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i UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE. FACULDADE DE MEDICINA. PÓS-GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA. SETOR DE SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. FATORES RELACIONADOS À DEMORA NO DIAGNÓSTICO DE DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE. A VISÃO DA FAMÍLIA. Andréia de Santana Silva Moreira. Orientadores: Profa Dra Alexandra Prufer Q. C. Araújo. Prof Dr Abelardo Queiroz Campos Araújo. Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica, Setor de Saúde da Criança e do Adolescente, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção de título de Mestre em Medicina. Rio de Janeiro. Março 2008.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE. FACULDADE DE MEDICINA. PÓS-GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA. SETOR DE SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

FATORES RELACIONADOS À DEMORA NO DIAGNÓSTICO DE

DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE. A VISÃO DA FAMÍLIA.

Andréia de Santana Silva Moreira.

Orientadores: Profa Dra Alexandra Prufer Q. C. Araújo.

Prof Dr Abelardo Queiroz Campos Araújo.

Dissertação de Mestrado apresentado ao

Programa de Pós-Graduação em Clínica

Médica, Setor de Saúde da Criança e do

Adolescente, da Universidade Federal do

Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção de título de Mestre

em Medicina.

Rio de Janeiro. Março 2008.

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FATORES RELACIONADOS À DEMORA NO DIAGNÓSTICO DE DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE. A VISÃO DA FAMÍLIA

ANDRÉIA DE SANTANA SILVA MOREIRA ORIENTADORES: ALEXANDRA PRUFER Q. C. ARAÚJO,

ABELARDO QUEIROZ CAMPOS ARAÚJO.

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM MEDICINA.

APROVADA EM 24 DE MARÇO DE 2008. BANCA EXAMINADORA: ---------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Clemax Couto Sant’Anna. (Presidente) ---------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Maria Amélia Sayeg Porto. ---------------------------------------------------------------------------------------- Prof. Heber de Souza Maia Filho.

Rio de Janeiro. Março 2008

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MOREIRA, Andréia Fatores relacionados à demora no diagnóstico de Distrofia muscular de Duchenne. A visão da família/ Andréia de Santana Silva Moreira. Rio de Janeiro, UFRJ, Faculdade de Medicina, 2008. xviii, 111p., il. Orientadores: Araújo, Alexandra Prufer Queiroz Campos; Araújo, Abelardo Queiroz Campos. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Medicina, 2008. 1- Distrofia muscular de Duchenne. 2- Diagnóstico. 3-Acessibilidade aos serviços de saúde. 4- Neurologia – Tese. I –Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina, Pós-graduação em Medicina (Clínica Médica) II – Araújo, Alexandra Prufer Queiroz Campos. III – Araújo, Abelardo Queiroz Campos. IV – Título.

Rio de Janeiro. Março 2008.

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Aos meus filhos Matheus e João Pedro, razões da minha existência Ao meu marido, Emmanuel, companheiro de todas as horas

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À Professora Alexandra Prufer, minha orientadora, pela total dedicação,

profissionalismo, competência, atenção e principalmente pela paciência. Esteve ao meu

lado durante toda a execução deste trabalho, mesmo antes dele “nascer”.

Ao Professor Abelardo Araújo, por ter aceito a orientação deste trabalho.

À Professora Ana Lúcia Ferreira, pessoa fundamental na fase de elaboração do

projeto.

À Professora Lúcia Fontenelle, professora adjunta de Pediatria da UFRJ,

neuropediatra, exemplo de dedicação a seus alunos e pacientes. Mestra não só na

Medicina, mas em vários aspectos da vida.

À Dra Laís Pires, chefe do Serviço de Neuropediatria do IPPMG – UFRJ, por ter

permitido a realização deste trabalho. E principalmente pela pessoa maravilhosa que é.

Aos alunos do Programa de Iniciação Científica (PINC), em especial à aluna

Camila Curado, pela colaboração na realização do trabalho.

Ao amigo Bruno Campos, pela ajuda no banco de dados e análise estatística.

À Camila Moreira, filha do coração, pela ajuda “operacional.”

Aos meus amigos neuropediatras, pela força e pela torcida, em especial à Gilca e

Vinícius.

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Ao Dr Alcir Francisco da Silva, chefe do Serviço de Neuropediatria do Hospital

dos Servidores do Estado por ter me apresentado a tão fascinante especialidade, sem ele

meu caminho teria sido totalmente diferente.

Aos meus pais, Moisés e Roseni pelo carinho e pela torcida.

Aos responsáveis pelos pacientes com Distrofia Muscular de Duchenne, que

participaram deste trabalho, em especial, àqueles cujos filhos já haviam falecido, que

compareceram com o intuito único de contribuir.

Aos pacientes com Distrofia Muscular de Duchenne, fontes de inspiração e mola

propulsora na realização deste trabalho.

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Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor. Goethe

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RESUMO -----------------------------------------------------------------------------------xii

ABSTRACT --------------------------------------------------------------------------------xiv

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ---------------------------------------------xvi

LISTA DE FIGURAS , QUADROS E GRÁFICOS----------------------------------xvii

LISTA DE TABELAS -------------------------------------------------------------------xviii

1 – INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------ 1

1.1 – JUSTIFICATIVAS -------------------------------------------------------------- 4

2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS ---------------------------------------------------------- 5

2.1 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS EM DISTROFIA MUSCULAR -------6

2.1.1 – Introdução-----------------------------------------------------------------6

2.1.2 – Conceito-------------------------------------------------------------------6

2.1.3 – Patogênese ---------------------------------------------------------------6

2.1.4 – Formas de distrofia ----------------------------------------------------11

2.1.4.1 – Distrofias musculares --------------------------------------11

2.1.4.2 – Distrofias musculares congênitas -------------------------11

2.2 – FUNDAMENTOS TEÓRICOS EM DISTROFIA MUSCULAR DE

DUCHENNE -------------------------------------------------------------------------------------13

2.2.1 – Introdução --------------------------------------------------------------13

2.2.2 – Histórico ----------------------------------------------------------------13

2.2.3 – Incidência e Herança --------------------------------------------------15

2.2.4 – A Distrofina e a correlação genótipo-fenótipo ---------------------15

2.2.5 – Manifestações clínicas ------------------------------------------------17

2.2.6 – Diagnóstico -------------------------------------------------------------19

2.2.6.1 – Dosagem sérica de creatinofosfoquinase ----------------19

2.2.6.2 – Eletroneuromiografia --------------------------------------21

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2.2.6.3 – Análise molecular ------------------------------------------21

2.2.6.4 – Biópsia muscular ------------------------------------------22

2.2.6.5 – Diagnóstico pré-natal -------------------------------------23

2.2.7 - Aconselhamento genético --------------------------------------------24

2.2.8 – Tratamento --------------------------------------------------------------25

2.2.8.1 – Métodos paliativos -----------------------------------------25

2.2.8.2 – Perspectivas de tratamento --------------------------------27

2.2.8.2.a – Terapias gênicas ---------------------------------28

2.2.8.2.b – Terapia celular -----------------------------------31

2.2.8.2.c – Uso de drogas ------------------------------------32

3 – OBJETIVOS --------------------------------------------------------------------------------34

3.1 – OBJETIVO GERAL ------------------------------------------------------------35

3.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS -------------------------------------------------35

4 – METODOLOGIA --------------------------------------------------------------------------36

4.1 – LOCAL DO ESTUDO ----------------------------------------------------------37

4.2 – TIPO DE ESTUDO -------------------------------------------------------------37

4.3 – POPULAÇÃO --------------------------------------------------------------------37

4.4 – AMOSTRA -----------------------------------------------------------------------37

4.5 – CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ------------------------------------------------37

4.6 – CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO -----------------------------------------------38

4.7 – ETAPAS DO ESTUDO --------------------------------------------------------38

4.7.1 – Primeira etapa: levantamento de elegíveis -------------------------38

4.7.2 – Segunda etapa: elaboração do questionário ------------------------38

4.7.3 – Terceira etapa: aplicação do questionário piloto ------------------39

4.7.4 – Quarta etapa: aplicação do questionário ----------------------------40

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4.8 – PERDAS---------------------------------------------- -----------------------------40

4.9 – QUESTÕES ÉTICAS ----------------------------------------------------------41

4.10 – COLETA E ARMAZENAMENTO DE DADOS------------------------41

4.11 – VARIÁVEIS E DEFINIÇÕES ----------------------------------------------41

4.12 – ANÁLISE DE DADOS -------------------------------------------------------43

5 – RESULTADOS -----------------------------------------------------------------------------45

6 – DISCUSSÃO --------------------------------------------------------------------------------57

6.1 – LIMITAÇÕES DO ESTUDO -------------------------------------------------64

7 – CONCLUSÕES -----------------------------------------------------------------------------66

7.1 – CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.1 --------------------67

7.2 – CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.2 --------------------67

7.3 – CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.3 --------------------67

7.4 – CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.4 --------------------67

7.5 – CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.5 --------------------67

7.6 – CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.6 --------------------68

8 – RECOMENDAÇÕES----------------------------------------------------------------------69

8.1 – RECOMENDAÇÕES PARA A PESQUISA CIENTÍFICA ------------70

8.2 – RECOMENDAÇÕES PARA EDUCAÇÃO MÉDICA ------------------70

9 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------------------------------------71

10 – ANEXOS------------------------------------------------------------------------------------78

ANEXO I: CARTA CONVITE PARA A PESQUISA --------------------------79

ANEXO II: QUESTIONÁRIO PILOTO -----------------------------------------80

ANEXO III: INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS -------------------83

ANEXO IV: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECID87

ANEXO V: MEMORANDO DE APROVAÇÃO --------------------------------89

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ANEXO VI: TRABALHO APRESENTADO SOB A FORMA DE

POSTER-90

ANEXO VII: ARTIGO DE REVISÃO --------------------------------------------91

ANEXO VIII: ARTIGO ORIGINAL --------------------------------------------100

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FATORES RELACIONADOS À DEMORA NO DIAGNÓSTICO DE DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE. A VISÃO DA FAMÍLIA.

RESUMO

INTRODUÇÃO: A distrofia muscular de Duchenne é a doença neuromuscular mais

freqüente na infância, com uma incidência de 1 para cada 3500 recém-nascidos do sexo

masculino. A demora no diagnóstico definitivo da doença é descrita em vários estudos

na literatura nacional e internacional, porém os motivos responsáveis pela mesma não

estão elucidados.

OBJETIVO: Estudar os fatores que, na opinião dos familiares, levam à demora no

diagnóstico de Distrofia Muscular de Duchenne.

MÉTODOS: Estudo observacional, descritivo transversal. A amostra foi de

conveniência composta por responsáveis pelos pacientes com diagnóstico definitivo de

Distrofia Muscular de Duchenne, confirmado por ausência de distrofina na biópsia

muscular ou por deleção de DNA, consecutivamente atendidos nos ambulatórios de

neuropediatria do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da

Universidade Federal do Rio de Janeiro , no período de 1989 à 2005.

RESULTADOS: Participaram do estudo 40 responsáveis por pacientes com

diagnóstico definitivo de Distrofia Muscular de Duchenne, confirmado por achado de

deleção na análise molecular e/ou ausência de distrofina na biópsia muscular. A idade

média dos primeiros sintomas foi de 2 anos e 11 meses ( DP: 1ano e 9 meses). A idade

média do diagnóstico definitivo foi de 6 anos e 10 meses (DP: 2 anos e 7 meses). O

intervalo entre as idades foi de 3 anos e 10 meses ( DP: 2 anos e 7 meses). Dentre os

fatores alegados pelos responsáveis como relacionados com a demora no diagnóstico,

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predomina a falta de reconhecimento da doença pelos médicos. A maioria dos

responsáveis negou dificuldades no atendimento com o especialista e dificuldades na

realização dos exames complementares.

CONCLUSÕES: Pelo presente estudo, podemos sugerir que possivelmente exista

problemas na formação médica, que justificaria não só a falta de reconhecimento dos

primeiros sintomas, bem como encaminhamentos equivocados e tardios ao especialista.

Tais fatores podem de fato retardar o diagnóstico. O diagnóstico precoce da doença é de

suma importância, pois é única forma de garantir a essas famílias um planejamento de

vida mais realístico e permitir o aconselhamento genético. Sendo assim, torna-se

importante a divulgação da doença especialmente entre os profissionais cuidadores de

crianças.

PALAVRAS-CHAVE: Distrofia muscular de Duchenne, diagnóstico, acessibilidade

aos serviços de saúde.

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ABSTRACT

RELATED REASONS FOR THE DELAY IN THE DIAGNOSIS OF

DUCHENNE MUSCULAR DYSTROPHY. THE FAMILY’S POINT OF VIEW.

INTRODUCTION: Duchenne muscular dystrophy is the most frequent neuromuscular

disease in childhood, with an incidence of 1 each 3500 male newborns. The diagnosis

delay of the disease is described in many national and international studies, however,

the factors related to it are unknown.

OBJECTIVE: Study the factors that, according to the relatives, are involved with the

delay in the Duchenne muscular dystrophy diagnosis.

METHODS: Observational sectional descriptive study, on a convenience sample

composed by the relatives of patients with definitive diagnosis of DMD, consecutively

assisted in the neuropediatric clinics of the Institute of Child Care and Pediatric

Martagão Gesteira of the Federal University of Rio de Janeiro, from 1989 through 2005.

RESULTS: Forty relatives of patients with definitive diagnosis of DMD, confirmed by

molecular analysis and/or absence of dystrophin in the muscular biopsy. The mean age

of the first symptoms was 2 years and 11 months (SD: 1 year and 9 months). The mean

age of the definitive diagnosis was 6 years and 10 months (SD: 2 years and 7 months).

The interval between the ages was 3 years and 10 months (SD: 2 years and 7 months).

Among the factors listed by the relatives as related with the delay in the diagnosis,

predominates lack of recognition of the disease by the doctors. Most of the relatives

denied difficulties regarding consultation with the child neurologist or difficulties with

the confirmatory tests.

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CONCLUSIONS: Based on the present study we can possibly suggest the existence of

problems in the medical formation, which would justify not only the difficulty with first

symptoms recognition but the wrong and late referral to a specialist. Such factors may

delay the diagnosis. The early diagnosis of the disease is really important, because it’s

the only way to assure these families a more realistic plan of life and to allow the

genetic counseling. Consequently, it becomes important to publish and reinforce

knowledge about the disease, specially among the professionals who take care of

children.

KEY-WORDS: Duchenne muscular dystrophy, diagnosis, health services accessibility.

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS.

AAA – VETORES ASSOCIADOS AO ADENOVÍRUS.

ABRAME – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ATROFIA MUSCULAR ESPINHAL.

ACADIM – ASSOCIAÇÃO CARIOCA DE DISTROFIA MUSCULAR.

CPK – CREATINOFOSFOQUINASE.

DMB – DISTROFIA MUSCULAR DE BECKER.

DMC – DISTROFIA MUSCULAR CONGÊNITA.

DMD – DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE.

DNA – ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLÉICO.

DP – DESVIO-PADRÃO.

ENMG – ELETRONEUROMIOGRAFIA.

EUA – ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA.

HUCFF - HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO.

IPPMG – INSTITUTO DE PUERICULTURA E PEDIATRIA MARTAGÃO

GESTEIRA.

Kb – KILOBITES.

Kg – KILOGRAMA.

mg – MILIGRAMA.

PCR – REAÇÃO DE CADEIA DE POLIMERASE.

PINC – PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA.

RNA-m – ÁCIDO RIBONUCLÉICO MENSAGEIRO.

SNC – SISTEMA NERVOSO CENTRAL.

SOPERJ – SOCIEDADE DE PEDIATRIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

UFRJ – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO.

USP – UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.

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LISTA DE FIGURAS, QUADROS E GRÁFICOS.

FIGURA 1 – Complexo distrofina/glicoproteínas -----------------------------------7

QUADRO 1 – Variáveis e objetivos -------------------------------------------------42

GRÁFICO 1 – Distribuição de freqüência da forma de apresentação do primeiro

sintoma ----------------------------------------------------------------------------------- 46

GRÁFICO 2 – Distribuição de freqüência de quem reconheceu o primeiro

sintoma------------------------------------------------------------------------------------ 48

GRÁFICO 3 – Distribuição de freqüência da existência de demora no

diagnóstico definitivo -------------------------------------------------------------------49

GRÁFICO 4 – Distribuição de freqüência de dificuldades no atendimento com

o especialista -----------------------------------------------------------------------------54

GRÁFICO 5 – Distribuição de freqüência da dificuldade de realização dos

exames-------------------------------------------------------------------------------------55

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Fatores relacionados à demora no diagnóstico -----------------------------50

TABELA 2 – Causas atribuídas pelos pediatras aos primeiros sintomas ----------------51

TABELA 3 – Recomendações do pediatra ---------------------------------------------------52

TABELA 4 – Quem encaminha ao neurologista --------------------------------------------53

TABELA 5 - Dificuldades na realização de exames complementares -------------------56

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1- INTRODUÇÃO.

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A distrofia muscular de Duchenne (DMD) foi descrita pela primeira vez em 1852,

por Meryon. Em 1868, Duchenne delineou as características clínicas e patológicas desta

doença: início na infância, fraqueza muscular acometendo inicialmente os membros

inferiores e musculatura paravertebral e posteriormente membros superiores, aumento do

volume dos músculos afetados e substituição das fibras musculares por tecido fibroso.(1,2)

A DMD apresenta incidência de 1 para cada 3500 recém-nascidos do sexo

masculino. É a distrofia muscular mais freqüente na infância. A herança é ligada ao X,

manifestando-se, portanto em pacientes do sexo masculino e tendo as mulheres como

portadoras. Até 1/3 dos casos podem ser esporádicos, correspondendo a mutações novas do

gene.(1,2,3)

Os primeiros sintomas da doença acontecem entre 1 e 4 anos de idade. São eles:

atraso no início da marcha, quedas freqüentes, marcha típica (anserina e digitígrada),

dificuldades para subir escadas ou levantar-se do chão, pseudohipertrofia de

panturrilhas.(1,2,3)

A fraqueza muscular é simétrica e progressiva, acometendo inicialmente a

musculatura dos membros inferiores até a perda da capacidade de deambulação.

Posteriormente acomete a musculatura de membros superiores e, por fim, a musculatura

intercostal, ocorrendo então dificuldade respiratória e o óbito, em geral na segunda década

de vida.(2,3)

A DMD tem seu diagnóstico dependente de exames complementares, tais como:

dosagem sérica de creatinofosfoquinase (CPK), que se presta como exame de triagem

contribuindo para a suspeita do diagnóstico ao estar muito elevada; eletroneuromiografia

(ENMG) com padrão miopático, confirma que a lesão se encontra no músculo; análise

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molecular onde há presença de deleção no cromossoma Xp21, gene da distrofia,

confirmando geneticamente a doença; biópsia muscular, onde encontramos ausência de

uma proteína muscular – a distrofina confirmando a base fisiopatológica da doença.(1,2,3,4)

Pode ser suspeitada precocemente em elevações de CPK nos testes de triagem neonatal.(3)

Não existe atualmente tratamento curativo para esta doença. O tratamento consiste

em métodos paliativos, tais como fisioterapia motora e respiratória, cirurgias ortopédicas

corretivas das retrações fibrotendíneas e da deformidade da coluna. O uso do corticóide é

capaz de provocar uma modificação no curso natural da doença, melhorando a força

muscular, retardando de 1 a 3 anos a época do confinamento à cadeira de rodas e a

progressão da cifoescoliose.(3,4) Pode ser ainda encarado como uma forma de “comprar

tempo” para o doente à espera de uma eventual terapia eficaz, uma vez que existem

pesquisas em andamento como o uso da terapia gênica e de células tronco.(4)

O ideal seria que a terapia com corticóide fosse instituída precocemente, porém em

recente trabalho feito no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG)

pudemos observar que a idade média de diagnóstico definitivo de DMD é de 7 anos,

enquanto que em outros países, como por exemplo Reino Unido, Chile e México, esta

idade é de 5 anos.(2,3,5)

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1.1- JUSTIFICATIVAS

Não existem razões estabelecidas na literatura para uma demora no diagnóstico

definitivo de DMD. O que existe são apenas especulações, tais como a falta de valorização

de sinais precoces da doença, tanto pela família quanto pelo profissional de saúde,

encaminhamentos equivocados e tardios ao especialista, dificuldade de acesso a exames de

triagem e dificuldade de acesso a centros terciários capazes de realizar o diagnóstico

definitivo.(2,3,6)

O presente trabalho visa identificar os fatores relacionados a esta demora no

diagnóstico de DMD, a fim de poder sugerir implantação de ações educativas que alertem

para esta doença, além de permitir que a terapia com corticóide seja instituída

precocemente, postergando o confinamento à cadeira de rodas e permitindo à família um

planejamento de vida mais realista, encaminhado-as para aconselhamento genético

evitando novos casos da doença.

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2- FUNDAMENTOS TEÓRICOS.

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2.1- FUNDAMENTOS TEÓRICOS EM DISTROFIA MUSCULAR.

2.1.1- INTRODUÇÃO:

Este capítulo tem como objetivo situar o leitor no tema estudado. Não cabe aqui

entrar em detalhes sobre todas as formas de distrofia, uma vez que isso fugiria ao tema

deste estudo. Serão abordados: conceito, patogênese e formas de distrofia muscular.

2.1.2- CONCEITO:

As distrofias musculares são um grupo de doenças, que se diferenciam das outras

doenças neuromusculares por quatro critérios obrigatórios:

(a) São miopatias primárias, não neurogênicas;

(b) São determinadas geneticamente;

(c) São doenças progressivas, algumas lentamente progressivas e compatíveis com

uma longevidade normal e outras rapidamente progressivas levando à morte

precocemente;

(d) Apresentam degeneração da fibra muscular e conseqüente fraqueza muscular.(7)

2.1.3- PATOGÊNESE:

A fim de propiciar melhor entendimento dos diferentes tipos de defeitos

moleculares envolvidos na gênese das distrofias, apresentaremos um breve resumo da

estrutura da fibra muscular e das possíveis localizações dos defeitos.

No músculo normal, o complexo distrofina – glicoproteínas associado liga o

citoesqueleto subsarcolemal contrátil com a matriz extracelular do músculo esquelético.

Essa ligação é fundamental para a estabilização e o reforço da membrana da fibra

muscular, a fim de que essa não se rompa durante a contração das miofibrilas pela

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transmissão da força resultante à lâmina basal da matriz extracelular. Para exercer essa

estabilização, o complexo de proteínas que conecta as proteínas contráteis, actina e

miosina, com o exterior da célula apresenta uma distribuição que se estende até a

membrana basal. A distrofina está ancorada ao sarcolema por um complexo composto de

pelo menos 10 subcomplexos de proteínas (Figura 1). Esse complexo ultrapassa a

membrana e conecta a actina no interior da fibra, com a membrana basal, no exterior da

fibra, podendo ser considerado um pilar de conexão do interior para o exterior da fibra

muscular.(8)

Figura 1: Complexo distrofina/glicoproteínas e outras proteínas da fibra muscular

(modificado e adaptado por Bushby, extraída de Diament e Cypel, 2005).

O primeiro elo da conexão é a proteína distrofina, localizada na face

citoplasmática do sarcolema. A estrutura da distrofina apresenta quatro regiões distintas:

porção NH2- terminal, porção central, região COOH- terminal e porção rica em cisteína. A

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porção N-terminal se liga diretamente com a actina. A porção central compõe a maior parte

da proteína e alberga o domínio rico em prolina que medeia a interação entre a distrofina e

a beta-distroglicana, segundo elo da conexão. O domínio rico em cisteína está relacionado

à ligação com a calmodulina, e tal como essa última, apresenta sítios de ligação com o

cálcio intracelular. O domínio C-terminal possui sítios de ligação com a proteína

distrobrevina e pode modular uma interação com a sintrofina e outras proteínas associadas

com a distrofina.(8)

O segundo elo de conexão é o complexo distroglicana composto pela beta e alfa –

distroglicanas. A beta-distroglicana apresenta um domínio único transmembrana e está

inserida dentro do sarcolema, se liga diretamente com a região rica em cisteína da

distrofina. A alfa-distroglicana está localizada no lado externo do sarcolema, na matriz

extracelular, onde interage diretamente com a beta-distroglicana. A porção central das duas

proteínas é codificada pelo mesmo gene. As distroglicanas se associam ao complexo

sarcoglicana-sarcospan. Além da função de estabilizar a membrana da fibra muscular, as

distroglicanas estão envolvidas no desenvolvimento epitelial e na organização da matriz

extracelular. Outra proteína transmembrana que se liga com a beta-distroglicana é a

caveolina-3.(8)

Além da alfa-distroglicana, já de localização extracelular, o terceiro elo de

conexão que permite a estabilização da membrana é a cadeia da alfa2-laminina2

(merosina), principal componente da matriz extracelular, que se liga à alfa-distroglicana. A

merosina, além de manter a integridade celular, também promove reparação tecidual e

medeia interações teciduais, tal como outras lamininas em outros tecidos. A sua perda e,

consequentemente, a falta de tais habilidades de reparação, poderiam explicar a abundância

de tecido conjuntivo no músculo das crianças afetadas pela sua deficiência. Além de ligar-

se à alfa-distroglicana, a merosina interage com uma integrina músculo – específica. As

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integrinas são uma ampla família de receptores heterodiméricos, de localização

transmembrana, que medeiam a associação entre a matriz extracelular e as proteínas

citoesqueléticas e são compostas por duas diferentes subunidades. As integrinas funcionam

como receptores da laminina e participam de processos celulares fundamentais, tais como

adesão, proliferação, organização do citoesqueleto, migração, diferenciação e sobrevida.(8)

Além da cadeia alfa2 da laminina, outros componentes da matriz extracelular

também estão envolvidos com a função da fibra muscular, como por exemplo o

colágeno.(8)

Além dessas ligações mais diretamente envolvidas com a estabilização da

membrana da fibra muscular, a distrofina também se liga ao complexo de sarcoglicanas-

sarcospan e ao subcomplexo citoplasmático das sintobrevinas e distrobrevinas. A ausência

de um componente do complexo das sarcoglicanas tem importantes conseqüências na

estabilidade de outros componentes da membrana plasmática, resultando na redução das

outras sarcoglicanas. Sarcospan também está reduzido nos pacientes com

sarcoglicanopatias. No entanto, ainda não foi identificado defeito genético no gene do

sarcospan entre os seres humanos. A principal função do complexo sarcoglicanas-

sarcospan seria ancorar e estabilizar o complexo das distroglicanas no sarcolema.(8)

A família das sintrofinas é composta por cinco membros. As sintrofinas ligam-se

diretamente com o domínio C-terminal da distrofina e à distrobrevina, sua função exata

ainda não está esclarecida.(8)

As distrobrevinas também se ligam diretamente ao domínio C-terminal da

distrofina no músculo, cérebro e outros tecidos. Apesar de sua função exata não estar

definida, aparentemente atuam na sinaptogênese e na maturação da junção

neuromuscular.(8)

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Finalmente, a disferlina e a calpaína 3 são proteínas também implicadas na

etiopatogenia de subtipos de síndromes de cinturas, não estando porém diretamente

relacionadas ao complexo distrofina-glicoproteínas associadas.(8)

Por todos esses dados moleculares, atualmente tende-se a denominar os subtipos

de distrofia muscular pela proteína deficitária: distrofinopatia, merosinopatia,

sarcoglicanopatia, calpaínopatia, disferlinopatias e outras.(8)

Tanto as distrofinopatias quanto as merosinopatias, são doenças neuromusculares

próprias das crianças e altamente freqüentes, que são respectivamente, as distrofias

musculares ligadas ao sexo de Duchenne (DMD) e Becker (DMB) e a distrofia muscular

congênita (DMC) com deficiência de merosina.(8)

As demais são síndromes de cinturas que afetam principalmente jovens e adultos e,

mais raramente crianças, exceto a calpainopatia, que incide preferencialmente na faixa de 8 a

15 anos e é uma das síndromes de cinturas mais comuns.(8)

A ausência de deficiência genética das distroglicanas não se associa com doenças

humanas, talvez por ser incompatível com a vida. Entretanto, as anormalidades na glicosilação

da alfa-distroglicana têm sido consideradas importantes na patogenia de algumas formas de

DMC, incluindo as formas de Fukuyama, musculooculocerebral e DMC tipo 1C, bem como

da síndrome de cinturas tipo 2I. Existe, ainda uma outra forma de DMC não associada a

comprometimento do SNC que mostra anormalidades na glicosilação da alfa-distroglicana:

DMC tipo 1C com deficiência secundária de merosina.(8)

As mutações do gene da integrina são mal caracterizadas e acompanham quadros

de miopatias congênitas ou de DMC.(8)

Mutações nos genes do colágeno VI são associadas a duas doenças: miopatia de

Betlhem e a forma Ullrich da DMC.(8)

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2.1.4: FORMAS DE DISTROFIA:

2.1.4.1: Distrofias musculares:

1- Duchenne / Becker: proteína envolvida – distrofina.

2- Emery-Dreyfuss: forma autossômica dominante: proteína envolvida –

laminina; forma ligada ao sexo: proteína envolvida – emerina.

3- Distrofia fascioescapuloumeral: alterações bioquímicas não

completamente esclarecidas.

4- Síndromes de cinturas de herança autossômica dominante ( sigla

internacional LGMD1): tipos 1A à 1E.

5- Síndromes de cinturas de herança recessiva (sigla internacional

LGMD2). Pode haver ou não envolvimento do complexo sarcoglicana.

Sem envolvimento do complexo sarcoglicana: tipos 2A, 2B, 2G, 2H, 2I.

Com envolvimento do complexo sarcoglicana: tipos 2C, 2D, 2E, 2F.(2,8)

2.1.4.2: Distrofias musculares congênitas:

1- DMC com deficiência de merosina.

2- DMC tipo Fukuyama.

3- DMC por deficiência de integrina alfa 7.

4- DMC tipo musculooculocerebral.

5- DMC com espinha rígida.

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6- DMC com deficiência secundária de merosina tipo 1.

7- DMC com deficiência secundária de merosina tipo 2.

8- DMC tipo Ullrich.(8)

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2.2- FUNDAMENTOS TEÓRICOS EM DISTROFIA MUSCULAR DE

DUCHENNE.

2.2.1- INTRODUÇÃO:

Este capítulo tem como objetivo situar o leitor na doença tema do estudo. Serão

abordados: histórico, incidência e herança, a distrofina e a correlação genótipo-fenótipo,

manifestações clínicas, diagnóstico, aconselhamento genético e tratamento.

2.2.2- HISTÓRICO:

As primeiras descrições clínicas da doença datam provavelmente do século XIX.

Charles Bell, um cirurgião escocês, famoso por sua descrição da paralisia do nervo facial

(paralisia de Bell) pode ter descrito um caso de distrofia muscular em 1830. Outros

médicos descreveram nos anos posteriores, quadros de debilidade progressiva por

problemas musculares em meninos, porém só anos mais tarde haveria uma descrição mais

detalhada da doença.(9)

Edward Meryon, médico inglês, em 1851, apresentou um estudo na reunião da

Sociedade de Medicina e Cirurgia Real de Londres. Esse estudo descrevia 9 meninos em

três famílias com a doença. No ano seguinte, 1852, publicou seus resultados e acentuou

três pontos importantes. Primeiro a enfermidade afetava meninos e era familiar. Em

segundo lugar, ele examinou cuidadosamente pós-mortem, a medula espinhal de um

menino com distrofia muscular e concluiu que ela parecia normal em todos os aspectos,

incluindo as zonas dos nervos e células ganglionares. Terceiro e mais importante, um

estudo cuidadoso da microscopia do músculo o fez concluir que havia destruição da fibra

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muscular e substituição desta por tecido gorduroso. Assim a descrição de Meryon antecede

a de Duchenne em mais de 10 anos.(9,10,11)

Em 1868, Guillaume- Benjamin- Armand Duchenne, médico francês, fez o

seguinte pronunciamento: “Eu pensei que a humanidade já estava infringida de males

suficientes...e não parabenizo o Senhor pelo novo presente que a humanidade ganhou.” E

publicou seu estudo com 13 pacientes, delineando as características clínicas e patológicas

da doença: início na infância, fraqueza muscular acometendo inicialmente os membros

inferiores e musculatura paravertebral, aumento do volume dos músculos afetados e

substituição das fibras musculares por tecido fibroso. Antes de 1870, ele já havia visto

mais de 40 casos da doença e observou o prognóstico grave da doença e que a condição era

mais freqüente em meninos. Em nenhum momento Duchenne descreveu o caráter familiar

da doença.(9,10)

Em 1879, o neurologista inglês Guillermo Gowers descreveu o modo pelo qual

meninos afetados pela doença tentavam se levantar. Esse sinal ficou conhecido como

“sinal de Gowers”.(9)

Em 1957, Becker descreveu uma variante benigna da doença que recebeu seu

nome.(9)

Até a década de 1980, não se tinha idéia acerca do mecanismo molecular que

causava as distrofias e nem se a forma grave de Duchenne e a variante mais leve de Becker

eram causadas por um único gene ou dois independentes. Em 1981, foi localizado o gene

da Distrofia Muscular de Duchenne e Becker, no braço curto do cromossomo X. Em 1984,

descobriu-se que os genes da DMD e da DMB eram alelos, isto é, ocupavam o mesmo loco

no cromossomo X. Em 1987, após a clonagem do gene, o produto gênico foi identificado:

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uma proteína do citoesqueleto da membrana, que foi denominada distrofina, e cuja função

mais provável seria manter a estabilidade da membrana da célula muscular.(12)

Hoje sabe-se que as mutações que causam DMD ou DMB são deleções,

duplicações e mutações de ponto no gene da distrofina.(12)

2.2.3- INCIDÊNCIA E HERANÇA:

Apresenta uma incidência de 1 para cada 3500 recém-nascidos do sexo masculino. A

herança é recessiva ligada ao X, manifestando-se, portanto em pacientes do sexo masculino e

tendo as mulheres como portadoras. (1,3,4,8,13,14,15,16) Até um terço dos casos podem ser

esporádicos, onde não encontra-se história familiar identificável, correspondendo à mutações

novas do gene.(4,8,13)

2.2.4- A DISTROFINA E A CORRELAÇÃO GENÓTIPO-FENÓTIPO:

A Distrofia Muscular de Duchenne foi a primeira distrofia onde se conseguiu

caracterizar o defeito genético e se identificou a proteína alterada: a distrofina, que é

produto de um gene. A distrofina é uma proteína composta por 3685 aminoácidos que

constituem 0,002% do total da fibra muscular e 5% do citoesqueleto do sarcolema.(17)

Como foi dito anteriormente, a distrofina se localiza no sarcolema dos miócitos unidas à

uma glicoproteína formando um complexo distrofina-glicoproteína que se comporta como

um elo, através de seus quatro domínios, entre o citoesqueleto e a matriz extracelular. A

função da distrofina é de estabilização da membrana muscular e sustento da fibra muscular.

(8,17)

O gene da distrofina é o maior gene humano conhecido, sendo composto por 79

éxons e 2.400.000 pares de bases, porém com um transcrito de apenas 14 Kb.(8,15,18,19) O

RNA-mensageiro(m-RNA) para a distrofina é muito menor do que o gene.(8)

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Desde a identificação do gene da distrofina, tem sido descrito uma grande

heterogenecidade nas mutações e hoje sabe-se que são estas mutações que causam a DMD.

As mutações podem ser qualitativas, ou seja, deleções, onde há perda de ácido

desoxiribonucleico (DNA) em cerca de 60 à 70% dos casos; quantitativas, ou seja,

duplicações onde há ganho de DNA em 5 à 6% dos casos e mutações de ponto nos casos

restantes.(8,,12)

As deleções apresentam locais preferenciais que são entre os éxons 3 a 8 e 44 a

48. O sítio de deleção é muito importante na determinação da severidade do quadro clínico.

Um estudo paulista mostrou que deleções entre os éxons 49 e 54 tem maior probabilidade

de resultar em pacientes com retardo mental, por outro lado nos pacientes com retardo

mental existe menor freqüência de identificação de deleções, o que poderia sugerir que as

mutações de ponto tenham maior ocorrência nestes pacientes.(20)

Na maioria das vezes, as deleções que atingem o terminal amino e o domínio rico

em cisteína da distrofina são do tipo fora de fase, ou seja, inserem um stop codon que

interrompe o quadro de leitura, resultando em uma proteína truncada vulnerável à

degradação e não funcional e se associam a quadros mais graves de DMD, sendo piores

quando envolvem o terminal amino. Por outro lado, as deleções em fase (que ocorrem na

porção central), ou seja, quando as bases perdidas são múltiplos de três, se diz que a

distrofina está dentro de um marco de leitura tradicional, desta forma temos como

resultado uma proteína de tamanho alterado, em geral menor e em menor quantidade,

porém ainda capaz de exercer alguma função, produzindo um quadro mais brando e mais

tardio, que corresponde à Distrofia Muscular de Becker ( embora haja casos de DMD com

deleções fora de fase), ou quadros ainda mais benignos.(8,12,15,16,19).

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O estudo da correlação entre genótipo e fenótipo dentro do gene da distrofina e a

caracterização da função de cada domínio da proteína tem sido fundamental para futuras

tentativas em terapia gênica, utilizando minigenes funcionais.(8)

2.2.5- MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS:

Os primeiros sintomas de DMD ocorrem entre 1 e 4 anos de idade.(1,2,3,4,5,7,8)

Existem duas formas de início da doença: atraso do desenvolvimento neuropsicomotor e

dificuldades motoras.(5,6,13,21,22,23)

É muito comum o dado retrospectivo de atraso na aquisição da marcha, na

anamnese de pacientes com DMD, porém o atraso de desenvolvimento não-motor,

especificamente atraso de linguagem, é uma manifestação precoce da doença. Vários

estudos apontam o atraso de desenvolvimento como sintoma inicial. Crisp e colaboradores

reviram 31 pacientes e relataram atraso de desenvolvimento motor em 87% dos casos(23)

Bushby e colaboradores reviram 25 pacientes e relataram atraso de desenvolvimento motor

em 13 (52%) casos.(6) Ambos os estudos não enfatizavam o atraso de desenvolvimento

não-motor, porém Mohamed e colaboradores e Essex e Roper o fizeram em seus

estudos.(13,22)

Os primeiros sintomas relacionados com dificuldades motoras são dificuldades na

marcha e tendência a quedas, ou seja, é muito comum o relato dos responsáveis de uma

marcha “gingada”, que é denominada anserina e na ponta dos pés – digitígrada. São

comuns queixas como dificuldades em subir escadas, pular, correr e levantar do chão. A

dificuldade em levantar-se do chão caracteriza, no exame físico, levantar miopático ou

“sinal de Gowers”.(1,2,3,4,5,7,8,9,13,16,21) Devido a estes sintomas, muitos familiares acreditam

que se trate de “pés planos” ou outros problemas ortopédicos e os ortopedistas são

frequentemente consultados.(1,3,8) No início do quadro podem ocorrer queixas de dor em

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membros inferiores, especialmente panturrilhas, frequentemente relacionada a

exercícios.(8,22).

A fraqueza muscular é simétrica, acomete inicialmente extensores da coxa e da

coluna. Com a progressão da doença, há comprometimento da musculatura dos membros

superiores, inicialmente proximal e, depois, dos grupos distais. O comprometimento dos

músculos intercostais ocorre tardiamente e altera a dinâmica respiratória.(2,3,8)

Retrações fibrotendíneas e contraturas musculares, tornam-se evidentes com o

tempo. Precocemente observa-se retração do tendão de Aquiles e flexores da coxa que

progridem até a perda da capacidade de deambulação, que ocorre no início da segunda

década.(2,3,8)

O comprometimento da musculatura paravertebral leva ao desenvolvimento de

escoliose. A escoliose é a deformidade mais freqüente e grave em pacientes com DMD.

(2,3,4,7,8,,24,25) Segundo Brooke e colaboradores, não é comum o aparecimento da escoliose

antes dos 11 anos de idade, porém após esta idade grande parte dos pacientes apresentam

tal deformidade, variando os graus de curvatura da coluna.(25)

O comprometimento de outros músculos ocorre com a progressão da doença, tais

como bíceps braquial e poplíteos.(2,8) Os reflexos profundos dos membros superiores

encontram-se abolidos precocemente, assim como o patelar, porém o reflexo Aquileu

permanece por mais tempo. Nota-se hipertrofia de panturrilhas em fase inicial, que

posteriormente, é substituída por uma pseudo-hipertrofia decorrente de infiltração

gordurosa no tecido muscular.(2,8)

Eventualmente, as deformidades podem ser tão sérias que nem mesmo o uso da

cadeira de rodas é possível, ficando a criança confinada ao leito.(8) Associadamente às

contraturas musculares e deformidades esqueléticas, ocorrem o adelgaçamento da haste e

extremidades dos ossos longos, involução dos ossos chatos e coxa valga, geralmente ocorre

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descalcificação e osteoporose intensas, de modo que a criança pode fraturar o fêmur ao

mínimo esforço. No estudo realizado por Brooke e colaboradores, onde 293 pacientes

foram acompanhados, houve relato de 35 circunstâncias com traumatismos graves,

necessitando de tratamento em salas de emergência ou hospitais. A maioria dos

traumatismos foram fraturas e ocorreram após queda. São relatadas 8 fraturas de tornozelo,

7 de fêmur, 6 de úmero, 4 de clavícula, 2 de punho, 1 de mandíbula e 1 de pé. São

relatados ainda 6 casos de traumatismo craniano, sendo 1 com fratura de crânio.(25)

O comprometimento cardíaco é uma constante, principalmente em fases mais

avançadas da doença. Clinicamente, verificam-se arritmias e morte súbita por falência

miocárdica ou arritmia grave. Insuficiência cardíaca congestiva crônica é rara e manifesta-

se somente em fases mais avançadas da doença.(2,8) Ocasionalmente, observam-se apenas

alterações eletrocardiográficas.(16)

A deficiência mental ocorre em 30% dos casos e não tem relação com o

comprometimento muscular, porém parece ter relação com o local de deleção.(1,2,3,4,6,8,20)

O óbito ocorre em torno da segunda década de vida ou um pouco mais além, por

insuficiência cardíaca e/ou respiratória.(2,3,4,7,8)

2.2.6-DIAGNÓSTICO:

O diagnóstico de DMD é baseado no quadro clínico, na história familiar e é

dependente de exames complementares, tais como:

2.2.6.1:Dosagem sérica de creatinofosfoquinase (CPK) A CPK é uma enzima muscular que encontra-se muito elevada nos casos de

DMD. A CPK pode aumentar até 300 vezes, sendo detectada já ao nascimento e com um

pico entre 1 e 2 anos de idade; com a progressão da doença os níveis desta enzima tendem

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a diminuir.(3,5,8,16,18) É um exame simples, de fácil realização, acessível e de baixo custo,

portanto pode e deve ser solicitado pelo pediatra antes do encaminhamento ao especialista.

Mohamed e colaboradores(25) em seu estudo sobre demora no diagnóstico de

DMD, recomendam que a dosagem sérica de CPK seja solicitada nas seguintes situações:

• Em todos os meninos que não sejam capazes de andar sozinhos até a idade

de 18 meses.

• Em todos os meninos que não sejam capazes de falar pelo menos 10

palavras até a idade de 2 anos.

• Em todos os meninos com marcha desajeitada, abaixo de 4 anos de idade.

• Em todos os meninos que não sejam capazes de correr ou pular com os

dois pés até os 4 anos de idade.

• Em todos os meninos, abaixo de 4 anos de idade, que referem dor nas

panturrilhas ou nas pernas.

A CPK pode estar elevada precocemente, o que poderia ser visto nos testes de

triagem neonatal.(3,6,25,26,27) Apesar da introdução da dosagem de CPK em testes de triagem

neonatal ser uma solução para detectar precocemente a DMD, os falso positivos e falso

negativos ainda são considerados um problema nos lugares onde a dosagem já é utilizada,

uma vez que é muito estressante para os pais terem uma doença incurável diagnosticada

em seu filho ao nascimento. O European Neuromuscular Centre Worshop confirmou a alta

sensibilidade dos testes de triagem neonatal e baixas taxas de falso negativos. Seis

programas de triagem neonatal da Europa, Canadá e Estados Unidos da América

detectaram 192 casos de DMD com uma taxa de falso positivo de 0,02-0,8%.(25) No Brasil,

a dosagem sérica de CPK em testes de triagem neonatal não é uma realidade, embora a sua

incidência esteja muito próxima à de hipotireoidismo congênito. Apesar de não ser uma

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doença com tratamento curativo como esta última, é de extrema importância a detecção

precoce da DMD para que se evitem novos casos da doença.

2.2.6.2:Eletroneuromiografia (ENMG)

A ENMG é um exame que tem sido pouco utilizado, atualmente, para o

diagnóstico de DMD. É um exame doloroso e de difícil realização em crianças. A ENMG é

composta por uma série de testes neurofisiológicos que visam o estudo funcional da

unidade motora. A avaliação é composta por duas etapas: a neurocondução e a

eletromiografia, sendo esta última de mais utilidade no diagnóstico de doenças musculares.

A eletromiografia é o estudo da atividade elétrica na intimidade muscular, em diferentes

estágios de ativação, realizada normalmente com um eletrodo na forma de agulha, exige

algum grau de colaboração do paciente e por isso, em alguns casos, é de difícil realização

em crianças.(5,18,19,28) A ENMG basicamente localiza a doença no músculo(3),

demonstrando um padrão miopático, ou seja, potenciais de unidades motoras com

amplitudes e durações reduzidas, potenciais polifásicos e recrutamento precoce e

excessivo.(28) Apesar de localizar a doença no músculo, não define a etiologia das

miopatias.

2.2.6.3:Análise molecular

O exame de DNA em sangue periférico (ou raspado de mucosa oral) tem sido

muito importante para o diagnóstico, evitando, em muitos casos, a realização de exames

invasivos como a biópsia muscular ou a ENMG. (12)

Deleção, conforme exposto anteriormente, é o defeito genético mais comum (65

%). Para identificar as deleções utilizam-se, sobretudo, métodos de reação em cadeia com a

polimerase (PCR). O exame molecular consiste em analisar os 18 éxons (segmentos ou

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partes da seqüência codificadora de um gene) mais freqüentemente deletados, o que

permite identificar 98% das deleções do gene. Para identificar as duplicações utilizam-se

métodos de diagnóstico indireto utilizando polimorfismos de DNA, seguidos por técnicas

quantitativas de Southern Blot. Para detectar mutações de ponto, a técnica é mais difícil e

dispendiosa, baseia-se num diagnóstico indireto, utilizando marcadores polimórficos

amplificáveis por PCR. (8,14) O Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de

São Paulo (USP) vem implantando novos métodos para a detecção destas mutações de

ponto. Um destes métodos, o Teste da Proteína Truncada, utiliza RNA extraído dos

linfócitos do sangue periférico do paciente. Este novo método permite identificar o ponto

exato onde ocorreu o erro dentro do gigantesco gene da distrofina. Além de grande

utilidade para o diagnóstico, este método também pode ser utilizado para detecção de

portadoras.(29)

2.2.6.4:Biópsia muscular

É utilizada quando o diagnóstico molecular não é conclusivo. É um método

invasivo, que requer internação para sedação e analgesia. Utiliza-se a técnica de análise da

distrofina, somente em material congelado e não em amostra conservada em formol, que

pode ser efetuada por imuno-hístoquímica, empregando principalmente anticorpos

antidistrofina, ou por Western Blot.(8,12,30)

Do ponto de vista prático, em casos suspeitos os passos a serem seguidos para o

diagnóstico são os seguintes:

• Dosagem sérica de CPK: se aumentado sugere o diagnóstico de distrofia

muscular;

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• Análise de DNA: pesquisa de deleção no gene da distrofina; se for encontrada

deleção confirma-se o diagnóstico de DMD ou Distrofia Muscular de Becker

(DMB);

• Biópsia Muscular: é indicada se não for encontrada deleção no gene da

distrofina, se não houver história familiar de caso comprovado com herança

recessiva ligada ao cromossoma X ou em crianças que são casos isolados, nas

fases iniciais, para um diagnóstico diferencial entre DMD/DMB.(12)

Possíveis resultados:

a) distrofina ausente: confirma-se o diagnóstico de Distrofia de

Duchenne;

b) distrofina quantitativamente diminuída ou com peso molecular

diminuído (através da análise por Western Blot ): o diagnóstico de Distrofia tipo Becker é

o mais provável;

c) distrofina normal: pode tratar-se de distrofia do tipo cinturas ou outra

formas de distrofia.(12)

2.2.6.5:Diagnóstico pré-natal Por se tratar de uma doença, ainda sem cura, muitas famílias questionam sobre o

diagnóstico pré-natal. Antigamente várias técnicas foram utilizadas, tais como biópsia

muscular fetal e vários marcadores bioquímicos, entre eles: a estimação do cálcio intra-

celular, o nível de anidrase carbônica plasmática fetal, o nível de CPK fetal. Atualmente, o

diagnóstico se faz através da pesquisa de deleção de DNA no sangue fetal, pode ainda ser

feita a análise imuno-histoquímica da distrofina nas vilosidades coriônicas. Todos esses

procedimentos necessitam de um planejamento preciso envolvendo a gestante, o obstetra e

o centro de diagnóstico molecular em doenças neuromusculares. (8,31,32,33)

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2.2.7- ACONSELHAMENTO GENÉTICO:

Como a Distrofia Muscular de Duchenne é uma doença degenerativa e letal – o

óbito ocorre até os 20 anos de idade - os afetados não se reproduzem. Em cerca de dois

terços dos casos, a mutação responsável pela doença foi herdada da mãe do paciente, que é

portadora assintomática. Como em toda doença com padrão recessivo ligado ao

cromossomo X, a mulher portadora da mutação tem, em cada gestação, um risco de 50%

de ter um filho do sexo masculino afetado. O risco é de 25% se o sexo da criança não for

conhecido (50% de chance de ser um menino, vezes 50% de risco de transmitir o

cromossomo X com a mutação). Metade das filhas de uma portadora de mutação serão

portadoras assintomáticas. Além da mãe e irmãs de um paciente, outras mulheres da

família podem ser portadoras assintomáticas.(29)

Para identificação de portadoras e estimativas de riscos genéticos, os passos a

serem seguidos são:

1) O paciente é caso isolado e tem deleção no gene da distrofina.

a) Se a mãe (e/ou irmã do afetado) for portadora da deleção confirma-se que é

(são) heterozigota(s). Neste caso há risco de 50% de vir a ter filhos afetados e filhas

portadoras. É possível realizar diagnóstico pré-natal de certeza através da análise de DNA

extraído de vilosidades coriônicas, ao redor de 10 semanas de gestação.(12)

b) Se a mãe não tiver deleção em sangue periférico existe, ainda um risco de

mosaicismo gonadal que varia de acordo com o sítio de deleção. Se for no início do gene, o

risco para um feto de sexo masculino é de cerca de 15%; se for na região central do gene, o

risco para um feto do sexo masculino é de cerca de 2%.(12)

c) Se uma irmã do afetado não tiver deleção em sangue periférico, o risco de que

seja portadora é desprezível.(12)

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2) O paciente é caso isolado e não tem deleção no gene da distrofina.

Nestes casos compara-se o cromossomo X (através de marcadores polimórficos de

DNA ao longo do gene da distrofina) do afetado com outros indivíduos da genealogia. As

pessoas a serem analisadas e a estimativa de risco genético dependem da estrutura da

família.(12)

3) Existe história familiar compatível com herança ligada ao X.

Nesta situação todas as mães de afetados são portadoras certas do gene (risco de

50% para os descendentes do sexo masculino) e todas as irmãs têm risco de 50% de serem

portadoras. O exame de DNA a ser realizado vai depender da presença ou não de deleção

no afetado.(12)

2.2.8- TRATAMENTO:

Atualmente não há tratamento curativo para DMD, o que existe são métodos

paliativos e perspectivas de tratamento.

2.2.8.1- Métodos paliativos

A incapacidade para a marcha pode ser retardada em populações tratadas com

fisioterapia regular, baseada em alongamentos, para a prevenção de retrações e com

cirurgias ortopédicas corretivas para permitir o uso de órteses. As cirurgias ortopédicas

corretivas para permitir o uso de órteses longas são de dois tipos: mais amplas e mais

precoces (com 5-6 anos de idade), quando as retrações estão incipientes, com o objetivo de

recuperar a extensão fisiológica das articulações dos calcanhares, joelhos e coxas e

restaurar o alinhamento do tronco, pelve e pernas pela remoção da banda iliotibial; mais

simples e mais tardias (aos 10 anos de idade), quando começa a perda da marcha

(tenotomias percutâneas dos tendões de Aquiles e dos flexores da coxa).(8)

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Visto que após o confinamento à cadeira de rodas a cifoescoliose desenvolve-se

rapidamente, está sendo cada vez mais empregada, a partir dos 13 anos de idade, a cirurgia

corretiva de escoliose, que permite sobrevida mais confortável, sobretudo para sentar, mais

estética e com menos infecções, embora não impeça a deteriorização da capacidade

respiratória.(4,8)

Os corticóides representam o único tratamento farmacológico paliativo.

Entretanto, eles apresentam muitos efeitos adversos e apesar de um grande número de

estudos publicados mostrando a sua eficácia, eles ainda não são utilizados de forma

tranqüila.(3,8,34,35)

O mecanismo de ação dos corticóides no músculo esquelético é desconhecido,

mas um número de teorias têm sido descritas, tais como: efeitos positivos dos corticóides

na miogênese; efeito anabólico no músculo, resultando no aumento de massa muscular;

estabilização das membranas da fibra muscular; atenuação da necrose muscular, apesar de

haver controvérsias quanto à isso; efeito na concentração do cálcio intracelular; efeito

imunossupressivo com redução das células mononucleares, especialmente as células CD8+

citotóxicas.(34) Na prática, os corticóides aumentam a massa muscular, retardam a

degeneração muscular, aumentam o tempo de deambulação, retardando a época de

confinamento à cadeira de rodas, e também aumentam a capacidade respiratória e

cardíaca.(8,35) Os corticóides são ainda encarados, como uma forma de “comprar tempo”

para o doente a espera de uma terapia eficaz.(4,8)

São utiizados os seguintes corticódes: prednisona(36) e prednisolona (0,75 mg/Kg)

e deflazacort (0,9mg/Kg). Não existe ainda definição quanto a estudos comparativos entre

a prednisona e o deflazacort.(8,37) Existem vários esquemas preconizados. Bonifati e

colaboradores realizaram um estudo multicêntrico, duplo cego randomizado, comparando

os efeitos benéficos e efeitos adversos do tratamento com deflazacort e com a prednisona

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em uso diário, e concluíram que ambos são eficazes em melhorar a função motora e

performance funcional; parece que o tratamento com o deflazacort causa menos efeitos

colaterais do que com a prednisona, particularmente no ganho de peso, o que pode ajudar

na performance funcional.(38) Beenakker e colaboradores realizaram um estudo caso-

controle randomizado comparando placebo com prednisona (0,75mg/Kg/dia) durante os

primeiros 10 dias de cada mês, eles acompanharam 70 pacientes deambulantes com DMD

com idade entre 5 e 8 anos e observaram a mudança na função muscular e no tempo de

realização dos seguintes testes funcionais: correr 9 metros, subir 4 degraus de escada e

levantar do chão até a posição de pé. Obtiveram os seguintes resultados: o tempo

necessário para correr 9 metros e para subir 4 degraus de escada foram significativamente

menores nos pacientes que utilizavam a prednisona. Eles concluem que apesar dos efeitos

colaterais estarem presentes, a qualidade de vida dos pacientes não foi afetada com o uso

da prednisona, e que o uso da mesma por curtos períodos mensais pode ser recomendada

para preservar a função motora em pacientes deambulantes com DMD.(39) Este esquema é

utilizado para tratamento de pacientes deambulantes com DMD, nos ambulatórios de

neuropediatria do IPPMG –UFRJ. Manzur e colaboradores em sua revisão apresentam um

estudo caso-controle randomizado com 28 participantes que mostrou que o uso de

prednisolona (0,75/mg/Kg/dia) diariamente parece ser o mais eficaz em melhorar a força e

a função muscular.(37)

Além da corticoterapia, outro fator que aumentou a quantidade e a qualidade de

vida dos pacientes com DMD a partir da década de 1990, foi a adoção de métodos de

ventilação não invasiva noturna em domicílio.(8)

2.2.8.2- Perspectivas de tratamento

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A busca por abordagens terapêuticas para DMD mudou rapidamente nos últimos

anos. Em 2000 foram descritos experimentos sugerindo uma tradução clínica futura como

um sonho. Só quatro anos mais tarde foram apontados experimentos em modelos animais

que preparavam o caminho para a experimentação clínica. Atualmente, vários estudos já

começaram e os resultados estarão disponíveis em breve. Estes primeiros estudos

destinam-se a testar tolerância e segurança, portanto seria imprudente, esperar a cura da

doença nestas primeiras tentativas, porém estes estudos servirão de base para ensaios

clínicos maiores, em que a melhora funcional poderá ser melhor avaliada, possivelmente

envolvendo a combinação de terapêuticas. É importante destacar ainda, que a maioria

destas estratégias não podem ser aplicadas a todos os pacientes. Apesar dessas limitações

os resultados acumulados nos últimos anos abriram perspectivas para diferentes

abordagens. As principais são o uso de algumas drogas, terapia gênica e terapia celular.(40)

2.2.8.2.a- Terapias Gênicas

A terapia gênica em doenças musculares tem enfrentado problemas comuns à

outras doenças genéticas, tais como a resposta imunitária ao vetor e problemas

relacionados com a própria distrofia muscular. No passado, vetores adenovirais foram

vistos como uma esperança, porém devido à sua grande imunogenecidade e sua grande

dimensão (limitando a difusão no tecido muscular) eles não são mais utilizados. Vetores

associados à adenovírus (AAV) são caracterizados por tamanho reduzido e menor

imunogenecidade e são atualmente os vetores de escolha. Os AAV não são utilizados em

genes grandes como o da distrofina, mas podem ser usados em genes menores como o da

sarcoglicanas. A fase 1 e 2 de um ensaio clínico para distrofias de cinturas tipo 2C,

utilizando os AAV já começou na França.(40)

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No caso das distrofinas, duas estratégias estão sendo testadas em cães distróficos,

e já entraram ou estão prontas para entrar em experimentação clínica, são elas: exon

skipping e a expressão de variantes da distrofina de tamanho reduzido.(40)

Exon skipping: Usando a tradução literal pular o exon da distrofina que contêm a

mutação é uma terapia promissora para DMD e outras distrofias musculares. Ao se pular

exons específicos poderia ser esperado restaurar a leitura em fase e resultar na produção

dos múltiplos de três suprimidas, mas essencialmente a distrofina seria funcional como na

DMB. Porque algumas deleções e duplicações do gene da distrofina são mais observadas

do que outras, foi estimado que pulando12 exons trataria-se 73,3% das deleções. Entre

estas possibilidades, pular o exon 51 foi a primeira escolha, pois poderia ser terapêutico

em 20% das deleções de distrofina.(40)

Exon skipping pode ser alcançado por antisense oligonucleotídeos ou AAV. (40)

Um ensaio clínico usando a PRO 051, que é um antisense oligonucleotídeo, incluiu 4

participantes com idade de 8 à 16 anos, com deleção no exon 51 e sem evidência de

distrofina em biópsias musculares prévias. O principal objetivo do estudo foi observar os

efeitos colaterais e o objetivo secundário foi especificar o exon skipping 51 e a expressão

da distrofina. Os participantes receberam uma dose de 0,8 mg de PRO 051 no músculo

tibial anterior. Este músculo foi submetido à biópsia 28 dias depois. Ao final do estudo os

autores observaram que a PRO 051, introduziu a distrofina no músculo de todos os 4

pacientes, também observaram que o efeito estava restrito ao local onde foi injetado,

porém acreditam que possa ser útil em pacientes com pouca deteriorização muscular, ou

seja, em fases iniciais da doença. O tratamento sistêmico futuro, necessita da repetição da

administração para aumentar e manter a expressão da distrofina em altos níveis e obter

eficácia clínica. Somente 1 paciente referiu dor no local da injeção como efeito colateral.

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Apesar dos resultados serem animadores, a PRO 051poderá tratar somente uma minoria de

pacientes.(42)

Skipping premature termination: Mutações fora de fase, induzem a um prematuro

stop codon, interrompendo o quadro de leitura do RNA mensageiro em 15% dos casos de

DMD. Para resolver a necessidade de uma droga capaz de suprimir essa interrupção da

leitura, foi identificado e estudado um novo agente, o PTC124, administrado oralmente,

que induz a uma releitura seletiva onde houve interrupção da mesma e não nos codons

normais. O PTC 124 promoveu a produção primária de distrofina em células musculares de

humanos e de camundongos nas 2 a 8 semanas de exposição à droga. Foi bem tolerado em

animais e a expressão plasmática foi superior às exigidas para suprimir mutações fora de

fase. A seletividade do PTC 124 para codons com leitura interrompida, a sua bem

caracterizada atividade, a disponibilidade oral e todas as propriedades farmacológicas,

sugerem que este fármaco tem um amplo potencial clínico para tratamento de um grupo de

doenças com poucas ou nenhuma opção terapêutica. A conclusão da fase 1 do estudo

aconteceu em julho de 2007, onde voluntários saudáveis usaram diferentes doses da droga

e foi bem tolerado até a dose de 100mg/Kg.. A farmacocinética sugeriu que as doses

fossem fracionadas em 3 vezes ao dia (10/10/20mg/Kg). Três centros dos EUA

completaram a fase 2 do estudo e a análise final foi prevista para o final de 2007.(40,43)

Em janeiro de 2008 a empresa PTC BIO anunciou que irá iniciar a fase 3 do

estudo, onde serão selecionados 165 pacientes com DMD que serão tratados com a droga

ou com placebo por 48 semanas. O objetivo deste estudo é testar os resultados positivos e a

segurança da droga. Os resultados serão divulgados em cerca de 2 anos. O estudo será

realizado nos EUA e apenas pacientes deambulantes e que não apresentam doenças

cardíacas serão selecionados.(41)

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Em uma estratégia alternativa, minigenes foram construídos com um reduzido

número de domínios centrais e conservando os domínios amino e carboxi terminal. Esses

minigenes foram utilizados para substituir alguns transgenes no modelo com

camundongos. No entanto, a microdistrofina resultante poderia ser menos eficaz em

proteger a integridade da fibra muscular em animais maiores, como indicado em estudos

com cães. Além disso, a injeção de AAV causou uma reação imune contra as proteínas

virais, mas algumas experiências recentes com cães indicaram uma estratégia para superar

esta resposta imune. Com base nestes estudos, diversos centros dos EUA iniciaram a fase 1

de um estudo com genes em miniatura da distrofina associadas à um AAV que serve para

transportar os minigenes até a fibra muscular. Este teste teve início em março de 2006,

injetaram o composto no músculo bíceps de 6 meninos com a doença, não foram

observados efeitos colaterais, sendo bem tolerado. Os pesquisadores planejam agora testar

doses mais elevadas em 3 outros pacientes.(40,41)

Além dos vetores virais, vetores não virais também foram experimentados

clinicamente, apesar da menor eficácia. Uma injeção intramuscular de DNA exposto

(plasmídeo) da distrofina humana resultou na expressão de proteínas no local da injeção,

no entanto, o uso sistêmico ainda enfrenta obstáculos técnicos significativos.(40)

2.2.8.2.b- Terapia celular

As células-tronco apresentam duas importantes propriedades, que são a auto-

renovação e a capacidade de se diferenciar em várias linhagens celulares. No caso da

DMD, as células-tronco podem produzir um grande número de células precursoras do

citoesqueleto muscular (mioblastos).(44) Diversas células-tronco têm sido extraídas de

tecidos adultos incluindo células-tronco derivadas da medula óssea, células CD133+

derivadas do sangue e do músculo, células mesenquimais e mesangioblastos. Todas estas

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células têm sido caracterizadas e usadas em transplantes experimentais em animais e os

resultados abrem novas possibilidades para a terapia celular em distrofias musculares.(38)

Os resultados com células-tronco extraídas da medula óssea para o tratamento de DMD

foram desanimadores e irrelevantes clinicamente até o momento.(44) Recentemente, os

vasos sanguíneos foram identificados como uma nova fonte de células-tronco chamadas

mesangioblastos. Estudos iniciais, usando transplantes intra-arteriais em camundongos e

em cães da raça golden retriever distróficos, mostraram melhora na função e na estrutura

do músculo doente e devido a estes resultados encorajadores, um ensaio clínico foi

planejado para 2008 em Milão, na Itália . Entretanto, existem controvérsias no desenho do

estudo, com alguns pesquisadores criticando a ausência da comparação com cães

distróficos tratados com ciclosporina A. O possível efeito da ciclosporina A na DMD

começou a ser testado em um ensaio clínico na Alemanha. Na verdade 1 estudo relatou

efeitos benéficos da droga em camundongos, enquanto 3 outros mostraram claramente

efeito deletério à longo prazo.No que diz respeito ao desenho do estudo com cães, é

necessário envolver um pequeno número de animais, que mostram grande variabilidade na

progressão da doença. Porém, em cães que receberam o transplante de mesangioblastos

houve uma extensa expressão da distrofina, em mais de 70% das fibras musculares, que

mostraram força de contração normal e conseqüente melhora da mobilidade defeituosa.

Excluindo a possibilidade de variabilidade individual, há a sugestão que um tratamento

semelhante beneficiaria pacientes humanos. Nenhum efeito adverso foi relatado com a

infusão de mesangioblastos nos 16 cães tratados ou no curso do tratamento.(40,44)

2.2.8.2.c- Uso de drogas

Compensando a ausência da distrofina: a hiperexpressão da utrofina. A

identificação da utrofina, proteína homóloga à distrofina, também localizada na face

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citoplasmática do sarcolema, clonada no cromossomo 6 e que, igualmente à distrofina, se

liga ao complexo de glicoproteínas associadas da membrana da fibra muscular despertou a

esperança de que ela possa suprir em parte a deficiência de distrofina, essa suposição

decorre principalmente da observação de que a utrofina, a qual normalmente está situada

somente próximo à junção mioneural, aumenta naturalmente nos pacientes com deficiência

de distrofina, espalhando-se por toda a extensão da membrana, e que a corticoterapia,

também se acompanha de aumento da utrofina, porém não em nível suficiente para

compensar a perda da distrofina e prevenir a progressão da doença. Estudos prévios

mostraram que a hiperexpressão da utrofina nos músculos de camundongos pode prevenir

ou reduzir drasticamente o aspecto distrófico muscular. Algumas drogas que podem

promover a hiperexpressão da utrofina poderão ser usadas em futuros estudos in vitro e in

vivo em camundongos.(8,40)

Outras drogas que reprimem a degeneração muscular e novos anti-inflamatórios

reagentes estão sendo pesquisadas, para abrandar ou mesmo parar a progressão da doença.

É provável que novos ensaios clínicos iniciar-se-ão num futuro próximo.(40)

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3- OBJETIVOS.

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3.1- OBJETIVO GERAL:

Estudar os fatores que, na opinião dos familiares, levam à demora no diagnóstico

definitivo de Distrofia Muscular de Duchenne.

3.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

3.2.1- Caracterizar o primeiro sintoma.

3.2.2- Determinar o intervalo entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o

diagnóstico definitivo de Distrofia Muscular de Duchenne.

3.2.3- Verificar com que freqüência fatores relacionados com a própria doença ou

com o sistema de saúde são alegados pelos responsáveis, como possivelmente relacionados

à demora no diagnóstico definitivo de Distrofia Muscular de Duchenne.

3.2.4- Verificar algum outro fator, além dos citados, que possa estar relacionado

com a demora no diagnóstico definitivo de Distrofia Muscular de Duchenne.

3.2.5- Classificar os fatores relacionados à demora, quanto à sua origem, a fim de

que possam ser elaboradas propostas de intervenção.

3.2.6- Determinar quem primeiro reconheceu alguma anormalidade.

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4- METODOLOGIA.

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4.1- LOCAL DO ESTUDO:

Ambulatório de Neuropediatria do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão

Gesteira (IPPMG), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Atualmente, o Serviço de Neuropediatria desta Instituição atende cerca de 600

pacientes com diferentes condições neurológicas por mês. Estes pacientes são oriundos,

não só do município do Rio de Janeiro, mas também dos municípios vizinhos. Recebe

pacientes referenciados por associações de portadores destas doenças, tais como:

Associação Carioca de Distrofia Muscular (ACADIM) e Associação Brasileira de Atrofia

Muscular Espinhal (ABRAME).

4.2- TIPO DE ESTUDO:

Estudo observacional, descritivo seccional.

4.3- POPULAÇÃO:

Pacientes com diagnóstico definitivo de Distrofia Muscular de Duchenne,

atendidos no ambulatório de neuropediatria do IPPMG.

4.4- AMOSTRA:

Amostra de conveniência. Constituída por responsáveis pelos pacientes com

diagnóstico definitivo de Distrofia Muscular de Duchenne, consecutivamente atendidos no

ambulatório de neuropediatria do IPPMG, no período de 1989 até 2005.

4.5- CRITÉRIOS DE INCLUSÃO:

• Foram incluídos no estudo os responsáveis pelos pacientes com

diagnóstico definitivo de Distrofia Muscular de Duchenne confirmado por

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achado de deleção de DNA ou por ausência de distrofina na biópsia

muscular ou, ainda, por caso na família confirmado por um destes

métodos.

• Consentimento livre e esclarecido para participar do estudo assinado pelo

responsável.

4.6- CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO:

• Não consentimento em participar do estudo.

4.7- ETAPAS DO ESTUDO:

4.7.1- Primeira etapa: levantamento de elegíveis.

O Serviço de Neuropediatria do IPPMG possui livros de registros de pacientes

atendidos em consulta de primeira vez desde 1989. Foi feita uma pesquisa através destes

livros, sendo listados todos os prontuários de pacientes com diagnóstico de distrofia

muscular, perfazendo um total de 118 prontuários. Os prontuários destes pacientes foram

revistos e 90 pacientes preencheram os critérios de inclusão. Destes 90 prontuários, 12

apresentavam problemas com endereço, impedindo a convocação. Os responsáveis, de 78

meninos, foram convidados por carta (ANEXO I) ou em consulta médica para participar do

estudo.

4.7.2- Segunda etapa: elaboração do questionário.

Os questionários são os instrumentos de tomadas de informações mais comuns

utilizados nos estudos seccionais. Os questionários podem ser auto-aplicáveis, onde são

preenchidos pelos próprios entrevistados ou aplicados pelo entrevistador.(45,46,47,48) A

pesquisadora optou por utilizar um questionário aplicado por entrevistador, a fim de

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aumentar a taxa de retorno e esclarecer dúvidas que poderiam existir. Os questionários

podem apresentar três tipos de questões, que podem ser abertas, fechadas ou

mistas.(45,46,47,48) A pesquisadora optou por utilizar um questionário misto, a fim de haver a

possibilidade de respostas não previstas; por isso em algumas questões foi incluída uma

última alternativa: outro.

Sendo assim, foi elaborado um questionário misto com perguntas claras e

objetivas, que foi aplicado pelo entrevistador. As questões procuravam responder as

variáveis envolvidas no estudo, que se originaram de revisão bibliográfica realizada

previamente.

4.7.3- Terceira etapa: aplicação do questionário piloto.

O questionário piloto (ANEXO II) teve como objetivo verificar a clareza das

questões e necessidade de inclusão ou exclusão das mesmas. Este questionário foi

respondido por 5 responsáveis e o objetivo foi cumprido. Não houve a necessidade de

excluir questões uma vez que todas foram respondidas com facilidade, algumas questões

foram introduzidas ou desdobradas. Foram feitas as mudanças descritas a seguir: foi

incluído no cabeçalho o grau de parentesco do entrevistado. Na pergunta 4 do questionário

piloto optamos por incluir “quando” e “quem” havia percebido o primeiro sintoma. Na

pergunta 5 foi incluída o item “quem” na alternativa família. Nas questões

6,7,9,13,14,15,16,17 foi incluída a alternativa “não lembro”. As questões 8 e 11 só seriam

respondidas caso a resposta da questão anterior fosse “sim”. Foram incluídas três perguntas

sobre se o atendimento médico e os exames complementares foram realizados em rede

pública ou privada. Com estas alterações o questionário piloto, que era composto por 17

questões foi substituído por um novo questionário (ANEXO III) que era composto por um

cabeçalho e 20 questões. Este último questionário foi o instrumento de coleta de dados.

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4.7.4- Quarta etapa: aplicação do questionário.

O questionário foi aplicado por entrevistadores. Os entrevistadores envolvidos no

estudo foram a própria pesquisadora ou alunos do Projeto de Iniciação Científica (PINC)

da UFRJ. Os alunos do PINC só entrevistaram os responsáveis após terem acompanhado a

entrevista feita pela pesquisadora e terem sido orientados por esta.

Os responsáveis que compareciam à entrevista, eram esclarecidos sobre o estudo e

informados sobre os objetivos. O consentimento livre e esclarecido (ANEXO IV) era lido

pelo entrevistador e pelo entrevistado e em seguida o entrevistador fazia as perguntas.

Apesar do questionário não ser extenso, as entrevistas duravam em média 30 minutos, uma

vez que a maioria dos responsáveis queriam ser esclarecidos sobre perspectivas de

tratamento, neste caso se a entrevista fosse feita por alunos, estes recorriam a pesquisadora

ou a orientadora deste estudo, uma vez que havia sempre uma das duas presente. As

entrevistas realizadas com os responsáveis por pacientes que já haviam falecido, foram

mais longas, não por motivos específicos a este estudo, mas especialmente pelo desgaste

emocional da família.

4.8- PERDAS:

Dos 90 responsáveis que preencheram critérios de inclusão, 12 não puderam ser

convocados devido a problemas no endereço e telefone que constavam no prontuário,

dentre esses problemas haviam endereços ilegíveis ou que não existiam. Portanto foram

chamados via carta, e em alguns casos tiveram a chamada confirmada por telefone, para o

estudo 78 responsáveis, comparecem à entrevista 40 responsáveis. Apesar da perda ser

grande, ela é inerente a este tipo de estudo e aconteceu ao acaso, ou seja, sem interferência

da pesquisadora.

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41

4.9- QUESTÕES ÉTICAS:

Os questionários respondidos não eram identificados, ou seja, o anonimato foi

preservado. Os responsáveis pelos pacientes foram esclarecidos pela pesquisadora sobre o

estudo e estavam de acordo com o mesmo, dado comprovado pela assinatura do termo de

consentimento livre e esclarecido. Caso os responsáveis não aceitassem participar do

estudo, não mudaria o tratamento que o paciente estava recebendo, porém não houve

recusa em participar do estudo.

O presente estudo está de acordo com a resolução196/6 do Código de Ética

Médica em Pesquisa, e só foi iniciado após a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa

do IPPMG, o que aconteceu em 31 de maio de 2005.(ANEXO V)

4.10- COLETA E ARMAZENAMENTO DE DADOS.

Foram coletados 40 questionários e os dados oriundos destes foram armazenados

no programa epiInfo 6 e Excel.

4.11- VARIÁVEIS E DEFINIÇÕES:

Variável é característica de interesse que se pode medir. Existem dois grandes

grupos de variáveis: as categóricas ou qualitativas e as numéricas ou quantitativas.(45,49) O

presente estudo utilizou os dois tipos de variáveis, e elas estão descritas no quadro a seguir,

que também as relaciona com o objetivo à qual se referem.

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QUADRO 1: Variáveis e objetivos.

Categórica 6 Reconhecimento de anormalidade

Categórica 3,4,5 Fatores alegados para demora no diagnóstico

Numérica contínua 2 Intervalo de tempo entre aparecimento dos sintomas e diagnóstico definitivo

Categórica 1 Primeiro sintoma da doença

Tipo Objetivo Variável

Definição das variáveis:

Primeiro sintoma da doença:

• Atraso de marcos do desenvolvimento psicomotor, foi considerado atraso

caso o sentar tenha ocorrido após 8 meses ou andar sem apoio após os 15

meses de idade ou falar as primeiras palavras específicas após os 14

meses.(49)

• Dificuldades com atos motores após o segundo ano de vida: quedas, andar

diferente, dificuldades para correr, pular ou subir escadas.

Intervalo entre o início e o diagnóstico definitivo foi a diferença da idade em

anos/meses entre o início dos primeiros sintomas e o diagnóstico definitivo de DMD.

• Idade do início dos primeiros sintomas: foi considerada a idade em

anos/meses de aparecimento dos primeiros sintomas.

• Idade do diagnóstico definitivo: foi considerada a idade em anos/meses em

que os responsáveis receberam o resultado da biópsia muscular ou

pesquisa de deleção do DNA, informando o diagnóstico de DMD, ou a

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idade em anos em que tal diagnóstico tenha sido informado à família

decorrente de parâmetros clínicos associados ao diagnóstico laboratorial

confirmatório de outro caso na família.

Fatores alegados pelos responsáveis para demora no diagnóstico definitivo foram

categorizados em: relacionados à doença, ao sistema de saúde ou com outros fatores.

Relacionados à doença:

• História familiar - pois a presença de casos semelhantes na família chama

atenção para o diagnóstico, abreviando o tempo para o mesmo.

• Forma de apresentação da doença - existem duas formas básicas de

apresentação da doença: atraso nos marcos de desenvolvimento

neuropsicomotor ou sintomas motores, tais como quedas, marcha

diferente, dificuldades para subir escadas, correr ou pular.

Relacionados ao sistema de saúde:

• Dificuldade de reconhecimento dos sintomas iniciais pelo sistema

primário de saúde.

• Falta de acompanhamento sistemático no sistema primário de saúde.

• Encaminhamentos a outros profissionais , que não o neurologista.

• Dificuldade de acesso ao profissional especializado (neurologista).

• Dificuldades na realização dos exames complementares necessários para o

diagnóstico.

Reconhecimento da anormalidade: pela família, pelo médico ou por outro

profissional da saúde ou outra área.

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4.12- ANÁLISE DE DADOS:

Os dados foram analisados também no âmbito do programa EpiInfo e os gráficos

foram elaborados com o uso do programa Microsoft Excel, versão 2003.

Um estudo seccional pode ser a melhor estratégia de investigação para se

conhecer estimativas de parâmetros como médias e dispersões e distribuição das

freqüências das características desejadas de uma população definida no tempo e no espaço,

e este tipo de estudo encontrava-se em harmonia com os objetivos da pesquisadora.

Foi feita análise univariada dos dados e foram utilizadas medidas de freqüência

das variáveis categóricas e medidas de tendência central e dispersão para a variável

numérica contínua. Das variáveis categóricas foram obtidas freqüências absolutas e

percentuais simples. As medidas de tendência central utilizadas foram média e mediana e

as de dispersão foram desvio-padrão e valor máximo e mínimo.

Quanto às variáveis categóricas, que compõem maior parte do estudo, optou-se

por apresentá-las sob a forma de textos, tabelas e gráficos de setores. A variável numérica

contínua foi apresentada sob a forma de texto.

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5- RESULTADOS.

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Preencheram os critérios de inclusão 90 pacientes dos 118 pacientes com Distrofia

Muscular, atendidos no ambulatório de neuropediatria do IPPMG. Destes, 40 responsáveis

participaram do trabalho.

• PRIMEIRO SINTOMA:

O gráfico 1 representa a distribuição da freqüência percentual e absoluta da forma

de apresentação do primeiro sintoma citada pelos responsáveis.

GRÁFICO1: Distribuição da freqüência da forma de apresentação do primeiro

sintoma. (n=40)

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Quanto ao primeiro sintoma é importante ressaltar que quando os responsáveis

foram indagados quanto à idade em que este ocorreu, observou-se os seguintes resultados:

a idade média da marcha foi de 1 ano e 5 meses, com uma mediana de 1ano e 3meses e o

desvio-padrão foi de 1ano e 3meses, o valor mínimo foi 9 meses e o máximo 4 anos, 15%

(6/40) dos responsáveis não lembraram a idade deste marco de desenvolvimento; a idade

média da fala foi de 1ano e 3meses, com uma mediana de 1 ano e o desvio-padrão foi de 6

meses, o valor mínimo foi 9 meses e o máximo 3 anos, 22,5% (9/40) não lembraram a

idade deste marco do desenvolvimento.

• INTERVALO ENTRE O PRIMEIRO SINTOMA E O

DIAGNÓSTICO DEFINITIVO:

A idade média dos primeiros sintomas foi de 2 anos e 11 meses, com uma

mediana de 2 anos e 6 meses e o desvio-padrão foi de 1ano e 9 meses, o valor mínimo foi

de 6 meses e o máximo de 8 anos. A idade média do diagnóstico definitivo foi de 6 anos e

10 meses, com uma mediana de 7anos e o desvio-padrão de 2 anos e 7 meses, o valor

mínimo foi de 2 anos e o máximo de 12 anos. O intervalo médio gerado entre a idade dos

primeiros sintomas e a idade do diagnóstico definitivo, tempo para o diagnóstico, foi de 3

anos e 10 meses, com uma mediana de 4 anos e o desvio-padrão de 2 anos e 7 meses, o

valor mínimo foi de 5 meses e o valor máximo de 9 anos e 6 meses.

• RECONHECIMENTO DO PRIMEIRO SINTOMA:

O gráfico 2 representa a distribuição da freqüência percentual e absoluta de quem

reconheceu o primeiro sintoma.

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GRÁFICO 2: Distribuição da freqüência de quem reconheceu o primeiro sintoma.

(n=40)

Reconhecimento do primeiro sintoma

35, 87%

1, 3%

4, 10%

Família Professor de Ed. Física Médico Neurologista

• EXISTÊNCIA DE DEMORA NO DIAGNÓSTICO:

O gráfico 3 representa a distribuição da freqüência percentual e absoluta da

existência de demora no diagnóstico definitivo.

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GRÁFICO 3: Distribuição da freqüência da existência de demora no diagnóstico definitivo. (n=40)

Responsáveis acham que houve demora

24 , 60%

16 , 40%

Sim Não

Dentre os responsáveis que alegavam não ter havido demora no diagnóstico, 75%

(12/16) dos pacientes apresentavam história familiar. A média de intervalo entre os

primeiros sintomas e o diagnóstico definitivo nos pacientes cujos responsáveis negavam a

demora foi de 3 anos e 1 mês, enquanto a média nos pacientes cujos responsáveis

relatavam demora foi de 4 anos e 1 mês.

Dentre os responsáveis que alegavam demora no diagnóstico, 50% (12/24) foram

atendidos na rede pública de saúde, e os outros 50% foram atendidos em rede privada.

• FATORES ALEGADOS PELOS RESPONSÁVEIS COMO

RELACIONADOS À DEMORA DO DIAGNÓSTICO:

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Os fatores alegados pelos responsáveis como relacionados à demora do

diagnóstico definitivo de DMD, foram descritos na tabela 1.

TABELA 1: Fatores relacionados à demora no diagnóstico.

FATORES n Percentual Médicos não reconhecem a doença Demora nos exames Desconhecimento da família Não levavam ao médico Não sabiam informar

16 66,7% 2 8,3% 2 8,3% 2 8,3% 2 8,3%

TOTAL 24 100%

• O PAPEL DO PROFISSIONAL DE SAÚDE:

Na ocasião dos primeiros sintomas 35 pacientes eram acompanhados por pediatra.

As causas atribuídas pelos pediatras aos primeiros sintomas apresentados pelas

crianças, foram descritas na tabela 2. Nesta pergunta do questionário podia-se responder

“sim” a mais de uma alternativa, além da alternativa “outro”.

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TABELA 2: Causas atribuídas pelos pediatras aos primeiros sintomas.

CAUSAS NÚMERO DE RESPONSÁVEIS

Variação normal do desenvolvimento

Falta de vitaminas

Preguiça

Falta de estímulo

Obesidade

Mimo

Pirraça

Medo

Problema ortopédico

Problema neurológico

16

2

6

2

2

2

2

1

5

7

TOTAL 45

As recomendações feitas pelos pediatras, segundo os responsáveis, foram descritas

na tabela 3.

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TABELA 3: Recomendações do pediatra.

RECOMENDAÇÕES NÚMERO DE RESPONSÁVEIS

Nenhuma recomendação

Procurar neurologista

Procurar ortopedista

Aguardar

Estimular

Administrar vitaminas

Fazer exames

Não esquentar a cabeça.

4

8

7

10

1

1

3

1

TOTAL 35

A origem dos encaminhamentos aos especialistas foi descrita na tabela 4.

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TABELA 4: Quem encaminha ao neurologista.

ORIGEM NÚMERO DE RESPONSÁVEIS

Pediatra

Ortopedista

Outro neurologista

Fisioterapeuta

Leigos

ACADIM

Iniciativa própria

Não lembra

12

12

6

2

2

2

2

2

TOTAL 40

• O PAPEL DO SISTEMA DE SAÚDE.

Relacionado ao atendimento com o especialista.

O gráfico 4 representa a distribuição de freqüência absoluta e percentual da

dificuldade de atendimento com o especialista (neurologista).

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GRÁFICO 4: Distribuição de freqüência de dificuldade no atendimento com

especialista. (n=40)

Houve dificuldade no atendimento com o neurologista

3, 8%

37, 92%

Sim Não

Dos responsáveis que alegavam dificuldade no atendimento com o neurologista, 2

dizem que existem poucos locais de referência e 1 afirma que os locais de referência são

longe de casa.

Dos 3 responsáveis que alegavam dificuldade no atendimento com o neurologista,

2 eram acompanhados em rede pública de saúde e 1 em rede privada; dos 37 responsáveis

que negaram dificuldade no atendimento 29 eram acompanhados em rede pública e 8 em

rede privada.

Relacionados à realização de exames complementares.

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O gráfico 5 representa a distribuição de freqüência absoluta e percentual da

dificuldade na realização dos exames complementares.

GRÁFICO 5: Distribuição de freqüência da dificuldade de realização dos exames.

(n=40)

Houve dificuldade na realização dos exames

8, 20%

32, 80%

Sim Não

Dos 8 responsáveis que alegavam dificuldade na realização de exames

complementares,7 eram acompanhados em rede pública de saúde e 1 em rede privada; dos

32 responsáveis que negavam dificuldade, 25 eram acompanhados em rede pública e 7 em

rede privada.

As dificuldades encontradas pelos responsáveis foram descritas na tabela 5, neste

caso os responsáveis podiam responder “sim” a mais de uma alternativa.

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TABELA 5: Dificuldades na realização de exames complementares.

DIFICULDADES NÚMERO DE RESPONSÁVEIS

Exames não eram feitos no hospital

Resultados demoravam para chegar

Demora para marcar

8

2

2

TOTAL 12

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6- DISCUSSÃO.

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A Distrofia Muscular de Duchenne é uma doença com elevada morbidade e

mortalidade, portanto de grande impacto tanto para o paciente quanto para a sua família.

Para o paciente, porque que se vê privado de uma vida normal desde muito cedo e percebe

a perda progressiva de suas funções motoras, além de ter que lidar com sua pequena

longevidade; para a família além de todos os problemas e sofrimentos causados por um

caso na família, não é incomum que já exista um novo filho, ainda assintomático, na época

do diagnóstico da doença. A demora no diagnóstico definitivo de DMD é objeto de

estudos, tanto no âmbito nacional quanto internacional desde muitos anos. Estes estudos

afirmam existência da demora, mas apenas especulam as razões para a mesma. Torna-se

importante a elucidação dessas razões para que medidas possam ser tomadas a fim de

abreviar o intervalo entre o início dos sintomas e o diagnóstico definitivo, dando um

planejamento de vida mais realista a estas famílias e evitando novos casos da doença. O

presente estudo levanta hipóteses acerca destas razões, algumas necessitam de estudos

posteriores para serem confirmadas e “tratadas”.

A média de idade de início dos primeiros sintomas encontrada nesse estudo foi de

2 anos e 11meses ( DP: 1 ano e 9 meses), o que está em consonância com a literatura

médica que refere que os primeiros sintomas ocorrem entre 1 e 4 anos de idade.(2,3,4,8)

Porém, a média da idade do diagnóstico definitivo foi de 6 anos e 10 meses ( DP: 2 anos e

7 meses ), o que gera uma média de 3 anos e 10 meses ( DP: 2 anos e 7 meses) de intervalo

entre os primeiros sintomas e o diagnóstico definitivo, tempo para o diagnóstico. A idade

de diagnóstico definitivo é maior que as apresentados em estudos anteriores, exceto nos

estudos feitos por Araújo e colaboradores, realizado no mesmo ambulatório do presente

estudo no período de 1989 a 2000, onde a idade encontrada foi de 7,5 anos(3) e por Thong e

colaboradores, na Malásia, onde a idade encontrada foi de 7 anos e 1 mês.(15) Deve-se

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ressaltar que a idade do diagnóstico definitivo nos estudos anteriores já é considerada

avançada.

Nos EUA, Crisp e colaboradores reviram 31 pacientes e a idade do diagnóstico

definitivo encontrada foi de 4,7 anos(23). No Chile, Avaria e colaboradores reviram 61

pacientes e encontraram idade média de primeiros sintomas de 2 anos e a idade média de

diagnóstico definitivo de 5,7 anos, porém o intervalo encontrado está próximo ao do

presente estudo(1). No México, Leal e colaboradores reviram 22 pacientes e encontraram a

idade média de início dos sintomas de 2,4 anos e a idade média de diagnóstico definitivo

de 4,9 anos(5). No Reino Unido, Bushby e colaboradores reviram 25 pacientes e

encontraram uma idade média de diagnóstico definitivo de 4 anos e 10 meses(6), em outro

estudo no Reino Unido, Mohamed e colaboradores reviram 21 pacientes e encontraram

uma idade média de diagnóstico definitivo de 3,2 anos com intervalo de 1,9 anos.(22) A

idade média de diagnóstico definitivo do presente estudo ultrapassa em pelo menos 1 ano a

dos estudos citados, mostrando que o atraso no diagnóstico, que já é citado na literatura há

mais de 20 anos, é maior na amostra estudada.

Uma das hipóteses aventadas por outros autores foi a forma de apresentação dos

primeiros sintomas gerando atraso (demora) de diagnóstico. Como já foi dito

anteriormente, existem duas formas de apresentação dos primeiros sintomas: atraso de

desenvolvimento neuropsicomotor e/ou dificuldades motoras após o segundo ano de

vida.(5) No presente estudo, predominaram as dificuldades motoras, tais como andar

diferente, quedas freqüentes, dificuldades para subir escadas, dificuldades para levantar do

chão, após o segundo ano de vida. No entanto, um fato merece ser comentado: antes de

serem questionados sobre o que perceberam como primeiro sintoma, os responsáveis foram

indagados quanto à idade de importantes marcos de desenvolvimento, como a idade de

início da marcha e a idade em que as primeiras palavras foram pronunciadas. A

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pesquisadora conferiu as idades relatadas com as anotadas em prontuário, a fim de evitar

viés de memória. Com relação à idade de início da marcha, a média foi de 1 ano e 5 meses,

com mediana de 1 ano e 3meses e 15% dos responsáveis não lembravam da idade deste

marco; com relação a idade das primeiras palavras, a média foi de 1 ano e 3 meses e a

mediana de 1 ano e 22,5% dos responsáveis não lembravam a idade deste marco.

Considerando a idade estabelecida para atraso de desenvolvimento pela escala de Denver

(50), a idade de início da marcha estaria atrasada e não estaria sendo percebida pelos

responsáveis como atraso de desenvolvimento. A diferença entre o valor mínimo e o valor

máximo de aquisição da marcha é muito grande, 9 meses e 4 anos, e nestes casos a medida

de tendência central mais fidedigna seria a mediana, que nos mostra idade limite para a

marcha, 1 ano e 3 meses, conforme exposto acima. Outro fato importante é quanto ao

atraso na fala, apesar de não haver atraso de linguagem um grande percentual de

responsáveis não lembrava a idade desse marco de desenvolvimento e isso pode estar

sendo despercebido como atraso de desenvolvimento e consequentemente retardando a

procura por atendimento médico.

A hipótese da demora no diagnóstico ser causada pela falha de reconhecimento

dos primeiros sintomas pelos familiares já foi aventada anteriormente por Avaria e

colaboradores(1), Essex e Roper(13) e Mohamed e colaboradores(22), especialmente se o

atraso estivesse mais relacionado com a linguagem. Profissionais cuidadores de crianças

devem ficar atentos a esse dado na anamnese.

Avaria e colaboradores concluem em seu estudo que a demora no diagnóstico

definitivo se deve, em parte, à família que levam seus filhos ao médico tardiamente.(1) No

presente estudo, em 87% dos casos o primeiro sintoma foi reconhecido pela família e

apenas 2 responsáveis que alegam demora no diagnóstico, não levavam seus filhos ao

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médico. Cabe a observação que caso o atraso de linguagem não tenha sido percebido pela

família, também não o foi pelo médico assistente.

A demora no diagnóstico é afirmada pela maioria dos responsáveis. Dos

40%(16/40) dos responsáveis que a negam, 75%(12/16) têm história familiar. Três crianças

foram diagnosticadas ainda assintomáticas, devido à história familiar, o que sugere que esta

abrevia o tempo para o diagnóstico. No entanto, em cerca de 30% dos casos de DMD, não

se observa história familiar, ou seja, são esporádicos e podem corresponder a mutações

novas do gene.

A média de intervalo entre o aparecimento dos primeiros sintomas e o diagnóstico

definitivo nos pacientes cujos responsáveis alegavam não haver demora no diagnóstico foi

de 3 anos e 1 mês; nos pacientes cujos responsáveis alegavam demora, este tempo foi de 4

anos e 1 mês, o que mostra que a demora foi percebida de forma adequada pelos

responsáveis.

A maioria dos responsáveis afirmaram que o principal fator relacionado com a

demora no diagnóstico definitivo é a falta de reconhecimento da doença pelos médicos. A

maioria das crianças eram acompanhadas por pediatra na ocasião dos primeiros sintomas.

Diante das atribuições feitas por estes, citadas pelos responsáveis, predominou a variação

normal de desenvolvimento. Pode-se observar, portanto, que possivelmente existe falha no

reconhecimento dos sintomas, o que pode vir a retardar o diagnóstico. Essas atribuições

equivocadas podem gerar condutas igualmente equivocadas. Foi visto neste estudo, e

também em estudos anteriores, que é comum atribuir os primeiros sintomas a problemas

ortopédicos, especialmente pés planos.(1,3,5,8) Muitos responsáveis referem que foram

encaminhados ao ortopedista e alguns referem que procuraram de 1 a 3 especialistas até

serem encaminhados ao neurologista. Algumas vezes, exames não relacionados com o

diagnóstico de DMD foram solicitados e algumas condutas, como o uso de palmilhas, foi

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recomendado (um paciente chegou a usá-las por 3 anos, antes de ser encaminhado ao

neurologista).

Como já foi dito anteriormente, alguns estudos reportam que problemas

ortopédicos foram atribuídos aos primeiros sintomas. Leal e colaboradores observaram que

dos 22 pacientes estudados, 17 receberam diagnóstico de pés planos.(5) Avaria e

colaboradores observaram que dos 61 pacientes estudados, 45,9% receberam algum tipo

de intervenção ortopédica antes do diagnóstico.(1)

O reconhecimento precoce dos primeiros sintomas e a solicitação do exame de

triagem (dosagem sérica de CPK), ou o encaminhamento precoce a neurologistas reduziria

o tempo gasto para o diagnóstico. Outro fator que poderia reduzir este tempo seria a

inclusão da dosagem de CPK em testes de triagem neonatal. Torna-se importante a

realização de novos estudos, a fim de avaliar a capacidade de reconhecimento dos sintomas

de DMD por médicos generalistas e pediatras, especialmente porque este estudo foi

desenvolvido utilizando a opinião de familiares, que estavam muito envolvidos com todo o

processo de doença e isto pode ser considerado uma limitação do estudo.

Existe uma grande discussão em terminologias quando se trata da utilização de

serviços de saúde: alguns autores usam a palavra acesso, enquanto outros preferem

empregar a palavra acessibilidade. A pesquisadora optou por usar a última, devido ao seu

sentido mais amplo. Donabedian definiu acessibilidade aos serviços de saúde como a oferta

de serviços e a sua capacidade de atender às necessidades de saúde de uma determinada

população. Esta acessibilidade apresenta duas grandes dimensões: a sócio-organizacional e

a geográfica. Acessibilidade sócio-organizacional inclui todas as ofertas de serviços e a

geográfica tudo que pode ser medido por distância linear, como por exemplo distância e

tempo de locomoção e custo de viagem.(51) Sabe-se o quão precária é a acessibilidade em

saúde no nosso país.

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No Brasil, a saúde vive situação preocupante. A divisão de competências vigente

no SUS classifica os estabelecimentos de saúde que prestam atendimento médico à

população em níveis primários, secundários, terciários e quaternários. Entre esses centros

há uma integração via sistema de referência e contra-referência, onde os estabelecimentos

de baixa complexidade como postos de saúde e emergências (nível primário) encaminham

pacientes que necessitam de tratamentos mais especializados ou recursos diagnósticos mais

sofisticados para centros de maior complexidade.(52) O Rio de Janeiro vive uma situação

caótica, a evasão dos médicos que passaram em concurso público já representa 62%. Os

médicos têm abandonado a saúde pública fluminense por conta da elevada carga de

trabalho, aliada às péssimas condições, falta de materiais e medicamentos.(53)

Sabe-se ainda que acessibilidade em saúde depende não só da disponibilidade dos

serviços de saúde, mas também da capacidade das pessoas procurarem os serviços de

saúde(45), por isso achou-se que poderia haver diferenças entre os pacientes que eram

tratados em rede pública e em rede privada de saúde, o que não ocorreu.

Com todas as dificuldades expostas, é factível pensar que a dificuldade de

acessibilidade em saúde, especialmente em nível terciário, poderia ser um fator relacionado

à demora no diagnóstico definitivo de DMD. A suspeita diagnóstica e o exame de triagem

podem ser realizados em nível primário de saúde, mas o diagnóstico definitivo depende de

especialistas e exames que só são encontrados em nível terciário. Apesar disso, a maioria

dos responsáveis negou dificuldades em conseguir atendimento com o especialista e negou

também dificuldades na realização dos exames.

Com relação ao atendimento com o especialista, apenas 3 responsáveis referem

dificuldade, destes 2 referem que existem poucos locais de referência para o atendimento,

dificuldade essa que estaria relacionada com a acessibilidade sócio-organizacional e 1

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afirma que os locais de referência são longe de casa, ou seja, relacionada com a

acessibilidade geográfica.

Com relação à realização dos exames complementares, algumas considerações

devem ser feitas. O serviço de Neuropediatria do IPPMG conta com profissional que

realiza as biópsias musculares por agulha, e quando estas não podem ser realizadas elas são

realizadas pelo serviço de Neurocirurgia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

(HUCFF - UFRJ). Isto pode ser considerado uma facilidade para os pacientes que

procuram este serviço, o mesmo pode não acontecer em outros serviços, portanto

especialmente esses dados são muito específicos para a amostra estudada. Em relação a

análise molecular, existe uma pesquisa em que o serviço está vinculado, aprovado em

agosto de 2004, que realiza teste genético para algumas doenças neuromusculares, entre

elas a distrofia muscular de Duchenne, o que também poderia ser considerado uma

facilidade ao diagnóstico, limitando esse achado do estudo. O exposto pode justificar o fato

da maioria dos responsáveis terem negado dificuldades para a realização dos exames, muito

embora nem todos os pacientes tenham realizado os exames neste hospital. As dificuldades

encontradas para a realização dos exames foram, em ordem de freqüência, exames não

serem realizados no hospital em que o paciente era acompanhado, demora na marcação dos

exames e demora na entrega dos resultados.

6.1- LIMITAÇÕES DO ESTUDO:

Além de todas as limitações inerentes a um estudo descritivo, o presente estudo

apresenta outras limitações. As perdas, apesar de terem ocorrido ao acaso, foram

significativas, uma vez que uma amostra maior poderia representar alguma mudança nos

achados. Apesar das perdas terem sido significativas, a amostra final é numericamente

superior a maioria dos outros estudos semelhantes da literatura médica. Foi feita uma

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revisão dos prontuários dos pacientes que não compareceram, onde foi observado que nas

perdas a idade média de inicio dos sintomas foi de 2 anos e 6 meses, a idade média do

diagnóstico definitivo foi de 7 anos e 7 meses, gerando um intervalo de 5 anos e 1 mês. O

principal motivo apontado como responsável pela demora do diagnóstico da doença,

desconhecimento dos médicos e falhas em reconhecer os primeiros sintomas, necessita de

estudos quanto à formação de médicos generalistas e pediatras com relação a capacidade de

reconhecimento não só de DMD, bem como outras doenças relacionadas com o

desenvolvimento neuropsicomotor, mas o estudo cumpre o papel de levantar esta hipótese,

abrindo caminho para novos estudos. Alguns achados são muito peculiares a esta amostra,

como por exemplo a dificuldade na realização dos exames, não podendo de forma alguma,

generalizá-los.

Existe ainda a possibilidade de um viés de memória ter ocorrido, para isso contou-

se com a ajuda de alguns dados documentais, especialmente anotações feitas nos

prontuários, particularmente útil na idade dos marcos do desenvolvimento.

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7- CONCLUSÕES.

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67

7.1- CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.1:

A maioria dos responsáveis caracterizou o primeiro sintoma de DMD como

dificuldades motoras após o segundo ano de vida, tais como andar diferente, quedas

freqüentes, dificuldade em subir escadas e dificuldade em levantar do chão.

7.2- CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.2:

A idade dos primeiros sintomas encontra-se em consonância com a literatura,

porém a idade do diagnóstico definitivo é mais tardia, o que gera um intervalo, tempo para

o diagnóstico mais longo.

7.3- CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.3:

A maioria dos responsáveis refere demora no diagnóstico definitivo de DMD, os

que negam, em grande parte, apresentam história familiar, sendo esta um fator que está

relacionado com a doença e que abreviaria o tempo do diagnóstico. A maioria dos

responsáveis aponta a falta de reconhecimento da doença pelos médicos como principal

fator determinante na demora do diagnóstico.

7.4- CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.4:

Não foi verificado nenhum outro fator que não estivesse relacionado com a doença

ou com a família ou com o sistema de saúde, incluindo neste último o profissional de

saúde.

7.5- CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.5:

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Quanto à família, o que poderia justificar a demora no diagnóstico seria a falta de

reconhecimento de atraso de desenvolvimento neuropsicomotor como sintoma inicial,

especialmente quando este atraso se manifesta de forma mais global.

Com relação à doença, a forma de apresentação desta como atraso de

desenvolvimento neuropsicomotor poderia gerar demora no diagnóstico; e a história

familiar abreviaria o tempo para o diagnóstico.

Com relação ao profissional de saúde, a falta de reconhecimento dos primeiros

sintomas, gerando encaminhamentos equivocados e tardios e/ou orientações inadequadas

podem retardar o diagnóstico.

Com relação aos demais componentes do sistema de saúde não foram observados

motivos para a demora no diagnóstico.

7.6- CONCLUSÃO REFERENTE AO OBJETIVO 3.2.6:

Na maioria dos casos, os primeiros sintomas foram reconhecidos por um familiar.

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8-RECOMENDAÇÕES.

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70

8.1- RECOMENDAÇÕES PARA A PESQUISA CIENTÍFICA:

Como a principal hipótese levantada por este estudo aponta a falta de

reconhecimento da doença, faz-se necessária a realização de novos estudos, a fim de

avaliar a capacidade de reconhecimento, não só de DMD, mas também outras doenças

relacionadas com falha no desenvolvimento neuropsicomotor, o que poderia ser feito por

exemplo com um levantamento junto as faculdades de Medicina, sobre o currículo médico

ou com revisão de questões sobre o tema em concursos e suas respostas, questionário com

perguntas referentes ao tema com pediatras.

8.2- RECOMENDAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO MÉDICA:

Como o diagnóstico precoce de DMD é fundamental para melhorar a qualidade de

vida das crianças que apresentam a doença, para um planejamento de vida mais realista

para a sua família e para o aconselhamento genético a fim de evitar novos casos da doença,

torna-se importante a divulgação da doença no meio médico, especialmente entre os

profissionais cuidadores de crianças. A fim de contribuir com a divulgação da doença, os

resultados parciais deste estudo foram divulgados em Congresso da Sociedade de Pediatria

do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ) sob a forma de pôster (ANEXO VI), um artigo de

revisão sobre DMD foi aceito para publicação na revista de SOPERJ (ANEXO VII) e um

artigo original foi escrito e será submetido à publicação no Jornal de Pediatria (ANEXO

VIII).

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9- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

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46- GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em

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utilização de serviços de saúde. Caderno de Saúde Pública. Suplemento 2. S190-

S198.2004.

52- MINISTÉRIO DE SAÚDE. Disponível em: www.saude.gov.br Acesso em: Jan

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53- CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Jornal do Conselho Federal de

Medicina. 167:2-7. Dez 2007.

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10- ANEXOS.

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ANEXO I

CARTA CONVITE PARA A PESQUISA.

Rio de Janeiro, ..... /...../2006.

Venho por meio desta, convidar o responsável pelo paciente -------------------------------------------------------------------- a comparecer ao ambulatório de neuropediatria do Instituto de Puericultura e Pediatria da UFRJ, a fim de participar da pesquisa intitulada “ Fatores relacionados à demora no diagnóstico de Distrofia Muscular de Duchenne. Visão da família. “ Responsáveis pela pesquisa: Dra Andréia de Santana S. Moreira. Dra Alexandra Prufer. Data: Horário: Em caso de dúvida, ligar para 9802-7786.

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ANEXO II

QUESTIONÁRIO PILOTO.

Número da pesquisa:------------.

1- Idade dos grandes marcos do desenvolvimento:

Sentar:-----------

Andar:-----------

Falar:-------------

2- Idade dos primeiros sintomas:------------------------.

3- Idade do diagnóstico definitivo:----------------------.

4- O que foi percebido inicialmente como sintoma?

( ) Atraso no desenvolvimento.

( ) Quedas.

( ) Andar diferente.

( ) Dificuldade de correr.

( ) Dificuldade de pular.

( ) Dificuldade para subir escadas.

( ) Outros: -----------------------------------------------------------------------------------------.

5- Quem primeiro percebeu que havia algo errado?

( ) Família.

( ) Médico. Qual? -------------------------------

( ) Outro.------------------------------------------------------------------.

6- Você acha que demorou para ser informada que havia algo errado com seu filho?

( ) SIM.

( ) NÃO.

7- Você acha que demorou para saber qual a causa dos problemas do seu filho?

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( ) SIM.

( ) NÃO.

8- Por que você acha que isto aconteceu?

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

---------------------------------------------------------------------------------------------------------

9- Existe caso semelhante na família?

( ) SIM.

( )NÃO.

10- Era acompanhado por pediatra na ocasião dos primeiros sintomas?

( ) SIM.

( ) NÃO.

( ) NÃO LEMBRO.

11- Ao que o pediatra atribuiu os primeiros sintomas?

( ) Variação normal do desenvolvimento.

( ) Obesidade.

( ) Preguiça.

( ) Falta de estímulo.

( ) Problema muscular.

( ) Outro. -------------------------------------------------------------------------------------------

12- O que foi recomendado pelo pediatra?

( ) Aguardar.

( ) Procurar ortopedista.

( ) Procurar neurologista.

( ) Estimular.

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( ) Realizar exame de sangue (CPK).

( ) Outra recomendação. --------------------------------------------------------------------------

13- Quem encaminhou ao neurologista?

( ) Iniciativa própria.

( ) Pediatra.

( ) Ortopedista.

( ) Escola.

( ) Outros. ------------------------------------------------------------------------------------------

14- Encontrou dificuldades em conseguir atendimento com o neurologista?

( ) SIM.

( ) NÃO.

15- Se sim, quais foram?

( ) Falta de conhecimento sobre o local de referência.

( ) Local de referência longe de casa.

( ) Demora no agendamento da consulta.

( ) Poucos locais de referência.

( ) Outros -------------------------------------------------------------------------------------------

16- Encontrou dificuldades para realização dos exames solicitados pelo neurologista?

( ) SIM.

( ) NÃO.

17- Se sim, quais?

( ) Exames não eram realizados no próprio hospital.

( ) Exames demoravam para serem marcados.

( ) O resultado demorou para chegar.

( ) Outros.-------------------------------------------------------------------------------------------

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ANEXO III

INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS.

Número do entrevistado: ---------

Grau de parentesco: ----------------------------------------

Idade do diagnóstico definitivo: --------------------------

1- Idade dos grandes marcos do desenvolvimento:

Sentar sem apoio: --------------

Andar sem apoio: --------------

Falar palavras específicas: -----------------

2- O que foi percebido inicialmente como sintoma?

( ) Atraso do desenvolvimento. Quando?-------------------- Quem percebeu?---------

( ) Andar diferente. Quando?--------------------------------Quem percebeu?------------

( ) Dificuldade para correr. Quando?---------------------- Quem percebeu?------------

( ) Dificuldade de pular. Quando? ------------------------- Quem percebeu? -----------

( ) Dificuldade para subir escadas. Quando? --------------- Quem percebeu? ---------

( ) Outros ---------------------------------------------------------------------------------------

3- Quem primeiro percebeu que havia algo errado?

( ) Família Quem?----------------

( ) Médico Qual? -----------------

( ) Outro ----------------------------------------------------------------------------------------

4- A quem a família recorreu inicialmente?

-----------------------------------------------------------------------------------------------------

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5- Você acha que demorou para ser informada que havia algo errado com seu

filho?

( ) Sim

( ) Não

( ) Não lembro

6- Se sim, por que?

-----------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------

-----------------------------------------------------------------------------------------------------

7- Você acha que demorou para saber qual a causa dos problemas do seu filho?

( ) Sim

( ) Não

( ) Não lembro

8- Se sim, por que você acha que isto aconteceu?

----------------------------------------------------------------------------------------------------

----------------------------------------------------------------------------------------------------

9- Existe caso semelhante na família?

( ) Sim

( ) Não

( ) Não lembro

10- Era acompanhado por pediatra na ocasião dos primeiros sintomas?

( ) Sim

( ) Não

( ) Não lembro

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11- Se sim, em que local?

( ) Rede pública

( ) Rede privada

12- Se sim, a que o pediatra atribuiu os primeiros sintomas?

( ) Variação normal do desenvolvimento

( ) Obesidade

( ) Preguiça

( ) Falta de estímulo

( ) Problema muscular

Outro -------------------------------------------------------------------------------------

13- O que foi recomendado pelo pediatra?

( ) Aguardar

( ) Procurar ortopedista

( ) Procurar neurologista

( ) Estimular

( ) Realizar exame de sangue ( CPK )

( ) Outra recomendação ----------------------------------------------------------------

14- Quem encaminhou ao neurologista?

( ) Iniciativa própria

( ) Pediatra

( ) Ortopedista

( ) Escola

( ) Outro -------------------------------------------------------------------------------------

15- Encontrou dificuldade em conseguir atendimento com neurologista?

( ) Sim

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( ) Não

( ) Não lembro

16- Onde foi feito o atendimento neurológico?

( ) Rede pública

( ) Rede privada

17- Se sim, qual?

( ) Falta de conhecimento sobre local de referência.

( ) Local de referência longe de casa

( ) Demora no agendamento da consulta

( ) Poucos locais de referência

( ) Outros ---------------------------------------------------------------------------------------

18- Encontrou dificuldades para realização dos exames solicitados pelo

especialista?

( ) Sim

( ) Não

( ) Não lembro

19- Os exames foram feitos onde?

( ) Rede pública

( ) Rede privada

20- Se sim, quais?

( ) Exames não eram feitos no próprio hospital

( ) Exames demoravam a ser marcados

( ) O resultado demorou para chegar

( ) Outros ---------------------------------------------------------------------------------------

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87

ANEXO IV

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO.

Título: Fatores relacionados à demora no diagnóstico de Distrofia Muscular de

Duchenne.

A pesquisa será realizada no ambulatório de Neuropediatria do Instituto de

Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira..

Investigadora: Andréia de Santana Silva Moreira

Contato: Ambulatório de Neuropediatria, quintas-feiras à tarde, ou pelo telefone

98027786 ou (21) 36422538.

Esta é uma pesquisa para entender melhor como o diagnóstico da Distrofia

Muscular de Duchenne é feito entre nós, se existem dificuldades para o reconhecimento

desta doença e dificuldades para se chegar ao seu diagnóstico. Caso você nos autorize

estaremos revendo informações do prontuário do seu filho e faremos uma entrevista com

você.

Eu, ______________________________________________________, aceito

participar desta pesquisa sobre o diagnóstico de distrofia muscular de Duchenne.

Sei que para isto, o prontuário do meu filho será consultado e deverei responder a

um questionário não identificado.

A assistência médica ao meu filho neste hospital não será modificada em função da

aceitação ou não em participar desta pesquisa. A participação na pesquisa não envolverá

qualquer custo, ou seja, é gratuita. As informações obtidas através da pesquisa , serão

confidenciais, não terão seus nomes divulgados, serão divulgadas apenas sob a forma de

publicação científica.

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88

Posso desistir da participação a qualquer momento sem que isto interfira no

tratamento do meu filho neste hospital (Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão

Gesteira).

Estou ciente de poder fazer perguntas a qualquer momento. Sei que esta pesquisa

foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa Humana do Instituto de Puericultura e

Pediatria Martagão Gesteira da UFRJ.

Assinatura do responsável:__________________________________________

Assinatura da testemunha: __________________________________________

Data: ____/____/____

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89

ANEXO V

MEMORANDO DE APROVAÇÃO.

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90

ANEXO VI

TRABALHO APRESENTADO NA FORMA DE POSTER NO CONSOPERJ.

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ANEXO VII

ARTIGO DE REVISÃO.

DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS. DUCHENNE MUSCULAR DYSTROPHY: DIAGNOSIS ASPECTS. AUTORES: Andréia de S. S. Moreira.1 Alexandra Prufer de Q. C. Araújo.2

1- Mestranda IPPMG –UFRJ. Médica Neuropediatra. 2- Pós- Doutorado. Professora Adjunta de Pediatria IPPMG-UFRJ.(Currículo

Lattes) Endereço eletrônico: [email protected]. [email protected] Ambos os autores participaram da elaboração, redação, revisão e elaboração da versão final do trabalho. Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Endereço para correspondência : Andréia de Santana Silva Moreira. Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira da UFRJ – Ambulatório de Neurologia Infantil. Av Brigadeiro Trompowski, sem número. Ilha do Fundão. Telefone: 9802-7786. Endereço para contato pré-publicação: Andréia de Santana Silva Moreira. Av: Lúcio Meira, 670 sala 503. Centro. Teresópolis. RJ. CEP: 25950-000. Telefone: 9802-7786.

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92

RESUMO:

henne é a doença neuromuscular mais

freqüen

anifestaç ras em meninos pelo pediatra.

ação clínica de Distrofia Muscular de

são não-sistemática da literatura médica nacional e internacional

utilizados os seguintes termos para pesquisa: distrofia

dos 30 artigos. Meninos com atraso na aquisição da

as ao andar ou marcha digitígrada são os casos suspeitos. A

tinofosfoquinase é um exame de fácil realização e de baixo custo,

que serve como triagem para a doença. Os demais exames são mais complexos,

disponíveis apenas em serviços terciários.

CONCLUSÃO: O reconhecimento precoce dos sintomas resulta na realização da triagem

e encaminhamento adequado. Tal proporcionaria à estas crianças e sua família melhor

qualidade de vida, um planejamento mais realístico de vida, permitindo ainda o

aconselhamento genético.

have: Distrofia muscular de Duchenne, Diagnóstico.

INTRODUÇÃO: A Distrofia Muscular de Duc

te na faixa etária pediátrica. O diagnóstico depende do reconhecimento de

ões motom

OBJETIVO: Descrever as formas de apresent

Duchenne e os exames complementares usados para o diagnóstico desta patologia.

MÉTODO: Revi

disponível no LILACS e MEDLINE, por meio de busca na BIREME, referentes aos anos

de 1970-2007. No LILACS foram

muscular/DI e no MEDLINE os seguintes termos: dystrophy duchenne diagnosis.

Incluídos ainda, livros textos de Neurologia Infantil de reconhecida importância na prática

clínica.

RESULTADOS: Foram seleciona

marcha, queixas de qued

dosagem sérica de crea

Palavras – c

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ABSTRACT:

BACKGROUND: Duchenne Muscular Dystrophy is the most frequent neuromuscular

disease in children. The diagnosis depends on the recognition of motor symptoms in boys.

TS: Thirty publications were selected. Boys with walking skill acquisition delay,

ilies a better quality of life, a more realistic life

INTRODUÇÃO

ular mais freqüente na

ixa etária pediátrica (1,2,3); sendo de extrema importância o reconhecimento desta doença

elos pediatras.

OBJETIVE: To describe the clinical presentation and laboratory tests to diagnose

Duchenne Muscular Dystrophy.

METHOD: A non systematic review of the national and international medical literature,

available on LILACS and MEDLINE, searching through BIREME, concerning the years

1970 – 2007. In LILACS data base, distrofia muscular/DI was the term used, and in

MEDLINE dystrophy Duchenne and diagnosis. Furthermore, renowned text books on

Child Neurology were also included.

RESUL

falls on walking or toe-walking are suspicious. The creatine phospokinase level, is an easy

and low cost test, useful as screening tool. The other laboratory techniques are more

complex and available only special clinics.

CONCLUSION: Recognizing the symptoms early, results in screening and corret referral.

This could provide those children and fam

planning and genetic counseling.

Keywords: Duchenne Muscular Dystrophy, Diagnosis.

A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é a doença musc

fa

p

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Apresenta uma incidência de 1 para cada 3500 recém-nascidos do sexo masculino.

A herança é recessiva ligada ao X, manifestando-se, portanto em pacientes do sexo

e não encontra-se história familiar identificável,

, que foi denominada distrofina, e cuja função mais

a distrofina, tem sido descrito uma grande

erca de 60 à 70% dos casos; quantitativas, ou seja,

uplicações onde há ganho de DNA em 5 à 6% dos casos e mutações de ponto nos casos

As deleções apresentam locais preferenciais que são entre os éxons 3 a 8 e 44 a

48. O sítio de deleção é muito impor ão da severidade do quadro clínico.

m estu

nor freqüência de identificação de deleções, o que poderia sugerir que as

masculino e tendo as mulheres como portadoras. (1,2,3,6,7,8,,9,10) Até um terço dos casos

podem ser esporádicos, ond

correspondendo à mutações novas do gene.(1,6,7)

A DISTROFINA

O gene da distrofina foi localizado em 1981 no braço curto do cromossoma X. Em

1987, após a clonagem do gene o produto gênico foi identificado: uma proteína do

citoesqueleto da membrana muscular

provável seria manter a estabilidade da membrana da célula muscular.(11)

O gene da distrofina é o maior gene humano conhecido, sendo composto por 79

éxons e 2.400.000 pares de bases, porém com um transcrito de apenas 14 Kb.(6,10,12,13)

Desde a identificação do gene d

heterogenecidade nas mutações e hoje sabe-se que são estas mutações que causam a DMD.

As mutações podem ser qualitativas, ou seja, deleções, onde há perda de ácido

desoxiribonucleico (DNA) em c

d

restantes.(6,11)

tante na determinaç

U do paulista mostrou que deleções entre os éxons 49 e 54 tem maior probabilidade

de resultar em pacientes com retardo mental, por outro lado nos pacientes com retardo

mental existe me

mutações de ponto tenham maior ocorrência nestes pacientes.(14)

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DIAGNÓSTICO

O diagnóstico de DMD deve ser suspeitado em meninos com quadro clínico

peculiar, especialmente na presença de história familiar. Alguns autores referem que em

todo menino com atraso de m er feita a dosagem sérica de

dificuldades para

te a

ecker (DMB), que é alélica ao à DMD (isto é, localizada no mesmo loco). A

K):

A CPK é uma enzima muscular que encontra-se muito elevada nos casos de

DMD. O aumento da CPK pode chegar até 300 etectada já ao nascimento e tem

um pico entre 1 e 2 anos de idade, com a progressão da doença os níveis desta enzima

archa deveria s

creatinofosfoquinase, que funciona como triagem da doença.(3)

As manifestações clínicas podem iniciar de duas formas, basicamente: atraso do

desenvolvimento motor, especialmente aquisição da marcha e/ou problemas de locomoção,

tais como: quedas freqüentes e marcha típica: anserina e digitígrada,

subir escadas e/ou levantar do chão. Notamos pseudo hipertrofia de panturrilhas ao exame

físico. A fraqueza muscular é simétrica e progressiva, acometendo inicialmen

musculatura dos membros inferiores até a perda da capacidade de deambulação,

posteriormente acomete a musculatura dos membros superiores e por fim a musculatura

intercostal, ocorrendo então dificuldade respiratória e o óbito, em geral na segunda década

de vida. (2,3,4,7,10,15,16,17)

Existe uma outra forma de distrofia muscular ligada ao X, denominada Distrofia

Muscular de B

diferença entre essas duas formas está na idade de início e velocidade de progressão. A

DMB é uma forma mais benigna, com início dos sintomas entre 5 e 25 anos de idade,

progressão gradual da fraqueza muscular, levando à incapacidade da marcha cerca de 25

anos ou mais após o início da doença. A incidência de DMB é 5 à 10 vezes menor que a

da DMD e as alterações histológicas são menos acentuadas na biópsia muscular.(6,1)

DOSAGEM SÉRICA DE CREATINOFOSFOQUINASE (CP

vezes, e é d

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te diminuir.(3,6,10,12,15) É um exame simples, de fácil realização, acessível e de baixo

custo, portanto pode e deve ser solicitado pelo pediatra antes do encaminhamento ao

especialista.

A CPK pode estar elevada precocemente, o que pod

ndem a

eria ser visto nos testes de

iagem

alizada normalmente com um eletrodo na forma de agulha, exige

lgum g

cosa oral) tem sido

tr neonatal.(3,16,18,19,20)

ELETRONEUROMIOGRAFIA (ENMG):

A ENMG é um exame que tem sido pouco utilizado, atualmente, para o

diagnóstico de DMD. É um exame doloroso e de difícil realização em crianças. A ENMG é

composta por uma série de testes neurofisiológicos que visam o estudo funcional da

unidade motora. A avaliação é composta por duas etapas: a neurocondução e a

eletromiografia, sendo esta última de mais utilidade no diagnóstico de doenças musculares.

A eletromiografia é o estudo da atividade elétrica na intimidade muscular, em diferentes

estágios de ativação, re

a rau de colaboração do paciente e por isso, em alguns casos, é de difícil realização

em crianças.(15,12,13,21) A ENMG basicamente localiza a doença no músculo(3),

demonstrando um padrão miopático, ou seja, potenciais de unidades motoras com

amplitudes e durações reduzidas, potenciais polifásicos e recrutamento precoce e

excessivo.(21) Apesar de localizar a doença no músculo, não define a etiologia das

miopatias

ANÁLISE MOLECULAR:

O exame de DNA em sangue periférico (ou raspado de mu

muito importante para o diagnóstico, evitando, em muitos casos, a realização de exames

invasivos como a biópsia muscular ou a ENMG. (11)

Deleção, conforme exposto anteriormente, é o defeito genético mais comum (65

%). Para identificar as deleções, utilizam-se, sobretudo, métodos de reação em cadeia com

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a polimerase (PCR), e para identificar as duplicações, métodos de diagnóstico indireto

utilizando polimorfismos de DNA, seguidos por técnicas quantitativas de Southern Blot.

do marcadores polimórficos amplificáveis por PCR. (6,8)

dicada se não for encontrada deleção no gene da distrofina,

s

(11)

Para detectar mutações de ponto a técnica é mais difícil e dispendiosa, baseia-se num

diagnóstico indireto, utilizan

BIÓPSIA MUSCULAR:

É utilizada quando o diagnóstico molecular não é conclusivo. É um método

invasivo, que requer internação para sedação e analgesia. Utiliza-se a técnica de análise da

distrofina, somente em material congelado e não em amostra conservada em formol, que

pode ser efetuada por imuno-hístoquímica, empregando principalmente anticorpos

antidistrofina, ou por Western Blot.(6,11,22)

A ausência da distrofina é a base fisiopatológica da doença.(1,2,3,4,23)

Do ponto de vista prático, em casos suspeitos os passos a serem seguidos para o

diagnóstico são os seguintes:

1) Dosagem sérica de CPK: se aumentado sugere o diagnóstico de distrofia muscular;

2) Análise de DNA: Pesquisa de deleção no gene da distrofina; se for encontrada

deleção confirma-se o diagnóstico de DMD ou Distrofia Muscular de Becker

(DMB);

3) Biópsia Muscular: é in

e não houver história familiar de caso comprovado com herança recessiva ligada

ao cromossoma X ou em crianças que são casos isolados, nas fases iniciais, para

um diagnóstico diferencial entre DMD/DMB.

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL:

Não existe atualmente tratamento curativo para esta doença. O tratamento consiste

em métodos paliativos, tais como: fisioterapia motora e respiratória, cirurgias ortopédicas

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corretivas das retrações fibrotendíneas e da deformidade da coluna. O uso do corticóide é

capaz de provocar uma modificação no curso natural da doença, melhorando a força

muscular, retardando em 1 à 3 anos a época do confinamento do paciente à cadeira de

ifoescoliose.(1,3,24,25,26,27) Pode ser ainda encarado como uma

rma de

mática fetal, o nível de CPK fetal. Atualmente, o

ode ainda ser

eita a análise imuno-histoquímica da distrofina nas vilosidades coriônicas. Todos esses

r em doenças neuromusculares. (6,28,29,30)

Distrofia Muscular de Duchenne

O reconhecim nto precoce dos sintomas resulta na realização da triagem e

encami

planeja

motivo ssitando de estudos que possam

e a divulgação das manifestações clínicas e exames

omplem

rodas e a progressão da c

fo “ comprar tempo” para o doente à espera de uma eventual terapia eficaz.(1,6)

E por se tratar de uma doença, ainda sem cura, muitas famílias questionam sobre o

diagnóstico pré-natal. Antigamente várias técnicas foram utilizadas, tais como biópsia

muscular fetal e vários marcadores bioquímicos, entre eles: a estimação do cálcio intra-

celular, o nível de anidrase carbônica plas

diagnóstico se faz através da pesquisa de deleção de DNA no sangue fetal, p

f

procedimentos necessitam de um planejamento preciso envolvendo a gestante, o obstetra e

o centro de diagnóstico molecula

CONCLUSÃO

Por ser a doença neuromuscular mais freqüente na faixa etária pediátrica, a

, necessita ser reconhecida precocemente pelos pediatras.

e

nhamento adequado, proporcionando à estas crianças e sua família um

mento mais realístico de vida, permitindo ainda o aconselhamento genético.

A literatura médica nos mostra que existe demora no diagnóstico de DMD, os

s para esta demora não estão elucidados, nece

apontá-los, porém acreditamos qu

c entares necessários para o diagnóstico possam abreviar o intervalo de tempo entre

os primeiros sintomas e o diagnóstico definitivo.

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99

Revista de Pediatria da SOPERJ

R. Assembléia, 10 Sl. 1812, CentroFone: (55) - (21) 2531.3313, Rio de Janeiro - RJ (Brasil)

email: [email protected]

Rio de Janeiro, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Ilmo(a) Sr.(a) rof(a), D

do artigo.

Obrigado por submeter seu trabalho à Revista de Pediatria da SOPERJ.

P r(a) Andréia de Santana Silva Moreira

Referente ao código de fluxo: 85 Classificação: Artigo de Revisão

Temos o prazer de informar que o manuscrito DISTROFIA MUSCULAR DE DUCHENNE: ASPECTOS DIAGNÓSTICOS. foi aprovado pelo Conselho Editorial da Revista de Pediatria da SOPERJ e será publicado em breve. Lembramos que algumas modificações poderão ser solicitadas até a publicação

Atenciosamente,

Dr. Clemax Couto Sant Anna Editor

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100

ANEXO VIII

ARTIG

S RELACIONADOS À DEMORA NO DIAGNÓSTICO DE DISTROFIA

MUSCULAR DE DUCHENNE. A VISÃO DA FAMÍLIA.

res que, na opinião dos familiares, levam à demora no

agnóstico de Distrofia Muscular de Duchenne.

a

composta por responsáveis pelos pacientes com diagnóstico definitivo de DMD,

mbulatórios de neuropediatria do Instituto de

ericultura e Pediatria Martagão Gesteira da Universidade Federal do Rio de Janeiro , no

eríodo de 1989 à 2005.

ESULTADOS: Participaram do estudo 40 responsáveis por pacientes com diagnóstico

efinitivo de Distrofia Muscular de Duchenne, confirmado por achado de deleção na

análise molecular e/ou ausência de distrofi édia dos

primeiros sintomas foi de 2 anos e 11 mese ( DP: 1ano e 9 meses). A idade média do

diagnóstico definitivo foi de 6 anos e 10 meses (DP: 2 anos e 7 meses). O intervalo entre as

idades foi de 3 anos e 10 meses ( DP: 2 anos eses). Dentre os fatores alegados pelos

responsáveis como relacionados com a de ora no diagnóstico, predomina a falta de

reconhecimento da doença pelos médicos.

CONCLUSÕES: Podemos sugerir que possivelmente exista problemas na formação

médica, que justificaria não só a falta de reconhecimento dos primeiros sintomas ,bem

como encaminhamentos equivocados e tardios ao especialista. Tais fatores podem de fato

retardar o diagnóstico. O diagnóstico precoce da doença é de suma importância, pois é a

única forma de garantir à essas famílias um planejamento de vida mais realista e permitir o

O ORIGINAL.

FATORE

OBJETIVO: Estudar os fato

di

MÉTODOS: Estudo observacional, descritivo transversal. A amostra foi de conveniênci

consecutivamente atendidos nos a

Pu

p

R

d

na na biópsia muscular. A idade m

s

e 7 m

m

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101

aconselhamento genético. Sendo ass portante a divulgação da doença,

especialmente entre os profissionais cuidadores de crianças.

P

aos serviços d

RELATED REASONS FOR THE DELAY IN THE DIAGNOSIS OF DUCHENNE

MUSCULAR DYSTROPHY. THE FAMILY’S POINT OF VIEW.

OBJECTIVE: Study the factors that, according to the relatives, are involved with the

delay in the Duchenne muscular dystrophy diagnosis.

METHODS: Observational sectional descriptive study, on a convenience sample

composed by the relatives of patients with definitive diagnosis of DMD, consecutively

assisted in the neuropediatric clinics of the Institute of Child Care and Pediatric Martagão

Gesteira of the Federal University of Rio de Janeiro, from 1989 through 2005.

RESULTS: Forty relatives of patients with definitive diagnosis of DMD, confirmed by

molecular analysis and/or absence of dystrophin in the muscular biopsy. The mean age of

the first symptoms was 2 years and 11 months (SD: 1 year and 9 months). The mean age of

the definitive diagnosis was 6 years and 10 months (SD: 2 years and 7 months). The

interval between the ages was 3 years and 10 months (SD 2 years and 7 months). Among

the factors listed by the relatives as related with the delay in the diagnosis, predominates

lack of recognition of the disease by the doctors.

CONCLUSIONS: We can possibly suggest the existence of problems in the medical

formation, which would justify not only the first symptoms recognition but the wrong and

late referral to a specialist. Such factors may delay the diagnosis. The early diagnosis of the

im, torna-se im

ALAVRAS-CHAVES: Distrofia muscular de duchenne, diagnóstico, acessibilidade

e saúde.

ABSTRACT:

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102

disease is really important, because it’s the only way to assure these families a more

realistic plan of life and to allow the genetic counseling. Consequently, it becomes

are of children.

EYWORDS: Duchenne muscular dystrophy, diagnosis, health services accessibility.

INTRODUÇÃO

A Distrofia Muscular de Duchenne ( DMD ) é a doença neuromuscular mais

freqüente na faixa etária pediátrica. Apresenta uma incidência de 1 para cada 3500 recém-

nascidos do sexo masculino. A herança é recessiva ligada ao X, manifestando-se, portanto

em pacientes do sexo masculino e tendo as mulheres como portadoras.(1,2,3,4)

As manifestações clínicas podem iniciar de duas formas: atraso de

desenvolvimento motor, especialmente aquisição de marcha e/ou problemas de locomoção,

tais como: quedas freqüentes e marcha típica: anserina e digitígrada, dificuldades para

subir escadas e/ou levantar-se do chão. Notamos pseudohipertrofia de panturrilhas ao

exame físico. A fraqueza muscular é simétrica e progressiva, acometendo inicialmente a

musculatura dos membros inferiores até a perda da capacidade de deambulação,

posteriormente acomete a musculatura dos membros superiores e por fim a musculatura

intercostal, ocorrendo então dificuldade respiratória e o óbito, em geral na segunda década

de vida.(1,2,3,4,5)

A DMD tem seu diagnóstico dependente de exames complementares, tais como:

dosagem sérica de creatinofosfoquinase (CPK), que ao estar elevada, serve como triagem

para doença e pode estar elevada precocemente, o que poderia ser visto em testes de

triagem neonatal; eletroneuromiografia que apresenta um padrão miopático, localizando

assim a doença no músculo. O diagnóstico definitivo depende da análise molecular do gene

important to publish and reinforce knowledge about the disease, specially between the

professionals who take c

K

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103

da distrofina, Xp21, onde podem estar presentes deleções, duplicações ou mutações de

ponto; ou da biópsia muscular pela ausência da distrofina.(2,6)

Atualmente, ainda é considerada uma doença sem cura, existem estudos em

andamento, que são promissores tanto com terapia gênica como com o uso de células –

spiratória e uso de corticóide.(4,6)

O diagnóstico precoce dest extrema importância, a fim de

camin

o diagnóstico

trofina na biópsia muscular ou por caso confirmado na família por estes

étodos

tronco. O tratamento atual consiste em métodos paliativos, tais como: fisioterapia motora e

re

a doença é de

en har estas famílias para aconselhamento genético e permitir às mesmas um

planejamento mais realístico de vida. A literatura médica nos mostra que existe demora no

diagnóstico de DMD, os motivos não estão elucidados. O presente trabalho tem como

objetivo levantar os fatores que, na opinião dos familiares, levam à demora n

de Distrofia Muscular de Duchenne.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo observacional, descritivo transversal. A amostra foi de

conveniência, sendo o principal critério de inclusão ser responsável por menino com

diagnóstico definitivo de DMD, consecutivamente atendidos nos ambulatórios de

neuropediatria do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no período de 1989 à 2005.O diagnóstico

definitivo de DMD necessariamente confirmado ou por achado de deleção de DNA ou por

ausência de dis

m era critério adicional, sendo excluídos aqueles que não aceitassem participar do

estudo.

Os responsáveis foram chamados por carta ou na consulta para participar da

pesquisa, que foi feita através de entrevista, baseada em um questionário semi-estruturado

com perguntas claras e objetivas, abordando as seguintes questões: idade dos primeiros

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104

sintomas e caracterização destes como atraso psicomotor e/ou como outras dificuldades

motoras; idade do diagnóstico definitivo; a existência de demora ou não no diagnóstico

ização dos exames complementares.

RESULTADOS

Preencheram os critérios d s dos 118 pacientes com Distrofia

m 3 meninos, não havia sintomas por ocasião do diagnóstico. Em 87% dos casos o

imeiro

definitivo da doença na opinião dos responsáveis; levantamento dos fatores alegados como

relacionados pela demora; existência de acompanhamento por pediatra, por ocasião dos

primeiros sintomas e do diagnóstico; existência ou não de demora no atendimento com

especialista e dificuldades para real

Os dados foram coletados em formulário específico, que foram armazenados e

analisados pelo programa Excel e epiinfo.

O projeto ao qual se vincula este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa do IPPMG em 31 de maio de 2005, e foram cumpridas as normas da resolução

196/96 do Conselho Nacional de Saúde e suas complementares.

e inclusão 90 paciente

Muscular, atendidos nos ambulatórios de neuropediatria do IPPMG. Destes, 40

responsáveis aceitaram participar do trabalho.

A idade média dos primeiros sintomas foi de 2 anos e 11 meses (± 1ano e 9

meses),a do diagnóstico definitivo, de 6 anos e 10 meses (± 2 anos e 7 meses), gerando um

intervalo médio entre a idade dos primeiros sintomas e a idade do diagnóstico definitivo,

tempo para o diagnóstico, de 3 anos e 10 meses (± 2 anos e 7 meses).

Os primeiros sintomas foram caracterizados como atraso de desenvolvimento

psicomotor por 3 responsáveis, como dificuldade motora por 28 responsáveis e por ambos

por 6. E

pr sintoma foi reconhecido por um familiar.

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A maioria dos responsáveis acharam que houve demora no diagnóstico

(60%,24/40). Dentre os responsáveis que alegam não ter havido demora no diagnóstico,

75% (12/16) dos pacientes apresentavam história familiar.

Os fatores alegados pelos responsáveis como relacionados à demora do

diagnóstico, estão descritos na tabela 1.

TABELA 1: Fatores alegados como relacionados à demora do diagnóstico.

Fatores n Percentual

Médicos não reconhecem a doença 16 66,7%

Demora nos exames 2 8,3%

Desconhecimento da família 2 8,3%

Não levam ao médico 8,3% 2

Não sabem informar 2 8,3%

Na época dos primeiros sintomas 35 pacientes eram acompanhados por pediatra. As

eis, pelos primeiros

ntomas

atribuições do pediatra aos primeiros sintomas, relatadas pelos responsáveis estão descritas

na tabela 2.

TABELA 2: Causas atribuídas pelo pediatra, segundo os responsáv

si da doença.

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Causas atribuídas n

Variação normal do desenvolvimento 16

Falta de vitamina 2

Preguiça 6

Falta de estímulo 2

Obesidade 2

Mimo 2

Pirraça 2

Medo 1

Problema ortopédico 5

Problema neurológico 7

As recomendações feitas pelo pediatra, segundo os responsáveis estão descritas na tabela 3.

ABELA 3: Recomendações do pediatra, segundo os responsáveis, relativos ao primeiro

T

sintoma da doença.

Recomendações n

Nenhuma recomendação 4

Procurar neurologista 8

Procurar ortopedista 7

Aguardar 10

Estimular 1

Administrar vitaminas 1

Fazer exames 3

Não esquentar a cabeça 1

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107

Entre os responsáveis entrevistad 37 (92,5%) afirmaram não ter havido

com ecialista. Dos responsáveis que alegaram

seram que existem poucos cais de referência e 1 afirmou que os locais

cia são longe de casa.

responsáveis entrevista 32 (80%) afirmaram não ter havido

na realização dos exames complementares e 8 afirmam ter havido dificuldade.

iculdades alegadas foram: exames não eram feitos no hospital onde eram

hados, resultados demoravam para chegar ou demora em marcar os exames.

DISCUSSÃO

iores, especulam os motivos de demora no diagnóstico de DMD, o

nta dados que confi am a existência da mesma. Na visão dos

oença. Apesar da precariedade de nosso sistema de saúde, dado esse confirmado pelo

o especialista ou na realização dos exames complementares,

r que talvez a dificuldade e ja no atendimento primário dos pacientes.

alho detectamos u idade média de 6 anos e 10 meses para o

sendo que a média da idade dos primeiros sintomas foi de 2 anos e

um intervalo entre os meiros sintomas e o diagnóstico definitivo

de. Esta demora no diagnóstico n restrita ao Brasil, outros países tais como

Unidos da América e países da ropa(8), já relataram esta demora, porém a

studo supera a dess países. No Chile, Avaria e colaboradores

do semelhante e encontraram ma idade média de diagnóstico de 5 anos e

ntre os primeiros sintomas e o diagnóstico de 2anos e 7 meses.(9)

marca encontrada nesse estudo, só não supera a marca de um estudo feito neste mesmo

os

dificuldade em conseguir atendimento esp

dificuldades, 2 dis lo

de referên

Entre os dos

dificuldade

As dif

acompan

Estudos anter

presente estudo aprese rm

responsáveis, o principal fator relacionado à demora é o desconhecimento médico da

d

Conselho Federal de Medicina(7), não há segundo os responsáveis dificuldades em

conseguir atendimento com

levando-nos a cre ste

No presente trab ma

diagnóstico definitivo,

11 meses, o que gera pri

muito gran ão é

os Estados Eu

marca atingida nesse e es

fizeram um estu u

7meses e um intervalo e

A

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am rio, no período de 1989 à 2000, onde a idade média de diagnóstico foi de 7,5 anos

de idade.(2)

No presente estudo as dificuldades motoras, ou seja, quedas freqüentes,

dificuldades para subir escadas,

bulató

marcha diferente e dificuldades para levantar-se do chão,

domi

eiras

manifestações clínicas da DMD pod e desenvolvimento neuropsicomotor

a

emora

pre naram. Portanto esses sintomas devem ser valorizados, quando referidos na

anamnese e é de extrema importância que as crianças sejam observadas durante a consulta,

especialmente a marcha e a forma como levantam-se do chão. O ideal seria que em

crianças com estes sintomas fosse solicitado a dosagem sérica de CPK. As prim

em ser atraso d

e/ou dificuldades motoras após o segundo ano de vida.(5) Cerca de 30% dos pacientes com

DMD, apresentam também retardo mental(1,10)e por isso quando se investiga atraso de

desenvolvimento neuropsicomotor é importante constar da anamnese a idade em que a

criança começou a pronunciar as primeiras palavras.(8,11)Esse atraso mais abrangente do

desenvolvimento já foi questionado como causa de demora no diagnóstico, em outros

estudos.

A maioria dos responsáveis afirmaram que o principal fator relacionado com

d no diagnóstico definitivo da DMD é a falta de reconhecimento da doença pelos

médicos, muitos referiram que levaram seus filhos em vários médicos antes de serem

encaminhados ao especialista.

A história familiar abrevia o diagnóstico definitivo de DMD, haja vista que dos 16

responsáveis que negam demora no diagnóstico, 12 tinham história familiar. Três crianças

foram diagnosticadas ainda assintomáticas devido à história familiar. Em cerca de 30% dos

casos de DMD, não se observa história familiar, ou seja, são esporádicos e podem

corresponder à mutações novas do gene.(6) Por outro lado, um atraso no diagnóstico de um

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caso pode resultar em nascimentos de irmãos também acometidos, sem que a família tenha

tido oportunidade de decisão consciente diante de aconselhamento genético.

co definitivo de DMD. Apesar disso, a maioria dos responsáveis negou

longe de casa, ou seja, relacionada com a acessibilidade

formação do médico generalista, que justificaria não só a falta de reconhecimento dos

Avaria e colaboradores, concluem em seu estudo, que a demora no diagnóstico

definitivo se deve, em parte à família que levam seus filhos ao médico tardiamente.(9) No

presente estudo, em 87% dos casos o primeiro sintoma foi reconhecido pela família.

Apenas 2 responsáveis que afirmam demora no diagnóstico,não levavam seus filhos ao

médico.

Donabedian definiu acessibilidade aos serviços de saúde como a oferta de

serviços e a sua capacidade de atender às necessidades de saúde de uma determinada

população. Esta acessibilidade apresenta duas grandes dimensões: a sócio-organizacional e

a geográfica. Acessibilidade sócio-organizacional inclui todas as ofertas de serviços e

geográfica tudo que possa ser medido por distância linear, como por exemplo: distância e

tempo de locomoção e custo da viagem.(12) Sabemos o quão precária é a acessibilidade em

saúde no nosso país, e isto poderia representar um fator determinante de demora no

diagnósti

dificuldades em conseguir atendimento com o especialista. Dos responsáveis que afirmam

dificuldades, 2 referem que existem poucos locais de referência para o atendimento, ou

seja, a dificuldade estaria relacionada com a acessibilidade sócio-organizacional e 1 afirma

que os locais de referência são

geográfica.

Apesar dos exames para diagnóstico definitivo de DMD, análise molecular e/ou

biópsia muscular, só estarem disponíveis em centros terciários de Medicina, a maioria dos

responsáveis nega dificuldades em realizá-los.

Pelo presente estudo, podemos sugerir que possivelmente existam problemas na

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primeiros sintomas, bem como encaminhamentos equivocados e tardios ao especialista.

Tais fatores podem de fato retardar o diagnóstico. Novos estudos seriam necessários a fim

Sendo assim, torna-se importante a divulgação da doença e a necessidade da

1- Reed UC. Doenças Neuromusculares. Jornal de Pediatria. Volume 78. Suplemento 1.

Julho 2002. S99-S100.

2- Araújo APQC, Deco MC, Kloh BS, Costa MR, Góis FV, Guimarães AF. Diagnosis

delay of Duchenne Muscular Dystrophy. Rev. Bras. Saúde Materno Infantil. 2004, 4(2):

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3- Gianetti JG, Santos FPST. Miopatias. In:Fonseca LF, Pianetti G, Xavier CC.

Compêndio de Neurologia Infantil. Editora Medsi.2002.41:544-545.

4- Reed UC. Miopatias. In:Diament A, Cypel S. Neurologia Infantil.4 edição. Editora

Atheneu. 2005. 79: 1390-1397.

de averiguar a capacidade de reconhecimento dessa doença, e eventuais outras que

envolvam aspectos relativos ao desenvolvimento, por médicos generalistas e pediatras. O

diagnóstico precoce de DMD é de suma importância, pois é a única forma de garantir para

essas famílias um planejamento de vida mais realístico e permitir o aconselhamento

genético.

utilização do exame de triagem nos casos suspeitos, especialmente entre os profissionais

cuidadores de crianças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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111

5- Leal MA, Aguilera AM, Zuno JAP, Romero SS, Góngora MCQ, Garcia AP.Relacion

entre el retraso del diagnóstico y lãs formas de inicio de la Distrofia Muscular de

Duchenne. Gac. Med. México. 1994. 130:459-464.

6- Zatz M. A biologia molecular contribuindo para a compreensão e a prevenção das

doenças hereditárias. Ciências e Saúde Coletiva. 2002.7(1)85-99.

7- SOS O SUS pede socorro. Jornal do Conselho Federal de Medicina. Número 167. Ano

XXII. Dezembro. 2007.

8- Mohamed K, Appleton R, Nicolaides P. Delayed diagnosis of Duchenne muscular

dystrophy. European Journal of Paediatric Neurology. 2000. 4:219-223.

- Avaria MA, Kleinsteuber KS, Herrera L, Carvalho P. Tardanza en el diagnóstico de la

istrofia Muscular de Duchenne en Chile. Rev. Med. Chile.1999. 127: 65-70.

0- Takata RI. Estudos de deleções moleculares com sondas de cDNA ao longo do gene da

a USP. São Paulo/SP.1994.

1- Essex C, Roper H.Late diagnosis of Duchenne’s muscular dystrophy presenting as

global developmental delay.British Medical Journal. July 2001. v323 p37.

12- Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de

serviços de saúde. Caderno de Saúde Pública. 2004. Suplemento 2: S190-S198.

9

D

1

distrofina. Tese. Instituto de Biociências d

1

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112

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