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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período: Agosto/2014 a Agosto/2015 () PARCIAL (x) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: Patrimônio azulejar setecentista: subsídios científicos para a conservação e restauração dos remanescentes mais antigos de Belém. Nome do Orientador: Thais Alessandra Caminha Sanjad Titulação do Orientador: Doutora Faculdade: Arquitetura e Urbanismo Unidade: Instituto de Tecnologia Laboratório: Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação Título do Plano de Trabalho:Técnicas de restauro para os azulejos setecentistas do Santo Antônio: avaliação de procedimentos Nome do Bolsista: Barbara Sobrinho Dias Tipo de Bolsa: ( ) PIBIC/CNPq ( ) PIBIC/CNPq-AF ( x) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA-AF ( ) PIBIC/INTERIOR ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PARD ( ) PARD renovação ( ) PADRC ( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007 ( ) Jovens Talentos para a Ciência/CAPES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

Período: Agosto/2014 a Agosto/2015 () PARCIAL (x) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa:

Patrimônio azulejar setecentista: subsídios científicos para a conservação e restauração dos remanescentes mais antigos de Belém. Nome do Orientador: Thais Alessandra Caminha Sanjad

Titulação do Orientador: Doutora

Faculdade: Arquitetura e Urbanismo

Unidade: Instituto de Tecnologia

Laboratório: Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação

Título do Plano de Trabalho:Técnicas de restauro para os azulejos setecentistas do Santo

Antônio: avaliação de procedimentos Nome do Bolsista: Barbara Sobrinho Dias Tipo de Bolsa: ( ) PIBIC/CNPq

( ) PIBIC/CNPq-AF ( x) PIBIC/UFPA ( ) PIBIC/UFPA-AF ( ) PIBIC/INTERIOR ( ) PIBIC/FAPESPA ( ) PARD ( ) PARD – renovação ( ) PADRC ( ) Bolsistas PIBIC do edital CNPq 001/2007 ( ) Jovens Talentos para a Ciência/CAPES

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1. INTRODUÇÃO

Definido como um elemento cerâmico com uma das suas faces impermeabilizada

por uma fina camada de vidrado (MUNIZ, 2012), os azulejos começaram a serem

utilizados na arquitetura desde as mais antigas civilizações do Oriente Próximo, tendo suas

primeiras peças datadas entre os séculos XVII a IX a.C. (SANJAD, 2002).

Segundo Rilley (2004), sua utilização cada vez mais frequente, levou ao

descobrimento e aprimoramento de técnicas e materiais em sua manufatura, onde os

azulejos passaram a ser vitrificados com sulfato de chumbo em pó, podendo ser

monocromático ou policromáticos, lisos ou em relevo. Este aperfeiçoamento das peças

permitiu uma maior variedade de padrões decorativos e qualidade de acabamento,

contribuindo para a sua disseminação pela Europa e exportação para lugares cada vez mais

longínquos (HORISCH; NAJAR; RIBEIRO, 2007).

Em meio os países europeus que se tornaram referência na fabricação e exportação

de azulejos, destaca-se Portugal, onde seu abundante uso como revestimento e decoração

de fachadas, interiores e ornamentos de diversas edificações, originou a construção de uma

arquitetura própria com grande valor estético, tal como observado nos painéis ilustrados

(COUTINHO et al, 2014 apud OLIVEIRA et al., 2001). Retratando passagens históricas,

representações bíblicas, cenas do cotidiano e dentre outros temas, esses ilustram um dos

acervos portugueses mais originais com um forte sentido cenográfico, descritivo,

monumental para o país (VALENTE, 2008).

Neste contexto, o Brasil já havia sido conquistado por Portugal, que por sua vez,

influenciava fortemente suas colônias quanto a utilização de azulejos nas edificações.

Inicialmente destinado às áreas internas, esse material apresentou-se como uma perfeita

solução de revestimento impermeabilizante em território brasileiro, principalmente, em

regiões com clima quente e úmido, onde seu uso acabou se estendendo para as partes

externas dos edifícios (SANJAD, 2002). Um exemplo destes locais destaca-se a cidade de

Belém, que no início do século XX possuía o maior número de padrões azulejares distintos

aplicados em fachadas, além de exemplares setecentistas presentes no complexo religioso

de Santo Antônio construído no século XVII (MENDES, 2013 apud SANJAD, 2004).

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2. JUSTIFICATIVA

Os azulejos do Colégio Santo Antônio compõem mais de 15 painéis distribuídos no

interior e exterior da edificação, os quais representam os mais antigos ainda encontrados na

cidade de Belém, datados do século XVIII (COSTA; SANJAD, 2009). No entanto, apesar

de toda sua importância, há um alto risco de desaparecimento deste patrimônio, pois sua

proteção acontece apenas pela localização do colégio no entorno do centro histórico de

Belém e de bens tombados a nível federal e estadual, não havendo o tombamento individual

em nenhum nível (municipal, estadual ou federal).

Além disso, há a questão das patologias, onde ainda que não apresentem um alto

nível de deterioração aparentemente, muitas peças possuem perda do vidrado, cristalização

de sais, fraturas, manchas e infestação microbiológica. Segundo Sanjad (2007), a

velocidade da deterioração destes azulejos depende da localização dos mesmos; do clima

local; da presença de sais solúveis; da porosidade do material; da qualidade da interface do

biscoito e do vidrado; da temperatura de queima; da composição do biscoito e do vidrado e

dos tratamentos adquiridos.

De acordo com Maia (2014), a relação entre o azulejo e o sistema de suporte no qual

se encontra inserido está intrinsecamente associada ao processo de deterioração, sofrendo

influências climáticas, da própria edificação e de intervenções inadequadas nas peças, como

observado em um dos painéis da Capela de Nossa Senhora de Lourdes dentro do complexo.

Neste painel, além existência de lacunas preenchidas com materiais novos inapropriados,

como o cimento, ou interrupção da figuração com peças inadequadas, esse apresenta um

alto risco de destacamento da alvenaria, havendo a necessidade de intervenções

emergenciais.

Sobre estas intervenções, atualmente, já foram desenvolvidos vários estudos em

relação aos métodos de restauração de azulejos, da forma mais tradicional com o restauro a

frio, assim como com o restauro a quente, pois o comportamento das mesmas é bastante

diferente considerando-se o local de aplicação, a fragilidade das peças, a exposição a ação

do intemperismo e dentre outros condicionantes.

Enquanto o restauro a frio é mais restrito para áreas internas devido a fragilidade

dos materiais utilizados no procedimento ao intemperismo tropical (OLIVEIRA, 1995), a

restauração à quente se torna mais versátil,sendo destinada tanto para regiões internas e

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externas, visto que essa técnica proporciona melhores resultados em relação a resistência ao

intemperismo, estabilidade física das peças e longevidade do método (COSTA e SANJAD,

2009). Assim, se faz necessário a realização de testes em laboratórios com diferentes

recomendações restaurativas a fim de escolher os procedimentos mais apropriados para a

recuperação destes azulejos, de acordo com as condições de cada peça.

3. OBJETIVO

Avaliar procedimentos de restauro para os painéis de azulejos do Colégio Santo

Antônio estabelecidos com base no diagnóstico do estado de conservação, de modo a

propor recomendações técnicas adequadas à sua conservação.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Tomando base na documentação realizada anteriormente por Maia (2013),

selecionou-se dentre todo o acervo presente no atual Colégio Santo Antônio, o painel 01

localizado no interior da Capela de Nossa Senhora de Lourdes como objeto de estudo

(Figura 01), devido ao seu elevado risco destacamento do suporte.

Figura 01: Painel 01 da Capela de Nossa Senhora de Lourdes.

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Como abordagem metodológica definiu-se quatro etapas: atualização do

mapeamento de danos, tratamento térmico, produção de réplicas, envelhecimento

acelerado.

4.1. ATUALIZAÇÃO DO MAPEAMENTO DE DANOS

Baseando-se em documentações prévias sobre o painel, o mapeamento de danos da

presente pesquisa consistiu na atualização dos dados obtidos por Maia (2013), onde se

reavaliaram as condições dos danos já documentados, verificaram a existência de novas

patologias e modificaram-se apenas as cores das legendas para melhor visualização gráfica

(Figura 02).

Figura 02:Ilustração da realização do mapeamento no AutoCad.

4.2. TRATAMENTO TÉRMICO

Os fragmentos coletados anteriormente por Maia (2014) foram submetidos ao

tratamento térmico, onde primeiramente estes passaram por um processo de secagem em

estufa a 70°C, para a retirada de qualquer umidade absorvida pelo mesmo, e depois, de

requeima em um forno a 1000°C, durante 30 minutos. A sua retirada do forno ocorreu

somente em 24 horas após o termino da cozedura, em função do arrefecimento lento das

peças, a fim de evitar possíveis danos por brusca variação de temperatura.

4.3. PRODUÇÃO DE RÉPLICAS

Nesta etapa, houve a manufatura de peças para o preenchimento das partes faltantes

no painel, cuja execução se procedeu em três fases: manufatura do corpo cerâmico;

elaboração da paleta de cores e decoração das réplicas.

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4.3.1. Manufatura do corpo cerâmico

Para a produção da chacota, foi utilizada a argila comercial branca Shiro, onde após

moldagem, a mesma passou por um processo de secagem a temperatura ambiente e em

estufa a 70°C, com tempo mínimo de 24 horas em cada um, para remoção da umidade.

Posteriormente, o corpo cerâmico passou pelo processo de cozedura em forno a 1000°C,

dentro de um intervalo total de 4 a 5 horas, ressaltando-se que a retirada das peças ocorreu

somente em 24 horas após o término da queima, para evitar possíveis danos por brusca

variação de temperatura (Figura 03).

Figura 03: A) Moldagem da argila; B) Secagem em estufa; C) Queima dos corpos cerâmicos.

4.3.2. Elaboração da paleta de cores

Em corpos cerâmicos preparado com base de vidrado de estanho branco, foram

testadas as variações de pigmentos azuis, vermelhos e marrons, com proporções de uma a

três pinceladas sobrepostas (Figura 04). Todos os esmaltes foram levados ao forno a 1000°

por 30 minutos, realizando uma paleta de cores para a comparação entre os vidrados

antigos e novos.

Figura 04: Elaboração da paleta de cores.

4.3.3. Decoração das réplicas

Terminada a produção da base cerâmica, aplicou-se uma camada de vidrado branco

de estanho, por meio de derramamento, a qual serviu como base para os demais vidrados

selecionados, de acordo com a paleta de cores. Posteriormente a sua secagem, transferiu-se

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os desenhos feitos em papel vegetal perfurado para as peças através do uso de uma boneca

de grafite, e após o término da pintura, as réplicas foram queimadas novamente a 1000° C

por um período de 30 minutos (Figura 05).

Figura 05: A) Derreamento do vidrado de estanho; B) Transferência do desenho; C) Réplica decorada antes

da queima.

4.4. PROCESSO DE ENVELHECIMENTO ACELERADO

Para analisar pontos relacionados a resistências das réplicas, foram realizados

ensaios de envelhecimento acelerado em seis corpos de prova, sendo três destes apenas a

chacota e os outros três a chacota com a camada vitrificada (Figura 06). Os mesmos

passaram por seis de ciclos de secagem em estufa a 70° C e imersão das peças em uma

solução saturada de água deionizada e sulfato de sódio ( ), ambos por um período de

24 horas, com pesagem do material ao término de cada etapa até a sua total deterioração.

Figura 06: Amostras submetidas ao processo de envelhecimento acelerado.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. ATUALIZAÇÃO DO MAPEAMENTO DE DANOS

A partir da atualização do mapeamento de danos, foi possível avaliar o atual estado

de conservação em que o painel estudado se encontra, concluindo-se que a patologia mais

recorrente ainda era o depósito de tinta, conforme já observado na documentação de base

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(Figura 07). Portanto, constatou-se que apesar do risco eminente de desprendimento de

algumas peças, a maioria dos azulejos não apresentam um elevado estágio de deterioração,

estando bem conservados visualmente.

Figura 07: Mapeamento de danos do painel 01 da Capela de Nossa Senhora de Lourdes.

5.2. TRATAMENTO TÉRMICO

Após o tratamento térmico, pode se observar nas amostras tanto efeitos positivos

quantos negativos, uma vez que apesar da eliminação manchas presentes, principalmente

na área do vidrado branco, as outras tonalidades do vidrado foram sensivelmente

prejudicadas, devido a formação de pequenas bolhas (Figura 08). Segundo Sanjad (2007),

estas bolhas seriam possivelmente provocadas pela intensa liberação de gás carbônico

), após o rompimento da estrutura de carbonato de cálcio ) presente na

camada cerâmica destes azulejos.

Figura 08: Comportamento das amostras antes e depois ao tratamento térmico.

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5.3. PRODUÇÃO DE RÉPLICAS

Com a execução da paleta de cores, houve uma comparação entre os vidrados

adquiridos comercialmente e os vidrados dos azulejos do painel estudado, selecionando

aqueles mais adequados para a produção de réplicas. Pode se perceber que as peças são

compostas basicamente por somente três cores principais, o branco, violeta e azul, onde a

última citada apresenta variações de tonalidade (Figura 09).

Figura 09: Vidrados selecionados para a pintura das peças.

Em relação à manufatura do corpo cerâmico e a sua decoração, os resultados

obtidos foram satisfatórios, pois além das peças originadas terem apresentado aparência

retilínea, os desenhos reproduzidos a partir da observação dos azulejos correspondentes

presentes no lado oposto do painel alcançaram grande similaridade (Figura 10), de modo

que apesar das diferenças haja uma unidade entre as peças históricas e as novas.

Figura 10: Comparação entre as peças originais e as réplicas.

5.4. PROCESSO DE ENVELHECIMENTO ACELERADO

Terminados os ensaios de envelhecimento acelerado, uma das primeiras conclusões

inferidas foi em relação ao peso seco e molhado. Percebeu-se que todas as amostras

apresentaram um ganho de massa após a primeira imersão, uma vez que as mesmas

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absorveram parte do sal. Posteriormente, houve um decaimento gradual desta massa, visto

que as amostras começaram rapidamente a se deteriorar, desprendendo assim parte de seu

material (Gráfico 01 e 02).

Gráfico 01: Dados referentes as pesagens após a imersão e secagem em cada ciclo das amostras com a

camada vitrificada.

Gráfico 02: Dados referentes as pesagens após a imersão e secagem em cada ciclo das amostras sem a

camada vitrificada.

No entanto, ressalta-se que as amostras P1.V, P2.C e P3.C na última pesagem

apresentaram um sutil aumento tanto do peso seco quanto do molhado. Fato que pode ser

explicado pela cristalização do sulfato de sódio mediante a evaporação excessiva da água

devido às condições ambientais, onde certas áreas dessas peças ficaram emersos a solução

(Figura 11).

Figura 11: Cristalização de sais em algumas amostras no ciclo seis.

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Em relação à durabilidade das peças, obtiveram-se resultados tanto positivos quanto

negativos. Acerca da chacota pode se perceber dois perfis de comportamentos, onde os

corpos cerâmicos não vitrificados deterioraram-se em um ritmo mais acelerado e intenso

em comparação aos que possuíam a camada de vidrado, uma vez que ao terceiro ciclo, a

amostra P2.C já apresentava grande perda de material, fissuras e descamação da cerâmica,

enquanto na P2.V tais danos originaram-se somente no sexto ciclo (Figura 12).

Possivelmente, esta diferença é explicada devido ao fato das chacotas com aplicação de

vidrado serem submetidas a duas queimas, onde apesar da segunda ocorrer em um

intervalo de tempo menor, a mesma é capaz de aumentar a resistência do material.

Figura 12: Comparação do comportamento cerâmico das amostras P2.C e P2.V.

Tratando-se do vidrado, a durabilidade do mesmo foi menor que a estimada, visto

que logo no terceiro ciclo, as amostras P2.V e P3.V já possuíam a sua camada vitrificada

totalmente descolada da chacota, e ao termino do sexto ensaio, esta apresentava grande

fragmentação, principalmente na amostra P3.V. Todavia, vale se ressaltar que o corpo de

prova P1.V teve um comportamento diferenciado, onde apesar do destacamento de certas

áreas vitrificadas, grande parte do vidrado permaneceu unido á chacota até o final do

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experimento, apresentando assim uma maior resistência em comparação aos demais

(Figura 13).

Figura 13: Evolução da deterioração das amostras P1V, P2.V e P3.V.

6. CONCLUSÕES

Considerando os mais de trezentos anos de existência dos azulejos do Colégio

Santo Antônio, estes ainda se encontram visualmente bem conservados, pois apesar da

presença de algumas patologias mais graves, o dano mais recorrente é o deposito de tinta

cujo tratamento é de fácil execução. A limpeza mecânica com o uso de bisturi, ou química

mediante a aplicação de soluções de acetona, água destilada e álcool são alternativas

simples e eficazes para a resolução de tal patologia, descartando assim, possibilidades mais

arriscadas como o tratamento térmico, visto que apesar dos pontos positivos alcançados,

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este procedimento provocou efeitos danosos significativos nestes azulejos devido a intensa

formação de bolhas.

No caso da solução dos danos mais nocivos, como o desprendimento de alguns

exemplares do suporte ou inclusive a falta dos mesmos, o reassentamento e a manufatura

das peças ausentes são as medidas mais indicadas para tal situação. Sobre a produção de

réplicas, pode se concluir que a elaboração de uma paleta de cores permitiu uma seleção

mais precisa dos tons dos vidrados novos, de modo que, juntamente com o cuidado e o

preciosismo no momento da reprodução dos motivos nas réplicas se obtivesse uma maior

fidelidade cromática e gráfica às peças antigas, a fim de manter a unidade artística no

painel.

Todavia, vale se ressaltar a existência de algumas distinções sutis propositais entre

elementos contemporâneos e originais, para que, quando observados de maneira geral, seja

possível interpretar o painel como um todo, e, conforme a aproximação do observador,

esse consiga diferenciar o novo do antigo, visando evitar a criação do falso histórico.

Ainda sobre a produção de réplicas, também se inferiu que apesar da durabilidade

ter não alcançado os níveis esperados pode-se obter resultados positivos, principalmente

em relação à chacota. Comprovou-se que aqueles corpos cerâmicos submetidos às duas

queimas naturalmente necessárias para a produção dos azulejos atingem uma durabilidade

apreciável, sem necessidade de outros aprimoramentos ou modificações como ocorre no

caso do vidrado, visto que este ainda precisa ser melhorado a fim de se lograr um melhor

desempenho quanto a resistência a possíveis intempéries.

Desta forma, percebe-se que para executar uma ação restaurativa em azulejos,

principalmente quando há a necessidade de remoção de peças como ocorre no painel

estudado, todo o procedimento deve ser executado cautela, visto que há uma grande

probabilidade de quebras e, consequentemente, perda de material. Logo, medidas

preventivas como o faceamento das peças, que consiste na aplicação de uma camada

protetora no corpo vítreo, diminuem os riscos da formação de possíveis danos as peças

durante a remoção. Além disso, a identificação dos azulejos utilizando letras e números

também é necessária para facilitar a remontagem do painel após o término dos

procedimentos restaurativos.

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Por fim, recomenda-se que o reassentamento das peças utilizando uma argamassa

fabricada de acordo com os métodos e proporções compatíveis com o material original, de

modo que entrar em contato com o suporte haja uma interação com o mesmo, aumentando

assim, a aderência entre os materiais. Somente procedendo de tal forma, buscando

alternativas mais condizentes com o estado de conservação, propriedades químicas e

físicas, além de integrar o antigo e novo, pode se elaborar uma metodologia restaurativa

adequada para o painel azulejado do Colégio Santo Antônio e preservar este patrimônio

histórico-cultural tão significante para a cidade de Belém.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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histórica em Belém do Pará: contribuição tecnológica para réplicas e

restauro.Belém: UFPA/SEDECT, 2009. 121p.

COUTINHO, M. L. et al. Microbial communities on deteriorated artistic tiles from

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<http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S096483051200217X>.Acessado

em: 06 dez. 2014.

HORISCH, Marisa; NAJAR, Rosana P. N.; RIBEIRO, Rosina Trevisan M.

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Brasileira de Arqueometria, Restauração e Conservação, v.1, n.2, p. 45-50,

2007. Disponível em: <http://www.restaurabr.org/arc/arc02pdf/10azulejos.pdf>.

Acessado em: 04nov. 2014.

MACHADO, Zeila Maria de Oliveira. “Azulejo: arte milenar que encanta nossa

cultura” in BRAGA, Marcia (org.) Conservação e restauro: madeira, pintura

sobre madeira, douramento, estuque, cerâmica, azulejo, mosaico. Rio de Janeiro:

Ed. Rio, 2003, p. 125- 139.Disponível em: <http://marciabraga.arq.br/voi/images/

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MAIA, Lorena Porto.Documentação Arquitetônica com o Uso de Tecnologias

Digitais: Os Painéis de Azulejos do Colégio Santo Antônio. Iniciação Científica

– Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UFPA, Belém, 2013.

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MAIA, Lorena Porto. Caracterização física, química e mineralógica dos azulejos

do Santo Antônio: subsídios para sua conservação e restauração. Iniciação

Científica – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, UFPA, Belém, 2014.

MENDES, Stephanie Assef. Proposta de restauração para a igreja de Santo

Antônio em Belém/PA.Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Federal do Pará, Belém, Pará, 2013.

MUNIZ, Pollyanna Farias. O patrimônio mural: a informação documentada nos

painéis de azulejo português, Revista Tempo Histórico,v. 4, n.1, 2012. Disponível

em:http://www.revista.ufpe.br/revistatempohistorico/index.php/revista/article/viewF

ile/36/2. Acessado em: 04 nov. 2014.

OLIVEIRA, Mário Mendonça de. 1995. Tecnologia da conservação e da

restauração. Materiais e Estruturas. In: Dias, M.C.V.L (Org). Patrimônio azulejar

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Cultura

RILEY, Noel. A arte do azulejo: A história, as técnicas, os artistas. Lisboa:

Editorial Estampa,2004.128p.

SANJAD, Thais A. Bastos Caminha. Universidade Federal da Bahia: Patologias e

conservação de azulejos: Um estudo tecnológico de conservação e restauração de

azulejos encontrados nas cidades de Belém e Salvador, 2002, 222f. Dissertação

(Mestrado Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Federal da Bahia, Salvador,

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SANJAD, Thais A. Bastos Caminha. Universidade Federal do Pará:

Intemperismo tropical em fachadas azulejadas de edificações históricas de Belém

do Pará. 2007. 299f. Tese (Doutorado em Geoquímica e Petrologia) – Universidade

Federal do Pará, Centro de Geociências, Belém, 2007.

VALENTE, Carla Sofia dos Santos. Universidade de Aveiro: Conservação de

fachadas azulejadas em ovar: comportamento face à água, 2008, 104f. Dissertação

(Mestrado Engenharia Civil) – Universidade de Aveiro, Departamento de

Engenharia Civil, Portugal, 2008. Disponível em: < http://hdl.handle.net/10773/23

39>. Acessado em: 02dez. 2014.

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PARECER DO ORIENTADOR:

A aluna desenvolveu seu plano de trabalho com responsabilidade, insistiu na busca por

melhores resultados e cumpriu com os objetivos estabelecidos para a pesquisa.

DATA: 10/08/2015

Thais Alessandra Bastos Caminha Sanjad

ASSINATURA DO ORIENTADOR

Barbara Sobrinho Dias

ASSINATURA DO ALUNO