universidade federal do amazonas faculdade de estudos sociais programa de...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS FACULDADE DE ESTUDOS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL - PRODERE
A CONTRIBUIÇÃO DO APL DE PISCICULTURA PARA O
DESENVOLVIMENTO SÓCIOECONÔMICO REGIONAL NO ESTADO DO AMAZONAS
ELTON PEREIRA TEIXEIRA
MANAUS 2009
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS FACULDADE DE ESTUDOS SOCIAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL - PRODERE
ELTON PEREIRA TEIXEIRA
A CONTRIBUIÇÃO DO APL DE PISCICULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO SÓCIOECONÔMICO REGIONAL NO ESTADO
DO AMAZONAS.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – PRODERE, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional.
Orientadora: Profª. Dra. MARIOMAR DE SALES LIMA
MANAUS 2009
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Sônia Raimunda de F. Gaspar – CRB 11ª/273-AM
T266c TEIXEIRA, Elton Pereira, 1964. A contribuição do APL de Piscicultura para o desenvolvimento Socioeconômico Regional no Estado do Amazonas / Elton Pereira Teixeira. – Manaus, AM : UFAM, 2009. 146 p.: il. color, figuras, gráficos, tabelas e quadros; 29,7 cm. Inclui bibliografia.
Dissertação (Mestrado) para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade Federal do Amazonas / Faculdade de Estudos Sociais, 2009.
Orientadora: Mariomar de Sales Lima, Ph.D.
1. Desenvolvimento econômico – Amazonas – Piscicultura 2. Desenvolvimento regional 3. Arranjo produtivo local I. Lima, Mariomar de Sales, Ph.D., orient. II. Título
CDU – 330.34 (811.3) : 639.3
ELTON PEREIRA TEIXEIRA
A CONTRIBUIÇÃO DO APL DE PISCICULTURA PARA O DESENVOLVIMENTO SÓCIOECONÔMICO REGIONAL NO ESTADO
DO AMAZONAS .
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional – PRODERE, da Universidade Federal do Amazonas – UFAM, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional.
Aprovado em 27/02/2009
BANCA EXAMINADORA
Profª Drª. MARIOMAR DE SALES LIMA Universidade Federal do Amazonas
Prof. Dr. NIOMAR LINS PIMENTA Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica
Profª. Drª. ANTONIETA DO LAGO VIEIRA Universidade Federal do Amazonas
É preciso que o melhor governo seja aquele que possua uma constituição tal que todo o cidadão
possa ser virtuoso e viver feliz.
Aristóteles
À minha família, pelo carinho e constante incentivo.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo amparo e fortalecimento durante toda minha vida; A minha querida Mãe Odete pelo seu amor incondicional; aos meus filhos Alexandre e Letícia pelo carinho dispensado; A minha orientadora, Profª Drª Mariomar de Lima Sales pelo seu empenho e orientação esmerada que foi fundamental para o desenvolvimento deste trabalho; Aos meus tios Dauto Pereira Teixeira e Lourdes Ribeiro Teixeira, pelo apoio e incentivo ao saber. Aos professores, na pessoa do Prof. Dr. Luis Roberto Coelho Nascimento e Prof. Dr. Mauro Thury de Vieira Sá pela dedicação e competência ao longo do curso; À EMBRAPA, na pessoa do Sr. José Nestor de Paula Lourenço; INPA, Sr. Jorge Daniel Indrusiak Fim, FUCAPI, Sr. Fernando Santos Folhadela pela disponibilidade e de estarem sempre prontos a ajudar. Aos meus amigos Paulo Henrique Gil de Freitas e Tatiana Melo de Aquino Gil de Freitas; Paulo Gilberto Ferreira e Francisca Freire Ferreira; Ronnie Cavalcante Pessoa; Suelânia Cristina Gonzaga de Figueiredo; Josenete Cavalcante Costa e Márcio Luiz Repolho Picanço pela generosidade e colaboração; A todos os participantes dos projetos PROCIMA e TANRE, os quais estiveram à disposição para os esclarecimentos; Na Comunidade Tarumã Mirim, Sr. Moisés Colaris; No Iranduba, Sr. Francisco Edmilson Ribeiro de Almeida; Em Maués Sra. Elizete Suzana Goes Correa, Edgar Cunha Maués e Luiz de Ross Aguiar; Aos colegas de turma que nos acompanharam durante todo o período, pela compreensão e amizade.
RESUMO
O desenvolvimento econômico é um fenômeno desejado por todos os povos. Através das políticas públicas, o governo viabiliza o desenvolvimento regional elaborando programas que atinjam as necessidades específicas de cada região. Dentre os programas mencionados destaca-se o de Plataforma Tecnológica do MCT que promove a vinculação das instituições de pesquisa com o setor produtivo, a fim de que estes, por meio da cooperação e de ações estratégicas, solucionem gargalos tecnológicos e possibilitem o desenvolvimento de APL’s de modo a favorecer o desenvolvimento sócio-econômico local. Com o intuito de conhecer o estágio de desenvolvimento do APL de Piscicultura vinculado ao citado no Estado do Amazonas, realizou-se este estudo de modo a identificar as suas contribuições para o desenvolvimento socioeconômico local. Para tanto, realizou-se um estudo de caso envolvendo os participantes dos Projetos PROCIMA e TANRE, utilizando-se como técnica de coleta de dados o formulário e a entrevista semi-estruturada. Os dados coletados foram analisados consoante as técnicas estatísticas e de análise de conteúdo. Os resultados mostram que durante a implementação dos projetos e do aporte financeiro do governo, houve um certo avanço quanto à solução de alguns gargalos identificados no cultivo de peixes, no entanto, não houve expansão de grande magnitude do APL. Os benefícios socioeconômicos foram pontuais, também ocorridos, no mesmo período, porém poucos deram continuidade ao negócio. As políticas públicas demonstraram-se frágeis e insustentáveis ao permitir o esvaziamento e fragmentação do APL. O estudo revelou ainda que o desenvolvimento do APL de piscicultura estagnou-se a partir do momento em que as ações estratégicas propostas para a solução dos gargalos não foram levadas adiante. As contribuições socioeconômicas locais proporcionadas pelo Programa Plataforma Tecnológica/APL do MCT foram a inclusão alimentar e o conhecimento. A necessidade, agora, é de formulação de novas políticas que permitam solucionar os gargalos pendentes dando continuidade no avanço do APL, aproveitando-se da difusão do conhecimento gerado nas comunidades ribeirinhas e dos resultados já obtidos pelas ações estratégicas, alcançadas pelo Programa do Governo na primeira tentativa.
Palavras-Chave: Desenvolvimento regional; Programa Plataforma Tecnológica; Arranjo Produtivo Local.
ABSTRACT
The economic development is a phenomenon desired for all the peoples. Through the public politics, the government makes possible the regional development elaborating programs that reach the specific necessities of each region. Amongst the mentioned programs it is distinguished of Technological Platform of the MCT that promotes the entailing of the institutions of research with the productive sector, so that these, by means of the cooperation and of strategically actions, solve neck technological and make possible the development of APL' s in order to favor partner-economic the development local. With intention to know the period of training of development of the APL of entailed Fish Culture to the cited one in the State of Amazon, this study was become fulfilled in order to identify its contributions for the local socioeconomic development. For in such a way, a case study was become fulfilled involving the participants of Projects PROCIMA and TANRE, using itself as technique of collection of data the form and the half-structuralized interview. The collected data had been analyzed consonant the statistical techniques and of content analysis. The results show that during the implementation of the projects and of it arrives in port it financial of the government, had a certain advance how much to the solution of some neck identified in the culture of fish, however, it did not have expansion of great magnitude of the APL. The socioeconomic benefits had been prompt, also occurrences, in the same period, however few had given continuity to the business. The public politics had demonstrated fragile and unsustainable when allowing the emptying and spelling of the APL. The study it disclosed despite the development of the APL of fish was stalled from the moment where the strategically actions proposals for the solution of the necks had not been taken ahead. The proportionate local socioeconomic contributions for the Program Technological/APL Platform of the MCT had been the alimentary inclusion and the knowledge. The necessity, now, is of formularization of new politics that allow to solve the hanging necks giving continuity in the advance of the APL, using to advantage itself of the diffusion of the knowledge generated in the marginal communities and of the results already gotten by the strategically actions, reached for the Program of the Government in the first attempt.
Word-Key: Regional development; Program Technological Platform; Local Productive Arrangements
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - CONSTRUÇÃO DE NOVO CANAL DE IGARAPÉ...................
GRÁFICO 2 - BENEFÍCIOS MAIS IMPORTANTES PARA O PROCIMA......
GRÁFICO 3 - VALEU A PENA COMEÇAR ESSE NEGÓCIO.........................
GRÁFICO 4 – BENEFÍCIOS MAIS IMPORTANTES PARA O TANRE............
GRÁFICO 5 - GERAÇÃO DE RENDA................................................................
GRÁFICO 6 - INCLUSÃO ALIMENTAR...........................................................
GRÁFICO 7 - REGULAMENTAÇÃO PELOS ÓRGÃOS COMPETENTES.....
GRÁFICO 8 - BUSCA DE MERCADO PARA PEQUENOS PISCICULTOR...
GRÁFICO 9 - CAPACITAÇÃO DOS PISCICULTORES EM TÉCNICA DE
CULTIVO................................................................................................................
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LISTA DE ABREVIATURAS
APEX – Agência de Promoção de Exportações e Investimentos do Brasil
APL – Arranjo Produtivo Local
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FUCAPI – Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPA – Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas
IPAAM – Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
MCT – Ministério de Ciência e Tecnologia
MDIC – Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio
NGTC – Núcleo de Gestão Tecnológica Compartilhada
PIN – Pólo Industrial de Manaus
PITCE – Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
PPA – Plano Plurianual
PROCIMA – Programa de Criação Intensiva de Matrinxã
SEPLAN – Secretaria de Planejamento do Estado
SPL – Sistema Produtivo Local
SUFRAMA – Superintendência da Zona Franca de Manaus
TANRE – Tanques-Rede
TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação
UFAM – Universidade Federal do Amazonas
LISTA DE QUADROS
QUADRO 01 - ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS OPORTUNIDADES DE
NEGÓCIOS......................................................................................................
QUADRO 02 - ANÁLISE DE CONTEÚDO DOS MOTIVOS QUE
LEVARAM A PARAR A CRIAÇÃO DOS PEIXES......................................
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LISTA DE TABELAS
1 GÊNERO.............................................................................................................................
2 ESTADO CIVIL.................................................................................................................
3 GRAU DE INSTRUÇÃO...................................................................................................
4 NÚMERO DE INDIVÍDUOS NA FAMÍLIA....................................................................
5 NÚMERO DE FILHOS......................................................................................................
6 PRINCIPAL ATIVIDADE ECONÔMICA DA FAMÍLIA................................................
7 RENDA FAMILIAR ORIUNDA DA PRINCIPAL ATIVIDADE
ECONÔMICA..........................................................................................................................
8 NÚMERO DE INDIVÍDUOS DA FAMÍLIA QUE TRABALHAM NA
PISCICULTURA.....................................................................................................................
9 TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NA COMUNIDADE..................................
10 VOCÊ ENCONTROU VANTAGENS OU DESVANTAGENS AO CRIAR
PEIXES.....................................................................................................................................
11 FACILITARIA A MANUTENÇÃO DO PROJETO E AS VENDAS SE
HOUVESSE UMA COOPERATIVA......................................................................................
12 HOUVE REUNIÃO PARA TRATAR DA MELHORIA DA PRODUÇÃO E
COMERCIALIZAÇÃO...........................................................................................................
13 PROCURARAM EM CONJUNTO UM COMPRADOR PARA O
EXCEDENTE..........................................................................................................................
14 CONTINUA A CRIAR PEIXES.........................................................................................
15 MAIORES DIFICULDADES DURANTE A CRIAÇÃO DE PEIXES.............................
16 RECEBE ALGUM APOIO FINANCEIRO PARA CONTINUAR A CRIAÇÃO DE
PEIXES.....................................................................................................................................
17 SUA VIDA MELHOROU COM A CRIAÇÃO DE PEIXE...............................................
18 FILHOS NA ESCOLA.......................................................................................................
19 COMO FICOU A ALIMENTAÇÃO DA SUA FAMÍLIA................................................
20 MELHORIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA..........................................................................
21 MELHORIA NA RENDA..................................................................................................
22 COM A RENDA DA CRIAÇÃO DE PEIXE PUDE COMPRAR.....................................
23 HOUVE REFORMAS NA CASA......................................................................................
24 MELHORIA NO TRANSPORTE......................................................................................
25 MANTÉM AINDA CONTATO COM AS INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS NO
PROJETO.................................................................................................................................
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26 MELHORIAS NA COMUNIDADE...................................................................................
TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO NA COMUNIDADE.......................................
28 VOCÊ ENCONTROU VANTANGENS OU DESVANTAGENS AO CRIAR
PEIXES.....................................................................................................................................
29 FACILITARIA A MANUTENÇÃO DO PROJETO E AS VENDAS SE HOUVESSE
UMA COOPERATIVA............................................................................................................
30 HOUVE REUNIÃO PARA TRATAR DA MELHORIA DA PRODUÇÃO E
COMERCIALIZAÇÃO ..........................................................................................................
31 PROCURARAM EM CONJUNTO UM COMPRADOR PARA O EXCEDENTE
32 CONTINUA A CRIAR PEIXES........................................................................................
33MAIORES DIFICULDADES DURANTE A CRIAÇÃO DE PEIXES.............................
34 RECEBE ALGUM APOIO FINANCEIRO PARA CONTINUAR A CRIAÇÃO DE
PEIXES.....................................................................................................................................
35 SUA VIDA MELHOROU COM A CRIAÇÃO DE PEIXES.............................................
36 FILHOS NA ESCOLA........................................................................................................
37 COMO FICOU A ALIMENTAÇÃO DA SUA FAMILIA................................................
38 MELHORIA NA SAÚDE DA FAMÍLIA..........................................................................
39 MELHORIA NA RENDA..................................................................................................
40 COM A RENDA DA CRIAÇÃO DE PEIXE PUDE COMPRAR....................................
41 HOUVE REFORMAS NA CASA......................................................................................
42 MELHORIA NO TRANSPORTE......................................................................................
43 MANTÉM AINDA CONTATO COM AS INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS NO
PROJETO.................................................................................................................................
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................
1.1 Tema e Problema de Pesquisa.....................................................................................
1.2 Objetivos da Pesquisa..................................................................................................
1.2.1 Objetivo Geral..........................................................................................................
1.2.2 Objetivos Específicos...............................................................................................
1.3 Justificativa Teórica e Prática.....................................................................................
1.4 Estrutura do Trabalho .................................................................................................
2 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................
2.1 Desenvolvimento Regional........................................................................................
2.1.1 Desigualdades da distribuição das atividades.......................................................
2.2 Concepções teóricas de desenvolvimento regional..................................................
2.2.1 Primeira geração de políticas regionais..................................................................
2.2.2 Segunda geração de políticas regionais.................................................................
2.2.3 Terceira geração de políticas regionais: a síntese exógeno-endógeno..................
2.3 Revolução tecnológica, sociedade do conhecimento e inovação local...................
2.3.1 Transição do Padrão Fordista...............................................................................
2.3.2 Os distritos industriais...........................................................................................
2.3.2.1 Distritos industriais como modelo de desenvolvimento econômico..................
2.3.3 Teoria de aglomeração padrão..............................................................................
2.3.4 O padrão mais intensivo em conhecimento e os novos formatos organizacionais
2.4 Os arranjos produtivos locais...................................................................................
2.4.1 Resultado das ações interativas entre diversos atores...........................................
2.4.2 Conceitos e características dos arranjos produtivos locais.....................................
2.4.3 Desenvolvimento dos APLs em diferentes ambientes econômicos.......................
2.4.4 Replicabilidade do modelo italiano dos distritos...................................................
2.5 Políticas de desenvolvimento regional......................................................................
3 METODOLOGIA......................................................................................................
3.1 Especificação do Problema de Pesquisa....................................................................
3.2 Caracterização da pesquisa.........................................................................................
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3.2.1 Tipo da pesquisa......................................................................................................
3.2.2 Natureza da pesquisa...............................................................................................
3.3 População e amostra...................................................................................................
3.3.1 Sujeitos da Pesquisa................................................................................................
3.4 Instrumentos de coleta de dados...............................................................................
3.4.1 Fontes de dados Secundários..................................................................................
3.4.2 Coleta de dados primários.......................................................................................
3.5 Análise e interpretação dos dados.............................................................................
3.5.1 Tratamento dos dados qualitativos.........................................................................
3.5.1.1 Análise de conteúdo............................................................................................
3.5.2 Tratamento dos dados quantitativos......................................................................
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES..............................................................................
4.1 O Programa Plataforma Tecnológica/APL................................................................
4.1.1 Projeto PROCIMA................................................................................................
4.1.2 Projeto TANRE......................................................................................................
4.2 Perfil socioeconômico dos participantes do projeto PROCIMA e TANRE..............
4.3 Análise do projeto PROCIMA...................................................................................
4.3.1 Avanço e expansão do projeto PROCIMA.............................................................
4.3.2 Benefícios Socioeconômicos gerados pelo projeto PROCIMA..............................
4.4 Análise do Projeto TANRE.........................................................................................
4.4.1 Avanço e expansão do projeto TANRE...................................................................
4.4.2 Benefícios socioeconômicos grados pelo projeto TANRE......................................
4.5 Análise comparativa entre os projetos PROCIMA e TANRE....................................
4.5.1 Variáveis Socioeconômicas......................................................................................
4.5.1.1 Geração de renda...................................................................................................
4.5.1.2 Inclusão alimentar.................................................................................................
4.5.2 Análise da solução dos principais gargalos identificados no APL..........................
4.5.2.1 Regulamentação pelos órgãos competentes..........................................................
4.5.2.2 Busca de mercado para pequenos piscicultores....................................................
4.5.2.3 Capacitação dos piscicultores em técnica de cultivo............................................
4.6 Análise geral dos resultados alcançados com os projetos sob a ótica dos
representantes das instituições partícipes.........................................................................
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5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES...................................................................
REFERÊNCIAS.............................................................................................................
APÊNDICE 1 - FORMULÁRIO APLICADO ÀS COMUNIDADES......................
APÊNDICE 2 - FORMULÁRIO APLICADO AOS COORDENADORES.............
ANEXO 1 - RESOLUÇÃO CEMAAM/Nº 01/08.........................................................
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1 INTRODUÇÃO
As disparidades econômicas regionais são evidentes no mundo e
mobiliza os dirigentes das nações, no sentido de encontrar saídas, para a má
distribuição de renda entre as regiões. Neste sentido, salienta-se que as políticas
públicas são ações utilizadas pelo governo para que a renda chegue à região
mais pobre e permita o seu desenvolvimento.
A concentração de renda em regiões específicas, causada pela dotação de
fatores, histórico de ocupações no passado e localização geográfica, faz surgir
dilemas de ordem socioeconômicos, políticas e fiscais entre os governantes dos
Estados no País. Segundo Pires (1999, pg. 583) “constantemente nos deparamos
com notícias a respeito das pressões políticas advindas das regiões nas quais o
desenvolvimento econômico encontra-se mais defasado”.
No caso do Brasil, é imperioso observar que a estrutura do sistema
político brasileiro permite se coloque em pauta as reivindicações de tais regiões,
ensejando sua transformação em políticas efetivas, cujo grau de eficiência na
atenuação dos desníveis econômicos regionais tem-se mostrado bastante
variável.
Segundo Galvão (2007), o Brasil possui uma característica singular, que
intriga qualquer analista social. Não há no mundo outro país de nível de renda e
qualidade de vida assemelhada que apresente tamanhas desigualdades. Na
estatística dos Relatórios Anuais do Banco Mundial ou em publicações análogas
de outros organismos internacionais, apenas alguns poucos países africanos de
baixos níveis de renda per capita têm cifras equiparáveis.
A situação brasileira de país de média renda e elevada desigualdade
constitui um quase mistério socioeconômico diante da invejável trajetória de
crescimento que ao longo de quase todo o século passado foi empurrando
frações cada vez maiores da população para fora dos níveis críticos de pobreza,
beneficiando afortunados e mantendo outros excluídos dos frutos do
desenvolvimento capitalista. Complementa Galvão (2007 p.336) “na raiz dos
dilemas de desenvolvimento do país estão, assim, graves desproporções que
impedem que os benefícios do crescimento se alastrem por uma camada mais
ampla da população”.
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Na análise de Pires, desde os anos 70, é possível constatar uma nítida
tendência de desconcentração econômica: das regiões e estados mais ricos do
Sul/Sudeste para o Nordeste, Norte e Centro-Oeste e das áreas metropolitanas
para o interior dos estados. O grande protagonista dessa desconcentração foi o
Estado, mediante suas políticas regionais (SUDAM, SUDENE) políticas
setoriais (de apoio à agricultura, por exemplo), políticas exportadoras e por
meio dos investimentos diretos das empresas estatais.
Esses problemas de descentralização estão relacionados ao planejamento
regional e a definição de políticas de desenvolvimento regionais. No que tange
ao Amazonas e suas peculiaridades é preciso ainda pensar numa política
desenvolvimentista sustentável sem a devastação da floresta e que possibilite
benefícios ao interior do estado face à concentração de renda na capital.
Na atualidade, a tentativa de solucionar parte desses problemas de
concentração de riquezas e desenvolvimento regional, fez com que o Governo
lançasse no ano de 2001 novas políticas com o objetivo de desenvolver de
forma sustentável a região no seu aspecto ambiental, tecnológico e Inovativo,
social e econômico e de desconcentração espacial. Dentre as ações
implementadas no âmbito dessas políticas tem-se O Programa Plataformas
Tecnológicas/APL, que foi implantado sob a responsabilidade estratégica do MCT
(Ministério de Ciência e Tecnologia), no caso específico do Estado do Amazonas, foram
selecionadas dez plataformas tecnológicas. Dessas, foram identificadas oito arranjos
produtivos locais passíveis de serem contemplados nos projetos a serem encaminhados
para financiamento. São eles: Fitoterápicos, Fitocosmético, Madeireiro, Piscicultura,
Floricultura, Nutricêuticos/Complementos alimentares, Fruticultura e Microbiologia
industrial.
Dos arranjos produtivos mencionados foram selecionados 04 (quatro)
considerados os mais representativos e de maior impacto: Fitoterápico e Fitocosmético,
Fruticultura, Madeireiro e Piscicultura. A criação desses APL’s no Amazonas passou a
ser de relevante interesse a investigação quanto aos benefícios que trouxeram para o
desenvolvimento da região.
1.1 Tema e Problema de Pesquisa
O Programa Plataforma Tecnológica/APL destina-se a vincular as
instituições de pesquisa ao setor produtivo, visando solucionar os gargalos
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tecnológicos de determinadas áreas prioritárias em cada Estado. Essas
características permite a cooperação e ações conjuntas entre os atores
participantes os quais se unem em ações estratégicas possibilitando o
desenvolvimento do APL.
No caso da Piscicultura Familiar escolhida para priorizar essas ações
estratégicas implementou-se dois projetos para produção de peixes com
tecnologias distintas apropriadas para cada região. O fato desses centros
produtivos estarem aglomerados em determinada região, permite-se estudar este
evento com uma abordagem própria dos arranjos produtivos locais.
A cooperação entre pequenas empresas pode ser explorada como possível
estratégia de sobrevivência no mercado competitivo, uma vez que, atuar de
forma isolada pode significar a perda de forças e a morte prematura do
empreendimento. O modelo associativo de pequenas empresas apresenta-se,
assim, como oportunidade de obtenção de vantagem competitiva sustentada.
Para que se pudesse desenvolver o APL de Piscicultura e com isso gerar
benefícios para a comunidade era necessário dar continuidade a solução dos
demais gargalos apontados dentro do mesmo.
No sentido de compreender e avaliar o Programa Plataforma
Tecnológica/APL implementado pelo MCT no Amazonas formulou-se o
seguinte problema de pesquisa: Quais as contribuições do APL de piscicultura
para com o desenvolvimento socioeconômico regional no Estado do
Amazonas?
O questionamento acima configura nas seguintes preocupações: a) Houve
avanço no APL de Piscicultura? b) Essa experiência melhorou as condições de
vida das pessoas envolvidas no Projeto e no entorno da região?
A pesquisa se delineia de acordo com os acontecimentos que
determinaram sua direção, tendo início sua primeira etapa na busca das
instituições envolvidas no Programa Plataforma Tecnológica, para em seguida,
através do critério de maior relevância, escolher a instituição proponente dos
projetos e aquelas que coordenaram os mesmos como fonte de dados e
aplicação de entrevistas.
Após a identificação das instituições, foi feito o reconhecimento das
comunidades onde foram implementados os projetos e o levantamento das
famílias contempladas. A escolha do formulário como método de coleta de
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dados aplicados junto às famílias nas comunidades proporcionou um contato
direto entre sujeito da pesquisa e pesquisador no ambiente onde foram
construídos os canais de igarapés e tanques-redes, as duas tecnologias utilizadas
pelo Programa Plataforma Tecnológica/APL.
As outras etapas reuniram oportunidades de acesso às instituições
envolvidas nos projetos para análise dos relatórios técnicos; a reunião de
material bibliográfico e sua organização para dar sustentação às respostas
levantadas no problema de pesquisa e sua conseqüente descrição de acordo com
o método proposto de estudo de caso com análise da estatística descritiva.
1.2 Objetivos da Pesquisa
Para identificarmos as contribuições dos APLs de Piscicultura para o
desenvolvimento socioeconômico regional no Estado do Amazonas, será necessário
esclarecer qual a fração da problemática que circunscreve este tema. Para Bêrni (2002,
pg. 273) “os objetivos são questões derivadas da problemática geral que serão
respondidas ao final do estudo”. Sugere ainda que seja altamente desejável que se tenha
clareza suficiente para estabelecer não apenas os objetivos gerais, mas também os
objetivos específicos do estudo.
1.2.1 Objetivo Geral
O objetivo geral deste estudo consiste em conhecer o estágio de
desenvolvimento do APL de Piscicultura do Programa Plataformas
Tecnológicas no Estado do Amazonas, de modo a identificar as suas
contribuições para o desenvolvimento socioeconômico local.
1.2.2 Objetivos Específicos
Identificar os APLs de piscicultura no Estado do Amazonas
implementados no Programa de Plataformas Tecnológicas do MCT;
Mapear os estágios de expansão dos citados arranjos;
Averiguar os benefícios socioeconômicos gerados pela implantação dos
APLs junto às comunidades;
Verificar as Políticas Governamentais que serviram de eixo de
sustentação aos projetos.
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1.3 Justificativa Teórica e Prática
O desenvolvimento econômico revela-se como um fenômeno amplamente
desejado pelos povos, uma vez que o ser humano almeja o aprimoramento da sua
qualidade de vida, o que só é possível no momento em que as necessidades e desejos
passam a ser atendidos adequadamente. Todavia, o desenvolvimento constitui um
grande desafio que deve ser vencido, exigindo assim um esforço muito grande das
nações que o perseguem.
Apresenta-se como um grande desafio para os governos a implementação de um
plano nacional de longo prazo, contendo o planejamento regional e a definição de
políticas de desenvolvimento regional, levando em consideração as devidas
particularidades de cada região. No entanto surge outro desafio: a transmissão política
desse planejamento ao longo do tempo.
A história demonstra tentativas de planejamentos isolados de cada governo,
interrompidos com o término dos devidos mandatos políticos, tanto no contexto
nacional quanto regional. O que se pode contar dessa história, são fragmentos de uma
economia com potencial de crescimento e desenvolvimento que luta contra as barreiras
internas impostas pela própria desagregação.
Ao contrário dessa desagregação do planejamento da política de
desenvolvimento nacional, estudos demonstram que as aglomerações de empresas,
geram vantagens pelo fato de estarem concentradas no mesmo espaço geográfico. Essa
dinâmica possibilita às empresas externalidades (economias externas) como acesso a
mão-de-obra especializada; fluxo de matéria prima e serviços de fornecedores
especializados e transbordamento de conhecimento e tecnologia. Ações coordenadas e
conjuntas de cooperação entre os atores (competidores ou não: empresas, governos,
instituições, associações, etc.) proporcionam outros ganhos as empresas, como por
exemplo, inovação. Existem algumas denominações para esses aglomerados industriais:
Pólos industriais; Clusters; Distritos industriais; agrupamentos ou APLs. Esses arranjos
produtivos não deixam de ser uma ação estratégica de fortalecimento da
competitividade para as micro, pequenas e médias empresas, diminuindo os riscos de
investimentos e a fragilidade dessas empresas diante do mercado globalizado.
Muitos estudos e pesquisas são empreendidos na tentativa de explicar o
fenômeno da sinergia que se cria, quando um aglomerado de empresas na mesma área
geográfica, as quais realizam ações conjuntas, conseguem com isso obter ganhos
21
inovativos e de produtividade. Cada estudo empírico traz informações valiosas, muitas
vezes, não observadas anteriormente. Com isso a importância deste estudo demonstrará
de forma atual, primeiro o significado do trabalho conjunto entre atores que
notadamente trabalharam sempre isolados, fragmentando resultados, os quais que
depois somados não resultariam nos ganhos a mais do fenômeno da sinergia criada pelo
todo.
Justifica-se o interesse por esta pesquisa pela importância que os arranjos
produtivos locais têm na geração de empregos, desenvolvimento tecnológico,
exportações e pelo próprio interesse de toda a sociedade: como órgãos públicos,
instituições privadas e organizações sociais diversas voltados para o bem estar
social e crescimento econômico sustentável.
No Brasil, também vêm aumentando o interesse pelo fenômeno da consolidação
de clusters industriais. No plano acadêmico é demonstrado pelos diversos trabalhos
sobre os assuntos, nos quais é exaltado o crescimento econômico obtido nas regiões que
optaram por esse modelo frente às outras localidades. A possibilidade de estruturação
desses clusters em regiões não vinculadas diretamente às áreas tradicionais (região
sudeste, por exemplo), estimulou o Governo a implantar o Plano de desenvolvimento de
APL’s.
A relevância do tema justifica-se em função de particularidades da região
amazônica, a qual teve seu desenvolvimento centrado no modelo de Pólo Industrial,
configurando convergência de recursos para a cidade de Manaus para atender à
demanda do PIM (Pólo Industrial de Manaus). O resultado dessa política
desenvolvimentista foi a paralisação das forças de crescimento econômico no interior do
Estado. A concepção de desenvolvimento via Arranjo Produtivo Local, permite
desconcentração espacial dos adensamentos industriais, integrando o desenvolvimento
do Estado do Amazonas de maneira a englobar o interior.
Do ponto de vista teórico, a pesquisa busca elucidar os resultados das políticas
públicas no que se refere ao desenvolvimento regional com a utilização do conceito de
arranjo produtivo local para que se possa servir de base a elaboração de trabalhos
futuros.
Podem-se encontrar referências sobre APL na literatura desde o século XIX
quando Alfred Marshall (1982) tratou das externalidades geradas no fenômeno de
aglomeração industrial na Inglaterra. Este tema muito discutido hoje pela academia
encontra subsídios também na década de 70 e 80 também foi alvo de estudo o caso da
22
Terceira Itália, região pobre, devastada pela segunda guerra mundial e que pequenas
empresas se uniram, cooperativamente e de forma coordenadas. Hoje é uma região da
Península Itálica, reconhecida como uma das mais industrializadas e dinâmicas do
mundo. Possui a melhor renda per capita da Europa e é considerada o berço de um novo
modelo de produção industrial (URANI,COCCO,GALVÃO, 2002).
Já do ponto de vista prático, essa pesquisa aborda a possibilidade da geração de
renda através da criação de peixes, pela piscicultura familiar utilizando-se o conceito de
APL. Para que o APL seja desenvolvido e alcance os resultados esperados o mesmo
passa por diversas etapas, onde deverão ser solucionados alguns gargalos, através de
ações estratégicas. Este estudo pode subsidiar famílias e também empresários na
abertura de novos negócios utilizando-se o cooperativismo entre eles. A região
amazônica dispõe de importantes potencialidades para capitalizar em seu favor,
principalmente através da correta identificação e aproveitamento dos seus recursos
naturais de forma sustentável.
O presente estudo buscará focalizar o APL de Piscicultura definido pelo
programa do Governo e avaliar os avanços empreendidos pelo mesmo. Além disso,
conhecer os benefícios socioeconômicos gerados na comunidade e seu entorno.
Particularmente, constatar no período pesquisado as Políticas do governo através das
ações conjuntas entre os atores envolvidos e poder aquilatar a importância dos
resultados gerados por elas.
1.4 Estrutura do Trabalho
A estrutura do trabalho está divida em cinco partes. O primeiro capítulo, a
introdução que trata da apresentação geral do trabalho. No segundo capítulo a revisão de
literatura que faz referência às pesquisas e conhecimentos já construídos e publicados
sobre o assunto. O terceiro capítulo trás os caminhos metodológicos utilizados para a
condução do trabalho. O quarto capítulo apresenta os resultados e discussões, onde é
demonstrado os dados obtidos na pesquisa, juntamente com a análise e interpretação dos
resultados. Finalmente o quinto e último capítulo apresenta a etapa da conclusão e
recomendações, onde será demonstrada a as deduções tiradas dos resultados do
trabalho.
23
2 REVISÃO DE LITERATURA
Esta seção contém os aportes teóricos que irão subsidiar todo o processo de
investigação científica. O objetivo não é esgotar o assunto, mesmo porque teríamos que
mergulhar numa vastidão de conceitos e discussões. No entanto, o trabalho investiga o
tema arranjo produtivo local, para termos subsídios e avaliarmos os resultados de alguns
projetos implementados na região amazônica, fruto de políticas governamentais com
objetivos definidos de desenvolvimento regional.
Desta forma, extrair da literatura existente, conhecimentos sobre
desenvolvimento regional, políticas de desenvolvimento e arranjo produtivo local,
servirão de base para a interpretação, entendimento e resolução do problema de
pesquisa.
O levantamento teórico aborda assuntos relacionados ao tema pesquisado, de
maneira a revelar-se amplo, em princípio, para em seguida focalizar especificamente a
idéia principal, não deixando, porém, de integrar as diversas discussões para que se
tornem organizadas e realmente sirvam para esclarecer o problema que instiga esta
pesquisa.
Partindo-se dos desdobramentos da teoria do desenvolvimento regional no pós-
guerra, a contextualização histórica permitirá a compreensão de como os pensadores
tratavam e buscavam soluções aos problemas das diferenças regionais.
Como nos dias atuais, essa busca continua sendo uma problemática a ser
solucionada; atualiza-se desde aquele período (segunda guerra mundial), o campo fértil
das teorias do desenvolvimento regional que se delineiam conforme se mudam os
paradigmas econômicos.
Diante destas mudanças, surge a concepção dos Sistemas Produtivos e
Inovativos Locais1 e suas diversas nuanças. A aglomeração de empresas que criam
sinergias próprias através de ações interativas e de cooperação entre diversos atores é
objeto de estudo desde que surgiu o caso mais conhecido da Terceira Itália, e que hoje
se discute e estuda seus aspectos sob diversos nomes como, por exemplo, clusters,
arranjos produtivos locais (APLs), distritos industriais, pólos industriais, aglomerações
de empresas dentre outros.
1 Termo cunhado pela Redesist, instituição da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que mais adiante voltaremos à tona para explicar as diferenças entre os diversos termos e qual enfim será nosso eixo de trabalho.
24
Entendendo, então, que os efeitos da aglomeração local das atividades
econômicas podem proporcionar algum benefício à população, vários autores têm sido
enfáticos em defender o empreendimento de políticas públicas para a promoção de
clusters industriais em distintas regiões do território nacional, como forma de mitigar as
desigualdades regionais ou até mesmo de reverter situações de um circulo vicioso para
um circulo virtuoso de desenvolvimento. (GALINARI et al 2002).
Discutem-se as necessidades de políticas públicas sérias para que se possa haver
o desenvolvimento regional, demonstrando algumas ações do governo na tentativa de
solucionar o grave problema da má distribuição de renda no país.
Finalmente, apresenta-se o significado do Programa Plataforma
Tecnológica/APL do governo federal através do MCT (ministério da ciência e
tecnologia), mais uma tentativa de atenuar as desigualdades regionais, o qual é o foco
deste estudo.
2.1 Desenvolvimento regional
Na visão de Ferreira (1989) para se compreenderem os propósitos e o lugar
ocupado pela Economia Regional nos estudos econômicos e no âmbito da teoria
econômica geral, é necessária que se esclareça o conteúdo das categorias básicas de
análise desse ramo da economia, tais como “espaço, economia espacial” e “economia
regional”. Esses conceitos se consolidaram, particularmente, na década de 1950.
A Economia Espacial e a Economia Regional fornecem elementos substanciais
para o entendimento dos processos de consolidação das atividades nas regiões. A
concentração do capital industrial e a aglomeração das atividades econômicas em
poucas localizações geográficas distribuídas irregularmente representam, de fato, os
problemas centrais da Economia Espacial e Regional, de tal forma que os problemas de
desenvolvimento sócio-econômico regional são também problemas de localização.
Segundo Pires (1998) um primeiro conceito fundamental a balizar o
conhecimento sobre o desenvolvimento econômico regional é o conceito de espaço
econômico. O primeiro conjunto de abordagens concentrava-se basicamente num
esforço em entender como as atividades econômicas se distribuíam no meio geográfico.
Posteriormente, Perroux, criticando esta abordagem estritamente euclidiana do espaço,
substitui a idéia de espaço tridimensional na economia pela de espaço abstrato, criando
25
o conceito de espaço econômico, o qual é determinado por um conjunto de relações
abstratas, independente da localização geográfica.
Explica ainda Ferreira (1989) que cumpre à análise espacial estudar os tipos
específicos de atividades econômicas, ou seja, questionar os problemas relativos à
proximidade, concentração e dispersão das atividades e às semelhanças ou diferenças
dos padrões de distribuição geográfica dessas atividades.
A Economia Regional, do ponto de vista da economia, é o estudo da
diferenciação e inter-relação de áreas em um universo, onde os recursos estão
distribuídos desigualmente e são imperfeitamente móveis, com ênfase particular n a
aplicação ao planejamento dos investimentos em capital social básico, para mitigar os
problemas sociais criados por essas circunstâncias. Para alguns autores é de suma
importância não isolar a análise regional devido ao seu profundo caráter interdisciplinar.
2.1.1 Desigualdades da distribuição das atividades
A concentração das atividades em pontos do espaço geográfico-político-
administrativo de uma nação se torna uma preocupação crescente dos políticos e
planejadores (FERREIRA, 1989, p. 58).
O fenômeno da existência de regiões dentro de um mesmo país, que mostram
diferentes níveis de desenvolvimento econômico, é bastante conhecido em todo o
mundo. O Brasil é um dos países que, freqüentemente, é mencionado como exemplo
nos estudos de desigualdades regionais e como um caso de dualismo extremamente
grave, onde as diferenças econômicas e sociais entre o Norte, Nordeste e o Centro-Sul
são bem amplas, seja em termos absolutos, seja em termos relativos, por comparação à
situação em outros países.
Um fato evidente, mas nem sempre considerado em todas as suas conseqüências,
é que as atividades econômico-sociais ocupam um dado lugar no espaço geográfico e
aparecem concentradas em alguns pontos desse espaço.
Ferreira (1989, p. 59) complementa:
Conhecer as causas e as repercussões dessas ocorrências vem se tornando indispensável para o planejamento econômico e social. As disparidades dos níveis de desenvolvimento e os crescentes problemas urbanos advindos do crescimento acelerado das populações das cidades, devido ao intenso processo de migrações rurais-urbanas, colocam-se entre os principais problemas do desenvolvimento sócio-econômico.
26
As questões referentes à concentração e dispersão das atividades assumem, na
sua projeção histórica do presente, uma posição de destaque, na medida em que elas
chamam a atenção para a tendência à aglomeração das atividades produtivas. Esse
fenômeno estrutural assume papel de grande relevância na compreensão das
disparidades de desenvolvimento econômico entre regiões.
As teorias recentes da economia regional acrescentam conceitos novos e uma
visão interdisciplinar para analisar as desigualdades regionais de renda, riqueza e
crescimento econômico.
2.2 Concepções teóricas de desenvolvimento regional
O período que vai do final da Segunda Guerra até o início dos anos 1970 ficou
conhecido na literatura como os Anos Dourados (Golden Age) do capitalismo. A
economia mundial apresentou taxas de crescimento significativas, até hoje não
superadas. Aliado a este crescimento, e, em certa medida, em função dele, construiu-se
o chamado Sistema de Bem-Estar Social (primeira geração de políticas regionais).
Para Diniz e Crocco (2006), há uma clara divisão temporal nas concepções
teóricas de desenvolvimento regional. Este marco temporal é dado dos anos 1970,
quando a economia mundial vivenciou crises simultâneas e as mudanças do paradigma e
do padrão tecnológico: a crise do petróleo de 1973 e 1979, a crise do Estado Keynesiano
de Bem-Estar Social e a emergência de um novo padrão tecnológico, liderado pela
microeletrônica, informática e telecomunicações.
É neste contexto que pode ser observada uma clara transição no que diz respeito
à estrutura das políticas regionais utilizadas. Até meados os anos 1970, notam-se
políticas regionais com ênfase na demanda e na correção das disparidades inter-
regionais, caracterizadas como políticas keynesianas. Após esse período, o desenho de
políticas regionais centra-se na estrutura de caráter descentralizado e focado na
produtividade endógena das economias regionais e locais, aqui denominadas de
políticas de enfoque na competitividade (segunda geração de políticas regionais).
Essa mudança de concepção de política tem sua origem em uma gama variada de
fatores, que podem ser sintetizados, em três grandes blocos: a) mudanças teóricas e
ideológicas na concepção e no papel do Estado, criticando a excessiva intervenção deste
e advogando sua retirada; b) críticas teóricas e empíricas ao pequeno alcance social das
27
políticas regionais, resgatando a questão das classes sociais nos padrões de
desenvolvimento capitalista; e c) desafio dos novos fenômenos não explicados pela
teoria anterior, a exemplo dos processos de desindustrialização e crise dos padrões
fordistas de organização produtiva, das mudanças da divisão internacional do trabalho e
da emergência de novos padrões tecnológicos e novas regiões produtivas.
Segundo ainda Diniz e Crocco (2006, p. 10), “podem-se demarcar o que se
entende por fundamentos teóricos das três gerações de políticas regionais”.
2.2.1 Primeira geração de políticas regionais
Os anos de 1950 e 1960 experimentam o que foi chamado por alguns autores de
primeira geração. Conhecida como perspectiva Keynesiana de análise, por que estas
políticas foram formuladas em um ambiente teórico fortemente influenciado pelo
keynesianismo. Esta corrente de pensamento coloca em questionamento a hipótese de
existência de mecanismos automáticos de correção dos mercados e, portanto,
defendendo a necessidade de uma intervenção externa na economia. Entre os mercados
que não se ajustam automaticamente estaria o de trabalho, certamente o mais importante
nesta abordagem. O não ajuste automático nesse mercado significa admitir a existência
de equilíbrio com desemprego involuntário, hipótese esta negada tanto por autores
clássicos, como Ricardo, quanto pela corrente neoclássica. Coloca Diniz e Crocco
(2006, p. 10):
A principal conseqüência, no tocante às políticas econômicas da abordagem Keynesiana, era colocar a obtenção do pleno emprego como objetivo central da política macroeconômica. Assim sendo, a atuação do Estado na economia seria necessária para a obtenção do pleno emprego.
Esta concepção macroeconômica mais geral influenciou várias interpretações
teóricas do desenvolvimento regional e das políticas necessárias para combater os
desequilíbrios existentes. Tais teorias postulavam que o desenvolvimento de uma região
estaria condicionado pela posição ocupada por esta região em um sistema hierarquizado
e assimétrico de regiões, cuja dinâmica estava em grande medida fora da região. Esta
era a perspectiva que estava presente nas teorias de centro-periferia e da dependência e
modelos de causação cumulativa (Myrdal, 1957; Kaldor, 1957; Hirschman, 1958) apud
28
Diniz e Crocco (2006, p. 11). Estas teorias mostravam claramente os mecanismos que
determinavam a concentração do investimento em determinadas regiões em detrimento
de outras.
Como interpreta Diniz e Crocco (2006), de forma semelhante, a abordagem
Keynesiana também se faz presente na análise de pólos de crescimento de Perroux
(1955) e Boudeville (1968) que combinam a existência de efeitos acumulativos de
escala e aglomeração com efeitos de demanda induzida.
Embora distintas em suas derivações de política econômica, as teorias
mencionadas partilhavam o entendimento de que o desenvolvimento regional não era
garantido automaticamente pelas forças de mercado, sendo necessária à intervenção
estatal para que os desequilíbrios regionais fossem superados. Assim sendo, estas
teorias pressupunham estratégias e políticas deliberadas para impulsionar o
desenvolvimento regional, entre as quais se destacam:
Big-Push
Como demonstrado por Diniz e Crocco (2006), Rosenstein-Rodan
(1943) ao analisar a situação economicamente deprimida de algumas
regiões européias, detectou como principais motivos deste atraso a
escassez de capital, a ausência de complentaridade da demanda local e a
existência de um mercado de capitais inexpressivo. Para enfrentar este
problema, é proposto um grande pacote de investimentos promovidos
pelo Estado.
Pólos de crescimento
A partir dos trabalhos de Perroux, os pólos de crescimento baseavam-se
em uma racionalidade similar aos projetos Big-Push. A idéia central
consistia na instalação, em regiões atrasadas. De uma indústria motriz
que, através de seus efeitos a montante e a jusante se tornaria um pólo de
crescimento e estimularia o desenvolvimento da região.
29
Prioridades para o setor industrial
Em ambas as estratégias anteriormente citadas, como em várias outras,
as políticas de desenvolvimento regional estivera, em sua grande
maioria, direcionadas ao setor industrial. Com isso, ficava clara a
perspectiva, exposta nos trabalhos de causação cumulativa (Myrdal,
1957; Kaldor 1957; Hirschman, 1958), de que para a superação das
diferenças regionais era necessário também eliminar, ou pelo menos
diminuir, as diferenças entre as estruturas produtivas das regiões,
implicando um significativo processo de industrialização de regiões
atrasadas. Como este processo não ocorreria naturalmente, a ação estatal
se fazia necessária.
Mecanismos de compensação para as regiões atrasadas
Vários mecanismos de compensação para as regiões atrasadas foram
implementados, em conjunto ou não com as várias estratégias anteriores,
sendo o mais comum o sistema de incentivos fiscais. O princípio básico
aqui é utilizar o Estado para subsidiar a atração de empresas de forma a
compensar as desvantagens locacionais em regiões atrasadas, fazendo
com que o Estado garanta parcela da lucratividade de empresas. Neste
contexto, a atração de investimento externo, através destes subsídios foi
amplamente utilizada.
Investimentos estratégicos do setor público
a partir do entendimento da necessidade do gasto autônomo do Estado
para garantir a obtenção do pleno emprego, várias estratégias de
investimento estatal em regiões atrasadas foram desenvolvidas. Tais
investimentos poderiam ser de gasto em infra-estrutura ou mesmo na
instalação de empresas estatais nestas regiões, quando a iniciativa
privada não se dispunha para tanto.
Restrições à localização de atividades em determinadas regiões
Por fim, e não menos importante, em alguns casos foram utilizados
mecanismos regulatórios para restringir a localização de atividades em
30
determinadas regiões, em uma tentativa de evitar a concentração,
especialmente em algumas cidades, e desviar tais atividades para outras
regiões, como foi o exemplo clássico da política francesa,
principalmente no que se referia a Paris.
Desta forma, no período anterior aos anos 1970, a formulação teórica em
economia regional foi fortemente influenciada pelo paradigma macroeconômico
vigente, qual seja, a não existência de mecanismos naturais que garantiriam a obtenção
do pleno emprego na economia. Para Diniz e Crocco (2006, p. 12), “do ponto de vista
regional, isto implicaria dizer que o crescimento de regiões e países não ocorreria de
forma equilibrada e no sentido de uma convergência de crescimento e
desenvolvimento”. Ao contrário, neste período as teorias dominantes aceitavam que o
processo de desenvolvimento de uma sociedade capitalista implicaria, necessariamente,
o desenvolvimento desigual e desequilibrado, gerador de significativas desigualdades
regionais.
Como conseqüência, as políticas daí derivadas tiveram como característica mais
marcante a intervenção ativado Estado, visando reduzir as disparidades inter-regionais,
tanto por razões de eficiência macroeconômica (pleno emprego e impulso da demanda
agregada) quanto de equilíbrio territorial.
Uma segunda conclusão também pode ser derivada da análise dos
desenvolvimentos teóricos desse período: a excessiva crença nos mecanismos
puramente econômicos no combate às desigualdades regionais. Aspectos institucionais,
como cultura, tradição, associativismo e hábitos, não fazem parte do arcabouço teórico
desenvolvido. Isto pode ser indicado como a principal deficiência teórica, responsável
por duas críticas às políticas Top-Down do período, a saber: não ser capaz de enraizar
os mecanismos de crescimento; e possuir pouca vinculação com as capacidades locais.
No entanto, esse período foi, no seu final, década de 1970, acompanhado por
fortes pressões inflacionárias. Isso, aliado à crise do petróleo, gerou uma séria crise para
a economia mundial. A resposta a este fenômeno foi variada, mas pode-se observar o
surgimento de uma série de questionamentos quanto à eficácia tanto da teoria, quanto
dos instrumentos de política econômica Keynesianos. Ou seja, o enfoque da demanda e
a sua conseqüente política intervencionista passam não mais obter o consenso de antes.
Em relação à produção teórica em economia, este é o período do ressurgimento de
concepções que entendiam que os mecanismos de mercado são capazes de garantir o
31
crescimento em longo prazo de forma sustentada, como é o caso da Escola Novo-
Clássica. Neste contexto, as intervenções do Estado na economia só serviriam para
desviar, de forma não sustentável, a economia de sua trajetória natural, resultando, no
longo prazo, em mais inflação.
2.2.2 Segunda geração de políticas regionais
Em uma clara contraposição ao período anterior, o crescimento deveria ser
obtido não mais por meio do estímulo à demanda, mas sim da melhoria das condições
de oferta, como por exemplo, flexibilização do mercado de trabalho, redução
significativa dos encargos pagos pelas empresas e aumento do capital humano. Em
termos macroeconômicos, o paradigma passa a ser a busca da estabilidade monetária a
qualquer custo. Nas palavras de Diniz e Crocco (2006, p. 14): No campo político, torna-se majoritário o entendimento de que o Estado deve se retirar da economia, ficando apenas com suas funções básicas, determinadas pelo chamado Estado Mínimo. Este processo de mudança continuou e foi aprofundado durante os anos 1980, determinando um movimento de abertura comercial e financeira sem precedentes e acelerando a reestruturação econômica e a internacionalização da produção.
Estas transformações tiveram o seu rebatimento no espaço geográfico,
determinando a perda de dinamismo de regiões afetadas pela desindustrialização e de
reestruturação produtiva e o surgimento de novas regiões de crescimento acelerado,
como Vale do Silício e os chamados novos distritos industriais da terceira Itália.
Todo este processo repercute tanto na elaboração teórica quanto nas políticas de
desenvolvimento regional. Teoricamente as duas principais alterações são: a
incorporação de aspectos institucionais (formais e informais, tais como conhecimento,
rotinas, capital social, e cultura, entre outros) no entendimento da dinâmica regional e a
valorização da capacitação local para o combate às desigualdades regionais.
Politicamente, a grande alteração é a ênfase na competitividade, mensurada na inserção
internacional, como elemento central do desenvolvimento. Isto implica em um enfoque
na inovação, nas economias de conhecimento e nos mecanismos facilitadores desses
processos: redes, cooperação; contatos face a face; regiões que aprendem; sistemas
regionais de inovação, entre outros. Diniz e Crocco (2006) explicam que este conjunto
de políticas foi definido por Helmsing (1999) e Jiménez (2002), como a segunda
32
geração de políticas regionais. No cerne destas novas políticas de desenvolvimento
regional endógeno está o objetivo de promover o desenvolvimento das capacitações da
região de forma a prepará-la para enfrentar a competição internacional e criar novas
tecnologias através da mobilização ou desenvolvimento de seus recursos específicos e
suas habilidades próprias.
2.2.3 Terceira geração de políticas regionais: a síntese exógeno-endógeno
É possível ainda falar na busca da terceira geração de políticas regionais, que se
inicia no final dos anos 1990, fruto de avaliações das políticas de desenvolvimento
endógeno. A partir do entendimento de que o processo de globalização impõe que a
competição não ocorre apenas entre firmas, mas também entre sistemas industriais
regionais, entende-se que as políticas de desenvolvimento regional não podem ser
exclusivamente locais. Deve, também, levar em consideração tanto o posicionamento
econômico dos sistemas regionais de produção no contexto global, quanto às políticas e
os contextos setoriais e (inter) nacionais. Nesse sentido, a coordenação horizontal de
vários atores deve ser complementada com a coordenação vertical entre os diversos
níveis de ação.
Para Helmsing (1999), apud Diniz e Crocco (2006, p. 15) “as políticas de
terceira geração se baseiam no reconhecimento de que uma nova orientação não
necessariamente requer mais recursos, mas sim o aumento da racionalidade sistêmica no
uso dos recursos e dos programas existentes”. A terceira geração, de certa forma, supera
a oposição entre políticas de desenvolvimento exógeno e endógeno.
2.3 Revolução tecnológica, sociedade do conhecimento e inovação local
A atualidade, identificada como era do conhecimento e da crescente integração
em redes, a região ressurge como locus da organização produtiva e da inovação, onde o
esforço e o sucesso da pesquisa, da ação institucional, do aprendizado se dão de forma
coletiva, através da interação, cooperação e complementaridade, imersa no ambiente
cultural local, o qual é também o resultado do processo histórico cultural (DINIZ,
2000).
33
Diniz (2000, p. 09) ainda explica citando Albagli (1999) que baseado na idéia
que a inovação é o motor central do desenvolvimento econômico e na identificação de
que as regiões possuem atributos próprios, e de que o sucesso econômico depende da
existência de meios inovadores surge a discussão do papel na inovação no
desenvolvimento regional.
Desta forma, analisamos pela perspectiva histórica, como se deu a revolução
tecnológica que trouxe consigo o novo paradigma da sociedade do conhecimento, onde
a inovação surge como vantagem competitiva a ser alcançada.
2.3.1 Transição do Padrão Fordista
As significativas transformações em curso desde o início da década de 1970 nas
estruturas da sociedade capitalista envolveu processos de trabalho, hábitos de consumo,
configurações geográficas e geopolíticas, práticas do Estado, dentre outras.
A literatura trata este acontecimento como Pós-Fordismo, ou seja, a troca do
modo de produção Fordista – baseado em essência na produção em massa e economias
de escala – para o Pós-Fordista – baseado na produção flexível e economias de escopo.
Para Harvey (1993) apud Caruso (2005, p. 06) esse modo de produção formou a
base de um longo período de expansão do pós-guerra, nos países capitalistas, até
aproximadamente 1970. Durante esse período, os países capitalistas desenvolvidos
obtiveram altas taxas, e relativamente estáveis, de crescimento econômico, que geraram
condições de vida mais elevadas para a massa da população nos países capitalistas.
O Fordismo diz, Gambino (2000) apud Caruso (2005, p. 06) penetraria nos
gânglios vitais da indústria metal-americana e seria seu catalisador em um período
indefinido, mas, certamente, nos anos vinte: pagando altos salários e constituindo a
ponta de diamante do consumo de massa de bens duráveis. Depois de ter passado
através do laminador da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial, ele estaria na
base da expansão da demanda efetiva Keynesiana nos Estados Unidos, onde asseguraria
um regime de welfare e, portanto, de reprodução social estável no seu conjunto,
presumivelmente, no fim dos anos quarenta. Nos anos cinqüenta, tal sistema
reprodutivo irradirar-se-ia dos Estados Unidos para os países da Europa Ocidental e o
Japão.
34
O excesso de capacidade da produção manufatureira internacional fez com que
houvesse uma queda da lucratividade nos países capitalistas desenvolvidos, tendo como
resultado, estagnação econômica de longa duração. Esses baixos índices de crescimento
da produção e da produtividade tiveram como conseqüência índices crescentes de
desemprego.
Devido a essa perda de lucratividade e a incapacidade da economia real de
proporcionar uma taxa de lucro adequada, especialmente da indústria de transformação,
ocasionada pelo excesso de capacidade e produção, levou ao deslocamento do capital
para as finanças, e concomitantemente a uma guinada para as políticas de cunho
neoliberal (BRENNER apud CARUSO 2005, p. 07).
Explica Brenner (1999): Para garantir melhores rendimentos ao capital financeiro, foram reduzidas as barreiras à mobilidade do capital. Esta medida permitiu que o capital entrasse rapidamente em um país, quando as condições estivessem favoráveis, e saíssem rapidamente ao menor sinal de problema. Dificultando, assim, qualquer processo de desenvolvimento econômico que exige compromisso de longo prazo, e não suporta as súbitas retiradas de capital, que se tornaram corriqueiras na ordem neoliberal.
De acordo com Chesnais (1994), o novo estilo de acumulação é dado pelas
novas formas de centralização de gigantescos capitais financeiros, cuja função é
frutificar principalmente no interior da esfera financeira. De forma convincente,
Chesnais (1994, p. 15) chama a atenção: “É na produção que se cria riqueza, a partir da
combinação social de formas de trabalho humano, de diferentes qualificações. Mas é a
esfera financeira que comanda, cada vez mais, a repartição e a destinação social dessa
riqueza”.
O rompimento definitivo com o keynesianismo, que viria a ocorrer somente na
década de 1990, e a adoção do neoliberalismo foram condições decisivas para a
existência de turbulências econômicas, pois a adoção de uma política monetária
restritiva deprimiu a economia ainda mais, agravando a situação em que ela se
encontrava (BRENNER apud CARUSO 2005, p. 07).
O fordismo, amparado nas políticas Keynesianas ou Neoliberais, demonstrou
incapacidade de conter as crises inerentes ao capitalismo. Esta incapacidade foi gerada
pelo problema da rigidez dos investimentos de capital fixo de larga escala e de longo
35
prazo em sistemas de produção em massa que impediam muita flexibilidade de
planejamento.
Pode-se destacar ainda segundo Bagnasco (2002) outros dois fatores econômico-
culturais, não menos importante, inerente a crise do fordismo. O primeiro fator foi o
crescimento mundial da demanda por bens de consumo não padronizados,
proporcionada por uma cultura que valorizava a diferenciação. Essa nova tendência
provocou o declínio do consumo padronizado e, por conseqüência, dos grandes volumes
de produção, imprescindíveis para se obter economias de escala integradas no interior
das fábricas e, portanto, suplantar os elevados custos de implementação da grande
fábrica fordista. O segundo fator foi o contínuo progresso tecnológico nos processos
produtivos e nos modelos organizativos da indústria.
Dessa forma, essa mudança no padrão fordista faz despontar um novo modo de
acumulação mais flexível, marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo.
Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos produtos e padrões de
consumo. Caracterizam-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos,
novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo,
taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional.
2.3.2 Os distritos industriais
As décadas de 70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação
econômica e de reajustamento social e político. No espaço social criado por todas essas
oscilações e incertezas, uma série de novas experiências nos domínios das organizações
industriais começou a tomar forma. Essas experiências podem representar os primeiros
ímpetos da passagem para um regime de acumulação inteiramente novo, associado com
um sistema de regulamentação política e social bem distinta.
Dentre todos os modelos e experiências que tomaram forma, os que mais se
destacaram foram os baseados no estudo de um círculo estreito de regiões prósperas,
como Emilia-Romagna, Baden Wurttenberg, Vale do Silício, Orange County e Île-de-
France (Rossi, 2003) apud Caruso (2007, p. 12) que creditavam às aglomerações de
pequenas e médias empresas e as sinergias geradas pelas suas interações fontes
importantes de competitividade, auxiliando as empresas a crescerem, a produzirem
eficientemente e a comercializarem seus produtos em mercados nacionais e
internacionais.
36
Nos mesmos anos em que os estudos mostraram como este grupo de regiões
ganhou nova centralidade geoeconômico e aumentaram a competitividade delas na
economia global, muitos tentaram considerar o paradigma Pós-Fordista como referência
não só para estas regiões, mas também para um círculo mais amplo de regiões marginais
e semi-desenvolvidas da Europa Sulista. Desta forma, este paradigma, originalmente
concebido em um sentido meramente descritivo e analítico, adquiriu um significado
normativo novo: como modelo de desenvolvimento para as regiões atrasadas da Europa
Sulista.
Dentre os estudos sobre essas regiões, podemos destacar o trabalho de Gurisatti
(2002) sobre a macrorregião européia, denominada de Área de Desenvolvimento do
Arco Alpino – composta pela Terceira Itália2, Rhone-Alpes na França, Baden
Wuttenberg e Baviera na Alemanha, Suíça e Áustria. Ele demonstra a força desse novo
modelo de produção industrial em contraposição ao fordismo que se estabeleceu na
macrorregião européia, que ainda hoje é dominante do ponto de vista cultural, político e
financeiro – a Europa das Capitais.
A Europa do Arco Alpino analisa Gurisatti (2002) soube encontrar uma trajetória
de crescimento baseada na conservação do ambiente e da comunidade local e na maior
valorização do saber prático3, ao invés do saber científico e aos conhecimentos high-
tech.
Para Bagnasco (2002) esse fenômeno fez com que regiões inteiras passassem de
uma economia baseada nas atividades agrícolas a uma economia industrial fundada
justamente sobre as pequenas empresas. Caruso (2007) citando Silva (2002) diz que as
pequenas empresas, nesta localidade, desenvolveram formas cooperativas de produção
altamente flexíveis, inovadoras e competitivas, com capacidade de penetração nos
grandes mercados internacionais.
Na visão de Becatini (2002, p.49) pode-se descrever distrito industrial como:
2 “Expressão primeiramente empregada por Bagnasco no final dos anos 1970 como desdobramento do tradicional dualismo italiano entre o Norte desenvolvido que se encontrava em crise (primeira Itália) e o Sul atrasado (segunda Itália)” (Cocco, Urani, Galvão e Silva, 2002:13). Esta macroregião é composta pelas regiões da Emilia-Romagna, Tuscany, Vêneto, Trentino, Friuli-Venezia Giulia, Marche e parte da Lombardia (Gurisatti, 2002). 3 Os trabalhos baseados em Michael Polany (1958) sobre o conhecimento tácito reconhecem que a inovação não deriva somente da ciência e da tecnologia, mas também daquele tipo de conhecimento que emana das tarefas rotineiras da atividade econômica” (CARUSO, 2007, p.13).
37
Um grande complexo produtivo, onde a coordenação das diferentes fases e o controle da regularidade de seu funcionamento não depende de regras preestabelecidas e de mecanismos hierárquicos (como é o caso na grande empresa privada ou nas grandes empresas públicas de tipo soviético), mas, ao contrário são submetidos, ao mesmo tempo, ao jogo automático do mercado e a um sistema de sanções sociais aplicado pela comunidade. A contigüidade espacial permite ao sistema territorial das empresas, ou seja, ao distrito industrial, apostar, na prática, em economias de escala ligadas ao conjunto dos processos produtivos sem perder, todavia, graças à segmentação desse processo, sua flexibilidade e adaptabilidade frente aos diversos acasos do mercado.
De acordo com Corò (2002), o debate sobre o “sucesso econômico” desse novo
modo de produção, e principalmente na vertente italiana, oscilou entre duas posições
teóricas opostas. Uma ressaltava a importância dos recursos endógenos das sociedades
locais no desenvolvimento econômico, e a outra, ao contrário, atribui o sucesso aos
fatores exógenos – como a desvalorização da lira. Porém, este autor conclui que foi o
encontro desses dois fatores, exógenos e endógenos, que gerou o processo de
desenvolvimento.
Ainda de acordo com este autor, essas linhas interpretativas não teriam
condições de, isoladamente, explicar o desenvolvimento econômico dessas regiões, pois
se aceitássemos somente a hipótese de fatores endógenos, não poderíamos explicar o
porquê dos distritos só se manifestarem com evidência nos últimos anos. E se, ao
contrário, aceitássemos somente a hipótese dos fatores exógenos, não poderíamos
esclarecer o crescente diferencial de desenvolvimento econômico entre as regiões da
Itália, sendo que todas compartilharam dos mesmos fatores externos. Assim Corò
(2002, p. 172) afirma,
Os DIs [distritos industriais] podem ser representados como lugares no interior dos quais um número relevante de empresas e sistemas produtivos, que conseguiu elaborar a seu próprio favor as perturbações do ambiente externo – geradas pela crise do paradigma fordista e pelo declínio da produção em massa – e pôde acoplar-se estruturalmente às mudanças de ordem geral do sistema econômico – maior variedade dos mercados aumento de flexibilidade tecnológica e organizativa, aumento da complexidade dos circuitos cognitivos da produção.
Quando a estrutura interna do sistema local – a especialização produtiva, o
acúmulo de competências distintivas, as instituições reguladoras e a cultura da
sociedade local – entra em sintonia com as transformações do cenário econômico
global, cria-se um acoplamento estrutural. O processo dos acoplamentos dos distritos
38
industriais desenvolveu-se marcadamente na segunda metade dos anos 70, quanto à
mudança das lógicas produtivas e de mercado da economia mundial ganhou corpo;
consolidou-se nos anos 80, constituindo a base do boom conjuntural dos anos 90.
2.3.2.1 Distritos industriais como modelo de desenvolvimento econômico
Nos mesmos anos em que os estudos mostraram como este grupo de regiões
ganhou nova centralidade geoeconômico e aumentaram a competitividade delas na
economia global, muitos tentaram considerar o paradigma Pós-Fordista como
referência não só para estas regiões, mas também para um círculo mais amplo de
regiões marginais e semi-desenvolvidas da Europa Sulista (ROSSI apud CARUSO
2005, p. 23)
Desta forma, este paradigma, originalmente concebido em um sentido
meramente descritivo e analítico, adquiriu um significado normativo novo: como
modelo de desenvolvimento para as regiões atrasadas da Europa.
Parte do sucesso desse conceito, que tem despertado interesse de muitos
estudiosos e formuladores de políticas públicas, deve-se a possibilidade de
desenvolvimento econômico, dentro de um sistema que apresenta poucas barreiras à
entrada, tanto de cunho financeiro quanto tecnológico (COCCO et al 2002).
Como analisa Cocco et al (2002) trata-se, de fato, de um dos territórios que mais
cresceram no mundo durante as últimas décadas, ao mesmo tempo em que foi capaz de
gerar mais e melhores postos de trabalhos e de melhorar substancialmente a distribuição
de renda. Este extraordinário aumento do bem-estar social não foi obtido atraindo
grandes investimentos através de incentivos fiscais e promessas de proteção frente à
concorrência internacional ou apostando em setores de tecnologia de ponta, mas
criando, de diferentes maneiras, uma ambiência favorável ao desenvolvimento de micro
e pequenos negócios, em sua grande maioria em setores tradicionais.
2.3.3 Teoria de aglomeração padrão
Essa teoria buscou inspiração no pensamento do economista liberal Alfred
Marshall, no final do século XIX, que em sua análise dos distritos industriais britânicos,
destacou as externalidades – um subproduto não intencional de alguma outra atividade –
geradas pela concentração de várias pequenas empresas, com características similares,
39
situadas na mesma região, permitindo, que um grupo de firmas fosse mais eficiente que
a firma individual de forma isolada. Segundo Becattini (2002: p. 46):
Podemos associar o conceito de distrito industrial à figura de Alfred Marshall que, já nas suas obras de juventude (...) demonstrava que as vantagens, ou pelo menos algumas dela, da produção em grande escala podem também ser obtidas por uma grande quantidade de empresas de pequeno porte, concentradas num território dado, especializadas nas suas fases de produção e recorrendo a um único mercado de trabalho local. Para que esse fenômeno do distrito industrial se realize é necessária uma interpenetração dessa miríade de pequenas empresas com a população residente nesse mesmo território. O ressurgimento atual do conceito marshalliano repousa sobre a noção de adequação perfeita entre as condições requeridas em vistas a uma cera organização do processo produtivo e as características socioculturais, forjadas ao longo dos anos, de uma camada da população.
As principais externalidades apontadas por Marshall (1982) são os fornecedores
especializados, mercados comum de trabalho e transbordamento de conhecimento. A
sua visão era de que maiores números de ofertantes locais especializados, de uma
indústria específica de bens e serviços intermediários, disponibilizam mais facilmente
maior variedade de bens a custos mais baixos, pois há, no mercado local, muitas firmas
competindo para fornecê-los.
Quanto à segunda externalidade, ele acreditava que grupos de firmas localizadas
em dada região tem maior capacidade para atrair e criar mercado comum de trabalho
especializado, que pode ser mais difícil de atrair em lugares distantes.
A terceira externalidade origina-se de uma fonte importante de conhecimento
técnico, que é a troca informal de informações e idéias, que ocorre mais facilmente em
indústrias localizadas em uma mesma região, ou seja, através do transbordamento de
conhecimento. Diz Marshall (1982, p. 234) “Os segredos da profissão deixam de serem
segredos, e, por assim dizer, ficam soltos no ar”.
Os estudos de Alfred Marshall sobre organização industrial ajudaram a
desenvolver a teoria de aglomeração padrão. A partir dos seus estudos outros autores
deram prosseguimento ao desenvolvimento dessa teoria.
40
2.3.4 O padrão mais intensivo em conhecimento e os novos formatos organizacionais
As mudanças ocorridas a partir da década de 1970 no ambiente competitivo das
empresas devido à emergência de um novo paradigma tecnológico (baseado na
microeletrônica) impuseram um processo produtivo mais intensivo em conhecimento.
No novo padrão de acumulação nota-se a crescente intensidade e complexidade
dos conhecimentos desenvolvidos e sua acelerada incorporação nos bens e serviços
produzidos e comercializados.
Uma das características distintivas desse novo padrão é a tendência a minimizar
os aspectos relacionados ao consumo de insumos e materiais energéticos não-
renováveis; bem como ao descarte da produção e consumo e seus efeitos negativos
sobre o meio ambiente (LASTRES E CASSIOLATO, 2002, p.03).
Sobre a diferença do novo padrão de acumulação para o antigo, explica Lastres e
Cassiolato (2002, p.03):
De forma mais geral nota-se que, enquanto os padrões de acumulação anteriores dependiam mais diretamente de recursos tangíveis e não-renováveis, aleatoriamente dispersos no globo, o atual oferece uma maior flexibilização das limitações decorrentes. Destaca-se, contudo, que a apropriação de conhecimentos possui especificidades que não podem ser ignoradas. Conhecimento e informação são recursos intangíveis que podem ser usados – inclusive simultaneamente – por varias pessoas sem problemas de esgotamento. Ao contrário do que ocorre com os bens materiais, o consumo de informação e conhecimento não os destrói, assim como seu descarte geralmente não deixa vestígios materiais.
Outro desafio refere-se à aceleração da transição para um regime de acumulação,
no qual a diminuição generalizada dos sistemas de regulação resultou em um mais
elevado grau de orientação da lógica financeira. Nota-se que é o setor financeiro no
mundo inteiro aquele que mais amplo e intenso uso vem fazendo das TIC (tecnologia da
informação e comunicação), até porque suas principais transações envolvem
transferências não-materiais. O domínio do capital financeiro, dos investidores
institucionais, dos novos métodos de valorização do capital, da preferência por liquidez
e do foco na lucratividade financeira de curto prazo, por sua vez, vem contribuindo para
inviabilizar investimentos de alto risco, custo e maturação – como particularmente
41
aqueles em ciência, tecnologia e inovação (CT&I) e em formação e capacitação de
recursos humanos.
Para situar-se no tempo quanto à emergência do novo paradigma
tecnoeconômico, baseado em inovação, informação e conhecimento, Neto (2008, p.22)
cita como o ano um da Era da Informação, 1991. Ele toma como referência a análise de
Stewart que, com base nos dispêndios de capital registrados pela Agência de Análise
Econômica do Departamento de Comércio Norte-Americano no período de 1965 e
1991; compara-se o dispêndio de capital em bens de capital típicos da Era industrial –
motores e turbinas, equipamento de controle e de distribuição elétrica, máquinas para
trabalho em metal, equipamentos para tratamento de materiais e equipamentos
industriais em geral, máquinas para serviços, equipamentos para campos de mineração e
petrolíferos, máquinas agrícolas e de construção – com o dispêndio de capital com
equipamentos de informação – computadores e equipamentos de telecomunicação.
Plotados em um gráfico, as duas linhas – dispêndios de capital na Era Industrial e
dispêndios de capital na Era da Informação – se cruzam em 1991.
Conclui-se, então, que, a partir de 1991, as empresas passam a gastar mais com
equipamentos que coletam, processam, analisam e disseminam informações, e a gastar
menos com equipamentos típicos da Era Industrial.
Quanto ao processo resultante do grande potencial científico-tecnológico
alcançado nos últimos anos, Neto (2008, p. 23) analisa os três aspectos ponderados por
Lemos no que se refere às novas tecnologias. O primeiro aspecto são os avanços
observados na microeletrônica, área em que se destaca a revolução da informática e a
popularização do microcomputador e dos softwares. O segundo aspecto são as
telecomunicações, viabilizando e disponibilizando satélites e fibras óticas e, desse
modo, revolucionando os sistemas de comunicação até então conhecidos e
disponibilizados. O terceiro aspecto é a convergência das duas primeiras bases
tecnológicas, possibilitando o desenvolvimento dos sistemas e de redes de comunicação
eletrônica mundiais.
Sem dúvidas estas transformações alteraram significativamente o ambiente
competitivo e passou a colocar enormes dificuldades de acesso tecnológico às pequenas
e médias empresas.
O novo padrão de acumulação, o conhecimento, destaca ainda mais o papel da
inovação – entendida em suas dimensões tecnológica, organizacional, institucional e
42
social – como fator estratégico de sobrevivência e competitividade para empresas e
demais organizações4.
A capacidade das empresas gerarem e absorver inovações são segundo Lastres e
Cassiolato (2002, p. 04), elemento chave da competitividade dinâmica e sustentável. E
complementam:
O caráter crescentemente complexo e dinâmico dos novos conhecimentos requer uma ênfase especial no aprendizado permanente e interativo, como forma de indivíduos, empresas e demais instituições se tornarem aptos a enfrentarem os novos desafios e capacitarem-se para uma inserção mais positiva no novo cenário. Incrementar o processo de inovação requer o acesso a conhecimentos e capacidade de apreendê-los, acumulá-los e usá-los (LASTRES E CASSIOLATO, 2002, p. 04).
Os formatos mais organizacionais que privilegiam a interação e atuação conjunta
dos mais variados agentes – tais como redes, arranjos e sistemas produtivos e inovativos
– vêm se consolidando como os mais adequados para promover a geração, aquisição e
difusão de conhecimento e inovações. Neto (2008 p. 24) cita Castells (2000) o qual
descreve uma “sociedade em rede”, horizontalizada, fundamentada no computador, no
microchip e na capacidade crescente de processamento.
Na visão de Neto (2008, p. 24) essa era do conhecimento, do aprendizado e da
inovação alicerça-se nos ensinamentos de Shumpeter, que via a inovação como impulso
fundamental que aciona e mantém em marcha o motor capitalista.
Portanto, considera-se que a competitividade de empresas e outras organizações,
afirma Lastres e Cassiolato (2002) dependam crescentemente das amplitudes das redes
em que participam, assim como do uso que fazem das mesmas. Desta forma é que a
proliferação de redes de todos os tipos é considerada como a mais marcante inovação
organizacional associada à difusão do novo padrão.
Lastres e Cassiolato (2002, p. 05), ponderam a importância do aglomerado
empresarial no fortalecimento das pequenas empresas:
4 A intensificação dos processos de inovação (adoção, difusão, superação), tem levado alguns autores a considerar a economia como “economia da inovação perpétua”.
43
A aglomeração de empresas e o aproveitamento das sinergias coletivas geradas por suas interações, e destas com o ambiente onde se localizam, vêm efetivamente fortalecendo suas chances de sobrevivência e crescimento, constituindo-se em significativa fonte geradora de vantagens competitivas duradouras. A participação em tais formatos organizacionais é estratégica para empresas de todos os tamanhos, mas especialmente empresas de pequeno porte, ajudando-as a superar barreiras a seu crescimento e a produzir e a comercializar seus produtos em mercados nacionais e até internacionais. Arranjos produtivos locais reunindo empresas deste tipos são especialmente importantes em regiões pouco desenvolvidas e de baixo nível de emprego.
Destacam ainda que a ênfase em arranjos produtivos locais privilegie a
investigação das relações entre conjuntos de empresas e destes com outros atores; dos
fluxos de conhecimento, em particular, em sua dimensão tácita; das bases dos processos
de aprendizado para a capacitação produtiva, organizacional e inovativa; da importância
da proximidade geográfica e identidade histórica, institucional, social e cultural como
fontes de diversidade e vantagens competitivas.
2.4 Os arranjos produtivos locais
Contemporaneamente sugiram várias escolas de pensamento voltadas para
explicar o sucesso das aglomerações industriais ou dos arranjos produtivos locais, a
partir das mudanças tecnológicas, da organização produtiva, das estruturas produtivas e
do processo de flexibilização, especialmente à luz da chamada crise do fordismo
(DINIZ, 2000, p. 07).
Discute-se nesta seção os diversos conceitos sobre os arranjos produtivos locais,
face não ter se apresentado a “ultima palavra” sobre o assunto que ainda é fonte de
muitos debates. Procura-se numa linha lógica, diferenciar os conceitos de aglomeração;
cluster, arranjo produtivo local e sistema produtivo e inovativo local, visando alcançar
os diversos posicionamentos sobre os estudos que apontam a sinergia criada pela
aglomeração de pequenas empresas em uma determinada região e os contrapontos dos
estudos sobre o local que estão inseridos os APLs, ou seja, em economias centrais ou de
periferia e a tentativa de replicabilidade dos modelos dessas economias desenvolvidas
em regiões em desenvolvimento.
44
2.4.1 Resultado das ações interativas entre diversos atores
Estudos demonstraram que as aglomerações empresariais, geram vantagens pelo
fato das empresas estarem concentradas no mesmo espaço geográfico. Essa dinâmica
possibilita às empresas externalidades (economias externas) como acesso a mão-de-obra
especializada; fluxo de matéria prima e serviços de fornecedores especializados e
transbordamento de conhecimento e tecnologia entre as empresas. Outrossim, ações
coordenadas e conjuntas de cooperação entre os atores (competidores ou não: empresas,
governos, instituições, associações, etc.) proporcionam outros ganhos as empresas,
como por exemplo, inovação.
A partir das experiências européias de industrialização localizada, foram
surgindo no Brasil ações interativas e resultantes das articulações públicas e privadas
para implementar o desenvolvimento local. Dessa forma, os agentes produtivos e os
institucionais, atuando de acordo com os seus formatos e papéis previamente definidos,
passam a somar esforços com o objetivo de ampliar os processos socioeconômicos
sustentáveis, ou seja, no longo prazo (JUNIOR, 2001, p. 17). Entre os resultados
parciais obtidos, pode-se destacar uma melhor qualidade de vida para as regiões, além
do crescimento do tecido empresarial em bases mais duradouras.
2.4.2 Conceitos e características dos arranjos produtivos locais
Desde os trabalhos pioneiros de Alfred Marshall sobre os distritos industriais
ingleses no final do século XIX, outros autores estudaram as razões do sucesso
competitivo dessa forma de organização industrial. Podemos encontrar diversos termos
para fazer referência a essas aglomerações de empresas, sendo também chamados de
distritos industriais, sistemas produtivos locais, sistemas locais de produção, arranjos
produtivos locais, cluster industriais, sistemas locais de inovação, entre outros.
Para Porter (1999) apud Theis e Jacomossi (2008, p. 422) o cluster são
agrupamentos de empresas em uma região com sucesso extraordinário em determinado
setor de atividade.
O debate acerca da importância dos clusters em uma economia globalizada para
o ganho de vantagem competitiva gera um paradoxo, no momento em que se faz
importante diversos fatores locais, como: conhecimento, relacionamentos, motivação,
com os quais concorrentes geograficamente distantes não conseguem competir.
45
Porter (1999) enfatiza ainda a importância da inovação e o sucesso competitivo
em vários setores que estão geograficamente concentrados. Além do fator locacional,
faz-se imprescindível a cooperação entre os diversos atores, formando um clima
favorável à busca pela inovação constante.
À parte dos benefícios da concentração industrial, citados tanto por Marshall quanto
por Porter, é bastante comum encontrar divergências na literatura quanto à conceitualização
e operacionalização de termos ligados a esse assunto. Não raro, conceitos como
aglomerados, clusters, arranjos produtivos locais e sistemas locais de produção (todos eles
ligados à concentração industrial) se confundem, oferecendo poucas informações para uma
adequada distinção entre eles e suas implicações práticas.
Desta forma é importante identificar o grau de evolução de uma determinada
estrutura organizacional estabelecida em certo espaço geográfico e que fatores determinam
a evolução desta estrutura para níveis mais avançados e, conseqüentemente, mais favoráveis
à competitividade e desenvolvimento local.
As aglomerações empresariais caracterizam-se principalmente em função da
concentração em um determinado espaço geográfico e ocorrem principalmente devido a
atrativos regionais que favoreçam de alguma forma de desenvolvimento econômico
empresarial. Diversas expressões são utilizadas neste mesmo sentido, entretanto,
aglomerações empresariais vêm sendo utilizada como sinônimo de cluster, o que
efetivamente possui características que distinguem um do outro.
Como considera Porter (1999), um aglomerado ou cluster "é um agrupamento
geograficamente concentrado de empresas inter-relacionadas e instituições correlatas numa
determinada área, vinculadas por elementos comuns e complementares”. O autor reconhece
que os aglomerados podem assumir diversas formas e estágios de evolução, dependendo de
sua profundidade e sofisticação, incluindo empresas de setores a jusante e a montante e
organizações relacionadas.
Entretanto, o que se observa, diz Rosa (2004) é que a aglomeração de empresas em
determinado espaço geográfico em si não necessariamente implica em ter que haver uma
cooperação entre estas, pois, uma vez que tenha ocorrido esta interação e cooperação, a
classificação deste aglomerado passa a ter a configuração de um cluster ou de alianças
estratégicas inseridas em um cluster.
Desta forma, para Lemos (2004) a concentração geográfica não enseja nenhuma
interação ou colaboração entre as empresas, todas competem no mesmo mercado, tendo
cada uma seus diferenciais competitivos e inexiste pelo menos explícita, uma coordenação
no sentido de associar colaboração com competição.
46
Na visão de Paiva (2002), os aglomerados representam o modelo mais simples de
concentração industrial, caracterizados como a especialização de uma determinada região
em uma determinada atividade, seja esta região uma rua, um bairro, uma cidade ou uma
região de um estado.
A dinâmica de um cluster pode ser determinada pelo fato das empresas nele
inseridas realizarem atividades semelhantes e/ou utilizarem mão-de-obra específica
disponível em poucas regiões, ou utilizarem as mesmas matérias-primas, ou necessitarem
das mesmas condições climáticas ou de solo para a sua produção, por fornecerem para o
mesmo cliente que exige proximidade, ou ainda por processos históricos ou culturais.
Pereira (1998) citado por Rosa (2004, p. 57) faz uma classificação do termo cluster,
partindo da formação dos mesmos: os clusters endógenos são aglomerações que advêm de
empresas que são constituídas pela tradição e vocação de determinada região. Não existe
um esforço deliberativo nesta modalidade, sendo as próprias competências originais de uma
localidade que ensejam o aparecimento de empresas no mesmo ramo de atividade ou de
ramos complementares. Aspectos econômicos, geográficos e naturais contribuem para a
formação de um cluster.
Os clusters deliberados, conforme a visão de Pereira (1998) tem a sua constituição
de forma racional e planejada, podendo ser produto de ações da iniciativa privada como
também, ser resultado de políticas públicas que tenham o objetivo de promover o
crescimento e/ou o desenvolvimento regional, todas envolvendo de forma predominante,
empresas de pequeno porte.
Para Amorim (1998) apud Melo e Ipiranga (2006, p. 04) a evolução dos clusters
podem ser divididos em quatro etapas: Pré-cluster, onde apenas existem empresas e
indústrias independentes em uma determinada área geográfica; O Cluster emergente, já
existe um agrupamento inter-empresas e concentração de indústrias; Cluster em
expansão, onde se identificam as interligações inter-empresas; e a última etapa Cluster
independente, onde há alto nível de interligações inter-empresas e massa crítica intensa
entre os participantes.
O SEBRAE (2002) apresenta clusters como concentrações geográficas de
empresas – similares, relacionadas ou complementares – que atuam na mesma cadeia
produtiva auferindo vantagens de desempenho por meio da locação e, eventualmente, da
especialização. Essas empresas partilham, além da infra-estrutura, o mercado de
trabalho especializado e confortam-se com oportunidades e ameaças comuns.
O conceito de clusters industriais refere-se à emergência de uma concentração
geográfica e setorial de empresas, a partir da qual são geradas externalidades produtivas
47
e tecnológicas. (OCDE, 1999; UNCTAD, 1998; PORTER, 1998) apud Britto e
Albuquerque (2002, p. 72). Ainda segundo Britto e Albuquerque (2002, p. 72),
Partindo da idéia simples de que as atividades empresariais raramente encontram-se isoladas, o conceito de cluster busca investigar atividades produtivas e inovadoras de forma integrada à questão do espaço e das vantagens de proximidade. Ao se apoiarem mutuamente, os agentes integrados a estes arranjos conferem vantagens competitivas ao nível industrial para uma região particular, permitindo explorar diversas economias de aglomeração. Apesar da cooperação produtiva e/ou tecnológica não ser um requisito necessário para a consolidação destes clusters, supõe-se que a estruturação dos mesmos estimula um processo de interação local que viabiliza o aumento da eficiência produtiva, criando um ambiente propício à elevação da competitividade dos agentes.
Do ponto de vista das análises dos clusters, diz ainda Britto e Albuquerque
(2002), há uma tendência em privilegiar a “similaridade”, ou seja, padrões de
especializações, entre os agentes integrados aos clusters, outras análises ressaltam,
como aspecto igualmente fundamental a consolidação de uma “interdependência”, entre
estes agentes. Da diferenciação entre similaridade e interdependência, pode-se
identificar o conceito mais genérico de aglomerações industriais e o conceito mais
específico de clusters industriais.
De um lado a aglomeração espacial de atividades industriais apresenta algum
grau de similaridade entre as unidades produtivas (empresas) e de outro, no clusters, é
salientado a divisão de trabalho, baseada em um conjunto de relações interindustriais,
que confere maior organicidade ao cluster.
Segundo Britto e Albuquerque (2002), ainda pode-se identificar clusters
verticais, apontado pela interdependência existente entre uma indústria produtora de
máquinas e equipamentos para aquela indústria, ambas presentes na mesma região; e
ainda caracterizar clusters horizontais, que apresentam um padrão distinto de
relacionamentos internos, ou seja, a presença em um mesmo município de um conjunto
de indústrias complementares.
Cocco et al (1999) apud Melo e Ipiranga (2006, p. 04), contribuem para explicar
que a questão cultural está implícita na formação e manutenção dos clusters ao afirmar
que nos assim chamados distritos, o tecido sócio territorial favorece a construção de
uma rede material e cognitiva capaz de internalizar as inovações tecnológicas nos
processos locais de aprendizagem. Ainda segundo o autor este mesmo tecido tornou
48
possível a atenuação da concorrência através de formas originais de cooperação,
possibilitando, mais geralmente, a manutenção da união entre economia e sociedade.
Bispo (2003), citado por Rosa (2004, p. 58), observa-se os clusters sob duas
perspectivas: i) quanto à sua formação; e ii) quanto à sua configuração. Com relação à
formação os clusters podem ser considerados deliberados ou endógenos; quanto á
configuração, pode apresentar-se vertical e horizontalmente, ou seja, interdependência
horizontal, com empresas concorrentes, ou vertical, no decorrer da cadeia produtiva.
Assim, conclui Rosa (2004) no cluster existe uma interdependência, horizontal ou
vertical entre empresas concentradas geograficamente, não havendo no cluster interação
entre as empresas de caráter organizacional intrínseco, ou seja, constituem-se alianças
fracas, nem mesmo com órgãos de apoio e/ou governamentais.
Como exemplos, pode-se citar o setor de prestação de serviços e autopeças que se
instalam nas proximidades de montadoras de veículos, como, por exemplo, junto à FIAT,
em Betim-MG, ou a Renault, em São José dos Pinhais-PR. São observados clusters no setor
de revestimentos cerâmicos, como em Criciúma-SC e em Santa Gertrudes-SP.
Para o conceito de APLs também se verifica que existem na literatura diversas
abordagens.
Com o surgimento de uma variada forma de arranjos produtivos locais, o IPEA –
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada tem desenvolvido vários trabalhos sobre as
características e diferenças destes arranjos. Nesses trabalhos relata alguns dos arranjos
que buscam retratar os tipos mais comuns de sistemas produtivos locais. O IPEA alerta
que a tipologia sobre os tipos de arranjos produtivos apresentada é passível de
questionamento e de discussão conceitual, porque não há ainda um consenso capaz de
aglutinar e definir exatamente o que é cada sistema produtivo local. De modo geral,
busca-se apresentar os traços essenciais dos principais tipos de arranjos produtivos
locais.
Segundo Junior (2001, p. 17) a partir dos conceitos divulgados pelo IPEA, foram
sintetizados os conceitos sobre os vários tipos de arranjos produtivos locais.
O primeiro tipo é o agrupamento potencial, que se dão quando existe, na
região, uma concentração de atividades produtivas que apresente alguma característica
comum, como uma tradição de uso de determinadas técnicas, mesmo artesanais, sem
que esteja ocorrendo, contudo, uma organização ou uma ação conjunta entre os agentes
econômicos da atividade existente.
49
O segundo tipo é o agrupamento emergente, quando passa a ocorrer, no local,
a presença de empresas de vários tamanhos, tendo como característica comum o
desenvolvimento de ações de interação entre os agentes existentes na região/setor.
Nesse tipo de arranjo pode ocorrer mesmo de forma incipiente, a presença de
instituições de apoio como centros de treinamento profissional, de pesquisa tecnológica,
outras atividades como consultorias, mas com uma pequena e débil articulação de ações
entre estes vários atores socioeconômicos.
O terceiro tipo é o agrupamento maduro, que tem por característica uma
concentração local de atividades e como identificação comum a existência de uma base
tecnológica significativa, observando-se a existência de relacionamento mais intenso
entre os agentes produtivos entre si e com os demais agentes institucionais locais. Este
entorno caracteriza a geração d externalidades positivas capazes de trazer uma sinergia
mais efetiva para os participantes desta base tecnológica e produtiva. Neste tipo de
agrupamento, verificam-se ainda conflitos de interesse, indicando um pequeno grau de
coordenação entre os agentes econômicos, com ações sendo consideradas insuficientes
para gerar uma atuação mais efetiva que possa alavancar um crescimento sustentado no
longo prazo.
O quarto tipo é o agrupamento avançado, cuja principal característica é um
alto nível de coesão interna de organização entre os agentes internos e externos,
resultando no melhor aproveitamento das externalidades geradas pelos participantes
deste entorno produtivo.
O quinto tipo é o cluster, que apresenta características de agrupamento maduro
quanto ao seu grau de coesão interna. No entanto, tem um grau menor de organização,
porque normalmente envolve um número maior de localidades ou áreas urbanas, dentro
de uma mesma região geograficamente delimitada, vindo a constituir um espaço
econômico pouco diferenciado em termos de atividades produtivas.
O sexto tipo é o pólo tecnológico, definido como o local em que estão reunidas
empresas intensivas em conhecimento ou com base em tecnologia comum, tendo como
fonte do desenvolvimento deste saber as universidades e outros centros de tecnologia e
de pesquisa. Uma de suas características é que, normalmente, também representam um
tipo de agrupamento maduro.
O sétimo tipo são as redes de subcontratação, compostas por empresas que
nem sempre estão instaladas na mesma área geográfica delimitada, mas que
normalmente atendem à demanda de grandes empresas. Nem sempre os subcontratados
50
constituem um agrupamento formal e procuram seguir um padrão de organização
emanado da empresa núcleo.
O BNDES conceitua APLs como concentração geográfica de empresas e
instituições que se relacionam em um setor particular. Incluem, em geral, fornecedores
especializados, universidades, associações de classe, instituições governamentais e
outras organizações que provêm educação, informação, conhecimento e/ou apoio
técnico e entretenimento. (BNDES, 2003) apud Rosa (2004, p. 64).
Dentro do referencial evolucionista, a RedeSist5, desenvolveu os conceitos de
arranjo produtivo local, focalizando um conjunto específico de atividades econômicas
que possibilite e privilegie a análise de interações, particularmente aquelas que levem à
introdução de novos produtos e processos. Conforme a definição proposta pela
RedeSist, Arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresa – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadora de consultorias e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento. (LASTRES e CASSIOLATO, 2003, p.11).
O argumento básico do conceito adotado pela RedeSist é que onde houver
produção de qualquer bem ou serviço haverá sempre um arranjo em torno da mesma,
envolvendo atividades e atores relacionados à aquisição de matérias- primas, máquinas
e demais insumos. Tais arranjos variarão desde aqueles mais rudimentares àqueles mais
complexos e articulados. Desta forma podemos considerar que o número de arranjos
produtivos locais existentes no Brasil seja tão grande quanto à capacidade produtiva
nacional permita.
Conforme Santos et al (2002), os APLs são caracterizados pela proximidade
geográfica, especialização setorial, predominância de PMEs, cooperação inter-firmas,
competição interfirmas determinada pela inovação, troca de informações baseada na
confiança socialmente construída, organizações de apoio ativas na oferta de serviços e
parceria estreita com o setor público local. 5 A RedeSist é uma rede de pesquisa interdisciplinar sediada no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que conta com a participação de várias universidades e institutos de pesquisa no Brasil, além de manter parcerias com outras organizações internacionais. http://redesist.ie.ufrj.br.
51
Os APLs, conforme Kreuz, Souza e Cunha apud Rosa (2004, p. 62), apresentam
como característica principal uma forte interação entre as empresas componentes, esta
interação também envolve instituições de ensino e pesquisa, instituições de apoio à infra-
estrutura, agentes financeiros, prestação de serviços e informações, governos locais,
regionais e nacionais, associações de classe, clientes, fornecedores de insumos,
componentes e tecnologias. Os autores argumentam ainda que nesse tipo de arranjo a
interação entre os agentes, a complementaridade de diversas capacidades tecnológicas, o
fluxo de informações entre os agentes heterogêneos, a circulação de idéias e pessoas entre
firmas e setores, a produção de bens públicos, induzem a um processo sinérgico de
conhecimento, de inovação e de competitividade para todo o sistema.
A literatura da economia da inovação, economia industrial e geografia
econômica também têm destacado, ao longo da última década, a importância dos
Sistemas Produtivos e Inovativos Locais para o desenvolvimento local, tanto em países
desenvolvidos quanto em países periféricos.
No conceito de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais são fundamentais a
interação e as relações – técnicas e outras formais e informais – entre os diferentes
agentes visando adquirir, gerar e difundir conhecimentos. Tais arranjos comumente
apresentam fortes vínculos envolvendo agentes localizados no mesmo território; por sua
vez, as interações referem-se, não apenas a empresas atuantes em diversos ramos de
atividades e suas diversas formas de representação e associação (particularmente
cooperativas), mas também a diversas outras instituições públicas e privadas. Assim
para Lastres e Cassiolato (2003, p. 11):
A ênfase em sistemas e arranjos produtivos locais privilegia a investigações das relações entre conjuntos de empresas e destes com outros atores; dos fluxos de conhecimento, em particular, em sua dimensão tácita; das bases dos processos de aprendizado para a capacitação produtiva, organizacional e inovativa; da importância da proximidade geográfica e identidade histórica, institucional, social e cultural como fontes de diversidades e vantagens competitivas.
Sistemas produtivos e inovativos locais são aqueles arranjos produtivos em que
interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação
e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa
endógena, da competitividade e do desenvolvimento local. Assim, considera-se que:
52
A dimensão institucional e regional constitui elemento crucial do
processo de capacitação produtiva e inovativa;
Diferentes contextos, sistemas cognitivos e regulatórios e formas de
articulação entre agentes e de aprendizado interativo são
reconhecidos como fundamentais na geração e difusão de
conhecimentos e particularmente aqueles tácitos.
Esta definição foi desenvolvida como um dos resultados das pesquisas realizadas
pela RedeSist desde sua formalização em 1997.
Para demonstrar a distinção entre os conceitos, Paiva (2002) afirma que, na
medida em que uma simples aglomeração de empresas se desenvolve, automaticamente
são atraídos para ela fornecedores de insumos e matérias-primas. Em seguida, novos
produtores se instalam e inicia-se o que um círculo virtuoso sem fim preestabelecido
que alimenta esse aglomerado. Quando todo um conjunto de elementos finalmente se
instala e modifica qualitativamente o aglomerado com serviços e atividades de apoio
especializadas, está-se diante de um arranjo produtivo local. De acordo com tais
argumentos, um aglomerado seria o estágio inicial para a constituição de um arranjo
produtivo local, embora a existência do primeiro não implique, necessariamente, na
constituição do segundo com o passar do tempo.
Ainda, segundo Paiva (2002), caso esse APL continue sua evolução,
estimulando as empresas a operarem de forma integrada, pode-se transitar para a forma
de um sistema local de produção. Os sistemas locais de produção (ou sistemas
produtivos e inovativos locais) são aqueles arranjos produtivos em que, segundo Lastres
e Cassiolato (2003), há interdependência, articulação e vínculos consistentes entre os
participantes, resultando em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de
incrementar a capacidade inovativa endógena, a competitividade e o desenvolvimento
local. Isto é, o que diferencia um APL de um SLP é que, no segundo, além da existência
de um aglomerado setorial de empresas, de fornecedores, compradores, instituições
técnicas e órgãos de apoio, há fortes relacionamentos entre os participantes. Como bem
ressaltaram Lastres e Cassiolato (2003), um arranjo produtivo que atinge este nível de
desenvolvimento aumenta as possibilidades de que a sua região se torne mais
competitiva e, por conseqüência, beneficie as empresas nela instaladas.
53
2.4.3 Desenvolvimento dos APLs em diferentes ambientes econômicos
Por outro lado, existem discussões sobre os ambientes onde estão inseridos os
arranjos produtivos locais. APLs de países em desenvolvimento, apresentam dinâmicas
e estruturas distintas dos APLs dos países desenvolvidos.
Segundo Santos, Crocco e Lemos (2002, p. 147) a literatura sobre a experiência
de desenvolvimento dos arranjos produtivos locais tem dado pouco destaque às
especificidades do ambiente socioeconômico dos países periféricos como determinantes
da conformação destas aglomerações locais.
Deve-se reconhecer a especificidade desses arranjos localizados em países
periféricos, onde as capacitações inovativas são, via de regra, inferiores às dos países
desenvolvidos; o ambiente organizacional é aberto e passivo, onde as funções
estratégicas primordiais são realizadas externamente ao sistema, prevalecendo,
localmente, uma mentalidade quase exclusivamente produtiva; o ambiente institucional
e macroeconômico são mais voláteis e permeados por constrangimentos estruturais; o
entorno destes sistemas é basicamente de subsistência, apresenta densidade urbana
limitada, baixo nível de renda per capita, baixos níveis educacionais, reduzida
complementaridade produtiva e de serviços com o pólo urbano e frágil imersão social.
Geralmente o enfoque dado aos arranjos produtivos locais é associado às
atividades industriais, no entanto, eles podem estar presentes em qualquer setor da
economia. Existe arranjo produtivo local constituído por atividade, onde as práticas de
produção e de trabalho são relativamente simples, utilizam mão-de-obra pouco
qualificada e técnicas de produção pouco desenvolvidas. Eles podem estar presentes em
qualquer setor da atividade econômica (agricultura, indústria ou serviços), e sobrevivem
e se desenvolvem a margem da economia formal.
Compreender esses aglomerados produtivos levando-se em consideração o
ambiente em que se insere, levou-se a diversos estudos e elaboração de conceitos, como
por exemplo, os arranjos produtivos locais informais.
Para Santos, Crocco e Lemos (2002, p. 157) as chamadas aglomerações
produtivas informais – que não podem ser classificadas no sentido estrito como distritos
marshallianos – são compostas geralmente por PMEs (Pequena e médias empresas),
cujo nível tecnológico é baixo em relação à fronteira da indústria e cuja capacidade de
gestão é precária.
Além disso, a força de trabalho possui baixo nível de qualificação, sem um
sistema contínuo de aprendizado. Embora as baixas barreiras à entrada possam resultar
54
em crescimento do número de firmas e no desenvolvimento de instituições de apoio
dentro do aglomerado, isto não reflete, em geral, uma dinâmica positiva, como nos
casos de uma progressão da capacidade de gestão; investimentos em novas tecnologias
de processo; de melhoramento da qualidade do produto; de diversificação de produtos;
ou de direcionamento de parte da produção para exportações. As formas de coordenação
e o estabelecimento de redes e ligações interfirmas são pouco evoluídas, sendo que
predomina a competição predatória, o baixo nível de confiança entre os agentes e
informações pouco compartilhadas.
Outras características das aglomerações informais são a infra-estrutura precária,
estando ausentes os serviços básicos de apoio ao desenvolvimento sustentado, tais como
serviços financeiros e centros de produtividade e treinamento.
Estas aglomerações não se constituem, portanto em organizações produtivas
sistêmicas, ou seja, não atingiram o estágio de sistemas de produção locais. Neste
sentido, caracterizam bem a forma típica de aglomeração industrial localizada em
economias periféricas, pois as formas externas de governança são inexistentes, os
mercados de destino destes produtos são locais e, quando muito, regionais, muitas vezes
baseados na informalidade e evasão fiscal.
Diante destes conceitos, a pesquisa terá como foco o conceito da RedeSist
voltado para os arranjos produtivos locais, levando-se em consideração o conjunto
específico de atividade econômica , que apresentam vínculos mesmo que incipientes e o
ambiente socioeconômico dos países periféricos, o que compreende o conceito de APLs
informais não ligados a atividades industriais.
2.4.4 Replicabilidade do modelo italiano dos distritos
Alguns exemplos internacionais, diz Cocco et al (2002), mostram que as PMEs
(pequenas e médias empresas) podem constituir trajetórias econômicas dinâmicas e
bem-sucedidas, desde que dispostas em redes num meio ambiente propício à
consolidação de externalidades positivas.
Desde a bem sucedida experiência da Terceira Itália, várias têm sido as
tentativas de reproduzir esta experiência nos mais variados ambientes e setores.
Neste sentido, o modelo de desenvolvimento dos distritos industriais italianos,
fundamentado nas redes de PMEs tem sido cada vez mais apontado como um dos meios
possíveis e desejáveis de superação do modo fordista de produção.
55
Assim como o modelo fordista, difundido pelo mundo, essa alternativa italiana
poderia ser transplantada para outras realidades?
Cocco et al (2002) fazem suas considerações:
Para pensar na viabilidade de políticas públicas inovadoras, baseadas na experiência da Terceira Itália, que possam servir à incorporação de segmentos populacionais “marginais” na dinâmica socioeconômica, devemos, portanto, nos afastar das singularidades do modelo italiano, procurando encontrar as suas características mais abrangentes e “universais”. Essas características podem ser encontradas se procurarmos nos distritos os elementos que, entranhados na organização socioprodutiva, tornam este modelo particularmente emblemático de uma transformação geral. Nesta medida, poderemos lançar novas luzes para a questão da replicabilidade.
A literatura sobre os distritos industriais cita exemplos bem-sucedidos de redes de
pequenas empresas que apresentam fortes relações com suas bases locais. Estes exemplos,
naturalmente, possuem características e especificidades próprias, relacionadas a contextos
socioculturais distintos, como algumas regiões na Alemanha, França, Dinamarca, Suécia,
Espanha e Japão.
Pode-se também encontrar evidências das dinâmicas produtivas “distritais”, por
exemplo, em clusters setoriais em países periféricos e na forma de organização local em áreas
mais avançadas da inovação tecnológica como Silicon Valley e da Route 128, nos Estados
Unidos.
Nestas regiões, as redes de PMEs, apresentam-se como um modelo de produção
industrial distinto do padrão fordista.
Na análise de Borin (2006) o ambiente cultural, político, institucional e econômico,
onde se formaram as aglomerações de micro e pequenas empresas, no Brasil, é diferente
do que ocorreu em alguns casos internacionais, como, por exemplo, na Terceira Itália.
Um exemplo do que ocorre no Brasil, como um fator desafiador para as políticas de
apoio voltadas para o desenvolvimento local, baseado nas pequenas empresas
aglomeradas, pode ser o número elevado de empresas informais e sua natureza difusa.
Por isso, os clusters americanos, os distritos marshallianos da Itália e os tecnopólos dos
países industrializados parecem ser um pouco sofisticados para servir de referências
“puras” de estratégias de desenvolvimento local. Assim, o que se torna recomendável, e
o que está se tentando fazer, é a construção de categorias apropriadas,adaptadas à
realidade brasileira. Na França, por exemplo, pesquisadores e formuladores de políticas
públicas evoluíram para uma noção denominada Sistema Produtivo Local – SPL.
56
Segundo Amaral Filho (2002), apud Borin (2006, p. 73) no Brasil, após um
período de tentativas de transposição descuidadas em torno de algumas noções,
pesquisadores e formuladores de políticas parecem ter evoluído para uma tropicalização
do conceito ou da estratégia, fixando-se em torno da noção de arranjos Produtivos
Locais – APLs. Isso revela, em certo sentido, que as aglomerações brasileiras de
MPMEs (micro, pequena e média empresas) ainda se encontram em estágios
relativamente baixos de interdependência, entre as próprias empresas e entre as
empresas e as instituições de apoio. Desta forma, Cocco et al (2002) coloca que a questão da replicabilidade não passa pela
adoção de um modelo singular, nem da sua importação ou cópia enquanto tal. As alternativas de
políticas públicas inovadoras na geração de emprego e de renda devem ser apreendidas e
engendradas em face da mudança do regime de acumulação.
Nesta perspectiva a preocupação passa a ser a de encontrar os elementos mais
abrangentes (universais) para a proposição de políticas públicas de desenvolvimento
socioeconômico.
2.5 Políticas de desenvolvimento regional
Um dos grandes desafios para a implementação de políticas regionais é a
definição das escalas territoriais de atuação e a operacionalização destas mediante
critérios de regionalização (DINIZ E CROCCO, 2006 p. 26).
A regionalização do território para efeitos de políticas públicas tem sido um
desafio constante. Por um lado, cada território enquanto espaço social (construído) é um
produto social, estando, portanto, em permanente mutação. A simples identificação do
termo região pressupõe o reconhecimento do desenvolvimento desigual no território, o
qual decorre de razões históricas, naturais, culturais, políticas, econômicas e outras.
Assim, torna-se importante estudar o caso brasileiro para entender em que
medida as tão incentivadas políticas de clusterização são eficientes na redução da
histórica desigualdade regional de renda do país.
Para Cocco et al (2002, p. 25) “o exemplo dos distritos industriais italianos
mostra que o foco que tem sido dado às PMEs no Brasil pode ir além das conjecturas
alternativas, associadas às perspectivas de geração de emprego e renda para parcelas
“marginais” da população”
57
Em contraposição às políticas de desenvolvimento local/regional
empreendidas no País e que têm se preocupado com a atração de grandes empresas
através da abdicação fiscal e tributária por parte de estados e municípios, as políticas de
promoção das pequenas e médias empresas podem e devem ser pensadas não somente
como alternativas possíveis de superação das dificuldades econômicas e sociais, mas,
como eixo fundamental e estratégico para o desenvolvimento econômico local.
Na análise de Cocco et al (2002 p. 27) :
As políticas públicas devem contemplar um planejamento do contexto capaz de tornar visíveis as “mãos da comunidade” e, sobretudo, de fazer emergir formas de atuação empreendedoras nestes “territórios sociais”. Deste modo, tratam-se da criação das condições necessárias (o meio ambiente necessário) à emergência de atividades produtivas ancoradas nestes territórios, capazes de incorporar as franjas populacionais à esfera da cidadania e, portanto, ao universo produtivo que, por sua vez, ganha uma conotação púbica.
A redefinição das relações entre os indivíduos localizados na “franja” e o
espaço público, desencadeadas pela transferência do “lugar” da produção, ou seja, das
fábricas para os territórios, constitui um enorme potencial de libertação dos mesmos em
relação a décadas de clientelismo e paternalismo. Distantes de um sistema político de
tutela os indivíduos teriam melhores condições para se organizar em torno de grupos
capazes de afirmação política autônoma, imprescindível para a luta por infra-estruturas
básicas, garantidoras de mobilidade forte nos territórios.
Criar as condições ambientais de proliferação de novas figuras empresariais,
capazes de fazer emergir redes de pequenas empresas que venham a cooperar entre si
facilitaria a consolidação de arranjos institucionais, que através da articulação de
políticas envolveria os diferentes atores públicos e privados: governo municipais,
estaduais, instituições de apoio técnico à atividade produtiva, empresas públicas, ONGs,
instituições financeiras, associações de empresários e produtores locais, grandes
empresas privadas nacionais e estrangeiras etc.
Estas políticas transversais, cuja implementação poderia ser objeto de parcerias
entre as diferentes instituições, abrangeriam, de modo geral, o acesso às tais infra-
estruturas (sociais, físicas econômico-financeiras, tecnológicas) que, como já visto, são
imprescindíveis à efetivação de um ambiente propício à ação empreendedora e,
portanto, às dinâmicas de geração de emprego e distribuição de renda.
Segundo Lima, Melo e Pimenta (2005, p. 07):
58
As políticas empreendidas pelos governos federal e estadual centram-se cada vez mais na busca do desenvolvimento econômico baseado no conhecimento, através da implementação de programas e ações que promovam desenvolvimento de habilidades e vocações regionais com vistas à promoção de condições favoráveis à competitividade no mercado integrado.
No Brasil alguns programas e políticas de governo dão ênfase ao arranjo
produtivo local, de maneira que a academia passa a contribuir com as diversas fontes de
pesquisas que tem surgido nos últimos anos, o que possibilita a verificação do
desenvolvimento desse tema no país.
Na visão de Amaral (2006) no Brasil os candidatos naturais da promoção das
micro, pequena e média empresas são os governos municipais e estaduais, mas apesar
dessa vocação natural, devido à proximidade, esses segmentos não tem demonstrado
desempenho satisfatório, a começar pela falta de iniciativa. Um trabalho de informação
aos governos e organizações sobre onde estão as novas janelas de oportunidades para o
novo ambiente econômico e institucional às empresas de pequeno porte e a preparação
técnica do pessoal do governo local, já começou. Através do MCT /FINEP (APL e
Plataforma Tecnológica), mas, a rigor, trata-se de uma iniciativa que, além de tímida,
partiu do pressuposto de que a ponta final, nos estados, estava preparada técnica e
conceitualmente para “receber” o programa. Faltou, portanto, um trabalho preparatório.
Ainda afirma Amaral (2006) que esses programas devem ser acompanhados
por outros programas preocupados com a oferta de informações sobre tecnologias,
mercados, fontes de financiamento, etc. Neste campo o SEBRAE e o BNDES têm um
papel importante a preencher.
Segundo Borin (2006) vários órgãos públicos atuam junto aos APLs. Para
evitar a pulverização das ações e eliminar casos de duplicidade de esforços, o Governo
Federal reuniu inicialmente 22 parceiros para criar o Grupo de Trabalho Permanente em
APL - GTP-APL.
Em agosto de 2004, o Grupo de Trabalho em questão foi definitivamente
instalado, por meio da portaria interministerial no 200, de 03.08.04, envolvendo essas
mesmas instituições, com o apoio de uma Secretaria Técnica presente na estrutura
organizacional do MDIC, com o objetivo de adotar uma metodologia de apoio integrado
a arranjos produtivos locais, com base na articulação de ações governamentais.
59
A escolha dos APLs piloto baseou-se em um levantamento da atuação
institucional em APL, que registrou as localidades em que 11 instituições (SEBRAE,
Agência de Promoção de exportações e Investimentos do Brasil - APEX Brasil, MDIC,
Sistema Ciência & Tecnologia, Ministério da Integração, Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica
Federal - CEF, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e Ministério das Minas e
Energias), daquelas que participam do Grupo de Trabalho, atuam com a ótica de
abordagem de APL. Os registros compreendem APLs em seus diferentes estágios de
desenvolvimento em termos de: integração com o território e capacidade de cooperação
entre firmas e com entidades de apoio, entre outros. A seleção dos APLs piloto levou
em consideração os seguintes aspectos: maior número de instituições atuantes no APL;
pelo menos um APL em cada macrorregião; e alguma diversidade setorial no conjunto
de APLs selecionados.
Por outro lado, afirma Borin (2006) na política industrial do Governo Federal -
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior – PITCE - foi dada uma ênfase
em arranjo produtivo. O conceito utilizado incluiu não apenas medidas de política
especificamente industrial, mas também outras medidas macroeconômicas mais gerais,
como aquelas que influenciam a desempenho industrial (crescimento, competitividade e
produtividade).
A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior - PITCE foi elaborada
pela Câmara de Política Econômica, tendo à frente o Ministério do Desenvolvimento, a
Fazenda, o Planejamento, a Casa Civil, Ciência e Tecnologia e outros. Para viabilizar a
coordenação e agregar competências, foram criados a Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial.
Segundo as “Diretrizes de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio
Exterior”, de novembro de 2003, as políticas de governo são consideradas um conjunto
integrado, que articula simultaneamente o estímulo à eficiência produtiva, ao comércio
exterior, à inovação e ao desenvolvimento tecnológico como vetores dinâmicos da
atividade industrial. Lê-se ainda nessas diretrizes, que a organização industrial e a
dinâmica da inovação e difusão de tecnologias determinam comportamentos
empresariais diferenciados. Dessa forma, a política para um setor intensivo em capital,
estruturado por grandes empresas, não pode ser a mesma que para outro setor, intensivo
em trabalho e caracterizado por pequenas empresas.
60
Como a PITEC, não é uma ação isolada, pois faz parte de um conjunto de ações
que compõem a estratégia de desenvolvimento apresentada no documento Orientação
Estratégica de Governo: Crescimento Sustentável, Emprego e Inclusão Social. Essa
política está articulada com os investimentos planejados para a infra-estrutura e com os
projetos de promoção do desenvolvimento regional. Isso é parte integrante do conjunto
de medidas previstas no Plano plurianual do Governo Federal (PPA-2004/2007).
O Plano Plurianual do Governo Federal - PPA 2004-2007 priorizou, em um dos
seus megaobjetivos, os arranjos produtivos. O PPA 2004-2007 tem a política industrial
como um dos eixos centrais de estratégia de desenvolvimento. No interior da política
industrial mais ampla, o PPA inclui o desenvolvimento de arranjos produtivos locais
(APLs) como uma das estratégias de política industrial.
Na análise do projeto de lei, volume I, anexo I – Orientação Estratégica de
Governo, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão elaborado no ano de
2003 –, verifica-se que sua estratégia foi decomposta em três megaobjetivos: I) Inclusão
social e redução das desigualdades sociais; II) crescimento com geração de emprego e
renda, ambientalmente sustentáveis e redutores das desigualdades regionais e III)
promoção e expansão da cidadania e fortalecimento da democracia.
O item diretrizes gerais do megaobjetivo II chama atenção deste trabalho, diz
Borin (2006), pois está relacionado com a política de arranjo produtivo – valorização
das características e potencialidades regionais na formulação e implementação das
políticas e estímulo a organizações econômicas associativas e solidária como estratégia
para o desenvolvimento local sustentável.
No megaobjetivo II no desafio – redução das desigualdades regionais e intra-
regionais com integração das múltiplas escalas espaciais – foi apontado que as
desigualdades regionais constituem, cada vez mais, um obstáculo para a construção de
um modelo de desenvolvimento socialmente justo e inclusivo e economicamente
eficiente e integrado no país. A relação entre as unidades da federação com maior e
menor PIB per capita é de cerca de 7 (sete) vezes; estimativas da mesma relação entre
microrregiões alcançam 40 (quarenta) vezes, o que confirma a importância de uma
atuação sobre a dimensão espacial das desigualdades.
Em uma das diretrizes do desafio – redução das desigualdades regionais e
intraregionais com integração das múltiplas escalas espaciais (nacional, macrorregional,
subregional e local), estimulando a participação da sociedade no desenvolvimento local
61
– aparece o destaque para os arranjos produtivos – “Organização do planejamento
territorial por meio de arranjos produtivos locais e de cooperação intermunicipal”.
Em outra diretriz – ampliar a participação de País no mercado internacional
preservando os interesses nacionais – o governo está destacando a importância do
estímulo ao desenvolvimento tecnológico, à pesquisa e à inovação do setor produtivo
com ênfase em cadeias produtivas e setores que promovam a substituição competitiva
de importações e a agregação de valor em produtos nacionais. Essa diretriz tem relação
com arranjos, pois uma das metas dos arranjos produtivos é preparar as empresas que
fazem parte do arranjo a se tornarem mais competitivas, tanto interna como
externamente.
O Plano Plurianual (PPA) 2008-2011 será subsidiado pelo “Estudo para
Subsidiar a Abordagem da Dimensão Territorial do Desenvolvimento Nacional”. Este
estudo, afirma Mendes (2007) também subsidiará o Planejamento de Longo Prazo, o
qual apresenta planejamento governamental de longo prazo, inclusive com repercussões
de caráter regional, e resultados e propostas para uma abordagem original do território.
No estudo, o território é considerado instrumento central; um guia capaz de orientar
uma ação pública coordenada e de ajudar a superar as graves iniqüidades econômicas e
sociais do País, solucionando entraves ao desenvolvimento nacional (MENDES, 2007,
p.23).
O estudo defende a visão estratégica, distinção e articulação do território no
horizonte de planejamento de 20 anos (2007-2027), segundo a qual o Brasil precisa
contar com uma metodologia de planejamento que incorpore a dimensão territorial nos
objetivos, diretrizes e ações da sociedade do Governo, ultima vez que o território
sintetiza e espelha as múltiplas potencialidades e problemas do desenvolvimento
brasileiro.
O Estudo para Subsidiar a Abordagem Territorial do Desenvolvimento Nacional
No Plano Plurianual (PPA) 2008-2011 e no Planejamento de Longo Prazo, portanto,
coloca o território como expressão maior de uma modalidade inovadora de
planejamento de longo prazo capaz de promover em nosso País, de grandes contrastes e
desigualdades regionais, sociais e econômicas, uma substantiva reversão de valores e
um refinamento de estratégias.
O território e tudo aquilo que ele articula e engendra econômica, social,
ambiental e politicamente – é uma das chaves essenciais para que se possa organizar
uma resposta eficaz ao problema da construção de uma estratégia social inclusiva e
62
integradora de desenvolvimento, capaz de atender ao objetivo principal da estratégia
proposta, que é a superação das desigualdades sociais e regionais.
63
3 METODOLOGIA
Para Gil (1999) pode-se definir método como caminho para se chegar a
determinado fim. E método científico como o conjunto de procedimentos intelectuais e
técnicos adotados para se atingir o conhecimento. Vale ressaltar que,
Muitos pensadores do passado manifestaram a aspiração de definir um método universal aplicável a todos os ramos do conhecimento. Hoje, porém, os cientistas e os filósofos da ciência preferem falar numa diversidade de métodos, que são determinados pelo tipo de objeto a investigar e pela classe de proposições a descobrir. Assim, pode-se afirmar que a matemática não tem o mesmo método da física, e que esta não tem o mesmo método da astronomia. E com relação às ciências sociais, pode-se dizer que dispõem de grande variedade de métodos. (GIL, 1999, p. 26).
O objetivo desta seção é esclarecer os procedimentos metodológicos e as etapas
por meio dos quais essa pesquisa se construiu. Para tanto será especificado o problema
de pesquisa e em seguida sua caracterização, a população e amostra, os instrumentos de
coleta de dados e finalmente a análise e interpretação dos dados.
3.1 Especificação do Problema de Pesquisa
Dado o problema de pesquisa: Quais as contribuições do APL de
piscicultura para com o desenvolvimento socioeconômico regional no
Estado do Amazonas?
Procura-se identificar através dos dois projetos de piscicultura, as
contribuições que trouxeram para as famílias contempladas que trabalharam e
puderam ter conhecimento da tecnologia que envolve ambos os casos. Os
benefícios socioeconômicos proporcionam bem-estar a estas famílias e a outras
do entorno, caso os projetos hajam gerado externalidades positivas. Diante dos
questionamentos a todos os envolvidos pôde-se aferir até que ponto esses
benefícios, mudaram a vida dessas pessoas.
Após a identificação do APL de Piscicultura, visando mapear o estágio
de expansão deste APL, divide-se os projetos PROCIMA e TANRE, devido
suas especificidades, e a análise são feitas separadamente de forma a verificar
os resultados das ações estratégicas voltadas a solucionar gargalos apontados
64
pelo Programa Plataforma Tecnológica os quais seriam responsáveis pela
continuidade dos projetos.
Argumenta-se sobre as políticas públicas que deram sustentação ao
desenvolvimento do APL, através da cooperação dos atores e continuidade das
políticas de expansão.
As variáveis que nortearam a pesquisa quanto à expansão do APL foram às
seguintes:
Formação de novos criadores, através da disseminação do conhecimento;
Formação de cooperativa;
Acesso a mercados;
Apoio financeiro governamental ou não-governamental;
Construção de novo canal de igarapé;
Continuidade na criação de peixes.
Quanto aos benefícios socioeconômicos gerados pelo APL, as variáveis
avaliadas foram:
Acesso à educação;
Emprego a familiares e terceiros;
Melhoria na alimentação;
Melhoria na saúde;
Geração de renda;
Externalidades positivas na comunidade.
3.2 Caracterização da pesquisa
Descreve-se os procedimentos utilizados na condução do estudo. Sendo que cada
pesquisa possui peculiaridades apresentamos informações acerca de alguns aspectos.
3.2.1 Tipo da pesquisa
Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa bibliográfica, porque recorreu-se aos
livros, artigos, teses e dissertações com dados sobre os assuntos. Na visão de Roesch
(1999 p. 32), a pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos
65
já realizados, revestidos de importância pela capacidade de fornecimento de dados
atuais e relevantes relacionados com o tema.
Para Gil (2002, p.138), quando se trata de classificar a pesquisa, no estudo de
caso a utilização maior é em estudos exploratórios e descritivos.
Quanto aos fins, tratou-se de uma pesquisa exploratória e descritiva. O critério
de classificação com relação às pesquisas é baseado em seus objetivos gerais. Assim
esta pesquisa é classificada como exploratória, pois visa desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e idéias além de proporcionar maior familiaridade com o problema,
para torná-lo mais explícito, além de não haver informações conclusivas quanto aos
resultados socioeconômicos obtidos pela comunidade com a implementação dos dois
projetos de piscicultura: Tanques-redes e Canais de Igarapé.
Quanto ao nível da pesquisa este estudo pode ser considerado como descritivo
porque descreve as características socioeconômicas do APL de Piscicultura. Segundo
Mezzaroba, (2003), a pesquisa descritiva não propõe soluções, apenas descreve os
fenômenos tal como são vistos pelo pesquisador, o que não significa que não serão
interpretados, mas somente que a contribuição que se deseja dar é no sentido de
promover uma análise rigorosa do objeto para, com isso, penetrar na natureza ou para
dimensionar a extensão. Descrição permite diagnóstico do problema, o que é sempre
muito importante e tarefa procedente.
No que concerne a manifestação dos fenômenos, a pesquisa pode ser
considerada como ex post facto ou não-experimental.
3.2.2 Natureza da pesquisa
O delineamento refere-se ao planejamento da pesquisa em sua dimensão mais
ampla, que envolve tanto a diagramação quanto a previsão de análise e interpretação de
coleta de dados (GIL 2002, p. 43).
Como o delineamento expressa em linhas gerais o desenvolvimento da pesquisa,
com ênfase nos procedimentos técnicos de coleta e análise de dados, torna-se possível
na prática, classificar as pesquisas segundo o seu delineamento. O elemento mais
importante para a identificação de um delineamento é o procedimento adotado para a
coleta de dados. Esta pesquisa utilizou o método de estudo de caso com abordagem
qualitativa e quantitativa.
66
A pesquisa que se apresenta pode também ser caracterizada como um
levantamento (survey) a priori e como um estudo de caso a posteriori. Este tratamento
vem subsidiar a obtenção de dados predominantemente quantitativos. Já o método de
multicasos complementar os dados com uma abordagem qualitativa.
As perguntas de pesquisa foram elencadas de forma organizadas e associadas às
respostas que se busca dentro dos objetivos da pesquisa.
3.3 População e amostra
O critério de inclusão e exclusão utilizado para determinar a população da
pesquisa, foi incluir os envolvidos no Programa Plataforma Tecnológica/APL de
Piscicultura do MCT (ministério da ciência e tecnologia), ou seja, as famílias
contempladas para participarem dos projetos mais os coordenadores das instituições
envolvidas. Foram excluídos todos aqueles que não participaram do programa. Portando
o universo estudado foram 18 (dezoito) sujeitos extraídos das famílias das comunidades
mais 03 (três) coordenadores das instituições responsáveis pelos projetos. O total de
sujeito foram 21 (vinte e um).
3.3.1 Sujeitos da Pesquisa
Para que se efetive um experimento, torna-se necessário selecionar sujeitos
(GIL, 2002, p. 98). Os sujeitos da pesquisa serão os Coordenadores dos Projetos
PROCIMA – Programa de criação intensiva de Matrinxã em canais de igarapé e
TANRE – Tanques-rede, tecnologia para o cultivo de Tambaqui e Matrinxã e também
as famílias contempladas nas Comunidades pela manutenção desses projetos, os quais
apresentamos a seguir:
Coordenadores dos projetos:
FUCAPI - Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica:
Coordenador Prof. MSc Fernando Santos Folhadela;
INPA - Instituto Nacional de Pesquisa do Amazonas: Coordenador Prof.
MSc Jorge Daniel Indrusiak Fim;
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária: Coordenador
Prof. MSc José Nestor de Paula Lourenço.
67
Comunidades onde foram implementados os Projetos e as respectivas famílias:
PROCIMA – Programa de criação intensiva de Matrinxã (Brycon Cephalus) em
Canais de Igarapés de Terra Firme:
Assentamento do Tarumã-Mirim, Km 21 da BR-174 – Manaus-AM
O lote do Sr. Avemar Bobote - n° 90, na Comunidade do Ramal da
Conquista 3 Galhos;
O lote do Sr. Antônio Carlos de Almeida - n° 68, na Comunidade do
Ramal 3 Irmãos;
O lote do Sr. Egiceli Nascimento de Souza - n° 84-A, na Comunidade do
Ramal Novo Paraíso;
O lote do Sr. Rubens Pereira dos Santos - n° 652, na Comunidade do
Ramal da Felicidade.
TANRE - TANQUES-REDE – Tecnologia para o cultivo de Tambaqui e Matrinxã
em Nível Familiar nas comunidades ribeirinhas dos Municípios de Maués e
Iranduba:
Lago do Maués-Miri – Maués-AM;
Dirceu Leão Michiles
Antonia Correa de Oliveira
Eder Michiles de Oliveira
Joséas Aboabe Correa
Arioni Fonseca da Costa
Lago do Ariauzinho – Iranduba-AM
Valter de Assis Alves
Raimundo Jacinto da Silva
Francisco Edmilson Ribeiro de Almeida
Armando Pinheiro de Oliveira
Azemar Benício da Silva
Manoel Santos Castro
Odete da Conceição Santos
Francinaldo Andrade Farias
Auxiliadora Olegário Frazão
68
3.4 Instrumentos de coleta de dados
Para Bêrni (2002), diz-se que as fontes primárias são aquelas cujo envolvimento
direto do pesquisador é o responsável pela obtenção, como é o caso das entrevistas e
questionários, por contraste às fontes secundárias, as quais resultam do exame de
registros contábeis ou administrativos originalmente feitos sem a intenção de
reaproveitamento por parte dos pesquisadores. No que diz respeito à determinação do
número de casos, Gil (2002, p. 139) atenta para o fato de que os estudos de caso podem
ser constituídos tanto de um único quanto de múltiplos casos. Os instrumentos
utilizados para coleta e análise dos dados foram os seguintes:
3.4.1 Fontes de dados Secundários
A pesquisa documental se deu nos arquivos da Fundação Centro de Análise,
Pesquisa e Inovação Tecnológica – FUCAPI; Instituto Nacional de Pesquisa do
Amazonas – INPA e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA, onde
foram tomados como referência os relatórios elaborados pelos responsáveis pelos
projetos desde a implantação do Programa Plataforma Tecnológica/APL no período de
2003 a 2006.
3.4.2 Coleta de dados primários
A pesquisa de Campo foi realizada nos locais onde foram implementados os
projetos; PROCIMA e TANRE. Também foram entrevistados nos respectivos órgãos,
os coordenadores dos projetos e o coordenador interveniente. Foram utilizados
entrevistas e formulários como técnica de coleta de materiais.
A entrevista pode ser definida como um encontro entre duas ou mais pessoas a
fim de que uma ou mais delas obtenha dados, informações, opiniões, impressões,
interpretações, posicionamentos, depoimentos, avaliações a respeito de um determinado
assunto, mediante uma conversação de natureza acadêmica e/ou profissional.
Segundo Lima (2004, p. 90), a entrevista, por pressupor mais tempo se
comparado ao questionário ou ao formulário, devido à intensidade do contato e por
envolver maior profundidade na comunicação estabelecida entre o pesquisador e o
entrevistado, o material resultante pode ser rico em termos descritivos, ilustrativos,
explicativos e analíticos. A utilização de entrevista restringiu-se a uma abordagem semi-
69
estruturada e de caráter exploratório e se deu juntos aos coordenadores do INPA,
EMBRAPA E FUCAPI.
A utilização do formulário é relacionada ao levantamento (survey) que é uma
técnica de coleta de dados que pertence à categoria de pesquisa direta extensiva. Tanto
quanto o questionário, o formulário pressupõe trabalhar com o universo total de uma
determinada população (censo) ou com critérios amostrais. Para Lima (2004, p.70) o
formulário é um instrumento de coleta de dados com o qual, sob a orientação de um
roteiro de questões, o pesquisador aborda, questiona e registra as respostas obtidas do
contato com base em uma comunicação direta.
A pesquisa através de formulários com perguntas semi-abertas, abertas e
fechadas foram aplicadas junto às famílias nas comunidades onde foram implementados
os projetos.
3.5 Análise e interpretação dos dados
Para Gil (1999, p.185), não existem, pois, normas que indiquem os
procedimentos a serem adotados no processo de interpretação dos dados. O que existe
na literatura especializada são recomendações acerca dos cuidados que devem tomar os
pesquisadores, para que a interpretação não comprometa a pesquisa. Quase tudo o que é
dito sobre interpretação dos dados na pesquisa social refere-se à relação entre os dados
empíricos e a teoria. Segundo Merton (1964) apud Gil (1999, p.186), quando a
interpretação dos dados se apóia em teorias suficientemente confirmadas, lançam-se
“raios de luz no obscuro caos dos materiais”.
Como o estudo de caso vale-se de procedimentos de coleta de dados os mais
variados, o processo de análise e interpretação pode, naturalmente, envolver diferentes
modelos de análise. Para Gil (2002, p.141) o mais importante na análise e interpretação
de dados no estudo de caso é a preservação da totalidade da unidade social. Daí, então, a
importância a ser conferida ao desenvolvimento de tipologias. Muitas vezes, esses
“tipos ideais” são antecipados no planejamento da pesquisa. Outras vezes, porém,
emergem ao longo do processo de coleta e análise de dados.
Para a análise dos dados coletados, foram utilizadas técnicas de estatística
simples e análise de conteúdo. As técnicas estatísticas utilizadas foram, basicamente, as
de natureza simplificada.
70
3.5.1 Tratamento dos dados qualitativos
Segundo Bêrni (2002, p.236), o que particulariza os trabalhos qualitativos é que
eles possibilitam descrever as qualidades de determinados fenômenos ou objetos de
estudo. As fontes mais utilizadas para este tipo de análise são documentais ou resultado
de entrevistas e observações.
3.5.1.1 Análise de conteúdo
A noção de tema está ligada a mensagem que se referem a determinado assunto.
O tema é a unidade de significação que se depreende de um texto analisado de acordo
com critérios relativos à teoria que serve de guia de leitura (BÊRNI, 2002, p.252).
Assim a partir da teoria e de um conhecimento prévio exploratório do material a ser
analisado elabora-se um sistema de categorias temáticas, por meio do qual se classifica
de forma exaustiva o material analisado. Os dados qualitativos foram assim tratados:
Análise temática
o Definição da unidade de análise;
o estabelecimento de categorias;
o quantificação do conteúdo
A tabulação dos dados provenientes de questões abertas consiste na leitura das
respostas e na identificação de uma palavra, um conceito, uma expressão que revele a
essência do sentido da resposta. Feito isso e encontradas palavras ou expressões
adequadas para representar os depoimentos, temos o que se chama de categorias. Na
aplicação dos formulários junto ás comunidades, as categorias foram pós-determinadas,
ou seja, foram formuladas após a coleta dos dados. Após a determinação das categorias,
os dados foram tratados através da estatística descritiva.
Através do softwear de estatística, Minitab Release 14, trataram-se os dados
qualitativos, estabelecendo categorias e quantificando o conteúdo posteriormente.
O resultado da entrevista estruturada, junto aos coordenadores, foi tratado pelo
nível de convergência dos conteúdos encontrados, elaborados categorias de respostas
que permitiram a análise das mesmas.
71
3.5.2 Tratamento dos dados quantitativos
Tabulação é o processo de agrupar e contar os casos que estão nas várias
categorias de análise (BÊRNI, 2002, p.170). Após a tabulação dos dados, se procederá à
sua análise estatística, através da descrição dos dados.
O procedimento da tabulação se deu da seguinte forma. Enumeraram-se todas as
respostas das questões fechadas e semi-abertas apresentadas no formulário. Em seguida,
utilizando-se um softwear de estatística, o Minitab Release 14, apuraram-se as
freqüências e percentuais das diversas variáveis.
72
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste capítulo descreve-se, analisa-se e interpreta-se os dados coletados durante
a realização da pesquisa. Para tanto, aborda-se inicialmente um breve resumo do
Programa Plataforma Tecnológica e suas perspectivas para o Estado do Amazonas
destacando-se os projeto a ele vinculado no campo da piscicultura, PROCIMA e
TANRE. E em seguida, apresenta-se o perfil socioeconômico dos atores integrantes das
comunidades envolvidas nos dois projetos para depois então, dividir as análises e
interpretações dos dados colhidos de cada um deles.
Esta forma de abordagem proporcionará melhor visão de cada projeto em
separado, devido suas particularidades. Desse modo, foca-se inicialmente nos aspectos
inerentes ao projeto PROCIMA e sua tecnologia de canal de igarapé em terra firme
implementado em um assentamento do INCRA. e, em um segundo momento, no projeto
TANRE e a tecnologia dos tanques-rede em lagos no interior do Estado do Amazonas.
Após a descrição das especificidades relativas aos dois projetos, faz-se uma
comparação entre eles para abrir discussões sobre duas frentes: a) as principais variáveis
que nortearam a pesquisa socioeconômica, ou seja, renda e inclusão alimentar; b)
análise dos principais gargalos identificados no APL de piscicultura; regulamentação,
busca de mercado e capacitação de recursos humanos.
Por último, a analise e interpretação dos dados colhidos por meio da entrevista
semi-estruturada aplicada aos coordenadores dos projetos PROCIMA e TANRE,
procurando fazer um levantamento de como foi conduzida a política pública e sua
eficácia na sustentabilidade dos projetos.
4.1 – O PROGRAMA PLATAFORMA TECNOLÓGICA/APL
De acordo com Lima (2005), o Programa Plataforma Tecnológica/APL, visa
promover a vinculação das instituições de pesquisa com os setores produtivos. É de
iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MTC), em conjunto com os Governos
Estaduais.
Atualmente a FINEP dispõe de dotações orçamentárias destinadas ao
financiamento de projetos vinculados a Arranjos Produtivos Locais, promovidos pelo
MCT, onde o trabalho vem por meio de uma demanda concreta, após a articulação de
73
todos os entes ligados a cadeia produtiva, originando ações de tecnologia e inovação
para resolver os gargalos tecnológicos das cadeias.
Segundo Lima (2005, p.205): É, portanto, um programa que visa à solução de gargalos tecnológicos de determinadas áreas prioritárias em cada Estado. Esse método, Plataformas Tecnológicas, une planejamento e ação e ao mesmo tempo, é um processo de envolvimento e negociação entre todos os atores participantes: o setor produtivo, as universidades e centros de pesquisa, o SEBRAE, o SENAI, o IEL, a EMBRAPA, o MCT e suas agências e os governos estaduais por meio das Secretarias de Ciência e Tecnologia e das Fundações de Amparo à Pesquisa.
No caso específico do Estado do Amazonas, foram priorizados quatro segmentos
entre os quais a piscicultura. A partir daí definiram-se os principais gargalos existentes
no arranjo produtivo de piscicultura e suas respectivas ações estratégicas: O primeiro
denominado Ordenamentos e Regulamentação, o segundo, Geração/Adaptação e
Difusão de Tecnologia, o terceiro, Competitividade e Mercado, o quarto Capacitação de
Recursos Humanos e o quinto Piscicultura Familiar.
O grupo de Ordenamentos e Regulamentação apontou como gargalos a
Regulamentação do Aquicultor; para solução apontou-se a desburocratização do
processo de regulamentação. O grupo de Geração/Adaptação e difusão de Tecnologia,
citou como gargalo, às doenças, reprodução, sistema de produção, impacto ambiental.
Como ações estratégicas, o diagnóstico, prevenção e controle de doenças; reprodução
massiva de alevinos; adaptação de sistemas de produção nas diferentes unidades de
produção; indicadores de impacto ambiental.
No grupo de Competitividade e Mercado foram inclusos os gargalos
relacionados a crédito, estudo da cadeia produtiva, custo de produção, redução do custo
e busca de mercados para pequenos piscicultores. As ações sugeridas foram viabilização
de linhas de crédito; identificação das restrições e potencialidades técnicas, econômicas
e sociais da cadeia produtiva da piscicultura; estabelecimento de estratégias para
diminuição do ciclo e custo de produção; e o fortalecimento do associativismo.
Para o grupo Capacitação de Recursos Humanos, foi identificado apenas um
gargalo que é a profissionalização do setor. As ações propostas foi o fortalecimento de
cursos de nível médio e pós-médio, especialmente nas regiões produtoras; capacitação
dos piscicultores em técnicas de cultivo, processamento e gestão, além de cursos de
atualização para os técnicos que prestam assistência técnica aos piscicultores.
74
Quanto ao grupo Piscicultura Familiar, o gargalo identificado foi à falta de
tecnologias adequadas. Para isso propôs-se como ações estratégicas o desenvolvimento
de práticas de criação e técnicas de manejo e processamento para a piscicultura familiar.
Em reunião, ao serem validados e priorizados, os representantes de cada grupo
optaram por estabelecer a prioridade atribuindo pontos e tendo como critérios a
sustentabilidade ambiental; a capacidade de geração e adoção de tecnologia; a
relevância social e a importância econômica. Dessa forma a temática Piscicultura
Familiar obteve a maior pontuação.
Os sistemas de produção escolhidos foram o de Tanque-Rede e Canais de
Igarapé e definidos os projetos que o comporiam: 1) Projeto Tanques-rede (TANRE):
Tecnologia par o cultivo de tambaqui e matrinxã em nível familiar; 2) Programa de
Criação Intensiva de Matrinxã em Canais de Igarapé de Terra Firme (PROCIMA):
aplicação em nível de subsistência e empresarial.
O primeiro destina-se àquele produtor que não tem uma propriedade apropriada
para a criação de peixe, mas reside em local próximo a lagos, propícias a instalação de
tanques-rede. O segundo, aos detentores de propriedade em terra firme, no interior da
floresta, mas que não dispõem de recursos para confeccionar uma barragem.
Na seção 3.4 deste capítulo discute-se a ampliação das etapas do APL de
piscicultura, fazendo levantamento nos dois projetos de possíveis ações estratégicas,
visando eliminar os gargalos da cadeia produtiva e sua real eficácia, pois acredita-se que
depois da priorização da Piscicultura Familiar, a solução dos outros gargalos seriam
imprescindíveis na sustentação do APL.
4.1.1 Projeto PROCIMA
O projeto tem como órgão executor o INPA e como co-executores: Instituto de
Proteção Ambiental do Amazonas/IPAAM; Superintendência da Zona Franca de
Manaus/SUFRAMA; Universidade Federal do Amazonas/UFAM; Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária/INCRA. Teve como instituição interveniente a
Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico/SEDEC atual SEPLAN e envolve
a participação de pequenos produtores do Assentamento do Tarumã-Mirim, Km 21 da
BR-174 – Manaus-AM
Seu propósito é montar um programa de produção de matrinxã com elevada
produtividade a partir de tecnologia desenvolvida na região e repassar aos setores
75
produtivos locais para aplicação imediata tanto na manutenção familiar como
empresarial.
Para tanto, iniciaram-se os estudos com experimentos relativos ao manejo de
reprodutores em tanques, manutenção temporária desses reprodutores em água corrente,
indução de desova, e larvicultura e alevinagem. Posteriormente, procederam-se ao
cultivo intensivo de matrinxã no canal de igarapé em canais experimentais de criação
construídos nas propriedades dos pequenos produtores já mencionados.
Da mesma forma que o projeto TANRE o PROCIMA também previu, em suas
diversas etapas de estudo, uma estreita articulação entre as instituições parceiras para o
desenvolvimento de suas atividades, as quais ficaram assim distribuídas: a cargo do
INPA a coordenação e o acompanhamento do cultivo, o monitoramento do nível
estresse, o manejo e biometria dos peixes. Com a UFAM, o monitoramento da água
enquanto que o IPAAM cuida dos impactos.ambientais provocado pelo cultivo e a
SUFRAMA do acompanhamento do cultivo.
4.1.2 Projeto TANRE
Trata-se de um projeto proposto pela FUCAPI, que teve como instituição
interveniente a SEDEC, atual SEPLAN e está sendo executado pela EMBRAPA, tendo
como co-executores, o INPA e o IPAAM. Destina-se ao estudo da adaptação e
transferência de uma tecnologia existente, tanques-rede, para o cultivo de tambaqui
(Colossoma macropomum) e matrinxã (Brycon cephlus) em nível familiar, propondo-se
especificamente a:
a) introduzir o uso de tanques-rede em pequenas comunidades rurais para a criação
de peixes amazônicos;
b) verificar a eficiência do conteúdo nutricional de frutos e sementes de áreas
inundáveis na alimentação e crescimento de espécies ícticas com potencial a
piscicultura;
c) avaliar o estado de saúde e presença de infrapopulações e parasitas em tambaqui e
matrinxã cultivados em tanques-rede e testar tratamentos;
d) avaliar o impacto ambiental da introdução deste sistema de cultivo nas áreas
estabelecidas.
Além das instituições de pesquisa e do órgão de políticas estaduais de meio
ambiente envolvidos com a execução do projeto, este envolve as comunidades
76
ribeirinhas dos Municípios de Maués e Iranduba. Essas comunidades participam de
treinamentos, por meio de aulas, palestras, discussões, mesas redondas e cartilhas, cujas
atividades são realizadas periodicamente de acordo com o desenvolvimento das etapas
de estudo.
Em função dessa metodologia os idealizadores do projeto acreditam estar
transferindo os conhecimentos gerados aos integrantes dessas comunidades, visto que
desde a sua implantação os estudos estão sendo desenvolvidos com a participação
efetiva das famílias beneficiadas, as quais têm acompanhado os estudos em todos os
níveis de atividade. Com isso, espera-se que estas pessoas tornem-se agentes
multiplicadores desta tecnologia, estando, portanto, aptos a adotá-la.
Com o alcance do propósito mencionado, almeja-se a obtenção de uma elevada
produtividade e por meio dela a melhoria da qualidade de vida das comunidades, tanto
por disporem de alimento de boa qualidade nutricional, quanto em função do aumento
de renda dessas comunidades por meio da comercialização do excedente de pescado.
4.2 Perfil socioeconômico dos participantes do projeto PROCIMA e TANRE
O perfil socioeconômico dos envolvidos nos projetos PROCIMA e TANRE
encontra-se nas tabelas de 1 à 8 a seguir as quais explicitam as categoriais: Gênero,
Estado Civil, Grau de Instrução, Número de Indivíduos na Família, Número de Filhos,
Principal Atividade Econômica da Família, Renda Familiar Oriunda da Principal
Atividade Econômica e Número de Indivíduos da Família que Trabalham na
Piscicultura.
CATEGORIA FREQ. (%)
Masculino 12 80,00 Feminino 3 20,00 TOTAL 15 100,00 Tabela 1 - Gênero Fonte: Pesquisa de campo
77
CATEGORIA FREQ. (%)
Solteiro (a) 4 26,67 Separado (a) Divorciado (a) Casado 11 73,33 Viúvo Convivente TOTAL 15 100,00 Tabela 2 – Estado Civil Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Analfabeto Até 4ª série incompleta do ensino fundamental 2 13,33 Com a 4ª série completa e ensino fundamental incompleto 5 33,33 De 5ª a 8ª série incompleta do ensino fundamental 4 26,67 Ensino fundamental completo 1 6,67 Ensino médio incompleto 1 6,67 Ensino médio completo 1 6,67 Ensino superior incompleto Ensino superior completo 1 6,67 TOTAL 15 100,00 Tabela 3 – Grau de Instrução Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
De 01 a 03 pessoas 2 13,33 De 04 a 08 pessoas 13 86,67 De 09 a 12 pessoas TOTAL 15 100,00 Tabela 4 – Número de Indivíduos na Família Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%) Não tenho filhos 2 13,33 De 01 a 03 filhos 7 46,67 De 04 a 08 filhos 6 40,00 Mais de 09 filhos TOTAL 15 100,00 Tabela 5 – Número de Filhos Fonte: Pesquisa de campo
78
CATEGORIA FREQ. (%)
Trabalho na criação de peixes Trabalho em lavouras na região 1 6,67 Trabalho de subsistência 9 60,00 Trabalho informal/bico Aposentado 2 13,33 Outros 3 20,00 TOTAL 15 100,00 Tabela 6 – Principal Atividade Econômica da Família Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Menos de 1 salário mínimo 1 6,67 1 salário mínimo 5 33,33 Até 2 salários mínimo 3 20,00 De 2 a 3 salários 3 20,00 Mais de 3 salários mínimo 3 20,00 TOTAL 15 100,00 Tabela 7 – Renda Familiar Oriunda da Principal Atividade Econômica Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%) 1 indivíduo 9 60,00 De 2 a 3 indivíduos 5 33,33 De 4 a 5 indivíduos 1 6,67 Mais de 6 indivíduos TOTAL 15 100,00
Tabela 8 – Número de Indivíduos da Família que Trabalham na Piscicultura Fonte: Pesquisa de Campo
Como demonstram os dados da tabela 1, 2 e 3 o perfil social dos envolvidos nos
projetos PROCIMA e TANRE são homens a grande maioria, 80%, casados com grau de
instrução concentrados no ensino fundamental incompleto, ou seja, com a 4ª série
completa 33,33% dos participantes e de 5ª a 8ª série incompleta 26,67%. Porém Lima
(2005) afirma que a linguagem e diferenciação no grau de instrução não foram
consideradas como fatores impeditivos na assimilação dos conhecimentos, porque o
coordenador do projeto já possui um certo tempo de trabalho com aquelas comunidades.
Também demonstram os dados, que as famílias contempladas, não se
caracterizam por muitos membros, pois conforme se visualiza na tabela 4; o número de
integrantes situa-se entre 04 e 08 pessoas na família representando 86,67%, ou seja a
grande maioria; já com número menor de membros, entre 01 e 03, aparece com 13,33%
de representatividade. A maior parte das famílias 46,67% possuem no máximo 03
79
filhos. De 04 a 08 filhos, é representado por 40,00% das famílias, o restante não
possuem filhos.
Relativo a principal atividade econômica que mantém as famílias contempladas
no projeto, representa 60,00% em trabalho de subsistência, apresentando a maior parte
uma renda familiar entre um e três salários mínimos, 40,00% enquanto aqueles que
recebem até um salário mínimo, representam 33,33% dos participantes.
Dos números acima depreende as expectativa de alcance de benefício
socioeconômico com a implementação de ambos os projetos vez que o projeto
PROCIMA objetiva a criação de matrinxã com elevada produtividade e baixo impacto
ambiental, para manutenção familiar (alternativa de produção de alimentos para o
consumo e própria sobrevivência das pessoas alocadas nos assentamentos) ou mesmo
como atividade empresarial (empreendimentos de lazer, ecoturismo, pequenos
produtores nas pequenas comunidades e assentamentos nos programas governamentais
do Estado do Amazonas). Enquanto que o TANRE dedica-se ao cultivo de tambaqui e
Matrinxã em nível familiar para pequenas comunidades rurais, visando a
disponibilização de alimento e aumento da renda pela comercialização do excedente
gerado.
Segundo Lima (2005), a intenção desses projetos não é tornar a piscicultura uma
atividade única, mas sim uma das atividades complementares, porque a agricultura
familiar no Estado do Amazonas está baseada em uma produção diversificada com
pequena escala e o peixe seria mais um desses produtos.
Por sua vez Folhadela (2005, p.65), afirma que a população do interior do
Estado do Amazonas, próxima de igarapés, sofre carências alimentares sérias que a leva
a abandonar o meio rural e suas residências localizadas no interior do Estado e se dirija
aos centros urbanos onde, certamente, ficará em situações críticas de sobrevivência
criando sérios problemas sociais. A realidade do Estado do Amazonas, formado por
pequenas propriedades e pequenos produtores rurais, de baixo nível de renda, é de
difícil acesso aos meios e técnicas de produção, mas ávidos por terem disponíveis
técnicas de experimentos que viabilizem a piscicultura em pequena escala produtiva.
Do exposto, deduz-se que os programas PROCIMA e TANRE, atingem esse
público, conforme o perfil apurado pela pesquisa, dando possibilidades da fixação do
homem no meio rural. Essas evidencias nos conduz ao entendimento de que para a
maioria, foi muito importante a implementação desse projeto, devido às condições de
vida voltada para a agricultura de subsistência, ou sobrevivendo com a ajuda de
80
aposentadoria de um familiar. A construção do canal de igarapé em terra firme e
tanques-rede proporcionaram trabalho, para pelo menos um membro da família,
conforme apresenta a tabela 8 representando 60,00% dos participantes, e para outras
famílias, chegou a envolver de 2 a 3 membros, representando 33,33% dos envolvidos,
proporcionando bem estar social e renda.
4.3 Análise do projeto PROCIMA
Agrupa-se nesta seção para análise as questões que têm por objetivo mapear os
estágios de expansão do projeto acima citado e apontar os benefícios socioeconômicos
gerados pelo mesmo.
As variáveis que nortearam a pesquisa quanto à expansão do APL foram às
seguintes:
Formação de novos criadores, através da disseminação do conhecimento;
Formação de cooperativa;
Acesso a mercados;
Apoio financeiro governamental ou não-governamental;
Construção de novo canal de igarapé;
Continuidade na criação de peixes.
Quanto aos benefícios socioeconômicos gerados pelo APL, as variáveis
avaliadas foram:
Acesso à educação;
Emprego a familiares e terceiros;
Melhoria na alimentação;
81
Melhoria na saúde;
Geração de renda;
Externalidades positivas na comunidade.
4.3.1 Avanços e expansão do projeto PROCIMA
Dado a importância das políticas governamentais para a fixação do homem no
meio rural, com oportunidade de boa alimentação e geração de renda para seu bem estar
social, o projeto piloto, PROCIMA, foram experimentos com proposta de expansão,
através do conceito de arranjos produtivos locais, proporcionando a disseminação do
conhecimento para toda a comunidade do assentamento Tarumã Mirim.
Para a seleção das áreas para a instalação dos módulos experimentais foram
efetuadas visitas a várias localidades no Ramal do Pau Rosa, na BR-174, km 21. Esta
área pertence a um projeto de assentamento denominado Tarumã Mirim, sob a
responsabilidade do INCRA, com 1.042 lotes com o tamanho de 25 hectares
desenhados em uma área total de 42.000 ha, com uma característica importante para o
sucesso do projeto, a existência de igarapés em grande parte dos terrenos
(FOLHADELA, p. 81).
Dentre as 20 (vinte) localidades visitadas, afirma Folhadela (2005), foram
selecionadas quatro do Assentamento do Tarumã Mirim para a implantação dos
experimentos de criação de matrinxã em canais de igarapés de terra firme. Foram elas:
O lote do Sr. Avemar Bobote - n° 90, na Comunidade do Ramal do
Conquista 3 Galhos;
82
O lote do Sr. Antônio Carlos de Almeida - n° 68, na Comunidade do Ramal
3 Irmãos;
O lote do Sr. Egiceli Nascimento de Souza - n° 84-A, na Comunidade do
Ramal Novo Paraíso;
O lote do Sr. Rubens Pereira dos Santos - n° 652, na Comunidade do Ramal
da Felicidade. (sem registro fotográfico)
83
O conceito de APL adotado pela RedeSist, segundo Lastres e Cassiolato (2003)
é de que as aglomerações territoriais de agentes econômicos políticos e sociais – com
foco em um conjunto específico de atividades econômicas – podem apresentar vínculos
mesmo que incipientes.
A importância da utilização do modelo dos APLs para o desenvolvimento
regional, é que a implementação do projeto com tecnologia para cultivo de Matrinxã
fosse estruturado, visando a formação de uma cadeia produtiva ao ponto de expandir e
ganhar forças gerando renda para a região.
Assim, mesmo sendo incipientes a cooperação entre os atores envolvidos no
projeto, o encadeamento do setor produtivo, pode ter ganhos de produtividade, a medida
que a aprendizagem coletiva faz surgir oportunidades, através das trocas de
informações, encontrando saídas em conjunto como negociações e acesso a novos
mercados.
Para Alfred Marshall (1982) o transbordamento de conhecimento, origina-se de
uma fonte importante de conhecimento técnico, que é a troca informal de informações e
idéias, que ocorre mais facilmente em negócios localizados em uma mesma região.
Marshall (1982, p.234) diz “Os segredos da profissão deixam de serem segredos, e, por
assim dizer, ficam soltos no ar”.
Trazendo os conceitos acima para a realidade estudada, salienta-se que os
entrevistados que participaram do projeto PROCIMA, afirmaram conhecer hoje poucas
pessoas que estão criando peixes no assentamento do Tarumã mirim. Não se sabe se
estas pessoas estão utilizando a tecnologia do canal de igarapé em terra firme, conforme
desenvolvida pelo programa do governo através do INPA, e autorizada pelo IPAAM,
conforme resolução CEMAAM nº 01/08; publicada no Diário Oficial do Estado do
Amazonas nº 31.377 de 03 de Julho de 2008 (Anexo 1).
Esta afirmativa confirma a disseminação do conhecimento dada pelos
entrevistados, conforme tabela 9, quando informaram que transferiram conhecimento
para alguém da comunidade para que pudessem implantar o canal de igarapé em seu
lote, no assentamento, ou mesmo buscando informações com os órgãos envolvidos no
projeto, como o INPA.
84
CATEGORIA FREQ. (%) Sim 3 100,00 Não TOTAL 3 100,00 Tabela 9 – Transferência de Conhecimento na Comunidade Fonte: Pesquisa de campo
Todos os envolvidos no projeto, afirmaram que valeu a pena começar o negócio
de criação de peixes, fato esse confirmado pela resposta dada ao questionamento se eles
construiriam outro canal de igarapé, conforme mostra o gráfico abaixo.
Gráfico 1 – Construção de novo canal de igarapé Fonte: o autor Dado o envolvimento das pessoas contempladas pelo projeto com os técnicos e
coordenadores dos órgãos, somando os resultados que foram se apresentando, criaram
expectativas e se empolgaram com o sucesso futuro. Diante da visão de uma vida
melhor, com trabalho, alimentação e melhor renda, até hoje guardam a expectativa de
criar o peixe, alimentar-se, negociar o excedente e expandir o negócio, com a
construção de novo canal de igarapé.
Neste sentido, destacam-se as colocações de Cocco et al (2002) devem
contemplar um planejamento do contexto capaz de tornar visíveis as “mãos da
comunidade” e sobretudo, de fazer emergir formas de atuação empreendedoras nestes
“territórios sociais”. Deste modo, trata-se da criação das condições necessárias (o meio
ambiente necessário) à emergência de atividades produtivas ancoradas nestes territórios,
capazes de incorporar as franjas populacionais à esfera da cidadania.
Os resultados a serem colhidos pela implementação do Programa Plataforma
Tecnológica/APL era incluir essas pessoas ao universo produtivo, proporcionando-lhes
bem estar social e econômico. As afirmativas dos entrevistados quanto à melhoria de
85
alimentação durante o desenvolvimento do projeto e a segurança de poder fixar-se na
área rural, sem medo de ter que voltar a cidade em busca de emprego, representa a
confiança que depositaram no sucesso do programa.
Durante a implementação do projeto, os envolvidos afirmaram perceber que a
produção do peixe aumentava a cada nova safra, devido a experiência que se somava a
cada ano, aliada a motivação e poder oferecer melhor alimentação à família além da
possibilidade de auferir ganhos financeiros com a venda dos peixes.
Quanto às quantidades exatas que produziram durante os anos de implementação
do projeto, ou seja, 2003 à 2006, um participante afirma não ter idéia da produção,
enquanto que outro afirmou ter produzido aproximadamente 500 Kg em 2003; 700 Kg
em 2004; 800 Kg em 2005 e em 2006 apenas 300 Kg devido já a falta de alimento e ao
rompimento de sua barragem.
Concernente aos resultados advindos com a execução do projeto, os dados
coletados nos conduzem ao entendimento de que os seus participantes acreditavam no
êxito da produção de peixe em canais de igarapé, pois a maioria deles afirmaram ser
vantagem desse tipo de cultivo conforme se observa na tabela 10.
CATEGORIA FREQ. (%)
Vantagens 3 100,00 Desvantagens TOTAL 3 100,00 Tabela 10 – Você Encontrou Vantagens ou Desvantagens ao Criar Peixes Fonte: Pesquisa de campo
Dentre as vantagens mais citadas pelos participantes do projeto, está o
fornecimento de alimento para a família e a renda que gerou pela venda ou negociação
do excedente. Outra vantagem muito citada foi o conhecimento e a aprendizagem que
adquiriram e que não perdem mais; ainda sobre vantagens, apontaram a facilidade de
tocar o negócio e a boa produção em pequeno espaço.
Confrontando-se os dados acima com as propostas do APL de piscicultura do
Estado do Amazonas, percebe-se que um dos objetivos implícitos do referido arranjo foi
atingido que é a inclusão alimentar e a geração de renda familiar com o excedente da
produção.
86
Para que se formasse a cadeia produtiva da produção de peixes, é de suma
importância que todos os participantes do projeto discutissem quais os mercados
deveriam ser acessados e como se daria esse acesso. O conceito de arranjo produtivo
local favorece essa interação entre os atores na busca do melhor resultado para todos.
O empenho desses atores é fundamental na sobrevivência do projeto, pois,
qualquer falha, de ordem técnica, ou isolacionismo, poderia causar o fracasso do
mesmo. É aí que encontramos a importância da cooperação entre os participantes, afim
de não permitir a quebra de um ou alguns pilares de sustentação do projeto.
Diante das respostas apresentadas nas tabelas abaixo, verificamos que houve
durante o desenvolvimento do projeto, preocupação na melhoria da produtividade e
escoamento do excedente produzido.
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim, facilita muito 3 100,00 Sim, facilita um pouco Não facilita, mas também não atrapalha
Além de não facilitar, atrapalha um pouco
Além de não facilitar, atrapalha muito TOTAL 3 100,00 Tabela 11 –Manutenção do Projeto e as Vendas se Houvesse uma Cooperativa? Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Não, nunca pensei no assunto Não, mas penso nisso para um futuro próximo 1 33,33 Sim, já nos reunimos algumas vezes 2 66,67 TOTAL 3 100,00 Tabela 12 – Houve Reunião para Tratar da Melhoria da Produção e Comercialização Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Não, cada um negociou o seu 2 66,67 Sim, nos unimos para melhorar as vendas 1 33,33 TOTAL 3 100,00 Tabela 13 – Procuraram em Conjunto um Comprador para o Excedente Fonte: Pesquisa de campo
87
Como se observa na tabela 11, cem por cento dos entrevistados responderam que
facilita muito a manutenção do negócio e o escoamento da produção se houvesse uma
cooperativa. A reunião de todos os produtores em cooperativa traria benefícios ao
grupo, pois garantiria a colocação no melhor preço de mercado de seus produtos,
evitando a presença do atravessador, que procura comprar mais barato, visando ganhos
na negociação. Por outro lado permitiria que todos pudessem estar concentrados na
produção e melhoria da produtividade dos peixes, sabendo que não haveria perdas em
fracionar as vendas pela comunidade, sem fixação do preço de forma racional,
calculando custos e margem de lucro.
Observa-se que houve interesse do grupo em discutirem a melhoria da produção
e comercialização, face às dificuldades encontradas em formar a cadeia produtiva do
APL, quando analisamos as respostas da tabela 12. Duas pessoas responderam que já
haviam se reunido, algumas vezes, para discussão e formação da cadeia produtiva.
No entanto, quando avaliamos as respostas da tabela 13, sobre o esforço dos
criadores de peixe em procurar um comprador para o excedente da produção, nota-se
que a maioria dos envolvidos negociou individualmente sua produção.
Este posicionamento ficou claro quando respondem sobre as oportunidades de
negócios que surgiram durante a produção de peixes.
PERGUNTA RESPOSTAS FREQ (%)
Quais as oportunidades de negócios que surgiram, com a produção de peixes?
Venda na comunidade e outra parte na
cidade Venda na comunidade; Doei parte
Venda na comunidade; Prefeitura;
1
1
1
33,33 33,33 33,33
Quadro 01– Análise de Conteúdo das Oportunidades de Negócios FONTE: Pesquisa de campo
Verifica-se que os produtores procuravam vender o peixe na própria
comunidade; às vezes, os consumidores iam pessoalmente comprar e o preço era dado
no momento do negócio. Na realidade cada um vendia seu produto como podia, pois
apesar dos movimentos incipientes para procurar um comprador, ou mesmo para formar
uma cooperativa, não se realizaram.
88
Não obstante a proposta do programa Plataforma Tecnológica/APL contemple
explicitamente a solução de gargalos tecnológicos de determinadas áreas prioritárias em
cada Estado, os estudos desenvolvidos no APL de piscicultura do Estado do Amazonas
foram propostos com o intuito de proporcionar condições ao homem que vive no meio
rural de fixar-se no campo, através da geração de renda. A escolha do Assentamento do
Tarumã Mirim que congrega milhares de lotes oferecido às famílias com vocação
agrícola, fundamenta-se exatamente na possibilidade de ofertar um horizonte de bem-
estar social num local onde a renda é escassa, porém rico em recursos naturais. Esses
recursos, como por exemplo, os canais de igarapé, podem oferecer emprego, alimento e
renda se utilizados de forma sustentável, como prevê o programa.
Expandir para todo o assentamento a tecnologia dos canais de igarapés, seria
uma política de distribuir melhor a renda, numa localidade que vive-se da agricultura de
subsistência e produção de carvão.
Contudo, o alcance de tais propósitos foi prejudicado, pois conforme se visualiza
nas tabelas 14 e quadro 2; as comunidades não deram continuidade à criação de peixes
com a tecnologia do canal de igarapé em terra firme devido à dificuldade de acesso; isto
é, falta de condução e apoio financeiro e acesso a mercados.
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim Não 3 100,00 TOTAL 3 100,00 Tabela 14 – Continua a Criar Peixes Fonte: Pesquisa de campo
PERGUNTA RESPOSTAS FREQ. (%)
Se a resposta, da questão anterior for negativa, quais os principais motivos que te fizeram parar a criação?
Financiamento do negócio;
Dificuldade de acesso; falta de condução;
2
1
66,67
33,33
Quadro 02 – Análise de Conteúdo dos Motivos que Levaram a Parar a Criação de Peixes FONTE: Pesquisa de campo
89
Como se observa no quadro acima, a falta de recursos financeiros foi um dos
motivos para a não continuidade do negócio, afirmam 66,67% dos entrevistados. Para
um deles, o desmoronamento do tanque, foi o motivo da paralisação. Porém a
dificuldade financeira mais o acesso complicado para trazer o material de Manaus, para
refazer o canal de igarapé obrigou-o a parar. Hoje continua a criar peixes, porém sem
utilizar a tecnologia do canal de igarapé em terra firme. Outro entrevistado afirma estar
momentaneamente sem criar peixes, mas se prepara para voltar, dentro do padrão
ensinado pelo INPA.
Dessa forma, apresenta-se nas figuras abaixo a situação atual de alguns dos
contemplados no Projeto PROCIMA:
O lote do Sr. Egiceli Nascimento de Souza - n° 84-A, na Comunidade do
Ramal Novo Paraíso;
90
O lote do Sr. Antônio Carlos de Almeida - n° 68, na Comunidade do Ramal
3 Irmãos;
Levantando-se as dificuldades encontradas pelos integrantes desta comunidade
desde o início da criação, constatou-se que a falta de recursos para manter o negócio, a
ausência de energia elétrica, a dificuldade na comercialização dos peixes, devido à
distância dos mercados e acesso para trazer a ração, são os principais fatores
impeditivos do desenvolvimento do negócio, conforme especifica a tabela 15.
CATEGORIA FREQ. (%)
Falta gente para trabalhar Falta dinheiro para manter o negócio 1 33,33 Deu problemas na manutenção/falta técnico
Outros 2 66,67 TOTAL 3 100,00 Tabela 15 – Maiores Dificuldades Durante a Criação de Peixes Fonte: Pesquisa de campo
91
Também se constatou, que após o término do projeto nenhum apoio financeiro
foi destinado ao fomento daquela atividade na comunidade mencionada conforme se
observa na tabela 16.
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim Não 3 100,00 TOTAL 3 100,00 Tabela 16 –Apoio Financeiro para Continuar a Criação de Peixes Fonte: Pesquisa de campo
Sem recursos financeiros, os contemplados no projeto deixaram de produzir,
ficando alguns deles na tentativa própria, com os conhecimentos adquiridos ao longo da
implementação do projeto.
4.3.2 Benefícios socioeconômicos gerados pelo projeto PROCIMA
As políticas econômicas com a finalidade de distribuição de renda permitem que
o governo faça chegar renda em regiões de difícil acesso. Quando feita com eficiência,
atenua os desníveis econômicos regionais (PIRES, 1999). No que tange ao Amazonas e
suas peculiaridades é preciso pensar numa política desenvolvimentista sustentável sem a
devastação da floresta e que possibilite benefícios ao interior do estado em face de
concentração de renda na capital.
Nesta acepção, o Programa Plataforma Tecnológica/APL, trás em seu bojo,
também o objetivo de desconcentração espacial e desenvolvimento social e econômico.
Assim, no sentido de compreender e avaliar as contribuições socioeconômicas que o
projeto PROCIMA trouxe para a região, analisa-se a seguir os dados coletados junto aos
contemplados por esse projeto, tomando-se por base as variáveis: acesso à educação;
emprego a familiares e terceiros; melhoria na alimentação; melhoria na saúde; geração
de renda externalidades positivas na comunidade,.conforme mencionou-se
anteriormente.
Com base nos dados da tabela abaixo observa-se os benefícios que o projeto
proporcionou aos sujeitos da pesquisa e seus familiares.
92
CATEGORIA SIM % NÃO % Acesso à escola 33,33 66,67 Proporcionou trabalho a familiares 100,00
Conhecimentos gerais 100,00 Gerou emprego a terceiros 100,00 Passei a fazer compras na cidade 100,00
Tabela 17– Sua Vida Melhorou com a Criação de Peixes? Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Sempre freqüentaram 3 100,00 Começaram depois da implantação do projeto
Não freqüentam TOTAL 3 100,00 Tabela 18– Filhos na Escola Fonte: Pesquisa de campo
Ë possível notar que com a implantação do projeto, não houve benefícios de
acesso a escola para dois participantes, enquanto outro afirma que ele passou a se
interessar pelos estudos devido a necessidade de acompanhamento do projeto. Para os
filhos, nada houve de mudança, todos que possuem filhos afirmaram que eles sempre
freqüentaram a escola, conforme é demonstrado na tabela 18.
Quanto a proporcionar trabalho para familiares e para terceiros, o projeto trouxe
benefícios, pois a maioria afirma ter familiares envolvidos na criação de peixes e
também contrataram terceiros em algum momento. A conquista de conhecimento é
unanimidade entre os participantes do projeto. Todos eles afirmaram a importância do
conhecimento no manejo do peixe, pois antes disso não tinham idéia de como fazer.
Relativo à melhoria trazida por efetuar compras na cidade, ou seja, comprar
artigos diferenciados, e todas as novidades alimentares e nutricionais que encontramos
nos grandes mercados, a maioria afirmou que já faziam compras na cidade antes da
implementação do projeto.
As tabelas 19 e 20 demonstram como ficou a saúde da família após o inicio da
criação de peixes. O projeto tinha o objetivo de inclusão alimentar, o que proporciona
melhoria na saúde trazido pelos benefícios das proteínas encontrada nos peixes. Com
a possibilidade de venda do excedente, puderam também incluir outros itens
alimentares antes inacessíveis.
93
CATEGORIA FREQ. (%)
Excelente Boa 3 100,00 Regular Ruim Péssima TOTAL 3 100,00 Tabela 19 – Como Ficou a Alimentação da sua Família Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim 3 100,00 Não TOTAL 3 100,00 Tabela 20 – Melhoria na Saúde da Família Fonte: Pesquisa de campo
Com base nos dados acima, deduz-se que foram alcançados os objetivos de
inclusão alimentar, pois todos declararam que sua alimentação ficou boa depois do
inicio da criação de peixes e que “era muito bom buscar o peixe fresquinho pra comer
na hora que queria (sic)”. Além disso, afirmaram também que sentiram uma melhora na
saúde da família. Um dos participantes apontou a melhora do estado de saúde das
crianças, como melhor disposição.
O projeto viabilizava também o aumento da renda familiar, quando possibilitava
a comercialização do excedente produzido. Podemos verificar nas tabelas 21, 22, 23 e
24 esses resultados:
CATEGORIA FREQ. (%)
Aumentou 2 66,67 Diminuiu Estável 1 33,33 TOTAL 3 100,00 Tabela 21 – Melhoria na Renda Fonte: Pesquisa de campo
94
CATEGORIA FREQ. (%) TV Som Fogão à gás Geladeira Máquina de lavar Computador Outros 3 100,00 TOTAL 3 100,00 Tabela 22 – Com a Renda da Criação de Peixe pude Comprar: Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim 2 66,67 Não 1 33,33 TOTAL 3 100,0 Tabela 23 – Houve Reformas na Casa? FONTE: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim
Não 3 100,00
Continuou o mesmo
TOTAL 3 100,00 Tabela 24– Melhoria no Transporte Fonte: Pesquisa de campo
Geralmente com o aumento de renda, melhora-se a moradia, o meio de
locomoção e adquire-se bens duráveis, ou seja, eletrodomésticos. Nesse aspecto consta-
se que com a implementação do projeto, duas pessoas afirmam ter aumentado seus
rendimentos, enquanto que outro afirma que a renda permaneceu estável. Um
entrevistado achou insignificante a renda gerada com a criação de peixe no período de
desenvolvimento do projeto e afirma ter guardado o dinheiro na poupança ao invés de
comprar bens duráveis. Outro porém que afirmou que a renda aumentou no período,
também optou por ajudar familiares e não comprar bens duráveis. O segundo que
afirmou ter aumentado sua renda, mostrou-se muito satisfeito com os resultados e
afirma ter comprado além de eletrodomésticos, um motor de 10 HP para barco; e um
cortador de grama, exclusivamente com o dinheiro gerado pela criação de peixe.
95
Quanto à moradia um afirmou ter construído sua casa, utilizando dinheiro da
criação de peixe. O segundo que também afirmou melhorar sua casa, disse que
reformou um galpão e construiu um banheiro. Outro não reformou ou construiu casa.
A locomoção de todos os envolvidos no projeto não teve mudanças,
permanecendo como estava desde o inicio da criação de peixes. Durante um certo
tempo, afirmaram ter muita dificuldade na locomoção, que passou a ser de uma linha de
ônibus, o qual não passava quando chovia muito.
Quando perguntados que tipo de conhecimento haviam adquirido, foi unânime
dizerem que hoje sabem as técnicas para a construção do canal de igarapé. Segundo um
deles, acompanhou de perto toda a construção do canal, a verificação da água e hoje ele
tem todo o conhecimento da criação do peixe.
Dado a importância da cooperação entre os atores, pode-se verificar que todos
eles até hoje mantém contatos com uma das instituições que os auxiliou na construção
do canal de igarapé em terra firme, conforme é demonstrado na tabela abaixo.
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim 3 100,00 Não TOTAL 3 100,00 Tabela 25 – Mantém ainda Contato com as Instituições Envolvidas no Projeto Fonte: Pesquisa de campo
Nos comentários de Lima (2005) um aspecto considerado importante nas
interações sociais foi o contato dos pesquisadores com a comunidade, pois estes
profissionais desenvolviam os estudos apenas em suas salas, laboratórios ou nos campos
experimentais não realizando contato com os usuários dos conhecimentos gerados.
O assentamento do Tarumã-Mirim é uma extensa área rural onde o INCRA
procurou fixar o homem com vocação agrícola no campo. Desde sua implantação,
poucas melhorias foram feitas no local. As estradas, a grande maioria, ainda não
asfaltadas, sofrem com a época do inverno, ou de chuvas, dificultando o acesso.
A teoria da aglomeração padrão buscou inspiração no pensamento do
economista liberal Alfred Marshall, no final do século XIX, que em cuja análise dos
distritos industriais britânicos, destacou as externalidades que é um subproduto não
96
intencional de alguma outra atividade, geradas pela concentração de várias pequenas
empresas, com características similares, situadas na mesma região.
Com a implementação do Projeto PROCIMA, permitiu-se que haja uma
aglomeração de atividade na mesma região, proporcionando o surgimento de
externalidades positivas. Essas externalidades podem aparecer como, por exemplo, em
formas de benfeitorias estruturais para a região, como estradas, energia elétrica,
mercados, etc.
A presença de tais externalidades foram identificadas com a implementação do
PROCIMA, conforme demonstrado na tabela abaixo:
CATEGORIA NUM. (%)
Energia elétrica Estradas do ramal/região Nada mudou Outros 3 100,00 TOTAL 3 100,00 Tabela 26 – Melhorias na Comunidade Fonte: Pesquisa de campo
Como é possível notar os dados não apontam melhorias estruturais, todavia os
participantes do projeto consideram que a difusão dos conhecimentos sobre a criação do
peixe por toda a comunidade pode ser considerada como um fator positivo neste aspecto
visto que tanto as pessoas da comunidade quanto de instituições como a Secretaria de
produção do Pará; Ministério da Ciência e Tecnologia e do FINEP foram em busca de
informação sobre a forma de cultivo de peixe em canal de igarapé de terra firme. No
entendimento de Folhadela (2005, p. 83), releva-se a importância do conhecimento,
como forma de desenvolvimento da região: Os resultados alcançados nas quatro localidades evidenciam aspectos significativos para o desenvolvimento regional. Estes aspectos, ao encontro do objetivo geral do projeto, estão relacionados à geração de conhecimento local que permita o uso de uma tecnologia voltada para a criação de peixes em canais de igarapé de terra firme, a identificação de que o Matrinxã (Brycon cephalus) pode ser a espécie que assegura elevada produtividade e baixo impacto ambiental e o fato de que a sua implementação pode ser efetivada, quer seja para manutenção familiar, ecoturismo explorado em nível empresarial ou ainda para os pequenos produtores e/ou comunidades assentadas pelo governo no Estado do Amazonas.
Dentre as principais externalidades apontadas por Marshall (1982) encontramos
os fornecedores especializados, mercados comum de trabalho e o transbordamento de
97
conhecimento. A externalidade gerada pela implementação do projeto PROCIMA,
conforme a proposição de Marshall foi a disseminação do conhecimento por toda a
comunidade. O gráfico confirma-se esse pensamento entre os contemplados pelo projeto
PROCIMA, quando lhes é perguntado quais os benefícios mais importantes que a
criação de peixe lhe trouxe? E as respostas são unânimes: “o conhecimento”, depois a
“a alimentação”.
Gráfico 2 – Benefícios mais importantes para o PROCIMA Fonte: o autor
No que toca a melhoria de padrão de vida das pessoas e os benefícios mais
importantes julgados por eles, todos afirmaram melhoria no padrão de vida e os
benefícios: Alimentação e Conhecimento.
98
4.4 Análise do projeto TANRE
Da mesma forma que na análise do PROCIMA nesta seção agrupam-se para
análise as questões que têm por objetivo mapear os estágios de expansão do projeto
TANRE e apontar os benefícios socioeconômicos gerados pelo mesmo envolvendo as
variáveis já mencionadas que são:
As variáveis que nortearam a pesquisa quanto à expansão do APL foram às seguintes:
Formação de novos criadores, através da disseminação do conhecimento;
Formação de cooperativa;
Acesso a mercados;
Apoio financeiro governamental ou não-governamental;
Construção de novo tanque-rede;
Continuidade na criação de peixes.
Quanto aos benefícios socioeconômicos gerados pelo APL, as variáveis
avaliadas foram:
Acesso à educação;
Emprego a familiares e terceiros;
Melhoria na alimentação;
Melhoria na saúde;
Geração de renda;
Externalidades positivas na comunidade.
99
O Projeto tem por objetivo a adaptação e transferência de tecnologia já existente,
a de tanques-rede, para o cultivo de tambaqui (Colossoma macropomum) e matrinxã
(Brycon cephalus) em nível familiar (FOLHADELA p. 76). Os ambientes escolhidos
para a instalação dos tanques-rede foram comunidades ribeirinhas localizadas nos
Municípios de Iranduba no lago do Ariauzinho e em Maués no lago Maués-Miri.
Levando-se em consideração que o Projeto TANRE de Iranduba e Maués
utilizaram a mesma tecnologia, ou seja, tanques-rede, serão por isso, analisados em
conjunto.
4.4.1 Avanços e expansão do projeto TANRE
O projeto TANRE pode ser considerado como uma unidade produtiva dentro do
Arranjo Produtivo Local. O conceito de APL, mais amplo que o projeto em si, envolve
a cooperação entre instituições que a partir do momento que passam a ser participativa,
cada uma dentro de sua especificidade, conjugam forças, transformando-se na
capacidade de uma grande empresa. Dentro da realidade do Estado do Amazonas, a
necessidade de desenvolver a agricultura familiar, de forma sustentável, possibilitou,
depois de várias reuniões no âmbito do Programa Plataforma Tecnológica/APL a
utilização do conceito de arranjo produtivo local.
Várias unidades, como a comunidade, a universidade, o instituto de pesquisa, o
consultor técnico, de forma integrativa, criariam a possibilidade de crescimento
endógeno6, ou seja, utilizando os recursos naturais da localidade e suas especificidades,
gerando renda para a região, oferecendo bem-estar social para uma população que tem
encontrado dificuldades para o seu crescimento, face o pólo industrial de Manaus
convergir para a região, todas as formas de interesses e recursos.
O interesse da pesquisa, primeiramente, parte em busca de saber se houve a
disseminação do conhecimento na comunidade. De acordo com as informações colhidas
através do formulário aplicado aos participantes, chegou-se aos seguintes dados,
demonstrados na tabela 27.
6 O conceito de crescimento endógeno vem sendo utilizado em dois sentidos: primeiro, de acordo com a teoria do crescimento, refere-se à capacidade do próprio sistema de gerar inovação; segundo, a referência acima, o crescimento endógeno postulado pelas análises do desenvolvimento local que diz respeito à capacidade dos atores locais de induzir o processo de desenvolvimento.
100
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim 6 50,00 Não 6 50,00 TOTAL 12 100,00 Tabela 27 – Transferência de Conhecimento na Comunidade Fonte: Pesquisa de campo
Metade dos entrevistados, afirmaram ter ensinado outras pessoas da comunidade
a criar peixes com a tecnologia dos tanques-rede, porém não se sabia se eles passaram a
criar peixes. Conforme se iniciou o movimento das reuniões até o início da
implementação do projeto, despertou interesse naqueles que estavam de fora, fazendo-
os buscar informações sobre a criação. Durante a duração do projeto, muitas pessoas
visitaram o local e também procuravam saber como se fazia a criação.
Para Lima (2005) tendo em vista o projeto ser conduzido com a participação
efetiva das famílias beneficiadas por ele, a EMBRAPA acredita estar transferindo esses
conhecimentos aos mesmos em todos os níveis de atividade sendo estas pessoas agentes
multiplicadores desta tecnologia e, portanto, aptos a adotá-la.
No sentido constatar esta assertiva, recorre-se aos dados levantados os quais
apontam que 58,33% dos entrevistados afirmaram conhecer poucas pessoas criando
peixe nas redondeza; 25% afirmaram que não conheciam nenhuma pessoa; e 16,67%
disseram que conheciam apenas uma pessoa que criava peixe em tanques-rede.
Contudo, quando se trata do nível de satisfação dos envolvidos no projeto,
observa-se que este é elevado conforme ilustra o gráfico abaixo.
Gráfico 3 – Acha que valeu a pena começar esse negócio
Fonte: o autor
101
Como se observa, a grande maioria dos participantes do projeto, afirmaram ter
gostado da experiência, fato esse que se deu pelas condições da efetiva colaboração da
Embrapa, ao desenvolver suas pesquisas para a aplicabilidade da tecnologia para o
local.
Quando afirmam que valeu a pena, nota-se a importância da geração de renda,
em localidades onde ela é escassa. Segundo Carvalho (1999) o desenvolvimento
econômico revela-se como um fenômeno amplamente desejado pelos povos, uma vez
que o ser humano almeja o aprimoramento da sua qualidade de vida, o que só é possível
no momento em que as necessidades e desejos passam a ser atendidos adequadamente.
O motivo maior que os levou a afirmar que valeu a pena o empreendimento é
justamente a renda. 66,67% deles afirmaram que com a criação de peixes é possível
ganhar um dinheiro extra. Apenas um 8,33%, afirmou valer a pena porque não faltou
alimento em casa. Quanto não valer a pena criar peixes porque gasta muito dinheiro e
não compensa, um entrevistado também afirmou, representando 8,33%.
Dentre outros motivos que foram apontados pelos entrevistados para valer ou
não a pena criar peixes, na ordem de 16,67% um deles afirmou ter tido realmente ganho
financeiro, ou seja lucro, com a criação de peixes e o outro afirmou não ter sido válido,
pois a Embrapa inverteu a ordem da distribuição do que foi produzido em Peixes de
80% para a comunidade; para 20% apenas.
Para testar a motivação dos participantes, foi perguntado se pensavam em
construir outro tanque-rede. Confirmou-se o interesse, quando 83,33% responderam que
pensavam em construir outro tanque-rede ao passo que apenas 16,67% responderam que
não pensavam mais em criar peixes.
Para viabilização do projeto era imprescindível o aumento da produção a cada
safra. O projeto TANRE apresentou particularidades, principalmente em Iranduba, no
Lago do Ariauzinho, onde a EMBRAPA formou duas unidades: Uma unidade
experimental, com tanques próprios para suas experiências científicas, onde os peixes
eram sacrificados para análise de dados sobre sanidade, fisiologia, dentre outros
aspectos; a segunda foi chamada de unidade produtiva, onde houve a participação da
comunidade.
Segundo a percepção dos participantes do projeto, 75% disseram ter aumentado
a produção da sua unidade; 16,67% afirmaram não ter percebido o aumento da produção
e 8,33% disseram que aumentou mais ou menos a produção de peixes durante as safras.
102
Já os motivos que eles julgam serem os responsáveis por esses resultados são os
seguintes: 41,67% encontraram o motivo principal na alimentação dos peixes, dizendo
que a ração fez aumentar o peso dos peixes; 16,67% disseram ser pela aprendizagem e
empenho da comunidade; outros afirmaram ter sido apenas três safras oferecidas pela
EMBRAPA, e que no tempo do inverno morreram muito peixe devido falta de oxigênio
na água.
A tabela 28 demonstra que os participantes do projeto TANRE encontraram
mais vantagens do que desvantagens na criação de peixes em tanques-rede.
CATEGORIA FREQ. (%)
Vantagens 10 83,33 Desvantagens 2 16,67 TOTAL 12 100,00 Tabela 28 – Você Encontrou Vantagens ou Desvantagens ao Criar Peixes Fonte: Pesquisa de campo
As vantagens mencionadas pela maioria dos participantes são as oportunidades
de se alimentar melhor, a renda gerada pelo excedente, que segundo eles, foi pouca, mas
foi bom e citaram o conhecimento que adquiriram participando de reuniões e cursos
proporcionados pela EMBRAPA.
Lastres e Cassiolato (2002), destaca que a apropriação de conhecimentos possui
especificidades que não podem ser ignoradas. Conhecimento e informação são recursos
intangíveis que podem ser usados – inclusive simultaneamente – por várias pessoas sem
problemas de esgotamento.
Para os participantes do projeto, o conhecimento que adquiriram passa a ser uma
vantagem, pois onde estiverem podem levar consigo.
Já as desvantagens mencionadas pela minoria dos envolvidos no projeto, foram
a preocupação com roubos dos peixes e a necessidade de não se ausentar do local, como
disseram: “prende muito a gente no lugar (sic)”.
Sobre a produção por safra; 90,91% dos entrevistados afirmaram não ter idéia do
quanto foi produzido, informações estas que constam dos relatórios da EMBRAPA.
O SEBRAE apresenta Arranjo Produtivo Local como concentrações geográficas
de empresas – similares, relacionadas ou complementares – que atuam na mesma cadeia
produtiva auferindo vantagens de desempenho por meio da locação e, eventualmente, da
especialização. Segundo informações da EMBRAPA, durante a implementação do
103
projeto tiveram dificuldades com a aquisição da ração produzida na região, a qual se
encontrava com preço acima da ração importada do sudeste. Nota-se a dificuldade da
formação da cadeia produtiva, que é essencial no conceito de APL, pois essas empresas
que compõem essa cadeia devem partilhar, além da infra-estrutura, o mercado de
trabalho especializado e confortam-se com oportunidades e ameaças comuns.
No final da cadeia produtiva da piscicultura, dentro do conceito cooperativo de
APL, os produtores poderiam unir-se em cooperativa com a finalidade de acesso a
mercados de forma mais eficaz. Segundo Diniz e Crocco (2006, p. 19) “mediante
esforço de associação e sinergia, com vistas à solução conjunta de problemas comuns”.
As questões da tabela 29, 30 e 31 demonstram o clima cooperativo existente
entre os participantes do projeto TANRE.
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim, facilita muito 12 100,00 Sim, facilita um pouco Não facilita, mas também não atrapalha
Além de não facilitar, atrapalha um pouco
Além de não facilitar, atrapalha muito
TOTAL 12 100,00 Tabela 29 –Manutenção do Projeto e Vendas se com Cooperativa? Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Não, nunca pensei no assunto 4 33,33 Não, mas penso nisso para um futuro próximo Sim, já nos reunimos algumas vezes 8 66,67 TOTAL 12 100,00 Tabela 30 – Houve Reunião para Tratar da Melhoria da Produção e Comercialização Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Não, cada um negociou o seu 8 66,67 Sim, nos unimos para melhorar as vendas 4 33,33 TOTAL 12 100,00 Tabela 31– Procuraram em Conjunto um Comprador para o Excedente Fonte: Pesquisa de campo
Em primeira análise, todos, ou seja, 100% dos entrevistados afirmam que
facilitaria a manutenção do projeto e favoreceria as vendas de peixes, se houvesse uma
104
cooperativa, para escoar a produção. Isto indica que todos eles percebem a importância
da união e cooperação dos produtores.
Também importante apontar que mais da metade dos envolvidos no projeto,
chegaram a se reunir para discutir melhorias na produção e comercialização, indicando
incipiente desejo de reunir forças.
No entanto, percebe-se que, apesar das tentativas, não conseguiram formalizar
um acordo, para caminhar em conjunto, ato que poderia fortalecer e fazer sobreviver o
negócio. A maioria, 66,67% negociou isoladamente seu produto, na comunidade, para
cooperativas, ou mercados na cidade.
Analisa-se a seguir, com as tabelas 32, 33 e 34, quantos participantes avançaram
na produção de peixes com a tecnologia de tanques-rede e estão até nos dias de hoje
produzindo conforme as técnicas apresentadas pela EMBRAPA.
CATEGORIA FREQ. (%) Sim 4 33,33 Não 8 66,67 TOTAL 12 100,00 Tabela 32– Continua a Criar Peixes Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%) Falta gente para trabalhar Falta dinheiro para manter o negócio 7 58,33 Deu problemas na manutenção/falta técnico 2 16,67 Outros 3 25,00 TOTAL 12 100,00 Tabela 33 – Maiores Dificuldades Durante a Criação de Peixes Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim 1 8,33 Não 11 91,67 TOTAL 12 100,00 Tabela 34 – Recebe Algum Apoio Financeiro para Continuar a Criação de Peixes Fonte: Pesquisa de campo
Oito participantes, ou 66,67% não estão criando peixes. Outros 33,33 afirmaram
ter avançado na criação de peixes. Na cidade de Maués, no Lago Maués-Miri, apenas
um participante, continua a criar peixes em tanque-rede, afirmando ter recebido apoio
financeiro (ganhou o tanque-rede e os alevinos da prefeitura) para continuar a criação de
105
peixes. Todos os outros participantes do projeto TANRE, mesmo os que avançaram na
criação, afirmam não receber nenhum apoio financeiro ou intercâmbio governamental
ou não-governamental, para continuar a produção.
No Iranduba, Lago do Ariauzinho, um dos participantes continua a criar peixes,
mas pouco peixe, segundo sua informação, devido suas ausências para a cidade depois
que se aposentou. O segundo participante no Iranduba que afirmou continuar a criar
peixes, diz ter retorno financeiro com a criação de peixes e hoje mantém os módulos
antigos utilizados no projeto, os quais adquiriu daqueles que deixaram de produzir. O
terceiro participante do projeto que avançou e continua hoje a criar peixes com a
tecnologia de tanques-rede, firmou parceria com empresário e hoje mantêm em sua
propriedade diversos tanques-redes que produzem tambaqui.
Relativo as maiores dificuldades que encontraram durante a criação de peixes,
58,33% disseram que foi a falta de dinheiro para manter o negócio. Outros 25%
informaram que foi a friagem, que diminui o oxigênio da água; a mudança de pessoas7
dentro de uma instituição que coordenava o projeto que também mudou o sistema de
80% da produção para 20% para os participantes da comunidade; e a dificuldade de
assimilação das novidades técnicas que surgiram. Finalmente, 16,67% afirmaram terem
tido problemas na manutenção e sentiu falta de um técnico.
A seguir, demonstra-se a situação atual do Projeto TANRE em Maués no Lago
Maués-Miri e em Iranduba, no Lago Ariauzinho:
7 Segundo informação da EMBRAPA, houve uma distribuição equivocada por parte de um dos membros do projeto, o qual provocou discordância junto aos participantes da comunidade.
106
Os Tanques-redes utilizados pelo Projeto TANRE em Maués
Os Tanques-rede utilizados pelo Projeto TANRE em Iranduba
107
Demonstra-se a seguir alguns participantes do Projeto TANRE, os quais
continuam a criar peixes, conforme tecnologia dos Tanques-rede:
No Lago do Ariauzinho em Iranduba
108
4.4.2 Benefícios socioeconômicos gerados pelo projeto TANRE
O reconhecimento do desenvolvimento desigual no território, o qual decorre de
razões históricas, naturais, culturais, políticas, econômicas e outras, (DINIZ E
CROCCO, 2006) torna-se importante os estudos dos casos brasileiros das tão
incentivadas políticas de clusterização para entender em que medidas são eficientes na
redução da histórica desigualdade regional de renda do país. Avalia-se a partir de agora
os benefícios socioeconômicos derivados de uma política governamental que visa o
desenvolvimento local, através do conceito de Arranjos Produtivos Locais.
Para verificar se o projeto TANRE, atingiu objetivos de melhoria de vida e bem-
estar social para os envolvidos e mesmo para a comunidade, formularam-se as
categorias abaixo para análise.
CATEGORIA SIM % NÃO %
Acesso à escola 26,67 83,33 Proporcionou trabalho a familiares 33,33 66,67 Conhecimentos gerais 100,00 0,0 Gerou emprego a terceiros 8,33 91,67 Passei a fazer compras na cidade 0,0 100,00 TOTAL Tabela 35 – Sua Vida Melhorou com a Criação de Peixes? Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Sempre freqüentaram 7 58,33 Começaram depois da implantação do projeto Não freqüentam 5 41,67 TOTAL 12 100,00 Tabela 36 – Filhos na Escola Fonte: Pesquisa de campo
As respostas sobre se o projeto permitiu acesso de algum familiar à escola
representou 83,33% de negação. Confirma-se na tabela 36, especificamente, se os filhos
foram à escola, devido às melhorias proporcionadas pela criação de peixes, e também se
nota que a maioria das crianças já freqüentavam a escola, ou ainda não estavam em
idade escolar.
Verifica-se um envolvimento menor dos familiares na criação de peixes, quando
66,67% dos entrevistados afirmaram que não proporcionou trabalho aos familiares, nem
109
a terceiros, demonstrando maior simplicidade no manejo e que apenas uma pessoa é
suficiente para manutenção dos tanques.
São unanimidade entre os participantes deste projeto sobre proporcionar
conhecimentos gerais, antes desconhecidos por todos eles. Além da operacionalização
do negócio, foram aprofundados conhecimentos e informações acerca do tipo de água,
problemas enfrentados na estação de inverno dentre outros assuntos pertinentes a todo o
projeto.
A melhoria não ocorreu ao ponto de permitir acesso a produtos diferenciados, ou
mesmo fazer compras na cidade, pois anteriormente a implementação do projeto todos
eles já tinham essa condição.
As tabelas 37 e 38, demonstram como ficou a alimentação e a situação da saúde
da família dos envolvidos no projeto.
CATEGORIA FREQ. (%)
Excelente 2 16,67 Boa 9 75,00 Regular 1 8,33 Ruim Péssima TOTAL 12 100,00 Tabela 37 – Como Ficou a Alimentação da sua Família Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim 7 58,33 Não 5 41,67 TOTAL 12 100,00 Tabela 38 – Melhoria na Saúde da Família Fonte: Pesquisa de campo
Quanto à alimentação, os resultados se mostraram mais eficazes, ao ponto de
58,33% dos entrevistados terem notado melhora na saúde da família. A grande maioria,
75% afirmaram que sua alimentação melhorou, pois a facilidade de se alimentar com
peixes frescos lhes proporcionou bem-estar. Outros 16,67% disseram que ficou
excelente sua alimentação e apenas um disse ter ficado regular.
Também no projeto TANRE nota-se pelos resultados acima, o alcance de alguns
objetivos do Programa Plataforma Tecnológica/APL, que é a inclusão alimentar e
também ao proporcionar trabalho, permitiu a fixação do homem no campo.
110
Em certas regiões, dos países em desenvolvimento, diz Carvalho (1999) o setor
agrícola, caracterizando uma atividade econômica de grandes dimensões, absorve uma
preponderante parcela de mão-de-obra e de recursos naturais, passando a ter uma
relevante influência na formação da renda.
O Programa Plataforma Tecnológica/APL, através do projeto TANRE buscou
aproveitar as características regionais do Amazonas e seus vastos recursos hídricos para
proporcionar ao homem do campo melhoria na sua renda.
Para investigar até que ponto o projeto teve relevância no aumento de renda dos
participantes das comunidades, procurou-se saber sobre a melhoria da renda e a
conseqüência trazida por este fenômeno econômico.
CATEGORIA FREQ. (%)
Aumentou 8 66,67 Diminuiu Estável 4 33,33 TOTAL 12 100,00 Tabela 39 – Melhoria na Renda Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
TV Som Fogão à gás Geladeira Máquina de lavar Computador Outros 12 100,00 TOTAL 12 100,00 Tabela 40– Com a Renda da Criação de Peixe pude Comprar: Fonte: Pesquisa de campo
CATEGORIA FREQ. (%)
Sim 2 16,67 Não 10 83,33 TOTAL 12 100,00 Tabela 41 – Houve Reformas na Casa? FONTE: Pesquisa de campo
111
CATEGORIA FREQ. (%) Sim 2 16,67 Não 10 83,33 Continuou o mesmo TOTAL 12 100,00 Tabela 42 – Melhoria no Transporte Fonte: Pesquisa de campo
Como se vê 66,67% dos participantes afirmaram que houve aumento na renda,
enquanto 33,33% disseram ter ficado estável. Esse aumento não proporcionou impacto
de relevante magnitude no bem-estar das famílias, conforme pode-se avaliar nas tabelas
40, 41 e 42.
O que puderam comprar foram objetos de consumo, sem grande significância:
colchão; mantimentos; roupa para os filhos; investimento na agricultura e 33,33%
informaram que não compraram nada. Apenas 16,67% das pessoas reformaram suas
casas e tiveram melhoria no transporte.
Devido ao interesse pela criação de peixes em tanques-rede, a grande maioria
dos entrevistados afirmou que ainda mantém contato com instituições envolvidas no
projeto, significando que poderão no futuro, dar continuidade aos conhecimentos
adquiridos. A tabela 43, demonstra essa assertiva.
CATEGORIA FREQ. (%) Sim 8 66,67 Não 4 33,33 TOTAL 12 100,00 Tabela 43 – Mantém ainda Contato com as Instituições Envolvidas no Projeto Fonte: Pesquisa de campo
Espera-se que haja mudanças numa comunidade quando se recebe investimentos
em qualquer área. Externalidades positivas são esperadas quando se tratam do conceito
de Arranjos Produtivos Locais. Visando verificar aspectos positivos ocorridas na
comunidade, por conta da implementação do projeto TANRE, perguntou-se aos
participantes sobre as melhorias na comunidade.
CATEGORIA NUM. (%)
Energia elétrica Estradas do ramal/região Nada mudou 6 50,00 Outros 6 50,00 TOTAL 12 100,00 Tabela 44 – Melhorias na Comunidade Fonte: Pesquisa de campo
112
Metade dos participantes informou que nada mudou em suas comunidades,
conforme a tabela 44, porém foi notado em Maués, na comunidade São Raimundo no
Lago Maués-Miri, local da implementação do projeto que aumentou consideravelmente
as visitas àquela comunidade, por pessoas que procuravam saber sobre a criação de
peixes e também para comprá-los. Com essas mudanças durante esse período do
desenvolvimento do projeto, a comunidade ficou mais limpa e cuidada, segundo os
participantes do projeto. No Iranduba, Lago do Ariauzinho, foi notado apenas o
aumento de visitas de pessoas interessadas na criação de peixes.
No tocante a melhoria no padrão de vida da família dos participantes e quais os
benefícios mais importantes que a criação de peixe lhe trouxe, as respostas foram as
mais variadas.
Uma parcela de 58,33% responderam que houve melhoria no padrão de vida da
família, após a implementação do projeto; já 41,67% disseram que não, que não houve
melhoria no seu padrão de vida. Torna-se significativo a parcela que respondeu positivo,
pouco mais da metade dos participantes, pois padrão de vida significa não somente
aumento de renda, mas bem-estar no sentido geral. O gráfico abaixo demonstra os
benefícios mais importantes citados pelos participantes do projeto TANRE:
Gráfico 4 – Benefícios mais importantes para o TANRE Fonte: o autor A grande maioria citaram o conhecimento como benefício trazido pelo projeto
TANRE; a alimentação ficou como o segundo benefício mais importante, seguidos pelo
dinheiro gerado pelo excedente vendido e roupas compradas para a família.
113
Visando atender as necessidades de aprendizado das comunidades envolvidas
em relação aos conhecimentos produzidos, o projeto contemplou a realização de
treinamentos, por meio de aulas, palestras, discussões, mesas redondas e cartilhas. Com
isso afirma Lima (2005) os idealizadores do projeto acreditaram na possibilidade de
estabelecer um sistema de cultivo adequado a agricultura familiar, gerando
conhecimento para o acompanhamento com êxito de todo o processo produtivo.
4.5 Análises comparativas entre os projetos PROCIMA e TANRE
Passa-se agora a comparar os dois projetos e os seus resultados. Essa
comparação permitirá pelo menos, a priori, perceber-se como se deu a adaptação das
tecnologias empregadas em cada caso especificamente e os benefícios conquistados. Por
serem projetos diferentes, para atenderem demandas de regiões diferentes, com suas
dinâmicas próprias, poder-se-á avaliar até que ponto se obteve os resultados desejados
pela política do APL.
4.5.1 Variáveis Socioeconômicas
Primeiramente analisamos as principais variáveis que nortearam a pesquisa
socioeconômica, as quais são listadas abaixo:
Geração de renda
Inclusão alimentar
114
4.5.1.1 Geração de Renda
Gráfico 5 – Geração de Renda Fonte: o autor
Comparativamente, os integrantes dos dois projetos, afirmaram que suas rendas
aumentaram devido o cultivo de peixe. Como uma das proposta dos dois projeto foi
oferecer uma oportunidade a mais de geração de renda para a fixação do homem no
campo, esse objetivo foi alcançado durante a implementação dos projetos, em face da
maioria dos contemplados perceberem que podem ter uma alternativa a mais de renda
para manutenção de sua família. Em contrapartida, notamos no gráfico que 33,33%
também dos dois projetos afirmaram que suas rendas ficaram estáveis, durante a criação
de peixes. Para alguns, o fato dos projetos serem experimentais a quantidade de peixes
divida entre eles não teve grande relevância a ponto de notarem melhorias no seu padrão
de vida. Para outros, a divisão foi equivocada, não surtindo efeito na sua renda.
115
4.5.1.2 Inclusão Alimentar
Gráfico 6 – Inclusão alimentar Fonte: o autor
A adoção de práticas pesqueiras predatórias, têm afetado a oferta de pescado e
os estoques das espécies de maior valor comercial, como o tambaqui, que têm
diminuído consideravelmente, mesmo submetidos a evidente sobre-pesca. Por outro
lado, diz Folhadela (2005, p. 63) muitas áreas até então habitadas e exploradas de forma
extrativa, foram transformadas em áreas de conservação e reserva ambiental, fato que
inviabilizou às pessoas há décadas ali residentes, a extração do peixe necessário à sua
subsistência ou mesmo para comercialização, como é o caso das áreas do Rio Negro.
Ainda, segundo Folhadela (2005, p. 64) buscar alternativas de produção de
peixes de forma ecologicamente saudável é relevante, pois:
As implicações da ausência de uma forma alternativa de produção estão intimamente vinculada à questão ambiental e seus impactos; e a necessidade de se promover um esforço integrado entre instituições, empresas e comunidades para o desenvolvimento e validação de tecnologias adequadas à realidade local como solução ao problema da baixa eficiência da agricultura familiar e sua conseqüente pressão de ocupação de novas áreas para exploração pesqueira.
Comparando os dois projetos quanto a melhoria da alimentação, nota-se que
ambos surtiram efeito no item inclusão alimentar. No Projeto PROCIMA, todos, ou seja
100% afirmaram ter melhorado sua alimentação após o início do projeto. Já no Projeto
116
TANRE, 16,67% apontaram sua alimentação como excelente, face a facilidade de
acesso ao pescado. Outros 75% disseram ter ficado boa sua alimentação e apenas 8,33%
declarou ter ficado regular sua alimentação.
De acordo com os resultados dos dois projeto, verifica-se que surtiu efeito a
proposta de inclusão alimentar, de forma ecologicamente saudável, ou seja, sem ser
predatório.
4.5.2 – Análise da Solução dos Principais Gargalos Identificados no APL
Dentre os cinco gargalos identificados no arranjo produtivo local de piscicultura;
O primeiro, Ordenamentos e Regulamentação, o segundo, Geração/Adaptação e Difusão
de Tecnologia, o terceiro, Competitividade e Mercado, a quarta Capacitação de
Recursos Humanos e o quinto Piscicultura Familiar, optaram por priorizar uma etapa da
cadeia produtiva, a qual foi escolhida a Piscicultura Familiar dentro dos critérios de
relevância social e importância econômica. Porém os outros gargalos também deveriam
ser solucionados, pois faziam parte dessa cadeia e como tal formam pilares de
sustentação para o APL. Segundo Lima (2005) acredita-se na importância de se estender
o APL para as demais etapas da cadeia produtiva da piscicultura, a fim de possibilitar a
solução de outros problemas, por meio da atuação de equipes multidisciplinares.
Passa-se a analisar outros três gargalos identificados, os quais fazem parte das
etapas da cadeia produtiva do APL. Dentro da dinâmica da implementação dos dois
projetos PROCIMA E TANRE, procura-se comparar até que ponto algumas ações
estratégicas apontadas pelo Programa Plataforma Tecnológica/APL para estes três
gargalos foram trabalhadas, conforme necessidade apontada por Lima (2005) acima.
Assim analisam-se as ações estratégicas para:
Ordenamentos e Regulamentação
Competitividade e Mercado
Capacitação de Recursos Humanos
117
4.5.2.1 Regulamentação pelos Órgãos Competentes
Gráfico 7 – Regulamentação pelos órgãos competentes Fonte: o autor
A importância da regulamentação pelos órgãos competentes interfere na
formalização da piscicultura enquanto negócio. Dada a ausência de laudos técnicos
criteriosos de órgãos como o IPAAM, por exemplo, o aquicultor sofre conseqüências de
não acessibilidade ao crédito. Verificamos acima que tanto no Projeto PROCIMA como
no projeto TANRE a ação estratégica de desburocratização deste gargalo foi
solucionado no ano de 2008 no processo de regulamentação do IPAAM, conforme
resolução CEMAAM nº 01/08; publicada no Diário Oficial do Estado do Amazonas nº
31.377 de 03 de Julho de 2008.
A agricultura familiar congrega pessoas com baixa renda; os projetos do APL de
piscicultura, com custos baixos, tem a função exatamente de oferecer oportunidade a
essa faixa de renda. Porém, mesmo assim, muitas famílias que vivem com apenas um
salário mínimo, não teria condições de fazer esse tipo de investimento. Hoje existe linha
de crédito para satisfazer essa demanda, que no passado não era acessível devido à
ausência da regulamentação pelo IPAAM.
118
4.5.2.2 Busca de Mercado para Pequenos Piscicultores
Gráfico 8 – Busca de Mercado para Pequenos Piscicultores Fonte: o autor No grupo que estudaram a Competitividade e Mercado, um dos gargalos
apontados foi a busca de mercado para os pequenos piscicultores e a ação estratégica
para superar este gargalo era o fortalecimento do associativismo.
Nas comparações acima, verificamos que ambos os projetos alcançaram os
mesmos índices percentuais quanto ao isolacionismo, fazendo com que cada um
negociasse o seu lote de peixes. Dessa forma fizeram suas vendas na própria
comunidade, ou vendiam para pessoas que passavam pelo seu lote, mas a preços não
racionalizados. Uma parcela porém, 33,33% em ambos os projetos, interessadas em
formar uma associação, ou cooperativa, para a busca de mercado apropriado, uniram-se
para oferecer o peixe, a outras cooperativas, prefeituras etc.
A importância de dar continuidade ao APL, implementando todas as etapas da
cadeia produtiva, é demonstrada por Lima (2005) quando afirma que a equipe de
pesquisa dos projetos, acreditavam na necessidade de se estender as ações para o
beneficiamento e comercialização do pescado, porque após o aprendizado da criação de
peixes os comunitários necessitam saber como beneficiar e embalar a produção.
119
4.5.2.3 Capacitação dos Piscicultores em Técnica de Cultivo
Gráfico 9 – Capacitação dos Piscicultores em técnica de cultivo Fonte: o autor É inegável que os envolvidos nos projetos tenham aprendido a técnica do
manejo da piscicultura. Essa afirmativa é confirmada por todos, ou seja 100%, quando
respondem em ambos os projetos, que aprenderam a criar peixes de acordo com a
tecnologia de cada projeto.
Essa assertiva é notada quando, durante a aplicação dos formulários, percebe-se
o nível de empolgação em cada participante. Porém durante o desenvolvimento do
projeto algumas dificuldades foram notadas. Para Lima (2005) com respeito à
assimilação dos conhecimentos, existiu certa dificuldade por parte das famílias em
absorvê-los. Não obstante a realização de cursos com uma linguagem simplificada, o
método mais fácil foi de aprender fazendo, ou seja, acompanhando o dia-a-dia da
alimentação, pesagem, medição e elaboração dos cálculos.
120
4.6 Análise geral dos resultados alcançados com os projetos sob a ótica dos representantes das instituições partícipes
Nesta seção serão apresentados os resultados da entrevista semi-estruturada
realizada com os coordenadores das instituições responsáveis pelos projetos em estudo;
INPA e EMBRAPA.
Iniciando-se com o alcance do objetivo formulado nos projetos contatou-se que
na ótica desses coordenados esse objetivo foi alcançado, vez que, segundo eles foi
possível trabalhar com as famílias contempladas e desenvolver um novo processo de
criação de peixes com sucesso.
Além do sucesso no processo produtivo, o mote dos envolvidos nas
implementações dos projetos era que as famílias ribeirinhas assimilassem duas coisas:
criar peixes e demonstrar que se podiam criar peixes em lagos e em canais de igarapés.
Fruto do seu desenvolvimento histórico e cultural, o homem amazonense está acostumado a coletar o peixe. Quando se fala em produzir e dar alimentos a peixes, demanda tempo para a assimilação. Em sua cabeça, criá-lo ainda depende de costume.
Relativo, a solução dos gargalos era de suma importância para a continuidade e
expansão do APL, conquanto que as soluções tecnológicas foram sistematizadas a
contento. No caso do tanque-rede, foram feitas pesquisa adaptativa, visto o
desconhecimento do local.
Em termos de geração de conhecimento, segundo Folhadela (2005), os trabalhos
produzidos em função do projeto tanque-rede podem ser listados como sendo: resumos
simples em anais de eventos; artigos completos publicados e submetidos em periódicos;
orientações de iniciação científica; artigos submetidos a congressos.
Dentro da perspectiva econômica, na visão dos coordenadores o projeto trouxe
uma nova fonte de recursos para as comunidades envolvidas. Em primeiro lugar, na
produção de alimentos no local, evitando o deslocamento dos ribeirinhos para buscá-lo
fora. Segundo com a comercialização do excedente, houve possibilidade de gerar renda
extra para a família. O que me chamou a atenção foi a venda rápida do peixe. Isso demonstrou a eles que poderiam caminhar e que deveriam guardar uma parte do dinheiro para a compra da ração.
121
Há consenso também entre os coordenadores que a grande maioria envolvida em
ambos os projetos ficaram muito motivados com a possibilidade da produção de peixes
em cativeiro. Porém os resultados demonstram que alguns conseguiram transformar
essa produção de peixes em negócio, ao passo que outra parte não tinha idéia de como
transformar essa oportunidade em janela de negócio.
Relativo a sustentabilidade dos projetos, os coordenadores mencionam que
alguns pontos deveriam ser observados. Primeiro o processo de criação deveria ser
regulamentado, o que só aconteceu em 2008 para ambos os projetos. Em segundo lugar
que fosse criada uma nova linha de crédito para a criação neste sistema produtivo, o que
também só ocorreu em 2008.
Por outro lado deveria ter tido assistência técnica efetiva. Não houve a
institucionalização do APL, ou seja, as diferentes instituições que participaram teriam
que ter assumido cada uma sua parte, o que não houve. O APL ficou restrito ao projeto.
Mencionam que as ações coordenadas entre os atores é de fundamental
importância dentro do APL. Os agentes produtivos e institucionais, diz Junior (2001)
atuando de acordo com os seus formatos e papéis previamente definidos, passam a
somar esforços com o objetivo de ampliar os processos socioeconômicos sustentáveis,
ou seja, no longo prazo.
Todavia argumentam-se que a ausência de assistência técnica efetiva, criou uma
lacuna no desenvolvimento do APL, o qual deveria ainda capacitar os envolvidos no
projeto, visando à superação dos gargalos existentes, já que o gargalo tecnológico estava
sendo superado com sucesso, através das pesquisas empreendidas. No entanto para a
sustentabilidade dever-se-ia ter ampliado as ações estratégicas para solucionar os
gargalos da regulamentação que veio tardia, a busca de mercado para pequenos
piscicultores, visando o escoamento da produção que não chegou a acontecer e a
capacitação de recursos humanos que só atingiu a técnica do cultivo, permitindo que,
àqueles que não possuíam tino comercial, ou seja, espírito empreendedor, não
conseguisse dar continuidade, ao passo que como citado, não conhecem a técnica do
capital de giro “guardar um pouco de dinheiro para comprar a ração”.
Segundo Amaral (2006) esses programas devem ser acompanhados por
outros programas preocupados com a oferta de informações sobre tecnologias,
mercados, fontes de financiamento, etc. Neste campo o SEBRAE e o BNDES têm um
papel importante a preencher.
122
Dentre as instituições que participaram do APL de Piscicultura no Amazonas,
nota-se a ausência do SEBRAE, por exemplo.
Citando os aspectos dos APLs, Cassiolato e Lastres (2002) destacam a questão
local e a proximidade dos agentes como fator indutor do conhecimento, inovação e
competitividade. Para eles os APLs envolvem diferentes tipos de agentes sociais e
econômicos em ambientes propícios à geração e difusão de conhecimento e de
inovação, envolvendo as etapas de pesquisa e desenvolvimento, de produção e de
comercialização.
O conhecimento dos gargalos do APL de Piscicultura levantados pelo Programa
Plataforma Tecnológica possibilitaria a estruturação da cadeia produtiva através dos
atores envolvidos nos processos.
Porém a cadeia produtiva ainda não está completamente estruturada para esta
atividade em particular. Houve tentativa de sistematização e monitoramento do APL por
parte do Núcleo de Gestão Tecnológica Compartilhada (NGTC) pertencente a SECT,
Secretaria de Ciência e Tecnologia do Governo Estadual, enquanto os APLs estavam
sob a alçada do MCT, Ministério da Ciência e Tecnologia, mas houve uma transição de
órgão, durante a mudança de Presidente, onde os APLs passariam a alçada do MDIC,
Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio e o monitoramento ficaria
encabeçada pela SEPLAN. Porém a SEPLAN não tinha pessoal para acompanhar o
APL. Também foi criada uma câmara especializada em pesca e aqüicultura na
SEPROR, Secretaria de Estado de Produção Rural e sugerido que se discutisse as
questões do APL. Porém não houve resultado e o APL ficou reduzido aos Projetos
PROCIMA e TANRE, conforme assertiva do coordenador de um dos projetos:
A única cobrança que tivemos durante a implementação dos projetos foram do órgão FINEP responsável pelo financiamento e liberação das verbas destinadas aos projetos. Então o APL não funcionou.
Para Amaral (2006) no Brasil os candidatos naturais da promoção das micro,
pequena e média empresas são os governos municipais e estaduais, mas apesar dessa
vocação natural, devido à proximidade, esses segmentos não tem demonstrado
desempenho satisfatório, a começar pela falta de iniciativa. Um trabalho de informação
aos governos e organizações sobre onde estão as novas janelas de oportunidades para o
novo ambiente econômico e institucional às empresas de pequeno porte e a preparação
técnica do pessoal do governo local, já começou. Através do MCT /FINEP (APL e
123
Plataforma Tecnológica), mas, a rigor, trata-se de uma iniciativa que, além de tímida,
partiu do pressuposto de que a ponta final, nos estados, estava preparada técnica e
conceitualmente para “receber” o programa. Faltou, portanto, um trabalho preparatório. A comercialização do excedente fazia parte da finalização da cadeia produtiva e estava
inclusa como gargalo apresentados no Grupo de Competitividade e Mercado foi a busca
de mercado para pequenos piscicultores. A ação estratégica seria o estímulo ao
associativismo.
Porém ninguém ficou responsável pela comercialização. Nenhuma instituição se
comprometeu com isso. No Assentamento do Tarumã-Mirim, em 2007, foram
comercializados peixes através de um programa da Prefeitura de Manaus, chamado de
Compra Direta. O ideal é que as comunidades como um todo criasse uma cooperativa, o
que viabilizaria a comercialização.
Dentre as ações políticas governamental para a continuidade do APL de
Piscicultura, após o final dos aportes financeiros, a única ação política consistente foi a
normatização da atividade, porém, seriam necessárias muitas outras. O Governo do
Estado, através da SEPROR, fez a divulgação e fomento dos APLs, mas não fez
acompanhamento. Foi uma ação política Governamental.
Em princípio haveria um aporte de recursos do FINEP para a continuidade, mas
não ocorreu. Não foi previsto acompanhamento dos projetos após o término dos
recursos.
Sendo assim, ao final dos aportes financeiros do governo para o programa
Plataforma Tecnológica, não houve nenhum monitoramento dos projetos
implementados e os problemas futuros, deveriam ficar por conta das comunidades e
suas habilidades em lidar com os problemas advindos no futuro. Segundo os
entrevistados, faltou uma instituição que através de suas ações, continuasse o
desenvolvimento do APL, promovendo a assistência técnica efetiva.
Quanto a difusão do conhecimento, ela aconteceu através da participação dos
integrantes das comunidades tanto na construção dos criatórios, como na própria criação
dos peixes, passando os conhecimentos para a vizinhança. Outra forma de difusão foi
através de programas de televisão e trabalhos publicados e divulgados na mídia local e
em congressos.
Na visão dos coordenadores dos projetos, os reais benefícios estão no sistema
como foi planejado, o qual possibilite que as pessoas possam produzir seu próprio
alimento com excelente qualidade e obter renda extra. Isto contribui para alavancar uma
124
série de outras atividades na propriedade. Ainda podemos citar como benefícios as
capacitações dos envolvidos nos projetos; as discussões sobre as atividades e as
reuniões periódicas.
Como era novidade para muitos o fato de criar peixes, os limites impostos pelas
comunidades, no entanto, não foram relevantes. No projeto PROCIMA, não houve
nenhum limite. No projeto TANRE, no início não houve muito interesse da
comunidade. Depois do crescimento do peixe se interessaram.
Dentro da dinâmica conceitual de APL, a cooperação entre os atores é fator de
sustentabilidade. Nas instâncias do projeto PROCIMA, houve de certo modo
cooperação entre as instituições e todos os selecionados da comunidade para
desenvolver a atividade. No projeto TANRE houve baixa cooperação entre os atores.
Não houve uma coordenação geral do APL.
125
5 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
Este estudo centrou o seu foco nas contribuições do APL de piscicultura para
com o desenvolvimento socioeconômico regional no Estado do Amazonas. Para tanto,
identificou-se as seguintes variáveis no estudo sobre o mapeamento do estágio de
expansão do APL de piscicultura: disseminação do conhecimento; formação de
cooperativa; acesso a mercados; apoio financeiro; construção de novo canal de igarapé
ou tanque-rede e continuidade na criação de peixes.
De modo, ao se averiguar os benefícios socioeconômicos gerados pelo APL de
piscicultura, selecionou-se como variáveis: o acesso à educação; o emprego a familiares
e terceiros; a melhoria na alimentação e na saúde; a geração de renda e as externalidades
positivas na comunidade.
Na identificação das políticas públicas que serviram de eixo de sustentação para
o APL, foram apuradas as ações estratégicas que visaram solucionar os gargalos
identificados na cadeia produtiva do APL de piscicultura.
A partir dos dados coletados observou-se até que ponto houve efetivamente a
expansão do APL, como a implementação dos projetos de piscicultura familiar
beneficiaram os participantes contemplados e a comunidade em geral e, por fim, como
as políticas públicas contribuíram na sustentabilidade do APL.
Iniciando-se com avanço e expansão do Projeto PROCIMA, verificou-se que
houve a disseminação do conhecimento pela comunidade, quando os próprios
participantes do projeto ensinaram as técnicas de criação a outras pessoas. No entanto a
grande maioria dos entrevistados afirmaram conhecer poucas pessoas que criam peixes
hoje na região, podendo concluir-se assim, que após a implementação do projeto a
comunidade se interessou pela técnica, conheceu, porém poucos passaram a criar peixes
efetivamente. Apesar de todos comungarem a mesma idéia quanto à importância de uma
cooperativa para melhor negociar a produção conjunta dos peixes, não houve ações para
implantá-la. Confirma-se essa assertiva ao se constatar que a maioria dos participantes
negociaram o seu peixe isoladamente.
Conforme o processo produtivo fosse melhorado e os resultados de
produtividade se aprimorando através das pesquisas das instituições, o acesso a
mercados para escoamento da produção era de suma importância. Todavia, verificou-se
que os produtores utilizaram a própria comunidade, muitas vezes em vendas
126
esporádicas, para oferecer a maior parte do excedente da produção. Apenas uma
alternativa de venda, surgiu fora da comunidade. Essa dificuldade demonstrou a falta de
um elo na cadeia produtiva, a qual seria fortalecida justamente pela união associativa
dos produtores.
Apurou-se que nenhum dos participantes recebeu algum tipo de verba, ou apoio
financeiro governamental ou não-governamental para dar continuidade na criação de
peixes. O projeto foi desenvolvido para atender a população de baixa renda, portanto o
valor do investimento para criar peixe em canal de igarapé também foi baixo, mesmo
assim, como é possível verificar no perfil socioeconômico, a maioria não tem condições
de investir na construção de um canal de igarapé apenas com a renda gerada pela
família. Por isso muitos buscaram financiamento junto a bancos, os quais foram
negados devido à ausência de regulamentação pelo IPAAM, o que só veio a acontecer
no ano de 2008.
Nenhum dos participantes do projeto chegou a construir um segundo canal de
igarapé, porém todos demonstraram motivação para construir outro. Há unanimidade de
pensamento quanto a validade da participação deles no projeto, tanto que, apresentaram
somente as vantagens de criar peixes e a mais freqüente foram a alimentação e o
conhecimento.
Tratando-se da continuidade da criação de peixes com tecnologia do canal de
igarapé, verificou-se que nenhum dos receptores do conhecimento produzido estava
praticando o cultivo de peixe com essa tecnologia. Porém encontrou-se um deles
criando peixe em tanque escavado e outro afirmou estar preparando-se para voltar à
produção. O motivo que mais teve peso, para que parassem de produzir peixes, foi o
fator financeiro, seguido pelas dificuldades de acesso ao assentamento do Taruma-
Mirim. Verificou-se que as maiores dificuldades encontradas pelos produtores durante a
produção de peixes foram a falta de dinheiro para dar continuidade ao negócio, falta de
energia elétrica, dificuldade na comercialização dos peixes, devido à distância dos
mercados e acesso para transportar a ração.
No que concerne aos benefícios socioeconômicos gerados pelo Projeto
PROCIMA, constatou-se que somente uma pessoa foi beneficiada pelo acesso à escola,
enquanto que o restante não foi beneficiado, pois os filhos já freqüentavam a escola
antes da implementação do projeto, porém todos tiveram acesso a conhecimentos gerais.
Quanto à geração de emprego o projeto trouxe benefícios tanto para as famílias quanto
127
para terceiros. Todos já possuíam o hábito de fazer compras na cidade, não havendo
nesse aspecto mudanças ou acesso a aquisição de produtos alimentícios diferenciados.
Relativamente à alimentação, todos os envolvidos no projeto foram
beneficiados, passando a ter uma alimentação melhor, com a inclusão do peixe,
afirmando terem percebido melhora na saúde.
Houve aumento da renda para a maioria das famílias, o que proporcionou algum
bem-estar, como: reforma e construção da casa, poupança em dinheiro, ajuda a
familiares, compra de eletrodomésticos e outros produtos importantes para
sobrevivência.
Durante a implementação do projeto o contato dos ribeirinhos com as
instituições fortaleceu laços de amizade e proporcionou-lhes aprendizado. Mesmo
depois do encerramento do projeto, todos eles continuaram mantendo contato com o
pessoal das instituições.
De acordo com a análise dos dados, percebeu-se que não houve melhorias
estruturais na comunidade. O fenômeno da concentração da produção favorece o
surgimento de externalidades positivas, porém a externalidade gerada segundo se
apurou foi o conhecimento das técnicas de criação de peixe pela comunidade. Apurou-
se que houve mudança no padrão de vida das pessoas e que os benefícios mais
importantes foram a melhora na alimentação e o conhecimento adquirido.
Passando-se ao estudo sobre avanços e expansão do projeto TANRE, notou-se
que houve disseminação do conhecimento pela comunidade, pelo fato de ter despertado
a curiosidade quanto à criação de peixes em tanques-rede. Porém verificou-se que a
maioria dos participantes do projeto conhecem poucas pessoas que estão produzindo
peixes com essa tecnologia. Quando analisou-se o trabalho em conjunto dos produtores,
visando o associativismo, o resultado foi um grande interesse em unir-se para busca de
melhores vendas e produção, inclusive reuniram-se para discussões. Porém verificou-se
que a maioria dos produtores vendeu seus peixes isoladamente.
A relevância de acesso ao mercado diz respeito ao escoamento da produção,
permitindo que a cadeia produtiva tenha seu fluxo finalizado com bons negócios,
permitindo assim que os interesses dos produtores de peixes, concentrados na melhoria
da produtividade. No entanto, registrou-se que a maioria dos produtores vendeu seus
peixes na própria comunidade, e para alguns mercados da cidade mais próxima e outros
para cooperativas da região.
128
Confirmou-se que uma participante a qual recebeu apoio financeiro de um órgão
governamental, continua criando peixes em tanque-rede. Esse apoio foi para a
construção de novo tanque e para os alevinos. Isso confirma que o produtor rural precisa
de apoio, seja financeiro ou técnico, das instituições para alcançar seus objetivos.
Ao avaliar se houve expansão do projeto, constatou-se que não conseguiram
construir novos tanques-rede, ou seja, ampliar o negócio, porém a grande maioria
afirmou que foi válido o empreendimento, e que valeu a pena começar este negócio,
demonstrando grande motivação para dar continuidade no futuro, quando afirmaram
que pretendem construir outro tanque-rede. Esta posição é confirmada, quando
verificou-se que apresentaram mais vantagens do que desvantagens ao serem inquiridos
a respeito. Dentre as vantagens mais citadas por eles estão à melhor alimentação e o
incremento na renda.
Quanto a continuidade, a maioria deixou de criar peixes, enquanto que aqueles
que continuaram, tiveram motivos diversos para dar continuidade. Como por exemplo,
o recebimento de apoio financeiro, como citado acima; outro conseguiu manter apenas
um tanque-rede; outro participante do programa conseguiu parceria com a iniciativa
privada e o último, por ter melhor situação financeira comprou as estruturas daqueles
que desistiram. Os maiores motivos que levaram à desistência ficaram concentrados
também no fator financeiro. Após o término do aporte dos recursos por parte do
governo, a maioria não conseguiu encontrar saídas para a continuidade da criação.
No que tange aos benefícios socioeconômicos gerados pelo projeto TANRE,
pode-se verificar que não trouxe benefícios de acesso à escola para familiares e
especificamente aos filhos. O projeto TANRE não proporcionou trabalho a outros
familiares dos participantes. Ao contrário do projeto PROCIMA, a maioria afirmou ter
trabalhado sozinho na produção de peixes, devido à facilidade do manejo. Desta forma
também não proporcionaram emprego a terceiros. Em contrapartida, todos afirmaram
ter tido acesso a conhecimentos gerais, durante a implementação do projeto. Outra
informação importante é que o fato de terem iniciado a criação de peixes, não mudou
suas rotinas de compras na cidade, ato que já era usual entre eles.
A alimentação melhorou muito entre as famílias participantes do projeto. Em
conseqüência desta alimentação, mais da metade deles conseguiram perceber uma
melhora na saúde geral da família.
A renda também melhorou para as famílias no decorrer da produção de peixes,
pois possibilitou que negociassem o excedente. Apesar desse incremento na renda não
129
ter sido de grande magnitude, puderam ter acesso a alguns benefícios, como compras de
objetos de uso pessoal ou mantimentos, mas sem grande significado para eles.
Outro benefício social apresentados pelos participantes foi a oportunidade da
continuidade de relacionamento com os agentes e técnicos das instituições que
participaram do projeto.
Conforme os dados apresentados na pesquisa não foram notados externalidades
positivas de grande importância nas comunidades. Mudanças de ordem estruturais não
foram apresentadas, porém apontaram como benefícios dentro deste aspecto somente o
aumento de visitas nestas comunidades, e numa delas a melhoria na limpeza local.
No que toca a mudança de padrão de vida trazido pelo projeto TANRE para as
famílias, pode se afirmar que houve mudanças. Apontaram como maiores benefícios o
conhecimento e a alimentação com maiores representatividades.
Na análise comparativa dos projetos, foram confrontadas as principais variáveis
socioeconômicas do projeto PROCIMA e do projeto TANRE. Por outro lado, buscou-se
apurar os avanços nas soluções dos gargalos encontrados no APL de piscicultura, que
além da Piscicultura Familiar, o qual foi priorizado pelo Programa, eram importantes
quanto à formação da cadeia produtiva e assim pela determinação da expansão do APL.
Na análise da renda, os dois projetos apresentaram os mesmos dados.
Comparativamente perceberam na mesma proporção que a renda aumentou e também
na mesma proporção que a renda ficou estável durante a implementação dos dois
projetos.
Na melhoria alimentar os efeitos causados pela Piscicultura Familiar, demonstra
ter beneficiado a população de ambos os projetos. No projeto PROCIMA, todos
afirmaram que a alimentação ficou boa, a diferença ficou por conta do projeto TANRE
que confirmaram uma alimentação boa e excelente.
Comparando os dois projetos quanto a soluções dos gargalos identificados no
APL, quanto à regulamentação pelos órgãos competentes, o projeto PROCIMA e o
projeto TANRE regulamentaram-se com a tecnologia de canais de igarapés em terra
firme e tanques-rede no ano de 2008.
O gargalo identificado como Competitividade e Mercado, precisaria ser
solucionado com a busca de mercado para os pequenos piscicultores e a ação estratégica
era fortalecer o associativismo. No entanto apurou-se que nos dois projetos a maioria
dos produtores negociou individualmente seus lotes de peixes e não vingou nenhum
acordo para formar-se uma cooperativa.
130
O último gargalo comparado foi a Capacitação de Recursos Humanos. Dentro
deste gargalo se encontrava a ação estratégica de Capacitação dos Piscicultores em
Técnica de Cultivo. Nesse item os dois projetos apresentaram resultados positivos,
concluindo-se que todos aprenderam as técnicas do manejo.
Dos resultados apresentados deduz-se que embora o objetivo do programa tenha
sido alcançado, ao ter-se obtido sucesso no desenvolvimento da técnica de Piscicultura
Familiar, percebe-se a necessidade de complementação de políticas públicas de
continuidade a solução dos gargalos, de modo a impedir o esvaziamento e fragmentação
do APL.
Conclui-se que o desenvolvimento do APL de piscicultura estagnou-se a partir
do momento que não houve a continuidade da proposta inicial do Programa Plataforma
Tecnológica/APL, que era de solucionar os gargalos do APL através de ações
estratégicas traçadas, porém não realizadas. Do conjunto das ações apropriadas a dar
sustentação ao APL, verificou-se que apenas alguns gargalos foram solucionados, como
por exemplo, a pesquisa para o desenvolvimento de práticas de criação e técnicas de
manejo para a Piscicultura Familiar; para o gargalo da profissionalização do setor,
verificou-se apenas a solução de uma parte que foi a capacitação dos piscicultores na
técnica de cultivo, enquanto que o processamento e gestão não houve o
comprometimento de nenhuma instituição apropriada a esse fim, pois notou-se neste
aspecto que a grande maioria dos participantes não conheciam técnica de gestão de
negócios. Quanto ao gargalo relacionado ao crédito; estudo da cadeia produtiva; custo
de produção e busca de mercado para pequenos piscicultores, verificou-se apenas o
estudo do custo de produção. Para o gargalo às doenças, reprodução, sistema de
produção, impacto ambiental provocado pela atividade, pós-colheita e informações, as
ações estratégicas foram implementadas com sucesso. Finalmente para o gargalo da
regulamentação do aquicultor e a ausência de um Fórum de Discussão, foram dadas
soluções, mesmo que tardiamente.
Dessa forma, acredita-se que a falta de solução desses gargalos, que dariam
sustentabilidade ao APL de Piscicultura, fez com que ao término do aporte financeiro do
governo e o fim das pesquisas do INPA e da EMBRAPA, houvesse um esvaziamento,
ou seja, a desvinculação das instituições envolvidas no Programa, o que fez com que a
grande maioria dos contemplados pelos projetos, não dessem continuidade a produção.
Quanto às contribuições para o desenvolvimento socioeconômico local
apresentadas pelo APL, verificou-se que não houve benefícios de grande magnitude, a
131
confirmar pela ausência ao acesso a educação; a falta de melhorias estruturais nas
comunidades onde foram implementados os projetos e não proporcionar empregos à
terceiros. Da mesma forma, a importância do incremento na renda não foi
unanimemente percebido pelos contemplados.
Por outro lado, a inclusão alimentar foi apontada como o maior dos benefícios
entre os participantes dos projetos, acrescidos de uma percepção de melhora na saúde.
No entanto, verificou-se que, para a maioria dos participantes, esses benefícios foram
pontuais, pois não tiveram condições de dar continuidade a produção de peixes.
Constatou-se, porém, que ainda há esperança em, um dia, poder voltar a criar peixes,
pois o conhecimento, foi apontado também, além da alimentação como o fator de maior
benefício entre eles.
Esta pesquisa, entretanto, não tem a pretensão de esgotar o assunto em questão,
devido à amplitude do tema, porém contribui para estudos relacionados ao
desenvolvimento econômico e as políticas públicas voltadas a ele. Também a estudos
voltados à APLs e seu desenvolvimento. Dada a importância do tema, novas pesquisas
poderão vir a contribuir para um melhor aprofundamento do assunto.
132
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136
APÊNDICE 1 FORMULÁRIO DE PESQUISA Nº. COMUNIDADE:.............................................................................................................. ENTREVISTADOR:........................................................................................................ PARTE I – DADOS PESSOAIS NOME:...................................................................................................IDADE.............
1. SEXO ( ) FEMININO ( ) MASCULINO 2. ESTADO CIVIL ( ) SOLTEIRO (A) ( ) CASADO (A) ( ) SEPARADO (A) ( ) VIÚVO (A) ( ) DIVORCIADO(A) ( ) CONVIVENTE 3.NATURALIDADE............................................................................................................
PARTE II – DADOS SOCIOECONÔMICOS 4. GRAU DE INSTRUÇÃO ( ) ANALFABETO ( ) ATÉ 4ª SÉRIE INCOMPLETA DO ENSINO FUNDAMENTAL ( ) COM a 4ª COMPLETA E ENSINO FUNDAMENTAL INCOMPLETO ( ) DE 5ª A 8ª SÉRIE INCOMPLETA DO ENSINO FUNDAMENTAL ( ) ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO ( ) ENSINO MÉDIO INCOMPLETO ( ) ENSINO MÉDIO COMPLETO ( ) ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO ( ) ENSINO SUPERIOR COMPLETO 5. QUANTAS PESSOAS TÊM SUA FAMILIA? ( ) DE 01 A 03 PESSOAS ( ) DE 04 A 08 PESSOAS ( ) DE 09 A 12 PESSOAS ( ) OUTROS........................................................................................................... 6. QUANTOS FILHOS VOCÊ TÊM? ( ) NÃO TENHO FILHOS ( ) DE 01 A 03 FILHOS ( ) DE 04 A 08 FILHOS ( ) MAIS DE 09 FILHOS
137
7. QUAL A PRINCIPAL ATIVIDADE ECONÔMICA NA SUA FAMILIA? ( ) TRABALHO NA CRIAÇÃO DE PEIXE ( ) TRABALHO EM LAVOURAS NA REGIÃO ( ) TRABALHO DE SUBSISTÊNCIA ( ) TRABALHO INFORMAL/BICO ( ) APOSENTADO ( ) OUTROS........................................................................................... 8. QUAL A RENDA FAMILIAR ORIUNDA DO TRABALHO? ( ) MENOS DE 1 SM ( ) 1 SM ( ) ATÉ 2 SM ( ) DE 2 A 3 SM ( ) MAIS DE 3 SM 9. QUANTAS PESSOAS DE SUA FAMILIA TRABALHAM NA CRIAÇÃO DE
PEIXES?
.......................................................................................................................................
.......................................................................................................................................
PARTE III – AVANÇOS E EXPANSÃO DO APL DE PISCIULTURA
10. VOCÊ CONHECE OUTRAS PESSOAS QUE ESTÃO CRIANDO PEIXE PELA
REDONDEZA ( ) UMA PESSOA ( ) POUCAS PESSOAS ( ) NENHUMA PESSOA ( ) VÁRIAS PESSOAS ( ) MUITAS PESSOAS 11. VOCÊ ACHA QUE VALEU A PENA COMEÇAR ESSE NEGÓCIO? ( ) SIM ( ) NÃO ( ) MAIS OU MENOS 12. VOCÊ ACHA QUE VALEU/NÃO VALEU/MAIS OU MENOS, POR QUÊ? ( ) SIM, PORQUE NÃO FALTA ALIMENTO EM CASA. ( ) SIM, PORQUE DA PRA GANHAR UM DINHEIRO EXTRA. ( ) NÃO, PORQUE TEM QUE GASTAR MUITO DINHEIRO E NÃO COMPENSA. ( ) NÃO, PORQUE TEM QUE TER AJUDA DE UM TÉCNICO. ( ) MAIS OU MENOS, POR QUE O TRABALHO QUE DISPENSO NÃO COMPENSA O DINHEIRO NO FINAL; ( ) MAIS OU MENOS, POR QUE NÃO DÁ DINHEIRO, MAS AJUDA NA ALIMENTAÇÃO E TROCA. ( ) OUTRO................................................................................................................ 13. DESDE QUE COMEÇOU A CRIAR PEIXE AS MAIORES DIFICULDADES
FORAM: ( ) FALTA GENTE PARA TRABALHAR ( ) FALTA DINHEIRO PARA MANTER O NEGÓCIO ( ) DEU PROBLEMAS NA MANUTENÇÃO E SENTI FALTA DE UM TÉCNICO ( ) O TERRENO NÃO AJUDOU ( ) OUTROS...........................................................................................................
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14. VOCÊ CONTINUA, HOJE, A CRIAR PEIXES?
( ) SIM ( ) NÃO
15. SE A RESPOSTA ACIMA FOR NÃO: QUAIS OS PRINCIPAIS MOTIVOS QUE TE FIZERAM PARAR A CRIAÇÃO? ....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
16. VOCÊ PENSA EM CONSTRUIR OUTRO CANAL DE IGARAPÉ/TANQUE-REDE? ( ) SIM ( ) NÃO 17. QUAIS AS PRINCIPAIS VANTAGENS/DESVANTAGENS QUE VOCÊ
ENCONTROU AO CRIAR PEIXE NO CANAL DE IGARAPÉ/TANQUE-REDE?
...........................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
18. ANALISANDO DESDE O INÍCIO DO PROJETO, VOCÊ ACHA QUE AUMENTOU
SUA PRODUÇÃO DE PEIXES? ( )SIM ( )NÃO ( )MAIS OU MENOS
19. QUAL PRINCIPAL MOTIVO QUE FEZ AUMENTAR/DIMINUIR/ESTABILIZAR A PRODUÇÃO DE PEIXE?
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
....................................................................................................................................................
20. QUANTAS TONELADAS/KGS VOCÊ ACHA QUE PRODUZIU NOS SEGUINTES
ANOS? ( ) 2003.................................. ( ) 2004.......................................
( ) 2005.................................. ( ) 2006......................................
( ) 2007................................. ( ) NÃO TENHO IDÉIA
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21. VOCÊ TRANSFERIU SEU CONHECIMENTO PARA ALGUÉM DA
COMUNIDADE PARA QUE PUDESSE IMPLANTAR O CANAL DE IGARAPÉ/TANQUE-REDE? ( )SIM ( ) NÃO
22. VOCÊ ACHA QUE FACILITARIA A MANUTENÇÃO E VENDAS DE PEIXES SE
REUNISSEM OS PRODUTORES DE PEIXES DA COMUNIDADE EM COOPERATIVA?
( ) SIM, FACILITA MUITO ( ) SIM, FACILITA UM POUCO ( ) NÃO FACILITA, MAS TAMBÉM NÃO ATRAPALHA ( ) ALÉM DE NÃO FACILITAR, ATRAPALHA UM POUCO ( ) ALÉM DE NÃO FACILITAR, ATRAPALHA MUITO
23. VOCÊ JÁ SE REUNIU COM OUTRO PODUTOR DE PEIXE DA COMUNIDADE COM A TECNOLOGIA DO CANAL DE IGARAPÉ/TANQUE-REDE PARA DISCUTIR A MELHORIA DA PRODUÇÃO OU COMERCIALIZAÇÃO?
( ) NÃO, NUNCA PENSEI NO ASSUNTO ( ) NÃO, MAS PENSO NISSO PARA UM FUTURO PRÓXIMO ( ) SIM, JÁ NOS REUNIMOS ALGUMAS VEZES 24. QUAIS AS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS QUE JÁ SURGIRAM, COM A
PRODUÇÃO DE PEIXES?
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................
25. EXISTE ALGUM ESFORÇO POR PARTE DOS CRIADORES DE PEIXE EM
CANAIS DE IGARAPÉS/TANQUE-REDE EM PROCURAR EM CONJUNTO UM COMPRADOR DE PEIXES PARA O EXCEDENTE DA PRODUÇÃO?
( ) NÃO, CADA UM NEGOCIA O SEU ( ) SIM, ESTAMOS NOS UNINDO PARA MELHORAR AS VENDAS ( ) PARCIALMENTE, ALGUNS ESTÃO SE REUNINDO 26. VOCÊ ESTÁ RECEBENDO ALGUM APOIO FINANCEIRO OU INTERCÂMBIO
GOVERNAMENTAL OU NÃO-GOVERNAMENTAL, PARA CONTINUAR A PRODUÇÃO, OU MELHORAR A PRODUTIVIDADE?
( ) SIM,................................................................................................................. ( ) NÃO
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PARTE IV – BENEFÍCIOS SOCIOECONÔMICOS GERADOS PELO APL DE PISCICULTURA 27. COM A CRIAÇÃO DE PEIXE SUA VIDA MELHOROU NO SENTIDO: 1 – ACESSO A ESCOLA ( ) SIM ( ) NÃO 2 – PROPORCIOU TRABALHO PARA FAMILIARE ( )SIM ( )NÃO 3 – CONHECIMENTOS GERAIS ( ) SIM ( ) NÃO 4 – GEROU EMPREGO A TERCEIROS ( ) SIM ( ) NÃO 5 – FAZ COMPRAS NA CIDADE ( ) SIM ( ) NÃO 28. COMO FICOU A ALIMENTAÇÃO DA SUA FAMÍLIA?
( ) EXCELENTE ( ) BOA ( ) REGULAR ( ) RUIM
( ) PÉSSIMA 29. VOCÊ PERCEBEU ALGUMA MELHORA NA SAÚDE DA FAMILIA APÓS O
INICIO DA CRIAÇÃO DE PEIXES? ( ) SIM ( ) NÃO
30. PERCEBEU QUE MELHOROU SUA RENDA DEPOIS QUE COMEÇOU A CRIAR
PEIXES? ( ) AUMENTOU ( ) DIMINUI ( ) ESTÁVEL 31. DEPOIS DA CRIAÇÃO DE PEIXE PUDE COMPRAR ( ) TV ( ) SOM ( ) FOGÃO À GÁS ( ) GELADEIRA ( ) MÁQUINA DE LAVAR ( ) COMPUTADOR ( ) OUTROS.........................................................................................................
32. COMO FICOU A SITUAÇÃO DA MORADIA, DEPOIS DO INÍCIO DA CRIAÇÃO
DE PEIXES? HOUVE REFORMAS? ( )SIM........................................................................................................................ ( )NÃO 33. SEUS FILHOS SEMPRE FREQUENTARAM A ESCOLA OU COMEÇARAM A
FREQUENTAR DEPOIS DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO? ( )SEMPRE FREQUENTARAM ( ) COMEÇARAM DEPOIS DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ( )NÃO FREQUENTAM
34. O SR. (A) ADQUIRIU QUE TIPO DE CONHECIMENTO COM ESSE NOVO
PROJETO DE CRIAÇÃO DE PEIXES?
...........................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
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35. CONTINUOU A MANTER CONTATOS COM A INSTITUIÇÃO
(INPA/EMBRAPA) QUE O AUXILIOU NA CONSTRUÇÃO DO CANAL DE IGARAPÉ/TANQUE-REDE?
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
36. DEPOIS DA IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA APL MELHOROU NA COMUNIDADE: ( ) CHEGOU A ENERGIA ELÉTRICA ( ) MELHOROU AS ESTRADAS DO RAMAL ( ) OUTROS............................................................................................ ( ) NADA MUDOU 37. SUA MOBILIDADE (VEÍCULO DE TRANSPORTE) MELHOROU DEPOIS DESSE
PROJETO?
...........................................................................................................................................................
..........................................................................................................................................................
38. HOUVE MELHORIA NO PADRÃO DE VIDA DA SUA FAMÍLIA? QUAIS OS
BENEFÍCIOS MAIS IMPORTANTES QUE A CRIAÇÃO DE PEIXE LHE TROUXE?
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
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...........................................................................................................................................................
...........................................................................................................................................................
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APÊNDICE 2
AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS APLICADAS AOS PROJETOS ENTREVISTA APLICADA AOS GESTORES ENVOLVIDOS NO PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DA PLATAFORMA TECONOLÓGICA/APL NO AMAZONAS – INPA; EMBRAPA; FUCAPI. ENTREVISTADOR: ENTREVISTA Nº ENTREVISTADO:
1) QUAL FOI O PRINCIPAL OBJETIVO DO PROGRAMA PLATAFORMA TECNOLÓGICA/APL?
2) ESSE OBJETIVO FOI ALCANÇADO NO APL DE PISCICULTURA?
3) QUAL ERA A VISÃO PARA O LONGO PRAZO AO SE DESENVOLVER O PROJETO? 4) COMO FORAM VIABILIZADAS AS SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS PARA OS
GARGALOS IDENTIFICADOS NO APL DE PISCICULTURA? 5) DENTRO DA PERSPECTIVA ECONÔMICA, ATÉ QUE PONTO O PROJETO AVANÇOU,
BENEFICIANDO A COMUNIDADE? 6) O QUE DEVERIA ACONTECER PARA QUE HOUVESSE UMA SUSTENTABILIDADE DO
PROJETO PELA COMUNIDADE? 7) COMO OS ATORES ENVOLVIDOS NO PROGRAMA PLATAFORMA
TECNOLÓGICA/APL ESTRUTURARAM, OU SEJA, PLANEJARAM A CADEIA PRODUTIVA DA PISCICULTURA?
8) QUAIS ÓRGÃOS FICARAM RESPONSÁVEIS PELA DINÂMICA DA
COMERCIALIZAÇÃO DO EXCEDENTE, JÁ QUE O PROJETO VISAVA O INCREMENTO DA RENDA AOS PISCICULTORES?
9) QUAL FOI A PRINCIPAL AÇÃO POLÍTICA GOVERNAMENTAL PARA QUE OS
PROJETOS GANHASSEM IMPULSO E NÃO FRACASSASSEM APÓS O TÉRMINO DAS SOLUÇÕES DOS GARGALOS TECNOLÓGICOS E O FIM DO APORTE FINANCEIRO?
10) EXISTE ALGUM MONITORAMENTO DO PROJETO, OU APÓS ATINGIR SEUS
OBJETIVOS PRINCIPAIS, FICARIA POR CONTA DA COMUNIDADE E SUAS HABILIDADES EM LIDAR COM OS PROBLEMAS ADVINDOS NO FUTURO?
11) COMO SE ESPERAVA QUE SE DESSE A DIFUSÃO DO CONHECIMENTO NAS
COMUNIDADES? 12) COMO FICOU PREVISTO O ACOMPANHAMENTO DOS PROJETOS, ASSIM QUE
TERMINASSE O APORTE DE RECURSOS?
13) NO SEU PONTO DE VISTA QUAIS OS REAIS BENEFICIOS QUE ESSE PROJETO TROUXE A COMUNIDADE?
14) QUAIS FORAM OS LIMITE IMPOSTO PELA PRÓPRIA COMUNIDADE NA
IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO? 15) DENTRO DA DINÂMICA CONCEITUAL DE APL (ARRANJO PRODUTIVO LOCAL),
COMO SE DEU A COOPERAÇÃO ENTRE OS ATORES, DURANTE A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO?
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ANEXO I
144
145
146
Livros Grátis( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download: Baixar livros de AdministraçãoBaixar livros de AgronomiaBaixar livros de ArquiteturaBaixar livros de ArtesBaixar livros de AstronomiaBaixar livros de Biologia GeralBaixar livros de Ciência da ComputaçãoBaixar livros de Ciência da InformaçãoBaixar livros de Ciência PolíticaBaixar livros de Ciências da SaúdeBaixar livros de ComunicaçãoBaixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNEBaixar livros de Defesa civilBaixar livros de DireitoBaixar livros de Direitos humanosBaixar livros de EconomiaBaixar livros de Economia DomésticaBaixar livros de EducaçãoBaixar livros de Educação - TrânsitoBaixar livros de Educação FísicaBaixar livros de Engenharia AeroespacialBaixar livros de FarmáciaBaixar livros de FilosofiaBaixar livros de FísicaBaixar livros de GeociênciasBaixar livros de GeografiaBaixar livros de HistóriaBaixar livros de Línguas
Baixar livros de LiteraturaBaixar livros de Literatura de CordelBaixar livros de Literatura InfantilBaixar livros de MatemáticaBaixar livros de MedicinaBaixar livros de Medicina VeterináriaBaixar livros de Meio AmbienteBaixar livros de MeteorologiaBaixar Monografias e TCCBaixar livros MultidisciplinarBaixar livros de MúsicaBaixar livros de PsicologiaBaixar livros de QuímicaBaixar livros de Saúde ColetivaBaixar livros de Serviço SocialBaixar livros de SociologiaBaixar livros de TeologiaBaixar livros de TrabalhoBaixar livros de Turismo