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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2013/2014 RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA JESSICA TORRES LEONE INICIAÇÃO CIENTÍFICA VOLUNTÁRIA/ EDITAL IC 2013/2014 PLANO DE TRABALHO: Diretrizes de projeto para arquitetura em containers Relatório final apresentado ao Grupo de Pesquisa em TEORIA E HISTÓRIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO THAC da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ UFPR por ocasião do desenvolvimento das atividades voluntárias de Iniciação Científica Edital 2013-2014. NOME DO ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto Departamento de Arquitetura e Urbanismo TÍTULO DO PROJETO: Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto Ecológico BANPESQ/THALES: 2007021212 CURITIBA PR 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2013/2014

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

JESSICA TORRES LEONE

INICIAÇÃO CIENTÍFICA – VOLUNTÁRIA/ EDITAL IC 2013/2014

PLANO DE TRABALHO:

Diretrizes de projeto para arquitetura em containers

Relatório final apresentado ao Grupo de Pesquisa em TEORIA E HISTÓRIA DO AMBIENTE

CONSTRUÍDO – THAC da UNIVERSIDADE FEDERAL

DO PARANÁ – UFPR por ocasião do desenvolvimento das atividades voluntárias de Iniciação Científica – Edital 2013-2014.

NOME DO ORIENTADOR:

Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

TÍTULO DO PROJETO:

Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto Ecológico

BANPESQ/THALES: 2007021212

CURITIBA PR

2014

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1 TÍTULO

Diretrizes de projeto para arquitetura em containers

2 RESUMO

A arquitetura em container ou contêiner vem sendo uma solução cada vez mais disponível

para o desenvolvimento de edificações sustentáveis no século XXI. Nas últimas décadas,

arquitetos resolveram dar um novo uso para esta caixa metálica que, até pouco tempo atrás, era

somente utilizada para o armazenamento e transporte de bens. Hoje em dia, os contêineres

podem ser – e são – empregados para os mais diversos tipos de projeto, como bares, lojas e

inclusive moradias, além de outros programas menos convencionais. Apesar de ser ainda um

ramo novo, esta tipologia de construção vem conquistando cada vez mais espaço, tanto fora como

dentro do país, demonstrando varias vantagens em relação aos métodos tradicionais. No Brasil,

embora seu uso não seja muito frequente, já é possível encontrar, principalmente nos grandes

centros urbanos, casas e lojas que se utilizaram de containers para as suas estruturas. O uso

desses elementos em projetos e construções quase sempre é escolha do arquiteto, que os

aplicam em suas próprias residências, as quais permitem maior liberdade na hora de criar; ou em

projetos conceituais, tais como cafeterias e boutiques, entre outros, que procuram chamar a

atenção por sua estrutura inovadora e acabam atraindo clientes para conhecer o local. Os

contêineres também são uma ótima solução para abrigos temporários; uma casa pequena e

versátil; ou ainda a ampliação de uma residência já existente. Entre suas vantagens estão a

redução do custo da obra e a rapidez de execução, destacando-se como maior inconveniente a

questão do conforto térmico; problema que pode ser resolvido por meio de cuidados na hora de

implantar o projeto e escolher os materiais isolantes. Esta pesquisa em iniciação científica

vinculada ao projeto intitulado “Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto

Ecológico” consiste de um breve estudo teórico da utilização de containers na arquitetura, sua

conceituação e caracterização, para, na sequência, abordar o estudo de casos, os quais permitam

maior aprofundamento sobre o emprego desses componentes, com vistas à definição de diretrizes

gerais de concepção e projeto.

3 OBJETIVOS

De modo geral, esta pesquisa tem como objetivo descrever as características, vantagens

e desvantagens do emprego de contêineres na concepção e execução de obras arquitetônicas,

relacionando-o à discussão contemporânea acerca da sustentabilidade socioambiental. De modo

específico, pretende-se montar um quadro de diretrizes projetuais para a arquitetura em container,

a partir da descrição e análise de casos, em termos funcionais, técnicos e estéticos, cujas

características sejam utilizadas para estabelecer parâmetros básicos de projeto.

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4 INTRODUÇÃO

No início da década de 1970, ocorreu em Estocolmo, na Suécia, a CONFERÊNCIA DAS

NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO – CNUMAH. Esta foi a primeira vez em que a

comunidade internacional reuniu-se, de maneira efetiva, para discutir a relação das atividades

humanas com o meio ambiente, avaliando seus impactos sobre a natureza e, portanto, dando

início à preocupação ambiental, que foi se intensificando nas décadas seguintes. Com a

divulgação do Relatório Brundtland1, a partir do final dos anos 1980, de acordo com Castelnou

(2005), o termo sustentabilidade2 passou a ser disseminado mundialmente e, por consequência, a

ideia de “desenvolvimento sustentável” ganhou cada vez mais significado, transformando-se em

um objetivo comum a praticamente todo o mundo industrializado.

Consolidado a partir da realização da CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO – CNUMAD, mais conhecida como a Eco-92, ocorrida no Rio de

Janeiro – que definiu suas principais características e estratégias, inclusive através de uma

agenda de compromisso internacional, a Agenda 213 –, o desenvolvimento sustentável passou a

ser entendido como aquele que visa suprir as necessidades dos seres humanos e da sociedade

contemporânea, sem comprometer o futuro das próximas gerações e o atendimento de suas

próprias necessidades. Decorrentes desse conceito nasceram as ideias de economia e

crescimento sustentáveis, os quais possuiriam desdobramentos em todas as áreas, inclusive da

arquitetura e construção civil. Finalmente, em 21 de junho de 1993, em um congresso em Chicago

IL (EUA), a UNIÃO INTERNACIONAL DOS ARQUITETOS – UIA, em conjunto com o AMERICAN INSTITUTE

OF ARCHITECTURE – AIA, estabeleceu a Declaração de Interdependência para um Futuro

Sustentável, que colocou a sustentabilidade como o centro de responsabilidade profissional,

convocando todos para a prática da chamada green architecture (WINES, 2000).

Visando produzir edificações que se adéquam, ao mesmo tempo, às condições ecológicas e sociais de um determinado lugar, a green architecture usa tecnologias “verdes” e preocupa-se fundamentalmente com o impacto ambiental. Em suma, tem a intenção de conciliar a tradição e as possibilidades modernas, em especial através da aplicação de tecnologias “limpas”, que

1 A COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD), criada a partir do Relatório Brundtland (1987),

estabeleceu, em seu documento Our common future (Nosso futuro comum, 1991), que desenvolvimento sustentável significaria “suprir

as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das próximas gerações suprirem as necessidades de seu tempo”. Isto

significa que seria preciso incorporar à arquitetura e ao planejamento urbano não apenas fatores econômicos, mas também variáveis

socioambientais, considerando as consequências das ações em longo prazo e resultados em curto prazo (CASTELNOU, 2005).

2 Para Robinson apud Helene et Bicudo (1994), sustentabilidade seria “a persistência, em um futuro aparentemente indefinido, de

certas características necessárias e desejáveis do sistema sociopolítico e de seu meio ambiente natural”. Logo, o ponto chave para o

desenvolvimento contemporâneo estaria na sustentabilidade, a qual asseguraria que as necessidades presentes fossem supridas, sem

comprometer as possibilidades futuras. Isto resume o grande imperativo ético-ecológico de nossa época, pois não se contesta, hoje, a

urgência de se buscar a harmonia entre o desenvolvimento social, de um lado; e o ambiente natural, de outro.

3 A Agenda 21, mais que um documento, constituiu-se de uma proposta de planejamento participativo, que procuraria analisar a

situação de um país, região ou município, visando planejar o futuro de forma sustentável. Para tanto, segundo Barbieri (1997), a

análise e encaminhamento de propostas deveriam ser feitos a partir de uma abordagem integrada e sistêmica de várias dimensões.

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garantam a eficiência energética, a adequada especificação de materiais e a proteção da natureza (CASTELNOU, 2009, p. 166).

Em outros termos, a arquitetura sustentável, também conhecida como ecoarquitetura ou

“arquitetura verde”, procura otimizar, no projeto arquitetônico e em sua execução, os recursos

naturais disponíveis, diminuindo o impacto que uma obra poderá causar. Com vistas a isto, para

Stang et Hawthorn (2005), uma residência sustentável deve ter, no mínimo, “o menor tamanho

possível, uma orientação solar adequada e ser localizada o mais próximo possível de transportes

públicos e locais de trabalho e estudo” (p. 13). Ainda segundo os autores, para os arquitetos

comprometidos com a ideia de sustentabilidade, outras medidas podem ser tomadas, tais como o

uso de: materiais recicláveis e reaproveitamento de estruturas já existentes; materiais com baixo

consumo energético, tanto para a sua produção quanto para o transporte; e materiais naturais e

madeira de reflorestamento. Soma-se a isto a aplicação de sistemas de luz eficiente e inteligente;

sistemas de coleta das águas da chuva para reaproveitamento; e sistemas de ventilação natural e

energia solar, além de materiais de acabamento que diminuam a emissão de químicos;

estratégias para que a edificação tenha uma vida longa.

A alternativa pelo reaproveitamento de estruturas inclui não somente a reciclagem de

edificações antigas, mas também o emprego de contêineres ou containers de carga, o que vem

sendo utilizado nos últimos anos como opção para uma arquitetura mais sustentável. Apesar de

serem recicláveis, muitos deles acabam em depósitos portuários quando já passaram do seu

tempo de vida útil. Alguns, mesmo em perfeitas condições, são deixados de lado após o uso, pois

custa mais caro mandá-los de volta para o local de origem do que comprar outros novos. Por

causa da sua estrutura metálica, de grande resistência e durabilidade, além de seu baixo custo, o

contêiner chamou a atenção de alguns arquitetos e outros curiosos, que, segundo Kotnik (2010),

começaram a se dedicar à sua reutilização e aplicação em outras áreas, incluindo a arquitetura.

Próprios para carga, armazenamento e transporte, os contêineres são feitos para suportar

fortes chuvas, ventos e demais condições adversas de tempo e movimento, mesmo quando estão

empilhados em grande quantidade. Sua volumetria e geometria permitem que sejam reutilizados

de diversas maneiras e composições variadas, transformando-se em abrigos temporários, casas

de alto padrão, lojas, escolas, escritórios, hotéis e, até mesmo, museus. Embora possuam sempre

a mesma forma – de um prisma retangular com dimensões internacionalmente padronizadas –,

possibilitam a composição em diversos arranjos – apesar de não serem aconselhados

empilhamentos superiores a três níveis, por questões de estabilidade estrutural –, podendo ser

combinados com outras estruturas, formando uma composição mista; ou ainda, funcionarem como

extensão de uma construção já existente. Isto acaba por desmistificar a ideia de que sua

arquitetura resulta sempre igual e monótona (KOTNIK, 2010).

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5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Denomina-se contentor ou contêiner – do inglês container, proveniente do verbo to contain

(conter; encerrar; acomodar) – um recipiente de metal ou madeira, geralmente de grandes

dimensões, destinado ao acondicionamento e transporte de carga em navios, trens e aviões, entre

outros meios (Figs. 01 e 02). Também conhecido como cofre de carga, é dotado de dispositivos

de segurança previstos por legislações nacionais e por convenções internacionais, sendo

fabricado em vários tamanhos, sendo que existem 03 (três) tipos mais comuns: os de 20, 40 e 45

pés (feet) de comprimento, cujas medidas estão no sistema inglês, também comum nos EUA e em

outras partes do mundo (1 pé ou foot = 12 polegadas ou inches = 30,48 cm). Tanto a altura como

a largura dos contêineres são padronizadas em 8 pés ou 2,44 m. Essa padronização facilita o

transporte – que pode ser terrestre, marinho ou aéreo –, além de permitir a modulação, o que

facilita o armazenamento e o empilhamento em portos e hangares, já que esses módulos podem

ser combinados e, em conjunto, formarem

arranjos que facilitam sua logística. Hoje em

dia, os contêineres têm como característica

principal constituírem uma unidade de carga

independente, com dimensões-padrão em pés,

cuja unidade-base considerada é o TEU – do

inglês Twenty Equivalent Unit (LEVINSON,

2003).

Durante a história do comércio

internacional, seus precursores – chineses,

árabes e europeus – nunca haviam

conseguido criar uma forma que, além de

evitar as enormes perdas no transporte com

quebras, deteriorações e desvios de

mercadorias, agilizasse e reduzisse o custo

das operações de carga e descarga. Ainda

segundo Levinson (2003), foi apenas com a

Revolução Industrial (1750-1830) que surgiu a

ideia de se utilizar caixas padronizadas que

facilitassem tal serviço, o que ocorreu na

Inglaterra do final do século XVIII, com uso

voltado exclusivamente à ferrovia. Entretanto,

a definição de contêiner como se conhece

hoje nasceu em 1937 com o norte-americano

FIGURA 01

FIGURA 02

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Malcolm Purcell McLean (1913-2001). Motorista e dono de uma pequena empresa de caminhões,

então com pouco mais de 20 anos, ao observar o lento embarque de fardos de algodão no porto

de Nova York, teve a ideia de armazená-los e transportá-los em grandes caixas de aço, as quais

pudessem, por sua vez, serem embarcadas nos navios.

Considerado o pai da moderna contentorização (containerization), McLean (Figs. 03 e 04),

com o tempo, aprimorou seus métodos de trabalho e conseguiu expandir sua companhia, a

Sealand – depois, Maersk-Sealand –, transformando-a em uma das pioneiras do sistema

intermodal, abrangendo o transporte marítimo, fluvial e ferroviário. Após inúmeras experiências na

América, prejudicadas pela Segunda Guerra Mundial (139/45), McLean aventurou-se na área

internacional, enviando um navio porta-contêineres (container ship) para a Europa: em 05 de maio

de 1966, chegava ao porto de Roterdã (Holanda) – já naquela época o maior do mundo – o

cargueiro adaptado SS Fairland da Sealand, que ali descarregou 50 unidades. Como não havia

equipamento apropriado, o desembarque foi feito com o próprio guindaste do navio, outra criação

de McLean.

Em conjunto ao engenheiro Keith Tantlinger (1919-

2011), McLean desenvolveu o contêiner intermodal moderno.

Ainda conforme Levinson (2003), o método de logística

empregado neste foi nomeado como Container Express –

ConEx; sigla que evoluiu para uma palavra dentro do léxico

inglês norte-americano. Depois disso, entre 1968 e 1970,

foram publicadas, pela Organização Marítima Internacional

(International Maritime Organization), normas ISO para

contêineres, cujos padrões permitiram a melhoria do

carregamento, transporte e descarga de mercadorias em

portos de todo o mundo, economizando tempo e recursos. A

CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A SEGURANÇA DOS

CONTÊINERES (International Convention for Safe Containers –

CSC) foi regulamentada em 1972 pela Organização Inter-

governamental Marítima Consultiva (Inter-governmental

Maritime Consultative Organization), que passou a garantir o

transporte e manuseio seguro de contêineres, os quais

devem ser fornecidos segundo a CSC-Plate.

No sentido do carregamento, a invenção do contêiner foi uma revolução, pois a carga de

um caminhão, por exemplo, poderia ser passada para um navio ou trem sem perda de tempo com

a mudança de meio de transporte. Era preciso somente de um guindaste para mover o contêiner

FIGURA 03

FIGURA 04

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com toda a carga de um lugar para o outro. Atualmente, cerca de 90% das mercadorias são

transportadas nesses recipientes pré-fabricados, devido ao fato do contêiner de carga ser “uma

forte, modular e móvel ferramenta, que está incorporada num padrão mundial para facilitar o

transporte” (KRONENBURG, 2008, p. 43).

Quanto aos principais tipos de containers, Donovan et Bonney (2006) identificam os

seguintes:

a) Dry Box (carregamento final/inclusão completa): trata-se do contêiner intermodal básico, também chamado de dry van, com portas no final, acomodáveis para cargas que não requerem controle ambiental quando em rota e/ou que são geralmente físicas e secas, tais como: alimentos (cacau, café, cana-de-açúcar, etc.), roupas e móveis, entre outros. Equipado com portas ventiladas nas extremidades ou laterais, também é usado para cargas geradas por calor, as quais requerem proteção contra avarias de condensação (sudação). Há versões com ventilação elétrica, nas quais ventiladores são normalmente encaixados com defletores para prevenir a entrada de água;

b) Dry Box (carregamento lateral/inclusão completa): semelhante ao anterior, diferencia-se por estar equipado com porta lateral para uso de carga e descarga onde não seja prático o uso de portas finais, assim como quando necessita permanecer nos trilhos enquanto o carregamento é colocado ou removido do contêiner. Além de portas tradicionais, há versões com abertura de uma só lateral ou de ambas, tanto esquerda como direita;

c) Open Top (abertura de topo): contêiner usado para carretos pesados ou itens desajeitosos, onde o carregamento ou descarregamento através das portas finais e laterais seja impraticável, tais como grãos e produtos químicos secos. A maioria é equipada com cobertura em tecido, sendo indicado como contêiner de topo “suave” ou “rude”. Há alguns contêineres de abertura de topo encaixados com cobertura de painéis removíveis tipo hatch ou teto em metal totalmente destacável;

d) Tank (contêiner cisterna): é aquele voltado ao armazenamento e transporte de líquidos a granel, inclsuive perigosos, que geralmente é composto por uma cisterna suportada por um paralelepípedo de vigas metálicas, cujas dimensões equivalem às do dry box. Uma variante denominada flexi-tank permite que se fixe um depósito flexível de poliuetileno (flexibag), o qual é designado para especificações de alto nível;

e) High Cube: contêiner destinado a cargas de alto volume, baixo peso e/ou que podem aumentar sua área cúbica. Geralmente, possui comprimento de 40 pés (~12 m) e altura de 9,6 pés (~2,9 m);

f) Flat Rak: contêiner que não possui as paredes laterais e, em alguns casos, também as frontais e posteriores, destinados a cargas atípicas, tais como automóveis ou animais vivos (aves domésticas, gado e outros);

g) Reefer: contêiner refrigerado e/ou isolante, isto é, equipado com um sistema embutido de refrigeração ou calefação, além de termostato, o que permite a conservação de frio ou calor por meio de conexões elétricas diretas – em baixas correntes trifásicas – ou geradores à gasolina ou diesel. É usado primariamente para alimento ou outros artigos que requerem temperatura controlada de ambiente, os quais não poderiam ser expostos a mudanças rápidas ou bruscas de temperatura, havendo versões ventiladas e não-ventiladas;

h) Plataform: é aquele que possui prateleiras retas, removíveis ou não, disponíveis em vários modelos e tamanhos, que são usadas para madeira, maquinários, vestuários, veículos e produtos de moinho pesados, largos e desajeitados;

i) Marad: contêiner experimental de topo aberto, desenvolvido pela marinha norte-americana para adaptar a navios cargueiros o transporte de equipamentos pesados, principalmente militares, fora de padrões. A construção do piso work-trough (seção do piso aberta por uma manivela própria) pode reduzir tanto o tempo de descarregamento como o espaço de armazenamento no pier, desde que as cargas não necessitem ser removidas da destinação.

Em termos gerais, um contêiner possui algumas das características que diversos

arquitetos procuram para seus projetos: é modulado, padronizado e pré-fabricado, o que diminui o

seu custo; é fácil de transportar e está disponível pelo mundo todo, o que não limita o mercado

consumidor e torna-o relativamente barato; e, por fim, é reciclável e reutilizável. Esta combinação

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de fatores, de acordo com a INTERMODAL STEEL BUILDING UNITS AND CONTAINER HOMES

ASSOCIATION (ISBU), citada por Kronenburg (2008), está fazendo com que um novo ramo da

arquitetura sustentável, especialmente nos EUA, cresça em uma velocidade incrível: a da

construção com base no reuso de contêineres.

Apesar dessas vantagens, as quais colocariam os containers como elementos de grande

potencialidade arquitetônica há muito tempo, somente décadas depois de sua invenção foi que o

interesse por eles aumentou, tendo sido despertado pela crescente discussão ambientalista e as

consequentes premissas por uma arquitetura mais sustentável, o que acabou dando às caixas de

metal de McLean novos usos. Espalhados por todo o planeta, eles continuaram com a mesma

forma, mas, nas mãos de criativos arquitetos e designers, transformaram-se em moradias de

diversos tamanhos, além de escritórios, lojas, bares, escolas, espaços de eventos, quartos de

hotéis, quadras de esportes e, até mesmo, obras de arte (KRONENBURG, 2008).

A partir dessa ótica, Kotnik (2008) separa o uso arquitetônico do contêiner em diversas

tipologias, a saber: uma única unidade; uma composição delas; combinadas com outra estrutura;

como extensão de uma construção já existente; várias colocadas sobre os edifícios; dispostas

dentro de uma edificação; e, finalmente, construções que flutuam com contêineres. A primeira

categoria de reuso – a de um único contêiner – consiste no tipo mais comum entre as atuais

construções em contêineres, sendo muito popular entre os projetos conceituais. Além de a

mobilidade ficar mais fácil, com apenas uma dessas caixas, tem-se o espaço suficiente para

formar um pequeno restaurante, bar, loja, escritório ou dormitório. Geralmente, o emprego de

apenas um elemento não necessita de permissão para sua construção, diminuindo a burocracia

envolvida nos projetos.

Embora os primeiros projetos com estrutura em containers terem como base apenas uma

caixa, o que apareceu por volta dos anos 1990, a facilidade de empilhamento e conexão entre si

fez com que surgissem, logo em seguida, as composições de diversos contêineres colocados

juntos. Muitas vezes um único contêiner não proporciona espaço suficiente para determinado

programa; e a solução para isso passou a ser a combinação de vários deles. Não há limite de

quantos contêineres se pode usar em um projeto: é possível combinar apenas dois deles, para

uma casa de férias; ou unir uma centena deles para formar um shopping center. Nestes casos de

grandes agrupamentos, o contêiner ISO deve ser aquele utilizado, pois já possui a estrutura

necessária (KOTNIK, 2008).

A terceira maneira de criar com contêiner, ainda segundo Kotnik (2008), são misturados

com outra estrutura. Apesar da versatilidade e de todas as facilidades que podem ser encontradas

nos contêineres, eles não representam uma solução para tudo. Logo, se combinados com outras

estruturas, alcançam um potencial ainda maior. Em um terreno com declive, por exemplo, o uso

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de uma laje em concreto pode ser a melhor solução, assim como, para o calor excessivo, um

revestimento de madeira ajuda: nestes casos, a estrutura em contêiner acaba sendo combinada

com outros sistemas. Construções já existentes, inclusive, podem ter os contêineres somados à

sua forma; ou até mesmo colocados dentro delas.

Um modo simples de adicionar espaço ao ambiente são as extensões feitas com

contêineres. A sua montagem é rápida e silenciosa, não causando grande impacto para o local,

além de poder ser desmontada facilmente quando não for mais necessária. Do mesmo modo, a

estrutura leve dos contêineres permite que estes também sejam utilizados nos terraços. Eles não

necessitam de uma fundação especial e sua montagem não atrapalha a vida dos moradores de

um prédio, sendo empregados como

escritórios e coberturas. O famoso arquiteto

francês Jean Nouvel4 (1945-) já usou deste

artifício para expandir os escritórios do Centro

Tecnológico de Wismar (Fig. 05), criado entre

1998 e 2003, na Alemanha. Tal alternativa

também vem sendo aplicada em lugares como

Nova York, onde o metro quadrado é

caríssimo (KOTNIK, 2008).

De acordo com kotnik (2008), os contêineres são usados também do lado de dentro das

construções. Como precisam de um pé-direito alto para a sua instalação, são mais encontrados

no interior de grandes pavilhões e espaços públicos, mas não deixam de ser usados dentro de

residências também. Assim, funcionam como um lugar especial dentro de um lugar maior, levando

um novo programa para o local. Neste caso, sua utilidade é bastante diversificada: dependendo

do local onde estão, podem funcionar como: galeria, escritório, almoxarifado, sala de reuniões,

dormitório a mais, e até mesmo um palco para shows.

Por fim, os contêineres podem, ainda, ser colocados em cima de balsas e funcionarem

como casas flutuantes. Esta é uma opção atraente para quem vive em um lugar em que as leis

para as construções de embarcações são menos exigentes do que aquelas para a construção em

solo. Ou mesmo para quem deseja morar ou ter uma casa em um lago, rio ou mar. Por ser uma

estrutura leve, o contêiner é ideal para este tipo de construção, tendo ainda a vantagem de poder

ser colocado em um lugar onde construções em terra não são permitidas (KOTNIK, 2008).

4 Atualmente, Nouvel participa de um amplo plano de renovação da Ilha Seguin, situada a oeste de Paris (França), o qual, misturando

cultura, comércio e áreas verdes, inclui espaços para música, cinema, museu, ateliês de artes e inclusive hotéis. A primeira fase desse empreendimento foi recentemente concluída e se trata de uma grande estufa e restaurante chamado Les Grandes Tables, da autoria de Jean Nouvel, que também se utilizou de um conjunto de contêineres reciclados, executados em meio a uma estrutura de madeira e vidro. Situado em um jardim sazonal, o restaurante de 1.000 m

2 e capacidade para 120 pessoas associa-se à uma estufa, em que se

produz uma combinação de vegetais frescos e plantas exóticas desconhecidas na Île-de-la-France (COTTER, 2011)

FIGURA 05

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Os containers também estão sendo utilizados para formarem complexos urbanos como

bairros residenciais, comerciais ou mistos. Na Inglaterra, por exemplo, já existe a Container City

(Fig. 06), localizada na região de Docklands, em Londres, que foi concebida pelo arquiteto

Nicholas Lacey para a empresa Urban Space Management Ltd no início da década de 2000. Seu

sucesso fez nascer um segundo empreendimento5, além de outros em diversos países. Essas

“cidades” foram criadas a partir da união de vários contêineres de diversos tamanhos e com

encaixes flexíveis, gerando uma construção modular altamente versátil, que oferece acomodações

acessíveis para uma gama de utilizações. A

proposta foi a de reutilizar materiais industriais

até então descartados na natureza e, com

eles, criar soluções construtivas inovadoras.

Assim, a Container City foi construída com

metade dos custos e em menos da metade do

tempo que uma obra tradicional, além de ter

contribuído com o meio ambiente, pois reciclou

contêineres que já passavam de sua vida útil

(METALICA, 2013; CONTAINER CITY, 2014).

Em 2006, foi construída em Amsterdã,

na Holanda, a maior cidade contêiner do

mundo: Keetwonen (Fig. 07); um complexo de

moradias estudantis criado pela empresa

Tempohousing a partir da reutilização de 1.000

contêineres. Fundamentado pelas ideias de

sustentabilidade aplicada à arquitetura, além

da reciclagem desta grande quantidade de

caixas metálicas, o conjunto ainda integrou um

telhado que acomoda a drenagem das águas das chuvas enquanto proporciona dispersão de

calor e isolamento para os contêineres abaixo. Os maiores temores que as pessoas tinham sobre

essas moradias eram que pudessem ser barulhentas, pequenas, muito frias ou muito quentes.

Porém, tudo isso acabou sendo infundado: Keetwonen mostrou-se silenciosa e termicamente bem

confortável. O complexo seria desmontado em 2011, mas devido ao sucesso alcançado, seu

tempo foi prorrogado até 2016 (ARCOWEB, 2013).

5 A Container City I demorou cinco meses para ficar pronta e foi concluída em 2001. Foram utilizados 20 contêineres dispostos em

quatro andares, sendo 15 deles somente para uso residencial. A sua primeira versão fez tanto sucesso que, após apenas dois anos, foi construída a Container City II, que dispõe de mais conjuntos habitacionais também na mesma região que o primeiro empreendimento. Todos eles já estão alugados, principalmente por artistas e designers; e quem quiser morar lá terá que entrar em uma fila de espera, tamanha a procura. Hoje, já existem 14 desses complexos na Inglaterra, além de mais alguns em outros países como o México (CONTAINER CITY, 2014).

FIGURA 06 FIGURA 07

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As casas contêineres estão ganhando cada vez mais espaço no mercado imobiliário, pois

trazem consigo a ideia de moradias sustentáveis. Além de serem mais rápidas na execução, ainda

possuem um custo menor do que as casas tradicionais em alvenaria. Segundo a empresa Delta

Containers, especializada no desenvolvimento de projetos desse gênero, o custo de uma casa

feita em contêiner é a partir de 39.000 reais, aumentando de acordo com o tamanho do projeto.

Quem opta por uma casa contêiner geralmente partilha da ideia de ser mais sustentável,

como foi o caso do arquiteto Danilo Corbas, formado pela UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP,

que pode ser considerado um dos pioneiros no uso de contêineres na construção civil brasileira.

Ele começou a construir sua moradia, na Granja Viana, em Cotia SP, em 2010 (Fig. 08); e após

cinco meses ela já estava concluída6. A sustentabilidade da residência criada por Corbas não está

apenas na reutilização de contêineres, pois o arquiteto também empregou materiais naturais nos

móveis – como a poltrona e o tapete da sala, que são feitos em fibra de bananeira – e utilizou

lâmpadas de LED em toda a casa, que chegam a economizar até 90% de energia em relação às

lâmpadas incandescentes. Danilo Corbas cita ainda duas vantagens desse tipo de construção: a

primeira é a possível mobilidade de toda a edificação; e a segunda, que ela pode ser feita em

etapas, acompanhando o crescimento da família (DANTAS, 2013).

O arquiteto desejava trabalhar com a estética industrial, o que deixou bem claro ao não

esconder a aparência dos quatro contêineres de carga que compõe sua habitação, sem maquiá-

los e apenas pintando seus exteriores. Além

dessa intenção, segundo Nunes (2014),

Corbas preocupou-se com a sustentabilidade,

incluindo em seu projeto o uso de telhado

verde, a captação de água da chuva e o

aproveitamento da energia solar, assim como

o emprego de madeira certificada, materiais

reciclados e revestimentos sustentáveis. Sua

casa chamou tanto a atenção que depois de

pronta ficou aberta para visitação durante

alguns meses.

Outro exemplo de casa contêiner é a R4 House (Fig. 09), criada em 2007 pelo arquiteto

português Luis de Garrido, na cidade de Barcelona (Espanha), cujo nome refere-se aos quatro R’s

da sustentabilidade – Recycling, Recovery, Reuse e Reason –, que podem ser traduzidos como:

6 Com cerca de 196 m², a casa construída por Danilo Corbas entre 2010 e 2011 conta com 04 (quatro) contêineres, sendo dois no

andar térreo e dois no pavimento superior. A residência ainda possui uma parte, que foi destinada à circulação vertical, em steel frame. O térreo acomoda um amplo ambiente onde ficam: a sala de TV, a sala de jantar e a cozinha, além de um escritório e um dormitório com banheiro. Já o piso superior acomoda as duas suítes. O arquiteto calcula que sua moradia teve um custo 35% inferior ao de uma casa em alvenaria do mesmo tamanho, além de ter produzido apenas duas caçambas de entulho, enquanto construções convencionais podem gerar mais de 30 (NUNES, 2014).

FIGURA 08

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reciclagem, recuperação, reutilização e exposição de motivos, os quais basicamente seriam:

reduzir ao mínimo das emissões e geração de resíduos; minimizar o consumo de energia; otimizar

os materiais e recursos utilizados; melhorar o bem-estar e a saúde dos ocupantes; e diminuir os

custos de manutenção. Construída unicamente com contêineres e materiais reutilizados, esta

residência, segundo Duran et Eguaras (2011), possui consumo de energia igual a zero, servindo

de referência à ideia de que é possível tratar o planeta pontualmente, começando pelas nossas

próprias casas, para transformar, em longo prazo, toda a sociedade.

Sem dúvida, a reutilização de

containers com fins habitacionais atende às

premissas por uma arquitetura mais

sustentável, além de confirmar as próprias

tendências de evolução do modo de viver em

todo o mundo, inclusive no Brasil, como

constatado por Veríssimo et Bittar (1999), as

quais apontam para a diminuição progressiva

do tamanho das residências urbanas. Hoje em

dia, a necessidade de ter uma casa prática é

maior do que a vontade de morar em uma mansão; e os contêineres, mais uma vez, servem de

solução para isso: por ter seu espaço reduzido, são práticos, sem deixarem de ser confortáveis.

Da mesma forma, não se pode negar que respeitam os princípios conceituais vitruvianos – os

quais formaram a base da arquitetura clássica a partir da tríade composta por utilitas, firmitas e

venustas (KATINSKY et LAGONEGRO, 2002) –, já que uma construção com estrutura em contêiner,

com certeza, possui utilidade e solidez; e sua beleza fica por conta dos arquitetos e designers,

que acabam transformando em arquitetura uma simples caixa que foi feita originalmente para

carregar mercadorias.

Entretanto, mesmo com profissionais dando um toque de arte a esses recipientes

metálicos, às vezes, eles simplesmente não convencem. Esta é uma das desvantagens quando

se fala em arquitetura de contêineres: o preconceito. Muitas pessoas acreditam que este tipo de

moradia seja somente destinado a trabalhadores ou voltado a países subdesenvolvidos; ou ainda

não seja possível morar confortavelmente em uma casa assim. Outro problema que se pode

encontrar quando se faz este tipo de arquitetura estaria na hora de se conseguir um alvará de

construção. Uma vez que, na maioria das cidades, não há construções dessa categoria, pode ser

difícil obter uma permissão para se executar o projeto. Talvez o problema mais grave para a

reutilização de contêineres seja exatamente este: serem reutilizados. Eles podem ter sido

empregados para carregar cargas que necessitavam de pesticidas ou produtos químicos

FIGURA 09

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prejudiciais à saúde. Por isso, paredes e pisos precisam ser trocados se houver risco de

contaminação (FOSSOUX et CHEVRIOT; 2013).

Um dos pontos que mais preocupa as pessoas quando se fala de viver em um contêiner

relaciona-se à questão da temperatura; ou de como garantir que não fique muito quente no verão

e muito frio no inverno. É fato que componentes metálicos sobreaquecem rapidamente. Logo, o

projeto arquitetônico deve conter artifícios que controlem naturalmente a temperatura, além de

que o uso de determinados materiais e a adequada orientação solar também podem contribuir

para garantir um bom comportamento térmico. Outro fator preocupante seria a falta de espaço. Os

contêineres podem ter um comprimento bom, mas são estreitos. Para solucionar isto, é

necessário unir dois ou mais contêineres, obtendo-se um ambiente interno mais amplo. Porém,

isto resulta em desperdício de material, devido aos recortes necessários para as aberturas.

Contudo, mesmo com esses problemas, as vantagens do reuso arquitetônico de

contêineres superam as desvantagens. Eles são firmes e duráveis, já que foram criados para

suportarem intempéries e cargas pesadas, embora sua estrutura seja relativamente leve. São

praticamente indestrutíveis e tem uma vida longa. São feitos com medidas padronizadas e a

modulação de seus elementos faz com que eles possam ser combinados facilmente, além de

facilitar seu transporte, uma vez que todo contêiner é intermodal, ou seja, é compatível com

qualquer tipo de transporte. Esses recipientes de carga podem ser encontrados pelo mundo todo,

o que contribuiu para seu custo-benefício7. Soma-se a tudo isso o fato de que, comparados a

outros tipos de estruturas, os contêineres levam vantagem não somente pelo seu preço, mas

também na hora de preparar o local para sua montagem, já que muitas vezes não é necessário se

fazer uma fundação; e na rapidez de conclusão da obra.

Por fim, os contêineres são uma ótima alternativa para a arquitetura sustentável. E, apesar

do preconceito inicial, casas contêineres estão conquistando cada vez mais as pessoas com sua

praticidade e economia, chegando até a virar moda no mundo inteiro.

6 MATERIAIS E MÉTODOS

De cunho teórico-conceitual e caráter exploratório, esta pesquisa sobre arquitetura em

contêineres teve base em uma revisão web e bibliográfica, a partir de livros nacionais e

internacionais, artigos, vídeos e entrevistas, os quais tratavam direta ou indiretamente do tema.

Também foi abordada a questão da sustentabilidade aplicada à arquitetura, assim como a

reutilização de contêineres como alternativa mais sustentável para a construção civil do século

XXI. Voltada à iniciação científica, a metodologia envolveu algumas etapas, começando pela

7 O preço de um contêiner usado vem crescendo nos últimos anos por causa da grande procura. Mesmo assim, é possível comprar

contêineres usados por cerca de R$ 3.000,00. Reutilizando-os, promove-se ainda mais a sustentabilidade na construção civil, pois se reduz o emprego de outros materiais, como concreto e tijolo, cuja produção impacta enormemente o meio ambiente (N. autora).

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coleta e seleção de fontes de pesquisa, seguida pela leitura e organização de informações a

respeito do despertar ecológico e arquitetura sustentável; história do contêiner, suas

características e tipologia; e, finalmente, o uso arquitetônico de containers, suas vantagens e

desvantagens. Na sequência, fez-se o estudo de 03 (três) casos internacionais, os quais tinham

em comum o uso residencial, procurando ilustrá-los, descrevê-los e analisá-los em seus aspectos

estruturais, funcionais e estéticos. Concluiu-se a pesquisa com algumas observações finais

relacionadas às diretrizes de projeto utilizando contêineres, além a elaboração deste relatório final

e a preparação da apresentação dos resultados no 22º EVINCI (Evento de Iniciação Científica) da

UFPR, previsto para ocorrer em outubro de 2014.

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Kronenburg (2008), “reciclar os contêineres numa grande escala pode

gerar um impacto sustentável significante” (p.116), o que é, sem dúvida, positivo. Porém, apesar

da reutilização desses recipientes usados já ser uma ajuda significativa para o meio ambiente, seu

emprego arquitetônico deve ser combinado com outros fatores que melhorarão o desenvolvimento

das edificações, sejam quais forem seus destinos funcionais. Mesmo esses fatores sendo

pontuais, eles fazem bem para toda a região em que estão inseridos, e, em grande escala,

contribuem para com todo o planeta.

Pode-se dizer que em toda “boa” arquitetura é fácil encontrar características sustentáveis,

tais como: respeito ao perfil do terreno; preservação da vegetação; orientação solar adequada,

ventilação cruzada nos ambientes e acessibilidade. Também contribuem para a sustentabilidade

ações como: reutilização de materiais; reuso de água da chuva; emprego de coberturas e paredes

verdes; instalação de um sistema de aquecimento solar e aplicação de pinturas ecológicas. A

união dessas características faz com que o projeto de uma casa ou edifício torne-se adequado

para com o meio ambiente; e ainda melhor para quem viver neste lugar. Não é necessário abrir

mão do conforto ou da beleza para ser sustentável, nem também custa mais caro, pois, em longo

prazo, a economia é garantida. Casas sustentáveis podem chegar a ser totalmente

autossuficientes energeticamente. E isto também é válido quando se usa containers (Fig. 10).

Os estudos de caso escolhidos para esta pesquisa foram de casas unifamiliares

internacionais, sendo todas realizadas nos primeiros anos deste século e com preocupações

ambientais. Todas foram criadas a partir da reutilização de três ou quatro contêineres metálicos,

os quais puderam ou não ser revestidos em madeira, conforme houvesse a intenção de se evitar o

aspecto industrializado que este material proporciona. As residências escolhidas para o estudo

foram de diferentes regiões da América, possibilitando observar que se pode ter uma casa com

estrutura em contêiner em diferentes tipos de clima, devendo para tanto haver algumas

preocupações com a orientação solar, iluminação, ventilação e isolamento térmico.

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FIGURA 10

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ESTUDO DE CASO I Chalet du Chemin Brochu (2006, Quebec – Canadá)

Pierre Morency Architectes

Localização: Beaulac-Garthby, Quebec – Canadá

Uso: Residência unifamiliar

Ano de construção: 2006

Número de contêineres: 3

Área total: 140 m2

Autoria: Pierre Morency Architectes

O arquiteto canadense Pierre Morency projetou esta moradia para a sua família; e desde o começo

pensou em atender os desejos dos dois filhos: ter uma casa que fosse como uma espaçonave e também

uma casa na árvore (Fig. 11). Morency conseguiu isso através de uma composição dinâmica dos

contêineres e do uso de madeira como revestimento, escolhendo a região dos Apalaches, bem perto do

lago Aylmer, no Quebec (Canadá), para construir a segunda residência da família (Figs. 12 e 13). O

revestimento em madeira confere à arquitetura maior familiaridade com a tradição vernácula da região,

fazendo referências aos típicos chalés, embora rompa com sua imagem tradicional, devido à articulação

geométrica e pureza volumétrica.

O arquiteto preservou o meio em que a sua casa ficaria. Não derrubou nenhuma árvore a sua volta

e usou madeira reciclada. Três contêineres reciclados formam a estrutura principal da habitação, os quais

foram pintados de preto e revestidos, tanto por fora como por dentro, com painéis de madeira (PIERRE

MORENCY ARCHITECTES, 2006).

A residência fica em cima de uma laje de concreto que desce abaixo do solo e acomoda o

dormitório de hóspedes e a área de serviços. O nível térreo da casa consiste em dois contêineres ligados

através de uma área central em madeira; e neles ficam: a sala de estar, a sala de jantar e a cozinha (Fig.

14). Acima está o terceiro contêiner, que foi girado para o lado – para atender o desejo de um dos filhos de

morar em uma nave espacial – e está apoiado sobre pilares. Neste pavimento superior estão: o quarto das

crianças e a suíte máster (Fig. 15). Este andar sugere um clima de coexistência com a natureza ao redor,

pois possui diversas janelas que emolduram a bela paisagem que cerca a moradia. Inclusive, o menor lado

dos contêineres foi transformado em uma enorme janela (Fig. 16).

Figura 11 Figura 12 Figura 13

Figura 14 Figura 15 Figura 16

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ESTUDO DE CASO II Infiniski Manifesto House (2009, Curacaví – Chile)

James & Mau Arquitectos

Localização: Curacaví, Melipilla – Chile

Uso: Residência unifamiliar

Ano de construção: 2009

Número de contêineres: 3

Área total: 160 m2

Autoria: James & Mau Arquitectos (Jaime Gaztelu e Maurício Galeano)

A empresa chilena Infiniski – com sede em Santiago, mas que possui também um escritório na

Espanha –, é especializada em arquitetura e construção sustentáveis, desenvolvendo projetos bioclimáticos

e ecomodulares em diversas tipologias, desde edifícios e residências até hotéis e outros empreendimentos,

a partir da associação com diversos profissionais (INFINISKI, 2014). A Manifesto House, criada pela dupla

de arquitetos da James & Mau em Curacaví, na Região Metropolitana de Santiago, possui 160 m² - além de

15 m2 do terraço superior – e foi composta a partir da reutilização de contêineres revestidos por madeira de

reflorestamento (Figs. 17 e 18). A casa foi estrategicamente situada no topo de uma colina, possuindo

assim uma bela vista da paisagem a sua volta.

Para a estrutura da residência, foram escolhidos três contêineres usados, o que fez com que a

execução fosse realizada em apenas 90 dias. O contêiner do andar térreo – que comporta sala de estar,

cozinha e banheiro – foi divido em duas partes, através de um corte longitudinal; e estas partes foram

distanciadas para abrir um espaço maior no térreo (Fig. 19). Esta abertura gera um ambiente que permite

maior contato com a natureza ao redor e é bem iluminado com a luz natural (Figs. 20 a 22). Os dois

contêineres do pavimento superior estão dispostos perpendicularmente ao inferior, abrigando uma suíte

com mais dois dormitórios (ARCHDAILY, 2009; ECOCONTAINER HOME, 2011).

O que marca esta casa é a sua fachada composta por ripas de madeira, que podem ser colocadas

ou retiradas, dependendo da vontade do usuário. De um lado, a fachada é feita de ripas horizontais,

enquanto dos outros lados foram utilizados paletes de madeira que, assim como os contêineres, já foram

utilizados para o transporte. Além de conferir um aspecto mais rústico à habitação, esta fachada funciona

Figura 17

Figura 18 Figura 19

Figura 20

Figura 21

Figura 22

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como uma pérgula, com importante função bioclimática para a casa. Dependendo de como está o clima e a

estação, ela pode cobrir ou descobrir a residência. No verão, por exemplo, com a pérgula fechada, o

contêiner não superaquece e é bastante ventilado. Já no inverno, com ela levantada, o sol pode incidir

sobre a grande porta de vidro, aquecendo o interior como uma estufa.

Além da orientação solar adequada e esse recurso de controle solar promovido pela fachada, esta

casa conta com uma série de outros dispositivos sustentáveis, como um sistema de aproveitamento da

energia solar, o que faz com que ela seja quase 100% autônoma (INTHRALLD, 2013).

ESTUDO DE CASO III Cordell House (2009, Houston TX – EUA)

Robertson Design

Localização: Houston, Texas – EUA

Uso: Residência unifamiliar

Ano de construção: 2009

Número de contêineres: 4

Área total: 170 m2

Autoria: Robertson Design (Katie Nichols e John Walker)

Localizada no centro de Houston TX, a Cordell House não fica muito longe do porto de Miami FL,

um dos maiores dos EUA. Por ano, passam ali cerca de 1,6 milhões de contêineres pela cidade e, aos olhos

dos arquitetos Katie Nichols e John Walker, são 1,6 milhões de blocos com grande potencial construtivo.

Apesar dos contêineres já fazerem parte da tradição de Houston, os arquitetos sabiam que a ideia de viver

em um deles ainda era uma coisa nova a se explorar. E o que eles quiseram mostrar com esta residência

foi justamente que os contêineres podem ser uma opção acessível e, ao mesmo tempo, possibilitarem um

design inovador. Seu maior desafio era construir uma casa contêiner que parecesse uma habitação típica

daquela região (Figs. 23 e 24).

Para a sua composição foram empregados 04 (quatro) contêineres de aço – três de 40 pés e um de

20 pés –, sendo que os maiores são destinados aos dormitórios e demais cômodos, enquanto o menor

reúne a área de serviços (Fig. 25). Estas peças foram unidas em um terreno de pouco mais de 460 m2,

ocupando aproximadamente 170 m2 para a habitação. O conjunto ainda conta com uma dependência para

hóspedes de cerca de 75 m2, separada por um pátio aberto (THE COOLIST, 2014). Enquanto as fachadas

norte, sul e oeste da casa são fechadas, a leste é inteiramente de vidro. No contêiner sul, está localizada a

suíte máster e, no norte, estão um quarto, um banheiro, um escritório e uma sala de brinquedos. O

contêiner de 20 pés acomoda a cozinha e a lavanderia. Entre eles, estão as salas de estar e de jantar.

Saindo pela frente da moradia, há um deck em madeira que conecta a casa ao quarto contêiner, o qual

abriga o quarto de hóspedes e um depósito (INHABITAT, 2014). O interior da casa é quase todo pintado de

branco, que, combinando com as cores complementares e o chão de madeira, contribui com uma sensação

de lar. As paredes feitas do contêiner tornaram-se uma grande tela magnética, na qual as crianças podem

deixar recados e pendurar seus desenhos com imãs (Figs. 26 a 28).

Figura 23 Figura 24 Figura 25

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8 CONCLUSÕES

O estudo da arquitetura em contêiner ainda é um ramo novo, tanto nas áreas de teoria e

história como de projeto e construção, já que esta tipologia de edificações é bastante recente. Em

países da Europa ou nos EUA, onde o transporte marítimo é mais industrializado e as questões de

sustentabilidade vêm cada vez tomando mais espaço, é possível notar algumas construções em

contêiner já datadas desde o último quartel do século passado. No Brasil, porém, isto ainda é

novidade, pois o emprego de containers para moradia está chegando agora no país e vem

ganhando mais atenção, seja nos meios acadêmicos como profissionais.

Com base na pesquisa realizada e estudo de casos, foi possível concluir que o contêiner é

uma ótima alternativa sustentável para a arquitetura. Mesmo possuindo algumas desvantagens

como o espaço limitado ou problemas decorrentes do conforto térmico, é possível adaptá-lo para

as necessidades de seus usuários. Muito versátil e econômico, o seu emprego garante um espaço

inovador e confortável. Seu uso geralmente é combinado com outras estratégias sustentáveis, tais

como: telhado verde, materiais recicláveis e energia solar, sendo que muitos projetos de

residências com contêineres são praticamente energeticamente autossuficientes. Para quem

gosta de uma arquitetura de estética industrial, o uso dos contêineres pode ficar estar exposto na

obra, mas se se prefira um aspecto mais tradicional, os contêineres também podem ser revestidos

com outros materiais, como a madeira e o tijolo, conferindo-lhes outra aparência.

Como visto nos três casos estudados, a arquitetura em container pode adotar diversas

soluções para um mesmo programa. É adaptável para lugares com o inverno rigoroso, como foi o

caso do Chalet du Chemin Brochu, localizado no Quebec (Canadá), e também para lugares

quentes como Houston (Texas – EUA), onde está situada a Cordell House. A organização

espacial dos contêineres pode variar bastante de acordo com o que é necessário. O arquiteto

Pierre Morency conseguiu o dinamismo através da rotação de um dos contêineres. Já os

arquitetos Jaime Gaztelu e Maurício Galeano, do grupo James & Mau Arquitectos, ganharam

Figura 26

Figura 27

Figura 28

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espaço no andar térreo da Manifesto House ao optar por afastar os contêineres ao invés de uni-

los. Apesar de nos três casos ter sido utilizada a madeira como revestimento, os resultados não

ficaram semelhantes, tendo, cada um, características específicas.

A partir do estudado, pode-se definir como diretrizes básicas para o projeto e execução de

obras em containers metálicos as seguintes recomendações:

Avaliar a disponibilidade de elementos, categoria de armazenamento, material de fabricação e

condições de conservação e transporte até o local da obra em uma etapa anterior ao projeto

propriamente dito, de modo a se analisar sua viabilidade técnica e econômica;

Dimensionar as funções que deverão ser abrigadas em contêineres, visando quantificar o número

de componentes e a necessidade de frações e;ou composições, de forma a se adequar ao

programa de necessidades, ao perfil dos usuários e à área de empreendimento (habitacional,

comércio, serviços, etc.);

Estudar as condições climáticas do local de implantação, procurando coletar informações

principalmente quanto variabilidade térmica, regime de precipitações e incidência de ventos e outros

eventos naturais, assim como a orientação solar, em paralelo às condições geológicas e de

topografia, de modo a prever os pontos de apoio e fundações exigidas;

Prever os ambientes, de acordo com requisitos ergonômicos e funcionais; e localizar as aberturas

(portas e janelas), as quais podem ser aplicadas diretamente nas chapas de 3mm de espessura

com a utilização de brocas metálicas, atentando para as melhores vistas, exigências de privacidade

e também de aproveitamento da luz natural;

Procurar desenvolver revestimentos internos de piso e teto os mais finos possíveis, para não perder

espaço no interior do contêiner, mas que, ao mesmo tempo, permitam um bom desempenho

termoacústico, avaliando as opções em madeira, cerâmica e gesso acartonado, com adição de

materiais isolantes (lã-de- vidro, isopor, etc.);

Detalhar os pontos de soldagem dos perfis metálicos e também os sistemas de fixação de

revestimentos, geralmente aparafusados nas travas do foro e das paredes das extremidades,

quando em madeira. Observar a necessidade de se realizar vedações independentes na subdivisão

de espaços como, por exemplo, banheiros e despensas;

Desenvolver as instalações hidroelétricas de modo apurado, lembrando que as instalações de

esgoto e de alimentação de água e energia devem ser previstas e executadas antes da chegada da

caixa metálica, no canteiro de obras. Por sua vez, o reservatório deve estar acima do contêiner;

Definir o tipo de cobertura, observando a necessidade de isolamento e o emprego de materiais

como telhas-sanduíche com isopor ou outro isolante; ou mesmo teto-verde, o qual exige mais

elaboração e gasto.

9 REFERÊNCIAS

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