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Universidade Federal do Rio de Janeiro Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto, uma perspectiva sociolingüística e discursiva: amostras de Madri, Cidade do México e Buenos Aires Cíntia Ferreira dos Santos 2009

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto, uma perspectiva sociolingüística e discursiva:

amostras de Madri, Cidade do México e Buenos Aires

Cíntia Ferreira dos Santos

2009

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VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGÜÍSTICA DOS PRETÉRITOS SIMPLES E COMPOSTO,

UMA PERSPECTIVA SOCIOLINGÜÍSTICA E DISCURSIVA: AMOSTRAS DE MADRI, CIDADE DO MÉXICO E BUENOS AIRES

Por Cíntia Ferreira dos Santos

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola) Orientadora: Profa. Doutora Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Prof. Doutor Uli Reich

Rio de Janeiro Março de 2009

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VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGÜÍSTICA DOS PRETÉRITOS SIMPLES E COMPOSTO,

UMA PERSPECTIVA SOCIOLINGÜÍSTICA E DISCURSIVA: AMOSTRAS DE MADRI, CIDADE DO MÉXICO E BUENOS AIRES

Cíntia Ferreira dos Santos

Orientadora: Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Uli Reich

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

Examinada por: _____________________________________________________________ Presidente, Profa. Doutora Leticia Rebollo Couto _____________________________________________________________ Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold – UFRJ _____________________________________________________________ Prof. Doutor Xoán Carlos Lagares Diez – UFF _____________________________________________________________ Prof. Doutor Afranio Gonçalves Barbosa – UFRJ, Suplente _____________________________________________________________ Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio – UFRJ, Suplente

Rio de Janeiro Março de 2009

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Santos, Cíntia Ferreira dos. Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto, uma perspectiva sociolingüística e discursiva: amostras de Madri, Cidade do México e Buenos Aires/ Cíntia Ferreira dos Santos. – Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2009.

xviii, 259f.:il.; 31cm. Orientadora: Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Uli Reich. Dissertação (mestrado) – UFRJ/ FL/ Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Língua Espanhola), 2009. Referências Bibliográficas: f. 194-198. 1. Pretérito Simples e Pretérito Composto. 2. Variação e Mudança Lingüística. 3. Tradições Discursivas. I. Couto, Leticia Rebollo. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas. III. Título.

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AGRADECIMENTOS

A Deus! Aos meus pais, Ivane e Antonio, a quem eu agradeço pela vida, pelo incentivo, por sempre terem acreditado em mim e por terem participado na conquista de mais uma vitória. À minha irmã Patrícia, quem sempre me apoiou e me ajudou nos momentos em que eu precisei. Ao Ton, quem esteve comigo ao longo dessa caminhada e de tantas outras. Agradeço a cumplicidade, a presença e o companheirismo. Sem ele não teria percorrido esse caminho. À Alaine Lazaroni, minha amiga-irmã, pela verdadeira amizade ao longo da minha vida acadêmica, pelo apoio incondicional, por me ouvir e por estar presente em tantos momentos. À Aline Donato, grande amiga e companheira de profissão. Agradeço a amizade, as horas no telefone e as maravilhosas conversas sobre o espanhol. À grande amiga Astrid Garcia. Pelas palavras de incentivo, de fé e pelo carinho. À Cristina Blasco, com quem dividi as alegrias e ansiedades da Iniciação Científica e do Mestrado. A Elias Ferreira, quem me proporcionou os momentos mais divertidos no decorrer dessa trajetória, além da parceria nas tardes de sábado. À mais nova amiga, Giselle Esteves, a quem eu agradeço imensamente pela ajuda com o Goldvarb e principalmente, pelas palavras de fé, de amizade e de conforto. A Jorge Luís Rocha, pela parceria na Capacitação Didática, por ter me ajudado inúmeras vezes com o pc e, principalmente, por me transmitir tranqüilidade nos momentos difíceis. Às amigas Renata Romanel e Simone Simões que desde o começo do Ensino Médio sempre estiveram presentes e acreditaram em mim. À Sabrina Lima, quem me ajudou em todos os momentos, tirando as minhas dúvidas e tentando me tranqüilizar. Ao trio Samara Santana, Bruno Alberto e Priscila Santos pelo apoio, pelos momentos de descontração e como não poderia esquecer, aos dois últimos, pela ajuda técnica. A Thiago Giammattey, que sempre esteve presente, desde o comecinho da faculdade. Agradeço a valiosa amizade e o grande carinho.

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Aos amigos claquianos de espanhol: Aiga Coutinho, Alessandro Barges, Aline Almeida, Aline Donato, Ana Luisa Reyero, Carolina Parrini, Cristina Blasco, Daniele Magalhães, Diego Vargas, Diogo Moreno, Eduardo Alves, Fátima Oliveira, Fátima Vieira, Gláucia Felismino, Jack Mattos, Jorge Macario, Josiane Evangelista, Juan Antonio, Magda Batista, Monique Oliveira, Natalia Figueiredo, Raquel Lemos, Renato Vazquez, Rosângela Lannes, Sílvia, Thais Marçal e Zulmira Basílio, pelo carinho, pelo companheirismo e pelas trocas maravilhosas de experiência. Aos amigos da graduação, sobretudo: Alaine Lazaroni, Alessandro Barges, Andréa Targino, Camila Lemos, Clarice Pinheiro, Elias Ferreira, Fabíola Hernandez, Juliana Novo, Leonardo Lennertz, Luana Guimarães, Marcos Coimbra, Rachel Cardoso, Renata Paz, Sabrina Lima, Thiago Giammattey e Waniston Celeri, pela amizade, pela confiança depositada em mim e pelo apoio. Aos amigos e companheiros de mestrado: Dorcas Vieira, Leila Paz, Marianna Vasconcellos, Renato Vazquez, Rosilene Januário, Thiago Simões e Waniston Celeri. Obrigada pelo incentivo, pelas ajudas e pela amizade. Aos meus queridos alunos, que sempre me apoiaram e acreditaram em mim. À professora Myriam Brito, pelas excepcionais aulas de Inglês Instrumental, que permitiram também a minha entrada no Mestrado. À querida Tia Beth, a quem eu devo muito do que eu sou hoje e por ter despertado ainda mais em mim o amor pelo Magistério. Aos professores que fizeram parte da minha história: Afonso, Antonio Sérgio, Célia Regina, Denise, Eline Resende, Greice, Leticia Rebollo, Luciano, Márcia Machado, Mauricio, Mauro, Mercedes Sebold, Mizael Silva, Miriam Brito, Tia Beth Bicchieri e Tia Clarisse, seja pelo carinho, pela admiração, pelo exemplo ou simplesmente por terem marcado a minha vida escolar / acadêmica. Ao Prof. Doutor Xoán Lagares e à Profa Doutora Mercedes Sebold, por terem aceitado fazer parte da minha banca. Às professoras Consuelo Alfaro e Mercedes Sebold, que acompanharam a minha pesquisa bem de perto e sempre me ajudaram, com material emprestado, com discussões nas salas, nos corredores. Ao meu co-orientador Uli Reich pelas poucas, mas valiosas orientações durante o Mestrado. A Capes, pelo apoio financeiro. Obrigada a todos que, de alguma maneira, fizeram parte desse ou de algum momento da minha vida!

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AGRADECIMENTO ESPECIAL

À Leticia Rebollo, pelas singulares aulas de Língua Espanhola na graduação,

por ter me convidado para a pesquisa, assim como pelas oportunidades e portas que me abriu.

Agradeço pela confiança depositada em mim e pelo companheirismo nessa etapa final.

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Esta pesquisa foi desenvolvida com financiamento da CAPES (03/2007 – 03/2009)

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SINOPSE Análise, à luz de uma perspectiva sociolingüística e discursiva, da variação e mudança lingüística no uso dos pretéritos simples e composto considerando amostras orais e escritas de Madri, Cidade do México e Buenos Aires, com base em fatores discursivos, semântico-pragmáticos e sintáticos.

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RESUMO

VARIAÇÃO E MUDANÇA LINGÜÍSTICA DOS PRETÉRITOS SIMPLES E COMPOSTO,

UMA PERSPECTIVA SOCIOLINGÜÍSTICA E DISCURSIVA: AMOSTRAS DE MADRI, CIDADE DO MÉXICO E BUENOS AIRES

Cíntia Ferreira dos Santos

Orientadora: Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Uli Reich

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

O presente trabalho consiste na distribuição dos pretéritos simples e composto em três diferentes centros urbanos contemporâneos: Madri, Cidade do México e Buenos Aires, a partir de uma perspectiva sociolingüística e discursiva. Além das diferenças dialetais e das respectivas tendências de mudança em cada uma das três variantes consideradas, são analisados como fatores de variação: (a) fatores discursivos (como tipos de texto, tipos de seqüências textuais, tradições discursivas), (b) fatores semântico-pragmáticos (como tempo, aspecto, intencionalidade, tipos de verbo e de circunstância temporal) e (c) fatores sintáticos (como subordinação, polaridade, pessoas do discurso). Controlam-se esses fatores em amostras de corpus escrito (notícias internacionais online) e em amostras de corpus de fala espontânea (entrevistas sociolingüísticas transcritas). Palavras-chave: pretéritos simples e composto, variação e mudança lingüística, tradições discursivas

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RESUMEN

VARIACIÓN Y CAMBIO LINGÜÍSTICO DE LOS PRETÉRITOS SIMPLE Y COMPUESTO,

UNA PERSPECTIVA SOCIOLINGÜÍSTICA Y DISCURSIVA: MUESTRAS DE MADRID, CIUDAD DE MÉXICO Y BUENOS AIRES

Cíntia Ferreira dos Santos

Orientadora: Leticia Rebollo Couto Co-orientador: Uli Reich

Resumen: Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Lingüísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

El presente trabajo consiste en la distribución de los pretéritos simple y compuesto en tres diferentes centros urbanos contemporáneos: Madrid, Ciudad de México y Buenos Aires, a partir de una perspectiva sociolingüística y discursiva. Además de las diferencias dialectales y de las respectivas tendencias de cambio en cada una de las tres variantes consideradas, se analizan como factores de variación: (a) factores discursivos (como tipos de texto, tipos de secuencias textuales, tradiciones discursivas), (b) factores semántico pragmáticos (como tiempo, aspecto, intencionalidad, tipos de verbo y de circunstancia temporal) y (c) factores sintácticos (como subordinación, polaridad, personas del discurso). Se controlan estos factores en muestras de corpus escrito (noticias internacionales online) y en muestras de corpus de habla espontánea (entrevistas sociolingüísticas transcriptas). Palabras clave: pretéritos simple y compuesto, variación y cambio lingüístico, tradiciones discursivas

Rio de Janeiro Março de 2009

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SUMÁRIO ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS.......................................................15 ABREVIATURAS E CONVENÇÕES...........................................................................18 1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................19 1.1 Tema..........................................................................................................................19 1.2 Objetivos....................................................................................................................20 1.3 Hipóteses...................................................................................................................21 1.4 Estrutura da dissertação.............................................................................................23 2. REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................................25 2.1 Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto no espanhol.....25 2.1.1 A variação e a mudança lingüística........................................................................25 2.1.2 Evolução histórica dos pretéritos............................................................................27 2.1.3 A oposição entre os pretéritos simples e composto................................................31 2.1.4 A distribuição dos pretéritos nas variantes selecionadas........................................34 2.1.4.1 O uso dos pretéritos no espanhol castelhano.......................................................35 2.1.4.2 O uso dos pretéritos no espanhol mexicano........................................................36 2.1.4.3 O uso dos pretéritos no espanhol argentino.........................................................38 2.1.5 Pretéritos simples e composto: questões terminológicas........................................39 2.2 Estudo dos pretéritos simples e composto no espanhol através dos gêneros e das tradições discursivas........................................................................................................41 2.2.1 Conceito de gêneros e tipos textuais.......................................................................41 2.2.2 Tipos de texto: as seqüências textuais....................................................................42 2.2.3 Modos de organização do discurso.........................................................................44 2.2.4 Gêneros textuais em análise...................................................................................46 2.2.4.1 Entrevistas sociolingüísticas................................................................................46 2.2.4.2 Notícias internacionais........................................................................................47 2.2.5 O papel das tradições discursivas (TDs).................................................................49 2.2.5.1 Origem das TDs...................................................................................................49 2.2.5.2 Conceito e importância das TDs..........................................................................51 2.3 Semântica e Pragmática dos pretéritos......................................................................53 2.3.1 O valor temporal (definindo conceitos)..................................................................53 2.3.2 O valor aspectual (definindo conceitos).................................................................54 2.3.3 Os tipos de verbo (o valor semântico)....................................................................56 2.3.4 As circunstâncias temporais...................................................................................58 2.3.5 O valor pragmático dos pretéritos (a intencionalidade)..........................................60 2.3.6 A hot news perfect..................................................................................................62 3. ENFOQUE METODOLÓGICO.................................................................................65 3.1 Corpus.......................................................................................................................65 3.2 Grupo de fatores controlados.....................................................................................71

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4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS NOS TRÊS CENTROS URBANOS (MADRI, CIDADE DO MÉXICO E BUENOS AIRES)................................................75 4.1 Tempo verbal (variável dependente).........................................................................75 4.2 Gênero textual............................................................................................................78

4.2.1 Notícias.......................................................................................................78 4.2.2 Entrevistas...................................................................................................80

4.3 Organização discursiva..............................................................................................82 4.3.1 Notícias.......................................................................................................83 4.3.2 Entrevistas...................................................................................................89

4.4 Seqüência discursiva................................................................................................100 4.4.1 Notícias.....................................................................................................101 4.4.2 Entrevistas.................................................................................................105

4.5 Circunstância temporal............................................................................................109 4.5.1 Notícias.....................................................................................................111 4.5.2 Entrevistas.................................................................................................120

4.6 Polaridade................................................................................................................129 4.6.1 Notícias.....................................................................................................129 4.6.2 Entrevistas.................................................................................................133

4.7 Posição da circunstância temporal...........................................................................137 4.7.1 Notícias.....................................................................................................137 4.7.2 Entrevistas.................................................................................................139

4.8 Subordinação...........................................................................................................141 4.8.1 Notícias.....................................................................................................142 4.8.2 Entrevistas.................................................................................................144

4.9 Temporalidade.........................................................................................................146 4.9.1 Notícias.....................................................................................................147 4.9.2 Entrevistas.................................................................................................151

4.10 Aspecto..................................................................................................................157 4.10.1 Notícias...................................................................................................158 4.10.2 Entrevistas...............................................................................................160

4.11 Tipos de verbo.......................................................................................................163 4.11.1 Notícias...................................................................................................164 4.11.2 Entrevistas...............................................................................................166

4.12 Sujeito....................................................................................................................170 4.12.1 Notícias...................................................................................................170 4.12.2 Entrevistas...............................................................................................172

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................174 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................194 7. ANEXO.....................................................................................................................199

7.1 Notícias........................................................................................................199 7.1.1 Notícia 1 (Madri) .....................................................................................200 7.1.2 Notícia 1 (Cidade do México) .................................................................203 7.1.3 Notícia 1 (Buenos Aires) .........................................................................204 7.1.4 Notícia 2 (Madri) .....................................................................................206 7.1.5 Notícia 2 (Cidade do México) .................................................................207 7.1.6 Notícia 2 (Buenos Aires) .........................................................................208

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7.1.7 Notícia 3 (Madri) .....................................................................................209 7.1.8 Notícia 3 (Cidade do México) .................................................................211 7.1.9 Notícia 3 (Buenos Aires) .........................................................................213 7.1.10 Notícia 4 (Madri) ...................................................................................216 7.1.11 Notícia 4 (Cidade do México) ...............................................................219 7.1.12 Notícia 4 (Buenos Aires) .......................................................................221 7.1.13 Notícia 5 (Madri) ...................................................................................223 7.1.14 Notícia 5 (Cidade do México) ...............................................................226 7.1.15 Notícia 5 (Buenos Aires) .......................................................................227 7.2 Entrevistas....................................................................................................230 7.2.1 Entrevista 1 (Madri) .................................................................................231

7.2.2 Entrevista 1 (Cidade do México) .............................................................243 7.2.3 Entrevista 1 (Buenos Aires) .....................................................................251

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ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E TABELAS

QUADROS

Quadro 1: Diferentes nomenclaturas atribuídas aos pretéritos simples e composto......40

Quadro 2: Os níveis da língua, segundo Koch (1997) ..................................................49

Quadro 3: Processos e seus significados, segundo Halliday (1997)..............................58

Quadro 4: Notícias internacionais online.......................................................................66

Quadro 5: Entrevistas sociolingüísticas transcritas (Informantes).................................67

Quadro 6: Total de ocorrências de pretéritos no corpus................................................69

Quadro 7: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias

de Madri.........................................................................................................................114

Quadro 8: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias da Cidade

do México......................................................................................................................115

Quadro 9: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias de

Buenos Aires..................................................................................................................117

Quadro 10: Repertório de circunstâncias coincidentes encontradas nas notícias........118

Quadro 11: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista

de Madri.........................................................................................................................122

Quadro 12: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista da Cidade

do México......................................................................................................................124

Quadro 13: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista de

Buenos Aires..................................................................................................................125

Quadro 14: Repertório de circunstâncias coincidentes encontradas nas entrevistas...127

Quadro 15: Repertório de marcas de negação encontradas nas notícias......................130

Quadro 16: Circunstância temporal nunca em roteiros espanhóis e hispano-

americanos.....................................................................................................................132

Quadro 17: Repertório de marcas de negação encontradas nas entrevistas.................134

FIGURAS

Figura 1: Evolução histórica do perfeito em romance (HABEŌ FACTUM), segundo

Martin Harris (1982)........................................................................................................29

Figura 2: Representação das tradições discursivas, segundo Kabatek (2006)...............50

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Figura 3: Representação da evocação e da repetição: TDs (Kabatek, 2006).................51

Figura 4: Questão DELE (Nível Intermediário, Maio de 2006)..................................192

TABELAS

Tabela 1: Total de ocorrências de pretéritos por gênero textual....................................76

Tabela 2: Detalhamento das ocorrências de pretéritos nas notícias...............................78

Tabela 3: Total de ocorrências de pretéritos por verbos dicendi....................................79

Tabela 4: Detalhamento das ocorrências de pretéritos nas entrevistas...........................80

Tabela 5: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por organização discursiva

(notícias)..........................................................................................................................83

Tabela 6: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por organização discursiva

(entrevistas).....................................................................................................................89

Tabela 7: Detalhamento das ocorrências de pretéritos no encadeamento de turnos de

fala (entrevistas)..............................................................................................................95

Tabela 8: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por seqüência discursiva

(notícias)........................................................................................................................101

Tabela 9: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por seqüência discursiva

(entrevistas)...................................................................................................................105

Tabela 10: Total das ocorrências de pretéritos com/sem circunstância temporal

(notícias)........................................................................................................................111

Tabela 11: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por circunstância temporal

(notícias)........................................................................................................................112

Tabela 12: Total das ocorrências de pretéritos com/sem circunstância temporal

(entrevistas)...................................................................................................................120

Tabela 13: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por circunstância temporal

(entrevistas)...................................................................................................................121

Tabela 14: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por polaridade

(notícias)........................................................................................................................129

Tabela 15: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por polaridade

(entrevistas)...................................................................................................................133

Tabela 16: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por posição da circunstância

temporal (notícias).........................................................................................................137

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Tabela 17: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por posição da circunstância

temporal (entrevistas)....................................................................................................139

Tabela 18: Total das ocorrências de orações: coordenadas e subordinadas

(notícias)........................................................................................................................142

Tabela 19: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por subordinação

(notícias)........................................................................................................................143

Tabela 20: Total das ocorrências de orações: coordenadas e subordinadas

(entrevistas)...................................................................................................................144

Tabela 21: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por subordinação

(entrevistas)...................................................................................................................144

Tabela 22: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por temporalidade

(notícias)........................................................................................................................147

Tabela 23: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por temporalidade

(entrevistas)...................................................................................................................151

Tabela 24: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por aspecto

(notícias)........................................................................................................................158

Tabela 25: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por aspecto

(entrevistas)...................................................................................................................160

Tabela 26: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por tipos de verbo

(notícias)........................................................................................................................164

Tabela 27: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por tipos de verbo

(entrevistas)...................................................................................................................166

Tabela 28: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por sujeito

(notícias)........................................................................................................................170

Tabela 29: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por sujeito

(entrevistas)...................................................................................................................172

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ABREVIATURAS E CONVENÇÕES E/LE → Espanhol como Língua Estrangeira Entr. → Entrevistador Inf. → Informante Oco → Ocorrência PC → Pretérito Composto PS → Pretérito Simples P1 → yo P2 → tú P3 → él/ella/usted P4 → nosotros/as P5 → vosotros/as P6 → ellos/ellas/ustedes TDs → Tradições Discursivas

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Tema

Neste trabalho propomos um estudo da distribuição dos pretéritos simples e

composto em diferentes centros urbanos contemporâneos: Madri, Cidade do México e

Buenos Aires1, pertencentes a três diferentes áreas geoletais do espanhol2, a partir de

uma perspectiva sociolingüística e discursiva.

Além de considerarmos as diferenças dialetais na evolução histórica dos

pretéritos e as respectivas tendências de mudança em cada uma das três variantes

consideradas, analisamos como fatores de variação: (a) fatores discursivos (como tipos

de texto, tipos de seqüências textuais, tradições discursivas), (b) fatores semântico-

pragmáticos (como tempo, aspecto, intencionalidade, tipos de verbo e de circunstância

temporal) e (c) fatores sintáticos (como subordinação, polaridade, pessoas do discurso).

Controlamos esses fatores em amostras de corpus escrito (notícias internacionais

online) e em amostras de corpus de fala espontânea (entrevistas sociolingüísticas

transcritas). Partimos de um estudo quantitativo e qualitativo para analisar as

ocorrências.

De acordo com Eberenz (2004), a variante castelhana estaria em uma etapa mais

avançada de mudança com relação aos usos latinos do pretérito composto, em outras

palavras, estaria avançando sobre os contextos de uso do simples, o que também pode

ser verificado em outras línguas românicas. Acreditamos que este processo de variação

e mudança também está condicionado nas diferentes variantes dialetais por

procedimentos textuais e pragmáticos, e que as tradições discursivas explicam ou

consolidam a variação e a mudança do uso, como veremos ao longo do presente

trabalho.

1 A escolha dos centros urbanos Madri, Cidade do México e Buenos Aires se deve ao fato de que são os centros urbanos mais estudados e que apresentam grande bibliografia com relação à distribuição dos pretéritos. No entanto, na nossa pesquisa, trazemos uma análise diferenciada e controlamos fatores que ainda não foram analisados no estudo dos pretéritos. 2 Área castelhana, mexicana/centro-americana e rioplatense/do Chaco, de acordo com a classificação de Moreno Fernández, ¿Qué español enseñar?, 2000.

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1.2 Objetivos

Os objetivos dessa dissertação são:

1) levantar informações histórica e descritiva sobre a variação dos pretéritos simples e

composto no espanhol;

2) investigar a distribuição das formas verbais de passado em amostras escritas e orais

de Madri, Cidade do México e Buenos Aires;

3) depreender os condicionamentos que levam à oposição dos pretéritos nos três centros

urbanos selecionados;

4) verificar as funções discursivas, semântico-pragmáticas e sintáticas que favorecem ou

inibem a alternância no uso das formas simples e composta;

5) investigar se fatores como a temporalidade, as circunstâncias temporais e as tradições

discursivas são determinantes para a escolha de um tempo verbal ou outro;

6) verificar os diferentes valores de uso do pretérito composto, enquanto forma mais ou

menos freqüente e, conseqüentemente, como forma mais ou menos marcada, nas

amostras dos 3 centros urbanos;

7) descrever os usos dos pretéritos em amostras do espanhol contemporâneo com a

intenção de contribuir para estudos de variação lingüística da língua espanhola;

8) promover uma reflexão sobre a diferença no uso desses tempos verbais e a sua

distribuição no âmbito do ensino de E/LE no Brasil, contribuindo, assim, para a

elaboração de materiais didáticos mais coerentes com a realidade lingüística.

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1.3 Hipóteses

Embora Madri, Cidade do México e Buenos Aires, e as suas respectivas

variantes dialetais, tenham sido já bastante descritas com relação aos processos de

variação e mudança no uso dos pretéritos simples e composto, acreditamos que esse

fenômeno lingüístico não é tão esquemático quanto parece, nem a sua distribuição tão

uniforme, tanto do ponto de vista geoletal quanto discursivo. Sendo assim, propomos

um estudo dos pretéritos a partir de uma perspectiva sociolingüística e discursiva com

base em fatores discursivos, semântico-pragmáticos e sintáticos.

A seleção do grupo de fatores para a análise dos pretéritos encontrados nas

amostras escritas e orais está totalmente relacionada com as nossas hipóteses, que são:

1) acreditamos que nos dados de Madri, haja predominância do pretérito composto, que

estaria avançando sobre contextos de uso do simples, enquanto que nos dados da Cidade

do México e de Buenos Aires haja uma maior freqüência de uso do pretérito simples, o

que refletiria um caráter mais conservador com relação à evolução latina;

2) supomos que a seleção dos pretéritos seja variável nos textos dos três centros urbanos

analisados em função dos diferentes gêneros textuais, em parte pela influência ou

condicionamento das tradições discursivas, que exercem pressão sobre os gêneros;

3) cogitamos que a seleção das formas de passado seja variável nos textos dos três

centros urbanos analisados em função das diferentes organizações discursivas: as partes

da notícia e os encadeamentos de turnos de fala;

4) é possível que a seleção seja variável nas seqüências narrativas, enunciativas,

descritivas e argumentativas e que haja diferenças significativas entre as mesmas

seqüências no gênero oral e escrito, considerando a mesma variante dialetal;

5) não negamos que a circunstância temporal carregue valores semânticos e atribua

valores à forma verbal ou à frase em que está inserida, no entanto, acreditamos que

talvez não seja um fator tão determinante na seleção dos pretéritos como se costuma

afirmar;

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6) é possível que a polaridade negativa seja um fator que condicione o emprego da

forma composta, sobretudo nas amostras de Buenos Aires;

7) acreditamos que a ordem de palavras não esteja necessariamente relacionada à

seleção dos pretéritos, mas sim a outros condicionamentos sintáticos, tais como

subordinação ou coordenação;

8) supomos que na subordinação, o pretérito composto seja mais comum nas orações

subordinadas do que nas principais, o que nos leva a acreditar que a ocorrência da forma

composta nas principais seria um avanço da variação no emprego dos pretéritos;

9) acreditamos, no que diz respeito à temporalidade, que a variante de Madri seja a mais

inovadora - os usos do composto estariam bem mais estendidos que nas variantes da

Cidade do México e de Buenos Aires, estando entre a etapa 3 → 4. Em segundo lugar,

viria a Cidade do México, que estaria entre a etapa 2 → 3 e a variante mais

conservadora seria a de Buenos Aires, na etapa 2;

10) supomos que o aspecto seja pertinente, sobretudo, nos casos da Cidade do México e

Buenos Aires, que estariam na etapa 2 de variação e mudança, frente aos resultados de

Madri, que assinalariam uma tendência mais avançada de inovação;

11) cogitamos que, do ponto de vista semântico-funcional, os tipos de verbos possam

ser um fator relevante na seleção dos pretéritos;

12) não acreditamos que a afetividade ou a subjetividade sejam fatores condicionadores

do uso do simples ou do composto, mas sim que a distribuição dos sujeitos esteja mais

relacionada ao gênero ou tipo de texto do que à seleção do simples ou do composto.

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1.4 Estrutura da dissertação

Após este capítulo introdutório, há cinco capítulos que compõem a dissertação.

O capítulo 2, o nosso referencial teórico, está dividido em três partes. Na primeira

parte, queremos demonstrar que a língua é variável e que se manifesta de modo

variável. Fazemos uma breve explanação sobre a evolução histórica dos pretéritos

simples e composto no espanhol com o objetivo de entender a sua variação e mudança

atual. Em seguida, apresentamos uma revisão bibliográfica sobre o que se tem dito

acerca do nosso objeto de estudo, assim como o que apontam estudos focados nos

centros urbanos que selecionamos (a saber, Madri, Cidade do México e Buenos Aires).

Objetivamos comparar tais estudos com os resultados encontrados no presente trabalho.

Uma questão que também nos parece importante abordar neste capítulo diz respeito à

nomenclatura que decidimos adotar para as formas verbais de passado. Em meio a

tantos termos propostos pela tradição gramatical, a denominação de pretérito simples e

pretérito composto, nos pareceu a mais pertinente porque está baseada numa definição

morfológica.

Na segunda parte, desenvolvemos um estudo dos gêneros textuais e das

tradições discursivas, fatores que consideramos também de grande importância para

compreender a oposição dos passados. Não é nosso interesse fazer uma análise teórica

profunda nem uma revisão minuciosa dos tipos e dos gêneros textuais, o que nos parece

relevante é, a partir de alguns postulados, verificar, na análise dos dados, que seqüência

discursiva condiciona ou inibe a oposição dos passados e / ou em que seqüência

discursiva é mais freqüente o uso de um e de outro tempo verbal, além de assinalar

como as tradições discursivas explicam ou consolidam a mudança e a variação do uso.

Na terceira e última parte do nosso referencial teórico, centramo-nos em um dos

pontos mais discutidos acerca da oposição das formas verbais de passado em análise.

Trata-se das noções temporal e aspectual atribuída à categoria verbal. Primeiramente

apresentamos uma breve síntese sobre as definições de tempo e aspecto. Como o valor

temporal e o aspectual não se restringem apenas à categoria verbal, apresentamos

também um breve estudo das circunstâncias temporais, assim como uma classificação

dos tipos de verbo, uma vez que acreditamos que o valor semântico intrínseco à

morfologia verbal também possa ser um fator que condicione a escolha de uma ou outra

forma de passado. Em seguida, discutimos o valor pragmático que o falante atribui à

situação comunicativa, dando ênfase a um acontecimento através da forma composta.

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Estratégia essa que no meio jornalístico é conhecida por hot news perfect e que é

bastante produtiva por atribuir relevância atual a uma informação.

O capítulo 3 é dedicado ao enfoque metodológico da pesquisa e contém

informações acerca das amostras do corpus (escrito e oral) e dos procedimentos para a

análise dos dados, ou seja, das 12 variáveis independentes selecionadas para a análise da

nossa variável dependente (os pretéritos simples e composto).

No capítulo 4 estão concentradas a descrição e a análise dos dados a partir das

variáveis selecionadas (1 variável dependente e 12 variáveis independentes).

Apresentamos uma análise inovadora dos pretéritos no espanhol para um possível

mapeamento dos contextos relevantes para uma descrição do uso e valores dessas

formas verbais de passado em cada centro urbano estudado.

No capítulo 5 apresentamos as considerações finais relativas ao estudo

desenvolvido, bem como uma reflexão sobre as contribuições da pesquisa para o ensino

de Espanhol como Língua Estrangeira no Brasil.

Finalmente, no capítulo 6, temos as referências bibliográficas fundamentais para

o desenvolvimento da pesquisa, seguidas dos anexos (notícias internacionais online

como amostra de língua escrita e entrevistas sociolingüísticas transcritas como amostra

de língua oral).

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Variação e mudança lingüística dos pretéritos simples e composto no espanhol

2.1.1 A variação e a mudança lingüística

De acordo com Brandão (1991), é por meio da língua que o homem expressa as

suas idéias, as idéias de sua geração, as idéias da comunidade a que se pertence, as

idéias do seu tempo. A todo instante a utiliza de acordo com uma tradição que lhe foi

transmitida, e contribui para sua renovação e constante transformação. Cada falante é, a

um tempo, usuário e agente modificador de sua língua, nela imprimindo marcas geradas

pelas novas situações com que se depara.

Segundo Penny (2000), todos os aspectos da língua estão sujeitos à variação,

sejam eles referentes aos sons, fonemas, morfemas, estruturas sintáticas, lexemas ou

significados, e acrescenta que as línguas variam de duas maneiras idênticas, geográfica

e socialmente. Para o autor, esses dois parâmetros, através dos quais se dá a variação,

estão inter-relacionados, a pesar de que, em princípio, podem ser estudados

independentes um do outro.

Assim como Penny (2000), Moreno Fernández (1999), afirma que a variação,

definida como o uso alterno de formas diferentes de dizer a mesma coisa, pode ser

encontrada praticamente em todos os níveis da língua, desde o mais concreto (fonético-

fonológico) ao mais amplo (o discurso, por exemplo), passando pela gramática e o

léxico. Acrescenta que, para explicar o funcionamento desses usos, pode-se prestar

atenção, separada ou conjuntamente, a fatores extralingüísticos como históricos,

geográficos, contextuais e sociais.

Sabemos que falantes de uma mesma língua que vivem em diferentes partes de

um território contínuo não falam da mesma maneira. A variação se dá geralmente de

forma suave e gradual. A fala de cada localidade difere em algum ou em vários de seus

traços de outra localidade, mas sem prejudicar a compreensão mútua. É evidente que em

nenhum lugar as pessoas falam da mesma forma, ainda que tenham nascido no mesmo

lugar. As diferenças de fala se correlacionam com um ou mais fatores sociais, como por

exemplo, idade, sexo, raça, classe social, instrução e outros. Um mesmo falante não se

limita a usar apenas uma variante a partir do total de modalidades das que dispõe a

comunidade. Cada indivíduo domina, ao menos, parte desse total e seleciona uma

variante em particular segundo as circunstâncias nas quais está inserido (formais,

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informais, íntimas...), inclusive, no mesmo entorno de fala, o indivíduo pode alternar

entre duas ou mais variantes.

Halliday (apud: Penny, 2000), distingue três parâmetros de variação de registro:

a) campo – dentro do qual a variação está determinada pelo propósito e o tema da

comunicação, b) modo – que controla as variações causadas pelo canal oral ou escrito

da comunicação e c) tom – segundo o qual, a variação vem condicionada pela pessoa a

quem se dirige a comunicação. Sendo assim, ao selecionar entre os determinados traços

da língua, o falante se coloca em uma posição particular dentro de uma matriz social

complexa.

É importante ressaltar que a variação não é um fenômeno livre, aleatório. De

acordo com Labov (1994), essa heterogeneidade é ordenada. Há fatores, sejam sociais,

lingüísticos ou geográficos, que a condicionam. A variabilidade faz parte da essência da

língua e pode ser encontrada, como dito anteriormente, em praticamente todos os níveis

lingüísticos (fonético-fonológico, lexical, gramatical, discursivo). Durante o período de

variação, uma forma nova e outra conservadora coexistem no falante, uma vez que esse

fenômeno de variação é um processo contínuo.

Apesar de que a variação assinale instabilidade do sistema, nem toda variação

indica necessariamente uma mudança. Citando o postulado de Weinreinch, Labov e

Herzog, nem toda variabilidade e heterogeneidade na estrutura lingüística envolve

mudança, mas todas as mudanças implicam variabilidade e heterogeneidade (Labov,

1994).

Há, pelo menos, duas hipóteses para a implantação estrutural da mudança, por

um lado, pressupõe-se que a variante inovadora se instala imediatamente em todos os

seus possíveis contextos e progride a uma taxa constante, por outro lado, pressupõe-se

que a forma inovadora vai gradativamente ampliando seus contextos até a sua

consecução. É importante ressaltar que essas hipóteses podem não ser excludentes.

Embora estejamos distantes de entender todos os fatores que aceleram ou freiam

a mudança lingüística, parece bastante certo que, em alguns lugares e momentos, a

mudança é mais rápida que em outros, ou seja, que na história de uma variedade em

particular há diferentes velocidades de inovação (Penny, 2000).

Retomando o postulado de Labov (1999) de que a variação não é aleatória, mas

sim o reflexo de uma heterogeneidade ordenada, procuramos, nesse trabalho, entender a

variação e a mudança lingüística no uso dos pretéritos simples e composto no espanhol

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e / ou a certa regularidade na alternância dos passados nas variantes selecionadas, um

tema tão tratado e que, no entanto, ainda apresenta muitas interrogações e inquietações.

2.1.2 Evolução histórica dos pretéritos

A progressiva difusão dos tempos compostos com haver ou ser e o particípio

passado levou a reajustes em vários setores do sistema verbal. O castelhano medieval

empregava, como outras línguas românicas, o verbo ser com uma série de verbos

intransitivos. No entanto, o verbo haver também era empregado com tais verbos.

Durante o século XV, o uso de haver começa a se estender a partir de certas variedades

e acaba por triunfar no período clássico. Por volta do século XVII, termina a completa

gramaticalização dos tempos compostos, com a especialização de haver como único

auxiliar de pretérito e de ser como auxiliar da voz passiva. O caso mais notável de

reestruturação do latim falado é a substituição de CANTĀVĪ por HABEŌ

CANTĀTUM:

Latim clássico Latim falado Espanhol medieval

CANTĀVĪ HABEŌ CANTĀTUM HE CANTADO

A substituição da forma simples pela composta afetou a todas as formas verbais

perfectivas. Tudo indica que a construção HABERE o ESSE + particípio foi sendo

aplicada gradualmente aos diferentes tempos e modos3. No entanto, é importante

ressaltar que nem todas as formas latinas de pretérito caíram em desuso. Embora a

forma CANTĀVĪ, no âmbito do presente perfectivo, tenha sido substituída por HABEŌ

CANTĀTUM, continuou sendo usada com valor de pretérito perfectivo (Penny, 2001):

3 Entrada dos verbos HABERE e ESSE no sistema verbal, em Penny (2001): Latim clássico Latim falado Espanhol medieval

CANTĀVERAM HABUĪ / HABEBAM CANTĀTUM ove / avía cantado CANTĀVĪ HABEŌ CANTĀTUM he cantado CANTĀVERO HABERE HABEŌ CANTĀTUM avré cantado CANTĀVISSEM HABUISSEM CANTĀTUM oviesse cantado CANTĀVERIM HABEAM CANTĀTUM aya cantado ĪVERAM ERAM ĪTUM era ido ĪVĪ SUM ĪTUM so ido ĪVERO ESSERE HABEŌ ĪTUM seré ido ĪVISSEM FUISSEM ĪTUM fuesse ido ĪVERIM SEDEAM ĪTUM sea ido

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Latim clássico Latim falado Espanhol medieval

CANTĀVĪ CANTĀVĪ CANTÉ

Segundo Cartagena (1999), a forma de pretérito simples, herdada diretamente do

perfeito latino (CANTĀVĪ > CANTÉ), reunia em si o valor moderno dos pretéritos

simples e composto, ou seja, em latim se tratava de um tempo que indicava ações

perfeitas, pontuais simplesmente anteriores ao momento da fala. Por isso, no espanhol

pré-clássico eram possíveis construções que agora não seriam usuais no espanhol

peninsular uma vez que passaram a ser domínio da forma composta4.

A construção com haver é, por outro lado, uma criação romance sobre a base do

latim vulgar habeo factum, cujo significado básico no espanhol pré-clássico era o

caráter resultativo. Citando Lenz (apud: Cartagena, 1999), o autor afirma que a forma

composta expressava historicamente o resultado da ação passada e terminada que

permanece como estado presente, isto é, tinha o mesmo valor que possuem atualmente

as perífrases resultativas tener, traer, llevar + particípio congruente em gênero e

número com o complemento direto5.

É somente a partir da época clássica que a construção com haver começa a

expressar uma ação concluída imediatamente anterior ao presente gramatical ou de

maior distância temporal, mas cujo resultado guarda certa importância para o sujeito até

o momento da enunciação.

Segundo Criado de Val (apud: Cisneros, 1959), o fato de a forma composta ser

uma criação romance indica claramente a existência de uma necessidade na língua, o

que resultou na busca de uma forma nova. Pode-se pensar na hipótese de que esse novo

tempo veio substituir a forma simples, porém, o pretérito simples persistiu e seria

contrária a todas as leis da língua a existência de dois tempos sinônimos.

Também é importante ressaltar que a entrada do pretérito composto em

contextos do pretérito simples não tem os mesmos valores semânticos nem as mesmas

pressões discursivas nas diferentes variedades de línguas românicas, ou inclusive dentro

de uma mesma língua se são consideradas as suas variedades geoletais.

4 Exemplos como En especie de heregía lo que agora dixieste. No entanto, é importante ressaltar que esse uso é bastante freqüente, diríamos, quase predominante, em muitas variantes do espanhol contemporâneo. E como veremos na análise do nosso corpus, inclusive nas amostras de Madri também foram encontradas ocorrências desse tipo. 5 Como, por exemplo, Tengo escritos/as cinco capítulos/páginas del libro.

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Para a compreensão da evolução diacrônica da construção perifrástica de

HABER + particípio de passado, comum a muitas línguas, partimos do esquema

proposto por Harris (1982), que expressa sucessiva e acumulativamente quatro

conjuntos de valores semânticos, conforme figura 1:

HABEŌ CANTĀTUM > CANTĀVĪ

VARIAÇÃO E MUDANÇA - DIACRONIA NAS LÍNGUAS ROMÂNICAS

Figura 1: Evolução histórica do perfeito em romance (HABEŌ FACTUM), segundo Martin Harris (1982)

Sobre esse esquema, Detges (2001) afirma que, na etapa inicial (etapa 1) do seu

desenvolvimento, as construções perifrásticas do tipo HABER + particípio de passado

são utilizadas para marcar estados resultantes de ações acabadas. Construções como lo

tengo hecho, não apresentam valor temporal de passado, desempenham, na verdade,

funções aspectuais. Na seguinte etapa (etapa 2), tais construções designam ações

continuadas ou repetidas que chegam até o momento presente, tais como temos no

espanhol americano, toda la vida he vivido aquí. Na próxima etapa (etapa 3), as

construções se referem a ações passadas com aproximação temporal ao momento da fala

ou com um interesse atual abstrato, sem que indique necessariamente duração ou

repetição, em outras palavras, o que importa é a relevância atual, como temos no

espanhol peninsular, he estado a la muerte estos días. Na etapa mais avançada da sua

evolução funcional (etapa 4), as perífrases denotam ações pontuais ocorridas no passado

e sem relação especial com o momento da fala, he comprado un coche.

1. Estado presente

resultante de uma ação passada

2. Importância atual da situação passada

indicada pelo particípio (que

também indicava duração,

repetição)

4. Ação

passada sem importância

presente

3. Ação

passada com importância

presente (mas sem indicar

duração, repetição)

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De acordo com Harris (1982), as etapas (1) a (4) não apenas correspondem a

diferentes fases do desenvolvimento diacrônico, mas também representam situações

sincrônicas estáveis.

A partir da análise diacrônica do pretérito perfeito do espanhol, Detges (2001),

acredita que essa mudança no sistema verbal não se deve nem às exigências abstratas do

sistema lingüístico respectivo, nem a uma necessidade de novas medidas de referência

temporal, mas que deve ser considerada com um resultado involuntário de certas

técnicas retóricas correntes por parte dos falantes. Dito de outra maneira, segundo

Detges (2001), os falantes não aspiram a criar novas estruturas gramaticais, seu único

interesse consiste em se expressar de maneira eficaz.

Ainda de acordo com o autor, o espanhol peninsular, assim como o inglês,

possui perífrases cuja função principal consiste em designar ações ocorridas no presente

ampliado do falante, ou seja, em expressar eventos passados ou acabados que têm

relação com o momento da fala. Essa relação pode ser real ou simplesmente percebida

pelo falante. Geralmente enunciados sobre eventos passados dotados de um alto grau de

relevância atual são considerados sumamente informativos o que faz com que o falante,

ao enunciá-los, valorize sua própria posição de locutor frente a seus interlocutores.

Existe uma estratégia discursiva própria da linguagem jornalística, conhecida

como hot news perfect, cuja função consiste em apresentar os fatos passados como

surpreendentes, destacando dentro da mensagem, a informação mais relevante,

despertando, assim, a atenção do leitor. Essa situação propicia a utilização da

construção perifrástica, ou seja, do pretérito composto. O funcionamento dessa

estratégia discursiva será tratado mais adiante e na análise do corpus, em que terá lugar

uma abordagem sobre os tipos de texto e seqüências discursivas, bem como o papel das

tradições discursivas na seleção de uma forma ou outra de passado.

O que nos interessa aqui é o fato dessa técnica retórica implicar em uma

mudança funcional da forma gramatical utilizada, ou seja, a forma gramatical que

expressa fatos passados com relevância atual irá perdendo esse traço à medida que se

utilize de maneira habitual para fazer referência a fatos carentes de toda relevância

particular. Quanto mais os falantes utilizam a técnica retórica em questão para tirar

proveito do seu efeito, mais contribuem para a perda desse mesmo efeito e,

conseqüentemente, para a mudança funcional da construção perifrástica.

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Voltando ao esquema de evolução, esse seria o uso avançado da construção

perifrástica. Na etapa 4, o composto já teria assumido plenamente os contextos que

seriam “próprios” do simples, estaria, assim, perdendo o seu traço de relevância atual.

Para Penny (2000), embora algumas línguas (como o francês e o italiano)

tenham evoluído até o estádio 4, o espanhol estándar peninsular6 teria chegado apenas

ao estádio 3, ou seja, a forma verbal que indica a situação passada a que se refere

pertence a um período de tempo que, no momento da fala, é ainda atual, sem que

indique necessariamente que a situação seja ainda vigente nem que possa se repetir7.

No entanto, como veremos na parte de análise do corpus, há dados que parecem

mostrar que Madri antecipa as últimas etapas da mudança e, em algumas realizações, já

se encontra entre as etapas 3 e 4.

Com relação ao espanhol americano, Penny (2000) afirma que este evoluiu

somente até a etapa 2 do esquema de Harris (1982), isto é, que o composto implica

obrigatoriamente que a situação passada continua ou se repete no futuro. Na análise que

se fará mais adiante do corpus, porém, serão apresentados dados que evidenciam usos

mais avançados do composto. Pode-se dizer, então, que esses dados corroboram o que

diz Detges (2001) sobre o uso do composto como estratégia discursiva.

2.1.3 A oposição entre os pretéritos simples e composto

Esta parte se dedica a reunir algumas idéias e questões relacionadas ao emprego

dos pretéritos simples e composto, com base em alguns estudos teóricos. De maneira

breve, fazemos uma exposição sobre o que se diz a respeito do nosso objeto de estudo.

Segundo Gutiérrez Araus (1997), embora haja outros usos, os principais traços

que definem o pretérito composto no subsistema verbal das formas de passado são os

de: (a) passado continuativo resultativo no presente, (b) ante-presente e (c) passado

enfatizador de uma forma narrativa de passado. Acrescenta, ainda, a ausência dessas

marcas no pretérito simples.

Sobre o valor de passado continuativo resultativo no presente, afirma que

funciona de forma homogênea em todo o mundo hispânico. O pretérito composto

6 Entende-se por espanhol estándar peninsular o espanhol pertencente à norma castelhana, sendo representado, no nosso trabalho, por Madri. 7 Embora Penny (2000) afirme que o espanhol estándar peninsular tenha chegado apenas à etapa 3, não nega que foram encontrados casos, ainda que isolados, de evolução tanto na América quanto na Espanha.

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assume os valores de passado cuja ação, embora ainda pertencendo ao passado, continua

no presente e se apresenta como não terminada, ou seja, como uma ação ou estado que

cujos resultados perduram no momento da enunciação, frente ao pretérito indefinido que

não guarda relação com o presente.

Com relação ao valor de ante-presente, diz que é um uso comum no espanhol

peninsular. O pretérito composto é empregado para se referir a um tempo passado,

anterior ao momento atual, assim como o pretérito simples. A maior ou menor distância

cronológica entre a ação passada e o momento da enunciação não é decisiva na oposição

dos pretéritos, mas o fato de que esta ação ou estado estejam ou não centrados pelo

falante em um momento concreto pertencente a uma perspectiva temporal ou plano

atual.

Sobre o valor de passado enfatizador, a autora diz que é um traço característico

do pretérito composto no espanhol da América e que não se dá na variedade castelhano-

nortenha peninsular8. O composto é empregado quando o falante quer dar maior ênfase,

maior força emotiva a uma ação que concluiu no passado e que constitui o ponto

culminante de uma série de acontecimentos apresentados no pretérito simples.

Assim, o pretérito composto pertence ao plano atual. Com relação à

temporalidade, é uma ação ou estado anterior ao presente, no entanto, por apresentar

uma perspectiva de presente, tem uma função, no sistema, de relevância no presente, de

conexão com o agora.

Por outro lado, o pretérito simples é considerado a forma absoluta de passado.

A sua perspectiva temporal não é atual e assinala que um fato se produziu em um tempo

anterior ao momento da enunciação. O seu traço principal é apresentar as ações como

inseridas, ocorridas no passado, ou seja, relatar fatos que aconteceram no passado.

Resumidamente, segundo Gutiérrez Araus (1997), no espanhol peninsular, o

pretérito composto é empregado quando se faz referência a uma ação ou estado

produzidos no presente ampliado, ou seja, em um período de tempo que o falante

considera plano atual, perspectiva de presente. Já o pretérito simples, para referir-se a

uma ação ou estado produzidos em um período de tempo que o falante considera não-

atual, perspectiva de passado.

Com relação à oposição no espanhol da América, diz que não se dá a

diferenciação entre os passados e que o composto não se emprega com valor de ante-

8 Embora o uso de passado enfatizador não apareça na variedade castelhano-nortenha peninsular, Gutiérrez Araus (1997) afirma que pode aparecer em algumas variedades meridionais.

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presente, pois a oposição perspectiva temporal atual / não-atual não é importante na

maior parte dessa variedade do espanhol. É empregado para marcar o valor continuativo

resultativo do passado no presente e para enfatizar uma ação produzida no passado, por

ser importante na narração ou por marcar o interesse da mesma.

De acordo com Rojo & Veiga (1999), as significações básicas expressadas

pelos pretéritos simples e composto coincidem em enfocar o processo como anterior a

um ponto de referência. No caso do simples, a referência é o centro dêitico do sistema

temporal, enquanto que o composto introduz a precisão de uma relação de

simultaneidade entre a referência e o momento da enunciação. No entanto, destacam

que nada impede que o pretérito composto seja usado para referir-se a um processo

situado em um período apresentado como já concluído. Afirmam ainda, que a distinção

sistemática entre os conteúdos temporais dos pretéritos não funciona atualmente em

todos os dialetos do espanhol.

Segundo Piñero Piñero (1998), são três os critérios, com maior ou menor

unanimidade, que costumam diferenciar os pretéritos. O primeiro diz respeito à

oposição ação única x ação repetida, de tal maneira que o composto seria empregado

para a expressão de ações reiterativas e o simples para ações que teriam lugar uma só

vez. O segundo critério destaca a preferência do composto para ações durativas, e do

simples para ações de caráter pontual ou momentâneo. Finalmente o terceiro critério,

que é considerado, tanto pela tradição gramatical espanhola quanto pelos estudos

contemporâneos, como o determinante da oposição dos passados. Trata-se da relação

com o momento presente: o pretérito composto, como indicador de um passado

relacionado com o presente e o pretérito simples, indicador de um passado que não

guarda relação com o presente. Ambos podendo aparecer com unidades de tempo que

incluem ou excluem o agora da enunciação, respectivamente. Tais unidades, aqui

denominadas circunstâncias temporais, serão tratadas mais adiante.

Já afirmava Alarcos (apud: Moreno de Alba, 1998) que a maior ou menor

distância cronológica entre a ação expressada e o momento da enunciação não é

relevante para o uso de canté e he cantado, mas sim que essa ação tenha ou não relação

com o presente. Para Alarcos (1947), se o pretérito não tem modificadores verbais

designa um fato sucedido no passado e que teve um limite nesse mesmo passado. Se os

advérbios ou modificadores verbais são considerados, então se emprega o pretérito

simples com os advérbios que indicam que a ação se produz em um período de tempo

em que não está incluído o momento presente de quem fala (advérbios tais como ayer,

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34

anoche, el mes pasado...). Por outro lado, se não há modificadores verbais pode

designar também uma ação que se aproxima ao presente gramatical, isto é, que se

produz no presente ampliado em um período desde um ponto do passado até o agora em

que se fala ou escreve. Se o ante-presente (ou composto) é acompanhado por

modificadores temporais, estes indicam que a ação se efetuou em um período de tempo

em que se encontra compreendido o momento presente de quem fala ou escreve

(advérbios tais como hoy, ahora, estos días...).

Hurtado González (1998), afirma no seu artigo9 que alguns investigadores

estrangeiros, tais como Hanssen (1945) e Meyer-Lübke (1974), acreditam que tal

distinção é uma invenção das gramáticas e que o espanhol usa uma ou outra forma

indistintamente ou dependendo de preferências pessoais. No entanto, assume-se nesse

trabalho, assim como o faz Hurtado (1998) e a maioria dos investigadores, que existe

uma diferenciação aceitada e mantida pelos falantes tanto na língua oral como na

escrita, embora não seja fácil precisar os motivos de tal distinção.

Na maioria das teorias, a ênfase sobre a oposição dos pretéritos é nas noções

temporais e aspectuais e na presença de circunstâncias temporais. No entanto, como

estamos sustentando no nosso trabalho, acreditamos que tais noções não dão conta de

explicar a distribuição dos passados e que fatores discursivos, semântico-pragmáticos e

sintáticos são mais relevantes e nos dão resultados mais pertinentes para um

mapeamento dos contextos de uso e valores dessas formas verbais de passado em cada

centro urbano estudado.

2.1.4 A distribuição dos pretéritos nas variantes selecionadas

Dentre as diferentes variantes do espanhol, selecionamos três para o estudo da

oposição dos pretéritos. Centramos nossa investigação em três centros urbanos,

pertencentes a três diferentes variantes, a saber: Madri, Cidade do México e Buenos

Aires, que fazem parte, respectivamente, das seguintes áreas geoletais: área castelhana,

área mexicana/centro-americana e área rioplatense/do Chaco (Moreno Fernández,

2000).

9 HURTADO GONZÁLEZ, Silvia. El perfecto simple y el perfecto compuesto en el español actual: estado de la cuestión. Universidad de Valladolid, EPOS. XIV, 1998, pp. 51-67.

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Acreditamos que seja importante fazer uma síntese não apenas de algumas idéias

e questões relacionadas ao emprego e à diferença entre os pretéritos simples e

composto, mas também revisar as explicações que se tem dado a respeito da oposição

dessas formas verbais de passado em cada um dos centros urbanos em estudo.

2.1.4.1 O uso dos pretéritos no espanhol castelhano

Sobre o uso dos pretéritos no espanhol peninsular, Cartagena (1999), diz que

tanto o simples como o composto têm em comum o fato de que indicam uma relação de

anterioridade com respeito ao momento da fala, ambos indicam ações perfeitas,

terminadas antes do momento da fala. A diferença está no fato de que a forma simples

indica a mera anterioridade com relação ao momento da fala, do qual se separa

constituindo um âmbito próprio no passado, diferente da atualidade do falante, enquanto

que a forma composta, indica a anterioridade dentro do âmbito do presente,

pertencendo, portanto, à atualidade do falante.

De acordo com Penny (2000), no espanhol estándar peninsular, e na fala

espontânea do nordeste, do centro e do sul da península, a principal oposição aspectual

entre os pretéritos está na percepção do falante da conexão entre a situação passada

descrita e o momento da fala. Se o falante deseja expressar que a situação passada que

menciona pertence a um período de tempo diferente do momento em que está falando,

então emprega o pretérito simples. No entanto, se deseja expressar que a situação de

passado pertence ao período de tempo que, no momento da comunicação, é ainda atual,

então recorre ao pretérito composto.

Acrescenta ainda que, a questão da atualidade ou não-atualidade do período de

tempo pode explicitar-se mediante circunstâncias temporais que aparecem na oração,

porém, a presença destas não é obrigatória e as formas verbais podem expressar por si

só as duas maneiras em que o falante escolhe dividir mentalmente o tempo passado.

Também se deve levar em conta que a aproximação da situação de passado com o

momento da fala não é o critério que determina a escolha entre o simples e o composto,

uma vez que, por um lado, uma situação passada muito recente pode ser considerada

que ocorreu em um período de tempo separado do momento da fala, e por outro lado, o

falante pode julgar que o período de tempo em que tem lugar o ato de fala se estende

indefinidamente em direção ao passado e incluir situações que começaram há muito

tempo.

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Hurtado (1998), afirma que os pretéritos simples e composto coincidem em

significar acontecimentos anteriores ao momento do falante, somente que as respectivas

ações passadas que significam, além de que se podem situar em pontos diferentes do

eixo temporal, não guardam a mesma relação com o presente.

É importante ressaltar que, embora a maioria dos autores, implícita ou

explicitamente, reconheça para a oposição dos pretéritos, na norma castelhana, a relação

da ação passada com o momento presente, com o agora enunciativo, a relação que um

passado guarda com o presente não necessariamente é proporcional à distância

cronológica que o separa do momento da enunciação, em outras palavras, uma ação

passada pode ter relação com o presente ainda que, cronologicamente, esteja distante.

2.1.4.2 O uso dos pretéritos no espanhol mexicano

Assim como Alarcos, Moreno de Alba (1998) afirma que os pretéritos

mexicanos se diferenciam do uso peninsular também quanto à sua relação com o

momento presente, ou seja, podem ter circunstâncias temporais que incluam o momento

presente sem que isso signifique que percam o seu caráter perfectivo. Afirma ainda que

as circunstâncias temporais que mais freqüentemente acompanham o pretérito simples

na variante mexicana são aquelas que situam a ação em um momento determinado.

O autor propõe uma subdivisão dos pretéritos, que excluem o agora do falante,

em: (a) pretéritos semelfactivos, que se subclassificam em (a1) momentâneos ou de

breve duração, (a2) incoativos, (a3) terminativos e (a4) durativos e (b) pretéritos

iterativos.

Com relação ao pretérito composto, o autor afirma que, no espanhol mexicano,

tem um uso determinado e próprio, diferente do pretérito simples. Citando Lope Blanch

(1972), sustenta que a forma composta expressa ações durativas e imperfectivas,

fenômenos que, embora iniciados no passado, se constituem no momento presente e

ainda podem se projetar para o futuro. Para Lope Blanch (apud: Moreno de Alba, 1998),

o aspecto do composto no espanhol mexicano é definitivamente imperfectivo. Além

desse caráter imperfectivo, também se caracteriza aspectualmente por ser reiterativo, em

oposição ao pretérito que é pontual e perfectivo. Temporalmente é ainda presente.

Segundo Moreno de Alba (1998), a característica principal do pretérito

composto no uso peninsular é o seu valor temporal, a sua aproximação ao presente

gramatical, ao presente ampliado. Tanto a forma canté como he cantado aspectualmente

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são perfectivas, a diferença é temporal. Se a ação teve o seu limite, a sua conclusão no

passado - remoto ou próximo - se usa o pretérito simples, se teve a sua perfeição no

presente ampliado aparece o pretérito composto. Em ambos os casos há o valor

perfectivo.

Por outro lado, no espanhol mexicano, a diferença é essencialmente aspectual.

Se a ação é considera perfectiva se usa o pretérito simples, independentemente de que o

limite da ação esteja situado no passado ou no presente ampliado. Se a significação

verbal não é considerada como concluída, mas em processo, ou seja, se a ação ou série

de ações, iniciada no passado, continua ou pode continuar no agora ou no futuro, usa-se

o composto.

Como conseqüência da particular concepção do falante sobre perfeição e

imperfeição, pode-se interpretar o pretérito composto mexicano não apenas

aspectualmente imperfectivo, mas também temporalmente ‘não-pretérito’ (ainda

presente).

No entanto, faz-se necessário precisar o caráter imperfectivo do composto no

espanhol mexicano. De acordo com o autor, nem todos os compostos podem ser

interpretados como imperfectivos da mesma natureza: alguns apresentam caráter

plenamente imperfectivos, podendo ser chamados de imperfectivos atuais, outros,

apresentam uma ação concluída, mas que pode ser repetida, podendo ser chamados,

então, de imperfectivos habituais ou imperfectivos no sentido lato.

Uma consideração importante é o fato de que, assim como há casos do pretérito

simples que também podem ser analisados como reiterativos, da mesma maneira há

casos de composto que podem ser analisados como semelfactivos (terminados).

Para concluir, o autor diz que, devido ao uso peculiar dos pretéritos no México,

e em geral na América, é natural que o pretérito composto tenha menor freqüência de

uso que o simples. Em outras palavras, muitas das expressões que no espanhol

peninsular aparecem no composto, manifestam-se no espanhol mexicano no simples,

limitando assim o uso do primeiro. No entanto, isso não quer dizer que o composto seja

uma forma em desuso, mas simplesmente que a sua função denotativa é diferente e o

seu campo de atuação mais reduzido. Citando Lope Blanch (1972), isso não deve ser

interpretado como uma confusão do uso “correto” do espanhol, mas como um resultado

da evolução natural da língua.

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2.1.4.3 O uso dos pretéritos no espanhol argentino

O diassistema verbal do espanhol dispõe de várias flexões que cobrem a

seqüência do passado de diferente maneira e embora cada uma comporte valores

inerentes que a diferenciam das demais, ao ser medida a temporalidade, são produzidas

algumas alternâncias que, em razão de invadir áreas alheias, terminam por neutralizar

seus traços temporais distintivos. Assim ocorre com o pretérito simples, que vai

ganhando terreno sobre o pretérito composto e cujo avanço resulta verdadeiramente

notável no espanhol argentino (Ferrer & Sánchez Lanza, 2000).

Segundo as autoras, embora a inclusão ou exclusão do agora do falante seja uma

pauta determinante para a escolha de uma ou outra forma de passado, não é respeitada

no uso, o que dá lugar a uma neutralização.

Em um trabalho que realizaram sobre a distribuição dos pretéritos no espanhol

argentino, nos três níveis socioculturais analisados (alto, médio e baixo), foi registrado

um número equivalente de pretérito composto que, em geral, excluíam o agora. O

falante alude à época atual e, por isso, escolhe o composto que abarca seu momento de

fala, talvez também selecione o composto por se sentir ainda afetado por algum

acontecimento. No entanto, de acordo com Ferrer & Sánchez Lanza (2000), o mesmo

falante, nas mesmas circunstâncias poderia ter usado o pretérito simples, estendendo a

sua temporalidade até o agora, sem que mudasse o significado da mensagem.

O pretérito simples, por outro lado, sobressai pelo aspecto perfectivo e contrasta

com o composto pela sua objetividade, que provém da sua localização no passado sem

chegar ao momento da fala e o relaciona com outros acontecimentos passados. Nos três

níveis socioculturais analisados (alto, médio e baixo), prevaleceu o pretérito simples de

ação perfectiva com exclusão do agora. No entanto, também foram registrados outros

valores, casos em que a dimensão do pretérito simples foi ampliada, o que levou à

inclusão da enunciação. Essa extensão se produziu ou por um modo de ação

imperfectivo, por circunstâncias temporais, por estar o pretérito simples ligado, no

discurso, a um tempo presente ou por contextos de situação.

Confrontando o discurso peninsular com o argentino, as autoras afirmam que,

enquanto que no primeiro existe a diferença temporal entre os passados, no último não

se produzem diferenciações nem no plano temporal, nem no aspectual. Fica

comprovado, assim, que a forma simples alterna com a composta em qualquer situação

comunicativa.

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Vale ressaltar que a forma simples, sem deixar de ser passado, pode cobrir

também espaços do presente ampliado que abarca o agora do falante, de modo que

talvez os valores temporais de ambas as formas resultem coincidentes. Este uso do

simples é comum a toda a zona do litoral e assim, em Buenos Aires, por exemplo,

observa-se um uso quase absoluto da forma simples, com neutralização do significado

temporal. Embora o composto não se use com muita freqüência, isso não quer dizer que

esteja desaparecendo, uma vez que ambas as formas gozam de vitalidade em diferentes

situações.

Recorrer à história da língua, como vimos no tópico 2.1.2, pode ajudar a

entender um pouco as diferenças anotadas no uso do pretérito composto. A forma

composta foi invadindo paulatinamente o domínio do pretérito simples na norma

peninsular. Do seu emprego meramente resultativo no âmbito do presente passa a

designar ações concluídas no passado que recobrem certa importância para a atualidade

do falante e ações concluídas imediatamente anteriores ao momento da fala. O que

acontece na América é que a referida invasão de funções foi muito mais lenta,

conservou-se o uso pré-clássico do pretérito para a expressão de ações concluídas

imediatamente anteriores ao momento da fala, certamente com diversa intensidade

regional (Cartagena, 1999).

2.1.5 Pretéritos simples e composto: questões terminológicas

Os tempos verbais aqui estudados já receberam muitas terminologias. Algumas

ainda permanecem devido à tradição gramatical espanhola. Seguindo e aumentando o

quadro formulado por Rojo & Veiga (1999) com algumas terminologias para os tempos

verbais, selecionamos e apresentamos algumas das diversas nomenclaturas dadas às

duas formas verbais de passado em estudo:

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FORMA AUTORES CANTÉ HE CANTADO

BELLO (1847) pretérito ante-presente GRAE (1931) pretérito indefinido pretérito perfecto

GILI GAYA (1943) pretérito perfecto absoluto pretérito perfecto actual CISNEROS (1959) pretérito perfecto

ESBOZO (1973) pretérito perfecto simple pretérito perfecto compuesto

GUTIÉRREZ ARAUS (1997)

pretérito simple pretérito perfecto

DRAE (1999) pretérito perfecto simple pretérito perfecto compuesto

Quadro 1: Diferentes nomenclaturas atribuídas aos pretéritos simples e composto

Dentre essas nomenclaturas, no nosso trabalho, optamos pelas denominações

de pretérito simples e pretérito composto para as formas verbais de passado por uma

questão morfológica: simples porque apresenta uma única forma (por exemplo, hablé) e

composta, por apresentar mais de uma forma, o verbo haver no presente mais o

particípio passado do verbo principal (por exemplo, he hablado).

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2.2 Estudo dos pretéritos simples e composto no espanhol através dos gêneros e das

tradições discursivas

2.2.1 Conceito de gêneros e tipos textuais

Segundo Koch (2006), a competência sócio-comunicativa dos interlocutores lhes

permite discernir o que é adequado ou inadequado no interior das práticas sociais em

que se encontram engajados e é justamente essa competência que lhes possibilita optar

entre os diversos gêneros textuais. Assim, o contato permanente com os gêneros com

que se defrontam na vida cotidiana leva os usuários a desenvolver uma competência

metagenérica, que lhes possibilita interagir de forma conveniente em cada uma de suas

práticas sociais.

Sobre os gêneros textuais, Koch (2006)10 afirma que, como qualquer outro

produto social, os gêneros estão sujeitos a mudanças, decorrentes não somente das

transformações sociais, como também devido ao surgimento de novos procedimentos de

organização, em função de novas práticas sociais que os determinam.

Um fator importante é que os gêneros não se definem por sua forma, mas por

sua função, o que faz com que um gênero possa assumir a forma de outro, tendo em

vista o propósito comunicativo.

A autora chama a atenção para a diferença entre gêneros textuais e tipos de

texto. Como exemplos de gêneros textuais cita: artigos, reportagens de jornais, poemas,

anedotas, bulas, piadas, receitas médicas, catálogos, manuais de instrução, canções,

romances, charges, crônicas etc. Por outro lado, como exemplos de tipos de texto cita: o

narrativo, o descritivo, o expositivo, o injuntivo e o argumentativo. Acrescenta ainda

que, embora a noção de gênero se confunda com a noção de tipo textual, são duas

concepções diferentes. Tipo e gênero textual não formam uma dicotomia, mas se

complementam na produção textual. Pode-se dizer que os tipos de textos são, na

verdade, seqüências diferenciadas que formam os gêneros.

Assim como um gênero textual pode estar presente em outro gênero, em geral os

gêneros são constituídos por dois ou mais tipos textuais. A presença de vários tipos de

texto em um gênero é denominada de heterogeneidade tipológica. Passemos, a seguir, a

uma abordagem sobre as seqüências que compõem os gêneros textuais.

10 Baseando-se nos estudos de Mikhail Bakhtin.

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2.2.2 Tipos de texto: as seqüências textuais

De acordo com Bronckart (1999), no conjunto das diferentes disciplinas que

abordam os fenômenos textuais / discursivos, já foram formuladas concepções

diferentes das que apresenta, provenientes de outras decisões terminológicas. Na

maioria, a noção de gênero está associada à de discurso (gênero de ou do discurso) e a

noção de tipo, à de textos (tipos textuais ou tipos de textos) e, conseqüentemente, a

dimensão textual aparece subordinada à dimensão discursiva.

Segundo Bronckart (1999), os tipos de discurso constituem os elementos

fundamentais da infra-estrutura geral dos textos, sendo esta caracterizada por outra

dimensão, que é a da organização seqüencial ou linear do conteúdo temático. Cinco

seriam as seqüências propostas pelo autor: seqüência narrativa, seqüência descritiva,

seqüência argumentativa, seqüência explicativa e seqüência dialogal. Vejamos um breve

resumo sobre a composição e organização de cada uma delas a seguir11.

Inúmeros modelos de seqüência narrativa foram propostos, no entanto, foi a

partir de Labov e Waletzky (apud: Bronckart, 1999) que um protótipo padrão se impôs,

constituído de cinco fases principais: (a) situação inicial, fase em que um “estado de

coisas” é apresentado; (b) complicação, fase que introduz uma perturbação, criando

assim, uma tensão; (c) ações, fase que reúne os acontecimentos desencadeados pela

tensão; (d) resolução, fase que introduz os acontecimentos que levam a uma redução da

tensão e (e) situação final, fase que explicita o novo estado de equilíbrio obtido pela

fase de resolução.

Duas outras fases são acrescentadas a essas cinco fases principais, cuja

possibilidade na seqüência é menos restrita, uma vez que dependem mais do

posicionamento do narrador em relação à história contada: (a) fase de avaliação, na qual

se propõe um comentário ao desenrolar da historia e (b) fase de moral, na qual se

explicita a significação geral atribuída à história.

Por outro lado, a seqüência descritiva apresenta a particularidade de ser

composta por fases que não se organizam em uma ordem linear obrigatória, mas que se

combinam e se encaixam em uma ordem hierárquica. São três as suas fases: (a)

ancoragem, fase em que o tema da descrição é assinalado, geralmente por uma forma

11 É importante afirmar que a apresentação das seqüências constitui um resumo bastante rudimentar das análises de Adam (1992), retomadas por Bronckart (1999).

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nominal ou tema-título; (b) aspectualização, fase em que os diversos aspectos do tema

título são enumerados e (c) relacionamento, fase em que os elementos descritos são

assimilados a outros, por meio comparativo ou metafórico.

Sobre a seqüência argumentativa, Bronckart (1999), baseando-se em Adam

(1992) afirma que se apresenta como uma sucessão de quatro fases, a saber: (a)

premissas, fase em que se propõe uma constatação de partida; (b) argumentos, fase em

que são apresentados elementos que orientam para uma conclusão provável; (c) contra-

argumentos, fase que opera uma restrição em relação à orientação argumentativa e (d)

conclusão, fase que integra os efeitos dos argumentos e contra-argumentos.

Sobre a seqüência explicativa, o autor afirma que se apresenta na forma de uma

seqüência bastante simples, cujo protótipo comporta quatro fases: (a) constatação

inicial, fase que introduz um fenômeno não contestável; (b) problematização, fase em

que é explicitada uma questão da ordem do “porquê” ou do “como”, eventualmente

associada a um enunciado de contradição aparente; (c) resolução, fase que introduz os

elementos de informação suplementares capazes de responder as questões colocadas e

(d) conclusão-avaliação, fase que reformula e completa eventualmente a constatação

inicial.

Por fim, apresentamos o protótipo de seqüência dialogal que está organizado em

três níveis encaixados: (a) abertura, fase de caráter fático, em que os interactantes

entram em contato, conforme os ritos e usos da formação social em que se inscrevem;

(b) transacional, fase em que o conteúdo temático da interação verbal é co-construído e

(c) encerramento, fase novamente fática, em que, explicitamente, põe fim à interação.

É importante ressaltar que todas as seqüências constituem um modelo abstrato.

Sendo assim, podem se realizar de formas diversas, em função principalmente da

amplitude e da complexidade dos encaixamentos hierárquicos que podem nelas ocorrer.

Devemos destacar também que existem outras seqüências além das mencionadas

acima, como por exemplo, a injuntiva12. No entanto, esse tipo de seqüência e outras não

estão presentes entre as seqüências que compõem o grupo de fatores e a análise desse

trabalho porque acreditamos que o fenômeno estudado, ou seja, a oposição entre os

pretéritos simples e composto, não é produtivo em alguns tipos de seqüências.

12 A seqüência injuntiva tem por objetivo indicar como fazer ou realizar uma ação. Exemplos de gêneros textuais que apresentam seqüências injuntivas são as receitas, os manuais, as regras de jogo, etc. Dirigem-se ao leitor sob a forma de comandos expressos, geralmente por verbos no imperativo e a linguagem deve ser clara e objetiva (Koch, 2006).

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2.2.3 Modos de organização do discurso

Para Charaudeau (2008), os textos podem ser objeto de uma categorização em

gêneros (científicos, publicitários, de informação, de instrução, etc) e não devem ser

confundidos com modos de organização, uma vez que um mesmo gênero pode resultar

de um ou de vários modos de organização do discurso e do emprego de várias

categorias de língua. Assim, apresenta quatro modos de organização do discurso: o

enunciativo, o descritivo, o narrativo e o argumentativo.

Com efeito, cada um dos modos propõe, a sua vez, uma organização do mundo

referencial, o que dá lugar às lógicas de construção de cada mundo (enunciativo,

descritivo, narrativo e argumentativo), em função das finalidades discursivas do ato de

comunicação. Em outras palavras, cada um dos modos de organização do discurso

possui uma função de base e um princípio de organização.

A função de base corresponde à finalidade discursiva do projeto de fala do

locutor sobre o que é o enunciar, o descrever, o contar e o argumentar. Já o princípio de

organização é duplo para o modo descritivo, narrativo e argumentativo. O modo

enunciativo tem uma função particular na organização do discurso. Por um lado, sua

função principal é a de dar conta da posição do locutor com relação ao interlocutor, a si

mesmo e aos outros e por outro lado, intervêm na encenação de cada um dos outros três

modos de organização. Por esse motivo é possível dizer que o modo enunciativo

comanda os demais.

De acordo com Charaudeau (2008), os três modos de organização do discurso

contribuem igualmente para construir textos, contar o acontecimento testemunhando

uma experiência, argumentar demonstrando relações e descrever identificando e

qualificando seres.

Vejamos a seguir uma apresentação bastante resumida sobre cada um dos modos

de organização do discurso.

Sobre o modo de organização narrativo, o autor revela que três são os seus

componentes: (a) actantes, (b) processos e (c) seqüências.

Os actantes são aqueles que se ligam à ação, podem ser classificados sob o

ponto de vista de sua natureza - actante que age ou actante que sofre a ação - e sob o

ponto de vista de sua importância - actantes principais e secundários. O processo é uma

unidade de ação que, por sua correlação com outras ações, se transforma em função

narrativa. As funções narrativas estão em estreita relação com os papéis narrativos dos

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actantes, que se determinam reciprocamente. As seqüências integram processos e

actantes numa finalidade narrativa segundo certos princípios de organização: princípios

de coerência, de intencionalidade, de encadeamento e de localização.

Com relação ao modo de organização descritivo, Charaudeau (2008), afirma que

três são os seus componentes, ao mesmo tempo, autônomos e indissociáveis: (a)

nomear, (b) localizar-situar e (c) qualificar.

Nomear é dar existência a um ser através de uma dupla operação: perceber uma

diferença na continuidade do universo e simultaneamente relacionar essa diferença a

uma semelhança, o que constitui o princípio da classificação. Localizar-situar é

determinar o lugar que um ser ocupa no espaço e no tempo e também, atribuir

características a este ser na medida em que ele depende, para a sua razão de ser, de sua

posição espaço-temporal. Qualificar, assim como nomear, é reduzir a infinidade do

mundo, construindo classes e subclasses de seres.

Sobre o modo de organização argumentativo, destaca que, para que haja

argumentação é necessário que exista: (a) uma proposta sobre o mundo que provoque

um questionamento em alguém sobre a sua legitimidade, (b) um sujeito que se engaje

em relação a esse questionamento e que desenvolva um raciocínio para tentar

estabelecer uma verdade quanto a essa proposta e (c) um outro sujeito que, relacionado

com a mesma proposta, questionamento e verdade, constitua-se no alvo da

argumentação. Assim, a argumentação define-se numa relação triangular entre sujeito

argumentante, uma proposta sobre o mundo e um sujeito-alvo.

São pelo menos três os elementos que compõem a relação argumentativa: (a)

asserção de partida (premissa), (b) uma asserção de chegada (conclusão) e (c) uma ou

várias asserções de passagem que permite passar de uma a outra (inferência,

argumento).

Para Charaudeau (2008), o modo de organização enunciativo é uma categoria do

discurso que aponta para a maneira pela qual o sujeito falante age na encenação do ato

de comunicação. Desse modo, são três as funções do modo enunciativo: (a) estabelecer

uma relação de influência entre locutor e interlocutor num comportamento alocutivo, (b)

revelar o ponto de vista do locutor, num comportamento elocutivo e (c) retomar a fala

de um terceiro, num comportamento delocutivo. Já os seus procedimentos são de duas

ordens: (a) ordem lingüística, procedimentos que explicitam os diferentes tipos de

relações do ato enunciativo, através dos processos de modalização do enunciado e (b)

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ordem discursiva, procedimentos que contribuem para pôr em cena os outros modos de

organização do discurso (descritivo, narrativo e argumentativo).

Com base nas abordagens apresentadas, estipulamos como análise discursiva

para o corpus da presente pesquisa as seqüências discursivas que consideramos mais

pertinentes para o fenômeno estudado: a seqüência narrativa, a descritiva, a

argumentativa e a enunciativa13.

2.2.4 Gêneros textuais em análise

Como já afirmamos, acreditamos que a escolha das formas verbais de passado

também está condicionada por fatores discursivos, sendo assim, para verificar tal

hipótese, decidimos analisar dois gêneros textuais diferentes: a) entrevistas

sociolingüística, como amostra oral e b) notícias internacionais, como amostra escrita.

Segundo Back et al (2007), a seqüência discursiva tem se mostrado relevante em

diversos trabalhos que tratam da variação e mudança, especialmente no âmbito mais

discursivo e que tomam como amostra entrevistas sociolingüísticas14.

Sabendo que o controle dos gêneros textuais (e evidentemente das seqüências

discursivas) é um fator importante para o estudo da variação e mudança lingüística,

neste tópico, fazemos uma breve explanação sobre os dois gêneros que selecionamos

para a análise.

2.2.4.1 Entrevistas sociolingüísticas

De acordo com Back et al (2007), a constituição de uma amostra oral para a

análise da variação requer o uso de uma estratégia de coleta conhecida como entrevista

sociolingüística. Entrevistas sociolingüísticas são caracterizadas pela peculiaridade do

método, que visa a analisar a fala de uma comunidade, o uso lingüístico “espontâneo”.

Vimos nos tópicos anteriores que as seqüências discursivas compõem os mais

variados gêneros (notícia, crônica, cartas, memorandos, etc), perpassando-os e

organizando o discurso, o que pode inclusive caracterizar o próprio gênero. É o que

13 Para Charaudeau (2008), como vimos, tais seqüências são denominadas de modo de organização do discurso. 14 Também podemos incluir nesse tipo de amostra as notícias jornalísticas.

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parece ocorrer com as entrevistas sociolingüísticas, muitas vezes chamadas de

narrativas sociolingüísticas, por pressuporem um fio condutor estrutural de orações

narrativas (Back et al, 2007).

Segundo Schiffrin (apud: Back et al, 2007), as narrativas orais são o ambiente

ideal para o estudo da variação, principalmente no plano discursivo, visto que são

unidades naturalmente delimitadas do discurso, com uma estrutura interna regular,

propiciando uma análise controlada e sistematizada dos aspectos formais e funcionais

da variação. Constitui-se, assim, em um instrumento metodológico para coletar dados

de fala em situações comunicativas naturais e espontâneas visando a pesquisar

fenômenos que caracterizam a língua.

As entrevistas sociolingüísticas estão assentadas na seqüencialidade,

temporalidade e iconicidade, com relação aos fatos vividos, a partir da experiência

pessoal do entrevistado, evidenciando assim, o seu caráter cotidiano (Labov, apud:

Back et al, 2007). Além disso, estão constituídas por diferentes seqüências com as mais

variadas funções, e, entre elas, garantindo a seqüencialidade temporal.

Normalmente, em entrevistas, somente são validados os textos do informante

para descrições de fenômenos lingüísticos em variação. No entanto, consideramos na

nossa pesquisa, tanto a fala do informante quanto do entrevistador como objeto de

descrição e análise, uma vez que nos interessa, principalmente, o encadeamento do

turno de fala. Acreditamos que a fala do entrevistador possa influenciar na fala do

informante e na seleção do pretérito. Objetivamos verificar que seqüências textuais

condicionam a escolha da forma verbal de passado tanto pelos entrevistadores ao

direcionarem a entrevista quanto pelos informantes ao responderem o tópico

desenvolvido pelo entrevistador. Além disso, interessa-nos investigar que forma verbal

de passado (pretérito simples ou pretérito composto) tende ou não a se apresentar mais

sensível às seqüências discursivas, levando em conta o gênero textual selecionado.

2.2.4.2 Notícias internacionais

Com o avanço tecnológico, novos gêneros textuais surgiram, entre eles, a notícia

de jornais eletrônicos, tornando-se também uma amostra de corpus escrito atual e

relevante em diversos trabalhos que tratam da variação e mudança lingüística.

Um fator que nos interessa bastante nas notícias é a sua organização textual e

informacional, uma vez que ela está determinada pela novidade e relevância.

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De acordo com Fuentes Rodríguez (1999), a própria organização do texto já

supõe uma hierarquia informativa. A estrutura do texto depende da sua macroestrutura e

da sua superestrutura, ou seja, da divisão em parágrafos segundo os aspectos do tema

geral ou sub-tópicos (macroestrutura) e também do tipo de texto (superestrutura). No

entanto, isso supõe também uma organização determinada da informação, assim, cada

tipo ou gênero tem um modelo de apresentação da informação e nem todos os

parágrafos tem o mesmo peso informativo.

No caso das notícias jornalísticas, a ordem dos parágrafos é piramidal, em outras

palavras, a informação aparece de maior a menor importância. O título (também

chamado de manchete) expressa as notícias de maior peso. Utilizando a tipografia como

um modo de focalizar, chama a atenção dos leitores para o que se quer destacar.

Conforme o texto avança, aparece o subtítulo (conhecido também por lead), que

apresenta os dados que se consideram um pouco menos relevantes daqueles que

aparecem no título, funcionando, na verdade, como uma informação complementar

sobre o fato noticiado. Em seguida, temos o corpo do texto, ou seja, todo o desenrolar

do fato noticiado.

Segundo Fuentes Rodríguez (1999), uma característica do título é a sua

brevidade, a maneira objetiva com que aborda a notícia e geralmente os verbos

aparecem no tempo presente. No subtítulo, por outro lado, os verbos costumam aparecer

no tempo passado, de modo a indicar um fato que se concluiu (se o noticiado já ocorreu)

ou no futuro (se a notícia anuncia um fato que irá acontecer), assim como ocorre no

corpo do texto. Esse seria um dos traços marcantes dos tempos verbais no gênero

textual analisado, isso devido à forma incisiva com que os processos se repetem e se

impõem ao longo dos textos.

No entanto, acreditamos que a organização informativa do texto e a focalização,

assim como a seqüência discursiva, condicionam a escolha da forma verbal,

independentemente se esta aparece no título, no subtítulo ou no corpo do texto. Assim,

queremos investigar o uso dos pretéritos e o seu valor em cada uma das partes que

compõem a notícia.

Outro fator que acreditamos influenciar na seleção do pretérito simples ou do

composto nas notícias diz respeito ao papel das tradições discursivas, ponto que será

abordado no tópico que segue.

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2.2.5 O papel das tradições discursivas (TDs)

Assumimos com Kabatek (2008) que os textos têm história e que essa história

tem relevância na hora de escrever ou de falar, por isso é importante ter em conta as

tradições discursivas na descrição lingüística. Dessa maneira, antes de qualquer

discussão, faz-se necessário um breve estudo sobre o que vem a ser as tradições

discursivas e, sobretudo, a sua importância para o presente trabalho.

2.2.5.1 Origem das TDs

Sabemos que três foram os níveis de observação da língua propostos por

Coseriu: a) nível universal – o falar, antes de qualquer especificação das línguas; nível

histórico – as tradições históricas do falar, que valem para cada uma das comunidades

lingüísticas que se formaram historicamente e nível individual – ato de fala ou série de

atos de fala ligados entre si por um indivíduo em uma determinada situação de

comunicação (Koch, 1997).

No entanto, pelo fato de haver formas comunicativas recorrentes, tradicionais,

que devem ser diferenciadas das línguas históricas, ou seja, por existirem formas e

fórmulas tradicionais de textos que vão além das fronteiras das línguas históricas, Koch

(1997) sugere a duplicação do modelo de Coseriu no nível histórico. Dessa maneira,

tem-se de um lado, as línguas históricas (espanhol, português, francês, inglês, etc) e de

outro, as tradições de textos ou as tradições discursivas, englobando aspectos relativos

aos gêneros discursivos, literários, retóricos, atos de fala, etc.

No quadro abaixo temos a diferenciação dos níveis da linguagem proposta por

Koch (1997):

Nível Campo ou área Tipo de norma Tipos de regras

Universal Atividade do falar Normas do falar Regras do falar Línguas históricas Normas da língua Regras da língua

histórica

Histórico Tradições discursivas

Normas discursivas Regras discursivas

Individual Discurso ou texto - - Quadro 2: Os níveis da língua, segundo Koch (1997)

É importante destacar que aspectos relativos às tradições discursivas não estão

restritos ao texto, também podem ser encontrados na fonologia, na morfologia, na

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sintaxe e no léxico. Como exemplo, o autor cita o significado metafórico dos lexemas

que aparecem em cantigas de amor representando o conceito de amor do trovadorismo.

Esse significado não se encontra nos dicionários das línguas históricas, mas sim na

lírica do trovadorismo, presente em qualquer língua. Isso tudo não tem a ver com regras

da língua, trata-se, na verdade, de uma prática discursiva tradicional.

Koch (1997) reconhece assim, o domínio das tradições discursivas como uma

riqueza que, juntamente com os outros três níveis, integra o contínuo pelo qual se pode

fazer uma análise adequada da língua.

Kabatek (2006), baseando-se nos trabalhos de Koch (1997) e Oesterreicher

(1997), propõe o seguinte esquema para compreender a reduplicação do nível histórico

e, conseqüentemente, as tradições discursivas, (ver figura 2):

ENUNCIADO

Figura 2: Representação das tradições discursivas, segundo Kabatek (2006)

Kabatek (2006) sustenta a afirmação de que existem dois fatores no nível

histórico do falar, a língua como sistema gramatical e lexical e as tradições discursivas.

Em outras palavras, pode-se dizer que a atividade do falar, com uma finalidade

comunicativa concreta, atravessaria dois filtros até chegar ao ato comunicativo ou

enunciado: primeiro à língua e segundo às tradições discursivas.

Para o autor, além de atos de fala fundamentais (como a saudação, o

agradecimento, etc), as tradições discursivas também podem estar ligadas a finalidades

mais complexas exclusivas a determinadas culturas, como por exemplo, todas as

tradições escritas, restritas às culturas com escrita e dentro delas, tradições discursivas

ligadas a determinadas instituições, como por exemplo, os gêneros jurídicos.

É importante ressaltar que embora haja uma grande relação entre as tradições

discursivas e os gêneros textuais, não quer dizer que uma seja sinônimo da outra.

Vejamos no próximo tópico o que seria uma tradição discursiva.

FINALIDADE COMUNICATIVA

LÍNGUA (SISTEMA E NORMA) TRADIÇÃO DISCURSIVA

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2.2.5.2 Conceito e importância das TDs

De acordo com Kabatek (2006), o traço definidor das tradições discursivas é a

relação de um texto em um momento determinado da história com outro texto anterior:

uma relação temporal com repetição de algo. Esse “algo” pode ser a repetição total do

texto, mas também pode ser apenas a repetição parcial ou ainda a ausência total da

repetição concreta e unicamente a repetição de uma forma textual. Acrescenta que, se

por um lado uma tradição discursiva implica sempre a repetição de algo no tempo, o

contrário não é certo, uma vez que nem todas as repetições de algo são tradições

discursivas.

Um fator importante é que a tradição discursiva deve pertencer ao discurso, ou

seja, ficam excluídas todas as repetições não lingüísticas, além disso, mesmo no caso da

repetição de elementos lingüísticos, nem toda repetição forma uma tradição discursiva.

As repetições não são ainda tradições discursivas, mas são repetições que podem estar

intimamente ligadas a elas, ligadas mediante o que se chama evocação.

A relação de tradição de uma tradição discursiva apresenta duas faces: a TD em

si e a constelação discursiva que a evoca, segundo o esquema proposto pelo autor, em

que o eixo horizontal representa a evocação e o eixo vertical a repetição, ou seja, o

tempo entre os dois textos, (ver figura 3):

evocação

texto 1 situação 1

repetição repetição

texto 2 situação 2

evocação

Figura 3: Representação da evocação e da repetição: TDs (Kabatek, 2006)

Assim, uma definição para as tradições discursivas seria, segundo Kabatek

(2006), a repetição de um texto, de uma forma textual ou de uma maneira particular de

escrever ou falar que adquire valor de signo próprio. Pode-se formar em relação a

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qualquer finalidade de expressão ou qualquer elemento de conteúdo, cuja repetição

estabelece uma relação de união entre atualização e tradição; qualquer relação que se

pode estabelecer entre dois elementos de tradição que evocam uma determinada forma

textual ou determinados elementos lingüísticos empregados.

É importante ressaltar que uma tradição discursiva é mais do que um simples

enunciado, é um ato lingüístico que relaciona um texto com uma realidade, uma

situação, etc, mas também relaciona esse texto com outros textos da mesma tradição.

Além disso, uma tradição discursiva não é sempre um texto repetido da mesma maneira,

pode ser também uma forma textual ou uma combinação particular de elementos.

Uma das aplicações das tradições discursivas é sua relação com a gramática

histórica. Quando se estuda a história de uma língua, o que se estuda na verdade não é a

língua, mas sim textos de diferentes épocas, textos que parecem representativos dos

respectivos estágios de língua. Assim, o que se estuda é a história dessa tradição

discursiva.

A inovação se dá, geralmente, em um texto determinado, um texto que pertence

a uma tradição discursiva, a partir daí a inovação pode generalizar-se nessa tradição,

mas ainda não é geral na língua, para que isso ocorra é necessária a adoção da inovação

em outras tradições. E assim como a inovação pode se localizar em um texto e uma

tradição concreta, também a perda de elementos não é geral e repentina em toda a

língua, mas que começa em algumas tradições até, talvez, atingir todas. Porém, os

elementos ficam fossilizados durante muito tempo em algumas tradições antes de seu

total desaparecimento.

Para a teoria da mudança lingüística, é imprescindível ter em conta a

importância da relação entre tradições discursivas e evolução da língua. Sabendo-se que

a tradição discursiva pode “frear” ou “acelerar” mudanças lingüísticas, em outras

palavras, que determinados tipos de textos exigem a manutenção ou não de certas

fórmulas ou seleção de variedades, interessa-nos verificar com o nosso corpus

constituído por dois gêneros textuais diferentes (entrevistas sociolingüísticas e notícias

internacionais), se estes exigem e / ou condicionam a manutenção ou não das diferentes

formas verbais de passado em análise (os pretéritos simples e composto). Assim, ao

seguir os passos do modelo de traduções discursivas, procuramos enumerar os

condicionamentos que possam atuar para o uso de uma ou outra forma de passado no

espanhol de três centros urbanos (a saber Madri, Cidade do México e Buenos Aires),

por acreditarmos que os usos estão marcados também pelos contextos textuais.

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2.3 Semântica e Pragmática dos pretéritos

2.3.1 O valor temporal (definindo conceito)

A expressão do tempo é um tema de grande complexidade. Muito já se disse

sobre o assunto e, no entanto, ainda há muita controvérsia sobre a sua conceituação.

De acordo com Comrie (1976), há uma confusão tradicional entre os conceitos

de tempo (tense) e aspecto (aspect). No entanto, o autor propõe uma diferenciação para

tais conceitos. O tempo verbal (tense) seria uma expressão gramaticalizada de

localização no tempo que normalmente relaciona o tempo da situação ao momento da

fala.

Embora nem todas as línguas diferenciem as noções de tempo, ou seja, embora

a organização do sistema verbal seja diferente, os tempos comuns encontrados na

maioria das línguas são o presente (a situação descrita no tempo presente é localizada

temporalmente como simultânea ao momento da fala), o passado (a situação descrita no

tempo passado é localizada como anterior ao momento da fala) e o futuro (a situação

descrita no tempo futuro é localizada como posterior ao momento da fala):

⏐ ⏐ ⏐

Passado Presente Futuro

(o momento anterior à fala) (o momento da fala) (o momento posterior à fala)

Pelo fato do tempo verbal (tense) localizar situações no tempo, pode ser

descrito como uma categoria dêitica.

Segundo Benveniste (apud: Fonseca, 2006), o único tempo inerente à língua é

o presente. Tal presente é o que vai determinar duas outras referências temporais, o que

não é mais presente (o passado) e o que vai sê-lo (o futuro). Essas duas referências não

se relacionam ao tempo, mas às visões sobre o tempo, projetadas para trás e para frente

a partir do ponto presente. Sendo assim, pode-se dizer que todos os tempos estão

intrinsecamente relacionados à enunciação.

No entanto, essa divisão do tempo verbal (em passado, presente e futuro) não é

igual ao tempo cronológico. Ainda citando o autor, uma coisa é situar um

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acontecimento no tempo cronológico e outra é inseri-lo no tempo da língua, isto é, as

línguas organizam o tempo de forma diferente, nem sempre coincidentes entre elas.

De acordo com Reinchbach (apud: Fonseca, 2006), além da anterioridade e da

posterioridade de uma situação, há ainda o tempo de referência, que não precisa,

necessariamente, ser coincidente com o tempo da referência. Por meio dessa distinção, o

narrador pode levar o ouvinte a um tempo de referência que não precisa ser o momento

em que a situação ocorreu, ocorre ou ocorrerá.

A combinação dos tempos verbais com os tempos de referência faz surgir,

então, tempos de evento coincidentes que divergem no tempo de referência como

ocorre, por exemplo, nos pretéritos simples e composto.

A oposição entre tais pretéritos seria coincidente no que tange ao tempo do

evento (passado), mas diferem no que tange ao tempo de referência, pois enquanto o

tempo simples tem, ao menos em termos gerais, o tempo de referência coincidente com

o tempo do evento, o tempo composto tem o tempo de referência coincidente com o

presente, o momento da enunciação (Fonseca, 2006).

A partir da análise do nosso corpus, objetivamos verificar se tal pressuposto é

realmente procedente ou se há, como nos parece, outros fatores que condicionam a

eleição de uma das formas de passado no momento da enunciação. Acreditamos que a

maneira como um evento será narrado, ou seja, a escolha de uma referência dentro do

passado, do presente ou do futuro, depende do ponto de vista do falante, da sua intenção

comunicativa. Dessa maneira, fica claro que a noção de referência introduz a questão

pragmática no estudo do tempo.

2.3.2 O valor aspectual (definindo conceito)

Assim como ocorre com o conceito de tempo, ainda há muita controvérsia

sobre a definição de aspecto.

De acordo com Cohen (1993), as definições mais correntes de aspecto ilustram

duas concepções nem sempre claramente expressas e que, às vezes, nos mesmos

autores, misturam-se uma com a outra dando lugar a uma oscilação enganosa. A

primeira reconhece como aspectual tudo o que no verbo não revela tempo situado. A

segunda, tudo o que em um verbo implica a noção de duração de um processo.

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De acordo com o conceito proposto por Comrie (1976), que é tomado como

referência e tem bastante difusão entre os lingüistas, o aspecto (aspect) são os diferentes

modos de ver a constituição temporal interna de uma situação.

Enquanto o tempo (tense) se ocupa da localização de um evento no tempo, o

aspecto (aspect) trata da constituição interna desse evento, independentemente do

tempo. Em poucas palavras, tem-se a seguinte relação:

Tempo (tense): situação externa

Aspecto (aspect): situação interna

Assim, o tempo é marcado pelo momento da enunciação, instaurando um

presente que dá origem ao passado e ao futuro. Já o aspecto, depende do ponto de vista

do falante que narra uma situação. De acordo com Smith (apud: Fonseca, 2006), o

aspecto é então flexível, uma vez que ele muda dependendo de como o narrador

descreve as situações que concorrem entre si formando um texto.

O aspecto divide-se, ainda, em perfectivo e imperfectivo. É perfectivo quando

um evento é visto por inteiro, como acabado (o perfectivo vê a situação de fora, sem

necessariamente distinguir a estrutura interna da situação) e é imperfectivo quando um

evento é visto como inacabado (o imperfectivo vê a situação de dentro e preocupa-se

com a estrutura interna da situação). Resumidamente, tem-se:

Aspecto Perfectivo: ponto de vista externo à situação

Aspecto Imperfectivo: ponto de vista interno do evento

Ambos os aspectos podem aparecer ou não na morfologia do verbo. Michaelis

(apud: Fonseca, 2006), afirma que enquanto a categoria aspectual é universal e inata, o

valor de cada par forma-significado é ao mesmo tempo particular de cada língua e

altamente específico.

Talvez não seja um equívoco dizer que o valor do par forma-significado, mais

do que ser particular de cada língua, é particular de cada variante de uma língua, pelo

menos com relação aos pretéritos simples e composto, uma vez que o valor temporal e

também o aspectual atribuídos a cada um dos passados não é o mesmo nas diferentes

áreas geoletais do espanhol.

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Resumindo, então, as idéias de Comrie (1976), tanto o tempo (tense) quanto o

aspecto (aspect) apresentam uma relação com o tempo, no entanto, são relações

diferentes. O primeiro, tense, é uma categoria dêitica, localiza situações no tempo e,

embora também possa se referir a outras situações, normalmente se refere ao momento

presente. O segundo, aspect, não está preocupado em relacionar o tempo da situação a

nenhum outro ponto no tempo, mas sim em relacionar a estrutura interna da situação a

uma situação.

É importante ressaltar que a categoria de aspecto não está presente apenas nos

verbos, mas também nos substantivos, adjetivos, além de alguns advérbios e outras

formulações que expressam tempo, chamadas de “circunstanciais temporais” por Costa

(2002).

Apresentamos nos próximos tópicos uma abordagem sobre o caráter semântico

presente nos verbos e nas circunstâncias temporais.

2.3.3 Os tipos de verbo (o valor semântico)

Segundo Halliday (1997), existem seis tipos de processos verbais: materiais,

mentais, relacionais, verbais, comportamentais e existenciais. A cada um desses

processos associam-se participantes específicos determinados pela semântica dos tipos

dos processos e circunstâncias variadas para expressar informações adicionais, mas

relevantes ao evento discursivo.

Processos são os elementos responsáveis por codificar ações, eventos,

estabelecer relações, exprimir idéias e sentimentos, construir o dizer e o existir e

realizam-se por meio de verbos ou sintagmas verbais. Participantes são os elementos

envolvidos com os processos, de forma obrigatória ou não e realizam-se através de SN.

Circunstâncias são as informações adicionais atribuídas aos diferentes processos, que se

realizam por meio de advérbios ou sintagmas adverbiais.

Não vamos nos aprofundar nessa questão que Halliday (1997) faz do sistema de

transitividade segundo a lingüística sistêmico-funcional. O que nos interessa desse

estudo é a classificação dos verbos - os processos - uma vez que acreditamos que,

dependendo do tipo de verbo, este pode ser um fator que influencie na escolha das

formas verbais de passado.

Nessa construção dos conteúdos a partir do sistema de transitividade, podemos

dividir os verbos em três tipos de processos tidos como principais: os materiais, os

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mentais e os relacionais; e três tidos como secundários: os comportamentais, os verbais

e os existenciais. Vejamos cada um deles, resumidamente.

Os processos materiais são aqueles por meio dos quais uma entidade faz algo,

são processos do fazer que constituem ações de mudanças externas, físicas e

perceptíveis. São representados por verbos como nadar, telefonar, ler, comprar, etc.

Outro tipo de processo classificado entre os principais é o mental. Processos

mentais lidam com a apreciação humana do mundo. Através da sua análise é possível

detectar que crenças, valores e desejos estão representados em um dado texto. São os

processos do sentir, os quais incluem processos de percepção (como ver, ouvir,

perceber, etc), de afeição (gostar, amar, odiar, assustar, agradar, etc) e de cognição

(pensar, saber, compreender, imaginar, etc). Esses tipos de verbo não tratam de ação

propriamente dita, mas de reações mentais, de pensamentos, sentimentos e percepções.

Os processos relacionais são aqueles que estabelecem uma conexão entre

entidades, identificando-as ou classificando-as, na medida em que associam um

fragmento da experiência a outros (por exemplo, o verbo ser). Essa relação pode

denotar intensidade, circunstância e possessividade.

Os processos comportamentais, pertencentes ao grupo dos processos

secundários, estão situados entre os processos materiais e mentais. São os responsáveis

pela construção de comportamentos humanos, incluindo atividades psicológicas como

ouvir e assistir, atividades fisiológicas como respirar, dormir e verbais como

conversar, fofocar.

Os processos verbais referem-se aos verbos que expressam o dizer, são os

processos do comunicar, do apontar. Situam-se entre os relacionais e os mentais,

configurando relações simbólicas construídas na mente e expressas em forma de

linguagem. Alguns exemplos seriam os verbos contar, falar, perguntar, etc.

Por último, os processos existenciais. Representam algo que existe ou acontecem

e se constroem com apenas um participante. São realizados pelos verbos haver e existir.

O quadro abaixo sintetiza os tipos de processo e a significação de cada um:

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Processo

Significado

Material fazer, acontecer Mental sentir

Relacional ser Comportamental comportar-se

Verbal dizer Existencial existir

Quadro 3: Processos e seus significados, segundo Halliday (1997)

Abordada uma classificação para os verbos, de acordo com Halliday (1997),

passemos agora a uma classificação para as circunstâncias temporais, segundo Costa

(2002).

2.3.4 O valor das circunstâncias temporais

Tradicionalmente as circunstâncias temporais referentes à língua espanhola são

separadas em dois blocos: a) circunstâncias que incluem o momento presente, como

hoy, ya, nunca, esta semana, este año, todavía no, últimamente... e b) circunstâncias que

excluem o momento presente, como ayer, anteayer, la semana pasada, anoche, en

1980... No entanto, aqui será apresentada uma nova classificação, a qual seguimos no

decorrer do trabalho.

Costa (2002) denomina de circunstanciais temporais os elementos que são

tradicionalmente rotulados de advérbios, locuções adverbiais, conjunções e formulações

oracionais que servem para expressar o tempo. Neste trabalho, apenas por uma questão

de nomenclatura, optou-se por denominar tais expressões como circunstâncias

temporais.

De acordo com a autora, a marca aspectual nas circunstâncias temporais está

presente no item lexical e, mais do que as demais classes de palavras, merecem uma

atenção especial, não apenas devido ao seu conteúdo aspectual intrínseco, mas também

devido ao valor aspectual que trazem à forma verbal com que co-ocorrem ou à frase em

que se inserem.

Sendo assim, combinando categorizações sugeridas por Vlach (1981) e Nef

(1981) e acrescentando outras divisões, Costa (2002) apresenta uma proposta de

classificação para as circunstâncias temporais em cinco tipos: a) temporais

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propriamente ditas, b) pontuais, c) de freqüência, d) durativas e e) circunstâncias de

ordenação temporal.

As circunstâncias temporais propriamente ditas seriam as que marcam apenas o

momento cronológico da ocorrência do fato verbal, ou da fase do processo ou do estado

referido, quer em relação direta com o ponto de referência dêitica, quer em relação com

outros momentos cronológicos já considerados no discurso. Embora não expressem

sozinhas a imperfectividade, já que expressam o momento globalmente considerado,

podem aparecer em frases cuja forma verbal é expressa no imperfectivo. Alguns

exemplos de tais circunstâncias seriam: futuramente, em agosto, hoje em dia, sexta-feira

passada, há uma semana atrás, agora, depois de...

As circunstâncias temporais pontuais, por outro lado, expressam uma

ocorrência momentânea, o que impede, geralmente, a imperfectivização. Tem-se como

exemplos: de repente e logo.

As circunstâncias temporais de freqüência marcam a periodicidade e

regularidade das ocorrências expressas pelo fato verbal. No entanto, a autora chama a

atenção para o fato de que a repetição em si, assim como a habitualidade, não deve ser

considerada como uma possibilidade aspectual, em essência, pois a avaliação aspectual

stricto sensu só pode ser estabelecida sobre um fato verbal singular15. Circunstâncias

como de novo e novamente expressam mera repetição, o que não chega a se constituir

em iteração (a autora não considerou a hipótese de imperfectividade como possibilidade

expressiva para os casos encontrados). Já circunstâncias como periodicamente,

semanalmente e a cada dia inserem-se mais caracteristicamente na iteração (podem ser

compatíveis tanto com a escolha do perfectivo quanto do imperfectivo). A circunstância

sempre, incluída na área da habitualidade, tem um valor aspectual perfectivo. No

entanto, a habitualidade, assim como a iteração, não é em si um valor aspectual, embora

possam ser vistos como um processo em desenvolvimento.

As circunstâncias temporais durativas seriam as únicas capazes de expressar a

imperfectividade por si sós, ora acompanham uma forma verbal imperfectiva, ora

imperfectivizam uma forma verbal referida perfectivamente. Tais circunstâncias

explicitam o período compreendido pelo desenvolvimento do fato verbal. Algumas

como até hoje, desde dezembro do ano passado, o dia todo, de um certo tempo pra cá,

há meia hora marcam esse período estabelecendo-lhe limite. Outras como a longo

15 Ainda assim, afirma que, o falante pode considerar uma repetição de ações como um processo tomado na sua totalidade, funcionando cada ocorrência do fato verbal como uma fase do processo.

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60

prazo, mais tempo, por algum tempo, à medida que, enquanto fazem referência a um

lapso temporal que imperfectiviza o fato verbal, mas sem estabelecer-lhes limites.

Há ainda uma quinta classificação para as circunstâncias temporais, mas por

apresentarem certas peculiaridades, Costa (2002) prefere tratá-las separadamente. São

as chamadas circunstâncias de ordenação temporal.

Para a autora, as expressões como já, ainda, já não e ainda não funcionam

como elementos ordenadores das ações, visto que informam sobre o seu desenrolar na

direção de um fim que se coloca, desde o primeiro momento, como a expectativa

desejada. Em outras palavras, a presença dessas circunstâncias temporais indica que o

fato verbal referido na frase está tratado dentro de um fragmento de tempo que se

encaminha para um fim determinado ou determinável, se se analisa o discurso.

Ainda de acordo com Costa (2002), a circunstância ainda indica um processo

que se desenvolve ou um estado que se mantém, é portanto, um marcador de

imperfectividade. Por outro lado, o já, que indica alteração, não imperfectiviza o fato

verbal com que co-ocorre, mas indica que ele deve ser observado, junto com outros

fatos, dentro de um lapso temporal. O ainda não, que nega o já, e portanto, nega a

mudança, também indica manutenção, e o já não que nega o ainda, nega a manutenção,

sem nada informar sobre o que ocorre depois.

Com base nessa breve apresentação de uma classificação para as circunstâncias

temporais, nota-se a importância do valor semântico presente nas mesmas. Sendo assim,

objetivamos verificar se influenciam na escolha das duas formas verbais de passado

estudadas.

2.3.5 O valor pragmático dos pretéritos (a intencionalidade)

Diversos estudos apontam que a eleição da forma simples ou composta

também parece estar influenciada pelo tipo de objetivo discursivo. A partir a teoria de

Weinrich (1968) sobre os verbos do mundo narrado e os verbos do mundo comentado,

muitos autores associam o pretérito simples à narração e o pretérito composto ao

comentário. Vejamos o porquê dessa associação.

Os verbos do mundo narrado são aqueles pelos quais o falante só transmite as

situações sem marcas pessoais, mostrando um perfil mais geral do evento, enquanto que

os verbos do mundo comentado são aqueles pelos quais o falante transmite as situações

mantendo um certo comprometimento com as mesmas.

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Segundo Hurtado González (1998), o pretérito simples possui um significado

desligado de qualquer relação com o momento em que falamos, ou seja, por si mesmo

não indica conexão com o presente. É precisamente por essa significação que é

considerado como a forma verbal mais adequada para a narração, já que marca

seqüências de ações ocorridas no passado que fazem com que a história avance. Por

outro lado, nos relatos, não costuma aparecer o pretérito composto. Isso significa que a

freqüência de uso de cada uma dessas formas estaria condicionada pelo registro e pelo

tipo de texto.

Henderson em seu artigo sobre os aspectos semânticos-pragmáticos e

discursivos do pretérito perfeito composto16, afirma que há uma mútua neutralização

dos componentes da forma composta, ou seja, do verbo auxiliar haber e o particípio

passado do verbo principal, o que faz com que seja possível a referência a situações

perfectivas temporalmente indeterminadas, das que podem surgir inferências sem a

necessidade de fazer afirmações temporais muito definidas. Esse seria, para o autor, o

significado básico do pretérito composto.

Assim, o valor de comentário que em alguns casos o composto parece

transmitir em contraste com o valor de narração do pretérito simples pode ser explicado

como conseqüências pragmático-discursivas do significado básico da forma composta.

De acordo com o autor, o significado básico do composto habilita o falante para

introduzir alguns elementos de emotividade, solenidade e formalidade não

personalizada.

Ainda segundo Henderson, os fatores que favorecem o uso do pretérito simples

ou do composto são, na maioria dos casos, escolhas que o falante faz dependendo de

seus objetivos discursivos, o que converte cada escolha em um ato individual e

intransferível.

Para Hurtado González (1998), o falante pode expressar com a forma composta

a sua emoção e subjetividade, por isso acredita que certos fatores expressivos podem

influenciar na escolha dessa forma verbal. Acrescenta que a valorização por parte do

falante da relação entre o ato de fala e acontecimentos envolve uma questão pragmática.

16 HENDERSON, Carlos. Aspectos semánticos pragmáticos y discursivos del Pretérito Perfecto Compuesto. Lingüística española y portuguesa. Stockholms Universitet.

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2.3.6 A hot news perfect

Segundo Detges (2001), enunciados sobre eventos passados dotados de um alto

grau de relevância atual são considerados sumamente informativos. Do ponto de vista

pragmático, tais acontecimentos merecem ser enunciados e escutados em um grau mais

alto do que ações carentes desse traço. Cada falante, ao enunciar eventos desse tipo

valorizará a sua própria posição de locutor frente a seus interlocutores. Essa situação

representaria um forte incentivo à utilização da forma composta, inclusive nos casos em

que esta não é requerida pelos traços temporais objetivos dos eventos referidos.

Vimos no tópico 2.1.2, segundo o mesmo autor, que a linguagem jornalística

apresenta uma estratégia discursiva característica conhecida como hot news perfect17,

cuja função consiste em apresentar os fatos passados como surpreendentes, destacando a

informação mais relevante, e conseqüentemente, despertando a atenção do leitor. Essa

situação propiciaria a utilização da construção perifrástica, ou seja, o uso do pretérito

composto.

Na língua falada, o pretérito composto também pode ser encontrado marcando

passagens inteiras, inclusive narrativas. Embora a forma composta, nesse caso, marque

uma sucessão narrativa de ações pontuais, não é usada como tempo aorístico verdadeiro,

na verdade, conserva o seu efeito retórico particular, ou seja, um valor enfático,

destinado a destacar os eventos referidos.

No entanto, a forma gramatical que expressa fatos passados com relevância atual

irá perdendo esse traço à medida que é utilizada de maneira habitual para fazer

referência a fatos carentes de toda relevância particular.

Então, se voltarmos ao esquema proposto por Harris (1982), na página 29,

podemos dizer que esse seria o uso do pretérito composto que corresponde à etapa 4, ou

seja, à etapa mais avançada, em que as perífrases denotam ações pontuais ocorridas no

passado e que, no entanto, não guardam relação especial com o momento da fala. Em

outras palavras, estamos diante de um avanço da forma composta sobre a simples, o que

resultaria em uma variação e mudança lingüística.

Concluímos dizendo que toda a abordagem teórica que levantamos para o

tratamento da variação das formas de pretéritos simples e composto fundamenta o nosso

estudo e as nossas hipóteses de que os gêneros textuais, a seqüência discursiva, a

17 Essa estratégia foi demonstrada por McCawley (1971).

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organização discursiva, as tradições discursivas, o tempo, o aspecto, os tipos de verbo,

as circunstâncias temporais e a intencionalidade são fatores que podem condicionar ou

inibir a distribuição das formas verbais de passado nos três centros urbanos

selecionados (Madri, Cidade do México e Buenos Aires), como veremos no capítulo 4.

Esse condicionamento ou inibição dos fatores na distribuição dos pretéritos

pode ser visto como um caso de variação e mudança lingüística. Retomando o que diz

Brandão (1991), o falante utiliza a língua de acordo com uma tradição que lhe foi

transmitida e contribui para a sua renovação e constante transformação.

No caso dos pretéritos, essa renovação e constante transformação podem ser

vistas, por exemplo, no uso da forma composta. Embora seja a mesma forma, apresenta

usos diferentes em Madri e em Buenos Aires, por exemplo.

A própria evolução do sistema verbal (a substituição de CANTĀVĪ por

HABEŌ CANTĀTUM) deixa clara essa variação, evidenciando como uma forma nova

(a composta) e outra conservadora (a simples) coexistem no falante. A forma composta

foi invadindo os contextos da simples e nas diferentes áreas geoletais apresentou

velocidades diferentes de inovação.

Voltando ao postulado de Labov (1994) sobre a mudança lingüística, ele afirma

que há pelo menos duas hipóteses para a implantação estrutural da mudança, pressupõe

que: (a) a variante inovadora se instala imediatamente em todos os seus possíveis

contextos e progride a uma taxa constante ou (b) a forma inovadora vai gradativamente

ampliando seus contextos até a sua consecução.

As duas hipóteses se enquadram perfeitamente na explicação do continuum de

variação e mudança dos pretéritos. No caso dos pretéritos, tudo nos leva a crer, levando

em conta a sua evolução histórica, que a forma composta na variante castelhana se

instalou em todos os contextos e, como se trata de um processo contínuo, progride

constantemente entrando, inclusive, em contextos da forma simples. Já nas variantes

mexicana e argentina, a forma composta foi gradativamente ampliando seus contextos

até a sua consecução, sendo que a forma simples mostrou um comportamento mais

conservador, o que resultou em usos mais restritos da forma composta.

Em suma, enquanto que na variante castelhana, a forma composta apresenta

uma alta produtividade, nas variantes mexicana e argentina, a sua freqüência é bastante

menor, o que evidencia diferentes etapas de variação e mudança lingüística. Embora o

composto não se use com muita produtividade, não podemos dizer que é uma forma que

está desaparecendo, visto que apresenta a mesma vitalidade que a forma simples, mas

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em situações mais restritas. Sendo uma forma menos freqüente, torna-se,

conseqüentemente, uma forma mais marcada e os seus diferentes valores de uso

merecem a nossa atenção.

Passemos, então, aos procedimentos para a análise das nossas amostras.

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3. ENFOQUE METODOLÓGICO

3.1 Corpus

Para estudar o fenômeno de variação e mudança lingüística das formas verbais

de passado (pretéritos simples e composto) no espanhol de Madri, da Cidade do México

e de Buenos Aires, recorremos a dois gêneros textuais diferentes: a) notícias

internacionais online, como amostra de língua escrita e b) entrevistas sociolingüísticas

transcritas, como amostra de língua oral, para compor o nosso corpus.

As notícias internacionais online, que constituem as amostras de corpus escrito,

são notícias atuais que tratam sobre um mesmo acontecimento e que tiveram

repercussão mundial na mesma época. Contamos com um total de 15 notícias, 5 para

cada centro urbano estudado. Foram selecionadas no período compreendido entre

novembro de 2007 a março de 2008.

As fontes que utilizamos para selecionar tais notícias são os periódicos

eletrônicos: a) El País, para Madri, c) El Universal, para a Cidade do México e c) La

Nación, para Buenos Aires18.

É importante ressaltar que determinamos que as notícias internacionais

deveriam ser sobre um mesmo acontecimento e que tivessem sido publicadas em tempo

coincidente, uma vez que nos interessa(va) verificar a organização informativa, ou seja,

como o jornal de cada capital representante de diferentes variantes geoletais apresentou

a notícia, como utilizou os pretéritos. No entanto, pelo fato de selecionarmos o mesmo

acontecimento, em alguns casos, tivemos a ausência total de pretérito simples e / ou

composto em uma e outra notícia.

Vejamos as manchetes das notícias internacionais online sob análise:

18 El País (http://www.elpais.es/), El Universal (http://www.wl-universal.com.mx/), La Nación (http://www.lanacion.com.ar/), para Madri, Cidade do México e Buenos Aires, respectivamente.

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Notícia internacional 1 (consulta em 04 de novembro de 2007)

Llegan a Madrid las cuatro azafatas liberadas en Chad (“El País”, Madri)

Liberan a azafatas españolas retenidas en Chad (“El Universal”, Cidade do México)

Chad: quedan en libertad siete detenidos por tráfico de niños (“La Nación”, Buenos Aires)

Notícia internacional 2 (consulta em 16 de dezembro de 2007)

Cazas F-16 turcos bombardean bases de la guerrilla del PKK en el norte de Irak (“El País”, Madri)

Atacan aviones turcos blancos curdos en Irak (“El Universal”, Cidade do México)

Turquía atacó el norte de Irak (“La Nación”, Buenos Aires)

Notícia internacional 3 (consulta em 16 de dezembro de 2007)

Cuatro regiones de Bolivia desafían Morales al declarar su autonomía (“El País”, Madri)

Declara Santa Cruz autonomía de facto en Bolivia (“El Universal”, Cidade do México)

Bolivia, cada vez más cerca de la fractura (“La Nación”, Buenos Aires)

Notícia internacional 4 (consulta em 17 de fevereiro de 2008)

Kosovo es independiente (“El País”, Madri)

Declara Kosovo su independencia (“El Universal”, Cidade do México)

Kosovo declaró su independencia (“La Nación”, Buenos Aires)

Notícia internacional 5 (consulta em 2 de março de 2008)

Medvédev garantiza una política continuista al suceder a Putin como presidente de Rusia

(“El País”, Madri)

Confirman primeros resultados triunfo de Medvedev, delfín de Putín, en Rusia (“El Universal”, Cidade do México)

Rusia: Medvedev arrasó en las elecciones presidenciales (“La Nación”, Buenos Aires)

Quadro 4: Notícias internacionais online

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No que diz respeito ao corpus oral, está constituído por entrevistas

sociolingüísticas transcritas que fazem parte do Macrocorpus da Norma Lingüística

Culta das Principais Cidades do Mundo Hispânico19, que visa a analisar a fala dos

centros urbanos, o uso lingüístico “espontâneo”.

As amostras do corpus oral foram as que tivemos acesso durante a Iniciação

Científica. Embora sejam entrevistas dos anos 70, nossos dados se prestam a um dos

objetivos principais desse trabalho que é testar as nossas hipóteses e encontrar outros

fatores que determinam a alternância dos pretéritos e que não estão contemplados nas

descrições gramaticais ou didáticas disponíveis sobre o tema.

Contamos, então, com um total de 3 entrevistas transcritas, de

aproximadamente meia hora de duração com intervenção do entrevistador, uma para cada

centro urbano. O ideal talvez teria sido analisar mais entrevistas, no entanto, devido à

quantidade de dados encontrada nas três entrevistas e à quantidade de fatores que

selecionamos para a pesquisa, optamos por aprofundar uma análise mais qualitativa.

No quadro abaixo, temos uma descrição dos informantes:

Madri: Mulher de 26 anos (Neurologista)

Cidade do México:

Homem de 25 anos (Engenheiro químico)

Buenos Aires: Homem de 35 anos (Advogado e professor universitário)

Quadro 5: Entrevistas sociolingüísticas transcritas (Informantes)

Devemos destacar que, tanto a fala do informante quanto a do entrevistador são

tomadas como objeto de descrição e análise. Optamos por considerar também a fala do

entrevistador porque nos interessa analisar os turnos de fala. Além disso, assim como o

informante, o entrevistador é falante do centro urbano que selecionamos e há uma alta

freqüência do fenômeno analisado na sua fala, como se vê no trecho que segue:

19 SAMPER PADILLA, José Antonio et alli. Macrocorpus de la norma lingüística culta de las principales ciudades del mundo hispánico. Universidad de Las Palmas de Gran Canaria. Asociación de Lingüística y Filología de América Latina. 1997.

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Entr.: ¿Hay alguna parte de España que no conoció? Inf.: Bueno, estuve en pu... conocí solamente Sevilla, Madrid y Barcelona. Iría a Londres para volver a apreciar ese colosal fenómeno sociológico que se da en este momento. Esté... Entr.: ¿Usted lo palpó, lo vio un poco?

(Entrevista - Buenos Aires)

Tanto as amostras das entrevistas sociolingüísticas quanto das notícias

internacionais constituem amostras representativas e confiáveis para o fenômeno

estudado da língua em uso.

Apresentamos uma análise quantitativa da distribuição dos pretéritos simples e

composto em cada amostra dos três centros urbanos, ver quadro 6:

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Corpus escrito:

Notícias internacionais (15)

Notícia 1: Madri PS: 12 PC: 13

Cidade do México PS: 10 PC: 1

Buenos Aires PS: 17 PC: 3

Notícia 2: Madri PS: 2

PC: 16

Cidade do México PS: 7 PC: 0

Buenos Aires PS: 11 PC: 0

Notícia 3: Madri PS: 12 PC: 0

Cidade do México PS: 7 PC: 1

Buenos Aires PS: 50 PC: 0

Notícia 4: Madri PS: 8 PC: 7

Cidade do México PS: 22 PC: 0

Buenos Aires PS: 19 PC: 1

Notícia 5: Madri PS: 11 PC: 23

Cidade do México PS: 7 PC: 1

Buenos Aires PS: 45 PC: 4

Total:

PS: 45 PC: 59

PS: 53 PC: 3

PS: 142 PC: 8

PS: 240 PC: 70

(310 ocorrências)

Corpus oral: Entrevistas sociolingüísticas (3)

Madri PS: 24 PC: 65

Cidade do México PS: 31 PC: 13

Buenos Aires PS: 65 PC: 17

Total: PS: 120 PC: 95

(215 ocorrências) Total de PS e PC:

PS: 360 PC: 165

525 ocorrências

Quadro 6: Total de ocorrências de pretéritos no corpus

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Apresentamos, a seguir, o grupo de fatores que selecionamos para a análise das

525 ocorrências de formas verbais de passado (360 ocorrências de pretérito simples: 240

para as notícias e 120 para as entrevistas - 165 ocorrências de pretérito composto: 70

para as notícias e 95 para as entrevistas) e, mais adiante, o porquê da sua seleção.

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3.2 Grupo de fatores controlados

As ocorrências de pretéritos simples e composto encontradas nas amostras de

corpus escrito (notícias internacionais online) e de corpus oral (entrevistas

sociolingüísticas transcritas) representantes do espanhol de Madri, da Cidade do México

e de Buenos Aires são analisadas a partir de fatores semântico-pragmáticos, sintáticos e

discursivos. Dessa maneira, propomos uma análise da nossa variável dependente (os

pretéritos) em função de doze variáveis independentes (1 variável extralingüística – os

três centros urbanos e 11 variáveis lingüísticas – gênero textual, organização discursiva,

seqüência discursiva, circunstância temporal, polaridade, posição da circunstância

temporal, subordinação, temporalidade, aspecto, tipos de verbo e sujeito).

Para essa análise quantitativa, utilizamos o programa Goldvarb (2001). Cada

ocorrência da nossa variável dependente encontrada recebeu códigos que representam o

seu comportamento em função das variáveis independentes (ou grupo de fatores)

estabelecidas.

Abaixo, temos, primeiramente, a lista das variáveis que selecionamos e em

seguida, um exemplo de codificação:

I) VARIÁVEL DEPENDENTE: Tempo verbal S - Simples C - Composto II) VARIÁVEIS INDEPENDENTES: (Extralingüística) 1) Centro urbano M - Madri C - Cidade do México B - Buenos Aires (Lingüísticas) 2) Gênero textual E - Entrevista sociolingüística I - Notícia internacional

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3) Organização discursiva Entrevista: E - Entrevistador I - Informante Notícia internacional: M - Manchete L - Lead N - Corpo da notícia 4) Seqüência discursiva N - Narrativa D - Descritiva A - Argumentativa E - Enunciativa 5) Circunstância temporal 1 - Circunstância de localização temporal 2 - Circunstância pontual 3 - Circunstância de freqüência 4 - Circunstância durativa 5 - Circunstância de ordenação temporal (/) - Não se aplica 6) Polaridade N - Negativa P - Positiva 7) Posição da circunstância temporal A - Anteposta ao verbo P - Posposta ao verbo (/) - Não se aplica 8) Subordinação P - Oração principal de outras T - Oração principal de temporais S - Oração subordinada temporal O - Oração subordinada outras D - Oração subordinada à esquerda e principal à direita N - Oração coordenada à esquerda e principal à direita (/) - Outros (oração absoluta, período simples, coordenada) 9) Temporalidade I - Inclui o agora E - Exclui o agora 10) Aspecto D - Durativo (em andamento) P - Pontual (terminada) R - Reiterativo (se repete)

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11) Tipos de verbo (somente plenos) M - Material N - Mental R - Relacional C - Comportamental V - Verbal E - Existencial (/) - Não se aplica 12) Sujeito 1 - Yo 2 - Tú 3 - Él / Ella / Usted 4 - Nosotros / as 5 - Vosotros / as 6 - Ellos / Ellas / Ustedes

EXEMPLO DE CODIFICAÇÃO: Notícia Internacional 1 (Cidade do México)

Ocorrência

Verbo

1 Ha puesto

Tempo verbal

Centro urbano

Gênero textual

Organização

discursiva

Seqüência discursiva

Circunstância

temporal

C C I N N /

Polaridade

Posição da circunstância

temporal

Subordinação

Temporalidade

Aspecto

Tipos de

verbo

Sujeito

P / P E P / 3 (CCINN/P/PEP/3 Según estas mismas fuentes, el ministro de Asuntos Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, se >ha puesto en contacto con las familias de las cuatro azafatas -Tatiana Suárez, Carolina Jean, Mercedes Calleja y Sara López- para darles la buena noticia de su liberación. [Composto, 1, Notícia 1, Cidade do México]

Para verificar a produtividade e relevância dos dados, fizemos um cruzamento

que demonstra a relação entre as variáveis. Dessa maneira, obtivemos quantitativamente

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a produtividade das variantes da variável dependente em relação a cada um dos fatores

constitutivos das variáveis independentes. Objetivamos investigar dentre as variáveis

independentes que selecionamos, aquelas que favorecem ou inibem a nossa variável

dependente, ou seja, os pretéritos simples e composto.

Em seguida, tecemos comentários sobre as nossas hipóteses iniciais e sobre os

resultados obtidos pela rodagem dos dados para cada variável, sempre levando em conta

tanto uma análise quantitativa, quanto qualitativa. A partir das questões levantadas,

procuramos identificar ou mapear os contextos relevantes para uma descrição do uso e

valores dos pretéritos simples e composto em cada centro urbano estudado.

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4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Tempo verbal (variável dependente)

O nosso objeto de estudo são os tempos verbais: pretérito simples e pretérito

composto, considerados como a nossa variável dependente na sua distribuição de

contextos de uso. Existem muitas nomenclaturas para essas formas verbais de passado.

No entanto, como já dissemos, optamos por uma nomenclatura que leva em conta

questões morfológicas20 em vez das terminologias da tradição hispânica gramatical que

são bastante variáveis. Como exemplificação das formas de pretérito simples e

composto, temos, respectivamente, os fragmentos abaixo, (ver exemplos 1 e 2):

(Ex.: 1) El pequeño grupo de observadores occidentales que evaluó hoy las elecciones presidenciales en Rusia manifestó su preocupación por las irregularidades en los comicios y el manejo de la campaña durante las horas previas a las votaciones. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo) (Ex.: 2) La cuenta atrás ha llegado a su fin y el Parlamento ha proclamado oficialmente la independencia unilateral de la República de Kosovo, desde ayer antigua provincia serbia de mayoría albanesa. (Notícia 4 - Madri: Independência de Kosovo)

Nossa hipótese inicial é que, nos dados de Madri, há predominância do pretérito

composto, que estaria avançando sobre contextos de uso do simples, enquanto que nos

dados da Cidade do México e de Buenos Aires há maior freqüência de uso do pretérito

simples, o que reflete um caráter mais conservador com relação à evolução latina.

Vale a pena recordar que, na evolução do sistema verbal, a substituição da forma

simples (CANTĀVĪ), herdada do perfeito latino, pela forma composta (HABEŌ

CANTĀTUM), é uma criação romance. É importante ressaltar que essa evolução não é

exclusiva dos pretéritos, ocorre em vários tempos e modos verbais (como vimos na

página 27).

Embora a forma composta tenha sido aplicada gradualmente aos tempos e

modos verbais, a forma simples continuou sendo usada. O que nos leva a afirmar, no

que diz respeito ao uso dos pretéritos, que diacrônica e sincronicamente, em Madri a

forma composta vem mostrando avanços significativos e que na Cidade do México e em

Buenos Aires, a forma simples é mais conservadora, sendo que o pretérito composto se

20 Pretérito simples: 1 verbo (hablé) / Pretérito composto: 2 verbos - auxiliar + principal (he hablado)

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usa com menor freqüência e em contextos mais restritos, ou seja, como forma mais

marcada21.

Sendo assim, não podemos dizer que não são encontradas ocorrências da forma

simples em Madri e da composta na Cidade do México e em Buenos Aires. Nosso

objetivo é verificar os diferentes valores que essas formas de passado apresentam em

cada centro urbano. Como já descrito na seção anterior, foram encontradas 525

ocorrências de pretéritos, 360 ocorrências de pretérito simples (69% dos dados) e 165

ocorrências de pretérito composto (31% dos dados) em todo o corpus, formado de

textos escritos (notícias internacionais online) e textos orais (entrevistas

sociolingüísticas transcritas), ver tabela 1:

Oco/Total Percentagem

Gênero textual Pretérito Simples

Pretérito Composto

Notícias internacionais 240/310 77%

70/310 23%

Entrevistas Sociolingüísticas 120/215 56%

95/215 44%

Notícias + Entrevistas 360/525 69%

165/525 31%

Total 525 (100%) Tabela 1: Total de ocorrências de pretéritos por gênero textual

Conforme a tabela 1, o total de ocorrências de pretéritos e o total de ocorrências

distribuído por gênero textual assinalam uma predominância geral do pretérito simples

sobre o pretérito composto, mas essa predominância não pode ser levada em conta em

termos absolutos, já que, como veremos a seguir, é variável em função da comunidade

de fala e do gênero textual, por exemplo.

Apesar desses centros urbanos já terem sido bastante estudados quanto à

distribuição das formas verbais de passado, nesta pesquisa trazemos uma análise que

21 A marcação caracteriza a desigualdade existente entre valores de uma determinada categoria, no nosso estudo, entre os pretéritos simples e composto. Segundo Givón (1995), o princípio de marcação pressupõe (a) a noção de complexidade estrutural (a estrutura marcada é mais complexa estruturalmente do que a não-marcada), (b) a noção de complexidade cognitiva (a categoria marcada tende a ser mais complexa em termos de esforço mental para a compreensão, atenção e tempo de processamento) e (c) a noção de freqüência de distribuição (a estrutura marcada é menos freqüente do que a não-marcada).

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não leva em conta apenas fatores semânticos22 (como o tempo e o aspecto) para

entender o uso de um pretérito ou outro. Como sustentamos no decorrer do trabalho,

acreditamos que fatores dialetais, em primeiro lugar, seguidos de fatores semântico-

pragmáticos (como tempo, aspecto, intencionalidade, tipos de verbo e de circunstância

temporal), sintáticos (como subordinação, polaridade, pessoas do discurso) e

discursivos (gêneros textuais e tradições discursivas) são variáveis condicionantes para

a seleção da forma simples ou composta.

Nossa hipótese principal é que essas formas têm distribuições de uso diferentes

em cada um destes centros urbanos e que não estão condicionadas exclusivamente por

questões semânticas. Trata-se de formas variáveis com condicionantes dialetais,

discursivas e pragmáticas, e não podem ser, portanto, tratadas de forma redutora com

generalizações de contextos apenas semânticos aplicados indistintamente a qualquer

área dialetal.

Para verificar a nossa hipótese, propomos uma análise da nossa variável

dependente (os pretéritos) em função de doze variáveis independentes (1 variável

extralingüística – os três centros urbanos e 11 variáveis lingüísticas – gênero textual,

organização discursiva, seqüência discursiva, circunstância temporal, polaridade,

posição da circunstância temporal, subordinação, temporalidade, aspecto, tipos de verbo

e sujeito) que controlamos na amostra do nosso corpus e cujos resultados apresentamos

a seguir.

22 Na descrição gramatical tradicional e nos manuais didáticos de E/LE que circulam no Brasil, a oposição dos pretéritos é feita por variáveis como o tempo e o aspecto. No entanto, acreditamos que apenas essas variáveis não dão conta para explicar tal oposição.

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4.2 Gênero textual

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto, nossa hipótese é que a

seleção é variável nos textos dos três centros urbanos analisados em função dos

diferentes gêneros textuais, em parte pela influência ou condicionamento das tradições

discursivas, que exercem pressão sobre os gêneros.

Sendo assim, para verificar nossa hipótese, selecionamos dois gêneros: a)

notícias internacionais online, como amostra de língua escrita e b) entrevistas

sociolingüísticas transcritas, como amostra de língua oral. Vejamos, a seguir, a

distribuição dos pretéritos em cada centro urbano, considerando a variável gênero

textual.

4.2.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México Buenos Aires

Gênero textual

(Notícias) PS PC PS PC PS PC

Notícia 1 (Liberação das aeromoças)

12/25 48%

13/25 52%

10/11 91%

1/11 9%

17/20 85%

3/20 15%

Notícia 2 (Ataque ao Iraque)

2/18 11%

16/18 89%

7/7 100%

0/7 0%

11/11 100%

0/11 0%

Notícia 3 (Separatismo na Bolívia)

12/12 100%

0/12 0%

7/8 88%

1/8 12%

50/50 100%

0/50 0%

Notícia 4 (Independência de Kosovo)

8/15 53%

7/15 47%

22/22 100%

0/22 0%

19/20 95%

1/20 5%

Notícia 5 (Cenário político russo)

11/34 32%

23/34 68%

7/8 88%

1/8 12%

45/49 92%

4/49 8%

Tabela 2: Detalhamento das ocorrências de pretéritos nas notícias

Em termos gerais, podemos dizer que as notícias de Madri apresentam um

comportamento bastante diferente das notícias da Cidade do México e de Buenos Aires.

Enquanto que nas notícias madrilenas temos uma ligeira predominância do pretérito

composto, vemos uma grande predominância da forma simples nas notícias da Cidade

do México e de Buenos Aires, conforme o esperado.

A partir da leitura da tabela 2, podemos observar que, embora nas notícias de

Madri, tenhamos uma ligeira predominância do pretérito composto sobre o simples, as

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Notícias 3 e 4 têm resultados bastante diferentes das demais notícias madrilenas, com

relação ao uso dos pretéritos.

A Notícia 3 de Madri merece destaque uma vez que todas as ocorrências de

passado aparecem exclusivamente na forma simples. Embora tenha sido publicada na

versão eletrônica do jornal espanhol El País, tal notícia é oriunda de uma agência

boliviana Agencias / M.A. – La Paz (ver anexo, página 209), o que pode assinalar que

nas comunidades da área andina há uma preferência pela forma simples, pelo menos na

redação de notícias.

Na Notícia 4 de Madri é mais difícil explicar a causa da freqüência da forma

simples, mas o comportamento dissidente e a preferência “contra-corrente” pelo

pretérito simples pode ser analisado se observarmos, a título de exemplo, os dados

referentes à distribuição dos verbos dicendi23, que é uma das categorias verbais mais

produtivas na construção das notícias. Nas notícias, o verbo dicendi introduz a fala

reportada, o discurso polifônico atribuído a autoridades, a declarações ou a opiniões

dissidentes da linha editorial. Vejamos a tabela 3:

Oco/Total Percentagem

Verbos dicendi

Notícias (Madri)

PS

PC

Notícia 1 (Liberação das aeromoças)

3/10 30%

7/10 70%

Notícia 2 (Ataque ao Iraque)

1/6 17%

5/6 83%

Notícia 3 (Separatismo na Bolívia)

6/6 100%

0/6 0%

Notícia 4 (Independência de Kosovo)

5/7 71%

2/7 29%

Notícia 5 (Cenário político russo)

1/13 8%

12/13 92%

Tabela 3: Total de ocorrências de pretéritos por verbos dicendi

23 Halliday (1997) denomina em sua classificação funcional de tipos de verbos os dicendi como verbos de processo verbal. No entanto, decidimos manter a nomenclatura mais difundida em estudos enunciativos e da análise do discurso para evitar confusão entre o verbal relativo aos verbos (tipos de processo) e ao dizer (tipos de verbo).

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Como vemos na tabela 3, enquanto que nas Notícias 1, 2 e 5 os verbos dicendi

aparecem mais na forma composta (por exemplo: “ha reiterado”, “ha dicho”, “ha

agradecido”...), justamente nas Notícias 3 e 4 predomina a forma simples (por exemplo:

“manifestó”, “dijo”, “informaron”...). Talvez devamos levar em consideração a natureza

histórica do relato, considerando que o tema da Notícia 4 é a independência recente de

um país europeu24. Esse uso do pretérito simples pode ter sido então selecionado para

dar ao relato um tom mais solene e estaria, nesse caso, sendo influenciado pelas

tradições discursivas do discurso histórico, no qual parece predominar o simples,

mesmo nas áreas de maior avanço do composto (o que se observa não somente em

espanhol, mas também em italiano e francês).

Voltando à tabela 2, vemos que, em clara oposição aos resultados de Madri, nas

notícias da Cidade do México e nas notícias de Buenos Aires, há uma freqüência

bastante alta da forma simples frente à composta. Os percentuais obtidos confirmam um

resultado já esperado. No entanto, ao analisar a constituição da notícia em termos de

organização discursiva, objeto de estudo do próximo fator (vide 4.3), essa distribuição

dos pretéritos simples e composto ficará bastante melhor delineada. Antes disso,

passemos ao contraponto dos resultados das entrevistas em contraponto ao das notícias

no que diz respeito ainda ao gênero textual.

4.2.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México Buenos Aires

Gênero textual (Entrevistas)

PS PC PS PC PS PC

Entrevista 24/89 27%

65/89 73%

31/44 70%

13/44 30%

65/82 79%

17/82 21%

Tabela 4: Detalhamento das ocorrências de pretéritos nas entrevistas

Uma primeira observação da tabela 4 nos leva a verificar a maior produtividade

do pretérito composto na entrevista de Madri e uma maior produtividade do pretérito

simples nas entrevistas da Cidade do México e de Buenos Aires.

Diferentemente dos dados obtidos nas notícias, observamos que na entrevista da

Cidade do México e na entrevista de Buenos Aires há um aumento do percentual da

forma composta, ainda que a maior produtividade seja de pretéritos simples. 24 (Declara Kosovo su independencia, El País, 17/02/2008).

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Constatamos também que a produtividade do pretérito composto é mais saliente do que

a forma simples na entrevista de Madri.

Esse predomínio da forma composta no gênero oral em Madri e, para nossa

surpresa, o aumento da mesma nas entrevistas das variantes da Cidade do México e de

Buenos Aires provavelmente se deva a fatores contextuais e discursivos, como veremos

a seguir em 4.3 e em 4.4.

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4.3 Organização discursiva

Nos dois gêneros textuais que selecionamos para a constituição do nosso corpus,

nossa hipótese é que a sua organização discursiva, ou seja, as partes estruturais da

notícia, no que diz respeito às notícias internacionais, e os encadeamentos de turnos de

fala, no que diz respeito às entrevistas sociolingüísticas, podem ser um fator favorecedor

ou inibidor para a seleção dos pretéritos.

As notícias têm uma estrutura quase fixa e esta se divide em três partes:

manchete (que identifica e classifica as notícias, despertando a atenção do leitor e pode

exprimir a intenção comunicativa ou o ponto de vista do jornal), lead (ou a cabeça da

notícia, é o parágrafo inicial que resume os dados essenciais da notícia, captando a

essência da notícia e ao mesmo tempo prendendo a atenção do leitor) e corpo da notícia

(que se compõe de uma sucessão de parágrafos com o desenrolar do texto)25.

A entrevista, por outro lado, apresenta uma organização discursiva de

alternância de turnos de fala entre: o entrevistador (a pessoa que busca informações e

que controla os turnos de fala) e o informante (a quem se dirigem as perguntas do

entrevistador e quem tem direito a turnos de fala mais longos). Os temas tratados podem

ser aspectos biográficos ou pessoais do entrevistado, suas opiniões sobre determinado

assunto ou sobre fatos acontecidos de interesse geral.

A nossa hipótese, ao analisar a organização discursiva dos gêneros que

selecionamos, é que nas notícias de Madri a freqüência do pretérito composto é maior

no corpo da notícia, podendo aparecer na manchete e no lead também. Já nas notícias da

Cidade do México e de Buenos Aires, na manchete e no lead, a forma simples é a mais

produtiva. As ocorrências de pretérito composto, sendo esta forma menos freqüente,

seriam uma estratégia para chamar a atenção, para destacar informações no corpo da

notícia, na manchete ou no lead.

Com relação às entrevistas, a nossa hipótese é que, a alternância do turno de fala

pode ser um fator determinante para a seleção dos pretéritos. Supomos que a forma

verbal empregada na pergunta ou comentário do entrevistador pode interferir na

resposta do informante e vice-versa. Assim como acreditamos que, dependendo da

intenção do falante, a forma verbal simples ou composta que seleciona num turno

25 Artigo: "Meios de comunicação. Como interpretar as mensagens do meio de comunicação? Pedagogia da imagem". Fonte: O Estado de São Paulo. Encarte, 1995.

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iniciativo pode condicionar o paralelismo discursivo no turno reativo, considerando o

encadeamento conversacional.

Sendo assim, vejamos os resultados que encontramos para cada gênero no nosso

corpus.

4.3.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Organização discursiva (Partes da notícia)

PS PC PS PC PS PC

Manchete 0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

3/3 100%

0/3 0%

Lead 0/4 0%

4/4 100%

4/4 100%

0/4 0%

6/6 100%

0/6 0%

Notícias

Corpo da notícia

45/10045%

55/10055%

49/52 94%

3/52 6%

133/141 94%

8/141 6%

Tabela 5: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por organização discursiva (notícias)

A primeira verificação a respeito da tabela 5 nos leva a constatar que, nas

manchetes, só foram encontradas ocorrências de pretérito nas notícias de Buenos Aires

(todas no pretérito simples). As manchetes tendem a ter uma estrutura nominal,

portanto, é provável que inibam o aparecimento dos pretéritos.

No lead encontramos ocorrência absoluta de pretérito composto nas notícias de

Madri e, ao contrário, de pretérito simples nas notícias da Cidade do México e de

Buenos Aires. O lead tem a função de resumir a notícia, portanto, é um contexto

favorável ao aparecimento dos pretéritos e se mostra variável com relação às diferentes

áreas dialetais.

Com relação ao corpo da notícia, confirmamos nossa hipótese geral e temos uma

ligeira predominância do pretérito composto nas notícias de Madri e uma quase absoluta

produtividade do pretérito simples nas notícias da Cidade do México e Buenos Aires.

Sendo assim, analisemos a organização discursiva das notícias de cada centro urbano

por partes.

Nas notícias de Madri não foram encontradas ocorrências nem de pretérito

simples nem de composto nas manchetes. Mas isso se deve ao fato dos verbos

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geralmente aparecerem no presente ou serem substituídos por substantivos, resultando

em frases quase sempre nominais, uma vez que as manchetes são bastante concisas.

Já no lead, que é o primeiro parágrafo de destaque, encontramos quatro

ocorrências de pretéritos, todas na forma composta, (ver ex. 3, 4 e 5):

(Ex.: 3) El avión de Sarkozy ha hecho escala en la base de Torrejón para después proseguir a París con los tres periodistas franceses (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças) (Ex.: 4) Una mujer ha muerto en los bombardeos, y otras dos personas han resultado heridas (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque) (Ex.: 5) El nuevo presidente ruso gana unas elecciones calificadas de “farsa” por la oposición y cuya transparencia ha sido puesta en duda (Notícia 5 - Madri: Cenário político russo)

O resultado do lead das notícias de Madri confirma a nossa hipótese de

preferência pelo pretérito composto.

No corpo das notícias há, conforme o esperado, maior concentração das formas

de passado, com uma leve predominância do pretérito composto. No entanto, vale

sempre recordar que a freqüência da forma simples é relativamente alta devido às

Notícias 3 e 4.

Observamos nas notícias da Cidade do México, um resultado semelhante ao das

notícias de Madri quanto à manchete e ao lead. Não há ocorrências de pretéritos nas

manchetes, pela preferência das frases nominais nesta parte da notícia e no lead foram

encontradas quatro ocorrências. No entanto, diferentemente do corpus de Madri, nas

notícias da Cidade do México, as quatro ocorrências presentes no lead estão no pretérito

simples, (ver ex. 6, 7, 8 e 9):

(Ex.: 6) Las mujeres se disponen a viajar a París en el avión del presidente francés, Nicolas Sakorzy, informaron fuentes del Ministerio de Asuntos Exteriores (Notícia 1 - Cidade do México: Liberação das aeromoças) (Ex.: 7) Las aeronaves bombardearon objetivos del Partido de los Trabajadores del Curdistán, en regiones cercanas a la frontera con Turquía, así como en la montaña Kandil (Notícia 2 - Cidade do México: Ataque ao Iraque) (Ex.: 8) La declaración del domingo fue cuidadosamente orquestada con el respaldo de Estados Unidos y de importantes potencias europeas (Notícia 4 - Cidade do México: Independência de Kosovo)

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(Ex.: 9) Obtiene el candidato delfín del presidente saliente, Vladimir Putin, el 64.55% de votos contra 19.33 de Ziugánov; dos contrincantes afirman que impugnarán en tribunales, mientras que Bogdánov calificó la jornada como democrática (Notícia 5 - Cidade do México: Cenário político russo)

No corpo das notícias, encontramos apenas 6% (que se referem a três dados) da

forma composta. Esses 6% merecem a nossa atenção por serem, acreditamos, formas

marcadas, (ver ex. 10, 11 e 12):

(Ex.: 10) Según estas mismas fuentes, el ministro de Asuntos Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, se ha puesto en contacto con las familias de las cuatro azafatas -Tatiana Suárez, Carolina Jean, Mercedes Calleja y Sara López- para darles la buena noticia de su liberación. (Notícia 1 - Cidade do México: Liberação das aeromoças) (Ex.: 11) Ella no sabe lo que la eventual autonomía traerá a su familia, pero ha logrado vender las camisetas y juntado un dinero extra para las fiestas de Navidad. (Notícia 3 - Cidade do México: Separatismo na Bolívia) (Ex.: 12) Medvedev, de 42 años, ofreció a Putin encabezar su Gobierno en caso de ser elegido, propuesta que el presidente saliente ha aceptado. (Notícia 5 - Cidade do México: Cenário político russo)

Qual seria a motivação para esta seleção do pretérito composto, nas notícias da

Cidade do México?

Parece-nos que o emprego da forma composta nos três exemplos é coincidente.

Aparece em final de relato, o que nos leva a pensar que, o fechamento de tópico ou de

tema no relato favoreça a forma composta. Uma vez que é a forma mais marcada, ao

aparecer em final de relato, o pretérito composto anuncia o final em crescendo do relato.

Com relação às notícias de Buenos Aires, vale a pena destacar que, de todas as

notícias em análise, foram as únicas que apresentaram ocorrências de pretérito na

manchete e todas na forma simples, o que pode indicar uma tradição jornalística

diferenciada com relação às duas outras variantes, (ver ex. 13, 14 e 15):

(Ex.: 13) Turquía atacó el norte de Irak (Notícia 2 - Buenos Aires: Ataque ao Iraque) (Ex.: 14) Kosovo declaró su independencia (Notícia 4 - Buenos Aires: Independência de Kosovo) (Ex.: 15) Rusia: Medvedev arrasó en las elecciones presidenciales (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

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No lead, também foram encontradas ocorrências apenas da forma simples.

Vejamos dois ejemplos (16 e 17):

(Ex.: 16) El ejército bombardeó posiciones rebeldes del Partido de los Trabajadores del Kurdistán (Notícia 2 - Buenos Aires: Ataque ao Iraque) (Ex.: 17) Cuatro departamentos declararon su autonomía de facto; crece la tensión (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

No corpo das notícias de Buenos Aires, o percentual obtido (94% de pretérito

simples) revela a maior produtividade da forma simples frente à composta (apenas 6%

do total). Esses 6% de ocorrências que correspondem a um total de 8 dados têm

motivações de uso bastante heterogêneas, como trataremos de demonstrar a seguir.

Desses oito dados, três encontram-se na Notícia 1, um na Notícia 4 e quatro na Notícia

5, ou seja, são dados concentrados em certas notícias, notadamente a 1 e a 5. Nós os

agrupamos para fins de interpretação em três grupos diferentes.

No primeiro grupo (ex. 18, 19 e 20), todos os exemplos têm em comum o fato de

se tratar de uma fala direta, marcada no texto com aspas.

(Ex.: 18) “Están libres. Se terminó. Ha concluido” el caso, dijo su abogado Jean Bernard Padare. (Notícia 1 - Buenos Aires: Liberação das aeromoças) (Ex.: 19) “A partir de ahora, Kosovo ha cambiado de posición política. A partir de ahora somos un Estado independiente, libre y soberano”, declaró el presidente del Parlamento Jakup Krasniqi a los diputados, que poco antes habían votado por aclamación la independencia de Kosovo de Serbia en una sesión extraordinaria. (Notícia 4 - Buenos Aires: Independência de Kosovo) (Ex.: 20) “Estoy de buen humor. La primavera ha empezado. Aunque llueve, es agradable”, dijo sonriente el político, de 42 años, ante las cámaras de televisión en Moscú. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

Essas declarações em Discurso Direto têm, entretanto, marcas de

posicionamento aspectual contrárias. Apesar do “a partir de ahora” do exemplo 19, os

exemplos 18 e 19 introduzem na notícia um estado final, acabado, enquanto que no

exemplo 20, trata-se de um estado inicial, em andamento. Portanto, é difícil interpretar a

motivação desta seleção do composto, o único elemento comum que aqui encontramos é

o Discurso Direto, que por si só, já atribui maior peso à informação apresentada na

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“própria voz” do seu autor, peso este reiterado pelo composto, forma mais marcada com

relação ao simples.

No segundo grupo (ex. 21, 22 e 23), trata-se de uma estratégia de retomada

cronológica de um evento que se situa num momento anterior ao tempo da enunciação,

todos correspondem à mesma Notícia 5.

(Ex.: 21) El pequeño grupo de observadores occidentales que evaluó hoy las elecciones presidenciales en Rusia manifestó su preocupación por las irregularidades en los comicios y el manejo de la campaña durante las horas previas a las votaciones. Además, una organización supervisora independiente rusa indicó que sus observadores han frustrado intentos de rellenar las urnas de votación en la región de Moscú antes de que se iniciara el proceso electoral. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo) (Ex.: 22) Mentor y discípulo permanecieron juntos durante el concierto, sonrientes y confiados. Medvedev fue el primero en tomar la palabra, asegurando que “juntos podemos continuar el camino iniciado por el presidente Putin”. “Juntos iremos más lejos, juntos ganaremos”, agregó eufórico. Putin defendió además el desarrollo de los comicios, cuyos críticos han denunciado la ausencia de candidatos liberales e incluso presuntas violaciones durante la votación. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo) (Ex.: 23) “Ya tengo preparada una lista de 200 violaciones”, anunció Ziugánov en su primera reacción al anuncio de los recuentos preliminares. Según los datos en su poder, dijo, el voto comunista ha sido de “no menos del 30 por ciento”, por lo que “los resultados preliminares confirman las irregularidades”. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

Nos parágrafos anteriores a série de eventos relatados numa progressão

cronológica de um momento anterior ao da enunciação avança em direção ao presente

da enunciação através do pretérito simples, o composto nesses casos introduz uma ação

anterior, um Passado Anterior, mais distante do agora com relação às ações enunciadas

com o pretérito simples. Trata-se de um uso contrário ao prescrito em manuais didáticos

de Espanhol/LE que, generalizando o uso do composto para todas as variantes dialetais,

atribuem a esse tempo uma função mais próxima ao agora em comparação com o uso

simples. Nesses dados, o composto tem uma função de maior distância do agora que o

simples.

No terceiro grupo (ex. 24), trata-se de uma estratégia argumentativa. Mais uma

vez o pretérito composto introduz um Contra Argumento, emitido a partir de uma

instância actancial de maior autoridade: “el ministério francés de Relaciones Exteriores

y otros organismos”.

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(Ex.: 24) El Arca de Zoé mantiene que sus intenciones son puramente humanitarias y dijo que realizó investigaciones a lo largo de varias semanas para determinar que los niños que iba a recoger son huérfanos. Empero, el ministerio francés de Relaciones Exteriores y otros organismos han puesto en duda la versión del grupo de que los menores son huérfanos de la región sudanesa de Darfur, donde la lucha fratricida desde el 2003 hizo que miles de personas se refugiaran en Chad y ha causado directa o indirectamente la muerte de unas 200.000 personas. (Notícia 1 - Buenos Aires: Liberação das aeromoças)

O parágrafo em composto, introduzido pelo marcador discursivo “empero”, se

posiciona claramente em contraposição ao dito no parágrafo anterior. Se no parágrafo

anterior se apresentam as asserções do Grupo Zoe, todas em pretérito simples, neste

parágrafo seguinte se apresentam as asserções contrárias, os Contra Argumentos das

entidades governamentais oficiais, todas em destaque com composto, ou de um Passado

Anterior que se refere às vítimas da guerra civil, em contrapartida ao do relato que tem

o grupo Zoe e as entidades do governo como actantes.

Qual seria a motivação para esta seleção do pretérito composto, nas notícias de

Buenos Aires?

Os dados não são tão homogêneos como os da Cidade do México, não se trata

aqui de marcar o final do relato. Segundo a nossa interpretação, as motivações seriam:

a) destacar o Discurso Direto (ex. 18, 19 e 20) independentemente de que a ação esteja

encerrada no passado ou não, nesse caso o composto dá maior destaque à fala direta,

intensifica o valor da asserção; b) destacar um Passado Anterior (ex. 21, 22 e 23) nesse

caso introduz eventos situados num passado mais remoto que os eventos do relato que

se sucedem cronologicamente no simples; e, c) destacar um Contra Argumento

vencedor, de maior peso na organização da notícia (ex. 24).

Vejamos agora a distribuição dos pretéritos na organização discursiva das

entrevistas.

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4.3.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Organização discursiva (Encadeamento de

turnos de fala) PS PC PS PC PS PC

Entrevistador

2/20 10%

18/20 90%

13/14 93%

1/14 7%

25/29 86%

4/29 14%

Entrevistas

Informante

22/69 32%

47/69 68%

18/30 60%

12/30 40%

40/53 75%

13/53 25%

Tabela 6: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por organização discursiva (entrevistas)

Como dito anteriormente, para a análise das entrevistas decidimos levar em

conta não apenas a fala do informante, mas do entrevistador também uma vez que nos

interessa, sobretudo, o encadeamento dos pretéritos nos turnos de fala26. Além disso, o

entrevistador pertence ao mesmo centro urbano que o informante e nas suas

intervenções, os pretéritos aparecem com regular freqüência.

Assim, codificadas todas as ocorrências de pretérito para verificar como se dá a

sua distribuição, levando em conta a organização discursiva das três entrevistas

analisadas, podemos observar pela tabela 6 que o comportamento da fala do

entrevistador e do informante reitera a preferência da forma composta na entrevista de

Madri e da forma simples na entrevista da Cidade do México e de Buenos Aires.

Na entrevista de Madri, observamos um emprego bastante alto da forma

composta, tanto na fala do entrevistador (90%) quanto na fala do informante (68%)

frente aos 55% encontrados anteriormente no corpo das notícias (vide tabela 5). No

entanto, merecem destaque os dois únicos casos de pretérito simples na fala do

entrevistador, (ver ex. 25 e 26):

(Ex.: 25) Entr.: Claro, cortas una arteria y se acabó, ¿no? (Entrevista - Madri) (Ex.: 26) Entr.: Bueno, es que entonces ya se acabó. (Entrevista - Madri)

26 De acordo com Briz e Hidalgo (1988), as unidades dialogais de análise são da maior para a menor: a interação, seqüência conversacional e o intercâmbio.

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Provavelmente o papel de marcador conversacional desempenhado por “ya se

acabó” / “y se acabó” pode ter influenciado a escolha da forma simples e não da

composta nesse contexto, trata-se quase de uma locução cristalizada com valor

pragmático de encerramento de intercâmbio conversacional, seqüência ou tópico.

Na entrevista da Cidade do México, ao contrário do que ocorre para a entrevista

de Madri, temos uma maior percentagem da forma simples em ambos os turnos de fala.

Na fala do entrevistador há um único caso de pretérito composto, (ver ex. 27):

(Ex.: 27) Entr.: Sí, porque, por ejemplo, yo lo he oído no solamente en alumnos, sino también en maestros que dicen: “Bueno, yo no sé para qué nos enseñaron química, si a nos... si yo me dediqué, por ejemplo, a la literatura, o yo a la historia, y yo a la geografía, si en realidad de la química no sé nada. Les aseguro que ahorita les hago una pregunta de química de las más sencillas, y nadie la responde, porque se olvida todo”. (Entrevista - Cidade do México)

A relação com o momento presente e o valor durativo podem ser fatores

determinantes para explicar esse uso do pretérito composto. Tudo indica que até o

momento atual o entrevistador ouve o tipo de declaração mencionada por ele.

Entretanto, também pode tratar-se de uma seleção do composto com finalidade

argumentativa, o composto neste caso aumenta o peso do argumento que se quer

mostrar ou defender. Sendo assim, nos perguntamos, trata-se de uma seleção do

composto relacionada ao tempo (relação com o agora) ou a questões pragmáticas

(marcar a hierarquia da informação dada, no caso destacar o contra argumento)?

E na fala do informante, há 12 ocorrências do composto. O uso do pretérito

composto na sua fala é mais difícil de analisar.

Aparece em seqüências descritivas localizadas num passado mais remoto, às

vezes com aspecto durativo (“es una industria que no se ha encauzado”, “se ha

desarrollado”, “es una carrera que ha tenido”, “las pláticas que he tenido”, “la que han

adquirido”) e às vezes em variação livre com o simples (“me interesó la carrera ...

porque me ha gustado el aspecto de laboratório”, “que oportunidades he tenido... no lo

he podido hacer”, “por la demanda que ha tenido el producto”), ver exemplos abaixo:

(Ex.: 28) Inf.: Bueno, mira: pues la tesis... pues, generalmente, en la escuela tenemos varios aspectos, ¿verdad?, para recibirnos: presentar una monografía, examen profesional, o bien una tesis. En mi caso, hice una tesis que se refiere a la industria de los aerosoles en México... Esta industria es una industria nueva, que generalmente en México... no se ha encauzado como se debe de encauzar. Generalmente, en mi tesis metí el diseño de una planta de aerosol en la cual... este... se iba a tener un determinado volumen de producción, utilizando generalmente los gases refrigerantes que...

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normales, que tenemos en el mercado nacional, como son el frión doce, el ginetrón, tanto de Dupont como de Quimobásicos, de Allied Chemical. Entonces, de acuerdo con esos gases que tenemos nosotros aquí a la mano -porque existen plantas... mexicanas trabajando estos gases...- se ha desarrollado esta industria. Esta industria pues... tiene que ver en todos aspectos: en el aspecto alimenticio, en el aspecto cosmético, en el aspecto industrial, en el aspecto de tipo de desinfectantes... digo... Tiene una gama bastante grande, ¿verdad? (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 29) Inf.: Bueno, mira. En primer lugar... la Ingeniería Química en México... pues... es una carrera que ha tenido un... un cauce bastante fuerte, en sí, por la falta de técnicos que hacía... falta aquí en el país. Generalmente, es necesario en México... cuantificar... -se puede decir- las carreras técnicas, con una serie de elementos aptos para desarrollar ese tipo de profesión, ¿verdad? Entonces... en lo personal, en lo personal me interesó la carrera en sí porque me ha gustado el aspecto de laboratorio, el aspecto de investigación. Entonces, en la propia secundaria, en las mismas cátedras que se llevaban de Química, de Física, pues ya le van haciendo a uno formar un determinado carácter, ya de lo que va a hacer uno cuando llega a la edad en la que estoy. Entonces, de acuerdo con mis... las pláticas que he tenido con los profesores en preparatoria... pues me encauzaron para seguir ese tipo de profesión, en la cual... pues... estoy muy contento. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 30) Inf.: Sus bases... Generalmente los profesores, que son los que tienen el mando de las cátedras en las dos escuelas y tecnológicos de la República, pues generalmente su base es la que han adquirido en los libros extranjeros: americanos, franceses, ingleses. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 31) Inf.: Fíjate que oportunidades he tenido; únicamente que por cuestiones de trabajo no... lo he podido hacer. Pero tenía una beca, precisamente, para una universidad de Estados Unidos, y realmente no la pude desarrollar, ¿verdad? Claro que en la primera oportunidad que tenga lo... lo tengo que hacer, porque es necesario. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 32) Inf.: No; es una... fue una investigación del tipo de... Como te decía, era el montaje de una planta para maquilar aerosoles, precisamente viendo... las necesidades que hay, por la demanda que ha tenido el producto. O sea que, usando determinada cantidad de gas, determinadas cantidades de materias primas, determinada cantidad de envases, cómo se podría programar esa producción para esa capacidad de esa planta. (Entrevista - Cidade do México)

Aparece em seqüências argumentativas, para destacar o argumento final ou o

contra argumento (ex. 33 e 34) ou fechar o tópico conversacional (ex. 35).

(Ex.: 33) Inf.: Bueno. Se hacen estudios preliminares. Por ejemplo, de pruebas piloto, lo que se... Es decir, ya que se... se tiene la formulación, se prueba en animales, para hacer pruebas biológicas, si puede existir alguna irritación, o alguna... anomalía en la piel del animal. Se ven las... por secciones, al microscopio y... Es decir, si existe alguna anomalía, inmediatamente se cambia de fórmula. Y se puede, así en esa forma, pues... sacar un buen producto al mercado, ¿verdad?, ya que ha sido comprobado totalmente de que funciona en el laboratorio. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 34) Inf.: Bueno, generalmente, los libros... aquí de México están bastante buenos. Hay determinadas editoriales que han publicado muy buenas traducciones. (Entrevista - Cidade do México)

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(Ex.: 35) Inf.: Bueno, para favorecerla, porque en el aspecto alimenticio está muy atrasada ahorita. Generalmente los aerosoles ahorita se aplican en cosméticos, en insecticidas, en desinfectantes, en... -te había dicho-... en pinturas ahorita, se ha desarrollado. O sea que faltan como cinco... proyectos todavía en las que se pueden ampliar ese tipo de... (Entrevista - Cidade do México)

Estes casos de ocorrências do pretérito composto nos dados da Cidade do

México são para nós bastante difíceis de explicar. Se em alguns casos têm uma clara

função discursiva, em outros, parecem estar em variação livre e é difícil determinar se a

forma composta tem uma função semântica ou discursiva precisa, há quem levante a

hipótese de que no México a seleção desta forma seria um indício de socioleto, uma

marca identitária de maior prestígio que afilia o falante a um grupo de maior

escolaridade.

Com relação à entrevista de Buenos Aires, a verificação suscitada pela tabela é o

predomínio da forma simples tanto na fala do entrevistador quanto na fala do

informante. Mas não podemos negar que os casos de pretérito composto são altos se

comparados às notícias.

Na fala do entrevistador há quatro casos de pretérito composto:

Interpretamos estes dados também em seqüências argumentativas, para destacar

o argumento final ou o contra argumento (ex. 36, 37 e 38) ou fechar o tópico

conversacional (ex. 39).

(Ex.: 36) Entr.: Yo he recogido justamente dos o tres opiniones respecto a esto, ¿no?, la última es la de un contador al cual entrevisté (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 37) Entr.: A mí me parece; yo tengo esa impresión porque yo he sido muy refractaria al tango toda mi vida, pero a partir de los treinta para... para arriba empecé a sentirlo, ¿no?, sobre todo el tango de Piazzola. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 38) Entr.: Ha hecho una obra muy importante. (Entrevista - Buenos Aires)

(Ex.: 39) Entr.: Claro... se ha hecho demasiado tal vez. Esté… ¿y en folclore? Allí sí tiene para hablar, ¿no? (Entrevista - Buenos Aires)

E na fala do informante, há 13 ocorrências do composto. Ao contrário dos dados

da Cidade do México, não encontramos nenhum dado em variação livre, as funções

discursivas do composto nestes exemplos nos parecem claras:

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a) destacar a informação da conclusão descritiva ou argumentativa, (ver ex. 40,

41, 42 e 43);

(Ex.: 40) Inf.: Es muy difícil de definir un porteño; y yo pienso que es la dificultad máxima que puede existir; es el drama de nuestra literatura y el drama de toda nuestra sociología, definir un porteño. Porque siendo una ciudad de aluvión... esté... donde en el alto porcentaje somos en segunda, en primera o en tercera generación, hijos de gringos, se ha dado algo que es el porteño. Ahora cómo se puede definir el porteño. No encuentro palabras para definir el porteño. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 41) Inf.: Bueno... pero eso ocurre absolutamente en todo el mundo. Pienso que eso ocurre absolutamente en todo el mundo, que es muy difícil... esté... qué sé yo. En este momento Nixon ha llevado su staff a gobernar y su staff son todos hombres, importantes empresarios; sus asesores serán economistas, como acá también el presidente tendrá sus asesores economistas. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 42) Inf.: No, yo estoy totalmente en desacuerdo; estoy totalmente en desacuerdo. No me cabe la menor duda que Onassis a lo mejor no sabe nada de economía política y es uno de los más excepcionales economistas desde el punto de vista de la empresa, del mundo; y hay grandes... grandes economistas... Carlos Marx, posiblemente el economista más importante o uno de los más importantes que ha tenido la historia de la humanidad... si hubiera emprendido... yo no lo hubiera tenido de socio en una empresa; estoy seguro de que me hubiera fundido. No tiene nada que ver una cosa con la otra. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 43) Inf.: Claro, aparte esté... en este momento es esté... el único hombre... que tiene una vivencia fuera del país; de toda nuestra música el único que tiene una realmente trascendencia, se ha proyectado fuera del país es Ramírez. (Entrevista - Buenos Aires)

b) em seqüências descritivas fazer localizar um evento reiterativo num passado

anterior. Na introdução descritiva de um relato este tipo de seqüência viria em

imperfeito para localizar temporalmente o estado inicial que a ação ou a transformação

da narrativa vai quebrar, trata-se de tempos verbais do chamado mundo comentado de

Weinrich (1968), ver ex. 44:

(Ex.: 44) Inf.: Y algunas veces que he tenido que hacer así, por ejemplo, en mi profesión... cada vez que me he puesto a resolver un pleito muy difícil, en el que necesito estudiar mucho, he superado... le diría bastante bien, la prueba; he podido resolver el pleito y he podido estudiar y entregarle todas las horas que hacía falta al estudio de ese caso concreto. Pero cada vez que he... intentado escribir algo en abstracto... hacer un trabajo de elaboración, investigación doctrinaria, me he encontrado con profundas dificultades muy difíciles de superar. Y la historia es una abstracción. Es muy difícil trabajar así para... para una cosa muy coyuntural como es un pleito, como es la abogacía. Entonces mis cualidades intelectuales muchas o pocas, no sé qué dimensión tienen, se encuentran mejor realizadas o más fáciles en... en este tipo de actividad. La otra no sé. Una cosa es... est... leer historia porque a uno le gusta, otra cosa es leer filosofía porque a uno le gusta, otra cosa es leer economía que... qué sé yo... Ahí... esté... enumerando encontré el pedacito de mi corazón, ¿no?, si no fuera abogado quizá me gustaría ser economista. (Entrevista - Buenos Aires)

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c) quase como marcador conversacional para marcar final de tópico ou

seqüência conversacional, uso pragmático bastante convencionalizado, (ver ex. 45 e

46):

(Ex.: 45) Inf.: Entonces as... mis aptitudes... materiales o personales más mis apetencias... más mi necesidad de tener que trabajar, en la abogacía es donde mejor puedo satisfacer todas las cosas. Enc.- Claro. Inf.- Otra no hay... Enc.- Exactamente. Inf.- ...de las que yo he conocido. No sé si está claro. Enc.- Sí, está muy claro. Está muy bien argumentado; pero ahora yo lo quiero sacar de eso, de esa posición de lógica estricta en la que se colocó y dígame qué otra actividad... esté... le duele en el corazón cuando piensa que pudo haberla hecho porque tiene aptitudes para ella y no la hizo. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 46) Entr.: Ah, sí, ya vino acá El Galpón. Inf.- Sí, pero no con esta dirección. Vino con... del Cioppo... y no con esta puesta de... de Brecht, que es lo más importante que personalmente yo he visto. (Entrevista - Buenos Aires)

Os resultados da tabela 6 confirmam a preferência pelo pretérito composto nas

entrevistas orais de Madri e do simples nas da Cidade do México e Buenos Aires. Nos

dados de Madri o composto é o tempo predominante, nos dados da Cidade do México

os dados do composto podem ter às vezes motivações discursivas, mas aparecem em

contextos de variação livre com o simples, enquanto que, nos dados de Buenos Aires,

parece-nos que a função comunicativa está sempre presente e não é possível alternar os

casos de composto com simples sem alterar o efeito de sentido pretendido pelo falante

ao selecionar o contexto sobre o conteúdo da mensagem. Nos dados da Cidade do

México pode ser que a informação veiculada pelo composto não esteja relacionada

necessariamente à mensagem, e usar o simples pelo composto em casos que

denominamos de variação livre alteraria a informação sobre o falante e não sobre a

mensagem.

Vejamos o encadeamento de turnos de fala a fim de verificar se há um

paralelismo entre a fala do entrevistador e do informante na seleção dos pretéritos.

Fizemos um levantamento de todos os contextos nas três entrevistas em que uma forma

de passado sucede imediatamente outra na alternância de turnos, do turno iniciativo A

para o turno reativo B (ver tabela 7).

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Oco/Total Percentagem

Encadeamento de

turnos de fala Madri Cidade do México

Buenos Aires

PS → PS (A) (B)

1/9 11%

7/8 88%

13/17 76%

PS → PC (A) (B)

0/9 0%

1/8 12%

2/17 12%

PC → PC (A) (B)

7/9 78%

0/8 0%

0/17 0%

PC → PS (A) (B)

1/9 11%

0/8 0%

2/17 12%

Tabela 7: Detalhamento das ocorrências de pretéritos no encadeamento de turnos de fala (entrevistas)

A partir de uma breve leitura da tabela 7 podemos observar que na entrevista de

Madri, há uma maior percentagem (78%) de verbos no pretérito composto (PC) que

atraem em paralelismo outro composto (PC → PC). Nas entrevistas da Cidade do

México e de Buenos Aires, ao contrário, a percentagem é maior para pretéritos simples

que atraem formas de pretérito simples (PS → PS).

Na entrevista de Madri, das nove ocorrências de pretérito consecutivas que

levantamos (pretérito → pretérito) há apenas um caso de pretérito simples encadeado

com o uso da forma simples (PS → PS), ver ex. 47:

(Ex.: 47) Entr. (A): Bueno, es que entonces ya se acabó. Inf. (B): Entonces ya se acabó; entonces casi es mejor porque [Risas] se soluciona la cosa tajantemente, ¿no? (Entrevista - Madri)

Nesse exemplo, temos o final de uma seqüência conversacional, cujo tema é a

avaliação final de uma situação de casal. A forma verbal de pretérito, desempenhando o

papel de marcador conversacional, tem como função, nesse contexto, de encerramento

da seqüência conversacional.

Ainda na entrevista de Madri, temos uma ocorrência em que o pretérito

composto, na fala do entrevistador, resultou no uso da forma simples pelo informante

(PC → PS), ver ex. 48:

(Ex.: 48) Entr. (A): Sí, por eso. Cambia o es difícil llevar eso. Porque no, sí... ahora no siempre se es joven. Llega un momento en que... aunque me han contado casos de estos de... de matrimonios,

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es decir, de gente que ha llevado una vida marital, ¿no?, pero sin casarse. Se casan y estropean todo. Inf. (B): Y lo estropean todo. Sí. En mi familia, siempre se cuenta el caso de un vecino de mi padre que vivieron pues cincuenta años, tenían hijos, imagínate, de cuarenta y nueve, y cuando él estaba... un día que este se puso muy malo, vino el cura de la parroquia y dijo que debían de casarse. El señor este no se murió, sino que se puso bien y, bueno, a partir de aquel momento, fue una auténtica catástrofe. Yo no sé por qué. A lo mejor es por esa especie de... de opresión sicológica que sintió al... al ver que estaba ligado para toda la vida, aunque fuese en realidad como iba a estar, ¿no? (Entrevista - Madri)

Temos na fala do entrevistador um comentário genérico de comportamento,

enquanto que, na fala do informante, temos um relato de um caso específico, usado

neste caso para reiterar a orientação argumentativa do entrevistador (da premissa à

conclusão). Esse exemplo parece coincidir com o que Weinrich (1968) afirma sobre os

verbos do mundo narrado e os verbos do mundo comentado. O verbo no pretérito

simples, por transmitir as situações sem traços pessoais, seria mais esperado em

seqüências narrativas, enquanto que a forma composta, por transmitir situações com

traços pessoais, seria a esperada em seqüências comentadas.

Na entrevista da Cidade do México encontramos uma única ocorrência de

pretérito simples que acarretou no uso da forma composta (PS → PC), ver ex. 49:

(Ex.: 49) Entr. (A): Anda, empieza. Dime por qué te metiste a ingeniero químico... Inf. (B): Bueno, mira. En primer lugar... la Ingeniería Química en México... pues... es una carrera que ha tenido un... un cauce bastante fuerte, en sí, por la falta de técnicos que hacía... falta aquí en el país. Generalmente, es necesario en México... cuantificar... -se puede decir- las carreras técnicas, con una serie de elementos aptos para desarrollar ese tipo de profesión, ¿verdad? Entonces... en lo personal, en lo personal me interesó la carrera en sí porque me ha gustado el aspecto de laboratorio, el aspecto de investigación. Entonces, en la propia secundaria, en las mismas cátedras que se llevaban de Química, de Física, pues ya le van haciendo a uno formar un determinado carácter, ya de lo que va a hacer uno cuando llega a la edad en la que estoy. Entonces, de acuerdo con mis... las pláticas que he tenido con los profesores en preparatoria... pues me encauzaron para seguir ese tipo de profesión, en la cual... pues... estoy muy contento. (Entrevista - Cidade do México)

Nessa seqüência descritiva (ou explicativa) vemos a alternância do uso dos

pretéritos inclusive na fala do informante. O entrevistador introduz com o pretérito

simples (PS) um chamado a um relato pessoal, mas temos na fala do informante uma

transição: ele começa descrevendo situações gerais com o pretérito composto (PC), no

caso, a situação da Engenharia Química no México e passa a descrever situações

pontuais, relacionadas à experiência pessoal, no caso, o que o motivou a escolher a

carreira como químico. As situações genéricas parecem estar com composto e as mais

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específicas, relacionadas à experiência em particular do informante, com simples. De

novo aparece a relação binária do tempo narrado (preferência para o simples) em

oposição ao tempo comentado (preferência para o composto)

Já nos dados da entrevista de Buenos Aires, o que nos chama a atenção é,

primeiramente, o emprego da forma composta em resposta da forma simples (PS →

PC), ver ex. 50 e 51:

(Ex.: 50) Entr. (A): Sí. Yo he recogido justamente dos o tres opiniones respecto a esto, ¿no?, la última es la de un contador al cual entrevisté. Bueno, este muchacho estaba muy pegado a su carrera y dijo que esa parte a él no le interesaba y que no había pensado mucho en las perspectivas; en cambio conozco otra chica que está estudiando Economía Política y dice que aquí... se puede llegar hasta ciertos puestos y que después entonces ya no se puede avanzar porque ya son puestos políticos, y los puestos políticos, por supuesto, son inestables. Inf. (B): Bueno... pero eso ocurre absolutamente en todo el mundo. Pienso que eso ocurre absolutamente en todo el mundo, que es muy difícil... esté... qué sé yo. En este momento Nixon ha llevado su staff a gobernar y su staff son todos hombres, importantes empresarios; sus asesores serán economistas, como acá también el presidente tendrá sus asesores economistas. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 51) Entr. (A): Claro. Ahora este muchacho que era contador... me dijo que para hacer economía política había que tener algo que dirigir. Es decir... haber tenido una experiencia de dirección. Inf. (B): No, yo estoy totalmente en desacuerdo; estoy totalmente en desacuerdo. No me cabe la menor duda que Onassis a lo mejor no sabe nada de economía política y es uno de los más excepcionales economistas desde el punto de vista de la empresa, del mundo; y hay grandes... grandes economistas... Carlos Marx, posiblemente el economista más importante o uno de los más importantes que ha tenido la historia de la humanidad... si hubiera emprendido... yo no lo hubiera tenido de socio en una empresa; estoy seguro de que me hubiera fundido. No tiene nada que ver una cosa con la otra. (Entrevista - Buenos Aires)

Os dois exemplos estão inseridos em seqüências argumentativas.

Na primeira (ex. 50) o entrevistador dá dois casos específicos relacionados a

“este muchacho” e “otra chica” para exemplificar como premissa a sua orientação

argumentativa no que diz respeito à carreira de economia e sua imbricação política. O

informante intensifica a orientação argumentativa com um exemplo de autoridade Nixon

e neste caso o exemplo de maior peso político e argumentativo é destacado com o

composto.

Na segunda (ex. 51) o entrevistador retoma o caso específico referido ao actante

“este muchacho” e “otra chica” para introduzir novo tópico ou premissa argumentativa.

O informante desta vez não está de acordo com a nova orientação argumentativa e

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reformula a questão introduzindo, como exemplo, um novo argumento de autoridade

Carlos Marx, que é neste caso o contra-exemplo de maior peso político e argumentativo

e que é destacado com o composto.

Nos dois casos a passagem do simples (PS) para o composto (PC) denota uma

hierarquia da informação na orientação argumentativa. Ambos os exemplos tratam os

relatos com actantes indefinidos ou comuns (“este muchacho” e “otra chica”) com o

simples e para intensificar o argumento relatam casos específicos com actantes que têm

um certo grau de importância histórica (no caso, “Nixon” e “Carlos Marx”) com o

composto.

Ainda na entrevista de Buenos Aires, registramos dois casos de pretérito

composto seguidos da forma simples (PC → PS), ver ex. 52 e 53:

(Ex.: 52) Inf. (A): ...de las que yo he conocido. No sé si está claro. Entr. (B): Sí, está muy claro. Está muy bien argumentado; pero ahora yo lo quiero sacar de eso, de esa posición de lógica estricta en la que se colocó y dígame qué otra actividad... esté... le duele en el corazón cuando piensa que pudo haberla hecho porque tiene aptitudes para ella y no la hizo. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 53) Inf. (A): Claro, aparte esté... en este momento es esté... el único hombre... que tiene una vivencia fuera del país; de toda nuestra música el único que tiene una realmente trascendencia, se ha proyectado fuera del país es Ramírez. Entr. (B): Además lanzó el folclore a una dimensión que antes no tenía. (Entrevista - Buenos Aires)

Nos dois exemplos (52 e 53) temos a oposição entre ações durativas e ações

pontuais dentro de um enquadre argumentativo. No ex. 52, o informante fecha seu turno

de fala com um composto, reitera seu ponto de vista com uma afirmação genérica que

intensifica a conclusão. Já o entrevistador reorienta o tema conversacional para uma

situação mais específica relacionada à experiência do informante e não aos casos gerais,

nessa volta a um relato específico reaparece o simples. Já no ex. 53, o informante

intensifica seu argumento citando um actante reconhecido, um artista de sucesso

Ramírez, usando o composto. O entrevistador está de acordo com a orientação

argumentativa e introduz um exemplo com dados específicos que reiteram o dito e a

orientação argumentativa do informante.

Nesses dois casos o contraste do composto com o simples remete à passagem de

situações em geral a casos mais específicos, que dentro da argumentação justificam a

afirmação com ações pontuais.

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Acreditamos que além do condicionamento relacionado ao gênero textual, às

tradições discursivas e à organização discursiva, a distribuição dos pretéritos simples e

composto também está condicionada nas três variantes dialetais pela seqüência

discursiva, fator que analisaremos a seguir.

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4.4 Seqüência discursiva

Outra hipótese parcial nossa é que o uso dos pretéritos é variável em função da

seqüência discursiva na qual está inserido. Nossa hipótese é que, considerando os três

diferentes centros urbanos analisados, a seqüência discursiva relacionada à função

comunicativa predominante é um fator que condiciona a seleção dos pretéritos.

Dividimos as notícias e as entrevistas em seqüências e as classificamos em

quatro tipos de seqüências discursivas: a narrativa, a descritiva, a argumentativa e a

enunciativa (chamadas de modo de organização do discurso por Charaudeau, 2008).

Vejamos, resumidamente, os componentes principais de cada seqüência (ou,

modo de organização do discurso proposto por Charaudeau, 2008). Sobre o modo

narrativo, o autor revela que três são os seus componentes: os actantes, os processos e

as seqüências narrativas. Com relação ao modo descritivo, afirma que três são os seus

componentes, ao mesmo tempo, autônomos e indissociáveis: nomear, localizar-situar e

qualificar. Sobre os elementos que compõem o modo argumentativo, afirma que são:

asserção de partida (premissa), uma asserção de chegada (conclusão) e uma ou várias

asserções de passagem que permitem passar de uma a outra (inferência, argumento).

Por fim, o modo de organização enunciativo, que é uma categoria do discurso que

aponta para a maneira pela qual o sujeito falante age na encenação do ato de

comunicação.

A função comunicativa predominante de cada uma dessas seqüências seria:

a) situar uma experiência pessoal no tempo, ordenando eventos numa seqüência

temporal progressiva a partir de um momento anterior ao da enunciação em direção ao

agora para relatar uma mudança de estado, ou transformação, no caso das seqüências

narrativas;

b) identificar, qualificar e localizar entidades ou eventos no tempo e no espaço,

no caso das seqüências descritivas;

c) construir uma verdade através de procedimentos de lógica, relações de causa e

efeito, no caso das seqüências argumentativas e;

d) interagir com alguns dos elementos constitutivos da cena da enunciação, nas

seqüências enunciativas. No nosso trabalho classificamos as seqüências de discurso

direto como seqüências enunciativas, ou seja, todas as seqüências que reproduzem a

fala de um actante, aparecendo entre aspas e em perguntas diretas, instâncias de fala

reportada, tanto nas notícias quanto nas entrevistas.

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Nossa hipótese é que o tipo de seqüência discursiva ou modo de organização do

discurso (narrativo, descritivo, argumentativo ou enunciativo) pode ser um fator

inibidor ou favorecedor do uso do pretérito simples ou composto nos diferentes centros

urbanos analisados. Também esperamos encontrar diferentes distribuições de

seqüências discursivas nos dois gêneros tratados, notícias e entrevistas, e diferenças nos

resultados no que diz respeito à distribuição oral e escrita da variação dessas duas

formas de pretéritos.

Vejamos a seguir, os resultados encontrados no nosso corpus.

4.4.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Seqüência discursiva PS PC PS PC PS PC

Narrativa 44/10044%

56/10056%

53/56 95%

3/56 5%

136/141 96%

5/141 4%

Descritiva 0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

Argumentativa 0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

Notícias

Enunciativa 1/4 25%

3/4 75%

0/0 0%

0/0 0%

6/9 67%

3/9 33%

Tabela 8: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por seqüência discursiva (notícias)

Pela tabela 8, verificamos que as seqüências narrativas são as seqüências

predominantes nas notícias que analisamos, seguidas de seqüências enunciativas que

correspondem às seqüências de fala reportada ou discurso direto.

O comportamento diferenciado no que diz respeito à distribuição dialetal da

variação entre as notícias permanece. Temos nas notícias de Madri uma maior

freqüência de pretérito composto e nas notícias da Cidade do México e de Buenos

Aires, uma maior produtividade da forma simples.

Na seqüência narrativa das notícias de Madri, foram encontradas mais

ocorrências da forma composta do que da simples, o contrário do que se costuma

afirmar sobre o uso dos pretéritos para esse tipo de seqüência discursiva. De acordo com

a bibliografia, a forma simples e não a composta costuma ser a empregada em narrativas

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102

por relatar eventos passados com relação ao momento da enunciação, tidos como

efetivamente ocorridos, ordenados uns com relação aos outros num eixo cronológico.

Sendo assim, podemos afirmar que o resultado encontrado confirmaria a nossa hipótese

de que o pretérito composto está avançando e ocupando contextos do pretérito simples

em Madri, mesmo em seqüências narrativas, (ver ex. 54):

(Ex.: 54) Desde Ankara, el viceprimer ministro turco, Cemil Cicek, ha pedido hoy a los rebeldes del PKK que depongan sus armas, y ha anticipado nuevos ataques contra las posiciones de las milicias en el norte de Irak, como las que han tenido lugar a lo largo de esta mañana. (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque)

Possivelmente o caráter temporal e aspectual intrínseco às circunstâncias

temporais “hoy” e “a lo largo de esta mañana” tenham influenciado na escolha da

forma composta nessa seqüência narrativa, mas como veremos em 4.5, a maioria dos

casos de pretéritos não vem marcados por circunstância temporal alguma e mesmo

assim predomina o composto.

Com relação ao uso dos pretéritos na seqüência enunciativa, encontramos um

caso em que o verbo apareceu na forma simples e três na forma composta, (ver ex. 55,

56 e 57):

(Ex.: 55) En su intervención, Thaçi se ha dirigido a los presentes diciendo que “nunca perdimos la confianza en nosotros mismos ni la convicción de que en un día seríamos parte de las naciones libres y democráticas”. (Notícia 4 - Madri: Independência de Kosovo) (Ex.: 56) “El día ha llegado.” Son las palabras del primer ministro kosovar, Hashim Thaçi, que se refieren directamente al sueño hecho realidad de los kosovares: Kosovo es independiente. (Notícia 4 - Madri: Independência de Kosovo) (Ex.: 57) “Tenemos la oportunidad de cimentar la estabilidad y recorrer la senda que hemos estado siguiendo en los últimos años”, ha proclamado el ganador de las elecciones apenas dos horas después del cierre de las urnas, subido al escenario de un concierto de rock en la Plaza Roja de Moscú, acompañado del propio Putin, quien ha asegurado que “el pueblo ha votado continuidad”. (Notícia 5 - Madri: Cenário político russo)

Esses dados referentes ao discurso direto parecem assinalar a preferência pelo

composto como marca de oralidade nesta variante dialetal.

No que se refere aos resultados das notícias da Cidade do México, pela tabela 8

constatamos que no corpus analisado, predomina o pretérito simples (95% do total de

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103

verbos encontrados) sobre o composto (apenas 5% do total). E todas as ocorrências

foram encontradas na seqüência narrativa, (ver ex. 58):

(Ex.: 58) Las cuatro azafatas españolas retenidas desde hace más de una semana en el Chad por su presunta implicación en un intento de secuestro de niños fueron liberadas y se disponen a viajar a París en el avión del presidente francés, Nicolas Sakorzy, informaron fuentes del Ministerio de Asuntos Exteriores. (Notícia 1 - Cidade do México: Liberação das aeromoças)

No entanto, merecem destaque as três ocorrências de pretérito composto na

seqüência narrativa da notícia da Cidade do México, como já vimos anteriormente nos

exemplos 10, 11 e 12 (seção 4.3.1). Nos três casos o composto marca o final da

seqüência narrativa.

Quanto aos resultados das notícias de Buenos Aires, constatamos pela tabela 8

que, no corpus analisado, predominam as seqüências narrativas, nas quais é muito mais

significativo numericamente o emprego do pretérito simples (136 ocorrências, ou seja,

96% do total), o que resulta num número muito reduzido do pretérito composto (5

ocorrências, representando 4% do total) em seqüências narrativas.

Esses cinco dados correspondentes aos exemplos 21, 22, 23 e 24 já foram

previamente analisados na seção 4.3.1, três deles (ex. 21, 22 e 23) co-ocorrem na

mesma notícia (Notícia 5), e são uma estratégia de Passado Anterior, enquanto que os

outros dois (ambos presentes no ex. 24), também co-ocorrem na mesma notícia e são

uma estratégia de Contra Argumentação (Notícia 1).

Na seqüência enunciativa, vemos uma preferência pela forma simples (6

ocorrências, ou seja, 67% do total). No entanto, como também já analisamos na seção

4.3.1 há três ocorrências da forma composta (ex. 18, 19 e 20).

Nas duas primeiras (ex. 18 e 19) se trata de casos dados como terminados,

definitivos, enquanto que na última se trata de uma ação em começo de

desenvolvimento (ex. 20). Qual a diferença entre esses três casos em composto no

discurso direto e os seis casos que listamos a seguir, em simples?

Os exemplos 59 e 60 contrastam com os exemplos com o verbo na forma

composta (ex. 18, 19 e 20). “Se terminó” é um uso bastante menos solene e formulaico

que “ha concluido el caso”.

(Ex.: 59) “Están libres. Se terminó. Ha concluido” el caso, dijo su abogado Jean Bernard Padare. (Notícia 1 - Buenos Aires: Liberação das aeromoças)

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(Ex.: 60) “Se acabó la paciencia. Basta de atropello”. (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

Entretanto as três expressões têm usos bastante convencionalizados para

marcar com veemência o fim de um estado inadmissível com o simples, jurídico com o

composto: “se terminó”, “ha concluido el caso”, “se acabó... basta de...”.

O exemplo 61 contrasta com o exemplo 19, a única diferença é que o simples no

exemplo 61 abaixo introduz uma seqüência de ações enquanto que, em 19, fecha a

seqüência de ações enunciadas.

(Ex.: 61) El presidente kosovar, Fatmir Sejdiu, señaló ante la prensa en Pristina que “ahora que se proclamó la independencia, tengo el honor de invitar a todos los países del mundo a establecer relaciones normales diplomáticas con nosotros” (Notícia 4 - Buenos Aires: Independência de Kosovo)

Vejamos os outros três exemplos:

(Ex.: 62) “El embajador ruso ante la ONU, Vitali Churkin, pidió al presidente del Consejo de Seguridad hace sólo unos minutos convocar este mismo domingo consultas urgente”, precisó la portavoz. (Notícia 4 - Buenos Aires: Independência de Kosovo) (Ex.: 63) Andrei, un estudiante de 22 años que prefirió no dar su apellido, dijo: “Voté por Medvedev porque pienso que es el mejor candidato, pero desearía que hubiera aspirantes más serios en las elecciones”. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo) (Ex.: 64) “Nuestras dudas dentro de la delegación del Consejo de Europa están más relacionadas con las campañas, que tuvieron acceso desigual a los medios”, dijo el parlamentario polaco Tadeusz Iwinski desde la ciudad de Yaroslavl, 260 kilómetros al norte de Moscú. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

Os exemplos 62, 63 e 64 reiteram a função do simples de fazer avançar a série

de ações sucessivas que compõem o relato e que parecem confirmar, então, o papel mais

conclusivo ou de destaque do final que pode ter o composto nesta variante dialetal em

seqüências narrativas, orais ou escritas.

Passemos ao resultado encontrado nas entrevistas.

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105

4.4.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Seqüência discursiva PS PC PS PC PS PC

Narrativa 17/33 52%

16/33 48%

1/1 100%

0/1 0%

22/25 88%

3/25 12%

Descritiva 3/21 14%

18/21 86%

9/15 60%

6/15 40%

30/41 73%

11/41 27%

Argumentativa 3/30 10%

27/30 90%

7/14 50%

7/14 50%

2/5 40%

3/5 60%

Entrevistas

Enunciativa 1/5 20%

4/5 80%

14/14 100%

0/14 0%

11/11 100%

0/11 0%

Tabela 9: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por seqüência discursiva (entrevistas)

Os resultados das entrevistas são muito mais heterogêneos quanto às

seqüências discursivas do que os das notícias (predominantemente narrativas, com

algumas seqüências enunciativas). No caso das entrevistas, não há uma seqüência

predominante. Na entrevista de Madri analisada predominam as seqüências narrativa,

argumentativa e descritiva. Na entrevista da Cidade do México analisada predominam

as seqüências descritiva, enunciativa e argumentativa. E, na entrevista de Buenos Aires,

predominam as seqüências descritiva, narrativa e enunciativa. Ou seja, a orientação

seqüencial da entrevista é variável.

Na entrevista de Madri, o simples prevalece sobre o composto nas seqüências

narrativas (52%), ao contrário do resultado obtido nas notícias em que o composto

prevalece sobre o simples em seqüências narrativas (56%). Essa inversão dos resultados

marcaria uma preferência pelo simples em narrativas orais e pelo composto em

narrativas escritas de notícias on line?

(Ex.: 65) Inf.: En mi familia, siempre se cuenta el caso de un vecino de mi padre que vivieron pues cincuenta años, tenían hijos, imagínate, de cuarenta y nueve, y cuando él estaba... un día que este se puso muy malo, vino el cura de la parroquia y dijo que debían de casarse. El señor este no se murió, sino que se puso bien y, bueno, a partir de aquel momento, fue una auténtica catástrofe. (Entrevista - Madri)

No entanto, embora a forma simples tenha sido a mais produtiva, a

percentagem da forma composta também é bastante alta (48%), se comparada à mesma

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seqüência discursiva nas duas outras entrevistas (da Cidade do México - 0% e de

Buenos Aires - 12%), ver ex. 66:

(Ex.: 66) Inf.:¡Ah!, sí. Bueno, he estado trabajando todo el mes de agosto y luego he ido... he estado veinte días en los Pirineos. He entrado por Fuenterrabía... (Entrevista - Madri)

Nas demais seqüências descritiva, argumentativa e enunciativa há uma

preferência quase absoluta pela forma composta, resultado que confirma a nossa

hipótese do avanço do composto sobre contextos do simples em textos orais bem maior

que em textos escritos. Nas seqüências enunciativas há um 80% de formas compostas

que contrastam com um 20%, equivalente a um único caso de pretérito simples na

seqüência enunciativa, (ver ex. 67):

(Ex.: 67) Inf.: No, no es que te endurezca, es que... es que es lo mismo cuando estás leyendo una novela y tú dices: “Fíjate qué reacción tuvo fulanito”, y a lo mejor, esa misma reacción tú la has visto en una persona y no te has dado cuenta de ella. No sé si me explico, quiero decirte... (Entrevista - Madri)

Qual a motivação para o uso desse único caso de simples em contrapartida com

os quatro casos de composto encontrados, na entrevista de Madri, em seqüências

enunciativas, (ver ex. 68, 69, 70 e 71)?

(Ex.: 68) Inf.: Pero como las cosas pasan mucho más entremezcladas y mucho más oscuras todas, pues no... no es tan directo decir: “Yo he matado a este individuo”. (Entrevista - Madri) (Ex.: 69) Inf.: Esa es la pregunta tan típica de “¿tú has tenido novio?”, y entonces dices: “No”, y dice: “Ts... ts”. (Entrevista - Madri) (Ex.: 70) Entr.: Ahora, ¿tú crees que durante dos años uno no ha tenido tiempo realmente...? (Entrevista - Madri) (Ex.: 71) Entr.: ¿Y has salido por...? (Entrevista - Madri)

É difícil explicar porque se seleciona o simples ou o composto nestes

exemplos. Qual a motivação discursiva? A seleção do simples parece estar relacionada à

avaliação final de uma seqüência narrativa se comparada aos exemplos 68, 69, 70 e 71.

Com relação à entrevista da Cidade do México, nas seqüências narrativa e

enunciativa, a forma verbal de passado apareceu categoricamente na forma simples

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(100% do total), o que poderia indicar que o uso anteriormente descrito em 4.4.1 do

composto como marca final da narrativa é uma estratégia escrita, possivelmente

relacionada à tradição discursiva do gênero, notícia.

Já a seqüência descritiva parece favorecer o uso do composto, nas entrevistas.

Os seis casos descritivos na entrevista da Cidade do México já foram analisados na

seção 4.3.2. São seqüências descritivas localizadas num passado mais remoto, às vezes

com aspecto durativo e às vezes em variação livre com o simples.

A seqüência argumentativa tem um percentual dividido. Como também vimos na

seção 4.3.2, a forma composta aparece em seqüências argumentativas, para destacar o

argumento final ou o contra argumento, ou fechar o tópico conversacional.

Na entrevista de Buenos Aires, o pretérito simples prevalece nas seqüências

narrativas, descritivas e enunciativas. Entretanto, o composto prevalece nas seqüências

argumentativas, (ver ex. 72):

(Ex.: 72) Inf.: No, yo estoy totalmente en desacuerdo; estoy totalmente en desacuerdo. No me cabe la menor duda que Onassis a lo mejor no sabe nada de economía política y es uno de los más excepcionales economistas desde el punto de vista de la empresa, del mundo; y hay grandes... grandes economistas... Carlos Marx, posiblemente el economista más importante o uno de los más importantes que ha tenido la historia de la humanidad... si hubiera emprendido... yo no lo hubiera tenido de socio en una empresa; estoy seguro de que me hubiera fundido. No tiene nada que ver una cosa con la otra. (Entrevista - Buenos Aires)

Esse exemplo nos leva a reafirmar que a forma composta nesse contexto parece

ser usada para reforçar um argumento, além disso, vemos também um total engajamento

do sujeito no discurso. Preferimos esta interpretação à de que o composto foi

selecionado pela noção temporal-aspectual, considerando que, segundo o informante,

Carlos Marx é um dos economistas mais importantes já vistos na história da

humanidade até os dias atuais.

Nas seqüências narrativas, os três casos parecem ter uma função de comentário

(fundo da narrativa), fazendo referência a um Passado Anterior ao do tempo narrado,

(ver ex. 73, 74 e 75):

(Ex.: 73) Entr.: Yo he recogido justamente dos o tres opiniones respecto a esto, ¿no?, la última es la de un contador al cual entrevisté. Bueno, este muchacho estaba muy pegado a su carrera y dijo que esa parte a él no le interesaba y que no había pensado mucho en las perspectivas; en cambio conozco otra chica que está estudiando Economía Política y dice que aquí... se puede llegar hasta ciertos puestos y que después entonces ya no se puede avanzar porque ya son puestos políticos, y los puestos políticos, por supuesto, son inestables.

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(Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 74) Inf.: Vino con... del Cioppo... y no con esta puesta de... de Brecht, que es lo más importante que personalmente yo he visto. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 75) Entr.: A mí me parece; yo tengo esa impresión porque yo he sido muy refractaria al tango toda mi vida, pero a partir de los treinta para... para arriba empecé a sentirlo, ¿no?, sobre todo el tango de Piazzola. (Entrevista - Buenos Aires)

Os três fazem parte de avaliações da narrativa e marcam um posicionamento

subjetivo do falante frente ao que está sendo narrado.

Analisadas as seqüências discursivas, passemos à análise das circunstâncias

temporais.

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4.5 Circunstância temporal

Diversos autores apontam as circunstâncias temporais como um dos principais

fatores condicionadores da oposição entre os pretéritos. Segundo a tradição gramatical e

o material didático de E/LE 27, analisados em pesquisas anteriores, circunstâncias que

incluem o momento presente (como hoy, esta semana, ya...) condicionariam o uso do

composto, enquanto que, circunstâncias que excluem o momento presente (como ayer,

la semana pasada, anoche...), condicionariam o uso do simples.

No entanto, essa “sistematização” que costuma ser empregada não nos parece

pertinente uma vez que examinamos dados da língua em uso. Em vez de analisar as

circunstâncias em dois blocos, preferimos estudá-las e separá-las de acordo com a

classificação de Costa (2002).

Segundo a autora, as circunstâncias temporais 28 podem ser classificadas em: a)

circunstâncias temporais propriamente ditas (de localização temporal), b)

circunstâncias pontuais, c) circunstâncias de freqüência, d) circunstâncias durativas e

e) circunstâncias de ordenação temporal.

As circunstâncias de localização temporal, para Costa (2002) são aquelas que

marcam o momento cronológico da ação, expressam o momento globalmente

considerado. Exemplos desse tipo de circunstância encontrados no corpus são: hoy, este

domingo, apenas dos horas después, ayer, pocos minutos antes de las nueve de la

27 Durante a Iniciação Científica, analisamos alguns manuais didáticos de E/LE: Abanico (Barcelona, Difusión, 1995), Aula Internacional (Barcelona, Difusión, 2006) Avance (Madrid, SGEL, 1999/2002), Español sin fronteras (Madrid, SGEL, 1997), Gente (Barcelona, Difusión, 2000), Intercambio (Barcelona, Difusión, 2002), Planeta (Madrid, Edelsa, 1998), Prisma (Madrid, Edinumen, 2003), Sueña (Madrid, Anaya, 2000), Ven (Madrid, Edelsa, 1990/2000), Vuela (Madrid, Anaya, 2004). 28 Costa (2002) denomina de circunstanciais temporais os elementos que são tradicionalmente rotulados de advérbios, locuções adverbiais, conjunções e formulações oracionais que servem para expressar o tempo. Por uma questão terminológica, decidimos chamar tais circunstanciais temporais de circunstâncias temporais. Piñero Piñero (1998), em seu estudo sobre a variação dos pretéritos em Canárias, entende por circunstâncias temporais (o que chama de indicadores temporais de natureza extra verbal) os elementos que desempenham, com relação às formas verbais, a função de complemento circunstancial, qualquer que seja a caracterização morfossintática de que disponha. São contemplados: advérbios, locuções adverbiais, sintagmas preposicionais ou grupos nominais de valor adverbial, cláusulas subordinadas adverbiais de caráter temporal e pronomes relativos que, funcionando na oração correspondente como circunstanciais, tenham como referente uma seqüência temporal de constituição análoga a qualquer das citadas. Para Duarte (2007), as circunstâncias temporais caracterizam as circunstâncias relacionadas ao evento: o quando e o como. Trata-se de termos que se adjungem à sentença situando o evento no tempo, respondendo às perguntas (quando?) e têm a estrutura de um sintagma adverbial (SAdv) ou vêm sob a forma de sintagma preposicional (SPrep).

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noche, al mediodía de ayer, este mediodía, a las dos de la madrugada, el pasado jueves,

en 2005…

Já as circunstâncias temporais pontuais, expressam uma ocorrência

momentânea, o que impede, geralmente, a imperfectivização. No nosso corpus

encontramos apenas uma circunstância desse tipo: y luego.

As circunstâncias temporais de freqüência marcam a periodicidade e

regularidade das ocorrências expressas pelo fato verbal. Também apareceram em

número reduzido no nosso corpus: muchas veces, algunas veces e cada vez que.

As circunstâncias durativas são aquelas que expressam a imperfectividade, ou

seja, explicitam o período compreendido pelo desenvolvimento da ação. Em outras

palavras, como o próprio nome sugere, expressa a duração de uma determinada ação.

Exemplos encontrados nas amostras são: desde el 2003, a lo largo de varias semanas,

más de tres horas, mientras, hasta la noche, durante el fin de semana, durante la

jornada, durante el concierto, durante la votación…

Por fim as circunstâncias de ordenação temporal, que funcionam como

elementos ordenadores das ações, ou seja, informam sobre o desenrolar de uma ação na

direção de um fim que se coloca, desde o primeiro momento, como a expectativa

desejada. Embora tenham aparecido poucas vezes no corpus, encontramos as seguintes:

todavía no e ya.

A classificação de Costa (2002) em cinco categorias semânticas nos parece

mais adequada para o nosso objetivo de pesquisa. Assim, em vez de analisar as

circunstâncias temporais de acordo com a classificação da tradição gramatical e do

material didático de E/LE que as separam em dois blocos (as circunstâncias que incluem

o agora e as circunstâncias que excluem o agora), com a classificação de Costa (2002),

podemos verificar mais nuances de diferentes valores semânticos dessas circunstâncias

e controlar melhor se algum deles pode vir a condicionar o uso de uma forma ou outra

de passado.

A nossa hipótese, tendo em vista os resultados já mostrados em tópicos

anteriores, é que a circunstância temporal não é um fator determinante como costuma

ser defendido na seleção dos pretéritos. No entanto, não podemos negar que o estudo

das circunstâncias temporais merece destaque, não apenas devido aos seus diferentes

valores semânticos intrínsecos, mas também devido ao valor que atribui à forma verbal

com que co-ocorrem ou à frase em que estão inseridas.

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Também nos interessa verificar os contextos em que não há a presença de uma

circunstância, ou seja, os contextos mais recorrentes. Se, como se costuma afirmar, a

circunstância realmente é importante para a escolha dos pretéritos, o que condicionaria

tal escolha, quando há a ausência desse “artifício”? Em outras palavras, o que

condiciona a seleção dos pretéritos na maioria dos contextos?

As tabelas que se encontram a seguir nos mostram, no corpus, o resultado da

variável em questão:

4.5.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Notícias Madri Cidade do México

Buenos Aires

Processos COM circunstância temporal

29/104 28%

13/57 23%

28/149 19%

Processos SEM circunstância temporal

75/104 72%

44/57 77%

121/149 81%

Tabela 10: Total das ocorrências de pretéritos com / sem circunstância temporal (notícias)

Os resultados da tabela 10 mostram que nas notícias, as ocorrências de

pretéritos são mais produtivas sem a marca ou presença de uma circunstância temporal,

nos três centros urbanos em estudo. Portanto, a indicação didática “use o pretérito

simples com a circunstância X e o pretérito composto com a circunstância Y”, só poderia

ser aplicada a 20% dos dados, aproximadamente.

Faremos a seguir uma análise quantitativa e qualitativa desse percentual

reduzido de uso das circunstâncias temporais para tentar encontrar fatores

condicionantes da distribuição das formas verbais de passado (pretéritos simples e

composto) em Madri, Cidade do México e Buenos Aires, tendo em vista as amostras do

nosso corpus. Selecionamos todas as ocorrências de pretéritos com circunstância

temporal e classificamos as circunstâncias de acordo com a proposta Costa (2002), ver

tabela 11:

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Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Circunstância temporal

PS PC PS PC PS PC

Localização temporal

11/19 58%

8/19 42%

11/11 100%

0/11 0%

16/17 94%

1/17 6%

Pontual

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

Freqüência

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

Durativa

3/8 38%

5/8 62%

2/2 100%

0/2 0%

10/11 91%

1/11 9%

Notícias

Ordenação temporal

0/2 0%

2/2 100%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

Tabela 11: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por circunstância temporal (notícias)

Com uma rápida leitura da tabela 11 constatamos que as notícias de Madri tem

um resultado sempre diferente aos dados das notícias da Cidade do México e Buenos

Aires. Prevalecem as circunstâncias de localização temporal, com simples tanto nas

notícias de Madri quanto nas notícias da Cidade do México e Buenos Aires, entretanto,

o percentual de composto nas notícias de Madri, nesse contexto é bastante maior que o

das notícias da Cidade do México e Buenos Aires.

Em segundo lugar, as circunstâncias de duração favorecem o uso do composto

em Madri e o uso do simples em Cidade do México e Buenos Aires.

Vale ressaltar que dos cinco tipos de circunstâncias temporais propostos por

Costa (2002), só três foram os encontrados no nosso corpus escrito: circunstância de

localização temporal, de duração e de ordenação temporal, e este último só nas notícias

madrilenas. As circunstâncias pontuais e de freqüência não aparecem nas amostras de

notícias.

Podemos observar pelos resultados acima que, nas notícias de Madri as

circunstâncias de localização temporal, parecem favorecer o emprego do pretérito

simples (58% do total), ver ex. 76:

(Ex.: 76) Un juez de Yamena puso en libertad al mediodía de ayer a las cuatro azafatas españolas junto a los tres periodistas franceses, de entre los 17 europeos acusados de tráfico de niños. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças)

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No entanto, o percentual que aparece com o pretérito composto é bastante alto

(42%) se comparado ao resultado das notícias da Cidade do México (0%) e de Buenos

Aires (6%). Esse seria mais um indício de que a forma composta está aumentando os

seus contextos de uso.

Quanto às circunstâncias durativas e de ordenação temporal, parecem favorecer

o uso do pretérito composto. Vale destacar que a última, ou seja, a circunstância de

ordenação temporal aparece apenas nas notícias de Madri e em número restrito, apenas

duas ocorrências, (ver ex. 77 e 78):

(Ex.: 77) Dicho encuentro todavía no se ha producido. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças) (Ex.: 78) Los autorizados a batirse con el designado del Kremlin fueron arrinconados en espacios televisivos marginales, mientras los telediarios eran copados por Medvédev, en su calidad de viceprimer ministro, y por Putin, que ya ha anunciado que será el nuevo jefe del Gobierno. (Notícia 5 - Madri: Cenário político russo)

No quadro 7, apresentamos o repertório das circunstâncias temporais que

encontramos nas notícias de Madri, acompanhando o verbo tanto na forma simples

quanto na forma composta, distribuído segundo a classificação de Costa (2002):

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114

Madri

Circunstância temporal

PS PC

Localização temporal

. ayer (3) . pocos minutos antes de las

nueve de la noche . cuando

. al mediodía de ayer . este mediodía

. alrededor de las 21.00 horas . a las 2 de la madrugada

. el pasado jueves . en 2005

. hoy (4) . tras la votación . este domingo

. apenas dos horas después . para hoy

Pontual

- -

Freqüência

- -

Durativa

. desde que . mientras

. nunca

. desde el comienzo de la crisis

. al tiempo que . varias horas

. a lo largo de esta mañana, . en los últimos años

Notícias

Ordenação temporal

- . todavía no . ya

Quadro 7: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias de Madri

As circunstâncias “este mediodía” e “este domingo”, ambas classificadas como

circunstâncias de localização temporal e apresentando a mesma semântica, atribuída

pelo demonstrativo “este”, merecem a nossa atenção devido a oscilação que apresentam

no corpus de Madri. Vemos pelos exemplos que aparecem tanto com o verbo na forma

simples quanto na forma composta, (ver ex. 79 e 80):

(Ex.: 79) Sarkozy se trasladó a Chad para meditar en la crisis y logró embarcar este mediodía de regreso a Francia junto a las cuatro españolas y los tres franceses. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças) (Ex.: 80) Dmitry Medvédev, el hombre escogido por Vladímir Putin para sucederle, ha ganado con rotundidad las elecciones presidenciales celebradas este domingo en Rusia, cuya transparencia ha sido puesta en duda tanto por los escasos observadores internacionales que han podido seguir sobre el terreno la votación como por la oposición, que ha anunciado que contestará “la farsa” en la calle. (Notícia 5 - Madri: Cenário político russo)

Vemos que há uma maior variedade de circunstância temporal de localização

temporal que parece favorecer o emprego da forma simples e uma maior variedade de

circunstância durativa que parece favorecer o emprego da forma composta. Com relação

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115

às circunstâncias de ordenação temporal, apenas foram encontradas duas ocorrências e

ambas com o verbo no pretérito composto, (ver ex. 81 e 82):

(Ex.: 81) Dicho encuentro todavía no se ha producido. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças) (Ex.: 82) Los autorizados a batirse con el designado del Kremlin fueron arrinconados en espacios televisivos marginales, mientras los telediarios eran copados por Medvédev, en su calidad de viceprimer ministro, y por Putin, que ya ha anunciado que será el nuevo jefe del Gobierno. (Notícia 5 - Madri: Cenário político russo)

As circunstâncias “mientras”, “desde que” e “nunca” (esta última com

polaridade negativa, será tratada mais detidamente na seção seguinte, 4.6) favorecem o

uso do pretérito simples nas notícias madrilenas e parecem inibir o uso do composto.

Com relação ao resultado das notícias da Cidade do México (tabela 11),

encontramos ocorrências de dois tipos de circunstâncias: de localização temporal e de

duração. Ambas aparecem acompanhando apenas verbos no pretérito simples (100%).

Temos também o repertório das circunstâncias temporais que encontramos nas

notícias da Cidade do México, acompanhando, como dissemos, apenas verbos na forma

simples, distribuído segundo a classificação de Costa (2002), ver quadro 8:

Cidade do México

Circunstância temporal

PS PC

Localização temporal

. el pasado día 25 . hoy (2)

. el domingo por la madrugada . el jueves

. del domingo (2) . el domingo (2)

. la semana pasada . el sábado

-

Pontual

- -

Freqüência

- -

Durativa

. durante el fin de semana . mientras

-

Notícias

Ordenação temporal

- -

Quadro 8: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias da Cidade do México

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116

Não há ocorrências de pretérito composto acompanhado por circunstância

temporal, vejamos dois exemplos com a forma simples. No exemplo 83, o pretérito

simples está acompanhado por uma circunstância de localização temporal e no exemplo

84, por uma durativa:

(Ex.: 83) Las azafatas fueron detenidas el pasado día 25 junto otros tres tripulantes del vuelo de la compañía aérea española Girjte que contrató la ONG francesa “Arca de Zoé” , acusada por las autoridades chadianas de intento de secuestro de 103 niños y de estafa. (Notícia 1 - Cidade do México: Liberação das aeromoças) (Ex.: 84) Kosovo aún está protegida por unos 16 mil soldados de paz de la OTAN, y la alianza reforzó sus patrullajes durante el fin de semana en busca de desalentar hechos violentos. (Notícia 4 - Cidade do México: Independência de Kosovo)

Nas notícias de Buenos Aires, foram encontradas as mesmas circunstâncias que

apareceram nas notícias da Cidade do México: localização temporal e durativa (ver

tabela 11). No entanto, embora apareçam quase que exclusivamente acompanhando

verbos no pretérito simples (94% e 92% do total), também encontramos ocorrências

com a forma composta.

Repertoriamos também as circunstâncias temporais que encontramos nas

notícias de Buenos Aires, acompanhando o verbo tanto na forma simples (maioria dos

casos) quanto na forma composta (exemplos significativos), distribuído segundo a

classificação de Costa (2002), ver quadro 9:

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117

Buenos Aires

Circunstância temporal

PS PC

Localização temporal

. tras la intercesión . tras recibir la autorización

. el domingo . cuando

. el jueves . ayer

. de ayer . temprano

. poco antes del mediodía . minutos después

. nueve años después . hoy (3)

. hace solo unos minutos . en los últimos meses

. a partir de ahora

Pontual

- -

Freqüência

- -

Durativa

. a lo largo de varias semanas . desde el 2003

. más de tres horas . mientras

. hasta la noche . tras arduos meses

. durante la jornada . durante un concierto . durante el concierto . en estas elecciones

presidenciales

. durante la votación

Notícias

Ordenação temporal

- -

Quadro 9: Repertório de circunstâncias temporais encontradas nas notícias de Buenos Aires

A grande variedade de circunstância de localização temporal parece favorecer o

emprego do pretérito simples. Encontramos uma única ocorrência com o verbo na forma

composta, ver ex. 85:

(Ex.: 85) “A partir de ahora, Kosovo ha cambiado de posición política. A partir de ahora somos un Estado independiente, libre y soberano”, declaró el presidente del Parlamento Jakup Krasniqi a los diputados, que poco antes habían votado por aclamación la independencia de Kosovo de Serbia en una sesión extraordinaria. (Notícia 4 - Buenos Aires: Independência de Kosovo)

Com relação às circunstâncias durativas, vemos que a sua grande variedade

também parece favorecer o pretérito simples. O curioso é que a única ocorrência que

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118

encontramos com o verbo no pretérito composto (“durante...”) também foi encontrada

com o verbo no pretérito simples, (ver ex. 86 e 87):

(Ex.: 86) Los críticos al Kremlin sostuvieron durante la jornada que las mayores estaciones de televisión otorgaron una extensa cobertura a favor de Medvedev y destacaron que los funcionarios electorales prohibieron a varios candidatos opositores que se presenten en los comicios. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo) (Ex.: 87) Putin defendió además el desarrollo de los comicios, cuyos críticos han denunciado la ausencia de candidatos liberales e incluso presuntas violaciones durante la votación. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

No quadro abaixo, por curiosidade, separamos as circunstâncias coincidentes

que apareceram nas notícias dos três centros urbanos:

Notícias

Circunstâncias Madri Cidade do

México Buenos Aires

hoy PC (4) PS (1) PS (3) tras (la votación, la intercesión, recibir la

autorización, arduos meses) PC (1) - PS (3)

desde (que, el comienzo de la crisis, el 2003) PS (1) / PC (1) - PS (1) a lo largo de (esta mañana, varias semanas) PC (1) - PS (1)

en los últimos (años, meses) PC (1) - PS (1) durante (el fin de semana, la jornada, un

concierto, el concierto, la votación) - PS (1) PS (3) / PC (1)

Quadro 10: Repertório de circunstâncias coincidentes encontradas nas notícias

Comparando os dados encontrados para Madri e Buenos Aires (as notícias da

Cidade do México não apresentaram dados muito favoráveis à comparação), podemos

observar que, embora sendo as mesmas circunstâncias – “hoy”, “tras (...)”, “a lo largo

de (...)”, “en los últimos (...)” – a forma verbal de passado selecionada nas notícias

madrilenas é a composta, enquanto que, nas notícias de Buenos Aires, as mesmas

circunstâncias selecionam a forma verbal simples, (ver ex. 88 e 89):

(Ex.: 88) Por su parte, la embajadora española en Camerún, María Jesús Alonso, desplazada desde hace días a Chad para tratar la situación, ha pedido hoy al juez permiso para ver a los españoles detenidos. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças)

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119

(Ex.: 89) Rusia pidió hoy una reunión urgente del Consejo de Seguridad de la ONU en relación con la proclamación unilateral de independencia de Kosovo, según declaraciones de la portavoz de la misión rusa ante las Naciones Unidas en Nueva York, María Zajárova. (Notícia 4 - Buenos Aires: Independência de Kosovo)

Esses exemplos confirmam a nossa hipótese de que a circunstância temporal não

parece condicionar a seleção dos pretéritos. A circunstância temporal “hoy”, que seria

“própria” para o uso do pretérito composto, aparece no exemplo 89 com o verbo na

forma simples.

Outros dois exemplos merecem a nossa atenção. Ainda na tabela 11, temos uma

única ocorrência de circunstância com a forma simples nas notícias de Madri e uma

única ocorrência de circunstância com a forma composta nas notícias de Buenos Aires,

ver ex. 90 e 91:

(Ex.: 90) Esta muerte es la primera desde que Turquía anunció que bombardearía las bases de los rebeldes kurdos en las montañas de Qandil el pasado octubre. (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque) (Ex.: 91) Putin defendió además el desarrollo de los comicios, cuyos críticos han denunciado la ausencia de candidatos liberales e incluso presuntas violaciones durante la votación. ((Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

Como dito anteriormente, também nos interessa verificar quando não aparece

circunstância temporal acompanhando uma forma verbal, visto que esses são os

contextos mais freqüentes. Nas notícias de Madri, como esperávamos, encontramos

mais ocorrências de pretérito composto e nas notícias da Cidade do México e de Buenos

Aires, pretérito simples, (ver ex. 92, 93 e 94):

(Ex.: 92) Una mujer ha muerto en los bombardeos, y otras dos personas han resultado heridas (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque) (Ex.: 93) Todas las aeronaves regresaron a sus bases, añadió la fuente. (Notícia 2 - Cidade do México: Ataque ao Iraque) (Ex.: 94) Sin embargo, la tensión persiste: en su acto en La Paz, Morales criticó duramente a los departamentos rebeldes, los instó a “devolver el dinero que pertenece a todo el pueblo boliviano”, aseguró que “confunden autonomía con separación” y afirmó que no cederá “ni un milímetro” en su postura. (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

Talvez os próximos fatores nos ajudem a entender a distribuição dos pretéritos

quando não há a presença de uma circunstância (de fato, comprovamos que esta

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120

tampouco é um fator decisivo na seleção dos passados) assim como as pistas já

levantadas pela análise de outras variáveis.

Passemos aos resultados das entrevistas.

4.5.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Entrevistas Madri Cidade do México

Buenos Aires

Processos com circunstância temporal

33/89 37%

11/44 25%

18/83 22%

Processos sem circunstância temporal

56/89 63%

33/44 75%

65/83 78%

Tabela 12: Total das ocorrências de pretéritos com / sem circunstância temporal (entrevistas)

O resultado da tabela acima é igualmente interessante e coincide com o

resultado obtido para as notícias. As ocorrências de pretéritos nas entrevistas dos três

centros urbanos em estudo são mais produtivas sem a marca ou presença de uma

circunstância temporal.

Para verificar as ocorrências de pretéritos com circunstância temporal,

selecionamos todos os casos e distribuímos as circunstâncias de acordo com a

classificação proposta Costa (2002), ver tabela 13:

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Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Circunstância temporal

PS PC PS PC PS PC

Localização temporal

4/20 20%

16/20 80%

6/7 86%

1/7 14%

4/5 80%

1/5 20%

Pontual

1/4 25%

3/4 75%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

Freqüência

0/1 0%

1/1 100%

0/0 0%

0/0 0%

0/3 0%

3/3 100%

Durativa

0/5 0%

5/5 100%

2/2 100%

0/2 0%

6/7 86%

1/7 14%

Entrevistas

Ordenação temporal

3/3 100%

0/3 0%

2/2 100%

0/2 0%

3/3 100%

0/3 0%

Tabela 13: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por circunstância temporal (entrevistas)

À primeira vista, podemos dizer que o comportamento diferenciado nas

entrevistas também permanece. Há mais ocorrências de circunstâncias temporais

acompanhando a forma composta na entrevista de Madri (com exceção das

circunstâncias de ordenação temporal que apareceram apenas com o pretérito simples),

uma freqüência quase absoluta das circunstâncias temporais com o verbo na forma

simples na entrevista da Cidade do México se não fosse o único caso de circunstância

de localização temporal com o pretérito composto e uma quase absoluta freqüência das

circunstâncias temporais com o verbo na forma simples na entrevista de Buenos Aires

(com exceção das circunstâncias de ordenação temporal que apareceram apenas com o

pretérito simples).

Diferentemente dos dados obtidos nas notícias, nas entrevistas encontramos

ocorrências dos cinco tipos de circunstância temporal propostos por Costa (2002), ainda

que em proporções mais absolutas (0% x 100%).

No quadro abaixo, temos o repertório das circunstâncias temporais que

encontramos na entrevista de Madri acompanhando o verbo tanto na forma simples

quanto na forma composta, distribuído segundo a classificação de Costa (2002):

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Madri

Circunstância temporal

PS PC

Localização temporal

. un día

. hace unos días . cuando (6)

. antes . hace poco

. las últimas prácticas de autopsia . este año . nunca

. a los catorce o a los nueve . a los dieciocho

. a los veinte años . este verano

Pontual

. y luego . y luego (3)

Freqüência

- . muchas veces

Durativa

. dos años

. cincuenta años . a partir de aquel momento

. un año, dos, tres . por un período de tiempo de

un año . durante dos años

. todo el mes de agosto . a los veinte días

Entrevista

Ordenação temporal

. ya (2) . ya un poco tarde

-

Quadro 11: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista de Madri

Com relação à circunstância de localização temporal, vemos que a sua grande

variedade na entrevista de Madri, parece condicionar o emprego da forma composta,

resultado contrário ao que encontramos para as notícias, (ver ex. 95):

(Ex.: 95) Entr.: A mi modo de ver, yo estoy perfectamente de acuerdo que siempre hay que tener a alguien, ¿no?... tarde o temprano, si no ha sido a los catorce o a los nueve ha sido a los dieciocho y si no a los veintiocho, cuando sea. (Entrevista - Madri)

O resultado da circunstância pontual é bem revelador também. A circunstância “y

luego” aparece tanto com a forma simples quanto com a composta, embora com esta

última apareça com mais freqüência, (ver ex. 96, 97, 98 e 99):

(Ex.: 96) Inf.: Y luego... estuve haciendo unas guardias por uno... un barrio de éstos apartados de Madrid. (Entrevista - Madri)

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123

(Ex.: 97) Inf.: Lo que pasa es que cuando he visto sangre y he estado yo sola, he... echado agua para ver cómo era la herida y luego la he cerrado. (Entrevista - Madri) (Ex.: 98) Inf.: ¡Ah!, sí. Bueno, he estado trabajando todo el mes de agosto y luego he ido... he estado veinte días en los Pirineos. (Entrevista - Madri) (Ex.: 99) Inf.: Y haciendo eses, eses, he salido por la parte de Gerona. Y luego, hemos bajado por la... por la Costa... (Entrevista - Madri)

Esses três exemplos da circunstância “y luego” com o pretérito composto parece

mostrar um avanço da forma composta sobre a simples.

Encontramos uma única ocorrência de circunstância de freqüência (“muchas

veces”) e acompanhando o verbo na forma composta, (ver ex. 100):

(Ex.: 100) Inf.: Lo que ocurre es que muchas veces las compañeras que yo he tenido por lo menos, ese diez por ciento que han dejado la carrera es que tampoco tenían demasiado... era un poco... forma de entretener el tiempo hasta... (Entrevista - Madri)

Quanto às circunstâncias durativas, apareceram categoricamente com o verbo no

pretérito composto, (ver ex. 101):

(Ex.: 101) Entr.: Ahora, ¿tú crees que durante dos años uno no ha tenido tiempo realmente...? (Entrevista - Madri)

Já as circunstâncias de ordenação temporal apareceram somente com o pretérito

simples, (ver ex. 102):

(Ex.: 102) Inf.: Entonces ya se acabó; entonces casi es mejor porque [Risas] se soluciona la cosa tajantemente, ¿no? (Entrevista - Madri)

Na entrevista da Cidade do México (tabela 13), as circunstâncias aparecem quase

que absolutamente com o pretérito simples, a exceção é a ocorrência de uma única

circunstância de localização temporal que aparece com o verbo na forma composta, como

veremos mais adiante.

Com relação às outras circunstâncias, de duração e de ordenação temporal,

tiveram um percentual de 100% com a forma simples. Não foram encontradas ocorrências

com as circunstâncias pontuais e de freqüência.

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Temos também repertoriadas todas as circunstâncias temporais que encontramos

na entrevista da Cidade do México, acompanhando o verbo quase que exclusivamente

na forma simples, distribuído segundo a classificação de Costa (2002), ver quadro 12:

Cidade do México

PS PC

Localização temporal

. en mil novecientos quince . en la carrera

. cuando . en clase

. ya cuando . en tercer año

. en preparatoria

Pontual

- -

Freqüência

- -

Durativa

. siempre . desde chico siempre

-

Ordenação temporal

- -

Entrevista

Localização temporal

. ya (2) -

Quadro 12: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista da Cidade do México

Podemos afirmar, pelo quadro acima, que as circunstâncias de localização

temporal parecem favorecer o emprego da forma simples. Encontramos uma única

ocorrência com o verbo na forma composta, (ver ex. 103):

(Ex.: 103) Inf.: Entonces, de acuerdo con mis... las pláticas que he tenido con los profesores en preparatoria... pues me encauzaron para seguir ese tipo de profesión, en la cual... pues... estoy muy contento. (Entrevista - Cidade do México)

Os outros dois tipos de circunstância encontrados, de duração e de localização

temporal, também favorecem o emprego da forma simples, (ver ex. 104 e 105,

respectivamente):

(Ex.: 104) Inf.: Pues fíjate que en mí, desde chico, siempre tuve esa vocación de... de la ingeniería química. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 105) Entr.: ¿Ya hiciste tu tesis? (Entrevista - Cidade do México)

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No que se refere à entrevista de Buenos Aires (tabela 13), as circunstâncias de

localização temporal, de duração e de ordenação temporal mostraram um comportamento

favorável ao emprego da forma simples, como já era esperado. No entanto, vale destacar as

ocorrências de circunstâncias com o pretérito composto, como veremos a seguir.

No quadro abaixo, temos o repertório das circunstâncias temporais que

encontramos na entrevista de Buenos Aires, acompanhando o verbo quase que

exclusivamente na forma simples, distribuído segundo a classificação de Costa (2002):

Buenos Aires

PS PC

Localização temporal. ayer

. hace poco . a principio de siglo

. cuando

. en este momento

Pontual

- -

Freqüência

- . algunas veces . cada vez que (2)

Durativa

. últimamente . lo último que (2)

. a partir de la revolución industrial para acá . un poco más acá

estirándolo hasta el cincuenta . a partir de los treinta para

arriba

. toda mi vida

Entrevista

Ordenação temporal

. ya (3) -

Quadro 13: Repertório de circunstâncias temporais encontradas na entrevista de Buenos Aires

Vemos pelo quadro acima que as circunstâncias de localização temporal parecem

favorecer o emprego da forma simples. Há uma única ocorrência com o verbo na forma

composta, (ver ex. 106):

(Ex.: 106) Inf.: En este momento Nixon ha llevado su staff a gobernar y su staff son todos hombres, importantes empresarios; sus asesores serán economistas, como acá también el presidente tendrá sus asesores economistas. (Entrevista - Buenos Aires)

Com relação à circunstância de freqüência, as três ocorrências apareceram com o

verbo na forma composta, (ver ex. 107):

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(Ex.: 107) Inf.: Y algunas veces que he tenido que hacer así, por ejemplo, en mi profesión... cada vez que me he puesto a resolver un pleito muy difícil, en el que necesito estudiar mucho, he superado... le diría bastante bien, la prueba; he podido resolver el pleito y he podido estudiar y entregarle todas las horas que hacía falta al estudio de ese caso concreto. Pero cada vez que he intentado escribir algo en abstracto... hacer un trabajo de elaboración, investigación doctrinaria, me he encontrado con profundas dificultades muy difíciles de superar. (Entrevista - Buenos Aires)

O resultado das circunstâncias de duração é parecido ao das circunstâncias de

localização temporal. Pelos dados, parecem favorecer o emprego do pretérito simples. Foi

encontrada apenas uma ocorrência com o verbo no pretérito composto, (ver ex. 108):

(Ex.: 108) Entr.: A mí me parece; yo tengo esa impresión porque yo he sido muy refractaria al tango toda mi vida, pero a partir de los treinta para... para arriba empecé a sentirlo, ¿no?, sobre todo el tango de Piazzola. (Entrevista - Buenos Aires)

Os três dados de circunstância de ordenação temporal acompanham o verbo no

pretérito simples, (ver ex. 109, 110 e 111):

(Ex.: 109) Entr.: Ah, sí, ya vino acá El Galpón. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 110) Inf.: No, es que el porteño y el inmigrante un poco tenemos que unirlos; a principio de siglo esté... ya Sarmiento se preocupó... (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 111) Entr.: ¿Y si pudiera hacer otro viaje adónde iría?, ¿repetiría lo que ya hizo o iría a otro lado? (Entrevista - Buenos Aires)

As cinco ocorrências de circunstância temporal com a forma composta podem

ser entendidas como estratégia para aumentar o valor do que está sendo afirmado. Em

outras palavras, parece que a forma composta é usada como argumento para o que se

está afirmando.

No quadro abaixo, por curiosidade, assim como fizemos para as notícias,

separamos as circunstâncias coincidentes que apareceram nas entrevistas dos três

centros urbanos:

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Entrevistas

Circunstâncias Madri Cidade do México Buenos Aires

hace (unos días, poco) PC (2) - PS (1) cuando PC (6) PS (1) PS (1)

Quadro 14: Repertório de circunstâncias coincidentes encontradas nas entrevistas

Comparando os dados encontrados para Madri e Buenos Aires (vemos que a

entrevista da Cidade do México, assim as notícias, não apresenta dados muitos

favoráveis à comparação), podemos observar que, embora sendo as mesmas

circunstâncias (“hace unos dias”, “hace poco” y “cuando”), a forma verbal de passado

selecionada na entrevista de Madri é a composta, enquanto que, na entrevista de Buenos

Aires, as mesmas circunstâncias selecionam a forma verbal simples. Ver exemplos 112

e 113 com a circunstância “hace poco” e exemplos 114 e 115 com a circunstância

“cuando”:

(Ex.: 112) Inf.: En eso, hace poco yo lo he visto en el Clínico, no que se muriese por culpa de... de un individuo, sino que un individuo no hizo una cosa que podía haber mejorado la situación del enfermo; entonces, a este individuo se le ha estado señalando con el dedo durante mucho tiempo, continúa. (Entrevista - Madri) (Ex.: 113) Inf.: Lo último que vi me gustó mucho en Buenos Aires es esté... Atendiendo al señor Sloane y en Montevideo vi hace poco un excepcional Brecht... esté... Un cierto señor Púntila y su chofer. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 114) Inf.: Lo que pasa es que cuando he visto sangre y he estado yo sola, he... echado agua para ver cómo era la herida y luego la he cerrado. (Entrevista - Madri) (Ex.: 115) Entr.: Cosa que resultó bastante sorpresiva cuando me enteré. (Entrevista - Buenos Aires)

Mais uma vez esses exemplos confirmam a nossa hipótese de que a

circunstância temporal não parece condicionar a seleção dos pretéritos. As

circunstâncias temporais “hoy” e “cuando” aparecem com o verbo tanto na forma

simples quanto com o verbo na forma composta. Sendo assim, não podemos restringir o

seu uso a um pretérito.

Com relação aos casos em que o verbo não aparece acompanhado por uma

circunstância temporal, temos o mesmo resultado encontrado nas notícias. Na entrevista de

Madri há uma produtividade maior da forma composta e nas entrevistas da Cidade do

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México e de Buenos Aires, uma percentagem mais saliente da forma simples, (ver ex. 116,

117 e 118):

(Ex.: 116) Inf.: Entre las cosas que valoran está la... la cantidad de amores que ha tenido. Son una especie de... si tú has tenido quince, vales más que el que ha tenido catorce. (Entrevista - Madri) (Ex.: 117) Inf.: La información que me prestó Dupont, Allied Chemical, en el aspecto de propiedades físicas y químicas de los gases. O sea que realmente toda la información la fui recabando de varias fuentes y la unifiqué, ¿verdad? (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 118) Inf.: Es muy difícil establecer qué... qué es lo que más me gustó; es muy... más di... muy difícil. Yo le diría que me maravilló... esté... París, que me sorprendió Londres... que me enamoré de los españoles, que... que me... me interesó muchísimo Roma... que me fulminó Nueva York. (Entrevista - Buenos Aires)

A partir da nossa exposição sobre as circunstâncias temporais, pudemos

comprovar com os nossos dados, que constituem amostras reais de língua em uso, que a

circunstância temporal não parece ser um fator determinante para a seleção do simples e

do composto. De acordo com as gramáticas e os manuais de E/LE, circunstâncias

temporais como “hoy” e “hace (determinado periodo de tiempo)”, por exemplo, pedem

o verbo no pretérito composto, sendo assim, o exemplo 89, referente à notícia de

Buenos Aires, assim como o exemplo 113, referente à entrevista da mesma área dialetal,

seriam considerados “incorretos” uma vez que aparecem com o verbo no pretérito

simples. No entanto, vemos que tal prescrição não é pertinente e nem se mantém como

mostram os nossos dados tanto de língua escrita quanto de língua oral. Além disso,

vimos nos quadros 10 e 14 que as circunstâncias foram encontradas tanto com verbos na

forma simples quanto na forma composta, o que nos faz reafirmar que não há

circunstâncias “próprias” para o uso do pretérito simples e nem circunstâncias

“próprias” para o emprego do pretérito composto.

Analisadas as circunstâncias temporais e confirmada a nossa hipótese,

passemos, então, à análise de outra variável: a polaridade.

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129

4.6 Polaridade

O fato de termos encontrado um grande número de circunstâncias temporais

marcadas pela polaridade negativa nos levou a perguntar-nos se esse fator teria alguma

incidência na seleção dos pretéritos simples e composto.

Segundo Hopper & Thompson (1988), uma oração possui polaridade positiva

quando indica um acontecimento que de fato ocorreu ou que ocorre, enquanto que,

quando possui polaridade negativa, expressa uma proposição que não é verdadeira ou

que não se efetivou.

Com essa variável pretendemos verificar se a oposição entre a afirmação e

negação, tem relação, ou melhor, se interfere na escolha de uma ou outra forma verbal

de passado no corpus sob análise.

A nossa hipótese é que a negação (sobretudo a negação da freqüência em

circunstâncias como jamás, nunca, ni siquiera e o próprio advérbio de negação no) pode

vir a favorecer o uso da forma composta, sobretudo nas amostras de Buenos Aires, já

que, como vimos no quadro 13, as formas que marcam freqüência, pelo menos nos

dados das entrevistas, parecem favorecer o composto nessa variante dialetal.

As tabelas abaixo nos mostram os resultados obtidos nas amostras.

4.6.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Polaridade PS PC PS PC PS PC

Positiva 44/10144%

57/10156%

53/56 95%

3/56 5%

137/145 94%

8/145 6%

Notícias Negativa 1/3 33%

2/3 67%

0/0 0%

0/0 0%

5/5 100%

0/5 0%

Tabela 14: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por polaridade (notícias)

A primeira verificação dos resultados da tabela 14 evidencia que a forma não

marcada, ou seja, a mais freqüente é a de polaridade positiva. Nesse caso, se repetem os

resultados gerais do nosso corpus, ligeira preferência pelo composto nas notícias de

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130

Madri e quase absoluta preferência pelo simples nas notícias da Cidade do México e

Buenos Aires.

Nas notícias de Madri predominam as orações afirmativas (101 ocorrências

contra 3 ocorrências) e com preferência pela forma composta, tanto quando a oração

tem polaridade positiva como quando tem polaridade negativa.

Nas notícias da Cidade do México apenas encontramos orações positivas e a

grande maioria com verbos no pretérito simples.

Nas notícias de Buenos Aires, também há um percentual maior de orações com

polaridade positiva e com preferência pela forma simples.

No quadro abaixo, temos repertoriadas as marcas de negação que encontramos

nas amostras escritas dos três centros urbanos:

Marcas de negação

Notícias

PS PC Madri . nunca (1) . todavía no (1)

. no (1) Cidade do

México - -

Buenos Aires . no (5) - Quadro 15: Repertório de marcas de negação encontradas nas notícias

Os cinco casos de polaridade negativa nas notícias de Buenos Aires têm

basicamente, do ponto de vista da organização discursiva, a mesma função no que diz

respeito à hierarquia da informação: introduzem pela negação um elemento novo da

notícia em destaque, (ver ex. 119, 120 e 121):

(Ex.: 119) Santa Cruz no estuvo sola en la audaz iniciativa: también hicieron lo mismo Pando, Beni y Tarija, los otros tres departamentos rebeldes que forman parte de la fértil Media Luna boliviana, la región más rica del país más pobre de América del Sur. (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia) (Ex.: 120) Paralelamente, en la plaza Murillo, la principal de La Paz, Morales presentó su polémica carta magna, aprobada sin la presencia de la oposición en la ciudad de Oruro –considerada en esta ciudad una herramienta para implantar una dictadura comunista en el país–, en una fiesta popular de tinte indigenista en la que no faltaron los desfiles militares, de mineros y la marcha multicolor de los “ponchos rojos”, la milicia indígena que se transformó en el grupo de choque del actual mandatario. (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

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131

(Ex.: 121) Los canales de Santa Cruz dividieron su pantalla en dos para mostrar al mismo tiempo lo que empezó a suceder minutos después en La Paz. El efecto no pudo ser más contrastante. (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

Nos três casos da Notícia 3, a negação mais o pretérito simples introduzem com

destaque novos actantes (as cidades Pando, Beni y Tarija, em 119 e os desfiles

militares, em 120) ou destacam o contraste do evento narrado entre Santa Cruz e La Paz

(em 121). Nos três casos os enunciados com negação poderiam ser substituídos por

enunciados de polaridade positiva, mas o efeito da informação nova introduzida seria

menor.

A mesma função de focalização ou contraste da negação aparece também nas

seqüências narrativas das Notícias 1 e 5, (ver ex. 122 e 123).

(Ex.: 122) Los europeos - entre ellos nueve franceses - habían sido detenidos el 25 de octubre cuando la organización de caridad Arca de Zoé no pudo llevar por avión a Europa a los menores procedentes del este de Chad. (Notícia 1 - Buenos Aires: Liberação das aeromoças) (Ex.: 123) Hay un ciudadano ruso que en estas elecciones presidenciales no tuvo que pasar los estrictos controles de seguridad para depositar su voto, sino que le valió con decirlo. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

Nos exemplos 122 e 123, a negação e o pretérito simples acentuam o evento

resultativo final. O voto do astronauta russo, sua maneira original de votar, está realçada

pela negação que introduz a solução final do evento (“no tuvo que pasar... le valió

decirlo”). E o resultado final, o fracasso da operação Arca de Zoe também. Neste caso,

cabe assinalar que a subordinação “cuando no pudo”, pode ser um contexto favorável ao

pretérito simples. Por outro lado, nesse mesmo contexto narrativo, encontramos o uso

do composto na Notícia 1 de Madri, (ver ex. 124):

(Ex.: 124) Según informa el diario belga Le Soir, el abogado de los detenidos, Jean-Bernard Pandaré, ha explicado que no ha sido hoy liberado junto a las azafatas españolas “porque debe declarar ante el juez el lunes”. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças)

Nestes dois exemplos de polaridade negativa (122 e 123), vemos como em

seqüências narrativas predomina o pretérito simples nas notícias de Buenos Aires,

enquanto que há um crescimento do uso do composto nas notícias de Madri, mesmo em

contextos de subordinação.

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132

Também nos chama a atenção a negação com a circunstância durativa “nunca”,

que, na Notícia 4 de Madri aparece com simples. Em dados nossos de trabalhos

anteriores ora aparece com simples, ora com composto, de acordo com a variante

dialetal. Em um trabalho anterior29, pudemos verificar os contextos de uso dessa

circunstância em roteiros de filmes espanhóis e hispano-americanos, ver quadro 16:

Roteiros cinematográficos PS PC Total

Lucía y el sexo (Espanha, 2000) 0 6 6

Carne Trémula (Espanha, 1997) 0 0 0

Amores Perros (México, 2000) 1 1 2

María llena eres de gracia (Colômbia, 2004) 2 0 2

Fresa y chocolate (Cuba, 1993) 4 1 5

Taxi para tres (Chile, 2001) 3 4 7

Tinta roja (Peru, 2001) 5 2 7

El hijo de la novia (Argentina, 2001) 2 0 2

Quadro 16: Circunstância temporal nunca em roteiros espanhóis e hispano-americanos

No roteiro espanhol, ao contrário do único dado encontrado na nossa Notícia 4,

as seis ocorrências de “nunca” são usadas com o pretérito composto. Nos roteiros

argentino e colombiano a seleção é sempre do simples, mas nos roteiros mexicano,

cubano, chileno e peruano, a circunstância “nunca” tanto pode aparecer com simples

como com composto. Trata-se talvez da mesma variação que encontramos nos dados de

Madri se considerarmos o único caso do simples na Notícia 4 e os seis casos de

composto nos dados do roteiro.

Vejamos como se dá a distribuição da polaridade e dos pretéritos nas

entrevistas.

29 Trabalho de Iniciação Científica: Blasco, Rebollo & Santos (2006). ¿He estado o estuve? ¿Cuándo no funciona la oposición entre estas dos formas de pasado?, 2006.

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133

4.6.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Polaridade PS PC PS PC PS PC

Positiva 22/79 28%

57/79 72%

29/40 73%

11/40 27%

63/80 79%

17/80 21%

Entrevistas Negativa 2/10 20%

8/10 80%

2/4 50%

2/4 50%

2/2 100%

0/2 0%

Tabela 15: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por polaridade (entrevistas)

Nos dados de Madri, mais uma vez os resultados das entrevistas acentuam a

tendência pelo composto. Se comparados às notícias, os percentuais de composto nas

entrevistas são sempre ligeiramente maiores e se diferenciam dos dados da Cidade do

México e de Buenos Aires com nítida preferência pelo simples.

Na entrevista de Madri encontramos mais orações com polaridade positiva e

uma alta predominância do pretérito composto (72%). As orações com polaridade

negativa também mostraram maior freqüência da forma composta (80%).

Na entrevista da Cidade do México, nos enunciados de polaridade positiva,

predomina o simples (73%), mas há uma surpresa no que diz respeito aos dados de

polaridade negativa, que aparecem tanto com simples (50%) quanto com composto

(50%), o que pode indicar que no discurso oral, espontâneo, a negação, nessa variante,

possa ser um fator favorável ao uso do composto.

Na entrevista de Buenos Aires, nos dados com polaridade positiva predomina o

simples e nos dados de polaridade negativa, ao contrário do que esperávamos, também.

Não encontramos nenhuma ocorrência de polaridade negativa com composto, portanto,

nossa hipótese de que a polaridade negativa poderia favorecer o uso do composto, nessa

variante, não se confirmou.

No quadro abaixo, temos repertoriadas as marcas de negação que encontramos

nas amostras orais dos três centros urbanos:

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134

Marcas de negação

Entrevistas

PS PC

Madri

. no (2) . no (4)

. no ... nunca/nada de nada/en su vida (4)

Cidade do México

. no (2) . no (2)

Buenos Aires . no (2) - Quadro 17: Repertório de marcas de negação encontradas nas entrevistas

Na entrevista de Madri, os dois dados com simples fazem parte de seqüências

narrativas: “un individuo no hizo una cosa...” e “el señor este no se murió”. São os

estados finais de transformações que fazem parte da seqüência do relato, mundo

narrado. Já os dados com composto são claramente resultantes de avaliações em

seqüências narrativas ou de premissas de seqüências argumentativas, mundo

comentado: a) “no se sabe o no se ha descubierto”, b) “un filósofo pues no ha

estudiado... bueno no va a matar a nadie”, c) “tú la has visto y no te has dado cuenta”,

d) “si no ha sido a los catorce o a los nueve ha sido a los dieciocho y si no a los

veintiocho, cuando sea”.

Ainda na entrevista de Madri, a dupla negação com o verbo “tener”, aparece

sistematicamente com o composto, ver exemplos abaixo:

(Ex.: 125) Inf.: Es decir, que existen muchísimas personas que... están... aisladas, pues porque o se sienten aislados, más que estar aisladas se sienten aisladas, lo cual es prácticamente lo mismo, porque no han tenido nunca un hogar. (Entrevista - Madri) (Ex.: 126) Entr.: Porque no han tenido nada de nada. (Entrevista - Madri) (Ex.: 127) Entr.: Bueno, aunque... un individuo cuando realmente, es decir, no ha tenido un amor en su vida, pues sí, se siente un poco apocado, quizá... poco confiado en sí mismo. (Entrevista - Madri) (Ex.: 128) Inf.: Bueno, esto, digamos, de una forma un poco burlesca, pero... todas las personas que no han tenido en su vida30 algún que otro lance amorosa... amoroso... se sienten como un poquito desvalidos, ¿no? (Entrevista - Madri)

30 A idéia expressada por “en su vida” é equivalente a “nunca”.

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135

Nestes quatro exemplos a estrutura com composto parece estar praticamente

cristalizada no discurso oral de Madri.

Na entrevista da Cidade do México, o resultado da distribuição dos pretéritos é

surpreendente. Os quatro casos de pretéritos com polaridade negativa distribuem-se ao

longo de três turnos de fala do informante, ver exemplos abaixo:

(Ex.: 129) Inf.: No, no; digo, porque generalmente todos los ingenieros, al terminar su carrera, se van a especializar a determinados lugares, centros de investigación, con objeto de que si algún detalle tienen que no entendieron en la carrera, pues... lo corrijan, ¿verdad?, y lo superen. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 130) Inf.: Fíjate que oportunidades he tenido; únicamente que por cuestiones de trabajo no... lo he podido hacer. Pero tenía una beca, precisamente, para una universidad de Estados Unidos, y realmente no la pude desarrollar, ¿verdad? (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 131) Inf.: En mi caso, hice una tesis que se refiere a la industria de los aerosoles en México... Esta industria es una industria nueva, que generalmente en México... no se ha encauzado como se debe de encauzar. Generalmente, en mi tesis metí el diseño de una planta de aerosol en la cual... este... se iba a tener un determinado volumen de producción, utilizando generalmente los gases refrigerantes que... normales, que tenemos en el mercado nacional, como son el frión doce, el ginetrón, tanto de Dupont como de Quimobásicos, de Allied Chemical. (Entrevista - Cidade do México)

No exemplo 129, trata-se de uma seqüência descritiva referente à carreira de

engenharia, o simples neste caso corresponde a uma etapa da formação profissional não

terminada, e nos parece, nesse caso, perfeitamente intercambiável com o composto.

No exemplo 130, temos a alternância do pretérito simples e do pretérito

composto no mesmo intervalo conversacional e no mesmo contexto, as duas formas são

perfeitamente intercambiáveis: “no lo he podido hacer” / “no la pude desarrollar”. Qual

a motivação para a seleção do composto e do simples nesta seqüência? O simples

parece fechar a seqüência, por contraste, introduzida por uma série de compostos.

Finalmente, no exemplo 131, temos um caso de composto, introduzindo um

comentário em meio a uma sucessão de eventos narrativos “hice”, “meti”. A seleção do

composto, nesse caso, poderia ser de contraste entre o mundo narrado, em simples e o

mundo comentado, em composto. Em nenhum dos três exemplos, entretanto,

conseguimos identificar claramente qual a motivação para a seleção do simples ou do

composto.

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136

Na entrevista de Buenos Aires, os dois enunciados com polaridade negativa

aparecem com o simples, um na fala do entrevistador (ex. 132) e outro na fala do

informante (ex. 133).

(Ex.: 132) Entr.: ¿Hay alguna parte de España que no conoció? (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 133) Entr.: Está muy bien argumentado; pero ahora yo lo quiero sacar de eso, de esa posición de lógica estricta en la que se colocó y dígame qué otra actividad... esté... le duele en el corazón cuando piensa que pudo haberla hecho porque tiene aptitudes para ella y no la hizo. (Entrevista - Buenos Aires)

No exemplo 132, o entrevistador introduz, por contraste com a fala anterior do

informante, a sugestão do desenvolvimento do mesmo tópico conversacional, trata-se de

um caso claramente ancorado no agora, mas que, nesse caso, apesar da sua atualidade,

aparece tratado com o simples.

O exemplo 133, “pudo haberla hecho… y no la hizo”, lembra bastante o

exemplo 130 da Cidade do México, sendo que neste caso, a resolução é pelo simples,

sem alternância de compostos. Pode tratar-se também de uma estrutura argumentativa

cristalizada, pelo menos nesta variante dialetal, a partir do paralelismo com as formas

simples e a negação.

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137

4.7 Posição da circunstância temporal

A circunstância temporal é, depois do tempo e do aspecto, um dos fatores mais

considerados por gramáticas e manuais de ensino de Espanhol/LE para a seleção dos

pretéritos. Perguntamos-nos se a ordem de palavras, ou seja, sua posição anteposta ou

posposta ao verbo, pode ser um fator condicionante da seleção dos pretéritos simples ou

composto. Trata-se de um fator de ordem puramente sintática, e nossa hipótese é que a

ordem de palavras não necessariamente está relacionada à seleção dos pretéritos, mas

sim a outros condicionamentos sintáticos, tais como subordinação ou coordenação.

4.7.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Posição da circunstância temporal

PS PC PS PC PS PC

Anteposta 5/9 56%

4/9 44%

4/4 100%

0/4 0%

10/11 91%

1/11 9%

Posposta 9/20 45%

11/20 55%

8/8 100%

0/8 0%

16/17 94%

1/17 6%

Notícias

Não se aplica 31/75 41%

44/75 59%

41/44 93%

3/44 7%

116/122 95%

6/122 5%

Tabela 16: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por posição da circunstância temporal (notícias)

Vemos na tabela 16 que nas notícias predominam as circunstâncias temporais

pospostas ao verbo.

Nas notícias de Madri, prevalece o composto nos casos de posposição, (ver ex.

134):

(Ex.: 134) Al menos 50 cazas F-16 turcos han bombardeado hoy bases de los combatientes del proscrito partido de los Trabajadores del Kurdistán [PKK] en el norte de Irak, incluida la zona de las montañas Kandiles donde tienen su base principal, según ha informado el Ejército turco en un comunicado. (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque)

Já nas notícias da Cidade do México e nas notícias de Buenos Aires predomina

o simples na posposição, (ver ex. 135 e 136, respectivamente):

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138

(Ex.: 135) Kosovo declaró el domingo su independencia, en un audaz intento por convertirse en un “estado independiente y democrático'” respaldado por Estados Unidos e importantes aliados europeos, pero rechazada con furia por Serbia y por Rusia. (Notícia 4 - Cidade do México: Independência de Kosovo) (Ex.: 136) Mentor y discípulo permanecieron juntos durante el concierto, sonrientes y confiados. Medvedev fue el primero en tomar la palabra, asegurando que “juntos podemos continuar el camino iniciado por el presidente Putin”. “Juntos iremos más lejos, juntos ganaremos”, agregó eufórico. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

A anteposição da circunstância temporal parece, entretanto, favorecer o uso do

simples nas notícias de Madri, (ver ex. 137).

(Ex.: 137) Pocos minutos antes de las nueve de la noche Sarkozy y las azafatas aterrizaron en al aeropuerto madrileño de Torrejón de Ardoz. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças)

Também há um favorecimento do simples nos poucos dados das notícias da

Cidade do México (ver ex. 138) e nas notícias de Buenos Aires (ver ex. 139) quando a

circunstância está anteposta:

(Ex.: 138) Pero también tuvo duras palabras para el gobierno serbio, que la semana pasada declaró la secesión ilegal e inválida, al expresar en idioma serbio, “Kosovo nunca más volverá a ser gobernada por Belgrado”. (Notícia 4 - Cidade do México: Independência de Kosovo) (Ex.: 139) Poco antes del mediodía, la asamblea preautonómica comenzó a leer el documento, que prácticamente le da al departamento de Santa Cruz un régimen equivalente al de una provincia argentina en un país unitario como Bolivia. (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

Embora tenhamos encontrado mais dados de posposição de circunstância

temporal, podemos observar pela tabela 16 que, quando há uma marcação, seja ela de

anteposição ou de posposição, a predominância é da forma simples nas amostras da

Cidade do México e de Buenos Aires. Na amostra de Madri, a posposição favorece a

forma composta, mas vimos que a anteposição, nesse corpus, favoreceu a forma

simples.

Como também vimos no tópico 4.5, não são muitos os contextos em que

aparece uma circunstância temporal, o mais comum é que o verbo não venha marcado.

E nesses contextos, observamos igualmente a predominância da forma composta no

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139

corpus de Madri e a alta produtividade da forma simples no corpus da Cidade do

México e de Buenos Aires.

6.7.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Posição da circunstância temporal

PS PC PS PC PS PC

Anteposta 5/19 26%

14/19 74%

6/6 100%

0/6 0%

9/13 69%

4/13 31%

Posposta 3/14 21%

11/14 79%

4/5 80%

1/5 20%

3/4 75%

1/4 25%

Entrevistas

Não se aplica 16/56 29%

40/56 71%

21/33 64%

12/33 36%

53/65 82%

12/65 18%

Tabela 17: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por posição da circunstância temporal (entrevistas)

Nas entrevistas, ao contrário das notícias, prevalecem as circunstâncias

temporais antepostas ao verbo, o que nos leva a crer que a posposição da circunstância

seja uma estratégia jornalística ou uma tradição discursiva característica do gênero

jornalístico, notícia.

Na entrevista de Madri, prevalece o composto nos casos de anteposição da

circunstância temporal, (ver ex. 140):

(Ex.: 140) Inf.: No, porque antes se ha puesto su pinza, es que eso es una idea muy equivocada. (Entrevista - Madri)

Na entrevista da Cidade do México o simples é categórico nos casos de

anteposição da circunstância temporal, (ver ex. 141):

(Ex.: 141) Entr: ¿Cuándo terminaste la carrera? (Entrevista - Cidade do México)

Já na entrevista de Buenos Aires predomina o simples com a circunstância

temporal anteposta, mas a entrevista apresenta um percentual importante de composto

nesse mesmo contexto, (ver exemplos 142 e 143, respectivamente):

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(Ex.: 142) Inf.: Ayer vi El bebé de Rosemary, que me gustó mediocremente. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 143) Inf.: Y algunas veces que he tenido que hacer así, por ejemplo, en mi profesión... cada vez que me he puesto a resolver un pleito muy difícil, en el que necesito estudiar mucho, he superado... le diría bastante bien, la prueba; he podido resolver el pleito y he podido estudiar y entregarle todas las horas que hacía falta al estudio de ese caso concreto. Pero cada vez que he intentado escribir algo en abstracto... hacer un trabajo de elaboración, investigación doctrinaria, me he encontrado con profundas dificultades muy difíciles de superar. (Entrevista - Buenos Aires)

Nos casos de posposição da circunstância temporal, é mais freqüente o

composto nos dados de Madri e o simples nos dados da Cidade do México e Buenos

Aires, ver exemplos abaixo:

(Ex.: 144) Inf.: Y... vamos esto me lo ha dicho hace unos días una señora. (Entrevista - Madri) (Ex.: 145) Inf.: Precisamente a eso se debe; simplemente la Escuela de Ingeniería Química de la universidad se fundó en mil novecientos quince; la del Politécnico, por mil novecientos cuarenta y dos, cuarenta y tres. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 146) Entr.: Esté... ¿y en cine qué vio últimamente que le guste? (Entrevista - Buenos Aires)

Cabe assinalar que, tanto nos dados das notícias quanto nos dados das

entrevistas, prevalece o contexto não marcado por circunstâncias temporais, como já

vimos anteriormente em 4.5, sendo que nesses casos a preferência é pelo composto nos

dados de Madri e pelo simples nos dados da Cidade do México e Buenos Aires.

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141

4.8 Subordinação

A subordinação também está sendo controlada. Classificamos as orações que

apresentam os pretéritos em: oração principal de temporal, oração principal de outras,

oração subordinada temporal, oração subordinada de outras, oração subordinada à

esquerda e principal à direita, oração coordenada à esquerda e principal à direita,

outros (oração absoluta, período simples, coordenada).

Essa classificação foi estabelecida devido ao tipo de orações que encontramos,

devido ao grande número de orações justapostas, principalmente nas notícias. Os dois

trechos abaixo exemplificam bem esse tipo de construção mista:

- oração subordinada à esquerda e principal à direita:

(Ex.: 147) [“No tienen derecho a tocar ni un solo milímetro de la unidad territorial”,] [advirtió por su parte en el mismo acto el vicepresidente Alvaro García Linera,] [que dijo] [que son sólo “cinco familias” las que quieren dividir el país.] (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

- oração coordenada à esquerda e principal à direita:

(Ex.: 148) [El Arca de Zoé mantiene que sus intenciones son puramente humanitarias] [y dijo] [que realizó investigaciones a lo largo de varias semanas para determinar que los niños que iba a recoger son huérfanos.] (Notícia 1 - Buenos Aires: Liberação das aeromoças)

É de fundamental importância destacar o tipo de escrita que encontramos nessas

amostras jornalísticas. Por serem amostras escritas, talvez o esperado fosse encontrar

uma escrita mais elaborada. No entanto, os textos refletem um caráter bastante

coloquial, não apresentam uma organização planejada, apresentam uma escrita mais

espontânea, talvez “descuidada”.

Como se pode observar nos dois exemplos abaixo (149 e 150), há a falta de uma

seqüência mais coesiva. As orações estão justapostas, caracterizando assim o tipo de

escrita mais livre e refletindo, por um lado, a rapidez com que as notícias circulam e,

por outro lado, uma particularidade da fala espontânea. Além da sintaxe incompleta,

podemos verificar ainda problemas de ortografia:

(Ex.: 149) Junto a ellos viajaban tres periodistas franceses, que también fueron liberados y hoy, según informó el abogado chadiano de los reporteros, Jean-Bernard Padaré, a la emisora France-Info y nueve miembros de la ONG, que permanecen detenidos. (Notícia 1 - Cidade do México: Liberação das aeromoças)

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142

(Ex.: 150) Tres periodistas franceses y cuatro azafatas españolas fueron liberados por ña intercesión del presidente francés, Nicolas Sarkozy, que acudió a interceder personalmente ante el presidente chadiano. (Notícia 1 - Buenos Aires: Liberação das aeromoças)

As tradições discursivas nos ajudam a entender esse “descuido” na escrita. O

objetivo das notícias é uma leitura mais rápida, é levar a informação de maneira rápida e

objetiva ao leitor, por isso o seu caráter mais espontâneo e menos elaborado.

A importância desse fator se justifica pela nossa hipótese de que o pretérito

composto seria mais comum em orações subordinadas do que em principais.

Objetivamos verificar, sobretudo em Madri, que é o centro urbano que tem uma maior

predominância da forma composta, se esta já aparece em orações principais, o que seria,

a nosso ver, um indício a mais do avanço da variação e mudança no uso dos pretéritos,

corroborando o que afirma Eberenz (2004) sobre o fenômeno estudado para a norma

castelhana.

Ao analisarmos as orações, optamos por reunir as coordenadas em um bloco e

as subordinadas em outro para termos um percentual quantitativo. Em seguida,

centramo-nos somente na subordinação: oração principal e oração subordinada.

Na tabela que segue temos o resultado das notícias.

4.8.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Orações

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Subordinação 82/103 80%

49/56 88%

117/150 78%

Notícias

Coordenação 21/103 20%

7/56 12%

33/150 22%

Tabela 18: Total das ocorrências de orações: coordenadas e subordinadas (notícias)

Observando os dados contidos na tabela 18, constatamos que, entre as orações

do corpus escrito dos três centros urbanos em estudo, predomina a subordinação.

Como o nosso objetivo é verificar a ocorrência de pretéritos na subordinação,

partimos para a análise do quadro abaixo com a distribuição das formas verbais em

oração principal e oração subordinada:

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143

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Orações

PS PC PS PC PS PC

Oração principal

23/51 45%

28/51 55%

33/34 97%

1/34 3%

71/73 97%

2/73 3%

Notícias

Oração subordinada

13/31 42%

18/31 58%

14/15 93%

1/15 7%

40/44 91%

4/44 9%

Tabela 19: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por subordinação (notícias)

Vemos pela tabela 19 que, nas notícias de Madri há uma sutil inclinação pela

forma composta. Nas notícias da Cidade do México e de Buenos Aires, a maior

predominância é da forma simples.

Nas notícias de Madri, observamos uma sutil inclinação pela forma composta

tanto na oração principal quanto na subordinada.

A nossa hipótese de que o pretérito composto está avançando o seu contexto de

uso parece ser plausível uma vez que, comparando os resultados obtidos, encontramos

28 ocorrências da forma composta na oração principal e 18 na subordinada.

Com relação às notícias da Cidade do México, podemos observar uma alta

predominância do pretérito simples, tanto nas orações principais (97% do total) como

nas subordinadas (93%). Resultado similar ao das notícias de Buenos Aires, em que

encontramos também maior produtividade da forma simples em ambas as orações

(principal e subordinada).

Os resultados obtidos nas notícias nos pareceram bastante reveladores quanto à

nossa hipótese inicial. Nas notícias de Madri, temos uma grande produtividade do

pretérito composto nas orações principais (28 ocorrências), se comparamos ao uso do

pretérito composto nas orações principais das notícias da Cidade do México (1

ocorrência) e das notícias de Buenos Aires (2 ocorrências). As 28 ocorrências da forma

composta nas notícias de Madri evidenciam um avanço da variação no uso dos

pretéritos, no que diz respeito à subordinação.

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144

4.8.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Orações Madri Cidade do México

Buenos Aires

Subordinação 52/89 58%

18/44 41%

38/82 46%

Entrevistas

Coordenação 37/89 42%

26/44 59%

44/82 54%

Tabela 20: Total das ocorrências de orações: coordenadas e subordinadas (entrevistas)

Vemos pela tabela 20 que, o resultado das entrevistas, ao contrário do resultado

obtido nas notícias, mostra uma menor produtividade da subordinação e um aumento

das ocorrências de coordenação.

A maior percentagem de coordenação talvez possa ser explicada pelo gênero

textual. Como se trata de um gênero oral, constituído a partir da alternância de turnos, o

discurso é mais espontâneo, o que gera, de certa maneira, orações mais livres,

independentes.

No entanto, analisemos as orações que nos interessam: as principais e

independentes. Vejamos o quadro que segue:

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Orações

PS PC PS PC PS PC

Oração principal

5/20 25%

15/20 75%

4/6 67%

2/6 33%

12/14 86%

2/14 14%

Entrevistas

Oração subordinada

4/32 13%

28/32 87%

6/12 50%

6/12 50%

17/24 71%

7/24 29%

Tabela 21: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por subordinação (entrevistas)

Observamos na tabela 21 que na entrevista de Madri, há mais ocorrências de

pretéritos composto tanto nas orações principais quanto nas subordinadas. Na entrevista

da Cidade do México há mais ocorrências de pretérito simples nas orações principais e

um resultado dividido dos pretéritos nas subordinadas. Na entrevista de Buenos Aires,

há mais ocorrências da forma simples tanto na principal como na subordinada.

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145

Observamos que na entrevista de Madri há uma grande ocorrência de pretérito

composto, tanto na principal quanto na subordinação. Embora encontremos mais dados

da forma composta na subordinação (28 casos), o número encontrado para a principal é

relativamente alto também (15 ocorrências), o que nos parece reafirmar o avanço do

emprego do pretérito.

Na entrevista da Cidade do México e na entrevista de Buenos Aires, a forma

simples se mostra mais produtiva, principalmente na oração subordinada. No entanto,

vale destacar que, na entrevista da Cidade do México, temos o mesmo percentual de

pretéritos na subordinação (50% de pretéritos simples e 50% de pretérito composto).

Os resultados obtidos nas entrevistas, assim como encontramos nas notícias,

parecem bastante reveladores quanto à nossa hipótese inicial. Na entrevista de Madri

temos uma maior produtividade do pretérito composto nas orações principais se

comparamos à produtividade da forma composta nas notícias da Cidade do México (2

ocorrências) e nas notícias de Buenos Aires (2 ocorrências). As 15 ocorrências da forma

composta nas notícias de Madri evidenciam um avanço da variação no uso dos

pretéritos, no que diz respeito à subordinação.

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146

4.9 Temporalidade (o agora)

De acordo com o nosso levantamento bibliográfico, a temporalidade é um dos

pontos cruciais na oposição dos pretéritos. Diversos estudos lingüísticos assinalam

como característica principal do pretérito composto a sua relação com o momento

presente. Este é o fator determinante na terceira etapa do processo de evolução proposto

por Harris (1982). Quando a ação inclui o agora, e se confirma a noção temporal de

presente, predominaria claramente a forma composta. Já o simples, seria empregado

quando a ação exclui o agora, sem guardar relação com o presente.

Nossa hipótese é que essa relação com o agora pode ser válida para os dados de

Madri, mas não necessariamente para os dados de Cidade do México e Buenos Aires,

como também afirmam Moreno de Alba (1998) e Ferrer & Sánchez Lanza (2000).

Acreditamos que esse fator seja, em parte, relevante para os dados de Madri, mas só em

parte, pois segundo nossa hipótese inicial, esta variante estaria na etapa 3 indo para a

etapa 4 (uso predominante do composto em todos os contextos do simples). Já não seria

tão relevante para as variantes da Cidade do México e de Buenos Aires que estariam

numa etapa mais conservadora, a etapa 2.

Sendo assim, também controlamos nos nossos dados, o fator tempo, ou seja, se a

ação: inclui ou exclui o agora, separando todas as ocorrências do nosso corpus segundo

esta classificação binária. Para classificar os dados quanto à sua temporalidade,

estipulamos que a tomada de decisão se daria pela interpretação do contexto pragmático

de cada ação analisada. Com base em Eberenz (2004) estipulamos como teste subjetivo

de classificação que, se fosse possível responder afirmativamente a qualquer uma das

três perguntas a seguir, a ação passada seria classificada como uma ação que inclui o

agora:

a) a ação presente é um resultado do passado?

b) a ação passada se estende ou chega até o presente?

c) a ação passada incide sobre o presente?

Em caso de resposta negativa às três perguntas acima, consideramos que, se a

ação não se enquadra em nenhum destes três contextos, é porque a ação exclui o agora.

É de fundamental importância considerar que a análise do tempo, e na seção a

seguir do aspecto, é bastante subjetiva, o que pode acarretar uma ou outra opinião

discordante devido às diferentes e possíveis interpretações das ocorrências. A

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147

classificação dos nossos dados foi feita com base em apenas um juiz, a pesquisadora, e

ocasionalmente, em casos de dúvida, com dois juízes, a pesquisadora e a orientadora.

No entanto, não acreditamos que essa relação dos pretéritos com o agora seja

tão esquemática. A nossa hipótese é de que a temporalidade é uma variável importante,

mas não analisada isoladamente e nem de maneira binária (inclui o agora → PC / exclui

o agora → PS). Juntamente com outros fatores, principalmente de caráter pragmático e

discursivo, e sempre levando em conta o centro urbano e o gênero textual, a

temporalidade pode nos dar pistas para entender o uso dos pretéritos, mas não é fator

determinante, pelo menos não nas variantes da Cidade do México e Buenos Aires.

4.9.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Temporalidade PS PC PS PC PS PC

Inclui o agora 6/25 24%

19/25 76%

9/11 82%

2/11 18%

21/25 84%

4/25 16%

Notícias Exclui o agora 39/79 49%

40/79 51%

44/45 98%

1/45 2%

121/125 97%

4/125 3%

Tabela 22: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por temporalidade (notícias)

Segundo a tabela 22, como era de se esperar, pela maioria de seqüências

narrativas no gênero escrito notícias, predominam as ações classificadas como

excludentes do agora.

Nas notícias de Madri, nos resultados dos dados referentes ao exclui o agora

prevalece o uso do composto sobre o simples. O que parece confirmar nossa hipótese

inicial do avanço dos usos do composto, nesta variante dialetal, sobre contextos de uso

do simples como tendência de mudança, (ver ex. 151, 152 e 153):

(Ex.: 151) “Las protestas comenzarán a la misma hora en ambas ciudades, a las 17.00”, ha anunciado Ludmila Mámina, portavoz de La Otra Rusia, movimiento que convocó el acto y que incluye a liberales, nacionalistas y activistas de izquierda. (Notícia 5 - Madri: Cenário político russo)

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148

(Ex.: 152) En una rueda de prensa en Moscú, Medvédev ha garantizado que su Gobierno, cuya composición no se desvelará hasta después del 7 de mayo, día elegido para la investidura, será una "continuación" de la presidencia de Putin. (Notícia 5 - Madri: Cenário político russo) (Ex.: 153) También ha agradecido al presidente de Chad, Idriss Déby, su comprensión y ayuda y ha reiterado que “todos tienen que volver a casa, cuales quiera que sean sus responsabilidades”, si bien ha dicho que hay que respetar la soberanía del país africano y de su justicia. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças)

As 40 ocorrências de pretérito composto em contextos que excluem o agora

nos permitem dizer que o pretérito composto alterna com o simples em contextos que

excluem o momento presente, indicando um avanço da forma composta sobre os

contextos da forma simples nas notícias de Madri. Estes dados levam a repensar as

orientações gramaticais e didáticas de orientação geral que recomendam o uso do

composto em contextos que incluem o agora e do simples em contextos que excluem o

agora. Trata-se, a nosso ver, de um processo em pleno desenvolvimento de mudança e

que não pode ser para nenhuma das variantes dialetais reduzido a explicações

esquemáticas, sem considerar os contextos discursivos e a própria instabilidade do

processo em si de variação.

Nas notícias da Cidade do México, nos resultados dos dados referentes ao

exclui o agora, prevalece o uso do simples sobre o composto. Entretanto, registramos

um caso de composto em contexto de exclusão do agora. Esse caso já foi analisado

anteriormente e corresponde ao final de uma seqüência narrativa, (ver ex. 154):

(Ex.: 154) Según estas mismas fuentes, el ministro de Asuntos Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, se ha puesto en contacto con las familias de las cuatro azafatas -Tatiana Suárez, Carolina Jean, Mercedes Calleja y Sara López- para darles la buena noticia de su liberación. (Notícia 1 - Cidade do México: Liberação das aeromoças)

Nas notícias de Buenos Aires, nos resultados dos dados referentes ao exclui o

agora prevalece o uso do simples sobre o composto. Entretanto, registramos quatro

casos de composto em contexto de exclusão do agora. Esses casos já foram analisados

anteriormente e correspondem a estratégias de Contra Argumentação (ex. 24) para

destaque da informação e de Passado Anterior (ex. 21, 22 e 23) como prática discursiva

da notícia.

Os dados referentes ao exclui o agora nas notícias confirmam parcialmente a

nossa hipótese inicial de que não é a temporalidade o fator condicionante da seleção do

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149

simples ou do composto, nem sequer na área das notícias de Madri. Vejamos agora com

maior detalhe os resultados menos freqüentes nas notícias, ou seja, os dados referentes

ao inclui o agora.

Nas notícias de Madri, prevalece o uso do composto em contextos que incluem

o agora, como era previsto, no entanto, registramos seis casos de uso do simples em

contextos que, segundo a nossa interpretação, a partir do teste das três perguntas,

incluem o agora:

(Ex.: 155) Un juez de Yamena puso en libertad al mediodía de ayer a las cuatro azafatas españolas junto a los tres periodistas franceses, de entre los 17 europeos acusados de tráfico de niños. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças)

A partir de uma interpretação logocêntrica poderíamos classificar esta forma do

simples como exclui o agora, pela circunstância “ayer”. Entretanto, propomos uma

interpretação que vá além das palavras e procure o sentido no texto e no contexto

pragmático de produção e recepção. De acordo com nosso teste, se pensarmos que são

ações que incidem sobre o presente, uma vez que (a) as aeromoças estão livres e (b) as

aeromoças estão em Madri no momento em que circula este texto pela internet,

constatamos que o texto tinha na sua data de produção uma noção temporal atual.

Nos dois casos a seguir, o simples em contexto de inclui o agora alterna ainda

no mesmo contexto, indistintamente, a nosso ver, com o composto:

(Ex.: 156) Pocos minutos antes de las nueve de la noche Sarkozy y las azafatas aterrizaron en al aeropuerto madrileño de Torrejón de Ardoz. A pie de la escalerilla, los han recibido el presidente del Gobierno, José Luis Rodríguez Zapatero, y el ministro de Asuntos Exteriores, Miguel Ángel Moratinos. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças) (Ex.: 157) La agencia REUTERS también ha informado que como consecuencia del ataque una mujer ha muerto y otras dos personas han resultado heridas en el bombardeo a 10 poblaciones kurdas del norte de Irak, que se produjo a las 2 de la madrugada hora local. (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque)

No exemplo 156, qual seria a diferença entre: “Sarkozy y las azafatas

aterrizaron e los han recibido el presidente… y el ministro…” por um lado, e

hipoteticamente, “Sarkozy y las azafatas han aterrizado e los recibieron el presidente…

y el ministro…”, por outro?

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150

Ou ainda, no exemplo 157, qual seria a diferença entre: “dos personas han

resultado heridas en el bombardeo... que se produjo a las 2 de la madrugada” por um

lado, e hipoteticamente, “dos personas resultaron heridas en el bombardeo que se ha

producido a las 2 de la madrugada”, por outro?

O uso do simples e do composto nestes dois casos não é categórico ou

sistemático, o sistema é instável, pois encontra-se em processo de mudança. Além disso,

nossa classificação de inclui ou exclui o agora se deu a partir do teste exposto

anteriormente. Estes dados parecem mostrar a dificuldade que é determinar se uma ação

inclui ou exclui o agora e o problema de considerar este critério como fator

determinante para o uso do simples ou do composto de forma categórica, inclusive na

variante madrilena.

Nas notícias da Cidade do México, prevalece o uso do simples em contextos

que incluem o agora, como era previsto, no entanto, registramos dois casos de uso do

composto em contextos que incluem o agora. Estes dois casos (exemplos 11 e 12, já

analisados anteriormente) correspondem a 18% dos dados da Cidade do México para

contextos que incluem o agora e representam um percentual mais importante que os 2%

de uso de composto em contexto que excluem o agora, ver tabela 22. Portanto, no caso

da variante da Cidade do México, os contextos que incluem o agora parecem favorecer

o uso do composto.

Entretanto, a única ocorrência excludente do agora que seleciona a forma

composta, já foi analisada anteriormente, corresponde ao exemplo 10, e acreditamos que

sua performance com o composto está mais relacionada à organização discursiva,

destaque do final de relato, do que à temporalidade propriamente dita.

Nas notícias de Buenos Aires, prevalece o uso do simples em contextos que

incluem o agora, como era previsto, no entanto, registramos quatro casos de uso do

composto em contextos que incluem o agora. Estes quatro casos correspondem a 16%

dos dados de Buenos Aires para contextos que incluem o agora e representam um

percentual mais importante que os 3% de uso de composto em contexto que excluem o

agora, ver tabela 22. Portanto, no caso da variante de Buenos Aires, os contextos que

incluem o agora parecem favorecer o uso do composto.

Entretanto, as quatro ocorrências includentes do agora que selecionaram a forma

composta, já foram analisadas anteriormente e acreditamos que sua performance com o

composto está mais relacionada à organização discursiva do que à temporalidade

propriamente dita. Como já vimos em 4.4, no exemplo 24, o composto destaca o Contra

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151

Argumento final, enquanto que nos exemplos 18, 19 e 20, o composto marcaria ou

destacaria o Discurso Direto em seqüências enunciativas.

4.9.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Temporalidade PS PC PS PC PS PC

Inclui o agora 0/16 0%

16/16 100%

7/17 41%

10/17 59%

10/18 56%

8/18 44%

Entrevistas Exclui o agora 24/73 33%

49/73 67%

24/27 89%

3/27 11%

55/64 86%

9/64 14%

Tabela 23: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por temporalidade (entrevistas)

Segundo a tabela 23, no gênero oral entrevistas, predominam as ações

classificadas como excludentes do agora, sobretudo nas variantes dialetais de Madri

(73/16) e de Buenos Aires (64/18), o que se explica por uma orientação mais

retrospectiva das entrevistas, com um importante percentual de seqüências narrativas.

Efetivamente, a entrevista da Cidade do México é a que tem menos número de

ocorrências em seqüências narrativas, o que pode explicar a proporção mais equilibrada

de contextos que excluem o agora sobre contextos que incluem o agora (27/17).

Na entrevista de Madri, nos resultados dos dados referentes ao exclui o agora

prevalece o uso do composto sobre o simples, sendo que no discurso oral esse

percentual do composto em contextos que excluem o agora (67%) é ligeiramente

superior ao resultado das notícias (51%), vide tabela 22. Esse resultado parece

confirmar nossa hipótese inicial do avanço dos usos do composto, nesta variante

dialetal, sobre contextos de uso do simples como tendência de mudança, acentuada

nesse gênero oral de fala espontânea, (ver ex. 158 e 159):

(Ex.: 158) Inf.: Y... vamos esto me lo ha dicho hace unos días una señora. Me ha dicho: “Pues yo prefiero a las mujeres médicos”. (Entrevista - Madri) (Ex.: 159) Inf.: Y haciendo eses, eses, he salido por la parte de Gerona. Y luego, hemos bajado por la... por la Costa... (Entrevista - Madri)

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As 49 ocorrências de pretérito composto em contextos que excluem o agora

nos permitem dizer que o pretérito composto alterna com o simples em contextos que

excluem o momento presente, indicando, também nas entrevistas, um avanço da forma

composta sobre os contextos da forma simples nas notícias de Madri. Estes dados, mais

uma vez, nos levam a repensar as orientações gramaticais e didáticas de orientação geral

que recomendam o uso do composto em contextos que incluem o agora e do simples

em contextos que excluem o agora.

Na entrevista da Cidade do México, nos resultados dos dados referentes ao

exclui o agora prevalece o uso do simples sobre o composto (89%). Entretanto,

registramos três casos de composto em contexto de exclusão do agora. Nenhum deles

tem necessariamente uma relação com o agora, e poderiam perfeitamente, a nosso ver,

alternar-se com realizações do simples. O que motiva a seleção do composto nestes três

dados, (ver ex. 160 e 161)?

(Ex.: 160) Inf.: Y se puede, así en esa forma, pues... sacar un buen producto al mercado, ¿verdad?, ya que ha sido comprobado totalmente de que funciona en el laboratorio. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 161) Inf.: Fíjate que oportunidades he tenido; únicamente que por cuestiones de trabajo no... lo he podido hacer. Pero tenía una beca, precisamente, para una universidad de Estados Unidos, y realmente no la pude desarrollar, ¿verdad? (Entrevista - Cidade do México)

No exemplo 160, o composto está inserido em uma seqüência argumentativa, e

o uso do composto pode ter sido usado para valorizar o argumento, já em 161, os dois

casos, como vimos anteriormente na seção 4.6 alternam na própria seqüência

conversacional, no mesmo turno de fala inclusive, com o simples e não conseguimos

encontrar uma resposta satisfatória para explicar o uso de um ou outro, nesse caso. Qual

seria a diferença entre: “no lo he podido hacer” x “no la pude desarrollar”?

Na entrevista de Buenos Aires, nos resultados dos dados referentes ao exclui o

agora prevalece o uso do simples sobre o composto (86%). Entretanto, registramos

nove casos de composto em contexto de exclusão do agora. Analisando os nove casos

de usos do composto em contextos que excluem o agora, nos parece mais pertinente a

interpretação discursiva do que a temporal.

Em primeiro lugar, nos sete casos a seguir a função do composto parece ser

majoritariamente aspectual, marcando um estado reiterativo, descrito pelo informante,

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153

trata-se de uma seqüência estática, descritiva de um estado anterior. Os sete casos estão

concentrados no mesmo turno de fala, (ver ex. 162):

(Ex.: 162) Inf.: Y algunas veces que he tenido que hacer así, por ejemplo, en mi profesión... cada vez que me he puesto a resolver un pleito muy difícil, en el que necesito estudiar mucho, he superado... le diría bastante bien, la prueba; he podido resolver el pleito y he podido estudiar y entregarle todas las horas que hacía falta al estudio de ese caso concreto. Pero cada vez que he... intentado escribir algo en abstracto... hacer un trabajo de elaboración, investigación doctrinaria, me he encontrado con profundas dificultades muy difíciles de superar. (Entrevista - Buenos Aires)

Em segundo lugar, temos um caso já analisado discursivamente, e que

corresponde a uma estratégia de Contra Argumentação, o entrevistador introduz um

elemento que reafirma a asserção anterior do informante, introduzindo um exemplo para

ilustração, (ver ex. 163):

(Ex.: 163) Entr.: Sí. Yo he recogido justamente dos o tres opiniones respecto a esto, ¿no?, la última es la de un contador al cual entrevisté. Bueno, este muchacho estaba muy pegado a su carrera y dijo que esa parte a él no le interesaba y que no había pensado mucho en las perspectivas; en cambio conozco otra chica que está estudiando Economía Política y dice que aquí... se puede llegar hasta ciertos puestos y que después entonces ya no se puede avanzar porque ya son puestos políticos, y los puestos políticos, por supuesto, son inestables. (Entrevista - Buenos Aires)

E finalmente, em terceiro lugar, temos um caso de uso de composto com uma

clara função conversacional, a de fechamento de uma seqüência ou tema. Num primeiro

momento o entrevistador introduz "Piazzola" como tema conversacional, o informante

aceita a orientação conversacional, como se vê neste primeiro intercâmbio na

alternância de turnos entre entrevistador e informante, (ver ex. 164):

(Ex.: 164) Entr.: Bueno, ahora estábamos hablando de... del tango. Usted me dijo... ¿y Piazzola ahora? Inf.: Piazzola... busca un nuevo ritmo, evidentemente, sobre la base del tango. (...) (Entrevista - Buenos Aires) A seqüência conversacional, bastante longa se desenvolve ao longo de seis

intercâmbios, alternando de turnos de fala entre entrevistador e informante (ver anexo,

página 251). Finalmente, no sétimo intercâmbio já não há quase mais nenhuma

informação nova e a partir de então o entrevistador fecha a seqüência conversacional

com o composto e introduz um novo tema, o "folclore", (ver ex. 165):

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154

(Ex.: 165)(…) Inf.: Por eso se repite. Enc.: Claro... se ha hecho demasiado tal vez. Esté... ¿y en folclore? Allí sí tiene para hablar, ¿no? (Entrevista - Buenos Aires)

Os dados referentes ao exclui o agora nas entrevistas confirmam parcialmente

a nossa hipótese inicial de que não é a temporalidade o fator condicionante da seleção

do simples ou do composto, nem sequer na área da entrevista de Madri. Vejamos agora

com maior detalhe os resultados menos freqüentes nas entrevistas, ou seja, os dados

referentes ao inclui o agora.

Na entrevista de Madri, prevalece categoricamente (100%) o uso do composto

em contextos que incluem o agora, o que confirma o avanço deste tempo em contextos

mais inovadores, como pode ser o de uma entrevista oral, de forma bem mais estável do

que em contextos mais conservadores, como pode ser o das notícias escritas, (ver ex.

166 e 167):

(Ex.: 166) Inf.: Son enfermedades del sistema nervioso, pero orgánicas, no como la siquiatría que son... enfermedades sin base orgánica o, por lo menos, que de momento no se sabe si tienen base orgánica o no la tienen, o no se ha descubierto que la tengan. (Entrevista - Madri) (Ex.: 167) Inf.: Entre las cosas que valoran está la... la cantidad de amores que ha tenido. Son una especie de... si tú has tenido quince, vales más que el que ha tenido catorce. (Entrevista - Madri)

Na entrevista da Cidade do México, ao contrário do que vimos nas notícias,

prevalece o uso do composto em contextos que incluem o agora. Nas notícias tínhamos

um 18% de usos do composto em contextos que incluem o agora, esse percentual passa

a 59% na entrevista, o que pode assinalar um claro favorecimento do uso do composto

no discurso oral em contextos que incluem o agora. Mais uma vez, os usos do composto

nesta variante dialetal e suas motivações, são para nós um mistério, uma vez que como

podemos ver nos três intercâmbios a seguir (ex. 168, 169 e 170) todos os tempos verbais

assinalados foram classificados como tendo relação com o presente, ou seja, em

contextos temporais que incluem o agora.

(Ex.: 168) Inf.: Bueno, mira. En primer lugar... la Ingeniería Química en México... pues... es una carrera que ha tenido un... un cauce bastante fuerte, en sí, por la falta de técnicos que hacía... falta aquí en el país. Generalmente, es necesario en México... cuantificar... -se puede decir- las carreras técnicas, con una serie de elementos aptos para desarrollar ese tipo de profesión, ¿verdad? Entonces... en lo personal, en lo personal me interesó la carrera en sí porque me ha gustado el

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155

aspecto de laboratorio, el aspecto de investigación. Entonces, en la propia secundaria, en las mismas cátedras que se llevaban de Química, de Física, pues ya le van haciendo a uno formar un determinado carácter, ya de lo que va a hacer uno cuando llega a la edad en la que estoy. Entonces, de acuerdo con mis... las pláticas que he tenido con los profesores en preparatoria... pues me encauzaron para seguir ese tipo de profesión, en la cual... pues... estoy muy contento. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 169) Inf.: El aspecto de investigación, el aspecto de... de laboratorio, de... el trabajo, de... del proceso en sí, ¿verdad?, de la química, pues siempre me atrajo. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 170) Inf.: Pues fíjate que en mí, desde chico, siempre tuve esa vocación de... de la ingeniería química. (Entrevista - Cidade do México)

Como podemos observar nestas ocorrências em destaque, o inclui o agora

tanto pode selecionar formas verbais de pretérito simples ou compostas, com

preferência pelas formas compostas, em estado de variação. Consideremos, por

exemplo, as duas declarações: a) “me interesó la carrera en si porque me ha gustado el

aspecto de laboratorio” e b) “el aspecto de investigación de laboratorio… pues

siempre me atrajo” ou ainda c) “desde chico, siempre tuve esa vocación”.

Esses exemplos parecem mostrar que a forma de composto é perfeitamente

alternável com a do simples. O que nos leva a concluir que estes fatores (entrevista e

contexto que mantém relação com o presente) podem ser, portanto, relevantes como

favorecedores do uso do composto na variante da Cidade do México, menos

favorecedores do que na variante de Madri e mais do que na variante de Buenos Aires31.

Na entrevista de Buenos Aires, prevalece o uso do simples em contextos que

incluem o agora, como era previsto, no entanto, registramos um percentual importante

de uso do composto em contextos que incluem o agora. Nas notícias tínhamos um 16%

de usos do composto em contextos que incluem o agora, esse percentual passa a 44%

na entrevista, o que parece assinalar um favorecimento do uso do composto no discurso

oral em contextos que incluem o agora.

Entretanto, analisando os oito casos de usos do composto em contextos que

incluem o agora, parece-nos mais pertinente a interpretação discursiva do que a

temporal.

31 Caberia verificar a sugestão que nos deram, em comunicação oral, de que o uso do composto no México denotaria uma certa marca de escolaridade e de instrução no falante, e teríamos que verificar se não é por esta razão que aparece nas entrevistas sociolingüísticas. Parece que as saudações do tipo ¿cómo has estado? seriam também contextos orais favorecedores do composto, atos de fala, rituais nos quais o uso do composto já seria formulaico (Moreno de Alba, 1998).

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156

Em primeiro lugar, nos três casos a seguir prevalece uma avaliação de um

estado final que é destacado pelo composto: seja no resultado da mistura que dá origem

ao portenho a) “... donde…se ha dado algo que es el porteño”; seja na avaliação final do

conjunto da obra do cantor popular Ramírez b) “Ha hecho una obra muy importante” e

c) “... el único que se ha proyectado fuera del país es Ramírez”.

Em segundo lugar, nos dois casos a seguir o composto destaca o comentário

final, quase formulaico, de avaliação que funciona como marcador conversacional de

final de turno ou de seqüência conversacional, o informante já não tem mais nada a

dizer sobre o tema: a) “…de las que yo he conocido. No sé si está claro” e b) “Que es lo

más importante que personalmente yo he visto”.

Em terceiro lugar, temos os dois casos, já analisados, nos quais o composto

destaca o argumento final. Nos dois casos introduzem actantes de importância histórica

como estratégia de referência a autoridades na exemplificação: a) “En este momento

Nixon ha llevado su staff a gobernar” e b) “Carlos Marx… uno de los más importantes

que ha tenido la historia de la humanidad”.

E, finalmente em quarto lugar, temos um caso que parece confirmar o papel de

destaque que o composto dá à asserção no sentido de introduzir um gosto particular do

falante que será logo em seguida contrastado pela mudança mesma desse gosto,

valorizando mais o fato de ela passar a gostar do tango: a) “yo he sido refractaria al

tango toda mi vida”.

Diante destas oito ocorrências de composto com funções discursivas tão claras

em contextos que incluem o agora, cabe perguntar-nos se o determinante nesta seleção

é o fator temporal ou o fator discursivo, considerando que nos outros dez casos que

incluem o agora, na entrevista de Buenos Aires, foi selecionado o simples.

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157

4.10 Aspecto (a duração)

De acordo com o nosso levantamento bibliográfico, o aspecto é o segundo fator

mais importante, depois do tempo, na oposição dos pretéritos. Assim como a

temporalidade, o aspecto também é uma variável muito discutida no estudo da

distribuição dos pretéritos no espanhol. Diversos estudos lingüísticos costumam atribuir

ao pretérito composto o caráter aspectual durativo e/ou reiterativo e ao pretérito simples,

o caráter pontual. Este seria um fator determinante na segunda etapa do processo de

evolução proposto por Harris (1982). Portanto, nossa hipótese é de que ele seja mais

pertinente na oposição dos pretéritos nas áreas da Cidade do México e de Buenos Aires,

do que nos dados de Madri, que estaria numa etapa posterior de variação e mudança.

Sendo assim, também controlamos nos nossos dados, o fator aspecto, ou seja, se

a ação é pontual ou durativa/reiterativa, separando todas as ocorrências do nosso corpus

segundo esta classificação binária. Para classificar os dados quanto a seu aspecto,

estipulamos que a tomada de decisão se daria pela interpretação do contexto pragmático

de cada ação analisada, e não necessariamente pelos condicionamentos no nível

semântico.

Com base em Eberenz (2004), estipulamos como teste subjetivo de classificação

que, se fosse possível responder afirmativamente a qualquer uma das três perguntas a

seguir, a ação passada seria classificada como uma ação durativa/reiterativa:

a) a ação indica duração de tempo?

b) a ação indica reiteração do processo?

c) a ação indica um processo em desenvolvimento? ou seja, se trata de um

momento posterior ao seu início mas anterior ao seu fim?

Em caso de resposta negativa às três perguntas acima, consideramos que se a

ação não se enquadra em nenhum destes três contextos é porque a ação é pontual.

É de fundamental importância considerar que a análise do aspecto, e na seção

anterior do tempo, é bastante subjetiva, o que pode acarretar uma ou outra opinião

discordante devido às diferentes e possíveis interpretações das ocorrências. Como já

assinalamos anteriormente, a classificação dos nossos dados foi feita com base em

apenas um juiz, a pesquisadora, e ocasionalmente, em casos de dúvida, com dois juízes,

a pesquisadora e a orientadora.

Assim como não acreditamos que a relação dos pretéritos com o tempo seja

esquemática, também não acreditamos que o seja com relação ao aspecto. A nossa

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158

hipótese é de que o aspecto é um fator que também pode influenciar na escolha de uma

forma verbal de passado ou outra, desde que relacionado a outros fatores

hierarquicamente superiores de nível pragmático ou discursivo. Acreditamos que o

aspecto seja pertinente, sobretudo, nos casos da Cidade do México e Buenos Aires, que

estariam na etapa 2 de variação e mudança, frente aos resultados de Madri, que

assinalariam uma tendência mais avançada de inovação. Entretanto, acreditamos que

apenas o valor aspectual não dê conta para explicar a variação dos pretéritos.

4.10.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Aspecto

PS PC PS PC PS PC

Durativo/Reiterativo 3/11 27%

8/11 73%

0/0 0%

0/0 0%

7/7 100%

0/7 0%

Notícias

Pontual 42/93 45%

51/93 55%

53/56 95%

3/56 5%

135/143 94%

8/143 6%

Tabela 24: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por aspecto (notícias)

Segundo a tabela 24, nas notícias predomina de forma geral o aspecto pontual

sobre o durativo/reiterativo, e mais uma vez registramos a preferência do composto nas

notícias de Madri, frente à preferência do simples nas notícias da Cidade do México e

de Buenos Aires.

Nas notícias de Madri, predomina nas ocorrências de aspecto pontual o

composto (55%), sendo que as ocorrências de aspecto durativo favorecem ainda mais

claramente esse uso do composto (73%). Entretanto, encontramos três casos de

ocorrências durativas com simples, o que mais uma vez nos leva a recomendar

prudência no que diz respeito a uma distribuição esquemática desta oposição, (ver ex.

171, 172 e 173):

(Ex.: 171) Acto seguido, continuó rumbo a París para aterrizar en la base militar de Villacoublay sobre las 23.45. (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças)

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159

(Ex.: 172) Mientras, en La Paz, el presidente Morales presenció un multicolor desfile de miles de campesinos e indígenas andinos que festejaban la aprobación el pasado 9 de diciembre del proyecto de Constitución en la Asamblea Constituyente reunida en Oruro. (Notícia 3 - Madri: Separatismo na Bolívia) (Ex.: 173) En su intervención, Thaçi se ha dirigido a los presentes diciendo que “nunca perdimos la confianza en nosotros mismos ni la convicción de que en un día seríamos parte de las naciones libres y democráticas”. (Notícia 4 - Madri: Independência de Kosovo)

No exemplo 171 consideramos que o valor durativo vem da semântica do

verbo “continuar”, no exemplo 172 da circunstância “mientras” e do exemplo 173 da

circunstância “nunca”. O fato de encontrarmos casos de simples com aspecto durativo

mostra que o fator aspecto não é categórico na seleção de uma forma ou outra dos

pretéritos nesta variante dialetal.

Nas notícias da Cidade do México, nas ocorrências de aspecto pontual

predomina o pretérito simples (94%), sendo que não registramos ocorrências de aspecto

durativo. Entretanto, encontramos três casos de ocorrências pontuais com composto.

Estes três casos já foram analisados anteriormente, trata-se de casos de composto que

destacam em seqüências narrativas o final do relato (vide ex. 10, 11 e 12).

Nas notícias de Buenos Aires, também predomina nas ocorrências de aspecto

pontual o pretérito simples (95%), sendo que as poucas ocorrências durativas não

favorecem o composto, mas sim o simples (100%), contrariamente ao que esperávamos.

Entretanto, também encontramos oito casos de ocorrências pontuais com composto:

1) “‘Están libres. Se terminó. Ha concluido’ el caso, dijo su abogado Jean Bernard

Padare”; 2) “Empero, el ministerio francés de Relaciones Exteriores y otros

organismos han puesto en duda la versión del grupo”; 3) “ha causado directa o

indirectamente la muerte de unas 200.000 personas”; 4) “A partir de ahora, Kosovo ha

cambiado de posición política”; 5) “sus observadores han frustrado intentos de

rellenar las urnas de votación”; 6) “el voto comunista ha sido de ‘no menos del 30 por

ciento’ ”; 7) “La primavera ha empezado”; 8) “críticos han denunciado la ausencia de

candidatos liberales”.

A maioria destes casos já foi anteriormente analisada, sendo que predominam

fatores discursivos sobre fatores semânticos na seleção da forma mais marcada, nesta

variante, que corresponde ao pretérito composto.

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160

Portanto, os dados das notícias não são homogêneos quanto à duração, e,

apenas nas ocorrências de Madri, o aspecto durativo parece favorecer o uso do

composto.

4.10.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Aspecto

PS PC PS PC PS PC

Durativo/Reiterativo 3/16 19%

13/16 81%

3/7 43%

4/7 57%

0/9 0%

9/9 100%

Entrevistas

Pontual 21/74 28%

53/74 72%

28/37 76%

9/37 24%

65/73 89%

8/73 11%

Tabela 25: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por aspecto (entrevistas)

Segundo a tabela 25, nas entrevistas também predomina de forma geral o

aspecto pontual sobre o durativo/reiterativo, e, mais uma vez, registramos a preferência

do composto na entrevista de Madri, frente à preferência do simples nas entrevistas da

Cidade do México e de Buenos Aires.

Na entrevista de Madri, predomina nas ocorrências de aspecto pontual o

composto (72%), sendo que as ocorrências de aspecto durativo favorecem ainda mais

claramente esse uso do composto (81%). Os dados da entrevista acentuam a preferência

pelo composto nesta variante dialetal. Contrariamente ao esperado, encontramos três

casos de ocorrências durativas com simples, (ver ex. 174, 175 e 176):

(Ex.: 174) Inf.: Y luego... estuve haciendo unas guardias por uno... un barrio de éstos apartados de Madrid.. (Entrevista - Madri) (Ex.: 175) Inf.: Yo estuve hablando con ella y lo pasaron muy bien y tal. (Entrevista - Madri) (Ex.: 176) Inf.: En mi familia, siempre se cuenta el caso de un vecino de mi padre que vivieron pues cincuenta años, tenían hijos, imagínate, de cuarenta y nueve, y cuando él estaba... un día que este se puso muy malo, vino el cura de la parroquia y dijo que debían de casarse. (Entrevista - Madri)

Dois desses casos aparecem com a perífrase de gerúndio e um com a

circunstância temporal “cincuenta años”. Esses casos nos levam mais uma vez a

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161

recomendar prudência no que diz respeito a uma distribuição esquemática da oposição

dos pretéritos.

Na entrevista da Cidade do México, predomina nas ocorrências de aspecto

pontual o simples (76%). Entretanto, encontramos nove casos de ocorrências pontuais

com composto: 1) “... ha sido comprobado totalmente de que funciona en el

laboratório”; 2) “hay determinadas editoriales que han publicado muy buenas

traducciones”; 3) “pues generalmente su base es la que han adquirido en los libros

extranjeros”; 4) “fíjate que oportunidades he tenido”; 5) “no lo he podido hacer”; 6)

“esta industria no se ha encauzado como se debe de encauzar”; 7) “trabajando estos

gases se ha desarrollado esta industria”; 8) “[esta industria] ahorita se ha

desarrollado”; 9) “por ejemplo, yo lo he oído no solamente en alumnos”.

Estes nove casos de composto em contextos pontuais são perfeitamente

alternáveis com realizações do simples, a nosso ver, o que confirma nossa hipótese de

uma variação menos avançada que a de Madri, mas menos estável nesta área dialetal

que a de Buenos Aires, uma vez que não encontramos nenhuma motivação discursiva

particular que explique essa seleção, pelo que a atribuímos a um avanço do composto

sobre contextos do simples.

Na entrevista da Cidade do México, predomina nas ocorrências de aspecto

durativo o composto (57%), diferentemente dos dados das notícias, nas quais não

registramos nenhum caso de ocorrências durativas. Na entrevista, os casos de aspecto

durativo parecem, portanto, favorecer o emprego do composto, o que estaria mais de

acordo com o esperado. Registramos quatro desses casos: 1) “Es una carrera que ha

tenido un cauce bastante fuerte”; 2) “(…) me ha gustado el aspecto del laboratorio”; 3)

“(…) las pláticas que he tenido con los profesores en preparatoria”; 4) “(…) por la

demanda que ha tenido el producto”, lembrando sempre que a classificação do aspecto

durativo destes enunciados pode ser questionada, como já afirmamos anteriormente.

Na entrevista de Buenos Aires, nas ocorrências de aspecto pontual predomina o

simples (89%). Entretanto, encontramos oito casos de ocorrências pontuais com

composto: 1) “en primera o en tercera generación… se ha dado algo que es el

porteño”; 2) “de las que yo he conocido”; 3) “yo he recorrido justamente dos o tres

opiniones”; 4) “en este momento Nixon ha llevado su staff a gobernar”; 5) “que es lo

mas importante que personalmente yo he visto”; 6) “se ha hecho demasiado tal vez”; 7)

“ha hecho una obra muy importante”; 8) “se ha proyectado fuera del país es Ramírez”.

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162

A maioria destes casos já foi anteriormente analisada, sendo que predominam

fatores discursivos sobre fatores semânticos na seleção da forma mais marcada, nesta

variante, que corresponde ao pretérito composto.

Por outro lado, ainda na entrevista de Buenos Aires, nas ocorrências de aspecto

durativo predomina o composto (100%), ou seja, as nove ocorrências durativas da

entrevista, ao contrário das ocorrências das notícias, favorecem categoricamente o

composto, (100%), ver ex. 177, 178 e 179:

(Ex.: 177) Inf.: Y algunas veces que he tenido que hacer así, por ejemplo, en mi profesión... cada vez que me he puesto a resolver un pleito muy difícil, en el que necesito estudiar mucho, he superado... le diría bastante bien, la prueba; he podido resolver el pleito y he podido estudiar y entregarle todas las horas que hacía falta al estudio de ese caso concreto. Pero cada vez que he... intentado escribir algo en abstracto... hacer un trabajo de elaboración, investigación doctrinaria, me he encontrado con profundas dificultades muy difíciles de superar. (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 178) Inf.: (…) Carlos Marx, posiblemente el economista más importante o uno de los más importantes que ha tenido la historia de la humanidad... (…) (Entrevista - Buenos Aires) (Ex.: 179) Entr.: (…) yo tengo esa impresión porque yo he sido muy refractaria al tango toda mi vida (…) (Entrevista - Buenos Aires)

De um modo geral, as entrevistas favorecem o aparecimento de contextos

durativos, se comparadas com as notícias, sendo que nas três variantes dialetais, neste

discurso oral, o aspecto durativo favorece sensivelmente o uso do composto. O aspecto

durativo é um fator favorável ao uso do composto nas entrevistas, mas não é categórico

– exceto nos dados de Buenos Aires – e não pode ser usado, portanto, como fator

exclusivo na seleção do composto.

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163

4.11 Tipos de verbo

Acreditamos que, do ponto de vista semântico-funcional, os tipos de verbos

possam ser um fator relevante na seleção dos pretéritos. Trata-se de um aspecto micro

lingüístico que subordinado a níveis hierarquicamente superiores, tais como o contexto

pragmático e o discurso possam influenciar na seleção do simples ou do composto, se

estes variarem condicionados por questões de tempo ou aspecto.

Classificamos os tipos de verbos de acordo com a proposta de Halliday (1997).

Segundo o autor, os verbos podem ser agrupados em seis categorias diferentes: material

(processos do fazer), mental (processos do sentir), relacional (processos do ser),

comportamental (processos do comportar-se), verbal (processos do dizer) e existencial

(processos de existir). Classificamos todas as ocorrências de verbos plenos do nosso

corpus segundo estas seis categorias, e deixamos os verbos auxiliares, modais ou

suporte numa categoria à parte: não se aplica.

Como ocorre para as circunstâncias temporais, queremos testar, controlando os

tipos de verbo como variável independente, se o valor semântico intrínseco ao verbo

pode ser também um fator condicionante para a seleção da forma simples ou composta

de passado.

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164

4.11.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Tipos de verbo

PS PC PS PC PS PC

Material 17/37 46%

20/37 54%

15/16 94%

1/16 6%

38/42 90%

4/42 10%

Mental 0/0 0%

0/0 0%

1/1 100%

0/1 0%

3/3 100%

0/3 0%

Relacional 1/2 50%

1/2 50%

0/0 0%

0/0 0%

5/6 83%

1/6 17%

Comportamental 0/2 0%

2/2 100%

1/1 100%

0/1 0%

6/6 100%

0/6 0%

Verbal 16/42 38%

26/42 62%

29/29 100%

0/29 0%

67/69 97%

2/69 3%

Existencial 1/3 33%

2/3 67%

1/1 100%

0/1 0%

6/6 100%

0/6 0%

Notícias

Não se aplica 10/18 56%

8/18 44%

6/8 75%

2/8 25%

17/18 94%

1/18 6%

Tabela 26: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por tipos de verbo (notícias)

Segundo a tabela 26, uma vez mais, nas notícias de Madri nos diferentes tipos

de verbo prevalece a forma composta enquanto que nas notícias da Cidade do México e

de Buenos Aires prevalece a forma simples.

Nas notícias, prevalecem de forma geral os verbos que indicam processos

verbais, seguidos dos verbos que indicam processos materiais.

Nas notícias de Madri, os verbos classificados como processo verbal

favorecem a forma composta, (ver ex. 180):

(Ex.: 180) Cicek, también portavoz del Gobierno, ha afirmado que Turquía estará dispuesta a acometer nuevas ofensivas en el norte de Irak “con determinación, cuando sea necesario”. (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque)

Enquanto que, nas notícias da Cidade do México e nas notícias de Buenos Aires,

os processos verbais favorecem o emprego da forma simples, (ver ex. 181 e 182,

respectivamente):

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165

(Ex.: 181) En Belgrado, el presidente Boris Tadic dijo que Serbia jamás aceptará la declaración “unilateral e ilegal”. (Notícia 4 - Cidade do México: Independência de Kosovo) (Ex.: 182) El prefecto de Santa Cruz, el opositor Rubén Costas, advirtió al presidente que evite “invadirlos o militalizarlos, porque los cruceños no tienen miedo”. (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

Nas notícias de Madri, os verbos que indicam processos materiais, que são o

segundo tipo de verbo mais produtivo, também favorecem o emprego do pretérito

composto, (ver ex. 183):

(Ex.: 183) El avión de Sarkozy ha hecho escala en la base de Torrejón para después proseguir a París con los tres periodistas franceses (Notícia 1 - Madri: Liberação das aeromoças)

Já nas notícias da Cidade do México e de nas notícias de Buenos Aires, os

processos materiais favorecem a forma simples, (ver ex. 184 e 185):

(Ex.: 184) Las aeronaves bombardearon objetivos del Partido de los Trabajadores del Curdistán, en regiones cercanas a la frontera con Turquía, así como en la montaña Kandil (Notícia 2 - Cidade do México: Ataque ao Iraque) (Ex.: 185) A principios de diciembre y tras recibir la autorización por parte del Parlamento y el gobierno, el Ejército atacó con una unidad especial de tierra por primera vez a los rebeldes del PKK en el país vecino. (Notícia 2 - Cidade do México: Ataque ao Iraque)

Vale ressaltar que as ocorrências dos verbos não-plenos (tais como, verbo

auxiliar, verbo modal, verbo suporte...) favoreceram o emprego da forma composta nas

notícias de Madri e da simples nas notícias da Cidade do México e de Buenos Aires,

(ver os ex. 186, 187 e 188 respectivamente):

(Ex.: 186) El portavoz turco ha querido mandar un contundente mensaje: “Este llamamiento es para todos los miembros de esta organización terrorista. No podéis conseguir nada, alcanzar ningún resultado por este camino. Regresad con vuestros padres, con vuestras madres y con vuestras familias, mientras aún queda tiempo.” (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque) (Ex.: 187) Dejando en evidencia el enojo serbio, cerca de mil personas realizaron una ruidosa protesta en Belgrado el sábado, agitando banderas serbias al grito de “Kosovo es el corazón de Serbia”. (Notícia 4 - Cidade do México: Independência de Kosovo) (Ex.: 188) El actual vicejefe de gobierno fue a votar acompañado por su mujer, Swetlana. (Notícia 5 - Buenos Aires: Cenário político russo)

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166

Nas notícias, os tipos de verbo predominantes são os de processo verbal e os de

processo material, sendo que em ambos os casos, prevalece o composto na variante de

Madri, e o simples nas variantes da Cidade do México e Buenos Aires. O terceiro tipo

de verbo mais produtivo é o da categoria de auxiliares, modais ou verbos suporte, que

repetem a preferência pelo composto nos dados de Madri e pelo simples nos dados da

Cidade do México e Buenos Aires.

4.11.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Tipos de verbo

PS PC PS PC PS PC

Material 13/39 33%

26/39 67%

13/18 72%

5/18 28%

19/27 70%

8/27 30%

Mental 1/9 11%

8/9 89%

3/5 60%

2/5 40%

23/25 92%

2/25 8%

Relacional 4/8 50%

4/8 50%

2/2 100%

0/2 0%

9/10 90%

1/10 10%

Comportamental 0/0 0%

0/0 0%

7/7 100%

0/7 0%

1/1 100%

0/1 0%

Verbal 1/9 11%

8/9 89%

0/0 0%

0/0 0%

6/6 100%

0/6 0%

Existencial 2/16 13%

14/16 87%

1/5 20%

4/5 80%

3/4 75%

1/4 25%

Entrevistas

Não se aplica 3/8 38%

5/8 62%

5/7 71%

2/7 29%

4/9 44%

5/9 56%

Tabela 27: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por tipos de verbo (entrevistas)

Segundo a tabela 27, uma vez mais, na entrevista de Madri, nos diferentes tipos

de verbo, prevalece a forma composta enquanto que, nas entrevistas da Cidade do

México e de Buenos Aires prevalece a forma simples.

Nas entrevistas os tipos de verbo predominantes são mais variados que nas

notícias, prevalecem de forma geral os verbos que indicam processos materiais,

seguidos dos verbos que indicam processos mentais, existenciais e relacionais, nessa

ordem.

Na entrevista de Madri, os verbos classificados como processo material

favorecem a forma composta, (ver ex. 189):

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167

(Ex.: 189) Inf.: Un familiar no se da cuenta que le han hecho la autopsia. (Entrevista - Madri)

Enquanto que, na entrevista da Cidade do México e na entrevista de Buenos

Aires, os processos materiais favorecem o emprego da forma simples, (ver exemplos

190 e 191, respectivamente):

(Ex.: 190) Inf.: Precisamente a eso se debe; simplemente la Escuela de Ingeniería Química de la universidad se fundó en mil novecientos quince; la del Politécnico, por mil novecientos cuarenta y dos, cuarenta y tres. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 191) Entr.: Además lanzó el folclore a una dimensión que antes no tenía. (Entrevista - Buenos Aires)

Na entrevista de Madri, os verbos que indicam processos mentais, que são o

segundo tipo de verbo mais produtivo, também favorecem o emprego do pretérito

composto, (ver ex. 192):

(Ex.: 192) Entr.: No sé; pero por ejemplo, mira, vamos a ver, un filósofo, ¿no?, pues no ha estudiado una asignatura, bueno, tiene una laguna en la carrera; no va a matar a nadie; en cambio, un médico que... que tiene un fallo en la carrera, pues, tú calcula. (Entrevista - Madri)

Já na entrevista da Cidade do México e na entrevista de Buenos Aires, os

processos mentais favorecem a forma simples, embora na Cidade do México, aumenta

consideravelmente o percentual de compostos neste contexto, (ver ex. 193 e 194):

(Ex.: 193) Inf.: No, no; digo, porque generalmente todos los ingenieros, al terminar su carrera, se van a especializar a determinados lugares, centros de investigación, con objeto de que si algún detalle tienen que no entendieron en la carrera, pues... lo corrijan, ¿verdad?, y lo superen. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 194) Entr.: Cosa que resultó bastante sorpresiva cuando me enteré. (Entrevista - Buenos Aires)

Na entrevista de Madri, os verbos que indicam processos existenciais, que são o

terceiro tipo de verbo mais produtivo, também favorecem o emprego do pretérito

composto, (ver ex. 195):

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168

(Ex.: 195) Inf.: (…) he estado veinte días en los Pirineos. (Entrevista - Madri)

Na entrevista da Cidade do México os processos existenciais favorecem a

claramente a forma composta, (ver ex. 196):

(Ex.: 196) Inf.: Como te decía, era el montaje de una planta para maquilar aerosoles, precisamente viendo... las necesidades que hay, por la demanda que ha tenido el producto. (Entrevista - Cidade do México)

Enquanto que, na entrevista de Buenos Aires, os processos existenciais

favorecem a forma simples, (ver ex. 197):

(Ex.: 197) Inf.: En última instancia el ministro de Economía que hoy está en... desempeñando la cartera, no es un político... es un hombre que viene de la estructura burocrática... así que una perspectiva hubo. (Entrevista - Buenos Aires)

E por último, ainda vale a pena assinalar o comportamento dos processos

relacionais.

Na entrevista de Madri, assim como nas notícias (ver tabela 26) a seleção do

simples e do composto está dividida nos processos relacionais, (ver ex. 198 e 199):

(Ex.: 198) Inf.: Es desagradable, huele muy mal, te empiezas a pensar que aquello ha sido una persona y es un ambiente bastante, bastante sórdido, ¿no? (Entrevista - Madri) (Ex.: 199) Inf.: Bueno, ¡allá ella!, ella fue la que lo hizo, y es muy dueña de su acto, ¿no? (Entrevista - Madri)

Enquanto que na entrevista da Cidade do México e na entrevista de Buenos

Aires os processos relacionais continuam favorecendo a seleção do simples, (ver ex. 200

e 201).

(Ex.: 200) Inf.: No; es una... fue una investigación del tipo de... Como te decía, era el montaje de una planta para maquilar aerosoles, precisamente viendo... las necesidades que hay, por la demanda que ha tenido el producto. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 201) Entr.: Pero Piazzola fue integrante de la orquesta de Troilo, ¿no? (Entrevista - Buenos Aires)

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169

Nas entrevistas, os tipos de verbo predominantes são mais variados que nas

notícias. Na entrevista de Madri, os processos mais freqüentes favorecem o uso do

composto, exceto no caso dos processos relacionais. Na entrevista da Cidade do México

os processos mais freqüentes favorecem o uso do simples, exceto no caso dos processos

existenciais que favorecem claramente o composto. Também merecem destaque os

processos mentais que favorecem o simples, mas são contextos mais propícios que os

demais para o aparecimento do composto. E, finalmente, na entrevista de Buenos Aires,

os processos mais freqüentes favorecem o uso do simples, sem exceção.

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170

4.12 Sujeito

Diversos autores assinalam o caráter afetivo ou emocional na escolha do

pretérito composto (Gutierrez Araus, 1997). Por esta razão, controlamos no nosso

corpus a distribuição das pessoas do discurso em cada uma das nossas ocorrências.

Classificamos os sujeitos (ou as pessoas do discurso), considerando tanto as

pessoas do singular: P1 (yo), P2 (tú), P3 (él, ella, usted), quanto as do plural: P4

(nosotros/as), P5 (vosotros/as) e P6: (ellos, ellas, ustedes)32.

O indivíduo, como falante e sujeito, assume uma posição no discurso,

entretanto a nossa hipótese é que, no que diz respeito à distribuição dos pretéritos, esta

não está condicionada pela pessoa do discurso, pois não acreditamos que a afetividade

ou a subjetividade sejam fatores condicionadores do uso do simples ou do composto.

Acreditamos, entretanto, que a distribuição dos sujeitos esteja mais relacionada ao

gênero ou tipo de texto mais do que à seleção do simples ou do composto.

4.12.1 Notícias

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Sujeito

PS PC PS PC PS PC

P1 (Yo) 0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

P2 (Tú) 0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

P3 (Él/Ella/Usted) 33/78 42%

45/78 58%

37/40 93%

3/40 7%

105/110 95%

5/110 5%

P4 (Nosotros/as) 1/2 50%

1/2 50%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

P5 (Vosotros/as) 0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

Notícias

P6 (Ellos/Ellas/Ustedes) 11/24 46%

13/24 54%

16/16 100%

0/16 0%

37/40 93%

3/40 7%

Tabela 28: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por sujeito (notícias)

32 Embora usted e ustedes se refiram à segunda pessoa, foram acoplados em P3 e P6 pela terminação verbal coincidente com a terceira pessoa (él/ella, ellos/ellas).

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171

Como podemos verificar pela tabela 28, nas notícias prevalecem quase que

exclusivamente os processos relacionados à terceira pessoa do discurso (P3 e P6) nas

amostras dos três centros urbanos.

Nas notícias de Madri, a terceira pessoa tende a selecionar o composto, (ver ex.

202):

(Ex.: 202) Los alcaldes de Jarawa y Sankansar, dos de las poblaciones que han sufrido la ofensiva turca, han informado que los bombardeos han durado varias horas, afectado a varias casas y una escuela. (Notícia 2 - Madri: Ataque ao Iraque)

Enquanto que, nas notícias da Cidade do México e nas notícias de Buenos Aires

a terceira pessoa tende a selecionar o simples, (ver ex. 203 e 204):

(Ex.: 203) Los aviones atacaron objetivos del Partido de los Trabajadores del Curdistán [PKK], en regiones cercanas a la frontera con Turquía, así como en la montaña Kandil, más allá de la línea fronteriza, informó el comunicado militar. (Notícia 2 - Cidade do México: Ataque ao Iraque) (Ex.: 204) “¿Será posible que nos arrastren a una guerra civil por el tema de tierras?”, se preguntó luego Costas, quien apuntó que “el verdadero racismo viene del presidente”. (Notícia 3 - Buenos Aires: Separatismo na Bolívia)

As duas únicas ocorrências de P4, nas notícias de Madri, apareceram na

seqüência enunciativa, tanto com simples quanto com composto. Este tipo de seqüência

também costuma vigorar nas notícias quando a fala de uma pessoa aparece reproduzida

(fala reportada), ver ex. 205 e 206:

(Ex.: 205) “Tenemos la oportunidad de cimentar la estabilidad y recorrer la senda que hemos estado siguiendo en los últimos años”, ha proclamado el ganador de las elecciones apenas dos horas después del cierre de las urnas, subido al escenario de un concierto de rock en la Plaza Roja de Moscú, acompañado del propio Putin, quien ha asegurado que “el pueblo ha votado continuidad”. (Notícia 5 - Madri: Cenário político russo) (Ex.: 206) En su intervención, Thaçi se ha dirigido a los presentes diciendo que “nunca perdimos la confianza en nosotros mismos ni la convicción de que en un día seríamos parte de las naciones libres y democráticas”. (Notícia 4 - Madri: Independência de Kosovo)

Nas notícias não há ocorrências de P1 ou P2, portanto não temos como verificar

neste tipo de texto se a subjetividade favorece ou não a seleção de um dos pretéritos. Os

resultados apenas confirmam a tendência geral dos nossos dados, preferência do

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172

composto nos dados de Madri, e do simples nos dados da Cidade do México e de

Buenos Aires.

4.12.2 Entrevistas

Oco/Total Percentagem

Madri Cidade do México

Buenos Aires

Sujeito

PS PC PS PC PS PC

P1 (Yo) 4/25 16%

21/25 84%

9/13 69%

4/13 31%

13/24 54%

11/24 46%

P2 (Tú) 0/11 0%

11/11 100%

9/9 100%

0/9 0%

0/0 0%

0/0 0%

P3 (Él/Ella/Usted) 17/41 41%

24/41 59%

10/17 59%

7/17 41%

48/54 89%

6/54 11%

P4 (Nosotros/as) 0/1 0%

1/1 100%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

P5 (Vosotros/as) 0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

0/0 0%

Entrevistas

P6 (Ellos/Ellas/Ustedes) 3/11 27%

8/11 73%

3/5 60%

2/5 40%

4/4 100%

0/4 0%

Tabela 29: Detalhamento das ocorrências de pretéritos por sujeito (entrevistas)

Como podemos verificar pela tabela 29, nas entrevistas há maior variação das

formas pessoais, como era de se esperar num gênero mais conversacional. Mesmo

assim, prevalecem relacionados à terceira pessoa do discurso (P3 e P6), seguidos dos

processos relacionados à primeira (P1) e à segunda pessoa do discurso (P2).

Na entrevista de Madri, a terceira pessoa tende a selecionar o composto, (ver ex.

207).

(Ex.: 207) Entr.: Llega un momento en que... aunque me han contado casos de estos de... de matrimonios, es decir, de gente que ha llevado una vida marital, ¿no?, pero sin casarse. Se casan y estropean todo. (Entrevista - Madri)

Enquanto que, na entrevista da Cidade do México e na entrevista de Buenos

Aires, a terceira pessoa tende a selecionar o simples, (ver ex. 208 e 209):

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(Ex.: 208) Inf.: La información que me prestó Dupont, Allied Chemical, en el aspecto de propiedades físicas y químicas de los gases. (Entrevista - Cidade do México) (Ex.: 209) Inf.: El tango es eso, el tango es nostálgico, el tango necesitó tiempo; por eso Buenos Aires, a pesar de ser... una... ap... a pesar de ser... una ciudad... multitudinaria, buscó su expresión propia en música; el resto de las músicas no la expresaban. (Entrevista - Buenos Aires)

Entretanto merecem destaque, nos resultados da Cidade do México, o percentual

alto (41%) de seleção do composto com a terceira pessoa do discurso (P3), ver ex. 210:

(Ex.: 210) Inf.: Y se puede, así en esa forma, pues... sacar un buen producto al mercado, ¿verdad?, ya que ha sido comprobado totalmente de que funciona en el laboratorio. (Entrevista - Cidade do México)

E cabe ainda assinalar que, nos resultados de Buenos Aires relativos à terceira

pessoa do discurso (P3), oito do total de 54 ocorrências referem-se à forma de

tratamento usted. Esses oito casos aparecem com simples e estão incluídos nos 89%

desta categoria, (ver ex. 211):

(Ex.: 211) Entr.: ¿Usted lo palpó, lo vio un poco? (Entrevista - Buenos Aires)

Nas entrevistas, os resultados confirmam a tendência geral dos nossos dados,

preferência do composto nos dados de Madri, e do simples nos dados da Cidade do

México e de Buenos Aires. Entretanto, ao contrário do que esperávamos, os resultados

de P1, na Cidade do México e de Buenos Aires assinalam um aumento no percentual de

uso do composto, o que pode indicar que as marcas de subjetividade favoreçam o uso

do composto nestas duas variantes dialetais (vide ex. 27 e 37). Nos resultados de Madri,

os dados referentes à segunda pessoa (P2) são categóricos com relação ao uso do

composto, o que pode assinalar a tendência mais geral do uso do composto no discurso

oral (vide ex. 69).

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho permitiu aprofundar um estudo sobre a distribuição dos pretéritos

simples e composto em três centros urbanos (Madri, Cidade do México e Buenos

Aires), a partir de amostras escritas e orais, levando-se em conta fatores discursivos,

semântico-pragmáticos e sintáticos, além da própria evolução histórica das formas

verbais de passado, no seu processo de variação e mudança lingüística.

Com base na análise criteriosa da nossa variável dependente em função das

variáveis independentes que selecionamos, chegamos a resultados que mostram o

comportamento dos pretéritos simples e composto. Vejamos esses resultados em função

de cada uma das variáveis.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e os centros urbanos

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto, a nossa hipótese inicial

de que a seleção é variável nos três centros urbanos analisados (Madri, Cidade do

México e Buenos Aires) se confirmou:

∙ Em termos absolutos, se considerarmos mais de uma variante dialetal

(segundo a classificação de oito áreas propostas por Moreno Fernández, 2000), o

pretérito simples é a forma mais freqüente: 360 / 525 do total dos nossos dados, ou seja,

69% contra 31% de usos do composto. Nas notícias predomina o simples (77%), mas as

entrevistas favorecem o uso do composto que passa de 23% nas notícias para 44% nas

entrevistas;

∙ As formas de passado, como vimos no decorrer do trabalho, têm distribuições

de uso diferentes em cada um dos centros urbanos e que não estão condicionadas

exclusivamente por questões semânticas. Trata-se de formas variáveis com

condicionantes dialetais, discursivas e pragmáticas.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e o gênero textual

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto, nossa hipótese inicial se

confirmou: a seleção é variável nos textos dos três centros urbanos analisados em

função dos diferentes gêneros textuais.

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175

∙ As notícias parecem favorecer o uso do simples, mesmo nas notícias

madrilenas, enquanto gênero escrito - constituído a partir do relato;

∙ As entrevistas parecem favorecer o uso do composto, mesmo nos resultados da

Cidade do México e Buenos Aires o percentual de compostos deste gênero oral -

constituído a partir da alternância de turnos - é mais alto do que o das notícias.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e a organização discursiva

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto, nossa hipótese inicial se

confirmou: a seleção é variável nos textos dos três centros urbanos analisados em

função das diferentes organizações discursivas.

∙ As notícias de Madri favorecem o uso do composto no corpo da notícia e no

lead, enquanto que as notícias da Cidade do México e o corpo das notícias, as

manchetes e o lead de Buenos Aires favorecem o uso do simples;

∙ A seleção do pretérito composto, nas notícias da Cidade do México aparece

em final de relato, relacionada ao fechamento de tópico ou de tema, contexto que parece

favorecer a forma composta. Uma vez que é a forma mais marcada, ao aparecer em final

de relato, o pretérito composto anuncia o final em crescendo do relato;

∙ A seleção do pretérito composto, nas notícias de Buenos Aires aparece em três

contextos: na fala do Discurso Direto, como estratégia discursiva pra inserir elementos

situados num Passado Anterior na cronologia dos eventos que vem sendo

sucessivamente relatados e como Contra Argumento para inserir o argumento final de

maior peso argumentativo na organização da notícia;

∙ As entrevistas parecem favorecer o uso do composto na fala do entrevistador

de Madri, e o simples na fala dos entrevistadores da Cidade do México e Buenos Aires.

Na fala do informante cai o percentual de composto nos dados da fala de Madri (embora

ainda prevaleça sobre o simples) e caem os percentuais de simples nos dados da fala da

Cidade do México e Buenos Aires (embora ainda prevaleçam sobre o composto);

∙ Há nas entrevistas uma diferença bastante nítida no uso do composto nas três

variantes dialetais. Nos dados de Madri, o composto parece ser uma forma não marcada,

a seleção natural, primeira, mais freqüente. Nos dados da Cidade do México,

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176

encontramos casos de composto com motivações discursivas (em seqüências descritivas

localizando um evento num passado mais remoto, às vezes com aspecto durativo, em

seqüências argumentativas, para destacar o argumento final ou o contra argumento ou

no final de final de tópico ou seqüência conversacional) e casos de composto aos quais

não pudemos atribuir motivações discursivas, pelo que levantamos a hipótese de

motivações identitárias. Nos dados de Buenos Aires, conseguimos atribuir a todos os

casos de composto funções discursivas claras (destaque da informação em seqüências

descritivas, argumentativas, passado anterior de um estado localizado num passado mais

remoto ou final de tópico ou seqüência conversacional);

∙ Nas entrevistas os encadeamentos preferenciais são de composto para

composto (PC → PC) nos dados de Madri (78%) e de simples para simples (PS → PS)

nos dados da Cidade do México (88%) e de Buenos Aires (76%);

∙ Em Madri o encadeamento de simples para simples (PS → PS) refere-se a um

dado em vias de lexicalização, com grau de uso convencional bastante alto (“se acabó”)

e o encadeamento de composto para simples (PC → PS) corresponde a um caso de

oposição de exemplo, passando de um caso genérico e mais abstrato com composto para

um caso específico, relacionado a uma experiência pessoal mais concreta, com simples;

∙ Na Cidade do México o encadeamento pouco freqüente nas entrevistas de

simples para composto (PS → PC) refere-se à alternância de contextos mais gerais com

composto e contextos mais específicos com o simples;

∙ Em Buenos Aires o encadeamento pouco freqüente nas entrevistas de simples

para composto (PS → PC) refere-se à introdução de um argumento de autoridade, faz-se

referência com o composto a casos em que “Nixon” ou “Marx” são actantes em

oposição a casos em que “este muchacho” ou “otra chica” são introduzidos com o

simples. E, o encadeamento pouco freqüente de composto para simples (PC → PS),

correspondem os dois a casos de oposição de exemplo, passando de um caso genérico

com composto para um caso específico com simples.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e a seqüência discursiva

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto, nossas duas hipóteses

iniciais se confirmaram: a seleção é variável nas seqüências narrativas, enunciativas,

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descritivas e argumentativas, segundo as diferentes áreas dialetais; sendo que há

diferenças significativas entre as mesmas seqüências no gênero oral e escrito,

considerando a mesma variante dialetal.

∙ Nas notícias, as seqüências narrativas são as seqüências predominantes,

seguidas das seqüências enunciativas que correspondem às seqüências de fala reportada

ou discurso direto;

∙ Na seqüência narrativa das notícias de Madri, foram encontradas mais

ocorrências da forma composta do que da simples, contrariamente ao que se costuma

afirmar sobre o uso dos pretéritos para esse tipo de seqüência discursiva, o que valida a

nossa hipótese de que o pretérito composto está avançando e ocupando contextos do

pretérito simples em Madri, mesmo em seqüências narrativas;

∙ Nas notícias da Cidade do México predomina o pretérito simples (95%) sobre

o composto (apenas 5%) e todas as ocorrências foram encontradas na seqüência

narrativa. As três ocorrências de pretérito composto nessa seqüência marcam o final da

seqüência narrativa;

∙ Nas notícias de Buenos Aires predominam as seqüências narrativas, com

predominância do pretérito simples. Há apenas cinco ocorrências do composto, três

delas co-ocorrem na mesma notícia (Notícia 5) e são uma estratégia de Passado

Anterior, enquanto que as outras duas, que também co-ocorrem na mesma notícia

(Notícia 1), são uma estratégia de Contra Argumentação;

∙ Na seqüência enunciativa foram encontradas três ocorrências da forma

composta, duas são casos dados como terminados, definitivos, enquanto que a última se

trata de uma ação em começo de desenvolvimento;

∙ Os resultados das entrevistas são muito mais heterogêneos quanto às

seqüências discursivas do que os das notícias (predominantemente narrativas, com

algumas seqüências enunciativas);

∙ Na entrevista de Madri predominam as seqüências narrativa, argumentativa e

descritiva. Na entrevista da Cidade do México predominam as seqüências descritiva,

enunciativa e argumentativa. E, na entrevista de Buenos Aires, predominam as

seqüências descritiva, narrativa e enunciativa. Ou seja, a orientação seqüencial da

entrevista é variável;

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∙ Na entrevista de Madri, o simples prevalece sobre o composto nas seqüências

narrativas, ao contrário do resultado obtido nas notícias em que o composto prevalece

sobre o simples em seqüências narrativas. Essa inversão dos resultados marcaria uma

preferência pelo simples em narrativas orais e pelo composto em narrativas escritas de

notícias on line?;

∙ Nas demais seqüências descritiva, argumentativa e enunciativa há uma

preferência quase absoluta pela forma composta, resultado que confirma nossa hipótese

do avanço do composto sobre contextos do simples em textos orais bem maior que em

textos escritos;

∙ Com relação à entrevista da Cidade do México, nas seqüências narrativa e

enunciativa, a forma verbal de passado apareceu categoricamente na forma simples, o

que poderia indicar que o uso do composto como marca final da narrativa é uma

estratégia escrita, possivelmente relacionada à tradição discursiva do gênero, notícia;

∙ A seqüência descritiva parece favorecer o uso do composto. Os seis casos

descritivos na entrevista da Cidade do México são seqüências descritivas localizadas

num passado mais remoto, às vezes com aspecto durativo e às vezes em variação livre

com o simples;

∙ A seqüência argumentativa tem um percentual dividido. A forma composta

aparece em seqüências argumentativas, para destacar o argumento final ou o contra

argumento, ou fechar o tópico conversacional;

∙ Na entrevista de Buenos Aires, o pretérito simples prevalece nas seqüências

narrativas, descritivas e enunciativas. Entretanto, o composto prevalece nas seqüências

argumentativas;

∙ Nas seqüências narrativas, os três casos de pretérito composto parecem ter

uma função de comentário (fundo da narrativa), fazendo referência a um Passado

Anterior ao do tempo narrado.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e a circunstância temporal

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto e a circunstância

temporal, nossa hipótese inicial se confirmou: a seleção é variável nos textos dos três

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centros urbanos analisados, mas a circunstância temporal não parece ser um fator

determinante nessa seleção. Tanto nas notícias quanto nas entrevistas, as ocorrências de

pretéritos são mais produtivas sem a marca ou presença de uma circunstância temporal;

∙ Nas notícias prevalecem as circunstâncias de localização temporal, com

simples tanto nas notícias de Madri quanto nas notícias da Cidade do México e Buenos

Aires, entretanto, o percentual de composto nas notícias de Madri, nesse contexto, é

bastante maior que o das notícias da Cidade do México e Buenos Aires. As

circunstâncias de duração favorecem o uso do composto em Madri e o uso do simples

em Cidade do México e Buenos Aires. A circunstância de ordenação temporal aparece

apenas nas notícias de Madri e com o verbo no pretérito composto. As circunstâncias

pontuais e de freqüência não aparecem nas amostras de notícias;

∙ Nas notícias de Madri, as circunstâncias de localização temporal, parecem

favorecer o emprego do pretérito simples. No entanto, o percentual que aparece com o

pretérito composto é bastante alto (42%) se comparado ao resultado das notícias da

Cidade do México (0%) e de Buenos Aires (6%). Esse seria mais um indício de que a

forma composta está aumentando os seus contextos de uso;

∙ As circunstâncias “este mediodía” e “este domingo”, ambas classificadas

como circunstâncias de localização temporal e apresentando a mesma semântica,

atribuída pelo demonstrativo “este”, apresentam uma oscilação nas notícias de Madri,

ou seja, aparecem com simples e com composto;

∙ As circunstâncias “mientras”, “desde que” e “nunca”, classificadas como

durativas, favorecem o uso do pretérito simples nas notícias madrilenas e parecem inibir

o uso do composto;

∙ Nas notícias da Cidade do México encontramos ocorrências de dois tipos de

circunstâncias: de localização temporal e de duração. Ambas aparecem acompanhando

apenas verbos no pretérito simples;

∙ Nas notícias de Buenos Aires, foram encontradas as mesmas circunstâncias

que apareceram nas notícias da Cidade do México: localização temporal e durativa. No

entanto, embora apareçam quase que exclusivamente acompanhando verbos no pretérito

simples (94% e 92% do total), também encontramos ocorrências com a forma

composta;

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∙ A grande variedade de circunstância de localização temporal parece favorecer

o emprego do pretérito simples, há uma única ocorrência com o verbo na forma

composta;

∙ Com relação às circunstâncias durativas, a sua grande variedade também

parece favorecer o pretérito simples. O curioso é que a única ocorrência com o verbo no

pretérito composto (“han denunciado durante la votación”) também foi encontrada com

o verbo no pretérito simples (“sostuvieron durante la jornada”);

∙ Comparados os dados encontrados, vemos que a circunstância “hoy”, por

exemplo, aparece com a forma composta nas notícias de Madri e com a forma simples

em Buenos Aires. Sendo assim, podemos afirmar que a circunstância temporal não

parece condicionar a seleção dos pretéritos;

∙ Nas entrevistas há mais ocorrências de circunstâncias temporais com

composto na entrevista de Madri (com exceção das circunstâncias de ordenação

temporal que apareceram apenas com simples), uma freqüência quase absoluta das

circunstâncias temporais com simples na entrevista da Cidade do México se não fosse o

único caso de circunstância de localização temporal com composto e uma quase

absoluta freqüência das circunstâncias temporais com simples na entrevista de Buenos

Aires (com exceção das circunstâncias de ordenação temporal que apareceram apenas

com simples);

∙ Na entrevista de Madri, a circunstância de localização temporal parece

condicionar o emprego da forma composta, resultado contrário ao encontrado nas notícias;

∙ A circunstância “y luego” aparece tanto com a forma simples quanto com a

composta, embora com esta última apareça com mais freqüência;

∙ As circunstâncias durativas apareceram categoricamente com o verbo no

pretérito composto; já as circunstâncias de ordenação temporal, somente com o pretérito

simples;

∙ Na entrevista da Cidade do México as circunstâncias aparecem quase que

absolutamente com o pretérito simples, a única exceção é a ocorrência da circunstância de

localização temporal “en preparatoria” que aparece com o verbo na forma composta;

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∙ Com relação às outras circunstâncias, de duração e de ordenação temporal,

tiveram um percentual de 100% com a forma simples. Não foram encontradas ocorrências

com as circunstâncias pontuais e de freqüência;

∙ Na entrevista de Buenos Aires, as circunstâncias de localização temporal, de

duração e de ordenação temporal mostraram um comportamento favorável ao emprego da

forma simples. No entanto, há uma única ocorrência de pretérito composto com uma

circunstância de localização temporal (“en este momento”);

∙ A circunstância de duração também parece favorecer o emprego do pretérito

simples. Foi encontrada apenas uma ocorrência com o verbo no pretérito composto (“toda

mi vida”);

∙ A circunstância de freqüência parece favorecer a forma composta; já a

circunstância de ordenação temporal acompanha o verbo apenas no pretérito simples;

∙ Comparados os dados encontrados, vemos que a circunstância “hace

(determinado periodo de tiempo)”, por exemplo, aparece com a forma composta nas

notícias de Madri e com a forma simples em Buenos Aires. Sendo assim, podemos

afirmar que a circunstância temporal não parece condicionar a seleção dos pretéritos;

∙ Com relação aos casos em que o verbo não aparece acompanhado por uma

circunstância temporal, temos nas notícias e nas entrevistas uma produtividade maior da

forma composta nas amostras de Madri e uma maior produtividade da forma simples nas

amostras da Cidade do México e de Buenos Aires;

∙ Os resultados das circunstâncias temporais nos faz reafirmar que não há

circunstâncias “próprias” para o uso do pretérito simples e nem circunstâncias

“próprias” para o emprego do pretérito composto.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e a polaridade

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto e a polaridade, nossa

hipótese inicial não se confirmou: a seleção é variável em função dos três centros

urbanos analisados, mas a polaridade em si não parece favorecer nem inibir

particularmente o uso do simples ou do composto nos dados de Madri e Buenos Aires.

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∙ Nas notícias, a polaridade negativa introduzida pela partícula “no” tem uma

função de contraste informativo, se usa com o pretérito simples nas notícias de Buenos

Aires e com o composto nas de Madri, praticamente nos mesmos contextos narrativos e

sintáticos. Já os casos introduzidos pela partícula “nunca” são mais variáveis e menos

predizíveis;

∙ As entrevistas parecem favorecer o uso do composto, mesmo nos resultados da

Cidade do México e de Buenos Aires o percentual de compostos deste gênero oral -

constituído a partir da alternância de turnos - é mais alto do que o das notícias;

∙ Na entrevista de Madri, predomina o uso do composto nos enunciados com

polaridade negativa. O uso do simples está restrito ao mundo narrado que parece ser um

fator favorecedor do composto. O uso do composto, bem mais freqüente, está inserido

nas seqüências correspondentes ao mundo comentado e em frases feitas, cristalizadas,

formadas a partir de uma dupla negação e o verbo “tener”;

∙ Na entrevista de Cidade do México, o uso do simples e do composto com

enunciados de polaridade negativa parece ser indistinto. Não encontramos, pelo menos,

uma explicação satisfatória para sua distribuição. O único que podemos afirmar, em

termos de conclusão, é que o discurso oral parece favorecer, nesta variante, o uso do

composto, sobretudo em enunciados com polaridade negativa. Dado que deve ser

confirmado com estudos posteriores;

∙ Na entrevista de Buenos Aires prevalece o uso do simples em enunciados de

polaridade negativa, inclusive com uma certa tendência à cristalização de estruturas

recorrentes na argumentação, estratégias de argumentação já convencionalizadas como

no caso do paralelismo “pudo haberla hecho y no la hizo”.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e a posição da circunstância temporal

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto, nossa hipótese inicial se

confirmou: a seleção é variável nos textos dos três centros urbanos analisados, no

entanto, a ordem de palavras não necessariamente está relacionada à seleção dos

pretéritos, mas sim a outros condicionamentos sintáticos, tais como subordinação ou

coordenação;

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∙ Nas notícias predominam as circunstâncias temporais pospostas ao verbo.

Nas notícias de Madri prevalece o composto, já nas notícias da Cidade do México e de

Buenos Aires, prevalece o simples nos casos de posposição;

∙ A anteposição da circunstância temporal parece, entretanto, favorecer o uso do

simples nas notícias dos três centros urbanos;

∙ Nas entrevistas, ao contrário das notícias, prevalecem as circunstâncias

temporais antepostas ao verbo, o que nos leva a crer que a posposição da circunstância

seja uma estratégia jornalística ou uma tradição discursiva característica do gênero

jornalístico, notícia;

∙ Na entrevista de Madri, prevalece o composto nos casos de anteposição da

circunstância temporal, na entrevista da Cidade do México o simples é a forma

categórica, já na entrevista de Buenos Aires, predomina o simples com a circunstância

temporal anteposta, mas a entrevista apresenta um percentual importante de composto

nesse mesmo contexto;

∙ Nos casos de posposição da circunstância temporal é mais freqüente o

composto nos dados de Madri e o simples nos dados da Cidade do México e Buenos

Aires;

∙ Tanto nos dados das notícias quanto nos dados das entrevistas, prevalece o

contexto não marcado por circunstâncias temporais, sendo que nesses casos a

preferência é pelo composto nos dados de Madri e pelo simples nos dados da Cidade do

México e Buenos Aires.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e a subordinação

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto, nossa hipótese inicial se

confirmou: a seleção é variável nos textos dos três centros urbanos analisados em

função da subordinação.

∙ Nas notícias dos três centros urbanos, entre as orações dos três centros urbanos

em estudo, predomina a subordinação;

∙ Nas notícias de Madri há uma sutil inclinação pela forma composta tanto na

oração principal quanto na subordinada. Nas notícias da Cidade do México e de Buenos,

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por outro lado, há uma alta predominância do pretérito simples em ambas as orações

(principal e subordinada);

∙ Nas entrevistas, ao contrário do resultado obtido nas notícias, há uma menor

produtividade da subordinação e um aumento das ocorrências de coordenação;

∙ A maior percentagem de coordenação talvez possa ser explicada pelo gênero

textual. Como se trata de um gênero oral, constituído a partir da alternância de turnos, a

fala é mais espontânea o que gera, de certa maneira, orações mais livres, independentes;

∙ Na entrevista de Madri há uma grande ocorrência de pretérito composto, tanto

na principal quanto na subordinação. Na entrevista da Cidade do México e na entrevista

de Buenos Aires, a forma simples se mostra mais produtiva, principalmente na oração

subordinada;

∙ Os resultados obtidos nas notícias e nas entrevistas evidenciam uma grande

produtividade do pretérito composto nas orações principais de Madri, se comparamos

ao uso do pretérito composto nas orações principais das notícias e entrevistas da Cidade

do México e de Buenos Aires, o que parece mostrar um avanço da variação no uso dos

pretéritos, no que diz respeito à subordinação, confirmando a nossa hipótese do

aumento do composto nas orações principais.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e a temporalidade (o agora)

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto e sua relação com o

presente da enunciação, nossa hipótese inicial se confirmou: a seleção é variável nos

dados de Madri, Cidade do México e Buenos Aires; sendo difícil estabelecer uma

relação binária: inclui o agora → PC e exclui o agora → PS que possa contemplar as

três variantes dialetais. A variante de Madri é a mais inovadora, os usos do composto

estão bem mais estendidos que nas variantes da Cidade do México e de Buenos Aires,

estando entre a etapa 3 → 4. Em segundo lugar, viria a Cidade do México, que estaria

entre a etapa 2 → 3 e a variante mais conservadora seria a de Buenos Aires, no que diz

respeito ao uso do composto, na etapa 2.

∙ Há diferenças significativas entre os resultados das notícias e das entrevistas

nas três variantes dialetais, sendo que nas três, o gênero oral, favorece mais o

aparecimento do composto do que o gênero escrito;

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∙ Em nenhuma das três variantes dialetais o comportamento do simples

associado ao exclui o agora e do composto associado ao inclui o agora se mostrou

homogêneo, exceto nos dados da entrevista de Madri, 100% de dados com composto em

contextos que incluem o agora;

∙ Nas notícias de Madri, nos contextos que excluem o agora, prevalece o uso do

composto sobre o simples o que valida nossa hipótese inicial de avanço do composto

sobre contextos do simples nesta área dialetal;

∙ Nas notícias da Cidade do México, nos contextos que excluem o agora,

prevalece o uso do simples sobre o composto. O único caso de composto em contexto

de exclusão do agora tem uma explicação discursiva, trata-se de uma estratégia de

destaque no final de uma seqüência narrativa;

∙ Nas notícias de Buenos Aires, nos contextos que excluem o agora, prevalece

o uso do simples sobre o composto. Os quatro casos de composto em contexto de

exclusão do agora têm uma explicação discursiva, trata-se de uma estratégia de

destaque em seqüências argumentativas ao introduzir um Contra Argumento ou têm

uma finalidade descritiva de um estado anterior ao dos tempos do relato, Passado

Anterior;

∙ Nas notícias de Madri, nos contextos que incluem o agora, prevalece o uso

do composto. No entanto, registramos seis casos de uso do simples em contextos que,

segundo a nossa interpretação, seriam perfeitamente intercambiáveis por realizações do

simples. Estes seis casos comprovam nossa hipótese inicial de que não se trata de um

fenômeno categórico, pois encontra-se em pleno processo de mudança;

∙ Nas notícias da Cidade do México, nos contextos que incluem o agora,

prevalece o uso do simples em contextos que incluem o agora. No entanto, registramos

dois casos de uso do composto em contextos que incluem o agora. Estes dois casos têm

uma explicação discursiva mais do que temporal. Trata-se, mais uma vez, de uma

estratégia de destaque no final de uma seqüência narrativa;

∙ Nas notícias da Buenos Aires, nos contextos que incluem o agora, prevalece o

uso do simples em contextos que incluem o agora. No entanto, registramos quatro casos

de uso do composto em contextos que incluem o agora. Estes quatro casos têm uma

explicação mais discursiva do que temporal. Trata-se, mais uma vez, de uma estratégia

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de destaque para introduzir um Contra Argumento, em seqüência argumentativa ou o

Discurso Direto, em seqüência enunciativa;

∙ Na entrevista de Madri, nos contextos que excluem o agora, prevalece o uso

do composto sobre o simples, de forma ainda mais acentuada do que nas notícias, o que

valida nossa hipótese inicial de avanço do composto sobre contextos do simples nesta

área dialetal;

∙ Na entrevista da Cidade do México, nos contextos que excluem o agora,

prevalece o uso do simples sobre o composto (89%). Entretanto, registramos três casos

de composto em contexto de exclusão do agora. Nenhum deles tem necessariamente

uma relação com o agora, e poderiam perfeitamente, a nosso ver, alternar-se com

realizações do simples. Estes três casos comprovam nossa hipótese inicial de que não se

trata de um fenômeno categórico, trata-se de um fenômeno instável, pois encontra-se em

processo de variação;

∙ Na entrevista de Buenos Aires, nos contextos que excluem o agora, prevalece

o uso do simples (86%). No entanto, registramos nove casos de composto em contextos

que excluem o agora. Nesses casos mais do que uma motivação temporal nos parece

pertinente a motivação discursiva. Sete desses nove casos fazem parte de uma mesma

seqüência descritiva na qual prevalece uma avaliação reiterativa de um estado anterior

que é destacado pelo composto. Um desses nove casos faz parte de uma seqüência

argumentativa na qual prevalece a função de destaque na introdução de um contra-

argumento. E finalmente, o último desses nove casos faz parte de uma seqüência

conversacional na qual prevalece a função de encerramento de tópico destacada pelo

composto;

∙ Na entrevista de Madri, nos contextos que incluem o agora, prevalece

categoricamente (100%) o uso do composto em contextos que incluem o agora, o que

confirma o avanço deste tempo em contextos mais inovadores, como pode ser o de uma

entrevista oral, de forma bem mais estável do que em contextos mais conservadores,

como pode ser o das notícias escritas;

∙ Na entrevista da Cidade do México, nos contextos que incluem o agora, ao

contrário do que vimos nas notícias, prevalece o uso do composto (59%), o que pode

assinalar um claro favorecimento do uso do composto no discurso oral em contextos

que incluem o agora. O inclui o agora tanto pode selecionar formas verbais de pretérito

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simples ou compostas, com preferência pelas formas compostas, em estado de variação.

Em alguns casos a forma de composto é perfeitamente alternável com a do simples. O

que nos leva a concluir que estes fatores (entrevista e contexto que mantém relação com

o presente) podem ser, portanto, relevantes como favorecedores do uso do composto na

variante da Cidade do México, menos favorecedores do que na variante de Madri e mais

do que na variante de Buenos Aires;

∙ Na entrevista de Buenos Aires, nos contextos que incluem o agora, prevalece

o uso do simples. No entanto, registramos oito casos de composto em contextos que

incluem o agora. Nesses casos mais do que uma motivação temporal nos parece

pertinente a motivação discursiva. Três desses oito casos fazem parte de uma seqüência

descritiva na qual prevalece uma avaliação de um estado final que é destacado pelo

composto. Dois desses oito casos fazem parte de uma seqüência conversacional na qual

prevalece a função de encerramento de tópico destacada pelo composto. Dois desses

oito casos fazem parte de uma seqüência argumentativa na qual prevalece a função de

introdução de contra-argumento ao introduzir actantes de importância histórica como

estratégia de referência a autoridades na exemplificação. E finalmente, o último desses

oito casos faz parte de uma seqüência descritiva de um estado anterior evocado para

destacar uma mudança de gosto.

∙ Como já dissemos anteriormente, estes dados levam a repensar as orientações

gramaticais e didáticas de orientação geral que recomendam o uso do composto em

contextos que incluem o agora e do simples em contextos que excluem o agora. Trata-

se, a nosso ver, de um processo em pleno desenvolvimento de mudança e que não pode

ser para nenhuma das variantes dialetais reduzido a explicações esquemáticas, sem

considerar os contextos discursivos e a própria instabilidade do processo em si de

variação.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e o aspecto (a duração)

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto e sua relação com a

duração, nossa hipótese inicial não se confirmou: os dados das notícias não são

homogêneos quanto à duração e, apenas nas ocorrências de Madri, o aspecto durativo

parece favorecer o uso do composto.

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∙ Nas notícias de Madri, predomina nas ocorrências de aspecto pontual o

composto (55%), sendo que as ocorrências de aspecto durativo favorecem ainda mais

claramente esse uso do composto (73%). Entretanto, encontramos três casos de

ocorrências durativas com simples: uma pode ser explicada pelo valor durativo

intrínseco ao verbo “continuar”, e as outras duas ocorrências, devido às circunstâncias

“mientras” e “nunca”;

∙ Nas notícias da Cidade do México, nas ocorrências de aspecto pontual

predomina o pretérito simples, sendo que não foram registradas ocorrências de aspecto

durativo. Os três casos de ocorrências pontuais com composto destacam, em seqüências

narrativas, o final do relato;

∙ Nas notícias de Buenos Aires, também predomina nas ocorrências de aspecto

pontual o pretérito simples. As poucas ocorrências durativas não favorecem o composto,

mas sim o simples (100%), contrariamente ao que esperávamos. Nesses casos,

predominam fatores discursivos sobre fatores semânticos na seleção da forma composta;

∙ Na entrevista de Madri, predomina nas ocorrências de aspecto pontual o

composto (72%), sendo que as ocorrências de aspecto durativo favorecem ainda mais

claramente esse uso do composto (81%). No entanto, foram encontramos três casos de

ocorrências durativas com simples: dois desses casos aparecem com a perífrase de

gerúndio e um com a circunstância temporal “cincuenta años”;

∙ Na entrevista da Cidade do México, predomina nas ocorrências de aspecto

pontual o simples. Entretanto, encontramos nove casos de ocorrências pontuais com

composto. Estes nove casos de composto em contextos pontuais são perfeitamente

alternáveis com realizações do simples, a nosso ver. Com relação às ocorrências de

aspecto durativo, predomina o composto, diferentemente dos dados das notícias, nas

quais não registramos nenhum caso de ocorrências durativas;

∙ Na entrevista de Buenos Aires, nas ocorrências de aspecto pontual predomina

o simples. Entretanto, encontramos oito casos de ocorrências pontuais com composto.

Nestes casos, predominam fatores discursivos sobre fatores semânticos na seleção do

pretérito composto;

∙ Ainda na entrevista de Buenos Aires, nas ocorrências de aspecto durativo

predomina o composto (100%). As nove ocorrências durativas da entrevista, ao

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contrário das ocorrências das notícias, favorecem categoricamente o composto. Sete

dessas ocorrências localizam um evento reiterativo num passado anterior, uma destaca a

informação da conclusão descritiva ou argumentativa e a última, destaca o argumento

final ou o contra argumento;

∙ De um modo geral, as entrevistas favorecem o aparecimento de contextos

durativos, se comparadas com as notícias, sendo que nas três variantes dialetais, neste

discurso oral, o aspecto durativo favorece sensivelmente o uso do composto. O aspecto

durativo é um fator favorável ao uso do composto nas entrevistas, mas não é categórico

– exceto nos dados de Buenos Aires – e não pode ser usado, portanto, como fator

exclusivo na seleção do composto.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e os tipos de verbo

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto e os tipos de verbo, nossa

hipótese inicial não se confirmou: a seleção é variável em função dos três centros

urbanos analisados, mas o tipo de verbo em si não parece favorecer nem inibir

particularmente o uso do simples ou do composto.

∙ Nas notícias de Madri, nos diferentes tipos de verbo, prevalece a forma

composta enquanto que, nas notícias da Cidade do México e de Buenos Aires, prevalece

a forma simples. Além disso, prevalecem, de forma geral, os verbos que indicam

processos verbais, seguidos dos verbos que indicam processos materiais;

∙ As ocorrências dos verbos não-plenos favoreceram o emprego da forma

composta nas notícias de Madri e da simples nas notícias da Cidade do México e de

Buenos Aires;

∙ Nas entrevistas, os tipos de verbo predominantes são mais variados que nas

notícias;

∙ Na entrevista de Madri, os processos mais freqüentes favorecem o uso do

composto, exceto no caso dos processos relacionais. Na entrevista da Cidade do México

os processos mais freqüentes favorecem o uso do simples, exceto no caso dos processos

existenciais que favorecem claramente o composto. Também merecem destaque os

processos mentais que favorecem o simples, mas são contextos mais propícios que os

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demais para o aparecimento do composto. E, finalmente, na entrevista de Buenos Aires,

os processos mais freqüentes favorecem o uso do simples, sem exceção.

- Conclusões sobre a variação dos pretéritos e o sujeito

Com relação ao uso dos pretéritos simples e composto e o sujeito, nossa hipótese

inicial se confirmou em partes: nas notícias não há ocorrências de P1 ou P2, sendo

assim, não temos como verificar neste tipo de texto se a subjetividade favorece ou não a

seleção de um dos pretéritos, por outro lado, nas entrevistas da Cidade do México e de

Buenos Aires, os resultados de P1 assinalam um aumento no percentual de uso do

composto, o que pode indicar que as marcas de subjetividade favoreçam o uso do

composto nestas duas variantes dialetais.

∙ Nas notícias prevalecem quase que exclusivamente os processos relacionados

à terceira pessoa do discurso (P3 e P6) nas amostras dos três centros urbanos;

∙ Nas notícias de Madri, a terceira pessoa tende a selecionar o composto,

enquanto que, nas notícias da Cidade do México e de Buenos Aires a terceira pessoa

tende a selecionar o simples;

∙ Ainda nas notícias de Madri, vale destacar que, as duas únicas ocorrências de

P4 apareceram na seqüência enunciativa. Este tipo de seqüência também costuma

vigorar nas notícias quando a fala de uma pessoa aparece reproduzida (fala reportada);

∙ Nas notícias não há ocorrências de P1 ou P2, portanto não temos como

verificar neste tipo de texto se a subjetividade favorece ou não a seleção de um dos

pretéritos. Os resultados apenas confirmam a tendência geral dos nossos dados,

preferência do composto nos dados de Madri, e do simples nos dados da Cidade do

México e de Buenos Aires;

∙ Nas entrevistas há maior variação das formas pessoais, como era de se esperar

num gênero mais conversacional. Mesmo assim, prevalecem relacionados à terceira

pessoa do discurso (P3 e P6), seguidos dos processos relacionados à primeira (P1) e à

segunda pessoa do discurso (P2);

∙ Na entrevista de Madri, a terceira pessoa tende a selecionar o composto.

Enquanto que, nas entrevistas da Cidade do México e de Buenos Aires, a terceira pessoa

tende a selecionar o simples;

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∙ Nos resultados de Buenos Aires relativos à terceira pessoa do discurso (P3),

oito do total de 54 ocorrências referem-se à forma de tratamento usted. Esses oito casos

aparecem com simples e estão incluídos nos 89% desta categoria;

∙ Nas entrevistas, os resultados confirmam a tendência geral dos nossos dados,

preferência do composto nos dados de Madri, e do simples nos dados da Cidade do

México e de Buenos Aires. Entretanto, ao contrário do que esperávamos, os resultados

de P1, na Cidade do México e de Buenos Aires assinalam um aumento no percentual de

uso do composto, o que pode indicar que as marcas de subjetividade favoreçam o uso

do composto nestas duas variantes dialetais. Nos resultados de Madri, os dados

referentes à segunda pessoa (P2) são categóricos com relação ao uso do composto, o

que pode assinalar a tendência mais geral do uso do composto no discurso oral.

Em síntese, podemos afirmar que nossos dados, em termos gerais, assinalam a

predominância do pretérito simples. No entanto, ao analisarmos a distribuição dos

pretéritos, vemos que, é variável em função da comunidade de fala e do gênero textual.

As entrevistas madrilenas, enquanto gênero oral, de fala espontânea, favorecem

o uso do pretérito composto com relação ao simples. Já as notícias, gênero escrito,

sobretudo nas seqüências narrativas, favorecem o uso do pretérito simples na variante

madrilena. Nas duas outras variantes a fala espontânea favorece o composto mas em

final de narrativas ou para destacar o último argumento em seqüências argumentativas.

Vimos também que a temporalidade e o aspecto não são fatores categóricos para

a seleção do pretérito composto, uma vez que tanto o pretérito simples como o pretérito

composto gozam de uso em contextos semânticos de (a) inclusão e de exclusão do agora

e (b) ações pontuais e durativas/reiterativas. No entanto, vale a pena destacar que, nos

dados de Madri, há um grande favorecimento do pretérito composto.

Vale a pena destacar também que tanto nas notícias quanto nas entrevistas, as

ocorrências de pretéritos são mais produtivas sem a marca ou presença de uma

circunstância temporal. Sendo assim, a circunstância também não é categórica para o

emprego dos pretéritos.

A temporalidade, o aspecto e as circunstâncias temporais, vistos como fatores

condicionadores de um pretérito ou outro, não apresentaram esse comportamento tão

marcado nos nossos dados analisados. Sendo assim, acreditamos que o peso maior para

a variação dos pretéritos esteja relacionado, sobretudo, a fatores discursivos.

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Nossos dados assinalam que estamos diante de um fenômeno variável e a lógica

da variação ou os fatores que condicionam a variação não são os mesmos nos dados das

três variantes dialetais analisadas porque as três estão em diferentes etapas de variação:

a Cidade do México e Buenos Aires estão em processo de variação enquanto que Madri

estaria numa etapa mais avançada de mudança com preferência pelo composto sobre o

simples mas, ainda, com contextos de instabilidade;

Os fatores condicionantes da seleção dos pretéritos parecem ser mais do que

fatores semânticos (tempo, aspecto ou co-ocorrência com determinado tipo de CT):

fatores dialetais (localidade de origem dos falantes), fatores discursivos (gênero textual,

seqüência e tradição discursiva) ou fatores pragmáticos (intencionalidade e hierarquia

informativa).

Embora este trabalho não tenha um enfoque didático, traz muitas contribuições

para o ensino de E/LE, no Brasil, no que se refere ao uso dos pretéritos simples e

composto no espanhol.

Com base nos dados reais encontrados nas amostras do corpus escrito e oral,

pudemos verificar no decorrer deste trabalho que a língua não é homogênea e que o

emprego dos pretéritos não é o mesmo nos três centros urbanos selecionados, que

pertencem a diferentes áreas geoletais do espanhol. No entanto, a norma que circula nos

manuais didáticos de E/LE não leva em conta a realidade sociolingüística e nem

acompanha a mudança natural das línguas.

O que encontramos no que diz respeito ao ensino dos pretéritos é um super

dimensionamento da forma composta, porém se voltarmos ao quadro da página 76,

vemos que, do total de ocorrências de pretéritos encontradas em todo o corpus, apenas

31% pertencem à forma composta, o que mostra, em termos gerais, um uso minoritário

e comprova que a forma simples é a mais produtiva. Não podemos esquecer que o maior

número de ocorrências do pretérito composto se concentra nas amostras de Madri,

sendo assim, não podemos impor como norma geral um uso restrito.

Os materiais pedagógicos que circulam não devem ignorar nem rejeitar a

variação lingüística. Para que o ensino possa superar a normatização a partir de

amostras artificiosas da língua, é necessário que enfrente e aceite a heterogeneidade

lingüística. No entanto, talvez estejamos longe dessa aceitabilidade, pois inclusive

exames importantes e respeitados como o DELE33 ainda continuam exigindo a distinção

33 DELE (Diploma de Español como Lengua Extranjera) é um título oficial que certifica o grau de competência e domínio do espanhol como língua estrangeira.

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dos pretéritos segundo parâmetros idealizados de uso da norma castelhana, ignorando

completamente a diversidade de valores e funções que pode assumir o pretérito

composto nos demais centros urbanos das diferentes áreas geoletais do espanhol.

Vejamos a seguir um exemplo de questão sobre o emprego dos pretéritos em um

exame de nível intermediário do DELE:

Figura 4: Questão DELE (Nível Intermediário, Maio de 2006)

Esse tipo de questão desconsidera a heterogeneidade da língua e penaliza a

seleção de uma das formas de passado, considerando como opção errada o emprego da

forma composta. No entanto, o emprego do pretérito composto nesse contexto é

considerado correto e possível em outras variantes do espanhol, sempre se levando em

conta a intenção do falante ao selecionar tal forma.

Esperamos que a nossa pesquisa possa despertar o interesse e promover a

realização de outros trabalhos sobre a distribuição dos pretéritos para que assim, sejam

desenvolvidos caminhos metodológicos e orientações para o ensino, a fim de mostrar o

que é normal, o que é usual nas variações da língua, visto que o que circula como norma

não corresponde ao uso lingüístico real.

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7. ANEXO 7.1 Notícias

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7.2 Entrevistas

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7.2.1 Entrevista 1 (Madri)

MA-4. Mujer de 26 años. Neuróloga

Enc.- ¿Por qué no me hablas de tu carrera? Inf.- ¿De mi carrera? Enc.- Sí. Inf.- Bueno; indudablemente es del que menos me gusta hablar, pero... puesto que hay que hablar de algo, vamos a comenzar por ello... Es una carrera bastante larga. Uno de los inconvenientes que tiene es eso; y luego, la poca salida que tiene una vez que has terminado los estudios. Sí, porque aunque parezca que hacen falta muchos médicos, en realidad... luego puestos de trabajo, pagando, claro, no existen casi. O si existen, están muy difícil llegar a ellos. Enc.- Ahora, ¿tu especialidad cuál es? Inf.- Neurología. Enc.- ¿Y en qué consiste? Inf.- Son enfermedades del sistema nervioso, pero orgánicas, no como la siquiatría que son... enfermedades sin base orgánica o, por lo menos, que de momento no se sabe si tienen base orgánica o no la tienen, o no se ha descubierto que la tengan. Entonces, la neurología lo que estudia son tumores... malformaciones... bueno, toda lesión que se pueda evidenciar. Enc.- Ahora... ¿tú crees que esta carrera tuya, esta especialidad tuya... vamos, me parece a mí que... yendo a una capital de provincia tiene que tener salida, puestos de trabajo? Inf.- Bueno, sí; en las capitales de provincia sí hay bastantes más puestos de trabajo, lo que pasa es que... primero: cuando terminas la carrera, no estás suficientemente bien preparada como para irte tú sola a enfrentarte a una... a una serie de individuos enfermos. Y luego, que el meterte en una capital de provincia te supone también el perder muchas cosas como es el continuar viviendo en un nivel universitario, el tenerte que aislar. La vida de provincia, ya aparte de la profesión que es bastante incómoda, o sea, tienes que renunciar a bastantes cosas. Y tampoco es el irte a un pueblo, que puedes hacerlo por romanticismo y por pensar que ibas a hacer una labor mucho más heroica, ¿no? En una capital de provincia, todo esto también se ha perdido; por eso, la gente va menos a la capital de provincia que a un pueblo. Enc.- Pero en el fondo tenéis salidas, ¿no? Inf.- Bueno, tampoco creas que en las capitales de provincia es tan fácil encontrar trabajo, ¿eh? O sea, trabajo de poner una consulta y esperar, me imagino que será bastante dificultoso. Ahora, que hay menos médicos que en Madrid, sí; eso es cierto. Ahora, a todo el mundo nos gusta quedarnos en Madrid, claro, eso es... Enc.- Sí; bueno... es que yo creo que en todas las carreras, en todas las especialida-des, porque me parece a mí que es lo ideal, ¿no? Inf.- Quedarse en Madrid, sí. Bueno, yo por supuesto que no me comparo con los filósofos, que esos tienen todavía muchas menos salidas que los médicos. Enc.- Pues... yo te diré que una cosa parecida. En Madrid no muchas, pero en los pueblos bastantes. Inf.- Bastantes, sí; dando clases, ¿no? Enc.- Sí; dando clases. Inf.- Pero lo que pasa es que...

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Enc.- Claro, la investigación es bonita, pero en fin, no puede todo el mundo hacerlo. Inf.- Bueno, yo otra cosa también encuentro de malo en los pueblos, es que a mí no me tra... no me gusta trabajar en... fuera de un hospital. Pues yo siempre procuraré trabajar en un hospital. Enc.- Sí, claro. Inf.- Me gusta que haya de ser un enfermo una vez ingresado, porque puedes hablar con más gente que siempre que tienes alguna duda o sabes que puedes recurrir a algún compañero que te la aclare. Porque hay veces que es totalmente necesario esto. Enc.- ¿Y las mujeres sois tan bien acogidas como el hombre? Inf.- ... Bueno, eso depende. Yo creo que es curioso esto, ¿no?, pero hay sitios en que las mujeres somos mal recibidas y sin embargo, en otros... en otros casos, gustan más las mujeres médicos que los hombres. Porque tienen... dicen ellos, que tienen más atenciones, más delicadeza. No sé; una tontería de estas, ¿no? Por supuesto que ellos las mujeres siempre la ven como pediatra. Las mujeres dedicadas a los niños es lo que más ve la gente. Pero, luego, en otras cosas por ejemplo, en lo que yo estoy haciendo, neurología, he encontrado personas que me han dicho: "Pues yo prefiero que sea usted un médico, una mujer, vamos". Enc.- ¿Y eso quién finalmente, la mujer con mujer o el hombre con mujer? Inf.- Las mujeres suelen confiar más en las mujeres. Enc.- ¿Sí? Inf.- Sí. Enc.- Es una cosa... no sé, rara. Inf.- Me creía que era al contrario, ¿eh? Enc.- Sí, sí. Inf.- Y... vamos esto me lo ha dicho hace unos días una señora. Me ha dicho: "Pues yo prefiero a las mujeres médicos". Y luego... estuve haciendo unas guardias por uno... un barrio de éstos apartados de Madrid. Y en algunas casas, me... me recibieron diciéndome eso: que preferían que fuese me... la mujer médico. Vamos, que fuese médico la mujer para... que les era más fácil entablar conversación con un médico. Enc.- ¿Salen muchas chicas de médicos, al final? Inf.- Un treinta por ciento. Enc.- Salen bastantes, ¿eh? Inf.- Bueno, un treinta por ciento éramos en mi curso. Teniendo en cuenta que algunas se habrán casado y lo han abandonado... vamos a poner un veinte por ciento. Enc.- Bueno, pero vamos, tú opinabas igual que yo, que una vez que se case uno yo creo que es muy fácil, es decir, trabajar también, ¿no? Inf.- Bueno, sí. Lo que ocurre es que muchas veces las compañeras que yo he tenido por lo menos, ese diez por ciento que han dejado la carrera es que tampoco tenían demasiado... era un poco... forma de entretener el tiempo hasta... Enc.- O sea que... Inf.- Eso hay que contarlo en... en todas carreras yo creo que hay, ¿eh?, un diez por ciento de mujeres que están a la espera y mientras tanto hacen algo que claro que les gusta, les gusta bastante, ¿no?, incluso puede llegar a gustarles bastante. Enc.- Es que Medicina la considero una cosa demasiado seria, ¿no?, quizá por su parte... Inf.- Bueno, pero eso... esa es la idea que se tiene siempre desde fuera de toda la carrera, ¿no?, que es muy seria; pero luego dentro existe también su pequeña juerga, ¿no?

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Enc.- No sé; pero por ejemplo, mira, vamos a ver, un filósofo, ¿no?, pues no ha estudiado una asignatura, bueno, tiene una laguna en la carrera; no va a matar a nadie; en cambio, un médico que... que tiene un fallo en la carrera, pues, tú calcula. Inf.- Es que en ese caso que dices tú de que puede matar a alguien no se plantea nunca así tan crudamente en la carrera. A lo mejor, si tú luego eres muy consciente y lo analizas la situación, para ti es igual que si te hubieses clavado un puñal. Pero como las cosas pasan mucho más entremezcladas y mucho más oscuras todas, pues no... no es tan directo decir: "Yo he matado a este individuo". Te acuerdas un poco de... uno abandona una cosa, otro... es un poco una labor de conjunto, ¿no?, cada uno abandona un poquito y al final el señor se muere. Entonces, claro, responsabilizarte de ese poquito, con respecto a todo el final, ¿no?, es demasiado duro; demasiado duro o de... o demasiado, digamos, velado. O que la gente no se preocupa de ello, pero eso sí ocurre, ¿no? El... un enfermo se ha muerto y de repente tú dices: "Hombre, pues aunque sea una cosa pequeña, yo debía haber corrido cuatro pisos a buscar a... a tal médico". Enc.- ¿Pero no crees que para esto de la medicina hay que tener mucha sangre fría también? Inf.- Sí; pero eso la adquieres a lo largo del tiempo. Enc.- ¿Tú crees? Inf.- Claro que la adquieres. A mí me tiemblan las piernas cada vez que veo sangre. Lo que pasa es que cuando he visto sangre y he estado yo sola, he... echado agua para ver cómo era la herida y luego la he cerrado. Pero me siguen temblando las piernas. Lo que pasa, que yo nunca sería cirujano, o a lo mejor sí, no sé. De momento, no sería el cirujano, pero no por aquello de tener que abrir, sino porque es una especialidad que no me entusiasma particularmente. Enc.- Es que el cirujano, no sé, verá brotar continuamente la sangre, ¿no? Inf.- No, porque antes se ha puesto su pinza, es que eso es una idea muy equivocada. O sea, un buen cirujano no tiene mucha sangre a la vista. Enc.- ¿No? Inf.- No, porque él sabe donde va a cortar. Usa antes pinza y luego corta. Un buen cirujano nunca ve mucha... tiene un campo de acción muy limpio siempre. Claro, siempre hay accidentes, que corta por donde no esperaba encontrar una... una vena, ¿no?, o una arteria. Pero... pero no, normalmente el señor sabe, sabe dónde va a cortar, vamos. Enc.- Claro, cortas una arteria y se acabó, ¿no? Inf.- No, una pinza y tiras para adelante; no, si es que... es que la medicina luego vista en el plan práctico tiene muchas más formas de... de... Enc.- Es decir, no es tan grave, tan grave como se piensa quizá. Inf.- Lo que es grave son esos pequeños descuidos, ¿no? O por supuesto que hay muchos casos en que hay una persona ligada directamente a la muerte de... de un enfermo. Pero, otros muchos, que son para mí los más importantes, porque siempre que una persona deja morir a otra, la cosa está tan evidente que todo el mundo le culpa y ese individuo tendrá un cuidado al próximo día verdaderamente bestial, ¿no? O sea, estará con sus cinco sentidos pendiente del enfermo. Mientras que esas pequeñas... olvidos de todos, esos son los que no se corrigen mucho. En eso, hace poco yo lo he visto en el Clínico, no que se muriese por culpa de... de un individuo, sino que un individuo no hizo una cosa que podía haber mejorado la situación del enfermo; entonces, a este individuo se le ha estado señalando con el dedo durante mucho tiempo, continúa. El hombre este tiene un cargo de conciencia tremendo. El próximo día ese hombre ya no vuelve a hacer una cosa. O si la vuelve a hacer, que es un monstruo, ¿no? Pero lo que yo quiero decir es que estos pequeña... estas grandes cosas son corr... mucho mejor; se pueden corregir mucho mejor que las pequeñas tonterías.

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Enc.- A la gente que hace Medicina... bueno, para mí es una de las carreras... diría yo, la... la carrera clave, ¿no?, porque es jugar, quizá, con la vida también de las personas. ¿Va con verdadera vocación o...? Inf.- No, no, no; eso también es otro cuento. Bueno, verdadera vocación... no sé. Tú date cuenta que, cuando se elige la carrera de Medicina, generalmente se tienen diecisiete años. Enc.- Sí, claro, demasiado joven. Inf.- ¿Qué idea se tiene de la medicina? Enc.- Ninguna. Inf.- Ninguna. Es que una persona solamente se da cuenta de lo que es la medicina, cuando ha estado viviendo en un hospital, cuando ha pasado malos ratos, cuando ha visto un funcionamiento, cuando se ha enfrentado a un enfermo y eso ocurre siempre al final. Y al final, ya sigues. Y te gus... y te gusta, ¿no?; te gusta la carrera porque es muy bonita. Pero al principio no tienes ni idea, y de lo de vocación, tienes una idea muy... muy extraña de lo que es la medicina, ¿no? Enc.- Es que no sé, para uno que no tenga vocación, por ejemplo, eso que has dicho tú, una operación o una sala de disección, o... Inf.- ¡Ah!, bueno. La sala de disección es un punto y aparte, porque a mí también me sigue impresionando, ¿no? Enc.- Eso tiene que ser... no sé; yo ni me lo figuro lo que podrá ser, ¿no?, será una especie de carnicería solo que en carne humana, ¿no? Inf.- Exacto; eso. Y encima oliendo mal... pero aquello... eso te lo hacen solamente los dos primeros cursos. Entonces, hay mucha más gente contigo. Compañeros que están pasando tan mal rato como... como tú. Hay una forma de disimular el miedo, que son esas bromas, si quieres a veces un poco groseras, ¿no?, pero que es una forma de... de evadir el problema, de no pensar en que vas a entrar en una sala de cadáveres. Y luego se ve poco tiempo, realmente. Y lo que ocurre luego, es que termina gustándote. No que te termine gustando el cadáver, sino como tú estás estudiando con un cadáver estás viendo las cosas que luego te tienes que estudiar en un libro, pues llega un momento en que incluso te interesa aquello. Enc.- Eso tiene que ser tremendo. Una pierna por aquí, un brazo por allá. Inf.- Eso impresiona menos que un cadáver entero. Enc.- ¿Eh? Inf.- Que eso impresiona menos que un cadáver entero. Porque la... la... los trozos sueltos no te dan tanta sensación de... de persona que ha tenido vida, como un cadáver entero. Yo... yo, lo que yo creo que recuerdo de... de la disección es bastante molesto porque el olor a formol es muy desagradable. Enc.- ¡Ah!, los tienen en formol. No los tienen en cámaras frigo... especie... Inf.- No, en formol. Es desagradable, huele muy mal, te empiezas a pensar que aquello ha sido una persona y es un ambiente bastante, bastante sórdido, ¿no? Pero, ya luego, luego no, las cabezas aparte, ¿no?, me refiero a trozos fuera de la cabeza, porque la cabeza tiene mucha expresión. Pero los cadáveres que yo recuerdo con más detalle son los de las últimas prácticas de autopsia que he visto aquí, en San Carlos, que eran de accidentados; eso sí, eso sí te impresiona más; porque te das cuenta que aquello es una persona que acaba de morirse. Enc.- Sí, que vamos, no sé, tiene que ser... tiene que tener uno un... un corazón grande, ¿no?, y una... Inf.- Lo que ocurre es que... es que luego te gustan estos trucos, ¿no?, porque son muy pocas prácticas. Tú ya entras de lado. Si puedes te... si tienes, si te impresiona mucho

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te colocas detrás de un sitio donde no veas muy bien lo que están haciendo; cumples el ritual de tus cinco prácticas y te vale. Enc.- ¡Ah! ¿Son cinco prácticas solamente al año? Inf.- ... Sí, cinco, cinco autopsias de... de accidentados. Dos semanas de disección, y luego las autopsias clínicas tienes que ver también cinco, ¿ves? Las autopsias clínicas, esas sí que he ido yo a más, porque esa sí es más interesante. Tú tienes un enfermo, se muere, no sabes bien de qué se ha muerto, entonces de la autopsia... te va a dar el resultado. Enc.- ¿Y tú crees que la autopsia da resultado normalmente, porque eso, dónde lo veis en el cerebro o dónde lo veis? Inf.- Bueno, en el cerebro o en... otras vísceras; pero eso sí es interesante, porque de ahí sale... Enc.- Sale todo. Inf.- Sí; de ahí sale tu... tu posterior actuación; lo que tú vas a hacer con un enfermo que tenga unos síntomas similares a este, depende de lo que tú sepas que tenía realmente. Las autopsias clínicas sí son interesantes. ¡Ah!, y deberían hacerse más. Lo que pasa que existe un mito en torno al cadáver que es verdaderamente asqueroso, ¿no? Enc.- ¿Por qué? Inf.- Pues, porque... el que una persona se muera como un perro, en el momento de morirse como un perro su cadáver cobre una... una dimensión tan, tan es... tan grande, tan grande, es algo que te repatea muchas veces. Enc.- ¿Cómo no? No te explicas o yo no te entiendo. Es decir, una persona muere, cómo te diría yo, abandonada a lo mejor... Inf.- Abandonada de su familia, no estando bien tratada o porque no tiene dinero para ingresar en un hospital. Vamos a suponer, un señor se muere en su casa de una enfermedad normal pues porque no tiene seguro, porque no es pobre, lo suficientemente pobre, pobre, para que le admitan en un hospital de beneficiencia, o se muere en su casa y le hacen la autopsia. Entonces... bueno, se muere en su casa, lo primero. Entonces, nada más morirse, con ese cadáver no se pueden hacer una serie de cosas porque es un cadáver, ¿no?, que hay que respetar. Entonces esto es una contradicción bastante grande. Incluso puede salir una persona por ahí, un familiar suyo negándose a que le hagan la autopsia porque el cadáver de mi primo fulanito, ¡cómo le van a hacer esas cosas! Enc.- ¿Pero la autopsia realmente estropea el cuerpo? Inf.- No, no; le... le abren todo pero luego le dejan bastante bien. Un familiar no se da cuenta que le han hecho la autopsia. Enc.- No, claro, es decir, le abrirán desde la garganta por todo el pecho hasta abajo, ¿no? Inf.- Hasta abajo. Enc.- Más o menos como a un cerdito, por ahí. Inf.- Sí. Enc.- No sé; parece una película de miedo, ¿no? Inf.- Podemos hablar de otra cosa, ¿no? Enc.- Es que es una cosa, vamos, nunca oída... Inf.- Además que... que a todo el mundo le gusta hablar de estas cosas. Enc.- Sí, no; es porque, mira, los que no somos de esta... es decir, de esta especialidad, de esta carrera, pues realmente es una cosa desconocida. Y tú sabes que lo desconocido para todo el mundo es muy agradable, es muy grato oírlo aunque sean las cosas... qué te diría yo... las cosas más horrorosas, ¿no? Lo que te he dicho: una película de miedo. Inf.- Sí...

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Enc.- Es por eso, el afán de conocer más de... en fin, me dejas un poco perplejo ante todas estas cosas, ¿no? Inf.- Sí, pero luego... Si es que luego la vida es muy... cómo diría yo... la vida habitual... Enc.- ¿Te endurece? Inf.- No, no es que te endurezca, es que... es que es lo mismo cuando estás leyendo una novela y tú dices: "Fíjate qué reacción tuvo fulanito", y a lo mejor, esa misma reacción tú la has visto en una persona y no te has dado cuenta de ella. No sé si me explico, quiero decirte... Enc.- Sí, sí, es decir, la... Inf.- ... Al hablar, al hablar de la medicina, tú plasmas todo lo más importante, pero luego, en la vida, todo eso se mezcla, sube y baja... hablas de otra cosa. No sé, queda mucho más vulgarizado todo. Mucho más vulgarizado y también que puedes... hacer tú un poco más... la vista gorda en todo. Enc.- ¿Tú crees que hoy día tenemos médicos buenos en España? Inf.- Sí; bastante buenos. Enc.- Bueno, a pesar, digo quitando oftalmología o esto otro... Inf.- No, no, no, no. Y en otras cosas tenemos médicos muy competentes, pero bastante competentes. Enc.- ¿En qué, por ejemplo, en qué especialidades, en...?, porque de corazón no. Inf.- De corazón sí hay gente buena. Enc.- ¿Tú crees que se podrá hacer trasplantes aquí en España? Inf.- No, mientras los haga C., no. Porque ese señor se lo toma todo un poco en plan de... de juerga. Enc.- ¡Ah! ¿Sí? Inf.- Claro. Un señor no puede abarcar... Aunque se tome muy en serio en el momento de hacer la operación, eso requiere muchos años de estudio, muchos años de preparación. Lo de los trasplantes es lo de menos, ¿no?, porque técnicamente no es muy difícil. Pero sí hay gente buena aquí. Gente buena a nivel... de lo que se entiende vulgarmente con el nombre de médico. Es decir, tratando a los enfermos. Ahora, en investigación, no, pues porque se requiere muchísimos medios que aquí en España no hay. Pero médicos, sí, sí hay buenos. Médicos, no investigadores, ¿no? Claro, en el momento que un investigador se ponga a hacer un experimento que haga falta un aparato de cuatro millones de pesetas, pues sabe que no lo va a tener nunca, o sabe que siempre, por eso, va a haber en el extranjero gente que lo... lo va a hacer antes que... que él; pero buena gente que... con experiencia clínica, sí hay. Enc.- Es decir, que habrá muchos jóvenes, ¿no?, que también se larguen fuera, al extranjero para... Inf.- Hay una cantidad impresionante de gente que se marcha. Que yo sepa en este momento tengo dos amigos en Estados Unidos. Enc.- Y ahí, ¿tienen buenas salidas, están muy bien vistos? Inf.- Por lo menos, te preparan bien, sí. Sí, sí, en Estados Unidos están bien vistos, porque Estados Unidos vive de los médicos extranjeros. A los Estados Unidos no le... no le es rentable el preparar médicos porque es una carrera muy larga y bastante costosa de instalaciones. Y es mucho más cómodo y mucho más rentable el hacer una importación de médicos ya con su carrera. Aunque sepan que luego vayan... van a invertir dos años: uno en enseñarles el idioma y otro en prepararles. Pero dos años es rentable en comparación a ocho o a siete. Enc.- Sí, en eso sí. Además que los americanos son materialistas en este sentido y hacen bien. Es decir, van a lo positivo.

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Inf.- Sí, sí, sí. Ya, el nombre de la mayoría de los investigadores que se ven en Estados Unidos es de origen español, ¿no?, origen español o españoles. Pero es por esto, no les renta. Es que es una carrera demasiado larga. Enc.- Y estos... hay mucha gente por ejemplo, que... en fin, qué te diría yo, sin pensar un poco materialmente y tal, ¿se va por ejemplo al Congo o se va a países de África, o eso ya es un mito? Inf.- Pero... por... ¿dices por ganar dinero o por entusiasmo profesional? Enc.- Más bien por entusiasmo profesional. Inf.- Yo he conocido la primera este año. Enc.- ¡Ah!, la primera. Inf.- La primera, una chica. Bueno, ¡allá ella!, ella fue la que lo hizo, y es muy dueña de su acto, ¿no? Esta mujer terminó la carrera y se marchó dos años a una tribu de indios al Perú. Entonces, ella está... está muy contenta en una... era una misión. Yo estuve hablando con ella y lo pasaron muy bien y tal. Y yo la he preguntado y lo que ella hacía allí era más bien de enfermera. No es porque no supiese ella, es que no había aparato de rayos X, no había nada en absoluto, o sea, única y exclusivamente ella y una serie de enfermos... Sí, el problema inmediato de... de curar, de curarle el constipado a un niño o tratar una tuberculosis, porque ella pensaba que no era tuberculosis, eso sí lo solucionaba, pero yo no sé hasta qué punto eso es... eso es verdaderamente útil. Enc.- No... Inf.- Para ella, ¿eh?, incluso, para ella. Enc.- Sí, no, bueno, materialmente decir en cuestión de especialización quizá, no; porque si no tiene medios no puede avanzar apenas, ¿no?, aunque la práctica creo que en medicina es casi el todo. Inf.- Sí, pero si tú solamente tienes un fonendo para escuchar, nada más, y muchas medicinas, eso sí, llega... llega un momento en que tú estás tratando las cosas un poco porque tú quieres tratar eso. Enc.- Sí, como un farmacéutico más o menos: "Por favor, mire, me duele aquí, ¿qué me recetaría usted?" Inf.- Un antiácido y ya está. Enc.- ¿Qué opinas de las modas actuales tanto en mujeres como en hombres, claro? Inf.- Bueno, ¿las modas? Me parece que se están haciendo más funcionales que antes, eso sí. De todas formas, a mí lo de seguir la moda no me parece demasiado conveniente porque pierdes bastante parte de tu tiempo en preocuparte... o sea, te preocupas demasiado por tu físico cara al exterior, pero, en realidad, lo que cuenta es lo de dentro. Sin embargo, me gusta bastante la minifalda, porque es más cómoda para subir a los autobuses. Y no sé, porque ahorras tela o algo por el estilo, ¿no? Enc.- No, que conste que a mí... me gusta, pues me gusta la minifalda también, quizá tanto o más que a ti. No, además es muy agradable. Cuando una mujer tiene las piernas bonitas... Inf.- Sí. Lo malo es eso. Es que antes debían fabricarnos a todas con las piernas bonitas, porque, si no, es un inconveniente. No, pero creo que se está haciendo bastante más funcional, ¿eh? Enc.- Además es mejor. ¿Recuerdas aquellos perifollos que llevaban antes? Inf.- Sí, eran bastante incómodos. Enc.- Es que no; bueno, que conste que antes por una parte, por arriba bajaban y por abajo bajaban. Ahora... Inf.- También se enseña lo mismo.

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Enc.- Yo creo que es realmente... en fin, suben por abajo, pero mientras no se junte el escote con el borde de la falda... bueno, vamos bien, ¿no? ¿Qué opinas del amor tú?, ¿crees en él? Inf.- ¿En el amor?, ¿eh? Sí, por supuesto. ¡Cómo no! ¡Claro que creo en él! Ahora, el amor así, en abstracto, todo el mundo cree en él. Lo que no creo son en esos amores eternos. En el amor... de tú conmigo para toda la vida, eso no. Enc.- Sí, yo creo que es difícil eso. Inf.- Sí bastante difícil. Pasan... Enc.- Hay que tener un espíritu... Inf.- ...pasan demasiadas cosas en el tiempo... Hace poco, un amigo mío me estaba contando que va a escribir un libro sobre su teoría... una teoría extrañísima que tiene que se llama "a la... a la integración por el amor efímero". Es decir, que existen muchísimas personas que... están... aisladas, pues porque o se sienten aislados, más que estar aisladas se sienten aisladas, lo cual es prácticamente lo mismo, porque no han tenido nunca un hogar. Entonces, claro, esta persona a lo mejor un amor de estos de para toda la vida no lo podrán tener nunca; pero un amor efímero que no comprometa a nada, sí. Lo cual haría a esta persona sentirse tan capaz como al resto. Y se integraría a la sociedad. Enc.- No sé; es una idea... Inf.- Tiene el inconveniente de ponerlo en práctica. Enc.- Sí. Inf.- Porque no existen muchos medios, ¿no? Pero es una idea bonita. También tiene el inconveniente de que parece demasiado paternalista con respecto a los demás, ¿no? Un poco lo de "desgraciados de todo el mundo, amaros y así podéis integraros", ¿no?, pero es una idea curiosa. Enc.- No sé hasta qué punto. Bueno, aunque... un individuo cuando realmente, es decir, no ha tenido un amor en su vida, pues sí, se siente un poco apocado, quizá... poco confiado en sí mismo. En fin, se cree que no tiene fuerza ni tiene vida, ni puede influir en los demás. Inf.- Claro, porque los demás, digamos, valoran eso. Entre las cosas que valoran está la... la cantidad de amores que ha tenido. Son una especie de... si tú has tenido quince, vales más que el que ha tenido catorce. Enc.- No, no. Bueno, no es eso con todo, pero... en el fondo es un poco. Inf.- Es un poco todo eso. Enc.- Es un poco, pero... no sé cómo te diría yo... Inf.- Bueno, esto, digamos, de una forma un poco burlesca, pero... todas las personas que no han tenido en su vida algún que otro lance amorosa... amoroso... se sienten como un poquito desvalidos, ¿no? Enc.- Sí... mira, la palabra: fracasados. Inf.- Sí, fracasados. Enc.- ¿Eh? Porque no han tenido nada de nada. Inf.- Es que... es que la sociedad te exige el que tenga... te exige el que hayas tenido algún amor, ¿no? Esa es la pregunta tan típica de "¿tú has tenido novio?", y entonces dices: "No", y dice: "Ts... ts". Enc.- Sí, sí, sí. Ahora es muy bonito, vamos. A mi modo de ver, yo estoy perfectamente de acuerdo que siempre hay que tener a alguien, ¿no?... tarde o temprano, si no ha sido a los catorce o a los nueve ha sido a los dieciocho y si no a los veintiocho, cuando sea. Inf.- Sí, cuando toque. Enc.- El cambio, el caso es no... en fin, llegar a una etapa de la vida y sentirnos totalmente vacíos, ¿no?

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Inf.- Bueno, lo de vacíos... también es... no sé cómo decir. Sí, pero te sientes vacío porque tienes tú la necesidad de relacionarte con la gente, ¿no?... individual, no en colectivo. Aparte ya de esta especie de acto social que es el de tener un ligue o lo que sea, ¿no? Enc.- No sé si a ti te ha pasado, por ejemplo: tú has tenido un novio; por ejemplo, qué te diría yo... a los veinte años. Inf.- Sí. Enc.- Has estado con él un año, dos, tres. Has pasado por un período de tiempo de un año, dos años y has vuelto a tener otro. Durante ese período de tiempo ves que... que eres poco, ¿no?, que... que estás deseando... que te encuentras muy sola quizá, ¿no? Inf.- Pero... sí; pero luego también hay otro problema; que es el problema de encontrarte demasiado atada. Enc.- Mira, yo creo que si dos personas son... se comprenden no hay por qué atarse. Se puede vivir muy libremente comprendiéndose y, en fin, sabiendo respetar la libertad del otro. Inf.- Sí, yo, mentalmente, también admito eso; lo que ocurre es que luego te viene la experiencia de muchos noviazgos largos, matrimonios, luego... Enc.- Es que yo no soy partidario de los noviazgos largos. Eso por principio. Un noviazgo para mí más de dos años, realmente no. Inf.- Y luego te casas y es peor. Enc.- Pero, no sé por qué. Inf.- Porque entonces, te vienen todos los problemas de la convivencia, que son verdaderamente espeluznantes, ¿no? Enc.- Ahora, ¿tú crees que durante dos años uno no ha tenido tiempo realmente...? Inf.- No, no, no, no, pero incluso... con una persona que tú sepas perfectamente cómo es ella, que te vas a llevar muy bien, luego existen problemas estúpidos de estos de... problemas de convivencia que se llaman, de atacarte los nervios algo, que son realmente insoslayables. Enc.- Sí, no sé. Inf.- Incluso entre dos personas que se llevan... que se quieran y que se lleven muy bien. Enc.- Sí. Inf.- Si quieres es un poco el hastío o... el cansancio. No, no, no sé lo que será pero sé que... Enc.- Sí, puede ser, puede ser. Inf.- Sé que la convivencia entre dos personas, e incluso, fíjate tú: la convivencia entre personas más o menos... amigos, que saben perfectamente que si mañana o pasado te da la gana de marcharte te vas a ir, surgen pequeños problemas de estos que tienen que ser superados pues por una especie de fuerza de voluntad por parte de los dos para que aquello continúe, o una comprensión bastante grande. Enc.- Sí; es que además... es verdad, uno se apega afectivamente mucho a la gente también, ¿eh?, y... Inf.- O un poco: "Vamos a continuar esto porque las ventajas que tiene son mayores a los inconvenientes". Pero esos inconvenientes surgen. Bueno, no estoy hablando ya en el caso de... de parejas que se lleven mal, ¿no?, digamos que no... Enc.- Bueno, es que entonces ya se acabó. Inf.- Entonces ya se acabó; entonces casi es mejor porque [Risas] se soluciona la cosa tajantemente, ¿no? Enc.- ¡Ah!, no sé, por ejemplo, qué te diría yo, el ambiente del Ateneo mismo. Inf.- Sí.

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Enc.- Tú ves a gente sí; la mayoría tiene novia, o bien son gente muy despistada en que... bueno, no despistada, quizá también otros egoístas, en que no quieren porque el ambiente les favorece. El hecho de estar ahí, y de poderse pasar un fin de semana un rato entre el estudio y entre una charla o un bajar al bar, encontrar una amiga, un amigo, pues, les da pie, pues para no comprometerse con nadie. Entonces es una vida muy cómoda, muy facilona. Ahora también tiene otro peligro, ¿no?, es el que hay ahí. No sé; a base de estudiar, estudiar, estudiar, ser un eterno estudiante, meterse ahí realmente y prolongar, digamos, un noviazgo durante seis años, siete años, eso sería horroroso. Inf.- Los noviazgos largos son bastante desagradables, pero el matrimonio largo también... me molesta. Enc.- Que si existen los matrimonios largos, entonces ya teníamos que implantar el amor libre, ¿no? Inf.- No, tampoco. Ese era el problema, digo no hay solución ahora al problema o por lo menos, ahora no se conoce, ¿no? Porque si un noviazgo largo yo también lo veo bastante tonto, porque... porque... en realidad es una especie de... o es una especie de espera o estamos acostumbrados a verlo como una especie de espera, ¿no?, también. Enc.- ¿Pero tú crees que se puede esperar y se puede aguantar durante seis años? Yo creo que es muy difícil. Vamos, yo de esto he hablado con una chica: "Bueno, pero ¿cómo en Andalucía, por ejemplo, a los catorce años ya veis, en fin, a gente agarrada de la mano y besándose por los rincones allá entre...?" Pues nada, se cansan y después se lleva vida de matrimonio entre ellos aunque sean jóvenes. Digo: "Bueno, entonces ya no me extraña. Pero es que, si no, es difícil mantenerlo". Inf.- Sí, debe de serlo. Enc.- Ahora, el amor libre... pues ¡qué te voy a decir yo!, pues no sé hasta qué punto es lícito o está bien, ¿no? Inf.- Claro. Enc.- Debe ser muy bonito mientras dura, pero cuando se acabe, ¿qué? Y sobre todo si ha venido algo por el medio. Inf.- Eso sería un inconveniente, claro. Enc.- Porque si no, como eso, sería algo ideal casi. Inf.- El inconveniente son las consecuencias. Bueno, el inconveniente son las consecuencias porque también estamos, digamos, prejuz... prejuzgamos esas consecuencias. No, por supuesto que es un problema para una pareja que no tenga algo establecido, el tener un... un niño, ¿no?, porque, o inmediatamente, bueno, la solución, si pudiese ser, sería: se tiene el niño y esto continúa exactamente igual. O sea, que eso no va a ser... no va a ser posible, porque entonces, ya hay algo que es una unidad y está en común entre los dos. Entonces se tiene que cambiar totalmente la forma de vida de... de los dos. Enc.- Sí, por eso. Cambia o es difícil llevar eso. Porque no, sí... ahora no siempre se es joven. Llega un momento en que... aunque me han contado casos de estos de... de matrimonios, es decir, de gente que ha llevado una vida marital, ¿no?, pero sin casarse. Se casan y estropean todo. Inf.- Y lo estropean todo. Sí. En mi familia, siempre se cuenta el caso de un vecino de mi padre que vivieron pues cincuenta años, tenían hijos, imagínate, de cuarenta y nueve, y cuando él estaba... un día que este se puso muy malo, vino el cura de la parroquia y dijo que debían de casarse. El señor este no se murió, sino que se puso bien y, bueno, a partir de aquel momento, fue una auténtica catástrofe. Yo no sé por qué. A lo mejor es por esa especie de... de opresión sicológica que sintió al... al ver que estaba ligado para toda la vida, aunque fuese en realidad como iba a estar, ¿no? Enc.- Sí, sí, es que tie... quizá sea eso, ¿eh?

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Inf.- Es un poco... buscarte tú a ti mismo esta especie de salida, de decir: "Bueno, pero yo en el momento que quiera... Enc.- Sí, me voy. Inf.- ...puedo romper esto porque no hay nada". Y si pones alguna... alguna trabazón ya está verdaderamente cortado. Enc.- Bueno, claro; hoy día... ya sabes que está muy mal visto por la sociedad. Sobre todo aquí en España. Fuera, quizá sea mucho más fácil. Aquí dentro, no. Bueno, hablando sobre la música, ¿qué opinas de la música clásica? Inf.- Es muy bonita, me gusta muchísimo. Enc.- ¿Y la actual? Inf.- Me gusta también mucho [...] la música clásica me gusta. Me gusta para... como digo yo, para determinadas ocasiones. No ocasiones de seriedad, porque... a mí me gusta que sea la música clásica moviéndome, no en un concierto. No me gusta la música en un concierto nunca, porque hay que estar muy quieto. Pero me parece que la continuación de la música clásica es la música moderna. La música clásica no podría estar durando toda la vida. Y eso de estar viviendo también un poco el pasado es demasiado triste. La música moderna tiene un sentido actual verdaderamente oportuno, ¿no? Enc.- ¿Ves la tele con frecuencia? Inf.- No; a la hora de comer, nada más. Enc.- A la hora de comer. Inf.- El telediario, y los anuncios, los pornográficos. Enc.- Sobre todo los pornográficos que debe haber muchos, muchos, muchos. Inf.- Sí; últimamente hay uno que dice: "Déjese abrazar por [...]", y sale una señora en camisón abrazándose a una manta. Enc.- Eso es pornográfico, vamos. No tiene superlativo, ¿eh? ¿Qué tal el veraneo? Inf.- ¿Qué he hecho yo este verano? ¡Ah!, sí. Bueno, he estado trabajando todo el mes de agosto y luego he ido... he estado veinte días en los Pirineos. He entrado por Fuenterrabía... Enc.- ¿Y has salido por...? Inf.- Y haciendo eses, eses, he salido por la parte de Gerona. Y luego, hemos bajado por la... por la Costa... Enc.- La Costa Brava. Inf.- ...Brava hasta Barcelona. Enc.- ¿Qué me dices del ambiente que hay allí? Inf.- ¿En la Costa... Brava? El de la dolce vita. Y eso que lo cogí ya un poco tarde, porque el mes de septiembre es ya de caída. Pero de todas formas, se veía allí un ambiente de... de frivolidad y de amor libre... he entendido bastante. Era bastante acusado aquello. De todas formas, tiene unas playas preciosas. No, además se prestan, ¿eh? El dinero y el ambiente aquel se presta a la dolce vita. Estuve en Calella, ese sitio de la película Los pianos... Enc.- ...mecánicos. Inf.- ...mecánicos. Enc.- Les pianaux mécaniques; sí. Inf.- Y... me hizo mucha gracia porque... bueno, aquello es tan, tan... superior de dinero, que, claro, en la calle, no se ve nada. O sea, lo que ves son unos enormes chalés... hoteles impresionantes, pero... la calle está casi siempre vacía. Enc.- Sí que la vida es... Inf.- La vida es más bien de... casera; casera y playera. Pero es que son unas calas preciosas aquellas. Enc.- Yo creo que es lo ideal. Una vez que la gente tiene dinero en ese plan...

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Inf.- Sí, lo que pasa es que... no sé, cuesta bastante caro el tener... llegar a ese nivel de vida, ¿no? Es bastante costosa. Enc.- Sí, y sobre todo en el bolso de un estudiante, ¿no?, que es poco menos que imposible. Inf.- Aquello tenía aspecto de... de costar. De ponerte a nivel de juerga aquel debía ser llevando bastantes millones. Enc.- Entonces no podemos soñar con ese ambiente. Inf.- No; desde luego que no. Nada más que en cinta, visto, reflejado en el cine. Enc.- En las películas son demasiado irreales. Inf.- Sí. Enc.- Bueno, A., gracias por tu tiempo, ¿eh? Inf.- Nada. Enc.- Y hasta la próxima.

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7.2.2 Entrevista 1 (Cidade do México)

ME-2. Hombre de 25 años. Ingeniero químico Inf.- Sí, perfecto. ¿Ya está trabajando? Enc.- Sí, hombre. Inf.- ¡No, no! Enc.- Anda, empieza. Dime por qué te metiste a ingeniero químico... Inf.- Bueno, mira. En primer lugar... la Ingeniería Química en México... pues... es una carrera que ha tenido un... un cauce bastante fuerte, en sí, por la falta de técnicos que hacía... falta aquí en el país. Generalmente, es necesario en México... cuantificar... -se puede decir- las carreras técnicas, con una serie de elementos aptos para desarrollar ese tipo de profesión, ¿verdad? Entonces... en lo personal, en lo personal me interesó la carrera en sí porque me ha gustado el aspecto de laboratorio, el aspecto de investigación. Entonces, en la propia secundaria, en las mismas cátedras que se llevaban de Química, de Física, pues ya le van haciendo a uno formar un determinado carácter, ya de lo que va a hacer uno cuando llega a la edad en la que estoy. Entonces, de acuerdo con mis... las pláticas que he tenido con los profesores en preparatoria... pues me encauzaron para seguir ese tipo de profesión, en la cual... pues... estoy muy contento. Enc.- Bueno; pero fíjate que... una cosa: a uno muchas veces le gustan muchas cosas, pero desde secundaria no sabe qué es lo que va a estudiar, y tú sí. Inf.- Pues fíjate que no. Será una cosa rara, pero sí... ya me enfocaba yo al aspecto químico... sí. Enc.- ¿Sí? Inf.- Sí. Enc.- ¿Por qué? ¿Por los maestros o porque ya era tu vocación? Inf.- No, pues yo lo considero porque era mi vocación, ¿verdad? El aspecto de investigación, el aspecto de... de laboratorio, de... el trabajo, de... del proceso en sí, ¿verdad?, de la química, pues siempre me atrajo. Inclusive viendo revistas, siempre, pues... era mi anhelo llegar a ser algún día... manejar ese tipo de aparatos. Enc.- Bueno, pero en ti ¿ya es una vocación muy marcada, entonces? Inf.- Pues fíjate que en mí, desde chico, siempre tuve esa vocación de... de la ingeniería química. Ahora pues... aquí, en México, realmente, pues... se requieren más ingenieros. Digo, yo soy -se puede decir- un ingeniero más que hay, pero se requieren más elementos, pues es una carrera bastante amplia, y realmente uno se especializa en un determinado... es decir, en un determinado campo; porque el área que cubre esta carrera es demasiado grande. Entonces, es necesario... pues... ir especializando en cada una de las etapas de la carrera. Enc.- ¿Y tú en qué te especializaste? Inf.- En cosméticos. Enc.- ¡Entonces me puedes dar una recetita! Inf.- ¿Una recetita de qué? ¿De ácido estiárico más propinelglicol...? Enc.- No me hables en términos... que no entiendo. No. Pero así, para ponerme más bella. Inf.- Por ejemplo, un... enjuague de noche, o... Enc.- ¿Y para qué sirven, eh? Inf.- Pues... digo: para que la mujer luzca... pues, al otro día, con una apariencia bastante tersa y pulcra.

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Enc.- Bueno. ¿Y en qué se basan esos... este... cosméticos, o nada más es propaganda? Inf.- No, sí; digo: el aspecto de investigación sí tiene bastante fundamento en cuestiones científicas... La química cosmética... pues tiene un campo bastante elevado, porque en sí, es una... Como hay mujeres en todo el mundo, cada país tiene sus propios elementos, que son los que encauzan esta química, para que sirva precisamente a la mujer. Enc.- Bueno. Pero, digo, ¿qué estudios hacen para sacar determinada crema, o determinado producto? Inf.- Bueno. Se hacen estudios preliminares. Por ejemplo, de pruebas piloto, lo que se... Es decir, ya que se... se tiene la formulación, se prueba en animales, para hacer pruebas biológicas, si puede existir alguna irritación, o alguna... anomalía en la piel del animal. Se ven las... por secciones, al microscopio y... Es decir, si existe alguna anomalía, inmediatamente se cambia de fórmula. Y se puede, así en esa forma, pues... sacar un buen producto al mercado, ¿verdad?, ya que ha sido comprobado totalmente de que funciona en el laboratorio. Enc.- Bueno, pero... por ejemplo: esas cremas que dicen humectantes y no sé qué tanto... ¿de veras... sirven? Inf.- Pues mira: pon tú que la publicidad tenga cierto empirismo, ¿verdad?, cierta poca... base científica, pero en sí... digo... la cuestión de investigación, sí existe. Enc.- ¿Y cuáles son los principales... este... trabajos que desempeña un ingeniero químico? Inf.- Pues es muy amplio. La cuestión de... de investigación, de operaciones, las plantas de... petroquímicas, de petróleo, fábricas de ácido sulfúrico, de alc... de alcalinas, de explosivos, de elementos hormonales, productos sintéticos; digo, todo donde entra la... el aspecto de alguna reacción, pues tiene que estar controlada por un ingeniero químico: fábricas de pintura, de pigmentos, cosméticos... ¿Mande? Enc.- Bueno, ¿por un ingeniero químico o por un químico? Inf.- Es que, mira: realmente la carrera de químico y de ingeniero químico... pues, digo, tiene la base el aspecto químico, ¿verdad? Porque tanto uno como otro, pues... los son, químicos, ¿no? Únicamente... pues... que está la preponderancia del ingeniero de ser ingeniero, de que en su etapa de escuela llena determinadas materias que... pues... que, digamos... lo hacen ser más técnico, ¿verdad? Se llevan cálculo, matemáticas... Digo, se llevan determinado tipo de materias que van a servirle de base al ingeniero. Por ejemplo, la materia clásica y básica en la Ingeniería Química es la propia Ingeniería Química, que se lleva en toda la carrera. Enc.- ¿En qué consiste? Inf.- ¿La Ingeniería Química? Bueno, la Ingeniería Química... pues tiene que ver con la cuestión de la... los... es... -¿cómo te dijera?-... la base de la carrera, ¿verdad? Se ven todas las operaciones unitarias, la evaporación, el secado, la transferencia de masa... balance de materiales... balance de materiales, balance de energía... es decir, son tópicos característicos de la carrera, que realmente es... son los que mueven en sí cualquier fábrica, cualquier planta. Enc.- Bueno, pero el ingeniero se dedica exclusivamente a la investigación y... este... y en una fábrica es nada más... ¿Está en un laboratorio? Inf.- No. Como te decía... son determinados procesos. Por ejemplo, hay ingenieros que se dedican a la producción en sí. Ingenieros que se dedican a man... al aspecto administrativo, de llevar inventario, llevar la cuestión de compras; ingenieros que se dedican al aspecto contable, el aspecto de investigación de gastos, proyección de la demanda de determinados productos; ingenieros que se dedican a la cuestión de cálculo, de

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diseño: diseñar reactores, diseñar determinado tipo de planos que van a servir para las... es decir, van a servir para las futuras plantas que se van a... a montar aquí en el país. Enc.- Bueno, y la ingeniería ¿les sirve para saber qué amplitud, cómo se necesita hacer esa planta, qué dimensiones... todo, no? Inf.- Exactamente. Enc.- Como un ingeniero. Inf.- Sí, digo... pues, el ingeniero es ingeniero, ¿verdad? Digo. Enc.- Pero ingeniero químico es como si hicieran dos carreras. Inf.- Pues prácticamente. Pues... se puede considerar a veces, digo, por lo que... en un aspecto afirmativo lo que dices, porque... pues, el ingeniero, como te vuelvo a repetir, pues... en cualquier lugar un ingeniero químico tiene cabida, ¿verdad?, por... precisamente porque tiene determinado margen de conocimientos, ¿verdad? Enc.- Pero es una carrera muy pesada. Inf.- Pues es una carrera pesada, muy... de mucha vocación, en el sentido de estar en el laboratorio muchas horas, que quita bastante tiempo. Se puede decir que el individuo que se dedica a este tipo de carrera, pues... se debe de... pues, al menos en la escuela, pues... dedicarle su tiempo completo a la escuela. Enc.- ¿Cuántas horas son de estudio? Inf.- ¿En la carrera esta? Vienen siendo como unas cuarenta y cuatro, cuarenta y seis horas semanales, considerando laboratorios. Enc.- Bueno, y... este... Aparte de eso, ¿estudiar en la casa o constantemente hacer prácticas? Inf.- Pues fíjate que en esas horas están considerados ya las horas de... de laboratorio en sí, ¿verdad?; pero ya el ampliar las clases, pues... es por cuenta de cada alumno, de que llegue a su casa y repase lo que haya visto en el día, ¿verdad? O sea que dispone de un tiempo, que es la noche, y sábados y domingos. Enc.- ¡Ay, necesitas dedicarte por completo! Inf.- Pues, digo, es la base, ¿verdad?, de que hay que... digo, proponerse a terminar la carrera y salir adelante, ¿verdad? Enc.- Estar constantemente sobre eso, ¿no? Inf.- Exactamente. Enc.- Bueno, para ampliarla les dan bastantes libros, y casi todos esos son en otros idiomas, ¿no? Inf.- Generalmente; los idiomas básicos en la carrera de Ingeniería Química es el inglés, el francés, el alemán y un poco de italiano. Enc.- ¿Y los hablas, o más o menos los entiendes? Inf.- Pues conozco el inglés en el sentido de traducir y hablar un poco. El francés únicamente traducir. Que son, digo... Y el alemán un poco, ¿verdad?, también, porque hay determinados temas que se... que es necesario, usando diccionario y valiéndose uno de todas formas de traducir, ¿verdad? Enc.- Bueno, y los libros mexicanos ¿hay buenos o...? Inf.- ¿De ingeniería química? Enc.- De ingeniería química. Inf.- ¡Sí, cómo no! Enc.- O casi siempre son extranjeros. Inf.- Bueno, generalmente, los libros... aquí de México están bastante buenos. Hay determinadas editoriales que han publicado muy buenas traducciones. Enc.- Bueno, traducciones. Yo digo que hayan publicado algunos ingenieros químicos o algunos químicos mexicanos.

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Inf.- Pues fíjate que es un mínimo de obras. Simplemente los que publican son realmente los investigadores, ¿verdad?, de la universidad o de la Esiquia. Enc.- ¿Y no hay muchos? Inf.- Hay... hay pocas obras únicamente ahorita en el mercado. Enc.- ¿Será porque es una carrera muy nueva o no? Inf.- Precisamente a eso se debe; simplemente la Escuela de Ingeniería Química de la universidad se fundó en mil novecientos quince; la del Politécnico, por mil novecientos cuarenta y dos, cuarenta y tres. O sea que realmente es una carrera -se puede decir- joven, dentro de la universidad y del Politécnico. Enc.- Entonces, sus bases son por lo general extranjeras, ¿no? Inf.- Sus bases... Generalmente los profesores, que son los que tienen el mando de las cátedras en las dos escuelas y tecnológicos de la República, pues generalmente su base es la que han adquirido en los libros extranjeros: americanos, franceses, ingleses. Enc.- Entonces ¿tú consideras que nos llevan ventaja en cualquier otro país a los ingenieros químicos de aquí? Inf.- No, no; digo, porque generalmente todos los ingenieros, al terminar su carrera, se van a especializar a determinados lugares, centros de investigación, con objeto de que si algún detalle tienen que no entendieron en la carrera, pues... lo corrijan, ¿verdad?, y lo superen. Enc.- Entonces tú consideras que es necesario prepararse o ampliarse sus estudios fuera de México. Inf.- Claro que sí es muy conveniente. Enc.- Entonces sí nos llevan ventaja. Inf.- ¿Quiénes? Enc.- Salen mejor preparados en el extranjero que en México. Inf.- No; es igual, es igual. Simplemente... Supongamos que hay determinados temas. Por ejemplo, aquí, en la carrera, determinadas operaciones unitarias que... por los capitales extranjeros, tener mayor... es decir... es decir: tienen mayores posibilidades, tienen determinada maquinaria, determinado equipo, que aquí, en México, no lo tenemos; y simplemente... pues... un ingeniero se va a Estados Unidos con objeto de ver, de analizar realmente... de cómo está el proceso de ese aparato, cómo fue diseñado, cómo trabaja. Y precisamente con esa teoría, esa técnica, la viene a impartir a sus alumnos aquí, a México. Generalmente, los profesores de la universidad son los que se van a especializar en determinadas disciplinas, con objeto de que, cuando impartan su clase aquí en la escuela, lo hagan con mayor exactitud, con mayor veracidad, ¿verdad?, de los datos. Enc.- ¿Y a ti no te gustaría irte a especializarte a algún lado? Inf.- Fíjate que oportunidades he tenido; únicamente que por cuestiones de trabajo no... lo he podido hacer. Pero tenía una beca, precisamente, para una universidad de Estados Unidos, y realmente no la pude desarrollar, ¿verdad? Claro que en la primera oportunidad que tenga lo... lo tengo que hacer, porque es necesario. Enc.- Bueno, pues... dejando el trabajo, más si te dan beca. Inf.- Pues sí. Digo, es cuestión de que, como acabo de salir de la escuela, se puede decir que... pues, tengo que conocer un poco el panorama, ¿verdad?, de la carrera. Ya que me encarrilé realmente, que vea cómo está el aspecto del... profesional ya de trabajo, pues claro que en la primera oportunidad que tenga, me voy a estudiar un curso. Generalmente estos cursos... pues son de un trimestre, semestrales; o sea que no es cuestión de estar años por allá, ¿verdad? Enc.- ¿Cuándo terminaste la carrera? Inf.- En mil novecientos sesenta y seis. Enc.- Ah, pues ya tienes dos años. ¿Ya hiciste tu tesis?

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Inf.- Ya. Enc.- ¿Sobre qué? Inf.- Sobre aerosoles; la industria de los aerosoles en México. Enc.- Cuéntame cómo es. Inf.- ¿Cómo es la industria de los aerosoles? Enc.- Sí; la de... la tesis. Inf.- Bueno, mira: pues la tesis... pues, generalmente, en la escuela tenemos varios aspectos, ¿verdad?, para recibirnos: presentar una monografía, examen profesional, o bien una tesis. En mi caso, hice una tesis que se refiere a la industria de los aerosoles en México... Esta industria es una industria nueva, que generalmente en México... no se ha encauzado como se debe de encauzar. Generalmente, en mi tesis metí el diseño de una planta de aerosol en la cual... este... se iba a tener un determinado volumen de producción, utilizando generalmente los gases refrigerantes que... normales, que tenemos en el mercado nacional, como son el frión doce, el ginetrón, tanto de Dupont como de Quimobásicos, de Allied Chemical. Entonces, de acuerdo con esos gases que tenemos nosotros aquí a la mano -porque existen plantas... mexicanas trabajando estos gases...- se ha desarrollado esta industria. Esta industria pues... tiene que ver en todos aspectos: en el aspecto alimenticio, en el aspecto cosmético, en el aspecto industrial, en el aspecto de tipo de desinfectantes... digo... Tiene una gama bastante grande, ¿verdad? Enc.- Bueno, pero a mí lo que me intriga es ¿cómo de cosméticos? Inf.- ¿Cómo se incluye en los aerosoles los cosméticos? Porque los aerosoles son, como tú has de saber, determinados recipientes a presión que tienen un determinado concentrado, un determinado gas, un envase de lámina, una válvula y un aplicador... y una pat... Enc.- Sí, pero para cosméticos, para... digo, para comestibles, ¿como en qué? Inf.- Se utilizan generalmente para productos que se requiere en la comida, que tengan determinada dispersión. Por ejemplo, azúcar glas, que ya viene en una suspensión para recubrir pasteles. Se pueden envasar determinado tipo de salsas, determinado tipo de...colorantes alimenticios para pintar un determinado platillo, ¿verdad?, darle determinado color. Enc.- No me gustaría. Inf.- ¿No te gustaría? ¿Por qué? Enc.- ¿Aerosol, comida en aerosol? ¡No, no! Por ejemplo, salsas: es más rico servírtelas que ponértelas. Bueno, yo digo; no sé. Pero si a ti te entusiasma poner todo en aerosol... Inf.- No; es que así es. Digo, en Estados Unidos, digo, la industria está muy, muy elevada. Enc.- Bueno, son muy prácticos en todo. Inf.- Precisamente por el aspecto de... lo práctico... el aspecto práctico es lo que predomina. Por ejemplo, para ti ¿cómo es más cómodo... es decir, rociarte el cabello con, digamos, con un atomizador manual o simplemente con aerosol de gas? Enc.- ¡Ah, bueno! ¡Claro! Para eso sí. Pero lo que yo digo es que con comida no me gustaría... así, comida en aerosol; pues no es más rico comer [...]. Bueno, yo digo. Y para esas investigaciones, digo, para esta tesis ¿qué investigaciones hiciste? Inf.- Pues muchas. Digo, generalmente el aspecto económico, en la Secretaría de Industria y Comercio, en la Dirección General de Estadística... es decir, esto es para la cuestión de costos, ¿verdad? Para el aspecto químico, pues... en la misma escuela tenemos determinados aparatos para hacer determinadas determinaciones experimentales. En la fábrica en la que estoy también se hacen ese tipo de envases en aerosol. La información que me prestó Dupont, Allied Chemical, en el aspecto de propiedades físicas y químicas de

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los gases. O sea que realmente toda la información la fui recabando de varias fuentes y la unifiqué, ¿verdad? Enc.- ¿De determinadas fuentes?... Y después para elaborarla ¿sobre qué te basaste? Inf.- ¿Para elaborarla? Enc.- Sí, para elaborar ya la tesis, ya redactarla. Inf.- Bueno, pues... generalmente, pues... existe en la escuela un determinado director. Un director que es el que te va diciendo: "Esto está bien, esto está mal. Esto ya usted ya... exageró aquí el... el asunto. Debe usted de ampliarse más en este tema". O sea que le van... lo van guiando a uno, ¿verdad?, con objeto de que sea una cuestión... tampoco una biblia, ¿verdad?, ni tampoco un folleto, sino una cosa normal. Enc.- ¿Y qué enfoque le diste? Bueno, ¿para qué... este... fue la investigación de los aerosoles? ¿Para mejorar la industria? ¿Para aumentarla? ¿O nada más una investigación de cuánto valía, como...? Inf.- No; es una... fue una investigación del tipo de... Como te decía, era el montaje de una planta para maquilar aerosoles, precisamente viendo... las necesidades que hay, por la demanda que ha tenido el producto. O sea que, usando determinada cantidad de gas, determinadas cantidades de materias primas, determinada cantidad de envases, cómo se podría programar esa producción para esa capacidad de esa planta. Enc.- Bueno, y también decías que muchas cosas aquí en México para favorecerla, ¿no? Inf.- Bueno, para favorecerla, porque en el aspecto alimenticio está muy atrasada ahorita. Generalmente los aerosoles ahorita se aplican en cosméticos, en insecticidas, en desinfectantes, en... -te había dicho-... en pinturas ahorita, se ha desarrollado. O sea que faltan como cinco... proyectos todavía en las que se pueden ampliar ese tipo de... Enc.- Bueno, ¿y aquí tenemos suficiente para hacer eso? Inf.- ¿Suficiente qué? Enc.- Material para desarrollar todo lo de aerosoles. Inf.- Sí. Generalmente, las máquinas se importan. Las máquinas vienen de Italia, Noruega, Inglaterra, Alemania y Estados Unidos. Enc.- Bueno, y para la economía ¿sería... este... provechoso... montar una fábrica de aerosol? Inf.- Te digo que las hay, pero no se dan abasto. Digo, hay varias plantas de aerosol en México, pero no se dan abasto.. Enc.- Ah, entonces necesitan más. Entonces, sí hay rendimiento y lo consumen bastante. Inf.- Sí, se consume bastante. Digo... Enc.- Y sí sería necesario entonces hacer alimentos y todo lo demás que falta en aerosol. Inf.- Exactamente. Enc.- Ay, oye, pero de química es muy difícil; a mí se me hacen así... que no entiendo nada. Tantas cosas que hay. ¿A ti te fascina, no? Inf.- Pues sí, un poco; digo, porque... pues es necesario... Enc.- ...tener amor a... Porque es muy árida, ¿no? Inf.- ¿La química? Pues, digo, es árida en el sentido de la amplitud del... de la carrera, ¿verdad? Son demasiados los temas que hay, y realmente, por ejemplo, en la escuela... pues, como en todas las carreras, le dan a uno las bases, y después ya es labor de cada persona ir desarrollando esos temas específicos que... que tomó en clase, ¿verdad? Enc.- Y tú empezaste a trabajar desde que eras estudiante o ya cuando terminaste la carrera.

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Inf.- Empecé a trabajar en tercer año. Enc.- ¿En alguna fábrica? Inf.- No, de profesor. Enc.- ¿De profesor? ¿Dabas clases? Inf.- Daba clases en la prepa uno, en la secundaria 66, y en otras escuelas particulares. Enc.- De Química, ¿no? Inf.- Química, Física y Matemáticas. Enc.- ¡Huy! Abarcas mucho. Inf.- Bueno, lo que se podía hacer, ¿verdad? Enc.- ¿Y cómo respondían los alumnos? Inf.- Bien. Enc.- ¿Bien? Y en preparatoria. Inf.- Pues, digo, son individuos ya más... bueno, con un conocimiento ya más elevado, ¿verdad? No es lo mismo estar tratando a un chico de secundaria que a uno de preparatoria, porque... pues ya el de preparatoria, ya... este... sus preguntas ya son más formales, ya más encauzadas a lo que él realmente le interesa saber, ¿verdad? Enc.- ¿Y te ayudó bastante dar clases para tu carrera o te quitaba tiempo? Inf.- Pues por un lado quitaba un poquito tiempo, pero por otro lado... pues, con tantas preguntas lo hacían estudiar a uno. Enc.- Eso sí. ¿Te hacían muchas preguntas? Inf.- Pues las normales del curso, ¿verdad? Enc.- Pero, por lo general, los alumnos andan muy mal en química, ¿no? Inf.- Pues ya en la actualidad no, fíjate. Generalmente en la secundaria ya existen buenos profesores; en la preparatoria lo mismo. Enc.- No; yo no me refiero a profesores, sino que los alumnos, o... no sé; o no ponen atención, o no les gusta, pero siempre... Inf.- Pues, precisamente, por la aridez que decías, existe eso: como no ven una cosa muy objetiva, como lo puede demostrar otras carreras, ¿verdad?, el objetivismo, no pueden ellos enfocar realmente su... su interés en la carrera. Enc.- Bueno, pero ¿qué objeto tiene enseñar química en secundaria? Bueno, digo, desde tu punto de vista. Inf.- Pues es necesaria, con el objeto de que los individuos... digo, los futuros ciudadanos, pues ya tengan un conocimiento de lo que es el aspecto químico, ¿verdad? Digamos, un individuo que esté trabajando en cualquier profesión, simplemente... pues, ya reconoce lo que es un ácido, lo que es un álcali, qué es una cosa corrosiva, qué es una cosa de peligro, un reactivo que sea peligroso; o sea que, en lo general, le ayuda bastante. Enc.- Porque en sí los alumnos no ven nada... nada práctico; nada que les sirva. No les interesa. Inf.- Pues eso, tal vez, sea necesario, ¿verdad?, encauzarlo un poco; darles determinada enseñanza a los alumnos, con objeto de que vean la carrera más objetiva, ya sea con ejemplos, ya sea con películas, revistas, con objeto de que vayan... este, interesándose más de la carrera. Enc.- Bueno... este... no dedicarse nada más a enseñar puras fórmulas, ¿no?, como lo hacen casi todos los maestros, sino enseñarles algo que digan: "Bueno, esto se los enseño porque les va a servir para esto y esto". ¿No? Inf.- Realmente, así debería ser, fíjate. Hay profesor... -depende del profesor, ¿verdad?-. Hay profesores que... se dedican, por ejemplo, a sistematizar la carrera, ¿verdad? En su curso, pues... se fijan de los aspectos más importantes, y esos aspectos importantes, como son los procesos de los plásticos, de los... de las investigaciones de

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esteroides, todo eso le va dando al alumno, que aunque no lo entiende, sí le da la impresión de que realmente es una cosa muy interesante; por ejemplo, los... las reacciones nucleares. Los reactores nucleares en escala, cuando se le presentan a los alumnos de preparatoria, de secundaria, pues... realmente les llama el interés; qué es lo que pasa ahí, cómo es que una determinada porción de uranio expide una determinada cantidad de energía que es la que mueve una turbina, y esa turbina produce electricidad para una... para toda una ciudad. Digo, tiene cantidad de aplicaciones, ¿verdad? Entonces, estos... estas... este sistema en algunos profesores, pues... resulta bastante bueno, ¿verdad?, porque ya el individuo se va fijando realmente de que la carrera le va a convenir seguirla. Enc.- Sí, porque, por ejemplo, yo lo he oído no solamente en alumnos, sino también en maestros que dicen: "Bueno, yo no sé para qué nos enseñaron química, si a nos... si yo me dediqué, por ejemplo, a la literatura, o yo a la historia, y yo a la geografía, si en realidad de la química no sé nada. Les aseguro que ahorita les hago una pregunta de química de las más sencillas, y nadie la responde, porque se olvida todo". Entonces, no le consideran ninguna importancia. Inf.- Pues, fíjate que la química -no porque sea químico, ¿verdad?- pero es realmente una de las carreras básicas de la vida, en el sentido de que de aquí está hecho el mundo; de determinadas... de determinados materiales, como son el agua, como son la tierra... Todos estos elementos tienen una composición química, ¿verdad?: de fierro, calcio, cobalto, níquel, estaño, oro, platino. O sea que realmente nosotros encontramos los elementos químicos dispersados en todo el mundo, en nosotros mismos. Nosotros mismos somos un conjunto de reacciones de... de... tanto indotérmicas como exotérmicas, en las cuales absorbemos y desprendemos energía, precisamente por reacciones químicas. O sea que, realmente, el literato en sí, pues... realmente toma el campo desde el punto de vista ideológico, pero desde el punto de vista objetivo, es necesario...

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7.2.3 Entrevista 1 (Buenos Aires) BA-2. Hombre de 35 años. Abogado y docente universitario Inf.- Lo para un momento, así le doy orden a la secretaria de que no me interrumpa ni quince minutos, para ev... Enc.- Cómo no. Le voy a preguntar si se considera porteño y por qué. Inf.- Ah, sí, me considero porteño. Bueno, por un... no por un asp... no por el nacimiento, sino por un aspecto anímico; porque me considero conformado esté... desde el punto de vista costumbrista, porteño, y por una particular cariño hacia el porteño. Enc.- ¿Cómo definiría a un porteño? Inf.- Es muy difícil de definir un porteño; y yo pienso que es la dificultad máxima que puede existir; es el drama de nuestra literatura y el drama de toda nuestra sociología, definir un porteño. Porque siendo una ciudad de aluvión... esté... donde en el alto porcentaje somos en segunda, en primera o en tercera generación, hijos de gringos, se ha dado algo que es el porteño. Ahora cómo se puede definir el porteño. No encuentro palabras para definir el porteño. Enc.- Bueno, yo no diría una... una definición exhaustiva pero algo que se le acercara; dos o tres características que usted considera fundamentales en un porteño. Inf.- Bueno, me... Enc.- Hay porteños de muchos estratos sociales, ya lo sé. Inf.- Sí, por supuesto. No, no, no, no, pero cada uno en su estrato social... da un porteño. Yo, me resultaría muy difícil entender qué es el porteño. Pero no obstante lo cual... en una conversación donde hubiera un grupo de gente, por numerosa que sea, si entre ellos hay un porteño, inmediatamente me doy cuenta quién es el porteño. Hasta en el exterior uno inmediatamente, casi a veces esté... viéndolo de lejos, lo ve al porteño. Enc.- Ahora esté... ¿usted habrá leído algunos ensayos acerca de lo porteño? Inf.- Sí, pero también es... también la cant... precisamente la cantidad de ensayos en torno a lo que es un porteño determina su dificultad. Yo no... no he leído lenguas extranjeras, pero dudo de que haya tantos ensayos de qué es un parisién como hay de qué es un porteño; porque debe ser muy claro qué es un parisién. Enc.- ¿Cómo le gusta pasar el tiempo libre? Su tiempo libre... o cómo le gustaría, si es que tiene algún tiempo libre. Inf.- ... Bueno, es... yo pienso que no hay un ideal de pasar el tiempo libre... para siempre... todo... Enc.- Ahora, ahora. Inf.- Todos los días, qué sé yo; en este momento me encuentra en un momento que estoy excesivamente, usando un término porteño... deportivo... filtrado. Hoy sinceramente plantaría todo y me iría afuera a tomar sol. Enc.- Ah. Precisamente por eso ahora viene bien preguntarle. Inf.- En este momento sí; en otro momento mi tiempo libre me gustaría esté... usarlo... leyendo algo que realmente me atrajera; en otros momentos, qué sé yo, esté... viajando por el exterior; en otro momento saliendo con una mujer; cada... es muy difícil así un... un módulo omnicomprensivo de qué haría con mi tiempo libre. Enc.- Claro. ¿Pero tiene algún hobby especial, no? Inf.- No, no. Enc.- Hobbies especiales no tiene. Inf.- ... No, no, no, no, hobbies especiales ninguno.

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Enc.- Bueno... ¿qué piensa de su trabajo? Inf.- Que es agobiador... que es alienante... que... Enc.- Pero no lo es para todos los abogados. Inf.- Ah, para mí lo es; esté... lo hago muy intensamente, lo hago muy pasionalmente... y es un... una suerte de polos que atraen y repelen. Durante muchas horas de... día lo odio pero pienso que si lo ad... lo odiara muy intensamente no lo haría con tanta dedicación. Algo lo debo querer, como algo más que forma de ganarme la vida y de permitir tener un... un nivel de bienes materiales. Enc.- ¿Le hubiera gustado... esté... hacer otro trabajo? Inf.- Yo pienso que me hubiera gustado hacer a lo mejor muchos trabajos, pero en función de las condiciones particulares que yo tengo... Si mañana tendría que volver a elegir y fuera honesto conmigo mismo, volvería a elegir la abogacía. Enc.- Entonces le gusta. Inf.- No, no, no lo diría tan terminantemente... yo le diría lo siguiente... Enc.- Si debería guiarse no tanto por las circunstancias... Inf.- ...yo le diría lo siguiente: evidentemente... necesito... me gusta tener una porción determinada de bienes materiales... esté... para obtener esa porción determinada de bienes materiales tengo que... entregar gran parte de mi tiempo a... a trabajar en algo particular ya sea profesional, comercial, etcétera... Sumadas todas esas cosas, lo que más... para lo que... pa... parte... para todas esas actividades se requiere un mínimo de condiciones personales... Enc.- Claro. Inf.- ...porque yo no le puedo decir que me... posiblemente me gustaría... ganarme la plata como violinista, pero evidentemente yo no sé tocar el violín y no tengo ninguna facilidad para la música... Vamos a... a hablar en términos totalmente realistas. Enc.- Sí. Inf.- Entonces as... mis aptitudes... materiales o personales más mis apetencias... más mi necesidad de tener que trabajar, en la abogacía es donde mejor puedo satisfacer todas las cosas. Enc.- Claro. Inf.- Otra no hay... Enc.- Exactamente. Inf.- ...de las que yo he conocido. No sé si está claro. Enc.- Sí, está muy claro. Está muy bien argumentado; pero ahora yo lo quiero sacar de eso, de esa posición de lógica estricta en la que se colocó y dígame qué otra actividad... esté... le duele en el corazón cuando piensa que pudo haberla hecho porque tiene aptitudes para ella y no la hizo. Inf.- No, no, así... Enc.- No hay ninguna. Inf.- ...básicamente ninguna. Básic... que yo me considere con aptitudes para hacerla, ninguna. Ya le digo, me hubiera gustado tocar la guitarra... Enc.- Sí, pero ahora no puede tocar la guitarra. Inf.- ...pero no toco la guitarra y no tengo condiciones musicales. Enc.- No, no, no, pero eso ya está esté... en el plano del disparate o en fin... Inf.- Claro... claro... por supuesto, o en las condiciones particulares. Enc.- ¿Pero no le gustaba la historia? ¿No le hubiera gustado hacer investigación histórica o algo por el estilo? Inf.- Bueno, pero para... también para eso hay que tener condiciones naturales... Enc.- Ah, sí. Inf.- ...que yo creo que no las tengo, que yo creo que no las tengo.

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Enc.- ¿Algunas veces [...]? Inf.- Y algunas veces que he tenido que hacer así, por ejemplo, en mi profesión... cada vez que me he puesto a resolver un pleito muy difícil, en el que necesito estudiar mucho, he superado... le diría bastante bien, la prueba; he podido resolver el pleito y he podido estudiar y entregarle todas las horas que hacía falta al estudio de ese caso concreto. Pero cada vez que he... intentado escribir algo en abstracto... hacer un trabajo de elaboración, investigación doctrinaria, me he encontrado con profundas dificultades muy difíciles de superar. Y la historia es una abstracción. Es muy difícil trabajar así para... para una cosa muy coyuntural como es un pleito, como es la abogacía. Entonces mis cualidades intelectuales muchas o pocas, no sé qué dimensión tienen, se encuentran mejor realizadas o más fáciles en... en este tipo de actividad. La otra no sé. Una cosa es... est... leer historia porque a uno le gusta, otra cosa es leer filosofía porque a uno le gusta, otra cosa es leer economía que... qué sé yo... Ahí... esté... enumerando encontré el pedacito de mi corazón, ¿no?, si no fuera abogado quizá me gustaría ser economista. Enc.- Es una especialidad muy atractiva, ¿no? Inf.- Sí. Enc.- Sobre todo en estos últimos años. Aunque acá usted... ¿le parece que acá hace un... esté... un estudiante o un egresado de Economía Política?, ¿tiene porvenir? Inf.- Acá iden... tiene el mismo porvenir que tiene en todo el mundo: o convertirse en un burócrata mejor o peor remunerado, o convertirse en un burócrata dentro del complejo empresario mejor o peor remunerado. El problema es de cuánto lo remuneran; es decir, ust... la administración pública evidentemente absorbe los economistas. Decir que no tienen porvenir porque no ganan lo que tienen que ganar en Francia es otro aspecto, pero la posibilidad de trabajar en eso la tienen. Estarán... muy inferiormente remunerados quizá. Enc.- Bueno... Inf.- Lo mismo en el mundo empresario. Enc.- Sí. Yo he recogido justamente dos o tres opiniones respecto a esto, ¿no?, la última es la de un contador al cual entrevisté. Bueno, este muchacho estaba muy pegado a su carrera y dijo que esa parte a él no le interesaba y que no había pensado mucho en las perspectivas; en cambio conozco otra chica que está estudiando Economía Política y dice que aquí... se puede llegar hasta ciertos puestos y que después entonces ya no se puede avanzar porque ya son puestos políticos, y los puestos políticos, por supuesto, son inestables. Inf.- Bueno... pero eso ocurre absolutamente en todo el mundo. Pienso que eso ocurre absolutamente en todo el mundo, que es muy difícil... esté... qué sé yo. En este momento Nixon ha llevado su staff a gobernar y su staff son todos hombres, importantes empresarios; sus asesores serán economistas, como acá también el presidente tendrá sus asesores economistas. Enc.- Claro, ahora... Inf.- En última instancia el ministro de Economía que hoy está en... desempeñando la cartera, no es un político... es un hombre que viene de la estructura burocrática... así que una perspectiva hubo. F.F. es un técnico... parido... y desarrollado en la estructura burocrática. Enc.- ¿Pero el día de mañana cambia el gobierno y qué hace? Inf.- Y, el día de mañana el... gobierno y por supuesto... llega un momento en que se tiene que elaborar la política de la economía y lo tendrá alguien que le interese la política de la economía que él... sustenta o traerán a otro; ese es otro aspecto. Pero desde el punto de vista de poder investigar y de poder llegar a todos los puestos que hacen al desenvolvimiento natural, yo pienso que todo el mundo los tiene. Ahora es políticos; aun

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siendo técnicos hay que desarrollar la política de la economía, ahí se buscará al hombre que condiga con las ideas políticas del que gobierna. Enc.- Claro. Ahora este muchacho que era contador... me dijo que para hacer economía política había que tener algo que dirigir. Es decir... haber tenido una experiencia de dirección. Inf.- No, yo estoy totalmente en desacuerdo; estoy totalmente en desacuerdo. No me cabe la menor duda que Onassis a lo mejor no sabe nada de economía política y es uno de los más excepcionales economistas desde el punto de vista de la empresa, del mundo; y hay grandes... grandes economistas... Carlos Marx, posiblemente el economista más importante o uno de los más importantes que ha tenido la historia de la humanidad... si hubiera emprendido... yo no lo hubiera tenido de socio en una empresa; estoy seguro de que me hubiera fundido. No tiene nada que ver una cosa con la otra. Enc.- Claro. Bueno, es distinto. Yo tiendo a pensar que los... los que estudian economía política son un poco unos... poetas de la economía... soñadores. Inf.- No, no... yo creo que no. Yo creo que cumplen una... un... son una herramienta muy importante; son una herramienta muy importante, pero... Enc.- Son unos teóricos nada más. Inf.- Pero claro, pero la capa... Enc.- No hay más. Inf.- ...pero la capacidad particular para desarrollar... pueden tenerla o no pueden tenerla; para la empresa hace falta una serie de cualidades... particulares de las cuales quizá ese conocimiento no es el más importante. Ahora... el hombre de empresa que llegue a una posición expectable lo va a ir a buscar para que lo informe, para que le diagrame técnicamente; pero ese es otro problema. Cada uno en lo suyo. Enc.- Claro. Bueno, muy bien. Saliendo del tema de trabajo, dígame, ¿qué espectáculos le gustan más?, ¿en Buenos Aires qué se da mejor? Inf.- Bueno, yo pienso, chovinismo aparte, que en Buenos Aires todos los espectáculos tienen un nivel; es una ciudad con una profunda tradición cultural; no en balde el... Enc.- Ahí se ve el porteño. Inf.- Claro, no, pero críticamente lo podemos fundar. No en balde el único Teatro Colón de América está en Buenos Aires. Estados Unidos podrá tener setenta teatros mucho más modernos, pero... en mil nueve diez es la única sala de conciertos, sala de ópera... importante en el mundo entero estaba en Buenos Aires; hay... una tradición cultural. Por algo... esté... ya las... las más importantes compañías de ópera de fines del siglo pasado venían a Buenos Aires antes de ir a... New York y a... y a otras capitales del mundo; en función de eso hay un teatro muy importante porque hay una tradición de teatro, como la hay en Uruguay, Río de la Plata. Enc.- Dígame una cosa, Carlitos, ¿usted cómo dice: mi país o este país? Inf.- Yo digo mi país. Enc.- Dice mi país. Inf.- Yo digo mi país. Enc.- Porque hasta ahora me parece que todos los que entrevisté dicen este país. Inf.- No, no, yo digo mi país. Enc.- En general usan el tono contrario para hablar, ¿no? Inf.- No, no, no, no, yo... Enc.- Siempre están viendo lo que está mal, lo criticable. Bueno, en general, ¿qué espectáculo le gusta? Inf.- Me gusta el cine... me gusta el teatro, me gusta el... a veces los espectáculos livianos como son la... las comedias, como son las revistas.

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Enc.- Ah, ¿también le gusta eso? Inf.- Sí, me gustan los deportes, me gusta el fútbol... mucho. Enc.- ¿Va a ver fútbol? Inf.- Sí, sí, sí. Enc.- ¿Hincha de? Inf.- Boca. Enc.- Ah, bueno. Inf.- Esté... la mitad más uno del país. Enc.- Esté... ¿y en cine qué vio últimamente que le guste? Inf.- Ayer... Bueno... que me guste, que me guste... no recuerdo qué es lo último que vi que me guste. Ayer vi El bebé de Rosemary, que me gustó mediocremente. Bueno... no sé qué es lo último que vi que me guste. Enc.- ¿Pero va a ver cosas que le gustan o le parece que le van a gustar, o va a ver cualquier cosa? Inf.- Claro, no, no, no, no, voy a ver lo que... que cre... Me desagrada mucho un espectáculo que no me gusta y por eso trato de cerciorarme de que me va a gustar. Enc.- ¿Y en... esté... en teatro? Inf.- En teatro lo mismo. Lo último que vi me gustó mucho en Buenos Aires es esté... Atendiendo al señor Sloane y en Montevideo vi hace poco un excepcional Brecht... esté... Un cierto señor Púntila y su chofer. Enc.- ¿Allá, por una compañía...? Inf.- Sí, sí, sí, por una compañ... por El Galpón, dirigida por César Campodónico. Enc.- Ah, sí, ya vino acá El Galpón. Inf.- Sí, pero no con esta dirección. Vino con... del Cioppo... y no con esta puesta de... de Brecht, que es lo más importante que personalmente yo he visto. Enc.- ¿Y esté... y en el Colón? Inf.- Bueno, el Colón voy menos porque la música no es lo que más me atrae, sinceramente, salvo dos... esté... géneros: el tango y el folclore... Enc.- Ah, que bien. Inf.- ...y en este orden. Enc.- ¿Y el tango? ¿Qué tango le gusta? ¿Le gusta Piazzola? Inf.- Me gusta Piaz... me... Bueno, primero me gusta Troilo fundamentalmente, básicamente y... Enc.- Pero Piazzola fue integrante de la orquesta de Troilo, ¿no? Inf.- Fue integrante de la orquesta de Troilo y todo se explica. Esté... me gusta Piazzola, me gusta... Enc.- Piazzola tiene rasgos realmente originales. Inf.- Me parece realmente original Piazzola; me parece que él está tratando de encontrarle un nuevo ritmo a la ciudad; porque yo, lo digo esto con el más profundo dolor de mi corazón... debo admitir que el tango ya no representa a la ciudad. Enc.- Claro. Inf.- A mí me gusta mucho... Enc.- El tango representaba a las orillas. Inf.- No, el tango... No, no, el tango representaba fundamentalmente el Buenos Aires hasta el cuarenta... casi haciendo un esfuerzo hasta el cincuenta, pero ya... Enc.- ¿Pero el Buenos Aires de qué? ¿El Buenos Aires de los conventillos? Inf.- No, no, no, no, no, no, el Buenos Aires de entonces, el Buenos Aires todo; es decir... perdón... una digresión... Enc.- No, al contrario.

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Inf.- ...esté... Buenos Aires es una ciudad mu... fue una ciudad muy particular; una excepcional... desproporción en la relación del intercambio comercial... determinó que creciera sideralmente una ciudad que se ocupaba fundamentalmente de exportar productos primarios. Todas las ciudades que se desarrollaron en el mundo se desarrollaron... a partir de la revolución industrial para acá... sobre la base de una muy sólida industria. Buenos Aires... fue un fenómeno al revés. Se desarrolló colosalmente a raíz de la... ar... ar... a través de la exportación de productos primarios. Entonces el Buenos Aires hasta el cuarenta, un poco más acá estirándolo hasta el cincuenta, determinó que fue un gran conglomerado humano; formaba parte de los cinco o seis más importantes del mundo, pero como no había gran desarrollo industrial, había mucho tiempo. El tango es eso, el tango es nostálgico, el tango necesitó tiempo; por eso Buenos Aires, a pesar de ser... una... ap... a pesar de ser... una ciudad... multitudinaria, buscó su expresión propia en música; el resto de las músicas no la expresaban. Enc.- Claro, ¿pero fue nostalgia de qué el tango? Inf.- Y, el tango fue de una gran población que vinculado a un tipo muy particular de actividad... no se... usando el término filosófico de moda, no se alienaba como otros... como otros pueblos. Por otra parte, fue una gran población en donde predominó, sobre todo en el nacimiento del tango, el inmigrante; que el inmigrante traía su propia nostalgia... la nostalgia de la... de la mutación nacional... del... del trasplante. Enc.- Claro, la nostalgia... ¿la nostalgia del inmigrante se contagió al... al porteño, no? Inf.- No, es que el porteño y el inmigrante un poco tenemos que unirlos; a principio de siglo esté... ya Sarmiento se preocupó... Enc.- El hijo del inmigrante tiene... Inf.- Y, pero a principio de siglo el inmigrante, en fin, no re... no tengo las estadísticas a mano, pero el cincuenta, sesenta por ciento de la población llegó a ser gringa. Enc.- Sí, pero se separaban bien. Inf.- Sí, por supuesto. Enc.- Había un gran rechazo, ¿no es cierto?, de capas superiores de la sociedad sobre todo. Inf.- Sí, pero tampoc... Enc.- Cosa que resultó bastante sorpresiva cuando me enteré. Inf.- Sí, pero las capas superiores de la ciudad esté... sus... Enc.- La generación del ochenta, por ejemplo, que en el noventa y nueve por ciento era refractaria al gringo, ¿no? Inf.- Sí, pero se lo tuvieron que aguantar a de... en la clase dirigente a Carlos Pellegrini [Risas]. ¿Qué va a hacer? Estaba todo también muy machimbrado; lo llamaban "el gringo", pero... fue el talento más importante que dieron. Enc.- Bueno, ahora estábamos hablando de... del tango. Usted me dijo... ¿y Piazzola ahora? Inf.- Piazzola... busca un nuevo ritmo, evidentemente, sobre la base del tango. Enc.- A mí me parece; yo tengo esa impresión porque yo he sido muy refractaria al tango toda mi vida, pero a partir de los treinta para... para arriba empecé a sentirlo, ¿no?, sobre todo el tango de Piazzola. ¿Le parece que se necesita un oído educado para... para escuchar a Piazzola? Inf.- No, no, no, no, no, yo pienso al revés. Enc.- ¿Y por qué se lo rechaza tanto? Inf.- Al... yo creo que ya no se lo rechaza menos; más aún, yo la invito a hacer este experimento: tomar todo lo que es sacando Piazzola, tomar... tomar todo lo que es... yo no diría... nueva ola... diría... vanguardia en tango; en todos los movimientos musicales

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siempre nos interesa la vanguardia; es lo que va quedando, por supuesto. Tomémoslo a Troilo, tomémoslo a Berlingieri, tomémoslo a Salgán, tomemos... a Rovira... tomemos a este chico Piro, tomemos todo lo que se está haciendo en tango en este momento, todos tienen un pedacito de Piazzola... no lo pueden negar. Ya no... ya no hay tanta re... refractación; lo que pienso... esté... que no se entere Piazzola, pobre, le dolería mucho. Es que él está un poco agotado en ideas... Enc.- Claro. Inf.- ...entonces entra la repetición. Enc.- Es probable... es probable que tuviera que darse un poco menos al público y concentrarse un poco más, ¿no? Inf.- Claro. Enc.- No creo que se agote así. No quiero pensar que un hombre, un creador se agota, ¿no? Inf.- No, nu... Enc.- Nunca... Siempre rechazo esa idea. Inf.- Sí, por supuesto. Pero evidentemente yo pienso que su gran mérito es haber encontrado... formas distintas más que temas distintos y entonces él está un poco... le falta... falta el contenido a todo lo que está haciendo... ¿no? Enc.- Claro. Inf.- Por eso se repite. Enc.- Claro... se ha hecho demasiado tal vez. Esté... ¿y en folclore? Allí sí tiene para hablar, ¿no? Inf.- No, [...] en folclore soy mucho más limitado. El folclore me gusta después del tango, por supuesto. Enc.- Pero usted tiene un gran amigo folclorista. Inf.- Yo tengo un amigo folclorista; él me gusta por supuesto, que es Ramírez. Esté... no puedo ser objetivo; yo lo considero muy importante. No sé si es importante. Fundamentalmente en eso también soy porteño... es mi amigo. Enc.- Es importante, ¿no es cierto? Inf.- Es muy importante, sí. Enc.- Ha hecho una obra muy importante. Inf.- ... Ramírez pienso que es realmente muy importante... Enc.- Hacen del folclore una academia y una ciencia. Inf.- Claro, aparte esté... en este momento es esté... el único hombre... que tiene una vivencia fuera del país; de toda nuestra música el único que tiene una realmente trascendencia, se ha proyectado fuera del país es Ramírez. Enc.- Además lanzó el folclore a una dimensión que antes no tenía. Inf.- Claro, encontró nuevas formas para el folclore... nuevas posibilidades. Ahora, sacando Ramírez, que ya la digo no puedo ser objetivo... me gusta mucho Yupanqui, me gustan... Enc.- ¿Falú le gusta? Inf.- Menos... bastante menos... Me gustan Los Fronterizos mucho... Jaime Torres por ser un virtuoso... Enc.- ¿Le gusta el folclore del sur? Inf.- Muchísimo; puede ser... Enc.- ¿Más que el del norte? Inf.- Sí. En eso también soy porteño. Enc.- Yo también pienso así, ¿no?... pero se trasmite mucho menos a hay mucho menos... Inf.- Sí, es que aparte...

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Enc.- ...hay menos riqueza también. Hay que ver que el sur del país es mucho menos importante. Inf.- Bueno, cuando hablamos del sur, hablamos del sur de la provincia de Buenos Aires; o sea, cuando hablamos del sur, el folclore del sur es... Enc.- [Tos fuerte] No puedo hablar. Inf.- Claro, el folclore del sur esté... nos tenemos que circunscribir a la cifra... a la milonga... los tristes... Enc.- Sí, sí. Inf.- ...y alguna otra cosita más, la payada y... y casi... Enc.- Eso me parece que nada más que el hombre de la llanura lo puede entender, ¿no es cierto? Inf.- ...el malambo. Claro, sí, sí, sí, sí, sí; también profundamente nostálgica, ¿no? Y ahí sí es la nostalgia de la soledad de la... Enc.- Es la nostalgia de la llanura. Inf.- De la llanura que es... Enc.- ¿Cómo la llamamos a la tristeza de la montaña entonces? Inf.- Pero la montaña es una tristeza distinta. Yo pienso que es una tristeza... no nostálgica; el... el yo... yo desafío a cualquiera que vea el atardecer en la llanura, a mí me apasiona la llanura, ¿no?... Hasta las vacas parecen tristes. Enc.- Sí. Inf.- En cambio en la montaña oi... uno se siente ahogado... comprimido... pero no es la nos... no es la nostalgia; el... es distinta la nostalgia del hombre que está viendo el horizonte. Enc.- Vamos a hablar ahora un poquitito de sus viajes y de sus impresiones como argentino; como argentino desde la Argentina. Inf.- Desde... Sí, independientemente de las frustraciones de no comer bifes que sería la elemental... en todas las capas sociales. ¿Qué otra cosa quiere saber? Enc.- Bueno, esté... ¿qué le pareció la... la gente en Europa, la gente así, el común, la encontró semejante [...]? Inf.- Bueno... fundamentalmente el italiano y el español sí; alguien... anótela porque esta es muy buena: una española que vive en Ginebra vinculada a la OIT, la Organización Internacional del Trabajo, que anualmente en julio hace siempre un congreso universal donde van las delegaciones argentinas. Por supuesto en esa delegación argentina... el noventa por ciento de los que van son porteños y ella conoce al porteño más que al argentino, y definió así al argentino: "Es un italiano que habla español". Bueno... Italia y España son dos países que tenemos mucho en común. A mí personalmente... me gustó mucho y tengo una devoción muy particular por el español. En España... Enc.- Sí, algo me había contado una vez de su viaje a España. Inf.- Sí, sí, sí, sí, es el ser humano más formidable del mundo. Enc.- ¿Y la parte [...] le gustó? Inf.- Es muy difícil establecer qué... qué es lo que más me gustó; es muy... más di... muy difícil. Yo le diría que me maravilló... esté... París, que me sorprendió Londres... que me enamoré de los españoles, que... que me... me interesó muchísimo Roma... que me fulminó Nueva York. Cada uno en fin... Personalmente le aclaro... cada uno va, cuando viaja, a buscar algo en particular; hay quienes le interesan los paisajes; a mí no es lo que más me conmueve. Me gusta la gente y me conmueven las grandes ciudades. Enc.- ¿Los monumentos? Inf.- Sí, sí, por supuesto que sí. Enc.- Los monumentos también. Inf.- Sí, sí, sí, sí, sobre todo lo...

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Enc.- ¿Las grandes ciudades como expresión de qué? Inf.- Como expresión de pueblo; como expresión de... de... de fenómeno sociológico de seres humanos y... los monumentos en Europa tienen una dimensión que en la Argentina la conocemos poco, que es la de estar, no ser la cosa fría que se exhibe en un museo sino que está... atornillado a todo el proceso histórico. Enc.- Claro. Inf.- No es lo mismo. Enc.- Hay que tener siglos y siglos de... Inf.- Claro, claro. Enc.- ¿Y si pudiera hacer otro viaje adónde iría?, ¿repetiría lo que ya hizo o iría a otro lado? Inf.- Bueno... lamentablemente mis dificultades idiomáticas me... limitan... Volvería a España porque me... me atrae profundamente el español como ser humano. Enc.- ¿Hay alguna parte de España que no conoció? Inf.- Bueno, estuve en pu... conocí solamente Sevilla, Madrid y Barcelona. Iría a Londres para volver a apreciar ese colosal fenómeno sociológico que se da en este momento. Esté... Enc.- ¿Usted lo palpó, lo vio un poco? Inf.- Sí, sí, sí, no eso se... ya no hace falta conocer el idioma, se trasmite a nivel de piel casi... ¿no? Enc.- ¿Dónde lo vio? Inf.- En Londres... en Londres. Enc.- ¿En algún barrio? Inf.- No, no, no, no, en... en todo, en todo, en todo, en todo. Esa juventud díscola frente a esa... diría madurez porque incluso los hombres de cuarenta años o... o los hombres de mi generación de treinta y cinco años todavía guardan algo del... el formalismo de los gentleman, ¿no? Enc.- Pero pareciera que la generación antigua se lo toma con bastante flema, ¿no? Inf.- Sí... pero no se dan cuenta que esta vez ya no pueden; es decir, siempre...