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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
NCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SADE
PS-GRADUAO EM EDUCAO EM CINCIAS E SADE
ANDR DA SILVA BRITES
CONCEPO-CONSTRUO-VALIDAO DO WEBSITE DESCARTE
DE MEDICAMENTOS NO AMBIENTE: UM GUIA EDUCATIVO
Rio de Janeiro 2014
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ANDR DA SILVA BRITES
CONCEPO-CONSTRUO-VALIDAO DO WEBSITE DESCARTE
DE MEDICAMENTOS NO AMBIENTE: UM GUIA EDUCATIVO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao em Cincias e Sade do Ncleo de Tecnologia Educacional para a Sade NUTES/UFRJ, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Educao em Cincias e Sade.
Orientadora: Profa. Dra. Ivone Evangelista Cabral
Rio de Janeiro 2014
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B862c Brites, Andr da Silva.
Concepo-construo-validaodo website descarte de medicamentos no ambiente: um guia educativo. / Andr da Silva Brites. Rio de Janeiro: UFRJ/NUTES, 2014.
130 f.: il., color.; 30 cm. Orientadora: Ivone Evangelista Cabral. Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ncleo de Tecnologia
Educacional para a Sade, Programa de Ps-graduao em Educao em Cincias e Sade, Rio de Janeiro, 2014.
Referncias bibliogrficas: f. 121-127. 1. Sade ambiental. 2. Tecnologia Educacional em Sade - Tese. I. Cabral, Ivone
Evangelista. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ncleo de Tecnologia Educacional para a Sade, Ps-Graduao em Educao em Cincias e Sade. III. Ttulo.
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ANDR DA SILVA BRITES
CONCEPO-CONSTRUO-VALIDAO DO WEBSITE DESCARTE
DE MEDICAMENTOS NO AMBIENTE: UM GUIA EDUCATIVO
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Educao em Cincias e Sade do Ncleo de Tecnologia Educacional para a Sade NUTES/UFRJ, como requisito para obteno do ttulo de Mestre em Educao em Cincias e Sade.
Aprovado em __________________________________ ______________________________________________________
Profa. Dra. Ivone Evangelista Cabral UFRJ
______________________________________________________
Profa. Dra. Angela Maria Magosso Takayanagui USP
______________________________________________________
Profa. Dra. Miriam Struchiner UFRJ
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AGRADECIMENTOS
A minha gratido dirigida a Deus, por seu imenso amor e maravilhosa graa. Aos meus pais... Jorge Brites e Snia Maria, pelo esforo, dedicao e o exemplo de vocs na minha vida. s minhas irms por todo o carinho e apoio. A quem esteve ao meu lado nessa jornada em todo tempo com amor, cumplicidade e compreenso, minha esposa, Aline Lima. A minha orientadora, Professora Ivone Cabral, por sua excelncia e competncia ao me apresentar o universo cientfico e o mundo das palavras. Ao Felipe Pestana, pelo profissionalismo na rea de webdesigner, parceria e ter acreditado no projeto. Aos especialistas que participaram de todo o processo da pesquisa e suas ricas contribuies. Aos amigos Clia Patriarca e Joo Paulo, pelos momentos de conversa e apoio mtuo. Aos professores e alunos do Laboratrio de Linguagens e Mediaes (LLM) e aos secretrios administrativos Lcia e Ricardo. A Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES).
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Corao de estudante
H que se cuidar da vida
H que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, corao
Juventude e F
Milton Nascimento
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RESUMO
BRITES, Andr da Silva. Concepo-construo-validao do website "descarte de medicamentos no ambiente: um guia educativo". 2014. 130f. Dissertao (Mestrado em Educao em Cincias e Sade) Ncleo de Tecnologia Educacional para a Sade, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Problemtica do estudo: No Brasil, os resduos de medicamentos so descartados diretamente no lixo comum ou rede de esgoto, causando riscos sade humana e a contaminao do ambiente. Em poucos casos, ocorre a destinao final ambientalmente adequada. Os medicamentos representam a principal interveno em tratamentos de doenas e cuidados sade. Alm da dimenso teraputica, um bem de consumo que se acumula com frequncia no ambiente domiciliar, contribuindo para a gerao de resduos devido continuidade, mudana ou trmino de um determinado tratamento. Objeto do estudo: O processo de concepo-construo-validao de um website educativo sobre descarte de resduos de medicamentos no ambiente. Objetivos: Descrever e analisar o processo interativo de concepo do website Descarte de medicamentos no ambiente um guia educativo, sua construo-validao por especialistas em educao em sade e educao ambiental, e discutir o seu papel como instrumento de educao dialgica na formao de uma conscincia ambiental sobre o descarte de resduos de medicamentos e a proteo da sade e do ambiente. Descrio metodolgica: Adotou-se como marco de referncia a educao dialgica e problematizadora e a alfabetizao cientfica para conceber a estrutura do website e transform-lo em estratgia de educao em sade ambiental e instrumento de alfabetizao cientfica ecolgica em ambiente virtual. A abordagem de pesquisa quanti-qualitativa foi desenvolvida segundo o mtodo de pesquisa online, utilizando-se o mtodo Delphi. Resultados: A concepo da pgina eletrnica envolveu a estruturao do desenho grfico, que contou com a participao do webdesigner e a seleo do contedo cujo papel foi assumido pelo pesquisador na condio de arquiteto da informao. Aps as duas rodadas da aplicadas por meio da Tcnica Delphi, aplicou-se a anlise estatstica simples ao tratamento dos dados quantitativos e a anlise de contedo temtico aos dados qualitativos, resultando em trs temas: a concepo do website: sua estruturao e contedo, potencial de sensibilizao e reflexo do usurio, e estratgia de educao em sade ambiental e recurso de alfabetizao cientfica. Consideraes finais: A questo de pesquisa relacionada problemtica do descarte de medicamentos no ambiente foi respondida na medida em que todas as etapas do processo de concepo-construo-validao do website foram validadas interativamente por meio da opinio dos especialistas participantes da pesquisa. Partindo-se das experincias descritas em todas as etapas de desenvolvimento do website, observamos que o produto foi concebido de maneira interativa e dialgica podendo ganhar destaque no campo da divulgao cientfica por meio de aes de educao em sade ambiental que visem uma prtica segura de descarte de medicamentos no ambiente.
Palavras-chave: Ensino de Cincias. Enfermagem. Educao em Sade. Educao Ambiental. Sade Ambiental.
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ABSTRACT
BRITES, Andr da Silva. Concepo-construo-validao do website "descarte de medicamentos no ambiente: um guia educativo". 2014. 130f. Dissertao (Mestrado em Educao em Cincias e Sade) Ncleo de Tecnologia Educacional para a Sade, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014. Study problem: In Brazil, waste medicines are discarded directly into the trash or into the sewer system, causing human health risks and environmental contamination. In a few cases, correctly environmentally disposal exists. Medicines are the main intervention in disease and health care treatments. Besides the therapeutic dimension is a commodity that often accumulates in the home environment, contributing to the generation of waste due to continued use, change or end of medical treatment. Study Object: The process of design-build-validation of an educational website about waste disposal of medicines in the environment. Objectives: Describe and analyze the interactive process of designing the website Disposal of medicines in the environment educational guide, its construction validation by experts in health education and environmental education and discuss their role as dialogical education tool about the disposal of waste medicines to protect health and environmental. Methodological description: It was adopted as a benchmark dialogic education and scientific literacy and problem-solving to design the structure of the website, and turn it into a strategy of health education and scientific literacy ecological instrument in a virtual environment. The approach of quantitative and qualitative research was developed according to the method of research online with the Delphi technique. Results: The design of the webpage involved the structuring of graphic design, which featured the participation of web design, and content selection whose role was assumed by the researcher in architect condition information. After two rounds of applied through Delphi technique was applied to simple statistical analysis to the processing of quantitative data and content analysis to qualitative data, resulting in three themes: the design of the website: its structure and content, potential awareness and user reflection and education strategy in environmental health and scientific literacy resource. Conclusion: The research question related to the problem of drugs disposal in the environment was answered in that all stages of the design-build-validation process of the website have been validated interactively through the opinion of the experts participating in the survey. Based upon the experiences described in all website development stages, we observed that the product is designed in an interactive and dialogical way that may gain prominence in the field of science communication by means of education actions in environmental health aimed at a safe practice drugs disposal in the environment.
Keywords: Science Education. Nursing. Health Education. Environmental Education. Environmental Health.
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SUMRIO
1 INTRODUO 11
1.1 APROXIMAO COM A TEMTICA 11
1.2 A PROBLEMTICA DO DESCARTE DE RESDUOS DE MEDICAMENTOS E A
EMERGNCIA DO OBJETO DE INVESTIGAO 11
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DO ESTUDO NO CAMPO DO ENSINO DE
CINCIAS E SADE 19
1.4 O CONTEXTO NACIONAL E INTERNACIONAL SOBRE A POLTICA DE
RESDUOS SLIDOS 26
2 REFERENCIAL TERICO-METODOLGICO 33
2.1 ALICERCE TERICO DO ESTUDO 33
2.1.1 Educao dialgica e problematizadora 33
2.1.2 Viso crtica da educao ambiental 36
2.1.3 Alfabetizao cientfica e ecolgica em ambientes virtuais 39
2.2 PERCURSO METODOLGICO 41
2.2.1 Tipo de pesquisa, tcnica e instrumentos adotados 41
2.2.2 Descrio da Tcnica Delphi bases conceituais e instrumentais 42
2.2.3 Aspectos organizacionais da concepo do website 44
2.2.4 Os participantes do estudo 46
2.2.5 Aspectos ticos da pesquisa 46
2.2.6 O teste piloto da escala de atitude do tipo Likert 47
2.2.7 O modelo de aplicao da Tcnica Delphi na Internet (TDI) 53
2.2.8 Anlise dos dados 59
3 O PROCESSO DE CONCEPO VALIDAO DO WEBSITE 61
3.1 PRIMEIRO TEMA: A CONCEPO DO WEBSITE: SUA ESTRUTURAO E
CONTEDO 61
3.1.1 Primeiro subtema: Estrutura e seleo do contedo 61
3.1.2 Segundo subtema: Administrao e moderao do espao interativo e dialgico
com os especialistas e leigos 73
3.1.3 Terceiro subtema: O contedo da alfabetizao cientfica na concepo do website
76
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3.2 SEGUNDO TEMA: POTENCIAL DE SENSIBILIZAO E REFLEXO DO
USURIO 80
3.3 TERCEIRO TEMA: O WEBSITE COMO UM RECURSO DE ALFABETIZAO
CIENTFICA NA ESTRATGIA DE EDUCAO EM SADE AMBIENTAL
85
3.3.1 Primeiro subtema: O website: instrumento de cidadania e um recurso de
alfabetizao cientfica 85
3.3.2 Segundo subtema: Educao em sade ambiental promotora de atitude no
enfrentamento da problemtica 88
4 PROCESSO DE CONSTRUO VALIDAO DO WEBSITE 94
4.1 PRIMEIRO TEMA: ESTRUTURAO E SELEO DO CONTEDO 94
4.2 SEGUNDO TEMA: POTENCIAL DE REFLEXO DO USURIO 105
4.3 TERCEIRO TEMA: O WEBSITE COMO RECURSO DE ALFABETIZAO
CIENTFICA NA ESTRATGIA DE EDUCAO EM SADE AMBIENTAL 112
4.3.1 Subtema: O website como instrumento de cidadania e um recurso de alfabetizao
cientfica 112
5 CONSIDERAES FINAIS 117
6 REFERNCIAS 121
ANEXO LISTA DE AVALIAO DE WEBSITES
APNDICE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TCLE
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1 INTRODUO
1.1 APROXIMAO COM A TEMTICA
A minha trajetria na pesquisa iniciou quando ingressei na iniciao cientfica no
laboratrio de infeco hospitalar (Departamento de Microbiologia Mdica) do Instituto
de Microbiologia Professor Paulo de Ges (IMPPG/UFRJ), onde fui bolsista CNPq
durante o perodo de 2008 a 2010.
No Ncleo de Pesquisa de Enfermagem em Sade da Criana (NUPESC) da
Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), fui apresentado linha de pesquisa: Crianas
com Necessidades Especiais de Sade (CRIANES) e ao tema: cuidados medicamentosos
com crianas em uso anticonvulsivantes. Em 2010, publiquei em conjunto com a Profa.
Ivone Cabral um artigo resultante do recorte do trabalho de concluso de curso1 intitulado
Anlise imagtica da produo de resduos do tipo medicamento por crianas em
insulinoterapia: contribuies para a elaborao de um guia eletrnico.
O interesse pela pesquisa nesta temtica cresceu aps a aprovao da Poltica
Nacional de Resduos Slidos (PNRS) no mesmo ano e pelo fato da populao no saber
o que fazer para descartar resduos de medicamentos e desconhecer tambm as
implicaes decorrentes do descarte inadequado desses resduos e seus subprodutos sobre
a sade e o ambiente.
1.2 A PROBLEMTICA DO DESCARTE DE RESDUOS DE MEDICAMENTOS E A
EMERGNCIA DO OBJETO DE INVESTIGAO
O presente estudo tem como objeto de investigao o processo de concepo-
construo-validao de um website educativo sobre descarte de resduos de
medicamentos no ambiente.
A problemtica dos resduos de medicamentos gerados no domicilio e descartados no
ambiente resulta da inexistncia de uma poltica reversa de retorno de medicamentos com
prazo de validade vencido, bem como as sobras resultantes da automedicao ou de
1Apresentado ao Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e indicado ao primeiro lugar do Prmio Dulce Neves da Rocha, oferecido pela Escola de Enfermagem Anna Nery aos melhores trabalhos de concluso de curso do ano de 2011.
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medicamentos previamente prescritos. As embalagens e frascos contendo os diversos resduos
se acumulam nas residncias sem que as pessoas saibam o que fazer com isso.
No Brasil, os resduos de medicamentos so descartados diretamente no lixo comum
ou rede de esgoto, causando riscos sade humana e a contaminao do ambiente. Em poucos
casos, ocorre a destinao final ambientalmente adequada.
Os medicamentos representam a principal interveno em tratamentos de doenas e
cuidados sade. Alm da dimenso teraputica, um bem de consumo que se acumula com
frequncia no ambiente domiciliar, contribuindo para a gerao de resduos devido
continuidade, mudana ou trmino de um determinado tratamento. A Organizao Mundial da
Sade (OMS) define, de forma abrangente, que o uso de medicamentos pela sociedade,
envolvendo a comercializao, a distribuio, a prescrio e a administrao de
medicamentos, com nfase especial sobre as consequncias mdicas, sociais e econmicas
que dele resulta (OMS, 1977). No entanto, a prpria OMS no adverte sobre a problemtica
ambiental que o descarte de seus subprodutos pode gerar no ambiente e na sade das pessoas.
Problematizar o descarte do medicamento no ambiente requer o desenvolvimento de
abordagens, estudos e aes educacionais na perspectiva de construo de saberes envolvendo
diversos atores da sociedade que participam da gerao do problema, habilitando-os para a
sua percepo e instando-os a assumir sua participao tambm na soluo do problema,
juntamente com as autoridades sanitrias. Portanto, consumir mais medicamentos no
significa necessariamente melhores condies de sade ou qualidade de vida.
O uso de medicamentos no se resume apenas a uma prtica teraputica, pautada no
modelo biomdico. O ato de tomar medicamentos envolve muito mais do que a simples
ingesto fsica de substncias farmacuticas para fins teraputicos. Os medicamentos renem
em si vrios elementos, como prticas cientficas, agendas polticas, interesses comerciais,
alm de outros componentes sociais e da mdia televisiva, virtual e impressa. Os
medicamentos no so somente compostos qumicos, mas entidades culturais. Eles so
produtos da cultura humana, mas tambm produtores de cultura, afetando as representaes
da vida e da sociedade. Um dos mais srios problemas ambientais provocados pelos resduos
domsticos o longo tempo necessrio sua degradao (LOGAREZZI et al., 1998;
SANCHES, 1999; PERSSON, 2004).
Os Resduos Slidos Urbanos (RSU), popularmente conhecidos como lixo, resultam
em uma sobrecarga de materiais no ecossistema, os quais no podem ser decompostos, ou so
degradados com extrema morosidade, podendo resultar em consequncias txicas aos
sistemas biolgicos. Calderoni (2003) destaca que o efeito desta sobrecarga, com o passar do
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tempo, acaba por atingir a capacidade de suporte dos ecossistemas. Assim, a noo de resduo
como elemento negativo, causador da degradao ambiental, de origem antrpica e, em
geral, aparece quando a capacidade de absoro natural pelo meio no qual est inserido
ultrapassada.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) sobre o Perfil dos
Municpios Brasileiros apontou que 67,7% dos municpios no contam com programas de
coleta de lixo (IBGE, 2011). O servio de coleta seletiva de lixo representa uma atividade
sustentvel e fundamental sade pblica, no entanto, ainda ausente na maior parte das
cidades brasileiras, segundo o instituto. Uma sada para essa situao inadequada tem sido a formao de Cooperativas de
Catadores ou o emprego em Usinas de Reciclagem e de Compostagem. Entre os muitos
impactos que a exposio aos lixes causa sobre a sade das pessoas, est o risco de
adoecimento e acidente no manuseio de materiais perfuro-cortantes despejados por hospitais e
centros de sade, prtica irregular, mas, infelizmente, ainda muito comum no pas.
Dados da Associao Brasileira de Limpeza Pblica (ABLP) apontam que o pas
produziu cerca de 60,8 milhes de toneladas de resduos slidos. Essa quantidade foi 6,8%
mais alta que a registrada em 2009 e seis vezes maior que o crescimento populacional que, no
mesmo perodo, ficou em pouco mais de 1%. Ao todo, cerca de 6,5 milhes de toneladas
foram despejados em rios, crregos e terrenos baldios. Ainda 42,4%, ou seja, 22,9 milhes de
toneladas foram depositados em lixes e aterros controlados, sem o tratamento adequado dos
resduos (FIGUEIREDO, 2011).
Nesse contexto, os resduos, principalmente, os perigosos, como os medicamentos,
quando dispostos inadequadamente poluem o solo e comprometem a qualidade das guas
superficiais e subterrneas, com srias consequncias a sade humana e ao ambiente. Alguns
tipos de terapias medicamentosas so prescritos de forma contnua e, sem qualquer tipo de
fracionamento, o que favorece ainda mais a gerao de grande quantidade de resduos de
medicamentos e outros dispositivos associados ao seu uso, como por exemplo, a utilizao de
seringas, agulhas e ampolas de vidro, no caso dos injetveis.
De acordo com Nascimento (2005), entre os medicamentos mais vendidos no mercado
farmacutico, apenas 20% so considerados essenciais, ou seja, aqueles utilizados no
tratamento das doenas mais prevalentes no pas. Segundo o autor a rentabilidade da indstria
farmacutica chega a 15,1%, superando o setor automotivo, varejista, de construo civil e
alimentos. Outro dado importante que 35% dos medicamentos so adquiridos sem receita
mdica, o que configura uma automedicao abusiva.
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No que diz respeito aos resduos gerados pela indstria farmacutica e servios de
sade, existem normas especficas sobre o manejo e gerenciamento de resduos de
medicamentos, porm aqueles produzidos nos domiclios acabam recebendo uma destinao
inadequada. Portanto, o descarte domiciliar de medicamentos se configura como um problema
que requer ateno e necessita ser tratado no contexto de uma educao ambiental crtica
sobre a destinao de medicamentos e suas implicaes para a sade e o ambiente.
Em estudo sobre o uso de medicamentos no pas, Renovato (2008) o descreve como
um fenmeno cultural que deve ser articulado em conjunto com os campos da poltica e da
economia. Os medicamentos representam o principal instrumento tecnolgico do campo da
sade vem evoluindo, desde a Segunda Guerra Mundial, com a crescente industrializao e os
avanos cientficos. O padro de utilizao de medicamentos est intrinsecamente relacionado
condio socioeconmica e cultural de uma sociedade.
Em estudo de reviso sobre o gerenciamento e a destinao final de resduos de
medicamentos, Eickhoff et al. (2009) destacam que a sobra de medicamentos em desuso tem
vrias causas. Entre elas esto a dispensao de medicamentos em quantidade alm da
necessria para o tratamento, as amostras-grtis distribudas pelos laboratrios farmacuticos
como forma de propaganda, e o gerenciamento inadequado de medicamentos por parte de
farmcias e demais estabelecimentos de sade.
Sabe-se que o padro de utilizao de medicamentos est intrinsecamente relacionado
condio socioeconmica e cultural de uma sociedade. Entretanto, existem vrios meios de
adquiri-los, seja por compra, doao, emprstimo ou obteno de amostras-grtis, o que
acarreta na gerao de resduos de medicamentos descartados no ambiente, muitas vezes, sem
nenhum tipo de tratamento. O desconhecimento sobre o descarte de resduos de
medicamentos gerados pelo consumo no domicilio um problema que deve ser enfrentado
pelas autoridades sanitrias do pas, que por sua vez, tem a responsabilidade de criar as
condies logsticas reversas para que haja um descarte seguro tanto para o ambiente como
para a sade das pessoas.
O acesso das pessoas a informaes, por vezes, muito precria, equivocada, ou
inconsistente. A ttulo de exemplificao, destaca-se a do Instituto Akatu, uma das
instituies de referncia na promoo do consumo consciente publicou o texto Saiba o que
fazer com o lixo domstico, no blog ecomeninas2, incluindo os medicamentos usados em
casa na lista do lixo domstico que pode ser reciclado. Alm disso, observa-se a incluso das
2 Fonte: http://ecomeninas.blogspot.com/2010/10/eco-dicas.html
http://ecomeninas.blogspot.com/2010/10/eco-dicas.html
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ampolas de medicamentos no conjunto do lixo comum, mas sabe-se que as mesmas
representam riscos aos manipuladores do lixo comum. Frascos de vidro, em geral, oferecem
riscos de acidente perfurocortante, de exposio do contedo qumico a outros dejetos
orgnicos, que comprometem a sade de seus manipuladores. Alm disso, tem potencial para
contaminar o ambiente, seu solo e leitos freticos, favorecendo a degradao ambiental.
Sendo assim, faz-se necessria uma ressignificao do conceito de medicamento como lixo
comum e estas observaes sinalizam uma concepo equivocada por parte da sociedade.
Por sua vez, documentos oficiais publicados na dcada de 2000 afirmavam que o
destino dos restos de medicamentos era o lixo comum, o que contribuiu para reforar a cultura
de descarte inseguro desses resduos. A Srie Prevenindo Intoxicaes, publicada no ms de
setembro de 2009, pela Fundao Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), apresenta na pgina da internet
do Sistema Nacional de Informaes Txico Farmacolgicas:
www.fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=315, um material educativo
(em formato pdf) que dirigido ao pblico e, em especial, estudantes. Ao todo existem seis
publicaes, referentes a escorpies, lagartas, medicamentos, produtos potencialmente
txicos, plantas txicas e serpentes. Mas, o material educativo sobre medicamentos apresenta
um erro conceitual grave ao afirmar que medicamentos vencidos podem ser descartados em
pias ou vasos sanitrios.
O contedo orienta ainda que antes de descartar nestes locais, considerados
inapropriados, o indivduo deve ter o cuidado de lavar a embalagem antes jog-la na lixeira.
Ressalta ainda que deve ser evitado descartar a embalagem juntamente com o contedo, como
mostrado em detalhe nas figuras 1 e 2.
http://www.fiocruz.br/sinitox_novo/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=315,
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Figura 1. Apresentao do material educativo: parte superior da primeira pgina recortada.
Figura 2. Detalhe do pargrafo indicando o erro conceitual do material educativo (p. 2).
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Uma estratgia importante para mediar informaes sobre descarte de medicamentos
a educao em sade que, na prtica de Enfermagem, uma responsabilidade essencial da
profisso. Nesse sentido, o enfermeiro amplia cada vez mais seu papel de educador, no s
comunicando contedos em intervenes educativas, mas tambm avaliando os recursos
educativos mediados pelos materiais educativos produzidos para consumo de seus educandos.
Compreende-se que sade e educao so inseparveis e interdependentes, pois, para ter
educao precisamos de sade, ao mesmo tempo, em que a sade mais bem acessada
quando se tem educao. Ambas, como necessidades sociais, tm um carter poltico-social
polissmico, por serem consideradas direito do povo e dever do Estado, destinadas s grandes
massas sem diferenciaes. Porm, so privadas e pblicas, acarretando diferenas nos
princpios de ao.
A simples citao do problema da gerao desordenada de resduos no traz soluo
alguma, pelo contrrio, necessrio fomentar uma discusso com a sociedade atravs de
espaos dialgicos, que problematizem temas como consumo responsvel, risco e injustia
ambiental (GUANABARA; GAMA; EIGENHEER, 2008). A problemtica dos resduos
necessita de uma abordagem que valorize a participao social na tomada de decises que
resultam na prtica de pensar e agir ecologicamente atravs da conscincia ecolgica crtica
como defendido por Takayanagui (1993).
Alm disso, o tema resduos slidos deve ser incorporado pelas escolas brasileiras,
respeitando-se o contexto social, cultural e ambiental no qual esto inseridas. A disciplina de
Cincias do ensino fundamental representa um espao permeado pelas curiosidades dos
alunos sobre diversos temas como sade e ambiente. Os professores devem ter autonomia
para estimular discusses e debates em sala de aula acerca dos impactos ambientais causados
pela disposio inadequada de resduos e a necessidade de cuidado ambiental.
No campo da sade, o enfermeiro ocupa uma posio privilegiada no desenvolvimento
de atividades educativas junto aos pacientes e familiares cuidadores, na elaborao e seleo
de materiais educativos que produzam significados para os educandos. Os materiais
educativos assumem um papel importante no processo de educar em sade, pois alm de
facilitarem a mediao de contedos de aprendizagem, funcionam como recurso prontamente
disponvel para que o paciente e sua famlia possam consult-lo quando diante de dvidas no
desenvolvimento do cuidado. Folhetos educativos e guias eletrnicos so alguns dos muitos
recursos instrucionais adotados para mediar temas de educao em sade por profissionais de
enfermagem em sua prtica educativa na relao com as famlias e sociedade.
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Vieira e Brito (2007) desenvolveram um guia eletrnico para administrao de
medicamentos intravenosos para proporcionar uma forma de educao continuada, ao mesmo
tempo em que representa uma iniciativa para a preveno de erros e para o estabelecimento de
novas metas e prioridades na administrao de medicamentos. Este guia foi proposto para ser
revisado periodicamente por profissionais de sade capacitados e atualizado a fim de manter
asseguradas as prticas de administrao de medicamentos livre de risco de erros e iatrogenias
de cuidado junto aos pacientes hospitalizados.
O enfermeiro como educador assume um papel importante na relao com o paciente e
seus familiares que esto experimentando tantos desafios para cuidar antes, durante e aps a
alta para o domiclio. Freitas e Cabral (2008) analisaram um folheto educativo destinado a
pessoas traqueostomizadas e elaborado com o propsito de capacitar pessoas no cuidado ao
estoma, a higienizao respiratria e a troca da cnula interna. As autoras argumentam que o
folheto educativo, na instituio de sade, um recurso instrucional usado pelo enfermeiro,
mas no domiclio, serve como uma ferramenta de auxlio tanto para o paciente como para o
cuidador. Esse tipo de recurso institucional deve contribuir para o autocuidado, apresentar de
forma sucinta e clara como realizar a higienizao do tubo de traqueostomia e sua
manuteno, visto que o paciente oncolgico precisa ter conscincia de sua independncia
para melhorar sua autoestima.
O uso crescente de materiais educativos como um dos recursos na educao em sade
abre novas possibilidades no processo de ensino aprendizagem por meios de interaes
mediadas pelo locutor (enfermeiro), paciente e famlia (leitor) e o material educativo escrito
(objeto do discurso), trazendo desafios e exigindo definies claras dos objetivos
educacionais a serem atingidos pelo pblico-alvo.
Portanto, h uma necessidade de se apresentar contedos cientficos constituidores de
sentido para o educando, em um formato mais dialgico e menos impositivo. A produo de
um material eletrnico, prontamente disponvel na internet, pode representar uma ferramenta
de acesso a contedos educativos e dialgicos sobre o descarte de resduos de medicamentos
gerados no domiclio, pois permite que as informaes sejam acessadas com maior rapidez,
evitando a desmotivao das pessoas em perder tempo procurando o que deseja. A
preocupao da Enfermagem com o ambiente em que vivem as pessoas e a coletividade
intrnseca sua construo como cincia aplicada, cuja construo implica em uma
aproximao com outros campos de saberes, como a do ensino de cincias, no que concerne a
educao ambiental.
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Assim, a produo de materiais educativos precisa produzir significados para os
educandos, de modo que os contedos cientficos sejam compreendidos e incorporados ao
modo de vida, despertando a conscincia do cuidado de si. A educao em sade
considerada uma funo inerente prtica de enfermagem e uma responsabilidade essencial
do enfermeiro. Nesse sentido, o enfermeiro amplia cada vez mais seu papel de educador, no
s comunicando contedos em intervenes educativas, mas tambm produzindo materiais
educativos para consumo dos educandos.
Ao lado da educao em sade, a educao ambiental apresentada como uma
estratgia de conscientizao ambiental individual e coletiva, no sentido de despertar a
responsabilidade de todos, indivduos, Estado e sociedade, com relao a problemtica do
descarte de medicamentos em espaos urbanos. Os materiais educativos assumem um papel
importante no processo de educar em sade, pois alm de facilitarem a mediao de
contedos de aprendizagem, funcionam como recurso prontamente disponvel para que as
pessoas possam consult-los quando diante de dvidas sobre o descarte de medicamentos no
ambiente, por exemplo.
Nesse sentido, o estudo tem por objetivos: descrever e analisar o processo
interativo de concepo do website, sua construo-validao por especialistas em
educao em sade e educao ambiental, e discutir o papel do website como
instrumento de educao dialgica na formao de uma conscincia ambiental sobre o
descarte de medicamentos e a proteo da sade e do ambiente.
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVNCIA DO ESTUDO NO CAMPO DO ENSINO DE
CINCIAS E SADE
A conjuntura poltico-econmica do pas desenha um perfil de consumo de
medicamento tpico de pas em desenvolvimento, em que as presses da indstria
farmacutica mundial ditam as regras de produo, distribuio, comercializao, e consumo.
Porm, necessrio considerar tambm os problemas sociais e ambientais causados pela
gerao de resduos de medicamentos, os quais podem oferecer riscos a sade de pessoas,
animais e ambiente. A sociedade contempornea vive um processo de conscientizao global
em relao ao ambiente.
Em pesquisa sobre o lixo domiciliar urbano, Esqueda (2000) realiza uma abordagem
tanto a nvel ambiental quanto educacional com alunos de quatro escolas, duas estaduais, uma
municipal e uma privada. Foi investigada tambm a representao social que os alunos e
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professores tinham a respeito da problemtica decorrente dos resduos slidos urbanos.
Alguns dos resultados obtidos aps a aplicao de questionrios sobre o que era feito com os
RSU, revelaram que mais da metade dos alunos declararam que os resduos produzidos em
suas casas so jogados no lixo e a outra metade est distribuda entre seis itens: jogar fora,
reutiliza, guarda, recicla, outros, em branco.
Nesse sentido, a compreenso da dimenso ambiental, assume um papel fundamental
para a sua efetiva preservao. Cada vez mais, so crescentes os problemas globais que
degradam a biosfera, diminuindo de maneira alarmante a qualidade da vida. As solues para
estes problemas requerem uma mudana nas percepes, no pensamento e nos valores da
humanidade (SCHNEIDER, 2001).
Dessa forma, o conhecimento da composio do lixo urbano essencial para a
implementao de um gerenciamento adequado. Deve-se proceder realizao de inventrios,
que contemplam as fontes geradoras e a classificao dos resduos; posteriormente,
estabelece-se a melhor forma de tratamento e disposio dos mesmos (MOREIRA, 2001). A
compreenso de ambiente, em suas diferentes dimenses fundamental para a definio de
uma concepo de sustentabilidade. No mundo atual, a viso de ambiente muitas vezes
confusa, o homem raramente se considera um elemento integrante do ambiente, na maioria
das situaes, se considera como um ser fora ou mesmo superior.
Os resduos slidos resultam em uma sobrecarga de materiais no ecossistema, os quais
no podem ser decompostos, ou so degradados com extrema morosidade, podendo resultar
em consequncias txicas aos sistemas biolgicos. O efeito desta sobrecarga, com o passar do
tempo, acaba por atingir a capacidade de suporte dos ecossistemas. Assim, a noo de resduo
como elemento negativo, causador da degradao ambiental, de origem antrpica e, em
geral, aparece quando a capacidade de absoro natural pelo meio no qual est inserido
ultrapassada (CALDERONI, 2003).
A problemtica dos resduos slidos tem sido discutida nas escolas atravs de
atividades de campo, oficinas e exposies sobre os riscos sade e suas consequncias para
o ambiente. Percebe-se ainda uma preocupao em associar educao ambiental s atividades
de ensino de cincias e integrar esse tema na prtica pedaggica dos professores, respeitando-
se o contexto dos alunos. Alguns autores assumem uma postura notadamente crtica em
relao forma como os alunos so influenciados pela sociedade de consumo desordenado,
alm de chamarem ateno para o risco de doenas e degradao ambiental em decorrncia da
destinao inadequada de resduos slidos no ambiente.
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A escola deve proporcionar populao infantil elementos de conhecimentos,
procedimentos e atitudes que lhes permitam situar-se na sociedade de consumo de uma
maneira consciente, crtica, responsvel e solidria (DAMASIO; SAMPAIO, 2003). Os
autores tambm defendem uma organizao concreta no currculo das reas para tratar da
temtica do consumismo em torno de um eixo educativo, uma vez que o mesmo est proposto
como tema transversal dos Parmetros Curriculares Nacionais.
Fracalanza (2004, p.7) defende que a educao ambiental nas escolas deve se
aproximar de uma atividade contnua; com carter interdisciplinar; com um perfil
pluridimensional, voltada para a participao social e para a soluo de problemas ambientais,
visando mudana de valores, atitudes e comportamentos sociais. Para Guimares e
Vasconcellos (2006, p.7), o enfrentamento da atual crise socioambiental depende da luta pela
formulao de uma cincia e uma cultura engajadas no processo de construo de um modelo
de sociedade ecolgica e sustentvel.
Em estudo sobre a aplicao de oficinas de materiais reciclveis no ensino de cincias
e em programas de educao ambiental, Campos e Cassavan (2007) destacam que o lixo
apresentado em alguns livros didticos do ensino de cincias em captulos relacionados ao
saneamento bsico e sade pblica e, como notas de educao ambiental nas margens de
captulos, contendo propostas de reutilizao de materiais reciclveis. Porm, isto realizado
de modo superficial sem questionar a origem dos materiais, alm de aspectos relacionados ao
aumento do consumo exagerado.
No campo da sade, particularmente, a Enfermagem uma disciplina que tem se
preocupado com o ambiente em que vivem as pessoas e a coletividade como algo intrnseco
sua construo como cincia. A Enfermagem visa promoo de um ambiente saudvel para
todas as pessoas que de alguma maneira se relaciona com o meio onde vivem. O cuidado de
enfermagem tambm est inserido nesta tica ambiental e, desta forma, se faz necessrio uma
abordagem sobre enfermagem e meio ambiente.
Segundo a obra: Notas sobre enfermagem: O que e o que no , de Florence
Nightingale, publicado pela Associao Brasileira de Enfermagem (ABEn) em 1989, na
observao da doena, quer seja nos domiclios ou em hospitais pblicos, o que mais chama a
ateno do observador que os sintomas ou sofrimentos considerados inevitveis e prprios
da enfermidade, muitas vezes, no so sintomas da doena. Mas, algo bem diferente, isto , a
falta de um ou de todos os seguintes fatores: ar puro, claridade, aquecimento, silncio,
limpeza, ou de pontualidade e assistncia na administrao da dieta. A carncia de um ou de
todos esses fatores pode ocorrer tanto na enfermagem domiciliar quanto na hospitalar. O
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processo restaurador da doena, institudo pela natureza, tem sido retardado por falta de
conhecimentos ou de ateno a um ou a todos esses fatores (NIGHTINGALE, 1989).
O sentido da palavra enfermagem, ento, foi limitado e passou a significar pouco mais
que a administrao de medicamentos e aplicao de cataplasmas. Contudo, deveria significar
o uso apropriado de ar puro, iluminao, aquecimento, limpeza e a seleo adequada tanto da
dieta quanto da maneira de servi-la, tudo com um mnimo de dispndio da capacidade vital do
paciente.
Desse modo, a preocupao com a manuteno de um ambiente saudvel e restaurador
da energia vital das pessoas faz parte do prprio existir da Enfermagem cientfica difundida a
partir do legado de Nightingale. A Enfermagem possui um campo de estudo que visa
promoo de um ambiente saudvel para todas as pessoas que de alguma maneira se relaciona
com o meio onde vivem. O cuidado de enfermagem tambm est inserido nessa tica
ambiental e, dessa forma, se faz necessrio uma abordagem de enfermagem sobre o ambiente
como um dos campos interdisciplinares do ensino de cincias.
Ainda observamos um nmero incipiente de estudos sobre os impactos ambientais
decorrentes do destino final de resduos de medicamentos, razo pela qual ainda no h uma
legislao especfica para tratar desse tipo especfico de resduos gerados no ambiente
domiciliar.
Segundo a RDC n 306/2004 da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA),
que dispe sobre o regulamento tcnico do gerenciamento dos Resduos de Servios de Sade
(RSS), os resduos so classificados nos grupos: A, B, C, D e E. Os medicamentos esto
representados pelo Grupo B, que diz respeito a resduos qumicos que apresentam risco
sade ou ao meio ambiente, quando no forem submetidos a processo de reutilizao,
recuperao ou reciclagem, devendo ser submetidos a tratamento ou disposio final
especficos. So eles: resduos de produtos hormonais e antimicrobianos, citostticos
(utilizados na quimioterapia), antineoplsicos (tratamento do cncer), imunossupressores
(tratamento de doenas autoimunes), digitlicos (tratamento de doenas cardacas),
imunomoduladores (potencializadores da resposta imunolgica) e antirretrovirais (tratamento
do HIV).
Os resduos de medicamentos que, em funo de seu princpio ativo e forma
farmacutica, no oferecem risco sade e ao ambiente, quando descartados por estes
mesmos servios no necessitam de tratamento, podendo ser submetidos a processos de
reutilizao, recuperao ou reciclagem. Os resduos gerados por servios de assistncia
domiciliar devem ser acondicionados, identificados e recolhidos pelos prprios agentes de
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atendimento ou por pessoa treinada para a atividade. Podendo tambm ser levados pelo
gerador domiciliar at uma unidade de sade mais prxima de sua casa. Excretas corporais,
como urina e fezes de pacientes tratados com quimioterpicos e antineoplsicos podem ser
eliminadas no esgoto, desde que haja tratamento de esgoto no municpio. No caso da
inexistncia de rede de tratamento de esgoto, devem ser submetidas a tratamento prvio no
prprio estabelecimento.
Falqueto et al. (2010) nos alerta que o Ministrio da Sade e o Ministrio do Meio
Ambiente so os rgos de competncia e referncia para abordar o assunto. O tema resduo
de medicamento abordado por ambos, de acordo com a competncia e o enfoque de cada
um. Em se tratando de medicamentos e da gerao de resduos com atividades farmacolgicas
e txicas, a observao do Princpio da Precauo nas questes ligadas ao descarte de
medicamentos deveria ser uma preocupao para os dois ministrios. O Princpio da
Precauo, cuja definio, foi dada em 14 de junho de 1992, a garantia contra os riscos
potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, no podem ser ainda
identificados. Este princpio afirma que a ausncia da certeza cientfica formal, a existncia de
um risco ou dano srio ou irreversvel requer a implantao de medidas que possam prevenir
este dano.
O avano cientfico e tecnolgico da indstria farmacutica e a divulgao da mdia
por meio da propaganda, aliado ao aumento da expectativa de vida e das morbidades crnico-
degenerativas vem favorecendo um grande consumo de medicamentos. O movimento a favor
da no hospitalizao e a promoo da assistncia domiciliria aos pacientes, pelos servios
pblicos e privados, faz das residncias um espao teraputico privilegiado, ao mesmo tempo
em que contribui para a gerao de resduos de medicamentos.
Segundo Rodrigues (2009), os medicamentos caracterizam-se pelo alto grau de
exigncia quanto ao preenchimento dos requisitos das matrias-primas, passando pelo
processo de produo, controle de qualidade, armazenamento e distribuio at chegar ao
consumidor final. Os fatores que influenciam a produo de resduos slidos esto
relacionados com o nvel de vida da populao, o clima e a estao do ano, o modo de vida e
os hbitos da populao, novos mtodos de embalagem e comercializao de produtos, tipo de
urbanizao e caractersticas econmicas da regio. Existe ainda uma preocupao com a
destinao final que estes resduos slidos recebem no ambiente, o que provoca impactos na
sade e no solo, alm da maneira como as fontes geradoras, ou seja, as pessoas podem ser
conscientizadas sobre o descarte racional e ambientalmente sustentvel, particularmente dos
medicamentos consumidos no ambiente domiciliar. Portanto, ter conscincia de como
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proceder com o descarte desse material de forma segura uma responsabilidade de todos,
incluindo as pessoas, a sociedade e o Estado.
Os resduos de medicamentos quando descartados ou apreendidos por servios
assistenciais de sade, farmcias, drogarias e distribuidores de medicamentos devem receber
tratamento e destinao final ambientalmente adequada, em virtude de suas caractersticas de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade,
teratogenicidade e mutagenicidade, podendo apresentar risco significativo sade pblica e
ao ambiente. A produo de um recurso instrucional como o caso do website em tela
representa uma ferramenta importante para mediar questes de sade e ambiente. Desde a
disseminao do uso da informtica na sade, observa-se que no ambiente da internet, por
exemplo, as pessoas acessam informaes com mais rapidez.
Galvo e Sawada (1996) mostraram que na avaliao dos profissionais e usurios da
informtica, destacam-se muitas vantagens do seu uso como um recurso na rea da sade,
com destaque para a rapidez na obteno de informaes. Nesse sentido, a produo do
website pode representar uma soluo concreta para mediar informaes sobre o descarte de
resduos gerados pelo consumo de medicamentos no domiclio, pois facilitar o acesso
informao com maior rapidez e efetividade.
No campo do ensino de Cincias, a internet vem sendo usada amplamente nas prticas
educativas. Em estudo sobre o uso de blogs e o ensino de Cincias, Maia, Mendona e
Struchiner (2007, p.10) concluram que esta ferramenta possui grande potencial para ser
usado em prticas educativas, alm de representar um ambiente ldico, bastante conhecido
dos alunos e de atrair grande interesse dos jovens, ele uma ferramenta gratuita, de fcil uso e
possui recursos que permitem a realizao de atividades educativas interativas e
colaborativas. Destacam ainda que para o seu melhor aproveitamento no ambiente de ensino-
aprendizagem importante que o professor domine o seu uso, identifique as suas
potencialidades e tenha noo de como ele pode ser usado. Segundo os autores, os chamados
edublogs podem ser utilizados nas mais variadas disciplinas e de diferentes modos nas
prticas pedaggicas.
Cada vez mais, os ambientes virtuais tm sido utilizados para a divulgao de
conhecimentos cientficos por meio de artigos, livros eletrnicos e blogs como espao
educativo onde professores tm se apropriado dos diversos recursos disponveis na internet
para interagir e compartilhar suas disciplinas com os alunos.
Uma busca na coleo de revistas do Portal SciELO (Scientific Electronic Library
Online) utilizando-se as palavras chave educao, web e criao, no campo todos os
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ndices, resultou em 6 (seis) artigos que atenderam aos critrios de busca, sendo o primeiro
publicado no ano de 2002 e o ltimo 2010, apresentados no quadro a seguir:
Quadro 1.1 Apresentao dos seis artigos encontrados na base SciELO (2012).
Ttulo Autor(es) Ano Peridico Referencial adotado
Enfermagem na web: o processo de criao e validao de um website sobre doena arterial
coronariana
Marques, I.S. Marin, H.F. 2002
Rev. Latino-Am. Enfermagem
Trochim (1999)
Criao de um website para enfermeiros sobre p diabtico Alves et al. 2006
Acta paul. Enferm
Trochim (1999)
Panorama brasileiro do ensino de Enfermagem on-line
Rodrigues, R.C.V. Peres, H.H.C. 2008
Rev. esc. enferm. USP
Lvy P (1999)
Cultura tecnolgica e redes sociotcnicas: um estudo sobre o portal da rede municipal de ensino
de So Paulo
Medeiros, Z. Ventura, P.C.S. 2008 Educ. Pesqui.
Lvy P (1999)
Os museus histricos e pedaggicos do estado de So Paulo Misan, S. 2008 An. mus. Paul.
Mendona (1946)
Expanso da privatizao/mercantilizao do ensino superior Brasileiro: a formao dos
oligoplios Chaves, V.L.J. 2010 Educ. Soc.
Santos (2004)
A despeito do Portal constituir-se em uma base de busca reduzida, sua escolha deveu-
se ao fato de encontrar os textos na integra, e incluir publicaes nacionais sobre uma
problemtica de natureza local. O marco conceitual que orientou a criao e avaliao de web
site apontado pelos artigos foi o de Trochim (1999), presente em 30% das publicaes. J o
tema cybercultura de Lvy (1999) tambm foi representado em 30% das pesquisas.
Observou-se que dos seis artigos encontrados, trs (50%) corresponderam a temas ligados
educao em sade, na rea de Enfermagem, o que revela um maior interesse por autores de
enfermagem na publicao de artigos de pesquisa envolvendo o tema educao em sade.
Segundo Marques e Marin (2002), medida que a internet foi se tornando popular na
sociedade, novas palavras foram sendo incorporadas ao universo vocabular das pessoas,
como: pgina web, ou seja, documento apresentado sob o formato de HTML (linguagem
marcada de hipertexto), website, que corresponde a um conjunto de pginas Web organizadas
ou abrigadas sob um determinado domnio (URL Uniform Resource Locator). Outro termo
webdesigner, o qual se refere ao profissional que desenvolve websites.
Alves et al. (2006, p.57) desenvolveram um website para profissionais enfermeiros
contendo informaes sobre como cuidar de p diabtico, onde afirma que a internet um
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importante recurso e muitos pacientes utilizam-se dela para aprender sobre diagnsticos e
encontrar outros tipos de informaes de sade tanto para eles mesmos como para seus
familiares.
Medeiros e Ventura (2008) desenvolveram uma investigao sobre a criao,
implantao e utilizao de um portal na internet, caracterizado como um novo espao de
comunicao, de interao e de troca de informaes entre a comunidade escolar. As demais
publicaes no estavam relacionadas diretamente com o tema de desenvolvimento e criao
de websites, apesar de terem sido selecionadas. A disseminao de informaes atravs da
rede mundial de computadores cresceu significativamente devido a infraestrutura que vem
sendo criada nos pases com as chamadas redes sem fio. Cada vez mais cresce o nmero de
pessoas ligadas a esta rede procura de servios, oportunidades e informaes variadas.
1.4 O CONTEXTO NACIONAL E INTERNACIONAL SOBRE POLTICA DE RESDUOS
SLIDOS
A Poltica Nacional de Meio Ambiente (Lei n 6.938 de 31 de Agosto de 1981) tem
por objetivo a preservao, melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida,
visando assegurar, no pas, condies ao desenvolvimento socioeconmico. Alm disso,
atende aos interesses da segurana nacional e proteo da dignidade da vida humana, tendo
como um de seus princpios a educao ambiental em todos os nveis do ensino, inclusive a
educao da comunidade, objetivando capacit-la para a participao ativa na defesa do meio
ambiente.
A definio de meio ambiente apresentado na lei ampla envolvendo as dimenses
fsicas, qumicas e biolgicas da natureza e dos seres vivos. Sendo assim, o cuidado ambiental
assume um papel de extrema importncia na preservao e manuteno dos recursos naturais
e do ambiente em que vivemos. Podemos observar tambm que quando as caractersticas do
meio ambiente sofrem alteraes abusivas e adversas ao seu pleno funcionamento, surge a
preocupao com a degradao da qualidade ambiental. Uma srie de atividades resulta em
poluio, entre elas, est o lanamento de matrias ou alguma forma de energia que altere o
equilbrio ambiental, por exemplo, o descarte inadequado de resduos de medicamentos
gerando graves consequncias de ordem fsica, qumica e biolgica para o ecossistema. A Constituio de 1988 introduziu pela primeira vez na histria do Pas, um captulo
especfico sobre meio ambiente, considerando-o como um bem comum do povo e essencial
qualidade de vida, impondo ao Poder Pblico e coletividade o dever de preserv-lo para as
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geraes presentes e futuras. As primeiras iniciativas legislativas para a definio de diretrizes
voltadas aos resduos slidos surgiram no final da dcada de 1980. Desde ento, foram
elaborados mais de 100 projetos de lei, os quais, por fora de dispositivos do Regimento
Interno da Cmara dos Deputados, encontram-se apensados ao Projeto de Lei n 203, de 1991
que dispe sobre acondicionamento, coleta, tratamento, transporte e destinao dos resduos
de servios de sade, os quais ficaram pendentes de apreciao durante muitos anos.
O Projeto de Lei da Poltica Nacional de Resduos Slidos considerou o estilo de vida
da sociedade contempornea, que aliado s estratgias de marketing do setor produtivo, leva a
um consumo intensivo provocando uma srie de impactos ambientais, sade pblica e a vida
social, os quais so incompatveis com o modelo de desenvolvimento sustentvel que se
pretende implantar no Brasil. importante ressaltar que o desenvolvimento de diferentes
setores voltados exportao e ao comrcio internacional absorve as novas tendncias do
crescimento industrial utilizando-se de tecnologias mais limpas.
Ao longo desses anos vrios esforos foram feitos para se colocar em pauta a
discusso sobre o manejo dos resduos slidos e se reconhecer a importncia da atividade dos
catadores de materiais reciclveis. Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Bsico
(PNSB, 2000), cerca de 25.000 catadores trabalham nessas reas, dos quais 22,3% tm at 14
anos de idade e vivem, em sua maioria, nas ruas das grandes cidades brasileiras.
A I Conferncia Nacional de Meio Ambiente realizada em 2003 marcou o incio de
uma nova etapa na construo poltica de meio ambiente do Brasil, por ser a primeira vez que
diversas representaes da sociedade se reuniram para compartilhar propostas poltica
pblica de meio ambiente. A III Conferncia Nacional de Meio Ambiente, realizada em 2005,
buscou consolidar a participao da sociedade brasileira no processo de formulao das
polticas ambientais e trouxe como um dos temas prioritrios a questo dos resduos slidos.
Assim, mesmo que as deliberaes da I Conferncia estejam sendo contempladas no mbito
do Governo Federal, a discusso sobre os resduos slidos efetuada durante a II Conferncia,
foi uma demonstrao inequvoca da necessidade do estabelecimento de diretrizes nacionais
que amparam a questo (BRASIL, 2007).
Finalmente, aps quase 20 anos desde a proposta do Projeto de Lei n 203/1991, foi
sancionada a Lei n 12.305, de 2 de agosto de 2010, pelo Presidente da Repblica Luiz Incio
Lula da Silva, que institui a Poltica Nacional de Resduos Slidos (PNRS), dispondo sobre
seus princpios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas gesto
integrada e ao gerenciamento de resduos slidos, inclusive os perigosos.
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Quadro 1.2 Conceitos e definies apresentados na PNRS (2010).
Esses conceitos apresentados na mencionada lei que institui a Poltica Nacional de
Resduos Slidos nos ajudam a compreender a complexidade da problemtica dos resduos
slidos e revela a necessidade da aplicao e vigncia da mesma.
A ttulo de exemplificao, o Canad um dos pases que adota uma poltica de
retorno de medicamentos. A maioria das farmcias participa de um programa de recolhimento
de medicamentos denominado Medications Return Program (MRP) institudo em 2001,
adotado pela Associao Nacional de Autoridades Regulatrias de Farmcia do Canad.
Dentre as justificativas para a adoo do programa, citam a reduo de envenenamentos
acidentais de crianas por medicamentos vencidos, reduo de custos, de automedicao
imprpria e do potencial dano ambiental.
I Acordo setorial: ato de natureza contratual firmado entre o poder pblico e fabricantes, importadores, distribuidores ou comerciantes, tendo em vista a implantao da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto.
II rea contaminada: local onde h contaminao causada pela disposio, regular ou irregular, de quaisquer substncias ou resduos.
III rea rf contaminada: rea contaminada cujos responsveis pela disposio no sejam identificveis ou individualizveis.
IV Ciclo de vida do Produto: srie de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obteno de matrias primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposio final.
V Coleta seletiva: coleta de resduos slidos previamente segregados conforme sua constituio ou composio.
VI Controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam sociedade informaes e participao nos processos de formulao, implementao e avaliao das polticas pblicas relacionadas aos resduos slidos.
VII Destinao final ambientalmente adequada: destinao de resduos que inclui a reutilizao, a reciclagem, a compostagem, a recuperao e o aproveitamento energtico ou outras destinaes admitidas pelos rgos competentes do SISNAMA (Sistema Nacional de Meio Ambiente), do SNVS (Sistema Nacional de Vigilncia Sanitria) e do SUASA (Sistema Unificado de Ateno Sanidade Agropecuria), entre elas a disposio final, observando normas operacionais especficas de modo a evitar danos ou riscos sade pblica e segurana e a minimizar os impactos ambientais adversos.
VIII Disposio final ambientalmente adequada: distribuio ordenada de rejeitos em aterros, observando normas operacionais especficas de modo a evitar danos ou riscos sade pblica e segurana e a minimizar os impactos ambientais adversos.
IX Geradores de resduos slidos: pessoas fsicas ou jurdicas, de direito pblico ou privado, que geram resduos slidos por meio de suas atividades, nelas includo o consumo.
X Gerenciamento de resduos slidos: conjunto de aes exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinao final ambientalmente adequada dos resduos slidos e disposio final ambientalmente adequada dos rejeitos, de acordo com plano municipal de gesto integrada de resduos slidos ou com plano de gerenciamento de resduos slidos, exigidos na forma desta Lei.
XI Gesto integrada de resduos slidos: conjunto de aes voltadas para a busca de solues para os resduos slidos, de forma a considerar as dimenses poltica, econmica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentvel. (Lei n 12.305/2010, art.1).
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Segundo Juras (2005) alguns pases da Europa, como a Alemanha, se destacam na
legislao de resduos slidos. A Alemanha a pioneira na adoo de medidas destinadas a
equacionar a questo dos resduos slidos. De uma poltica que previa a coleta de resduos
gerados e a valorizao ou a simples deposio desses resduos, seguiu princpios de evitar e
valorizar os resduos antes da eliminao. Para isso, foi criada em 1986, a Lei de Minimizao
e Eliminao de Resduos, vrios regulamentos tambm foram editados, entre eles, o de
Minimizao de Vasilhames e Embalagens, de 1991, de leos Usados, de 1987, e o de
Solventes, de 1989.
Em 1994, foi editada a Lei de Economia de Ciclo Integral e Gesto de Resduos, que
substituiu a norma de 1986. Com essa nova legislao, ampliou-se a responsabilidade do
fabricante a todo o ciclo de vida de seu produto, desde a fabricao, passando pela
distribuio e uso, at sua eliminao. Conforme a legislao alem, primordialmente, deve-se
evitar a gerao de resduos. Os resduos no evitveis devem ser valorizados, na forma de
recuperao material (reciclagem) ou valorizao energtica (produo de energia), enquanto
que os resduos no valorizveis devem ser eliminados de forma ambientalmente compatvel.
Os pases europeus vm adotando regras bastante rgidas em relao aos resduos
slidos. Com vistas a aproximar o tratamento dado questo, a Unio Europeia (UE) vem
editando vrias normas relativas a resduos slidos, dentre as quais:
Quadro 1.3 Exemplos de normas concernentes poltica de resduos slidos na Unio Europeia.
Diretiva 75/442/CEE, relativa a resduos. Diretiva 75/439/CEE, relativa a leos usados. Diretiva 91/157/CEE, relativa a pilhas e acumuladores. Diretiva 94/62/CE, relativa a embalagens e resduos de embalagens. Diretiva 1999/31/CE, relativa deposio de resduos em aterros. Diretiva 2000/53/CE, relativa aos veculos em fim de vida. Diretiva 2000/76/CE, relativa incinerao de resduos. Diretiva 2002/96/CE, relativa aos resduos de equipamentos eltricos e eletrnicos.
Na Frana, o gerenciamento de resduos est sob a responsabilidade das autoridades
locais ou entidades por elas autorizadas. A eliminao dos resduos domiciliares de
responsabilidade das autoridades locais, enquanto que a eliminao dos resduos industriais,
de transporte e da construo civil de responsabilidade do produtor dos resduos.
O gerenciamento de resduos perigosos conduzido unicamente por empresas
privadas. No permitida ao produtor ou detentor de resduos perigosos a participao no
gerenciamento desses resduos. O pas est fortemente engajado na modernizao do
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gerenciamento de resduos slidos. A poltica francesa de resduos, estabelecida em 1975 e
modificada em 1992, tem como objetivos principais: Prevenir ou reduzir a produo e a
nocividade dos resduos, organizar o transporte dos resduos e limit-lo em distncia e
volume, alm de valorizar os resduos pela reutilizao, reciclagem ou qualquer outra ao
visando a obter energia ou materiais a partir dos resduos.
Alm disso, a forte presena de resduos de embalagens de lixo domstico, no qual
representam 30% em peso e 50% em volume, tornaram necessrio seu tratamento de forma
especfica. Assim, em 1992, atribuiu-se aos embaladores a responsabilidade pela eliminao
de resduos de embalagens que resultam do consumo domstico de seus produtos. As
empresas tm duas alternativas: 1) adotar um sistema individual de depsito e retorno
autorizado e controlado pelo poder pblico (como a Cyclamed, para as embalagens de
medicamentos), 2) contribuir para um sistema coletivo que favorea o desenvolvimento da
coleta seletiva de embalagens, com adeso a uma entidade credenciada pelo poder pblico
(por exemplo, Adelphe e Eco-Emballages). No sistema adotado, as empresas Adelphe e Eco-
Emballages fazem um contrato com as autoridades locais para auxlio tcnico e financeiro, de
forma a garantir a coleta seletiva e a reciclagem das embalagens. As embalagens que
participam de um sistema coletivo so em geral marcadas pelo ponto verde.
A Espanha tambm est desenvolvendo aes com o objetivo de cumprir as regras
emanadas da Unio Europeia. Assim, foi aprovada a Lei 10/98 relativa a resduos, que prev a
elaborao de planos nacionais de resduos e admite a possibilidade de que as entidades locais
possam elaborar seus prprios planos de gesto de resduos slidos urbanos. Tal lei no se
limita a regular os resduos gerados, mas tambm contempla a fase prvia gerao dos
resduos, regulando as atividades dos produtores, importadores e comerciantes e, em geral, de
qualquer pessoa que coloque no mercado produtos geradores de resduos.
Com a finalidade de aplicar o princpio do poluidor-pagador, a lei faz recair sobre o
prprio bem de consumo, no momento de sua colocao no mercado, os custos da gesto
adequada dos resduos que esse bem gera assim como seu importador, comerciante, agente ou
intermedirio ou qualquer pessoa responsvel pela colocao no mercado de produtos que
com o seu uso se convertam em resduos devem promover aes que favoream a preveno
da gerao de resduos e facilitem sua reutilizao, reciclagem ou valorizao de seus
resduos, ou permitam sua eliminao da forma menos prejudicial sade humana e ao meio
ambiente.
Alm de assumir diretamente a gesto dos resduos derivados de seus produtos e
participar de um sistema organizado de gesto desses resduos ou contribuir economicamente
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com os sistemas pblicos de gesto de resduos, de forma a cobrir os custos atribuveis
gesto desses resduos. Tambm deve aceitar caso no se aplique o disposto no item anterior,
um sistema de depsito, devoluo e retorno dos resduos derivados de seus produtos, assim
como dos prprios produtos fora de uso, alm de informar anualmente aos rgos
competentes os resduos produzidos no processo de fabricao e o resultado qualitativo e
quantitativo das operaes efetuadas.
No que se refere a embalagens e resduos de embalagens, foi editada a Lei 11/97, que
estabeleceu as seguintes metas, a serem cumpridas antes de 30 de junho de 2001: valorizar
50%, no mnimo, e 65%, no mximo, em peso, da totalidade dos resduos de embalagens
gerados; reciclar 25%, no mnimo, e 45%, no mximo, em peso, da totalidade dos materiais
de embalagem que faam parte de todos os resduos de embalagens gerados, com um mnimo
de 15% em peso de cada material; reduzir, ao menos 10% em peso da totalidade dos resduos
de embalagens gerados.
As empresas so obrigadas a recuperar suas embalagens uma vez convertidas em
resduos e a dar-lhes um correto tratamento ambiental. Para tanto, a empresa pode instituir seu
prprio sistema de recuperao em consonncia com a lei ou pode aderir a um Sistema
Integrado de Gesto SIG, o qual se encarregar de todo o processo em conjunto com as
administraes locais.
De forma geral, houve amplas campanhas de educao, de forma a incentivar a
populao a aderir a programas de coleta seletiva, reciclagem e compostagem. Chama a
ateno o estmulo compostagem domstica de resduos orgnicos. Em algumas provncias
canadenses, a compostagem obrigatria para cidades com mais de 50.000 habitantes e, em
outras, foi banido o recebimento de resduos orgnicos nos locais de disposio de resduos.
Os resduos domiciliares comumente mais reciclados incluem: recipientes de vidro,
papel de jornal e outros papis, papelo, latas e alguns plsticos. Existem programas em
implantao para outros materiais, como metais, baterias, veculos, embalagens de
agrotxicos e eletrodomsticos. A reciclagem de leo de cozinha usado obrigatria em
algumas provncias. Para determinados tipos de resduos, foi institudo sistema de
depsito/retorno (por exemplo, bebidas, baterias, pneus). Veculos velhos e eletrodomsticos
no portteis so recolhidos por companhias privadas mediante acordos com as autoridades
locais.
No que diz respeito aos resduos de medicamentos, o Estado do Amazonas criou um
Programa Estadual de Coleta de Medicamentos Vencidos ou Estragados (Lei Ordinria n
3676/2011). Por recomendao do programa, as farmcias e drogarias do estado devem
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manter, em locais visveis do pblico, recipientes (eco pontos) para o descarte dos
medicamentos vencidos ou estragados. As distribuidoras de medicamentos farmacuticos so
responsveis por recolher o contedo dos recipientes que dever ser encaminhado para as
respectivas indstrias farmacuticas a fim de serem incinerados. Esta iniciativa, apesar de
recente, representa um exemplo significativo para uma conscincia ecolgica crtica, como
defendido por Takayanagui (1993, p.86): A busca por um equilbrio dinmico na relao homem-meio ambiente, envolve um processo de reconhecimento dos problemas decorrentes desta relao, que deve estar associado a um processo de ensino-aprendizagem, para que o homem possa estabelecer um plano de aes que venham modificar ou interferir nos problemas ambientais, a partir de uma anlise crtica e consciente de sua realidade (TAKAYANAGUI, 1993, p. 86).
Aps a criao da Poltica Nacional de Resduos Slidos, a ANVISA reuniu-se para
criar um Grupo de Trabalho (GT) especfico para tratamento da problemtica (Descarte de
Medicamentos), o GT encontra-se em fase de elaborao das diretrizes que nortearo as aes
em mbito nacional. Outros exemplos de campanhas de descarte e coleta de medicamentos
tm sido identificados, a maioria pela iniciativa privada. o caso da Droga Raia, onde
possvel encontrar endereos na internet da prpria rede de pontos de coleta de medicamentos
em todo o pas acessando-se a pgina www.descarteconsciente.com.br.
http://www.descarteconsciente.com.br.
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2 REFERENCIAL TERICO-METODOLGICO
2.1 ALICERCE TERICO DO ESTUDO
2.1.1 Educao dialgica e problematizadora
A comunicao um dos grandes desafios de educadores e profissionais de sade,
pois quando nos dirigimos s pessoas, precisamos saber como faz-lo, valorizando o lugar de
quem comunicado no processo de comunicao. Esse processo implica em inteligibilidade
da informao e uma relao de dilogo, reciprocidade compreenso sobre o lugar de cada
qual nesse processo. Segundo Freire3 (2011, p.89), o ato comunicativo precedido de um
acordo entre os sujeitos, reciprocamente comunicantes.
Pensar na educao dialgica exige pensar os atos comunicativos uma relao
horizontal (A com B) e vice-versa, a qual deve ser nutrida com amor, humildade, esperana,
f e confiana tendo, sobretudo, uma conscincia crtica e geradora de criticidade. Tais
atributos so essenciais para quem assume o lugar de arquiteto da informao, quando da
produo de pginas eletrnicas com carter educativo, devendo essa pessoa pautar-se nos
princpios filosficos da educao dialgica, contribuindo para a formao da conscincia dos
educandos.
Freire (2011) destaca que existem trs tipos de conscincia: crtica, ingnua e mgica.
Na conscincia crtica, o sujeito encontra-se integrado realidade, onde ele mesmo pode criar,
recriar e decidir. Enquanto que a conscincia ingnua caracterizada pela superposio
realidade, quando se acredita ser superior aos fatos e julga-se livre para apropri-los como
bem entender. Por ltimo, a conscincia mgica descrita como aquela que se submete de
maneira passiva, levando ao cruzamento dos braos, ou seja, o indivduo fica vencido diante
dos fatos.
A captao ingnua e mgica da realidade fatalmente ocasiona certa acomodao,
ajustamento e adaptao, o que descaracteriza o sujeito, deixando-o domesticado e
minimizado. Por outro lado, a busca por uma conscincia crtica traz liberdade ao sujeito, uma
vez que desafia e se relaciona com a sua realidade. Uma atitude crtica tem por caractersticas
ser integradora, superar outras atitudes como ajustamento ou acomodao, aprender as tarefas
3FREIRE, P. Educao como prtica da liberdade. 34 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
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e temas de sua poca e estar conectada e emancipada.
Alvim e Ferreira (2007) afirmam que os princpios de uma prtica educativo-dialgica
com base na filosofia freireana subsidiam o dilogo no cuidar e no educar no campo da
enfermagem e auxiliam na transformao de saberes e prticas de grupos humanos
profissionais ou populares. As autoras destacam os princpios da dialogicidade, como um
exerccio vivo de dilogo, a transitividade da conscincia, de ingnua crtica, pedagogia
crtico-reflexiva, transformao-ao e a educao dialgica.
A natureza dialgica da mediao baseada na filosofia da educao dialgica busca a
integrao da realidade. Segundo Favero (2006), o dilogo em ambientes virtuais
caracterizado por linguagem especfica por meio dos textos escritos. A comunicao utiliza
recursos associados internet como blogs, chat, fruns e outros meios que permitem se
comunicar com vrias pessoas ao mesmo tempo e num curto espao de tempo. A percepo
da ocorrncia de dilogo em ambiente virtual validada quando possvel afirmar a presena
simultnea de cinco categorias: cooperao, equidade na relao, gerao de conhecimento,
incentivo e participao contnua (FAVERO, 2006).
A cooperao compreendida como a ajuda mtua entre os interlocutores, quando os
participantes de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) atuam para construir
coletivamente esse conhecimento. Supostamente, h maior relao de equilbrio pois h trocas
de saberes entre os sujeitos e maior liberdade e autonomia na comunicao. Por gerao de
conhecimento entende-se como resultado de todo dilogo onde h interao e mediao de
saberes e prticas. Por esta razo que o incentivo a estas prticas devem ser constantemente
estimulados possibilitando a manuteno do dilogo e a participao contnua evidenciada por
meio da regularidade e contiguidade dos usurios nos espaos de discusso representados por
fruns virtuais ou blogs. Sendo necessria a evidncia de todas as categorias para se constatar
a ocorrncia de dilogo no ambiente virtual analisado.
Alm de considerar as categorias apresentadas, a concepo freireana do que seria
definido como dialgico em ambiente virtual perpassa pela produo social da linguagem
como destacado por Freire (2004, p.74-75): Mas, se a comunicao e a informao ocorrem ao nvel da vida sobre o suporte, imaginemos sua importncia e, portanto, a da dialogicidade, na existncia humana no mundo. Nesse nvel, a comunicao e a informao se servem de sofisticadas linguagens e de instrumentos tecnolgicos que encurtam o espao e o tempo. A produo social da linguagem e de instrumentos com que os seres humanos melhor interferem no mundo anuncia o que ser a tecnologia (FREIRE, 2004, p.74-75).
A reflexo sobre um problema ambiental, como o caso do descarte de medicamentos
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no ambiente, que frequentemente afeta a qualidade de vida das pessoas de uma comunidade,
necessrio no apenas sensibilizar, mas incentivar uma prtica de ao-reflexo-ao sobre o
problema, como defendido na concepo freireana da educao. Compreender o problema
requer, primeiramente, torn-lo visvel, uma vez que a natureza da ao corresponde,
necessariamente, natureza da compreenso. Por isso o movimento de ao e reflexo
considerado como a prxis verdadeira que possibilita o dilogo.
O dilogo promove encontro entre os homens, mediatizado pelo mundo, resultando em
sujeitos dialgicos, crticos e que pronunciam o mundo, incentivam o refletir e o agir, no se
reduzindo a um simples depsito de ideias reflexas e no reflexivas (FREIRE, 2005). O
dilogo, portanto, requer uma preocupao com o seu contedo: Para o educador-educando, dialgico, problematizador, o contedo programtico da educao no uma doao ou uma imposio um conjunto de informes a ser depositado nos educandos, mas a revoluo organizada, sistematizada e acrescentada ao povo, daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada (FREIRE, 2005, p.47).
O que demanda uma reviso sobre o contedo do dilogo e um trabalho que promova
a libertao dos sujeitos e uma conscincia crtica, baseada em uma educao essencialmente
problematizadora, que esteja prxima do sujeito dialgico e oferea uma experincia
integradora.
Para Buber (1982), o dilogo consolidado por meio da relao Eu-Tu, refletindo a
atividade do saber, do experimentar, do utilizar, valorizando as conexes causais que se
estabelecem entre o homem e os seres que o envolvem no mundo cotidiano, no seu universo
cultural individual ou social. O dilogo verdadeiro d-se novamente por meio das virtudes da
reciprocidade e da intersubjetividade dos sujeitos.
Contudo, necessrio atentar para o que Freire (2005) considera antidialgico, ou
seja, uma atitude irredutvel, alienada e alienante, por fim, fechada a contribuies. Nessa
perspectiva, no h denncia do mundo e, muito menos, compromisso com a transformao
da realidade, apenas depsito de informaes, de forma acrtica.
Por outro lado, a educao na concepo dialgica e problematizadora, aproxima os
interlocutores, relacional e mesmo que praticada por meio de textos escritos, como no caso
de ambiente virtual, tanto educador quanto educando devem expressar o mximo de inteno
e afeto (FAVERO, 2006).
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2.1.2 Viso crtica da educao ambiental
A associao entre a temtica ambiental e os pressupostos da educao crtica,
dialgica, emancipatria e transformadora como defendido por Freire (1987) tem uma relao
direta com a viso crtica de Educao Ambiental (EA) que orientou a concepo, construo
e validao do website sobre descarte de medicamentos. Para isso, necessrio entender a
contribuio da educao no enfrentamento de problemas ambientais, como o caso do
descarte de resduos de medicamentos no ambiente.
A educao representa um processo de humanizao que se d ao longo de toda a vida,
de muitos modos diferentes, ocorrendo em casa, na rua, no trabalho, na igreja, na escola, entre
outros. Alm de um processo infinito, que acontece em mltiplos espaos e diferentes
situaes da vida, compreende-se que a educao est ligada aquisio e articulao do
conhecimento popular e cientfico, entendido como uma reorganizao, incorporao e
criao do conhecimento (BRANDO, 1995). Alm disso, se configura como uma prtica
social e politicamente compromissada, que visa garantir os processos de sociabilidade e a
construo de relacionamentos entre a sociedade e a natureza e entre os diferentes seres
humanos.
No sentido de ampliar o entendimento sobre como a educao pode contribuir para o
tratamento da problemtica do descarte do medicamento no ambiente, se faz necessrio
compreender quais pressupostos esto sendo eleitos para orientar as reflexes e as decises
polticas frente temtica ambiental e o processo educativo. Gadotti (2001) destaca que vivemos na era da informao, onde o que era chamado de
cidadania ambiental local tornou-se cidadania planetria. A virtualidade e a planetaridade
representam, portanto, novos paradigmas na sociedade. A conscincia e a solidariedade
planetrias devem ento ser colocadas em ao. O termo ecopedagogia tambm introduzido
pelo mesmo autor, como o movimento de pensar a partir da vida cotidiana. Enquanto que
Loureiro (2004, p. 89) destaca o conceito de educao ambiental transformadora: A educao ambiental transformadora aquela que possui contedo emancipatrio, em que a dialtica entre forma e contedo se realiza de tal maneira que as alteraes da atividade humana; vinculadas ao fazer educativo, impliquem mudanas individuais e coletivas, locais e globais, estruturais e conjunturais, econmicas e culturais (LOUREIRO, 2004, p.89).
Carvalho (2006, p.6) afirma que estas relaes devem valorizar a vida e, por isso, so
caracterizadas como humanizadoras. Destaca ainda que por se tratar de uma educao que
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considera os problemas socioambientais assumindo uma postura crtica, a dimenso poltico-
ideolgica tambm deve estar presente:
A construo de uma perspectiva poltica para a educao ambiental aproxima as propostas elaboradas para a mesma, das propostas elaboradas para a educao em geral. No entanto, quando analisamos as prticas que muitos educadores ambientais tm proposto e desenvolvido, identificamos certo distanciamento entre o nvel da inteno e o da prtica e, consequentemente, certo distanciamento dessa perspectiva poltica transformadora do ato educativo (CARVALHO, 2006, p.6).
Uma vez que as diferentes vises de cada modelo na sociedade definem diferentes
propostas ou programas de aes sociais e diferentes vises do processo educativo,
estruturando propostas educativas com caractersticas prprias. Segundo Carvalho (2006,
p.24) a natureza tornou-se agora, antes de tudo, um tema visceralmente e necessariamente
poltico. A compreenso dos limites da educao e suas potencialidades para a discusso da
temtica ambiental de maneira crtica, dialgica e emancipatria. Portanto, a viso
sociocrtica de educao ambiental e sua atuao como prtica social e poltica se configura
como um importante instrumento para a mediao de aes educativas envolvendo temticas
ambientais de interesse para a sociedade. A EA fomenta sensibilidades afetivas e capacidades
cognitivas para uma leitura do mundo do ponto de vista ambiental.
Na tentativa de situar a perspectiva crtica da educao ambiental, o Ministrio da
Educao, em conjunto com o Ministrio do Meio Ambiente (2007) publicaram o manual
Vamos cuidar do Brasil: conceitos e prticas em educao ambiental na escola com o apoio
de vrios colaboradores. Nele, Loureiro (2007) destaca que o campo da EA foi formado por
diversas vises de mundo em dilogo e disputa, sobressaindo mais uma negao ao estilo de
vida urbano-industrial e aos valores culturais individualistas e consumistas do que alternativas
e pontos comuns. Alm disso, ressalta que por representar uma prtica social no que se refere
construo histrica humana, a educao ambiental tem como funo estabelecer uma
relao entre os processos ecolgicos e os sociais na leitura de mundo.
Desse modo, o ambiente considerado como o conjunto das inter-relaes entre o
mundo natural e o mundo social, mediados por saberes locais e tradicionais, alm dos saberes
cientficos. Alm disso, possui uma abordagem complexa, interdisciplinar e requer uma
interpretao histrico-crtica da realidade. Todos estes pressupostos afirmam o carter
participativo, permanente e poltico da dimenso ambiental e sua contribuio no processo
educativo.
A educao ambiental, em uma perspectiva crtica, se configura como um projeto
poltico-pedaggico que tem por finalidade a formao de sujeitos ecolgicos comprometidos
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com os problemas socioambientais em suas mltiplas dimenses: geogrfica, histrica,
biolgica e social, como afirmado por Carvalho (2011, p.156): Esse projeto educativo crtico tem razes nos ideais emancipadores da educao popular, a qual rompe com a viso de difuso e repasse de conhecimentos, assumindo sua funo de prtica mediadora da construo social de conhecimentos implicados na vida do sujeito (CARVALHO, 2011, p.156).
Dessa forma, estabelece-se como mediao para mltiplas compreenses da
experincia do indivduo e dos coletivos sociais em suas relaes com o ambiente. Esse
processo de aprendizagem, por via dessa perspectiva de leitura, d-se particularmente pela
ao do educador como intrprete dos nexos entre sociedade e ambiente e da educao
ambiental como mediadora na construo social de novas sensibilidades e posturas ticas
diante do mundo (CARVALHO, 2011).
Os contedos cientficos mediados na educao ambiental tm sua origem na
interdisciplinaridade e complementariedade de saberes, os quais precisam ser traduzidos para
a sociedade em geral. Nesse sentido, a alfabetizao cientifica e ecolgica representa um
campo do ensino de cincias que estrategicamente articula uma multiplicidade de saberes, sua
traduo e transferncia do campo cientfico para a vida comum.
A Educao em Sade Ambiental vem sendo descrita como uma rea de conhecimento
tcnico, mas que contribui para a formao e o desenvolvimento da conscincia crtica do
cidado, estimulando a sua participao e utiliza entre outras estratgias a mobilizao social,
a comunicao educativo-dialgica e a formao permanente (FUNASA, 2012).
Portanto, espaos no formais de aprendizagem, como o caso do website, podem
funcionar como instrumentos mediadores deste campo e auxiliar no enfrentamento de
problemas scio ambientais. Na educao no formal existe a intencionalidade de criar ou
buscar determinadas qualidades e/ou objetivos em espaos no escolares atuando em vrias
dimenses que visam formao do indivduo no sentido de politizar os sujeitos de seus
direitos enquanto cidados.
Alm disso, busca capacitar os indivduos para o trabalho, por meio da aprendizagem
de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades, de promover a aprendizagem e
exerccio de prticas que capacitem os indivduos a se organizarem com objetivos
comunitrios, como tambm, o ensino-aprendizagem diferenciado dos contedos da
escolarizao formal (GOHN, 2006).
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2.1.3 Alfabetizao cientfica e ecolgica em ambientes virtuais
Shen (1975) classificou a alfabetizao cientfica de trs formas: prtica, cvica e
cultural. Na alfabetizao cientfica prtica, entende-se que o conhecimento cientfico til
para a resoluo de problemas prticos relacionados s necessidades humanas bsicas como a
alimentao, a sade e a habitao. A alfabetizao cientfica cv