir de onde se está. A subordinação à trajetória pode produzir diferenças duradouras entre o desempenho de duas sociedades (...) O contexto social e a história condicionam profundamente o desempenho das instituições. Quando o solo regional é fértil, as regiões sustentam-se das tradições regionais, mas quando o solo é ruim, as novas instituições definham. A comunidade cívica tem profundas raízes históricas” (Putnam, 1993: 188-192).
Douglas North (1990) é outro autor que partilha, senão da tese do determinismo histórico, ao
menos da argumentação de que as más instituições criam vícios que ficam arraigados nas
práticas sociais. Empregando o termo “instituição” em sentido amplo para designar “as regras
do jogo numa sociedade”, North assinala que os modelos institucionais tendem a auto-
reforçar-se, mesmo quando são socialmente ineficientes. Primeiro, quase sempre é mais fácil
para um agente individual adaptar-se às regras do jogo vigentes do que tentar modificá-las. Na
verdade, tais regras costumam induzir à formação de organizações e grupos interessados em
suas imperfeições. Segundo, depois que o desenvolvimento toma determinado rumo, a cultura
organizacional, os costumes e os modelos mentais do mundo social reforçam essa trajetória. A
cooperação ou a omissão e a exploração tornam-se entranhadas. As regras informais e a
cultura não só mudam mais lentamente do que as regras formais, como tendem a remodelá-
las, de modo que a imposição externa de um conjunto comum de regras formais acarreta
resultados amplamente divergentes (Putnam, 1993: 189).
Críticas à tese do determinismo histórico e à escola americana do associativismo
Putnam enfatiza a natureza histórica do processo de acumulação de capital social, dizendo que
o capital social resulta de uma dotação inicial e depende de uma trajetória cumulativa. O
capital social é um produto sócio-histórico-natural, especialmente se considerarmos que
nenhum agente de mudança nos é apresentado no estudo inicial de Putnam sobre a Itália.
Seguindo este raciocínio, estratégias deliberadas e a intervenção proposital não poderiam criar
capital social (Pantoja, 1999: 20). 34
O capital social tem sido cada vez mais assimilado ao “nível de engajamento cívico” em
comunidades tais como vilas, cidades e países. O estoque de capital social de uma
comunidade tem sido considerado como equivalente ao nível de envolvimento de suas
populações à vida associativa, bem como ao comportamento participativo nesta mesma
comunidade. O problema neste argumento é a sua circularidade: se uma cidade é bem
governada e desfruta de um bem-estar econômico e social é porque ela tem um alto estoque
de capital social. Inversamente, cidades pobres são pobres porque não o possuem. Além de
sua circularidade lógica, este argumento enfrenta o problema de não oferecer nenhum insight
quanto ao processo de mudança de uma comunidade não cívica para uma comunidade cívica.
A questão principal, qual seja, a de saber qual o papel do capital social na transformação de
uma comunidade não cívica para uma comunidade cívica, continua largamente inexplicado
(Pantoja, 1999: 25).
A vida associativa certamente gera confiança mútua, hábitos de cooperação e de participação
e também redes sociais. Entretanto, para retomar o argumento de Edwards e Foley (1997),
quando o capital social é abordado apenas em termos estruturais e operacionalizado através de
índices de participação em associações, há uma tendência em assumir que é a própria vida
associativa que produz capital social. Seria também muito simplista assumir que a vida
associativa é o que torna o capital social disponível para indivíduos e coletividades. Uma
dificuldade óbvia refere-se ao fato de que várias interações formais e informais entre
membros de uma sociedade podem promover capital social, mesmo que estas interações não
sejam observáveis (Pantoja, 1999: 19).
34 Através desta crítica, Pantoja coloca Putnam ao lado de Fukuyama (1995), para quem a trajetória cumulativa do capital social alonga-se em séculos de evolução cultural. Esta hipótese rejeita totalmente a idéia de construtivismo de Peter Evans (1996), que será desenvolvida em seguida, e vai ao encontro da hipótese do determinismo histórico. Sobre esta discussão, o artigo de J. Fox (World Development, Vol. 24, No 6, pp. 1089-1103, 1996), que relata a construção de capital social em áreas rurais do México, é elucidativo.
B) A hipótese do construtivismo social de Peter Evans
A hipótese do construtivismo social de Peter Evans (1996) baseia-se na construção de uma
base social propícia para o estabelecimento de relações sinérgicas entre agentes do Estado e
membros da sociedade civil. A estrutura dessas relações sinérgicas compõe-se, de um lado,
em uma complementaridade entre o poder público local e a sociedade civil e, de outro lado,
em relações que cruzam a fronteira entre o público e o privado, nas quais os agentes do
Estado corporificam metas que beneficiam as comunidades e os agentes das comunidades
internalizam, em suas ações, o bem estar público. Esta imbricação entre agentes do Estado e
atores da comunidade foi chamada por Evans de embeddedness. 35
A complementaridade se refere ao modo convencional de se conceituar relações mútuas de
suporte entre os atores públicos e privados. Pressupõe uma clara divisão do trabalho entre
estes atores, fundada nas propriedades contrastantes das instituições públicas e privadas. Ela
pode estar baseada na provisão de bens públicos tangíveis ou intangíveis. Exemplos de bens
públicos intangíveis fornecidos pelo Estado são o conhecimento e a difusão de novas técnicas,
a publicidade como meio de emular os atores sociais e o mero reconhecimento legal de
associações de classe e/ou sindicatos. Uma nova dimensão da complementaridade, que foge à
visão tradicional na qual o governo deve ser o construtor de estradas, hospitais e escolas,
refere-se ao papel do Estado enquanto fornecedor de um ambiente bem governado, que
fortalece e aumenta a eficiência das organizações e instituições locais. A contribuição do
Estado para a criação de capital social se dá à distância. O Estado provê o ambiente
institucional necessário, mas as agências públicas não estão diretamente ligadas aos atores
sociais. O estado de direito e a observância de leis universais pode se constituir em um
importante complemento aos esforços das classes mais desfavorecidas para se organizarem,
constituindo-se num recurso para os menos privilegiados (Evans, 1996: 1120-1121). 36
35 O termo embeddedness foi utilizado antes por Polanyi (1944) e Granovetter (1985), mas com um significado mais amplo do que o proposto por Peter Evans (1996). Enquanto este último autor está mais preocupado com a construção de relações sinérgicas entre o Estado e a sociedade local, adquirindo o conceito um conteúdo mais pragmático, Polanyi o utiliza para exprimir o caráter social e histórico da construção dos mercados, enquanto Granovetter estava preocupado com a propriedade de imersão social dos atores econômicos (inclusive das firmas, que para Granovetter estão “localmente ancoradas”). 36 O’Donnell mostrou que a destruição do estado de direito (state as law) em vários países da América Latina levou a uma atomização da sociedade que não deixa mais espaço para a organização de base. O’DONNELL, G. (1993): “On the state, democratization and some conceptual problems: a Latin view with glances at some post communist countries”. World Development, Vol. 21, No 8, pp. 1355-1369.
A noção de embeddedness, ou seja, o fato de que as relações que conectam agentes públicos e
cidadãos ocorrem nos interstícios da fronteira entre o público e o privado, é mais recente.
Estas relações, que perpassam as fronteiras e os limites entre o público e o privado, podem
criar capital social sem necessariamente ser um instrumento de corrupção ou de apropriação
privada do bem público. Para Evans, embeddedness seria a forma institucional da sinergia. O
capital social é formado a partir do momento em que agentes públicos introjetam em seus
projetos profissionais os anseios de uma determinada localidade, fazendo com que aqueles
que fazem parte do aparato estatal façam também parte da comunidade na qual eles trabalham
(há uma “captura” mútua de interesses complementares; um compartilhamento de projetos
entre os agentes do Estado e os representantes da sociedade civil). Redes de confiança e de
colaboração são criadas entre agentes públicos e a sociedade civil, relações que perpassam a
fronteira entre o público e o privado e que movem o Estado e a sociedade civil em uma ação
conjunta. Adicionar laços concretos que atravessem os limites entre o Estado e a sociedade
civil à laços anteriormente existentes de amizade e relações familiares ajuda a transformar
redes tradicionais em redes que criam capital social (Evans, 1996: 1121-1122).
Desta forma, complementaridade e embeddedness não são conceitos excludentes ou
competidores, mas complementares. Em modelos de co-produção entre o Estado e a
sociedade civil, a complementaridade cria uma base para a interação física, mas sem
embeddedness o potencial para a realização de ganhos mútuos dificilmente se realizará. Sem
complementaridade poucos incentivos existirão para se organizar qualquer forma de ação
coletiva entre o Estado e a sociedade. Às vezes a complementaridade cria o potencial para a
existência de sinergia, mas não a base institucional ou organizacional para realizar este
potencial. Embeddedness, na forma de um envolvimento direto dos agentes públicos, é um
componente essencial para cooptar os esforços dos cidadãos e sustentar o envolvimento da
sociedade civil. Os custos de se iniciar um projeto, organizar encontros e workshops com os
atores locais, explicar as opções e mediar os conflitos, requer um tempo substancial e esforço
por parte dos agentes públicos. Uma interconexão entre atores públicos e privados é
combinada com uma bem definida e complementar divisão do trabalho entre a burocracia do
Estado e os agentes locais, mutuamente reconhecida e aceita por ambas as partes. Mesmo
agentes públicos embebidos no contexto local durante anos não podem pretender ter o
conhecimento local adquirido, às vezes após várias gerações, pelos representantes locais
(Evans, 1996: 1123).
O contexto e a criação de sinergia
Uma maneira interessante de se analisar a origem das relações sinérgicas é confrontar a tese
do determinismo histórico (endowment) à tese do construtivismo social (constructability) ou,
em outras palavras, comparar cenários de uma grande dotação inicial de capital social com
cenários em que esta dotação é rarefeita. A possibilidade de sinergia depende primeiramente
de dotações sócio-culturais que devem ser tomadas como dadas? Ou a aplicação de criativos
arranjos organizacionais e/ou institucionais e a adoção de novas tecnologias sociais (soft
technologies) podem produzir sinergia em períodos de tempo relativamente curtos? Se a
sinergia for um produto que depende apenas da preexistência de padrões culturais e sociais
historicamente construídos em contextos particulares então ela pode estar fora de alcance para
vários grupos. A outra perspectiva (constructability) é mais positiva. Neste caso a sinergia se
torna uma possibilidade latente em vários contextos, bastando para isto uma articulação entre
empreendimentos institucionais (institutional entrepreneurship) (Evans, 1996: 1124).
Uma das maiores restrições à criação de sinergia é o estoque de capital social de uma
determinada sociedade, mas há outras. As características e propriedades de instituições
governamentais podem levar décadas ou gerações para mudar. Características duras da
estrutura social, bem como os graus de desigualdade social, também podem se constituir em
entraves para a criação de sinergia, e podem por isso ser consideradas como endowments. A
possibilidade de criação de sinergia pode também estar condicionada à preexistência de
determinados tipos de regimes políticos (Evans, 1996: 1124).
Dotações de capital social são obviamente cruciais para a sinergia. O trabalho original de
Putnam (1993) sobre a Itália sugere que estoques de capital social, acumulados durante longos
períodos de tempo (talvez centenas de anos), constituem ingredientes cruciais para criar o
círculo virtuoso no qual engajamento civil produz boa governança e boa governança produz
bom desempenho econômico. A questão é saber se nos países do Terceiro Mundo a dotação
de capital social é tão pequena a ponto de excluir a possibilidade de criação de sinergia ou se,
contrariamente, as normas, costumes e redes que caracterizam suas comunidades podem se
constituir em um terreno suficientemente fértil para a construção de projetos de
desenvolvimento que levem em consideração a articulação entre os agentes públicos e
privados.
Através de uma série de estudos empíricos, Peter Evans (1996) 37 pôde concluir que uma
dotação preexistente de capital social não é o principal fator restritivo para o estabelecimento
de um processo endógeno de desenvolvimento econômico. Os limites parecem ser menos
impostos pela densidade inicial de confiança e redes no nível micro (estoque preexistente de
capital social) do que pela incapacidade ou dificuldade em dar o “pulo do gato” entre este
nível micro de relações interpessoais e níveis de confiança e um nível mais abrangente e
complexo de criação de laços de solidariedade e ação social (coletiva), numa escala em que
estas relações sejam politicamente e economicamente eficazes (Evans, 1996: 1124).
O problema em contextos do Terceiro Mundo, segundo o mesmo autor, não é a ausência de
capital social no nível micro (comunidades locais), mas transformar (scaling up) os laços
pessoais e comunitários em formas institucionais e organizacionais mais abrangentes, que
facilitam uma boa governança e possam de fato ter uma escala econômica e política que
favoreça o desenvolvimento. Para serem efetivos politicamente, tais arranjos devem ter um
escopo regional, enfatizando as particularidades de um determinado contexto social e
realçando os interesses comuns entre comunidades vizinhas. O papel do Estado ou dos
agentes públicos é o de dar suporte a esta transformação das redes locais interpessoais em
formas organizacionais mais abrangentes e desenvolvidas (scaled-up organizations) (Evans,
1996: 1125).
Não se pode então negar a importância do capital social existente no nível micro para a
construção de sinergia. Laços de amizade e de vizinhança baseados em confiança e
construídos a partir de relações interpessoais diárias são fundamentos essenciais. Sem estes
laços não se teria nada sobre o que se construir. Se não ocorrer a sinergia, não é porque as
comunidades ou as relações de vizinhança eram muito dissipadas ou faltava confiança, mas
porque algum outro ingrediente crucial estava ausente. E o candidato mais provável a
preencher este espaço do ingrediente ausente é um leque de instituições públicas competentes
e engajadas. Se a sinergia pode emergir naturalmente em comunidades que, a princípio,
parecem ter um estoque de capital social ordinário, e se os governos variam dramaticamente
37 Em um dos Proceedings do World Development (1996) há o relato de vários estudos de caso que mostram como o capital social foi deliberadamente construído ou estimulado em áreas ou regiões que tradicionalmente apresentavam baixa tradição cívica. J. Fox (1996), com o exemplo dos trabalhadores rurais mexicanos; Tornquist (1998), com o exemplo de Kerala, Índia; Tendler e Freedheim (1994) são apenas alguns dos textos utilizados como referência.
em sua capacidade e habilidade em agir como parceiros na criação de organizações cívicas
efetivamente desenvolvimentistas, então os limites para a sinergia encontram-se mais do lado
do poder público que do lado da sociedade civil (Evans, 1996: 1125).
Essa interpretação de Evans atribui um peso maior às formas intermediárias de coordenação
relacionadas ao poder público local do que às outras instâncias de coordenação.
Particularmente, não concordamos com esta premissa, pois achamos que a iniciativa para a
construção de relações sinérgicas deve partir, simetricamente, das três esferas intermediárias
de coordenação (sociedade civil, tecido empresarial local e poder público local). Nota-se
também um importante ponto de diferenciação entre Evans e Putnam: enquanto o primeiro
autor enfatiza a importância do papel desempenhado pelos agentes do Estado na construção
de relações sinérgicas, o segundo enfatiza as virtudes do engajamento cívico e de padrões
horizontais de organização da sociedade civil.
Mesmo em ambientes sociais e políticos desfavoráveis, inovações culturais e organizacionais
criativas podem dar bons resultados. Algumas vezes a construção de sinergia requer
mudanças de pontos de vista e de pré-julgamentos. Outras vezes requer a introdução de novas
tecnologias sociais. Novas definições de identidade social e interesses de classe podem surgir
a partir de novas experiências e interações, sem que isto precise necessariamente levar
décadas ou séculos, mas apenas alguns anos. Alguns pequenos sucessos podem ser alcançados
mesmo em sociedades fragmentadas e sem instituições públicas robustas. As ações criativas
por parte de organizações governamentais podem promover o capital social; vincular cidadãos
mobilizados a agências públicas pode de fato melhorar a eficácia do governo. A combinação
de instituições públicas robustas e comunidades organizadas é um poderoso instrumento para
o desenvolvimento: “... sinergia entre o estado e a sociedade pode ser um catalisador do
desenvolvimento. Normas de cooperação e redes de engajamento cívico entre cidadãos
comuns podem ser promovidos por agências públicas e direcionados para fins de
desenvolvimento” (Evans, 1996: 1119-1130).
A sinergia é usualmente composta de combinações entre complementaridade e embeddedness.
Cidadãos ativos são inertes até que o governo forneça inputs (desde produtos tangíveis até
intangíveis como a obediência às leis) que eles mesmos não possam produzir. Estes cidadãos,
por sua vez, contribuem com experiência e conhecimento local cuja aquisição teria um custo
proibitivo para outsiders. São estas complementaridades, óbvias, que fornecem uma base
potencial para a sinergia. Estas complementaridades criam o potencial, mas não provêem a
base institucional para realizar este potencial. Os melhores exemplos de sinergia envolvem
laços concretos entre Estado e sociedade.
Dotações preexistentes de capital social são recursos valiosos na construção de relações
sinérgicas, mas não se constituem como o fator escasso por excelência. Comunidades que se
beneficiam de sinergia não necessariamente gozavam de altos níveis de capital social
anteriormente. Mais crucial é a questão de se escalar (scaling up) a partir do capital social
existente para criar organizações que são suficientemente capazes de perseguir metas de
desenvolvimento. Um sistema político competitivo conduzido por algumas regras
mutuamente reconhecidas, estruturas sociais igualitárias e uma robusta burocracia facilitam a
emergência de sinergia. A raridade da combinação destas circunstâncias em países do
Terceiro Mundo não deve tornar os projetos conjuntos entre Estado e sociedade uma quimera
inatingível ou obra de ficção. Pequenos sucessos podem ser alcançados mesmo em situações
macro adversas. Mesmo em sociedades fragmentadas, expostas a um governo desorganizado e
autoritário, estratégias institucionais inovativas podem induzir a sinergia mesmo numa
pequena escala (Evans, 1996).
2.6. O conceito de governança e o ambiente institucional
O conceito de governança (Pouillaude, 1998; Cassiolato et alii, 2000) vem ganhando
crescente importância na literatura sobre desenvolvimento local na medida em que tem
enfatizado a necessidade de se criar uma nova interface entre o poder público, o setor privado
(notadamente as micro e pequenas empresas) e a sociedade civil, com o intuito de se
promover não apenas o desenvolvimento, mas a sua descentralização e melhor distribuição
regional. Este conceito engloba o Estado em todas as suas dimensões e coloca em debate as
suas relações com o setor privado e a sociedade civil.
Aplicado à análise do desenvolvimento das micro e pequenas empresas, a governança coloca
em relevo a especificidade da interface existente entre o Estado e estas empresas. Enquanto a
maioria destas unidades econômicas usufrui apenas de relações bastante limitadas com o
Estado, cabe colocar em perspectiva a possibilidade de se intensificar essas interações. A
demanda do Estado em legalizar e fiscalizar as micro e pequenas empresas, como forma de
aumentar a sua arrecadação, encontra barreiras por parte destas últimas que alegam não
poderem competir e sobreviver no mercado sem algum tipo de isenção ou benefício fiscal.
Inicia-se então um estudo das contrapartidas que o Estado poderia oferecer a estas unidades
econômicas após a sua legalização e formalização (Pouillaude, 1998).
O processo de legalização e de fiscalização empreendido pelo Estado para restabelecer seu
controle sobre as micro e pequenas empresas reclama uma governança diferenciada que se
adapte à heterogeneidade das dinâmicas dessas empresas, que por sua vez apresentam
diferentes capacidades de resposta e de sobrevivência a uma maior fiscalização por parte do
Estado. O custo da legalização, bem como as contrapartidas e as vantagens que lhes poderiam
ser oferecidas, variam de acordo com as especificidades de cada unidade econômica, de seu
contexto territorial e dos mercados nos quais atuam.
Na medida em que o Estado avança no processo de legalização e de fiscalização, torna-se
necessário buscar meios de contrabalançar as medidas formais que eventualmente possam
desfavorecer o desenvolvimento das micro e pequenas empresas. O conceito de governança
oferece uma abordagem através da qual podemos melhor visualizar as condições e os
resultados dessas contrapartidas. 38
O conceito de governança nos é útil ao fornecer um instrumento analítico para diagnosticar,
caracterizar, qualificar e quantificar as interações existentes entre as micro e pequenas
empresas e o Estado. O conceito nos permite precisar que o exercício da autoridade política,
econômica e administrativa na gestão do desenvolvimento das micro e pequenas empresas
deve oferecer a estas unidades econômicas contrapartidas efetivas para que tenham um
impacto positivo sobre sua dinâmica.
A chave do desenvolvimento situa-se na integração econômica local das empresas entre elas e
com o território e também na organização, em torno das empresas, de reais sistemas de apoio
38 A governança pode ser definida como: “o exercício da autoridade política, econômica e administrativa para a gestão dos negócios de um país. Ela recobre os mecanismos, os processos e as instituições através das quais os indivíduos e os grupos articulam seus interesses, ponderam suas diferenças e exercem seus direitos e obrigações legais. Trata-se, portanto, de um conceito multidimensional que combina: (i) o aspecto político do exercício do leadership, da fixação dos objetivos e da formulação das políticas; com (ii) uma dimensão econômica constituída pela gestão das restrições técnicas e financeiras; e (iii) o componente administrativo da execução e do acompanhamento das políticas. O conceito de governança não apreende o Estado enquanto entidade isolada, mas coloca em análise o conjunto das estruturas políticas e administrativas, das relações econômicas e das regras através das quais a vida produtiva e distributiva de uma sociedade é governada. A governança se atém ao estudo das instituições” (Pouillaude, 1998: 01).
que as alimentam e assim as permite desenvolver. A ação pública deve privilegiar uma cultura
de rede. Esta deve também ter consciência da diversidade dos planos locais e da necessidade
de trazer respostas diferenciadas às pequenas empresas em função do lugar que estas ocupam
na cadeia de produção. Nesta nova concepção de políticas públicas, o território torna-se um
importante local de governança para acompanhar as PME. Não se trata mais de fornecer
fatores de produção às empresas que se supõe estar em perfeito estado de funcionamento, mas
de acompanhá-las no quadro de um processo incessante de mutação e de reorganização.
Trata-se do que Sabel (1996) chamou de um “regionalismo experimental” cuja principal
missão é de ajudar os atores locais a subjugar as novas regras de coordenação das atividades
econômicas (Courlet, 2001: 49).
O mundo da indústria fomenta o diálogo com o território principalmente através de duas vias:
da intermediação pesquisa-formação-indústria e pela busca de novas formas de
financiamento. O potencial de pesquisa, desenvolvimento e formação, muito tempo relegado
pelas empresas, constitui um ponto fundamental do desenvolvimento local. Como veremos na
seção seguinte sobre o papel dos programas de apoio, cabe a estes a função importante de
intermediar a apropriação do conhecimento pelas pequenas e médias empresas (conhecimento
este que, às vezes, implica a mera apreensão de técnicas empresariais e de gestão) e de
identificar um mecanismo alternativo de financiamento a estas pequenas unidades de
produção, muitas vezes rechaçadas do mercado oficial de crédito. O esforço para a
transferência de tecnologia combina não apenas os organismos privados de pesquisa e
desenvolvimento e de formação mas também as coletividades públicas locais.
A busca de financiamento constitui-se na segunda via através da qual as pequenas empresas
buscam criar relações de solidariedade com as coletividades locais. Como veremos na
subseção 2.6.2, as micro e pequenas empresas se defrontam com a inadequação do mercado
financeiro (carência do sistema tradicional de financiamento). Este último se adapta muito
mais ao financiamento de grandes estruturas para as quais o risco é inversamente proporcional
à capacidade de endividamento. As PME não possuem recursos próprios e seu pequeno
tamanho limita sua capacidade de endividamento (Pecqueur, 2000: 66).
2.6.1. O papel das instituições locais e dos programas de apoio
As instituições locais podem ser um indicador do estoque de capital social existente em um
território. Vimos, no capítulo 1, que o capital social é um dos fatores explicativos do bom
desempenho econômico de países, regiões ou espaços territoriais, assim como o capital físico
e o capital humano. As instituições locais são todos os organismos, associações,
representações de classe, sindicatos e órgãos públicos que possam existir em um território e
cujas ações são voltadas para a defesa e a promoção dos interesses de um determinado grupo
social ou de uma parcela de sua população. Por exemplo, uma associação comercial e
industrial irá defender os interesses do empresariado local, enquanto uma associação de
moradores tem como objetivo representar a população de um determinado bairro ou distrito
junto aos órgãos de representação e mesmo à câmara municipal. Obviamente, podem existir
organismos que mesclam a existência de vários grupos de atores, como por exemplo é o caso
de algumas comissões municipais tripartites com representantes do poder público local, dos
sindicatos e das associações de moradores e do empresariado local.
Essas comissões (também chamadas de conselhos municipais), ao invés de promoverem os
interesses de segmentos específicos de uma determinada localidade, são constituídas com o
propósito de promover ações voltadas especificamente para uma área de atuação (por
exemplo uma Comissão Municipal de Saúde, do Desenvolvimento Urbano ou do Emprego).
Uma situação ideal num determinado município ou território local é que todos os grupos ou
segmentos de classe estejam representados institucionalmente, fazendo com que cada grupo
social tenha um mecanismo ou um canal de persuasão frente aos órgãos públicos e aos
organismos municipais. Desta forma, cada poder constituído poderia extravasar,
institucionalmente, as suas ambições de melhoria do bem estar daquele grupo social que
representa.
Entretanto, o universo das instituições locais não é constituído apenas por organismos,
associações, sindicatos, órgãos públicos e representações formais de classe. Existe toda uma
gama de relações e redes informais que também fazem parte do universo de instituições
locais, podendo se constituir, inclusive, em formas latentes de capital social. Por exemplo,
relações familiares e de vizinhança, relações de amizade e relações profissionais podem se
constituir num estoque de capital social e fazem parte da “ossatura” social de uma
determinada localidade, pois trazem em seu bojo um conjunto de normas, crenças e valores
sociais que são específicos àquela sociedade e, como tal, podem ser consideradas como
instituições locais. Relações de autoridade (que podem ser verticais ou horizontais) e redes
informais de engajamento cívico, que cobrem um amplo leque de arranjos horizontais que
incluem grupos de indivíduos que decidem se unir para exercer uma ação com um propósito
específico, são exemplos de redes informais que também podemos chamar de instituições
locais.
Por fim, temos as normas e as redes informais que fazem parte do capital político de uma
determinada localidade e que talham as relações entre a sociedade civil e o Estado, permitindo
à sociedade mediar os conflitos nos interstícios das representações formais, que muitas vezes
não alcançam determinados problemas nem tampouco seus modos de mediação. Essas normas
e redes informais, que fazem parte do capital político, também podem estar relacionadas a
arranjos institucionais informais que podem resultar em clientelismo, patrimonialismo ou
exclusão.
Essas redes e relações informais, que fazem parte do universo das instituições locais, são
muito mais difíceis de serem identificadas, diagnosticadas e mensuradas, sendo a sua
operacionalização uma tarefa mais complexa. E isto se deve ao próprio fato delas serem
informais e muitas vezes estarem baseadas, ou serem formas de manifestação, de crenças,
valores, hábitos e costumes que estão arraigados nos modos de ação de uma determinada
sociedade, mas que são imperceptíveis para quem não as pratica ou não está imerso neste
ambiente institucional informal. O fato destas características institucionais serem de difícil
mensuração não justifica o seu isolamento e sua posterior exclusão como fatores explicativos
do desempenho econômico de uma sociedade. Constituem-se, pode-se dizer, na parte mais
invisível do capital social, tanto por se constituir em formas latentes deste capital como pelo
fato de, muitas vezes, essas redes e relações informais tomarem corpo exatamente onde os
mecanismos formais não penetram e as suas ações não alcançam.
Quando relacionamos as instituições locais ao desempenho econômico de um território,
estamos nos referindo tanto às instituições formais quanto às informais, mesmo que estas
últimas sejam de difícil identificação e operacionalização. Esse conjunto de instituições
constitui-se no principal indicador do estoque de capital social existente em um território.
Para tornar mais didática a tarefa de identificação e mensuração do capital social, podemos
tomar emprestado um artifício utilizado por Collier (1998), que refere-se ao desmembramento
do capital social em capital social governamental e capital social civil. O primeiro faz
referência às instituições acionadas pelo poder público local e teria um caráter mais formal,
enquanto o segundo diz respeito às instituições da sociedade civil, mesclando instituições
formais e informais (redes de relações). Podemos então relacionar, para cada território, quais
são as instituições que caracterizam o capital social governamental e quais são as instituições
que caracterizam o capital social civil.
A vantagem em se desmembrar o capital social em civil e governamental é meramente
analítica, permitindo-nos identificar com maior clareza as instituições que contribuem para
melhorar o desempenho econômico de um território. Num segundo momento, trata-se de
identificar que tipo de relações (formais e informais) existem entre os diferentes grupos da
sociedade civil e as instituições governamentais, utilizando critérios de governança para
mensurar as interações entre esses dois tipos de capital social e as suas contribuições ao
desenvolvimento econômico.
Consideraremos em primeiro lugar as instituições formais, para em seguida tratarmos das
redes e relações informais. A formação e a constituição de instituições formais locais é, como
vimos na seção 1.3., um passo importante para o início de um processo de desenvolvimento
endógeno e para a construção de uma identidade territorial que permita aos atores locais
colocar em curso (acionar) alguma modalidade de reação autônoma. O construto sobre o qual
se erigirão as formas mais dinâmicas da reação autônoma são as instituições locais que
representam o poder público, o mercado e a sociedade civil organizada, e sobre esta base se
complementarão as redes e as relações formais e informais. 39
Pecqueur (1987) chamou o conjunto dessas instituições formais, que são a base para o
alavancamento de um processo de desenvolvimento endógeno, de instituições locais que se
inserem em relações econômicas de tipo aparelho. Essas “relações de tipo aparelho” formam
uma parte do estoque do capital social governamental e do capital social civil e foram por ele
divididas entre organismos interlocutores e estruturas de suporte. As relações institucionais de
tipo aparelho são, como já vimos na seção 1.3, relações do empreendedor com organismos do
sistema político-administrativo local, que têm por função a regulação política e econômica no
nível descentralizado do território. Assim, pelo lado dos organismos interlocutores, que
39 Esta ordem seqüencial é meramente analítica e não sugere nenhuma precedência teórica das instituições formais sobre as informais.
muitas vezes se colocam como consultores, temos as associações de comércio e indústria, as
federações de indústria, (FIESP, FIRJAN, FIEMG, etc), as câmaras ou agências de
desenvolvimento, as associações profissionais, o sistema S (especificamente no que se refere
ao Brasil; com destaque para o SENAI e o SEBRAE), os serviços econômicos das cidades e as
firmas privadas de consultoria. Esses organismos interlocutores são uma espécie de filtro
entre o empreendedor e as estruturas de suporte.
As estruturas de suporte, por sua vez, são a passagem obrigatória do empreendedor que
pretende instalar-se no mercado: elas financiam (bancos e estabelecimentos financeiros) e
regulamentam as atividades que são conexas às atividades principais das firmas. Os
organismos regulamentadores compreendem desde a prefeitura (que emite o alvará), os
organismos administrativos-fiscais responsáveis pela tributação (do município e do Estado),
até os regulamentadores do uso da mão-de-obra e os órgãos responsáveis pelo cumprimento e
pela regulamentação das normas relativas ao meio-ambiente (IBAMA, FEEMA, etc.).
Mas estas relações de tipo aparelho, fundadas em organismos e instituições formais,
constituem apenas a parte mais visível da regulação econômica. Um segundo tipo de relações,
que Pecqueur (1987) chamou de “relações de tipo rede”, formam todo um arquipélago de
relações pessoais e informais que são específicas a uma cultura local, representam estratégias
territorializadas e constituem-se em relações de solidariedade que complementam a rede
institucional formal. Para Pecqueur as principais manifestações dessas relações informais são
as relações familiares e as relações profissionais, mas podemos estendê-las às redes informais
de engajamento cívico que se constituem em torno de uma causa comum, bem como às redes
e aos arranjos institucionais informais que permeiam a relação entre o poder público local e a
sociedade, como descrevemos no parágrafo acima sobre o capital político.
Essas redes de relações informais, que Rodgers (1994) chamou de regras sociais informais
(conjunto de normas e valores impregnados em uma determinada coletividade) e de
instituições informais (mecanismos implícitos, procedimentos ou modos de comportamento
difusos e aceitos pelas partes concernidas), podem ser associadas como fazendo parte das
instituições locais. Bourdieu (1980, 1986) torna explícita a vinculação dessas redes informais
com as instituições, chamando de capital social “... o conjunto de recursos que está ligado à
posse de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas”. Bourdieu
identifica as redes informais como sendo “... a estrutura social de referência sobre a qual o
capital social é construído” e será sobre essa argamassa social que as instituições locais serão
formadas e talhadas.
Temos então, de um lado, instituições formais que visam a regulação social e econômica e, de
outro, um conjunto difuso de instituições, regras e comportamentos tácitos que permeiam a
atividade econômica, formado por um conjunto de redes e relações informais. Esses dois
pólos da vida econômica de um território precisam estar interligados para que se desenvolva,
neste espaço, um processo de desenvolvimento econômico endógeno. Eles precisam estar
articulados e é preciso haver uma sinergia entre esses dois pólos para que se crie uma
dinâmica de desenvolvimento. Esta sinergia pode surgir de forma autônoma em um território,
dependendo do nível de politização de sua sociedade, surgindo como que “por geração
espontânea” caso esta sociedade tenha um alto grau de aspiração pelo bem-estar coletivo.
Esta sinergia pode também ser fruto de séculos e séculos de gestação a amadurecimento,
constituindo-se numa espécie de dotação (herança), legada e reafirmada através da história, de
um alto grau de engajamento cívico ou de um alto estoque de capital social. Este estoque de
capital social, considerado como uma dotação que condiciona o bom desempenho econômico
de uma região, e que é resultado de uma acumulação prévia que pode levar vários séculos de
engajamento cívico, é a hipótese levantada por Putnam para explicar o alto grau de
desenvolvimento e bem estar alcançado na Terceira Itália, em contraposição ao sul deste país
que, historicamente, não teria desenvolvido as condições propícias para o aprimoramento do
capital social.
No entanto, para a maioria dos países – e sobretudo para os países em desenvolvimento –
estas instituições ou não existem ou, quando existem, não há uma articulação suficientemente
importante entre elas, que faça emergir uma dinâmica endógena de crescimento. Muitas vezes
as instituições formais, que visam a regulação social e econômica num nível local,
simplesmente não existem, são bastante frágeis ou não estão consolidadas. Pode também
ocorrer que estas instituições, mesmo estando presentes em um determinado território, não
estejam suficientemente arraigadas àquele território nem devidamente articuladas às suas
instituições informais, redes de relações interpessoais e tampouco compartilham de seus
hábitos, costumes, valores, crenças, rotinas e normas de comportamento. Neste caso, faltaria
uma sinergia entre as instituições formais e as informais.
No que tange aos países em desenvolvimento e a presença, nestes países, de instituições
informais, estas são muito mais propensas a existir do que as instituições regulatórias
(formais). Isto pelo próprio fato delas não dependerem da mobilização de recursos oficiais
nem da contratação de serviços contratuais constituídos juridicamente. Justamente pelo fato
das instituições informais estarem presentes nas redes de relações entre pessoas e nas normas
de conduta e de comportamento de grupos sociais, a sua existência em sociedades “atrasadas”
é muito mais provável do que a presença de instituições formais. O que faltaria a estas
sociedades, além do preenchimento da lacuna observada pela ausência de instituições formais,
seria uma espécie de transformação ou evolução dessas relações informais em redes de
relações com finalidades produtivas ou agragadoras de valor, transformando relações de
vizinhança, relações familiares e redes de conhecimento ou de pertencimento a um grupo em
relações econômicas geradoras de renda.
Tratar-se-ia de uma canalização de recursos humanos e fatores intangíveis (capital social em
sua forma mais latente) em direção à sua utilização produtiva e à sua realização econômica.
Peter Evans (1986) chamou esta canalização de recursos difusos para fins propriamente
econômicos de passagem de um nível micro de relações interpessoais – onde existem níveis
de confiança não desprezíveis – para um nível macro, onde estas relações de amizade e de
confiança seriam institucionalizadas e regulamentadas. Este autor chama de “scaling up” a
transformação de laços pessoais e comunitários em formas institucionais e organizacionais
mais abrangentes que repercutam, de alguma forma, na esfera econômica e no circuito das
trocas sociais.
Várias configurações são então possíveis num contexto em que as instituições (tanto formais
quanto informais) não contribuem para o bom desempenho econômico das regiões. Em
primeiro lugar, uma situação na qual as instituições formais inexistem, ou existem em
quantidade insuficiente dadas as demandas de uma localidade. Neste caso, trata-se de instituí-
las ou de promovê-las. Em segundo lugar, uma situação na qual as instituições formais
existem, mas não têm qualquer aderência com o contexto local, agindo como corpos
burocráticos frios e distantes da realidade social e lidando com o território como se este fosse
um produto da aplicação de funções econômicas. Neste caso, trata-se de redirecionar a
atuação destes órgãos e instituições no sentido de sua maior imersão no contexto local,
estabelecendo relações sinérgicas com os atores e redes locais. Em terceiro lugar, uma
situação na qual as instituições formais estão presentes e as informais existem, mas estas não
são ativas o suficiente para estabelecer uma relação sinérgica ou, dito de outra forma, o capital
social presente nestas redes de relações informais encontra-se ainda numa forma latente que
precisa ser promovida ou canalizada para formas superiores de participação cívica, que por
sua vez tenha implicações econômicas e produtivas.
Para estas três situações, em que existe uma insuficiência na atuação das instituições, os
programas de apoio podem suprir esta deficiência, seja promovendo a criação de instituições
formais, seja promovendo a sua articulação com o contexto local ou finalmente transformando
formas latentes de capital social em arranjos institucionais e organizacionais mais abrangentes
e que tenham alguma finalidade econômica e produtiva. Esta seria, na essência, a função dos
programas de apoio.
São considerados programas de apoio todas as iniciativas concebidas, executadas e oriundas
de serviços governamentais (administração pública, governos municipais, estaduais e outros
serviços governamentais) e/ou de organismos setoriais e profissionais (associações de
comércio e indústria, federações patronais, sistema S, etc) que têm por objetivo estimular e
promover o desenvolvimento econômico de um determinado território ou de setores de
atividade dentro deste território, mobilizando para tal fim os recursos e os atores
sociais/econômicos direta ou indiretamente envolvidos com o mesmo propósito de melhoria
do bem-estar econômico do território em questão.
“... O impacto desses programas e sua eficácia não dependem apenas de seu conteúdo técnico (...) mas seus efeitos dependem de sua identidade institucional e ao mesmo tempo do ambiente cultural no qual são postos em movimento, das características demográficas e sociológicas dos meios empresariais nos quais se inserem e, por fim, dos interesses e visões das autoridades políticas locais e do Estado e das relações entre estas autoridades e os operadores econômicos” (IE/IRD, 2000: 27).
Os programas de apoio exercem a importante função de catalisar os anseios econômicos e
sociais de um território, papel este que implica no conhecimento da infra-estrutura econômica
local, em trazer para “dentro” do programa os atores sociais relevantes para a dinamização da
economia, articulando e mobilizando os diferentes atores e preparando-os para, no futuro
próximo, assumirem as metas do projeto que deu origem ao programa de apoio e
transformarem-se em agentes do desenvolvimento. Os programas de apoio podem contar com
a colaboração de entidades públicas e privadas locais, organismos mistos, associações e,
enfim, todas as instituições que se fizerem presentes em um determinado território, mas
devem ter um objetivo claro e as funções de cada membro participante devem estar bem
definidas. Os promotores dos programas de apoio são motivados a
“... buscar in locu os meios de funcionamento dos serviços coletivos, os recursos necessários ao financiamento de certos investimentos públicos, as condições favoráveis a uma atividade sustentada e um crescimento econômico significativo e, mais geralmente, em fazer das coletividades locais os atores centrais de seu próprio desenvolvimento” (IE/IRD, 2000: 10).
Mais especificamente, os programas de apoio podem estar dirigidos ao financiamento de
pequenos empreendimentos, a programas de formação e de capacitação tanto de
empreendedores quanto de uma mão-de-obra técnica voltada para funções especializadas,
podem estar voltados para o incentivo à criação de micro e pequenas empresas ou acionar
mecanismos de planificação setorial dentro de um espaço pré-concebido. Várias são as formas
de atuação dos programas de apoio e as metas a serem atingidas também podem ser as mais
variadas possíveis. A seguir, trataremos de uma questão particularmente importante para a
criação e o desenvolvimento das micro e pequenas empresas, entendendo que estas cumprem
um papel importante na geração de emprego e renda em um território econômico situado à
margem dos grandes centros urbanos: trata-se do financiamento de suas atividades.
2.6.2. O desenvolvimento das micro e pequenas empresas e a questão do seu
financiamento
Normalmente colocadas à margem do mercado financeiro formal, muitas das necessidades
financeiras das micro e pequenas empresas são atendidas no mercado de crédito informal (ou
não-oficial). Isto, evidentemente, expõe os tomadores de recursos à falta de regulamentação e
de fiscalização dos acordos firmados entre emprestadores e tomadores de empréstimos. Uma
das justificativas mais utilizadas para o fato de existir uma barreira que impede a entrada das
micro e pequenas empresas no mercado oficial de crédito é a falta de garantias que estas
unidades podem oferecer no momento da captação de recursos. 40
Desta forma, dentre os campos possíveis de intervenção e de apoio às micro e pequenas
empresas, um dos que mais chamam a atenção é o financiamento, através de instituições
especializadas ou da ampliação da gama de serviços oferecidos pelas instituições financeiras e
bancos oficiais. Mas o financiamento não deve ser o único objeto de intervenção por parte dos
40 O princípio do risco crescente de Kalecki (1985) já nos alertava para esta dificuldade.
organismos de apoio às micro e pequenas empresas. Deve-se atentar para o desenvolvimento
de uma oferta durável de serviços adaptados às micro e pequenas empresas também nos
seguintes campos: a formação, a circulação da informação e a consultoria especializada a
estas empresas.
À parte a oferta de serviços especializados de apoio às micro e pequenas empresas, cabe
também aos programas de apoio fomentar e incentivar a emergência de organizações
profissionais e de associações de micro e pequenas empresas que possam intensificar o
diálogo com o poder público local, criando canais de representação dos micros e pequenos
empreendedores que renovem periodicamente, junto aos poderes locais, os anseios e as
demandas deste segmento empresarial.
Voltando à questão do financiamento, no debate sobre as alternativas de geração de emprego
e especificamente sobre o apoio aos pequenos empreendimentos, a questão do acesso ao
crédito vem merecendo crescente atenção. Apesar de vários estudos apontarem para a baixa
capacidade de auto-acumulação da maioria das micro e pequenas empresas, o que significa a
existência de uma necessidade objetiva de capital de terceiros para a sua consolidação e
desenvolvimento, as condições atuais de oferta de crédito praticamente inviabilizam a
satisfação dessa necessidade, aos menos nos marcos do mercado financeiro formal.
Os principais fatores que dificultam o acesso das pequenas empresas a formas estáveis de
financiamento podem ser sintetizados nos seguintes pontos:
• a altíssima taxa de juros em vigor no país, superando largamente a rentabilidade da quase
totalidade dos pequenos empreendimentos, tornando antieconômico qualquer tipo de
endividamento;
• excesso de formalidades burocráticas e rigidez na fixação de garantias por parte das
instituições financeiras. O excesso de burocracia significa um considerável dispêndio de
tempo na elaboração e exame das solicitações de empréstimo, fazendo com que o processo de
solicitação de crédito seja bastante custoso para o tomador, que freqüentemente queixa-se de
falta de tempo e de recursos humanos e até mesmo materiais para o encaminhamento de um
pedido formal de empréstimo junto a uma instituição financeira; 41
• desinteresse do sistema bancário em conceder créditos para micro e pequenas empresas.
Tal fato deve-se, em primeiro lugar, à crença amplamente difundida (embora não sustentada
pelos fatos) de que empréstimos a unidades de pequeno porte envolveriam um risco potencial
superior àqueles concedidos a unidades de maior porte e, em segundo lugar, à relação custo-
benefício que, no entender dos bancos, seria desfavorável, uma vez que o retorno financeiro
com pequenos empréstimos não cobriria os custos operacionais correspondentes.
As origens das dificuldades de financiamento das micro e pequenas empresas podem ser
encontradas na própria gênese do sistema financeiro no Brasil. Refletindo as necessidades do
padrão de acumulação predominante desde a década de 1950, o sistema financeiro estruturou-
se de forma a atender principalmente a demanda das grandes corporações nacionais e
multinacionais, que constituíram-se no eixo dinâmico da economia (Chesnais e Sauviat,
2000).
A partir da década de 1980, esta situação iria se alterar, porém em um sentido igualmente
negativo para as pequenas empresas. Em conseqüência do agravamento da crise financeira do
Estado, os bancos deixaram de privilegiar a concessão de créditos a empresas, passando a
dedicar-se crescentemente ao financiamento do déficit público. Além disso as tentativas de
ajuste econômico implicaram, quase sempre, em uma redução na liquidez da economia e, em
conseqüência, em taxas de juros crescentes e em restrições cada vez maiores ao acesso ao
crédito.
As tentativas de fazer frente a este quadro, a partir de iniciativas governamentais, têm
revelado um alcance limitado. Uma dessas iniciativas, adotada na década de 1970, consistiu
em uma determinação legal obrigando as instituições bancárias a destinarem uma parte de
suas reservas ao financiamento das pequenas empresas em condições mais favoráveis do que
aquelas praticadas pelo mercado. A aplicação dessa medida não apresentou os resultados
esperados, uma vez que, em parte devido à liberalidade das normas e à fragilidade dos
mecanismos de controle, muitos bancos conseguiram burlar a determinação, destinando os
41 Esta queixa apareceu várias vezes em nossas entrevistas de campo com empresários e donos de empresas em Itaguaí. Algumas vezes as estruturas humanas e materiais destas empresas nem eram tão deficientes assim; mas as dificuldades, segundo os entrevistados, pareciam quase intransponíveis.
empréstimos a empresas associadas, muitas vezes criadas especificamente para este fim
(Amaral, 1994: 156-157).
No final dos anos 1980 e início dos 1990, algumas iniciativas no Brasil mereceram destaque,
em especial a criação de órgãos como a Federação Nacional de Apoio aos Pequenos
Empreendimentos (FENAPE) e os Centros de Apoio aos Pequenos Empreendimentos
(CEAPEs). As linhas de ação desenvolvidas pela FENAPE e suas filiadas envolveram apoio
creditício, capacitação gerencial e apoio à comercialização. Além das organizações vinculadas
à FENAPE, passaram a existir outras instituições operando linhas de crédito para pequenas
unidades econômicas no Brasil. Nos anos 1990, cabe destacar as experiências do
PRORENDA/Microempresas, conduzido pelo SINE do Ceará em cooperação com a GTZ
(Sociedade Alemã de Cooperação Técnica) e o Programa de Apoio a Pequenos
Empreendimentos (PROAPE), realizado pelo SEBRAE com a apoio da Fundação Friedrich
Naumann. Um estudo sobre estas experiências, realizado pelo Serviço Alemão de Cooperação
Técnica e Social (SACTES) 42, aponta a tendência das organizações de apoio a estas unidades
em abandonar o financiamento a fundo perdido, substituindo-o pela concessão de
empréstimos. Esta mudança significaria, na visão da autora, o rompimento de posturas
assistencialistas tradicionais e o estabelecimento de um novo tipo de relação entre as
instituições de fomento e os pequenos empreendedores.
A partir dos últimos dez anos tem se discutido, com maior intensidade, a adoção de estratégias
que visam à ampliação da capacidade de atendimento das linhas de crédito existentes. No
entanto, cabe indagar se a concretização dessas estratégias pressupõe uma reestruturação do
sistema financeiro nacional, bem como a capacitação dos bancos na aplicação de técnicas
financeiras adequadas aos pequenos empreendimentos. Uma questão ainda mais complexa e
que talvez preceda a anterior, é a de saber se existe uma vontade política em reorientar a
escolha feita pelo mercado de capitais no Brasil, que até hoje tem atendido aos interesses dos
bancos internacionais e dos grandes grupos internacionais.
No final de 1999 o Governo Federal lançou o Programa Brasil Empreendedor (PBE), com o
objetivo de fortalecer o desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas. As
principais ações deste programa foram direcionadas aos esforços de capacitação e de acesso
42 Roesler, Ulrike. Geração de Renda e Promoção de Pequenos Empreendimentos. SACTES, 1993.
ao crédito. Dentre os principais agentes provedores de crédito dentro do programa estão o
Banco da Amazônia e o Banco do Nordeste (para uma ação regional) e o Banco do Brasil, o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica
Federal, para ações nacionais (embora o fato do principal montante de recursos repassados
por estas agências concentrar-se na região sudeste) (Hasenclever, 2003:65-66).
Assim, tampouco as linhas de crédito especiais para micro e pequenas empresas criadas pelo
BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e alguns bancos estaduais têm
conseguido ampliar significativamente as possibilidades de acesso ao crédito dessas empresas,
devido, principalmente, ao fato dos recursos alocados serem muito reduzidos face à demanda
potencial. Além disso, apesar dessas linhas de crédito cobrarem juros menores que os de
mercado, elas não apresentam inovações em relação aos procedimentos burocráticos e à
exigência de garantias, dificultando o acesso especialmente das micro-empresas: “Os
instrumentos que têm por objetivo simplificar o acesso ao crédito tendem a ser restritos e têm
fraco impacto na economia” (Hasenclever, 2003: 67; crítica atribuída a Lemos, 2000).
Para La Rovere (2001), estudos recentes sobre o desempenho competitivo das micro,
pequenas e médias empresas indicam que existem limitações a este desempenho, comuns
tanto aos países desenvolvidos quanto aos países em desenvolvimento, e que tais limitações
dizem respeito à máquinas obsoletas, administração inadequada e dificuldades de
comercialização de seus produtos em novos mercados. Tais dificuldades poderiam ser em
parte superadas através de um programa eficiente de concessão de créditos a estas empresas
mas, segundo a autora, a simples exigência de estar em dia com as obrigações fiscais para
obter crédito exclui a maioria delas. Além disso, a dificuldade de financiamento é um dos
principais fatores que inibe a inovação nessas empresas, pois estas maiores dificuldades para a
obtenção do crédito fazem com que o risco da atividade inovadora seja potencialmente mais
elevado para as micro, pequenas e médias empresas (La Rovere, 2001: 140).
As dificuldades em satisfazer a demanda de financiamento dos pequenos empreendimentos
através das instituições financeiras tradicionais (bem como a reduzida possibilidade de
superação dessas dificuldades) vêm estimulando a adoção, no Brasil, de formas alternativas
de financiamento, a exemplo do que já ocorre em diversos países do Terceiro Mundo.
Algumas experiências bem-sucedidas no exterior (Grameen Bank em Bangladesh; ACCION,
entidade privada americana com atuação em vários países da América Latina) demonstram a
viabilidade econômica da concessão de créditos a este segmento (Yunus, 2000: 223-236).
Convém lembrar, no entanto, que estas experiências (tanto no exterior quanto principalmente
no Brasil) têm atingido até agora uma parcela extremamente reduzida do seu universo
potencial de usuários.
No que se refere à questão do financiamento das micro e pequenas empresas no âmbito do
quadro teórico e das hipóteses adotadas neste trabalho, principalmente no que diz respeito às
fontes do capital social e à aplicação do conceito, podemos supor que a adoção de caminhos
alternativos para a satisfação da demanda de financiamento pelos pequenos empreendimentos
tornar-se-ia mais fácil se no território considerado houvesse uma forma especial de confiança
entre agentes emprestadores e agentes tomadores: a confiança fiduciária. As instituições
locais e os organismos financeiros podem adotar mecanismos de aval que favoreçam ou
estimulem esta forma de confiança e, desde que a demanda por financiamento seja canalizada
de forma organizada para os organismos distribuidores de crédito (isto implica, naturalmente,
todo um sistema de avaliação da capacidade futura de pagamento bem como uma análise
técnica dos projetos produtivos), esta demanda, ao ser satisfeita, seria capaz de gerar e
desenvolver novas empresas e promover o desenvolvimento local.
Na parte empírica deste trabalho (a partir do capítulo 3), serão identificadas as instituições
locais e regionais de fomento e de financiamento que atuam em Itaguaí, e teremos como
principal preocupação localizar a área (abrangência geográfica) e os setores de atividade que
são contemplados ou não por estes organismos financeiros. Adotaremos por suposto que, para
o bom atendimento das demandas de financiamento, estas instituições financeiras devem estar
ancoradas em seu meio local, permitindo que os tomadores da decisão final quanto à
concessão ou não dos empréstimos estejam inseridos em redes locais e tenham ciência e
conhecimento das particularidades do território, conhecendo a sua história mas também as
potencialidades econômicas da região, de tal forma que a sua decisão possa estar pautada não
apenas por critérios estritamente financeiros de retorno do investimento, mas também por
critérios de viabilidade econômica de longo prazo e inserção social. Além do mais, dada a
diversidade existente no universo dos pequenos empreendimentos, somente uma articulação
entre diversas estratégias e instrumentos conseguirá atingir o objetivo de ampliar
significativamente o acesso ao crédito para este segmento econômico. E, sabidamente, a
diversidade de situações existentes, mesmo em um território limitado geograficamente como é
o caso de Itaguaí, será melhor contemplada em termos de concessão de crédito se os agentes
tomadores de decisão tiverem uma inserção local.
2.7. Conclusão
Tratamos neste capítulo do que podemos chamar de uma teoria aplicada do desenvolvimento
econômico local. Iniciamos, logo na introdução, por remeter ao tempo histórico longo a
utilização do conceito de desenvolvimento regional, mostrando que o estudo de pequenas
aglomerações produtivas e das pequenas e médias empresas sempre se fez presente na análise
da evolução do capitalismo moderno. Em seguida, nas seções 2.1 e 2.2, vimos como ocorrem
as aplicações atuais, contemporâneas, do conceito de aglomeração produtiva, onde os autores
retratam casos bem sucedidos de desenvolvimento local e chamam-nos de distritos industriais,
sistemas produtivos de industrialização difusa, clusters industriais ou ainda sistemas
produtivos localizados. Tais modelos ganharam especial destaque após a crise do modelo
fordista (anos 1970) e com a necessidade de reconversão dos modos de produção e de
competição. Entretanto, esses modelos cristalizados pela literatura não se encaixam em uma
realidade (aquela constituída pelo sítio de Itaguaí) que ainda não foi construída (nem
historicamente nem empiricamente), e como temos que deixar em aberto qualquer tentativa de
modelização que eventualmente possamos encontrar em nossa pesquisa de campo, preferimos
utilizar a noção de configuração produtiva local (apresentada na seção 2.3), para não incorrer
no erro da estilização, a priori, de uma realidade social que ainda não conhecemos.
Na seção 2.4 foi discutido o papel das micro e pequenas empresas no desenvolvimento local,
dado o surgimento do paradigma da especialização flexível. Foi dito que as micro e pequenas
empresas podem desempenhar um papel importante e acionar um processo de
desenvolvimento endógeno a partir do momento em que elas se organizem em redes e, além
disso, que essas redes inter-empresas estejam articuladas com outras formas intermediárias de
coordenação que, juntas, representam o ambiente institucional de um território ou região. Este
ambiente institucional foi o objeto da seção 2.5, e da leitura desta seção depreende-se que,
quanto maior for o estoque de capital social de um território, maiores serão as suas chances de
ativar estratégias de reação autônoma que poderão levar ao desenvolvimento local e que
engendram a articulação entre as formas intermediárias de coordenação (formas
institucionais), vistas no capítulo 1.
A partir das discussões sobre as definições e as formas assumidas pelo capital social,
chegamos à afirmação de que quanto maior é o grau de coesão das redes (sociais e
econômicas, formais e informais) entre as formas intermediárias de coordenação, que se
manifestam essencialmente no plano territorial, maior é o estoque de capital social deste
território e maiores serão as chances de sua estratégia de reação autônoma, redirecionar, a seu
favor, as forças que emanam da pressão heterônoma. A seção 2.6 continua a discussão sobre o
ambiente institucional, mas desta vez a partir de uma dimensão mais aplicada e quase
propositiva, confirmando que a elaboração de uma estratégia territorial de reação autônoma
deve contar com a participação de todas as representações institucionais envolvidas (poder
público local, empresas e sociedade civil) e deve tentar resolver os obstáculos econômicos
(capacitação profissional e financiamento) que se colocam a um segmento importante dos
territórios produtivos: as micro, pequenas e médias empresas.
PARTE II
UM ESTUDO DE CASO DO MUNICÍPIO DE ITAGUAÍ
Capítulo 3: Metodologia
Introdução: a intermediação entre a parte teórica e a parte empírica
Este capítulo metodológico tem por função “fazer a ponte” entre os dois capítulos teóricos da
primeira parte e os três capítulos empíricos da segunda parte (capítulos 4, 5 e 6). Para fazer
esta mediação entre a parte teórica e a parte empírica, resgatamos alguns conceitos discutidos
nos capítulos 1 e 2 e os aplicamos à realidade econômica local, o que será mostrado nas
seções a seguir. Ao retomar o conceito de redes e desenvolvimento local (na seção 3.1 a
seguir), já estaremos dando um passo importante para a justificação das variáveis (primárias)
retidas em nosso quadro de análise.
Desta forma, nosso objetivo é observar como as redes se formam em Itaguaí e quais são os
diversos tipos de redes (formais e informais) que aí existem. De acordo com a sua densidade e
coesão checamos se elas podem se constituir ou não em formas de manifestação das
estratégias de reação autônoma, apresentadas pelo território para fazer face à pressão
heterônoma. Trata-se de checar se o ambiente institucional local favorece o surgimento de
uma atmosfera industrial marshalliana, se as empresas interagem entre si e se existe uma
interação entre os organismos empresariais e os serviços técnicos oficiais do município.
O conceito de capital social, traduzido através de suas várias formas, foi operacionalizado por
meio do questionário. Interessou verificar a existência ou não de capital social no sítio
pesquisado. Quanto maior a existência de redes de cooperação e quanto maior a sua coesão e
abrangência, e quanto mais elas estiverem sedimentadas entre as instituições do município
(estamos falando do aspecto tempo de maturação), então maior o estoque de capital social do
sítio pesquisado. De forma similar, na medida em que as redes se manifestem através de
formas semelhantes àquelas assumidas pelo capital social, sendo também o resultado de laços
de solidariedade e reciprocidade, de formas horizontais de organização social e de modos
democráticos de resolução de conflitos, então afirmamos que estas redes são o reflexo de um
alto estoque de capital social existente no município pesquisado. A análise da existência do
capital social se completa quando consideramos todas as redes de relações sociais e
econômicas (com fins produtivos e de inclusão social) que podem se estabelecer entre as
formas intermediárias de coordenação: poder público local, sociedade civil e empresas.
3.1. Pressupostos teórico-metodológicos
A noção de redes e o conceito de capital social são fundamentais para a operacionalização da
pesquisa de campo. É a partir dos diversos tipos de redes de relações que se estabelecem entre
os atores locais e as formas intermediárias de coordenação que podemos quantificar a
existência de capital social no território escolhido para análise. É por este motivo que
retomamos aqui algumas discussões feitas na parte teórica deste trabalho, mas agora com a
preocupação de mostrar a forma como capturamos e mensuramos, no sítio pesquisado, os
conceitos apresentados e discutidos na parte teórica.
Como vimos na parte teórica deste trabalho, as redes de relações sociais que fazem parte do
ambiente econômico do território são centrais para se compreender o desempenho das
empresas locais (em sua maioria micro e pequenas empresas), uma vez que elas fornecem aos
empresários um capital social local que, ao mesmo tempo em que é ancorado no território, é
um complemento indispensável ao desenvolvimento endógeno e irredutível às outras formas
de capital (físico, financeiro e humano). No quadro de análise nos interrogamos sobre a
natureza da relação que se estabelece entre a micro e pequena empresa e o quadro
institucional local. Plociniczak (2003) utilizou-se destes mesmos pressupostos teóricos para
estudar a construção social de um mercado para as micro e pequenas empresas em um
pequeno território ao Norte da França, cuja organização produtiva teve que se converter, a
partir dos anos 1950, com a exaustão da atividade mineradora.
3.1.1. Redes e desenvolvimento econômico local
A construção de redes que visam fortalecer as ligações entre as formas intermediárias de
coordenação constitui-se na própria essência do desenvolvimento econômico local. Essas
redes são a forma de expressão da reação autônoma que, se não liberta o território das
restrições impostas pelas leis de funcionamento que lhes são exógenas, pelo menos coloca,
para o território, a possibilidade de redirecioná-las a seu favor. As redes são a expressão das
formas de ajustamento entre as restrições extraterritoriais e as reações territoriais e nesse
sentido a própria condição para o desenvolvimento local.
O nível nacional de regulação das relações sociais tende a fragilizar-se, o que provoca a busca
por novos espaços de regulação em direção ao internacional e ao local. A articulação entre
esses dois tipos de regulação passa, no território, por manifestações concretas que são as
redes. No caso de Itaguaí a articulação entre o global e o local é ainda mais explícita, devido
ao fato de o Porto de Sepetiba estar voltado para o exterior ao mesmo tempo em que é visto,
pelos atores locais, como uma solução para os problemas causados pelo esvaziamento
econômico da região. Apesar do projeto de expansão do Porto de Sepetiba passar, desde 1994,
pela mediação do Governo Federal, é curioso notar que é justamente essa mediação que tem
sido uma das fontes do esvaziamento da participação dos atores locais no processo.
O desenvolvimento local é o resultado da confrontação entre esses dois movimentos: de um
lado, a pressão exercida pela esfera supranacional (pressão heterônoma), de outro, a reação
autônoma produzida pelos territórios. O espaço econômico também é definido pela dialética
entre esses dois movimentos e podemos formular a hipótese de que ocorre desenvolvimento
local a partir do momento em que é possível determinar claramente os efeitos da reação
autônoma sobre a pressão heterônoma; neste momento, que se constitui em um ponto de
bifurcação na trajetória econômica do território, a reação autônoma subverte, de alguma
maneira, o modo de produção imposto pela pressão heterônoma.
No caso de Itaguaí, as formas de expressão da reação autônoma ainda estão bastante
embrionárias, se é que podemos considerar que elas já foram concebidas. Desta forma, ainda
não está claro de que forma a mobilização dos atores locais poderá reverter a tendência de
implantação do projeto de expansão do Porto de Sepetiba tal como este foi planejado pelos
altos escalões da República e pelos seus consultores internacionais. De qualquer forma, um
germe de mobilização popular e de uma tentativa de atuar sobre o projeto de expansão do
Porto de Sepetiba, revertendo algumas de suas condicionantes e captando para si uma parcela
maior de suas externalidades, encontra-se na realização conjunta, entre a Prefeitura e as
associações locais, de um novo Plano Diretor para o município.
Interessa investigar de que forma as empresas locais estão reagindo a este processo de
expansão do Porto de Sepetiba, cujos processos decisórios têm, até agora, sido deliberados e
postos em prática em esferas alheias à maioria das empresas de Itaguaí (principalmente as
pequenas e médias). O sentimento dos empresários no município é bastante dividido entre, de
um lado, a esperança de que a expansão dos negócios provocada pelo desenvolvimento do
Porto de Sepetiba venha gerar ganhos comerciais e econômicos às suas empresas e, de outro,
a desilusão e a constatação, mesmo prematura, de que o Porto de Sepetiba “nada tem a ver
com as nossas empresas ou com a economia de Itaguaí”.
Voltando ao tema do desenvolvimento local e de suas pré-condições, a pressão heterônoma é
sentida pelos atores e integrada como tal em suas estratégias. Entretanto, não podemos nos
deter nesta única dimensão do processo de reestruturação produtiva dos territórios, sob o risco
de termos um quadro de observação das mutações espaciais que supõe a submissão dos
territórios às prerrogativas das leis funcionais. As dinâmicas territoriais, através de sua reação
autônoma, vêm perturbar a ordem e a regulação econômica imposta pela pressão heterônoma,
criando normas locais que retroagem positivamente sobre as maneiras de produzir, fazendo
com que as forças atuantes criem externalidades nos territórios considerados.
A reação autônoma reflete uma persistência e uma sobreposição das características locais aos
determinantes globais, e por isso a importância de atores sociais ligados entre si pela
proximidade, pela identidade comum germinada pela identificação de um espaço vivido e
pelo pertencimento a uma cultura de comunidade. A percepção da reação autônoma é feita
quando deslocamos o foco de análise das funções macroeconômicas em direção às estratégias
individuais e coletivas dos atores. Essas estratégias só passam a ter um sentido como reação
autônoma quando podemos identificar sua convergência e sua coerência em torno de uma
dinâmica de reação. A autonomia do território pressupõe e postula a coerência do entorno em
torno de um projeto comum.
No caso de Itaguaí, o redirecionamento do movimento imposto pela pressão heterônoma seria
a configuração de um cenário onde o Porto de Sepetiba se tornasse um dos elementos de uma
economia portuária localmente integrada. A reversão desse cenário implica, considerando-se
o cenário atual, uma mudança de rota que certamente mudaria a composição de forças na
região, passando-se de um cenário de um porto utilitário de uma grande empresa nacional a
uma economia portuária localmente integrada. Uma das condições para a organização de uma
reação autônoma em torno do projeto de expansão do Porto de Sepetiba é a coerência da
coletividade em torno de um projeto comum de desenvolvimento: o chamado Projeto Sepetiba
pode ser um programa aglutinador, à condição que represente, em primeiro lugar, um
consenso entre o coletivo de empresários e, em segundo lugar, que inclua a sociedade civil
através de arranjos institucionais que façam interagir as formas intermediárias de coordenação
consideradas relevantes para o estabelecimento de uma estratégia de reação autônoma.
Considerando as redes de articulação entre a sociedade civil, o empresariado e o poder
público local como formas de manifestação da reação autônoma, as questões que nos fizemos
são: quais são, em Itaguaí, as estratégias de reação desta coletividade? Quais são as instâncias
e os organismos de regulação local e de que forma eles tentam interferir sobre o destino do
Porto de Sepetiba? Quais são as redes, formais e informais, institucionalizadas ou não, que
aparecem em Itaguaí? Quais são os atores que motivaram (e que motivam) a criação destas
redes? Quais são os mecanismos de emulação que evocam um espírito de cooperação e um
sentimento de pertencimento a uma comunidade, uma vez que comunidades “produzem”
capital social? Qual é, enfim, o quadro institucional local?
Um primeiro tipo de redes de relações são as relações econômicas de tipo aparelho. Estas são
relações formais institucionalizadas que cumprem uma função administrativa, econômica ou
jurídica de intermediação entre o ambiente institucional e o meio econômico. As relações
econômicas do tipo aparelho são relações do empreendedor com organismos do sistema
político-administrativo local, que têm por função a regulação política, econômica e cultural no
nível descentralizado do território. Compreendem desde os organismos consultores (públicos
e privados) até as estruturas de suporte (bancos, estabelecimentos financeiros e órgãos da
administração pública) e fazem parte do quadro institucional de um município ou território.
A funcionalidade destes organismos e instituições, do ponto de vista do empresariado local,
foi quantificada qualitativamente, observando-se as relações entre o quadro institucional local
e as empresas que fizeram parte de nossa pesquisa de campo. Algumas das variáveis
selecionadas nos permitiram caracterizar e mensurar o grau de coesão das redes institucionais
e setoriais entre, de um lado, o conjunto de organismos e instituições de apoio e, de outro, as
empresas entrevistadas.
Questões do tipo “Se a empresa utiliza infra-estrutura regional”, “Se a empresa utiliza
serviços das instituições técnicas da região”, “Como a empresa avalia esta infra-estrutura
regional/municipal”, “Qualidade das relações com as administrações e serviços técnicos
oficiais”, “Como a empresa avalia os serviços institucionais da região” são questões que nos
permitiram não apenas quantificar a densidade destas relações e as suas coesões internas, que
para Coleman (1990) é um dos pré-requisitos para a criação de capital social, mas também
quantificar a percepção e a avaliação dos empresários em relação ao quadro institucional da
região.
Um segundo tipo de rede de relações, as relações sociais informais que expressam formas
latentes de capital social, apresentam uma arquitetura muito mais flexível e não são
organizadas tendo em vista a regulação, muito embora se constituam igualmente em fontes
potencialmente criadoras de capital social. Assim, firmas próximas geograficamente têm mais
chances de trocar entre si conhecimentos formais e informais. São as redes de conhecimento,
as redes profissionais e as redes de parentesco.
Essas redes de relações, por serem informais, são mais difíceis de serem identificadas, mas
ainda assim foi feito um esforço para inferir a sua existência a partir de certas questões que
foram colocadas no questionário aplicado às empresas. Por exemplo, algumas relações de
caráter mais informal puderam ser captadas através das seguintes perguntas: “A empresa
participa de algum tipo de associação/cooperação com outras empresas?”, “Que tipo de
relação a empresa tem estabelecido com as empresas clientes, fornecedoras ou
concorrentes?”, “A empresa participa de alguma associação local não-profissional?” e “A
empresa participa de organismos, sindicatos ou outras associações profissionais?”.
No entanto, do material coletado na pesquisa de campo, aquele mais profícuo para a
identificação das redes de relações informais foram as entrevistas abertas e as conversas
paralelas que foram registradas e, muitas vezes, gravadas. A rotina de visitas e de entrevistas
abertas nos permitiu obter várias informações que não foram captadas pelos questionários, e
são estas informações que muitas vezes nos permitiram fazer algumas inferências a respeito
da correlação de forças políticas na região e do pertencimento a grupos de poder que são
fundamentais no momento de decidir quais empresários (ou empresas) participarão de
determinados projetos industriais ou produtivos.
Fizemos então uma tipologia das relações econômicas e institucionais de tipo aparelho e das
relações sociais de tipo rede. As redes de empresas, as redes profissionais e as associações de
classe, que agrupam os empresários, figuram como relações sociais de tipo rede e podem ser
tanto formais quanto informais. A principal característica dos distritos industriais
marshallianos e dos sistemas produtivos localizados é a formação de redes entre as empresas.
Além de uma cultura industrial local compartilhada pelos empresários de um determinado
território, existe uma coesão em torno de um projeto comum que age positivamente sobre a
atividade produtiva e que pode, portanto, ser considerada como uma fonte importante de
externalidade. São as economias externas de aglomeração, das quais falou Alfred Marshall.
Essas economias de aglomeração são economias de produção e de transação das quais uma
empresa pode se beneficiar quando está inserida em uma aglomeração industrial
suficientemente densa.
Destacou-se um conjunto de perguntas que se referem ao ambiente econômico da empresa
para realçar as relações econômicas de proximidade: a localização das principais firmas
concorrentes e fornecedoras, a procedência dos equipamentos e das matérias-primas
utilizadas, o destino das vendas e a proximidade dos mercados finais e dos principais
consumidores são variáveis que foram objeto de mensuração através da leitura dos dados
primários (obtidos através dos questionários aplicados às empresas). Alguns dados sobre
relações de terceirização e de subcontratação nos permitiram qualificar os vínculos existentes
entre as micro e pequenas empresas e as grandes. Outras perguntas, como “A empresa possui
interação com as concorrentes?”, “A empresa possui alguma empresa parceira?”, “A
empresa tem encontrado dificuldades nessas formas de parceria?” ou ainda a avaliação, por
parte das empresas, do impacto dessas parcerias para o seu desempenho, foram maneiras
utilizadas para se obter respostas sobre o grau de importância do ambiente econômico local.
Essas variáveis nos permitiram inferir, para o conjunto das empresas entrevistadas, o grau de
densidade das relações econômicas de proximidade.
Outro importante fenômeno incorporado por Marshall em sua análise dos distritos industriais
diz respeito ao que ele chamou de atmosfera industrial, que é o rodízio de trabalhadores entre
as várias firmas que compõem o distrito e que permite uma circulação do saber-fazer pelo
território (circulação de profissionais ligados entre si por uma competência comum). Tal
característica é marcante nos distritos industriais italianos e também nos sistemas produtivos
localizados. No que se refere a esta característica, que Marshall denominou de atmosfera
industrial, investigou-se, para o sítio de Itaguaí e para as empresas que foram entrevistadas, a
dinâmica de seu mercado de trabalho, a rotatividade e a circulação dos trabalhadores, bem
como os mecanismos de formação, aprendizagem e treinamento, acionados pelas empresas
locais. Questões como “Perfil de escolaridade do pessoal empregado”, “Evolução do número
de empregos”, “Evolução da qualificação dos empregados”, “Se há ou não necessidade de
capacitação adicional para os empregados”, “Se a empresa realiza atividades de
treinamento”, “Quais são os principais locais de treinamento que a empresa utiliza” e “Se
existem programas de qualidade que envolvem os empregados”, nos permitiram traçar um
quadro dos caminhos percorridos pelos trabalhadores no município e da gestão do mercado de
trabalho local.
Além disso, na análise dos distritos industriais e dos sistemas produtivos localizados, é sabido
que a proximidade de várias empresas favorece a inovação, que se tornam processos coletivos
facilitados através da circulação da informação. A inovação é percebida aqui de uma maneira
territorializada, sendo criação de um meio social e fruto da inventividade desses meios
interativos. As noções de distrito industrial e de meio inovador vão ao encontro de uma
concepção evolucionista da tecnologia que introduz a idéia de não-linearidade, reconhecendo
a importância de externalidades não-mercantis e dos efeitos de proximidade nos processos de
inovação. Desta forma, investigou-se as características e os processos de inovação adotados
pelas empresas locais. Perguntas como o “Esforço, por parte das empresas, em empreender
atividades de pesquisa e aprendizado”, as “Principais fontes de informação/conhecimentos
especializados que a empresa utiliza”, as “Principais formas de desenvolvimento e
incorporação de novas tecnologias” e as “Principais inovações adotadas pela empresa” nos
auxiliaram na compreensão das estratégias de inovação adotadas pelas empresas locais: se são
estratégias interativas tomadas a partir de formas de parceria e cooperação ou se são
estratégias isoladas.
As perguntas relacionadas nos parágrafos anteriores retratam a maneira como iremos tratar as
variáveis que fazem parte dos questionários aplicados às empresas. O que fizemos acima foi
dar alguns exemplos de como iremos interpretar as respostas fornecidas pelos empresários.
Por exemplo, se a cooperação entre as empresas for baixa, isto pode ser considerado como um
fator negativo para a criação de redes e de capital social no sítio pesquisado. Se as mesmas
empresas utilizam-se pouco da infra-estrutura regional/municipal ou dos serviços técnicos
oficiais aí implantados, pode-se deduzir que existem poucos programas de suporte e de apoio
às micro e pequenas empresas da região (pois estas se constituem em 85% das empresas do
município) e dificilmente se elaborará, entre as instituições locais, um projeto de integração
da economia do município à economia portuária. Se as empresas pouco investem em
atividades de pesquisa e aprendizado, provavelmente é porque não há, no sítio pesquisado, os
efeitos de aglomeração ou uma dinâmica de proximidade entre as empresas do município,
efeitos estes mencionados pela literatura como fonte importante de inovação num ambiente
caracterizado pela predominância de micro e pequenas empresas (Courlet & Pecqueur, 1996;
Nadvi & Schmitz, 1996).
3.1.2. Retorno ao conceito de capital social: definições e operacionalização
O capital social é a base sobre a qual se instauram as formas de manifestação da reação
autônoma, que por sua vez se expressam através da construção de redes. As formas assumidas
pelo capital social em um determinado território são a síntese da reação deste território às
forças heterônomas que sobre ele se impõem. A densidade de capital social em um território é
medida pela quantidade de redes duráveis e coesas de relações econômicas, sociais e
institucionais entre os atores locais. As relações entre os atores locais podem ser
institucionalizadas através das instâncias ou formas intermediárias de coordenação (poder
público local, tecido empresarial local e sociedade civil). A densidade das redes que se
estabelecem entre o poder público local, as firmas e a sociedade civil e, principalmente, a
qualidade das redes entre essas formas intermediárias de coordenação, é que nos dá uma
medida do estoque de capital social existente no sítio pesquisado, e que serviu de ponto de
partida para postularmos sobre a possibilidade de construção de relações sinérgicas entre os
agentes do Estado, as representações do empresariado e os membros da sociedade civil.
Desta forma, nesta subseção, resgatamos alguns conceitos do capital social que nos servem de
base para a sua mensuração. Entre as definições de capital social utilizadas na literatura
destacou-se, para efeitos da análise empírica aplicada ao nosso sítio, uma mescla das
seguintes definições.
Para Coleman (1990), o capital social refere-se ao conjunto de recursos estruturais imersos
nas relações sociais e podem ser percebidos como ativos para os indivíduos (ou grupo de
indivíduos) pertencentes a um determinado grupo social. Esta carteira de ativos é por ele
denominada de capital social. Estes recursos têm como principal característica facilitar ações
coletivas de grupos sociais que estão dentro de uma estrutura social. Desta forma, o capital
social é visto como um recurso social e relacional inerente às redes sociais.
Putnam (1993), bastante influenciado por Coleman (1990) quando ocupa-se em conceituar o
capital social, define-o igualmente como “relações entre pessoas e grupos de pessoas”, mas
torna essas relações mais visíveis e tangíveis, inclusive mais passíveis de serem quantificadas,
quando afirma que as instituições intermediárias são os canais através dos quais se
manifestam estas relações. O conceito de capital social para Putnam (1993) é mais palpável,
representando os vínculos institucionais e o associativismo. Para este autor, instituições
cívicas são capital social.
O que há de novo na definição de Pantoja (1999), que também concorda com os dois autores
anteriores sobre o fato de que “... o capital social é um recurso comum que pode facilitar o
acesso a outros recursos”, é a constatação de que “a construção de capital social também
engendra a construção e a reconstrução dos significados e das identidades sociais”. A
pertinência desta novidade trazida por este autor para o nosso estudo reside no fato de que
devemos nos preocupar em identificar e analisar, no nosso campo de averiguação empírica, a
contribuição de fatores extra-econômicos na criação de capital social.
Finalmente, a definição de Bourdieu (1980) sacramenta as definições anteriores, além de dar
uma maior ênfase, ao contrário de Putnam (1993), às relações informais entre os atores e os
grupos de atores, o que, para os propósitos deste trabalho, confirma a necessidade de busca
das formas latentes do capital social. Entendemos por formas latentes de capital social não
apenas as formas institucionais que se encontram em gestação, como o conjunto de redes de
relações sociais, rotinas, convenções, normas e regras formais e informais que estão
enraizadas no território e que fazem parte de sua constituição orgânica. Este autor identifica o
capital social ao conjunto de recursos que estão ligados à posse de uma rede durável de
relações (seja ela institucionalizada ou não), o que faz do capital social um atributo de um
grupo de pessoas. Bourdieu (1980) identifica a rede como sendo o construto sobre o qual o
capital social é criado, e propõe quantificar o capital social de um agente ou grupo de agentes
medindo o número de seus contatos sociais e a capacidade desses contatos (redes) em
fornecer recursos.
Em resumo, ao invés de utilizar os fundamentos putnamianos e medir o capital social através
do número de associações, utilizamos o recurso proposto por Bourdieu (1980) e medimos o
estoque de capital social de Itaguaí através do volume e da densidade de redes, tanto em suas
formas mais desenvolvidas e institucionalizadas, como em suas formas latentes e
embrionárias.
Uma vez que o capital social é intrínseco às relações sociais e ao mesmo tempo um produto
da institucionalização dessas relações, buscamos, como forma de se avaliar o potencial de
criação de capital social no sítio pesquisado, instrumentalizar a transição de suas formas
latentes para formas mais maduras e institucionalizadas, o que foi feito sob os domínios da
hipótese do construtivismo social. Em outras palavras, o estabelecimento de relações
sinérgicas ocorre a partir do momento em que há uma institucionalização de relações sociais
que já carregam, em sua estrutura, formas latentes e menos desenvolvidas de capital social.
Trata-se, segundo Pantoja (1999), de identificar quais são os fatores e os agentes que ajudam a
criar capital social ou que estão em melhores condições de fazê-lo.
A investigação permitiu a coleta de indicadores da propensão e da pré-disposição da classe
empresarial em cooperar num processo de construção de relações sinérgicas, mas este
processo de criação de capital social está longe de se restringir a apenas este grupo de atores.
Outros grupos de atores, como a sociedade civil e o poder público local, também se
credenciam como criadores em potencial de capital social: basta que para isto estas instâncias
intermediárias estimulem a formação de redes de relações, coesas e duráveis, entre os seus
próprios representantes e entre os seus representantes e os de outras instâncias de organização
e de coordenação.
Buscar indicadores da existência de capital social e encontrar uma forma de avaliar em que
medida as relações sociais estabelecidas entre as empresas e as instituições, entre as próprias
empresas, entre as empresas e a sociedade civil e entre esta e o poder público local favorecem
ou não um acúmulo de capital social, significa quantificar o número de laços institucionais
entre essas formas intermediárias de coordenação e o seu grau de coesão. Algumas dessas
ligações, ainda tênues e embrionárias, podem indicar a existência de formas latentes de capital
social, a serem ainda amadurecidas e desenvolvidas. A pergunta que se deve fazer é se essas
formas latentes são capazes de amadurecer e de proporcionar desenvolvimento endógeno ao
território pesquisado. Nossa hipótese é de que a resposta pode ser positiva desde que em torno
dessas formas latentes de capital social se construa relações sinérgicas entre as instâncias
intermediárias de coordenação. Estas formas latentes de manifestação do capital social
constituem-se na base a partir da qual pode-se dar o scaling up em direção a formas mais
maduras e portadoras de uma escala econômica e produtiva ampliada.
Operacionalização e mensuração do capital social
São poucos os autores que se aventuraram a operacionalizar e a mensurar o capital social de
uma determinada sociedade, país ou região. Alguns autores deram pistas neste sentido, outros
foram além, propondo formas de se mensurar o capital social, ainda que não transformando
esta mensuração em índices quantitativos (seria uma mensuração, por assim dizer, ordinal). A
partir das definições apresentadas, da descrição das propriedades, características e formas
assumidas pelo capital social e da apresentação dos contextos mais propícios à sua criação,
fomos, à luz da opção pela hipótese do construtivismo social de Peter Evans (1996), em busca
dos indicadores da existência do capital social e encontramos uma forma de avaliar em que
medida as relações sociais estabelecidas entre as empresas e as instituições, e entre as próprias
empresas, favorecem ou não um acúmulo de capital social.
Dois autores nos chamaram particularmente a atenção no que se refere à tentativa que eles
fizeram de mensurar o capital social. Putnam (1993), através do índice de associativismo, e
Coleman (1990), através de uma matriz de créditos e obrigações. No entanto, devido às
críticas à escola do associativismo, ficaremos com a metodologia proposta por Coleman.
A proposta de Coleman (1990) para a mensuração do capital social é radicalmente diferente
daquela apresentada por Putnam. Partindo de um quadro de análise microeconômico, onde o
capital social está na estrutura de relações pessoais e bilaterais, Coleman considera o estoque
de capital social de um agente como o volume de obrigações que ele detém e que se espera
sejam cumpridas por outros agentes, com os quais mantém uma relação de confiança. A
forma de pagamento destas obrigações são as trocas sociais que se estabelecem entre os
agentes e que perpassam a esfera puramente econômica. O terreno fértil para a criação de
capital social é o grau de coesão das relações interpessoais e o volume de trocas sociais
mantidas pelos agentes, trocas que não são apenas econômicas, mas envolvem todo tipo de
“favores prestados” e “obrigações devidas” que, em um momento qualquer no tempo, podem
ser convertidas e sancionadas de maneira a gerar um ato econômico ou a favorecer uma
apropriação de capital.
Assim, seguindo a descrição de Coleman da Figura 3 a seguir, uma relação entre A e B
significa que A controla alguns eventos que são de interesse de B e que B controla alguns
eventos que são de interesse de A. Se os eventos controlados por cada ator são vistos como
promissórias (credit slips) detidas por este ator, e que expressam obrigações por parte do
outro, então a figura abaixo representada corresponde à primeira forma de capital social
discutida por Coleman, qual seja, “obrigações e expectativas”.
Figura 3: Relações bilaterais de créditos e obrigações entre atores sociais B
CB
A
FONTE: Coleman, 1990.
Se uma seta de A para B representa o interesse de B em
dependência de B em relação a A – podemos dizer que a
de três atores com uma mútua e simétrica dependência en
ator controla a mesma proporção de eventos que são de i
podemos dizer que o poder de cada um será equivalente
setas que estão na base do triângulo, de tal forma que B
relação entre eles, mas ambos tivessem relações recípro
poderia ser descrita dizendo que os débitos e os créditos d
A tem o dobro do volume de débitos e créditos que B e C
qual A tem mais capital social disponível do que B ou C (C
Para Coleman, diferenças nas estruturas sociais com re
serem pagas dependem de uma série de razões. Estas
confiança e reciprocidade que induzem ao pagamento das
ajuda por parte das pessoas, a existência de outras fontes
prestados pelo governo), o grau de opulência geral
necessária), diferenças culturais no que diz respeito à te
grau de coesão das redes sociais, a logística dos contatos s
“Indivíduos em estruturas sociais com altos níveiqualquer tempo, qualquer que seja a fonte destas obqual podem se servir. A densidade das obrigações eampla gama de utilidades dos recursos tangívei
eventos controlados por A – ou a
figura acima representa um sistema
tre eles (full closure system). Cada
nteresse dos outros dois, e por isto
(simétrico). Se tirássemos as duas
e C não tivessem mais nenhuma
cas (simétricas) com A, a situação
e cada par de atores se anulam, mas
. O que representa uma situação na
oleman, 1990: 313-315).
speito à extensão de obrigações a
incluem, além do nível geral de
obrigações, a necessidade atual de
de ajuda (tais como serviços sociais
(que reduz o montante de ajuda
ndência em ajudar e pedir ajuda, o
ociais e outros fatores:
s de obrigações a serem pagas a rigações, têm mais capital social do m suspenso significa, de fato, que a s possuídos pelos atores naquela
estrutura social é amplificada por sua disponibilidade a outros atores quando necessário” (Coleman, 1990: 307).
Coleman (1990) indica a importância da coesão das redes sociais para o surgimento de
normas. A coesão é também importante se uma sociedade quer elevar a confiança a um nível
que garanta a reciprocidade das ações. O grau de coesão irá indicar a quantidade de capital
social disponível em uma sociedade ou, caso alguns membros desta sociedade tenham
relações sociais bilaterais recíprocas que outros membros não tenham, isto indicará uma maior
coesão destes membros. 43
Por exemplo, uma sociedade representada pela Figura 3 acima tem coesão interna completa
(full closure), muito embora se tirarmos as duas setas da base do triângulo a coesão interna
diminua. Os membros da sociedade que dispõem do maior número de relações bilaterais
recíprocas (indicadas pelas setas) são os que têm maior poder e, portanto, mais capital social
do qual podem dispor. Os exemplos citados mostram que sempre que um ator for “o lado
fraco de uma relação”, ele tentará desenvolver laços sociais capazes de reforçar a sua posição
frente à sociedade, laços estes que tenham alguma coesão interna e que possam levá-lo a se
beneficiar de capital social (Coleman, 1990: 318-319).
Podemos nos beneficiar desta metodologia utilizada por Coleman para mensurar o capital
social sem, no entanto, nos prendermos ao seu quadro de análise microeconômico. Ao invés
de considerar relações bilaterais entre agentes individuais, podemos ampliar a matriz de
“créditos e obrigações” para todo o conjunto da sociedade, considerando as várias
possibilidades de trocas sociais e econômicas entre as suas instituições e substituindo A, B e C
por Estado, sociedade civil e firmas. Podemos transpor e estender a sua análise das “relações
bilaterais recíprocas” para o conjunto de uma determinada sociedade, onde a contrapartida
dessas relações bilaterais seria toda a gama de relações e trocas sociais estabelecidas entre o
Estado, a sociedade civil e as firmas. Cada seta que, no esquema de Coleman, representa uma
relação bilateral, passa a significar, no nosso esquema de representação, relações sociais entre
instituições. Teríamos então o mesmo sistema de relações de troca, mas agora estendido ao
conjunto de instituições de uma sociedade:
43 Coesão também significa densidade de relações e o grau em que estas relações são recíprocas, ou seja, permitem a troca de experiências e informações a respeito do meio social.
Figura 4: Relações sociais e econômicas tripartites entre as formas intermediárias de coordenação
B C
FONTE: re-elaboração a partir de Coleman, 1990.
Firmas(Mercado)
Sociedade civil
Estado
O mesmo sistema de relações entre os agentes A, B e C seria válido para todas as instituições
e redes contidas nestas três formas de coordenação. As trocas sociais relevantes para a
formação de capital social são aquelas que ocorrem no interior e entre estas três instâncias ou
formas intermediárias de coordenação. Cada vértice do triângulo representa, ao mesmo
tempo, uma forma de coordenação com arranjos institucionais próprios. Cabe então, para
efeitos de mensuração, quantificar as trocas sociais que se dão entre estas três instâncias.
A partir desta metodologia proposta por Coleman (1990), podemos instrumentalizar os
conceitos de capital social tal como enfocados por Bourdieu (1980) e Pecqueur (1987). Desta
forma, como para Bourdieu o capital social de um agente representa toda e qualquer forma de
relação social que pode vir a ser convertida em fins econômicos, definição esta que dá uma
ênfase especial ao caráter informal destas redes, ele estaria privilegiando mais o vértice
“sociedade civil” da matriz de relações; por outro lado, Pecqueur, ao falar de relações sociais
de tipo rede e relações econômicas de tipo aparelho, enfatiza as relações entre os três vértices
da matriz, com as primeiras relações aplicando-se às trocas sociais levadas a cabo pela
sociedade civil (tanto em seu interior como entre esta e o Estado e o mercado) e o segundo
tipo de relações aplicando-se primordialmente às trocas econômicas operadas entre as firmas
e o Estado. Todo este arcabouço pode ser ratificado pelo trabalho de Boyer (1997) quando ele
enfatiza que formas intermediárias de coordenação, entre o Estado e o mercado, podem ser
mobilizadas para regular as trocas sociais e econômicas e, portanto, ao nosso entender, para
criar e promover capital social.
3.2. Procedimentos metodológicos
Nesta seção observamos quais são os procedimentos implícitos na metodologia adotada e
também os passos percorridos para a realização do trabalho de campo. Em primeiro lugar,
para a realização de nosso trabalho de campo, utilizamos o método de caso estendido
(extended case method), disseminado por Burawoy (1998). Tal método consiste na integração
de técnicas de coleta de dados e pesquisa em fontes de informação diversificadas. Feyerabend
(1993) admitiu o uso da flexibilidade durante o percurso metodológico em uma pesquisa
empírica na área das ciências sociais. Para este autor, o caminho entre o método proposto e a
investigação não é linear, o que pressupõe várias adaptações e reavaliações ao longo da
trajetória do trabalho de campo.
A análise teórica vista na primeira parte deste trabalho enfatizou a imbricação entre a análise
do desempenho empresarial das PME, do capital social e do ambiente institucional. O capital
social local, função do grau de coesão e da maturidade das instituições locais, é visto como
um pré-requisito fundamental para o bom desempenho econômico das micro e pequenas
empresas reunidas em um território. No caso de Itaguaí, em que a possibilidade de expansão
da atividade portuária já é uma realidade, a questão que se coloca para as instituições locais e
para a economia do município é a de capturar os benefícios econômicos e sociais provenientes
da expansão do Porto de Sepetiba. Para se atingir esta meta, as redes e o capital social são
cruciais.
Desta forma, as empresas foram analisadas em articulação com outros aspectos (existência de
capital social, formação de redes e o ambiente institucional local), através da conjugação e da
articulação de informações coletadas em âmbitos diferenciados, formando a possibilidade de
articular o objeto analisado (as PME em uma perspectiva micro) em uma realidade mais
abrangente (ambiente institucional meso), tomando em consideração simultaneamente as duas
escalas de análise.
3.2.1. Método e fontes de informação
A base do trabalho empírico é constituída pela coleta de informações secundárias sobre dados
de volume de produção, número de estabelecimentos e do emprego local (estas três variáveis
desagregadas por setor de atividade econômica) e também sobre a história de Itaguaí e pelas
pesquisas independentes junto aos empresários e responsáveis pelos projetos de apoio. A
utilização dos dados secundários fez-se necessária para se ter um quadro atual e recente da
economia do município, uma espécie de raio-x que nos permitisse identificar os principais
setores de atividade não apenas em termos estáticos, mas também em termos dinâmicos
(levando-se em consideração sua evolução nos últimos anos da década de 1990). Ao mesmo
tempo, os dados secundários nos permitiram confrontar a realidade econômica de Itaguaí com
a evolução de outros sítios produtivos, como o interior do Estado fluminense e parte da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro. A escolha destes materiais (dados primários e
secundários) e métodos de investigação (confrontação da pesquisa de campo aos pressupostos
teóricos e aos dados secundários considerados relevantes para análise) deve-se a uma
metodologia de combinação da informação recolhida com dados mais abrangentes,
disponíveis nas estatísticas secundárias (Feyerabend, 1993).
Estas variáveis mais gerais, que são os dados secundários, foram obtidas junto a três fontes de
informação. Os dados sobre volume de produção, desagregados por setores de atividade
econômica, foram obtidos junto aos Anuários Estatísticos do Estado do Rio de Janeiro,
publicados anualmente pelo CIDE, um órgão de acompanhamento econômico ligado à
Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Turismo. Os dados setorializados
foram consultados para os anos de 1996 a 2001, o que nos deu uma idéia da evolução recente
da economia do município. Estes mesmos dados foram deflacionados até o ano de 2000,
isolando da evolução dos dados os efeitos da inflação. A esses dados foi acrescentado o
volume de produção do município de Itaguaí para 1994, mas desta vez agregado para todos os
setores de atividade econômica. O objetivo de recuar em dois anos o dado sobre valor da
produção foi para se ter uma idéia mais precisa da evolução econômica recente do município.
Estes dados encontram-se expostos e analisados no capítulo 4.
Um segundo conjunto de dados secundários refere-se aos dados de volume de emprego e
número de estabelecimentos, também por setor de atividade econômica. Estes dados foram
obtidos junto a RAIS (Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho do Ministério
do Trabalho e Emprego), colhidos para os anos 1994, 1998 e 2001. O espaçamento entre os
anos de referência justifica-se pela intenção de se ter uma idéia da evolução destas variáveis, e
não uma fotografia estática de cada um desses anos que se situam neste intervalo de tempo.
Utilizando três anos como referência, os dados sobre o mercado de trabalho e o número de
estabelecimentos poderiam ser comparados com a evolução, para o mesmo intervalo de
tempo, da atividade econômica (dados do CIDE). Esses dados secundários sobre o mercado
de trabalho encontram-se analisados na subseção 4.2.2. Ainda nesta subseção, encontram-se
analisados alguns dados sobre as finanças públicas municipais.
Finalmente, um terceiro conjunto de dados refere-se aos demográficos e populacionais, que
não só nos permitiu elaborar um quadro da dinâmica populacional recente do município de
Itaguaí, mas também aferir alguns índices de desenvolvimento, como PIB per capita e o
índice de desenvolvimento humano, ambos mostrados na subseção 4.2.1. Os dados
populacionais foram obtidos junto ao IBGE, para os mesmos anos que foram utilizados para
as variáveis econômicas.
A virtude e a qualidade destes dados secundários refere-se ao fato de permitirem uma
comparação do sítio pesquisado com outras realidades econômicas locais, possibilitando-nos,
numa primeira aproximação, mesmo que mais agregada, perceber as especificidades do
município de Itaguaí em relação aos seus municípios vizinhos ou a outras regiões pré-
definidas. Por exemplo, no escopo do Programa de Pesquisa do Grupo de Inovação do
IE/UFRJ, mencionado acima, a dinâmica econômica recente do município de Itaguaí foi
comparada com a evolução de três outros municípios do Estado do Rio de Janeiro: Campos
dos Goytacazes, Nova Friburgo e Macaé. Ainda no âmbito desta pesquisa, mas cujos
resultados foram replicados no nosso trabalho e estão expostos na seção 4.2, a economia de
Itaguaí foi comparada com o interior do Estado fluminense e com os municípios que
compõem a Região Metropolitana do Rio de Janeiro (excluída a capital). Estas comparações
nos permitiram formular algumas hipóteses iniciais sobre o comportamento recente da
economia do município, posteriormente confrontadas com a pesquisa de campo (aplicação
dos questionários e entrevistas institucionais).
No entanto, os dados secundários não seriam suficientes para a nossa investigação empírica,
nem tampouco para a adequação do trabalho de campo aos pressupostos teóricos adotados.
Em primeiro lugar, os dados secundários não contêm informações sobre as estratégias internas
de gestão das empresas. Estatísticas sobre o volume e a evolução do faturamento, o uso de
tecnologias de informação e de gestão, o financiamento das empresas, a capacitação de seus
funcionários, a evolução salarial, a evolução da qualificação do pessoal empregado, as
principais inovações adotadas no período recente, são apenas algumas das variáveis obtidas
através da aplicação dos questionários às empresas, e que não estão disponíveis nas
estatísticas secundárias. Em segundo lugar, as variáveis obtidas a partir da aplicação destes
questionários foram fundamentais para saber como as micro e pequenas empresas do
município se relacionam com o ambiente institucional local. Ou seja, além das questões
referentes à gestão interna das empresas, uma parte do questionário contemplou também as
redes e relações externas às empresas, os grupos sociais e econômicos dos quais fazem parte e
as suas relações com o que chamamos de aparato regulador local. Assim, uma série de
variáveis, necessárias para nossa investigação, não está disponível nas estatísticas secundárias.
A leitura dessas variáveis se constituirá num elemento fundamental para a identificação das
redes e a mensuração do estoque de capital social.
Mas o uso de estatísticas primárias não se restringiu às variáveis obtidas através da aplicação
dos questionários às empresas. Utilizamos também um guia de entrevistas que nos serviu de
orientação para as entrevistas abertas, que foram feitas junto às instituições, organismos locais
e algumas lideranças da região. Estas pesquisas junto às instituições e organismos locais, e
também junto aos responsáveis pelo programa de apoio, nos possibilitou cruzar as
informações obtidas através dos dados secundários e primários com as descrições e os
depoimentos originados pelas entrevistas abertas, nos possibilitando uma espécie de
“confrontação retórica” entre os registros obtidos (nas entrevistas de campo) e as hipóteses
teóricas. Na seção a seguir voltamos a tratar do conteúdo do guia de entrevistas.
3.2.2. O trabalho de campo
Nesta subseção tratamos do percurso proposto e realizado durante o trabalho de pesquisa de
campo. Em primeiro lugar, fazemos uma breve resenha da problemática atual de
desenvolvimento do município, que tem por objetivo justificar a escolha dos setores de
atividade e a seleção de empresas que foram entrevistadas a partir desta definição dos setores.
Em segundo lugar, fazemos algumas considerações sobre os setores de atividade econômica
escolhidos para o trabalho de campo e sobre a amostra de empresas para as quais os
questionários foram aplicados. Em terceiro lugar, vemos quais foram os instrumentos de
coleta dos dados primários, para finalmente tecer algumas considerações acerca das
limitações do trabalho de campo.
3.2.2.1. A problemática do desenvolvimento econômico local de Itaguaí
Não existe no município de Itaguaí uma especialização produtiva constitutiva, atrelada seja a
sua história seja a alguma opção deliberada do poder público local que se traduza em
investimentos públicos e ordenação dos territórios produtivos. Em outras palavras, não há
uma concentração de atividades em algum setor da economia do município, com um nível
elevado de especialização.
A vocação agrícola, que vigorou até meados dos anos 1970, não existe mais. A atividade
pesqueira, que ainda mobiliza uma grande proporção da força de trabalho local, contando
inclusive com organizações e sindicatos bastante ativos, tem obtido resultados cada vez mais
pífios na sua produção, o que seria resultado da degradação ambiental provocada pelas obras
de expansão do Porto de Sepetiba. Dada a desfiguração dos loteamentos que antigamente
serviam à atividade agrícola, a escassez estrutural de mão-de-obra disponível para o trabalho
no campo e o caráter irreversível da modificação ambiental pela qual passou a Baía de
Sepetiba, podemos argumentar que estas duas atividades dificilmente voltariam a se constituir
em alavancas de um processo de desenvolvimento local. Poderiam, no máximo, passar por
uma reestruturação para absorver o excedente de mão-de-obra que não encontrasse posto no
mercado de trabalho urbano da região (prestação de serviços, comércio e indústria).
Se considerarmos a história da ocupação territorial do município, veremos que Itaguaí sempre
fez parte do vetor de expansão da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em direção à sua
Zona Oeste. Tanto a Zona Oeste do Rio de Janeiro, como Itaguaí e mesmo a Baixada
Fluminense, fazem parte de um conjunto territorial que passou a receber, a partir dos anos
1950, o excedente populacional do Rio de Janeiro. A ocupação desta área foi intensa e
desordenada, refletindo a expansão econômica da metrópole e a busca por espaços
desocupados: “como não houve uma proposta básica que se antecipasse à ocupação, antigas
áreas agrícolas foram desmembradas e loteadas sem serem precedidas de um plano urbano,
um traçado identificando espaços públicos e privados” (Cocco, 1999).
Ao mesmo tempo em que a população era deslocada para áreas mais afastadas do centro
urbano da capital, novas plantas industriais eram concebidas para ocupar a Zona Oeste e a
Baixada, estendendo-se até Itaguaí. Data dos anos 1970 o planejamento e a instalação, pela
Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro (CODIN), dos
diversos distritos industriais, dentre os quais se destaca, na região ora em análise, o Distrito
Industrial de Santa Cruz. A partir daí o município de Itaguaí passa por profundas mudanças
em sua estrutura rural-urbana. Ao mesmo tempo, são anunciados novos projetos industriais
que se instalariam no município, como o Pólo Petroquímico, uma Zona de Processamento de
Exportações (ZPE), o próprio Distrito de Itaguaí e o Complexo Portuário Industrial de
Sepetiba. Acontece que estes projetos não vieram, mas isso não impediu que a população de
Itaguaí crescesse, durante a década de 1970, a uma taxa média geométrica anual de 5,35%
(apud IBGE, Censos Demográficos e Contagem Populacional, 1996).
Podemos desta maneira antecipar, desde já, uma das características da economia de Itaguaí: a
forte dependência desta economia em relação ao anúncio de projetos industriais de grande
porte que, na maioria das vezes, são fruto de decisões tomadas no âmbito externo aos centros
institucionais e empresariais locais. Desta forma, parece ter sempre havido um grande peso,
no PIB e no emprego local, da operação de grandes unidades produtivas, o que tornou a
economia de Itaguaí fortemente dependente do desempenho econômico dessas grandes
unidades. É o caso da Companhia Industrial e Mercantil de Ingá, do próprio Porto de Sepetiba
e de outro grande empreendimento no município: a Nuclep.
A partir de 1998 começou a ganhar fôlego o Projeto Sepetiba, com a consolidação da
Sepetiba Tecon e o desenho do Porto de Sepetiba como novo pólo de desenvolvimento local.
O Projeto Sepetiba constitui-se em um dos eixos do Plano Brasil em Ação (1996-1999) e é
entendido pelas autoridades federais como fundamental para a recuperação econômica, não só
da Região Sudeste, como de boa parte do Brasil. Desta forma, temos, de um lado, uma
economia em declínio que jamais recuperou a sua outrora promissora vocação agrícola nem
tampouco experimentou os benefícios da industrialização (apesar de todas as promessas e
anúncios feitos) e, de outro, uma economia ascendente que poderia fazer aportar em Itaguaí
um pólo de desenvolvimento fundado numa economia portuária de serviços, fazendo a
economia local saltar de uma vocação eminentemente agrícola, tão propalada nos anos 1950,
para uma economia dos serviços, já nas primeiras décadas do século XXI.
A questão que se coloca atualmente é se a cidade de Itaguaí (e sua economia) será capaz de
endogeneizar os efeitos do crescimento do Porto de Sepetiba. Por endogeneização
entendemos a capacidade de reação que permitirá aos atores locais beneficiarem-se das
externalidades econômicas oriundas da expansão e do desenvolvimento do Porto de Sepetiba,
num sentido de captura, pelas instituições locais, dos avanços trazidos por esta expansão. Sob
o ponto de vista econômico, esta capacidade de reação autônoma poderá ser medida pela
capacidade de atração de novas empresas, pela criação de efeitos emuladores sobre a
economia do município, pela formação de redes com finalidades produtivas e comerciais, pela
criação de uma logística de transportes que seja integrada ao município, etc. O papel das
instituições, organismos e poder público local são fundamentais neste processo.
3.2.2.2. Definição da amostra de empresas entrevistadas e dos setores escolhidos
Antes de expor o quadro de análise e de mostrar como os dados primários foram coletados e
organizados de modo a se colher as informações que nos levarão a identificar e avaliar a
existência de capital social no sítio pesquisado, cabem alguns comentários sobre como
definimos a amostra de empresas que foram entrevistadas.
Em primeiro lugar, não foi nosso objetivo trabalhar com uma amostra com representatividade
estatística. Apesar da amostra representar em torno de 10% do universo de empresas de
Itaguaí (entrevistamos um total de 100 empresas para um universo de 988 44), ela foi
escolhida de forma intencional considerando-se as estatísticas secundárias disponíveis entre
os anos de 1985 e 2001 e o inventário de projetos de apoio existentes, que juntos conformam
a problemática de desenvolvimento local. 45
Desta forma, estas empresas não foram escolhidas aleatoriamente e nem representam todos os
setores de atividade econômica do município. Dentre os setores de atividade econômica
presentes em Itaguaí foram escolhidos quatro (setores de transportes, construção civil,
indústria e prestação de serviços) e as empresas entrevistadas fazem parte apenas desses
setores. Os motivos da escolha desses quatro setores podem ser resumidos através de uma
matriz que chamamos matriz setorial dos vetores de crescimento, que se constitui numa
síntese dos dados secundários que estão apresentados no capítulo seguinte.
44 Dados da RAIS para o ano de 2001. Estamos considerando aqui apenas o conjunto da economia formal de Itaguaí. 45 Uma exposição preliminar da problemática de desenvolvimento econômico local de Itaguaí encontra-se em Melo, Muls e Bécue (2003): “Uma Análise Preliminar da Configuração Produtiva do Município de Itaguaí”. Este artigo faz parte do livro O Desenvolvimento Econômico Local no Estado do Rio de Janeiro – Quatro Estudos Exploratórios: Campos, Itaguaí, Macaé e Nova Friburgo, organizado pelos Professores Yves-A. Fauré e Lia Hasenclever e publicado no âmbito do Programa de Pesquisa “As Transformações das Configurações Produtivas Locais no Estado do Rio de Janeiro: instituições, interações, inovações”, um convênio entre o IE/UFRJ e o IRD/França.
Esta matriz consiste no cruzamento de duas variáveis verificadas para todos os setores de
atividade econômica : (i) o percentual de crescimento nominal do PIB entre 1996 e 2001 e (ii)
o peso do setor no volume total de emprego formal do município em 2001. Setores que
apresentam altos valores para as duas variáveis serão chamados de vetores do crescimento
(ver o Quadro 5 a seguir).
Quadro 5: Matriz para identificação de vetores de crescimento – Itaguaí Peso no emprego formal local em 2001 Cruzamento do peso do setor no
volume de emprego (2001) com a evolução do PIB (1996/2001) Forte Médio Fraco
Forte
Comércio varejista
Prestação de serviços
Transporte e telecomunicações
Serviços Industriais de
Utilidade Pública
Médio Intermediação
Financeira
Crescimento do PIB
setorial entre
1996/2001
Recuo Construção Civil
Indústria Agricultura/Pesca
FONTE: Elaboração própria a partir do CIDE (2002) e RAIS (2003).
Desta forma, dentre os setores que tinham um peso importante no volume total de empregos
em 2001, apenas a prestação de serviços e o transporte e telecomunicações tiveram um
crescimento relativamente forte em seu valor adicionado entre os anos de 1996 e 2001. Este
crescimento baseia-se no dinamismo da atividade portuária, uma vez que as principais
empresas situadas no Porto de Sepetiba pertencem, reconhecidamente, aos setores de
prestação de serviços e de transportes.
Os setores da construção civil e da indústria, apesar de terem apresentado uma queda
significativa no seu valor adicionado nos últimos cinco anos da década de 1990, ainda
conservam uma importância relativamente grande no peso do emprego local. Resta investigar
até que ponto estes setores ainda podem se constituir em vetores de crescimento para a
economia de Itaguaí, senão numa posição de vanguarda e como “puxadores” da economia, ao
menos como setores subordinados aos setores mais modernos ligados à expansão do Porto de
Sepetiba.
O peso destes quatro setores (transportes, construção civil, indústria e prestação de serviços)
na economia de Itaguaí difere segundo o tipo de variável que se considera. Se considerarmos
o valor da produção (PIB), os quatro setores somados representam 60% da economia de
Itaguaí (ver Tabela 1 abaixo). No entanto, se considerarmos o número de empresas, esses
quatro setores representam 28% do total de estabelecimentos de Itaguaí e em relação ao
volume de emprego eles representam, juntos, 69% do total.
Tabela 1: Representação dos quatro setores escolhidos na economia de Itaguaí PIB (R$ 1.000,00)
(CIDE, 2000) Número de empresas
(RAIS, 2001) Total de emprego
(RAIS, 2001) Valor total para os quatro setores escolhidos = (A) 293.378 277 8.590
ITAGUAÍ = (B) 489.901 988 12.416 (A)/(B) 60 % 28 % 69 %
FONTE: CIDE (2001), RAIS (2001) e pesquisa de campo (2003).
Como podemos ver na tabela acima, os setores escolhidos são bastante significativos no
conjunto da economia local sob o ponto de vista da produção e do total de emprego (se
considerarmos que as classificações do CIDE e da RAIS englobam, ambas, onze setores de
atividade econômica), mas do ponto de vista do número de empresas (estabelecimentos)
representam relativamente pouco.
Tendo visto a representação dos quatro setores escolhidos no conjunto da economia de
Itaguaí, passamos agora a ver como estes quatro setores se distribuem entre si, ou seja, qual é
o peso de cada um deles na soma dos quatro, para então podermos comparar esta distribuição
com a distribuição das empresas entrevistadas. Fazendo a soma dos quatro setores igual a
cem, podemos observar, na Tabela 2 abaixo, que o setor portuário/transportes representa, em
termos de valor adicionado, 32% da soma dos quatro setores. Ainda em termos de valor da
produção, o setor da construção civil representa 12%, o setor industrial 6% e o setor de
prestação de serviços 50% da soma dos quatro setores escolhidos. Se escolhermos a variável
número de empresas, o setor de transportes é o menos significativo dentre os quatro setores
escolhidos, com 13% do número total de empresas nos quatro setores; a construção civil fica
com 18%, a indústria com 39% e a prestação de serviços com 30%. Finalmente, no que se
refere ao volume de emprego gerado, o setor de prestação de serviços às empresas é de longe
o setor que mais emprega entre os quatro: 60% do emprego nos quatro setores situam-se na
prestação de serviços. Em segundo lugar vem o setor de transportes (17%) e logo depois a
indústria (15%); em último lugar a construção civil com 8% do emprego total gerado por estes
quatro setores.
Tabela 2: Proporções de cada setor no conjunto dos quatro setores escolhidos
Setores:
Proporção do PIB no conjunto dos 4 setores
escolhidos (2000)
Proporção do número de empresas no conjunto
dos 4 setores escolhidos (2001)
Proporção do emprego no total dos 4 setores escolhidos
(2001) Transportes e atividades portuárias 32 % 13 % 17 %
Construção civil 12 % 18 % 8 % Indústria 6 % 39 % 15 % Prestação de serviços às empresas 50 % 30 % 60 %
Valores totais (absolutos) para os 4 setores somados
R$ 293.378 (Em R$1.000,00) 277 empresas 8.590 empregos
FONTE: CIDE (2001), RAIS (2002) e pesquisa de campo, 2003.
O que devemos levar em conta nesta distribuição dos pesos relativos é se a nossa amostra de
empresas entrevistadas corresponde a essa distribuição setorial presente na economia de
Itaguaí. Se compararmos a distribuição setorial de nossa amostra com o peso dos setores de
atividade na economia de Itaguaí, veremos que, grosso modo, o setor da prestação de serviços
às empresas está sub-representado e o setor da construção civil está sobre-representado. Com
14% de empresas entrevistadas no setor de prestação de serviços, esta proporção não
corresponde aos 50% da produção dos quatro setores escolhidos no setor de serviços,
tampouco aos 30% de empresas que o setor representa ou aos 60% de emprego que ele gera
entre os quatro setores. Ao mesmo tempo, o setor da construção civil, com 36% das empresas
entrevistadas (muitas delas no comércio da construção civil), tem uma representação muito
acima dos 12% que ele representa em termos de produção, dos 18% que ele representa em
termos de número de empresas e dos 8% em termos de volume de emprego.
Por outro lado, a representação dos setores do transporte e da indústria está bem balanceada,
apesar da indústria ter uma participação relativa muito baixa em termos de valor da produção
(apenas 6% do total da produção dos quatro setores escolhidos). Mas por ser um setor
importante, representar 39% das empresas no conjunto dos quatro setores escolhidos e
empregar 15% de sua mão-de-obra, a proporção de 23% na amostra de empresas entrevistadas
se justifica. O setor de transportes (incluindo as atividades portuárias), considerado o setor
“puxador” de uma dinâmica de desenvolvimento local, está bem representado entre as
empresas entrevistadas, com 27% de participação.
3.2.2.3. Os instrumentos de coleta de dados primários: o questionário aplicado às
empresas e o guia de entrevistas institucionais
Os instrumentos de coleta dos dados primários, que se referem ao questionário aplicado às
empresas e ao guia de entrevistas institucionais, pertencem ao Programa de Pesquisa “As
Transformações das Configurações Produtivas Locais no Estado do Rio de Janeiro:
instituições, interações, inovações”, implementado pelo IE/UFRJ e coordenado por
professores vinculados ao seu Grupo de Inovação. Assim como o conjunto de dados
empíricos que serviram de base para a pesquisa de campo deste trabalho resulta de
investigações conduzidas junto às empresas e às instituições no âmbito do mesmo programa
de pesquisa.
Como o escopo do programa de pesquisa é muito mais amplo do que as questões levantadas
para a investigação empírica desta tese, é natural que tenhamos utilizado apenas uma parte das
variáveis disponibilizadas através da aplicação dos questionários. Uma parte dos dados
coletados para este programa de pesquisa foi selecionada para responder às investigações
centrais discutidas na parte teórica deste trabalho, a saber: qual o papel do capital social no
engajamento das empresas ao desenvolvimento econômico local? Em que medida a existência
de capital social permite uma melhor apropriação, por parte das empresas, dos benefícios de
desenvolvimento aportados pelo Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba?
O questionário aplicado às empresas foi o instrumento principal da pesquisa de campo. O
questionário é constituído por doze seções de perguntas, que foram feitas diretamente ao
responsável pela gestão da empresa (normalmente o proprietário ou um gerente). Cada
questionário respondido foi classificado de acordo com o setor de atividade econômica
(CNAE/1995) ao qual pertence a empresa, nos permitindo assim comparar o peso das
empresas entrevistadas com o peso dos respectivos setores na economia de Itaguaí.
O questionário é composto por perguntas sobre as características gerais da empresa, a situação
do empresário, a trajetória da empresa, sua organização e gestão recente, o ambiente
econômico da empresa (incluindo aspectos de sua localização), o mercado de trabalho, o
sistema de inovações adotado pela empresa (incluindo aspectos de sua localização), o
mercado de trabalho, a geografia das transações econômicas da empresa, as relações que a
empresa estabelece com o ambiente institucional, suas relações com os programas de apoio e
os problemas, expectativas e previsões do empresário. Este conjunto de temas (que
correspondem às doze seções que mencionamos no parágrafo anterior), nos proporciona um
universo de variáveis que é muito mais abrangente do que o recorte teórico que foi feito para
esta tese. A quantidade de variáveis e as várias possibilidades de cruzamentos que podem ser
feitos entre as variáveis, com o objetivo de se preencher os requisitos de uma pesquisa
empírica sobre o desenvolvimento econômico local, pode ser inferida diretamente através da
observação do próprio questionário (Anexo 1).
Um segundo instrumento utilizado na pesquisa de campo, que também foi tomado emprestado
do programa de pesquisa citado acima, constitui-se no guia de entrevista às instituições e
lideranças locais, que foi utilizado como um roteiro para as entrevistas abertas. Este guia,
contendo questões sobre os principais temas da economia local e sobre a concepção e a gestão
dos programas de apoio, teve que ser adaptado à economia de Itaguaí e às suas
especificidades, inclusive no que se refere ao programa de apoio vinculado ao Porto de
Sepetiba. O guia de entrevista é composto por cinco eixos temáticos: i) características gerais
dos programas de apoio; ii) concepções e objetivos dos programas de apoio; iii) organização e
meios de ação dos programas de apoio; iv) resultados obtidos pela ação do programa de
apoio; e v) as relações entre o programa de apoio, os empresários e a sociedade civil local.
No estudo de caso de Itaguaí estas questões do guia de entrevistas tiveram de ser adaptadas,
devido ao fato de não termos encontrado, no sítio pesquisado, nenhum programa de apoio
vinculado institucionalmente a um organismo específico que atua na região. O programa de
apoio destacado, qual seja, o Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba, é
um programa excepcional cuja esfera de execução situa-se fora do município pesquisado, e
não está vinculado a nenhuma instituição em particular, mas é o resultado da ação de vários
órgãos transversais cujos interesses nem sempre coincidem com os interesses das instituições
do município ou com os setores e segmentos aí representados.
A originalidade deste trabalho de tese está em definir um quadro de análise particular,
enfatizando um dos aspectos estudados pelo programa de pesquisa acima citado: as relações
entre as redes e o estoque de capital social existente no sítio e a arquitetura do seu ambiente
institucional. Focalizamos a nossa atenção na maneira como os empresários vêem o processo
de formação de redes: a importância que eles atribuem às redes de parceria e de cooperação,
quais são os seus parceiros em potencial, se eles entendem que estas redes são favoráveis para
o desempenho de sua empresa, e quais são as instituições, organismos e associações que eles
procuram para resolver algum problema pertinente à sobrevivência ou a expansão de sua
empresa. Levantamos questões do tipo: “O fato das empresas atuarem em Itaguaí representa
um empecilho ou uma vantagem locacional?” “Como os empresários vêem a mobilização da
sociedade civil em torno da crescente influência que o Porto de Sepetiba poderá ter sobre o
município e a região?” Estas questões, algumas complementares ao questionário, constituem
dados primários coletados junto aos empresários ou às suas representações de classe.
No que se refere ao questionário aplicado às empresas, optamos por analisar aquelas variáveis
que poderiam nos dizer algo acerca das redes de relações entre as empresas, os organismos e
serviços técnicos oficiais do município e a sociedade civil. Estas redes abrangem as
manifestações das instâncias intermediárias de coordenação e a sua densidade e coesão
apontam para a existência de capital social no município, o que por sua vez representa uma
condição inicial para o surgimento de uma reação autônoma do território. A quantidade e a
densidade dessas redes são a base a partir da qual podemos mensurar o estoque de capital
social existente no município. Desta forma, as variáveis primárias obtidas a partir do
tratamento do questionário nos permitiram identificar redes de relações dos seguintes tipos: i)
redes entre as empresas e o poder público local (municipalidade e serviços técnicos oficiais);
ii) redes entre as empresas (tecido empresarial local) e a sociedade civil; iii) redes entre o
poder público local e a sociedade civil; iv) redes inter-empresas.
Pela hipótese que desenvolvemos na parte teórica, é a densidade e a qualidade destas redes
que irá definir a existência ou não de capital social no território pesquisado. Após a exposição
e a interpretação das entrevistas, estamos aptos a fazer, na última seção do capítulo 5, uma
primeira tentativa de avaliação da mensuração, qualitativa, das relações entre as redes de
PMES e o quadro institucional local. A partir desta avaliação podemos, no capítulo 6,
discorrer sobre as implicações deste diagnóstico para o desenvolvimento endógeno da região.
No que se refere ao guia de entrevistas institucionais, uma boa parte das questões levantadas
pelo guia (cujos eixos temáticos foram expostos em parágrafo anterior) puderam ser
respondidas através das entrevistas abertas. Desta forma, algumas questões pertinentes ao
Projeto Sepetiba encontram-se, em parte ou integralmente, respondidas no capítulo 6.
Questões sobre a sua natureza técnica e institucional, as condições e as circunstâncias gerais
de sua criação, as formas de ação previstas, as relações entre o projeto e a realidade sócio
econômica local, a descrição do seu processo decisório, os pontos positivos e negativos da
execução do projeto, o modo pelo qual os fatores institucionais condicionam ou potencializam
os efeitos esperados do programa de apoio, as expectativas dos empresários e da sociedade
civil em relação ao projeto, que tipo de informações são repassadas aos empresários e à
sociedade civil, quais são as demandas destes dois conjuntos de atores em relação ao
programa de apoio, são questões que nos permitiram avaliar em que medida a população local
está engajada neste programa de apoio em particular e em um projeto de desenvolvimento
econômico local em geral.
Como o programa de apoio considerado não está diretamente vinculado a nenhuma instituição
local, procuramos, para falar sobre as características gerais do programa, uma das pessoas que
o idealizou junto às instâncias federais de coordenação política. Ao nível local, procuramos
aquelas instituições que são as mais representativas da classe empresarial, do poder público
municipal e da sociedade civil, entrevistando as pessoas responsáveis ou aquelas que estão em
postos de comando destes organismos e associações. Entre o município e a instância de poder
federal, também conversamos, sobre o Projeto Sepetiba, com as instâncias estaduais de
coordenação política, apresentando seminários e discutindo a metodologia da pesquisa em
órgãos representativos como a FIRJAN e a FINEP, com a presença de Secretários de Estado e
representantes do Governo Estadual. Muitas vezes, tivemos que confrontar os depoimentos de
algumas lideranças estaduais com as hipóteses teóricas e a observação de dados empíricos que
não correspondiam à realidade por eles observada, nos levando a um exercício de
confrontação entre a retórica e a investigação científica que procurávamos sempre levar para
as discussões internas ao nosso grupo pesquisa (Grupo de Inovação do Instituto de
Economia).
De forma geral, os dois conjuntos de material de investigação empírica selecionados e obtidos
através do guia de entrevistas e do questionário às empresas (os dois instrumentos de coleta de
dados primários que utilizamos no trabalho de campo), foram amplamente satisfatórios e
permitiram responder às questões levantadas ao longo da pesquisa.
3.2.2.4. Limitações do trabalho de campo e estratégias de controle
Foram vários os percalços e os desvios de rota que encontramos durante o percurso do
trabalho de campo. Um primeiro problema apareceu quando se constatou que várias empresas
selecionadas, a partir de um cadastro fornecido pela Prefeitura Municipal, para fazerem parte
do grupo de empresas que seriam entrevistadas, não mais existiam ou tinham mudado de
endereço, e não poderiam mais ser localizadas. Isto não se constituiria num problema se as
empresas “mortas” pudessem ser trocadas por outras do mesmo setor de atividade. A partir da
investigação e da análise dos dados secundários, escolhemos quatro setores de atividade e
atribuiu-se uma ponderação para cada setor, em função de seu peso no volume total de
produção de Itaguaí (PIB local). O número de empresas entrevistadas deveria seguir este fator
de ponderação. Acontece que, na medida em que as empresas foram sendo eliminadas do
cadastro inicial, este fator de ponderação não pôde ser mais respeitado, e tivemos que ajustá-
lo em função das variáveis número de estabelecimentos e volume de emprego. Ainda assim,
alguns setores ficaram sub ou super representados no que se refere ao número de empresas
que foram entrevistadas, como foi visto na subseção 3.2.2.2 acima.
Uma segunda dificuldade referiu-se à própria compreensão da definição de programa de apoio
por parte das pessoas entrevistadas. Muitos empresários sequer tinham ouvido falar em
programas de apoio, sendo necessária uma intervenção do entrevistador para explicar do que
se tratava. Ainda assim, o índice de participação das empresas entrevistadas em programas de
apoio foi zero ou próximo de zero. Tivemos então que reconsiderar a problemática sobre os
programas de apoio de modo a ter um maior grau de participação das empresas entrevistadas a
algum programa de apoio.
Inicialmente, tendo em vista a aplicação dos questionários, não foi verificada a incidência de
nenhum programa de apoio relacionado às empresas entrevistadas. A resposta ao quesito
programa de apoio foi nula. Em função disto, escolhemos um segundo critério, fora do escopo
do questionário, para definirmos um programa de apoio. De fato, o programa de apoio que
definimos é um programa supra-institucional e não é sustentado ou gerenciado por nenhuma
instituição ou organismo local.
O programa de apoio considerado foi o Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de
Sepetiba. Consideramos como empresas apoiadas as que estão localizadas na área portuária,
bem como aquelas que estão no seu entorno e que se beneficiaram de sua expansão. Assim,
segundo os critérios adotados, foram encontradas, em nossa amostra, quatorze empresas
apoiadas. Destas, sete localizam-se no Porto de Sepetiba e outras sete são empresas que não se
localizam no Porto de Sepetiba, mas possuem relações econômicas com empresas situadas no
Porto. Um segundo critério para a inclusão deste último grupo de sete empresas é que o seu
desempenho econômico tenha sido alterado em função da expansão das atividades do Porto de
Sepetiba. Desta forma, as empresas apoiadas representam 14% do total da nossa amostra
(temos um total de 14 empresas apoiadas contra 86 não apoiadas).
O terceiro problema referiu-se à visão extremamente politizada e retórica de alguns
interlocutores entrevistados acerca do Projeto Sepetiba e a dificuldade de diferenciar entre a
realidade local e as expectativas dos atores. Vários fóruns dos quais participamos contavam
com o apoio de instituições de classe que representavam atores sociais e políticos que tinham
interesses específicos, e às vezes era difícil separar a análise e as projeções feitas por esses
atores da realidade projetada pela observação empírica e pelos dados primários. Vários dos
depoimentos e dos testemunhos obtidos tinham a interferência de fatores políticos e interesses
comerciais.
3.2.3. Considerações sobre o quadro de análise
O objetivo desta subseção é expor o quadro de análise utilizado para interpretar as variáveis
primárias colhidas na pesquisa de campo. Ou seja, como iremos interpretar as respostas
obtidas através da aplicação dos questionários às empresas e das entrevistas abertas? Para a
exposição do quadro de análise, devemos ter claro quais foram as questões e variáveis eleitas
no escopo de nossas preocupações teóricas. Retomando os recortes que foram feitos
anteriormente, tanto para os questionários como para as entrevistas abertas, podemos separar
em dois grandes conjuntos as interpretações que damos às possíveis respostas obtidas na
coleta dos dados primários.
O primeiro conjunto refere-se à aplicação dos questionários às empresas. As variáveis obtidas
através deste instrumento de pesquisa referem-se ao meio empresarial e ao ambiente
econômico (internos e externo) da empresa. Um primeiro subconjunto diz respeito a três
variáveis: caracterização das empresas, seu ambiente econômico e o seu tempo de atuação no
sítio pesquisado. A caracterização das empresas pôde ser definida através de dados sobre
faixa de faturamento e número de empregados. Confirmamos que a maioria de nossa amostra
pertence à categoria micro e pequenas empresas, o que nos levou à formulação da hipótese de
que o desenvolvimento do município e da região deve levar em consideração uma
configuração produtiva que inclua essas pequenas unidades empresariais em um projeto
comum de desenvolvimento para a região. Por seu turno, as micro e pequenas empresas só
podem participar ativamente de um processo de desenvolvimento local se elas estiverem
operando através de redes de cooperação e de parceria, o que também foi levado em
consideração pelo recorte de variáveis que fizemos a partir do questionário aplicado às
empresas.
A terceira variável diz respeito ao tempo de atuação da empresa no sítio pesquisado. Para esta
variável, esperamos que quanto maior for o seu tempo de atuação no sítio pesquisado, maior a
sua participação em organismos, sindicatos e/ou outras organizações no município ou na
região e maior a probabilidade que elas participem de alguma associação ou cooperação com
outras empresas e que utilizem a infra-estrutura regional/municipal. Em suma, o tempo de
atuação da empresa no município poderá estar correlacionado à sua adesão institucional, o
que nos leva a formular a hipótese de que a alta taxa de mortalidade das micro e pequenas
empresas do município é um empecilho para que estas participem do quadro institucional
local. Outro fator que pode estar positivamente correlacionado ao grau de adesão institucional
da empresa e à sua participação em organismos e instituições é o grau de escolaridade do
empresário. Veremos se maiores níveis de escolaridade do empresário estão vinculados à
participação da empresa em instituições locais.
Um segundo subconjunto de variáveis (também relacionadas ao questionário aplicado às
empresas) diz respeito à organização e gestão interna das empresas. Variáveis como o uso de
tecnologias de gestão e de informação, o financiamento das empresas, suas estratégias de
investimento e inovação dizem respeito ao modo como elas lidam com o ambiente externo e
quais são as suas estratégias competitivas. Se as empresas adotam estratégias pró-ativas de
inserção competitiva, podemos antecipar uma configuração produtiva dinâmica voltada para o
mercado regional e mesmo nacional. No entanto, a ausência de programas e apoio bem
definidos e setorialmente orientados nos leva a crer que as empresas do município estão mais
voltadas para estratégias de sobrevivência do que para estratégias de inserção no mercado
regional. Isto poderá ser confirmado através do baixo índice de utilização de tecnologias de
informação e de gestão, da quase inexistência de automatização entre as empresas do
município, da escassez de programas de gestão de qualidade e de instrumentos de gestão
empresarial e do baixo recurso a programas de investimento oriundos de instituições
financeiras formais ou informais. No que se refere às estratégias de inovação adotadas pelas
empresas, elas se restringem à aquisição de máquinas e à cooperação com clientes e
fornecedores, muito pouco se considerarmos o tipo de vinculações existentes nos chamados
sistemas produtivos localizados ou aglomerações industriais.
O mercado de trabalho também foi objeto de análise através de algumas variáveis como a
escolaridade do pessoal empregado, a evolução no emprego, a evolução no salário, a evolução
da qualificação e a realização de atividades de treinamento. Este pequeno conjunto de
variáveis, juntamente com as principais fontes de informação/conhecimentos especializados
que a empresa utiliza, nos deram uma noção do tipo de relações industriais e de trabalho
empreendidas pelas empresas do município. Não esperávamos aí encontrar as propriedades
descritas por Marshall como pertencentes a uma atmosfera industrial, mas algumas indicações
positivas em relação ao nível de escolaridade, à evolução dos níveis de qualificação e à
realização de algumas atividades de treinamento, já que o emprego e a evolução da massa
salarial dependem de fatores que estão fora do alcance destas empresas. Ou seja, uma certa
solidez do mercado de trabalho local poderia estar correlacionada a uma mobilização, por
parte das empresas locais, em defender o nível de renda da população do município, o que
talvez fosse um passo importante para a consolidação de uma estratégia de desenvolvimento
econômico local.
Um outro grupo de variáveis refere-se ao mercado e à geografia das transações econômicas
das empresas. Esta parte do questionário, de onde extraímos questões sobre a localização dos
principais concorrentes, a procedência dos equipamentos, das matérias-primas e dos
fornecedores e o destino das vendas, revelou-se bastante importante para diagnosticarmos a
existência de relações econômicas de proximidade. Caso a geografia das transações das
empresas esteja dispersa e pulverizada, isto poderá ser considerado um elemento
desagregador para a economia do município e um importante obstáculo a ser ultrapassado
para a constituição de um mercado interno que favoreça o desenvolvimento econômico local.
Se o fornecimento de equipamentos, matérias-primas e demais materiais for feito através do
aprovisionamento em outros município e regiões, será necessário que os organismos e
instituições locais criem meios de preencher esta ausência de mercado através do estímulo e
da atração de novas empresas ou através da qualificação de empresas locais.
Finalmente, um último grupo de variáveis refere-se às relações das empresas com o ambiente
empresarial e institucional do município e da região. Alguns fatores como as vantagens (e as
desvantagens) da localização da empresa no município, o modo como as empresas
adequaram-se a mudanças no ambiente macroeconômico e a formação de redes de cooperação
e de parceria são elementos que podem nos indicar ou não uma coesão do tecido empresarial
local em torno de um projeto comum de desenvolvimento. Variáveis relacionadas às
vantagens locacionais dizem respeito à existência de infra-estrutura de serviços ou de
programas governamentais, o que nos remete imediatamente à utilização, por parte das
empresas, da infra-estrutura institucional e de sua participação em programas de apoio. Nas
questões que se referem às redes de parceria e cooperação, podemos medir a intensidade com
a qual as empresas se relacionam, bem como a propensão que elas têm em formar este tipo de
colaboração. Foram também medidas a intensidade da participação das empresas em
programas institucionais, com o que pudemos ter uma idéia do grau de adesão institucional
das empresas do município. Verificamos, por exemplo, que as empresas apoiadas são as que
mais cooperam, o que nos fez sustentar a hipótese de que a participação em programas de
apoio pode levar à formação de redes de parceria entre as empresas.
No que se refere às entrevistas abertas, feitas com os responsáveis pelos organismos e
instituições locais, com as lideranças empresariais, com os representantes do poder público
municipal e com as principais lideranças da sociedade civil organizada, tentamos captar em
que medida estas pessoas (e as instituições que elas representam) se sentem envolvidas com o
programa institucional representado pelo Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de
Sepetiba. O objetivo nestas entrevistas foi responder às questões mais gerais: “Como a
instituição que você representa pode vir a participar do Projeto Sepetiba?”; “Quais são os
ganhos que os cidadãos que você representa podem ter com esta participação?”. Um baixo
índice de envolvimento das pessoas entrevistadas pode tanto nos indicar um desinteresse por
parte de sua representação de classe, a falta de canais institucionais, ou ainda a ausência de
formas de intermediação institucional (formas intermediárias de coordenação) entre o
organismo respectivo e a gestão e a coordenação do Projeto Sepetiba. Essa ausência de
formas intermediárias de coordenação e de canalização de interesses poderia ser um
empecilho a um processo de desenvolvimento econômico endógeno (local).
3.3. Conclusão
Neste capítulo metodológico perseguiu-se um duplo objetivo. Primeiramente, o de fazer a
mediação entre a parte teórica e a parte empírica do trabalho. Nos pressupostos teórico-
metodológicos, a primeira seção deste capítulo, buscamos recuperar alguns conceitos que são
reutilizados no quadro de análise a partir de uma leitura operacional. Em segundo lugar,
procuramos discutir os principais passos que foram tomados na pesquisa de campo, o que
chamamos de procedimentos metodológicos (seção 3.2). Vimos então qual foi o método
seguido no percurso do trabalho de campo, as fontes de informação utilizadas, a origem, a
qualidade e as limitações das estatísticas secundárias. Pelos pressupostos teóricos adotados,
ficou claro que a utilização de dados secundários, apesar de ter sido extremamente importante
por nos fornecer uma base de comparação com outras realidades locais, não teria sido
suficiente para levar a cabo o nosso trabalho de pesquisa. Pelo fato das estratégias internas das
empresas e das políticas de formação de redes (redes entre as empresas e também entre o
tecido empresarial local e o quadro institucional) constituírem-se em variáveis fundamentais
para o diagnóstico da existência de capital social e da possibilidade de se iniciar um processo
de desenvolvimento endógeno, não poderíamos deixar de levantar dados primários que nos
indicassem o grau de adesão institucional das empresas locais. O envolvimento da sociedade
civil nos temas econômicos e sociais do município também só poderia ser conhecido através
de entrevistas abertas e de visitas às instituições e lideranças locais. Portanto, estas duas
fontes de dados (dados primários e dados secundários) se complementaram e possibilitaram
não só a visualização da dinâmica econômica recente (que será vista no capítulo 4), como a
vitalidade do tecido empresarial local e a sua aderência ao quadro institucional (capítulo5) e a
participação da sociedade civil nas questões políticas e econômicas locais em geral, mas,
particularmente, nas discussões municipais sobre o Projeto de Ampliação e Modernização do
Porto de Sepetiba, através da elaboração do novo Plano Diretor do Município (capítulo 6).
Capítulo 4: Itaguaí: História e situação econômica atual
Introdução
Neste capítulo analisaremos os dados secundários relativos ao sítio pesquisado. Como
capítulo de análise da realidade econômica atual e de exposição do ambiente institucional
local, este capítulo está dividido em três partes. Na primeira parte (seção 4.1) encontra-se uma
resenha, baseada em leituras sobre as atividades produtivas desenvolvidas no município e em
consultas ao acervo da Biblioteca Pública Municipal, da história econômica do município e de
sua ocupação territorial, desde as primeiras inserções no século XVIII até a discussão atual
sobre o remanejamento da infra-estrutura logística da região. A segunda parte (seção 4.2)
constitui o núcleo mais importante do capítulo, juntamente com a sua terceira parte. Trata-se,
nesta segunda parte, de fazer uma análise dos dados secundários sobre a economia de Itaguaí,
destacando os seus principais setores de atividade econômica em termos de volume de
emprego, número de estabelecimentos e peso da atividade econômica. Em seguida, na terceira
parte do capítulo (seção 4.3), fazemos uma caracterização da infra-estrutura institucional do
município, destacando os organismos da sociedade civil, as representações de classe e os
órgãos públicos municipais.
Este capítulo nos serve de base, junto com o capítulo 5 (exposição e análise dos dados
primários coletados na pesquisa de campo), para o diagnóstico da potencialidade do
desenvolvimento econômico local do município e de sua região de entorno. Este
desenvolvimento deve se fundamentar em relações sinérgicas entre o quadro institucional
local e as redes de micro e pequenas empresas, a partir da identificação dos principais setores
de atividade econômica e da possibilidade da expansão do Porto de Sepetiba vir a integrar a
economia local que, até este momento, tem se mostrado muito mais como uma economia
urbana de sobrevivência do que como uma economia portuária localmente integrada. Para que
a expansão do Porto de Sepetiba gere efeitos de transbordamento (externalidades positivas)
sobre a economia do município é necessário que esta economia esteja preparada (através de
seus atores e de suas instituições) para converter investimentos direcionados à operação do
Porto de Sepetiba em estímulos locais que potencializem a geração de renda e a criação de
empregos no município.
4.1. Histórico de sua ocupação territorial e principais atividades econômicas
desenvolvidas
O município de Itaguaí, situado na região metropolitana do Rio de Janeiro e estendendo-se
pelo litoral sul do Estado, é o primeiro município depois do Rio de Janeiro para quem sai
desta cidade em direção a São Paulo, pela BR–101 (Rio-Santos). Depois de Itaguaí, dentro do
Estado do Rio de Janeiro, o viajante passa ainda pelos municípios de Mangaratiba, Angra dos
Reis e Paraty. 46
A rota Paraty-Itaguaí foi bastante utilizada em todo o século XVIII, tanto pelos
contrabandistas de ouro da coroa portuguesa como pelos representantes da metrópole, que
tentavam impor a lei colonial na exportação dessa riqueza mineral para o Portugal. No longo
percurso deste escoamento, desde as minas de Ouro Preto, Itaguaí era, depois de Paraty, um
entreposto importante para a chegada do ouro até a cidade do Rio de Janeiro, de onde era
embarcado.
De Ouro Preto até Paraty, o ouro chegava por via terrestre no lombo de burros, onde havia
uma primeira fiscalização e entreposto da coroa, e daí continuava seguindo por terra até a
aldeia de Itaguaí. 47 Como a terra era inóspita e o trajeto de Itaguaí ao Rio de Janeiro ainda
poderia ser cheio de sobressaltos (parece que pela própria proximidade de um grande centro
urbano as ações dos bandidos e contrabandistas se intensificavam), a corte preferia fazer
embarcar por via marítima, de Itaguaí para o Rio de Janeiro, o resto do ouro que já tivesse
transcorrido o longo caminho desde as minas gerais.
A partir de Itaguaí, duas rotas fluviais se abriam. Uma pelo canal de São Francisco (aberto
pelos jesuítas já no século XVII e que chegava nas intermediações da região central do Rio de
Janeiro) e outra pela própria Baía de Sepetiba, bastando para isto contornar a costa oeste-sul
da cidade do Rio de Janeiro para adentrar na sua Baía de Guanabara. No entanto, esta última
alternativa era freqüentemente preterida pelas embarcações oficiais, dada a sua grande
46 Ver o mapa de Itaguaí na página seguinte. 47 Em 1818 a localidade que hoje ocupa o município de Itaguaí foi elevada à categoria de Vila, recebendo a denominação de Vila de São Francisco Xavier de Itaguaí. A criação do Distrito-Sede de Itaguaí data de 1892. As informações históricas que constam neste capítulo foram obtidas em consultas a documentos na Biblioteca Pública Municipal de Itag uaí e em SOUZA, S. do Nascimento: Editorial Histórico. Cidades e Municípios, Itaguaí, 97: 4 - 6, agosto de 1996.
vulnerabilidade aos ataques de piratas e corsários que rondavam aquelas águas. Portanto,
segundo julgamento da Coroa, subir com o ouro pelo Canal de São Francisco parecia ser o
caminho mais seguro para fazê-lo chegar às casas de custódia estabelecidas no Rio de Janeiro.
Figura 5: Mapa do Município de Itaguaí
Desta forma, pode-se daí deduzir que durante o ciclo do ouro a aldeia de Itaguaí foi marcada
pela sua caracterização como um entreposto, um “não-lugar” entre Paraty e o Rio de Janeiro
que servia tanto para as ações de bandidos e contrabandistas como para o acirramento da
fiscalização por parte da coroa portuguesa e de seus representantes no Brasil, o que acentuava
as tensões sociais nesta região, ainda pouco ocupada pelas forças oficiais.
Geograficamente situada num local estratégico, tanto por sua proximidade da cidade do Rio
de Janeiro quanto por razões hidrográficas e de relevo (além de possuir várias ramificações
fluviais que possibilitam a entrada para o continente, a região é protegida pela Baía de
Sepetiba e contornada pela Restinga de Marambaia, barreira natural contra ataques externos
vindos do oceano), a aldeia de Itaguaí constituía-se num ponto de bifurcação para a rota do
ouro a caminho do Rio de Janeiro: dali podia seguir tanto por terra quanto por vias fluviais.
Por todos esses motivos era um posto privilegiado de fiscalização por parte da coroa
portuguesa.
Com o declínio do ciclo da mineração e o início do ciclo cafeeiro, Itaguaí continua fazendo
parte do cenário econômico, desta vez já no Império. Mais uma vez devido a sua localização
privilegiada, o município de Itaguaí se coloca como porta de entrada para o Vale da Paraíba,
seguramente a região mais próspera durante esta fase. Cercada por fazendas e vales e com
privilegiadas condições de uso do solo para plantações agrícolas, o entorno de Itaguaí se
apresenta ao mesmo tempo como uma região onde aparecem as primeiras plantações de café
(indo em direção ao Vale do Paraíba), mas também como um importante centro de
abastecimento para a capital do Império. Itaguaí começa a assumir a sua vocação agrícola
com amplas vantagens na produção e na distribuição de víveres para a cidade do Rio de
Janeiro.
Essa vocação agrícola seria posteriormente reconhecida por Getúlio Vargas, que na década de
1930 promove uma reforma agrária na região com um duplo objetivo: ocupar a área com
famílias que ele julgava excedentes na capital e ampliar a produção de gêneros alimentícios
para abastecer o Rio de Janeiro. Também data desta época uma forte imigração de colônias
estrangeiras (principalmente japoneses), que vieram reforçar a mão-de-obra local para o
cultivo de várias culturas. A estes também foi fornecido um pedaço de terra. 48
Esta vocação agrícola permaneceria ao longo de quase todo o século XX, não fosse uma
mudança de rota ou o esgotamento natural de um modelo de produção que se fez notar
principalmente a partir dos anos 1980, com o que se acrescenta alguns fatos históricos,
determinados exogenamente, que vieram marcar o destino da região. O esgotamento deste
modelo produtivo, ou a mudança na caracterização produtiva da economia de Itaguaí e em sua
inserção no mercado regional, já começa a se caracterizar nos anos 1980, mas ganha
contornos institucionais e um maior grau de formalização a partir de algumas políticas
públicas que se forjam, nos anos 1990, no nível nacional. Senão vejamos.
Nos anos 1990 começa-se a se falar no “custo Brasil” como um dos principais fatores
responsáveis pela década perdida. Este é, ao menos, o discurso do empresariado nacional.
Sabidamente, a estrutura portuária é, neste discurso, parte importante e um dos principais
responsáveis pelo chamado custo Brasil. Em 1994, no início do Governo FHC, inicia-se um
programa de ação para o desenvolvimento da região sudeste que, guardadas as devidas
proporções e feitas as ressalvas da contextualização histórica, deveria ter a mesma ordem de
grandeza do Plano de Metas de JK. Tal programa estava contido nos planos Avança Brasil e
Brasil em Ação, como veremos no capítulo 6.
Forma-se então um Conselho Coordenador das Ações Federais no Rio de Janeiro 49, um
organismo paraestatal diretamente ligado ao Gabinete do Presidente cuja atuação ocorreria em
paralelo às ações ministeriais, mas integradas à estas. Tal conselho procura ter uma ação ao
mesmo tempo horizontal – integrando as ações dos vários ministérios envolvidos – e vertical,
através da mobilização das três esferas de poder (federal, estadual e municipal). Este
programa, no que se referia ao Estado do Rio de Janeiro, estaria ancorado em cinco projetos
específicos : a expansão do Porto de Sepetiba, a estruturação da Bacia de Campos, o
48 Em nossas entrevistas com os atores sociais e empresários locais pudemos verificar que algumas indústrias, hoje importantes do município de Itaguaí, são fruto do empreendedorismo da segunda geração dessas famílias de imigrantes. Este é o caso, por exemplo, de uma importante usina de fundição que já opera há mais de vinte anos na região. 49 As informações sobre a área de atuação deste Conselho e sobre os problemas políticos por ele enfrentados foram obtidas a partir de uma entrevista, em fevereiro de 2003, com um de seus presidentes.
desenvolvimento das telecomunicações, a instalação dos Jogos Olímpicos de 2004 (projeto
este adiado para 2012) e a política de segurança pública para o Estado.
O primeiro projeto, a expansão do Porto de Sepetiba, localizado no município de Itaguaí,
recupera o nosso sítio enquanto objeto de decisões que estavam sendo conduzidas nos planos
federal e estadual. A expansão do Porto de Sepetiba era vista como uma alternativa à
utilização dos portos do Rio de Janeiro e de Santos, ambos, segundo declarações de
autoridades competentes, já saturados e incapazes de expandir sua capacidade para além da
utilização atual. O Porto de Sepetiba, com vantagens técnicas que o igualam aos portos mais
competitivos do mundo, se firmaria naturalmente como a melhor alternativa para o comércio
exterior da região sudeste. 50
Em sua concepção inicial e nos documentos oficiais que fazem referência à expansão do
porto, fala-se de um Complexo Portuário Industrial de Sepetiba, no qual estava também
prevista a criação de vários outros projetos industriais, tais como: a instalação de um Pólo
Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (PETRORIO), de uma Zona de Processamento de
Exportações (ZPE) e a criação de uma segunda unidade da Companhia Siderúrgica Nacional
(CSN). Todos esses projetos, já presentes nos discursos das autoridades nos anos 1980, seriam
sucedidos e encampados pela expansão do porto e fariam parte de um projeto mais amplo de
dinamização da região.
Em relação a esses projetos que foram aventados na década de oitenta, talvez a sua não
realização se deva, pelo menos em parte, à profunda retração econômica experimentada pela
economia brasileira ao longo desses anos. Mas o anúncio desses projetos, bem como a
expectativa de expansão do porto nos anos 1990, teve conseqüências importantes para a
economia local, como veremos oportunamente no capítulo 6. Finalmente, no início dos anos
1990, o plano de expansão do porto foi concluído e sua capacidade operacional aumentada,
mas a utilização desta capacidade continua, ainda hoje, muito aquém daquela esperada.
50 Não apenas da região sudeste, mas também de uma parte das regiões sul e centro-oeste. O Porto de Sepetiba, pela sua capacidade de operação e com uma logística adequada de transportes que o integre às outras regiões brasileiras (através das ferrovias e malhas rodoviárias), seria capaz de beneficiar, do ponto de vista comercial, todas as regiões num raio de 500 Km. Seria também, segundo as autoridades competentes, um importante instrumento de integração para o MERCOSUL. Uma boa resenha sobre os aspectos técnicos e operacionais do Porto de Sepetiba pode ser encontrada em Hasenclever, Muls e Ferreira (2001) e em Elia (1999).
4.2. A realidade econômica atual: dados e principais atividades
Esta seção trata especificamente da realidade econômica atual e de sua dinâmica recente,
estando subdividida em três subseções. Cada uma delas traz um enfoque diferente sobre a
realidade econômica do município. Na primeira subseção (subseção 4.2.1), tratamos da
estrutura e da evolução recente da atividade econômica do município, de sua população e do
seu nível de desenvolvimento. Esta análise está baseada em dados de produção por setor de
atividade econômica e em dados sobre o crescimento populacional. Na subseção 4.2.2
fazemos uma análise sobre o volume de emprego e o número de estabelecimentos, por setor
de atividade econômica. Assim como foi feito para os dados de produção, a análise do
emprego e do número de estabelecimentos também será estática (ano de 2001) e dinâmica
(comparação da evolução setorial entre 1994 e 2001).
Na terceira subseção (subseção 4.2.3) é feita uma análise dos quatro setores de atividade
econômica que julgamos os mais importantes para a retomada de um processo de
desenvolvimento endógeno na região. Ou seja, dado o projeto de expansão do Porto de
Sepetiba, os quatro setores escolhidos são aqueles que melhor poderiam reagir a um processo
de desenvolvimento cujo epicentro encontra-se justamente na atividade portuária, por
constituírem-se, no nosso entender, numa espécie de “cadeia de negócios” que poderia vir a se
fortalecer em torno de uma economia portuária. Os quatro setores estudados são: o setor de
transportes e as atividades portuárias a ele ligadas, o setor de serviços prestados às empresas,
a construção civil e algumas atividades industriais mais presentes em Itaguaí.
4.2.1. Estrutura e evolução da atividade econômica, da população e do nível de
desenvolvimento
Esta subseção está dividida em três outras subseções em função dos anos escolhidos para
análise. Assim, na primeira subseção (subseção 4.2.1.1) é feita uma análise da estrutura da
atividade econômica em 2001, em termos estáticos, para o município de Itaguaí. Esta análise
nos permite ter um primeiro panorama do que é a economia local. Na subseção seguinte
(subseção 4.2.1.2), fazemos uma análise da evolução recente de alguns indicadores da
economia de Itaguaí, embora utilizando dados agregados. Na subseção 4.2.1.3 fazemos uma
análise dinâmica da evolução recente dos setores de atividade econômica, em termos de
produção setorial. Desta vez é uma análise desagregada que leva em conta os anos de 1996 a
2001.
4.2.1.1. Estrutura da atividade econômica local em 2001
No ano de 2001, aproximadamente 75% da renda de Itaguaí provinha dos setores prestação de
serviços 51 (32%), transportes e telecomunicações (25%) e aluguéis (17%). O comércio
(considerando o varejista e o atacadista juntos) aparecia em quarto lugar, com 10% de
participação na renda do município e a construção civil em quinto, com pouco mais de 5% do
PIB de Itaguaí. À indústria cabia a desoladora posição de sexto setor de atividade econômica,
com pouco mais de 3% de participação na economia local. Restou, pois, ao tradicional setor
industrial, apenas um papel secundário no conjunto da economia local, que parece viver um
surto de terciarização bem mais acentuado (ao menos em termos relativos) do que aquele
vivido tanto pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro (excluído o município do Rio)
quanto pelo interior do Estado fluminense (ver Gráfico 1 abaixo).
51 Como setores prestadores de serviços estamos considerando, pela classificação do CIDE (2003), os serviços industriais de utilidade pública (3,7% de participação no PIB local de 2001), a intermediação financeira (2,2% de participação no PIB local de 2001) e a prestação de serviços propriamente dita (26,3% de participação no referido PIB).
Gráfico 1: Peso dos diferentes setores de atividade no PIB de Itaguaí - 2001
Ad ação púministr6%
blica
Aluguéis
Transporte e telecomunicações
26%
Inte ão finan2%
Agropecuária
Prestação de serviços27%
Serviços indust. de utilid. púb.4%
Construção civil5%
Comércio varejista3%
Comércio atacadista7%
Indústria3%
0%
17%
rmediaç ceira
F uário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro-CIDE (2003).
Considerando o ano de 2000 52, os mesmos três setores (prestação de serviços, aluguéis e
t tes e telecomun ões) qu epresen am, juntos, mais de 70% da renda de Itaguaí,
Janeiro (doravante RMRJ),
om pouco menos do que 54%. De fato, se considerarmos apenas o setor de prestação de
lativa no PIB local era, em 2000, cerca de quatro vezes menor
o que a participação desse mesmo setor no PIB da RMRJ (o peso da indústria na RMRJ era
4.2.1.2. Evolução recen i n a o e en
ONTE: An
ranspor icaç e r tav
participaram, para o conjunto da Região Metropolitana do Rio de
c
serviços em Itaguaí, a sua contribuição representava mais do que o dobro de sua contribuição
na RMRJ, enquanto o setor de transportes e telecomunicações apresentava uma participação
relativa de aproximadamente 8% acima daquela observada para a média da RMRJ. Por outro
lado, a fraca representatividade da indústria na economia de Itaguaí pode ser ilustrada pelo
fato de que sua participação re
d
de 15% no ano de 2000).
te da ativ da code e ôm dica, po çãpula e es do d nv molvi to
Não temos os dados de 2001 para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro; mas o ano de 2000 representa
uma boa aproximação para o ano de 2001. 52
O PIB real de Itaguaí sofreu uma retração, entre 1994 e 2001, de 13%. Se considerarmos os
anos de 1995 e 2000, esta retração é ainda mais forte: 34%. A partir de 1997 a economia de
Itaguaí inicia um esboço de recuperação, mas o ano de 1999 foi particularmente ruim: queda
de 29% no PIB real. Em 2000, a economia local ainda não consegue se recuperar. Já em 2001
temos um crescimento de 18% no PIB real em relação a 2000. Como podemos observar na
tabela abaixo, a evolução negativa entre 1994 e 2001 contraria a tendência observada no
Estado do Rio de Janeiro, que teve um crescimento de sua economia, para o mesmo período e
em termos reais, de aproximadamente 32%.
Tabela 3: Evolução do PIB entre 1994-2001 (Itaguaí e Estado do Rio de Janeiro) Em termos nominais (preços correntes) e em valores constantes de 1994. Unidade: R$1.000,00. 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Estado (valores nominais)
42.679.431 74.391.077 95.184.215 102.352.888 109.938.967 126.480.468 140.900.981 161.629.759
Evolução (valoresconstantes)
100 98 107 106 109 120 123 132
Itaguaí (valores nominais)
243.485 483.299 479.421 558.126 607.180 449.600 478.603 607.107
Evolução (valores constantes)
100 112 95 102 105 75 74 87
FONTE: Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro-CIDE (1995 a 2003).
Os impactos dessa ausência de dinamismo se fazem sentir ainda mais fortes se considerarmos
ue tal contexto de retração econômica aconteceu num momento de forte pressão
e Itaguaí
aumentou em mais de 25% entre 1994 e 2001, contra um ento de 9% no Estado do Rio de
Janeiro (ver Tabela 4 abaixo).
Tabela 4: População residente estimada (Estado do RJ, interior e Itaguaí) 96 8 9 2
q
demográfica. Atingindo a marca de quase 85.000 habitantes em 2001, a população d
aum
1994 1995 19 1997 199 199 2000 001Estado 13.315.191 13.488.782 13.664.637 13.842.784 14.023.254 14.206.076 14.391.282 14.578.903 Crescimento 100 101 103 104 105 107 108 110 Interior 7.713.563 7.845.813 7.979.787 8.115.507 8.252.997 8.392.280 8.533.378 8.676.316 Crescimento 100 102 104 105 107 109 111 113 Itaguaí 67.519 69.856 72.223 74.621 77.050 79.510 82.003 84.528 Crescimento 100 104 107 111 114 118 122 125
Fonte : CIDE (1994-1999, 2001 e 2003); IBGE (2002).
Um dos fatores que podem explicar tal evolução da dinâmica demográfica do município
resulta do grande afluxo de não-residentes que se deu em seguida ao anúncio de importantes
projetos industriais para a região, aos quais já nos referimos na seção 4.1 deste capítulo: a
criação de uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE), a construção de um Pólo
Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro, a construção de uma nova unidade de produção da
CSN, sem esquecer o próprio complexo industrial do Porto de Sepetiba. Concomitantemente
o anúncio desses vários projetos, a expansão da Zona Oeste do Rio de Janeiro a partir dos
brasileira e
o esvaziamento econômico da região Centro-Sul Fluminense.
estas condições, podemos entender a queda gradativa do PIB per capita de Itaguaí na
orrentes), o PIB per capita de Itaguaí teve uma queda de aproximadamente 40% em termos
a
anos 1970, inclusive com projetos de implantação de vários distritos industriais nessa região
(Queimados, Campo Grande, Santa Cruz), também foi um fator que contribuiu para a
ocupação, por vezes desordenada, do município de Itaguaí. Mas este afluxo populacional não
encontrou respaldo no crescimento econômico de Itaguaí. Todos esses projetos industriais
anunciados cederem, um a um, à falta de perspectiva de crescimento da economia
a
N
segunda metade da década de 1990. Se em 1994 este indicador para o município de Itaguaí
era ligeiramente superior ao do Estado do Rio de Janeiro, em 2000 ele cai a pouco mais da
metade do PIB per capita do Estado. Passando de R$ 3.600,00 a R$ 5.840,00 (em valores
c
reais entre 1994 e 2000 (ver Tabela 5 abaixo).
Tabela 5: Evolução do PIB per capita: Interior do Estado x Itaguaí (1994-2000) (Unidade: R$ 1,00) 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Estadual 3.205 5.515 6.966 7.394 7.840 8.903 10.151 A preços correntes 100 172 217 231 245 278 317 Valores constantes 100 97 104 102 103 112 118 Itaguaí 3.607 6.919 6.638 7.480 7.880 5.655 5.840 A preços correntes 100 192 184 207 218 157 162 Valores constantes 100 108 88 92 92 63 61
FONTE: Anuário Estatístico do Rio de Janeiro-CIDE, IBGE (segundo população residente eanos.
stimada). Vários
ara a população de Itaguaí em encontrar
formal de Itaguaí e
ua população entre 15 e 64 anos deteriorou-se significativamente: esta proporção passou de
32% no início dos anos 1990 para 20% em 2000 (para o conjunto da economia fluminense
este indicador é de 28%). Esta situação reforça a hipótese de uma taxa de desemprego
crescente e da necessidade desta população ir buscar emprego em outros sítios,
principalmente na periferia do município do Rio de Janeiro ou em outros municípios de sua
Naturalmente que as dificuldades colocadas p
emprego cresceram. A relação entre o número de trabalhadores no setor
s
região metropolitana. Com isto, o estigma de cidade dormitório passa a atormentar, com mais
força ainda do que nas décadas de 1970 e 1980, o município de Itaguaí. 53
O nosso objetivo é o de analisar mais de perto os fatores que determinaram esta evolução. Em
uma primeira análise, sobressai o fato desta deterioração econômica e social do município ser
de caráter bem recente, apresentando uma forte inflexão a partir do ano de 1999. Se entre
994 e 1998 a produção local observou uma ligeira tendência de crescimento (apesar do recuo
nálise da evoluç s seto e ativi econô
ais minuciosa da ução l entr 6 e 20 de contribuir para que
a reve íclica 999 e ressa om m clare
am como ve de cr nto da economia guaí a ir de 2
ndicado os u for a dutiva d
a Baixada Fluminense (cujo centro de distribuição era
m Itaguaí), do fechamento da Companhia Industrial e Mercantil de Ingá e do fim das obras
001;
no mesmo período, a produção da indústria reduziu-se em quase 40%.
1
observado em 1996), em 1999 o PIB de Itaguaí apresentou uma queda acentuada.
4.2.1.3. Uma a ão do res d dade mica
Uma análise m prod setoria e 199 01 po
se verifique as causas d rsão c em 1 para ltar, c aior za, os
setores que se coloc tores escime de Ita part 001.
De fato, no período i , podem verificar ma trans mação d base pro a
economia do município. A co em a denjunção, 1998, d mudança uma grande distribuidora de
bebidas que abastecia toda a região d
e
de expansão do Porto de Sepetiba constituiu-se num dos principais fatores explicativos da
contração econômica por que passou o município nestes últimos anos:
- o comércio por atacado, que em 1996 se constituía num dos principais pilares da atividade
econômica local, teve sua atividade reduzida em dois terços até o ano de 2001;
- o valor agregado pelo setor da construção civil, que era o terceiro setor mais importante em
1996, reduziu-se a menos da metade em 2
-
53 A população ativa da área de influência do Porto de Sepetiba (a população de Itaguaí e dos municípios vizinhos) depende em parte da bacia de emprego do núcleo central metropolitano, como também da economia formal e do emprego público, para sua reprodução social. A ausência de desenvolvimento econômico, uma ocupação territorial completamente desordenada (fruto de um grande processo de funcionalização do espaço urbano carioca) e uma alocação de investimentos espacialmente desigual por parte do poder público produziram um ambiente urbano (em Itaguaí) caracterizado por inúmeros déficits: formação/capacitação da mão-de-obra, precariedade das infra-estruturas de comunicação, deficiências no uso e na gestão dos equipamentos coletivos (educação, saúde, saneamento, etc.) (Cocco, 1999).
Na Tabela 6 abaixo, ao analisarmos os dados de evolução do PIB de Itaguaí de maneira
desagregada (por setor de atividade econômica), podemos ver que os setores de atividade que
mais contribuíram para a retração da economia de Itaguaí neste período foram os setores do
comércio atacadista (queda de 64% em seu valor adicionado entre 1996 e 2001 54), construção
civil (queda de 56% no produto deste setor entre 1996 e 2001) e total da indústria (queda de
37% em seu valor adicionado entre 1996 e 2001).
Tabela 6: Evolução dos valores adicionados por setor de atividade – Itaguaí (1996/2001) ores correntes (nominais). (Unidade : R$ 1.000,00)
1996 1997 1998 1999 2000 2001 ValSetores: Agricultura 7 782 7 630 4 401 5 584 1 341 1 520 Total da indústria 31 620 29 286 19 884 11 407 16 730 19 914 Comércio atacadista 130 716 124 913 137 108 21 289 54 826 46 627 Comércio varejista 12 616 14 026 17 962 22 160 22 264 19 136 Construção civil 73 340 80 642 57 465 35 791 35 109 32 523 Serv. Indust. de utilidade pública 12 461 14 537 14 515 14 580 19 327 23 419 Transporte e telecomunicações 41 321 47 385 74 731 91 308 96 816 158 704 Intermediação financeira 6 532 10 438 21 907 9 318 7 187 13 769 Administração pública 13 237 12 917 13 421 15 946 1 426 38 118 Aluguéis 68 396 75 467 81 885 86 750 105 841 109 799 Prestação de serviços 94 783 164 955 183 845 148 624 130 327 165 459 Total dos setores 492 804 582 195 627 175 462 756 491 194 628 989 Total dos setores p/ RMRJ (1) 18 386 841 20 507 039 21 149 974 23 904 496 23 156 068 - Total dos setores p/ Est. RJ (2) 17 133 799 18 251 638 19 583 425 21 453 584 21 829 344 -
FONTE: Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro-CIDE (1998, 1999, 2000, 2001, 2002 e 2003). ) Excluído o Município do Rio de Janeiro.
tróleo.
e uma maneira geral, pode-se postular uma terciarização da economia de Itaguaí nos últimos
(1(2) Excluída a Região Metropolitana e não incluída a extração do pe
D
anos da década de 1990: enquanto os setores da construção e da indústria foram pouco a
pouco perdendo importância, alguns setores do terciário cresceram fortemente, sendo puxados
principalmente pelo setor de transporte e telecomunicações, cujo peso na economia local
triplicou. Mas este crescimento relativo do setor de serviços não foi suficiente para compensar
a queda verificada no setor secundário. 55
54 Houve uma forte queda do coconsideração os valores a preços c
mércio atacadista nos últimos anos deste período, mesmo levando-se em orrentes. Em 1999, por exemplo, a retração desta atividade representou mais
e 70% da retração do PIB de Itaguaí. Entretanto, apesar do fraco desempenho da indústria no município de Itaguaí entre 1996 e 2001, um aspecto
uanto este setor sofria uma retração durante estes cinco anos aguaí surpreende não apenas pelo seu crescimento, mas
ela proporção que ela passa a representar no conjunto da indústria deste município. Feita uma estimação do
d55
interessante pode ser destacado de seu conjunto. Enqnos servem de referência, a indústria extrativa de Itque
pvalor adicionado da indústria extrativa em 1996 (a partir de dados do CIDE-1997), chegamos a uma taxa de crescimento desta indústria em Itaguaí (também estimada) de quase 50% entre 1996 e 2000. Isto fez com que o peso da indústria extrativa (fora extração de petróleo) no PIB de Itaguaí chegasse a 2% em 2000, representando 50% da produção total da indústria de Itaguaí neste mesmo ano.
Se esta tendência de terciarização da economia não é um fenômeno exclusivo do município de
Itaguaí – e certamente não o é – convém notar que, de uma maneira geral, o crescimento deste
setor foi uma das únicas fontes de crescimento desta economia entre 1996 e 2001 (a outra foi
o comércio varejista). Por outro lado, podemos observar que na RMRJ outros setores de
tividade também mostraram uma evolução positiva, notadamente os setores do comércio e da
ade econômica (construção civil, comércio atacadista e indústria de
ansformação) de Itaguaí há sete, oito anos atrás, fazendo com que, desde 2001, as atividades
Itaguaí resulta da atividade de apenas dois setores: prestação de serviços
6%) e transporte e telecomunicações (25%). Se acrescentarmos o setor de aluguéis, cujo
sta subseção está dividida em três outras. Enquanto na subseção 4.2.1 analisamos a realidade
4.2.2.1. O emprego e os estabelecimentos
Em contraste com o dinamismo aparentemente frágil da economia de Itaguaí nos anos
recentes, o número de estabelecimentos e o volume de emprego desta economia não tiveram
a
indústria. Assim, o forte recúo da indústria, da construção e do comércio atacadista em
Itaguaí, na segunda metade da década de 1990, reforça o caráter dinâmico do setor terciário na
economia local.
O desenvolvimento do Porto de Sepetiba coincide, portanto, com a queda relativa dos
principais setores de ativid
tr
do setor terciário se imponham como principal motor da economia do município. Assim, mais
de 50% do PIB de
(2
forte aumento se deve à dinâmica populacional discutida acima, atingimos, para estes três
setores, a cifra de quase 70% do PIB local.
4.2.2. Emprego, estabelecimentos e finanças públicas
E
econômica do município através dos dados de produção setorial, nesta subseção damos ênfase
aos dados de número de estabelecimentos e volume de emprego, igualmente por setor de
atividade econômica. Na subseção 4.2.2.1 fazemos uma introdução sobre as variáveis
emprego e estabelecimentos no município de Itaguaí. Na subseção 4.2.2.2 fazemos uma
análise dinâmica sobre a evolução destas variáveis, comparando o seu comportamento entre
os anos de 1994 e 2001. Na terceira e última subseção (4.2.2.3), fazemos uma análise,
superficial, sobre as finanças públicas municipais, destacando uma inflexão recente na gestão
orçamentária do município.
um desempenho tão acintosamente negativo. Por vezes, esta evolução foi até positiva. Apesar
veladoda pesquisa de campo ter re a necessidade de se ler os dados sobre o número de
stabelecimentos e o volume de emprego com uma certa cautela, as taxas de crescimento
destas duas variáveis entre os anos de 1994 e 2001 foi de, respectivamente, 35,5% e 18,6%.
Enquanto as micro e pequenas empresas predominam no quesito número de estabelecimentos,
com 97% do total de estabelecimentos formais do município, são as grandes unidades que
sustentam a maior parte da oferta de emprego, mobilizando em torno de 52% do emprego
local. Uma observação interessante refere-se ao fato de que, durante o período observado, as
médias empresas viram diminuir a sua participação no número de estabelecimentos e no
volume total de emprego.
4.2.2.2. Análise da evolução setorial do volume de emprego e do número de
estabelecimentos
nomia
a maneira geral, podemos dizer que a maioria dos setores
iu crescer o seu número de empresas entre 1994 e 2001 (exceto a indústria extrativa),
s setores quanto ao número de
mpresas e volume de emprego, entre os anos 1994 e 2001. Podemos ver que os setores de
e
O peso relativo dos setores no total dos estabelecimentos e no total do emprego da eco
formal de Itaguaí é desigual. De um
v
enquanto a evolução no número de empregados no seio dos diferentes setores de atividade
tenha sido mais aleatória.
No Gráfico 2 abaixo pode-se comparar a evolução dos diferente
e
serviços (incluindo alojamento e alimentação) e comércio tiveram uma forte evolução para
essas duas variáveis, enquanto o setor de transporte apresentou uma elevação considerável em
seu número de empresas (mas estabilidade no nível de emprego) e a indústria extrativa
apresentou um aumento no volume de emprego com queda no número de empresas. Todos os
demais setores apresentaram uma evolução negativa no volume de emprego, mesmo não
tendo sofrido baixas no que se refere ao número de estabelecimentos. 56
O fato de estas empresas continuarem abertas pode ser um indício de que elas estão esperando uma retomada
da atividade econômica em Itaguaí. Esta esperança de retomada está vinculada, como seria de se esperar – e fato que nos foi confirmado através das entrevistas de campo – à expansão das atividades do Porto de Sepetiba.
56
Gráfico 2: Evolução do número de empresas e do volume de empregados por setor de atividade econômica (1994*/2001) (Unidade : em termos percentuais).
Empresas
Em
FONTE: Elaboração própria a partir da RAIS (Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho). * Os dados de 1994 incluem Seropédica.
Apenas quatro setores tiveram uma evolução positiva tanto do número de estabelecimentos
quanto do volume de emprego. Aparecem aqui aqueles setores que tiveram um melhor
desempenho sob o ponto de vista da evolução do PIB: transportes, serviços e os setores mais
tradicionais do comércio varejista e alojamento e alimentação.
Como podemos ver na Tabela 7 a seguir, o setor de prestação de serviços, ao empregar pouco
ais de 5.000 pessoas em 2001, concentrava quase 42% da mão-de-obra formal de Itaguaí. O
m
peso do setor de serviços no emprego total cresceu consideravelmente entre 1994 e 2001,
colocando este setor na posição de maior empregador no município. Ao mesmo tempo, o
número de empresas deste setor apresentou a mesma tendência de alta. Esta constatação vai
ao encontro de nossa hipótese de uma terciarização da economia local.
prego
Produção e distribuição de eletricidade e água
Intermediação financeira
Indústrias extrativas
Indústrias de transformação
Alojamento e ntaç
Comércio, reparação de culos oto tos
alime ão
veí autom res, obje pessoais e stic
Construç
, e co e
Agricultura, pecuári
ad iliáris e os
domé os
ão
Transporte armazenagems municaçõ
a, silvicultura..
Ativid es imob ias, alugué serviçprestados presa
10
0
20
-20
0
-30
0
-40 -50
60 às em s
20 3 400 50
10
-10
-1
-2
30
-3
40
50
-40
-50
Tabela 7: Número de empresas e volume total de empregados por setor de atividade econômica em Itaguaí (1994-2001). (Unidade : valores absolutos, peso em porcentagem e crescimento 1994/2001 em porcentagem). Número de empresas por setor Volume total de empregados por setor
SETOR 1994 2001 em 2001 1994 -2001 1994 2001 em 2001 1994 -2001Peso Crescimento Peso Crescimento
Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos 353 511 51,7% 44,8% 1 749 2 922 23,5% 67,1%
Varejista 318 475 48,1% 49,4% 1524 2448 19,7% 60,6% Atacadista 35 36 3,6% 2,9% 225 474 3,8% 110,7% Alojamento e alimentação 80 91 9,2% 13,8% 394 489 3,9% 24,1% Agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 48 94 9,5% 95,8% 300 220 1,8% -26,7%
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas 40 84 8,5% 110,0% 323 5 162 41,6% 1498,1%
Indústrias de transformação 61 69 7,0% 13,1% 2 209 1 051 8,5% -52,4% Construção 26 50 5,1% 92,3% 734 678 5,5% -7,6% Transporte, armazenagem e comunicações 17 36 3,6% 111,8% 1 403 1 443 11,6% 2,9% Indústrias extrativas 59 38 3,8% -35,6% 240 256 2,1% 6,7% Intermediação financeira 10 12 1,2% 20,0% 161 135 1,1% -16,1% Pesca Nd 2 0,2% ns Nd 7 0,1% ns Produção e distribuição de eletricidade e água 1 1 0,1% 0,0% 92 53 0,4% -42,4% Total para Itaguaí 695 988 100,0% 42,2% 7 605 12 416 100,0% 63,3% Total dos setores p/ a RMRJ (1) 25 507 31 613 100,0% 23,9% 290 861 327 264 100,0% 12,5% Total dos setores p/ o Estado do RJ (2) 34 540 51 861 100,0% 50,1% 337 872 403 054 100,0% 19,3% FONTE: Rais (Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho, acesso on line).
2001, de modo mais específico não é possível caracterizar, para o
unicípio de Itaguaí, nenhum pólo produtivo que se apresente como dominante, uma vez que
de Itaguaí, com 10,8% do total dos
stabelecimentos e 10,6% do emprego local. No entanto, apesar de ainda ser responsável por
(1) Excluído o Município do RJ. (2) Excluída a Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Se, de uma maneira geral, há uma forte concentração do número de estabelecimentos e do
volume de emprego em torno do setor de comércio (52% dos estabelecimentos e 24% do
emprego total em 2001) e da prestação de serviços (41,6% do volume total de emprego no
mesmo ano), ambos tendo apresentado um forte e constante aumento em suas participações
relativas entre 1994 e
m
sua economia se caracteriza por uma base setorial relativamente diversificada e sem grandes
especializações.
Contrariando a tendência observada no setor de prestação de serviços, o total da indústria
sofreu uma importante retração entre os anos de 1994 e 2001 (em termos do número de
estabelecimentos e do número de empregados). Neste último ano ela se caracteriza como o
terceiro setor mais importante no município
e
10% do emprego formal de Itaguaí, a indústria de transformação (excluída a extração) teve
uma queda, entre 1994 e 2001, de mais de 50% do total de sua mão-de-obra, o que é mais um
indício da forte recessão verificada neste setor nos últimos anos da década de 1990. 57
O setor de transportes, apesar de sua fraca participação no número total de estabelecimentos
(3,6% em 2001), constitui-se no terceiro maior setor empregador, com quase 12% do emprego
local. Experimentando uma progressão conjunta do número de estabelecimentos e do volume
e emprego, este setor foi recentemente impulsionado através do desenvolvimento das
iário, cujo número de empregados mais do que
obrou entre 1994 e 2001. Evidentemente que o desenvolvimento recente do Porto de
setor pareceu refletir o aumento da
opulação de Itaguaí.
nfim, o setor da construção civil parece ter passado por uma situação paradoxal. Enquanto o
d
atividades auxiliares ao transporte aquav
d
Sepetiba tem uma responsabilidade nesse acréscimo do emprego no setor. Mesmo o número
de operadores portuários sendo ainda restrito, tais unidades empregam um grande volume de
pessoas.
De maneira inversa, os setores de alojamento e alimentação e o da agricultura, que
representam, somados, quase 20% dos estabelecimentos do município, concentram apenas 6%
do emprego local. Enquanto o setor agrícola perdeu um grande volume de trabalhadores
(26,7% entre 1994 e 2001), o de alojamento e alimentação assistiu a um acréscimo tanto em
seu número de estabelecimentos quanto no volume de emprego (respectivamente, 13,8% e
24,1%). Assim como o comércio, o desempenho deste
p
E
volume de emprego tenha se reduzido de 7,6% no período em análise, o número de empresas
quase dobrou no mesmo período, nos levando à conclusão de que houve uma redução drástica
no tamanho médio dos estabelecimentos. Esta expansão do setor se reflete numa expansão,
em proporções semelhantes, do comércio varejista de material de construção. Em 2001, o
setor da construção representava pouco mais de 5% do total de estabelecimentos e também do
volume total de empregos no município de Itaguaí.
Os setores da construção civil, transporte, armazenagem e comunicações e de alojamento e
alimentação podem ser considerados como setores intermediários, com o seu peso variando
57 Como já foi dito anteriormente, a indústria de extração constituiu-se numa exceção, pois teve um acréscimo na ordem de 6,7% em seu número de empregados entre 1994 e 2001.
entre 3 e 12% do total de empregados e do total de estabelecimentos em 2001. Apesar de
podermos encontrar em alguns destes setores uma das maiores taxas de crescimento entre
994 e 2001 no que se refere ao número de empresas, o seu volume de emprego não
as através do Estado e da União. Em segundo lugar, mesmo com a parcela
lativamente pequena das receitas tributárias locais se comparada com as transferências, é
ento da arrecadação de ISS a partir dos últimos anos da década
e 1990, o que pode ser creditado à expansão do volume de negócios operado pelo Porto de
) As receitas municipais
1
apresentou variação significativa. Enquanto o número de empresas de transporte dobrou entre
1994 e 2001 e o de construção ter quase dobrado no mesmo período, o total de empregos
oferecidos por esses dois setores teve uma pequena queda.
4.2.2.3. As finanças públicas municipais
O objetivo de se colocar alguns dados sobre as finanças públicas do município de Itaguaí é
primeiramente o de mostrar como o seu orçamento é bastante dependente de transferências
repassad
re
importante ressaltar o crescim
d
Sepetiba. 58 A terceira observação importante refere-se ao redirecionamento do gasto público
municipal: a partir dos anos mais recentes, há uma clara preocupação da Prefeitura com a
saúde e a educação, em detrimento das obras de infra-estrutura e dos investimentos públicos,
como por exemplo a habitação, urbanismo e transportes.
A
Entre 1995 e 2001, as receitas correntes do município de Itaguaí foram multiplicadas por três,
chegando a mais de R$ 57 milhões neste último ano. Dessas receitas, aproximadamente 80%
correspondem a transferências provenientes da União e do Estado do Rio de Janeiro. Essas
transferências tiveram um papel determinante na triplicação das receitas correntes do
município, uma vez que a sua soma também triplicou entre 1995 e 2001, ao passo que as
receitas tributárias locais aumentaram em apenas 60% durante o período. Resulta daí que as
finanças do município de Itaguaí são amplamente dependentes das receitas provenientes de
transferências externas. Em 1995 as receitas tributárias internas representavam 66% das
transferências externas, proporção esta que cai para 28% em 2001. A título de comparação,
58 O Secretário da Fazenda do município nos disse, em uma entrevista realizada em 11 de dezembro de 2002, que 80% da receita da arrecadação de ISS provém das grandes empresas que estão instaladas no Porto de Sepetiba, o que representaria algo em torno de R$ 700 a R$ 900 mil por mês.
esta proporção representa, em média para o conjunto dos municípios do Estado do Rio, algo
em torno de 50%.
Entretanto, na contramão desta tendência de uma progressiva dependência das finanças do
município em relação às transferências externas, o montante arrecadado de ISS como
proporção das receitas tributárias aumentou consideravelmente, certamente em função da
maior intensidade das atividades portuárias a partir de 1998. Assim, a arrecadação de ISS, que
presentava 30% da arrecadação tributária em 1995, passa para 57% em 2001, atingindo a
conjunto dos municípios do Estado
d é da ordem de 48%, este indicador nos atesta a
importância do crescimento das atividades portuárias para a economia do município de
Itaguaí.
B) As despesas municipais
Em 2001, as despesas relativas às operações e ao funcionamento da administração pública
local concentraram não menos do que 94% das despesas totais do município, proporção
Janeiro é de 88%. Dessas
espesas correntes, 53% foram destinadas às despesas de pessoal, cujo volume dobrou entre
públicas representou, em 2001, a módica proporção de 6% do total das despesas
orrentes do município, contra uma média de 10% para o conjunto dos municípios do Estado
re
cifra de R$ 7,3 milhões. Se compararmos com a média do
o Rio de Janeiro, em que esta proporção
bastante elevada se considerarmos que a média do Estado do Rio de
d
1996 e 2000.
Neste contexto em que uma forte parcela do orçamento público é destinada ao pagamento de
pessoal, fica difícil imaginar de que maneira o município poderia se concentrar em esforços
de planejamento e arcar com investimentos públicos ou obras de infra-estrutura. O gasto com
obras
c
do Rio de Janeiro. Uma vez que nos últimos anos o orçamento público do município não
deixou de se tornar mais robusto, os montantes destinados às despesas de investimento
passaram a representar uma proporção cada vez menor deste orçamento. Essa fraca
participação relativa dos investimentos se inicia, no período recente, em 1999, demarcando-se
nitidamente do período anterior e principalmente do ano de 1995, quando as despesas de
investimento alcançaram a elevada proporção de 14% das despesas correntes municipais.
Entre 1995 e 2001 podemos verificar uma profunda modificação na estrutura das despesas
públicas locais (ver o Gráfico 3 abaixo). A educação passa a se beneficiar de uma crescente
atenção por parte das autoridades públicas locais. A rubrica educação e cultura chegou a
abocanhar 31,2% das despesas correntes municipais em 2001, apresentando uma evolução de
mais de 300% no período compreendido entre 1995 e 2001. Cabe investigar se esta
modificação se deve à rigorosa observação da Lei de Responsabilidade Fiscal ou se representa
uma preocupação genuína do poder público municipal.
Gráfico 3: Finanças públicas do município de Itaguaí A) Peso das despesas públicas por função (2001) B) Evolução do peso relativo das funções de despesa pública (1995/2001*)
Habitação Urbanismo
4,4%
Saúde Saneamento
25,5%
Educação Cultura31,2%
ão Planejament
o23,5%
Administraç
Previdência7,6%
TransporteLegislativa
4,9%Assistência
Outras0,5%2,4%
-12,9
-10,4
-5,4
1,5
-15,0 -10,0 -5,0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,
Administração Planejamento
Legislativa
Transporte
Habitação Urbanismo
1,8
2,3
14,0
0
Assistência Previdência
de Saneamento
ducação Cultura
Saú
E
* Para Saúde e Saneamento: evolução 1996 -2000 FONTE: Anuário Estatístico do Estado do Rio de Janeiro – CIDE (1996 a 2002).
esas administrativas
continua representando
incipal “política distributiva” promovida pelas
ente que esta concentração orçamentária em três pólos de despesas públicas teve a
unicípio, e consequentemente foram relegados à
argem do orçamento público municipal, como pode ser atestado pelo gráfico acima.
Com uma certa defasagem em relação à educação, o peso das desp
aparece com mais força nos anos mais recentes, ao passo que a saúde
um dos eixos centrais das despesas correntes municipais. Desta forma, educação, despesas de
pessoal e saúde parecem se constituir na pr
autoridades públicas municipais, representando, juntos, 80% do orçamento municipal em
2001.
Evidentem
sua contrapartida. Os itens habitação e urbanismo e transporte foram as principais vítimas da
estratégia seguida nos anos recentes pelo m
m
Habitação e urbanismo e transporte representaram, em 2001, respectivamente 4,4% e 2,4% do
total das despesas públicas do município. Os valores destinados a estes itens reduziram-se,
entre 1995 e 2001, respectivamente em 44% e 58%.
Esta política é particularmente nefasta se considerarmos que o forte aumento da população,
erificado nos últimos 20 anos em Itaguaí, exerceu uma forte pressão justamente sobre as
esponsabilidade de seus colegas situados nas esferas do poder
stadual e federal.
prestados às empresas;
) o terceiro grupo corresponde ao setor da construção civil e às atividades de comércio e
ndustrial, mas apenas uma parte dele. Estaremos
cluindo aí a indústria extrativa, a metalurgia básica, a indústria de fabricação de produtos de
reta com a construção civil.
A justificativa da escolha d
algumas observações de orde
Em primeiro lugar, a escol
atividades, de maneira a pode
v
estruturas habitacionais, de urbanização e também sobre o transporte, que são visivelmente as
áreas que mais sofrem da carência de recursos e investimentos públicos (mas esta situação
está longe de ser uma exclusividade de Itaguaí). Além desta razão social, mas também com
implicações sobre ela, o desenvolvimento das atividades econômicas ligadas à recente
expansão do Porto de Sepetiba mereceria que se desse maior destaque à infra-estrutura
urbanística e de transportes na região, o que talvez não aconteça pelo fato das autoridades
locais pensarem serem estas de r
e
4.2.3. Os setores selecionados para a pesquisa de campo
A partir destas fontes de dados, das variáveis mencionadas e dos anos escolhidos para análise,
foram retidos quatro setores que consideramos os mais importantes e reveladores da evolução
da configuração da economia de Itaguaí, ao mesmo tempo em que podem se tornar os
articuladores de uma dinâmica de desenvolvimento local. Estes setores podem ser
representados por quatro grupos que seguem a Classificação Nacional de Atividades
Econômicas (CNAE/1995):
a) o primeiro grupo diz respeito à cadeia de atividades do setor portuário. Trata-se
essencialmente do setor de transporte e de suas atividades anexas;
b) o segundo grupo engloba os serviços
c
serviços incorporados pela construção civil;
d) o quarto grupo é representado pelo setor i
in
metal e os demais setores industriais que têm relação di
estes setores será explicitada a seguir, mas antes serão feitas
m mais geral.
ha dos setores seguiu o critério de complementaridade das
r verificar se existe uma sinergia entre os setores selecionados e
se esta sinergia se deve a um
ssas relações de complementaridade ocorrem devido à proximidade da economia local ao
iro lugar, há que se considerar com certa ressalva o setor de construção civil. Este
etor foi retido para fins de uma análise mais minuciosa mesmo sabendo que os seus valores
estão bast empresas
volume de emprego, embora não estejamos certos desta superestimação para os dados
ferentes ao valor adicionado). Esta superestimação pode estar relacionada às obras de
xpansão do Porto de Sepetiba, mas uma de suas razões fundamentais encontra-se na própria
inâmica – perversa – de subcontratação que reina neste setor. Portanto, os dados para a
onstrução civil não refletem um verdadeiro dinamismo deste setor no município de Itaguaí,
té porque as principais empresas que participaram da construção do Porto de Sepetiba eram
e fora (principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo). A partir de 1998 esta
uperestimação é atenuada, o que faz com que os valores para a construção civil sofram uma
ueda ao final do período considerado.
O setor de transportes, além de ser um dos mais importantes de Itaguaí em
a auto-suficiência da economia de Itaguaí ou, pelo contrário, se
e
pólo de atração que representa a economia do município do Rio de Janeiro.
Em segundo lugar, não se considerou aqueles setores cuja dinâmica, mesmo tendo
apresentado um desempenho considerável, não reflete necessariamente uma opção de política
econômica, concebida de maneira estratégica e setorializada. Neste sentido, o comércio
varejista e os serviços industriais de utilidade pública, apesar de terem apresentado um forte
crescimento no período 1996-2001, não refletem uma escolha deliberada de política
econômica em prol do desenvolvimento, sendo muito mais o reflexo do aumento da
população ocorrida no período.
Em terce
s
ante superestimados (este é certamente o caso para os dados de número de
e
re
e
d
c
a
d
s
q
A seguir procuramos desagregar cada um dos quatro setores acima indicados e explicar a
dinâmica recente que justifica a sua escolha.
4.2.3.1. O setor portuário e a cadeia de transportes
2001 (25% do valor adicionado local), é também aquele cuja evolução da produção foi a mais dinâmica entre 1996 e 2001 (crescimento de mais de 280% de seu valor adicionado em termos nominais – em valores constantes o crescimento do setor foi de 85% entre 1996 e 2000). Apresentando quase que uma estabilidade no volume de emprego entre 1994 e 2001, o setor era
o terceiro maior empregador da cidade em 2001, concentrando 11,6% do total de empregos. Foi também o setor em que o número de estabelecimentos mais aumentou (em 2001 tínhamos mais do que o dobro de estabelecimentos do que em 1994). 59
A presença do Porto de Sepetiba constitui um dos principais motivos da escolha deste setor
como objeto de análise. Cabe perguntar de que maneira a expansão recente do Porto de
Sepetiba contribuiu para o forte crescimento deste setor. De fato, apesar do Porto já existir há
aproximadamente vinte anos, foi apenas recentemente (desde 1998) que o seu movimento de
carga geral passou a aumentar de maneira considerável (ver Gráfico 4 abaixo). Se
onsiderarmos que o movimento de cargas gerais gera maiores externalidades para o
c
município de Itaguaí e suas empresas do que a movimentação de granéis sólidos (cujo
impacto fica restrito às grandes empresas CSN, Valesul e MBR), podemos entender que é
somente a partir de muito pouco tempo que a movimentação de cargas através do Porto tem
tido efeitos multiplicadores sobre a atividade econômica do município de Itaguaí e seu
entorno.
Gráfico 4: Movimentação de cargas no Porto de Sepetiba (1997/2001)
Da mesma forma como sabe-se que o impacto de uma estrutura portuária não deixa de ter
consequências sobre o setor de transportes (logística, carga e descarga, armazenamento e
estocagem, depósitos e outras atividades auxiliares), não se pode ignorar que o
desenvolvimento da atividade de transporte pode também ser o resultado de outras atividades
Os dados apresentados neste parágrafo compreendem a totalidade do setor Transporte, armazenagem e omunicações, o que é muito mais amplo do que a soma dos subsetores específicos que iremos analisar e que
podem ser vistos na tabela no fim dessa subseção. Particularmente, não nos interessaremos pelos subsetores que dizem respeito ao Transportes de passageiros nem tampouco ao subsetor Correio e telecomunicações.
59
c
não diretamente vinculadas ao Porto de Sepetiba, principalmente no que diz respeito ao
abastecimento da cidade e ao transporte de seus produtos para os municípios vizinhos. Este
aspecto (movimentação de carga que independe do Porto) é ainda mais importante para o caso
de Itaguaí se considerarmos que existe em seu sítio e em seu entorno importantes unidades
dustriais, como a Nuclep, a Fundição Técnica Sul Americana, a Emasteng, a Gerdau e
ais significativas
o sítio de Itaguaí, assim como sua participação na produção local. Hoje, esta infraestrutura
imentação e
emais serviços rotineiros demandados por toda uma população portuária, para falar apenas
tar a estrutura produtiva municipal. A atratividade que a base econôm
local poderia exercer sobre esta nova economia portuária tam se constitui em
e dessa sinergia, um vez que ta atratividade supõe a
e formas de cooperação entre o tecido empresarial local, histórica e
t vos atore econom ortuária stes últim s
r
in
outras unidades no Distrito Industrial de Santa Cruz. Evidentemente, estas unidades
industriais também poderiam ver reforçadas as suas atividades econômicas se a expansão das
atividades portuárias ganhasse vulto e desde que a economia portuária se articulasse, de fato,
com a economia local.
Apesar destas considerações iniciais, a análise dos dados mostra que a revitalização do Porto
de Sepetiba, a partir de 1998, teve um papel determinante na evolução da estrutura econômica
do município, que a partir de então assiste ao surgimento de um novo pólo de crescimento em
potencial. A evolução do número de empregados deste setor foi uma das m
n
portuária está no cerne de qualquer projeto de desenvolvimento para o município de Itaguaí e
para toda a região, apesar do seu alcance ser ainda indefinido para o conjunto da população.
A articulação das atividades portuárias com as atividades econômicas mais tradicionais do
município de Itaguaí passa a se constituir num desafio para as autoridades políticas e
econômicas da região. De fato, o funcionamento de uma tal infra-estrutura não deixa de
demandar numerosos serviços e produtos intermediários, tais como a logística, os
despachantes, os serviços aduaneiros, o transporte, o armazenamento, o conserto e a reparação
de peças e componentes da indústria naval, sem falar na limpeza, restauração, al
d
do consumo mais direto. É sobre esta base que se pode vislumbrar uma articulação da
economia portuária com a economia local, criando-se canais de comercialização que
poderiam alimen ica
bém um
lemento chave para a construção a es
mergência de novas
radicionalmente instalado na região, e os no s da ia p , e o
ecém chegados.
A gerindo grandes unidades produtivas,
i r -fazer e trazem consigo novas tecnologias cujas
utilizaçõ m a econom a local, participando, dessa for
para um rodutivo local.
des
presariais portuárias, bem como das características daqueles setores de atividade que
rto? Os operadores
e de empregos
ite visualizar melhor os seus impactos sobre a economia local:
uadro 6: Dados do setor de transportes referentes às empresas vinculadas à cadeia de tividades do Porto de Sepetiba.
Volume de emprego e número de estabelecimentos em alguns subsetores (CNAE) presentes no município de Itaguaí: 1994-2001. Empregados Estabelecimentos
o mesmo tempo, estas novas figuras empresariais,
ncorpo am importantes dotações de saber
es poderiam ser compartilhadas co i ma,
a modernização do tecido p
Desta forma, impõe-se uma análise pormenorizada das características das unida
em
podem se beneficiar, direta ou indiretamente, dos efeitos de transbordamento implicados pela
presença da economia portuária. As empresas locais dispõem das aptidões necessárias para
responder às necessidades de uma economia portuária? Esse tecido produtivo local existe ou
foi reforçado nos anos recentes? Pode-se desde já observar um protótipo de articulação ou de
utilização local dos serviços necessários ao funcionamento do Po
portuários utilizam-se do mercado de trabalho local? Como as instituições e as representações
locais participam deste jogo necessário de articulações e transações mútuas?
Estas últimas observações justificam a escolha tanto das empresas do setor de transportes que
exercem atividades diretamente ligadas ao porto (apresentando forte complementaridade com
o setor portuário) e que chamamos de subsetor 1; quanto das empresas relacionadas ao
transporte de mercadorias que poderiam se beneficiar dos efeitos de transbordamento gerados
a partir da economia portuária (reagrupadas no subsetor 2). Resulta daí a escolha, dentro do
setor de transportes (classificação CNAE/95), de 11 atividades que foram reagrupadas em
dois subconjuntos (subsetor 1 e subsetor 2). A análise de sua evolução recente, através do
termos do número de estabelecimentos e do volumQuadro 6 abaixo (em
gerados), nos perm
Qa
1994 2001 1994 2001 O setor portuário (subsetor 1) : 61.11-5 Transporte marítimo de cabotagem 0 3 0 1 61.12-3 Transporte marítimo de longo curso 0 0 0 0 63.11-8 a e descarga 0 0 0 0 Carg63.16-6 Armazenamento e depósitos de cargas 0 0 0 0 63.22-3 Atividades auxiliares aos transportes aquaviários 202 544 1 5 63.40-1 Ativ. relacionadas a organização do transporte de cargas 0 0 0 0 TOTAL do subsetor 1 202 547 1 6
As atividades indiretamente ligadas ao setor portuário (subsetor 2) : 60.26-7 Transporte rodoviário de cargas, em geral 94 108 3 12 60.27-5 Transporte rodoviário de produtos perigosos 3 0 1 0 61.22-0 Transporte por navegação interior de carga 0 0 0 0 63.21-5 Atividades auxiliares aos transportes terrestres 0 0 0 1 71.22-6 Aluguel de Embarcações 0 1 0 1 TOTAL do subsetor 2 97 109 4 14 Soma: Subsetor 1 + Subsetor 2 299 656 5 20
FONTE: MTE-RAIS (Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho, acesso on line pela internet).
A análise dos dados acima apresentados permite algumas constatações. Em primeiro lugar, à
1998 correspondeu uma evolução instantânea do
ento observado nas
idades anexas ( ) foi de 43%. Para o conjunto dos dois subsetores, no que se
revitalização do Porto de Sepetiba em
número de estabelecimentos e do volume de emprego, e isto ocorreu tanto no setor portuário
propriamente dito (subsetor 1) quanto nas atividades não tão diretamente ligadas ao setor
portuário, mas que poderiam se beneficiar de sua expansão (subsetor 2).
Entretanto, esta tendência é nitidamente mais visível no que se refere a evolução do emprego.
Enquanto no período 1994-98 o emprego total (subsetor 1 + subsetor 2) caiu em quase 44%
(o que deve ser visualizado no Gráfico 5 abaixo), no período seguinte (1998-2001) o emprego
nestes dois subsetores somados é multiplicado por quatro. Este significativo aumento no
emprego foi sobretudo provocado pelo dinamismo do setor portuário propriamente dito
(subsetor 1), onde o crescimento do emprego foi de 494%. O crescim
subsetor 2ativ
refere ao período 1994/2001, o emprego total nas atividades retidas mais do que dobrou, mas
novamente a responsabilidade por essa criação de empregos recai sobre a atividade portuária
mais restrita (170% de aumento no que chamamos de subsetor 1).
Gráfico 5: Evolução do número de empregados e de estabelecimentos no setor portuário e atividades anexas (1994-2001).
Crescimento do número de empregados por setor (1994-2001)
FONTE: RAIS (1995, 2003).
43,4%
12,4%-21,6%
170,8%
-54,5%
290,5%
119,4%-43,8%
-100%
0%100%
200%
300%
400%
94-98 98-01 94-01
494,6%500%
600% Setor 1
Total escolhido
Setor 2
Crescimento do número de estabelecimentos por setor(1994-2001)
100,0%
300,0%
100,0%
300,0%
50,0%50,0%
250,0%133,3%
0%
100%
200%
300%
400%
94-98 98-01 94-01
500,0%500%
600%
Setor 1
Setor 2Total escolhido
Em contraposição ao emprego, quando analisamos o número de estabelecimentos, são nas
atividades anexas ao setor portuário (subsetor 2) que se encontram as maiores variações.
inda que o número de empresas que intervêm diretamente sobre a infra-estrutura portuária
o à quebra do
onopólio da Companhia Docas do Rio de Janeiro em 1998 e à consequente concessão de
diversas áreas portuárias à
indiretamente ligadas à ativid
2001, dobrando entre 1994 e
Mesmo não ignorando o forte
epetiba exerceram sobre as atividades anexas de transporte, das quais ele próprio depende
ventualmente prestar algum tipo de serviço a estas operadoras maiores. No entanto,
mantêm uma filial ou um escritório de representação no próprio Porto de Sepetiba (ou em
terrenos vizinhos), esperando uma expansão no seu volume de negócios.
Pode-se concluir que a introdução de novas atividades no Porto de Sepetiba, provocadas pela
sua privatização (1997) e particularmente pela instalação da Sepetiba Tecon (1998), tiveram
um papel central no desenvolvimento da economia portuária local: o volume de empregos
nesta área de atividade mais do que duplicou e o número de estabelecimentos aumentou
quatro vezes entre 1994 e 2001. Pode-se esperar que este dinamismo se acentue nos próximos
A
tenha sido multiplicado por seis entre 1994 e 2001 (esta alta deve-se sobretud
m
operação privada), o crescimento do número de empresas
ade portuária (subsetor 2) foi constante e forte no período 1994-
1998 e quase dobrando novamente entre 1998 e 2001.
impacto que a atividade portuária e a revitalização do Porto de
S
para seu funcionamento e desenvolvimento, certamente o seu crescimento - bem como os
efeitos multiplicadores que esta atividade pode exercer - está longe de alcançar os efeitos
esperados. Embora estas atividades anexas tenham experimentado um crescimento bastante
limitado no que se refere ao volume de emprego (mesmo se considerarmos todo o período
1994-2001), no quesito número de estabelecimentos a evolução da criação de empresas seguiu
o mesmo ritmo tanto no período 1994-98 como no período 1998-2001. Isto significa que estas
empresas de apoio à atividade portuária, recém criadas, são empresas pequenas que esperam
um crescimento definitivo da cadeia portuária para se expandir.
Desta forma, comparativamente aos grandes operadores privados, cujas dimensões
aproximam-se de suas congêneres multinacionais, as empresas que se desenvolveram em
torno da cadeia portuária (atividades anexas) são unidades menores com um número pequeno
de assalariados que, muitas vezes, se deslocam do município do Rio de Janeiro apenas quando
devem e
anos, vindo a se tornar num dos elementos motores do desenvolvimento econômico do 60município de Itaguaí.
4.2.3.2. Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços presta
restação de serviços apresentou um escimen real de
dos às empresas
O setor de p cr to 7,2% entre 1996 e 2000, enquanto os alugu tiveram cresci nto de 1 % éis um me 9,5no mesmo período. Em 2001, estes se repr tavam 4 % do P de tores esen 3,8 IB Itaguaí. A escolha deste setor (prestação de serviços) também se justifica pelo fato dele ter apresentado um forte crescimento, entre 1994 e 2001, tanto no que se refere ao número de empresas ( umento 10% neste a de 1período) quanto ao número total de e egados, egando bter em 1 mpr ch a o 200o posto de maior empregador do mu o de í : qua 42% do tal nicípi Itagua se tode assalariados.
O esta às em sas, u vez q o
al e o seu mercado de trabalho parecem passar por profundas transforma s
expansão do Porto de Sepetiba. Grandes
permanência de outras unidades produtoras nos leva a interrogar sobre a sua competência
interesse neste setor está concentrado nos serviços pr
n
dos pre ma ue
seu mercado fi çõe
exatamente num momento de consolidação da
empresas demandantes deste setor deixaram o município de Itaguaí, ao mesmo tempo em que
a
para atender a demanda que virá por parte das empresas portuárias. As prestadoras locais de
serviços estariam aptas para responder às necessidades das empresas portuárias, a maioria
delas acostumadas a mercados dinâmicos e a serviços de primeira qualidade?
Não se estudou todo o conjunto deste setor de atividade (classificação F da CNAE/95). Como
pode ser visto no Quadro 7 a seguir, privilegiamos os serviços prestados às empresas que
estão mais envolvidas com os outros setores já retidos, notadamente aqueles relacionados à
cadeia da atividade portuária. Desta forma, as seguintes atividades (ou subsetores) foram
retidas:
60 No entanto, ainda que o conjunto dessas atividades (setor portuário mais atividades anexas) esteja em franco crescimento, tanto o seu número de estabelecimentos quanto o volume de empregos que oferece estão longe de ter um peso significativo na economia do município de Itaguaí, uma vez que representam 0,3% do tecido empresarial do município, com algo em torno de vinte empresas em 2001.
Quadro 7: Dados do setor de prestação de serviços referentes às empresas vinculadas à cadeia de atividades do Porto de Sepetiba. Volume de emprego e número de estabelecimentos em alguns subsetores (CNAE) presentes no município de
aguaí: 1994-2001. Empregos Estabelecimentos
It
Subsetor 1: Aluguel de veículos, máquinas e equipamentos sem condutores ou operadores e de objetos pessoais e domésticos 1994 2001 1994 2001
71. 1 Alug utomóveis 0 6 0 2 uel de a71. 2 Aluguel de outros meios de transporte 0 1 0 1 71. 3 Aluguel de máquinas e amentos 0 37 0 1 equip
Total subsetor 1 44 0 4 0 Subsetor 2: Serviços prestados principalmente às empresas
74. 1 Atividades jurídicas, contábeis e de assessoria empresarial 33 86 11 22
74. 5 Seleção, agenciamento e locserviços temporários
ação de mão-de-obra para 43 491 1 2
74. 6 Atividades de investigação, vigilância e segurança 0 2082 0 2 74.7 Atividades de Limpeza em prédios e Domicílios 37 1829 2 7
74. 9 Outras atividades de serviços prestados principalmente às empresas 44 348 13 19
Total subsetor 2 166 4.848 30 55 Total do setor (subsetor 1 + subsetor 2) 166 4.892 30 59 FONTE: MTE-RAIS (Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho, acesso on line pela internet).
Ao se desagregar o crescimento do número de empregados e do número de estabelecimentos
em dois subperíodos (1994/1998 e 1998/2001), pode-se apoiar nos gráficos abaixo. No que se
refere ao crescimento do volume de emprego (gráfico à esquerda), podemos perceber que o
subsetor 2 foi o maior responsável pela evolução do emprego nos subsetores ecolhidos que
representam a prestação de serviços relacionada ao funcionamento do Porto de Sepetiba. No
que se refere a esta variável, a evolução do subsetor 1 pode ser considerada estável e
esprezível ao longo do período 1994/2001. O mesmo se repete em relação ao crescimento do
os (gráfico à direita). Mais uma vez, foi o subsetor 2 o grande
sponsável pelo aumento do número de estabelecimentos vinculados à cadeia de serviços
prestados ao seto
em seu número d
d
número de estabeleciment
re
r portuário. Este subsetor apresentou um crescimento de pouco mais de 90%
e estabelecimentos entre 1994 e 2001.
Gráfico 6: Evolução do número de empregados e dos estabelecimentos no setor dos serviços prestados às empresas (1994-2001). Crescimento do número de empregados por setor
(1994-2001)
FONTE: RAIS (1995, 1999, 2002).
Nota-se, nos dois gráficos acima, o grande aumento (tanto no que se refere ao número de
empregos quanto ao número de estabelecimentos) nos dados relativos ao subsetor 2 (Serviços
quase dobraram o número de estabelecimentos e tiveram o núm
e aumento destas atividades se vid ad
e sã iço estad aten
às empresas ali instaladas. Mas não devemos também nos esqu er d ue h ve u
movime unicípio do Rio de Jane para
município de Itaguaí, certamente em virtude de alguma facilidade fiscal e de níveis mais
b
4
uma q a de % em a prod o ndo u as cipais ividades de
Itaguaí. No ano de 2001 este setor era responsável por 5% d alor nad ocal, o e fez dele o sexto mais importante de Itaguaí (em 1998 o peso da construção no PIB local era de
tendência de queda). Ao mesmo te o n o de presa ero de
empregados ocupados diretamente por este setor tenha diminuído de 7,6% entre 1994 e 2001,
prestados principalmente às empresas). Estas atividades (jurídicas, contábeis, de assessoria,
investigação, vigilância, segurança, limpeza e os serviços de seleção, agenciamento e locação
de mão-de-obra) ero de
mpregados multiplicado por trinta. O está m dú a lig o à
xpan o do Porto de Sepetiba, sendo que uma grande parcela dos serv s pr os de
ec e q ou m
nto de deslocalização das empresas terciárias do m iro o
aixos de remuneração.
.2.3.3. Construção civil
O setor da construção civil, mesmo tendo apresentado ued 65 su uçãentre 1996 e 2000 (em valores constantes), continua se ma d prin at
o v adicio o l qu
9,2%, o que confirma a mpo, úmer em s queparticipam deste setor praticamente dobrou entre 1994 e 2001. Ainda que o núm
devemos considerar o importante volume de estabelecimentos e de empregos indiretos ligadosa este setor.
A cidade de Itaguaí apresentou nessas últimas décadas uma taxa de crescimento de sua
população dentre as mais importantes dos municípios da Região Metropolitana e do Estado do
Rio de Janeiro, como foi visto no início deste capítulo (subseção 4.2.1). Se, de uma maneira
55,6% 47,6%
42,9%29,6%
48,6%
0%
20%
40%
60%
80%
94-98 98-01 9
129,6%
92,6%
100%
120%
4-01
Setor escolhido
3008,3%4000%
25,6%
-20,0%
26,2%
2340,1%
-1000%
0%
1000%
2000%
94-98 98-01 94-01
2375,2% 2980,3%3000% Setor 2Setor escolhido
Setor 1 Setor 2
Setor 1
Crescimento do número de estabelecimentos por se(1994-2001)
tor
geral, esse fluxo migratório dinamizou o comércio varejista e os serviços de proximidade
(serviços pessoais), ele foi particularmente responsável pela grande expansão dos setores da
construção civil e das atividades a ele ligadas, principalmente a fabricação de produtos de
minerais não-metálicos e o comércio atacadista e varejista de materiais de construção.
O setor da construção civil será aqui representado por três subsetores. Além da atividade
tor 2) e as atividades de serviços ligadas à
onstrução (subsetor 3 – ver Quadro 8 a seguir). Portanto, daremos uma ênfase especial à
rganização da cadeia produtiva em torno da atividade da construção civil, muito embora os
representem as uma parcela pequena do setor de atividade ao
ual efetivamente pertencem. Serão então estudados os seguintes subsetores de atividade:
e ero ec os
construtora propriamente dita (subsetor 1), incluiremos também o comércio varejista e
atacadista de materiais de construção (subse
c
o
subsetores selecionados apen
q
Quadro 8: Dados do setor da construção civil referentes às empresas vinculadas à cadeia de atividades do Porto de Sepetiba. Volum de emprego e de estabel iment em alguns subsetores (CNAE) presentes no município de Itaguaí: 1994-2001. Empregados Estabelecimentos
núm
O setor produtivo da construção (subsetor 1) : 1994 2001 1994 2001 45.1 Preparação de terreno 219 12 5 4 45.2 Construção de edifícios e obras de engenharia civil 468 546 13 36 45.3 Obras de infraestrutura p/ engenharia elétrica e de telecomunicações 0 0 0 0 45.4 Obras e instalações 7 107 2 4 45.5 Obras de acabamentos e serviços auxiliares da construção 40 10 6 5 45.6 Aluguel de equipamentos de construção e demolição com operários 0 3 0 1 Total Subsetor 1 734 678 26 50
Atividades de comércio ligadas ao setor da construção (subsetor 2) : 51.13-6 Intermediários do com. de madeira, mat. de construção e ferragens 0 11 1 2 51.53-5 Com. atacadista de madeira, mat. de construção, ferragens e ferramentas 2 11 1 4
52.44-2 Com. varejista de mat. de construção, ferragens, ferramentas manuais e produtos metalúrgicos; vidros, espelhos e vitrais; tintas e madeiras 138 238 43 66
Total subsetor 2 140 261 45 72 Atividades de serviços ligadas ao setor da construção (subsetor 3) : 71.32-3 Aluguel de máquinas e equipamentos para construção e engenharia civil 0 29 0 4 74.20-9 Serviços de arquitetura e engenharia e de assessoramento téc. espec. 7 11 2 2 Total subsetor 3 7 40 2 6 TOTAL (subsetor 1 + subsetor 2 + subsetor 3) 881 979 73 128
FONTE: MTE-RAIS (Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho, acesso on line pela internet).
período 1994-98 do que no período mais recente. Entre 1994 e 1998, para qualquer um dos
Pelo quadro acima se observa que o setor como um todo (a soma dos três subsetores) viu o
seu número de empregados crescer muito lentamente se comparado com a evolução
observada no número de estabelecimentos (considerando o período 1994-2001). Já os gráficos
abaixo nos permitem observar que a evolução do conjunto do setor foi muito mais nítida no
três subsetores considerados, a evolução tanto do volume de emprego como do número de
estabelecimentos foi mais marcante que no período posterior (1998-2001). O volume de
mprego no total do setor cresceu em 50%, enquanto o número de estabelecimentos cresceu
ub
mu
uni
tam
e
quase na mesma proporção (41,1%). Desta forma, o crescimento observado no período 1994-
2001 concentrou-se, de maneira significativa, no primeiro subperíodo (1994-98).
Gráfico 7: Evolução do número de empregados e de estabelecimentos para três sub-períodos (1994-98, 1998-2001 e 1994-2001).
FO
De
pro
27%
num
(su
núm
s
o s
est
Co
Sep
em
3
4
1
2
-
Crescimento do número de empregados por subsetor: 1994-2001
empregados e com uma alta de 5
setor de comércio ligado à construção (subs
nicípio. Com o término dessas obras (1998
dades construtoras, fazendo com que o c
bém sofresse um ligeiro revés.
NTE: RAIS, vários anos.
fato, após 1998, o conjunto do setor e partic
dutiva (subsetor 1) viram o seu número d
e 37%, ainda que o seu número de estab
ritmo menor que o verificado entre 1994
bsetor 3) tiveram um excelente desempen
ero de
eu número de estabelecimentos no mesmo
abelecimentos sofreu uma tendência à estagn
nstata-se aqui a conseqüência de dois fenô
etiba permitiram a abertura de novos cante
presas construtoras e, atrás delas, várias emp
50%
50%
52,4%80,0%
85,7%100,0%50%
11,0%
45,9%
3,2%
185,7%
50%
50%
-27,2% -7,6%-36,7%50%94-98 98-01 94-01
Setor 2
Setor 3471,4%
Total escolhido
Setor 1
Crescimento do número de estabelecimentos por subsetor: 1994-2001
0% de seu número de estabelecimentos. O
etor 2), por sua vez, continuou a ver aumentar
-99) nada mais justificava a presença destas
omércio ligado aos materiais de construção
ularmente o que consideramos ser a sua base
e assalariados diminuir em, respectivamente,
elecimentos continuasse aumentando, porém
-98. Apenas os serviços ligados à construção
ho no período 1998-2001, dobrando o seu
ritmo, enquanto o volume empregado nestes
ação.
menos. As obras de expansão do Porto de
iros de obras, o que atraiu algumas grandes
resas menores registraram-se nos cadastros do
41,1% 24,3%
61,5% 50,0%
50%
75,3%
92,3%
19,0%26,7%
60,0%
26,3%
100,0%
0%
100%
150%
200,0%200%
94-98 98-01 94-01
Setor 3
Total escolhido
Setor 1
Setor 2
O fim destas obras, que incontestavelmente tiveram um papel fundamental no dinamismo do
setor em meados da década de 1990, não foi, por sua vez, substituído por um aumento dos
esforços da Prefeitura em termos de investimento em planejamento e obras públicas (como foi
mencionado na subseção sobre finanças públicas). Se este setor podia contar com uma
demanda complementar exercida pela Prefeitura durante os anos que coincidiram com as
bras do Porto, a partir de 1999 este componente da demanda (gastos públicos) sobre a
Desta form
ligados ao
entre 1998
Sepetiba, e
Dada a pr
município
ara aquele
ua atividade produtiva – a
bricação de peças e de reatores para as usinas nucleares está estagnada desde os anos 1980,
ojeto nuclear para o Brasil desde então – fez com que a
tividade econômica do setor industrial do município recrudescesse, em 2000, a ¼ do que era
o
construção civil também esvaiu-se.
a, a manutenção do crescimento do número de estabelecimentos comerciais
setor da construção (ainda que o seu número de empregados tenha se estagnado)
-2001 certamente deve-se a fatores alheios à obra de expansão do Porto de
provavelmente deve estar ligado às ne ec ssidades locais da pequena construção.
oximidade de casas de veraneio que se estendem por toda a Costa Verde, o
de Itaguaí se constitui em uma boa opção de compra de materiais de construção
s consumidores que querem efetivar o seu poder de compra perto do local de p
construção. 61
4.2.3.4. A indústria extrativa mineral e outras indústrias presentes em Itaguaí
Como já dissemos na subseção 4.2.1, a indústria, que já não era forte e nunca se constituiu em
uma vocação de Itaguaí, sofreu, ao longo dos anos 1990 e principalmente na segunda metade
desta década, um esvaziamento muito grande. O fechamento de uma das principais empresas
do município em 1998 (Companhia Industrial e Mercantil de Ingá), aliado ao fato de que a
NUCLEP nunca realizou de fato o crescimento tão esperado em s
fa
em função até da inexistência de um pr
a
em 1996.
61 Apenas os estabelecimentos que prestam serviços ligados à construção mantiveram uma progressão significativa tanto no seu número de estabelecimentos quanto no volume de empregados, o que nos faz pensar (e as nossas sondagens de campo nos levaram a formular esta hipótese) que estes prestadores de serviços continuaram a trabalhar para os operadores portuários, prestando uma espécie de “serviços de manutenção” às empresas portuárias.
As empresas industriais que ainda permanecem no município, algumas no setor de metalurgia
básica, são subcontratadas de uma grande empresa que atua no Distrito Industrial de Santa
Cruz, vizinho ao município de Itaguaí. Mas a produção destas empresas é muito pequena se
omparada ao poder de compra da empresa demandante, além de existir uma grande
) A indústria extrativa mineral
c
concorrência entre elas para obterem a demanda mais rentável. Outras empresas, nos ramos da
fundição e da cerâmica, sofrem uma concorrência cada vez maior de empresas situadas no
Estado de São Paulo, como pudemos constatar pelas entrevistas que fizemos aos empresários
locais. Finalmente, restam as empresas de extração de areia, que possuem um nicho de
mercado junto ao mercado da construção civil do município do Rio de Janeiro, contam com
uma abundância de areiais na região e com um poder de fiscalização dos órgãos ambientais
ainda fraco, constituindo-se, ao que parece, numa atividade bastante rentável.
A
Apesar deste setor ter tido uma participação fraca no PIB da economia de Itaguaí em 2000 (2% do valor adicionado local), esta participação não pode ser negligenciada se a compararmos com o peso quase nulo que este mesmo setor apresenta no interior do Estado do Rio de Janeiro e também na sua Região Metropolitana. Em outras palavras, esta atividade constitui-se numa forte especificidade produtiva do município de Itaguaí, tanto em relação aos demais municípios do Estado quanto aos demais municípios da RMRJ.62
O número de empresas na indústria extrativa de Itaguaí reduziu-se em 35% entre 1994 e 2001, o que se deve principalmente à emancipação do município de Seropédica em 1996, uma vez que este município também conta com um volume expressivo de campos de extração de areia. Apesar dessa baixa no número de empresas, o setor conseguiu aumentar o número total de empregados em 6,7% entre 1994 e 2001, sugerindo aí um aumento da produção no mesmo período. 63
O estudo do setor de extração de minerais, particularmente a extração de minerais não-
metálicos (pedra, areia e argila), se justifica pela forte presença de campos de extração de
areia em Itaguaí e Seropédica, o que faz do município de Itaguaí o segundo produtor mais
portante da indústria extrativa (fora extração do petróleo) do Estado do Rio de Janeiro im
(atrás apenas do município de São Francisco de Itabapoana). Além deste setor constituir-se
numa das principais especializações produtivas da cidade de Itaguaí, ele possui uma relação
evidente com a construção civil, na medida em que constitui-se como matéria-prima para esta
62 Outro município que apresenta uma forte participação deste setor em sua economia local é Seropédica. 63 Interessante ilustrar este ponto com um comentário que foi feito por um de nossos entrevistados em uma empresa de transporte de cargas, que disse que a extração de areia estava “matando” as plregião, uma vez que esta extração de areia ocorre em campos próximos aos da
antações de quiabo na agricultura do quiabo. Ele
rminou o seu comentário dizendo que Itaguaí fora o segundo maior produtor de quiabo do mundo, o que era otivo de orgulho para o município.
tem
atividade, o que nos permite abordar a inter-relação entre estes dois setores e verificar a
existência ou não de sinergias entre as empresas que os compõem.
B) O setor industrial como um todo
O fato de existir em Itaguaí grandes unidades industriais como a Nuclep, a Fundição Técnica
ulamericana e até bem pouco tempo atrás a Companhia Industrial e Mercantil de Ingá, sem
do Porto de Sepetiba, justifica
m
e dução e serviços.
F ios) as grandes emp sas qu
e cipalm nte n de m alurgia
b e equipamentos. Mais do que o estudo da estrutura e da
organização deste setor, até porque ele é pouco representativo no conjunto da economia de
Itagua rincipalmente as externalidades e as relações destas des presa
com o tecido das pequenas e médias empresas do sítio. Além dessas sinergias, loca-
t ncia da expansão or Sep a pa
e que deveriam ser estimuladas a partir do
S
esquecer a proximidade do Distrito Industrial de Santa Cruz e
um interesse por essas grandes empresas e às eventuais articulações que possa surgir entre
las e as pequenas unidades de pro
oram também pesquisadas (através das aplicações de questionár re e
ncontram-se nos setores da indústria de transformação, prin e os et
ásica e fabricação de máquinas
í, estudamos p gran em s
co se
ambém a possibilidade de estudar qual a importâ do P to de etib ra
eventuais projetos de exportação dessas empresas.
No Quadro 9 a seguir dividimos o setor industrial em três subsetores, que obedecem à
realidade econômica local e mostram como a indústria local não está integrada a nenhuma
cadeia de atividade, mas representam unidades esparsas e isoladas para o atendimento de
mercados segmentados e, na maioria das vezes, fora do município de Itaguaí. Assim, a
indústria extrativa foi classificada no que chamamos de subsetor 1, que representa a atividade
mais dinâmica do setor industrial no município. A diminuição no número de estabelecimentos
entre 1994 e 2001 não retrata a realidade local, uma vez que este recuo se deve à emancipação
do antigo distrito de Seropédica, que compartilhava com Itaguaí os campos de extração de
areia. Pelo contrário, as unidades de extração de areia em Itaguaí devem ter aumentado nos
últimos anos, e não diminuído. Isto explica o aumento no número de empregados (ver o
quadro abaixo), apesar desta atividade ser extremamente poupadora de mão-de-obra.
O que chamamos de subsetor 2 inclui aquelas atividades industriais que estão mais próximas
(como fornecedoras) do setor da construção civil
momento em que a construção civil retomasse o seu nível de atividades. O que vimos em
relação à dinâmica econômica recente foi justame o contrário: uma queda brusca no nível
de atividade da construção civil, que em 2000 representa apenas um terço do que era em 1996
(valores constantes). Isto talvez explique a queda bastante significativa no número de
empregados no subsetor 2 (ver quadro abaixo), apesar de um aumento, que não pôde passar
desapercebido, no núme lecimentos em alguns subsetores.
No subsetor 3 elencamos algumas atividades cuja produção se destina seja a algumas poucas
cipalmente a Gerdau, localizada no Distrito Industrial de Santa Cruz),
rificamos um aumento no número de estabelecimentos e uma
ueda no volume de emprego (ver quadro abaixo).
tor industrial (Itaguaí – 1994/2001). o de estabelecimentos em alguns subsetores (CNAE).
Empregados Estabelecimentos
nte
mpresas maiores (prin
ro de estabe
e
seja ao atendimento do mercado interno (na própria cidade de Itaguaí) de esquadrias de
alumínio, normalmente residências e outras pequenas unidades comerciais e de prestação de
serviços. Em ambos os casos ve
q
Quadro 9: Dados do seVolume de emprego e númer Indústrias extrativas (Subsetor 1) : 1994 2001 1994 2001 14.10-9 Extração de pedra, areia e argila 217 250 57 36 Total subsetor 1 217 250 57 36 Indústria de transformação, ligada ao setor da construção (Subsetor 2) : 20.2- Fabricação de produtos de madeira, cortiça e mat. trançado – exclus. móveis 20 6 1 2 26.2- Fabricação de cimento 0 0 0 0 26.3- Fabricação de artefatos de concreto, cimento, fibrocimento, gesso e estuque 0 18 1 6 26.4- Fabricação de produtos cerâmicos 105 38 5 1 Total subsetor 2 125 62 7 9 Indústria de transformação, em geral (Subsetor 3) : 27 Metalurgia básica 241 185 4 7 28 Fabricação de produtos de metal – exclusive máquinas e equipamentos 771 598 10 17 Total subsetor 3 1012 783 14 24 Total do setor industrial (subsetor 1 + subsetor 2 + subsetor 3) 1354 1095 78 69
FONTE: MTE-RAIS (Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho, acesso on line pela internet).
Com o intuito de desagregar o crescimento do volume de empregados e também o do número
de estabelecimentos em dois subperíodos (entre 1994 e 1998 e entre 1998 e 2001),
elaboramos os dois gráficos abaixo. No gráfico à esquerda, observamos que para o total do
setor escolhido houve uma estabilidade no emprego entre 1998 e 2001 (aumento de 1%), mas
a que
consi
subse
da de 20% no emprego entre 1994 e 1998 fez com que o balanço para o período
derado (1994/2001) fosse negativo em 19%. Este saldo negativo foi influenciado pelo
tor 3 e principalmente pelo subsetor 2, onde se verificou uma queda de 50% no volume
de emprego entre 1994 e 2001. Pode-se ver que o subsetor 1 foi o grande responsável pela
stram organização, mobilização, influência ou
rticulação relevantes no contexto municipal ou sub-regional, e que, portanto, poderiam atuar
das entidades que formam a
s
manutenção dos níveis de emprego no total dos subsetores escolhidos (lembramos que no
total da indústria – incluindo os outros subsetores que foram excluídos da análise do Quadro 9
acima – houve uma queda de mais de 50% no volume de emprego neste mesmo período). No
subsetor 1 (indústrias extrativas) o volume de emprego cresceu 47% entre 1998 e 2001.
Gráfico 8: Evolução do número de empregados e de estabelecimentos em alguns subsetores da indústria de Itaguaí (1994-2001).
FONTE:
Crescimento do número de empregados por setor 1994-2001
Crescimento do número de estabelecimentopor setor 1994-2001
RAIS (1995, 1999, 2002).
No que se refere ao número de estabelecimentos, podemos ver que no período 1998-2001 o
subsetor 2 teve um aumento de 125%, o que contrasta com a queda de 43% verificada no
subperíodo anterior (1994-98).
4.3. Caracterização do ambiente institucional de Itaguaí: a sociedade civil, os sindicatos
e as associações locais
A pré-identificação de agentes de influência local aqui apresentada, com indicação
sumarizada de sua forma de atuação, não pretende ser exaustiva. Trata-se de apontar aquelas
entidades que, no estágio atual, demon
a
como catalisadores de um processo mais amplo de mobilização e participação da sociedade
civil.
O conjunto de atores representantes do que se poderia chamar de sociedade civil em Itaguaí é
bastante heterogêneo, tanto no que se refere às diferenças entre os grupos ou tipos de
organizações, quanto internamente a cada grupo. Algumas
-1-19%10%
-8%-32%-3-43%
29%
43%20%
71
-50%
0%
50%
94-98 98-01 94-0
2%
7%
125%
%100%
150%
1
Setor 2
Setor 3
Total escolhido Setor 1-50%
-20%
1%
-19%
15%
-22%
-42%
-15%
-17% -7%
-23%-50%
-30%
-10%
10%
30%
94-98 98-01 94-01
47%50%
70%
Setor 1
Total escolhido
Setor 3 Setor 2
sociedade civil de Itaguaí têm uma participação bastante ativa nos Conselhos e Comissões
iações – as mais fortes – que participam dos
onselhos e comissões, verificando-se, desta forma, uma certa oligopolização do espaço de
almente ao longo de todo o ano de 2003,
ob a pressão de se constituir um Plano Diretor para o município (o último Plano Diretor
iais e da militância ambiental. No segundo grupo, listamos os
indicatos de trabalhadores e associações de classe, estes mais atuantes nas questões políticas
,
da mobilização dos empresários e, muitas
vezes, o de eventos e prog institucionais. No quarto grupo, elencamos as
entidad ou tripartites, que se constituem em instâncias intermediárias que reúnem
representações tanto do poder público como dos grupos
(empresários e trabalha estacam-se as comissões e os
c is,
Municipais. São sempre as mesmas assoc
c
participação nas questões de interesse público. De um modo geral,
“a análise do meio ambiente institucional de Itaguaí aponta para a necessidade da criação de amplos fóruns, que sejam âmbitos institucionalizados de debates, bem como para o fortalecimento e a integração das organizações já existentes, com vistas ao preenchimento de uma lacuna, que vem a ser a inexistência de espaços públicos para a discussão do Projeto Sepetiba” (Cocco, 1999).
Esse diagnóstico tem sido objeto de reflexão por parte da Prefeitura e das autoridades
municipais. De fato, desde o final de 2002 e princip
s
vigente data de 1977), as autoridades municipais têm feito um esforço no sentido de mobilizar
a sociedade civil para a discussão dos principais eixos de regulamentação pública, de
desenvolvimento econômico e de inclusão social no município. Tal iniciativa, desenvolvida
no âmbito da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, encontrou uma forte
desconfiança por parte da população de Itaguaí no início, mas parece ter encontrado maior
ressonância ao longo do processo de gestação do novo Plano Diretor.
Dividimos o conjunto da sociedade civil, das instituições e demais organismos de Itaguaí em
quatro grupos. No primeiro grupo, listamos as associações de moradores e as ONGs, mais
próximas dos movimentos soc
s
e econômicas do município, têm um maior poder de representação do que o primeiro grupo e
com freqüência encontram-se presentes nas Comissões e Conselhos Municipais, como
veremos adiante. No terceiro grupo encontram-se os sindicatos e associações patronais, dentre
os quais destaca-se a Associação Comercial, Industrial e Agro-Pastoril de Itaguaí (ACIAPI)
que exerce um poder efetivo do ponto de vista
na promoçã ramas
es mistas
organizados da sociedade civil
dores). Dentre estas entidades, d
verdadeiros órgãos de represeonselhos municipa ntação que exercem funções
d ativas, consultivas e por vezes até fiscalizadoras sobre as instâncias de
p retarias de governo).
e moradores e ONGs
canal através do qual
ivindicações específicas possam ser solucionadas ou encaminhadas aos órgãos competentes,
O Quadro 10 abaixo apresenta as principais ONGs, associações locais e outras instâncias de
participação identificadas durante a pesquisa de campo, que exercem papel relevante na
eliberativas, norm
oder municipais (sec
Naqueles grupos de instituições em que o número de organismos for alto, restringimos os
nossos comentários àqueles mais atuantes e mais importantes do ponto de vista da
participação na vida política, social e econômica do município. Privilegiamos as instituições
que possuem um canal aberto de diálogo e de cooperação com instituições de outro grupo,
bem como demos especial ênfase àquelas que se constituíram por força dos movimentos de
base e que têm maior aderência à esfera produtiva ou sindical.
4.3.1. Associações d
O conjunto das associações de moradores também é bastante heterogêneo no que se refere ao
seu grau de organização interna, ao tempo de existência, ao número de associados (que
depende do total de moradores do bairro) e às demandas específicas de cada bairro. A data de
fundação das associações varia entre 1984 e 1994, que, não raro, passam por períodos de
paralisação e posterior retorno de suas atividades. Foi entre o final da década de 1980 e os
primeiros anos da década de 1990 que o movimento de associações de moradores teve maior
expressão e envolvimento nas questões municipais.
No caso das associações de moradores, há também que se considerar as diferenças que
surgem entre o ‘Itaguaí urbano’ e o ‘Itaguaí rural’. Se na área urbana a existência de
associações de bairro pode se justificar pela necessidade de um
re
na área rural o papel das associações de moradores parece ser, em grande parte, preenchido
pelas associações de produtores e/ou trabalhadores rurais. Muitas vezes, uma associação da
área rural é, ao mesmo tempo, a associação de moradores do bairro e a associação que
representa a classe profissional da maioria daqueles moradores (como são os casos, por
exemplo, da APLIM e da APRUMA); interseção que não acontece nas associações de
moradores das áreas urbanas.
articulação das causas comunitárias, ambientais e de desenvolvimento social na região,
podendo ser sugeridas como ponto de partida para o processo de mobilização no nível local.
Quadro 10: ONGs e associações de moradores
Organismo Tipo Localização
Fundação Delta ONG
Rua Guilherme Serrano, 99 Vila Geni - Itaguaí Representante em Itaguaí: Sr. MarcosVinícius
SOS Baía de Sepetiba
ONG ambientalista envolvida com a articulação política e conscientização social, em torno da preservação da Baía de Sepetiba e áreas costeiras
Pedra de Guaratiba – Rio de Janeiro
BIOECO OSCIP Angra dos Reis Carlos – 9748-7620
FRAMI – Federação Regional das Associações de Moradores de Itaguaí
Associação de moradores Itaguaí
FONTE: Pesquisa de campo, 2003. 64
Em relação à Fundação Delta, a maioria de seus membros é oriunda de outros municípios,
muito embora alguns de seus representantes façam questão de dizer que “abraçaram as
causas de Itaguaí”. No entanto, “... sua linha de objetivos e área de atuação é a mais
abrangente possível, compreendendo da preservação ecológica ao desenvolvimento técnico-
científico” (Cocco, 1999: subseção 3.2.2). Um dos assuntos destacados por seu gerente
regional, quando da entrevista que fizemos com ele, foi a participação da Fundação Delta (em
2000) na elaboração de um “Documento de Orçamento participativo” mas que, segundo ele,
ão se consolidou.
lém das associações de cada bairro, registra-se a existência da FRAMI, federação fundada
la FRAMI tenham sido o principal motivo da não
stalação do Pólo Petroquímico na região, mas tais mobilizações apontam claramente para o
n
A
em 1984, à qual muitas das associações ainda são filiadas, apesar da fase de desarticulação
por que vem passando (desde 1995). A FRAMI teve uma atuação muito forte nas
manifestações populares contra a instalação do Pólo Petroquímico no município na década de
1980, e posteriormente contra a construção de um aterro químico por parte da Companhia
Mercantil e Industrial de Ingá S.A., em 1994. Não há razões para crer que a resistência
popular e as manifestações incentivadas pe
in
46 orrespondente a um
b ntabilizadas em uma lista r as associações dos bairros d eba B), de Vila Margarida e de Vila Geni.
Além da FRAMI, contabilizamos um total de 19 associações de moradores, cada qual cairro de Itaguaí. Itaguaí tem mais de 19 bairros, mas estas foraepassada pelo Sr. Jorge, da FRAMI. Dentre os bairros mais conhe Chaperó (Gl
m as associações coecidos, destacam-se
f u s monitorada pela própria
C ente pelas associações es) se opõe aos projetos
m
N icativa levantada pelas associações de moradores foi o
d motivo
bém foi de cunho demos argumentar que os
roblemas ecológicos situam-se no topo da agenda de interesses da FRAMI e de suas
unicipal) quando o apoio popular é almejado para a aprovação de algum projeto ou
ano Diretor, foi-nos dito que a principal resistência a ser
uebrada e que possibilitaria uma maior participação popular nas reuniões do Plano Diretor
I.
ato de que, em Itaguaí, muitas vezes a vontade pop lar (por veze
âmara Municipal e certam de morador
unicipais de implantação de grandes sítios produtivos/industriais.
o caso do Pólo Petroquímico, a justif
esconhecimento dos impactos ambientais que tal projeto poderia ocasionar. Como o
da segunda mobilização popular tam ambiental, po
p
associações coligadas, ou então que essas questões têm um forte apelo e encontram um grande
respaldo frente aos moradores do município. Além do que, a FRAMI tem um histórico de
atuação intensa na preservação do rio Mazomba, e constitui-se em agente relevante na
implementação das ações de conscientização social e controle da ocupação territorial
desordenada.
Apesar do relativo esvaziamento pelo qual vem passando desde 1995, a FRAMI ainda exerce
o poder que lhe é delegado pelas associações de moradores, a tal ponto de se constituir numa
das primeiras organizações procuradas pelas representações oficiais (Prefeitura ou Câmara
M
programa oficial. Hoje, por exemplo, às voltas com a elaboração e a posterior aprovação de
seu novo Plano Diretor, cuja legitimidade passa pela participação das representações de classe
e das associações de moradores, a Prefeitura de Itaguaí (através da sua Secretaria de
Desenvolvimento Econômico) tem insistido junto a FRAMI pela convocação dos setores
populares que representa. Inicialmente esvaziadas e correndo um sério risco de “patinarem” e
de não saírem de seu estágio inicial, as reuniões dos Comitês Gestores do Plano Diretor
precisaram de várias rodadas de exposição de seus instrumentos e objetivos para que
finalmente as associações de moradores aderissem aos seus propósitos oficiais. Em uma
conversa reservada com a Secretária de Desenvolvimento Econômico do município e agente
da Prefeitura na condução do Pl
q
era, justamente, aquela exercida pela FRAM
4.3.2. Sindicatos de trabalhadores e associações de classe
O grau de heterogeneidade entre as entidades que compõem esse grupo é grande, indo de
organismos bastante organizados e atuantes (como, por exemplo, a APLIM-Associação de
Pescadores e Lavradores da Ilha da Madeira) até aqueles sindicatos que cumprem
simplesmente suas funções burocráticas (como o Sindicato dos Empregados do Comércio).
No Quadro 11 abaixo podemos ver uma lista sumarizada dos principais sindicatos e
associações de classe atuantes em Itaguaí.
Quadro 11: Sindicatos e associações de classe presentes em Itaguaí Organismo Localização da sede
APLIM – Associação de Pescadores e Lavradores da Ilha da Madeira Ilha da Madeira – Itaguaí
APRU ção dos Produtores R a – Itaguaí MA – Associa urais e Moradores Mazombde Mazomba APIMI – Associação de Apic Desconhecido ultores do Município de Itaguaí SINTRUPAI – Sindicato (depois do Guanabara, 2a dos Trabalhadores Rurais e
uaí Contato: Seu Albertino rua à direita) Pescadores Artesanais de Itag
Sindicatos dos Bancários de A Angra dos Reis ngra dos Reis Sindicato dos Trabalhadore Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro s no Combate às Endemias do
SEPE – Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino Rio de Janeiro SINDPREV – Sindicato dos Previdenciários Desconhecido SEESVIT – Sindicato dos e
termunicipal de Itaguaí e Seropédica Itaguaí Rua Oscar Cardoso Viei
Empregados de Empresas dSegurança e Vigilância In ra Braga, 08 Sindicato dos Empregados do hecido Comércio Descon
FO Pesquisa de campo, 2003.
catos citados, os mais atuantes e que merecem destaque são a
PLIM e o SEPE, que participam dos mais importantes conselhos e comissões existentes no
Hoje notamos uma importância maior do SINTRUPAI, citado em várias entrevistas como um
dos órgãos mais atuantes na questão da defesa ambiental da Baía de Sepetiba, principalmente
em função da abertura dos canais de acesso ao Porto (dragagem) e do conseqüente
assoreamento da região, o que tem provocado efeitos negativos sobre a pesca artesanal e a
subsistência de vários grupos sociais instalados na Ilha da Madeira. Como o produto da pesca
NTE:
Entre as associações e os sindi
A
município. Fundada em 1959, a APLIM é a associação mais antiga de Itaguaí e possui uma
trajetória marcada pela participação em vários movimentos e protestos liderados pela FRAMI,
e pela ação direta e isolada em questões ligadas aos problemas ambientais da Ilha da Madeira
e da Baía de Sepetiba. Os membros da APLIM têm uma flagrante preocupação em relação à
poluição da Baía de Sepetiba (responsável pela redução da pesca), que seria agravada com as
obras de ampliação do Porto e o aumento da movimentação de navios na região. Além disso,
vem se firmando como alternativa na organização de colônias de pesca tradicional na região.
artesanal é meio de troca para várias famílias que vivem desta atividade (normalmente as
mulheres recolhem siris e mariscos nos manguesais, que também são afetados pelo
assoreamento), a mutilação deste tipo de pesca tem provocado alteração nos equilíbrios de
troca entre o campo (agricultura) e a pesca, disfunção econômica da qual o SINTRUPAI tem
tuado como árbitro e regulador.
No Quadro 12 listamos os principais organismos e associações
atronais.
uadro 12: Organismos e associações patronais Organismo Segmento representado Localização
a
4.3.3. Sindicatos e associações patronais
À primeira vista nos parece que o número de sindicatos e associações patronais em Itaguaí é
relativamente baixo, se compararmos com outras instâncias de participação. Isto pode tanto
ser explicado pelo fato do tecido empresarial de Itaguaí ser relativamente recente (jovem)
quanto pela constatação de que as principais unidades econômicas de Itaguaí são de origem
externa, o que faz com que os seus representantes se filiem à organizações cuja sede se
encontra em outros municípios (principalmente Rio de Janeiro). Além desses fatores, nota-se
que a ACIAPI possui um forte monopólio de representação do empresariado local, inclusive
com uma grande penetração na Prefeitura municipal, principalmente através de sua Secretaria
da Fazenda. 65 Face ao poder que representa a ACIAPI, os demais órgãos patronais têm uma
importância secundária.
p
Q
ACIAPI – Associação Comercial, Industrial e Agro-Pastoril de Itaguaí
Empresários e comerciantes locais. Itaguaí
Sindicato Rural do Município de Itaguaí
Todos os produtores rurais são cadastros neste sindicato. É um sindicato patronal. Presidente: Maria Ivonete Telefone: 2688-1032 ou 9355-7291
Itaguaí Rua Dr. Curvelo Cavalcante551
,
SIMARJ – Sindicato dos Mineradores de Areia do Estado do Rio de Janeiro
Empresários da extração de areia. Congrega grande número de afiliados devido ao porte do setor nestes municípios. Seu papel é
Rio de Janeiro. Filial em Seropédica Núcleo Itaguaí/Seropédica relevante na implementação das ações de recuperação de áreas
degradadas na região de baixada Contato: Lilian Telefone: 2682-2624
CDL – Clube de Diretores Lojistas Associação de lojistas e comerciantes locais Rio de Janeiro
Rotary Club do Brasil Associação de empresários locais Rua Padre Izidoro, 531 – Itaguaí - RJ Telefone: 2688-6499
FONTE: Pesquisa de campo (2003).
65 O Secretário da Fazenda atual tem pouca ligação com a ACIAPI; mas trata-se antes de uma exceção que confirma a regra. Em nossas pesquisas e entrevistas, pudemos constatar uma presença bastante marcante de secretários municipais que são indicados para a Presidência da ACIAPI e vice-versa, indicando um rodízio neste exercício do poder.
No entanto, em que pese o poder de representação da ACIAPI, tal pujança não se reflete em
tampouco em recursos humanos qualificados e
município. Convidado
presidir a importante
untos Portuários, o
al despreparo e desconhecimento da função que lhe
de atuação nem
ia do município,
membros filiados à
stico que
os acima quanto à relativa ausência de industriais locais e vem também apontar para o
o, por exemplo, a extração de areia e a própria
especulação fundiária).
4.3.4
suas condições materiais de trabalho nem
atentos com os principais problemas e potencialidades econômicas do
pelo Comitê Executivo do Plano Diretor do município a compor e
Comissão de Desenvolvimento Econômico, Industrial e para Ass
representante da ACIAPI demonstrou tot
estava sendo outorgada, não sendo capaz de traçar um plano estratégico
tampouco levantar os principais assuntos pertinentes a esta comissão. 66 Pudemos constatar
também, ao longo das reuniões e entrevistas que mantivemos com os representantes deste
órgão, a carência de informações e de uma base de dados sobre a econom
bem como uma dificuldade em responder questões sobre a proporção dos
ACIAPI.
No que se refere particularmente à composição dos membros filiados à ACIAPI, notamos
uma representação mais do que proporcional dos comerciantes, em detrimento dos
empresários industriais e agropastoris. Tal constatação vem confirmar o diagnó
fizem
desmantelamento e a falta de representação política da sociedade agropastoril tradicional de
Itaguaí. Esta camada social, fundada basicamente por imigrantes que chegaram à cidade na
década de 1930, não conseguiu se reproduzir economicamente nem tampouco transferir para a
sua segunda geração (nascida em Itaguaí) a estrutura fundiária que receberam do Distrito
Federal quando de sua chegada, muito provavelmente por causa de alguma mudança na lei de
uso do solo (lei de zoneamento) ou na regulamentação da propriedade agrícola, fato este que
veio concomitante à queda de atividade no setor primário do município e à ascensão de outras
atividades econômicas e financeiras (com
. Entidades mistas e/ou organismos tripartites
66 Tal constatação pôde ser feita em uma reunião que assistimos no dia 26-05-2003, da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Industrial e Assuntos Portuários do Plano Diretor de Itaguaí, com a presença da Secretária Municipal de Desenvolvimento e do representante da ACIAPI. Esta reunião foi na própria ACIAPI.
Para além da Prefeitura e da sociedade civil de Itaguaí, existem no município instâncias
intermediárias que reúnem representações tanto do poder público (Municipal, estadual e/ou
federal), como dos grupos organizados apresentados nas subseções anteriores. Essas
instâncias, que constituem formas institucionais mistas e mediam as relações entre governo e
sociedade locais, são os Conselhos e as Comissões Municipais, cujo resumo é apresentado no
Quadro 13 abaixo. 67
Quadro 13: Lista dos Conselhos Municipais e Comissões Municipais 1. Casa dos Conselhos 2. Conselho Tutelar 3. Conselho Municipal de Saúde 4. Conselho Municipal de Educação 5. Conselho Municipal de Cultura 6. Conselho Municipal de Assistência Social 7. Conselho Municipal de Alimentação Escolar 8. Conselho Municipal de Defesa da Mulher 9. Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente 10. Conselho Municipal do Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável * 11. Conselho Municipal de Desenvolvimento da Pesca de Itaguaí * 12. Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Itaguaí * (COMDERI) 13. Conselho Municipal Gestor do FUNDEF 14. Conselho Municipal Anti-Drogas 15. Comissão ** Municipal de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (PET) 16. Comissão Municipal de Emprego * Entidades represen issão Municipal de Emprego: Secretarias Municipais de tadas na ComDesenvolvimento, de Saúde e Bem Estar Social, de Agricultura, Meio Ambiente e Pesca e de Educação, Cultura, Esporte e Lazer; SEBRAE, ACIAPI, SENAC e SINCOVANI; SINTCERJ, SINDSPREV, SINTRUPAI, Sindicato dos Rodoviários. FONTE: Pesquisa de campo, 2003. * Conselhos ou Comissões tidas como as mais atuantes, representativas ou importantes. ** A particularidade das Comissões é que elas são em convênio com o Governo do Estado.
Cada um dos conselhos tem Presidente e Secretário, que não são necessariamente
funcionários da Prefeitura. Cada Comissão tem um Estatuto, um Regimento e um Cadastro
(que é uma lista dos organismos que atuam nestes organismos). Eles são compostos por
representantes do Governo, sindicatos, empresários e sociedade civil.
O COMDERI tem funções cooperativas, deliberativas, normativas, consultivas e
fiscalizadoras. Seu objetivo principal é a formulação, o controle e a avaliação das políticas
municipais agrícola, pesqueira e ambiental. Constitui-se em órgão colegiado, presidido pelo
67 “Os Conselhos Municipais são órgãos consultivos ou deliberativos, de assessoria ao poder executivo municipal, com atribuição de acompanhar a implantação do Plano Diretor, avaliando e propondo medidas para a concretização de políticas setoriais” (Cocco, 1999).
Secretário Municipal de Agricultura e Meio-Ambiente, responsável pela coordenação de
atividades ligadas ao desenvolvimento rural do município. O COMDERI é reconhecido –
esmo entre entidades da sociedade civil que não participam do Conselho – como um espaço
a falta generalizada de informações sobre as características, o estágio das obras e as agências responsáveis pela coordenação e execução do Projeto, bem como dos interlocutores possíveis e dos efeitos sociais e econômicos previstos” (Cocco,
de trabalho. A rotatividade dos membros que participam de sua
ireção (notadamente nos cargos de Presidência e primeiro secretário, cuja gestão é de apenas
mo os critérios por vezes políticos de nomeação para estes cargos, parecem
e constituir em dois fatores adicionais para as dificuldades de se estabelecer uma política
Deliberativo do FAT (CODEFAT), repassados de Brasília e cuja condição para o repasse é a
homologação, pelo município, de uma Comissão Municipal do Emprego. Como conseqüência
de participar do FAT, o município está integrado ao Centro de Oportunidades, que vem a ser
m
importante de discussão dos problemas do município e que tem um bom funcionamento. No
entanto, mesmo sendo
“... um espaço privilegiado no qual poderiam ser encontrados os atores sociais melhor informados sobre questões acerca do Projeto Sepetiba, observa-se que, entre os membros do COMDERI (à exceção do secretário municipal de agricultura e meio-ambiente) há um
1999).
Criada em 1994, a Comissão Municipal de Emprego de Itaguaí é uma instância de
participação pública, paritária e tripartite, composta por doze representantes, dos quais quatro
do poder público (Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Secretaria Municipal de Saúde e
Bem Estar Social, Secretaria de Agricultura, Meio Ambiente e Pesca e Secretaria Municipal
de Educação, Cultura, Esporte e Lazer), quatro de sindicatos de empregadores (SEBRAE,
ACIAPI, SENAC e Sindicato do Comércio Varejista de Nova Iguaçu) e quatro de sindicatos de
trabalhadores (Sindicato dos Trabalhadores no Combate às Endemias, SINDSPREV,
SINTRUPAI, Sindicato dos Rodoviários de Nova Iguaçu). A Comissão Municipal de Emprego
foi identificada como o principal órgão gestor do mercado de trabalho de Itaguaí, apesar da
carência de instrumentos administrativos e muitas vezes da falta de organização dos próprios
dados relativos ao mercado
d
um ano), bem co
s
mais eficaz e de longo prazo na gestão do mercado local de trabalho.
Internamente à Comissão Municipal de Emprego foi criada, em maio de 1997, uma Comissão
responsável pelo gerenciamento dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). A
criação desta comissão implicou na operacionalização do Plano Estadual de Qualificação
(PEQ) no município, que existe desde então. O PEQ depende de recursos do Conselho
um banco de dados informatizado no qual trabalhadores em busca de emprego são
cadastrados e empresas em busca de mão-de-obra inseridas como potenciais demandantes. A
Comissão Municipal de Emprego identifica as principais necessidades de qualificação da
mão-de-obra no município, repassando essas informações para o Centro de Oportunidades
que, comparando essas informações da Comissão com a procura que é exercida diretamente
pelas empresas junto ao Centro, seleciona os cursos que serão oferecidos e executa a sua
operacionalização. A Comissão Municipal de Emprego mostra então quais são as
necessidades de requalificação no município, cujo órgão executor (quem vai monitorar os
ursos e cruzar oferta e demanda) é o Centro de Oportunidades. Os cursos são então c
oferecidos à comunidade local em escolas municipais e estaduais, bem como nos assentos das
poucas faculdades estabelecidas na região. Assim, por conta do FAT, são desenvolvidos
programas de treinamento e cursos de qualificação profissional para trabalhadores do
município. O Centro de Oportunidades é o órgão executor dos cursos de requalificação no
município.
A Comissão Municipal de Emprego, por sua força no município, pelos órgãos que representa
e pelos temas que suscita, poderia discutir com os demais órgãos e agências responsáveis pela
expansão do Porto de Sepetiba sobre a garantia do desenvolvimento local para a região e a
absorção de mão-de-obra ociosa no município, através do investimento na profissionalização
dos trabalhadores. 68
Em outras palavras, a Comissão Municipal de Emprego poderia se tornar um fórum municipal
de discussão (sem abrir mão de suas prerrogativas iniciais) sobre os impactos da expansão do
Porto sobre a economia local e a conseqüente absorção, por parte deste, da mão-de-obra
disponível no município. Esse fórum de discussão poderia ser alimentado pelas informações
sobre o projeto de expansão do Porto de Sepetiba, dado que a carência de informações é um
dos principais motivos do não envolvimento da sociedade civil organizada de Itaguaí nos
projetos que dizem respeito ao Porto. Apesar de Cocco (1999) afirmar que apenas a obtenção
de informações não seria suficiente para que os atores sociais de Itaguaí participassem dos
projetos de expansão do Porto – pois “a efetiva integração das Prefeituras e da sociedade
civil no Projeto Sepetiba passa por questões muito mais complexas que a mera informação
68 Consta que em 1998, em função das demandas surgidas a partir das obras de ampliação do Porto de Sepetiba, cerca de 60 trabalhadores de Itaguaí realizaram o curso de máquinas empilhadeiras, que contou com a colaboração do Sindicato dos Portuários do Rio de Janeiro (apud Cocco, 1999, subseção 3.2.3).
ex-post de um projeto que foi gerado e estabelecido ‛intramuros’ ” – acreditamos que o
envolvimento das representações sociais e a democratização das informações seria, ao menos,
m passo inicial a ser dado.
s constituídas por micro e pequenas empresas. Esta economia de serviços, que se
istura com o pequeno comércio de proximidade, é constituída por estabelecimentos
u
4.4. Conclusão
Neste capítulo tivemos uma exposição do quadro econômico e do ambiente institucional de
Itaguaí. Vimos como a economia do município tem sofrido com a estagnação econômica
vivida pela economia brasileira desde os anos 1980. A organização produtiva do município,
voltada para a agricultura desde a primeira metade do século, desfigurou-se completamente a
partir dos anos 1970, em função da ocupação urbana desordenada, da especulação imobiliária,
da construção de estradas que cortaram as zonas agrícolas da região e até mesmo da falta de
mão-de-obra especializada interessada em continuar as plantações iniciadas pelos imigrantes.
Desta antiga vocação agrícola a economia do município deu um salto rumo a terciarização,
sem ter conhecido uma industrialização de vulto. Desta forma, vimos como no final dos anos
1990 a economia local se caracteriza por um surto de terciarização (prestação de serviços,
aluguéis e transportes), que se distingue da terciarização observada na Região Metropolitana
do Rio de Janeiro e no interior do Estado fluminense pelo fato de, nestas duas regiões, a
indústria ter acompanhado a evolução da atividade econômica no setor terciário. Em Itaguaí, a
participação relativa da indústria recuou fortemente.
A cidade de Itaguaí se caracteriza então por uma economia de serviços, mas uma economia de
serviços que até agora tem se constituído por empresas familiares e de sobrevivência, a
maioria dela
m
comerciais, várias lojas de materiais de construção, comércio de produtos de jardinagem e
outros voltados para a pequena navegação, pequenas garagens ou oficinas de reparação de
veículos e objetos domésticos, unidades de alojamento e alimentação (bares e restaurantes),
empresas prestadoras de serviços (segurança, limpeza, contabilidades e escritórios de
advocacia), serralherias, pequenos galpões que fabricam peças usinadas e fundidas, sem falar
na atividade informal que é repleta de pequenos ambulantes nas imediações do centro da
cidade e que vendem um pouco de tudo, como nas periferias de qualquer metrópole do país.
Para se ter uma idéia do baixo dinamismo da economia do município (desconsiderando aí as
atividades portuárias), o Shopping Center, encravado no centro da cidade, opera com não
ais do que 40% de utilização do seu espaço, e o Distrito Industrial de Itaguaí, situado num
ínculos econômicos densos nem redes
e relações econômicas ou sociais entre as empresas que participam da economia do
m
ponto extremamente estratégico, no cruzamento das Rodovias BR-101 e RJ-010, não atraiu
mais do que três ou quatro unidades produtivas. Portanto, a economia do município de Itaguaí
não é uma economia de serviços que tenha algum conteúdo tecnológico mais denso nem
tampouco seja caracterizada por uma dinâmica endógena de crescimento ou inovação. São
pequenas atividades econômicas que refletem uma estratégia da população local pela
sobrevivência e pela sua inserção econômica e social e, até agora, de todas estas atividades
que listamos acima e pelas entrevistas que obtivemos das empresas (nos setores que
escolhemos para representar a economia local), são pouquíssimas as empresas que prestam
algum tipo de serviço ou vendem uma parte de sua produção para as grandes empresas que
operam no Porto de Sepetiba. Não existem, a priori, v
d
município de Itaguaí e as operadoras portuárias que operam dentro do Porto de Sepetiba.
O que pudemos constatar através da exposição dos dados secundários neste capítulo foi uma
queda bastante acentuada da atividade industrial do município relativamente às outras
atividades, principalmente comércio e serviços, o que nos levou a caracterizar a economia do
município como uma economia de serviços, mas uma economia dual onde se observa uma
grande disparidade entre as empresas que operam no Porto de Sepetiba e aquelas cuja
atividade depende da renda local. O dinamismo das operadoras portuárias e das demais
empresas que se situam no Porto de Sepetiba é muito maior do que o dinamismo dos
estabelecimentos comerciais e das empresas prestadoras de serviços do município de Itaguaí,
cujo nível de atividade independe do volume de negócios realizados pelo Porto de Sepetiba e
que continuam a sobreviver (embora com altas taxas de rotatividade e de mortalidade) em
função do nível de renda que é gerado pela economia do município. Podemos então fazer uma
imagem de duas economias isoladas e independentes que não se relacionam entre si: a
economia portuária, fundada no circuito econômico do Porto de Sepetiba, e a economia do
município de Itaguaí, ancorada sobre relações sociais e produtivas históricas da região; não há
vasos comunicantes ou fluxos econômicos entre estas duas economias que, apesar de seu
afastamento, são agregadas para efeitos estatísticos e são contabilizadas como fazendo parte
de uma mesma região administrativa. Portanto, as redes comerciais e mercantis entre estas
duas economias são inexistentes e as redes de relações sociais, profissionais ou outras redes
com finalidades produtivas (formais e informais) parecem não existir ou, se existem, são
muito tênues e incapazes de articular relações sinérgicas entre estas duas configurações
produtivas.
O que iremos ver no capítulo 5 é o grau efetivo de articulação existente entre estas duas
economias, se existem formas incipientes de manifestação de algum tipo de rede entre as
empresas (redes de parceria ou de cooperação), qual a articulação entre as empresas e o
quadro institucional local, e em que medida a sociedade civil interfere nas relações
econômicas, mas também em que medida estas relações mercantis são redirecionadas por
alguma pressão exercida pela sociedade civil. Ou seja, no capítulo 5, tentamos identificar as
relações sociais de tipo rede (formais e informais), as relações econômicas de tipo aparelho
(relações entre o quadro institucional local e seu tecido empresarial) e as relações
interempresas, para a partir daí podermos inferir quais são as chances de reversão deste
quadro de um espaço geo-econômico segmentado por duas realidades distintas, cada qual
possuidora de uma dinâmica própria.
Dando uma especial ênfase ao ambiente institucional local, veremos qual é a densidade destas
relações e a qualidade do quadro institucional, entendendo por qualidade a sua capacidade de
mobilizar os diversos atores locais (empresas, sociedade civil e poder público local) em torno
de um projeto comum e de colocar em prática uma estratégia coerente que almeje a realização
deste projeto. O quadro institucional local, descrito de forma estática na terceira seção deste
capítulo, está no cerne da interpretação do diagnóstico sobre a existência de redes de relações
de todo tipo. À descrição estática do quadro institucional feita no capítulo 4 se incorporam
elementos dinâmicos ao introduzir, em sua caracterização, as diversas relações que este
suscita, relações que têm uma finalidade produtiva e que visam a inserção econômica das
empresas que estão à margem da economia portuária.
Em outras palavras, cabe ao quadro institucional local fazer a articulação entre a economia
portuária e a economia do município de Itaguaí, gerar as externalidades econômicas que são
suscitadas a partir da expansão do Porto de Sepetiba e direcioná-las para a economia local,
promovendo efeitos de transbordamento que canalizem para o município alguma participação
na renda gerada através da operação portuária. Como veremos no capítulo 6, é somente
através da mobilização do aparato institucional local que as empresas do município serão
capazes de captar as externalidades econômicas geradas pela operação portuária, trazendo
para si algum benefício da expansão desta atividade e incorporando uma parcela não
desprezível da mão-de-obra local e de sua população. A captura da economia portuária pela
opulação local implica na mobilização de suas instituições, que deverão ser utilizadas com o
al de funcionamento e operação do Porto de
epetiba através de funções econômicas determinadas exogenamente, seja para resolver
ocais para reverter o
uadro atual de isolamento da economia portuária da economia local. A partir desta
p
propósito específico de reverter o quadro atu
S
problemas estruturais de escoamento da produção nacional (equacionamento de funções
logísticas), seja para responder aos requerimentos produtivos de uma grande empresa nacional
concessionária da área do Porto (obedecendo a uma lógica de integração vertical). As
instituições locais deverão estar aptas a reverter as leis de funcionamento da economia global,
agindo como catalisadoras de uma reação autônoma que reflita uma estratégia comum de
integração do território às relações econômicas que têm se estabelecido a partir da expansão
do Porto. Trata-se de endogeneizar o crescimento e a expansão do Porto de Sepetiba. No
capítulo 5, a seguir, é medido o grau de aptidão destas instituições l
q
mensuração analisamos, no capítulo 6, sobre a possibilidade de formação de uma economia
portuária localmente integrada.
Capítulo 5: A pesquisa de campo: precondições para o desenvolvimento econômico local
de Itaguaí
Introdução: a teoria e a pesquisa de campo
O objetivo deste capítulo é o de fazer uma leitura dos dados coletados na pesquisa de campo à
luz das teorias apresentadas nos capítulos 1 e 2 (teóricos). Faremos uma interpretação dos
dados empíricos a partir das teorias apresentadas para explicar o desenvolvimento local. Os
dados coletados nos serviram para argumentar sobre a possibilidade e a potencialidade do
desenvolvimento local em Itaguaí. Para todas as variáveis teóricas levantadas podemos
averiguar sua correspondência empírica, numa tentativa de mensurar a sua real existência no
sítio pesquisado ou, ao contrário, a insuficiência ou mesmo inexistência dos fatores
explicativos do desenvolvimento local expressos nas variáveis teóricas.
Assim, quando dissemos na parte teórica que as redes de pequenas empresas são um dos
fatores emuladores do desenvolvimento local, cabe, neste capítulo em que fazemos uma
análise e uma sistematização dos dados primários, verificar, a partir do depoimento dos
mpresários entrevistados, a existência e a intensidade de redes formadas por núcleos de
a existência de redes
e todo tipo – desde que canalizadas e voltadas para uma finalidade produtiva, social ou
e
empresas e suas inter-relações dentro do ambiente econômico do município e na sua região de
entorno. No questionário proposto, existem várias formas de inferir ou mesmo verificar a
existência de redes de empresas e sua extensão. Mas não apenas as redes de empresas, como
também as relações entre as empresas e o ambiente institucional mais amplo. A quantificação
de todas essas relações foi fundamental para identificarmos, em Itaguaí, o que chamamos de
relações econômicas de tipo aparelho (formais e institucionalizadas) e as relações sociais de
tipo rede (formais e informais, territorializadas e específicas ao espaço local).
Como vimos na parte teórica deste trabalho, notadamente no Capítulo 1,
d
institucional – constitui-se na essência das formas de manifestação da reação autônoma,
reação que vai permitir ao território, em conjunto e num movimento dialético (de ação e
reação) com a pressão heterônoma exercida pelas leis de funcionamento da economia global e
nacionalizada, criar recursos locais específicos que o levarão a acionar um processo de
desenvolvimento endógeno. Portanto, a existência de redes de empresas e as suas articulações
com o ambiente social e institucional é a síntese das formas de reação encontradas pelo
território para fazer face às pressões e forças globais.
Como foi visto na parte teórica deste trabalho, nos concentrarmos apenas nas redes entre
empresas como única forma de elaboração de uma estratégia para colocar em marcha a reação
autônoma dos territórios significaria ocultar várias outras formas de articulação e de relações
ociais que são também passíveis de se reverter em ganhos ou finalidades econômicas. As
das até as redes de relações
formais, incluindo as relações familiares, de parentesco e as profissionais.
tas que ligam
stes três vértices. Existem redes entre a sociedade civil e as firmas, entre a sociedade civil e o
s
redes entre as empresas são apenas uma das formas intermediárias de coordenação
apresentadas como instrumento efetivo de organização econômica e como um meio através do
qual um território pode formular uma estratégia de inserção em mercados regionais ou
nacionais. Existem outras formas de coordenação que se situam entre o Estado e o mercado e
cujos participantes podem também ter um papel ativo na organização do espaço econômico
local e na formulação de estratégias de adaptação e de inovação frente às forças globais. A
construção, pelo território, de ativos locais e recursos específicos engendra não apenas a
mobilização de firmas ancoradas localmente, mas também de todo um arcabouço institucional
e social que abrange desde as redes formais e institucionaliza
in
As outras formas intermediárias de coordenação, que foram mencionadas no capítulo 1, são as
comunidades, as associações e as redes formais e informais que não necessariamente unem as
empresas entre si, mas representam laços institucionais entre essas empresas e a sociedade
civil ou entre as empresas e o poder público local. As comunidades, as associações e as redes
de relações sociais que são externas ao meio empresarial podem ser agrupadas sob a
denominação mais abrangente de sociedade civil e assim teríamos, como formas
intermediárias de coordenação, situadas entre o Estado e o mercado, a sociedade civil e as
firmas. Tal representação foi esquematizada através da figura triangular apresentada quando
tratamos a questão da operacionalização do capital social, no capítulo 3.
As redes estão localizadas não apenas nos três vértices desta figura triangular, que chamamos
de “relações sociais e econômicas tripartites”, mas também nos elos ou nas se
e
Estado, mas também entre o Estado e as firmas. Além dessas redes que unem os vértices do
triângulo, existem também as redes que funcionam dentro de cada um desses vértices: a
sociedade civil organizada possui as suas próprias associações e laços de interdependência,
formalizados ou não; as comunidades de moradores e as comunidades profissionais ou artesãs
fazem parte da sociedade civil e podem estabelecer redes entre si; as firmas e as empresas
possuem vínculos que, quando não são comerciais, representam vínculos políticos que de
alguma forma influem sobre a vida econômica do território: são as associações comerciais e
industriais. Finalmente, o próprio poder público tem os seus canais internos de comunicação e
os seus níveis de descentralização.
Todas essas redes – lembrando que estamos nos referindo às redes com finalidade produtiva
ou redes que promovem a inserção social ou econômica – contribuem à sua maneira para o
desenvolvimento econômico local. Cada uma dessas redes são a expressão de formas de
ação autônoma encontradas pelos atores sociais de um determinado território para fazer face
ico de uma
opulação) ou ainda através da cooperação, tão necessária ao livre desenvolvimento das
desenvolvimento. Os economistas do Banco Mundial, que levaram a termo o projeto Social
re
às oportunidades econômicas e às pressões exercidas pelo ambiente macroeconômico. Essas
estratégias territoriais, quando articuladas às leis globais e em consenso com as estratégias
regionais e nacionais, podem reverter as leis de funcionamento da economia capitalista em
seu próprio benefício, gerando um mecanismo interno de auto-reação que, se for auto-
sustentável e sistêmico, poderá levar ao desenvolvimento local.
A sociedade civil, como assinalamos no capítulo 1, é a matriz a partir da qual são construídos
uma série de convenções, regras, hábitos e rotinas que permitem e facilitam as transações
propriamente econômicas, seja através da formação de redes, do estímulo ao desenvolvimento
da confiança (segundo Putnam, 1993, esta é uma condição para o engajamento cív
p
trocas mercantis. Como assinalou Douglas North (1990), o conjunto das regras do jogo que
prevalecem em uma determinada sociedade e a maneira de se fazer respeitá-las correspondem
à sua estrutura institucional e o lastro dessa arqueologia institucional encontra-se presente e
sedimentado nas representações de sua sociedade civil. Esse conjunto de regras (formais e
informais) pode criar condições favoráveis ou desfavoráveis ao desempenho econômico. A
análise das redes e das formas intermediárias de coordenação presentes na sociedade civil e a
análise de sua relação com as variáveis econômicas e o desempenho econômico dos territórios
correspondem ao objeto de estudo da economia institucional (Hodgson, 1999).
Vimos ainda nos capítulos iniciais como a sociedade civil ficou, durante muito tempo na
teoria do desenvolvimento econômico, relegada a segundo plano como fator explicativo desse
Capital Initiative (Relatório do Banco Mundial: vários Working Papers publicados entre
1998 e 2001), pesquisando em várias partes do mundo a influência das instituições locais
ntendido como o conjunto das regras, normas e convenções, mas também as redes de
social arregimentar um capital que, em princípio, está fora do circuito propriamente
conômico (capital social), mas que este capital pode ser utilizado, após algumas mediações,
análise, as proposições de políticas públicas bem como as
rientações normativas que caberiam num trabalho propositivo que, como já foi ressalvado
(e
relações sociais formais e informais presentes no território) no desempenho econômico de
países ou regiões, chegaram à conclusão de que a sociedade civil é um ator privilegiado do
desenvolvimento econômico. Se relacionarmos, como fez Coleman (1990), um alto grau de
coesão social a uma sociedade civil robusta e associarmos essa robustez a um grande estoque
de capital social (correlação feita por Putnam, 1993), podemos dizer que a sociedade civil, ao
mesmo tempo em que é a fiel depositária das instituições locais, é o berço a partir do qual
nascem as relações que vão dar origem e sustentar a criação de capital social.
Bourdieu (1980; 1986) nos atesta que a construção de uma rede durável de relações permite a
um grupo
e
para fins econômicos (acumulação e/ou reprodução social e econômica). Coleman (1990) nos
mostrou como os dilemas da ação coletiva (problemas econômicos de alocação e distribuição
de recursos) podem ser resolvidos através de uma sociedade civil robusta e com notável
coesão social; em outras palavras, com um alto estoque de capital social. Fukuyama (1995),
por sua vez, foi bastante didático ao afirmar que a capacidade de cooperar socialmente e
economicamente depende de hábitos, tradições e normas, virtudes arraigadas nas instituições
da sociedade civil e no estoque de capital social de uma determinada comunidade.
O papel do Estado no desenvolvimento local é certamente muito mais complexo e já foi alvo
de vários estudos, ensaios e críticas. Inclusive, temos até agora nos pautado pelo cuidado de
não incluir, em nosso objeto de
o
desde o início desta tese, não é o nosso escopo. Entretanto, para deixar claro qual é o tipo de
rede favorável à construção de capital social e no escopo das ligações que se estabelecem
entre a sociedade civil, o Estado e as firmas, como representado pela figura triangular à qual
nos referimos acima, deve ficar claro que o papel do Estado é o de constituir uma ordem
jurídica e econômica que sinalize para os demais atores sociais a primazia de padrões de
organização de relações sociais fundadas em redes horizontais ou redes de parceria (ao invés
de padrões de organização hierárquico-verticais que estabelecem formas competitivas e
antagônicas de interação social) e de modos democráticos de regulação de conflitos (ao invés
de modos autocráticos de resolução dos mesmos).
citadas no capítulo 1 (seção 1.2), mas vale
peti-las para que fique claro sobre qual tipo de redes estamos falando: redes que fundam
mercado, é o de fincar raízes no território de onde extraem
s seus recursos e valorizam os seus ativos, não ficando o seu comportamento limitado aos
1), onde foram tratadas
e maneira mais sistematizada. O objetivo aqui foi o de relembrar estas formas intermediárias
para num segundo momento
Estamos aqui voltando a algumas passagens já
re
uma sociedade de parceria e colocam em xeque as sociedades baseadas na dominação. Capital
social não se gera, não se acumula, não se replica – não, pelo menos, numa escala ampliada –
em sistemas hierárquicos. Para Jane Jacobs (1961), as redes são o capital social. Mas essas
redes são as que se constroem de maneira horizontal (através do estabelecimento de
parcerias), através de relações econômicas e sociais entre os três vértices do triângulo e no
interior de cada um deles, e que ao mesmo tempo utilizam-se da intermediação do Estado e de
uma ordem jurídica - que dele emana - para estabelecer modos democráticos de regulação de
conflitos.
Já o papel do terceiro vértice (o conjunto de firmas, as associações e as entidades de classe às
quais pertencem) no desenvolvimento local, enquanto formas intermediárias de coordenação
que se colocam entre o Estado e o
o
interesses econômicos de curto prazo. Firmas territorializadas são firmas que criaram de
alguma maneira uma irreversibilidade de atuação naquele território onde estão ancoradas,
irreversibilidade que se manifesta na produção de ativos específicos que não poderiam ser
produzidos em outros espaços geo-econômicos a partir da utilização dos fatores de produção
convencionais. Os fatores de produção utilizados pelas firmas territorializadas são específicos
do território, fazendo com que se crie uma relação de interdependência que se opõe ao
nomadismo das grandes firmas.
As características, as propriedades, os mecanismos internos de coordenação, a lógica de ação,
o tipo de relação que se estabelece em cada uma dessas formas intermediárias de
coordenação, bem como sua aptidão em fornecer bens coletivos e em incorporar
externalidades, sua eficácia na alocação de recursos, a conformidade de cada uma aos
objetivos de justiça social e sua possível (ou esperada) contribuição para o desenvolvimento
econômico estão colocadas, de forma resumida, no Quadro 1 (capítulo
d
de coordenação e o de associá-las ao funcionamento das redes,
podermos identificar, a partir do quadro de análise e da sistematização dos dados empíricos, a
s variáveis listadas neste capítulo exploram apenas uma parte do questionário que foi
de Pesquisa “As transformações das
onfigurações produtivas locais no estado do Rio de Janeiro: instituições, interações,
ais que
inculam as empresas à sociedade civil, desde que estas redes de relações tenham finalidades
eção 5.5, o foco está voltado para as relações das empresas
om o ambiente empresarial (redes empresariais, associações de classe, câmaras de comércio
m o empresários
c de algumas va ativo das previ es
e ariais rtir do inalm e,
a seção 5.7 tem por objetivo fazer espeito da
m estoque de capital soc
5.2. Caracterização das empresas e do ambiente econômico
sua existência no município pesquisado.
5.1. Apresentação e sistematização dos dados
A
aplicado às empresas no âmbito do Programa
c
inovações”, como foi mencionado no capítulo 3 deste trabalho (Metodologia). Dentre as
diversas possibilidades de exploração analítica abertas pelo questionário, também vistas na
Metodologia, nos concentraremos aqui naquelas variáveis que mostrarão o grau de densidade
das relações inter-empresas e o grau de adesão institucional destas mesmas empresas. Por
grau de adesão institucional entendemos a utilização, por parte das empresas, do aparato
institucional local, ou o que chamamos, no capítulo 1, de Aparato Regulador Local (Figura 2).
Mas adesão institucional também compreende as relações sociais formais e inform
v
econômicas ou de inserção social.
Este capítulo, cuja finalidade específica é a exposição das variáveis primárias, está dividido
em seis outras seções (além desta seção introdutória). A seção seguinte trata da caracterização
das empresas e do ambiente econômico no qual elas estão inseridas. Na seção 5.3 tratamos da
organização e do desempenho interno das empresas, dando ênfase a algumas variáveis que
concernem à gestão interna das empresas. Na seção 5.4, voltamos a nossa análise para
variáveis externas às empresas, que expressam algumas relações de mercado e a geografia de
suas transações econômicas. Na s
c
e indústria, etc.) e institucional local; nesta seção podemos ter uma medida da adesão
institucional das e presas. A seçã 5.6 trata das expectativas dos quanto ao
omportamento futuro
dos desafios empres
riáveis, quando então temos um indic sõ
a pa s problemas que eles enfrentam atualmente. F ent
uma leitura conclusiva, e qualitativa, a r
ial existeensuração do nte no sítio pesquisado.
C ção da o uma i
respectivos setores de atuação (subseção 5.2.1). Na subseção seguinte (subseção 5.2.2),
cas das empresas entrevistadas. Na subseção 5.2.3 veremos
lguns dados sobre o perfil dos dirigentes das empresas entrevistadas.
oram definidos quatro setores de atividade para fins de aplicação dos questionários às
quatro setores são: (i) o transporte (cadeia de atividades do Porto de
c ) a ind ção sa
sua vez, foram desagregados com obter ais fina da evolução da
e s então u l de sete subsetor e agregam da segu forma
aos quatro setores acima citados:
T e empre ntrevistadas por setor e subsetor de atividade econômica
ã as
omeçaremos esta se nd déia do tamanho das empresas entrevistadas e dos seus
veremos algumas característi
a
5.2.1. Tamanho das empresas e setor de atuação
Começaremos esta subseção pela exposição da distribuição setorial das empresas
entrevistadas. O conjunto das empresas entrevistadas distribui-se em quatro setores de
atividade econômica, que são os mesmos setores que foram escolhidos para uma análise mais
aprofundada da realidade econômica local. Em seguida, classificamos as empresas
entrevistadas por porte (tamanho das empresas), segundo a sua faixa de faturamento e o
número de empregados. A evolução recente no faturamento dessas empresas, como uma
variável aproximativa da evolução no seu nível de atividades, será também analisada.
A) Distribuição das empresas entrevistadas por setor de atividade
F
empresas (ver a Justificativa dos setores escolhidos no Capítulo 4, subseção 4.2.3). Estes
Sepetiba); (ii) a
s. Esses setores, por onstrução civil; (iii ústria; e (iv) a presta
vistas a se
de serviços às empre
uma análise m
conomia local. Teríamo m tota es que s inte
abela 8: Número d sas e
Setor de Atividade No de empresas Subsetor (Classificaç o CNAE/95) No de empresEmpresas localizadas no Porto de Sepetiba 8 Transporte (ca
ativdeia de
idades do Porto de 27 Empresas que potencialmente poderiam trabalhar na Sepetiba) cadeia portuária 19
Construção civil propriamente dita (classificação 45 CNAE) 17
Construção civil 36 Comércio e serviços ligados à construção civil 19
Indústria 23 Indústria extrativa 6
Indústria de transformação (excluída a indústria extrativa) 17
Prestação de serviços às empresas 14 Prestação de serviços ligados às empresas 14
Total de empresas entrevistadas: 100 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
O setor de prestação de serviços às empresas está sub-representado e o setor da construção
civil está sobre-representado. Isto pode ser visto através da Tabela 9 abaixo, quando
omparamos o peso de cada setor em nossa amostra com o peso do mesmo setor no conjunto
00)
(RAIS, 2001)
c
da economia de Itaguaí. Como se pode ver, o setor de prestação de serviços representa 30%
do PIB da economia de Itaguaí e deveria por isso ser o setor melhor representado na nossa
amostra de empresas entrevistadas. O setor da construção civil, contribuindo com apenas 7%
do PIB local, está sobre-representado com 36% de empresas entrevistadas. Já o setor de
transportes e o setor industrial estão representados relativamente de acordo com o seu peso na
economia local. Apesar de contribuir com apenas 4% do PIB do município, a indústria ainda
tem uma proporção importante em termos de número de estabelecimentos, representando um
setor tradicional que emprega mais de 10% da população local. O setor de transportes, por sua
vez, gera quase 20% do PIB local, além de ser o setor intrínseco à cadeia de atividades
portuárias.
Tabela 9: Comparação entre o peso de cada setor na amostra e o peso de cada setor na economia de Itaguaí.
Setor de atividade: Peso na amostra
(percentual do No de empresas entrevistadas)
Peso na Economia de Itaguaí, em termos de
valor da produção (CIDE, 20
Peso na economia de Itaguaí, em termos de
No de estabelecimentos
Transportes (cadeia de de 27 % 19,3 % 4 % atividades do Porto
Sepetiba) Construção civil 36 % 7 % 5 % Indústria 23 % 4 % 11 % Prestação de serviços às empresas 14 % 30 % 9 %
Total: 100 % 60,3 % 29 % FONTE: Pesquisa de campo (2003), CIDE (2002) e RAIS (2002).
As assimetrias de representação dos setores de prestação de serviços e da construção civil
explicam-se por dificuldades inerentes à coleta de informações numa pesquisa de campo. Não
nhamos uma base de dados confiável sobre a qual pudéssemos escolher, de uma maneira tí
condizente com o peso de cada setor na economia de Itaguaí, a quantidade de empresas que
seriam entrevistadas em cada setor. A base de dados (listagem das empresas) que nos foi
fornecida pela Prefeitura Municipal era precária (apesar de contar com mais de 2000
empresas), e não só não contemplava todos os setores de atividade econômica presentes em
Itaguaí como verificou-se – depois de tentar um contato por telefone e em várias ocasiões
rmos ido até o local indicado pelo endereço que constava na listagem da prefeitura – que
refeitura já não existia mais.
ouve um grande índice de baixas a partir da listagem original fornecida pela prefeitura.
vistar (contamos com um número
otencial, para cada setor, de cinco vezes o número de empresas que iríamos efetivamente
das à construção civil estão diretamente relacionadas à expansão das atividades
ortuárias, visto que toda a infra-estrutura portuária (prédios, cais, galpões de armazenamento
e
$10.000.000 e 7% disseram ter faturado mais de R$ 10 milhões. Apenas duas empresas não
te
uma grande parte das empresas constantes no cadastro da P
H
Depois de ter apurado esta lista e de reduzi-la a um número satisfatório de empresas,
pertencentes somente àqueles setores que iríamos entre
p
entrevistar), tivemos que enfrentar as desistências e novas constatações de que várias
empresas não existiam. Como a meta era entrevistar cem empresas, o ajuste foi feito
entrevistando uma quantidade maior de empresas naqueles setores que tinham uma
disponibilidade efetiva de entrevistas, o que acabou por sobre-representar o setor da
construção civil, notadamente através de entrevistas em lojas de materiais de construção e
algumas empresas prestadoras de serviços à cadeia da construção civil. Entretanto, esta sobre-
representação não afeta os resultados de nossa pesquisa, não apenas porque os outros setores
estão bem representados no conjunto das empresas entrevistadas, mas, sobretudo, porque as
atividades liga
p
e estocagem, instalações das empresas prestadoras de serviços, dragagem, assoreamento)
depende de empresas classificadas no setor da construção civil.
B) Faixa de faturamento das empresas
No que se refere à faixa de faturamento, 57% das empresas entrevistadas responderam que a
sua receita anual, em 2001, foi de até R$ 244 mil; 22% responderam que o seu faturamento
esteve entre R$ 245 mil e R$ 1.200.000; 12% disseram ter faturado entre R$1.200.000
R
responderam a esta questão.
Em termos de abordagem tributária, este quadro do faturamento das empresas nos leva à
constatação de que 79% das empresas entrevistadas podem ser enquadradas como
microempresas ou empresas de pequeno porte (enquadramento “simples” do ponto de vista da
fiscalização tributária federal). Por outro lado, 19% das empresas entrevistadas (aquelas que
declararam ter recebido mais de R$1.200.000 em 2001) não se beneficiam deste
enquadramento de “simples”, de acordo com a legislação tributária federal.
C) Evolução recente do faturamento (volume da produção)
No que se refere à evolução do faturamento (volume da produção) desde 1999, 37% das
empresas dis irmaram ser
crescente. Pa o foi estáv
Se formos observar a evolução do faturamento por porte das em sas, veremos que as micro
e pequenas e a evolução francamente desfavorável em relação às médias e
grandes. Ent sas (0 a 9 empregados), 47% afirmaram que a evolução do
faturamento foi decrescente de
52% tiveram do faturamento; entre as médias empresas (50 a 249
empregados) esta proporção sobe para 73% e entre as grandes (mais de 250 empregados)
etade afirmou que a evolução no seu faturamento foi estável e a outra metade que foi
s nenhuma teve uma evolução decrescente no seu
turamento).
positiva. Dessa forma, entre as empresas que declararam faturar até
$244 mil/ano (primeira faixa de faturamento), 51% afirmou que a evolução do seu
R$245 mil e R$1.200.000,
5% afirmou que o seu faturamento foi crescente e entre as empresas que faturam mais de
presas temos 10% delas com nenhum empregado, 48% com 1 a 9
mpregados, 27% com 10 a 49 empregados, 11% com 50 a 249 empregados e apenas 4% das
seram que esta evolução tem sido decrescente, enquanto 31% af
ra 32% das empresas a evoluçã el.
pre
mpresas tiveram um
re as microempre
sde 1999; entre as pequenas empresas (10 a 49 empregados),
uma evolução positiva
m
crescente (entre as grandes empresa
fa
A mesma tendência pode ser observada se separarmos as empresas entrevistadas por faixa de
faturamento: as empresas que têm um faturamento menor obtiveram, em sua maioria, uma
evolução negativa no volume de faturamento, enquanto as empresas com maior faturamento
acusaram uma evolução
R
faturamento foi decrescente; entre as empresas que faturam entre
5
R$10 milhões quase a totalidade (86%) disse que a evolução do faturamento foi crescente.
D) Número de empregados
Da nossa amostra de em
e
empresas com 250 empregados ou mais. Se agregarmos as micro e pequenas empresas (até 49
empregados), teremos 85% da nossa amostra de empresas nesta faixa de tamanho (ver a
Tabela 10 abaixo). Note-se que, pelo critério do número de empregados, temos em nossa
amostra uma proporção maior de micro e pequenas empresas do que se adotarmos o critério
de faturamento, através do qual, pela abordagem tributária, alcançamos uma proporção de
79% de micro e pequenas empresas (ver parágrafo acima sobre faixa de faturamento das
mpresas). e
Tabela 10: Tamanho das empresas por número de empregados Classificação por porte: Número de empresas
Microempresas: 0 empregados 10 1 a 9 empregados 48 Pequenas empresas: 10 a 49 empregados 27 Médias empresas: 50 a 249 empregados 11 Grandes empresas: 250 ou mais empregados 4 Total da amostra: 100 FONTE: Pesquisa de cam
5.2.2. Características das empresas
idas no questionário para nos dizer algo sobre as características
as empresas: o fato do estabelecimento (a unidade entrevistada) ser ou não filial de uma
das empresas; e o tempo em que a empresa atua no sítio
ora do Estado do RJ).
po, 2003.
Foram três as variáveis escolh
d
outra unidade; a idade média
pesquisado. Na exposição dos dados relativos a cada uma destas variáveis explicaremos o
porquê de sua escolha.
A) Se o estabelecimento é ou não filial de uma empresa matriz
Das empresas entrevistadas, 21% disseram ser filial de uma empresa matriz. Destas, quase
50% disseram que a matriz encontra-se no município do Rio de Janeiro, 14% declararam que
a matriz encontra-se em Itaguaí, 5% disseram que a matriz encontra-se em outro município do
Estado fluminense e 33% declararam que a matriz encontra-se em “outro lugar do Brasil”
(f
O grau de autonomi ionado ao fato de ele ser ou não
filial de uma empresa entar a não estiver vinculada
a nenhuma empresa ma aior autonomia. Esta maior autonomia, por
sua vez, poderia se ref aior propensão (iniciat para procurar instituições de
b ria com outras empresas. Entretanto, como
o o que acontece em Itaguaí.
não filiais esta proporção é de apenas 11%) e 33% fazem parcerias com
presas (contra 13% para as empresas não filiais).
Tabela 11: Empr ro ações, cooperar e fazer parcerias c as. roporção das empresas que participam
associações/cooperação outras empresas
Proporção das empresas que fazem parceria
a de um estabelecimento pode estar relac
m Poderíamos argumatriz. que se a firm um
triz, ela poderia gozar de m
letir numa m iva)
apoio locais e tam ém para formar redes de parce
podemos ver na Tabela 11 abaixo, parece não ser ist
Ao investigarmos a relação entre ser ou não uma empresa filial e a participação em
associações, formas de cooperação e/ou parceria, obtivemos o resultado de que são justamente
as empresas filiais que têm uma maior propensão em participar de algum tipo de associação,
cooperação ou em formar parcerias. Como podemos ver na tabela abaixo, entre as empresas
filiais, 19% participam em alguma associação ou cooperação com outras empresas (enquanto
para as empresas
outras em
eom outras empres
sas filiais e não-filiais e p pensão em formar associ
Pem com
Entre as firmas qumpresa matri 19% 33% e são filiais de
z uma eNão são filiais 11% 13%
FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
B) Idade média das empresas
Dentro das categorias que escolhemos para representar a faixa de idade das empresas
instaladas no município de Itaguaí, a que apresenta o maior número de empresas é a de mais
de 13 anos: 36% das empresas entrevistadas têm mais de 13 anos de atuação, como podemos
ver na Tabela 12 abaixo. Na outra ponta, de 0 a 4 anos, temos 28% das empresas
entrevistadas. Entre 5 e 8 anos aparecem 23% das empresas e entre 9 e 12 anos temos 13%
das empresas entrevistadas. Uma empresa que tem mais de 13 anos pode não estar em Itaguaí
necessariamente há treze anos. Esta pergunta considerou a idade da empresa, que atualmente
atua em Itaguaí ou tem aí uma filial, independente do local onde esta iniciou suas operações.
Tabela 12: Idade média das empresas Idade das empresas (anos) Proporção (%)
0 a 4 28 5 a 8 23 9 a 12 13 Mais de 13 36
FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
C) Tempo em que a empresa atua na localização
O tempo de atuação em Itaguaí, das empresas entrevistadas, reflete a fixação e a duração das
atividades das respectivas empresas no sítio escolhido. Desta forma, como podemos ver na
Tabela 13 abaixo, apenas 24% das empresas entrevistadas atuam em Itaguaí há mais de 11
anos. No outro extremo, temos 2% das empresas entrevistadas que atuam há menos de um ano
em Itaguaí, 40% das empresas estão no município entre 1 e 4 anos e 34% estão no município
entre 5 e 10 anos.
Tabela 13: Tempo de atuação no sítio pesquisado
Tempo de atuação no sítio Proporção de empresas (%) Há menos de 1 ano 2 Entre 1 e 4 anos 40 Entre 5 e 10 anos 34 Há mais de 11 anos 24 Indeterminado - FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Um tempo longo de atuação da empresa no sítio pode sugerir a maturação de algumas
associações, sindicatos ou o poder público local).
Q as rel ai pr u
A m e id m in
solidez da empresa e algumas vantagens locacionais do is s
variável (tempo de atuação da empresa no s ado) deve ser contextualizada com
outras variáveis de cooperação e adesão institu onal, com 4 a seguir.
P la mostra baixo, pod s const que são amente as empresas que estão há
o que têm uma maior adesão institucional (mensurada através
profissionais no município,
as também através da utilização de infra-estrutura regional – SEBRAE, SENAI e FIRJAN) e
relações de proximidade, sejam elas relações econômicas (com clientes, fornecedores ou
consumidores locais) ou institucionais (com
uanto ma
lém do
is densas ess
ais, o tempo de at
ações, m
uação da
or o grau de enraizamen
mpresa no sítio escolh
to da em
o pode ta
uras. Por
esa no m
bém nos
so, a análi
nicípio.
dicar a
e desta mais dura
ítio pesquis
ci o mostramos na Tabela 1
ela tabe da a emo atar just
mais tempo no sítio pesquisad
da participação em organismos, sindicatos e/ou outras associações
m
que fomentam, com maior intensidade, as relações econômicas de proximidade (que aparecem
na tabela sob as formas de associação, cooperação e parceria com outras empresas).
Pela tabela abaixo, podemos observar que 17% das empresas que estão no sítio há mais de 10
anos participam de alguma associação e/ou cooperação com outras empresas, enquanto este
índice de participação cai para 12% entre as empresas que estão no sítio entre 5 a 10 anos e
ara 10% entre as empresas que lá estão entre 1 a 4 anos. No que se refere às parcerias, as
33%; contra 26% e 18% para as empresas que estão no sítio entre 5 e
0 anos e 10% e 8% para as empresas que estão no sítio entre 1 e 4 anos. Finalmente, o
utura regional (SEBRAE, SENAI e
IRJAN): para as empresas que estão localizadas no sítio há mais de 10 anos, a incidência de
p
empresas que estão no sítio há mais de 10 anos são as campeãs da parceria: 33% delas recorre
a este tipo de relação econômica de proximidade; o mesmo índice cai para 15% entre as
empresas que estão no sítio entre 5 a 10 anos e para 10% para as empresas que lá estão entre 1
e 4 anos. A incidência de participação em organismos, sindicatos e/ou outras associações
profissionais no município ou na região (um dos indicadores possíveis de adesão
institucional) também é maior entre as empresas que estão no sítio há mais de 10 anos:
respectivamente, 29% e
1
mesmo pode ser dito em relação à utilização de infra-estr
F
utilização foi de, respectivamente, 25%, 21% e 17%; entre as empresas que estão no sítio
entre 5 e 10 anos ela foi de 24%, 21% e 9% e entre as empresas que estão operando há entre 1
e 4 anos esta incidência foi de, respectivamente, 13%, 8% e 5%.
Tabela 14: Tempo de atuação em Itaguaí, grau de adesão institucional e relações econômicas de proximidade.
Proporção de empresas que...
Participam em organismos, sindicatos e/ou outras
rofissionais associações p
Tempo deatu
ação
Participam de alguma associação
Possuem alguma
No município Na região
Utilizam infra-estrutura do SEBRAE
Utilizam infra-estrutura do SENAI
Utilizam infra-estrutura da FIRJAN
em Itaguaí:
e/ou cooperação com outras empresas
empresa parceira
Entre 1 e 4 anos
10 10 10 8 13 8 5
Entre 5 e 10 anos
12 15 26 18 24 21 9
Mais de 10 anos
17 33 29 33 25 21 17
FONTE: Pesquisa de campo, 2003. NOTA: o total de cada linha pode ser maior ou menor do que 100, uma vez que cada empresa pode tanto ter anotado mais de uma opção como não ter anotado nenhuma opção de resposta.
As principais vantagens locacionais de uma determinada região ou município podem ser
melhor avaliadas pelo testemunho das empresas que estão instaladas há mais tempo no
rritório. Dentre as empresas que estão há mais de 10 anos em Itaguaí, as principais
u diretamente designadas pelos proprietários para gerenciar o dia-a-dia da
mpresa revelou-se muito comum). Portanto, para responder aos questionários procuramos
m relação ao grau de escolaridade das pessoas entrevistadas, 15% afirmaram só ter o 1o o até o 2o grau técnico, 4% até o 2o
rau geral e 44% afirmaram ter algum diploma superior. Podemos associar o grau de
te
vantagens locacionais, citadas por 75% delas como fator “muito importante”, são a infra-
estrutura física disponível e a proximidade com o mercado consumidor, enquanto 71% delas
citou como fator muito importante o custo da mão-de-obra.
Já entre as empresas que atuam entre 5 e 10 anos em Itaguaí, as principais vantagens
locacionais destacadas foram: as facilidades de comunicação e transporte, fator citado por
76% dessas empresas e a proximidade com o mercado consumidor, item destacado por 71%
das empresas. Podemos então resumir, de acordo com o fator de ponderação estabelecido, que
as principais vantagens locacionais são, nesta ordem: a proximidade com o mercado
consumidor, a infra-estrutura física disponível, as facilidades de comunicação e transporte e o
custo da mão-de-obra.
5.2.3. Perfil dos dirigentes (ou da pessoa entrevistada)
Em relação à escolha da pessoa a ser entrevistada, priorizamos aquelas que exerciam um
cargo de chefia ou cargo “de responsável” (esta forma de referência às pessoas que são
proprietárias o
e
seja o proprietário, o gerente ou o chefe da produção ou de alguma outra seção diretamente
ligada à atividade fim da empresa. Das pessoas entrevistadas, 25% afirmaram ser empresário,
31% gerente, 26% sócio da empresa e 18% afirmaram exercer outra função.
A) Grau de escolaridade da pessoa entrevistada
E
grau, 16% afirmaram possuir até o 2 grau normal, 21%
g
escolaridade da pessoa entrevistada (normalmente esta pessoa exerce um cargo de
responsabilidade na empresa) com o potencial que esta pessoa tem em formar redes de
parceria ou de cooperação. Em outras palavras, qual a relação que pode existir entre o grau de
escolaridade de uma comunidade (neste caso, a “comunidade de empresários entrevistados”) e
o capital social desta mesma comunidade? Vários autores associam a formação de capital
social à existência prévia de capital humano (Coleman, 1990; Putnam, 1993).
ma relação direta entre o grau de
scolaridade da pessoa entrevistada (normalmente, o manager da empresa) e o grau de
de empresas cujo empresário entrevistado tem até o 1o grau e que
stabelece algum tipo de associação e/ou cooperação com outras empresas é de 13%. Esta
mpresário tem até o 2o grau, caindo para
6% nas empresas cujo empresário entrevistado tem o nível superior. Ao mesmo tempo, a
os concluir que o nível de escolaridade do empresário entrevistado está
ositivamente correlacionado à participação de sua empresa em associações, cooperações,
o que se refere a esta seção sobre a organização e o desempenho interno das empresas,
trar uma preocupação, por parte da
mpresa, em privilegiar instrumentos de gestão que refletem uma relação de confiança com
seus fornecedores e/ou clientes. Estas variáveis dizem respeito ao uso de tecnologias de
Neste caso, não encontramos em nossa amostra u
e
associativismo, de formação de parcerias e/ou de participação em organismos e sindicatos,
por parte das empresas por eles administradas. Essa correlação existe para os níveis iniciais de
escolaridade (até o 2o grau), mas deixa de existir para o 2o grau e o nível superior. Senão
vejamos: a proporção
e
mesma proporção é de 19% para as empresas cujo e
1
proporção de empresas cujo empresário entrevistado tem até o 1o grau e que possui alguma
parceria com outra empresa é de 0%, enquanto esta mesma proporção é de 25% para as
empresas cujo empresário tem até o 2o grau normal e de 23% para as empresas cujo
empresário tem o nível superior. A participação em organismos, sindicatos e outras
associações profissionais também parece ser mais comum entre empresas cujo empresário
entrevistado tem até o 2o grau técnico (29% contra 20% para as empresas cujo empresário tem
até o 1o grau); nas empresas cujo empresário entrevistado tem nível superior essa proporção
cai para 27%.
Desta forma, podem
p
parcerias, organismos, sindicatos e outras associações profissionais até o 2o grau; entre o 2o e
o 3o graus não há diferenças significativas no grau de participação das empresas nestes
órgãos. Em outras palavras, não é necessário ao empresário ter o nível superior para que ele
perceba as vantagens do associativismo, das redes e da cooperação inter-firmas.
5.3. Organização e desempenho interno das empresas
N
selecionamos algumas variáveis que poderiam demons
e
informação e de gestão, ao financiamento das empresas, ao mercado de trabalho, ao
investimento e à sua capacidade de inovação.
5.3.1. Uso de tecnologias de informação e de gestão
Em nosso quadro de análise, o uso de tecnologias de informação e de gestão, por parte das
empresas entrevistadas, foi analisado através das variáveis “utilização de computadores” (e
internet), “utilização de instrumentos de gestão empresarial” e “utilização de processos de
gestão de qualidade”.
as quanto para as internas), o computador
(principalmente se for em ponto de rede) pode ser uma ferramenta importante na facilitação
tratamento e a circulação da informação são facilitados
través de seu uso.
ntes e fornecedores”, 84% para “ter
ma comunicação eficiente” e 72% o fazem para “buscar informações sobre a legislação e a
ternet há menos de 5 anos.
A) Utilização de computadores e uso da internet
Uma das maiores virtudes da formação de redes externas é a circulação da informação entre
as empresas que as compõem. Um pré-requisito para a formação destas redes é a existência de
pré-disposição, por parte das empresas, em cooperarem ou estabelecerem contratos de longo
prazo. Já para a formação de redes internas busca-se um maior conhecimento do processo
como um todo, que foi parcelado pela divisão do trabalho em funções especializadas; neste
caso as relações são hierárquicas e obedecem a lógica da divisão interna do trabalho. Em
ambos os casos (tanto para as redes extern
das informações: o armazenamento, o
a
No quesito informatização, 77% das empresas entrevistadas afirmou fazer uso de
computadores, enquanto 23% afirmou não ter computadores. Das empresas que afirmaram
fazer uso de computadores, 77% utilizam computadores na gestão e/ou internet, enquanto
55% afirmaram usar computadores na produção. Quanto ao uso que fazem da internet, 89%
acessam a internet para “permanecer em contato com clie
u
regulamentação”. A maioria delas (87%) acessa a in
B) Utilização de instrumentos de gestão empresarial
No que se refere à utilização de instrumentos de gestão empresarial, 61% das empresas
entrevistadas afirmaram fazer uso de algum tipo de instrumento. Das empresas que fazem uso
de algum tipo de instrumento de gestão empresarial, a maioria delas (82%) o faz para “reduzir
custos”, 72% para melhorar a “gestão de caixa”, 62% para “gerenciar o estoque” e 61% para
instituir “parceria com fornecedores e/ou clientes”. Para este último item, particularmente
importante na criação de relações econômicas de proximidade, devemos dar uma medida mais
apurada da proporção de empresas que o utilizam. Assim, do total da amostra, 37% das
empresas entrevistadas utilizam instrumentos de gestão empresarial para travar algum tipo de
parceria com empresas fornecedoras e/ou clientes.
trevistadas afir am utilizar algum tipo de processo de gestão
estas, 81% afirmaram que os e gestão de qualidade aplicados estão
gramas de qualidade” l ; 51% afirmaram fazer “uso de normas
cionais de processos e p utos” e 43% fazer uso da “certificação de
ote-se a importância da form de redes internas nesses processos de
plantação de programas de gestão de qualidade, uma vez que a filosofia desses programas é
C) Utilização de processos de gestão de qualidade
Apenas 47% das empresas en mar
de qualidade. D processos d
relacionados aos “pro ato sensu
nacionais e interna rod
produtos”. N ação
im
holística e abrange todo o processo produtivo.
5.3.2. Financiamento das empresas
No que se refere ao financiamento (tanto para capital de giro quanto para investimento) foram
retidas variáveis que indicariam a existência de redes de relações informais de apoio às
empresas, que passam ao largo dos mecanismos formais de financiamento (mais caros quanto
à sua remuneração). Estamos privilegiando aqui as redes de relações informais às quais
podem pertencer as empresas, em contraposição às relações econômicas de tipo aparelho
(formais), que foram enunciadas na parte teórica da tese.
A) Fontes de financiamento para capital de giro
São várias as formas utilizadas pelas empresas para o financiamento do seu capital de giro. A
principal fonte de financiamento para o capital de giro são os recursos próprios
(autofinanciamento), uma vez que 60% das empresas entrevistadas atribuiu, a esta origem de
recursos, o grau “muito importante” (ver Tabela 15 abaixo). A segunda fonte mais importante
de recursos para o financiamento do capital de giro revelou-se ser a captação em “Bancos
privados”, uma vez que 23% das empresas atribuíram muita importância a esta fonte de
aptação. A terceira fonte mais importante de recursos para o financiamento do capital de giro
ções c gra
miliares e/ou amigos uase não são utilizados c fonte de
ital de giro (89% das e resas entrevistadas nada ou pouco se utilizam
inanciamento).
ipais fontes de financiamento do capital de giro utilizadas pelas
Sem importânci de respostas) Muito importante (% de respostas)
c
foram as linhas de crédito do Banco do Brasil e o “financiamento através de fornecedores e/ou
clientes”, ambas as op om 16% de respostas com u “muito importante”. Os
“empréstimos de fa ” q o om
financiamento para cap mp
desta fonte de f
Tabela 15: Princempresas. Fontes do capital de giro: a (% Recursos próprios 37 60 Empréstimos familiares 89 8 Bancos privados 74 23 Banco do Brasil 81 16 Caixa econômica federal 89 8 Incentivos fiscais 88 9 Fornecedores/clientes 81 16 Internacionais 95 - FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
B) Fontes de financiamento para investimentos
As principais fontes de financiamento utilizadas para o investimento são os recursos próprios
(autofinanciamento), item considerado “muito importante” por 56% das empresas
entrevistadas. O financiamento através de “outros bancos privados” (excluída a opção
“bancos privados com linha BNDES”) ficou em segundo lugar como principal fonte de
financiamento para o investimento: 16% das empresas entrevistadas consideraram esta origem
omo “muito importante”. Finalmente, o “financiamento por fornecedores e/ou clientes” foi
ra as empresas entrevistadas: 14% delas
ssinalou esta origem como “muito importante” (ver Tabela 16 abaixo).
c
considerada a terceira origem mais importante pa
a
“Empréstimos de familiares e/ou amigos” aparece como “sem importância” para 88% das
empresas entrevistadas, e por isso não podemos dizer que existam no sítio pesquisado formas
alternativas de financiamento das empresas que passem ao largo das instituições financiadoras
formais. Por outro lado, o financiamento através de fornecedores e/ou clientes, bastante
utilizado por 14% das empresas entrevistadas, pode indicar uma certa propensão, por parte
dessas empresas, em formar redes de parceria e mecanismos de quitação de débitos que não
passem pela mediação dos organismos financiadores formais (bancos e instituições de
crédito).
Tin
abela 16: Principais fontes utilizadas pelas empresas para financiamento do vestimento.
Fontes dos investimentos: Sem importância (% de respostas) Muito importante (% de respostas) Recursos próprios 39 56 Empréstimos familiares 88 7 Bancos privados/BNDES 88 7 Bancos privados 79 16 Banco do Brasil 84 11 Caixa econômica federal 88 7 Incentivos fiscais 88 7 Fornecedores/clientes 81 14 Internacionais 92 - FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
5.3.3. Trabalho e capacitação pro
fissional
as variáveis que configuram o mercado de trabalho das
as relações de trabalho podem in e informações e ao
q atmosfera industrial,
e rab o pert nte a um upo de em e
u ue ssue aracterísticas semelhantes (perten a um
m aproxim ente o m smo porte). As variávei scolhida
e que refletiram o mercado local de trabalho foram: a escolaridade do pessoal em egado, a
go, no nível salarial e na qualificação dos empregados e a
alização, por parte das empresas, de atividades de treinamento.
) Perfil de escolaridade do pessoal empregado
odemos constatar que 26% das empresas concernidas respondeu que a totalidade dos seus
Nesta subseção avaliaremos algum
empresas. A importância de se ter estas variáveis no quadro de análise refere-se ao fato de que
dicar um ambiente propício à circulação d
ue Marshall chamou de fenômeno caracterizado pela existência de uma
spécie de mercado interno de t alh ine gr presas que se situam m
m espaço territorial dado e q po m c cem a
esma cadeia de atividades e têm adam e s e s
pr s
evoluções no nível de empre
re
A
Considerando apenas as empresas entrevistadas que têm pessoal empregado (o que se refere a
89% das empresas entrevistadas) e em relação ao grau de escolaridade desse pessoal,
p
empregados possui apenas o 1o grau (completo ou incompleto). Vinte e dois por cento das
empresas concernidas afirmou que mais de 75% do seu pessoal têm apenas o 1o grau e ainda
22% delas afirmou que entre 50% e 74% de seu pessoal possui apenas o 1o grau (ver Tabela
17 abaixo). Isto significa que, do total de empresas que possuem algum pessoal empregado,
70% delas contam com um quadro de funcionários no qual pelo menos a metade dessas
pessoas têm apenas o 1o grau (completo ou incompleto). Apenas 18% das empresas
concernidas afirmaram não ter nenhum funcionário com o grau de escolaridade de 1o grau.
Da mesma maneira, 10% das empresas concernidas (as que possuem pessoal empregado)
firmaram que a totalidade de seu pessoal empregado possui o 2o grau. Vinte e dois por cento
o pessoal empregado por faixa de escolaridade Número de empresas (%) e proporção de empregados que se encontram em cada faixa de escolaridade
a
dessas empresas possui pelo menos metade de sua mão-de-obra com o 2o grau. Em relação ao
nível superior, temos que 91% das empresas concernidas não têm mais do que 25% de sua
mão-de-obra (excluído os sócios) com este nível de escolaridade. Em nossa amostra, é
estatisticamente desprezível a proporção de empresas que apresentam mais de 25% de sua
mão-de-obra (pessoal empregado) com nível superior. Em relação ao pessoal empregado com
pós-graduação, 7% das empresas concernidas afirmaram que até 25% de seu pessoal possui
algum diploma de pós-graduação.
Tabela 17: Distribuição d
Proporção de empregados 0% Até 24% 25% a 49% 50% a 74% 75% a 99% 100%Faixas de escolaridade: 1o Grau (completo e incompleto) 18 1 10 22 22 26
2o Grau (completo e incompleto) 33 21 21 12 2 10
Superior (completo e incompleto) 61 30 4 4 0 0
Pós-Graduação 93 7 0 0 0 0 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
B) Evolução do volume de emprego
No que se refere à evolução, desde 1999, do número de empregos oferecidos pelas empresas
que participaram de nossa amostra, 41% delas disseram que esta evolução é negativa
(decrescente), 33% disseram que a evolução tem sido estável e 25% afirmaram ser crescente.
O principal fator responsável pela evolução no emprego (independente desta evolução ter sido
positiva, negativa ou estável) foram os “fatores internos à empresa”, uma vez que 58% das
empresas entrevistadas atribuíram importância “média, forte ou máxima” a esse quesito. O
segundo fator assinalado como mais importante na explicação da evolução recente no
emprego foram as oscilações do próprio “setor de atividade/cadeia produtiva”, cujo peso nas
respostas “médio, forte ou máxima” foi de 39%. Na explicação da evolução recente do
mprego no sítio considerado, os projetos de apoio às empresas obtiveram pouco peso no
das empresas atribuíram, a
e ia “médio, fort
D responderam que a evolução recente no emprego foi positi crescente),
o para esta evol o foram os “fatores internos à empresa”,
a mportante por 84% das empresas. Por outro lado, a maioria das
volução desfavorá do emprego assinalou c principal
sponsável o “contexto nacional”, item destacado como mais importante por 49% delas; o
pção, por parte das
essoas entrevistadas, de uma evolução estável nos salários muitas vezes significa que os
isolar as
spostas “decrescente”, “estável” e “crescente” – ver Tabela 18 abaixo), os “fatores internos
édio, forte ou máximo” a
ste fator. Os “projetos de apoio às empresas” tiveram, de modo geral (independente da
e
conjunto das respostas das empresas entrevistadas: apenas 21%
ste quesito, a importânc e ou máxima”.
as empresas que va (
s fatores que mais influenciaram uçã
ssinalado como mais i
empresas que tiveram uma e vel omo
re
segundo fator mais importante na explicação da evolução negativa do emprego, assinalado
por 44% das empresas, foi o comportamento do próprio “setor de atividade”.
C) Evolução dos salários
No que se refere à evolução dos salários dos empregados desde 1999, a maioria das empresas
entrevistadas (57%) respondeu que esta evolução tem sido estável. A perce
p
salários acompanharam, senão a correção monetária, ao menos os dissídios coletivos e/ou o
salário mínimo. Ou seja, “estável” não significa que os salários ficaram nominalmente
“congelados” ao longo destes últimos anos, segundo os entrevistados. Na maioria das vezes,
os entrevistados admitiram que o poder de compra de seus trabalhadores diminuiu, “assim
como o nosso”. Por outro lado, 30% das empresas entrevistadas disseram que a evolução dos
salários foi crescente, enquanto 12% disseram que esta evolução foi negativa.
Dentre os fatores destacados como responsáveis pela evolução salarial (sem
re
à empresa” novamente aparecem como o quesito de maior peso: 63% das empresas
entrevistadas atribuíram a evolução dos salários às políticas internas da empresa. No entanto,
o fator “contexto nacional” também aparece com um peso considerável na explicação das
causas da evolução salarial: 47% das empresas atribuíram peso “m
e
resposta ter sido positiva, negativa ou estável), pouca importância na explicação da evolução
salarial: apenas 17% das empresas atribuíram importância “média, forte ou máxima” aos
projetos de apoio na explicação da evolução recente dos salários.
Tabela 18: Fatores explicativos da evolução salarial
Variáveis explicativas: Influência nula ou fraca (percentual de respostas
válidas)
Influência média, forte ou máxima
(percentual de respostas válidas) Fatores internos à empresa 36 63 Projetos de apoio 82 17 Contexto local/CPL 76 23 Setor de atividade/cadeia produtiva 63 36 Contexto macro/nacional 52 47 Contexto internacional 87 12
FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
A principal explicação para a evolução crescente dos salários foi “fatores internos à empresa”,
fator destacado como muito importante por 73% das empresas que assinalaram uma evolução
positiva dos salários. Entre as empresas que assinalaram que a evolução dos salários foi
negativa, a maioria delas (58%) destacou o fator “contexto nacional” como principal causa
esta deterioração salarial. Podemos notar claramente uma tendência dos empresários em
as superiores,
ncontramos as maiores proporções de empresas que responderam que a evolução salarial na
d
responsabilizar os fatores macroeconômicos pela deterioração salarial e em ressaltar os fatores
internos à empresa como responsáveis pela melhoria dos índices salariais.
A evolução salarial foi crescente principalmente para as empresas que se situam na faixa de
faturamento acima de R$10 milhões/ano: 71% das empresas nesta faixa de faturamento
respondeu que experimentou uma evolução crescente nos salários de seus empregados. Na
medida em que avançamos das faixas inferiores de faturamento para
e
sua empresa foi positiva: 21% para as empresas que se situam na faixa de faturamento de até
R$244 mil, 36% para as empresas que se situam na faixa entre R$245 mil e R$1.200.000 e
42% para as empresas que se situam na faixa entre R$1.200.000 até R$10 milhões.
O mesmo podemos dizer, quanto à evolução salarial recente, ao analisarmos o comportamento
desta variável por porte da empresa. Entre as microempresas, 25% afirmaram ter
experimentado uma evolução salarial crescente; esta proporção aumenta para 30% entre as
pequenas empresas, 55% entre as médias e 100% entre as grandes.
Já entre os setores pesquisados, aquele que apresentou uma maior proporção de empresas cuja
evolução salarial foi positiva foi o setor de transportes (incluindo suas atividades anexas e as
atividades portuárias): 41% das empresas entrevistadas nesse setor afirmaram que a evolução
salarial de seus empregados no passado recente foi positiva. O segundo setor que apresentou
m melhor desempenho em relação à evolução salarial foi o de prestação de serviços às
m que a evolução salarial foi crescente. Em
te, a faixa de 5 a 10 salários mínimos passa a ocupar quase
0% dos trabalhadores do setor em 2001, contra 4% em 1994).
salários mínimos. Há um
equeno aumento na proporção de trabalhadores na faixa de 5 a 10 salários mínimos, mas este
aram um aumento significativo em sua proporção de trabalhadores – em relação à
994, em 2001 estas três faixas situadas acima de 3 salários mínimos experimentaram uma
adores. Tudo leva a crer que este movimento
alarial repetiu a expansão e a posterior retração da atividade no período considerado (1998
u
empresas: 36% das empresas desse setor dissera
seguida temos o setor industrial e depois a construção civil, com, respectivamente, 35% e
17% de empresas que responderam que a evolução salarial foi positiva.
De fato, se compararmos estes dados de evolução salarial, fornecidos pelas empresas
entrevistadas, com os dados da RAIS (Fonte: Ministério do Trabalho, 1994, 2001; dados para
o município de Itaguaí), veremos que no setor de transportes/atividades portuárias houve,
entre 1994 e 2001, uma diminuição na proporção de trabalhadores que recebem mais de 10
salários mínimos, mas a proporção de trabalhadores que recebem entre 3 e 10 salários
mínimos aumentou (particularmen
4
No setor de serviços prestados às empresas, os dados da RAIS apontam para uma deterioração
salarial entre 1994 e 2001, ao contrário do que foi afirmado pelas empresas entrevistadas
neste setor. A faixa de um a três salários mínimos, que já ocupava quase 64% dos empregados
no setor, passa a ocupar mais de 78% deles em 2001, movimento que é acompanhado por uma
queda na proporção de trabalhadores que ganham entre 3 e 5
p
aumento é residual (um acréscimo de talvez não mais que cem trabalhadores).
A evolução das remunerações no setor da construção civil (quando observados os dados da
RAIS) nos mostra uma situação bem particular: após um boom de remuneração em 1998 –
todas as faixas salariais acima de 3 salários mínimos (3 a 5, 5 a 10 e mais de 10)
experiment
1
queda substancial em sua proporção de trabalh
s
foi o ano de inauguração do Porto de Sepetiba). Entre 1998 e 2001, a proporção de
trabalhadores na construção civil que receberam de 1 a 3 salários mínimos dobrou.
Finalmente, na indústria a situação é de consolidação dos níveis salariais em torno de 1 a 3
salários mínimos, cuja proporção (de trabalhadores) passa de 45% em 1998 para 63% em
2001, com a concomitante queda, pela metade, da proporção de trabalhadores que ganhavam
mais de 10 salários mínimos.
D
) Evolução da qualificação dos empregados
um aumento na qualificação, 85% atribuíram este
umento a “fatores internos”, mas a pressão exercida pelo “setor de atividade/cadeia
na qualificação. Os fatores explicativos da queda observada na qualificação, pelo fato de
apenas 8% das empresas terem mencionado uma evolução negativa da qualificação, não têm
representatividade estatística e por isso não serão aqui analisados.
Quando perguntados se os empregados precisam de capacitação adicional, 69% das empresas
d 3% das empresas disseram que não. Das empresas que
os precisam de capacitação adicional, 87% disseram que esta
do tipo técnica e 69% disseram que esta capacitação precisa ser na esfera
a educação formal (as necessidades de capacitação técnica e de educação formal não se
No que se refere à qualificação dos empregados, 58% das empresas entrevistadas
responderam que ela permaneceu estável, 33% responderam que houve um aumento da
qualificação e 8% disseram ter havido uma piora na qualificação. Esta evolução na
qualificação (seja ela positiva, negativa ou estável) foi atribuída, por 77% das empresas, a
“fatores internos”. Como segundo fator mais importante veio a própria pressão do “setor de
atividade/cadeia produtiva”, ao qual foi atribuído um peso de 39%. Os projetos de apoio
tiveram um peso muito baixo na explicação da evolução da qualificação: apenas 17% das
empresas atribuíram um peso “médio, forte ou máximo” a este item na explicação da
evolução recente da qualificação.
Das empresas que responderam que houve
a
produtiva” também foi mencionado por 73% das empresas que experimentaram um aumento
isseram que sim, enquanto 2
responderam que os empregad
capacitação deve ser
d
excluem).
E) Realização de atividades de treinamento
Metade das empresas entrevistadas afirmou realizar atividades de treinamento. Destas, a
metade realiza atividades de treinamento para todos os níveis (tanto para os empregados como
para os gerentes), enquanto 38% realizam atividades de treinamento apenas para os
empregados. Ainda considerando apenas as empresas que realizam atividades de treinamento,
4% delas afirmaram que as suas atividades de treinamento envolvem todos os empregados.
entre as empresas que realizam atividades de treinamento, a maior parte (88%) utiliza
ento (ver Tabela 19 abaixo). À
arte a própria empresa como espaço utilizado para treinamento, aparecem com maior
região ou no município, para que as empresas realizem as suas atividades de
einamento. Fora da região pode aqui significar tanto o município do Rio de Janeiro como
5
As áreas contempladas por essas atividades de treinamento são, em sua maioria, a produção
(88%) e a administração (71%).
D
“freqüentemente” a própria empresa como local de treinam
p
freqüências as “instituições nacionais fora da região” e “outras instituições fora da região”,
cada uma com 20% de incidência no quesito “freqüentemente”. Parece que, para além da
empresa, as instituições fora da região são mais procuradas e mais utilizadas do que as
instituições na
tr
outro lugar do Estado, ou mesmo fora do Estado. As instituições locais (basicamente o
escritório regional do SEBRAE em Itaguaí) aparecem com 18% das incidências como local
freqüentemente utilizado para treinamento.
Tabela 19: Instituições utilizadas como local de treinamento e freqüência de sua utilização (em porcentagem de respostas válidas) Instituições: Nada ou pouco Freqüentemente Na empresa 12 88 Instituições locais 82 18 Instituições nacionais no município 92 8 Outras instituições no município 94 6 Instituições nacionais na região 88 12 Outras instituições na região 88 12 Instituições nacionais fora da região 80 20 Outras instituições fora da região 80 20
FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
frente à observação dos dados secundários coletados e mostrados no capítulo 4. Como vimos
neste capítulo, a observação dos dados de evolução da atividade econômica nos mostrou uma
retração de 13% (em valores constantes de 1994) da atividade econômica em Itaguaí entre os
anos 1994 e 2001, e entre os anos 1996 e 2000 (anos para os quais dispomos de variáveis
5.3.4. Investimento
A variável investimento nos permite testar a validade das respostas dadas pelas empresas
desagregadas), os únicos setores que tiveram uma evolução positiva (em valores constantes de
1994) foram o setor de transportes (85%) e o setor de prestação de serviços (7,2%).
Dividimos esta subseção em duas outras: uma primeira que nos mostra as áreas em que as
empresas entrevistadas mais investiram, no período recente; e uma segunda subseção em que
são destacadas as áreas nas quais as empresas pretendem investir nos próximos cinco anos.
A) Áreas em que a empresa investiu desde 1999
Dentre as empresas que responderam o questionário, 55% delas afirmou ter investido em
einamento de pessoal, 48% afirmou ter investido em alguma atualização tecnológica e 46%
nstituir em um tipo de investimento que
voreça a circulação da informação e as trocas não propriamente econômicas, das quais as
ficiam para gerar valor no presente ou no futuro (rodízio da mão-de-obra,
mpréstimo de ferramentas, troca de informações, etc.). O investimento, por parte das
tr
afirmou ter investido em ampliação da capacidade produtiva (as respostas, neste caso, podem
se sobrepor). 69
Para além do investimento propriamente econômico (implantação de nova fábrica,
modernização ou atualização de planta, atualização tecnológica e contratação de pessoal
qualificado), para captar a existência de capital social ou a potencialidade de promoção desta
forma de capital, há que se verificar se a empresa investiu em iniciativas coletivas, e caso
afirmativo em quais delas. O investimento em iniciativas coletivas denota uma preocupação
da empresa em formar redes, o que pode se co
fa
empresas se bene
e
empresas, em iniciativas coletivas foi praticamente inexistente: apenas 5% das empresas
entrevistadas disse ter investido em alguma iniciativa de caráter coletivo.
Dentre os fatores que influenciaram o investimento desde 1999, considerando-se apenas as
respostas válidas (ou seja, as respostas que foram dadas pelas empresas que realizaram algum
tipo de investimento), um dos fatores mais citados como causa do investimento foi “fatores
internos à empresa”, com 79% de incidência no quesito “médio, forte ou máximo”. O segundo
Na questão 6.10 do questionário, que se refere também às atividades de treinamento, 50% das empresas
ão sobre investimentos inclui m maior de empresas (55%)
nha respondido afirmativamente à questão “realizou atividades de treinamento” como um dos itens possíveis e investimento.
69
disseram não realizar, atualmente, qualquer atividade de treinamento. Como a questqualquer tipo de investimento realizado desde 1999, é normal que uma porcentageted
fator que está na origem dos investimentos realizados foi a imposição do “setor de
atividade/cadeia produtiva”, com 39% das respostas válidas no mesmo quesito. Finalmente,
uma terceira explicação para a busca e a realização do investimento consistiu no “contexto
local/CPL”, que teria sido o fator causador do investimento para 28% das empresas. Os
“projetos de apoio” dificilmente podem ser considerados como um forte estímulo para o
investimento, uma vez que 87% das empresas que investiram disseram que o estímulo
provocado pelo programa de apoio em si foi “nulo” ou “fraco”. Isto sem considerar aquelas
empresas que, mesmo tendo sido eventualmente apoiadas, não fizeram nenhum investimento.
B) Áreas em que a empresa pretende investir nos próximos cinco anos
e todas as
em pelo menos um item dos vinte o
q timento na qualidade do
produto ou serviço” (assinalado por 86% das empresas), o que não quer dizer necessariamente
de capacidade (o item “aquisição de novos equipamentos para
mpliação de capacidade”, assinalado por 77% das empresas, aparece em terceiro lugar), mas
o
eu consumidor e ampliar a sua fatia de mercado. O segundo item mais assinalado foi
revivência, os questionários aplicados
evem confirmar a suspeição de um baixo índice de inovações praticadas pelas empresas
Quando perguntadas se pretendem investir nos próximos cinco anos, praticament
presas assinalaram que lhes foram mostrados n
uestionário. O item que apareceu com maior freqüência foi “inves
um investimento em ampliação
a
que a empresa estará mais atenta para a qualidade do seu produto com o objetivo de cativar
s
“treinamento de pessoal”, com 81% de incidência.
5.3.5. Inovação
O objetivo desta subseção é identificar a existência de um ambiente inovador no sítio
pesquisado, bem como as principais fontes de inovação e as principais formas de
incorporação de novas tecnologias utilizadas pelas empresas. Ao mesmo tempo, ver se estas
fontes de inovação estão atreladas às redes de parceria e/ou de cooperação e se as empresas se
beneficiam do quadro institucional local ou de programas de apoio para buscarem a inovação.
Como a maioria das empresas são empresas de sob
d
entrevistadas.
A) Esforço em empreender atividades de pesquisa e aprendizado
Das empresas entrevistadas, 55% realizam algum esforço de pesquisa e aprendizado,
enquanto 90% delas consideram a inovação de produtos, serviços e demais aspectos da
organização como um fator importante de diferencial de competitividade. Dentre as empresas
que realizam algum esforço de pesquisa e aprendizado, a forma mais utilizada de
desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos é através de “atividades internas nas
próprias unidades de produção da empresa” (forma utilizada por 82% das empresas
entrevistadas – ver Tabela 20 abaixo). As “atividades externas”, embora o seu conteúdo não
tenha sido especificado, apareceram em segundo lugar, com 60% de incidência entre as
empresas que realizam algum esforço de pesquisa e aprendizado.
Tabela 20: Formas de desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos (apenas para as empresas que realizam algum esforço de pesquisa e aprendizado) Formas de aquisição: No de empresas
(percentual de respostas válidas) Atividades internas nas unidades de produção da empresa 82 Atividades externas (fora da empresa) 60 Atividades internas nos laboratórios da empresa 20 Em parceria 16
FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
os que a empresa utiliza
E es de ã d ecim os es
e l inte m ar nsi o uso d ermina
f tos o m te mente, estariam acessí
p equeno porte s em u do ior. Den fonte
i especializ qu m rida empre través
uestionário (foram dez sugestões no total; ver a questão 6.19 do questionário – Anexo 1),
as primeiras três colunas da tabela, podemos observar com qual intensidade as empresas
B) Principais fontes de informação/conhecimentos especializad
m relação às principais font informaç o e/ou e conh ent pecializados que a
mpresa utiliza, tivemos especia resse e destac a inte dade n e det das
ontes de informação/conhecimen que, a enos orica mais veis
ara uma empresa de p ituada um m nicípio inter tre as s de
nformação/conhecimentos ados e fora suge s às sas a do
q
escolhemos quatro dessas fontes que, ao nosso ver, representam os meios mais acessíveis de
aquisição de conhecimentos. São elas: as “Experiências anteriores da equipe”, “Universidades
e centros tecnológicos”, as “Trocas de informação com outras empresas” e as “Sugestões dos
empregados” (como destacado na Tabela 21 abaixo).
N
utilizam-se das fontes de informação destacadas. Podemos ver, por exemplo, que as
“Experiências anteriores da equipe” constituem-se numa importante fonte de
informação/conhecimentos especializados para 54% das empresas entrevistadas, que
responderam utilizar-se “muito” desta fonte de informação. Na mesma linha da tabela,
podemos notar que 72% das empresas que disseram utilizar-se desta fonte de informação
afirmaram que a origem dessa fonte encontra-se no próprio município. Ao mesmo tempo, a
“Troca de informação com empresas (clientes, fornecedores)” foi citada como fonte muito
importante por 33% das empresas, ao passo que a maioria (54%) das empresas que se utilizam
dessa fonte de informação vai buscá-la fora da região do município. Dentre as fontes
destacadas, a terceira fonte mais importante constitui-se nas “Sugestões dos empregados”,
citada como muito importante por 23% das empresas entrevistadas. A origem dessa fonte de
informação encontra-se, para 78% das empresas que a citaram, no próprio município.
Finalmente, uma fonte de informação e de conhecimentos especializados que poderia ter um
aixo custo para as empresas, mas que foi muito pouco utilizada, constitui-se nas
ntrevistadas. Como pode ser observado na tabela abaixo, a utilização dessa
nte ocorre inteiramente fora do município pesquisado, pelo simples fato de não existir em
b
“Universidades e centros de pesquisa”, origem citada como muito importante por apenas 8%
das empresas e
fo
Itaguaí nenhuma universidade ou centro de pesquisa (centro tecnológico).
Tabela 21: Fontes de informação/conhecimentos especializados que a empresa utiliza e localização dessas fontes (em percentual de respostas válidas)
Intensidade no uso das fontes de informação Localização dessas fontes Fontes de
informação/conhecimentos especializados: Nada ou
pouco Médio Muito No município
Na região do município
Fora da região
Experiências anteriores da equipe 24 % 22 % 54 % 72% 11% 17% Universidades/centros tecnológicos 86 % 6 % 8 % - 48% 52% Troca de informação com empresas (clientes, fornecedores) 33 % 34 % 33 % 22% 24% 54%
Sugestões dos empregados 40 % 37 % 23 % 78% 12% 9% FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Est que as empresas priv oxim ão de
info s e que as principais fontes deste tipo de inovação
bas sos cujo acesso é mais fácil e menos oneroso para as
em ão de informação e de conhecimentos especializados podem
ser a estiver participando de redes de cooperação e parceria.
, dentre as 76 empresas que se utilizam “médio ou muito” de experiências anteriores da
dos, 63% delas têm interação
as concorrentes, 16% cooperam com outras empresas e 21% têm empresa parceira;
as respostas indicam ilegiam relações de pr idade na aquisiç
rmações e conhecimentos especializado
eiam-se no aproveitamento de recur
presas. Tais fontes de aquisiç
melhor aproveitados se a empres
Assim
equipe como fonte de informação/conhecimentos especializa
com
dentre as 14 empresas que utilizam-se “médio ou muito” das universidades e centros
tecnológicos como fonte de informação/conhecimentos especializados, 79% delas têm
interação com as concorrentes, 29% delas cooperam com outras empresas e 43% têm empresa
parceira; dentre as 67 empresas que utilizam-se “médio ou muito” da troca de informação
com outras empresas como fonte de informação/conhecimentos especializados, 66% delas
têm interação com as concorrentes, 18% delas cooperam com outras empresas e 19% delas
têm empresa parceira; e, finalmente, dentre as 60 empresas que utilizam-se “médio ou muito”
das sugestões dos empregados como fonte de informação/conhecimentos especializados, 62%
delas têm interação com as concorrentes, 18% cooperam com outras empresas e 25% têm
empresa parceira.
C) Principais formas de desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias utilizadas
pela empresa
No qu de novas tecnologias, a
aquisiç as novas
tecnolo uirem tecnologia desta forma), seguido de
perto p cooperação com fornecedores dos equipamentos
(56%) rmas de cooperação (cooperação com o
fornecedor de equipamentos, com a empresa de manutenção, com cl m outras
empresas e/ou organizações) nos parece indicar um potencial de existência de redes de
arceria com outras empresas e/ou organizações, o que poderia ser um indicativo da
e se refere às formas de desenvolvimento e incorporação
ão de máquinas é o meio mais utilizado pelas empres para a aquisição de
gias (61% das empresas entrevistadas adq
ela cooperação com clientes (59%) e
– ver Tabela 22 abaixo. Qualquer uma das fo
ientes, co
p
existência de propensão à criação de capital social.
Tabela 22: Formas de desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias Formas utilizadas: Sem importância (%) Importante (%) Aquisição de máquinas 37 61 Cooperação com fornecedor de equipamentos 43 56 Cooperação com empresa de manutenção 59 40 Cooperação com clientes 40 59 Cooperação com outras empresas 60 39 Cooperação com outras organizações 75 24 Via licenciamento ou joint venture 94 5 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
D) Principais inovações adotadas pela empresa desde 1999
Entre as principais inovações adotadas pelas empresas, a “incorporação de novos
teve maior incidência: 51% das empresas
ntrevistadas afirmaram ter adotado este tipo de inovação. Em seguida tivemos a “introdução
elas como, por
xemplo, o compartilhamento de instrumentos e processos, o uso comum de laboratórios e de
equipamentos no processo produtivo” foi a que
e
de novas técnicas organizacionais”, inovação adotada por 43% das empresas. O terceiro tipo
de inovação mais adotada foi a confecção de “novo produto”, assinalada por 33% das
empresas entrevistadas (ver Tabela 23 abaixo). Entre os tipos de inovação adotados pelas
empresas e sintetizados na tabela abaixo, nenhuma nos parece estar vinculada a um esforço
em estabelecer novas formas de cooperação ou parceria, como seria o caso se as empresas
tivessem adotado inovações que inaugurassem uma maior interação entre
e
departamentos de pesquisa ou ainda a adoção de inovações organizacionais pertinentes à
cadeia produtiva (nenhuma destas alternativas de inovação constaram no questionário
aplicado às empresas).
Tabela 23: Principais inovações adotadas pelas empresas Inovações adotadas: No de empresas (%) Incorporação de novos equipamentos no processo produtivo 51 Introdução de novas técnicas organizacionais 43 Novo produto 33 Automatização de processos produtivos 28 Alterações nas características técnicas do produto 23 Adoção de novas matérias-primas 22 Estilo do produto 19 Alterações no desenho do produto 14 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
5.4. O mercado e a geografia das transações econômicas das empresas
O objetivo nesta seção é observar as relações econômicas de proximidade, para verificarmos
té que ponto o ambiente local fomenta relações econômicas entre as empresas do município,
uma insuficiência de mercado neste território, bem com iativas,
p l local, em fomentar relações e de. A
c e econômico da empresa (do ponto de vista
m lados das trocas co ciais da presa: os uts
(procedência dos equipamentos, das matérias-primas e dos demais for mentos) e uts
( iciamos esta seção com uma an da local ção dos pr ais
a
ou se, ao contrário, estas vão buscar realizar as suas trocas mercantis fora do sítio pesquisado,
o que indicaria o a falta de inic
or parte do tecido empresaria conômicas de proximida
onstituição do ambient de suas relações
ercantis) compreende os dois mer em inp
neci outp
destino das vendas). In álise iza incip
concorrentes.
5.4.1. Localização dos principais concorrentes
A vantagem da localização de várias empresas em um único território é que elas têm maiores
chances de buscarem formas de parceria ou cooperação com outras empresas, formando redes
que poderiam estar na origem de uma eventual eficiência coletiva ou economias de
glomeração. A eficiência coletiva está relacionada à criação de capital social (economia
glomeração reduzem o custo de transação devido às
lações de proximidade e descrevem um fenômeno essencialmente estático.
gião do município pesquisado”
ue abrange toda a região metropolitana do município do Rio de Janeiro - excluída a capital,
a
dinâmica), enquanto as economias de a
re
Os principais concorrentes das empresas entrevistadas localizam-se no município do Rio de
Janeiro (capital), localidade à qual 63% das empresas entrevistadas atribuíram importância
“média, forte ou máxima” como origem das suas concorrentes (ver Tabela 24 abaixo). A
concorrência no próprio município pesquisado também é forte, uma vez que 50% das
empresas entrevistadas atribuíram importância “média, forte ou máxima” às empresas que
estão localizadas no próprio município. Em seguida vem a “re
(q
os demais municípios da Costa Verde e os municípios vizinhos que margeiam a Rodovia
Presidente Dutra), com 37% de ocorrência entre os quesitos “médio, forte ou máxima”.
Finalmente, “outro lugar do Brasil” representa ainda um espaço privilegiado de localização
das firmas concorrentes, uma vez que 34% das empresas entrevistadas assinalou importância
“média, forte ou máxima” para esta origem de localização das concorrentes. Neste caso,
estamos nos referindo aos outros Estados da federação e especial atenção deve ser dada às
empresas concorrentes localizadas em São Paulo, principalmente no que diz respeito ao setor
industrial.
Tabela 24: Localização dos principais concorrentes segundo a importância atribuída aos concorrentes
Grau de importância (% de respostas válidas) Localização dos concorrentes:
Nula ou fraca Média Forte ou máximaNo município pesquisado 50 21 29 Na região do município pesquisado 63 15 22 Rio de Janeiro – capital do estado 37 17 46 No estado 70 13 17 Em outro lugar do Brasil 6 6 9 25Fora do Brasil 91 8 1
FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Quanto às relações econômicas de m do, o o vo, a part da subs segui , será
porção das trocas eco icas que originam s proxim presa,
uerendo destacar o quão importante é o mercado local para a empresa (tanto em termos da
mais fornecimentos - todos eles inputs -
uanto em termos do destino das vendas).
(apenas 37% das empresas entrevistadas disseram nada comprar, em
rmos de equipamentos, do Rio de Janeiro). Por outro lado, 52% das empresas entrevistadas
e 25% 25 a 49% 50 a 74% 75 a 99% 100%
erca bjeti ir eção nte o
de captar a pro nôm se na idades da em
q
procedência dos equipamentos, matérias-primas e de
q
5.4.2. Procedência dos equipamentos
De acordo com a Tabela 25 a seguir, 57% das empresas entrevistadas respondeu que nenhum
equipamento vem do próprio município. Em contrapartida, 13% das empresas responderam
que a totalidade (100%) dos seus equipamentos vem do próprio município. No que se refere à
região como origem da procedência dos equipamentos, 80% das empresas responderam que
nenhum de seus equipamentos vem da região e 11% responderam que até ¼ dos seus
equipamentos tem essa origem. Ou seja, a maioria das empresas (91%) nada compra (ou
compra muito pouco), na região, em termos de equipamentos.
O Rio de Janeiro (capital) é, dentre todas as procedências, aquela que é mais utilizada para a
compra de equipamentos
te
compram pelo menos a quarta parte de seus equipamentos no município do Rio de Janeiro e,
dentre estas, 20% compram a totalidade de seus equipamentos no Rio de Janeiro. Os
equipamentos raramente são comprados em outro lugar do Estado, o que já não acontece com
a procedência “em outro lugar do Brasil”. Além de 45% das empresas comprarem alguma
proporção dos seus equipamentos em outro lugar do Brasil (outros estados fora o RJ), para
6% das empresas entrevistadas os equipamentos vêm exclusivamente de algum outro Estado.
Este deve ser o caso de algumas grandes empresas na região que dependem da importação de
alguns equipamentos procedentes de outros estados. A procedência “fora do Brasil”
(importação de equipamentos) foi muito pouco verificada na pesquisa de campo (ver tabela
abaixo).
Tabela 25: Geografia das transações: procedência dos equipamentos Procedência dos equipamentos: 0% Menos qu Município 57 11 2 14 2 13 Região (entorno do município) 80 11 4 4 - -
Rio de Janeiro 37 10 14 10 8 20 Outro lugar do Estado 88 2 5 4 - - Outro lugar do Brasil 55 12 6 11 9 6 Fora do Brasil 87 8 - 3 1 - FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
as matérias-pri utilizadas
o que se refere à utilização de matérias-primas, particularmente no que concerne à sua
r, no momento da entrevista,
uais matérias-primas eram utilizadas no seu “processo” (seja de venda, de prestação de
referindo passar à questão seguinte e incluir as
ventuais “matérias-primas” em “demais fornecimentos”. Portanto, a Tabela 26 a seguir
das
mpresas concernidas compram alguma matéria-prima no Rio de Janeiro e 47% delas
5.4.3. Procedência d mas
N
origem ou procedência, pudemos constatar um fenômeno sui generis em nossa pesquisa de
campo, na aplicação dos questionários às empresas. A maior parte delas (70%) não se
considerou concernida por esta questão, pelo simples fato de não utilizarem nenhuma matéria-
prima. É bem verdade que as empresas nos setores de prestação de serviços, da construção
civil (onde incluímos empresas do comércio e de alguns serviços ligados à construção) e no
setor de transporte tiveram alguma dificuldade em identifica
q
serviço ou mesmo de transformação), p
e
concerne apenas 30% das empresas entrevistadas que não tiveram dificuldade em indicar
quais eram as matérias-primas por elas utilizadas e que, portanto, localizaram a procedência
destas matérias-primas.
Desta forma, dentre as empresas concernidas, 50% das empresas disseram que não compram
nenhuma matéria-prima no município, enquanto 10% delas compra a totalidade de suas
matérias-primas no município (ver Tabela 26 abaixo). A região de entorno do município é
muito pouco utilizada pelas empresas para a compra de suas matérias-primas. Mais uma vez
(assim como acontece na compra de equipamentos), o município do Rio de Janeiro é o local
preferido pela maioria das empresas para suas compras de matérias-primas: 63%
e
compram ao menos a metade de suas matérias-primas no município do Rio. “Outro lugar do
Estado” é novamente uma procedência geográfica com muito pouca incidência no que diz
respeito à compra de matérias-primas, perdendo como local de compra para “outro lugar do
Brasil”, local de procedência de alguma matéria-prima para metade das empresas
concernidas: 24% delas compram ao menos metade de suas matérias-primas em outro lugar
do Brasil. As matérias-primas importadas são raras.
Tabela 26: Geografia das transações: procedência das matérias-primas Origem das matérias-primas: 0% Menor que 25% 25 a 49% 50 a 74% 75 a 99% 100% Município 50 17 - 17 3 10 Região (entorno do município) 80 7 - 10 - - Rio de Janeiro 37 3 10 20 17 10 Outro lugar do Estado 80 10 - 4 - 3 Outro lugar do Brasil 50 16 7 17 - 7 Fora do Brasil 83 10 - 4 - - FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
cípi ã a d e (
orno do o pesquisado). O terceiro lugar de comp
utro lugar do Br (outro do), em detrimento interior Estad
. Ambos, tanto os equipamentos co as m as, são
no município do Rio de Janeiro.
ornecedores
ais fornecedores tem maior representatividade estatística e faz mais
entido do ponto de vista analítico do que a localização das compras das matérias-primas.
compra, o município do Rio de Janeiro, deixa de ser local de compra para 37% das empresas
Assim como aconteceu com a procedência dos equipamentos, as matérias-primas, quando não
são compradas no próprio muni o s, o adq idas nuir ci de da o dRio Ja iro ne em
detrimento da região de ent municípi ra
aparece como sendo o asil esta do do o
do Rio de Janeiro mo atérias-prim
preferencialmente comprados
5.4.4. Origem dos demais f
A origem dos demais fornecedores repete o padrão observado quanto à origem dos
equipamentos e das matérias-primas. A não ser por um duelo mais equilibrado entre as
procedências “no próprio município” e no município do Rio de Janeiro (no final das contas
fica difícil saber qual das duas áreas de procedência leva a melhor), a preferência de compras
efetuadas junto aos demais fornecedores segue a observada para as matérias-primas e os
equipamentos. Deve-se entretanto ressaltar que, para as compras junto aos demais
fornecedores, o índice de respostas válidas foi bem maior que o índice de respostas válidas
para a compra de matérias-primas: 95% contra 30%. Portanto, a localização geográfica das
compras junto aos dem
s
No que se refere à procedência das compras junto aos demais fornecedores (Tabela 27
abaixo), podemos observar que apenas 32% das empresas concernidas deixam de comprar no
município em questão e 22% delas compram a totalidade de seus “demais fornecimentos” no
município. No que se refere à região de entorno do município, podemos dizer que este é o
local de compra para 23% das empresas concernidas, sendo que a maioria delas não compra,
nesta área, mais do que ¼ de seus “demais fornecimentos”. A outra área importante de
concernidas, mas por outro lado 42% das empresas compram metade ou mais de seus “demais
fornecimentos” neste município. “Outro lugar do Estado” é pouco utilizado como área de
rigem ou procedência dos demais fornecedores, enquanto “outro lugar do Brasil” aparece
o
com uma incidência um pouco importante, apesar de 70% das empresas concernidas terem
respondido que não fazem nenhuma compra (0%) junto aos demais fornecedores nesta área
geográfica.
Tabela 27: Geografia das transações: procedência dos demais fornecedores Origem dos demais fornecedores: 0% Menor que 25% 25 a 49% 50 a 74% 75 a 99% 100%Município 32 19 6 14 7 22 Região (entorno do município) 77 15 3 2 1 2 Rio de Janeiro 37 12 9 22 8 12 Outro lugar do Estado 86 12 - 2 - - Outro lugar do Brasil 70 14 3 8 1 4 Fora do Brasil 96 3 - 1 - - FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
5.4.5. Destino das vendas
Ainda dentro do tópico geografia das transações, o destino das vendas refere-se à outra ponta
cípio. Importante por tratar-se da
do consum p e s
ensi e das relações econôm s de pr idade. que
icípio pesquisado, 40% das em as entrevi das disseram não r este
s (0% de vendas para Itaguaí, como pode ser visto Tabela 2 abaixo
outro extremo da mesma linha podemos observar que 15% das empresas
ntrevistadas vendem a sua produção exclusivamente para outras empresas e/ou consumidores
das transações econômicas efetuadas pelas empresas do muni
constituição do merca idor ara estas empr sas podemos, também, atravé do
destino das vendas, aferir a int dad ica o mxi oN se
refere ao mun pres sta se o
destino de suas venda na 8 ),
enquanto no
e
situados no município.
A região de entorno do município pesquisado constitui-se num importante destino de vendas,
mas menos importante que o município do Rio de Janeiro. Enquanto 54% das empresas
entrevistadas não vendem absolutamente nada para a região de entorno, esta proporção cai
para 43% quando se trata do município do Rio. Enquanto temos 17% das empresas que
vendem ao menos ¼ de sua produção para a região de entorno, a proporção de empresas que
vende ao menos a mesma proporção para o município do Rio sobe para 44% sendo que,
destas, 23% vendem a totalidade de sua produção para o Rio de Janeiro. O município do Rio
de Janeiro se constitui, portanto, num mercado mais importante para as empresas de Itaguaí
do que sua região de entorno.
No que se refere ao destino das vendas, há uma inversão de importância entre as áreas “outro
gar do Estado” e “outro lugar do Brasil”. Pela primeira vez no que se refere à geografia das
do analisamos a procedência dos inputs), o
terior do Estado do Rio de Janeiro adquire mais destaque do que os outros estados (ou
gar do Brasil” é
portante para 7% delas. No entanto, para as vendas que representam mais de ¼ do volume
er uma pequena inversão na importância relativa das duas áreas
eográficas: enquanto “outro lugar do Brasil” é assinalado como destino importante para 15%
lu
transações das empresas (isto não se verificou quan
in
“outro lugar do Brasil”, segundo a Tabela 28 abaixo). Quando se trata de uma proporção
menor do que 25% do volume total de vendas, “outro lugar do Estado” aparece como
importante para 12% das empresas entrevistadas, enquanto “outro lu
im
total de vendas, parece hav
g
das empresas, “outro lugar do Estado” é assinalado por 14%. Esta desvantagem de 1% não
deve, no entanto, reverter a maior incidência de destino das vendas para o interior do Estado,
comparativamente a outros estados da federação.
Tabela 28: Geografia das transações: destino das vendas Destino das vendas: 0% Menor que 25% 25 a 49% 50 a 74% 75 a 99% 100%Município 40 15 6 10 13 15 Região de entorno do município 54 28 6 9 2 - Rio de Janeiro 43 12 7 19 8 10 Outro lugar do Estado 73 12 7 7 - - Outro lugar do Brasil 77 7 6 5 3 1 Fora do Brasil 93 2 1 2 - 1 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
5.5. Relações com o ambiente empresarial e institucional
Nesta seção observamos qual é a densidade das redes empresariais e institucionais,
qualificando o que chamamos de adesão institucional. Esta seção está dividida em quatro
subseções. Na subseção 5.5.1 listamos os principais fatores listados como vantagens e
desvantagens da localização da empresa no município; dentre estes fatores, relacionam-se
vários fatores que dizem respeito ao quadro institucional local. Na subseção 5.5.2 vemos
quais foram as formas de reação, por parte das empresas entrevistadas, ao processo de
bertura dos mercados ocorrido nos anos 1990 e de inversão de investimento direto externo;
is formas de adaptação poderiam ter suscitado arranjos cooperativos entre as empresas
a
ta
concernidas. Na subseção 5.5.3 vemos quais foram as relações interempresas (redes de
eração) que se destacaram através ariá
5.4 damos maior ênfase às relações entre o tecido empresarial e o
s institucionais).
calização
portância do local no desempenho das empresas, tanto no que
tagens locacionais) com os fatores desfavoráveis
a empresa na região/município pesquisado).
s, programas governamentais, economias de
roximidade, etc.). Em Itaguaí, o fator mais vezes citado como “muito importante” foi a
por 75% das empresas
e segundo lugar, apareceram as “facilidades de
c item citado como “muito importante” p 0% das empresas
e sica” foi considerada “muito importante” por 68% das
e utura de serviços”, “existência de progra entais”,
“ ersidades e centros de pesquisa” e “proximidade com os
f antes do ponto de vista da formação de uma economia
d ouco citados pelas resas em questão.
A idade com os fornecedores” foram
r mo “muito importante” para, respectivamente, 52%
as. Já a existência de programas de apoio e a proximidade
esperar de
ma economia que estimule as suas relações de proximidade.
parceria e de coop da leitu das vra veis p árias, rim
enquanto na subseção 5.
quadro institucional local (rede
5.5.1. Vantagens e desvantagens de lo
Nesta subseção avaliamos a im
diz respeito aos fatores favoráveis (van o a
(desvantagens da localização d
A) Vantagens locacionais
As vantagens locacionais são aquelas que, em princípio, funcionam como fatores de atração
das empresas para um determinado sítio ou ao mesmo tempo são as responsáveis pela
permanência mais duradoura das empresas no sítio produtivo. Podem se caracterizar como
vantagens espúrias (como baixo custo da mão-de-obra ou incentivos fiscais) ou vantagens
dinâmicas (como uma infra-estrutura de serviço
p
“proximidade com o mercado consumidor”, item escolhido
ntrevistadas (ver a Tabela 29 abaixo). Em
omunicação e/ou transporte”, or 7
ntrevistadas. A “infra-estrutura fí
mpresas. Os fatores “infra-estr mas governam
proximidade com univ
ornecedores”, que seriam fatores relev
e desenvolvimento endógeno, foram em geral p emp
penas a “infra-estrutura de serviços” e a “proxim
elativamente bem citados, aparecendo co
e 44% das empresas entrevistad
com universidades e centros de pesquisa ficaram bem abaixo do que seria de se
u
Tabela 29: Vantagens da localização segundo os empresários Fatores citados: Sem importância Muito importante Infra-estrutura física 32 68 Infra-estrutura de serviços 48 52 Ambiente escolar 53 47 Disponibilidade de mão-de-obra 44 56 Qualidade da mão-de-obra 49 51 Custo da mão-de-obra 35 65 Existência de programas governamentais 89 11 Incentivos fiscais 89 11 Proximidade com universidades e centros de pesquisa 82 18 Proximidade com fornecedores 56 44 Proximidade com consumidores 25 75 Facilidades de comunicação e/ou transporte 30 70 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
abela 30: Desvantagens da localização da empresa na região
B) Desvantagens da localização da empresa na região
Dentre os fatores mencionados como desvantagens da atuação da empresa na região,
destacam-se a “inexistência de programas governamentais”, fator destacado como negativo
por 81% das empresas entrevistadas, e a “falta de incentivos fiscais”, fator destacado por 78%
das empresas (ver Tabela 30 abaixo). O terceiro fator negativo na escala de importância das
empresas foi a “falta de proximidade com universidades ou centros de pesquisa”, fator
destacado por 61% das empresas entrevistadas.
TFatores mencionados como “desvantagem”: Fatores destacados como de importância
“média” ou “forte” Infra-estrutura física disponível 36 Infra-estrutura de serviços disponível 52 Ambiente escolar 52 Disponibilidade de mão-de-obra 41Qualidade da mão-de-obra 46 Custo da Mão de obra 38Existência de programas governamentais 81Incentivos fiscais 78Proximidade com universidades e centros de pesquisa 61 Proximidade com fornecedores 56Proximidade com o mercado consumidor 31Facilidades de comunicação e/ou transporte 32
FONTE: Pesquisa de campo,
2003.
resas de mudanças no ambiente macroeconômico 5.5.2. Impactos sobre as emp
Trata-se, nesta subseção, de verificar se as mudanças macroeconômicas provocadas pelo
processo de abertura de mercado, nos anos 1990, e aquelas provocadas pelos novos fluxos de
investimento direto externo no país, têm tido repercussões sobre a organização interna das
empresas, notadamente no que diz respeito às estratégias cooperativas e de formação de redes.
Mudanças que poderiam ter deflagrado, por parte das empresas, uma maior preocupação com
a formação de redes e em promover arranjos cooperativos.
A) Formas de adequação, pela empresa, ao processo de abertura de mercado promovida
ela economia brasileira nos anos 1990
sso de abertura de ercado promovido nos anos 1990.
p
O processo de abertura de mercado promovido pelo governo brasileiro nos anos 1990 atingiu
89% das empresas entrevistadas. Estas empresas promoveram alguma forma de ajuste como
reação ao processo de abertura. As diferentes alternativas de adequação estão assinaladas na
tabela abaixo e vale ressaltar que cada empresa entrevistada pode ter respondido
afirmativamente (“Sim”) a um ou mais itens. Onze por cento das empresas não se sentiram, de
modo algum, concernidas por este processo de abertura econômica. Entre as empresas que se
sentiram concernidas, 58% das empresas disseram que se adaptaram à abertura econômica
através de “melhorias nos equipamentos e nos processos produtivos”, enquanto 54% disseram
“ter-se empenhado no aprendizado tecnológico” (ver Tabela 31 abaixo).
Tabela 31: Formas de adequação, utilizadas pelas empresas, ao procem
Percentual de respostas válidas Formas de adequação utilizadas:
Sim Não Equipamentos/processo produtivo 58 42 Organização 30 70 Produto 45 55 Processo 45 55 Cooperação 8 92 Recursos humanos 44 56 Aprendizado tecnológico 54 46 Controle ambiental 35 65 Financiamento 28 72 Ampliação do emprego 35 65 Redução do emprego 24 76 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
O tipo de reação ou estratégia adotada para se adequar ao processo de abertura do mercado
ode nos indicar uma certa propensão, por parte das empresas, em fazer arranjos cooperativos p
com outras empresas ou instituições de apoio (tecnológico, capacitação, etc), desde que as
ação de redes e/ou parcerias. O item poderia nos
z arranjos cooperativos com empresas ou instituições
apenas 8% das presas que
uaram de alguma forma ao processo de
bertura dos mercados) reagiram através da formação de arranjos cooperativos. Desta forma,
pamentos e processos e para o
prendizado tecnológico, e não para a formação de parcerias, redes e arranjos cooperativos
a segunda forma de ajuste (formação de
des), teria sido um ajuste pró-ativo que incorporaria mais a noção de reação autônoma que
ormalmente as empresas do sítio pesquisado ficaram muito passivas em relação aos novos
m no país. Sem ignorar que estes
vestimentos de alguma forma mexeram com a economia do país, as empresas entrevistadas,
uito baixa. O maior
dice de respostas coube à estratégia de reação que consistiu em concentrar as atividades da
resas
ntrevistadas. Em segundo lugar, com apenas 13% de respostas afirmativas, vieram a “busca
empresas adotem como estratégia a form q e u
assinalar a presença desta estratégia (“fe
de pesquisa”) teve uma incidência baixa de respostas: em
responderam a esta questão (ou seja, que se adeq
a
as mudanças no ambiente econômico externo não deflagraram, por parte das empresas, uma
maior preocupação com a formação de redes.
O ajuste que as empresas fizeram em função do processo de abertura de mercado dos anos
1990 foi um ajuste direcionado para a melhoria de equi
a
com outras empresas e instituições de pesquisa. Ess
re
discutimos na parte teórica, o que por sua vez estimularia a criação de vínculos e a construção
de mercados de proximidade. Ao contrário, as empresas que se ajustaram via redução no
emprego (24% das empresas concernidas, como podemos ver na tabela acima) optaram por
uma forma reativa de ajuste, não contribuindo para o estabelecimento de relações de
confiança entre as empresas do município e o mercado de trabalho local.
B) Formas de reação aos novos fluxos de investimento direto externo
N
fluxos de investimento direto estrangeiro que entrara
in
no entanto, não esboçaram formas pró-ativas de reação, e a proporção de empresas que
respondeu ter reagido de alguma forma (assinalando uma ou mais entre as cinco alternativas
oferecidas na tabela abaixo) aos investimentos diretos estrangeiros foi m
ín
empresa em “áreas de maior competência produtiva”, item assinalado por 19% das emp
e
por estruturas de fomento” e a “realização de projetos voltados para a formação de alianças
tecnológicas” (ver Tabela 32 abaixo).
Tabela 32: Formas de reação ao investimento externo direto (IED) Reações ao investimento direto externo: Sim Não Associações com empresas nacionais 8 90 Associações com empresas multinacionais 6 92 Concentração em áreas de maior competência produtiva 19 79 Busca por estruturas de fomento 13 85 Realização de projetos voltados a alianças tecnológicas 13 85 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
as relações interfirmas, as variáveis disponíveis no questionário, que tentam captar a
com as empresas
oncorrentes, a existência de algum tipo de associação ou cooperação com outras empresas
interação com as
mpresas concorrentes. Destas, 5% disse que esta interação era “muito boa”, 55% a qualificou
mais citado foi o
consórcio para o desenvolvimento tecnológico”: 34% das empresas que participam de
Os quatro primeiros itens da tabela acima (associações com empresas nacionais, associações
com empresas multinacionais, concentração dos investimentos em áreas de maior
competência produtiva e busca por estruturas de fomento) poderiam indicar uma maior
propensão para a formação de redes e associações, mas como a incidência delas foi muito
baixa, esta hipótese dificilmente poderia ser levada adiante.
5.5.3. Redes de cooperação (relações interfirmas)
N
existência destas relações, são: a existência ou não de interação
c
(sejam elas clientes, fornecedoras ou concorrentes), se a empresa possui alguma empresa
parceira e a avaliação, por parte da empresa, do resultado dessas interações para o seu
desempenho econômico. Respostas afirmativas a estas questões podem indicar a existência de
redes de cooperação entre as firmas do município, o que por sua vez indicaria a existência de
algum capital social.
A) Grau de interação com as empresas concorrentes
Do total de empresas entrevistadas, 55% afirmaram ter algum tipo de
e
como “boa”, 35% como “média” e 4% disse que a interação era “ruim”.
B) Participação em algum tipo de associação e/ou cooperação com outras empresas
Do total das empresas entrevistadas, 13% afirmaram participar de algum tipo de associação
e/ou cooperação com outras empresas. O tipo de associação/cooperação
“
alguma associação e/ou cooperação têm este tipo de envolvimento. A segunda forma mais
comum de associação foi “central de vendas”, assinalada por
l de compras” (25%) e finalmente o “consórcio de exportação”,
a amostra (conjunto das empresas entrevistadas), temos
tre si, no setor de transporte etor por io e atividades
ta para 22% das empresas entrevistadas. Encontramos também
índice de associação e/ou cooperação pouco acima da média no setor industrial, onde 17%
fazer algum tipo de associação e/ou cooperação. No
ram qualificar este tipo de interação, sugerindo inclusive que, na prática, um
e empresas
nteração que mais se sobressai, ta com as empresas clientes, como com as
e as concorrentes, é a “troca de idéias e informações”. O segundo tipo de
as empresas clientes é o “desen imento e a melhoria de insu
18% das empresas entrevistadas. Já nas interações com as
undo tipo de interação q mais aparece é o “compar amento de
do por 25% das empresas (ver tabela abaixo).
33% das n empresas co cernidas.
A terceira forma foi “centra
assinalado por 8% das empresas concernidas.
Se no total de noss uma proporção de
13% de empresas que cooperam en s (s tu rá
anexas) esta proporção aumen
um
das empresas entrevistadas assinalaram
setor da construção civil esta forma de parceria encontra uma baixa incidência (8% das
empresas) e na prestação de serviços ela é nula (nenhuma incidência). Entre as empresas
apoiadas, o índice de associação e/ou cooperação sobe para 36%, enquanto para as não
apoiadas ele é de 9%.
C) Relações com as empresas clientes, fornecedoras e/ou concorrentes
Além das interações com as empresas concorrentes, visto no item “A” acima, temos também
as interações que as empresas podem estabelecer com as suas clientes e fornecedoras. Na
Tabela 33 abaixo, qualificamos igualmente que tipo de relação as empresas desenvolvem com
suas concorrentes. Como podemos ver nesta tabela, o grau de interação com as empresas
concorrentes é menor do que o grau de interação com as empresas clientes ou fornecedoras.
Apesar de, como vimos no item “A” acima, 55% das empresas terem dito que possuem
alguma interação com as suas concorrentes, na questão representada pela Tabela 33 poucas
empresas soube
número muito baixo d mantém realmente esse tipo de interação.
O tipo de i nto
fornecedoras
interação com volv mos, produtos
ou processos”, citado por
fornecedoras, o seg ue tilh
equipamentos”, item assinala
Tabela 33: Tipo de relação que a empresa estabelece com os seguintes tipos de empresas Com as seguintes empresas: Tipo de relação com empresas: Clientes Fornecedoras Concorrentes
Troca de idéias e informações 43 29 9 Desenvolvimento e melhoria de insumos, produtos ou processos 18 15 2 Compartilhamento de equipamentos 13 25 3 Treinamento de funcionários 14 16 - Ações conjuntas de marketing 8 6 2 Central de compras 3 13 1 Compra de insumos ou equipamentos 4 19 2 Central de vendas 13 4 3 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
D) Terceirização e subcontratação
Considerando os diferentes serviços que podem ser objeto de terceirização (excluiremos a
princípio as atividades ligadas à produção), aqueles que mais foram terceirizados são a
ontabilidade e a assistência jurídica: respectivamente, 58% e 50% das empresas entrevistadas
mostra serem micro ou
equenas unidades que nem sempre dispõem dos meios necessários para recorrerem a este
c
terceirizam estes serviços (ver Tabela 34 abaixo). Em seguida, vêm as atividades de
manutenção dos equipamentos, terceirizadas por 31% das empresas entrevistadas, a
alimentação dos funcionários (28%), o transporte (27%), a entrega e/ou remessa de
mercadorias (28%) e a segurança dos estabelecimentos (24%). As atividades menos
terceirizadas são a limpeza (18%), a criação de material promocional (13%), as consultorias
(10%), a assessoria de imprensa (5%) e o design (3%). A baixa incidência de terceirização
para estas atividades se explica pelo fato da maioria das empresas da a
p
tipo de serviço, ou simplesmente porque não carecem deste tipo de terceirização.
Tabela 34: Áreas terceirizadas e freqüência de terceirização pelas empresas entrevistadas Áreas terceirizadas: Raramente
(% das empresas entrevistadas)Freqüentemente
(% das empresas entrevistadas)Limpeza 82 18 Manutenção 69 31 Transporte 73 27 Alimentação 72 28 Segurança 76 24 Contabilidade 42 58 Assistência jurídica 50 50 Entrega/remessa mercadorias 72 28 Consultorias na área 90 10 Design 97 3 Criação material promocional 87 13 Assessoria de imprensa 95 5 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Quando perguntadas se recorrem a outras empresas para realizar parte do processo produtivo
restação de serviços ou fabricação de bens), 32% das empresas entrevistadas afirmaram
atação entre os setores
esquisados difere em proporção: o setor de transportes (atividades portuárias e anexas) e o
r do que entre as empresas não apoiadas: 57% contra
7% (as empresas apoiadas, além de cooperarem mais, também subcontratam mais).
s empresas subcontratadas provêm em sua maioria (31%) do Estado do Rio de Janeiro (o
pesquisado (28%) ou na re de d
subcontratadas). Ainda, 16% das empresas que subcontratam disseram que as empresas por
elas subcontratadas encontram-se em outros estados da federação. Como regra geral, o
tamanho das empresas subcontratadas é menor do que o tamanho das empresas
subcontratantes (isto ocorre em 50% dos casos). Em 28% das relações de subcontratação o
porte das empresas contratantes coincide e em 19% dos casos a empresa subcontratante
alegou ser menor do que a empresa que ela mesma subcontratou.
A base sob a qual se estabelece a relação de subcontratação, em 66% dos casos, é a
proximidade técnica e econômica entre a subcontratante e a subcontratada. Em 16% dos casos
o fator responsável pelo estabelecimento da relação de subcontratação é a proximidade
(p
recorrer a este tipo de subcontratação. A incidência da subcontr
p
setor industrial são os que mais recorrem à subcontratação (respectivamente 48% e 35%). Por
outro lado, o setor da construção civil e o da prestação de serviços às empresas pouco
recorrem: respectivamente, 25% e 14%. No setor da construção civil esperaríamos encontrar
uma maior incidência de subcontratação; mas sua baixa incidência na prestação de serviços
pode ser explicada pelas características deste setor. Entre as empresas apoiadas, a proporção
de empresas que subcontratam é maio
2
Os motivos da subcontratação referem-se, para 31% das empresas concernidas, ao
rebaixamento do custo; para 28% à falta de meios próprios para realizar a atividade
subcontratada; 22% das empresas concernidas invocam o fato de que a atividade
subcontratada necessita de uma forte especialização (competência), que ela mesma não
possui; e para 6% das empresas a subcontratação é motivada pela busca de flexibilidade, ou
seja, oscilações na demanda induzem a empresa a operar com uma política de subcontratação
(recorrem à subcontratação para responder às variações da demanda).
A
que inclui o m nunicípio do Rio de Ja
município
eiro), seguidas daquelas que se localizam no próprio
gião de entorno sse município (25% as empresas
geográfica. A busca por uma proximidade nica e econômica por parte das empresas
talvez explique a forte dispersão geográfica das em as subcontratad
sponderam que estas parcerias visam “outros
o entrevistado não soube especificar que tipo
por cada aspecto considerado:
téc
subcontratantes pres as. 70
E) Parcerias, avaliação das parcerias e dificuldades encontradas
Do total de empresas entrevistadas, 17% afirmaram possuir alguma parceria com outra(s)
empresa(s). Para 18% destas empresas, a parceria consiste num “projeto comum” (não
especificado), para 12% a parceria consiste na “capacitação conjunta” de funcionários e/ou
gerentes e 65% das empresas concernidas re
conteúdos”. Em 5% das empresas concernidas
presa estabelecia. de parceria a sua em
As parcerias foram avaliadas (pelas empresas que a praticam) nos seus quesitos comercial,
tecnológico e organizacional, como mostram os parâmetros da Tabela 35 abaixo. Dessa
forma, 82% das empresas que estabelecem parcerias classificam-nas como “boa ou muito
boa” para o seu desempenho comercial. Ao mesmo tempo, 59% das empresas que praticam
parcerias classificam-nas como “boas ou muito boas” para o desempenho tecnológico da
empresa e 47% as consideram “boas ou muito boas” no seu aspecto organizacional. Ainda no
que se refere à avaliação das parcerias, encontramos uma grande proporção de empresas que
não soube avaliar o impacto dessas nos seus aspectos tecnológico e organizacional:
respectivamente 35% e 47% das empresas concernidas.
Tabela 35: Avaliação da parceria por parte das empresas concernidas
Classificação da avaliaçãoAvaliação da parceria nos seguintes aspectos: Ruim ou regular Bom ou muito bom Indeterminado
70 Invertendo a relação de subcontratação, observou-se que 28% das empresas entrevistadas são subcontratadas
e alguma outra empresa. No setor da construção civil encontramos o maior índice de empresas entrevistadas bcontratadas: 31%. A proporção de empresas subcontratadas no setor de transportes (atividades portuárias) é
s tem como fator principal a proximidade técnica e econômica idas), enquanto para 25% delas esta base é de proximidade
geográfica.
dsude 30% e no setor de prestação de serviços às empresas é de 29%. O único setor onde encontramos relativamente poucas empresas subcontratadas foi o setor industrial, com 22% das empresas entrevistadas. As empresas mandantes das empresas entrevistadas localizam-se prioritariamente no Estado do Rio de Janeiro (36%), no município pesquisado (21%), na região de entorno do município pesquisado (18%) e em outros estados do Brasil (18%). Ainda temos que 7% das empresas concernidas são subcontratadas por empresas no estrangeiro. A presença de empresas estrangeiras explica-se pela existência do Porto de Sepetiba, cuja atividade se estende muito além das fronteiras do Estado do Rio de Janeiro. As empresas subcontratantes são quase sempre (82%) maiores do que as empresas concernidas da amostra. Esta situação revela o caráter hierárquico das relações sob as quais as empresas da amostra estão submetidas, assim como o frágil poder de negociação do qual elas podem dispor no quadro dessas relações. Segundo as empresas subcontratadas de nosso sítio, que foram entrevistadas, a base de sua contratação pelas empresas mandante(para 75% das empresas entrevistadas concern
Comercial 18 82 - Tecnológico 6 59 35 Organizacional 6 47 47 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Destas empresas que estabelecem parcerias (o que se constitui em 17% da nossa amostra), a
maioria afirma não encontrar, nelas, nenhuma dificuldade: para 88% dessas empresas as
parcerias não representam dificuldades. Entretanto, para 12% das empresas que têm parcerias,
estas representam alguma dificuldade numa das seguintes áreas: condições de pagamento,
falta de segredo profissional ou dificuldade na identificação de competências comuns.
5.5.4. Relações com o ambiente institucional
ções locais. A utilização, pelas empresas, de infra-estruturas regionais, bem como a
u não de capital social na região. Uma última variável refer e à expectativa de
junta com instituições no município ou na região. Um alto g tiva em
tipo de atuação poderia estar significando uma lacuna no quesito iniciativas
e poderia indicar uma ausência de capital social.
) Participação em associações locais não-profissionais
participação em associações locais não profissionais aparentemente não guarda relações
de ser “bem vista” pela população local.
No caso das relações com o ambiente institucional, o objetivo é o de perceber se as relações
entre as empresas ultrapassam os canais comerciais e econômicos para inaugurar algum tipo
de relação que congregue um conjunto de firmas, agregação esta que poderia se dar em
organismos, sindicatos ou alguma associação profissional de um setor, do município ou da
região. Além das relações formais que se estabelecem no nível institucional, procuramos
também captar as relações das empresas com o ambiente não-profissional, como outras
associa
avaliação que elas fazem destas infra-estruturas, também são fatores elucidativos da
existência o e-s
atuação con rau de expecta
relação a este
coletivas, o qu
A
A
com o ambiente propriamente econômico de uma região ou território. As relações que se
estabelecem entre as empresas e estas associações, mesmo que elas sejam de grande
intensidade e bastante disseminadas no território, não refletem relações econômicas ou
relações mercantis de troca, e muitas vezes são encaradas pelas empresas apenas como um
“selo social”, que fornece à empresa associada uma garantia de aceitação social ou a virtude
No entanto, estas formas de associação podem esconder formas latentes de capital social na
edida em que representam formas de engajamento das empresas locais em questões sociais
es n
iações podem cobrar das empresas participantes metas de desenvolvimento social
tentável, na forma de participação dos concidadãos no mercado de trabalho da
ção dos índices de poluição, construção de infra-estrutura básica na área em
a empresa está instalada e assim por diante. Desta forma, o tipo de participação
importantes são: a participação das empresas em associações de
oradores, em associações de cidadania e em associações ambientais.
orcent
m
que se colo portantes para as associaçõcam como im ão-profissionais. Ao mesmo tempo,
estas assoc
ou auto-sus
empresa, redu
torno da qual
que destacaríamos como mais
m
Como podemos ver na Tabela 36 abaixo, e já foi ressaltado no parágrafo anterior, os índices
de participação das empresas nesses tipos de associações são muito baixos. O tipo de
associação não-profissional do qual as empresas mais participam são as associações de
caridade, assinaladas por 19% das empresas entrevistadas. Em seguida vêm as associações
religiosas e de cidadania, cada uma com 14% de incidências. Participar em associações
ambientais e de moradores faz parte dos objetivos de 12% das empresas entrevistadas.
Tabela 36: Índice de participação em associações locais não-profissionais Tipo de associação: P agem de empresas que participam Culturais 8 Esportivas 9 Religiosas 14 De moradores 12 De caridade 19 De cidadania 14 Ambientais 12 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
otivos de sua não-utilização
B) Utilização de infra-estrutura regional e m
A utilização, pelas empresas do município, de infra-estrutura regional ainda é baixa se
considerarmos as interações dinâmicas que devem ser construídas entre os organismos
institucionais regionais e as empresas locais. O órgão regional mais utilizado, por 19% das
empresas entrevistadas, é o SEBRAE (ver Tabela 37 abaixo), seguido de consultorias
(utilizadas por 16% das empresas), do SENAI, por 15% e das universidades, por 10%. A
FIRJAN é utilizada por 9% das empresas entrevistadas, os laboratórios por 8% e o SESI por
T regional
Porcentagem das em utilizam
7%.
abela 37: Utilização de infra-estruturaTipo de infra-estrutura: presas que SEBRAE 19 Consultoria 16 SENAI 15 Universidades 10 FIRJAN 9 Laboratórios 8 SESI 7 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Os motivos citados para a não-utilização da infra-estrutura regional, assinalados por 59% das
empresas entrevistadas (ou seja, os motivos para não utilização concernem 59% das empresas
entrevistadas; isto quer dizer que 41% das empresas entrevistadas utilizam infra-estrutura
regional) vão desde “não vê necessidade”, motivo citado por 27% das empresas que não
utilizam infra-estrutura regional, à “falta de informação” (citado por 17% das empresas
concernidas), “qualidade ruim” (citado por 14% das empresas), “burocracia excessiva” (12%)
e “custo elevado”, motivo citado por 3% das empresas concernidas (ver Tabela 38 abaixo).
Tabela 38: Motivos citados para a não-utilização da infra-estrutura regional Motivos citados (por 59% das empresas entrevistadas): Porcentagem de respostas válidas Não vê necessidade 27 Falta de informação 17 Qualidade ruim 14 Burocracia excessiva 12 Custo elevado 3 Motivo indeterminado 27 FONTE: Pesquisa de campo, 2003. C) Avaliação da infra-estrutura regional/municipal e expectativas de atuação conjunta
com instituições no município ou na região
Do total das empresas entrevistadas, 9% avaliam a infra-estrutura regional/municipal como
boa ou muito boa, enquanto 91% a avaliam como ruim ou regular. Uma grande parte das
empresas entrevistadas (81%) gostaria de desenvolver cursos de capacitação com instituições
no município ou na região; 77% delas gostaria de compartilhar, com estas instituições,
serviços de desenvolvimento para as empresas e 66% de participar em eventos e feiras de
negócios (ver Tabela 39 abaixo).
Tabela 39: Expectativas de atuação conjunta com instituições no município ou na região Atividades desejadas: Percentual de empresas Participação em eventos e feiras de negócio 66 Curso de capacitação 81 Divulgação de marcas regionais 53 Central de compras 44 Escritório de comercialização no mercado interno 39 Escritório de comercialização no mercado externo 26 Central de logística 47 Serviços de desenvolvimento para a empresa 77
FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
D) Julgamento, pelas empresas, de suas relações com o município
Do total de empresas entrevistadas, 50% julgam boas as suas relações com o município, 32%
julgam estas relações como “média” e 18% como “ruim”. Os serviços federais instalados no
município ou na região são julgados satisfatoriamente (“bons”) por 40% das empresas
entrevistadas, “médio” por 42% e “ruim” por 15% dos entrevistados. De modo geral, estas
relações (tanto com os serviços institucionais municipais quanto com os federais instalados no
município ou na região) poderiam ser melhoradas para 77% das empresas entrevistadas.
E) Adesão institucional das empresas pesquisadas (participação em organismos,
sindicatos ou outras associações profissionais)
Este item, extremamente importante para averiguar a densidade institucional do território, nos
diz que 78% das empresas entrevistadas não são filiadas a nenhum órgão no município (ver
Tabela 40 abaixo). A filiação em apenas um órgão municipal é estabelecida por 17% das
empresas entrevistadas, e apenas 4% estão filiadas a dois ou mais órgãos no município. Ao
mesmo tempo, 83% das empresas entrevistadas não são filiadas a nenhum órgão da região,
15% das empresas são filiadas a apenas um organismo e 2% participam em dois ou mais
órgãos da região. O índice de participação das empresas locais é maior em organismos,
sindicatos e outras associações pertencentes ao âmbito do Estado do que em organismos
pertencentes à esfera municipal ou regional. No que se refere aos organismos estaduais, o
índice de não-participação cai para 66% e o índice de participação em apenas um órgão sobe
para 22% das empresas entrevistadas. Temos, no município pesquisado, 12% de empresas
entrevistadas que participam em pelo menos dois órgãos estaduais.
Tabela 40: Participação em organismos, sindicatos e outras associações profissionais Percentual de empresas e escala de participação: Localização dos órgãos profissionais: Nenhum órgão Em apenas um Em dois ou mais
No município 78 17 4 Na região 83 15 2 No estado 66 22 12 No Brasil 90 4 6 Soma 46 29 25 FONTE: Pesquisa de campo, 2003. F) Qualidade das relações com as administrações e serviços técnicos oficiais e com as
associações profissionais (independente de ser ou não associado)
o total das empresas entrevistadas, 30% julgam boa ou muito boa a qualidade de suas
relações com as administrações e os serviços técnicos oficiais, 33% a julgam ruim ou regular
e 37% foi indiferente a esta questão. Já no que diz respeito às suas relações com as
associações profissionais (independente de a empresa estar ou não associada), 37% das
empresas entrevistadas as qualificaram como boas ou muito boas, enquanto 21% as
qualificaram como ruim ou regular e 42% das empresas não se sentiram concernidas por esta
questão.
G) Utilização de serviços das instituições técnicas da região e sua avaliação por parte da
empresa
Esta questão sobre a utilização dos serviços das instituições técnicas da região repete um
pouco a questão que tratamos no item “B” acima, sobre a utilização da infra-estrutura
regional. Os órgãos são praticamente os mesmos (SEBRAE, SENAI, FIRJAN, SESI) e a
incidência em sua utilização também repete praticamente os mesmo valores. A novidade da
Tabela 41 (abaixo) é que ela traz o grau de utilização dos sindicatos, que em média não é
maior do que o de utilização dos serviços dos outros órgãos institucionais da região: 15% das
empresas entrevistadas disseram utilizar-se dos serviços dos sindicatos. Podemos então dizer
que o nível de sindicalização das empresas locais é baixo.
Tabela 41: Utilização dos serviços das instituições técnicas da região Instituições técnicas que têm seus serviços solicitados: Porcentagem de empresas que utilizam
os serviços
D
SEBRAE 18 SESI 7 SENAI 14
FIRJAN 10 SINDICATOS 15 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Do total de empresas entrevistadas, 23% avaliam estes serviços como “bons ou muito bons”,
31% avaliam como ruins ou regulares e 46% das empresas não avaliaram ou disseram que
estes serviços não influenciam no desempenho de suas empresas. Os resultados dessa
avaliação corroboram os índices verificados nas Tabelas 37 e 41, que apresentam baixos graus
de utilização desta infra-estrutura regional (ou dos serviços técnicos da região): no agregado,
77% das empresas entrevistadas ou não utilizam os serviços técnicos oferecido las
instituições da região ou consideram estes serviços ruins ou regulares.
5.6. Problemas, expectativas e previsões
Nesta seção avaliamos as principais dificuldades enfrentadas pelas empresas, do ponto de
vista dos empresários entrevistados, bem como algumas variáveis que dizem respeito a
projeções feitas por eles. Em relação às variáveis de projeção futura, notamos que muitas
vezes os empresários estavam influenciados por perspectivas otimistas suscitadas pela
expansão do Porto de Sepetiba e por um início de governo (as entrevistas foram realizadas em
meados de 2003, portanto no início do Governo Lula – 2003/2006), mas muitas vezes sem
uma real e sistemática avaliação da economia regional e setorial.
A) Principais dificuldades enfrentadas pela empresa
O quadro das principais dificuldades encontradas pelas empresas complementa a Tabela 30,
sobre as desvantagens de localização da empresa na região. Na Tabela 42 (abaixo) estão
listadas as dificuldades encontradas pela empresa que dizem respeito a fatores micro, e de
certa forma a melhoria destes fatores está ao alcance das empresas, ou seja, elas têm um certo
poder de intervenção sobre eles (a não ser sobre a taxa de juros e os empréstimos bancários,
que também aparecem na tabela). Já os fatores listados na Tabela 30, sobre as desvantagens
de localização, dizem respeito a variáveis locacionais territoriais que, num primeiro momento,
independem da atuação direta da empresa. As empresas só podem atuar sobre esses fatores
locacionais territoriais se elas tiverem uma atuação conjunta e coerente sobre o território e
suas instituições, o que depende da existência de organismos e sindicatos que representem
s pe
este conjunto de empresas e intercedam junto ao poder público local e à sociedade civil da
região.
Tabela 42: Principais dificuldades enfrentadas pela empresa Tipo de dificuldade: Sem importância Muito importanteInstalações inadequadas 81 19 Localização inadequada 82 18 Gestão da empresa 85 15 Qualificação da mão-de-obra 75 25 Gestão do emprego 82 18 Equipamento 78 22 Qualidade do produto ou do serviço inadequada 86 14 Defasagem tecnológica em relação à concorrência 79 21 Capacitação 78 22 Matéria-prima e insumos : acesso ou custo 69 22 Fornecedores inadequados 84 13 Clientes 64 36 Informações sobre o mercado potencial 72 28 Comercialização 74 25 Concorrência intensificada 39 61 Empréstimos bancários : acesso ou custo 52 46 Taxa de juros 36 62 Falta de capital de giro 42 58 Falta de capital para investimentos 38 61 Burocracia 25 75 Carga tributária elevada 21 79 Forma de tributação inadequada 34 66 Retorno dos investimentos inadequado 53 47 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Também no quesito “dificuldades encontradas pelas empresas”, foi perguntado às empresas –
apenas para as de micro e pequeno porte – se o fato delas serem micro ou pequenas
representava alguma dificuldade de atuação. Do total das empresas concernidas, 36% dos
entrevistados disseram que isto representava, sim, uma dificuldade de atuação.
B) Perspectiva de crescimento para o seu mercado nos próximos três anos
Do total de empresas entrevistadas, 61% têm uma expectativa de crescimento para o mercado
nacional na sua área de atuação, nos próximos três anos (2004, 2005 e 2006). Apenas 8% têm
uma expectativa de evolução decrescente do mercado nacional e 29% das empresas
entrevistadas acreditam que o mercado continuará estável. Essas expectativas superam a
média no setor de transportes e atividades anexas ligadas ao Porto de Sepetiba: neste setor, a
expectativa de crescimento foi destacada por 89% das empresas, enquanto 11% têm uma
expectativa estável no que se refere à evolução do mercado. Nenhuma empresa neste setor
considerou que o mercado possa se encolher nos próximos três anos. Nos outros três setores
analisados, a expectativa de crescimento dos mercados ficou sempre abaixo da média da
amostra: para o setor de prestação de serviços às empresas, uma expectativa de crescimento
foi destacada por 57% das empresas entrevistadas; no setor industrial, por 52% das empresas
e no setor da construção civil e atividades anexas por 47% das empresas entrevistadas.
Se considerarmos as empresas apoiadas e as não apoiadas, tivemos, para o primeiro grupo, um
índice de expectativas positivas em relação ao crescimento dos mercados de 93%, enquanto
nas empresas não apoiadas as expectativas positivas de crescimento do mercado foram
destacadas por 56% das empresas entrevistadas.
C) Perspectivas do empresário nos próximos 3 ou 5 anos em relação a atividade atual,
mão-de-obra, organização, capacitação e financiamento
Quando perguntado sobre as suas perspectivas nos próximos três a cinco anos sobre a
evolução do nível de atividade, 85% dos empresários entrevistados disseram que a sua
perspectiva é a de “aumentar”, enquanto 13% respondeu que a empresa deveria “manter” o
nível de atividade atual. Em relação ao uso da mão-de-obra, 65% dos empresários
entrevistados têm como perspectiva aumentar a sua quantidade, ao passo que 32% pretendem
manter a quantidade atual da mão-de-obra. Já em relação à organização da empresa, 68% dos
empresários entrevistados pretendem desenvolvê-la, enquanto 22% pretendem mantê-la tal
como está. Em relação à capacitação de sua mão-de-obra, 82% dos empresários pretendem
melhorá-la, enquanto 17% pretende mantê-la em seu nível atual. Finalmente, no que diz
respeito à perspectiva de financiamento nos próximos três a cinco anos, 80% dos empresários
entrevistados pretende “poupar” e 20% pretende “tomar emprestado”. Dentre os que
pretendem tomar emprestado, 4% pretendem, inclusive, aumentar o seu endividamento.
5.7. Análise e interpretação dos dados: uma tentativa de mensuração qualitativa do
capital social
Como acabamos de ver através da interpretação dos dados primários, o ambiente institucional
e o grau de adesão, por parte das empresas, a este ambiente institucional, bem como as
relações econômicas de proximidade que poderiam favorecer a formação de redes entre
empresas são, de modo geral, fracos no município pesquisado. As relações interfirmas, mas
também as relações entre as firmas e o quadro institucional do município são pouco
desenvolvidas, assim como se encontram ainda em forma bastante latente os instrumentos de
ação dos organismos públicos locais. Ao mesmo tempo, a sociedade civil é pouco mobilizada
e suas ações e esferas de organização, quando existem, estão pouco voltadas ou canalizadas
para a esfera produtiva.
No que diz respeito ao objeto de análise do capítulo 6, as ações da sociedade civil orientadas
para o desenvolvimento local do município só agora (durante o ano de 2003) começam a
ganhar corpo, através da constituição das Comissões de Coordenação e de Gestão do Plano
Diretor. A criação de capital social, ou a transformação de formas latentes do capital social
em formas maduras ou institucionalizadas, passa pela formação de redes formais e informais
entre as três esferas intermediárias de coordenação, abrangendo a sociedade civil, o poder
público local e o tecido empresarial do município. São dois tipos de redes que vínhamos
considerando: as redes de tipo aparelho, que se referem às relações institucionais entre as
firmas e os organismos interlocutores, as estruturas de suporte e os demais órgãos públicos e
serviços técnicos oficiais; e as redes de relações sociais, que podem ser formais ou informais.
Estas últimas abrangem não só as redes interfirmas (redes de conhecimento, redes
profissionais e participação em associações profissionais), mas também as redes entre as
firmas e a sociedade civil e as redes entre a sociedade civil e o poder público local (e suas
instâncias de representação). O estoque de capital social envolve todos estes tipos de relações
sociais e de redes formais e informais e o seu nivelamento é indicado pelo grau de coesão e
pela institucionalização dessas redes e relações. Para termos uma idéia do nível do estoque de
capital social existente no município, basta revermos algumas das variáveis que foram
expostas no quadro de análise, à luz das propriedades teóricas do conceito de capital social.
As empresas do município têm uma baixa propensão em fazer arranjos cooperativos com
outras empresas ou instituições de apoio. Mesmo frente a ambientes competitivos ou hostis, a
estratégia das empresas não é voltada para a formação de redes de parceria. Perguntadas sobre
que tipo de reação elas adotaram para se adequar ao processo de abertura do mercado nos
anos 1990, as empresas do município não escolheram a formação de parcerias como a melhor
estratégia. As mudanças no ambiente econômico externo não deflagraram, por parte das
empresas, uma maior preocupação com a formação de redes. O ajuste que as empresas
fizeram em função do processo de abertura de mercado dos anos 1990 foi um ajuste
direcionado para a melhoria de equipamentos e processos e para o aprendizado tecnológico, e
não para a formação de parcerias, redes e arranjos cooperativos com outras empresas e
instituições de pesquisa. Ao mesmo tempo, as empresas pouco investiram em iniciativas
coletivas nos últimos anos. O investimento, por parte das empresas, em iniciativas coletivas
foi praticamente inexistente.
No entanto, uma boa parte das empresas entrevistadas (55%) disse ter algum tipo de interação
com as empresas concorrentes. Esta questão deixa entrever um nível de interação que não
aparece nas outras questões que se referem à cooperação ou outras formas de associação com
outras empresas (clientes, fornecedoras ou concorrentes). Quando as empresas são incitadas a
dizer qual é o tipo de relação que ela estabelece com as empresas concorrentes, três
fenômenos podem ter acontecido: ou elas não souberam especificar o tipo de interação, ou a
interação é bastante informal e “não vale à pena ser indicada no questionário” ou então esta
interação se refere muito mais a uma intenção ou a uma “interação não correspondida”,
fazendo com que o nível realmente existente de interação seja muito menor do que o grau de
interação indicado nas entrevistas. Desta forma, o índice de interação efetivo fica abaixo dos
55% citados nesta questão.
No que se refere à geografia das transações das empresas e à possibilidade de se formarem
relações econômicas de proximidade, a análise da origem (procedência) dos equipamentos
comprados pelas empresas e de suas matérias-primas revela que as relações de proximidade
são pouco comuns no sítio pesquisado e que as relações de compra ocorrem preferencialmente
com empresas estabelecidas na capital do Estado do que com outras empresas da região. Isto
reflete tanto a falta de mercado local para os produtos procurados quanto a falta de iniciativa
para suprir este mercado. Pior do que este quadro estático, se considerarmos sua evolução
recente parece (pelas entrevistas colhidas) que o saldo é o de um crescimento da demanda
pelos equipamentos que provêm de outros lugares do Estado. Ou seja, assistimos a um recuo
por parte do município de Itaguaí e de sua região de entorno no que diz respeito ao
fornecimento de equipamentos para as empresas entrevistadas. Da mesma forma como
aconteceu com a origem dos equipamentos, pode-se notar que nem o município pesquisado
nem sua região de entorno constituem-se em fornecedores importantes de matéria-prima para
as empresas do município. Mais uma vez, é o município do Rio de Janeiro que se constitui na
principal área de origem das matérias-primas compradas pelas empresas de Itaguaí. Assim,
podemos notar um recuo no volume de fornecimento por parte das empresas que estão
instaladas em Itaguaí, a favor de um maior volume de compra e de uma maior busca pelos
equipamentos, matérias-primas e demais fornecimentos provenientes, principalmente, do
município do Rio de Janeiro. Isto tanto pode ser uma conseqüência de uma perda de
dinamismo dos fornecedores locais quanto o resultado de um descomprometimento, por parte
das empresas instaladas na região, em dinamizar e incentivar o mercado local.
Ainda no quesito da geografia das transações, as empresas subcontratadas provêm, em sua
maioria, do Estado do Rio de Janeiro (o que inclui o município do Rio de Janeiro) e a base
sob a qual se estabelece a relação de subcontratação é, antes de tudo, a proximidade técnica e
econômica entre a subcontratante e a subcontratada. Em apenas 16% dos casos o fator
responsável pelo estabelecimento da relação de subcontratação foi a proximidade geográfica.
A proporção de empresas que participam de algum tipo de associação e/ou cooperação com
outras empresas é baixa: 13% das empresas entrevistadas. Também na amostra de empresas
entrevistadas, apenas 17% delas afirmou estabelecer algum tipo de parceria com outras
empresas. Vimos que o setor apoiado (transportes e atividade portuária) é o que mais coopera
e que os demais setores pesquisados cooperam pouco. Uma das funções do programa de apoio
representado pelo Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba (como veremos
no capítulo seguinte), na medida em que a sua atuação se estenda por toda a economia de
Itaguaí, é fazer com que as empresas dos outros setores de atividade passam a ser incluídas
nessas redes de cooperação. Obviamente, não é necessário que o programa de apoio do Porto
de Sepetiba se estenda à todo o universo de empresas de Itaguaí, mas há uma série de
empresas em diferentes setores que poderiam vir a se apropriar dos efeitos de
transbordamento provocados a partir do programa de expansão e de ampliação do Porto de
Sepetiba.
Além da participação em algum tipo de associação ou cooperação com outras empresas, foi
perguntado às empresas se elas estabelecem alguma outra relação com as empresas clientes,
fornecedoras ou concorrentes, e quais tipos de relações seriam essas. O tipo de relação mais
estabelecida entre as empresas refere-se à troca de informações (81% das empresas
entrevistadas). Em seguida, o tipo de relação mais estabelecida é o compartilhamento de
equipamentos (41% das empresas entrevistadas) e os ensaios conjuntos para o
desenvolvimento e a melhoria de insumos, produtos e processos (35% das empresas
entrevistadas). No entanto, estas relações se fazem, majoritariamente, com as empresas
clientes ou com as empresas fornecedoras, mas muito raramente com as empresas
concorrentes. Esta constatação contradiz a resposta dada pelas empresas quando foi
perguntado “Se a empresa possui interação com as concorrentes?” que, colocada de forma
aberta, incitou um índice de respostas afirmativas de 55% entre as empresas entrevistadas.
O quadro de análise nos permitiu também avaliar a intensidade da adesão institucional das
empresas do município, através de sua participação em órgãos profissionais, das relações com
as administrações e serviços técnicos oficiais e com as associações profissionais, com as
instituições de ensino e pesquisa, da utilização de serviços das instituições técnicas da região e
do uso da infra-estrutura regional.
De modo geral, há um baixo índice de representação, por parte das empresas, em organismos
profissionais do município. Uma vez que as empresas entrevistadas declararam participar de
organismos, sindicatos e outras associações profissionais, essa participação ocorre, sobretudo,
através de organismos estaduais e menos através dos organismos municipais. Ao mesmo
tempo, a análise das relações que as empresas entrevistadas têm com as administrações e
serviços técnicos oficiais e com as associações profissionais não parecem ser muito boas. As
empresas do sítio pesquisado mantêm, ainda, poucas relações com as instituições de ensino e
pesquisa.
No que se refere à utilização dos serviços das instituições técnicas da região, estes também
são bastante sub-utilizados pelas empresas. Entre os serviços regionais utilizados pelas
empresas entrevistadas, destaca-se a utilização da infra-estrutura do SEBRAE (por 18% das
empresas), seguida dos sindicatos (15%) e do SENAI (14%). Estes índices de utilização estão
bem abaixo do grau de participação que se espera ter para considerar satisfatória a adesão
institucional das empresas de uma região. Nenhuma instituição regional parece usufruir uma
preferência por parte das empresas, nem exercer sobre elas uma grande atração ou ainda
possuir um monopólio de intervenção sobre o município. Pelo lado industrial, as empresas
entrevistadas não contam senão bastante moderadamente com o SESI (7%) e a FIRJAN (9%).
Essa subutilização poderia reforçar a idéia do caráter pouco desenvolvido do tecido industrial
local.
Entre os 59% de empresas entrevistadas que afirmaram não fazer uso da infra-estrutura
regional, quase a metade alegou não ver a necessidade de sua utilização. O mais preocupante,
talvez, refere-se aos 32% das empresas concernidas que alegaram razões de
“inacessibilidade”: falta de informação para 17%, burocracia excessiva para 12% e custo
elevado para 3%. Ao mesmo tempo, a má qualidade da infra-estrutura regional afasta as
empresas. A maioria das empresas entrevistadas (91%) considera a infra-estrutura regional de
qualidade ruim ou regular.
As empresas entrevistadas participam timidamente das atividades das associações locais. O
tipo de associação não-profissional do qual as empresas mais participam são as associações de
caridade, assinaladas por 19% das empresas entrevistadas. Em seguida vêm as associações
religiosas e de cidadania, cada uma com 14% de incidências. Participar em associações
ambientais e de moradores faz parte dos objetivos de 12% das empresas entrevistadas. Este
tipo de associação entre o tecido empresarial e as representações da sociedade civil seria um
item importante na criação de formas maduras e desenvolvidas de capital social, que
poderiam germinar formas ativas de reação autônoma por parte do território. No entanto, os
tipos de associações assinalados com maior freqüência dizem respeito a fins religiosos ou de
caridade, o que não contribui para a assimilação e a formação de uma proposta conjunta (entre
a sociedade civil e o tecido empresarial) de desenvolvimento local.
Pelo que constatamos nos parágrafos anteriores, tanto a formação de redes de cooperação e
parceria ainda é muito incipiente como a adesão institucional por parte das empresas é
insuficiente. Da mesma forma, não existem articulações entre a sociedade civil e o tecido
empresarial que tenham conotação produtiva, assim como os serviços técnicos e organismos
oficiais do município, que deveriam prestar serviços de apoio às empresas, estão pouco
desenvolvidos. Finalmente, as relações entre o poder público local e a sociedade civil são
frágeis, e esta pouco se faz representar nos conselhos e órgãos municipais. Os padrões de
organização da sociedade civil são bastante verticais e a hierarquia prevalece como forma de
relacionamento entre as instâncias do poder público municipal e as representações da
sociedade civil. Veremos no próximo capítulo de que forma, e através de quais mecanismos,
apesar das formas ainda muito latentes de constituição do capital social, os atores sociais de
Itaguaí podem fazer emergir formas mais maduras e produtivas de capital social.
5.8. Conclusão
Neste capítulo apresentamos os dados primários, complementando a análise dos dados
secundários, feita no capítulo 4. Através da escolha de cinco conjuntos de variáveis, todas elas
extraídas do questionário que aplicamos às empresas do município, tivemos por objetivo,
neste capítulo, diagnosticar a existência de redes e mensurar a sua densidade e coesão. Essas
redes disseram respeito tanto às redes inter-empresas quanto às relações entre o tecido
empresarial e o quadro institucional local. As variáveis analisadas também nos repassaram
informações sobre os modos de gestão interna das empresas e suas relações com o mercado de
trabalho, além de darem uma medida da proximidade geográfica presente nas transações
econômicas (com fornecedores e clientes). O tipo de relações que as empresas estabelecem
com as empresas clientes, fornecedoras e concorrentes, se estas relações são motivadas pela
parceria e pela cooperação ou pela competição e se elas são fruto de uma proximidade técnica
ou geográfica, também foi analisado. Nas últimas seções do capítulo, foram enfatizadas as
relações das empresas com as suas representações de classe, suas associações, os sindicatos,
com a infra-estrutura institucional local e com os serviços de apoio do município, e chamamos
este conjunto de relações de adesão institucional das empresas locais.
Pelos índices mostrados de participação e de vínculo das empresas do município ao quadro
institucional local, verificamos que a adesão institucional destas empresas está bastante
aquém do que se poderia esperar de um ambiente produtivo caracterizado pelas propriedades
de um distrito industrial ou de um sistema produtivo localizado, como vimos na parte teórica
deste trabalho (capítulo 2). O grau de coesão e a densidade das relações entre as firmas e entre
as firmas e o quadro institucional local é ainda insuficiente para esperarmos da sociedade
local uma estratégia coerente de reação à pressão heterônoma que é exercida exogenamente.
Esta pressão heterônoma corresponde à implantação do Projeto Sepetiba, cujos modos de
execução e gestão vêm sendo impostos de cima para baixo, com efeitos de indução pensados
de fora para dentro a partir da suposição de que a imposição de um projeto de modernização
portuária, com todas as reformas de infra-estrutura logística que ela traz, traria impactos
estruturantes e definitivos sobre a organização produtiva local. Até o momento, tanto o tecido
empresarial local, como a sociedade civil e o poder público municipal não têm reagido, de
uma maneira suficientemente coesa, a esta visão que é imposta por quadros externos ao
território. Uma reação autônoma e coerente por parte destes atores locais poderia redirecionar
esta trajetória de modernização portuária, que foi concebida por quadros políticos e setoriais
externos ao território.
A discussão sobre o engajamento da sociedade civil num projeto de inserção produtiva que
possa colocar o município e a região numa trajetória de desenvolvimento local, trajetória esta
que, se bem sucedida, chamaremos de economia portuária localmente integrada (será o
terceiro cenário proposto na seção 6.3 do capítulo seguinte), é fundamental para o que
chamamos na parte teórica do estabelecimento de uma estratégia de reação autônoma, que não
visa refutar a lógica de modernização portuária, mas absorvê-la e redirecioná-la segundo os
interesses genuinamente locais, integrando todos os atores e os grupos sociais num projeto
comum de desenvolvimento. As redes entre as empresas são fundamentais para se criar um
ambiente propício à inovação e à troca de informações, reduzindo custos e proporcionando
economias de escala e efeitos de aglomeração; as redes entre as empresas e o quadro
institucional local são fundamentais para que estas empresas possam se tornar objeto de apoio
dos serviços técnicos oficiais, participando, junto aos organismos municipais, de programas
de financiamento, de capacitação, de desenvolvimento de novos produtos e serviços e,
principalmente, conhecendo, junto aos formuladores de uma política de desenvolvimento para
o território, qual seria a melhor estratégia de inserção produtiva e desenvolvimento local a
médio e longo prazos. Mas é somente com a participação da sociedade civil, através de suas
instâncias de representação, que os frutos do desenvolvimento econômico e as externalidades
por ele geradas podem ser distribuídos para o conjunto da população de modo a ampliar os
efeitos induzidos do crescimento. Em primeiro lugar é necessário que os valores excedentes
gerados pelo processo inicial de expansão (no nosso caso, em função da modernização e da
ampliação do Porto de Sepetiba) permaneçam no território e sejam reinvestidos de modo a
induzir a formação de novos valores adicionados. Em segundo lugar, é necessário que haja
uma distribuição deste valor excedente gerado de forma a potencializar, no município, a
formação de mercados e a inserção econômica. Este propósito poderá ser perseguido e
alcançado através da participação da sociedade civil. Foi por isso que, na parte teórica,
assinalamos a importância da mobilização, para o surgimento de uma estratégia de reação
autônoma por parte do território, das três formas intermediárias de coordenação, quais sejam:
o poder público local, o tecido empresarial (as empresas e os seus organismos de
representação) e a sociedade civil. Sem a articulação destas três formas intermediárias de
coordenação em torno de um projeto comum de desenvolvimento, este corre o risco de tornar-
se um desenvolvimento excludente ou, no máximo, setorial.
Neste capítulo demos especial ênfase ao vértice empresas do nosso triângulo de relações
sociais e econômicas tripartites, enfatizando as relações entre as empresas e também as
relações entre as empresas e o ambiente institucional local (ou o aparato regulador local).
Veremos agora, no capítulo 6, como a sociedade civil e a municipalidade podem se inserir
num projeto de desenvolvimento econômico local, mesmo tendo sido este projeto concebido,
implantado e executado de fora para dentro, em seus momentos iniciais sem a participação do
poder público local, da sociedade civil organizada e nem tampouco do tecido empresarial
local. A gestão do Projeto Sepetiba não vinha considerando, até agora, as formas
intermediárias de coordenação das relações econômicas, sociais e da organização produtiva
do território escolhido para a implantação do projeto, o que vinha fazendo deste projeto o
responsável pelo surgimento de um surto de expansão econômica restrito à área de influência
mais direta do Porto de Sepetiba, como nos mostraram os dados secundários analisados no
capítulo 4. Como veremos no capítulo 6, o projeto de desenvolvimento até aqui adotado (em
torno da ampliação e da modernização do Porto de Sepetiba), não tem sido diferente daqueles
que caracterizaram a era industrial (desenvolvimentista), pois envolvem, em sua concepção e
execução, apenas as formas tradicionais de coordenação econômica, representadas pelo
Estado (em suas mais altas instâncias de representação) e o mercado (através de suas formas e
mecanismos de regulação). Como vimos no primeiro capítulo, trata-se de uma visão parcial
do desenvolvimento, que ignora todas as suas especificidades e as suas propriedades
sistêmicas e institucionais.
Capítulo 6: Diagnóstico sobre as possibilidades de se alavancar um processo de
desenvolvimento local endógeno na região
Introdução: a hipótese adotada para a construção de redes e relações sinérgicas
Este capítulo buscará aplicar, para o município de Itaguaí e tendo em vista as transformações
pelas quais passam sua configuração produtiva, o conceito de capital social e seus
desdobramentos em termos de formação de um ambiente econômico e institucional propício
para a incorporação de novos arranjos institucionais que permitam a este território buscar uma
inserção nos mercados regionais e nacional. Faremos aqui uma resenha crítica sobre as
potencialidades de desenvolvimento local existentes no sítio pesquisado, cujo resultado
reunirá uma síntese da discussão teórica com a análise do material empírico coletado na
pesquisa de campo (questionários às empresas mais o material registrado em entrevistas e
visitas às instituições locais).
Os novos arranjos institucionais, se bem sucedidos, deveriam facilitar a adoção, pelo
território, de inovações tecnológicas, organizacionais e sociais através de suas múltiplas redes
e interações entre a sociedade civil, o Estado e o empresariado local. A partir da compreensão
de que existem formas intermediárias de coordenação, territorializadas e que se manifestam
através da construção de redes, e que estas redes são a expressão da reação autônoma, cuja
capacidade em reverter a pressão heterônoma depende do estoque de capital social do
território, está aberto o caminho para a associação entre capital social e desempenho
econômico.
A formação e a constituição de instituições formais e informais locais é um passo importante
para o início de um processo de desenvolvimento endógeno e para a construção de uma
identidade territorial que permita aos atores locais colocar em curso alguma modalidade de
reação autônoma. O construto sobre o qual se erigirão as formas da reação autônoma são as
instituições locais, que representam o poder público, o tecido empresarial local e a sociedade
civil organizada, e sobre esta base se complementarão as redes e as relações formais e
informais.
Temos, de um lado, instituições formais que visam a regulação social e econômica de um
território e, de outro, um conjunto difuso de instituições, regras e comportamentos que
permeiam a atividade econômica e social desse mesmo território, formado por um somatório
de redes e relações informais. Esses dois pólos da vida econômica do território precisam estar
interligados para que se desenvolva, neste espaço, um processo de desenvolvimento
endógeno. Eles precisam estar articulados e é preciso haver uma sinergia entre esses dois
pólos para que se crie uma dinâmica de desenvolvimento. Esta sinergia pode surgir de forma
autônoma, pode ser o fruto de um alto estoque de capital social herdado de um passado
longínquo (hipótese de Putnam, 1993, para o Norte da Itália), ou pode ser o resultado da
construção de relações sinérgicas entre os grupos de atores sociais (esta será a hipótese
adotada neste capítulo).
Nos países em desenvolvimento – o que certamente se aplica para o sítio que está sendo
pesquisado – há uma lacuna de instituições formais voltadas para o desenvolvimento, ou as
instituições que existem são insuficientes (North, 1990). Muitas vezes as instituições formais,
que visam a regulação social e econômica num nível local, são bastante frágeis, não estão
consolidadas ou suficientemente arraigadas àquele território nem devidamente articuladas às
suas instituições informais e redes de relações interpessoais. Desta forma, as instituições
formais locais dificilmente compartilham dos hábitos, costumes, valores, crenças, rotinas e
normas de comportamento existentes na comunidade. Neste caso, falta uma sinergia entre as
instituições formais e as informais.
Já as instituições informais estão mais propensas a existir, nestes contextos, do que as
instituições regulatórias (formais). Pelo fato das instituições informais estarem presentes nas
redes de relações entre pessoas e nas normas de conduta e de comportamento de grupos
sociais, a sua existência em sociedades menos desenvolvidas economicamente é mais
provável do que a presença de instituições formais. O que faltaria a estas sociedades, além do
preenchimento da lacuna observada pela ausência de instituições formais, seria uma espécie
de transformação dessas relações informais em redes de relações com finalidades produtivas
ou agregadoras de valor, transformando relações de vizinhança, relações familiares e redes de
conhecimento ou de pertencimento a um grupo em relações econômicas geradoras de renda.
Tratar-se-ia de uma canalização de recursos humanos e fatores intangíveis (capital social em
sua forma latente) em direção à sua utilização produtiva e à sua realização econômica. Peter
Evans (1986) chamou esta canalização de recursos difusos para fins propriamente econômicos
de passagem de um nível micro de relações interpessoais – onde existem níveis de confiança
não desprezíveis – para um nível macro, onde estas relações de amizade e de confiança seriam
institucionalizadas e regulamentadas. Peter Evans chamou de “scaling up” a transformação de
laços pessoais e comunitários em formas institucionais e organizacionais mais abrangentes
que repercutam, de alguma forma, na esfera econômica e no circuito das trocas sociais.
Vimos, num dos capítulos teóricos, como existem na literatura duas formas de se entender os
processos históricos de constituição de redes e de criação de capital social, e a partir daí a sua
vinculação ao desempenho econômico. Por um lado, a hipótese do determinismo histórico
pretende que o estoque de capital social existente em uma sociedade seja o resultado de um
longo processo de acumulação. Adota-se o princípio da subordinação à trajetória (path
dependency) na qual as sociedades que apresentam, desde a sua constituição, sistemas
democráticos de representação, fortes vínculos horizontais e modos não-autárquicos de
resolução de conflitos, formam instituições fortes que se legitimam com o tempo e reforçam
os sistemas de participação cívica. Segundo esta interpretação, o estoque de capital social de
uma determinada sociedade seria um legado histórico que dificilmente pode ser construído em
períodos curtos de tempo. Os estoques de capital social, como confiança, normas e sistemas
de participação cívica, tendem a ser cumulativos e a reforçar-se mutuamente.
Disto se depreende que sociedades arcaicas, cujas relações sociais sejam fortemente marcadas
pela hierarquia e que utilize modos autárquicos de resolução de conflitos, incentivando o
clientelismo e o assistencialismo, não são sociedades capazes de produzir boas instituições
nem tampouco de criar hábitos, rotinas e convenções que promovam regras de reciprocidade e
confiança generalizada. Nessas sociedades, a inexistência das virtudes de uma comunidade
cívica também é algo que tende a auto reforçar-se com a passagem do tempo. Putnam (1993)
parece insistir na hipótese de que existem dois equilíbrios sociais que são estáveis e contínuos
ao longo do tempo, pois são retroalimentados. Com isto, enfatiza a natureza histórica do
processo de acumulação de capital social, pois o seu estoque resulta de uma dotação inicial e
depende de uma trajetória cumulativa. Seguindo este raciocínio, estratégias deliberadas e a
intervenção proposital não poderiam criar capital social.
Por outro lado, pela hipótese de construtivismo social, uma sociedade pode construir boas
instituições em períodos relativamente curtos de tempo, a partir do engajamento de sua
população em programas de apoio que visem à reformulação destas instituições. Na trajetória
de um determinado território existem pontos de bifurcação que podem ser originados por fatos
históricos, políticos e econômicos, externos ou não ao ambiente sócio-produtivo e que podem
significar a passagem de uma longa fase de estagnação econômica e social a um círculo
virtuoso de desenvolvimento endógeno. Apesar desta transformação exigir uma certa
maturação das instituições locais, o que implica a passagem do tempo, o que está em jogo é
que esta passagem não está condicionada a uma dotação prévia de capital social acumulado.
No caso que nos propomos a estudar (o desenvolvimento econômico local de Itaguaí), este
ponto de bifurcação é representado pelo Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de
Sepetiba 71, cujos momentos históricos e fatos determinantes serão analisados a seguir.
A hipótese do construtivismo social de Peter Evans (1996) baseia-se na construção de uma
base social propícia para o estabelecimento de relações sinérgicas entre agentes do Estado e
membros da sociedade civil. O capital social é formado a partir do momento em que agentes
públicos incorporam em seus projetos profissionais os anseios de uma determinada
localidade. Redes de confiança e de parceria são criadas entre agentes públicos e a sociedade
civil, relações que trespassam a fronteira entre o público e o privado e que movem o Estado e
a sociedade civil em uma ação conjunta. Adicionar laços concretos que atravessem os limites
entre o Estado e a sociedade civil à laços anteriormente existentes de amizade e relações
familiares ajuda a transformar redes tradicionais em redes que criam capital social.
No confronto entre essas duas hipóteses (determinismo versus construtivismo) devemos nos
perguntar se a possibilidade de sinergia depende de dotações sociais e culturais que devem ser
tomadas como dadas ou se, contrariamente, a aplicação de criativos arranjos institucionais e a
adoção de novas tecnologias sociais podem produzir relações sinérgicas em períodos de
tempo relativamente curtos? A segunda hipótese – a do construtivismo – incorpora-se à
abordagem evolucionista segundo a qual há uma co-evolução das instituições sociais e das
relações de troca econômicas. Ao adotarmos esta hipótese, estaremos admitindo que a história
das instituições sociais em um determinado território interfere positiva ou negativamente
sobre as relações econômicas no interior deste território, mas também nas relações de troca
entre este território e os espaços econômicos que o cercam, atuando como uma força
autônoma de reação às leis do mercado.
71 Nas páginas seguintes poderemos indistintamente utilizar a denominação completa do projeto, qual seja, Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba, ou abreviá-la para Projeto Sepetiba, pelo fato de ter sido este o codinome adotado pelas autoridades nacionais que conceberam a expansão do Porto de Sepetiba.
Sob a hipótese do construtivismo, adotada neste trabalho, as relações sociais
institucionalizadas interferem nas relações de troca econômicas, redirecionando as forças
econômicas e adaptando-as ao contexto local. Cabe, portanto, aos atores locais, mobilizarem-
se através da institucionalização de suas relações sociais, constituindo assim uma força de
reação à pressão heterônoma exercida pelas leis econômicas e pelas configurações importadas
do ambiente externo (como, por exemplo, a configuração desejada pelas autoridades para as
funções a serem exercidas pelo Porto de Sepetiba). As relações sinérgicas serão então
construídas através da institucionalização das relações sociais de um determinado território,
podendo para isso contar com a atuação de agentes do Estado e membros da sociedade civil.
Neste caso, a sinergia se torna uma possibilidade latente em vários contextos, bastando para
isto uma articulação positiva entre empreendimentos institucionais.
Uma das maiores restrições à criação de sinergia é a falta de capital social de uma
determinada sociedade. Mas uma dotação preexistente de capital social não é o principal fator
restritivo para o estabelecimento de um processo endógeno de desenvolvimento econômico. A
questão é saber se nos países do Terceiro Mundo a dotação de capital social é tão pequena a
ponto de excluir a possibilidade de criação de sinergia ou se, contrariamente, as normas, os
costumes e as redes que caracterizam suas comunidades podem se constituir em um terreno
suficientemente fértil para a construção de projetos de desenvolvimento que levem em
consideração a articulação entre os agentes públicos e privados. Os limites parecem ser menos
impostos pela densidade inicial de confiança e redes no nível micro (estoque preexistente de
capital social) do que pela incapacidade ou dificuldade em dar o “pulo do gato” entre este
nível micro de relações interpessoais e um nível mais abrangente e complexo de criação de
laços de solidariedade e ação coletiva, numa escala em que estas relações sejam politicamente
e economicamente eficazes.
Em outras palavras, o problema principal em contextos do Terceiro Mundo não é a ausência
de capital social no nível micro (redes de relações formais e informais), mas transformar
(scaling up) laços pessoais e comunitários em formas institucionais e organizacionais mais
abrangentes, que facilitem a boa governança e possam ter uma escala econômica e política
que favoreça o desenvolvimento. O papel do Estado ou dos agentes públicos é o de dar
suporte nesta transformação das redes locais interpessoais em formas organizacionais mais
abrangentes e desenvolvidas (scaled-up organizations). Não se pode negar a importância do
capital social existente no nível micro para a construção de relações sinérgicas. Laços de
amizade e de vizinhança baseados em confiança e construídos a partir de relações
interpessoais diárias são fundamentos essenciais. Sem estes laços não se teria nada sobre o
que se construir. Se não ocorrer a sinergia, não é porque as comunidades ou as relações de
vizinhança eram muito dissipadas ou havia uma ausência de confiança, mas porque algum
outro ingrediente crucial faltou. E o candidato mais provável a preencher este espaço do
ingrediente ausente é um leque de instituições formais competentes e engajadas.
Dotações preexistentes de capital social são recursos valiosos na construção de relações
sinérgicas, mas não se constituem como o fator escasso por excelência. Comunidades que se
beneficiam de sinergia não necessariamente gozavam de altos níveis de capital social
anteriormente. Mais crucial é a questão de se escalar (scaling up), a partir do capital social
existente, em direção à criação de organizações que são suficientemente capazes de perseguir
metas de desenvolvimento. Um sistema político competitivo conduzido por algumas regras
mutuamente reconhecidas, estruturas sociais igualitárias e uma robusta burocracia facilitam a
emergência de sinergia. A raridade da combinação destas circunstâncias em países do
Terceiro Mundo não deve tornar os projetos conjuntos entre Estado e sociedade uma quimera
inatingível ou obra de ficção. Pequenos sucessos podem ser alcançados mesmo em situações
macro adversas. Mesmo em sociedades fragmentadas, expostas a um governo desorganizado e
autoritário, estratégias institucionais inovativas podem induzir a sinergia, ainda que seja em
pequena escala. Mesmo em ambientes sociais e políticos desfavoráveis, inovações culturais e
organizacionais criativas podem dar bons resultados. Alguns pequenos sucessos podem ser
alcançados em sociedades fragmentadas e sem instituições públicas robustas.
Na seção seguinte compararemos algumas propriedades e características dos sistemas
produtivos localizados com alguns aspectos da realidade local, inferidas a partir da pesquisa
de campo. Na seção 6.2 falaremos sobre a idealização, a concepção e a implantação do
Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba, derivando daí algumas
conclusões acerca de seus modos de execução e gestão. Na seção 6.3 descreveremos três
alternativas de desenvolvimento local para o município, excludentes entre si e cada uma
pressupondo algum tipo de integração e articulação entre a economia portuária e a economia
do município de Itaguaí. Na seção 6.4 falaremos dos desafios institucionais que se antepõem a
um projeto de desenvolvimento econômico local para o sítio pesquisado, passando pelo papel
dos programas de apoio, pelo grau de mobilização da sociedade civil local e pela
possibilidade de se criar capital social a partir das negociações (atuais) em torno da
elaboração de seu novo Plano Diretor.
6.1. Confrontação de aspectos da realidade econômica e social de Itaguaí com algumas
propriedades dos sistemas produtivos localizados
Poderíamos começar esta seção com a seguinte questão de âmbito mais geral, que nos
permitirá concatenar os modelos estilizados vistos na parte teórica com os resultados
observados a partir do trabalho de campo: as características gerais dos sistemas produtivos
localizados estão presentes em Itaguaí? De antemão, poderíamos afirmar que Itaguaí não se
constitui, obviamente, num distrito industrial ou muito menos em um sistema produtivo
localizado. Mas porquê não? As razões desta afirmativa, cujas origens remontam à história de
Itaguaí, serão melhor compreendidas após a análise do estudo de caso, que será completada
neste capítulo. Podemos, desde já, comparar as características dos sistemas produtivos
localizados com alguns elementos que temos sobre a realidade local, adiantando nossa
hipótese central. A literatura reúne algumas propriedades, listadas a seguir, que seriam
particulares aos sistemas produtivos localizados.
Especialização e Proliferação de MPMES
Em primeiro lugar, os sistemas produtivos localizados caracterizam-se por um conjunto de
estabelecimentos especializados, pela concentração e especialização de atividades de
produção e/ou serviços em um dado local e, freqüentemente, pela proliferação de empresas de
micro, pequeno e médio porte. Os setores representados, as tecnologias empregadas e os
produtos são compatíveis com a pequena dimensão das unidades de produção. Em geral, os
produtos permitem a utilização de um saber-fazer artesanal historicamente presente no sítio,
mas podem também ser o resultado da utilização de tecnologias de ponta. Além do mais,
alguns autores apontam para o fato da produção desses sistemas ser suficientemente
importante para cobrir uma parte apreciável da produção e das exportações nacionais.
Se tomarmos as principais características da economia de Itaguaí, pode-se dizer que a
economia local não se caracteriza pela presença de uma atividade de produção dominante,
como foi visto no capítulo 4. Nem tampouco as suas unidades produtivas caracterizam-se por
um alto grau de especialização ou complementaridade em torno de uma atividade principal. O
que se observa em Itaguaí é a dispersão de unidades produtivas em vários setores de atividade
econômica, a ponto de não ser possível identificar um setor principal. A escolha de quatro
principais setores de atividade para análise econômica foi feita através de critérios atrelados à
dinâmica econômica recente, que se refletiram no desempenho de variáveis tais como a
evolução do emprego, do número de estabelecimentos e do valor agregado. Não se pode dizer
que estes setores representem uma unicidade em torno de uma atividade principal, muito
embora vemos o desabrochar do Porto de Sepetiba como uma possibilidade concreta deste
ramo funcionar como um vetor de expansão para a economia local.
Portanto, não há, em Itaguaí, uma especialização em uma determinada atividade ou atividades
de produção e o seu parque produtivo assemelha-se muito mais a um conjunto de
estabelecimentos dispersos sem nenhuma articulação entre si, caracterizando um arquipélago
de unidades comerciais, industriais e de prestação de serviços que se amontoam em um centro
urbano de extensão bastante limitada e semelhante a tantos outros que configuram a periferia
da região metropolitana do Rio de Janeiro. A recente instalação do Porto de Sepetiba, nos
arredores do núcleo urbano de Itaguaí, não ascendeu ainda na cidade, e tampouco em seu
meio empresarial, uma mentalidade de se aproveitar, economicamente, das potencialidades
trazidas pelo Porto. Não há, ainda, uma coesão em torno de um projeto comum, coesão esta
que poderia alavancar os negócios da cidade a partir da expansão do Porto. No imaginário
coletivo da cidade, e isto pode ser observado conversando com as pessoas, o Porto de
Sepetiba é visto muito mais como um elemento externo que veio arrancar da cidade as suas
riquezas e aproveitar-se de seus dotes naturais (a extrema funcionalidade da Baía de Sepetiba
para o desenvolvimento da atividade portuária).
Assim como a sua população, uma boa parte do empresariado de Itaguaí acredita que o Porto
“não traz nada para a cidade, só tira”. Com este ponto de vista, é difícil criar uma coesão do
entorno em torno de um projeto comum. Será necessário, no futuro próximo, trabalhar a
identidade coletiva do município em torno da idéia de construção de uma economia portuária
localmente integrada, se é que os principais tomadores de decisão e a elite política e
econômica regional querem realmente afirmar este cenário como possibilidade de
desenvolvimento local.
Quanto à proliferação de micro, pequenas e médias empresas, o grande peso de micro e
pequenas unidades de produção no universo de empresas parece ser uma constante em todo o
Estado do Rio de Janeiro, e Itaguaí não foge à regra. Com 85% de suas empresas classificadas
como sendo de porte micro ou pequeno esta grande densidade não reflete, no entanto, uma
política deliberada de incentivo às pequenas empresas nem tampouco uma herança cuja
origem remonta a uma tradição de organização social do espaço produtivo em pequenas
unidades de produção. A proliferação de pequenas e médias empresas parece ser muito mais o
resultado de uma crise estrutural profunda pela qual passou a indústria brasileira nos últimos
vinte anos, e de uma estratégia de sobrevivência adotada por uma população que não pára de
crescer e que se viu à margem dos processos recentes de reconversão produtiva. Os setores
escolhidos como “puxadores” da economia local, bem como as tecnologias utilizadas pelas
empresas desses setores, não são, à priori, compatíveis com a pequena dimensão das unidades
de produção, exceção feita, talvez, ao setor de prestação de serviços. Assim como não há, em
Itaguaí, nenhum saber-fazer artesanal historicamente presente no sítio.
Flexibilidade Produtiva e Economias de Aglomeração
Em segundo lugar, os sistemas produtivos localizados caracterizam-se por uma flexibilidade
produtiva e por economias de aglomeração. A flexibilidade produtiva está baseada na
densidade de relações entre as pequenas empresas e na rapidez de resposta das PME às novas
condições externas e internas. As economias de aglomeração provêm de quatro tipos de
sinergia. O primeiro é conseqüência de relações intensas entre as empresas locais, o que
permite ampliar a divisão do trabalho e aumentar a especialização (redes). O segundo tipo de
economia externa refere-se ao mercado de trabalho local organizado com uma alta mobilidade
de competências e de saber-fazer entre as empresas (atmosfera industrial). O terceiro fator de
economia externa é o sistema de informações que se forma no espaço em questão, que garante
a circulação rápida de informações relativas ao mercado e à tecnologia, às novas técnicas
financeiras e comerciais (redes profissionais de conhecimento). O quarto fator inclui os
elementos que fazem parte da estrutura de apoio ao conjunto das empresas: apoios técnicos,
comerciais e financeiros, de formação e de pesquisa nos meios inovadores (quadro
institucional local).
Também não podemos dizer que exista em Itaguaí economias de aglomeração. As interações
entre as pequenas empresas ou não existem ou são muito fracas. A densidade de relações
entre as pequenas e médias empresas é mínima ou inexistente. As pequenas e médias
empresas do município estão muito mais à espera de um fato novo que possa integrá-las a
uma economia local ou regional do que propensas a interagirem e a adotarem uma política de
reação ativa. À espera de condições externas mais favoráveis, os pequenos empresários de
Itaguaí queixam-se da pouca atenção dada pela Prefeitura e pelos organismos locais, dos
lobbies políticos locais que os impedem de entrar no circuito econômico (nem que seja para
uma licitação das mais modestas) e da proximidade do mercado metropolitano regional, que
atrai para o Rio de Janeiro o mercado consumidor, desde os produtos mais simplórios,
correspondentes às necessidades humanas imediatas, até o “material de escritório, que as
grandes firmas locais vão buscar no Rio de Janeiro”.
As sinergias apontadas como responsáveis pelo florescimento das economias de aglomeração
inexistem em Itaguaí. As redes de empresas, a mobilidade vertical e horizontal de
trabalhadores (pertinente ao conceito de atmosfera industrial), as redes profissionais, as redes
de conhecimento e o quadro institucional local são fracos, incapazes de estimular a criação de
sinergia no ambiente sócio-econômico local. A construção de sinergia implicará, no caso
específico de Itaguaí, a interferência de agentes externos e a anuência do poder público local.
Relações sinérgicas poderão emergir a partir da interação entre agentes do Estado,
representantes da sociedade civil e membros do quadro institucional local que, reunidos em
torno de um projeto comum, poderão tomar várias iniciativas que acionem uma estratégia
coletiva de reação autônoma, no escopo do território em que estão inseridos. Para isto,
deverão ter claro o projeto de desenvolvimento que querem para si, o que implica delinear os
contornos de um cenário possível de atuação do Porto de Sepetiba, integrado à economia
local. Trata-se, sobretudo, de convencer as autoridades do Porto a tocar adiante um projeto de
uma economia portuária localmente integrada.
Reciprocidade e Cooperação
Em terceiro lugar, os sistemas produtivos localizados caracterizam-se por formas de resolução
de conflitos baseadas na reciprocidade, ao invés da competição e da concorrência. A
reciprocidade diz respeito às trocas sociais que se estabelecem para além das relações
mercantis, sendo o fundamento mesmo da criação de capital social. Nas palavras de Coleman
(1990), trata-se da criação de “obrigações e expectativas” que são uma via de mão-dupla na
troca de favores e de relações não-mercantis. A reciprocidade remete à fidelidade, à
gratuidade e à identificação. Está, portanto, enraizada na identidade coletiva dos atores
sociais, o que supõe que este sentimento de identificação seja suficientemente amplo ao nível
de uma coletividade e de um território.
Esta terceira característica dos sistemas produtivos localizados está na base da forma de
organização dos espaços produtivos fundados sobre os territórios. Supõe a construção de uma
identidade local e um novo paradigma de modo de resolução de conflitos, bem como um
padrão de organização das relações sociais e produtivas fundadas em redes horizontais ou de
parceria, onde a reciprocidade seja a moeda de troca, o que, por sua vez, subverte a lógica a-
temporal da relação mercantil e estabelece a primazia de trocas sociais, cuja maturação e
intensificação pressupõem a passagem do tempo. A reciprocidade é estimulada por trocas
sociais, e não por trocas econômicas, e os pressupostos para a sua consolidação são a
confiança generalizada (Putnam, 1993) e institucionalizada e o alto grau de coesão (Coleman,
1990) em torno de um projeto comum. Esta característica vai ao encontro das propriedades
anteriormente discutidas (especialização, flexibilidade produtiva e economias de
aglomeração), complementando-as e levando a resultados econômicos e sociais cada vez mais
satisfatórios.
Do que foi dito nos parágrafos anteriores, podemos argumentar que a constatação da
existência de um grande número de pequenas e médias empresas em Itaguaí não significa,
absolutamente, a existência de economias de aglomeração ou de redes de empresas. Pelo
contrário, pudemos constatar, através de nossa pesquisa de campo, que a proliferação de
micro, pequenas e médias empresas existentes em Itaguaí representam muito mais uma
estratégia de sobrevivência para a população local do que uma estratégia ativa de inserção no
mercado local ou regional. Neste sentido, estamos falando de PME de sobrevivência, e não de
PME de base tecnológica.
As PME de Itaguaí encontram-se à margem do sistema dominante (aliás, a cidade de Itaguaí
encontra-se fora do circuito regional de acumulação e de valorização), empregam uma mão-
de-obra pouco qualificada, desprotegida e em sua maioria restrita aos segmentos secundários
do mercado de trabalho local. Elas continuam se reproduzindo sob um tecido empresarial
fundado no trabalho familiar e se colocando apenas como uma alternativa à falta de uma
inserção melhor. Não existe, ao mesmo tempo, a oferta de programas de apoio que possam
ajudá-las a amadurecer ou a conquistar mercados mais abrangentes e cativos. A ausência de
programas de apoio voltados a estas PME vem apenas reforçar a constatação do abandono
desta população à sua própria sorte.
6.2. O Projeto Sepetiba: ponto de bifurcação para a economia local?
A inclusão do Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba como um fator de
desenvolvimento econômico para a região – da qual Itaguaí constitui-se no epicentro – deve
ser entendido, em primeiro lugar, como um fator impulsionador externo. O Projeto Sepetiba
foi pensado, concebido e está sendo executado em círculos econômicos e políticos externos à
área de influência da sociedade local, em níveis de decisão muito acima dos níveis que
poderiam ser alcançados pelas forças políticas e sociais da região.
De acordo com o que vimos na parte teórica sobre o desenvolvimento local, o Projeto
Sepetiba vem, até o momento atual, se afirmando como o oposto do que chamamos de
desenvolvimento local autônomo, ou seja, foi concebido e está sendo implantado “de fora
para dentro”, de tal forma que a sociedade local e as forças políticas locais têm pouca
ingerência ou poder de decisão sobre os rumos que estão sendo tomados e sobre o futuro do
Porto de Sepetiba. A capacidade de reação autônoma dos atores locais está como que
congelada por uma inércia do poder público local em suscitar a curiosidade e o
questionamento da população sobre os impactos que o avanço do Porto de Sepetiba poderá ter
em suas vidas, ao mesmo tempo em que esta inércia das autoridades locais tem como
contrapartida o excesso de ingerência das autoridades federais sobre a questão da expansão do
Porto e sua relação com os municípios de entorno. As autoridades estaduais, até agora, pouco
se manifestaram e quando o fizeram foi para propor isenções fiscais.
Veremos, na subseção 6.2.1, os momentos históricos através dos quais o Projeto Sepetiba foi
sendo decidido e pouco a pouco implementado, a quais grupos de interesse a sua expansão
atendeu e de que forma as decisões que sobre ele foram sendo tomadas sempre se basearam
em estudos e análises encomendados por atores políticos que se situavam entre e esfera
federal e a estadual. Por outro lado, as metas estipuladas e as avaliações dos objetivos que
poderiam ser alcançados a partir da operação plena de sua capacidade instalada sempre
confundiram interesses públicos – como a redução da extrema vulnerabilidade dos sistemas
de transporte de cargas e das infra-estruturas frente às novas exigências do comércio
internacional (redução do “custo Brasil”) – e privados, como a construção de terminais que
dariam ao Porto o porte de um hub port, a construção de uma logística de transportes em seu
entorno e a utilização produtiva de sua retroárea.
É bastante compreensível que um Projeto de tal grandeza e com uma área de influência que
ultrapassa até os limites geográficos da região sudeste seja concebido e planejado nas esferas
de decisão federal, com a aquiescência dos poderes estaduais. E é até louvável que tal projeto
receba o tratamento de um dos itens constantes (dentre vários outros) em um plano estratégico
para a retomada do crescimento da economia brasileira. O Projeto Sepetiba, já presente e de
alguma forma detalhado no Plano Brasil em Ação (1996-1999), é entendido pelas autoridades
federais e pelos planejadores como fundamental para a recuperação econômica não só da
região sudeste, mas do Brasil.
Entretanto, seus modos de execução e de gestão não incluem, em suas decisões e
deliberações, as representações da sociedade local nem tampouco os poderes constituídos da
região intra-estadual. O modelo de gestão do Projeto Sepetiba, bem como o seu processo de
execução, aprofundamento e ampliação não tem considerado, até agora, a representatividade e
a institucionalidade local em seus processos de tomada de decisões, o que seria esperado se o
objetivo fosse a inclusão da sociedade local nos resultados da expansão econômica do Porto
de Sepetiba. Ao mesmo tempo, a própria sociedade local também não tem conseguido se fazer
representar junto às instâncias decisórias. Seja por uma falta de iniciativa das autoridades
públicas municipais ou por uma falta de capacidade da própria sociedade civil em mobilizar-
se e fazer-se representar, as instituições locais pouco têm contribuído para a formulação de
um projeto de desenvolvimento econômico local que inclua, entre os seus vetores de
crescimento e como um de seus mecanismos propulsores, a expansão e a modernização do
Porto de Sepetiba.
A formulação deste projeto poderia transformar a economia local em uma economia portuária
localmente integrada, na qual o território se constituísse num agente indutor e transformador
da dinâmica econômica local e não num espaço geográfico objeto da aplicação de funções
econômicas ou de paradigmas logísticos. Vejamos o que Cocco (1999) disse a respeito da
participação das instâncias locais no Projeto Sepetiba:
“O Projeto Sepetiba, idealizado no âmbito do Governo Federal, vem sendo desenvolvido à margem do meio ambiente institucional no qual o porto está fisicamente localizado (...) O projeto de modernizá-lo com vistas a transformá-lo num hub port é definitivamente uma iniciativa do Governo Federal, sobre o qual o Governo Estadual
não teve praticamente nenhuma ingerência e os municípios, que se situam no entorno deste, não tiveram sequer informação a respeito” 72 (Cocco, 1999).
O que queremos deixar claro ao longo deste capítulo é que para que a expansão do Porto de
Sepetiba traga benefícios e externalidades efetivas à população local é preciso que esta se
mobilize e que as suas representações de classe, bem como as instituições nas quais estão
representadas, participem ativamente do programa de execução e de ampliação das atividades
do Porto de Sepetiba daqui para frente. Até agora, o nível de conhecimento e de informação
da população sobre o Projeto Sepetiba é zero ou próximo de zero, o acesso às informações
estando restrito, ainda que de maneira incipiente e um pouco vaga, aos atores sociais que
buscam ter um nível maior de conhecimento sobre o que se passa em sua região.
Normalmente estes atores são líderes comunitários, representantes de classe ou tiveram uma
passagem pelos órgãos municipais de administração, como a Prefeitura ou os Conselhos e
Comissões municipais.
A maioria da população desconhece o estágio atual das obras de expansão do Porto de
Sepetiba, bem como os alcances que este projeto pode ter em seu dia a dia econômico. Para
que a expansão do Porto de Sepetiba gere efeitos de transbordamento sobre a economia do
município de Itaguaí e dos municípios vizinhos, é necessária uma articulação entre a
economia portuária e a economia local, articulação que só pode ser promovida através da
interação entre esses dois espaços econômicos, o que, por sua vez, necessitará de um arranjo
institucional inovador que integre estes dois “territórios”, fazendo com que formem apenas
um. A sociedade local não pode se curvar a um cenário onde existam duas economias
dicotômicas e sem interação, uma representada pelas empresas operadoras do Porto de
Sepetiba e suas parceiras mais imediatas, e outra representada pelas micro e pequenas
72 Duas secretarias estaduais mobilizaram-se para o estudo das condições de implantação do Projeto Sepetiba: a SECPLAN e a SEMA. No caso da SECPLAN, essa mobilização ficou por conta da Coordenadoria de Projetos Especiais, criada para acompanhar os projetos do “Brasil em Ação” destinados ao Estado do Rio de Janeiro, dentro da proposta de um dos programas do Projeto Vias do Desenvolvimento, da mesma secretaria. Foi também a SECPLAN que encomendou, à empresa Mackinsey, o primeiro estudo de consultoria sobre o Porto de Sepetiba, cujo trabalho resultou no relatório “Fortalecendo o Desenvolvimento do Rio de Janeiro e o Sistema Portuário do Brasil através do Porto de Sepetiba”, concluído em 1995. No tocante à SEMA, essa mobilização se deu, ainda que de modo tangencial, através do Macro Plano de Gestão e Saneamento Ambiental da Bacia da Baía de Sepetiba (1998). De uma maneira geral, até o Governo Marcelo Alencar, “... o governo do Estado foi omisso nas suas atribuições institucionais de planejamento e completamente omisso com relação ao Projeto Sepetiba e às questões mais gerais da modernização do complexo portuário fluminense ” (Cocco, 1999; subseção 4.1.3).
empresas que atuam no comércio ou nos serviços urbanos, muitas vezes como estratégia de
sobrevivência da população local.
6.2.1. Idealização e concepção do Porto de Sepetiba: o Projeto e a Obra
O Porto de Sepetiba foi um projeto longamente esperado pelo antigo Estado da Guanabara
que, em várias e sucessivas oportunidades, encomendou estudos de viabilidade portuária no
âmbito da Baía de Sepetiba. Iniciado finalmente em 1976, sob responsabilidade da
Companhia Docas do Estado do Rio de Janeiro (CDRJ) 73 e com financiamento do governo
federal, foi inaugurado em 1982 com a entrada em operação da primeira fase do terminal de
carvão. Materializava-se, desta forma, uma parte dos objetivos do projeto: importar carvão
siderúrgico para o complexo de Volta Redonda, principalmente para a Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), e de alumina para a Valesul, assim como enxofre e outros minerais.
É num contexto nacional de abertura comercial promovida pelo Governo Collor no início dos
anos 1990, de introdução de amplas reformas econômicas e sociais marcadas pelo processo de
privatização (também iniciadas pelo Governo Collor, mas aprofundadas sob a égide de
Fernando Henrique Cardoso) e de uma concepção de retomada do crescimento econômico
calcada na atração do investimento estrangeiro direto e na entrada do capital externo, sob os
auspícios de uma moeda forte (o Real sobrevalorizado), que surge uma demanda e uma
preocupação em relação à modernização e reestruturação da configuração material e
institucional que regimentava o setor portuário, estabelecendo a necessidade de se
redimensionar a problemática dos transportes e dos eixos de integração nacional.
Temos então o espaço para a aprovação, em 1993, da Lei 8.630 (Lei de Modernização
Portuária), que viria a criar um novo marco institucional para o desenvolvimento portuário no
Brasil. Esta Lei institui um novo marco regulatório para o desenvolvimento portuário do
Brasil, cuja finalidade foi fundamentalmente favorecer o processo de modernização e
privatização dos portos públicos e dos principais terminais de transportes de cargas,
73 A Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) é a autoridade portuária responsável pelo Porto de Sepetiba. Além de ser o principal agente empreendedor do complexo portuário de Sepetiba, responde por compromissos assumidos com as prefeituras de Itaguaí e Mangaratiba, relativos à inserção de benefícios do projeto naqueles municípios, notadamente no tocante ao fortalecimento da infra-estrutura urbana para atender às demandas do complexo portuário (SEMA/RJ, 1998; p. 3-12). A CDRJ foi a mentora do primeiro Plano Estratégico de Desenvolvimento do Complexo Portuário de Sepetiba, datado de 1998.
considerados estratégicos para a inserção competitiva do país nos processos de globalização.
Ela introduziu mudanças no que diz respeito:
a) à entrada dos operadores privados no transporte de cargas de terceiros, antes atribuição
exclusiva do poder público;
b) à transformação das Companhias Docas em autoridade portuária, juntamente com a criação
do Conselho de Autoridade Portuária (CAP), e:
c) ao estabelecimento do Órgão Gestor da Mão-de-Obra (OGMO), destinado a administrar o
fornecimento da mão-de-obra avulsa, antes em poder dos sindicatos. A questão de fundo que
a constituição do OGMO coloca é o repasse da escalação dos trabalhadores portuários para as
mãos dos operadores, o que traz como conseqüência a redução abrupta de postos de trabalho.
Com a chegada do governo de Fernando H. Cardoso (janeiro de 1995), estão dadas as
condições para a concretização dos projetos de privatização e de implementação de programas
de investimentos estratégicos para a modernização das infra-estruturas de transporte, energia e
telecomunicações no país – nos quais o Porto de Sepetiba viria a ser inserido. O Plano Brasil
em Ação, com efeito, contempla, na sua primeira etapa (1996-99), investimentos em 42
projetos prioritários. Com a inclusão do Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de
Sepetiba entre os projetos prioritários do Brasil em Ação, fecha-se, então, um primeiro ciclo
da grande obra projetada. Mais de R$ 300 milhões foram investidos para construir, em menos
de dois anos, a infra-estrutura básica de dois terminais de uso múltiplo de cais contínuo e um
de cais descontínuo, além da dragagem do canal de acesso e o aterramento de uma área de
aproximadamente 245.000 m2.
Entretanto, antes do seu arrendamento em 1998, o Porto de Sepetiba foi objeto de análise
tanto do Governo do Estado, através de sua Secretaria de Planejamento (SECPLAN), quanto
da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ), e entre 1995 e 1998 o projeto de expansão
do Porto foi objeto de três consultorias, todas elas contratadas por organismos públicos junto
a empresas multinacionais de consultoria privada.
Uma primeira tentativa neste processo de definição de um perfil para o Porto de Sepetiba foi a
consultoria encomendada pela SECPLAN à empresa Mackinsey, que resultou num relatório
denominado “Fortalecendo o Desenvolvimento do Rio de Janeiro e o Sistema Portuário do
Brasil através do Porto de Sepetiba”, oficialmente concluído e apresentado em 23/06/1995.
Segundo este relatório, o Porto de Sepetiba seria uma solução viável para o que foi percebido
como um sério gargalo do sistema portuário regional e nacional.
Uma segunda consultoria resultou no “Plano Estratégico de Desenvolvimento do Complexo
Portuário de Sepetiba”, documento realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) através da Fundação Tecnológica (COPPETEC), a pedido da Companhia Docas do
Rio de Janeiro (CDRJ). Em relação ao plano anterior, o Relatório da COPPETEC é ainda
mais ambicioso no que diz respeito à capacidade de operação do Porto de Sepetiba, tanto para
os terminais de contêineres (nove terminais de contêineres ou de uso múltiplo, que teriam uma
capacidade total de 4,8 milhões de TEUs) quanto para os terminais de minérios, granéis
sólidos e carvão, mas também no que diz respeito à utilização de sua retroárea.
Com o intuito de fortalecer e de legitimar o argumento da necessidade de se construir um hub
port, o governo federal, mais uma vez através da CDRJ, encomendou uma terceira
consultoria, desta vez à companhia americana Bechtel International Inc., uma das maiores e
mais prestigiosas empresas construtoras do mundo. De acordo com o solicitado, a Bechtel
realizou um estudo preliminar sobre a viabilidade econômica da construção de um hub port
em Sepetiba, considerando aspectos tais como custos de transporte, mercados potenciais,
volumes de exportação, acesso marítimo, acessos terrestres, proximidades dos mercados,
entre outros. Concluiu-se que Sepetiba possuiria as melhores condições, entre os principais
portos da região Sul/Sudeste, de ser transformado num porto concentrador, tanto em termos
de capacidade quanto de impacto ambiental.
Com base em projeções de crescimento para a economia brasileira e estudos de demanda
potencial para o Porto de Sepetiba, o cálculo da Bechtel de movimentação de cargas
conteinerizadas por Sepetiba para o ano de 2020 foi estimado em 6 milhões de TEUs, o que
significaria a construção de um porto concentrador de 20 terminais de contêineres:
“O projeto da Bechtel fica assim muito mais perto do que normalmente se entende por hub port, ou seja, um porto especializado em contêineres e com uma enorme capacidade operativa (mais do que o dobro do que previa o projeto da COPPETEC). O relatório da Bechtel atendeu as aspirações do governo federal e da CDRJ de construir um hub port, fazendo estimativas que superavam as expectativas dos contratantes e apresentando um projeto mais ambicioso e ousado do que os projetos anteriores” (Cocco, 1999).
6.2.2. Implementação e expansão do Projeto Sepetiba
As condições do processo de arrendamento do terminal de contêineres do Porto de Sepetiba
(TECON 1) foram apresentadas em audiência pública, na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro,
em 24 de março de 1998, tendo como data prevista para o leilão de arrendamento o dia 8 de
junho do mesmo ano. Após um primeiro adiamento devido à desclassificação, por parte da
CDRJ, de todos os cinco pré-candidatos que se apresentaram ao arrendamento (nenhum deles
reunia as condições requeridas pelo governo federal), em setembro de 1998 foi concedido, por
um prazo de 25 anos, à CSN e à CVRD, o direito de exploração das infra-estruturas do Porto
de Sepetiba, recentemente construídas. Desta forma, uma grande empresa nacional do setor
siderúrgico, que já operava o terminal de carvão do Porto, torna-se, juntamente com a CVRD,
arrendatária do primeiro terminal de uso múltiplo do futuro hub port de Sepetiba. 74
Concluída a primeira fase do Projeto Sepetiba, qual seja, o seu arrendamento e a colocação
em prática de sua operação por operadores privados, num cenário nacional composto pela
crescente privatização das infra-estruturas de transporte e de mudança no marco regulatório
da gestão dessas infra-estruturas, cabe perguntar se o novo estatuto patrimonial desses ativos
garante uma maior eficiência e universalização de acesso. A nova dinâmica de concorrência
que rege a operação das obras de infra-estrutura, através de suas instâncias de planejamento e
de fiscalização, garantem uma efetiva dimensão pública nas condições de acesso aos serviços
agora privatizados e no usufruto dos produtos que passam a circular em virtude da criação de
novos mercados? Em outras palavras, quão aberto é o novo mercado criado e quais são, de
fato, as externalidades por ele geradas? Os procedimentos e mecanismos decisórios nos quais
se sustentam as escolhas de planejamento para o Porto de Sepetiba são diferentes dos que
caracterizaram a era industrial (desenvolvimentista)?
A dimensão pública nas condições de acesso aos serviços de infra-estrutura recentemente
privatizados implica a participação de representantes da sociedade civil e das autoridades
74 O interesse em Sepetiba por parte da CSN nunca foi um mistério. Num momento de acirrada competição entre as indústrias siderúrgicas no Brasil, no qual o mercado externo transforma-se cada vez mais numa variável estratégica para a sobrevivência das empresas do setor, a CSN dependia ainda de operadores e instalações portuárias alheias para colocar os seus produtos no exterior. Uma vez que a CSN já operava em Sepetiba, que tinha projetos de construir um complexo siderúrgico na região e que possuía um terço do capital da MRS Logística, esta empresa revelava-se como candidata natural a tornar-se a arrendatária do Porto de Sepetiba. Com a estratégia de aumentar progressivamente o volume de exportação de seus produtos siderúrgicos em cargas conteinerizadas (em 1997 a carga conteinerizada da empresa correspondia a 15% do total das suas exportações) e a “capacidade de gerar os recursos para os investimentos necessários dentro de um processo de integração vertical do porto na empresa (a partir da evolução do negócio siderúrgico no mercado internacional e da utilização do Porto de Sepetiba para exportar), a CSN foi avaliada como a empresa mais apta para o arrendamento, e arrematou a concessão pelo preço mínimo estipulado no edital” (Cocco, 1999; subseção 1.3.2).
públicas municipais na gestão coletiva desses serviços que, embora privatizados, não
perderam sua dimensão de bem público. No caso de Itaguaí isto seria perfeitamente possível
através de órgãos como o Conselho das Autoridades Portuárias (CAP), o Conselho Municipal
do Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e do próprio Plano Diretor. A participação
desses órgãos na gestão e na execução do Projeto Sepetiba é condição fundamental para a
elaboração de estratégias de reação autônoma por parte do território sobre o qual se implanta
o Porto de Sepetiba. A sociedade civil deve fazer-se representar nos órgãos decisórios que são
pertinentes para a gestão do Porto e exigir de seus executores procedimentos que tenham
impactos sociais e produtivos sobre a vida econômica do município.
No entanto, não é isto o que vem acontecendo. Os procedimentos e mecanismos decisórios
nos quais se sustentam as escolhas de planejamento para o Porto de Sepetiba não são
diferentes dos que caracterizaram a era desenvolvimentista. Todos os elementos dos quais
podemos dispor mostram que os modos de planejamento do Porto de Sepetiba não são o
resultado de mudança significativa em relação aos métodos típicos da era desenvolvimentista:
“... a idéia básica refere-se a uma Obra que teria, em si, um forte potencial estruturante. Sua concepção e realização não foram objeto de nenhum esforço prévio de planejamento abrangente em relação às articulações locais e a sua execução não se deu através de momentos reais de discussão e participação democráticas (...) Não se trata apenas de se perguntar como pode acontecer que num país tão grande, questões tão complexas ligadas à abertura de sua economia nacional e aos enormes quebra-cabeças ligados à modernização de suas infra-estruturas logísticas sejam ‘resolvidas’ por uma pequena quantidade de ‘técnicos’. Trata-se de sublinhar a substancial continuidade de abordagens fortemente centralizadoras, instrumentais e funcionais” (Cocco, 1999; negritos no original).
Assim, segundo esta concepção de planejamento, o território de implementação da obra
necessariamente responderá aos objetivos prefixados pela própria obra. Não são as
características (sociais, econômicas) do território que explicam a adequação da obra, mas é a
obra que contém a necessária e inevitável adequação dos territórios. As várias dimensões do
planejamento do Projeto estão, todas, imbuídas da mais completa ausência das dimensões
locais dos territórios. Isto faz com que a concepção do projeto e a gestão da execução da obra
indiquem uma grande continuidade dos velhos métodos de planejamento.
A preocupação com o planejamento de longo prazo constitui, com certeza, o pano de fundo
destas abordagens. Ocorre, no entanto, que as diferentes opções e alternativas de longo prazo
são escamoteadas por meio da mobilização da noção de planejamento estratégico, noção que
se tornou de aplicação universal no Brasil dos anos 1990, mas que pode ser – tanto no plano
político-institucional quanto no das representações sociais – completamente vazia e, portanto,
cheia de possibilidades arbitrárias de definição. Ao mesmo tempo, a invocação do longo prazo
é sistematicamente usada para escamotear os conflitos que emergem no curto prazo. O
resultado é que o planejamento dos territórios continua sendo objeto de engenharia
econômica. Face ao esgotamento dos padrões industriais desenvolvimentistas, a engenharia
permanece ocupando um papel fundamental:
“A idéia é identificar problemas e soluções nos setores de infra-estrutura e logística que tornem o estado mais atraente para os investimentos das empresas. O trabalho será desenvolvido por uma consultoria que vai identificar quais os reforços de logística que podem ser feitos. O crescimento da atividade portuária deveria atrair volumes crescentes de investimentos produtivos e promover o desenvolvimento sustentável da região. Cabe questionar este discurso que valoriza os ‘impactos estruturantes’ ou ‘efeitos induzidos’ das grandes obras infra-estruturais sobre a produção e a estruturação do espaço urbano” (Cocco, 1999; negrito meu).
Esse chamado discurso dominante privilegia então uma abordagem determinista que
posiciona a modernização do ambiente infra-estrutural regional como garantia e condição
suficiente para o desenvolvimento econômico local. Esse tipo de análise, mecanicista e linear,
sugere um isolamento das obras de infra-estrutura (portuária, de transporte, de
telecomunicação, etc.) das dinâmicas econômicas, sociais e políticas que produzem o
território. Em termos do argumento colocado na parte teórica deste trabalho, esta abordagem
determinista desconsidera a capacidade de reação autônoma da população local, e para ela a
construção de um espaço geo-econômico seria o resultado de um movimento linear que se
estrutura de cima para baixo, sem a intermediação do local e sem considerar que a
institucionalização das redes e relações sociais locais podem reverter ou redirecionar a direção
inicialmente imposta pela força dos impactos estruturantes.
No caso de Itaguaí, sem dúvida a pressão heterônoma tem se mostrado, até este momento,
mais forte do que a capacidade de mobilização por parte dos atores locais, mas isto não quer
dizer que o Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba seja uma obra
eminentemente de engenharia econômica e de implantação de uma logística de produção e de
transportes que possa abrir mão das variáveis e dos determinantes locais. Além disso, é
importante frisar que a necessidade de implantação de novos métodos de planejamento, de se
colocar em prática novas abordagens em termos de desenvolvimento local, de se valorizar a
formação de redes inter-relacionais e as interações entre os agentes sociais que estruturam o
território econômico são fatores essenciais que não podem ser sacrificados em benefício de
uma abordagem que privilegia estudos técnicos e considera o espaço como uma simples base
física, neutra e inerte na qual caberia instalar infra-estruturas dinâmicas ou estruturantes. Esta
visão linear de desenvolvimento local impede a adoção de atitudes inovadoras em
planejamento urbano e regional, um planejamento que considere mais as interações sociais e
econômicas do que os impactos estruturantes de grandes obras de infra-estrutura, dificultando
uma relação dialética de ação e reação entre os efeitos induzidos das obras infra-estruturais
(decididas no âmbito federal) e a capacidade de regulação dos atores locais.
6.3. Situação atual e perspectivas: as alternativas de desenvolvimento local
A partir desta exposição e diagnóstico inicial podemos traçar três cenários alternativos de
projeção futura para o desenvolvimento local do município e de sua região de entorno. Cada
cenário corresponde a um diferente tipo de envolvimento entre o Porto de Sepetiba e a
economia do município de Itaguaí, com diferentes graus de integração ou articulação entre a
economia portuária e as empresas do município.
6.3.1. Um porto verticalmente integrado aos requerimentos produtivos de uma grande
empresa nacional
Os três primeiros terminais que começam a ser operados pela CSN através de Sepetiba Tecon
S.A. apresentam características diferentes às pretendidas originariamente pela CDRJ e o
Governo Federal. Trata-se de uma empresa (a arrendatária) que não possui experiência
nenhuma na movimentação de cargas conteinerizadas, que pretende movimentar cargas
próprias (siderúrgicas) através do Tecon, e que participa de um mercado de exportação
extremamente variável – sendo que a sua produção é principalmente orientada para o mercado
interno. Esta situação de integração vertical do porto aos requerimentos produtivos da CSN,
na medida em que não existe ainda uma clara definição das possibilidades efetivas de o porto
movimentar cargas diversificadas, tem como particularidade uma baixa demanda de
ampliação da infra-estrutura terrestre e de articulação local e regional e um impacto
praticamente nulo sobre qualquer outra cadeia produtiva que esteja potencialmente em
condições de usufruir desses serviços. A situação descrita neste parágrafo reflete um primeiro
cenário de projeção futura de funcionamento do Complexo Portuário de Sepetiba:
“... se não prosperar o projeto de hub port, como já aconteceu muitas vezes com outros grandes empreendimentos em nosso País, teríamos um porto direcionado à movimentação de cargas específicas (verticalmente integrado), com alternativas de movimentação de cargas diversificadas e conteinerizadas ainda incertas e com poucas chances de incidir, em curto-prazo, sobre o desenvolvimento regional” (Cocco, 1999).
6.3.2. Um porto concentrador de cargas conteinerizadas (hub port)
Como um segundo cenário possível, existe o projeto de se construir um hub port (porto
concentrador), com 20 terminais de cargas em condições de operar com navios super Pós-
Panamax e de movimentar seis milhões de TEUs no ano 2020, como previu o estudo da
Bechtel. Associado a este cenário ter-se-ia a possibilidade de se vincular, à região de
influência portuária, uma rede de infra-estruturas de transporte de âmbito federal. Do modo
como está sendo proposto pela CDRJ, o hub port pode ser transformado na porta de
entrada/saída (gateway) da produção de grandes empresas industriais localizadas em
diferentes âmbitos metropolitanos do país e do continente. Eventualmente, o hub port poderá
também escoar granéis sólidos e outros tipos de cargas não conteinerizadas, na medida em
que o volume de carga e/ou a rentabilidade do produto o torne possível. A ênfase, portanto,
será colocada sobre o desenvolvimento das infra-estruturas de transporte e integração
multimodal, visando a articulação com os grandes mercados regionais e os corredores de
exportação.
Sob este cenário, a possibilidade da economia local captar alguma externalidade do Projeto
Sepetiba (efeitos de transbordamento) reside na criação de condições materiais para assumir
localmente, se esse for o resultado no longo prazo, as funções gestionárias de um hub port ou
porto concentrador. Para isso torna-se necessário desenvolver as condições materiais e
imateriais para manter sob controle metropolitano a gestão e distribuição dos fluxos. Nas
experiências internacionais em que essa possibilidade foi concebida como uma estratégia
deliberada – talvez o caso mais conhecido seja o de Barcelona -, optou-se pela criação de um
distrito logístico. O porto e o distrito logístico participam da constituição da cadeia de valor,
tanto no que diz respeito à circulação quanto à produção. É nessa ótica que uma estratégia
local de desenvolvimento portuário, vinculada à função de hub port de Sepetiba, poderia ser
pensada. 75
75 No tocante a esta questão existe, para o Porto de Sepetiba, um projeto de criação de uma Zona de Apoio Logístico (ZAL). Essa ZAL se constitui em um dos programas de apoio para o desenvolvimento e a expansão
Nessa perspectiva, é relativamente pouco o que se pode esperar desse ambicioso projeto para
o desenvolvimento local. Como parecem demonstrar as experiências de empreendimentos
portuários que foram concebidos para funcionar de modo isolado do contexto econômico e
social de seu local de implantação (por exemplo, Gioia Tauro na Itália e Algeciras na
Espanha), estes portos “... podem se transformar em verdadeiros supercondutores de fluxos
mercantis, com infra-estruturas modernas e articuladas ao espaço nacional e/ou
internacional, mas sem promover dinâmicas de crescimento local” (Cocco, 1999).
Seria ainda viável pensar o projeto de hub port na forma como ele foi concebido? É esta a
melhor opção em termos de desenvolvimento local? Haveria espaço para se pensar em
estratégias alternativas que não respondessem apenas aos determinantes tecnológicos do
modelo de porto concentrador de última geração? Quais seriam as condições mínimas,
necessárias e suficientes para alavancar um processo de planejamento que articule o
desenvolvimento da cadeia portuária de Sepetiba com a economia do município de Itaguaí?
Estas e outras perguntas deveriam ser objeto de um debate público e aberto, que integrasse
não apenas atores diretamente implicados no desenvolvimento econômico portuário, mas
também uma ampla participação de atores locais e regionais, institucionais ou não, que serão
afetados pela dinâmica futura do porto.
O Quadro 14 abaixo indica algumas características associadas às duas projeções, destacadas
até aqui, em termos de desenvolvimento local e geração de emprego e renda. Em qualquer um
dos dois cenários, “o futuro do Porto de Sepetiba não parece alentar maiores expectativas de
desenvolvimento, seja para os municípios da região de implantação, seja para a economia
fluminense como um todo” (Cocco, 1999).
Quadro 14: Possíveis cenários futuros do Porto de Sepetiba e o desenvolvimento local
Porto integrado da CSN Hub port Desenvolvimento industrial da CSN Desenvolvimento industrial de grandes empresas Cargas específicas próprias + cargas diversificadas conteinerizadas Cargas diversificadas conteinerizadas
Escala regional Escala continental
Impacto local quase inexistente Impacto local restrito aos meios de circulação material
dos serviços e atividades industriais diretamente ligadas à economia portuária, e ocuparia a retroárea do Porto de Sepetiba.
Tendência à utilização de mão-de-obra da própria empresa Escassa demanda de mão-de-obra
FONTE: Cocco, 1999, subseção 4.3.1.
Na medida em que estas duas primeiras estratégias (ou projeções de cenários futuros) podem
ser questionadas, aparece a possibilidade de se avançar numa outra alternativa, mais próxima
das potencialidades produtivas do desenvolvimento local, que poderíamos chamar de
economia portuária localmente integrada.
6.3.3. Uma economia portuária localmente integrada
Surge então uma terceira orientação, um cenário alternativo para o Porto de Sepetiba e sua
região de entorno, que nasce a partir da observância de uma política de desenvolvimento local
e integrado:
“Quando se fala em desenvolvimento local e integrado, significa destacar o primado das esferas públicas municipais e estaduais sobre as federais, no qual a insistência do discurso oficial sobre a necessidade do grande hub port de abrangência continental, capaz de alavancar a inserção competitiva do Brasil na globalização, deve ser no mínimo questionada e alterada. Qual o sentido de um porto equipado para escoar cargas provenientes de diferentes regiões do Brasil e do Cone Sul se ele é incapaz de se integrar à sua hinterlândia imediata e de induzir o desenvolvimento da região em que foi estabelecido?” (Cocco, 1999).
A implantação dessa estratégia, fazendo do Projeto Sepetiba um instrumento do
desenvolvimento local da região, não significa recusar os desafios impostos pela
modernização portuária. Como vimos na parte teórica deste trabalho, uma estratégia de reação
autônoma não deve opor-se às pressões heterônomas, mas absorvê-las e redirecioná-las. Isto
quer dizer que os atores locais devem ser capazes de se situar à frente do debate atual sobre as
transformações produtivas dos sistemas portuários, mas sujeitando este debate às
determinações dos processos econômicos, sociais e ambientais locais. Isso significa, por um
lado, procurar outros exemplos bem sucedidos de modernização portuária que não tenham
separado, na sua concepção, o funcionamento do porto das dinâmicas produtivas
metropolitanas, e que, pelo contrário, tenham achado nesta relação o fundamento de uma
projeção territorial que confere à cidade benefícios econômicos, institucionais e políticos. 76
76 Esta estratégia segue em parte a tradição portuária da Europa do Norte, em que uma forte presença local ou municipal nos assuntos portuários tem transformado portos como Amberes (Bélgica), Rotterdam (Holanda) ou Hamburgo (Alemanha) nas grandes portas marítimas da Europa continental. Para uma discussão mais aprofundada do conceito de cidade portuária sob esses preceitos, vide: BAUDOUIN & COLLIN. Culture des
Por outro lado, na medida em que, nas políticas de desenvolvimento local e integrado, são as
singularidades produtivas da região que oferecem o marco no qual haverá de se processar a
trajetória dos projetos e/ou das grandes obras de infra-estrutura, também resulta
imprescindível gerar mecanismos institucionais que se moldem às particularidades da
estrutura produtiva local. No caso do Porto de Sepetiba, significa fundar laços produtivos com
a economia do Estado e da metrópole do Rio de Janeiro, e estabelecer vínculos funcionais
com o conjunto do sistema portuário fluminense.
O Gráfico 9 representa, tendencialmente, os três cenários discutidos e as diferentes
possibilidades e opções que se abrem em relação ao Porto de Sepetiba:
Gráfico 9: Tendências e cenários para o Porto de Sepetiba
----------- ----------------
H2 (2020)
----------------------------- --------------------------------- H1 (2005)
FONTE: Cocco, 1999; subseção 4.3.2.
Os pontos P1, P2 e P3 representam, respectivamente, as alternativas do porto integrado da
CSN, do hub port de Sepetiba e da economia portuária localmente integrada, no horizonte do
longo prazo (ano de 2020). O ponto P0 representa o Porto atual, quer dizer, o Porto da CSN
que já opera com cargas siderúrgicas e contêineres diversificados, mas ainda não se definiu
como Porto concentrador. Os cenários anteriormente analisados permitem valorar
negativamente as alternativas P1 e P2, em função do pouco espaço aberto por estas alternativas
para a manifestação das formas de reação autônoma e para a emergência de iniciativas locais
villes portuaires et mondialisation de l’économie, 1993; GUILLAUME. Du port à la ville-port: essai sur les étapes nécessaires d’une métamorphose, 1995; BAUDOUIN. La ville-portuaire dans la mondialisation, roles entrepreneurial et geopolitique, 1997; COCCO & SILVA. Cidades e portos, 1999.
-----------------------------------------------------
------------------
P2 P1 P3
P0
de regulação econômica e social. As alternativas P1 e P2 representam a supremacia da pressão
heterônoma sobre as forças locais da reação autônoma, constituindo uma configuração
produtiva na qual o Porto de Sepetiba seria um instrumento da integração vertical da CSN
(alternativa P1) ou um supercondutor de fluxos mercantis (alternativa P2), em ambos os casos
sem nenhuma (ou pouca) integração com a economia local.
O único cenário que permite uma canalização da pressão heterônoma para o desenvolvimento
local, promovendo uma interação entre os efeitos indutores das obras estruturantes e a reação
autônoma por parte das instituições locais, é o cenário representado por P3, a terceira
alternativa descrita acima como uma das trajetórias territoriais possíveis. O cenário
representado por P1 sequer consegue alcançar os objetivos do Projeto Sepetiba (de instalação
de um hub port); o cenário representado por P2 consegue, mas sem uma integração sistêmica
com a economia e a infra-estrutura local.
A seguir será analisado, em termos concretos, se a inflexão da tendência atual que se orienta
em direção ao porto integrado (P1) seria possível. A alternativa P3 exige uma política
deliberada de captura do porto pelas instituições locais, tanto em função de sua integração
sistêmica à economia metropolitana e regional, quanto em função do escoamento de cargas de
regiões mais distantes. Entretanto, esta alternativa representa um importante desafio
institucional, que é a capacidade da sociedade civil mediar seus interesses através das
instituições locais e fazer valê-los para transformar a realidade local. O principal desafio
consiste na institucionalização dos interesses locais e das relações sociais, transformando
essas relações em redes com finalidades produtivas, bem como na transformação de formas
latentes de capital social em formas mais maduras e desenvolvidas, que possam fornecer
subsídios para a construção de relações sinérgicas (Evans, 1996).
6.4. Os desafios institucionais e os programas de apoio
Nesta seção focalizaremos os desafios institucionais que se colocam para uma efetiva
integração entre a economia portuária e a economia do município. Como temos visto ao longo
deste trabalho, a articulação entre essas “duas economias” e a criação de vasos comunicantes
entre elas, de modo que a primeira gere externalidades positivas que possam ser apropriadas
pelo tecido empresarial local e pela população, representa um desafio para as instituições
locais, e serão estas as principais responsáveis pela criação de mecanismos e arranjos formais
que possam viabilizar esta articulação.
Os instrumentos através dos quais as instituições locais podem promover esta integração são
os programas de apoio e o novo Plano Diretor para o Município de Itaguaí. É por isso que esta
seção está dividida em três subseções. Na subseção 6.4.1, veremos como se inserem os
programas de apoio num quadro institucional local que é pouco desenvolvido. Na subseção
6.4.2, veremos como a população local e a sociedade civil de Itaguaí se inserem nas
discussões institucionais sobre o Porto de Sepetiba. Na última subseção, 6.4.3, veremos
porque a elaboração do novo Plano Diretor para o município se constitui num instrumento
inovador para a construção de relações sinérgicas entre as três formas intermediárias de
coordenação.
6.4.1. Os programas de apoio num quadro de institucionalização precária das relações
sociais
Os programas de apoio podem ser um primeiro caminho para a institucionalização das
relações econômicas e sociais e para a formação de redes de empresas que tenham por
objetivo aproveitar-se dos recursos locais para, a partir deles, instituir novas formas de
inserção competitiva e buscar uma articulação com as instituições representativas do
território. São considerados programas de apoio
“... todas as iniciativas concebidas, executadas e oriundas de serviços governamentais e/ou de organismos setoriais e profissionais que têm por objetivo estimular e promover o desenvolvimento econômico de uma dada localidade ou de setores de atividade, mobilizando para tal fim os recursos e os atores sociais/econômicos direta ou indiretamente envolvidos com o mesmo propósito” (IE/IRD, 2000).
No caso de Itaguaí podemos considerar a existência de dois tipos de programas de apoio. Um
primeiro tipo refere-se ao que chamamos de programas de apoio pontuais ou “de varejo”.
Esses programas não foram concebidos para atender a localidade de Itaguaí nem mesmo um
determinado setor de atividade do município pesquisado. Trata-se de ofertas pontuais, por
parte de organismos e/ou instituições financeiras, serviços governamentais ou federações
patronais, de recursos financeiros ou de oportunidades de treinamento ou capacitação. O
segundo tipo de programa de apoio refere-se a uma ação intergovernamental que até o
momento atual vem sendo colocada em prática através de mecanismos de coordenação e
execução que são orientados por uma instância federal (como se viu na seção 6.2 deste
capítulo): trata-se do Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba. Antes de
analisarmos a relação deste segundo programa com as empresas do município, vejamos o que
estas afirmaram em relação ao primeiro tipo de programa.
Paralelamente ao programa de apoio que se constitui no desenvolvimento do Porto de
Sepetiba, algumas empresas participaram também de projetos pontuais, sempre de maneira
isolada junto às instituições de apoio e como resultado de uma demanda individual exercida
junto à instituição. No entanto, como podemos ver na Tabela 43 abaixo, este tipo de
participação foi bastante restrito.
Tabela 43: Proporção das empresas entrevistadas que se beneficiaram de algum apoio Organismos ou serviços governamentais e federações patronais: No de empresas (%) Ministério do desenvolvimento, indústria e comércio exterior (MDIC) - Ministério da ciência e tecnologia (MCT) - Ministério das relações exteriores (MRE) - Ministério do trabalho e do emprego (MTE) - Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento (MAPA) - Banco do Brasil (BB) 10 Caixa Econômica Federal (CEF) - BNDES 5 SESI/SENAI 11 CNI - SENAC - SEBRAE 13 Incentivos do Governo Estadual 6 Incentivos do Governo Municipal 5 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Nesse contexto, como podemos ver na tabela acima, 10% das empresas entrevistadas usaram
o financiamento do Banco do Brasil para capital de giro. O SESI/SENAI foi igualmente citado
por 11% das empresas entrevistadas, que se beneficiaram de cursos de capacitação para seus
empregados ou dirigentes. O SEBRAE também foi uma instituição citada por 13% das
empresas da amostra, que em algum momento se beneficiaram da ampla gama de cursos de
formação oferecidos por este organismo. O BNDES, que propõe financiamentos para a
realização de investimentos (o FINAME é um destes programas), foi citado por 5% das
empresas entrevistadas (foram essencialmente as grandes empresas que mencionaram ter
recorrido ao financiamento do BNDES). Por fim, os governos estadual e municipal foram
citados, respectivamente, por 6% e 5% das empresas entrevistadas: trata-se aqui,
essencialmente, de empresas que se beneficiaram de alguma isenção fiscal.
O baixo índice – verificado na tabela acima – de apoio para as empresas significa não só a
quase inexistência de políticas voltadas para o estímulo ao desenvolvimento da região, mas
também a inexistência de relações horizontais entre instituições/organismos de fomento e as
empresas, como foi visto na análise dos dados primários originados da aplicação dos
questionários (capítulo 5). Portanto, um baixo índice de empresas apoiadas significa também
uma baixa propensão à criação de capital social, uma vez que uma das facetas do capital
social é a existência de redes de relações entre instituições de apoio e as empresas localizadas
em um território. Como vimos no capítulo 5 (subseção 5.5.4), este baixo índice de empresas
apoiadas encontra ressonância em um nível de relações entre as firmas e o ambiente
institucional bastante precário, de pouca procura recíproca e em um baixo índice de
participação e de utilização, por parte das empresas, da infra-estrutura regional, das
administrações e dos serviços técnicos oficiais. Esta parte do quadro de análise, descrita na
subseção acima indicada, nos mostrou que a adesão institucional das empresas do município é
fraca, ao mesmo tempo em que a infra-estrutura regional e os serviços técnicos da região são
mal avaliados pelas empresas: o baixo índice de incidência de programas pontuais de apoio é
corroborado por uma adesão institucional também insuficiente.
Ainda no que se refere aos chamados programas de apoio pontuais, identificamos alguns
programas de apoio que tentaram ser implantados em Itaguaí, mas que não tiveram seqüência
ou continuidade às vezes simplesmente porque os técnicos responsáveis pela sua implantação
foram afastados dos Balcões regionais dos serviços técnicos oficiais. Desta forma,
identificamos os seguintes programas pontuais:
Quadro 15: Lista dos programas de apoio pontuais identificados Programas Objetivos
1. Projeto Empreender
Projeto da Federação das Associações Comerciais do Estado do Rio de Janeiro (FACERJ), em parceria entre o SEBRAE, a ACIAPI e o CACB. O Comitê gestor seria formado pelo Balcão local do SEBRAE em Itaguaí, pelo presidente da ACIAPI e pela Vice-Prefeita do Município. Segundo informações fornecidas pelo Diretor Regional do SEBRAE 77, estaria sendo programada a implantação progressiva do projeto nos seguintes setores: núcleo vestuário (já implantado), gastronomia, marcenaria, sapataria, sítios e áreas de lazer.
2. Programa de Desenvolvimento Local
A coordenação geral deste programa é em Parati-RJ, e ele se aplica ao desenvolvimento do turismo na Costa Verde. O DLIS, segundo o
77 Em entrevista feita no dia 17-02-2003.
Integrado e Sustentável (DLIS)
Diretor Regional do SEBRAE em Bangu-RJ, seria “a menina dos olhos do escritório regional do SEBRAE”.
3. Projeto Resgatando a Cidadania
Este projeto, gerenciado pela Comissão Municipal de Emprego, junto com a ACIAPI e outras instituições sociais do município, estaria ainda em vias de implementação.
4. Projeto Integrar Iniciativa da ACIAPI no campo da segurança pública. FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Estes projetos, normalmente de responsabilidade dos serviços técnicos oficiais da região,
possuem uma dificuldade intrínseca de implementação e continuidade que pode ser resumida
através do depoimento colhido em entrevista com o Diretor Regional do SEBRAE em Bangu-
RJ, escritório que cobre toda a Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro e também a Costa
Verde (litoral Sul-Fluminense):
“o que nós planejamos para Itaguaí foi o DLIS e algumas ações de varejo (...) Em Itaguaí não há iniciativas locais, as empresas não se apresentam ao SEBRAE de maneira representativa, para demandar ações locais [seja de capacitação ou de apoio]. O que existe são demandas bem pontuais de uma ou outra empresa para pedir algum apoio bem específico. Mas ao se apresentarem de maneira isolada e sem uma representação mínima [um grupo de empresas ligadas a um setor ou localidade] não há como o SEBRAE fazer alguma coisa. Para o SEBRAE iniciar uma iniciativa local, ele deveria ser procurado por um grupo de empresas que apresentassem uma demanda homogênea e definida, o que não ocorre em Itaguaí. Da mesma maneira, a Prefeitura de Itaguaí também não procura o SEBRAE, de modo que fica difícil para este órgão definir as principais demandas do município. Por exemplo, o SEBRAE oferece, em Itaguaí, um Programa de Capacitação Tecnológica Rural. A condição para acionar e inicializar este programa é o surgimento de uma demanda suficiente por parte dos produtores rurais, o que ainda não aconteceu. Tem que haver mais iniciativa por parte da Prefeitura. O SEBRAE local precisa de parcerias”. (FONTE: Pesquisa de campo, entrevista realizada em 17-02-2003).
Desta forma, um dos problemas diagnosticados para a ausência de programas de apoio em
Itaguaí é a falta de articulação e de diálogo entre as instituições aí estabelecidas. O SEBRAE
local se queixa de que nem a Prefeitura nem as empresas locais o procuram de forma
ordenada e representativa; a Prefeitura, por sua vez, diz que o SEBRAE “não faz nada para o
município” e os empresários (uma proporção grande dentre aqueles que foram entrevistados)
alegam que tanto a Prefeitura quanto o SEBRAE não oferecem nada para as empresas.
Um outro problema diagnosticado na atuação e na operacionalidade do SEBRAE é a falta de
critérios quanto à seleção de seu pessoal técnico e a alta rotatividade dos mesmos, o que
impede a familiarização dos técnicos com o tecido empresarial local. A falta de critérios na
seleção de seu pessoal fica evidente no desconhecimento dos técnicos em relação à economia
do município, em relação à identificação dos principais atores e agentes econômicos locais
bem como ao despreparo funcional que os mesmos apresentam. Por outro lado, a alta
rotatividade destes técnicos faz com que a obtenção de informações sobre a historicidade dos
programas de apoio fique altamente comprometida. Isto impediu-nos, por exemplo, de obter
informações sobre o Programa Prefeito Empreendedor, elaborado e concebido pelo SEBRAE
em 2001 numa parceria com a Prefeitura municipal. Ao final de 2002, este mesmo programa
não encontrava mais nenhuma ressonância e nenhum eco no meio empresarial e institucional
local, como se todas as informações sobre ele tivessem sido dissipadas e as pessoas que
pudessem falar sobre ele não estivessem mais em Itaguaí. Um outro programa (Projeto
Empreender), também concebido e implantado em sua fase embrionária pelo SEBRAE,
caducou completamente quando uma técnica treinada para a sua implantação foi deslocada de
Itaguaí.
Em outras palavras, a existência de programas de apoio se reflete na adesão institucional das
empresas e vice-versa, significando que a oferta de programas de apoio não é uma condição
totalmente externa ao município pesquisado ou ao seu tecido empresarial, mas que uma maior
procura por parte das empresas locais e a busca, por parte dessas mesmas empresas, em
formar laços com os órgãos institucionais do município leva a uma maior oferta de programas
de apoio na região. A oferta de programas de apoio pelos órgãos institucionais e setoriais
depende, entre outras coisas, da demanda exercida pelas empresas do município; e não basta
que esta demanda seja pontual ou isolada: é necessário que esta demanda seja organizada e
que obedeça a uma coerência setorial.
O Programa de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba
O segundo tipo de programa de apoio considerado foi o projeto de expansão do Porto de
Sepetiba. Este programa não é dirigido diretamente às empresas, nem se refere a um aspecto
qualquer de sua gestão, como, por exemplo, o seu financiamento, a sua capacitação, a
pesquisa ou o desenvolvimento de novos materiais ou tecnologias, mas diz respeito a um
conjunto de medidas institucionais que visam fomentar as atividades vinculadas à expansão
do Porto de Sepetiba. Desta forma, podemos considerar como empresas “apoiadas” todo o
conjunto de empresas que se beneficiam dessa expansão. Desta forma, consideramos como
empresas apoiadas aquelas que estão localizadas na área portuária, bem como aquelas que
estão no seu entorno e que se beneficiam da expansão do Porto de Sepetiba.
Assim, segundo os critérios adotados, foram encontradas, em nossa amostra, quatorze
empresas apoiadas (14% do total da nossa amostra). Destas, sete localizam-se no Porto de
Sepetiba e outras sete são empresas que não se localizam no Porto de Sepetiba, mas possuem
relações econômicas com empresas situadas no Porto. Um segundo critério para a inclusão
deste último grupo de sete empresas é que o seu desempenho econômico tenha sido alterado
em função da expansão das atividades do Porto de Sepetiba. Todas as empresas apoiadas
fazem parte do setor de transportes e atividades portuárias, o que não nos permite distinguir os
efeitos deste programa de apoio sobre os diferentes setores pesquisados.
A natureza deste apoio, do ponto de vista das empresas que dele participam, é aproveitar-se
das externalidades positivas associadas à expansão do Porto de Sepetiba, dos efeitos de
transbordamento entre a economia portuária e a economia local, bem como dos efeitos de
proximidade gerados pela operação das empresas portuárias. Desta forma, 79% das empresas
entrevistadas que participam deste programa de apoio concordaram que o simples fato de
serem vizinhas ao Porto e de sua atividade estar direta ou indiretamente ligada à atividade
portuária pode significar uma possibilidade de expansão dos negócios da empresa. De fato, se
o funcionamento do Porto de Sepetiba tem um impacto evidente para as empresas que aí se
localizam, o programa de apoio Porto de Sepetiba representa, antes de mais nada, um mercado
potencial para estas empresas, mercado este que só será alcançado se houver um esforço de
mobilização por parte dessas empresas. Em outras palavras, trata-se de um projeto de apoio
cuja natureza é a captação, por parte das empresas envolvidas, das economias externas e dos
efeitos de aglomeração que se originam a partir da expansão do Porto de Sepetiba.
De fato, o programa de apoio vinculado à expansão do Porto de Sepetiba não deixou de ter
alguns efeitos positivos, que foram avaliados da seguinte maneira pelas empresas concernidas
(ver tabela abaixo).
Tabela 44: Efeitos do programa Porto de Sepetiba sobre alguns dos domínios da empresa Proporção entre as empresas concernidas (%) Efeitos do apoio sobre o seguinte domínio
da empresa: (n = 14) Sem importância Muito importante IndeterminadoVolume da produção/faturamento 7 93 - Gestão 64 36 - Capacitação 71 29 - Melhoria de produto 79 21 - Melhoria do processo produtivo 71 29 - Equipamento 50 21 29 Matéria-prima e/ou fornecedores 29 29 42
Emprego 21 79 - Relações com administrações 14 44 42 Conhecimento da tributação 58 0 42 Informações (mercado, clientes...) 43 43 14 Financiamento 50 14 36 Comercialização 57 43 - Controle da qualidade 43 43 14 Cooperação inter-firmas 65 14 21 FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Como podemos ver na tabela acima, dois impactos principais apareceram para as empresas
que foram objeto do programa de apoio: para 93% delas houve um aumento importante de sua
atividade e para 79% houve um aumento importante no efetivo de pessoas empregadas. Esses
impactos revelam bem a natureza desse programa. Em um menor grau, algumas empresas
sublinharam os efeitos do programa para: melhor conhecimento de seu mercado (43% das
empresas concernidas); melhor desempenho na comercialização (43%) e para um melhor
controle da qualidade de seus produtos (43%). Apesar do caráter de configuração produtiva
em que deveria se constituir uma economia portuária e do funcionamento desse tipo de
atividade, digno de nota é o fato de 65% das empresas apoiadas sublinharem que o programa
do Porto de Sepetiba não induz a uma cooperação interfirmas muito elevada. Ao mesmo
tempo, apesar da presença de uma autoridade portuária encarregada do desenvolvimento do
Porto, os efeitos do programa de apoio sobre a capacitação foram julgados sem importância
por 71% das empresas concernidas.
Outra característica do programa de apoio Porto de Sepetiba é que em geral as empresas
apoiadas são mais dinâmicas do que as empresas não apoiadas. Como foi demonstrado na
exposição dos dados primários (capítulo 5), se pegarmos variáveis tais como faixa de
faturamento, volume da produção, número de empregados (e também a evolução recente
dessas três primeiras variáveis), nível de escolaridade dos empresários, uso de tecnologias de
informação, volume de investimento no período recente, iniciativas para a capacitação
adicional de seus funcionários, enfim, todas estas variáveis atestam um maior dinamismo das
empresas apoiadas vis-à-vis às não apoiadas. Esse resultado já era esperado se considerarmos
que as empresas apoiadas estão no setor mais dinâmico da economia de Itaguaí. Ou seja, esse
maior dinamismo não é o resultado em si do programa de apoio, mas sim uma conseqüência
das empresas apoiadas estarem inseridas em um setor dinâmico que passa por uma
revitalização a partir da execução do projeto de ampliação e modernização do Porto de
Sepetiba.
As empresas apoiadas foram escolhidas dentro de um setor que se destaca pela presença de
empresas modernas e mais inovadoras do que as empresas tradicionais do município, um setor
portuário que tem atraído empresas que até então só operavam nos grandes centros urbanos
portuários (particularmente Rio de Janeiro e Santos). Não é o programa de apoio que tem
remodelado o modo de atuação destas empresas e com isto elas se tornaram mais eficientes e
dinâmicas, melhorando o seu desempenho a partir de sua instalação na área que abrange o
Porto de Sepetiba. Estas empresas já eram dinâmicas antes delas se instalarem em Itaguaí, e
foi a revitalização do Porto que as atraiu para a área que estamos estudando. Mas se o
programa de apoio não teve nenhum impacto na revitalização destas empresas e se não
podemos atribuir o melhor desempenho e o melhor dinamismo dessas empresas à atuação do
programa de apoio, porque se justifica a análise de um programa de apoio e, particularmente,
qual é a participação deste programa no desenvolvimento local do município?
A análise do programa de apoio se justifica pelo seu poder de irradiação para as outras
empresas do município de Itaguaí e, consequentemente, para o conjunto da economia local. O
programa de apoio só se completa – só atinge a sua plena maturidade – quando ele difunde,
para a economia do município (e para as empresas aí situadas) as externalidades econômicas
geradas pela expansão e modernização do Porto de Sepetiba. É através do programa de apoio
que a economia portuária (mais dinâmica e onde estão as empresas mais eficientes e com
melhor desempenho) poderá se integrar à economia do município, e através da fusão dessas
“duas” economias fundar uma economia portuária localmente integrada (o terceiro cenário
analisado na subseção 6.3.3). A economia local só poderá se integrar plenamente à economia
portuária através de mecanismos institucionais que sejam acionados para isto, e o programa
de apoio é uma oportunidade para se catalisar as diversas iniciativas institucionais. As
relações econômicas ou as relações de troca mercantis não são suficientes para isto. É
necessária a promoção de um programa institucional e de relações institucionais para
promover uma dinâmica de maior proximidade entre as empresas, o poder público local e a
sociedade civil.
Esses dois tipos de programas de apoio dizem respeito apenas às firmas e às suas relações
com as instituições/organismos governamentais ou federações de empresários (programas
pontuais) ou às firmas inseridas em seu ambiente de entorno imediato (programa de expansão
do Porto de Sepetiba). No entanto, considerar apenas as relações interfirmas não basta. Como
dissemos, as formas de manifestação da reação autônoma de um território devem ser o
resultado de iniciativas das três formas intermediárias de coordenação (Estado, sociedade civil
e firmas) e não de iniciativas tomadas apenas por “um vértice do triângulo”. E mais: essas
iniciativas devem convergir para um objetivo compartilhado e a sua estratégia deve ser
coerente no sentido de responder a uma problemática comum de desenvolvimento local. A
reação autônoma de um território deve ser a síntese das estratégias buscadas pelas três formas
intermediárias de coordenação e deve ser assimilada por cada uma dessas três instâncias. É
por isso que, na seção seguinte, passaremos a considerar o elo ausente nessa articulação entre
os três tipos de atores locais: a capacidade de mobilização da sociedade civil e a capacidade
de institucionalização dessa mobilização através do Plano Diretor do Município.
6.4.2. O grau de mobilização da população e da sociedade civil em torno do Projeto
Sepetiba
Nesta subseção podemos partir da seguinte pergunta inicial: quais são as possibilidades das
instituições locais capturarem o projeto de ampliação e modernização do Porto de Sepetiba?
Como já foi indicado na discussão sobre a concepção e a gestão do Projeto Sepetiba,
questiona-se a estratégia de isolamento econômico e de encapsulamento institucional em sua
gestão administrativa, pela qual passou a primeira fase de concepção e expansão do Porto de
Sepetiba:
“A experiência dos principais portos da Europa mostra que uma estratégia vinculada ao desenvolvimento local pode oferecer um leque bem maior de oportunidades econômicas para as atividades associadas ao porto, além de uma gestão pública mais democrática e transparente. Isto inclui, é claro, um alto grau de autonomia local e o fortalecimento das instituições municipais ou estaduais” (Cocco, 1999).
Nas entrevistas abertas pôde-se perceber a baixa “sensibilidade” das administrações públicas
municipais para com a questão de se associar a consecução do Porto com o desenvolvimento
local do município e da região, uma vez que a expansão das atividades do Porto de Sepetiba e
a captação de suas externalidades por parte da economia local não se constituem em
prioridades para a Prefeitura local. Preocupada com questões mais imediatas tais como a
saúde e a educação, a administração local não vê, no Porto de Sepetiba, uma possibilidade
concreta de se aumentar a quantidade de empregos nem tampouco a arrecadação do
município, ao menos no curto prazo. 78
As atividades do Porto de Sepetiba parecem estar desconectadas da economia local, e a
Prefeitura parece desconhecer os meios cabíveis para “capturar” o Projeto Sepetiba. Em
primeiro lugar por puro e simples desconhecimento de causa. Não há na Prefeitura um
cadastro das empresas e unidades industriais instaladas no Porto, por exemplo. Não se sabe ao
certo o volume de arrecadação oriundo do Porto. Dificilmente se obtém o controle até mesmo
das empresas que estão de fato operando no Porto de Sepetiba (muitas empresas que constam
do cadastro da Prefeitura na verdade já abandonaram o local). Considerando que as
informações supracitadas seriam as mais simples de se obter, e que sua disponibilidade seria
um quesito básico para qualquer atuação da Prefeitura junto ao porto, o que não poderíamos
dizer em relação a qualquer informação ou estudo um pouco mais elaborado. Por exemplo, os
principais setores de atividade, presentes na cidade, que poderiam ser beneficiados com a
expansão do Porto. Quais as empresas localizadas no município que se constituem em
fornecedores potenciais das grandes empresas instaladas no Porto? Em relação ao mercado de
trabalho, quais são os requerimentos de qualificação solicitados pelas empresas do Porto? A
mão-de-obra de Itaguaí está capacitada a atender esses requerimentos?
As respostas para tais perguntas inexistem no âmbito da Prefeitura Municipal ou de qualquer
uma de suas secretarias. Os que seriam os órgãos de apoio da Prefeitura, como a ACIAPI, por
exemplo, também não possuem tais informações. A expectativa da Prefeitura em relação à sua
participação efetiva em uma gestão produtiva do Porto são nulas, apesar dela ter
representantes no Conselho de Administração Portuária (CAP). O Porto de Sepetiba é muitas
vezes visto como uma entidade privada, pertencente a uma grande empresa cujo único
interesse em Itaguaí é usufruir daquela área geográfica que se constitui em porta de entrada e
de saída para a Baía de Sepetiba. A área do Porto não é vista, pelas autoridades municipais,
como uma coisa pública e muito menos como um bem público que tem um grande potencial
para a geração de externalidades econômicas. Esta percepção também é corroborada por
Cocco (1999):
78 Além da saúde e da educação, alvo de grandes despesas orçamentárias em Itaguaí, é também dado grande destaque à falta de saneamento básico no município. Portanto, antes de se preocupar com o Porto, existem questões básicas a serem resolvidas.
“... de uma maneira bastante sintética e direta, os Secretários municipais pouco ou nada sabiam sobre o Projeto Sepetiba (...) A falta de informações é uma constante entre as Prefeituras do entorno do Porto, cujos representantes admitiam não ter informações oficiais, ficando restritos àquelas veiculadas pela mídia. Tudo é muito vago e fica sempre no plano da especulação e da expectativa”.
No contato que fizemos junto à Câmara Municipal de Itaguaí, com o intuito de perceber a
importância do Porto de Sepetiba para o desenvolvimento da região, obtivemos de um
vereador um depoimento que pode ser resumido através da argumentação que se segue: em
primeiro lugar, este vereador afirmou que Itaguaí é “vítima da especulação imobiliária”
(vários terrenos no entorno de Itaguaí foram reservados para a implantação futura de grandes
projetos industriais que até agora não se realizaram). O mesmo vereador adota uma postura
bastante crítica em relação ao Porto de Sepetiba:
“O Porto de Sepetiba traz mais lucro ou prejuízo [para a cidade de Itaguaí]? É o maior poluidor da cidade. Quem ganha com o Porto é a CSN, a Petroquímica e algumas poucas grandes empresas que especularam com terrenos próximos. Atraiu muitos trabalhadores de outras regiões (NE) sem ter onde instalá-los; foi o responsável pela criação de favelas”. 79
A conclusão deste vereador, em seu depoimento em uma das reuniões plenárias do Plano
Diretor, foi bastante ameaçadora para o prosseguimento dos trabalhos de elaboração do Plano:
“... o Plano Diretor deve ser votado pela Câmara. Se não tiver respaldo popular, não será
votado ou será de acordo com os interesses representados na Câmara”. 79
Se no âmbito do poder público de Itaguaí e de suas instâncias de representação as informações
são poucas e a situação é de total passividade, quando não de crítica por vezes extremada,
como vimos através do relato do depoimento do vereador, entre a população do município a
situação era ainda pior, mesmo entre os setores organizados da sociedade civil. Cocco (1999)
captou o mesmo diagnóstico:
“uma análise da sociedade civil de Itaguaí que passe pela análise do discurso local sobre o Projeto Sepetiba e o significado que este tem para a população do município, indica sobretudo um elevado grau de ceticismo no que se refere às possibilidades do município e seus habitantes virem a se apropriar e a se beneficiar da ampliação e modernização do Porto”.
79 Depoimento em entrevista realizada em 05-11-2002, no acompanhamento do I Fórum Popular de Acompanhamento de Plano Diretor do Município de Itaguaí.
A origem deste ceticismo, que em nossas incursões e pesquisas de campo verificamos ser uma
forte marca local, está associada aos outros grandes projetos destinados ao município e que
não chegaram a se concretizar. Frases do tipo “Itaguaí vive de sonhos...”, “... tivemos uma
série de expectativas frustadas” ou “Itaguaí é a terra do nunca” são corriqueiras e fáceis de
se ouvir quando membros da população local são convidados a falar sobre as perspectivas
econômicas da cidade. Há uma grande incerteza e mesmo descrença da população no que se
refere ao potencial indutor do Porto de Sepetiba para o aumento da oferta de empregos na
região, sendo que a população percebe que esses empregos, se forem mesmo criados,
dificilmente serão ocupados pelos moradores de Itaguaí. Ainda no que diz respeito aos efeitos
indutores da ampliação das atividades do Porto sobre a economia do município, é significativa
a resposta dada por uma representante de um atuante organismo local que “... nem o material
de consumo dos escritórios as empresas do Porto compram em Itaguaí, vem tudo lá do Rio”.
Temos então um quadro bastante pessimista quanto ao engajamento da população local no
Projeto Sepetiba. Tanto os poderes públicos locais quanto a sociedade civil organizada, e até
mesmo os munícipes que não se encontram representados politicamente ou
institucionalmente, nenhuma dessas três classes de atores sociais se sente como fazendo parte
do Projeto. Situação compreensível se considerarmos que os representantes locais não foram
convidados a participar e, principalmente, não conseguiram se organizar para exigir esta
participação, talvez por considerarem esta participação sem efetividade para a absorção dos
benefícios e externalidades econômicas trazidas pela expansão das atividades do Porto de
Sepetiba. Os mentores do Projeto Sepetiba tiveram uma concepção do espaço geográfico
como produto da aplicação de funções econômicas e desconsideraram o território local como
fator de reação às variantes externas.
Entretanto, iniciativas por parte dos três níveis de governo não estão deixando de ser tomadas.
Da parte do Governo Federal, o Porto de Sepetiba está mais uma vez incluído no Plano
Plurianual (PPA), cuja linha de ação consiste em incentivar parcerias entre as esferas pública
e privada para a consecução de obras de infra-estrutura. Além disso, sabe-se que no
orçamento da União para 2004 está contemplada uma dotação para a duplicação da Rodovia
RJ-109, objeto de desejo de empresários que atuam na região e vista por muitos como a
redenção para o escoamento e o melhoramento dos fluxos comerciais na região e no seu
entorno.
No plano estadual e no contexto da guerra fiscal e da profusão de incentivos que se sucederam
ao anúncio da Reforma Fiscal pelo Governo Federal no primeiro semestre de 2003, o Governo
do Estado do RJ aprovou na Assembléia Legislativa quatro programas que têm implicações
diretas sobre as atividades do Porto de Sepetiba: o Projeto Pró-Sepetiba, que cria um
programa de fomento à atividade econômica na Região; o Rio Portos, que é um programa de
fomento e incremento à movimentação de cargas pelos portos e aeroportos fluminenses; o
Projeto Siderúrgica, que dá incentivos fiscais para a CSN instalar uma siderúrgica nos
contornos da área portuária de Sepetiba; e finalmente o Projeto Porto, que dá incentivos para
empresas da área de influência do Porto de Sepetiba (O GLOBO, 25-09-2003).
No plano municipal, duas iniciativas devem ser mencionadas: uma externa e outra interna. No
plano externo, através de um estudo encomendado pela FINEP junto a Coppe (UFRJ), uma
equipe de consultores e autoridades políticas está tentando mobilizar as prefeituras da região
através da valorização de duas entidades locais: a Associações dos Prefeitos Municipais do
Estado do Rio de Janeiro (APREMERJ) e a Associação dos Prefeitos da Baixada Fluminense
(APBF). Esta mobilização, operacionalizada através de encontros e seminários
interinstitucionais, têm por objetivo convencer e sensibilizar os prefeitos da região a
participarem da elaboração e dos resultados do “Plano de Gestão Estratégica da Área de
Entorno do Complexo Portuário Sepetiba/Itaguaí”, concebido pela Coppe e financiado pela
FINEP. Este projeto tem por objetivo gerar um modelo de gestão estratégica da área de
influência do Complexo Portuário de Sepetiba, com a participação público/privada. A falta de
quorum popular e a sua baixa representação política foram uma das maiores críticas dos
organizadores do projeto às instituições de Itaguaí.
No plano interno, uma outra possibilidade de mudança em relação a este quadro, esta mais
próxima da população local, diz respeito às negociações que se desenvolveram, ao longo de
2003, em torno da elaboração e da aprovação do novo Plano Diretor do Município de Itaguaí.
Trata-se de uma ocasião em que as organizações municipais estão fortemente mobilizadas na
discussão dos temas que vão reger a administração municipal nos próximos anos, tais como a
lei de zoneamento e ocupação do solo, o código tributário municipal, os vetores de expansão
econômica, as discussões sobre o orçamento público, etc. No caso de Itaguaí, o Plano Diretor
atual (ou o último Plano aprovado e publicado) data de 1976, e foi elaborado pela extinta
FUNDREM. Portanto, à época da elaboração do último Plano Diretor a construção do Porto
de Sepetiba ainda não era nem uma realidade, e neste Plano não constavam as possibilidades
de exploração econômica, pelo Município, das potencialidades do Porto. A situação hoje é
totalmente diferente da situação de quase três décadas atrás, e hoje os efeitos indutores da
expansão do Porto de Sepetiba sobre a economia do município podem ser totalmente
contemplados pelo novo Plano Diretor.
6.4.3. Sobre a possibilidade de formação de capital social a partir da elaboração do
Plano Diretor
A hipótese formulada na parte teórica e desenvolvida ao longo da parte empírica é que as
formas latentes de capital social existentes no sítio pesquisado poderiam se desenvolver em
formas mais aprimoradas e maduras, desde que as representações e organismos das formas
intermediárias de coordenação presentes no sítio se mobilizassem para institucionalizar seus
respectivos interesses e as relações sociais presentes no sítio. O Plano Diretor do Município
de Itaguaí constitui-se num sistema representativo onde todas as instâncias de representação
(social, econômica, política e jurídica) estão presentes. Ao menos teoricamente, o Plano
Diretor congrega todas as representações sociais de que falamos na parte teórica deste
trabalho, quais sejam, as representações da sociedade civil, do poder público local e do tecido
empresarial. Através das comissões constituídas para a elaboração e execução do Plano
Diretor, reproduzidas no Quadro 16 abaixo, podemos ver que praticamente todos os
organismos e instituições locais que foram relacionados no capítulo 4 (seção 4.3:
Caracterização do ambiente institucional de Itaguaí) estão representados na elaboração do
Plano Diretor do Município.
Quadro 16: O processo de elaboração do atual Plano Diretor de Itaguaí (em curso durante o ano de 2003).
COMISSÕES CONSTITUÍDAS DO PLANO DIRETOR Nome: Componentes: Responsável:
1) Constituição, Justiça e Redação
Secretaria de Desenvolvimento, Secretaria de Governo, SINTRUPAI
Secretaria de Desenvolvimento
2) Segurança Pública Municipal e Direito do Consumidor
Secretaria de Urbanismo, Maçonaria, Secretaria de Desenvolvimento, Secretaria de Governo, CODUITA
Maçonaria Santana: 2688-4341
3) Tributação, Fiscalização e Orçamento
Secretaria de Fazenda, Secretaria de Urbanismo, CODUITA
Secretaria de Fazenda
4) Urbanismo e Transporte SINTRUPAI, CODUITA, Secretaria de Urbanismo, SAMAP, Fundação Delta
Fundação Delta (Dr. Marcos)
5) Zoneamento, Uso e Ocupação do solo
SINTRUPAI, CODUITA, Secretaria de Urbanismo, Secretaria de Saúde, SAMAP, Fundação Delta
CODUITA
6) Desenvolvimento ACIAPI, CODUITA, Secretaria de Urbanismo, ACIAPI
Econômico, Indústria e Assuntos Portuários
Secretaria de Desenvolvimento, Secretaria de Fazenda, Fundação Delta
Marcos Praxedes 9892-0641
7) Saúde, Trabalho e Assistência Social Secretaria de Saúde, Fundação Delta, SAMAP Secretaria de Saúde
8) Agricultura, Meio-Ambiente, Pesca e Sustentabilidade
SINTRUPAI, ACIAPI, Cooperativa Abelhinhas, Sindicato Rural, Fundição, APRUMMA, SAMAP, APLIM, Fundação Delta
SAMAP – Sec. de Agricultura, Meio Ambiente e Pesca (Leandro)
9) Educação, Cultura e Comunicação Fundição, Secretaria de Governo, APAE, SAMAP Secretaria de
Governo
10) Turismo, Lazer e Esporte
APAE, Maçonaria, Cooperativa Abelhinhas, Secretaria de Governo, Secretaria de Fazenda, SAMAP, Secretaria de Desenvolvimento
Secretaria de Desenvolvimento
FONTE: Pesquisa de campo, 2003.
Desta forma, no Plano Diretor estão constituídas comissões que poderão ser o germe de redes
de relações entre os diversos segmentos da sociedade econômica, social e produtiva de
Itaguaí. Encontram-se presentes as associações de moradores, as ONGs, os sindicatos, as
associações profissionais e de classe, as entidades mistas e os organismos tripartites
(comissões), bem como representantes do poder público local, através das secretarias de
governo. Os três vértices do triângulo ao qual nos referimos no início deste capítulo estão
representados. Todas as formas intermediárias de coordenação, que são essencialmente
territorializadas e dizem respeito às instituições e organismos locais, às redes formais e
informais, às associações e comunidades locais estão representadas. Cada comissão
constituída é um local de negociação de conflitos e de formulação de compromissos que
deverá estabelecer vínculos entre os atores locais e aumentar o grau de coesão das relações
sociais bilaterais e multifacetadas, aumentando também a densidade das redes constituídas e
com isto fortalecendo o estoque de capital social da região (Coleman, 1990; Putnam, 1993).
De particular interesse para o sítio pesquisado, mas principalmente no que diz respeito ao
objeto deste trabalho, a comissão “Desenvolvimento Econômico, Indústria e Assuntos
Portuários” (item 6 do quadro acima) representa a aglutinação dos atores sociais que talvez
tenham maior peso nas decisões econômicas do município. Esta comissão pode ser tomada
como um exemplo de como se articulam as forças locais em torno de um projeto comum.
Temos, nesta comissão, um forte representante da classe empresarial, que é a ACIAPI
(Associação Comercial, Industrial e Agro-Pastoril de Itaguaí), braços importantes do poder
público local (a CODUITA e mais três secretarias de governo) e um dos organismos mais
atuantes da sociedade civil de Itaguaí (a ONG Fundação Delta). Esta comissão foi investida
pelo órgão executor do Plano Diretor (a Secretaria de Desenvolvimento do Município) de
levar adiante um projeto de desenvolvimento para o município de Itaguaí de forma articulada
com o desenvolvimento portuário. Ou seja, as autoridades municipais perceberam que a
expansão e modernização portuária devem estar no cerne de um projeto de desenvolvimento
local.
Temos então, de um lado, um programa de apoio (Projeto de Ampliação e Modernização do
Porto de Sepetiba) que foi planejado e vem sendo executado pelas autoridades federais sem a
participação, até este momento, das instituições locais, como foi amplamente discutido ao
longo deste capítulo. De outro lado, temos um início de mobilização da população local em
torno da elaboração de seu Plano Diretor, e na elaboração deste Plano constitui-se uma
comissão para discutir um projeto comum de desenvolvimento que integre a lógica econômica
portuária. Está dado o ponto de partida para uma integração entre estas duas esferas de
decisão: a federal, que concebeu o Projeto Sepetiba e a municipal, que vem desenvolvendo os
seus trabalhos em torno da elaboração do Plano Diretor. O desafio para estas duas instâncias
de decisão é que os seus representantes se mobilizem para discutir os pontos em comum e
coloquem as suas divergências para serem negociadas de maneira horizontal
(democraticamente). Vários fóruns foram feitos ao longo de 2003 que promoveram o encontro
entre essas duas instâncias de representação.
Sob o ponto de vista da discussão teórica que travamos ao longo da primeira parte deste
trabalho, este encontro do Plano Diretor com o Projeto Sepetiba seria o encontro das formas
intermediárias de coordenação (poder público local, sociedade civil e tecido empresarial local,
todos eles representados na Comissão “Desenvolvimento Econômico, Indústria e Assuntos
Portuários”) com as instâncias supra-regionais que até agora decidiram o destino do Porto de
Sepetiba. Essas instâncias supra-regionais dizem respeito aos organismos, instituições e
autoridades econômicas e políticas que conceberam o Projeto Sepetiba, cujos interesses e
identidade foram revelados nas subseções 6.2.1 e 6.2.2. Elas fizeram valer os seus interesses e
fizeram-nos incidir sobre o território como formas de manifestação da pressão heterônoma,
dirigindo a economia portuária para uma configuração do Porto de Sepetiba que se assemelha
a um cenário de porto concentrador de cargas conteinerizadas (a segunda alternativa discutida
na seção 6.3).
Até o momento que precedeu a mobilização da população local para a elaboração do seu
Plano Diretor, podemos afirmar que as formas de manifestação da reação autônoma,
necessárias para a elaboração de um projeto comum de desenvolvimento local, estavam
inertes e não se confrontavam e nem reagiam ao que era imposto de fora sob a roupagem de
um Projeto de Ampliação e Modernização do Porto de Sepetiba. Pela primeira vez na história
recente de Itaguaí, através do seu Plano Diretor, há uma tentativa de mobilização de sua
população que pode resultar no estabelecimento e no amadurecimento de formas autônomas
de manifestação que seriam canalizadas, através da discussão do papel do Porto de Sepetiba
no desenvolvimento local, para o confronto e para a reação às forças exógenas que exercem
sobre o território uma pressão heterônoma.
Como dissemos na parte teórica, os atores sociais responsáveis pela emergência de forças
locais de reação autônoma são os atores locais que representam as formas intermediárias de
coordenação; são os organismos e instituições locais que representam o poder público local, o
tecido empresarial e a sociedade civil. A partir do momento em que há um equilíbrio interno
de forças entre estas três instâncias de representação e elas se articulam para, em torno de um
projeto comum, confrontar e reagir às leis funcionais que incidem sobre o território (a pressão
heterônoma), então este território está pronto para iniciar um processo de desenvolvimento
endógeno cuja trajetória será a síntese do movimento dialético entre a ação e a reação, entre o
global e o local, entre a pressão heterônoma e a reação autônoma.
O capital social é um requisito para que o território consiga iniciar este processo de reação
autônoma. A formação de redes que unam os três vértices que representam as três formas
intermediárias de coordenação (poder público local, sociedade civil e tecido empresarial
local), formando uma coesão e uma identidade territorial capaz de promover um projeto
comum, é a única forma através da qual o território pode fazer face à pressão heterônoma. A
coesão interna em torno de um projeto comum e a confiança que os atores locais depositam
uns nos outros, a reciprocidade entre eles, as redes interfirmas, as redes entre o tecido
empresarial, os organismos públicos e as associações profissionais e os vínculos entre os
empresários locais e a sociedade civil, todo este conjunto de relações são maneiras que a
sociedade local tem à sua disposição para confrontar-se à pressão heterônoma. É a densidade
e o conteúdo das redes de relações que vão permitir a construção de relações sinérgicas entre
os agentes do poder público, imbuídos da difusão e implantação do programa de apoio, e os
atores locais, que devem ser os promotores do desenvolvimento local no médio e longo prazo.
Pela hipótese do construtivismo social, adotada ao longo deste trabalho, é somente a partir da
coesão das redes sociais e econômicas internas em torno de um projeto comum que um
território está apto a promover relações sinérgicas que despertem um processo de
desenvolvimento econômico local.
As relações sinérgicas que estão prestes a acontecer em Itaguaí são aquelas que estão se
estabelecendo entre as instâncias federais (e suas respectivas autoridades responsáveis pela
concepção, coordenação e execução do Projeto Sepetiba) e as instâncias de representação
local (as instituições locais), que estão representadas na comissão do Plano Diretor que trata
do desenvolvimento econômico, industrial e assuntos portuários. Através destas relações as
instituições locais poderão se apropriar do programa de apoio Projeto Sepetiba e redirecionar
a sua configuração produtiva para uma economia portuária localmente integrada.
6.5. Conclusão
Vimos, neste capítulo, como a concepção e a execução do Projeto de Ampliação e
Modernização do Porto de Sepetiba foram feitas sem a participação das instituições locais. Ao
mesmo tempo, estas não foram capazes de se articular e de reivindicar os interesses do
município junto às autoridades portuárias. Os motivos desta separação residem tanto de uma
tradição herdada da época desenvolvimentista, onde os grandes projetos e obras estruturais
eram decididos em gabinetes com pouco ou nenhuma participação da população diretamente
envolvida, quanto de um quadro institucional local precário e pouco desenvolvido, onde os
principais organismos e instituições são ainda imaturos e não desenvolveram mecanismos
implícitos de transformação de relações sociais de proximidade (relações comunitárias, de
vizinhança, de parentesco, etc) em relações institucionalizadas e redes afirmativas com
finalidades produtivas. Trata-se do que Peter Evans (1996) chamou de scaling up de relações
sociais e pessoais em nível micro para relações formalizadas e institucionalizadas num nível
meso. O território pesquisado não se mostrou, ainda, capaz de institucionalizar,
suficientemente, as relações sociais pessoais e informais que lhe permeiam.
Constatamos, durante a pesquisa de campo e a realização das entrevistas abertas, que várias
relações informais e não-oficiais persistem no município, e enquanto esses arranjos informais
perdurarem, dificilmente as instituições locais irão transpor os seus acordos e negociações
para um nível impessoal que garanta a aplicação de princípios universais e modos de ação
coletivos. Assim, poderíamos citar três exemplos de redes e relações informais, de caráter
produtivo, que não foram institucionalizadas pelos organismos oficiais do município, o que
reforça a nossa hipótese de que há uma defasagem no processo de institucionalização das
relações sociais e produtivas do sítio pesquisado, o que, para Pantoja (1999), poderia se
constituir numa fonte importante de criação de capital social.
Um primeiro exemplo seriam as redes de relações informais entre a ACIAPI (Associação
Comercial, Industrial e Agro-Pastoril de Itaguaí) e o Balcão SEBRAE do município, que
formulam acordos mútuos muitas vezes sem o conhecimento dos setores produtivos
concernidos. Nesta mesma linha, foram também identificadas relações bastante fortes entre o
Conselho Municipal de Emprego e o Centro de Oportunidades (órgão monitorado pelo
Governo do Estado). Essas relações, bastante funcionais, implicam às vezes a troca de
funcionários, e reforçam a hipótese levantada de formação de redes dentro do aparato público
local.
Um segundo exemplo de relações informais são as relações familiares e de parentesco dentro
da Prefeitura Municipal, não só através da contratação, pelo Prefeito, de alguns de seus
familiares para ocupar as pastas do executivo, mas também através da circulação de parentes
pelos diversos órgãos da administração municipal. Evidentemente, este tipo de
comportamento gera uma reação por parte da opinião pública e do empresariado local, que
não enxergam, na administração municipal, um parceiro de confiança.
O terceiro exemplo se refere às empresas e às suas representações de classe. Um primeiro tipo
de redes informais entre estas instâncias são as redes que unem os empresários entre si (redes
de conhecimento, de amizade e às vezes até de parentesco). Raramente estas redes se
traduziram em benefícios econômicos ou comerciais, apenas em benefícios políticos. Um
segundo tipo de redes informais no meio empresarial são aquelas que ligam os empresários às
suas associações de classe (ACIAPI). Os dirigentes da ACIAPI são também dirigentes de
empresas e aqueles que conseguem alcançar uma certa unanimidade no meio empresarial são
logo associados a algum projeto político de maior envergadura, como uma candidatura a um
posto legislativo ou até mesmo à Prefeitura. Vimos também casos de secretários de Fazenda
se tornarem dirigentes da ACIAPI e vice-versa, o que sugere uma convivência entre o
ambiente político (a esfera da administração pública) e o meio empresarial. São relações
complexas cujo impacto sobre a esfera produtiva do município é difícil de mensurar, e
solicitaria do pesquisador uma presença mais constante, intensa e duradoura, além da
contribuição de especialistas em outros campos do saber.
Conclusão geral
Para capturar os efeitos e externalidades positivas originadas da expansão da atividade
portuária, o município de Itaguaí deve desenvolver e aprimorar as suas instituições de modo a
ser capaz de desenvolver uma estratégia de reação autônoma que subverta e redirecione a
trajetória de crescimento imposta pelos interesses e lógicas intrínsecas que seguem os
interesses privados dos concessionários do Porto de Sepetiba. Se não conseguir redirecionar a
seu favor estas forças exógenas, que representam a pressão heterônoma exercida sobre o
território pelas leis de funcionamento da economia global, a economia do município de
Itaguaí correrá o risco de ver se instalar, na sua região de entorno, um enorme porto
concentrador (hub port) de última geração, equipado como um verdadeiro supercondutor de
cargas conteinerizadas e fluxos mercantis, com infra-estruturas logísticas modernas e
aparelhadas, articuladas ao espaço internacional e mesmo nacional, mas sem promover
dinâmicas de desenvolvimento local. Neste cenário, o Porto de Sepetiba funcionaria de modo
isolado do contexto econômico e social do seu local de implantação, o que não seria uma
novidade se considerássemos outras realidades portuárias que também foram concebidas em
regiões próximas a aglomerações urbanas.
Para elaborar uma estratégia de reação autônoma que seja capaz de integrar à economia do
município a economia portuária que está em expansão, o município de Itaguaí teria que ativar
as suas instituições e fazer com que elas trabalhassem, conjuntamente, de maneira coesa e
coerente, em um projeto de integração da economia portuária, cujo resultado seria a
constituição de uma economia portuária localmente integrada. O conjunto de instituições do
município está contido em três instâncias intermediárias de coordenação, que são o poder
público municipal, o tecido empresarial local e a sociedade civil. As redes e as articulações
entre estas três instâncias devem promover arranjos produtivos e institucionais que favoreçam
a internalização dos benefícios econômicos gerados a partir da expansão da atividade
portuária. Trata-se de endogeneizar, para a economia do município, as externalidades e as
próprias atividades econômicas trazidas pela revitalização do Porto de Sepetiba. Na medida
em que as redes de relações entre as três formas intermediárias de coordenação estejam
suficientemente maduras e coesas para reivindicar a participação do município na expansão
econômica promovida pela atividade portuária, é porque existe, por parte das instituições
locais, um projeto de desenvolvimento econômico local integrador e endógeno, coeso e auto-
sustentável. A ser alcançado este patamar de arranjo institucional e coletivo, podemos dizer
que existe capital social no município. Para que se crie e se desenvolvam níveis favoráveis de
capital social, é necessário estimular a formação de redes e de canais de negociação entre as
diversas instâncias de representação do município, estimular a confiança e o engajamento da
população em projetos comuns e criar estruturas sociais de cooperação.
Vimos, ao longo deste trabalho, que estas estruturas sociais de cooperação são ainda quase
inexistentes e a promoção de arranjos cooperativos intermediários tem ainda um longo
caminho a percorrer. Um instrumento importante que vem sendo utilizado pela Prefeitura
Municipal para incentivar a negociação e a cooperação entre as diversas instâncias de
representação presentes no município é a elaboração de um novo Plano Diretor, que através
de seu Comitê Gestor tem procurado integrar as diversas facções da sociedade civil e as
representações do empresariado local, sob o monitoramento das secretarias municipais e de
consultores externos. O Comitê Gestor, ao delegar para várias Comissões os diferentes
assuntos econômicos, fiscais, urbanos (zoneamento, uso e ocupação do solo), sociais,
educacionais e aqueles referentes à saúde da população, promove a constituição de fóruns de
negociação que poderão ser benéficos à criação de capital social.
Mas, apesar de todo este esforço recente, vimos, através da pesquisa de campo e dos
resultados colhidos através do questionário aplicado às empresas do município e das
entrevistas abertas, que o nível atual de capital social no município ainda é baixo e está muito
aquém do que seria de se esperar para que o território pesquisado fosse capaz de formular
uma estratégia coerente de reação autônoma. Os vínculos entre as empresas, as instituições
empresariais e os organismos oficiais de apoio, as redes entre o tecido empresarial local, a
sociedade civil e os organismos municipais ainda são tênues e muitas vezes as instâncias
coletivas de representação não estão preparadas (em termos técnicos) para elaborar um
projeto de desenvolvimento econômico local.
Se o objetivo inicial deste trabalho era o de explorar as condições do ambiente institucional
local em capturar as externalidades positivas geradas pela expansão da atividade portuária,
vimos que este quadro institucional ainda encontra-se num estágio inicial de mobilização,
incapaz por si só de canalizar para a economia do município todos os efeitos de
transbordamento esperados pelas autoridades municipais, empresários e população local. As
instituições e os organismos locais ainda são relativamente novos (a maioria tendo sido
constituída nos anos 1980) e o tecido empresarial local ainda está se adaptando à nova
realidade que corresponde à expansão das atividades portuárias. Além do mais, há ainda um
grau de incerteza e indecisão acerca da regulamentação do novo Plano Diretor junto à Câmara
Municipal e à Prefeitura, o que poderá alterar várias normas e leis de zoneamento e uso do
solo, que se constituem em questões estratégicas para a expansão da atividade portuária em
sua retroárea e região de entorno. Os representantes das grandes operadoras e das próprias
autoridades portuárias estão em compasso de espera para ver quais serão as novas diretrizes
de uso do solo estabelecidas pelo Plano Diretor.
Independente das novas regulamentações e deliberações que virão com o Plano Diretor, é
necessário que se crie instâncias de participação e fóruns de negociação entre os amplos
setores da sociedade local interessados tanto no desenvolvimento portuário quanto no
desenvolvimento da economia local. Como o desenvolvimento da economia do município não
virá automaticamente como resultado da expansão das atividades portuárias, são estas
instâncias de participação que poderão criar os mecanismos formais e institucionais capazes
de canalizar, para a economia do município, as externalidades econômicas geradas pela
expansão portuária. Estas instâncias, tratadas no texto, são as formas intermediárias de
coordenação e as relações institucionais tripartites que se estabelecem entre o poder público
municipal, o tecido empresarial local e a sociedade civil. As redes entre as empresas do
município são fracas; não existe uma solidariedade entre elas a ponto delas reivindicarem,
junto às grandes empresas operadoras portuárias, uma maior participação na expansão
econômica provocada pela exploração do nicho portuário. As redes de cooperação e apoio
entre as micro e pequenas empresas do município e os organismos e serviços técnicos oficiais
também são insuficientes, inexistindo, no município, programas institucionais de apoio
especificamente voltados para o preenchimento das demandas e das fragilidades apresentadas
por estas micro e pequenas empresas. Ao mesmo tempo, a sociedade civil local não possui
mecanismos fortes de representação junto ao poder público municipal nem tampouco junto ao
tecido empresarial local. Fora a participação de algumas empresas em organismos e
instituições de caridade, não há, no município, um envolvimento da população local nos
assuntos produtivos e econômicos. Desta forma, torna-se necessário desenvolver e aprimorar
as formas intermediárias de coordenação até o ponto em que elas se tornem maduras o
suficiente para formularem, juntas, uma estratégia de reação autônoma que implique na
colocação em prática de um projeto comum de desenvolvimento econômico local, projeto este
negociado e consensual, de modo que possa impor, aos atores e instâncias representativas da
economia portuária, sua participação e a distribuição dos benefícios econômicos auferidos
pela expansão da atividade portuária.
Este resultado tem algumas limitações se considerarmos que pouco acompanhamos as
reuniões do principal instrumento institucional capaz de levar a uma maior participação da
população local nos assuntos econômicos e portuários que dizem respeito ao município: as
reuniões do Comitê de Gestão e Elaboração do Novo Plano Diretor do Município, promovidas
pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento. O acompanhamento mais detalhado destas
reuniões, que tiveram o seu auge no segundo semestre de 2003, nos teria permitido avaliar e
identificar melhor o real potencial de mobilização da sociedade civil e a influência que esta
exerce sobre os assuntos econômicos do município, bem como os diversos representantes do
tecido empresarial. Ao mesmo tempo, não pudemos acompanhar a repercussão dos últimos
atos (programas do executivo estadual que foram enviados e aprovados na Assembléia) do
Governo Estadual em relação a sua política de incentivos para a atividade portuária, atos que
foram mencionados no capítulo 6, mas cujos impactos sobre a atividade propriamente dita não
puderam ser captados.
Outros trabalhos empíricos sobre o desenvolvimento econômico local e o papel do capital
social na mobilização dos atores locais para a elaboração de uma estratégia comum de reação
autônoma, sempre em territórios pertencentes a regiões em desenvolvimento (trabalhos que
foram feitos sob a tutela de órgãos financiadores mundiais, como o de Evans, 1996 e o de
Pantoja, 1999) apontam para a necessidade de construção de relações sinérgicas entre agentes
do Estado e da sociedade civil (incluindo aí os representantes do tecido empresarial),
fomentando a organização de estruturas de relações de sinergia entre Estado e sociedade.
Assim, segundo Evans, “a combinação de instituições públicas fortes e uma sociedade civil
organizada é um poderoso instrumento de desenvolvimento” (1996). Este autor também
compartilha da tese de que se deve promover uma compreensão mais institucional dos
processos de desenvolvimento.
A visão de sinergia apresentada tem importantes implicações teóricas e práticas. Teóricas
porque ela reforça a demanda por uma teoria do desenvolvimento de cunho mais
institucionalista. Um melhor entendimento da natureza das relações sinérgicas entre o Estado
e a sociedade e as condições sob as quais estas relações podem ser mais facilmente
construídas deveriam se tornar um componente das futuras teorias do desenvolvimento.
Nenhuma outra abordagem poderia capturar melhor as complicadas interações entre
identidades sociais, normas informais, redes de relações interpessoais e estruturas formais que
estão envolvidas na criação de sinergia (Evans, 1996).
Patrick Heller (1996), ao estudar as relações industriais e de trabalho no distrito de Kerala
(Índia), afirma que o seu “... excepcional desenvolvimento no período recente está
relacionado a níveis extremamente altos de capital social”. E capital social, para este autor, é
um produto da mobilização de classe e da intervenção do Estado em um nível intermediário
de ação política e econômica. No caso de Kerala, o Estado e a sociedade têm reforçado os
seus laços institucionais de modo a sustentar, inquestionavelmente, a hipótese do
construtivismo social (baseada na construção de relações sinérgicas), exposta na parte teórica
deste trabalho.
Pantoja (1999) nos mostra, em um estudo sobre comunidades mineradoras na Índia, como o
processo de construção de capital social não segue uma trajetória linear nem cumulativa, na
medida em que o capital social é criado, destruído e recriado ao longo de processos de
desenvolvimento e de negociação em torno de um projeto comum pertinentes a um território.
Este processo de construção de capital social é dialético e dinâmico, na medida em que é o
resultado da confrontação entre forças heterônomas e as reações autônomas, cujos ciclos de
conflito e cooperação (entre os organismos e instituições envolvidas) evoluem na medida em
que as regras do jogo mudam e a confiança social implode e explode, sendo constantemente
fraturada e reconstruída.
Nesta mesma linha de argumentação, ao fazer um estudo de como o capital social contribuiu
para a consolidação e o crescimento industrial de um cluster da indústria de calçados no Vale
dos Sinos (RS), Bazan e Schmitz (1997) alertam para o fato de que o capital social de um
determinado território pode ter a sua conformação alterada ao longo do tempo, podendo ser
tanto um produto de relações sociais históricas como o resultado de uma ação consciente
voltada para o alcance de objetivos específicos. No caso do Vale dos Sinos, o período inicial
da industrialização contou com um estoque pré-existente de capital social que foi formado já
no início do século XX. No entanto, a adaptação à reestruturação industrial imposta a partir
dos anos 1990 teve que contar com a reformulação de compromissos sociais seculares e com a
reconstrução do capital social sob novas bases.
No caso de Itaguaí, seria premente que, já no curto prazo, os poderes institucionais locais
trabalhassem em conjunto com as autoridades portuárias e com as instâncias governamentais
estaduais e federais na progressão do projeto. Seria preciso trabalhar em prol de uma extensão
da infra-estrutura já existente (incluindo a definição do papel e das escalas de operação dos
outros portos do Estado do Rio de Janeiro) e também seria necessária uma participação ativa
das autoridades estaduais e municipais nos órgãos de gestão portuária como o CAP (Conselho
de Autoridade Portuária) e o OGMO (Órgão Gestor de Mão-de-Obra), bem como a realização
de estudos orientados à identificação dos entraves que deveriam ser resolvidos para avançar
numa estratégia de desenvolvimento local. A gestão produtiva do complexo portuário passaria
para as mãos do Estado e das Prefeituras e, consequentemente, a CDRJ (Companhia Docas do
Rio de Janeiro) mudaria de estatuto institucional, passando a se subordinar às instâncias
locais. Se no discurso original do projeto o Porto de Sepetiba amplia as vantagens
competitivas da economia fluminense, agora é esta última que determina as qualidades
produtivas do porto.
Em termos de novas pesquisas, necessárias para o melhor entendimento da complexidade
interinstitucional e da realidade social e econômica da região de entorno, seria necessário
desdobrar, para os municípios vizinhos a Itaguaí, a mesma metodologia de pesquisa utilizada
neste trabalho. Este apelo para a inclusão de outros municípios vizinhos na mesma linha de
pesquisa tem uma razão teórica e outra política. O motivo teórico está subordinado ao fato de
que a dinâmica de reação autônoma de um território será tanto mais eficaz em reverter a
pressão heterônoma se ela for o resultado da aglutinação dos esforços de vários municípios
vizinhos e homogêneos, com uma problemática comum de desenvolvimento. Quanto maior o
alcance geográfico de uma estratégia de reação autônoma, mais forças ela terá em subverter a
correlação de forças que se estabelece entre o global e o local.
Em termos políticos, uma das constatações feitas em nossas visitas de campo foi a da
existência de uma grande demanda, por parte dos representantes de outros municípios, em
realizar o mesmo tipo de pesquisa que foi feito para Itaguaí. Em primeiro lugar pela carência
de informações que esses próprios municípios têm sobre a sua realidade social e econômica.
Muitas vezes (e isto foi constatado in loco para o caso de Itaguaí) os organismos municipais,
as prefeituras e as associações de classe não dispõem nem mesmo de uma base de dados
acerca das principais informações econômicas, populacionais e demográficas daquele
município, o que poderia auxiliar no estabelecimento de prioridades políticas e metas de
inclusão social. A elaboração de um banco de dados, similar ao que se apresentou no capítulo
4 deste trabalho, já seria um instrumento de conhecimento da realidade local que muitas
prefeituras de municípios do interior e da região metropolitana do Rio de Janeiro não
possuem.
Em segundo lugar, e ainda mais importante, os instrumentos metodológicos utilizados em
nosso trabalho permitiriam aos municípios ter um maior conhecimento acerca da realidade e
dos obstáculos enfrentados pelas pequenas e médias empresas, em particular, e pelo tecido
empresarial local num sentido mais amplo. Isto poderia não só permitir às municipalidades
um maior conhecimento acerca do potencial de tributação, mas sobretudo levá-los, em
conjunto com outros órgãos estaduais e federais, a elaborar políticas setoriais e programas de
apoio a segmentos produtivos menos favorecidos.
Em terceiro lugar, existe um grande potencial de pesquisa e também de demanda por parte das
autoridades municipais em consultorias para a elaboração e o planejamento de Planos
Diretores, que em função do Estatuto das Cidades passa a ser uma obrigatoriedade para
municípios de médio e grande porte. O despreparo dos órgãos de acompanhamento
municipais, como pudemos observar em Itaguaí, aponta para a necessidade de uma assessoria
especializada que, entretanto, não se restringe à área econômica, mas também jurídica, de
gestão urbana e políticas sociais.
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ANEXOS
ANEXO 1
Questionário aplicado às empresas
Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Economia - Grupo Economia da Inovação e Instituto de Pesquisa sobre o Desenvolvimento (IRD-Paris/França) Unidade Desenvolvimento Local
Projeto de pesquisa
As transformações das configurações produtivas locais
Questionário às empresas
Apresentação
Esse Projeto nasceu através de uma parceria internacional entre o Instituto de Economia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), e o Institut de Recherche pour le Developpement, da França (IRD). Recebe o apoio do Convênio Internacional CNPQ/IRD e é financiado pelo Fundo Verde e Amarelo, da Financiadora de Estudos e Projetos (FNDCT/FINEP). Seu principal objetivo é estudar comparativamente a evolução da estrutura econômica local de quatro regiões fluminenses – localizadas no entorno dos municípios de Campos, Itaguaí, Macaé e Nova Friburgo – destacando os principais fatores de dinamismo e de desafio ao desenvolvimento econômico local e as expectativas do meio empresarial. Espera-se obter um mapeamento quantitativo e qualitativo das principais interações entre empresas e instituições locais com o objetivo de propor melhorias nas formas de apoio ao desenvolvimento econômico local pelas instituições públicas e privadas ali atuantes. Os coordenadores do Projeto agradecem a colaboração de todos os entrevistados e colocam-se à disposição para sanar quaisquer dúvidas. As informações prestadas no questionário são rigorosamente confidenciais e serão divulgadas de maneira agregada.
Versão final 10/09/02
Data da Entrevista: |__|__|__|__|__|__|
Entrevistador: .........................................
Identificação da empresa:
Razão Social ......................................................
CGC ......................................................
Endereço (Rua, Bairro, etc.).....................................................................................
CEP .......................................................
Telefone ......................................................
Fax ......................................................
E-mail ......................................................
Dados do entrevistado:
Nome......................................................................
Cargo......................................................................
É sócio da empresa : sim/não
Identificação da empresa
|___|___|___|___|___| a b c
a = Macaé 1 ; Nova F. 2 ; Campos 3 ; Itaguaí 4
b = empresa apoiada 1 ; empresa não apoiada 0
c = numero de ordem da empresa
Principais códigos a utilizar - não se enquadra na questão =0 ou 00 ; resposta não precisa ou entrevistado não sabe =9 ou 99
- localização:
1=no município pesquisado ;
2=na região do município pesquisado (Norte fluminense para Campos e Macaé, Serrana para Nova Friburgo, Metropolitana para Itaguaí) ;
3=Rio-Capital do estado ;
4=estado fluminense fora da capital e das regiões indicadas a cima ;
5=outro lugar do Brasil;
6=fora do Brasil
9= resposta não precisa ou entrevistado não sabe
- categorias para simplificar as percentagens :
0=0
até 24%=1
de 25% até 49%=2
de 50% até 74%=3
de 75% até 99%=4
100%=5
- questões sem código para categorizar a resposta : não preencher a célula durante as
entrevistas ; é suficiente escrever a resposta aberta do entrevistado
1. Características gerais da empresa
1.1 Status jurídico da empresa |__| Firma Individual=1; Ltda.=2; S.A. (aberta ou fechada)=3; Outras=4
Tamanho da empresa
1.2 Faixa de faturamento anual/receita operacional bruta (ano 2001) : |__|
Até R$ 244.000=1; de 245.000 até 1.200.000=2; de 1.200.001 até 10 milhões=3; maior=4
1.3 Número de empregados (ano 2001) |__| 0=0; 1 até 9=1; 10 até 49=2; 50 até 249=3; maior=4
1.4 Atividade principal da empresa |__|__|__|__|__|__| Ver a classificação CNAE
eventualmente descrição mais detalhada da atividade ..…………………………………….
eventualmente descrição dos principais produtos ou serviços da empresa..................................
1.5 Outras atividades da empresa |__|__|__|__|__|__| Ver a classificação CNAE Selecionar a atividade secundária a mais significativa
Eventualmente descrição mais detalhada da atividade..............…………………………..........
1.6. Existe outros estabelecimentos além deste que é pesquisado?
1.6.1 Quantos ? |__|
1.6.2 Onde principalmente? |__|
Ver principais códigos a utilizar(início)
1.7 Este estabelecimento é uma filial de uma empresa matriz? não=0 sim=1 |__|
1.8 Se sim: localização da empresa matriz |__|
Ver principais códigos a utilizar(início)
1.9 Se sim: onde é o centro decisório da empresa investigada ? |__|
Ver principais códigos a utilizar(início)
1.10 Quantos anos a empresa tem ? |__|__|
Menos de um ano : escrever 0; mais de um ano : escrever com 1 ou 2 dígitos.
Se somente um dígito, precedê-lo de 0. Exemplo 3 anos=03
1.11 Há quanto tempo a empresa atua nesta localização ?
1.11.1 Menos de um ano=0; entre 1 e 4 anos =1; entre 5 e 10 anos=2; mais de 10 anos=3 |__|
1.11.2 Indique a idade da empresa |__|__|
1.12 Qualidade das instalações locais |__|
1=local profissional bastante sólido, confortável 2=local profissional bastante precário
1.13 Condição da ocupação do local |__| 1=própria 2=alugada 3=ocupação gratuita 4=outra
1.14 Qual é a idade média dos equipamentos utilizados na empresa? |__|__| menos de um ano=0; mais de um anos, indicar a idade média; não sabe=99
1.15 Qual é o regime de tributação da empresa? |__|
Presumido=1; Simples=2; Lucro Real=3; Outro=4; Não sabe=9
2. Situação do empresário ou do gerente ou de outra pessoa
entrevistada
2.1 O entrevistado(a) é |__|
Empresário=1; gerente=2; sócio=3; outra função=4
(especifique......................................)
2.2 Sexo |__|
Feminino=1 Masculino=2
2.3 Idade |__|
Menos de 21 anos=1; 21-39=2; 40-59=3; 60 e mais=4
2.4 Grau de escolaridade |__|
Até l grau=1; até 2 grau normal=2; até 2 grau técnico=3; até 2 grau geral=4; até 3
grau=5
2.5 Há quanto tempo exerce a atividade na empresa ? |__|
Até 10 anos=1; mais de 10 anos=2
2.6 Modo de capacitação/treinamento |__|
Própria empresa=1; cursos externos=2; outro=3; não=0
2.7 Atividades anteriores eram |__|
Bastante semelhantes=1 ou bastante diferentes das atuais=2
2.8 Qual o percentual os membros da família representam do emprego total da empresa
? |__|
0=0; até 24%=1;
de 25% até 49%=2;
de 50% até 74%=3;
de 75% até 99%=4;
100%=5
2.9 Quais são as vantagens ou desvantagens de empregar familiares? |__|
Especifique........................................................................................................................
. não preencher a célula
...........................................................................................................................................
.
3. Trajetória da empresa e história da atividade
3.1 Ocorreram mudanças no ramo de atuação da sua empresa
em relação à década passada? Não=0; sim=1 |__|
3.2 Em que áreas essas mudanças podem ser identificadas em sua empresa e com que intensidade?
Preencher as celulas Intensidade
nula 0
Intensidade
fraca 1
Intensidade
média 2
Intensidade
forte 3
3.2.1 Propriedade/patrimonial
3.2.2 Organização interna
3.2.3 Processo de produção
3.2.4 Produtos
3.2.5 Forma de comercialização
3.2.6 Emprego
3.2.7 Fornecedores
3.2.8 Clientes
3.2.9 Outro : especifique
3.3 Destaque abaixo as prováveis causas da mudança mais importante na visão do
entrevistado
Preencher as celulas Influência
nula 0
Influência
fraca 1
Influência
média 2
Influência
forte 3
Influência
máxima 4
3.3.1 Fatores internos à empresa
3.3.2 Projetos de apoio
3.3.3 Contexto local/CPL
3.3.4 Setor de atividade/cadeia produtiva
3.3.5 Contexto macro/nacional
3.3.6 Contexto internacional
3.3.7 Outro, especifique
3.4 Como a empresa se adequou ao processo de abertura de mercado nos anos 90 ?
3.4.1 promoveu melhorias nos equipamentos e processos produtivos : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.2 promoveu apenas mudança organizacional : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.3 introduziu inovação de produto : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.4 introduziu inovação de processo : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.5 fez arranjos cooperativos com empresas ou instituições de pesquisa : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.6 capacitou internamente recursos humanos : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.7 empenhou-se no aprendizado tecnológico : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.8 introduziu medidas de controle ambiental : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.9 buscou outras formas de financiamento : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.10 aumentou o nivel de emprego : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.11 reduziu o nivel de emprego : não=0 ; sim=1 |__|
3.4.12 outros, especificar : ........................................não=0 ; sim=1 |__|
3.5 Como a empresa tem reagido aos novos fluxos de investimento direto externo que têm entrado no país?
3.5.1 fez associações com empresas nacionais : não=0 ; sim=1 |__|
3.5.2 fez associação com empresas multinacionais : não=0 ; sim=1 |__|
3.5.3 concentrou investimentos em áreas de maior competência produtiva : não=0 ; sim=1 |__|
3.5.4 buscou estruturas de fomento à indústria : não=0 ; sim=1 |__|
3.5.5 realizou projetos voltados a alianças tecnológicas : não=0 ; sim=1 |__|
3.5.6 outras, especificar :....................................... : não=0 ; sim=1 |__|
4. Organização, funcionamento e gestão recente
4.1 Como está o movimento do faturamento/do volume da produção desde 1999 ? |__|
Decrescente=0, Estável=1, Crescente=2
4.2 A empresa possui funções especializadas? Não=0; sim=1 |__|
Caso sim, em que áreas ?
4.2.1 Produção não=0 ; sim=1 |__|
4.2.2 Marketing não=0 ; sim=1 |__|
4.2.3 Pesquisa e Desenvolvimento não=0 ; sim=1 |__|
4.2.4 Recursos Humanos não=0 ; sim=1 |__|
4.2.5 Vendas não=0 ; sim=1 |__|
4.2.6 Compras não=0 ; sim=1 |__|
4.2.7 Contabilidade não=0 ; sim=1 |__|
4.2.8 Controle técnico não=0 ; sim=1 |__|
4.2.9 Outra, especifique ............................................................ não=0 ; sim=1 |__|
4.3 A empresa tem computadores? Não=0; sim=1 |__|
Se sim, quais são os usos:
4.3.1 Gestão não=0 ; sim=1 |__|
4.3.2 Produção não=0 ; sim=1 |__|
4.3.3 Design não=0 ; sim=1 |__|
4.3.4 CAD/MRP (Computer Aid Design/Material Requirement Procurement) não=0 ; sim=1 |__|
4.3.5 Internet não=0 ; sim=1 |__|
4.3.6 Outros : especifique............................... não=0 ; sim=1 |__|
4.4 A empresa utiliza internet? Não=0; sim=1 |__|
4.4.1 Se sim, quantos terminais ? |__|__|__|
4.4.2 Se sim, são pontos de rede ? não=0 ; sim=1 |__|
4.4.3 Se sim desde quando ? não=0 ; sim=1 |__|__|__|
4.4.4 Se sim para que fins?
4.4.4.1 prospecção de clientes e propaganda não=0 ; sim=1 |__|
4.4.4.2 conexão com clientes e fornecedores não=0 ; sim=1 |__|
4.4.4.3 venda direta não=0 ; sim=1 |__|
4.4.4.4 envolvimento com grupos especializ. de conhecim. e informações tecnológ.
não=0 ; sim=1 |__|
4.4.4.5 busca de informações sobre legislação e regulamentação não=0 ; sim=1 |__|
4.4.4.6 busca de informações sobre formas de financiamento não=0 ; sim=1 |__|
4.4.4 7 comunicação eficiente não=0 ; sim=1 |__|
4.4.4.8 Outros, especifique......................................................... não=0 ; sim=1 |__|
4.5 Caso não utilize, quais são os motivos ?
...........................................................................................................................................
...........................................................................................................................................
.............
4.6 A empresa utiliza instrumentos de gestão empresarial? Não=0; sim=1 |__|
4.7 Se sim, para:
4.7.1 Gestão de caixa não=0 ; sim=1 |__|
4.7.2 Estoque não=0 ; sim=1 |__|
4.7.3 Custos não=0 ; sim=1 |__|
4.7.4 Programação de investimentos não=0 ; sim=1 |__|
4.7.5 Indicadores de desempenho não=0 ; sim=1 |__|
4.7.6 Sistemas de informações gerenciais não=0 ; sim=1 |__|
4.7.7 Desenvolvimento de marcas não=0 ; sim=1 |__|
4.7.8 Associação com marcas estabelecidas não=0 ; sim=1 |__|
4.7.9 Gestão de recursos humanos não=0 ; sim=1 |__|
4.7.10 Just-in-time não=0 ; sim=1 |__|
4.7.11 Células de produção não=0 ; sim=1 |__|
4.7.12 Sistemas de qualidade/ISO não=0 ; sim=1 |__|
4.7.13 Mão-de-obra polivalente não=0 ; sim=1 |__|
4.7.14 Parceria com fornecedores/clientes não=0 ; sim=1 |__|
4.7.15 Outros, especifique............................. ...não=0 ; sim=1 |__|
4.8 Se não, utiliza destacando os motivos:
porque esses serviços são terceirizados=1; |__|
outros motivos=2. Especifique....................................................................................
4.9. Ferramentas de gestão
4.9.1 Conta bancária : não=0; sim=1 |__|
4.9.2 Tipo de contabilidade : nada=0; fluxo de caixa=1; balancete=2; balanço=4
(indique a soma) |__|
4.9.3 Auditoria : não=0; interna=1; externa=2 (indique a soma) |__|
4.10 A empresa aplica processos de gestão de qualidade? Não=0; sim=1 |__|
4.11 Se sim, cite algumas ações adotadas:
4.11.1 Programas de qualidade não=0; sim=1 |__|
4.11.2 Uso de normas nacionais e internac. de processos e produtos
não=0; sim=1 |__|
4.11.3 Certificação de produtos não=0; sim=1 |__|
4.11.4 ISO 9000 e outras não=0; sim=1 |__|
4.11.5 ISO 14.000 não=0; sim=1 |__|
4.11.6 Outros, especifique:....................................... não=0; sim=1 |__|
4.12 Se não, por quê?........................................................................................................
4.13 Identifique os principais canais de comercialização adotados pela empresa
destacando seu grau de importância
Preencher as celulas Nada 0 Pouco 1 Médio 2 Muito 3
4.13.1 Sob encomenda
4.13.2 Lojas próprias/vendas diretas aos consumidores
4.13.3 Varejistas
4.13.4 Atacadistas
4.13.5 Por meio de representantes
4.13.6 Escritório de exportação
4.13.7 Outro, especifique..............................................
4.14 Assinale as principais fontes de financiamento que a empresa utiliza regularmente,
destacando o seu grau de importância.
4.14.1 Capital de giro
Preencher as celulas Nada
0
Pouco
1
Médio
2
Muito
3
Fortamente
4
4.14.1.1 Recursos próprios (auto-financiamento)
4.14.1.2 Empréstimos de familiares e/ou amigos
4.14.1.3 Bancos privados com linhas BNDES
4.14.1.4 Outros bancos privados
4.14.1.5 Banco do Brasil
4.14.1.6 Caixa Econômica Federal
4.14.1.7 Incentivos Fiscais
4.14.1.8 Financiamento por fornecedores/ clientes
4.14.1.9 Recursos internacionais
4.14.1.10 Outros :
especificar..........................................
4.14.2 Investimentos
Preencher as celulas Nada
0
Pouco
1
Médio
2
Muito
3
Fortamente
4
4.14.2.1 Recursos próprios (auto-financiamento)
4.14.2.2 Empréstimos de familiares e/ou amigos
4.14.2.3 Bancos privados com linhas BNDES
4.14.2.4 Outros bancos privados
4.14.2.5 Banco do Brasil
4.14.2.6 Caixa Econômica Federal
4.14.2.7 Incentivos Fiscais
4.14.2.8 Financiamento por fornecedores/ clientes
4.14.2.9 Recursos internacionais
4.14.2.10 Outros :
especificar..........................................
4.15 Assinale as áreas em que a empresa investiu desde 1999 :
4.15.1 Implantação de nova fábrica não=0; sim=1 |__|
4.15.2 Modernização de plantas já existentes não=0; sim=1 |__|
4.15.3 Ampliação para aumento da capacidade não=0; sim=1 |__|
4.15.4 Treinamento de pessoal não=0; sim=1 |__|
4.15.5 Diversificação de produto e/ou serviço não=0; sim=1 |__|
4.15.6 Redução de capacidade ociosa não=0; sim=1 |__|
4.15.7 Atualização tecnológica não=0; sim=1 |__|
4.15.8 Especialização não=0; sim=1 |__|
4.15.9 Gestão ambiental não=0; sim=1 |__|
4.15.10 Iniciativas coletivas (quais?: ...............................)não=0; sim=1 |__|
4.15.11 Outros, especifique:........................................ não=0; sim=1 |__|
4.16 Quais foram os fatores que influenciaram o eventual investimento da empresa desde 1999
Preencher as celulas Influência
nula 0
Influência
fraca 1
Influência
média 2
Influência
forte 3
Influência
máxima 4
4.16.1 Fatores internos à empresa
4.16.2 Projetos de apoio
4.16.3 Contexto local/CPL
4.16.4 Setor de atividade/cadeia productiva
4.16.5 Contexto macro/nacional
4.16.6 Contexto internacional
4.16.7 Outro, especifique :.................................
5. Ambiente econômico da empresa
5.1 Posição da empresa na cadeia produtiva em função do mercado final... ...|__|
Início =1 Meio=2 Fim=3
5.2 Quem são seus principais clientes finais? |__|__|__|
Pessoa física = 1
Pessoa jurídica privada pequena =2
Pessoa jurídica privada média =4 Algumas respostas possíveis :
Pessoa jurídica privada grande = 8 escrever a soma total
Pessoa jurídica pública federal = 16
Pessoa jurídica pública estadual = 32
Pessoa jurídica pública municipal = 64
5.3 A empresa realiza pesquisas sobre necessidades dos clientes? Não=0; sim=1 |__|
5.4 Caso sim
5.4.1 Realiza internamente não=0; sim=1 |__|
5.4.2 Utiliza pesquisa já existente não=0; sim=1 |__|
5.4.3 Contrata pesquisa terceirizada não=0; sim=1 |__|
5.5 Caso não. Por quê?..................................................................................................
........................................................................................................................
5.6. Forma de concorrência ou base de competitividade da empresa:
5.6.1 Preço da matéria-prima não=0; sim=1 |__|
5.6.2 Preço do produto não=0; sim=1 |__|
5.6.3 Custo da mão-de-obra não=0; sim=1 |__|
5.6.4 Qualidade do produto não=0; sim=1 |__|
5.6.5 Regularidade no padrão dos produtos não=0; sim=1 |__|
5.6.6 Design não=0; sim=1 |__|
5.6.7 Inovação do produto não=0; sim=1 |__|
5.6.8 Inovação no processo não=0; sim=1 |__|
5.6.9 Nível de especialização não=0; sim=1 |__|
5.6.10 Atendimento não=0; sim=1 |__|
5.6.11 Prazo de entrega não=0; sim=1 |__|
5.6.12 Outra, especifique................................ não=0; sim=1 |__|
5.7 Localização de seus principais concorrentes destacando seu grau de importância
Preencher as celulas nula 0 fraca 1 Média 2 Forte 3 Máxima 4
5.7.1 No município pesquisado
5.7.2 Na região do município pesquisado
(Norte fluminense para Campos e Macaé, Serrana para N.
Friburgo, Metropolitana para Itaguaí)
5.7.3 Rio-Capital do estado
5.7.4 Estado fluminense fora da capital e das regiões
indicadas a cima
5.7.5 Outro lugar do Brasil
5.7.6 Fora do Brasil
5.8 A empresa possui interação com os concorrentes ? Não=0; Sim=1 |__|
5.9 Se sim, como qualifica a interação da empresa com os concorrentes
relação ruim=1, de qualidade média=2, boa=3, muito boa=4 |__|
6. Trabalho, capacitação, inovação
6.1 Indique o perfil de escolaridade do pessoal empregado (excluindo os sócios)
Preencher as celulas Número
pessoas
% Usar as
categorias de
%
6.1.1 1o grau (completo e incompleto) |__|
6.1.2 2o grau (completo e incompleto) |__|
6.1.3 Superior (completo e incompleto) |__|
6.1.4 Pós-Graduação |__|
Total 100%
6.2 Como está a evolução do número de empregos desde 1999 |__|
Decrescente=0 estável=1 crescente=2
6.3 A que se deve esta evolução e qual é a importância de cada uma das fontes
seguintes ?
Preencher as celulas Influência
nula 0
Influência
fraca 1
Influência
média 2
Influência
forte 3
Influência
máxima 4
6.3.1 Fatores internos à empresa
6.3.2 Projetos de apoio
6.3.3 Contexto local/CPL
6.3.4 Setor de atividade/cadeia productiva
6.3.5 Contexto macro/nacional
6.3.6 Contexto internacional
6.3.7 Outro, especifique
6.4 Como está a evolução dos salários dos empregados desde 1999 ? |__|
Decrescente=0 estável=1 crescente=2
6.5 A que se deve esta evolução e qual é a importância de cada uma das fontes
seguintes ?
Preencher as celulas Influência
nula 0
Influência
fraca 1
Influência
média 2
Influência
forte 3
Influência
máxima 4
6.5.1 Fatores internos à empresa
6.5.2 Projetos de apoio
6.5.3 Contexto local/CPL
6.5.4 Setor de atividade/cadeia productiva
6.5.5 Contexto macro/nacional
6.5.6 Contexto internacional
6.5.7 Outro, especifique
6.6 Como está a evolução da qualificação dos empregados desde 1999 ? |__|
Decrescente=0 estável=1 crescente=2
6.7 A que se deve esta evolução e qual é a importância de cada uma das fontes
seguintes ?
Preencher as celulas Influência
nula 0
Influência
fraca 1
Influência
média 2
Influência
forte 3
Influência
máxima 4
6.7.1 Fatores internos à empresa
6.7.2 Projetos de apoio
6.7.3 Contexto local/CPL
6.7.4 Setor de atividade/cadeia productiva
6.7.5 Contexto macro/nacional
6.7.6 Contexto internacional
6.7.7 Outro, especifique
6.8 Os empregados precisam de capacitação adicional? Não=0; sim=1 |__|
6.9 Caso sim, que tipo?
6.9.1 Educação formal Não=0; sim=1 |__|
6.9.2 Capacitação técnica Não=0; sim=1 |__|
6.9.3 Outro, especifique..........................................Não=0; sim=1 |__|
6.10 A empresa realiza atividades de treinamento ? |__|
não=0; para os empregados=1; apenas para os gerentes=2; todos os níveis=3
6.11 Se sim indique as áreas contempladas
6.11.1 Atividades de produção Não=0; sim=1 |__|
6.11.2 Atividades de administração Não=0; sim=1 |__|
6.11.3 Atividades de comercialização Não=0; sim=1 |__|
6.11.4 Atividades de marketing Não=0; sim=1
6.11.5 Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento Não=0; sim=1 |__|
6.11.6 Outro, especifique................................Não=0; sim=1 |__|
6.12 Qual percentagem de empregados envolvidos nessas atividades de treinamento? |__|
0=0; até 24%=1; de 25% até 49%=2; de 50% até 74%=3; de 75% até 99%=4; 100%=5
6.13 Indique os principais locais de treinamento que a empresa utiliza, destacando a freqüência de utilização
Preencher as celulas Nada 0 Pouco 1 Regular 2
Muito 3
6.13.1 Na empresa
6.13.2 Nas instituições locais
6.13.3 Nas instituições nacionais no município
6.13.4 Nas instituições nacionais na região
6.13.5 Nas instituições nacionais fora da região
6.13.6 Em outras instituições no município
6.13.7 Em outras instituições na região
6.13.8 Em outras instituições fora da região
6.14 Existem programas de qualidade e/ou outros que envolvem os empregados? |__|
Não=0; sim=1
6.15 Se sim. Que tipo?
6.15.1 Reengenharia Não=0; sim=1 |__|
6.15.2 Certificação de qualidade Não=0; sim=1 |__|
6.15.3 Círculos de controle de qualidade Não=0; sim=1 |__|
6.15.4 Motivações para leitura Não=0; sim=1 |__|
6.15.5 Prêmios Não=0; sim=1 |__|
6.15.6 Escolha do funcionário padrão Não=0; sim=1 |__|
6.15.7 Outros, especifique Não=0; sim=1 |__|
6.16 A empresa realiza algum esforço de pesquisa e aprendizado? Não=0; sim=1 |__|
6.17 Se sim, qual a forma de desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos
que a empresa utiliza?
6.17.1 Interno nas unidades de produção da empresa Não=0; sim=1 |__|
6.17.2 Interno nos laboratórios da empresa Não=0; sim=1 |__|
6.17.3 Externo. Qual?................................................. Não=0; sim=1 |__|
6.17.4 Parceria. Qual?................................................ Não=0; sim=1 |__|
6.18 Se não realiza nenhum esforço de pesquisa e aprendizado, qual a razão?
................................................................................................................................
6.19 Identifique as principais fontes de informação/conhecimentos especializados que a empresa utiliza, destacando seu grau de importância
Preencher as celulas Nada 0 Pouco 1 Médio 2 Muito 3
6.19.1 Experiências anteriores da equipe
6.19.2 Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D)
6.19.3 Consultorias especializadas
6.19.4 Universidades e centros tecnológicos
6.19.5 Publicações especializadas/ Catálogos técnicos
6.19.6 Patentes
6.19.7 Aquisição de novos equipamentos
6.19.8 Troca de informação com empresas (clientes,
fornecedores...)
6.19.9 Congressos e feiras comerciais e industriais do setor
6.19.10 Sugestões dos empregados
6.19.11 Outros,
especifique........................................................
6.20 Identifique abaixo a localização das principais fontes de informação indicadas em cima
Preencher as celulas No município
1
Na região
do
município 2
Fora da região
3
6.20.1 Experiências anteriores da equipe
6.20.2 Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D)
6.20.3 Consultorias especializadas
6.20.4 Universidades e centros tecnológicos
6.20.5 Publicações especializadas/ Catálogos técnicos
6.20.6 Patentes
6.20.7 Aquisição de novos equipamentos
6.20.8 Troca de informação com empresas (clientes,
fornecedores...)
6.20.9 Congressos e feiras comerciais e industriais do setor
6.20.10 Sugestões dos empregados
6.20.11 Outros,
especifique...........................................................
6.21 Identifique as principais formas de desenvolvimento e incorporação de novas tecnologias que a empresa utiliza, destacando seu grau de importância
Preencher as celulas Nada 0 Pouco 1 Médio 2 Muito 3
6.21.1 Aquisição de máquinas
6.21.2 Cooperação com fornecedor de equipamento
6.21.3 Cooperação com empresa de manutenção
6.21.4 Cooperação com clientes
6.21.5 Cooperação com outras empresas
6.21.6 Cooperação com outras organizações (ensino,
pesquisa ou apoio setorial)
6.21.7 Via licenciamento ou joint venture
6.21.8 Outros,
especifique......................................................
6.22 Indique as principais inovações adotadas pela empresa em seus produtos e/ou processo produtivo desde 1999:
6.22.1 alterações no desenho do produto Não=0; sim=1 |__|
6.22.2 estilo do produto Não=0; sim=1 |__|
6.22.3 alterações de características técnicas do produto Não=0; sim=1
6.22.4 novo produto Não=0; sim=1 |__|
6.22.5 Incorporação de novos equipamentos no processo produtivo Não=0; sim=1
|__|
6.22.6 Automatização de processos produtivos Não=0; sim=1 |__|
6.22.7 Introdução de novas técnicas organizacionais Não=0; sim=1 |__|
6.22.8 Introdução de novas matérias-primas Não=0; sim=1 |__|
6.22.9 Outros (especificar.................................................) Não=0; sim=1 |__|
7. Geografia das transações da empresa
7.1 Qual o percentual dos equipamentos que se origina a partir das localizações abaixo assinaladas ?
7.1.1 no município pesquisado |__|__|__|% |__|
7.1.2 na região do município pesquisado |__|__|__|% |__|
7.1.3 no Rio-Capital do estado |__|__|__|% |__|
7.1.4 no estado fora da capital e das regiões indicadas em cima|__|__|__|% |__|
7.1.5 no outro lugar do Brasil |__|__|__|% |__|
7.1.6 fora do Brasil |__|__|__|% |__|
Total 100% nesta coluna usar categorias de % 7.2 Assinale, no quadro abaixo, as evoluções observadas na origem dos equipamentos a partir de 1999 (inclusive)
Preencher as celulas Descrescente 0
Estável 1
Crescente 2
7.2.1 Origem no município 7.2.2 Origem na região 7.2.3 Origem no estado 7.2.4 Outras origens
7.3 Indique a origem das principais matérias-primas utilizadas, destacando a distribuição percentual.
7.3.1 no município pesquisado |__|__|__|% |__|
7.3.2 na região do município pesquisado |__|__|__|% |__|
7.3.3 no Rio-Capital do estado |__|__|__|% |__|
7.3.4 no estado fora da capital e das regiões indicadas em cima|__|__|__|% |__|
7.3.5 no outro lugar do Brasil |__|__|__|% |__|
7.3.6 fora do Brasil |__|__|__|% |__|
Total 100% nesta coluna usar categorias de %
7.4 Assinale, no quadro abaixo, as evoluções observadas na origem das matérias-primas a partir de 1999 (inclusive)
Preencher as celulas Descrescente Estável Crescente 2
0 1 7.4.1 Origem no município 7.4.2 Origem na região 7.4.3 Origem no estado 7.4.4 Outras origens
7.5 Indique a origem dos demais fornecedores, destacando a distribuição percentual
7.5.1 no município pesquisado |__|__|__|% |__|
7.5.2 na região do município pesquisado |__|__|__|% |__|
7.5.3 no Rio-Capital do estado |__|__|__|% |__|
7.5.4 no estado fora da capital e das regiões indicadas em cima|__|__|__|% |__|
7.5.5 no outro lugar do Brasil |__|__|__|% |__|
7.5.6 no fora do Brasil |__|__|__|% |__|
Total 100% nesta coluna usar categorias de %
7.6 Assinale, no quadro abaixo, as evoluções observadas na origem dos fornecedores a partir de 1999 (inclusive)
Preencher as celulas Descrescente 0
Estável 1
Crescente 2
7.6.1 Origem no município 7.6.2 Origem na região 7.6.3 Origem no estado 7.6.4 Outras origens
7.7 Indique o destino das vendas, destacando a distribuição percentual
7.7.1 no município pesquisado |__|__|__|% |__|
7.7.2 na região do município pesquisado |__|__|__|% |__|
7.7.3 no Rio-Capital do estado |__|__|__|% |__|
7.7.4 no estado fora da capital e das regiões indicadas em cima|__|__|__|% |__|
7.7.5 no outro lugar do Brasil |__|__|__|% |__|
7.7.6 fora do Brasil |__|__|__|% |__|
Total 100%
7.8 Assinale, no quadro abaixo, as evoluções observadas no destino das vendas a partir de 1999 (inclusive)
Preencher as celulas Descrescente 0
Estável 1
Crescente 2
7.8.1 Para o município 7.8.2 Para a região 7.8.3 Para o estado 7.8.4 Para outros destinos
8. Relações interfirmas
8.1 A empresa participa de algum tipo de associação/cooperação com outras empresas?
Não=0, sim=1 |__|
8.2 Caso sim, que tipo ?
8.2.1 Consórcio de exportação Não=0; sim=1 |__|
8.2.2 Central de compras Não=0; sim=1 |__|
8.2.3 Central de vendas Não=0; sim=1 |__|
8.2.4 Consórcio de desenvolvimento tecnológico Não=0; sim=1 |__|
8.2.5 Outros, especifique........................................ Não=0; sim=1 |__|
8.3 Em caso afirmativo, que tipo de vantagens a empresa obtém com isso?
8.4 Que tipo de relação a empresa tem estabelecido com os seguintes tipos de empresas desde 1999 ?
Preencher as celulas EmpresasClientes
1
Empresas Fornecedoras
2
Empresas Concorrentes
3 8.4.1 Troca de idéias e informações 8.4.2 Ensaios para desenv. e melhoria de insumos, produtos ou
processos
8.4.3 Uso de equipamentos 8.4.4 Treinamento de funcionários 8.4.5 Ações conjuntas de marketing 8.4.6 Central de compras 8.4.7 Compra de insumos ou equipamentos 8.4.8 Central de vendas 8.4.9 Outros, especifique...................................................
8.5 Não estabelece. Por quê?.................................................................................................
8.6 A empresa recorre a terceirização para realizar algum tipo de serviço ? Preencher as celulas Nunca 0 Pouco 1 Regularmente 2 Muito 3 Sempre 4
8.6.1 Limpeza 8.6.2 Manutenção 8.6.3 Transporte 8.6.4 Alimentação 8.6.5 Segurança 8.6.6 Contabilidade 8.6.7 Assistência jurídica 8.6.8 Entrega/remessa de mercadorias 8.6.9 Consultorias na área 8.6.10 Design 8.6.11 Criação de material promocional 8.6.12 Assessoria de impresa 8.6.13 Outros, especifique......................................
8.7 Se não recorre a terceirização, por quê .................................................................................
8.8 Subcontratação: a empresa recorre a outras empresas para realizar parte do processo produtivo (prestação de serviços ou fabricação de bens) ? Não=0; sim=1 |__|
8.9 Se sim :
8.9.1 Qual é a fase do processo produtivo subcontratado ? inicio=1; meio=2; final=3 |__|
8.9.2 Qual é o motivo? Custo=1; Falta regular de meios próprios=2;
Variações do mercado/da demanda=3; Especialização=4
Outro, especifique=5............................................................................. |__|
8.10 Se sim, indique os termos e as características da subcontratação conforme sugestões abaixo
8.10.1 Tipo de Contrato: formal=1; informal=2 |__|
8.10.2 Existe relação de exclusividade? Não=0; sim=1 |__|
8.10.3 Localização da subcontratada: no município=1, na região do município=2
no estado=3, no Brasil=4, exterior=5 |__|
8.10.4 Prazo de Contrato: indeterminado=1; por operação/lote=2 |__|
8.10.5 Tamanho da empresa subcontratada: superior=1, igual=2, inferior=3 |__|
8.10.6 Padrão de qualidade da subcontratada: superior=1, igual=2, inferior=3 |__|
8.10.7 Base dessa subcontratação : proximidade geográfica=1
proximidade técnica e econômica=2,
outra, especifique=3........................................ |__|
8.11 A empresa é subcontratada de outra empresa? Não=0; sim=1 |__|
8.12 Se sim, especifique os termos e as características abaixo:
8.12.1 Tipo de Contrato: formal=1; informal=2 |__|
8.12.2 Existe relação de exclusividade? Não=0; sim=1 |__|
8.12.3 Localização da contratante: no município=1, na região do município=2
no estado=3, no Brasil=4, exterior=5 |__|
8.12.4 Há treinamento de pessoal pela contratante? Não=0, sim=1 |__|
8.12.5 Prazo de contrato: indeterminado=1; por operação/lote=2 |__|
8.12.6 Tamanho da contratante: superior=1, igual=2, inferior=3 |__|
8.12.7 Capacitação Tecnológica da contratante: superior=1, igual=2, inferior=3 |__|
8.12.8 Existe cessão de equipamento pela contratante? Não=0, sim=1 |__|
8.12.9 Base dessa relação com a contratante? proximidade geográfica=1
proximidade técnica e econômica=2; outra especifique=3 |__|
8.13 A empresa possui alguma empresa parceira? Não=0; sim=1 |__|
8.14 Caso afirmativo, no que consiste essa parceria?
8.15 Como avalia o resultado do estabelecimento dessas interações e formas de cooperação ou de parceria para o desempenho da empresa?
Preencher as celulas Não Influencia 0
Ruim 1 Regular 2 Bom 3 Muito bom 4
8.15.1 Aspecto comercial 8.15.2 Aspecto technológico 8.15.3 Aspecto organizacional 8.15.4 Outros,
especifique............................................
8.16 A empresa tem encontrado dificuldades nessas formas de cooperação/parceria?|__|
Não=0, sim=1
8.17 Se sim, quais? Preencher as celulas Empresas Empresas Empresas Empresas Empresas
Clientes 1
Concorrentes 2
Fornecedoras 3
Subcontratadas 4
Contratantes 5
8.17.1 Condições de pagamento 8.17.2 Falta de segredo 8.17.3 Demora no atendimento 8.17.4 Dificuldade de comunicação 8.17.5 Identificação de competências 8.17.6 Falta de interesse dos pesquisadores 8.17.7 Outros: especificar
9. Inserção local da empresa e avaliação pelo entrevistado da
localização
9.1.Assinale que tipo de associações locais não profissionais participa
9.1.1 Culturais Não=0; sim=1 |__|
9.1.2 Esportivas Não=0; sim=1 |__|
9.1.3 Religiosas Não=0; sim=1 |__|
9.1.4 De moradores Não=0; sim=1 |__|
9.1.5 De caridade Não=0; sim=1 |__|
9.1.6 De cidadania Não=0; sim=1 |__|
9.1.7 De defesa do meio ambiente Não=0; sim=1 |__|
9.1.8 Outra, especifique..................Não=0; sim=1 |__|
9.2 Identifique as vantagens da localização da empresa na região, destacando seu grau de importância
Preencher as celulas Influencia
nula (0)
Influencia
fraca (1)
Influencia
média (2)
Influencia forte (3)
Influencia máxima (4)
9.2.1 Infra-estrutura física disponível 9.2.2 Infra-estrutura de serviços disponível 9.2.3 Ambiente escolar 9.2.4 Disponibilidade de mão-de-obra 9.2.5 Qualidade da mão-de-obra 9.2.6 Custo da mão-de-obra 9.2.7 Existência de programas governamentais 9.2.8 Incentivos fiscais 9.2.9 Proximidade com universidades e centros de
pesquisa
9.2.10 Proximidade com fornecedores 9.2.11 Proximidade com o mercado consumidor 9.2.12 Facilidades de comunicação/transporte 9.2.13 Outros,
especifique.............................................
9.3 A empresa tem pretensões de se mudar? Não=0, sim=1 |__|
9.4 Se sim, cite o motivo:...............................................................................................
9.5 A empresa utiliza a infra-estrutura regional?
9.5.1 Laboratórios Não=0; sim=1 |__|
9.5.2 Consultoria Não=0; sim=1 |__|
9.5.3 SEBRAE Não=0; sim=1 |__|
9.5.4 SENAI Não=0; sim=1 |__|
9.5.5 SESI Não=0; sim=1 |__|
9.5.6 FIRJAN Não=0; sim=1 |__|
9.5.7 Universidades Não=0; sim=1 |__|
9.5.8 Incubadora Não=0; sim=1 |__|
9.5.9 Escritório de transferência de tecnologia Não=0; sim=1 |__|
9.5.10 Empresa júnior Não=0; sim=1 |__|
9.5.11 Outro, especifique.................................. Não=0; sim=1 |__|
9.6 Se não, por quê ?..............................................................................................................
9.7 Como avalia a infra-estrutura regional/municipal ?
Ruim=0 Regular=1 Bom=2 Muito bom=3 |__|
9.8. 9.8 Que atividades gostaria de ter em conjunto com instituições no município ou na região ?
1 Participação em eventos e feiras de negócio Não=0; sim=1 |__|
9.8.2 Curso de capacitação Não=0; sim=1 |__|
9.8.3 Divulgação de marcas regionais Não=0; sim=1 |__|
9.8.4 Central de compras Não=0; sim=1 |__|
9.8.5 Escritório de comercialização no mercado internoNão=0; sim=1 |__|
9.8.6 Escritório de comercialização no mercado externoNão=0; sim=1 |__|
9.8.7 Central de logística Não=0; sim=1 |__|
9.8.8 Serviços de desenvolvimento para a empresa Não=0; sim=1 |__|
9.8.9 Outros, especifique.............................................Não=0; sim=1 |__|
9.9 Como são as suas relações com :
9.9.1 O município ruim=0, média=1, boa=2 |__|
9.9.2 Os serviços federais instalados no município ou na região : ruim=0, média=1, boa=2 |__|
9.10 Estas relações poderiam ser melhoradas? Não=0, sim=1 |__|
9.10.1 Em que área, especifique:.................................................................................................
9.11 Identifique as desvantagens da localização da empresa na região, destacando seu
grau de importância Preencher as celulas Desvatagem
leve 1 Desvantagem
média 2 Desvatagem
forte 3 9.11.1 Infra-estrutura física disponível 9.11.2 Infra-estrutura de serviços disponível 9.11.3 Ambiente escolar 9.11.4 Disponibilidade de mão-de-obra 9.11.5 Qualidade da mão-de-obra 9.11.6 Custo da mão-de-obra 9.11.7 Existência de programas governamentais 9.11.8 Incentivos fiscais 9.11.9 Proximidade com universidades e centros de
pesquisa
9.11.10 Proximidade com fornecedores 9.11.11 Proximidade com o mercado consumidor 9.11.12 Facilidades de comunicação/transporte 9.11.13 Outros, especifique.............................................
10. Relação com o ambiente institucional-setorial
10.1 Participação em organismos e sindicatos e outras associações profissionais
Onde quantos
10 1.1 no município pesquisado |__|
10.1 2 na região do município pesquisado |__|
10.1.3 no estado do Rio |__|
10.1.4 outro lugar do Brasil |__|
10.1 Indique a soma (para o entrevistador) |__|
10.2 Qualidade das relações com as administrações e serviços técnicos oficiais
Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4 |__|
10.3 Qualidade das relações com as associações profissionais independente de ser associado ou não
Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4 |__|
10.4 Qual é o julgamento sobre a legislação da atual atividade da empresa, em cada das áreas abaixo ?
10.4.1 Administrativa Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4 |__|
10.4.2 Tributária/fiscal Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4 |__|
10.4.3 Aduaneira Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4 |__|
10.4.4 Trabalhista Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4 |__|
10.4.5 Ambiental Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4 |__|
10.5 Conteúdo das relações com às instituições de ensino e pesquisa
10.5.1 Troca de idéias e informações não=0, sim=1 |__|
10.5.2 Ensaios para desenvolvimento e melhoria de insumos, produtos ou processos não=0, sim=1 |__|
10.5.3 Compra de insumos ou equipamentos não=0, sim=1 |__|
10.5.4 Uso de equipamentos não=0, sim=1 |__|
10.5.5 Treinamento de funcionários não=0, sim=1 |__|
10.5.6 Ações conjuntas de marketing não=0, sim=1 |__|
10.5.7 Outros, Especifique......................................... não=0, sim=1 |__|
10.6 Não estabelece. Por quê?
10.7 Qualidade das relações com às instituições de ensino e pesquisa |__|
Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4
10.8 Fora da eventual adesão a um projeto de apoio, a empresa utiliza serviços das instituições técnicas da região? Se sim, através do:
10.8.1 SEBRAE não=0, sim=1 |__|
10.8.2 SESI não=0, sim=1 |__|
10.8.3 SENAI não=0, sim=1 |__|
10.8.4 FIRJAN não=0, sim=1 |__|
10.8.5 Sindicatos não=0, sim=1 |__|
10.8.6 Outros, especifique...........................................não=0, sim=1 |__|
10.9 Se não. Por quê?
10.10 Como avalia estes serviços institucionais da região? |__| Sem resposta=9; não influencia=0; ruim=1; regular=2; bom=3; muito bom=4
11. Relação com os programas de apoio
11.1 O entrevistado já ouviu falar de programas de apoio às empresas ? não=0,
sim=1 |__|
11.2 Caso sim, quais?
11.2.1 Como obteve a informação?.................
11.3 A empresa se beneficiou de algum projeto de apoio desde 1999 ? não=0, sim=1 |__|
11.4 Se sim: o nome do projeto e qual a parte desse programa.....
11.5 Se a empresa está apoiada:
11.5.1 O apoio recebido foi : ofertado pelo programa=1 ou demandado pela empresa=2 |__| 11.5.2 O que a empresa buscava e por quê escolheu este programa ? Especifique
......................................
11.5.3 Modificações eventuais destes objetivos no relacionamento com o programa ?
Especifique...
11.5.4 Natureza do apoio obtido : |__|
Apoio técnico (gestão, produção, comercialização, recursos humanos...)=1
Recursos financeiros=2 Capacitação=3 Bolsas=4
Informações (mercado, clientes, fornecedores...)=5 Transferência de
tecnologia=6
Créditos fiscais=7 Simplificação administrativa (registro CNPJ, licença,
etc.)=8
Outros, especifique.............................................................................................=9
11.5.5 As contrapartidas empresarias do apoio |__|
Financiamento total do apoio=1 Contribuição parcial ao financiamento do
apoio=2
Legalização parcial ou total da empresa=3 Outra, especifique..............................=4
11.5.6 O programa preocupou-se em verificar os resultados do apoio na evolução da
empresa? |__| não=0 sim=1
11.5.7 Em que domínio pode-se observar os efeitos do apoio e com que intensidade ? Preencher as celulas Nenhum 0 Ruim 1 Regular 2 Bom 3 Muito bom 4
11.5.7.1 Volume da produção/faturamento 11.5.7.2 Gestão 11.5.7.3 Capacitação 11.5.7.4 Melhoria do produto 11.5.7.5 Melhoria do processo produtivo 11.5.7.6 Equipamento 11.5.7.7 Matéria-prima e/ou fornecedores 11.5.7.8 Emprego 11.5.7.9 Relações com administrações 11.5.7.10 Conhecimento da tributação 11.5.7.11 Informações (mercado, clientes...) 11.5.7.12 Financiamento 11.5.7.13 Comercialização 11.5.7.14 Controle da qualidade 11.5.7.15 Cooperação inter-firmas 11.5.7.16 Outros,
especifique............................................
11.5.8 Estes efeitos correspondem às expectativas do empresário ?não=0 sim=1 |__|
11.5.9 Qual a sua opinião global em relação deste programa de apoio ?...................
11.6 Se a empresa não é apoiada :
11.6.1 Porque ......................................................................................
11.6.2 Qual a sua opinião final e global em relação aos projetos em geral ?.......
11.7 Fora do eventual apoio recebido a empresa participa ou participou desde 1999 de algum dos programas oferecidos pelas instituições abaixo ?
11.7.1 Ministério do desenvolvimento, indústria e comércio exterior (MDIC)não=0, sim=1 |__|
11.7.2 Ministério da Ciência e tecnologia (MCT) não=0, sim=1 |__|
11.7.3 Ministério das Relações exteriores (MRE) não=0, sim=1 |__|
11.7.4 Ministério do Trabalho e emprego (MTE) não=0, sim=1 |__|
11.7.5 Ministério da Agricultura, pecuária e abastecimento (MAPA) não=0, sim=1 |__|
11.7.6 Banco do Brasil (BB) não=0, sim=1 |__|
11.7.7 Caixa econômica federal (CEF) não=0, sim=1 |__|
11.7.8 BNDES não=0, sim=1 |__|
11.7.9 SESI/SENAI não=0, sim=1 |__|
11.7.10 CNI não=0, sim=1 |__|
11.7.11 SENAC não=0, sim=1 |__|
11.7.12 SEBRAE não=0, sim=1 |__|
11.7.13 Incentivos do governo estadual não=0, sim=1 |__|
11.7.14 Incentivos do governo municipal não=0, sim=1 |__|
11.7.15 Outros, especifique.......................................................................................................
11.8 Se sim, com quais os objetivos? ...................................................................................
11.9 Existe algum resultado positivo ou negativo?..................................................................
11.10 Se não participa ou participou de um programa de apoio, por quê ?
12. Problemas, expectativas e previsões
12.1 Na sua opinião, quais são as principais dificuldades enfrentadas pela empresa destacando seu grau de importância ?
Preencher as celulas Nenhuma dificuldade
0
Dificuldadeleve
1
Dificuldade média
2
Dificuldadeforte
3 12.1.1 Instalações inadequadas 12.1.2 Localização inadequada 12.1.3 Gestão da empresa 12.1.4 Qualificação da mão-de-obra 12.1.5 Gestão do emprego 12.1.6 Equipamento 12.1.7 Qualidade do produto ou do serviço inadequada 12.1.8 Defasagem tecnológica em relação à
concorrência
12.1.9 Capacitação 12.1.10 Matéria-prima e insumos : acesso ou custo 12.1.11 Fornecedores inadequados 12.1.12 Clientes 12.1.13 Informações sobre o mercado potencial 12.1.14 Comercialização 12.1.15 Concorrência intensificada 12.1.16 Empréstimos bancários : acesso ou custo 12.1.17 Taxa de juros 12.1.18 Falta de capital de giro 12.1.19 Falta de capital para investimentos 12.1.20 Burocracia 12.1.21 Carga tributária elevada 12.1.22 Forma de tributação inadequada 12.1.23 Retorno dos investimentos inadequado 12.1.24 Outros, especificar:
12.2 Se a empresa é informal, o entrevistado acha que é uma vantagem ? |__|
Não=0 sim=1 a empresa é formal=8
12.3 Se a empresa é de micro ou pequeno porte, isto representa uma dificuldade de atuação?
Não=0 sim=1 a empresa não é micro ou pequena=8 |__|
12.4 A empresa considera importante inovar produtos, serviços e aspectos da organização ao longo do tempo como um diferencial competitivo?
Não=0 sim=1 |__|
12.5 Aéreas nos quais alguns apoios são possíveis, esperados, ou solicitados:
12.5.1 Programas de capacitação profissional e treinamento técnico não=0, sim=1 |__|
12.5.2 Melhoria na educação formal não=0, sim=1 |__|
12.5.3 Melhoria na infra-estrutura de conhecimentos não=0, sim=1 |__|
12.5.4 Melhoria na infra-estrutura física não=0, sim=1 |__|
12.5.5 Política Fiscal não=0, sim=1 |__|
12.5.6 Política de apoio para exportação não=0, sim=1 |__|
12.5.7 Local profissional, instalações, localização não=0, sim=1 |__|
12.5.8 Mão-de-obra (qualificação, recrutamento) não=0, sim=1 |__|
12.5.9 Equipamento (acesso,informação, manutenção) não=0, sim=1 |__|
12.5.10 Matéria-prima e insumos não=0, sim=1 |__|
12.5.11 Fornecedores não=0, sim=1 |__|
12.5.12 Capacitação não=0, sim=1 |__|
12.5.13 Melhoria no produto não=0, sim=1 |__|
12.5.14 Melhoria no processo de produção não=0, sim=1 |__|
12.5.15 Gestão da empresa não=0, sim=1 |__|
12.5.16 Gestão do emprego não=0, sim=1 |__|
12.5.17 Prospecção de clientes não=0, sim=1 |__|
12.5.18 Informações sobre o mercado potencial não=0, sim=1 |__|
12.5.19 Informações sobre a concorrência não=0, sim=1 |__|
12.5.20 Acesso ao capital de giro não=0, sim=1 |__|
12.5.21 Acesso ao capital para investimento não=0, sim=1 |__|
12.5.22 Empréstimos bancários : acesso ou custo não=0, sim=1 |__|
12.5.23 Taxa de juros não=0, sim=1 |__|
12.5.24 Comercialização não=0, sim=1 |__|
12.5.25 Carga tributária não=0, sim=1 |__|
12.5.26 Simplificação administrativa não=0, sim=1 |__|
12.5.27 Abertura de novo mercado não=0, sim=1 |__|
12.5.28 Outros, especificar:................................................... não=0, sim=1 |__|
12.6 Qual é a sua perspectiva de crescimento para o mercado nacional nessa área de
atuação nos próximos três anos?
Decrescente=0 estável=1 Crescente=2 |__|
12.7 Assinale as áreas em que a empresa pretende investir nos próximos 5 anos:
12.7.1 Implantação de nova fábrica não=0, sim=1 |__|
12.7.2 Modernização de plantas já existentes não=0, sim=1 |__|
12.7.3 Equipamento, ampliação para aumento da capacidadenão=0, sim=1 |__|
12.7.4 Treinamento de pessoal não=0, sim=1 |__|
12.7.5 Diversificação de produto e/ou serviço não=0, sim=1 |__|
12.7.6 Melhoria no produto não=0, sim=1 |__|
12.7.7 Melhoria no processo de produção não=0, sim=1 |__|
12.7.8 Especialização não=0, sim=1 |__|
12.7.9 Gestão da empresa não=0, sim=1 |__|
12.7.10 Gestão ambiental não=0, sim=1 |__|
12.7.11 Local profissional, Instalações não=0, sim=1 |__|
12.7.12 Recrutamento de empregado não=0, sim=1 |__|
12.7.13 Aumento da matéria-prima e insumos não=0, sim=1 |__|
12.7.14 Capacitação não=0, sim=1 |__|
12.7.15 Gestão da empresa não=0, sim=1 |__|
12.7.16 Informações sobre o mercado potencial não=0, sim=1 |__|
12.7.17 Comercialização não=0, sim=1 |__|
12.7.18 Qualidade não=0, sim=1 |__|
12.7.19 Melhoria da formalização da empresa não=0, sim=1 |__|
12.7.20 Outros, especificar:...................................................... não=0, sim=1 |__|
12.8 Quais são as perspectivas do empresário nos próximos 3 ou 5 anos ?
12.8.1 Atividade atual : manter=1 aumentar=2 diversificar=3 |__|
12.8.2 Mão-de-obra : reduzir=0 manter=1 aumentar=2 |__|
12.8.3 Organização : reduzir/simplificar=0 manter=1 desenvolver=2 |__|
12.8.4 Capacitação : manter=1 crescer=2 |__|
12.8.5 Financiamento : poupar=1 tomar emprestado =2 |__|
13. Comentários de síntese ou dados complementares observados pelo
pesquisador
.......................................................................................................................................................
.................................
.......................................................................................................................................................
.................................
.......................................................................................................................................................
.................................
14. Parte específica do questionário em função do sítio
pesquisado
ANEXO 2
Guia das entrevistas institucionais
Guia de investigação e de análise dos Projetos de Apoio (PA) às empresas
Esse roteiro é apenas um guia de investigação, simples orientação da entrevista, que contém os elementos mínimos necessários a serem levantados para manter uma comparação entre os quatro sítios e facilitar a compreensão das principais diretrizes dos PAs a respeito da problemática do desenvolvimento econômico local. Uma questão importante a ser considerada é que cada PA pode envolver mais de uma instituição em sua concepção, direção, execução e parcerias. Nesse sentido cada entrevista deverá ser complementada com conversas adicionais junto a essas demais instituições envolvidas. Nessas novas conversas o objetivo seria checar informações prestadas pela primeira instituição entrevistada ou precisar as informações já obtidas acerca dos papéis desempenhados por cada instituição.
1. Características gerais do PA
1.1. Nome completo do PA
1.2. Organismos e localização da sede do projeto e das agências do projeto
- de concepção
- de direção
- de execução
- de parceria
1.3. Fontes de financiamento e suas eventuais modificações
1.4. Natureza institucional (pública, privada, semi-pública)
- do projeto
- do organismo de execução
- enfim, dos demais organismos envolvidos
1.5. Natureza técnica do projeto ? Capacitação, fomento, apoio tecnológico, financiamento, outros
1.6. Ano de criação do projeto
1.7. Ano do lançamento do projeto no local
1.8. Número de agências do projeto e suas áreas de atuação
1.9. O quão avançado o PA está hoje ?
2. Concepções e objetivos do PA
2.1. Condições e circunstâncias gerais de criação do PA
2.2. Condições e circunstâncias locais de lançamento do PA
2.3. Concepções iniciais do PA. Idéia força initial ?
2.4. Como/por quem foi elaborado/decidido o PA ?
2.5. Principais formas de ação previstas ?
2.6. Qual é o público alvo ?
2.7. Primeiras reações ao projeto ?
- das empresas do setor (produtores, público alvo..)
- dos órgãos político-administrativos (federais, estaduais, municipais)
- das demais instituições locais
2.8. Relação entre o PA e a realidade sócio econômica institucional local
- Baseou-se em um diagnóstico recente da região ?
- Levou em consideração estudos anteriores ?
- Deu continuidade a discussões e trocas anteriores ?
- Foi objeto de concertação com empresas / instituições locais ?
- As concepções iniciais são globalmente adequadas ao contexto local ?
2.9. Objetivos gerais do PA
2.10. Objetivos específicos ou locais do PA
2.11. Houve participação direta do público alvo (ou de suas representações) na elaboração/definição doPA ?
2.12 Quais eram as principais demandas e solicitações dos produtores, empresários e instituições locais em relação às questão tratadas no PA ?
2.13 Sob que forma(s) os produtores, os empresários e as instituições locais foram informados do PA ?
2.14 Em que medida as ações do PA respondem a parte ou totalidade das demandas e expectativas dos produtores, empresários, das instituições locais ?
2.15 Evolução / mudanças no projeto
- instituições parceiras / associadas
- objetivos
- orçamento / fontes de financiamento
- formas de ação
- público alvo / público atingido
- outras mudanças
2.16 O projeto previa objetivos quantitativos a serem alcançados ?
2.17 O projeto previa indicadores de desempenho ? Quais, prazos ?
2.18 Em que medida as concepções e os objetivos do PA exprimem uma resposta à problemática da configuração produtiva local (CPL) ?
3. Organização e meios de ação do PA
3.1. Volume financeiro global / anual envolvido
3.2. Numero de pessoas que colaboram (por exemplo, consultores, especialistas) e que estão diretamente envolvidas com o funcionamento geral do PA.
- número de pessoas com dedicação integral / especialidades / na sede / localmente
- número de pessoas com dedicação parcial
- com que freqüência recorrem à contratação de consultores / especialistas
3.3. Descrição da organização local do PA e de suas modificações eventuais ao longo do tempo.
3.4. Meios materiais de funcionamento: características e importância
- dependências / escritório
- computadores / meios de comunicação
- meios de transporte : carros, passagens, diárias
3.5. As funções principais exercidas por estes colaboradores e empregados. Descrição do funcionamento da equipe do PA
3.6. Grau de qualificação e profissionalização destes colaboradores e empregados sobre:
- conhecimento das técnicas de apoio às empresas / aos produtores
- conhecimento das empresas e do ambiente empresarial/produtivo
3.7. Formas de ação destes colaboradores e empregados
3.8. Proporção do tempo de trabalho dedicado diretamente às empresas pelos colaboradores e os empregados do PA
3.9. Tipos de apoio oferecidos às empresas, formas e duração (ajuda financeira, assistência técnica, cursos de aperfeiçoamento e capacitação,...) Combinações e proporções destes tipos de apoio.
3.10. Descrição do processo decisório no PA ?
3.11. Rigidez e continuidade versus flexibilidade e adaptação do PA ?
3.12. Qual o grau de flexibilidade na execução do PA de que dispõe a equipe ? O que pode ser mudado?
3.13. Pontos fortes e fracos da execução do projeto, na opinião do entrevistado
3.14. Principais dificuldades enfrentadas na execução do projeto
4. Resultados obtidos pela ação do PA
4.1. Principais resultados obtidos pelo PA, acumulados e no último ano.
4.2. Meios de acompanhamento e de controle interno dos resultados (avaliação interna)
- são elaborados balanços / relatórios de atividade do PA ?
- com que freqüência ? A quem se dirigem ? Que divulgação tem ?
4.3. Meios de acompanhamento e de controle externo dos resultados (avaliação externa)
4.4. Os empresários participam destas avaliações? De que forma e porquê?
4.5. Qual é o julgamento da agência responsável pelo PA e pelos demais órgãos sobre seus resultados, acumulados, no último ano?
4.6. Os resultados atendem aos objetivos previstos (= eficácia)?
4.7. Qual a relação entre estes resultados e os meios de ação (= eficiência)?
4.8. O PA é coordenado ou está relacionado com outros PA e/ou planos de desenvolvimento na região? Porquê?
4.9. De que modo todos os fatores institucionais condicionam os resultados e os efeitos do PA ?
4.10. Avaliação global e objetiva dos resultados
5. As relações PA/empresários/produtores
5.1. Qual o volume das expectativas dos empresários em relação ao PA?
5.2. Que tipo de informações iniciais são fornecidas aos empresários e através de que canais de difusão?
5.3. Quais são as demandas específicas e iniciais dos empresários?
5.4. Em que medida o PA responde ou pode responder a uma parte ou à totalidade destas demandas?
5.5. Forma/processo de seleção das demandas.
5.6. Critérios de seleção dos empresários (idade, sexo, experiência, ...) e das empresas (antiguidade, setor de atividade, tamanho, empresa estabelecida ou empresa nova, ...)
5.7. Condições/condicionantes do apoio. Entre outros qual é a contribuição (por exemplo, financeira) demandada aos beneficiários do apoio. E que proporção esta contribuição representa no financiamento total do funcionamento do PA.
5.8. O PA realiza um diagnóstico da empresa antes de apoiá-la? Porquê?
5.9. O PA realiza uma visita à empresa antes de apoiá-la? Porquê?
5.10. O PA busca informações sobre os efeitos do apoio sobre a evolução das empresas e sobre o comportamento dos empresários?Como? Porquê?