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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS ANA CARLA LIMA NUNES ESTUDO DO EFEITO NEUROPROTETOR DA BERBERINA SOBRE O DANO NEURONAL, COMPORTAMENTO MOTOR E MEMÓRIA DE RATOS COM DEGENERAÇÃO NIGRO-ESTRIATAL POR 6-OHDA FORTALEZA 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE MEDICINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS

ANA CARLA LIMA NUNES

ESTUDO DO EFEITO NEUROPROTETOR DA BERBERINA SOBRE O DANO

NEURONAL, COMPORTAMENTO MOTOR E MEMÓRIA DE RATOS COM

DEGENERAÇÃO NIGRO-ESTRIATAL POR 6-OHDA

FORTALEZA

2015

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ANA CARLA LIMA NUNES

ESTUDO DO EFEITO NEUROPROTETOR DA BERBERINA SOBRE O DANO

NEURONAL, COMPORTAMENTO MOTOR E MEMÓRIA DE RATOS COM

DEGENERAÇÃO NIGRO-ESTRIATAL POR 6-OHDA

Estudo apresentado para defesa da

tese de doutorado do Programa de Pós-

Graduação em Ciências Médicas.

Orientadora: Profa. Dra. Geanne Matos

de Andrade

FORTALEZA

2015

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências da Saúde

N923e Nunes, Ana Carla Lima.

Estudo do efeito neuroprotetor da berberina sobre o dano neuronal, comportamento motor e

memória de ratos com degeneração nigro-estriatal por 6-OHDA/ Ana Carla Lima Nunes. – 2015.

124 f. : il.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Ceará. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-

graduação em Ciências Médicas, Fortaleza, 2015.

Área de concentração: Doenças crônico-degenerativas.

Orientação: Profa. Dra. Geanne Matos de Andrade.

1. Berberina. 2. Oxidopamina. 3. Doença de Parkinson. 4. Memória. I. Título.

CDD 616.833

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo cuidado com que ele me carrega em Seus braços e pela Sua

presença constante em minha vida.

Aos meus pais, Maria do Carmo e Valter, pelo amor, exemplo e apoio durante

toda esta trajetória de vida e estudos, me ensinando o valor do que realmente importa e

a persistência da luta por meus objetivos.

Ao meu amor, Airton, pelo companheirismo e paciência, me dando força em

momentos decisivos e me ensinando a olhar as situações sempre pelo lado positivo.

Às minhas irmãs, cunhados e sobrinho, Tarcia, Kilmer, Tercia, Alexandre e Isaac,

pelo apoio e pela prazerosa convivência.

A minha orientadora, professora Geanne, pelo aprendizado nesses quase 5 anos

de convivência. Neste período pude aprender não somente neurociência, mas também

conhecimentos sobre a vida docente e sobre gerenciamento de grupo coeso. Obrigada!

Aos membros do Laboratório de Eletrofisiologia do Centro de Neurociências e

Biologia Celular da Universidade de Coimbra, especialmente professor Rodrigo Cunha,

Paula Canas e Francisco Queiroz, pelo tempo e paciência dedicados e pela

oportunidade de aprender e praticar a neurociência.

A banca examinadora de defesa de tese, professora Glauce Viana e professores

Reinaldo Oriá, Marco Aurélio Freire e Antônio Carlos Oliveira, por aceitar contribuir para

o enriquecimento deste trabalho.

A banca examinadora de qualificação deste trabalho, professoras Kátia Virgínia e

Carolina Melo, pelas valiosas contribuições.

A todos os membros no Laboratório de Neurociências e Comportamento,

técnicos, alunos de iniciação científica, mestrandos, doutorandos e pós-doutoranda,

pela colaboração, ensinamentos, auxílio, convivência, troca de ideias, sugestões e

amizade. Com certeza este é um trabalho de equipe.

Aos professores do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Ceará,

especialmente a coordenação representada pelas professoras Fabiane Elpídio e Kátia

Virgínia, e aos professores que compõem o gabinete 04, pelo apoio, colaboração e

amizade.

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Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal

do Ceará, especialmente a atual coordenadora professora Flávia Santos e as

secretárias, Ivone e Rita, pela cooperação e constante zelo pelos alunos, mostrando

sempre resolutividade.

A CAPES e ao Instituto Michael J. Fox pelo apoio financeiro em parte deste

trabalho.

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“Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado,

mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que

ficaram para trás e avançando para as que estão

adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio

do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus”

Filipenses 3:13-14

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RESUMO

A doença de Parkinson é a segunda condição neurodegenerativa mais prevalente no mundo. Para aumentar o conhecimento sobre a etiopatogenia de doenças neurodegenerativas e avaliar a eficácia dos potenciais tratamentos, uma série de modelos animais está sendo usada atualmente. A 6-hidroxidopamina (6-OHDA) é uma das neurotoxinas mais comumente usadas experimentalmente no modelo de degeneração nigro-estriatal. A berberina é o alcalóide mais abundante isolado da Berberis sp, com ações anti-inflamatória, antidepressiva e neuroprotetora comprovadas. Este trabalho teve como objetivo estudar o efeito neuroprotetor da berberina sobre o dano neuronal, comportamento motor e a memória de ratos com lesão por 6-OHDA. Ratos Wistar, 180-250g, foram separados em quatro grupos: Controle (Ctr), Berberina (BBR), 6-OHDA e 6-OHDA+BBR. Todos os animais foram tratados com água ou berberina (diluída na água de beber), nas doses de 25, 50 e 100 mg/kg. O tratamento foi realizado 15 dias antes e 19 dias após a cirurgia estereotáxica para injeção da 6-OHDA (18µg/3µL- em ácido ascórbico 0,02%) ou veículo. Na segunda fase do experimento, os animais foram tratados com berberina 50mg/kg em 3 protocolos de administração: P1 (durante 21 dias antes da cirurgia estereotáxica), P2 (durante 15 dias antes e 19 dias depois da cirurgia) e P3 (do 7º ao 28º dia após a cirurgia). Nos quatro últimos dias de cada fase, os animais foram submetidos a testes de comportamento: apomorfina, campo aberto, cilindro, vibrissa, labirinto em y, esquiva passiva, labirinto aquático sinalizado. Foi realizada técnica imunohistoquímica para tirosina hidroxilase (TH) e imunofluorescência para transportador de dopamina (DAT) e registrada a quantificação de dopamina (DA), DOPAC e HVA, além da expressão de NR1 e citocromo c. Os resultados foram analisados pelo GraphPad Prism 6.0. Na fase 01, o tratamento com berberina reduziu as rotações contralaterais no teste da apomorfina, nas doses de 25, 50 e 100mg/kg (p<0,0001), assim como aumentou a quantidade de toques de ambas as patas no teste do cilindro (p<0,05). Animais tratados nas doses de 25 e 50mg/kg apresentaram aumento no tempo de latência na esquiva passiva, agindo sobre a memória recente (p<0,05) e tardia (p<0,0001). No labirinto aquático sinalizado, a berberina na dose de 50mg/kg reduziu o tempo para achar a plataforma nos quatro dias de teste, e protegeu contra a degeneração dopaminérgica, promovendo um aumento da DA, DOPAC e HVA no estriado ipsilateral e mesencéfalo (p<0,05). Na segunda fase do estudo, o efeito da berberina em reduzir as rotações contralaterais foi confirmado nos três protocolos de administração. Nos protocolos 1 e 2, a berberina aumentou a quantidade de toques de ambas as patas no teste do cilindro (p<0,05) e o déficit sensório motor no teste da vibrissa (p<0,01), como também promoveu um aumento da DA no estriado ipsilateral e mesencéfalo. O tratamento com berberina protegeu os neurônios estriatais da degeneração observado pela maior imunorreatividade a TH (p<0,05), reduziu a expressão do NR1 no estriado ipsilateral (p<0,05) e mesencéfalo (p<0,01), além da redução da expressão do citocromo c (p<0,001) e aumento da imunofluorescência ao DAT no estriado. Dessa forma, a berberina apresenta potencial neuroprotetor contra o dano neuronal induzido pela 6-OHDA, prevenindo alterações motoras e de memória desses animais. Acredita-se que

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sua ação sobre a expressão de NR1, citocromo c e DAT podem participar desse mecanismo.

Palavras-chave: Berberina; 6-OHDA; Doença de Parkinson; Memória, Neuroproteção.

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ABSTRACT

Parkinson's disease is the second most prevalent neurodegenerative condition in the world. To increase knowledge about the pathogenesis of neurodegenerative diseases and assess the effectiveness of potential treatments, animal models are currently being used. 6-hydroxydopamine (6-OHDA) is the neurotoxin most commonly used experimentally in the nigrostriatal degeneration model. The berberine is the alkaloid isolated from Berberis sp, with anti-inflammatory, antidepressant and neuroprotective actions. This work aimed to study the neuroprotective effect of berberine on neuronal damage, motor behavior and memory of rats with injury by 6-OHDA. Wistar rats (180-250g) were divided into four groups: control (Ctr), berberine (BBR), 6-OHDA and 6-OHDA + BBR. All animals were treated with berberine and water (in drinking water), at doses of 25, 50 and 100 mg/kg. The treatment was performed 15 days before and 19 days after stereotactic surgery to 6-OHDA injection (18μg / 3μL- 0.02% ascorbic acid) or vehicle. In the second phase of the experiment, the animals were treated with berberine 50 mg/kg in 3 protocols of administration: P1 (for 21 days before to stereotactic surgery), P2 (for 15 days before and 19 days after surgery) and P3 (since 7th to 28th day after surgery). In the last four days, the animals were subjected to behavioral tests: apomorphine, open field, cylinder, vibrissa, y-maze, passive avoidance and cued water maze. Immunohistochemistry was performed for tyrosine hydroxylase (TH) and immunofluorescence for dopamine transporter (DAT) and recorded quantification of dopamine (DA), DOPAC and HVA, beyond NR1 and cytochrome c expression. Data were analyzed by GraphPad Prism 6.0. In step 01, the treatment with berberine reduced the number of contralateral rotations in the apomorphine test at the doses of 25, 50 and 100mg/kg (p<0.0001) and increased the motor performance of forepaws in the cylinder test (p<0.05). Animals treated at doses of 25 and 50mg/kg showed an increase in latency in the passive avoidance acting on the recent (p<0.05) and late memory (p <0.0001). In cued water maze, berberine (50 mg/kg) reduced the time to find the platform on all days of test, and protected against dopaminergic degeneration, promoting an increase in DA, DOPAC and HVA in the ipsilateral striatum and mesencephalon (p < 0.05). In the second phase of the study, the effect of berberine to reduce contralateral rotations was confirmed in all administration protocols. In the protocols 1 and 2, berberine increased the performance of both forepaws in the cylinder test (p <0.05) and in the test of vibrissae (p<0.01), but also promoted an increase DA in the ipsilateral striatum and mesencephalon. The treatment with berberine protected the neurons against striatal degeneration observed for TH immunoreactivity increased (p <0.05), reduced NR1 expression in the striatum ipsilateral (p <0.05) and midbrain (p <0.01), reduced expression of cytochrome c (p<0.001) and increase in the DAT immunofluorescence in the striatum. Berberine has the potential neuroprotective against neuronal damage induced by 6-OHDA, preventing motor and memory deficits. It is believed that its effect on the expression of NR1, cytochrome c and DAT can be participating in this mechanism. Keywords: Berberine; 6-OHDA; Parkinson's disease; Memory, Neuroprotection.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Desenho esquemático do modelo clássico dos gânglios da base. 21

Figura 02 Resumo esquemático dos mecanismos e interações

etiopatogênicas nas células dopaminérgicos.

22

Figura 03 Mecanismo hipotético de toxicidade 6-OHDA. 30

Figura 04 Demonstração das apresentações da berberina. 32

Figura 05 Figura esquemática representativa das 3 coordenadas

estereotáxicas para injeção intracraniana de 6-OHDA no corpo

estriado.

38

Figura 06 Grupos experimentais da primeira fase do estudo. 39

Figura 07 Desenho experimental da fase 1 do estudo. 40

Figura 08 Desenho experimental da fase 2 do estudo: protocolos 1 (Pré-

tratamento), 2 (Pré e pós-tratamento) e 3 (Pós-tratamento).

41

Figura 09 Diagrama da via nigro-estriatal e resposta rotacional produzida

pela apomorfina.

42

Figura 10 Desenho demonstrativo da arena do campo aberto contendo os

quatro quadrantes.

43

Figura 11 Fotografia da execução do teste do cilindro, com o rato

realizando o rearing e apoiando as patas dianteiras na parede do

cilindro.

44

Figura 12 Fotografia da execução do teste da vibrissa, na qual o

pesquisador esfrega a vibrissa do rato sobre uma superfície e o

animal movimenta a pata dianteira em reação de proteção.

45

Figura 13 Fotografia do equipamento de esquiva passiva, constando de um

compartimento claro e um escuro.

46

Figura 14 Fotografia do equipamento de labirinto em Y, constando de 3

braços para escolha do animal. Fonte: arquivo pessoal.

47

Figura 15 Fotografia da piscina do labirinto aquático sinalizado. 48

Figura 16 Figura representativa do cromatograma padrão. 51

Figura 17 Efeito da berberina no número de rotações contralaterais 55

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induzidas pela apomorfina, em ratos com lesão unilateral pela 6-

OHDA (Fase 1).

Figura 18 Efeito da berberina no número de crossings e rearings

observados no teste do campo aberto, em ratos com lesão

unilateral pela 6-OHDA (Fase 1).

55

Figura 19 Efeito da berberina na motricidade das patas dianteiras

(ipsilateral, contralateral e ambas), observado no teste do

cilindro, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Fase 1).

56

Figura 20 Efeito da berberina sobre o déficit sensório motor, observado no

teste da vibrissa, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA

(Fase 1).

57

Figura 21 Efeito da berberina sobre a memória recente (MR) e a memória

tardia (MT), observado no teste da esquiva passiva, em ratos

com lesão unilateral pela 6-OHDA (Fase 1).

58

Figura 22 Efeito da berberina sobre a memória de procedimento, observada

no teste do labirinto em Y, em ratos com lesão unilateral pela 6-

OHDA (Fase 1).

59

Figura 23 Efeito da berberina sobre a memória dependente de estriado,

observada no teste do labirinto aquático sinalizado (cued), em

ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Fase 1).

60

Figura 24 Efeito da berberina sobre a dosagem de dopamina (DA), por

HPLC, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Fase 1).

61

Figura 25 Efeito da berberina sobre a dosagem de DOPAC, por HPLC, em

ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Fase 1).

62

Figura 26 Efeito da berberina sobre a dosagem de HVA, por HPLC, em

ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Fase 1).

63

Figura 27 Efeito da berberina no número de rotações contralaterais

induzidas pela apomorfina, em ratos com lesão unilateral pela 6-

OHDA (Fase 2).

65

Figura 28 Efeito da berberina no número de crossings e rearings

observados no teste do campo aberto, em ratos com lesão

67

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unilateral pela 6-OHDA (Fase 2).

Figura 29 Efeito da berberina na motricidade das patas dianteiras

(ipsilateral, contralateral e ambas), observado no teste do

cilindro, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Fase 2).

69

Figura 30 Efeito da berberina sobre o déficit sensório motor, observado no

teste da vibrissa, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA

(Fase 2).

70

Figura 31 Efeito da berberina sobre a memória recente (MR) e a memória

tardia (MT), observado no teste da esquiva passiva, em ratos

com lesão unilateral pela 6-OHDA (Fase 2).

71

Figura 32 Efeito da berberina sobre a memória de procedimento, observada

no teste do labirinto em Y, em ratos com lesão unilateral pela 6-

OHDA (Fase 2).

72

Figura 33 Efeito da berberina sobre a concentração de dopamina (DA), por

HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-

OHDA. A) Estriado ipsilateral (pré-tratamento), B) Estriado

ipsilateral (pré e pós-tratamento), C) Estriado ipsilateral (pós-

tratamento).

73

Figura 34 Efeito da berberina sobre a dosagem de dopamina (DA), por

HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-

OHDA. A) Estriado contralateral (pré-tratamento), B) Estriado

contralateral (pré e pós-tratamento), C) Estriado contralateral

(pós-tratamento).

74

Figura 35 Efeito da berberina sobre a dosagem de dopamina (DA), por

HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-

OHDA. A) Mesencéfalo (pré-tratamento), B) Mesencéfalo (pré e

pós-tratamento), C) Mesencéfalo (pós-tratamento).

75

Figura 36 Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH no corpo

estriado de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Pré-

tratamento).

77

Figura 37 Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH na SN de 78

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ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Pré-tratamento).

Figura 38 Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH no corpo

estriado de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Pré e pós-

tratamento).

80

Figura 39 Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH na SN de

ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Pré e pós-tratamento).

81

Figura 40 Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH no corpo

estriado de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Pós-

tratamento).

83

Figura 41 Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH na SN de

ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA (Pós-tratamento).

84

Figura 42 Efeito da berberina sobre a expressão de NR1 e α-Tubulina, por

Western Blotting, em proteínas totais e sinaptossomas do corpo

estriado de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA.

87

Figura 43 Efeito da berberina sobre a expressão de NR1 e α-Tubulina, por

Western Blotting, em proteínas totais e sinaptossomas do

mesencéfalo de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA.

89

Figura 44 Efeito da berberina sobre a expressão de citocromo c e α-

Tubulina, por Western Blotting, em proteínas totais do

mesencéfalo de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA.

90

Figura 45 Efeito da berberina sobre a imunofluorescência para DAT –

Fotomicrografia do estriado contralateral e ipsilateral lesão por 6-

OHDA.

92

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15

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Coordenadas estereotáxicas para injeção de 6-OHDA intra-

estriatal

38

Tabela 02 Efeito das doses da berberina sobre o comportamento motor e

rotacional, memória e dosagem de monoaminas.

64

Tabela 03 Efeito dos protocolos de administração da berberina (P1, P2 e

P3) sobre o comportamento motor e rotacional, memória,

dosagem de DA e Imurreatividade a TH.

85

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16

SUMÁRIO

1 Introdução 17

1.1 Doença de Parkinson 17

1.1.1 Características Clínicas e Epidemiológicas 17

1.1.2 Etiologia e Fisiopatologia da Doença de Parkinson 20

1.1.3 Tratamentos para a Doença de Parkinson 25

1.2 Modelos Experimentais de Parkinsonismo 27

1.2.1 Neurotoxidade da 6-hidroxidopamina (6-OHDA) 28

1.3 Berberina 31

2 Objetivos 36

2.1 Objetivo Geral 36

2.2 Objetivos Específicos 36

3 Materiais e Métodos 37

3.1 Drogas 37

3.2 Animais 37

3.3 Cirurgia Estereotáxica 37

3.4 Protocolo Experimental 39

3.4.1 Fase 1 39

3.4.2 Fase 2 40

3.5 Testes de Comportamento 42

3.5.1 Avaliação do Comportamento Motor 42

3.5.2 Testes de Memória 45

3.6 Análise Histopatológica 48

3.6.1 Imunohistoquímica para TH e DAT 49

3.7 Preparação e análise de Tecido 50

3.7.1 Dosagem de DA, DOPAC e HVA 50

3.7.2 Análise da expressão da subunidade NR1 do receptor NMDA e citocromo

c através de Western Blot 51

3.8 Análise Estatística 52

4 Resultados 54

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17

4.1 Fase 1 54

4.2 Fase 2 64

5 Discussão 93

5.1 Comportamento Rotacional, Degeneração Dopaminérgica e Berberina 93

5.2 Comportamento Sensório-Motor, Memória e Berberina 98

5.3 Mecanismos de Ação da Berberina na Célula Dopaminérgica 103

6 Conclusão 109

Referências Bibliográficas 110

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18

1 INTRODUÇÃO

1.1 A DOENÇA DE PARKINSON

1.1.1 Características Clínicas e Epidemiológicas

A Doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais

prevalente no mundo, perdendo apenas para a Doença de Alzheimer. Embora a sua

causa permaneça desconhecida, acredita-se que esta doença origina-se da interação

entre fatores genéticos e ambientais que levam a uma degeneração de neurônios em

regiões susceptíveis do cérebro (WHITE et al., 2009; PRINGSHEIM et al., 2014).

Em estudo de revisão sistemática, Pringsheim e colaboradores (2014) mostraram

que a prevalência da DP no mundo varia de acordo com a faixa etária (0,04% em 40 a

49 anos; 0,1% em 50 a 59 anos; 0,2% em 55 a 64 anos; 0,42% em 60 a 69 anos;

0,43% de 65 a 74 anos; 1,08% de 70 a 79 anos; e 1,9% em idosos com mais de 80

anos de idade), com a geografia (países asiáticos possuem maior prevalência que

países europeus) e de acordo com o gênero (a cada 41 mulheres acometidas, 134

homens apresentam a doença).

Em estudo conduzido no Brasil, a prevalência encontrada foi de 3,3% dos idosos

apresentando DP e 2,7% apresentando outros tipos de Parkinsonismo. Esta

prevalência foi considerada maior que a média mundial quando comparado ao valor

total, mas semelhante aos demais países quando comparamos a prevalência apenas

da DP (BARBOSA et al., 2006). Estudo semelhante encontrou 5,6% de prevalência de

tremor por causas parkinsonianas numa região do estado de Minas Gerais, Brasil

(BARBOSA et al., 2013).

A DP é uma desordem progressiva caracterizada pelo desenvolvimento de

distúrbios motores, como bradicinesia, tremores de repouso, rigidez muscular e perda

tardia dos reflexos posturais (ERIKSEN et al., 2005; WHITE et al., 2009). A postura

fletida e o freezing (bloqueio motor) têm sido incluídos como características comuns do

parkinsonismo. Por causa dos diversos perfis e estilos de vida dos indivíduos afetados,

os sintomas motores e não motores da DP devem ser avaliados no contexto de cada

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19

paciente (JANKOVIC, 2008). O progresso dos sintomas comumente leva a limitações

na capacidade de caminhada e resistência (CANNING et al., 2006).

A bradicinesia refere-se à lentidão de movimentos e é uma característica de

distúrbios dos gânglios da base, abrangendo dificuldades com o planejamento, o início

e a execução do movimento e de realização sequencial e simultânea de tarefas. É

considerada a hipótese de que a bradicinesia é o resultado de uma redução na

atividade normal do córtex motor mediado pelo desequilíbrio entre as vias direta e

indireta estriatais, provocado pela reduzida função dopaminérgica (WEINTRAUB;

COMELLA; HORN, 2008; JANKOVIC, 2008).

O tremor de repouso é o mais comum e facilmente reconhecido sintoma de DP.

O tremor é unilateral, ocorre com uma frequência entre 4 e 6 Hz, e quase sempre é

destaque na parte distal de uma extremidade. A rigidez é um sintoma comum e é

caracterizada por resistência aumentada aos movimentos, geralmente acompanhada

pelo fenômeno da 'roda dentada', particularmente quando associada a um tremor

subjacente, presente em toda a amplitude de movimento passivo de um membro. A

instabilidade postural ocorre devido à perda dos reflexos posturais e é geralmente uma

manifestação tardia na DP. A rigidez de tronco e a instabilidade postural favorecem a

marcha em bloco e em pequenos passos (JANKOVIC, 2008).

Além das alterações motoras, pacientes com DP numa fase avançada

frequentemente apresentam disfunções cognitivas, como déficits de memória, de

linguagem e depressão.

Os sintomas depressivos ocorrem em aproximadamente metade dos pacientes e

são uma causa significante de prejuízos funcionais nestes indivíduos (McDONALD et

al., 2003). Duas teorias apontam para a etiologia da depressão na DP; uma argumenta

que ela é reativa e secundária ao estresse psicossocial de uma doença crônica e

incapacitante (COLE et al., 1996); e a outra, que ela é secundária a uma degeneração

neuroanatômica subjacente, antes de ser simplesmente uma reação ao estresse

psicossocial (McDONALD et al., 2003).

A disfunção cognitiva e comportamental na DP ainda não é bem compreendida.

Um estudo multicêntrico realizado em Sydney (AUS) observou que 84% dos pacientes

com DP apresentaram declínio cognitivo e que 48% preencheram os critérios

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20

diagnósticos para demência após 15 anos do diagnóstico (HELY et al., 2005). Outras

comorbidades neuropsiquiátricas também podem estar relacionadas a DP, como

depressão (58%), apatia (54%), ansiedade (49%) e alucinações (44%) (JANKOVIC,

2008).

O déficit de memória na Doença de Parkinson é comumente encontrado nas

fases mais tardias da doença. A memória reflete inúmeras habilidades cognitivas

distintas que podem ser categorizadas ao longo de diferentes dimensões. Uma das

divisões conceituais de memória mais abordadas distingue entre memória “declarativa”

e “não declarativa” (ou “de procedimento”), ambas consideradas como memórias de

longa duração. A memória de procedimento inclui habilidades e hábitos de

aprendizagem, condicionamento clássico, assim como a habilidade de detectar ou

identificar um estímulo como um resultado de uma exposição prévia. A memória

declarativa está relacionada a experiências próprias, reconhecimento de cenas e de

objetos familiares (ROSSATO et al., 2006).

Estudos farmacológicos e clínicos têm mostrado que a memória declarativa é

processada por estruturas no lobo temporal e suas conexões. Acredita-se que a

memória de procedimento seja processada pelo núcleo estriado e/ou diencéfalo

(IZQUIERDO et al., 1992).

Todos os sintomas relatados anteriormente, incluindo os relacionados ao tremor,

rigidez, lentidão de movimentos e dificuldade de marcha, como também problemas

cognitivos e comportamentais, demência, distúrbios emocionais e do sono, depressão,

dificuldades de coordenação e fala, fadiga severa, problemas com equilíbrio e dor, vão

ter um impacto sobre a qualidade de vida do paciente. A qualidade de vida tem caráter

multi-dimensional, e é constituída por pelo menos três domínios gerais: físico, mental e

social (OPARA et al., 2012). No Brasil, constatou-se que a duração e a gravidade da

doença, assim como o número de pessoas que vivem na mesma casa que o doente

foram os mais importantes preditores de qualidade de vida de pacientes com DP

(SCHESTATSKY et al., 2006).

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21

1.1.2 Etiologia e Fisiopatologia da Doença de Parkinson

Historicamente, a DP é definida como uma patologia do sistema dopaminérgico.

No entanto, atualmente considera-se como uma doença neurodegenerativa multi-

sistêmica, afetando diversas vias neurais e vários sistemas de neurotransmissores. As

manifestações clínicas da DP aparecem após a patologia estar num estágio mais

avançado, quando aproximadamente 50% das células dopaminérgicas da Substância

Negra (SN) estão perdidas, com uma consequente depleção de cerca de 80% da

dopamina (DA) estriatal. Isso ocorre, pois há mecanismos de compensação pré e pós-

sinápticos que impedem que as características clínicas se manifestem até que o

sistema seja incapaz de compensá-las (BRAAK et al., 2003; LEVY et al., 2009).

A característica patológica da DP consiste em uma depleção grave de neurônios

dopaminérgicos na pars compacta da SN e pela presença de corpos de Lewy (CL –

inclusões citoplasmáticas de neurofilamentos formados principalmente de ubiquitina e

α-sinucleína) nas células sobreviventes da SN, locus coeruleus, núcleos basais,

hipotálamo, córtex cerebral, núcleos motores dos nervos craniais e componentes

centrais e periféricos do sistema nervoso autonômico (TAKAHASHI; WAKABAYASHI,

2001; SCHULZ; FALKENBURGER, 2004; WEINTRAUB et al., 2008).

A deficiência dopaminérgica leva a uma cascata de mudanças funcionais nos

circuitos dos gânglios da base. A característica fisiopatológica essencial da DP é uma

atividade de disparo neuronal aumentada nas vias de saída dos gânglios da base

(globo pálido interno (GPi) e SN reticulata (SNr)), levando a uma excessiva inibição dos

sistemas motores tálamo-cortical e do tronco cerebral. Este fato parece ser resultante

da inibição reduzida da via estriatal "direta" e da excitação aumentada dos neurônios

subtalâmicos consequente ao aumento da atividade nos neurônios GABAergicos

estriado-palidais da via "indireta" (Figura 1) (OBESO et al., 2008).

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Figura 01 – Diagrama simplificado ilustrando as conexões anatômicas dentro do circuito dos núcleos da base, e as mudanças na sua atividade associadas com o desenvolvimento de parkinsonismo. GPe (globo pálido externo); NST (núcleo subtalâmico); GPi (globo pálido interno); SNr (substância negra parte reticulada); SNc (substância negra parte compacta); NPP (núcleo pedúnculo pontinho); CM (núcleo centro-mediano do tálamo); VA (núcleo ventro-anterior do tálamo); VL (núcleo ventrolateral do tálamo). Setas vermelhas representam as conexões excitatórias, setas pretas identificam as conexões inibitórias (GABAérgicas). Mudanças na largura das setas indicam mudanças de atividade. Fonte: adaptado de Wichmann; Delong (2006).

A etiologia da DP permanece obscura, mas fatores ambientais, como exposição

à toxinas ambientais como, MPTP (1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina), monóxido

de carbono e rotenona, e fatores genéticos, como mutações no gene parkina e na

codificação da α-sinucleína, podem estar envolvidos na patogênese da doença (Figura

2) (BLUM et al., 2001).

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Figura 02 – Resumo esquemático dos mecanismos e interações etiopatogênicas estabelecidas nas células dopaminérgicos da SN na DP. A morte celular pode ser causada por agregação α-sinucleína, disfunção do sistema proteossomal e lisossomal, e atividade mitocondrial reduzida. As mutações genéticas estão associadas com disfunção de um ou vários destes mecanismos. Fonte: Obeso et al. ( 2010).

Uma variedade de marcadores e índices em pacientes e modelos animais

(dosagem de peroxidação lipídica, superperóxido dismutase) indicam o envolvimento de

radicais livres e estresse oxidativo na patogênese da DP. Acredita-se que falhas na

cadeia respiratória e no metabolismo da dopamina contribuem para a produção de

radicais livres. Uma grande variedade de mecanismos patogênicos está sendo

proposta, incluindo toxinas exógenas e endógenas, injúria oxidativa mediada por

radicais livres, anormalidades mitocondriais, perturbações no transporte axonal,

excitotoxidade, injúria induzida por cálcio e o papel do ferro, zinco, cobre e a morte

celular programada (COLIER; SORTWELL, 1999; DUNNETT; BJORKLUND, 1999;

ZHANG et al., 2000).

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O estresse oxidativo tem sido discutido como um importante contribuinte na

fisiopatologia das doenças neurodegenerativas (SKOUMALOVA, 2003; SAYRE et al.,

2008, CHEN et al., 2009). Dois principais fenômenos bioquímicos levam ao aumento da

geração de espécies reativas de oxigênio (ERO). O primeiro é o alto nível de ferro na

SN compacta e nos grânulos de neuromelanina dos neurônios dopaminérgicos, que

pode levar ao aumento de EROs pela presença da neuromelanina, redução dos

estoques de glutationa reduzida (GSH) e aumento inicial de radicais hidroxila tóxicos. O

segundo seria um menor nível de defesa antioxidante. Dessa forma, o aumento nos

níveis de EROs leva a lesão das membranas celulares e início do processo de

peroxidação. Ainda podemos destacar no cérebro com DP, diminuição dos níveis de

ácidos graxos polissaturados, aumento de compostos reativos ao ácido tiobarbitúrico

(peroxidação lipídica), presença de 8-hidroxi-2-desoxi-guanosina (8-OHDG), células

microgliais ativadas produzindo óxido nítrico (NO), citocinas (p.e. TNF- α) e aumento do

cálcio livre (ZHANG et al, 2000; BLUM et al, 2001; LOTHARIUS; BRUNDIN, 2002;

ARIMOTO; BING, 2003).

Estudos em humanos e em diversos modelos animais de DP revelam que a

disfunção mitocondrial pode ser um defeito que ocorre no início da patogênese da

doença e parece ser uma característica comum em ambas as formas idiopática e

genética da DP. As anormalidades mitocondriais relacionadas com a doença incluem

prejuízo na cadeia transportadora de elétrons mitocondrial, alterações na morfologia e

dinâmica mitocondriais, mutações no DNA mitocondrial e anomalia na homeostase do

cálcio (SUBRAMANIAM; CHESSELET, 2013). As mitocôndrias são organelas com

múltiplas funções vitais e sua disfunção pode levar a um aumento no consumo de

oxigênio pela mitocôndria, inibição do complexo I da cadeia transportadora de elétrons,

acúmulo de EROs e outros poderosos oxidantes como o peróxido de hidrogênio e

radicais superóxido, ativação de caspases e liberação de proteínas pró-apoptóticas,

eventualmente resultando em fragmentação de DNA, alterações no citoesqueleto e

morte celular (BLUM et al., 2001; HODAIE et al., 2007).

O cálcio é o principal modulador das mitocôndrias e prontamente entra nos

neurônios através de poros abertos, como canais de cálcio tipo L ou por ativação de

receptores N-metil-D-aspartato (NMDA). Os níveis de cálcio intracelular são regulados

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principalmente por proteínas de ligação de cálcio e por receptores metabotrópicos de

glutamato. O cálcio, uma vez no interior da célula, é transportado através da membrana

plasmática ou sequestrado em organelas intracelulares tais como as mitocôndrias,

atingindo a matriz mitocondrial através dos poros da sua. O efluxo de cálcio das

mitocôndrias ocorre por vários mecanismos incluindo canais de sódio / cálcio e canais

iônicos como poro mitocondrial de transição de permeabilidade (PMTP). O PMTP tem

dois estados de condutância: (1) um estado de baixa condutância que é reversível e (2)

um estado de elevada condutância, que é irreversível e leva a uma turgidez

mitocondrial e extravasamento de moléculas como citocromo c, que desencadeia a

apoptose membrana (SUBRAMANIAM; CHESSELET, 2013).

Curiosamente, trabalhos mostram que neurônios dopaminérgicos da região

compacta da SN são autonomamente ativos e capazes de gerar potenciais de ação

regularmente na ausência de estímulo sináptico. Os canais de cálcio tipo L são

utilizados para esta finalidade, que se acredita ser fundamental para a manutenção de

concentrações de dopamina em regiões inervadas por esses neurônios, especialmente

o estriado (CHAN et al., 2007). Trabalhos recentes mostram que a manutenção da

abertura de canais de cálcio tipo L nos neurônios dopaminérgicos da SN produz

estresse oxidativo mitocondrial, envelhecimento acelerado e morte celular, contribuindo

para na patogênese da DP (SUBRAMANIAM; CHESSELET, 2013).

Existem evidências de que a diminuição da inervação dopaminérgica do estriado

esteja associada com uma maior atividade dos sistemas excitatórios. Ainda não é

sabido se este aumento da função do glutamato é suficiente para causar degeneração

neuronal. Plaitakis e Shashidharam (2000) observaram a forte presença de ETTA3

(transportador neuronal de glutamato) e da enzima glutamato descarboxilase nos

neurônios estriatais, e que a ausência dessa enzima geraria atividade excitotóxica.

Simola et al. (2007) sugerem haver um aumento na transmissão glutamatérgica no

estriado com diminuição da estimulação dopaminérgica. Existe um crescente interesse

no estudo das interações das sinapses dopaminérgicas e glutamatérgicas no estriado.

Removendo a influência da DA dentro do estriado por uma lesão da via nigroestriatal

podemos investigar essas interações.

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A degeneração colinérgica, no hipocampo e locus ceruleus, é um importante

contribuinte para uma série de características clínicas da DP, não só participando da

fisiopatologia dos déficits cognitivos, mas também em outras alterações não motoras e

deficiências motoras na DP, como desordens de marcha e instabilidade postural. A

degeneração do sistema colinérgico tem uma presença variável em pacientes com DP

sem demência. A identificação de pacientes com DP com degeneração do sistema

colinérgico pode permitir futuras abordagens orientadas por colinérgicos, em adição à

terapia dopaminérgica (MÜLLER; BOHNEN, 2013).

1.1.3. Tratamentos para a Doença de Parkinson

Atualmente as terapias disponíveis para a DP têm por objetivo melhorar a

capacidade funcional do paciente pelo maior tempo possível, porém não alteram a

progressão do processo neurodegenerativo.

A principal característica neuropatologica da DP é a perda de neurônios

dopaminérgicos na SN e a deposição de ferro e agregados de proteínas citoplasmáticas

nos neurônios, sendo o tratamento farmacológico da doença focado em restaurar a

neurotransmissão dopaminérgica. A levodopa, precursora da dopamina, permanece

como o tratamento "padrão ouro" para a DP, favorecendo a melhora das funções

motoras do paciente, das atividades da vida diária e qualidade de vida. A administração

crônica de levodopa é frequentemente associada ao desenvolvimento de flutuações

motoras e discinesias. A prevalência destas complicações motoras varia entre 40% a

50% após 4 a 6 anos de tratamento (FREIRE; SANTOS, 2010; DEVOS et al., 2013).

Para minimizar os efeitos colaterais, como flutuações na resposta motora,

confusões, alucinações e fadiga, inicialmente são usadas baixas doses de levodopa,

sendo elevadas gradualmente. Além da levodopa, drogas que são prescritas

atualmente no tratamento da DP incluem agonistas dos receptores de DA, selegilina

(inibidor de MAO-B), amantadina (anti-viral com influência na síntese da DA), inibidores

de catecol-O-metil transferase (COMT) e anticolinérgicos (NAGATSU; SAWADA, 2009).

Os inibidores das enzimas metabolizadoras da dopamina catecol-O-

metiltransferase (COMT) e monoaminaoxidase-B (MAO-B)) têm sido desenvolvidos com

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o objetivo de prolongar a meia-vida da levodopa, limitando assim a flutuação motora.

Os agonistas dopaminérgicos estimulam diretamente os receptores pós-sinápticos de

dopamina no corpo estriado, a fim de diminuir a necessidade de levodopa e limitar o

aparecimento de complicações motoras. No entanto, estes medicamentos podem

induzir as desordens de comportamento, confusão, alucinações, psicose, sonolência

diurna excessiva e episódios de sono profundo (DEVOS et al., 2013).

A natureza progressiva da DP apresenta oportunidade de intervenção

terapêutica que visa bloquear ou desacelerar o processo degenerativo. Técnicas de

diagnóstico avançadas tornam possível começar a intervenção neuroprotetora na fase

pré-clinica. Muitos estudos vêm sendo realizados com objetivo de gerar novas

alternativas de tratamento neuroprotetor. A vitamina E e o deprenil vêm sendo bastante

estudados, e já foi demonstrado que o deprenil retarda o início da progressão dos

sintomas em até 9 meses. A nicotina vem sendo estudada na prevenção da

degeneração neuronal. Agentes anti-inflamatórios, melatonina, coenzima Q10, ácido

fólico, selênio, vitaminas A, C e E são algumas substâncias promissoras e que podem

contribuir para o tratamento da DP (SINGH et al., 2007; KLIVENYI; VECSEI, 2009).

Pesquisas que investigam o envolvimento de agregados de proteína e a cascata

bioquímica que acompanha a patogênese têm permitido o desenvolvimento de uma

potencial vacina para a DP em fase de testes clínicos, que visa estimular o sistema

imune a ter como alvo as formas anormais da proteína α-sinucleína (SINGH et al.,

2007).

A medicina regenerativa espera prover novas terapias para patologias que

permanecem sem terapia efetiva. Esta evolução é verdadeira para a maioria das

doenças neurodegenerativas. O transplante de novos neurônios no cérebro tem sido

realizado nas doenças de Parkinson e Huntington. A restauração dos neurônios

dopaminérgicos em pacientes com DP através de implante de tecido mesencefálico

embrionário foi realizada por experimentos animais e clínicos, mostrando uma eficácia

limitada. Hoje parece possível gerar neurônios funcionais dopaminérgicos ou estriatais

formados por uma variedade de células tronco, incluindo células tronco embrionárias ou

neurais, bem como células tronco pluri-potentes (SCHWARZ; SCHWARZ, 2010).

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As intervenções cirúrgicas para DP se mostraram benéficas para os sintomas

refratários. No entanto o seu papel é limitado como "último recurso", devido ao alto risco

de potenciais complicações e eficácia a longo prazo limitada. Recentes avanços nessa

área têm proporcionado uma maior gama de procedimentos cirúrgicos. Estes avanços

são agora examinados com um renovado interesse devido ao advento das novas

tecnologias na forma de neurocirurgia estereotáxica, avanços da neuro-imagem latente

e o desenvolvimento da Estimulação Cerebral Profunda (ECP). A ECP do núcleo

subtalâmico é um meio eficaz de controle das complicações motoras, sendo

considerada uma técnica potencialmente mais segura do que outras opções disponíveis

(SCHAPIRA et al., 2006; SINGH et al., 2007).

Os potenciais benefícios do exercício no início do curso da doença de Parkinson

têm sido cada vez mais reconhecidos. Acredita-se que os pacientes que mantêm um

programa de exercícios a partir do momento do diagnóstico e ao longo do curso da

doença, obterão melhora ou manutenção dos sintomas motores, a longo prazo.

Contudo, neste momento, esta suposição baseia-se mais na experiência clínica que em

ensaios clínicos controlados. Estudos relataram benefícios dos exercícios a curto prazo,

particularmente para a marcha, equilíbrio, disfunções motoras, depressão e qualidade

de vida. Os principais tipos de exercícios testados são o tai-chi, exercícios aeróbicos,

programas de exercícios estruturados e exercícios funcionais. Os resultados indicaram

que o receptor de dopamina D2 tem disponibilidade aumentada, além da melhora no

controle postural de pacientes submetidos a intenso programa de exercícios. Estes

estudos sugerem potenciais melhorias na função física e a possibilidade de retardo do

início do aparecimento dos sintomas da DP como efeito do exercício (PAHWA; LYONS,

2014).

1.2. MODELOS EXPERIMENTAIS DE PARKINSONISMO

A incidência de doenças neurodegenerativas aumenta com a idade e,

considerando o processo de envelhecimento da população mundial, a sua prevalência

tende a uma ascensão. Ainda não existe um tratamento curativo para estas doenças,

mas existem estudos em andamento avaliando novas estratégias terapêuticas. A

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identificação de drogas eficazes modificadoras da doença depende da compreensão

dos mecanismos etiopatogênicos subjacentes à doença. Para aumentar o

conhecimento sobre a etiopatogenia de doenças neurodegenerativas, uma série de

modelos animais está sendo usada atualmente. Estes modelos têm o objetivo de

reproduzir as causas, as alterações patológicas, ou os sintomas de uma determinada

doença. Além de proporcionar conhecimentos da fisiopatologia das doenças, os

modelos animais são importantes para avaliar a eficácia dos potenciais tratamentos

antes da realização de ensaios clínicos em seres humanos (RIBEIRO et al., 2013).

Os chamados modelos baseados em neurotoxinas são os mais eficazes em

reproduzir a morte irreversível dos neurônios dopaminérgicos e o déficit de dopamina

no estriado em primatas não-humanos e roedores. O MPTP (1-metil-4-fenil-

1,2,3,6terahydropyridine), a 6-OHDA (6-hidroxi-dopamina) e a rotenona são os

compostos mais amplamente usados. O MPTP foi acidentalmente descoberto durante

as investigações sobre os potenciais fatores que levaram jovens viciados em heroína a

desenvolver sintomas semelhantes a DP. Neste modelo, os sintomas motores são

muito semelhantes aos observados no homem (acinesia, bradicinesia, rigidez, e

alterações posturais), exceto para o tremor de repouso. A rotenona, um pesticida

utilizado na agricultura, é também altamente lipofílico e atravessa facilmente a barreira

hemato-encefálica, inibindo o complexo I mitocondrial e desencadeando estresse

oxidativo e produção de EROs (BLUM et al., 2001; RIBEIRO et al., 2013). O modelo de

citotoxicidade com uso da 6-OHDA foi o escolhido neste estudo e está descrito a seguir.

1.2.1. Neurotoxidade da 6-hidroxidopamina (6-OHDA)

A 6-OHDA é uma das neurotoxinas mais comumente usadas experimentalmente

no modelo de degeneração nigro-estriatal, constituindo um análogo hidroxilado do

neurotransmissor dopamina. De fato, vários estudos relataram a presença de 6-OHDA,

tanto no cérebro do rato como no humano, bem como na urina dos pacientes com DP

tratados com L-dopa. Os neurônios dopaminérgicos da SN contêm significativos níveis

de dopamina, peróxido de hidrogênio e ferro livre. A reação não enzimática entre estes

elementos pode, eventualmente, levar a formação de 6-OHDA (BLUM et al, 2001).

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Devido a 6-OHDA não ultrapassar a barreira hemato-encefálica, a lesão neuronal

central pode ser realizada através da administração intra-cerebral direta. No modelo

experimental de DP, a 6-OHDA entra no corpo estriado, na substância negra e/ou no

feixe prosencefálico medial, destruindo neurônios dopaminérgicos nigrais e reduzindo a

quantidade de dopamina disponível no corpo estriado, produzindo assim as

características fisiopatológicas responsáveis pelos prejuízos motores na DP

(UNGERSTEDT, 1968).

A 6-OHDA pode ser injetada na SN ou no corpo estriado (degeneração

retrógrada), unilateralmente. A injeção unilateral permite a avaliação de morte de

células neuronais e dos parâmetros moleculares no hemisfério da lesão em

comparação com o contralateral intacto (RIBEIRO et al., 2013). A degeneração

unilateral induzida pela 6-OHDA produz um comportamento motor assimétrico e

quantificável quando administrados agonistas dopaminérgicos ou anfetaminas de forma

sistêmica. Isso permite um controle fácil e confiável da extensão da lesão e os

potenciais efeitos da terapêutica.

A 6-OHDA entra nos neurônios dopaminérgicos, devido à sua elevada afinidade

com o transportador de dopamina (DAT) e pode induzir a lesão dopaminérgica nigro-

estriatal através da geração de peróxido de hidrogênio e radicais hidroxila derivados. O

processo de auto-oxidação não-enzimática, a desaminação pela monoamina oxidase

(MAO) e os altos níveis de ferro são responsáveis pela grande produção de EROs que

se segue a injeção da 6-OHDA (BLUM et al., 2001). Vários estudos têm confirmado que

a 6-OHDA produz estresse oxidativo in vivo e in vitro (KUMAR et al., 1995; LOTHARIUS

et al., 1999). Isto explica os efeitos neuroprotetores conferidos por agentes anti-

oxidantes na toxidade induzida pela 6-OHDA (BLUM et al., 2000).

A 6-OHDA também atinge diretamente a cadeia respiratória mitocondrial, induz a

um colapso na membrana mitocondrial relacionado a EROs e desacopla a fosforilação

oxidativa, gerando prejuízo na função mitocondrial (Figura 03) (LOTHARIUS et al.,

1999).

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Figura 03 – Mecanismo hipotético de toxicidade 6-OHDA. 6-OHDA pode induzir a morte celular por três mecanismos principais: formação de EROs pela auto-oxidação, formação de peróxido de hidrogênio induzida pela atividade da MAO ou inibição direta da cadeia respiratória mitocondrial. Fonte: adaptada de Blum et al. ( 2001).

O modelo animal da DP deve imitar tanto a degeneração de células

dopaminérgicas como os déficits comportamentais associados com a DP idiopática.

Uma redução de 60-70% na densidade de fibras TH-imunorreativas no estriado,

acompanhada por uma redução de 50-60% em neurônios TH-imunorreativos na SN,

mostrou-se suficiente para a indução de prejuízo no comportamento motor do animal.

Além dos efeitos motores, déficits cognitivos podem ser observados após lesões

estriatais, como déficits cognitivos espaciais, com cerca de 60% de redução nos

neurônios da SN, não sendo provavelmente devido a uma assimetria na atividade

motora (DEUMENS et al., 2002).

Neste trabalho, o modelo de parkinsonismo experimental através da injeção

unilateral da 6-OHDA no corpo estriado foi o escolhido por representar um modelo

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robusto, com boa reprodutibilidade e por promover uma degeneração retrógrada,

estriado-nigral, de caráter progressivo (BLANDINI; ARMENTERO; MARTIGNONI,

2008).

1.3. BERBERINA

Berberina (C20H17ONO5) é o alcalóide mais abundante isolado da Berberis sp.,

Coptidis sp, e Phellodendri sp, encontrada nas raízes , rizomas e casca, e está bastante

presente em várias fórmulas na medicina chinesa, japonesa, indiana e coreana

(FUKUDA et al., 1999). A Berberis aristata, a principal fonte de berberina, é um arbusto

de até 1,5-2,0 metros de altura, nativo do Himalaia, mas também pode ser encontrado

na Faixa Nilgiri no sul da Índia. As folhas são de forma cilíndrica com flores amarelas,

dispostas em cachos pendentes (Figura 04) (YE et al., 2009).

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Figura 04 – A) Arbusto da Berberis aristata; B) Caule cujo principal componente é a berberina; C) Estrutura química da berberina; D) Cloridrato de berberina. Fonte: www.wikipedia.org/berberine (acesso em 20/01/2015).

A berberina (BBR) distribui-se extensivamente no corpo dos animais quando

administrada, sendo detectada rapidamente nos órgãos. Além disso, atravessa

facilmente a barreira hemato-encefálica, sendo comum um rápido aumento no

hipocampo após administração intravenosa, seguida de eliminação lenta. Isto sugere

que a BBR pode atuar diretamente sobre os neurônios e se acumular no hipocampo

(YE et al., 2009).

Os estudos metabólicos da BBR em animais sugerem que ocorra rápida

metabolização no corpo, e que o fígado é o principal local de seu metabolismo. Depois

de absorvida, a depuração da BBR a partir do sangue é muito rápida através da via

hepatobiliar e sistema renal, sob a forma de metabólitos. Um estudo analisou o plasma

sanguíneo de ratos e observou que a BBR é rapidamente eliminada com meia vida de

1,13h, seguinte a administração intra-venosa (WANG et al., 2005). A BBR é

considerada um alcalóide não tóxico em doses usuais de 200-1000 mg, duas a três

vezes ao dia, via oral (RABBANI et al., 1987). A DL50 em camundongos Swisss é de

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500 mg/kg quando administrada agudamente e de 150 mg/kg quando administrada

cronicamente por 10 dias (ANIS et al., 1999).

O extrato de berberina possui efeito cardiovascular que está baseado nas suas

características vasorelaxante e hipotensora, promovendo uma redução da pressão

arterial e do ritmo cardíaco de forma dose dependente. Sua ação é atribuída a

mecanismos múltiplos sobre o endotélio e a musculatura lisa dos vasos (KO et al.,

2005). No oriente, a berberina é usada para o tratamento de insuficiência cardíaca

congestiva. Estudos mostram que a berberina melhora a função cardíaca em modelos

de insuficiência cardíaca congestiva em ratos e diminui o desenvolvimento da

hipertrofia cardíaca (HONG et al., 2002). Em estudos clínicos, o uso da berberina

diminui os complexos ventriculares prematuros e aumenta a fração de ejeção do

ventrículo esquerdo (ZENG; LI, 2001). A berberina ainda possui efeito antiplaquetário

devido a inibição do metabolismo do ácido araquidônico e do influxo de cálcio. A

atividade anti-inflamatória e antinociceptiva da berberina também é bastante popular, e

pode estar ligada a diminuição da proteína COX-2 (IMANSHAHIDI; HOSSEINZADEH,

2008).

Esse alcalóide apresenta ainda diversas ações tais como, antipirética,

antidiarreica e antitumoral (ZHOU; MINESHITA, 2000). A berberina também inibe a

transcriptase reversa do vírus da imunodeficiência humana (HIV-I) (GUDIMA et al.,

1994) . A utilização da berberina tem sido descrita para quase todos os distúrbios do

corpo. A droga tem sido usada na Índia e na China para o tratamento de infecções

bacterianas, diarreia, parasitoses intestinais, tracoma e infecções oculares (BIRDALL;

KELLY, 1997).

As atividades anti-inflamatória e imunossupressora dos extratos de

berberidaceae estão bem estabelecidas (RICCIOPPO, 1993; WANG; ZHENG, 1997), e

podem estar ligadas a supressão de genes pró-inflamatórios e ativação de Nrf2

dependente de AMPK, fato observado em camundongos sob injeção de LPS (MO et al.,

2013). Extratos obtidos a partir da espécie berberidaceae vêm sendo usados no

tratamento reumático e outras doenças inflamatórias crônicas. As suas propriedades

anti-inflamatórias podem estar relacionas com o mecanismo de neuroproteção,

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verificado num modelo de isquemia cerebral transitória onde foi observado que a BBR

reduziu os níveis de COX-2 (YOO et al., 2008).

Peng et al. (1997) sugeriram que um efeito anti-amnésico em ratos, após a

administração de berberina por 14 dias, intra-peritoneal, estaria relacionado ao aumento

na atividade do sistema neuronal colinérgico central e periférico. Estudos mostram que

a BBR é um excelente inibidor reversível da acetilcolinesterase e que ela pode melhorar

as alterações de aprendizado e de memória induzidas por escopolamina em ratos (LEE

et al., 2012b).

Uma variedade de citocinas, tais como Bcl-2 e TNF-α, estão envolvidas no

desenvolvimento da Doença de Alzheimer. Em estudos clínicos, a berberina aumentou

a capacidade cognitiva em pessoas idosas com alto risco de desenvolver demência,

através do aumento de Bcl-2 sanguíneo e diminuição do nível de TNF-α no soro

sanguíneo. Estes resultados podem ser indicativos de neuroproteção (YAN; LIU, 2001).

Além disso, a BBR melhorou significativamente o prejuízo da memória espacial em um

modelo da doença de Alzheimer em ratos, que pode ter relação com a modulação do

processamento da proteína precursora amilóide à concentrações não-neurotóxicas,

sugerindo que a BBR pode ser um promissor candidato para o tratamento de doença de

Alzheimer (DURAIRAJAN et al., 2012).

O efeito neuroprotetor da BBR em modelo experimental da Doença de Alzheimer

tem sido observado através de testes de aprendizagem e memória. Este fenômeno foi

atribuído ao aumento na expressão de IL-1β (interleucina 1β) e iNOS (óxido nítrico

sintase induzida) no hipocampo de ratos (ZHU; QIAN, 2006).

O potente efeito neuroprotetor da berberina no modelo de isquemia cerebral

transitória vem sendo confirmado em diversos experimentos. Yoo e colaboradores

(2006) sugerem que este fato ocorre pela redução da atividade dos receptores NMDA

(NR1) no hipocampo após lesão isquêmica. Zhou et al (2008) verificaram este efeito

neuroprotetor, atribuindo-o a inibição da geração de EROs e inibição das vias

apoptóticas mitocondriais. A BBR também pode bloquear a corrente de íons potássio

(K+) contribuindo para a ação protetora na lesão isquêmica cerebral (WANG et al.,

2005). A BBR demonstra também propriedades inibidoras da COX-2 e das

protaglandinas E2 em modelo isquêmico (YOO et al., 2008).

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Kulkarni e Dhir (2008) mostraram que a berberina exerce um efeito anti-

depressivo através da avaliação de paradigmas comportamentais. Este fato foi atribuído

a sua capacidade de modular aminas biogênicas como a noradrenalina, serotonina e

dopamina, possivelmente com envolvimento da via do óxido nítrico.

Known e colaboradores (2010) foram os primeiros a investigar os efeitos da

berberina no modelo de parkinsonismo experimental pela 6-OHDA. A berberina,

administrada por 21 dias pós-lesão (30mg/kg, i.p.), pode gerar sintomas adversos,

sendo recomendado seu uso cauteloso em terapias com L-dopa. Bae et al. (2013)

investigaram o mecanismo de proteção da berberina contra a morte neuronal no

modelo 6-OHDA, e destacaram a sua ação sobre a inibição das EROs, diminuição da

ativação da caspase 3, aumento da expressão de heme-oxigenase 1 (HO-1), inibindo a

morte neuronal. Kim e colaboradores (2014) mostraram que a berberina previne a morte

de neurônios dopaminérgicos, exercendo ação positiva sobre os prejuízos motores e de

memória em modelo MPTP em camundongos.

Considerando o possível envolvimento do estresse oxidativo, atividade

inflamatória, ativação dos receptores NR1 e disfunção mitocondrial na patogênese da

DP e os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios da berberina, este trabalho investigou

o efeito neuroprotetor do tratamento com berberina no comportamento motor, memória

e dano neuronal de ratos com lesão nigro-estriatal induzida por 6-OHDA.

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2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Estudar o efeito da berberina sobre o dano neuronal, comportamento motor e

memória de ratos parkinsonianos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Estudar o efeito neuroprotetor da berberina sobre o comportamento motor e

memória no modelo de pakinsonismo induzido pela 6-OHDA em ratos;

Estudar o efeito neuroprotetor da berberina, usando o modelo de parkinsonismo

em ratos, avaliando a morte neuronal (imunohistoquímica para tirosina

hidroxilase e transportador de dopamina - DAT);

Verificar o efeito da berberina sobre a apoptose e dano sináptico produzida pelo

modelo de parkinsonismo, através da quantificação de citocromo c (através da

técnica de western blot - WB);

Estudar o efeito da berberina sobre a concentração de DA, DOPAC e HVA (por

cromatografia líquida de alta eficiência - HPLC), no modelo de parkinsonismo

induzido pela 6-OHDA.

Avaliar a influência do dano neuronal na substância negra e corpo estriado

produzido pela 6-OHDA no padrão de expressão da sub-unidade 1 do receptor

NMDA (NR1) (através da técnica de WB);

Identificar a dose de berberina mais adequada para o tratamento do modelo de

parkinsonismo experimental induzido pela 6-OHDA;

Descrever os protocolos de administração de berberina (pré-tratamento, pré e

pós-tratamento e pós-tratamento) e eleger o protocolo mais adequado diante dos

dados observados nos testes realizados.

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3. MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. DROGAS

Berberina (Sigma-USA), 6-OHDA (Sigma-USA), Quetamina (Virbac-Brasil),

Xilazina (Virbac-Brasil), Apomorfina (Sigma-USA). Os demais reagentes foram

utilizados em um grau analítico.

3.2. ANIMAIS

Ratos Wistar machos sadios, pesando entre 180-250g, provenientes do Biotério

Central da Universidade Federal do Ceará (UFC), foram incluídos no presente estudo.

Os animais foram mantidos sob condições de temperatura e umidade controladas, num

ciclo de doze horas claro/escuro, com livre acesso à alimentação e à água, até o início

do experimento. Os protocolos experimentais seguiram as recomendações do Conselho

Nacional de Controle de Experimentação Animal (COCEA), e foram aprovados pelo

Comitê de Ética em Pesquisa Animal da UFC, com protocolo 05/11.

3.3. CIRURGIA ESTEREOTÁXICA

Os animais foram selecionados aleatoriamente para a injeção intra-estriatal

unilateral de 6-OHDA ou veículo. Devido à impossibilidade de transpor a barreira

hemato-encefálica, a 6-OHDA foi administrada através de um procedimento cirúrgico

com utilização do aparelho estereotáxico. A anestesia foi realizada pela administração

de xilazina (10mg/kg i.p.) e quetamina (50mg/kg, i.m.) e foi aguardado o tempo

necessário ao total sedação do animal. Em seguida, o rato foi posicionado no aparelho

estereotáxico (Lab Standard Stereotaxic Instrument, Rat – 51600 – Stoelting), com as

devidas fixações.

A região superior do crânio do animal foi desinfetada, realizada uma tricotomia e

uma incisão de aproximadamente 2 cm de comprimento, expondo-se as suturas ósseas

cranianas, tendo como região central o Bregma, com o objetivo de localizar três

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coordenadas de acesso ao corpo estriado do lado direito (modelo 6-OHDA unilateral),

de acordo com o atlas de Paxinos e Watson (2006). O modelo experimental de lesão do

corpo estriado com 6-OHDA foi proposto por Ungerstedt (1968) e aprimorado por Sauer

& Oertel (1994). No modelo seguido neste estudo, injetamos 1µL de 6-OHDA (6µg/µL-

em ácido ascórbico 0,02%) em três pontos do corpo estriado do lado direito, nas

coordenadas abaixo indicadas (tabela 01), perfazendo um total de 18µg/3µL.

Tabela 01 – Coordenadas estereotáxicas para injeção de 6-OHDA intra-estriatal (PAXINOS; WATSON, 2006).

Coordenadas estriatais 1ª 2ª 3ª

Ântero-posterior + 0,5 - 0,5 - 0,9

Médio-lateral - 2,5 - 3,0 - 3,7

Dorso-ventral + 5,0 + 6,0 + 6,5

A figura 05 mostra um esquema das coordenadas utilizadas neste estudo, sendo

possível observar a distribuição da 6-OHDA em 3 planos ântero-posteriores, numa dose

de 18µg/3µL (1µL em cada coordenada), caracterizando uma lesão difusa do complexo

caudado-putâmen (CPu).

Figura 05 – Figura esquemática representativa das 3 coordenadas estereotáxicas para injeção intracraniana de 6-OHDA no corpo estriado indicada pelo ponto vermelho, de acordo com a tabela 01. Os tracejados indicam as coordenadas médio-lateral e dorso-ventral. Coordenadas ântero-posteriores aproximadas, de acordo com as lâminas disponíveis no atlas. Fonte:adaptado Paxinos; Watson (2006).

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3.4. PROTOCOLO EXPERIMENTAL

O estudo foi dividido em duas fases: na primeira fase buscamos estabelecer a

dose de berberina a ser administrada nos animais; na segunda fase visamos determinar

o principal protocolo de aplicação desta droga, partindo de modelos estabelecidos na

literatura.

3.4.1 Fase 1

Nesta fase da experiência, os animais que atingiram o peso médio de 180-200g

foram alocados em gaiolas contendo 3 animais e receberam água ou berberina de

acordo com o grupo ao qual pertenciam. A divisão em grupos se deu de forma aleatória

(n= 9-12), relacionados a seguir (Figura 06):

Figura 06 – Grupos experimentais da primeira fase do estudo: Ctr; BBR50; 6-OHDA; 6OHDA+BBR25; 6-OHDA+BBR50; 6-OHDA+BBR100. *A dose da berberina foi calculada

de acordo com uma média de 30ml de água consumida por animal em um dia. Esta estimativa se deu através de observação prévia dos animais por 10 dias e mensuração diária da quantidade de água consumida. A BBR foi reposta a cada 3 dias.

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Após 15 dias de tratamento, esses ratos foram submetidos a cirurgia

estereotáxica, permanecendo em tratamento por mais 19 dias. Durante os 4 últimos

dias de tratamento, os animais foram submetidos aos testes de comportamento para

avaliar atividade locomotora, motricidade isolada das patas dianteiras, resposta

sensório-motora, memória de procedimento e aversiva, e comportamento rotacional. O

desenho experimental aplicado está representado na Figura 07.

Figura 07 – Desenho experimental da fase 1 do estudo.

Após os testes, os animais foram sacrificados por decaptação para a realização

da dosagem de monoaminas e preparação da amostra para western blot. Para a

análise imunohistoquímica, os animais foram anestesiados com tiopental sódico

(100mg/kg, i.p.) e perfundidos transcardiacamente com paraformaldeído a 4%. Os

cérebros foram pós-fixados (24h imersos em formol tamponado), armazenados em

sacarose 30% a 4ºC, e o tecido foi seccionado a 50µm (criostato Leica Biosystems) .

3.4.2 Fase 2

Na fase 2 do estudo, foram estabelecidos 3 protocolos experimentais, Pré-

tratamento, Pré e pós-tratamento e Pós-tratamento, com a finalidade de observar qual

protocolo traduzia a melhor eficácia da berberina para o modelo 6-OHDA unilateral. No

protocolo pré-tratamento, os animais iniciaram o consumo de água ou berberina e

somente 21 dias após o início do tratamento foi realizada a cirurgia estereotáxica.

Esses animais permaneceram mais 19 dias sem tratamento (consumo de água

livremente), cujos últimos 4 dias foram dedicados aos testes de comportamento. No

protocolo pré e pós-tratamento, os animais iniciaram o tratamento com berberina ou

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água e após 15 dias passaram pela cirurgia, continuando o tratamento por mais 19

dias, sendo os últimos 4 dias dedicados aos testes de comportamento. E no protocolo

pós-tratamento, os animais foram submetidos a cirurgia estereotáxica, iniciaram o

tratamento com berberina ou água no sétimo dia após a cirurgia, durante 21 dias, sendo

que os últimos 4 dias foram dedicados ao testes de comportamento. O esquema dos

protocolos de administração da berberina podem ser visualizados na figura 08.

Figura 08 – Desenho experimental da fase 2 do estudo: protocolos pré-tratamento, pré e pós-tratamento e pós-tratamento.

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3.5 TESTES DE COMPORTAMENTO

Nos 4 últimos dias que compunham o protocolo de cada grupo, os animais foram

submetidos a diversos testes de comportamento, baseados em déficits observados na

literatura para o modelo aqui representado. Os testes foram realizados no Laboratório

de Neurociências e Comportamento, no horário de 9h as 15h, sempre pelos mesmos

pesquisadores.

3.5.1 Avaliação do Comportamento Motor

Teste da Apomorfina

A severidade da depleção de dopamina foi avaliada pelo comportamento

rotacional baseado no método descrito por Ungerstedt em 1968. Ao final do protocolo

experimental, o animal recebeu injeção de apomorfina (0,6mg/kg, i.p., em salina) e

foram observados por 60 minutos em uma arena circular (Figura 09). A quantificação

do teste é feita através do número de rotações (360°) ipsilaterais e contralaterais que o

animal venha a realizar.

Figura 09 – Representação esquemática do comportamento rotacional de ratos unilateralmente lesados com 6-OHDA (estriado direito) após injeção de apomorfina. Fonte: adaptado de Ungerstedt (1968); Gregório (2007).

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Este é um teste sensível para lesões estriatais com extensão de 60 a 80%, que

correspondem a redução de mais de 50% dos neurônios dopaminérgicos da SN

(DEUMENS et al.,2002), que justifica o comportamento rotacional contralateral a lesão

estriatal.

Teste do Campo Aberto

Neste teste é possível avaliar a atividade exploratória do animal. Foi usado o

modelo do Campo Aberto (Open Field) (BROADHURST, 1957). O campo aberto

consiste de uma arena quadrada (50 x 50 cm). O piso da arena é dividido em 4

quadrantes iguais (Figura 10). Para realização do teste, o animal foi colocado na arena,

com a face voltada para a parede, permanecendo por cinco (5) minutos. Durante este

período de exploração do ambiente, foi registrado o número de quadrantes

atravessados pelo animal (cruzamentos/crossings) e o número de explorações verticais

(atitude de erguer o corpo sem apoio das patas dianteiras/rearings) (MEREDITH;

KANG, 2006). A arena passou por constantes higienizações com álcool (20%),

especialmente entre os testes, com a finalidade de evitar que diversos odores, como o

cheiro de urina e fezes, interfiram no teste.

Figura 10 – Desenho demonstrativo da arena do campo aberto contendo os quatro

quadrantes. Fonte: arquivo pessoal.

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Teste do Cilindro

O teste do cilindro avalia a assimetria motora das patas dianteiras do animal.

Neste teste o animal é colocado em um cilindro de acrílico (altura de 30cm e diâmetro

de 20cm) por 5 minutos (Figura 11). Durante o comportamento exploratório vertical

(rearing), o contato com a parede do cilindro é contado de acordo com a pata dianteira

que tocar a parede do cilindro, podendo ser computada como pata contralateral

(membro afetado), ipsilateral (membro não afetado) ou ambos (simultaneamente).

Foram excluídos animais que não realizaram o mínimo de 7 rearings, com ou sem

toques das patas dianteiras (SCHARLLET et al., 2002).

Figura 11 – Fotografia da execução do teste do cilindro, com o rato realizando o rearing

e apoiando as patas dianteiras na parede do cilindro. Fonte: arquivo pessoal.

Teste da Vibrissa

Neste teste, o pesquisador segura gentilmente o animal pelo dorso e esfrega as

vibrissas do animal contra uma superfície, como o tampo de uma mesa, para provocar a

resposta de colocação do membro anterior na direção da mesa (Figura 12). Através

deste teste, provoca-se uma estimulação sensorial e indução de uma resposta motora

de proteção. Um animal não lesionado irá colocar a pata anterior na horizontal

(SCHARLLET et al., 2002). A quantificação do teste se dá pela contagem das respostas

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da pata dianteira ao estímulo, em 10 tentativas para cada lado (ipsilateral e

contralateral) (WOODLEE et al., 2005).

Figura 12 – Fotografia da execução do teste da vibrissa, na qual o pesquisador esfrega

a vibrissa do rato sobre uma superfície e o animal movimenta a pata dianteira em

reação de proteção. Fonte: Scharllet et al. (2002).

3.5.2 Testes de Memória

Esquiva Passiva

Este teste foi baseado no método de DeNoble e cols. (1986) e nos permite

avaliar o aprendizado e a memória a partir de um estímulo aversivo. Este tipo de

memória tem o hipocampo e áreas do sistema límbico, como a amígdala, como as

principais áreas envolvidas. O dispositivo utilizado para o teste consiste de uma caixa

de acrílico (48 x 22 x 22cm ), dividida em dois compartimentos separados por uma

janela. Um compartimento branco, iluminado e com piso contínuo e outro

compartimento preto, escuro e com o piso em grade eletrificada (Figura 13).

O animal foi deixado para ambientação no aparelho durante um (01) minuto,

onde ele pôde explorar livremente os dois compartimentos e posteriormente, retirado.

Após 30 segundos, o rato foi colocado no compartimento iluminado, com a janela entre

os compartimentos aberta. Ao entrar no compartimento escuro, ele recebeu um choque

de 1mA, durante 1s. O tempo de latência que o animal gastou para entrar no

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compartimento escuro, desencadeando o estímulo aversivo, foi registrado, com limite

máximo de 300 segundos (treino). Após 15 minutos, o mesmo animal foi conduzido

novamente ao compartimento claro e repetido o procedimento anterior para a avaliação

da memória recente (MR). A retenção da memória (aprendizado) foi testada após 24h,

quando o mesmo procedimento foi repetido para a avaliação da memória tardia (MT).

Figura 13 – Fotografia do equipamento de esquiva passiva, constando de um

compartimento claro e um escuro.

Fonte: http://www.zhongtongcompany.cn/en/product_info.php?fclass=2&fid=133

acesso em 21/01/2015

Labirinto em Y – Y – Maze

Esse teste avalia a memória operacional, que tem como principal área envolvida,

o córtex pré-frontal. O animal foi colocado em um labirinto em Y, cada braço medindo

22 x 7cm, com a face voltada para a parede (Figura 14). Durante 8 minutos, o rato se

moveu espontaneamente neste labirinto. O pesquisador observou e anotou as entradas

em cada braço sequencialmente. O sucesso do teste é indicado pela alta taxa de

alternância nos 3 braços.

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Figura 14 – Fotografia do equipamento de labirinto em Y, constando de 3 braços para

escolha do animal. Fonte: arquivo pessoal.

Tal alternância é indicativa de que a memória de procedimento desse animal

está intacta. O índice de alternâncias espontâneas é calculado pela equação abaixo

(STONE et al., 1991).

Labirinto Aquático Sinalizado – Cued Water Maze)

Nos últimos 4 dias de cada protocolo experimental, os ratos foram submetidos à

tarefa do labirinto aquático sinalizado (cued) (PACKARD; McGAUGH, 1992). O teste foi

realizado em um tanque em formato circular, 170 centímetros de diâmetro e 70 cm de

profundidade, cheio com água (Figura 15).

Este teste consiste em quatro dias de treinamento, quatro tentativas

consecutivas por dia, durante o qual os animais foram deixados no tanque, de frente

para a parede, e liberados para nadar livremente para uma plataforma de escape (11

centímetros × 14 cm), submersa 2 centímetros sob a superfície da água, e colocada no

centro de um dos quatro quadrantes imaginários do tanque, durante todos os quatro

treinos realizados no mesmo dia. Sobre a plataforma, foi colocada uma esfera de 7cm

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de diâmetro, na cor preta, saliente acima da água. Além disso, nesta versão a posição

da plataforma foi sempre modificada em cada tentativa. A posição inicial, na qual o

animal foi deixado no tanque foi um dos quatro vértices dos quadrantes imaginários do

tanque, de forma aleatória. Quando o animal não encontrou a plataforma durante um

período de 60s, ele foi gentilmente guiado a ela. Depois que o animal atingiu a

plataforma, permaneceu sobre ela durante 20 s, e foi então removido do tanque durante

30 s antes de ser colocado na próxima posição inicial aleatória. O protocolo desta tarefa

de memória foi adaptado a partir do estudo da Packard e McGaugh que o propôs como

modelo de aprendizagem do hábito (MIYOSHI et al., 2002).

Figura 15 – Fotografia da piscina do labirinto aquático sinalizado. Fonte: arquivo

pessoal.

3.6 ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA

Os animais foram anestesiados com tiopental sódico (100 mg/kg, i.p.) e

submetidos a uma perfusão transcardíaca, utilizando paraformaldeído a 4% e solução

salina. Foi realizada a craniectomia e os cérebros foram retirados, pós-fixados em

formol tamponado (24h) e crioprotegidos com armazenamento em solução de sacarose

a 30%. Os cérebros foram fatiados sob congelação em cortes histológicos de 50 µm

(espaçamento de 300 µm), estriado e SN, para realização de imunohistoquímica para

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tirosina hidroxilase (TH) e transportador de dopamina (DAT), de 4 a 6 animais por

grupo.

3.6.1 Imunohistoquímica para TH e Imunofluorescência para DAT

A imunodetecção de TH foi realizada em secções de 50µm, em “free floating”. As

fatias foram lavadas 3 vezes durante 10 minutos com PBS, e incubadas com PBS

suplementado com 10% de metanol e 1,05% de peróxido de hidrogénio durante 40

minutos à temperatura ambiente (TA), para bloquear peroxidades endógenas. Depois

foram lavadas 3 vezes durante 10 minutos com PBS. As proteínas endógenas foram

bloqueados usando 10% de soro normal de cabra em PBS suplementado com Triton X-

100 (0,1% em solução de bloqueio) durante duas horas à TA. As secções foram

incubadas com o anticorpo primário diluído em solução de bloqueio (coelho anti-tirosina

hidroxilase, 1: 1000, Millipore / coelho anti-DAT; 1:1000; Millipore) a 4°C durante 48

horas. Após esse período de tempo, as secções foram lavadas 3 vezes com PBS

(10min), seguido de uma incubação de duas horas à TA com anticorpo secundário

diluído em solução de bloqueio (biotinilado, cabra anti-coelho, 1: 200, Vector Labs /

Alexa Fluor® 488; Goat Anti-Rabbit IgG; 1:1000; Life Technologies). As fatias foram

lavadas com PBS. O método ABC (Vector Labs/ Estados Unidos) foi usado durante 40

minutos à temperatura ambiente para amplificação do sinal. As fatias foram lavadas

com PBS e. realizada a revelação com a ajuda de DAB Peroxidase Substrate Kit

(Vector Labs/ Estados Unidos), seguida de nova lavagem. As secções foram montadas

em lâminas revestidas com gelatina, colocadas para secagem, desidratadas por um

gradiente de etanol e xileno. Finalmente, as secções foram cobertas pelas lamínulas

com Eukitt (Fluka-Sigma). As fatias foram analisadas por meio de um microscópio de

fluorescência Zeiss Imager.Z2 (REBOLA et al., 2011).

Depois, os marcadores TH e DAT foram quantificados utilizando software ImageJ

1.49p. Com a selecção à mão livre foi medida a densidade óptica de ambos os

estriados (ipsilateral e contralateral – TH e DAT) usando comissura anterior como um

controle negativo. O mesmo foi realizado na SN (TH). O resultado final foi obtido

através da comparação entre o ipsilateral de cada grupo de animais, bem como o lado

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contralateral. Para representar graficamente, foi utilizada a média (densidade óptica) do

lado ipsilateral de animais controle (que foram injetados com solução salina) como

100%. Em seguida, foi calculado o respectivo valor de ipsilateral em função dos valores

do grupo controle. Para quantificação de TH na SN também foi realizada a contagem

dos corpos de neurônios através do software Stereo Investigator, seguindo os critérios

anteriormente citados para a representação gráfica.

3.7 PREPARAÇÃO E ANÁLISE DO TECIDO

Alguns animais foram decaptados e realizada a craniectomia com objetivo de

obtenção do tecido cerebral à fresco. Os cérebros foram cuidadosamente dissecados e

as áreas do estriado e mesencéfalo ipsi e contralaterais foram separadas, colocadas

em Eppendorf, pesadas e armazenadas a -80ºC, para posterior preparação de

homogenatos.

3.7.1 Determinação da concentração de DA, DOPAC e HVA (AGUIAR et al., 2008)

Para a detecção da concentração das catecolaminas foi utilizado o equipamento

de HPLC (cromatografia líquida de alto desempenho) por detecção eletroquímica. Os

tecidos foram sonicados em ácido perclórico (HClO4) por 30 segundos e o homogenato

foi filtrado e colocado em tubos Eppendorf para centrifugação por 15 minutos em

centrífuga refrigerada a 15000 rpm. Uma alíquota de 20 µL do sobrenadante foi então

injetada no equipamento de HPLC. Utilizou-se uma coluna CLC-ODS(M) com

comprimento de 25 cm, calibre 4,6cm e diâmetro da partícula de 03µm (Shimadzu/

Japão). A fase móvel utilizada foi composta por tampão ácido crítico 0,163 M, pH 3,0

contendo ácido octanosulfônico sódico 0,69 M (SOS) como reagente formador do par

iônico, acetonitrila 4% v/v e tetrahidrofurano 1,7% v/v.

Dopamina (DA), ácido diidroxifenilacético (DOPAC) e ácido homovanílico(HVA)

foram eletroquimicamente detectados usando-se um detector amperométrico. A cada

20 amostras, foi realizado um novo cromatograma padrão, de acordo com a Figura 16.

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52

O resultado final foi obtido se deu através da análise dos valores obtidos em cada

amostra, considerando os valores do cromatograma padrão, peso da amostra e

diluição. Para representar graficamente, foi utilizada a média (±erro padrão) dos valores

do grupo em questão.

Figura 16 – Figura representativa do cromatograma padrão. Em destaque, obervamos os picos da curva referentes a concentração de DA, DOPAC e HVA, respectivamente assinalados. Fonte: arquivo pessoal.

3.7.2 Análise da expressão da subunidade NR1 do receptor NMDA e citocromo c

através de Western Blot (WB)

Essa análise foi realizada em membranas totais e sinaptossomas do corpo

estriado e substância negra. Ao tecido foi adicionado 2 ml de solução de sacarose

(0,32M sacarose, 1mM EDTA, 10 mM HEPES, 1mg/ml BSA) e centrifugado a 1500 g

por 10 min. O sobrenadante foi dividido em duas porções. A primeira porção foi

centrifugada a 14000 g (30 min) e o pellet acrescido de 200 µL de SDS 5% (BioRad)

(membranas totais – MT). A segunda porção foi centrifugada a 14000 g (12min) e o

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53

pellet ressuspendido em 1 ml de Percoll 45% (Percoll 45%, 0,675 mM NaCl, 39,5 ml

KHR) e centrifugado a 20000 g (2 min). Após descartado o sobrenadante, foi

adicionado 1 ml de KHR (140 mM NaCl, 1mM EDTA, 10 mM HEPES, 5 mM KCl, 5 mM

glicose), centrifugado 20000 (2 min) e o pellet diluído em 200 µL de SDS 5%

(sinaptossomas – SS).

Após a dosagem de proteínas em processo semelhante ao descrito no tópico

3.7.1, 20 µL de amostra, o que correspondeu a 40 µg de proteína, foi colocado em cada

poço para dar início a processo de eletroforese. As proteínas foram transferidas para a

membrana de PVDF usando um Bio-Rad miniprotein-III unidade de transferência

molhada. As membranas foram incubadas em leite desnatado a 5% (em TBS-T – pH

7,6 – 10 mM Tris-HCl, 150 mM NaCl, e 0,1% de Tween-20), durante 1h (RT). Após essa

fase, as membranas foram incubadas em anticorpo primário (coelho anti-NMDAR1

(NR1), 1:1000, Sigma-Aldrich; anti-citocromo c, 1:1000, Santa Cruz Biotech), overnight

a 4ºC. Então foram lavadas três vezes (10 min) em TBS-T e incubadas com o anticorpo

secundário (cabra anti-coelho, 1:2000, Millipore) por 2 h, seguida por três lavagens. A

detecção do sinal foi realizada através da coloração com DAB e níquel (ClN2). Para

interrupção da reação de degradação enzimática, a membrana foi lavada com água

deionizada e posteriormente secada em temperatura ambiente e, no final, guardada em

local privado de luz. (ZHOU et al., 2008).

Para a análise densitométrica, as bandas foram quantificadas por análise

computadorizada de imagem (com auxílio do software Image Studio Lite 4.0) onde a

densidade óptica de cada banda foi detectada. Inicialmente o sistema de análise calcula

a média dos valores de densidade óptica para cada região delimitada pelo operador.

Foi feita a relação NR1/tubulina e citocromo c/ tubulina e o valor final de intensidade

relativa foi expresso em função do grupo controle.

3.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Antes da realização dos testes estatísticos foi realizado o teste de normalidade

(Kolmogorov-smirnov) para verificar distribuição normal dos dados. Para a análise

estatística da imunorreatividade a TH, imufluorescência ao DAT, expressão de NR1 e

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54

citocromo c, análise da concentração de DA, DOPAC e HVA foram realizados os testes

de ANOVA de duas vias e teste de Newman-Keuls, sendo os resultados expressos

como média ± erro padrão da média. Para avaliação dos testes de comportamento da

fase 1 do experimento, foram realizados o teste de ANOVA de uma via e teste de

Tukey, sendo os resultados expressos como média ± erro padrão da média. Para os

testes de comportamento da fase 2 do experimento, foram realizados os testes de

ANOVA de duas vias e teste de Newman-Keuls, sendo os resultados expressos como

média ± erro padrão da média. O critério de significância utilizado foi de p < 0,05. O

programa de computador usado foi GraphPad Prism® 6.0.

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55

4. RESULTADOS

Após a realização dos procedimentos experimentais, os dados foram agrupados,

analisados e interpretados. Para fins didáticos, os resultados estão divididos em

sessões, de acordo com a fase do experimento descrita anteriormente.

4.1 FASE 1

Nesta primeira fase do experimento, buscamos testar a dose de berberina mais

apropriada para o modelo de parkinsonismo pela 6-OHDA. Para isso, propomos as

doses de 25, 50 e 100mg/kg. Logo de início, na administração da dose de 100mg/kg, foi

perceptível, apesar de não ter sido quantificada, um comportamento hiperativo e irritado

dos animais, além da mortalidade de cerca de 40%. Tais observações foram

responsáveis por uma mudança de conduta por parte dos pesquisadores, visando o

bem-estar dos animais. Dessa forma, apresentaremos a seguir os resultados para as

doses de 25 e 50mg/kg. Eventualmente, a dose de 100mg/kg será mencionada. O

grupo que consumiu apenas a berberina (50 mg/kg), sem lesão por 6-OHDA,

apresentou desempenho semelhante ao grupo Ctr nos testes abaixo e não consta nos

gráficos, com a finalidade de torna-los mais didáticos.

O teste da apomorfina é considerado um teste padrão para confirmar a

reprodutibilidade do modelo de parkinsonismo experimental unilateral com 6-OHDA. Na

figura 17, observamos que o grupo 6-OHDA apresentou aumento significativo das

rotações contralaterais ao lado da lesão (Ctr = 3,00 ± 1,03; 6-OHDA = 255,70 ± 57,75;

p<0,0001). O tratamento com berberina nas doses 25, 50 e 100 mg/kg diminuiu o

número de rotações contralaterais (no de rotações contralaterais: 6-OHDA+BBR25 =

53,00±20,06; p<0,0001, 6-OHDA+BBR50 = 7,23 ± 4,38; p<0,0001, 6-OHDA+BBR100 =

94,20 ± 31,92; p<0,01), quando comparadas ao grupo 6-OHDA.

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56

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B B R 5 0

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********

****

**

Figura 17 – Efeito da berberina sobre o comportamento rotacional induzido pela apomorfina, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratamos por 19 dias até a realização do teste. ****p<0,0001; **p<0,01; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

No teste do campo aberto não observamos nenhum prejuízo na atividade

locomotora dos animais, observado pelo número de crossings (número de cruzamentos:

Ctr = 20,33 ± 1,66; 6-OHDA = 17,75 ± 1,54; 6-OHDA+BBR25 = 18,00 ± 2,58; 6-

OHDA+BBR50 = 18,33 ± 2,08; p≥0,05), e rearings (número de rearings: Ctr = 14,44 ±

1,33; 6-OHDA = 17,70 ± 2,80; 6-OHDA+BBR25 = 12,00 ± 2,77; 6-OHDA+BBR50 =

12,44 ± 1,81; p≥0,05) (Figura 18).

Figura 18 – Efeito da berberina no número de crossings (A – número de cruzamentos nos quadrantes) e rearings (B – número de eventos de exploração vertical) observados no teste do campo aberto, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste.p≥0,05; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

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57

No teste do cilindro, analisamos a motricidade das patas dianteiras de forma

independente, ipsi e contralateral, assim como a motricidade combinada, de ambas as

patas. Podemos observar na figura 19 que os animais 6-OHDA apresentaram um

aumento dos toques da pata ipsilateral (número de toques da pata: Ctr = 4.56 ± 0,67; 6-

OHDA = 8,36 ± 1,89; p<0,05), redução dos toques da pata contralateral (número de

toques da pata: Ctr = 7,47 ± 1,36; 6-OHDA = 2,83 ± 0,70; p<0,01), assim como redução

dos toques de ambas as patas (número de toques da pata: Ctr = 14,00 ± 1,55; 6-OHDA

= 7,00 ± 1,12; p<0,01), quando comparados aos animais controle (veículo),

demonstrando um déficit na motricidade das patas dianteiras. Os animais que

consumiram berberina 25mg/kg apresentaram um aumento de toques da pata

contralateral (número de toques da pata: 6-OHDA = 7,47 ± 1,33; 6-OHDA+BBR25 =

3,63 ± 1,18; p≥0,05) e ambas as patas (número de toques da pata: 6-OHDA = 14,00 ±

1,55; 6-OHDA+BBR25 = 10,00 ± 1,39; p≥0,05), mas os dados não foram significativos,

quando comparados aos animais 6-OHDA. O grupo 6-OHDA+BBR50 não apresentou

modificação na motricidade da pata contralateral, mas quando analisados os toques de

ambas as patas, esses animais apresentaram um aumento significativo comparado ao

grupo 6-OHDA (número de toques da pata: 6-OHDA = 7,00 ± 1,12; 6-OHDA+BBR50 =

12,00 ± 1,54; p<0,05), se aproximando do grupo controle.

To

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ata

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ian

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ip s ila te r a l c o n t r a la te r a l Am b a s

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6 -O H D A

6 -O H D A + B B R 2 5

6 -O H D A + B B R 5 0**

** *

*

Figura 19 – Efeito da berberina sobre a motricidade das patas dianteiras (ipsilateral, contralateral e ambas), observado no teste do cilindro, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia

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estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste. **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

No teste da Vibrissa avaliamos a resposta sensório-motora do animal, ou seja, a

capacidade que o animal tem de realizar movimento de proteção com as patas

dianteiras ao receber estímulo nas vibrissas. Os animais 6-OHDA apresentaram menor

quantidade de toques da pata dianteira quando o estímulo foi dado na vibrissa

contralateral quando comparados aos animais controle (número de toques das patas:

Ctr = 9,42 ± 0,22; 6-OHDA = 7,63 ± 0,63; p<0,001). A beberina 50mg/kg mostrou um

aumento significativo do número de toques da pata dianteira na estimulação da vibrissa

contralateral (número de toques das patas: BBR50 = 9,00 ± 0,40; p<0,01) (Figura 20).

Ip s ila te r a l C o n tr a la te r a l

0

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6 -O H D A

6 -O H D A + B B R 2 5

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ian

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6 -O H D A + B B R 5 0

*** **

Figura 20 – Efeito da berberina sobre o déficit sensório motor, observado no teste da vibrissa, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste. ***p<0,001; **p<0,01; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

No teste da esquiva passiva, podemos inferir a capacidade de aquisição de

memória pelo animal, o que chamamos de memória recente (MR), e a consolidação

desta memória, sendo chamada de memória tardia (MT), através do registro do tempo

gasto pelo animal para entrar no compartimento escuro da esquiva, após um estímulo

aversivo.

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Neste estudo, todos os animais estavam aptos a se locomoverem no aparato da

esquiva, demonstrado pela latência (em segundos) durante o treino (latência: Ctr =

12,30 ± 5,70; 6-OHDA = 17,40 ± 6,20; 6-OHDA+BBR25 = 12,25 ± 4,00; 6-

OHDA+BBR50 = 12,80 ± 4,90 – não consta no gráfico). O grupo 6-OHDA apresentou

menor latência para atingir o compartimento escuro da esquiva após o estímulo,

mostrando déficit tanto na memória recente (latência: Ctr = 300,00 ± 0,00; 6-OHDA =

63,10 ± 19,87; p<0,0001) quanto na memória tardia (latência: Ctr = 264,20 ± 19,63; 6-

OHDA = 61,41 ± 18,16; p<0,0001). Os animais que consumiram berberina mantiveram

a memória preservada. Essa afirmativa foi verdadeira para as duas doses: 6-OHDA +

BBR25 (latência: 226,50 ± 58,04; p<0,05 (MR); 300,00 ± 0,00; p<0,001 (MT)) e 6-OHDA

+ BB50 (latência: 180,60 ± 30,51; p<0,05 (MR); 247,90 ± 30,45; p<0,0001 (MT)) (Figura

21).

M e m ó r ia r e c e n te M e m ó r ia ta r d ia

0

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2 0 0

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6 -O H D A + B e rb 5 0

**** *

*

***********

Figura 21 – Efeito da berberina sobre a memória recente (MR) e a memória tardia (MT), observado no teste da esquiva passiva, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste. ***p<0,001; **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

No teste do labirinto em Y, foi quantificada a capacidade do animal desempenhar

a tarefa de entrar nos braços do Y de maneira alternada, o que chamamos de memória

de procedimento ou de trabalho. Neste estudo, não foi evidenciado déficit de memória

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de trabalho no modelo da 6-OHDA, nem modificação de desempenho nesta tarefa ao

consumir berberina (Figura 22).

0

2 0

4 0

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8 0

6 -O H D A + B B R 5 0

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6 -O H D A + B B R 2 5

T e s te d o L a b ir in to e m Y

Figura 22 – Efeito da berberina sobre a memória de procedimento, observada no teste do labirinto em Y, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste. p≥0,05; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

No teste de labirinto aquático sinalizado, os animais devem encontrar a

plataforma de escape, em quatro treinos por dia, durante quatro dias. O tempo

necessário para encontrar a plataforma sinalizada foi registrado, e a média do dia foi

utilizada com finalidade comparativa. Neste experimento, observamos que os animais

6-OHDA apresentaram um déficit da memória espacial quando comparados aos

animais controle (médias da latência nos dias 1, 2, 3 e 4: Ctr = 26,93 ± 2,90; 15,84 ±

1,95; 8,63 ± 1,05; 8,40 ± 1,10; 6-OHDA = 39,10 ± 2,75; 23,54 ± 2,30; 22,46 ± 2,06;

16,38 ± 1,75; p<0,05). Os animais que consumiram 6-OHDA + BBR50 apresentaram

uma redução do tempo para encontrar a plataforma. No entanto, esses dados não

foram significativos. Os animais que consumiram BBR100 mostraram um tempo de

latência semelhante aos animais 6-OHDA durante os três primeiros dias de treino,

aumentando o tempo no último dia (Figura 23). O grupo que consumiu apenas a

berberina, sem lesão por 6-OHDA, apresentou desempenho semelhante ao grupo Ctr e

não consta no gráfico abaixo.

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1 2 3 4

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1 0

2 0

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Figura 23 – Efeito da berberina sobre a memória dependente de estriado, observada através do registro do tempo de latência para encontrar a plataforma no teste do labirinto aquático sinalizado (cued), em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados com berberina (50 e 100 mg/kg) por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste. Não foi possível realizar este teste na dose de 25 mg/kg, por indisponibilidade de animais no biotério. p<0,05(Ctr vs. 6-OHDA); ANOVA de uma via; teste de Tukey.

Podemos observar na figura 24 a concentração de dopamina (ng/mg de tecido)

no estriado ipsilateral (A), estriado contralateral (B) e mesencéfalo (C). É importante

salientarmos que a concentração de dopamina permaneceu bem semelhante no grupo

controle e no grupo de animais que recebeu apenas berberina, sem lesão prévia

estriatal. Já no grupo 6-OHDA, a concentração de dopamina diminuiu significativamente

no estriado ipsilateral (DA: Ctr = 1110,40 ± 330,51; 6-OHDA = 7,00 ± 7,00; p<0,01) e no

mesencéfalo (DA: Ctr = 294,8 ± 56,5; 6-OHDA = 99,4 ± 39,5; p<0,01), enquanto

observamos um aumento no estriado contralateral (DA: Ctr = 721,3 ± 126,9; 6-OHDA =

1900,0 ± 386,9; p≥0,05), quando comparados ao grupo controle.

Nos grupos com injeção de 6-OHDA e tratados com berberina, observou-se um

aumento dos níveis de dopamina comparados ao grupo 6-OHDA. O grupo 6-

OHDA+BBR25 mostrou um aumento de dopamina no estriado ipsilateral e redução no

estriado contralateral, mas os dados não foram significativos. Os animais 6-

OHDA+BBR50 apresentaram um aumento da dopamina no estriado ipsilateral (não

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62

significante), redução da dopamina compensatória no estriado contralateral (dosagem

de DA: 6-OHDA+BBR50 = 1078,0 ± 167,9; p≥0,05), e aumento no mesencéfalo (DA: 6-

OHDA+BBR50 = 205,6 ± 26,8; p≥0,05).

Figura 24 – Efeito da berberina sobre a concentração de dopamina (DA), por HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados com berberina (25 e 50 mg/kg) por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste. A) Estriado ipsilateral; B) Estriado Contralateral; C) Mesencéfalo. **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

A concentração de DOPAC (ng/mg de tecido), um dos metabólitos da dopamina,

diminuiu significativamente no estriado ipsilateral dos animais do grupo 6-OHDA

comparados aos animais controle (DOPAC: Ctr = 257,70 ± 31,93; 6-OHDA = 0,90 ±

0,70; p<0,0001). O grupo 6-OHDA+BBR50 apresentou aumento significativo de DOPAC

(DOPAC: 6-OHDA+BBR50 = 75,43 ± 12,19; p<0,05).

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No mesencéfalo, os níveis de DOPAC nos animais parkinsonianos diminuíram,

mas não significativamente, quando comparados ao controle. O tratamento com

berberina nas doses de 25 e 50mg/kg aumentaram os níveis desse metabólito no

mesencéfalo quando comparados ao grupo 6-OHDA, mas esse aumento não foi

significativo (DOPAC: 6-OHDA = 5,01 ± 1,08; 6-OHDA+BBR25 = 7,95 ± 4,58; 6-

OHDA+BBR50 = 11,61 ± 2,14 p<0,05) (Figura 25).

Figura 25 – Efeito da berberina sobre a dosagem de DOPAC, por HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados com berberina (25 e 50 mg/kg) por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste. A) Estriado ipsilateral; B) Estriado Contralateral; C) Mesencéfalo. ****p<0,0001; *p<0,05; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

Quando comparamos a concentração de HVA (ng/mg de tecido) no estriado

ipsilateral (HVA: Ctr = 66,01 ± 5,87; 6-OHDA = 5,13 ± 1,13; p<0,05) e mesencéfalo

(HVA: Ctr = 11,47 ± 4,17; 6-OHDA = 1,31 ± 0,82; p<0,05) de animais 6-OHDA com o

grupo controle, observamos significativa redução. Essa redução não é observada nos

animais 6-OHDA+BBR50 (HVA: estriado ipsi 6-OHDA+BBR50 = 33,87 ± 4,31; p<0,05;

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mesencéfalo 6-OHDA+BBR50 = 18,63 ± 2,94; p<0,01). No estriado contralateral não

houve diferença significativa (Figura 26).

Figura 26 – Efeito da berberina sobre a dosagem de HVA, por HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados com berberina (25 e 50 mg/kg) por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 dias até a realização do teste. A) Estriado ipsilateral; B) Estriado Contralateral; C) Mesencéfalo. **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de uma via; teste de Tukey.

Com objetivo de sintetizar os achados do efeito das 3 doses de berberina

testadas neste estudo, podemos apresentar a tabela 02 abaixo. É importante destacar

em especial a administração da berberina na dose de 50mg/kg que apresentou efeito

positivo na maioria dos testes realizados. Ao estabelecermos critérios como efeito no

comportamento rotacional, motor, memória e dosagem de monoaminas, verificamos

que a dose de 50mg/kg ainda se mostra superior a dose de 25mg/kg, apesar desta

atender a vários desses critérios. A dose de 100mg/kg não pode entrar nesta análise

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comparativa, na medida em que não foi possível realizar todos os testes com esses

animais devido a alta mortalidade observada.

Tabela 02 – Efeito das doses da berberina sobre o comportamento motor e rotacional, memória e dosagem de monoaminas. (+) efeito positivo; (++) efeito positivo e significativo com p<0,05; (+++) efeito positivo e significativo com p<0,01; (SE) sem efeito; (NR) teste não realizado.

EFEITO DAS DOSES DE BERBERINA

TESTES 25mg/kg 50mg/kg 100mg/kg

Teste da Apomorfina +++ +++ +++

Teste do Campo Aberto SE SE NR

Teste do Cilindro + ++ NR

Teste da Vibrissa SE + NR

Teste da Esquiva Passiva +++ +++ NR

Cued Water Maze NR + +

Dosagem de DA + ++ NR

Dosagem de Dopac + ++ NR

Dosagem de HVA + ++ NR

4.2 FASE 2

Na segunda etapa do experimento, a dose de 50mg/kg foi administrada em 3

protocolos diferentes: pré-tratamento (tratamento durante 21 dias, cirurgia estereotáxica

e 19 dias sem tratamento), pré e pós-tratamento (15 dias de tratamento, cirurgia

estereotáxica e mais 19 dias de tratamento) e pós-tratamento (cirurgia estereotáxica e

tratamento a partir do sétimo dia de pós-cirúrgico, até o 28º dia).

No teste da apomorfina, pode-se observar que o tratamento com berberina

promoveu menor número de rotações contralaterais tanto no protocolo de pré-

tratamento (número de rotações contralaterais: 6-OHDA = 237,80 ± 52,85; 6-

OHDA+BBR50 = 2,00 ± 1,26; p<0,05), como no pré e pós-tratamento (número de

rotações contralaterais: 6-OHDA = 237,80 ± 52,85; 6-OHDA+BBR50 = 27,82 ± 10,85;

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p<0,001), como no pós-tratamento (número de rotações contralaterais: 6-OHDA =

249,90 ± 39,94; 6-OHDA+BBR50 = 61,25 ± 28,59; p<0,0001). O resultado deste teste

mostra o potencial neuroprotetor da berberina no modelo de parkinsonismo pela 6-

OHDA (Figura 27).

Figura 27 – Efeito da berberina no número de rotações contralaterais induzidas pela apomorfina, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados com berberina em 3 protocolos diferentes: pré-tratamento (A), pré e pós-tratamento (B) e pós-tratamento (C). ****p<0,0001; ***p<0,001; **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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No teste do campo aberto, verifica-se que o modelo de parkinsonismo com 6-

OHDA não altera significativamente a atividade locomotora do animal. A administração

de berberina nos protocolos de pré-tratamento e de pré e pós-tratamento mantém essa

atividade similar. No entanto, no protocolo de pós tratamento, onde a beberina é

administrada apenas depois da lesão pela toxina, observa-se um aumento nos

cruzamentos dos quadrantes (crossings – Ctr = 17,50 ± 1,39; BBR50 = 21,17 ± 2,45; 6-

OHDA = 17,56 ± 0,62; 6-OHDA+BBR50 = 23,67 ± 1,47; p<0,05) e uma redução da

exploração vertical (rearings – Ctr = 13,58 ± 1,39; BBR50 = 13,00 ± 1,00; 6-OHDA =

12,75 ± 0,70; 6-OHDA+BBR50 = 7,25 ± 2,09; p<0,01) (Figura 28).

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Figura 28 – Efeito da berberina no número de crossings (A, C, E – número de cruzamentos nos quadrantes) e rearings (B, D, F – número de eventos de exploração vertical) observados no teste do campo aberto, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados com berberina em 3 protocolos diferentes: pré-tratamento (A e B), pré e pós-tratamento (C e D) e pós-tratamento (E e F).****p<0,01; *p<0,05; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

No teste do cilindro é possível evidenciar o déficit de motricidade das patas

dianteiras, com assimetria nos animais 6-OHDA, nos protocolos pré-tratamento e pré e

pós tratamento (número de toques da pata contralateral: pré-tratamento – Ctr = 8,11 ±

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1,80; 6-OHDA = 3,63 ± 0,97; p<0,05; pré e pós-tratamento – Ctr = 8,11 ± 1,80; 6-OHDA

= 3,63 ± 0,97; p<0,05) e alteração bilateral (número de toques de ambas as patas

dianteiras: pré-tratamento – Ctr = 12,35 ± 1,86; 6-OHDA = 5,58 ± 0,9; p<0,01; pré e

pós-tratamento – Ctr = 12,35 ± 1,86; 6-OHDA = 5,58 ± 0,90; p<0,01). No entanto, no

protocolo de pós-tratamento, esse déficit é evidente apenas na assimetria, ou seja, na

pata contralateral a lesão (número de toques da pata contralateral: Ctr = 8,11 ± 1,80 ; 6-

OHDA = 2,60 ± 1,08; p<0,05). A motricidade das patas bllateralmente mostrou-se

reduzida, mas não de forma significativa. Vale salientar que o teste do cilindro no

protocolo de pós-tratamento é realizado no 26º dia após a lesão, enquanto nos demais

protocolos, esse teste é realizado no 16º dia, fato que pode influenciar no déficit motor.

Os animais tratados com berberina apresentaram uma melhora da motricidade de

ambas as patas (número de toques de ambas as patas dianteiras: pré-tratamento - 6-

OHDA+BBR50 = 3,83 ± 1,07; p<0,05; pré e pós-tratamento - 6-OHDA+BBR50 = 12 ±

1,54; p<0,05), nos protocolos de pré-tratamento e pré e pós-tratamento, mostrando um

efeito protetor da berberina sobre o déficit motor. A motricidade da pata contralateral

individualmente não apresentou alteração na motricidade (Figura 29). O grupo que

consumiu apenas a berberina, sem lesão por 6-OHDA, apresentou desempenho

semelhante ao grupo Ctr e não consta no gráfico a seguir.

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Figura 29 – Efeito da berberina na motricidade das patas dianteiras (ipsilateral, contralateral e ambas), observado no teste do cilindro, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados com berberina em 3 protocolos diferentes: pré-tratamento (A), pré e pós tratamento (B) e pós-tratamento (C). **p<0,0001; *p<0,05; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

Na figura 30, observa-se que o grupo 6-OHDA apresentou um déficit sensório

motor representado pela redução dos toques das patas dianteiras quando o estímulo foi

contralateral, tanto no pré-tratamento, como no pré e pós-tratamento e pós-tratamento

(número de toques das patas dianteiras: Ctr = 9,58 ± 0,22; 6-OHDA = 7,07 ± 0,56;

p<0,01). O tratamento com berberina somente foi capaz de proteger contra esse déficit

quando aplicado no protocolo de pré e pós-tratamento (número de toques das patas

dianteiras: 6-OHDA+BBR50 = 9,00 ± 0,40; p<0,01). O grupo que consumiu apenas a

berberina, sem lesão por 6-OHDA, apresentou desempenho semelhante ao grupo Ctr e

não consta no gráfico a seguir.

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Figura 30 – Efeito da berberina sobre o déficit sensório motor, observado no teste da vibrissa, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados com berberina em 3 protocolos diferentes: pré-tratamento (A), pré e pós-tratamento (B) e pós-tratamento (C). ***p<0,001; **p<0,01; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

No teste da esquiva passiva, os animais 6-OHDA apresentaram um tempo de

latência para entrar no compartimento escuro diminuído quando comparados aos

animais controle, tanto na memória recente (tempo de latência (s): Ctr = 300,00 ± 0; 6-

OHDA = 63,10 ± 19,87; p<0,0001) quanto tardia (tempo de latência (s): Ctr = 220,30 ±

32,57; 6-OHDA = 61,41 ± 18,16; p<0,0001) nos protocolos de pré-tratamento e de pré e

pós-tratamento. No protocolo de pós-tratamento, esse déficit de memória recente e

tardia não foi significativo, considerando o período de realização do teste (no 28º dia).

O tratamento com a berberina mostrou um efeito positivo na memória dos

animais. No pré-tratamento, a berberina teve efeito significativo aumentando o tempo

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de latência na memória recente (tempo de latência (s): 6-OHDA+BBR50 = 148,30 ±

51,00; p<0,05) e tardia (tempo de latência (s): 6-OHDA+BBR50 = 240,00 ± 47,56;

p<0,001). No pré e pós-tratamento, esse efeito foi significativo apenas na memória

tardia (tempo de latência (s): 6-OHDA+BBR50 = 232,30 ± 25,54; p<0,001), apesar de

apresentar um aumento da latência também na memória recente (tempo de latência (s):

6-OHDA+BBR50 = 141,60 ± 31,33; p≥0,05). Esses dados corroboram com dados

anteriores sobre o efeito protetor da berberina no Sistema Nervoso Central (SNC)

(Figura 31). O grupo que consumiu apenas a berberina, sem lesão por 6-OHDA,

apresentou desempenho semelhante ao grupo Ctr e não consta no gráfico a seguir.

Figura 31 – Efeito da berberina sobre a memória recente (MR) e a memória tardia (MT), observado no teste da esquiva passiva, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados com berberina em 3 protocolos diferentes: pré-tratamento (A), pré e pós-tratamento (B) e pós-tratamento (C). ****p<0,0001; ***p<0,001; *p<0,05; 2w ANOVA; teste de Newman-Keuls.

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Quando analisamos o desempenho dos animais no teste do Y maze,

observamos que o modelo da 6-OHDA escolhido para aplicação neste estudo não gera

alteração significativa da memória de trabalho em qualquer dos protocolos executados

(Figura 32).

Figura 32 – Efeito da berberina sobre a memória de procedimento, observada no teste do labirinto em Y, em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados com berberina em 3 protocolos diferentes: pré-tratamento (A), pré e pós-tratamento (B) e pós-tratamento (C). p≥0,05; 2w ANOVA; teste de Newman-Keuls.

A dosagem de dopamina é um fator importante no diagnóstico da DP. Ao

analisarmos a DA no estriado ipsilateral nos protocolos pré-tratamento e pré e pós-

tratamento, ou seja, no local da injeção de 6-OHDA, podemos observar que seus níveis

tiveram uma queda bastante significativa nos animais 6-OHDA quando comparados aos

níveis do grupo controle e do grupo que apenas consumiu BBR50, como era esperado

(DA (ng/mg de tecido): Ctr = 1114,00 ± 335,10; BBR50 = 1294,00 ± 227,50; 6-OHDA =

7,00 ± 7,00; p<0,001). Tal padrão não foi seguido no estriado ipsilateral no pós-

tratamento. Podemos observar que os níveis de DA tiveram um aumento nos animais 6-

OHDA+BBR50, mas não de forma significativa (Figura 33).

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Figura 33 – Efeito da berberina sobre a concentração de dopamina (DA), por HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. A) Estriado ipsilateral (pré-tratamento), B) Estriado ipsilateral (pré e pós-tratamento), C) Estriado ipsilateral (pós-tratamento). ****p<0,0001; ***p<0,001; **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

Quando a dosagem de DA foi realizada no estriado contralateral, constatamos

um aumento compensatório de DA no grupo 6-OHDA comparado aos grupos controle e

BBR50 (DA (ng/mg de tecido): pré e pós-tratamento: Ctr = 721,30 ± 126,90; BBR50 =

1139,00 ± 52,80; 6-OHDA = 1900,00 ± 386,90; p≥0,05; pós-tratamento: Ctr = 721,30 ±

126,90; BBR50 = 1139,00 ± 52,80; 6-OHDA = 16180,00 ± 1434,0; p<0,0001), nos

protocolos pré e pós-tratamento e apenas pós-tratamento (Figura 34). Os níveis de DA

no grupo 6-OHDA+BBR50 apresentaram uma redução significativa (DA (ng/mg de

tecido): pré e pós-tratamento: 6-OHDA+BBR50 = 1078,00 ± 167,90; p<0,05; pós-

tratamento: 6-OHDA+BBR50 = 8899,00 ± 762,9o; p<0,0001). No protocolo pré-

tratamento, a DA no grupo 6-OHDA aumentou levemente, não seguindo o padrão

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compensatório, enquanto que o grupo 6-OHDA+BBR50 mostrou considerável aumento

da DA no estriado contralateral.

Figura 34 – Efeito da berberina sobre a dosagem de dopamina (DA), por HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. A) Estriado contralateral (pré-tratamento), B) Estriado contralateral (pré e pós-tratamento), C) Estriado contralateral (pós-tratamento). ****p<0,0001; ***p<0,001; **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

No mesencéfalo, os níveis de DA nos protocolos pré-tratamento e pré e pós-

tratamento caíram significativamente no grupo 6-OHDA (DA (ng/mg de tecido): Ctr =

294,80 ± 56,50; BBR50 = 256,80 ± 54,00; 6-OHDA = 99,40 ± 39,50; p≥0,01), e

aumentam no grupo 6-OHDA+BBR50 (DA: pré-tratamento: 6-OHDA+BBR50 = 379,50 ±

121,00; p≥0,05; pré e pós-tratamento: 6-OHDA+BBR50 = 205,60 ± 26,80; p<0,05). No

pós-tratamento, a DA sofreu leve aumento no grupo 6-OHDA, mas não foi significativo

(Figura 35).

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Figura 35 – Efeito da berberina sobre a dosagem de dopamina (DA), por HPLC (ng/mg de tecido), em ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. A) Mesencéfalo (pré-tratamento), B) Mesencéfalo (pré e pós-tratamento), C) Mesencéfalo (pós-tratamento). ****p<0,0001; ***p<0,001; **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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Na imunohistiquímica para tirosina hidroxilase (TH), realizada no corpo estriado

dos animais que participaram do protocolo de pré-tratamento com berberina (BBR),

podemos observar que a imunorreatividade no grupo Ctr (densidade ópica (DO): Ctr =

100,00 ± 4,36) e BBR50 (DO: BBR50 = 97,82 ± 2,14) foram bastante semelhantes

(p≥0,05), evidenciando que a berberina, sem lesão estriatal prévia, não é capaz de

interferir nos prolongamentos das células dopaminérgicas desta região. Quando esses

dois grupos são comparados ao grupo 6-OHDA, observamos que este último apresenta

a imurreatividade para TH significativamente menor, que caracteriza o modelo da 6-

OHDA, uma queda na dopamina estriatal (DO: 6-OHDA = 44,00 ± 7,15; p<0,0001). E o

grupo tratado com BBR50 com lesão por 6-OHDA (6-OHDA+BBR50) mostrou um

aumento nesta imunorreactividade (DO: 6-OHDA+BBR50 = 64,29 ± 3,90; p<0,05),

destacando a propriedade protetora da berberina contra a perda dopaminérgica

estriatal, quando administrada durante 21 dias antes da injeção de 6-OHDA (Figura 36

– A, B, C, D, E).

Quando fazemos uma análise relativa desta mesma imunorreatividade,

caracterizamos o percentual de lesão do lado ipsi com relação ao contralateral em cada

um dos grupos. Assim, constatamos que os 6-OHDA apresentaram cerca de 60-70% de

lesão de fibras dopaminérgicas no estriado, que foi um dado significativo quando

comparado aos grupos Ctr (10%) e BBR50 (11%), caracterizando o parkisonismo

experimental (p<0,0001). Os animais 6-OHDA+BBR50 apresentaram um percentual de

40-45% de lesão estriatal, evidenciando uma proteção estriatal promovida pelo

consumo prévio de berberina (p<0,05), confirmando a análise anterior (Figura 36 – F).

A imunorreatividade a TH na substância negra (SN) apresenta padrão

semelhante ao do corpo estriado. Os grupos Ctr (DO: Ctr = 100,00 ± 11,61) e BBR50

(DO: BBR50 = 76,66 ± 12,49) apresentam imunorreatividade a TH sem diferença

estatística (p≥0,05), e o grupo 6-OHDA (DO: 6-OHDA = 63,50 ± 1,84; p<0,05) destaca-

se pela diminuição na imunorreatividade. Os animais do grupo 6-OHDA+BBR50

mostraram uma maior imunorreatividade, no entanto não foi significativa (DO: 6-

OHDA+BBR50 = 74,6 ± 6,68; p≥0,05) (Figura 37 – A, B, C, D, E).

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Figura 36 – Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH no corpo estriado de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados 21 dias antes e 19 após a cirurgia estereotáxica (pré-tratamento). A) Controle, B) BBR50, C) 6-OHDA, D) 6-OHDA+BBR50. Estriado ipsilateral (direita) e contralateral (esquerda). E) Densidade óptica (em pixels) no estriado ipsilateral, F) % de densidade ópica contralateral/ipsilateral. ****p<0,0001; ***p<0,001; **p<0,01; *p<0,05; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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Figura 37 – Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH na SN de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados 21 dias antes e 19 após a cirurgia estereotáxica (pré-tratamento). A) Controle, B) BBR50, C) 6-OHDA, D) 6-OHDA+BBR50. SN ipsilateral (direita) e contralateral (esquerda). E) Densidade óptica (em pixels) na SN ipsilateral, F) % de densidade ópica contralateral/ipsilateral. ***p<0,001; **p<0,01; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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Quando analisamos os dados relativos, observamos que o grupo 6-OHDA

apresentou um percentual de aproximadamente 50% de lesão comparado ao Ctr

(≈20%, p<0,001). Com o tratamento prévio com berberina, observamos uma redução no

percentual de lesão (35-40%), confirmando a forte tendência de proteção conferida pela

berberina no grupo 6-OHDA+BBR50 (p≥0,05) (Figura 37 – F).

No protocolo de pré e pós-tratamento, a imunorreatividade para TH no corpo

estriado (Figura 38 – A, B, C, D, E, F) seguiu o mesmo padrão que em P1, quando

comparamos os grupos Ctr (DO: Ctr = 100,00 ± 9,51) ao BBR50 (DO: BBR50 = 119,10

± 9,53; p≥0,05), e também ao compararmos estes ao grupo 6-OHDA (DO: 6-OHDA =

20,75 ± 1,25; p<0,0001). Neste protocolo, os animais que receberam berberina antes e

após a cirurgia para injeção de 6-OHDA mostraram um aumento da imunorreatividade

para TH (DO: 6-OHDA+BBR50 = 42,50 ± 12,69; p≥0,05), mas não foi significativo.

A análise dos dados relativos ipsi/contralateral, mostra o grupo 6-OHDA com 75-

80% de lesão estriatal, lesão esta bastante significativa quando comparamos com o Ctr

e o BBR50 (ipsi/contra: Ctr=8%; BBR50=10%; p<0,0001). Os animas 6-OHDA+BBR50

apresentaram 45-50% de lesão, caracterizando a proteção estriatal conferida pela

berberina (p<0,001) (Figura 38 – F).

Na SN, encontramos uma redução na imunorreatividade a TH no grupo 6-OHDA

(DO: 6-OHDA = 53,00 ± 2,04; p<0,0001) quando comparamos com o Ctr (DO: Ctr =

103.30 ± 4,47) e BBR50 (DO: BBR50 = 93,87 ± 1,41). O tratamento com berberina

(grupo 6-OHDA+BBR50) confere pequeno aumento nesta marcação, tendendo ao

aumento, mas sem caráter significativo (DO: 6-OHDA+BBR50 = 59,31 ± 1,19; p≥0,05)

(Figura 39 – A, B, C, D, E).

Quando analisamos a relação ipsi/contralateral de forma comparativa entre os

grupos, tanto na mensuração da densidade óptica (Programa ImageJ) (Figura 39 – F),

quanto na contagem de corpos celulares (Software Stereo Investigator) (Figura 39 – G),

observamos que o grupo 6-OHDA apresenta um grande percentual de lesão, 45-50% e

75-80% respectivamente ao tipo de mensuração realizada, com caráter significativo

(p<0,0001) em relação aos grupos Ctr e BBR50. Nos animais do grupo 6-

OHDA+BBR50, a SN teve pequena redução na nesta relação (≈40% e 60%,

respectivamente), mas não foi significativa.

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Figura 38 – Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH no corpo estriado de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados 15 dias antes e 19 após a cirurgia estereotáxica (pré e pós-tratamento). A) Controle, B) BBR50, C) 6-OHDA, D) 6-OHDA+BBR50. Estriado ipsilateral (direita) e contralateral (esquerda). E) Densidade óptica (em pixels) no estriado ipsilateral, F) % de densidade ópica contralateral/ipsilateral. ****p<0,0001; ***p<0,001; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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Figura 39 – Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH na SN de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados 15 dias antes e 19 após a cirurgia estereotáxica (pré e pós-tratameto). A) Controle, B) BBR50, C) 6-OHDA, D) 6-OHDA+BBR50. SN ipsilateral (direita) e contralateral (esquerda). E) Densidade óptica (em pixels) na SN ipsilateral, F) % de densidade ópica contralateral/ipsilateral. G) Estereologia (% contralateral/ipsilateral). ****p<0,0001; ANOVA de duas vias, teste de Newman-Keuls. .

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Durante a execução do protocolo de pós-tratamento, os animais receberam água

ou berberina como tratamento apenas após a cirurgia, do sétimo ao vigésimo oitavo dia.

O objetivo foi verificar se a berberina tem a capacidade de recuperar as células

dopaminérgicas já em processo de degeneração.

Mas uma vez, reafirmamos a reprodutibilidade do modelo de Parkinsonismo

experimental através da injeção unilateral de 6-OHDA (Figura 40 – A, B, C, D, E), na

medida em que o grupo 6-OHDA (DO: 6-OHDA = 47,33 ± 6,83; p<0,0001) apresenta

reduzida imunorreatividade a TH no estriado ipsilateral quando comparado ao grupo Ctr

(DO: Ctr = 103,50 ± 5,07) e BBR50 (DO: BBR50 = 107,30 ± 5,58). Os animais 6-

OHDA+BBR50 mostraram pequena capacidade de recuperação das células

dopaminérgicas ipsilaterais (DO: 6-OHDA+BBR50 = 59,28 ± 5,58; p≥0,05).

Na análise dos dados relativos (Figura 40 – F), confirmamos o padrão anterior,

na medida em que a relação ipsi/contralateral foi de 55-60% no grupo 6-OHDA, valor

significativo (p<0,0001) quando comparado aos valores de 7% (Ctr) e 8% (BBR50).

Quando comparamos os valores relativos do grupo 6-OHDA+BBR50 (40-45%) com os

demais observamos, de forma mais enfática, a capacidade de recuperação dos

prolongamentos estriatais dos neurônios dopaminérgicos submetidos ao tratamento

com a berberina (p<0,05).

Na SN (Figura 41 – A, B, C, D, E, F), tanto quando analisamos a densidade

óptica, quanto a relação ipsi/contralateral, podemos constatar a degeneração de

neurônios dopaminérgicos nigrais (DO: Ctr = 100,00 ± 1,99; 6-OHDA = 49,00 ± 2,94;

p<0,0001 – ipsi/contra: Ctr = 10%; 6-OHDA = 55-60%; p<0,0001; respectivamente). Já

os animais tratados com berberina após lesão não apresentaram diminuição na

imunomarcação comparados ao 6-OHDA (DO: 6-OHDA+BBR50 = 54,24 ± 5,76;

ipsi/contra: 6-OHDA+BBR50 = 40-45%) com tend6encia a recuperação neuronal, mas

não foi significativa (p≥0,05).

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Figura 40 – Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH no corpo estriado de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados do sétimo ao 28º dia após a cirurgia estereotáxica (pós-tratamento). A) Controle, B) BBR50, C) 6-OHDA, D) 6-OHDA+BBR50. Estriado ipsilateral (direita) e contralateral (esquerda). E) Densidade óptica (em pixels) no estriado ipsilateral, F) % de densidade ópica contralateral/ipsilateral. ****p<0,0001; *p<0,05; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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Figura 41 – Efeito da berberina sobre a imunorreatividade para TH na SN de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram tratados do sétimo ao 28º dia após a cirurgia estereotáxica (pós-tratamento). A) Controle, B) BBR50, C) 6-OHDA, D) 6-OHDA+BBR50. SN ipsilateral (direita) e contralateral (esquerda). E) Densidade óptica (em pixels) na SN ipsilateral, F) % de densidade ópica contralateral/ipsilateral. ****p<0,0001; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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Esta segunda etapa do trabalho, na qual comparamos os 3 protocolos de

intervenção através da administração de berberina, pode ser sintetizada como na

tabela 03. É importante observar que todos os protocolos de administração apresentam

resultados positivos, no entanto o protocolo de pré e pós-tratamento mostrou-se

superior por apresentar resultados positivos e significativos na grande maioria dos

parâmetros observados. Em seguida observamos os efeitos positivos do protocolo de

pré-tratamento, mostrando superioridade a pós-tratamento e fortalecendo a teoria das

propriedades neuroprotetoras da berberina.

Tabela 03 – Efeito dos protocolos de administração da berberina (Pré-tratamento, Pré e pós-tratamentoo e Pós-tratamento) sobre o comportamento motor e rotacional, memória, dosagem de DA e Imurreatividade a TH. (+) efeito positivo; (++) efeito positivo e significativo com p<0,05; (+++) efeito positivo e significativo com p<0,01; (SE) sem efeito.

EFEITO DOS PROTOCOLOS DE ADMINISTRAÇÃO DA

BERBERINA

TESTES Pré Pré e

pós Pós

Teste da Apomorfina ++ +++ +++

Teste do Campo Aberto SE SE SE

Teste do Cilindro + ++ ++

Teste da Vibrissa SE +++ SE

Teste da Esquiva Passiva +++ +++ SE

Dosagem de DA SE ++ SE

Imurreatividade a TH no estriado ++ +++ ++

Imurreatividade a TH na SN + + +

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Para a análise através da técnica de western blotting, foram selecionadas

amostras de tecido dos animais que participaram do protocolo de pré e pós-tratamento,

devido a este protocolo ter se destacado diante dos demais. Ao analisarmos a

expressão da subunidade NR1 do receptor NMDA no estriado ipsilateral (proteínas

totais) após a injeção de 6-OHDA ou veículo, observamos que esta é significativamente

maior no grupo 6-OHDA (6-OHDA = 149,70 ± 7,86) que nos grupos Ctr (Ctr = 85,08 ±

12,74; p<0,01) e BBR50 (BBR50 = 96,13 ± 6,69; p<0,05). Em contrapartida, o animais

do grupo 6-OHDA+BBR50 (6-OHDA+BBR50 = 87,56 ± 12,61; p<0,01) apresentaram

diminuição significativa na expressão de NR1, com valores semelhantes ao controle

(Figura 42 – A e B).

O padrão permaneceu o mesmo quando foram analisados os

sinaptossomas do estriado ipsilateral (Figura 42 – C e D).

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Figura 42 – Efeito da berberina sobre a expressão de NR1 e α-Tubulina (conforme indicado), por Western Blotting, em proteínas totais (A e B) e sinaptossomas (C e D) do corpo estriado de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 até a realização do teste. Em (B) e (D), os valores representam a relação da densidade óptica NR1/αTub x 100. **p<0,01; *p<0,05. ANOVA duas vias; teste de Newman-Keuls.

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A expressão de NR1 nas proteínas totais do mesencéfalo mostra-se aumentada

no grupo 6-OHDA (6-OHDA = 150,90 ± 13,07) quando comparado ao Ctr (Ctr = 100,00

± 3,26; p<0,01) e BBR50 (BBR50 = 94,82 ± 0,95; p<0,01), enquanto o grupo 6-

OHDA+BBR50 apresentou níveis mais baixos de NR1 (6-OHDA+ BBR50 = 107,60 ±

12,50; p<0,01) (Figura 43 – A e B). Quando esta mesma análise é realizada nos

sinaptossomas, não encontramos diferença significativa, apesar do aumento da

expressão de NR1 no grupo 6-OHDA e redução no grupo 6-OHDA+BBR50 (Figura 43

– C e D).

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.

Figura 43 – Efeito da berberina sobre a expressão de NR1 e α-Tubulina (conforme indicado), por Western Blotting, em proteínas totais (A e B) e sinaptossomas (C e D) do mesencéfalo de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 até a realização do teste. Em B e D, os valores representam a relação da densidade óptica NR1/αTub x 100. **p<0,01; *p<0,05. ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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A expressão do citocromo c no tecido mesencefálico (proteínas totais)

apresentou-se aumentada no grupo de animais com parkinsonismo experimental (6-

OHDA = 202,70 ± 13,89) comparada ao grupo Ctr (Ctr = 57,57 ± 9,26; p<0,0001) e

BBR50 (BBR50 = 87,77 ± 9,76; p<0,001). Os animais 6-OHDA+BBR50 apresentaram

uma menor expressão de citocromo c comparados aos animais 6-OHDA (6-OHDA+

BBR50 = 110,7 ± 13,89; p<0,001) (Figura 44 – A e B).

Figura 44 – Efeito da berberina sobre a expressão de citocromo c e α-Tubulina (conforme indicado), por Western Blotting, em proteínas totais (A) do mesencéfalo de ratos com lesão unilateral pela 6-OHDA. Os animais foram pré-tratados por 15 dias, submetidos a cirurgia estereotáxica e tratados por 19 até a realização do teste. Em B, os valores representam a relação da densidade óptica citc/αTub x 100. ****p<0,0001; ***p<0,001. ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

A imunofluorescência para o transportador de dopamina (DAT) foi verificada no

estriado ipsi e contralateral. Observa-se no gráfico A (Figura 45) que existe uma

redução significativa da imunorreatividade ao DAT no hemisfério ipsilateral quando

comparado ao hemisfério contralateral no grupo 6-OHDA (% controle: est. Ipsi: 78,83 ±

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2,70; est. Contra: 92,60 ± 4,76; p<0,05) Esta diferença não está presente em nenhum

dos demais grupos, incluindo o grupo 6-OHDA tratado com berberina.

Ao analisarmos os dados referentes a imunofluorescência do estriado ipsilateral

a injeção de 6-OHDA (Figura 45 – B), observamos uma diminuição da

imunorreatividade no grupo 6-OHDA (% controle: 6-OHDA=75±1,87) comparativamente

aos grupos Ctr ((% controle: Ctr = 100,00 ± 2,47; p<0,01) e BBR50 (% controle: BBR50

= 96,73 ± 3,83; p<0,05). O grupo 6-OHDA+BBR50 mostra um aumento na expressão

de DAT, mas estatisticamente não foi significativo (% controle: 6-OHDA+BBR50 = 86,51

± 10,65; p≥0,05).

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Figura 45 – Efeito da berberina sobre a imunofluorescência para DAT – Fotomicrografia do estriado contralateral e ipsilateral lesão por 6-OHDA (da esquerda pra direita), nos grupos Controle, BBR50, 6-OHDA e 6-OHDA+BBR50 (de cima pra baixo). Gráficos representando o percentual de densidade óptica em relação ao controle. A) Estriado contra e ipsilateral comparativamente, B) Estriado ipsilateral nos grupos. *p<0,05;**p<0,01; ANOVA de duas vias; teste de Newman-Keuls.

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5. DISCUSSÃO

Este trabalho buscou investigar o efeito da berberina sobre o dano neuronal,

comportamento motor e a memória de ratos com modelo de parkinsonismo

experimental induzido pela 6-OHDA injetada no corpo estriado unilateralmente. A

berberina tem um efeito neuroprotetor na maioria dos aspectos avaliados, como está

descrito a seguir. Tais características nos possibilitam inferir algumas estratégias de

ação da berberina no sistema dopaminérgico.

5.1 COMPORTAMENTO ROTACIONAL, DEGENERAÇÃO DOPAMINÉRGICA E

BERBERINA

Segundo a literatura, o modelo de parkinsonismo experimental ideal para projetar

estudos longitudinais prospectivos de agentes neuroprotetores deve atender aos

seguintes critérios: desenvolver uma lesão gradualmente progressiva, sub-máxima e

reprodutível, que gere déficits comportamentais quantificáveis e que se correlacionam

com as mudanças neurodegenerativas. A lesão dos terminais nervosos estriatas pela 6-

OHDA induz alterações degenerativas retrógradas e progressivas nos neurônios

dopaminérgicos da SN, fornecendo uma valiosa janela de tempo para intervenções

terapêuticas experimentais, e atendendo aos critérios expostos anteriormente (LEE;

SAUER; BJORKLUND, 1996).

Estudos são unânimes em afirmar que déficits de 60-80% da dopamina estriatal

por injeção de 6-OHDA são bons modelos para mimetizar os estágios iniciais e

intermediários da DP. O comportamento rotacional pode ser desencadeado pela injeção

de apomorfina em animais com degeneração de cerca de 90%, segundo Hudson et al.

(1993), ou 60-80% (Lee, Sauer e Bjorklund (1996); Deumens, Blokland e Prickaerts,

2002), acompanhado de mais de 50% de degeneração nigral. Carman, Gage e Shults

(1991) destacam também a forte correlação entre o percentual de lesão e as rotações

induzidas pela apomorfina, correlação não encontrada no caso das rotações induzidas

pela anfetamina.

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A lesão unilateral do sistema nigro-estriatal através da injeção de 6-OHDA no

corpo estriado causa uma assimetria no comportamento motor dos ratos. Quando

desafiados com medicamentos que atuam no sistema dopaminérgico, os animais vão

exibir um comportamento rotacional ativo devido ao desequilíbrio dopaminérgico no

corpo estriado direito e esquerdo. A apomorfina, agonista dopaminérgico pós-sináptico,

induz rotações contralaterais ao lado lesionado, pela estimulação dos receptores D2,

que se apresentam aumentados em quantidade e sensibilidade, do lado em que houve

a injeção da neurotoxina (DEUMENS; BLOKLAND; PRICKAERTS, 2002).

Neste estudo observamos que o grupo de animais 6-OHDA apresentou aumento

significativo do número de rotações contralaterais após a injeção de apomorfina,

comparativamente aos animais controle. Este fato foi observado tanto quando o teste

foi realizado com 19 dias (protocolos de pré-tratamento e de pré e pós-tratamento)

quanto com 28 dias (protocolo de pós-tratamento) após a cirurgia estereotáxica. Este

comportamento rotacional foi compatível com cerca de 65% de lesão dopaminérgica

estriatal e 58% de degeneração de células dopaminérgicas na SN (mensurada pela

imunorreatividade a TH). Esses dados vêm corroborar com os estudos de Lee, Sauer e

Bjorklund (1996) citados acima, em que o percentual combinado de lesão nigro-estriatal

se correlaciona com as rotações contralaterais induzidas pela apomorfina. Deumens,

Blokland e Prickaerts (2002) destacam que os déficits funcionais provenientes da lesão

podem ser influenciados pelo local da lesão, pelo fato da 6-OHDA ser administrada

pontualmente (apenas uma injeção intracraniana) ou mais (comumente podem ser 2 ou

3 coordenadas estriatais) e pela dose de 6-OHDA fornecida ao sistema nervoso do

animal.

Se analisarmos as coordenadas utilizadas neste estudo e descritas nos métodos,

é possível observar a distribuição da 6-OHDA em 3 planos ântero-posteriores, numa

dose de 18µg/3µL (1µL em cada coordenada), caracterizando uma lesão difusa do

complexo caudado-putâmen (CPu).

Fazendo uma análise comparativa entre os locais de aplicação da 6-OHDA e a

divisão esquemática proposta por Deumens, Blokland e Prickaerts (2002), conseguimos

visualizar de forma mais concreta a natureza difusa da degeneração estriatal descrita

neste trabalho, que abrange as regiões dorso-medial e ventro-lateral do CPu. A região

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ventro-lateral do CPu, que recebe fibras das áreas motora e sensório-motora do

neocórtex e tem inervação DA exclusivamente do SN, pode ser equivalente ao putâmen

de primatas e seres humanos. O CPu dorso-medial tem inervação DA da SN e VTA

(Área Tegumental Ventral) e recebe fibras das áreas frontal e sistema límbico, podendo

representar o núcleo caudado em seres humanos. As lesões que envolvem a região

dorso-medial induzem a efeitos mais gerais sobre a locomoção e o comportamento

rotacional, enquanto as lesões envolvendo a região ventro-lateral induzem efeitos sobre

a iniciação de movimentos, orientação sensório-motora, e comportamento motor

qualificado (LEE; SAUER; BJORKLUND, 1996; DEUMENS; BLOKLAND;

PRICKAERTS, 2002).

A partir da quantificação da concentração de monoaminas por HPLC,

confirmamos o déficit dopaminérgico tanto no estriado ipsilateral quanto no

mesencéfalo dos animais 6-OHDA. Os níveis de DOPAC e HVA também mostraram-se

significativamente reduzidos. O DOPAC e o HVA são metabólitos resultantes da

degradação dopaminérgica, sendo o DOPAC derivado da dopamina recentemente

sintetizada. Este é um achado comum aos estudos que reproduzem o modelo 6-OHDA:

redução da concentração da DA nigro-estriatal somada a redução da concentração de

DOPAC e HVA, fortalecendo a teoria da degeneração dopaminérgica nesses neurônios

pela diminuição na produção da DA, e não pelo aumento da metabolização desta (LEE;

SAUER; BJORKLUND, 1996; AGUIAR et al., 2006; CARMO et al., 2014). Outro ponto

interessante é o aumento da DA no estriado contralateral, que não é mencionado em

outros estudos e que pode ser atribuído a um processo compensatório na tentativa de

reequilíbrio das funções estriatais, principalmente motoras.

Tais achados não podem ser atribuídos a lesão tecidual intrínseca ao

procedimento cirúrgico, na medida em que os animas do grupo controle foram

submetidos a procedimento cirúrgico semelhante, exceto pela injeção de 6-OHDA. É

importante destacar também que os animais, de qualquer grupo, não apresentaram

déficits significativos na atividade locomotora que justificassem o comportamento

rotacional.

A berberina, quando administrada em animais saudáveis, mostrou-se isenta

quanto a efeitos no sistema dopaminérgico ou degeneração de neurônios

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dopaminérgicos, pois apresentou valores bastante semelhantes aos do grupo controle,

tanto no teste da apomorfina, na imunorreatividade a TH na SN e estriado, quanto na

dosagem de DA, DOPAC e HVA.

Known e colaboradores (2010) observaram que a administração de berberina

(5mg/kg, i.p.)em ratos, durante 21 dias, não gerou alteração na imunomarcação para

TH, nem dosagem da dopamina estriatal. Na dose de 30mg/kg (i.p.), os autores

observaram redução da imunomarcação a TH e dosagem de dopamina, mostrando um

efeito tóxico dose dependente. Neste mesmo experimento, a berberina (30μM) reduziu

a viabilidade das células SH-SY5Y. Em outro estudo, Bae et al. (2013) observaram que

o pré-tratamento das células SH-SY5Y com berberina (10μM) não interferiu na

viabilidade celular.

A administração de berberina em animais lesionados com 6-OHDA mostrou-se

efetiva na proteção contra o dano neuronal provocado pela neurotoxina, na medida em

que os animais que passaram pelo tratamento apresentaram melhor desempenho no

teste da apomorfina, na imunorreatividade a TH e nas dosagens de DA, DOPAC e HVA.

Considerando a fase 1 do processo experimental, a dose de 50mg/kg mostrou-se

superior as demais nos quesitos enumerados anteriormente, sendo eleita para os

demais testes de protocolo de administração.

Na fase 2 do experimento, foram propostos 3 protocolos fundamentados em

princípios diferentes: pré-tratamento (de caráter preventivo); pré e pós-tratamento (com

caráter preventivo e seguimento no decorrer da doença); pós-tratamento

(representando um tratamento curativo). Os benefícios da berberina puderam ser

melhor observados quando esta foi administrada antes e após a injeção da neurotoxina,

caracterizando a superioridade do protocolo de pré e pós-tratamento. A neuroproteção

promovida pela berberina pôde ser confirmada na medida em que o pré-tratamento

demonstrou-se superior ao pós-tratamento.

Apesar da berberina ser tradicionalmente utilizada na medicina chinesa, a

pesquisa sobre os efeitos da berberina na DP ainda está em fase inicial. Em estudo

recente, Kim e colaboradores (2014) mostraram que a berberina, administrada via oral,

preveniu a lesão do neurônio dopaminérgico em camundongos submetidos ao modelo

do MPTP. Os pesquisadores destacaram ainda a superioridade da dose de 50mg/kg de

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berberina, considerada a dose de máxima potência, corroborando com os dados do

atual estudo.

Em outro estudo, o pré-tratamento de células SH-SY5Y com berberina (5 e

10μM) aumentou a viabilidade celular, mesmo após a exposição a 6-OHDA (60μM),

reduziu a produção de EROs, a ativação de caspase-3 e a morte celular (BAE et al.,

2013).

Kwon e colaboradores (2010) alertam para o efeito neurotóxico da berberina

(30mg/kg; i.p.) administrada por 21 dias após a injeção de 6-OHDA (iniciando no 3º dia

pós lesão). Eles testaram a imunorreatividade a TH e a dosagem de dopamina na SN

para chegarem a este resultado. Em outro estudo, pesquisadores do mesmo grupo

alertam sobre efeitos adversos da terapia com berberina complementar a L-Dopa (5 e

15mg/kg, i.p., administrada por 21 dias, iniciando no 14º dia pós lesão), promovendo

efeitos deletérios a SN (SHIN et al., 2013).

É sabido que a via de administração é determinante para a intensidade de

absorção de uma substância. Kheir et al. (2010) compararam a neurotoxidade da

berberina administrada via oral (v.o.), intra venosa (i.v.) e intra peritoneal (i.p.) em ratos

e encontraram um fenômeno interessante: a DL50 da berberina i.v. e i.p. é 9,0386 e

57,6103mg/kg, respectivamente. No entanto, não foi possível encontrar a DL50 por v.o.,

tal fato foi atribuído a absorção limitada da berberina na via gástrica, quando

administrada oralmente. Esta limitação pode representar uma proteção contra o efeito

neurotóxico, pois através das vias i.p. e i.v. a concentração sanguínea de berberina

chega a níveis bem elevados, o que não ocorre na v.o. (WANG et al., 2005b). Zhu e

Qian (2006) ainda destacam que diferentes formas de administração, com consequente

concentração sanguínea de berberina causam diferentes efeitos na imunidade e na

expressão de fatores inflamatórios.

É importante lembrar que a dose de berberina não foi administrada oralmente de

forma aguda, mas disponibilizada aos animais durante todo o dia, favorecendo o

consumo gradativo, mantendo concentrações sanguíneas médias. Este fato pode ter

influência no efeito benéfico e não-tóxico da berberina evidenciado neste trabalho,

evitando a sua rápida metabolização, considerando a curta meia vida da droga (WANG

et al., 2005).

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Um segundo ponto interessante a ser observado na divergência dos resultados

anteriores é o protocolo de administração da berberina. No presente estudo

constatamos a natureza protetora do efeito da berberina, enquanto a maioria dos

estudos realiza o tratamento apenas após a injeção de 6-OHDA. Kulkarni e Dhir (2009)

destacam o efeito protetor da berberina sobre o SNC na Doença de Alzheimer,

isquemia cerebral, depressão, esquizofrenia e ansiedade.

Estudos prévios destacam a ação da berberina na regeneração da célula

nervosa. Lee, Heo e Kwon (2010) mostraram o efeito da beberina na diferenciação e

sobrevivência de células hipocampais. A berberina administrada cronicamente (50 e

100mg/kg) promoveu um incremento na plasticidade sináptica, na medida em que

preveniu a disfunção do componente pré-sináptico no hipocampo de ratos diabéticos

(Moghaddam et al., 2013). Em lesão do nervo ciático, a berberina promoveu

regeneração axonal, podendo aumentar o crescimento de neuritos na região lesionada

(Han; Heo; Kwon, 2012). No presente estudo, observamos que o efeito neuroprotetor

da berberina foi mais intenso no corpo estriado que na SN, que é uma região

caracterizada pela presença intensa dos prolongamentos dos neurônios

dopaminérgicos.

5.2 COMPORTAMENTO SENSÓRIO-MOTOR, MEMÓRIA E BERBERINA

O CPu dorsolateral é conhecido por receber uma inervação densa de áreas

corticais sensório-motoras. A atividade da DA no CPu dorsolateral tem papel importante

na função motora, principalmente no início dos movimentos. Os animais submetidos ao

modelo de parkinsonismo experimental apresentam déficits motores pela depleção de

DA que são semelhantes aos déficits motores observados em pacientes com DP

(DEUMENS, BLOKLAND, PRICKAERTS, 2002).

Scharllert e colaboradores (2000) propuseram testes sensório-motores para

lesões assimétricas do SNC. Animais com lesões unilaterais pela 6-OHDA

apresentaram forte correlação com a assimetria das patas dianteiras no teste do

cilindro, caracterizada por um aumento do uso da pata ipsilateral (não prejudicada

diretamente pela lesão) e uma redução do uso da pata dianteira contralateral (pata

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diretamente prejudicada pela lesão) de forma independente. Esses animais também

apresentaram significativa assimetria para o uso das patas dianteiras no teste da

vibrissa.

Os animais do grupo 6-OHDA deste estudo mostraram perfil semelhante ao

descrito por Scharllert et al. (2000) no teste do cilindro, caracterizando a assimetria

esperada no modelo 6-OHDA. O tratamento com berberina em animais com lesão por

6-OHDA proporcionou uma melhora do déficit sensório-motor, através do aumento

significativo da colocação de ambas as patas dianteiras, enquanto a melhora na

motricidade da pata contralateral de forma isolada foi bastante tímida. Possivelmente, o

aumento de estímulos para colocação da pata ipsilateral promovido pelo uso da

berberina favorece o envio de informação neural através de interneurônios na região

sensório-motora do córtex e do CPu, estimulando a pata contralateral quando o

movimento é bilateral.

Scharllert, Woodlee e Fleming (2002) explicam que uma lesão cerebral parece

criar condições particularmente ricas em substâncias neurotróficas que permitem

sinaptogênese e outras mudanças estruturais gliais e neurais que promovem a

compensação motora. A capacidade funcional dos sistemas não-prejudicados pode até

mesmo superar a encontrada em animais sham.

Kim e colaboradores verificaram que a berberina (50 mg/kg, v.o.) administrada

por 5 emanas melhorou o equilíbrio e a coordenação de camundongos MPTP no teste

de caminhada na trave.

No teste da vibrissa, os animais 6-OHDA também mostraram déficit sensório-

motor por apresentarem menor quantidade de toques das patas dianteiras ao estimular-

se as vibrissas contralaterais. O tratamento com berberina no pré e pós lesão mostrou-

se efetivo protegendo contra o déficit sensório-motor. Não consta na literatura estudos

que avaliem a função sensório-motora de animais com parkinsonismo experimental

tratados com berberina, caracterizando um dos componentes inovadores deste

trabalho.

Na DP, os déficits motores e sensório-motores são os primeiros a serem

identificados pelo paciente e seus familiares, e estão diretamente associados a déficits

na realização das atividades de vida diária e redução na qualidade de vida, Estes

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déficits influenciam a auto-estima do paciente, as relações sociais e podem contribuir

para o surgimento de déficits cognitivos (STEWART et al., 2008).

O comprometimento cognitivo observado em pacientes com DP envolve déficits

de desempenho de tarefas de memória de procedimento e declarativa, de forma

irregular, ou seja, pode ser que algumas tarefas dependentes dessas memórias

estejam preservadas e outras comprometidas. Assim como em humanos, nos modelos

de parkinsonismo experimental também podem ser observados os prejuízos cognitivos

provenientes do déficit de dopamina. Alguns autores sugerem que existem memórias

que são dependentes da integridade do estriado (MIYOSHI et al., 2002).

Gasbarri et al. (1996) já alertavam que os processos de aprendizagem e

memória estão organizados em vários sistemas cerebrais e que a retenção da

informação espacial é também dependente da integridade do sistema dopaminérgico

meso-hipocampal.

A versão com pistas (cued) da tarefa do labirinto aquático mostrou-se

dependente mais especificamente da integridade do sistema dopaminérgico nigro-

estriatal, sendo adequada para investigar os prejuízos de aprendizado e memória

relacionados com a DP (MIYOSHI et al., 2002).

Durante a tarefa de aprendizagem no labirinto aquático podemos destacar um

componente da memória de procedimento (dependente do estriado – nadar para

escapar), desvinculado da memória declarativa (dependente do hipocampo – escapar

para um local específico). Todo o processo é rápido e consiste na fragilização da

memória declarativa, que deve ser suprimida e substituída por uma nova, então o

componente de procedimento da tarefa deve se ligar a um novo componente

declarativo, processo chamado de inversão de aprendizagem (ROSSATO et al., 2006).

As conexões anatômicas entre o hipocampo e corpo estriado (principalmente o núcleo

accumbens) têm sido bastante estudadas recentemente, além das conexões através do

córtex entorrinal e pré-frontal (VOORN et al., 2004).

No presente estudo, os ratos 6-OHDA apresentaram um aumento no tempo de

latência para encontrar a plataforma em todos os 4 dias de teste quando comparados

aos animais controle, traduzindo o déficit de aprendizagem e memória dependente do

estriado. Resultado semelhante foi encontrado por Ferro e colaboradores (2005) ao

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102

comparar o desempenho de animais controle, 6-OHDA e MPTP na mesma tarefa de

labirinto aquático com pistas, onde os animais com parkinsonismo experimental

apresentaram maior tempo para alcançar a plataforma. Outro estudo também mostrou

que a lesão da SN prejudica a aprendizagem da tarefa cued water maze comparado a

ratos sham e com inativação do hipocampo com lidocaína (Da CUNHA et al., 2003).

Gasbarri et al. (1996) demonstraram que a depressão da DA hipocampal pela aplicação

local de 6-OHDA em ratos produz um déficit na versão espacial, mas não na versão

com pistas do labirinto aquático.

A berberina na dose de 50mg/kg reduziu o tempo gasto pelo animal para

encontrar a plataforma, demonstrando proteção sobre o corpo estriado envolvido na

memória de procedimento. Não estão descritos nas literatura trabalhos que tenham

avaliado a memória através do labirinto aquático sinalizado em modelos experimentais

da DP tratados com berberina.

No entanto, a berberina tem sido bastante estudada na proteção contra prejuízo

da memória dependente do hipocampo (Morris Water Maze - MWM). Zhu e Qian (2006)

observaram que a berberina (50mg/kg) reduziu significativamente o tempo de latência

para encontrar a plataforma no modelo da Doença de Alzheimer em ratos, através do

teste MWM. Durairajan et al. (2012) afirmam que a berberina exerce uma proteção

neural no modelo de camundongo transgênico para a Doença de Alzheimer. Nesse

estudo, uma das variáveis estudadas foi a memória declarativa pelo MWM, a qual

apresentou melhora nos animais tratados com berberina.

Efeito semelhante foi encontrado por Bhutada e colaboradores (2011) num

modelo de diabetes induzida pela streptozotocina em ratos. Os animais apresentaram

melhora da memória dependente do hipocampo (MWM), fator atribuído ao efeito da

berberina na redução do estresse oxidativo e da atividade da colinesterase no córtex e

no hipocampo. Outros estudos reproduziram protocolos de indução da diabetes pela

streptozotocina e afirmam que o tratamento crônico com berberina reduz o prejuízo no

aprendizado e memória (KALALIAN-MOGHADDAM et al., 2013).

No modelo do parkinsonismo experimental também podemos avaliar a

integridade da memória aversiva do animal através do teste da esquiva passiva. Neste

teste os animais aprendem a tarefa de não passarem por uma porta, a fim de evitar a

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entrada de um compartimento escuro onde eles, uma vez, receberam um choque nas

patas. A consolidação da memória adquirida no primeiro teste (15 minutos após o

treino) dessa tarefa requer uma grande variedade de eventos moleculares no

hipocampo, que incluem a ativação precoce dos receptores NMDA, da proteína quinase

A, e o atraso da ativação da ERK1 /2. O estriado controla a consolidação de

aprendizagem no segundo teste (24h após o primeiro teste) através de mecanismos

envolvendo os receptores glutamatérgicos NMDA e AMPA, CaMKII, PKA, ERK,

expressão gênica e a síntese de proteínas (IZQUIERDO; MEDINA, 1997; ROSSATO et

al., 2006).

Na esquiva passiva, os animais 6-OHDA apresentaram déficit na memória

recente e na memória tardia. Este padrão de disfunção de memória foi reproduzido

também em outros estudos de modelos da DP. Carmo et al. (2014) observaram que os

animais com lesão por 6-OHDA apresentaram déficits na memória recente e tardia ao

ser realizada a esquiva passiva. Da Cunha et al. (2002) observaram déficit na memória

aversiva ao ser realizada a esquiva ativa com animais MPTP, no modelo de

aprendizado pelo hábito.

A berberina protegeu contra o déficit de memória secundário a injeção da 6-

OHDA. Esta proteção foi observada tanto na memória recente quanto na memória

tardia. Recentemente, Kim e colaboradores (2014) afirmaram que a berberina pode

representar uma estratégia terapêutica para o prejuízo de memória na DP. Os

pesquisadores constataram uma melhora na memória recente de camundongos MPTP

ao serem tratados cronicamente com berberina, que foi atribuída a redução da

apoptose hipocampal. Este é o único estudo publicado que aborda o efeito da berberina

sobre os aspectos funcionais, incluindo memória, em um modelo pré-clínico da DP.

A berberina vem sendo investigada em outros modelos de disfunção de

memória. Em um modelo de déficit de memória induzido pela scopolamina, a berberina

aumentou significativamente o tempo de latência para entrada do animal no

compartimento escuro no segundo teste da esquiva passiva, e este ganho foi ligado a

redução da expressão de citosinas pró-inflamatórias no hipocampo (LEE et al., 2012).

Num modelo de diabetes induzida pela streptozotocina, o déficit de memória

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encontrado na esquiva passiva com apenas 1 teste, não foi encontrado em animais

tratados com a berberina 100mg/kg (KALALIAN-MOGHADDAM et al., 2013).

Ao avaliarmos a memória operacional, não foi observada alteração no percentual

de alternações espontâneas no teste do labirinto em Y no modelo de degeneração

estriatal unilateral de 6-OHDA nem pela administração da berberina. Ciobica, Padurariu

e Hritcu (2012) observaram uma diminuição das alternações espontâneas em ratos 6-

OHDA e atribuíram este efeito a déficit motor presente neste grupo que resultou em

menor número de entradas nos braços do Y. No presente estudo, foram incluídos na

quantificação do teste apenas os animais que apresentaram um mínimo de 7 entradas,

como preconiza Stone et al. (1991). Este pode ser um fato que justifique a divergência

de desempenho na tarefa.

Diante do exposto, observa-se que a berberina exerce efeito positivo sobre o

comportamento de ratos 6-OHDA, atenuando os déficits funcionais induzidos pela

neurotoxina. Scharllert, Woodlee e Fleming (2002) afirmam que para se constatar a

ação de uma determinada droga, deve-se testar o seu efeito sobre diversas funções

como aprendizagem motora, memória, atenção, pois assim se pode excluir a

possibilidade de processos de compensação intrínsecos ao sistema corporal.

5.3 MECANISMOS DE AÇÃO DA BERBERINA NA CÉLULA DOPAMINÉRGICA

A berberina é um alcaloide com múltiplas ações terapêuticas. Tem sido usada

tradicionalmente na medicina indiana e chinesa para o tratamento de diarreias

bacterianas, infecções intestinais parasitárias e infecções oculares. Com a ampliação

dos estudos, uma série de outras propriedades foram associadas a berberina como:

hipoglicemiante, antitumoral e ações no sistema cardiovascular. Mas o interesse

científico nesta droga foi disseminado quando algumas evidências apontaram para a

sua utilidade em desordens neurodegenerativas e neuropsiquiátricas (YOO et al., 2008;

YE et al., 2009; KULKARNI; DHIR, 2010).

A ação da berberina na Doença de Alzheimer e na isquemia cerebral, assim

como seu mecanismo, já estão sendo descritos na literatura. Desde efeitos

antiinflamatórios através da inibição da COX-2, redução da acetilcolinesterase,

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modulação da proteína precursora amiloide, bloqueio da correntes de potássio

voltagem dependente e atividade antagônica ao receptor NR1 (ZHU; QIAN, 2006; YOO

et al., 2006; YOO et al., 2008). No entanto, pesquisas sobre o efeito da berberina em

modelos animais da DP ainda são escassas.

A perda de neurônios dopaminérgicos resulta em uma perda de estímulos

sinápticos dopaminérgicos da SN para o estriado. Isto resulta em um desequilíbrio das

principais vias de saída dos gânglios da base que se manifesta como sintomas motores

da DP. Durante o curso da DP, é observado o excesso de atividade das vias

glutamatérgicas nos gânglios basais. Sugere-se que uma das possíveis causas da

morte celular dos neurónios dopaminérgicos da SN é a excitotoxicidade mediada pelo

glutamato. Funções do glutamato são mediadas por uma família diversificada de

receptores ionotrópicos e metabotrópicos (LAI et al., 2003).

O bloqueio de receptores de glutamato por antagonistas seletivos melhora os

sintomas motores parkinsonianos em modelos animais (TRUONG et al., 2009). Lai et al.

(2003) submeteram animais knockdown para receptores NMDA à lesão unilateral pela

6-OHDA e observaram que animais tratados com antagonistas para NR1 obtiveram

uma melhora dos sintomas motores.

Neste trabalho observou-se um aumento da expressão de NR1 tanto no estriado

como na SN de animais com lesão unilateral por 6-OHDA. Lai et al. (2003) observaram

um aumento da expressão do RNAm de NR1, mas não de NR2B no estriado de ratos 6-

OHDA. Os autores acreditam que o aumento na expressão do RNAm de NR1 pode ser

devido a um mecanismo de compensação para combater a redução das espinhas

sinápticas como resultado da desnervação dopaminérgica. Estes resultados vêm

contrariar os dados de Betarbet et al. (2004), em que a redução da dopamina estriatal

resultou na diminuição da expressão de NR1 e um aumento na expressão da NR1

fosforilada, em ratos 6-OHDA e macacos MPTP.

A berberina promoveu uma redução da expressão de NR1 estriatal e da SN no

modelo 6-OHDA unilateral, retornando a níveis próximos aos do grupo controle. Esta

ação da berberina já foi observada em estudo com isquemia cerebral. Animais

isquêmicos tratados com berberina mostraram uma diminuição na expressão de NR1

em células hipocampais. Este resultado sugere que a berberina promove uma reação

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compensatória, protegendo contra a excitotoxidade glutamatérgica, através da redução

da responsividade de NR. NR é inativado pelo Ca2 intracelular e esta inativação é

regulada pela subunidade NR1 (YOO et al., 2006).

Tem sido relatado que as alterações na permeabilidade da membrana

mitocondrial resultam na liberação de citocromo c no citosol (BARROS SILVA et al.,

2013). Neste estudo, pode-se observar um aumento da expressão de citocromo c na

SN de ratos 6-OHDA. Uma vez que o citocromo c é liberado pela mitocôndria, é iniciada

uma cascata de eventos, como a ativação de caspase 9, que por sua vez ativa a

caspase 3 estabelecendo, assim, um papel causal da disfunção mitocondrial na

toxidade celular oxidatva (ZHOU; TANG, 2002; STACK et al., 2008; TOBLÓN-

VELASCO et al., 2013).

A berberina age na redução nos níveis citosólicos de citocromo c na célula

dopaminérgica da SN de ratos 6-OHDA, mostrando um possível efeito antiapoptótico.

Hsu et al. (2012) afirmam que a berberina atenuou a morte neuronal por apoptose

induzida pelo H2O2, através do aumento da sinalização anti-apoptótica, e diminuição da

sinalização pró apoptose (Bax, citocromo c e caspase). Zhou et al. (2008) investigaram

o efeito neuroprotetor da berberina na isquemia cerebral pela oclusão da artéria

cerebral média em ratos, e observaram o efeito anti-apoptótico mitocondrial desta

droga. No entanto, relatam um aumento da liberação de fatores pró-apoptóticos como o

citocromo c.

No estriado, o transportador de dopamina (DAT) é um componente vital para

manutenção do nível suficiente de DA, sendo responsável pela recaptação da DA pela

membrana pré-sinaptica. Assim, a diminuição do DAT estriatal na DP é considerado o

principal fator do prejuízo motor (CHOTIBUT et al., 2012). Evidenciamos, no presente

estudo, que a berberina reduziu o déficit de DAT encontrado em ratos 6-OHDA,

possivelmente pelo aumento na sobrevivência neuronal, favorecendo a recaptação da

DA, colaborando para a manutenção dos níveis dopaminérgicos (demonstrados por

HPLC) e contribuindo para a manutenção do padrão motor do animal. Até o momento,

não existem trabalhos publicados que avaliem o efeito da berberina sobre os níveis de

DAT em modelo de parkinsonismo animal.

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O efeito anti-inflamatório da berberina nas células hipocampais foi responsável

pela neuroproteção na lesão isquêmica. Este efeito foi detectado através da redução na

expressão de COX-2 e na produção das prostaglandinas E2 na região CA1 (YOO et al.,

2008). Em modelo de diabetes induzida pela estreptozotocina, a berberina reduziu o

estresse oxidativo e a astrogliose no hipocampo de ratos (MOGHADDAM et al., 2013b).

Mo e colaboradores (2013) destacam a ação da berberina na redução da expressão de

de genes inflamatórios como a COX-2, interleucina 6, óxido nítrico sintase induzida, e

um aumento nos fatores de transcrição de genes antioxidativos como a heme-

oxigenase 1, em modelo de inflamação induzida por lipopolissacarídeo (LPS).

O dano nigro-estriatal causado pela infusão intra-estriatal de 6-OHDA está

associado com uma resposta inflamatória. A ativação microglial é detectável dentro do

estriado, a partir da 1ª semana após a infusão de 6-OHDA seguindo até a 3ª semana.

Na SN, microglia já é ativada na semana 1ª semana pós-injeção, antes da perda de

células e com a degeneração neuronal, esta tende a diminuir (BLANDINI;

ARMENTERO; MARTIGNONI, 2008). Dessa forma a ação anti-inflamatória da

berberina pode influenciar na sobrevivência dos neurônios dopaminérgicos através da

redução da geração de EROS.

Existem ainda outros mecanismos, pesquisados na literatura, que podem

influenciar o efeito da berberina nos modelos da DP. Bae et al. (2013) fizeram um pré-

tratamento com berberina nas células SH-SY5Y e observaram a redução de EROs

induzidas pela 6-OHDA, redução da liberação de citocromo c, da ativação da caspase 3

e da morte celular. Os autores sugerem que a berberina controla os níveis intracelulares

de radicais livres pela regulação da expressão da heme oxigenase-1(HO-1), através da

ativação de Nrf2, conferindo proteção a célula dopaminérgica. O aumento da expressão

de HO-1 tem sido considerado uma resposta adaptativa e benéfica ao estresse

oxidativo.

Wu e colaboradores (2010) sugerem que o bloqueio de canais de potássio

sensíveis ao ATP promovido pela berberina nos neurônios dopaminérgicos da SN é um

novo mecanismo que contribui para o efeito neuroprotetor na DP. Considerando o papel

dos canais de potássio sensíveis ao ATP na patogênese da DP, e a abertura desses

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canais induzida pela rotenona, modelo utilizado no estudo em questão, o bloqueio

desses canais pode prevenir a degeneração dos neurônios dopaminérgicos da SN.

O íon potássio é o cátion predominante no citoplasma e a manutenção de seus

índices elevados é essencial para regular a excitabilidade celular, a atividade de

enzimas apoptóticas e o volume celular. Isso reforça a ideia de que o K+ atua como um

modulador endógeno de vários fatores como a liberação do citocromo c e a ativação da

caspase na cascata apoptótica. Sob condições fisiológicas, as correntes de potássio

são importantes para a regulação da excitabilidade neuronal e manutenção do potencial

de membrana da linha de base (WANG et al., 2004). A ação da berberina bloqueando

os canais de potássio pode ser etapa relevante na sua função antiapoptótica.

De acordo com os mecanismos aqui descritos, a berberina diminui a expressão

de NR1, diminuindo a excitotoxidade glutamatérgica, possui ação anti-apoptótica,

reduzindo as EROs, a disfunção mitocondrial e diminuindo a ativação da caspase 3,

fatores que promovem a sobrevivência celular. No presente estudo, constatamos a

superioridade do protocolo de administração da berberina pré e pós-tratamento. Este

fato pode ser justificado pela ação protetora da berberina em aumentar a sobrevivência

celular. Se administrada após grande perda neuronal (pós-tratamento) seu efeito é

limitado. Se administrada apenas antes da morte neuronal (pré-tratamento) seu efeito

fica prejudicado pela dinâmica da neurotoxina 6-OHDA no estriado, que promove uma

neurodegeneração progressiva estriato-nigral por cerca de 3 semanas.

Os estudos abordando o efeito da berberina nos modelos animais da DP ainda

têm um longo caminho a percorrer. Os mecanismos envolvidos na ação da berberina na

célula dopaminérgica tem despertado interesse na pesquisa científica mundial. Neste

estudo, mostrou-se o efeito de neuroproteção promovido pela berberina, através da

preservação dos neurônios dopaminérgicos no corpo estriado e SN, preservação da

capacidade motora e memória de ratos submetidos ao modelo unilateral da 6-OHDA.

Este efeito deve ser destacado ser mais evidente quando a berberina é administrada

via oral, 50mg/kg, antes e após a injeção da 6-OHDA. Acredita-se que a ação da

berberina sobre NR1, citocromo c e DAT estejam envolvidos nos efeitos positivos

encontrados neste trabalho.

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O aprofundamento desta pesquisa desperta bastante interesse com a finalidade

de elucidar melhor o mecanismo de ação da berberina nos modelos experimentais da

DP. Apectos relevantes são a análise da liberação da caspase 3 e 9, para assim

fortalecer a teoria do efeito anti-apoptótico da berberina e a quantificação do CD11b e

GFAP através da técnica de imunofluorescência, para observarmos o efeito anti-

inflamatório da berberina tão pesquisado em outras patologias.

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6. CONCLUSÃO

A DP ainda é uma doença neurodegenerativa com características obscuras, cujo

tratamento considerado “padrão ouro” não é o ideal. A busca por propostas de

tratamento mais eficazes e com menos efeitos colaterais deve ser estimulada e

vivenciada por quem se interessa pela neurociência.

No modelo unilateral da DP induzida pela 6-OHDA constatamos que a berberina

exerceu um efeito neuroprotetor sobre o sistema dopaminérgico nigro-estriatal. A partir

dos dados aqui demonstrados, considera-se que 50mg/kg (v.o., disponível durante todo

o dia) é a dose de berberina ideal para o modelo 6-OHDA, com administração antes e

após a injeção da neurotoxina.

No presente estudo, faz-se relevante destacar os seguintes achados:

► A berberina exerceu um efeito neuroprotetor sobre o desempenho motor e a

memória de ratos submetidos ao modelo de parkinsonismo pela 6-OHDA;

► A berberina protegeu contra a degeneração dos neurônios dopaminérgicos do

estriado e SN;

► A berberina promoveu um aumento na concentração de DA, DOPAC e HVA no

estriado ipsilateral e mesencéfalo envolvidos na lesão por 6-OHDA. Este fator pode

estar ligado a sua ação sobre o DAT;

► A berberina reduziu a expressão de NR1 nos neurônios dopaminérgicos do estriado

e mesencéfalo de animais com lesão pela 6-OHDA, sinalizando o envolvimento da

berberina na diminuição da ativação glutamatérgica;

► A berberina reduziu a expressão de citocromo c nos neurônios dopaminérgicos do

mesencéfalo de animais com lesão pela 6-OHDA, sugerindo uma ação anti-apoptótica.

O objetivo da pesquisa pré-clínica é conseguir ultrapassar as barreiras do

laboratório e trazer benefícios para a comunidade. Neste caso, acredita-se que este

trabalho vem despertar questionamentos relevantes sobre a ação da berberina na DP

que podem nos levar ao tratamento ideal.

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