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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA THIAGO LUIZ NOGUEIRA DA SILVA HIPERTENSÃO ARTERIAL: SOBREVIDA DE UMA COORTE DA ILHA DO GOVERNADOR, NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, 1991 A 2009 RIO DE JANEIRO 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

    INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

    MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA

    THIAGO LUIZ NOGUEIRA DA SILVA

    HIPERTENSÃO ARTERIAL: SOBREVIDA DE UMA COORTE DA ILHA DO

    GOVERNADOR, NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, 1991 A 2009

    RIO DE JANEIRO

    2013

  • THIAGO LUIZ NOGUEIRA DA SILVA

    HIPERTENSÃO ARTERIAL: SOBREVIDA DE UMA COORTE DA ILHA DO

    GOVERNADOR, NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, 1991 A 2009

    Dissertação de Mestrado

    apresentado ao Programa de

    Pós Graduação do Instituto de

    Estudos em Saúde Coletiva da

    Universidade Federal do Rio de

    Janeiro como requisito parcial

    para obtenção do Título de

    Mestre em Saúde Coletiva.

    ORIENTADORA: PROFA. DRA. KATIA VERGETTI BLOCH

    ORIENTADOR: PROF. CARLOS HENRIQUE KLEIN

    RIO DE JANEIRO

    2013

  • S586 Silva, Thiago Luiz Nogueira da.

    Hipertensão arterial: sobrevida de uma coorte da Ilha do

    Governador, no município do Rio de Janeiro, 1991 a 2009 /

    Thiago Luiz Nogueira da Silva – Rio de Janeiro: UFRJ / Instituto

    de Estudos em Saúde Coletiva, 2013.

    106f. : il.; 30cm

    Orientadores: Katia Vergetti Bloch e Carlos Henrique Klein.

    Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Instituto de Estudos em

    Saúde Coletiva, 2013.

    Referências: f.: 81 – 90.

    1. Hipertensão. 2. Pressão arterial. 3. Doenças

    cardiovasculares. 4. Mortalidade. 5. Análise de sobrevida. 6.

    Modelos de riscos proporcionais I. Bloch, Katia Vergetti. II.

    Klein, Carlos Henrique. III. Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. IV. Título.

    CDD 616.132

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus, acima de tudo, pela força para superar as adversidades do caminho e por guiar

    e iluminar os meus passos durante mais uma etapa da minha vida, pois sem ele nada seria

    possível. Também, sou grato pela benção de ter colocado pessoas maravilhosas durante a

    minha jornada, que foram essenciais para manter-me firme e confiante.

    À minha orientadora Katia Bloch pela confiança, paciência, ensinamentos e apoio

    inestimáveis que foram de grande importância para a minha formação profissional e pessoal.

    Muito mais que uma orientadora, uma grande amiga, uma “mãe”.

    Ao meu orientador Carlos Henrique Klein pela disponibilidade, cooperação, sugestões

    e o compartilhamento de suas experiências e conhecimento que foram fundamentais para a

    realização deste trabalho e para minha formação.

    À professora Mônica Magnanini, revisora desta dissertação, pela sua preciosa e

    grandiosa ajuda para o aprimoramento deste trabalho.

    Às minhas queridas e amadas mãe e avó pela assistência incondicional, pelos

    conselhos e suporte emocional nos meus momentos de dificuldade. O amor e a confiança

    depositada em mim foram primordiais para prosseguir. Sem vocês não teria forças para

    alcançar os meus objetivos.

    Ao meu pai, mesmo um pouco distante por conta das circunstâncias, sempre

    preocupado comigo e encorajando-me a persistir.

    À minha família que sempre acreditou em mim e compreendeu as minhas faltas. Em

    especial quero agradecer, uma ente muito querida que nos deixou por desígnios de Deus, mas

    sempre me estimulou e depositou esperança na minha vitória.

    À minha querida namorada Deisiane Teixeira, paciente e disposta a ouvir minhas

    angústias e preocupações. Uma grande companheira que esteve em todos os momentos ao

    meu lado. Soube compreender minhas falhas e ausências e jamais deixou de crer em mim.

    À minha professora da graduação em Enfermagem, Enirtes Caetano Prates Melo, uma

    grande amiga que acreditou em mim, uma das responsáveis por ter chegado aqui. Seus

    conselhos foram significativos para o meu amadurecimento.

  • Aos meus amigos pelas palavras de ânimo, em especial à Raíla de Souza, minha amiga

    da graduação que sempre me impulsionou a continuar lutando.

    Aos pesquisadores do estudo original do inquérito de hipertensão arterial da Ilha do

    Governador além dos meus orientadores, os doutores Armando da Rocha Nogueira, Nelson

    Albuquerque de Souza e Silva e Lúcia Helena Salis Campos pela autorização do uso da base

    de dados do inquérito da Ilha do Governador para a realização deste trabalho.

    Ao Thiago Campos e à Fernanda Oliveira pela colaboração fundamental para a

    concretização deste estudo, no processo de linkage. Suas ajudas foram fundamentais para a

    construção deste trabalho.

    À Angela Cascão e a Secretaria Estadual de Saúde pela disponibilização das bases de

    dados sobre Mortalidade para a realização deste trabalho.

    Aos meus colegas de mestrado pelo incentivo e força. Destaco a ajuda da Fernanda

    Aguiar e Cláudia Lima pelas dicas e sugestões para o manuseio das bases de dados e para a

    utilização do Reclink. Marli Rocha, Lilian Marques, Francisca Lucena e Laura Barufaldi pelas

    explicações e orientações nos estudos.

    A banca pelo aceite do convite e pelas contribuições para o enriquecimento deste

    trabalho.

    Ao corpo docente que foi imprescindível na minha formação profissional. Todos os

    professores sempre atenciosos e comprometidos na sua missão de ensinar. Foi uma

    experiência ímpar e inesquecível.

    Aos funcionários do IESC, da Biblioteca e da Secretaria de Pós-graduação.

    Ao CNPq e à FAPERJ pelo auxílio financeiro.

    Àqueles que porventura minha relapsa memória tenha esquecido de mencionar, mas

    colaboraram e torceram por mim.

    Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram vibrando positivamente para a

    concretização de mais uma fase importante da minha vida.

  • RESUMO

    SILVA, Thiago Luiz Nogueira da. Hipertensão arterial: sobrevida de uma coorte da Ilha

    do Governador, no município do Rio de Janeiro, 1991 a 2009. Rio de Janeiro, 2013

    Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto de Estudos em Saúde Coletiva,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

    Introdução: A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco cardiovascular, o que

    torna a sua elevada prevalência associada a altas taxas de mortalidade cardiovascular um

    grande problema de saúde pública. Objetivo: Analisar a sobrevida de uma amostra de

    indivíduos residentes na Ilha do Governador, no município do Rio de Janeiro, no período de

    1991 a 2009, classificados como hipertensos e não hipertensos. Método: Foi realizado um

    estudo de coorte não concorrente, a partir do linkage probabilístico dos dados de um inquérito

    epidemiológico sobre hipertensão arterial na Ilha do Governador, no período de 1991 a 1992,

    com o Sistema de Informações de Mortalidade do Rio de Janeiro, entre 1991 e 2009. A base

    de dados do inquérito domiciliar contou com 1.270 adultos com 20 anos de idade ou mais

    selecionados a partir de uma amostra aleatória de conglomerados em três estágios. Foi

    realizada uma análise exploratória das características da população de estudo e descrita a

    prevalência de hipertensão arterial e a mortalidade por causas cardiovasculares e não

    cardiovasculares, segundo algumas características sociodemográficas. As prevalências foram

    ajustadas segundo o delineamento amostral. Na análise de sobrevida, foram estimadas as

    probabilidades cumulativas de sobrevivência segundo as características da amostra pelo

    método de Kaplan-Meier e avaliados os modelos de riscos proporcionais de Cox para todos os

    hipertensos e os subgrupos de hipertensão (hipertensos não tratados, hipertensos controlados e

    hipertensos não controlados) em relação aos normotensos, ajustados segundo o delineamento

    amostral do inquérito. Resultados: Ocorreram 170 óbitos, dos quais 31,2% foram atribuídos

    às causas cardiovasculares. A prevalência de hipertensão foi de 38,0% (IC 95% 34,2%-

    42,0%) e a mortalidade cardiovascular foi de 8,6% (IC95% 6,3%–11,7%) entre os hipertensos

  • e de 1,3% (IC95% 0,7% – 2,3%) entre os não hipertensos; dentre os hipertensos, os não

    controlados e os não tratados tiveram sobrevida menor do que os controlados e os

    normotensos. O risco proporcional para o óbito cardiovascular foi 6,1 vezes (IC95% 2,7 -

    13,7) maior em hipertensos não controlados em relação aos não hipertensos, enquanto que nos

    hipertensos não tratados e nos hipertensos controlados o risco foi respectivamente 2,7 vezes

    (IC95% 1,1 – 6,3) e 2,1 vezes (IC95% 0,38 – 11,5) maior do que o dos não hipertensos.

    Conclusão: Embora os subgrupos de hipertensos estivessem suscetíveis a mudanças de

    classificação ao longo dos quase 20 anos que separam o inquérito do da análise da

    mortalidade, não só o diagnóstico de hipertensão como o status em relação ao tratamento e ao

    controle mostraram-se relevantes em relação ao prognóstico negativo destes indivíduos. O

    diagnóstico da hipertensão arterial e seu controle, incluindo aspectos relacionados à adesão ao

    tratamento, são desafios a serem enfrentados pela saúde pública para, não só reduzir a

    mortalidade cardiovascular associada à hipertensão, mas também melhorar a qualidade de

    vida de hipertensos adiando o surgimento de complicações cardíacas, renais e do sistema

    nervoso.

    Palavras-chave: hipertensão, pressão arterial, doenças cardiovasculares, mortalidade, análise

    de sobrevida, modelos de riscos proporcionais.

  • ABSTRACT

    SILVA, Thiago Luiz Nogueira da Hipertensão arterial: sobrevida de uma coorte da Ilha

    do Governador, no município do Rio de Janeiro, 1991 a 2009. Rio de Janeiro, 2013

    Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) – Instituto de Estudos em Saúde Coletiva,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

    Background: Hypertension is an important cardiovascular risk factor and its high prevalence

    as well as the high rates of cardiovascular mortality associated to it represents a major public

    health problem. Aim: To analyze the survival of a sample of hypertensive and non-

    hypertensive individuals living in Ilha do Governador, Rio de Janeiro, from 1991 to 2009.

    Method: We conducted a non-concurrent cohort study, using the probabilistic linkage of

    records to identify mortality records in the Mortality Information System of Rio de Janeiro,

    between 1991 and 2009 of individuals from an epidemiological survey of hypertension on

    Ilha do Governador, carried on in 1991-1992. The data base of the household survey included

    1270 adults aged 20 years and older selected from a random sample of clusters in three stages.

    We performed an exploratory analysis of the characteristics of the study population and

    described the prevalence of hypertension and mortality from cardiovascular and non-

    cardiovascular diseases, according to some socio-demographic characteristics. The prevalence

    rates were adjusted according to the sampling design. In survival analysis, the cumulative

    survival probabilities were estimated according to the characteristics of the sample by the

    Kaplan-Meier method and Cox proportional hazards models were fitted for all hypertensive

    and for subgroups of hypertensive (untreated hypertensive, controlled hypertensive and

    uncontrolled hypertensive) individuals, comparing to normotensive ones, adjusting by the

    survey sampling design. Results: There were 170 deaths, of which 31.2% were attributed to

    cardiovascular causes. The prevalence of hypertension was 38.0% (95% CI 34.2% - 42.0%)

    and the cardiovascular mortality was 8.6% (95% CI 6.3% -11.7%) for hypertensive

    individuals and 1.3%, (IC95% 0.7% - 2.3%) for the normotensives. Among hypertensive

  • individuals, the uncontrolled and untreated ones had lower survival than controlled

    hypertensive and normotensive individuals. The hazard ratio (HR) for cardiovascular death

    was 6.1 (95% CI 2.7 to 13.7) for uncontrolled hypertensive, whereas in untreated hypertensive

    and controlled hypertensive the HR was respectively 2.7 (95% CI 1.1 to 6.3) and 2.1 (95% CI

    0.38 to 11.5) comparing to non-hypertensive individuals. Conclusion: Although the

    subgroups of hypertensive individuals were susceptible to classification changes over nearly

    20 years that separate the primary investigation from the analysis of mortality, not just the

    diagnosis of hypertension but also the status of treatment and blood pressure control were

    relevant in relation to the negative prognosis of these individuals. The diagnosis of arterial

    hypertension and its control, including aspects related to treatment adherence, are challenges

    to be faced by public health, not only to reduce cardiovascular mortality associated with

    hypertension, but also to improve the quality of life of hypertensive individuals, delaying the

    emergence of cardiac, renal and nervous system complications.

    Keywords: hypertension, blood pressure, cardiovascular diseases, mortality, survival

    analysis, proportional hazards models.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 – Modelo Teórico ..................................................................................................... 35

    Figura 2 – Delineamento amostral do inquérito de HAIG. ................................................ 45

    Figura 4 – Curvas de sobrevida (Kaplan-Meier) segundo sexo, faixa etária, cor da pele,

    estrato econômico, escolaridade, tabagismo, consumo de álcool, prática de atividade

    física de lazer, diabetes, IMC e hipertensão arterial. .................................................. 70

    Figura 5 - Curvas de sobrevida ajustadas em cada modelo multivariado de Cox,

    corrigidos para o delineamento amostral, Ilha do Governador, 1991 a 2009. .......... 72

  • LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1 – Distribuição de óbitos cardiovasculares e não cardiovasculares, da amostra

    da Ilha do Governador, no período de 1991 a 2009. .................................................... 66

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 – Prevalência de hipertensão em diferentes regiões do mundo. ......................... 24

    Tabela 2 – Comparação dos estudos de prevalência da Hipertensão Arterial realizados

    no Brasil, entre 1990 e 2004. .......................................................................................... 28

    Tabela 3 – Campos empregados como chaves de blocagem gerados processo de linkage

    nos bancos de dados. ....................................................................................................... 48

    Tabela 4 – Modificações nas sílabas no primeiro (PBLOCO) e no último nome

    (UBLOCO), durante o processo de padronização e criação dos blocos lógicos para

    aplicação do código Soundex. ........................................................................................ 49

    Tabela 5 – Conjunto de chaves para a blocagem. ................................................................ 50

    Tabela 6 – Estimação dos parâmetros para o processo de pareamento. ........................... 50

    Tabela 7 – Classificação das causas básicas de óbito, segundo CID-9 e CID-10. ............. 55

    Tabela 8 – Classificação das categorias de exposição da hipertensão arterial. ................ 56

    Tabela 9 – Distribuição dos óbitos registrados na base do Sistema de Informação sobre

    Mortalidade (SIM) e de pares identificados a partir do linkage com a base do

    inquérito de HAIG (Hipertensão Arterial na Ilha do Governador), segundo ano de

    ocorrência, entre 1991 e 2009. ....................................................................................... 60

    Tabela 10 – Distribuição das características demográficas (faixa etária e cor da pele),

    socioeconômicas (estrato econômico e escolaridade), hábitos de vida (tabagismo,

    consumo de álcool e prática de atividade física no lazer) e morbidade (hipertensão

    arterial, IMC e diabetes), segundo sexo, da amostra da Ilha do Governador, 1991 e

    1992. ................................................................................................................................. 61

    Tabela 11 – Proporção de conhecimento sobre o diagnóstico de hipertensão arterial e

    abandono de tratamento entre os hipertensos não tratados segundo sexo, da

    amostra da Ilha do Governador, 1991 e 1992. ............................................................. 62

    Tabela 12 – Médias e desvios-padrão (DP) da idade, pressão arterial sistólica (PAS),

    pressão arterial diastólica (PAD) e IMC dos indivíduos da amostra da Ilha do

    Governador, 1991 e 1992. .............................................................................................. 63

  • Tabela 13 – Prevalências de hipertensão arterial medida (≥140/90mmHg) ou tratada e

    intervalo de confiança (IC) de 95% segundo as características da população (sexo,

    faixa etária, IMC, estrato econômico e escolaridade), ajustadas para o delineamento

    amostral, Ilha do Governador, 1991 e 1992. ................................................................ 64

    Tabela 14 – Prevalência de hipertensão arterial segundo as características da população

    (sexo, faixa etária, IMC, estrato econômico e escolaridade), ajustado para o

    delineamento amostral, Ilha do Governador, 1991 e 1992. ........................................ 65

    Tabela 15 – Percentuais de causas básicas de óbito cardiovasculares e seus respectivos

    grupos e das causas de óbitos não cardiovasculares (neoplasias, causas mal

    definidas e demais causas), da amostra da Ilha do Governador, 1991 a 2009. ......... 66

    Tabela 16 –Mortalidade segundo óbitos cardiovasculares, não cardiovasculares e de

    óbitos totais em relação à hipertensão arterial, sexo, faixa etária, estrato econômico

    e escolaridade, ajustados segundo o delineamento amostral do estudo. ................... 67

    Tabela 17 –Mortalidade segundo óbitos cardiovasculares por doenças isquêmicas do

    coração, por doenças cerebrovasculares, por doenças hipertensivas e outras causas

    cardiovasculares em relação à hipertensão arterial, sexo, faixa etária, IMC, estrato

    econômico e escolaridade, ajustado para o delineamento amostral, Ilha do

    Governador, 1991 e 1992. .............................................................................................. 69

    Tabela 18 – Riscos proporcionais de óbito cardiovascular nas categorias de hipertensão

    de acordo com modelo de Cox ajustado por covariáveis, corrigidos para o

    delineamento amostral. .................................................................................................. 72

  • LISTA DE SIGLAS

    AIH Autorização de Internação Hospitalar

    AMALIA Drugs Innovation Impact in Cardio and Cerebrovascular Diseases in

    Portugal

    AVE Acidente Vascular Encefálico

    CBCD Centro Brasileiro de Classificação de Doenças

    CEP Comitê de Ética em Pesquisa

    CHN China

    CI Confidence Interval

    CID-10 10ª Revisão de Classificação Internacional de Doenças

    CID-9 9ª Revisão de Classificação Internacional de Doenças

    DALY Disability-adjusted life years

    DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

    DCV Doenças Cardiovasculares

    DO Declaração de Óbito

    DP Desvio-padrão

    EM Expectation Maximization

    EME Economias de Mercado Estáveis

    ERJ Estado do Rio de Janeiro

    EUA Estados Unidos da América

    EUROASPIRE III European Action on Secondary and Primary Prevention by

    Intervention to Reduce Events III

    FSE Economias Européias Ex-Socialistas

    HA Hipertensão Arterial

    HAIG Hipertensão Arterial na Ilha do Governador

    HDL High Density Lipoprotein – Lipoproteína de Alta Densidade

    HR Hazard Ratio

    IC Intervalo de Confiança

    IESC Instituto de Estudos em Saúde Coletiva

    IG Ilha do Governador

    IAM Infarto Agudo do Miocárdio

    IMC Índice de Massa Corporal

    IND Índia

  • JNC Joint National Committee

    Kg Kilograma

    LABMECS Laboratório de Métodos Epidemiológicos e Computacionais em Saúde

    LAC América Latina e Caribe

    LDL Low Density Lipoprotein - Lipoproteína de Baixa Densidade

    m² Metro quadrado

    MEC Oriente Médio Crescente

    min minutos

    mmHg Milímetros de mercúrio

    MONICA Monitoring Trends and Determinants in Cardiovascular Disease

    MRJ Município do Rio de janeiro

    MS Ministério da Saúde

    NHANES National Health and Nutrition Examination Survey

    OAI Ásia e outras ilhas

    OMS Organização Mundial de Saúde

    OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

    OR Odds Ratio

    PA Pressão Arterial

    PAD Pressão Arterial Diastólica

    PAS Pressão Arterial Sistólica

    RA Região Administrativa

    RAP Risco Atribuível Populacional

    RJ Rio de Janeiro

    SBC Sociedade Brasileira de Cardiologia

    SES-RJ Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro

    SES-RS Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul

    SIM Sistema de Informação de Mortalidade

    SSA África Subsaariana

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    USP Universidade de São Paulo

    vs Versus

    WHO World Healthy Organization

  • SUMÁRIO

    1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 21

    1.1 Magnitude da hipertensão arterial ............................................................................. 21

    1.2 Magnitude das doenças cardiovasculares (DCV) ...................................................... 29

    1.3 Hipertensão arterial como fator de risco cardiovascular ......................................... 31

    1.4 Fatores de risco cardiovasculares e para hipertensão arterial ................................. 31

    1.5 Modelo teórico............................................................................................................... 35

    1.6 Monitorização da mortalidade no Brasil .................................................................... 36

    1.7 Aplicação do linkage em estudos epidemiológicos brasileiros .................................. 37

    2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................ 40

    3 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 42

    3.1 Objetivos específicos ..................................................................................................... 42

    4 MÉTODOS ........................................................................................................................... 43

    4.1 Delineamento de estudo................................................................................................ 43

    4.2 Inquérito de Hipertensão Arterial na Ilha do Governador (HAIG) ........................ 43

    4.2.2 Informações coletadas no inquérito de HAIG .................................................... 46

    4.3 Bases do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) ......................................... 47

    4.4 Linkage entre as bases do inquérito de HAIG e do SIM .......................................... 47

    4.4.1. Outras estratégias de vinculação de bases .......................................................... 51

    4.5 Descrição das variáveis ................................................................................................ 55

    4.6 Análise dos dados .......................................................................................................... 58

  • 4.7 Aspectos éticos .............................................................................................................. 59

    5 RESULTADOS .................................................................................................................... 60

    6 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 73

    6.1 Limitações do estudo .................................................................................................... 78

    7 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 80

    8 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 81

    ANEXOS ................................................................................................................................. 91

    Anexo 1 – Questionário individual do inquérito de hipertensão arterial na Ilha do

    Governador ......................................................................................................................... 92

    Anexo 2 – Ficha domiciliar do inquérito de hipertensão arterial da Ilha do

    Governador ....................................................................................................................... 100

    Anexo 3 – Ficha de medidas objetivas do inquérito de hipertensão arterial da Ilha do

    Governador ....................................................................................................................... 102

    Anexo 4 - Autorização dos pesquisadores do inquérito de hipertensão arterial na Ilha

    do Governador para utilização dos dados no presente estudo. .................................... 103

    Anexo 5 – Aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa. ........................... 105

  • APRESENTAÇÃO

    O presente estudo partiu do interesse em estudar a associação entre a hipertensão

    arterial e o óbito cardiovascular, com o propósito principal de analisar o tempo até a

    ocorrência de tal desfecho, o óbito cardiovascular, entre os expostos, hipertensos, e os não

    expostos, não hipertensos, a partir de um inquérito domiciliar realizado na Ilha do

    Governador, na cidade do Rio de Janeiro, entre o segundo semestre de 1991 e o primeiro

    semestre de 1992.

    Este inquérito foi realizado com o objetivo de estimar a prevalência de hipertensão

    arterial e avaliou a distribuição de fatores de risco relacionados à hipertensão, traçando o

    perfil epidemiológico da população, a partir de uma amostra aleatória de conglomerados em

    três estágios. O primeiro selecionou os setores censitários classificados segundo a renda

    domiciliar média (baixa, média ou alta) de cada estrato. No segundo estágio, os domicílios

    foram selecionados aleatoriamente e no terceiro estágio, foram incluídos todos os indivíduos

    com 20 anos ou mais de idade residentes nos domicílios selecionados.

    Para a identificação dos indivíduos que morreram ao longo do tempo foi utilizada a

    base de dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), obtida na Secretaria

    Estadual de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ). Esta base armazena todos os dados colhidos

    na declaração de óbito, tais como causa básica, causas antecedentes, assim como informações

    das características do indivíduo incluindo um dado sensível, o nome, que permitiu rastrear os

    indivíduos do estudo da Ilha do Governador.

    Com a finalidade de estimar o tempo entre a data da participação dos indivíduos no

    inquérito de hipertensão da Ilha do Governador até o óbito foi realizado o relacionamento

    probabilístico de bases de dados, que consistiu em analisar informações de um mesmo

    indivíduo armazenadas em bases de origem diferente, a partir de identificadores comuns.

    Além das informações que permitiram o estudo da associação entre a exposição, a

    hipertensão arterial, avaliada no inquérito da Ilha, e a mortalidade cardiovascular, obtida na

    análise da causa básica do óbito no SIM, foram investigadas potenciais variáveis de

    confundimento nesta relação, a partir das informações sobre os fatores de risco

    cardiovasculares e para hipertensão. A análise de sobrevida investigou o impacto do

    tratamento anti-hipertensivo ao comparar hipertensos não tratados; hipertensos tratados e

    controlados e hipertensos tratados não controlados com não hipertensos.

    A dissertação é apresentada em formato tradicional de dissertação no qual o contexto

    epidemiológico das doenças cardiovasculares, com ênfase na hipertensão, assim como o

  • Sistema Nacional de Informação para monitoramento da mortalidade e a aplicação da técnica

    de linkage probabilístico em estudos epidemiológicos são revistos na Introdução.

    Seguem-se a justificativa para o estudo e os objetivos, a seção de Métodos, na qual são

    descritos algumas características do Inquérito da Ilha do Governador, a técnica de linkage, as

    variáveis do inquérito e da base do SIM utilizadas no presente estudo e os procedimentos

    estatísticos utilizados. São apresentados os resultados do linkage, as características da

    população estudada e as análises realizadas. Os resultados observados são então discutidos à

    luz de evidências da literatura nacional e internacional assim como as principais limitações do

    estudo. Na conclusão os principais achados e seus impactos são enfatizados. Foram anexados

    os questionários do inquérito da Ilha do Governador e detalhamentos da análise.

  • 21

    1 INTRODUÇÃO

    1.1 Magnitude da hipertensão arterial

    A hipertensão arterial (HA) ou pressão arterial (PA) elevada é uma condição crônica

    de grande impacto na morbidade e mortalidade cardiovascular, principalmente nos países

    desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo um dos maiores desafios da saúde pública o seu

    controle e prevenção na perspectiva de alcançar uma redução efetiva dos danos à saúde de

    populações.

    Os pontos de corte para detecção de hipertensão arterial sistêmica variaram ao longo

    das últimas décadas, segundo as recomendações dos relatórios elaborados pelo Joint National

    Comittee (JNC) on Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure. Os

    primeiros relatórios levavam em consideração apenas a pressão arterial diastólica (PAD)

    maior que 90 mmHg (1° JNC, 1977; 2° JNC, 1980). Posteriormente, o 3° (1984) e o 4° JNC

    (1988) mantiveram o critério de hipertensão para a PAD, incluindo no critério de classificação

    a pressão arterial sistólica (PAS) isolada, quando a mesma fosse ≥ 160 mmHg e quando a

    PAD fosse < 90mmHg. O 5° (1993), o 6° (1997) e o 7° JNC (2004) levavam em consideração

    como ponto de corte a PAS ≥ 140 mmHg e a PAD ≥ 90 mmHg. No entanto, para classificação

    de hipertensão, deve ser considerado o nível pressórico obtido em pelo menos duas medidas

    consecutivas, em diferentes ocasiões. A decisão terapêutica se baseia não só nos níveis

    pressóricos mas também na classificação de escores de fatores de risco (obesidade, consumo

    de sal, gorduras e álcool, tabagismo, sedentarismo, histórico familiar de doença

    cardiovascular e presença de morbidade como diabetes ou doença cardiovascular)

    implementada a partir do 6° JNC para auxiliar na decisão do tratamento adequado do

    indivíduo.

    Atualmente a hipertensão arterial é caracterizada por níveis pressóricos elevados e

    sustentados de pressão arterial, possuindo como parâmetro a PAS maior ou igual a 140

    mmHg (milímetros de mercúrio) ou uma PAD maior ou igual a 90 mmHg, segundo o The

    Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and

    Treatment of High Blood Pressure (2004); critério também adotado pela Sociedade Brasileira

    de Cardiologia (2010) e pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 2007).

    Sua prevalência é elevada no mundo todo, destacando-se como a terceira maior causa

    na carga global de doenças no mundo, responsável por 64 milhões de anos de vida perdidos

  • 22

    ajustados por incapacidade (DALY-Disability Adjusted Life of Years) e é o principal fator de

    risco para a mortalidade geral, causando mais de sete milhões de mortes em todo o mundo

    (EZZATI et al., 2002).

    No ano de 2000, 26,4% da população mundial de adultos eram hipertensos, com uma

    maior prevalência em homens do que em mulheres em idades mais jovens e ocorrendo relação

    inversa entre os idosos. Até 2025 são estimados 29,2% de hipertensos, significando um

    aumento expressivo da prevalência mundial de hipertensão de até 9% em homens e 13% em

    mulheres, em função das projeções das mudanças na distribuição etária, influenciada pelo

    aumento do envelhecimento populacional (KEARNEY et al., 2005).

    Com o aumento da expectativa de vida, a hipertensão arterial tornou-se alvo de

    preocupação das autoridades de saúde pública, em função das alterações funcionais e

    estruturais provocadas pelo avanço da idade em órgãos como o coração, encéfalo, rins e vasos

    sanguíneos, além de alterações metabólicas, contribuindo para o risco de eventos

    cardiovasculares fatais e não-fatais, com importante impacto na qualidade de vida dos seus

    portadores (BRASIL, 2006a; BRASIL, 2004).

    Vasan et al. (2002) mostraram que o risco de desenvolver hipertensão é elevado,

    principalmente em adultos de meia-idade. Esse risco foi de 90% entre os 1.298 indivíduos

    com 55 ou 65 anos de idade do estudo de Framingham, acompanhados durante 20 a 25 anos A

    maior parte desses indivíduos desenvolveu hipertensão arterial nos primeiros 10 anos de

    seguimento.

    Uma série de estudos seccionais nos Estados Unidos da América (EUA) apontou para

    um aumento da prevalência de hipertensão arterial de 23,9%, no período entre 1988 e 1994,

    para 28,5% entre 1999 e 2000. Porém, no período seguinte, de 2007 a 2008, manteve-se

    estável, tendo sido observado, um aumento no controle da hipertensão de 27,3% (1988-1994)

    para 50,1%, principalmente entre os indivíduos maiores de 40 anos, negros, caucasianos e

    obesos (EGAN et. al., 2010).

    Na China, a prevalência de hipertensão arterial aumentou entre o final da década de

    1960 e o início da década de 1990, de 8,5% para 14,4%. Esse aumento foi maior entre os

    indivíduos de idade entre 50 e 59 anos (de 11,6% para 25,7%) e entre os de 60 e 74 anos (de

    17,5% para 38%), sendo mais do que o dobro de casos nestas faixas etárias ao longo do

    período, acreditando-se que esses números tendem a crescer cada vez mais (WHELTON et.

    al, 2004).

    Kearney et al (2004) realizaram uma revisão sistemática de estudos que estimaram a

    prevalência de hipertensão arterial em diferentes regiões do mundo e apontaram para uma

  • 23

    distribuição heterogênea da hipertensão, desde prevalências baixas, como 3,4% em homens

    indianos residentes da zona rural a prevalências tão altas como 72,5% em mulheres polonesas;

    sendo que nos países economicamente desenvolvidos, a prevalência da hipertensão variou

    entre 20 e 50%, aproximadamente (Tabela 1). A prevalência de hipertensão permaneceu

    estável ou diminuiu em países economicamente desenvolvidos durante as últimas décadas,

    enquanto que em países em desenvolvimento a hipertensão arterial tem aumentado. Na

    maioria dos estudos, a hipertensão tende a ocorrer com mais frequência em homens do que

    em mulheres, independentemente da idade.

    Entre 1980 e 2003, nos países economicamente desenvolvidos, aproximadamente

    entre a metade e dois terços dos hipertensos tinham conhecimento sobre o diagnóstico de

    hipertensão e entre um terço e a metade dos indivíduos estavam sob tratamento anti-

    hipertensivo. Entre os tratados, 30 a 50% estavam com os níveis pressóricos controlados.

    Entretanto, nos países em desenvolvimento, apenas entre um quarto e a metade dos

    hipertensos tinham conhecimento sobre o seu diagnóstico, com uma prevalência variando de

    10 a 50% de hipertensos sob tratamento medicamentoso e uma proporção entre 20 a 50% de

    hipertensos tratados estavam sob controle (KEARNEY et al., 2004).

    Um levantamento de estudos epidemiológicos sobre hipertensão arterial realizado no

    Brasil mostrou uma distribuição da prevalência bem heterogênea, embora estas estimativas

    sejam de difícil comparação em função da variabilidade de critérios e procedimentos

    metodológicos utilizados nos estudos (Tabela 2). Esse estudo encontrou também associação

    da HA com idade, sexo e fatores de risco metabólicos e de estilo de vida (PASSOS et al.,

    2006).

    Lessa (1996) observou prevalências de hipertensão arterial variando de 10 a 40%,

    porém, como o diagnóstico clínico requer avaliações sucessivas em diferentes ocasiões, essas

    prevalências podem estar superestimadas (BRASIL, 2004). O VIGITEL (Vigilância de

    Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), uma pesquisa nacional sobre morbidade de

    doenças crônicas autorreferidas, realizada através de inquéritos por telefone desde 2006,

    aponta para um aumento da prevalência de hipertensão. Em 2006, a prevalência de

    hipertensão arterial no Brasil era de 21,6% e em 2010 de 22,7%, variando entre 13,8% em

    Palmas e 29,2%, no Rio de Janeiro (BRASIL, 2011a).

  • 24

    Tabela 1 – Prevalência de hipertensão em diferentes regiões do mundo.

    Reg

    ião

    Métodos para medição da PA

    Prevalência de hipertensão

    bruta

    Prevalência de hipertensão

    ajustada por idade

    País

    Período

    de

    estudo

    População

    de estudo

    Faixa

    etária

    % sexo

    masculino Instrumento

    N.º de

    mensurações/

    N.º de visitas

    Preparação Homens

    (%)

    Mulheres

    (%)

    Total

    (%)

    Homens

    (%)

    Mulheres

    (%)

    Total

    (%)

    EM

    E1

    EUA 1999-

    2000

    Amostra

    nacional de

    5448

    ≥ 18 48,0 Padrão de

    mercúrio 6/2

    5 min de

    repouso

    27,1 30,1 28,7

    24,2 22,4 -

    Canadá 1986-

    1992

    Amostra

    nacional de

    23129

    18-74 49,2 Padrão de

    mercúrio 4/2

    5 min de

    repouso

    26,0 18,0 22,0

    23,5 15,6 21,4

    Espanha 1990

    Amostra

    nacional de

    2021

    35-64 - Zero

    randômico 3/1 -

    46,2 44,3 45,1

    41,7 39,0 40,0

    Bélgica 1985-

    1992

    Amostra

    multi-locais

    de 4904

    25-64 52,0 Zero

    randômico 2/1

    5 min de

    repouso

    26,7 20,0 -

    - - -

    Inglaterra 1998

    Amostra

    nacional de

    11529

    ≥ 20 45,3 Eletrônico 3/1 5 min de

    repouso

    43,4 35,0 38,8

    34,7 25,7 29,6

    Finlândia 1997

    Amostra

    multi-locais

    de 5746

    25-64 47,6 Padrão de

    mercúrio 2/1

    5 min de

    repouso

    51,0 35,0 -

    - - -

    Alemanha 1997-

    1999

    Amostra

    nacional de

    7124

    18-79 - Padrão de

    mercúrio 3/1

    5 min de

    repouso

    60,2 50,3 55,3

    55,4 56,6 -

    Grécia 1997

    Amostra

    regional de

    665

    18-91 41,8 Padrão de

    mercúrio 3/1

    5 min de

    repouso

    30,2 27,1 28,4

    18,5 15,9 16,9

    Itália 1998

    Amostra

    nacional de

    8233

    35-74 - Padrão de

    mercúrio 2/1

    5 min de

    repouso

    44,8 30,6 37,7

    42,0 43,3 -

    Suécia 1999

    Amostra

    regional de

    1823

    25-74 - Padrão de

    mercúrio 2/1

    5 min de

    repouso

    44,8 32,0 38,4

    39,6 40,9 -

    Austrália 1989

    Amostra

    nacional de

    19315

    25-64 - Padrão de

    mercúrio 2/1 -

    31,9 20,7 -

    30,8 20,1 -

    Japão 1980

    Amostra

    nacional de

    10346

    30-74 44,0 Padrão de

    mercúrio 1/1 -

    50,1 43,3 -

    42,7 35,0 38,3

  • 25

    Reg

    ião

    Métodos para medição da PA

    Prevalência de hipertensão

    bruta

    Prevalência de hipertensão

    ajustada por idade

    País

    Período

    de

    estudo

    População

    de estudo

    Faixa

    etária

    % sexo

    masculino Instrumento

    N.º de

    mensurações/

    N.º de visitas

    Preparação

    Homens

    (%)

    Mulheres

    (%)

    Total

    (%)

    Homens

    (%)

    Mulheres

    (%)

    Total

    (%)

    FS

    E2

    Polônia 1987-

    1988

    Amostra

    multi-locais

    de 1835

    45-64 47,7 Padrão de

    mercúrio 2/1

    5 min de

    repouso

    68,9 72,5 70,7

    - - -

    IND

    3

    Norte da

    Índia (zona

    rural)

    1994-

    1995

    Amostra

    regional de

    2559

    21-70 48,1 Zero

    randômico 3/2 11

    5 min de

    repouso

    3,4 6,8 5,2

    3,5 7,5 5,5

    Norte da

    Índia (zona

    urbana)

    1997

    Amostra

    regional de

    1806

    25-64 50,1 Padrão de

    mercúrio 3/1

    5 min de

    repouso

    25,0 22,3 -

    24,5 23,2 23,8

    Norte da

    Índia (zona

    rural)

    1997

    Amostra

    regional de

    1935

    ≥ 25 50,9 Padrão de

    mercúrio 1 ou 2/1 10

    5 min de

    repouso

    20,8 20,8 21,5

    21,5 24,9 23,1

    Oeste da

    Índia (zona

    urbana)

    19959

    Amostra

    regional de

    2122

    ≥ 20 63,0 Padrão de

    mercúrio 2 ou 3/1

    5 min de

    repouso

    30,0 33,0 30,9

    31,8 27,8 30,7

    Oeste da

    Índia (zona

    rural)

    19949

    Amostra

    regional de

    3148

    ≥ 20 64,0 Padrão de

    mercúrio 2 ou 3/1 12 -

    24,0 17,0 21,0

    23,3 19,8 22,0

    LA

    C4

    Barbados 1996

    Amostra

    nacional de

    807

    25-74 - Padrão de

    mercúrio 3/1

    10 min de

    repouso

    25,4 29,6 27,9

    - - -

    Jamaica 1996

    Amostra

    nacional de

    817

    25-74 - Padrão de

    mercúrio 3/1

    10 min de

    repouso

    19,0 29,2 24,7

    - - -

    Santa Lúcia 1996

    Amostra

    nacional de

    1080

    25-74 - Padrão de

    mercúrio 3/1

    10 min de

    repouso

    24,7 28,7 26,8

    - - -

    México 1992-

    1993

    Amostra

    nacional de

    14657

    20-69 41,3 Padrão de

    mercúrio 1/1

    5 min de

    repouso

    37,5 28,1 32,0

    38,6 30,1 33,5

    Paraguai 1993-

    1994

    Amostra

    nacional de

    9880

    20-74 69,8 Aneróide 2/1 10 min de

    repouso

    28,8 40,9 32,5

    32,4 41,9 35,4

    Venezuela 1996

    Amostra

    nacional de

    7424

    ≥ 20 49,0 Padrão de

    mercúrio 3/1 -

    45,2 28,9 36,9

    47,7 32,2 39,7

  • 26

    Reg

    ião

    Métodos para medição da PA Prevalência de hipertensão

    bruta

    Prevalência de hipertensão

    ajustada por idade

    País

    Período

    de

    estudo

    População

    de estudo

    Faixa

    etária

    % sexo

    masculino Instrumento

    N.º de

    mensurações/

    N.º de visitas

    Preparação

    Homens

    (%)

    Mulheres

    (%)

    Total

    (%)

    Homens

    (%)

    Mulheres

    (%)

    Total

    (%)

    LA

    C4

    Cuba 1994

    Amostra

    regional de

    1633

    ≥ 15 45,6 Padrão de

    mercúrio 2/1

    10 min de

    repouso

    45,9 41,5 43,5

    - - -

    ME

    C5

    Egito 1991

    Amostra

    nacional de

    6733

    25-95 43,5 Padrão de

    mercúrio 4/1

    5 min de

    repouso

    25,7 26,9 26,3

    25,9 29,3 27,4

    Irã 1993-

    1994

    Amostra

    regional de

    6532

    ≥19 41,1 Padrão de

    mercúrio 3/1

    10 min de

    repouso

    23,3 27,3 25,6

    Turquia 1995

    Amostra

    regional de

    1466

    ≥18 55,5 Aneróide 2/1 5 min de

    repouso

    26,0 34,1 29,6

    21,8 30,9 25,7

    CH

    N6

    China 2000-

    2001

    Amostra

    nacional de

    15854

    35-74 48,5 Padrão de

    mercúrio 3/1

    5 min de

    repouso

    28,6 25,8 27,2

    28,8 26,6 27,7

    OA

    I7

    Coréia 1990

    Amostra

    nacional de

    21242

    ≥30 43,7 Padrão de

    mercúrio 2/1

    5 min de

    repouso

    - - 19,8

    21,8 19,4 -

    Tailândia 2000-

    2001

    Amostra

    nacional de

    5350

    ≥35 39,4 Padrão de

    mercúrio 3/1

    5 min de

    repouso

    21,3 19,8 20,5

    22,1 21,4 21,7

    Cingapura 1998

    Amostra

    nacional de

    4723

    30-69 - - 2/1 -

    30,2 23,0 26,6

    - - -

    Hong Kong 1995-

    1996

    Amostra

    nacional de

    2875

    25-74 - - - -

    18,3 17,4 -

    - - -

    Kinmen 1992-

    1994

    Amostra

    nacional de

    3826

    ≥30 45,3 - 3/1 5 min de

    repouso

    43,6 32,0 37,3

    40, 7 34,8 -

    Mauritius 1992

    Amostra

    nacional de

    5160

    25-74 45,8 Padrão de

    mercúrio 2/1 -

    20,4 17,5 -

    - - -

    Taiwan 1991

    Amostra

    nacional de

    4894

    ≥19 49,7 Padrão de

    mercúrio 2/1

    5 min de

    repouso

    33,1 28,0 30,5

    27,1 20,8 23,7

  • 27

    Reg

    ião

    Métodos para medição da PA Prevalência de hipertensão

    bruta

    Prevalência de hipertensão

    ajustada por idade

    País

    Período

    de

    estudo

    População

    de estudo

    Faixa

    etária

    % sexo

    masculino Instrumento

    N.º de

    mensurações/

    N.º de visitas

    Preparação

    Homens

    (%)

    Mulheres

    (%)

    Total

    (%)

    Homens

    (%)

    Mulheres

    (%)

    Total

    (%)

    África do

    Sul 1998

    Amostra

    nacional de

    13802

    16-65 41,6 Eletrônico 3/1 5 min de

    repouso

    22,9 24,6 23,9

    22,9 23,4 23,1

    Camarões 19989

    Amostra de

    multi-locais

    de 1798

    25-74 42,8 Padrão de

    mercúrio 3/1

    30 min de

    repouso

    17,9 11,2 14,1

    18,5 12,6 15,0

    Camarões 1995

    Amostra

    regional de

    1467

    ≥25 45,7 Padrão de

    mercúrio 3/1

    10 min de

    repouso

    14,2 16,3 15,4

    - - -

    Tanzânia 1996-

    1997

    Amostra de

    multi-locais

    de 1698

    ≥15 - Padrão de

    mercúrio 2/1 -

    31,3 31,0 31,1

    30,2 32,3 31,3

    SS

    A8

    Zimbábue 1995

    Amostra

    regional de

    775

    ≥25 49,5 Eletrônico 3/1 5 min de

    repouso

    41,0 28,0 34,1

    25,3 41,0 33,1

    Nigéria 1995

    Amostra de

    multi-locais

    de 2509

    ≥25 46,7 Padrão de

    mercúrio 3/1

    10 min de

    repouso

    14,7 14,3 14,5

    - - -

    Senegal 1992

    Amostra

    regional de

    2300

    15-99 45,3 Padrão de

    mercúrio 2/1

    5 min de

    repouso

    23,6 21,5 22,4

    27,8 31,3 29,4

    Gâmbia 19979

    Amostra

    nacional de

    6021

    ≥15 44,8 Eletrônico 1 ou 2/1 ou

    213 -

    - - 24,2

    - - -

    Na ausência de taxas específicas por idade (somente taxas brutas estavam disponíveis): indicado na tabela por “-”.

    Os estudos definiram hipertensão como a medida da PA≥ 140/90 mmHg e / ou uso de medicação anti-hipertensiva.

    As regiões geográficas foram definidas segundo critérios de nível de desenvolvimento socioeconômico, epidemiológico e proximidade geográfica estabelecidos pelo Banco

    Mundial: 1= Países de economia de mercado estáveis; 2= Países Europeus ex-socialistas; 3= Índia; 4= América Latina e Caribe; 5= Oriente Médio Crescente; 6= China; 7=

    Ásia e outras Ilhas; e 8= África subsaariana.

    9= Ano da realização da pesquisa não foi descrito, sendo apresentado como o ano da publicação.

    10= Se PA> 140/90 mmHg, uma segunda leitura foi feita na posição deitada depois de um descanso de 5 minutos.

    11= Duas leituras de PA foram registradas em um único dia e uma terceira leitura foi feita após um intervalo de 5 a 7 dias.

    12= Terceira medida de PA foi registrada após 30 min se qualquer uma das duas primeiras leituras ≥140/90 mmHg.

    13= Todas as pessoas com pressão arterial diastólica >90 mmHg foram convidadas a retornar para uma segunda medição, onde duas medidas foram avaliadas e a leitura mais

    baixa foi utilizada para análise.

    Fonte: Kearney et al., 2004. Traduzido pelo autor.

  • 28

    Tabela 2 – Comparação dos estudos de prevalência da Hipertensão Arterial realizados

    no Brasil, entre 1990 e 2004.

    Local e data População

    Hipertensão

    Arterial

    Sistêmica

    Exame da

    Hipertensão

    Arterial

    Prevalência

    total e por

    sexo (%)

    Prevalência por

    faixa etária (%)

    Cotia-SP, 1990 e

    1991

    20-88 anos

    n=1.041

    PA≥140/90

    ou tratamento

    Média de três

    medidas

    44,4

    H = 47,9

    M = 41,0

    _

    Ilha do Governador

    /Município do Rio de

    Janeiro, 1991 e 1992

    ≥20 anos

    n=1.500

    PA≥160/95

    ou tratamento

    Última de duas

    medidas

    24,9

    H = 22,6

    M = 26,8

    20-29 anos =

    4,4%

    70 anos e mais =

    62,7%

    Pelotas-RS, 1992 20-69 anos

    n=1.657

    PA>160/95

    ou tratamento Uma medida

    19,8

    H = 18,3

    M = 21,2

    20-29 anos =

    2,3%

    60-69 anos =

    46,9%

    Porto Alegre-RS,

    1995a

    >18 anos

    n=1.091

    >160/95,

    >140/90

    ou tratamento

    Média de duas

    medidas

    19,2b

    29,8

    H = 13,1b

    M = 12,1b

    18-27 anos =

    0,8%

    68 anos e mais =

    28,7%

    Passo Fundo-RS,

    1995

    18-74 anos

    n=206

    PA≥160/95

    ou tratamento

    Quatro medidas

    de 5-5’, média das

    três últimas

    21,9

    H = 24,7

    M = 19,8

    18-29 anos = 0%

    68 anos e mais =

    45,5%

    Salvador-BA, 1996 ≥20 anos

    n=491

    PA≥140/90

    auto-referida

    Última de duas

    medidas

    41,1

    H = 38,9

    M = 41,9

    20-29 anos = 6%

    60 anos e mais =

    37,1%

    Bambuí-MG, 1997

    18-59 anos

    n=820

    >60 anos

    n=1.494

    PA≥140/90

    ou tratamento

    Três medidas de

    5-5’, média das

    duas últimas

    24,8

    H = 22,0

    M = 26,9

    60 anos e mais =

    61,5%

    Bauru-SP, 1997 41-79 anos

    n=530

    PA>140/90

    e/ou

    tratamento

    Média de três

    medidas

    29,8

    H = 34,9

    M =33,9

    _

    Catanduva-SP, 1998 ≥18 anos

    n=688 PA≥140/90

    Média de duas

    medidas

    31,5

    H =33,9

    M = 29,9

    18-29 anos =

    5,5% a

    70 a 99 anos

    =52,1%

    Estado do Rio

    Grande do Sul, 1999

    e 2000

    ≥20 anos

    n=1.066

    PA>140/90

    PA>160/95

    Duas medidas de

    3-3´, considerada

    a última

    31,6

    14,4b

    20-29 anos =

    3,3%

    60 anos e mais =

    28,4%

    Salvador-BA, 2000 ≥20 anos

    n=1.298

    PA≥140/90

    ou tratamento

    Seis medidas de

    PA em dois

    blocos de 3 de 10-

    10’c

    *

    _

    Ipacaetá-BA, 2003 ≥19 anos

    n=143

    PA≥140/90

    ou tratamento

    Três medidas de

    3-3’ 36,5 _

    Inquérito domiciliar

    em 15 capitais e no

    Distrito Federal,

    2002 e 2003

    ≥25 anos

    n=23.457 Auto-referida _ _

    25 a 39 anos =7,4

    a 15,7%

    60 anos e mais =

    39 a 59%

    Todos os estudos utilizaram amostra aleatória da população de ambos os sexos: H = homens; M = mulheres

    (a) Refere-se ao ano de publicação.

    (b) Para PA≥160/95mmHg

    (c) aparelho eletrônico

  • 29

    * Não foi observada a prevalência de hipertensão arterial, mas foi descrita a sua rara ocorrência sem a presença

    de outro fator de risco cardiovascular, menos de 1% em cada sexo.

    Fonte: Passos et al., 2006. Adaptado pelo autor.

    1.2 Magnitude das doenças cardiovasculares (DCV)

    As doenças cardiovasculares representaram 30% das 58 milhões de mortes ocorridas

    no mundo em 2005 (WHO, 2007), ganhando destaque como maior causa de mortalidade

    mundial, principalmente com a crescente proporção de óbitos na população economicamente

    ativa em países como no Brasil, Índia e África do Sul em comparação a Estados Unidos e

    Portugal (GERSH ET AL., 2010).

    Segundo projeções da distribuição da mortalidade cardiovascular para 2040, haverá

    um aumento de 2 a 4 vezes no número de mortes por DCV em países em desenvolvimento,

    como Brasil, China e África do Sul, em relação a países desenvolvidos, como EUA e Portugal

    (LEEDER et al., 2004).

    Esses países em desenvolvimento passam por um processo de transição

    epidemiológica no qual se evidencia mudanças na estrutura etária da população, melhorias nas

    condições socioeconômicas e sanitárias, com consequente redução das taxas de mortalidade

    por doenças transmissíveis, em oposição à crescente proporção dos óbitos por doenças

    cardiovasculares, atribuída principalmente à hipertensão e à obesidade, em função do maior

    consumo de gorduras, uso de tabaco e álcool e menor atividade física (GERSH et al., 2010).

    Apesar dessas projeções, o fato é que se observa um decréscimo da mortalidade

    cardiovascular em muitos países europeus, nos EUA e no Brasil, nas últimas décadas

    (SMOLINA et al, 2012; SOARES et al, 2010; GODOY et al., 2006; 7º JNC, 2004;

    TRUELSEN et al., 2003; THORVALDSEN, 1997)

    A queda na taxa de mortalidade por DCV nos países desenvolvidos deve-se às

    melhorias nos recursos tecnológicos e aos investimentos na Saúde Pública. O maior acesso

    aos serviços de saúde e o maior nível educacional da população são responsáveis pelo

    aumento da detecção dos hipertensos. A taxa de mortalidade caiu de 542,9 para 266,8 mortes

    por 100.000 habitantes entre os homens e de 263,3 para 134,4 óbitos por 100.000 habitantes

    entre as mulheres, nos EUA, entre 1980 e 2000. Essa redução pode ser explicada por maior

    acesso a recursos e tratamentos (47%), por mudanças nos fatores de risco (44%), incluindo a

    redução do colesterol total (24%), da pressão arterial sistólica (20%), do tabagismo (12%), e

  • 30

    da inatividade física (5%). Essas reduções foram parcialmente compensadas pelo aumento no

    índice de massa corporal (IMC) e pela maior prevalência de diabetes (FORD et al., 2007).

    Entretanto, Souza e Silva (2004) defende a ideia de que esse decréscimo não pode ser

    explicado pelo controle dos fatores de risco cardiovasculares, uma vez que se encontram em

    ascensão, com exceção do tabagismo que decresceu nas classes de renda mais alta. A

    evolução tecnológica, com a crescente utilização da revascularização miocárdica e o uso de

    múltiplas drogas para tratar os fatores de risco cardiovasculares também não explicaria. Isso

    porque além da redução da mortalidade ocorrer sem que os fatores de risco estivessem

    controlados pelo uso de drogas, apenas uma minoria da população tem acesso aos avanços

    tecnológicos e as taxas de letalidade observadas com a utilização da revascularização

    miocárdica ou da angioplastia coronariana são elevadas (OLIVEIRA et al., 2010; GODOY et

    al, 2008). A justificativa para o autor estaria na melhoria das condições de vida das

    populações de um modo geral.

    No Brasil, acentuadas transformações desde a década de 1960 levou a profundas

    quedas nas taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (DIP) e a um grande

    aumento nas taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares (DCV) devido ao acelerado

    processo de industrialização, migração, urbanização, melhorias nas condições de vida da

    população brasileira, maior acesso à saúde, redução da mortalidade infantil e declínio da

    natalidade. Essas mudanças configuram a transição epidemiológica, embora para muitos

    autores, polarização seja a denominação mais adequada, visto que taxas consideráveis de

    mortalidade por DIP (típicas de regiões de menor desenvolvimento econômico), coexistem

    com elevada mortalidade por DCV e neoplasias (típicas de regiões desenvolvidas) (LESSA et

    al., 1996).

    Uma série de estudos foi e vêm sendo conduzidos para investigar e estabelecer o papel

    de diversos fatores de risco na morbimortalidade cardiovascular, dentre esses destacam-se: o

    estudo de Framingham (Massachusetts, EUA); o NHANES (National Health and Nutrition

    Examination Survey, EUA); o BIRNH (Belgian Inter-university Research on Nutrition and

    Health Project); o MONICA (Monitoring Trends and Determinants in Cardiovascular

    Disease, Multicêntrico); o INTERHEART (Multicêntrico) e o AMALIA (Drugs Innovation

    Impact in Cardio and Cerebrovascular Diseases in Portugal). Esses estudos apontam para a

    hipertensão arterial, a obesidade, a hipercolesterolemia, o tabagismo e o diabetes como as

    principais causas de morbidade cardiovascular, tais como doenças cerebrovasculares e

    isquêmicas do coração (MACEDO et al., 2008; KEARNEY, 2004; YUSUF et al., 2004;

    LAWES et al., 2004).

  • 31

    1.3 Hipertensão arterial como fator de risco cardiovascular

    A hipertensão arterial destaca-se como um dos mais importantes fatores de risco para

    o desenvolvimento de DCV. Aproximadamente dois terços dos acidentes vasculares

    encefálicos (AVE) são atribuíveis à pressão arterial elevada, afetando principalmente

    indivíduos de meia-idade (45 a 69 anos), ocorrendo predominantemente em regiões em

    desenvolvimento (WHO, 2002). Lawes et al (2004) encontraram uma relação log-linear entre

    pressão arterial e AVE, onde uma redução de 10mmHg na pressão arterial sistólica diminuía

    de 40 a 50% o risco de AVE em indivíduos com menos de 60 anos de idade, de 30 a 40% na

    faixa de 60 a 69 anos e de 20 a 30% entre idosos com mais de 70 anos.

    Zhang et al (2006) mostraram que chineses hipertensos (PA≥160/95mmHg) tem 5,8

    chances (IC95% 4,7–7,2) maior de apresentar algum episódio de AVE isquêmico (fatal ou

    não fatal) e 7,2 chances (IC 95% 5,3–9,7) maior de apresentar um AVE hemorrágico (fatal ou

    não fatal) em relação aos não hipertensos. Entre os hipertensos caucasianos havia 1,96 (IC

    95% 1,7–2,3) chances maior de apresentarem ou morrerem por AVE isquêmico e 3,1 (IC 95%

    2.4 –4,1) chances maior de apresentarem ou morrerem por AVE hemorrágico.

    Chen & Hemmelgarn (2009) realizaram uma metanálise na qual descreveram uma

    forte associação entre hipertensão arterial e diversos desfechos cardiovasculares, mostrando

    um risco de óbito cardiovascular 54% maior (IC 95% 22% – 55%) entre hipertensos do que

    em normotensos e de apresentar episódios recorrentes de infarto agudo do miocárdio (IAM)

    99% maior (IC 95% 27% – 212%) nos indivíduos com diagnóstico prévio de hipertensão.

    A pressão arterial elevada age tanto no início quanto nas fases mais tardias da história

    natural das DCV (WHELTON, 2004), sendo fundamental a elaboração de políticas de

    intervenção de redução e controle da hipertensão, bem como o emprego de abordagens que

    visem a modificar o estilo de vida da população (MITTAL & SINGH, 2010; KEARNEY,

    2004; YUSUF et al., 2004; LAWES et al., 2004).

    1.4 Fatores de risco cardiovasculares e para hipertensão arterial

    A maioria dos fatores de risco como idade, sexo, tabagismo, alcoolismo, dislipidemia,

    dieta e fatores socioeconômicos estão relacionados entre si e com as doenças

  • 32

    cardiovasculares, assim como com a hipertensão, constituindo uma complexa rede de relações

    causais.

    O estudo INTERHEART, uma grande pesquisa internacional do tipo caso-controle, foi

    realizado em 52 cidades com o objetivo de avaliar a importância de fatores de risco para

    doença coronariana e mostrou que mais de 90% do risco atribuível populacional (RAP) para o

    infarto agudo do miocárdio (IAM) pode ser explicado por nove fatores de risco modificáveis:

    tabagismo, razão apoB/apoA1 (teores de apolipoproteínas B e A1, que se associam

    respectivamente à fração LDL e HDL do colesterol), história de hipertensão, diabetes,

    obesidade abdominal, fatores psicossociais, consumo diário de frutas e vegetais, consumo

    regular de álcool e atividade física regular (YUSUF et al., 2004).

    A maioria da população mundial consome sal em excesso, chegando na Ásia e na

    Europa oriental a um consumo diário maior que 12 gramas (STRAZZULLO et al., 2009),

    embora recomendações internacionais sugiram que o consumo médio diário de sal seja

    inferior a 6 gramas (WHO, 2002). O elevado consumo de sal aumenta em 14% o risco de

    ocorrência de doenças cardiovasculares e em 23% o risco de ocorrência de AVE

    (STRAZZULLO et al., 2009). Intervenções na dieta como a redução de três gramas de sal,

    pode causar um grande impacto na queda da morbimortalidade cardiovascular na população,

    evitando o surgimento de até 120.000 novos eventos cardiovasculares fatais e não fatais por

    ano (BIBBINS-DOMINGO, et al., 2010).

    Uma elevada ingestão de sal, principalmente em paciente idosos, pode aumentar a

    PAS em 5,6 mmHg e a PAD em 3,5 mmHg (ALAM &JOHNSON, 1999). Modificações no

    estilo de vida tais como a redução do consumo de sódio na dieta mostram-se eficazes a longo

    prazo na prevenção primária da hipertensão arterial, podendo reduzir as chances de

    hipertensão em até 35% com o baixo consumo diário de sódio (HE et al., 2000).

    A associação entre cor da pele e hipertensão difere por sexo e por origem do país

    estudado, não havendo evidências claras do papel da cor da pele na prevalência de hipertensão

    (KEARNEY, 2004). Alguns estudos apontam possíveis evidências de que a prevalência da

    hipertensão arterial é maior entre negros (ADDO et al. 2007; HAJJAR & KOTCHEN, 2006,

    BURT et al., 1995), enquanto outros não encontraram uma associação significativa (HE et al.

    1998, CORNONI-HUNTLEY et al., 1989)

    O álcool pode aumentar o risco de morrer por qualquer causa além de, contribuir para

    diferentes desfechos cardiovasculares, incluindo a hipertensão. Existem evidências

    conflitantes sobre os efeitos de gênero na associação entre álcool e hipertensão (DI

    CASTELNUOVO, 2006). Enquanto alguns estudos apontam para uma relação linear dose-

  • 33

    resposta de álcool para doença hipertensiva entre homens (KLATSKY et al., 2006; CORRAO

    et al., 2004; Curtis et al., 1997), outros têm concluído que um efeito ligeiramente protetor

    possa existir para as mulheres que adotam níveis moderados de consumo (TAYLOR et al.,

    2009; SESSO et al., 2008; GUTJAHR et al., 2007).

    Uma revisão de 26 estudos de coortes prospectivas na região da Ásia, no Pacífico,

    mostrou um risco de 29% (IC 95%; 21% - 35%) atribuível ao tabagismo e de 19% atribuível à

    PAS > 140mmHg para eventos fatais ou não fatais de hemorragia subaracnoidea em um

    período médio de oito anos, mostrando a importância de tais fatores de risco na história

    natural das DCV (FEIGIN et al., 2005).

    Kilander et al. (2001) mostraram uma associação entre escolaridade e mortalidade por

    doença cardiovascular. Mostraram que a pressão arterial, o IMC, a glicemia, os lipídeos

    séricos e o tabagismo foram capazem de explicar grande parte da maior taxa de mortalidade

    cardiovascular associada a indivíduos de menor escolaridade.

    É difícil estabelecer associação entre obesidade e DCV já que os maiores efeitos da

    obesidade parecem agir em fatores de risco proximais tais como hipertensão, diabetes e

    dislipidemia. Existem ainda algumas evidências sugerindo que a obesidade e hipertensão

    podem ter um efeito aditivo no aumento do risco para DCV, considerando um longo prazo de

    seguimento (LANDSBERG et al., 2013).

    Os indivíduos com excesso de peso e obesos possuem um maior risco em desenvolver

    hipertensão, diabetes e hipercolesterolemia, além de um risco elevado para desenvolver

    alguma morbidade cardiovascular (WILSON et al., 2002). No estudo de Framingham foi

    mostrado que um ganho de peso de 5% foi capaz de causar um aumento de 20% a 30% na

    incidência de hipertensão (VASAN et al., 2001).

    Haapanen-Niemi et al. (1999) encontraram em um estudo com homens finlandeses,

    com idade entre 30 e 63 anos, acompanhados por um período de 7 a 30 anos, um risco

    atribuível populacional (RAP) associado ao fumo de 33% (540 mortes por doença coronariana

    por ano poderiam ser evitadas), colesterol total elevado 21% (340 mortes por ano poderiam

    ser evitadas), hipertensão arterial de 15% (250 mortes por ano poderiam ser evitadas),

    obesidade de 6% (90 mortes por ano poderiam ser evitadas) e sedentarismo de 39% (640

    mortes por ano poderiam ser evitadas).

    Tais fatores de risco biológicos estabelecem uma relação direta com a probabilidade

    de desenvolver hipertensão e consequentemente suas manifestações clínicas e morrer por

    doenças cardiovasculares. Com base nisso, diversos países têm empregado esforços no

  • 34

    desenvolvimento de programas de controle de fatores de risco, com poucos resultados

    satisfatórios (SOUZA E SILVA, 2004).

    Uma pesquisa realizada em 22 países na Europa, EUROASPIRE III (European Action

    on Secondary and Primary Prevention by Intervention to Reduce Events III), com o objetivo

    principal de determinar os avanços das diretrizes das sociedades europeias sobre a prevenção

    cardiovascular na prática clínica diária e descrever o estilo de vida, a presença de fatores de

    riscos e a conduta terapêutica em pacientes com doença arterial coronariana, mostrou que uma

    grande parte dos pacientes com diagnóstico clínico de doença coronariana não alcançaram o

    estilo de vida e o controle de fatores de risco desejáveis para a prevenção de doenças

    cardiovasculares (KOTSEVA et al, 2009).

    Nos EUA, o NHANES, no período de 1988 a 1991, verificou que apenas cerca de um

    terço dos hipertensos estavam com a pressão arterial sob controle (BURT et al, 1995). No

    Brasil, a prevalência de controle de hipertensão arterial variou de 20 a 31% (OLMOS &

    LOTUFO, 2002).

    O estudo MONICA mostrou que o controle de fatores de risco cardiovasculares

    modificáveis clássicos como tabagismo, colesterol, obesidade e hipertensão arterial explicam

    apenas uma parte da variabilidade da mortalidade cardiovascular (KUULASMAA et al,

    2000).

    Contudo, resultados positivos foram alcançados como o projeto Carélia do Norte na

    Finlândia, que começou em 1972, em resposta às crescentes taxas de mortalidade por doenças

    cardíacas entre os homens nesta região, taxas essas que estavam entre as mais altas do mundo.

    Foram promovidas intervenções populacionais que envolveram mudanças nos hábitos

    alimentares através de uma combinação de modificações nas políticas públicas de saúde e

    abordagens educacionais que resultaram na reduçãor da prevalência de fatores de risco e

    levaram a uma queda em torno de 73% nas taxas de mortalidade por doenças coronarianas

    (PAPADAKIS & MOROZ, 2008; PUSKA et al, 1983).

    A ausência de hipertensão arterial entre os índios Yanomamis do Norte do Brasil pode

    estar relacionada à baixa ingestão de sódio e gorduras saturadas; eà alta ingestão de potássio

    e fibras resultantes deuma alimentação predominantemente vegetariana, sem açúcar e

    derivados de leite. podem contribuir (MANCILHA-CARVALHO et al, 1992).

  • 35

    1.5 Modelo teórico

    Compreender a complexa rede causal formada pelos já conhecidos fatores de risco

    para hipertensão arterial e para as doenças cardiovasculares é fundamental pelo papel de

    destaque desse grupo de doenças na morbimortalidade mundial. O conhecimento sobre essas

    inter-relações pode subsidiar a elaboração de estratégias que visem intervenções efetivas na

    melhoria das condições de saúde e no aumento da expectativa de vida da população através de

    programas de saúde pública abrangentes e acessíveis a todos, priorizando os grupos mais

    vulneráveis.

    Diversos fatores atuam no modelo causal que envolve a associação entre hipertensão

    arterial e doenças cardiovasculares. Existem fatores de risco metabólicos (obesidade,

    dislipidemia, diabetes), de estilo de vida (dieta, sedentarismo, tabagismo), genéticos (idade,

    sexo, histórico familiar de hipertensão arterial, morbidades) e condições socioeconômicas

    (renda, escolaridade) que atuam diretamente ou em conjunto (JARDIM et al, 2007;

    WHO,2007; BRASIL,2006a, LAWES et al., 2004; BLOCH, 2003; OLMOS & LOTUFO,

    2002; RUIZ et al, 2001; HAAPANEN-NIEMI et al.,1999; LESSA e cols., 1998; LOLIO et al,

    1993).

    A interação entre diferentes determinantes de risco cardiovascular pode ser descrita,

    através de um modelo conceitual como o proposto a seguir na Figura 1.

    Figura 1 – Modelo Teórico

    *Variáveis que não foram investigadas no estudo.

  • 36

    1.6 Monitorização da mortalidade no Brasil

    Em 1975, no esforço de criar um sistema de vigilância epidemiológica de abrangência

    nacional para a obtenção regular de dados sobre mortalidade, foi implantado o Sistema de

    Informação sobre Mortalidade (SIM) pelo Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 2001).

    Posteriormente, em 1976, foi criado o Centro Brasileiro de Classificação de Doenças

    (CBCD) sob colaboração do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública

    da Universidade de São Paulo (USP), que ficou responsável pela realização dos cursos

    especializados para treinamento de codificadores da causa básica, e o Centro de

    Processamento de Dados, da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul (SES/RS)

    pela elaboração do sistema computacional que ofereceria suporte informatizado ao SIM para

    todo o país (BRASIL, 2001). Neste ano, também foi implantado um modelo único da

    Declaração de Óbito (DO), visando a padronização da coleta de informações de mortalidade

    em todo o território nacional, com a finalidade de possibilitar a geração de estatísticas vitais e

    epidemiológicas e a construção de indicadores de saúde (BRASIL, 2007).

    Nas décadas de 1980 e 1990, houve a expansão do sistema, alcançando a maioria dos

    municípios, contudo ainda persistiam falhas na cobertura, especialmente nas regiões Norte e

    Nordeste, gerando indicadores não fidedignos da situação de saúde da população em algumas

    partes do país (ALMEIDA & ALENCAR, 2000).

    Vários esforços foram desenvolvidos no transcorrer dos anos 90 a fim de sanar os

    inúmeros problemas que envolviam a falta de padronização e normatização de documentos e

    acessos a informações (ALMEIDA & ALENCAR, 2000), tais como a implementação de um

    sistema informatizado, tornando a alimentação dos bancos de dados mais ágil, o que culminou

    na descentralização para o estado, além da automatização da codificação de causas básicas a

    partir da DO (BRASIL, 2001).

    A partir de 1996, a 10ª Revisão de Classificação Internacional de Doenças (CID-10)

    passou a ser utilizada para codificação da causa básica de óbito, modificando toda a estrutura

    de preenchimento da DO e alimentação dos bancos de dados.

    Contudo, o volume crescente de dados culminou com a sobrecarga do sistema,

    levando à necessidade de buscar recursos mais modernos. Então, em 1998, foi desenvolvido

    um novo modelo de DO juntamente com um novo sistema informatizado, além de manuais

    técnicos que tornariam prática a utilização tanto do sistema, como o preenchimento da DO,

    que entrou em vigor a partir de 1999 (BRASIL, 2001).

  • 37

    A descentralização dos sistemas de informação de saúde no âmbito das esferas federal,

    estadual e municipal, aliada à incorporação de recursos tecnológicos foi fundamental para a

    rapidez da disseminação das informações de saúde, bem como para as melhorias no acesso a

    estas informações, uma vez que, atualmente é possível ter acesso ao banco com dados de

    mortalidade de todo o país, sendo os dados disponibilizados geralmente com uma defasagem

    de cerca de dois anos, no site: www.datasus.gov.br, de responsabilidade do Departamento de

    Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) (ALMEIDA & ALENCAR, 2000).

    Apesar das melhorias, ainda persistem problemas na qualidade da informação tais

    como: o preenchimento incorreto das DO, erros de digitação na alimentação do banco e a

    ausência de mecanismos gerenciais de normatização do sistema entre as diferentes unidades

    territoriais. Tais problemas resultam em discrepâncias nas informações a nível local, não

    havendo rastreamento e manejo adequado das falhas geradas pela alimentação do sistema de

    informação (FAJARDO et al., 2009; FRIAS et al., 2008; CAVALINI & PONCE DE LEON,

    2007; JORGE et al., 2007 VIACAVA et al., 2006; BARROS et al., 2002; OPAS/MS, 2002;

    SANTO, 2000).

    Além disso, em diversos períodos, o banco de dados passou por mudanças na sua

    estrutura e na codificação das variáveis, dificultando a comparação direta entre os dados de

    diferentes anos, sendo necessária uma padronização cuidadosa para análise das bases de

    diferentes períodos.

    Apesar desses problemas operacionais, a base do SIM vem apresentando melhorias

    gradativas na qualidade da informação, sendo um instrumento de grande utilidade no

    monitoramento dos eventos de mortalidade em todo o território nacional, tendo ampla

    aplicabilidade em estudos epidemiológicos para avaliação dos indicadores de saúde (MELLO

    JORGE et al., 2007; LAURENTI et al., 2004).

    1.7 Aplicação do linkage em estudos epidemiológicos brasileiros

    A técnica de linkage consiste em relacionar ou vincular duas ou mais bases de dados a

    partir de elementos em comum, possibilitando analisar informações de diferentes fontes com o

    rastreamento do indivíduo em todas as bases analisadas (CAMARGO JR. & COELI, 2000).

    Existem duas estratégias de linkage: o determinístico, que relaciona as bases de dados

    a partir de um identificador único para cada registro comum às bases; e o probabilístico

    http://www.datasus.gov.br/

  • 38

    (probabilistic record linkage), que executa o relacionamento a partir da probabilidade de

    concordância entre um par de registros mediante a comparação de um conjunto de campos

    presente em ambas as bases (CAMARGO JR. & COELI, 2007).

    Essa última técnica envolve algumas etapas que começam pelo processo de

    padronização das bases, consistindo em uma série de rotinas para tornar similares as

    estruturas dos campos de dados em ambas as bases, a fim de minimizar os erros durante a

    etapa de pareamento. Posteriormente, são gerados blocos lógicos de registros dentro de cada

    base que serão comparados entre si, com a finalidade de otimizar o pareamento, a partir do

    processo de indexação dos arquivos a serem relacionados, através de uma chave formada pela

    combinação de um ou mais blocos. Na etapa final de pareamento são gerados escores em

    função da probabilidade dos pares serem verdadeiros (CAMARGO JR. & COELI, 2000).

    Nos últimos anos, com a crescente disseminação de bases de dados primárias e

    secundárias e com o advento de recursos tecnológicos que permitem a integração entre elas,

    como o programa computacional Reclink III (CAMARGO JR. & COELI, 2000, 2007), vem

    aumentando o número de pesquisas na área da saúde que têm investido nessa técnica, uma vez

    que ela possibilita a “construção” de coortes com a vinculação de bases que permitem o

    monitoramento de um desfecho de interesse, agregando diversas informações as bases de

    dados, a partir de dados comuns (COUTINHO et al., 2012, 2008; MIGOWSKI et al., 2011;

    MACHADO et al., 2008; SILVA et al., 2006; COELI et al., 2003).

    Coutinho et al. (2012) investigaram o risco de morte em idosos por fraturas graves

    decorrente de quedas a partir do linkage probabilístico do banco de dados gerado pelo estudo

    com informações de 250 idosos e o banco do SIM do Rio de Janeiro.

    Migowski et al. (2011) avaliaram a viabilidade da estratégia de relacionamento

    probabilístico de bases de dados para obter a identificação dos óbitos dos pacientes

    submetidos a procedimentos de alta complexidade em cardiologia, usando a base de

    Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) e o SIM.

    Machado et al., (2008) descreveram e analisaram a metodologia utilizada no

    relacionamento das bases de dados nacionais do Sistema de Informação de Beneficiários

    (planos privados de assistência à saúde) e do Sistema de Informação de Mortalidade.

    Silva et al. (2006) realizaram uma revisão sistemática de estudos que utilizaram a

    técnica de linkage na área de Saúde Pública no Brasil, encontrando diversos estudos que

    utilizaram as grandes bases de dados do Brasil sobre mortalidade, nascidos vivos e

    internações hospitalares, sob os mais variados temas.

  • 39

    Coutinho et al. (2008) avaliaram a sensibilidade do método de linkage probabilístico

    na identificação de nascimentos informados por mulheres participantes de um estudo

    longitudinal de funcionários técnico-administrativos do quadro efetivo de uma universidade

    no Rio de Janeiro com a base de dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos

    (SINASC) do Estado do Rio de Janeiro.

    Coeli et al. (2003) avaliaram as potenciais vantagens e limitações do uso das bases de

    dados dos formulários de Autorização de Internação Hospitalar e da metodologia do linkage

    probabilístico de registros, para a validação de relatos de utilização de serviços hospitalares

    durante inquéritos domiciliares.

  • 40

    2 JUSTIFICATIVA

    A hipertensão arterial contribuiu com 13,5% do total de mortes no mundo, sendo

    responsável por 7,6 milhões de mortes prematuras, além de ter colaborado com 92 milhões de

    anos de vida perdidos ajustados por incapacidade (DALY – Disability-adjusted life years) no

    mundo todo em 2001 (ADDO et al, 2007; WHO, 2007). Estima-se que 40% dos acidentes

    vasculares encefálicos (AVE), 25% dos infartos, além de outras internações por complicações

    e sequelas cardiovasculares ocorridos em pacientes hipertensos geraram grande ônus aos

    serviços de saúde e poderiam ter sido evitados com o tratamento adequado destes pacientes

    (BRASIL, 2004; LESSA, 2001).

    Portanto, a investigação de fatores associados à mortalidade por doenças

    cardiovasculares justifica-se com base nas seguintes evidências:

    a) As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no Brasil;

    b) A elevada prevalência de hipertensão arterial e sua relevância como fator de risco para

    doenças cardiovasculares;

    c) A possibilidade de redução dos óbitos devido a doenças cardiovasculares por meio de

    estratégias efetivas de prevenção e controle adequado da hipertensão arterial e dos

    fatores de risco cardiovascular;

    d) O elevado custo das internações geradas por complicações cardiovasculares;

    e) O impacto das doenças cardiovasculares na qualidade de vida de um número cada vez

    maior de indivíduos cuja expectativa de vida vem aumentando.

    A amostra da Ilha do Governador foi escolhida para o inquérito de hipertensão arterial

    em 1991, por apresentar características semelhantes às da população do município do Rio de

    Janeiro (RJ) à época do estudo (distribuição socioeconômica, causas de mortalidade) e por ser

    da área de referência do Hospital Universitário da UFRJ, o que possibilitaria o

    acompanhamento de hipertensos detectados. Por suas características geográficas e culturais é

    possível supor que a população da Ilha do Governador tenha apresentado uma taxa de

    migração menor do que a de outras áreas do Rio de Janeiro, o que facilitaria o rastreamento

    dos óbitos ocorridos pela base Estadual de informações sobre mortalidade (KLEIN,1995a,

    KLEIN, 1995b).

    O linkage entre a base do inquérito de hipertensão arterial com o SIM possibilitou a

    identificação dos óbitos ocorridos entre os residentes na Ilha do Governador, permitindo a

  • 41

    estimação e a comparação do tempo de sobrevida entre os normotensos e hipertensos (não

    tratados, tratados controlados e tratados não controlados). Esta estratégia foi de grande

    relevância, pela praticidade em identificar os óbitos, sem ter que alocar recursos dispendiosos,

    poupando tempo e custo na investigação em acompanhamento dos indivíduos ao longo dos

    anos, consultas aos registros de diversos cartórios, hospitais ou a busca e testemunho de

    familiares.

    Além disso, estudos como o realizado na Ilha do Governador (KLEIN,1995a), que

    apresentam dados de uma amostra populacional por estratos econômicos e que analisaram a

    mortalidade a 19 anos após a avaliação inicial dos indivíduos, são escassos.

  • 42

    3 OBJETIVO GERAL

    Este estudo tem como objetivo geral analisar a sobrevida de uma coorte composta de

    uma amostra de indivíduos residentes na Ilha do Governador, no município do Rio de Janeiro,

    em 1991/92 classificados como hipertensos e não hipertensos.

    3.1 Objetivos específicos

    Descrever as características gerais da população do inquérito de hipertensão arterial da

    Ilha do Governador.

    Construir curvas de sobrevida segundo diferentes fatores de risco cardiovascular da

    coorte;

    Comparar a sobrevida entre não hipertensos, hipertensos não tratados, hipertensos

    controlados e hipertensos não controlados em relação à mortalidade cardiovascular,

    controlando o confundimento de variáveis relacionadas após análise de modificação

    de efeito.

  • 43

    4 MÉTODOS

    4.1 Delineamento de estudo

    Trata-se de um estudo de coorte não concorrente, realizado a partir dos dados de um

    inquérito epidemiológico sobre hipertensão arterial na Ilha do Governador (HAIG), no

    período de 1991 a 1992 e do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) de 1991 a 2009

    do Estado do Rio de Janeiro.

    4.2 Inquérito de Hipertensão Arterial na Ilha do Governador (HAIG)

    A base de dados referente ao inquérito domiciliar é originária de um estudo seccional

    realizado na Ilha do Governador, no município do Rio de Janeiro, entre julho de 1991 e maio

    de 1992 que teve como objetivo estimar a prevalência de hipertensão arterial, além de analisar

    diversas características demográficas e epidemiológicas dos 1.270 adultos com 20 anos de

    idade ou mais que participaram do estudo, selecionados por meio de um processo amostral

    probabilístico de domicílios (KLEIN et al, 1995a, 1995b).

    Este delineamento foi realizado a partir de uma amostragem estratificada, de

    conglomerados, em três estágios, em que o primeiro foi constituído pelos setores censitários

    de cada um dos três estratos socioeconômicos, identificados de acordo com a renda domiciliar

    média de cada setor; o segundo estágio foi formado por domicílios, selecionados em cada

    estrato de renda; enquanto que no terceiro estágio foram selecionados todos os indivíduos

    com 20 anos ou mais de idade, residentes nos domicílios sorteados no estágio anterior

    (KLEIN et al, 1995a) (Figura 2).

    O