universidade federal do paranÁ setor litoral juliana
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR LITORAL
JULIANA MELCHIORI OLIVEIRA COUTO
EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE
A Arte da Conscientização e Transformação Pessoal
MATINHOS
2012
JULIANA MELCHIORI OLIVEIRA COUTO
EDUCAÇÃO E ESPIRITUALIDADE
A Arte da Conscientização e Transformação Pessoal
Trabalho de conclusão de curso apresentada a Coordenação Docente da Especialização em Questão Social pela Perspectiva Interdisciplinar, como parte dos requisitos impostos para comprovação de minha eficácia em propor e agir no ambiente através de um olhar interdisciplinar. Aqui jaz o fechamento de um ciclo.
FOMENTADOR DA CAMINHADA: Valdo José Cavallet.
MATINHOS
2012
À todas as crianças,
que vem para este planeta para mais um ciclo de transformação.
Aos espíritos de luz que auxiliam em minha jornada.
À família terrena que proporcionou bases para o estudo.
À todos os seres que participam de minha caminhada na Terra.
... Só permanece gratidão.
Fon
te: I
mag
em d
a In
tern
et
“O orgulho faz calar a voz do coração,
Nos impede de ver o que devemos enxergar
Caminhando sempre mais do que precisa andar
É um grande adversário para nós
Com o sal do teu suor cada vez mais,
Livrarás de você um sentimento tão ruim
Observe cada gesto cada coisa ao seu redor
Esteja sempre para a evolução”
Mensagem psicografada (2010)
LISTA DE EPÍGRAFE
EPIGRAFE 1 - Renato Russo................................................................... 11
EPIGRAFE 2 - Humberto Maturana.......................................................... 17
EPIGRAFE 3 - Machado de Assis............................................................ 24
EPIGRAFE 4 - Roland Barther.................................................................. 27
EPIGRAFE 5 - Autor desconhecido.......................................................... 31
EPIGRAFE 6 - Sergio Váz........................................................................ 38
EPIGRAFE 7 - Albert Einsten................................................................... 39
EPIGRAFE 8 - Carl Jung.......................................................................... 47
EPIGRAFE 9 - Gaivota Peregrina............................................................. 48
EPIGRAFE 10 - Emmanuel......................................................................... 51
EPIGRAFE 11 - Juddy Krishnamurti........................................................... 52
EPIGRAFE 12 - Rubem Alves.................................................................... 54
EPIGRAFE 13 - Prabhat Sarkar.................................................................. 54
EPIGRAFE 14 - Allan Kardec..................................................................... 56
EPIGRAFE 15 - Autor desconhecido.......................................................... 60
EPIGRAFE 16 - Paulo Freire...................................................................... 63
O RESUMO DE UMA PARTE
educação deve saber dialogar, valorizar os conhecimentos populares,
preconizar a aprendizagem via processos cooperativos, sabendo respeitar
as individualidades e temporalidades de cada indivíduo, possibilitando o
empoderamento dos atores envolvidos. O presente projeto iniciou-se em 2010,
através de trabalho voluntário, onde propunha através do teatro de bonecos a
divulgação de uma realidade socioeconômica e ambiental da região, com o intuito de
sensibilizar e educar a população em relação a questão. Em outubro de 2011, o
projeto foi acolhido pela Motirõ Sociedade Cooperativa, sendo nomeado de
Guapuruvu, na qual sofreu profundas transformações, ampliando-se para outros
campos de atuação. A partir de princípios embasados na antroposofia, arte-
educação e na conservação do ambiente, o projeto preocupa-se em auxiliar o
indivíduo a educar-se, por meio do processo de autoconhecimento, a partir da
construção de espaços socioeducativos para diálogos, compartilhamento de
conhecimentos e do desenvolvimento de práticas lúdicas, com o intuito de se
alcançar um bem-estar, aprimorando o ensino/aprendizagem e sensibilizando todos
os envolvidos sobre a realidade da região. Essas atividades envolvem os sentidos
do público pelas cores, figurinos, textos, sons e diversidade de linguagem, gerando
múltiplos estímulos, que os levam à interação uns com os outros, com altas doses
de brincadeiras, amor e alegria, conduzindo-os para a construção de um
conhecimento coletivo, um mergulho na arte do aprendizado. Acreditamos que no
processo crescente de se conscientizar, novos olhares e conhecimentos são
construídos, acarretando numa possível mudança de paradigmas, hábitos e ações
individuais, que eventualmente serão exteriorizadas no ambiente e sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Arte, Educação e Espiritualidade
A
THE SUMMARY OF A PARTY
he education should learn to dialogue, enhance knowledge popular,
advocating learning through cooperative processes, knowing and respecting
the individuality of each individual temporalities, enabling the empowerment of the
actors involved. This project began in 2010, through volunteer work, which proposed
using the puppet theater disclosure of an environmental and socioeconomic reality of
the region, in order to raise awareness and educate the public about the issue. In
October 2011, the project was welcomed by Motirõ Cooperative Society, being
named Guapuruvu, which has undergone major changes, expanding to other fields.
From principles grounded in anthroposophy, art education and conservation of the
environment, the project is concerned with helping the individual to educate
themselves through the process of self-knowledge, to the construction of socio-
educational spaces for dialogue, sharing knowledge and the development of playful
practices, with the aim of achieving wellness, improving the teaching / learning
process and sensitizing all concerned about the reality of the region. These activities
involve the senses of the audience by the colors, costumes, texts, sounds and
language diversity, generating multiple stimuli, which lead them to interact with each
other, with high doses of pranks, love and joy, leading them to build a collective
knowledge, a dip in the art of learning. We believe that in the process of increasing
awareness, new perspectives and knowledge are constructed, resulting in a possible
paradigm shift, individual habits and actions, which will eventually be externalized to
the environment and society.
KEYWORDS: Art, Education and Spirituality
T
LISTA DE FOTOGRAFIAS
FOTOGRAFIA 1 - Monocultura de pinus a caminho da comunidade São Joãozinho............................................................................22
FOTOGRAFIA 2 - Apresentação do teatro “O Sumiço da Mandançaia” na IV Feira de Profissões, 2010. Abelhas mandaçaia Manda (eu), Melácia (Denise Lima) e florzinha (Priscila Santos) coletando pólen...................................................................................23
FOTOGRAFIA 3 - Apresentação do teatro “O Sumiço da Mandançaia” na IV Feira de Profissões, 2010.músicos Rick Badra, Ciro Jr, Lucas e Caio. Fotos por Antônio Lima................................23
FOTOGRAFIA 4 - Confecção dos bonecos para o teatro "O Sumiço da Mandaçaia" com Elizangela Sarraff. Centro Cultural UFPR Litoral 2010/2011. Segurando bonecos..............................24
FOTOGRAFIA 5 - Confecção dos bonecos para o teatro "O Sumiço da Mandaçaia" com Elizangela Sarraff. Centro Cultural UFPR Litoral 2010/2011. Confeccionando....................................24
FOTOGRAFIA 6 - Apresentação do teatro na 10ª Jornada de Agroecologia. Músico Ciro Junior e bonecos. Foto por Joka Madruga.....31
FOTOGRAFIA 7 - Apresentação do teatro na 10ª Jornada de Agroecologia. Manipuladoras: voluntária, Mariana Akemi, Juliana Melchiori e Renata Lays. Foto Joka Madruga....................................31
LISTA DE SIGLAS
UFPR - Universidade Federal do Paraná
ICH - Interações Culturais Humanísticas
IAP - Instituto Ambiental Paranaense
ONG - Organização Não-Governamental
PA - Projeto de Aprendizagem
FTP - Fundamentos Teóricos Práticos
UC - Unidades de Conservação
SUMARIO
INTRODUÇÃO COM RENATO RUSSO E QUINO....................................... 14
APRESENTAÇÃO DE UM SER HUMANO EM DESCONSTRUÇÃO........... 15
PARTE I: O INÍCIO – A LAGARTA
O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA UNIVERSIDADE E A CONSTRUÇÃO DO INDIVÍDUO...................................................................
21
O teatro dentro do contexto educacional....................................................... 27
O teatro infantil e a experiência do teatro de bonecos “O Sumiço da Mandaçaia”.................................................................................................... 31
PARTE II: O MEIO – O CASULO
POLÍTICA TRANS-FORMA-AÇÃO NA SOCIEDADE PELA ESCOL(A)....... 35
In - versão da escolarização e a com-ciência de ser.................................... 42
PARTE III: O FIM DE UM CICLO – A BORBOLETA
NO FIM TUDO VOLTA AO C(OM)EÇO........................................................ 51
Uma nov(a) p(arte) de en(si)nar.................................................................... 55
Textos que falei.............................................................................................. 64
CONCLUSÃO QUE S(OU)TRA.................................................................... 67
REFERÊNCIA NESTE TRABALHO............................................................ 68
14
“Somos filhos da revolução, Somos burgueses sem religião Somos o futuro da nação, Geração coca-cola”
Renato Russo
15
APRESENTAÇÃO DE UM SER HUMANO EM DESCONSTRUÇÃO
m agosto de 2006, iniciei minha vida universitária. Na época meu conceito
de universidade sempre fora algo similar a uma academia militar. Os
alunos seriam considerados pessoas inferiores comparada com os Mestres, devido
sua bagagem intelectual menor, da qual devem respeitar e obedecer as ordens de
ensino e estudo. Por ter essa visão, nunca me interessei em fazer um curso. Só
ingressei devido aos meus pais, principalmente pela minha mãe, que sempre
sonhou em fazer uma graduação e nunca teve oportunidade. Por amor aos meus
pais e medo de frustra-los, esforcei-me para entrar num curso superior gratuito.
Após ingressar, em duas semanas já estava participando de um seminário,
ocorrido no município de Paranaguá. Foi nesse evento que tive o primeiro contato
com o Prof. Valdo Cavallet, Diretor da Universidade Setor Litoral. Num primeiro
momento, fiquei impressionada com o fato de um Professor-Doutor-Diretor conversar
com alunos. Estava num grupo de amigas do curso de fisioterapia, quando ele se
aproximou conversando, ao ponto de chegar a tocar no meu ombro. Tinha em
mente que pessoas que ocupavam certos cargos, tal como Cavallet, nunca iria notar
a presença de outras pessoas que não fosse de seu interesse. A partir daquele
gesto, comecei uma longa jornada de desconstrução.
A experiência de uma recepção calorosa e divertida, foi um super
aprendizado. Gerou um bem-estar importantíssimo para a interação com um novo
ambiente, com uma nova etapa da vida. Diferente do que ocorre no estado de São
Paulo, local onde nasci e cresci, onde é frequente o número de histórias de torturas,
humilhações e até de morte durante a semana dos calouros. Para não ser agredido
ou excluído pela turma, os recém-chegados são submetidos a práticas que incluíam
torturas com animais abandonados dentro do campus (cães e gatos); jogos com
fezes e alimentos em decomposição; incentivo ao uso de entorpecentes e bebidas
alcoólicas, dentre outros. O pior de toda a situação é a neutralidade e naturalidade
das instituições de ensino em relação assunto.
E
16
A vivência relacionada à área da educação iniciou com a participação no IX
EPEA – Encontro Paranaense de Educação Ambiental e II Fórum Regional de
Educação Ambiental (setembro/2006), no município de Guarapuava. Lá tive a
oportunidade de conhecer Genebaldo Freire Dias – escritor, professor e educador
ambiental, que argumentou a respeito da importância das escolas adotarem
processos pontuais de ensino valorizando as riquezas naturais, materiais e culturais
que estão inseridas. Apesar do discurso, muitas das ações praticadas por
educadores e professores do evento, desestimularam-me, o que fez com que
optasse por outro campo de atuação.
Na época, um projeto de extensão universitária na comunidade rural José
Lutzemberguer, em Antonina, estava sendo desenvolvido por alguns docentes. Por
ter afinidade com o campo, devido ao histórico familiar por parte de mãe (êxodo
rural), interessei-me pelo tema. Ingressei ao grupo e lá conheci Francisco Amaro,
que na época cursava agroecologia. A afinidade foi grande ao ponto de construirmos
juntos, um projeto intitulado “Resgate do saber local da Comunidade José
Lutzemberguer sobre plantas medicinais nativas e exóticas da Mata Atlântica”. Ao
mesmo tempo, um grande módulo de reconhecimento do litoral, ministrado pelos
docentes do curso de gestão ambiental, com saídas a campo em unidades de
conservação, museus de história, centros de triagem de animais silvestres, trilhas
ecológicas e debates, como o ocorrido com a Marina Silva, que naquela época
ocupava o cargo de Ministra do Meio Ambiente. Também cheguei a ingressar em
uma bolsa de agroecologia, na qual pude aprofundar-me sobre o tema, por meio de
leitura de livros e artigos específicos, na organização de eventos agroecológicos e
trabalhos de educação ambiental em escolas rurais (Morretes), dos quais auxiliaram
na construção de uma percepção voltada ao desenvolvimento sustentável por meio
de práticas agroecológicas e educação no campo.
Nesse período, a questão das problemáticas socioambientais relacionadas
ao meio costeiro começou a ser abordado nos módulos da graduação. Vi a
importância de aprofundar-me no assunto por meio da vivência e da prática que
encontrei participando de congressos, simpósios e encontros, dos quais pude fazer
muitos contatos com profissionais, instituições e organizações não governamentais
de proteção e conservação de ecossistemas costeiros e mamíferos marinhos. Vi a
oportunidade que tanto queria, em atuar frente à ONG´s, entretanto, tinha o
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compromisso de finalizar o projeto que havia iniciado com a comunidade rural e com
Francisco, que estava para se formar. Um ano depois, terminávamos o projeto, com
direito a publicação e premiação no III Seminário Brasileiro sobre Áreas Protegidas e
Inclusão Social, em Teresópolis (RJ).
No mesmo período envolvi-me em uma briga entre alguns pescadores,
(família de seu Osmar), com a prefeitura de Matinhos. Segundo eles, a prefeitura
estava retirando areia da praia e da foz do rio para depositar na garagem da
prefeitura, com o intuito de tampar buracos de ruas e campinhos de futebol. O mais
grave foi a destruição da restinga local, onde a família de seu Osmar, junto com um
aluno de agroecologia, estavam recuperando e reflorestando. A situação se agravou
quando foi comprovada a liberação do órgão ambiental (IAP) para tal atividade. O
caso foi protocolado e levado junto ao Ministério Público. Ao decorrer do processo,
várias ameaças de morte foram feitas a mim e a família do Osmar, fazendo agravar
o estado de saúde de sua mulher, que veio a falecer tempos depois. Com a notícia
publicada no jornal Gazeta do Povo, ouve várias repercussões sobre o assunto. Na
época o chefe regional do IAP, Reginato Bueno, fora afastado do cargo e da foz do
Rio, foi feito contenção.
Nesse momento, vi-me obrigada a dar um tempo para mim mesma. Saíra
dessa história cansada, desanimada e muito frustrada. Apesar das ações do
ministério público, a família de seu Osmar já não era a mesma, o rio já não era o
mesmo e a restiga, outrora tão viva e verde, quase nada havia sobrado. De mim,
nada restava em meu coração a não ser aquele sentimento de incapacidade de
solucionar problemas. Problemas... Por mais que trabalhasse em prol da
conservação do ambiente, sempre surgiriam mais problemas. Onde estava a fonte
de todo o mal?
Foi numa faxina doméstica que encontrei os contatos das ONG´s de
conservação marinha que outrora havia contatado. Era isso! Tinha que pertencer a
alguma entidade para que minhas ações resultassem numa real modificação no
ambiente e na sociedade! Com isso tranquei o curso universitário por um ano joguei
mundo a fora.
No voluntariado em ONG´s, revivi um lado artístico do qual havia
abandonado desde os primórdios do ensino médio. Dediquei minha força de trabalho
na monitoria de cetáceos e répteis (Baleia Franca, Baleia de Bryde, Cachalote,
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Baleia Fin, Orcas, golfinhos em geral e tartarugas) e meu amor e criatividade em
atividades de educação ambiental, com a elaboração de peças teatrais, confecção
de figurino, jogos e atividades lúdico-educativas. Também vivenciei muitos conflitos
internos e externos. Desconstruí a ilusão de que ONG´s trabalham para “salvar o
planeta”. Assisti, lutei e decepcionei-me com várias atitudes: era coordenador
autoritário mandando voluntário jogar resto de formol em restinga; chefe de unidade
de conservação usando roundup (veneno ilegal no Brasil) para exterminar espécies
exóticas; atropelamento de animais por mero desrespeito a qualquer forma de vida;
preconceito em relação a culturas diferentes; uso de imagens da comunidade e
animais carismáticos para acumulação de capital; e muito “ISMOS”, individualismo,
nacionalismo, xenofobismo, egocentrismo e autoritarismo; entre outros problemas
acometidos pelas próprias atividades econômicas que alimentam o sistema, tais
como as atividades portuárias, presentes em boa parte dos lugares por onde passei
(Litoral do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo, Portugal e
Espanha). Após todas essas vivências, já não era mais a mesma pessoa.
Quando voltei para a universidade, meus pensamentos estavam voltados
para estudos relacionados aos impactos antropogênicos no ambiente. Na época,
coincidentemente, o tema em voga era a questão da criação do porto em Pontal do
Sul e Epidemiologia Ambiental (módulo do curso). Logo, resolvi desenvolver um
projeto sobre os impactos portuários no ambiente e nas comunidades tradicionais
pesqueiras do litoral. Durante meses, revirei dados coletados ao longo das vivências
nas ONG´s, li livros e artigos sobre o tema, participei de eventos e procurei
professores da área para esclarecer dúvidas e questionamentos. Formei dupla com
uma aluna do curso de fisioterapia, Cristhine Ferreira, para escrever um projeto a
respeito da saúde e poluição ambiental. Acreditei, por um tempo, que seria possível
sensibilizar as pessoas pela causa da conservação da natureza, através da relação
entre problemas de saúde com contaminação ambiental. No Encontro Nacional de
Gerenciamento Costeiro, ocorrido do Rio de Janeiro (novembro/2009) chegamos a
publicar um estudo sobre a questão da saúde nos relatórios de impacto ambiental
dos portos de Paranaguá (PR) e São Sebastião (SP).
Havia certeza de que tinha encontrado uma solução para a fonte de todo o
mal, até entrar em contato mais profundo com comunidades das Ilhas (Valadares e
Peças) e Guaraqueçaba. Em conversas localizei casos de neoplasia intestinal e
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fiquei intrigada com a ocorrência desta. Formulei a hipótese da ocorrência dessa
doença devido a alimentação de caranguejo, mexilhões e vísceras de peixes,
contaminados por metais pesados proveniente da baía de Paranaguá, mais
precisamente dos Portos (Paranaguá e Antonina), indústria de fertilizante e uso de
agrotóxicos no entorno da baía. O até então estágio provisório no Porto de
Paranaguá (APPA), permitiu coletar várias informações a respeito do vazamento de
metais pesados e de desastres ambientais, tal como o do navio Vicuña, em 2004.
Digo provisório, pois no decorrer de três meses pedi o cancelamento do estágio.
Não engolia o plano de gestão ambiental portuária.
Após essa hipótese, veio a dúvida: “e se realmente pudesse provar, após
coleta de dados com a comunidade, de que essa hipótese é real? O que poderia ser
feito em benefício dessas comunidades, uma vez que vários se encontram a
quilômetros de distância de tratamentos médicos adequados para tal situação?”.
Cheguei a levar o caso a um Seminário de Saúde Coletiva, ocorrido em Curitiba, da
qual a doutora em questões de bioética, não soube responder. Também fui
incentivada a realizar o estudo com a promessa de uma possível bolsa de mestrado,
mas do que adiantaria? Estaria sendo promovida pela minha eficiência acadêmica
enquanto que na comunidade o problema iria continuar. A maioria dos estudos de
caso que procurei a respeito do assunto, nada foi feito de transformador nas
comunidades estudadas. Os únicos resultados desse tipo de estudo é a
comprovação científica da existência da fonte causadora do problema, mas nunca
uma solução. E não encontrando uma saída a realidade em que vivenciava, fiquei
sem rumo.
Comecei a desinteressar-me pelos estudos acadêmicos e em seguida pela
própria universidade. Do que me adiantaria tantos conhecimentos, tantos livros,
participação de eventos, vivências, se não era capaz de encontrar uma solução aos
problemas em minha volta? Não aceitava a ideia de estudar e trabalhar em algo em
que o maior beneficiado fosse meu ego, enquanto que o ambiente e as pessoas se
degradavam em minha frente. Estava decidida a virar monja, mas até no monastério,
vi e ouvi coisas que não condiziam com que acreditava. Entrei no mais profundo
silencio dentro de mim mesma que se agravou com o termino de uma longa relação
e uma crise financeira familiar bem complicada. Por um momento achei que não iria
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resistir a tudo o que esta acontecendo. Não sabia mais quem eu era, o que gostava
o que queria. Tudo havia sido desconstruído.
Logo vi a necessidade de caminhar. Senti a fome de redescobrir-me para
poder enxergar as belezas da vida e como uma lagarta, comecei a devorar tudo em
minha volta...
“Não vemos as coisas como são, vemos as coisas como somos”
Humberto Maturana
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PARTE I
O Início A Lagarta
O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA UNIVERSIDADE E A CONSTRUÇÃO DO INDIVÍDUO
estrutura pedagógica do projeto político da Universidade Federal do
Paraná Setor Litoral (UFPR – Litoral) está traduzida em uma organização curricular
diferenciada. Ela objetiva a integração da pesquisa, ensino e extensão, através de
uma educação onde o humano possa articular e se envolver com o ambiente,
propondo e desenvolvendo atividades que possam melhorar a qualidade da
realidade local e a integração entre a comunidade da universidade e a comunidade
regional. Para isso, o projeto articula seu currículo em três grandes fases: 1º ano -
conhecer e compreender; 2º e 3º ano - compreender e propor e 4º ano - propor e
agir. Essas fases são desenvolvidas dentro de outros três grandes módulos,
constituídos por: 1) Fundamentos teórico-práticos (FTP) - onde no lugar de
disciplinas, os estudantes cursam módulos semestrais, cuja estrutura é mais flexível
e onde são preparados para um trabalho interdisciplinar e multidisciplinar; 2)
Interações Culturais Humanísticas (ICH) e 3) Projetos de Aprendizagem (PA), na
qual completam o curriculum, sendo estes organizados ao decorrer dos cursos
(Hamermüller, 2008).
As ICH´s consiste num espaço de aprendizagem ocorrido através de
encontros semanais, onde possibilita estudantes de diferentes cursos interagirem e
articularem entre si, de diversos saberes científicos, culturais, populares e pessoais,
desenvolvendo um olhar amplo às problemáticas socioambientais contemporâneas.
Contudo, o grande diferencial da proposta esta na estratégia da aprendizagem do
ensino por projetos. Os envolvidos são educados para a construção de uma leitura
A
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da realidade, sendo capazes de tomar novas posições e realizar novas propostas.
No caso, desde o ingresso da universidade, cada estudante constrói seu PA, que
permite a construção, de maneira integrada, de seu conhecimento. Através dessas
fases, a universidade exercita e estimula na comunidade acadêmica, tanto de
docentes quanto dos discentes, técnicos administrativos e funcionários, a
sensibilização para a complexidade das questões que envolvem a região.
A partir dos fundamentos teórico-prático, articulados com saberes vinculadas
as problemáticas socioambientais apresentados no ICH e com o empoderamento de
propor e agir, tanto no campo individual quanto em cooperação com outros
indivíduos, foi possível elaborar, construir e atuar dentro da realidade local,
identificando-me como agente transformador do ambiente. Tal caminho percorrido
proporcionou profundas modificações dentro de meu ser, uma vez que tive a
oportunidade de canalizar toda minha indignação em relação as desigualdades e
crueldades mundanas em arte, não querendo outra doce ocupação a não ser o de
contribuir com outros seres humanos, na construção de si mesmos e de um novo
olhar sobre a vida.
No caso, o projeto elaborado titulava-se: Divulgação Científica para a
Conservação das Abelhas Nativas através do Teatro de Bonecos, apresentado a
câmara do curso de Gestão Ambiental e aos alunos em junho de 2011. O projeto
tinha como objetivo, divulgar e popularizar os dados de pesquisas científicas sobre
impactos antropogênicos no ambiente e nas abelhas indígenas, através de métodos
artísticos para práticas pedagógicas, no caso, o teatro de bonecos intitulado “O
Sumiço da Mandaçaia”, com foco na conservação do ambiente, das abelhas sem-
ferrão e da difusão dos princípios da agroecologia, além de fortalecer a corrente de
pesquisadores, educadores, professores e afins que acreditam nas metodologias
lúdicas para a construção do ensino e aprendizagem. A metodologia artística foi
utilizada por três intenções: o de estimular a curiosidade do público para
desenvolverem opiniões mais concisas; o de sensibilizar o público às coisas
ambientais; e o de divulgar e popularizar conhecimentos científicos gerados dentro
da academia em uma linguagem mais simples e de acesso a todos.
Esse projeto foi o resultado da organização curricular diferenciada
da universidade. Através dos fundamentos teórico-práticos do curso de gestão
ambiental, acrescido de minhas vivências pessoas, pude compreender a realidade
23
do litoral, diagnosticar problemáticas de diversas ordens (social, cultural, política,
econômica, ambiental), e por fim, propor e agir um trabalho que possibilitasse a
transformação da realidade. E realmente transformou, principalmente meu ser...
Na época, como estudante de gestão ambiental, compreendi que
estava inserida dentro de um território com a maior extensão de florestas nativas
contínuas do Brasil, e que por sua beleza cênica e conservação, a região teve seu
status elevado pela ONU à condição de Reserva da Biosfera. Essa beleza litorânea
pertence a sete municípios: Guaraqueçaba, Morretes, Antonina, Paranaguá, Pontal
do Paraná (Sul), Matinhos e Guaratuba, onde são encontrados 27 Unidades de
Conservação (UC´s) de diferentes tipos de categorias. Estes são espaços territoriais
que são instituídos pelo Poder Público, sob regime especial de administração com
garantias de proteção (Medaur, 2005). No caso do Estado do Paraná, existem 68
unidades de conservação estaduais, totalizando 1.205.632 hectares de áreas
conservadas, nas quais 45 são Proteção Integral e 23 unidades de conservação de
Uso Sustentável (IAP, 2011).
Também, fui sensibilizada pela causa das abelhas sem ferrão.
Percebi a importância desses seres tão minúsculos sob a ótica do
conservacionismo, da agroecologia e de alternativa de renda para a comunidade.
Não tinha ideia da relação de especialização esses insetos e plantas, ao longo da
cadeia evolutiva. Algumas plantas desenvolveram flores com características para
serem visitadas por determinadas abelhas, ao mesmo tempo em que se tornaram
altamente adaptáveis a elas.
Amaral (1953) cita exemplos da polinização específica realizado por
meliponídeos. No caso da Mamangava, por ser grande, ocupa um papel importante
na polinização do maracujá. As Irapuás são úteis para a polinização da Crotalaria
juncea, uma vez que elas abrem pequenos furos nas flores onde se encontram as
anteras e os estigmas, com a finalidade de coletar o pólen, efetuando assim, sua
polinização. O trabalho desses insetos é de tal importância que seus produtos como
o mel, a cera e a geleia real, estão abaixo daquele representado pela sua ação junto
as flores.
Quanto a Mandaçaia (abelha escolhida como tema para o teatro) é
encontrada em muitas regiões do território nacional, desde a Paraíba até o Rio
Grande do Sul, sendo considerada uma das mais populares da Floresta Atlântica,
24
seguida da jataí (Tetragonisca angustula) e uruçu (Melipona scutellaris) (Nogueira-
Neto, 1997). É uma abelha robusta, de tamanho grande quando comparada com
outros meliponídeos, de cor preta com quatro listras amarelas transversais em seu
abdome. Na linguagem indígena, significa vigia bonito (mandá: vigia) (çai: bonito),
fato este por se observar no orifício de entrada da colmeia uma abelha sempre
presente, ou seja, a vigia1. Devido a sua docilidade, tornam-se excelente material
lúdico para os adultos e um instrumento de educação ambiental para as crianças.
Mesmo tendo as UC´s sob garantia de proteção pelo Poder Público, vários
impactos socioambientais foram diagnosticados, tais como o uso indiscriminado de
agrotóxicos e a prática de monocultura. Um exemplo é a área rural do município de
Guaratuba, onde a agricultura de subsistência de comunidades tradicionais e a
monocultura de banana, pinus e palmito, praticada por uma elite, dividem o mesmo
espaço. A região destaca-se por ser a maior produtora de banana no Paraná, com
três mil e duzentos hectares de plantio em área contínua entre a região de Cubatão
e Limeira, organizada por associação de produtores responsáveis pela
comercialização final desses produtos (Ferreira, 2010). Também, em Cubatão é visto
a monocultura do palmito de palmeira real e de pupunha (Kantek, 2009). Na
Comunidade de São Joãozinho, a mata nativa vem se extinguindo devido ao
aumento da monocultura de Pinus (Ferreira, 2010). (Figura 1)
Esses riscos desencadeiam uma série de
interferências nas relações de trocas energéticas das
UC´s, como o Parque Nacional Saint Hilaire/Lange,
Parque Estadual de Boguaçu e a Área de Proteção
Ambiental de Guaratuba. Apesar do autor não comentar
sobre a relação de seres humanos com os meios
naturais, concordo com Dorts (1973) quando diz que “A
importância de uma reserva natural se avalia pelo estado
dos habitas e das populações animais e vegetais que ali
se encontram em equilíbrio com o seu meio”.
1 Associação Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíficas Européias. Disponível em:
<www.apacame.org.br>.
Fotografia 1. Monocultura de pinus a caminho da Comunidade São Joãozinho. FONTE: A autora (2010).
25
E com todos esses impactos, a própria questão da polinização, primordial
para o equilíbrio do sistema, acaba por ser afetada.
A partir do conhecimento dessa realidade, atrelada a bagagem cultural e
histórico de vida, juntamente com o anseio em agir no ambiente e vivenciando um
espaço universitário que permite a construção da aprendizagem, comecei a
construir-me por meio da elaboração de do projeto: “Divulgação Científica para a
Conservação das Abelhas Nativas através do Teatro de Bonecos” . Ressalta-se que
a partir de uma vivencia no espaço do ICH, o trabalho começou a ser elaborado. No
caso, o tema da oficina era sobre Meliponídeos (Abelhas indígenas brasileiras ou
Abelhas Sem-Ferrão), ministrado pelo Prof. Hermes Palumbo, a convite do Prof.
Renato Bochicchio. O amor de Palumbo pelas abelhas cativou-me. A oficina
sensibilizou-me a tal ponto, que ao final desta havia elaborado uma história sobre a
importância desses insetos no ecossistema.
Com o intuito de transformar a história em peça teatral, comecei a articular
um grupo interdisciplinar de alunos dos cursos de Licenciatura em Artes,
Licenciatura em Ciências, Gestão Ambiental, Agroecologia, Linguagem e
Comunicação, dispostos a confeccionar e atuar na peça teatral voluntariamente. A
primeira e única apresentação fora realizado na IV Feira de Profissões da UFPR
Litoral (maio/2010) (Figuras 2 e 3). Projetavam-se apresentações teatrais em
escolas com apoio do Prof. Bochicchio, até o desaparecimento do material utilizado
na peça e com isso o desinteresse dos estudantes pela continuidade do trabalho.
Fotografias 2 e 3. Apresentação do teatro “O Sumiço da Mandançaia” na IV Feira de Profissões, 2010. Abelhas mandaçaia Manda (eu), Melácia (Denise Lima) e florzinha (Priscila Santos) coletando pólen e os músicos Rick Badra, Ciro Jr, Lucas e Caio. FONTE: Antônio Lima
26
O projeto ficou parado desde então. Após a participação do 10º Festival de
Formas Animadas e do 7º Seminário de Formas Animadas, ocorrido no mês de
outubro, no município de Jaraguá do Sul (SC), foi possível fazer contato com vários
pesquisadores e profissionais da área. Em conversas formais, afirmavam que nos
últimos anos, no Brasil, houve um aumento da investigação sobre a teoria e a prática
da linguagem artística do teatro quanto sua inserção nos vários níveis e
modalidades de ensino. Essa vivência foi um motim para reformular o projeto,
adaptando e melhorando o roteiro de teatro de atores para um teatro de bonecos.
Para a continuação do projeto foi necessário realizar algumas parcerias. No
caso, foi feito um acordo com o Projeto LabMóvel - Laboratório Móvel de Educação
Científica, projeto docente da UFPR, na qual destinou uma bolsista para a confecção
dos bonecos (Elizangella Sarraff do curso de Licenciatura em Artes – Turma 2008) e
uma parte dos materiais destinado em apoiar e interagir em conjunto ao projeto de
aprendizagem. Em seguida foi feito um estudo para a confecção dos personagens,
tais como materiais para cor da pele, vestimentas, cor dos olhos e cabelos. Também
se optou em valorizar o folclore nacional inserindo na peça personagens mitológicos
brasileiros. Foram cinco meses (novembro de 2010 à abril de 2011) para o estudo,
elaboração e confecção de nove bonecos de espuma de 40 cm (Figuras 4 e 5).
Elegeu-se esse tipo de material, pois a intenção era confeccionar personagens
chamativos aos olhos do público.
Fotografias 4 e 5. Confecção dos bonecos para o teatro "O Sumiço da Mandaçaia" com Elizangela Sarraff. Centro Cultural UFPR Litoral. 2010/2011. FONTE: Luciana Ferreira e a Autora.
27
Através da experiência de construção dos bonecos, foi necessário imergir no
mundo do teatro. A medida que investigava, sentia a importância deste no contexto
educacional. O contato com essa forma de expressar foi aumentando a medida que
ia descobrindo novos caminhos, novas possibilidades e formas de trabalho.
“Palavra puxa palavra, uma ideia trás outra ideia, e assim se faz um livro, um governo ou uma revolução”
Machado de Assis
O TEATRO DENTRO DO CONTEXTO EDUCACIONAL
Desde o início da civilização bonecos, máscaras e formas inanimadas, foram
utilizadas em rituais sagrados como representações dos deuses, das forças da
natureza e do ser humano, tendo o teatro surgido a partir desses rituais (Parente,
2005). Atualmente inúmeros artistas recorrem aos bonecos, com interesse num
teatro mais visual, poético e evocativo, com intuito de trabalhar a imaginação,
sonhos e fantasias.
Num único espetáculo é possível unir atores com bonecos, com
bailarinos, sombras, projeções, texto, música e outras formas. Essa mescla das
diversas formas para se fazer teatro tornam-se uma alternativa de linguagem com
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sua própria poética. Nota-se a tendência de forte apelo visual, das quais se observa
a influencia do cinema, da mímica, do circo, das artes plásticas, bem como, das
diversas formas de dança contemporânea, e também, dos aspectos visuais dos
cenários, figurinos, adereços e objetos, a música e os ruídos, que em muitos casos
são tão ou mais importantes que a presença humana em cena (Parente, 2005).
O que diferencia o ator do ator-manipulador ou ator-bonequeiro é que
enquanto o primeiro o encarna mesmo, o personagem, o segundo utiliza algum
elemento material externo a ele (máscaras, bonecos ou objetos) para se expressar.
Nota-se que nos últimos anos, foi convencionado empregar a palavra bonecos como
um termo genérico que incluísse suas várias técnicas (Amaral, 1993). Logo, boneco
é: marionete (boneco movido a fios pelos dedos), fantoche ou títere (boneco que se
veste na mão; de luva), boneco de sombras (figura chapada projetada através da
luz, articulável ou não), boneco de vara (movido por varetas), marote (mistura de
boneco de luva e vara) (Silveira, 1997).
A relação do teatro com a educação, esta na sua eficiência em envolver os
sentidos do espectador, leva-os a interagir com os personagens numa linguagem
simples e com altas doses de bom humor (Guerra, 1999), sensibilizando ao
transmitir suas mensagens através do amor e da alegria. Koutela&Santana (2005)
afirma que fornece metodologias e conteúdo para a teoria e prática educacional,
sendo este considerado uma ação cultural. Nele, a palavra não é seu material único,
mas parte de uma diversidade de linguagens que se percebe, que se sente e que se
vê em cena (Nazareth, 2010).
Conduzir sutilmente a criança para a aquisição de um conhecimento mais
abstrato, misturado o trabalho com uma boa dose de brincadeira facilitaria o
mergulho da criança na arte do aprendizado (Abastos, 2010). Diferente de muitas
práticas pedagógicas, que se restringem apenas à aplicação de técnicas, sem uma
reflexão apurada de seus impactos no processo educacional, resultando no
afastamento dos propósitos de uma educação emancipatória e a não valorização
das múltiplas estratégias de aprendizagem.
Portanto torna-se necessário estruturar metodologias de ensino que
atendam as necessidades locais de ordem social, cultural, econômica e ambiental,
que auxiliem na resolução de problemas regionais e contribuam para o bem-estar e
29
qualidade de vida da população. Para isso, são indispensáveis que dentro dos
espaços educacionais sejam desenvolvidas e trabalhadas atividades lúdicas de
sensibilização e construção de conhecimentos.
De acordo com a Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece
as Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, no Título II sobre os
Princípios e fins da Educação Nacional, art. 26, segundo parágrafo, diz “o ensino da
arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação
básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Contudo,
Guerra (1997) afirma que apesar do surgimento dessa lei, o ensino tradicional ainda
impera nas escolas, ensino este onde as crianças não entendem o que estudam,
para que estudam e por que estudam. O mesmo autor afirma, existe uma inversão
do conteúdo ensinado dentro das escolas em relação à realidade em que estão
inseridas, e exemplifica: “nas escolas rurais fala-se em indústrias, carros,
computadores, e o que o aluno vivencia é o roçado de feijão e de mandioca em que
trabalha depois da aula”. Já em relação às escolas urbanas, o mesmo se procede
“fala-se, na Floresta Amazônica, no Pantanal e o que o aluno vivencia é o barulho do
trânsito ou o mau cheiro do esgoto correndo a céu aberto, muros pichados etc...”,
concluindo que em ambas as escolas, são ensinadas apenas o que esta ofertada
nos livros paradidáticos “sem compromisso com a realidade e os valores culturais e
ambientais do público que os vai utilizar”.
A partir de uma proposta de arte-educação, com a construção de práticas
lúdica educativa dentro do espaço escolar, em conjunto com o maior número de
atores – alunos, funcionários, professores, pais – aliada a temas da realidade
socioambiental e cultural do local, se amplia as possibilidades de aprendizado, uma
vez que o ato de criar se alia ao processo de assimilação dos conhecimentos,
instituindo um espaço onde possa ocorrer uma interação entre os conteúdos
escolares com as experiências vivenciadas no ato artístico, favorecendo a relação
de afeto que se estabelece entre o grupo, “ausentes nas práticas tradicionais
pedagógicas, que enfatizam o aprendizado de forma mecânica, negando emoções,
sentimentos e formas diferenciadas de expressão” (Silveira, 1997).
Essa mecanização da educação e de expressão também resulta numa
deficiência entre a articulação da linguagem oral e escrita. Silveira (1997) argumenta
que nos momentos de diálogo entre professor (a) e aluno (a), este último deve saber
30
qual a resposta certa, não tendo a oportunidade de refletir e questionar sobre o
tema. Diferente de um diálogo ocorrido dentro de um teatro. Este é dotado de
diversidade de linguagem, figurino, cor, texto e outros que conferem características
únicas e harmônicas esteticamente agradáveis, características estas que além de
prazerosas, são responsáveis por múltiplos estímulos ao público, auxiliando no
desenvolvimento de seres humanos mais integrados e sensibilizados com o
ambiente em que interagem. Conforme Galvão (1996) “As crianças parecem receber
bem melhor e armazenar com mais facilidade as imagens, quando são apresentadas
através de algo que as encante emocionalmente como é o caso do Teatro de
Bonecos”.
O teatro, seja de bonecos ou de atores, incorpora imagens, voz, música,
corpo, ritmo e interação com diversidades culturais que se articulam. Habilidades
motoras, de criação, percepção e interação com o próximo, se iniciam desde a
criação de um roteiro, do manuseio de materiais para colagem, pintura, modelagem
até a manipulação do boneco em cena. O ato de construção do teatro em si (roteiro,
cenários, bonecos, etc.) permite certa autonomia; uma atuação independente,
devido a livre escolha de materiais para confecção, de formas e ideias para criação.
Segundo Silveira (1997) “o boneco possibilita essa vivência entre a fantasia e a
realidade e nos ajuda a sair de nós mesmos para que possamos nos conhecer
melhor“.
“A linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos,
ou dedos na ponta das palavras”
Roland Barther
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O TEATRO INFANTIL E A EXPERIÊNCIA DO TEATRO DE BONECOS
“O SUMIÇO DA MANDAÇAIA”
Em relação ao teatro infantil, nas décadas de 30 e 40, era caracterizado
como um teatro escolar e por ser feito pelas crianças. Contudo, Braga (2007 apud
Santori 1995) comenta sobre um marco decisivo no teatro, ocorrido no mesmo
período, na qual o teatro brasileiro preocupou-se com a sofisticação de suas
montagens e formas de interpretação, buscando melhor tratamento de suas
encenações e ampliando-se de forma evidente para plateias infantis. A partir daí, do
sul ao nordeste do país, várias estreias ocorrem como marcos definitivo do teatro
infantil com apoio das prefeituras.
Nota-se que o teatro infantil, antes feito por crianças e caracterizado com
uma atividade escolar, passa a ser feito por adultos e por companhias que surgem
ao longo do contexto sociocultural e político da época. A Sociedade Pestalozzi, uma
entidade voltada para o ensino de crianças deficientes, destaca-se neste contexto.
Em 1946 promove um curso de formação de artistas titiriteiros2, que segundo Braga
(2007) “o primeiro (curso de formação) que se tem notícia”. Esse curso tornou-se
importante uma vez que alunos como Antonieta Lex Leite – fundadora do Teatro
Sacy e do Serviço de Teatro de Bonecos no Departamento de Cultura da Cidade de
São Paulo – e Maria Clara Machado – marca o teatro brasileiro com peças infantis
com bonecos – conseguiram dar continuidade ao trabalho, juntamente com outros já
engajados, fortalecendo o movimento do teatro infantil no Brasil.
Nas décadas seguintes 50 e 60, caracterizam-se pelo reconhecimento do
trabalho de artistas e bonequeiros, e o surgimento de várias companhias e teatros
infantis. Também são promovidos os primeiros festivais brasileiros de teatro de
bonecos e o primeiro congresso sobre o tema. Contudo é na década de 70 que se
encontram as transformações mais acentuadas e ricas pelas organizações das
associações, profissionalização, quantidade de espetáculos, eventos, criação de
novos grupos e difusão em programas de televisão.
O teatro de bonecos começou a ser utilizado como o meio mais eficaz de
difusão e sensibilização de fatos e conhecimentos, sendo inserido dentro do campo
2 Titiriteiro ou bonequeiro, expressão usada para se referir aquela pessoa que trabalha e se dedica na confecção de bonecos.
32
da educação, com a arte de contar histórias e na saúde, em terapias com deficientes
visuais. Um exemplo é o Grupo Casulo de Ana Maria Amaral, que na década de 70,
através dos espetáculos Zé da Vaca e Palomares, utilizam a linguagem dos bonecos
para tratar fatos verídicos, no caso um acidente aéreo ocorrido na Espanha e o
perigo da poluição atômica com as usinas nucleares (Braga, 2007).
Outro exemplo sobre o uso do teatro de bonecos para a divulgação e crítica
da realidade socioeconômica e ambiental da sociedade atual é a peça “O Sumiço da
Mandaçaia”, desenvolvido pelo Guapuruvu, que atualmente pertence a linhas de
educação da Motirõ Sociedade Cooperativa. Desde 2010, através dos esforços
voluntários de estudantes universitários, vem sendo realizando teatro-educativo,
sobre um tema de grande relevância ao litoral paranaense, uma das regiões de
maior área contínua de Floresta Atlântica do Brasil, considerada uma das maiores
áreas de biodiversidade do planeta. Apesar de a região estar integrada a diversas
Unidades de Conservação, é possível encontrar uma série de impactos que
envolvem o uso indiscriminado de agrotóxicos, desmatamento, caça de animais
silvestres, tráfico de animais, poluição das águas, turismo de massa e outros que
contribuem para a degradação das Áreas Protegidas e para a deterioração da
qualidade de vida da população, que se traduz em um dos Índices de
Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos do Estado.
Por conta de tantos impactos aos remanescentes florestais, uma das
principais espécies atingidas são as abelhas indígenas sem ferrão (meliponíneos). É
com base neste fato que o projeto busca demonstrar a situação da espécie de
abelha nativa Mandaçaia. O projeto tem como objetivo divulgar e popularizar através
do teatro de bonecos, o conhecimento das abelhas indígenas sem ferrão e os
impactos humanos vivenciados na região. A escolha do tema “Abelhas sem Ferrão”
se deu pelo fato de que estas espécies podem ser encontradas em abundância no
litoral, entretanto pouco se conhece sobre elas, sendo sua popularização
extremamente importante uma vez que contribuem com até 90% da polinização das
árvores nativas brasileiras (Rodrigues, 2005), além da importantíssima função para o
ciclo da vida, sua criação começa a ser visualizada como alternativa para a melhoria
da qualidade de vida de agricultores familiares da região.
O teatro realizou apresentações em diversos eventos (Tabela 1), totalizando
um público próximo de cinco mil pessoas. Além de apresentações, o trabalho fora
33
apresentado no Seminário Latino-Americano sobre Interdisciplinaridade no Ensino
de Ciências da Natureza, na cidade de Foz do Iguaçu-PR (2010) e no Encontro
Nacional da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciências, ocorrido na
cidade do Rio de Janeiro-RJ (2011). Para alcançar esse resultado, integrantes do
projeto tiveram que aperfeiçoar técnicas de manipulação e confecção de bonecos,
em cursos oferecidos por companhias teatrais (Cia Polichinelo-SP; Giramundo – MG
em 2011), em festivais de teatro de bonecos (10º e 11º Festival de Teatro de Formas
Animadas, no município de Jaraguá do Sul – SC em 2010 e 2011) e em seminários
específicos sobre o tema (7º e 8º Seminário de Estudo sobre Teatro de Formas
Animadas – pela Universidade Estadual de Santa Catarina UDESC em 2010 e
2011).
Tabela 1. Dados referente a apresentação do Teatro “O Sumiço da Mandaçaia”
Data Município Evento Nº de
pessoas*
Abril, 2010 Matinhos IV Feira de Profissões para público diverso 100
Fev, 2011 Pontal do Paraná Aldeia da Paz para crianças de 1º a 4º série do Colégio Estadual Prof. Sully da Rosa Vilarinho
223
Maio, 2011 Matinhos V Feira de Profissões para público diverso 70
Maio, 2011 Matinhos Centro Cultural UFPR Litoral para a comunidade
Jardim Scheffer e Tabuleiro
30
Maio, 2011 Pontal do Paraná III Ecotuzzi da Escola Amatuzzi 325
Jun, 2011 Londrina 10º Jornada de Agroecologia 3.500
Nov, 2011 Curitiba 5º Seminário Paranaense de Meliponicultura no Instituto EMATER
250
*Número estimado de pessoas que assistiram o teatro, segundo dados de cada evento e consenso
do grupo
Em 2012, novos convites foram feitos para a apresentação do espetáculo.
Como o trabalho sempre fora voluntário, após um tempo, integrantes do grupo
começaram a dedicar-se integralmente atividades que fossem remuneradas,
principalmente com o termino do curso universitário e o ingresso ao mercado de
trabalho. Contudo os bonecos ainda continuaram sendo utilizados em algumas
intervenções teatrais ocorridas ao longo do ano. Também se preocupou em
34
desenvolver outras atividades lúdico-educativas que atendessem as necessidades
locais, auxiliando na resolução de problemas regionais e na contribuição do bem-
estar e qualidade de vida da população, por meio da sensibilização.
Para execução de tal tarefa, era necessário encontrar dentro de meu ser as
respostas daquilo que almejava exteriorizar ao mundo. Precisei conhecer a fundo
onde queria chegar, o porque de todas essas ações, o motivo de todo esse trabalho.
Para isso, fechei-me num casulo...
FOTOGRAFIAS 6 E 7: Apresentação do teatro na 10ª Jornada de Agroecologia. (esq. À dir) Músico Ciro Junior e bonecos. Manipuladoras: voluntária, Mariana Akemi, Juliana Melchiori e Renata Lays. Foto por Joka Madruga.
“Sua vida muda quando você muda seus pensamentos” Autor desconhecido a minha pessoa
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PARTE II
O Meio O Casulo
POLÍTICA TRANS-FORMA-AÇÃO NA SOCIEDADE PELA ESCOL(H)A
eus pais foram mantidos na escola com a proposta de que tinham que
estudar para adquirirem um diploma universitário e com isso, um “bom emprego”
(para eles, bom emprego é aquele que trocamos nossa força intelectual por quantias
de dinheiro o suficiente para tornarmos consumidores excessivos de supérfluos).
Mas atualmente, isso não tem funcionado, pelo menos para mim e para boa parte
dos colegas com que convivo. Concordamos que é melhor ter um diploma
universitário do que nenhum, mas percebemos que para chegarmos a esse ponto,
teríamos que marginalizar boa parte daquilo que consideramos tão importante para
cada um de nós: nossos sonhos, pensamentos, planos, na transformação que
queremos ver no ambiente, para deixar ser levado por padrões de vida já
estabelecidos e tão normalizados na sociedade. Nossos pais são a prova de que
essa forma de viver não trás benefício, nem para eles mesmos, que acabam
doentes de tantos problemas e pré-ocupações.
Acredito que boa parte das pessoas se assemelha aos meus pais. Mas
também acredito que eles pensam o que pensam e são o que são, porque em algum
momento isso também foi estabelecido como um modelo a ser alcançado, e que
seguindo este, obteria a felicidade. Também não tiro a responsabilidade deles terem
escolhido esse caminho, mas também concordo que quando estamos na escuridão
qualquer ponto de luz acaba sendo referência à saída.
A educação vigente na sociedade em forma de instituição chamada escola,
também foi uma das responsáveis em promover tais valores. Seu sistema fora
M
36
desenhado, pensado e estruturado na época do Iluminismo e na circunstância
econômica da Revolução Industrial e desde então, poucas transformações
ocorreram. Nota-se uma forte ligação entre o surgimento das escolas e os interesses
políticos e econômicos que se dão também em tempos atuais. Isso é um fato. Basta
olharmos para trás e compararmos esses interesses com o que vem acontecendo
atualmente.
Na Europa, numa época em que a Igreja Católica exercia um poder superior
a monarquia, a educação era fortemente influenciada por uma política e cultura
homogenia, imposta pela Igreja. Seus ensinamentos eram considerados a verdade
absoluta. Para isso foram criadas várias ordens religiosas voltadas aos filhos da
elite. No filme Lutero3 esse dominação é bem enfatizada, principalmente dentro da
universidade. Com a expansão marítima europeia, a burguesia ascendia através do
saqueamento de riquezas naturais provenientes das colônias nas Américas, África e
Índia. Esta começou a enriquecer-se. Lembremos que numa sociedade capitalista,
aquele que é detentor de capital acaba por ser super-valorizado aos olhos dos
outros, devido ao seu poder de compra de bens e manipulação de pessoas. O que
não deixa de ser necessário para se alcançar a elite política e intelectual, e com esta
ter acesso às estruturas bases de sustentação de uma sociedade europeia,
moldando-a a seu bel-prazer.
A Igreja Católica começa a perder a autoridade para a nova classe em
ascensão, a burguesia. Com esta no poder, grandes transformações começaram a
surgir em diversas ordens políticas, filosóficas, sociais e econômicas, que os
historiadores denominam de Iluminismo, um movimento em que se buscava
individualidade e a credibilidade a razão. Pensadores começaram a denunciar
injustiças sociais da época, pois acreditavam que “sociedades que não se
organizam em torno da melhoria das condições de seus indivíduos concebem uma
realidade incapaz de justificar, por argumentos lógicos, sua própria existência”4.
3 Martinho Lutero (1483-1548) foi um dos precursores da Reforma Protestante. Ao viajar à Roma, decepcionou-se com a corrupção da Igreja Católica a tal ponto que, ao voltar a Alemanha, escreveu vários livros que tratavam dos abusos da igreja com o povo. Esses livros foram divulgados para a população, com o intuito de alerta-los perante tais abusos. O fato desencadeou diversos confrontos entre Alemanha e Roma. Tais ideias levam o povo a loucura, fazendo uma verdadeira chacina aos católicos, padres, freiras e a diversas instituições religiosas católicas. Anos mais tarde, Lutero publica “As 95 Teses” fazendo com que a Alemanha rompe de vez com o catolicismo. (Filme Lutero).
4 Rainer Sousa. Graduado em História. Acesso em <www.brasilescola.com/historiag/iluminismo.htm>. Brasil
Escola é um dos maiores sites privados de educação. Acesso em outubro, 2012.
37
Porém no que se investiu foi na produção de bens, através da criação de fábricas.
Nisso o trabalho artesanal passa a ser substituído pelo trabalho assalariado, o que
gerou outro movimento complementar e de grandes mudanças do estilo de vida das
pessoas, principalmente no Reino Unido (Inglaterra), denominado de Revolução
Industrial. Fábricas e escolas nascem juntas. O Estado institui leis para a criação de
escolas, eliminando todo e qualquer outro meio para se construir à aprendizagem.
Segundo Emilio Urruty5, no século XVIII, a Prússia já criava as primeiras
escolas públicas, gratuitas e obrigatórias, seguindo determinados conceitos da
escola militar Espartana, com objetivo de formar um povo dócil, obediente e
preparado para as guerras, por meio da disciplina, obediência e regime autoritário. A
educação do povo fora reduzida em quatro “saberes” mecânicos: o saber ler, o
saber escrever, o saber fazer contas e o saber fazer trabalhos manuais. Porém outra
concepção de “educação” disseminou-se em várias partes do mundo, prolongando-
se ao século XX. Era a Escola Nova, que propunha uma educação instigadora de
mudança social, na qual os trabalhadores pudessem ter uma maior participação na
sociedade, como cidadãos (Camini, 2009). Entretanto a elite industrial continuou a
investir em seu crescimento, tornando suas fábricas mais modernas, o que
demandou de novos recursos humanos. Com a explosão demográfica, boa parte
das pessoas não tinha acesso a escola, o que obrigou autoridades ampliarem a rede
de “educação”, com o intuito de criar mão de obra mais especializada para a
demanda industrial. Empresários industriais como John Rockfeller da indústria do
petróleo e Henry Ford da indústria automobilística, tiveram interesse em financiar a
escola para formar operários6.
Logo se vê o interesse do Estado em popularizar essa instituição
denominada escola para se “educar” o povo. Essa metodologia não fora aplicada por
ser a mais adequada à melhoria da qualidade de vida, e sim porque traria maiores
benefícios a elite, empoderando-a, a partir do momento que se retira a capacidade
de povo de se unir por uma bem maior, pois estes são alimentas com a ideia de
individualismo e segregação por classes.
5 Referência da Escuela Experimental La Bahia, na Argentina. Dado extraído do documentário Educación Prohibida (2012) produzido pela Red de Educación Viva – REEVO. www.reevo.org. Acesso em setembro 2012.
6 Dado extraído do documentário Educación Prohibida (2012), produzido pela Red de Educación Viva – REEVO. www.reevo.org. Acesso em setembro 2012.
38
No que diz respeito ao Brasil, no início do século XX, um crescente interesse
pelas questões educacionais começam a surgir devido à necessidade de
modernização do país. Frigotto (2003) diz que nos anos de 1920-1930, os planos
nacionais de educação se aproximavam das políticas educacionais em gestação,
enquanto que a partir do final dos anos 40, eles refletem uma relação entre
educação e desenvolvimento econômico.
Num primeiro momento fora criada a Associação Brasileira de Educação
(ABE). Shiroma&Evangelista (2004) argumentam que no primeiro governo de
Getúlio Vargas (década de 30), foi enfatizado a importância de criar um ensino
adequado ao progresso do país e a construção de uma nacionalidade, com objetivo
de formar “cidadãos” por meio da valorização de uma pedagogia que atendesse as
exigências do trabalho industrial. Também se tem o interesse em criar escolas no
campo, mais por uma “questão social” de conter o processo de crescimento urbano
mediante a migração de agricultores para as cidades, do que criar escolas do campo
para a valorização da identidade dos camponeses.
Em 1940, a economia brasileira acelerava devido à substituição das
importações pela produção, aumentando a demanda por novos profissionais.
Shiroma&Evangelista (2004) comentam sobre a incapacidade governamental de
promover uma formação profissional em larga escala, seja pela incompetência do
próprio sistema educacional, seja pela dificuldade de alocação dos recursos, o que
fez recorrer à Confederação Nacional de Indústria (CNI) para a criação de um
sistema de ensino paralelo ao oficial, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
(SENAI). Uma barganha para os empresários que tiveram a oportunidade de formar
valores relacionados ao industrialismo, tão evidente nos discursos dos mais idosos.
Não demorou muito para que o SENAI abandonasse as atividades, dedicando-se a
formação mais especializada de nível técnico. Este se desvincula definitivamente da
tarefa pós o golpe da Ditadura Militar, em 1964, em que a educação ficou sendo
tarefa somente do Estado.
O regime militar abafou quaisquer obstáculos que pudesse perturbar os
planos políticos e econômicos que impuseram ao país, por meio das censuras,
dissolução de organizações políticas, controle dos meios de comunicação e práticas
de torturas. Quanto ao plano da legislação educacional, foi implantada uma série de
39
leis e decretos que garantisse o controle político e ideológico sobre a educação
escolar em todos seus níveis.
A educação sai gradativamente do campo dos pedagogos, para os
tecnocratas, economistas e engenheiros da “nova” economia nacional (Frigotto,
2003). Estes elaboraram o Plano Decenal de Desenvolvimento Econômico e Social
(1967-1976), para o qual a educação deveria assegurar a “consolidação da estrutura
de capital humano do país, de modo a acelerar o processo de desenvolvimento
econômico” (Shiroma&Evangelista, 2004). Universidades testemunharam a
repressão, a perseguição policial, expulsão e tortura de seus melhores pensadores e
a crença de que a ciência e a tecnologia impulsionariam o desenvolvimento do país.
Nos anos de 1960 a 1980, não existiu plano estratégico de “questão social”
que controlasse o êxodo rural. Devido a deficiência de políticas públicas
direcionadas aos agricultores, acompanhada por projetos de expansão urbana,
modernização capitalista da agricultura e a ilusão de que o emprego na cidade seria
uma possibilidade para agricultores familiares que viviam em condições precárias no
campo, um contingente populacional migrou para as cidades, elevando o
crescimento de favelas, desemprego e problemas socioambientais como ocupação
de áreas de risco, poluição de recursos hídricos, falta de acesso ao sistema de
coleta de lixo e aumento dos riscos a saúde. Dados estimam cerca de 30 milhões de
pessoas migraram do campo à cidade, dos quais 16 milhões foram somente na
década de 1970 (Camini, 2009 apud Koling [et al.]).
Essas desigualdades acentuam-se a partir dos anos 90 com adesão ao
neoliberalismo e piora com o mandato de Fernando Henrique Cardoso, período em
que gerou maiores desequilíbrios sociais, interferindo não apenas no processo de
expulsão dos trabalhados e trabalhadoras do campo, mas também nas lutas sociais
(Camini, 2009). Há quem pense diferente, tal como meus pais, pois para aqueles
que tinham olhos somente para a inflação, neste governo, com a criação do Plano
Real7, algumas pré-ocupações deixaram de existir.
7 Em relação ao Plano Real, como Gestora Ambiental tenho sérias críticas em relação a impressão de animais da fauna carismática brasileira. Não sei até que ponto isso teve resultado, principalmente no que se diz respeito a quantificação monetária de um animal e ao tráfico de animais silvestres. Tartaruga R$ 2,00; Arara R$ 10,00; Mico Leão Dourado R$ 20,00; Onça R$ 50,00; Lambari R$ 100,00. É de se estranhar. COUTO, Juliana, 2012.
40
Nesse período, para a educação, foi elaborado o Plano Nacional de
Educação (PNE) na forma da Lei nº 10.172 de 9/1/2001, vigente até os dias atuais
(Frigotto, 2003). O Estado capitalista passou a manter a escola sob seu controle,
determinando quais os conteúdos a serem estudados, os métodos de
aprendizagem, o sistema de avaliação e certificação por meio de diplomas e a
formação dos professores por meio de cursos (Licenciaturas, Pedagogia), mantendo
uma fórmula de reprodução da cadeia oprimido-opressor8.
Para Camini (2009), o controle que o Estado mantém sobre a educação
provém de um buraco mais fundo. Nos últimos anos, ouve uma intervenção do
Banco Mundial sobre as políticas de educação pública, mostrando-se preocupado
com a educação dos mais necessitados. A autora confirma que à medida que se
emprestava dinheiro aos países que recorriam a seus fundos, ditava e definia os
critérios mais convenientes a serem seguidos, dentro de uma lógica de marcado,
não divulgando as cláusulas mais perversas dos contratos.
Mesmo assim, nem essa política foi o suficiente para atender a demanda por
ensino dentro das instituições. O descompromisso do Estado em financiar a
educação fez com que empresas privadas se envolvessem um negócio altamente
lucrativo, à medida que contavam com todo o tipo de facilidade e incentivos por
parte do governo. Boa parte dos recursos financeiros destinados às escolas públicas
foi repassada a fim de favorecer a privatização do ensino. Toda uma malha corrupta
foi formada, com o intuito de desviar verba pública, tal como Shiroma&Evangelista
(2004) afirmam: A União, ao repassar recursos do salário-educação aos estados da
Federação para a construção de escolas atendia a interesses de políticos e
empreiteiros locais, criando, dessa forma, uma rede de favores e dependências.
Essa posição do Estado decorreu-se em todos os serviços prestados a
população. Tanto a educação, quanto a saúde, segurança, o transporte público
foram privatizados e elitizados. Frigott (2003) faz uma relação das privatizações em
relação ao incentivo do trabalho voluntário, propagandeado como uma questão
8 Essa cadeia é um fato. Ela mexe com um dos pontos mais interno dos seres humanos: o ego. Após anos e anos de repressão e violência sendo transmitida por um opressor, essa forma acaba por se tornar um método para o oprimido, a referência em se lidar com aquela situação, a ponto de quando o oprimido se vê na mesma posição, caso não trabalhe o ego ferido, tenderá reproduzir o mesmo método, tornando-se um opressor. Essa relação é válida para diversas situações do cotidiano. Seja de pais para filhos, professores para alunos, chefes para empregados. Essa cadeia alimenta nosso ego que cria um falso poder baseado no autoritarismo. COUTO, Juliana, 2012.
41
“cidadã”, dentro de organizações da sociedade civil, que visam atender e solucionar
problemáticas geradas dentro na população. São políticas que visam a minorar os
efeitos da expropriação econômica e cultural que atingem as classes assalariadas
(subempregados e desempregados), marginalizados, em diversos níveis, dos
benefícios sociais propiciados pelo desenvolvimento das forças produtivas. São
políticas pobres para os pobres (Frigotto,2003).
O resultado dessa política ficou registrado nas memórias de minha infância,
minha e de boa parte das crianças urbanas de classe média, ao recordarem do
stress dos pais em relação as pilhas de contas do final do mês. Meus pais chegaram
a pagar condomínio, plano médico, escola para duas crianças e muitos
estacionamentos em shopping para manterem um padrão de vida que julgam
necessário para a obtenção de uma boa qualidade de vida. Não tiro a razão deles
devido à circunstância em que se encontravam: a sobrevivência dentro de uma
metrópole (no caso, São Paulo). A alienação a um padrão de vida, que busca uma
qualidade em meio a um ambiente altamente artificializado, sistematizado e
organizado por instituições com péssimo serviço de atendimento e outras privadas,
que exigem grande força de trabalho árduo, em troca de razoáveis e bons
atendimentos, faz com que indivíduos, como meus pais, conduzam suas vidas para
servir esse sistema, tornando-se escravos modernos9.
“Enquanto eles capitalizam a realidade, eu socializo meus sonhos”
Sergio Váz
9 Existem vários filmes e documentários que auxiliam na construção de uma visão crítica em relação ao sistema vigente. São eles: Matrix (1999), La Belle Vert, Nós que aqui estamos por vós esperamos, Koeniisquatsk, Surplus, SOS Saúde, Criança a alma do negócio, Quanto vale ou é por kilo?. Recomendadíssimos!
FON
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mag
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tern
et
42
IN-VERSÃO DA ESCOLARIZAÇÃO E A COM-CIÊNCIA DE SER
Sustento que o sentimento religioso cósmico é o mais forte e o mais nobre
iniciamento à pesquisa científica
Albert Einstein
Ao longo da história, a educação fora moldada para atender interesses
políticos e econômicos, diferente de outra que visa a autônoma e a transformação
social embasada em valores humanos. Quem já vivenciou trabalhos realizados
dentro de instituições públicas de ensino, podem ter notado a semelhança destas
com fábricas e presídios e das precárias condições de infraestrutura. No ambiente
predomina a estaticidade. As cores encontradas são das paredes de concreto
gastas pelo tempo; o verde é resumido aos vasos de plantas geralmente próximo ao
departamento dos docentes; o domínio social com suas regras e exigências sufocam
toda a espontânea criatividade do aprender. Diferentes crianças são classificadas e
divididas para a formação de grupos homogêneos, em que se espera que todos
saibam e aprendam a mesma coisa, igualmente bem.
Diversas fontes audiovisuais trazem uma profunda reflexão sobre o
paradigma entre educação-escola-sociedade, tais como videoclip10,
documentários11, filmes12 e uma infinidade de livros. Eles expõem o seguinte fato à
sociedade: a escola como um ambiente opressor, mecânico e puramente
administrativo, segmentada em diferentes instalações de especializações, com
metodologia embasada em linha de produção, na qual estudantes, divididos por
faixa etária, são avaliados constantemente para testarem suas qualidades, tudo com
10
Pink Floyd em Another Brick in the Wall. Acesso em: < www.youtube.com/watch?v=yv4qqd94GA0> 11
Educación Prohibida (2012). Acesso em: <www.youtube.com/watch?v=SsJC5WybRQM>. Outro muito bom
referente ao uso da inteligência para a produção de produtos de curta duração: Obsolescencia Programada.
Acesso em <www.youtube.com/watch?v=b6J0CCuA11w> - Por Arte France e Televisión Española. 12
Charlie Chaplin Tempos Modernos. Acesso: <www.youtube.com/watch?v=Ro1kPr957Kc&feature=related> e Como Estrelas na Terra. Acesso em: < www.youtube.com/watch?v=b6J0CCuA11w>.
43
objetivo de atender a demanda político-econômica das necessidades de indústrias e
empresas de diversos ramos, do que as necessidades e diversidades socioculturais
e ambientais da população.
O aluno é, desse modo, escolarizado a confundir ensino com aprendizagem, obtenção de graus com educação, diploma com competência, fluência no falar com capacidade de dizer algo novo. Sua imaginação é escolarizada a aceitar serviço em vez de valor. Identifica erroneamente cuidar da saúde com tratamento médico, melhoria da vida comunitária com assistência social, segurança com proteção policial, segurança nacional com aparato militar, trabalho produtivo com concorrência desleal. Saúde, aprendizagem, dignidade, independência e faculdade criativa são definidas como sendo um pouquinho mais que o produto das instituições que dizem servir a estes fins [...]Illich, 1988.
Essa institucionalização de valores, tão vigente na sociedade, acarreta em
um processo de degradação e miséria modernizadas. Necessidades não materiais,
como educação, saúde e bem-estar acabam transformadas em demandas
mercadológicas, pois se pressupõe que seja resultado do serviço oferecido por
essas instituições. Outro exemplo comentado por Illich é a questão do nascer e
morrer, que passou a ser administrada por médicos e agências funerárias, excluindo
todos aqueles que não possuem uma força de consumo para adquirir tal “bem”.
Ao se estabelecer instituições de controle populacional (modo de pensar,
modo de proteger-se, modo de alimentar-se, modo de cuidar da saúde), alcança-se
um patamar onde é possível constituir padrões de vida, deformando toda uma
construção individual e coletiva de visão de mundo. O que ocorre é um
estabelecimento de normas que condiciona o cérebro sobre o que é correto e o que
não é correto. O resultado é uma massa populacional não pensante em relação aos
problemas diariamente vivenciados em seu entorno, tornam-se impotentes em
encontrar soluções e de dirigir suas próprias vidas. Seres não autônomos, como
uma boiada seguindo o boiadeiro.
Logo, a falta de poder sobre os acontecimentos, com a perda de autonomia,
pode ocasionar num tipo de pobreza. Indivíduos ficam na espera de soluções
provenientes do estado/governo. Um caso semelhante foram os desastres ocorridos
no início do ano de 2011, no litoral paranaense, na qual milhares de pessoas ficaram
desabrigadas devido as enchentes. Em visita a uma das comunidades atingidas
44
(Floresta), ouvia-se de alguns moradores que, para eles, “só bastava sentar e
esperar”, “não sei o que fazer”, “o jeito era espera a boa vontade do prefeito”. Apesar
de compartilharem da mesma dor, não conseguiam se fortalecer como um grupo
para arranjar um meio de se defenderem de todo aquele caos. No caso, a instituição
Universidade foi o agente articulador dos direitos dessa população, viabilizando
algumas alternativas de renda, com o intuito de auxiliar aquela comunidade a se
erguer.
Não desmereço nenhuma ação da Universidade perante a situação. Acredito
que todos tinham boas intenções ao se doarem para a causa. Mas considero esse
fato um exemplo da falta de empoderamento social. E essa falta se dá justamente
porque desde que somos pequenos, nossos instintos, criatividade, genialidade, são
vetados e desestimulados. O cooperativismo raramente é incentivado. Quando
muito, na academia, procuramos seu significado em diversas referências para
estudarmos uma maneira de trabalharmos em grupo! E se olharmos para as
crianças, naturalmente elas já fazem isso. À medida que crescem, outros valores
são embutidos, transformando-os em seres individualistas e altamente competitivos.
A educação foi resumida em uma instituição nomeada escola, tornando-se
um dos principais responsáveis na transformação de seres humanos, além da
família. Desde sua concepção, a escola mantém o mesmo objetivo, o de formar
trabalhadores para o sistema vigente, com fortes ferramentas de condicionamento
cerebral, garantindo a repetição e continuidade de geração em geração da estrutura
social hierárquica e cultural do consumismo. E nesse processo, estão alienando
milhares de crianças e jovens que não veem nenhum propósito dos estudos
obrigatórios impostos pela escola.
Outra questão é a propaganda de uma educação “igual para todos”. Isso é
inviável, principalmente quando nos referimos a uma educação emancipatória e
espiritualizada, em que se reconhece a particularidade de cada indivíduo no
aprendizado (maiores detalhes na parte III). Quanto ao assunto, no campo
econômico Ivan Illich (1988) argumenta:
Crianças pobres não tem a maioria das oportunidades educacionais que
naturalmente uma criança da classe média possui. Essas vantagens vão
45
desde a conversação e livros dentro de casa até as viagens de férias; isto
vale para crianças que gozam disso, tanto na escola como fora dela. O
estudante pobre geralmente ficará em desvantagem enquanto depender da
escola para progredir ou aprender. [...] A escolarização obrigatória
polarizada, igual para todos, hierarquiza as nações do mundo de acordo
com um sistema internacional de castas. [...].O Estado-nação adotou-a,
moldando todos os cidadãos num currículo hierarquizado, à base de
diplomas sucessivos.
Na sociedade, seres humanos são resumidos em diplomas e curriculum que
os classificam dentro de uma hierarquia social, promovendo o preconceito e a
indiferença, filhos da vaidade e orgulho. Por meio da aquisição de certificados, a
escolarização acaba por exercer um papel de “promoção social” ao invés de
“aprendizagem”. E por se apropriar dessa função, outros lugares deixam de serem
visados para a formação do sujeito, tal como nas horas de lazer, na família, no
trabalho, na vida como um todo, que poderiam ser convertidos em meio de
educação, meios em se adquirir habilidades novas ou compreensão de si mesmo e
da natureza. A alienação é tão grande, que desejos e conceitos sobre o que são, o
que querem e onde pretendem chegar, estão vinculados a uma lógica capitalista de
consumo e estilo de vida divulgados nos meios de comunicação. O oposto do que se
pode construir por meio da educação, caso fosse considerado valores humanos ao
invés dos mercadológicos.
O mesmo se aplica dentro das universidades. Nesses espaços, jovens
deixam de propor e agir com base nos valores que carregam dentro de si para
seguir uma tendência dominante, repressiva e alienante de trabalho e vida. Sonhos
deixam de ser construído para se viver o que está imposto e condicionado. Estas
imposições e condicionamentos seguem interesses políticos e econômicos de um
Estado que “limpam as botas” de grandes corporações13. Vejo por uma amiga do
interior de São Paulo que iniciou seus estudos dentro de uma universidade pública.
Ao ingressar no curso universitário, denunciou que as melhores bolsas (e as mais
disputadas) de iniciação científica tinham a finalidade de gerar pesquisas científicas
para grandes empresas. E essa situação não se resume somente aos paulistanos.
13
Há documentários interessantíssimos que revelam a relação política e econômica do Estado com grandes empresas: “The Corporation”, “A História das Coisas”, “Capitalismo: uma história de amor”, “Fahennait?” e “Tiros em Colombine”.
46
No Paraná, a Universidade Federal do Paraná assinou contrato com a empresa
Syngenta14, uma das maiores empresas do mundo de produção de sementes e
agrotóxicos. Mentes brilhantes e grandes potenciais sendo privatizados.
Por tudo que tem sido exposto, ressalta-se a importância de fortalecer a rede
de projetos políticos pedagógicos diferenciados construídos no Brasil e no mundo.
São centenas de educadores, pedagogos, cidadãos, mães, professores, jovens que
trabalham para a desconstrução do que se impôs como educação. Ao passo de
formiga, diversos espaços educativos vêm sendo construído, tendo suas
experiências compartilhadas através de encontros e em redes sociais de
comunicação.
Em julho de 2012, tive a oportunidade de participar do III Encontro Nacional
dos Românticos Conspiradores (ENaRC), realizado na cidade de São Paulo. Os
Românticos Conspiradores (RC) é uma rede colaborativa, formado por um conjunto
de pessoas conscientes dos modelos educacionais e de praticas educativas
condicionantes, somando forças para a transformação da rede pública de ensino15.
Acredita que a educação constitui-se no trinômio autonomia-responsabilidade-
solidariedade e que possui a finalidade de promover a comunicação e o apoio mútuo
entre pessoas, organizações e projetos que tenham por objetivo contribuir para a
superação dos arcaicos paradigmas educacionais vigentes16. De tempos em
tempos, o encontro é organizado com objetivo de trocar experiências, compartilhar
dificuldades e de se ajudarem mutuamente. Foi dentro desse encontro que tive a
possibilidade de conhecer alguns projetos de educação pública diferenciada.
Um deles é o Projeto Âncora17, localizado em Cotia/SP que desde 1995,
essa entidade sem fins lucrativos, mantido por pessoas físicas, jurídicas e parcerias
com fundações, vem trabalhando para a transformação da realidade local, a partir do
desenvolvimento de atividades que ampliam os potenciais de 700 crianças e
adolescentes carentes, melhorando sua autoestima e qualidade de ensino. São
atendidos estudantes de 1 a 18 anos, das regiões de São Paulo, Embu,
14
Disponível em: <http://www.inovacao.ufpr.br/noticias/ufpr-realiza-assinatura-p%C3%BAblica-do-contrato-
de-licenciamento-com-syngenta-de-tr%C3%AAs> 15
Para os RC, entende-se por educação pública: como aquela voltada para a população em geral e que todos dê garantias de acesso, sucesso e realização pessoa e social, seja ela de caráter estatal ou privado. Fonte site dos RC. Disponível em: www.romanticos-conspiradores.ning.com.Acessado em 13 de novembro de 2012.
16 Fonte: www.amorimlima.org.br. Acessado em 13 de novembro de 2012.
17 Maiores informações acessar: www.projetoancora.org.br.
47
Carapicuíba, Cotia e Osasco que, em parceria com a família e comunidade, são
oferecidos serviços de ambulatório médico, odontológico, psicológico e nutricional,
oficina de arte e música, circo-teatro-escola, quadra poliesportiva, laboratório de
informática e oficinas de capacitação profissional. Para isso o projeto se divide em
três áreas de atuação: 1) Centro de Educação Infantil (creche), que atende crianças
cujos pais não têm com quem deixa-las para trabalhar; 2) Centro de Educação
Complementar para adolescentes, na qual são oferecidas atividades esportivas,
oficina de circo, teatro, dança e música, além de uma biblioteca; 3) Centro de
Educação para o Trabalho, com cursos profissionalizantes.
O outro é a escola da rede pública de ensino de nome Amorim Lima,
localizado no bairro do Butantã, em São Paulo, que em 1996, começou a
transformar-se profundamente devido ao alto índice de evasão: derrubaram
bloqueios de circulação do pátio tornando-o mais agradável para a convivência. Com
apoio dos pais e mães dos alunos, atividades extracurriculares foram ofertadas,
além da organização de festas comemorativas e a escola passou a ser aberta aos
finais de semana. Em 2002, com o intuito de melhorar a qualidade de ensino, a
equipe pedagógica buscou auxilio de outros profissionais. Foi nesse período que
conheceram o projeto político pedagógico da Escola da Ponte – Fazer a Ponte, em
Portugal, que por meio de uma proposta de assessoria para a implantação do
projeto no local, com aprovação da Secretaria Municipal de Educação, passou a ser
implantado em janeiro de 200418.
No Encontro Nacional dos Românticos Conspiradores, em meio a
apresentação das alunas da Escola Amorim Lima, a respeito das diferenças
metodológicas do ensino em comparação com outras escolas, familiarizei com o
relato do processo construtivo da autonomia. O relato sobre o espanto ao se deparar
com o que sempre fora condicionado como “o correto” – refiro-me ao padrão de
comportamento, avaliação do conhecimento, relações humanas, etc. – O modo a
qual trabalham as relações humanas entre estudantes, funcionários e comunidade;
A percepção de si em relação ao ambiente, que gera a transformação e ascensão
da consciência por meio da própria inserção na tomada de soluções relacionadas ao
espaço escolar; são os mesmos tanto para Amorim Lima quanto para UFPR Litoral.
18
Maiores informações, disponível em: www.amortimlima.org.br. Acesso em 13 de novembro de 2012.
48
A autonomia independe do espaço físico, de classe social, de sua origem
familiar, do nível de formação escolar e universitária daqueles de mediam os alunos
e de qualquer outra coisa física que se pense extremamente necessário para a
construção desse processo. Existem consequências e fatos no processo autônomo,
mas não necessidades. Autonomia e consciência caminham juntas. Quando
cultivadas, somos capazes de governar nós mesmo, por meio de leis e valores que
irão estabelecer julgamentos morais. Esses julgamentos, quando passam a ser
internos, isto é, referentes aos próprios atos, desperta um conhecimento imediato de
seu ser mais profundo, despertando-o para um trabalho interno, aperfeiçoando-se
com o passar do tempo. Esse aperfeiçoamento lhe confere um cuidado maior ao
executar uma ação, no cumprimento de um dever e senso de responsabilidade.
Logo, pode-se dizer que estamos conscientizando-nos, tornando-nos
espiritualizados, isto é, transformando e progredindo com toda nossa capacidade,
para o melhoramento de nós mesmos e do ambiente que nos cercam.
Vê-se a importância de renovar essas leis e valores que tomamos para
nossas vidas. Isso se dá a medida que nos defrontamos com situações, que podem
ser por meio de diálogos, leituras, trabalhos individuais e em grupo,
compartilhamento com o coletivo, reflexões, atividades que trabalham no campo
cognitivo (inteligência e lógica) e afetivo (sentimentos, interesses, desejos,
tendências, valores e emoções em geral) que analisam nossa conduta humana
perante tudo e todos. Caso contrário, não existe transformação, não existe
movimento, ficamos estagnados com nosso próprio modo de agir e pensar, não nos
permitindo a novas possibilidades e conhecimentos, fechados em nosso mundo,
com nossa vaidade, egoísmo e orgulhos ocultos dentro de nós.
Sem esse despertar, não estaremos preparados para uma revolução na
estrutura enrijecida e mecanizada (para não se dizer prostituta das indústrias e
corporações) que o governo chama de educação. Nossa educação não educa,
forma ignorantes algemados em seus próprios medos, aflições, vaidade e
egocentrismo, que competem entre si e se escravizam perante organizações que
regem grande poder social, político e econômico no país e mundo, promovendo
grande miséria e destruição de riquezas ambientais, morais e étnicas, nos deixando
sequelas físicas, mentais e carecidos do alimento primordial para a integridade de
qualquer ser... AMOR.
49
Por isso, quando pensarmos na criação de um espaço educativo que haja
ambientes e convívios sociais saudáveis, este deve entender mais de seres
humanos e de amor do que conteúdos e técnicas educativas. Todo o ser humano,
principalmente as crianças e adolescentes, necessitam serem AMADOS,
ACOLHIDOS e OUVIDOS para o aprendizado acontecer. Para isso a postura do
mediador é de extrema responsabilidade, uma vez que este tem o dever de
organizar o microuniverso da busca e do interesse das crianças e adolescentes.
Isso foi claramente visto no Projeto Âncora, que investiu na formação de sua
equipe de trabalho, formando âncoras que serviram de base para a revolução que
estava por vir. Eles foram responsáveis em transportar a afetividade para as
crianças e adolescentes da comunidade, gerando uma relação de respeito. Essa
relação multiplicou-se na comunidade, uma vez que pais alegavam melhoria nos
relacionamentos familiares. Á medida que são desenvolvidos atividades de
capacidade física, intelectual e moral com a participação de todos, todos se educam,
se transformam, transformando também o ambiente em que estão inseridos
ocorrendo de fato, uma revolução local.
“Os resultados são palpáveis”, disse uma das professoras da Escola Amorim
Lima. O mesmo digo em relação a minha pessoa dentro do projeto da Universidade
Federal do Paraná – Setor Litoral, citado anteriormente. Foi dentro desse espaço
que pude encontrar as ferramentas necessárias para a construção do ser que sou –
refiro-me da liberdade existente no ambiente para encontrar com pessoas, trocar
experiências, trabalhar o individual e o coletivo, oportunidades de amadurecimento
intelectual ao propor e agir dentro de projetos, oficinas, organização de eventos,
ICH´s, saídas a campo, viagens, etc. – transformando-me a cada vivência, em cada
desafio. Essa transformação não para. Conscientizando-se de sua presença ou não,
é uma roda que gira em ascensão ao longo de toda nossa existência. E a educação
faz parte dessa grande roda da vida. O modo a qual trabalhamos com ela, pode nos
tornar ignorantes obedientes ou pode vir a construir bases mais sólidas para
seguirmos adiante, aflorando ainda mais nossa sensibilidade e capacidade em
desenvolver e transformar o mundo em nossa volta.
Entrei em diversas crises pessoas por descobrir que após tantos anos,
sendo massacrada por discursos ditadores sobre o que eu deveria ser e fazer,
descobri que nada sabia do mundo e de mim mesma. E com a possibilidade de
50
atuar em liberdade para construir, como uma lagarta gorda que tece seu próprio
casulo, depois de tempo, transformei-me em borboleta... Despertei minha
criatividade, antes adormecida e esquecida por tantos anos de repressão. Encontrei
e fortaleci bases sólidas que sustentam em ciclos de intensas tempestades,
compreendendo que lágrimas e dor, podem se converter em força, amadurecimento
e visão nítida sobre a vida, desenvolvendo nossa consciência adormecida...
“Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo,
chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar sua própria alma.
Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar
consciente a escuridão.”
Carl Jung
Fon
te: I
mag
em d
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tern
et
51
III PARTE
O Fim de um ciclo A Borboleta
Deixei-me levar pela fantasia de que “um dia ei precisar”. Acho que sofri de
es(cola)riz(ação)...
Gaivota Peregrina, 2012
NO FIM TUDO VOLTA AO C(OM)EÇO
á dias que estou a observar a página branca do computador. Muita coisa
vem em mente, mas pouco se consegue materializar em letras, ajeitar
palavras, em frases compondo ideias e reflexões, fatos e sentimentos. Traço-some-
traço-some-traço... Já que o começo não se materializa, começo materializando o
presente. Olho para o tempo cronometrado e medido minunciosamente por um
conjunto de algarismos que denominaram de relógio. Relógio que marca o tempo.
Tempo que conta o dia. Dia pós dia que compõe a semana, e assim se faz um mês,
os anos. Quem o contou era do contra. Por fim acabo de lembrar um poema de
Drummond de Andrade anotado em minha agenda que diz:
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de
ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperançam fazendo-o
funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo
começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar, que
daqui pra diante vai ser diferente.
H
52
A primeira vez que o li, durante um tempo o reli mais um bocado de vezes. É
uma mania que tenho com coisas que prendem minha atenção. Sinto tocar o EU
mais profundo, ao ponto de transbordar-me de algo totalmente novo que corre pelas
veias. Creio que seja a compreensão, preparando o terreno para germinar o
aprendizado que cresce com base nos saberes. Refiro-me aos “saberes” a
acumulação de experiências e de fatos que, por busca-los na expectativa de
compreender a vida, foi um dos responsáveis pela crise que descrevi em capítulo
anterior. Sede de saber, natural, do nada saber da vida.
Ao final da graduação, tive que apresentar uma lista de atividades formativas
e complementares para a câmera de professores. Ao organizar os certificados em
uma pasta, observei-a em silêncio profundo. Cinco anos juntando aquele calhamaço
de papeis, um acumulo de saberes. O saber é proveniente daquilo que se
experimenta e de certa forma é essencial a vida, pois sem ele teríamos que começar
novamente. Mas o mero saber não é o suficiente para resolver problemas humanos.
Chega determinada etapa da vida, que o saber passa a ser somente um acumulo de
fatos. Era isso que eu via ali, naquele calhamaço de papeis. Um acúmulo de
experiência e poucas respostas para os conflitos e problemas da vida. Por deixar o
saber assumir uma posição de superioridade em minha vida, a senti superficial.
Precisava de algo mais profundo, que ajudasse a compreender a verdade, mas não
que trouxesse respostas, e sim, que auxiliasse a superar com resignação e fé, as
provações e desafios que vem e voltam, assim como as ondas do mar.
Que entendes por “saber”? Nossa vida é, em grande parte, uma repetição
do que foi ensinado, não é exato? Podemos aumentar o nosso saber, mas o
processo de repetição continua e fortalece o hábito de acumular. Que
sabeis, exceto o que lestes, o que vos ensinaram ou o que
experimentastes? O que agora experimentais é moldado pelo que
anteriormente experimentastes. Uma nova experiência é coisa antes
experimentada, só mais ampliada ou modificada; é assim que se mantém o
processo de repetição. Repetição do que é bom ou mau, do que é nobre ou
trivial, redunda obviamente em instabilidade, porque a mente só se esta
movendo nos domínios do conhecido. Não será essa a razão do
embotamento de vossa mente? Krishnamurti, 1985
53
Pierre Well (1969) comenta que a formação dos nossos objetivos na vida é
algo extremamente complexo e depende de muitos fatores, sendo o maior deles o
número de frustações às quais fomos expostos no passado sem a possibilidade de
supera-los. Quem nunca passou por situações extremamente desconfortáveis?
Situações em que conversamos com nosso EU mais profundo? Perguntando-se: o
que vou fazer? E agora, como será? Após um período de tortura proveniente de
meus próprios pensamentos, o que antes incomodava passou a ser compreendido.
É a dor sendo transformada em conhecimento e sabedoria.
Os olhos passam a enxergar o que é verdadeiro e o coração pulsa mais
forte. Precisamos trabalhar quando sentirmos incomodados ou ofendidos com algo
ou alguém. A ofensa pode vir junto com a decepção, principalmente quando esta
provém de um ser que não esperamos. E porque esperamos? Falsa esperança, pois
o outro também é um EU em processo de evolução. O que esta claro para o outro,
pode ser mal compreendido por mim e vice-versa. É um constante aprender que não
é fácil, pois todo o processo implica em muita dor proveniente do egoísmo e do
orgulho. Sobre o assunto, compartilho um trecho inspirador:
Do egoísmo de deriva todo o mal. Estudai todos os vícios e vereis que no
fundo de todos está o egoísmo [...] É o choque que o homem experimenta
do egoísmo dos outros que o torna, frequentemente, egoísta, porque sente
a necessidade de se colocar na defensiva. Vendo que os outros pensam em
si mesmos e não nele, é conduzido a se ocupar de si mais do que os outros.
[...] Inutilmente os combateis e não conseguireis extirpa-los enquanto não
houverdes atacado o mal em sua raiz, não houverdes destruído a causa.
Que todos os vossos esforços, portanto, tendam para esse objetivo, porque
aí esta a verdadeira chaga da sociedade [...] Era preciso que o egoísmo
fizesse muito mal para fazer compreender a necessidade de extirpa-lo [...] À
medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, ligam
menos valor às coisas materiais. Aliás, é preciso reformar as instituições
humanas que o entretém e excitam. Isso depende da educação. Allan
Kardec, 1984.
Pode-se adquirir saberes provenientes de livros, vivências, reflexões.
Podemos até citar lindas frases e trechos que nos identificamos, mas somos aquilo
que exteriorizamos ao mundo e o reflexo são nossas ações.
54
Caso o leitor tenha afinidade com o que esta sendo exposto aqui,
prosseguirmos, caso contrário, chega a ser perda de tempo continuar. Digo perda de
tempo, pois sua leitura será promovida pelo mero prazer de analisar ou por simples
curiosidade. Por experiência própria, essas ações não nos levam a nenhum lugar.
Com a análise, tendemos a julgar. O que ganhamos com isso a não ser o
engrandecimento de nosso ego? Quanto a curiosidade, acredito que essa é benéfica
quando somos crianças e adolescentes, pois estamos na fase do descobrimento.
Quando adulto, a falta de autoconhecimento torna a caminhada mais longa, pois não
sabemos ao certo o que queremos, diferente do momento quando algo prende
nossa atenção. No primeiro, estamos fechados para o conhecimento, pois buscamos
entretenimento, distração. No segundo, existe processo de identificação. Nele,
nossa mente esta vazia, livre de julgamentos, opiniões, métodos. Saibamos ser o
presente momento.
Creio que posso recomeçar... Sinto-me mais a vontade agora. Obrigado.
(...) duas asas conduzirão o Espírito Humano à presença de Deus.
Uma chama-se Amor; a outra, Sabedoria. (...) Através do amor, valorizamo-nos para a vida.
Através da sabedoria, somos pela vida valorizados. Daí o imperativo de marcharem juntas,
A inteligência e a bondade.
Emmanuel. Pensamento e Vida
FON
TE:
Imag
em
da
Inte
rne
t
55
UMA NOV(A) P(ARTE) DE EN(SI)NAR
Porque se educa para estimular o indivíduo a adaptar-se à sociedade, a manter-se negativamente em harmonia com ela ou estimular o apego de fórmulas ou à
repetição de slogans, ao invés de ajudar os educandos a descobrir os valores verdadeiros,
que surgem com a investigação livre de preconceitos e com o auto percebimento?
Juddy Krisnamurti,1969
Para alcançar um objetivo, basta mais do que força de vontade.
Independente da classe social que o indivíduo esta “en-quadrado”, a cada nascer do
dia, a vida nos proporciona provações que interferem na realização de nossos
objetivos. Ela põe em prova nosso mérito pela escolha de nossos atos. É através de
nossas ações que temos a possibilidade de desenvolver as aptidões em cálculos,
escrita, desenho, dança, na organização de grupos, na literatura ou no esporte. A
dedicação a essas ações determina nossa inteligência, porém esta última recebe
influencia do conjunto de faculdades psíquicas e morais que nos constituem, isto é,
a parte imaterial do ser humano que é a alma19. Não a possuímos, a somos. A alma
é dotada de um temperamento que se transforma conforme o ambiente em que esta
inserida.
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Segundo Allan Kardec alma é o espírito encarnado. Ao deixarmos nosso corpo, a alma sai do corpo junto com o espírito. Fonte: Livro dos Espíritos, 1984.
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Maturana (2001) comenta um caso interessante de compartilhar. Em 1922,
duas meninas (cinco e oito anos) de uma aldeia bengali, localizado ao norte da Índia
foram “resgatadas” de uma família de lobos que as haviam criado em completo
isolamento de contato humano. Quando encontradas estavam sadias e sem
sintomas de debilidade mental ou idiotia por desnutrição. Não caminhavam sobre
dois pés, movimentavam-se rapidamente de quatro, não falavam e possuíam rostos
inexpressivos. Só alimentavam-se de carne crua, tinham hábitos noturnos e
recusavam o contato humano, preferindo companhia de cães ou lobos. Produziram
uma profunda depressão logo após a separação da família de lobos, levando-as a
beira da morte. A mais nova faleceu. A mais velha viveu por 10 anos. Nesse tempo,
mudou seus hábitos alimentares e chegou a andar sobre dois pés, mas recorria à
corrida de quatro e nunca chegou a falar. A família que a cuidou e outros próximos
afirmaram que jamais a sentiram como verdadeiramente humana. O autor completa
afirmando que: embora em sua constituição genética a anatomia e a fisiologia
fossem humanas, as meninas nunca chegaram a acoplar-se ao contexto humano.
Os comportamentos que a família humana queria mudar nelas, por serem
aberrantes no âmbito humano, eram inteiramente naturais para as meninas lupinas.
O caráter de uma pessoa é resultante da ação do meio ambiente sobre o
temperamento e que, mesmo com certas predisposições fisiológicas ou hereditárias,
a educação que recebemos modifica ou reforça nosso temperamento Well (1969).
No caso comentado por Maturana, o meio em que as meninas estavam inseridas e a
educação que receberam da família de lobos, predominaram na construção do
caráter em relação a constituição genética, anatomia e fisiologia humana.
Com isso, podemos imaginar a responsabilidade do papel de mães, pais,
educadores, mestres, professores e todos aqueles que atualmente trabalharam na
educação de outros seres, principalmente das crianças. Apesar de todos se
beneficiarem da verdadeira educação, as crianças são as mais delicadas, pois estão
iniciando sua vida, seus conceitos, suas vontades, criando seus valores e
construindo sua visão em relação ao mundo.
Em relação a conduta daqueles que atuam na área da educação, estes
devem estar cientes do quanto suas ações tem repercussões profundas no
comportamento de cada criança e adolescente. Elas são extremamente sensíveis ao
57
estado emocional dos adultos que estimam e passam a querer imita-los. São muito
flexíveis e costumam absorver ideias e imagens com muita facilidade, sendo
profundamente afetadas por todos que participam das suas rotinas diárias (Pelanda,
2010). Isso por si só já basta para que seja criado um ambiente de confiança,
carinho e de compreensão diante das dificuldades de aprendizagem de cada um,
favorecendo o despertar do ensino, a curiosidade e consolidação da autoconfiança,
provocando o desejo de encontrarem as soluções por si mesmas e encorajando os
mínimos esforços.
Sua missão não é a de pensar e falar por eles (alunos), mas faze-los falar e pensar
por si próprios. O silêncio do mestre torna mais produtiva a aprendizagem.
Rubem Alves. Conversas com quem gosta de ensinar, (1980)
São “educados” aqueles que, além de aprender muito e se lembrar muito do
aprendizado, fazem uso de seu conhecimento na vida prática. Essa virtude é o que
eu chamo de educação.
Prabhat Sarkar. Pensamentos de P.R.Sarkar, 2011.
Dos professores as quais já tive a experiência de trocar saberes, muitos
alegam que o modelo de ensino imposto pelas instituições não são adequadas a
realidade que vivem. Muitos estão frustrados e revoltados com a situação, ou pior,
com suas próprias vidas. Sabemos que na educação, o mais importante é o
indivíduo e não o sistema. Mesmo recebendo suas consequências em nossas vidas,
continuamos a alimentar uma educação pela lógica do sistema de acúmulo
financeiro, desigualdades sociais, hierarquizado, preconceituoso, paternalista,
racista, violento, destruidor de ambientes e valores que não há preço e nem volta...
Sei que já discutimos isso em capítulo anterior, mas vi a necessidade de retoma-lo e
compartilhar um trecho de Krishamurti (1969) que expõe o seguinte fato:
A educação convencional dificulta sobre modo o pensar. Ela esta voltada
para o desenvolvimento de novas tecnologias industriais e de guerra, onde
é estimulada uma competição impiedosa e de destruição mútua. É um
58
processo que consiste em acumular informações e conhecimentos, tirados
dos livros, sem a compreensão do processo total da vida. Uma educação
desta espécie oferece-nos uma forma sutil de fuga de nós mesmos e, como
todas as fugas criam inevitavelmente, sofrimentos cada vez maiores, pois
não encaramos a vida com muita seriedade, a não ser, talvez, quando se
trata de ganhar dinheiro, conquistar poder, ou buscar excitações sexuais.
Alguns poderiam alegar e com razão, sozinho as coisas ficam mais difíceis.
Mas... E quando esse sonho faz parte de um coletivo? Porque mesmo assim ainda é
difícil de acontecer? Será porque os indivíduos ainda não compreenderam a arte de
conhecer a si mesmos? Ou porque ainda acreditam num sistema que trará a
mudança que todos almejam? Como já disse e repito, é um processo lento e difícil,
principalmente para aqueles que vieram de uma educação opressora, pois quando
possuem a oportunidade de fazer diferente, oprimem.
Para Krishnamurti (1969) educação é o despertar da inteligência e das
capacidades em si próprio e nos outros. Por isso, aqueles que almeja trabalhar na
educação devem seguir o caminho por amor, pois este exigirá: paciência, humildade
para aceitar críticas e principalmente, transformação. E mesmo porque, a educação
em seu verdadeiro sentido deve auxiliar o desenvolvimento das potencialidades
interiores, compreender a nós mesmos e ao mundo ao redor, corrigindo erros
através da superação dos próprios defeitos. Com isso, a transformação torna-se um
fato.
É claro que o processo de transformação pessoal também é educação. Isso
implica em quebra de paradigmas pessoais provenientes de fatores externos como
cultura, religião, família, seguida de mudança de pensamento, que implica na
mudança de ações, da nossa maneira de enxergar o mundo. Nesse processo,
sentimos dor, dor do trabalho e esforço pessoal, dor da consciência e da verdade
brotando em nossos corações. Como Kardec comentou: É o choque que o homem
experimenta do egoísmo dos outros que o torna, frequentemente, egoísta, porque
sente a necessidade de se colocar na defensiva. Vendo que os outros pensam em si
mesmos e não nele, é conduzido a se ocupar de si mais do que os outros.
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Quando começamos a caminhar em sentido oposto, alguns outros passam a
observar e se autoanalisarem também. É um efeito em cadeia, um processo
contínuo de aprendizado, uma transformação coletiva. E quando esse coletivo está
em sintonia, como um instrumento musical afinado, juntos podem somar forças para
construir um sonho em comum que ecoa como uma ópera, alcançando outro
conjunto de pessoas. Independente de qual seja o resultado, o processo será a
educação.
O fato é que, se somos seres que almejamos transformações na sociedade,
sejamos NÓS os primeiros. E isso não ocorre com análises, mas começa com
algumas mudanças até chegarmos a transformação por completo, assim como a
lagarta que muda para o casulo para transforma-se em borboleta. A mudança
implica em ação. Como já dizia P.R Sarkar (1981): ação é mudar de lugar.
Suponhamos que um menino estava lá, agora o menino se encontra aqui. Houve
uma mudança de lugar. Apesar de o menino estar em outro lugar, ele continua
sendo o mesmo menino, assim como nosso intelecto, que executa a mesma ação
com as informações que absorvemos. Mas para a transformação, o menino deve
deixar de ser menino e para isso ele utilizará de seus saberes, como a borboleta que
deixa de ser uma lagarta, através de sua sabedoria em tecer o casulo.
A verdadeira pureza não esta somente nos atos, mas também no pensamento,
porque aquele que tem o coração puro não pensa mesmo no mal.
Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 2009.
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Abaixo, compartilho a materialização de um aprendizado que tive com outro
ser e que o descrevo em forma de poema. O ambiente era favorável e o clima
estava calmo. O diálogo foi pouco e o suficiente para compreender muita coisa da
vida. Após ler o poema várias vezes, escrevo uma reflexão e o relaciono com alguns
autores. Ressalto o nome de duas colegas de Pontal do Paraná (litoral paranaense)
que desenvolveram um trabalho interessantíssimo de transformação. Por fim,
compartilho alguns dos textos que escrevi ao longo do ano de 2012 e chego a uma
conclusão.
Era hora do almoço. Minha mente encontrava-se calma e vazia.
Era o presente.
Era o pegar dos talheres.
Era o aroma das ervas por cima do alimento. A cor da beterraba, o verde da rúcula.
Era os sorrisos dos irmãos ao lado. Tanta fartura de cores e cheiros!
Do nascer do sol ao seu ápice de inclinação, foi somente meditação e posturas para
elevação.
Agora era outra hora.
Sentei, amarrei meu cabelo e me permiti a uma explosão de sabores,
a maciez do alimento,
o salivar... Degustar.
Era a gratidão pela oportunidade de comer.
Uma colega senta ao meu lado. Não lembro ao certo onde começamos, mas, quando
terminamos ...
Era outra.
Senti como se Deus tivesse passando um recado por meio daquele ser. Fortes
flashes de minha infância começaram a vir em mente.
Nunca tive tanta certeza nesta vida.
Era eu mesma.
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O Eu une-se a um outro EU a partir da linguagem. Não defendo nenhuma
crença religiosa, pois também não sinto pertencente a nenhuma delas, mas quando
estamos cientes da existência de sentimentos nocivos dentro de nós, temos a
escolha de transforma-los. Essa transformação se dá através do convívio com
outros. O conflito e a confusão nascem das nossas relações incorretas com
pessoas, coisas e ideias e, enquanto não compreendermos e modificarmos essas
relações, o mero aprender, a acumulação de fatos, a aquisição de habilitações
diversas só nos podem abismar no caos e na destruição (Krishnamurti, 1969).
Logo concordo com Humerto Maturana (2001) quando diz:
[...] como seres humanos só temos o mundo que criamos com os outros. A
esse ato de ampliar nosso domínio cognitivo reflexivo – que sempre implica
uma experiência nova – podemos cegar pelo raciocínio ou, mais
diretamente, porque alguma circunstância nos leva a ver o outro como um
igual, um ato de habitualmente chamamos de AMOR. Além do mais, tudo
isso nos permite perceber que o amor ou, se não quisermos usar uma
palavra tão forte, a aceitação do outro junto a nós na convivência, é o
fundamento biológico do fenômeno social. Sem amor, sem aceitação do
outro junto à nós, não há socialização, e sem esta não há humanidade.
Qualquer coisa que destrua ou limite a aceitação do outro, desde a
competição até a posse da verdade, passando pela certeza ideológica,
destrói ou limita o acontecimento do fenômeno social. Portanto, destrói
também o ser humano, porque elimina o progresso biológico que o gera.
Não nos enganemos. Não estamos moralizando nem fazendo aqui uma
prédica do amor. Só estamos destacando o fato de que biológicamente,
sem amor, sem aceitação do outro, não há fenômeno social. Se ainda se
convive assim vive-se hipocritamente, na indiferença ou na negação ativa.
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A aceitação implica em atos de amor ao próximo. Num convívio, às vezes o
aceitar o outro, sua presença e maneira de expressar implicam em transformação
interior, pois tendemos a julgar as diferenças, seja proveniente dos hábitos,
costumes, cultura, gênero, opiniões e formas de enxergar o mundo. Diferente do
suportar, que tem sua origem no rancor, não sendo mais do que o orgulho ferido.
Devemos desconfiar de nossos sentimentos de antipatia e simpatia, pois estes são
influenciados por fatores meramente subjetivos e que reconhecendo esse fato,
podemos melhorar nossas relações humanas, e se, além disso, conseguirem, em
cada caso, descobrir as razões das suas antipatias, então conseguirá vencer suas
aversões (Well, 1969).
Ressalto um trabalho sobre desenvolvido emocional infantil dentro do
ambiente escolar, elaborado no município de Pontal do Sul, na qual através de uma
educação mais afetuosa e humanista, com foco no amor, compaixão, respeito e
espiritualidade, resultaram na transformação do comportamento de crianças de dois
a quatro anos, durante um período de 60 dias com 36 crianças e suas respectivas
educadoras responsáveis. O projeto foi realizado por Andressa Ayres Pelanda20 e
Liane Perozzo dos Santos21, no Centro Municipal de Educação Infantil Água Viva,.
Pelanda&Santos (2010) afirmam que para que a criança tenha um desenvolvimento
emocional saudável e adequado, é necessário que haja um estabelecimento de
relações interpessoais positivas, como aceitação, apoio, colaboração e o gostar de
si e dos demais. Para isso, o projeto utilizou uma metodologia denominado Círculo
do Amor22, onde sentimentos nobres são desenvolvidos por meio de exercícios
psicomotores (yoga para crianças) e contações de histórias.
Todas as manhãs, durante 30 minutos, as crianças realizavam as atividades
do Círculo do Amor, que seguiam uma ordem cronológica: canções, posturas de
yoga e contação de histórias. Teatro de fantoches e danças circulares completaram
as atividades. Após 30 dias, foi realizada uma avaliação sobre as possíveis
mudanças comportamentais das crianças, através de um questionário direcionado
20
Oceanógrafa pela Universidade Federal do Paraná; Especialista em Yoga Pedagógico e Neuroaprendizagem pelo ISAL – Instituto Superior de Educação da América Latina, Professora de Tantra Yoga e Fundadora do Espaço Anírvana. Contato: [email protected]. 21
Oceanógrafa pela Universidade Federal do Paraná e Especialista em Yoga Pedagógico e Neuroaprendizagem pelo ISAL – Instituto Superior de Educação da América Latina. 22
Programa desenvolvido pela psicóloga, antropóloga e monja yogue Dr. Susan Andrews. Fonte: Pelanda&Santos, 2010.
63
com as educadoras, composto por questões agrupadas em quatro aspectos: Afetivo
(gentileza, amorosidade, dar e receber carinho); Cognitivo (concentração,
disposição, criatividade); Psicoemocional (agressividade, contrariedade, alegria,
expressividade, medo e timidez); e Social (respeito, cooperação, participação e
interação). O mesmo questionário foi comparado com outra avaliação ocorrida após
60 dias de trabalho.
No primeiro questionário mostrou que 22% das crianças, após 30 dias de
atividades melhoraram bastante em relação aos aspectos citados acima. Após 60
dias, o número aumentou para 44%, o dobro em relação ao primeiro. As posturas de
yoga prepararam o corpo para o desenvolvimento integrado do intelecto e dos
sentimentos, harmonizando as secreções das glândulas endócrinas para equilibrar
as emoções, flexibilizarem articulações, massagear os órgãos internos, estimulando
a circulação e a canalização da energia nervosa das crinaças, tornando-as mais
calmas e focadas, até mesmo as hiperativas (Pelanda&Santos, 2010). Concluem
sobre a importância do desenvolvimento da afetividade e do estímulo das emoções
positivas para um melhor rendimento escolar e principalmente, para as relações com
o ambiente e outros seres humanos.
Em relação ao trabalho, reconheço que a técnica é interessantíssima
quando aplicado ao meio escolar, assim como tantos outros métodos existentes.
Mas o fundamental para o resultado foi o trabalho ser realizado com amor. Amor ao
se dedicarem a tarefa de facilitar os processos de aprendizagem; a paciência ao se
depararem com crianças hiperativas e a compaixão por aquelas que no começo
estavam desinteressadas. Esses nobres sentimentos foram transmitido as crianças e
responsáveis em somar para o aprimoramento e o progresso de todos.
Fazer da interrupção um caminho novo Fazer da queda um passo de dança
do medo uma escalada do sonho uma ponte
do processo um encontro e assim terá valido a pena existir ...
Autor desconhecido a minha pessoa
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TEXTOS QUE FALEI
17 de março de 2012
Devemos aprender não somente com os bons exemplos das pessoas, mas
também com seus defeitos, principalmente estes últimos, pois são neles que
encontramos nosso trabalho. O trabalho pessoal diário que devemos fazer ao
depararmos com divergências de ideias, pensamentos, cor, etnia, religião, política e
qualquer outra característica que erroneamente muitos julgam.
Estamos numa grande escola. A escola da vida. Diariamente somos
deparados com provações, seja na convivência com a erroneidade cotidiana do
companheiro, seja nas dificuldades materiais da vida, dos momentos de grande
ansiedade ao ponto de não enxergarmos o sofrimento ou amargura do próximo, dos
momentos que nos sentimos injustiçados por pequenas causas terrenas do qual
alimentam nosso ego e orgulho.
Não somos seres perfeitos.
A partir do momento que podemos recriar um caminho que nos leve ao que
foi ensinado, então realmente podemos considerar o aprendizado. Caso contrário,
devemos reaprender e reaprender até alcançarmos o resultado. E chegado esse
momento, nos sentimos mais alimentados, nos sentimos mais esclarecidos em
relação a nós mesmos e nossa posição presente.
A escola poderia auxiliar essa reflexão aos seus participantes, sejam eles
professores, alunos ou funcionários. Enquanto essa realidade não é maioria,
educadores, sejamos fortes e corajosos! Devemos compreender que vivemos em
uma sociedade que as políticas educacionais são regidas e impostas por pessoas
que geralmente desconhecem a diversidade cultural e realidade socioambiental de
cada região, com naturezas tão diversas. E que, devido a obediência a um padrão
de vida e disciplina ditatorial, aprender tomou forma e cor, sendo imposto
independente da particularidade de cada lugar.
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17 de agosto de 2012
Construímos o futuro através de nosso esforço pessoal. Nosso passado é
formado pelas experiências e ensinamentos adquiridos pelo simples fato de viver.
Ele é nossa bagagem de conhecimento sobre o mundo e sobre nós mesmos, nos
permitindo a realizar escolhas em nosso presente. A necessidade do nosso presente
leva-nos a agir, resultando em novas conquistas no futuro. Já não somos a mesma
pessoa, permitimo-nos à transformação. Porém quando essas conquistas procedem
da ampliação de nossas capacidades e valores adquiridos, há transformação
evolutiva.
Como observadora, percebi a existência de fases de crescimento de mim
mesma, que me permitiram vivenciar de tempos em tempos, planos de existência: O
plano da entrega absoluta de determinada tarefa sem a consulta do passado e sem
organização de bases para o futuro, torna a existência mecanizada; O plano da
impulsividade é um labirinto de causas e efeitos, desperdiçando tempo e energia.
Sem o olhar sobre si mesmo, não existe transformação evolutiva.
18 de agosto de 2012
Com a barriguinha cheia de centeio e abacate, UNA SUAVE FOLLIA ecoa pelo
recinto, trazendo vozes em meus ouvidos...
A vida deve ser composta de atos de amor.
Nossos erros podem servir de ensinamento a outras pessoas, basta
enxergar o que a vida tem para nos oferecer e ensinar, nem que para isso seja
necessário destruir nós mesmos, transformando-nos em pó. Veja como a esbelta
Fênix renasce de suas próprias cinzas, livre para voar mais alto.
Saibamos criticar mais as nossas ações que as ações dos outros. Isto é
transformar nós mesmos, nossos hábitos, manias e atos perante outras pessoas e o
ambiente em que estamos vivendo.
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Valorizemos a força de nossos pensamentos vigiando-os constantemente
para que não deixemos ser dominados por toda a maldade que somos capazes,
transformando toda essa energia em força para superar nossos próprios obstáculos.
Saibamos utilizar todo o potencial de nossos membros, sentidos e
criatividade para tornar o ambiente que vivemos mais agradáveis por meio de
palavras e gestos; e que não caiamos nas armadilhas da ilusão que criamos a partir
de nossos desejos provenientes do ego.
Sejamos humildes com nós mesmos ao analisarmos a verdadeira força que
move nossos desejos e ambições mais profundas. Cedo ou tarde, descobriremos
que somos tão viciados em nós mesmos, ao ponto de ficarmos cegos a beleza,
alegria e ao bem-estar que tanto lutamos e almejamos em encontrar.
A vida é construída de momentos que devemos aproveitar ao máximo, com
respeito ao nosso corpo, aos outros e a natureza a nossa volta. Com isso iremos
despertar as gargalhadas mais sinceras, os sons mais agradáveis, brotando dentro
de nós e a todos a nossa volta, a beleza mais sublime que somos capazes de criar...
Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, Mas para transforma-lo;
Se não é possível muda-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, Devo usar toda a possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia,
Mas participar de práticas com ela coerentes.
Paulo Freire
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CONCLUSÃO QUE S(OU)TRA
UMA BORBOLETA EM PLENO VOO, DESCOBRINDO O PODER DE SUAS ASAS
E A POSSIBILIDADES DE NOVOS CAMINHOS.
(e precisa escrever mais?)
FIM DE UM CICLO
OBRIGADO A TODOS VOCÊS
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REFERÊNCIAS
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