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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM LUCIENE MIRANDA DE ANDRADE CONSTRUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM MANUAL DE ORIENTAÇÕES A FAMILIARES DE PESSOAS COM MOBILIDADE FÍSICA PREJUDICADA FORTALEZA 2011

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR FACULDADE DE FARMCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

    LUCIENE MIRANDA DE ANDRADE

    CONSTRUO E VALIDAO DE UM MANUAL DE ORIENTAES

    A FAMILIARES DE PESSOAS COM MOBILIDADE FSICA

    PREJUDICADA

    FORTALEZA

    2011

  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR FACULDADE DE FARMCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

    LUCIENE MIRANDA DE ANDRADE

    CONSTRUO E VALIDAO DE UM MANUAL DE ORIENTAES

    A FAMILIARES DE PESSOAS COM MOBILIDADE FSICA

    PREJUDICADA

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Faculdade de Farmcia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Cear, como requisito parcial para concluso do Curso de Doutorado em Enfermagem.

    Linha de Pesquisa: Enfermagem no processo de cuidar na Promoo da Sade

    rea temtica: Cuidado de enfermagem pessoa com problemas neurolgicos.

    Orientadora: Prof. Dra. Zuila Maria de Figueiredo Carvalho.

    FORTALEZA

    2011

  • 2

    A568c Andrade, Luciene Miranda Construo e validao de um manual de orientaes a familiares de pessoas com mobilidade fsica prejudicada / Luciene Miranda de Andrade. Fortaleza, 2011. 122 f.; il.

    Orientador: Prof. Dr. Zuila Maria de Figueiredo Carvalho

    Tese (Doutorado) Universidade Federal do Cear. Programa de Ps-Graduao em Enfermagem.

    1. Limitao da Mobilidade. 2. Cuidados de Enfermagem. 3.

    Cuidadores. I. Carvalho, Zuila Maria de Figueiredo (Orient.) II. Ttulo.

    CDD 610.73

  • 3

    LUCIENE MIRANDA DE ANDRADE

    CONSTRUO E VALIDAO DE UM MANUAL DE ORIENTAES A

    FAMILIARES DE PESSOAS COM MOBILIDADE FSICA PREJUDICADA

    Tese submetida Coordenao do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem

    (Doutorado em Enfermagem) da Universidade Federal do Cear, como requisito

    parcial para obteno do ttulo de Doutora em Enfermagem.

    Aprovada em ___/___/______.

    BANCA EXAMINADORA

    _________________________________________________ Profa Dra Zuila Maria de Figueiredo Carvalho (Orientadora)

    Universidade Federal do Cear UFC

    _________________________________________________ Prof.a Dr.a Leila Conceio Rosa Santos

    Centro Universitrio Padre Anchieta - UniAnchieta

    _______________________________________________ Prof.a Dr.a Enedina Soares

    Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UFRJ

    _________________________________________________ Prof.a Dr.a Joselany Afio Caetano

    Universidade Federal do Cear UFC

    _________________________________________________ Prof. Dr. Lorena Barbosa Ximenes Universidade Federal do Cear UFC

  • 4

    Dedico este trabalho minha me Valdeliz Miranda de Andrade, que durante este percurso soube compreender as minhas ausncias, estresses e inquietaes. Muito obrigada por estar sempre ao meu lado me apoiando em todas as etapas de minha vida pessoal e profissional. Voc para mim tudo.

    AMO VOC

  • 5

    AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    A Deus, pela grandiosa Lei do Amor e da Caridade.

    minha famlia, por saber compreender e ter pacincia com meus momentos de estresse. Vocs so meus alicerces.

    minha orientadora, Prof.a Dra. Zuila Maria de Figueiredo Carvalho, pelos conhecimentos a mim repassados nesta trajetria, pela pacincia e compreenso

    com as minhas limitaes e, principalmente, pela amizade que foi se construindo no decorrer deste percurso de aprendizado.

    s amigas de longa caminhada: Ana Cludia, Angela, Goretti, Joselany, Liliane e Vldia, que sempre estiveram ao meu lado me apoiando com amizade, carinho e

    conhecimentos.

    Aos cuidadores participantes deste estudo, pela confiana em mim aceitando participar desta pesquisa.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    Ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Farmcia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Cear, pela oportunidade de aprofundar meus conhecimentos e obter a titulao de

    doutora.

    Ao Hospital Instituto Dr. Jos Frota IJF, aqui representado pela equipe de Enfermagem das Unidades de Internao 16,20 e 22, pela cooperao no

    percurso deste meu estudo.

    equipe de trabalho do Ncleo Hospitalar de Epidemiologia do IJF e da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital So Jos, pelo apoio, incentivo e amizade.

    Ao Ncleo de Pesquisa e Extenso em Enfermagem Neurolgica NUPEN, por oportunizar o compartilhamento de conhecimentos e saberes ao longo

    da realizao do curso de Doutorado.

    s Dras. Leila Conceio Rosa dos Santos, Lorena Barbosa Ximenes, Joselany Afio Caetano, Ana Kelve de Castro Damasceno, Ana Karina Bezerra

    Pinheiro, Maria Fatima Maciel Arajo, e Monica Oliveira Batista Ori, pelas valiosas contribuies como juzas na validao do Manual de Orientao.

    A Henrique Castro, pela valiosa participao como desenhista do Manual de Orientao.

    A todos aqueles que, direta ou indiretamente, foram importantes na realizao desta pesquisa.

  • 7

    De tudo ficaram trs coisas... A certeza de que estamos comeando...

    A certeza de que preciso continuar... A certeza de que podemos ser

    interrompidos antes de terminar...

    Faamos da interrupo um caminho novo...

    Da queda, um passo de dana... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte...

    Da procura, um encontro!

    Fernando Sabino

    http://pensador.uol.com.br/autor/Fernando_Sabino/

  • 8

    RESUMO ANDRADE, L. M. Construo e validao de um manual de orientaes a familiares de pessoas com mobilidade fsica prejudicada. 2011. 156 f. Tese (Doutorado em Enfermagem) Faculdade de Farmcia, Odontologia e Enfermagem, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2011.

    O estudo teve como objetivo construir e validar uma tecnologia educativa para a

    promoo da sade em pessoas com mobilidade fsica prejudicada. Trata-se de uma

    pesquisa metodolgica do tipo desenvolvimento, realizada em um hospital de

    emergncia na cidade de Fortaleza-CE. O estudo compreendeu trs momentos:

    construo do Manual, validao de contedo e testagem clnica. No primeiro

    momento foram realizados estudos que subsidiaram a construo do Manual; no

    segundo, para validao de contedo foi utilizado um questionrio tipo Escala de

    Likert com os indicadores para avaliao da qualidade, de forma a determinar o nvel

    de concordncia entre os juzes; e no terceiro, para testagem clnica aplicou-se o

    Manual a cuidadores de pacientes com dficits na mobilidade fsica e dependncia

    total ou parcial de cuidados. A amostra para validao de contedo foi constituda

    por sete juzas, experts nas reas de educao e neurologia, e a amostra para

    testagem clnica foi de 30 cuidadores selecionados mediante critrios de incluso e

    excluso. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa do Hospital

    Instituto Dr. Jos Frota, sob o protocolo N 110.316/09. No processo de construo

    do Manual primeiramente foram realizados estudos que subsidiaram a seleo do

    tema e do contedo, em seguida o editor de arte confeccionou o Manual, que teve

    um formato de histria com desenhos representando os personagens e descrevendo

    os procedimentos de forma detalhada e simples. Os pareceres das juzas quanto ao

    Manual teve como base os itens abordados e apresentaram uma variao do

    percentual de concordncia (concordo plenamente/concordo) de 42,9% a 100%.

    Entre as que se mantiveram neutras a variao foi de 14,3% a 57,1%, e entre as

    discordantes (discordo plenamente/discordo) a variao foi de 14,3% a 42,9%. Os

    itens 3, 6, 10, 13 e 14 apresentaram concordncia entre as juzas inferior a 70% e

    necessitaram de reviso e reestruturao para o alcance dos objetivos propostos

    neste estudo. Na testagem clnica os pareceres dos cuidadores quanto aos itens

    abordados apresentaram uma variao do percentual de concordncia (concordo

  • 9

    plenamente/concordo) de 90,0% a 100%. Entre os que se mantiveram neutros ou

    discordantes no foram identificadas variaes, mantendo-se ambas as categorias,

    respectivamente, entre 6,7% e 3,3%. O valor estabelecido para tornar um indicador

    vlido foi igual ou superior a 70%, e nesta etapa todos foram considerados vlidos.

    Dentre as sugestes das juzas destacam-se: diminuio de alguns textos,

    reformulao de termos tcnicos no acessveis a leigos, melhor clareza em

    algumas ilustraes e alteraes na sequncia das orientaes. Os cuidadores

    sugeriram o uso contnuo do Manual no hospital, iniciando sua utilizao logo aps a

    admisso, para, assim, contribuir no processo de recuperao do seu familiar. Eles

    afirmaram que aps as orientaes conseguiram se sentir mais seguros e que as

    informaes seriam importantes para quando estivessem no domiclio. As anlises

    realizadas reforam a relevncia de serem elaboradas novas tecnologias voltadas

    prtica educativa dentro do ambiente hospitalar, alm da necessidade de preparo

    dos profissionais por meio da capacitao contnua em servio para que o cuidado

    se desenvolva de forma adequada e com segurana.

    Palavras-Chave: Limitao da Mobilidade. Cuidadores. Prtica Educativa.

    Enfermagem.

  • 10

    ABSTRACT ANDRADE, L. M. Construction and validation of an orientation manual for relatives of people with impaired physical mobility. 2011. 156 p. Doctoral Dissertation in Nursing School of Pharmacy, Dentistry and Nursing, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2011.

    This study aimed to construct and validate educative technology for health promotion

    in people with impaired physical mobility. This methodological development study

    was carried out at an emergency hospital in Fortaleza-CE, Brazil. The study involved

    three phases: construction of the manual, content validation and clinical testing. First,

    studies were accomplished to support the construction of the manual. Second, for

    content validation purposes, a Likert-style questionnaire was used, including the

    quality assessment indicators, so as to determine the inter-rater agreement level.

    Third, for clinical testing, the manual was applied to caregivers of patients with

    impaired physical mobility and full or partial dependence for care. The content

    validation sample consisted of seven judges who were experts in education and

    neurology, while the clinical test sample comprised 30 caregivers, selected through

    inclusion and exclusion criteria. Approval for this research was obtained from the

    Institutional Review Board at Hospital Instituto Dr. Jos Frota, under protocol No

    110.316/09. In the construction process of the manual, first, studies were

    accomplished to support the selection of the theme and contents. Next, the art editor

    was contacted to elaborate the manual, in the form of a history with drawings,

    representing the characters and describing the procedures in a detailed and simple

    way. The experts opinions on the manual were based on the addressed items and

    the variation in agreement percentages (fully agree/agree) ranged from 42.9% to

    100%. The variation in neutral answers went from 14.3% to 57.1% and, among

    disagreements (fully disagree/disagree), from 14.3% to 42.9%. Inter-rater agreement

    levels for items 3, 6, 10, 13 and 14 were lower than 70%, demanding review and

    restructuring to achieve the goals proposed in this study. In clinical testing,

    agreement levels (fully agree/agree) among the caregivers opinions on the

    addressed items ranged from 90.0% to 100%. No variations were identified among

    caregivers who stayed neutral or disagreed, with both categories corresponding to

    6.7% and 3.3%, respectively. The level set to validate an indicator was 70% or more

  • 11

    and, in this phase, all indicators were considered valid. Among the experts

    suggestions, the following stand out: reduce some texts, reformulate technical terms

    not accessible to lay people, clarify some illustrations and alter the sequence of

    orientations. The caregivers suggested the continuous use of the Manual at the

    hospital, starting its use soon after admission, so as to contribute to the recovery

    process of their relative. They affirmed that, after the orientations, they managed to

    feel safer and that the information would be important when they would be at home.

    The analyses reinforce the relevance of elaborating new technologies for educative

    practice in the hospital environment, besides the need to prepare the professionals

    through continuous in-service training, so that care is developed adequately and

    safely.

    Key words: Mobility Limitation. Caregivers. Educative practice. Nursing.

  • 12

    RESUMEN

    ANDRADE, L. M. Construccin y validacin de un manual de orientacin a las familias de las personas con movilidad fsica reducida. 2011. 156 f. Tese (Doctorado en Enfermera) - Facultad de Farmacia, Odontologa y Enfermera, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2011.

    El estudio tuvo como objetivo construir y validar una tecnologa de la educacin para

    promover la salud en las personas con movilidad fsica reducida. Se trata de un tipo

    de desarrollo de la investigacin metodolgica realizada en un hospital de

    emergencia en Fortaleza-CE. El estudio consta de tres fases: construccin del

    manual, la validacin del contenido y los ensayos clnicos. En el primer momento se

    realizaron estudios que apoyaron la construccin del manual, en el segundo se

    utiliz para la validacin un cuestionario tipo escala de Likert con indicadores para la

    evaluacin de la calidad, con el fin de determinar el nivel de acuerdo entre los jueces

    y el tercero para los ensayos clnicos se ha aplicado el manual con los cuidadores de

    pacientes con dficit en la movilidad fsica y con dependencia total o parcial. La

    muestra en la validacin de contenido consisti de los siete jueces, expertos en la

    educacin y la neurologa, y la muestra de los ensayos clnicos ha sido de treinta

    cuidadores que fueron seleccionados por los criterios de inclusin y exclusin. Este

    estudio fue aprobado por el Conmit de tica del Hospital Instituto Dr. Jos Frota,

    con el Protocolo N 110.316/09. En el proceso de construccin del manual fueron

    hechos estudios que apoyaron la eleccin del tema y contenido, en seguida se puso

    en contacto con el editor de arte para hacer el manual, que tena un formato de

    historia con dibujos que representan los personajes y describir el procedimiento en

    detalle y simple. Las opiniones de los jueces en el manual se basa en los asuntos

    tratados y present una variacin del porcentaje de acuerdo (muy de acuerdo / de

    acuerdo) de 42,9% a 100%. Entre los que permanecieron neutrales la variacin fue

    de 14,3% a 57,1%, y entre los discordantes (muy en desacuerdo / en desacuerdo),

    la variacin fue del 14,3% al 42,9%. Los indicadores 3, 6, 10, 13 y 14 mostraron

    acuerdos entre los jueces inferiores al 70% y ha requerido una revisin y

    reestructuracin para lograr los objetivos propuestos en este estudio. En pruebas

    clnicas con los cuidadores en relacin a las cuestiones planteadas tuvo una

  • 13

    variacin en el porcentaje de acuerdo (muy de acuerdo / de acuerdo) de 90,0% a

    100%. Entre los que permanecieron neutrales las variaciones discordantes no fueron

    identificadas, manteniendo ambas categoras, respectivamente, entre 6,7% y 3,3%.

    El valor establecido para que un indicador sea vlido ha sido igual o superior al 70%,

    y en esta etapa se consideraron todos vlidos. Entre las sugerencias de los jueces

    tuvimos: la reduccin de algunos textos, la reformulacin de los trminos tcnicos

    que no son accesibles a los laicos, la claridad e ilustraciones de algunos cambios en

    las directrices. Los cuidadores han sugerido el uso continuado de este manual en el

    hospital, inmediatamente despus del ingreso, para contribuir as al proceso de

    recuperacin de su pariente. Dijeron que despus de las directrices eran capaces de

    sentirse ms seguros y que las informaciones serian importantes en su domicilio.

    Los anlisis realizados confirman la importancia de las tecnologas de desarrollo

    centrado en la prctica educativa en el entorno del hospital, ms all de la necesidad

    de capacitacin del personal mediante la formacin continua en el servicio de

    asistencia para el desarrollo correcto y seguro.

    Palabras clave: Limitacin de la Movilidad. Cuidadores. La prctica educativa.

    Enfermera.

  • 14

    LISTA DE TABELAS

    1 Caracterizao das juzas que avaliaram o Manual de Orientao de cuidados domiciliares para pacientes com mobilidade fsica prejudicada. Fortaleza-CE, 2010 (n=7).......................................................................................................................... 63 2 Avaliao do Manual quanto concordncia das juzas em relao ao assunto abordado na tecnologia e seus vrios aspectos relacionados. Fortaleza-CE, 2010........................................................................................................................... 67 3 Avaliao do Manual quanto concordncia das juzas em relao organizao geral, estrutura, estratgia de apresentao, coerncia e suficincia. Fortaleza-CE, 2010. ........................................................................................................................ 70 4 Avaliao do Manual quanto concordncia das juzas em relao relevncia do material. Fortaleza-CE, 2010. .................................................................................. 72 5 Caracterizao dos pacientes com mobilidade fsica prejudicada. Fortaleza-CE, 2010 (n=30). ............................................................................................................. 74 6 Caracterizao dos cuidadores de pacientes com mobilidade fsica prejudicada. Fortaleza-CE, 2010 (n=30). ...................................................................................... 76 7 Avaliao do Manual quanto concordncia dos cuidadores em relao ao Contedo. Fortaleza-CE, 2010. ................................................................................ 78 8 Avaliao do Manual quanto concordncia dos cuidadores em relao Educao em Sade. Fortaleza-CE, 2010. .............................................................. 80

  • 15

    LISTA DE ILUSTRAES

    1 Critrios para seleo dos juzes para validao de contedo do Manual de Orientaes para o Cuidado no Domiclio................................................................. 50 2. Fluxo do processo de construo do Manual de Orientaes para o Cuidado no Domiclio. .................................................................................................................. 52 3. Fluxo do processo de validao de contedo do Manual de Orientaes para o Cuidado no Domiclio por juzes. .............................................................................. 54

    4. Fluxo do processo de avaliao do Manual de Orientaes para o Cuidado no Domiclio pelos cuidadores. ..................................................................................... 56

  • 16

    SUMRIO

    1 INTRODUO..................................................................................... 19 1.1 Contextualizao da vida profissional e foco de interesse........... 19 1.2 O problema, justificativa e relevncia............................................. 21 2 OBJETIVOS........................................................................................ 28 2.1 Objetivo geral..................................................................................... 28 2.2 Objetivos especficos........................................................................ 28 3 REFERENCIAL TERICO.................................................................. 30 3.1 Tecnologias e suas aplicaes na enfermagem............................. 30 3.2 O uso das tecnologias na educao em sade e na prtica

    assistencial .......................................................................................

    34 3.3 O enfermeiro no processo de educao em sade aos

    cuidadores domiciliares....................................................................

    37 3.4 O papel do cuidador domiciliar no contexto da promoo da

    sade...................................................................................................

    39 3.5 Validao de tecnologias.................................................................. 42

    4 METODOLOGIA.................................................................................. 46 4.1 Tipo e natureza do estudo ............................................................... 46 4.2 Cenrio ............................................................................................... 47 4.3 Populao e amostra ........................................................................ 49 4.4 Percurso metodolgico .................................................................... 51 4.5 Anlise dos dados ............................................................................ 56 4.6 Aspectos ticos ................................................................................ 57 5 RESULTADOS.................................................................................... 59 5.1 Construo do Manual de Orientao sobre os cuidados a

    pacientes com mobilidade fsica prejudicada .............................................................................................................

    59 5.2 Processo de validao de contedo ............................................... 62 5.2.1 Caracterizao do grupo de juzas que avaliaram o Manual

    Mobilidade Fsica: orientaes para o cuidado no domiclio ..............

    62 5.2.2 Julgamento do Manual Mobilidade Fsica: orientaes para o

    cuidado no domicilio, segundo cada aspecto abordado no processo de avaliao pelas juzas ....................................................................

    65 5.3 Processo de caracterizao dos pacientes e cuidadores e

    testatagem do Manual ......................................................................

    72 5.3.1 5.3.2 5.3.3 5.3.4

    Caracterizao dos pacientes com mobilidade fsica prejudicada...... Caracterizao dos cuidadores que avaliaram o Manual Mobilidade Fsica: orientaes para o cuidado no domiclio ................................. Avaliao do Manual Mobilidade Fsica: orientaes para o cuidado no domiclio, segundo cada aspecto abordado no processo de avaliao pelos cuidadores ................................................................. Avaliaes realizadas pelos cuidadores acerca do manual que enfocaram: contedo, estrutura, aprendizado adquirido, segurana apresentada aps as orientaes e sugestes ..................................

    73

    75

    77

    80

  • 17

    6 DISCUSSO........................................................................................ 88

    7 CONSIDERAES FINAIS ............................................................... 98

    REFERNCIAS...................................................................................................... 103

    APNDICES Apndice A - Carta-convite para os juzes especialistas.................................. 113

    Apndice B - Esclarecimentos aos juizes acerca do manual de orientao. 114

    Apndice C - Termo de Consentimento Livre Esclarecido ............................. 115 Apndice D - Instrumento de avaliao dos juizes especialistas ................... 117

    Apndice E - Instrumento de avaliao dos cuidadores ................................. 119

    Apndice F - Manual de orientao ...................................................................

    122

    ANEXO Anexo A Carta de Aprovao do Comit de tica em Pesquisa ................. 154

  • 18

    Introduo

  • 19

    1. INTRODUO

    1.1 Contextualizao da vida profissional e foco de interesse

    O despertar pela temtica mobilidade fsica prejudicada teve incio a partir

    de atividades profissionais, atuando em unidade de emergncia, quando deparava

    constantemente com o retorno de pacientes portadores dessa condio, ou seja,

    limitao no movimento fsico independente e voluntrio do corpo ou de uma ou

    mais extremidades por complicaes decorrentes destas. A frequncia com que

    esses casos ocorriam chamava ateno, e, ao mesmo tempo, trazia

    questionamentos: quais as estratgias usadas pelo familiar cuidador e pacientes

    para realizar locomoo ou movimentao no domiclio? O que fazer para minimizar

    as complicaes decorrentes da mobilidade fsica prejudicada?

    No desenvolvimento das atividades no Ncleo Hospitalar de

    Epidemiologia realizam-se visitas dirias s enfermarias, e por ocasio dessas

    visitas havia uma abordagem pelo cuidador solicitando orientaes sobre o problema

    do seu familiar, como por exemplo: como realizar mudana de decbito; como

    colocar fralda; como evitar ressecamento ou leses de pele; qual a posio

    adequada para alimentao, dentre outros questionamentos. E, medida que a alta

    hospitalar se aproxima, outras dvidas surgem em relao ao cuidado no domiclio.

    Muitas vezes h interrupo das atividades para conversar com os

    familiares, de forma a orient-los sobre o cuidado no domiclio de acordo com o

    problema apresentado. Contudo, se mantm a inquietao, pois no se sabe da

    sequncia do cuidado, e se as orientaes sero repassadas para os outros

    cuidadores quando o paciente no mais estiver no hospital.

    Assim sendo, foi aumentando cada vez mais o interesse em trabalhar com

    essa temtica. Vislumbrando essa perspectiva me inseri no Ncleo de Pesquisa e

    Extenso em Enfermagem Neurolgica (NUPEN) do Departamento de Enfermagem

    da Faculdade de Farmcia, Odontologia e Enfermagem (FFOE), da Universidade

  • 20

    Federal do Cear (UFC), por acreditar que esse engajamento benfico ao intento,

    visto que o NUPEN tem como objetivo realizar estudos de pesquisa e extenso com

    pessoas portadoras de problemas neurolgicos, tais como alteraes na mobilidade

    fsica. Surgiu, ento, a oportunidade de desenvolver estudos sobre o tema como

    membro pesquisador do NUPEN, por meio de publicaes de artigos em peridicos

    da rea1, de apresentao de trabalhos em eventos nacionais e internacionais2,

    participao em projetos de pesquisa PIBIC/UFC como co-orientadora3 e, ainda,

    como co-orientadora de um estudo de concluso de curso4, aprofundando, desta

    forma, os conhecimentos na rea de Neurologia.

    Por conhecer a ansiedade do familiar cuidador e suas dvidas, sabe-se

    que por mais que se esclarea acerca da patologia, sobre os cuidados prestados

    pela equipe de enfermagem e os cuidados que podero ser desenvolvidos pelos

    cuidadores desde a hospitalizao, preciso dar continuidade a essa assistncia.

    Portanto, desenvolver uma proposta de educao em sade direcionada

    orientao do familiar cuidador na mobilidade fsica do paciente5 acamado significa

    um desafio, pois muitos fatores podero interferir nesse processo de orientao,

    tanto relacionados ao paciente e ao familiar cuidador quanto a problemas financeiros

    e ambientais. A enfermeira deve obter a compreenso de todos esses aspectos para

    iniciar o processo de educao em sade.

    A oportunidade de realizar a seleo para um programa de doutorado

    motivou o desenvolvimento de um projeto voltado orientao junto aos cuidadores

    domiciliares sobre o manuseio e a preveno de leses nos pacientes com

    1CARVALHO, Zuila Maria de Figueiredo; DARDER, Juan Jos Tirado; FALCO, Francisco Vicente Mulet; HERNANDEZ, Antonio

    Jos Nues; ANDRADE, Luciene Miranda de; MIRANDA, Maira Di Ciero; MONTEIRO, M. G. S. . lceras por presin en la lesin medular - conocimiento de los familiares y cuidadores. Avances en Enfermera, v. 28, p. 29-38, 2010. LIMA,Rozangela Gonalves de; SOUZA, Ellen Lucy Vale de; ANDRADE, Luciene Miranda de; CARVALHO, Zuila Maria de Figueiredo; CAETANO, J. . . Proceso de gerencia de enfermera en unidades de emergencias: los conflitos vividos por los gerentes. Enfermera Integral, v. 85, p. 36-39, 2009. 2ANDRADE, Luciene Miranda de; MONTEIRO, M. G. S. ; CARVALHO, Zuila Maria de Figueiredo . lcera venosa crnica: um

    percurso de cuidar. In: CONGRESSO DE FERIDAS CRNICAS, 2010, Lisboa. Anais... Coimbra: FORMASAU, 2010. v. 1 CARVALHO, Zuila Maria de Figueiredo; BARBOSA, Islene Victor; ANDRADE, Luciene Miranda de; BRITO, Anisia Maria Carvalho e; MORAES, Paula de Oliveira Fontenele ; MULET, Carlos Segura; MENDES, Priscila Alencar . Conocimiento y actuacin de los enfermeros sobre el uso del collarn cervical. In: ENCUENTRO INTERNACIONAL DE INVESTIGACIN EN ENFERMERA, 13.; INTERNATIONAL NURSING RESEARCH CONFERENCE, 13th, 2009, Alicante. Conocimiento y actuacin de los enfermeros sobre el uso del collarn cervical. Alicante, 2009. 3Acolhimento com classificao de risco em urgncia e emergncia. Conhecimento dos enfermeiros, perfil dos riscos de

    acidente vascular cerebral em motoristas de nibus de Fortaleza. Avaliao das atividades da vida diria de pessoas com leso medular. 4Monografia de Graduao em Enfermagem, de SILVA, Roberta Arajo e. Perfil epidemiolgico das vtimas de

    traumatismo crnio-enceflico admitidas em um hospital de emergncia. Monografia (Graduao) Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2008. 5 Optamos pelo termo paciente por estarmos nos referindo pessoa em processo de internamento hospitalar.

    http://lattes.cnpq.br/4229835188334897http://lattes.cnpq.br/2976728508608006http://lattes.cnpq.br/4229835188334897http://lattes.cnpq.br/4229835188334897http://lattes.cnpq.br/6528874820278559http://lattes.cnpq.br/4229835188334897http://lattes.cnpq.br/5341244026854240http://lattes.cnpq.br/5341244026854240http://lattes.cnpq.br/2519020575325459

  • 21

    mobilidade fsica prejudicada, de forma a propor uma tecnologia que os tornassem

    mais independentes.

    1.2 O problema, justificativa e relevncia

    Desde o primeiro momento do atendimento na unidade de emergncia,

    percebe-se a angstia do familiar cuidador em relao aos comprometimentos

    fsicos decorrentes do processo da doena, principalmente pelo desconhecimento

    ou falta de informao sobre a real situao de sade do seu parente. Ainda no

    perodo de hospitalizao, quando se tem o diagnstico definitivo de mobilidade

    fsica prejudicada, observa-se como grande o despreparo do familiar cuidador para

    lidar com essa situao, sem contar que outros problemas viro: feridas, infeces,

    atrofias musculares e desnutrio, dentre outros.

    Mobilidade fsica a capacidade de movimentar uma articulao, ou seja,

    a ao de pr em movimento uma parte do aparelho locomotor, promovendo a

    movimentao do corpo (CALATAYUD; MARTINEZ; TEJEDOR; GARCIA; GARCIA,

    2003).

    Mobilidade Fsica Prejudicada (MFP) qualquer limitao ao movimento

    fsico independente e voluntrio do corpo ou de uma ou mais extremidades (NANDA,

    2008). Na opinio de Carpenito (2001), o estado em que o indivduo apresenta, ou

    est em risco de apresentar, limitaes do movimento fsico, mas no est imvel;

    descreve um indivduo com uso limitado dos membros superiores e inferiores ou

    com limitao da fora muscular. J Carvalho, Gulart, Silva e Oliveira (2007) referem

    que a MFP um diagnstico de enfermagem que corresponde ao padro de

    resposta humana mover, definindo-a como um estado no qual o indivduo

    experimenta uma limitao para movimentos fsicos independentes.

    Uma srie de condies pode estar relacionada ao comprometimento da

    mobilidade, tais como: prejuzos sensrio-perceptivos, msculo-esquelticos e

    neuromusculares; intolerncia atividade/fora e resistncia diminudas; estado

  • 22

    depressivo; prejuzo cognitivo; diminuio da fora, controle e/ou massa muscular;

    perda de integridade de estruturas sseas e outros (NANDA, 2008).

    Na literatura, seja nacional ou estrangeira, muito se tem pesquisado sobre

    esse tema (BACHION, ARAJO, ALMEIDA, SANTANA, 2001; CAFER, BARROS,

    LUCENA, MAHL, MICHEL, 2005; PINHEIRO, 2004; PINHEIRO, FERREIRA,

    AMARAL, NUNES, GOMES, 2004; DURN, et al. 1996). Contudo, o olhar para a

    questo ensino-aprendizagem para pessoas com mobilidade fsica prejudicada

    ainda sumrio. Os problemas relacionados mobilidade fsica prejudicada

    constituem atualmente um dos maiores desafios que a cincia da sade enfrenta,

    sendo estes estudados no apenas do ponto de vista fsico, mas com maior ateno

    aos aspectos psicossociais que esto envolvidos.

    Em decorrncia do exposto houve interesse para a construo, validao

    de contedo e testagem de um manual para orientao do familiar cuidador sobre o

    manejo adequado do seu paciente com mobilidade fsica prejudicada. Sua finalidade

    esclarecer as dvidas do familiar cuidador diante da dificuldade de locomoo e

    cuidado com a pele. Vale ressaltar que se considera este manual de orientao

    como um recurso adicional a ser usado e implementado na assistncia aos

    pacientes acamados.

    O objetivo de validar as tecnologias de Enfermagem o de fundamentar o

    cuidado cientificamente e promover a qualidade da assistncia. As abordagens

    metodolgicas de validao de procedimentos, basicamente, consistem na reviso

    de literatura, fornecendo um suporte terico que sustente a tcnica estudada, na

    opinio de peritos no assunto e na verificao no ambiente clnico (HONRIO,

    2009).

    O termo validar, dentre outras significaes, quer dizer tornar legtimo ou

    legal. (FERREIRA, 1999). Partindo deste princpio, ao se validar uma tecnologia esta

    se torna legtima para a situao a que se prope. Assim sendo, ao se validar um

    manual de orientao de cuidados, este se torna aplicvel e seguro prtica. No

    entanto, no se pode esquecer de periodicamente revisar as tecnologias para

    adequ-las nova realidade que surge em decorrncia dos avanos tecnolgicos.

  • 23

    No contexto da sade muitas inovaes surgem a cada dia, e estas tm

    influenciado as aes nas quais o uso desses recursos torna-se fundamental. As

    prticas, muitas vezes, so conduzidas por essas novas tendncias, estando

    rapidamente inseridas e utilizadas como suporte durante o processo de atendimento

    sade, bem como no processo educacional.

    A Poltica Nacional de Promoo da Sade (PNPS) afirma que as aes

    pblicas em sade devem ir alm da ideia de cura e reabilitao. preciso privilegiar

    medidas preventivas e de promoo, transformando os fatores da vida cotidiana que

    colocam as coletividades em situao de vulnerabilidade (BRASIL, 2009).

    Para a promoo da sade em nosso meio, temos como aliada a

    educao, a qual pode ser definida a partir de sua origem latina: educare. Como

    termo latino, designa educao e provm de e ou ex, que significa dentro de, para

    fora de. Educare significa tirar, levar. Etimologicamente, portanto, educao

    entendida como o processo de tirar de dentro de uma pessoa algo que j est dentro

    dela, ou levar para fora da pessoa aquilo que j est presente nela mesma (ROCHA,

    2007).

    A educao em sade permite que a populao adquira novos

    conhecimentos sobre sade e doena e possa participar de forma efetiva na

    preveno de diversos processos patolgicos. Ela compreende um processo

    contnuo e de grande significado dentro do ambiente hospitalar, pois integra uma

    das vertentes da humanizao no atendimento aos pacientes.

    A atuao da enfermeira na execuo de prticas de educao em sade

    hospitalar fundamental, pois nesse ambiente que se inicia o processo de

    educao em sade junto aos familiares cuidadores dos pacientes com mobilidade

    fsica prejudicada e que precisaro de uma assistncia contnua aps a alta

    hospitalar. Entretanto, preciso que ele tenha o entendimento integral a respeito da

    sade e da qualidade de vida, valorizando a histria de vida da populao, visto que

    a enfermagem uma rea do conhecimento que abrange atividades como o cuidar,

    o gerenciar e o educar, entre outras (MARTINS, ALBUQUERQUE, NASCIMENTO,

    BARRA, SOUZA, PACHECO, 2007; SOUZA, WEGNER, GORINI, 2007).

  • 24

    A educao em sade uma ao necessria, pois se trata de atividade

    estruturante atravs da qual se articulam populao e sistemas de sade, permitindo

    a capacitao do indivduo e a conquista da cidadania. A educao em sade

    acontece independentemente do consentimento do indivduo, atravs de palavras,

    gestos, troca de afeto e informaes (ROCHA, 2007).

    importante integrar o familiar cuidador na execuo das atividades de

    reabilitao dos pacientes com mobilidade fsica prejudicada, para que ao

    retornarem ao domiclio consiga executar os cuidados necessrios na locomoo de

    seu paciente sem menor risco de leso da pele. Ensinar os familiares para o cuidado

    domiciliar uma tarefa que busca minimizar as inseguranas, melhorar a qualidade

    de vida social e familiar, prevenir complicaes e/ou comorbidades e evitar

    reinternaes (KUMMER; ECHER, 2005).

    Concorda-se com Mesquita, Ferreira e Neves (2006) quando referem que

    no processo de internao domiciliar o cuidador desempenha papel fundamental,

    pois a pessoa que auxilia o paciente em suas dependncias, nas suas

    necessidades de cuidado, intermediando a relao entre os profissionais de sade,

    o paciente e a famlia.

    Deste modo, a famlia deve ser vista como uma aliada da equipe de

    sade, promovendo conforto para que o paciente possa restaurar sua confiana e,

    assim, investir na sua recuperao. Como resposta ao conforto, o paciente

    experimenta nimo, bem-estar e crescimento e poder recuperar sua fora e poder

    pessoal, o que o tornar capaz de mobilizar mecanismos para enfrentar problemas e

    desempenhar mais eficazmente seus papis, melhorando sua qualidade de vida

    (NEMAN; SOUZA, 2003).

    Como ferramentas de apoio ao do enfermeiro h diversas tecnologias

    que podero dar subsdios para o incremento dessa prtica. A tecnologia est

    presente na vida humana, de maneira concreta, e no somente os equipamentos

    modernos que utilizamos. Sua importncia advm do fato de facilitar o cotidiano ao

    permitir que tarefas consideradas impossveis possam ser realizadas sem grandes

    esforos (CAETANO; PAGLIUCA, 2006). Entre suas aplicaes encontra-se a

    construo de um manual para orientao do familiar cuidador para executar o

  • 25

    manejo adequado do paciente acamado, bem como toda a metodologia utilizada

    para orientao do material educativo.

    Com vista sua utilizao, a produo tecnolgica requer

    argumentao precisa acerca das concepes de tecnologia, a quem ela serve e

    para que cri-la. Caso contrrio, o risco de estar criando algo gerador de mais

    malefcios que benefcios para a humanidade evidente. importante que os

    profissionais saibam utilizar de forma adequada as tecnologias, para que estas

    sejam disponibilizadas como uma ferramenta para proporcionar qualidade de vida

    aos pacientes, e no apenas como um meio de diminuir o trabalho de um

    determinado grupo de profissionais.

    Por definio, tecnologia uma teoria geral ou estudo sistemtico

    sobre tcnicas, processos, mtodos, meios e instrumentos de um ou mais ofcios, ou

    domnio da atividade humana (HOUAISS; VILLAR, 2001). Deste modo, no envolve

    simplesmente a criao de um produto e a avaliao de seus impactos sobre a

    clientela. A produo de tecnologia em sade est presente na prtica de

    enfermagem, at mesmo quando o cuidado planejado de forma cientfica e

    sistematizado. A tecnologia pode ser definida como emancipatria quando se

    constitui na apreenso e na aplicao de um conjunto de conhecimentos e

    pressupostos que possiblitam aos indivduos pensar, refletir e agir, tornando-os

    sujeitos do seu prprio processo existencial, numa perspectiva de exerccio de

    conscincia crtica e cidadania, tendo a possibilidade de experienciar a liberdade, a

    autonomia, a integridade e a esttica na tentativa de buscar qualidade de vida

    (NIETSCHE, 2000, p.21-22).

    Para melhor defini-las, na enfermagem as tecnologias receberam

    determinadas classificaes, quais sejam: tecnologia do cuidado representada por

    tcnicas, procedimentos e conhecimentos utilizados pelo enfermeiro no cuidado;

    tecnologia de concepes constituda por desenhos/projetos para a assistncia de

    enfermagem, bem como por uma forma de delimitar a atuao do enfermeiro em

    relao a outros profissionais; tecnologia interpretativa de situaes de pacientes

    por meio das quais a enfermagem consegue interpretar suas aes; tecnologia de

    administrao forma de proceder organizao no trabalho de enfermagem;

    tecnologia de educao meio de auxiliar na formao da conscincia crtica para

  • 26

    uma vida saudvel; tecnologia de processos de comunicao centrada na relao

    teraputica enfermeiro-cliente, e tecnologia de modos de conduta referente a

    protocolos assistenciais (NIETSCHE, 2000).

    A tecnologia possibilita a recriao do espao teraputico, onde h lugar

    para a criao, a liberdade, a autonomia, a conscincia crtica e a cidadania.

    Quando numa tecnologia so evidenciados alguns componentes, como o exerccio

    da liberdade e o exerccio da autonomia do tempo, tanto para o profissional como

    para a clientela, temos uma tecnologia emancipatria totalmente plena (NIETSCHE,

    2000).

    Nesse processo de aplicao de tecnologias que busquem a

    emancipao dos envolvidos a enfermeira6 precisa usar o seu potencial de

    criatividade para desenvolver estratgias educativas adequadas para cada tipo de

    populao, a fim de que haja um cuidado holstico e humanitrio. Fonseca, Scochi,

    Rocha e Leite (2004) acreditam que os materiais didticos dinamizam as atividades

    de educao em sade, o que estimula sua construo.

    Apesar das limitaes de autonomia das pessoas que necessitam de

    cuidados domiciliares, a adequao desses cuidados torna-se imprescindvel para

    que essas pessoas sejam reconduzidas aos seus lares e, consequentemente,

    sociedade. Para tanto, devem ser criados mecanismos que permitam determinar

    quais atividades de cuidados so melhores para que o cliente e sua famlia se

    sintam orientados, confortados e auxiliados no cuidado (MINCHILLO, 2000).

    preciso haver um maior investimento no preparo dos familiares

    (cuidadores), capacitando-os de uma forma simples, porm efetiva. Nesse processo

    educativo a enfermeira uma profissional de suma importncia, e sua ao deve ser

    iniciada desde o internamento hospitalar, para que no domiclio os cuidadores se

    sintam seguros ao cuidar de seu paciente, proporcionando melhor qualidade de vida

    para todo o conjunto familiar (paciente e famlia).

    6 Optou-se por utilizar neste estudo a expresso enfermeira para designar o profissional,

    independentemente de gnero.

  • 27

    A tese defendida de que os portadores de mobilidade fsica afetada

    necessitam de uma maneira de cuidar que os torne independentes. Assim, ensinar

    cuidados aos familiares uma forma de tecnologia que busca a emancipao dos

    sujeitos envolvidos no cuidar. Como mencionado por Nietsche (2000), as tecnologias

    vinculadas educao identificam-se como mtodos de cuidado simplificados com o

    objetivo de se tornar uma prtica comum, facilitando o autocuidado.

    O presente estudo justificou-se pela necessidade de proporcionar uma

    melhor qualidade de vida aos pacientes que apresentam mobilidade fsica

    prejudicada, e maior capacitao e segurana aos familiares que iro ser

    responsveis pelos cuidados no domiclio. Ao iniciar, desde a hospitalizao, o

    processo de orientao aos cuidadores sobre a assistncia a ser prestada, contribui-

    se na reduo das complicaes que podem surgir aps a alta, dentre elas

    destacando-se as pneumonias, as atrofias musculares e as lceras de presso.

    Essas complicaes muitas vezes desencadeiam novos internamentos hospitalares

    e at mesmo o bito dos pacientes.

    A instituio onde se desenvolveu o estudo foi beneficiada, pois ao se

    instalar o processo de educao em sade desde a internao junto ao cuidador

    domiciliar, consegue-se um aliado na vigilncia contnua dos pacientes e,

    consequentemente, haver reduo de possveis intercorrncias. Como resultado

    haver a diminuio do tempo de internamento hospitalar, menos gastos e,

    principalmente, a certeza de estar trabalhando na qualidade de vida dos pacientes.

  • 28

    Objetivos

  • 29

    2. OBJETIVOS

    2.1 Objetivo geral

    Construir e validar um manual de orientao para a promoo da sade

    em pessoas com mobilidade fsica prejudicada.

    2.2 Objetivos especficos

    Conhecer os principais problemas apresentados pelo paciente com

    mobilidade fsica prejudicada.

    Buscar na literatura subsdios para embasar a construo do manual de

    orientao.

    Fazer a validao de contedo por meio da avaliao do nvel de

    concordncia dos juzes quanto adequao do contedo do manual de orientaes

    de cuidados no domiclio em pessoas com mobilidade fsica prejudicada.

    Avaliar a tecnologia educativa implementada aos cuidadores quanto

    motivao para uso do material no suporte dos cuidados ao seu familiar.

    Caracterizar os pacientes com mobilidade fsica prejudicada e seus

    cuidadores.

  • 30

    Referencial Terico

  • 31

    3. REFERENCIAL TERICO

    3.1 Tecnologias e suas aplicaes na enfermagem

    Observam-se, atualmente, intensas transformaes em nosso cotidiano.

    Acompanhando essas alteraes surgem os avanos na rea relacionada

    tecnologia. Com o advento tecnolgico que vem ocorrendo ao longo dos anos, a

    sociedade insere em seu cotidiano o uso de tais facilidades para agilizar a realizao

    de suas prticas dirias. Desde as mais antigas civilizaes, o homem tem criado

    mtodos tecnolgicos importantes para uso em seu dia a dia (SCHALL; MODENA,

    2005).

    Faz-se necessrio entender o conceito de tecnologia, que definida

    como:

    A maneira como as pessoas lidam com a natureza e cria as condies de intercurso com as quais nos relacionamos uns com os outros [...]. A tecnologia tem trs camadas de significado: a de objetos fsicos tais como instrumentos, maquinrio, matria; a de uma forma de conhecimento, na qual significa que concebido para um objeto atravs de nosso conhecimento de como us-lo, repar-lo, projet-lo e produzi-lo e, ainda, formando parte de um conjunto complexo de atividades humanas (MARTINS; DAL SASSO, 2008).

    As tecnologias so classificadas, ainda, conforme a sua natureza:

    tecnologia dura, que representada por equipamentos e mquinas; leve-dura, que

    consiste em saberes estruturados; e leve, que envolve um processo de relaes e

    encontros de subjetividades (ZERBETTO; PEREIRA, 2005).

    Segundo Merhy (2007), as tecnologias envolvidas no trabalho em sade

    podem ser classificadas como leves (como no caso das tecnologias de relaes do

    tipo produo de vnculo, autonomizao, acolhimento e gesto como uma forma de

    governar processos de trabalho), leve-duras (como no caso de saberes bem

    estruturados que operam no processo de trabalho em sade, como a clnica mdica,

    a clnica psicanaltica, a epidemiologia, o taylorismo, o fayolismo); e duras (como no

  • 32

    caso de equipamentos tecnolgicos do tipo mquinas, normas e estruturas

    organizacionais).

    O trabalho em sade no pode ser globalmente capturado pela lgica do

    trabalho morto, expresso nos equipamentos e nos saberes tecnolgicos

    estruturados, pois o seu objeto no plenamente estruturado e suas tecnologias de

    ao mais estratgicas configuram-se em processos de interveno em ato,

    operando como tecnologias de relaes, de encontros de subjetividades, para alm

    dos saberes tecnolgicos estruturados, comportando um grau de liberdade

    significativo na escolha do modo de fazer essa produo (MERHY, 2007).

    As escolas de sade pblica tm como funes centrais a capacitao de

    recursos humanos, a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias. A transformao

    do conhecimento cientfico, sua difuso e incorporao pelos sistemas de sade

    consistem em uma dificuldade por parte das instituies cientficas, em particular nos

    pases em desenvolvimento, que no detm recursos para investir em tecnologia

    (BUSS, 1999).

    O uso de metodologias tecnolgicas pelos enfermeiros pode ser voltado

    para a docncia, bem como para a assistncia. Assim, necessrio ao profissional o

    acompanhamento de novas produes tecnolgicas que so utilizadas como

    metodologia ao ensino e prtica da profisso.

    Essas inovaes vm ocorrendo paralelamente a mudanas que esto

    sendo exigidas no mercado de trabalho, principalmente no modelo de educao que

    passa a ser entendido como um processo construtivo e requer a colaborao mtua,

    ou seja, de alunos ou pacientes juntamente com enfermeiros (assistenciais ou

    docentes).

    Atualmente, enfermeiros tm se dedicado construo de novas

    metodologias tecnolgicas, que so utilizadas para facilitar a prtica da profisso e

    as aes de assistncia e educao junto aos pacientes. Mostra-se, assim, a

    importncia da criao e utilizao de mtodos tecnolgicos por enfermeiros que

    estejam voltados para a prtica da profisso, por envolverem facilidades ao cuidado.

  • 33

    A enfermagem influenciada pelos dois modelos tecnolgicos da

    Medicina, a clnica e a epidemiologia. Cabe destacar que esses modelos surgiram

    do confronto entre a subjetividade e a coletividade. A subjetividade e a coletividade

    aparecem nos conceitos iniciais, quando h uma separao entre o modelo

    assistencial chamado clnico e o modo operacional chamado epidemiolgico. No

    decorrer dos anos a enfermagem foi considerada uma profisso meramente tcnica

    e subordinada ao conhecimento mdico. Essa imagem tecnificada tornou a

    enfermagem frgil, pois o enfermeiro no valoriza as funes que lhe so

    especficas: o cuidado ao ser humano, a administrao do espao assistencial e a

    educao em sade (NIETSCHE, 2000).

    No Brasil, a Dra. Elvira De Felice Souza, entre outras personalidades,

    introduziu as tcnicas de enfermagem de forma sistematizada e contribuiu para o

    crescimento desse saber pela sua transformao em tecnologias (NIETSCHE,

    2000).

    Como exemplo do uso de tecnologias, evidencia-se o desenvolvimento de

    vrios softwares e outros programas em diversas reas da profisso, o que consiste

    em uma vantagem, pois possibilita o aprofundamento do assunto, contribuindo para

    a prtica profissional e melhorando a qualidade da assistncia. Porm so

    necessrios a divulgao e o aproveitamento dos recursos produzidos por

    enfermeiros, para que tais produes no se limitem ao local de desenvolvimento e

    o uso no fique restrito aos autores (MELO; DAMASCENO, 2006).

    Com o uso da tecnologia h o risco de comprometimento da humanizao

    no hospital, com atitudes mais especializadas, complexas e menos criativas

    (SCHNEIDER; MANSCHEIN; AUSEN; MARTINS; ALBUQUERQUE, 2008). No se

    deve permitir que o olhar da enfermagem seja substitudo por mquinas (VARGAS;

    MEYER, 2005).

    Alm da utilizao das tecnologias nas diversas reas da sade,

    destacam-se seu uso e sua importncia na enfermagem como forma de facilitar as

    prticas assistenciais e de educao em sade nessa profisso. A partir do exposto,

    evidente a importncia da associao de tecnologias ao cuidado ou ao processo

  • 34

    de educao em sade, de forma a se obterem avanos na qualidade da assistncia

    prestada por esses profissionais.

    3.2 O uso das tecnologias na educao em sade e na prtica assistencial

    A utilizao de tecnologias voltadas para a realizao das prticas de

    educao contribui para o cuidado ao paciente ao se considerar que as tecnologias

    devem ser facilitadoras no processo de construo do conhecimento e devem fazer

    parte de um processo pedaggico inclusivo baseado na relao entre pessoas

    (SCHALL; MODENA, 2005). As inovaes possibilitam a mediao do ensino e

    facilitam o processo ensino-aprendizagem, sem, contudo, distanciar ou minimizar a

    relao entre professor e aluno.

    No processo de educao em sade h o desenvolvimento de novas

    tecnologias como um meio efetivo de alcance do profissional sua clientela. A

    tecnologia est presente na vida humana, de maneira concreta, e no somente os

    equipamentos modernos que utilizamos. Sua importncia advm do fato de facilitar o

    cotidiano, ao permitir que tarefas consideradas impossveis possam ser realizadas

    sem grandes esforos (CAETANO; PAGLIUCA, 2006).

    A educao em sade necessria, pois se trata de atividade

    estruturante atravs da qual se articulam populao e sistemas de sade, permitindo

    a capacitao do indivduo e a conquista da cidadania (ROCHA, 2007).

    Percebe-se a importncia do enfermeiro na educao em sade,

    independentemente de sua rea de atuao, contribuindo de forma significativa na

    promoo da sade, mediante alternativas relacionadas ao esclarecimento e

    orientao, dentre outras atividades, com os usurios dos servios de sade.

    fundamental que o enfermeiro desenvolva estratgias de educao em

    sade, pois preciso que ele tenha o entendimento integral a respeito de sade e

    qualidade de vida, valorizando a histria de vida da populao, estimulando a

    autoconfiana, praticando a solidariedade e desenvolvendo atitudes e prticas de

  • 35

    cidadania, expandindo o conhecimento cientfico para cooperar na construo do

    pensamento crtico (MARTINS; ALBUQUERQUE; NASCIMENTO; BARRA; SOUZA;

    PACHECO, 2007).

    Com base na mudana de paradigma do modelo de ateno sade, e

    seguindo os avanos tecnolgicos e educacionais, h a necessidade de os

    enfermeiros buscarem a atualizao no que se refere ao entendimento, ao manuseio

    e criao de mtodos relacionados s vrias tecnologias que so utilizadas nas

    prticas de enfermagem e de sade, bem como nas prticas de educao.

    Sob este olhar, Campos e Cardoso (2008) destacam o fato de que a

    educao, auxiliada pelo uso de tecnologias educativas, no se limita transmisso

    de conhecimentos do enfermeiro para o cliente. A contribuio de tecnologias

    educativas relevante, pois promove sade, previne complicaes, desenvolve

    habilidades e favorece a autonomia e a confiana do paciente (OLIVEIRA;

    FERNADES; SAWADA, 2008).

    Na prtica assistencial o uso da tecnologia exemplificado pela aplicao

    de tecnologias leves, sendo estas aplicaes bem-sucedidas e com resultados

    promissores da tecnologia educacional para as prticas de enfermagem em

    educao em sade.

    Bergold, Alvim e Cabral (2006), realizando estratgias atravs da msica,

    consideram esta como um recurso a ser utilizado pelo enfermeiro no processo

    ensino-aprendizagem em aes educativas no cuidado ao paciente, proporcionando

    um ambiente de relaxamento, estudo e criatividade. A enfermagem um conjunto de

    tecnologias a ser desenvolvida e especializada para a melhoria do cuidado

    (NIETSCHE; BACKES; COLOM; CERATTI; FERRAZ, 2005).

    Rocha, Prado, Wal e Carraro (2008) referem que o cuidado em

    enfermagem e a tecnologia so interligados, pois a prtica da profisso envolve

    princpios, leis e teorias, sendo a tecnologia uma expresso desse conhecimento em

    suas prprias mudanas.

    Marin e Cunha (2006) afirmam que a utilizao da tecnologia para

    muitos profissionais um desafio e, para outros, uma mudana que pode ser utilizada

  • 36

    na prtica e no cuidado. Ainda segundo os autores, os enfermeiros precisam se

    adaptar aos novos modelos de trabalho e de atendimento, de acordo com as

    tendncias do modelo de sade, considerando as caractersticas do paciente.

    Percebe-se a necessidade de profissionais comprometidos com o cuidado

    de construir uma relao com o ser humano, usando opes tecnolgicas para

    enfrentar os problemas de sade (KOERICH; BACKES; SCORTEGAGNA; WALL;

    VERONESE; ZEFERINO; RADUNZ; SANTOS, 2006). o cuidado que direciona a

    tecnologia, e a inovao desta favorece o aprimoramento do cuidado: o cuidado

    utiliza a tecnologia (ROCHA; PRADO; WAL; CARRARO, 2008).

    Alguns autores se empenharam em afirmar a contribuio do uso de

    tecnologias para a atuao da enfermagem. Essa prtica na profisso pode estar

    voltada para o ensino e para a atuao hospitalar ou na comunidade. Podem, ainda,

    ser utilizadas vrias vertentes e abordagens para efetuar prticas de tecnologia na

    enfermagem.

    A utilizao da informtica ou tecnologia semelhante, recente na prtica

    da enfermagem, consiste em um processo que vem se desenvolvendo de maneira

    rpida, exigindo dos profissionais o acompanhamento dessa questo (LOPES;

    ARAJO, 2002). Ainda segundo os autores, a informtica em sade seguiu uma

    evoluo que partiu de reflexes tericas at a busca de aplicaes cada vez mais

    especficas, tornando-se um instrumento de trabalho utilizado para fins diversos.

    Diante do exposto, cabe enfermagem direcionar sua prtica na busca

    contnua de novos saberes, assim como no desenvolvimento de meios facilitadores

    para sua atuao tanto na assistncia como na educao em sade, vislumbrando

    amplitude de sua ao e maior alcance no que se refere aos benefcios direcionados

    sua clientela.

    Mesmo sendo o avano tecnolgico algo que vem sendo incorporado s

    prticas de sade e de enfermagem de maneira cada vez mais rpida, ainda podem

    ser apontados alguns percalos na utilizao da tecnologia. Muitas dificuldades so

    apontadas tanto pelos profissionais que ainda buscam se adaptar a essa nova

    vertente de trabalho quanto por aqueles que se constituem como pblico-alvo dessa

    prtica. A tecnologia pode ser benfica ao tratamento ou dificultar a relao entre

  • 37

    profissional e cliente. Seu uso no significa necessariamente uma assistncia de

    qualidade, podendo ser usada de forma indiscriminada e causar iatrogenia ao

    paciente (BASTOS, 2002).

    Dentre as dificuldades encontradas, pode ser citada a resistncia de

    profissionais em integrar ao seu cotidiano essa nova maneira de executar o trabalho

    (FONSECA; SANTOS, 2007). Outro problema encontrado na utilizao das

    tecnologias relaciona-se pouca divulgao dos trabalhos e de seus resultados.

    Oliveira, Fernandes e Sawada (2008) apontam o acesso limitado das

    tecnologias descobertas e disponveis na rea da sade que ainda no alcanam

    todas as comunidades. O nmero de publicaes brasileiras inferior ao nmero de

    trabalhos que so produzidos, ainda que se leve em conta o aumento ocorrido nos

    ltimos anos.

    Constata-se que os recursos destinados a tais prticas ainda so

    limitados, sendo necessrios investimentos em nmero de profissionais, incentivo

    salarial e suporte estrutural que d importncia ao profissional e ao usurio, e no

    somente questes relacionadas a inovaes tecnolgicas no setor sade (LIMA,

    2003).

    H necessidade de os enfermeiros incorporarem s suas prticas a

    utilizao de recursos tecnolgicos, pois estes se configuram como ferramentas de

    apoio ao seu exerccio profissional.

    3.3 O enfermeiro no processo de educao em sade aos cuidadores

    domiciliares

    Uma das alternativas para assegurar a autonomia e independncia dos

    pacientes a ao educativa, porm infelizmente o modelo assistencial privilegia as

    aes curativas, centradas na ao mdica. Portanto, cuidar e promover a educao

    em sade no domiclio uma das tarefas mais desafiantes para o profissional

  • 38

    enfermeiro, bem como para a equipe multidisciplinar atuante na sade (MARTINS;

    ALBUQUERQUE; NASCIMENTO; BARRA; SOUZA; PACHECO, 2007).

    Segundo Brasil (2009), a educao em sade ganha uma dimenso

    desvinculada da doena e da prescrio de normas quando considerada uma das

    estratgias bsicas para a promoo da sade. Ela definida como um conjunto de

    prticas pedaggicas de carter participativo e emancipatrio que perpassa vrios

    campos de atuao e tem como objetivo sensibilizar, conscientizar e mobilizar para o

    enfrentamento de situaes individuais e coletivas que interferem na qualidade de

    vida. Esses processos so voltados para o empoderamento das pessoas e das

    comunidades, no sentido de ativar o potencial criativo e o desenvolvimento de suas

    capacidades.

    A literatura sobre a temtica educao em sade mostra a importncia de

    os enfermeiros trabalharem esse contedo, visto que mostra a educao em sade

    como necessria, pois se trata de atividade estruturante atravs da qual se articulam

    populao e sistemas de sade, permitindo a capacitao do indivduo e a conquista

    da cidadania.

    O cuidado domiciliar requer a reorganizao dos servios de sade com

    nfase na promoo e educao, identificando as reais necessidades dos

    envolvidos, permitindo tambm a autonomia e a corresponsabilidade, a valorizao

    da subjetividade e a criao de vnculo. A ao educativa em sade um processo

    dinmico que tem como objetivo a capacitao dos indivduos e/ou grupos em busca

    da melhoria das condies de sade da populao ((MARTINS; ALBUQUERQUE;

    NASCIMENTO; BARRA; SOUZA; PACHECO, 2007).

    Diante desses questionamentos enfocamos a importncia do papel dos

    enfermeiros no preparo dos cuidadores domiciliares, tendo como meta esse

    processo desde o incio da hospitalizao, com o acompanhamento ambulatorial de

    seu paciente, pois consequentemente o cuidador ter mais subsdios para a

    promoo de um cuidado adequado e completo ao paciente.

    Nos hospitais, a poltica de incentivo alta dos pacientes o mais cedo

    possvel impe um desafio constante s enfermeiras: preparar pacientes e famlias

    para reorganizarem a vida de seus lares de modo que possam assumir os cuidados

  • 39

    prprios ou de familiares em poucos dias, detectando, prevenindo e controlando

    situaes que possam ocorrer (PERLINI; FARO, 2005).

    Para dar continuidade ao cuidado em casa os cuidadores necessitam

    aprender, ainda durante a hospitalizao, a desenvolver a capacidade de cuidar.

    Isso significa a realizao de um efetivo preparo para a alta hospitalar, quando o

    enfermeiro que esteja verdadeiramente comprometido com esse propsito esclarece

    as possveis dependncias do paciente e os cuidados iniciais que a famlia ter que

    tomar, assumindo com ela uma relao de cooperao e apoio (PERLINI; FARO,

    2005).

    Antes de iniciar a orientao especfica preciso conhecer os padres

    individuais de respostas do paciente e de seu principal cuidador em relao aos

    seus sentimentos, angstias, ansiedades, conflitos e necessidades, estabelecendo

    um vnculo afetivo para, posteriormente, em conjunto, traar estratgias a curto,

    mdio e longo prazos.

    Torna-se urgente a ateno aos cuidadores, pois se no se tratar a famlia

    de forma conjunta teremos dois pacientes (FREITAS; PAULA; SOARES; PARENTE,

    2008).

    3.4 O papel do cuidador domiciliar no contexto da promoo da sade

    Marques (2007) alerta que as unidades hospitalares esto cada vez mais

    vocacionadas para o tratamento de doenas agudas, no havendo lugar para

    internamentos prolongados. Assim, cada vez maior a tendncia de transferir os

    doentes dependentes, ou vtimas de doenas incapacitantes, para o seio de suas

    famlias, que se veem confrontadas com a necessidade de cuidar dos seus

    membros, muitas vezes sem condies econmicas e habitacionais, ou sem

    conhecimentos.

    Neste contexto, encontramos uma nova figura inserida no processo de

    recuperao e reintegrao dos pacientes ao domiclio: os cuidadores domiciliares.

  • 40

    Essas pessoas absorvem atividades relacionadas ao cuidado do paciente aps a

    alta hospitalar, porm muitas vezes se encontram despreparadas para assumir essa

    tarefa, antes executada por profissionais da rea de sade, dentre estes o

    enfermeiro.

    Os cuidadores domiciliares so membros da famlia ou amigos, no

    remunerados, que se assumem como principais responsveis pela organizao,

    assistncia ou prestao de cuidados pessoa dependente (FERNANDES;

    PEREIRA; FERREIRA; MACHADO; MARTINS, 2002). Entretanto, a maioria dos

    cuidadores informais no tem as informaes necessrias assistncia a seus

    familiares (INOUYE; PEDRAZZANI; PAVARINI, 2008).

    As famlias constituem o primeiro recurso do qual se vale a sociedade

    para dar atendimento e acolher os seus membros, principalmente nos casos que

    demandam cuidados prolongados decorrentes de processos mrbidos

    incapacitantes (PAVARINI; MENDIONDO; BARBAM; VAROTO; FILIZOLA, 2005).

    Na realidade brasileira, a existncia de um familiar que se responsabilize pelos

    cuidados ainda muito frequente.

    Ser cuidador demanda tempo, espao, energia, dinheiro, trabalho,

    pacincia, carinho, esforo e boa vontade. O cuidador a principal fonte de apoio

    para o enfrentamento das adversidades. Sendo assim, o estmulo e o fortalecimento

    de parcerias entre cuidadores familiares e profissionais podem minimizar as

    dificuldades vivenciadas (INOUYE; PEDRAZZANI; PAVARINI, 2008).

    A presena do cuidador como importante representante do cuidado leigo

    revela a necessidade de uma melhor articulao dos profissionais de sade,

    contribuindo com o bem-estar da pessoa por ele cuidada. Pode-se entender por

    cuidador leigo aquela pessoa dentro do sistema de cuidado popular que rene um

    conjunto de conhecimentos populares e habilidades culturalmente aprendidas e

    transmitidas para proporcionar aes de assistncia, suporte, capacitao ou

    facilitao para ou por outro indivduo, grupo ou instituio que manifesta ou prev

    uma necessidade, com a finalidade de melhorar as incapacidades e situaes de

    morte (SANTANA; FIGUEIREDO; FERREIRA; ALVIM, 2008).

  • 41

    A capacitao do cuidador amplamente abordada na atualidade e no

    se pode desconsiderar seu mrito, porm o simples suporte para o desempenho

    prtico dessa funo no garante o bem-estar. Todos os esforos sero incompletos

    se no forem criadas oportunidades de resoluo das dificuldades, considerando

    todo o contexto que est por trs da tarefa de cuidar (INOUYE; PEDRAZZANI;

    PAVARINI, 2008).

    O cotidiano da enfermagem, apesar de contar com a estrutura hospitalar,

    constata que os familiares dos pacientes j iniciam sua participao no processo de

    cuidar no hospital, ao que se estender ao domiclio, a partir da alta do paciente,

    quando a famlia passa a assumir a totalidade desses cuidados (SCHOSSLER;

    CROSSETTI, 2008).

    Existe um despreparo do cuidador domiciliar, e este precisa ser

    sensibilizado para o cuidado de si para melhor cuidar do outro. Cuidar de um idoso

    no domiclio uma tarefa rdua, pois o cuidado delegado, geralmente, a uma

    pessoa que no possui apenas essa atividade e acaba conciliando-a com outras

    tarefas, como o cuidado dos filhos, da casa, da atividade profissional, dentre outras

    (SCHOSSLER; CROSSETTI, 2008).

    O cuidador domiciliar deve ser visto como algum que tambm tem

    necessidades que precisam ser satisfeitas e, portanto, deve estar inserido no

    contexto de cuidado quando est comprometido com o outro (SCHOSSLER;

    CROSSETTI, 2008). Destacamos a necessidade de uma viso junto ao cuidador

    como uma pessoa que tambm ir necessitar de assistncia, para que possa

    vivenciar o processo de doena com seu ente sem maiores danos sua sade.

    As condies do paciente podem interferir de modo sombrio no viver do

    cuidador, resultando em sobrecarga e consequente estresse (GONALVES;

    ALVAREZ; SENA; SANTANA; VICENTE, 2006). No processo do cuidar no se deve

    focar a ateno na patologia, mas priorizar a promoo, a manuteno e a

    recuperao da sade (MARTINS; ALBUQUERQUE; NASCIMENTO; BARRA;

    SOUZA; PACHECO, 2007).

  • 42

    3.7 Validao de tecnologias

    Diante do avano tecnolgico, imprescindvel a construo de novas

    tecnologias que possam contribuir para o avano na rea de enfermagem e a

    promoo da sade. No entanto, no adianta construir tecnologias sem a efetivao

    das mesmas mediante um processo de validao de forma a respald-las como

    confiveis e aplicveis no incremento de nossa prtica. Segundo Honrio (2009), as

    mudanas no mundo, em todas as esferas sociais e profissionais, mediante a

    evoluo da tecnologia, despertaram a conscientizao humana na busca da

    qualidade de vida. No setor sade o movimento pela qualidade um fenmeno

    mundial cujo interesse no apenas de sobrevivncia, mas uma questo tica.

    A validade diz se o instrumento mede exatamente o que deve medir.

    Quando vlido, o instrumento reflete verdadeiramente o conceito a ser medido

    (LOBIONDO-WOOD; HABER, 2001). A validade o grau que o instrumento mede o

    que supostamente deve medir. A confiabilidade e a validade de um instrumento no

    so totalmente independentes. Um dispositivo de mensurao que no confivel

    possivelmente no ser vlido. Um instrumento no mede validamente o atributo de

    interesse se for errtico ou inexato (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).

    Os instrumentos que se utilizam do processo de investigao so

    ferramentas fundamentais que proporcionam a informao; por conseguinte, todo

    instrumento deve ser vlido e confivel (PORRAS; MOLINA, 2010).

    Segundo Pasquali (2007), a validade do instrumento diz respeito

    exclusivamente pertinncia do instrumento em relao ao objeto que se quer

    medir, ou seja, a validade diz se algo verdadeiro ou falso.

    Como a confiabilidade, a validade tem inmeros aspectos e abordagens

    investigativas. Um dos aspectos conhecido como validade aparente, que se refere

    ao fato de o instrumento parecer medir o constructo apropriado. No entanto, trs

    outros aspectos so de maior importncia na investigao de um instrumento:

    validade de contedo (preocupa-se com a adequao da cobertura da rea de

    contedo que medida), validade relacionada ao critrio (o pesquisador procura

  • 43

    estabelecer uma relao entre os escores em um instrumento e algum critrio

    externo), e validade do constructo (so explicados em termos de outros conceitos; o

    pesquisador faz previses sobre o funcionamento de um constructo em relao aos

    outros constructos) (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).

    Parra e Bayer (2010) recomendam que o processo de validao de um

    instrumento seja contnuo, principalmente quando se pretende utiliz-lo em outras

    populaes com a finalidade de detectar aspectos lingusticos que possam afetar a

    aceitao do material construdo.

    A determinao da validade facilitada quando mltiplas medidas so

    empregadas para responder a uma dada questo da pesquisa. A convergncia dos

    resultados obtidos, quando so usadas variadas tcnicas, possibilita o aumento da

    confiabilidade e validade dos achados do estudo e sua utilizao na prtica

    (OLIVEIRA; FERNANDES; SAWADA, 2008).

    O processo de avaliao de uma tecnologia deve cumprir os princpios

    da validade, preciso, equivalncia, consistncia interna e confiabilidade, sendo

    capaz de revelar de forma demonstrvel e controlvel se as valoraes e juzos

    so verdadeiros (HONRIO, 2009).

    Para determinar a validade das medidas necessria a realizao de

    pesquisa emprica que, segundo Wynd, Schimidt e Schaefer (2003), baseada em

    um exame sistemtico de abstraes conceituais, por meio de um processo de

    observao e mensurao de respostas, com o objetivo de identificar e explicar o

    fenmeno de interesse.

    Na validao os critrios fundamentais so a confiabilidade e a validade do

    instrumento de medida. A primeira verifica a consistncia do instrumento que mede o

    atributo do objeto estudado. A segunda se divide em trs aspectos: validade de

    contedo, validade de critrios e validade de constructo. (PERROCA; GAIDZINSKI,

    2003).

    A partir do exposto, pode-se concluir que o processo de validao de um

    instrumento uma etapa fundamental antes de sua utilizao, em razo de possibilitar a

  • 44

    verificao da qualidade dos dados, bem como a sua aplicao a uma populao

    especfica.

  • 45

    Metodologia

  • 46

    4. METODOLOGIA

    4.1 Tipo e natureza do estudo

    Este estudo trata da validao de uma tecnologia, constituindo-se em

    uma pesquisa do tipo desenvolvimento. Essa estratgia de pesquisa utiliza

    sistematicamente os conhecimentos existentes, objetivando elaborar uma nova

    interveno ou melhorar uma interveno existente ou, ainda, elaborar ou aprimorar

    um instrumento, um dispositivo ou um mtodo de medio (POLIT; BECK e

    HUNGLER, 2004). Para Polit, Beck e Hungler (2004), um mtodo de obteno,

    organizao e anlise dos dados, tratando da elaborao, validao e avaliao dos

    instrumentos e tcnicas de pesquisa.

    A proposta deste estudo compreende a construo, a validao e a

    implementao de uma tecnologia para cuidadores de pessoas com mobilidade

    fsica prejudicada, tendo como base uma abordagem voltada para os cuidados

    preventivos, includas a promoo e a manuteno da sade. Durante o

    desenvolvimento deste estudo optou-se por seguir trs fases: na primeira foi

    construdo o Manual de Orientaes aos cuidadores domiciliares de clientes com

    dficits na mobilidade fsica; na segunda fase realizou-se a validao de contedo e,

    por fim, a testagem mediante aplicao do manual a cuidadores.

    Behar, Passerino e Bernardi (2007) recomendam que a fase de

    construo de objeto educacional deve ser implementada de forma cclica, ou seja,

    perfazendo o caminho de construo, teste e validao.

  • 47

    4.2 Cenrio

    O campo de coleta dos dados foi um hospital de emergncias, situado na

    Regio Metropolitana de Fortaleza-CE-Brasil. Essa instituio possui estrutura fsica

    moderna, do tipo vertical, com oito andares. ponto de referncia para o

    atendimento de clientela em situao de emergncia e trauma, da Capital e de todos

    os municpios do Estado do Cear, mas tambm recebe clientes de outros estados

    do Nordeste. Comporta 407 leitos, no entanto excede sempre a sua capacidade.

    Esses leitos destinam-se s mais diversificadas especialidades, com exceo de

    obstetrcia. uma instituio com equipe de Enfermagem composta por enfermeiros,

    tcnicos de Enfermagem e auxiliares de Enfermagem.

    Por que a escolha recaiu nessa instituio?

    Primeiramente por atuar nessa instituio h dezessete anos, e estar

    sensvel s dificuldades apresentadas pelos familiares dos pacientes internos no que

    se refere aos cuidados de seus pacientes aps a alta hospitalar, e por essa

    instituio dispor de recursos humanos e fsicos necessrios a um atendimento

    adequado aos clientes com distrbios neurolgicos. A clnica neurolgica,

    panorama para o desenvolvimento desta pesquisa, pode ser contextualizada em trs

    aspectos: a estrutura fsica, os recursos humanos e o fluxo operacional.

    Estrutura Fsica:

    As clnicas neurolgicas denominadas, tambm, de Unidades 16, 20 e 22,

    esto localizadas no 2 e 6 andares do hospital, comportando, cada qual, em

    mdia, trinta leitos para internao de pacientes neurolgicos portadores de traumas

    cranioenceflico, raquimedular e aqueles acometidos por outras ocorrncias do tipo

    ataque vascular enceflico, hidrocefalia, tumores cerebrais e hrnias de disco,

    dentre outros problemas que podem desenvolver alteraes neurolgicas.

    Essas unidades de internao compreendem: posto de Enfermagem, sala

    para preparo de materiais e medicamentos, rouparia, copa para distribuio dos

  • 48

    alimentos e um local de repouso para a equipe de Enfermagem, com espao exguo,

    mobilirios prprios, como uma beliche, geladeira e televisor.

    So unidades que durante o perodo letivo quase diariamente recebem

    alunos do curso de graduao em Enfermagem de quatro universidades, alm de

    alunos dos cursos de Fisioterapia, Terapia Ocupacional e Medicina. Concentram,

    sobretudo no perodo da manh, intenso movimento de diversificado contingente de

    profissionais e alunos nas reas de trabalho comum, bem como nos seus espaos

    fronteirios.

    Quanto ao ambiente das enfermarias, cada leito possui sistema de

    oxignio e vcuo centralizado, mesa-armrio com duas gavetas destinadas guarda

    dos objetos de uso pessoal do paciente e do seu acompanhante e uma cadeira para

    repouso do acompanhante. As enfermarias dispem, ainda, de banheiro anexo.

    Recursos Humanos:

    Nas clnicas neurolgicas so lotados, por turnos nas 24 horas, os

    seguintes profissionais: enfermeiras, auxiliares de Enfermagem, mdicos

    neurocirurgies, mdicos clnicos, fisioterapeuta; nutricionista; assistente social e

    pessoal de apoio, como secretria, maqueiro e copeiro.

    Fluxo Operacional:

    permitida a permanncia de um acompanhante por paciente, que pode

    ser um familiar ou pessoa importante das relaes deste, obedecendo um sistema

    de revezamento de 12 em 12 horas, tendo o direito a trs refeies principais,

    realizadas no refeitrio do hospital, em horrio pr-estabelecido. A ele dado, pelo

    Servio Social, uma autorizao de permanncia que renovada de acordo com a

    necessidade do paciente em termos de situao de dependncia.

    Impe lembrar que tambm da responsabilidade das enfermeiras a

    funo de efetuar os diversos pedidos de marcao de exames, encaminhamentos

  • 49

    de pacientes aos outros profissionais, ao centro cirrgico e para a realizao de

    exames, alm das transferncias de doentes. Afora essas tarefas, so tambm

    atribudas as atividades de passagem de planto, leito a leito, acompanhamento

    visita mdica, solicitao de material de consumo e aprazamento das prescries

    mdicas. Cada auxiliar de Enfermagem formalmente responsvel por uma

    enfermaria. Compete, portanto, enfermeira a respectiva vigilncia da assistncia

    por eles prestada.

    Considera-se importante tecer comentrio acerca da unidade de

    internao, por se entender que o ambiente e as condies de trabalho tm relao

    com o cuidado do paciente, assunto que ser tratado mais adiante.

    4.3 Populao e amostra

    No segundo momento deste estudo a populao-alvo foram os

    profissionais na rea de enfermagem, especialistas, mestres e doutores que se

    adequassem aos critrios de Fehring (1994) para avaliao do Manual de

    Orientao. No terceiro, foram os cuidadores de clientes internados na instituio

    que apresentavam mobilidade fsica prejudicada com dependncia total ou parcial

    de cuidados de enfermagem. A seleo dos juzes e dos cuidadores se constituiu

    com base em critrios de incluso e excluso.

    A incluso dos juzes versou sobre os aspectos: 1) titulao de Doutor ou

    Mestre; 2) ser graduado ou especialista em enfermagem; 3) estar atuando ou j ter

    atuado na rea de ensino; 4) ter trabalhos publicados relacionados a Neurologia,

    educao em sade ou construo de tecnologias; 5) estar atuando ou j ter atuado

    na rea de reabilitao. Foram excludos os juzes que solicitassem ajuda de custo;

    que permanecessem por mais de um ms sem devolver a anlise do estudo ou sem

    comunicao com a pesquisadora.

    Quanto ao nmero ideal de juzes para o processo de validao de

    contedo, a literatura diversificada. Dentre esta destacamos: Bertoncello (2004) e

    Pasquali (1998), que apontam que o nmero de juzes deve ser seis. Entretanto,

  • 50

    outros como Rubio, Berg-Weger, Tebb, Lee e Rauch (2003) recomendam de seis a

    vinte juzes; Lynn (1986) e Westmoreland, Wesorick, Hanson e Wyngarden (2000)

    afirmam que o nmero ir depender da acessibilidade e disponibilidade por parte

    dos experts. Lynn (1986) recomenda um nmero mnimo de cinco e mximo de dez,

    enquanto Lynn (1986) e Bojo, Hall-Lord, Axelsson, Udn e Wilde (2004) ressaltam

    que quanto maior o nmero de experts, maior a chance de discordncia e que, caso

    o painel de experts seja inferior a trs, h a necessidade da concordncia total

    (100%) dos juzes sobre os itens.

    No estudo em questo optamos pela recomendao de Bertoncello

    (2004) e Pasquali (1998), e assim foi determinado o nmero de sete juzes para

    avaliar o Manual de Orientao. Desta forma, ainda que houvesse alguma

    desistncia seria mantido um nmero adequado para avaliao do contedo.

    Foram considerados experts no material a ser validado aqueles que

    obtiveram o mnimo de cinco pontos, tendo como parmetro critrios adaptados da

    proposta de Fehring (1994).

    Quadro 1 Critrios para seleo dos experts para validao de contedo do Manual Mobilidade Fsica: orientaes para o cuidado no domiclio. Fortaleza, 2010.

    Critrios Pontos

    Ser graduado ou especialista em enfermagem 1

    Ser mestre em enfermagem 1

    Ser doutor em enfermagem 2

    Ter atuado na rea de reabilitao 1

    Ter experincia na rea de ensino 1

    Ter produo cientfica relacionada a educao em sade 1

    Ter produo cientfica relacionada ao desenvolvimento de tecnologias

    1

    Fehring (1994) recomenda que um enfermeiro, para ser considerado

    perito, deve ter no mnimo o ttulo de Mestre em Enfermagem com uma rea definida

    de experincia clnica, porm ressalta que a titulao de Mestre deve ser necessria,

  • 51

    mas no suficiente, recomendando que o perito tambm tenha um conhecimento

    especializado sobre o assunto em estudo, demonstrado em pesquisas apresentadas

    e publicadas, artigos cientficos, prtica clnica e especializao no assunto em

    estudo.

    No terceiro momento a populao-alvo foram os cuidadores de pacientes

    internos na instituio, e como amostra foram selecionados os cuidadores de

    pacientes com dficits na mobilidade fsica que estivessem internos no perodo da

    coleta de dados. Foram includos como participantes no estudo os cuidadores de

    clientes que atendessem aos seguintes critrios: 1) ser familiar ou pessoa importante

    nas relaes com o paciente com mobilidade fsica prejudicada; 2) ser o cuidador

    domiciliar aps a alta hospitalar; 3) acompanhar regularmente o cliente durante o

    perodo de internao hospitalar; 4) ter mais de 18 anos. Foram excludos os

    cuidadores de clientes internos em Unidade de Terapia Intensiva, pela instabilidade

    clnica dos mesmos e, consequentemente, pela instabilidade emocional do cuidador

    perante a incerteza do prognstico.

    Diante dos critrios estabelecidos participaram deste estudo sete juzas e

    30 cuidadores.

    4.4 Percurso metodolgico

    - Construo do Manual de Orientaes

    A elaborao do Manual de Orientao foi executada na primeira etapa

    do estudo, sendo este momento o que mais dispensou tempo, visto que sua

    construo foi norteada por etapas distintas desde a realizao de estudos

    preliminares, seleo do tema, reviso de literatura, criao da histria at o contato

    com o editor de arte e a confeco do Manual.

    Buscou-se nessa etapa no apenas a construo de mais um material

    educativo a ser entregue na alta hospitalar aos pacientes e seus acompanhantes,

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    mas um manual que pudesse ser aplicado desde o incio da hospitalizao e que

    contribusse no processo de recuperao e reintegrao do indivduo ao seu meio.

    Neste sentido a elaborao teve como foco um material que permitisse

    uma fcil compreenso dos leitores, mesmo que estes tivessem pouca ou nenhuma

    escolaridade. Partindo desse pensamento o manual foi confeccionado em forma de

    histria com dilogos e ilustraes que facilitassem a compreenso dos

    ensinamentos at mesmo de quem tivesse dificuldade na leitura.

    Figura 1- Fluxo do processo de construo do Manual de Orientaes para o Cuidado no Domiclio. - Anlise de contedo do Manual Validao por juzas

    De posse do Manual de Orientao, o mesmo foi encaminhado aos juzes

    especialistas na rea de interesse do estudo. Alguns estudos tm demonstrado a

    importncia de se utilizar nmeros mpares para evitar questionamentos duvidosos

    (SAWADA, 1990; LOPES, 2004).

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    Para participar dessa anlise os juzes devem ser peritos na rea da

    tecnologia construda, pois sua tarefa consiste em ajuizar se os itens avaliados esto

    se referindo ou no ao propsito do instrumento em questo. Perroca e Gaidzinski

    (1998), ao estabelecerem ndice de concordncia para as respostas obtidas no

    proceso de validao, consideram como validados os indicadores que obtiverem

    ndice de concordncia nas respostas dos juzes maior ou igual a 70%.

    fundamental entender o significado da palavra perito ou expert. Quanto

    mais ttulos, quanto mais pesquisas realizadas e/ou quanto maior for a experincia

    clnica do profissional em uma determinada rea, mais qualificado ele ser para

    atuar como perito (HONRIO; CAETANO, 2009).

    A inexistncia de uniformidade nos critrios para se considerar um sujeito

    como juiz tem sido foco de preocupao de vrios autores, ensejando

    questionamentos e sugestes sobre o perfil de um perito, tais como: nmero de anos

    de experincia clnica; tempo de graduao; titulao; experincia com pesquisa e

    em publicaes sobre o tema estudado; e local de atuao (FEHRING, 1994;

    OCONNELL, 1995).

    Aps seleo de sete juzes, mediante anlise do curriculum lattes para

    confirmao do preenchimento dos critrios de incluso, eles foram contatados para

    indagao sobre a participao no presente estudo. Aps aceitarem, foram

    encaminhados o Manual de Orientao (Apndice F), juntamente com a carta-

    convite para os juzes especialistas (Apndice A); os esclarecimentos aos juzes

    acerca do Manual de Orientao (Apndice B); e os instrumentos de avaliao dos

    juzes especialistas (Apndice D).

    Foi estabelecido o prazo de trinta dias para a devoluo do material

    encaminhado, que foi respeitado por todos os juzes participantes. De posse das

    avaliaes, foram