universidade federal do rio de janeiro faculdade de … · espera-se levantar esta discussão, e...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE FARMÁCIA
ELEN FRANCIS QUEIROZ DA SILVA
Revisão de métodos para determinação de canabinoides em matrizes biológicas por
cromatografia líquida de alta eficiência acoplada ao detector de espectrometria de
massas
RIO DE JANEIRO
2017
Elen Francis Queiroz da Silva
Revisão de Métodos para Determinação de Canabinoides em Matrizes
Biológicas por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência Acoplada ao De-
tector de Espectrometria de Massas
Trabalho de Conclusão de Curso apresenta-
do à Faculdade de Farmácia da Universida-
de Federal do Rio de Janeiro como parte dos
requisitos necessários à obtenção do grau
de farmacêutico.
Orientador: Profª. Dra.Virgínia Martins Carvalho
Rio de Janeiro
2017
AGRADECIMENTOS A Deus, por ter me dado sabedoria, coragem, resistência e perseverança. Por guiar
meus passos, por colocar seus anjos em meu caminho e por me dar a oportunidade
de realizar um sonho, e através dele ajudar tantas vidas.
Aos meus pais, que sempre acreditaram em mim, e me ensinaram a construir a vida
com honestidade, justiça, respeito, liberdade, coragem, amor e alegria. É para vocês
e por vocês que consegui este diploma, só nós sabemos o quanto lutamos por isso.
Ao meu pai e bisavó, meus maiores fãs, que partiram com a certeza que este dia
chegaria, se tornaram parte de mim e me fizeram ter forças para caminhar até aqui.
Ao meu marido, Pablo, pelo apoio constante, por me incentivar a ir em busca dos
meus sonhos, por compreender minha ausência e permanecer me amando. Te amo!
Aos meus grandes amigos Layza, Letícia, Daniele, Juliane, Paula, Diego, Inah, Kari-
na, Jacqueline e Erik, que por tantas vezes dividiram comigo o peso dos dias ruins e
merecem comemorar todas as felicidades dessa conquista.
Aos amigos que tornaram essa jornada possível: Biofísica (#bioffromhell), Farmácia-
UFF (IPCE) e Farmácia-UFRJ (galera da escadaria). A maravilhosa turma 2011.2-
noturno, em especial Estephane, Faninha, Si, Dudu, Lígia, Amanda, Erika, Pedro,
Pam, Leide, Vera, Torre e Mateus que por certo estarão ao meu lado a vida inteira.
A incrível equipe que se tornou a família SEFAR. Aos meus chefes Adelaine, Laís,
Aline e Douglas, que além de exemplos profissionais, me deram a oportunidade de
estudar e não me deixaram desistir. Cada um de vocês são parte desse sonho.
A minha orientadora Virgínia, com abraço acolhedor e alegria em dividir conheci-
mento. Você é exemplo de professora, cientista e de humanidade.
Ao povo brasileiro, o qual através de seus impostos financiaram a minha formação.
Espero retribuir o investimento trabalhando por uma saúde pública de qualidade.
RESUMO SILVA., E. F. Q. Revisão de métodos para determinação de canabinoides em matrizes biológicas por cromatografia líquida de alta eficiência acoplada ao detector de espectrometria de massas. Rio de Janeiro, 2017. Trabalho de Con-
clusão de Curso (Bacharelado em Farmácia) – Faculdade de Farmácia, Universida-
de Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
É recorrente em todo o mundo a discussão sobre a legalização e utilização da Can-
nabis sativa, popularmente conhecida como maconha, para uso medicinal. Esta
planta apresenta inúmeros metabólitos, que são compostos farmacologicamente ati-
vos denominados canabinoides, que no Brasil são substâncias proscritas. Contudo,
a realidade é que no Brasil, cresceu o número de tratamentos com canabinóides pa-
ra epilepsia refratária, por exemplo. Os pacientes fazem a terapia mesmo que de
maneira artesanal, ou até mesmo ilegal, sem segurança e comprovação da eficácia.
Por isso, faz-se necessário uma avaliação de segurança considerando que o uso
terapêutico já está sendo realizado independentemente de estudos pré-clínicos.
Desta forma o presente trabalho tem por objetivo apresentar a evolução dos estudos
sobre o emprego da Cannabis sativa e seus derivados, a fim de propor a melhor
técnica para determinação por cromatografia líquida de alta eficiência acoplada ao
detector de espectrometria de massas em matriz biológica. Tal apresentação dar-se-
á através de pesquisas em artigos científicos, em bases de dados eletrônicas e
agências regulatórias, para avaliar as vantagens e desvantagens dos parâmetros
para seleção de matriz biológica, extração, detecção, e quantificação para desenvol-
ver metodologia simples, com baixo custo, reprodutibilidade, alta sensibilidade e es-
pecificidade, que futuramente seja empregada em estudos farmacocinéticos e moni-
torização terapêutica.
Espera-se levantar esta discussão, e elucidar a importância do uso de derivados da
Cannabis sativa como medicamento para auxiliar na construção de um acesso segu-
ro e eficaz.
Palavras-chave: “canabinoides”, “Cannabis sativa”, “maconha”, “cannabis”, “canabi-
diol”, “tetrahidrocanabinol”, “cromatografia líquida” e “farmacocinética”.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
AMPc – Adenosina monofosfato cíclica
ASC – Área sob a curva
CBD – Canabidiol
CBDA – Ácido Canabidiolico
CBG – Canabigerol
CBN – Canabinol
CB1 – Receptor canabinóide 1
CB2 – Receptor canabinóide 2
CG – Cromatografia gasosa
CG/EM – Cromatografia gasosa acoplado a espectrômetro de massas
CLAE – Cromatografia líquida de alta eficiência
CLAE/EM – Cromatografia líquida de alta eficiência acoplado a espectrômetro de
massas
CLAE- EM/EM – Cromatografia líquida de alta eficiência acoplado a espectrômetro
de massas em tandem
Cmax – Pico da concentração plasmática
CLUE – Cromatografia líquida de ultra eficiência
DAD – Detector de arranjo de diodos
DCB – Denominações Comuns Brasileiras
DL50 – Dose letal 50%
EFS – Extração de fase sólida
ELL – Extração líquido-líquido
EM – Espectrômetro de massas
GABA – Ácido γ-aminobutírico
Gi – Proteína G inibitória
LD – Limite de detecção
LIQ – Limite de quantificação inferior
LogP – Coeficiente de partição
LQ – Limite de quantificação
LSQ – Limite de quantificação superior
MEFS – Micro extração de fase sólida
m/z – Razão massa/carga
PKA – Proteína quinase A
PKa – Constante de dissociação ácida
SNC – Sistema nervoso central
SNP – Sistema nervoso periférico
THC ou Δ9-THC – Δ9-tetrahidrocanabinol
THCA – Ácido tetrahidrocanabinolico
THC-COOH – Carboxi-THC
Tmax – Tempo em que a concentração plasmática do fármaco atinge a concentração
máxima após a administração
TRPV1 - Receptores potenciais transitórios vaniloides do tipo 1
UV – Detector ultravioleta
Δ8THC – Δ8-tetrahidrocanabinol
2- AG – 2-araquidonilglicerol
11-OH-THC – Hidroxi-THC
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 15
2.1. COMPONENTES DA CANNABIS ...................................................................... 15
2.1.1. Δ9-TETRAIDROCANABINOL .......................................................................... 19
2.1.2. CANABIDIOL ................................................................................................... 20
2.2. FARMACODINÂMICA ........................................................................................ 20
2.3. TOXICIDADE ..................................................................................................... 23
2.4. FARMACOCINÉTICA ......................................................................................... 25
3. OBJETIVO ............................................................................................................29
3.1. OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 29
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 29
4. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 30
5. METODOLOGIA .................................................................................................... 31
5.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 31
5.2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ....................................................... 31
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 32
6.1. SELEÇÃO DOS ESTUDOS ............................................................................... 33
6.2. CANABINOIDES: DETERMINAÇÃO ................................................................. 37
6.2.1. ESTUDOS DE FARMACOCINÉTICA: MONITORIZAÇÃO TERAPÊUTICA E
BIODISPONIBILIDADE ............................................................................................. 37
6.2.2. MATRIZ BIOLÓGICA ...................................................................................... 40
6.2.3. DETECÇÃO E QUANTIFICAÇÃO ................................................................... 43
6.2.4. TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO ............................................................................ 46
6.2.5. PARÂMETROS DE VALIDAÇÃO .................................................................... 47
7. CONCLUSÃO ........................................................................................................ 50
8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................... 51
Página 10 de 62
1. INTRODUÇÃO Diversas culturas em todo o mundo utilizam plantas em terapias baseadas em
suas propriedades medicinais. Sendo a Cannabis sativa uma das plantas de uso
medicinal mais conhecida e polêmica de todos os tempos. Pois a Cannabis sativa,
popularmente conhecida como maconha, é a droga ilícita mais consumida no mun-
do, sendo seu consumo superado apenas pelo tabaco e álcool (WATSON et al.,
2000). A Cannabis sativa L. (Figura 1) é uma planta da família Cannabaceae, nativa
da Ásia Central, descrita em 1973 pelo botânico sueco Carolus Linneaus, embora os
primeiros registros da planta datam de pelo menos 2700 anos devido as suas pro-
priedades medicinais, já reconhecidas e relatadas na China. Sua fibra conhecida
como cânhamo era utilizada pelas civilizações chinesas, gregas e romanas como
matéria-prima para confecção de velas de navios, roupas e cordas (ZUARDI, 2006;
BARRETO, 2012).
Figura 1. A planta Cannabis sativa. Fonte: BYNUM, 2014.
A cannabis possui divergência na literatura, no qual autores afirmam que há
somente uma espécie monotípica a Cannabis sativa, e algumas subespécies e vari-
edades. Enquanto outros afirmam que há duas espécies, Cannabis sati-
va e Cannabis indica, e outros ainda incluem a Cannabis ruderalis (STAMBOULI et
Página 11 de 62
al., 2005; MACEDO, 2011). As espécies de cannabis distinguem-se principalmente
pelo modo de crescimento, características morfológicas e quantidade de princípios
ativos (MATOS et al., 2017).
A cannabis é conhecida por diversos nomes como, marijuana, hashish, cha-
ras, bhang, ganja, diamba e sinsemila, e maconha no Brasil, que é um anagrama
para Cânhamo (CARLINI, 2006).
No Brasil, diversos autores relatam que a cannabis foi trazida para cá por es-
cravos africanos, para uso não médico e também como hipnótico e sedativo. Até
1917, os derivados da planta podiam ser facilmente encontrados em tabacarias e
farmácias e, até 1930, eram receitados para fins médicos, mas, também, eram con-
sumidos em rituais sociais ou cerimônias religiosas com raízes em tradições africa-
nas, indígenas e europeias (CARLINI, 2006).
Há diversas citações em compêndios médicos nacionais para seu uso tera-
pêutico até início do século XX, quando se deu início a fase repressiva por todo o
mundo, com proibição total do plantio, cultura, colheita e exploração da maconha em
todo território nacional pelo Decreto-Lei em 1938, por ser considerada uma droga
perigosa capaz de induzir seus usuários a comportamentos violentos e promíscuos,
refletindo negativamente em pesquisas sobre seu uso terapêutico até os dias atuais
(CARLINI, 2006).
Apesar da utilização terapêutica da cannabis e seus derivados serem reco-
nhecidas há muitos anos, o estudo das suas propriedades terapêuticas é muito re-
cente, ocorrendo somente a partir da década de 60 após a caracterização do Δ9-
tetraidrocanabinol (THC), uma das substâncias responsáveis pelos efeitos psicoati-
vos, pelo grupo do professor Mechoulam, que a cannabis voltou a ser estudada. E a
partir de então, diversos grupos pelo mundo pesquisaram suas propriedades farma-
cológicas e de seus compostos devido ao seu potencial (ZUARDI, 2008).
A cannabis contém mais de 400 componentes químicos, e aproximadamente
70 compostos farmacologicamente psicoativos denominados canabinoides, como
por exemplo o THC e seus isômeros. Os canabinoides são substâncias complexas
que podem ser de origem sintética ou natural e se ligam aos receptores canabinoi-
des (CB) (ZUARDI, 2008; MATOS et al., 2017). Devido ao seu alto potencial farmacológico, os canabinoides são estudados
para diversos alvos terapêuticos, como analgesia, relaxamento muscular, imunossu-
pressão, anti-inflamatórios, antialérgicos, sedativos, para melhorar o humor, como
Página 12 de 62
estimulante do apetite, antiemético, diminuidores da pressão intra-ocular, broncodila-
tação, neuroproteção e efeitos antineoplásicos (Figura 2).
Figura 2. Indicações farmacológicas dos canabinoides. Fonte: BONFÁ, 2008.
Atualmente, a cannabis é empregada como terapia auxiliar para o controle de
alguns sinais e sintomas em pacientes acometidos por diversas doenças e enfermi-
dades, como: câncer, esclerose múltipla, doença de Crohn e epilepsia refratária.
Como síndrome de Rett clássica e atípica, síndrome de Dravet, síndrome de Ohta-
hara e síndrome de West, nas quais medicamentos de primeira escolha não surtiram
efeito (KAO YIEN, 2017; MATOS et al., 2017).
No Brasil a importação de produtos à base de canabidiol ocorre principalmen-
te para o tratamento de epilepsia refratária (KAO YIEN, 2017). Mas existe um núme-
ro ainda não estimado de pacientes que utilizam produtos nacionais ainda não regu-
lamentados para diversas outras enfermidades (CARVALHO et al., 2017).
Diferentes medicamentos à base de cannabis estão disponíveis no mercado
internacional (PAMPLONA, 2014). Como:
• Marinol®: na forma de cápsula de 5 mg do ativo Dronabinol que é uma versão
sintética do THC. É autorizada para o alívio das náuseas causadas pela quimiotera-
pia no tratamento do câncer, além de amenizar a perda de apetite associada à Aids;
• Cesamet®: cápsula de 1 mg do ativo Nabilona, é uma variação estrutural do Dro-
nabinol. Possui as mesmas aplicações além de atuar como analgésico para dores
neuropáticas e ainda demonstra resultados no alívio da fibromialgia e da esrose múltipla;
• Acomplia ®: comprimido de 20 mg do ativo Ribonabanto, um antagonista sintético
que bloqueia os receptores canabinoides CB1, com aplicação antiobesidade. Foi
retirado do mercado, e pro por causar depressão.
Página 13 de 62
• Bedrocan®: planta seca e padronizada de cannabis para administração via vapo-
rização, ou usar na preparação de comestíveis de base oleosa (manteigas, por
exemplo). A escolha do medicamento com mais ou menos THC ou CBD, depende
da finalidade;
• Sativex® ou Mevatyl®: extrato hidro-alcoólico administrado na forma de spray oral
com concentrações controladas de THC (27 mg/mL) e CBD (25 mg/mL), produzido a
partir de cultivos isogênicos de THC e de CBD. Utilizado no tratamento de pacientes
não responsivos a medicamentos antiespásticos. Único com registro da ANVISA
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
No Brasil a Cannabis sativa encontra-se na Lista E da portaria SVS/MS nº
344/1998 como plantas proscritas que podem originar substâncias entorpecentes ou
psicotrópicas, sendo o THC incluso na lista de substâncias de uso proscrito (lista F2)
bem como seus isômeros, que inclui o canabidiol, por exemplo.
O Dronabinol (THC sintético) consta na lista A3 (mesma alocação da morfina)
desde o ano 2000, enquanto o THC da planta consta até hoje na lista F2.
A discussão sobre a retirada do canabinoide canabidol (CBD) da lista de fár-
macos proscritos teve início no Brasil em 2014 após a divulgação de que pacientes
pediátricos portadores de epilepsia refratária encontravam-se sob tratamento com
extrato de CBD com excelente resposta terapêutica. Enquanto que a cannabis e
seus componentes ainda são proibidos, e a obtenção do extrato terapêutico de CBD
é realizado de maneira ilegal, inclusive feitos a partir de plantas desconhecidas, mui-
tas vezes oriundas do tráfico (maconha prensada), que pode conter inúmeros com-
postos neurotóxicos como altos teores de metais pesados, praguicidas, e adulteran-
tes com maior potencial de abuso, como por exemplo, cocaína (MAGALHÃES, 2015;
CARVALHO et al., 2017).
Em 2014 após resolução do Conselho Regional de Medicina do Estado de
São Paulo e o Conselho Federal de Medicina publicou a resolução CFM nº
2.113/2014 que autoriza os médicos a prescreverem canabidiol em uso compassivo
para tratamento de epilepsias. Ou seja, só pode ser prescrita quando os outros me-
dicamentos conhecidos não apresentarem resultados satisfatórios.
No primeiro semestre de 2015 a ANVISA através da RDC nº 03/2015 alterou
a classificação do CBD para a Lista C1 - substâncias sujeitas ao controle especial. E
através da RDC nº 17/2015 autoriza e define os critérios de importação de extratos
Página 14 de 62
de CBD que entram em território nacional como medicamento, enquanto que os Es-
tados Unidos da América, os mesmos são comercializados como suplementos ali-
mentares. Em março de 2016 com a RDC nº 66/2016, a ANVISA autoriza a prescri-
ção e importação do THC.
Em 2017 a ANVISA aprovou o registro do primeiro medicamento à base
de Cannabis sativa no Brasil, o Mevatyl ®. E também atualizou a lista das Denomi-
nações Comuns Brasileiras (DCB) e incluiu a Cannabis Sativa L.
Considerando a regulação nacional de medicamentos à base de cannabis o
desenvolvimento de metodologias analíticas para a determinação qualitativa e quan-
titativa de canabinoides em amostras biológicas possuem enorme importância na
área clínica e no estudo e interpretação dos parâmetros farmacocinéticos e farma-
codinâmicos dessas substâncias.
Nos últimos anos, trabalhos vem sido publicados para demonstrar desenvol-
vimento de metodologias para determinação de canabinoides, por diferentes técni-
cas de extração e detecção, e em diferentes tipos de matrizes biológicas. Como por
exemplo, em 2002, Musshoff e colaboradores, determinaram canabinoides em cabe-
lo por CG-EM adotando como técnicas de extração a microextração em fase sólida
(MEFS) por. Em 2005, Nadulski e colaboradores desenvolveram metodologia de ex-
tração em fase sólida (EFS) em CG-EM para analisar canabinoides em plasma hu-
mano obtido de voluntários após a administração oral de baixas doses de extrato de
maconha. Ou ainda, Kneisel e colaboradores, em 2013, desenvolveram método por
precipitação proteica para quantificar canabinóides em fluido oral em CLAE-EM
(MUSSHOF et al., 2002; NADULSKI et al., 2005; KENEISEL et al., 2013).
Foi observado, que embora exista muitos trabalhos de determinação de ca-
nabinoides em matrizes biológicas alternativas e complexas, a maioria deles, utili-
zam extrações em fase sólida, que é uma técnica mais cara e dificulta a aplicação
da metodologia em laboratórios brasileiros.
Visando uma futura aplicação terapêutica é de grande importância o desen-
volvimento de metodologia para análise em CLAE-ES, por ser uma excelente alter-
nativa para a detecção, identificação, confirmação e quantificação simultânea de ca-
nabinoides em matrizes biológicas como plasma, sangue e urina. Pois possibilita a
monitorização do íon pseudo-molecular e de suas fragmentações, de forma a garan-
tir a sensibilidade e a especificidade necessárias para a quantificação de analitos,
Página 15 de 62
em concentrações de nível traço. E sendo aliado a um método de extração simples
como o líquido-líquido (ELL) torna-se viável por ter custo relativamente baixo.
No cenário atual, dispor de métodos analíticos para melhorar a segurança dos
pacientes que já fazem uso como terapia medicamentosa faz-se urgente. Permitindo
assim estudos sobre dose, janela terapêutica, toxicidade, farmacodinâmica, farma-
cocinética, efeitos adversos e monitorização terapêutica.
Espera-se levantar esta discussão através de bases científicas e elucidar a
importância do uso de derivados da planta como medicamento para determinados
tipos de doenças e enfermidades no Brasil. E auxiliar na construção de um acesso
seguro e eficaz já aprovados por agências regulatórias e suas evidências.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. COMPONENTES DA CANNABIS
A cannabis é uma planta complexa, pois contém uma enorme variedade de
substâncias químicas e diversas possibilidades de interações entre elas. Sendo até
então identificadas 483 substâncias químicas diferentes, que são distribuídas em
dezoito classes químicas, como por exemplo, óleos essenciais, flavonóides, açúca-
res, aminoácidos, ácidos graxos, compostos nitrogenados e terpenofenóis (canabi-
nóides) (VOTH et al.,1997; MARKEZ et al., 2002). A atividade farmacológica da
planta está associada aos mais de 60 canabinoides exclusivos da cannabis (STAM-
BOULI et al., 2005; TAURA et al., 2007).
Os canabinoides são substâncias complexas que se ligam aos receptores ca-
nabinoides e sua estrutura química geral é constituída por 21 átomos de carbono
com três anéis, um cicloexano, um tetrahidropirano, e um benzeno (Figura 3).
Figura 3. Estrutura base do canabinoide. Fonte: MATOS, et al. 2017.
Página 16 de 62
Os canabinoides podem ser de origem sintética ou natural, sendo classificados em:
• Fitocanabinoides: são metabólitos secundários extraídos da planta Cannabis sati-
va, encontrados nas folhas e flores, principalmente na resina;
• Endocanabinoides: substâncias endógenas que se ligam aos receptores canabi-
noides que podem estar presentes no sistema nervoso central (SNC) e periférico
(SNP);
• Canabinoides sintéticos: são substâncias análogas aos supracitados, ligantes dos
receptores canabinoides que podem estar relacionados com diferentes classes quí-
micas (FOWLER et al., 2005; FONSECA et al., 2013).
O primeiro composto isolado da cannabis foi o canabinol, em 1899 por Wood,
e de maneira equivocada, foi considerado o principal composto ativo da planta capaz
de desencadear os efeitos psicoativos. Em 1940 por Adams, foi descoberto o cana-
bidiol, e posteriormente isolado por Mechoulam e colaboradores em 1963. Um ano
depois, em 1964, Mechoulam e seus colaboradores conseguiram isolar o Δ9-
Tetrahidrocannabinol (WOOD,1899; ADAMS, 1940; MECHOULAM et al.,1963; ME-
CHOULAM et al.,1964).
Devane e colaboradores em 1988 descobriram que existia um sítio específico
no cérebro, no qual o THC podia ligar-se. Em 1990, Matsuda conseguiu clonar o
primeiro receptor canabinóide e o chamaram de Sistema Receptor de Canabinoides
tipo 1, o CB1, onde o THC atuava como agonista parcial. Em 1992, Munro descobriu
um segundo receptor canabinóide, que foi nomeado como CB2. Paralelamente, De-
vane comprovava a existência do Sistema Receptor de Canabinoides a partir da ex-
tração de uma molécula, uma etanolamida de ácido aracdônico, que também liga-
vam-se a este receptor, a este agonista natural, foi dado o nome de “anandamida”,
palavra derivada de ananda, do Sânscrito, que significa “felicidade” (DEVANE et al.,
1988; MATSUDA et al., 1990; DEVANE et al., 1992; MUNRO et al., 1993; ZUARDI,
2008). É encontrada em várias regiões do cérebro humano (hipocampo, estriado e
cerebelo) onde os receptores CB1 são abundantes, o que explica o papel fisiológico
dos canabinoides endógenos nas funções cerebrais controladas por essas zonas do
cérebro, como, a memória, os padrões do sono, o alívio da dor e da fome. A molécu-
la de anandamida apresenta ação sobre o sistema nervoso central e periférico (DI
MARZO, 2000). Curiosamente, também há presença em outras regiões do corpo,
Página 17 de 62
tais como, o baço, onde existem altas concentrações de receptores CB2 (FOWLER,
2003).
Comparada com o THC, a anandamida apresenta uma afinidade de até vinte
vezes menor pelo receptor CB1, e é mais rapidamente metabolizada por hidrólise
pelas amidases (HILLIARD, 1999). Apesar destas diferenças, a anandamida apre-
senta quase todos os efeitos farmacológicos do THC (DEVANE, 1992).
Em 1995 Mechoulam e colaboradores conseguiram isolar um segundo neuro-
transmissor canabinóide, o 2-araquidonilglicerol (2-AG) e partir daí as pesquisas re-
lacionadas à interação dos compostos oriundos da Cannabis sativa alcançaram ou-
tras proporções (Figura 4)(MECHOULAM et al., 1995; ZUARDI, 2008).
Figura 4. Número de publicações referentes à cannabis em 45 anos. Fonte: ZUARDI, 2008.
Os principais canabinoides importância farmacológica são (Figura 5):
• Δ9-tetra-hidrocanabinol (THC): principal componente com efeito psicoativo. Possui
efeito antiemético e anti-inflamatório (BRENNEISEN, 2007);
• Δ8-tetra-hidrocanabinol (Δ8-THC): é um isômero do THC que difere em relação a
posição da dupla ligação na posição 8, e por isso apresenta menor efeito psicoativo
em relação ao THC (GAINZA, 2003);
• Canabidiol (CBD): não apresenta efeito psicoestimulante e alucinógeno, porém
apresenta significante efeito anticonvulsivante, sedativo, antipsicótica, analgésico e
anti-inflamatório para o sistema imune (BRENNEISEN, 2007; CARRANZA, 2009;
NETZAHUALCOYOTZI-PIETRA, 2009);
Página 18 de 62
• Canabinol (CBN): apresenta efeito psicoativo inferior ao THC, observado apenas
por via intravenosa. Possui atividade anti-inflamatória, antipsicótica, antibiótica e
analgésica. (TEIXEIRA et al., 2011; BRENNEISEN, 2007);
• Ácido Δ9-tetra-hidrocanabinolico (Δ9-THCA): precursor do THC, por isso não apre-
sentam atividade psicoativa, somente após ser queimado (descarboxilado) sendo
convertido em THC (BRENNEISEN, 2007);
• Canabigerol (CBG): efeito antibiótico e antifúngico (BRENNEISEN, 2007);
As porcentagens dos canabinoides mais abundantes variam entre 0,0014-
2,106% para o THC, 0,00002-0,035% para o CBN e 0,003-2,96 para o CBD (RIBEI-
RO, 2014). Enquanto o Δ8-THC aparece somente em algumas variedades de plantas
da cannabis.
Figura 5. Principais canabinoides presentes na Cannabis sativa. Adaptação da figura de BERGER et.
al, 2009.
Por meio de suas biossínteses, os canabinoides são primeiramente sintetiza-
dos pela planta sob a forma de ácidos carboxílicos e, somente após a influência da
luz e calor, são convertidas nos canabinoides, com a perda do grupo carboxílico sob
a forma de dióxido de carbono (FERNANDES, 2013).
Existem diversas teorias para discutir as vias da biossíntese dos canabinoi-
des. Como por exemplo, a rota explicada por Mechoulam, que propôs uma via para-
Página 19 de 62
lela entre formas ácidas e neutras dos compostos demonstrados na Figura 6 (PAGE
& NAGEL, 2006).
Figura 6. Proposta de biossíntese dos canabinoides. Adaptação da figura de PAGE & NAGEL, 2006.
E além disso, há variações no efeito, que podem ser determinados pela forma
ácida ou neutra de um mesmo canabinoide, como por exemplo, o ácido Δ9-tetra-
hidrocanabinolico que é convertido em THC através do aquecimento, sendo a con-
centração final de cada substância diretamente influenciada pela temperatura e tipo
de solvente de extração (ROMANO & HAZECAMP, 2013).
Sendo assim, é difícil estimar os efeitos farmacológicos da cannabis, conside-
rando que a planta apresenta aproximadamente 70 fitocanabinoides.
2.1.1. Δ9-TETRAIDROCANABINOL O THC é um dos principais fitocanabinoides, e principal constituinte da can-
nabis. Possui fórmula estrutural C21H30O2, peso molecular 314.469 g/mol, baixa so-
lubilidade em água (0.028 mg/L em 23°C), solubiliza 1 parte em 1 parte de álcool
etílico, acetona e n-hexano, encontrado naturalmente na forma de sólido, ponto de
fusão 155 - 157°C, constante de dissociação (pka) 10.6, logP 6.5, degrada em meio
Página 20 de 62
ácido, luz, e temperatura (armazenar a -20°C), e número de CAS 1972-08-3 (PUB-
CHEM; DRUGBANK).
2.1.2. CANABIDIOL O CBD é um fitocanabinóide da Cannabis sativa, e constitui cerca de 40% das
substâncias ativas dessa planta. Possui fórmula estrutural C21H30O2, peso molecular
314.469 g/mol, baixa solubilidade em água (0.0126 mg/mL mg/L em 23°C), pouco
solúvel em álcool etílico, solubiliza em solventes orgânicos, encontrado naturalmente
na forma de sólido, ponto de fusão 66 - 67°C, constante de dissociação (pka) 9.13,
logP 6.1, e número de CAS 13956-29-1 (PUBCHEM; DRUGBANK).
2.2. FARMACODINÂMICA Os canabinoides exercem o seu efeito pela interação com os receptores ca-
nabinoides endógenos CB1 e CB2, ou ainda mediados por subtipos ainda não identi-
ficados (GROTENHERMEN, 2004).
Os receptores CB1 encontram-se distribuídos pelo córtex cerebral, área límbi-
ca, gânglio basal, cerebelo, tálamo e tronco cerebral, nos terminais nervosos pré-
sinápticos. Estas regiões são responsáveis pela cognição, memória, recompensa,
ansiedade, dor, percepção sensorial e coordenação motora, e está relacionado com
os efeitos neurocomportamentais e psicotrópicos dos canabinoides.
Enquanto o receptor CB2 encontra-se presente nos macrófagos, no baço, es-
tando também presente em outras células do sistema imunológico (MUNRO et al.,
1993).
Os receptores CB1 e CB2 estão acoplados a proteína G inibitória que, quando
ativada, promove o bloqueio da enzima adenilatociclase, provocando a redução dos
níveis de AMP cíclico e a inibição de canais de cálcio. A ativação dos receptores
CB1 bloqueia a liberação de outros neurotransmissores, inibitórios ou excitatórios,
como o ácido gamaaminobutírico (GABA) e o glutamato (ASHTON,2001).
A falta de receptores canabinoides na base do cérebro, explica a baixa letali-
dade exibida pela cannabis, uma vez que essa porção do cérebro regula a respira-
ção e outras funções vitais (AMERI, 1999; DRUMMER, 2001).
A função fisiológica dos receptores CB1 E CB2 pode ser afetada pelo número
de modulações do sistema neuronal por outras drogas de abuso: opióides (morfina),
Página 21 de 62
GABA (benzodiazepínicos), dopamina, serotonina (anfetamina e cocaína) e recepto-
res colinérgicos (DRUMMER, 2001).
Os ligantes fisiológicos para estes receptores pertencem à família
das anandaminas, e são derivados de cadeias longas de ácidos graxos poli-
insaturados, principalmente o ácido araquidônico, e exibe seletividade variada para
os receptores CB1 e CB2 (McALLISTER, 2002). Além disto, podem existir interações
importantes com outros receptores, e também neurotransmissores, incluindo GABA,
opióides e monoaminas. E ainda o THC pode diminuir a ligação da dopamina
ao núcleo acumbens e ao córtex pré-frontal (ASHTON, 2001).
Figura 7. Estrutura química da Anandamida e do 2-AG. Fonte: HONÓRIO et al., 2006.
O 2-AG apresenta maior seletividade para os receptores CB1/CB2 em relação
a anandamida, é agonista total CB1/CB2. A anandamida é agonista parcial CB1/CB2
e agonista total, com baixa afinidade, dos receptores potenciais transitórios vaniloi-
des do tipo 1 (TRPV1). Ambos também interagem com outros receptores (COSTA et
al., 2011).
Os endocanabinoides 2-AG e anandamida são sintetizados por demanda nos
neurônios pós-sinápticos após o influxo de cálcio, seguido da ativação das fosfolipa-
ses, que transformam fosfolipídeos em endocanabinoides. E desempenham papel
importante na modulação de neurotransmissão, especialmente como transmissores
retrógrados na maioria dos processos fisiológicos, de dor, cognição, regulação do
Página 22 de 62
sistema endócrino, da função metabólica, resposta emocional, efeitos no sistema
imunitário, neuroprotetores e antieméticos. (RUSSO, 2006).
Os receptores CB1 e CB2 estão acoplados a proteína G inibitória (Gi), que
quando ativada por seu ligante, endógeno ou não, ocorre a inibição da adenilatoci-
clase e, consequentemente, da adenosina monofosfato cíclica (AMPc), consequen-
temente reduzindo o processo de fosforilação dependente da ativação da proteína
quinase A (PKA), fechamento dos canais de cálcio, e abertura dos canais de potás-
sio, o que diminui a liberação de neurotransmissores. Sendo assim, há uma influên-
cia na comunicação celular (SAITO et al., 2010; COSTA et al., 2011).
Os endocanabinoides são sintetizados e liberados na membrana dos neurô-
nios pós-sinápticos, após o influxo de cálcio, ativam os receptores pré-sinápticos
CB1, e restrigem a atividade neural. A anandamida e 2-AG são removidas da fenda
sináptica. O mecanismo de internalização ainda não é totalmente elucidado, sendo
debatido se ocorre passivamente por meio da difusão ou por transportadores especí-
ficos. Em seguida, dentro dos neurônios se acopla ao TRPV1, e ocorre o catabolis-
mo, no qual os endocanabinoides sofrem hidrólise enzimática, pelas enzimas amida
hidrolase de ácidos graxos (para anandamida) e a lipase monoacilglicerol (para 2-
AG) (SAITO et al., 2010).
Receptores canabinoides e seus ligantes endógenos juntos constituem o “sis-
tema endocanabinóide” (GROTENHERMEN, 2003).
O THC se liga aos receptores CB1 e CB2 agindo como um agonista parcial e
exerce atividade neural mista, excitatória e inibitória, em diferentes áreas do cérebro,
e não somente em receptores canabinoides específicos (PERTWEE, 2008). E ainda
o THC pode diminuir a ligação da dopamina ao núcleo acumbens e ao córtex pré-frontal.
Sua natureza hidrofóbica facilita sua absorção no organismo com consequente rapi-
dez no surgimento de seus efeitos psicoativos. Existe como isômero (-) trans
(ASHTON, 2001).
O THC é responsável pelos efeitos de sedação, leve euforia e ainda apresen-
ta propriedade ansiolítica. É dose-dependente, e em doses altas podem produzir
alteração na percepção do tempo, aumento na sensitividade dos cinco sentidos e
até alucinações, o que faz da maconha próxima de alucinógenos clássicos (SPI-
NELLA, 2001). Dentre os efeitos medicinais estão o efeito analgésico, anti-
espasmótico, relaxante muscular, neuroproteção, potente antioxidante e anti-
Página 23 de 62
inflamatório (20 vezes mais potente que a aspirina e 2 vezes mais potente que a hi-
drocortisona (RUSSO, 2011).
O CBD é um dos fitocanabinoides mais estudados devido aos seus efeitos te-
rapêuticos. Apesar de ser isômero do THC, responsável por suas ações psicoativas.
Os efeitos farmacológicos do canabidiol são diferentes e muitas vezes opostos ao
THC, pois minimiza os efeitos da ansiedade, taquicardia, fome e sedação causada
pelo THC (RUSSO, 2011; SCHIER et. al., 2012).
Acredita-se que o CBD e o THC atuem em sinergia em doses terapêuticas,
tendo um melhor efeito quando estão juntos do que separados.
O CBD apresenta baixa afinidade pelo CB1, e atua como agonista inverso no
receptor CB2 (ZUARDI, 2008). Embora o seu mecanismo não esteja completamente
elucidado, é provável atue na mediação da sinalização dos endocanabinoides, atra-
vés da inibição da amida hidrolase de ácidos graxos, responsável pela hidrólise en-
zimática da anandamida, ou bloqueando sua recaptação (BISOGNO et al., 2001). O
CBD também funciona como agonista dos receptores de serotonina tipo 1A promo-
vendo o efeito ansiolítico (CAMPOS & GUIMARÃES, 2008; FOGAÇA et al., 2014;
MARINHO et al., 2015). O CBD ainda é capaz de ativar o TRPV1, que integram vá-
rios estímulos nociceptivos, responsável pela dor, o que explica os seus efeitos de
analgesia e anti-inflamatório (MATOS, et al. 2017).
O CBD apresenta efeitos medicinais significantes como anticonvulsivante, nas
desordens do movimento distônico, bem como nos sintomas da doença de Hunting-
ton, como sedativo para casos de insônia crônica, como um antipsicótico e anti-
inflamatório para o sistema imune, e analgésico (CARRANZA, 2009; NETZAHUAL-
COYOTZI-PIETRA, 2009).
2.3. TOXICIDADE A toxicidade aguda do THC é baixa. Os valores da dose letal média (LD50)
para administração oral de THC em ratos é de 800-1900 mg/kg, dependendo
do sexo e da espécie (OLIVEIRA, 2005).
Não foram observados casos de mortes por alcançar a dose letal máxima oral
de THC em cães (acima dos 3000 mg/kg de THC) e macacos (acima dos 9000
mg/kg de THC) e não foram reportados casos de mortes por overdose aguda em
humanos. No entanto, há uma ligação entre casos de infarto do miocárdio e o efeito
do THC na circulação, sendo que isto não é aplicável a pessoas saudáveis, mas su-
Página 24 de 62
jeitos com doença coronária, com hipotensão ortostática ou aumento da frequência
cardíaca podem correr riscos (GROTENHERMEN, 2004).
O uso a longo prazo de cannabis não está associado com o aumento
da mortalidade de animais nem de humanos. Embora existam efeitos crônicos que
afeta o sistema imunológico e endócrino, trato respiratório (quando inalado) e psico-
lógico (GROTENHERMEN, 2007).
Acima de um limiar individual, o consumo de cannabis ou de THC isolada-
mente podem causar efeitos adversos, como prejuízo temporário na memória a curto
prazo, alterações nas funções cognitivas, diminuição da concentração, da atenção e
do reflexo motor, dificuldade de expressão verbal, risos imotivados, aumento da so-
ciabilidade, podendo persistir por dias após o consumo e ainda causar prejuízo no
sistema imunológico (KALANT, 2004). Altas doses de THC exercem efeitos de imu-
nossupressão na função linfocitária, incluindo estimulação da proliferação e aumento
da produção de interleucina-2 (ADAMS & MARTIN, 1996).
A probabilidade da cannabis causar dependência é baixa quando comparada
com opióides, tabaco, álcool e benzodiazepinas. No entanto, isso vai depender de
cada indivíduo, por estar relacionada com fatores genéticos e ambientais, sendo o
último relacionado com precocidade e consumo de tabaco, álcool e outras drogas
(ASHTO, 2001).
A tolerância ou dependência química é uma característica individual, e é
definida como a resistência criada pelo organismo aos efeitos de determinada droga,
onde o organismo adquire tolerância e necessita de doses cada vez maiores para
alcançar os mesmos efeitos antes conquistados com doses menores.
A tolerância induzida pelo consumo de cannabis deve-se a alterações farma-
codinâmicas, que pode ocorrer por diminuição da regulação dos receptores canabi-
noides ou dessensibilização dos mesmos. Ou ainda se houver interrupção abrupta
após doses elevadas. Além disso, podem levar a alterações no sistema autóno-
mo e cardiovascular, podendo diminuir a pressão intraocular, náuseas, suores, sali-
vação, febre, tremores, perda de peso, e causar alterações do sono e apetite, sendo
alguns desses sintomas observados horas depois da descontinuação do consumo e
o desaparecendo em poucos dias (GROTENHERMEN, 2007).
A cannabis em uma dose pequena proporciona alívio da ansiedade, efeito
analgésico e leve sonolência. Ao aumentar a dosagem pode causar ansiedade, e
Página 25 de 62
talvez desencadear ou agravar um quadro psicótico, numa personalidade que tende
a este quadro (LONGENECKER, 1998; CONRAD, 2001).
2.4. FARMACOCINÉTICA A maior parte dos estudos de farmacocinética dos canabinoides são do THC,
e o seu grau de absorção vai depender da sua via de administração.
Os produtos à base de cannabis podem ser administrados por diversas vias, como
intravenosa, parenteral, retal e dérmica sendo as mais predominantes:
• Oral: em forma de extratos, cápsulas, comprimidos, spray ou ainda incorporada a
alimentos ou bebidas. A absorção dos canabinoides ocorre de forma lenta e irregular
com início do efeito de 30 a 60 minutos, atingem concentração máxima entre 1 e 5
horas, e alcança baixa biodisponibilidade sistêmica, aproximadamente 6%, devido
ao efeito de primeira passagem. A presença de alimentos e a destruição parcial pelo
suco gástrico influenciam na concentração plasmática, aumentando sua biodisponi-
bilidade (CHIANG & RAPAKA, 1987; DRUMMER, 2001; GROTENHERMEN, 2003;
BONFÁ, 2008).
O THC, por exemplo, devido a sua alta lipossolubilidade pode ser estocado no tecido
adiposo e ser liberado aos poucos no sangue em uso crônico (GASTON & FRIED-
MAN, 2017).
• Pulmonar: através de fumo, com cigarros contendo em média de 0,5 a 1,0 grama
da planta (maneira mais popular de consumo) ou vaporizado. A velocidade de ab-
sorção por esta via é muito mais rápida quando comparada com a via oral, devido a
extensa área de superfície alveolar e o alto fluxo sanguíneo do pulmão, com pico de
concentração plasmática alcançada dentro de 3-10 minutos. A biodisponibilidade
pela via pulmonar varia em aproximadamente 23-27% para usuários regulares e 10-
14% para usuários ocasionais (GROTENHERMEN, 2003; GASTON & FRIEDMAN,
2017).
A máxima concentração de THC no plasma ocorre em poucos minutos, mas
pode variar devido a diversos fatores que ocorrem durante o ato de fumar, como por
exemplo: a potência da cannabis fumada, perdas por processo de pirólise, perda de
THC pela corrente secundária e ainda, quantidade de THC retida no trato respirató-
rio superior (CHIANG & RAPAKA, 1987; PEREZ-REYES, 1990; SOUBHIA, 1999;
DRUMMER, 2001).
Página 26 de 62
A distribuição de THC e seus produtos de biotransformação para os tecidos
está relacionada com suas propriedades físico-químicas.
Cerca de 90% do THC encontrado no sangue é distribuído para o plasma, se
ligando-se a proteínas plasmáticas, e os outros 10%, para as células vermelhas do
sangue. Após a absorção, o THC é rapidamente distribuído para os tecidos, pene-
trando prontamente em tecidos vascularizados como fígado, coração, pulmão, jeju-
no, rim, baço, glândulas mamárias, placenta, córtex adrenal, músculos, glândulas
pituitária e tireóide, resultando numa queda significativa na concentração plasmática.
Devido a sua lipofilicidade ocorre uma alta ligação em tecidos e áreas gordu-
rosas. A concentração de THC no tecido adiposo é cerca de 1.000 vezes maior que
a concentração plasmática, enquanto a concentração THC no cérebro é de 3 a 10
vezes a concentração plasmática (CHIANG & RAPAKA, 1987; GROTENHERMEN,
2003). A biotransformação do THC é complexa, com cerca de 20 produtos identifi-
cados. Envolve oxidação alílica, epoxidação, oxidação alifática, descarboxilação e
conjugação (CHIANG & RAPAKA, 1987; TURNER, 1990).
Sendo os 3 metabólitos mais importantes (Figura 8):
• 11-hidroxi−∆9-tetraidrocanabinol (hidroxi-THC ou 11-OH-THC): composto leve-
mente mais psicoativo que THC;
• Ácido 11-nor−∆9-tetraidrocanabinol-9-carboxílico (carboxi-THC ou THC-COOH):
produzido pela oxidação do 11-OH−∆9 -THC. É um composto polar e inativo;
• Ácido 11-nor−∆9-tetraidrocanabinol-9-carboxílico glicuronídeo (carboxi-THC glicu-
ronídeo): produzido pela conjugação do carboxi-THC com ácido glicurônico para ser
eliminado pela urina.
Página 27 de 62
Figura 8. Metabolismo do THC, e seus principais metabólitos. Fonte: ALVES et al., 2015.
O THC é completamente biotransformado e excretado como produtos polares
supracitados. Aproximadamente 20% da dose é excretada na urina e 40% nas fe-
zes. O carboxi-THC é o principal produto de biotransformação eliminado como glicu-
ronídeo conjugado, embora cerca de 2% seja excretado como 11-hidroxi-THC (AL-
VES et al., 2015).
O carboxi-THC é um biomarcador, pois após ser excretado na urina, o mesmo
é detectável por 12 dias seguidos, com consumo moderado de cannabis, enquanto
que altas doses ou uso regular promovem tempo de detecção acima de 25 dias
(DRUMMER, 2001).
A média de depuração plasmática é de cerca de 605-980mL/min. Logo suge-
re-se que a proporção da biotransformação do THC seja claramente dependente do
fluxo de sangue para o fígado, e a inibição/ indução enzimática parece ter pequeno
efeito na depuração do THC (CHIANG & RAPAKA, 1987).
O perfil plasmático do CBD após administração intravenosa é semelhante ao
observado com o THC, assim como sua depuração, sua meia-vida e seu volume de
distribuição (CHIANG & RAPAKA, 1987). Assim como o THC, o CBD é extensamen-
te biotransformado, sendo o carboxi-CBD o produto de biotransformação mais abun-
dante no plasma. Entretanto, diferente do THC, o CBD é excretado pelas fezes em
Página 28 de 62
maior parte (CHIANG & RAPAKA, 1987). Semelhante ao THC, os níveis plasmáticos
de canabinol (CBN) após administração intravenosa diminuem rapidamente. O CBN
é também extensamente biotransformado, sendo o carboxi-CBN seu principal produ-
to de biotransformação. Uma maior porcentagem de CBN absorvido é excretado pe-
las fezes, e uma menor porção é encontrada na urina (CHIANG & RAPAKA, 1987).
Página 29 de 62
3. OBJETIVO 3.2. OBJETIVO GERAL
Propor técnicas para determinação de canabinóides por CLAE-EM em matri-
zes biológicas que possam ser empregadas em estudos farmacocinéticos.
3.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Realizar um levantamento bibliográfico dos métodos analíticos para identificação
e quantificação de canabinoides em matrizes biológicas por CLAE-EM;
• Comparar as vantagens e desvantagens dos métodos considerando simplicidade,
custo e parâmetros de confiança.
Página 30 de 62
4. JUSTIFICATIVA Considerando a regulação do uso medicinal dos canabinoides, geralmente na
forma de extratos de cannabis torna-se necessário desenvolver métodos voltados
aos estudos de farmacocinética e monitorização terapêutica.
Embora vários trabalhos com compostos canabinoides tenham sido publicados
ao longo dos anos, a grande maioria tem foco na finalidade/aspecto forense, apre-
sentando certas limitações de aplicação na área terapêutica devido aos tipos de ma-
trizes biológicas utilizadas.
Por isso, apresentar a evolução dos estudos sobre o emprego da Cannabis sati-
va e seus derivados a fim de desenvolver futuramente uma metodologia de determi-
nação de seus metabólitos por CLAE-ES a partir da extração em matriz biológica e
desta forma, avaliar o teor para ajuste de dose e segurança do paciente, e também
para a monitorização terapêutica, algo inovador, necessário e urgente no Brasil.
Página 31 de 62
5. METODOLOGIA 5.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Trata-se de uma revisão bibliográfica acerca dos métodos analíticos para
identificação e quantificação de canabinoides em matrizes biológicas, selecionando
artigos que atendam aos objetivos do trabalho (sessão 3). Para compor a revisão,
realizou-se uma análise crítica e minuciosa dos trabalhos disponibilizados incluindo
somente os trabalhos que estão de acordo com os critérios de inclusão.
Foram realizadas buscas em bases de dados nacionais e internacionais, para
obtenção de referências e artigos científicos publicados no período de 2000 a 2017.
Nas bases de dados eletrônicas: Science Direct, Portal CAPES, PubMed e SciELO e
Google acadêmico, utilizando os seguintes descritores ou combinação: “Cannabis”,
“cannabis medicinal”, “cannabis detection” ““cannabis method”, “cannabidiol determi-
nation”, “tetrahydrocannabinol determination”, “canabidiol determination”, “cannabi-
noids determination”, “marijuana method”, “humam plasm”, “chromatography”,“CLAE-
ES”, “HPLC-MS”, “spectrometry”, “pharmacokinetics cannabis”, “THC” e “CBD”.
5.2. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Para seleção dos artigos foram utilizados os seguintes critérios de inclusão:
• Seleção dos trabalhos que obedeceram aos descritores supracitados;
• Artigos que contenham todos ou maior parte dos seguintes dados: analito, matriz,
extração, coluna, instrumento, fase móvel, limite de detecção e/ou quantificação,
linearidade e recuperação;
• Os critérios de exclusão foram:
• Trabalhos que não obedeceram à pesquisa através dos descritores e critérios su-
pracitados;
• Trabalhos que utilizam cabelo, saliva, leite, unha e mecônio como matriz biológi-
ca, por serem consideradas matrizes alternativas e não apresentarem aplicabilidade
em monitoramento terapêutico e baixa exatidão em estudos farmacocinética;
• Trabalhos que utilizam CG-EM, visto que esta metodologia em estudos de farma-
cocinética não diferencia as formas ácidas dos canabinoides.
Página 32 de 62
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após pesquisar trabalhos nas revistas eletrônicas descritas na sessão 5.1
com o descritor “cannabis” foram encontrados 494.000 resultados no google acadê-
mico, 133.668 resultados no Portal CAPES, 30.945 na ScienceDirect, 17.139 na Pu-
bmed, e 191 no SciELO. O google acadêmico foi a base de dados que forneceu o
maior número de resultados, sendo também pesquisados os descritores “cannabis
medicine” com 284.000 resultados e “cannabis detection” com 79.400 resultados.
Através dessa pesquisa, foi possível verificar o crescimento de publicações refe-
rentes ao termo “cannabis” nos últimos anos, fato já mostrado anteriormente na figu-
ra 4 e evidenciado mais uma vez nos gráficos 1 e 2.
Gráfico 1 – Publicações entre 1841 e 1980 , sobre o termo ‘”cannabis” na base de dados Scielo.
Gráfico 2 – Publicações entre 2010 e 2016 , sobre o termo ‘”cannabis” na base de dados Scielo.
Página 33 de 62
Apesar da pesquisa indicar o ano de 1837 como início dos primeiros traba-
lhos, foi somente a partir de 1964 com o trabalho de Mechoulam que as pesquisas
sobre cananbis e seus componentes foram impulsionadas.
6.1. SELEÇÃO DOS ESTUDOS A fim de restringir somente os documentos que se referem ao tema proposto
neste trabalho, gerou-se o gráfico (Gráfico 3), cujos números dos resultados totais
foram obtidos na base de dados “Science Direct” com o descritor “cannabinoids de-
tection” foram encontrados 7.202 resultados. Sendo possível observar que o tema
proposto teve aumento no número de publicações nos últimos anos.
Gráfico 3 – Publicações entre 2010 e 2017 , sobre o termo ‘”cannabinoids detection” na base de
dados Science Direct.
O gráfico 4 apresenta o número total de artigos encontrados, considerando
todos os descritores, bases de dados e documentos repetidos, totalizando 11.288
documentos, e destes, após análise apenas 67 foram incluídos no presente trabalho,
15 incluídos nos resultados e destes, 8 foram os artigos de maior relevância.
Página 34 de 62
Gráfico 4 – Obtenção do número total de documentos encontrados, incluidos no trabalho, incluidos
nos resultados e seleção dos mais relevantes
A Tabela 1 mostra os principais trabalhos em que se determinou canabinoides por
CLAE-EM por diferentes técnicas de extração e matrizes biológicas.
Página 35 de 62
Tabela 1 – Técnicas analíticas utilizadas na determinação de canabinoides em diferentes matrizes biológicas. TABELA 1: Técnicas analíticas utilizadas na determinação de canabinóides em diferentes matrizes biológicas
ANALITO MATRIZ EXTRAÇÃO SOLV. EXTRAÇÃO COLUNA FASE MÓVEL LD LQ LINEARIDADE RECUPERAÇÃO REFERÊNCIA
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH Plasma EFS Ácido acético
Luna PhenylHe-xyl C18 (50 x 2mm - 3μm)
Acetonitrila/ água (70/ 30%) e água/ acetato
de amônio 5mM
THC e 11-OH-THC: 0.2 ng/mL THC-COOH 1.6
ng/mL
THC e 11-OH-THC: 0.8
ng/mL THC-COOH: 4.3 ng
/mL
THC e 11-OH-THC: 1 - 100
ng/mL e THC -COOH: 5 − 500
ng/mL
NI MARALIKOVA et al., 2004
THCA Sangue total EFS Água/acetonitrila (60/40%)
Luna C8 Phe-nomenex (50 x 2.0mm - 3µm)
Água/acetato de amônio 5mM e Ace-
tonitrila 2.5 ng/mL 7.5 ng/mL 0.5 - 75 ng/mL NI JUNG et al.,
2007
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH/
CBD/ CBN
Plasma/ urina EFS Metanol/ ácido acético
(50/50 %)
Synergi MAX-RP C12 column (2 ×75 mm - 4μm)
Água/formiato de amônio 10mM e
Acetoitrila/formiato de amônio 10mM
NI 0.2 ng/mL 0.2–100 ng/mL 47.7% - 77.5% GRAUWILEr et al., 2007
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH/
CBD/ CBN
Sangue total EFS Acetonitrila/ ácido acético
Ultra Biphenyl (100 × 2.1 mm -
5μm)
Metanol/acetonitrila (15/85%) e
Água/acetato de amônio 10mM
NI 0.5 ng/mL 1.0–100 μg/l 50.5% - 93.9% SCHWOPE et al., 2011
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH Plasma EFS Hexano/acetato de
etila (90/10 %)
XTerra MS C18 (2.1 × 150 mm -
3.5μm)
Metanol/carbonato de amônio 10 mM
THC: 0.09 ng/mL - 11-OH-
THC: 0.08 ng/mL - THC-COOH: 0.91
ng/mL
THC: 0.16 ng/mL - 11-
OH-THC: 0.15 ng/mL - THC-COOH: 3.24
ng/mL
THC e 11-OH-THC: 1 -10 ng/mL - THC-COOH: 2,5
-100 ng/mL
66% - 93% BOUCHENE et al.,2013
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH/
CBD/ CBN
Urina EFS Metanol/ ácido acético (50/50 %)
Kinetex C18-XB (50 × 2.1mm -
2.6μm)
Metanol/acetato de amônio 1.25mM e Água/acetato de amônio 1.25mM
NI 10 ng/mL 250–2500 ng/mL 65% - 85% MONTESANO et al, 2014
THC/ CBD/ THCA/ CBN Sangue total EFS Acetonitrila
Acquity UPLC HSS C18 (2.1 ×
100 mm - 1.8 μm,)
Água/ ácido fórmico 0,05% e Metanol/ acetonitrila/ ácido
fórmico (50/50/0,05%)
NI
THC, CBD, CBN e THCA 0.2 μg/L - 11-
OH-THC e THC-COOH
0.5 μg/L
1–10 μg/L 90 - 101% SØRENSEN et al., 2017
Nota: CBD - Canabidol; CBN - Canabinol; LD - Limite de detecção; LQ - Limite de quantificação; EFS - Extração em fase sólida; ELL - Extração líquido-líquido; NI - Não informado; THC - Tetrahidrocanabinol; THCA - Ácido tetrahidrocanabinólico; THC-COOH - Carboxi-THC; 11-OH-THC - Hidroxi THC.
Página 36 de 62
Continuação Tabela 1 – Técnicas analíticas utilizadas na determinação de canabinoides em diferentes matrizes biológicas.
TABELA 1: Técnicas analíticas utilizadas na determinação de canabinóides em diferentes matrizes biológicas ANALITO MATRIZ EXTRAÇÃO SOLV. EXTRAÇÃO COLUNA FASE MÓVEL LD LQ LINEARIDADE RECUPERAÇÃO REFERÊNCIA
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH/
CBD/ CBN
Plasma/ urina ELL
Plasma: Ácido Fosfó-rico/acetonitrila Urina:
Acetato de Etila
Synergi MAX-RP
C12 column (2 ×75mm - 4μm)
Formiato de amônio 10mM e Acetonitri-
la/formiato de amônio 10mM
Plasma 0.1 ng/mL - Urina CBD, THC e
THC-COOH: 1 ng/mL, 11-OH-THC: 2 ng/mL
e CBN: 3 ng/mL
Plasma 0.2 ng/mL - Urina 0,5 ng/mL
CBD, THC e THC-COOH, 1 ng/mL
11-OH-THC e CBN
0.2 - 100 ng/mL 61,4% - 78,7% GRAUWILE et al., 2006
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH
Sangue total ELL Hexano/ Acetato de
etila (90/10 %)
Xbridge C18 (150 × 2.1mm -
3.5μm)
Metanol/água/ácido fórmico (80/20/0,1%) NI
THC: 0.5 g/L 11-OH-THC: 1 g/L e
THC-COOH: 2 g/L
THC: 0.5–40 g/L 11-OH-TC: 1 -40 g/L e THC-
COOH: 2 - 160g/L
> 105% FERNANDEZ et al., 2008
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH/
CBD/ CBN
Sangue total/
plasma ELL Acetonitrila/ hidróxido
de sódio 10M
Atlantis C18 (2.1 × 150 mm -
3µm) Água/acetonitrila/ácido fórmico (50/50/0,2%) NI 0.25 ng/mL 0.25–100 ng/mL 90.9% - 112.4% LACROIX et al.,
2012
THC/ 11-OH-THC/
THC-COOH
Sangue total ELL Hexano/acetato de
etila (90/10 %)
Poroshell 120 EC-C18 (2.1 × 75mm - 2.7µm)
Água/ácido fórmico 0,1% e Acetonitri-
la/ácido fórmico 0,1%
THC e 11-OH-THC:1ng/mL
- TH-COOH:2.5ng/mL
THC e 11-OH-THC:1ng/mL - TH-COOH.5
ng/mL
THC e 11-OH-THC:1–100 ng/mL e TH-COOH:5–500
ng/mL
NI AGILENT
TECHNOLOGIES, Applicatio Note,
2013
THCA Sangue
total/ plasma
ELL Água/acetonitrila/ácido fórmico (60/40/0.1 %)
Luna C8 Phe-nomenex (100 x 2.0mm - 3µm)
Água/ácido fórmico 0,1% e Acetonitri-
la/ácido fórmico 0,1% 0.3 ng/mL 1.0 ng/mL 1.0 - 200 ng/mL > 85,4% RAIKOS et al.,
2014
CBD /THC Plasma ELL Hexano ACE C18-PFP (150 × 4.6mm -
3µm) Acetonitrila/água
(62/38%) NI 10 ng/mL 7.5 -10.000 ng/mL 86.7 % - 94.6% ZGAIR et al.,
2015
THC/ THCA/
THC-COOH
Sangue total ELL Hexano/ Acetato de
etila (80/20 %)
Raptor Biphenyl (50 × 2.1mm -
2.7μm)
Metanol/ ácido Fórmi-co 0,1%
THC e THC-COOH 0.5 ng/mL e THCA
2.5 ng/mL NI
THC e THC-COOH 1 -32
ng/mL - THCA 5 - 160 ng/mL
NI TISCIONE et al., 2016
THC /11-OH-THC/
THC-COOH/
CBD
Plasma ELL Acetonitrila/ ácido Fórmico
Aquity U-HPLC BEH C18 (2.1 × 50 mm - 1.7µm)
Água/ácido fórmico 0,1% e Metanol/ácido
fórmico 0,1% NI 1.56 ng/mL 1.56 - 100
ng/mL > 90% JAMWAL et al., 2017
Nota: CBD - Canabidol; CBN - Canabinol; LD - Limite de detecção; LQ - Limite de quantificação; EFS - Extração em fase sólida; ELL - Extração líquido-líquido; NI - Não informado; THC - Tetrahidrocanabinol; THCA - Ácido tetrahidrocanabinólico; THC-COOH - Carboxi-THC; 11-OH-THC - Hidroxi THC.
Página 37 de 62
6.2. CANABINOIDES: DETERMINAÇÃO O desenvolvimento do método é a etapa mais importante nos estudos farma-
cocinéticos. O método de quantificação deve apresentar sensibilidade, especificida-
de e seletividade para cada analito, precisão e exatidão, além de ser relativamente
simples, de modo a minimizar os erros (GONÇALVES, 2005). Fatores de diversas
naturezas devem ser estudados, e por isso é necessário o acúmulo de conhecimen-
to sobre as características físico-químicas do analito, substância alvo da análise,
bem como das suas características farmacocinéticas (WONG, 1982; LACROIX et al.,
2012).
Ao planejar desenvolvimento de metodologia deve-se levar em consideração
as principais características dos canabinoides como: são substâncias apolares, com
baixa solubilidade em água (por isso maior eliminação nas fezes), biotransforma em
meio ácido e alcalino, instável à luz e aumento de temperatura (os ácidos como
THCA ou CBDA tem tendência a se descarboxilar em alta temperatura), adere aos
vidros e plásticos, apresenta baixa recuperação devido sua lipoficidade.
Os canabinoides e seus metabólitos podem ser mensurados em diferentes
matrizes biológicas e por diferentes métodos analíticos. Por isso é necessário pes-
quisar diferentes metodologias já empregadas na literatura e conhecer os parâme-
tros que envolvem o desenvolvimento
6.2.1. ESTUDOS DE FARMACOCINÉTICA: MONITORIZAÇÃO TERAPÊUTICA E BIODISPONIBILIDADE
A farmacocinética descreve a cinética da absorção de fármacos através das
diversas fases pelas quais o fármaco passa até atingir seu sítio de ação após a ad-
ministração. Pode ser definido resumidamente pelo sistema LADME que significa
liberação, absorção, distribuição, metabolização e excreção, ou seja os fenômenos
que o fármaco vai ser submetido para atingir o sítio de ação (RITSCHEL, 1980).
Os estudos de farmacocinética envolvem aspectos experimentais e teóricos.
Experimentais relacionados a técnicas de amostragem de material biológico (con-
templando coleta, manipulação e a estabilidade das amostras) e desenvolvimento de
métodos analíticos para quantificação dos fármacos e metabólitos. Os aspectos teó-
ricos envolvem os modelos farmacocinéticos que predizem a disposição (distribuição
e eliminação) do fármaco após sua administração, e ainda métodos estatísticos para
Página 38 de 62
estimar os parâmetros farmacocinéticos e interpretar os dados. Trata-se de uma hi-
pótese que se utiliza de conceitos matemáticos para descrever relações quantitati-
vas, para tentar traduzir de maneira simplificada o complexo sistema de cinética do
fármaco no organismo. Os parâmetros farmacocinéticos são determinados experi-
mentalmente a partir da quantificação do fármaco no plasma, em diferentes períodos
de tempo (RITSCHEL, 1980).
Os estudos servem para conhecer os modelos farmacocinéticos, que por sua
vez, são utilizados na farmacocinética clínica (na monitorização terapêutica), para
prever a concentração do fármaco nos tecidos, plasma e urina, para estimar a pos-
sibilidade de acúmulo de fármaco e/ou metabólitos, para correlacionar a concentra-
ção do fármaco com atividade farmacológica ou toxicológica, para descrever como
alterações fisiológicas ou patologias alteram a ADME do fármaco, e para calcular o
melhor esquema terapêutico (SHARGEL, 1999).
A monitorização terapêutica de fármacos é uma área da farmacocinética clíni-
ca, é um instrumento para assegurar o máximo de eficácia e o mínimo de efeitos
tóxicos da terapia medicamentosa. Avalia de maneira individual, dada a variabilidade
entre sexo, idade, raça, genética e etc.
Desta forma, deve ser realizada através da determinação de dosagem sérica
(por sangue ou plasma) de um fármaco, uma vez que os efeitos terapêuticos e tóxi-
cos são melhores relacionados à concentração plasmática do que à dose adminis-
trada. E deve ainda ser associado à avaliação clínica, a fim de otimizar a sua poso-
logia (DUARTE, 2014).
A monitorização terapêutica é utilizada principalmente nas seguintes situa-
ções: terapias a longo prazo (quando o índice terapêutico é baixo), quando não há
relação dose-resposta previsível, politerapias, para avaliar adesão do paciente, para
ajustar a dose de acordo com a resposta e efeitos colaterais, além de outras indica-
ções clínicas específicas (DUARTE, 2014).
Para monitorização terapêutica é necessário pesquisar as características far-
macocinéticas, definir a janelas terapêuticas, determinar os parâmetros analíticos e
de amostragem do material biológico em laboratório de patologia ou leito hospitalar,
validar as metodologias analíticas conforme legislação vigente, e se possível, por
ensaios clínicos controlados e randomizados. Para tal, é importante método com alta
sensibilidade, com alto coeficiente angular, para que a reta tenha uma maior inclina-
ção, e desta forma tenha maior capacidade de detectar pequenas variações de con-
Página 39 de 62
centração. Pois na monitorização é de extrema necessidade detectar pequenas alte-
rações nas concentrações plasmáticas, pois podem ocasionar ineficácia clínica ou
efeitos tóxicos (CHASIN, 1998).
A biodisponibilidade é um dos parâmetros da farmacocinética. Segundo a
ANVISA é definida como: “a velocidade e a extensão de absorção de um princípio
ativo em uma forma de dosagem, a partir de sua curva concentração/tempo na circu-
lação sistêmica ou sua excreção na urina". Ou seja, determinar a quantidade de fár-
maco que deve ser administrado para se obter o efeito terapêutico (BRASIL,1999).
Os estudos de biodisponibilidade objetivam estabelecer o esquema terapêuti-
co e os parâmetros farmacocinéticos.
Um dos parâmetros avaliados é a área sob a curva (ASC), que é um gráfico
da concentração plasmática em função do tempo (do zero ao infinito), e corresponde
a quantidade de fármaco biodisponível. É o parâmetro mais importante na determi-
nação da biodisponibilidade, pois constitui a fração do fármaco absorvido após ad-
ministração de dose única do medicamento, e reflete a quantidade total de fármaco
inalterado que atinge a circulação sistêmica. Outro parâmetro é o Cmax, que é o pico
da concentração plasmática e representa a concentração plasmática máxima obtida
após administração extravascular. A importância do Cmax está relacionada à eficácia
e à segurança. E há ainda o Tmax, parâmetro que corresponde ao tempo em que a
concentração plasmática do fármaco atinge a concentração máxima após a adminis-
tração. E serve para prever a velocidade de absorção (BRASIL,1999).
Estudos de biodisponibilidade são realizados obrigatoriamente para aprova-
ção de um novo princípio ativo (registro de um novo produto) e para aprovação de
uma nova formulação, com a finalidade de estabelecer os parâmetros farmacocinéti-
cos.
O registro de novos medicamentos somente é obtido após estudos de biodis-
ponibilidade realizados no Brasil ou no exterior, por centros devidamente certificados
pela ANVISA, conforme preconizado na RDC nº 60/2014. Nestes estudos, uma mo-
nitorização médica rigorosa durante toda fase de investigação do fármaco faz-se
necessária. É realizada em 3 etapas: clínica, analítica e estatística.
Segundo o manual de boas práticas de Biodisponibilidade/Bioequivalência, para
registrar um novo medicamento, é mandatório avaliar sua eficácia e segurança atra-
vés de estudos pré-clínicos, realizados in vitro para avaliação da segurança farma-
cológica e toxicocinética, e clínicos que devem ser realizados em 4 fases:
Página 40 de 62
• Fase I: É o primeiro estudo em seres humanos. Envolve cerca de 20 a 50 indiví-
duos, sendo geralmente voluntários sadios, de acordo com a classe do fármaco a
ser avaliada. São estudos de farmacologia clínica, nos quais se busca avaliar suas
características de segurança e o perfil farmacocinético.
• Fase II: Estes estudos constituem a primeira administração do medicamento a
pacientes, envolvendo cerca de 50 a 300 indivíduos. Têm como objetivo estudar o
potencial terapêutico e os efeitos colaterais do medicamento, além de estabelecer as
suas relações dose-resposta para empregá-las em ensaios terapêuticos mais defini-
tivos.
• Fase III: São estudos terapêuticos multicêntricos, envolvendo no mínimo 250 indi-
víduos, avaliando a eficácia da droga, sua segurança e comparando as com placebo
ou drogas já disponíveis no mercado com a mesma finalidade terapêutica. Explo-
ram- se nesta fase o tipo e perfil das reações adversas mais frequentes.
• Fase IV: Geralmente, são estudos de vigilância pós-comercialização, para estabe-
lecer o valor terapêutico, o surgimento de novas reações adversas e/ou confirmação
da frequência de surgimento das já conhecidas, e as estratégias de tratamento. São
realizados com base nas características com que foi autorizado o medicamento e/ou
especialidade medicinal.
Sendo os 3 primeiros realizados antes da comercialização do medicamento. Em al-
guns casos, a fase II pode apresentar dados que sejam suficientes para comprova-
ção da eficácia e segurança do medicamento, excluindo a fase III.
6.2.2. MATRIZ BIOLÓGICA Segundo a RDC nº 27/2012, matriz biológica é todo meio de origem biológica
no qual os analitos em estudo serão quantificados. Praticamente todos os fluidos
orgânicos podem ser utilizados para análise farmacocinética, como é o caso do
plasma, sangue, soro, saliva, fluido espinal e urina.
Entretanto, todas as matrizes biológicas são complexas e contêm grande
quantidade de compostos endógenos, por exemplo, proteínas presentes no soro,
lipídeos, dentre outros, que podem interferir no método analítico (GONÇALVES,
2005). O conhecimento dessas matrizes e da farmacocinética do analito é que vai
delinear o desenvolvimento das técnicas de extração e detecção utilizadas para as-
segurar a especificidade / seletividade para a determinação do limite de quantifica-
ção e da faixa linear. Para a dosagem de fármacos a partir de uma matriz complexa,
Página 41 de 62
faz-se necessário um pré-tratamento das amostras, pois os componentes endóge-
nos presentes são potenciais interferentes em análises cromatográficas (QUEIROZ
et al., 2001). A escolha da matriz depende de diversos fatores que se relacionam com a
substância objeto de análise, integridade da amostra submetida à análise, tipo de
análise, facilidade de coleta, e, as considerações analíticas e de ensaio juntamente
com a interpretação dos resultados. O sangue, plasma e a urina são as matrizes
convencionais mais prevalentes e utilizadas para realização das análises com méto-
dos bioanalíticos (GOMES, 2013).
O sangue é uma matriz relativamente complexa, constituído em grande parte
de água (cerca de 80%), proteínas solúveis, gorduras, sais e células suspensas, e
por isso requer maiores gastos com extração. Fornece de forma apropriada a corre-
lação da concentração da droga no sangue com o estado clínico do indivíduo, além
disso, o uso da razão droga original/metabólito pode ser bastante útil para predizer o
período decorrido desde a administração. Possui período de detecção curto, pode
requerer baixo volume, dependendo do método. Contudo, apresenta coleta invasiva
com possibilidade de contaminação e necessidade de profissional treinado, além de
possuir janela de detecção restrita com relação às drogas de abuso, já que esta
podem ser rapidamente metabolizadas, dependendo da meia vida biológica da subs-
tância e via de administração, no caso da cannabis, e desta forma, os compostos
investigados podem ser encontrados em maiores concentrações na urina (BULCÃO
et al., 2012).
Para coleta do sangue é indispensável a adição de anticoagulante e conser-
vante, e a escolha do anticoagulante depende dos analitos a serem investigados. Os
mais utilizados são: heparina, que pode interagir com alguns fármacos, e o EDTA,
que é um agente complexante, não indicado em casos em que os analitos são me-
tais ou compostos organometálicos (BORDIN et al., 2015).
A amostra de sangue pode ser avaliada na forma de sangue total, plasma
(que constitui do sobrenadante obtido do sangue adicionado de anticoagulante, com
o conteúdo precipitado) ou o soro (que constitui o plasma sem os fatores de coagu-
lação, podendo ser obtido pela centrifugação do sangue já coagulado. Em relação à
amostra sorológica, sua obtenção inclui a etapa de coagulação sanguínea, o que
pode envolver processos de hemólise e alterar os resultados. Já o sangue total pos-
Página 42 de 62
sui grande quantidade de células e proteínas que também dificultam a predição da
concentração específica do princípio ativo (TOZER & ROWLAND, 2009).
O plasma é a parte líquida do sangue, corresponde a 55% do seu total. Pos-
sui grande utilização em métodos bioanalíticos devido a sua correlação entre a dose
e concentração plasmática do fármaco/substância. Pois a maioria dos fármacos li-
gam-se as proteínas plasmáticas (BORDIN et al., 2015).
A urina é um ultrafiltrado do sangue formado continuamente pelos rins a partir
do qual foram reabsorvidas substâncias essenciais ao metabolismo do organismo,
como glicose, aminoácidos e água. Em sua composição constam substâncias quími-
cas orgânicas (como ureia, ácido úrico e creatinina) e inorgânicas (como íons cloreto
e sódio) dissolvidas em água. Como principal via de eliminação de substâncias, esta
matriz é geralmente alvo de investigação de metabólitos. Possui como pontos positi-
vos o fato de ser uma coleta não invasiva, disponibilidade de grandes volumes de
amostra, e alta concentração (BULCÃO et al., 2012).
No entanto, a urina apresenta como desvantagens a presença de muitos me-
tabólitos (muitas substâncias conjugadas já que é a via final de eliminação da maio-
ria dos fármacos e xenobióticos), período de detecção que é somente após a meta-
bolização e dependendo do método, uma etapa adicional na análise, de hidrólise,
que pode ser enzimática e que é extremamente cara, ou por hidrólise alcalina, que
apesar de mais barata apresenta maior degradação de compostos menos estáveis,
um risco para os canabinoides. E é uma opção ruim para farmacocinética pois para
fazer amostragem de vários tempos de coleta, o voluntário terá que urinar em inter-
valos muito curtos, como de 5 em 5 minutos, e se isso não ocorrer padronizado em
todos os voluntários pode inviabilizar o estudo (SPINELLI, 1995).
O fluido oral, ou saliva, é uma mistura de células da mucosa bucal, restos de
alimentos e saliva, secretada pelas glândulas presentes na mucosa bucal, as molé-
culas são transferidas do sangue para a saliva por ultrafiltração ou difusão passiva,
podendo ser detectadas nesta matriz na forma não-metabolizada. Porém, esta in-
corporação de drogas na saliva é restringida para moléculas de alto peso molecular,
drogas ionizadas ou ligadas a proteínas plasmática. Ainda apresenta desvantagens
importantes como baixo quantitativo de amostra por dia, e consequentemente, baixa
concentração o que torna difícil detecção (BORDIN et al., 2015).
O cabelo é uma matriz biológica complexa composta de 65% a 95% de prote-
ína queratina, de 15 a 35% de água, de 1 a 9% de lipídios e ainda por uma pequena
Página 43 de 62
parcela de minerais. Por isso, necessita de etapa de digestão da amostra antes da
extração para liberação dos analitos da matriz. O cabelo demora a acumular subs-
tâncias, então é necessário que o cabelo tenha no mínimo um comprimento médio
para fazer coleta do primeiro terço em diante, sendo difícil haver voluntários dispos-
tos. Além de ser mais dificultosa a extração por necessitar de uma etapa de desna-
turação proteica. E de um método com alta sensibilidade devido as baixas concen-
trações (BULCÃO et al., 2012; BORDIN et al., 2015).
Estudos de farmacocinética objetivam determinar ou acompanhar a correla-
ção dose/ concentração por tempo, por isso preferencialmente são usados como
matrizes biológica o sangue total e o plasma. Sendo o plasma a melhor opção caso
o fármaco/substância esteja ao menos 90% ligado as proteínas plasmáticas, sendo
possível ainda contemplar os metabólitos. Possui vantagens como o fato do fármaco
se encontrar livre (não conjugado como no caso da urina) e apresentar alta concen-
tração pouco tempo após administração, e ainda ser uma das matrizes mais limpas,
frente as demais citadas. Somente quando o fármaco se ligar intracelularmente, e a
porcentagem de ligação plasmática for baixo, é indicado a matriz sangue porque
contempla as duas matrizes (BORDIN et al., 2015).
As demais matrizes apresentam maior aplicabilidade para estudos toxicológi-
cos ou forenses.
6.2.3. DETECÇÃO E QUANTIFICAÇÃO Considerando os métodos analíticos que a literatura de um modo geral consi-
dera aplicáveis na identificação e quantificação, a cromatografia líquida de alta efici-
ência (CLAE) e cromatografia gasosa (CG) são as mais descritas para determinação
de canabinoides.
A cromatografia líquida de alta eficiência é uma das técnicas mais emprega-
das. Se baseia na separação pela afinidade dos analitos entre a coluna preenchida
de micro-partículas (fase estacionária) e o solvente empregado na fase móvel sob
alta pressão.
Apresenta vantagem de ser adequada a análise de compostos polares sem
necessidade de derivação e termolábeis, considerando que não é necessária a va-
porização dos analitos, sendo estes dissolvidos na fase móvel. A detecção pode ser
por acoplamento ao detector de arranjo de diodos (DAD) que identifica a substância
Página 44 de 62
por espectroscopia na região do visível ou ultravioleta (UV), e ainda pode ser aco-
plada ao espectrômetro de massas (ES) (GIUDICE, 2017).
Na CLAE a separação é feita por colunas cromatográficas, que tem sua efici-
ência mensurada pelos pratos teóricos, no qual quanto menor a partícula, menor a
altura dos pratos teóricos, maior número de pratos teóricos e maior eficiência. Con-
tudo, além da eficiência deve-se buscar também tempo de análise ideal, e colunas
com maior comprimento aumentam o tempo de corrida, porém aumenta também a
separação, que é positiva em caso de grande quantidade de interferentes, embora
aumento o gasto de solventes e consequentemente o custo. Pode ter diversos tipos
de fase estacionária, que são obtidas pela reação dos grupos silanois da sílica com
compostos contendo grupos polares (fase normal) ou não polares (fase reversa),
sendo a última mais usada, no qual o analito mais polar elui primeiro, seguidos pelos
outros em ordem decrescente de polaridade, separando os compostos (CRQ- IV
REGIÃO, 2010).
Alguns métodos utilizam colunas menores de comprimento e partícula, que
por utilizar maior pressão diminui o consumo de solvente e aumenta a resolução.
Mas apenas podem ser utilizadas em equipamentos do tipo CLUE (cromatografia
líquida de ultra eficiência) que é uma tecnologia mais moderna e cara.
A cromatografia gasosa é uma técnica baseada na separação dos analitos de
acordo com sua afinidade entre a fase estacionária, coluna capilar, e a fase móvel,
um gás inerte. Esta técnica requer que os compostos a serem analisados sejam
termoestáveis e voláteis ou volatilizáveis para que possam ser eluídos pela fase mó-
vel e detectados adequadamente. A amostra é introduzida por injetor aquecido (com
auxílio de uma micro-seringa), onde é vaporizada e transferida com o auxílio do gás
de arraste (fase móvel) à coluna cromatográfica é colocada dentro de um forno pré-
aquecido. Os componentes são eluídos e conduzidos ao detector conectado na saí-
da da coluna. O detector emite um sinal elétrico que é registrado graficamente sob a
forma de picos, cujas áreas são proporcionais às concentrações dos analitos (PEN-
TEADO et al., 2008). Ele pode ser acoplado ao MS como detector.
É normalmente mais utilizado para compostos com alta volatilidade do analito
e termicamente estável, e em casos de fármacos sem essas características, se faz
necessária a técnica de derivatização, para aumentar a volatilidade (SPINELLI,
1995).
Página 45 de 62
O espectrômetro de massas baseia-se na separação dos íons pela sua razão
massa/carga (m/z) e detecta qualitativamente e quantitativamente a abundância de
seus respectivos íons de m/z, gerando os espectros de massa com a intensidade
dos picos e a amplitude do ruído. Existem ainda outros critérios de identificação, es-
tabelecidos na legislação, que as metodologias por CLAE/EM/EM devem cumprir,
como por exemplo, variação permitida nos tempos de retenção relativos e as razões
entre os ións de m/z (CARVALHO, 2011).
O padrão ouro para detecção e quantificação em estudos farmacocinéticos é
a CLAE-EM, pois essa combinação alia a capacidade de separação da CLAE, pos-
sibilitando compostos mais limpos no espectrômetro de massas, junto a capacidade
de identificação do EM. Sendo muito vantajoso, visto que compostos com caracterís-
ticas semelhantes ou idênticas de retenção, têm espectro de massas diferentes, po-
dendo assim serem diferenciadas, sendo particularmente necessário para monitorar
mais de um analito na mesma amostra, como a proposta deste trabalho (CASSIA-
NO, 2009).
A CLAE é particularmente interessante para determinação de canabinoides,
que são compostos não voláteis e termicamente instáveis, ao contrário do CG. Ainda
apresenta boa seletividade, embora inferior ao CG, porém diminui o tempo de análi-
se, possibilita menor limite de detecção e necessidade de menor quantidade de
amostra. Não necessita de derivatização, que é uma etapa crítica, pois não é espe-
cífica, pois não tem como derivatizar apenas a substância desejada, e sim todos os
demais componentes das matrizes biológicas, bem como substâncias interferentes,
e desta forma, prejudica a especificidade e seletividade do método. Embora mesmo
em CLAE pode ser necessário utilizar a técnica para transformar o analito em um
derivado mais estável, como por exemplo, ácido carboxílico em éster. Mas de manei-
ra geral, os métodos em CLAE exigem apenas maior refinamento da etapa de extra-
ção e com isso, maior gasto com coluna e solventes (SCHWOPE et al., 2011; LA-
CROIX et al., 2012; ZGAIR et al., 2015).
Todos os métodos incluídos no resultado utilizaram coluna de fase reversa,
que é uma boa opção para canabinoides, pois garante boa separação dos analitos,
que são majoritariamente apolares. A maioria dos trabalhos utilizaram fase A com-
posta por água purificada com pH tamponado por aditivo (ex: ácido fórmico, acetato
de amônio) misturado em diferentes proporções com fase B composta por solvente
orgânico (ex: metanol ou acetonitrila) em gradiente ou não. Grande parte utilizou co-
Página 46 de 62
luna C18 (octadecilsilano), que possui boa interação com partículas, boa separação,
e bom preço, visto que existe vários modelos no mercado.
6.2.4. TÉCNICAS DE EXTRAÇÃO As técnicas mais comumente utilizadas para extração e/ou pré-concentração
dos analitos presentes na matriz biológica são extração líquido-líquido (ELL), extra-
ção em fase sólida (EFS).
A ELL baseia-se na partição da amostra entre duas fases imiscíveis (orgânica
e aquosa), uma fase que contém o analito, e uma fase a qual será colocada em con-
tato com ela. Desta forma, ocorrerá uma distribuição do analito entre as duas fases,
que poderá passar por mais processos de extração ou não. A eficiência da extração
depende da afinidade do soluto pelo solvente de extração, da razão das fases e do
número de extrações (LANÇAS, 2008).
A EFS é a técnica mais empregada e baseia-se nos mecanismos de retenção
idênticos aos envolvidos em cromatografia líquida em coluna, pois emprega adsor-
ventes compactados em cartuchos, normalmente em forma de seringa, e são utiliza-
das para extração e pré-concentração.
O cartucho mais utilizado para canabinoides é composto por sílica como adsorvente.
O procedimento de extração é dividido em cinco etapas: ativação do adsorvente pa-
ra deixar os sítios ativos disponíveis; condicionamento do adsorvente com solvente
adequado para ajustar as forças do solvente de eluição com o solvente da amostra;
introdução da amostra, quando ocorre a retenção do analito e, eventualmente de
alguns interferentes; limpeza da coluna para retirar os interferentes menos retidos
que o analito e, por fim a eluição e coleção do analito (QUEIROZ et al., 2001). Exis-
tem ainda variações da técnica como microextração em fase sólida (MEFS) e EFS
online quando é acoplado diretamente no CLAE.
Na realidade do Brasil e de outros países em que não há tantos recursos para
pesquisa, a técnica EFS é praticamente utilizada quando não há possibilidade de
fazer por outra metodologia. Visto que o custo para extrair uma amostra por fase
sólida é em média dez vezes maior que o custo por ELL, mesmo consumindo maior
quantidade de solvente. Numa cotação atual, 50 unidades de cartucho da marca
Chromabond® custa em média 400 reais, sendo as mesmas não reutilizáveis, tor-
nando-se muito oneroso, visto que esse número corresponde a aproximadamente
10% do número total de amostras de um estudo farmacocinético.
Página 47 de 62
A maioria dos trabalhos solubilizaram a solução estoque do padrão de refe-
rência em metanol. Realizaram a extração líquido-líquido com hexano, misturado ou
não com acetato de etila e éter etílico, originando um extrato limpo. Esses solventes
são de fácil aquisição e custo moderado, sendo reprodutível (SPINELLI, 1995; FER-
NANDEZ et al., 2008 LACROIX et al., 2012; ZGAIR et al., 2015; TISCIONE et al.,
2016; JAMWAL et al., 2017). Muitos trabalhos em substituição a EFS, utilizaram uma opção interessante e
viável, que é concentrar o extrato após a extração líquido-líquido, através de um
evaporador sob fluxo de Nitrogênio, e ainda apresenta como vantagem para o méto-
do a possibilidade de determinar concentrações muito baixas, além de fornecer uma
amostra mais limpa, com menor efeito matriz (CAMARGO, 2008; LACROIX et al.,
2012; RAIKOS et al., 2014; TISCIONE et al., 2016; ZGAIR et al., 2015). Uma técnica de extração pouco mencionada nos artigos revisados, e muito
interessante para se testar no desenvolvimento, é a extração por precipitação de
proteína. Trata-se de uma técnica barata, pois basicamente utiliza solvente orgânico
(como por exemplo acetonitrila) para precipitar as proteínas da matriz, e tem como
vantagem diminuir o efeito matriz. Sendo possível aliar a uma etapa sequencial de
extração por ELL, ou ainda concentrar a amostra sob fluxo de nitrogênio, caso ne-
cessário (ZGAIR et al., 2015; JAMWAL et al., 2017).
6.2.5. PARÂMETROS DE VALIDAÇÃO Os órgãos de regulamentação vigentes, como a RE 899/2003 da ANVISA,
preconizam que um método bioanalítico só é considerado válido quando devidamen-
te validado. A validação deve garantir, por meio de estudos experimentais, que o
método atenda às exigências das aplicações analíticas, assegurando a confiabilida-
de dos resultados. Para tanto, deve apresentar especificidade, linearidade, intervalo,
precisão, sensibilidade, limite de quantificação, exatidão, adequados à análise.
Os termos limite de quantificação (LQ) e limite de detecção (LD) são utilizados
para demonstrar a habilidade do método em quantificar/detectar baixas concentra-
ções de um analito.
O limite de detecção é definido como a menor concentração de um analito
que o método é capaz de diferenciar confiavelmente do ruído de fundo. Concentra-
ção detectada com segurança, porém, não pode ser quantificada. Confere a sensibi-
Página 48 de 62
lidade do método. A ANVISA recomenda que o LD seja de 2 a 3 vezes superior ao
ruído da linha de base.
O limite de quantificação é definido como a menor concentração do analito de
interesse em uma amostra, que pode ser quantitativamente determinado com valo-
res aceitáveis de precisão e exatidão. Alguns autores utilizam o termo limite de
quantificação, enquanto outros subdividem nos termos limite inferior de quantificação
(LIQ) e limite superior de quantificação (LSQ) (CASSIANO et al., 2009).
A curva de calibração demonstra a linearidade do método. Representa a rela-
ção entre a resposta do instrumento e a concentração conhecida do analito. O mo-
delo de calibração deve ser construído a partir da análise de 6 a 8 concentrações
conhecidas do analito adicionadas na mesma matriz biológica para a qual o método
foi desenvolvido e será aplicado (superposição de matriz). As concentrações estabe-
lecidas devem contemplar o intervalo de variação esperado, desde o LIQ até 120%
da máxima concentração que se pretende analisar, LSQ. Além disso, deve-se reali-
zar análise da amostra branco (matriz isenta da adição do analito e do padrão inter-
no, quando for o caso) e da amostra zero (matriz adicionada do padrão interno,
quando for o caso). O critério de aceitação da curva é coeficiente de variação menor
ou igual a 20% em relação à concentração nominal para o LQ e menor ou igual a
15% para as demais concentrações. Além disso, o coeficiente de correlação linear
(r) deve ser igual ou superior a 0,98 (CASSIANO et al., 2009).
O Padrão Interno é um composto, geralmente com características estruturais
similares ao analito, adicionado aos padrões de calibração e amostras em concen-
trações conhecidas e constantes, para facilitar a determinação do analito
A Recuperação mede a eficiência de extração do método analítico, ou seja, a
fração de massa do analito contido na amostra que se encontra presente no extrato
final. Embora altos valores de recuperação sejam desejáveis para maximizar a sen-
sibilidade do método, não é necessário que este valor seja de 100% e, sim, que a
recuperação seja consistente, precisa e reprodutiva.
A seletividade e/ou especificidade de um método bioanalítico é um importante
parâmetro a ser avaliado para garantir que a quantificação do analito de interesse
não seja afetada pela presença de metabólitos, produtos de degradação, fármacos
co-administrados ou compostos endógenos.
A precisão e a exatidão determinam os erros de uma medida analítica e são
os principais critérios usados para julgar a qualidade de um método bioanalítico.
Página 49 de 62
A robustez de um método analítico é a medida de sua capacidade em resistir
a pequenas e deliberadas variações dos parâmetros analíticos.
A maior parte dos trabalhos apresentaram limites de detecção e quantificação
muito baixos, foram em média menores que 1 ng/mL, o que evidencia alta sensibili-
dade do método de detecção CLAE-EM, aliado a uma boa técnica de extração. Não
havendo discrepância entre método com extração por SPE, cujo menor valor foi de
LD foi de 0.2 ng/mL, e por ELL, com 0.1 ng/mL. As curvas de calibração apresenta-
ram boa linearidade com LSQ entre 100 – 500 ng/mL.
Também foi possível observar que os métodos que utilizaram plasma como
matriz obtiveram LD e LQ menores que as análises com sangue total e urina, res-
pectivamente.
As recuperações apresentadas variaram de 47,7% até 112,4%, provavel-
mente o valor baixo (inferior a 60%) deve-se a propriedade lipofílica e forte ligação
com proteínas que o THC e CBD apresentam, o que confere com o fato dos
metabólitos apresentarem recuperação um pouco maior, provavelmente por serem
mais hidrofílicos.
É importante ressaltar que muitos trabalhos monitoraram o CBN, que é ape-
nas um marcador de degradação do THC, não possui correlação com efeito farma-
cológico, e não haveria necessidade deste controle.
Diferentemente dos precursores ácidos como THCA e CBDA, que embora não te-
nham efeito farmacológico é interessante monitorar para assegurar a pureza dos
componentes do medicamento (RAIKOS et al., 2014).
Enquanto os dois metabólitos principais (11-OH-THC) e (THC-COOH) podem
ser monitorados, embora tenham maior aplicabilidade para exames toxicológicos.
É importante destacar que a maioria dos trabalhos utilizados, ou mesmo dis-
poníveis nas bases de dados, possuem foco em análise forense e/ou toxicológica,
ou seja em análise qualitativa, e não quantitativa, pois o objeto de interesse é moni-
torar exposição a cannabis como droga de abuso. Diferente do foco deste trabalho
que visa a utilização dos derivados da cannabis como um novo medicamento no
mercado, que produza resultados mais efetivos do que os medicamentos convenci-
onais e com menos efeitos adversos, de forma a garantir democratização do acesso
a um tratamento com segurança e eficácia.
Página 50 de 62
7. CONCLUSÃO • A maioria dos estudos e artigos monitoram os canabinoides e derivados para aná-
lises forenses e/ou toxicológicas;
• É possível monitorar mais de um canabinóide em uma única metodologia, com
seletividade e especificidade;
• A metodologia mais indicada para a determinação dos canabinoides em estudos
farmacocinéticos é a cromatografia líquida de alta eficiência acoplada ao espectrô-
metro de massas;
• Para realização de estudos de farmacocinética somente podem ser utilizadas as
matrizes biológica plasma e sangue total. Sendo a primeira a melhor opção;
• O método de extração líquido-líquido apresenta boa sensibilidade e melhor custo-
benefício;
• É interessante desenvolver metodologia em vidraria âmbar, silanizados e arma-
zenamento em temperaturas inferiores a - 20ºC;
• É possível desenvolver método simples, econômico e reprodutível, que permita
boa recuperação, sensibilidade e especificidade.
Página 51 de 62
8. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ADAMS, Roger; HUNT, Madison; CLARK, J. H. Structure of cannabidiol, a product isolated from the marihuana extract of Minnesota wild hemp. I. Journal of the Ame-rican Chemical Society, v. 62, n. 1, p. 196-200, 1940. ADAMS, Irma B.; MARTIN, Billy R. Cannabis: pharmacology and toxicology in ani-mals and humans. Addiction, v. 91, n. 11, p. 1585-1614, 1996.
ALVES, Marcela Nogueira Rabelo. Análise de canabinóides e cocaínicos em amostras de cabelo e sua correlação com sintomas psiquiátricos. Tese de Dou-torado. Universidade de São Paulo. 2015.
AMERI, Angela. The effects of cannabinoids on the brain. Progress in neurobiolo-gy, v. 58, n. 4, p. 315-348, 1999. ASHTON, C. Heather. Pharmacology and effects of cannabis: a brief review. The British Journal of Psychiatry, v. 178, n. 2, p. 101-106, 2001.
BARRETO, Luiz André Alves de Souza. A maconha (Cannabis sativa) e seu valor terapêutico. 2002.
BERGER, Stefan; SICKER, Dieter. Classics in spectroscopy. John Wiley & Sons. p. 169 -172. 2009. BISOGNO, T. et al. Molecular targets for cannabidiol and its synthetic analogues: effect on vanilloid VR1 receptors and on the cellular uptake and enzymatic hydrolysis of anandamide. British journal of pharmacology, v. 134, n. 4, p. 845-852, 2001.
BONFÁ, Laura; VINAGRE, Ronaldo Contreiras de Oliveira; FIGUEIREDO, Núbia Verçosa de. Uso de canabinoides na dor crônica e em cuidados paliativos. Rev Bras Anestesiol, v. 58, n. 3, p. 267-279, 2008. BOUCHENE, Salim; SADEG, Nouredine; BELHADJ-TAHAR, Hafid. New extraction method of THC and its metabolites, 11-OH-THC and THC-COOH, in plasma. In: Annales de Toxicologie Analytique. EDP Sciences, 2013. p. 1-5.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Lei n.9787, de 10 de fevereiro de 1999. Disponível em: <http://elegis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=245> Aces-so em: 17/10/2017.
Página 52 de 62
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Manual de boas práticas em biodis-ponibilidade: bioequivalência. Vol. 1. P. 11 -30. 2002. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/resultado-de bu-ca?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column1&p_p_col_count=1&_101_struts_action=%2Fasset_publisher%2Fview_content&_101_assetEntryId=2606729&_101_type=document > Acesso em: 17/10/2017.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Resolução RE nº 344, 12 de maio de 1998. (1998). Disponível em: < http://www.anvisa.gov.br/hotsite/talidomida/legis/Portaria_344_98.pdfhttp://www.anvisa.gov.br/hotsite/talidomida/legis/Portaria_344_98.pdf>. Acesso em: 18/10/2017.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Resolução RE n.899, de 29 de maio de 2003. (2003) Disponível em: < http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/RE_899_2003.pdf> Acesso em: 09/10/2017. BRASIL. CFM Nº 2.113/2014. Disponível em: < http://portal.cfm.org.br/canabidiol/> Acesso em: 08/10/2017.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Resolução RDC nº 27, 17 de maio de 2012. (2012). Disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/rdc0027_17_05_2012.html. >. Acesso em: 10/10/2017
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Resolução RDC nº 60, 10 de outubro de 2014. (2014). Disponível em: < https://www20.anvisa.gov.br/coifa/pdf/rdc60.pdf>. Acesso em: 08/10/2017.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Resolução RDC nº 03, 26 de janeiro de 2015. (2015). Disponível em: < http://abcfarma.org.br/juridico/portarias-e-resolucoes-anvisa/resolucao-rdc-n-3-de-26-de-janeiro-de-2015.pdf>. Acesso em: 11/10/2017.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Resolução RDC nº 17, de 6 de maio de 2015. (2015). Disponível em: < http://www.saude.mt.gov.br/upload/noticia/1/arquivo/170615163439-SES-MT-A-rdc-anvisa-17-2015---importacao-canabidiol.pdf>. Acesso em: 18/10/2017.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. ANVISA. Resolução RDC nº 66, de 18 de mar-ço de 2016. (2016). Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=317687>. Acesso em: 09/10/2017.
Página 53 de 62
BORDIN, D. et al. Técnicas de preparo de amostras biológicas com interesse foren-se. Scientia Chromatographica, v. 7, p. 125-143, 2015. BRENNEISEN, Rudolf. Chemistry and analysis of phytocannabinoids and other Can-nabis constituents. Marijuana and the Cannabinoids, p. 17-49, 2007. BULCÃO, Rachel Picada et al. Designer drugs: aspectos analíticos e biológi-cos. Química nova. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química, 1978-. Vol. 35, n. 1,(2012), p. 149-158, 2012. BYNUM, Helen; BYNUM, William F. Remarkable plants that shape our world. Uni-versity of Chicago Press, 2014. Cannabinoid Quantitation Using an Agilent 6430 LC/MS/MS. Application Note. Ag-ilent Technologies©, Inc., 2013.
CAMARGO, Stefania Pimenta Serrambana. Desenvolvimento e validação de me-todologia analítica para a determinação de canabidiol e tetraidrocanabinol em amostras de plasma por cromatografia em fase gasosa/espectrometria de massas. 2008. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. CAMPOS, A. C.; GUIMARÃES, F. S. Involvement of 5HT1A receptors in the anxiolyt-ic-like effects of cannabidiol injected into the dorsolateral periaqueductal gray of rats. Psychopharmacology, v. 199, n. 2, p. 223, 2008.
CARLINI, Elisaldo Araújo. A história da maconha no Brasil. J bras psiquiatr, v. 55, n. 4, p. 314-317, 2006.
CARVALHO, Virgínia Martins. Redistribuição da cocaína e sua influência na neu-roquímica post mortem. 2011. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. CARVALHO, V. M., et al. Mães pela cannabis medicinal em um Brasil aterroriza-do entre luzes e fantasmas.2017.
CASSIANO, N. M.; BARREIRO, J. C.; MARTINS, L. R. R.; OLIVEIRA, R. V.; QUESS, Q. B. Validação em métodos cromatográficos para análises de pequenas moléculas em matrizes biológicas. Química Nova, 32 (4): 1021- 1030, 2009.
CHASIN, AA da M. et al. Validação de métodos em análises toxicológicas: uma abordagem geral. Rev. Bras. Toxicol, v. 11, n. 1, p. 1-6, 1998.
Página 54 de 62
CONRAD, Chris. Hemp: o uso medicinal e nutricional da maconha. Editora Re-cord, 2001.
COSTA, José Luis G. Pinho et al. Neurobiologia da Cannabis: do sistema endoca-nabinoide aos transtornos por uso de Cannabis. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 2011.
CHIANG, C. N.; RAPAKA, R. S. Pharmacokinetics and disposition of cannabi-noids. NIDA Res. Monogr, v. 79, p. 173-188, 1987.
CRQ- IV REGIÃO (SP) – Minicurso 2010. Conceitos fundamentais de Cromatografia a líquido de Alto Desempenho. (HPLC) Disponível em: < http://www.crq4.org.br/sms/files/file/conceitos_hplc_2010.pdf> Acesso em: 12/10/2017.
DA SILVA, Daniela Filipa Martins Duarte. Terapêutica de Fármacos: relevância clínica e forense. 2014.
DE MELLO SCHIER, et al. Cannabidiol, a Cannabis sativa constituent, as an anxio-lytic drug. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 34, p. S104-S117, 2012.
DEVANE, W. A.; DYSARZ, F. A.; JOHNSON, M. R.; MELVIN, L.S; HOWLETT, A. C. Determination and characterization of a cannabinoid receptor in rat brain. Molecular Pharmacology, v. 34, n. 5, p.605-613, 1988.
DEVANE, W. A. et al. Determination and characterization of a cannabinoid receptor in rat brain. Molecular pharmacology, v. 34, n. 5, p. 605-613, 1988.
DEVANE, W. A.; HANUS, L.; BREUER, A.; PERTWEE, R. G.; STEVENSON, L. A.; GRIFFIN, G. et al. Isolation and structure of a brain constituent that binds to the can-nabinoid receptor. Science, v. 258, n. 5090, p. 1946-1949, 1992.
DI MARZO, Vincenzo et al. Levels, metabolism, and pharmacological activity of anandamide in CB1 cannabinoid receptor knockout mice. Journal of neurochemis-try, v. 75, n. 6, p. 2434-2444, 2000.
DRUGBANK TETRAHIDROCANABINOL Disponível em: <https://www.drugbank.ca/drugs/DB00470> Acesso em: 12/10/2017
DRUGBANK CANABIDIOL Disponível em: <https://www.drugbank.ca/drugs/DB09061> Acesso em: 12/10/2017
Página 55 de 62
DRUMMER, Olaf H.; ODELL, Morris. The forensic pharmacology of drugs of abuse. London: Arnold, 2001.
FERNANDES, Luís Miguel Loureiro. Determinação de Tetrahidrocanabinol e principais metabolitos em amostras de plasma com recurso à microextração em seringa empacotada e análise por cromatografia gasosa acoplada a um de-tetor de espectrometria de massa em tandem. 2013. Tese de Doutorado. Univer-sidade da Beira Interior. FERNANDEZ, Maria del Mar Ramirez et al. Simultaneous analysis of THC and its metabolites in blood using liquid chromatography–tandem mass spectrome-try. Journal of Chromatography B, v. 875, n. 2, p. 465-470, 2008.
FOGACA, M. V. et al. Effects of intra-prelimbic prefrontal cortex injection of canna-bidiol on anxiety-like behavior: involvement of 5HT 1A receptors and previous stress-ful experience. European Neuropsychopharmacology, v. 24, n. 3, p. 410-419, 2014. FONSECA, B.M. et al. O Sistema Endocanabinóide–uma perspetiva terapêutica. Ac-ta Farmacêutica Portuguesa, v. 2, n. 2, p. 37-44, 2013.
FOWLER, Christopher J. Plant-derived, synthetic and endogenous cannabinoids as neuroprotective agents: Non-psychoactive cannabinoids, ‘entourage’compounds and inhibitors of N-acyl ethanolamine breakdown as therapeutic strategies to avoid pyschotropic. Brain research reviews, v. 41, n. 1, p. 26-43, 2003. FOWLER, Christopher J.; LAMBERT, Didier M. The endocannabinoid system: drug targets, lead compounds, and potential therapeutic applications. Journal of medici-nal chemistry, v. 48, n. 16, p. 5059-5087, 2005. GAINZA, I. et al. Intoxicación por drogas. In: Anales del Sistema Sanitario de Na-varra. Gobierno de Navarra. Departamento de Salud, 2003. p. 99-128.
GASTON, Tyler E.; FRIEDMAN, Daniel. Pharmacology of cannabinoids in the treat-ment of epilepsy. Epilepsy & Behavior, 2017.
GAONI, Y.; MECHOULAM, R. Isolation, structure, and partial synthesis of an active constituent of hashish. Journal of the American chemical society, v. 86, n. 8, p. 1646-1647, 1964. GIUDICE, Gabriella Hamú. MÉTODOS ANALÍTICOS DE IDENTIFICAÇÃO DE CA-NABINOIDES SINTÉTICOS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Acta de Ciências e Saúde, v. 1, n. 2, p. 1-17, 2017.
Página 56 de 62
GONÇALVES, Talita Mota. Desenvolvimento e validação de metodologias analí-ticas para estudo farmacocinético comparativo de duas classes de fármacos (anti-retroviral e penicilínico) em individuos sadios. 2005.
GOMES, Miriam Silva. Contributo da química forense na detecção de drogas de abuso. 2013. Tese de Doutorado.
GRAUWILER, Sandra B.; SCHOLER, André; DREWE, Jürgen. Development of a LC/MS/MS method for the analysis of cannabinoids in human EDTA-plasma and urine after small doses of Cannabis sativa extracts. Journal of Chromatography B, v. 850, n. 1, p. 515-522, 2007.
GRAUWILER, Sandra B.; SCHOLER, André; DREWE, Jürgen. Development of a LC/MS/MS method for the analysis of cannabinoids in human EDTA-plasma and urine after small doses of Cannabis sativa extracts. Journal of Chromatography B, v. 850, n. 1, p. 515-522, 2007.
GROTENHERMEN, Franjo. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of canna-binoids. Clinical pharmacokinetics, v. 42, n. 4, p. 327-360, 2003.
GROTENHERMEN, Franjo. Pharmacology of cannabinoids. Neuroendocrinology Letters, v. 25, n. 1/2, p. 14-23, 2004. GROTENHERMEN, Franjo. The toxicology of cannabis and cannabis prohibi-tion. Chemistry & biodiversity, v. 4, n. 8, p. 1744-1769, 2007.
HILLARD, Cecilia J. et al. Synthesis and characterization of potent and selective ag-onists of the neuronal cannabinoid receptor (CB1). Journal of Pharmacology and Experimental Therapeutics, v. 289, n. 3, p. 1427-1433, 1999.
HONÓRIO, K. M. ASPECTOS TERAPÊUTICOS DE COMPOSTOS DA PLANTA Cannabis sativa. Quim. Nova, Vol. 29, No. 2, 318-325, 2006.
IZZO A, BORRELLI F, CAPASSO F, DI MARZO V, MECHOULAM R. Non-psychotropic plant cannabinoids: new therapeutic opportunities from an ancient herb: Trends. Pharmacol. Sci. 30:515–527, 2009.
JAMWAL, Rohitash et al. Ultra-high performance liquid chromatography tandem mass-spectrometry for simple and simultaneous quantification of canna-binoids. Journal of Chromatography B, v. 1048, p. 10-18, 2017.
Página 57 de 62
JUNG, Julia et al. Detection of Δ9‐tetrahydrocannabinolic acid A in human urine and blood serum by LC‐MS/MS. Journal of mass spectrometry, v. 42, n. 3, p. 354-360, 2007.
KALANT, Harold. Adverse effects of cannabis on health: an update of the literature since 1996. Progress in neuro-psychopharmacology and biological psychiatry, v. 28, n. 5, p. 849-863, 2004.
KAO YIEN, RAÍSSA MARA. Proposta de acompanhamento clínico farmacêutico do tratamento de epilepsia refratária com extratos de Cannabis. Universidade federal do Rio de Janeiro. Rio de janeiro, 2017
KNEISEL, Stefan et al. LC/ESI-MS/MS method for quantification of 28 synthetic can-nabinoids in neat oral fluid and its application to preliminary studies on their detection windows. Analytical and bioanalytical chemistry, v. 405, n. 14, p. 4691-4706, 2013. LACROIX, C.; SAUSSEREAU, E. Fast liquid chromatography/tandem mass spec-trometry determination of cannabinoids in micro volume blood samples after dabsyl derivatization. Journal of Chromatography B, v. 905, p. 85-95, 2012.
LANÇAS, Fernando M. Avanços Recentes e Tendências Futuras das Técnicas de Separação: uma visão pessoal. Scientia Chromatographica, p. 17-44, 2008.
LONGENECKER, G. L. Como agem as drogas: abuso de drogas eo corpo hu-mano. Quark Books, 1998.
MACEDO, Marcos Patrício. Investigação sobre a origem geográfica de amostras de cannabis sativa (linnaeus) por meio de fragmentos de insetos associados à droga prensada: um estudo exploratório. 2010. MAGALHÃES, Izadora Karam De Oliveira. A (DES) CRIMINALIZAÇÃO DO USO TERAPÊUTICO DA CANNABIS SATIVA. 2015.
MARALIKOVA, Barbora; WEINMANN, Wolfgang. Simultaneous determination of Δ9‐tetrahydrocannabinol, 11‐hydroxy‐Δ9‐tetrahydrocannabinol and 11‐nor‐9‐carboxy‐Δ9‐tetrahydrocannabinol in human plasma by high‐performance liquid chromatography/tandem mass spectrometry. Journal of mass spectrometry, v. 39, n. 5, p. 526-531, 2004. MARINHO, A. L. Z. et al. Effects of intra-infralimbic prefrontal cortex injections of cannabidiol in the modulation of emotional behaviors in rats: contribution of 5HT1A
Página 58 de 62
receptors and stressful experiences. Behavioural brain research, v. 286, p. 49-56, 2015. MÁRKEZ, Iñaki et al. Cannabis: de la salud y del derecho. Acerca de los usos, normativa, estudios e iniciativas para su normalización, n. 6, 2002.
MATOS, Rafaella LA et al. O Uso do Canabidiol no Tratamento da Epilep-sia. Revista Virtual de Química, v. 9, n. 2, p. 786-814, 2017. MATSUDA, Lisa A. et al. Structure of a cannabinoid receptor and functional expres-sion of the cloned cDNA. Nature, v. 346, n. 6284, p. 561-564, 1990.
MCALLISTER, Sean D.; GLASS, MicheELL. CB1 and CB2 receptor-mediated signal-ling: a focus on endocannabinoids. Prostaglandins, Leukotrienes and Essential Fatty Acids (PLEFA), v. 66, n. 2-3, p. 161-171, 2002.
MECHOULAM, R.; SHVO, Y. Hashish—I: the structure of cannabidiol. Tetrahedron, v. 19, n. 12, p. 2073-2078, 1963.
GAONI, Yechiel; MECHOULAM, Raphael. Isolation, structure, and partial synthesis of an active constituent of hashish. Journal of the American chemical society, v. 86, n. 8, p. 1646-1647, 1964.
MECHOULAM, Raphael et al. Identification of an endogenous 2-monoglyceride, pre-sent in canine gut, that binds to cannabinoid receptors. Biochemical pharmaco-logy, v. 50, n. 1, p. 83-90, 1995. MONTESANO, Camilla et al. A μ-SPE procedure for the determination of canna-binoids and their metabolites in urine by LC–MS/MS. Journal of Pharmaceutical and biomedical analysis, v. 91, p. 169-175, 2014.
MUNRO, S.; THOMAS, K. L.; ABU-SHAAR, M. Molecular characterization of a pe-ripheral receptor for cannabinoids. Nature, v. 365, n. 6441, p. 61, 1993.
MUSSHOFF, F.; JUNKER, H.P.; LACHENMEIER, D.W.; KROENER, L.; MAEDA, B. Fully automated determination of cannabinoids in hair samples using headspace sol-id-phase microextraction and gas chromatography-mass spectrometry. J. Anal. To-xicol., Niles, v.26, p.554-560, 2002. NADULSKI, Thomas et al. Simultaneous and sensitive analysis of THC, 11-OH-THC, THC-COOH, CBD, and CBN by GC-MS in plasma after oral application of small dos-
Página 59 de 62
es of THC and cannabis extract. Journal of analytical toxicology, v. 29, n. 8, p. 782-789, 2005. NETZAHUALCOYOTZI-PIEDRA, Citlalli et al. La marihuana y el sistema endocana-binoide: De sus efectos recreativos a la terapéutica. Revista Biomédica, v. 20, n. 2, p. 128-153, 2009.
OLIVEIRA, Carolina Dizioli Rodrigues de. Determinação de canabinoides em ca-belo por microextração em fase sólida por headspace e análise por espectro-metria de massa associada à cromatografia em fase gasosa. 2005. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
PAGE, J. E.; NAGEL, J. Chapter Eight-Biosynthesis of Terpenophenolic Metabolites in Hop and Cannabis. Recent Advances in Phytochemistry, v. 40, p. 179-210, 2006.
PAMPLONA, Fabricio A. Quais são e pra que servem os medicamentos à base de Cannabis? Revista da Biologia, 2014.
PENTEADO, J.C.P.; MAGALHÃES, D.; MASINI, J.C. Experimento didático sobre cromatografia gasosa: uma abordagem analítica e ambiental. Química Nova, v.31, n.8, p.2190-2193, 2008.
PEREZ-REYES, Mario. Marijuana smoking: factors that influence the bioavailability of tetrahydrocannabinol. NIDA Res. Monogr, v. 99, p. 42-62, 1990.
PERTWEE, R. G. The diverse CB1 and CB2 receptor pharmacology of three plant cannabinoids: Δ9‐tetrahydrocannabinol, cannabidiol and Δ9‐tetrahydrocannabivarin. British journal of pharmacology, v. 153, n. 2, p. 199-215, 2008.
PUBCHEM TETRAHIDROCANABINOL Disponível em: <https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/16078#section=Vapor-Pressure> Acesso em: 12/10/2017.
PUBCHEM CANABIDIOL Disponível em: <https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/644019#section=Top> Acesso em: 12/10/2017.
QUEIROZ, S.C.N.; COLLINS, C.H.; JARDIM, I.C.S.F. Métodos de extração e/ou concentração de compostos encontrados em fluidos biológicos para posterior deter-minação cromatográfica. Química Nova, v.24, n.1, p.68-76, 2001. RAIKOS, Nikolaos et al. Determination of Δ9-tetrahydrocannabinolic acid A (Δ9-THCA-A) in whole blood and plasma by LC–MS/MS and application in authentic
Página 60 de 62
samples from drivers suspected of driving under the influence of cannabis. Forensic science international, v. 243, p. 130-136, 2014.
RIBEIRO, José António Curral. A cannabis e suas aplicações terapêuticas. Tese de Doutorado. 2014. RITSCHEL W, Hammer G. Prediction of the volume of distribuition from data and use for estimating the absolute extent of aorption. Int J Clin Pharmacol Res. 18:298. 1980.
RODRÍGUEZ CARRANZA, Rodolfo. Los productos de Cannabis sativa: situación actual y perspectivas en medicina. Salud mental, v. 35, n. 3, p. 247-256, 2012.
ROMANO, Luigi L.; HAZEKAMP, Arno. Cannabis Oil: chemical evaluation of an up-coming cannabis-based medicine. Cannabinoids, v. 1, n. 1, p. 1-11, 2013.
RUSSO, E.; Guy, G. W. A tale of two cannabinoids: the therapeutic rationale for combining tetrahydrocannabinol and cannabidiol. Medical Hypotheses. p. 66, 234. 2006. RUSSO, E. B. Taming THC: potential cannabis synergy and phytocanna-binoid‐terpenoid entourage effects. British journal of pharmacology, v. 163, n.7, p. 1344-1364, 2011.
SAITO, Viviane M.; WOTJAK, Carsten T.; MOREIRA, Fabrício A. Exploração farma-cológica do sistema endocanabinoide: novas perspectivas para o tratamento de transtornos de ansiedade e depressão?. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 32, n. suppl 1, p. 57-514, 2010. SCHWOPE, David M.; SCHEIDWEILER, Karl B.; HUESTIS, Marilyn A. Direct quanti-fication of cannabinoids and cannabinoid glucuronides in whole blood by liquid chro-matography–tandem mass spectrometry. Analytical and bioanalytical chemistry, v. 401, n. 4, p. 1273, 2011.
SHARGEL, L. & YU, A.B.C. Applied biopharmaceutics and pharmacokinetics. 4a. ed. Stamford: Appleton & Lange, p. 768. 1999.
SOUBHIA, Paula Christiane. Período de detecção de canabinoides urinários por imunofluorescência polarizada em população usuária de Cannabis. 1999. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
SPINELLA, M. The psychopharmacology of herbal medicine: plant drugs that alter mind, brain, and behavior. MIT Press, 2001.
Página 61 de 62
SPINELLI, E.; SILVA, O. A. Identificação de usuários de Cannabis por cromatografia em camada delgada. Revista Brasileria de Toxtcología, v. 8, n. 2, p. 21-28, 1995. STAMBOULI, H. et al. Cultivation of Cannabis sativa L in northern, Morroco. BuELLtin on Narcotics, v. LVII, n.1 and 2, p.79 - 118, 2005. SØRENSEN, Lambert K.; HASSELSTRØM, Jørgen B. Sensitive Determination of Cannabinoids in Whole Blood by LC–MS-MS After Rapid Removal of Phospholipids by Filtration. Journal of Analytical Toxicology, v. 41, n. 5, p. 382-391, 2017.
TAURA, F. et al. Phytocannabinoids in Cannabis sativa: recent studies on biosyn-thetic enzymes. Chemistry & Biodiversity, v.4, p.1649–1663, 2007.
TEIXEIRA, Helena M.; REIS, Flávio. Cannabinoids: Forensic Toxicology and Thera-peutics. In: Forensic Medicine-From Old Problems to New Challenges. InTech, 2011.
TOZER, Thomas N.; ROWLAND, Malcolm. Introdução à farmacocinética e à far-macodinâmica: as bases quantitativas da terapia farmacológica. Artmed Editora, 2009. TISCIONE, Nicholas B. et al. An Efficient, Robust Method for the Determination of Cannabinoids in Whole Blood by LC–MS-MS. Journal of analytical toxicology, v. 40, n. 8, p. 639-648, 2016.
TURNER, C.E. Chemistry em metabolism. In: PETERSEN, R.C., ed. Marijuana re-search. NIDA Monograph Series, v. 31. RockviELL: NIDA, 1980. p.81-97. 1980.
VOTH, E.A., SCHWARTZ, R.H., Medicinal application of delta-9-THC and Marijuana. Ann. Intern. Med. Philadelphia, v.126, n.10, p.791-798, 1997.
WATSON, Stanley J.; BENSON, John A.; JOY, Janet E. Marijuana and medicine: assessing the science base: a summary of the 1999 Institute of Medicine re-port. Archives of General Psychiatry, v. 57, n. 6, p. 547-552, 2000.
WOOD, Thomas Barlow; SPIVEY, WT Newton; EASTERFIELD, Thomas Hill. III.—Cannabinol. Part I. Journal of the Chemical Society, Transactions, v. 75, p. 20-36, 1899. WONG, Anthony S. et al. Stability of delta-9-tetrahydrocannabinol in stored blood and serum. NIDA Res Monogr, v. 42, p. 119-24, 1982.
ZGAIR, Atheer et al. Development of a simple and sensitive CLAE–UV method for the simultaneous determination of cannabidiol and Δ9-tetrahydrocannabinol in rat
Página 62 de 62
plasma. Journal of pharmaceutical and biomedical analysis, v. 114, p. 145-151, 2015. ZUARDI, Antonio Waldo. History of cannabis as a medicine: a review. Revista Bra-sileira de Psiquiatría, v. 28, n. 2, p. 153-157, 2006.
ZUARDI, A.W. Cannabidiol: from an inactive cannabinoid to a drug with wide spec-trum of action. Revista brasileira de psiquiatria, v. 30, n. 3, p. 271-280, 2008.