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Universidade Federal do Rio de Janeiro ACESSO E REPRESENTAÇÃO LEXICAL NA PRODUÇÃO DE AFÁSICOS SOB A ÓTICA DA FONOLOGIA DE USO Fernanda Duarte Senna Fevereiro de 2013

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

ACESSO E REPRESENTAÇÃO LEXICAL NA PRODUÇÃO DE AFÁSICOS SOB A

ÓTICA DA FONOLOGIA DE USO

Fernanda Duarte Senna

Fevereiro de 2013

2

ACESSO E REPRESENTAÇÃO LEXICAL NA PRODUÇÃO DE AFÁSICOS SOB A

ÓTICA DA FONOLOGIA DE USO

Fernanda Duarte Senna

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para obtenção do título de Doutora em Linguística Orientadora: Professora Doutora Christina Abreu Gomes Co-orientador: Professor Doutor Gastão Coelho Gomes

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2013

3

ACESSO E REPRESENTAÇÃO LEXICAL NA PRODUÇÃO DE AFÁSICOS SOB A ÓTICA

DA FONOLOGIA DE USO.

Fernanda Duarte Senna

Orientadora: Professora Doutora Christina Abreu Gomes

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a

obtenção do título de Doutora em Linguística.

Examinada por:

Presidente: Profa. Doutora Christina Abreu Gomes

Co-orientador: Prof. Doutor Gastão Coelho Gomes - UFRJ

Profa. Doutora Renata Mousinho Pereira da Silva - UFRJ

Profa. Doutora Myrian Azevedo de Freitas – UFRJ

Profa. Doutora Simone dos Santos Barreto - UFF

Profa. Doutora Márcia Cavadas Monteiro – UFRJ

Profa. Doutora Sheila Lúcia de Oliveira Bezerra – Estácio de Sá, Suplente

Prof. Doutor Celso Novaes – UFRJ, Suplente

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2013

4

Substituições na produção de Afásicos em

tarefas de Nomeação e Repetição de

pseudopalavras coletadas e analisadas sob a ótica

da fonologia de uso. Reflexão sobre acesso lexical

e conhecimento fonológico em situação de perda

linguística.

5

RESUMO

ACESSO E REPRESENTAÇÃO LEXICAL NA PRODUÇÃO DE AFÁSICOS SOB A

ÓTICA DA FONOLOGIA DE USO.

Fernanda Duarte Senna

Orientadora: Professora Doutora Christina Abreu Gomes

Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do título de Doutora em Linguística.

A presente tese teve como objetivo analisar o acesso lexical e representação

fonológica de Afásicos e controles. Utilizou-se para obtenção dos dados uma tarefa de

nomeação de figuras e repetição de pseudopalavras. A base teórica para a análise dos

dados foram os Modelos Baseados no Uso e a Linguística Probabilística, que adotam

como pressuposto a organização lexical em redes de similaridades fonéticas e

semânticas. A Hipótese geral adotada e ratificada seria a de que a forma sonora das

substituições e a da forma alvo se relacionaria com as hipóteses de organização lexical

em redes e alguns fatores poderiam influenciar nessa organização e consequentemente

no acesso, corroborando para a hipótese de acesso a informação de diferentes níveis de

abstração. Os resultados demonstram, além da variedade de respostas e porcentagens, a

importância de variáveis como idade de aquisição, frequência de ocorrência,

familiaridade, tamanho do alvo, entre outras no acesso lexical e de frequência e de

tamanho do estímulo na representação do conhecimento fonológico em Afásicos e

controles.

Palavras-chave: Modelos Baseados no Uso, Afasia, nomeação, repetição de

pseudopalavras.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2013

6

ABSTRACT

APHASIC SUBJECTS SUBSTITUTIONS IN NAMING TEST AND REPETITION

FROM THE VIEWPOINT OF USAGE-BASED MODELS.

Fernanda Duarte Senna

Orientadora: Professora Doutora Christina Abreu Gomes

Abstract da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Linguística da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do título de Doutorado em Linguística.

This thesis aims to analyze the lexical access and phonological representation of

normal and aphasics subjects. Data were obtained data using naming picture test and

nonword repetition task. It was taken the Usage-based models and Probabilistic

Linguistics as theoretical background for data analysis, according to which words in the

lexicon are organized in networks according to phonetic and semantic similarities. The

general hypothesis that was adopted was confirmed, so that the sound substitutions and

the target form are related to the hypothesis of lexical organization in networks and

some factors that could influence these organization and consequently access,

supporting the hypothesis of accessing sound information in different levels of

abstraction. The results demonstrate, beyond the range of responses and percentages, the

importance of variables such as age of acquisition, frequency of occurrence, familiarity,

target size, among other lexical access and the frequency and size of the stimulus in

phonological knowledge representation in aphasics y without injury.

Key-words: Usage-based models, Aphasia, naming, repetition of nonwords.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2013

7

Agradecimentos

Em especial aos meus pais, que tanto me orgulho e admiro, Jorge e Edna, que com

muito amor me apoiaram em cada passo e cada escolha da vida.

Ao Luciano pelo respeito ao meu trabalho e por proporcionar momentos agradáveis de

lazer.

A minha orientadora Christina Abreu Gomes, por estar desde 2004 investindo no meu

crescimento com paciência e carinho, acreditando e me abrindo um leque de atuação

acadêmica.

Ao meu co-orientador Gastão Coelho Gomes, pela ajuda desmistificando um pouco a

estatística e possibilitando as análises.

Ao colaborador Sergio Camiz, pelo cuidado em tratar dos meus dados e por me receber

em Roma/IT.

Aos Colegas de pesquisa: Clara, Marcelo, Suzana, Marcela e todos que puderam dividir

os questionamentos teóricos e toda a rotina do Doutoramento.

A todos familiares e amigos, em especial a prima Dani e Tio Paulo pelos exemplos de

perseverança no estudo. E a Vê, Lu, Carol, Érika, Nívea, Giselle, Aline, César, Nara,

Monique, Ju, Loren, Zilma, Cris, Bilson, Doutora

por nossa amizade sempre me dando força.

8

Ao professor Fernando Cuetos pela colaboração na tese e a todos os amigos que fiz em

Oviedo/ES, especialmente Rrezarta, Maiquel, Elena, Bri e Nadi.

A CAPES e ao CNPQ pelo incentivo financeiro (bolsa sanduíche e bolsa de doutorado

respectivamente).

A amiga Claudia Drummond, por toda confiança em mim depositada, pela enorme

colaboração na pesquisa, pelo exemplo profissional.

Aos Professores do curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

por estarem a todo o momento facilitando minhas aprendizagens.

A cada paciente que tive contato, pela confiança e entrega nas terapias, por me despertar

ao estudo na tentativa de fazer a diferença na vida de alguém.

Aos alunos que passaram e passarão por minhas aulas.

A todos os voluntários da tese, por confiarem carinhosamente na minha proposta.

E a todos aqueles não citados mas nem por isso não importantes na minha caminhada.

Muito obrigada por cada contribuição direta ou indireta.

9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Figura 1: Modelo neurocognitivo funcional de processamento de linguagem oral (Ortiz,

2010). 024

Figura 2: modelo de processamento linguístico traduzido proposto por Cuetos (2009)

025

Figura 3: Etapas propostas por Ortiz (2010) de nomeação de figuras. 032

Figura 4: Cérebro com as delimitações dos lobos e áreas (download:

http://www.sistemanervoso.com/pagina.php?secao=2&materia_id=464&materiaver=1)

034

Figura 5: Esquema do modelo clássico de classificações das Afasias (Benson e Ardila,

1996, adaptado por Drummond 2006) 040

GRÁFICOS

Gráfico 1: Distribuição dos itens num plano estendido, segundo os julgamentos. 079

Gráfico 2: Tempo de resposta (milissegundos) nos Afásicos e controles. 127

Gráfico 3: Distribuição da variável tempo de resposta dos Afásicos (histograma). 128

Gráfico 4: Tempo de resposta dos Afásicos em função dos tipos de resposta ao teste de

nomeação de figuras. 129

Gráfico 5: Tempo de resposta dos Afásicos em função da familiaridade com item alvo.

131

10

Gráfico 6: Tempo de resposta dos Afásicos em função da frequência de ocorrência do

item alvo. 132

Gráfico 7: Tempo de resposta dos Afásicos em função da idade de aquisição do item

alvo. 133

Gráfico 8: Tempo de resposta dos Afásicos em função do tamanho (em número de

sílabas) do item alvo. 134

Gráfico 9: Distribuição da ocorrência dos índices de similaridade fonológica segundo os

dois grupos de voluntários. 136

Gráfico 10: Distribuição da ocorrência dos índices de similaridade fonológica em

Afásicos. 137

Gráfico 11: Índice de similaridade fonológica segundo a frequência do item nos

Afásicos. 139

Gráfico 12: Índice de similaridade fonológica segundo a idade de aquisição dos itens

nos Afásicos. 140

Gráfico 13: Comparação de desempenho entre Afásicos e controles. 147

Gráfico 14: Distribuição das pontuações de acuracidade de repetição de pseudopalavras.

148

Gráfico 15: O grau de acuracidade segundo o tamanho silábico na repetição de

Afásicos. 152

Gráfico 16: O grau de acuracidade segundo o tamanho silábico na repetição de

controles. 153

Gráfico 17: O grau de acuracidade segundo a frequência silábica na repetição de

Afásicos. 154

Gráfico 18: O grau de acuracidade segundo a frequência silábica na repetição de

controles. 155

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Perfil dos Afásicos, participante de ambas tarefas (nomeação de figuras e

repetição de pseudopalavras). 068

Tabela 2: Perfil dos controles, participantes de ambas tarefas (nomeação de figuras e

repetição de pseudopalavras), pareados por cada Afásico. 071

Tabela 3: Caracterização dos Afásicos (porcentagem de desempenho). 090

Tabela 4: Caracterização dos Afásicos por comprometimento. 094

Tabela 5: Tipos de respostas no teste de nomeação por cada Afásico. 096

Tabela 6: Tipos de respostas no teste de nomeação por cada controle. 098

Tabela 7: Comparação de dois voluntários quanto ao tipo de respostas ao teste de

nomeação. 100

Tabela 8: Tipos de resposta por diagnóstico dos Afásicos. 101

Tabela 9: Tipos de resposta por Escolaridade dos Afásicos no teste de nomeação de

figuras. 104

Tabela 10: Tipos de resposta por Escolaridade dos controles no teste de nomeação de

figuras. 105

Tabela 11: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por tempo de lesão dos Afásicos.

106

Tabela 12: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por tempo de terapia dos Afásicos.

107

Tabela 13: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por desempenho no teste de

compreensão oral dos Afásicos. 109

Tabela 14: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por desempenho no teste de

repetição oral de palavras e frases dos Afásicos. 111

12

Tabela 15: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por desempenho no mini exame do

estado mental (Mini-mental) dos Afásicos. 112

Tabela 16: Tipos de resposta dos Afásicos na tarefa de nomeação por acordo de nome

das figuras. 114

Tabela 17: Tipos de resposta dos controles na tarefa de nomeação por acordo de nome

das figuras. 115

Tabela 18: Tipos de resposta dos Afásicos no teste de nomeação por tamanho do alvo

em número de sílabas. 116

Tabela 19: Tipos de resposta dos controles no teste de nomeação por tamanho do alvo

em número de sílabas. 118

Tabela 20: Tipos de resposta dos Afásicos por Frequência dos itens na tarefa de

nomeação. 119

Tabela 21: Tipos de resposta dos controles por Frequência dos itens na tarefa de

nomeação. 120

Tabela 22: Tipos de resposta dos Afásicos por Idade de Aquisição do item alvo na tarefa

de nomeação. 121

Tabela 23: Tipos de resposta dos controles por Idade de Aquisição do item alvo na

tarefa de nomeação. 122

Tabela 24: Tipos de resposta dos Afásicos por Familiaridade dos itens na tarefa de

nomeação. 123

Tabela 25: Tipos de resposta dos controles por Familiaridade dos itens na tarefa de

nomeação. 124

Tabela 26: Tipos de respostas no teste de repetição de pseudopalavras por cada Afásico.

144

13

Tabela 27: Tipos de respostas no teste de repetição de pseudopalavras por cada controle.

145

14

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 018

Capítulo I - ACESSO LEXICAL: NOMEAÇÃO E MODELOS DE

PROCESSAMENTO LINGUÍSTICO 022

1) Processamento Linguístico da Produção 022

2) Nomeação 033

3) Anomia na Afasia 039

Capítulo II – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SEGUNDO OS MODELOS

BASEADOS NO USO 054

1) Modelos Baseados no Uso e Linguística Probabilística 054

Capítulo III – OBJETIVOS, HIPÓTESES E METODOLOGIA 061

1) Objetos e Hipóteses 061

2) Metodologia 064

2.1. Voluntários 066

2.1.1. Avaliação e Testagem 071

2.2. Teste de Nomeação de Figuras 073

2.2.1. Acordo de Nome 075

2.2.2. Idade de Aquisição 077

15

2.2.3. Variáveis de Análise 080

2.2.4. Índice de similaridade entre produção e alvo 082

2.3. Teste de Repetição de Pseudopalavras 083

3) Tratamento Estatístico dos dados 085

Capítulo IV – ACESSO LEXICAL: ANÁLISE DO TESTE DE N OMEAÇÃO 088

1) Caracterização dos voluntários. 088

1.1. Tipos de respostas ao teste de nomeação. 095

2) Tipos de resposta em função de variáveis não linguísticas. 101

3) Tipos de resposta em função dos testes de caracterização dos Afásicos. 109

4) Análise de regressão logística dos fatores individuais de cada Afásico

influentes no teste de nomeação de figuras. 113

5) Tipos de respostas em função de variáveis linguísticas. 114

6) Análise de regressão logística segundo variáveis linguísticas no teste de

nomeação de figuras. 125

7) Tempo de resposta ao teste de nomeação de figuras. 126

8) Grau de semelhança das produções dos Afásicos em relação ao alvo. 135

16

Capítulo V – CONHECIMENTO FONOLÓGICO: ANÁLISE DO TE STE DE

PSEUDOPALAVRAS 142

1) Tipos de resposta ao teste de repetição de pseudopalavras (Caracterização do

desempenho dos voluntários). 143

2) Caracterização das respostas no teste de repetição de pseudopalavras segundo as

variáveis linguísticas. 150

CONCLUSÃO 157

BIBLIOGRAFIA 161

ANEXOS 177

ANEXO I 178

ANEXO II 180

ANEXO III 181

ANEXO IV 182

ANEXO V 186

ANEXO VI 187

ANEXO VII 188

17

INTRODUÇÃO

Na comunicação, o homem utiliza praticamente todos os sistemas sensoriais para

perceber e interpretar os sinais que o sistema motor do outro indivíduo produz. Ao falar

temos que selecionar as palavras no nosso imenso dicionário mental chamado léxico (ou

memória de palavras) para assim converter em sons e expressar o significado que

queremos emitindo a mensagem. Tudo isso é feito de maneira muita rápida, precisa e

com fluidez, em várias horas do dia. Essa prática do falar está calçada em uma

“máquina cognitiva bem ajustada” (Cuetos, 2003). Como é de se esperar nem sempre

essa “máquina” funciona adequadamente e, dentre outras manifestações, há dificuldade

de recuperar certas palavras.

Fenômenos como o lapsus linguae, que corresponde aos erros cometidos

espontaneamente, e “ponta da língua” (tip-of-the-tongue), são exemplos de ocorrência

em pessoas sem lesão cerebral. Por ansiedade ou fadiga, cometemos equívocos com

palavras ou nos confundimos com alguns sons e isso não se torna sinal de patologia

(Cuetos, 2003).

Mesmo diante desses fenômenos de “ponta de língua”, há acesso por parte do

falante a alguma informação do item perdido, como o gênero gramatical da palavra

(Levelt et al. 1999), ou até a produção de parte do alvo (geralmente o início do item

alvo). Nos Afásicos, esse conhecimento acessado não é suficientemente produtivo para

a nomeação. Há uma falha no processo de evocação, de busca da palavra, em que as

informações alcançadas não bastam de pista para a palavra alvo.

As substituições que ocorrem durante o discurso de Afásicos e não Afásicos

ratifica a evidência de não aleatoridade das produções e também concedem indícios de

recuperação lexical e modo de armazenagem de itens segundo os Modelos Baseados no

18

Uso e Linguística Probabilística. Outro fator é a evidência de que as substituições em

situações de falhas no acesso lexical têm alta probabilidade de gerar palavras reais

(Levelt et al., 1999).

Na clínica fonoaudiológica é comum se observar a dificuldade de acesso lexical

tendo como resultado substituições na produção dos Afásicos. A relação entre a clínica

fonoaudiológica e a teoria linguística se faz necessária, entre outras contribuições, para

um bom diagnóstico, elaboração de plano terapêutico adequado às dificuldades

observadas, e consequentemente melhor prognóstico.

O objetivo da tese é o estudo do acesso lexical e conhecimento fonológico

representado de Afásicos. Os dados foram obtidos através de testes de nomeação de

figuras e repetição de pseudopalavras respectivamente. Toda análise dos dados está

baseada nos pressupostos dos Modelos Baseados no Uso.

A Afasia é uma alteração de Linguagem por razões neurológicas adquiridas.

Mansur e Machado (2004) definem a afasia como alteração da comunicação adquirida

em consequência de lesão neurológica, em geral acidente vascular encefálico (AVE), e

não decorrente de déficits sensoriais, intelectuais ou psíquicos.

Como manifestações linguísticas gerais do discurso oral de Afásicos, podemos

encontrar: (a) anomia: falha na nomeação; (b) ecolalia: repetição de parte da fala do

outro; (c) agramatismo: falhas na relação gramatical da organização frasal; (d) jargão:

fala incompreensível; (e) perseveração: repetição de uma palavra, geralmente a última a

ser produzida; (f) confabulação: fala interior com perda de foco; (g) estereotipia:

repetição de uma palavra, expressão ou segmento fonológico; (h) digressão: fala

emendada perdendo o foco; entre outras.

19

Em cada afasia há predomínio de uma e/ou outra manifestação dessas citadas,

mas toda afasia tem algum comprometimento na produção verbal, mesmo que seja em

decorrência de dificuldades de compreensão.

A anomia, que se caracteriza por uma dificuldade ou impossibilidade para

nomear, é a manifestação linguística mais comum, presente no discurso oral de

indivíduos com quase todos os tipos de afasia.

A dificuldade na nomeação em Afásicos aparece em vários formatos, através de

(a) vazio no discurso; (b) neologismos, que é a formação de novas palavras e com

significação; (c) pseudopalavras, que ocorre na junção de segmentos possíveis na língua

mas sem significação; (d) ininteligível, embora haja uma nomeação ela ocorre de modo

incompreensível; (e) perseveração, que é a dificuldade em se desvincular de ato motor e

iniciar outro diferente, aparente repetição; (f) uso de termos genéricos, por exemplo:

coisa, negócio, troço; (g) circunlocução, que é o uso da caracterização funcional ou

física para nomear; (h) parafasias, que é a substituição de uma palavra por outra,

havendo ou não relação entre elas, etc.

Segundo Freud (1871/1977), a parafasia é um sintoma puramente funcional

definida “perturbação da linguagem em que a palavra apropriada é substituída por outra

não apropriada que, no entanto, tem certa relação com a palavra exata”.

Adotaremos a classificação das parafasias respeitando os seguintes parâmetros:

(a) Parafasia Semântica, troca na produção por um item do mesmo campo semântico do

alvo, ex: biscoito� bolo, gato� cachorro; (b) Parafasia Fonológica, quando a produção

difere do alvo fonética e/ou fonologicamente, mesmo que por substituição, adição ou

omissão, ex: faca � vaca, casa � pasa, margarina � mazarina; (c) Parafasia Mista,

substituição na produção preservando o mesmo campo semântico e características

fonéticas e/ou fonológicas da palavra alvo, ex: cadeira � madeira (campo semântico

20

preservado e possui semelhanças fonológicas com o alvo); ou (d) substituição aleatória,

no caso de não haver relações entre produção e alvo, ex: açúcar � leão.

Optou-se por essa especificidade de estudo, anomia na Afasia, por ser a anomia

a manifestação linguística mais comum nos quadros Afásicos. E o foco desse trabalho,

conforme mencionado anteriormente, são as substituições produzidas no teste de

nomeação de figuras e repetição de pseudopalavras de Afásicos que envolvem

semelhanças fonéticas/fonológicas com o alvo.

Os estudos sobre Afasia no português brasileiro são poucos e a possibilidade de

analisar os dados sob uma nova ótica, a da Fonologia de Uso, poderia trazer novas

contribuições para as questões teóricas tratadas no âmbito dessa teoria, além de

contribuições para clínica Fonoaudiológica, tanto de terapeutas quanto de pacientes.

A tese aborda no primeiro capítulo a habilidade de nomeação, dentro de

propostas de modelos de processamento linguístico, contribuindo assim para discussões

sobre acesso lexical e representação fonológica. No capítulo II são apresentados os

pressupostos teóricos dos Modelos Baseados no Uso, que embasam a análise da

presente pesquisa. Toda metodologia aplicada assim como as hipóteses de trabalho são

apresentadas no capítulo III. Os capítulos IV e V são de análises, sendo o IV relativo à

análise do acesso lexical (teste de nomeação de figuras) e o capítulo V, análise do

conhecimento fonológico através do desempenho no teste de repetição de

pseudopalavras. E, finalmente, segue-se a conclusão.

21

Capítulo I - ACESSO LEXICAL: NOMEAÇÃO E MODELOS DE

PROCESSAMENTO LINGUÍSTICO

O presente capítulo primeiramente apresenta os modelos de acesso lexical que

servem de base para a compreensão do processamento linguístico da produção verbal de

Afásicos e consequentemente da nomeação.

Nessa seção, também são apresentados os fatores que influenciam a produção na

atividade de nomear figuras.

Posteriormente será apresentada a manifestação linguística escolhida para a

pesquisa que envolve essa habilidade de Nomeação, a Anomia, inserida e caracterizada

dentro da patologia neurológica conhecida como Afasia.

1) Processamento Linguístico da Produção

O objetivo dos modelos é propor hipóteses de acesso lexical tanto para o acesso

em indivíduos sem lesão cerebral como também para entender a sintomatologia de

grupos clínicos que têm o acesso lexical comprometido. Os modelos apresentados são

todos de acesso serial (acesso em etapas), principal vertente dos modelos de acesso

lexical. A apresentação em etapas além de ajudar a compreender o processo como um

todo, explica as dificuldades mais específicas dos pacientes, no caso, Afásicos na

produção oral. Eleger um modelo e identificar onde ocorreu a falha para a produção é

uma boa forma de identificar se o modelo atende ou não às especificidades no quadro da

Afasia, assim como contribui para observar a adequação do modelo de acesso para

explicar o acesso lexical dos falantes.

22

Serão apresentados modelos de processamento, mas com o foco na habilidade a

ser pesquisada, a de nomeação de figuras.

Segundo Peña-Casanova e Pamies (1995), num modelo de arquitetura funcional

da linguagem detalhado para a emissão oral (figura 1), primeiramente o sistema de

análise auditivo reconheceria um som como verbal ou não e o identificaria como

pertencente ou não à língua do falante (entrada do estímulo no sistema e seu

reconhecimento). A partir daí no léxico fonológico de entrada, através do sistema de

análise auditiva, é acessada a memória das palavras conhecidas e armazenadas e

consequentemente o sistema lexical, com o acesso ao significado e informações

relativas ao item alvo.

A partir do sistema semântico, com a informação semântica acessada, pode-se

chegar à forma lexical com pareamento fonológico correspondente, e depois à

programação motora para emissão oral.

De acordo com essa proposta, o sistema de produção lexical de saída fonológica

compreende um estoque das imagens auditivas das palavras faladas, o sistema

fonológico com a representação dos sons distintivos da língua, e a relação entre esses

dois sistemas, os quais são etapas prévias à articulação dos sons da fala.

23

Palavra ouvida

Sistema de análise auditivo

Léxico fonológico de entrada

Sistema Semântico

Léxico fonológico de saída

Nível fonêmico

Fala

Figura 1: Modelo neurocognitivo funcional de processamento de linguagem oral

(Ortiz, 2010).

Cuetos (2003) descreve a arquitetura funcional do sistema de produção oral

através de um modelo com três níveis que se inter-relacionam de acordo com a figura 2

a seguir: (1) nível semântico ou de ativação do significado, onde conceitos estariam

representados dentro de um conjunto de características, categorizados; (2) nível lexical

ou de seleção e recuperação das palavras, onde se localizariam as representações das

palavras e (3) nível fonológico, com as representações dos fonemas da língua e

informações articulatórias necessárias para sua ativação junto aos órgãos

fonoarticulatórios. O modelo compartilha os mesmos níveis e etapas de outros modelos

anteriores como o de Levelt et al. (1999), por exemplo.

Portanto, há três processos importantes para nomeação. São eles: acesso

semântico na ativação do conceito; processamento lexical, para recuperar a palavra

24

correspondente ao conceito ou significado; e processamento fonológico, para recuperar

os fonemas que compõem as palavras (Cuetos, 2003). Uma alteração em qualquer dos

processos gera dificuldades de nomeação, mas por causas distintas.

Esses estágios de ativação de representações são feitos sucessivamente e essas

relações podem explicar uma produção equivocada. No caso de um alvo Gato,

primeiramente são ativadas informações relacionadas semanticamente (ex: animal,

doméstico, mamífero, felino, etc..); por sua vez, outras representações do léxico que

compartilham características também são ativadas (tubarão, onça, cachorro); finalmente

dá-se a ativação dos fonemas correspondentes ao alvo e respeitando a ordem sequencial.

Essas relações, envolvendo várias etapas, explicam algumas produções

“trocadas” principalmente relacionadas a substituições semânticas: gato por cachorro

ou calça por bermuda, etc.

Figura 2: modelo de processamento linguístico traduzido, proposto por

Cuetos (2009)

25

Cuetos (2009) e Ortiz (2010) diferenciam a etapa de reconhecimento, da etapa

de acesso lexical, da mesma maneira proposta em Pisoni et al. (1985). Para Pisoni, o

reconhecimento seria apenas uma identificação por análise fonética-acústica e/ou

fonológica e o acesso lexical envolveria ativação de significados presentes no léxico do

ouvinte. O significado é acessado no léxico após a identificação fonética e/ou

fonológica das representações mentais já armazenadas na memória.

A repetição, segundo Dell et al. (1997), é composta de duas fases, uma de acesso

ao reconhecimento fonológico e outra de reprodução. E a fase de reconhecimento

fonológico na repetição utilizaria a mesma rede lexical do sistema de produção,

justificando a inclusão da tarefa de repetição em muitos estudos.

A repetição de pseudopalavras também é contemplada pelo modelo, uma vez

que a relação entre o sistema de análise auditivo (entrada do estímulo a ser repetido) e o

nível fonêmico (saída) possibilita isso.

Os pressupostos teóricos dos Modelos Baseados no Uso relativos a hipóteses de

léxico e tipos de conhecimento fonológico serão apresentados no capítulo II.

Beckman e Pierrehumbert (2003) em estudos de priming com observações

experimentais que sugerem que o acesso a uma palavra também ativa itens relacionados

na memória, encontram evidências para organização por similaridades semânticas e

fonológicas. Esses trabalhos corroboram a ideia do léxico, não como uma lista

unidirecional organizada por ordem de frequência, e sim como espaço

multidimensional, onde cada palavra é conectada com suas informações relacionadas.

Storkel e Morrisette (2002), além de reconhecer a influência do fator frequência de

ocorrência na fala, aborda o termo densidade de vizinhança para explicar as

similaridades na produção. Com isso, compartilha também, assim como pressupostos

26

teóricos da Fonologia de Uso e Linguística Probabilística, que a organização das

palavras no léxico respeitaria critérios de similaridades.

Levelt, Roelofs e Meyers (1999), destacam a complexidade, mesmo que se

tratando de um processo rápido, da tarefa de nomeação. Os autores defendem um

modelo de organização cerebral da produção contendo uma fase inicial de preparação

conceitual, seleção lexical, morfológica e codificação fonológica, codificação fonética e

articulação em si. E introduziram outro elemento, o editor, com o papel de revisar e

monitorar as produções, envolvendo a compreensão, e impedir a produção. Com isso

produções como parafasias mistas e lexicalizações seriam facilmente despercebidas pelo

editor. Levelt et al. (1999), assim como Pisoni et al (1985), também adotam duas etapas

diferentes: a recuperação ou acesso lexical e a codificação.

Levelt et al. (1999) acrescentam um nível intermediário entre o conceito e o

léxico. O nível do “lemma” corresponderia à categorial gramatical com a informação

sintática (verbo, nome, adjetivo ou sexo), possibilitando a diferenciação entre as

palavras homônimas (“pico” alto da montanha e do verbo picar). A frequência das

palavras atuaria nesses níveis de seleção.

Os autores defendem o funcionamento de um processo serial de ativação desses

níveis de representação, ou seja, um processo só começa a funcionar quando o anterior

se encerra. O nível semântico ativado transmite informações ao léxico e após a seleção

lexical há ativação dos fonemas. Os erros envolvendo ao mesmo tempo características

fonológicas e semânticas, as parafasias mistas, e as lexicalizações, seriam acidentais.

Não haveria ligações inibitórias nas redes.

As lexicalizações são produções que, embora sejam parafasias fonológicas,

resultam não em pseudopalavras como era de se esperar, mas em itens existentes na

língua como vaca por faca, e acabam por ser classificadas como substituições sem

27

relação semântica com o alvo. Outro conceito abordado pelos autores foi o de

facilitação fonológica dos erros de substituição semântica, o exemplo disso é que gato

por rato é mais frequente que gato por cão.

Para Levelt, Roelofs e Meyers, (1999) mesmo que esses processos demonstrem

relação, há certa independência entre eles por serem regidos por diferentes variáveis e

possivelmente tenham substratos neurológicos diferentes também.

Dentro do modelo proposto, as trocas fonológicas seriam erros de ligações

temporais e espaciais entre os elementos do modelo. E considerando o léxico mental

proposto, ou seja, dividido em componente lema, com informações semânticas e

gramaticais, e componente lexema, com toda a informação e representação, não atribui

possibilidade de ocorrer substituições que envolvem troca de informação fonológica e

/ou semântica já que estariam funcionando de forma independente (Levelt et al., 1999).

O modelo interativo, embora também serial, dentro de uma concepção

interacionista, defendido por Dell et al. (1997), apresenta um funcionamento simultâneo

dos níveis. No mesmo momento em que o nível semântico é ativado, já começam fluir

informações para o nível lexical e fonológico, essas informações também retornam a

outros níveis confirmando ou excluindo e agindo nos competidores. Com isso o nível

lexical receberia influência tanto semântica quanto fonológica, como uma rede de

efeitos.

Dell (1997) e outros autores defendem modelo considerando redes lexicais e a

interação através de duas etapas para nomeação como conexões bidirecionais, o acesso

lexical envolvendo duas etapas e sugerem a interação entre esses níveis de processos.

As duas etapas seriam de representação conceitual ou representação não fonológica e a

representação da forma fonológica. Como se trata de uma relação arbitrária entre forma

28

e significado, motiva o surgimento de uma etapa intermediária de mapeamento, que

nada mais é do que a interação entre as duas outras etapas.

Existem evidências de que em testes de reconhecimento de palavra (processos

computacionais pelos quais um ouvinte identifica a forma fonética-acústica e/ou

fonológica da palavra falada) com ruído mascarante, quanto mais fonemas semelhantes

ao alvo, mais fácil o reconhecimento ou ativação (Pisoni et al., 1985). Os resultados

reforçam a hipótese de ativação não só da palavra ouvida, mas também de palavras

foneticamente semelhantes e para isso a organização do léxico também seguiria essa

organização por similaridades semânticas e fonológicas.

A organização e o acesso lexical, nesse caso, respeitariam similaridades

fonológicas e de diferentes tipos de informações (conceptuais, pragmáticas, sintáticas e

fonológicas). Dessa forma, através da representação com os “vizinhos” seriam

explicadas substituições envolvendo esse tipo de informação.

A teoria proposta não é modular em duas etapas. O léxico é dinâmico e

interativo, essas representações linguísticas mudam durante o processo de aquisição e há

reorganização constante do léxico. A função do movimento é obter acesso a partir de

representações conceituais às formas fonológicas. As duas fases distintas no acesso

lexical permitem fluxo top-down e bottom-up (unidades fonológicas ou semânticas

ativadas no acesso lexical).

Há também o modelo em cascata que defende a ativação simultânea dos níveis,

sem o retorno das ativações. Já que não haveria retorno, o nível dos fonemas não

influenciaria na seleção lexical, a ativação é simultânea dos níveis, mas unidirecional

sem retorno para confirmar ou excluir ativações (Rapp e Goldrick, 2000).

O que aconteceria nesse modelo em cascata seria a maior ou menor ativação de

cada nível explicando os erros produzidos. Por exemplo, uma ativação semântica alta

29

geraria erros semânticos, já se a maior ativação ocorrer no fonológico são erros

fonológicos ou neologismos, e se ocorre menor ativação em ambos os níveis

consequentemente vamos obter “não respostas”.

O que se mostra interessante é que esses erros não são aleatórios e parecem

submetidos a “regras”. Os erros aparecem entre unidades linguísticas similares. A troca

entre palavras, por exemplo, na maioria das vezes respeita a classificação gramatical.

Focalizando na troca entre fonemas, há semelhança entre os sons produzidos, como uma

“regra” de seleção de características fonológicas. É como se cada nível descrito

anteriormente na arquitetura funcional do sistema de produção oral fosse comandado

por “regras” diferentes ratificando a ideia da separação dos níveis. Os erros se

originariam por mal funcionamento de algum componente do sistema ou de interação

entre os níveis (Cuetos, 2003).

O fenômeno “ponta de língua” (tip of the tongue), é exemplo de processo de

facilitação lexical que não se restringe a pacientes com lesão cerebral, ocorre tanto em

Afásicos e não Afásicos. É conhecido como fenômeno da ponta de língua e definido por

Brown (1991), de acordo com Goodglass et al. (1997), como um estado subjetivo em

que o falante falha no acesso a um item alvo, enquanto está convencido de que sabe da

palavra. O sujeito mesmo não recuperando a palavra, é capaz de dar informações sobre

o item (a) descrevendo-o em função da forma, tamanho, cor, para que serve, etc, ou (b)

informações fonológicas, dizendo com que som começa ou termina, e até (c)

informações gramaticais. Para Levelt et al., 1999 essas manifestações acima descritas do

fenômeno “ponta de língua” são evidências de que as características gramaticais das

palavras se encontram representadas previamente a informações fonológicas. Com isso

mesmo com a falha no acesso a informações fonológicas, outras informações que

estariam representadas seriam acessadas (informações essas descritas anteriormente). O

30

falante acessa um conhecimento parcial que está preservado, não sendo suficiente para

agir de gatilho para acessar o alvo.

Para nomeação de figuras, temos descritas as etapas até a produção pelo modelo

de Ortiz (2010) apresentado na figura 3. Embora simplificado, o esquema proposto

elucida bem as etapas sugeridas pela autora na tarefa de nomeação de figuras. O

primeiro processo seria, diante da figura, fazer a análise visual. A complexidade visual

da figura é uma variável que atuaria nessa análise, ou seja, se há menos ou mais traços

para facilitar ou dificultar o reconhecimento.

O reconhecimento ocorre na representação quando a pessoa reconhece a figura

como familiar, dentre as representações que já tem e que ao longo da vida vai

acumulando, categorizando. A ideia é da existência de um léxico dinâmico, construído e

desconstruído ao longo das experiências do indivíduo.

Uma vez reconhecida a figura, é acessado o sistema semântico que, além de

capturar o significado da figura, recupera todas as informações relativas a essa figura e

ao seu conceito.

No léxico fonológico é feito o pareamento da imagem da figura e da forma

fonológica com seleção dos fonemas e, por conseguinte, a nomeação. A frequência das

palavras além do seu tamanho em número de fonemas influenciaria essa etapa.

Na fala espontânea, ou seja, onde não há o estimulo visual para a nomeação, o

processo se inicia no sistema semântico onde o individuo já tem a intenção do que quer

produzir.

31

Figura

Análise Visual

Representação da figura

Sistema Semântico

Léxico Fonológico Fala espontânea

Fonemas

FALA

Figura 3: Etapas propostas por Ortiz (2010) de nomeação de figuras.

Mendonça (2010) apresenta duas hipóteses para organização cerebral do sistema

semântico, a categoria específica e a modalidade específica. Na categoria específica, o

conhecimento do objeto está relacionado em categorias (frutas, cores, etc), e como

compartilha traços, um conhecimento estaria representado em varias categorias. Essas

relações forneceriam o conjunto de todo o significado do objeto, ou seja, o verdadeiro

valor semântico. Já na modalidade específica, o conceito seria representado por uma

rede englobando todos os elementos, sendo assim acessaríamos o conceito por diversas

vias.

Para a autora, a categorização não seria etapa fundamental no processo de

lexicalização, o que explica o desempenho independente nas provas de categorização

semântica e nomeação. Outra relação, nesse caso, comprovadamente existente é a de

32

que toda tarefa semântica envolve estratégias cognitivas como busca na memória,

seleção da resposta, tomada de decisão, memória de trabalho, etc.

A seguir destacaremos a Nomeação, definindo a habilidade e apresentando as

hipóteses de influências de diversos fatores.

2) Nomeação

Na nomeação de figuras, a atividade cerebral inicia na área estriada do córtex

occipital (pelos processos de análise visual), ao lobo parietal (onde ocorre o

reconhecimento). Ao identificar a representação, ativa-se o significado e na área de

Wernicke (no lobo temporal esquerdo) através do fascículo arqueado chega-se à área de

Broca (no lobo frontal esquerdo) onde se elabora o programa articulatório para a

produção da fala (Figura 4). Identificar as áreas onde ocorrem essas etapas não são

suficientes para compreender a complexidade do processamento linguístico (Cuetos,

2003).

33

Figura 4: Cérebro com as delimitações dos lobos e áreas (download:

http://www.sistemanervoso.com/pagina.php?secao=2&materia_id=464&materiave

r=1)

Na nomeação de figuras assim como na fala espontânea, diversos processos

estão envolvidos: (a) análise visual, (b) reconhecimento da figura, (c) acesso ao

significado, (d) recuperação do nome, (e) ativação dos fonemas e (f) articulação

(Cuetos, 2003).

A última etapa para emissão da fala, ou seja, a articulação decompõe-se em

planejamento da sequência de movimentos, envio da informação ao cérebro para

produção e atividade motora em si (Lent, 2004).

Considerando o modelo conexionista, os conceitos são formados a partir de

características perceptivas e motoras, e se encontram distribuídos em uma ampla zona

cerebral correspondente, não havendo sítios específicos para informação representada.

34

Existem áreas convergentes na zona parieto-temporal, com função específica perceptiva

ou motora que são encarregadas de unir as características para formar o conceito; são

áreas flexíveis, modificáveis com o aprendizado (Cuetos, 2003).

Para Cuetos, (2003) o uso dos itens lexicais influencia neurologicamente na sua

recuperação. As conexões neuronais se fortaleceriam com o uso, por outro lado, com o

passar do tempo, e o inverso também aconteceria, ou seja, por uma diminuição da

atividade geral do cérebro, efetividade do acesso (eficácia das conexões) vai se

perdendo. Estudiosos sobre acesso lexical também demonstraram a importância do

papel da frequência do item: Goldinger, Luce e Pisoni (1989); Goldinger, Pisoni e

Logan (1991); Luce e Pisoni (1998); Pisoni, Levi e Slowiaczek (2007); Port (2007);

Vitevitch, Stamer e Sereno (2008).

De acordo com Cuetos, é importante considerar as variáveis das figuras que

influenciam na nomeação como (a) complexidade visual da figura, (b) familiaridade

com o item: relacionado ao contato diário, e influenciando mais no sistema semântico

da produção oral na nomeação, gerando mais substituições semânticas, (c) imagética:

facilidade ou dificuldade de imaginar o item, e influenciando também mais no sistema

semântico, (d) frequência de uso, atuando mais no nível lexical fonológico, (e)

comprimento do item (tamanho) e complexidade articulatória, influenciando no nível

dos fonemas, (f) acordo no nome do item: referente ao consenso das pessoas em nomear

uma figura, por exemplo: burro e asno, vagem e ervilha, etc, e (g) idade de aquisição:

referente à ordem com que aprendemos as palavras ao longo da vida. Essa última

variável (g) é de difícil quantificação, mesmo assim deve ser considerada, já que se

mostra uma das variáveis mais determinantes no nível lexical e semântico (Cuetos,

2003).

35

Em situação de teste como tarefa palavra-desenho, onde é pedida a nomeação da

figura embora haja outro item escrito diferente daquele apresentado na figura, podemos

observar o efeito de interferência. Essa competição de representações lexicais acontece

pelo estímulo apresentado, onde o desenho e a palavra escrita distratora ativam

simultaneamente a representação lexical referente, dificultando a seleção para a

nomeação. A relação entre a figura e a palavra escrita (relação fonológica ou semântica)

influencia nessa interferência, contribuindo ainda mais para ideia de um sistema

organizado em níveis (Cuetos, 2003).

Segundo Levelt et al. (1999), o efeito de frequência das palavras, descoberto por

Oldfield e Wingfield (1965), deve ser considerado na nomeação por influenciar

determinados níveis de seu modelo.

As estimativas de frequência de palavras tendem a se correlacionar com as

estimativas da idade de aquisição das palavras segundo Morrison et al 1992; Carroll e

White 1973.

Em estudo de Cuetos, Aguado, Izura e Ellis (2002) com Afásicos usando a tarefa

de nomeação de desenhos, foi observada a influência da variável idade de aquisição,

mais que a frequência de uso e a familiaridade. Belke, Brysbaert, Meyer e Ghyselinck

(2005) também identificaram a importância da variável idade de aquisição. Morrison et

al. (1992), comparando nomeação de objetos e os tempos de categorização,

argumentaram que o efeito da idade de aquisição influi no acesso às formas fonológicas.

Segundo Levelt et al. (1999) ambos fatores influenciam e devem ser analisados.

Outra característica dos modelos interacionistas, por estarem interatuando nos

níveis propostos, é de permitir relações entre as variáveis e os tipos de erros.

Em seu estudo de 1980, Snodgrass e Vanderwarts padronizaram 260 figuras

referentes a quatro variáveis: (1) acordo de nome, (2) acordo de imagem, (3)

36

familiaridade e (4) complexidade visual. Considerado pioneiro, o estudo foi realizado

também em outras línguas (inglês, espanhol, japonês, etc). Além de aplicável a

diferentes línguas, as padronizações das figuras também levam em consideração outras

variáveis como: frequência, concretude, imagética, idade de aquisição, entre outras.

Como o presente estudo utiliza figuras do teste de Snodgrass e Vanderwarts (1980),

esse teste será descrito no capítulo III na parte referente à metodologia.

Como já foi dito, o (1) acordo de nome se refere ao consenso com que as figuras

são nomeadas. Uma mesma figura pode ser nomeada adequadamente utilizando mais de

um item, ou seja, baixo acordo de nome. Ex: arma ou revólver, locomotiva ou trem.

Assim como o acordo de nome, o (2) acordo de imagem é em relação à figura

representativa do item. A (3) familiaridade com o objeto representado na figura é um

indício importante de latência na nomeação, ou seja, quanto mais familiar o objeto,

menor o tempo de nomeação da figura. E, finalmente, a (4) complexidade visual,

referente à quantidade de traços e detalhes da figura, influencia fatores como tempo de

resposta, reconhecimento e memorização.

Os 219 participantes do estudo de Snodgrass e Vanderwarts (1980) tinham como

tarefa nomear por escrito a imagem projetada e ranquear de 1 a 5 o grau de

familiaridade, complexidade visual e acordo de imagem (julgamento de proximidade da

figura com a imagem mental do objeto), onde o 1 é quanto a familiaridade: menos

familiar, ou quanto a complexidade visual: mais simples, ou quanto ao acordo de

imagem: menor acordo e o valor 5 é mais familiar na avaliação quanto a familiaridade,

ou mais complexo quanto a complexidade visual ou com mais acordo no caso de acordo

de imagem.

37

Esses estudos de padronização, entre outras conclusões, possibilitaram observar

que as variáveis como familiaridade e complexidade visual se assemelhavam entre as

línguas.

No português brasileiro, Pompéia, Miranda e Bueno (2001) em seu estudo para

padronização de 400 figuras (incluindo as 260 do estudo de Snodgrass e Vanderwarts)

atribuem como variáveis importantes para a adequação da seleção dos estímulos para

estudos cognitivos: acordo de nome, familiaridade e complexidade visual. Esta pesquisa

foi realizada em adultos e crianças. O grupo de adultos era composto por 150 estudantes

universitários (geralmente esses voluntários são usados em estudos de psicologia

cognitiva) e o procedimento foi o mesmo adotado por Snodgrass e Vanderwarts (1980).

O papel dos voluntários, além da nomeação de figuras projetadas por 10

segundos, era pontuar através de uma escala de 1 a 5 a familiaridade com o objeto e a

complexidade visual da figura (onde 1 representaria o menos familiar ou menos

complexo até 5 mais familiar ou mais complexo). Observa-se que a pontuação através

de escala foi utilizada em vários estudos para pontuar diversos critérios a fim de

considerá-los como variáveis de análise.

A idade em que o item lexical foi adquirido pode ter influência quando se deseja

nomear uma figura. Jakobson (1941) estabeleceu relação entre a aquisição fonológica e

perda na Afasia. O desenvolvimento fonológico teria uma ordem universal e inata

regulada por leis estruturais. As estruturas linguísticas adquiridas por último estariam

mais sujeitas a substituições na produção controlada e estruturas adquiridas

anteriormente tenderiam a ser mantidas.

38

3) Anomia na Afasia

Segundo Ortiz (2010), a Afasia pode ser definida como uma alteração no

conteúdo, na forma e no uso da linguagem e de seus processos cognitivos subjacentes,

tais como percepção e memória.

Segundo Mansur e Machado (2004), a Afasia é definida como alteração da

comunicação adquirida em consequência de lesão neurológica (em geral, AVE), e não

de déficits sensoriais, intelectuais ou psiquiátricos. Envolve as modalidades de produção

e compreensão das linguagens oral e escrita.

No caso de uma lesão cerebral ocorrida na região responsável pela linguagem

(atingindo um dos lobos no hemisfério esquerdo conforme figura 4), o processamento

linguístico é alterado. Pensando nisso o objetivo do terapeuta é, considerando o sistema

linguístico de pessoas sem lesão, estabelecer o que foi alterado na lesão.

As primeiras divisões dos tipos Afásicos basearam-se na dicotomia distúrbios

expressivos e receptivos. Já a classificação clinica tradicional fundamenta-se numa série

de variáveis fundamentais como linguagem espontânea, compreensão, repetição e

nomeação, conforme figura 5 a seguir.

39

Figura 5: Esquema do modelo clássico de classificações das Afasias (Benson e

Ardila, 1996, adaptado por Drummond 2006)

Para Cuetos (2003), não há relação direta entre local de lesão e a manifestação

linguística. Assim como a localização das funções, as lesões não são rigorosamente

delimitadas ou pontuais, sendo isso, de difícil identificação. Ortiz (2010) aponta a

dificuldade em definir as manifestações afásicas, baseada em classificações, e agrupar

em tipos sindrômicos. Além disso, destaca que, mais do que classificar, é fundamental

esclarecer o distúrbio de linguagem e traçar diretrizes para a reabilitação, compreender

o modo e o porquê das manifestações.

Ortiz (2010) defende a relação da alteração de compreensão com dificuldades de

emissão, dizendo que mesmo que não haja aparentemente dificuldade de compreensão,

há falhas no processamento das informações recebidas comparada com sujeitos

normais, dificuldades essas detectadas apenas por avaliação minuciosa.

A anomia é definida como dificuldade de recordar ou recuperar as palavras no

falar. Os processos que fazemos para recuperar as palavras são os mesmos para

40

Afásicos e não Afásicos, mas, em pessoas com lesão, a operação se torna lenta,

trabalhosa e muitas vezes não efetiva.

Mendonça (2010) descreve a nomeação como um encontro de palavras, e a

dificuldade em nomear, ou seja, a anomia ocorreria devido a três mecanismos: (1)

dificuldade em iniciar a articulação na produção oral, (2) deficiência no acesso lexical

ou (3) déficit semântico (quando não se nomeia nem aponta um objeto cujo nome lhe é

oferecido).

O processamento léxico-semântico, fundamental para nomeação, ativaria

durante a tarefa, o funcionamento de áreas cerebrais (figura 4) anteriores e posteriores

bem extensas, demonstrando a complexidade do processo. Outra evidência são as

dificuldades mais específicas de nomeação, como por exemplo, dificuldades com nomes

próprios ou por categorias tais como animais, etc. (Cuetos, 2003)

Cuetos (2003) considera pelo menos três tipos de anomia, sem considerar a

natureza do transtorno, e sim o tipo de processamento comprometido, segundo o

modelo descrito no capítulo anterior: (a) anomia semântica, no caso de falha no

processo conceptual, e com comprometimento associado de compreensão (b) anomia

lexical ou pura, quando há falha no processo de acesso ou recuperação da palavra e (c)

anomia fonológica, quando ocorre falha de recuperação dos fonemas, apresentando

substituições, adição ou omissão de fonemas e gerando muitas vezes neologismos

associada à dificuldade de repetição e leitura.

Cuetos (2003) classifica os erros cometidos pelos Afásicos segundo o nível

afetado do sistema, em:

(A) parafasias semânticas, quando ocorre substituição dentro de um campo

semântico, ou seja, no nível semântico do sistema, o paciente selecionaria um conceito

que compartilha características semânticas, ou no acesso ao léxico propriamente dito

41

(ativa o conceito mas não seleciona adequadamente). São classificadas como parafasias

semânticas, as nomeações: (A.I) dentro da categoria semântica ou parecida, ex: leão por

tigre, (A.II) considerando a categoria maior, ex: animal e (A.III) utilizando o nome de

outro objeto com relação associativa, ex: circo ou zoológico;

(B) parafasias fonológicas ou literais: aquelas que se originam no nível lexical

ou fonológico, quando há alteração dos fonemas (trocas, adições ou omissões). O

resultado dessa produção pode ser (B.I) uma pseudopalavra (ou até um neologismo,

quando não se identifica a origem da substituição) ou, (B.II) uma palavra sem relação

semântica com o alvo, ex: trigo por tigre;

(C) parafasias mistas: no caso de erros que são ao mesmo tempo fonológicos e

semânticos, ex: rata por gata;

(D) circunlocução: quando o indivíduo, ao invés de nomear, define o objeto. Isso

mostra que ele conhece bem o significado, mas, mesmo assim, não recupera a palavra,

ex: aquele objeto de madeira que tem encosto, 4 pés e serve para sentar por cadeira;

(E) parafasias morfológicas: consistem na substituição por uma outra palavra

derivada, ex: leite por leiteira;

(F) perseverações: quando o indivíduo utiliza o nome de objeto recentemente

nomeado mesmo que não relacionado, como reflexo da incapacidade de inibir

determinadas representações léxicas que foram ativadas, ex: nomear tudo com o mesmo

nome já nomeado anteriormente;

(G) não relacionadas: são provavelmente originadas no nível semântico,

produções sem relação fonológica ou semântica, e que também não se tratam de

perseverações;

(H) não respostas: originadas no nível semântico lexical, no caso do indivíduo

responder que não sabe.

42

Dell, Schwarty, Martin, Saffran e Gagnon (1997) adotam a teoria da globalidade,

que defende que as lesões acabam por afetar uniformemente todos os níveis do

processamento lexical bem como as interações entre eles, explicando assim as várias

manifestações não em função de afetar diversos níveis, mas talvez por graus diferentes

de comprometimento do indivíduo e de interações entre os níveis.

No estudo de Dell et al. (1997) com Afásicos fluentes (Afasia anômica,

Wernicke, de condução ou Transcortical sensorial), a produção dos Afásicos foi

observada a partir de um teste de nomeação. Foi considerada apenas a primeira resposta

e os erros ou substituições foram classificados em: semântico, fonológico, misto,

pseudopalavra e sem resposta. Com esses critérios e baseados na teoria da globalidade,

elaboraram um modelo computacional a fim de prever as distribuições dos erros. Fora

desse campo de explicações ficaram os pacientes que apresentaram apenas erros

semânticos ou apenas erros fonológicos. Além disso, há dissociação das categorias

semânticas já que foi encontrada anomia específica para determinadas categorias. Eles

propõem um modelo de duas etapas interativas de recuperação lexical no qual concluem

que, de acordo com os resultados para o controles de seu estudo, há maior possibilidade

de erro semântico do que formal.

Entre Afásicos foi constatada uma considerável variação entre os indivíduos de

8% a 95% de acerto. Em alguns casos, houve predomínio de neologismos, em outros

predomínio de substituições semânticas e em outros de substituições formais, referentes

à substituição de sons. Dell et al. (1997) observaram a influência da categoria sintática

nos erros formais. Embora Afásicos e controles apresentem parafasias semânticas, no

caso dos Afásicos, não houve predomínio exclusivo de substituição semântica.

Em tarefa de Repetição, Dell et al. (1997) observaram desempenho melhor

comparando com os resultados obtidos para a tarefa de Nomeação. Houve presença de

43

pseudopalavras e erros formais, sem erros semânticos, ou seja, o resultado é coerente

com erros ocorridos por danos apenas no acesso fonológico.

Ortiz (2010) define como parafasias as manifestações dos Afásicos, na emissão

oral, e, assim como para Cuetos (2003), as parafasias são observadas no plano da

palavra. A classificação é: (1) parafasia fonética – alteração de fala por distorção na

produção dos fonemas; (2) parafasia fonêmica – inadequação na seleção dos fonemas ou

na combinação destes na palavra e se manifesta por trocas, omissões, acréscimo de

fonemas ou sílabas; (3) parafasia morfêmica – substituição dos morfemas gramaticais

das palavras; (4) parafasia formal – no caso da substituição gerar outra palavra

semelhante da língua, mas sem haver relação semântica entre as palavras; (5) parafasia

verbal – quando na troca não se identifica nenhuma relação entre as palavras, nem

quanto a forma, nem quanto ao conteúdo embora seja uma palavra existente na língua; e

(6) parafasia semântica – troca com relação semântica.

Para a autora a anomia muitas vezes relaciona-se com dificuldades no acesso

fonológico, lexical ou semântico, ou ainda na passagem da informação entre alguns

subsistemas e destaca outras manifestações na emissão oral como: circunlóquios

(nomeação pela função), paráfrase (substituição do item por uma frase), neologismos

(criação de novos itens), jargonofasia (fala ininteligível), estereotipias (repetição de um

item ou parte dele), perseveração (repetição de um item já produzido anteriormente),

entre outros.

Bose, Raza e Buchanan (2007) encontraram, em seu estudo de Afásicos de

Wernicke com presença de jargão, a baixa relação fonológica do alvo com as produções

referentes a neologismos (49,6% do total das produções dos Afásicos), utilizando o

Phonological Overlap Index - POI (índice de sobreposição fonológica) proposto por

Folk et al.’s (2002) a partir do número de fonemas compartilhados.

44

Kohn, Smith e Alexander (1996) ressaltam a dificuldade de inferir diante de uma

resposta (pseudopalavra) a tentativa de chegar ao alvo.

Senna (2009) em seu estudo observa que mesmo respostas consideradas sem

relação com o alvo e pseudopalavras apresentaram alguma relação, isto é, alguma

semelhança fonológica com o item alvo, se comparada com outros tipos de respostas.

Ratificando essa ideia de semelhança fonológica nesses tipos de produção, Bose, Raza e

Buchanan (2007), na análise das produções dos Afásicos em seu estudo, dividem

neologismos com alguma relação fonológica daqueles com pouca ou nenhuma relação.

Gordon (2007) analisando tarefas de nomeação em 32 Afásicos de diversos tipos

e graus considerou como respostas em relação ao alvo parafasias semânticas,

fonológicas, mista e sem relação, e as não respostas como: circunlocução e não resposta.

E concluiu que a maior parte dos Afásicos produz um número reduzido de parafasias

fonológicas. Segundo a autora, as substituições podem ser atribuídas a fatores como

severidade da anomia, características do estímulo (como frequência, comprimento,

categorial gramatical, número de competidores) e diferenças na demanda da tarefa (uso

de estratégias).

Cuetos et al. (2002) estudando nomeação diante de 140 desenhos de objetos, em

preto e branco, em 16 Afásicos espanhóis identificou fatores como complexidade visual

e familiaridade com o objeto influenciando no reconhecimento (ou seja, facilidade ou

dificuldade com que a sua representação semântica pode ser acessada a partir de

características visuais), bem como a frequência da palavra atuando na recuperação

lexical. A idade de aquisição da palavra também se mostrou fator influente, ao passo

que o comprimento da palavra em sílabas, animacidade e imagética não. Todo o

procedimento compreendeu 3 sessões e incluiu associações da imagem com o nome por

escrito e tarefas de repetição. Cuetos et al. (2002), baseado em Dell et al. (1997),

45

considerou como tipos de erros nas nomeações dos Afásicos: Erros semânticos, formais,

mistos, neologismos, não relacionados, não resposta, circunlocução, e outros. Os erros

formais e neologismos foram agrupados.

Mansur et al. (2006) realizaram um teste de Nomeação com 133 indivíduos

normais, sem lesão cerebral e constataram o nível educacional como determinante para

o alto desempenho além de aproveitamento maior de pistas fonêmicas, prompting,

durante a tarefa do grupo com mais anos de instrução formal. Em seus estudos, a idade

não se mostrou relevante para os voluntários. O fato de atingir o alvo com o

fornecimento da pista fonêmica indica preservação da representação semântica e com o

auxílio da pista, a forma fonológica é recuperada.

Janse (2008) pesquisou o uso de prompting no processamento de palavras

faladas. A pesquisa compreendeu dois estudos: a influência do tempo de compreensão

no processamento lexical tanto de Afásicos quanto não Afásicos, além da tarefa de

repetição em Afásicos de diferentes diagnósticos. Concluiu-se que o tempo de

compreensão não interferiu na desativação lexical em controles. Porém todos os

voluntários da pesquisa apresentaram imediata inibição da coativação de candidatos. Os

resultados mostraram que a desativação lexical é um processo rápido e os efeitos de

repetição parecem surgir a longo prazo em Afásicos.

Goodglass et al. (1997), analisaram a produção de 30 Afásicos (Afasia de Broca,

Afasia de Wernicke, Condução e Anômica) do sexo masculino, submetidos à tarefa de

nomeação com 85 figuras (Boston Naming Test). A produção dos voluntários foi

dividida em erros fonológicos, semânticos e outros erros. A categoria de erros

fonológicos foi subdividida em função da posição da similaridade fonológica, sem levar

em conta a quantidade de fonemas. Os autores concluíram que, tanto em Afásicos

46

quanto não Afásicos, a inclusão do fonema inicial do alvo (prompting) durante tarefa de

nomeação facilita o acesso ao alvo.

Goodglass et al. (1997) também defendem um modelo de nomeação em que os

níveis fonológico e semântico interagem no processo de recuperação e que o início da

palavra desempenha um papel vital na ativação fonológica.

Mansur et al. (2006) considera além da escolaridade, a frequência de ocorrência

do item lexical, categoria gramatical e semântica, lexicalidade, regularidade, idade de

aquisição, imagética, operatividade, extensão, familiaridade (experiência, necessidade,

ocupação e cultura) e hábitos de leitura como fatores que influenciam o desempenho na

nomeação.

Para Levelt et al. (1999), como nos estudos de idade de aquisição, os

participantes foram orientados a estimar em que idade eles primeiro aprenderam a

palavra; é provável que a frequência de ocorrência da palavra "contamine" tais

julgamentos. Mesmo assim, para os autores, ambas as variáveis contribuem para o

tempo de resposta na nomeação.

Diante disto, deve-se considerar, segundo Mansur et al. (2006), que déficits na

nomeação de Afásicos pouco escolarizados são, na verdade, desconhecimento e

privação cultural.

Pisoni, Levi e Slowiaczek (2007), em análise das substituições na produção,

fornecem evidências de que os itens são representados no léxico em segmentos como

uma estrutura fonológica da língua ao observar, por exemplo, alta frequência de um

único segmento em substituições e/ou trocas.

Gordon (2002) descreve estudos mostrando a vulnerabilidade ao erro de alguns

tipos, concluindo que as palavras frequentes foram mais acuradamente produzidas do

que as palavras não frequentes, tanto em Afásicos quanto não Afásicos. E discute sobre

47

a importância de se relativizar as análises de frequência, já que a baixa frequência de

ocorrência pode contribuir à produção sem acuracidade de um item, mas isso não

significa que o erro produzido será de frequência mais elevada. É importante considerar

que a oportunidade do erro aumenta com as palavras mais longas e as palavras mais

longas tendem a ser menos frequentes. Além disso, segundo a autora, muitas das

variáveis linguísticas estudadas são superpostas, fazendo com que haja dificuldade para

identificar a verdadeira influência na produção do erro, já que este pode ocorrer em

função de outra variável. Seu experimento mostra o efeito da frequência e da vizinhança

fonológica nos erros de produção de Afásicos.

Gordon (2007) considera que as substituições de Afásicos envolvem

mecanismos de recuperação do item lexical e que níveis de representação conceptual,

lexical e fonológico estão sujeitos a rupturas.

Kohn, Smith e Alexander (1996), em seu estudo com quatro Afásicos com

jargão (produção de neologismos), verificaram, através de testes (de nomeação,

repetição e leitura) durante os seis primeiros meses pós-acidente vascular encefálico

(AVE), a recuperação do sistema fonológico. Levantam a questão da produção de

Afásicos como resultado de dificuldade de acesso a representações fonológicas

armazenadas no léxico ou como uma perda de informação representada, já que em

ambos os casos, produção relacionada ou não com o alvo, o desempenho estaria

prejudicado.

Nesse último caso, produção sem relação com o alvo, a falta de similaridade

fonológica da produção de Afásicos com o alvo é devido à perda generalizada de

informações fonológicas, ou seja, uma perda substancial de representações fonológicas

no léxico, por oposição a falhas de acesso. A prevalência de pseudopalavras, em

especial com substituições fonológicas do tipo aleatório, segundo o estudo, é indicativa

48

dessa ruptura da representação lexical fonológica. Portanto, essa produção não apresenta

motivação lexical. A perseveração, repetição errônea de fonemas na tentativa de

nomeação, é um sinal da perda de representação e não problema de acesso.

Essa distinção de perda da representação ou ruptura do acesso lexical tem

consequências para os objetivos terapêuticos pois, tratando-se de um prejuízo no acesso,

já que a representação fonológica estaria preservada ou pouco comprometida, há

enfoque em estratégias de acesso lexical, possibilitando talvez a melhora de prognóstico

Afásico.

Kohn, Smith e Alexander (1996) apresentam um modelo de produção com

quebra fonológica seguindo a teoria linguística “Underspecification”, que defende a

formação de palavras por derivação, em etapas. A teoria sugere a produção envolvendo

duas etapas fundamentais, o acesso fonológico e o planejamento fonêmico e a

representação é estruturada com informações em níveis distintos.

Dell et al. (1997) observaram diferenças entre os tipos Afásicos e

correlacionaram esses tipos Afásicos com os níveis de representação. Em afasias mais

graves observou-se a presença em maior número de pseudopalavras e palavras não

relacionadas com o alvo, o que reflete erros com discordância entre os níveis de

representação (sistema semântico e léxico fonológico). Outros quadros mais amenos

mantêm a integridade representacional, mantendo um fluxo de interação entre os níveis

ativados, e gerariam, portanto, erros mistos, semânticos e formais.

Dell et al.(1997) ressaltaram a importância das parafasias semântica e fonológica

já que demonstram a dissociação bem representada da recuperação semântica e

fonológica, como níveis distintos que interagem. Prova dessa interação entre semântico

e fonológico durante o acesso lexical são as parafasias mistas que apontam para um

49

dano na rede lexical onde o mapeamento entre representação conceitual e fonológica

estaria comprometido.

Folk, Rapp e Goldrick (2002) propõem o Phonological Overlap Index - POI

(índice de sobreposição fonológica) que considera o número de fonemas compartilhados

do alvo e da produção independente da posição. Em seu estudo com sujeitos disgráficos

ressaltam o papel da relação entre processos lexicais e sub-lexicais. Os autores

defendem que essa integração contribui para seleção da palavra alvo diante dos

competidores fonológicos e ortográficos.

McNellis e Blumstein, (2001) desenvolveram um modelo de reconhecimento de

palavra ouvida na Afasia e atribuem as dificuldades na produção de Afásicos por

alterações na dinâmica de ativação lexical. Eles encontraram diferenças dessas ativações

nos tipos Afásicos. Pacientes não fluentes apresentaram uma dificuldade de ativação do

candidato no léxico e Afásicos fluentes mostram aumento na ativação lexical, ou seja,

dificuldade de desativação dos concorrentes. A conclusão do estudo foi a visão do efeito

do dano cerebral como um comprometimento sistêmico, em vez de prejuízo de funções

específicas localizadas no cérebro, ratificando a tese de continuidade.

A tese de continuidade defendida por Dell et al.,1997; Buckingham, 1980; Kohn

e Smith, 1990, que também é adotada na presente pesquisa, explica a variação

relacionada entre indivíduos patológicos e normais. A produção patológica seria uma

extensão da variação natural, haveria apenas graus diferentes de comprometimento. Dell

et al. (1997), em seu modelo com ideia central na tese de continuidade, afirmam que

erros decorrentes de patologias não são qualitativamente diferentes daqueles feitos por

falantes não Afásicos. Esse contínuo aplica-se tanto comparando Afásicos e não

Afásicos quanto entre os Afásicos. Esse contínuo de variações pode também indicar,

dentro de um processo terapêutico, resultados de recuperação do indivíduo.

50

Partindo da ideia de organização lexical em redes de similaridades, base dos

Modelos Baseados no Uso e observando as substituições de Afásicos, conclui-se que

essa produção não é aleatória e confirma essas propostas de representação lexical.

O Afásico, diante de uma figura para nomear, tenta acessar suas representações;

pelo comprometimento da lesão, porém, não atinge o item alvo, mas gera uma produção

semelhante, como um “vizinho” da representação alvo. Isto explicaria a similaridade

entre produção e alvo.

Com isso, o fator densidade de vizinhança também deve ser mencionado.

Vitevitch e Stamer (2006) definem densidade de vizinhança como referente ao número

de representações lexicais, os vizinhos, que soam com a palavra dada e deve ser

entendida como um gradiente. Densidade de vizinhança é a quantidade de itens que

compartilham informações fonológicas com o alvo.

A maior ou menor densidade de vizinhança lexical corresponde à quantidade de

itens que compartilham algum tipo de semelhança sonora ou semântica. Um item com

muitos vizinhos teria uma maior concorrência ao buscar o alvo.

O modelo de reconhecimento auditivo de palavras TRACE, defendido por

McClelland e Elman (1986), propõe ligações diretas entre os itens lexicais. Um

aumento no nível de ativação de um candidato, então, automaticamente leva a uma

diminuição do nível de ativação de outros vizinhos. O winner-takes-all é o termo

definido pelos autores, segundo o modelo TRACE, para o item eleito, ou seja, o item

vencedor em relação aos vizinhos, o item a ser produzido pelo falante.

Isto é, diferente de defender a atuação da inibição bottom-up, que no caso de não

correspondência fonológica e/ou semântica entre input e entrada lexical, entende que a

ativação dos candidatos diminui gradativamente até alcançar o alvo.

51

Vitevitch et al. (2008) abordam também o conceito de “ponto de

reconhecimento”, que seria o ponto onde ocorre o reconhecimento do item, e o

relaciona com a densidade de vizinhança: quanto mais cedo esse ponto é localizado no

item significa que esse item apresenta vizinhança menos densa.

Em seus estudos, Luce e Pisoni, (1998) demonstraram que o número de vizinhos

fonológicos influencia o reconhecimento de palavra falada, além da natureza da relação

entre os vizinhos e o alvo e a medida de densidade de vizinhança.

Vitevitch e Luce (2005) referem-se à probabilidade fonotática como a frequência

com que segmentos fonológicos ocorrem em palavras da língua e densidade de

vizinhança ao número de palavras ou vizinhos que são semelhantes fonologicamente, e

estabelece relação entre os conceitos.

Em seus estudos, observaram, em tarefa com palavras sem sentido ou

pseudopalavras, que palavras com alta probabilidade fonotática e vizinhança densa são

respondidas mais rápido do que aquelas com baixa probabilidade fonotática e

vizinhança esparsa. Considerando palavras reais, a alta probabilidade fonotática e

vizinhança densa foram respondidas mais lentamente. Diante desses resultados a

influencia da probabilidade fonotática seria sub-lexical e, na densidade de vizinhança, a

influência seria lexical.

Lipinski e Gupta (2005) destacam que a diferença encontrada pode ser devido à

diferença de duração do estímulo e não tanto pela probabilidade fonotática, que teria

efeito facilitador no reconhecimento de pseudopalavras.

As pseudopalavras são usadas nos estudos, pois, com esses itens “falsos”, o

controle da probabilidade fonotática não sofre influencia da frequência de ocorrência

dos itens. Em um estudo utilizando palavras reais, não há como controlar somente a

52

probabilidade fonotática ou outros aspectos já que a frequência de ocorrência dos itens

também atua.

53

Capítulo II – PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SEGUNDO OS MODELOS

BASEADOS NO USO

O capítulo II aborda os pressupostos teóricos segundo os Modelos Baseados no

Uso e Linguística Probabilística relativos à hipótese de organização do léxico e tipos de

conhecimento fonológico com o objetivo de fundamentar a análise de todos os

resultados encontrados em função desta abordagem. Primeiramente serão apresentados

os pressupostos gerais e hipótese de léxico e em seguida, a arquitetura da gramática

relativa à representação e tipos de conhecimento fonológico.

1) Modelos Baseados no Uso e Linguística Probabilística

A hipótese de léxico adotada, de acordo com pressupostos teóricos dos Modelos

Baseados no Uso e na Linguística Probabilística, é a de que o léxico se organizaria

multidimensionalmente em redes de conexões lexicais (network) em função de

similaridades fonéticas e semânticas (cf. Bybee, 2001, Bod, Hay e Jannedy, 2003,

Pierrehumbert, 2001).

Segundo os Modelos Baseados no Uso, o léxico mental, dicionário mental,

contém representados os elementos da linguagem (informações semânticas, sintáticas e

fonológicas), como num sistema mnemônico. O léxico é flexível e dinâmico,

dependente do uso e apresenta uma organização dos conceitos em redes semânticas. Já

do ponto de vista fonológico, embora não haja nele armazenado necessariamente um

significado, contém informações dos códigos e sons associados, dependentes na maioria

das vezes da combinação com os outros sons.

54

Pisoni et al. (1985) propuseram a hipótese do léxico organizado em redes e, em

seus resultados, obtiveram conclusões interessantes para o presente estudo, como a

importância do início das palavras no reconhecimento da palavra como um todo. Além

disso, seus resultados corroboram a hipótese de ativação não só do alvo, mas de itens

semelhantes devido à forma de armazenamento com que as palavras se organizam no

léxico. Quanto maior a densidade de vizinhança lexical, ou seja, quanto maior o número

de itens compartilhados, maior a acuracidade na produção.

Port (2007) defende a informação linguística e não linguística ricamente

representada com suas variabilidades, codificada com um grande número de

características interligadas. Com isso, na ativação de um item lexical outros itens

semelhantes também receberiam ativação, pois compartilham características, sendo de

mesma vizinhança.

De acordo com os Modelos Baseados no Uso, a organização lexical em redes

baseadas em similaridades semântica, sonora ou ambas, remete ao termo densidade de

vizinhança. O termo neighborhood density se relaciona com a quantidade de itens no

léxico que compartilham propriedades sonoras com outro ou outros e isso se reflete na

organização das palavras no léxico dentro de similaridades de vizinhança. Assim, os

itens lexicais semelhantes estariam próximos na representação. Essa “proximidade” é

chamada de vizinhança. No aspecto estrutural, o termo vizinhança lexical tem relação

direta com essas similaridades. Assim, quanto mais itens compartilharem determinada

semelhança, mais densa será a vizinhança, quanto menos itens, mais esparsa será a

densidade de vizinhança.

Portanto, a produção oral não aleatória e com certa regularidade aponta para

distintos tipos de conhecimentos representados. A acuracidade relacionada com o modo

de representação e recuperação de estruturas linguísticas durante a produção do discurso

55

e, consequentemente, as substituições produzidas obedeceriam a algumas restrições da

organização fonológica do léxico.

Por conta da vizinhança fonológica, a seleção lexical gera uma produção

relacionada fonologicamente com o alvo. No caso de Afásicos, é o que denominamos

parafasia fonológica. O fenômeno também ocorre no campo semântico (com as

parafasias semânticas) e com indivíduos normais.

E ainda segundo os Modelos Baseados no Uso, as representações são baseadas

na experiência de ouvir e produzir que os falantes têm com os itens lexicais em diversos

contextos linguísticos e sociais. Das representações no léxico, emergem as

representações em outros níveis de abstração.

Bates e Goodman (1999) defendem a ideia da necessidade de um estoque lexical

para a emergência de padrões gramaticais na aquisição. Já que a representação

fonológica (rica em detalhamento fonético, dinâmica e não linear) emerge do uso, as

produções iniciais (mais simplificadas) seriam evidências da emergência gradual desses

padrões (Paula e Gonçalves, 2008).

O léxico verbal é constituído a todo o momento, e esse modo irregular e não

linear é esperado para emergência de uma gramática fonológica. Segundo Bates e

Goodman (1999) não haveria dissociação entre o léxico e a gramática. Em outras

palavras, o tamanho do vocabulário (léxico) estaria intrinsecamente ligado ao

crescimento lexical e gramatical e desenvolvimento da linguagem.

Pierrehumbert (2003) propõe um sistema fonológico com o conhecimento

implícito das estruturas dos sons envolvendo diversos tipos de conhecimentos

fonológicos representados, não hierárquicos, que seriam emergentes dos itens lexicais

representados no léxico. Mais recentemente o conceito de nível de representação foi

56

substituído por tipo de conhecimento fonológico, justamente porque nível implica

necessariamente uma relação hierárquica entre eles.

Os tipos de representação são descritos a seguir (Pierrehumbert, 2003:115-154):

1) Fonético Paramétrico, corresponde à codificação perceptual da fala e

descrição dos gestos articulatórios produzidos em um espaço acústico-

articulatório;

2) Codificação Fonética, que seria abstraído do nível anterior e definiria o

inventário disponível na língua para codificar as formas das palavras, ou seja,

representações fonológicas, incluindo não só segmentos da fala como

prosódia e entonação;

3) Formas das palavras no léxico, com representação da estrutura sonora como

abstrações do espaço fonético baseados na experiência do falante;

4) Gramática Fonológica incluindo a estrutura prosódica e fonotática,

considerando a fonologia resultante de generalizações da forma das palavras

no léxico e indiretamente da fala pela abstração e;

5) Correspondências Morfofonológicas, abarca as alternâncias envolvendo

generalizações das relações entre as palavras (Pierrehumbert, 2003).

Portanto, segundo os Modelos Baseados no Uso, as representações abstratas dos

itens lexicais no léxico são abstrações da fala e a fonologia emerge da organização do

léxico, diferentemente do modelo clássico. Há uma representação fonética fina que

incorpora a gradualidade fonética e tipos de representação que envolvem abstrações

maiores que são dependentes das representações no léxico.

57

A frequência de um item lexical influencia sua representação, auxiliando a

organização interna do léxico e as relações no léxico, propiciando o surgimento de

estruturas. Consequentemente interfere no acesso e representação lexical. Bybee (2001)

sugere duas formas de frequência: a de ocorrência “token frequency” relativa ao

quantitativo de palavras em um corpus, e a de tipo “type frequency” relacionada a um

padrão particular no léxico.

A proposta da Fonologia de Uso considera o falante dotado de conhecimento

linguístico probabilístico. Este conceito leva em conta a probabilidade fonotática que

diz que certos padrões sonoros têm mais probabilidade de ocorrer na língua do que

outros. As relações fonotáticas agem como regras ou restrições, descrevendo a boa

combinação das entidades em estruturas maiores, as palavras.

A frequência de tipo tem efeito direto na produtividade, que se refere à

probabilidade de determinado padrão se aplicar a novos itens. Para Bybee (1995),

padrões mais produtivos são mais transferidos a novos itens por serem mais frequentes,

mais usados e mais densamente representados no léxico. Com isso, mais preservados

em caso de lesão. A frequência de ocorrência tem efeito na representação e pode ser

inibidora de mudança linguística, quando esta é do tipo analógica, ou propulsora da

mudança se esta for mudança sonora.

Frish, Large e Pisoni (2000) defendem a ideia de que relações fonotáticas são

descrições do conhecimento probabilístico implícito do léxico do falante. Em seu estudo

com falantes adultos, considerando o papel da frequência, observaram que os falantes

julgam pseudopalavras como possíveis na língua, aqueles itens cujas sílabas

correspondem a sequências mais frequentes na língua (type). O falante faz inferências

probabilísticas sobre as abstrações.

58

Segundo Vodopivec (2004), em estudo sobre a aquisição, a frequência da

sequência do fonema influencia a acuracidade da produção da consoante tanto em

sequências de final VC quanto principalmente no início de palavras CV.

Retomando a proposta de léxico baseado em redes com relações de similaridades

sonoras e semânticas, que regem sua organização, ocorreriam categorizações e

generalizações na mente dos falantes (Bybee, 2001).

As categorizações têm relação com as experiências de percepção do falante e as

generalizações dependem do léxico e da quantidade de itens armazenados

(Pierrehumbert, 2003).

A representação e estocagem de itens lexicais, incluindo a representação de

categorias abstratas e provavelmente de outras unidades, segundo Bybee e outros

autores, respeita exatamente a forma ouvida e produzida, portanto, incorporando detalhe

fonético.

Para avaliar conhecimento fonológico dos voluntários utilizou-se o teste de

acuracidade para repetição das pseudopalavras.

Para Cuetos et al. (2010), a tarefa de repetição de pseudopalavras foi utilizada

como prova para medir especificamente o mecanismo de conversão acústica-fonológica,

assim com o a memória verbal de curto prazo.

Um dos efeitos que parecem influenciar a tarefa de repetição de pseudopalavras,

além da memória de trabalho fonológica, é o efeito de wordlikeness (reflexo do grau de

semelhança entre as pseudopalavras e as palavras reais de uma língua).

Frish, Large e Pisoni (2000) analisaram o julgamento do grau de semelhança que

as pseudopalavras podem apresentar em relação às palavras reais, considerando o

tamanho do estímulo, o padrão acentual e as sequências fonotáticas. E concluíram que

estímulos com maior probabilidade de ocorrência seriam mais semelhantes a algum

59

item do léxico; e quanto maior o tamanho do estímulo, menor seria o grau de

semelhança com algum item do léxico.

Outro estudo, de Gathercole (1995), analisou a repetição de pseudopalavras em

crianças com idade entre 4 e 5 anos. Foi observado se essa repetição era condicionada

pela memória de trabalho fonológica ou por representações lexicais de longo termo.

Verificou-se que a acuracidade de repetição foi melhor para estímulos classificados com

alto grau de semelhança. E chegou-se a conclusão de que, quando as crianças repetiam

as pseudopalavras com baixo grau de semelhança, elas utilizavam a memória de

trabalho fonológica; e quando eram pseudopalavras com alto grau de semelhança

usavam o conhecimento lexical da memória de longo prazo.

Mendes, Gomes e Silva (2011) ao replicar estudo de julgamento de wordlikeness

de Frish, Large e Pisoni (2000) em uma amostra experimental de falantes de português

brasileiro, utilizando as mesmas 30 pseudopalavras aplicadas na presente tese (assunto

melhor abordado no capítulo de metodologia) encontraram como resultado que os

estímulos foram processados diferentemente em função do seu grau de wordlikeness,

tanto o tamanho dos estímulos quanto a frequência de ocorrências das sílabas CV se

mostraram significativos em relação à resposta apresentada. As pseudopalavras

formadas com sílabas de alta frequência foram mais aceitas do que baixa frequência e

pseudopalavras com 2 sílabas foram mais aceitas que as de três sílabas, que por sua vez

foram mais aceitas que as de 4 sílabas. Esses resultados podem ser tomados como

evidência de que o conhecimento fonotático emerge de padrões segmentais inferidas no

léxico mental em função de sua probabilidade de ocorrência no léxico (Coleman e

Pierrehumbert, 1997).

60

Capítulo III – OBJETIVOS, HIPÓTESES E METODOLOGIA

O presente capítulo aborda objetivos, hipóteses e metodologia utilizados na coleta

e análise dos dados obtidos com os Afásicos e controles. Com relação à metodologia,

serão apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa: critérios de

seleção dos afásicos e controles, testes aplicados para caracterizar a amostra dos

Afásicos em relação às habilidades de compreensão oral, repetição e cognição, além de

testes aplicados para verificar acesso lexical e conhecimento fonológico, e métodos

estatísticos utilizados na validação dos resultados.

1) Objetos e Hipóteses

Com base nos pressupostos dos Modelos Baseados no Uso e da Linguística

Probabilística, apresentados no capítulo II, o presente estudo se propõe a analisar o

desempenho em tarefas de nomeação por estímulo visual e acuracidade de repetição de

pseudopalavras para observar, respectivamente, o acesso lexical e a representação

fonológica nos Afásicos.

A produção de indivíduos que possuem comprometimento linguístico decorrente

de lesão cerebral é analisada em função das semelhanças em relação ao alvo. Quando o

alvo não é alcançado, as substituições não são aleatórias e podem fornecer informações

quanto à mecanismos de representação e o acesso lexical (Gordon, 2002). Adotamos a

hipótese dos Modelos Baseados no Uso segundo os quais o léxico se organiza

multidimensionalmente, em redes de conexões lexicais (network) em função de

similaridades fonéticas e semânticas (cf. Bybee, 2001, Pierrehumbert, 2003). Em outras

palavras, por serem Afásicos e apresentarem a dificuldade de nomeação decorrente da

61

lesão cerebral, outras informações que estão representadas e são importantes para o

armazenamento e organização dos itens podem se revelar nos diferentes tipos de

substituição. Embora sejam consideradas “erros”, as substituições podem preservar

informações como tamanho do item lexical (número de sílabas), segmentos ou categoria

semântica. A maior ou menor acuracidade na produção espontânea ou em testes de

nomeação se relacionaria com as hipóteses de organização do léxico em função de

alguns fatores que poderiam influenciar nessa organização lexical e consequentemente

no acesso para produção como, por exemplo, a frequência de ocorrência do item alvo.

As substituições dos Afásicos podem fornecer evidências para a organização do léxico

em redes.

Também é objetivo observar no acesso lexical desses Afásicos que aspectos

linguísticos estariam preservados numa substituição em tarefa de nomeação de figuras a

fim de compreender a organização e representação lexical dos Afásicos e, além disso,

contribuir para a discussão relativa à estrutura do léxico. Segundo a Tese de

continuidade (Dell, Schwartz, Martin, Saffran, e Gagnon, 1997), apresentada no

capítulo I, as substituições de Afásicos não se diferenciam dos deslizes produzidos pelos

controles pela natureza da substituição e sim pela quantidade dessas substituições, por

isso a importância do estudo com controles. Além disso, a tese de continuidade

corrobora os achados para os Afásicos, já que são eles que realizam mais substituições

em relação aos controles, possibilitando uma melhor compreensão da natureza dessas

substituições e consequentemente possibilitando entender melhor o acesso lexical

também para os controles.

Além de observar o acesso lexical, também será observado, na tarefa de

nomeação proposta, nas substituições fonológicas, o grau de preservação das

informações fonológicas dos itens lexicais nos Afásicos. Para avaliar o grau de

62

semelhança da substituição com o alvo, será proposto um índice de similaridade

fonológica de segmentos (em função da quantidade de segmentos e a posição na

palavra), na seção 2.2.4.

O grau de similaridade do material fonológico na produção em relação ao alvo,

medido através do índice pode apontar para problemas no acesso à representação sonora

da palavra no léxico, ao mesmo tempo em que indica acesso a diversas informações

sobre a estrutura fonológica do item alvo.

Uma das hipóteses seria que Afásicos com prejuízos mais leves na habilidade de

nomeação preservariam mais informações fonológicas abstratas, ou seja, um menor

comprometimento da representação fonológica no léxico e consequentemente maior

porcentagem de repostas corretas. A produção desses pacientes seria mais próxima do

alvo, com desempenho semelhante aos controles. Já as substituições mais distantes do

alvo e consequentemente com valores mais baixo para o índice de sobreposição

fonológica seriam de pacientes comprometidos mais severamente. Então a hipótese

seria de que pelo comprometimento mais leve, as produções preservariam muito mais

informações fonológicas do que no caso de comprometimentos mais severos, onde

muitas vezes nenhuma informação fonológica ou semântica está mantida.

Outra abordagem da presente tese é a checagem do conhecimento fonológico

através do teste de repetição de pseudopalavras partindo do pressuposto de que os

padrões gramaticais como a gramática fonológica, seriam estruturas que emergiriam do

léxico.

E o léxico, pelo seu carácter dinâmico e sempre sendo possível adquirir novos

itens e incorporá-los ao vocabulário, geraria uma retroalimentação constante dos

padrões linguísticos abstraídos. Estudos envolvendo essa relação de emergência dos

63

primeiros padrões gramaticais durante aquisição de linguagem defendem a não

dissociação entre léxico e gramática (Bates e Goodman, 1999).

Mantendo essa concepção teórica de léxico e representação fonológica (segundo

Modelos Baseados no Uso), o objetivo do teste seria checar o comportamento desse

conhecimento fonológico e sua integralidade em Afásicos e controles. Além disso,

observar a relação desse conhecimento abstrato com o léxico representado e seu acesso

na produção.

2) Metodologia

Em 2009, o estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do INDC -

Instituto de Neurologia Deolindo Couto – UFRJ (nº de registro 009/09). A participação

como sujeito dos experimentos foi autorizada através de assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme Anexo I.

Os dados do presente estudo foram obtidos a partir de produção controlada em

aplicação de teste de nomeação de figuras e repetição de pseudopalavras em Afásicos e

controle.

Serão observados alguns aspectos que já se mostraram relevantes em trabalhos

sobre produção de Afásicos, como a frequência e tamanho do item na representação e

no acesso lexical, como fatores que promoveriam ou restringiriam as substituições tanto

na tarefa de nomeação de figuras quanto na tarefa de repetição de pseudopalavras. Além

dessas duas variáveis, outras como familiaridade, complexidade visual da figura e idade

de aquisição serão estatisticamente confrontadas com o tipo de resposta ao teste de

nomeação de figuras utilizado.

64

O software DMDX foi utilizado para aplicação dos testes. O DMDX (Forster,

2003), gratuito e disponível em http://www.u.arizona.edu/~kforster/dmdx/dmdx.htm, foi

criado por Jonathan e Ken Forester no Departamento de Psicologia da Universidade de

Arizona para controle experimental e tempo de exposição do estímulo, sendo possível

mensurar os tempos de reação aos estímulos visuais ou auditivos.

O experimento foi montado para que as figuras do teste de nomeação fossem

apresentadas aleatoriamente. Por se tratar de grupos tão distintos (Afásicos e controles)

foi necessário controle diferenciado de tempo de exibição de cada figura na tela para

nomeação dentro do experimento. Cada figura (em arquivo formato“.bmp” ) ficou

exposta pelo DMDX para nomeação cerca de 8 segundos para os Afásicos e

aproximadamente 4 segundos para os controles. Os valores foram estimados através de

pilotos com diversos sujeitos. Essa adequação ocorreu para que o experimento não se

tornasse cansativo para os controles, nem frustrasse os Afásicos diante de alguma

dificuldade.

O voluntário, após o aceite da participação, assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que autoriza a participação do mesmo na

pesquisa, recebia o fone de ouvido com microfone e diante do notebook HP G42-

212BR era orientado verbalmente a realizar o experimento da seguinte forma: “Esse é

um teste nomeação. Primeiro, na tela vão aparecer vários desenhos e você deve dizer os

nomes em voz alta, de maneira clara e rápida. Lembre-se que não há certo nem errado.”

Após as instruções duas figuras que não fazem parte do teste eram apresentadas como

fase de treino para que a acuracidade não sofresse influência pela dificuldade de

compreensão do que deveria ser feito no experimento. Imediatamente após o treino, as

154 figuras selecionadas eram apresentadas aleatoriamente.

65

No teste de repetição de pseudopalavras utilizou-se os arquivos com gravações

originais (Esteves, 2013), gravados por aparelho sonoro estéreo, em ambiente tratado

acusticamente.

Toda a coleta foi gravada em áudio com qualidade digital utilizando fone de

ouvido com microfone da marca Clone. A frequência de resposta do microfone é de 20

Hz a 20KHz.

Na análise utilizou-se checkvocal (Protopapas, 2007), que é um aplicativo do

Windows que facilita a verificação da acurácia, possibilitando a quantificação do tempo

de resposta das produções gravados em tarefas experimentais, no caso, o teste de

nomeação de figuras e teste de repetição de pseudopalavras utilizando o DMDX.

A transcrição para posterior análise quantitativa e qualitativa dos dados foi

realizada pela própria pesquisadora em dois momentos para conferência e eliminação de

possíveis ambiguidades. O formato do arquivo de gravação de áudio para posterior

análise foi “.wav”.

A seguir a caracterização dos voluntários participantes da pesquisa, Afásicos e

controle.

2.1. Voluntários

Os Afásicos são pacientes atendidos no ambulatório de Afasia do Curso de

Fonoaudiologia da UFRJ e pacientes particulares, ambos com autorização prévia

(certificada pelo comitê de ética e pesquisa).

O corpus de pacientes é constituído por 23 Afásicos, sendo 12 do sexo feminino

e 11 do sexo masculino, conforme tabela 1 a seguir.

66

Foram incluídos todos os pacientes que se encontravam em atendimentos, na

época da seleção, pelo serviço e que apresentavam diagnóstico de Afasia, além de

pacientes particulares.

Como fatores excludentes estão apenas os que impedem a realização das tarefas

adequadamente, como a dificuldade importante de compreensão (sem qualquer

possibilidade de compreensão das propostas das tarefas) objetivando o maior número de

Afásicos na pesquisa. Voluntários com problemas apráxicos e articulatórios graves

também foram desconsiderados na análise, assim como alterações de campo visual por

se tratar de uma tarefa de nomeação por estímulo visual.

67

Tabela 1: Perfil dos Afásicos, participante de ambas tarefas (nomeação de figuras e

repetição de pseudopalavras).

68

Legenda:

AVE: acidente vascular encefálico

TCE: traumatismo crânio encefálico

Na tabela 1, observamos informações de caráter pessoal, como idade, sexo e

escolaridade. Os indivíduos são identificados pelas iniciais dos Afásicos. A média de

idade entre os Afásicos é de 52 anos e se assemelha bastante à média de idade dos

controles. Além da idade dos controles e Afásicos, outras caraterísticas também foram

pareadas como escolaridade e sexo, a fim de trazer mais homogeneidade entre os

grupos: Afásicos e controle.

Outras informações relacionadas com a afasia também podem ser retiradas da

tabela 1: diagnóstico, tempo de lesão, causa e tempo de terapia de cada quadro Afásico.

Nas 6 últimas colunas estão apresentados os perfis de cada paciente quanto à pontuação

no teste de compreensão oral, o desempenho no teste de repetição oral de palavras e

frase e do mini exame do estado mental. Esses testes têm o objetivo de caracterizar

melhor os Afásicos segundo critérios diagnósticos importantes e serão apresentados na

seção 2.1.1. Os resultados obtidos nestes testes serão apresentados no capítulo de

análise. Os desempenhos nos testes foram apresentados no formato de porcentagem para

facilitar a leitura dos dados. Além disso, a pontuação no mini-mental, segundo Brucki et

al. (2003), é influenciada pela escolaridade e deve ter pontuação esperada diferenciada

pela escolaridade de cada indivíduo testado. A porcentagem apresentada na tabela 1

leva em conta o valor esperado para cada voluntário.

O prognóstico de cada indivíduo, baseado em experiência pessoal fonoterápica,

leva em conta parâmetros não linguísticos como idade, extensão da lesão, tempo de

lesão, tipo de lesão, tempo de terapia, escolaridade do indivíduo, entre outros. Alguns

69

desses fatores serão observados como variáveis independentes para a análise dos dados

entre os participantes no presente estudo no capítulo de análise.

A coleta de dados foi realizada no ambiente terapêutico do paciente, onde as

duas tarefas elaboradas para a pesquisa foram aplicadas. A participação do voluntário

consistiu em tarefas de nomeação e de pseudopalavras. O pesquisador responsável

coletou os dados, aplicando os testes e gravando as entrevistas, se responsabilizando por

todas as etapas de coleta e análise dos dados.

Os controles foram escolhidos considerando alguns critérios como dialeto, faixa

etária, sexo e escolaridade, para manter uma homogeneidade em relação aos Afásicos

conforme tabela 2 a seguir. Além disso, históricos neurológicos ou psiquiátricos foram

considerados como fatores impeditivos de participação como controle na pesquisa. Na

tabela 2 também estão apresentadas as informações dos Afásicos a fim de demonstrar o

pareamento feito entre os grupos. A média de idade dos controles foi de 52,2 anos.

70

Tabela 2: Perfil dos controles, participantes de ambas tarefas (nomeação de

figuras e repetição de pseudopalavras), pareados por cada Afásico.

Iniciais Afásicos

Sexo F/M Idade Escolaridade

Iniciais controles

Sexo F/M Idade Escolaridade

M.R. M 25 2ºgrau incompleto B.T. M 26 2ºgrau completo T.R. F 28 superior completo V.P. F 26 2ºgrau completo E.T. M 29 superior incompleto V.L. F 33 superior incompleto V.V. F 30 superior completo L.F. F 27 superior completo F.R. M 33 superior incompleto L.T. M 33 superior incompleto M.E. M 38 2ºgrau completo L.B. M 35 superior completo L.F. F 39 2ºgrau completo B.D. M 37 superior completo M.H. F 45 superior incompleto E.F. F 53 superior completo

S.R. F 50 superior incompleto M.C. F 53 2ºgrau incompleto P.A. M 51 2ºgrau completo E.S. F 45 Fundamental F.J. M 51 superior incompleto S.R. M 52 superior incompleto J.A. M 55 2ºgrau completo J.O. M 54 2ºgrau completo G.C. F 55 superior completo J.A. M 55 superior incompleto C.O. M 55 superior incompleto L.M. F 55 superior incompleto M.A. F 56 fundamental incompleto E.E. F 60 fundamental incompleto L.B. F 59 fundamental incompleto I.A. F 61 fundamental completo C.L. F 60 superior completo M.A. M 68 superior completo S.S. F 62 superior completo R.B. F 65 2º grau completo A.R M 66 2ºgrau completo L.A. M 63 2ºgrau completo S.M. M 67 2ºgrau completo A.G. F 65 Fundamental J.L. M 76 fundamental incompleto E.D. M 71 2º grau incompleto R.G. F 81 analfabeta funcional N.C. F 80 fundamental incompleto A.A. F 84 superior completo J.C. M 83 Fundamental

2.1.1. Avaliação e Testagem

As manifestações linguísticas dos Afásicos são heterogêneas e muitas vezes não

são suficientemente definidas e claras ao ponto de distinguir um diagnóstico claro e

único da afasia. Objetivando a categorização diagnóstica mais fidedigna dos Afásicos,

foram aplicados 3 testes para avaliar as habilidades de compreensão oral, produção

(repetição de palavras e frases) e habilidades cognitivas.

Cuetos et al. (2010), objetivando melhor caracterização dos Afásicos, aplicou

três tarefas de compreensão oral (discriminação de fonemas, decisão léxica-auditiva e

71

emparelhamento palavra desenho), três de produção oral e processamento sintático

(fluência verbal fonológica: letra P, onde o avaliador pede o maior número de itens que

se inicia com a letra P em tempo determinado, emparelhamento oração/desenho e juízos

de gramaticalidade) e três de repetição de palavras (repetição de palavras, de

pseudopalavras e dígitos).

Na presente tese, com o objetivo de também melhor caracterizar os Afásicos,

para além do diagnóstico, para avaliação da compreensão oral, foi escolhida a tarefa de

associação fala-desenho do teste Montreal Toulouse versão alpha, onde o paciente ao

escutar o avaliador deve sinalizar entre as 4 ou 6 opções desenhadas (dependendo do

estímulo), aquela que representa o que ele ouviu e compreendeu. A avaliação é

constituída de 5 palavras, 3 orações simples e 3 complexas (Anexo II) e possui

distratores semânticos, fonológicos e visuais (por isso a importância de utilizar testes de

compreensão padronizados para a língua a ser testada).

Para avaliação da produção, dados de repetição do teste Montreal Toulouse

versão alpha também foram utilizados. A testagem incluiu a repetição de 8 palavras e 3

frases (1 frase simples e 2 mais complexas e mais longas) e ao voluntário cabe seguir a

orientação de repetir o que o avaliador disser. O teste Montreal Toulouse completo além

da parte de compreensão (oral e escrita) possui cópia, ditado, leitura e denominação.

Os resultados dos voluntários nas tarefas da dissertação de Senna (2009)

mostraram grande variabilidade. E ao considerar diagnósticos, o desempenho foi

semelhante na comparação entre Afásicos fluentes e não fluentes, ou seja, a separação

em função do diagnóstico clássico não se justificou pelos resultados obtidos para o teste

de nomeação e na presente pesquisa, foi proposta mudança de categorização entre os

Afásicos.

72

A pontuação do Mini Exame do Estado Mental (Mini-mental), um exame

neuropsicológico de rastreamento cognitivo, também foi coletado do acervo

fonoterápico de cada paciente. O exame (Anexo III) consta de avaliação da orientação

temporal e espacial, memória imediata, atenção e cálculo, evocação e linguagem. E

como resultado do Mini-mental se obtém uma pontuação que diante da esperada

(segundo a escolaridade) detecta ou não algum comprometimento das habilidades

cognitivas testadas.

Diante da pontuação obtida nesses três testes de habilidades importantes os

Afásicos foram caracterizados. Os escores obtidos para os indivíduos nos testes serão

utilizados como variáveis independentes para análise de desempenho nas duas tarefas

centrais da presente tese, a nomeação de figuras e repetição de pseudopalavras. As duas

tarefas serão apresentadas a seguir.

2.2. Teste de Nomeação de Figuras

O teste elaborado para o presente estudo baseou-se na experiência da testagem

de nomeação de figuras utilizada na dissertação de mestrado de Senna (2009). Optou-se

pela tarefa de Nomeação por estímulo visual, já que, no discurso espontâneo, o

indivíduo se utiliza de estratégias e contorna seu discurso a fim de não se confrontar

com o vocábulo problema. Segundo Dell et al. (1997) na tarefa de nomeação não é

fornecida nenhuma pista. Além disso, há maior facilidade de identificar os alvos nas

substituições realizadas. Com isso, na produção controlada, os dados gerados permitem

comparações entre indivíduos e análise pormenorizada.

73

Durante a aplicação da tarefa, nenhuma pista é dada para auxiliar na nomeação,

descartando-se, portanto, o uso de prompting (fornecimento da sílaba inicial), contexto

de frase ou significação do objeto.

Para o teste de Nomeação por estímulo visual foi feita uma seleção dentre as

figuras em cores de Snodgrass e Vanderwarts (1980), adaptadas por Rossion e Pourtois

(2004). O teste original elaborado por Snodgrass e Vanderwarts em 1980 contém 260

figuras em preto e branco. Nessa proposta, alertam para 4 variáveis importantes de

memória e processamento cognitivo: acordo de imagem, acordo de nome, complexidade

visual e familiaridade. Todas as figuras eleitas e usadas do teste foram analisadas em

função dessas quatro variáveis.

O teste de Nomeação elaborado e utilizado para a presente tese possui 154 itens

alvo (Anexos IV e VI) selecionadas dentre as 260 de Snodgrass e Vanderwarts (1980)

através de um teste de acordo de nome (descrito na seção 2.2.1), aplicado

especificamente para esta tese, a fim de dar maior confiabilidade às figuras

selecionadas. Como já citado, trata-se de figuras utilizadas por pesquisas em diversas

línguas (Barry, Morrison e Ellis 1997 na Inglaterra; Cuetos et al. 1999 na Espanha e

Alario e Ferrand 1999 na França) e padronizadas para o português brasileiro em

variáveis como acordo de nome, complexidade visual e familiaridade por Pompéia,

Miranda e Bueno (2001).

74

2.2.1. Acordo de Nome

Ao utilizar-se da tarefa de nomeação das figuras para uma avaliação é preciso

assegurar previamente, na seleção dos itens alvo, que há um alto acordo de nome das

figuras, ou seja, poucas possibilidades de nomeação por sinônimos, considerando tanto

afásicos quanto não afásicos.

Na dissertação de Senna (2009), como já foi comentado, também foi aplicada

uma tarefa de nomeação, e alguns problemas relacionados à seleção das imagens e dos

itens alvo surgiram. Há, por exemplo, diversas produções como “ervilha”, “vagem”, ou

“petit pois”, para o mesmo estímulo, mostrando que a figura possuía um baixo acordo

de nome e nenhuma das respostas poderia ser dada como erro ou troca na nomeação.

Assim, concluiu-se que não se deve incluir esse item em avaliações de nomeação. Outro

exemplo foi a escolha de estímulo para o item alvo “globo”. O mesmo não era evocado

quando se apresentava a imagem de um globo terrestre e sim “mundo”, “planeta”. Essa

não correspondência foi sanada ao trocar o estímulo pelo símbolo da Rede Globo de

Televisão. Assim o alvo era alcançado, ratificando que a primeira imagem utilizada não

era adequada para alcançar o alvo. Todas essas considerações devem ser feitas na

seleção de imagens e foram controladas na presente tese.

O acordo de nome, segundo Pompéia, Miranda e Bueno (2001), é considerado o

aspecto mais importante na nomeação de figuras, pois se refere ao grau com que o

objeto retratado na figura é atribuído com o mesmo nome por diversos sujeitos. Além

disso, como os estudos em diversas línguas, o acordo de nome mostrou-se além de

importante, especifico para cada língua pesquisada.

Por utilizar as figuras de Snodgrass e Vanderwarts com itens alvo padronizados

para o inglês, alguns cuidados foram tomados. Primeiro foi checado se havia

75

correspondência da imagem com uma tradução direta do item alvo. Além disso,

considerou-se as diferenças culturais para nomeação. Por exemplo, para o inglês há

vários nomes para nomear uma figura que culturalmente no português brasileiro

tenderia a apresentar o mesmo item alvo “casaco” para “jacket”, “sweater” ou “coat”.

Outro exemplo é o item “toe” que traduzindo seria dedo ou dedão do pé (diferente do

inglês onde “finger” seria “dedo”), ou seja, no português brasileiro não haveria um item

com a frequência de ocorrência (token frequency) suficiente para alcançar o alvo, já que

em português a palavra alternativa para dedo do pé é artelho, que está em desuso ou tem

baixíssima frequência de ocorrência.

Com o propósito de elaborar uma avaliação com itens alvo que não sofrem a

influência forte dessa variável de acordo de nome, realizou-se um estudo piloto, onde as

260 figuras coloridas (Rossion e Pourtois, 2004) de Snodgrass e Vanderwarts de 1980

foram apresentadas a 38 indivíduos sem lesão cerebral, pedindo-os que as nomeassem.

A média de idade dos indivíduos foi de 31 anos e a maioria dos indivíduos tinha ensino

superior completo ou incompleto. Através de análise de simples correspondência

(SCA), 6 indivíduos foram descartados por destoarem estatisticamente do restante.

Baseado então nos 32 juízes restantes, os itens alvo foram listados e os seguintes

resultados foram obtidos: 98 figuras foram identificadas por todos os voluntários (100%

de acordo de nome), 26 figuras por apenas 31 dos voluntarios (97% de acordo de

nome), 24 figuras por 30 indivíduos (94% de acordo de nome) e 14 figuras por 29

indivíduos (91% de acordo de nome), totalizando 161 figuras representando itens alvo

com mais de 90% de acordo de nome dentre as 260 figuras originais.

O objetivo de replicar o estudo da variável acordo de nome é ratificar ou não os

dados obtidos em estudo de Pompéia, Miranda e Bueno (2001). Além disso, também

foram utilizados os valores de outras variáveis disponibilizados pelos autores do

76

estudo, como familiaridade e complexidade visual das figuras, que podem ser

conferidos no Anexo VI, e que serão consideradas na análise do tipo e tempo de

resposta no teste de nomeação da presente tese.

Os itens alvo de substantivos compostos como “carrinho de bebê”, “chave de

fenda”, “lata de lixo”, “tabua de passar”, entre outros, também foram retirados e, assim,

foram utilizados finalmente 154 dos 260 itens originais para o teste de nomeação

aplicado aos Afásicos e aos controles (algumas figuras estão disponíveis no Anexo VI).

2.2.2. Idade de Aquisição

A idade que o item foi adquirido pode ter influência quando se deseja nomear

uma figura. Em caso de lesão as estruturas linguísticas adquiridas por último estariam

mais sujeitas a substituições na produção controlada e estruturas adquiridas

anteriormente tenderiam a serem mantidas. Os valores de idade de aquisição são

estimativas de quando as crianças adquiriram os itens alvo. Esses valores foram

coletados através de um questionário onde o papel dos voluntários era de completar a

lista das 154 palavras selecionadas no estudo anterior (dentre as 260 figuras originais).

A metodologia acima descrita foi baseada naquela aplicada por Cuetos et al.

(2010) com objetivo de checar se há homogeneidade de sintomatologia entre os

diagnósticos e que, através de tarefas de compreensão e produção, concluíram pela

importância de análise de cada Afásico individualmente. Durante bolsa sanduíche

(programa de doutorado no país com estágio no exterior da CAPES - PDEE) concebi,

na Universidade de Oviedo/ES, a proposta metodológica sob orientação do pesquisador

Fernando Cuetos (2010) onde foram fornecidos os estímulos coloridos de Snodgrass e

Vanderwarts.

77

Carroll e White (1973) já constatavam o fator idade de aquisição como mais

preditiva no tempo de nomeação do que a frequência. Portanto, a variável idade de

aquisição dos itens é utilizada há muito tempo como um preditor em tarefa de nomeação

de figuras.

Para se obter a idade de aquisição dos 154 itens que compuseram o teste de

nomeação, o questionário foi respondido por 128 indivíduos voluntários adultos e sem

lesão cerebral, em sua maioria, universitários. Os voluntários foram divididos em dois

grupos: nos 60 indivíduos do grupo 1, aplicou-se o questionário padrão utilizando os

intervalos de idade. Os indivíduos foram solicitados a dizer em que idade mais ou

menos tiveram contato, ou aprenderam cada palavra marcando um “X” nos seguintes

intervalos estabelecidos: se foi antes dos 2 anos, entre 2 e 4 anos, entre 4 e 6 anos, entre

6 e 8 anos, entre 8 e 10, entre 10 e 12 ou mais de 13 anos. Pela dificuldade em

preencher quando foi exatamente a aquisição, a orientação dada pelo examinador é que

ao responder não se deve pensar muito e sim escolher como intuição.

No grupo 2, com 68 indivíduos, também realizou-se a consulta de idade de

aquisição dos 154 itens, como no grupo 1, mas utilizando uma escala de 1 a 7, onde não

se especifica exatamente a idade de aquisição e sim transmite uma ideia de

gradualidade, a pontuação 1 seria algo adquirido muito cedo e 7 mais tarde. Por

apresentarem discrepância estatística de resultados, 05 indivíduos dos totais foram

retirados da análise.

Em um estudo estatístico comparativo (Correspondências, Fatorial e de

Componentes Principais) de Camiz, Gomes, Senna e Gomes, (2011) entre esses dois

grupos com as duas escalas diferentes de idade de aquisição, uma contendo faixas de

idade e outra sendo uma escala livre, observou-se uma concordância entre as duas

78

escalas, pelo menos no que diz respeito ao que deve ser tomado como uma medida da

primitividade de idade de aquisição.

Todas as informações de idade de aquisição coletadas dos questionários

preenchidos pelos voluntários foram analisadas estatisticamente por Análise de

Componente Principal (PCA), considerado o método mais conhecido de ordenação de

dados adequados para mensuração, onde identificou-se um eixo com valor mais alto,

como se observa no gráfico 1.

Gráfico 1: Distribuição dos itens num plano estendido, segundo os julgamentos.

No gráfico 1 observa-se que o eixo 1 (localizado horizontalmente como Axis1)

tem maior força de explicação, 51,46% e com isso, os itens puderam ser categorizados

como idade de aquisição cedo e tarde. Em outras palavras, observando os itens

distribuídos horizontalmente pode-se obter valores de quantificação da variável idade de

aquisição segundo essa distribuição. O eixo 2 (Axis2 localizado verticalmente no

gráfico) divide o eixo 1 (Axis1) em dois intervalos: idade de aquisição cedo e tarde. Os

itens concentrados na parte extrema esquerda do gráfico como “bola”, “cachorro”, “pé”,

mão”, entre outros, podem ser atribuídos com valores baixos de idade de aquisição, ou

seja, itens que foram adquiridos cedo. Em contra partida, os itens localizados na

79

extrema direita como “harpa”, “dedal”, “charuto”, etc já são considerados com valores

altos de idade de aquisição e isso indica que foram adquiridos mais tarde.

2.2.3. Variáveis de Análise

As variáveis de análise, variáveis dependentes, são tipo de resposta e tempo de

resposta e as variáveis independentes consideradas na produção (nomeação) e na

avaliação do índice de semelhança das produções no teste de nomeação foram: tamanho

do item, frequência de ocorrência do item, idade de aquisição, familiaridade,

complexidade visual, acordo de nome, sexo, idade e escolaridade. As variáveis

mencionadas foram consideradas nos Afásicos e nos controles. Nos Afásicos as

variáveis de análise da produção também incluem diagnóstico, tempo de lesão e de

terapia. Na tarefa de repetição de pseudopalavras, as variáveis de análise são tamanho

do item e frequência.

Os valores de frequência de ocorrência dos itens relacionados às figuras do teste

de nomeação (Anexo IV) foram obtidos e controlados utilizando o corpus ASPA

(www.projetoaspa.org) e corpus NILC/São Carlos - Projecto AC/DC com 32.3 milhões

de palavras (http://www.linguateca.pt/acesso/corpus.php?corpus=SAOCARLOS). O

segundo corpus tem como particularidade a mensuração de frequência por classe

gramatical, por exemplo, o item “cerca” é contabilizado diferentemente como

substantivo ou como parte da locução “cerca de”.

Os itens alvo de alto acordo de nome foram classificados em quatro grandes

grupos de frequência: muito frequente, frequente, pouco frequente e muito pouco

frequente.

80

Além disso na tarefa de nomeação de figuras, a complexidade visual (Sanfeliu,

M.C., and Fernandez, A.; 1996) é uma variável importante a ser considerada assim

como a familiaridade. Os valores de complexidade visual e familiaridade utilizados na

presente tese foram obtidos em estudo de padronização de variáveis para o português de

Pompéia, Miranda e Bueno (2001) que incluía também as figuras tradicionais de

Snodgrass e Vanderwart (1980). Todos os dados de familiaridade e complexidade visual

assim como as demais variáveis analisadas estão apresentadas no Anexo IV. A

familiaridade com o objeto representado na figura é um preditor importante de latência

na nomeação, ou seja, quanto mais familiar o objeto, menor o tempo de nomeação da

figura. A complexidade visual referente à quantidade de linhas e detalhes da figura

influencia fatores como tempo de resposta, reconhecimento e memorização. Cuetos et

al. (2002) identificaram fatores como complexidade visual e familiaridade com objeto

influenciando no reconhecimento. Goldinger et al.(1989) considera que a familiaridade

do estímulo influencia o tempo de resposta.

Os estudos de Snodgrass e Vanderwart (1980) e de Pompéia, Miranda e Bueno

(2001) sugerem relação inversa entre essas duas variáveis, onde os sujeitos atribuem

menos complexidade às figuras mais familiares. Embora não considerados na presente

tese, outros estudos também relevaram variáveis como imaginabilidade e concretude

como relevantes (Davis e Perea, 2005).

As respostas das testagens, na presente pesquisa, foram classificadas conforme

já descrito anteriormente, como Respostas Corretas, no caso da produção ser referente

ao item alvo da figura. Caso contrário, as produções foram definidas como parafasia

semântica, fonológica ou mista, sem relação com o alvo, pseudopalavras, ininteligível,

vazio (omissões), termo genérico, circunlocução ou outro alvo.

81

As substituições do tipo fonológica, mista, pseudopalavras e sem relação com o

alvo, ou seja, que envolvem, nas substituições, questões fonológicas, foram analisadas

em função do grau de semelhança com o alvo, observando mais detalhadamente a

preservação do material fonológico de acordo com os parâmetros mencionados a seguir.

2.2.4. Índice de similaridade entre produção e alvo

Senna (2009) elaborou uma escala de observação do grau de semelhança

graduada de 0 (zero) a 7 (sete), levando em conta segmentos e sílabas preservadas do

alvo na produção dentro de cada tipo de substituição. A fim de quantificar melhor essa

semelhança das substituições na presente tese optou-se por adaptar o índice de

sobreposição fonológica proposto por Bose et al (2007). Nesta proposta observa-se o

número de fonemas compartilhados sem considerar a posição de ocorrência dos

mesmos, propiciando a análise da natureza das substituições de acordo com a seguinte

equação.

∗ Bose et al. (2007) - > equação: Nshared *2/ (LT+LE)

No índice, Nshared corresponde ao número de fonemas compartilhados entre

alvo e substituição; LT corresponde ao tamanho do alvo medido em função do número

de segmentos) e LE, ao tamanho da substituição em segmentos, independentemente da

posição em que os segmentos acontecem.

A adaptação proposta pela presente tese do índice de similaridade segmental

entre a produção e o alvo consistiu em dar valores diferentes dependendo da posição do

segmento na produção em relação ao alvo, ou seja, computando a ordem linear dos

82

segmentos do alvo. No caso do segmento do alvo ser produzido em posição esperada é

dado o valor 1, se o segmento for produzido mas em outra posição o valor é 0,25 e 0 se

não for produzido.

Optou-se por adaptar o índice de Bose et al. pois, na produção “dagrão” ao invés

de “dragão”, já que a mudança de posição do tepe não é embutida na equação, o valor

final seria 1, equivalente a uma produção de acordo com o alvo. Computando a

realização do tepe como 0,25, a equação dessa produção fica assim 5,25 x 2/6+6

totalizando 0,875. O valor é próximo de 1 e condiz com a substituição pela proximidade

da produção com o alvo, se comparado com a produção “lacão”, para o mesmo alvo,

que apresentaria índice mais baixo de 0,55.

O valor atribuído para o fonema, embora produzido, mas em posição diferente

do alvo ser de 0,25 também se justifica uma vez que computando substituições com um

valor de 0,50, por exemplo, tanto produções com duas substituições ou uma omissão

seriam avaliadas com a mesma pontuação. Uma produção diferente do alvo com fonema

substituído, mas estrutura silábica mantida, ou não omitida, indica acesso a uma

representação fonológica mais abstrata por isso mais valorada.

O objetivo do índice é propor e avaliar um índice de semelhança fonológica que

leve em conta o grau de similaridade entre produção e alvo que capture a complexidade

das representações fonológicas pela semelhança segmental, considerando a ordem linear

dos segmentos sonoros.

2.3. Teste de Repetição de Pseudopalavras

Além do teste de nomeação de figuras, também foi utilizado um teste de

repetição de pseudopalavras estruturalmente controladas, elaborado por Esteves (2013)

83

em sua tese. Foi solicitado aos voluntários que repetissem as palavras que “não

existem”, mas que são itens totalmente possíveis na língua portuguesa.

O teste é constituído de 30 pseudopalavras, divididas entre tamanho em número

de sílabas e frequência (Anexo V). A frequência diz respeito à probabilidade de

ocorrência de todas as combinações de consoantes e vogais do português brasileiro com

estrutura silábica CV. As pseudopalavras seriam compostas por sílabas de alta

frequência (15 itens) e baixa frequência (15 itens). Em cada subgrupo (de baixa e alta

frequência) há 5 itens dissílabos, 5 trissílabas e 5 de 4 sílabas. Além disso, as

pseudopalavras são todas com acentuação paroxítona, que constitui o molde lexical

mais frequente para os três tamanhos de itens das palavras do português brasileiro,

segundo a pesquisa realizada na Base Aspa/UFMG (base de dados já mencionada no

item 2.2.3.).

O objetivo específico do teste de repetição de pseudopalavras em Afásicos é

verificar o conhecimento fonológico através do grau de preservação das informações

fonológicas mais abstratas dos itens lexicais. Segundo o capítulo de pressupostos

teóricos, diante dessa proposta de léxico e armazenamento assim como a emergência do

conhecimento fonológico das formas representadas no léxico, se faz necessário o

controle de variáveis como tamanho e frequência. Beckman, Munson e Edwards (2004)

defendem a ideia de que o falante faz inferências probabilísticas sobre as abstrações, por

isso a importância de verificar a influência dos mesmos na representação lexical. Em

outras palavras, o léxico de um adulto é suficiente para que todas as unidades abstraídas,

incluindo relações fonotáticas tenham representação robusta. O esperado é que em

adultos, mesmo havendo diferença de acuracidade de repetição em pseudopalavras

constituída por unidades de alta e baixa frequência, essa diferença não deve ser

significativa. Não há consenso na literatura com evidência relativa ao efeito do tamanho

84

na acuracidade de repetição, mas, a princípio seria esperado também que a diferença

não seja significativa.

Respeitando a metodologia original proposta pelo teste de repetição de

pseudopalavras (Esteves, 2013), a pontuação por acuracidade foi definida em função da

quantidade de segmentos iguais ao alvo. No caso de segmento produzido igual ao alvo,

2 pontos, com substituição, 1 ponto, quando houve acréscimo -1 e 0 na ausência do

segmento esperado. Esse total foi dividido pelo máximo de pontuação possível daquele

item (equivalente à repetição correta) e o valor obtido, que varia de 0 a 1 foi

considerado o escore do teste. Esse escore, assim como as demais variáveis também

foram considerados na análise.

Todo tratamento estatístico utilizado na análise dos dados está descrita no item 3

a seguir.

3) Tratamento Estatístico dos dados

Com intuito de checar a significância e a confiabilidade dos dados, é necessário

antes de realizar qualquer análise matemática, definir o tipo de observação e as variáveis

a serem explicadas e em função de quais outras.

O software livre R-Project foi empregado na tese para levantamento de dados

estatísticos e elaboração de análises quantitativas matemáticas e estatísticas através de

tabelas de contingência, regressão logística, etc. Após os dados serem codificados e

transformados em variáveis dicotômicas ou contínuas, dependendo da proposta de

análise da variável, eles eram inseridos no software e por comandos, conforme

exemplificado no Anexo VII, solicitava-se que as frequências entre as variáveis eleitas

85

fossem comparadas. Como resultado dessa análise, obtiveram-se números absolutos e

porcentagens aproximadas dos dados que serão expostos nos capítulos de análise.

A fim de comparar frequências observadas com as frequências esperadas e

verificar se as variáveis apresentavam ou não dependência entre elas, realizou-se o teste

Qui-quadrado. O teste qui-quadrado foi aplicado nas tabelas de contingência obtidas

pelo software R e se propõe a testar a hipótese de independência de duas variáveis

qualitativas. Em outras palavras, se a hipótese nula for verdadeira há independência

entre as variáveis, ou seja, não relação entre a ocorrência de uma em relação à outra.

Com o p-valor podemos atribuir ou não dependência entre as variáveis. Há significância

estatística quando o p-valor é menor que o nível de significância adotado, 0,050. Quanto

mais baixo for o p-valor mais significante é a correlação entre as variáveis e o contrário

também é válido, quando o p-valor for superior a 0,050 significa que não há relação

entre as variáveis, ou seja, elas são independentes. Assim, um p-valor abaixo de 0,50

rejeita a hipótese nula.

O teste qui-quadrado, assim como a análise do p-valor, é aplicável aos dados de

uma tabela de contingência quando os valores de frequências esperadas que compõem a

tabela são iguais ou superiores a 5, já que valores menores podem comprometer os

cálculos. Observar os valores esperados, permite reforçar a confiabilidade do p-valor.

Algumas frequências apresentaram valores esperados inferior a 5, ou seja, indicaram

pelo software que há possibilidade de falhas e desvio dos resultados ou que as mesmas

devem ser aglutinadas. Os p-valores obtidos com valores esperados inferiores a 5 são

sinalizados no atual estudo com *. O fato deve-se a característica desse tipo de estudo

ser composto por várias subcategorias, que algumas vezes apresentam valores muito

baixos, até mesmo zero, o que enfraquece estatisticamente os cálculos da análise no

teste qui-quadrado.

86

Além do teste qui-quadrado outros modelos estatísticos também foram

aplicados, como: Regressão Logística e ANOVA.

A técnica do Modelo de Regressão Logística para variáveis dependentes visa

uma predição de valores (variáveis categóricas) a partir de variáveis contínuas ou

binárias (0 ou 1), possibilitando colocar variáveis em concorrência e eleger assim a

variável que melhor explica ou informa acerca da relação com outra, um modelo. O

objetivo do Modelo de Regressão Logística é estimar a probabilidade de uma

determinada categoria, no caso correspondente a variável dependente que é dicotômica

(no valor 1).

O modelo ANOVA, teste estatístico de análise de variância, visa

fundamentalmente verificar se existe uma diferença significativa entre as médias dos

valores da variável dependente contínua nas categorias de cada fator e se os fatores

exercem influência em alguma variável dependente contínua.

87

Capítulo IV – ACESSO LEXICAL: ANÁLISE DO TESTE DE N OMEAÇÃO

O presente capítulo tem como objetivo apresentar a análise dos resultados

obtidos no teste de nomeação, coletados segundo a metodologia já apresentada em

capítulo anterior. A tarefa de nomeação é utilizada para verificar o acesso lexical na

produção já que se trata de um mecanismo complexo da linguagem. O estímulo visual

leva a um reconhecimento e posterior acesso à representação lexical do item (com

informações sonoras e semânticas), etapas necessárias para a produção do nome

referente a figuras. O teste de nomeação de figuras utilizado se propõe a verificar o grau

de comprometimento do acesso lexical de Afásicos e relacionar com o desempenho dos

controles.

Primeiramente apresentaremos os Afásicos, caracterizando-os segundo variáveis

individuais como diagnóstico e desempenho em avaliações específicas de compreensão

oral, repetição de palavras e frases e rastreamento cognitivo. Em seguida serão

apresentados os resultados do teste de nomeação, segundo as variáveis controle

especificadas no capítulo de metodologia e demais variáveis não linguísticas. As

diversas variáveis linguísticas serão analisadas segundo as hipóteses dos Modelos

Baseados no Uso.

1) Caracterização dos voluntários.

Na tabela 3, apresentada logo a seguir, os Afásicos são caracterizados por

diagnóstico, tempo de lesão, causa da lesão e tempo de terapia e apresentados segundo

seu desempenho no mini-exame de rastreamento cognitivo, na testagem de

compreensão oral e repetição de palavras e frases.

88

Conforme já descrito anteriormente, realizou-se testagens envolvendo

compreensão oral, repetição de palavras e frases e mini-exame de rastreamento

cognitivo nos Afásicos já que o diagnóstico pode não ser suficiente para caracterizar

produções dos quadros Afásicos e devido à presença de diagnósticos mistos,

envolvendo mais de um tipo de Afasia (Cuetos, 2010). Na prática são utilizados como

critérios diagnósticos a fim de classificar o tipo de Afasia, habilidades como fluência

verbal, compreensão oral e repetição. A tabela 3 apresenta os resultados obtidos nos 3

testes.

Na tabela 3, para facilitar a visualização, os diagnósticos foram apresentados

agrupados e mantendo a tentativa de exibi-los do melhor ao pior desempenho segundo

os testes. Em negrito na tabela estão sinalizados os valores 100% (ou seja, sem prejuízo

na habilidade testada) e em vermelho os valores inferiores a 75% de desempenho.

89

Tabela 3: Caracterização dos Afásicos (porcentagem de desempenho).

Iniciais Afásicos

Diagnóstico Atual: Afasia Tempo de lesão Causa Tempo terapia

compre-ensão oral

repetição de palavras e frases

mini-mental

T.R. Anômica menos de 1 ano AVE menos de 1 ano 100% 100% 100% S.M. Anômica menos de 1 ano AVE menos de 1 ano 100% 100% 100% V.V. Anômica mais de 4 anos AVE mais de 2 anos 100% 100% 75 - 99% L.F. Anômica mais de 2 anos AVE mais de 1 ano 100% 75 - 99% 100% L.B. Anômica mais de 1 ano AVE menos de 1 ano 100% < 75% < 75% S.R. Anômica mais de 1 ano AVE mais de 1 ano 75 - 99% < 75% 100% M.H. Anômica mais de 6 anos AVE mais de 2 anos 75 - 99% < 75% 75 - 99% F.J. Anômica mais de 9 anos AVE mais de 4 anos < 75% 75 - 99% 75 - 99% S.S. Mista mais de 3 anos AVE menos de 1 ano 100% < 75% 100% C.L. Mista mais de 3 anos / mais de 1 ano 100% < 75% < 75% J.L. Mista menos de 1 ano AVE menos de 1 ano 75 - 99% 100% 75 - 99% C.O. Mista mais de 3 anos AVE mais de 1 ano 75 - 99% 75 - 99% 75 - 99% M.A. Mista mais de 2 anos AVE mais de 2 anos 75 - 99% < 75% 100% J.A. Mista mais de 5 anos AVE mais de 2 anos 75 - 99% < 75% < 75% G.C. Mista mais de 2 anos / menos de 1 ano 75 - 99% < 75% < 75% M.E. Mista mais de 5 anos TCE mais de 4 anos < 75% < 75% < 75% F.R. Broca mais de 12 anos AVE mais de 4 anos 100% 75 - 99% 75 - 99% A.A. Broca mais de 4 anos AVE mais de 3 anos 75 - 99% 75 - 99% < 75% E.T. Broca mais de 5 anos TCE mais de 3 anos < 75% < 75% < 75%

P.A. Transcortical

Sensorial menos de 1 ano TCE menos de 1 ano 75 - 99% < 75% < 75% R.G. Global menos de 1 ano AVE menos de 1 ano < 75% < 75% < 75% A.R Wernicke menos de 1 ano AVE menos de 1 ano < 75% < 75% < 75% M.R. / menos de 1 ano TCE menos de 1 ano

As causas das lesões neurológicas adquiridas são apresentadas na tabela em

formato de siglas AVE e TCE, que significam respectivamente acidente vascular

encefálico e traumatismo craniano encefálico.

Objetivando melhor tabulação dos resultados de compreensão oral e

consequentemente melhora na visualização das porcentagens, foram selecionados três

intervalos: < 75%, onde o resultado da testagem de compreensão oral dos Afásicos

corresponde a menos de 75% do que deveriam fazer (8 ou menos do total de 11

questões do Montreal Toulosse), ou seja, comprometimento severo; 75 - 99%, onde o

desempenho dos Afásicos pesquisados ficou entre 75 e 99% da normalidade (9 ou 10

90

corretas, do total de 11), comprometimento leve a moderado; e 100% onde o resultado

do teste de compreensão oral dos Afásicos corresponde à totalidade de acertos.

Diagnósticos como Afasia Global, Wernicke e transcortical sensorial

apresentaram, conforme previsto em critérios diagnósticos clássicos, grande

comprometimento na compreensão oral, com índice de acerto abaixo de 75%. Nos

diagnósticos que indicam um quadro misto, envolvendo mais de um tipo de afasia,

também foi encontrado prejuízo na compreensão oral, no total de 6 dos 8 Afásicos

Mistos. Além desses diagnósticos onde se espera déficits de compreensão, quadros

Anômicos e Afásicos de Broca, embora não previstos (segundo a taxonomia clássica),

também se apresentaram com grande ou razoável prejuízo na compreensão oral. A

compreensão diminuída foi observada em 3 dos 8 Afásicos Anômicos. E embora

previsto algum grau leve de comprometimento da compreensão oral no diagnóstico de

Broca, na presente amostra há 1 Afásico dos 3 que compõem a amostra, com

comprometimento severo de compreensão oral.

Propondo então outro agrupamento de Afásicos segundo o grau de

comprometimento da compreensão oral teremos 5 Afásicos com comprometimento

severo da compreensão abrangendo diagnósticos como Anômica, Mista, Broca, Global

e Wernicke (1 indivíduo de cada diagnóstico). Com prejuízos leves a moderados, 9

Afásicos (diagnósticos como Anômicos em 2 indivíduos, Mista em 5 indivíduos, Broca

e Transcortical Sensorial 1 cada). E, finalizando, com o terceiro grupo de apenas 8 dos

23 Afásicos com preservação da compreensão oral (com resultados de 100% no teste),

sendo 5 com diagnóstico Afasia Anômica, 2 Afasia Mista e 1 Afásico de Broca.

Conforme aplicado à resposta da tarefa de compreensão oral dos Afásicos,

também estipulou-se três intervalos para leitura dos dados referentes à tarefa de

repetição de palavras e frases dos Afásicos voluntários da presente pesquisa; < 75%,

91

onde o desempenho na tarefa de repetição Montreal-Toulosse foi bem abaixo, menos

que 75% do esperado, cerca de 8 ou menos repetições corretas de 11 esperadas, portanto

comprometimento severo da repetição; 75 - 99%, onde o desempenho embora superior a

75% não está dentro dos padrões do normalidade, corresponde a 9 ou 10 corretas de um

total de 11 repetições da avaliação (prejuízo leve a moderado); 100%, indicando que a

habilidade de repetição encontra-se intacta pós lesão tanto em palavras quanto frases.

A tarefa de repetição, segundo Cuetos et al. (2010), avalia processos de

percepção –produção de palavras e frases e memória verbal de curto prazo, já que se faz

necessário memorizar entre o momento que se percebe auditivamente e se produz.

O que se espera pela classificação clássica dos quadros Afásicos é que

apresentem comprometimento na habilidade de repetição de palavras e frases Afasia

Global, Broca e Wernicke. Mas, de acordo com a tabela 3, não só os diagnósticos

anteriormente descritos como previsíveis de repetição alterada, como os outros (onde

não se espera o comprometimento) também apresentaram déficits de repetição. Apenas

4 dos 23 Afásicos apresentaram desempenho de 100% no teste de repetição de palavras

e frases (sendo 3 voluntários com Afasia Anômica e 1 mista). Com prejuízos de

repetição de palavras e frase de grau leve a moderado, há 5 voluntários, sendo 2

Afásicos Anômicos, 1 de Mista e 2 Afásicos de Broca. A maioria dos Afásicos da

presente amostra apresentou comprometimento severo na habilidade de repetição,

totalizando 13 Afásicos (sendo 3 Anômicos, 6 Mistas, 1 Broca, 1 Transcortical

Sensorial, 1 Global e 1 Wernicke).

A variabilidade de desempenhos dentro dos tipos Afásicos trouxe a busca por

características que pudessem melhor caracterizar e classificar os Afásicos da presente

tese, visto que indivíduos do mesmo diagnóstico têm desempenhos diferentes. Por este

motivo, os tipos de resposta ao teste de nomeação dos Afásicos serão analisados não

92

apenas por diagnóstico, mas segundo grupos ou intervalos de desempenho a esses testes

de compreensão oral e repetição. Serão mantidos três intervalos onde 100% corresponde

a preservação da habilidade, 75-99% comprometimento de grau leve a moderado e

<75% onde o grau de prejuízo da habilidade pode ser considerado severo.

Além de testes de habilidades de compreensão oral e repetição, que são

consideradas também no diagnóstico, também foi considerado o quadro cognitivo do

paciente. A utilização de valores do mini-exame de rastreamento cognitivo (Mini-

Mental) tem o objetivo de levar em conta a influência da cognição na linguagem. Neste

teste, como já citado na metodologia, os percentuais de acerto apresentados são

estipulados em função do grau de escolaridade de cada voluntário. E assim como nas

testagens de compreensão oral e de repetição de palavras e frases, os desempenhos dos

Afásicos foram apresentados em três intervalos: <75%, que corresponde ao escore de

até 75%, portanto, graus severos de comprometimento cognitivo; de 75% a 99%, que

corresponde a um prejuízo da cognição que vai de um grau leve até um moderado; e

100% quando a pontuação no mini-mental foi a esperada pela escolaridade do Afásico,

isto é não há comprometimento cognitivo. De acordo com os resultados obtidos, a

presente amostra é composta por 10 Afásicos com graus severos de comprometimento

cognitivo identificado pelo Mini-Mental (1 Anômico, 4 Mistas, 2 Brocas, 1

Transcortical Sensorial, 1 Global e 1 Wernicke), 6 com comprometimento de grau leve

a moderado (sendo 3 Anômico, 2 Mistas e 1 Broca) e 6 com preservação da habilidade

pesquisada (4 Anômicos e 2 Mistas).

Esses parâmetros são importantes de serem considerados em conjunto com o

diagnóstico, visto que caracterizam mais especificadamente cada indivíduo da amostra.

E por isso os desempenhos serão analisados segundo os tipos de respostas.

93

Na tabela 4 estão expostos alguns dados e desempenhos que foram apresentados

numericamente na tabela 3 e agora focados na dicotomia se há ou não

comprometimento, facilitando a visualização da caracterização dos Afásicos. Quando

houver comprometimento será assinalado com (X) a lacuna correspondente.

Tabela 4: Caracterização dos Afásicos por comprometimento.

Iniciais Afásicos

Diagnóstico Atual: Afasia

compreensão oral

comprometida

repetição de palavras e frases

comprometida

cognição comprometida (mini-mental)

T.R. Anômica S.M. Anômica V.V. Anômica X L.F. Anômica X L.B. Anômica X X S.R. Anômica X X M.H. Anômica X X X F.J. Anômica X X X S.S. Mista X C.L. Mista X X J.L. Mista X X C.O. Mista X X X M.A. Mista X X J.A. Mista X X X G.C. Mista X X X M.E. Mista X X X F.R. Broca X X A.A. Broca X X X E.T. Broca X X X

P.A. Transcortical

Sensorial X X X R.G. Global X X X A.R Wernicke X X X M.R. / / / /

A tabela 4 sintetiza os resultados obtidos nos testes para a caracterização dos

indivíduos assim como seus respectivos diagnósticos Afásicos por voluntários. Estão

assinalados com X os voluntários que apresentaram algum comprometimento nas

habilidades testadas (especificadas pelas colunas), aqueles assinalados em vermelho

apresentaram desempenho bastante prejudicado (representa na tabela 3 os valores de

desempenho inferiores a 75%).

94

Conforme observado, o desempenho em relação às habilidades de compreensão

oral, repetição de palavras e frases e funções cognitivas são comprometimentos bem

comuns nos quadros Afásicos e independe da característica esperada pelo diagnóstico

clássico.

Na seção seguinte serão apresentados os resultados do teste de Nomeação de

figuras em função das variáveis de análise descritas no capítulo de metodologia, mas

somente aquelas variáveis que se mostraram relevantes do ponto de vista estatístico, isto

é, apenas os resultados que apresentaram p-valor até 0,05 serão expostos por meio de

tabelas e/ou gráficos.

1.1. Tipos de respostas ao teste de nomeação

As respostas ao teste de nomeação das figuras foram agrupadas em 4 grupos

afim de facilitar a observação estatística dos dados. Grupo 1: Respostas Corretas, que

incluem respostas que alcançaram o alvo conforme esperado e respostas consideradas

corretas mas produzidas diferente do esperado, como por exemplo: produzir automóvel

para o alvo carro, uma vez que a figura utilizada pode remeter a mais de um item lexical

para expressá-la com mesmo significado. Grupo 2: Respostas Semânticas envolvendo

substituições do tipo semântico como parafasias semânticas (ex: cachorro por zebra)

com respostas envolvendo informações semânticas do item; Grupo 3: Respostas

Fonológicas envolvendo substituições fonológicas, como parafasias sonoras (ex: tela

por vela), parafasias mistas (ex: gato por pato), pseudopalavras (ex: sentador),

substituições do tipo morfológico (ex: liquidificador por ventilador) e sem relação com

o alvo (ex: estrela por igreja), onde alguma informação sonora do item é acessada; e

95

Grupo 4: Outras Respostas, compreendendo respostas vazias, ininteligíveis, termo

genérico (ex: coisa, troço, negócio), circunlocução, onomatopeia, gesto/mímica, do tipo

perseverativa e por reconhecimento visual.

O desempenho no teste de nomeação de figuras de cada Afásico identificado

pelas iniciais está exposto na tabela 5 a seguir.

Tabela 5: Tipos de respostas no teste de nomeação por cada Afásico.

Nomeação Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Afásicos N % N % N % N % n % J.A. 78 50,6 11 7,1 27 17,5 38 24,7 154 99,9

M.E. 8 5,2 19 12,3 7 4,5 120 77,9 154 99,9

M.R. 50 32,5 15 9,7 16 10,4 73 47,4 154 100

L.B. 52 33,8 20 13 16 10,4 66 42,9 154 100,1

S.S. 128 83,1 3 1,9 12 7,8 11 7,1 154 99,9

C.L. 117 76 10 6,5 9 5,8 18 11,7 154 100

P.A. 42 27,3 20 13 14 9,1 78 50,6 154 100

V.V. 129 83,8 1 0,6 5 3,2 19 12,3 154 99,9

S.M. 141 91,6 4 2,6 6 3,9 3 1,9 154 100

M.A. 89 57,8 11 7,1 25 16,2 29 18,8 154 99,9

R.G. 2 1,3 11 7,1 10 6,5 131 85,1 154 100

A.R 5 3,2 4 2,6 4 2,6 141 91,6 154 100

G.C. 109 70,8 5 3,2 22 14,3 18 11,7 154 100

T.R. 146 94,8 1 0,6 3 1,9 4 2,6 154 99,9

C.O. 141 91,6 8 5,2 1 0,6 4 2,6 154 100

E.T. 30 19,5 22 14,3 29 18,8 73 47,4 154 100

F.J. 87 56,5 31 20,1 6 3,9 30 19,5 154 100

F.R. 76 49,4 23 14,9 12 7,8 43 27,9 154 100

M.H. 105 68,2 14 9,1 9 5,8 26 16,9 154 100

J.L. 108 70,1 17 11 9 5,8 20 13 154 99,9

L.F. 114 74 12 7,8 1 0,6 27 17,5 154 99,9

S.R. 93 60,4 17 11 31 20,1 13 8,4 154 99,9

A.A. 41 26,6 4 2,6 72 46,8 37 24 154 100 Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542

Qui-quadrado = 1834.522, gl = 66, p-valor < 2.2e-16

96

Os valores mais altos de porcentagem foram destacados em negrito em todas as

tabelas a fim de destacar sua importância frente aos demais valores. Serão apresentados

os valores de análise estatística do teste de qui-quadrado abaixo de cada quadro.

Na tabela 5 observa-se grande variabilidade de tipos de respostas por voluntário

Afásico num intervalo entre 1,3 e 94% de acerto no teste de nomeação. Há relação entre

indivíduo e resposta, já que cada indivíduo apresenta desempenho diferenciado no teste

de nomeação de figuras diferenciado e o p-valor se mostrou relevante estatisticamente

(p-valor inferior a 0,05).

As respostas ao teste de nomeação aplicado nos controles (identificados por

iniciais) estão apresentadas na tabela 6 e são importantes para observação e análise dos

dados obtidos com os Afásicos.

97

Tabela 6: Tipos de respostas no teste de nomeação por cada controle.

Nomeação Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Controle N % N % n % N % n % E.F. 151 98,1 1 0,6 0 0 2 1,3 154 100 J.A. 152 98,7 1 0,6 0 0 1 0,6 154 99,9 M.C. 144 93,5 3 1,9 1 0 7 4,5 155 99,9 J.O. 151 98,1 1 0,6 1 0,6 1 0,6 154 99,9 N.C. 139 90,3 4 2,6 0 0 11 7,1 154 100

V.L. 150 97,4 1 0,6 0 0 3 1,9 154 99,9 E.D. 136 88,3 8 5,2 3 1,9 7 4,5 154 99,9

R.B. 144 93,5 5 3,2 0 0 5 3,2 154 99,9 I.A. 150 97,4 2 1,3 1 0,6 1 0,6 154 99,9 E.E. 148 96,1 2 1,3 0 0 4 2,6 154 100 B.D. 150 97,4 3 1,9 0 0 1 0,6 154 99,9 L.A. 151 98,1 2 1,3 0 0 1 0,6 154 100 V.P. 144 93,5 6 3,9 1 0,6 3 1,9 154 99,9 L.B. 149 96,8 3 1,9 2 1,3 0 0 154 100 L.T. 151 98,1 1 0,6 1 0,6 1 0,6 154 99,9 J.C. 115 74,7 13 8,4 3 1,9 23 14,9 154 99,9 A.G. 141 91,6 5 3,2 2 1,3 6 3,9 154 100

L.F. 154 100 0 0 0 0 0 0 154 100 E.S. 151 98,1 1 0,6 0 0 2 1,3 154 100

L.M. 127 82,5 9 5,8 2 1,3 16 10,4 154 100 S.R. 141 91,6 7 4,5 0 0 6 3,9 154 100 M.A. 152 98,7 0 0 0 0 2 1,3 154 100

B.T. 153 99,4 1 0,6 0 0 0 0 154 100

Total 3344 94,4 79 2,2 17 0,5 103 2,9 3543 Qui-quadrado = 270.1503, gl = 66, p-valor < 2.2e-16 *

O teste estatístico qui-quadrado, eleito para análise da tese, para ser um

instrumento confiável, deve não apresentar valores nas células das tabelas de

contingência inferiores a 5 (valor matematicamente estimado), já que com valores

baixos os cálculos das análises estatísticas podem ficar comprometidos. Por isso, as

análises que apresentaram confiabilidade mais baixa (alguns valores muito baixos,

98

próximos ou iguais a zero principalmente nos controles conforme tabela 6) serão

sinalizadas abaixo de cada quadro com * após o p-valor em todas as tabelas.

Observa-se na tabela 6 que houve uma concentração de repostas, a porcentagem

de Respostas Corretas variou pouco (dentro de um intervalo menor de 74,7 a 100%) se

comparadas com os Afásicos. De acordo com o esperado, diferente da produção dos

Afásicos, nenhum dos 23 controles apresentou porcentagem inferior a 70% em

Respostas Corretas. Apenas 3 indivíduos apresentaram desempenho inferior a 90%.

Diante das tabelas 5 e 6 apresentadas anteriormente, podemos explorar as

diferenças de desempenho dos Afásicos em relação aos controles. Mesmo diante das

diferentes performances, apresentadas principalmente pelos Afásicos, algumas

porcentagens dos Afásicos se assemelham muito a valores obtidos pelos controles. Dos

23 Afásicos (tabela 5), constata-se 09 Afásicos com desempenho equivalente ao dos

controles, isto é, porcentagem de Respostas Corretas superiores a 70%. Por exemplo, os

Afásicos C.O. e S.M tiveram 91,6% de Respostas Corretas se compararmos com o

controle J.C. com 74,7% de Respostas Corretas. Deduzimos que há possibilidade sim

de controles apresentarem desempenho na tarefa de nomeação de figuras inferior

numericamente aos Afásicos. O fato de ser Afásico não indica obrigatoriamente

comprometimento de nomeação, ou seja, não indica que a lesão gerou prejuízo no

acesso lexical dos itens, assim ratifica-se a importância da avaliação da nomeação

independente do quadro afásico. Relembrando que lapsos são esperados inclusive em

pessoas sem lesão cerebral. Segundo Freud (1871/1977) pessoas sem lesão cerebral, em

situações de atenção divida ou de stress, tensão ou fadiga também geram substituições.

A avaliação da nomeação de Afásicos é uma das importantes habilidades que

devem ser consideradas na avaliação (como instrumento diagnóstico) e no projeto

99

terapêutico já que se trata de uma ferramenta fundamental de verificação do acesso

lexical.

A “tese de continuidade” (Dell et al., 1997) fundamenta esses dados encontrados

e ajuda a ressaltar as diferenças e semelhanças nem sempre tão obviamente encontradas

diante das respostas dos controles e Afásicos na tarefa de nomeação de figuras. A tese

reside na diferença quantitativa e não em uma diferença qualitativa entre os grupos. Não

se trata de perfis de respostas ao teste de nomeação diferente entre Afásicos e controles.

Com exceção das substituições do tipo Outras Respostas, as substituições produzidas

por Afásicos são também realizadas pelo controle. O que muda ao comparar os grupos é

quantidade de substituições e acertos.

Para tornar mais clara a comparação, dois voluntários foram tomados como

exemplos: a maioria das respostas se concentra nas Respostas Corretas, e há presença

de todos os tipos de substituições em ambos os grupos (tabela 7).

Tabela 7: Comparação de dois voluntários quanto ao tipo de respostas ao teste de

nomeação.

Voluntários Produções Corretas

Substituição Semântica

Substituição Fonológica

Outras Respostas

Controle I.A. 97,4% 1,3% 0,6% 0,6%

Afásico J.A. 50,6% 7,1% 17,5% 24,7%

No item 2 a seguir, serão expostas análises dos tipos de resposta ao teste de

nomeação de figuras em função de variáveis não linguísticas confirmando ou não sua

influência.

100

2) Tipos de resposta em função de variáveis não linguísticas.

As variáveis não linguísticas que serão abordadas, como já dito anteriormente,

por apresentarem relevância estatística, são: diagnóstico dos Afásicos, escolaridade de

Afásicos e controle e tempo de lesão e tempo de terapia dos Afásicos.

Na tabela 8 a seguir, os Afásicos foram agrupados de acordo com seu

diagnóstico e distribuídos nos tipos de resposta ao teste de nomeação de figuras.

Tabela 8: Tipos de resposta por diagnóstico dos Afásicos.

Diagnóstico

Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

N % N % N % n % n % Anômica (n=8) 780 72,4 69 6,4 71 6,6 158 14,7 1078 100

Broca (n=3) 71 23,1 26 8,4 101 32,8 110 35,7 308 100 Global (n=1) 2 1,3 11 7,1 10 6,5 131 85,1 154 100 Mista (n=8) 828 59,7 99 7,1 128 9,2 311 23,9 1366 99,9

Transcortical sensorial (n=1) 42 27,3 20 13 14 9,1 78 50,6 154 100 Wernicke (n=1) 5 3,2 4 2,6 4 2,6 141 91,6 154 100

Total 1728 53,8 229 7,1 328 10,2 929 28,9 3214 Qui-quadrado = 988.5799, grau de liberdade = 15 e p-valor < 2.2e-16

Considerando a porcentagem de Respostas Corretas com desempenho

semelhante aos controles (maior que 70%), observa-se os indivíduos com diagnóstico

de Afasia Anômica. A maioria das produções foi feita com acesso à representação

lexical conforme o esperado, portanto, consideradas corretas.

Devido a discrepância de distribuição de números de indivíduos por diagnóstico

só se torna viável a análise das respostas dos indivíduos com Afasia Mista e Anômica.

101

Nos Afásicos com Afasia Anômica e Mista aparecem como respostas não corretas de

porcentagens mais altas o tipo Outras Respostas, respectivamente 14,7% e 23,9%. Esses

valores relatam a porcentagem de produções comprometidas pela falha no acesso

lexical.

O p-valor foi considerado significativo, demonstrando sim relação entre

diagnóstico e tipos de resposta ao teste de nomeação embora na prática possa não ser o

caminho mais fidedigno para intervenção e caracterização devido à variabilidade

observada nos indivíduos com o mesmo diagnóstico.

Em quadros Afásicos mais graves como Global e Wernicke se pode observar a

prevalência de porcentagens mais altas nas Outras Respostas que incluem respostas

vazias, ininteligíveis, termo genérico (como coisa, negócio, tipo..), circunlocução,

onomatopeia, gesto/mímica, do tipo perseverativa e por reconhecimento visual, nas

quais não há acesso a informações sonoras ou semânticas dos itens alvo.

O resultado apresentado pode ser fruto da quantidade de indivíduo por tipo de

diagnóstico: apenas 01 indivíduo com diagnóstico Wernicke (voluntário A.R.) e 01

indivíduo com Afasia Global (voluntário R.G.). O número baixo de representantes com

diagnóstico de Wernicke e Global se deve ao grau de prejuízo na compreensão

normalmente encontrado nesses diagnósticos. Como já descrito na metodologia, mesmo

se tratando de tarefas simples (nomeação e repetição), o alto comprometimento na

compreensão foi identificado como fator excludente da participação da amostra da

presente pesquisa, já que poderia comprometer os resultados.

O diagnóstico de Broca (03 Afásicos) e Transcortical Sensorial (01 voluntário

P.A.) se apresentam com percentuais mais baixos de Respostas Corretas e por isso

indicam comprometimento de acesso lexical. Dentre os 03 indivíduos com diagnóstico

de Broca, cada Afásico apresentou um desempenho majoritário diferente, voluntário

102

E.T. com 47,4% de outras repostas, Afásico F.R. com 49,4% de Respostas Corretas e o

Afásico A.A. com 46,8% de Respostas Fonológicas.

Apenas 01 indivíduo foi retirado da análise (tabela 8) por não possuir

diagnóstico (voluntário M.R.). O motivo foi o abandono do tratamento (período de

avaliação fonoaudiológica). Com isso, a tabela 5 possui dados de 22 Afásicos por tipos

de resposta ao teste de nomeação de figuras em função da variável diagnóstico.

Os comportamentos de acerto baixo (abaixo do esperado para os controles)

indicam problema de acesso lexical, mas como visto na tabela, há diferentes graus de

comprometimento de acesso já que há uma diferença grande entre alguns grupos, não só

em relação ao percentual de acerto, como também na incidência de respostas do tipo

outra resposta, em que nenhuma informação semântica, morfológica ou fonológica é

acessada.

Como já foi descrito no capítulo de metodologia, antes da realização da tarefa de

nomeação de figuras, os pacientes foram submetidos a testagens para verificar

diferentes habilidades cognitivas. O diagnóstico clássico das afasias considera, entre

outras habilidades, a compreensão e a repetição. As mesmas podem ser avaliadas

através de vários instrumentos. Optou-se na presente pesquisa pela testagem de

compreensão oral e repetição do Montreal Toulouse conforme já descrita na

metodologia.

Cuetos (2010) diante de classificações como afasia mista, ou seja, quadro

Afásico que engloba sintomas variados pertencentes a diferentes tipos de afasia,

questiona a relação nem sempre tão clara entre quadros Afásicos e sintomatologia e

demonstra a importância de comprovar as alterações específicas de cada paciente

independente do tipo Afásico. O desempenhos nos testes de compreensão oral, repetição

103

de palavras e frases e mini-mental também vão ser utilizados na avaliação das respostas

de nomeação, item 3 do presente capítulo.

Como se considera a escolaridade para estabelecer valores esperados no mini

mental, e o mini exame de rastreamento cognitivo foi influente na tarefa de nomeação, a

escolaridade também deve ser considerada na análise dos tipos de respostas. A

escolaridade dos Afásicos, segundo os tipos de resposta na tarefa de nomeação, estão na

tabela 9.

Tabela 9: Tipos de resposta por Escolaridade dos Afásicos no teste de nomeação de

figuras.

Escolaridade Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Afásicos N % N % N % n % n % até 3 anos 251 40,7 59 9,6 60 9,7 246 39,9 616 99,9 entre 4 e 7 anos 438 40,6 85 7,9 75 7 480 44,5 1078 100 mais de 8 anos 1202 65 139 7,5 211 11,4 296 16 1848 99,9

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 338.1802, grau de liberdade = 6 e p-valor < 2.2e-16

Ao comparar os grupos dos anos de estudo, revela-se maior porcentagem de

Respostas Corretas nos indivíduos com mais de 8 anos de estudo, cerca de 65%. O p-

valor do teste qui-quadrado baixo confirma essa relação entre tipos de resposta e

escolaridade nos Afásicos. E consequentemente, com mais de 8 anos de escolaridade

encontra-se também menos respostas, apenas 16% são do tipo Outras Respostas, onde

não há acesso a nenhuma informação ou até mesmo indicam comprometimento na

representação lexical. O efeito inesperado da escolaridade no tipo de resposta dos

Afásicos ao teste de nomeação de figuras pode estar relacionado com a experiência de

uso e dos componentes do léxico, que varia de pessoa para pessoa ao longo da vida.

104

Depois de ter verificado a influência da escolaridade no desempenho dos

Afásicos no teste de nomeação, faz-se necessário observar se o comportamento se

repete nos controles, ou seja, se há também a influência da escolaridade no acesso de

pessoas sem lesão cerebral.

Os tipos de resposta na tarefa de nomeação dos controles em função da

escolaridade estão na tabela 10.

Tabela 10: Tipos de resposta por Escolaridade dos controles no teste de nomeação

de figuras.

Escolaridade Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Controle N % N % N % N % n % até 3 anos 844 91,3 27 2,9 6 0,6 47 5,1 924 99,9 entre 4 e 7 anos 1023 94,9 26 2,4 5 0,5 24 2,2 1078 100 mais de 8 anos 1477 95,9 26 1,7 5 0,3 32 2,1 1540 100

Total 3344 94,4 79 2,2 16 0,5 103 2,9 3542 Qui-quadrado = 27.2903, grau de liberdade = 6 e p-valor = 0.0001278 *

O aumento da escolaridade dos controles leva consigo a um discreto aumento de

Respostas Corretas de 91,3 a 95,9% e a diminuição dos outros tipos de respostas

(envolvendo acesso a informações fonológicas ou semânticas ou nenhum informação).

Estatisticamente o resultado foi significativo, o p-valor foi baixo, porém menos

baixo que se comparado com a tabela 10 anterior. Então pode-se inferir que a variável

escolaridade influencia mais o acesso lexical de Afásicos do que de controles.

Vista a relação do desempenho da escolaridade em todos os Afásicos e não

Afásicos também analisamos características dos Afásicos que podem influenciar a

performance na nomeação de acordo com cada história de lesão e terapia.

105

Os tipos de respostas a tarefa de nomeação de figuras segundo o tempo de lesão

dos Afásicos estão na tabela 11.

Tabela 11: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por tempo de lesão dos

Afásicos.

Tempo Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

de lesão N % N % N % n % n % menos de 1 ano (n=7) 494 45,8 72 6,7 62 5,8 450 41,7 1078 100 entre 1 ano até 2 anos (n=2) 145 47,1 37 12 47 15,3 79 25,6 308 100 entre 2 anos até 5 anos (n=8) 868 70,5 54 4,4 147 11,9 163 13,2 1232 100 mais de 5 anos (n=6) 384 41,6 120 13 90 9,7 330 35,7 924 100

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 378.4583, grau de liberdade = 9 e p-valor <2.2e-16

Observando a tabela 11, os valores de Respostas Corretas segundo o tempo de

lesão aumentam as porcentagens de 45,8 a 70,5% com o passar do tempo. A explicação

pode residir no fato de todos os Afásicos independente do tempo pós-lesão estão em

terapia fonoaudiológica, por isso mais tempo de lesão consequentemente é mais tempo

de terapia sugerindo desempenho na nomeação aprimorado, com mais acesso a

informações dos itens alvo.

No intervalo de tempo de lesão com mais de 5 anos em comparação aos outros

períodos há um queda para 41,6% de Respostas Corretas. E especificamente nos

Afásicos que se enquadram nesse período atribui-se como justificativa o fato de estarem

em terapia mesmo após 5 anos da lesão por se tratarem de casos mais graves, por isso a

queda no desempenho.

O mesmo comportamento inverso se replica em respostas do tipo Outras

Respostas já que caem com o passar dos anos de 41,7 a 13,2%, com exceção do período

106

de mais de 5 anos de lesão com 35,7% de Outras Respostas no teste de nomeação de

imagens. Tanto indivíduos com pouco tempo de lesão quanto com muito tempo

produzem majoritariamente respostas onde não se acessa informações nem sonoras,

nem semânticas.

Há relação estatística entre as variáveis tempo de lesão e tipos de respostas,

ratificadas pelo p-valor baixo, mas provavelmente isto está relacionado com outra

variável de tempo de terapia e além disso não há boa distribuição entre os grupos de

tempo. Por exemplo, no intervalo entre 1 ano e 2 anos de lesão há poucos

representantes e resultado disso são poucas respostas, 308 produções de 3542. De

alguma forma a análise pode estar comprometida.

As respostas à tarefa de nomeação de figuras pelo tempo de terapia dos Afásicos

foram analisadas e os resultados constam da tabela 12.

Tabela 12: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por tempo de terapia dos

Afásicos.

Tempo Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

de terapia N % n % N % n % n % menos de 1 ano (n=10) 783 50,8 100 6,5 112 7,3 545 35,4 1540 100 de 1 a 2 anos (n=4) 465 75,5 47 7,6 42 6,8 62 10,1 616 100 mais de 2 anos (n=9) 643 46,4 136 9,8 192 13,9 415 29,9 1386 100

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 218.8099, grau de liberdade = 6 e p-valor <2.2e-16

Com o tempo de terapia, aumenta a porcentagem de Respostas Corretas. Os

valores estatísticos pelo teste qui-quadrado revelam relação entre as variáveis testadas:

tempo de terapia e tipos de resposta, com o aumento do tempo de terapia aumenta

107

também a porcentagem de Respostas Semânticas e Respostas Fonológicas e diminuem

Outras Respostas.

O intervalo de 1 a 2 anos de terapia possui pouco Afásicos, com isso a análise se

concentrará na diferença entre menos de 1 ano e mais de 2 anos de terapia

fonoaudiológica.

A porcentagem das respostas que envolvem substituições com preservação de

informações semânticas, Respostas Semânticas, aumentou com o tempo de terapia de

6,5 a 9,8% assim como as Respostas Fonológicas 7,3% a 13,9. Uma hipótese desse

aumento poderia ser explicado pela diminuição das porcentagens de Outras Respostas

de 35,4% com menos de 1 ano de terapia para 29,9% com mais de 2 anos de

fonoterapia.

Segundo a tabela 12, a terapia fonoaudiológica traz como resultados que

produções do tipo Outras Respostas, as quais informações sonoras ou semânticas não

são acessadas na tarefa de nomeação, são substituídas por produções onde são acessadas

algumas informações do item alvo, sejam elas informações sonoras ou semânticas. A

terapia fonoaudiológica proporcionaria uma aproximação da produção das respostas dos

Afásicos ao teste de nomeação de figuras, já que hipoteticamente com a terapia, as

respostas passam de Outras Respostas para semânticas, fonológicas e Respostas

Corretas.

Conforme já dito anteriormente, no início do presente capítulo, os desempenhos

nos testes de compreensão oral de palavras e frases, repetição de palavras e frase e o

mini-exame de rastreamento cognitivo foram utilizados como parâmetros importantes

para melhor caracterizar os Afásicos, a fim de focalizar nas alterações específicas (e não

no diagnóstico Afásico em si) de compreensão oral, repetição e cognição, e, assim,

homogeneizar a amostra e checar a relação de cada uma dessas habilidades com a

108

nomeação, complementando informações do diagnóstico. Abordaremos agora os tipos

de resposta ao teste de nomeação de figuras segundo os desempenhos obtidos nos três

testes.

3) Tipos de resposta em função dos testes de caracterização dos Afásicos

Os tipos de resposta no teste de nomeação de figuras dos Afásicos em função do

desempenho no teste de compreensão oral estão apresentados na tabela 13.

Tabela 13: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por desempenho no teste de

compreensão oral dos Afásicos.

Compreensão Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Oral N % n % N % n % n % < 75% (n=5) 182 19,7 102 11 72 7,8 568 61,5 924 100

75 - 99% (n=9) 806 58,2 107 7,7 210 15,2 263 19 1386 100 100% (n=8) 903 73,3 74 6 64 5,2 191 15,5 1232 100

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 845.6229, grau de liberdade = 6 e p-valor < 2.2e-16

Segundo as análises estatísticas dos dados da tabela 7, com p-valor abaixo de

0.050, a variável tipo de resposta ao teste de nomeação de figuras é dependente da

variável desempenho no teste de compreensão oral dos Afásicos, pior o acesso lexical,

pior o desempenho.

Os indivíduos com desempenho inferior na testagem de compreensão oral

(<75%) apresentam mais de 60% de Outras Respostas, diferente do desempenho

daqueles Afásicos com a compreensão oral intacta (100%), uma vez que os mesmos

109

apresentaram 73,3% das respostas consideradas Respostas Corretas. Já os indivíduos

com o escore na compreensão oral entre 75 a 99% do esperado apresentaram 58,2% de

Respostas Corretas, percentual inferior à porcentagem dos indivíduos com a

compreensão intacta e controles e superior àqueles com compreensão oral bem

prejudicada (inferior a 75%).

Respostas consideradas Outras Respostas foram assim agrupadas por não

evocarem a informação esperada, ou seja, diferentemente das substituições fonológicas

e semânticas (Respostas Fonológicas e Semânticas) nenhuma informação do item

lexical foi evocada nem informações sonoras, nem semânticas. De acordo com Kohn et

al. (1996) essa falta de correlação direta entre alvo e produção sugere um

comprometimento não só de acesso mas de representação lexical.

Assim, sumarizando os resultados obtidos para a variável que avalia a habilidade

de compreensão, podemos observar que quanto melhor a compreensão, maior a

porcentagem de Respostas Corretas. Afásicos com compreensão oral bem

comprometida são responsáveis por apenas 19,7% de Respostas Corretas contra 73,3%

de Respostas Corretas nos casos de indivíduos de compreensão oral preservada.

A tabela 14 apresenta os tipos de resposta na tarefa de nomeação de figuras dos

Afásicos em função do desempenho na testagem de repetição de palavras e frases.

110

Tabela 14: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por desempenho no teste de

repetição oral de palavras e frases dos Afásicos.

Repetição Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Oral N % N % N % n % N % < 75% (n=13) 908 42,1 182 8,4 231 10,7 835 38,7 2156 99,9

75 - 99% (n=5) 459 59,6 78 10,1 92 11,9 141 18,3 770 99,9 100% (n=4) 524 85,1 23 3,7 23 3,7 46 7,5 616 100

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 420.4679, grau de liberdade = 6 e p-valor < 2.2e-16

Há relação entre o desempenho de nomeação e a tarefa de repetição de palavras

e frases estatisticamente ratificada pelo p-valor baixo. Há uma queda na porcentagem

com a baixa no desempenho nos testes de repetição, de 85,1% das Respostas Corretas à

tarefa de nomeação de figuras nos Afásicos com repetição preservada, contra 59,6% e

finalmente 42,1% daqueles com comprometimento na habilidade de repetição de

palavras e frases. Os resultados demonstram a importante correlação da habilidade de

repetição e a habilidade de evocar informações lexicais (fonológicas, semânticas ou

ambas).

Ao analisar as repostas onde há acesso a alguma informação representada, sendo

esta informação sonora ou semântica, também se mantem a queda da porcentagem das

respostas com a melhora da performance na tarefa de repetição de palavras e frases. Por

exemplo as repostas do tipo fonológica, 3,7% apenas se encontram nos indivíduos com

boa repetição, ao passo que 10,7% encontram-se em sujeitos com repetição bem

comprometida.

A tabela 15, a seguir, apresenta a distribuição das respostas no teste de

nomeação em função do desempenho no teste de rastreamento cognitivo (Mini-Mental).

111

Tabela 15: Tipos de resposta na tarefa de nomeação por desempenho no mini

exame do estado mental (Mini-mental) dos Afásicos.

Mini Mental Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Afásicos N % N % n % N % n % < 75% (n=10) 534 31,5 141 8,3 226 13,3 793 46,8 1694 99,9

75 - 99% (n=6) 646 69,9 94 10,2 42 4,5 142 15,4 924 100 100% (n=6) 711 76,9 48 5,2 78 8,4 87 9,4 924 99,9

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 727.9983, grau de liberdade = 6 e p-valor < 2.2e-16

Ratifica-se a importância terapêutica da identificação ou do descarte de

comprometimentos cognitivos já que é de consenso na área de reabilitação, a relação

entre cognição e linguagem e consequentemente forte influência no processo

fonoterápico. Há um aumento gradual de Respostas Corretas com a melhora no

desempenho no Mini-mental de acordo com o p-valor baixo. Em outras palavras, há

relação estatística significante entre as habilidades cognitivas avaliadas e o acesso

lexical.

Com escore de menos de 75% no rastreamento cognitivo, a maior porcentagem

se encontra em respostas do tipo Outras Respostas, 46,8%, ou seja, cognição rebaixada

concentra as respostas onde não são acessadas nem informações semânticas ou

fonológicas.

Já os percentuais de 69,9% e 76,9% de Respostas Corretas com desempenho de

75 - 99% e 100% no Mini-Mental, respectivamente, ratificam o melhor desempenho na

nomeação com a melhora em determinadas habilidades cognitivas. Esse aumento é

estatisticamente significativo ratificando a dependência entre as variáveis. Em outras

palavras, o desempenho no rastreamento cognitivo influencia o acesso lexical, já que os

percentuais de Respostas Corretas melhoram nos casos de preservação da cognição.

112

Diante de todas as variáveis apresentadas que demonstraram influência nos tipos

de respostas dos voluntários, realizou-se análise de regressão logística objetivando

buscar qual variável não linguística seria mais explicativa para os tipos de respostas.

4) Análise de regressão logística dos fatores individuais de cada Afásico

influentes no teste de nomeação de figuras.

Dentre as variáveis estudadas na produção dos Afásicos: teste de rastreamento

cognitivo (mini-mental), teste de compreensão oral de palavras e frases, teste de

repetição de palavras e frases, escolaridade, tempo de terapia e tempo de lesão, o

software R através de comandos para análise de regressão logística selecionou como

variáveis mais influentes na tarefa de nomeação de figuras o mini-mental (p-valor < 2e-

16), o tempo de terapia (p-valor < 2e-16), escolaridade dos Afásicos (p-valor 2.64e-10)

e do tempo de lesão (p-valor 3.81e-05).

O mini-mental surgiu como variável que mais influencia a performance no teste

de nomeação dos Afásicos, ou seja, o fato de ter mais comprometimento cognitivo

prejudica o acesso lexical dos Afásicos mais que o desempenho em outros testes como

compreensão oral ou repetição de palavras e frases.

O acesso lexical também sofre maiores perdas com pouco tempo de terapia,

pouca escolaridade e muito tempo de lesão.

Após analisar a influência de variáveis não linguísticas nos tipos de respostas ao

teste de nomeação de figuras serão apresentados os resultados obtidos para a influência

de variáveis linguísticas nos tipos de resposta de Afásicos e controles.

113

5) Tipos de respostas em função de variáveis linguísticas

As próximas análises serão segundo as seguintes variáveis: acordo de nome,

tamanho do item alvo, frequência de ocorrência do item alvo, idade de aquisição do

item alvo, familiaridade, complexidade visual, tonicidade.

No teste de nomeação, as figuras foram avaliadas em função da possibilidade de

serem nomeadas com mais de um item lexical, segundo a variável controle: acordo de

nome, conforme descrito no capítulo de metodologia. E como foi dito anteriormente é

importante o controle dessa variável antes de propor um teste. Nas tabelas 16 e 17 a

seguir, estão apresentadas as respostas na tarefa de nomeação de figuras segundo o

acordo de nome das imagens, para se checar a interferência de um bom controle dessa

variável no teste de nomeação proposto nos Afásicos e controles.

Tabela 16: Tipos de resposta dos Afásicos na tarefa de nomeação por acordo de

nome das figuras.

Acordo de nome Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Afásicos n % n % N % n % n % 80 - 89% 168 36,5 59 12,8 52 11,3 181 39,3 460 99,9 90 - 99% 858 54,1 133 8,4 154 9,7 442 27,9 1587 100

100% 865 57,9 91 6,1 140 9,4 399 26,7 1495 100

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 72.6949, grau de liberdade = 6 e p-valor = 1.144e-13

Os dados expostos na tabela 16 demonstram a importância do controle da

variável acordo de nome, relação essa confirmada pelo p-valor baixo. As Respostas

114

Corretas se concentram nas imagens onde há 100% de acordo de nome (com 57,9%),

diferente das imagens com acordo de nome entre 80 e 89% com apenas 36,5%.

De acordo com o controle da variável acordo de nome, é preciso atribuir uma

parte das substituições em função da possibilidade de o mesmo referente ter mais de

uma possibilidade de nomeação e isso interferir, portanto, no acesso lexical.

Além do aumento da porcentagem de Respostas Corretas com o alto acordo de

nome, há correspondência dos outros tipos de resposta com o acordo de nome, já que

consequentemente a porcentagem nas respostas envolvendo informações semânticas

(Respostas Semânticas), fonológicas (Respostas Fonológicas) e Outras Respostas

diminuem com o aumento do acordo de nome.

Na tabela 17, nota-se a relação entre o acordo de nome e tipos de resposta ao

teste de nomeação de figuras nos controles.

Tabela 17: Tipos de resposta dos controles na tarefa de nomeação por acordo de

nome das figuras.

Acordo de nome Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Controle n % n % N % n % n % 80 - 89% 390 84,8 25 5,4 8 1,7 37 8 460 99,9 90 - 99% 1498 94,4 36 2,3 7 0,4 46 2,9 1587 100

100% 1456 97,4 18 1,2 1 0,1 20 1,3 1495 100

Total 3344 94,4 79 2,2 16 0,5 103 2,9 3542 Qui-quadrado = 110.3503, grau de liberdade = 6 e p-valor <2.2e-16 *

Como nos Afásicos, os controles refletem o mesmo padrão de influência do

acordo de nome nos tipos de respostas. As Respostas Corretas aumentam o valor, de

84,8% a 97,4%, com o aumento no acordo de nome. Respostas Semânticas, Respostas

115

Fonológicas e Outras Respostas consequentemente diminuem com o aumento do

acordo de nome. Aliado ao p-valor essa observação marca bem a relação entre a

variável acordo de nome e tipos de resposta a tarefa de nomeação das imagens.

Mesmo havendo diferença significativa menor nos Afásicos (tabela 16), a

influência da variável acordo de nome na seleção das figuras se mostrou uma

ponderação importante a ser considerada nas testagens e avaliações da habilidade de

nomeação tanto em Afásicos quanto controles já que o p-valor encontrado em ambos os

grupos foi baixo.

As respostas dos Afásicos foram analisadas segundo o tamanho em número de

sílabas do item alvo e distribuídas de acordo com os tipos de resposta ao teste de

nomeação, como pode ser observado na tabela 18.

Tabela 18: Tipos de resposta dos Afásicos no teste de nomeação por tamanho do

alvo em número de sílabas.

Tamanho Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Afásicos n % n % n % N % n % 1-2 sílabas 1006 56,1 149 8,3 149 8,3 490 27,3 1794 100 3 sílabas 677 52,6 107 8,3 127 9,9 377 29,3 1288 100 4 sílabas ou mais 208 45,2 27 5,9 70 15,2 155 33,7 460 100

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 34.5326, grau de liberdade = 6 e p-valor = 5.308e-06

O tamanho em número de sílabas dos itens alvo na tarefa de nomeação de

figuras demonstrou relação estatística com os tipos de resposta. Há diminuição da

porcentagem de Respostas Corretas com o aumento em número de sílabas do item alvo.

116

Itens alvo grandes, com 4 ou mais sílabas apresentam mais respostas envolvendo

acesso de informações fonológicas do item alvo, 15,2%, e mais Outras Respostas,

33,7%, do que se considerarmos itens menores. Há aumento de porcentagem

envolvendo substituições fonológicas e do tipo Outras Respostas com aumento de

número de sílabas; no caso de 1-2 sílabas, apenas 8,3% das respostas são fonológicas e

27,3% são Outras Respostas, enquanto em itens trissílabos 9,9% das substituições são

do tipo fonológico e 29,3% Outras Respostas.

Observa-se que o tamanho em número de sílabas do item alvo influencia no

acesso lexical dos Afásicos. Quanto maior o item alvo maior o comprometimento do

acesso lexical na tarefa de nomeação de figuras.

Na dissertação de Senna (2009), o tamanho em número de sílabas apareceu

como uma variável estatisticamente associada à utilização de estratégias de anomia, ou

seja, dentro da amostra, o aumento da palavra foi proporcional à anomia.

Na nomeação e repetição dos Afásicos, os monossílabos apresentaram

comportamento não esperado já que 16,34% apenas eram Respostas Corretas. Seguidos

de 21,36% em polissílabos, 30,38% em trissílabos e 31,92% em dissílabos. Esse

resultado pode ser explicado por falta de controle de outras variáveis como frequência

do item e acordo de nome, já que há atualmente dificuldade de encontrar um banco de

dados do português brasileiro incluindo diversas variáveis para análise e controle.

Na tabela 19 apresentados, com objetivo de verificar se há semelhança entre os

comportamentos, estão os tipos de respostas na tarefa de nomeação de figuras dos

controles segundo o tamanho em número de sílabas dos itens alvo.

117

Tabela 19: Tipos de resposta dos controles no teste de nomeação por tamanho do

alvo em número de sílabas.

Tamanho Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Controle N % n % N % N % n % 1-2 sílabas 1683 93,8 48 2,7 9 0,5 54 3 1794 100 3 sílabas 1235 95,9 24 1,9 2 0,2 27 2,1 1288 100 4 sílabas ou mais 426 92,6 7 1,5 5 1,1 22 4,8 460 100

Total 3344 94,1 79 2,0 16 0,6 103 3,3 3542 Qui-quadrado = 19.1861, grau de liberdade = 6 e p-valor = 0.003861 *

Embora menos significativo e influente do que nos Afásicos, mas ainda sim

relacionado, o acesso lexical se mostrou prejudicado com o aumento do tamanho do

item alvo, demonstrando haver uma tendência associativa de influência na tarefa de

nomeação também em controles (relação ratificada estatisticamente pelo p-valor).

Os itens alvo de 1 e 2 sílabas apresentaram comportamento diferente

comparados aos outros tamanhos tanto em Afásicos quanto em controles (tabelas 18 e

19). Comportamento semelhante também foi observado em estudo semelhante de

nomeação de Afásicos em Senna (2009).

Os resultados encontrados na variável tamanho do item alvo em Afásicos e

controles corroboram a tese de continuidade de Dell et al. (1997), onde o funcionamento

do acesso lexical entre os voluntários não variaria qualitativamente.

As frequências dos itens alvo, agrupadas conforme descrito na metodologia,

foram analisadas segundo os tipos de respostas ao teste de nomeação dos Afásicos.

118

Tabela 20: Tipos de resposta dos Afásicos por Frequência dos itens na tarefa de

nomeação.

Frequência Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Afásicos N % N % n % N % n % Muito Pouco 303 38,7 60 7,7 109 13,9 310 39,6 782 99,9 Pouco Frequente 624 50,2 115 9,3 124 10 379 30,5 1242 100 Frequente 611 61,8 67 6,8 81 8,2 230 23,3 989 100 Muito Frequente 353 66,7 41 7,8 32 6 103 19,5 529 100

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 152.4618, grau de liberdade = 9 e p-valor < 2.2e-16

Há relação entre a frequência de ocorrência dos itens alvo e os tipos de resposta

ao teste de nomeação de figuras dos Afásicos, confirmado pela significância estatística.

Com o aumento da frequência há aumento também da porcentagem de Respostas

Corretas, de 38,7 a 66,7%. O acesso lexical é facilitado quando o item é muito

frequente, por isso aumenta a porcentagem de acertos.

Esses resultados replicam os de outros estudos que também encontram a

influência da frequência na Nomeação, como Barry, Morrison e Ellis (1997); Nozari et

al. (2010); Belke et al. (2005), Gordon (2002); Cuetos et al. (2002); entre outros.

Ao mesmo tempo com o aumento da frequência, de muito pouco frequente a

muito frequente, há diminuição de Respostas Fonológicas onde, embora não haja acesso

corretamente do item, há acesso de alguma informação fonológica (de 13,9 a 6%) e

Outras Respostas, ou seja, respostas onde nenhuma informação semântica ou

fonológica é acessada (de 39,6 a 19,5%). Já as Respostas Semânticas onde há acesso a

informação semântica se mantem com desempenho equivalente tanto em itens muito

frequentes quanto muito pouco frequentes.

119

Os resultados apontam para influência do efeito de frequência de ocorrência no

acesso lexical, já que com o aumento da frequência de ocorrência dos itens há melhora

do desempenho no teste de nomeação de figuras.

Na tabela 21, a frequência apresenta-se nos tipos de respostas na tarefa de

nomeação dos controles.

120

Tabela 21: Tipos de resposta dos controles por Frequência dos itens na tarefa de

nomeação.

Frequência Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Controle N % n % N % N % n % Muito Pouco 709 90,7 18 2,3 11 1,4 44 5,6 782 100 Pouco Frequente 1148 92,4 48 3,9 5 0,4 41 3,3 1242 100 Frequente 966 97,7 9 0,9 0 0 14 1,4 989 100 Muito Frequente 521 98,5 4 0,8 0 0 4 0,8 529 100

Total 3344 94,4 79 2,2 16 0,5 103 2,9 3542 Qui-quadrado = 90.7457, grau de liberdade = 9 e p-valor = 1.667e-15 *

As Respostas Corretas aumentaram com o aumento da frequência de ocorrência

dos itens alvo na tarefa de nomeação de imagens de controles, relação essa confirmada

estatisticamente pelo teste qui-quadrado e p-valor baixo.

As produções onde o acesso é feito de acordo com o esperado no item alvo

(Respostas Corretas) aumentam a porcentagem de 90,7 a 98,5% com o aumento da

frequência de ocorrência do item exemplificando a influência entre frequência de

ocorrência e acesso lexical.

Ao comparar os tipos de respostas segundo a frequência nos Afásicos e

controles, há maior influência da frequência nos tipos de respostas de Afásicos pelas

diferenças de porcentagem e ratificado pelo p-valor mais baixo na tabela 20. Esse fato

demonstra que em caso de lesão a variável frequência de ocorrência se torna mais

influente na tarefa de nomeação, ou seja, mais influente no acesso lexical dos itens alvo.

Os tipos de resposta no teste de nomeação dos Afásicos estão distribuídos

segundo a idade de aquisição dos itens, na tabela 22.

121

Tabela 22: Tipos de resposta dos Afásicos por Idade de Aquisição do item alvo na

tarefa de nomeação.

Aquisição Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Afásicos n % N % N % N % n % Muito Cedo 490 68,7 58 8,1 41 5,8 124 17,4 713 100 Cedo 828 59 94 6,7 119 8,5 362 25,8 1403 100 Tardia 322 48,3 58 8,7 84 12,6 203 30,4 667 100 Muito Tarde 251 33,1 73 9,6 102 13,4 333 43,9 759 100

Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542 Qui-quadrado = 234.559, grau de liberdade = 9 e p-valor <2.2e-16

A idade de aquisição foi uma variável adotada, baseada em estimativas e

pontuada conforme a metodologia descrita anteriormente na presente tese, para

investigação de influências no acesso lexical, a fim de mensurar a aquisição dos itens

alvo e verificar essa influência na tarefa de nomeação. E de acordo com os dados

apresentados e baixo p-valor constatou-se que a idade de aquisição do item alvo

influenciou nas porcentagens de Respostas Corretas dos Afásicos.

A porcentagem de Respostas Corretas diminui quanto mais tarde for a idade de

aquisição dos itens, de 68,7 a 33,1% e aumenta a porcentagem de Outras Respostas, em

que não há acesso a nenhuma informação do item alvo, sejam informações semânticas

ou fonológicas, de 17,4 a 43,9%.

Esses resultados confirmam a hipótese de Jakobson (1941) segundo a qual

aquilo que foi adquirido primeiro é o que mais se preserva em perdas linguísticas.

A idade de aquisição dos itens alvo por cada tipo de resposta dos controles está

exposto na tabela 23.

122

Tabela 23: Tipos de resposta dos controles por Idade de Aquisição do item alvo na

tarefa de nomeação.

Aquisição Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Controle n % N % n % N % n % Muito Cedo 696 97,6 11 1,5 0 0 6 0,8 713 99,9 Cedo 1355 96,6 31 2,2 0 0 17 1,2 1403 100 Tardia 638 95,7 12 1,8 1 0,1 16 2,4 667 100 Muito Tarde 655 86,3 25 3,3 15 2 64 8,4 759 100

Total 3344 94,4 79 2,2 16 0,5 103 2,9 3542 Qui-quadrado = 167.3481, grau de liberdade = 9 e p-valor <2.2e-16 *

Assim como na tabela 22, com baixo p-valor, os controles apresentaram

comportamento semelhante ao dos Afásicos, conforme pode ser observado pelas

porcentagens de respostas ao teste de nomeação das imagens.

As porcentagens encontradas nos controles também corroboram a hipótese de

Jakobson (1941) já que as respostas onde são acessadas informações fonológicas, por

exemplo, se concentram nos itens de idade de aquisição tardia e muito tardia servindo

assim como mais uma evidência da influência da variável idade de aquisição e acesso

lexical (pelo desempenho na tarefa de nomeação de figuras).

A seguir, na tabela 24, as respostas ao teste de nomeação de figuras nos Afásicos

distribuídas pela familiaridade do item alvo.

123

Tabela 24: Tipos de resposta dos Afásicos por Familiaridade dos itens na tarefa de

nomeação.

Familiaridade Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Afásicos n % n % N % N % n % Pouco Familiar 625 43,1 121 8,4 162 11,2 541 37,3 1449 100

Muito Familiar 1266 60,5 162 7,7 184 8,8 481 23 2093 100 Total 1891 53,4 283 8,0 346 9,8 1022 28,9 3542

Qui-quadrado = 114.8494, grau de liberdade = 3 e p-valor < 2.2e-16

A variável familiaridade do item alvo (com valores padronizados por Pompéia,

Miranda e Bueno em 2001) demonstrou relevância estatística nos tipos de respostas ao

teste de nomeação dos Afásicos devido ao p-valor baixo.

Os dados de familiaridade foram agrupados em dois grupos sendo muito e pouco

familiar. Quanto mais familiar o item alvo, maior as porcentagens de Respostas

Corretas, de 43,1 a 60,5% e consequentemente menor as Respostas Semânticas e

Respostas Fonológicas e Outras Respostas.

Cuetos et al. (2002) identificaram fatores como complexidade visual e

familiaridade influenciando no reconhecimento e os presentes resultados confirmam

essa relação. O acesso lexical foi influenciado em função da familiaridade nos Afásicos.

A familiaridade segundo os tipos de respostas ao teste de nomeação dos

controles é apresentada na tabela 25.

124

Tabela 25: Tipos de resposta dos controles por Familiaridade dos itens na tarefa de

nomeação.

Familiaridade Respostas Corretas

Respostas Semânticas

Respostas Fonológicas

Outras Respostas Total

Controle n % N % n % N % n % Pouco Familiar 1310 90,4 47 3,2 14 1 78 5,4 1449 100

Muito Familiar 2034 97,2 32 1,5 2 0,1 25 1,2 2093 100 Total 3344 94,4 79 2,2 16 0,5 103 2,9 3542

Qui-quadrado = 4.2705, grau de liberdade = 3 e p-valor < 2.2e-16*

A familiaridade dos itens também se mostrou influente nos controles, replicando

a relação entre tipos de respostas e familiaridade dos Afásicos de p-valor equivalente.

Com o aumento da familiaridade, aumenta a porcentagem de Respostas Corretas, de

90,4 a 97,2% e diminui os valores dos demais tipos de resposta, como Respostas

Semânticas (de 3,2 a 1,5%), Respostas Fonológicas (de 1 a 0,1%) e Outras Respostas

(de 5,4 a 1,2%).

Portanto assim como em Afásicos a familiaridade se mostrou influente no acesso

lexical dos controles.

Já a complexidade visual das imagens não demonstrou influência (relação de

dependência estatística) com o acesso lexical de Afásicos. O teste estatístico qui-

quadrado confirma a hipótese de independência entre as variáveis já que o p-valor foi

maior que 0,05.

A variável complexidade visual só se mostrou influente no acesso lexical (tarefa

de nomeação de figuras) em controles. Para os Afásicos, a tonicidade dos itens

demonstrou não influenciar o acesso lexical na tarefa de nomeação de imagens. A

análise estatística envolvendo os dados de tonicidade dos itens alvo e os tipos de

125

resposta ao teste de nomeação de figuras de Afásicos não demonstrou relevância

significativa, já que apresentou p-valor alto.

Após a análise individual de cada variável influente ou não no acesso pela tarefa

de nomeação de figuras em Afásicos e controles se faz necessária análise conjunta das

variáveis averiguando comparativamente quais seriam mais influentes no acesso lexical.

Com isso, a análise de regressão logística (estudo estatístico que possibilita essa análise)

foi escolhida para observação dos dados.

6) Análise de regressão logística segundo variáveis linguísticas no teste de

nomeação de figuras.

As variáveis linguísticas observadas na produção dos voluntários foram:

frequência do item alvo, tamanho em número de sílabas, familiaridade do item alvo,

complexidade visual da figura, acordo de nome, idade de aquisição e tonicidade do item

alvo conforme toda análise realizada anteriormente no presente capítulo.

O software R (citado na metodologia) através de comandos para análise de

regressão logística selecionou como variáveis mais influentes nas Respostas Corretas

da tarefa de nomeação de figuras dos Afásicos: a idade de aquisição do item (p-valor <

2e-16), a familiaridade (p-valor 4.51e-06) e a frequência do item alvo (p-valor

0.000776).

A idade de aquisição se mostrou uma variável mais influente que a frequência de

ocorrência do item na recuperação lexical, ratificando a ideia “espelho invertido”

(Jakobson, 1941 e Scarpa, 2005) que postulou que estruturas linguísticas que foram

126

adquiridas primeiro são as que mais se preservam em situações de perdas linguísticas na

Afasia.

Já considerando os controles, a seleção das variáveis mais significativas, pelo p-

valor baixo, nas Respostas Corretas do teste de nomeação de figuras foram: a

familiaridade do item (p-valor 8.57e-15) e o acordo de nome das figuras (p-valor 2.67e-

14).

Ratifica-se também a hipótese da presente tese de que a produção em testes de

nomeação se relaciona com as hipóteses de organização do léxico, segundo a Fonologia

de uso (Pierrehumbert, 2003), em função de alguns fatores que podem influenciar na

representação lexical e consequentemente no acesso, como a frequência de ocorrência

do item, conforme mencionado nos comentários da Tabela 20.

A familiaridade foi a variável eleita nos Afásicos e controles, o que demonstra

sua importância no acesso lexical.

Durante a tarefa de nomeação de figuras além do tipo de resposta dada analisou-

se o tempo de resposta a exibição de cada figura e o resultado será apresentado a seguir.

7) Tempo de resposta ao teste de nomeação de figuras

O tempo de resposta a cada estímulo foi contabilizado nos Afásicos e nos

controles. No gráfico 2 observa-se a distribuição dos tempos de resposta segundo esses

grupos.

O gráfico box plot foi escolhido por ilustrar através de aspectos importantes

como valor mínimo e máximo, primeiro, segundo e terceiro quartil a distribuição dos

dados.

127

Gráfico 2: Tempo de resposta (milissegundos) nos Afásicos e controles.

O gráfico 2 permite a visualização dos dados mais compactados dos controles

em comparação aos Afásicos. Conforme se observa, há uma diferença significativa

entre o tempo de resposta dos Afásicos e controles, evidenciando o problema de acesso

lexical de Afásicos, medido não só em função do percentual de respostas de acordo com

o alvo, mas também em relação ao tempo de acesso.

Nos dois grupos observa-se discrepâncias para tempos de resposta superiores.

Os tempos de resposta (ou latência) foram submetidas a ANOVA (por se tratar

de uma variável contínua) para avaliar se a diferença entre as médias dos tempos de

resposta ao teste de nomeação de figuras de Afásicos (2.399,01 milissegundos) e

128

controles (1.143,01 milissegundos) é significativa. O p-valor obtido <2e-16 revelou se

tratar de diferença significativa entre os grupos. Essa comparação pode ser visualizada

no gráfico 3.

Gráfico 3: Distribuição da variável tempo de resposta dos Afásicos (histograma).

No gráfico 3, podemos observar, na distribuição dos dados (de 0 milissegundo a

8000 milissegundos), que os tempos de resposta dos Afásicos se concentram no

intervalo de 0 a 4000 milissegundos.

129

A distribuição dos tempos de resposta foi observada segundo os tipos de

resposta ao teste de nomeação de figuras no gráfico 4.

Gráfico 4: Tempo de resposta dos Afásicos em função dos tipos de resposta ao teste

de nomeação de figuras.

As Respostas Corretas se concentraram mais em tempos de resposta menores

(por isso a quantidade maior de valores discrepantes), os demais tipos de resposta

tiveram comportamento semelhante segundo as caixas.

Aplicou-se a ANOVA a fim de verificar a relação entre tempo de resposta e tipo

de resposta no teste de nomeação de figuras e o p-valor demonstrou significância <2.2e-

16.

130

Novamente a ANOVA foi utilizada, agora para avaliar o tempo de resposta ao

teste de nomeação de figuras em relação aos fatores mais influentes como tamanho em

número de sílabas do item alvo, frequência de ocorrência, idade de aquisição e

familiaridade (fatores selecionados na análise de regressão logística) nos Afásicos.

Todas as variáveis testadas se comportaram como influentes no tempo de

resposta dos Afásicos ao teste de nomeação de figuras. Os valores de p-valor em ordem

de significância para o tempo de resposta foram: 2.12e-11 para familiaridade, 6.70e-07

para frequência de ocorrência dos itens, 1.06e-06 para idade de aquisição dos itens alvo

e 0.0172 para tamanho em número de sílabas do alvo. Por esse motivo, serão

apresentados gráficos referentes a essas relações.

No gráfico 5 encontra-se o tempo de resposta as figuras segundo a familiaridade

com o item alvo.

131

Gráfico 5: Tempo de resposta dos Afásicos em função da familiaridade com item

alvo.

Os estímulos muito familiares tenderam a seguir um padrão, por serem

nomeados mais corretamente, por isso se concentram mais entre os tempos de resposta.

O tempo de resposta dos Afásicos está distribuído em função da frequência de

ocorrência dos itens alvo no gráfico 6.

132

Gráfico 6: Tempo de resposta dos Afásicos em função da frequência de ocorrência

do item alvo.

Os estímulos em relação à frequência não alteram significativamente os tempos

de resposta, o que deve ser constatado pela proximidade entre as medianas (linhas

indicadas em negrito em cada caixa).

Os tempos de resposta distribuídos pela idade de aquisição dos itens alvo estão

registrados no gráfico 7.

133

Gráfico 7: Tempo de resposta dos Afásicos em função da idade de aquisição do

item alvo.

Os estímulos adquiridos muito cedo em comparação aos adquiridos muito tarde

estão mais concentrados, ou seja, apresentam um padrão de tempo de resposta, e foram

respondidos mais rapidamente. Aqueles adquiridos muito tarde, além de apresentarem

mediana com valor mais alto apresentam valores mais dispersos e mais altos de tempo.

O tempo de resposta aos estímulos em função do tamanho do item alvo é

apresentado no gráfico 8.

134

Gráfico 8: Tempo de resposta dos Afásicos em função do tamanho (em número de

sílabas) do item alvo.

No gráfico 8, observa-se as três medianas próximas. A diferença significativa na

relação entre o tamanho e tempo de resposta (em milissegundos) concentra-se

principalmente entre as caixas de 1-2 sílabas e as outras. As caixas de 3 sílabas e 4 ou

mais sílabas são bem semelhantes, incluindo os pontos discrepantes.

135

8) Grau de semelhança das produções dos Afásicos em relação ao alvo

Conforme o descrito na metodologia, diante das respostas ao teste de nomeação

de figuras, nas substituições fonológicas aplicou-se um índice de similaridade

fonológica que leva em conta a quantidade de segmentos preservados em relação à

posição deles no item alvo, apreendendo a complexidade das representações fonológicas

pela semelhança segmental e considerando a ordem linear dos segmentos sonoros.

Esse índice, que se propõe a quantificar o grau de similaridade do material

fonológico na produção em relação ao alvo, pode apontar para problemas no acesso à

representação sonora da palavra no léxico, ao mesmo tempo em que indica acesso a

diversas informações sobre a estrutura fonológica do item alvo.

O índice proposto foi analisado segundo os tipos de resposta ao teste de

nomeação nos Afásicos e nos controles.

Ao analisar os valores do índice de similaridade fonológica dos Afásicos com

valor de média 0.065468987 e o dos controles com 0.002966107 na ANOVA, constata-

se diferença significativa (p-valor <2e-16), ou seja, há diferença significativa entre os

grupos.

Essa comparação dos valores de índices encontrados entre os grupos pode ser

visualizada no gráfico 9.

136

Gráfico 9: Distribuição da ocorrência dos índices de similaridade fonológica

segundo os dois grupos de voluntários.

O gráfico foi organizado sem contabilizar as Respostas Corretas do teste de

nomeação, já que essas produções se concentram no índice 1 (correspondente às

Respostas Corretas), pois isso inviabilizaria a construção do gráfico com a distribuição

dos dados.

Obviamente, com esse corte, alterou-se o número total de dados, uma vez que os

controles apresentam número total de observações bem abaixo em comparação dos

Afásicos: apresentaram número absoluto de 17 substituições fonológicas contra 347

substituições fonológicas dos Afásicos.

137

Todas as respostas dos Afásicos estão apresentadas no Gráfico 10 segundo sua

distribuição de ocorrência. Essas substituições são do tipo fonológica, o que tornou

possível à aplicação do índice, portanto descartando as Respostas Corretas, totalizando

347 observações.

Gráfico 10: Distribuição da ocorrência dos índices de similaridade fonológica em

Afásicos.

Sem contabilizar as Respostas Corretas, que por ser a maioria, se concentrariam

no valor 1.0 impossibilitando visualizar os demais valores, observa-se distribuição dos

índices de similaridade fonológica nos valores mais altos (próximos a 0.8)

138

demonstrando que as substituições fonológicas acessam algumas informações

fonológicas do item alvo.

A ANOVA foi utilizada para avaliar o índice de similaridade fonológica das

produções dos Afásicos em relação aos fatores mais influentes como tamanho em

número de sílabas do item alvo, frequência de ocorrência, idade de aquisição e

familiaridade (fatores selecionados na análise de regressão logística como influentes na

nomeação de Afásicos).

Algumas variáveis testadas se manifestaram influentes no índice de similaridade

fonológica da produção dos Afásicos como frequência e idade de aquisição (p-valor

3.311e-09 e 8.518e-06 respectivamente).

As outras variáveis testadas apresentaram os seguintes p-valores: 0.1416 para

familiaridade e 0.3710 para tamanho (os valores são superiores a 0,05 por isso sem

significância).

As relações significativas do índice proposto de similaridade fonológica com o

alvo, ou seja, relacionando-se com frequência de ocorrência do item e idade de

aquisição estão expostas nos gráficos 11 e 12 (respectivamente).

139

Gráfico 11: Índice de similaridade fonológica segundo a frequência do item nos

Afásicos.

140

Gráfico 12: Índice de similaridade fonológica segundo a idade de aquisição dos

itens nos Afásicos.

.

Observa-se pelos gráficos e tabelas de análise do teste de nomeação de figuras o

desempenho diferenciado dos voluntários, sendo controle ou Afásico. A tese de

continuidade foi evidenciada ao se comparar o acesso lexical de Afásicos e controles, já

que o fato de ter lesão não necessariamente implicou em problemas de acesso lexical

para alguns Afásicos. E no caso do acesso prejudicado, a natureza das substituições

(tipos de resposta diferentes da correta) não foi diferente entre Afásicos e controles,

exceto para aqueles casos mais graves, em que foram observadas também as respostas

141

ininteligíveis, termo genérico, circunlocução, onomatopeia, gesto/mímica, do tipo

perseverativa e por reconhecimento visual.

A variedade encontrada também aponta para uma análise abrangente dos

pacientes na clínica Fonoaudiológica já que o diagnóstico pode não ser suficiente para

abarcar as especificidades tão necessárias na elaboração de plano terapêutico.

Diante das análises confirma-se que a produção em testes de nomeação de

figuras se relaciona com as hipóteses de organização do léxico segundo os pressupostos

teóricos apresentados no capítulo II, em função de alguns fatores que podem influenciar

na representação lexical e consequentemente no acesso.

O acesso lexical, comprometido ou não, verificado na testagem mostrou sofrer

influência de diversas variáveis em Afásicos e controles, como idade de aquisição,

frequência de ocorrência do item, familiaridade e tamanho do item alvo. Além disso, o

estudo do acesso lexical através de teste de nomeação de figuras demonstrou a

importância de considerar variáveis como acordo de nome e complexidade visual.

142

Capítulo V – CONHECIMENTO FONOLÓGICO: ANÁLISE DO TE STE DE PSEUDOPALAVRAS

No presente capítulo serão apresentados os resultados dos dados do teste de

acuracidade de Repetição de pseudopalavras.

Conforme descrito no capítulo de metodologia, o teste de repetição de

pseudopalavras foi aplicado em Afásicos e controles, após a tarefa de nomeação de

figuras e tem como objetivo checar o conhecimento fonológico abstrato relacionado às

inferências probabilísticas das relações fonotáticas dos segmentos e molde lexical

mapeados, respectivamente, através das condições de confecção dos estímulos

frequência e tamanho. A observação do efeito da variável frequência dos componentes

das pseudopalavras tem como objetivo avaliar o efeito do tamanho do léxico na

acuracidade de repetição de pseudopalavras.

O esperado é que não haja efeito de frequência para os controles, uma vez que o

léxico adulto é de tamanho suficiente para proporcionar robustez às representações dos

diversos tipos de abstração postulados por Pierrehumbert (2003) e descritos no Capítulo

II.

Apenas relembrando que os voluntários são os mesmos apresentados e

caracterizados nos capítulos de metodologia e na análise do teste de Nomeação de

figuras (23 Afásicos e 23 controles).

Primeiramente os tipos de respostas ao teste de repetição de pseudopalavras

serão abordados por voluntários, assim como a pontuação segundo a acuracidade no

teste, e relacionados com as variáveis linguísticas controladas do teste: tamanho do item

alvo e frequência.

143

1) Tipos de resposta ao teste de repetição de pseudopalavras (Caracterização

do desempenho dos voluntários).

As respostas ao teste de repetição de pseudopalavras foram agrupadas em 3

grandes blocos, a fim de facilitar a observação estatística dos dados. Grupo 1: Sem

respostas; composto principalmente por respostas vazias dos voluntários frente aos

estímulos; Grupo 2: Repetições não Corretas, compreendendo as repetições que diferem

do produzido. E para especificar as substituições ocorridas no grupo 2 as produções

foram graduadas quanto a acuracidade (a pontuação foi obtida conforme descrito

anteriormente na metodologia); e finalmente Grupo 3: Repetições Corretas, que

incluem respostas que alcançaram o alvo a ser repetido conforme esperado.

Os tipos de resposta acima descritos para o teste de repetição de pseudopalavras

serão apresentados por cada Afásico na tabela 26.

144

Tabela 26: Tipos de respostas no teste de repetição de pseudopalavras por cada

Afásico.

Repetição sem respostas Repetições

não Corretas Repetições Corretas Total

Afásicos N % n % n % N % J.A. 15 50 14 46,7 1 3,3 30 100

M.E. 0 0 23 76,7 7 23,3 30 100

M.R. 8 26,7 18 60 4 13,3 30 100

L.B. 0 0 17 56,7 13 43,3 30 100

S.S. 1 3,3 9 30 20 66,7 30 100

C.L. 0 0 17 56,7 13 43,3 30 100

P.A. 0 0 18 60 12 40 30 100

V.V. 1 3,3 20 66,7 9 30 30 100

S.M. 0 0 11 36,7 19 63,3 30 100

M.A. 21 70 9 30 0 0 30 100

R.G. 23 76,7 7 23,3 0 0 30 100

A.R 19 63,3 11 36,7 0 0 30 100

G.C. 4 13,3 15 50 11 36,7 30 100

T.R. 0 0 4 13,3 26 86,7 30 100

C.O. 0 0 14 46,7 16 53,3 30 100

E.T. 14 46,7 14 46,7 2 6,7 30 100

F.J. 4 13,3 16 53,3 10 33,3 30 99,9

F.R. 7 23,3 12 40 11 36,7 30 100

M.H. 0 0 16 53,3 14 46,7 30 100

J.L. 0 0 12 40 18 60 30 100

L.F. 0 0 8 26,7 22 73,3 30 100

S.R. 1 3,3 28 93,3 1 3,3 30 99,9

A.A. 5 16,7 18 60 7 23,3 30 100

Total 123 17,8 331 48,0 236 34,2 690 Qui-quadrado = 408.5486, gl = 44, p-valor < 2.2e-16

Assim como na tarefa de nomeação, observa-se grande variabilidade de

desempenhos entres os Afásicos, confirmadas pelo p-valor baixo. Já que se trata de uma

tarefa de repetição de pseudopalavras demonstra que há diversos graus de

comprometimento no conhecimento fonológico entre os Afásicos pesquisados.

145

Os tipos de resposta ao teste de repetição também foram analisados

considerando os controles, conforme tabela 27.

Tabela 27: Tipos de respostas no teste de repetição de pseudopalavras por cada

controle.

Repetição sem respostas Repetições

não Corretas Repetições Corretas Total

Controle N % n % N % N % E.F. 0 0 6 20 24 80 30 100 J.A. 0 0 8 26,7 22 73,3 30 100 M.C. 0 0 7 23,3 23 76,7 30 100

J.O. 0 0 10 33,3 20 66,7 30 100 N.C. 0 0 8 26,7 22 73,3 30 100

V.L. 0 0 4 13,3 26 86,7 30 100 E.D. 0 0 15 50 15 50 30 100

R.B. 0 0 4 13,3 26 86,7 30 100 I.A. 0 0 4 13,3 26 86,7 30 100 E.E. 0 0 5 16,7 25 83,3 30 100

B.D. 0 0 4 13,3 26 86,7 30 100 L.A. 0 0 14 46,7 16 53,3 30 100

V.P. 0 0 3 10 27 90 30 100 L.B. 0 0 5 16,7 25 83,3 30 100 L.T. 0 0 6 20 24 80 30 100

J.C. 0 0 9 30 21 70 30 100 A.G. 0 0 6 20 24 80 30 100

L.F. 0 0 5 16,7 25 83,3 30 100 E.S. 1 3,3 9 30 20 66,7 30 100

L.M. 1 3,3 6 20 23 76,7 30 100 S.R. 0 0 6 20 24 80 30 100 M.A. 0 0 6 20 24 80 30 100

B.T. 0 0 5 16,7 25 83,3 30 100

Total 2 0,3 155 22,5 533 77,2 690 Qui-quadrado = 60.3674, gl = 44, p-valor = 0.05102*

Todos os controles apresentaram porcentagem superior a 50 %, conforme tabela

27. Embora os resultados apenas ratifiquem a ideia de que nenhum controle apresentaria

146

dificuldade na tarefa de repetição de pseudopalavras, observa-se uma variedade de

porcentagens entre os voluntários. As Repetições Corretas por exemplo, variam de

53,3% a 90%.

Após a exposição das porcentagens dos tipos de respostas por voluntário dentro

de cada grupo, faz-se necessário uma comparação entre os Afásicos e controles.

Todas as respostas aos graus de acuracidade no teste de repetição de

pseudopalavras foram submetidas à ANOVA (por se tratar de uma variável contínua)

para avaliar se a diferença entre as médias de graus de acuracidade no teste de repetição

de pseudopalavras em Afásicos (0.8819224) e controles (0.9746288) é significativa. O

p-valor obtido <2e-16 revelou se tratar de diferença significativa entre Afásicos e

controle. Essa comparação entre os desempenhos dos grupos de voluntários pode ser

visualizada no gráfico 13.

147

Gráfico 13: Comparação de desempenho entre Afásicos e controles.

Observamos nos gráfico, sem as Repetições Corretas, os dados dos controles

mais concentrados em valores mais altos que as repetições dos Afásicos. Os dados dos

Afásicos se caracterizam por apresentar maior discrepância entre os escores obtidos e

presença de valores mais baixos.

Após ratificada estatisticamente e visualmente pelo gráfico 13 a diferença entre

Afásicos e controles, optou-se por focalizar análise estatística da repetição dos Afásicos.

Para a análise da repetição de pseudopalavras dos Afásicos focou-se nas

Repetições não Corretas, isto é, foram descartadas as Repetições Corretas e vazias ou

148

ininteligíveis e foi aplicado o cálculo do índice com o objetivo de medir a acuracidade

da repetição. A distribuição dessas respostas está apresentada no gráfico 14.

Gráfico 14: Distribuição das pontuações de acuracidade de repetição de

pseudopalavras

No gráfico observamos que a distribuição se concentra em valores próximos a 1

( > 0.7 - < 1.0). A repetição de pseudopalavras em Afásicos apresentou grau de

acuracidade com escore alto.

Portanto diante dessas condições de distribuição e concebendo a grande

variabilidade entre os voluntários (segundo as tabelas 26 e 27) se fez uso da ANOVA,

149

através de comando do software R, a fim de checar a influência das seguintes variáveis

na acuracidade dos Afásicos: teste de rastreamento cognitivo (mini-mental), teste de

compreensão oral de palavras e frases, teste de repetição de palavras e frases,

escolaridade, tempo de terapia e tempo de lesão. E com p-valor mais significativo (<

2.2e-16) destacou-se: Mini-Mental, teste de compreensão oral e o diagnóstico.

Após entender a distribuição desses tipos de resposta ao teste de repetição de

pseudopalavras em Afásicos, com objetivo de explicar e verificar que variáveis

linguísticas interfeririam, as mesmas foram analisadas linguisticamente em relação ao

tamanho e frequência do estímulo no item 2.

150

2) Caracterização das respostas no teste de repetição de pseudopalavras

segundo as variáveis linguísticas.

As variáveis linguísticas analisadas são: tamanho da pseudopalavra (em número

de sílabas) e frequência de tipo silábico.

ANOVA foi utilizada para avaliar o grau de acuracidade ao teste de repetição de

pseudopalavras de Afásicos em relação aos fatores controlados. As variáveis testadas se

comportaram como não influentes, os valores de p-valor para o grau de acuracidade em

Afásicos foram: 0.7813 para frequência e 0.4644 para tamanho em número de sílabas do

alvo.

Já na análise do grau de acuracidade no teste de repetição de pseudopalavras dos

controles utilizando a ANOVA, investigando variáveis de tamanho do item e

frequência, encontrou-se como relacionado estatisticamente a esses valores a variável

tamanho da pseudopalavra. O p-valor obtido nessa relação foi 0.000728 para a variável

tamanho e 0.544542 para a frequência, ou seja, p-valor abaixo de 0,05 (significativo)

para tamanho. O resultado para frequência está dentro do esperado para indivíduos

adultos sem lesão. Com relação à variável tamanho, não há na literatura referência a um

comportamento esperado para pseudopalavras de diferentes números de sílabas. Embora

o esperado seja que o léxico adulto seja suficiente para conferir robustez

representacional para um molde lexical com quatro sílabas, é compreensível que as

pseudopalavras maiores tenham tido acuracidade comprometida por exigirem mais da

memória de trabalho. É importante lembrar que as pseudopalavras foram elaboradas de

maneira tal que se evitassem sequências sonoras que pudessem ter interpretação

morfológica, como –ista, -ada, -oso, -ava, etc.

151

Em estudos sobre o efeito de wordlikeness, grau de semelhança entre

pseudopalavras e palavras reais da língua (Mendes, Gomes e Silva, 2011), a frequência

e o tamanho das pseudopalavras se mostraram significativos. Esses resultados foram

tomados como evidência de que o conhecimento fonotático emerge de padrões

segmentais inferidos no léxico mental em função da probabilidade de ocorrência no

léxico (Coleman e Pierrehumbert, 1997).

O grau de acuracidade das respostas consideradas Repetições não Corretas

segundo o tamanho em número de sílabas das pseudopalavras utilizadas foi considerado

na análise e estão apresentados no gráfico 15.

152

Gráfico 15: O grau de acuracidade segundo o tamanho silábico na repetição de

Afásicos.

Os itens com 2 sílabas se apresentam mais próximos do alvo, ou seja, da

pontuação 1.0. Já itens maiores com 3 sílabas e 4 sílabas se assemelham mais entre si no

quesito comportamento.

O grau de acuracidade dos controles segundo o tamanho em número de sílabas

das pseudopalavras está exposto no gráfico 16.

153

Gráfico 16: O grau de acuracidade segundo o tamanho silábico na repetição de

controles.

No gráfico observa-se que as pseudopalavras de 3 sílabas se concentram no

índice alto, bem próximos a 1.

As pseudopalavras maiores apresentam dados discrepantes (3 e 4 sílabas) para

valores baixo de índice.

O grau de acuracidade das respostas ao teste de repetição de pseudopalavras pela

frequência das estruturas que compõem as pseudopalavras alvo nos Afásicos está

apresentado no gráfico 17.

154

Gráfico 17: O grau de acuracidade segundo a frequência silábica na repetição de

Afásicos.

No gráfico 18, o grau de acuracidade das pseudopalavras repetidas pelos

controles segundo a frequência.

155

Gráfico 18: O grau de acuracidade segundo a frequência silábica na repetição de

controles.

Os resultados do teste de repetição de pseudopalavras permitiram verificar o

grau de preservação da gramática fonológica nos Afásicos, diante da influência ou não

das variáveis testadas: frequência e tamanho.

Embora o esperado fosse de um léxico adulto suficiente grande para dar robustez

às representações abstratas de qualquer tipo de relação fonotática, mesmo as menos

frequentes e de maior tamanho, ou seja, sem influência das variáveis, os dados

156

encontrados para os voluntários controle evidenciam influência da variável tamanho no

grau de acuracidade de repetição de pseudopalavras, compreensível já que envolveria

itens mais longos na memória.

Com isso, após a exposição dos resultados através de tabelas e gráficos do

capítulo V, e, principalmente, em comparação aos resultados encontrados para os

controles, não se observa comprometimento da representação fonológica nos Afásicos.

Aliado a isso, há o fato de os valores de acuracidade se concentrarem próximos a 1.

Conclui-se, diante dos resultados, que a anomia dos Afásicos de nossa amostra é um

caso de comprometimento de acesso lexical, sem problema de representação lexical, e a

gramática fonológica não foi afetada com a lesão cerebral.

Esses resultados foram tomados como evidência de que o conhecimento

fonotático emerge de padrões segmentais inferidos no léxico mental em função da

probabilidade de ocorrência no léxico (Coleman e Pierrehumbert, 1997) e que o léxico

adulto é suficiente para dar robustez a relações fonotáticas de segmentos em estruturas

silábicas frequentes e não-frequentes no léxico.

157

CONCLUSÃO

Os resultados no teste de nomeação de figuras e de acuracidade de repetição de

pseudopalavras permitiram verificar o acesso lexical e representações fonológicas mais

abstratas de Afásicos e controles.

Primeiramente observou-se que o perfil dos Afásicos juntamente com a

porcentagem de suas respostas evidenciam a variedade encontrada nos dados, que

também foi constatada no estudo de Dell et al. (1997), podendo ser atribuída aos

diversos graus de comprometimentos no acesso lexical. Houve grande variabilidade de

desempenhos dentro dos tipos Afásicos e controle em todas as tarefas propostas (teste

de nomeação de figuras e teste de repetição de pseudopalavras), justificando a busca de

outros critérios senão o diagnóstico para caracterizar mais especificadamente os

Afásicos, já que indivíduos do mesmo diagnóstico têm desempenhos diferentes.

Os desempenhos nos testes de compreensão oral, repetição de palavras e frases e

mini-mental demonstraram ter influência sobre os tipos de respostas. Quanto melhor a

compreensão, maior a porcentagem de Respostas Corretas; houve correlação da

habilidade de repetição de palavras e frases e a habilidade de evocar informações

lexicais (fonológicas, semânticas ou ambas). E houve aumento gradual de Respostas

Corretas com a melhora no desempenho no Mini-mental (habilidades cognitivas). O

fato de ter mais comprometimento cognitivo prejudica o acesso lexical dos Afásicos

mais que o desempenho em outros testes como compreensão oral ou repetição de

palavras e frases. O acesso lexical também sofre maiores perdas com pouco tempo de

terapia, pouca escolaridade e muito tempo de lesão.

Consideramos que a tese de continuidade defendida por Dell et al. (1997) ), que

reside na diferença quantitativa e não em uma diferença qualitativa entre os grupos foi

158

ratificada no estudo. O fato de ser Afásico não indica obrigatoriamente

comprometimento de nomeação. E o processamento envolvendo acesso lexical em

etapas interativas e organização lexical em redes, hipótese abraçada pelo estudo, foi

ratificado pela análise dos dados. As substituições encontradas em Afásicos e não

Afásicos, com preservação considerável de informações fonológicas, funcionaram como

evidências para o estudo.

Observa-se que o tamanho em número de sílabas do item alvo influencia no

acesso lexical dos Afásicos e controles. Há diminuição da porcentagem de Respostas

Corretas com o aumento em número de sílabas do item alvo, corroborando a tese de

continuidade de Dell et al. (1997), onde o funcionamento do acesso lexical entre os

voluntários não variaria qualitativamente.

Há relação entre a frequência de ocorrência dos itens alvo e os tipos de resposta

ao teste de nomeação de figuras dos Afásicos e controle. Com o aumento da frequência

há aumento também da porcentagem de Respostas Corretas: o acesso lexical é

facilitado quando o item é muito frequente.

A porcentagem de Respostas Corretas em controles e Afásicos diminui quanto

mais tarde for a idade de aquisição dos itens, confirmando a hipótese de Jakobson

(1941) segundo a qual aquilo que foi adquirido primeiro é o que mais se preserva em

perdas linguísticas.

O acesso lexical foi influenciado também pela familiaridade nos Afásicos e

controle com as figuras do teste. Com o aumento da familiaridade, aumenta a

porcentagem de Respostas Corretas.

Diante das análises da presente tese, conclui-se que como variáveis mais

influentes nas Respostas Corretas da tarefa de nomeação de figuras dos Afásicos temos:

159

a idade de aquisição do item, a familiaridade e a frequência do item alvo. E quanto aos

controles, foram: a familiaridade do item e o acordo de nome das figuras.

Ratifica-se também a hipótese da presente tese de que a produção em testes de

nomeação se relaciona com as hipóteses de organização do léxico, segundo a Fonologia

de uso (Pierrehumbert, 2003), em função de alguns fatores que podem influenciar na

representação lexical e consequentemente no acesso.

Houve relação entre tempo de resposta e tipo de resposta no teste de nomeação

de figuras e como variáveis mais influentes foram: familiaridade, frequência de

ocorrência dos itens, idade de aquisição dos itens alvo e tamanho em número de sílabas

do alvo.

Algumas variáveis testadas se manifestaram influentes no índice de similaridade

fonológica da produção dos Afásicos como frequência e idade de aquisição. A

familiaridade e tamanho não se mostraram influentes no índice dos Afásicos.

A grande variabilidade de desempenho entres os Afásicos, na tarefa de repetição

de pseudopalavras, demonstra que há diversos graus de comprometimento no

conhecimento fonológico entre os Afásicos pesquisados.

Todas as respostas aos graus de acuracidade no teste de repetição de

pseudopalavras revelaram diferença significativa entre Afásicos e controles.

O grau de acuracidade no teste de repetição de pseudopalavras de Afásicos em

relação aos fatores controlados foi considerado estatisticamente não relevante. Já nos

controles encontrou-se como relacionado estatisticamente a esses valores de

acuracidade a variável tamanho da pseudopalavra.

O resultado para frequência está dentro do esperado para os controles. O

esperado é que não haja efeito de frequência para os indivíduos sem lesão

(Pierrehumbert, 2003). Com relação à variável tamanho, não há na literatura referência

160

a um comportamento esperado para pseudopalavras de diferentes números de sílabas.

Embora o esperado seja que o léxico adulto seja suficiente para conferir robustez

representacional para um molde lexical com quatro sílabas, é compreensível que as

pseudopalavras maiores tenham tido acuracidade comprometida por exigirem mais da

memória de trabalho.

Esses resultados foram tomados como evidência de que o conhecimento

fonotático emerge de padrões segmentais inferidos no léxico mental em função da

probabilidade de ocorrência no léxico (Coleman e Pierrehumbert, 1997). Os resultados

do teste de pseudopalavras permitem verificar a preservação ou não da gramática

fonológica nos Afásicos.

Considerando os achados da análise e as hipóteses apresentadas no estudo, a

presente pesquisa contribui para o aprofundamento do entendimento sobre

representação e acesso lexical na Afasia.

161

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177

ANEXOS

178

ANEXO I

TERMO DE CONSCENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ACESSO E REPRESENTAÇÃO LEXICAL NA PRODUÇÃO DE AFÁSICOS.

Eu, Fernanda Duarte Senna, Fonoaudióloga e Doutoranda em Linguística, portadora do

RG nº11368988-9, CPF: 105.340.817-03, residente na Rua Desembargador Paulo Alonso, nº545, CEP: 22790-540, Recreio dos Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro, com telefone de contato (21) 9837-9381 e (21) 2423-5096, e-mail: [email protected] desenvolverei uma pesquisa intitulada Acesso e Representação Lexical na Produção de Afásicos sob orientação da Profª Drª Christina Abreu Gomes e co-orientação do Profº Dr. Gastão Coelho Gomes.

O objetivo deste estudo é de analisar substituições de Afásicos e não Afásicos em teste de Nomeação e Repetição. Portanto, necessito que o Sr.(a) realize um teste de Nomeação de figuras e Repetição de psedopalavras, por mim elaborado para este fim, e autorize o uso de informações de caráter pessoal e terapêutico que constam no prontuário do ambulatório de Afasia do Serviço de Fonoaudiologia - UFRJ, onde realiza seu tratamento. A testagem deve ocupá-lo(a) por aproximadamente 30 minutos apenas.

Sua participação nesta pesquisa é voluntária e constará na tarefa de nomear 161 figuras apresentadas, repetir 30 palavras inventadas, sem qualquer interferência, ajuda ou questionamento, e sem riscos. Não existe outra forma de obter dados com relação ao procedimento em questão e que possa ser mais vantajoso. Todo o procedimento será gravado e posteriormente transcrito para análise, categorizando as respostas.

Sua participação não trará qualquer benefício direto, mas proporcionará um melhor conhecimento a respeito do Acesso e Representação Lexical através da Nomeação e Repetição na afasia, que, em futuros tratamentos fonoaudiológicos, poderá beneficiar outras pessoas. Somente no final do estudo poderemos identificar a presença de algum benefício.

Informo que o Sr(a). tem o direito de ser mantido atualizado e garantia de acesso sobre os resultados parciais das pesquisas e caso seja solicitado, fornecerei todas as informações que solicitar, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas ou considerações, em qualquer etapa do estudo.

Também é garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento caso deseje não mais participar do estudo, sem qualquer prejuízo.

Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com a de outros pacientes, não sendo divulgada a identificação de nenhum dos participantes.

Não existirão despesas ou compensações pessoais para o participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa.

Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os resultados serão veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas e/ou em encontros científicos e congressos, sem nunca tornar possível sua identificação.

Eu, _____________________________________________________________,

portador(a) de documentação _________________________, contato: ______________ concordo voluntariamente em participar do presente estudo, Acesso e Representação Lexical na Produção de Afásicos, e acredito ter sido suficientemente informado à respeito das informações que li ou que foram lidas para mim acima.

Nome: ______________________________ Ass.:______________________________

(Nome e assinatura do voluntário ou responsável) Rio de Janeiro, ______ de ________________ de 2011.

179

TERMO DE CONSCENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ACESSO E REPRESENTAÇÃO LEXICAL NA PRODUÇÃO DE AFÁSICOS.

Eu, Fernanda Duarte Senna, Fonoaudióloga e Doutoranda em Linguística, portadora do

RG nº11368988-9, CPF:105.340.817-03, residente na Rua Desembargador Paulo Alonso, nº545, CEP: 22790-540, Recreio dos Bandeirantes, na cidade do Rio de Janeiro, com telefone de contato (21) 9837-9381 e (21) 2423-5096, e-mail: [email protected] desenvolverei uma pesquisa intitulada Acesso e Representação Lexical na Produção de Afásicos sob orientação da Profª Drª Christina Abreu Gomes e co-orientação do Profº Dr. Gastão Coelho Gomes.

O objetivo deste estudo é de analisar substituições de Afásicos e não Afásicos em teste de Nomeação e Repetição. Portanto, necessito que o Sr.(a) realize um teste de Nomeação e Repetição, por mim elaborado para este fim, e autorize o uso de informações de caráter pessoal como idade, escolaridade, etc. A testagem deve ocupá-lo(a) por alguns minutos apenas.

Sua participação nesta pesquisa é voluntária e constará na tarefa de nomear 46 figuras apresentadas, repetir 46 palavras reais e 30 inventadas, sem qualquer interferência, ajuda ou questionamento, e sem riscos. Não existe outra forma de obter dados com relação ao procedimento em questão e que possa ser mais vantajoso. Todo o procedimento será gravado e posteriormente transcrito para análise, categorizando as substituições.

Sua participação não trará qualquer benefício direto, mas proporcionará um melhor conhecimento a respeito do Acesso e Representação Lexical através da Nomeação e Repetição na afasia, que, em futuros tratamentos fonoaudiológicos, poderá beneficiar outras pessoas. Somente no final do estudo poderemos identificar a presença de algum benefício.

Informo que o Sr(a). tem o direito de ser mantido atualizado e garantia de acesso sobre os resultados parciais das pesquisas e caso seja solicitado, fornecerei todas as informações que solicitar, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas ou considerações, em qualquer etapa do estudo.

Também é garantida a liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento caso deseje não mais participar do estudo, sem qualquer prejuízo.

Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com a de outros pacientes, não sendo divulgada a identificação de nenhum dos participantes.

Não existirão despesas ou compensações pessoais para o participante em qualquer fase do estudo, incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa.

Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa e os resultados serão veiculados através de artigos científicos em revistas especializadas e/ou em encontros científicos e congressos, sem nunca tornar possível sua identificação.

Eu, _____________________________________________________________,

portador(a) de documentação _________________________, contato: ______________ concordo voluntariamente em participar do presente estudo, Acesso e Representação Lexical na Produção de Afásicos, e acredito ter sido suficientemente informado à respeito das informações que li ou que foram lidas para mim acima.

Nome: ______________________________ Ass.:______________________________

(Nome e assinatura do voluntário ou responsável) Rio de Janeiro, ______ de ________________ de 2011.

180

ANEXO II

Protocolo Montreal-Toulouse Módulo standard inicial – versão alpha

Compreensão Oral Autores: Leccours (Quebec) & Rascol (França) Versão Português – Leonor Scliar Cabral (SP)

Compreensão Oral: • Mala Palavras • espada • mão • pente • faca • O homem come Frases Simples • A mulher anda • O cachorro dorme • O cavalo puxa o menino Frases Complexas • O cachorro segue a mulher e o carro • O menino pequeno empurra o grande na cadeira

Total: 11 pontos

Repetição:

Palavras • Pá

• Pato

• cavalo

• sabonete

• trem

• pratos

• cruzeiros

• embarcação

Frases • o céu está azul

• o cachorro preto grande da vizinha mordeu o menino

• nós lhe daremos desde que ela reclame

Total: 11 pontos

181

ANEXO III

182

ANEXO IV TESTE DE NOMEAÇÃO: itens alvo e variáveis

Nº Item Alvo

Tamanho em número de sílabas Tonicidade

Frequência de

ocorrência do item

Acordo de nome

Idade de Aquisição Familiaridade

Complexidade visual

1 AVIÃO 3 Oxítona 1887 100 -9,562 4.45 3.11 2 JACARÉ 3 Oxítona 82 100 -5,338 3.78 3.51 3 ÂNCORA 3 proparoxítona 408 97,37 14,584 3.6 2.36 4 FORMIGA 3 Paroxítona 38 100 -9,426 4.25 3.1 5 MAÇÃ 2 Oxítona 134 94,74 -12,59 4.78 1.42 6 BRAÇO 2 Paroxítona 1050 97,37 -12,043 4.83 2.22 7 SETA 2 Paroxítona 84 92,11 8,628 4.48 1.23 8 CINZEIRO 3 Paroxítona 29 100 17,372 4.38 2.01 9 MACHADO 3 Paroxítona 40 89,47 12,969 3.79 1.88

10 BOLA 2 Paroxítona 4142 94,74 -17,022 4.58 1.45 11 BANANA 3 Paroxítona 205 100 -15,713 4.78 1.25 12 BARRIL 2 Oxítona 114 89,47 12,78 3.66 2.26 13 URSO 2 Paroxítona 61 97,37 -5,552 3.53 3.55 14 CAMA 2 Paroxítona 766 100 -13,511 4.87 2.24 15 SINO 2 Paroxítona 69 100 3,017 4.2 2.16 16 CINTO 2 Oxítona 688 97,37 5,635 4.67 1.81 17 BICICLETA 4 paroxítona 384 100 -4,193 4.69 3.46 18 LIVRO 2 paroxítona 8458 97,37 -4,811 4.79 1.77 19 BOTA 2 paroxítona 57 97,37 1,46 4.49 2.07 20 GARRAFA 3 paroxítona 304 100 -0,998 4.67 1.46 21 LAÇO 2 paroxítona 100 100 2,764 4.36 1.89 22 CAIXA 2 paroxítona 1676 97,37 -4,186 4.44 1.6 23 VASSOURA 3 paroxítona 28 92,11 0,752 4.68 1.97 24 ÔNIBUS 3 proparoxítona 3920 100 -0,052 4.73 3.23 25 BORBOLETA 4 paroxítona 67 100 -4,305 4.51 2.54 26 BOTÃO 2 oxítona 227 100 -1,445 4.52 1.44 27 BOLO 2 paroxítona 353 97,37 -11,722 4.7 1.99 28 VELA 2 paroxítona 154 97,37 -3,22 4.6 1.63 29 CANHÃO 2 oxítona 97 92,11 12,108 3.26 3.59 30 CARRO 2 paroxítona 7668 100 -9,588 4.82 3.01 31 CENOURA 3 paroxítona 67 100 -3,822 4.65 1.75 32 GATO 2 paroxítona 307 100 -13,22 4.59 2.69 33 CORRENTE 3 paroxítona 845 97,37 11,961 4.25 2.21 34 CADEIRA 3 paroxítona 830 100 -6,529 4.77 2.21 35 GALINHA 3 paroxítona 173 100 -7,879 4.26 3.15 36 IGREJA 3 paroxítona 1218 100 -0,098 4.38 2.88 37 CIGARRO 3 paroxítona 455 97,37 12,188 4.51 1.53 38 RELÓGIO 3,5 paroxítona,5 377 94,74 1,382 4.79 2.05 39 PALHAÇO 3 paroxítona 105 97,37 -10,42 4.15 3.11 40 PENTE 2 paroxítona 40 97,37 -4,48 4.87 1.53 41 SOFÁ 2 oxítona 161 100 -5,625 4.9 2.47 42 VACA 2 paroxítona 223 94,74 -10,025 4.06 3.41 43 COROA 3 paroxítona 238 100 7,613 3.11 3.26 44 XÍCARA 2,5 proparoxítona 64 97,37 6,564 4.79 1.61 45 CACHORRO 3 paroxítona 381 97,37 -15,085 4.77 2.78

183

46 BONECA 3 paroxítona 118 92,11 -12,119 4.53 3.07 47 BURRO 2 paroxítona 124 84,21 -1,325 3.61 3.31 48 PORTA 2 paroxítona 2160 100 -8,519 4.85 2.03 49 VESTIDO 3 paroxítona 304 100 -0,503 4.66 2.05 50 CÔMODA 3 proparoxítona 32 89,47 18,739 4.46 2.51 51 TAMBOR 2 oxítona 83 92,11 8,184 3.54 2.52 52 PATO 2 paroxítona 154 94,74 -10,294 4.12 2.68 53 ORELHA 3 paroxítona 235 100 -9,021 4.89 2.58 54 ELEFANTE 4 paroxítona 107 100 -7,43 3.83 3.55 55 OLHO 2 paroxítona 1112 100 -12,261 4.91 2.05 56 CERCA 2 paroxítona 80 97,37 9,091 4.01 1.95 57 PEIXE 2 paroxítona 538 100 -9,47 4.51 2.27 58 BANDEIRA 3 paroxítona 940 97,37 3,527 4.3 1.63 59 FLOR 1 oxítona 474 100 -9,807 4.73 1.58 60 MOSCA 2 paroxítona 70 84,21 -1,925 4.24 3.53 61 PÉ 1 oxítona 2465 97,37 -15,319 4.92 2.15 62 GARFO 2 paroxítona 47 97,37 -3,751 4.89 1.71 63 SAPO 2 paroxítona 88 97,37 -5,962 3.83 3.13 64 FRIGIDEIRA 4 paroxítona 28 86,84 15,613 4.57 2.11 65 GIRAFA 3 paroxítona 13 97,37 -3,511 3.71 3.56 66 COPO 2 paroxítona 287 94,74 -10,806 4.91 1.38 67 ÓCULOS 2,5 proparoxítona 445 100 0,196 4.8 1.81 68 LUVA 2 paroxítona 87 94,74 3,789 4.17 2.22 69 VIOLÃO 3 oxítona 389 97,37 7,648 4.44 2.69 70 MARTELO 3 paroxítona 100 100 4,871 4.45 2.01 71 MÃO 1 oxítona 3982 94,74 -14,768 4.89 1.91 72 CABIDE 3 paroxítona 28 100 10,923 4.83 1.28 73 HARPA 2 paroxítona 11 92,11 26,908 3.04 3.56 74 CHAPÉU 2 paroxítona 416 100 -0,978 4.35 2.07 75 CORAÇÃO 3 oxítona 1963 100 -5,694 4.88 1.18 76 HELICÓPTERO 6 proparoxítona 520 100 9,773 4.13 3.93 77 CAVALO 3 paroxítona 707 100 -7,32 4.23 3.35 78 CASA 2 paroxítona 13670 94,74 -13,531 4.89 1.83 79 CANGURU 3 oxítona 12 97,37 10,196 3.41 3.66 80 CHAVE 2 paroxítona 757 89,47 -0,891 4.92 1.75 81 PIPA 2 paroxítona 27 100 -4,934 4.48 1.7 82 FACA 2 paroxítona 314 92,11 -3,626 4.86 1.39 83 ESCADA 3 paroxítona 130 100 -2,068 4.63 1.73 84 ABAJUR 3 oxítona 20 97,37 12,387 4.52 2.06 85 FOLHA 2 paroxítona 865 94,74 -3,725 4.46 1.65 86 PERNA 2 paroxítona 665 89,47 -11,565 4.91 2.03 87 LIMÃO 2 oxítona 127 84,21 -1,707 4.6 1.61 88 LÂMPADA 3 proparoxítona 132 100 3,149 4.81 1.96 89 LEÃO 2 oxítona 198 100 -8,462 3.77 3.77 90 CADEADO 4 paroxítona 23 100 11,803 4.61 1.94 91 LUA 2 paroxítona 299 97,37 -7,92 4.79 1.25 92 RATO 2 paroxítona 167 97,37 -7,121 4.07 3.05 93 COGUMELO 4 paroxítona 21 97,37 15,16 3.84 2.27 94 PREGO 2 paroxítona 48 97,37 7,888 4.48 1.4 95 NARIZ 2 oxítona 456 100 -12,566 4.86 2.05 96 CEBOLA 3 paroxítona 187 97,37 2,787 4.62 2.1 97 CORUJA 3 paroxítona 21 100 6,33 3.4 3.81

184

98 PINCEL 2 oxítona 51 100 3,762 4.28 1.74 99 CALÇA 2 paroxítona 264 92,11 -3,058 4.79 1.97 100 PAVÃO 2 oxítona 27 86,84 11,455 3.41 3.94 101 AMENDOIM 4 oxítona 109 84,21 8,553 4.18 2.05 102 PÊRA 2 paroxítona 23 100 -3,391 5 1.54 103 CANETA 3 paroxítona 217 100 -2,008 4.82 1.86 104 LÁPIS 2 paroxítona 172 97,37 -5,138 4.87 1.45 105 PINGUIM 2 oxítona 17 97,37 5,179 3.3 3.28 106 PIANO 3 paroxítona 546 94,74 6,454 4.09 4.01 107 PORCO 2 paroxítona 189 100 -4,924 4.04 3.09 108 ABACAXI 4 oxítona 102 100 -1,044 4.69 2.66 109 CACHIMBO 3 paroxítona 53 92,11 17,831 3.66 2.18 110 ALICATE 4 paroxítona 6 86,84 18,249 4.01 2.63 111 BOLSA 2 paroxítona 572 100 -0,093 4.8 2.37 112 ABÓBORA 4 proparoxítona 48 94,74 1,803 4.07 2.22 113 COELHO 3 paroxítona 75 97,37 -8,64 4.23 3.03 114 GELADEIRA 4 paroxítona 235 100 -1,301 4.83 2.13 115 RINOCERONTE 5 paroxítona 18 94,74 14,16 3.09 3.87 116 ANEL 2 oxítona 169 100 -1,642 4.68 1.61 117 PATINS 2 oxítona 98 86,84 8,127 3.98 3.33 118 GALO 2 paroxítona 73 94,74 -3,537 4.18 3.31 119 RÉGUA 2 paroxítona 37 100 5,776 4.8 1.35 120 SANDUÍCHE 4 paroxítona 123 86,84 2,611 4.77 2.34 121 TESOURA 3 paroxítona 47 100 1,838 4.76 2.13 122 PARAFUSO 4 paroxítona 44 97,37 13,049 4.35 2.34 123 SAPATO 3 paroxítona 170 97,37 -5,106 4.81 2.71 124 SAIA 2 paroxítona 264 97,37 -2,063 4.68 1.42 125 GAMBÁ 2 oxítona 10 89,47 10,035 3.22 3.94 126 COBRA 2 paroxítona 163 100 -1,32 3.73 2.62 127 MEIA 2 paroxítona 771 100 -7,611 4.86 1.53 128 ARANHA 3 paroxítona 71 100 -2,265 3.99 2.71 129 COLHER 2 oxítona 151 100 -9,313 4.85 1.59 130 ESQUILO 3 paroxítona 1 94,74 7,777 3.28 3.52 131 ESTRELA 3 paroxítona 1985 100 -6,572 4.68 1.33 132 FOGÃO 2 oxítona 117 94,74 -0,216 4.74 3.38 133 MORANGO 3 paroxítona 57 97,37 -4,426 4.73 2.03 134 MALA 2 paroxítona 268 94,74 -0,381 4.61 2.37 135 SOL 1 oxítona 1453 100 -13,115 4.91 1.17 136 CISNE 2 paroxítona 32 81,58 7,656 3.67 3.03 137 TELEFONE 4 paroxítona 3801 97,37 -4,011 4.85 2.73 138 TELEVISÃO 4 oxítona 2796 94,74 -7,882 4.88 2.54 139 DEDAL 2 oxítona 5 84,21 24,564 3.67 2.1 140 GRAVATA 3 paroxítona 208 100 14,592 4.45 2.02 141 TOMATE 3 paroxítona 345 97,37 -1,447 4.7 1.7 142 PIÃO 2 oxítona 11 100 1,521 3.87 2.31 143 TREM 1 oxítona 795 89,47 -4,151 4.15 3.6 144 ÁRVORE 3 proparoxítona 655 100 -10,477 4.73 1.8 145 CAMINHÃO 3 oxítona 1089 92,11 -2,662 4.5 2.53 146 TARTARUGA 4 paroxítona 85 94,74 -4,332 4.07 3.02 147 COLETE 3 paroxítona 102 97,37 16,797 4.2 2.28 148 REGADOR 3 oxítona 6 92,11 11,734 3.93 2.58 149 MELANCIA 4 paroxítona 33 100 -2,371 4.6 1.67

185

150 POÇO 2 paroxítona 194 89,47 10,161 3.38 3.18 151 APITO 3 paroxítona 82 100 1,846 4.31 2.33 152 JANELA 3 paroxítona 792 100 -6,863 4.67 2.01 153 TAÇA 2 paroxítona 274 86,84 14,84 4.49 1.71 154 ZEBRA 2 paroxítona 70 100 0,349 3.74 3.55

186

ANEXO V

PSEUDOPALAVRAS (Esteves, 2013)

187

ANEXO VI

188

ANEXO VII – COMANDOS R: ANÁLISES ESTATÍSTICAS TABELAS DE CONTINGÊNCIA E TESTE QUI-QUADRADO

REGRESSÃO LOGÍSTICA

189

ANOVA