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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Programa de Pós-Graduação em Ciências do
Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia PPG/CASA
Mestrado Acadêmico
SABRINA CASTRO DA SILVA
PERCEPÇÕES E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS À FLORESTA
AMAZÔNICA POR PÓS-GRADUANDOS DE MANAUS-AM
MANAUS - AM
2018
SABRINA CASTRO DA SILVA
PERCEPÇÕES E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS À FLORESTA
AMAZÔNICA POR PÓS-GRADUANDOS DE MANAUS-AM
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia como exigência
parcial para obtenção do grau de mestre, sob
orientação da Profa. Dra. Maria Inês Gasparetto
Higuchi.
MANAUS – AM
2018
SABRINA CASTRO DA SILVA
PERCEPÇÕES E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS À FLORESTA
AMAZÔNICA POR PÓS-GRADUANDOS DE MANAUS-AM
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia – PPG-CASA da Universidade Federal do Amazonas – UFAM
como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na
Amazônia.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profa. Dra. Maria Inês Gasparetto Higuchi
(Orientadora)
________________________________________
Profa. Dra. Genoveva Chagas de Azevedo (Membro Externo)
________________________________________
Profa. Dra. Maria Olívia de A. Ribeiro Simão (Membro Interno)
________________________________________
Prof. Dra. Daniele da Costa Cunha Borges Rosa (Membro Externo)
Manaus, AM
2018
AGRADECIMENTOS
A Deus por ser meu refúgio e ouvir sempre as minhas orações, por iluminar meus caminhos, por
todas as bênçãos e milagres que já aconteceram na minha vida.
Aos meus pais, por toda estrutura e paciência, pela força de sempre e por nunca terem me
abandonado nem nos meus momentos ápices de chatice. Amo vocês bem grandão!
Ao meu irmão por encher meu saco sempre, mas que sem ele a vida não teria tanta graça. É bom
te ter por perto, meu futuro engenheiro. Te amo de vez em quando.
À minha mãe, minha coisa mais linda da vida, obrigada por ser meu maior exemplo de luta, de
força e por não ter me deixado desistir.
À minha orientadora Maria Inês, por toda estrutura oferecida, tanto no laboratório quanto
emocional, ah as “terapias cognitivas” eram massas! Por não ter me deixado desistir mesmo quando eu já
não via luz no fim do túnel, por me fazer continuar a acreditar no mestrado. Ah e muitíssimo obrigada pela
PACIÊNCIA que nem eu tive comigo mesma, às vezes. Gratidão define.
Aos amores do Lapsea por todo aprendizado, pela estrutura e força de sempre! Foram 3 anos e
meio muito felizes, enrolados (talvez! Haha). Sejam todos “felizes e contentes” sempre!
À Ana Cláudia Maquiné, obrigada por me aceitar no estágio de docência e me permitir fazer parte
da sua vida. Ser sua amiga é um presente! Agradeço também por me dar o privilégio de conhecer a Irlane
(ops, Dra. Irlane!) e a Lú Makarem, sempre tão querida.
Aos meus colegas de mestrado (2015) por compartilharem comigo a dor e a delícia de ser
mestranda: Monica, Selma, Tainah (nossa gravidinha mineira!), Ademar, Karina, Fernanda (City), Damaris
(Dam, valeu por tudo, tá quase uma estatística!!), Karine , Louise, Katiuscia, Amanda, Rita, Ana Cristina,
Viviane, Armando, Aghata, Luciene, Valdenir (Valdinho) e Jefferson. Vou sentir saudades!
Aos professores e técnicos do CCA/PPGCASA, especialmente ao Profs. Henrique, Teca, Olívia,
Vilma, Sandra Noda (in memoriam), Tatiana, Witkoski, Marcelo Fat, Elimar, pelas aulas maravilhosas,
enriquecedoras, pelo carinho e atenção de sempre!
À Dorinha e Nina pelo café MARA! Por manterem o CCA sempre arrumadinho e por serem tão
fofas com a gente.
À Fernanda Mendes, por ser a melhor secretária e pela amizade de sempre!
Aos meus amigos de vida: Thaís, Marília (Agora é Doutora), Silvana, Luan , Jéssica, Gui Torres
e Larissinha. Obrigada pelos momentos de descontração e alegria, vocês foram altamente necessários nessa
jornada!
Ao CNPq pelo apoio financeiro e por nunca ter atrasado!
Minha eterna gratidão a vocês!
RESUMO
SILVA, S.C. Percepções e significados atribuídos à Floresta Amazônica por pós-graduandos
em Manaus. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas, 2018.
Floresta amazônica é tanto um lugar circunscrito do espaço quanto um símbolo social que
está subjacente as mais diversas formas de comportamento das pessoas que nela se
inserem ou dela se referem. Esse estudo se propôs a compreender como as pessoas
pensam e agem nas suas relações com a floresta a partir da perspectiva das Percepções
Ambientais, as quais são construídas pelas das vivências e observações que ocorrem a
respeito de um determinado ambiente e é composto pela cognição, afetividade, valores,
preferências e significados. O objetivo da pesquisa foi analisar quais os olhares desses
estudantes sobre a floresta, o tipo de problemas que ameaçam a continuidade da floresta
e o funcionamento efetivo dos seus ciclos, além apresentar possíveis medidas de proteção
e conservação da Floresta Amazônica. Para desenvolver esse estudo foram aplicadas
entrevistas semiestruturadas com questões abertas e fechadas alusivas e uma escala social
do tipo likert sobre Valores Florestais. Participaram 48 estudantes de mestrado e
doutorado de áreas agrárias e florestais de instituições públicas em Manaus-Am. Os
resultados mostraram que a definição de floresta está diretamente relacionada com a
atividade e interesse dos participantes. A floresta para os estudantes sobressai como um
lugar de possibilidades profissionais e acadêmicas, considerando-a mais em seu aspecto
físico do que simbólico. Para esses participantes os problemas existentes com a floresta
são advindos da falta de ética da sociedade, na postura de infinitude dos recursos e nos
grandes empreendimentos centrados apenas nos ganhos econômicos. A degradação é
apontada sobretudo como geradora de impactos ao ambiente natural, e que para mudar
tal cenário apostam na educação ambiental como instrumento importante na mudança
desse cenário a partir da criação de políticas públicas.
Palavras Chave: Percepções Ambientais; Floresta Amazônica; Pós-graduação;
Degradação Ambiental.
7
ABSTRACT
SILVA, S.C. Percepções e significados atribuídos à Floresta Amazônica por pós-graduandos
em Manaus. [Perceptions and meanings of graduate students toward amazonian forest]
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia da Universidade Federal do Amazonas, Manaus-AM, Brazil, 2018.
The Amazonian forest is both a circumscribed place of space and a social symbol that
underlies the most diverse forms of behavior of the people who belong to it or refer to it.
This study aims to understand how people think and act in their relations with the forest
from the perspective of Environmental Perceptions, which are constructed by the
experiences and observations that occur about a given environment and is composed of
cognition, affectivity, values, preferences and meanings. The objective of this research
was to analyze the students' views about the forest, the type of problems that threaten the
continuity of the forest and the effective functioning of its cycles, and to present possible
measures for the protection and conservation of the Amazon Forest. Semi-structured
interviews with open and closed questions and a likert social scale on Forest Values were
applied to 48 master's and doctoral students from agrarian and forestry areas of public
institutions in Manaus-Am. The results showed that the forest for these students stands
out as a place of professional and academic possibilities, considering it more in its
physical than symbolic aspects. For these participants, the problems the forest faces are
due to the lack of ethics of society, which believes on the infinity of its resources and due
to the large enterprises focused only on economic gains. Among these students,
biophysical degradation is of more concern than the social impacts. To change this
scenario they believe that environmental education is an important tool to change this
scenario and to provide effective public policies.
Keywords: Environmental Perceptions; Amazon rainforest; Postgraduate studies; Ambiental
degradation.
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuição de participantes em função de nível de pós-graduação e faixa etária ... 43
Tabela 2- Distribuição dos participantes em função da faixa etária e curso de pós-graduação. . 44
Tabela 3 - Distribuição de participantes em função da região e programa de pós-graduação ... 44
Tabela 4 - Distribuição dos participantes em função da religião e área de conhecimento .......... 45
Tabela 5 - Distribuição dos participantes em função da faixa etária e ocupação anterior ......... 45
Tabela 6 - Distribuição dos tipos de entendimento sobre floresta amazônica............................. 50
Tabela 7 - Tipos de entendimento de floresta amazônica em função da idade .......................... 51
Tabela 8 - Tipos de entendimento de floresta amazônica em função do gênero ......................... 51
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Percentual do tipo de importância atribuída à floresta ................................................ 55
Figura 2 - Tipos de benefícios oferecidos pela floresta ............................................................... 58
Figura 3 - Tipos de benefícios atribuídos à floresta em função do curso de formação ............... 59
Figura 4 - Médias obtidas pelos estudantes nos valores ecocêntricos ......................................... 61
Figura 5 - Médias obtidas pelos estudantes nos valores antropocêntricos ................................. 61
Figura 6 - Principais ameaças à floresta amazônica .................................................................... 65
Figura 7 - Causas que ameaçam a floresta amazônica ................................................................ 67
Figura 8 - Consequências das ações sobre a floresta ................................................................... 69
Figura 9 - Tipos de ações de conservação e proteção da floresta ................................................ 73
Figura 10 - Entes responsáveis pela proteção e conservação da floresta .................................... 74
10
Sumário INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA............................................................................................................ 11
OBJETIVOS ............................................................................................................................................... 15
Geral ........................................................................................................................................................... 15
Específicos ................................................................................................................................................. 15
REFERENCIAL TEÓRICO ....................................................................................................................... 15
1. PERCEPÇÃO AMBIENTAL: Definições e Conceitos ..................................................................... 16
2. A FLORESTA AMAZÔNICA: Bioma e Ecossistema ...................................................................... 21
2.1 Potencialidades da Floresta ........................................................................................................... 23
2.2 Ameaças ao Futuro da Floresta ..................................................................................................... 27
2.3 Políticas de proteção e uso sustentável da floresta amazônica ...................................................... 32
3 . FLORESTA AMAZÔNICA: lugar de moradia..................................................................................... 37
4. MÉTODO e TÉCNICAS ................................................................................................................... 39
4.1 Tipo de pesquisa ............................................................................................................................ 39
4.2 Técnicas ......................................................................................................................................... 40
4.3 Participantes .................................................................................................................................. 41
4.4 Procedimento de Análise ............................................................................................................... 41
4.5 Procedimento Ético ....................................................................................................................... 42
4.6 Procedimentos Metodológicos ...................................................................................................... 42
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................................... 42
5.1 Perfil dos Participantes ................................................................................................................. 43
6. FLORESTA AMAZÔNICA: DEFINIÇÕES, SIGNIFICADOS E IMPORTÂNCIA ....................... 46
6.1 Definições de floresta amazônica ................................................................................................. 47
6.2 Significados atribuídos à floresta amazônica ................................................................................. 52
6.3. Benefícios que a floresta amazônica disponibiliza ........................................................................ 55
7. FLORESTA AMAZÔNICA: CENÁRIO DE PROBLEMAS, CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS ..... 62
7.1 Ameaças que assolam o futuro da floresta amazônica ................................................................... 63
7.2 Causas que implicam na falta da conservação da floresta .............................................................. 66
7.3 Consequências decorrentes das ações humanas sobre a floresta amazônica .................................. 68
8. FLORESTA AMAZÔNICA: ALTERNATIVAS PARA SUA PROTEÇÃO ................................... 70
8.1 Possibilidades de ações de conservação da floresta ...................................................................... 71
8.2 Entes que detém a responsabilidade de proteção da floresta ........................................................ 74
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................... 75
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 77
Apêndice 1 - Roteiro De Entrevista com Escala VF .................................................................................. 85
Apêndice 2 – Minuta do Termo de Consentimento Livre Esclarecido ....................................................... 86
Anexo 2 – Parecer de Aprovação do CEP .................................................................................................. 88
11
INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA
A floresta de todos os santos, encantos, toadas e mitos alardeada como objeto
cultural é inevitavelmente presente no cotidiano dos amazônidas. Considerando a
multidimensionalidade da floresta amazônica (HIGUCHI e HIGUCHI, 2012), a
floresta é um bioma, cujo ecossistema e elementos constituintes formam a objetividade
física e junto como o entendimento das pessoas, isto é, a subjetividade em relação a essa
realidade formam um todo que serve como espaço de acontecimentos sociais que
possibilitam formas distintas de conhecimento, utilização e vivências.
A floresta amazônica é a maior floresta tropical do planeta (MOREIRA, 2009)
e com tamanha grandiosidade não é estranho que gere interesses diversos, por conta de
sua diversidade biológica, de suas gentes e todos os bens que nela se circunscrevem.
Tais interesses perpassam aspectos específicos da beleza e importância de seu
ecossistema para o planeta bem como do desenvolvimento desenfreado e dos
problemas decorrentes das ações humanas e pela necessidade de conservação e
proteção desse território socioambiental. De acordo com dados publicados em 2015
pelo IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente na Amazônia - ONG de pesquisa
cientifica) o desmatamento aumentou significativamente no período de agosto/2014 a
julho/2015, de 2.044 km² para 3.322 km². A supressão vegetal na região continua
produzindo um terço das emissões nacionais dos Gases de Efeito Estufa (GEE), o que
consequentemente implicará nas alterações do clima, além de outros danos que
assolarão todo país. Tais ações humanas afetam não somente a natureza propriamente
dita, mas comprometem a manutenção da vida humana em um futuro não muito
distante, tendo em vista a importância deste bioma para o equilíbrio do clima planetário
(AMAZONAS, 2009; F.HIGUCHI et al., 2012; PAZ, 2013; VISENTIN, 2013).
As consequências do uso irracional e a devastação da floresta pela sociedade
têm sido debatidas em todos os fóruns, seja da sociedade civil (FBDS, 2009) seja na
política pública, (BEZERRA, 2012; FBDS, 2012; INPE, 2006), ou na academia
(AZEVEDO, 2013; CLEMENT e N. HIGUCHI, 2005; FEARNSIDE, 2003, 2004,
2005, 2006; HIGUCHI e HIGUCHI, 2012; N. HIGUCHI, 2006; PAZ, 2013). De todas
essas ações deletérias, o mais urgente e grave são as questões relativas à Mudança
Climática, que tem sido apontado como um aspecto relevante da importância da floresta
em pé (AMAZONAS, 2009; FELICIO, 2014; IPCC, 2014). As temperaturas se elevam,
12
os recursos hídricos diminuem sua extensão e passa a haver seca em lugares que nem
se imaginava, prejudicando a produção de alimentos, aumentando os custos de todos
os produtos e esse processo não tem se revertido e nem amenizado (PRODES, 2008). O
papel e importância da floresta amazônica vêm sendo amplamente estudado e debatido
na esfera técnico-científica (AZEVEDO, 2013; HIGUCHI e CALEGARE, 2013, N.
HIGUCHI, 2006, 2010; PAZ, 2013; PIATAM, 2009), porém como as pessoas
compreendem esse bioma, seu papel e sua importância ainda é um campo pouco
estudado. Em busca de uma maior elucidação nesse sentido, o Laboratório de Psicologia
e Educação Ambiental (LAPSEA) do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia), tem desenvolvido vários estudos nessa linha (HIGUCHI e CALEGARE,
2013, HIGUCHI et al., 2009; HIGUCHI e SILVA, 2013; PAZ, 2013; RIBEIRO e
HIGUCHI, 2008).
Para se compreender como as pessoas pensam e agem nas suas relações com a
floresta, podemos recorrer à Percepção Ambiental (PA). Esse conceito advém das
vivências e observações que ocorrem a respeito de um determinado ambiente e é
composto pela cognição, afetividade, valores, preferências e significados (CASTRO,
2002; DEL RIO e OLIVEIRA, 1999; HIGUCHI e KUHNEN, 2011; MARIN, 2008;
PAZ, 2013; SANTOS, 2009; SOUSA, 2015).
Esses estudos nos mostram que nem sempre o entendimento técnico é
apreendido e aplicado no senso comum de forma similar. A distância entre esses
entendimentos pode nos indicar a fragilidade encontrada entre a incansável demanda
de uma mudança de comportamento da sociedade na relação com o ambiente, em
particular com a floresta amazônica. Segundo Higuchi e Kuhnen (2011) desvelar e
compreender as percepções que estão subjacentes a determinado aspecto, objeto ou
realidade ambiental é extremamente necessário, dentro de um rol complexo para que a
busca da sustentabilidade se consolide. Por exemplo, se as PA irão influenciar no
cuidado ou não a um determinado ambiente natural, a partir dos significados atribuídos.
Os estudos desenvolvidos sobre os significados e percepções da floresta
amazônica foram realizados com grupos urbanos distintos, incluindo estudantes
universitários (PAZ, 2013), adolescentes (HIGUCHI e SILVA, 2013), professores
(AZEVEDO, 2013). Também estudos com adultos no meio rural (HIGUCHI e
CALEGARE, 2013) produziram interessantes formas de entendimento da floresta
amazônica. Este estudo busca ampliar e inserir um grupo específico da sociedade, o de
13
alunos de mestrado e doutorado, que buscam compreender as dinâmicas e processos
relativos à floresta amazônica. A inserção desse grupo nos estudos de PA se justifica
pelo fato de que tais cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) na
área ambiental cujo tema de interesse estejam centrados no bioma amazônico (fauna e
flora) são a fonte de formação mais profunda e específica sobre esse bioma e que tais
profissionais serão, inevitavelmente, formadores de opinião, seja na área de gestão ou
ensino e pesquisa, áreas importantes para o desenvolvimento da sociedade. Destaca-se
aqui duas instituições de referência em pós-graduação na área ambiental e
interdisciplinar no estado do Amazonas, o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia)1 e UFAM (Universidade Federal do Amazonas)2.
A busca por essa formação tem aumentado todos os anos por vários motivos.
Por um lado, por que essas titulações já não são mais exigidas apenas para quem deseja
ingressar na vida docente ou de pesquisa, instituições de outros segmentos também têm
solicitado os mesmos, geralmente para ganhar acréscimo no salário, pois quanto maior
a titulação, maior também será a remuneração. Por outro lado, muitos buscam atender
os desejos e motivações atrelados à construção do conhecimento da realidade, para
melhor entendê-la e assim poder intervir nessa realidade a fim de buscar uma
transformação que traga benefícios múltiplos tanto à sociedade quanto ao ambiente. Ao
dessa formação mais elevada, essas pessoas buscam imergir no universo do ensino e da
pesquisa científica e, não raro, passam a ter postos na gestão pública que direcionará
trajetórias de desenvolvimento técnico e social.
Por serem formadores de opinião em potencial e com uma bagagem de
conhecimento mais ampla e específica que inclui aspectos relacionados à floresta
amazônica, estudantes de pós-graduação de áreas do conhecimento ambiental seja
disciplinar ou interdisciplinar destas duas instituições (INPA e UFAM) de Manaus, são
apontados como participantes desse estudo que visa compreender as percepções sobre
a floresta amazônica. Quais são os significados atribuídos à floresta amazônica? Quais
os principais problemas que esses estudantes apontam como riscos à manutenção da
floresta em pé? Quais os benefícios atribuídos à floresta amazônica para a manutenção
da vida, do planeta? Quais os elementos constituintes da floresta amazônica que são
1 No INPA são 5 cursos – Botânica (M e D); Ecologia (M e D); Ciências de Florestas Tropicais (Me D);
Clima e Ambiente (M e D); Entomologia (M e D). 2 Na UFAM são 3 cursos - Ciências Florestais e Ambientais (M); Ciências do Ambiente e
Sustentabilidade na Amazônia (M e D) e Zoologia (M e D).
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apontados por estes estudantes como prioridades para a manutenção desse
ecossistema? Quais as possíveis alternativas de conservação e as potencialidades desse
ambiente para o equilíbrio do planeta?
Investigar tais questões junto aos estudantes de pós-graduação pode ser um meio
importante de pensar em medidas e propostas de intervenção que possam considerar a
floresta como um cenário de potencialidades. Além disso, para que se possa discutir no
ambiente acadêmico sobre as consequências das atividades humanas, a fim de que novos
estudos científicos possam surgir com leituras diferenciadas que contribuam para a
construção de um novo olhar sobre esse bioma e a floresta amazônica.
A pesquisa em PA é importante para o planejamento e gestão do ambiente, e foi
colocada em evidência pela UNESCO desde a proposta do Homem e Biosfera, no ano de
1973 (WHITE, 1977). Uma das dificuldades para a proteção dos ambientes naturais está
no comportamento humano em relação ao ecossistema em questão. Desvelar as PA das
pessoas é um primeiro passo, que embora não seja suficiente, é muito importante na
trajetória de construção de novas relações pessoa-ambiente na busca da sustentabilidade.
O desenvolvimento dessa pesquisa, que ora me proponho, tem a ver com meu
interesse em compreender os diversos entendimentos sobre a floresta, visto que isso
influencia diretamente nas ações humanas a esse ambiente. Desde o fim da graduação
com um trabalho sobre o processo de educação ambiental nas empresas do Polo Industrial
de Manaus, comecei a me inquietar por essa busca de tentar saber o que leva as pessoas
a terem comportamentos que levem ora à conservação e ora à degradação. Com meu
ingresso no INPA, onde foi possível conhecer estudos sobre PA desenvolvidos no
LAPSEA, esse interesse se tornou mais concreto. Senti necessidade de contribuir nos
trabalhos já desenvolvidos, e inserir um grupo de participantes ainda não investigados, de
alunos de pós-graduação, pois acredito que eles sejam um grupo que tem muito a
contribuir com novos estudos e percepções e que estão diretamente envolvidos em
pesquisa científica na região amazônica.
15
OBJETIVOS
Geral
Compreender as percepções ambientais de estudantes de pós-graduação stricto
sensu, sediados em Manaus-AM, sobre a floresta amazônica.
Específicos
Analisar os significados atribuídos à floresta amazônica e seus elementos
constituintes.
Identificar os principais problemas que esses estudantes apontam para a
conservação da floresta amazônica, suas causas e consequências.
Verificar as possíveis alternativas de conservação e proteção da floresta
amazônica apontadas por esses estudantes.
REFERENCIAL TEÓRICO
Para o desenvolvimento desse estudo foram necessários alguns aportes
teóricos para fundamentar as questões científicas. Apresentam-se, dessa maneira,
três seções com as temáticas que permitem um entendimento dos objetivos
propostos nessa dissertação:
1) Percepção Ambiental: considerando que essa perspectiva teórica nos
auxilia a compreender o comportamento socioambiental diante da realidade física
ambiental, vamos nos ater as suas definições, conceitos e contribuições
metodológicas para esse estudo.
2) A floresta amazônica como espaço físico: ao tratar da subjetividade por
meio das percepções ambientais é necessário contextualizarmos o objeto, isto é, a
floresta amazônica como bioma, ecossistema com suas características próprias, sua
dinâmica e biodiversidade distintas, potencialidades e ameaça e dispositivos legais
e convencionais para sua manutenção.
16
3) A floresta amazônica como espaço social: aqui serão apresentados
marcos teóricos próprios de uma dimensão humana, sua organização e vivências
socioculturais que estão relacionadas com um contato e identidade das pessoas que dela
estão próximas.
1. PERCEPÇÃO AMBIENTAL: Definições e Conceitos
As ciências sociais e do comportamento têm passado a estudar as relações entre
os seres humanos e o ambiente como uma forma de contribuir para o entendimento das
questões ambientais nas mais diversas áreas (DRAY, 2014). Foi a partir dessa gênese
que surge a Percepção Ambiental (PA), diferenciada, mas ainda no campo das
subjetividades humanas sobre o entorno ambiental físico. Esses estudos passaram a
entender que essas relações são tanto individuais quando sociais e dependentes da
representação que a pessoa faz do ambiente.
Os estudos sobre PA tiveram fortes contribuições da fenomenologia através de
Merleau-Ponty com sua obra “Fenomenologia da Percepção” (1945) e Gaston
Bachelard com a “Poética do Espaço” (1974), mas acabaram por seguir rumos um
pouco diferenciados, embora contendo tal base filosófica entre alguns estudiosos.
Na perspectiva da Geografia Humanística, a PA teve Yi-Fu Tuan (1980) como
forte representante de estudos sobre a dimensão subjetiva da realidade física. Segundo
o autor, o conjunto de capacidades e subjetividades relacionadas às práticas cotidianas
do ser humano formam a percepção da realidade. Essa subjetividade não é estanque e
nem definitiva. As imagens formadas a partir da subjetividade, se modificam quando
as pessoas passam a adquirir novos interesses, passam a ter um significado diferente e
dependem de aspectos psicológicos e socioculturais que influenciam na forma como
materializam o ambiente (TUAN, 1980). Ou seja, trata-se da junção entre interesse e
necessidade, pois a percepção se dá a partir de informações que determinam a ideia do
indivíduo sobre o ambiente, assim como atitudes e valores e assim atribui-se um
significado (SANTOS, 2009).
Tuan (1980) adverte que existem várias formas de perceber o mundo externo.
Isso acontece porque as pessoas fazem uso dos cinco sentidos ao entrar em contato com
o meio ambiente, em um processo associado com os mecanismos cognitivos, ou seja,
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cada sujeito capta, reage e responde de forma diferente frente às ações sobre o meio.
As respostas ou manifestações são, portanto, resultado das percepções, dos processos
cognitivos, julgamentos e expectativas de cada sujeito. Tuan (1983) aponta que tais
sentidos não são suficientes, pois como salienta, a cultura pode influenciar a percepção.
Nesse sentido, observa-se que a cultura de um grupo é constituída coletivamente, o
autor acredita na influência social sobre a percepção, uma vez que a mesma está
inexoravelmente inserida nas diversas formas de enxergar uma mesma realidade, seja
de um grupo ou de pessoas.
No Brasil Del Rio e Oliveira (1999) preconizaram seus estudos baseados nas
PA, introduzindo um caminho para o entendimento da relação que se estabelece
entre o indivíduo/sociedade e ambiente, seus recursos naturais ou construídos
(RIBEIRO FILHO, 2012), porém seus estudos tinham um enfoque muito forte do
urbanismo e arquitetura. Esses autores, assim como Tuan, afirmam que as PA são
mutáveis e variam de acordo com os valores, interesses, expectativas assim como o
mundo físico de cada pessoa e como elas interagem com ele. A construção das PA
ocorre, assim, pelas mais diversas interações e experiências vividas e acabam por se
manifestarem em sentimentos, significados, valores e preferências (SOUSA, 2015).
Segundo Del Rio (1999) a PA é um processo mental dos sujeitos para com o
entorno, ocorrendo por meio de mecanismos perceptivos e cognitivos. Sendo assim, a
percepção acontece por meio de estímulos externos enquanto que a cognição se
desencadeia através da contribuição pessoal que inclui elementos como humor,
conhecimentos prévios, valores e razões. Também pode ser definida como o ato de
captar ou apreender internamente o ambiente em que se está inserido. Cada indivíduo
percebe, reage e responde diferentemente às ações sobre o meio em que vive, sendo
estas manifestações resultado da subjetividade de cada pessoa (FAGGIONATO, 2010).
Os processos perceptivos possuem inúmeros filtros subjetivos. Portanto, formam
um conjunto de capacidades e subjetividades que caracterizam a percepção da
realidade. Essa percepção que estrutura e organiza a nossa relação com a realidade e o
mundo, varia entre os observadores e isso implica nas ações tomadas no nosso
cotidiano. De acordo com Higuchi e Kuhnen (2011), quando esses aspectos da
realidade são compreendidos, tornam-se extratos cognitivos, embora não possam ser
reduzidos a meras abstrações intelectuais, pois as imagens indicam ações e significados
atribuídos aos lugares e objetos e que se constituem a partir de um contexto histórico
18
inerente a intersubjetividade humana.
Considerando que cada sujeito possui um saber, capacidades e experiências de
vida, inevitavelmente suas percepções serão diferenciadas, não sendo possível
determinar se uma percepção é correta ou não, mesmo em situações pontualmente
similares. Pode- se dizer que a experiência de vida coopera de maneira ímpar para que
o sujeito conceba a ideia que possui sobre os lugares e o mundo (POLLI e KUHNEN,
2011). Conforme explicam Higuchi e Calegare (2013), os sentidos e significados vão
se formando a partir de aspectos relacionais que fazem parte da rotina, lugares em que
se costuma realizar quaisquer atividades, independente da frequência contribuem nessa
construção e apropriação do espaço. A percepção, ou significados atribuídos ao
ambiente, permite entender o comportamento acerca do lugar e entorno que as pessoas
vivem. Partindo disso, pode-se dizer que as três dimensões que formam o mundo são:
ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana (SANTOS, 2009).
Ao considerar que em nossa existência como indivíduos, internalizamos o
princípio de sistema (totalidade integrada) e de recursividade (reorganização
permanente), o ambiente torna-se indissociável dessa unidade, no caso o ser humano
(HIGUCHI e KUHNEN, 2011; MORIN e LE MOIGNE, 2000). Portanto, não há como
fazer o estudo da relação pessoa-ambiente de maneira separada sem um considerar o
outro, pois não seria possível compreender na essência essa realidade sem a ação de
quem o observa. Segundo Garcia-Mira (1997) os aspectos que formam o ambiente e as
pessoas não devem ser limitados a aspectos biofísicos de maneira isolada, deve-se
considerar a variedade de elementos percebidos que constituem a vida das pessoas.
Para Higuchi e Calegare (2013) é a partir dessa interação com o meio que se torna
possível tanto individual quanto coletivamente causar mudanças no espaço. Visto que
as intervenções humanas no espaço permitem que se desenvolva novas formas de
sentir- pensar-agir e uma evolução constante na atribuição de sentidos e significados
ao espaço. Portanto, a percepção se consolida a partir dessa relação construída.
Os processos mentais alusivos à PA consideram o mundo físico, mas, sobretudo,
as expectativas, condutas humanas e julgamentos. Mas esses aspectos físicos compõem
parte de um espaço social que de acordo com Higuchi e Kuhnen (2011) apresenta os
aspectos socioculturais inerentes as pessoas que nele estão inseridas. Então, esses
elementos físicos podem ser considerados como produtos sociais, visto que com suas
peculiaridades materiais são capazes de despertar em um indivíduo comportamentos
muitos específicos.
19
Os espaços construídos vão além do que os olhos podem ver e as mãos podem
tocar, e existe uma subjetividade que pode ser similar ou diversificada. Essa
subjetividade envolve-se na construção de fragmentos espaciais e da relação com o
ambiente em que estamos inseridos, que se dá por meio da visão internalizada e
organizada dos símbolos (SILVA e HIGUCHI, 2013). Compreende-se que o resultado
dessa relação é decorrente da reflexão sobre a percepção humana em seu ambiente, visto
que, o ambiente natural geralmente está sempre em equilíbrio e quando isso não ocorre
é porque em algum lugar em determinado momento, a interferência humana feriu as
normas dessa relação. Para Tuan (1983), essas proposições são vistas como respostas
dos estímulos externos realizados de maneira planejada e proposital, de acordo com os
fenômenos observados e com o lugar em que o indivíduo se encontra.
Fischer (1994) entende que a relação do ser humano com um lugar deve ser
analisada a partir do entendimento de como ele utiliza esse lugar. Pois, trata-se de um
espaço vivido, que por consequência encontra-se carregado de experiências sensoriais,
produzindo nessa relação, um conjunto de valores culturais. Por conta disso, o autor
afirma que os lugares adquirem quadros específicos, de base topológica sociocultural,
frutos das características físicas e culturais próprias de cada lugar. O autor analisa,
também, as relações em um ambiente, através da compreensão do lugar como um
espaço- tempo, pois, segundo ele, em muitos casos a utilização de um lugar depende do
tempo de ocupação que produz as intervenções antrópicas. Segundo Higuchi e Kuhnen
(2011) a interpretação e construção de significados no processo de percepção definem
caminhos relevantes na identificação e apropriação desses ambientes e espaços.
A forma como se ocupa um espaço determina os comportamentos referentes
aquele contexto, uma vez que a construção do processo de percepção do mundo ocorre
pelo corpo e a partir do corpo (FISCHER, 1994; HIGUCHI, 2002). Nessa interação, o
ambiente não é só um elemento que está fora de nós, mas o resultado da nossa interação
com o mundo. Esta apreensão implica em construir relações que se transformam em
ícones simbólicos cheios de significados, por isso o processo perceptual tem um papel
fundamental no entendimento da realidade (FISCHER, ibid).
Estudar um problema ambiental implica em utilizar ferramentas e técnicas, sejam
elas tangíveis ou psicossociais diferenciadas, para obter uma real compreensão do
mesmo. Segundo Ribeiro Filho (2012), a PA tem sido utilizada para a apuração e
avaliação de vários casos de degradação ambiental, evidenciando que a relação dos
seres humanos com a natureza tem sido historicamente depredatória, mesmo
20
considerando todos os benefícios que ela nos dispõe (HIGUCHI; AZEVEDO;
FORSBERG, 2012). Então devemos considerar a importância e a compreensão de
significados, representações e valores alusivos à paisagem e o meio ambiente pela
diversidade de comunidades envolvidas, sobretudo diante da possível ocorrência de
danos e deterioração do ambiente (GUIMARÃES, 2011). Compreender a percepção de
elementos de um determinado ambiente, em particular neste estudo, a floresta
amazônica, pode contribuir na formação de interpretações e compreensão mais
profunda da relação com este bioma.
A PA é, pois, diante desses pressupostos da Geografia Humanística e da
Psicologia Ambiental, um meio interessante para a compreensão de práticas sociais e
possibilitar ações de intervenção socioeducativas na busca da tão desejada
sustentabilidade ambiental tendo a floresta amazônica como pano de fundo em
segmentos variados, e aqui em especial com pós-graduandos que buscam uma
formação científica aprofundada sobre esse bioma.
De acordo com Azevedo (2013) a floresta amazônica no imaginário social se
refere desde um imenso “tapete” verde, cortado por rios extensos, ou mesmo árvores
gigantes, altas, como se tudo fosse homogêneo, repleto de animais selvagens Ainda
segundo a autora, muitas dessas imagens fazem parte de um imaginário mítico construído
por antigos viajantes e parte dos meios de comunicação que se perpetuam e se recriam.
Isso tudo se traduz a partir de alguns dos mitos que foram criados sobre a Amazônia, e
que durante um bom tempo foram considerados verídicos, inclusive no aspecto
educacional, como o do “pulmão do mundo” (SANTOS et al., 2012).
A subjetividade que a floresta nos permite elaborar é importante, pois se
constitui um patrimônio sociocultural, que em última instância atravessa nosso
entendimento junto com a história e características paisagísticas (RIBEIRO e
HIGUCHI, 2012). Conforme explica Ramos (2001) essa propriedade das florestas vem
ganhando valorização crescente como um importante motivo de preservação dos
espaços naturais. Vemos, portanto que as florestas transcendem sua dimensão física,
isto é, sua especificidade material para assumir a uma dimensão humana onde valores
e crenças se tornam presentes na manutenção ou não desse ecossistema. Dessa relação
pessoa-floresta a partir de sua realidade física, surgiram representações simbólicas,
saberes e práticas, que permeiam o entendimento e apreensão da floresta amazônica
como um importante patrimônio social (RIBEIRO e HIGUCHI, ibid).
A floresta amazônica como categoria de análise deste estudo deve ser entendida
21
nas suas múltiplas dimensões (HIGUCHI e HIGUCHI, 2012), e, portanto, nas seções
seguintes nos ocuparemos dessa espacialidade que não pode ser destituída das
socialidades existentes nela (FISCHER, 1994).
2. A FLORESTA AMAZÔNICA: Bioma e Ecossistema
A floresta amazônica não pode ser compreendida sem seu adjetivo Amazônia,
seja como território ou bioma. Como território, o termo Amazônia, de acordo alguns
autores (FONSECA, 2011; SANTOS et al., 2012; SILVA, 2013) incorpora espaços
distintos dependendo do foco que a ela se dá ou se quer.
Benchimol (2010) sustenta que a Amazônia tem uma configuração continental, e
como tal possui pelo menos 8 grandes sub-regiões a partir de sua localização
geográfica, e cada uma delas possui características peculiares. Boa parte dessas sub-
regiões se insere no território brasileiro. A Amazônia Brasileira contempla 65,7% do
território nacional, sendo mais de 11mil km de fronteiras internacionais com 12 milhões
de hectares de várzeas e 25 mil km de rios navegáveis contido nos 7 estados (Amazonas,
Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia e Tocantins).
A Amazônia Legal, conceito político e não de um imperativo geográfico,
instituído em 1953, para fins de planejamento do desenvolvimento nacional,
corresponde a 59% do território brasileiro e engloba a totalidade de oito estados (Acre,
Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do
Estado do Maranhão (a oeste do meridiano de 44ºW), perfazendo mais de 5 milhões de
km² e correspondendo a 61,2% do Território Nacional (http://www.ipea.gov.br/
FERREIRA, 2012).
A floresta amazônica é um elemento constituinte dessas Amazônias, que apesar
de ser uma floresta adjetivada pelo território em que se encontra, possui características
que a fazem, por si só, serem reconhecidas cientificamente, seja pelos recursos que ela
fornece a outras formas de vida, como pelos serviços prestados para o equilíbrio do
ecossistema planetário. A floresta amazônica é, assim, um bioma e ultrapassa fronteiras
ou divisões geopolíticas.
Segundo o Sistema Florestal Brasileiro (SFB, 2009) entende-se como bioma o
conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação
contínuos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares
22
e história compartilhada de mudanças o que resulta em uma diversidade biológica
própria. O bioma Amazônia compreende uma área de 4,2 milhões de km2 (49,3%
do território brasileiro) (SOUZA et al., 2012) e isso significa aproximadamente 30% de
todas as florestas tropicais remanescentes no planeta que possui grande parte da
diversidade biológica em escala global (SFB, 2009). É constituído por florestas densas
e abertas, mas também compreende outros tipos de ecossistemas como florestas
estacionais, campos alagados, várzeas, florestas de igapó, campinaranas e savanas.
Em termos históricos, o bioma Amazônia, surgiu a partir de uma falha no escudo
Pré-Cambriano com uma extensa rede de rios e com diferentes graus de fertilidade.
Embora haja essa distinção, não há uma barreira perceptível que determine onde
começa e termina esses ecossistemas, isso ocorre de maneira gradual e harmonicamente
(SOUZA et al., 2012). Isto ocorre tendo em vista que a vegetação passa por
transformações e os animais transitam de um lugar para outro sem se fixarem
obrigatoriamente, ainda que sua alimentação e abrigo sejam específicos em cada lugar
por onde passam.
Existe uma relação dos tipos florestais com as bacias hidrográficas, ou seja, a
divisão florística da Amazônia está diretamente associada aos rios, solos e a topografia.
Sob esta perspectiva taxonômica, as florestas ficam divididas entre: florestas
inundáveis (várzea e igapó) e de terra firme (SOUZA et al., 2012).
As florestas de várzea marcam a paisagem nas margens dos rios Amazonas,
Madeira e Solimões, esses rios possuem partículas de material argiloso que torna a
coloração da água amarelada (SIOLI, 1984). Neste tipo de floresta não são encontradas
muitas espécies, mas apresenta elementos florísticos bem característicos (ALMEIDA
et al., 2004). Os solos costumam ser ácidos cujo pH fica entre 4 e 6 e ricos em nutrientes
importantes para as plantas da região. Por essa razão, a várzea costuma ser bastante
utilizada na agricultura, seja pela fertilidade dos solos ou pela facilidade de acesso pelos
rios. No Amazonas, esse tipo de floresta tem sido a fonte de matéria-prima para
indústrias de madeira (SOUZA et al., 2012)
Nas florestas de igapó, as inundações são periódicas por águas claras e escuras
oriundas das terras baixas do Terciário Amazônico. As águas possuem elementos
inorgânicos em menores proporções e concentrações elevadas de materiais orgânicos
dissolvidos como o ácido fúlvico (SOUZA et al., 2012). As florestas de igapó
costumam ter solos arenosos e por ser um ambiente de baixa nutrição possui baixa
23
variedade faunística e florística (HAUGAASEN e PERES, 2006).
A floresta de Terra Firme tem esse termo, pois é utilizado em todas as florestas
que não são tão inundadas com o ciclo das águas. Nessa categoria, se subdivide em:
florestas densas, densas com lianas, abertas com bambus, de encosta, campina alta ou
campinarana e florestas secas (BRAGA, 1979). Segundo Oliveira e Amaral (2004)
essas florestas possuem uma diversidade significativa de espécies.
Outra forma de classificar o bioma Amazônia, se dá de acordo com as tipologias
da vegetação, podendo ser floresta ombrófila densa, floresta ombrófila aberta, floresta
estacional decidual e semidecidual, campinarana florestada e arborizada, savana
florestada e arborizada (cerradão e campo-cerrado), savana estética florestada e
arborizada (caatinga arbórea), vegetação com influência marinha ou fluviomarinha
(mangue e restinga), ecótono (zona de transição) ou vegetação secundária e
reflorestamento (MMA, 2007).
Cada uma dessas florestas se caracteriza por paisagens e dinâmicas florísticas e
faunísticas muito distintas. Além disso, esses espaços possuem uma grande diversidade
produtos madeireiros e uma infinidade de produtos florestais não madeireiros que
assegura, sobretudo, as comunidades locais com possiblidades de subsistência e outros
empreendimentos comerciais. Além disso, segundo Souza et al., (2012), a floresta tem
um papel importante na manutenção e no processo de funcionamento dos ecossistemas
e isso pode, talvez, tornar a função primordial na proteção de todas as formas de vida.
2.1 Potencialidades da Floresta
Independentemente das configurações particulares da floresta amazônica, ela
é reconhecida como um espaço físico de grande relevância e potencialidades que
poderiam ser exemplificados a partir da imensa diversidade biológica (FREITAS et al.,
2012), seus produtos florestais (NASCIMENTO e MONTEIRO DE PAULA, 2012) e
serviços ambientais (FEARNSIDE, 2006; MMA, 2009).
Os serviços ambientais que a floresta amazônica fornece - que até poucas décadas
era tido como algo implícito e pouco reverenciado, passaram a ser explicitamente
reconhecidos como aspectos importantes para manutenção de vida no planeta como os
ciclos biogeoquímicos para a regulação do clima, proteção do solo contra erosão e o
24
controle do regime de chuvas e manutenção da biodiversidade (AMAZONAS, 2009;
2010; FEARNSIDE, 2006).
As florestas possuem um papel imprescindível na manutenção de serviços
ecológicos como garantir a qualidade do solo, dos estoques de água doce e proteger a
biodiversidade. A manutenção do ciclo hidrológico ocorre principalmente pelo controle
do regime de chuvas ou ciclagem e purificação da água. Na atmosfera a água fica em
forma de vapor, dependendo da temperatura esse vapor pode mudar para chuva, granizo
ou até mesmo neve. Uma parte dessa água evapora e a outra vai para reservatórios ou
é absorvida pelas plantas ou pelo solo (AMAZONAS, 2009; DIAS, 2008). É um
fenômeno de circulação fechada da água que envolve a evaporação de oceanos, a
formação de nuvens e mudanças do estado líquido na atmosfera (FERREIRA, et al.,
2012).
A manutenção da regularidade do clima, atualmente reconhecido como Ciclo
do Carbono, tem tido um forte apelo, principalmente no tocante ao fenômeno das
Mudanças Climáticas. Quando um ser que não produz o seu alimento, se alimenta de
qualquer vegetal, ele consome aquela matéria orgânica que estava armazenada. Essa
matéria é utilizada nos processos metabólicos do animal, como a respiração, por
exemplo, que libera gás carbônico para o ambiente. Para promover o equilíbrio do
processo de respiração, o carbono é transformado em dióxido de carbono. Existem
outros meios de produzir dióxido de carbono como nas queimadas e na decomposição
de material orgânico no solo. Já os processos relacionados à fotossíntese nas plantas e
árvores funcionam de forma contrária. Sob presença de luz, elas retiram o dióxido de
carbono, se utilizam do carbono para crescer e retornam o oxigênio para atmosfera. De
noite, na transpiração, esse processo é invertido e a planta libera CO2 sobressalente do
processo de fotossíntese (ROSA; MESSIAS e AMBROZINI, 2003).
O ciclo se resume no crescimento das plantas, as quais utilizam o gás carbônico
presente na atmosfera para a realização da fotossíntese, transformando-o em matéria
orgânica. Em seguida, parte dessa matéria orgânica é consumida pelos próprios
vegetais em sua respiração, ficando a outra parte armazenada em seus tecidos. A esse
serviço, pesquisadores nomeiam de sequestro de Carbono ou estoque de carbono.
Segundo N. Higuchi, et al., (2009), já que as árvores são capazes de, pela fotossíntese,
retirar o CO2 da atmosfera e fixá-lo nas diferentes partes da planta, ao se evitar o
desmatamento e mantendo a floresta em pé, é possível neutralizar milhões de tCO2.
25
Ainda de acordo com esses autores, considerando que o Amazonas tem
aproximadamente 150 milhões de hectares de florestas primárias, estas poderiam
neutralizar o carbono emitido pelas ações antrópicas localizadas na cidade de Manaus
por mais de 22 mil anos. Sendo assim, a floresta presta um serviço inestimável para o
ciclo climático.
Há também nos ciclos biogeoquímicos da floresta, o ciclo do nitrogênio,
oxigênio e nitrogênio. No ciclo do nitrogênio, por exemplo, pode ser um fator
determinante no ciclo do carbono, visto que qualquer variação desse nutriente no
espaço e no tempo pode afetar o crescimento das plantas e consequentemente modificar
os ecossistemas. Segundo Pinto (2012) o nitrogênio (N) possui 78% do volume da
atmosfera, seguido do oxigênio com 21% e dos outros gases com a porcentagem
restante, sob esse prisma, há que se considerar que na atmosfera o N é fonte para
qualquer produção orgânica.
Além desses serviços, a floresta é capaz de fornecer recursos que são a matéria-
prima e todos os produtos decorrentes de processos de transformação da matéria-prima
extraída para em bens de consumo, seja madeiro ou não madeireiro. Os madeireiros são
os materiais lenhosos passíveis de aproveitamento como: toras, lenhas, estacas e afins.
Os produtos florestais não-madeireiros (PFNM) são aqueles de origem vegetal
como sementes, óleos, plantas ornamentais, dentre outros. De acordo com a Embrapa
(2005), embora durante muito tempo esses produtos tenham sido utilizados por
populações indígenas e caboclas da Região Amazônica, nos últimos anos os PFNM
vêm ganhando destaque como uma das principais alternativas de conservação da
biodiversidade. O potencial de mercado dos PFNM tem aumentado e
consequentemente a oferta de produtos não tradicionais pela extração das florestas ou
do cultivo em sistemas agroflorestais. Nesse mesmo viés é possível observar a
participação desses produtos na renda de diversas comunidades rurais em todas as
regiões brasileiras, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
(EMBRAPA, 2005)3.
Esses recursos advindos da floresta junto com a fauna constituem a
3 A Embrapa desde 2005 desenvolve o projeto Manejo Sustentável de Produtos Florestais Não Madeireiros,
promovendo ações em diferentes Estados da região Norte. A ideia é instruir, com base em estudos
ecológicos, sobre práticas de manejo sustentável para produtos florestais não-madeireiros, assim como
técnicas de monitoramento da sustentabilidade ecológica e de promover a troca de informações e
experiências sobre ecologia e manejo de espécies florestais de uso não-madeireiro entre instituições
governamentais e não-governamentais que atuam na Amazônia Brasileira (EMBRAPA, 2005).
26
biodiversidade amazônica, considerada a maior do mundo (RAVEN, 1988). A floresta
amazônica abarca aproximadamente 30% da diversidade faunística e florística de todo
o planeta, essa porcentagem deve ser bem maior tendo em vista que várias espécies
ainda não foram sequer descobertas. Conseguir manter tantos seres abrigados em um
único ambiente mostra que esse é um serviço bem importante prestado pela floresta
(MARTINS et al., 2007; VIEIRA, 2005; WWF, 2015). Dessa forma a floresta não
apenas contribui com recursos, mas também com a própria manutenção da
biodiversidade, que em si, um serviço ambiental.
Segundo Martins et al., (2007) a biodiversidade amazônica ainda não está
totalmente desvendada. Não fazemos ideia de quantas espécies existem, sabe-se pouco
sobre a função de algumas espécies na manutenção da floresta e sabemos menos ainda
acerca das interações que ocorrem entre espécies, como elas acontecem com às
variações do meio ambiente. Essa falta de conhecimento torna essencial a necessidade
de mais estudos sobre o papel da floresta, sua manutenção ou devastação e suas
implicações sobre a biodiversidade.
Antes dos anos 80 o termo biodiversidade era desconhecido pelo grande
público. A partir de então, tornou-se muito utilizado e construiu-se da junção das
palavras ‘diversidade’ e ‘biológica’. Foi popularizado pelo livro Biodiversidade, de
1988, escrito por Edward O. Wilson, um biólogo norte-americano, um dos precursores
da ecologia, nos debates do Fórum Nacional de Biodiversidade, realizado dois anos
antes em Washington (Estados Unidos). O livro foi traduzido e publicado no Brasil em
1997. O conceito abarca todos os seres vivos e as relações que esses organismos têm
entre si e com o meio físico, modificando e erguendo florestas, lagos e todos os
elementos que compõem a paisagem que costumamos denominar de natureza. Por isso,
plantas, animais e ecossistemas passaram a ser compreendidos como um complexo
integrado, que dá forma e funcionamento à vida no planeta (MARTINS et al., 2007).
Em cada hectare de floresta existem cerca de 300 espécies de árvores com mais
de 10 cm de diâmetro à altura do peito (DAP) (DINIZ e SCUDELLER, 2005).
Simboliza um número maior do que todas as espécies de árvores da Europa inteira. As
árvores e outras plantas não abarcadas por esses números abrigam milhares de espécies
de animais. Muitos estudos mostram que a diversidade dessas florestas é maior na
Amazônia e Ásia e menor na África (RIBEIRO et al., 1999). Apesar dessa
megabiodiversidade, a floresta amazônica vem sofrendo constantemente com uma
27
imensa degradação, sobretudo de espécies florestais com alta potencialidade
econômica, a partir das atividades de fazendeiros e madeireiros (JUNK et al., 2000) e
grandes projetos nacionais (FEARNSIDE, 2005).
2.2 Ameaças ao Futuro da Floresta
O desmatamento, as queimadas e mau uso da terra seja com grandes
empreendimentos ou urbanização inadequada, a garimpagem, o agropastoreio e a
biopirataria, representam as principais ameaças enfrentadas para a manutenção da
floresta em pé (BRASIL, 2007; IBF, 2015; IPCC, 2007; LEITE, 2012). Com tais
ameaças a floresta amazônica tornou-se um espaço físico cuja atenção mundial a ela se
volta. Apesar destes problemas a floresta amazônica é considerada um dos símbolos
mais puros da natureza, e, portanto, tal condição exige uma ampla proteção. De acordo
com o IMAZON (2005), em 2002, aproximadamente 47% da Amazônia brasileira
estava sob algum tipo de pressão humana, incluindo desmatamento, zonas de influência
urbana, assentamentos de reforma agrária, áreas alocadas para prospecção mineral e
reserva garimpeira, bem como áreas sob pressão indicadas pela incidência de focos de
calor (queimadas) em florestas.
O desflorestamento é pernicioso por vários motivos e uma séria ameaça não
apenas à permanência e sobrevivência de várias espécies vegetais endêmicas da
Amazônia (VIEIRA, 2005), mas também a diversos outros fatores biológicos,
climáticos e sociais. De acordo com dados do WWF (2015), o desmatamento na região
amazônica é o maior do mundo, superando até a Indonésia. No aspecto ambiental, o
desmatamento pode implicar em custos significativos, mais do que os benefícios da
pecuária principalmente ao considerar as perdas irreversíveis de patrimônio genético e
ambiental pouco ou nada conhecido (MARGULIS, 2003).
O desmatamento tropical é decorrente da interação de vários fatores que variam
sob dois eixos: um geográfico e outro temporal (anual). Ou seja, trata-se de um
fenômeno complexo (FBDS, 2009). Apesar de não haver um consenso, as causas do
desmatamento parecem ser aparentemente as mesmas nas diferentes regiões tropicais
do planeta como a pecuária extensiva, incêndios florestais provocados por ações
humanas e a própria mineração.
A preocupação mundial em torno do desmatamento da floresta amazônica só
28
tem aumentado nos últimos anos (MARGULIS, 2003), uma vez que este é um dos
vilões do processo de degradação desse bioma. Além disso, desmatar um ambiente
florestal é sinônimo de aumento significativo das emissões de Gases de Efeito Estufa
(GEEs) na atmosfera (CLEMENT e HIGUCHI, N., 2005). A floresta amazônica, como
já apresentado, exerce uma importante função no sistema terrestre, implicando
diretamente o ciclo do carbono e o clima global (PAIVA, 2013).
As estimativas atuais são de que entre 10 a 12% da floresta já foi desmatada em
todos os países que compõem a região. Isso em quilômetros é um dado alarmante, pois
engloba os territórios do Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana,
Suriname e Guiana Francesa (SOUZA et al., 2012). Preocupantemente, alguns estudos
apontam que 18% da floresta amazônica já tenha sido desmatada definitivamente.
Percebe-se uma dissonância de informações a respeito do atual cenário, pois há uma
divergência entre poder público e comunidade cientifica, uma vez que o governo parece
tentar minimizar a gravidade da situação divulgando anualmente os dados de
desmatamento um pouco menores ao longo de algumas décadas.
Ultimamente a floresta amazônica tem sua imagem associada a ações de
degradação ambiental indiscriminada, visível nos altos índices de desmatamentos e que
implica em grandes riscos à manutenção da vida no planeta (BRUNO e MENEZES,
2012). Dados da FAO em 2005 mostram que, de 2000 a 2005, o Brasil foi responsável
por 42% da perda florestal líquida global — sendo que a maior parte ocorreu na
Amazônia brasileira (IMAZON, 2005).
A agropecuária também tem contribuído com a devastação na Amazônia. Entre
2004 e 2005, foram plantados cerca de 1,2 milhões de hectares de soja na floresta. Isso
significa aproximadamente 5% de área plantada no país. (ISA, 2007). O Greenpeace em
2005 afirmou que a produção de soja na região implicou em mais de 1 milhão de hectares
de floresta desmatados, mesmo considerando que o solo não é adequado para esse tipo de
cultura e ainda põe em risco os lençóis freáticos e o solo propriamente dito com
contaminação.
A falta de números consensuais se dá pela grandiosidade de alterações que
ocorrem à margem da lei, de difícil monitoramento. No entanto, há estimativas sobre
desmatamentos legais e desmatamentos ilegais da floresta. O desmatamento ilegal,
apesar de combatido, tem tomado proporções gigantes e devastadoras e que segundo
proposta anunciada pela Presidente República na COP 15 (Paris 2015), o Brasil se
compromete a combater o desmatamento ilegal de forma definitiva. Nos últimos 10
29
anos, o Brasil vem elaborando uma política de combate ao desmatamento da Amazônia
que assegurou avanços na proteção da maior floresta tropical do mundo (WWF, 2015),
mas os números nos mostram que tal empreitada necessita de muito mais empenho para
ser exitosa.
Segundo dados oficiais, em 2014, o Brasil alcançou uma redução de 80% da
taxa de 2004. Apesar dessa redução muito significativa, o país ainda figura no topo do
ranking de desmatamento no mundo, com a supressão de 4.571 km², em 2012, e 5.891
km² de floresta, em 2013. A decisão de iniciar este grande esforço envolveu diversos
fatores, principalmente a própria pressão da sociedade, amedrontada com o ritmo
desenfreado de destruição da floresta que, em 2004, era de 27.772 km2 de
desmatamento, o que torna a segunda maior taxa histórica do Brasil (WWF, 2015). Os
desmatamentos ilegais somam montantes que poucos conseguem contabilizar, e que
como trabalho de formiguinhas vão avançando de forma estrondosa. Por isso Fearnside
(2005) sustenta que se devem criar políticas mais efetivas de combate ao desmatamento
que contribuiria não somente para a conservação de plantas e animais, como manteria a
floresta em pé, da forma que deve ser para o bom funcionamento dos serviços
ambientais.
O desmatamento que se configura como legal, é permitido e válido no Brasil
quando em casos de uso alternativo do solo, tanto de domínio público quanto privado,
desde que esteja registrado no CAR – Cadastro Ambiental Rural, no que rege o artigo
26 (CÓDIGO FLORESTAL, 2012). A exploração de florestas nativas e formações
sucessoras dependem de licenciamento pelo órgão competente do SISNAMA (Sistema
Nacional de Meio Ambiente), após aprovação do Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS, desde que contemple técnicas de condução, exploração, reposição
florestal e manejo que sejam compatíveis com os mais diversos ecossistemas que a
cobertura arbórea forme, segundo o artigo 31 sobre exploração florestal do Código
Florestal de 2012.
Com as alterações promovidas pelo Decreto Federal 6.514 de 2008 que dispõe
sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, foram iniciadas tentativas
de reforçar e aprimorar a estratégia de enfrentamento dos desmatamentos ilegais na região
amazônica. Para isso estabeleceu novos mecanismos de controle objetivando, sobretudo,
enfrentar a retomada do desflorestamento na região.
Independente desses instrumentos normativos, a floresta amazônica tem sido
alvo de grande devastação a anos à fio. As consequências disso são variadas. Uma delas
30
é a perda significativa da biodiversidade, pois as espécies não conseguem se adaptar
em pequenos fragmentos florestais que fogem do que naturalmente era seu habitat de
origem. Tal situação implica na extinção de várias plantas e animais por conta da
dificuldade de adaptabilidade (WWF, 2015).
Outro grande problema para o futuro da floresta são os incêndios. Segundo
Gonçalves, Castro e Hacon (2012) a queima de biomassa florestal conhecida como
"queimada" é uma prática muito comum e antiga no Brasil e tem sido apontado como
um dos principais contribuintes mundiais para a emissão de gases de efeito estufa.
Todavia, a tomada de planejamento e ações sobre seus possíveis impactos é
basicamente recente. A ocorrência de grandes incêndios florestais no cenário brasileiro
e em escala global chamou atenção para este problema, entretanto, as medidas tomadas
para prevenir ou pelo menos tentar minimizar os incêndios ainda são insuficientes.
A degradação legalizada do habitat por conta de grandes obras do governo
(hidrelétricas e estradas) e de desenvolvimento empresarial (plantios agrícolas, criação
de gado) têm causado impactos no próprio ecossistema natural pela pressão humana.
(FEARNSIDE, 2005). Embora não envolva o desmatamento da floresta diretamente,
elas podem servir como “catalisadoras” de desmatamento e exploração madeireira
ilegal, haja vista sua relação com grandes obras como estradas, por exemplo (BEZERRA
et al., 1996).
A exploração de minérios também tem ameaçado a manutenção da floresta, seja
direta ou indiretamente. Para a legislação brasileira vigente, é permitido às empresas
mineradoras a exploração de solos e subsolos desde que essas áreas escolhidas sejam
economicamente viáveis e que garantam a melhoria da infraestrutura bem como de
outros serviços prestados para atender as necessidades humanas. Porém, as
consequências de tais empreendimentos sem os devidos cuidados têm provado
desastres que afetam não só os rios e populações, mas também florestas
(http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre- ambiental-em-mariana/index.html).
Na empreitada para o desenvolvimento, destaca-se a IIRSA (Integração da
Infraestrutura Regional da América do Sul) que foi criada em setembro de 2000 com o
objetivo de potencializar o desenvolvimento econômico de alguns países, dentre eles o
Brasil, considerando suas potencialidades, a ideia é tornar a economia dos países mais
elevada. Estes estudos se ocupam do potencial econômico de cada localidade a fim de
elaborar projetos para promover a integração econômica desses lugares. O grande
31
problema desses projetos de desenvolvimento é que costumam associar
desenvolvimento a uma sociedade industrial. Este modo imperativo de
desenvolvimento tem sido denunciado severamente por iniciar uma série de obras
imensas que desconsiderem toda sua diversidade biológica, promovendo derrubada de
árvores em massa, comprometendo recursos hídricos e deixando pessoas que vivem nas
proximidades sem o chão que lhes garante a sobrevivência digna.
Ainda que a região tenha uma antiga reputação de ambiente rural que perde
floresta, a Amazônia é considerada urbana desde 1980 (MONTOIA, s/d). Existe uma
famosa descrição acerca da urbanização da Amazônia feita por Bertha Becker, quando
apontou a Amazônia como “Floresta Urbanizada” (BECKER, 1985). Áreas sob pressão
humana incipiente ainda são valiosas para a conservação devido à intensidade de uso
relativamente baixa, mas os custos políticos para estabelecer unidades de conservação
nessas zonas serão maiores, dados os interesses já estabelecidos (IMAZON, 2005).
Essas transformações condicionam uma intensificação de conexões sociais e
econômicas entre famílias e comunidades morando em áreas urbanas e rurais. Assim,
as relações sociais e familiares formam um fluxo contínuo entre os espaços rural-
urbano e dessa forma criam-se unidades domésticas multi-locais com intenso grau de
movimento e influência em decisões econômicas e de uso da terra (PADOCH et al.,
2008). Compreender as dinâmicas socioambientais na Amazônia contemporânea
implica na atenção às relações criadas pelo contínuo rural-urbano e às relações no
sistema de urbanização da região.
Para Azevedo (2013), isso será possível se um conjunto de ações for pensado
enquanto políticas públicas de desenvolvimento que considerem: a diversidade e
complexidade das relações sociais, as interações e interdependências entre os
ecossistemas; a implementação de tecnologias limpas e renováveis; os conhecimentos
disseminados por seus cientistas, artistas, poetas, caboclos, ribeirinhos, povos
indígenas, ente outros, de modo que se reconheçam os limites territoriais e a autonomia
dos povos amazônicos.
No entanto, a floresta amazônica é mais do que um nicho ecológico ameaçado.
A supressão vegetal, a defaunação e o mau uso da terra em grande e desenfreada escala,
é um problema de cunho social, político, econômico ou sociocultural e como tal deve
ser problematizada.
32
2.3 Políticas de proteção e uso sustentável da floresta amazônica
Na tentativa de proteger e regulamentar o uso sustentável da floresta existem
vários dispositivos legais nas esferas municipais, estaduais e federais. Além desses
instrumentos normativos há ações convencionadas em nível mundial em protocolos e
conferências internacionais. Esse conjunto de normas e convenções apontam ações
políticas que promovem, em tese, uma atenção especial à floresta amazônica.
A legislação ambiental sobre florestas tem na Lei Federal n° 12.651/12 que
dispõe sobre o Novo Código Florestal Brasileiro uma grande referência. Esse
dispositivo tem por objetivo promover a conservação das florestas do Brasil e institui
regras sobre onde e como a vegetação nativa deve ser explorada, determina ainda as
áreas passíveis de preservação, estabelecendo diretrizes que devem ser cumpridas, caso
contrário o autor do dano estará sujeito a responder por seus crimes perante a Justiça
Ambiental brasileira. Segundo informado pelo WWF (2015), um estudo feito pelo
Observatório do Clima em 2010, com a aprovação do Novo Código Florestal há uma
grande possibilidade de serem lançadas 7 bilhões de toneladas de carbono acumulados
em diversas áreas de vegetação no país, o que significa a emissão de mais de 25,5
toneladas de GEEs, isso é um dado alarmante. As críticas são contundentes, pois além
de ter promovido anistia (perdão da dívida) a todos aqueles que desmataram
desenfreadamente até junho de 2008, não houve para essas pessoas a obrigatoriedade
de recuperar as áreas que degradaram.
Ainda segundo o Observatório do Clima (2010), não sendo suficiente tal
impunidade, houve redução das APPs (Áreas de Preservação Permanente) que são
espaços territoriais especialmente protegidos de acordo com o inciso III do parágrafo 1
do art. 225 da Constituição Federal. O Código Florestal traz o detalhamento das APPs
aplicáveis tanto em áreas rurais quanto urbanas. Suas funções são inúmeras e de
extrema importância, tais como: manutenção climática, faunística, controle da demanda
biológica de oxigênio, entre outros. De acordo com Código, a extensão será reduzida de
30 para 15 metros de faixa marginal e demarcar as matas ciliares. O que isso significa?
Mais riscos de desabamentos e enchentes, além de beneficiar as ocupações ilegais
existentes e abrir precedentes para que novas possam surgir, primando pelo viés
econômico.
33
No Brasil, por exemplo, o Código Florestal é o instrumento que disciplina o uso
de seus recursos florestais. Na Amazônia, o artigo 15 do Código Florestal que trata do
manejo florestal da região, foi regulamentado em 1994 (Decreto n. 1.282), alterado em
28/09/98 (Decreto 2.788) e em 30/11/2006 (Decreto 5.975), definindo as regras e as
condições para o aproveitamento de seus recursos florestais, que são baseadas nos
princípios do desenvolvimento sustentável.
De forma específica para a floresta amazônica, o Código Florestal parece ter
contribuído com mais problemas. Conforme o art. 3, inciso III do Código Florestal
(2012), entende-se por Reserva Legal a área localizada no interior de uma propriedade
ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso
econômico de modo sustentável dos recursos naturais de imóvel rural, auxiliar a
conservação da biodiversidade bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e de
flora nativa. A Reserva Legal (RL) na Amazônia foi reduzida de 80 para 50% em área
de floresta. A justificativa é que as RLs impedem o desenvolvimento da Amazônia. As
consequências disso? O Código estabelece a ZEE (Zoneamento Ecológico-Econômico)
que nada mais é do que realizar estudos que identifiquem “áreas agriculturáveis”.
Sendo reduzidas essas áreas de RL, os espaços para agricultura aumentam e
consequentemente o desmatamento nessas áreas em até 50%. Essa redução, portanto,
aumentará a perda exponencial de florestas.
Contrário às críticas ao Código Florestal, o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação (SNUC), criado em 2000, pela Lei 9.985/2000 trouxe um alento à proteção
e uso sustentável das florestas e demais elementos naturais. Com o objetivo de estabelecer
normas para criação, implantação e gestão de unidades de conservação (UCs) o SNUC,
como dispositivo legal tem permitido manter determinados espaços resguardados de
degradação ambiental, pelo menos o mínimo possível4. Segundo o SNUC (2000), dentre
os principais fundamentos da lei estão: manutenção da diversidade biológica, proteção de
espécies ameaçadas de extinção, preservação e conservação de ecossistemas, promoção
do desenvolvimento sustentável a partir do uso racional dos recursos naturais, bem como
proteger os recursos que garantam a sobrevivência de populações tradicionais,
considerando sua cultura e conhecimento.
4 Segundo Fernandes et al., (2013), a expressão “áreas protegidas” abarca também as terras indígenas além
das próprias UCs, havendo algumas peculiaridades entre elas como o sistema de gestão e a forma de
aproveitamento dos recursos. Ainda de acordo com os autores, em outros países não se conhece o termo
UC, são apenas chamadas de áreas protegidas e sem considerar as comunidades indígenas.
34
O SNUC se trata de uma lei federal que é incorporado também pelos estados e
municípios. No Amazonas existem até o momento 76 Unidades de Conservação
registradas, sendo 35 federais e 41 estaduais (ISA, 2016). Se contabilizarmos as 23 UCs
de Manaus, o estado conta com 99 UCs (SEMMAS, 2016). Conforme mostra o ISA
(2016) das 41 UCs estaduais, 32 (78%) de Uso Sustentável e 9 de Proteção Integral,
distribuídas em cerca de 19 milhões de hectares. Entre as 35 UCs federais 26 (74%) são
de Uso Sustentável e 9 (26%) de proteção Integral, perfazendo um total de 23 milhões
de hectares. Se forem consideradas as terras indígenas, que representam 27,7% do
território do Amazonas, distribuídos em 173 terras indígenas e 66 etnias, o Amazonas
totaliza 54,8% de seu território legalmente protegido. Nesse território a floresta é
integrante central, mesmo com as populações nela residentes.
Como resposta para a demanda pública de proteção das florestas, muitos agentes
estão tentando conciliar desenvolvimento econômico e conservação através de
iniciativas que compreendam a regulamentação de usos da floresta, fiscalização da
legislação ambiental e criação de áreas protegidas (IMAZON, 2005). Para além desse
cenário, as políticas governamentais mundiais e brasileiras mais recentes têm
priorizado ações que criam mecanismos em direção à sustentabilidade socioambiental,
privilegiando o ordenamento territorial e valorizando a floresta em pé (AZEVEDO,
2013).
O Programa Bolsa Floresta no Amazonas é considerado um dos maiores
instrumentos de pagamentos por serviços ambientais no Brasil com mais de 35 mil
pessoas beneficiadas em 15 UCs estaduais com mais de 10 milhões de hectares (FAS,
2013). Tem sua origem por meio de uma política pública no governo amazonense
estadual, em 2007 e foi administrado inicialmente pela Secretaria de Desenvolvimento
Sustentável (SDS). A partir de 2008, passou a ser gerido pela Fundação Amazonas
Sustentável (FAS). Tem como objetivo, melhorar a qualidade de vida dos moradores
dessas UCs e garantir a manutenção dos serviços ambientais prestados pela floresta.
Dentro desse programa existem 4 modalidades: Bolsa Floresta Renda – destinado
à produção agroflorestal sustentável, aumentando a renda do produtor, desde que não
promovam desmatamento, o Bolsa Floresta Social – as famílias ganham R$ 350,00 para
investir em educação, saúde e transporte. O Bolsa Floresta Associação – voltado para o
empoderamento das associações de moradores de UCs, visa fortalecer a participação das
comunidades na gestão das UCs. A Bolsa Floresta Familiar – remunera mensalmente as
mães residentes nas unidades de conservação, pago pelo máximo de conservação da
35
floresta que elas conseguirem estimular suas famílias a promover.
Outro programa criado para fins de conservação foi o Bolsa Verde, instituído pela
Lei 12.512/11 e regulamentado pelo Decreto nº 7.572/1. Segundo o MMA (2016) foi
lançado em 2011 com o objetivo de beneficiar famílias que vivem em situação de pobreza
extrema em áreas consideradas importantes para conservação ambiental. Esse benefício
faz parte do Programa Brasil Sem Miséria do Governo Federal e direcionado aqueles que
desenvolvem atividades de uso sustentável em Unidades de Conservação.
Outro importante dispositivo foi a criação da Lei nº. 11.284, de 02.03.2006, que
dispõe sobre a gestão de florestas públicas e cria no âmbito do Ministério do Meio
Ambiente (MMA) o Serviço Florestal Brasileiro e também o Fundo Nacional de
Desenvolvimento Florestal. O Programa Nacional de Florestas (PNF) desde 2007 tem
como objetivos estimular o uso sustentável de florestas nativas e plantadas; apoiar as
iniciativas econômicas e sociais das populações que vivem em florestas; reprimir
desmatamentos ilegais e a extração predatória de produtos e subprodutos florestais,
conter queimadas acidentais e prevenir incêndios florestais; valorizar os aspectos
ambientais, sociais e econômicos dos serviços e dos benefícios proporcionados pelas
florestas; e estimular a proteção da biodiversidade e dos ecossistemas florestais (SFB,
2013).
Como os demais, a lei traz um ânimo, mas ainda há muito o que avançar, tendo
em vista que a redução de 15% em relação à taxa do período anterior (PRODES, 2013),
em que foram medidos 5.891 km2, ainda assim neste ano foi 5.012 km2/ano. Portanto,
o desmatamento parece persistir, mesmo que em níveis menores que há uma década
(INPE, 2015).
Conforme nos diz N. Higuchi et al., (2010), todos os países têm suas próprias
legislações ambientais ou florestais além de acordos e instrumentos de medida
obrigatórios ou não. A política de concessões florestais, implementada pelo Governo
Federal a partir de 2006, por meio da Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei
11.284/2006) que instituiu o Serviço Florestal Brasileiro, criou também a possibilidade
da concessão de áreas de florestas públicas. A concessão florestal tem como objetivo
conservar a cobertura vegetal das florestas brasileiras, contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida da população que vive em seu entorno e do estímulo à economia
formal com produtos e serviços oriundos de florestas manejadas (SFB, 2016).
As florestas manejadas possuem o princípio técnico de uso racional da floresta
pelo manejo florestal sustentável (MFS). Explicitado em lei (Decreto 5.975 de
36
30/11/06) e que deveria ser uma alternativa ao desmatamento improdutivo. No entanto,
os planos de MFS aprovados pelo Poder Público contribuíram com apenas 17% do total
de madeira produzida no período de 1997 a 2004 (HIGUCHI, N. 2006).
Uma forma ampliada socialmente tem sido o Programa Federal de Manejo
Florestal Comunitário e Familiar (MFC)5 que se propõe a ser uma promissora
alternativa de renda para as comunidades rurais, ao mesmo tempo em que alia o uso
sustentável das florestas. No entanto, o MFC ainda está nos preâmbulos de sua efetiva
implementação, uma vez que, segundo o SBF (2016) ocorrem alguns empecilhos como
a ausência de regularização fundiária, a dificuldade de acesso a linhas específicas de
crédito, a lentidão na aprovação de planos de manejo e a inadequação das exigências
para aprovação à realidade dos comunitários, a reduzida escala de produção e a precária
infraestrutura para garantir o fluxo e o beneficiamento dos produtos florestais.
Como parte das convenções internacionais, na Amazônia Brasileira, o governo
tem priorizado viabilizar mecanismos que para analisar o desenvolvimento
socioeconômico associado a conservação das florestas. Dentre as políticas e legislação
para a redução do desmatamento e degradação florestal, podemos destacar o REDD+
(MMA, 2011). A sigla referente a Redução de Emissões de Desmatamento e
Degradação Florestal contempla é “um conjunto de políticas e incentivos positivos
para a redução das emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal, e
incremento de estoques de carbono florestal (incluindo conservação e manejo florestal
sustentável).” (MMA, 2011, p. 8).
Foi um incentivo desenvolvido pela Convenção-Quadro das Nações Unidas
Sobre Mudança do Clima (UNFCCC) com a finalidade de recompensar com incentivos
financeiros os países em desenvolvimento por suas Reduções de Emissões de Gases de
Efeito Estufa decorrentes dos desmatamentos e da degradação florestal. De acordo com
o MMA (2016) esse (+) considera também a importância na conservação de estoques
de carbono, manejo florestal sustentável e aumento de estoques de carbono florestal.
Segundo o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da
Amazônia (2014), trata-se de um mecanismo que vem sendo apontado como estratégia
de mitigação da alteração do clima por meio da redução compensada de emissões de
carbono por desmatamento e degradação florestal. Compreende também ações de
conservação florestal, manejo sustentável e aumento dos estoques de carbono. É um
5 Instituído no âmbito dos Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA), em 5 de junho de 2010, pelo Decreto nº 6.874, de 05 de junho de 2009.
37
mecanismo importante de mitigação, uma vez que as emissões de GEEs a partir de
mudanças no uso da terra representam cerca de 17% do total das emissões mundiais
(AZEVEDO, 2013). Contudo, tal mecanismo proposto para ser utilizado em países em
desenvolvimento (COP 13-UNFCCC, 2007) ainda não tem mostrado grandes
repercussões apesar de sua intenção bem-vinda entre os ambientalistas.
Os esforços para o controle do desmatamento na Amazônia entre os anos de
2006 e 2012 ocasionaram uma redução de emissões de 3,5 bilhões de toneladas de CO2
equivalente. Foi estipulada uma meta para 2020 de reduzir aproximadamente 9,2
bilhões de toneladas (IDESAM, 2014). Para a Amazônia, as metas de redução do
desmatamento estão inseridas no Plano de Ação para a Prevenção e Controle do
Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm). Objetiva-se com este dispositivo
minimizar as taxas de desmatamento e de queimadas, utilizando-se de um conjunto de
ações integradas de ordenamento territorial, monitoramento e controle, incentivo as
atividades de produção sustentáveis, associados aos órgãos públicos de todas esferas,
sociedade civil e a iniciativa privada.
Observa-se, que tais dispositivos legais ou convencionados focam a floresta
como objeto de atenção, sua manutenção tendo em vista sua importância como
ecossistema natural. No entanto, a floresta amazônica transcende sua condição de
ambiente natural para um espaço social, representando o chão sobre o qual as pessoas
se constituem habitantes da floresta amazônica.
3 . FLORESTA AMAZÔNICA: lugar de moradia
Além da dimensão biológica a floresta amazônica possui uma incontestável
diversidade cultural de povos indígenas, quilombolas, comunidades de seringueiros,
castanheiros, ribeirinhos, babaçueiras, entre outros (IDESAM, 2009). Segundo Fraxe,
Witkoski e Miguez (2009), o homem amazônico é resultado da miscigenação de
sujeitos sociais distintos como os nordestinos, negros, europeus, ameríndios da várzea,
dentre outros, que criam novas identidades e formas de organização social na
Amazônia.
Conhecidos como “povos da floresta”, em áreas de proteção ambiental, em
reservas extrativistas, em seringais, entre outros lugares. No tocante ao conceito de
38
Território, este deve ser entendido a partir de uma interpretação antropológica como um
espaço de reprodução física, cultural e social dos povos tradicionais e também as formas
variadas de utilização e apropriação destes espaços (SANTILLI, 2005). Rosa (2014)
mostra em seu estudo que a floresta amazônica pode ser indexada conceitualmente tanto
como um símbolo social para brasileiros, amazonenses, ambientalistas, entre outros,
quanto como lócus de histórias pessoais e coletivas que representam o senso de identidade
e self.
Em se tratando de floresta, salienta-se a existência de comunidades que vivem
mais próximas deste cenário (LINHARES, 2009). Aqui, segundo Higuchi et al., (2013)
o termo comunidade é compreendido como a localidade em que se encontram e se
reconhecem essas pessoas, não esquecendo de considerar o uso de recursos naturais
disponíveis e as formas de ocupação desses ambientes.
As chamadas “populações tradicionais” trazem em seu conceito elaborado pelas
ciências sociais e integrado ao ordenamento jurídico, a ideia de relação entre
biodiversidade e sociodiversidade (SANTILI, 2005). O autor também relata que esse
conceito já é bem aceito e entendido por cientistas sociais e ambientais, mas ele
considera que ainda há dificuldades de compreensão por conta da carga subjetiva
contida no termo. Esses grupos surgiram em diferentes momentos históricos e acabaram
estreitando relações com o ambiente no qual vivem, se reconhecendo como parte desse
lugar e criando uma “revolução na cartografia amazônica”, construindo novas formas
de identidades (BRUNO e MENEZES, 2012). Lena (2002) salienta, no entanto, que
pelo fato dessa categoria abranger vários grupos humanos (quilombolas, indígenas,
ribeirinhos, seringueiros, entre outros), acaba por desconsiderar as particularidades de
cada um na criação de políticas, o que gera uma serie de ambiguidades.
Levando em conta essas constatações, torna-se possível associar as ideias que
esses moradores podem ter sobre a floresta amazônica e suas relações com esse
ambiente natural (HIGUCHI e CALEGARE, 2013). Até porque, de acordo com Souza
et al., (2012) mesmo a ciência se encarregando de explicar cientificamente o que seja a
floresta amazônica, é importante considerar que esses grupos sociais tem uma relação
mais próxima com esses ambientes florestais e o saber que possuem implicam
diretamente na própria atuação e percepção deles nesse espaço.
A partir de estudos realizados por Higuchi et al., (2013) sobre a relação de
moradores em UCs com a floresta, os autores verificaram que muitos consideram a
floresta como “o lugar onde vivem” e em contrapartida há aqueles que a apontam como
39
“um lugar distante”, assim como também a consideram como espaço relacionado à
problemática ecológica, sendo “um lugar ameaçado e que necessita ser preservada”.
Higuchi e Calegare (2013) também argumentam que é necessário que se realizem mais
estudos para avaliar se para os moradores de UC a floresta amazônica é considerada ou
reconhecida como um território de uso social ou se a comunidade do qual fazem parte é
que se encaixa nesse entendimento.
A função social da floresta como espaço de lazer e turismo começou recentemente a
fazer parte da agenda política florestal e ser considerada como forma de preservação desse
ecossistema (RIBEIRO e HIGUCHI, 2012). E para estar inserido de fato em um lugar, é
importante fazer parte dele e se responsabilizar pelo ambiente e os recursos naturais que
o mesmo dispõe.
Na próxima sessão serão apresentados os métodos e técnicas que geraram material
de análise desse estudo.
4. MÉTODO e TÉCNICAS
4.1 Tipo de pesquisa
Esse estudo teve caráter qualitativo, exploratório e descritivo, incorporando a
Abordagem Multimétodos (GUNTHER, ELALI e PINHEIRO, 2008). Para Minayo
(2008) a pesquisa qualitativa se apresenta como elemento primordial para a construção
de um conhecimento, deixando de lado o modelo positivista e apropriando-se de uma
dialética de subjetivação e objetivação. Essa pesquisa, de caráter social, considera
diversos tipos de investigação que discutem as relações sociais e institucionais,
considerando a historicidade dos sujeitos e os significados atribuídos às suas realidades.
Para as ciências sociais, a historicidade dos sujeitos é aspecto a ser considerado na
pesquisa, sendo sujeito tanto o participante da pesquisa quanto o pesquisador que se
mostra envolvido nesse processo. O registro desse aspecto deve ser respeitado de
acordo com os valores de cada grupo social e suas especificidades.
A Abordagem Multimétodos (GUNTHER, ELALI e PINHEIRO, 2008) inclui o
uso de dois ou mais métodos de pesquisa que são definidos de acordo com os objetivos
desejados. Nas ciências sociais a pesquisa baseada em múltiplas abordagens se mostra
como uma opção favorável para esclarecer tanto perguntas quanto às características do
ambiente em função das pessoas (Centrada no Ambiente) como perguntas referentes aos
40
atributos das pessoas em função do ambiente (Centrado nas pessoas) e ainda na transação
entre pessoa e ambiente. Os autores argumentam que aplicar métodos isolados pode gerar
lacunas que comtemplam apenas uma faceta do conhecimento e não suas múltiplas
relações. Por isso a importância da triangulação de métodos nessa abordagem.
4.2 Técnicas
Como o estudo busca compreender a percepção de alunos de pós-graduação
acerca da floresta amazônica, optou-se por métodos para estudos centrados na pessoa,
que contemplam: entrevistas semiestruturadas com perguntas abertas e escala social.
De acordo com Minayo (2008) a entrevista é uma técnica bastante utilizada nas
pesquisas de abordagem qualitativa. Podendo ser apontada, do ponto de vista mais
amplo como um meio de comunicação verbal para coleta de informações acerca de
determinado tema de escolha do pesquisador. Consiste num roteiro de perguntas a
serem solicitadas aos participantes responderem (Apêndice 1).
Atrelada à entrevista foi aplicada uma escala social, do tipo Likert. Escalas do
tipo Likert, são muito utilizadas nas ciências sociais, sobretudo em levantamentos de
atitudes, opiniões e avaliações. Nessas escalas solicita-se ao participante que avalie um
fenômeno expresso em afirmativas e que deve ser respondida numa escala em graus de
concordância, importância ou de satisfação, normalmente com cinco graus do menor
(1) ao maior (5), do que se aplica totalmente ou definitivamente não se aplica
(GUNTHER, 2008).
Para esse estudo foi utilizada a Escala de Valores Florestais (EVF) para
mensurar as variações individuais de valores ecocêntricos e antropocêntricos sobre as
florestas, mostrando assim a bidimensionalidade do instrumento (STEEL, LIST e
SHINDLER, 1994). Esse instrumento foi aplicado em estudos anteriores (Rosa, 2014)
(Apêndice 3). A escala contém 8 assertivas a fim de compreender concepções e ações a
respeito da floresta com 5 graus de concordância sendo 1 (discordo plenamente) a 5
(concordo plenamente). Escala de Valores Florestais tem por objetivo analisar valores
antropocêntricos e ecocêntricos desses alunos a partir da atribuição de graus de
concordância a cada uma das 8 assertivas sobre floresta, sua utilização e significado.
41
4.3 Participantes
Participaram quarenta e oito (48) alunos de pós-graduação de áreas de
conhecimento ambiental e que tem interesse temático sobre o bioma amazônico, em
particular a floresta amazônica, em duas instituições públicas de ensino superior do
estado do Amazonas: Universidade Federal do Amazonas - UFAM e Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia - INPA. Os critérios de inclusão na pesquisa foram: ser aluno
devidamente matriculado em programa de pós-graduação stricto sensu, mestrado e
doutorado, independente de gênero, idade, profissão, religião ou etnia. Os critérios de
exclusão foram a nacionalidade, que neste estudo contemplará apenas alunos
brasileiros. A escolha dos participantes foi feita de acordo com a acessibilidade (GIL,
1999) seguindo a lista dos participantes potenciais disponibilizada pelos respectivos
programas de pós-graduação. Considerando o universo dos programas de pós-
graduação nessas duas instituições, procurou-se um balanceamento de participantes
entre os diferentes programas.
4.4 Procedimento de Análise
A análise dos dados foi de tratamento qualitativo, utilizando-se da Análise de
Conteúdo para análise dos dados emergentes da entrevista. A análise de conteúdo
possibilita categorizar e compreender dados de maneira qualitativa (BAUER, 2010;
BARDIN, 2011). Para Bardin (2011), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas
de análise das comunicações. Para Bauer (2010) a Análise de Conteúdo costuma
utilizar materiais textuais escritos, mas também e possível ser aplicado a imagens e
sons.
A análise para ser realizada deve passar por 3 etapas: pré-análise, exploração
do material e tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação. No momento em
que é realizada a análise extraem-se trechos da transcrição dos áudios que possam ser
utilizados como material de análise e para fins de categorização (BARDIN, 2011),
salientado a partir do conteúdo os pontos similares e divergentes nas respostas dos
participantes, para que a partir disso sejam elaboradas as categorias de análise.
A escala utilizada na pesquisa foi analisada também por meio de estatística
descritiva e seus dados relacionados de forma qualitativa na triangulação com as outras
vaiáveis abarcadas nessa pesquisa. Para análise complementar foi utilizado o Excel a
42
fim de realizar correlações entre as variáveis sociodemográficas a partir dos dados da
estatística descritiva.
4.5 Procedimento Ético
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFAM no
CAEE de número 57275516.4.0000.5020 sob nº 1.899.130 seguindo os critérios éticos
da pesquisa, em conformidade com a Resolução CNS 422/12 e que dispõe das diretrizes
e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos (Anexo 3).
4.6 Procedimentos Metodológicos
A pesquisa seguiu um procedimento desde a anuência dos coordenadores dos
Cursos de Pós-Graduação escolhidos anteriormente a partir do critério de terem em seu
bojo estudos em que a floresta amazônica esteja de alguma forma presente. Após a
obtenção da anuência, os alunos foram contatados e convidados para participar do estudo.
A escolha desses alunos se deu a partir de indicações das coordenações dos cursos
de pós-graduação, indicações dos próprios participantes e contatos via e-mail.
As entrevistas foram realizadas após a aprovação do CEP e conduzidas em datas
e lugares previamente acordados. Assim alguns participantes foram entrevistados em casa,
em seus respectivos laboratórios ou em espaços de convivência de suas instituições. A
duração média da entrevista foi de 30 minutos e foram audiogravadas com a permissão do
entrevistado.
As entrevistas foram transcritas e inseridas numa planilha do Excel e
posteriormente analisadas produzindo os resultados a seguir.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados e discussões desse estudo estão organizados em seções distintas.
Incialmente apresenta-se o perfil dos participantes entrevistados. Nessa parte estão
descritas as características a respeito da proveniência do programa de pós-graduação,
dados pessoais (gênero, faixa etária, região de procedência, religião, e status de
ocupação na trajetória da pós-graduação).
43
A segunda parte trata da análise dos dados relativos aos objetivos propostos.
Assim tem-se a seção dos significados atribuídos à floresta amazônica e seus elementos
constituintes incluindo os valores florestais. A seção seguinte se refere aos principais
problemas que esses estudantes apontam para a conservação da floresta amazônica,
suas causas e consequências. Por fim, apresenta-se a seção onde se apresenta os
resultados e discussão acerca das possíveis alternativas de conservação e proteção da
floresta amazônica apontadas por esses estudantes. Ao fim destes resultados finaliza-
se com as considerações finais.
5.1 Perfil dos Participantes
Participaram deste estudo 48 estudantes, sendo 24 homens e 24 mulheres.
Observa-se que dos 48 participantes 83,5% têm idade entre 22 e 33 anos, 12,5% dos
participantes com idade entre 34 e 43 anos e 4 % com idade entre 44 e 53 anos de idade.
Essa distribuição mostra que a grande maioria destes estudantes são relativamente
jovens, e que, portanto, são recém egressos da graduação.
Entre as mulheres, quase a totalidade (96%) delas está com idade entre os 22 e
33 anos, e somente uma delas tem idade entre 44 e 53 anos. Entre os homens as faixas
etárias estão mais distribuídas, de modo que 67% estão com idade entre 22 e 33 anos,
29% entre 34 e 53 anos e apenas 4% com idade entre 44 e 53 anos. Isso mostra que o
número de mulheres em cursos de pós-graduação é relativamente mais jovem, ou seja,
que se envolvem em estudos de forma contínua, da graduação para o mestrado, e deste
para o doutorado.
Estes alunos são provenientes de 8 cursos de pós-graduação (5 no INPA e 3 na
UFAM), 20 cursando doutorado e 28 cursando mestrado (Tabela 1) em diferentes áreas
do conhecimento (Tabela 2).
Tabela 1 - Distribuição de participantes em função de nível de pós-graduação e faixa
etária
Nível de PG Faixa Etária
Total 22-33 34-43 44 - 53
D 15 4 1 20
M 25 2 1 28
Total 48
44
Tabela 2- Distribuição dos participantes em função da faixa etária e curso de pós-
graduação.
Programa
de PG
Faixa Etária Total
22-33 34-43 44-53
BOT 6 1 - 7
CCA 4 1 2 7
CFA 1 - - 1
CFT 7 - - 8
CLI 4 1 - 5
ECO 6 - - 6
ENT 6 2 - 8
ZOO 6 1 - 7
Total 40 6 2 48
% 83 12,5 4,5 100%
Cursos: BOT = Botânica; CCA= Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia; CFA= Ciências
Florestais e Ambientais; CFT= Ciências de Florestas Tropicais; CLA= Clima e Ambiente; ECO= Ecologia;
ENT= Entomologia; ZOO= Zoologia.
Estes alunos representam uma amostra de várias regiões do Brasil que vieram,
em sua maioria para Manaus, exclusivamente para estudar com expectativas de
permaneceram se tivessem boas oportunidades de emprego ou trabalho (Tabela 3).
Tabela 3 - Distribuição de participantes em função da região e programa de pós-
graduação
Programa
de PG
Região de Procedência Total
NO NE CE SD SU
BOT 0 2 1 3 1 7
CCA 5 2 7
CFA 1 1
CFT 3 2 2 7
CLA 3 2 5
ECO 1 1 4 6
ENT 2 3 2 1 8
ZOO 5 1 1 8
Total 19 8 2 14 4 48
% 39,5 17 4 29 8,5 100%
Região: NO = Norte; NE= Nordeste; CE= Centro Oeste; SU= Sul; SD= Sudeste.
Cursos: BOT = Botânica; CCA= Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia; CFA= Ciências
Florestais e Ambientais; CFT= Ciências de Florestas Tropicais; CLA= Clima e Ambiente; ECO= Ecologia;
ENT= Entomologia; ZOO= Zoologia.
45
Observa-se que, 39,5% dos alunos são oriundos da região Norte, 29% da região
Sudeste, 17% da região nordeste, 8,5% da região sul e apenas 4% da região centro-oeste.
Entre os estudantes a religião parece não ser uma característica presente entre eles,
uma vez que 27 deles declararam não terem religião. Observa-se que dos 27 estudantes
que não possuem religião, 18 deles são dos cursos de ciências biológicas, 3 de ciências
humanas e 6 de ciências da terra e exatas. Dos 21 participantes que possuem religião, 12
são católicos, 6 são evangélicos e 3 se reconhecem como espíritas (Tabela 4).
Tabela 4 - Distribuição dos participantes em função da religião e área de conhecimento
Religião
Área de Conhecimento
Total Geral CBI CHS CTE
CA 7 3 2 12
ES 1 1 1 3
EV 1 1 4 6
NT 18 3 6 27
Total Geral 27 8 13 48
% 56 17 27 100%
CA= Católica; ES= Espírita; EV= Evangélica; NT= não tem religião.
CBI = Ciências Biológicas; CHA= Ciências Humanas e Sociais; CTE= Ciências da Terra e Exatas
Os participantes mostram proceder em sua maioria (86,5%) de ocupações
voltadas para a academia, seja na pesquisa ou no ensino (Tabela 5).
Tabela 5 - Distribuição dos participantes em função da faixa etária e ocupação anterior
Ocupação Anterior
Faixa Etária
Total %
22-33 34-43 44-53
COA 6 1 7 14,5
EMP 1 1 2
EST 20 1 21 44
PES 5 1 6 12,5
PRB 5 2 1 8 16,5
PRU 3 1 1 5 10,5
Total 40 6 2 48 100%
% 83 12,5 4,5 100%
COA= Consultora Ambiental; EMP=Empresário; Est= Estudante; PES= Auxiliar de Pesquisa;
PRB=Professor Nível Básico; PRU= Professor Universitário.
46
Percebe-se que dos 48 participantes, os que estão na faixa entre 22-33 anos, que
corresponde a 40 alunos, 20 eram estudantes antes de entrar na pós-graduação, ou seja,
não exerciam atividade remunerada, além de que entraram ainda muito jovens nos
cursos de pós-graduação, já os que aparecem na faixa entre 44-53 atuaram na área de
docência, para que depois de uns anos se inserissem em programas de pós-graduação.
Constata-se que esses participantes tiveram contatos diferenciados da floresta
amazônica, onde 33% (16) deles declararam que foi pela própria história de vida,
experiências com familiares na infância e adolescência, vivências em sítios, parques no
interior da região amazônica e 67% (32) foi por ocasião de sua própria formação
acadêmica, a curiosidade de conhecer a Amazônia, por informação de professores que se
formaram aqui, eventos científicos ou disciplinas na área.
Esse estudo retrata um perfil de participantes cuja maioria é proveniente da
Região Norte e Sudeste do país. Observa-se ainda que 83% desses estudantes estão
entre os 22-33 anos de idade, sendo, portanto bastante jovens. Constata-se que a religião
não está presente na maioria dos estudantes e que grande parte desses estudantes. Por
terem saído recentemente da graduação, não exerciam atividade remunerada e agora
recebem auxílio financeiro para desenvolver suas pesquisas nos programas de pós-
graduação no qual estão inseridos. Muitos desses alunos (66%) vieram para região em
função de sua formação acadêmica (Ciências Biológicas, Agrárias e afins), por
orientação de professores, grupos de pesquisa, disciplinas ou cursos na área, bem como
34% deles decidiram se especializar em área ambiental e estudar a Amazônia em razão
das relações que estabeleceram com a floresta desde muito cedo, a partir de
experiências com familiares em ambientes naturais
Para tentar compreender em que se baseiam as percepções desses participantes
sobre a floresta amazônica, a partir dos objetivos elaborados para nortear esse estudo,
inicia-se a análise dos dados com os capítulos a seguir.
6. FLORESTA AMAZÔNICA: DEFINIÇÕES, SIGNIFICADOS E
IMPORTÂNCIA
A floresta amazônica tem sido reverenciada e lembrada fortemente nas últimas
décadas. Vários motivos estão subjacentes a essa exposição pela mídia, ambientalistas,
47
gestores e sociedade em geral, seja relativo às suas potencialidades ou às suas
vulnerabilidades, à sua exuberância estética ou da biodiversidade, entre tantos outros
motivos. Ao se referir à floresta amazônica vários sentidos podem ser evocados, os quais
envolvem aspectos racionais e simbólicos. Nessa seção, apresenta-se os significados da
floresta amazônica que estudantes de pós-graduação, cujo tema de estudo se associa direta
ou indiretamente à ela. Inicia-se pelo entendimento, isto é, as definições dadas à floresta
amazônica, e complementa-se com os valores florestais, representações da floresta e os
aspectos considerados importantes (benefícios) que ela nos dispõe.
A relação de qualquer indivíduo, no caso em estudo de estudantes de pós-
graduação, com um lugar inclui necessariamente as vivências e experiências com esse
lugar (FISCHER, 1994). Tais experiências encontram-se carregadas de sentidos que
perpassam aspectos pessoais e socioculturais. Por conta disso, o autor afirma que os
lugares adquirem quadros específicos, de base topológica sociocultural, frutos das
características físicas, do tempo de ocupação e culturais próprias de cada lugar. Segundo
Higuchi e Kuhnen (2011) a interpretação e construção de significados no processo de
percepção definem caminhos relevantes na identificação e apropriação desses ambientes
e espaços.
6.1 Definições de floresta amazônica
Ao definir uma determinada entidade, objeto ou evento se está caracterizando o
mesmo e sobre o/a qual se age de uma ou outra forma. Ao trazer a floresta amazônica
como entidade, pode-se acessar essa forma de agir e pensar sobre a mesma, incluindo não
apenas entendimentos de comunicação, mas também os valores e significados presentes
nesse espaço seja físico ou simbólico (HIGUCHI 2003; KUHNEN, 2002). A
materialidade do lugar tem impregnada uma subjetividade que é produto estruturado e
estruturante de comportamentos. Esse aspecto simbólico inevitavelmente tem
implicações no processo do reconhecimento e atuação sobre a dimensão material.
Portanto, a compreensão desses aspectos, materiais e não materiais subjacentes às práticas
ecológicas, perpassa pelas relações existentes com outros, seja as coisas ou outros seres
(CAPRA, 2002; TOREN, 1990).
A partir da análise de conteúdo (BARDIN, 2004) das narrativas apresentadas
pelos estudantes de pós-graduação, emergiram quatro categorias referentes à definição de
floresta amazônica: (a) um lugar com propriedades biofísicas distintas; (b) um lugar de
48
pesquisa para estudos biogeofísicos; (c) um lugar que emana sensações positivas; e (d)
um lugar diferenciado ambiental e socialmente.
a) Floresta como Lugar Biofísico – refere-se a um ecossistema constituído de
seres vivos (fauna e flora) e suas inter-relações considerando seus aspectos físicos,
processos ecológicos e climáticos para seu funcionamento, com grande biodiversidade e
que dispõe de elementos e dinâmicas essenciais para a sobrevivência e permanência das
espécies. Por suas características se configura como um bioma tropical heterogêneo e
distinto no planeta e de grande relevância para a manutenção do equilíbrio ambiental.
Exemplo desse modo de pensar pode ser verificado nas seguintes narrativas:
“Grande ecossistema com grande biodiversidade e essencial pro planeta devido suas
características ecológicas e ciclos naturais.” 8
“São várias florestas, tipologias vegetais... Na floresta amazônica existe a floresta de
várzea, a de igapó, floresta de terra firme, uma coisa grande, biodiversidade,
características, uma imensidão de vida.” 25
b) Floresta como Lócus de Estudo/Pesquisa – a floresta é entendida como um
laboratório de pesquisa e estudos pelo fato de ser um lugar relativamente desconhecido e
potencialmente diverso. A condição de ser um lugar com rica biodiversidade desperta por um lado
curiosidade e ameaças de exploração sem controle, e por outro, o distanciamento de urbanização
tornando-o um ambiente único. Por deter tais características requer políticas públicas de proteção
e de pesquisas. Esse entendimento é expresso nas falas abaixo:
“É o último bioma do mundo onde o homem ainda não entrou. Lugar de muita coisa
desconhecida e que corre risco de acabar. Se essas áreas forem desmatadas perderemos
muitas informações importantes, coisas novas que temos que estudar.” 10
“Espaço natural com diversidade de espécies ainda não conhecidas que precisam ser
estudadas para a saúde, agricultura, mas que não poderia ser explorada. É um lugar a ser
conservado. Os homens poderiam viver respeitando essas leis naturais sem interferir no
processo de regeneração. Existem outras áreas fora da floresta que poderia ser utilizada
para produção de alimentos. Precisa de políticas adequadas para usar essas áreas e
diminuir a pressão sobre a floresta. O uso da floresta teria de ser sem que houvesse
prejuízo para ela.” 2
c) Floresta como lugar de sensações positivas – Caracteriza a floresta como
espaço social que evoca sentimentos e vivências afetivas pelas características próprias da
natureza sobre os humanos. A floresta sobressai por sua beleza, energia, imensidão,
49
grande biodiversidade, sua capacidade restaurativa da cognição e emoções de forma a se
configurar como lugar ideal para apreciar, sonhar e até trabalhar.
“Tem tanta coisa pra se descobrir, pra se surpreender que é impossível dizer, o que hoje
eu posso dizer que é o que me motiva a estar aqui, ela é meu combustível, meu gás, porque
se não tivesse floresta amazônica não teria sentido de estar fazendo o que eu faço hoje em
dia, a definição dela é que ela é algo sem definição, é um mistério porque a floresta eu
acho que pra cada pessoa representa uma coisa, então pra alguns ela tem um valor cultural,
é tão difícil definir ela, e um universo ne, e o maior ecossistema do mundo, tem muita
biodiversidade, se você for parar pra pensar numa área úmida tem um universo aquático
ali dentro, numa arvore você tem outro universo de interações.” 28
“A floresta é um local único em relação à biodiversidade, lugar de pessoas fascinantes,
experiências culturais, a gente construiu o que é a Amazônia, uma coisa real, material,
mas ao mesmo tempo um sonho.” 15
“Um sonho, sempre quis estar nesse lugar, que é algo espiritual, me sinto conectado com
a natureza. Não tenho palavras para definir meus sentimentos.” 13
d) Floresta como lugar diferenciado ambiental e socialmente – entendimento
que se refere à floresta como espaço de diversidade geobiológica e sociocultural com alto
potencial para abrigar e favorecer as demandas sociais. Por ser um lugar tão diverso
ambiental e socialmente, os povos que nela vivem se fartam em suas diversidades e
recebem de forma acolhedora os que vêm de outros lugares para nela se estabelecer. Tal
forma de entendimento fica manifesto nos exemplos apresentados:
“Além da natureza, a floresta traz muitas oportunidades pra quem trabalha na área de
meio ambiente e pra quem gosta de dar aula nessa área, ela é importante pro mundo. Aqui
é tudo diferente, a comida, o clima, a forma como as pessoas te tratam, as pessoas de fora
são muito bem recebidas.” 17
“São relações, de preservação, necessidade e extração. Uma grande fonte de recursos pro
mundo todo, uma relação entre a natureza e as pessoas. Ainda é uma fonte inesgotável de
recursos.” 31
Esses entendimentos estão distribuídos de forma distinta entre os 48 participantes,
de forma que 31% (15) definem a floresta como Lugar Biofísico enaltecendo
características de cunho biológico, 27% (13) como Lócus de Estudo e Pesquisa,
considerando a floresta como lugar de descobertas e aprendizado, 29,5% (14) como Lugar
de Sensações Positivas, relacionando a floresta a sensações de bem-estar, paz e
tranquilidade, e 12,5% (08) associam sua definição como Lugar Diferenciado Ambiental
e Socialmente por acreditarem que a floresta é um espaço de diversidade cultural,
ambiental com grande potencial para geração de recursos que atendam as demandas
sociais (Tabela 6).
50
Tabela 6 - Distribuição dos tipos de entendimento sobre floresta amazônica
Tipo Total
% Lugar Biofísico 39
Lugar de Sensações Positivas 19
Lugar de Estudo e Pesquisa 23
Lugar Diferenciado Ambiental e Socialmente 19
Total 100
Ao olhar para tais categorias de entendimentos é possível observar que a maioria
(62%) dos estudantes se referem à floresta amazônica pela sua materialidade e
funcionalidade (Biofísico e Estudo e Pesquisa), enquanto que 38% apresentam uma
definição que inclui aspectos simbólicos e subjetivos (sensações e diferenciado). Dessa
forma, a floresta amazônica ainda é apontada como um lugar, sobretudo, visto a partir de
aspectos físicos, de seus processos biológicos, além de ser altamente favorável, dadas as
suas dimensões e complexidades para fins de estudos e pesquisas.
Esses resultados fazem eco, embora com algumas distinções, com o estudo
desenvolvido por Higuchi e Calegare (2013), onde esses autores reportam que o saber das
pessoas e dos grupos sociais que tem uma relação mais próxima com a floresta tem um
entendimento mais aprofundado tanto desse ambiente quanto na atuação que se realiza
nele. É comum que sejam dadas características ou definições principalmente sobre os
aspectos físicos da floresta, como o tipo de vegetação, diversidade faunística e florística,
além da própria constituição dos ecossistemas. Domingues e Higuchi (2003) também
encontraram categorias diferenciadas, que consideram as particularidades das definições
do que é floresta, mata e mato.
Aos analisarmos as categorias pode-se perceber que há, a partir de estudos já
realizados, uma diferença nas definições, isso acontece porque os entendimentos sobre a
floresta mudam a partir de cada grupo estudado. No caso do estudo de Higuchi e Calegare
(2013) as definições correspondem ao entendimento da floresta amazônica por
populações ribeirinhas onde foram encontradas as seguintes categorias (Lugar Rico
(10%), Lugar de Preservação (13%), Lugar de Moradia (16%) e Lugar Distante (24%),
considerando que desses moradores entrevistados, 37% relata não saber o que é floresta
amazônica. Nesse caso são pessoas que tem uma aproximação maior e mais frequente
51
com a floresta, logo suas percepções diferem-se dos alunos de pós-graduação, visto que
o contato destes geralmente ocorre de forma menos intensa, e com propósitos
diferenciados.
Ao considerar as definições de floresta em função da faixa etária desses estudantes
foi possível observar que 83% (40) estão entre a faixa dos 22-33 anos de idade. Destes
60% definem de forma materialista e 23% de forma subjetiva. Em todas as faixas-etárias
encontramos essas diferenciações nas definições sobre floresta (Tabela 7).
Tabela 7 - Tipos de entendimento de floresta amazônica em função da idade
Idade
Tipo
22 a 33
anos
33 a 43
anos
44 a 53
anos
Total Total
%
Mat =Lugar Biofísico 15 3 1 19 39
Mat= Lugar de Estudo e
Pesquisa
9 2 - 11 23
Sub=Lugar de Sensações
Positivas
8 - 1 9 19
Sub= Lugar Diferenciado
Ambiental e Socialmente
8 1 - 9 19
Total 40 6 2 48 100
Leg.: Mat= Materialidade; Sub= Subjetividade
Houve percentuais muito pouco diferentes quando se analisa em função do
gênero. Entre os homens encontrou-se 31% deles que definem a floresta de forma material
e 19% de forma subjetiva, já entre as mulheres 31,5% para a definição material e 18,5%
para a definição subjetiva (Tabela 8).
Tabela 8 - Tipos de entendimento de floresta amazônica em função do gênero
Gênero
Tipo
Total
%
Total
%
Masc Fem
Mat= Lugar Biofísico 22,5 16,5 39
Mat= Lugar de Estudo e Pesquisa 8,5 15 23
Sub =Lugar de Sensações Positivas 6,5 12,5 19
Sub= Lugar Diferenciado Ambiental e Socialmente 12,5 6 19
Total % 50 50 100
Leg.: Mat= Materialidade; Sub= Subjetividade
Conclui-se que as definições a respeito da floresta amazônica pelos estudantes
expressa aspectos específicos de suas vivências pessoais e profissionais que nem a idade
52
nem gênero parecem atuar como fatores de distinção entre eles. Pesquisas mais
aprofundadas podem revelar tais aspectos.
6.2 Significados atribuídos à floresta amazônica
Os sentidos que a floresta nos permite elaborar atravessa nosso entendimento junto
com a história e suas próprias características paisagísticas (RIBEIRO e HIGUCHI, 2012).
Esses aspectos subjetivos se tornam elementos subjacentes à relação que se desencadeia,
seja de proteção, ou de utilização dos recursos florestais (RAMOS, 2001). As definições
que caracterizam a floresta se conjugam com subjetividades constituídas na relação com
ela e por meio de outros que relatam suas experiências tecendo um entendimento bastante
diferenciado. A especificidade material assume uma dimensão humana onde valores e
crenças se tornam presentes na manutenção ou não desse ecossistema.
É nesse emaranhado que a floresta amazônica adquire para esses estudantes um
espectro de significados. As narrativas dos estudantes acerca do que representa a floresta
amazônica deram origem quatro categorias: (a) espaço a ser preservado e cuidado; (b)
espaço de bem-estar e conexões afetivas; (c) espaço de perspectivas acadêmicas e
profissionais; (d) espaço de identidade pessoal.
a) Espaço a ser preservado e cuidado: Entendimento que se refere aos cuidados e a
manutenção da floresta haja vista sua relevância a partir de aspectos ecológicos, como
espaço de sustento das populações e das demais formas de vida que dependem dela e
como forma de compreensão dos seus processos a partir das vivências nesse ambiente.
Esse significado foi apontado por 35% dos participantes
“Representa abrigo, a floresta deve ser mantida por haver pessoas que dependem dela,
retirar da floresta apenas um o que for necessário. Um espaço de sustento para as
populações.” 6
“Representa vida, o Brasil não teria a estrutura que possui sem a Amazônia, pois ela
interfere no clima, fluxo de pessoas, corrente de ar, bens e transporte. É impossível
dissociar a floresta do ser humano. “13
“Representa a diversidade das coisas, tem uma representatividade porque são as florestas
que regulam tudo que temos, existe uma necessidade de conservar a floresta. É um
ambiente agradável porque não há perturbação, me sinto protegido, talvez porque a maior
ameaça seja o ser humano. A importância de compreender os processos do planeta, das
interações, há uma ligação entre as coisas, correlações. Não dá para dissociar o ser
humano da floresta. “22
53
b) Espaço de bem-estar e conexões afetivas: Refere-se as representações acerca da
aproximação com a natureza, renovação de energia, possibilitando compreender o mundo
de uma forma diferenciada, promovendo transformações ou mudanças de concepção do
indivíduo. As percepções da floresta estão associadas aos aspectos de afetividade e
idealizações pessoais. Esse significado foi apontado por 27% dos participantes. As
narrativas apontam o conteúdo latente desse significado.
“Representa mudança de vida, a floresta possibilita entender o mundo de outra forma” 7
“Representa um espaço de reconexão comigo mesma, com as limitações e coisas que eu
quero. Um espaço onde me sinto mais forte para lidar com as situações do cotidiano aqui
da cidade. A floresta tem o papel de me ensinar, mostrar o que sou e o que preciso
aprender. “34
“Representa uma mudança de visão, de antes e depois que entrei no INPA e consegui
conhecer a Amazônia, como entendê-la, a floresta está relacionada com o povo que mora
aqui, a cultura é diferente. A floresta é importante para o planeta e para o meio acadêmico,
adquiri mais conhecimento da ecologia”
38
c) Espaço de identidade pessoal: Representa as experiências vividas com familiares,
a infância, a vida no interior ou com aproximação em ambientes florestais cuja identidade
o acompanha. Esse significado foi apontado por 23% dos participantes.
“Representa um motivo para ficar aqui. Me causa sensações de tranquilidade os rios, a
mata, a várzea, gosto muito daqui. A gente está em um lugar muito abençoado, sinto essa
necessidade de estar em contato com a natureza porque você se desconecta do mundo, é
minha oportunidade de não ser encontrada e nem perturbada, me sinto preenchida.” 23
“Representa um sonho pra mim, sempre quis vir pro Norte, de conhecer a floresta, estar
na floresta e saber como as pessoas lidam com ela. Uma curiosidade de criança que
virou bióloga porque aqui sempre me pareceu mágico, um lugar de coisas inacessíveis,
inexploradas. Eu e a floresta estamos nos dando bem...” 32
“Representa minha casa, além de ser um dos lugares mais incríveis que eu conheço.
É um objetivo de vida fazer parte disso, ter a floresta, continuar nessa ideia de
preservação e conservação. Quero fazer parte da manutenção e compreensão dela,
continuar conservando e estudando ela.” 33
“Representa a vivência com meus avós porque eles moravam em uma região muito
florestada, acho que esse amor pela floresta é por conta deles, também pela minha
profissão e pelos benefícios que a floresta traz pra vida dos seres humanos.” 36
A partir dessas narrativas pode-se inferir que esses estudantes ao pensar em floresta
amazônica a associam às suas vivencias na infância, ou experiências de vida com
familiares, ou até mesmo pelo desejo de conhecê-la por tudo que é veiculado pelos meios
54
de comunicação e literatura. Associam suas afetividades ou interesses em razão dessas
experiências até mesmo para a escolha da carreira profissional.
d) Espaço de perspectivas acadêmicas e profissionais para sua conservação:
Refere-se as representações associadas a fonte de trabalho e conhecimento, que deve ser
discutida com as pessoas de modo que a partir desses novos saberes seja possível
contribuir com mais efetividade para a conservação desse ambiente florestal. Esse
significado foi apontado por 15% dos participantes. Apresentam-se nas narrativas abaixo:
“Representa a própria identificação, o profissional que existe dentro de si, um lugar que
deve ser mostrado as pessoas, não deve ser destruída e mostrar para as crianças a
importância da floresta enquanto ainda está bem conservada.” 4
“Representa um lugar de aprendizado onde é preciso vivenciá-lo para compreender.” 8
“Representa material de estudo, trabalho. Representa também a manutenção do bioma,
que deve ser preservado, um empecilho vem sendo a renda que se sobressai diante da
preservação.” 10
“Representa um grande potencial de desenvolvimento de atividades de várias profissões,
com possibilidade de inserir as populações que vivem na floresta no cenário da geração
de emprego e renda, produção sustentável, uma oportunidade dentro dos parâmetros e
dimensões de sustentabilidade.” 11
Segundo Sousa (2015), é consenso que o comportamento e a visão que as pessoas
têm sobre o mundo, entenda-se sociedade, são determinados por meio de suas percepções.
E essas percepções se constituem a partir dos sentimentos e emoções que posteriormente
são convertidos para pensamentos e, por conseguinte, em ações, como formas de
compreensão do mundo. Ainda segundo a autora, em seu estudo sobre ambientes
restauradores, percebeu-se que há sentimento de orgulho e pertencimento em razão de
pertencer a um instituto de pesquisa com reconhecimento internacional, nesse caso, tendo
também a Universidade onde foi desenvolvido parte do estudo como uma grande
referência acadêmica e profissional.
Há também grandes expectativas quanto as possibilidades de ascensão acadêmica
e profissional, uma vez que grande parte desses alunos veio com o objetivo de se
qualificar e desenvolver suas atividades aqui mesmo na região a partir das oportunidades
ofertadas.
Em resumo, constata-se que para 35% dos estudantes a floresta tem sua
importância pela necessidade de preservação e cuidado, já 27% considera um espaço de
bem-estar e conexão afetiva, 23% considera um espaço de identidade pessoal pois tem a
55
ver com sua própria história de vida, e 15% considera um espaço promissor para o
trabalho acadêmico e profissional (Figura 1).
Figura 1- Percentual do tipo de importância atribuída à floresta
Conclui-se que alguns alunos ao pensar em floresta amazônica, consideram ora
como um espaço que deve ser preservado, ora como espaço que faz parte da sua história
de vida, e ora como parte de sua identidade pessoal. Outros estudantes pensam na floresta
amazônica como espaço de possibilidades acadêmicas e profissionais. Essas formas de
atribuição da importância refletem singularidades que não puderam ser evidenciadas
nesse estudo, portanto, pesquisas mais aprofundadas seriam interessantes para
compreender essas diferenças apontadas.
Definir floresta é portanto, pensar no físico, no que se aprende na escola, nos livros
de biologia, já representar floresta é pensar no abstrato, no seu valor simbólico, nas
sensações, nas lembranças do que alguns desses estudantes já viveram na floresta, seja
com familiares ou não, e no quanto essa visão influencia ou não no cuidado com esse
ambiente.
6.3. Benefícios que a floresta amazônica disponibiliza
Nesse tópico, os estudantes apontam quais os benefícios que a floresta amazônica
dispõe para as diversas formas de vida, seja em aspectos econômicos, sociais, culturais e
ecológicos. As categorias que emergiram a partir da análise de conteúdo latente das
narrativas apontaram que os benefícios da floresta podem ter poder: a) provedor; b)
35%
27%
15%
23%PRES
BEM
TRAB
IDENT
56
restaurador, e c) subsidiário.
a) Poder Provedor: Entidade capaz de fornecer produtos e serviços ambientais
necessários para a sobrevivência dos seres vivos seja de forma objetiva (coisas e ciclos
biológicos) ou subjetiva (estética e bem-estar). Esse benefício foi apontado por 42% dos
estudantes. As narrativas abaixo exemplificam tal entendimento:
“Ah o clima, o conforto térmico, a biodiversidade, a conservação da biodiversidade, a
riqueza biológica, a beleza em si, a beleza dela por si só, o fato de a gente entrar e se
sentir bem, se sentir... Sei lá, se sentir em paz. [...] É.. pra mim é uma coisa boa, eu vou
pra qualquer lugar que tem floresta e me sinto bem assim e tem a outra parte também que
é a econômica, a gente pode tirar alguns produtos da floresta que são importantes como
os óleos, os frutos, a gente pode tirar alguns animais, um pouco de madeira, coisas que
só tem nela quando ela está funcionando bem, sem ela estar funcionando bem não tem
esse tipo de coisa.” 1
“Nossa, de benefícios, além dos serviços ambientais importantíssimos, de ciclagem de
agua, de carbono, questão da biodiversidade, acho que são os principais ne, que são mais
mostrados ne, a questão do bem-estar ne, de manter o clima, manter o equilíbrio ecológico
né, acho que são esses...” 21
Ao considerarmos essa forma de pensar, 42% dos alunos relacionam a floresta aos
benefícios diretos que ela dispõe, sobretudo em relação a própria sobrevivência humana,
a partir de serviços ambientais e outros ciclos importantes para a qualidade de vida e
geração de renda para as populações que aqui vivem. Para esses alunos a floresta é
entendida como uma fonte geradora de recursos tangíveis e intangíveis.
b) Poder Restaurativo/terapêutico: Entidade capaz de equilibrar os descontroles
advindos da depredação e mau uso feito pelos humanos de modo a garantir não somente
a cura física como emocional das pessoas. Esse benefício foi apontado por 19% dos
estudantes. Algumas falas mostram como os estudantes se referem:
“Primeiro, a oportunidade de me dar sobrevivência, de me manter vivo a floresta e
sustento, terra e muito mais do que o lugar que eu piso, onde eu construo a minha casa,
terra e sustento, terra e mãe, produção de alimento, terra e identidade, e a floresta e isso,
lugar de silencio, introspecção, mas também e lugar de caca, coleta, passeio, de diversão,
lugar de eu me relacionar com Deus.” 6
“Bem-estar mental muito, paz, faz você relaxar, não estressa, pro aspecto humano, pra
sociedade traz um benefício enorme, refúgio de vida, na cidade não tem isso. Também
recursos hídricos, sem a floresta amazônica eles não seriam tão abundantes como são,
entendeu... existe uma relação entre a floresta e agua, a agua faz com que a floresta cresça
mais e a floresta faz com que a agua se mantenha no ambiente e uma relação mutua, tudo
que a gente tem vem da natureza, e uma área de estudo gigante onde você pode aprender
sobre produtos naturais para melhorar a saúde humana, para melhorar alimentação,
abrigo, tudo, a floresta serve de tudo ne...” 20
57
A atribuição da importância ao poder restaurativo da floresta foi apontada por
uma pequena parcela, 19%. Embora tenha sido pouco presente nas narrativas desses
estudantes é possível observar que, ao considerar essa característica, eles associam a
floresta como um espaço de bem-estar, transmitindo sensações de calma, tranquilidade,
paz interior e que isso se reflete, inclusive nas relações com a própria floresta, mas
também com a cidade, sendo possível ter um novo olhar sobre esse ambiente natural.
c) Poder Subsidiário: Entidade capaz de auxiliar a vida no planeta de forma mais
racional nas mais diferentes rubricas, seja na economia, na educação, no lazer, na gestão
ecológica e preservação ambiental visando equilíbrio sustentável dos ecossistemas. Esse
benefício foi apontado por 39% dos estudantes. Exemplos:
“Bom, a primeira coisa que eu penso e no elo do homem com a natureza, então
obviamente a floresta fornece fontes de subsidio pra muitas populações e, além disso,
tem aquela questão da importância como um bioma único, a importância para os demais
bichos, e também tem a importância no sentido econômico para o pais, o que acaba as
vezes sendo um ponto negativo pela visão errada das pessoas de explorar esse recurso,
tudo bem nos temos que explorar esses recursos pra usar em nosso favor na economia,
no turismo, mas isso deveria ser feito de uma forma bem pensada. Um exemplo muito
bom é de você conseguir não mostrar a floresta como um lugar de onde você pode extrair
os recursos de uma forma exótica, por exemplo você mostra a biodiversidade que tem
aqui e muitas pessoas olham pra aquilo como uma forma de um objeto de desejo pessoal
e daí geram vários problemas como biopirataria e etc. E eu acho que poderiam ser feitos
programas que explorassem mais o lado educacional da coisa, você faz um turismo, mas
você faz um turismo que mostre a importância do lugar e a importância de manter as
coisas daquela forma. Naturalmente o homem acaba tendo que destruir porções de
floresta pra poder morar, e uma coisa que infelizmente acontece, mas existe um limite e
é muito importante que as pessoas entendam esse limite e entendam que aquilo ali e maior
do que elas próprias, eu acho que nesse sentido, explicar melhor a importância.” 3
“Então, aquela coisa de ser pulmão do mundo já caiu por terra há muito tempo ne, isso e
uma maneira boba pra preservação dela, para as pessoas aqui da região, ela pode trazer
tanto um bom ecoturismo pra região, pode trazer pessoas pra cá que estão interessadas
em estudar coisas que estão presentes na floresta como biologia de plantas e animais, de
arqueólogos, de pessoas que estudam culturas indígenas e de outros povos, então ela
representa isso ao meu pra população daqui, uma fonte de renda a partir do turismo,
enriquecimento cultural porque traz pessoas de várias partes do mundo e isso acaba
tornando a cidade mais ou menos não digo cosmopolita, mas talvez seja a cidade do Brasil
hoje haja mais pessoas de fora do estado e também acaba de importância até extrapolada
pro mundo, porque o mundo todo fala de floresta amazônica.” 10
“Eu acredito que ela traz simbiose, ela busca essa simbiose, de alguma forma ela
proporciona essa simbiose, as formas de vida dentro do contexto da floresta, e uma
simbiose cultural, que é aquele processo que o cara fala de econômico, de autopoiese se
não me engano, reconstrução social, cultural, a partir de interferências que podem
58
acontecer, mas ela tem as interferências naturais também, então eu acho que a floresta
pode proporcionar isso, uma simbiose, uma sintonia, ela e possível de promover. Sintonia
entre os seres e os sistemas também, inclusive os abstratos, eu volto muito pra minha
profissão, eu sou administrador, então eu penso em sistemas sociais e o sistema
econômico, de modo geral, eu acho que a floresta precisa ser racionalizada, explorada de
forma racional, ela tem ser explorada, e necessário que haja essa exploração, mas que
essa exploração seja racional, limitada. Dentro dos parâmetros da sustentabilidade, com
o uso racional.” 11
Já no Poder Subsidiário que tem como característica principal considerar as
funções “secundárias” da floresta, ou seja, tudo o que é proveniente da matéria prima e
gera as mais diversificadas rubricas. Também citam a importância desse ambiente para a
diversidade biológica, embora a floresta seja vista como objeto de desejo pessoal onde
muito se extrai, mais do que o necessário, sem pensar nas consequências futuras,
principalmente por se tratar de um recurso finito, ou seja, essa disponibilidade de recursos
que aparenta ser farta, dada a sua extensão, na verdade não passa de uma incoerência
humana, a Mata Atlântica é, inclusive, um bom exemplo dessa finitude de recursos.
A Figura 2 mostra que 42% dos estudantes atribuem benefícios de poder provedor
à floresta, 39% de poder subsidiário e 19% de poder restaurativo.
Figura 2 - Tipos de benefícios oferecidos pela floresta
Ao olharmos a Figura 2, podemos visualizar um percentual bastante aproximado
ao considerarmos o Poder Provedor e o Subsidiário, ambos têm uma característica em
comum: consideram aspectos materiais da floresta, ou seja, tudo que ela pode oferecer de
concreto, digamos assim, como os produtos, madeira, frutos, sementes para fins
farmacológicos ou estéticos, entre outros, além dos próprios ciclos ecológicos. Então
significa que a maioria (81%) dos estudantes deixa mais latente a importância da floresta
a partir do que ela dispõe de recursos. Já uma minoria (19%) dos estudantes vê os aspectos
mais abstratos ou subjetivos (Poder Restaurativo) como aspectos importantes.
42%
19%
39%
Provedor Restaurativo Subsidiário
59
O fato de temos 81% dos benefícios apontados se referirem à floresta como fonte
de seus recursos mostra que os estudantes veem a materialidade como predominante em
contrapartida com a subjetividade da floresta. Isso corrobora com os resultados obtidos
nas definições de floresta onde a maior parte dos estudantes definem a floresta sob sua
materialidade, não diferente dos resultados de Azevedo (2013) com professores no
Amazonas, para os quais a maior estrutura conceitual da representação social de floresta
residia nos recursos naturais.
Ao verificar os percentuais de cada benefício atribuído à floresta em função da
base de formação acadêmica dos estudantes, observa-se na Figura 3 que a maioria dos
alunos de Ciências Humanas e Sociais (CHS) tende a considerar os benefícios
restaurativos da floresta. Os alunos de Ciências Biológicas (CBI), por sua vez, atribuem
de forma muito equiparada os tipos de benefícios. Já a maioria dos alunos de Ciências
Tecnológicas e Exatas (CTE) tende a atribuir o poder subsidiário em termos de benefícios
proporcionados pela floresta.
Figura 3 - Tipos de benefícios atribuídos à floresta em função do curso de formação
Em resumo, há uma tendência nessas narrativas de explicitar aspectos mais
utilitaristas da floresta, considerando, sobretudo, aspectos físicos e de geração de recursos
principalmente para a vida humana, caracterizando as necessidades antropocêntricas em
detrimento do uso do ambiente. Isso nos leva a discussões da próxima seção sobre Valores
da Floresta que apontam a partir da análise de uma escala social específica sobre a
supremacia ou não das necessidades em função da conservação, ou não também desse
ambiente natural.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
CBICHS
CTE
10 5
5
71
1
10 2
7
Provedor Restaurativo Subsidiário
60
6.4 Valores da Floresta
Utilizou-se ainda a Escala de Valores Florestais (EVF) desenvolvida por Steel,
List e Shindler (1994) e aplicada com amostra de estudantes na Amazônia por Rosa
(2014). A escala mensura variações individuais de valores ecocêntricos e
antropocêntricos sobre as florestas. A escala contém 8 assertivas a fim de compreender
concepções e ações a respeito da floresta com 5 graus de concordância sendo 1 (discordo
plenamente) a 5 (concordo plenamente) (Quadro 1).
Quadro 1: Itens com premissas relativas aos valores florestais
No
Item Premissa
1ª O uso principal da floresta deve ser para produção de coisas uteis para as pessoas.
2ª Os recursos da floresta podem ser aprimorados pela tecnologia.
3ª A floresta deve ser usada principalmente para extrair madeira e produtos madeireiros.
4ª Nós devemos retirar mais árvores para atender as necessidades de mais pessoas.
5ª As plantas e os animais existem para serem uteis para as pessoas.
6E As pessoas deveriam ter mais amor, respeito e admiração pelas florestas.
7E As florestas devem ser mantidas pelo seu direito de existir independente das
necessidades das pessoas.
8E Os animais, plantas e pessoas têm o mesmo direito de viver e se desenvolver. Legenda: A=Antropocêntrica; E=Ecocêntrica
É necessário dizer que três itens da escala (6E, 7E e 8E) representam valores
ecocêntricos, isto é, deixa evidente a importância de que natureza e pessoas possuem
iguais direitos éticos de existência. Os demais itens (1A, 2A, 3A, 4A e 5A) manifestam
valores antropocêntricos, ou seja, representam valores onde a existência humana se
sobrepõe à natureza, uma vez que estes necessitam satisfazer em primeira instância suas
necessidades, mesmo que isso venha a impor prejuízo à natureza. Se percebe que esses
estudantes ao se depararem com as assertivas da escala, mostram uma inclinação maior
para os valores antropocêntricos, partindo de uma visão mais utilitarista da floresta a
partir dos benefícios que ela pode oferecer para atender as necessidades humanas.
Observa-se na Figura 4 que as médias obtidas nos valores ecocêntricos são baixas,
entre 1,5 e 3,5. Significa dizer que ao pensar em aspectos que considerem a conservação
do ambiente ainda que isso implique em limitar a extração de recursos, a fim de manter
suas funções ecológicas em pleno funcionamento, esses estudantes apontam o ambiente
em si como fator secundário, ou seja, não importa se a extração desses recursos vai gerar
61
degradação ambiental e sim, que sejam atendidas, prioritariamente as necessidades
humanas, visto que não há outra forma de atendê-las sem que cause impactos negativos
na floresta.
Figura 4 - Médias obtidas pelos estudantes nos valores ecocêntricos
Constata-se por outro lado na Figura 5 que nos valores antropocêntricos os
estudantes de pós-graduação obtiveram médias substanciais entre 2,5 e 5. Então, por
uma questão lógica se no que concerne aspectos ecocêntricos (equilíbrio ambiental)
esses estudantes apontaram índices significativamente baixos, é porque deixam mais
evidente sua visão utilitarista da floresta (antropocentrismo) onde o indivíduo pode
utilizar desses recursos da forma que lhe for mais conveniente, desconsiderando mais
uma vez as consequências que essas ações podem implicar.
Figura 5 - Médias obtidas pelos estudantes nos valores antropocêntricos
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47
62
Se percebe, portanto, que esses estudantes definem e atribuem importância
tendendo mais à materialidade da floresta enquanto que as crenças mostram um paradoxo,
isto é, são mais ecocêntricas. Tal dissonância seria importante ser compreendida de forma
mais profunda em pesquisas posteriores. Para conservação das florestas há uma forma de
pensar e agir, mas quando surgem as necessidades humanas, as vezes além das
necessidades básicas, do que realmente se precisa para viver, extrai-se mais do que o
necessário. Esse desiquilíbrio causa falhas no sistema de funcionamento dos ciclos
ecológicos da floresta, deixando cada vez mais evidente a crença humana na finitude de
recursos, especificamente da floresta amazônica.
Partindo dessas constatações, é possível notar que essas ações humanas sobre a
floresta a fim de atender o que se entende como necessidades, implica em uma série de
consequências para a própria vida humana, possível de ser percebida no capítulo seguinte
acerca dos Problemas que a floresta amazônica e no que isso pode prejudicar ou já está
prejudicando todas as formas de vida.
7. FLORESTA AMAZÔNICA: CENÁRIO DE PROBLEMAS, CAUSAS E
CONSEQUÊNCIAS
De acordo com Jacobi (1999) a percepção dos problemas e das soluções varia
entre os diferentes grupos sociais, mostrando a interpretação particularizada dos fatores
intervenientes, a consideração de fatores qualitativos pesando nas escolhas em torno do
que se pensa sobre essas práticas e sua relação com aspectos ambientais.
Ao falar de problemas que podem inviabilizar a conservação da floresta
amazônica devemos considerar, sobretudo, os impactos ambientais, que são os
desequilíbrios que existem no meio ambiente e podem se causados em razão de diversos
fatores. Fala-se bastante a respeito da riqueza do bioma, a partir disso entende-se que é
possível retirar recursos em grande quantidade, como alimentos, sementes, óleos, entre
outras coisas.
Mas sem o manejo correto de determinados recursos, corremos um sério risco de
torná-los cada vez mais escassos. Não se pode inferir que apenas os crimes ambientais
são responsáveis por todo esse desequilíbrio, o uso de agrotóxicos em plantações, criação
de gado e a construção de grandes empreendimentos também contribuem
significativamente para essa degradação. As ações antrópicas enfraquecem o solo, por
63
conta da perda de nutrientes ao ser utilizado de maneira inadequada, sobretudo em relação
ao desmatamento que só aumenta.
7.1 Ameaças que assolam o futuro da floresta amazônica
A floresta amazônica é grandiosa, com uma biodiversidade gigantesca e ainda
bastante desconhecida, com grandes extensões de rios, além da própria riqueza e
diversidade cultural. Entretanto, todos esses recursos podem deixar de existir com a
degradação exacerbada e rápida que vem ocorrendo nos últimos anos. Ao serem
questionados sobre os possíveis problemas, causas e consequências que colocam a
permanência da floresta funcionando devidamente, em risco, alunos de pós-graduação
elencaram algumas questões que serão observadas. As categorias que emergiram a partir
da análise de conteúdo latente das narrativas apontaram que as ameaças da floresta
podem ser: a) Utilização exploratória de recursos, b) Falta de conhecimento e
reconhecimento da floresta, e c) Grandes projetos agroindustriais e urbanização não
planejada.
a) Utilização exploratória de recursos (33%): Referem-se às ações humanas que
enaltecem o uso em demasia dos recursos, priorizando a maximização do seu próprio
lucro e desconsiderando as consequências futuras. Salienta-se também o modelo de
desenvolvimento capitalista como um fator que implica nessas ações.
“O nosso modelo de desenvolvimento onde tudo precisa ter um valor econômico pra
poder ter algum significado, essa é a principal ameaça, a floresta não possui este valor
econômico para que se mantenha em pé, existe essa linha de pensamento ne, colocar preço
em tudo. No capitalismo eu não consigo enxergar outra forma, porque a floresta vale mais
derrubada do que em pé, quem sabe agora a gente comece um novo caminho onde as
florestas sejam valorizadas. Distanciamento das pessoas com a natureza também
prejudica assim de reconhecer a importância da floresta.” A. 18
“A questão da ambição ne, do anseio pelos produtos da floresta pra serem vendidos e
comercializados, não só no país, mas no mundo, você tem um mercado facilitado na
Amazônia, as pessoas crescem os olhos e vão mandando os produtos sem muito estudo e
preocupação com a conservação dela ne, com o futuro da floresta. Falta educação
ambiental também.” 24
“O problema e as pessoas acharem que a floresta e inesgotável, por acharem que nunca
vai acabar, tem muita gente tirando recursos dela sem pensar na reposição, vai ter uma
hora que a floresta vai parar de se renovar, se desmatar a Amazônia toda vai virar deserto,
não pode tirar tudo, senão acaba.” 31
64
b) Falta de conhecimento e reconhecimento da floresta (11%): Refere-se às ações
relacionadas a falta de conhecimento, sensibilização e percepção acerca do que é a floresta
e quais as suas funcionalidades, tanto por parte da sociedade civil (escola, família) quanto
do poder público, o que interfere diretamente nas medidas de conservação a serem
tomadas ou não, priorizadas ou não.
“A falta de conhecimento, de saber que ela existe. Quem vem pra cá, entende e vê, já
começa a pensar de outras formas, porque quem é daqui acaba destruindo a floresta,
porque talvez não conheça outra realidade, não veja a riqueza que tem aqui, mas quem é
de fora consegue e o resto são consequências dessa falta de conhecimento.” 7
“São questões políticas, as indefinições que tem no cenário internacional, discussões
sobre de que e a floresta, de quem e a responsabilidade, quem deve mantê-la, quem deve
manter as pressões, quem deve garantir os créditos de carbono, isso e um problema muito
sério. Eu acredito que a floresta presta um serviço mundial não apenas para o Brasil, então
essa função da floresta precisa ser reconhecida, então o grande problema são as
indefinições políticas.” 11
“A falta de uma educação ambiental adequada para família e escola, seria uma iniciativa
para mostrar as pessoas o valor da floresta, que não e só o valor econômico, para elas
perceberem que é muito mais importante conservar do que destruir e isso pode ser
corrigido com a educação ambiental.” 17
c) Grandes projetos agroindustriais e urbanização não planejada (56%): Refere-se
às questões relacionadas aos acontecimentos mais frequentes no cotidiano, considerando
a veiculação midiática, onde a partir dessas informações chegam-se a nominar problemas
de ordem concreta sobre a floresta amazônica.
“Crescimento das cidades na região, super cresce e que toda vez que tem uma grande
cidade vai destruindo a floresta ao lado, as grandes estradas que e um acesso a mais para
o desmatamento. O arco do desmatamento, são lugares que tem acesso por terra, a
pecuária está atrelada a questão das estradas. Onde a urbanização está mais intensa tem
uma destruição maior de floresta. As pessoas não têm essa preocupação de manter a
floresta em pé porque ela é tida como item de atraso de desenvolvimento social e
econômico.” 1
“Falta de fiscalização em relação as instalações agropecuárias, porque você vê que tem
muita área desmatada para fazer plantios de qualquer produto, grande parte desses
produtos não-nativos, como a soja. A mesma coisa equivale pra criação de gado, além da
questão da exploração de madeira, que ocorre de maneira ilegal, mas ninguém faz nada
contra isso. A biopirataria, a gente tem muitas espécies em extinção, algumas a gente nem
conhece para saber que estão em risco de extinção.” 3
“A mudança do uso do solo, no século XX o solo era usado de uma forma e atualmente
tem sido usado de outras e isso, no geral, envolve supressão da floresta, para construção
65
de grandes empreendimentos, criação de gado ou para agricultura. Construção de
hidrelétricas e projetos agrícolas são o grande problema. Temos várias hidrelétricas
previstas para construção, vamos acabar com 50 rios de isso acontecer, essa mudança no
solo e o grande impacto na floresta.” 15
Ao observar a figura 6, percebe-se que esses estudantes consideram a construção
de grandes empreendimentos, sejam eles agroindustriais ou não, como sendo um dos
grandes problemas que colocam a floresta amazônica em risco, a partir do que eles veem
na mídia, nos noticiários de jornal, entre outras formas de disseminação de informações.
Portanto, sem planejamento não há como manter um equilíbrio ambiental e,
consequentemente, esses danos causados serão estendidos a vida humana.
Figura 6 - Principais ameaças à floresta amazônica
Os estudantes também salientam a utilização inadequada dos recursos como um
fator de degradação ambiental também, pois ao utilizar mais do que se precisa os recursos
que a natureza dispõe, há um problema na capacidade de regeneração da floresta, ou seja,
ela não completa determinados ciclos extremamente importantes para o seu
funcionamento na mesma celeridade em que são extraídos os seus produtos. E, por último,
apontam a falta de conhecimento como uma outra agravante que vai na contramão das
medidas protetivas para a floresta, um a vez que a partir do processo de construção do
conhecimento, pressupõe-se uma mudança de atitudes que garantam ou pelo menos
contribuam para a conservação ambiental, em especial da floresta amazônica.
33%
11%
56%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Utilização de recursos Falta de conhecimento Grandes projetos não
planejados
66
7.2 Causas que implicam na falta da conservação da floresta
Na seção anterior foram apontados pelos estudantes os principais problemas que
fragilizam o pleno funcionamento da floresta amazônica. Partindo disso, entende-se que
existem razões que originam esses problemas, especificamente relacionados a degradação
no bioma, ocorram como uma reação em cadeia. As causas que emergiram foram: a)
aspectos éticos, b) aspectos sociopolíticos e fundiários.
a) Aspectos éticos (85%): Refere-se às questões relacionadas ao comportamento,
postura diante das situações, valores éticos e morais ou a falta deles.
“Os interesses das grandes empresas com pessoas que estão ligadas a política, enquanto
estiver dando muito dinheiro eles vão estar querendo sugar o máximo disso ai. Outra
coisa, e eu até me incluo nesse grupo, e o fato de a gente não tentar fazer algo pra mudar
isso, a gente acaba sendo muito passivo, pelo menos conhecer melhor as pessoas que você
coloca no poder.” 3
“E possível acumular capital ou ter dinheiro para viver confortavelmente sem precisar
desmatar a floresta, temos um potencial fantástico pro turismo sem precisar devastar,
precisa de investimento e capacitação, o homem pode perceber que a floresta vale muito
mais em pé do que derrubada. A causa e o acumulo de capital, querer sempre mais, já
tendo o necessário pra viver.” 6
“O ser humano não se enxerga dentro da natureza, então a ignorância, a perda do
conhecimento humano acerca do que faz, e o pior perigo pra que destrua o meio ambiente
porque ele acha que e uma fonte de recursos infinita, vivendo uma época de falsa riqueza,
o consumismo também.” 10
Segundo Rolla (2010) a ética da natureza dispõe ao indivíduo responsabilidades
em relação ao meio ambiente e dentro de abordagem mais dialética da relação homem-
natureza, a questão do conflito entre a necessidade de restabelecer equilíbrios naturais e
salvaguardar interesses humanos mostra-se resolvida se considerar que equilíbrios
naturais são interesses humanos.
b) Aspectos sociopolíticos e fundiários (15%): Refere-se as causas relacionadas a
aspectos mais concretos como o crescimento populacional, insegurança fundiária. A
materialização propriamente dita do que gera os problemas ambientais na floresta.
“O crescimento da população, ta nascendo mais gente e não tem como acomodar todo
mundo, acho que também a gente não quer ser reconhecida como cidade-floresta, a gente
se ofende porque Manaus fica no meio da floresta, as pessoas entendem floresta como
67
algo ultrapassado, primitivo. 9
“Expansão demográfica, quanto mais pessoa, mais energia tem de ser produzida, a gente
sabe que hidrelétrica em rio amazônico gera pouca energia, porque talvez Balbina não
acenda uma lâmpada em Manaus e também sabe que não adianta desmatar que o solo e
areno-argiloso que eu não vou produzir nada, então você gera uma demanda que e vendida
normalmente pra população mais ignorante por achar que a gente precisa desses serviços,
você vende uma falsa demanda pra eleger políticos e eles se beneficiarem desses cargos
para grandes empreiteiras e pecuaristas que envolvem o Brasil hoje.” 22
“As superpopulações, pessoas que acabam ocupando os centros e onde tem fragmentos e
acaba tendo que desmatar, quanto ao desmatamento talvez tenha a ver com a exploração
de recursos.” 40
Ao considerar que entre as grandes causas que seriam o ponto de partida para esse
círculo vicioso que é a degradação ambiental crescente, grande parte desses estudantes
(85%) enaltece que qualquer ação sobre a natureza é decorrente, sobretudo, da própria
postura e visão sobre o mundo. A busca incessante pela maximização do lucro, sem
considerar os danos causados aos ambientes florestais, seja por relação política ou não,
implica em reações em cadeia dentro da natureza. A falta de ética, de comprometimento,
de apenas retirar o que precisa, utilizar áreas até se tornarem improdutivas e partir disso
invadirem outras áreas são algumas falas recorrentes desses estudantes a partir do que
eles percebem, seja indo a campo em seus estudos acadêmicos ou por instrumentos
midiáticos. (Figura 7)
Figura 7 - Causas que ameaçam a floresta amazônica
A tão discutida crise ambiental se sobrepõe a questão da crise ecológica, é uma
crise de valores, é uma crise de uma sociedade e sua visão distorcida de mundo. Para
Rolla (2010) a questão ambiental também abarca preocupações sociais visto que grande
85%
15%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Aspectos Éticos Aspectos Políticos e Fundiários
68
parte da comunidade no planeta tem necessidade de desenvolvimento socioeconômico
que possibilite o acesso a um ambiente sadio que viabilize o desenvolvimento humano e
uma vida digna.
7.3 Consequências decorrentes das ações humanas sobre a floresta amazônica
A partir dos problemas e causas apontados, observa-se que as ações humanas
causam algum tipo de impacto ambiental, e que isso não implica só em degradação
ambiental como coloca em risco a própria sobrevivência humana, como um efeito
bumerangue onde o objeto é lançado com uma determinada força e quando retorna, sua
força está altamente potencializada. O mesmo vem acontecendo com a natureza, para
cada ação individual que se realiza, consequentemente uma ação coletiva é feita, esse
conjunto de ações geram uma modificação no sistema de funcionamento da floresta, que
por sua vez começa a apresentar dificuldades na ocorrência dos seus ciclos mais
importantes (água, carbono, entre outros), e isso tem se refletido nessa inconstância
climática, onde ocorrem secas e enchentes em lugares que ninguém imaginava.
Nesta seção os estudantes pontuaram as principais consequências decorrentes
das ações humanas sobre o ambiente, nesse caso, a floresta amazônica. As categorias
que emergiram nesta análise presente nas narrativas apontaram que as consequências
que prejudicam o funcionamento da floresta podem ser a) Impactos socioculturais e, b)
Impactos ambientais.
a) Impactos socioculturais (35%): Refere-se às consequências que irão atingir
principalmente a sociedade em geral, entre outros grupos sociais (urbanos ou não).
Considera também a perda cultural, econômica, da qualidade de vida humana e todos os
aspectos que estão inerentes aos seres humanos, em especial, aos grupos que tem maior
aproximação ou dependência direta dos produtos da floresta.
“A floresta continua sendo explorada, porque quem explora acha que aquele
desmatamento não vai atingir em nada a vida das pessoas, mas cedo ou tarde a natureza
e cíclica, ela vai cobrar seu preço. Além disso, pensando também nas comunidades que
dependem diretamente do que a floresta fornece, porque tem comunidades ribeirinhas que
vivem da pesca, tem casos de comunidades que foram retiradas do seu lugar de origem
porque algum fulano queria desviar o rio dali, pra vida urbana seria a questão do clima,
mudanças de temperatura.” 3
69
“Essa crise de educação, de pesquisa que já ta indo de agua a baixo, saúde também.” 13
“As hidrelétricas geram impactos em comunidades indígenas, o impacto do
desmatamento aumenta até vetores de doenças, maior elevação de temperatura, animais
sendo extintos.” 35
b) Impactos ambientais (65%): Refere-se às consequências que prejudicam
principalmente a floresta propriamente dita, considerando fauna e flora, perda de
biodiversidade e espécies endêmicas, mudanças climáticas e seus desdobramentos na
natureza.
“A desertificação que é um processo erosivo, a areia vai tomando conta do terreno nas
partes mais desmatadas. Isso falando em um nível mais drástico.” 1
“Um colapso mundial, a gente tira produtos naturais e libera produtos tóxicos, seja da
queima, seja da água que alimenta as bobinas nucleares, a perda dessa visão racional
acaba gerando essas consequências.” 10
“Questão de temperatura gerada pelo desmatamento, tem também bichos que antes eram
mais fáceis de observar, mas com certeza hoje em dia deve ter alguém com dificuldades
de encontrar certos bichos por não estar conseguindo sobreviver a questão das mudanças
climáticas.” 14
A Figura 8 mostra notoriamente que, para esses estudantes as consequências dos
problemas causados à floresta amazônica geram muito mais impactos ambientais
(diretamente para a floresta) do que para a vida humana.
Figura 8 - Consequências das ações sobre a floresta
Ao analisar as narrativas dos estudantes, a maioria (65%) aponta os impactos
ambientais como sendo as maiores consequências alusivas aos problemas supracitados
(vide seção 7.1 deste capítulo) que ameaçam o funcionamento e a continuidade da floresta
65%
35%
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70%
Impactos Ambientais
Impactos Socioculturais
70
amazônica no planeta. Importante dizer que ao falarem de impactos ambientais, esses
alunos se referem aos danos causados a natureza propriamente dita e que a partir disso,
secundariamente ou consequentemente implicariam em problemas para a vida humana
também, ou seja, perda de biodiversidade, material genético, espécies endêmicas, por não
conseguirem se adaptar as condições de degradação que tem ocorrido de maneira
acelerada, a floresta não consegue se regenerar em tempo hábil.
Mas também não se pode deixar de pontuar que uma parte desses estudantes
(35%) consideram que os impactos socioculturais também são evidentes e que a perda
cultural, perda na qualidade de vida, do bem-estar humano, não podem ser
desconsiderados, sobretudo ao pensar nas populações que tem maior proximidade com a
floresta e seus recursos, como os quilombolas, ribeirinhos e indígenas, grupos esses que
vivem e dependem (diretamente ou quase totalitariamente) dos produtos da floresta para
sua sobrevivência.
O desmatamento, as queimadas e mau uso da terra seja com grandes
empreendimentos ou urbanização inadequada, a garimpagem, o agropastoreio e a
biopirataria, representam as principais ameaças enfrentadas para a manutenção da floresta
em pé (BRASIL, 2007; IBF, 2015; IPCC, 2007; LEITE, 2012). Com tais ameaças a
floresta amazônica tornou-se um espaço físico cuja atenção mundial a ela se volta. Apesar
destes problemas a floresta amazônica é considerada um dos símbolos mais puros da
natureza, e, portanto, tal condição exige uma ampla proteção.
8. FLORESTA AMAZÔNICA: ALTERNATIVAS PARA SUA PROTEÇÃO
Na atual situação do Brasil em relação as florestas, ainda é possível pensar em um
modelo de desenvolvimento que enalteça a Amazônia de modo saudável e sustentável. É
importante estimular a economia florestal como uma atividade que possibilite a geração
de renda e a valorização do capital natural, de preferência, ao mesmo tempo.
A Amazônia tem potencial para encarar o desafio de um novo modelo de
desenvolvimento ou pelo menos, outras alternativas de conservação que também possa
gerar lucro, causando o mínimo de impacto ambiental possível. Não se pode permitir que
um patrimônio de tamanha grandiosidade em vários aspectos se acabe ou seja encarada
como algo que não deve ser tocado. É importante conhecer suas potencialidades, pois a
partir disso, será possível pensar em novas possibilidades de desenvolver garantindo a
71
conservação desse bem natural, estimular o conhecimento tradicional e valorizá-lo, os
estudos científicos também não podem ser esquecidos dada a sua importância para que se
conheça um pouco mais a floresta.
8.1 Possibilidades de ações de conservação da floresta
Foram apontadas pelos estudantes algumas alternativas que, segundo os mesmos,
poderiam vir a ser bem-sucedidas. As possibilidades de ações de conservação da floresta
indicadas pelos estudantes foram agrupadas em duas categorias: a) Educação e
disseminação de conhecimentos; b) Ações coletivas, individuais e políticas públicas.
a) Educação e disseminação de conhecimentos (44%): Refere-se às ações
relacionadas a processos educativos, mudanças no sistema educacional que podem
influenciar em uma postura diferenciada diante das questões ambientais e melhorar
a relação do indivíduo com a natureza, inclusive no seu modo de pensar.
“Passa por uma mudança educacional, a educação eu acredito que começa com a família
em casa, as instituições de ensino, as escolas e as universidades servem pra somar e lhe
dar um pouco mais de conhecimento de mundo. Mas a educação começa em casa, você
consegue colocar uma sementinha de pensar que algo está acontecendo e o porquê, as
crianças conseguem captar essa importância e a necessidade de conservação do meio
ambiente mais fácil que os adultos.” 3
“Educação, primeiro nas diretrizes dos PCNs, de incluir esses questionamentos dentro da
educação básica de forma geral, colocar o assunto em pauta, isso despertaria o interesse,
não em todas as pessoas, mas aumentaria o interesse em estudar floresta amazônica e
desenvolver novas saídas pra essa degradação ambiental.” 7
“A base de qualquer coisa vai ser a educação, a gente não é historicamente educado pra
ter uma educação ambiental, de entender a dinâmica da floresta, não apenas como um
repositório de recursos que eu posso tirar a hora que eu quiser. A partir da educação básica
teremos cidadãos que tenham essa consciência ambiental.” 9
Percebe-se que uma parte desses estudantes (44%) aos serem questionados sobre
possíveis ações de proteção e conservação da floresta consideram que um ponto
importante para que ocorram essas medidas inicia na educação, eles mostram em suas
narrativas que a partir dessas modificações no sistema educacional vigente no país,
sobretudo na educação básica é o que ao dispor de uma estrutura de ensino que começa
nas séries iniciais pode estimular as crianças a terem uma postura mais sensível e
cuidadosa com o ambiente e que isso poderá se perpetuar em toda sua vida, além de ser
um conhecimento multiplicado para outras gerações.
72
Também é válido salientar que ao falar de sistema educacional como um fator
determinante para uma possível mudança de postura quanto às ações na natureza, foi
bastante presente nas narrativas dos estudantes sobre a importância da educação
ambiental nesse processo de construção do conhecimento. A educação ambiental como
instrumento de promoção das ações pró-ambientais, do cuidado e aproximação com a
natureza.
Nesse sentido, a EA busca transformar as interações entre o indivíduo com o
mundo humano e geofísico, que se materializa como um processo de formação de uma
consciência crítica e de emancipação das pessoas (HIGUCHI; MOREIRA JUNIOR,
2009).
Currie (1998), apresenta a prática em EA a partir de eixos norteadores, que
funcionam como um referencial para o desenvolvimento dos trabalhos. Destaca-se que o
primeiro eixo norteador é o papel do eu no ambiente, trabalhando as responsabilidades
pessoais, nas ações do indivíduo, desenvolvendo, a posteriori, sua responsabilidade em
outros aspectos inerentes a sua própria vida e nas suas relações em outros grupos sociais,
como família, amigos, comunidade, bairro, até alcançar a totalidade do planeta Terra.
Percebe-se, portanto, que a educação ambiental promove a inserção do sujeito
protagonista das relações pessoa-ambiente, e salienta essa relação como uma unidade
indissociável, ou seja, não há como tratar questões socioambientais ou promover
transformações distanciando o indivíduo da natureza.
b) Ações coletivas, individuais e políticas públicas (56%): Refere-se às ações
que consideram a coletividade, o trabalho em equipe, a sociedade como um todo,
participando e se envolvendo nas questões ambientais, promovendo possibilidades de
mudanças nas estruturas sociais, ambientais e políticas.
“As movimentações de pessoas e entre as pessoas, tipo pessoas comuns, a nível local não
é tão efetivo assim, a galera aqui não faz muita coisa, até porque não tem muito como
fazer. A gente fazendo pequenas pressões com pequenos projetos, projetos de manutenção
de um parque, tipo um pequeno movimento pra um objetivo muito concreto. Dividir os
objetivos de cuidado com pequenas ações.” 1
“Mobilizações, a opinião pública influencia nas decisões políticas, precisamos de
aceitação da floresta, educação, só com as mobilizações e protestos que as coisas mudam.
24”
“Programas participativos, mostrar o valor da floresta, que ela é importante e políticas
públicas.” 31
73
Na visão de uma maioria entrevistada (56%) as ações feitas, seja em coletividade
ou individual, podem ser também muito eficazes para as medidas protetivas e de
conservação da floresta. Assim como as políticas públicas que são frutos dessas
manifestações sociais e que esses estudantes apontam como sendo necessárias para pensar
em soluções que favoreçam o pleno funcionamento da floresta. (Figura 9)
Figura 9 - Tipos de ações de conservação e proteção da floresta
Considerando que a educação é um instrumento importante, mas que
conhecimento sem ação não gera resultado nenhum, as mobilizações geram um grande
impacto social e podem promover transformações reais em um sistema, mostrando mais
uma vez que a união de uma sociedade pode mudar um contexto social, ambiental,
político e em outros aspectos também.
Para Brites e Neustadt (2015) o surgimento da internet e sua rápida evolução
mudou a forma de comunicação entre os indivíduos. As ferramentas em rede
ultrapassaram as barreiras do mundo palpável e possibilitaram conexões invisíveis de alto
alcance. Essas transformações ainda em andamento revelam-se fortes aliadas para aqueles
que desejam construir uma sociedade aberta e participativa, principalmente ao que refere
às questões de interesse comum.
Dentre os fatores que possibilitaram a emergência desse conjunto novo de formas
de protesto e respectivas organizações, destacam-se certas características do contexto
político nacional e internacional. Diante de grandes problemas, sejam de ordem local,
nacional ou global, as pessoas perceberam a força que podem ter quando em coletividade
vão às ruas dialogando e defendendo direitos que são previstos na legislação vigente, tem
sido muito eficaz nos últimos anos e gerado quebras de velhos paradigmas. Certamente,
as mobilizações mudam o mundo.
44%
56%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Educação e disseminação de conhecimentos Ações individuais, coletivas e políticas
públicas
74
8.2 Entes que detém a responsabilidade de proteção da floresta
Ao se tratar de questões ambientais, de modo geral, atribuem-se responsabilidades
aos entes que constituem a estrutura social de um país. Partindo disso, considera-se que a
junção dessas atribuições cria um cenário de possibilidades para discussão dessas
questões, criação de políticas públicas e entre outras medidas, na esfera municipal,
estadual e federal.
Aos estudantes foi questionado sobre a partir de quem deveria originariamente
iniciar as primeiras discussões ou medidas de ensino, conservação e proteção da floresta
amazônica (Figura 10).
Figura 10 - Entes responsáveis pela proteção e conservação da floresta
Percebe-se que há uma equidade de pensamento entre esses estudantes (38%)
(homens e mulheres) ao considerar a escola como a grande responsável de apresentar as
crianças e jovens sobre a constituição das florestas, sua função nos ecossistemas e no
mundo, sobretudo na vida da sociedade.
Já a grande maioria dos estudantes (52%) consideram que é na família que deve
se iniciar os diálogos sobre cuidados com a floresta, considerando que a família representa
o primeiro grupo social com o qual interagimos na vida, então nada mais sugestivo do
que a construção de hábitos dentro do seio familiar fator de influência na postura do
indivíduo sobre o ambiente.
Há ainda uma pequena parte de estudantes (10,5%) que apontaram o governo
38%
52%
10%
Escola Família Governo
75
como sendo o grande responsável por iniciar a discussão sobre as questões, além de tomar
medidas protetivas, de conservação e ensino e, com isso, mudar o sistema educacional de
base, trabalhando com parâmetros curriculares que considerem as questões ambientais
como tema a ser amplamente discutido em sala de aula, não só nas disciplinas de ciências
e biológicas, mas sendo contextualizado também em outras disciplinas; criação de
políticas públicas que visem o monitoramento e a proteção das florestas, promovendo
também o diálogo com os grupos sociais que vivem diretamente dos recursos que a
floresta dispõe.
Na tentativa de proteger e regulamentar o uso sustentável da floresta existem
vários dispositivos legais nas esferas municipais, estaduais e federais. Além desses
instrumentos normativos há ações convencionadas em nível mundial em protocolos e
conferências internacionais. Esse conjunto de normas e convenções apontam ações
políticas que promovem, em tese, uma atenção especial à floresta amazônica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das percepções ambientais apresentadas nesta pesquisa e dos objetivos
elencados, constatou-se que as percepções relacionadas a Floresta Amazônica dos
estudantes pesquisados teve uma certa inclinação para uma postura mais antropocêntrica,
considerando que nas Definições de Floresta, eles enalteceram a Floresta como um lugar
de possibilidades profissionais e de ascensão acadêmica, partindo de uma visão mais no
aspecto biofísico do que seria o entendimento sobre floresta para eles, apontaram também,
secundariamente, como um lugar de sensações positivas e de bem-estar. É comum que
sejam dadas características ou definições principalmente sobre os aspectos físicos da
floresta, como o tipo de vegetação, diversidade faunística e florística, além da própria
constituição dos ecossistemas, pois aos analisarmos as categorias pode-se perceber que
há, a partir de estudos já realizados, uma diferença nas definições, isso acontece porque
os entendimentos sobre a floresta mudam a partir de cada grupo estudado.
Já ao abordar questões relacionadas aos Problemas que ameaçam a proteção da
Floresta, eles apontaram a utilização inadequada de recursos como um fator importante,
por acreditarem que o ser humano utiliza e extrai da natureza mais do que precisa e isso
gera uma série de outros problemas. Também salientaram que a causa desses problemas
se deve ao modelo capitalista que estamos inseridos, onde somos bombardeados de
76
informações e incentivos ao consumo desenfreado, na era da obsolescência programada,
onde a vida útil dos produtos é bem mais curta do que antigamente, fazendo com que as
pessoas troquem de equipamentos e eletroeletrônicos frequentemente.
Sobre as consequências eles apontaram que algumas já estão acontecendo, como
alterações de temperatura, mudanças no clima e futuramente podem implicar na escassez
de alimentos e água, mais extremos climáticos, secas e enchentes, perda de
biodiversidade, material genético, perda cultural, da qualidade de vida, de bem-estar,
aumento de estresse, entre outros.
Quando questionados sobre Ações de Conservação e Proteção da Floresta, eles
apontaram que o ponto de partida para qualquer transformação é por meio da educação
básica, reformulação das diretrizes no sistema educacional do país, em especial um olhar
mais aprofundado na Educação Ambiental, que na visão de muitos desses estudantes é
uma ferramenta extremamente importante e promissora na mudança de postura de um
cidadão, além de promover o cuidado com a natural e a disseminação desses
conhecimentos para as próximas gerações.
Consideraram também a efetividade e a força das mobilizações, manifestações
sociais e ações que envolvam a coletividade como um importante instrumento de
emancipação, empoderamento e garantia de direitos, uma vez que a junção de um povo
pode transformar a estrutura social de um país, assim como também salientaram as
políticas públicas e sua aplicabilidade tanto no modelo educacional quanto para as
questões socioambientais, especialmente na proteção e delimitação do uso da floresta.
Manifestaram-se também sobre a que ente deve ser atribuída a responsabilidade
maior sobre o ensino, a proteção e conservação dos recursos florestais, onde houve
narrativas que consideraram a escola como instituição importante para a formação
intelectual de um indivíduo, mas a família foi eleita como ente principal de
transformações e a quem cabe os diálogos iniciais de cuidado com a natureza,
considerando que a família é o primeiro grupo social com a qual nós interagimos na vida
social.
Portanto, é importante que sejam realizados estudos mais aprofundados de
percepção com outros grupos ainda não investigados, visto que realmente um olhar
diferenciado sobre a floresta pode modificar nossa postura e estimular ações de
conservação, proteção, cuidado e conhecimento, seja científico ou não sobre a Floresta
Amazônica.
77
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85
Apêndice 1 - Roteiro De Entrevista com Escala VF
IDENTIFICAÇÃO:
Nome:
Sexo: ( ) M ( )F Graduação:
Status Civil:_______ idade: IES: __________ Programa: ______
Procedência: Religião: Ocupação: _____ Qualificado? ____
1. Quando foi seu primeiro contato com a Floresta Amazônica.
2. Defina o que é para você floresta amazônica.
3. O que representa a floresta amazônica para a sua vida?
4. Quais são os aspectos que você considera importantes (benefícios) em relação à floresta amazônica.
5. Quais os principais problemas que você percebe ameaçar a floresta amazônica.
6. Quais as causas que você aponta a esses problemas?
7. Que tipos de consequências esses problemas podem trazer?
8. Que tipo de ações a sociedade deveria realizar para contribuir com a conservação da floresta?
9. Você participa em movimentos ou ações para a conservação das florestas? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às
vezes
10. Cite UMA coisa que VOCÊ poderia fazer para proteger a floresta? ________________________
11. O respeito e a proteção das florestas devem começar:
( ) Família ( ) Escola ( ) Instituições Sociais ( ) Governo ( ) outra ____________________
12. Responda cada frase de acordo como você geralmente se sente. É importante que você responda
sinceramente com base no seu julgamento e a partir de seus conhecimentos, não existem respostas
certas ou erradas.
- Marque um X no grau de concordância para cada uma das frases seguindo o exemplo abaixo:
( 1 ) Discordo Plenamente ( 2 ) Discordo ( 3 ) Nem Discordo Nem Concordo ( 4 ) Concordo ( 5 ) Concordo Plenamente
Afirmações DT CT
O uso principal da floresta deve ser para produção de
coisas uteis para as pessoas.
1 2 3 4 5
Os recursos da floresta podem ser aprimorados pela
tecnologia.
1 2 3 4 5
A floresta deve ser usada principalmente para extrair
madeira e produtos madeireiros.
1 2 3 4 5
Nós devemos retirar mais árvores para atender as
necessidades de mais pessoas.
1 2 3 4 5
As plantas e os animais existem para serem uteis para
as pessoas.
1 2 3 4 5
As pessoas deveriam ter mais amor, respeito e
admiração pelas florestas.
1 2 3 4 5
As florestas devem ser mantidas pelo seu direito de
existir independente das necessidades das pessoas.
1 2 3 4 5
Os animais, plantas e pessoas têm o mesmo direito de
viver e se desenvolver.
1 2 3 4 5
86
Apêndice 2 – Minuta do Termo de Consentimento Livre Esclarecido
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Centro de Ciências do Ambiente - CCA
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia
Termo de Consentimento Livre Esclarecido
Convidamos os (as) senhores (as) alunos (as) de pós-graduação das instituições INPA (Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia) e UFAM (Universidade Federal do Amazonas) a participarem da
pesquisa intitulada PERCEPÇÕES E SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS À FLORESTA AMAZÔNICA
POR PÓS-GRADUANDOS DE MANAUS da pesquisadora Sabrina Castro da Silva, mestranda em
Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia do programa de Pós-Graduação da Universidade
Federal do Amazonas, no endereço institucional localizado no Centro de Ciências do Ambiente, na Av.
Gen. Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 6200 - Campus Universitário Senador Arthur Virgilio Filho, Bloco
T, Setor Sul –Coroado, CEP 69080-900 - Manaus/AM – Telefone institucional - (92) 3305-1181 Ramal
4068 ou 4069, e-mail: [email protected] e telefone particular (92) 99159-8396 e orientada
pela Profa. Dra. Maria Inês Gasparetto Higuchi, lotada na Universidade Federal do Amazonas, localizado
no Centro de Ciências do Ambiente, na Av. Gen. Rodrigo Octávio Jordão Ramos, 6200 - Campus
Universitário Senador Arthur Virgilio Filho Bloco T Setor Sul – Coroado, CEP 69080-900 - Manaus/AM
- Telefone - (92) 3305-1181 Ramal 4068 ou 4069 cujo e-mail é [email protected].
O objetivo geral da pesquisa é compreender as percepções ambientais de estudantes de pós-
graduação stricto sensu, sediados em Manaus-AM, sobre a floresta amazônica. Quanto aos específicos estão
elencados da seguinte forma: Analisar os valores e significados atribuídos à floresta amazônica e seus
elementos constituintes; Identificar os principais problemas que esses estudantes apontam para a
conservação da floresta amazônica, suas causas e consequências e verificar as possíveis alternativas de
conservação e proteção da floresta amazônica apontadas por esses estudantes.
A participação é voluntária e se dará por meio de entrevista semiestruturada e áudio-gravada onde
o aluno poderá responder sobre aspectos referentes a sua forma de compreensão do que é a floresta,
possíveis ameaças a esse ambiente e alternativas de conservação, além dos seus benefícios para a vida
humana. Também será convidado a preencher uma Escala Social com 8 (oito) assertivas sobre floresta
amazônica apresentando seus graus de concordância referentes a esse ambiente florestal. Como toda
pesquisa que envolve seres humanos implica em riscos, nessa pesquisa, especificamente os riscos
decorrentes de sua participação na pesquisa estão relacionados ao ato de ceder a entrevista que será
audiogravada, no caso de algum tipo de desconforto, mal estar ou constrangimento será oferecido ao
participante que assim desejar, atendimento psicossocial disponibilizado pela pesquisadora, bem como
assistência jurídica da mesma instituição caso haja violação de direitos, além de ressarcimento por danos
morais e/ou materiais se assim for o caso, conforme a Resolução CNS nº 466 de 2012, IV.3.h, IV.4.c V.7
“que estão assegurados o direito a indenizações e cobertura material para reparação a dano, causado pela
pesquisa ao participante da pesquisa”. Quanto aos benefícios, se você aceitar participar, estará contribuindo
para mostrar mais uma visão diferenciada acerca da floresta, para possíveis ideias de conservação e
preservação da floresta e a partir disso podem surgir novos estudos com outros grupos para entender esses
diferentes olhares e o quanto isso pode influenciar nas ações humanas sobre esse ambiente, seja de
degradação ou conservação.
Se o participante ou seu possível acompanhante se deslocar até a pesquisadora, todos os custos tanto do
participante quanto de seu acompanhante (deslocamento, alimentação, entre outros necessários para
realização do estudo) serão financiados pela pesquisadora no ato da chegada do participante e de seu
acompanhante (o custo/valor financeiro será ressarcido no ato da chegada) ou será levado o valor financeiro
previamente ao participante e seu acompanhante (antes da data de entrevista) a fim de que ambos
(participante e acompanhante) não necessitem utilizar-se de seus próprios recursos, conforme item IV.3.g,
da Resolução CNS nº.446 de 2012.
Se depois de consentir a sua participação o (a) aluno (a) desistir de continuar participando, tem o
direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja antes ou depois da
coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua pessoa. O (a) aluno (a) não terá
nenhuma despesa e também não receberá nenhuma remuneração. Os resultados da pesquisa serão
analisados e publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em sigilo.
87
Consentimento Pós–Informação
Eu, ___________________________________________________________, fui informado
sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação. Por
isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair quando
quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas assinadas por mim e pelo pesquisador,
ficando uma via com cada um de nós.
O Comitê de Ética em Pesquisa/UFAM está localizado na Rua Teresina, 4950, Bairro: Adrianópolis.
Telefone para contato em caso de dúvida, 3305-1181, ramal 2004, e-mail:
[email protected] para críticas ou observações sobre a pesquisa em questão.
Data: ___/ ____/ _____
Assinatura do Pesquisador Responsável
Assinatura do Orientador