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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS FERNANDA ALVARENGA REZENDE O PROCESSO VARIÁVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MÉDIAS PRETÔNICAS NO MUNICÍPIO DE MONTE CARMELO-MG Uberlândia 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAcircNDIA

INSTITUTO DE LETRAS E LINGUIacuteSTICA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ESTUDOS LINGUIacuteSTICOS

FERNANDA ALVARENGA REZENDE

O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG

Uberlacircndia

2013

FERNANDA ALVARENGA REZENDE

O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de

Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos

Linha de Pesquisa (i) Teoria descriccedilatildeo e anaacutelise

linguiacutestica

Orientador Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees

Uberlacircndia

2013

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil

R467p

2013

Rezende Fernanda Alvarenga 1987-

O processo variaacutevel do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG Fernanda Alvarenga Rezende -- 2013

128 p il

Orientador Joseacute Sueli de Magalhatildees

Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Uberlacircndia

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos

1 Linguiacutestica - Teses 2 Foneacutetica - Teses 3 Liacutengua portuguesa -

Foneacutetica - Teses I Magalhatildees Joseacute Sueli de II Universidade Federal de

Uberlacircndia Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos III

Tiacutetulo

CDU 801

FERNANDA ALVARENGA REZENDE

O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de

Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos

Aacuterea de concentraccedilatildeo Estudos em Linguiacutestica e

Linguiacutestica Aplicada

Local e data da aprovaccedilatildeo Uberlacircndia 28 de fevereiro de 2013

Banca examinadora

__________________________________________________

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees (Orientador) ndash ILEELUFU

__________________________________________________

Profordf Drordf Marluacutecia Maria Alves ndash UFU

__________________________________________________

Profordf Drordf Elisa Battisti ndash UFRGS

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades

tatildeo valiosas em minhas matildeos

Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo

pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o

conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida

Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e

um exemplo na minha vida

Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com

muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional

e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes

contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem

aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que

fizeram

Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte

teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio

das entrevistas

Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente

agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre

tiveram conosco

Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos

compartilhados e pelas aulas enriquecedoras

Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme

colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam

Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por

estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me

Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte

Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade

Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de

informantes

Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas

oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado

Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo

nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo

Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o

GoldVarb X quando precisei

Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne

Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos

compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro

A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa

E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo

ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode

descobrir sobre elardquo

Labov (2008 p 236)

RESUMO

O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e

e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio

para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos

preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as

entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados

confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas

estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este

estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49

anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com

mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de

articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da

siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba

tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item

lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos

todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na

posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas

no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba

pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento

das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da

assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da

siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra

preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da

Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o

processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento

por um segmento vizinho

PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo

ABSTRACT

The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid

vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio

and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of

Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews

as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte

Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic

variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old

between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11

years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of

articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of

articulation of the following context point of articulation of the following context vowel

height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel

quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable

distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-

stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we

selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels

e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs

GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of

e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the

realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the

lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process

of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This

feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent

from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on

phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)

which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of

features of a segment by a next segment

KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16

FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24

FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25

FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25

FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27

FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27

FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28

FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs

Brasileiro 30

FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31

FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31

FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32

FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33

FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes

de traccedilos 51

FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52

FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54

FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55

FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56

FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65

FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66

FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas

Gerais 66

FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e

grau de escolaridade 68

FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105

FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106

FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107

FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109

FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica 110

FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba

pretocircnica 111

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para

o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que

favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim

imperial 23

TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23

TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e

para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82

Anaacutelise da vogal pretocircnica e

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85

TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86

TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87

TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 88

TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89

TABELA 7 - Item lexical 89

TABELA 8 - Sexo 90

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91

TABELA 10 - Escolaridade 92

Anaacutelise da vogal pretocircnica o

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96

TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97

TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98

TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99

TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 100

TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100

TABELA 8 - Sexo 101

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102

TABELA 10 - Escolaridade 103

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao

Portuguecircs do Brasil 22

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise

variacionista 37

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de

Piranga e de Ouro Branco 40

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 42

235 As pretocircnicas no falar teresinense 45

236 A proposta de Lee e Oliveira 48

24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50

3 METODOLOGIA 58

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68

34 O Programa Estatiacutestico 72

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74

351 Variaacutevel dependente 74

352 Variaacuteveis independentes 75

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75

35211 Contexto precedente 75

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76

35214 Contexto seguinte 77

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80

352113 Item lexical 80

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81

4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA

DE TRACcedilOS 105

6 CONCLUSAtildeO 112

7 REFEREcircNCIAS 117

ANEXOS 120

ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121

ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel

das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse

processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de

[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que

representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro

Altas i u

Meacutedias altas e o

Meacutedias baixas ɛ ɔ

Baixa a

Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)

Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo

podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada

respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos

o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e

de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de

o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na

fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos

No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao

municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com

1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute

internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave

transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso

estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob

financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica

PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura

de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao

alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito

17

mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves

vogais meacutedias pretocircnicas

A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma

pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto

carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde

pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas

Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na

economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo

ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda

mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos

trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG

Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de

se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro

decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno

entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas

O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas

com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com

25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com

26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa

que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria

e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias

e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades

diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo

sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino

As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo

pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo

abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos

catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do

contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto

precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica

6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos

englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa

estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas

18

distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade

de siacutelabas da palavra e classe da palavra

Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo

pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes

rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis

significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o

programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do

contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na

siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as

vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o

abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na

siacutelaba pretocircnica do que a mulher)

Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze

foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no

GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs

variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De

acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram

o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]

enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel

extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais

frequecircncia do que a mulher)

Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o

abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes

carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo

sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro

Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro

ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma

pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com

o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O

7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar

19

projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um

projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve

pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional

O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos

especiacuteficos

Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais e e o

Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em

Monte Carmelo-MG

Portanto essa pesquisa se justifica por

Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo

construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo

Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala

dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio

que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico

Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo

Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras

que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que

buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa

Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo

pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos

O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de

o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa

([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este

Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG)

20

Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo

diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto

que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos

O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica

analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para

ambas as vogais

Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica

estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer

A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais

meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais

realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher

Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais

abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de

idade)

O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento

Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo

Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos

palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e

ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme

jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE

MORAES 2002)

palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e

leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p

5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas

caracterizando hiatordquo

palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo

fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p

65)

palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)

mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os

sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas

21

por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho

v[e]rde rarr v[e]rdinho

Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)

esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt

1995 p 5)

Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir

No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do

abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as

hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo

No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na

primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro

desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico

pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em

todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na

quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para

representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados

O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco

seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos

preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao

municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o

detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo

deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb

X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as

variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo

A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que

discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5

representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a

variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas

O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados

para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como

alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de

perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e

seus respectivos fatores

22

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua

portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de

Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o

Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a

evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela

objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois

por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos

atualmente na nossa liacutengua

A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo

acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico

aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos

estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia

vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -

24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos

auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do

Brasil

Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em

portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje

Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o

latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o

galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de

Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de

Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-

portuguesa do Norte

O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais

divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada

timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas

transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de

23

vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre

resultantes dos variados graus de aberturardquo

Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como

consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na

Tabela 1 abaixo

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

ī i fīcum gt port figo

ĭ

sĭtim gt port sẹde

ē rēte gt port rẹde

ĕ ę tĕrra gt port tęrra

ă

a

lătus gt port lado

ā amātum gt port amado

ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta

ō ọ amōrem gt port amọr

ŭ bŭcca gt port bọca

ū u pūrum gt port puro

Fonte TEYSSIER (2007 p 9)

Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a

vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

aelig ę caecum gt port cęgo

œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais

no latim imperial

24

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 2 - As vogais do latim imperial

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval

pois

[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas

individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas

palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo

permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter

conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como

uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)

No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa

semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por

exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma

tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que

se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e

caldo em portuguecircs

Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos

muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o

caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar

nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais

abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007

p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees

ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra

[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo

O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e

nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs

25

acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os

seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e

natildeo entram mais em contato

Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros

textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo

com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-

portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu

a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o

Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere

agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte

Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees

graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)

Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e

ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo

(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica

que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e

muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a

(i)

e o

a

Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

26

Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um

fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e

partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas

essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o

sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o

Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa

substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso

do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs

pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo

Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas

grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou

como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a

melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como

[ọ] fechadordquo

Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos

vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute

que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer

esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de

falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo

fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas

formas prevaleccedila

Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da

siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u

Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos

antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha

chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo

Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-

nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ

desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica

27

i u

e o

a

Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 31)

Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs

tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o

eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo

(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias

onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir

O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo

com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua

literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego

serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p

48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como

exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais

ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute

nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo

A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que

aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-

portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 50)

28

Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as

contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a

e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em

hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em

oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o

sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo

tocircnica

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 51)

Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental

para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a

chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os

iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como

escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros

constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil

Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu

a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de

Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo

tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a

populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas

natildeo da forma como os europeus falavam

Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a

liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram

Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier

(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de

mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e

29

de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi

proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa

Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio

[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala

pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem

distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as

fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa

(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os

brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam

os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)

Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees

foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal

central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas

no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em

outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba

pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul

Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier

(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a

pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o

Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga

por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar

e istar para entrar e estar

Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor

argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela

pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo

da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um

ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais

niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma

30

Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final

i u i u i u

e o E O

ɛ ɔ

A9 a a

Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte TEYSSIER (2007 p 104)

Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo

discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10

afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais

latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para

a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao

contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o

espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos

variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com

exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas

vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u

Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar

de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da

posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se

apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em

portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11

pois aleacutem das cinco vogais jaacute

9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e

Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois

fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo

entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute

transcrita como bolU 10

Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi

publicada em 1970 11

Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone

31

mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as

vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos

visualizar na figura abaixo

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ

Baixa a

Anteriores Central Posteriores

Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)

De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as

vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo

meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais

altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute

a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo

das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando

ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006

p 41)

Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante

de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a

figura a seguir

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

[ɐ]

Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)

Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma

consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e

32

aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a

eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o

u) como vimos na Figura 10

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico

denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que

desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada

pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)

citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras

perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade

fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em

duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI

VIEIRA 2005 p 173)

Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas

pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior

para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que

se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute

caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]

Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com

relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a

realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes

do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as

realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza

pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E

como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG

33

realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa

regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente

Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como

podemos visualizar na Figura 12 a seguir

i u

a

Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da

palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute

condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais

altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica

que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona

final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas

trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem

seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-

mudo e pent[i] para pente

As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi

definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva

desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua

tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para

Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave

assimilaccedilatildeo12

das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente

seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como

em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal

tocircnica que impulsionar o processo

Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees

feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e

12

De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento

vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo

34

afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final

Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como

argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas

na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso

porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos

encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na

siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB

A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de

muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para

estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13

(1987) que

pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que

estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco

Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas

no dialeto de Teresina-PI

Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser

considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo

que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia

vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo

Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo

desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas

Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos

que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os

processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se

nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees

entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute

dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho

13

Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento

35

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel

Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias

pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento

que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil

tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a

harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O

corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos

trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees

portugueses e italianos

Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados

coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou

sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado

[o]perar ~ [u]perar14

Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou

S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como

afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem

situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15

Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce

influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro

~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16

A variaacutevel dependente do trabalho

da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em

vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p

38)

Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados

encontrados por Bisol (1981)

Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a

elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar

para comprar

Tonicidade

a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a

vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo

14

Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15

Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16

Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)

36

b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo

pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a

natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras

ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo

c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de

harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo

d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a

vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a

assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)

Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo

menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL

1981 p 41)

Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade

ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como

exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel

e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante

Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares

(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes

alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia

posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a

elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a

alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)

Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal

(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as

alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)

e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar

(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)

Variaacuteveis extralinguiacutesticas

- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17

foram os que mais aplicaram a

regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18

foram os que menos aplicaram

- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem

17

Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18

Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do

paiacutes vizinho o Uruguairdquo

37

- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre

(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)

- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores

condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas

permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada

agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~

custelardquo

Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de

sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos

formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt

flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo

vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p

104-108)

Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]

a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p

111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)

A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na

fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre

a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba

seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os

principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista

Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte

influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt

(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como

exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo

(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas

delimitaccedilotildees Ele desconsiderou

as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo

pronunciadas como um hiato

38

as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a

maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem

palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa

a fronteira vocabular

palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e

ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos

O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta

por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em

Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum

havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que

faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria

conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a

escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica

(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada

uma das trecircs capitais pesquisadas

Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o

na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a

seguir

Homorganicidade19

das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a

elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex

ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex

ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a

vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex

ldquoconduccedilatildeordquo)

A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave

pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex

ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica

analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata

Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a

elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)

do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)

19

Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

39

Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o

favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o

processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)

Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e

desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex

ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o

favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e

desfavoreceu o processo a pausa

Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex

ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo

o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a

elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o

processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes

Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para

a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees

verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os

seguintes

Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e

para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os

informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo

aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de

o do que os entrevistados mais jovens

Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de

elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau

Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de

harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto

Alegre)

Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas

Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal

condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na

siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as

variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por

40

exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas

vogais meacutedias pesquisadas

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de

Ouro Branco

Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-

MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio

mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da

Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e

testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo

aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e

feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)

Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a

pesquisa

As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico

vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a

vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe

morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da

palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical

Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees

para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as

vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao

abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o

processo de nosso maior interesse

Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto

de Piranga-MG foram

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1

Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba

41

Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe

Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais

Gecircnero masculino

Faixa etaacuteria jovem

Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes

variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica pronome adjetivo

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais

Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas

Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o

abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica adjetivo

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Gecircnero feminino

Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as

seguintes variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas

42

Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel

extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila

qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa

uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o

de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de

uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba

pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica

Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo

individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente

de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima

de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade

(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas

o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal

Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que

participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679

referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012

corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20

ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram

obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173

ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb

2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia

do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros

apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o

nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo

Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006

selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis

43

Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram

os verbos (ex ldquochegavardquo)

Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou

valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica

baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a

vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo

Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu

a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)

Contexto precedente20

- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes

(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)

Contexto seguinte21

- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex

ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)

Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex

ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)

Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e

por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal

tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente

contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto

precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto

seguinte e classe da palavra

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o

abaixamento de e foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum

abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos

uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na

siacutelaba pretocircnica

Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados

pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas

20

Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as

consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por

consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21

A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana

(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e

semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais

44

Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as

anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)

Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)

Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais

(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente

Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)

desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex

ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes

oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes

(ex ldquocomigordquo)

Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)

Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os

verbos (ex ldquoconversarrdquo)

Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do

abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica

contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto

seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2

Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico

para o abaixamento de o foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento

de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma

ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os

homens

Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com

45

mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba

Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que

no informal

As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb

2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da

vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento

quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois

houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e

em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo

Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias

pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como

jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das

vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a

realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana

(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo

se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal

235 As pretocircnicas no falar teresinense

O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais

meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou

com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero

(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50

anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino

Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas

Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas

eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de

Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como

vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo

poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse

46

Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o

comportamento das vogais meacutedias foram

Contiguidade

Homorganicidade

Tonicidade

Paradigma

Distacircncia da tocircnica

Derivada de tocircnica

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa

etaacuteria e escolaridade

As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219

ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve

2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na

seguinte ordem

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Paradigma

Contexto fonoloacutegico seguinte

Faixa etaacuteria

Escolaridade

Homorganicidade

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou

sete variaacuteveis

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Paradigma

Escolaridade

Faixa etaacuteria

Gecircnero

47

Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram

que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais

tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o

foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as

velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva

(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)

as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o

abaixamento de o

Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto

para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o

que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na

posiccedilatildeo pretocircnica

Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex

ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das

velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o

processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel

homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel

selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu

nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal

Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada

para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas

pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos

ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito

aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os

fatores analisados

Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos

do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e

[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e

Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa

etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse

cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as

vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao

passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram

48

uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p

138)

Com base nesses resultados a autora concluiu que

[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a

escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de

mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os

mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema

(SILVA 2009 p 139)

A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres

embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os

homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um

papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos

em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos

Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente

relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar

de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias

pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que

nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas

pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do

processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica

236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)

Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se

preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e

Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o

primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes

vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves

palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo

pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG

49

Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo

ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo

De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma

pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e

pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes

sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs

falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)

questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas

consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver

este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees

A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e

expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w

seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA

2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para

liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas

Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca

entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem

dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo

Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]

consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados

reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a

fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)

Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema

apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um

conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema

computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional

Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter

um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo

aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]

(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u

o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)

Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo

aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias

altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer

50

foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status

fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de

entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do

exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo

Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e

que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou

c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas

foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem

que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e

que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto

(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)

Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos

fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os

fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a

essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um

modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual

desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo

Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma

teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais

meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte

24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos

Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma

perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas

o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos

um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o

modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto

recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia

Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo

independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo

51

Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva

(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22

que o representa a Teoria

Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa

Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em

que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa

restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um

segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o

segmento tambeacutem mudaraacute

Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee

o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a

representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir

t d

- soante - soante

- contiacutenuo - contiacutenuo

coronal coronal

+ anterior + anterior

- sonoro + sonoro

Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)

Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre

alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a

[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda

que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d

visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro

A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia

Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas

consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um

segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento

de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo

22

Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter

acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-

ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo

52

O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma

hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em

camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente

Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume

(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando

Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo

traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e

relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees

fonoloacutegicasrdquo23

Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia

existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto

manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)

Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados

por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais

representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo

pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14

Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)

23

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists

have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological

representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)

53

Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como

unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam

grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que

os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os

traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas

de associaccedilatildeo

Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos

assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24

Desse modo os

autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas

um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14

um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem

parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo

fazerem parte de um mesmo constituinte

A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de

consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)

24

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995

p 250)

54

Consoantes Vogais

Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais

Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)

Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel

representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita

acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura

15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as

especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a

representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que

consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe

apenas na representaccedilatildeo das vogais

55

Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal

Fonte MATZENAUER (2005 p 51)

O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]

[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em

grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade

desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de

cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode

espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que

estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para

indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os

segmentos nasais e [- nasal] para os orais

56

Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de

consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas

pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum

Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em

anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as

diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a

vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais

ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as

vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios

O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as

semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea

vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como

pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de

ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao

noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal

Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de

abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e

quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para

caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo

Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo

representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a

seguir

Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs

Fonte WETZELS (1991 p 31)

A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro

alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais

57

meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as

vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo

caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do

que as outras duas vogais meacutedias

Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i

u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura

negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais

fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui

todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2

deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico

do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema

vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos

desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No

Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa

58

3 METODOLOGIA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da

Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo

da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte

foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos

dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa

estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das

definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista

Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem

conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos

estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o

estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave

formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras

variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo

Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e

extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo

Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas

de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem

nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de

estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25

desde o surgimento da Teoria Um

desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos

ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos

Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em

duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da

populaccedilatildeo permanente

Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se

dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa

que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia

25

Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs

59

portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-

canadenses irlandeses alematildees poloneses

Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e

aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)

tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as

diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A

investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da

populaccedilatildeo que foram assim divididos

Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa

Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na

construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14

estudantes

Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9

descendentes de iacutendios

As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov

(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos

Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a

centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os

pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de

ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de

indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw

Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram

pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar

registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo

dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha

Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em

Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em

novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a

ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era

estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus

da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV

2008 p 64)

Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque

quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S

60

Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein

Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos

Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o

valor do r

ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo

ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo

ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo

Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram

mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a

atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo

de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos

onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes

de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os

primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia

diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram

menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da

ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares

De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo

estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks

pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status

superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de

prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel

linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo

Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma

comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito

no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita

que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser

considerado

Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores

sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os

chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa

teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a

sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a

Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas

61

Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir

quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem

ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel

dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica

Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de

fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as

variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a

idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de

textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo

assunto ou de tema semelhante

Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre

sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas

podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse

modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008

p 21) explica que

[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica

sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou

dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila

social imanente agindo no presente vivo

Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos

da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas

fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios

linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa

porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma

extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee

dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador

Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o

segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas

usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)

foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo

62

observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural

possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em

grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que

estatildeo sendo observados

Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que

Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No

estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas

que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou

simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele

momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para

natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de

departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor

(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da

loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem

O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a

obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo

mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da

investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas

de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar

ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar

que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de

fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)

Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor

empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute

quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer

pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na

Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir

uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis

riscos que ele pode correr ao participar do estudo

Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar

narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que

fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida

porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e

63

assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da

entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou

Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem

sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida

Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se

lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema

que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos

e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade

acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos

gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um

informante nem sempre levaraacute outro a falar

Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute

fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso

deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta

Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute

ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal

forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade

Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um

roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode

abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia

tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como

percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi

usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante

Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para

saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual

gostaria de falar

A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi

realizado

64

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG

O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26

era habitado inicialmente por iacutendios das tribos

ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado

comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a

cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de

diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos

garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave

excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte

Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde

hoje fica o bairro Tamboril

Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa

fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos

moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem

era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas

casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo

Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa

Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma

cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no

litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa

ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga

Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo

foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo

e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade

Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os

habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na

cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de

Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees

de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de

Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia

Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo

26

As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na

paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet

httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013

65

A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto

positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da

Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como

transporte lazer e mais oportunidades de emprego

A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos

ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na

produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari

Uberaba e Patrociacutenio27

Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG

Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-

carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013

De acordo com dados28

do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em

2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772

habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade

carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de

27

As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site

da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28

Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013

66

Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia

Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com

relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte

Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)

Acessado em 10 nov 2013

Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-

mghtml Acessado em 10 nov 2013

Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi

realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como

foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo

67

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra

Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o

Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de

Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia

Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da

comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o

GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta

com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo

Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste

nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram

selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau

de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois

informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que

analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de

dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes

seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado

A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte

forma

68

Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade

Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para

essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios

a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade

b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos

c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo

Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar

os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas

feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa

ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela

pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129

e fazem parte do banco de dados do

29

Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam

para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011

69

GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um

gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita

conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para

facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas

Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador

estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus

possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda

a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa

conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo

inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e

selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado

explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do

informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento

Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir

do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso

proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do

entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro

tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira

de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as

entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de

perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como

relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se

sentisse mais agrave vontade e disposto a falar

Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns

casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com

exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso

uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder

o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais

como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria

natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov

(2008) e Tarallo (1994)

De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las

ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o

entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a

70

gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa

seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias

altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e

seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30

feita com um informante do sexo

masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de

estudo

E Boa noiti

I Boa noiti

E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu

I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui

gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um

ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo

assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo

mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi

adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im

Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u

ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada

muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu

moraacute aqui

[]

E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji

I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a

genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi

sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num

consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru

anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns

mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu

Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di

caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt

perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute

30

Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas

com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica

realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]

palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada

71

discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji

neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute

presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz

tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas

coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu

neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois

noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim

eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a

crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais

perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram

us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi

ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute

(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)

Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados

com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler

os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31

definida para a pesquisa e

para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32

pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos

Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do

informante 23

31

A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32

Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na

paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo

72

(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti

Em que

2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

k = consoante (contexto precedente)

f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

k = consoante (contexto seguinte)

t = tepe (modo do contexto seguinte)

e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)

m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)

q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)

n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)

0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)

1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)

v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)

a = adjetivo (item lexical)

w = informante 23

m = sexo masculino

a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)

s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)

Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do

GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte

34 O Programa Estatiacutestico

Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de

anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras

variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das

versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse

tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores

contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores

condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente

73

para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade

dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)

O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica

A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute

uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter

em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode

ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador

elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido

definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na

seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos

a seguinte codificaccedilatildeo

(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute

Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute

feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado

o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e

em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados

para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador

pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise

Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees

(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos

grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to

memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta

a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da

anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em

nocaute33

ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo

aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo

haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34

Para esse procedimento

ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes

nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos

os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)

33

Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34

A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico

74

Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo

arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram

retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem

nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a

rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda

o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada

stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada

stepping down (em Best stepping down run)

A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados

da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes

aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer

em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores

no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na

ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor

e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem

desfavorece o fenocircmeno em estudo

Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa

estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb

X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que

for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os

procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por

exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas

separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador

faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados

encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis

Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram

selecionadas para este estudo

351 Variaacutevel dependente

A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o

abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia

75

do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel

dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma

[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega

[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega

352 Variaacuteveis independentes

As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a

variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para

esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo

dos dados

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia

que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A

seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para

o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG

35211 Contexto precedente

Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria

relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar

se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35

uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa

(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais

meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o

segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que

precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel

35

Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores

aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias

ocorreu exatamente com essas palavras

76

tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a

variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram

divididos em

nasal ([m]elhor [n]ovela)

oclusiva ([p]eroba [b]olada)

fricativa ([v]estibular [f]ormado)

liacutequidas ([l]egal [x]odada)

pausa (elenco olhar)

tepe (escu[ɾ]ecer)

vogal36

baixa ([a])37

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (v[i]olecircncia)

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos

velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)

alveolar ([d]efende [t]omada)

labial ([p]eroba [b]olada)

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)

pausa (evangeacutelica operou)

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)

vogal baixa ([a])

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (pr[i]oridade)

36

Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para

Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto

de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37

Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que

natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos

77

35214 Contexto seguinte

Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva

(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada

tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes

carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel

pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l

re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto

de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica

quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou

que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais

nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves

vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em

nasal (ave[n]ida mo[m]ento)

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)

fricativos (pre[f]iro le[v]ado)

liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)

alveolar (de[z]esseis go[s]tar)

labial (rece[b]er co[m]eccedila)

78

palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)

labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS

2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para

a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o

abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou

refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica

influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as

vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura

altas i u (acred[i]to prod[u]to)

meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)

meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)

baixa a (deleg[a]do)

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba

tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados

obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo

oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em

frontais38

ɛ e i

central a

38

A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao

gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua

teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem

nenhuma obstruccedilatildeo

79

posteriores ɔ o u

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de

Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na

posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]

no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas

orais (proc[ɛ]sso)

nasais (oraccedil[ɐ ]o)

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado

encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima

da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de

o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos

permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica

favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte

Carmelo-MG

Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este

estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica

analisada

distacircncia zero (remeacutedio costura)

distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)

distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as

palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao

abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por

acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de

o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior

80

para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de

siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra

distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)

distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)

distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica

Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram

mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por

meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das

vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo

as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como

leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)

pesadas VC (hospital) CVC (gostar)

352113 Item lexical

Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens

lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos

como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais

meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave

variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas

analisadas nas seguintes categorias lexicais

substantivo (pessoa local)

verbo (levar prometer)

adjetivo (diferente invocado)

pronome (vocecirc comigo)

numeral (sessenta dezesseis)

adveacuterbio (depois)

conjunccedilatildeo (entretanto portanto)

81

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas

De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta

fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou

trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos

parte do modo como se segue

Sexo

Masculino

Feminino

Faixa etaacuteria

Entre 15 e 25 anos de idade

Entre 26 e 49 anos de idade

Com mais de 49 anos de idade

Escolaridade

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)

Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)

Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este

estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento

das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para

fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo

82

4 ANAacuteLISE DOS DADOS

Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos

relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e

extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi

relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros

estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de

Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto

carmelitano

Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3

todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja

para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em

seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois

realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o

Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte

Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a

vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora

a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a

vogal meacutedia frontal e

Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais

meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o

aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente

no dialeto de Monte Carmelo-MG

Aplicaccedilatildeo

(abaixamento)

Natildeo aplicaccedilatildeo

(manutenccedilatildeo)

Total de

ocorrecircncias

Total de

aplicaccedilatildeo

Vogal e

635 4016 4651 137

Vogal o

402 1910 2312 174

TOTAL

1037 5926 6963

83

Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos

muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e

como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o

abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados

referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e

Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na

ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas a saber

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

6 Tipo de siacutelaba pretocircnica

7 Item lexical

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Contexto seguinte

4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

84

Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela

correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e

pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que

foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input40

0071 Significacircncia41

0000

A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto

precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de

articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na

tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068

favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi

obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro

Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o

abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados

Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o

fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora

Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano

a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense

ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo

39

O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40

O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada

nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41

O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes

etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis

satildeo os dados

[ɛ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (Jesus39

) 1651118 148 041

oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045

pausa (eterna) 29341 85 041

nasal (melhor) 72498 145 051

liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068

TOTAL 6354651 137

85

a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute

comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo

acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da

vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes

fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto

precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o

abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o

modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia

frontal

Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados

para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras

do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase

21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados

com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as

nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-

MG

Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de

066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de

[ɛ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

tepe (diferente) 106547 194 066

fricativa (resposta) 1571907 82 036

oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058

liacutequidas (inteligente) 195973 200 061

nasal (enorme) 34163 209 067

africadas (coletivo) 10169 59 026

TOTAL 6354651 137

86

e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o

dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes

liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro

Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum

fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das

consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior

representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve

um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias

Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de

e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como

estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer

Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica

exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros

expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior

motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas

tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288

ocorrecircncias

Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008

SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a

harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de

[ɛ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043

vogal alta (equipe) 77818 94 047

vogal baixa (elevado) 3021647 183 055

vogal meacutedia baixa

(dezenove)

68288 236 067

TOTAL 6354651 137

87

Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba

tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados

Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar

como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste

caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado

pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta

dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos

De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se

das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto

3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta

tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a

tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica

Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando

a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa

posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a

conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano

Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias

baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs

Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso

relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo

agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais

fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e

[ɛ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076

vogal oral (errado) 3433471 99 040

TOTAL 6354651 137

88

Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana

(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas

orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias

(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro

Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores

responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]

Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram

em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior

seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator

distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso

relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a

porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)

Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor

da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal

meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em

Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)

[ɛ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056

Distacircncia de uma siacutelaba

(relaccedilatildeo)

1261051 120 042

Distacircncia de duas siacutelabas

(executivo)

31378 82 023

TOTAL 6354651 137

89

Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias

(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-

MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a

variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643

ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram

sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas

desfavorecedoras do abaixamento de e

Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade

muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada

esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV

o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas

Tabela 7 - Item lexical

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas

(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)

foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no

[ɛ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047

siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063

TOTAL 6354651 137

[ɛ]

Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

adjetivos (legal) 133759 175 059

substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048

verbos (levar) 1941557 125 050

adveacuterbios (depois) 6158 38 021

TOTAL 6354651 137

90

dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os

substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o

peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze

por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica

Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram

considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500

ocorrecircncias

Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a

variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de

e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal

meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso

relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero

de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da

vogal meacutedia frontal

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento

de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no

comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento

de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as

mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem

disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado

com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres

Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para

[ɛ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 2112241 94 038

Masculino 4242410 176 060

TOTAL 6354651 137

91

essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a

vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO

que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino

realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto

apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte

Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de

e em Piranga-MG

Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a

anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais

do que os homens42

e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a

norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais

conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica

Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela

classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados

encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o

autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o

processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de

substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra

por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0071 Significacircncia 0000

42

Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet

httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-

ibgehtml Acessado em 12 nov 2013

[ɛ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028

Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047

Com mais de 49 anos de

idade

3771398 270 077

TOTAL 6354651 137

92

A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa

etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que

tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de

ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade

foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a

vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os

informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria

tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas

mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto

carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos

de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo

sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os

informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a

faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba

pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa

etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada

como favorecedora dos processos estudados por esses autores

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o

grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria

relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X

selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente

significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

[ɛ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065

Com mais de 11 anos de

estudo

2652625 101 038

TOTAL 6354651 137

93

De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11

anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte

Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de

ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia

[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram

ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale

a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior

escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em

posiccedilatildeo pretocircnica

O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido

por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo

tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade

no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em

posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau

Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com

ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos

foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e

sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo

GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis

relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais

inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais

meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba

pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo

abaixamento de e

Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os

resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia

posterior

94

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o

Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como

estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo

sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

7 Tipo de siacutelaba pretocircnica

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem

excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Contexto seguinte

3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

6 Item lexical

A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o

haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o

abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados

que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

95

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal

pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como

aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras

ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias

o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o

tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as

nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese

de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa

de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute

m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43

Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela

vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes

tiveram

Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem

inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com

a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do

abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua

anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator

favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo

43

Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa

[ɔ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

nasal (morar) 66260 254 068

oclusiva (pastoral) 151922 164 051

liacutequidas (processo) 78579 135 046

fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031

pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057

TOTAL 4022312 174

96

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento

precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros

da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes

apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por

terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas

favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos

dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto

precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em

Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi

selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados

Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto

carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as

principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas

consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem

aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu

As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais

baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em

[ɔ]

Contexto precedente

(ponto)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040

palatal (melhorar) 1264 188 063

alveolar (professor) 116759 153 053

velar (coluna) 93548 170 042

labiodental (formar) 22119 185 060

pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051

poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082

TOTAL 4022312 174

97

estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante

de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta

na siacutelaba pretocircnica

Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave

vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido

selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos

demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores

analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com

peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o

Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as

consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica

nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG

[ɔ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (movimento) 109643 170 050

tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057

nasal (momento) 23223 103 031

liacutequidas (morrer) 98545 180 052

oclusiva (poderia) 93600 155 050

TOTAL 4022312 174

98

Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como

verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que

essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse

processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior

De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de

o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas

tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso

relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por

Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG

respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por

Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o

abaixamento da vogal meacutedia posterior

Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a

vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da

siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de

harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia

baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo

estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver

como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de

e quanto para a de o

[ɔ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030

vogal alta (corrupto) 47353 133 055

vogal baixa (formar) 2321115 208 055

vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084

TOTAL 4022312 174

99

Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a

vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez

que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras

do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais

Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo

esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda

mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em

posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que

natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na

liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave

qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais

expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o

No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ

ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do

abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem

pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo

[ɔ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070

vogal oral (colega) 2691759 153 043

TOTAL 4022312 174

100

Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses

sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto

mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento

de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)

quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias

de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse

percentual

Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-

MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi

selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015

Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

[ɔ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057

Distacircncia de uma siacutelaba

(choradeira)

116797 146 048

Distacircncia de duas siacutelabas

(horrorizada)

6180 33 015

Distacircncia de mais de duas

siacutelabas (oportunidade)

557 88 029

TOTAL 4022312 174

[ɔ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046

siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063

TOTAL 4022312 174

101

A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para

a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a

variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior

de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve

tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para

e

Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos

jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente

do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)

concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as

siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana

(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica

analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo

houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel

mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal

meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de

ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados

o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal

meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o

que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do

abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG

[ɔ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 1581179 134 041

Masculino 2441133 215 059

TOTAL 4022312 174

102

Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e

Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras

Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias

(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e

confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes

com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo

pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em

742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo

da regra

Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG

essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou

que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro

Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela

autora

Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram

apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os

informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes

entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao

dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os

[ɔ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029

Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040

Com mais de 49 anos de

idade

262742 353 079

TOTAL 4022312 174

103

informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior

frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na

tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese

que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem

apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de

estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo

pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro

Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de

dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos

dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo

programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva

(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes

com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior

tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin

(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da

vogal meacutedia posterior

Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os

resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis

referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados

[ɔ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065

Com mais de 11 anos de

estudo

1611316 122 038

TOTAL 4022312 174

104

surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise

de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram

a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia

vocaacutelica

Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo

seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da

Geometria de Traccedilos

105

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS

Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma

breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser

realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte

Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a

variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este

parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado

Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de

Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra

por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento

manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em

outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns

nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes

especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22

A B ou B A

F F

Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)

Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um

segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as

mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define

como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma

que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados

independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da

vogal alta44

seguinterdquo como podemos ver na Figura 23

44

Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila

de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito

106

Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica

Fonte BISOL (2009 p 79)

Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de

abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na

posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)

a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em

conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e

preenchimentordquo

Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo

que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute

vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal

meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que

desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma

vogal meacutedia baixa tocircnica

A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de

traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal

tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor

que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor

107

Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica

pela vogal e pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a

Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo

sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme

vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo

classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto

3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute

Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo

classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por

serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao

contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos

108

positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra

vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais

meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ

satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem

mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]

Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+

aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal

e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o

desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol

(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica

Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que

conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de

[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG

Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o

principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo

de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura

25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada

como n[ɔ]vela

109

Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica

pela vogal o pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que

ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila

apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal

meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+

aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante

ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal

pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas

o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o

noacute do que de um uacutenico traccedilo

110

Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir

duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de

Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na

realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba

Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-

aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]

da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e

[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta

e ɛ ɔ [ɛ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica

Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ

ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como

resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o

traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal

meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

111

o ɛ ɔ [ɔ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela

representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no

dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia

vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica

mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

112

6 CONCLUSAtildeO

As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse

estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos

no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo

635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash

137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que

aventamos no iniacutecio dessa pesquisa

Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que

de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido

superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total

de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento do que a vogal e

Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba

pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com

base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do

Brasil

Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com

relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o

sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a

e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]

respectivamente

Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo

fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila

de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na

siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias

pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel

Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a

pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na

siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG

esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas

as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de

113

erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia

baixa

Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis

para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas

pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para

ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]

e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais

orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o

Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que

trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator

distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a

siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia

posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da

vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do

abaixamento

Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram

selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como

favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica

Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os

informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do

sexo feminino

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes

com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo

pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e

para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria

relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi

selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos

de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os

informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais

114

significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores

da regra na anaacutelise dessa variaacutevel

Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem

houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada

por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as

vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o

abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo

pretocircnica

Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados

para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram

considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de

articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as

palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto

precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas

favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal

Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na

variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os

adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica

os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal

Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes

linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que

favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o

Variaacuteveis

analisadas

Abaixamento da vogal

pretocircnica e

Abaixamento da vogal

pretocircnica o

Contexto precedente

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes liacutequidas

Desfavorecem a pausa e as

consoantes fricativas

Favorecem consoantes nasais e a

pausa

Desfavorecem consoantes

fricativas

Contexto precedente

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Favorecem consoantes poacutes-

alveolares palatais e labiodentais

Desfavorecem consoantes velares

e labiais

115

Contexto seguinte

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes nasais

liacutequidas e o tepe

Desfavorecem consoantes

africadas e fricativas

Favorecem o tepe e as consoantes

liacutequidas

Desfavorecem as consoantes

nasais

Contexto seguinte

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Altura da vogal da

siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais meacutedias

baixas tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias

altas tocircnicas

Favorecem vogais meacutedias baixas

tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias altas

tocircnicas

Qualidade da vogal

da siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais nasais

tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Favorecem vogais nasais tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas

siacutelabas

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas ou

de mais de duas siacutelabas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo ao iniacutecio da

palavra

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Tipo de siacutelaba

pretocircnica

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Item lexical

Favorecem adjetivos

Desfavorecem adveacuterbios

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Sexo Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Faixa etaacuteria Favorecem informantes com

mais de 49 anos de idade

Favorecem informantes com mais

de 49 anos de idade

116

Desfavorecem informantes

entre 15 e 25 anos de idade

Desfavorecem informantes entre

15 e 25 anos de idade

Escolaridade Favorecem informantes entre 0

e 11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Favorecem informantes entre 0 e

11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e

de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo

da regra

E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que

estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria

linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros

pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-

fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

117

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Campinas n 21 p 25-58 juldez1991

120

ANEXOS

121

ANEXO 1

ROTEIRO DE PERGUNTAS

A) Origem e habitaccedilatildeo

1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui

2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje

3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais

4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece

5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a

educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio

8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor

9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo

B) Infacircncia

1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade

2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia

3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava

4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc

5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc

nunca esqueceu

6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia

7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje

8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por

quecirc

C) Escola

1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio

2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que

esse professor fez que deixou marcas

3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava

4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que

122

5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de

amizade que vocecirc nunca esqueceu

5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo

6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola

7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc

8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc

9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje

10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco

disso

D) Atividades profissionais

1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc

2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo

3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual

4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc

5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)

6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro

7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse

momento

8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia

9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc

10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho

E) Lazer

1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas

2 Como as pessoas costumam se divertir aqui

3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc

4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual

5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes

6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo

e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este

lugar e por que levaria esta pessoa

7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por

quecirc

123

8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa

9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time

10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual

11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc

12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc

13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha

14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum

F) Relacionamentos

1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram

2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram

3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo

4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)

5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc

6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil

7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc

8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo

9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito

preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra

gays preconceito religioso etc)

10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes

11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como

e onde vocecircs se conheceram

12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc

G) Perigo de vida

1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como

vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo

2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como

foi isso

3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc

4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi

5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria

124

H) Religiatildeo

1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo

2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo

3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja

4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc

5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre

6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo

I) Sobrenatural

1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi

isso

2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc

3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma

maneira Como vocecirc explica isso

4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com

algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi

5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O

que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso

6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda

7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau

8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc

9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso

10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET

J) Aspiraccedilotildees

1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria

2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade

3 Qual eacute o maior sonho de sua vida

4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a

trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada

5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que

vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo

125

ANEXO 2

COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS

VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o

VARIANTES [ɛ] e [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1

Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2

Para a realizaccedilatildeo de o colega 3

Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4

VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES

VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS

1 CONTEXTO PRECEDENTE

consoante ([m]enor es[k]olaridade) k

vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v

pausa (elenco olhar) p

2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)

nasal ([m]elhor [n]ovela) n

oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o

fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f

liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l

pausa (elenco olhar) p

tepe (escu[ɾ]ecer) t

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (v[i]olecircncia) h

3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)

velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r

126

alveolar ([d]efende [t]omada) e

labiais ([p]eroba [b]olada) b

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d

pausa (evangeacutelica operou) p

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (pr[i]oridade) h

4 CONTEXTO SEGUINTE

consoante (re[s]posta pro[m]essa) k

vogal (re[a]lizar re[e]leito) v

5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)

nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o

fricativos (re[v]er atro[f]iado) f

liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r

alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e

labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b

palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d

labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j

127

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a

meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m

meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y

baixa a (deleg[a]do) b

8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

frontais ɛ e i q

central a c

posteriores ɔ o u p

9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

oral (proc[ɛ]sso) o

nasal (oraccedil[ɐ ]o) n

10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA

TOcircNICA

Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3

11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA

PALAVRA

Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3

128

12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA

leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v

pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c

13 ITEM LEXICAL

substantivo (pessoa local) s

verbo (levar prometer) v

adjetivo (diferente invocado) a

pronome (vocecirc comigo) p

numeral (sessenta dezesseis) n

adveacuterbio (depois) b

conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j

VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS

1 SEXO

Masculino m

Feminino f

2 IDADE

Entre 15 e 25 anos de idade j

Entre 26 e 49 anos de idade a

Com mais de 49 anos de idade e

3 ESCOLARIDADE

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p

Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s

FERNANDA ALVARENGA REZENDE

O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de

Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos

Linha de Pesquisa (i) Teoria descriccedilatildeo e anaacutelise

linguiacutestica

Orientador Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees

Uberlacircndia

2013

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil

R467p

2013

Rezende Fernanda Alvarenga 1987-

O processo variaacutevel do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG Fernanda Alvarenga Rezende -- 2013

128 p il

Orientador Joseacute Sueli de Magalhatildees

Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Uberlacircndia

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos

1 Linguiacutestica - Teses 2 Foneacutetica - Teses 3 Liacutengua portuguesa -

Foneacutetica - Teses I Magalhatildees Joseacute Sueli de II Universidade Federal de

Uberlacircndia Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos III

Tiacutetulo

CDU 801

FERNANDA ALVARENGA REZENDE

O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de

Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos

Aacuterea de concentraccedilatildeo Estudos em Linguiacutestica e

Linguiacutestica Aplicada

Local e data da aprovaccedilatildeo Uberlacircndia 28 de fevereiro de 2013

Banca examinadora

__________________________________________________

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees (Orientador) ndash ILEELUFU

__________________________________________________

Profordf Drordf Marluacutecia Maria Alves ndash UFU

__________________________________________________

Profordf Drordf Elisa Battisti ndash UFRGS

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades

tatildeo valiosas em minhas matildeos

Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo

pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o

conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida

Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e

um exemplo na minha vida

Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com

muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional

e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes

contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem

aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que

fizeram

Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte

teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio

das entrevistas

Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente

agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre

tiveram conosco

Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos

compartilhados e pelas aulas enriquecedoras

Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme

colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam

Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por

estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me

Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte

Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade

Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de

informantes

Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas

oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado

Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo

nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo

Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o

GoldVarb X quando precisei

Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne

Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos

compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro

A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa

E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo

ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode

descobrir sobre elardquo

Labov (2008 p 236)

RESUMO

O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e

e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio

para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos

preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as

entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados

confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas

estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este

estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49

anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com

mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de

articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da

siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba

tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item

lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos

todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na

posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas

no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba

pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento

das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da

assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da

siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra

preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da

Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o

processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento

por um segmento vizinho

PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo

ABSTRACT

The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid

vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio

and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of

Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews

as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte

Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic

variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old

between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11

years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of

articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of

articulation of the following context point of articulation of the following context vowel

height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel

quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable

distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-

stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we

selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels

e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs

GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of

e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the

realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the

lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process

of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This

feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent

from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on

phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)

which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of

features of a segment by a next segment

KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16

FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24

FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25

FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25

FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27

FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27

FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28

FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs

Brasileiro 30

FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31

FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31

FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32

FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33

FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes

de traccedilos 51

FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52

FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54

FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55

FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56

FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65

FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66

FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas

Gerais 66

FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e

grau de escolaridade 68

FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105

FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106

FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107

FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109

FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica 110

FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba

pretocircnica 111

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para

o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que

favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim

imperial 23

TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23

TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e

para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82

Anaacutelise da vogal pretocircnica e

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85

TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86

TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87

TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 88

TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89

TABELA 7 - Item lexical 89

TABELA 8 - Sexo 90

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91

TABELA 10 - Escolaridade 92

Anaacutelise da vogal pretocircnica o

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96

TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97

TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98

TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99

TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 100

TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100

TABELA 8 - Sexo 101

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102

TABELA 10 - Escolaridade 103

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao

Portuguecircs do Brasil 22

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise

variacionista 37

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de

Piranga e de Ouro Branco 40

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 42

235 As pretocircnicas no falar teresinense 45

236 A proposta de Lee e Oliveira 48

24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50

3 METODOLOGIA 58

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68

34 O Programa Estatiacutestico 72

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74

351 Variaacutevel dependente 74

352 Variaacuteveis independentes 75

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75

35211 Contexto precedente 75

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76

35214 Contexto seguinte 77

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80

352113 Item lexical 80

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81

4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA

DE TRACcedilOS 105

6 CONCLUSAtildeO 112

7 REFEREcircNCIAS 117

ANEXOS 120

ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121

ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel

das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse

processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de

[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que

representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro

Altas i u

Meacutedias altas e o

Meacutedias baixas ɛ ɔ

Baixa a

Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)

Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo

podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada

respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos

o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e

de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de

o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na

fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos

No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao

municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com

1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute

internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave

transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso

estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob

financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica

PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura

de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao

alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito

17

mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves

vogais meacutedias pretocircnicas

A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma

pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto

carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde

pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas

Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na

economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo

ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda

mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos

trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG

Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de

se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro

decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno

entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas

O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas

com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com

25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com

26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa

que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria

e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias

e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades

diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo

sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino

As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo

pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo

abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos

catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do

contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto

precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica

6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos

englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa

estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas

18

distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade

de siacutelabas da palavra e classe da palavra

Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo

pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes

rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis

significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o

programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do

contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na

siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as

vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o

abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na

siacutelaba pretocircnica do que a mulher)

Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze

foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no

GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs

variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De

acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram

o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]

enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel

extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais

frequecircncia do que a mulher)

Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o

abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes

carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo

sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro

Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro

ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma

pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com

o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O

7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar

19

projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um

projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve

pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional

O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos

especiacuteficos

Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais e e o

Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em

Monte Carmelo-MG

Portanto essa pesquisa se justifica por

Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo

construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo

Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala

dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio

que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico

Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo

Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras

que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que

buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa

Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo

pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos

O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de

o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa

([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este

Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG)

20

Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo

diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto

que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos

O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica

analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para

ambas as vogais

Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica

estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer

A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais

meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais

realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher

Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais

abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de

idade)

O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento

Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo

Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos

palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e

ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme

jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE

MORAES 2002)

palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e

leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p

5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas

caracterizando hiatordquo

palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo

fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p

65)

palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)

mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os

sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas

21

por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho

v[e]rde rarr v[e]rdinho

Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)

esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt

1995 p 5)

Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir

No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do

abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as

hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo

No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na

primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro

desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico

pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em

todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na

quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para

representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados

O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco

seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos

preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao

municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o

detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo

deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb

X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as

variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo

A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que

discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5

representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a

variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas

O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados

para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como

alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de

perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e

seus respectivos fatores

22

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua

portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de

Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o

Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a

evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela

objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois

por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos

atualmente na nossa liacutengua

A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo

acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico

aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos

estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia

vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -

24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos

auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do

Brasil

Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em

portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje

Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o

latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o

galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de

Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de

Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-

portuguesa do Norte

O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais

divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada

timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas

transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de

23

vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre

resultantes dos variados graus de aberturardquo

Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como

consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na

Tabela 1 abaixo

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

ī i fīcum gt port figo

ĭ

sĭtim gt port sẹde

ē rēte gt port rẹde

ĕ ę tĕrra gt port tęrra

ă

a

lătus gt port lado

ā amātum gt port amado

ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta

ō ọ amōrem gt port amọr

ŭ bŭcca gt port bọca

ū u pūrum gt port puro

Fonte TEYSSIER (2007 p 9)

Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a

vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

aelig ę caecum gt port cęgo

œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais

no latim imperial

24

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 2 - As vogais do latim imperial

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval

pois

[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas

individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas

palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo

permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter

conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como

uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)

No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa

semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por

exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma

tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que

se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e

caldo em portuguecircs

Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos

muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o

caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar

nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais

abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007

p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees

ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra

[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo

O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e

nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs

25

acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os

seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e

natildeo entram mais em contato

Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros

textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo

com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-

portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu

a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o

Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere

agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte

Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees

graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)

Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e

ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo

(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica

que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e

muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a

(i)

e o

a

Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

26

Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um

fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e

partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas

essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o

sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o

Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa

substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso

do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs

pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo

Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas

grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou

como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a

melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como

[ọ] fechadordquo

Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos

vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute

que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer

esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de

falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo

fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas

formas prevaleccedila

Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da

siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u

Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos

antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha

chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo

Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-

nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ

desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica

27

i u

e o

a

Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 31)

Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs

tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o

eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo

(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias

onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir

O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo

com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua

literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego

serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p

48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como

exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais

ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute

nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo

A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que

aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-

portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 50)

28

Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as

contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a

e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em

hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em

oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o

sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo

tocircnica

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 51)

Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental

para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a

chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os

iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como

escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros

constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil

Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu

a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de

Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo

tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a

populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas

natildeo da forma como os europeus falavam

Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a

liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram

Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier

(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de

mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e

29

de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi

proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa

Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio

[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala

pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem

distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as

fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa

(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os

brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam

os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)

Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees

foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal

central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas

no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em

outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba

pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul

Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier

(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a

pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o

Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga

por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar

e istar para entrar e estar

Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor

argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela

pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo

da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um

ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais

niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma

30

Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final

i u i u i u

e o E O

ɛ ɔ

A9 a a

Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte TEYSSIER (2007 p 104)

Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo

discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10

afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais

latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para

a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao

contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o

espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos

variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com

exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas

vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u

Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar

de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da

posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se

apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em

portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11

pois aleacutem das cinco vogais jaacute

9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e

Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois

fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo

entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute

transcrita como bolU 10

Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi

publicada em 1970 11

Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone

31

mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as

vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos

visualizar na figura abaixo

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ

Baixa a

Anteriores Central Posteriores

Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)

De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as

vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo

meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais

altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute

a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo

das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando

ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006

p 41)

Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante

de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a

figura a seguir

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

[ɐ]

Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)

Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma

consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e

32

aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a

eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o

u) como vimos na Figura 10

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico

denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que

desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada

pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)

citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras

perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade

fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em

duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI

VIEIRA 2005 p 173)

Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas

pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior

para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que

se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute

caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]

Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com

relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a

realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes

do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as

realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza

pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E

como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG

33

realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa

regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente

Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como

podemos visualizar na Figura 12 a seguir

i u

a

Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da

palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute

condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais

altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica

que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona

final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas

trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem

seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-

mudo e pent[i] para pente

As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi

definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva

desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua

tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para

Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave

assimilaccedilatildeo12

das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente

seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como

em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal

tocircnica que impulsionar o processo

Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees

feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e

12

De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento

vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo

34

afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final

Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como

argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas

na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso

porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos

encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na

siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB

A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de

muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para

estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13

(1987) que

pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que

estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco

Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas

no dialeto de Teresina-PI

Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser

considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo

que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia

vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo

Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo

desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas

Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos

que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os

processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se

nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees

entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute

dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho

13

Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento

35

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel

Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias

pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento

que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil

tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a

harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O

corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos

trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees

portugueses e italianos

Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados

coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou

sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado

[o]perar ~ [u]perar14

Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou

S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como

afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem

situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15

Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce

influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro

~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16

A variaacutevel dependente do trabalho

da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em

vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p

38)

Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados

encontrados por Bisol (1981)

Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a

elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar

para comprar

Tonicidade

a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a

vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo

14

Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15

Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16

Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)

36

b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo

pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a

natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras

ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo

c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de

harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo

d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a

vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a

assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)

Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo

menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL

1981 p 41)

Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade

ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como

exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel

e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante

Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares

(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes

alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia

posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a

elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a

alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)

Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal

(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as

alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)

e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar

(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)

Variaacuteveis extralinguiacutesticas

- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17

foram os que mais aplicaram a

regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18

foram os que menos aplicaram

- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem

17

Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18

Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do

paiacutes vizinho o Uruguairdquo

37

- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre

(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)

- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores

condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas

permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada

agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~

custelardquo

Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de

sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos

formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt

flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo

vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p

104-108)

Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]

a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p

111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)

A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na

fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre

a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba

seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os

principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista

Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte

influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt

(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como

exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo

(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas

delimitaccedilotildees Ele desconsiderou

as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo

pronunciadas como um hiato

38

as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a

maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem

palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa

a fronteira vocabular

palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e

ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos

O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta

por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em

Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum

havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que

faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria

conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a

escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica

(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada

uma das trecircs capitais pesquisadas

Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o

na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a

seguir

Homorganicidade19

das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a

elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex

ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex

ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a

vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex

ldquoconduccedilatildeordquo)

A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave

pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex

ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica

analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata

Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a

elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)

do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)

19

Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

39

Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o

favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o

processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)

Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e

desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex

ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o

favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e

desfavoreceu o processo a pausa

Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex

ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo

o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a

elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o

processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes

Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para

a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees

verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os

seguintes

Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e

para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os

informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo

aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de

o do que os entrevistados mais jovens

Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de

elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau

Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de

harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto

Alegre)

Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas

Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal

condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na

siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as

variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por

40

exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas

vogais meacutedias pesquisadas

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de

Ouro Branco

Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-

MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio

mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da

Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e

testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo

aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e

feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)

Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a

pesquisa

As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico

vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a

vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe

morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da

palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical

Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees

para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as

vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao

abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o

processo de nosso maior interesse

Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto

de Piranga-MG foram

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1

Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba

41

Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe

Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais

Gecircnero masculino

Faixa etaacuteria jovem

Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes

variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica pronome adjetivo

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais

Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas

Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o

abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica adjetivo

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Gecircnero feminino

Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as

seguintes variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas

42

Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel

extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila

qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa

uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o

de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de

uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba

pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica

Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo

individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente

de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima

de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade

(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas

o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal

Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que

participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679

referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012

corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20

ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram

obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173

ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb

2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia

do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros

apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o

nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo

Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006

selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis

43

Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram

os verbos (ex ldquochegavardquo)

Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou

valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica

baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a

vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo

Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu

a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)

Contexto precedente20

- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes

(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)

Contexto seguinte21

- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex

ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)

Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex

ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)

Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e

por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal

tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente

contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto

precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto

seguinte e classe da palavra

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o

abaixamento de e foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum

abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos

uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na

siacutelaba pretocircnica

Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados

pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas

20

Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as

consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por

consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21

A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana

(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e

semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais

44

Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as

anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)

Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)

Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais

(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente

Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)

desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex

ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes

oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes

(ex ldquocomigordquo)

Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)

Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os

verbos (ex ldquoconversarrdquo)

Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do

abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica

contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto

seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2

Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico

para o abaixamento de o foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento

de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma

ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os

homens

Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com

45

mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba

Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que

no informal

As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb

2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da

vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento

quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois

houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e

em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo

Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias

pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como

jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das

vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a

realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana

(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo

se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal

235 As pretocircnicas no falar teresinense

O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais

meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou

com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero

(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50

anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino

Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas

Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas

eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de

Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como

vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo

poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse

46

Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o

comportamento das vogais meacutedias foram

Contiguidade

Homorganicidade

Tonicidade

Paradigma

Distacircncia da tocircnica

Derivada de tocircnica

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa

etaacuteria e escolaridade

As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219

ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve

2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na

seguinte ordem

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Paradigma

Contexto fonoloacutegico seguinte

Faixa etaacuteria

Escolaridade

Homorganicidade

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou

sete variaacuteveis

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Paradigma

Escolaridade

Faixa etaacuteria

Gecircnero

47

Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram

que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais

tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o

foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as

velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva

(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)

as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o

abaixamento de o

Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto

para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o

que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na

posiccedilatildeo pretocircnica

Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex

ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das

velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o

processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel

homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel

selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu

nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal

Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada

para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas

pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos

ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito

aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os

fatores analisados

Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos

do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e

[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e

Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa

etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse

cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as

vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao

passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram

48

uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p

138)

Com base nesses resultados a autora concluiu que

[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a

escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de

mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os

mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema

(SILVA 2009 p 139)

A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres

embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os

homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um

papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos

em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos

Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente

relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar

de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias

pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que

nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas

pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do

processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica

236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)

Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se

preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e

Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o

primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes

vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves

palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo

pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG

49

Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo

ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo

De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma

pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e

pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes

sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs

falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)

questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas

consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver

este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees

A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e

expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w

seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA

2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para

liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas

Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca

entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem

dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo

Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]

consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados

reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a

fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)

Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema

apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um

conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema

computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional

Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter

um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo

aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]

(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u

o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)

Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo

aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias

altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer

50

foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status

fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de

entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do

exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo

Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e

que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou

c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas

foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem

que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e

que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto

(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)

Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos

fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os

fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a

essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um

modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual

desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo

Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma

teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais

meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte

24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos

Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma

perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas

o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos

um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o

modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto

recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia

Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo

independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo

51

Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva

(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22

que o representa a Teoria

Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa

Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em

que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa

restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um

segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o

segmento tambeacutem mudaraacute

Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee

o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a

representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir

t d

- soante - soante

- contiacutenuo - contiacutenuo

coronal coronal

+ anterior + anterior

- sonoro + sonoro

Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)

Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre

alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a

[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda

que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d

visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro

A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia

Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas

consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um

segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento

de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo

22

Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter

acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-

ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo

52

O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma

hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em

camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente

Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume

(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando

Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo

traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e

relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees

fonoloacutegicasrdquo23

Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia

existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto

manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)

Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados

por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais

representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo

pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14

Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)

23

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists

have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological

representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)

53

Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como

unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam

grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que

os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os

traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas

de associaccedilatildeo

Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos

assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24

Desse modo os

autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas

um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14

um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem

parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo

fazerem parte de um mesmo constituinte

A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de

consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)

24

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995

p 250)

54

Consoantes Vogais

Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais

Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)

Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel

representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita

acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura

15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as

especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a

representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que

consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe

apenas na representaccedilatildeo das vogais

55

Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal

Fonte MATZENAUER (2005 p 51)

O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]

[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em

grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade

desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de

cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode

espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que

estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para

indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os

segmentos nasais e [- nasal] para os orais

56

Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de

consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas

pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum

Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em

anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as

diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a

vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais

ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as

vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios

O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as

semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea

vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como

pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de

ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao

noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal

Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de

abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e

quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para

caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo

Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo

representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a

seguir

Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs

Fonte WETZELS (1991 p 31)

A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro

alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais

57

meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as

vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo

caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do

que as outras duas vogais meacutedias

Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i

u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura

negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais

fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui

todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2

deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico

do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema

vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos

desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No

Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa

58

3 METODOLOGIA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da

Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo

da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte

foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos

dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa

estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das

definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista

Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem

conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos

estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o

estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave

formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras

variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo

Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e

extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo

Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas

de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem

nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de

estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25

desde o surgimento da Teoria Um

desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos

ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos

Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em

duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da

populaccedilatildeo permanente

Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se

dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa

que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia

25

Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs

59

portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-

canadenses irlandeses alematildees poloneses

Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e

aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)

tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as

diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A

investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da

populaccedilatildeo que foram assim divididos

Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa

Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na

construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14

estudantes

Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9

descendentes de iacutendios

As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov

(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos

Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a

centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os

pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de

ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de

indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw

Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram

pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar

registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo

dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha

Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em

Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em

novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a

ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era

estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus

da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV

2008 p 64)

Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque

quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S

60

Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein

Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos

Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o

valor do r

ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo

ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo

ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo

Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram

mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a

atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo

de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos

onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes

de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os

primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia

diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram

menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da

ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares

De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo

estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks

pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status

superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de

prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel

linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo

Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma

comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito

no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita

que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser

considerado

Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores

sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os

chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa

teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a

sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a

Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas

61

Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir

quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem

ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel

dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica

Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de

fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as

variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a

idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de

textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo

assunto ou de tema semelhante

Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre

sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas

podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse

modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008

p 21) explica que

[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica

sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou

dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila

social imanente agindo no presente vivo

Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos

da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas

fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios

linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa

porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma

extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee

dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador

Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o

segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas

usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)

foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo

62

observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural

possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em

grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que

estatildeo sendo observados

Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que

Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No

estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas

que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou

simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele

momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para

natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de

departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor

(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da

loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem

O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a

obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo

mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da

investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas

de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar

ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar

que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de

fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)

Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor

empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute

quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer

pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na

Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir

uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis

riscos que ele pode correr ao participar do estudo

Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar

narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que

fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida

porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e

63

assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da

entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou

Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem

sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida

Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se

lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema

que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos

e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade

acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos

gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um

informante nem sempre levaraacute outro a falar

Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute

fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso

deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta

Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute

ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal

forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade

Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um

roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode

abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia

tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como

percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi

usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante

Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para

saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual

gostaria de falar

A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi

realizado

64

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG

O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26

era habitado inicialmente por iacutendios das tribos

ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado

comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a

cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de

diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos

garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave

excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte

Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde

hoje fica o bairro Tamboril

Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa

fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos

moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem

era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas

casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo

Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa

Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma

cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no

litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa

ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga

Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo

foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo

e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade

Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os

habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na

cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de

Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees

de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de

Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia

Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo

26

As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na

paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet

httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013

65

A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto

positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da

Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como

transporte lazer e mais oportunidades de emprego

A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos

ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na

produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari

Uberaba e Patrociacutenio27

Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG

Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-

carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013

De acordo com dados28

do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em

2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772

habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade

carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de

27

As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site

da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28

Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013

66

Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia

Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com

relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte

Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)

Acessado em 10 nov 2013

Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-

mghtml Acessado em 10 nov 2013

Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi

realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como

foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo

67

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra

Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o

Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de

Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia

Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da

comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o

GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta

com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo

Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste

nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram

selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau

de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois

informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que

analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de

dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes

seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado

A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte

forma

68

Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade

Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para

essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios

a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade

b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos

c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo

Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar

os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas

feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa

ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela

pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129

e fazem parte do banco de dados do

29

Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam

para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011

69

GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um

gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita

conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para

facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas

Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador

estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus

possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda

a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa

conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo

inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e

selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado

explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do

informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento

Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir

do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso

proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do

entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro

tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira

de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as

entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de

perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como

relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se

sentisse mais agrave vontade e disposto a falar

Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns

casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com

exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso

uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder

o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais

como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria

natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov

(2008) e Tarallo (1994)

De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las

ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o

entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a

70

gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa

seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias

altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e

seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30

feita com um informante do sexo

masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de

estudo

E Boa noiti

I Boa noiti

E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu

I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui

gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um

ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo

assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo

mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi

adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im

Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u

ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada

muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu

moraacute aqui

[]

E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji

I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a

genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi

sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num

consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru

anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns

mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu

Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di

caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt

perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute

30

Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas

com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica

realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]

palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada

71

discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji

neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute

presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz

tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas

coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu

neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois

noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim

eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a

crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais

perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram

us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi

ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute

(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)

Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados

com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler

os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31

definida para a pesquisa e

para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32

pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos

Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do

informante 23

31

A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32

Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na

paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo

72

(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti

Em que

2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

k = consoante (contexto precedente)

f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

k = consoante (contexto seguinte)

t = tepe (modo do contexto seguinte)

e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)

m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)

q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)

n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)

0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)

1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)

v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)

a = adjetivo (item lexical)

w = informante 23

m = sexo masculino

a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)

s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)

Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do

GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte

34 O Programa Estatiacutestico

Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de

anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras

variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das

versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse

tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores

contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores

condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente

73

para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade

dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)

O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica

A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute

uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter

em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode

ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador

elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido

definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na

seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos

a seguinte codificaccedilatildeo

(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute

Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute

feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado

o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e

em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados

para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador

pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise

Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees

(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos

grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to

memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta

a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da

anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em

nocaute33

ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo

aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo

haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34

Para esse procedimento

ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes

nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos

os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)

33

Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34

A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico

74

Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo

arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram

retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem

nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a

rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda

o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada

stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada

stepping down (em Best stepping down run)

A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados

da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes

aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer

em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores

no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na

ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor

e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem

desfavorece o fenocircmeno em estudo

Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa

estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb

X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que

for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os

procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por

exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas

separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador

faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados

encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis

Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram

selecionadas para este estudo

351 Variaacutevel dependente

A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o

abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia

75

do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel

dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma

[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega

[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega

352 Variaacuteveis independentes

As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a

variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para

esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo

dos dados

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia

que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A

seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para

o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG

35211 Contexto precedente

Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria

relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar

se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35

uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa

(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais

meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o

segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que

precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel

35

Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores

aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias

ocorreu exatamente com essas palavras

76

tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a

variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram

divididos em

nasal ([m]elhor [n]ovela)

oclusiva ([p]eroba [b]olada)

fricativa ([v]estibular [f]ormado)

liacutequidas ([l]egal [x]odada)

pausa (elenco olhar)

tepe (escu[ɾ]ecer)

vogal36

baixa ([a])37

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (v[i]olecircncia)

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos

velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)

alveolar ([d]efende [t]omada)

labial ([p]eroba [b]olada)

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)

pausa (evangeacutelica operou)

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)

vogal baixa ([a])

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (pr[i]oridade)

36

Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para

Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto

de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37

Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que

natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos

77

35214 Contexto seguinte

Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva

(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada

tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes

carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel

pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l

re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto

de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica

quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou

que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais

nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves

vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em

nasal (ave[n]ida mo[m]ento)

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)

fricativos (pre[f]iro le[v]ado)

liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)

alveolar (de[z]esseis go[s]tar)

labial (rece[b]er co[m]eccedila)

78

palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)

labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS

2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para

a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o

abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou

refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica

influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as

vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura

altas i u (acred[i]to prod[u]to)

meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)

meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)

baixa a (deleg[a]do)

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba

tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados

obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo

oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em

frontais38

ɛ e i

central a

38

A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao

gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua

teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem

nenhuma obstruccedilatildeo

79

posteriores ɔ o u

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de

Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na

posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]

no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas

orais (proc[ɛ]sso)

nasais (oraccedil[ɐ ]o)

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado

encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima

da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de

o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos

permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica

favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte

Carmelo-MG

Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este

estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica

analisada

distacircncia zero (remeacutedio costura)

distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)

distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as

palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao

abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por

acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de

o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior

80

para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de

siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra

distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)

distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)

distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica

Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram

mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por

meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das

vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo

as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como

leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)

pesadas VC (hospital) CVC (gostar)

352113 Item lexical

Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens

lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos

como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais

meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave

variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas

analisadas nas seguintes categorias lexicais

substantivo (pessoa local)

verbo (levar prometer)

adjetivo (diferente invocado)

pronome (vocecirc comigo)

numeral (sessenta dezesseis)

adveacuterbio (depois)

conjunccedilatildeo (entretanto portanto)

81

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas

De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta

fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou

trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos

parte do modo como se segue

Sexo

Masculino

Feminino

Faixa etaacuteria

Entre 15 e 25 anos de idade

Entre 26 e 49 anos de idade

Com mais de 49 anos de idade

Escolaridade

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)

Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)

Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este

estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento

das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para

fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo

82

4 ANAacuteLISE DOS DADOS

Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos

relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e

extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi

relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros

estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de

Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto

carmelitano

Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3

todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja

para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em

seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois

realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o

Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte

Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a

vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora

a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a

vogal meacutedia frontal e

Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais

meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o

aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente

no dialeto de Monte Carmelo-MG

Aplicaccedilatildeo

(abaixamento)

Natildeo aplicaccedilatildeo

(manutenccedilatildeo)

Total de

ocorrecircncias

Total de

aplicaccedilatildeo

Vogal e

635 4016 4651 137

Vogal o

402 1910 2312 174

TOTAL

1037 5926 6963

83

Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos

muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e

como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o

abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados

referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e

Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na

ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas a saber

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

6 Tipo de siacutelaba pretocircnica

7 Item lexical

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Contexto seguinte

4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

84

Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela

correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e

pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que

foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input40

0071 Significacircncia41

0000

A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto

precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de

articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na

tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068

favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi

obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro

Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o

abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados

Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o

fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora

Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano

a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense

ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo

39

O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40

O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada

nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41

O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes

etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis

satildeo os dados

[ɛ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (Jesus39

) 1651118 148 041

oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045

pausa (eterna) 29341 85 041

nasal (melhor) 72498 145 051

liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068

TOTAL 6354651 137

85

a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute

comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo

acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da

vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes

fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto

precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o

abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o

modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia

frontal

Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados

para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras

do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase

21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados

com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as

nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-

MG

Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de

066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de

[ɛ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

tepe (diferente) 106547 194 066

fricativa (resposta) 1571907 82 036

oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058

liacutequidas (inteligente) 195973 200 061

nasal (enorme) 34163 209 067

africadas (coletivo) 10169 59 026

TOTAL 6354651 137

86

e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o

dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes

liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro

Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum

fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das

consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior

representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve

um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias

Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de

e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como

estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer

Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica

exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros

expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior

motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas

tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288

ocorrecircncias

Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008

SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a

harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de

[ɛ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043

vogal alta (equipe) 77818 94 047

vogal baixa (elevado) 3021647 183 055

vogal meacutedia baixa

(dezenove)

68288 236 067

TOTAL 6354651 137

87

Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba

tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados

Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar

como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste

caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado

pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta

dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos

De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se

das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto

3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta

tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a

tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica

Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando

a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa

posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a

conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano

Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias

baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs

Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso

relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo

agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais

fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e

[ɛ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076

vogal oral (errado) 3433471 99 040

TOTAL 6354651 137

88

Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana

(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas

orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias

(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro

Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores

responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]

Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram

em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior

seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator

distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso

relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a

porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)

Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor

da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal

meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em

Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)

[ɛ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056

Distacircncia de uma siacutelaba

(relaccedilatildeo)

1261051 120 042

Distacircncia de duas siacutelabas

(executivo)

31378 82 023

TOTAL 6354651 137

89

Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias

(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-

MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a

variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643

ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram

sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas

desfavorecedoras do abaixamento de e

Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade

muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada

esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV

o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas

Tabela 7 - Item lexical

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas

(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)

foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no

[ɛ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047

siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063

TOTAL 6354651 137

[ɛ]

Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

adjetivos (legal) 133759 175 059

substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048

verbos (levar) 1941557 125 050

adveacuterbios (depois) 6158 38 021

TOTAL 6354651 137

90

dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os

substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o

peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze

por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica

Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram

considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500

ocorrecircncias

Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a

variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de

e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal

meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso

relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero

de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da

vogal meacutedia frontal

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento

de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no

comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento

de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as

mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem

disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado

com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres

Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para

[ɛ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 2112241 94 038

Masculino 4242410 176 060

TOTAL 6354651 137

91

essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a

vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO

que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino

realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto

apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte

Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de

e em Piranga-MG

Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a

anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais

do que os homens42

e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a

norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais

conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica

Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela

classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados

encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o

autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o

processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de

substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra

por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0071 Significacircncia 0000

42

Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet

httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-

ibgehtml Acessado em 12 nov 2013

[ɛ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028

Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047

Com mais de 49 anos de

idade

3771398 270 077

TOTAL 6354651 137

92

A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa

etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que

tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de

ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade

foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a

vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os

informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria

tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas

mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto

carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos

de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo

sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os

informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a

faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba

pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa

etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada

como favorecedora dos processos estudados por esses autores

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o

grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria

relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X

selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente

significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

[ɛ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065

Com mais de 11 anos de

estudo

2652625 101 038

TOTAL 6354651 137

93

De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11

anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte

Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de

ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia

[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram

ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale

a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior

escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em

posiccedilatildeo pretocircnica

O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido

por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo

tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade

no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em

posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau

Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com

ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos

foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e

sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo

GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis

relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais

inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais

meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba

pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo

abaixamento de e

Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os

resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia

posterior

94

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o

Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como

estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo

sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

7 Tipo de siacutelaba pretocircnica

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem

excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Contexto seguinte

3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

6 Item lexical

A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o

haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o

abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados

que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

95

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal

pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como

aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras

ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias

o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o

tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as

nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese

de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa

de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute

m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43

Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela

vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes

tiveram

Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem

inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com

a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do

abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua

anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator

favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo

43

Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa

[ɔ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

nasal (morar) 66260 254 068

oclusiva (pastoral) 151922 164 051

liacutequidas (processo) 78579 135 046

fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031

pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057

TOTAL 4022312 174

96

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento

precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros

da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes

apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por

terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas

favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos

dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto

precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em

Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi

selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados

Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto

carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as

principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas

consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem

aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu

As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais

baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em

[ɔ]

Contexto precedente

(ponto)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040

palatal (melhorar) 1264 188 063

alveolar (professor) 116759 153 053

velar (coluna) 93548 170 042

labiodental (formar) 22119 185 060

pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051

poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082

TOTAL 4022312 174

97

estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante

de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta

na siacutelaba pretocircnica

Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave

vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido

selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos

demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores

analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com

peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o

Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as

consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica

nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG

[ɔ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (movimento) 109643 170 050

tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057

nasal (momento) 23223 103 031

liacutequidas (morrer) 98545 180 052

oclusiva (poderia) 93600 155 050

TOTAL 4022312 174

98

Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como

verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que

essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse

processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior

De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de

o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas

tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso

relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por

Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG

respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por

Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o

abaixamento da vogal meacutedia posterior

Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a

vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da

siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de

harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia

baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo

estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver

como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de

e quanto para a de o

[ɔ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030

vogal alta (corrupto) 47353 133 055

vogal baixa (formar) 2321115 208 055

vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084

TOTAL 4022312 174

99

Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a

vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez

que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras

do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais

Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo

esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda

mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em

posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que

natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na

liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave

qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais

expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o

No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ

ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do

abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem

pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo

[ɔ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070

vogal oral (colega) 2691759 153 043

TOTAL 4022312 174

100

Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses

sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto

mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento

de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)

quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias

de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse

percentual

Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-

MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi

selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015

Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

[ɔ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057

Distacircncia de uma siacutelaba

(choradeira)

116797 146 048

Distacircncia de duas siacutelabas

(horrorizada)

6180 33 015

Distacircncia de mais de duas

siacutelabas (oportunidade)

557 88 029

TOTAL 4022312 174

[ɔ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046

siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063

TOTAL 4022312 174

101

A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para

a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a

variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior

de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve

tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para

e

Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos

jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente

do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)

concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as

siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana

(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica

analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo

houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel

mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal

meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de

ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados

o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal

meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o

que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do

abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG

[ɔ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 1581179 134 041

Masculino 2441133 215 059

TOTAL 4022312 174

102

Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e

Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras

Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias

(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e

confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes

com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo

pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em

742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo

da regra

Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG

essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou

que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro

Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela

autora

Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram

apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os

informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes

entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao

dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os

[ɔ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029

Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040

Com mais de 49 anos de

idade

262742 353 079

TOTAL 4022312 174

103

informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior

frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na

tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese

que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem

apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de

estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo

pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro

Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de

dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos

dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo

programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva

(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes

com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior

tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin

(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da

vogal meacutedia posterior

Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os

resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis

referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados

[ɔ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065

Com mais de 11 anos de

estudo

1611316 122 038

TOTAL 4022312 174

104

surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise

de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram

a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia

vocaacutelica

Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo

seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da

Geometria de Traccedilos

105

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS

Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma

breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser

realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte

Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a

variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este

parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado

Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de

Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra

por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento

manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em

outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns

nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes

especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22

A B ou B A

F F

Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)

Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um

segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as

mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define

como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma

que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados

independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da

vogal alta44

seguinterdquo como podemos ver na Figura 23

44

Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila

de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito

106

Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica

Fonte BISOL (2009 p 79)

Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de

abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na

posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)

a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em

conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e

preenchimentordquo

Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo

que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute

vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal

meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que

desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma

vogal meacutedia baixa tocircnica

A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de

traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal

tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor

que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor

107

Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica

pela vogal e pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a

Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo

sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme

vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo

classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto

3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute

Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo

classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por

serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao

contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos

108

positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra

vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais

meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ

satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem

mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]

Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+

aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal

e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o

desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol

(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica

Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que

conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de

[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG

Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o

principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo

de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura

25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada

como n[ɔ]vela

109

Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica

pela vogal o pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que

ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila

apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal

meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+

aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante

ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal

pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas

o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o

noacute do que de um uacutenico traccedilo

110

Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir

duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de

Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na

realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba

Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-

aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]

da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e

[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta

e ɛ ɔ [ɛ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica

Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ

ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como

resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o

traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal

meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

111

o ɛ ɔ [ɔ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela

representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no

dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia

vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica

mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

112

6 CONCLUSAtildeO

As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse

estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos

no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo

635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash

137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que

aventamos no iniacutecio dessa pesquisa

Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que

de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido

superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total

de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento do que a vogal e

Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba

pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com

base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do

Brasil

Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com

relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o

sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a

e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]

respectivamente

Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo

fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila

de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na

siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias

pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel

Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a

pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na

siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG

esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas

as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de

113

erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia

baixa

Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis

para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas

pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para

ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]

e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais

orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o

Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que

trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator

distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a

siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia

posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da

vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do

abaixamento

Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram

selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como

favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica

Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os

informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do

sexo feminino

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes

com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo

pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e

para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria

relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi

selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos

de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os

informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais

114

significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores

da regra na anaacutelise dessa variaacutevel

Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem

houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada

por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as

vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o

abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo

pretocircnica

Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados

para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram

considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de

articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as

palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto

precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas

favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal

Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na

variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os

adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica

os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal

Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes

linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que

favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o

Variaacuteveis

analisadas

Abaixamento da vogal

pretocircnica e

Abaixamento da vogal

pretocircnica o

Contexto precedente

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes liacutequidas

Desfavorecem a pausa e as

consoantes fricativas

Favorecem consoantes nasais e a

pausa

Desfavorecem consoantes

fricativas

Contexto precedente

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Favorecem consoantes poacutes-

alveolares palatais e labiodentais

Desfavorecem consoantes velares

e labiais

115

Contexto seguinte

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes nasais

liacutequidas e o tepe

Desfavorecem consoantes

africadas e fricativas

Favorecem o tepe e as consoantes

liacutequidas

Desfavorecem as consoantes

nasais

Contexto seguinte

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Altura da vogal da

siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais meacutedias

baixas tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias

altas tocircnicas

Favorecem vogais meacutedias baixas

tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias altas

tocircnicas

Qualidade da vogal

da siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais nasais

tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Favorecem vogais nasais tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas

siacutelabas

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas ou

de mais de duas siacutelabas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo ao iniacutecio da

palavra

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Tipo de siacutelaba

pretocircnica

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Item lexical

Favorecem adjetivos

Desfavorecem adveacuterbios

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Sexo Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Faixa etaacuteria Favorecem informantes com

mais de 49 anos de idade

Favorecem informantes com mais

de 49 anos de idade

116

Desfavorecem informantes

entre 15 e 25 anos de idade

Desfavorecem informantes entre

15 e 25 anos de idade

Escolaridade Favorecem informantes entre 0

e 11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Favorecem informantes entre 0 e

11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e

de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo

da regra

E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que

estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria

linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros

pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-

fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

117

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120

ANEXOS

121

ANEXO 1

ROTEIRO DE PERGUNTAS

A) Origem e habitaccedilatildeo

1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui

2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje

3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais

4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece

5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a

educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio

8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor

9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo

B) Infacircncia

1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade

2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia

3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava

4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc

5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc

nunca esqueceu

6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia

7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje

8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por

quecirc

C) Escola

1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio

2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que

esse professor fez que deixou marcas

3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava

4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que

122

5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de

amizade que vocecirc nunca esqueceu

5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo

6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola

7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc

8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc

9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje

10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco

disso

D) Atividades profissionais

1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc

2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo

3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual

4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc

5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)

6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro

7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse

momento

8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia

9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc

10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho

E) Lazer

1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas

2 Como as pessoas costumam se divertir aqui

3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc

4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual

5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes

6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo

e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este

lugar e por que levaria esta pessoa

7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por

quecirc

123

8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa

9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time

10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual

11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc

12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc

13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha

14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum

F) Relacionamentos

1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram

2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram

3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo

4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)

5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc

6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil

7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc

8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo

9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito

preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra

gays preconceito religioso etc)

10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes

11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como

e onde vocecircs se conheceram

12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc

G) Perigo de vida

1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como

vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo

2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como

foi isso

3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc

4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi

5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria

124

H) Religiatildeo

1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo

2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo

3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja

4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc

5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre

6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo

I) Sobrenatural

1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi

isso

2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc

3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma

maneira Como vocecirc explica isso

4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com

algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi

5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O

que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso

6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda

7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau

8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc

9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso

10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET

J) Aspiraccedilotildees

1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria

2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade

3 Qual eacute o maior sonho de sua vida

4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a

trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada

5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que

vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo

125

ANEXO 2

COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS

VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o

VARIANTES [ɛ] e [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1

Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2

Para a realizaccedilatildeo de o colega 3

Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4

VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES

VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS

1 CONTEXTO PRECEDENTE

consoante ([m]enor es[k]olaridade) k

vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v

pausa (elenco olhar) p

2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)

nasal ([m]elhor [n]ovela) n

oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o

fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f

liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l

pausa (elenco olhar) p

tepe (escu[ɾ]ecer) t

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (v[i]olecircncia) h

3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)

velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r

126

alveolar ([d]efende [t]omada) e

labiais ([p]eroba [b]olada) b

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d

pausa (evangeacutelica operou) p

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (pr[i]oridade) h

4 CONTEXTO SEGUINTE

consoante (re[s]posta pro[m]essa) k

vogal (re[a]lizar re[e]leito) v

5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)

nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o

fricativos (re[v]er atro[f]iado) f

liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r

alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e

labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b

palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d

labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j

127

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a

meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m

meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y

baixa a (deleg[a]do) b

8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

frontais ɛ e i q

central a c

posteriores ɔ o u p

9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

oral (proc[ɛ]sso) o

nasal (oraccedil[ɐ ]o) n

10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA

TOcircNICA

Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3

11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA

PALAVRA

Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3

128

12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA

leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v

pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c

13 ITEM LEXICAL

substantivo (pessoa local) s

verbo (levar prometer) v

adjetivo (diferente invocado) a

pronome (vocecirc comigo) p

numeral (sessenta dezesseis) n

adveacuterbio (depois) b

conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j

VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS

1 SEXO

Masculino m

Feminino f

2 IDADE

Entre 15 e 25 anos de idade j

Entre 26 e 49 anos de idade a

Com mais de 49 anos de idade e

3 ESCOLARIDADE

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p

Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s

Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)

Sistema de Bibliotecas da UFU MG Brasil

R467p

2013

Rezende Fernanda Alvarenga 1987-

O processo variaacutevel do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG Fernanda Alvarenga Rezende -- 2013

128 p il

Orientador Joseacute Sueli de Magalhatildees

Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Uberlacircndia

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos

1 Linguiacutestica - Teses 2 Foneacutetica - Teses 3 Liacutengua portuguesa -

Foneacutetica - Teses I Magalhatildees Joseacute Sueli de II Universidade Federal de

Uberlacircndia Programa de Poacutes-graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos III

Tiacutetulo

CDU 801

FERNANDA ALVARENGA REZENDE

O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de

Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos

Aacuterea de concentraccedilatildeo Estudos em Linguiacutestica e

Linguiacutestica Aplicada

Local e data da aprovaccedilatildeo Uberlacircndia 28 de fevereiro de 2013

Banca examinadora

__________________________________________________

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees (Orientador) ndash ILEELUFU

__________________________________________________

Profordf Drordf Marluacutecia Maria Alves ndash UFU

__________________________________________________

Profordf Drordf Elisa Battisti ndash UFRGS

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades

tatildeo valiosas em minhas matildeos

Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo

pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o

conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida

Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e

um exemplo na minha vida

Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com

muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional

e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes

contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem

aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que

fizeram

Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte

teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio

das entrevistas

Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente

agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre

tiveram conosco

Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos

compartilhados e pelas aulas enriquecedoras

Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme

colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam

Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por

estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me

Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte

Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade

Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de

informantes

Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas

oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado

Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo

nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo

Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o

GoldVarb X quando precisei

Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne

Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos

compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro

A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa

E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo

ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode

descobrir sobre elardquo

Labov (2008 p 236)

RESUMO

O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e

e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio

para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos

preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as

entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados

confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas

estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este

estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49

anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com

mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de

articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da

siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba

tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item

lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos

todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na

posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas

no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba

pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento

das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da

assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da

siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra

preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da

Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o

processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento

por um segmento vizinho

PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo

ABSTRACT

The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid

vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio

and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of

Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews

as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte

Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic

variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old

between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11

years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of

articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of

articulation of the following context point of articulation of the following context vowel

height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel

quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable

distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-

stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we

selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels

e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs

GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of

e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the

realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the

lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process

of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This

feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent

from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on

phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)

which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of

features of a segment by a next segment

KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16

FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24

FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25

FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25

FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27

FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27

FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28

FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs

Brasileiro 30

FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31

FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31

FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32

FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33

FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes

de traccedilos 51

FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52

FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54

FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55

FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56

FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65

FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66

FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas

Gerais 66

FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e

grau de escolaridade 68

FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105

FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106

FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107

FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109

FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica 110

FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba

pretocircnica 111

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para

o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que

favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim

imperial 23

TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23

TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e

para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82

Anaacutelise da vogal pretocircnica e

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85

TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86

TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87

TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 88

TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89

TABELA 7 - Item lexical 89

TABELA 8 - Sexo 90

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91

TABELA 10 - Escolaridade 92

Anaacutelise da vogal pretocircnica o

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96

TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97

TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98

TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99

TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 100

TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100

TABELA 8 - Sexo 101

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102

TABELA 10 - Escolaridade 103

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao

Portuguecircs do Brasil 22

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise

variacionista 37

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de

Piranga e de Ouro Branco 40

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 42

235 As pretocircnicas no falar teresinense 45

236 A proposta de Lee e Oliveira 48

24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50

3 METODOLOGIA 58

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68

34 O Programa Estatiacutestico 72

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74

351 Variaacutevel dependente 74

352 Variaacuteveis independentes 75

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75

35211 Contexto precedente 75

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76

35214 Contexto seguinte 77

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80

352113 Item lexical 80

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81

4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA

DE TRACcedilOS 105

6 CONCLUSAtildeO 112

7 REFEREcircNCIAS 117

ANEXOS 120

ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121

ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel

das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse

processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de

[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que

representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro

Altas i u

Meacutedias altas e o

Meacutedias baixas ɛ ɔ

Baixa a

Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)

Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo

podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada

respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos

o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e

de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de

o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na

fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos

No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao

municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com

1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute

internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave

transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso

estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob

financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica

PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura

de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao

alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito

17

mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves

vogais meacutedias pretocircnicas

A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma

pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto

carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde

pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas

Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na

economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo

ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda

mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos

trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG

Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de

se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro

decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno

entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas

O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas

com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com

25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com

26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa

que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria

e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias

e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades

diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo

sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino

As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo

pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo

abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos

catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do

contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto

precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica

6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos

englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa

estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas

18

distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade

de siacutelabas da palavra e classe da palavra

Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo

pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes

rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis

significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o

programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do

contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na

siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as

vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o

abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na

siacutelaba pretocircnica do que a mulher)

Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze

foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no

GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs

variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De

acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram

o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]

enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel

extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais

frequecircncia do que a mulher)

Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o

abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes

carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo

sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro

Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro

ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma

pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com

o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O

7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar

19

projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um

projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve

pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional

O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos

especiacuteficos

Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais e e o

Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em

Monte Carmelo-MG

Portanto essa pesquisa se justifica por

Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo

construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo

Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala

dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio

que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico

Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo

Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras

que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que

buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa

Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo

pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos

O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de

o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa

([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este

Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG)

20

Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo

diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto

que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos

O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica

analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para

ambas as vogais

Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica

estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer

A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais

meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais

realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher

Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais

abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de

idade)

O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento

Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo

Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos

palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e

ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme

jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE

MORAES 2002)

palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e

leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p

5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas

caracterizando hiatordquo

palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo

fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p

65)

palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)

mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os

sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas

21

por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho

v[e]rde rarr v[e]rdinho

Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)

esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt

1995 p 5)

Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir

No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do

abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as

hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo

No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na

primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro

desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico

pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em

todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na

quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para

representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados

O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco

seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos

preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao

municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o

detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo

deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb

X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as

variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo

A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que

discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5

representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a

variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas

O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados

para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como

alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de

perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e

seus respectivos fatores

22

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua

portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de

Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o

Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a

evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela

objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois

por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos

atualmente na nossa liacutengua

A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo

acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico

aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos

estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia

vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -

24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos

auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do

Brasil

Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em

portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje

Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o

latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o

galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de

Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de

Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-

portuguesa do Norte

O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais

divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada

timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas

transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de

23

vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre

resultantes dos variados graus de aberturardquo

Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como

consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na

Tabela 1 abaixo

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

ī i fīcum gt port figo

ĭ

sĭtim gt port sẹde

ē rēte gt port rẹde

ĕ ę tĕrra gt port tęrra

ă

a

lătus gt port lado

ā amātum gt port amado

ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta

ō ọ amōrem gt port amọr

ŭ bŭcca gt port bọca

ū u pūrum gt port puro

Fonte TEYSSIER (2007 p 9)

Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a

vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

aelig ę caecum gt port cęgo

œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais

no latim imperial

24

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 2 - As vogais do latim imperial

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval

pois

[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas

individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas

palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo

permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter

conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como

uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)

No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa

semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por

exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma

tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que

se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e

caldo em portuguecircs

Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos

muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o

caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar

nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais

abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007

p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees

ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra

[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo

O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e

nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs

25

acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os

seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e

natildeo entram mais em contato

Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros

textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo

com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-

portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu

a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o

Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere

agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte

Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees

graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)

Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e

ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo

(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica

que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e

muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a

(i)

e o

a

Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

26

Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um

fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e

partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas

essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o

sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o

Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa

substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso

do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs

pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo

Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas

grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou

como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a

melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como

[ọ] fechadordquo

Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos

vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute

que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer

esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de

falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo

fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas

formas prevaleccedila

Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da

siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u

Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos

antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha

chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo

Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-

nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ

desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica

27

i u

e o

a

Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 31)

Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs

tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o

eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo

(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias

onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir

O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo

com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua

literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego

serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p

48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como

exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais

ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute

nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo

A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que

aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-

portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 50)

28

Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as

contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a

e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em

hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em

oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o

sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo

tocircnica

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 51)

Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental

para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a

chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os

iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como

escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros

constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil

Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu

a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de

Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo

tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a

populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas

natildeo da forma como os europeus falavam

Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a

liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram

Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier

(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de

mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e

29

de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi

proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa

Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio

[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala

pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem

distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as

fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa

(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os

brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam

os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)

Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees

foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal

central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas

no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em

outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba

pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul

Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier

(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a

pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o

Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga

por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar

e istar para entrar e estar

Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor

argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela

pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo

da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um

ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais

niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma

30

Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final

i u i u i u

e o E O

ɛ ɔ

A9 a a

Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte TEYSSIER (2007 p 104)

Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo

discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10

afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais

latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para

a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao

contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o

espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos

variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com

exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas

vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u

Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar

de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da

posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se

apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em

portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11

pois aleacutem das cinco vogais jaacute

9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e

Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois

fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo

entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute

transcrita como bolU 10

Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi

publicada em 1970 11

Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone

31

mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as

vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos

visualizar na figura abaixo

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ

Baixa a

Anteriores Central Posteriores

Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)

De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as

vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo

meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais

altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute

a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo

das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando

ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006

p 41)

Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante

de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a

figura a seguir

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

[ɐ]

Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)

Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma

consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e

32

aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a

eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o

u) como vimos na Figura 10

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico

denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que

desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada

pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)

citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras

perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade

fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em

duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI

VIEIRA 2005 p 173)

Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas

pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior

para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que

se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute

caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]

Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com

relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a

realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes

do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as

realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza

pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E

como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG

33

realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa

regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente

Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como

podemos visualizar na Figura 12 a seguir

i u

a

Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da

palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute

condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais

altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica

que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona

final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas

trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem

seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-

mudo e pent[i] para pente

As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi

definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva

desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua

tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para

Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave

assimilaccedilatildeo12

das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente

seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como

em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal

tocircnica que impulsionar o processo

Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees

feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e

12

De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento

vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo

34

afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final

Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como

argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas

na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso

porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos

encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na

siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB

A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de

muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para

estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13

(1987) que

pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que

estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco

Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas

no dialeto de Teresina-PI

Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser

considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo

que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia

vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo

Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo

desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas

Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos

que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os

processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se

nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees

entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute

dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho

13

Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento

35

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel

Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias

pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento

que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil

tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a

harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O

corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos

trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees

portugueses e italianos

Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados

coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou

sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado

[o]perar ~ [u]perar14

Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou

S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como

afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem

situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15

Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce

influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro

~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16

A variaacutevel dependente do trabalho

da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em

vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p

38)

Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados

encontrados por Bisol (1981)

Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a

elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar

para comprar

Tonicidade

a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a

vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo

14

Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15

Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16

Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)

36

b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo

pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a

natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras

ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo

c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de

harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo

d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a

vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a

assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)

Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo

menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL

1981 p 41)

Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade

ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como

exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel

e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante

Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares

(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes

alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia

posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a

elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a

alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)

Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal

(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as

alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)

e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar

(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)

Variaacuteveis extralinguiacutesticas

- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17

foram os que mais aplicaram a

regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18

foram os que menos aplicaram

- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem

17

Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18

Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do

paiacutes vizinho o Uruguairdquo

37

- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre

(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)

- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores

condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas

permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada

agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~

custelardquo

Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de

sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos

formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt

flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo

vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p

104-108)

Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]

a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p

111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)

A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na

fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre

a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba

seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os

principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista

Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte

influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt

(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como

exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo

(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas

delimitaccedilotildees Ele desconsiderou

as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo

pronunciadas como um hiato

38

as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a

maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem

palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa

a fronteira vocabular

palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e

ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos

O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta

por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em

Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum

havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que

faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria

conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a

escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica

(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada

uma das trecircs capitais pesquisadas

Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o

na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a

seguir

Homorganicidade19

das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a

elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex

ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex

ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a

vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex

ldquoconduccedilatildeordquo)

A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave

pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex

ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica

analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata

Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a

elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)

do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)

19

Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

39

Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o

favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o

processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)

Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e

desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex

ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o

favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e

desfavoreceu o processo a pausa

Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex

ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo

o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a

elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o

processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes

Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para

a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees

verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os

seguintes

Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e

para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os

informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo

aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de

o do que os entrevistados mais jovens

Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de

elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau

Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de

harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto

Alegre)

Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas

Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal

condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na

siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as

variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por

40

exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas

vogais meacutedias pesquisadas

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de

Ouro Branco

Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-

MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio

mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da

Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e

testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo

aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e

feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)

Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a

pesquisa

As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico

vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a

vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe

morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da

palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical

Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees

para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as

vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao

abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o

processo de nosso maior interesse

Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto

de Piranga-MG foram

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1

Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba

41

Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe

Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais

Gecircnero masculino

Faixa etaacuteria jovem

Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes

variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica pronome adjetivo

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais

Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas

Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o

abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica adjetivo

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Gecircnero feminino

Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as

seguintes variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas

42

Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel

extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila

qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa

uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o

de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de

uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba

pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica

Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo

individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente

de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima

de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade

(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas

o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal

Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que

participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679

referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012

corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20

ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram

obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173

ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb

2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia

do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros

apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o

nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo

Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006

selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis

43

Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram

os verbos (ex ldquochegavardquo)

Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou

valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica

baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a

vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo

Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu

a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)

Contexto precedente20

- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes

(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)

Contexto seguinte21

- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex

ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)

Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex

ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)

Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e

por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal

tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente

contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto

precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto

seguinte e classe da palavra

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o

abaixamento de e foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum

abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos

uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na

siacutelaba pretocircnica

Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados

pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas

20

Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as

consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por

consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21

A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana

(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e

semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais

44

Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as

anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)

Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)

Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais

(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente

Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)

desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex

ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes

oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes

(ex ldquocomigordquo)

Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)

Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os

verbos (ex ldquoconversarrdquo)

Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do

abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica

contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto

seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2

Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico

para o abaixamento de o foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento

de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma

ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os

homens

Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com

45

mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba

Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que

no informal

As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb

2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da

vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento

quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois

houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e

em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo

Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias

pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como

jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das

vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a

realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana

(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo

se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal

235 As pretocircnicas no falar teresinense

O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais

meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou

com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero

(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50

anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino

Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas

Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas

eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de

Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como

vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo

poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse

46

Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o

comportamento das vogais meacutedias foram

Contiguidade

Homorganicidade

Tonicidade

Paradigma

Distacircncia da tocircnica

Derivada de tocircnica

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa

etaacuteria e escolaridade

As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219

ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve

2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na

seguinte ordem

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Paradigma

Contexto fonoloacutegico seguinte

Faixa etaacuteria

Escolaridade

Homorganicidade

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou

sete variaacuteveis

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Paradigma

Escolaridade

Faixa etaacuteria

Gecircnero

47

Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram

que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais

tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o

foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as

velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva

(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)

as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o

abaixamento de o

Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto

para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o

que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na

posiccedilatildeo pretocircnica

Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex

ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das

velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o

processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel

homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel

selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu

nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal

Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada

para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas

pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos

ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito

aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os

fatores analisados

Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos

do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e

[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e

Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa

etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse

cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as

vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao

passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram

48

uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p

138)

Com base nesses resultados a autora concluiu que

[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a

escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de

mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os

mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema

(SILVA 2009 p 139)

A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres

embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os

homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um

papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos

em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos

Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente

relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar

de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias

pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que

nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas

pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do

processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica

236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)

Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se

preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e

Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o

primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes

vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves

palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo

pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG

49

Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo

ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo

De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma

pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e

pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes

sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs

falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)

questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas

consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver

este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees

A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e

expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w

seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA

2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para

liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas

Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca

entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem

dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo

Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]

consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados

reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a

fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)

Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema

apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um

conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema

computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional

Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter

um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo

aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]

(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u

o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)

Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo

aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias

altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer

50

foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status

fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de

entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do

exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo

Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e

que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou

c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas

foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem

que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e

que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto

(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)

Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos

fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os

fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a

essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um

modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual

desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo

Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma

teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais

meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte

24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos

Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma

perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas

o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos

um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o

modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto

recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia

Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo

independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo

51

Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva

(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22

que o representa a Teoria

Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa

Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em

que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa

restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um

segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o

segmento tambeacutem mudaraacute

Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee

o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a

representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir

t d

- soante - soante

- contiacutenuo - contiacutenuo

coronal coronal

+ anterior + anterior

- sonoro + sonoro

Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)

Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre

alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a

[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda

que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d

visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro

A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia

Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas

consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um

segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento

de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo

22

Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter

acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-

ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo

52

O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma

hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em

camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente

Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume

(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando

Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo

traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e

relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees

fonoloacutegicasrdquo23

Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia

existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto

manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)

Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados

por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais

representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo

pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14

Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)

23

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists

have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological

representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)

53

Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como

unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam

grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que

os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os

traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas

de associaccedilatildeo

Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos

assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24

Desse modo os

autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas

um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14

um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem

parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo

fazerem parte de um mesmo constituinte

A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de

consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)

24

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995

p 250)

54

Consoantes Vogais

Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais

Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)

Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel

representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita

acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura

15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as

especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a

representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que

consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe

apenas na representaccedilatildeo das vogais

55

Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal

Fonte MATZENAUER (2005 p 51)

O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]

[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em

grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade

desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de

cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode

espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que

estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para

indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os

segmentos nasais e [- nasal] para os orais

56

Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de

consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas

pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum

Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em

anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as

diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a

vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais

ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as

vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios

O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as

semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea

vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como

pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de

ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao

noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal

Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de

abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e

quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para

caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo

Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo

representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a

seguir

Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs

Fonte WETZELS (1991 p 31)

A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro

alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais

57

meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as

vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo

caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do

que as outras duas vogais meacutedias

Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i

u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura

negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais

fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui

todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2

deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico

do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema

vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos

desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No

Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa

58

3 METODOLOGIA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da

Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo

da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte

foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos

dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa

estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das

definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista

Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem

conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos

estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o

estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave

formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras

variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo

Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e

extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo

Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas

de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem

nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de

estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25

desde o surgimento da Teoria Um

desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos

ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos

Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em

duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da

populaccedilatildeo permanente

Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se

dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa

que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia

25

Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs

59

portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-

canadenses irlandeses alematildees poloneses

Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e

aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)

tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as

diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A

investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da

populaccedilatildeo que foram assim divididos

Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa

Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na

construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14

estudantes

Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9

descendentes de iacutendios

As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov

(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos

Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a

centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os

pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de

ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de

indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw

Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram

pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar

registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo

dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha

Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em

Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em

novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a

ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era

estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus

da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV

2008 p 64)

Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque

quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S

60

Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein

Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos

Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o

valor do r

ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo

ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo

ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo

Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram

mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a

atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo

de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos

onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes

de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os

primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia

diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram

menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da

ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares

De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo

estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks

pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status

superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de

prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel

linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo

Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma

comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito

no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita

que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser

considerado

Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores

sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os

chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa

teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a

sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a

Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas

61

Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir

quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem

ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel

dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica

Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de

fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as

variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a

idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de

textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo

assunto ou de tema semelhante

Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre

sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas

podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse

modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008

p 21) explica que

[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica

sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou

dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila

social imanente agindo no presente vivo

Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos

da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas

fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios

linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa

porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma

extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee

dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador

Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o

segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas

usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)

foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo

62

observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural

possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em

grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que

estatildeo sendo observados

Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que

Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No

estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas

que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou

simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele

momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para

natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de

departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor

(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da

loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem

O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a

obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo

mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da

investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas

de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar

ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar

que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de

fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)

Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor

empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute

quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer

pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na

Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir

uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis

riscos que ele pode correr ao participar do estudo

Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar

narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que

fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida

porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e

63

assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da

entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou

Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem

sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida

Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se

lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema

que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos

e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade

acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos

gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um

informante nem sempre levaraacute outro a falar

Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute

fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso

deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta

Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute

ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal

forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade

Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um

roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode

abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia

tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como

percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi

usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante

Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para

saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual

gostaria de falar

A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi

realizado

64

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG

O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26

era habitado inicialmente por iacutendios das tribos

ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado

comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a

cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de

diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos

garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave

excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte

Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde

hoje fica o bairro Tamboril

Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa

fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos

moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem

era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas

casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo

Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa

Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma

cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no

litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa

ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga

Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo

foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo

e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade

Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os

habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na

cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de

Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees

de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de

Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia

Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo

26

As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na

paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet

httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013

65

A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto

positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da

Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como

transporte lazer e mais oportunidades de emprego

A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos

ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na

produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari

Uberaba e Patrociacutenio27

Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG

Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-

carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013

De acordo com dados28

do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em

2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772

habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade

carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de

27

As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site

da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28

Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013

66

Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia

Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com

relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte

Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)

Acessado em 10 nov 2013

Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-

mghtml Acessado em 10 nov 2013

Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi

realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como

foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo

67

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra

Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o

Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de

Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia

Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da

comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o

GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta

com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo

Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste

nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram

selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau

de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois

informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que

analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de

dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes

seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado

A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte

forma

68

Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade

Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para

essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios

a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade

b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos

c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo

Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar

os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas

feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa

ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela

pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129

e fazem parte do banco de dados do

29

Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam

para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011

69

GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um

gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita

conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para

facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas

Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador

estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus

possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda

a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa

conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo

inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e

selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado

explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do

informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento

Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir

do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso

proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do

entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro

tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira

de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as

entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de

perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como

relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se

sentisse mais agrave vontade e disposto a falar

Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns

casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com

exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso

uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder

o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais

como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria

natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov

(2008) e Tarallo (1994)

De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las

ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o

entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a

70

gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa

seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias

altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e

seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30

feita com um informante do sexo

masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de

estudo

E Boa noiti

I Boa noiti

E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu

I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui

gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um

ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo

assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo

mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi

adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im

Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u

ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada

muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu

moraacute aqui

[]

E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji

I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a

genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi

sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num

consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru

anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns

mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu

Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di

caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt

perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute

30

Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas

com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica

realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]

palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada

71

discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji

neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute

presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz

tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas

coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu

neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois

noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim

eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a

crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais

perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram

us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi

ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute

(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)

Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados

com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler

os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31

definida para a pesquisa e

para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32

pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos

Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do

informante 23

31

A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32

Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na

paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo

72

(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti

Em que

2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

k = consoante (contexto precedente)

f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

k = consoante (contexto seguinte)

t = tepe (modo do contexto seguinte)

e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)

m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)

q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)

n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)

0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)

1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)

v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)

a = adjetivo (item lexical)

w = informante 23

m = sexo masculino

a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)

s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)

Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do

GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte

34 O Programa Estatiacutestico

Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de

anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras

variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das

versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse

tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores

contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores

condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente

73

para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade

dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)

O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica

A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute

uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter

em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode

ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador

elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido

definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na

seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos

a seguinte codificaccedilatildeo

(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute

Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute

feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado

o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e

em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados

para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador

pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise

Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees

(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos

grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to

memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta

a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da

anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em

nocaute33

ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo

aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo

haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34

Para esse procedimento

ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes

nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos

os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)

33

Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34

A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico

74

Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo

arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram

retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem

nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a

rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda

o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada

stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada

stepping down (em Best stepping down run)

A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados

da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes

aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer

em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores

no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na

ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor

e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem

desfavorece o fenocircmeno em estudo

Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa

estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb

X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que

for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os

procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por

exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas

separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador

faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados

encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis

Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram

selecionadas para este estudo

351 Variaacutevel dependente

A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o

abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia

75

do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel

dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma

[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega

[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega

352 Variaacuteveis independentes

As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a

variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para

esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo

dos dados

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia

que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A

seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para

o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG

35211 Contexto precedente

Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria

relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar

se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35

uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa

(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais

meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o

segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que

precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel

35

Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores

aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias

ocorreu exatamente com essas palavras

76

tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a

variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram

divididos em

nasal ([m]elhor [n]ovela)

oclusiva ([p]eroba [b]olada)

fricativa ([v]estibular [f]ormado)

liacutequidas ([l]egal [x]odada)

pausa (elenco olhar)

tepe (escu[ɾ]ecer)

vogal36

baixa ([a])37

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (v[i]olecircncia)

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos

velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)

alveolar ([d]efende [t]omada)

labial ([p]eroba [b]olada)

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)

pausa (evangeacutelica operou)

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)

vogal baixa ([a])

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (pr[i]oridade)

36

Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para

Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto

de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37

Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que

natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos

77

35214 Contexto seguinte

Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva

(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada

tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes

carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel

pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l

re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto

de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica

quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou

que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais

nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves

vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em

nasal (ave[n]ida mo[m]ento)

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)

fricativos (pre[f]iro le[v]ado)

liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)

alveolar (de[z]esseis go[s]tar)

labial (rece[b]er co[m]eccedila)

78

palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)

labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS

2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para

a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o

abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou

refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica

influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as

vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura

altas i u (acred[i]to prod[u]to)

meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)

meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)

baixa a (deleg[a]do)

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba

tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados

obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo

oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em

frontais38

ɛ e i

central a

38

A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao

gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua

teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem

nenhuma obstruccedilatildeo

79

posteriores ɔ o u

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de

Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na

posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]

no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas

orais (proc[ɛ]sso)

nasais (oraccedil[ɐ ]o)

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado

encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima

da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de

o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos

permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica

favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte

Carmelo-MG

Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este

estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica

analisada

distacircncia zero (remeacutedio costura)

distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)

distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as

palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao

abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por

acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de

o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior

80

para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de

siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra

distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)

distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)

distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica

Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram

mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por

meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das

vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo

as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como

leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)

pesadas VC (hospital) CVC (gostar)

352113 Item lexical

Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens

lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos

como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais

meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave

variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas

analisadas nas seguintes categorias lexicais

substantivo (pessoa local)

verbo (levar prometer)

adjetivo (diferente invocado)

pronome (vocecirc comigo)

numeral (sessenta dezesseis)

adveacuterbio (depois)

conjunccedilatildeo (entretanto portanto)

81

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas

De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta

fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou

trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos

parte do modo como se segue

Sexo

Masculino

Feminino

Faixa etaacuteria

Entre 15 e 25 anos de idade

Entre 26 e 49 anos de idade

Com mais de 49 anos de idade

Escolaridade

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)

Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)

Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este

estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento

das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para

fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo

82

4 ANAacuteLISE DOS DADOS

Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos

relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e

extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi

relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros

estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de

Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto

carmelitano

Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3

todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja

para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em

seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois

realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o

Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte

Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a

vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora

a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a

vogal meacutedia frontal e

Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais

meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o

aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente

no dialeto de Monte Carmelo-MG

Aplicaccedilatildeo

(abaixamento)

Natildeo aplicaccedilatildeo

(manutenccedilatildeo)

Total de

ocorrecircncias

Total de

aplicaccedilatildeo

Vogal e

635 4016 4651 137

Vogal o

402 1910 2312 174

TOTAL

1037 5926 6963

83

Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos

muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e

como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o

abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados

referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e

Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na

ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas a saber

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

6 Tipo de siacutelaba pretocircnica

7 Item lexical

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Contexto seguinte

4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

84

Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela

correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e

pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que

foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input40

0071 Significacircncia41

0000

A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto

precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de

articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na

tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068

favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi

obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro

Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o

abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados

Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o

fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora

Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano

a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense

ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo

39

O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40

O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada

nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41

O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes

etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis

satildeo os dados

[ɛ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (Jesus39

) 1651118 148 041

oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045

pausa (eterna) 29341 85 041

nasal (melhor) 72498 145 051

liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068

TOTAL 6354651 137

85

a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute

comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo

acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da

vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes

fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto

precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o

abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o

modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia

frontal

Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados

para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras

do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase

21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados

com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as

nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-

MG

Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de

066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de

[ɛ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

tepe (diferente) 106547 194 066

fricativa (resposta) 1571907 82 036

oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058

liacutequidas (inteligente) 195973 200 061

nasal (enorme) 34163 209 067

africadas (coletivo) 10169 59 026

TOTAL 6354651 137

86

e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o

dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes

liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro

Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum

fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das

consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior

representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve

um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias

Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de

e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como

estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer

Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica

exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros

expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior

motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas

tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288

ocorrecircncias

Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008

SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a

harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de

[ɛ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043

vogal alta (equipe) 77818 94 047

vogal baixa (elevado) 3021647 183 055

vogal meacutedia baixa

(dezenove)

68288 236 067

TOTAL 6354651 137

87

Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba

tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados

Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar

como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste

caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado

pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta

dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos

De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se

das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto

3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta

tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a

tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica

Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando

a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa

posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a

conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano

Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias

baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs

Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso

relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo

agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais

fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e

[ɛ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076

vogal oral (errado) 3433471 99 040

TOTAL 6354651 137

88

Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana

(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas

orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias

(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro

Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores

responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]

Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram

em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior

seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator

distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso

relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a

porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)

Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor

da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal

meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em

Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)

[ɛ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056

Distacircncia de uma siacutelaba

(relaccedilatildeo)

1261051 120 042

Distacircncia de duas siacutelabas

(executivo)

31378 82 023

TOTAL 6354651 137

89

Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias

(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-

MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a

variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643

ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram

sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas

desfavorecedoras do abaixamento de e

Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade

muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada

esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV

o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas

Tabela 7 - Item lexical

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas

(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)

foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no

[ɛ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047

siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063

TOTAL 6354651 137

[ɛ]

Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

adjetivos (legal) 133759 175 059

substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048

verbos (levar) 1941557 125 050

adveacuterbios (depois) 6158 38 021

TOTAL 6354651 137

90

dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os

substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o

peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze

por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica

Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram

considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500

ocorrecircncias

Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a

variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de

e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal

meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso

relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero

de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da

vogal meacutedia frontal

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento

de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no

comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento

de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as

mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem

disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado

com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres

Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para

[ɛ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 2112241 94 038

Masculino 4242410 176 060

TOTAL 6354651 137

91

essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a

vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO

que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino

realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto

apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte

Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de

e em Piranga-MG

Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a

anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais

do que os homens42

e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a

norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais

conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica

Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela

classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados

encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o

autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o

processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de

substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra

por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0071 Significacircncia 0000

42

Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet

httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-

ibgehtml Acessado em 12 nov 2013

[ɛ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028

Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047

Com mais de 49 anos de

idade

3771398 270 077

TOTAL 6354651 137

92

A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa

etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que

tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de

ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade

foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a

vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os

informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria

tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas

mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto

carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos

de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo

sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os

informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a

faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba

pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa

etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada

como favorecedora dos processos estudados por esses autores

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o

grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria

relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X

selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente

significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

[ɛ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065

Com mais de 11 anos de

estudo

2652625 101 038

TOTAL 6354651 137

93

De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11

anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte

Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de

ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia

[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram

ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale

a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior

escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em

posiccedilatildeo pretocircnica

O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido

por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo

tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade

no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em

posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau

Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com

ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos

foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e

sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo

GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis

relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais

inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais

meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba

pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo

abaixamento de e

Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os

resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia

posterior

94

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o

Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como

estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo

sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

7 Tipo de siacutelaba pretocircnica

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem

excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Contexto seguinte

3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

6 Item lexical

A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o

haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o

abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados

que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

95

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal

pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como

aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras

ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias

o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o

tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as

nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese

de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa

de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute

m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43

Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela

vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes

tiveram

Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem

inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com

a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do

abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua

anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator

favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo

43

Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa

[ɔ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

nasal (morar) 66260 254 068

oclusiva (pastoral) 151922 164 051

liacutequidas (processo) 78579 135 046

fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031

pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057

TOTAL 4022312 174

96

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento

precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros

da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes

apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por

terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas

favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos

dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto

precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em

Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi

selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados

Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto

carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as

principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas

consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem

aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu

As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais

baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em

[ɔ]

Contexto precedente

(ponto)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040

palatal (melhorar) 1264 188 063

alveolar (professor) 116759 153 053

velar (coluna) 93548 170 042

labiodental (formar) 22119 185 060

pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051

poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082

TOTAL 4022312 174

97

estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante

de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta

na siacutelaba pretocircnica

Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave

vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido

selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos

demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores

analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com

peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o

Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as

consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica

nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG

[ɔ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (movimento) 109643 170 050

tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057

nasal (momento) 23223 103 031

liacutequidas (morrer) 98545 180 052

oclusiva (poderia) 93600 155 050

TOTAL 4022312 174

98

Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como

verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que

essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse

processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior

De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de

o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas

tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso

relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por

Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG

respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por

Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o

abaixamento da vogal meacutedia posterior

Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a

vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da

siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de

harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia

baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo

estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver

como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de

e quanto para a de o

[ɔ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030

vogal alta (corrupto) 47353 133 055

vogal baixa (formar) 2321115 208 055

vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084

TOTAL 4022312 174

99

Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a

vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez

que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras

do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais

Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo

esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda

mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em

posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que

natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na

liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave

qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais

expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o

No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ

ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do

abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem

pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo

[ɔ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070

vogal oral (colega) 2691759 153 043

TOTAL 4022312 174

100

Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses

sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto

mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento

de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)

quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias

de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse

percentual

Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-

MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi

selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015

Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

[ɔ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057

Distacircncia de uma siacutelaba

(choradeira)

116797 146 048

Distacircncia de duas siacutelabas

(horrorizada)

6180 33 015

Distacircncia de mais de duas

siacutelabas (oportunidade)

557 88 029

TOTAL 4022312 174

[ɔ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046

siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063

TOTAL 4022312 174

101

A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para

a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a

variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior

de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve

tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para

e

Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos

jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente

do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)

concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as

siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana

(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica

analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo

houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel

mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal

meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de

ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados

o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal

meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o

que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do

abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG

[ɔ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 1581179 134 041

Masculino 2441133 215 059

TOTAL 4022312 174

102

Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e

Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras

Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias

(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e

confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes

com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo

pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em

742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo

da regra

Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG

essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou

que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro

Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela

autora

Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram

apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os

informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes

entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao

dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os

[ɔ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029

Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040

Com mais de 49 anos de

idade

262742 353 079

TOTAL 4022312 174

103

informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior

frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na

tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese

que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem

apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de

estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo

pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro

Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de

dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos

dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo

programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva

(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes

com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior

tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin

(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da

vogal meacutedia posterior

Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os

resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis

referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados

[ɔ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065

Com mais de 11 anos de

estudo

1611316 122 038

TOTAL 4022312 174

104

surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise

de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram

a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia

vocaacutelica

Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo

seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da

Geometria de Traccedilos

105

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS

Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma

breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser

realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte

Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a

variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este

parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado

Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de

Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra

por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento

manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em

outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns

nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes

especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22

A B ou B A

F F

Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)

Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um

segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as

mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define

como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma

que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados

independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da

vogal alta44

seguinterdquo como podemos ver na Figura 23

44

Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila

de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito

106

Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica

Fonte BISOL (2009 p 79)

Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de

abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na

posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)

a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em

conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e

preenchimentordquo

Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo

que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute

vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal

meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que

desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma

vogal meacutedia baixa tocircnica

A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de

traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal

tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor

que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor

107

Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica

pela vogal e pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a

Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo

sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme

vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo

classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto

3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute

Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo

classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por

serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao

contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos

108

positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra

vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais

meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ

satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem

mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]

Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+

aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal

e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o

desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol

(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica

Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que

conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de

[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG

Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o

principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo

de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura

25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada

como n[ɔ]vela

109

Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica

pela vogal o pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que

ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila

apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal

meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+

aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante

ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal

pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas

o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o

noacute do que de um uacutenico traccedilo

110

Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir

duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de

Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na

realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba

Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-

aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]

da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e

[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta

e ɛ ɔ [ɛ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica

Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ

ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como

resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o

traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal

meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

111

o ɛ ɔ [ɔ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela

representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no

dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia

vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica

mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

112

6 CONCLUSAtildeO

As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse

estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos

no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo

635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash

137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que

aventamos no iniacutecio dessa pesquisa

Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que

de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido

superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total

de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento do que a vogal e

Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba

pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com

base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do

Brasil

Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com

relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o

sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a

e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]

respectivamente

Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo

fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila

de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na

siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias

pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel

Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a

pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na

siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG

esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas

as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de

113

erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia

baixa

Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis

para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas

pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para

ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]

e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais

orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o

Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que

trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator

distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a

siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia

posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da

vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do

abaixamento

Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram

selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como

favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica

Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os

informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do

sexo feminino

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes

com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo

pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e

para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria

relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi

selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos

de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os

informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais

114

significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores

da regra na anaacutelise dessa variaacutevel

Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem

houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada

por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as

vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o

abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo

pretocircnica

Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados

para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram

considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de

articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as

palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto

precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas

favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal

Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na

variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os

adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica

os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal

Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes

linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que

favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o

Variaacuteveis

analisadas

Abaixamento da vogal

pretocircnica e

Abaixamento da vogal

pretocircnica o

Contexto precedente

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes liacutequidas

Desfavorecem a pausa e as

consoantes fricativas

Favorecem consoantes nasais e a

pausa

Desfavorecem consoantes

fricativas

Contexto precedente

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Favorecem consoantes poacutes-

alveolares palatais e labiodentais

Desfavorecem consoantes velares

e labiais

115

Contexto seguinte

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes nasais

liacutequidas e o tepe

Desfavorecem consoantes

africadas e fricativas

Favorecem o tepe e as consoantes

liacutequidas

Desfavorecem as consoantes

nasais

Contexto seguinte

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Altura da vogal da

siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais meacutedias

baixas tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias

altas tocircnicas

Favorecem vogais meacutedias baixas

tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias altas

tocircnicas

Qualidade da vogal

da siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais nasais

tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Favorecem vogais nasais tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas

siacutelabas

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas ou

de mais de duas siacutelabas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo ao iniacutecio da

palavra

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Tipo de siacutelaba

pretocircnica

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Item lexical

Favorecem adjetivos

Desfavorecem adveacuterbios

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Sexo Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Faixa etaacuteria Favorecem informantes com

mais de 49 anos de idade

Favorecem informantes com mais

de 49 anos de idade

116

Desfavorecem informantes

entre 15 e 25 anos de idade

Desfavorecem informantes entre

15 e 25 anos de idade

Escolaridade Favorecem informantes entre 0

e 11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Favorecem informantes entre 0 e

11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e

de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo

da regra

E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que

estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria

linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros

pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-

fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

117

7 REFEREcircNCIAS

BATTISTI E VIEIRA M J B O sistema vocaacutelico do portuguecircs In BISOL L (Org)

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GRAEBIN G de S A fala de FormosaGO a pronuacutencia das vogais meacutedias pretocircnicas

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_________ OLIVEIRA MA Variaccedilatildeo linguiacutestica teoria fonoloacutegica e difusatildeo lexical In

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VIANA V F As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

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Campinas n 21 p 25-58 juldez1991

120

ANEXOS

121

ANEXO 1

ROTEIRO DE PERGUNTAS

A) Origem e habitaccedilatildeo

1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui

2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje

3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais

4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece

5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a

educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio

8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor

9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo

B) Infacircncia

1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade

2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia

3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava

4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc

5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc

nunca esqueceu

6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia

7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje

8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por

quecirc

C) Escola

1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio

2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que

esse professor fez que deixou marcas

3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava

4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que

122

5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de

amizade que vocecirc nunca esqueceu

5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo

6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola

7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc

8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc

9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje

10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco

disso

D) Atividades profissionais

1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc

2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo

3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual

4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc

5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)

6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro

7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse

momento

8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia

9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc

10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho

E) Lazer

1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas

2 Como as pessoas costumam se divertir aqui

3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc

4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual

5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes

6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo

e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este

lugar e por que levaria esta pessoa

7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por

quecirc

123

8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa

9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time

10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual

11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc

12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc

13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha

14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum

F) Relacionamentos

1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram

2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram

3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo

4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)

5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc

6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil

7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc

8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo

9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito

preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra

gays preconceito religioso etc)

10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes

11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como

e onde vocecircs se conheceram

12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc

G) Perigo de vida

1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como

vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo

2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como

foi isso

3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc

4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi

5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria

124

H) Religiatildeo

1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo

2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo

3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja

4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc

5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre

6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo

I) Sobrenatural

1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi

isso

2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc

3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma

maneira Como vocecirc explica isso

4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com

algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi

5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O

que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso

6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda

7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau

8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc

9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso

10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET

J) Aspiraccedilotildees

1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria

2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade

3 Qual eacute o maior sonho de sua vida

4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a

trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada

5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que

vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo

125

ANEXO 2

COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS

VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o

VARIANTES [ɛ] e [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1

Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2

Para a realizaccedilatildeo de o colega 3

Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4

VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES

VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS

1 CONTEXTO PRECEDENTE

consoante ([m]enor es[k]olaridade) k

vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v

pausa (elenco olhar) p

2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)

nasal ([m]elhor [n]ovela) n

oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o

fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f

liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l

pausa (elenco olhar) p

tepe (escu[ɾ]ecer) t

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (v[i]olecircncia) h

3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)

velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r

126

alveolar ([d]efende [t]omada) e

labiais ([p]eroba [b]olada) b

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d

pausa (evangeacutelica operou) p

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (pr[i]oridade) h

4 CONTEXTO SEGUINTE

consoante (re[s]posta pro[m]essa) k

vogal (re[a]lizar re[e]leito) v

5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)

nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o

fricativos (re[v]er atro[f]iado) f

liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r

alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e

labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b

palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d

labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j

127

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a

meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m

meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y

baixa a (deleg[a]do) b

8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

frontais ɛ e i q

central a c

posteriores ɔ o u p

9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

oral (proc[ɛ]sso) o

nasal (oraccedil[ɐ ]o) n

10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA

TOcircNICA

Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3

11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA

PALAVRA

Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3

128

12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA

leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v

pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c

13 ITEM LEXICAL

substantivo (pessoa local) s

verbo (levar prometer) v

adjetivo (diferente invocado) a

pronome (vocecirc comigo) p

numeral (sessenta dezesseis) n

adveacuterbio (depois) b

conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j

VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS

1 SEXO

Masculino m

Feminino f

2 IDADE

Entre 15 e 25 anos de idade j

Entre 26 e 49 anos de idade a

Com mais de 49 anos de idade e

3 ESCOLARIDADE

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p

Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s

FERNANDA ALVARENGA REZENDE

O PROCESSO VARIAacuteVEL DO ABAIXAMENTO DAS VOGAIS MEacuteDIAS

PRETOcircNICAS NO MUNICIacutePIO DE MONTE CARMELO-MG

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Estudos Linguiacutesticos da Universidade Federal de

Uberlacircndia como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Mestre em Estudos Linguiacutesticos

Aacuterea de concentraccedilatildeo Estudos em Linguiacutestica e

Linguiacutestica Aplicada

Local e data da aprovaccedilatildeo Uberlacircndia 28 de fevereiro de 2013

Banca examinadora

__________________________________________________

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees (Orientador) ndash ILEELUFU

__________________________________________________

Profordf Drordf Marluacutecia Maria Alves ndash UFU

__________________________________________________

Profordf Drordf Elisa Battisti ndash UFRGS

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades

tatildeo valiosas em minhas matildeos

Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo

pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o

conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida

Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e

um exemplo na minha vida

Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com

muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional

e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes

contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem

aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que

fizeram

Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte

teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio

das entrevistas

Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente

agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre

tiveram conosco

Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos

compartilhados e pelas aulas enriquecedoras

Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme

colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam

Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por

estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me

Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte

Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade

Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de

informantes

Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas

oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado

Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo

nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo

Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o

GoldVarb X quando precisei

Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne

Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos

compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro

A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa

E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo

ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode

descobrir sobre elardquo

Labov (2008 p 236)

RESUMO

O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e

e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio

para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos

preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as

entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados

confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas

estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este

estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49

anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com

mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de

articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da

siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba

tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item

lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos

todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na

posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas

no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba

pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento

das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da

assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da

siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra

preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da

Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o

processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento

por um segmento vizinho

PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo

ABSTRACT

The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid

vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio

and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of

Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews

as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte

Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic

variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old

between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11

years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of

articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of

articulation of the following context point of articulation of the following context vowel

height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel

quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable

distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-

stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we

selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels

e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs

GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of

e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the

realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the

lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process

of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This

feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent

from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on

phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)

which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of

features of a segment by a next segment

KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16

FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24

FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25

FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25

FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27

FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27

FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28

FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs

Brasileiro 30

FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31

FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31

FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32

FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33

FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes

de traccedilos 51

FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52

FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54

FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55

FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56

FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65

FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66

FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas

Gerais 66

FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e

grau de escolaridade 68

FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105

FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106

FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107

FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109

FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica 110

FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba

pretocircnica 111

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para

o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que

favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim

imperial 23

TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23

TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e

para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82

Anaacutelise da vogal pretocircnica e

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85

TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86

TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87

TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 88

TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89

TABELA 7 - Item lexical 89

TABELA 8 - Sexo 90

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91

TABELA 10 - Escolaridade 92

Anaacutelise da vogal pretocircnica o

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96

TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97

TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98

TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99

TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 100

TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100

TABELA 8 - Sexo 101

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102

TABELA 10 - Escolaridade 103

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao

Portuguecircs do Brasil 22

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise

variacionista 37

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de

Piranga e de Ouro Branco 40

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 42

235 As pretocircnicas no falar teresinense 45

236 A proposta de Lee e Oliveira 48

24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50

3 METODOLOGIA 58

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68

34 O Programa Estatiacutestico 72

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74

351 Variaacutevel dependente 74

352 Variaacuteveis independentes 75

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75

35211 Contexto precedente 75

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76

35214 Contexto seguinte 77

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80

352113 Item lexical 80

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81

4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA

DE TRACcedilOS 105

6 CONCLUSAtildeO 112

7 REFEREcircNCIAS 117

ANEXOS 120

ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121

ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel

das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse

processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de

[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que

representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro

Altas i u

Meacutedias altas e o

Meacutedias baixas ɛ ɔ

Baixa a

Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)

Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo

podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada

respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos

o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e

de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de

o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na

fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos

No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao

municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com

1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute

internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave

transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso

estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob

financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica

PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura

de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao

alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito

17

mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves

vogais meacutedias pretocircnicas

A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma

pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto

carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde

pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas

Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na

economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo

ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda

mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos

trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG

Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de

se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro

decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno

entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas

O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas

com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com

25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com

26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa

que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria

e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias

e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades

diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo

sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino

As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo

pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo

abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos

catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do

contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto

precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica

6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos

englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa

estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas

18

distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade

de siacutelabas da palavra e classe da palavra

Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo

pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes

rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis

significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o

programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do

contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na

siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as

vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o

abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na

siacutelaba pretocircnica do que a mulher)

Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze

foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no

GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs

variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De

acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram

o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]

enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel

extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais

frequecircncia do que a mulher)

Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o

abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes

carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo

sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro

Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro

ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma

pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com

o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O

7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar

19

projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um

projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve

pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional

O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos

especiacuteficos

Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais e e o

Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em

Monte Carmelo-MG

Portanto essa pesquisa se justifica por

Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo

construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo

Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala

dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio

que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico

Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo

Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras

que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que

buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa

Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo

pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos

O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de

o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa

([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este

Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG)

20

Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo

diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto

que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos

O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica

analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para

ambas as vogais

Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica

estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer

A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais

meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais

realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher

Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais

abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de

idade)

O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento

Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo

Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos

palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e

ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme

jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE

MORAES 2002)

palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e

leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p

5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas

caracterizando hiatordquo

palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo

fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p

65)

palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)

mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os

sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas

21

por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho

v[e]rde rarr v[e]rdinho

Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)

esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt

1995 p 5)

Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir

No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do

abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as

hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo

No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na

primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro

desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico

pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em

todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na

quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para

representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados

O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco

seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos

preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao

municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o

detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo

deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb

X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as

variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo

A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que

discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5

representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a

variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas

O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados

para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como

alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de

perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e

seus respectivos fatores

22

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua

portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de

Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o

Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a

evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela

objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois

por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos

atualmente na nossa liacutengua

A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo

acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico

aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos

estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia

vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -

24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos

auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do

Brasil

Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em

portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje

Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o

latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o

galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de

Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de

Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-

portuguesa do Norte

O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais

divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada

timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas

transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de

23

vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre

resultantes dos variados graus de aberturardquo

Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como

consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na

Tabela 1 abaixo

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

ī i fīcum gt port figo

ĭ

sĭtim gt port sẹde

ē rēte gt port rẹde

ĕ ę tĕrra gt port tęrra

ă

a

lătus gt port lado

ā amātum gt port amado

ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta

ō ọ amōrem gt port amọr

ŭ bŭcca gt port bọca

ū u pūrum gt port puro

Fonte TEYSSIER (2007 p 9)

Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a

vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

aelig ę caecum gt port cęgo

œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais

no latim imperial

24

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 2 - As vogais do latim imperial

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval

pois

[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas

individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas

palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo

permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter

conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como

uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)

No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa

semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por

exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma

tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que

se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e

caldo em portuguecircs

Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos

muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o

caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar

nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais

abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007

p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees

ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra

[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo

O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e

nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs

25

acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os

seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e

natildeo entram mais em contato

Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros

textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo

com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-

portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu

a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o

Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere

agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte

Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees

graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)

Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e

ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo

(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica

que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e

muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a

(i)

e o

a

Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

26

Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um

fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e

partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas

essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o

sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o

Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa

substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso

do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs

pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo

Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas

grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou

como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a

melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como

[ọ] fechadordquo

Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos

vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute

que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer

esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de

falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo

fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas

formas prevaleccedila

Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da

siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u

Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos

antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha

chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo

Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-

nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ

desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica

27

i u

e o

a

Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 31)

Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs

tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o

eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo

(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias

onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir

O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo

com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua

literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego

serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p

48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como

exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais

ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute

nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo

A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que

aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-

portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 50)

28

Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as

contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a

e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em

hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em

oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o

sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo

tocircnica

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 51)

Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental

para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a

chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os

iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como

escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros

constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil

Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu

a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de

Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo

tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a

populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas

natildeo da forma como os europeus falavam

Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a

liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram

Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier

(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de

mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e

29

de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi

proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa

Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio

[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala

pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem

distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as

fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa

(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os

brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam

os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)

Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees

foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal

central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas

no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em

outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba

pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul

Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier

(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a

pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o

Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga

por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar

e istar para entrar e estar

Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor

argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela

pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo

da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um

ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais

niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma

30

Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final

i u i u i u

e o E O

ɛ ɔ

A9 a a

Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte TEYSSIER (2007 p 104)

Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo

discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10

afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais

latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para

a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao

contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o

espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos

variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com

exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas

vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u

Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar

de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da

posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se

apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em

portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11

pois aleacutem das cinco vogais jaacute

9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e

Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois

fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo

entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute

transcrita como bolU 10

Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi

publicada em 1970 11

Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone

31

mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as

vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos

visualizar na figura abaixo

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ

Baixa a

Anteriores Central Posteriores

Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)

De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as

vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo

meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais

altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute

a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo

das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando

ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006

p 41)

Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante

de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a

figura a seguir

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

[ɐ]

Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)

Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma

consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e

32

aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a

eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o

u) como vimos na Figura 10

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico

denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que

desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada

pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)

citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras

perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade

fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em

duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI

VIEIRA 2005 p 173)

Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas

pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior

para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que

se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute

caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]

Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com

relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a

realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes

do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as

realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza

pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E

como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG

33

realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa

regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente

Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como

podemos visualizar na Figura 12 a seguir

i u

a

Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da

palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute

condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais

altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica

que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona

final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas

trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem

seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-

mudo e pent[i] para pente

As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi

definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva

desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua

tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para

Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave

assimilaccedilatildeo12

das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente

seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como

em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal

tocircnica que impulsionar o processo

Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees

feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e

12

De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento

vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo

34

afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final

Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como

argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas

na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso

porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos

encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na

siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB

A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de

muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para

estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13

(1987) que

pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que

estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco

Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas

no dialeto de Teresina-PI

Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser

considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo

que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia

vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo

Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo

desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas

Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos

que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os

processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se

nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees

entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute

dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho

13

Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento

35

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel

Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias

pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento

que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil

tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a

harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O

corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos

trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees

portugueses e italianos

Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados

coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou

sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado

[o]perar ~ [u]perar14

Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou

S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como

afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem

situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15

Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce

influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro

~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16

A variaacutevel dependente do trabalho

da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em

vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p

38)

Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados

encontrados por Bisol (1981)

Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a

elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar

para comprar

Tonicidade

a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a

vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo

14

Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15

Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16

Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)

36

b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo

pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a

natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras

ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo

c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de

harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo

d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a

vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a

assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)

Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo

menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL

1981 p 41)

Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade

ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como

exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel

e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante

Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares

(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes

alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia

posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a

elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a

alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)

Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal

(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as

alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)

e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar

(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)

Variaacuteveis extralinguiacutesticas

- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17

foram os que mais aplicaram a

regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18

foram os que menos aplicaram

- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem

17

Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18

Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do

paiacutes vizinho o Uruguairdquo

37

- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre

(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)

- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores

condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas

permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada

agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~

custelardquo

Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de

sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos

formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt

flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo

vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p

104-108)

Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]

a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p

111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)

A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na

fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre

a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba

seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os

principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista

Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte

influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt

(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como

exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo

(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas

delimitaccedilotildees Ele desconsiderou

as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo

pronunciadas como um hiato

38

as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a

maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem

palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa

a fronteira vocabular

palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e

ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos

O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta

por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em

Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum

havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que

faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria

conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a

escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica

(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada

uma das trecircs capitais pesquisadas

Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o

na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a

seguir

Homorganicidade19

das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a

elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex

ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex

ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a

vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex

ldquoconduccedilatildeordquo)

A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave

pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex

ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica

analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata

Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a

elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)

do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)

19

Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

39

Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o

favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o

processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)

Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e

desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex

ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o

favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e

desfavoreceu o processo a pausa

Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex

ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo

o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a

elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o

processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes

Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para

a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees

verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os

seguintes

Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e

para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os

informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo

aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de

o do que os entrevistados mais jovens

Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de

elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau

Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de

harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto

Alegre)

Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas

Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal

condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na

siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as

variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por

40

exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas

vogais meacutedias pesquisadas

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de

Ouro Branco

Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-

MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio

mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da

Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e

testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo

aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e

feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)

Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a

pesquisa

As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico

vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a

vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe

morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da

palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical

Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees

para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as

vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao

abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o

processo de nosso maior interesse

Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto

de Piranga-MG foram

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1

Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba

41

Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe

Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais

Gecircnero masculino

Faixa etaacuteria jovem

Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes

variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica pronome adjetivo

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais

Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas

Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o

abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica adjetivo

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Gecircnero feminino

Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as

seguintes variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas

42

Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel

extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila

qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa

uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o

de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de

uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba

pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica

Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo

individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente

de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima

de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade

(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas

o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal

Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que

participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679

referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012

corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20

ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram

obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173

ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb

2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia

do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros

apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o

nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo

Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006

selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis

43

Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram

os verbos (ex ldquochegavardquo)

Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou

valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica

baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a

vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo

Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu

a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)

Contexto precedente20

- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes

(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)

Contexto seguinte21

- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex

ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)

Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex

ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)

Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e

por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal

tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente

contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto

precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto

seguinte e classe da palavra

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o

abaixamento de e foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum

abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos

uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na

siacutelaba pretocircnica

Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados

pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas

20

Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as

consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por

consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21

A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana

(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e

semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais

44

Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as

anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)

Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)

Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais

(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente

Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)

desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex

ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes

oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes

(ex ldquocomigordquo)

Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)

Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os

verbos (ex ldquoconversarrdquo)

Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do

abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica

contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto

seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2

Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico

para o abaixamento de o foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento

de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma

ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os

homens

Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com

45

mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba

Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que

no informal

As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb

2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da

vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento

quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois

houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e

em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo

Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias

pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como

jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das

vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a

realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana

(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo

se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal

235 As pretocircnicas no falar teresinense

O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais

meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou

com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero

(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50

anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino

Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas

Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas

eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de

Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como

vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo

poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse

46

Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o

comportamento das vogais meacutedias foram

Contiguidade

Homorganicidade

Tonicidade

Paradigma

Distacircncia da tocircnica

Derivada de tocircnica

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa

etaacuteria e escolaridade

As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219

ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve

2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na

seguinte ordem

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Paradigma

Contexto fonoloacutegico seguinte

Faixa etaacuteria

Escolaridade

Homorganicidade

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou

sete variaacuteveis

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Paradigma

Escolaridade

Faixa etaacuteria

Gecircnero

47

Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram

que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais

tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o

foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as

velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva

(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)

as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o

abaixamento de o

Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto

para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o

que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na

posiccedilatildeo pretocircnica

Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex

ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das

velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o

processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel

homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel

selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu

nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal

Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada

para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas

pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos

ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito

aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os

fatores analisados

Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos

do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e

[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e

Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa

etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse

cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as

vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao

passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram

48

uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p

138)

Com base nesses resultados a autora concluiu que

[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a

escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de

mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os

mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema

(SILVA 2009 p 139)

A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres

embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os

homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um

papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos

em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos

Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente

relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar

de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias

pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que

nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas

pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do

processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica

236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)

Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se

preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e

Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o

primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes

vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves

palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo

pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG

49

Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo

ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo

De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma

pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e

pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes

sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs

falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)

questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas

consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver

este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees

A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e

expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w

seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA

2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para

liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas

Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca

entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem

dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo

Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]

consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados

reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a

fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)

Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema

apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um

conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema

computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional

Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter

um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo

aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]

(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u

o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)

Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo

aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias

altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer

50

foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status

fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de

entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do

exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo

Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e

que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou

c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas

foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem

que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e

que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto

(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)

Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos

fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os

fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a

essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um

modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual

desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo

Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma

teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais

meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte

24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos

Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma

perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas

o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos

um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o

modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto

recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia

Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo

independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo

51

Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva

(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22

que o representa a Teoria

Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa

Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em

que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa

restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um

segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o

segmento tambeacutem mudaraacute

Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee

o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a

representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir

t d

- soante - soante

- contiacutenuo - contiacutenuo

coronal coronal

+ anterior + anterior

- sonoro + sonoro

Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)

Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre

alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a

[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda

que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d

visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro

A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia

Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas

consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um

segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento

de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo

22

Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter

acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-

ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo

52

O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma

hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em

camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente

Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume

(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando

Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo

traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e

relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees

fonoloacutegicasrdquo23

Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia

existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto

manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)

Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados

por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais

representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo

pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14

Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)

23

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists

have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological

representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)

53

Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como

unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam

grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que

os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os

traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas

de associaccedilatildeo

Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos

assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24

Desse modo os

autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas

um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14

um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem

parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo

fazerem parte de um mesmo constituinte

A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de

consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)

24

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995

p 250)

54

Consoantes Vogais

Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais

Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)

Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel

representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita

acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura

15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as

especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a

representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que

consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe

apenas na representaccedilatildeo das vogais

55

Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal

Fonte MATZENAUER (2005 p 51)

O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]

[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em

grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade

desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de

cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode

espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que

estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para

indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os

segmentos nasais e [- nasal] para os orais

56

Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de

consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas

pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum

Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em

anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as

diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a

vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais

ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as

vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios

O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as

semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea

vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como

pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de

ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao

noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal

Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de

abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e

quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para

caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo

Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo

representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a

seguir

Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs

Fonte WETZELS (1991 p 31)

A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro

alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais

57

meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as

vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo

caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do

que as outras duas vogais meacutedias

Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i

u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura

negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais

fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui

todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2

deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico

do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema

vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos

desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No

Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa

58

3 METODOLOGIA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da

Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo

da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte

foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos

dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa

estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das

definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista

Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem

conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos

estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o

estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave

formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras

variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo

Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e

extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo

Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas

de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem

nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de

estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25

desde o surgimento da Teoria Um

desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos

ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos

Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em

duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da

populaccedilatildeo permanente

Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se

dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa

que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia

25

Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs

59

portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-

canadenses irlandeses alematildees poloneses

Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e

aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)

tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as

diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A

investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da

populaccedilatildeo que foram assim divididos

Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa

Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na

construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14

estudantes

Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9

descendentes de iacutendios

As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov

(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos

Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a

centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os

pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de

ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de

indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw

Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram

pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar

registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo

dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha

Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em

Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em

novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a

ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era

estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus

da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV

2008 p 64)

Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque

quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S

60

Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein

Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos

Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o

valor do r

ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo

ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo

ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo

Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram

mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a

atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo

de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos

onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes

de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os

primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia

diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram

menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da

ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares

De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo

estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks

pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status

superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de

prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel

linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo

Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma

comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito

no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita

que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser

considerado

Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores

sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os

chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa

teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a

sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a

Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas

61

Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir

quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem

ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel

dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica

Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de

fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as

variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a

idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de

textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo

assunto ou de tema semelhante

Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre

sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas

podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse

modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008

p 21) explica que

[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica

sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou

dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila

social imanente agindo no presente vivo

Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos

da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas

fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios

linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa

porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma

extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee

dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador

Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o

segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas

usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)

foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo

62

observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural

possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em

grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que

estatildeo sendo observados

Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que

Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No

estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas

que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou

simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele

momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para

natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de

departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor

(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da

loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem

O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a

obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo

mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da

investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas

de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar

ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar

que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de

fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)

Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor

empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute

quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer

pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na

Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir

uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis

riscos que ele pode correr ao participar do estudo

Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar

narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que

fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida

porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e

63

assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da

entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou

Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem

sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida

Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se

lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema

que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos

e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade

acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos

gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um

informante nem sempre levaraacute outro a falar

Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute

fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso

deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta

Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute

ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal

forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade

Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um

roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode

abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia

tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como

percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi

usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante

Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para

saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual

gostaria de falar

A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi

realizado

64

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG

O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26

era habitado inicialmente por iacutendios das tribos

ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado

comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a

cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de

diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos

garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave

excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte

Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde

hoje fica o bairro Tamboril

Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa

fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos

moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem

era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas

casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo

Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa

Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma

cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no

litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa

ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga

Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo

foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo

e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade

Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os

habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na

cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de

Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees

de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de

Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia

Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo

26

As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na

paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet

httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013

65

A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto

positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da

Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como

transporte lazer e mais oportunidades de emprego

A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos

ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na

produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari

Uberaba e Patrociacutenio27

Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG

Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-

carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013

De acordo com dados28

do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em

2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772

habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade

carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de

27

As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site

da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28

Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013

66

Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia

Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com

relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte

Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)

Acessado em 10 nov 2013

Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-

mghtml Acessado em 10 nov 2013

Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi

realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como

foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo

67

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra

Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o

Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de

Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia

Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da

comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o

GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta

com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo

Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste

nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram

selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau

de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois

informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que

analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de

dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes

seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado

A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte

forma

68

Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade

Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para

essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios

a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade

b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos

c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo

Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar

os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas

feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa

ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela

pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129

e fazem parte do banco de dados do

29

Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam

para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011

69

GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um

gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita

conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para

facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas

Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador

estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus

possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda

a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa

conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo

inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e

selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado

explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do

informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento

Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir

do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso

proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do

entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro

tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira

de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as

entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de

perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como

relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se

sentisse mais agrave vontade e disposto a falar

Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns

casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com

exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso

uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder

o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais

como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria

natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov

(2008) e Tarallo (1994)

De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las

ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o

entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a

70

gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa

seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias

altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e

seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30

feita com um informante do sexo

masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de

estudo

E Boa noiti

I Boa noiti

E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu

I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui

gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um

ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo

assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo

mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi

adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im

Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u

ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada

muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu

moraacute aqui

[]

E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji

I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a

genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi

sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num

consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru

anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns

mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu

Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di

caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt

perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute

30

Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas

com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica

realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]

palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada

71

discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji

neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute

presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz

tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas

coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu

neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois

noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim

eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a

crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais

perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram

us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi

ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute

(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)

Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados

com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler

os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31

definida para a pesquisa e

para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32

pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos

Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do

informante 23

31

A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32

Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na

paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo

72

(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti

Em que

2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

k = consoante (contexto precedente)

f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

k = consoante (contexto seguinte)

t = tepe (modo do contexto seguinte)

e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)

m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)

q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)

n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)

0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)

1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)

v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)

a = adjetivo (item lexical)

w = informante 23

m = sexo masculino

a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)

s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)

Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do

GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte

34 O Programa Estatiacutestico

Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de

anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras

variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das

versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse

tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores

contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores

condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente

73

para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade

dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)

O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica

A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute

uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter

em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode

ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador

elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido

definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na

seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos

a seguinte codificaccedilatildeo

(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute

Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute

feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado

o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e

em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados

para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador

pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise

Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees

(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos

grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to

memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta

a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da

anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em

nocaute33

ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo

aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo

haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34

Para esse procedimento

ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes

nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos

os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)

33

Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34

A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico

74

Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo

arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram

retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem

nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a

rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda

o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada

stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada

stepping down (em Best stepping down run)

A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados

da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes

aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer

em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores

no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na

ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor

e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem

desfavorece o fenocircmeno em estudo

Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa

estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb

X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que

for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os

procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por

exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas

separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador

faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados

encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis

Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram

selecionadas para este estudo

351 Variaacutevel dependente

A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o

abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia

75

do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel

dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma

[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega

[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega

352 Variaacuteveis independentes

As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a

variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para

esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo

dos dados

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia

que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A

seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para

o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG

35211 Contexto precedente

Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria

relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar

se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35

uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa

(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais

meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o

segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que

precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel

35

Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores

aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias

ocorreu exatamente com essas palavras

76

tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a

variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram

divididos em

nasal ([m]elhor [n]ovela)

oclusiva ([p]eroba [b]olada)

fricativa ([v]estibular [f]ormado)

liacutequidas ([l]egal [x]odada)

pausa (elenco olhar)

tepe (escu[ɾ]ecer)

vogal36

baixa ([a])37

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (v[i]olecircncia)

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos

velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)

alveolar ([d]efende [t]omada)

labial ([p]eroba [b]olada)

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)

pausa (evangeacutelica operou)

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)

vogal baixa ([a])

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (pr[i]oridade)

36

Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para

Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto

de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37

Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que

natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos

77

35214 Contexto seguinte

Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva

(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada

tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes

carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel

pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l

re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto

de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica

quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou

que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais

nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves

vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em

nasal (ave[n]ida mo[m]ento)

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)

fricativos (pre[f]iro le[v]ado)

liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)

alveolar (de[z]esseis go[s]tar)

labial (rece[b]er co[m]eccedila)

78

palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)

labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS

2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para

a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o

abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou

refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica

influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as

vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura

altas i u (acred[i]to prod[u]to)

meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)

meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)

baixa a (deleg[a]do)

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba

tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados

obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo

oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em

frontais38

ɛ e i

central a

38

A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao

gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua

teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem

nenhuma obstruccedilatildeo

79

posteriores ɔ o u

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de

Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na

posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]

no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas

orais (proc[ɛ]sso)

nasais (oraccedil[ɐ ]o)

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado

encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima

da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de

o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos

permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica

favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte

Carmelo-MG

Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este

estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica

analisada

distacircncia zero (remeacutedio costura)

distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)

distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as

palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao

abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por

acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de

o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior

80

para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de

siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra

distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)

distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)

distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica

Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram

mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por

meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das

vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo

as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como

leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)

pesadas VC (hospital) CVC (gostar)

352113 Item lexical

Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens

lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos

como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais

meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave

variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas

analisadas nas seguintes categorias lexicais

substantivo (pessoa local)

verbo (levar prometer)

adjetivo (diferente invocado)

pronome (vocecirc comigo)

numeral (sessenta dezesseis)

adveacuterbio (depois)

conjunccedilatildeo (entretanto portanto)

81

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas

De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta

fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou

trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos

parte do modo como se segue

Sexo

Masculino

Feminino

Faixa etaacuteria

Entre 15 e 25 anos de idade

Entre 26 e 49 anos de idade

Com mais de 49 anos de idade

Escolaridade

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)

Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)

Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este

estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento

das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para

fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo

82

4 ANAacuteLISE DOS DADOS

Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos

relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e

extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi

relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros

estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de

Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto

carmelitano

Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3

todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja

para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em

seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois

realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o

Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte

Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a

vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora

a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a

vogal meacutedia frontal e

Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais

meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o

aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente

no dialeto de Monte Carmelo-MG

Aplicaccedilatildeo

(abaixamento)

Natildeo aplicaccedilatildeo

(manutenccedilatildeo)

Total de

ocorrecircncias

Total de

aplicaccedilatildeo

Vogal e

635 4016 4651 137

Vogal o

402 1910 2312 174

TOTAL

1037 5926 6963

83

Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos

muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e

como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o

abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados

referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e

Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na

ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas a saber

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

6 Tipo de siacutelaba pretocircnica

7 Item lexical

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Contexto seguinte

4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

84

Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela

correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e

pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que

foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input40

0071 Significacircncia41

0000

A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto

precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de

articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na

tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068

favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi

obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro

Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o

abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados

Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o

fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora

Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano

a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense

ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo

39

O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40

O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada

nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41

O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes

etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis

satildeo os dados

[ɛ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (Jesus39

) 1651118 148 041

oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045

pausa (eterna) 29341 85 041

nasal (melhor) 72498 145 051

liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068

TOTAL 6354651 137

85

a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute

comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo

acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da

vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes

fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto

precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o

abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o

modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia

frontal

Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados

para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras

do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase

21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados

com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as

nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-

MG

Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de

066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de

[ɛ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

tepe (diferente) 106547 194 066

fricativa (resposta) 1571907 82 036

oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058

liacutequidas (inteligente) 195973 200 061

nasal (enorme) 34163 209 067

africadas (coletivo) 10169 59 026

TOTAL 6354651 137

86

e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o

dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes

liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro

Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum

fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das

consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior

representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve

um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias

Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de

e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como

estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer

Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica

exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros

expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior

motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas

tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288

ocorrecircncias

Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008

SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a

harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de

[ɛ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043

vogal alta (equipe) 77818 94 047

vogal baixa (elevado) 3021647 183 055

vogal meacutedia baixa

(dezenove)

68288 236 067

TOTAL 6354651 137

87

Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba

tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados

Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar

como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste

caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado

pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta

dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos

De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se

das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto

3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta

tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a

tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica

Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando

a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa

posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a

conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano

Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias

baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs

Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso

relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo

agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais

fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e

[ɛ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076

vogal oral (errado) 3433471 99 040

TOTAL 6354651 137

88

Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana

(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas

orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias

(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro

Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores

responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]

Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram

em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior

seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator

distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso

relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a

porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)

Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor

da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal

meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em

Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)

[ɛ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056

Distacircncia de uma siacutelaba

(relaccedilatildeo)

1261051 120 042

Distacircncia de duas siacutelabas

(executivo)

31378 82 023

TOTAL 6354651 137

89

Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias

(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-

MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a

variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643

ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram

sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas

desfavorecedoras do abaixamento de e

Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade

muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada

esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV

o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas

Tabela 7 - Item lexical

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas

(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)

foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no

[ɛ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047

siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063

TOTAL 6354651 137

[ɛ]

Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

adjetivos (legal) 133759 175 059

substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048

verbos (levar) 1941557 125 050

adveacuterbios (depois) 6158 38 021

TOTAL 6354651 137

90

dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os

substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o

peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze

por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica

Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram

considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500

ocorrecircncias

Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a

variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de

e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal

meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso

relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero

de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da

vogal meacutedia frontal

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento

de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no

comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento

de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as

mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem

disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado

com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres

Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para

[ɛ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 2112241 94 038

Masculino 4242410 176 060

TOTAL 6354651 137

91

essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a

vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO

que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino

realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto

apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte

Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de

e em Piranga-MG

Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a

anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais

do que os homens42

e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a

norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais

conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica

Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela

classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados

encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o

autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o

processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de

substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra

por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0071 Significacircncia 0000

42

Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet

httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-

ibgehtml Acessado em 12 nov 2013

[ɛ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028

Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047

Com mais de 49 anos de

idade

3771398 270 077

TOTAL 6354651 137

92

A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa

etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que

tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de

ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade

foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a

vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os

informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria

tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas

mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto

carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos

de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo

sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os

informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a

faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba

pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa

etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada

como favorecedora dos processos estudados por esses autores

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o

grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria

relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X

selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente

significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

[ɛ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065

Com mais de 11 anos de

estudo

2652625 101 038

TOTAL 6354651 137

93

De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11

anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte

Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de

ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia

[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram

ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale

a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior

escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em

posiccedilatildeo pretocircnica

O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido

por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo

tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade

no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em

posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau

Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com

ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos

foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e

sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo

GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis

relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais

inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais

meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba

pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo

abaixamento de e

Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os

resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia

posterior

94

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o

Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como

estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo

sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

7 Tipo de siacutelaba pretocircnica

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem

excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Contexto seguinte

3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

6 Item lexical

A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o

haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o

abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados

que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

95

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal

pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como

aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras

ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias

o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o

tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as

nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese

de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa

de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute

m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43

Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela

vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes

tiveram

Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem

inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com

a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do

abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua

anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator

favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo

43

Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa

[ɔ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

nasal (morar) 66260 254 068

oclusiva (pastoral) 151922 164 051

liacutequidas (processo) 78579 135 046

fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031

pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057

TOTAL 4022312 174

96

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento

precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros

da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes

apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por

terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas

favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos

dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto

precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em

Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi

selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados

Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto

carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as

principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas

consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem

aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu

As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais

baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em

[ɔ]

Contexto precedente

(ponto)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040

palatal (melhorar) 1264 188 063

alveolar (professor) 116759 153 053

velar (coluna) 93548 170 042

labiodental (formar) 22119 185 060

pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051

poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082

TOTAL 4022312 174

97

estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante

de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta

na siacutelaba pretocircnica

Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave

vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido

selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos

demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores

analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com

peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o

Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as

consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica

nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG

[ɔ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (movimento) 109643 170 050

tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057

nasal (momento) 23223 103 031

liacutequidas (morrer) 98545 180 052

oclusiva (poderia) 93600 155 050

TOTAL 4022312 174

98

Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como

verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que

essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse

processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior

De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de

o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas

tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso

relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por

Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG

respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por

Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o

abaixamento da vogal meacutedia posterior

Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a

vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da

siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de

harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia

baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo

estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver

como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de

e quanto para a de o

[ɔ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030

vogal alta (corrupto) 47353 133 055

vogal baixa (formar) 2321115 208 055

vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084

TOTAL 4022312 174

99

Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a

vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez

que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras

do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais

Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo

esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda

mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em

posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que

natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na

liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave

qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais

expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o

No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ

ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do

abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem

pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo

[ɔ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070

vogal oral (colega) 2691759 153 043

TOTAL 4022312 174

100

Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses

sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto

mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento

de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)

quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias

de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse

percentual

Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-

MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi

selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015

Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

[ɔ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057

Distacircncia de uma siacutelaba

(choradeira)

116797 146 048

Distacircncia de duas siacutelabas

(horrorizada)

6180 33 015

Distacircncia de mais de duas

siacutelabas (oportunidade)

557 88 029

TOTAL 4022312 174

[ɔ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046

siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063

TOTAL 4022312 174

101

A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para

a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a

variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior

de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve

tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para

e

Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos

jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente

do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)

concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as

siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana

(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica

analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo

houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel

mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal

meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de

ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados

o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal

meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o

que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do

abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG

[ɔ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 1581179 134 041

Masculino 2441133 215 059

TOTAL 4022312 174

102

Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e

Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras

Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias

(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e

confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes

com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo

pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em

742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo

da regra

Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG

essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou

que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro

Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela

autora

Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram

apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os

informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes

entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao

dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os

[ɔ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029

Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040

Com mais de 49 anos de

idade

262742 353 079

TOTAL 4022312 174

103

informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior

frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na

tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese

que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem

apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de

estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo

pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro

Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de

dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos

dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo

programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva

(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes

com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior

tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin

(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da

vogal meacutedia posterior

Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os

resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis

referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados

[ɔ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065

Com mais de 11 anos de

estudo

1611316 122 038

TOTAL 4022312 174

104

surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise

de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram

a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia

vocaacutelica

Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo

seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da

Geometria de Traccedilos

105

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS

Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma

breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser

realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte

Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a

variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este

parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado

Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de

Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra

por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento

manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em

outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns

nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes

especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22

A B ou B A

F F

Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)

Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um

segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as

mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define

como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma

que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados

independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da

vogal alta44

seguinterdquo como podemos ver na Figura 23

44

Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila

de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito

106

Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica

Fonte BISOL (2009 p 79)

Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de

abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na

posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)

a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em

conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e

preenchimentordquo

Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo

que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute

vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal

meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que

desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma

vogal meacutedia baixa tocircnica

A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de

traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal

tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor

que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor

107

Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica

pela vogal e pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a

Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo

sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme

vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo

classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto

3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute

Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo

classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por

serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao

contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos

108

positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra

vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais

meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ

satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem

mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]

Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+

aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal

e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o

desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol

(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica

Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que

conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de

[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG

Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o

principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo

de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura

25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada

como n[ɔ]vela

109

Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica

pela vogal o pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que

ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila

apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal

meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+

aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante

ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal

pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas

o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o

noacute do que de um uacutenico traccedilo

110

Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir

duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de

Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na

realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba

Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-

aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]

da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e

[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta

e ɛ ɔ [ɛ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica

Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ

ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como

resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o

traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal

meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

111

o ɛ ɔ [ɔ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela

representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no

dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia

vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica

mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

112

6 CONCLUSAtildeO

As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse

estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos

no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo

635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash

137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que

aventamos no iniacutecio dessa pesquisa

Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que

de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido

superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total

de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento do que a vogal e

Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba

pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com

base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do

Brasil

Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com

relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o

sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a

e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]

respectivamente

Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo

fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila

de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na

siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias

pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel

Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a

pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na

siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG

esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas

as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de

113

erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia

baixa

Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis

para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas

pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para

ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]

e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais

orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o

Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que

trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator

distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a

siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia

posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da

vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do

abaixamento

Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram

selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como

favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica

Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os

informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do

sexo feminino

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes

com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo

pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e

para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria

relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi

selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos

de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os

informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais

114

significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores

da regra na anaacutelise dessa variaacutevel

Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem

houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada

por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as

vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o

abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo

pretocircnica

Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados

para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram

considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de

articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as

palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto

precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas

favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal

Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na

variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os

adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica

os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal

Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes

linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que

favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o

Variaacuteveis

analisadas

Abaixamento da vogal

pretocircnica e

Abaixamento da vogal

pretocircnica o

Contexto precedente

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes liacutequidas

Desfavorecem a pausa e as

consoantes fricativas

Favorecem consoantes nasais e a

pausa

Desfavorecem consoantes

fricativas

Contexto precedente

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Favorecem consoantes poacutes-

alveolares palatais e labiodentais

Desfavorecem consoantes velares

e labiais

115

Contexto seguinte

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes nasais

liacutequidas e o tepe

Desfavorecem consoantes

africadas e fricativas

Favorecem o tepe e as consoantes

liacutequidas

Desfavorecem as consoantes

nasais

Contexto seguinte

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Altura da vogal da

siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais meacutedias

baixas tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias

altas tocircnicas

Favorecem vogais meacutedias baixas

tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias altas

tocircnicas

Qualidade da vogal

da siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais nasais

tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Favorecem vogais nasais tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas

siacutelabas

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas ou

de mais de duas siacutelabas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo ao iniacutecio da

palavra

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Tipo de siacutelaba

pretocircnica

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Item lexical

Favorecem adjetivos

Desfavorecem adveacuterbios

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Sexo Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Faixa etaacuteria Favorecem informantes com

mais de 49 anos de idade

Favorecem informantes com mais

de 49 anos de idade

116

Desfavorecem informantes

entre 15 e 25 anos de idade

Desfavorecem informantes entre

15 e 25 anos de idade

Escolaridade Favorecem informantes entre 0

e 11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Favorecem informantes entre 0 e

11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e

de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo

da regra

E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que

estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria

linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros

pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-

fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

117

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TEYSSIER P Histoacuteria da Liacutengua Portuguesa 3 ed Traduccedilatildeo de Celso Cunha Satildeo Paulo

Martins Fontes 2007

VIANA V F As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 2008 146 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais

Belo Horizonte 2008

VIEGAS M C Alccedilamento de vogais meacutedias pretocircnicas uma abordagem sociolinguiacutestica

1987 231 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica) ndash Faculdade de Letras Universidade

Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 1987

WETZELS L Harmonia vocaacutelica truncamento abaixamento e neutralizaccedilatildeo no sistema

verbal do portuguecircs uma anaacutelise autossegmental Cadernos de Estudos Linguiacutesticos

Campinas n 21 p 25-58 juldez1991

120

ANEXOS

121

ANEXO 1

ROTEIRO DE PERGUNTAS

A) Origem e habitaccedilatildeo

1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui

2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje

3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais

4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece

5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a

educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio

8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor

9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo

B) Infacircncia

1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade

2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia

3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava

4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc

5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc

nunca esqueceu

6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia

7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje

8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por

quecirc

C) Escola

1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio

2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que

esse professor fez que deixou marcas

3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava

4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que

122

5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de

amizade que vocecirc nunca esqueceu

5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo

6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola

7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc

8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc

9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje

10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco

disso

D) Atividades profissionais

1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc

2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo

3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual

4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc

5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)

6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro

7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse

momento

8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia

9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc

10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho

E) Lazer

1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas

2 Como as pessoas costumam se divertir aqui

3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc

4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual

5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes

6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo

e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este

lugar e por que levaria esta pessoa

7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por

quecirc

123

8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa

9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time

10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual

11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc

12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc

13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha

14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum

F) Relacionamentos

1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram

2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram

3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo

4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)

5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc

6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil

7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc

8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo

9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito

preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra

gays preconceito religioso etc)

10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes

11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como

e onde vocecircs se conheceram

12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc

G) Perigo de vida

1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como

vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo

2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como

foi isso

3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc

4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi

5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria

124

H) Religiatildeo

1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo

2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo

3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja

4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc

5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre

6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo

I) Sobrenatural

1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi

isso

2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc

3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma

maneira Como vocecirc explica isso

4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com

algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi

5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O

que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso

6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda

7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau

8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc

9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso

10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET

J) Aspiraccedilotildees

1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria

2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade

3 Qual eacute o maior sonho de sua vida

4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a

trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada

5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que

vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo

125

ANEXO 2

COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS

VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o

VARIANTES [ɛ] e [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1

Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2

Para a realizaccedilatildeo de o colega 3

Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4

VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES

VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS

1 CONTEXTO PRECEDENTE

consoante ([m]enor es[k]olaridade) k

vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v

pausa (elenco olhar) p

2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)

nasal ([m]elhor [n]ovela) n

oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o

fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f

liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l

pausa (elenco olhar) p

tepe (escu[ɾ]ecer) t

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (v[i]olecircncia) h

3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)

velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r

126

alveolar ([d]efende [t]omada) e

labiais ([p]eroba [b]olada) b

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d

pausa (evangeacutelica operou) p

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (pr[i]oridade) h

4 CONTEXTO SEGUINTE

consoante (re[s]posta pro[m]essa) k

vogal (re[a]lizar re[e]leito) v

5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)

nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o

fricativos (re[v]er atro[f]iado) f

liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r

alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e

labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b

palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d

labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j

127

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a

meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m

meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y

baixa a (deleg[a]do) b

8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

frontais ɛ e i q

central a c

posteriores ɔ o u p

9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

oral (proc[ɛ]sso) o

nasal (oraccedil[ɐ ]o) n

10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA

TOcircNICA

Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3

11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA

PALAVRA

Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3

128

12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA

leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v

pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c

13 ITEM LEXICAL

substantivo (pessoa local) s

verbo (levar prometer) v

adjetivo (diferente invocado) a

pronome (vocecirc comigo) p

numeral (sessenta dezesseis) n

adveacuterbio (depois) b

conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j

VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS

1 SEXO

Masculino m

Feminino f

2 IDADE

Entre 15 e 25 anos de idade j

Entre 26 e 49 anos de idade a

Com mais de 49 anos de idade e

3 ESCOLARIDADE

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p

Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter colocado pessoas tatildeo maravilhosas no meu caminho e oportunidades

tatildeo valiosas em minhas matildeos

Aos meus pais Marcus e Lindeia por serem a base da minha vida pela compreensatildeo

pelo apoio e por terem me ensinado desde crianccedila a importacircncia da educaccedilatildeo e que o

conhecimento eacute o maior legado que algueacutem pode ter na vida

Ao meu irmatildeo Juacutenior pelo carinho pela ajuda constante por ser tambeacutem um amigo e

um exemplo na minha vida

Ao Professor Joseacute Sueli de Magalhatildees pela brilhante orientaccedilatildeo feita sempre com

muita dedicaccedilatildeo e paciecircncia desde a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica por ser um exemplo de profissional

e ser humano pela confianccedila que depositou em mim desde a graduaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Maura Alves (UFU) e Drordf Talita Marine (UFU) pelas importantes

contribuiccedilotildees feitas quando da minha qualificaccedilatildeo

Agraves professoras Drordf Marluacutecia Alves (UFU) e Drordf Elisa Battisti (UFRGS) por terem

aceitado participar da banca de defesa e pelos comentaacuterios e sugestotildees pertinentes que

fizeram

Ao teacutecnico-administrativo da UFU Joseacute Beniacutecio que colaborou imensamente na parte

teacutecnica das gravaccedilotildees com saacutebios conselhos que serviram para melhorar a qualidade do aacuteudio

das entrevistas

Agrave Coordenaccedilatildeo do Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Estudos Linguiacutesticos especialmente

agraves secretaacuterias Tainah e Maria Joseacute pelos atendimentos atenciosos e pela paciecircncia que sempre

tiveram conosco

Aos professores do Curso de Mestrado em Estudos Linguiacutesticos pelos conhecimentos

compartilhados e pelas aulas enriquecedoras

Aos meus informantes sem os quais esse estudo natildeo seria possiacutevel pela enorme

colaboraccedilatildeo paciecircncia e carinho com que me receberam

Agrave minha irmatilde de coraccedilatildeo Amanda Veras por sua amizade desde a graduaccedilatildeo e por

estar sempre comigo nos momentos decisivos incentivando-me

Agrave amiga Maria Ameacutelia pela companhia durante as viagens que fizemos a Monte

Carmelo-MG pelo carinho pela atenccedilatildeo e sobretudo pela amizade

Agrave minha prima Camila por acompanhar-me durante algumas viagens em busca de

informantes

Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas

oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado

Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo

nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo

Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o

GoldVarb X quando precisei

Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne

Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos

compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro

A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa

E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo

ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode

descobrir sobre elardquo

Labov (2008 p 236)

RESUMO

O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e

e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio

para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos

preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as

entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados

confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas

estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este

estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49

anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com

mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de

articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da

siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba

tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item

lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos

todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na

posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas

no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba

pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento

das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da

assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da

siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra

preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da

Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o

processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento

por um segmento vizinho

PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo

ABSTRACT

The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid

vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio

and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of

Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews

as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte

Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic

variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old

between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11

years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of

articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of

articulation of the following context point of articulation of the following context vowel

height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel

quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable

distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-

stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we

selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels

e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs

GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of

e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the

realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the

lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process

of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This

feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent

from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on

phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)

which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of

features of a segment by a next segment

KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16

FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24

FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25

FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25

FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27

FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27

FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28

FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs

Brasileiro 30

FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31

FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31

FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32

FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33

FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes

de traccedilos 51

FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52

FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54

FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55

FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56

FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65

FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66

FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas

Gerais 66

FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e

grau de escolaridade 68

FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105

FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106

FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107

FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109

FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica 110

FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba

pretocircnica 111

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para

o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que

favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim

imperial 23

TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23

TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e

para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82

Anaacutelise da vogal pretocircnica e

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85

TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86

TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87

TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 88

TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89

TABELA 7 - Item lexical 89

TABELA 8 - Sexo 90

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91

TABELA 10 - Escolaridade 92

Anaacutelise da vogal pretocircnica o

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96

TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97

TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98

TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99

TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 100

TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100

TABELA 8 - Sexo 101

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102

TABELA 10 - Escolaridade 103

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao

Portuguecircs do Brasil 22

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise

variacionista 37

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de

Piranga e de Ouro Branco 40

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 42

235 As pretocircnicas no falar teresinense 45

236 A proposta de Lee e Oliveira 48

24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50

3 METODOLOGIA 58

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68

34 O Programa Estatiacutestico 72

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74

351 Variaacutevel dependente 74

352 Variaacuteveis independentes 75

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75

35211 Contexto precedente 75

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76

35214 Contexto seguinte 77

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80

352113 Item lexical 80

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81

4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA

DE TRACcedilOS 105

6 CONCLUSAtildeO 112

7 REFEREcircNCIAS 117

ANEXOS 120

ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121

ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel

das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse

processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de

[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que

representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro

Altas i u

Meacutedias altas e o

Meacutedias baixas ɛ ɔ

Baixa a

Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)

Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo

podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada

respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos

o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e

de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de

o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na

fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos

No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao

municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com

1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute

internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave

transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso

estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob

financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica

PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura

de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao

alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito

17

mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves

vogais meacutedias pretocircnicas

A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma

pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto

carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde

pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas

Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na

economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo

ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda

mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos

trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG

Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de

se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro

decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno

entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas

O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas

com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com

25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com

26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa

que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria

e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias

e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades

diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo

sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino

As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo

pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo

abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos

catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do

contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto

precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica

6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos

englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa

estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas

18

distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade

de siacutelabas da palavra e classe da palavra

Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo

pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes

rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis

significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o

programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do

contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na

siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as

vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o

abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na

siacutelaba pretocircnica do que a mulher)

Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze

foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no

GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs

variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De

acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram

o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]

enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel

extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais

frequecircncia do que a mulher)

Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o

abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes

carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo

sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro

Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro

ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma

pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com

o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O

7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar

19

projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um

projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve

pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional

O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos

especiacuteficos

Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais e e o

Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em

Monte Carmelo-MG

Portanto essa pesquisa se justifica por

Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo

construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo

Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala

dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio

que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico

Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo

Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras

que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que

buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa

Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo

pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos

O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de

o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa

([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este

Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG)

20

Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo

diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto

que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos

O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica

analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para

ambas as vogais

Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica

estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer

A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais

meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais

realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher

Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais

abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de

idade)

O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento

Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo

Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos

palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e

ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme

jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE

MORAES 2002)

palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e

leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p

5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas

caracterizando hiatordquo

palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo

fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p

65)

palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)

mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os

sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas

21

por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho

v[e]rde rarr v[e]rdinho

Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)

esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt

1995 p 5)

Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir

No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do

abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as

hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo

No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na

primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro

desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico

pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em

todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na

quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para

representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados

O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco

seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos

preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao

municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o

detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo

deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb

X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as

variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo

A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que

discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5

representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a

variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas

O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados

para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como

alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de

perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e

seus respectivos fatores

22

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua

portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de

Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o

Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a

evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela

objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois

por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos

atualmente na nossa liacutengua

A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo

acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico

aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos

estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia

vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -

24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos

auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do

Brasil

Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em

portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje

Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o

latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o

galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de

Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de

Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-

portuguesa do Norte

O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais

divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada

timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas

transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de

23

vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre

resultantes dos variados graus de aberturardquo

Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como

consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na

Tabela 1 abaixo

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

ī i fīcum gt port figo

ĭ

sĭtim gt port sẹde

ē rēte gt port rẹde

ĕ ę tĕrra gt port tęrra

ă

a

lătus gt port lado

ā amātum gt port amado

ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta

ō ọ amōrem gt port amọr

ŭ bŭcca gt port bọca

ū u pūrum gt port puro

Fonte TEYSSIER (2007 p 9)

Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a

vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

aelig ę caecum gt port cęgo

œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais

no latim imperial

24

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 2 - As vogais do latim imperial

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval

pois

[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas

individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas

palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo

permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter

conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como

uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)

No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa

semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por

exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma

tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que

se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e

caldo em portuguecircs

Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos

muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o

caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar

nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais

abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007

p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees

ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra

[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo

O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e

nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs

25

acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os

seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e

natildeo entram mais em contato

Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros

textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo

com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-

portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu

a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o

Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere

agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte

Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees

graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)

Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e

ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo

(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica

que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e

muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a

(i)

e o

a

Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

26

Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um

fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e

partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas

essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o

sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o

Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa

substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso

do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs

pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo

Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas

grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou

como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a

melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como

[ọ] fechadordquo

Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos

vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute

que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer

esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de

falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo

fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas

formas prevaleccedila

Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da

siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u

Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos

antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha

chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo

Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-

nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ

desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica

27

i u

e o

a

Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 31)

Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs

tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o

eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo

(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias

onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir

O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo

com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua

literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego

serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p

48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como

exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais

ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute

nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo

A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que

aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-

portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 50)

28

Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as

contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a

e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em

hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em

oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o

sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo

tocircnica

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 51)

Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental

para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a

chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os

iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como

escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros

constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil

Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu

a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de

Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo

tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a

populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas

natildeo da forma como os europeus falavam

Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a

liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram

Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier

(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de

mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e

29

de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi

proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa

Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio

[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala

pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem

distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as

fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa

(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os

brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam

os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)

Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees

foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal

central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas

no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em

outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba

pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul

Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier

(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a

pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o

Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga

por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar

e istar para entrar e estar

Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor

argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela

pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo

da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um

ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais

niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma

30

Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final

i u i u i u

e o E O

ɛ ɔ

A9 a a

Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte TEYSSIER (2007 p 104)

Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo

discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10

afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais

latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para

a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao

contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o

espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos

variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com

exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas

vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u

Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar

de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da

posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se

apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em

portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11

pois aleacutem das cinco vogais jaacute

9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e

Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois

fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo

entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute

transcrita como bolU 10

Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi

publicada em 1970 11

Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone

31

mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as

vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos

visualizar na figura abaixo

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ

Baixa a

Anteriores Central Posteriores

Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)

De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as

vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo

meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais

altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute

a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo

das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando

ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006

p 41)

Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante

de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a

figura a seguir

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

[ɐ]

Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)

Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma

consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e

32

aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a

eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o

u) como vimos na Figura 10

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico

denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que

desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada

pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)

citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras

perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade

fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em

duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI

VIEIRA 2005 p 173)

Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas

pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior

para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que

se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute

caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]

Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com

relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a

realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes

do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as

realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza

pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E

como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG

33

realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa

regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente

Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como

podemos visualizar na Figura 12 a seguir

i u

a

Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da

palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute

condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais

altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica

que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona

final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas

trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem

seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-

mudo e pent[i] para pente

As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi

definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva

desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua

tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para

Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave

assimilaccedilatildeo12

das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente

seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como

em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal

tocircnica que impulsionar o processo

Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees

feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e

12

De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento

vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo

34

afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final

Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como

argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas

na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso

porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos

encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na

siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB

A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de

muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para

estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13

(1987) que

pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que

estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco

Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas

no dialeto de Teresina-PI

Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser

considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo

que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia

vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo

Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo

desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas

Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos

que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os

processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se

nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees

entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute

dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho

13

Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento

35

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel

Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias

pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento

que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil

tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a

harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O

corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos

trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees

portugueses e italianos

Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados

coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou

sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado

[o]perar ~ [u]perar14

Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou

S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como

afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem

situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15

Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce

influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro

~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16

A variaacutevel dependente do trabalho

da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em

vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p

38)

Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados

encontrados por Bisol (1981)

Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a

elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar

para comprar

Tonicidade

a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a

vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo

14

Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15

Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16

Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)

36

b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo

pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a

natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras

ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo

c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de

harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo

d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a

vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a

assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)

Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo

menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL

1981 p 41)

Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade

ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como

exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel

e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante

Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares

(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes

alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia

posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a

elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a

alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)

Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal

(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as

alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)

e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar

(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)

Variaacuteveis extralinguiacutesticas

- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17

foram os que mais aplicaram a

regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18

foram os que menos aplicaram

- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem

17

Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18

Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do

paiacutes vizinho o Uruguairdquo

37

- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre

(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)

- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores

condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas

permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada

agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~

custelardquo

Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de

sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos

formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt

flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo

vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p

104-108)

Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]

a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p

111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)

A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na

fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre

a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba

seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os

principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista

Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte

influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt

(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como

exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo

(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas

delimitaccedilotildees Ele desconsiderou

as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo

pronunciadas como um hiato

38

as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a

maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem

palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa

a fronteira vocabular

palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e

ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos

O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta

por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em

Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum

havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que

faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria

conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a

escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica

(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada

uma das trecircs capitais pesquisadas

Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o

na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a

seguir

Homorganicidade19

das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a

elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex

ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex

ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a

vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex

ldquoconduccedilatildeordquo)

A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave

pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex

ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica

analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata

Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a

elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)

do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)

19

Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

39

Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o

favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o

processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)

Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e

desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex

ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o

favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e

desfavoreceu o processo a pausa

Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex

ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo

o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a

elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o

processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes

Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para

a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees

verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os

seguintes

Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e

para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os

informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo

aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de

o do que os entrevistados mais jovens

Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de

elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau

Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de

harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto

Alegre)

Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas

Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal

condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na

siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as

variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por

40

exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas

vogais meacutedias pesquisadas

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de

Ouro Branco

Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-

MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio

mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da

Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e

testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo

aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e

feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)

Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a

pesquisa

As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico

vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a

vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe

morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da

palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical

Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees

para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as

vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao

abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o

processo de nosso maior interesse

Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto

de Piranga-MG foram

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1

Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba

41

Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe

Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais

Gecircnero masculino

Faixa etaacuteria jovem

Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes

variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica pronome adjetivo

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais

Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas

Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o

abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica adjetivo

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Gecircnero feminino

Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as

seguintes variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas

42

Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel

extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila

qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa

uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o

de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de

uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba

pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica

Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo

individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente

de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima

de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade

(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas

o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal

Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que

participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679

referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012

corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20

ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram

obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173

ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb

2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia

do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros

apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o

nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo

Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006

selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis

43

Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram

os verbos (ex ldquochegavardquo)

Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou

valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica

baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a

vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo

Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu

a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)

Contexto precedente20

- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes

(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)

Contexto seguinte21

- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex

ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)

Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex

ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)

Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e

por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal

tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente

contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto

precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto

seguinte e classe da palavra

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o

abaixamento de e foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum

abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos

uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na

siacutelaba pretocircnica

Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados

pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas

20

Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as

consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por

consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21

A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana

(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e

semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais

44

Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as

anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)

Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)

Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais

(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente

Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)

desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex

ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes

oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes

(ex ldquocomigordquo)

Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)

Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os

verbos (ex ldquoconversarrdquo)

Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do

abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica

contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto

seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2

Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico

para o abaixamento de o foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento

de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma

ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os

homens

Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com

45

mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba

Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que

no informal

As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb

2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da

vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento

quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois

houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e

em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo

Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias

pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como

jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das

vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a

realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana

(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo

se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal

235 As pretocircnicas no falar teresinense

O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais

meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou

com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero

(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50

anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino

Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas

Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas

eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de

Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como

vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo

poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse

46

Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o

comportamento das vogais meacutedias foram

Contiguidade

Homorganicidade

Tonicidade

Paradigma

Distacircncia da tocircnica

Derivada de tocircnica

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa

etaacuteria e escolaridade

As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219

ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve

2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na

seguinte ordem

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Paradigma

Contexto fonoloacutegico seguinte

Faixa etaacuteria

Escolaridade

Homorganicidade

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou

sete variaacuteveis

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Paradigma

Escolaridade

Faixa etaacuteria

Gecircnero

47

Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram

que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais

tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o

foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as

velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva

(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)

as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o

abaixamento de o

Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto

para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o

que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na

posiccedilatildeo pretocircnica

Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex

ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das

velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o

processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel

homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel

selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu

nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal

Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada

para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas

pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos

ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito

aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os

fatores analisados

Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos

do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e

[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e

Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa

etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse

cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as

vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao

passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram

48

uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p

138)

Com base nesses resultados a autora concluiu que

[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a

escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de

mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os

mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema

(SILVA 2009 p 139)

A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres

embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os

homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um

papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos

em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos

Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente

relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar

de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias

pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que

nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas

pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do

processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica

236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)

Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se

preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e

Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o

primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes

vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves

palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo

pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG

49

Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo

ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo

De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma

pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e

pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes

sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs

falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)

questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas

consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver

este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees

A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e

expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w

seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA

2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para

liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas

Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca

entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem

dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo

Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]

consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados

reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a

fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)

Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema

apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um

conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema

computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional

Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter

um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo

aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]

(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u

o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)

Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo

aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias

altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer

50

foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status

fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de

entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do

exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo

Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e

que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou

c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas

foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem

que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e

que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto

(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)

Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos

fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os

fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a

essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um

modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual

desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo

Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma

teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais

meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte

24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos

Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma

perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas

o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos

um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o

modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto

recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia

Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo

independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo

51

Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva

(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22

que o representa a Teoria

Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa

Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em

que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa

restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um

segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o

segmento tambeacutem mudaraacute

Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee

o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a

representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir

t d

- soante - soante

- contiacutenuo - contiacutenuo

coronal coronal

+ anterior + anterior

- sonoro + sonoro

Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)

Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre

alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a

[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda

que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d

visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro

A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia

Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas

consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um

segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento

de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo

22

Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter

acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-

ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo

52

O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma

hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em

camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente

Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume

(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando

Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo

traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e

relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees

fonoloacutegicasrdquo23

Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia

existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto

manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)

Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados

por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais

representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo

pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14

Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)

23

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists

have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological

representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)

53

Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como

unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam

grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que

os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os

traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas

de associaccedilatildeo

Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos

assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24

Desse modo os

autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas

um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14

um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem

parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo

fazerem parte de um mesmo constituinte

A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de

consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)

24

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995

p 250)

54

Consoantes Vogais

Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais

Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)

Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel

representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita

acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura

15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as

especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a

representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que

consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe

apenas na representaccedilatildeo das vogais

55

Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal

Fonte MATZENAUER (2005 p 51)

O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]

[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em

grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade

desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de

cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode

espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que

estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para

indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os

segmentos nasais e [- nasal] para os orais

56

Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de

consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas

pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum

Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em

anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as

diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a

vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais

ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as

vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios

O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as

semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea

vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como

pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de

ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao

noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal

Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de

abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e

quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para

caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo

Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo

representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a

seguir

Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs

Fonte WETZELS (1991 p 31)

A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro

alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais

57

meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as

vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo

caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do

que as outras duas vogais meacutedias

Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i

u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura

negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais

fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui

todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2

deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico

do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema

vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos

desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No

Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa

58

3 METODOLOGIA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da

Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo

da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte

foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos

dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa

estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das

definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista

Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem

conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos

estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o

estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave

formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras

variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo

Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e

extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo

Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas

de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem

nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de

estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25

desde o surgimento da Teoria Um

desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos

ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos

Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em

duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da

populaccedilatildeo permanente

Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se

dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa

que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia

25

Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs

59

portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-

canadenses irlandeses alematildees poloneses

Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e

aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)

tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as

diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A

investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da

populaccedilatildeo que foram assim divididos

Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa

Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na

construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14

estudantes

Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9

descendentes de iacutendios

As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov

(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos

Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a

centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os

pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de

ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de

indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw

Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram

pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar

registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo

dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha

Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em

Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em

novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a

ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era

estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus

da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV

2008 p 64)

Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque

quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S

60

Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein

Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos

Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o

valor do r

ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo

ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo

ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo

Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram

mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a

atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo

de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos

onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes

de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os

primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia

diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram

menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da

ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares

De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo

estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks

pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status

superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de

prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel

linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo

Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma

comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito

no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita

que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser

considerado

Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores

sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os

chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa

teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a

sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a

Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas

61

Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir

quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem

ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel

dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica

Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de

fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as

variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a

idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de

textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo

assunto ou de tema semelhante

Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre

sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas

podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse

modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008

p 21) explica que

[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica

sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou

dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila

social imanente agindo no presente vivo

Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos

da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas

fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios

linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa

porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma

extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee

dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador

Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o

segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas

usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)

foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo

62

observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural

possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em

grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que

estatildeo sendo observados

Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que

Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No

estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas

que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou

simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele

momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para

natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de

departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor

(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da

loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem

O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a

obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo

mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da

investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas

de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar

ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar

que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de

fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)

Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor

empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute

quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer

pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na

Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir

uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis

riscos que ele pode correr ao participar do estudo

Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar

narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que

fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida

porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e

63

assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da

entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou

Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem

sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida

Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se

lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema

que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos

e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade

acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos

gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um

informante nem sempre levaraacute outro a falar

Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute

fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso

deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta

Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute

ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal

forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade

Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um

roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode

abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia

tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como

percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi

usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante

Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para

saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual

gostaria de falar

A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi

realizado

64

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG

O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26

era habitado inicialmente por iacutendios das tribos

ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado

comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a

cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de

diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos

garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave

excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte

Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde

hoje fica o bairro Tamboril

Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa

fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos

moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem

era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas

casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo

Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa

Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma

cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no

litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa

ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga

Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo

foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo

e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade

Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os

habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na

cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de

Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees

de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de

Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia

Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo

26

As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na

paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet

httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013

65

A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto

positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da

Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como

transporte lazer e mais oportunidades de emprego

A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos

ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na

produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari

Uberaba e Patrociacutenio27

Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG

Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-

carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013

De acordo com dados28

do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em

2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772

habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade

carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de

27

As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site

da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28

Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013

66

Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia

Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com

relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte

Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)

Acessado em 10 nov 2013

Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-

mghtml Acessado em 10 nov 2013

Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi

realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como

foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo

67

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra

Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o

Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de

Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia

Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da

comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o

GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta

com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo

Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste

nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram

selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau

de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois

informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que

analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de

dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes

seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado

A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte

forma

68

Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade

Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para

essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios

a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade

b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos

c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo

Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar

os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas

feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa

ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela

pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129

e fazem parte do banco de dados do

29

Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam

para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011

69

GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um

gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita

conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para

facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas

Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador

estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus

possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda

a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa

conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo

inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e

selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado

explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do

informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento

Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir

do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso

proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do

entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro

tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira

de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as

entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de

perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como

relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se

sentisse mais agrave vontade e disposto a falar

Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns

casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com

exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso

uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder

o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais

como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria

natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov

(2008) e Tarallo (1994)

De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las

ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o

entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a

70

gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa

seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias

altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e

seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30

feita com um informante do sexo

masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de

estudo

E Boa noiti

I Boa noiti

E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu

I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui

gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um

ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo

assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo

mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi

adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im

Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u

ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada

muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu

moraacute aqui

[]

E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji

I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a

genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi

sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num

consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru

anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns

mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu

Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di

caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt

perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute

30

Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas

com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica

realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]

palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada

71

discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji

neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute

presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz

tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas

coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu

neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois

noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim

eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a

crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais

perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram

us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi

ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute

(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)

Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados

com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler

os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31

definida para a pesquisa e

para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32

pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos

Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do

informante 23

31

A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32

Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na

paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo

72

(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti

Em que

2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

k = consoante (contexto precedente)

f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

k = consoante (contexto seguinte)

t = tepe (modo do contexto seguinte)

e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)

m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)

q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)

n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)

0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)

1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)

v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)

a = adjetivo (item lexical)

w = informante 23

m = sexo masculino

a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)

s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)

Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do

GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte

34 O Programa Estatiacutestico

Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de

anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras

variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das

versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse

tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores

contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores

condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente

73

para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade

dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)

O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica

A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute

uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter

em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode

ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador

elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido

definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na

seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos

a seguinte codificaccedilatildeo

(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute

Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute

feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado

o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e

em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados

para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador

pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise

Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees

(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos

grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to

memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta

a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da

anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em

nocaute33

ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo

aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo

haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34

Para esse procedimento

ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes

nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos

os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)

33

Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34

A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico

74

Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo

arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram

retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem

nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a

rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda

o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada

stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada

stepping down (em Best stepping down run)

A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados

da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes

aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer

em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores

no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na

ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor

e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem

desfavorece o fenocircmeno em estudo

Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa

estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb

X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que

for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os

procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por

exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas

separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador

faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados

encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis

Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram

selecionadas para este estudo

351 Variaacutevel dependente

A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o

abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia

75

do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel

dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma

[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega

[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega

352 Variaacuteveis independentes

As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a

variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para

esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo

dos dados

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia

que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A

seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para

o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG

35211 Contexto precedente

Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria

relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar

se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35

uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa

(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais

meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o

segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que

precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel

35

Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores

aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias

ocorreu exatamente com essas palavras

76

tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a

variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram

divididos em

nasal ([m]elhor [n]ovela)

oclusiva ([p]eroba [b]olada)

fricativa ([v]estibular [f]ormado)

liacutequidas ([l]egal [x]odada)

pausa (elenco olhar)

tepe (escu[ɾ]ecer)

vogal36

baixa ([a])37

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (v[i]olecircncia)

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos

velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)

alveolar ([d]efende [t]omada)

labial ([p]eroba [b]olada)

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)

pausa (evangeacutelica operou)

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)

vogal baixa ([a])

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (pr[i]oridade)

36

Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para

Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto

de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37

Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que

natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos

77

35214 Contexto seguinte

Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva

(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada

tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes

carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel

pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l

re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto

de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica

quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou

que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais

nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves

vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em

nasal (ave[n]ida mo[m]ento)

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)

fricativos (pre[f]iro le[v]ado)

liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)

alveolar (de[z]esseis go[s]tar)

labial (rece[b]er co[m]eccedila)

78

palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)

labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS

2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para

a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o

abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou

refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica

influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as

vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura

altas i u (acred[i]to prod[u]to)

meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)

meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)

baixa a (deleg[a]do)

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba

tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados

obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo

oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em

frontais38

ɛ e i

central a

38

A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao

gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua

teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem

nenhuma obstruccedilatildeo

79

posteriores ɔ o u

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de

Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na

posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]

no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas

orais (proc[ɛ]sso)

nasais (oraccedil[ɐ ]o)

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado

encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima

da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de

o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos

permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica

favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte

Carmelo-MG

Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este

estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica

analisada

distacircncia zero (remeacutedio costura)

distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)

distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as

palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao

abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por

acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de

o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior

80

para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de

siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra

distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)

distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)

distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica

Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram

mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por

meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das

vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo

as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como

leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)

pesadas VC (hospital) CVC (gostar)

352113 Item lexical

Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens

lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos

como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais

meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave

variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas

analisadas nas seguintes categorias lexicais

substantivo (pessoa local)

verbo (levar prometer)

adjetivo (diferente invocado)

pronome (vocecirc comigo)

numeral (sessenta dezesseis)

adveacuterbio (depois)

conjunccedilatildeo (entretanto portanto)

81

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas

De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta

fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou

trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos

parte do modo como se segue

Sexo

Masculino

Feminino

Faixa etaacuteria

Entre 15 e 25 anos de idade

Entre 26 e 49 anos de idade

Com mais de 49 anos de idade

Escolaridade

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)

Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)

Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este

estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento

das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para

fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo

82

4 ANAacuteLISE DOS DADOS

Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos

relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e

extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi

relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros

estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de

Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto

carmelitano

Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3

todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja

para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em

seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois

realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o

Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte

Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a

vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora

a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a

vogal meacutedia frontal e

Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais

meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o

aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente

no dialeto de Monte Carmelo-MG

Aplicaccedilatildeo

(abaixamento)

Natildeo aplicaccedilatildeo

(manutenccedilatildeo)

Total de

ocorrecircncias

Total de

aplicaccedilatildeo

Vogal e

635 4016 4651 137

Vogal o

402 1910 2312 174

TOTAL

1037 5926 6963

83

Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos

muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e

como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o

abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados

referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e

Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na

ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas a saber

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

6 Tipo de siacutelaba pretocircnica

7 Item lexical

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Contexto seguinte

4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

84

Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela

correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e

pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que

foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input40

0071 Significacircncia41

0000

A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto

precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de

articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na

tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068

favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi

obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro

Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o

abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados

Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o

fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora

Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano

a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense

ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo

39

O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40

O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada

nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41

O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes

etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis

satildeo os dados

[ɛ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (Jesus39

) 1651118 148 041

oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045

pausa (eterna) 29341 85 041

nasal (melhor) 72498 145 051

liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068

TOTAL 6354651 137

85

a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute

comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo

acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da

vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes

fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto

precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o

abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o

modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia

frontal

Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados

para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras

do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase

21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados

com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as

nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-

MG

Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de

066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de

[ɛ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

tepe (diferente) 106547 194 066

fricativa (resposta) 1571907 82 036

oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058

liacutequidas (inteligente) 195973 200 061

nasal (enorme) 34163 209 067

africadas (coletivo) 10169 59 026

TOTAL 6354651 137

86

e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o

dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes

liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro

Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum

fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das

consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior

representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve

um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias

Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de

e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como

estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer

Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica

exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros

expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior

motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas

tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288

ocorrecircncias

Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008

SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a

harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de

[ɛ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043

vogal alta (equipe) 77818 94 047

vogal baixa (elevado) 3021647 183 055

vogal meacutedia baixa

(dezenove)

68288 236 067

TOTAL 6354651 137

87

Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba

tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados

Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar

como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste

caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado

pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta

dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos

De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se

das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto

3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta

tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a

tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica

Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando

a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa

posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a

conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano

Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias

baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs

Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso

relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo

agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais

fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e

[ɛ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076

vogal oral (errado) 3433471 99 040

TOTAL 6354651 137

88

Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana

(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas

orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias

(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro

Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores

responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]

Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram

em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior

seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator

distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso

relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a

porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)

Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor

da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal

meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em

Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)

[ɛ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056

Distacircncia de uma siacutelaba

(relaccedilatildeo)

1261051 120 042

Distacircncia de duas siacutelabas

(executivo)

31378 82 023

TOTAL 6354651 137

89

Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias

(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-

MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a

variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643

ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram

sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas

desfavorecedoras do abaixamento de e

Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade

muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada

esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV

o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas

Tabela 7 - Item lexical

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas

(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)

foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no

[ɛ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047

siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063

TOTAL 6354651 137

[ɛ]

Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

adjetivos (legal) 133759 175 059

substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048

verbos (levar) 1941557 125 050

adveacuterbios (depois) 6158 38 021

TOTAL 6354651 137

90

dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os

substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o

peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze

por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica

Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram

considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500

ocorrecircncias

Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a

variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de

e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal

meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso

relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero

de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da

vogal meacutedia frontal

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento

de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no

comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento

de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as

mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem

disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado

com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres

Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para

[ɛ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 2112241 94 038

Masculino 4242410 176 060

TOTAL 6354651 137

91

essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a

vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO

que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino

realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto

apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte

Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de

e em Piranga-MG

Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a

anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais

do que os homens42

e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a

norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais

conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica

Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela

classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados

encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o

autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o

processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de

substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra

por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0071 Significacircncia 0000

42

Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet

httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-

ibgehtml Acessado em 12 nov 2013

[ɛ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028

Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047

Com mais de 49 anos de

idade

3771398 270 077

TOTAL 6354651 137

92

A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa

etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que

tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de

ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade

foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a

vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os

informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria

tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas

mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto

carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos

de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo

sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os

informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a

faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba

pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa

etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada

como favorecedora dos processos estudados por esses autores

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o

grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria

relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X

selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente

significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

[ɛ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065

Com mais de 11 anos de

estudo

2652625 101 038

TOTAL 6354651 137

93

De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11

anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte

Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de

ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia

[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram

ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale

a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior

escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em

posiccedilatildeo pretocircnica

O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido

por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo

tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade

no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em

posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau

Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com

ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos

foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e

sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo

GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis

relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais

inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais

meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba

pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo

abaixamento de e

Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os

resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia

posterior

94

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o

Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como

estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo

sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

7 Tipo de siacutelaba pretocircnica

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem

excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Contexto seguinte

3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

6 Item lexical

A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o

haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o

abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados

que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

95

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal

pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como

aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras

ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias

o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o

tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as

nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese

de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa

de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute

m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43

Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela

vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes

tiveram

Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem

inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com

a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do

abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua

anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator

favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo

43

Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa

[ɔ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

nasal (morar) 66260 254 068

oclusiva (pastoral) 151922 164 051

liacutequidas (processo) 78579 135 046

fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031

pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057

TOTAL 4022312 174

96

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento

precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros

da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes

apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por

terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas

favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos

dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto

precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em

Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi

selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados

Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto

carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as

principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas

consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem

aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu

As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais

baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em

[ɔ]

Contexto precedente

(ponto)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040

palatal (melhorar) 1264 188 063

alveolar (professor) 116759 153 053

velar (coluna) 93548 170 042

labiodental (formar) 22119 185 060

pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051

poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082

TOTAL 4022312 174

97

estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante

de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta

na siacutelaba pretocircnica

Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave

vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido

selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos

demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores

analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com

peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o

Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as

consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica

nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG

[ɔ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (movimento) 109643 170 050

tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057

nasal (momento) 23223 103 031

liacutequidas (morrer) 98545 180 052

oclusiva (poderia) 93600 155 050

TOTAL 4022312 174

98

Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como

verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que

essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse

processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior

De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de

o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas

tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso

relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por

Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG

respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por

Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o

abaixamento da vogal meacutedia posterior

Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a

vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da

siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de

harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia

baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo

estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver

como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de

e quanto para a de o

[ɔ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030

vogal alta (corrupto) 47353 133 055

vogal baixa (formar) 2321115 208 055

vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084

TOTAL 4022312 174

99

Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a

vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez

que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras

do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais

Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo

esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda

mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em

posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que

natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na

liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave

qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais

expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o

No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ

ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do

abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem

pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo

[ɔ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070

vogal oral (colega) 2691759 153 043

TOTAL 4022312 174

100

Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses

sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto

mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento

de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)

quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias

de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse

percentual

Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-

MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi

selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015

Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

[ɔ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057

Distacircncia de uma siacutelaba

(choradeira)

116797 146 048

Distacircncia de duas siacutelabas

(horrorizada)

6180 33 015

Distacircncia de mais de duas

siacutelabas (oportunidade)

557 88 029

TOTAL 4022312 174

[ɔ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046

siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063

TOTAL 4022312 174

101

A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para

a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a

variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior

de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve

tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para

e

Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos

jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente

do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)

concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as

siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana

(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica

analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo

houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel

mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal

meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de

ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados

o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal

meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o

que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do

abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG

[ɔ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 1581179 134 041

Masculino 2441133 215 059

TOTAL 4022312 174

102

Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e

Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras

Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias

(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e

confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes

com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo

pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em

742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo

da regra

Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG

essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou

que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro

Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela

autora

Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram

apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os

informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes

entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao

dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os

[ɔ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029

Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040

Com mais de 49 anos de

idade

262742 353 079

TOTAL 4022312 174

103

informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior

frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na

tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese

que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem

apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de

estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo

pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro

Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de

dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos

dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo

programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva

(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes

com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior

tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin

(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da

vogal meacutedia posterior

Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os

resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis

referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados

[ɔ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065

Com mais de 11 anos de

estudo

1611316 122 038

TOTAL 4022312 174

104

surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise

de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram

a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia

vocaacutelica

Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo

seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da

Geometria de Traccedilos

105

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS

Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma

breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser

realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte

Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a

variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este

parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado

Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de

Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra

por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento

manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em

outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns

nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes

especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22

A B ou B A

F F

Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)

Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um

segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as

mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define

como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma

que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados

independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da

vogal alta44

seguinterdquo como podemos ver na Figura 23

44

Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila

de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito

106

Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica

Fonte BISOL (2009 p 79)

Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de

abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na

posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)

a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em

conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e

preenchimentordquo

Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo

que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute

vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal

meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que

desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma

vogal meacutedia baixa tocircnica

A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de

traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal

tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor

que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor

107

Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica

pela vogal e pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a

Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo

sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme

vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo

classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto

3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute

Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo

classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por

serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao

contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos

108

positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra

vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais

meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ

satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem

mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]

Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+

aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal

e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o

desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol

(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica

Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que

conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de

[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG

Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o

principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo

de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura

25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada

como n[ɔ]vela

109

Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica

pela vogal o pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que

ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila

apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal

meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+

aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante

ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal

pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas

o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o

noacute do que de um uacutenico traccedilo

110

Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir

duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de

Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na

realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba

Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-

aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]

da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e

[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta

e ɛ ɔ [ɛ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica

Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ

ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como

resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o

traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal

meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

111

o ɛ ɔ [ɔ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela

representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no

dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia

vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica

mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

112

6 CONCLUSAtildeO

As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse

estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos

no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo

635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash

137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que

aventamos no iniacutecio dessa pesquisa

Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que

de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido

superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total

de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento do que a vogal e

Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba

pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com

base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do

Brasil

Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com

relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o

sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a

e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]

respectivamente

Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo

fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila

de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na

siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias

pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel

Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a

pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na

siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG

esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas

as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de

113

erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia

baixa

Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis

para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas

pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para

ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]

e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais

orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o

Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que

trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator

distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a

siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia

posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da

vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do

abaixamento

Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram

selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como

favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica

Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os

informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do

sexo feminino

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes

com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo

pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e

para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria

relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi

selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos

de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os

informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais

114

significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores

da regra na anaacutelise dessa variaacutevel

Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem

houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada

por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as

vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o

abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo

pretocircnica

Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados

para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram

considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de

articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as

palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto

precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas

favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal

Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na

variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os

adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica

os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal

Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes

linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que

favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o

Variaacuteveis

analisadas

Abaixamento da vogal

pretocircnica e

Abaixamento da vogal

pretocircnica o

Contexto precedente

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes liacutequidas

Desfavorecem a pausa e as

consoantes fricativas

Favorecem consoantes nasais e a

pausa

Desfavorecem consoantes

fricativas

Contexto precedente

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Favorecem consoantes poacutes-

alveolares palatais e labiodentais

Desfavorecem consoantes velares

e labiais

115

Contexto seguinte

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes nasais

liacutequidas e o tepe

Desfavorecem consoantes

africadas e fricativas

Favorecem o tepe e as consoantes

liacutequidas

Desfavorecem as consoantes

nasais

Contexto seguinte

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Altura da vogal da

siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais meacutedias

baixas tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias

altas tocircnicas

Favorecem vogais meacutedias baixas

tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias altas

tocircnicas

Qualidade da vogal

da siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais nasais

tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Favorecem vogais nasais tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas

siacutelabas

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas ou

de mais de duas siacutelabas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo ao iniacutecio da

palavra

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Tipo de siacutelaba

pretocircnica

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Item lexical

Favorecem adjetivos

Desfavorecem adveacuterbios

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Sexo Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Faixa etaacuteria Favorecem informantes com

mais de 49 anos de idade

Favorecem informantes com mais

de 49 anos de idade

116

Desfavorecem informantes

entre 15 e 25 anos de idade

Desfavorecem informantes entre

15 e 25 anos de idade

Escolaridade Favorecem informantes entre 0

e 11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Favorecem informantes entre 0 e

11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e

de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo

da regra

E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que

estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria

linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros

pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-

fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

117

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120

ANEXOS

121

ANEXO 1

ROTEIRO DE PERGUNTAS

A) Origem e habitaccedilatildeo

1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui

2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje

3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais

4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece

5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a

educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio

8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor

9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo

B) Infacircncia

1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade

2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia

3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava

4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc

5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc

nunca esqueceu

6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia

7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje

8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por

quecirc

C) Escola

1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio

2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que

esse professor fez que deixou marcas

3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava

4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que

122

5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de

amizade que vocecirc nunca esqueceu

5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo

6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola

7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc

8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc

9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje

10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco

disso

D) Atividades profissionais

1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc

2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo

3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual

4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc

5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)

6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro

7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse

momento

8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia

9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc

10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho

E) Lazer

1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas

2 Como as pessoas costumam se divertir aqui

3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc

4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual

5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes

6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo

e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este

lugar e por que levaria esta pessoa

7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por

quecirc

123

8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa

9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time

10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual

11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc

12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc

13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha

14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum

F) Relacionamentos

1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram

2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram

3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo

4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)

5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc

6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil

7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc

8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo

9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito

preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra

gays preconceito religioso etc)

10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes

11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como

e onde vocecircs se conheceram

12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc

G) Perigo de vida

1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como

vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo

2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como

foi isso

3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc

4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi

5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria

124

H) Religiatildeo

1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo

2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo

3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja

4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc

5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre

6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo

I) Sobrenatural

1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi

isso

2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc

3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma

maneira Como vocecirc explica isso

4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com

algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi

5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O

que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso

6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda

7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau

8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc

9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso

10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET

J) Aspiraccedilotildees

1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria

2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade

3 Qual eacute o maior sonho de sua vida

4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a

trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada

5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que

vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo

125

ANEXO 2

COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS

VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o

VARIANTES [ɛ] e [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1

Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2

Para a realizaccedilatildeo de o colega 3

Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4

VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES

VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS

1 CONTEXTO PRECEDENTE

consoante ([m]enor es[k]olaridade) k

vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v

pausa (elenco olhar) p

2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)

nasal ([m]elhor [n]ovela) n

oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o

fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f

liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l

pausa (elenco olhar) p

tepe (escu[ɾ]ecer) t

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (v[i]olecircncia) h

3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)

velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r

126

alveolar ([d]efende [t]omada) e

labiais ([p]eroba [b]olada) b

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d

pausa (evangeacutelica operou) p

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (pr[i]oridade) h

4 CONTEXTO SEGUINTE

consoante (re[s]posta pro[m]essa) k

vogal (re[a]lizar re[e]leito) v

5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)

nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o

fricativos (re[v]er atro[f]iado) f

liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r

alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e

labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b

palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d

labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j

127

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a

meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m

meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y

baixa a (deleg[a]do) b

8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

frontais ɛ e i q

central a c

posteriores ɔ o u p

9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

oral (proc[ɛ]sso) o

nasal (oraccedil[ɐ ]o) n

10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA

TOcircNICA

Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3

11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA

PALAVRA

Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3

128

12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA

leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v

pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c

13 ITEM LEXICAL

substantivo (pessoa local) s

verbo (levar prometer) v

adjetivo (diferente invocado) a

pronome (vocecirc comigo) p

numeral (sessenta dezesseis) n

adveacuterbio (depois) b

conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j

VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS

1 SEXO

Masculino m

Feminino f

2 IDADE

Entre 15 e 25 anos de idade j

Entre 26 e 49 anos de idade a

Com mais de 49 anos de idade e

3 ESCOLARIDADE

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p

Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s

Agrave amiga Carolina Medeiros pelo companheirismo e apoio pela amizade e pelas

oacutetimas parcerias que fizemos durante todo o Mestrado

Agraves amigas Danielle Stephane e Nair Soares pelo apoio pela amizade e colaboraccedilatildeo

nos assuntos relacionados agrave vida acadecircmica desde a graduaccedilatildeo

Agrave Ciacutentia Aparecida por ter compartilhado comigo seus conhecimentos sobre o

GoldVarb X quando precisei

Aos colegas do Grupo de Estudos em Fonologia (GEFONO) especialmente Allyne

Guilherme Dayana Giselly Flaacutevia Ana Carolina Leonardo e Sheyla pelos conhecimentos

compartilhados e pela oportunidade em aprender com cada um a cada novo encontro

A CAPES pelo apoio financeiro concedido a essa pesquisa

E a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realizaccedilatildeo desse estudo

ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode

descobrir sobre elardquo

Labov (2008 p 236)

RESUMO

O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e

e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio

para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos

preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as

entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados

confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas

estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este

estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49

anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com

mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de

articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da

siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba

tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item

lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos

todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na

posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas

no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba

pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento

das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da

assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da

siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra

preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da

Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o

processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento

por um segmento vizinho

PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo

ABSTRACT

The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid

vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio

and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of

Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews

as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte

Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic

variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old

between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11

years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of

articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of

articulation of the following context point of articulation of the following context vowel

height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel

quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable

distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-

stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we

selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels

e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs

GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of

e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the

realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the

lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process

of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This

feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent

from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on

phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)

which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of

features of a segment by a next segment

KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16

FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24

FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25

FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25

FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27

FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27

FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28

FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs

Brasileiro 30

FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31

FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31

FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32

FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33

FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes

de traccedilos 51

FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52

FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54

FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55

FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56

FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65

FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66

FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas

Gerais 66

FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e

grau de escolaridade 68

FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105

FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106

FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107

FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109

FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica 110

FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba

pretocircnica 111

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para

o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que

favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim

imperial 23

TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23

TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e

para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82

Anaacutelise da vogal pretocircnica e

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85

TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86

TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87

TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 88

TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89

TABELA 7 - Item lexical 89

TABELA 8 - Sexo 90

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91

TABELA 10 - Escolaridade 92

Anaacutelise da vogal pretocircnica o

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96

TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97

TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98

TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99

TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 100

TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100

TABELA 8 - Sexo 101

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102

TABELA 10 - Escolaridade 103

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao

Portuguecircs do Brasil 22

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise

variacionista 37

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de

Piranga e de Ouro Branco 40

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 42

235 As pretocircnicas no falar teresinense 45

236 A proposta de Lee e Oliveira 48

24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50

3 METODOLOGIA 58

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68

34 O Programa Estatiacutestico 72

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74

351 Variaacutevel dependente 74

352 Variaacuteveis independentes 75

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75

35211 Contexto precedente 75

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76

35214 Contexto seguinte 77

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80

352113 Item lexical 80

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81

4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA

DE TRACcedilOS 105

6 CONCLUSAtildeO 112

7 REFEREcircNCIAS 117

ANEXOS 120

ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121

ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel

das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse

processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de

[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que

representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro

Altas i u

Meacutedias altas e o

Meacutedias baixas ɛ ɔ

Baixa a

Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)

Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo

podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada

respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos

o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e

de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de

o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na

fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos

No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao

municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com

1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute

internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave

transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso

estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob

financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica

PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura

de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao

alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito

17

mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves

vogais meacutedias pretocircnicas

A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma

pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto

carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde

pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas

Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na

economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo

ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda

mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos

trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG

Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de

se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro

decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno

entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas

O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas

com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com

25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com

26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa

que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria

e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias

e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades

diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo

sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino

As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo

pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo

abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos

catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do

contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto

precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica

6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos

englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa

estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas

18

distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade

de siacutelabas da palavra e classe da palavra

Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo

pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes

rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis

significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o

programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do

contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na

siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as

vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o

abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na

siacutelaba pretocircnica do que a mulher)

Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze

foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no

GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs

variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De

acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram

o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]

enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel

extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais

frequecircncia do que a mulher)

Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o

abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes

carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo

sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro

Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro

ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma

pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com

o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O

7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar

19

projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um

projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve

pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional

O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos

especiacuteficos

Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais e e o

Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em

Monte Carmelo-MG

Portanto essa pesquisa se justifica por

Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo

construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo

Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala

dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio

que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico

Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo

Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras

que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que

buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa

Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo

pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos

O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de

o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa

([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este

Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG)

20

Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo

diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto

que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos

O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica

analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para

ambas as vogais

Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica

estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer

A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais

meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais

realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher

Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais

abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de

idade)

O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento

Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo

Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos

palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e

ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme

jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE

MORAES 2002)

palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e

leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p

5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas

caracterizando hiatordquo

palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo

fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p

65)

palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)

mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os

sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas

21

por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho

v[e]rde rarr v[e]rdinho

Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)

esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt

1995 p 5)

Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir

No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do

abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as

hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo

No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na

primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro

desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico

pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em

todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na

quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para

representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados

O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco

seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos

preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao

municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o

detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo

deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb

X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as

variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo

A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que

discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5

representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a

variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas

O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados

para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como

alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de

perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e

seus respectivos fatores

22

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua

portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de

Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o

Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a

evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela

objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois

por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos

atualmente na nossa liacutengua

A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo

acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico

aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos

estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia

vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -

24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos

auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do

Brasil

Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em

portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje

Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o

latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o

galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de

Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de

Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-

portuguesa do Norte

O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais

divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada

timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas

transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de

23

vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre

resultantes dos variados graus de aberturardquo

Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como

consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na

Tabela 1 abaixo

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

ī i fīcum gt port figo

ĭ

sĭtim gt port sẹde

ē rēte gt port rẹde

ĕ ę tĕrra gt port tęrra

ă

a

lătus gt port lado

ā amātum gt port amado

ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta

ō ọ amōrem gt port amọr

ŭ bŭcca gt port bọca

ū u pūrum gt port puro

Fonte TEYSSIER (2007 p 9)

Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a

vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

aelig ę caecum gt port cęgo

œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais

no latim imperial

24

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 2 - As vogais do latim imperial

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval

pois

[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas

individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas

palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo

permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter

conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como

uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)

No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa

semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por

exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma

tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que

se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e

caldo em portuguecircs

Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos

muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o

caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar

nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais

abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007

p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees

ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra

[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo

O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e

nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs

25

acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os

seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e

natildeo entram mais em contato

Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros

textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo

com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-

portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu

a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o

Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere

agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte

Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees

graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)

Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e

ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo

(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica

que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e

muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a

(i)

e o

a

Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

26

Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um

fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e

partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas

essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o

sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o

Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa

substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso

do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs

pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo

Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas

grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou

como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a

melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como

[ọ] fechadordquo

Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos

vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute

que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer

esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de

falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo

fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas

formas prevaleccedila

Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da

siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u

Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos

antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha

chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo

Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-

nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ

desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica

27

i u

e o

a

Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 31)

Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs

tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o

eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo

(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias

onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir

O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo

com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua

literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego

serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p

48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como

exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais

ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute

nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo

A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que

aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-

portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 50)

28

Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as

contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a

e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em

hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em

oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o

sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo

tocircnica

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 51)

Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental

para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a

chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os

iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como

escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros

constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil

Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu

a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de

Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo

tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a

populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas

natildeo da forma como os europeus falavam

Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a

liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram

Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier

(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de

mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e

29

de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi

proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa

Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio

[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala

pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem

distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as

fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa

(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os

brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam

os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)

Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees

foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal

central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas

no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em

outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba

pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul

Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier

(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a

pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o

Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga

por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar

e istar para entrar e estar

Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor

argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela

pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo

da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um

ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais

niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma

30

Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final

i u i u i u

e o E O

ɛ ɔ

A9 a a

Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte TEYSSIER (2007 p 104)

Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo

discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10

afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais

latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para

a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao

contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o

espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos

variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com

exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas

vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u

Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar

de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da

posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se

apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em

portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11

pois aleacutem das cinco vogais jaacute

9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e

Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois

fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo

entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute

transcrita como bolU 10

Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi

publicada em 1970 11

Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone

31

mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as

vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos

visualizar na figura abaixo

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ

Baixa a

Anteriores Central Posteriores

Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)

De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as

vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo

meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais

altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute

a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo

das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando

ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006

p 41)

Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante

de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a

figura a seguir

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

[ɐ]

Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)

Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma

consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e

32

aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a

eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o

u) como vimos na Figura 10

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico

denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que

desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada

pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)

citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras

perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade

fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em

duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI

VIEIRA 2005 p 173)

Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas

pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior

para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que

se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute

caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]

Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com

relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a

realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes

do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as

realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza

pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E

como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG

33

realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa

regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente

Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como

podemos visualizar na Figura 12 a seguir

i u

a

Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da

palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute

condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais

altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica

que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona

final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas

trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem

seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-

mudo e pent[i] para pente

As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi

definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva

desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua

tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para

Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave

assimilaccedilatildeo12

das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente

seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como

em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal

tocircnica que impulsionar o processo

Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees

feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e

12

De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento

vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo

34

afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final

Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como

argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas

na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso

porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos

encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na

siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB

A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de

muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para

estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13

(1987) que

pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que

estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco

Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas

no dialeto de Teresina-PI

Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser

considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo

que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia

vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo

Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo

desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas

Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos

que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os

processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se

nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees

entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute

dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho

13

Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento

35

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel

Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias

pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento

que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil

tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a

harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O

corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos

trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees

portugueses e italianos

Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados

coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou

sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado

[o]perar ~ [u]perar14

Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou

S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como

afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem

situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15

Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce

influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro

~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16

A variaacutevel dependente do trabalho

da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em

vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p

38)

Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados

encontrados por Bisol (1981)

Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a

elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar

para comprar

Tonicidade

a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a

vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo

14

Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15

Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16

Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)

36

b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo

pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a

natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras

ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo

c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de

harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo

d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a

vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a

assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)

Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo

menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL

1981 p 41)

Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade

ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como

exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel

e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante

Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares

(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes

alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia

posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a

elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a

alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)

Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal

(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as

alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)

e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar

(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)

Variaacuteveis extralinguiacutesticas

- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17

foram os que mais aplicaram a

regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18

foram os que menos aplicaram

- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem

17

Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18

Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do

paiacutes vizinho o Uruguairdquo

37

- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre

(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)

- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores

condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas

permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada

agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~

custelardquo

Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de

sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos

formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt

flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo

vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p

104-108)

Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]

a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p

111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)

A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na

fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre

a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba

seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os

principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista

Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte

influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt

(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como

exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo

(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas

delimitaccedilotildees Ele desconsiderou

as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo

pronunciadas como um hiato

38

as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a

maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem

palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa

a fronteira vocabular

palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e

ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos

O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta

por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em

Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum

havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que

faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria

conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a

escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica

(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada

uma das trecircs capitais pesquisadas

Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o

na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a

seguir

Homorganicidade19

das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a

elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex

ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex

ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a

vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex

ldquoconduccedilatildeordquo)

A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave

pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex

ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica

analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata

Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a

elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)

do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)

19

Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

39

Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o

favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o

processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)

Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e

desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex

ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o

favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e

desfavoreceu o processo a pausa

Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex

ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo

o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a

elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o

processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes

Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para

a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees

verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os

seguintes

Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e

para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os

informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo

aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de

o do que os entrevistados mais jovens

Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de

elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau

Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de

harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto

Alegre)

Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas

Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal

condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na

siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as

variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por

40

exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas

vogais meacutedias pesquisadas

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de

Ouro Branco

Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-

MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio

mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da

Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e

testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo

aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e

feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)

Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a

pesquisa

As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico

vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a

vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe

morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da

palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical

Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees

para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as

vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao

abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o

processo de nosso maior interesse

Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto

de Piranga-MG foram

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1

Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba

41

Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe

Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais

Gecircnero masculino

Faixa etaacuteria jovem

Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes

variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica pronome adjetivo

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais

Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas

Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o

abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica adjetivo

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Gecircnero feminino

Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as

seguintes variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas

42

Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel

extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila

qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa

uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o

de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de

uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba

pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica

Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo

individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente

de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima

de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade

(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas

o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal

Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que

participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679

referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012

corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20

ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram

obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173

ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb

2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia

do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros

apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o

nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo

Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006

selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis

43

Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram

os verbos (ex ldquochegavardquo)

Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou

valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica

baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a

vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo

Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu

a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)

Contexto precedente20

- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes

(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)

Contexto seguinte21

- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex

ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)

Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex

ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)

Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e

por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal

tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente

contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto

precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto

seguinte e classe da palavra

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o

abaixamento de e foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum

abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos

uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na

siacutelaba pretocircnica

Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados

pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas

20

Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as

consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por

consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21

A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana

(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e

semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais

44

Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as

anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)

Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)

Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais

(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente

Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)

desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex

ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes

oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes

(ex ldquocomigordquo)

Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)

Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os

verbos (ex ldquoconversarrdquo)

Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do

abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica

contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto

seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2

Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico

para o abaixamento de o foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento

de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma

ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os

homens

Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com

45

mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba

Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que

no informal

As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb

2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da

vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento

quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois

houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e

em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo

Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias

pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como

jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das

vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a

realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana

(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo

se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal

235 As pretocircnicas no falar teresinense

O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais

meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou

com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero

(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50

anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino

Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas

Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas

eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de

Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como

vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo

poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse

46

Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o

comportamento das vogais meacutedias foram

Contiguidade

Homorganicidade

Tonicidade

Paradigma

Distacircncia da tocircnica

Derivada de tocircnica

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa

etaacuteria e escolaridade

As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219

ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve

2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na

seguinte ordem

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Paradigma

Contexto fonoloacutegico seguinte

Faixa etaacuteria

Escolaridade

Homorganicidade

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou

sete variaacuteveis

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Paradigma

Escolaridade

Faixa etaacuteria

Gecircnero

47

Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram

que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais

tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o

foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as

velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva

(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)

as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o

abaixamento de o

Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto

para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o

que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na

posiccedilatildeo pretocircnica

Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex

ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das

velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o

processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel

homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel

selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu

nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal

Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada

para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas

pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos

ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito

aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os

fatores analisados

Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos

do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e

[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e

Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa

etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse

cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as

vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao

passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram

48

uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p

138)

Com base nesses resultados a autora concluiu que

[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a

escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de

mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os

mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema

(SILVA 2009 p 139)

A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres

embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os

homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um

papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos

em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos

Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente

relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar

de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias

pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que

nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas

pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do

processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica

236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)

Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se

preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e

Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o

primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes

vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves

palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo

pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG

49

Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo

ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo

De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma

pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e

pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes

sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs

falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)

questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas

consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver

este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees

A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e

expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w

seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA

2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para

liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas

Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca

entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem

dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo

Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]

consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados

reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a

fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)

Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema

apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um

conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema

computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional

Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter

um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo

aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]

(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u

o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)

Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo

aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias

altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer

50

foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status

fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de

entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do

exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo

Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e

que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou

c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas

foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem

que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e

que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto

(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)

Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos

fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os

fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a

essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um

modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual

desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo

Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma

teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais

meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte

24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos

Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma

perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas

o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos

um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o

modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto

recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia

Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo

independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo

51

Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva

(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22

que o representa a Teoria

Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa

Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em

que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa

restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um

segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o

segmento tambeacutem mudaraacute

Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee

o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a

representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir

t d

- soante - soante

- contiacutenuo - contiacutenuo

coronal coronal

+ anterior + anterior

- sonoro + sonoro

Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)

Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre

alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a

[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda

que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d

visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro

A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia

Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas

consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um

segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento

de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo

22

Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter

acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-

ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo

52

O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma

hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em

camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente

Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume

(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando

Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo

traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e

relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees

fonoloacutegicasrdquo23

Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia

existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto

manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)

Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados

por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais

representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo

pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14

Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)

23

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists

have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological

representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)

53

Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como

unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam

grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que

os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os

traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas

de associaccedilatildeo

Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos

assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24

Desse modo os

autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas

um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14

um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem

parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo

fazerem parte de um mesmo constituinte

A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de

consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)

24

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995

p 250)

54

Consoantes Vogais

Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais

Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)

Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel

representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita

acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura

15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as

especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a

representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que

consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe

apenas na representaccedilatildeo das vogais

55

Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal

Fonte MATZENAUER (2005 p 51)

O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]

[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em

grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade

desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de

cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode

espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que

estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para

indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os

segmentos nasais e [- nasal] para os orais

56

Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de

consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas

pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum

Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em

anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as

diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a

vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais

ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as

vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios

O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as

semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea

vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como

pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de

ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao

noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal

Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de

abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e

quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para

caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo

Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo

representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a

seguir

Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs

Fonte WETZELS (1991 p 31)

A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro

alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais

57

meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as

vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo

caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do

que as outras duas vogais meacutedias

Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i

u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura

negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais

fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui

todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2

deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico

do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema

vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos

desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No

Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa

58

3 METODOLOGIA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da

Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo

da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte

foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos

dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa

estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das

definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista

Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem

conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos

estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o

estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave

formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras

variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo

Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e

extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo

Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas

de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem

nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de

estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25

desde o surgimento da Teoria Um

desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos

ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos

Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em

duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da

populaccedilatildeo permanente

Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se

dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa

que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia

25

Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs

59

portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-

canadenses irlandeses alematildees poloneses

Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e

aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)

tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as

diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A

investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da

populaccedilatildeo que foram assim divididos

Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa

Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na

construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14

estudantes

Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9

descendentes de iacutendios

As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov

(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos

Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a

centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os

pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de

ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de

indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw

Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram

pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar

registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo

dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha

Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em

Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em

novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a

ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era

estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus

da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV

2008 p 64)

Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque

quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S

60

Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein

Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos

Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o

valor do r

ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo

ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo

ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo

Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram

mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a

atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo

de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos

onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes

de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os

primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia

diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram

menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da

ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares

De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo

estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks

pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status

superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de

prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel

linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo

Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma

comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito

no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita

que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser

considerado

Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores

sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os

chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa

teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a

sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a

Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas

61

Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir

quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem

ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel

dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica

Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de

fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as

variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a

idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de

textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo

assunto ou de tema semelhante

Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre

sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas

podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse

modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008

p 21) explica que

[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica

sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou

dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila

social imanente agindo no presente vivo

Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos

da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas

fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios

linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa

porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma

extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee

dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador

Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o

segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas

usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)

foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo

62

observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural

possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em

grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que

estatildeo sendo observados

Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que

Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No

estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas

que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou

simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele

momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para

natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de

departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor

(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da

loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem

O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a

obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo

mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da

investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas

de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar

ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar

que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de

fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)

Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor

empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute

quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer

pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na

Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir

uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis

riscos que ele pode correr ao participar do estudo

Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar

narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que

fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida

porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e

63

assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da

entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou

Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem

sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida

Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se

lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema

que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos

e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade

acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos

gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um

informante nem sempre levaraacute outro a falar

Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute

fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso

deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta

Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute

ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal

forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade

Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um

roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode

abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia

tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como

percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi

usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante

Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para

saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual

gostaria de falar

A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi

realizado

64

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG

O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26

era habitado inicialmente por iacutendios das tribos

ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado

comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a

cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de

diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos

garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave

excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte

Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde

hoje fica o bairro Tamboril

Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa

fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos

moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem

era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas

casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo

Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa

Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma

cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no

litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa

ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga

Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo

foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo

e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade

Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os

habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na

cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de

Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees

de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de

Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia

Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo

26

As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na

paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet

httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013

65

A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto

positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da

Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como

transporte lazer e mais oportunidades de emprego

A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos

ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na

produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari

Uberaba e Patrociacutenio27

Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG

Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-

carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013

De acordo com dados28

do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em

2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772

habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade

carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de

27

As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site

da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28

Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013

66

Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia

Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com

relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte

Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)

Acessado em 10 nov 2013

Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-

mghtml Acessado em 10 nov 2013

Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi

realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como

foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo

67

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra

Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o

Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de

Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia

Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da

comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o

GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta

com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo

Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste

nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram

selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau

de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois

informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que

analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de

dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes

seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado

A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte

forma

68

Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade

Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para

essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios

a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade

b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos

c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo

Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar

os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas

feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa

ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela

pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129

e fazem parte do banco de dados do

29

Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam

para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011

69

GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um

gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita

conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para

facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas

Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador

estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus

possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda

a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa

conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo

inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e

selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado

explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do

informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento

Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir

do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso

proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do

entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro

tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira

de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as

entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de

perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como

relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se

sentisse mais agrave vontade e disposto a falar

Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns

casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com

exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso

uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder

o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais

como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria

natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov

(2008) e Tarallo (1994)

De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las

ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o

entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a

70

gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa

seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias

altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e

seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30

feita com um informante do sexo

masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de

estudo

E Boa noiti

I Boa noiti

E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu

I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui

gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um

ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo

assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo

mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi

adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im

Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u

ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada

muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu

moraacute aqui

[]

E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji

I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a

genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi

sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num

consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru

anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns

mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu

Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di

caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt

perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute

30

Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas

com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica

realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]

palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada

71

discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji

neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute

presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz

tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas

coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu

neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois

noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim

eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a

crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais

perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram

us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi

ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute

(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)

Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados

com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler

os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31

definida para a pesquisa e

para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32

pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos

Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do

informante 23

31

A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32

Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na

paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo

72

(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti

Em que

2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

k = consoante (contexto precedente)

f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

k = consoante (contexto seguinte)

t = tepe (modo do contexto seguinte)

e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)

m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)

q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)

n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)

0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)

1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)

v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)

a = adjetivo (item lexical)

w = informante 23

m = sexo masculino

a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)

s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)

Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do

GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte

34 O Programa Estatiacutestico

Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de

anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras

variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das

versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse

tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores

contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores

condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente

73

para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade

dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)

O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica

A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute

uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter

em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode

ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador

elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido

definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na

seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos

a seguinte codificaccedilatildeo

(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute

Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute

feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado

o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e

em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados

para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador

pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise

Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees

(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos

grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to

memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta

a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da

anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em

nocaute33

ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo

aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo

haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34

Para esse procedimento

ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes

nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos

os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)

33

Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34

A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico

74

Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo

arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram

retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem

nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a

rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda

o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada

stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada

stepping down (em Best stepping down run)

A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados

da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes

aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer

em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores

no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na

ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor

e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem

desfavorece o fenocircmeno em estudo

Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa

estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb

X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que

for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os

procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por

exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas

separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador

faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados

encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis

Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram

selecionadas para este estudo

351 Variaacutevel dependente

A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o

abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia

75

do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel

dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma

[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega

[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega

352 Variaacuteveis independentes

As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a

variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para

esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo

dos dados

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia

que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A

seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para

o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG

35211 Contexto precedente

Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria

relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar

se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35

uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa

(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais

meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o

segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que

precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel

35

Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores

aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias

ocorreu exatamente com essas palavras

76

tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a

variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram

divididos em

nasal ([m]elhor [n]ovela)

oclusiva ([p]eroba [b]olada)

fricativa ([v]estibular [f]ormado)

liacutequidas ([l]egal [x]odada)

pausa (elenco olhar)

tepe (escu[ɾ]ecer)

vogal36

baixa ([a])37

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (v[i]olecircncia)

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos

velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)

alveolar ([d]efende [t]omada)

labial ([p]eroba [b]olada)

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)

pausa (evangeacutelica operou)

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)

vogal baixa ([a])

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (pr[i]oridade)

36

Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para

Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto

de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37

Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que

natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos

77

35214 Contexto seguinte

Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva

(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada

tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes

carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel

pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l

re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto

de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica

quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou

que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais

nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves

vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em

nasal (ave[n]ida mo[m]ento)

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)

fricativos (pre[f]iro le[v]ado)

liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)

alveolar (de[z]esseis go[s]tar)

labial (rece[b]er co[m]eccedila)

78

palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)

labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS

2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para

a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o

abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou

refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica

influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as

vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura

altas i u (acred[i]to prod[u]to)

meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)

meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)

baixa a (deleg[a]do)

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba

tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados

obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo

oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em

frontais38

ɛ e i

central a

38

A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao

gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua

teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem

nenhuma obstruccedilatildeo

79

posteriores ɔ o u

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de

Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na

posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]

no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas

orais (proc[ɛ]sso)

nasais (oraccedil[ɐ ]o)

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado

encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima

da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de

o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos

permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica

favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte

Carmelo-MG

Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este

estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica

analisada

distacircncia zero (remeacutedio costura)

distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)

distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as

palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao

abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por

acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de

o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior

80

para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de

siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra

distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)

distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)

distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica

Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram

mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por

meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das

vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo

as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como

leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)

pesadas VC (hospital) CVC (gostar)

352113 Item lexical

Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens

lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos

como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais

meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave

variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas

analisadas nas seguintes categorias lexicais

substantivo (pessoa local)

verbo (levar prometer)

adjetivo (diferente invocado)

pronome (vocecirc comigo)

numeral (sessenta dezesseis)

adveacuterbio (depois)

conjunccedilatildeo (entretanto portanto)

81

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas

De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta

fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou

trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos

parte do modo como se segue

Sexo

Masculino

Feminino

Faixa etaacuteria

Entre 15 e 25 anos de idade

Entre 26 e 49 anos de idade

Com mais de 49 anos de idade

Escolaridade

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)

Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)

Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este

estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento

das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para

fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo

82

4 ANAacuteLISE DOS DADOS

Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos

relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e

extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi

relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros

estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de

Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto

carmelitano

Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3

todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja

para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em

seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois

realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o

Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte

Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a

vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora

a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a

vogal meacutedia frontal e

Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais

meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o

aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente

no dialeto de Monte Carmelo-MG

Aplicaccedilatildeo

(abaixamento)

Natildeo aplicaccedilatildeo

(manutenccedilatildeo)

Total de

ocorrecircncias

Total de

aplicaccedilatildeo

Vogal e

635 4016 4651 137

Vogal o

402 1910 2312 174

TOTAL

1037 5926 6963

83

Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos

muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e

como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o

abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados

referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e

Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na

ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas a saber

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

6 Tipo de siacutelaba pretocircnica

7 Item lexical

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Contexto seguinte

4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

84

Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela

correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e

pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que

foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input40

0071 Significacircncia41

0000

A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto

precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de

articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na

tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068

favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi

obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro

Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o

abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados

Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o

fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora

Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano

a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense

ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo

39

O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40

O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada

nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41

O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes

etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis

satildeo os dados

[ɛ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (Jesus39

) 1651118 148 041

oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045

pausa (eterna) 29341 85 041

nasal (melhor) 72498 145 051

liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068

TOTAL 6354651 137

85

a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute

comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo

acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da

vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes

fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto

precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o

abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o

modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia

frontal

Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados

para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras

do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase

21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados

com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as

nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-

MG

Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de

066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de

[ɛ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

tepe (diferente) 106547 194 066

fricativa (resposta) 1571907 82 036

oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058

liacutequidas (inteligente) 195973 200 061

nasal (enorme) 34163 209 067

africadas (coletivo) 10169 59 026

TOTAL 6354651 137

86

e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o

dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes

liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro

Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum

fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das

consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior

representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve

um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias

Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de

e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como

estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer

Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica

exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros

expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior

motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas

tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288

ocorrecircncias

Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008

SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a

harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de

[ɛ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043

vogal alta (equipe) 77818 94 047

vogal baixa (elevado) 3021647 183 055

vogal meacutedia baixa

(dezenove)

68288 236 067

TOTAL 6354651 137

87

Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba

tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados

Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar

como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste

caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado

pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta

dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos

De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se

das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto

3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta

tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a

tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica

Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando

a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa

posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a

conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano

Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias

baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs

Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso

relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo

agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais

fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e

[ɛ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076

vogal oral (errado) 3433471 99 040

TOTAL 6354651 137

88

Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana

(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas

orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias

(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro

Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores

responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]

Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram

em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior

seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator

distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso

relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a

porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)

Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor

da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal

meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em

Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)

[ɛ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056

Distacircncia de uma siacutelaba

(relaccedilatildeo)

1261051 120 042

Distacircncia de duas siacutelabas

(executivo)

31378 82 023

TOTAL 6354651 137

89

Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias

(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-

MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a

variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643

ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram

sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas

desfavorecedoras do abaixamento de e

Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade

muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada

esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV

o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas

Tabela 7 - Item lexical

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas

(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)

foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no

[ɛ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047

siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063

TOTAL 6354651 137

[ɛ]

Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

adjetivos (legal) 133759 175 059

substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048

verbos (levar) 1941557 125 050

adveacuterbios (depois) 6158 38 021

TOTAL 6354651 137

90

dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os

substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o

peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze

por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica

Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram

considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500

ocorrecircncias

Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a

variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de

e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal

meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso

relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero

de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da

vogal meacutedia frontal

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento

de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no

comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento

de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as

mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem

disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado

com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres

Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para

[ɛ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 2112241 94 038

Masculino 4242410 176 060

TOTAL 6354651 137

91

essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a

vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO

que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino

realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto

apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte

Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de

e em Piranga-MG

Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a

anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais

do que os homens42

e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a

norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais

conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica

Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela

classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados

encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o

autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o

processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de

substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra

por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0071 Significacircncia 0000

42

Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet

httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-

ibgehtml Acessado em 12 nov 2013

[ɛ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028

Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047

Com mais de 49 anos de

idade

3771398 270 077

TOTAL 6354651 137

92

A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa

etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que

tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de

ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade

foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a

vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os

informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria

tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas

mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto

carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos

de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo

sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os

informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a

faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba

pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa

etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada

como favorecedora dos processos estudados por esses autores

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o

grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria

relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X

selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente

significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

[ɛ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065

Com mais de 11 anos de

estudo

2652625 101 038

TOTAL 6354651 137

93

De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11

anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte

Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de

ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia

[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram

ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale

a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior

escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em

posiccedilatildeo pretocircnica

O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido

por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo

tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade

no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em

posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau

Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com

ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos

foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e

sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo

GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis

relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais

inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais

meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba

pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo

abaixamento de e

Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os

resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia

posterior

94

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o

Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como

estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo

sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

7 Tipo de siacutelaba pretocircnica

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem

excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Contexto seguinte

3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

6 Item lexical

A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o

haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o

abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados

que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

95

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal

pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como

aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras

ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias

o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o

tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as

nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese

de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa

de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute

m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43

Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela

vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes

tiveram

Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem

inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com

a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do

abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua

anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator

favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo

43

Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa

[ɔ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

nasal (morar) 66260 254 068

oclusiva (pastoral) 151922 164 051

liacutequidas (processo) 78579 135 046

fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031

pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057

TOTAL 4022312 174

96

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento

precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros

da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes

apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por

terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas

favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos

dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto

precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em

Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi

selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados

Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto

carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as

principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas

consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem

aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu

As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais

baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em

[ɔ]

Contexto precedente

(ponto)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040

palatal (melhorar) 1264 188 063

alveolar (professor) 116759 153 053

velar (coluna) 93548 170 042

labiodental (formar) 22119 185 060

pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051

poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082

TOTAL 4022312 174

97

estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante

de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta

na siacutelaba pretocircnica

Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave

vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido

selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos

demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores

analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com

peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o

Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as

consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica

nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG

[ɔ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (movimento) 109643 170 050

tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057

nasal (momento) 23223 103 031

liacutequidas (morrer) 98545 180 052

oclusiva (poderia) 93600 155 050

TOTAL 4022312 174

98

Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como

verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que

essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse

processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior

De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de

o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas

tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso

relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por

Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG

respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por

Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o

abaixamento da vogal meacutedia posterior

Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a

vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da

siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de

harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia

baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo

estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver

como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de

e quanto para a de o

[ɔ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030

vogal alta (corrupto) 47353 133 055

vogal baixa (formar) 2321115 208 055

vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084

TOTAL 4022312 174

99

Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a

vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez

que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras

do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais

Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo

esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda

mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em

posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que

natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na

liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave

qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais

expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o

No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ

ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do

abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem

pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo

[ɔ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070

vogal oral (colega) 2691759 153 043

TOTAL 4022312 174

100

Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses

sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto

mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento

de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)

quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias

de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse

percentual

Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-

MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi

selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015

Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

[ɔ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057

Distacircncia de uma siacutelaba

(choradeira)

116797 146 048

Distacircncia de duas siacutelabas

(horrorizada)

6180 33 015

Distacircncia de mais de duas

siacutelabas (oportunidade)

557 88 029

TOTAL 4022312 174

[ɔ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046

siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063

TOTAL 4022312 174

101

A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para

a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a

variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior

de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve

tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para

e

Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos

jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente

do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)

concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as

siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana

(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica

analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo

houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel

mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal

meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de

ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados

o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal

meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o

que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do

abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG

[ɔ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 1581179 134 041

Masculino 2441133 215 059

TOTAL 4022312 174

102

Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e

Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras

Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias

(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e

confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes

com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo

pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em

742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo

da regra

Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG

essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou

que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro

Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela

autora

Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram

apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os

informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes

entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao

dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os

[ɔ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029

Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040

Com mais de 49 anos de

idade

262742 353 079

TOTAL 4022312 174

103

informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior

frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na

tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese

que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem

apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de

estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo

pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro

Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de

dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos

dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo

programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva

(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes

com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior

tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin

(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da

vogal meacutedia posterior

Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os

resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis

referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados

[ɔ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065

Com mais de 11 anos de

estudo

1611316 122 038

TOTAL 4022312 174

104

surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise

de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram

a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia

vocaacutelica

Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo

seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da

Geometria de Traccedilos

105

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS

Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma

breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser

realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte

Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a

variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este

parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado

Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de

Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra

por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento

manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em

outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns

nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes

especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22

A B ou B A

F F

Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)

Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um

segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as

mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define

como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma

que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados

independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da

vogal alta44

seguinterdquo como podemos ver na Figura 23

44

Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila

de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito

106

Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica

Fonte BISOL (2009 p 79)

Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de

abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na

posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)

a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em

conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e

preenchimentordquo

Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo

que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute

vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal

meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que

desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma

vogal meacutedia baixa tocircnica

A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de

traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal

tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor

que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor

107

Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica

pela vogal e pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a

Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo

sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme

vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo

classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto

3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute

Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo

classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por

serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao

contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos

108

positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra

vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais

meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ

satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem

mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]

Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+

aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal

e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o

desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol

(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica

Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que

conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de

[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG

Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o

principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo

de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura

25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada

como n[ɔ]vela

109

Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica

pela vogal o pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que

ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila

apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal

meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+

aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante

ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal

pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas

o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o

noacute do que de um uacutenico traccedilo

110

Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir

duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de

Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na

realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba

Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-

aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]

da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e

[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta

e ɛ ɔ [ɛ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica

Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ

ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como

resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o

traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal

meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

111

o ɛ ɔ [ɔ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela

representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no

dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia

vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica

mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

112

6 CONCLUSAtildeO

As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse

estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos

no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo

635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash

137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que

aventamos no iniacutecio dessa pesquisa

Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que

de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido

superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total

de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento do que a vogal e

Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba

pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com

base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do

Brasil

Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com

relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o

sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a

e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]

respectivamente

Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo

fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila

de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na

siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias

pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel

Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a

pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na

siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG

esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas

as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de

113

erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia

baixa

Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis

para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas

pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para

ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]

e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais

orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o

Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que

trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator

distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a

siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia

posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da

vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do

abaixamento

Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram

selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como

favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica

Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os

informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do

sexo feminino

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes

com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo

pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e

para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria

relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi

selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos

de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os

informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais

114

significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores

da regra na anaacutelise dessa variaacutevel

Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem

houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada

por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as

vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o

abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo

pretocircnica

Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados

para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram

considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de

articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as

palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto

precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas

favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal

Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na

variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os

adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica

os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal

Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes

linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que

favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o

Variaacuteveis

analisadas

Abaixamento da vogal

pretocircnica e

Abaixamento da vogal

pretocircnica o

Contexto precedente

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes liacutequidas

Desfavorecem a pausa e as

consoantes fricativas

Favorecem consoantes nasais e a

pausa

Desfavorecem consoantes

fricativas

Contexto precedente

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Favorecem consoantes poacutes-

alveolares palatais e labiodentais

Desfavorecem consoantes velares

e labiais

115

Contexto seguinte

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes nasais

liacutequidas e o tepe

Desfavorecem consoantes

africadas e fricativas

Favorecem o tepe e as consoantes

liacutequidas

Desfavorecem as consoantes

nasais

Contexto seguinte

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Altura da vogal da

siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais meacutedias

baixas tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias

altas tocircnicas

Favorecem vogais meacutedias baixas

tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias altas

tocircnicas

Qualidade da vogal

da siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais nasais

tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Favorecem vogais nasais tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas

siacutelabas

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas ou

de mais de duas siacutelabas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo ao iniacutecio da

palavra

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Tipo de siacutelaba

pretocircnica

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Item lexical

Favorecem adjetivos

Desfavorecem adveacuterbios

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Sexo Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Faixa etaacuteria Favorecem informantes com

mais de 49 anos de idade

Favorecem informantes com mais

de 49 anos de idade

116

Desfavorecem informantes

entre 15 e 25 anos de idade

Desfavorecem informantes entre

15 e 25 anos de idade

Escolaridade Favorecem informantes entre 0

e 11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Favorecem informantes entre 0 e

11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e

de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo

da regra

E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que

estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria

linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros

pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-

fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

117

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variacionista 1995 78 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Letras) ndash Curso de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Letras Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto Alegre 1995

119

SILVA A M Guia para normalizaccedilatildeo de trabalhos teacutecnico-cientiacuteficos projetos de

pesquisa trabalhos acadecircmicos dissertaccedilotildees e teses Angela Maria Silva Maria Salete de

Freitas Pinheiro Maira Nani Franccedila 5 ed rev e ampl Uberlacircndia UFU 2006 145 p

SILVA G M de O Coleta de dados In MOLLICA M C BRAGA M L (Orgs)

Introduccedilatildeo agrave Sociolinguiacutestica o tratamento da variaccedilatildeo 3 ed Satildeo Paulo Contexto 2007 p

117-133

SILVA A do N As pretocircnicas no falar teresinense 2009 236 f Tese (Doutorado em

Letras) ndash Faculdade de Letras Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul Porto

Alegre 2009

TARALLO F A Pesquisa Sociolinguiacutestica 4 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1994 96 p (Seacuterie

Princiacutepios)

TEYSSIER P Histoacuteria da Liacutengua Portuguesa 3 ed Traduccedilatildeo de Celso Cunha Satildeo Paulo

Martins Fontes 2007

VIANA V F As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 2008 146 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica e Liacutengua Portuguesa) ndash

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Letras Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Minas Gerais

Belo Horizonte 2008

VIEGAS M C Alccedilamento de vogais meacutedias pretocircnicas uma abordagem sociolinguiacutestica

1987 231 f Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica) ndash Faculdade de Letras Universidade

Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 1987

WETZELS L Harmonia vocaacutelica truncamento abaixamento e neutralizaccedilatildeo no sistema

verbal do portuguecircs uma anaacutelise autossegmental Cadernos de Estudos Linguiacutesticos

Campinas n 21 p 25-58 juldez1991

120

ANEXOS

121

ANEXO 1

ROTEIRO DE PERGUNTAS

A) Origem e habitaccedilatildeo

1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui

2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje

3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais

4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece

5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a

educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio

8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor

9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo

B) Infacircncia

1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade

2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia

3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava

4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc

5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc

nunca esqueceu

6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia

7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje

8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por

quecirc

C) Escola

1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio

2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que

esse professor fez que deixou marcas

3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava

4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que

122

5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de

amizade que vocecirc nunca esqueceu

5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo

6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola

7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc

8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc

9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje

10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco

disso

D) Atividades profissionais

1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc

2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo

3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual

4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc

5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)

6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro

7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse

momento

8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia

9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc

10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho

E) Lazer

1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas

2 Como as pessoas costumam se divertir aqui

3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc

4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual

5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes

6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo

e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este

lugar e por que levaria esta pessoa

7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por

quecirc

123

8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa

9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time

10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual

11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc

12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc

13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha

14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum

F) Relacionamentos

1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram

2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram

3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo

4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)

5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc

6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil

7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc

8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo

9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito

preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra

gays preconceito religioso etc)

10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes

11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como

e onde vocecircs se conheceram

12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc

G) Perigo de vida

1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como

vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo

2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como

foi isso

3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc

4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi

5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria

124

H) Religiatildeo

1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo

2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo

3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja

4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc

5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre

6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo

I) Sobrenatural

1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi

isso

2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc

3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma

maneira Como vocecirc explica isso

4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com

algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi

5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O

que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso

6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda

7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau

8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc

9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso

10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET

J) Aspiraccedilotildees

1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria

2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade

3 Qual eacute o maior sonho de sua vida

4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a

trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada

5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que

vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo

125

ANEXO 2

COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS

VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o

VARIANTES [ɛ] e [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1

Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2

Para a realizaccedilatildeo de o colega 3

Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4

VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES

VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS

1 CONTEXTO PRECEDENTE

consoante ([m]enor es[k]olaridade) k

vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v

pausa (elenco olhar) p

2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)

nasal ([m]elhor [n]ovela) n

oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o

fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f

liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l

pausa (elenco olhar) p

tepe (escu[ɾ]ecer) t

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (v[i]olecircncia) h

3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)

velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r

126

alveolar ([d]efende [t]omada) e

labiais ([p]eroba [b]olada) b

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d

pausa (evangeacutelica operou) p

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (pr[i]oridade) h

4 CONTEXTO SEGUINTE

consoante (re[s]posta pro[m]essa) k

vogal (re[a]lizar re[e]leito) v

5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)

nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o

fricativos (re[v]er atro[f]iado) f

liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r

alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e

labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b

palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d

labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j

127

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a

meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m

meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y

baixa a (deleg[a]do) b

8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

frontais ɛ e i q

central a c

posteriores ɔ o u p

9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

oral (proc[ɛ]sso) o

nasal (oraccedil[ɐ ]o) n

10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA

TOcircNICA

Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3

11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA

PALAVRA

Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3

128

12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA

leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v

pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c

13 ITEM LEXICAL

substantivo (pessoa local) s

verbo (levar prometer) v

adjetivo (diferente invocado) a

pronome (vocecirc comigo) p

numeral (sessenta dezesseis) n

adveacuterbio (depois) b

conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j

VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS

1 SEXO

Masculino m

Feminino f

2 IDADE

Entre 15 e 25 anos de idade j

Entre 26 e 49 anos de idade a

Com mais de 49 anos de idade e

3 ESCOLARIDADE

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p

Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s

ldquo[] quanto mais se conhece uma liacutengua mais se pode

descobrir sobre elardquo

Labov (2008 p 236)

RESUMO

O principal objetivo deste estudo foi descrever e analisar o abaixamento das vogais meacutedias e

e o na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG em palavras como n[ɛ]goacutecio

para negoacutecio e m[ɔ]rar para morar Este trabalho foi norteado metodologicamente pelos

preceitos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) Como esse autor sugere as

entrevistas gravadas como um bom meio para conseguir uma grande quantidade de dados

confiaacuteveis entrevistamos 24 pessoas nascidas no municiacutepio mineiro e que foram selecionadas

estratificadamente de acordo com as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas definidas para este

estudo a saber sexo (masculino e feminino) faixa etaacuteria (entre 15 e 25 anos entre 26 e 49

anos e acima de 49 anos de idade) e grau de escolaridade (entre 0 e 11 anos de estudo e com

mais de 11 anos de estudo) As variaacuteveis linguiacutesticas consideradas na anaacutelise foram modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente modo de

articulaccedilatildeo do contexto seguinte ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte altura da vogal da

siacutelaba tocircnica posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica qualidade da vogal da siacutelaba

tocircnica distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba da vogal pretocircnica e item

lexical Apoacutes a transcriccedilatildeo ortograacutefica de todas as entrevistas selecionamos e codificamos

todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias altas e e o na

posiccedilatildeo pretocircnica para enfim submetecirc-los ao pacote de programas GoldVarb X As rodadas

no programa estatiacutestico resultaram em um total de 6963 ocorrecircncias de e e de o na siacutelaba

pretocircnica sendo 635 com a realizaccedilatildeo de [ɛ] e 402 com a realizaccedilatildeo de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba Os resultados que obtivemos mostraram que em Monte Carmelo-MG o abaixamento

das vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica se daacute pela regra de harmonia vocaacutelica por meio da

assimilaccedilatildeo do traccedilo [+ aberto 3] Esse traccedilo eacute engatilhado pela vogal meacutedia baixa ɛ ou ɔ da

siacutelaba tocircnica Com o objetivo de representar a partir de um modelo teoacuterico a regra

preponderante para a variaccedilatildeo das vogais meacutedias nos baseamos na teoria fonoloacutegica da

Geometria de Traccedilos proposta por Clements (1985 1989 1991) que nos permite visualizar o

processo ocorrendo por meio do espraiamento ou da assimilaccedilatildeo de traccedilos de um segmento

por um segmento vizinho

PALAVRAS-CHAVE abaixamento harmonia vocaacutelica vogais meacutedias pretocircnicas variaccedilatildeo

ABSTRACT

The main objective of this study was to describe and analyze the lowering of pre-stressed mid

vowels e and o in the dialect of Monte Carmelo-MG in words like n[ɛ]goacutecio for negoacutecio

and m[ɔ]rar for morar This research was methodologically guided by the precepts of

Variation Theory proposed by Labov (1972) As this author suggests the recorded interviews

as a good way to get a large amount of reliable data we interviewed 24 people born in Monte

Carmelo-MG and they were randomly selected according to the three extra linguistic

variables defined for this study gender (male and female) age (between 15 and 25 years old

between 26 and 49 years old and above 49 years old) and educational level (between 0 and 11

years of study and over) The linguistic variables considered in the analysis were mode of

articulation of the preceding context point of articulation of the preceding context mode of

articulation of the following context point of articulation of the following context vowel

height of the stressed syllable vowel articulatory position of the stressed syllable vowel

quality of the stressed syllable distance of pre-stressed mid vowel from stressed syllable

distance of pre-stressed mid vowel from the beginning of the word type of vowel of the pre-

stressed syllable and lexical item After the orthographic transcription of all interviews we

selected and encoded all data related to the maintenance and lowering of the mid-high vowels

e and o in the pre-stressed position to finally submitting them to the package of programs

GoldVarb X The rounds in the statistical program resulted in a total of 6963 productions of

e and o in the pre-stressed syllable with 635 being the realization of [ɛ] and 402 with the

realization of [ɔ] in that syllable position Our results showed that in Monte Carmelo-MG the

lowering of vowels e and o in the pre-stressed position occurs primarily due to a process

of assimilation of feature resulting in the vowel harmony by the feature [+ open 3] This

feature is triggered by mid-high vowel ɛ and ɔ of the stressed syllable Aiming to represent

from a theoretical model the prevalent rule for variation of mid vowels we based on

phonological theory of the Geometry of Features proposed by Clements (1985 1989 1991)

which allows us to visualize the process occurring through the spreading or assimilation of

features of a segment by a next segment

KEYWORDS lowering vowel harmony pre-stressed mid vowels variation

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro 16

FIGURA 2 - As vogais do latim imperial 24

FIGURA 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs 25

FIGURA 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs 25

FIGURA 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs 27

FIGURA 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu 27

FIGURA 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu 28

FIGURA 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs

Brasileiro 30

FIGURA 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica 31

FIGURA 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal 31

FIGURA 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica 32

FIGURA 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final 33

FIGURA 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes

de traccedilos 51

FIGURA 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento 52

FIGURA 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais 54

FIGURA 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal 55

FIGURA 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs 56

FIGURA 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG 65

FIGURA 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais 66

FIGURA 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas

Gerais 66

FIGURA 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e

grau de escolaridade 68

FIGURA 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo 105

FIGURA 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica 106

FIGURA 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɔ tocircnica pela vogal e pretocircnica 107

FIGURA 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da

vogal ɛ tocircnica pela vogal o pretocircnica 109

FIGURA 26 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica 110

FIGURA 27 ndash Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba

pretocircnica 111

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para

o abaixamento de e e de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que

favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo da regra 114

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim

imperial 23

TABELA 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial 23

TABELA 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e

para a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas 82

Anaacutelise da vogal pretocircnica e

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 84

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 85

TABELA 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 86

TABELA 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 87

TABELA 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 88

TABELA 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 89

TABELA 7 - Item lexical 89

TABELA 8 - Sexo 90

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 91

TABELA 10 - Escolaridade 92

Anaacutelise da vogal pretocircnica o

TABELA 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo) 95

TABELA 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto) 96

TABELA 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo) 97

TABELA 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 98

TABELA 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 99

TABELA 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica 100

TABELA 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica 100

TABELA 8 - Sexo 101

TABELA 9 ndash Faixa etaacuteria 102

TABELA 10 - Escolaridade 103

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 16

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA 22

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao

Portuguecircs do Brasil 22

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro 30

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB 34

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel 35

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise

variacionista 37

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de

Piranga e de Ouro Branco 40

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo

linguiacutestica 42

235 As pretocircnicas no falar teresinense 45

236 A proposta de Lee e Oliveira 48

24 A Teoria Fonoloacutegica o Modelo da Geometria de Traccedilos 50

3 METODOLOGIA 58

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista 58

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG 64

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra 67

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados 68

34 O Programa Estatiacutestico 72

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis 74

351 Variaacutevel dependente 74

352 Variaacuteveis independentes 75

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas 75

35211 Contexto precedente 75

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente 75

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente 76

35214 Contexto seguinte 77

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte 77

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica 78

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica 79

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica 79

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra 79

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica 80

352113 Item lexical 80

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas 81

4 ANAacuteLISE DOS DADOS 82

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e 83

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o 94

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA

DE TRACcedilOS 105

6 CONCLUSAtildeO 112

7 REFEREcircNCIAS 117

ANEXOS 120

ANEXO 1 - ROTEIRO DE PERGUNTAS 121

ANEXO 2 - COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS 125

16

1 INTRODUCcedilAtildeO

O foco de estudo desta pesquisa intitulada ldquoO processo variaacutevel do abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas no municiacutepio de Monte Carmelo-MGrdquo eacute o abaixamento variaacutevel

das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos moradores carmelitanos Esse

processo fonoloacutegico caracteriza-se pela mudanccedila da altura das vogais meacutedias que passam de

[- baixo] para [+ baixo] na siacutelaba pretocircnica como podemos ver no triacircngulo abaixo que

representa as vogais do Portuguecircs Brasileiro

Altas i u

Meacutedias altas e o

Meacutedias baixas ɛ ɔ

Baixa a

Figura 1 - As vogais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte Adaptado de CAcircMARA JR (2006 p 41)

Assim por meio desse processo palavras como negoacutecio1 e bolada por exemplo

podem ser realizadas com as vogais pretocircnicas abertas resultando em n[ɛ]goacutecio2 e b[ɔ]lada

respectivamente Durante a pesquisa de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica ainda na graduaccedilatildeo3 estudamos

o alccedilamento das vogais meacutedias nos municiacutepios de Coromandel-MG e Monte Carmelo-MG e

de acordo com os resultados que obtivemos percebemos que apesar de a elevaccedilatildeo4 de e e de

o ter sido realizada com frequecircncia nessas localidades o abaixamento tambeacutem ocorria na

fala dos habitantes coromandelenses e carmelitanos

No entanto neste trabalho de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu5 limitamos a pesquisa ao

municiacutepio de Monte Carmelo-MG na intenccedilatildeo de se fazer um estudo mais aprofundado com

1 A representaccedilatildeo entre barras indica que se trata de um fonema ou seja natildeo eacute o que falamos eacute o que estaacute

internalizado eacute um constructo mental que estaacute relacionado com a liacutengua Portanto as barras referem-se agrave

transcriccedilatildeo fonoloacutegica 2 A representaccedilatildeo entre colchetes indica que se trata de um fone ou seja eacute o som que produzimos e por isso

estaacute relacionada agrave fala Portanto os colchetes referem-se agrave transcriccedilatildeo foneacutetica 3 Para mais informaccedilotildees ler Rezende e Magalhatildees (2011) Esse estudo foi realizado pela pesquisadora e pelo

Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees durante a graduaccedilatildeo de 2008 a 2010 para projeto de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica sob

financiamento da UFU e da FAPEMIG Este trabalho foi o vencedor do Precircmio Destaque de Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica

PIBIC-UFU 2010 na aacuterea de Letras Linguiacutestica e Artes 4 Elevaccedilatildeo e alccedilamento satildeo termos sinocircnimos usados para se referir ao mesmo processo em que o traccedilo de altura

de uma vogal muda de [- alto] para [+ alto] Ainda eacute possiacutevel encontrar o termo alteamento para se referir ao

alccedilamento 5 Termos especiacuteficos alguns exemplos e estrangeirismos foram destacados em itaacutelico e negrito

17

mais informantes e assim com uma maior quantidade de dados e anaacutelises referentes agraves

vogais meacutedias pretocircnicas

A escolha por esse municiacutepio deve-se tambeacutem pelo fato de natildeo haver nenhuma

pesquisa feita sobre o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto

carmelitano e por Monte Carmelo-MG pertencer agrave regiatildeo do Triacircngulo Mineiro onde

pretendemos construir o banco de dados de fala dessa parte importante do estado de Minas

Gerais Conhecida como a ldquocapital da telhardquo esta cidade mineira eacute um dos destaques na

economia estadual e nacional por suas induacutestrias de ceracircmica Aleacutem disso sua localizaccedilatildeo

ldquoestrateacutegicardquo na divisa entre o Triacircngulo Mineiro e o Alto Paranaiacuteba torna o municiacutepio ainda

mais importante para estudos como o que desenvolvemos considerando que esta pesquisa nos

trouxe a oportunidade de conhecer e participar da histoacuteria de Monte Carmelo-MG

Contudo antes de realizar essa pesquisa com a intenccedilatildeo de se atestar a relevacircncia de

se estudar o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas neste municiacutepio mineiro

decidimos fazer um estudo-piloto pois as nossas impressotildees ateacute entatildeo sobre este fenocircmeno

entre os falantes dessa comunidade eram apenas intuitivas

O estudo-piloto foi realizado no ano de 2011 com os dados de duas entrevistas feitas

com dois moradores de Monte Carmelo-MG Esses dois informantes foram um homem com

25 anos de idade e com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo e uma mulher com

26 anos de idade tambeacutem com grau de escolaridade entre 0 e 11 anos de estudo Na pesquisa

que fizemos sobre o alccedilamento na graduaccedilatildeo as variaacuteveis extralinguiacutesticas (sexo faixa etaacuteria

e grau de escolaridade) natildeo foram relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra para as vogais meacutedias

e por esse motivo natildeo nos preocupamos em selecionar informantes de idades e escolaridades

diferentes Os informantes foram diferenciados apenas pela variaacutevel extralinguiacutestica sexo

sendo pois escolhido um do sexo masculino e outro do sexo feminino

As variaacuteveis dependentes do estudo-piloto foram as vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo

pretocircnica As variantes dessas vogais foram representadas pela conservaccedilatildeo [e o] pelo

abaixamento [ɛ ɔ] e pelo alccedilamento [i u] Quanto agraves variaacuteveis independentes consideramos

catorze6 linguiacutesticas a saber contexto precedente modo do contexto precedente ponto do

contexto precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte ponto do contexto

precedente altura da vogal tocircnica posiccedilatildeo da vogal tocircnica qualidade da vogal tocircnica

6 Como se tratava de um estudo-piloto e pela quantidade de dados encontrados ter sido pequena procuramos

englobar um nuacutemero maacuteximo de variaacuteveis linguiacutesticas para evitar que nenhuma fosse selecionada pelo programa

estatiacutestico para o processo de abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas

18

distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia do iniacutecio da palavra tipo de siacutelaba pretocircnica quantidade

de siacutelabas da palavra e classe da palavra

Para a vogal e em nossa anaacutelise foram encontradas 109 ocorrecircncias na posiccedilatildeo

pretocircnica Desse total 21 foram realizadas com a vogal [ɛ] nessa posiccedilatildeo Assim apoacutes

rodarmos as ocorrecircncias de e no GoldVarb X o programa selecionou trecircs variaacuteveis

significativas sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De acordo com o

programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de articulaccedilatildeo do

contexto seguinte (as consoantes fricativas seguintes favoreceram o abaixamento de e na

siacutelaba pretocircnica e as oclusivas seguintes inibiram o processo) nasalidade da vogal tocircnica (as

vogais nasais tocircnicas favoreceram enquanto as vogais orais tocircnicas desfavoreceram o

abaixamento) e a variaacutevel extralinguiacutestica sexo (o homem registrou mais ocorrecircncias de [ɛ] na

siacutelaba pretocircnica do que a mulher)

Para a vogal o obtivemos 92 ocorrecircncias na posiccedilatildeo pretocircnica Desse total treze

foram realizadas com a vogal [ɔ] nessa posiccedilatildeo Apoacutes rodarmos as ocorrecircncias de o no

GoldVarb X assim como ocorreu para a vogal e o programa selecionou apenas trecircs

variaacuteveis significativas para o sendo duas variaacuteveis linguiacutesticas e uma extralinguiacutestica De

acordo com o programa as variaacuteveis foram selecionadas na seguinte ordem modo de

articulaccedilatildeo do contexto precedente (a pausa7 e as consoantes fricativas precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica as oclusivas precedentes desfavoreceram

o processo) altura da vogal tocircnica (a vogal baixa tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ]

enquanto as vogais meacutedias altas na posiccedilatildeo tocircnica inibiram o abaixamento) e a variaacutevel

extralinguiacutestica sexo (o homem realizou o abaixamento de o na posiccedilatildeo pretocircnica com mais

frequecircncia do que a mulher)

Assim com base nesses resultados embora com poucos dados vimos que o

abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas eacute um processo que existe na fala dos habitantes

carmelitanos e por isso esse estudo-piloto foi o ponto de partida para um estudo mais amplo

sobre esse processo no dialeto do municiacutepio mineiro

Este trabalho estaacute vinculado ao projeto ldquoFenocircmenos vocaacutelicos no Portuguecircs Brasileiro

ndash as pretocircnicas no dialeto do Triacircngulo Mineiro descriccedilatildeo e anaacutelise via restriccedilotildeesrdquo uma

pesquisa de maior extensatildeo que o Prof Dr Joseacute Sueli de Magalhatildees vem desenvolvendo com

o objetivo de descrever e analisar o sistema vocaacutelico do dialeto do Triacircngulo Mineiro O

7 Quando natildeo haacute nenhum segmento antes da vogal pretocircnica analisada Ex [o]rar

19

projeto deste pesquisador tambeacutem estaacute inserido em outro ainda maior ao PROBRAVO8 um

projeto sobre a descriccedilatildeo soacutecio-histoacuterica das vogais do Portuguecircs Brasileiro o qual envolve

pesquisadores de vaacuterias universidades em todo o territoacuterio nacional

O principal objetivo deste estudo eacute descrever e analisar a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

e e o pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG aleacutem dos seguintes objetivos

especiacuteficos

Verificar os fatores linguiacutesticos e extralinguiacutesticos que condicionam o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais e e o

Verificar ainda se aleacutem do abaixamento a harmonia vocaacutelica tambeacutem atua na

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Definir com relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias o sistema vocaacutelico pretocircnico que prevalece em

Monte Carmelo-MG

Portanto essa pesquisa se justifica por

Contribuir para a composiccedilatildeo do banco de dados do Triacircngulo Mineiro que estaacute sendo

construiacutedo a partir de estudos como o nosso e de outros jaacute realizados na regiatildeo

Colaborar com os estudos foneacutetico-fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

Definir como se daacute o processo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas na fala

dos habitantes carmelitanos e assim contribuir para a proacutepria histoacuteria do municiacutepio

que natildeo possui nenhum estudo sobre esse fenocircmeno linguiacutestico

Estimular novas pesquisas a serem realizadas sobre esse processo nessa regiatildeo

Desse modo em consonacircncia com os objetivos que traccedilamos com base nas leituras

que fizemos e nos resultados alcanccedilados no estudo-piloto formulamos algumas hipoacuteteses que

buscamos confirmar ou refutar por meio dos resultados obtidos no teacutermino dessa pesquisa

Haacute mais ocorrecircncias de abaixamento da vogal e do que da vogal o na posiccedilatildeo

pretocircnica conforme ocorreu com o estudo-piloto que realizamos

O processo da harmonia vocaacutelica aplica-se para o abaixamento tanto de e quanto de

o na posiccedilatildeo pretocircnica por acreditarmos que a presenccedila de uma vogal meacutedia baixa

([ɛ ɔ]) na siacutelaba tocircnica favorece a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

8 Grupo de Pesquisa sobre a Descriccedilatildeo Soacutecio-Histoacuterica das Vogais do Portuguecircs (do Brasil) ndash PROBRAVO Este

Grupo estaacute localizado no Brasil e eacute coordenado pelo Prof Dr Seung Hwa Lee da Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG)

20

Os contextos que favorecem e que desfavorecem o abaixamento de e e de o satildeo

diferentes posto que como percebemos nas leituras e nos resultados do estudo-piloto

que fizemos cada vogal sofre o processo em ambientes distintos

O segmento precedente e o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica

analisada satildeo relevantes para que o processo de abaixamento seja realizado para

ambas as vogais

Quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica e do iniacutecio da palavra a vogal meacutedia pretocircnica

estiver maior seraacute a probabilidade da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] ocorrer

A variaacutevel extralinguiacutestica sexo eacute relevante para o estudo do abaixamento das vogais

meacutedias pois como revelaram os resultados do estudo-piloto o homem teve mais

realizaccedilotildees de [ɛ] e de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica do que a mulher

Os falantes da faixa etaacuteria mais elevada (acima de 49 anos de idade) realizam mais

abaixamentos de e e de o do que a faixa etaacuteria mais jovem (entre 15 e 25 anos de

idade)

O grau de escolaridade tem um papel significativo no processo de abaixamento

Como essa pesquisa se propotildee a estudar o comportamento variaacutevel das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica eacute importante ressaltarmos algumas delimitaccedilotildees da aacuterea em estudo

Assim natildeo analisaremos os seguintes contextos

palavras iniciadas pela vogal e seguida das consoantes N ou S como em escola e

ensino devido ao fato de o alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos conforme

jaacute comprovado pela literatura (BISOL 1981 VIEGAS 1987 CALLOU LEITE

MORAES 2002)

palavras que contenham vogais constitutivas de ditongo como em coisinha e

leucemia pois de acordo com os nossos dados e com o estudo de Schwindt (1995 p

5) ldquoPalavras desse tipo [] justificam-se por terem suas vogais pronunciadas

caracterizando hiatordquo

palavras cuja vogal da siacutelaba pretocircnica seja nasal como em tentativa e conversa pelo

fato de que no Portuguecircs Brasileiro natildeo haacute vogais nasais abertas (VIANA 2008 p

65)

palavras derivadas Neste caso nossos dados e os estudos feitos por Bisol (1981)

mostraram que essas palavras preservam o acento da palavra primitiva enquanto os

sufixos satildeo considerados inibidores para o processo de variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas

21

por exemplo sinc[ɛ]ro rarr sinc[ɛ]ramente t[o]tal rarr t[o]talmente p[ɔ]te rarr p[ɔ]tinho

v[e]rde rarr v[e]rdinho

Quando a palavra possuir mais de uma vogal pretocircnica (ex televisatildeo oportunidade)

esta seraacute ldquo[] submetida a anaacutelises individuais para cada pretocircnica existenterdquo (Schwindt

1995 p 5)

Este trabalho foi dividido em seis capiacutetulos que satildeo descritos a seguir

No Capiacutetulo 1 que foi dedicado agrave introduccedilatildeo apresentamos o processo fonoloacutegico do

abaixamento que eacute o tema desta dissertaccedilatildeo bem como os objetivos geral e especiacuteficos as

hipoacuteteses e a justificativa para a realizaccedilatildeo deste estudo

No Capiacutetulo 2 tratamos da fundamentaccedilatildeo teoacuterica que norteia este trabalho Assim na

primeira seccedilatildeo fizemos um breve percurso pela evoluccedilatildeo das vogais do Portuguecircs Brasileiro

desde a sua origem Em seguida na segunda seccedilatildeo discorremos sobre o sistema vocaacutelico

pretocircnico do Brasil que foi o foco de vaacuterios estudos jaacute realizados por diversos autores em

todo o paiacutes Alguns desses estudos constituem a terceira seccedilatildeo deste capiacutetulo Por fim na

quarta seccedilatildeo apresentamos a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos escolhida para

representar os resultados encontrados e assim nos auxiliar na interpretaccedilatildeo dos dados

O Capiacutetulo 3 refere-se agrave parte metodoloacutegica desta pesquisa e foi dividido em cinco

seccedilotildees Na primeira fizemos uma breve apresentaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista cujos

preceitos foram o guia para a metodologia deste trabalho A segunda seccedilatildeo refere-se ao

municiacutepio de Monte Carmelo onde este estudo foi realizado A constituiccedilatildeo da amostra e o

detalhamento de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos dados satildeo o tema da terceira seccedilatildeo

deste capiacutetulo Jaacute na quarta e quinta seccedilotildees respectivamente expusemos acerca do GoldVarb

X o programa estatiacutestico escolhido para a execuccedilatildeo das rodadas dos dados e sobre as

variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas selecionadas para este estudo

A anaacutelise dos dados das vogais pretocircnicas e e o foi o foco do Capiacutetulo 4 em que

discorremos sobre as variaacuteveis e os fatores selecionados para cada vogal para no Capiacutetulo 5

representarmos por meio da Geometria de Traccedilos o processo fonoloacutegico que motiva a

variaccedilatildeo das duas vogais meacutedias pretocircnicas analisadas

O Capiacutetulo 6 eacute dedicado agrave conclusatildeo em que retomamos os resultados encontrados

para o dialeto carmelitano Posteriormente listamos as referecircncias que nos serviram como

alicerce para a pesquisa e encerramos o texto com os anexos que trazem o roteiro de

perguntas elaboradas para a coleta das entrevistas e os coacutedigos definidos para cada variaacutevel e

seus respectivos fatores

22

2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo fizemos um breve percurso pela histoacuteria da liacutengua

portuguesa desde o latim ateacute a liacutengua portuguesa que temos hoje com base na obra de

Teyssier (2007) Eacute importante salientar que a nossa atenccedilatildeo esteve mais voltada para o

Portuguecircs Brasileiro e para os principais fatos histoacutericos e poliacuteticos que contribuiacuteram para a

evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa no Brasil A escolha pela obra de Teyssier (2007) foi feita pela

objetividade e clareza do autor ao tratar da histoacuteria da evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa pois

por meio de seu texto conseguimos entender como surgiram muitas realizaccedilotildees que temos

atualmente na nossa liacutengua

A seccedilatildeo 22 foi dedicada especificamente ao sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro Com referecircncia a alguns autores como Cacircmara Jr (2006) fizemos uma exposiccedilatildeo

acerca das vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas que fazem parte do nosso sistema vocaacutelico

aleacutem de alguns processos fonoloacutegicos que atuam sobre as vogais Na seccedilatildeo 23 apresentamos

estudos que alguns autores realizaram em diferentes cidades brasileiras sobre a harmonia

vocaacutelica e o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica Por fim na uacuteltima seccedilatildeo -

24 - deste capiacutetulo discorremos sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos que nos

auxiliou na anaacutelise dos resultados obtidos neste estudo

21 As Vogais do Portuguecircs Brasileiro um Breve Histoacuterico do Latim ao Portuguecircs do

Brasil

Segundo Teyssier (2007) eacute no seacuteculo XIII que surgem os primeiros textos escritos em

portuguecircs Nesse periacuteodo o portuguecircs natildeo difere do galego que era falado na proviacutencia (hoje

Espanha) da Galiacutecia O autor explica que ldquo[] o galego-portuguecircs [] eacute a forma que toma o

latim no acircngulo noroeste da Peniacutensula Ibeacutericardquo (TEYSSIER 2007 p 3) Na verdade o

galego-portuguecircs eacute uma liacutengua que evoluiu a partir do latim e se formou na regiatildeo de

Mondego ao norte de Douro (uma aacuterea que atualmente corresponde agrave Galiacutecia e ao norte de

Portugal) O portuguecircs entatildeo teria resultado da evoluccedilatildeo gradativa da liacutengua galego-

portuguesa do Norte

O latim claacutessico conforme Teyssier (2007 p 9) tinha um total de dez vogais

divididas em ldquo[] cinco timbres vocaacutelicos havendo uma vogal breve e uma longa para cada

timbrerdquo Entretanto ateacute o fim do periacuteodo imperial o latim falado passou por diversas

transformaccedilotildees dentre elas a perda das oposiccedilotildees de quantidade de timbre do quadro de

23

vogais Assim sendo afirma ainda que ldquoO latim imperial conservou as oposiccedilotildees de timbre

resultantes dos variados graus de aberturardquo

Essa evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas no latim claacutessico para o latim imperial teve como

consequecircncia a reduccedilatildeo das vogais de dez para sete nessa posiccedilatildeo como podemos ver na

Tabela 1 abaixo

Tabela 1 - Evoluccedilatildeo das vogais tocircnicas do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

ī i fīcum gt port figo

ĭ

sĭtim gt port sẹde

ē rēte gt port rẹde

ĕ ę tĕrra gt port tęrra

ă

a

lătus gt port lado

ā amātum gt port amado

ŏ ǫ pŏrta gt port pǫrta

ō ọ amōrem gt port amọr

ŭ bŭcca gt port bọca

ū u pūrum gt port puro

Fonte TEYSSIER (2007 p 9)

Outra mudanccedila sofrida pelo latim claacutessico refere-se aos ditongos aelig e œ que passaram a

vogais simples de timbres diferentes em latim imperial conforme a Tabela 2 a seguir

Tabela 2 - Evoluccedilatildeo dos ditongos do latim claacutessico para o latim imperial

Latim claacutessico Latim imperial Exemplos

aelig ę caecum gt port cęgo

œ ẹ foedum gt port fẹo hoje feio

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Assim as dez vogais e dois dos ditongos do latim claacutessico deram lugar a sete vogais

no latim imperial

24

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 2 - As vogais do latim imperial

Fonte TEYSSIER (2007 p 10)

Teyssier (2007) afirma que este jaacute eacute o sistema vocaacutelico do galego-portuguecircs medieval

pois

[] se considerarmos natildeo mais o sistema mas sim as palavras tomadas

individualmente verificamos que em posiccedilatildeo tocircnica o timbre de muitas

palavras do galego-portuguecircs e tambeacutem do portuguecircs contemporacircneo

permaneceu o mesmo do latim imperial [] Esse notaacutevel caraacuteter

conservador do vocalismo portuguecircs ndash conveacutem advertir ndash comprova-se como

uma tendecircncia geral (TEYSSIER 2007 p 10)

No entanto o autor ressalta que diversas circunstacircncias levaram ao rompimento dessa

semelhanccedila entre as vogais do latim imperial e as do portuguecircs As vogais aacutetonas por

exemplo eram muito fraacutegeis e costumavam desaparecer na pronuacutencia obedecendo a uma

tendecircncia comum do romance ocidental Os exemplos de Teyssier (2007 p 11) mostram que

se dizia ocrsquolu- por ocŭlum e calrsquodu- por calĭdum Por isso segundo o autor temos olho e

caldo em portuguecircs

Embora os trecircs seacuteculos que separam a chegada dos germacircnicos (409) e dos

muccedilulmanos (711) agrave Peniacutensula natildeo tenham deixado nenhum documento linguiacutestico o

caminho percorrido pela evoluccedilatildeo eacute indubitaacutevel (TEYSSIER 2007) O que se pode notar

nesse periacuteodo eacute a apariccedilatildeo de certas fronteiras linguiacutesticas Uma delas diz respeito agraves vogais

abertas que correspondem a ɛ e ɔ hoje No Centro da Peniacutensula conforme Teyssier (2007

p 14) essas vogais se ditongaram na posiccedilatildeo tocircnica em diversas posiccedilotildees

ldquo[ę] passa a [ęę] e finalmente a ie ex petra gt castelhano piedra

[ǫ] passa a [ǫǫ] depois a uo e finalmente a ue ex nove gt castelhano nueverdquo

O galego-portuguecircs todavia natildeo faraacute essa ditongaccedilatildeo e pronunciaraacute pedra com [ɛ] e

nove com [ɔ] Por desconhecer a ditongaccedilatildeo das duas vogais abertas o galego-portuguecircs

25

acaba se isolando dos outros falares da Peniacutensula sobretudo do castelhano Assim entre os

seacuteculos V e VII o galego-portuguecircs e o que viria a ser o castelhano comeccedilam a se distanciar e

natildeo entram mais em contato

Possivelmente como consequecircncia dessa separaccedilatildeo acreditava-se que os primeiros

textos escritos em galego-portuguecircs datavam do final do seacuteculo XII Entretanto de acordo

com Teyssier (2007) estudos recentes mostraram que os textos mais antigos do galego-

portuguecircs aparecem jaacute no iniacutecio do seacuteculo XIII Assim como o castelhano o portuguecircs surgiu

a partir do galego-portuguecircs medieval uma liacutengua que nasceu no Norte e foi levada para o

Sul pela Reconquista No entanto o portuguecircs moderno difere do castelhano no que se refere

agrave norma por buscaacute-la na regiatildeo centro-sul onde Lisboa estaacute localizada e natildeo no Norte

Teyssier (2007) afirma que na segunda metade do seacuteculo XIII algumas tradiccedilotildees

graacuteficas foram estabelecidas como a utilizaccedilatildeo de ldquochrdquo para a africada [tš] (ex Sancho)

Nessa eacutepoca ldquo[] a grafia do galego-portuguecircs medieval aparece como mais regular e

ldquofoneacuteticardquo do que aquela que prevaleceraacute em portuguecircs alguns seacuteculos mais tarderdquo

(TEYSSIER 2007 p 29) Sobre a foneacutetica e a fonologia do galego-portuguecircs o autor explica

que nas vogais o acento tocircnico ocorria geralmente na uacuteltima ou na penuacuteltima siacutelaba e

muito raramente na antepenuacuteltima Na posiccedilatildeo tocircnica as vogais eram mais numerosas

i u

ẹ ọ

ę ǫ

a

Figura 3 - As vogais tocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

E em posiccedilatildeo aacutetona final as vogais se reduziam a

(i)

e o

a

Figura 4 - As vogais aacutetonas finais do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 30)

26

Segundo Teyssier (2007 p 30) mesmo nos textos mais antigos jaacute se encontrava um

fonema i final como nos imperativos vendi e parti em algumas formas verbais cantasti e

partisti e em determinadas palavras como longi Todavia no iniacutecio do seacuteculo XIV todas

essas palavras apresentavam a vogal -e final como em vende parte pude etc Nesse caso o

sistema vocaacutelico passou a ter apenas trecircs fonemas e a e o

Sobre a grafia de -u no lugar de -o nos textos mais antigos jaacute se encontra essa

substituiccedilatildeo Teyssier (2007 p 31) argumenta que alguns estudiosos da liacutengua viam esse uso

do -u final como uma prova de que desde essa eacutepoca os falantes do galego-portuguecircs

pronunciariam [u] nas siacutelabas aacutetonas finais escritas hoje com ndasho como em havemos e campo

Outra interpretaccedilatildeo possiacutevel que o autor acredita ser a mais aceitaacutevel eacute a de que ldquo[] essas

grafias medievais em -u ndash ex avemus e canpurdquo podem ser entendidas ldquocomo latinismos ou

como formas de traduzir um timbre muito fechado de -o finalrdquo Aleacutem disso afirma ser essa a

melhor interpretaccedilatildeo ldquo[] porque o galego moderno pronuncia sempre o -o aacutetono final como

[ọ] fechadordquo

Entretanto quando nos deparamos com essa afirmaccedilatildeo algumas questotildees logo nos

vecircm agrave mente seraacute que a pronuacutencia desses falantes ocorria sempre da mesma forma E seraacute

que o [ọ] fechado era pronunciado em todos os casos sem exceccedilatildeo Entendemos que fazer

esse tipo de afirmaccedilatildeo com tamanha certeza pode ser perigoso por se tratar da pronuacutencia de

falantes que natildeo foram gravados ndash ateacute porque naquela eacutepoca natildeo existia esse recurso ndash e pelo

fato de que a variaccedilatildeo pode ocorrer na fala de um mesmo falante ainda que uma das duas

formas prevaleccedila

Outra evidecircncia de que essa interpretaccedilatildeo pode estar equivocada eacute a pronuacutencia da

siacutelaba aacutetona final no Portuguecircs Brasileiro moderno que eacute feita com os fonemas i a e u

Se falamos assim hoje com certeza natildeo eacute por obra do acaso Eacute possiacutevel que nossos

antepassados pronunciavam essas vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba e que esse legado tenha

chegado a noacutes passando de geraccedilatildeo para geraccedilatildeo

Polecircmicas agrave parte na posiccedilatildeo pretocircnica a exposiccedilatildeo de Teyssier (2007 p 31) mostra-

nos que desde a eacutepoca do galego-portuguecircs as oposiccedilotildees entre e e ɛ e entre o e ɔ

desapareciam e o sistema de sete vogais na posiccedilatildeo tocircnica passava a cinco na pretocircnica

27

i u

e o

a

Figura 5 - As vogais pretocircnicas do galego-portuguecircs

Fonte TEYSSIER (2007 p 31)

Por volta de 1350 quando a escola literaacuteria galego-portuguesa foi extinta o portuguecircs

tornou-se a liacutengua de Portugal e devido aos constantes deslocamentos do rei e de sua corte o

eixo Lisboa-Coimbra passou a ser ldquo[] o centro de domiacutenio da liacutengua portuguesardquo

(TEYSSIER 2007 p 41) Assim a partir dessa regiatildeo distante da Galiacutecia e das proviacutencias

onde estavam suas origens o portuguecircs moderno viria a se constituir

O galego comeccedila a se afastar da liacutengua portuguesa desde o seacuteculo XIV e de acordo

com Teyssier (2007 p 46) a partir do seacuteculo XVI ldquo[] deixa de ser cultivado como liacutengua

literaacuteria e soacute sobrevive no uso oralrdquo Aleacutem disso as evoluccedilotildees foneacuteticas sofridas pelo galego

serviram para afastaacute-lo ainda mais do portuguecircs Dentre as mudanccedilas que Teyssier (2007 p

48-49) apresenta podemos citar a contraccedilatildeo de duas vogais em uma uacutenica vogal como

exemplo de uma evoluccedilatildeo foneacutetica do portuguecircs europeu do seacuteculo XIV ateacute os dias atuais

ldquo[] Contraccedilatildeo das duas vogais numa vogal uacutenica quando uma das duas vogais eacute

nasal o resultado eacute uma vogal nasal ex latilde-a gt latilde botilde-o gt botilde (escrito bom)rdquo

A contraccedilatildeo entre vogais nasais e orais pode resultar em novos fonemas e foi o que

aconteceu com o portuguecircs europeu na posiccedilatildeo tocircnica que tinha sete vogais no galego-

portuguecircs e ganhou mais um fonema (auml) devido a contraccedilotildees do tipo ga-anha gt ganha

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 6 - As vogais tocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 50)

28

Na posiccedilatildeo postocircnica natildeo ocorre nenhuma mudanccedila Jaacute na posiccedilatildeo pretocircnica as

contraccedilotildees das vogais em hiato resultariam em trecircs fonemas vocaacutelicos abertos a saber ę a

e ǫ Teyssier (2007 p 51) explica que no seacuteculo XV quando as contraccedilotildees das vogais em

hiato foram concluiacutedas as vogais [ę] [a] e [ǫ] tinham que ldquo[] ser longas e abertas em

oposiccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas simples [ẹ] [ọ] e [auml] que eram breves e fechadasrdquo Por isso o

sistema vocaacutelico pretocircnico passa a ter oito vogais da mesma forma que o sistema em posiccedilatildeo

tocircnica

i u

ẹ ọ

auml

ę ǫ

a

Figura 7 - As vogais pretocircnicas do portuguecircs europeu

Fonte TEYSSIER (2007 p 51)

Para Teyssier (2007) a trajetoacuteria histoacuterica e poliacutetica dos portugueses foi fundamental

para disseminar a liacutengua portuguesa em vaacuterias regiotildees No Brasil podemos destacar a

chegada dos portugueses em 1500 Quando os europeus chegaram em terras brasileiras os

iacutendios jaacute viviam aqui Posteriormente vieram os negros que foram importados como

escravos da Aacutefrica Assim durante o periacuteodo colonial portugueses iacutendios e negros

constituiacuteram a base da populaccedilatildeo do Brasil

Os portugueses comeccedilaram por colonizar o litoral mas a fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo atraiu

a atenccedilatildeo dos europeus para o interior do paiacutes Por isso a aacuterea onde hoje fica o estado de

Minas Gerais no seacuteculo XVIII foi ocupada para a retirada de ouro Nessa eacutepoca o Brasil natildeo

tinha nenhuma universidade e era considerado um paiacutes rural No que se refere agrave liacutengua a

populaccedilatildeo indiacutegena africana e mesticcedila aprendeu a falar o portuguecircs com os portugueses mas

natildeo da forma como os europeus falavam

Isso porque a liacutengua portuguesa disputava espaccedilo com outra liacutengua o tupi que era a

liacutengua dos iacutendios e que portanto jaacute era falada aqui quando os portugueses chegaram

Durante muito tempo o portuguecircs e o tupi conviveram em harmonia mas segundo Teyssier

(2007) a decadecircncia do tupi comeccedilou na segunda metade do seacuteculo XVIII Com a chegada de

mais portugueses atraiacutedos pela riqueza das pedras preciosas encontradas em solo brasileiro e

29

de um Diretoacuterio criado pelo Marquecircs de Pombal em 1757 a liacutengua geral ndash o tupi ndash foi

proibida e em seu lugar passou-se a adotar a liacutengua portuguesa

Em 1767 dez anos apoacutes a criaccedilatildeo do Diretoacuterio

[] Frei Luiacutes do Monte Carmelo (Compendio de Orthographia) assinala

pela primeira vez um traccedilo foneacutetico dos brasileiros que eacute o de natildeo fazerem

distinccedilatildeo entre as pretocircnicas abertas (ex pagravedeiro pregravegar cograverar) e as

fechadas (ex cadeira pregar morar) Jeroacutenimo Soares Barbosa

(Grammatica Philosophica 1822) salienta o mesmo fato e acrescenta que os

brasileiros dizem minino (por menino) mi deu (por me deu) que natildeo chiam

os ndashs implosivos (misteacuterio fasto livros novos) (TEYSSIER 2007 p 95)

Teyssier (2007) afirma que o portuguecircs do Brasil conservou algumas realizaccedilotildees

foneacuteticas do portuguecircs europeu ndash como as vogais [e] e [o] ndash e ignorou outras ndash como a vogal

central [euml] Segundo o autor as pretocircnicas realizam-se fechadas na regiatildeo Centro-Sul e abertas

no Norte e Nordeste do Brasil mas como vimos na anaacutelise dos resultados deste trabalho e em

outros estudos jaacute desenvolvidos tambeacutem eacute possiacutevel encontrar vogais abertas na siacutelaba

pretocircnica na regiatildeo Centro-Sul

Sobre essa aparente divisatildeo geograacutefica para a pronuacutencia das vogais meacutedias Teyssier

(2007 p 101) explica que ldquoA pronuacutencia brasileira nesse ponto perpetua mais uma vez a

pronuacutencia de Portugal antes das grandes mutaccedilotildees foneacuteticas do seacuteculo XVIIIrdquo Aleacutem disso o

Portuguecircs Brasileiro realiza transformaccedilotildees das pretocircnicas jaacute conhecidas pela liacutengua antiga

por exemplo a realizaccedilatildeo de [i] no lugar de e diante de S ou N em palavras do tipo intrar

e istar para entrar e estar

Em suas conclusotildees sobre a foneacutetica e a fonologia do Portuguecircs Brasileiro o autor

argumenta que o portuguecircs do Brasil distancia-se do portuguecircs europeu sobretudo pela

pronuacutencia das vogais mas tambeacutem pelo conservadorismo e pelas inovaccedilotildees sofridas ao longo

da histoacuteria Para Teyssier (2007 p 104) o sistema fonoloacutegico das vogais brasileiras eacute um

ldquo[] sistema [] simeacutetrico e equilibradordquo e ldquoAs aacutetonas finais satildeo realizadas de forma mais

niacutetida que no portuguecircs europeurdquo que pode ser descrito da seguinte forma

30

Posiccedilatildeo tocircnica Posiccedilatildeo pretocircnica Posiccedilatildeo aacutetona final

i u i u i u

e o E O

ɛ ɔ

A9 a a

Figura 8 - As vogais tocircnicas pretocircnicas e aacutetonas finais do Portuguecircs Brasileiro

Fonte TEYSSIER (2007 p 104)

Apoacutes essa breve passagem pela evoluccedilatildeo da liacutengua portuguesa na proacutexima seccedilatildeo

discorremos sobre o sistema vocaacutelico pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

22 O Sistema Vocaacutelico Pretocircnico do Portuguecircs Brasileiro

Com relaccedilatildeo agraves vogais do Portuguecircs Brasileiro (doravante PB) Cacircmara Jr (2006)10

afirma que a liacutengua oral eacute muito mais complexa do que pressupotildee o uso das cinco vogais

latinas ndash a e i o u ndash da escrita Devido a essa complexidade o autor chama a atenccedilatildeo para

a dificuldade que os falantes do espanhol geralmente tecircm de entender o portuguecircs falado ao

contraacuterio dos falantes brasileiros e portugueses que costumam compreender razoavelmente o

espanhol falado Isso acontece porque o espanhol possui um sistema vocaacutelico menor e menos

variaacutevel que o do portuguecircs Como veremos a seguir o sistema vocaacutelico do Portuguecircs

Brasileiro possui sete vogais enquanto o sistema vocaacutelico espanhol possui cinco Com

exceccedilatildeo das vogais meacutedias abertas ɛ (de cafeacute) e ɔ (de bola) os espanhoacuteis tecircm as mesmas

vogais que noacutes temos na liacutengua portuguesa do Brasil ou seja a e i o u

Sobre as vogais do PB mais especificamente sobre o dialeto do Rio de Janeiro apesar

de natildeo lidar com dados de fala os estudos de Cacircmara Jr (2006) mostraram que eacute a partir da

posiccedilatildeo tocircnica que as vogais satildeo classificadas como fonemas porque eacute nessa posiccedilatildeo que se

apresentam os traccedilos distintivos vocaacutelicos com maior nitidez Segundo o autor existem em

portuguecircs sete fonemas realizados em muitos alofones11

pois aleacutem das cinco vogais jaacute

9 A letra maiuacutescula entre barras eacute usada para representar um arquifonema que segundo Monaretto Quednau e

Hora (2005 p 209) eacute um termo criado por Nikolai Trubetzkoy para indicar ldquo[] a perda do contraste entre dois

fonemas causada por uma neutralizaccedilatildeordquo Como exemplo os autores citam bolobolu visto que natildeo haacute oposiccedilatildeo

entre os fonemas o e u em final de palavra Neste caso para representar essa falta de oposiccedilatildeo essa forma eacute

transcrita como bolU 10

Neste trabalho consultamos a 38ordf ediccedilatildeo da obra Estrutura da Liacutengua Portuguesa cuja primeira ediccedilatildeo foi

publicada em 1970 11

Agraves vaacuterias realizaccedilotildees de um mesmo fonema daacute-se o nome de alofone

31

mencionadas na posiccedilatildeo tocircnica existem tambeacutem ɛ (de Eva) e ɔ (de tijolos) Assim as

vogais constituem um sistema triangular denominaccedilatildeo dada por Trubetzkoy como podemos

visualizar na figura abaixo

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Meacutedias (1ordm grau) ɛ ɔ

Baixa a

Anteriores Central Posteriores

Figura 9 - As vogais do PB na posiccedilatildeo tocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 41)

De acordo com a classificaccedilatildeo de Cacircmara Jr (2006) a vogal a eacute baixa e central as

vogais ɛ e e i satildeo anteriores enquanto ɔ o e u satildeo posteriores As vogais ɛ e ɔ satildeo

meacutedias abertas ou de 1ordm grau e e o satildeo meacutedias fechadas ou de 2ordm grau e i e u satildeo vogais

altas O autor explica que ldquoA articulaccedilatildeo da parte anterior central [] e posterior da liacutengua daacute

a classificaccedilatildeo articulatoacuteria de vogais ndash anteriores central e posterioresrdquo Jaacute a classificaccedilatildeo

das vogais em altas meacutedias de 2ordm grau meacutedias de 1ordm grau e vogal baixa foi feita considerando

ldquoA elevaccedilatildeo gradual da liacutengua na parte anterior ou na parte posteriorrdquo (CAcircMARA JR 2006

p 41)

Se na posiccedilatildeo tocircnica o PB dispotildee de sete vogais conforme Cacircmara Jr (2006) diante

de uma consoante nasal na siacutelaba seguinte as vogais se reduzem a cinco de acordo com a

figura a seguir

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

[ɐ]

Figura 10 - As vogais do PB diante de consoante nasal

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 43)

Essa reduccedilatildeo acontece porque no Portuguecircs Brasileiro quando seguida por uma

consoante nasal a vogal eacute pronunciada com um som mais fechado Nas posiccedilotildees pretocircnica e

32

aacutetona final tambeacutem ocorre uma reduccedilatildeo no sistema vocaacutelico Na posiccedilatildeo pretocircnica com a

eliminaccedilatildeo das vogais meacutedias de 1ordm grau (ɛ ɔ) as vogais passam a cinco (i e a o

u) como vimos na Figura 10

Altas i u

Meacutedias (2ordm grau) e o

Baixa a

Figura 11 - As vogais do PB na posiccedilatildeo pretocircnica

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

O que ocorreu com as vogais na posiccedilatildeo pretocircnica foi um processo fonoloacutegico

denominado neutralizaccedilatildeo que acontece quando um traccedilo ocupa o lugar de outro que

desaparece Neste caso as vogais meacutedias baixas desaparecem e toda a posiccedilatildeo eacute ocupada

pelas vogais meacutedias altas Como exemplos desse processo Battisti e Vieira (2005 p 172)

citam caf[ɛ] ndash caf[e]teira b[ɛ]lo ndash b[e]leza s[ɔ]l ndash s[o]laccedilo pelo fato de que essas palavras

perdem o traccedilo distintivo na posiccedilatildeo pretocircnica e reduzem dois fonemas a uma uacutenica unidade

fonoloacutegica De acordo com as autoras ldquoNesses exemplos o traccedilo distintivo que separa em

duas unidades e e ɛ assim como o e ɔ eacute perdido na posiccedilatildeo pretocircnicardquo (BATTISTI

VIEIRA 2005 p 173)

Entretanto eacute importante ressaltar que a neutralizaccedilatildeo das vogais meacutedias baixas

pretocircnicas natildeo implica a perda do valor distintivo Como jaacute nos referimos na seccedilatildeo anterior

para Teyssier (2007) os dialetos do PB dividem-se em dois grandes grupos o do Norte que

se caracteriza pela pronuacutencia das vogais meacutedias baixas [ɛ ɔ] e o do Centro-Sul que eacute

caracterizado pela pronuacutencia das vogais meacutedias altas [e o]

Callou Leite e Moraes (1996) tambeacutem tecircm a mesma opiniatildeo de Teyssier (2007) com

relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo das vogais abertas e fechadas Segundo os autores haacute falares em que a

realizaccedilatildeo das vogais abertas na posiccedilatildeo pretocircnica eacute mais frequente por exemplo os falantes

do Norte do Brasil optam pela realizaccedilatildeo aberta das vogais enquanto os falantes do Sul as

realizam como fechadas Logo podemos encontrar palavras como b[ɛ]leza e b[e]leza

pr[ɔ]blema e pr[o]blema sem que essas formas prejudiquem a compreensatildeo dos vocaacutebulos E

como veremos na anaacutelise dos resultados deste estudo os falantes de Monte Carmelo-MG

33

realizam as vogais meacutedias abertas na posiccedilatildeo pretocircnica embora natildeo seja o esperado para essa

regiatildeo e nem seja a pronuacutencia mais frequente

Por fim a maior reduccedilatildeo das vogais ocorre na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final como

podemos visualizar na Figura 12 a seguir

i u

a

Figura 12 - As vogais do PB na posiccedilatildeo de siacutelaba aacutetona final

Fonte CAcircMARA JR (2006 p 44)

Lee (2006 p 170) afirma que essa reduccedilatildeo acontece porque na posiccedilatildeo final da

palavra natildeo existem vogais meacutedias Assim ldquoA realizaccedilatildeo foneacutetica nesta posiccedilatildeo estaacute

condicionada pelo acento e pela posiccedilatildeo e as vogais meacutedias se reduzem passando a vogais

altasrdquo Esse processo que ocorre na siacutelaba aacutetona final eacute conhecido como reduccedilatildeo vocaacutelica

que no sistema vocaacutelico do PB atinge as vogais nessa posiccedilatildeo Desse modo em siacutelaba aacutetona

final as vogais sofrem uma draacutestica reduccedilatildeo passando de sete na posiccedilatildeo tocircnica para apenas

trecircs na posiccedilatildeo aacutetona final (i a u) uma vez que as vogais meacutedias altas (e o) cedem

seu lugar agraves vogais altas (i u) Por isso temos por exemplo surd[u]-mud[u] para surdo-

mudo e pent[i] para pente

As vogais podem sofrer ainda mais um processo a harmonia vocaacutelica que foi

definida por Bisol (1981 p 259) como ldquo[] um processo de assimilaccedilatildeo regressiva

desencadeado pela vogal alta da siacutelaba imediatamente seguinte independente de sua

tonicidade que pode atingir uma algumas ou todas as vogais meacutedias do contextordquo Para

Viana (2008 p 27) a harmonia vocaacutelica ldquo[] eacute constatada na posiccedilatildeo pretocircnica refere-se agrave

assimilaccedilatildeo12

das vogais meacutedias pretocircnicas agrave altura da vogal da siacutelaba tocircnica imediatamente

seguinterdquo A autora explica que esse processo pode elevar as vogais meacutedias pretocircnicas como

em bebida ~ b[i]bida ou abaixaacute-las como em negoacutecio ~ n[ɛ]goacutecio dependendo da vogal

tocircnica que impulsionar o processo

Muitos trabalhos como o de Battisti e Vieira (2005) confirmam as consideraccedilotildees

feitas por Cacircmara Jr (2006) sobre as vogais que compotildeem o sistema vocaacutelico do PB e

12

De acordo com Viana (2008 p 27) ldquo[] quando um segmento assume um ou mais traccedilos de um segmento

vizinhordquo ocorre o processo de assimilaccedilatildeo

34

afirmam que realmente haacute sete vogais na siacutelaba tocircnica e apenas trecircs na siacutelaba aacutetona final

Com relaccedilatildeo agraves vogais pretocircnicas o sistema de sete vogais eacute reduzido para cinco como

argumentou esse autor e embora natildeo haja oposiccedilatildeo entre vogais meacutedias altas e meacutedias baixas

na siacutelaba pretocircnica a realizaccedilatildeo das vogais ɛ e ɔ e o eacute variaacutevel nessa posiccedilatildeo Isso

porque se considerarmos a variedade de dialetos e as diferentes regiotildees do Brasil podemos

encontrar pronuacutencias mais fechadas ndash com [e] e [o] ndash ou mais abertas ndash com [ɛ] e [ɔ] ndash na

siacutelaba pretocircnica Na seccedilatildeo seguinte apresentamos alguns estudos que tecircm como foco a

variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

23 Alguns Estudos Variacionistas Sobre as Vogais Pretocircnicas do PB

A variaccedilatildeo das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica tem sido o objeto de estudo de

muitas pesquisas feitas no Brasil dentre elas Bisol (1981) que utilizou o falar gauacutecho para

estudar o processo da harmonia vocaacutelica nas vogais meacutedias pretocircnicas Viegas13

(1987) que

pesquisou o alccedilamento das vogais meacutedias em Belo Horizonte-MG Freitas (2001) que

estudou a variaccedilatildeo das vogais pretocircnicas em Braganccedila-PA Dias (2008) que tambeacutem analisou

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias em Minas Gerais nos municiacutepios de Piranga e Ouro Branco

Viana (2008) que analisou o alccedilamento o abaixamento e a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas em Paraacute de Minas-MG e Silva (2009) que pesquisou as vogais meacutedias pretocircnicas

no dialeto de Teresina-PI

Dentre essas pesquisas os estudos de Bisol (1981) e Viegas (1987) podem ser

considerados os mais conhecidos por quem lida com a variaccedilatildeo das vogais A contribuiccedilatildeo

que essas autoras deram para a pesquisa relacionada mais especificamente agrave harmonia

vocaacutelica e ao alccedilamento processos que elas estudaram no Rio Grande do Sul e em Belo

Horizonte respectivamente abriram as portas para muitos outros estudos que vecircm sendo

desenvolvidos no Brasil sobre o comportamento das vogais meacutedias pretocircnicas

Assim nas proacuteximas paacuteginas apresentamos os aspectos principais de alguns trabalhos

que tecircm como foco de estudo a variaccedilatildeo das vogais na posiccedilatildeo pretocircnica sobretudo os

processos do abaixamento e da harmonia vocaacutelica que fazem parte desta pesquisa Trata-se

nesse momento de uma exposiccedilatildeo desses estudos e por isso natildeo estabelecemos relaccedilotildees

entre esta pesquisa e as demais que satildeo apresentadas Fizemos isso no Capiacutetulo 4 que eacute

dedicado agrave anaacutelise dos resultados obtidos neste trabalho

13

Aleacutem dos dados de fala essa autora tambeacutem se baseou na intuiccedilatildeo para pesquisar o alccedilamento

35

231 Harmonizaccedilatildeo vocaacutelica uma regra variaacutevel

Em sua tese de doutorado Bisol (1981) teve como objeto de estudo as vogais meacutedias

pretocircnicas na fala do dialeto gauacutecho Apesar de a autora ter focado sua pesquisa no alccedilamento

que resultaria na harmonia vocaacutelica o trabalho desenvolvido por ela na regiatildeo sul do Brasil

tornou-se referecircncia para pesquisas posteriores sobre vogais e especialmente sobre a

harmonia vocaacutelica razatildeo pela qual apresentamos aqui os resultados obtidos pela autora O

corpus utilizado pela pesquisadora foi composto pela fala de 44 informantes descendentes dos

trecircs principais povos colonizadores do estado do Rio Grande do Sul a saber alematildees

portugueses e italianos

Com base na teoria variacionista proposta por Labov nos anos de 1960 e nos dados

coletados em sua pesquisa Bisol (1981) afirma que quando proacuteximas de uma vogal alta ou

sem a presenccedila dela a vogal o inicial sofreu elevaccedilatildeo como em [o]brigado ~ [u]brigado

[o]perar ~ [u]perar14

Sobre a vogal e a pesquisadora notou que quando seguida de N ou

S sua elevaccedilatildeo eacute quase categoacuterica o que acontece desde o portuguecircs mais antigo como

afirma Teyssier (2007) Quanto aos hiatos a autora verificou que no dialeto gauacutecho ocorrem

situaccedilotildees como em t[e]atro ~ t[i]atro g[e]ada ~ g[i]ada t[o]alha ~ t[u]alha15

Bisol (1981) notou que nos prefixos a presenccedila de uma vogal alta seguinte exerce

influecircncia sobre a vogal do prefixo Desse modo ao incorporar-se na palavra tem-se r[e]tiro

~ r[i]tiro (substantivo) p[o]rvir ~ p[u]rvir (substantivo)16

A variaacutevel dependente do trabalho

da autora foi a harmonia vocaacutelica que eacute a transformaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica e o em

vogal alta i u como em ldquom[i]nino por m[e]ninordquo ldquoc[u]ruja por c[o]rujardquo (BISOL 1981 p

38)

Quanto agraves variaacuteveis independentes linguiacutesticas listamos os principais resultados

encontrados por Bisol (1981)

Nasalidade da vogal pretocircnica esse fator favoreceu a elevaccedilatildeo de e e inibiu a

elevaccedilatildeo de o por exemplo tem-se m[i]ntira para mentira mas natildeo c[u]mprar

para comprar

Tonicidade

a) Tocircnica as vogais altas tocircnicas (i u) favoreceram a elevaccedilatildeo de o e apenas a

vogal tocircnica i condicionou o alccedilamento de e como nas palavras ldquocorujardquo e ldquomeninordquo

14

Os exemplos desse paraacutegrafo foram extraiacutedos de Bisol (1981 p 34) 15

Esses exemplos podem ser conferidos em Bisol (1981 p 35) 16

Exemplos retirados de Bisol (1981 p 37)

36

b) Pretocircnica os dados coletados pela autora revelaram que uma vogal alta em posiccedilatildeo

pretocircnica favoreceu a elevaccedilatildeo de e e de o ndash como em ldquoperdigatildeordquo e ldquoprocissatildeordquo ndash e que a

natildeo alta nessa posiccedilatildeo tende a preservar as vogais meacutedias ndash por exemplo nas palavras

ldquocomeriardquo e ldquochegariardquo

c) Preacute-pretocircnica nessa posiccedilatildeo a vogal alta aacutetona mostrou-se importante na regra de

harmonizaccedilatildeo vocaacutelica como nas palavras ldquofelicidaderdquo e ldquopopulaccedilatildeordquo

d) Vogal contiacutegua as vogais que desencadearam o processo de harmonizaccedilatildeo foram a

vogal i para e e i u para o Verificou-se ainda que a vogal alta da siacutelaba imediata foi a

assimiladora como nos exemplos ldquoprecisatildeordquo e ldquoveludordquo (BISOL 1981 p 60-64)

Distacircncia Quanto mais longe a vogal estivesse em relaccedilatildeo agrave tocircnica num vocaacutebulo

menos favoraacutevel foi a aplicaccedilatildeo da regra como na palavra ldquoprocuradoriardquo (BISOL

1981 p 41)

Paradigma conforme Bisol (1981 p 69-70) a regra ocorreu com mais facilidade

ldquo[] em palavra de base variaacutevel do que em derivada de base invarianterdquo Como

exemplo a autora apresenta ldquovestir ~ vistir vestuaacuteriordquo como palavras de base variaacutevel

e ldquoferro gt ferrugemrdquo como palavra derivada de base invariante

Contexto fonoloacutegico precedente as consoantes labiais (ex ldquobonecardquo) e as velares

(ex ldquoconhaquerdquo) precedentes favoreceram a elevaccedilatildeo de o enquanto as consoantes

alveolares (ex ldquotorturardquo) e palatais (ex ldquochocolaterdquo) preservaram a vogal meacutedia

posterior Jaacute as consoantes labiais (ex ldquoferidardquo) precedentes desfavoreceram a

elevaccedilatildeo de e as velares (ex ldquoqueridordquo) modificaram a vogal meacutedia anterior e a

alveolar (ex negoacuteciordquo) a preservou (BISOL 1981 p 77)

Contexto fonoloacutegico seguinte uma consoante velar (ex ldquosegundardquo) ou uma palatal

(ex ldquomelhorrdquo) seguinte favoreceu a elevaccedilatildeo de e jaacute as labiais (ex ldquosemanardquo) e as

alveolares (ex ldquopesadordquo) inibiram o processo No caso de o a palatal (ex ldquopodiardquo)

e a labial (ex ldquotomaterdquo) favoreceram a elevaccedilatildeo da vogal o que natildeo fez a alveolar

(ex posiccedilatildeordquo) (BISOL 1981 p 80)

Variaacuteveis extralinguiacutesticas

- Etnia os dados mostraram que os metropolitanos17

foram os que mais aplicaram a

regra da elevaccedilatildeo de e o e os fronteiriccedilos18

foram os que menos aplicaram

- Sexo percebeu-se que a mulher promoveu mais o uso da regra que o homem

17

Bisol (1981) usa esse termo para se referir aos informantes de Porto Alegre 18

Segundo Bisol (1981 p 45) esse grupo ldquo[] se caracteriza pelo contato direto com a liacutengua e a cultura do

paiacutes vizinho o Uruguairdquo

37

- Situaccedilatildeo teste (natildeo favoreceu porque tem uma situaccedilatildeo controladora) X fala livre

(favoreceu a aplicaccedilatildeo da regra)

- Idade os mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Atonicidade segundo Bisol (1981 p 102) esse fator foi um dos maiores

condicionadores da regra de harmonizaccedilatildeo vocaacutelica A autora verificou que as aacutetonas

permanentes forneceram grande probabilidade para a aplicaccedilatildeo da regra se comparada

agraves aacutetonas casuais como em ldquosotaque ~ sutaque pequeno ~ piqueno costela ~

custelardquo

Sufixaccedilatildeo Bisol (1981) concluiu que os sufixos -zinho e -inho que ela denomina de

sufixo lsquoMattosorsquo bloquearam a aplicaccedilatildeo da regra O mesmo ocorreu com os sufixos

formadores de grau Ex ldquoflor gt florzinha gt florezinhasrdquo mas natildeo ldquoflurzinha gt

flurizinhasrdquo Aleacutem disso a autora tambeacutem verificou que a regra da harmonizaccedilatildeo

vocaacutelica natildeo agiu sobre prefixos Ex ldquopredizer mas natildeo pridizerrdquo (BISOL 1981 p

104-108)

Tonicidade e Contiguidade conforme os dados encontrados pela pesquisadora ldquo[]

a regra eacute mais frequente quando a vogal alta eacute contiacutegua e tocircnicardquo (BISOL 1981 p

111) como ocorreu por exemplo nas palavras ldquomentirardquo e ldquocorujardquo (p 66)

A autora concluiu que a variaccedilatildeo da pretocircnica ocorreu tanto na fala popular como na

fala culta poreacutem nessa uacuteltima com menos frequecircncia talvez por influecircncia da escrita Sobre

a harmonia vocaacutelica Bisol (1981 p 259) ressalta que a presenccedila de uma vogal alta na siacutelaba

seguinte ldquo[] o caraacuteter da vogal aacutetona candidata agrave regra e a consoante vizinhardquo foram os

principais fatores que favoreceram a aplicaccedilatildeo da regra no dialeto gauacutecho

232 A harmonia vocaacutelica em dialetos do sul do paiacutes uma anaacutelise variacionista

Com o objetivo de verificar se uma vogal alta na siacutelaba imediatamente seguinte

influenciava o comportamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Schwindt

(1995) estudou o processo da harmonia vocaacutelica nos dialetos do sul do Brasil Como

exemplos de harmonia vocaacutelica podemos citar ldquomentira ~ mintirardquo e ldquosobrinho ~ subrinhordquo

(SCHWINDT 1995 p 4-6) Para realizar seu estudo o pesquisador estabeleceu algumas

delimitaccedilotildees Ele desconsiderou

as vogais que constituiacuteam ditongos por considerar que nesse contexto elas satildeo

pronunciadas como um hiato

38

as pretocircnicas que estivessem em prefixos ldquoclaramente identificaacuteveisrdquo pelo fato de a

maioria deles natildeo perder totalmente a pronuacutencia do vocaacutebulo de origem

palavras compostas por acreditar que o processo de harmonia vocaacutelica natildeo ultrapassa

a fronteira vocabular

palavras que fossem iniciadas por e seguido de N ou S (ex ldquoensinarrdquo e

ldquoexplicarrdquo) pelo alccedilamento ser quase categoacuterico nesses contextos

O trabalho de Schwindt (1995) seguiu os pressupostos da Teoria da Variaccedilatildeo proposta

por Labov na deacutecada de 1960 Os 36 informantes que participaram da pesquisa nasceram em

Porto Alegre Florianoacutepolis ou Curitiba todos tinham mais de 25 anos de idade e nenhum

havia cursado o ensino superior Na verdade a amostra foi constituiacuteda por informantes que

faziam parte do Projeto Varsul e todos foram selecionados por estratificaccedilatildeo aleatoacuteria

conforme o sexo (masculino e feminino) a idade (de 25 a 50 anos e com mais de 50 anos) a

escolaridade (0 a 4 anos 4 a 8 anos e de 8 a 12 anos de estudo) e a variedade geograacutefica

(Porto Alegre Florianoacutepolis e Curitiba) Portanto foram escolhidos 12 informantes para cada

uma das trecircs capitais pesquisadas

Para a aplicaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica que eleva as vogais meacutedias e ou o

na siacutelaba pretocircnica o programa estatiacutestico Varbrul selecionou as variaacuteveis linguiacutesticas a

seguir

Homorganicidade19

das vogais Schwindt (1995 p 45-47) verificou que para a

elevaccedilatildeo de e favoreceram as vogais homorgacircnicas como a vogal i (ex

ldquoperigordquo) e desfavoreceram o processo as vogais natildeo homorgacircnicas (ex

ldquonenhumardquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as vogais natildeo homorgacircnicas como a

vogal i (ex ldquodomingordquo) e inibiram o processo as vogais homorgacircnicas (ex

ldquoconduccedilatildeordquo)

A relaccedilatildeo de vizinhanccedila para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave

pretocircnica analisada e desfavoreceu o processo a vogal tocircnica natildeo imediata (ex

ldquorelativordquo) Para a elevaccedilatildeo de o favoreceu a vogal tocircnica imediata agrave pretocircnica

analisada (ex ldquobonitardquo) e desfavoreceu o processo a vogal aacutetona natildeo imediata

Nasalidade da vogal candidata agrave regra tanto para a elevaccedilatildeo de e quanto para a

elevaccedilatildeo de o a regra se aplicou mais para as vogais pretocircnicas orais (ex ldquoseguirrdquo)

do que para as vogais pretocircnicas nasais (ex ldquosentirrdquo) (SCHWINDT 1995 p 7-9)

19

Homorganicidade nesse contexto significa ter o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

39

Atonicidade da vogal candidata agrave regra para a elevaccedilatildeo de e e de o

favoreceram as vogais de status indefinido (ex ldquoferir feacuteres firordquo) e inibiram o

processo para ambas as vogais as vogais aacutetonas casuais (ex ldquomedicina lt meacutedicordquo)

Contexto precedente para a elevaccedilatildeo de e favoreceu a pausa (ex ldquoexisterdquo) e

desfavoreceram o processo as consoantes alveolares (ex ldquocerimocircniardquo) e palatais (ex

ldquodiviardquo) precedentes agrave vogal pretocircnica em anaacutelise Para a elevaccedilatildeo de o

favoreceram as consoantes palatais e velares (ex ldquocomidardquo) precedentes e

desfavoreceu o processo a pausa

Contexto seguinte para a elevaccedilatildeo de e favoreceram as consoantes velares (ex

ldquoalegriardquo) e as alveolares (natildeo liacutequidas) seguintes (ex ldquovestirrdquo) e inibiram o processo

o R velar e as vogais seguintes agrave vogal pretocircnica analisada (ex ldquoteatrinhordquo) Para a

elevaccedilatildeo de o favoreceram as consoantes alveolares seguintes e desfavoreceram o

processo o R velar (ex ldquocorridardquo) e as vogais seguintes

Vogal alta em terminaccedilotildees o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para

a vogal e mas para a elevaccedilatildeo de o favoreceram as palavras com terminaccedilotildees

verbais e desfavoreceram o processo os sufixos nominais (ex ldquonortistardquo)

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas os resultados obtidos para e e para o foram os

seguintes

Faixa etaacuteria o programa estatiacutestico natildeo selecionou essa variaacutevel para a vogal e e

para a elevaccedilatildeo de o embora os resultados estivessem proacuteximos do ponto neutro os

informantes com mais de 50 anos apresentaram uma pequena diferenccedila com relaccedilatildeo

aos demais informantes (entre 25 e 50 anos) e aplicaram mais a regra de elevaccedilatildeo de

o do que os entrevistados mais jovens

Escolaridade os informantes com o ensino primaacuterio tiveram mais ocorrecircncias de

elevaccedilatildeo de e e de o do que os informantes com segundo grau

Variedade geograacutefica os entrevistados de Curitiba aplicaram mais a regra de

harmonia vocaacutelica para e e para o do que os demais (de Florianoacutepolis e Porto

Alegre)

Sexo o Varbrul natildeo selecionou essa variaacutevel para nenhuma das vogais pesquisadas

Apoacutes a anaacutelise dos resultados Schwindt (1995) concluiu que o principal

condicionador da elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica foi a presenccedila de uma vogal alta na

siacutelaba tocircnica imediatamente seguinte Aleacutem disso o autor verificou que nem todas as

variaacuteveis definidas para o estudo mostraram-se relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra por

40

exemplo a variaacutevel extralinguiacutestica sexo que natildeo foi selecionada para nenhuma das duas

vogais meacutedias pesquisadas

233 A variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no falar dos mineiros de Piranga e de

Ouro Branco

Dias (2008) estudou o comportamento das vogais pretocircnicas no dialeto de Piranga-

MG uma cidade localizada na Zona da Mata mineira e Ouro Branco-MG um municiacutepio

mineiro situado na regiatildeo central do estado de Minas Gerais Com base nos princiacutepios da

Teoria da Variaccedilatildeo proposta por Labov (1972) a autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo e

testes de percepccedilatildeo 16 informantes que foram selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo

aleatoacuteria de acordo com as seguintes variaacuteveis extralinguiacutesticas gecircnero (masculino e

feminino) idade (entre 18 e 24 anos e entre 40 e 60 anos) e origem (Piranga e Ouro Branco)

Portanto foram entrevistadas oito pessoas em cada um dos municiacutepios escolhidos para a

pesquisa

As onze variaacuteveis independentes linguiacutesticas definidas pela autora foram tipo silaacutebico

vogal da siacutelaba tocircnica vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica tipo de morfema em que a

vogal esteja inserida paradigma com vogal aberta distacircncia da siacutelaba tocircnica classe

morfoloacutegica segmento precedente e segmento seguinte distacircncia da variaacutevel para o iniacutecio da

palavra nuacutemero de siacutelabas da palavra e item lexical

Como o foco de estudo da pesquisa de Dias (2008) foi a variaccedilatildeo das vogais meacutedias

pretocircnicas no dialeto de Piranga-MG e Ouro Branco-MG a autora considerou trecircs realizaccedilotildees

para cada uma dessas vogais a saber as vogais abertas [ɛ ɔ] as vogais meacutedias [e o] e as

vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo poreacutem apresentamos apenas os resultados referentes ao

abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica na modalidade entrevista que eacute o

processo de nosso maior interesse

Apoacutes as rodadas feitas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

as variaacuteveis independentes selecionadas como relevantes para o abaixamento de e no dialeto

de Piranga-MG foram

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ ɐ otilde

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ otilde

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia 1

Distacircncia do iniacutecio da palavra 1ordf siacutelaba

41

Nuacutemero de silabas da palavra palavras com trecircs ou mais siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Modo do segmento seguinte liacutequidas e tepe

Ponto do segmento seguinte dorsaispalatalizadas e labiais

Gecircnero masculino

Faixa etaacuteria jovem

Para o abaixamento da vogal o em Piranga-MG foram selecionadas as seguintes

variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ otilde ɐ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica pronome adjetivo

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com trecircs ou com quatro siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais

Modo do segmento seguinte liacutequidas e fricativasafricadas

Jaacute para a cidade de Ouro Branco-MG o software SPSS selecionou para o

abaixamento de e as variaacuteveis independentes abaixo

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Classe morfoloacutegica adjetivo

Ponto do segmento precedente dorsaispalatalizadas

Gecircnero feminino

Para o abaixamento da vogal o em Ouro Branco-MG foram selecionadas as

seguintes variaacuteveis independentes

Vogal da siacutelaba tocircnica a ɛ ɔ

Vogal entre a vogal da variaacutevel e a tocircnica ausecircncia a ɛ ɔ

Paradigma com vogal aberta com paradigma

Distacircncia da siacutelaba tocircnica distacircncia de trecircs siacutelabas ou mais

Nuacutemero de siacutelabas da palavra palavras com duas siacutelabas

Modo do segmento precedente nasais e fricativasafricadas

Modo do segmento seguinte tepe fricativas africadas e liacutequidas

42

Para o abaixamento da vogal o nas duas cidades pesquisadas nenhuma variaacutevel

extralinguiacutestica foi selecionada pelo programa estatiacutestico Dias (2008) afirma que a diferenccedila

qualitativa e quantitativa dos resultados obtidos nas duas cidades pesquisadas foi significativa

uma vez que mais variaacuteveis foram selecionadas para o dialeto de Piranga-MG do que para o

de Ouro Branco-MG A autora concluiu que o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

favoreceu o abaixamento de e e de o em ambas as cidades pelo fato de que a presenccedila de

uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica tende a fazer com que as vogais meacutedias altas da siacutelaba

pretocircnica sejam realizadas como [ɛ] e como [ɔ] respectivamente

234 As vogais meacutedias pretocircnicas em Paraacute de Minas um caso de variaccedilatildeo linguiacutestica

Em Paraacute de Minas-MG Viana (2008) estudou o alccedilamento o abaixamento e a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas A autora entrevistou por meio de gravaccedilatildeo

individual 33 pessoas nascidas na cidade mineira e que foram distribuiacutedas estratificadamente

de acordo com o sexo (masculino e feminino) a idade (ateacute 25 anos entre 30 e 50 anos acima

de 60 anos de idade) a classe social (classe baixa e classe meacutedia) e a escolaridade

(analfabeto com ensino meacutedio com ensino superior) Aleacutem dessas variaacuteveis extralinguiacutesticas

o estilo de fala tambeacutem foi considerado e avaliado como formal ou informal

Depois de analisar a fala dos dezesseis homens e das dezessete mulheres que

participaram da pesquisa Viana (2008) obteve um corpus de 17188 dados sendo 10679

referentes agrave vogal e e 6509 referentes agrave vogal o Para a vogal e do total de dados 4012

corresponderam agrave realizaccedilatildeo com a vogal alta [i] 6647 com a vogal meacutedia [e] e somente 20

ocorrecircncias com a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa [ɛ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o foram

obtidas 1622 realizaccedilotildees referentes ao alccedilamento 4714 agrave conservaccedilatildeo de [o] e 173

ocorrecircncias referiram-se agrave realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Assim que os dados foram analisados com a ajuda do programa estatiacutestico GoldVarb

2006 Viana (2008) observou que a maior parte das ocorrecircncias foi com a manutenccedilatildeo das

vogais meacutedias pois segundo o programa os falantes realizaram [e] e [o] com mais frequecircncia

do que o alccedilamento das vogais meacutedias e por fim com um pequeno iacutendice de registros

apareceram as vogais meacutedias baixas Entretanto como o abaixamento das vogais meacutedias foi o

nosso foco de estudo apresentamos apenas os resultados obtidos para esse processo

Para o abaixamento de e conforme Viana (2008 p 49-55) o GoldVarb 2006

selecionou como favoraacuteveis para o processo ocorrer as seguintes variaacuteveis

43

Atonicidade favoreceram as vogais aacutetonas permanentes (ex ldquopeacuterdquo) desfavoreceram

os verbos (ex ldquochegavardquo)

Altura da vogal tocircnica embora tenha sido selecionada essa variaacutevel apresentou

valores proacuteximos ao ponto neutro (050) para as vogais tocircnicas altas e a vogal tocircnica

baixa um resultado que segundo Viana (2008) natildeo era o esperado jaacute que em geral a

vogal tocircnica influencia a aplicaccedilatildeo da regra em estudo

Distacircncia da vogal tocircnica favoreceu a distacircncia 1 (ex ldquocentenaacuteriordquo) desfavoreceu

a distacircncia 2 (ex ldquocentenaacuteriordquo)

Contexto precedente20

- ponto 1 favoreceram as consoantes posteriores precedentes

(ex ldquogeralmenterdquo) inibiram as consoantes anteriores precedentes (ex ldquosemanardquo)

Contexto seguinte21

- ponto 1 favoreceram as consoantes anteriores seguintes (ex

ldquopedalrdquo) desfavoreceram as consoantes posteriores seguintes (ex ldquoserranardquo)

Contexto seguinte - ponto 2 favoreceram as consoantes natildeo coronais seguintes (ex

ldquoFerreirardquo) inibiram as consoantes coronais seguintes (ex ldquodezenoverdquo)

Jaacute os demais grupos de fatores analisados foram apontados como desfavorecedores e

por isso foram eliminados pelo programa estatiacutestico Satildeo eles nasalidade posiccedilatildeo da vogal

tocircnica nasalidade da vogal tocircnica estrutura da siacutelaba presenccedila de onset contexto precedente

contexto precedente - ponto 2 modo do contexto precedente estado da glote do contexto

precedente contexto seguinte modo do contexto seguinte estado da glote do contexto

seguinte e classe da palavra

Quanto agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo GoldVarb 2006 para o

abaixamento de e foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de doze informantes que natildeo realizaram nenhum

abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica os outros 21 entrevistados tiveram pelo menos

uma ocorrecircncia de [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Escolaridade os analfabetos foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na

siacutelaba pretocircnica

Para o abaixamento de o de acordo com Viana (2008 p 50-55) foram selecionados

pelo GoldVarb 2006 como favorecedoras do processo as seguintes variaacuteveis linguiacutesticas

20

Viana (2008) divide os segmentos do contexto precedente em ponto 1 e ponto 2 O ponto 1 abrange as

consoantes anteriores e as posteriores as vogais as semivogais e a pausa O ponto 2 eacute caracterizado por

consoantes coronais e natildeo coronais pela pausa pelas vogais e semivogais 21

A divisatildeo feita para os segmentos do contexto precedente tambeacutem ocorre no contexto seguinte Assim Viana

(2008) dividiu os segmentos do contexto seguinte em ponto 1 ndash consoantes anteriores e posteriores vogais e

semivogais ndash e em ponto 2 ndash consoantes coronais e natildeo coronais vogais e semivogais

44

Posiccedilatildeo da vogal tocircnica favoreceram as vogais posteriores (ex ldquoprocurardquo) e as

anteriores (ex ldquobibliotecardquo) desfavoreceu a vogal central (ex ldquonamoradardquo)

Altura da vogal tocircnica favoreceu a vogal tocircnica baixa a (ex ldquonamoradardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas meacutedias (ex ldquocolegardquo)

Nasalidade da vogal tocircnica favoreceram as vogais tocircnicas nasais (ex ldquoRosanardquo)

desfavoreceram as vogais tocircnicas orais (ex ldquonamorarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente favoreceram as consoantes nasais

(ex ldquoremoccedilatildeordquo) fricativas (ex ldquosolidatildeordquo) e laterais precedentes (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceram a pausa (ex ldquohorizonterdquo) e o tepe precedente

Estado da glote do contexto precedente favoreceu a pausa (ex ldquohorizonterdquo)

desfavoreceu a glote sonora (ex ldquogostarrdquo)

Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte favoreceram as consoantes laterais (ex

ldquoadolescecircnciardquo) e fricativas seguintes (ex ldquogosteirdquo) desfavoreceram as consoantes

oclusivas (ex ldquotrocarrdquo) o tepe (ex ldquohorizonterdquo) e as consoantes nasais seguintes

(ex ldquocomigordquo)

Estado da glote do contexto seguinte favoreceu a glote sonora (ex ldquopsicologiardquo)

desfavoreceu a glote surda (ex ldquoprofessoresrdquo)

Classe da palavra favoreceram os nomes (ex ldquosolidatildeordquo) desfavoreceram os

verbos (ex ldquoconversarrdquo)

Jaacute as variaacuteveis linguiacutesticas restantes foram selecionadas como desfavorecedoras do

abaixamento de o quais sejam atonicidade presenccedila de onset distacircncia da vogal tocircnica

contexto precedente contexto precedente - ponto 1 contexto precedente ndash ponto 2 contexto

seguinte ndash ponto 1 e contexto seguinte ndash ponto 2

Com relaccedilatildeo agraves variaacuteveis extralinguiacutesticas as selecionadas pelo programa estatiacutestico

para o abaixamento de o foram

Indiviacuteduo com exceccedilatildeo de seis informantes que natildeo realizaram nenhum abaixamento

de o na siacutelaba pretocircnica os outros 27 entrevistados tiveram pelo menos uma

ocorrecircncia de [ɔ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba

Sexo as mulheres realizaram mais o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica do que os

homens

Faixa etaacuteria os informantes com ateacute 25 anos tiveram mais ocorrecircncias de [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica do que as demais faixas etaacuterias pesquisadas Os informantes com

45

mais de 60 anos foram os que menos realizaram o abaixamento de o nessa posiccedilatildeo de

siacutelaba

Estilo o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica ocorreu mais no estilo formal do que

no informal

As variaacuteveis sociais escolaridade e classe social foram eliminadas pelo GoldVarb

2006 por natildeo terem sido consideradas relevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento da

vogal o A anaacutelise dos resultados mostrou segundo Viana (2008) que tanto o alccedilamento

quanto o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas natildeo se aplicaram a todo o leacutexico pois

houve casos em que mesmo com ambiente favorecedor a vogal meacutedia natildeo sofreu variaccedilatildeo e

em outros casos em que natildeo havia contexto favorecedor a vogal meacutedia sofreu variaccedilatildeo

Aleacutem disso a autora verificou que em Paraacute de Minas-MG as vogais meacutedias

pretocircnicas podem ser realizadas de trecircs formas alccediladas mantidas ou abaixadas e que como

jaacute foi comprovado em outros estudos as vogais tocircnicas tiveram influecircncia na variaccedilatildeo das

vogais meacutedias pretocircnicas sobretudo nos casos de abaixamento da vogal o em que a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi um dos fatores que favoreceram a

realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica Para o abaixamento de e ao contraacuterio do que Viana

(2008) esperava as vogais tocircnicas tiveram iacutendices proacuteximos do ponto neutro e por isso natildeo

se mostraram relevantes para a variaccedilatildeo dessa vogal

235 As pretocircnicas no falar teresinense

O objetivo do trabalho de Silva (2009) era descrever e analisar a pronuacutencia das vogais

meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Teresina-PI O corpus utilizado pela autora contou

com entrevistas de 36 informantes selecionados estratificadamente conforme o gecircnero

(masculino e feminino) a faixa etaacuteria (entre 20 e 35 anos entre 36 e 50 anos e acima de 50

anos de idade) e a escolaridade (com Ensino Fundamental com Ensino Meacutedio e com Ensino

Superior) A partir dessas entrevistas foram coletadas 5308 realizaccedilotildees de pretocircnicas

Embora alguns estudos tenham comprovado que o abaixamento das vogais pretocircnicas

eacute mais comum na regiatildeo Nordeste do Brasil Silva (2009) percebeu que no municiacutepio de

Teresina-PI as vogais nessa posiccedilatildeo de siacutelaba podem ser realizadas de trecircs formas como

vogais abertas [ɛ ɔ] como vogais meacutedias [e o] e como vogais altas [i u] Nesta dissertaccedilatildeo

poreacutem optamos por expor os resultados referentes apenas ao abaixamento das vogais meacutedias

na posiccedilatildeo pretocircnica que eacute o processo de nosso maior interesse

46

Desse modo as variaacuteveis linguiacutesticas selecionadas pela autora para estudar o

comportamento das vogais meacutedias foram

Contiguidade

Homorganicidade

Tonicidade

Paradigma

Distacircncia da tocircnica

Derivada de tocircnica

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Os fatores sociais escolhidos foram os trecircs jaacute mencionados a saber gecircnero faixa

etaacuteria e escolaridade

As rodadas dos dados no programa estatiacutestico Varbrul 2S mostraram que houve 3219

ocorrecircncias para a vogal e pretocircnica em que 2079 realizaram-se como [ɛ] Para o houve

2089 ocorrecircncias em que 1076 realizaram-se como [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɛ] pretocircnica o programa selecionou sete variaacuteveis na

seguinte ordem

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Paradigma

Contexto fonoloacutegico seguinte

Faixa etaacuteria

Escolaridade

Homorganicidade

Para a realizaccedilatildeo da vogal [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica o Varbrul 2S tambeacutem selecionou

sete variaacuteveis

Vogal contiacutegua

Contexto fonoloacutegico precedente

Contexto fonoloacutegico seguinte

Paradigma

Escolaridade

Faixa etaacuteria

Gecircnero

47

Sobre a variaacutevel vogal contiacutegua os resultados de Silva (2009 p 126-133) mostraram

que quando seguida por uma vogal tocircnica baixa (ex ldquoconversarrdquo ldquojornalrdquo) ou por vogais

tocircnicas meacutedias baixas (ex ldquomelhorrdquo ldquodomeacutesticordquo) o abaixamento tanto de e quanto de o

foi favorecido Para a variaacutevel contexto fonoloacutegico precedente os dados revelaram que as

velares precedentes (ex ldquoretratarrdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoelevadordquo) que Silva

(2009) denomina de vazio favoreceram o abaixamento de e Jaacute as coronais (ex ldquonovelardquo)

as palatais (ex ldquoxodoacuterdquo) e a posiccedilatildeo inicial absoluta (ex ldquoobservarrdquo) favoreceram o

abaixamento de o

Apesar de a variaacutevel paradigma ter sido selecionada pelo programa estatiacutestico tanto

para e quanto para o os resultados mantiveram-se na posiccedilatildeo neutra ou proacuteximos a ela o

que demonstra que essa variaacutevel natildeo favoreceu nem inibiu o abaixamento dessas vogais na

posiccedilatildeo pretocircnica

Quanto ao contexto fonoloacutegico seguinte apenas as consoantes velares seguintes (ex

ldquolocalrdquo) mostraram-se relevantes para o abaixamento de o Para a realizaccedilatildeo de [ɛ] aleacutem das

velares (ex ldquopegarrdquo) as consoantes palatais seguintes (ex ldquomelhorrdquo) tambeacutem favoreceram o

processo Assim como ocorreu para o paradigma os resultados para a variaacutevel

homorganicidade ficaram ao redor do ponto neutro e como essa foi a uacuteltima variaacutevel

selecionada pelo programa para a vogal e de acordo com Silva (2009) ela natildeo exerceu

nenhum papel sobre a variaccedilatildeo dessa vogal

Sobre as variaacuteveis extralinguiacutesticas para a variaacutevel faixa etaacuteria que foi selecionada

para ambas as vogais os resultados apontaram uma diferenccedila entre o uso das vogais abertas

pelos mais jovens e os demais informantes uma vez que a faixa etaacuteria entre 20 e 35 anos

ficou abaixo do ponto neutro Entretanto em geral essa variaacutevel natildeo teve resultados muito

aleacutem do ponto neutro Entatildeo apesar dessa diferenccedila a discrepacircncia foi pequena entre todos os

fatores analisados

Quanto agrave variaacutevel escolaridade embora todos os resultados tenham ficado proacuteximos

do ponto neutro os falantes com Ensino Meacutedio foram os que mais realizaram as vogais [ɛ] e

[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica em comparaccedilatildeo com os falantes que possuem Ensino Fundamental e

Ensino Superior Silva (2009) acredita que esse resultado tem relaccedilatildeo com a variaacutevel faixa

etaacuteria e por essa razatildeo a autora cruzou os resultados das duas variaacuteveis Por meio desse

cruzamento a pesquisadora verificou que os falantes com mais de 50 anos produziram as

vogais meacutedias abertas com menos frequecircncia quando possuiacuteam Ensino Superior ldquo[] ao

passo que o mesmo decliacutenio natildeo ocorre com os falantes mais jovens cujos iacutendices mostram

48

uma estabilizaccedilatildeo ficando abaixo do ponto de referecircncia e ao redor delerdquo (SILVA 2009 p

138)

Com base nesses resultados a autora concluiu que

[] por envolver o fator faixa etaacuteria o cruzamento dessa com a

escolarizaccedilatildeo tambeacutem nos daacute subsiacutedios para dizer que natildeo haacute indiacutecios de

mudanccedila em curso pois os iacutendices mais altos couberam aos mais velhos e os

mais baixos aos mais jovens Isso eacute um sinal de preservaccedilatildeo do sistema

(SILVA 2009 p 139)

A variaacutevel gecircnero foi selecionada apenas para a vogal o e revelou que as mulheres

embora com uma diferenccedila bem pequena realizaram mais a vogal aberta posterior do que os

homens Silva (2009) verificou ainda que as variaacuteveis extralinguiacutesticas natildeo exerceram um

papel relevante para o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas e que os resultados obtidos

em seus estudos aproximaram-se de outros trabalhos realizados sobre os falares nordestinos

Estudos como esses jaacute realizados em diversas regiotildees do paiacutes satildeo extremamente

relevantes para a compreensatildeo e o conhecimento do que de fato eacute falado no Brasil Apesar

de nenhum dos trabalhos apresentados nesta seccedilatildeo ter o abaixamento das vogais meacutedias

pretocircnicas como principal objeto de estudo todas satildeo pesquisas de suma importacircncia e que

nos ajudaram a empreender a anaacutelise dos resultados obtidos em Monte Carmelo-MG Essas

pesquisas mostraram que em geral a vogal da siacutelaba tocircnica eacute a principal motivadora do

processo em estudo sobretudo com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica

236 A proposta de Lee e Oliveira (2008)

Aleacutem das pesquisas que apresentamos em toda a seccedilatildeo 23 haacute estudos que se

preocupam com o lugar que a variaccedilatildeo ocupa na liacutengua Um desses estudos eacute o de Lee e

Oliveira (2008) que eacute o assunto desta subseccedilatildeo

Com relaccedilatildeo agrave regra da harmonia vocaacutelica esses autores consideraram dois fatos o

primeiro eacute o de que uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica natildeo implica que todos os falantes

vatildeo produzir uma vogal meacutedia aberta na posiccedilatildeo pretocircnica O segundo fato refere-se agraves

palavras que possuem uma vogal ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica e que ainda assim natildeo seratildeo

pronunciadas com uma vogal pretocircnica aberta por nenhum falante de Belo Horizonte-MG

49

Para exemplificar Lee e Oliveira (2008 p 2) citam as palavras ldquom[u]quecardquo ldquoJ[u]seacuterdquo

ldquot[u]peterdquo e ldquob[u]necardquo

De fato como ressaltam esses estudiosos eacute impossiacutevel prever quando ocorreraacute uma

pronuacutencia e quando ocorreraacute outra porque a variaccedilatildeo existe na fala de um mesmo falante e

pode variar de acordo com o item lexical Os autores fazem reflexotildees muito interessantes

sobre as diferenccedilas inter- e intra-dialetais visto que apesar de os falantes do portuguecircs

falarem de modos diferentes todos se entendem Sobre isso Lee e Oliveira (2008 p 7)

questionam como os falantes diferenciam por exemplo ldquos[ɔ]cordquo ldquos[o]cordquo e ldquos[u]cordquo mas

consideram ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo como sendo a mesma coisa Para resolver

este problema esses pesquisadores propuseram algumas possiacuteveis soluccedilotildees

A primeira delas seria estabelecer ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca entre conteuacutedo e

expressatildeo ou seja seria dizer que a expressatildeo soacute pode se dar na forma x (e as formas y z e w

seratildeo consideradas aberraccedilotildees desvios erros ou qualquer outra coisa)rdquo (LEE OLIVEIRA

2008 p 7) Para os autores esta soluccedilatildeo natildeo resolve o problema pois pode servir para

liacutenguas mortas mas natildeo pode ser aplicada agraves liacutenguas vivas

Outra possiacutevel lsquosoluccedilatildeorsquo refere-se ao estabelecimento de ldquo[] uma relaccedilatildeo biuniacutevoca

entre conteuacutedo e expressatildeo para os vaacuterios dialetos de uma liacutenguardquo mas por natildeo existirem

dialetos homogecircneos esses pesquisadores tambeacutem natildeo consideram esta uma boa soluccedilatildeo

Uma terceira lsquosoluccedilatildeorsquo que segundo eles eacute a mais utilizada pela linguiacutestica atual ldquo[]

consiste em se lidar com sistemas abstratos (languecompetence) e se deixar de lado os dados

reais (paroleperformance)rdquo mas essa decisatildeo torna o problema ainda mais complexo para a

fonologia que precisa considerar os fatos foneacuteticos (LEE OLIVEIRA 2008 p 7-8)

Em meio agraves falhas que as trecircs aparentes soluccedilotildees possuem para o problema

apresentado os autores propotildeem uma anaacutelise com base na lsquofaculdade da linguagemrsquo um

conceito de Hauser Chomsky e Fitch (2002) Esse conceito abrange trecircs sistemas um sistema

computacional interno um sistema sensoacuterio-motor e um sistema conceitual-intensional

Considerando o sistema sensoacuterio-motor Lee e Oliveira (2008) sugerem que ele poderia conter

um princiacutepio que diferenciasse as vogais apenas pelos traccedilos [baixo] e [posterior] em posiccedilatildeo

aacutetona ou seja a diferenccedila dar-se-ia entre os sons [+ baixo] (ie a vogal a) e os [- baixo]

(ie as vogais i e ɛ u o ɔ) e tambeacutem entre os sons [+ posterior] (ie as vogais u

o ɔ) e os [- posterior] (ie as vogais i e ɛ)

Segundo Lee e Oliveira (2008 p 7-9) esse princiacutepio informa-nos que em posiccedilatildeo

aacutetona eacute mais difiacutecil conservar a distinccedilatildeo entre vogais altas e meacutedias ou entre vogais meacutedias

altas e vogais meacutedias baixas o que ldquo[] natildeo significa que estas vogais natildeo possam ocorrer

50

foneticamente nesta posiccedilatildeo significa apenas que seja mais difiacutecil sustentar aiacute o seu status

fonecircmicordquo Aleacutem disso o princiacutepio pensado pelos autores pode explicar o fato de

entendermos formas foneacuteticas diferentes como sendo a mesma coisa como eacute o caso do

exemplo jaacute citado ldquoc[ɔ]leacutegiordquo ldquoc[o]leacutegiordquo e ldquoc[u]leacutegiordquo

Esses estudiosos argumentam que natildeo vemos diferenccedila nessas trecircs formas foneacuteticas e

que bloqueamos outras possibilidades de realizaccedilatildeo da vogal pretocircnica como ldquoc[a]leacutegio ou

c[i]leacutegiordquo porque ldquo[] um princiacutepio deste tipo para o caso em foco nos garante que formas

foneacuteticas diferentes sejam associadas a uma mesma categoria (ou fonema)rdquo Eles concluem

que entre a percepccedilatildeo e a produccedilatildeo natildeo existe uma relaccedilatildeo de correspondecircncia biuniacutevoca e

que os falantes ouvem ldquodiferenccedilas alofocircnicas interdialetaisrdquo mas natildeo em seu proacuteprio dialeto

(LEE OLIVEIRA 2008 p 10)

Outro problema apontado por esses pesquisadores diz respeito aos modelos

fonoloacutegicos Lee e Oliveira (2008) questionam se algum modelo seria capaz de explicar os

fatos da variaccedilatildeo do modo como eles aparecem Afirmam que natildeo eacute nada faacutecil responder a

essa pergunta tanto eacute que eles natildeo dizem que modelo seria esse pelo fato de que natildeo haacute um

modelo perfeito Todos tecircm suas falhas e seus pontos positivos e eacute preciso considerar qual

desses aspectos pesaraacute mais na anaacutelise do processo em estudo

Nesta pesquisa sobre o abaixamento buscamos suporte na Geometria de Traccedilos uma

teoria fonoloacutegica com o objetivo de representar o processo motivador da variaccedilatildeo das vogais

meacutedias no dialeto carmelitano o assunto da seccedilatildeo seguinte

24 A teoria fonoloacutegica o modelo da Geometria de Traccedilos

Os modelos fonoloacutegicos permitem ao pesquisador descrever a liacutengua em uso sob uma

perspectiva teoacuterica e representacional No caso deste estudo pretendemos representar apenas

o processo que mais motiva o abaixamento no dialeto pesquisado Nesse trabalho utilizamos

um dos ramos da fonologia natildeo linear a Fonologia Autossegmental mais especificamente o

modelo da Geometria de Traccedilos proposto por Clements (1985 1989 1991) e revisto

recentemente por Clements e Hume (1995) Matzenauer (2005 p 45) explica que a Fonologia

Autossegmental ldquo[] opera [] com autossegmentos ou seja permite a segmentaccedilatildeo

independente de partes dos sons das liacutenguasrdquo

51

Enquanto o modelo linear de Chomsky e Halle (1968) propunha uma relaccedilatildeo bijectiva

(de um-para-um) entre o segmento e a matriz de traccedilos22

que o representa a Teoria

Fonoloacutegica Autossegmental entende que essa relaccedilatildeo natildeo existe Para a Fonologia Gerativa

Claacutessica os traccedilos de um segmento estatildeo dispostos em uma matriz linear e sem hierarquia em

que cada segmento equivale a uma matriz e cada matriz equivale a um segmento Essa

restriccedilatildeo recebe o nome de relaccedilatildeo bijectiva e natildeo aceita o apagamento parcial de um

segmento ou a inserccedilatildeo de um traccedilo complementar pois se a matriz for modificada o

segmento tambeacutem mudaraacute

Na matriz de um segmento cada traccedilo recebe o valor de + (para um traccedilo que compotildee

o segmento) ou ndash (para um traccedilo que natildeo faz parte do segmento) Como exemplo temos a

representaccedilatildeo por matriz de traccedilos das consoantes oclusivas t e d a seguir

t d

- soante - soante

- contiacutenuo - contiacutenuo

coronal coronal

+ anterior + anterior

- sonoro + sonoro

Figura 13 - Representaccedilatildeo de dois segmentos e suas respectivas matrizes de traccedilos

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 30)

Apesar de essas consoantes possuiacuterem a maioria dos traccedilos em comum quando ocorre

alguma alteraccedilatildeo na matriz como no exemplo da Figura 13 em que o traccedilo [- sonoro] passa a

[+ sonoro] o segmento t passa a ser realizado como d Desse modo a matriz da esquerda

que corresponde ao segmento t daacute lugar agrave matriz da direita correspondente ao segmento d

visto que com a mudanccedila na matriz um segmento deixa de existir e daacute lugar a outro

A negaccedilatildeo da relaccedilatildeo de bijectividade eacute um dos dois princiacutepios baacutesicos da Fonologia

Autossegmental Segundo Matzenauer (2005 p 45) esse entendimento traz duas

consequecircncias relevantes ldquo[] a) os traccedilos podem estender-se aleacutem ou aqueacutem de um

segmento e b) o apagamento de um segmento natildeo implica necessariamente o desaparecimento

de todos os traccedilos que o compotildeemrdquo

22

Matzenauer (2005 p 17) caracteriza os traccedilos distintivos como ldquo[] propriedades miacutenimas de caraacuteter

acuacutestico ou articulatoacuterio como lsquonasalidadersquo lsquosonoridadersquo lsquolabialidadersquo lsquocoronalidadersquo que de forma co-

ocorrente constituem os sons das liacutenguasrdquo

52

O segundo princiacutepio eacute o de que os traccedilos que compotildeem um segmento obedecem a uma

hierarquia Por isso a Fonologia Autossegmental passa a decompor os segmentos em

camadas ou tiers e divide as partes do som tomando-as separadamente

Na introduccedilatildeo do texto The internal organization os speech sounds Clements e Hume

(1995 p 245) afirmam que o foco das pesquisas sobre os traccedilos distintivos vem mudando

Isso porque embora muitos estudiosos buscassem responder a perguntas do tipo ldquoO que satildeo

traccedilos e como eles satildeo definidosrdquo os linguistas passaram a incorporar uma terceira e

relevante questatildeo aos seus estudos ldquoComo os traccedilos satildeo organizados nas representaccedilotildees

fonoloacutegicasrdquo23

Assim a Geometria de Traccedilos tem o objetivo ldquo[] de representar a hierarquia

existente entre os traccedilos fonoloacutegicosrdquo e de mostrar ldquo[] que os traccedilos podem ser tanto

manipulados isoladamente como em conjuntos solidaacuteriosrdquo (MATZENAUER 2005 p 47)

Nesse modelo Clements e Hume (1995 p 249) explicam que os segmentos satildeo representados

por meio de configuraccedilotildees de noacutes hierarquicamente organizados em que os noacutes terminais

representam traccedilos fonoloacutegicos e os noacutes intermediaacuterios classes de traccedilos Essa representaccedilatildeo

pode ser visualizada em uma estrutura arboacuterea como a da Figura 14

Figura 14 - Representaccedilatildeo arboacuterea interna de um segmento

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 249)

23

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoWhat are the features and how are they defined it is only recently that linguists

have begun to address a third and equally important question How are the features organized in phonological

representationrdquo (CLEMENTS HUME 1995 p 245)

53

Na figura acima A representa o noacute de raiz que corresponde ao segmento como

unidade fonoloacutegica Os noacutes de classe representados por B C D e E na Figura 14 designam

grupos de elementos que funcionam como classes naturais em regras fonoloacutegicas sendo que

os noacutes D e E satildeo dependentes de C Os noacutedulos terminais a b c d e f g caracterizam os

traccedilos fonoloacutegicos Todos os noacutes estatildeo associados ao noacute de raiz e se ligam por meio de linhas

de associaccedilatildeo

Clements e Hume (1995 p 250) afirmam que o princiacutepio da Geometria de Traccedilos

assume que ldquoas regras fonoloacutegicas realizam apenas uma uacutenica operaccedilatildeordquo24

Desse modo os

autores ressaltam que para esse princiacutepio soacute podem funcionar juntos em regras fonoloacutegicas

um conjunto de traccedilos que formar constituintes (noacutes de classe) Por exemplo na Figura 14

um conjunto de regras fonoloacutegicas pode afetar d e f e g pelo fato de que todos eles fazem

parte do constituinte C Entretanto a regra natildeo pode afetar os noacutedulos c d e e por eles natildeo

fazerem parte de um mesmo constituinte

A seguir podemos visualizar a representaccedilatildeo da organizaccedilatildeo hieraacuterquica de

consoantes e vogais de acordo com Clements e Hume (1995)

24

Traduccedilatildeo nossa do original ldquoPhonological rules perform single operations onlyrdquo (CLEMENTS HUME 1995

p 250)

54

Consoantes Vogais

Figura 15 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de consoantes e vogais

Fonte CLEMENTS HUME (1995) apud MATZENAUER (2005 p 50)

Por meio dessa estrutura arboacuterea que representa a Geometria de Traccedilos eacute possiacutevel

representar qualquer som das liacutenguas naturais posto que a hierarquia de traccedilos descrita

acima eacute comum a todos os segmentos que existem As representaccedilotildees hieraacuterquicas da Figura

15 apontam semelhanccedilas entre consoantes e vogais ateacute o noacute Ponto de C quando as

especificidades das vogais aparecem Para exemplificar na figura seguinte temos a

representaccedilatildeo hieraacuterquica da consoante d e da vogal a em que eacute possiacutevel verificar que

consoantes e vogais se distinguem na Geometria de Traccedilos a partir do noacute vocaacutelico que existe

apenas na representaccedilatildeo das vogais

55

Figura 16 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica de uma consoante e de uma vogal

Fonte MATZENAUER (2005 p 51)

O noacute de raiz eacute considerado especial por ser constituiacutedo pelos traccedilos maiores [soante]

[aproximante] e [vocoide] A unidade desses traccedilos tem a funccedilatildeo de dividir os segmentos em

grandes classes (obstruintes nasais liacutequidas e vogais) e de identificar o grau de sonoridade

desses segmentos em uma escala que vai de 0 a 3 respectivamente O noacute lariacutengeo o noacute de

cavidade oral e o traccedilo [nasal] sempre vatildeo partir da raiz sendo que o noacute lariacutengeo ldquo[] pode

espraiar-se ou desligar-se como um todo como uma unidade levando todos os traccedilos que

estatildeo sob o seu domiacuteniordquo (MATZENAUER 2005 p 54) O traccedilo [nasal] serve apenas para

indicar a nasalidade ou natildeo do segmento representado portanto seraacute [+ nasal] para os

segmentos nasais e [- nasal] para os orais

56

Jaacute o noacute de cavidade oral domina o noacute ponto de C e o traccedilo [plusmn contiacutenuo] O noacute ponto de

consoante representa o ponto de articulaccedilatildeo e como consoantes e vogais satildeo caracterizadas

pelos mesmos pontos [labial] [coronal] e [dorsal] ambas possuem esse noacute em comum

Diferentemente da classificaccedilatildeo feita por Cacircmara Jr (2006) que dividia as vogais em

anteriores central e posteriores a Fonologia Gerativa de Chomsky e Halle (1968) as

diferencia com base no ponto de articulaccedilatildeo ou seja onde a vogal eacute produzida Assim a

vogal baixa a eacute dorsal por ser pronunciada com a parte de traacutes (dorso) da liacutengua as vogais

ɛ e i satildeo coronais por serem pronunciadas com a coroa (parte da frente) da liacutengua e as

vogais ɔ o u satildeo labiais por serem pronunciadas com a junccedilatildeo dos laacutebios

O traccedilo [coronal] domina outros dois traccedilos [anterior] e [distribuiacutedo] mas as

semelhanccedilas entre vogais e consoantes terminam neste ponto quando a estrutura arboacuterea

vocaacutelica apresenta mais trecircs noacutes o noacute vocaacutelico o noacute ponto de V e o noacute de abertura Como

pudemos ver nas Figuras 15 e 16 o noacute vocaacutelico caracteriza as vogais e domina os traccedilos de

ponto de articulaccedilatildeo e de abertura desses segmentos O noacute ponto de V das vogais equivale ao

noacute de ponto de C das consoantes pois esse noacute informa o ponto de articulaccedilatildeo da vogal

Enfim o noacute de abertura domina os traccedilos referentes agrave altura da vogal uma vez que o grau de

abertura indica a altura de modo que quanto mais alta for a vogal mais fechada ela eacute e

quanto mais baixa mais aberta Clements (1989) utilizou apenas o traccedilo [aberto] para

caracterizar a altura das vogais e atribuiu o valor de + ou ndash para esse traccedilo

Desse modo na Fonologia Autossegmental as diferenccedilas de altura entre as vogais satildeo

representadas por meio de traccedilos de abertura conforme a representaccedilatildeo da Figura 17 a

seguir

Figura 17 - Representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do portuguecircs

Fonte WETZELS (1991 p 31)

A representaccedilatildeo do sistema vocaacutelico tocircnico do Portuguecircs Brasileiro possui quatro

alturas relacionadas a trecircs traccedilos de abertura que permitem diferenciar por exemplo as vogais

57

meacutedias altas e o das vogais meacutedias baixas ɛ ɔ Nesse caso a Figura 17 mostra que todas as

vogais meacutedias diferem-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Isso porque enquanto e o satildeo

caracterizadas pelos traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] as vogais ɛ ɔ possuem os

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] pelo fato de essas vogais serem mais baixas do

que as outras duas vogais meacutedias

Aleacutem disso a representaccedilatildeo da Figura 17 ressalta a distinccedilatildeo entre as vogais altas i

u Como satildeo as mais altas do sistema vocaacutelico i u possuem todos os traccedilos de abertura

negativos [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] visto que quanto mais alta for a vogal mais

fechada ela eacute A vogal a ao contraacuterio por ser a mais baixa eacute tambeacutem a mais aberta e possui

todos os traccedilos de abertura positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

Esta seccedilatildeo sobre a teoria fonoloacutegica da Geometria de Traccedilos encerra o Capiacutetulo 2

deste trabalho dedicado agrave fundamentaccedilatildeo teoacuterica Apoacutes a apresentaccedilatildeo de um breve histoacuterico

do latim ateacute a liacutengua portuguesa do Brasil que temos hoje discorremos sobre o sistema

vocaacutelico do Portuguecircs Brasileiro e em seguida na terceira seccedilatildeo expusemos alguns trabalhos

desenvolvidos em algumas cidades brasileiras sobre o abaixamento e a harmonia vocaacutelica No

Capiacutetulo 3 tratamos da metodologia utilizada nesta pesquisa

58

3 METODOLOGIA

Na primeira seccedilatildeo deste capiacutetulo apresentamos os principais aspectos da

Sociolinguiacutestica Variacionista ou Teoria da Variaccedilatildeo na qual nos baseamos para fundamentar

a descriccedilatildeo e a anaacutelise dos dados deste trabalho A segunda seccedilatildeo foi dedicada agrave apresentaccedilatildeo

da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi realizado O foco da seccedilatildeo seguinte

foi a constituiccedilatildeo da amostra aleacutem da exposiccedilatildeo de como fizemos a coleta e a seleccedilatildeo dos

dados A seguir explicamos de um modo geral o funcionamento do GoldVarb X programa

estatiacutestico utilizado na anaacutelise dos dados Por fim na uacuteltima seccedilatildeo deste capiacutetulo tratamos das

definiccedilotildees das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas que nortearam esta pesquisa

31 A Sociolinguiacutestica Variacionista

Este trabalho foi norteado pelos princiacutepios da Sociolinguiacutestica Variacionista tambeacutem

conhecida como Teoria da Variaccedilatildeo que surgiu no iniacutecio dos anos de 1960 a partir dos

estudos de Labov Essa teoria caracteriza-se pela anaacutelise quantitativa de dados em que o

estudo de fatores linguiacutesticos (internos agrave liacutengua) e extralinguiacutesticos (externos agrave liacutengua) leva agrave

formaccedilatildeo de regras variaacuteveis Segundo Labov (1969 apud Schwindt 1995) as regras

variaacuteveis tratam de ldquo[] duas ou mais formas que representam o mesmo estado de coisasrdquo

Para Bisol (1981 p 25) as regras variaacuteveis ldquo[] satildeo aquelas em que fatores linguiacutesticos e

extralinguiacutesticos impedem a aplicaccedilatildeo plenardquo

Os estudos sociolinguiacutesticos consideram que a variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo eacute fruto apenas

de fatores internos agrave liacutengua uma vez que os fatores externos ou sociais tambeacutem interferem

nos processos variaacuteveis A consolidaccedilatildeo da Sociolinguiacutestica Variacionista foi consequecircncia de

estudos importantes desenvolvidos por Labov (2008)25

desde o surgimento da Teoria Um

desses trabalhos foi realizado em 1963 quando esse autor investigou a centralizaccedilatildeo dos

ditongos ay e aw ndash em palavras como right e house respectivamente ndash na ilha de Martharsquos

Vineyard localizada no estado de Massachusetts nos Estados Unidos A ilha era dividida em

duas partes a ilha alta (parte rural) e a ilha baixa (parte dos vilarejos) onde vivia a maioria da

populaccedilatildeo permanente

Segundo o Censo de 1960 viviam em Martharsquos Vineyard 5563 habitantes que se

dividiam em quatro grupos eacutetnicos 1) os descendentes das velhas famiacutelias de origem inglesa

que se fixaram na ilha inicialmente nos seacuteculos XVII e XVIII 2) os de ascendecircncia

25

Esse eacute o ano da traduccedilatildeo da obra original Sociolinguistic Patterns publicada em 1972 para o portuguecircs

59

portuguesa 3) os indiacutegenas de Gay Head e 4) a mistura de vaacuterias origens ingleses franco-

canadenses irlandeses alematildees poloneses

Ao estudar os ditongos centralizados ndash nome dado agraves vaacuterias formas dos ditongos ay e

aw que tinham os primeiros elementos mais altos que a ndash na ilha Labov (2008 p 25)

tinha como objetivo ldquo[] entender a estrutura interna do inglecircs vineyardense incluindo as

diferenccedilas sistemaacuteticas que jaacute existem e as mudanccedilas que estatildeo ocorrendo agora na ilhardquo A

investigaccedilatildeo do fenocircmeno em estudo contou com 69 informantes pouco mais de 1 da

populaccedilatildeo que foram assim divididos

Quanto agrave aacuterea 40 pessoas da ilha alta e 29 da ilha baixa

Profissatildeo ou grupo ocupacional 14 pessoas na pesca 8 na agricultura 6 na

construccedilatildeo 19 no ramo de serviccedilos 3 profissionais liberais 5 donas-de-casa e 14

estudantes

Grupos eacutetnicos 42 descendentes de ingleses 16 descendentes de portugueses e 9

descendentes de iacutendios

As 69 entrevistas resultaram em 3500 ocorrecircncias de (ay) e 1500 de (aw) Labov

(2008) verificou que a centralizaccedilatildeo alcanccedilou um pico no grupo com idade entre 31 e 45 anos

Quanto agrave distribuiccedilatildeo geograacutefica os moradores da ilha alta rural favoreceram mais a

centralizaccedilatildeo do que os moradores da ilha baixa No que se refere aos grupos ocupacionais os

pescadores foram os que mais centralizaram e sobre os grupos eacutetnicos os descendentes de

ingleses entre 31-45 anos centralizaram mais o ditongo ay enquanto os descendentes de

indiacutegenas da mesma faixa etaacuteria centralizaram mais o ditongo aw

Labov (2008) concluiu que os moradores da ilha baixa que queriam partir realizaram

pouca ou nenhuma centralizaccedilatildeo Jaacute os moradores da ilha alta que tinham a intenccedilatildeo de ficar

registraram um alto grau de ocorrecircncia do fenocircmeno Por isso para o autor a centralizaccedilatildeo

dos ditongos pesquisados eacute uma marca de identidade dos moradores da ilha

Outra pesquisa importante desse estudioso foi o estudo do r poacutes-vocaacutelico falado em

Nova Iorque mais especificamente nas lojas de departamentos da cidade realizado em

novembro de 1962 Para a anaacutelise foram consideradas duas variantes ldquo[] a presenccedila ou a

ausecircncia da consoante [r] em posiccedilatildeo poacutes-vocaacutelicardquo Segundo o autor a ausecircncia de r era

estigmatizada e a presenccedila do segmento era considerada uma variante de prestiacutegio O corpus

da pesquisa foi composto por entrevistas e observaccedilotildees de fala em locais puacuteblicos (LABOV

2008 p 64)

Assim esse pesquisador selecionou trecircs lojas de status diferentes em Nova Iorque

quais sejam a Saks da 5ordf Avenida (de status superior) a Macyrsquos (de status meacutedio) e a S

60

Klein (de status inferior) Ele obteve 68 entrevistas na Saks 125 na Macyrsquos e 71 na S Klein

Foram 264 entrevistas realizadas somando o tempo de seis horas e trinta minutos

Inicialmente Labov (2008 p 66) tinha trecircs hipoacuteteses para a relaccedilatildeo entre o status da loja e o

valor do r

ldquovendedores da loja de status mais alto vatildeo apresentar os valores mais altos de (r)rdquo

ldquoos da loja de status meacutedio vatildeo apresentar valores intermediaacuterios de (r)rdquo

ldquoe os da loja de status mais baixo vatildeo apresentar os valores mais baixosrdquo

Os resultados das anaacutelises dos dados mostraram que os empregados da Saks tiveram

mais ocorrecircncias de r do que os empregados da Macyrsquos e da S Klein O autor chama a

atenccedilatildeo para a diversidade de ocupaccedilatildeo dos empregados em cada loja visto que a realizaccedilatildeo

de r ocorreu mais na Saks em niacutevel intermediaacuterio na Macyrsquos e pouco na S Klein Na Macyrsquos

onde a natureza das funccedilotildees dos empregados era heterogecircnea uma anaacutelise da fala dos chefes

de seccedilatildeo dos vendedores e dos repositores mostrou que o r foi mais realizado entre os

primeiros (chefes de seccedilatildeo) do que entre os uacuteltimos (repositores) Jaacute na Saks onde havia

diferenccedilas entre o teacuterreo da loja e os andares superiores os informantes do teacuterreo realizaram

menos o r do que os informantes dos andares superiores e tiveram mais ocorrecircncias da

ausecircncia de r do que os que trabalhavam nos demais andares

De acordo com Labov (2008 p 64-68) os salaacuterios dos funcionaacuterios das lojas ldquo[] natildeo

estratificam os empregados na mesma ordemrdquo pois ao que tudo indicava lojas como a Saks

pagavam salaacuterios inferiores aos da Macyrsquos Entretanto por trabalharem na loja de status

superior havia uma tentativa por parte dos funcionaacuterios da Saks em realizarem a variante de

prestiacutegio que neste caso era a presenccedila do r poacutes-vocaacutelico pelo fato de que ldquo[] a variaacutevel

linguiacutestica (r) eacute um diferenciador social em todos os niacuteveis de fala de Nova Iorquerdquo

Labov (2008) afirma que ao considerar o uso cotidiano da liacutengua em uma

comunidade a Linguiacutestica redefiniu seu campo de estudo mas muito ainda precisa ser feito

no que se refere agrave descriccedilatildeo e anaacutelise das liacutenguas e dos dialetos Na verdade o autor acredita

que natildeo se deve ignorar os dados de fala de uma comunidade pois o falante real precisa ser

considerado

Para a Sociolinguiacutestica Variacionista a liacutengua possui estruturas invariantes (fatores

sintaacuteticos semacircnticos discursivos e lexicais por exemplo) e estruturas variantes (os

chamados fatores sociais como sexo idade classe social e regiatildeo geograacutefica) Ademais essa

teoria reconhece a heterogeneidade ordenada pois apesar de haver variaccedilatildeo haveraacute a

sistematicidade Assim aleacutem do fato de lidar com dados de variaccedilatildeo com vistas agrave mudanccedila a

Teoria da Variaccedilatildeo eacute assim conhecida por tratar de variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas

61

Uma pesquisa baseada nos preceitos da Sociolinguiacutestica Variacionista precisa definir

quais seratildeo as variaacuteveis dependentes ndash o que seraacute estudado ndash e as independentes ndash que podem

ser de natureza linguiacutestica e extralinguiacutestica Neste estudo por exemplo a variaacutevel

dependente eacute o abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica

Em conformidade com a variaacutevel dependente que tem esse nome por depender de

fatores internos eou externos agrave liacutengua para a anaacutelise do processo escolhido definimos as

variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas Foram levados em conta nesta pesquisa o sexo a

idade e o grau de escolaridade do informante e ainda as variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas uacuteltimas foram selecionadas considerando o fenocircmeno fonoloacutegico em estudo a leitura de

textos sobre o abaixamento e os resultados obtidos em outros trabalhos que tratam do mesmo

assunto ou de tema semelhante

Com relaccedilatildeo agrave mudanccedila a Sociolinguiacutestica Variacionista entende que ela natildeo ocorre

sem antes ter havido variaccedilatildeo Entretanto a variaccedilatildeo natildeo implica mudanccedila pois duas formas

podem conviver em harmonia por muito tempo sem que uma delas seja eliminada Desse

modo estudar variaccedilatildeo implica o estudo do processo e natildeo do resultado pronto Labov (2008

p 21) explica que

[] natildeo se pode entender o desenvolvimento de uma mudanccedila linguiacutestica

sem levar em conta a vida social da comunidade em que ela ocorre Ou

dizendo de outro modo as pressotildees sociais estatildeo operando continuamente

sobre a liacutengua natildeo de algum ponto remoto no passado mas como uma forccedila

social imanente agindo no presente vivo

Assim o estudo de uma liacutengua deve considerar os fatores sociais ou extralinguiacutesticos

da populaccedilatildeo em anaacutelise Em outras palavras natildeo se pode explicar as variaccedilotildees foneacuteticas

fonoloacutegicas morfoloacutegicas sintaacuteticas e semacircnticas da liacutengua com base apenas em criteacuterios

linguiacutesticos Outra caracteriacutestica da Sociolinguiacutestica Variacionista eacute a anaacutelise quantitativa

porque investiga dados e lida com eles em grande quantidade Por isso para se obter uma

extensa quantidade de dados Labov (2008) sugere a entrevista individual gravada e propotildee

dois meacutetodos para controlar a relaccedilatildeo entre entrevistado e entrevistador

Segundo o autor o primeiro meacutetodo consiste na convivecircncia com o informante e o

segundo na observaccedilatildeo do uso puacuteblico da liacutengua no cotidiano para saber como as pessoas

usam a liacutengua no dia-a-dia Ao utilizar esses meacutetodos os objetivos de Labov (2008 p 83)

foram ldquo[] observar o modo como as pessoas usam a liacutengua quando natildeo estatildeo sendo

62

observadasrdquo e fazer com que a entrevista gravada fosse executada da forma mais natural

possiacutevel Outra sugestatildeo do autor para neutralizar a presenccedila do pesquisador eacute usar sessotildees em

grupo como forma de distrair os informantes e assim eles acabam se esquecendo de que

estatildeo sendo observados

Contudo acreditamos que atualmente natildeo eacute necessaacuterio o uso de certos artifiacutecios que

Labov (2008) utilizou em suas pesquisas para neutralizar a presenccedila do pesquisador No

estudo que fizemos em Monte Carmelo-MG por exemplo tivemos alguns casos de pessoas

que queriam ser entrevistadas mas natildeo puderam ou por natildeo terem nascido na cidade ou

simplesmente por natildeo preencherem o perfil de informante de que noacutes necessitaacutevamos naquele

momento Uma orientaccedilatildeo que deve ser seguida eacute a omissatildeo do real motivo da entrevista para

natildeo prejudicar a anaacutelise da variaacutevel em estudo Por isso para a investigaccedilatildeo do r nas lojas de

departamento de Nova Iorque Labov (2008) explica que ele se aproximava do vendedor

(informante) como um cliente que queria informaccedilotildees sobre um departamento especiacutefico da

loja mas nunca dizia nada sobre o verdadeiro motivo de sua abordagem

O autor afirma que as entrevistas raacutepidas e anocircnimas satildeo um meio muito eficaz para a

obtenccedilatildeo ldquo[] de informaccedilatildeo sobre a estrutura sociolinguiacutestica de uma comunidade de falardquo

mas ele ressalta que ldquoA anaacutelise adequada da variaacutevel linguiacutestica eacute o passo mais importante da

investigaccedilatildeo sociolinguiacutesticardquo Todavia apesar de esse estudioso nos ensinar vaacuterias teacutecnicas

de como se abordar um informante e de como a entrevista deve ser feita de modo a se chegar

ao vernaacuteculo mesmo que o informante natildeo saiba que estaacute sendo gravado eacute preciso salientar

que atualmente uma pesquisa sobre variaccedilatildeo linguiacutestica natildeo pode envolver a gravaccedilatildeo de

fala de um indiviacuteduo sem que ele saiba (LABOV 2008 p 87-93)

Tambeacutem natildeo eacute necessaacuterio usar tantas teacutecnicas diversificadas como as que o autor

empregou em seus estudos visto que as pessoas estatildeo mais desinibidas hoje do que haacute

quarenta anos quando Labov (2008) desenvolveu seus trabalhos Aleacutem disso qualquer

pesquisa que envolva pessoas deve passar por um Comitecirc de Eacutetica como ocorreu conosco na

Universidade Federal de Uberlacircndia Esse Comitecirc avalia o projeto de pesquisa aleacutem de exigir

uma seacuterie de documentos que comprovem a real participaccedilatildeo do informante e os possiacuteveis

riscos que ele pode correr ao participar do estudo

Sobre a entrevista Tarallo (1994) aconselha que ela deve levar o informante a contar

narrativas pessoais pois assim ele natildeo se preocuparaacute com o seu modo de fala mas com o que

fala Labov (2008) sugere que o entrevistador deve fazer perguntas sobre risco de vida

porque esse tema costuma fazer com que o informante reviva toda a situaccedilatildeo de risco e

63

assim decirc menos atenccedilatildeo ao como fala podendo ateacute falar mais do que falou no decorrer da

entrevista conforme o proacuteprio autor comprovou

Entretanto em nossa pesquisa com os moradores carmelitanos constatamos que nem

sempre o informante mostrou-se interessado em responder perguntas sobre risco de vida

Alguns disseram que nunca tinham passado por nenhuma situaccedilatildeo de risco ou que natildeo se

lembravam de ter passado por isso Nesses casos logo mudaacutevamos de assunto para um tema

que levasse o entrevistado a falar mais fazendo perguntas sobre suas aspiraccedilotildees seus sonhos

e sobre o que ele faria se ganhasse muito dinheiro na loteria por exemplo Na verdade

acreditamos que o tema motivador para uma boa conversa eacute bem relativo e depende muito dos

gostos e da histoacuteria de vida de cada entrevistado porque o que pode ser assunto para um

informante nem sempre levaraacute outro a falar

Silva (2007) lembra que a postura do entrevistador durante a gravaccedilatildeo tambeacutem eacute

fundamental para que o entrevistado se sinta mais agrave vontade A autora explica que eacute preciso

deixar o informante falar e estimulaacute-lo mostrando que se estaacute interessado no que ele conta

Silva (2007 p 127) ressalta ainda que o pesquisador deve elaborar bem as perguntas que faraacute

ao entrevistado pois ldquoOutro perigo de impedir o falante de falar eacute formular perguntas de tal

forma que ele seja induzido a responder sim ou natildeo [] eacute perda de tempordquo o que eacute verdade

Em meio a essas dificuldades Tarallo (1994) propotildee que o pesquisador elabore um

roteiro de perguntas para servir como guia da entrevista Esse roteiro ou questionaacuterio pode

abordar temas comuns ao cotidiano e agrave vida do informante tais como origem infacircncia

tempos de escola relacionamentos lazer e aspiraccedilotildees do entrevistado Mas como

percebemos nas entrevistas com os moradores carmelitanos quase sempre o roteiro natildeo foi

usado e quando foi serviu apenas como uma ponte entre a entrevistadora e o informante

Como natildeo nos conheciacuteamos em alguns casos o entrevistado preferiu ver o roteiro antes para

saber quais perguntas poder-lhe-iam ser feitas ou para apontar algum assunto sobre o qual

gostaria de falar

A seguir apresentamos o municiacutepio de Monte Carmelo-MG onde este estudo foi

realizado

64

32 A Cidade de Monte Carmelo-MG

O municiacutepio de Monte Carmelo-MG26

era habitado inicialmente por iacutendios das tribos

ldquoCaiapoacutesrdquo e ldquoAraxaacutesrdquo mas os primeiros movimentos que deram origem ao povoado

comeccedilaram em 1840 com a chegada de moradores de Satildeo Joatildeo del Rei e Itapecerica para a

cidade carmelitana Eles foram para o municiacutepio atraiacutedos pela descoberta de garimpos de

diamante em Estrela do Sul que na eacutepoca se chamava ldquoBagagemrdquo Como o ambiente dos

garimpos era pouco recomendado para as famiacutelias e tambeacutem devido ao clima saudaacutevel e agrave

excelente aacutegua da regiatildeo os garimpeiros optaram por deixar suas famiacutelias em Monte

Carmelo-MG Assim essas pessoas instalaram-se agraves margens do ldquoCoacuterrego Mumbucardquo onde

hoje fica o bairro Tamboril

Os primeiros moradores da cidade mineira contam que laacute vivia uma generosa

fazendeira chamada D Clara Chaves que doou um terreno de seis leacuteguas quadradas aos

moradores para que eles construiacutessem uma capela para Nossa Senhora do Carmo de quem

era devota Nesta aacuterea foi construiacuteda a Praccedila da Matriz onde os moradores fizeram suas

casas em torno da primeira Igreja e assim formou-se o ldquoArraial do Carmo da Bagagemrdquo

Em 1882 o ldquoArraialrdquo foi elevado agrave categoria de ldquoVilardquo passando a se chamar ldquoNossa

Senhora do Carmo da Bagagemrdquo Dez anos depois a ldquoVilardquo passou a ser designada como uma

cidade e recebeu o nome de ldquoMonte Carmelordquo que eacute o nome de uma montanha existente no

litoral de Israel nas proximidades da cidade de Haifa ldquoCarmelordquo em hebraico significa

ldquouvas de Deusrdquo e como Carmo da Bagagem fica proacutexima a um monte semelhante ao da antiga

Palestina onde se encontra a sede da Congregaccedilatildeo das Carmelitas o nome ldquoMonte Carmelordquo

foi escolhido em consideraccedilatildeo ao local onde se fundou a Ordem de Nossa Senhora do Carmo

e tambeacutem ao monte nas proximidades da cidade

Sobre os serviccedilos oferecidos no municiacutepio mineiro em nosso contato com os

habitantes carmelitanos a educaccedilatildeo foi apontada como um serviccedilo puacuteblico de qualidade na

cidade onde existem seis escolas estaduais de Ensino Fundamental trecircs escolas estaduais de

Ensino Meacutedio dois coleacutegios particulares com Ensino Fundamental e Meacutedio trecircs Instituiccedilotildees

de Ensino Superior particular e mais recentemente um dos campi da Universidade Federal de

Uberlacircndia (UFU) inaugurado no primeiro semestre de 2011 com trecircs cursos Agronomia

Engenharia de Agrimensura e Cartograacutefica e Sistemas de Informaccedilatildeo

26

As informaccedilotildees contidas nesta seccedilatildeo sobre o municiacutepio de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas na

paacutegina do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) na internet

httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=314310ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|infograficos-historico Acessado em 10 nov 2013

65

A chegada da UFU na cidade eacute vista por todos os entrevistados como um ponto

positivo para o desenvolvimento de Monte Carmelo-MG Devido agrave implantaccedilatildeo da

Universidade no municiacutepio os moradores acreditam na melhoria de diversos setores como

transporte lazer e mais oportunidades de emprego

A principal atividade econocircmica da cidade eacute a produccedilatildeo de telhas tijolos e artefatos

ligados agrave ceracircmica Aleacutem da produccedilatildeo desses objetos Monte Carmelo tambeacutem se destaca na

produccedilatildeo de cafeacute para exportaccedilatildeo juntamente com outras trecircs cidades mineiras Araguari

Uberaba e Patrociacutenio27

Figura 18 - Vista aeacuterea da cidade de Monte Carmelo-MG

Fonte Disponiacutevel em httpjornalespiritamontecarmeloblogspotcombrpfotos-de-monte-

carmelo-mg-brasilhtml Acessado em 10 nov 2013

De acordo com dados28

do IBGE a populaccedilatildeo estimada para Monte Carmelo em

2013 eacute de 47595 pessoas Em 2010 o Censo realizado pelo Instituto registrou 45772

habitantes sendo 23066 homens e 22706 mulheres Quanto agrave localizaccedilatildeo a cidade

carmelitana possui uma aacuterea correspondente a 1343035 kmsup2 dista 503 km da capital de

27

As informaccedilotildees sobre a economia e sobre a localizaccedilatildeo de Monte Carmelo-MG podem ser encontradas no site

da Wikipeacutedia httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais) Acessado em 10 nov 2013 28

Esses dados estatildeo disponiacuteveis no site do IBGE

httpcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=314310 e

httpcidadesibgegovbrxtrastemasphplang=ampcodmun=314310ampidtema=16ampsearch=minas-gerais|monte-

carmelo|sintese-das-informacoes Acessado em 10 nov 2013

66

Minas Gerais Belo Horizonte e estaacute localizada aproximadamente a 110 km de Uberlacircndia

Nas Figuras 19 e 20 podemos conferir a localizaccedilatildeo do municiacutepio em Minas Gerais e com

relaccedilatildeo agrave capital mineira Belo Horizonte

Figura 19 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpptwikipediaorgwikiMonte_Carmelo_(Minas_Gerais)

Acessado em 10 nov 2013

Figura 20 - Localizaccedilatildeo de Monte Carmelo em relaccedilatildeo agrave capital de Minas Gerais

Fonte Disponiacutevel em httpicvmudiblogspotcombr200910santa-ceia-em-monte-carmelo-

mghtml Acessado em 10 nov 2013

Apoacutes conhecer um pouco da histoacuteria de Monte Carmelo-MG onde esta pesquisa foi

realizada na seccedilatildeo seguinte tratamos da constituiccedilatildeo da amostra em que explicamos como

foi feita a escolha dos informantes que participaram deste estudo

67

33 A Constituiccedilatildeo da Amostra

Com iniacutecio em 2005 na Universidade Federal de Uberlacircndia em Minas Gerais o

Grupo de Estudos em Fonologia ndash GEFONO ndash coordenado pelo Prof Dr Joseacute Sueli de

Magalhatildees surgiu com o objetivo de aprofundar os estudos em Fonologia Morfologia

Morfofonologia e Aquisiccedilatildeo Fonoloacutegica aleacutem de estimular o interesse dos alunos e da

comunidade acadecircmica do Curso de Letras em realizar pesquisas nessas aacutereas Para tanto o

GEFONO visa construir um banco com dados de fala do Triacircngulo Mineiro para isso conta

com estudos realizados em diversas cidades da regiatildeo por noacutes membros do Grupo

Assim a amostra que constitui essa pesquisa foi definida pelo GEFONO e consiste

nos dados da fala espontacircnea de 24 informantes sendo 12 homens e 12 mulheres que foram

selecionados pelo meacutetodo da estratificaccedilatildeo aleatoacuteria de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau

de escolaridade A escolha dessas trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas e o fato de serem dois

informantes por ceacutelula foram definidos com base na Sociolinguiacutestica Variacionista que

analisa a variaccedilatildeo considerando fatores externos agrave liacutengua e tambeacutem devido ao periacuteodo de

dois anos que tivemos para desenvolver essa pesquisa um nuacutemero superior a dois informantes

seria inviaacutevel para um pesquisador no Curso de Mestrado

A distribuiccedilatildeo dos 24 informantes conforme as variaacuteveis citadas foi feita da seguinte

forma

68

Figura 21 - Distribuiccedilatildeo dos informantes de acordo com sexo faixa etaacuteria e grau de escolaridade

Aleacutem de preencher o perfil exposto no diagrama acima o informante selecionado para

essa pesquisa deveria obedecer a trecircs criteacuterios

a) ter nascido em Monte Carmelo ou ter ido para a cidade com ateacute cinco anos de idade

b) natildeo ter se ausentado do municiacutepio carmelitano por mais de dois anos consecutivos

c) estar disposto a ser entrevistado e portanto a participar desse estudo

Assim que a seleccedilatildeo dos informantes foi feita o proacuteximo passo foi coletar e selecionar

os dados relevantes para este trabalho ndash tema da seccedilatildeo seguinte

331 A coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Como foi exposto na seccedilatildeo anterior nesta pesquisa utilizamos dados de 24 entrevistas

feitas com moradores de Monte Carmelo-MG que foram coletadas individualmente na casa

ou no local de trabalho dos informantes Todas essas entrevistas foram realizadas pela

pesquisadora entre janeiro de 2009 e marccedilo de 201129

e fazem parte do banco de dados do

29

Aproveitamos nove entrevistas feitas durante a Iniciaccedilatildeo Cientiacutefica e fizemos as outras quinze que faltavam

para a Poacutes-Graduaccedilatildeo entre os anos de 2010 e 2011

69

GEFONO Para coletar as entrevistas cuja duraccedilatildeo meacutedia foi de trinta minutos utilizamos um

gravador de voz convencional em que as gravaccedilotildees satildeo feitas em pequenas fitas Cada fita

conteacutem as falas de dois informantes que posteriormente foram convertidas em CD para

facilitar o trabalho de transcriccedilatildeo e tambeacutem para preservar o conteuacutedo das fitas

Para ter acesso agraves entrevistas Labov (2008) ressalta a importacircncia de o pesquisador

estar com algueacutem conhecido da comunidade em estudo para que a abordagem de seus

possiacuteveis informantes seja feita de forma mais confiaacutevel Isso aconteceu conosco durante toda

a coleta de dados em Monte Carmelo-MG e pudemos notar que a presenccedila de uma pessoa

conhecida fez diferenccedila na aceitaccedilatildeo dos moradores em participar da pesquisa Entatildeo

inserimos-nos na comunidade de fala onde pudemos conquistar a confianccedila dos moradores e

selecionar os possiacuteveis informantes Nesse primeiro contato com o futuro entrevistado

explicamos como a entrevista seria feita ressaltando a preservaccedilatildeo da identidade do

informante e que a entrevista soacute seria realizada com o seu consentimento

Durante cada entrevista estivemos com um roteiro de perguntas que foi feito a partir

do questionaacuterio que Viegas (1987) elaborou para a sua pesquisa Assim criamos o nosso

proacuteprio roteiro (Anexo 1) com 87 questotildees relacionadas agrave cidade e ao dia-a-dia do

entrevistado para nos servir como um guia no momento da gravaccedilatildeo Na verdade esse roteiro

tinha o objetivo de desinibir o informante para que ele natildeo se preocupasse com a sua maneira

de se expressar dando atenccedilatildeo apenas ao conteuacutedo de sua fala Entretanto durante as

entrevistas procuramos estabelecer uma conversa informal com o entrevistado por meio de

perguntas sobre temas variados que fizessem parte do cotidiano dele tais como

relacionamentos lazer os tempos de infacircncia a eacutepoca da escola e aspiraccedilotildees para que ele se

sentisse mais agrave vontade e disposto a falar

Por esse motivo o roteiro foi uacutetil apenas para escolher o tema das perguntas em alguns

casos que o informante queria saber quais questotildees poderiam ser perguntadas a ele Com

exceccedilatildeo desse tipo de situaccedilatildeo praticamente natildeo houve necessidade de utilizar esse recurso

uma vez que os informantes mostraram-se interessados e quase sempre dispostos a responder

o que lhes foi perguntado Desse modo verificamos que o roteiro de perguntas serviu mais

como um suporte do que um material de uso frequente pois os informantes em sua maioria

natildeo se mostraram tatildeo inibidos quanto imaginaacutevamos durante a leitura dos textos de Labov

(2008) e Tarallo (1994)

De posse das 24 entrevistas gravadas o proacuteximo passo foi transcrevecirc-las

ortograficamente Essa transcriccedilatildeo procura retratar com fidelidade exatamente o que o

entrevistado diz e faz como gestos e risos aleacutem de imprevistos que podem ocorrer durante a

70

gravaccedilatildeo como um telefone que toca ou um cachorro que late Feita a transcriccedilatildeo a etapa

seguinte foi selecionar os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento das vogais meacutedias

altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica Para exemplificar essa etapa do trabalho de transcriccedilatildeo e

seleccedilatildeo dos dados utilizamos alguns trechos da entrevista30

feita com um informante do sexo

masculino que pertence agrave faixa etaacuteria entre 26 e 49 anos de idade e possui mais de 11 anos de

estudo

E Boa noiti

I Boa noiti

E Intatildeo comu qui eacute moraacute aqui im Monti Carmelu

I Eu eu gostu acustumei cunhiciacute ocirctas cidadis ltrevisiteigt mais achu u ritimu di vida aqui

gostosu a as coisa aqui na cidadi du interior aconteacuteci mai divagaacute mais eu achu qui eacute um

ritimu legal Eu gostu cunheccedilu todu mundu moru aqui haacute muitus anu criei nasciacute Intatildeo

assim eu jaacute mi vi moranu im ocirctas cidadis maioris por exemplu i tenhu ateacute medu di di natildeo

mi adapitaacute si casu um dia eu picisaacute mudaacute pa uma cidadi maior eu tenhu ateacute medu di natildeo mi

adapitaacute Intatildeo eu gostu di Monti Carmelu apesar dus meus filhu morari (= morarem) im

Ubeacuterlacircndia eu uma veiz ateacute jaacute quis mudaacute pra laacute puque foi um depois foi ocirctu depois foi u

ocirctu I agraves vezis qui eu vocirc im Ubeacuterlacircndia a neacutegoacuteciu eu ficu doidu pra voltaacute Eacute muitu agitada

muitu curridu as coisa laacute eu achu muitu complicadu Intatildeo eu achu muitu bom achu gostosu

moraacute aqui

[]

E I vocecirc vecirc muita diferenccedila da sua infacircncia pra infacircncia das crianccedilas di hoji

I Veju Noacutes [a] mais velhu a genti custuma muitu aiacute noacutes somus um pocirccu saudosistas a

genti custuma muitu lembraacute u passadu mais eu lembru u meu passadu cum saudadis Eu mi

sintu assim uma pessoa privilegiada puque quandu eu lembru du meu passadu eu num

consigu lembraacute di coisas ruins soacute coisas boas desdi quandu eu tinha dois ou trecircis ou quatru

anus eu brincava cum velociacutepedi i ganhava sem roda Amarraacutevamus uma corda saiacutea uns

mininu puxanu puque num tinha rodinha era velociacutepedi usadu aquelis ltveloacutetrongt antigu

Intatildeo eu soacute lembru di coisas boas subinu im peacute di manga panhanu (= apanhando) caju peacute di

caju eacute pescandu nadanu im coacuterregu Aus dumingu a genti ia pa dibaxu du ltpeacute di mangagt

perrsquodi casa pa fazecirc gangorra U pessual leacutevava aquelas vitrola antiga movida a pilha di toacutecaacute

30

Legenda E entrevistadora I informante inint palavra ou trecho ininteligiacutevel lt gt quando haacute duacutevidas

com relaccedilatildeo agrave palavra pronunciada palavra tem a pretocircnica realizada como [e] palavra tem a pretocircnica

realizada como [ɛ] palavra tem a pretocircnica realizada como [o] palavra tem a pretocircnica realizada como [ɔ]

palavra significa que haacute mais de uma vogal pretocircnica para ser analisada

71

discu Intatildeo assim a genti num tinha eacute todas as mordomias ou [teacutequi] teacutequinologia di hoji

neacute Tantu eacute qui quandu eu fui ia daacute preacutesenti pus meus filhus eu nunca dei nunca quis daacute

presenti cum pilhas ou qui fizessi fizessi brincassi sozim Eli potildee u carrim u carrim faiz

tudu Natildeo (barulho de pessoas conversando) Sempri dei brinquedus pra elis di montaacute essas

coisa pra elis podecirc brincaacute puque hoji tudu eacute tatildeo faacutecil Eacute us jogus eacuteleacutetrocircnicus por exemplu

neacute A crianccedila peacuterdi a criatividadi eacute elis ficam muitu bitoacuteladu naquilu Aqui mesmu tem dois

noacutetibuqui (= notebook) tem um computador ali intatildeo tudu hoji eacute muitu virtual Intatildeo assim

eu sempri priorizei muitu fazecirc as coisa A genti brincaacute juntu ou fazecirc as coisa juntu a a

crianccedila Intatildeo a educaccedilatildeo mudocirc muitu nessi aspequitu Us pais hoji istatildeo bem mais

perdidus du que antigamenti puque eu tameacutem num quandu us meus filhus nasceram eram

us primerus neacute Eu nunca tinha tidu filhus portantu num tinha ixperiecircncia ninhuma nessi

ramu Mas eacute eu procurei mi infoacutermaacute

(Informante 23 sexo masculino 26-49 anos +11)

Assim que todos os dados foram selecionados eles foram codificados e analisados

com a ajuda de um programa estatiacutestico o GoldVarb X Para que o programa seja capaz de ler

os dados codificados eacute preciso criar um coacutedigo para cada variaacutevel31

definida para a pesquisa e

para seus respectivos fatores Esse coacutedigo32

pode ser feito com letras nuacutemeros ou siacutembolos

Como exemplo de uma codificaccedilatildeo temos a palavra dif[ɛ]rente que apareceu na fala do

informante 23

31

A variaacutevel linguiacutestica eacute composta por um grupo de fatores Por exemplo a qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

eacute uma variaacutevel linguiacutestica e os fatores dessa variaacutevel satildeo as vogais tocircnicas orais e as vogais tocircnicas nasais 32

Neste trabalho adotamos apenas letras e nuacutemeros como veremos no exemplo de uma codificaccedilatildeo que estaacute na

paacutegina seguinte Para mais detalhes os coacutedigos que criamos estatildeo descritos no Anexo 2 desta dissertaccedilatildeo

72

(2kfsktemqn01vawmas difeacuterenti

Em que

2 = realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

k = consoante (contexto precedente)

f = fricativa (modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

s = labiodental (ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente)

k = consoante (contexto seguinte)

t = tepe (modo do contexto seguinte)

e = alveolar (ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte)

m = vogal meacutedia-alta (altura da vogal tocircnica)

q = vogal anterior (posiccedilatildeo da vogal tocircnica)

n = vogal nasal (qualidade da vogal tocircnica)

0 = distacircncia zero (da siacutelaba tocircnica)

1 = distacircncia de uma siacutelaba (do iniacutecio da palavra)

v = siacutelaba pretocircnica leve - CV (tipo de siacutelaba pretocircnica)

a = adjetivo (item lexical)

w = informante 23

m = sexo masculino

a = idade do informante (entre 26 e 49 anos de idade)

s = com mais de 11 anos de estudo (grau de escolaridade do informante)

Apoacutes a codificaccedilatildeo de todos os dados o proacuteximo passo foi analisaacute-los por meio do

GoldVarb X o assunto da seccedilatildeo seguinte

34 O Programa Estatiacutestico

Conforme Freitag e Mittmann (2005 p 3) o GoldVarb eacute ldquo[] uma ferramenta de

anaacutelise estatiacutestica [] sendo utilizado especialmente para o tratamento estatiacutestico de regras

variaacuteveis em estudos sociolinguiacutesticosrdquo Para esse estudo utilizamos o GoldVarb X uma das

versotildees disponiacuteveis do programa para anaacutelise estatiacutestica de regras variaacuteveis O objetivo desse

tipo de anaacutelise eacute ldquo[] separar quantificar e testar a significacircncia dos efeitos de fatores

contextuais em uma variaacutevel linguiacutesticardquo (GUY ZILLES 2007 p 34) Esses fatores

condicionantes podem ser tanto linguiacutesticos (o efeito por exemplo da consoante precedente

73

para o abaixamento da vogal meacutedia pretocircnica) como extralinguiacutesticos (como o efeito da idade

dos informantes na pronuacutencia de g[o]star versus g[ɔ]star)

O primeiro passo para a anaacutelise de uma regra variaacutevel eacute definir a variaacutevel linguiacutestica

A definiccedilatildeo dessa variaacutevel implica a identificaccedilatildeo de variantes ou seja o que eacute e o que natildeo eacute

uma ocorrecircncia da variaacutevel em estudo (GUY ZILLES 2007 p 36) Aleacutem disso eacute preciso ter

em mente o envelope de variaccedilatildeo que indica onde a variaccedilatildeo ocorre e onde ela natildeo pode

ocorrer de forma alguma Apoacutes essa primeira etapa e de posse dos dados o pesquisador

elabora coacutedigos que podem ser nuacutemeros letras ou siacutembolos para cada variaacutevel que tiver sido

definida para o estudo Um exemplo de como a codificaccedilatildeo pode ser feita foi mostrado na

seccedilatildeo anterior em que discorremos sobre a coleta e a seleccedilatildeo dos dados

Para a palavra sofaacute por exemplo que apareceu na entrevista do Informante 3 fizemos

a seguinte codificaccedilatildeo

(3kfekfsbco00vscmjp sofaacute

Podemos observar que antes do iniacutecio da codificaccedilatildeo um parecircntese foi aberto Isso eacute

feito para o programa poder identificar os dados codificados Apoacutes o uacuteltimo dado codificado

o parecircntese eacute fechado Essa codificaccedilatildeo eacute salva no arquivo de dados (tkn) do GoldVarb X e

em seguida na seccedilatildeo Tokens gt generate factor specification podemos conferir todos os dados

para saber se haacute algum erro no que foi codificado Se algum erro for detectado o pesquisador

pode fazer a correccedilatildeo imediatamente e continuar a anaacutelise

Assim que a conferecircncia for feita o programa abre a janela do arquivo de condiccedilotildees

(cnd) e a seccedilatildeo Tokens gt no recode iraacute mostrar a variaacutevel dependente em estudo e quantos

grupos fazem parte da anaacutelise Ainda no arquivo de condiccedilotildees a seccedilatildeo Cells gt load cells to

memory forneceraacute ao pesquisador os primeiros dados da anaacutelise quando o programa apresenta

a seleccedilatildeo de ceacutelulas no arquivo (cel) e no arquivo de resultados (res) Nesse momento da

anaacutelise alguns dados poderatildeo chegar a 0 ou 100 o que significa que eles estatildeo em

nocaute33

ou seja com os fatores para os quais os dados representam a aplicaccedilatildeo ou a natildeo

aplicaccedilatildeo da regra Em outras palavras se o fator estiver acima de 95 ou abaixo de 5 natildeo

haacute variaccedilatildeo Por isso esses dados precisam ser retirados da rodada34

Para esse procedimento

ser feito eacute necessaacuterio voltar ao arquivo de condiccedilotildees (cnd) e eliminar os nocautes presentes

nos grupos que compotildeem a anaacutelise Depois que os nocautes forem eliminados checa-se todos

os grupos mas eacute importante salvar novamente o arquivo de condiccedilotildees (cnd)

33

Do inglecircs knockout que eacute como aparece no programa 34

A rodada eacute a execuccedilatildeo de uma anaacutelise pelo programa estatiacutestico

74

Feito isso nesse mesmo arquivo a seccedilatildeo Cells gt load cells to memory abriraacute um novo

arquivo de resultados (res) em que o pesquisador deve verificar se todos os nocautes foram

retirados Os resultados ainda com nocaute devem aparecer primeiro seguidos pelos sem

nocaute Apoacutes essa verificaccedilatildeo basta entrar no arquivo de resultados (res) e dar iniacutecio a

rodada dos dados na seccedilatildeo Cells gt binomial up and down Assim que a rodada for concluiacuteda

o pesquisador poderaacute conferir no arquivo de resultados (res) a melhor corrida da rodada

stepping up (em Best stepping up run) e poderaacute confirmar o resultado encontrado na rodada

stepping down (em Best stepping down run)

A partir da melhor corrida o pesquisador poderaacute montar as tabelas com os resultados

da sua anaacutelise uma vez que ele jaacute teraacute acesso aos percentuais e aos pesos relativos referentes

aos dados analisados Os percentuais expressam a tendecircncia de a variaacutevel dependente ocorrer

em diferentes contextos O peso relativo apenas confirma essa tendecircncia por meio de valores

no intervalo de 0 a 1 Quanto mais proacuteximo de 1 mais favorecedor eacute o efeito do fator na

ocorrecircncia da variaacutevel em um dado contexto quanto mais proacuteximo de 0 mais desfavorecedor

e se estiver em torno de 05 eacute considerado ponto neutro ou seja natildeo favorece e nem

desfavorece o fenocircmeno em estudo

Nessa seccedilatildeo nossa intenccedilatildeo natildeo foi elaborar um manual para o uso do programa

estatiacutestico mas procuramos fornecer ao leitor uma visatildeo geral de como lidar com o GoldVarb

X Eacute importante salientar que a cada etapa da anaacutelise o pesquisador deve salvar tudo o que

for sendo feito e manter abertas todas as janelas que forem de uso do programa Os

procedimentos que descrevemos acima satildeo vaacutelidos apenas para uma variaacutevel dependente por

exemplo em nosso estudo estudamos a variaccedilatildeo de e e de o entatildeo fizemos duas rodadas

separadamente uma para e e outra para o Ainda assim eacute importante que o pesquisador

faccedila sempre mais de uma rodada para cada variaacutevel dependente e confronte os resultados

encontrados pois se ocorrerem discrepacircncias de uma anaacutelise para outra algo estaacute errado

35 Definiccedilotildees das Variaacuteveis

Nesta seccedilatildeo apresentamos as variaacuteveis dependentes e as independentes que foram

selecionadas para este estudo

351 Variaacutevel dependente

A variaacutevel dependente eacute o que seraacute estudado Nesse estudo a variaacutevel dependente eacute o

abaixamento das vogais meacutedias e e o na posiccedilatildeo pretocircnica A ocorrecircncia e a natildeo ocorrecircncia

75

do abaixamento das vogais e e o nessa posiccedilatildeo que satildeo as duas variantes da variaacutevel

dependente em estudo satildeo representadas da seguinte forma

[e] e [o] para indicar a manutenccedilatildeo como em m[e]lhor e c[o]lega

[ɛ] e [ɔ] para indicar o abaixamento como em m[ɛ]lhor e c[ɔ]lega

352 Variaacuteveis independentes

As variaacuteveis independentes representam os grupos de fatores que atuam sobre a

variaacutevel dependente Esses fatores podem ser de natureza linguiacutestica ou extralinguiacutestica Para

esse estudo selecionamos dezesseis variaacuteveis independentes sendo treze linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas que satildeo apresentadas a seguir na ordem em que aparecem na codificaccedilatildeo

dos dados

3521 Variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Essas variaacuteveis ldquo[] expressam as pressuposiccedilotildees que se tem a respeito da influecircncia

que certos fatores possam exercer sobre o fenocircmeno em estudordquo (SILVA 2009 p 113) A

seguir portanto apresentamos as variaacuteveis linguiacutesticas que acreditamos serem relevantes para

o estudo do abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG

35211 Contexto precedente

Por acreditarmos que o segmento precedente agrave vogal pretocircnica analisada seria

relevante para o abaixamento de e e de o por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos identificar

se uma consoante (di[f]erente [g]ostar)35

uma vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) ou uma pausa

(exemplo oraccedilatildeo) favoreciam ou desfavoreciam o processo em estudo para as vogais

meacutedias altas em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Assim analisamos o

segmento precedente agrave vogal pretocircnica quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35212 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Conforme Bisol (1981) e Silva (2009) comprovaram em seus estudos o segmento que

precede a vogal pretocircnica exerce uma influecircncia relevante sobre ela Com essa variaacutevel

35

Os exemplos utilizados para apresentar as variaacuteveis independentes linguiacutesticas servem para ilustrar os fatores

aos quais nos apoiamos para a anaacutelise dos dados Por isso natildeo significa que o abaixamento das vogais meacutedias

ocorreu exatamente com essas palavras

76

tiacutenhamos como objetivo identificar qual o contexto precedente que favorecia ou natildeo a

variaccedilatildeo de e e de o Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram

divididos em

nasal ([m]elhor [n]ovela)

oclusiva ([p]eroba [b]olada)

fricativa ([v]estibular [f]ormado)

liacutequidas ([l]egal [x]odada)

pausa (elenco olhar)

tepe (escu[ɾ]ecer)

vogal36

baixa ([a])37

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (v[i]olecircncia)

35213 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos precedentes foram assim divididos

velar ([x]eceber [k]oraccedilatildeo)

alveolar ([d]efende [t]omada)

labial ([p]eroba [b]olada)

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar)

pausa (evangeacutelica operou)

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado)

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada)

vogal baixa ([a])

vogal meacutedia baixa ([ɛ] [ɔ])

vogal meacutedia alta (r[e]eleito)

vogal alta (pr[i]oridade)

36

Neste trabalho natildeo atribuiacutemos pontos e modos de articulaccedilatildeo para as vogais mas reconhecemos que para

Chomsky e Halle (1968) esses segmentos satildeo classificados da mesma forma que as consoantes quanto ao ponto

de articulaccedilatildeo ou seja uma vogal pode ter o traccedilo [dorsal] [labial] ou [coronal] 37

Como todos os exemplos citados nesta seccedilatildeo foram extraiacutedos do corpus desta pesquisa houve casos em que

natildeo encontramos nenhuma ocorrecircncia Por isso haacute alguns fatores que natildeo possuem exemplos

77

35214 Contexto seguinte

Devido agrave importacircncia que essa variaacutevel obteve em outros estudos ndash como o de Silva

(2009) ndash tiacutenhamos uma hipoacutetese de que o segmento seguinte agrave vogal e ou o analisada

tambeacutem seria considerado favorecedor do abaixamento dessas vogais na fala dos habitantes

carmelitanos Assim como fizemos para o contexto precedente por meio dessa variaacutevel

pretendiacuteamos verificar se uma consoante (le[v]ar pro[b]lema) ou uma vogal (ide[a]l

re[e]leito) condicionava ou inibia o abaixamento de e e de o na siacutelaba pretocircnica no dialeto

de Monte Carmelo-MG Por essa razatildeo analisamos o segmento seguinte agrave vogal pretocircnica

quanto ao modo e ao ponto de articulaccedilatildeo

35215 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

O estudo de Silva (2009) sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas revelou

que o contexto seguinte tambeacutem eacute importante para investigar o comportamento das vogais

nessa posiccedilatildeo Por isso neste estudo a nossa intenccedilatildeo era saber se um segmento seguinte agraves

vogais na posiccedilatildeo pretocircnica favorecia ou natildeo a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ]

Quanto ao modo de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram divididos em

nasal (ave[n]ida mo[m]ento)

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema)

fricativos (pre[f]iro le[v]ado)

liacutequidas (me[ʎ]or co[l]ega)

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo)

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina)

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35216 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

Quanto ao ponto de articulaccedilatildeo os segmentos seguintes foram assim divididos

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar)

alveolar (de[z]esseis go[s]tar)

labial (rece[b]er co[m]eccedila)

78

palatal (me[ʎ]or o[ʎ]ada)

labiodentais (ele[v]ado pro[f]essor)

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado)

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do)

vogal meacutedia baixa (core[ɔ]grafa)

vogal meacutedia alta (re[e]leito)

vogal alta (ve[i]culo)

35217 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Os resultados obtidos por vaacuterias pesquisas (BISOL 1981 SCHWINDT 1995 DIAS

2008) sobre as vogais tecircm mostrado que a vogal tocircnica eacute uma das principais motivadoras para

a ocorrecircncia de processos que envolvem as vogais pretocircnicas como a harmonia vocaacutelica o

abaixamento e o alccedilamento Entatildeo por meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos comprovar ou

refutar a hipoacutetese que formulamos para esta pesquisa de que o processo da harmonia vocaacutelica

influencia o abaixamento de e e de o na fala da comunidade carmelitana Desse modo as

vogais tocircnicas foram analisadas de acordo com os seguintes graus de altura

altas i u (acred[i]to prod[u]to)

meacutedias altas e o (conhec[e]r diret[o]r)

meacutedias baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio)

baixa a (deleg[a]do)

35218 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

Com relaccedilatildeo a essa variaacutevel nosso objetivo era saber se a posiccedilatildeo da vogal da siacutelaba

tocircnica favorecia o abaixamento das vogais meacutedias na posiccedilatildeo pretocircnica pois os resultados

obtidos por Viana (2008) revelaram que as vogais tocircnicas anteriores favorecem a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] nessa posiccedilatildeo mas para a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] essa variaacutevel foi eliminada por natildeo

oferecer contexto para o processo ocorrer Assim as vogais tocircnicas foram divididas em

frontais38

ɛ e i

central a

38

A classificaccedilatildeo da vogal em frontal central e posterior natildeo se refere ao traccedilo do segmento vocaacutelico mas ao

gesto articulatoacuterio (Cacircmara Jr 2006) Para a Fonologia Gerativa Chomsky e Halle (1968) postularam em sua

teoria de traccedilos distintivos que todas as vogais satildeo redundantemente [- anteriores] por serem pronunciadas sem

nenhuma obstruccedilatildeo

79

posteriores ɔ o u

35219 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Como revelaram os resultados de algumas pesquisas jaacute realizadas principalmente a de

Dias (2008) a qualidade da vogal tocircnica eacute relevante para o abaixamento de e e de o na

posiccedilatildeo pretocircnica Para verificar se essa variaacutevel tambeacutem favorecia a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ]

no dialeto carmelitano analisamos as vogais tocircnicas

orais (proc[ɛ]sso)

nasais (oraccedil[ɐ ]o)

352110 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Com base em uma das hipoacuteteses que formulamos e considerando o resultado

encontrado por outros pesquisadores (VIANA 2008) para essa variaacutevel quanto mais proacutexima

da siacutelaba tocircnica maior a probabilidade de ocorrecircncia do abaixamento tanto de e quanto de

o e quanto mais distante menor eacute essa probabilidade Desse modo essa variaacutevel nos

permite verificar se a quantidade de siacutelabas existente entre a siacutelaba pretocircnica e a tocircnica

favorece ou natildeo o processo de abaixamento das vogais pretocircnicas e e o em Monte

Carmelo-MG

Assim com o objetivo de confirmar ou natildeo a hipoacutetese que formulamos para este

estudo estabelecemos quatro distacircncias de siacutelabas entre a vogal tocircnica e a vogal pretocircnica

analisada

distacircncia zero (remeacutedio costura)

distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar)

distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade)

352111 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

Conforme os resultados encontrados por Dias (2008) no dialeto de Piranga-MG as

palavras cuja vogal pretocircnica e estava na primeira siacutelaba mostraram-se mais suscetiacuteveis ao

abaixamento do que palavras que tinham a pretocircnica mais distante do iniacutecio da palavra Por

acreditarmos que essa variaacutevel poderia ser relevante para o abaixamento de e e tambeacutem de

o na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano assim como fizemos para a variaacutevel anterior

80

para essa variaacutevel tambeacutem estabelecemos quatro distacircncias que equivalem agrave quantidade de

siacutelabas existentes entre a vogal meacutedia pretocircnica analisada e o iniacutecio da palavra

distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo)

distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar)

distacircncia de duas siacutelabas (acontecer)

distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria)

352112 Tipo de siacutelaba pretocircnica

Sobre a estrutura da siacutelaba Dias (2008) constatou que as siacutelabas leves favoreceram

mais o abaixamento das vogais meacutedias em Piranga-MG do que as siacutelabas pesadas Entatildeo por

meio dessa variaacutevel pretendiacuteamos verificar qual tipo de siacutelaba favoreceria a variaccedilatildeo das

vogais e e o em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Com esse objetivo

as siacutelabas pretocircnicas foram classificadas como

leves V (elenco) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura)

pesadas VC (hospital) CVC (gostar)

352113 Item lexical

Freitas (2001) e Dias (2008) observaram em seus estudos que determinados itens

lexicais favoreceram mais a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento que outros Por isso tiacutenhamos

como objetivo saber se esta variaacutevel seria relevante para o processo ocorrer com as vogais

meacutedias pretocircnicas no dialeto de Monte Carmelo-MG e quais itens estariam mais sujeitos agrave

variaccedilatildeo Desse modo distribuiacutemos as palavras que continham as vogais meacutedias pretocircnicas

analisadas nas seguintes categorias lexicais

substantivo (pessoa local)

verbo (levar prometer)

adjetivo (diferente invocado)

pronome (vocecirc comigo)

numeral (sessenta dezesseis)

adveacuterbio (depois)

conjunccedilatildeo (entretanto portanto)

81

3522 Variaacuteveis independentes extralinguiacutesticas

De acordo com os pressupostos da Sociolinguiacutestica Variacionista que levam em conta

fatores internos e externos agrave liacutengua na anaacutelise de uma regra variaacutevel este trabalho considerou

trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas que foram definidas pelo GEFONO grupo do qual fazemos

parte do modo como se segue

Sexo

Masculino

Feminino

Faixa etaacuteria

Entre 15 e 25 anos de idade

Entre 26 e 49 anos de idade

Com mais de 49 anos de idade

Escolaridade

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio Fundamental e Meacutedio)

Com mais de 11 anos de estudo (Ensino Superior)

Portanto com base nas variaacuteveis dependentes e independentes selecionadas para este

estudo fizemos a codificaccedilatildeo de todos os dados referentes agrave manutenccedilatildeo e ao abaixamento

das vogais meacutedias altas e e o na posiccedilatildeo pretocircnica e os submetemos ao GoldVarb X para

fazer a anaacutelise dos resultados o assunto do proacuteximo capiacutetulo

82

4 ANAacuteLISE DOS DADOS

Neste capiacutetulo apresentamos os resultados de acordo com as frequecircncias e os pesos

relativos obtidos nas rodadas que fizemos no GoldVarb X para as variaacuteveis linguiacutesticas e

extralinguiacutesticas selecionadas por esse programa estatiacutestico aleacutem da discussatildeo do que foi

relevante para a anaacutelise Na discussatildeo dos resultados fizemos uma comparaccedilatildeo com outros

estudos jaacute realizados em outras cidades e posteriormente representamos pela Geometria de

Traccedilos o processo fonoloacutegico envolvido na variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas no dialeto

carmelitano

Assim a anaacutelise deu-se da seguinte forma primeiramente apresentamos na Tabela 3

todos os dados gerais obtidos para e e para o no dialeto de Monte Carmelo-MG quer seja

para o abaixamento quer seja para a manutenccedilatildeo dessas vogais na posiccedilatildeo pretocircnica Em

seguida expusemos as tabelas e os resultados encontrados para a vogal meacutedia e e depois

realizamos o mesmo procedimento para a vogal meacutedia o

Como podemos visualizar na Tabela 3 abaixo a amostra dos dados de Monte

Carmelo-MG teve um total de 6963 ocorrecircncias A vogal e teve mais ocorrecircncias que a

vogal o tanto para a aplicaccedilatildeo quanto para a natildeo aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento embora

a vogal meacutedia posterior o tenha obtido um percentual maior de aplicaccedilatildeo da regra do que a

vogal meacutedia frontal e

Tabela 3 - Amostra de dados de Monte Carmelo-MG para o abaixamento e para a

manutenccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas

Eacute importante ressaltar que a Tabela 3 apresenta o total de dados obtidos com as vogais

meacutedias independentemente dos contextos analisados e por isso a manutenccedilatildeo de e e de o

aparece em maior quantidade Os nuacutemeros da tabela evidenciam que a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento foi significativa ainda que a conservaccedilatildeo das vogais meacutedias seja mais frequente

no dialeto de Monte Carmelo-MG

Aplicaccedilatildeo

(abaixamento)

Natildeo aplicaccedilatildeo

(manutenccedilatildeo)

Total de

ocorrecircncias

Total de

aplicaccedilatildeo

Vogal e

635 4016 4651 137

Vogal o

402 1910 2312 174

TOTAL

1037 5926 6963

83

Aleacutem do fato de os nuacutemeros terem sido relevantes ao contraacuterio do que esperaacutevamos

muitas variaacuteveis independentes foram selecionadas pelo programa estatiacutestico tanto para e

como para o conforme pode-se ver nas proacuteximas seccedilotildees deste trabalho Portanto como o

abaixamento eacute uma realidade no municiacutepio mineiro passamos para a anaacutelise dos dados

referentes a este processo fonoloacutegico a fim de verificar suas motivaccedilotildees

41 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica e

Para a vogal e o GoldVarb X selecionou como estatisticamente significativas na

ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo sete linguiacutesticas e trecircs

extralinguiacutesticas a saber

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

3 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

4 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

6 Tipo de siacutelaba pretocircnica

7 Item lexical

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

e na posiccedilatildeo pretocircnica o GoldVarb X excluiu seis variaacuteveis independentes linguiacutesticas

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Contexto seguinte

4 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

5 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

84

Nas proacuteximas paacuteginas para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas haacute uma tabela

correspondente aos fatores que favoreceram e que desfavoreceram o abaixamento da vogal e

pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados que encontramos e que

foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input40

0071 Significacircncia41

0000

A Tabela 1 mostra os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento precedente

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de acreditarmos que o contexto

precedente seria relevante para o processo de abaixamento ocorrer somente o modo de

articulaccedilatildeo foi selecionado para a vogal e De acordo com os resultados apresentados na

tabela acima apenas as consoantes liacutequidas precedentes com peso relativo de 068

favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Esse resultado difere do que foi

obtido por Dias (2008) em seus estudos sobre as vogais pretocircnicas em Piranga e Ouro

Branco-MG pois a autora verificou que as consoantes liacutequidas natildeo foram significativas para o

abaixamento de e ocorrer nos dialetos pesquisados

Quanto ao fator inibidor da realizaccedilatildeo da vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica o

fator selecionado neste estudo tambeacutem difere do que foi encontrado por outra pesquisadora

Ao contraacuterio do que Silva (2009) constatou no dialeto de Teresina-PI no dialeto carmelitano

a pausa ndash que foi considerado o maior favorecedor do abaixamento de e no falar teresinense

ndash foi um dos fatores que desfavoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica Com relaccedilatildeo

39

O segmento em negrito representa o fator em anaacutelise 40

O valor de input indica a tendecircncia geral de a variaacutevel dependente (nesse caso o abaixamento) ser realizada

nos dados Considera-se esse valor em uma escala de 0 a 1 41

O valor de significacircncia considera os dados mais confiaacuteveis e indica se os grupos de fatores em diferentes

etapas da rodada satildeo significativos estatisticamente Quanto mais proacuteximo de zero for esse valor mais confiaacuteveis

satildeo os dados

[ɛ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (Jesus39

) 1651118 148 041

oclusiva (Uberlacircndia) 1971705 116 045

pausa (eterna) 29341 85 041

nasal (melhor) 72498 145 051

liacutequidas (religiatildeo) 172989 174 068

TOTAL 6354651 137

85

a esse fator vaacuterios estudos (SCHWINDT 1995 REZENDE e MAGALHAtildeES 2011) jaacute

comprovaram que a pausa favorece o alccedilamento de e na siacutelaba pretocircnica Por essa razatildeo

acreditamos que no caso do abaixamento esse fator natildeo tenha favorecido a realizaccedilatildeo da

vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Aleacutem da pausa no estudo que desenvolvemos em Monte Carmelo-MG as consoantes

fricativas tambeacutem desfavoreceram o processo para a vogal meacutedia frontal

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento seguinte

agrave vogal pretocircnica e conforme o modo de articulaccedilatildeo Assim como aconteceu para o contexto

precedente tambeacutem tiacutenhamos expectativas de que o contexto seguinte seria relevante para o

abaixamento de e mas da mesma forma que ocorreu para a variaacutevel da Tabela 1 apenas o

modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte foi selecionado para a anaacutelise da vogal meacutedia

frontal

Entretanto ao contraacuterio do que verificamos na Tabela 1 os resultados encontrados

para essa variaacutevel apontaram as consoantes nasais seguintes como as principais favorecedoras

do abaixamento de e no dialeto carmelitano O peso relativo desse fator foi de 067 e quase

21 dos dados que continham a vogal e seguida por uma consoante nasal foram realizados

com a vogal [ɛ] na siacutelaba pretocircnica De acordo com os resultados obtidos por Viana (2008) as

nasais tambeacutem favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica em Paraacute de Minas-

MG

Aleacutem das nasais o tepe e as consoantes liacutequidas seguintes tiveram pesos relativos de

066 e 061 respectivamente e foram considerados fatores favorecedores do abaixamento de

[ɛ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

tepe (diferente) 106547 194 066

fricativa (resposta) 1571907 82 036

oclusiva (negoacutecio) 133892 149 058

liacutequidas (inteligente) 195973 200 061

nasal (enorme) 34163 209 067

africadas (coletivo) 10169 59 026

TOTAL 6354651 137

86

e Dias (2008) obteve um resultado semelhante ao que encontramos em seus estudos sobre o

dialeto de Piranga-MG uma vez que no municiacutepio pesquisado pela autora as consoantes

liacutequidas foram as maiores favorecedoras da variaccedilatildeo de e na siacutelaba pretocircnica Jaacute em Ouro

Branco-MG outra cidade pesquisada por Dias (2008) com relaccedilatildeo agrave essa variaacutevel nenhum

fator foi considerado estatisticamente significativo para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

Sobre o fator inibidor do abaixamento de e em Monte Carmelo-MG aleacutem das

consoantes africadas as consoantes fricativas assim como ocorreu para a variaacutevel anterior

representam um dos contextos que menos favoreceu o processo pesquisado Esse fator teve

um peso relativo de 036 e 157 realizaccedilotildees de abaixamento em mais de 1900 ocorrecircncias

Dias (2008) verificou que as consoantes fricativas tambeacutem natildeo favoreceram o abaixamento de

e em Piranga-MG e em Ouro Branco-MG nenhum fator analisado foi selecionado como

estatisticamente significativo para o processo em estudo ocorrer

Tabela 3 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 3 apresenta os resultados referentes agrave influecircncia que a vogal da siacutelaba tocircnica

exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme o grau de altura Os nuacutemeros

expostos na tabela acima nos permitem afirmar que a regra de harmonia vocaacutelica eacute a maior

motivadora do abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica pois as vogais meacutedias baixas tocircnicas

tiveram o peso relativo mais alto da tabela (067) e 68 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 288

ocorrecircncias

Esse resultado eacute semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DIAS 2008

SILVA 2009) que estudaram a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas e revela que a

harmonia vocaacutelica eacute um processo capaz de elevar as vogais meacutedias como nos estudos de

[ɛ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (certeza) 1881898 99 043

vogal alta (equipe) 77818 94 047

vogal baixa (elevado) 3021647 183 055

vogal meacutedia baixa

(dezenove)

68288 236 067

TOTAL 6354651 137

87

Bisol (1981) e Schwindt (1995) mas tambeacutem pode abaixaacute-las quando houver na siacutelaba

tocircnica um [ɛ] ou um [ɔ] como ocorreu com nossos dados

Entatildeo com base nos resultados da Tabela 3 a vogal e pretocircnica tende a se realizar

como uma vogal meacutedia baixa quando a vogal da siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta Neste

caso ocorre a regra de harmonia vocaacutelica pois o traccedilo de altura da vogal tocircnica eacute assimilado

pela vogal meacutedia pretocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura No Capiacutetulo 5 desta

dissertaccedilatildeo podemos ver como esse processo eacute representado pela Geometria de Traccedilos

De acordo com a Fonologia Autossegmental as vogais meacutedias altas diferenciam-se

das vogais meacutedias baixas apenas pelo traccedilo [aberto 3] visto que e o satildeo representadas pelos

traccedilos [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] e ɛ ɔ por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto

3] Assim a vogal e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia aberta

tocircnica e passa a ser realizada como [ɛ] e por esse motivo tanto a vogal pretocircnica quanto a

tocircnica passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza a harmonia vocaacutelica

Tabela 4 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 4 apresenta os resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal e pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Com um peso relativo bastante significativo (076) verificamos que quando

a vogal da siacutelaba tocircnica for nasal a tendecircncia da vogal e pretocircnica eacute se tornar [ɛ] nessa

posiccedilatildeo de siacutelaba No entanto com peso relativo de 040 as vogais tocircnicas orais tendem a

conservar a vogal e na siacutelaba pretocircnica no dialeto carmelitano

Esse resultado surpreendeu-nos pois conforme vimos na Tabela 3 as vogais meacutedias

baixas tocircnicas foram as que mais favoreceram o abaixamento de e Como no Portuguecircs

Brasileiro natildeo existem vogais nasais abertas o fato de as vogais nasais terem tido um peso

relativo tatildeo expressivo para essa variaacutevel (076) chamou-nos a atenccedilatildeo visto que com relaccedilatildeo

agrave altura da vogal tocircnica a presenccedila de uma vogal meacutedia alta ou alta ndash ou seja de vogais

fechadas ndash na siacutelaba tocircnica natildeo favoreceu o abaixamento de e

[ɛ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (ceracircmica) 2921180 247 076

vogal oral (errado) 3433471 99 040

TOTAL 6354651 137

88

Aleacutem disso o resultado que encontramos para essa variaacutevel difere do que Viana

(2008) obteve no dialeto de Paraacute de Minas-MG Segundo a autora foram as vogais tocircnicas

orais que favoreceram o abaixamento de e em posiccedilatildeo pretocircnica Jaacute no estudo de Dias

(2008) as vogais tocircnicas nasais [ ] tiveram porcentagens mais significativas em Ouro

Branco-MG enquanto em Piranga-MG as vogais orais tocircnicas [a ɛ ɔ] foram as maiores

responsaacuteveis pelo abaixamento de e acompanhadas pelas vogais tocircnicas nasais [ otilde]

Tabela 5 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal e e a siacutelaba tocircnica Como Bisol (1981) Schwindt (1995) e Dias (2008) comprovaram

em seus estudos tambeacutem acreditaacutevamos que quanto mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior

seria a probabilidade da variaccedilatildeo erarr[ɛ] ocorrer na posiccedilatildeo pretocircnica Apesar de o fator

distacircncia zero ter sido selecionado como o uacutenico favorecedor do abaixamento de e o peso

relativo desse contexto foi bem proacuteximo ao ponto neutro (056) e para esse fator a

porcentagem de dados que sofreram o processo em estudo natildeo foi tatildeo alta (148)

Os dados revelaram ainda que o fator distacircncia de duas siacutelabas foi o principal inibidor

da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica pois teve apenas 31 dados realizados com a vogal

meacutedia baixa em 378 ocorrecircncias Esse fator tambeacutem desfavoreceu o abaixamento de e em

Paraacute de Minas-MG cujo dialeto foi pesquisado por Viana (2008)

[ɛ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (decliacutenio) 4783222 148 056

Distacircncia de uma siacutelaba

(relaccedilatildeo)

1261051 120 042

Distacircncia de duas siacutelabas

(executivo)

31378 82 023

TOTAL 6354651 137

89

Tabela 6 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 6 apresenta os resultados correspondentes agrave aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal e de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Ao contraacuterio do que Dias

(2008) verificou no dialeto de Piranga-MG os resultados que obtivemos em Monte Carmelo-

MG mostraram que as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC foram as que mais favoreceram a

variaccedilatildeo de erarr[ɛ] Esse tipo de siacutelaba teve 133 realizaccedilotildees de [ɛ] em um total de 643

ocorrecircncias e peso relativo de 063 Jaacute as siacutelabas leves do tipo V CV e CCV natildeo atingiram

sequer o ponto neutro (050) do peso relativo e por isso foram consideradas

desfavorecedoras do abaixamento de e

Como as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba leve tiveram uma quantidade

muito maior de dados do que as palavras com vogal e pretocircnica em siacutelaba pesada

esperaacutevamos que o abaixamento de e seria mais frequente em siacutelabas do tipo V CV e CCV

o que natildeo aconteceu para nenhuma das duas vogais meacutedias pesquisadas

Tabela 7 - Item lexical

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 7 apresenta os itens lexicais mais ou menos suscetiacuteveis ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG A pesquisa de Freitas

(2001) sobre o dialeto de Braganccedila-PA mostrou que os nomes (substantivos e adjetivos)

foram os maiores favorecedores da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Entretanto no

[ɛ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (medicina) 5024008 125 047

siacutelabas pesadas (verdade) 133643 207 063

TOTAL 6354651 137

[ɛ]

Item lexical AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

adjetivos (legal) 133759 175 059

substantivos (Jerusaleacutem) 3022177 139 048

verbos (levar) 1941557 125 050

adveacuterbios (depois) 6158 38 021

TOTAL 6354651 137

90

dialeto carmelitano mesmo com um nuacutemero expressivo de ocorrecircncias os verbos e os

substantivos natildeo foram os principais favorecedores do abaixamento de e uma vez que o

peso relativo dos substantivos ficou abaixo do ponto neutro e para esse fator quase quatorze

por cento dos dados foram realizados com a vogal meacutedia baixa pretocircnica

Jaacute os verbos apesar de tambeacutem terem tido um nuacutemero alto de ocorrecircncias natildeo foram

considerados estatisticamente significativos para a realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

visto que a aplicaccedilatildeo da regra ocorreu em 194 dados em um total superior a 1500

ocorrecircncias

Segundo os resultados que encontramos no dialeto de Monte Carmelo-MG para a

variaacutevel item lexical os adjetivos foram as palavras que mais favoreceram o abaixamento de

e na siacutelaba pretocircnica Os adveacuterbios por sua vez tiveram apenas seis realizaccedilotildees com a vogal

meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica em 158 ocorrecircncias e por terem apresentado o menor peso

relativo da tabela (021) esses itens lexicais mostraram estar menos sujeitos ao processo de

abaixamento da vogal e pretocircnica Ainda assim eacute importante ressaltar que o baixo nuacutemero

de ocorrecircncias para os adveacuterbios natildeo permite conclusotildees mais amplas sobre o abaixamento da

vogal meacutedia frontal

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para a aplicaccedilatildeo da regra do abaixamento

de e conforme a variaacutevel sexo Essa variaacutevel eacute importante pois mostra uma diferenccedila no

comportamento linguiacutestico dos falantes dos sexos masculino e feminino para o abaixamento

de e na siacutelaba pretocircnica De acordo com a tabela acima vimos que os homens superaram as

mulheres tanto na aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento quanto no total de ocorrecircncias Aleacutem

disso o percentual de aplicaccedilatildeo nos dados foi quase o dobro para os homens se comparado

com o percentual de aplicaccedilatildeo encontrado para as mulheres

Acreditaacutevamos que a variaacutevel sexo seria relevante para o processo em estudo no

municiacutepio de Monte Carmelo-MG mas diferentemente do resultado que encontramos para

[ɛ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 2112241 94 038

Masculino 4242410 176 060

TOTAL 6354651 137

91

essa variaacutevel nos estudos de Viana (2008) e Graebin (2008) os homens conservaram mais a

vogal meacutedia alta do que as mulheres e tanto em Paraacute de Minas-MG quanto em Formosa-GO

que foram as respectivas cidades pesquisadas pelas autoras as informantes do sexo feminino

realizaram a vogal [ɛ] com mais frequecircncia na siacutelaba pretocircnica do que os homens No entanto

apesar da discrepacircncia com outros estudos jaacute realizados o resultado que obtivemos em Monte

Carmelo-MG foi o mesmo encontrado por Dias (2008) em sua anaacutelise sobre o abaixamento de

e em Piranga-MG

Um possiacutevel argumento para o resultado que obtivemos para essa variaacutevel tanto para a

anaacutelise de e quanto de o no dialeto carmelitano seria o de que as mulheres estudam mais

do que os homens42

e portanto tecircm mais contato com a variante de prestiacutegio ou seja com a

norma culta da liacutengua do que eles Aleacutem disso em geral as mulheres satildeo consideradas mais

conservadoras do que os homens no que se refere agrave variaccedilatildeo e agrave mudanccedila linguiacutestica

Esse fato foi percebido por Labov (2008) em seu estudo sobre a hipercorreccedilatildeo pela

classe meacutedia baixa como fator de mudanccedila linguiacutestica uma vez que segundo os resultados

encontrados por ele a hipercorreccedilatildeo ocorreu mais na fala das mulheres Assim conforme o

autor o dialeto de prestiacutegio de Nova Iorque parecia ter sido tomado de empreacutestimo e o

processo que ele testemunhou na comunidade nova-iorquina foi ldquo[] primordialmente de

substituiccedilatildeo do dialeto sem ndashr mais antigo e de prestiacutegio vindo do leste da Nova Inglaterra

por um dialeto com ndashr do norte do Meio Oesterdquo (LABOV 2008 p 167)

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0071 Significacircncia 0000

42

Conforme uma pesquisa realizada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica) e

que foi noticiada no ano de 2012 pelo G1 portal de notiacutecias da TV Globo na internet

httpg1globocomeducacaonoticia201209mulheres-estudam-mais-tempo-que-os-homens-diz-pesquisa-do-

ibgehtml Acessado em 12 nov 2013

[ɛ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 1121747 64 028

Entre 26 e 49 anos de idade 1461506 97 047

Com mais de 49 anos de

idade

3771398 270 077

TOTAL 6354651 137

92

A Tabela 9 apresenta a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de e conforme a faixa

etaacuteria dos informantes O resultado obtido para essa variaacutevel confirma a hipoacutetese que

tiacutenhamos no iniacutecio deste estudo pois embora tenha sido o fator com o menor nuacutemero de

ocorrecircncias (1398) da vogal e na siacutelaba pretocircnica os informantes acima de 49 anos de idade

foram os que mais realizaram [ɛ] nessa posiccedilatildeo de siacutelaba Foram 377 dados realizados com a

vogal meacutedia baixa pretocircnica e o peso relativo foi expressivo (077) em comparaccedilatildeo com os

informantes mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) Os informantes da primeira faixa etaacuteria

tiveram o nuacutemero mais alto de ocorrecircncias (1747) dentre as trecircs faixas etaacuterias pesquisadas

mas apenas 64 desse total tinham a vogal [ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem obteve um resultado semelhante ao que encontramos no dialeto

carmelitano uma vez que no dialeto de Teresina-PI foram os informantes acima de 50 anos

de idade que mais influenciaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica Em seu estudo

sobre a harmonia vocaacutelica no dialeto gauacutecho Bisol (1981) tambeacutem verificou que os

informantes mais jovens aplicaram menos a regra que os mais velhos

Contudo no estudo de Dias (2008) sobre o abaixamento de e em Piranga-MG a

faixa etaacuteria mais jovem foi a que apresentou mais dados com a vogal meacutedia aberta na siacutelaba

pretocircnica Em outros estudos realizados (SCHWINDT 1995 Viana 2008) a variaacutevel faixa

etaacuteria natildeo foi considerada estatisticamente significativa e por essa razatildeo natildeo foi selecionada

como favorecedora dos processos estudados por esses autores

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0071 Significacircncia 0000

A Tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de e conforme o

grau de escolaridade do informante Inicialmente acreditaacutevamos que essa variaacutevel seria

relevante para o processo em estudo e confirmando nossas expectativas o GoldVarb X

selecionou a escolaridade dos informantes carmelitanos como uma variaacutevel estatisticamente

significativa para a realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba pretocircnica

[ɛ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 3702026 183 065

Com mais de 11 anos de

estudo

2652625 101 038

TOTAL 6354651 137

93

De acordo com os nuacutemeros da tabela acima os informantes que possuem entre 0 e 11

anos de estudo foram os que mais favoreceram o abaixamento de e no dialeto de Monte

Carmelo-MG Apesar de esses informantes terem apresentado um nuacutemero inferior de

ocorrecircncias ao dos informantes com mais de 11 anos de estudo eles realizaram a vogal meacutedia

[ɛ] com maior frequecircncia na siacutelaba pretocircnica Os entrevistados carmelitanos que estudaram

ateacute o Ensino Meacutedio completo realizaram 370 dados com o abaixamento de e o que equivale

a pouco mais de 18 dos dados e o peso relativo foi de 065 Jaacute os entrevistados com maior

escolaridade tiveram apenas 101 dos dados realizados com a vogal meacutedia aberta em

posiccedilatildeo pretocircnica

O resultado que encontramos em Monte Carmelo-MG eacute semelhante ao que foi obtido

por Schwindt (1995) em seu estudo sobre os dialetos do sul do Brasil Embora esse autor natildeo

tenha considerado informantes com ensino superior os informantes com menos escolaridade

no caso os que tinham cursado o ensino primaacuterio favoreceram mais a harmonia vocaacutelica em

posiccedilatildeo pretocircnica do que os informantes com segundo grau

Graebin (2008) tambeacutem verificou que no dialeto de Formosa-GO os informantes com

ateacute oito anos de estudo foram os principais favorecedores da realizaccedilatildeo de [ɛ] em posiccedilatildeo

pretocircnica No estudo de Viana (2008) sobre o falar de Paraacute de Minas-MG os analfabetos

foram os que mais realizaram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante do foi apresentado nas dez tabelas acima vimos que com relaccedilatildeo agrave vogal e

sete variaacuteveis independentes linguiacutesticas e as trecircs extralinguiacutesticas foram selecionadas pelo

GoldVarb X como relevantes para o processo de abaixamento Dentre elas as variaacuteveis

relacionadas agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica apresentaram os resultados mais

inesperados para a anaacutelise da vogal meacutedia frontal No caso da altura da vogal tocircnica as vogais

meacutedias abertas foram consideradas as principais motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɛ] na siacutelaba

pretocircnica Entretanto no que se refere agrave qualidade as vogais nasais tocircnicas que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas foram as maiores responsaacuteveis pelo

abaixamento de e

Na proacutexima seccedilatildeo apresentamos a anaacutelise da vogal pretocircnica o e observamos se os

resultados obtidos para e assemelham-se ou natildeo aos encontrados para a vogal meacutedia

posterior

94

42 Anaacutelise da Vogal Pretocircnica o

Assim como ocorreu para a vogal e para a vogal o o GoldVarb X selecionou como

estatisticamente significativas na ordem descrita abaixo dez variaacuteveis independentes sendo

sete linguiacutesticas e trecircs extralinguiacutesticas quais sejam

Variaacuteveis independentes selecionadas

1 Modo de articulaccedilatildeo do contexto precedente

2 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto precedente

3 Modo de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

6 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

7 Tipo de siacutelaba pretocircnica

8 Sexo

9 Faixa etaacuteria

10 Escolaridade

Por terem sido consideradas irrelevantes para a aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento de

o na posiccedilatildeo pretocircnica assim como verificamos para a vogal e o GoldVarb X tambeacutem

excluiu seis variaacuteveis independentes na anaacutelise de o a saber

Variaacuteveis independentes eliminadas

1 Contexto precedente

2 Contexto seguinte

3 Ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte

4 Posiccedilatildeo articulatoacuteria da vogal da siacutelaba tocircnica

5 Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo ao iniacutecio da palavra

6 Item lexical

A exemplo da vogal e para cada uma das dez variaacuteveis selecionadas para a vogal o

haacute uma tabela correspondente com os fatores que favoreceram e que desfavoreceram o

abaixamento dessa vogal pretocircnica no dialeto carmelitano bem como a anaacutelise dos resultados

que encontramos e que foram relacionados com os resultados de outras pesquisas

95

Tabela 1 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 1 mostra os resultados referentes agrave anaacutelise do segmento que precede a vogal

pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Segundo a tabela acima assim como

aconteceu para a vogal e as consoantes nasais precedentes foram as principais favorecedoras

ao abaixamento de o Com peso relativo de 068 e 66 realizaccedilotildees de [ɔ] em 260 ocorrecircncias

o programa estatiacutestico mostrou que quando precedida por uma consoante nasal a vogal o

tende a tornar-se [ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Esse resultado fez com que recorrecircssemos aos dados para tentar entender porque as

nasais favorecem o abaixamento de o Apoacutes a conferecircncia dos dados levantamos a hipoacutetese

de que o resultado obtido para essa variaacutevel pode estar relacionado agrave quantidade significativa

de dados de abaixamento com a vogal o precedida pela consoante labial [m] como m[ɔ]raacute

m[ɔ]mentu m[ɔ]derna m[ɔ]straacute e m[ɔ]ral43

Por terem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo

acreditamos que ocorrecircncias como essas em que a consoante labial apareceu seguida pela

vogal o pretocircnica corroboraram para o resultado expressivo que as nasais precedentes

tiveram

Jaacute as consoantes fricativas que desfavoreceram o abaixamento de e tambeacutem

inibiram a variaccedilatildeo de orarr[ɔ] Com peso relativo de 031 esse fator teve 51 realizaccedilotildees com

a vogal meacutedia baixa na siacutelaba pretocircnica e portanto foi considerado desfavorecedor do

abaixamento de o Esses resultados assemelham-se aos encontrados por Dias (2008) em sua

anaacutelise dos dados dos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG tanto para o fator

favorecedor quanto para o desfavorecedor do processo

43

Esses dados foram retirados do corpus desta pesquisa

[ɔ]

Contexto precedente

(modo)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

nasal (morar) 66260 254 068

oclusiva (pastoral) 151922 164 051

liacutequidas (processo) 78579 135 046

fricativa (formaccedilatildeo) 51293 174 031

pausa (opccedilatildeo) 56258 217 057

TOTAL 4022312 174

96

Tabela 2 - Especificaccedilatildeo do contexto precedente (ponto)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 2 apresenta os resultados que obtivemos para a anaacutelise do segmento

precedente agrave vogal pretocircnica o conforme o ponto de articulaccedilatildeo De acordo com os nuacutemeros

da tabela acima as consoantes poacutes-alveolares as palatais e as labiodentais precedentes

apresentaram os pesos relativos mais altos em relaccedilatildeo aos demais fatores analisados e por

terem os maiores percentuais de aplicaccedilatildeo da regra de abaixamento foram consideradas

favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Silva (2009) tambeacutem verificou no dialeto teresinense que as palatais precedentes

favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica embora esse fator natildeo tenha tido muitos

dados na pesquisa da autora Segundo Dias (2008) o ponto de articulaccedilatildeo do contexto

precedente natildeo foi considerado estatisticamente significativo para o abaixamento de o em

Piranga-MG e Ouro Branco-MG e por essa razatildeo nenhum fator referente agrave essa variaacutevel foi

selecionado como favorecedor do processo nos dois dialetos mineiros pesquisados

Sobre o fator inibidor do abaixamento da vogal meacutedia posterior no dialeto

carmelitano as consoantes labiais foram selecionadas pelo programa estatiacutestico como as

principais desfavorecedoras do processo Esse resultado surpreendeu-nos pois como essas

consoantes possuem o mesmo ponto de articulaccedilatildeo da vogal o esperaacutevamos que elas fossem

aparecer entre os contextos favorecedores do abaixamento o que natildeo aconteceu

As consoantes labiais totalizaram 476 dados mas a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica ocorreu em pouco mais de 16 desse total o que acarretou no peso relativo mais

baixo da tabela (040) e portanto no desfavorecimento desse fator para o fenocircmeno em

[ɔ]

Contexto precedente

(ponto)

AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

labial (populaccedilatildeo) 80476 168 040

palatal (melhorar) 1264 188 063

alveolar (professor) 116759 153 053

velar (coluna) 93548 170 042

labiodental (formar) 22119 185 060

pausa (oraccedilatildeo) 56258 217 051

poacutes-alveolar (jornal) 2388 261 082

TOTAL 4022312 174

97

estudo Em sua anaacutelise sobre o falar de Teresina-PI Silva (2009) tambeacutem concluiu que diante

de uma consoante labial precedente a vogal o tende a se manter como uma vogal meacutedia alta

na siacutelaba pretocircnica

Tabela 3 - Especificaccedilatildeo do contexto seguinte (modo)

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 3 apresenta os resultados encontrados para a anaacutelise do segmento seguinte agrave

vogal pretocircnica o conforme o modo de articulaccedilatildeo Apesar de essa variaacutevel ter sido

selecionada pelo GoldVarb X com exceccedilatildeo das consoantes nasais os pesos relativos dos

demais fatores ficaram muito proacuteximos do ponto neutro (050) No entanto dos fatores

analisados com pouco mais de 26 dos dados realizados com a vogal [ɔ] pretocircnica e com

peso relativo de 057 o tepe mostrou-se como o principal favorecedor do abaixamento de o

Jaacute as consoantes nasais seguintes que favoreceram a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba

pretocircnica inibiram a aplicaccedilatildeo da regra para o Dias (2008) tambeacutem verificou que as

consoantes nasais desfavoreceram a realizaccedilatildeo da vogal meacutedia aberta em posiccedilatildeo pretocircnica

nos dialetos de Piranga-MG e Ouro Branco-MG

[ɔ]

Contexto seguinte (modo) AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

fricativa (movimento) 109643 170 050

tepe (coraccedilatildeo) 79301 262 057

nasal (momento) 23223 103 031

liacutequidas (morrer) 98545 180 052

oclusiva (poderia) 93600 155 050

TOTAL 4022312 174

98

Tabela 4 - Altura da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 4 refere-se aos resultados que encontramos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a altura Assim como

verificamos para a vogal e os resultados que encontramos para a vogal o revelaram que

essa vogal tambeacutem sofre o processo da harmonia vocaacutelica com a diferenccedila de que esse

processo eacute ainda mais significativo para a vogal meacutedia posterior

De acordo com a tabela acima a vogal baixa a tocircnica favoreceu o abaixamento de

o mas as principais favorecedoras da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] satildeo as vogais meacutedias baixas

tocircnicas uma vez que esse fator teve 57 realizaccedilotildees de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e um peso

relativo bastante expressivo (084) Esse resultado eacute semelhante aos que foram obtidos por

Viana (2008) e por Dias (2008) em Paraacute de Minas-MG Piranga-MG e Ouro Branco-MG

respectivamente pois nos estudos dessas autoras sobretudo nos dialetos pesquisados por

Dias (2008) aleacutem da vogal baixa a as vogais meacutedias baixas tocircnicas tambeacutem favoreceram o

abaixamento da vogal meacutedia posterior

Assim como aconteceu para a vogal e os resultados da Tabela 4 mostraram que a

vogal o pretocircnica tende a se realizar como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da

siacutelaba tocircnica for uma meacutedia aberta ([ɛ ɔ]) Portanto no caso de o tambeacutem ocorre a regra de

harmonia vocaacutelica pois a vogal o pretocircnica assimila o traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia

baixa tocircnica e ambas passam a ter o mesmo grau de altura o que caracteriza o processo

estudado por Bisol (1981) no dialeto gauacutecho No Capiacutetulo 5 desta dissertaccedilatildeo podemos ver

como a harmonia vocaacutelica eacute representada pela Geometria de Traccedilos tanto para a variaccedilatildeo de

e quanto para a de o

[ɔ]

Vogal tocircnica altura AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal meacutedia alta (poder) 66701 94 030

vogal alta (corrupto) 47353 133 055

vogal baixa (formar) 2321115 208 055

vogal meacutedia baixa (novela) 57143 399 084

TOTAL 4022312 174

99

Tabela 5 - Qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 5 corresponde aos resultados que obtivemos para a influecircncia que a vogal da

siacutelaba tocircnica exerce no abaixamento da vogal o pretocircnica conforme a sua qualidade isto eacute

se oral ou nasal Para essa variaacutevel obtivemos o mesmo resultado que encontramos para a

vogal e mas diferente do encontrado por Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG uma vez

que no dialeto de Monte Carmelo-MG as vogais tocircnicas nasais mostraram-se favorecedoras

do abaixamento de o em detrimento das vogais tocircnicas orais

Da mesma forma que esse resultado surpreendeu-nos para a vogal e natildeo

esperaacutevamos que as vogais tocircnicas nasais tambeacutem favorecessem o abaixamento de o ainda

mais com um peso relativo alto (070) Como vimos na Tabela 4 as vogais meacutedias baixas em

posiccedilatildeo tocircnica foram as maiores motivadoras da realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que

natildeo coincide com o resultado encontrado para esta variaacutevel Isso porque se pensarmos que na

liacutengua portuguesa do Brasil natildeo haacute vogais nasais abertas no que se refere agrave altura e agrave

qualidade da vogal tocircnica as vogais meacutedias abertas e as vogais nasais ndash que no Portuguecircs

Brasileiro satildeo realizadas como vogais fechadas ndash apresentaram os pesos relativos mais

expressivos das Tabelas 4 e 5 (084 e 070 respectivamente) para o abaixamento de o

No estudo de Dias (2008) sobre o dialeto de Piranga-MG algumas vogais orais ([a ɛ

ɔ]) e algumas vogais nasais ([ɐ otilde]) tocircnicas foram consideradas favorecedoras do

abaixamento da vogal meacutedia posterior enquanto no dialeto de Ouro Branco-MG tambeacutem

pesquisado pela autora apenas as vogais tocircnicas orais ([a ɛ ɔ]) favoreceram o processo

[ɔ]

Vogal tocircnica qualidade AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

vogal nasal (profissatildeo) 133553 241 070

vogal oral (colega) 2691759 153 043

TOTAL 4022312 174

100

Tabela 6 - Distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

Essa variaacutevel analisou quantas siacutelabas havia entre a siacutelaba pretocircnica que continha a

vogal o e a siacutelaba tocircnica Conforme a tabela acima e confirmando uma de nossas hipoacuteteses

sobre a relaccedilatildeo entre a proximidade das siacutelabas e a aplicaccedilatildeo da regra verificamos que quanto

mais proacutexima da siacutelaba tocircnica maior a tendecircncia de a vogal o ser realizada como [ɔ] na

posiccedilatildeo pretocircnica Com peso relativo de 057 e 275 realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

1278 ocorrecircncias o fator distacircncia zero foi considerado o uacutenico favorecedor do abaixamento

de o no dialeto carmelitano Esse fator tambeacutem foi selecionado no estudo de Viana (2008)

quando ela concluiu que quanto mais proacutexima da tocircnica maior foi o percentual de ocorrecircncias

de alccedilamento e de abaixamento na siacutelaba pretocircnica e quanto mais distante menor foi esse

percentual

Como o maior desfavorecedor do abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-

MG o programa estatiacutestico selecionou o fator distacircncia de duas siacutelabas que tambeacutem foi

selecionado para a vogal e Esse fator teve somente seis realizaccedilotildees da vogal meacutedia baixa em

180 ocorrecircncias e peso relativo de apenas 015

Tabela 7 - Tipo de siacutelaba pretocircnica

Input 0096 Significacircncia 0010

[ɔ]

Distacircncia da siacutelaba tocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

Distacircncia zero (coragem) 2751278 215 057

Distacircncia de uma siacutelaba

(choradeira)

116797 146 048

Distacircncia de duas siacutelabas

(horrorizada)

6180 33 015

Distacircncia de mais de duas

siacutelabas (oportunidade)

557 88 029

TOTAL 4022312 174

[ɔ]

Tipo de siacutelaba pretocircnica AplicaccedilatildeoTotal Peso Relativo

siacutelabas leves (procurar) 2991824 164 046

siacutelabas pesadas (normal) 103488 211 063

TOTAL 4022312 174

101

A Tabela 7 refere-se aos resultados que encontramos para a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento da vogal o de acordo com o tipo de siacutelaba analisada Assim como ocorreu para

a vogal e na anaacutelise de o as siacutelabas pesadas do tipo VC e CVC tambeacutem favoreceram a

variaccedilatildeo de orarr[ɔ] no dialeto de Monte Carmelo-MG Por terem tido uma quantidade maior

de dados acreditaacutevamos que as palavras que tivessem a vogal e pretocircnica em siacutelaba leve

tenderiam a favorecer o processo de abaixamento o que natildeo aconteceu para o e nem para

e

Aleacutem disso os resultados obtidos para essa variaacutevel diferem de alguns outros estudos

jaacute realizados sobre o abaixamento das vogais meacutedias pretocircnicas Isso porque diferentemente

do que encontramos na fala dos habitantes carmelitanos Dias (2008) e Viana (2008)

concluiacuteram que nos dialetos de Piranga-MG e Paraacute de Minas-MG respectivamente foram as

siacutelabas leves que motivaram o abaixamento de o na siacutelaba pretocircnica No estudo de Viana

(2008) por exemplo as siacutelabas pesadas favoreceram o alccedilamento da vogal o pretocircnica

analisada mas desfavoreceram totalmente o abaixamento da vogal meacutedia posterior pois natildeo

houve nenhuma ocorrecircncia de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica para esse fator

Tabela 8 ndash Sexo

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica conforme a variaacutevel sexo A exemplo da vogal e os resultados para essa variaacutevel

mostraram que os entrevistados do sexo masculino foram os que mais realizaram a vogal

meacutedia baixa em posiccedilatildeo pretocircnica Embora as mulheres tenham registrado um total de

ocorrecircncias superior ao dos homens elas aplicaram a regra em pouco mais de 13 dos dados

o que corroborou para um peso relativo baixo (041) e portanto para a manutenccedilatildeo da vogal

meacutedia alta Como os informantes do sexo masculino aplicaram a regra em 215 dos dados o

que representou um peso relativo de 059 eles foram considerados os favorecedores do

abaixamento de o no dialeto de Monte Carmelo-MG

[ɔ]

Sexo AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Feminino 1581179 134 041

Masculino 2441133 215 059

TOTAL 4022312 174

102

Ao contraacuterio do resultado que obtivemos nos estudos de Bisol (1981) Viana (2008) e

Silva (2009) foram as mulheres que favoreceram os processos estudados por essas autoras

Entretanto essa variaacutevel natildeo foi relevante para as pesquisas de Schwindt (1995) e Dias

(2008) pois natildeo foi selecionada para os resultados obtidos por esses autores

Tabela 9 ndash Faixa etaacuteria

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 9 apresenta os resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel faixa etaacuteria Como aconteceu para a vogal e e

confirmando mais uma vez a hipoacutetese que formulamos para essa variaacutevel os informantes

com mais de 49 anos de idade foram os favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo

pretocircnica no dialeto carmelitano Esse grupo de informantes teve 262 realizaccedilotildees de [ɔ] em

742 ocorrecircncias o que representou pouco mais de 35 dos dados em que houve a aplicaccedilatildeo

da regra

Ao contraacuterio dos resultados bem definidos que obtivemos em Monte Carmelo-MG

essa variaacutevel apresentou comportamentos diferentes em outros estudos jaacute desenvolvidos sobre

a variaccedilatildeo das vogais meacutedias pretocircnicas Em Piranga-MG por exemplo Dias (2008) verificou

que a faixa etaacuteria jovem foi selecionada apenas para o alccedilamento de o enquanto em Ouro

Branco-MG essa variaacutevel natildeo foi selecionada para nenhum dos processos estudados pela

autora

Jaacute em Paraacute de Minas-MG segundo Viana (2008) dois grupos de informantes foram

apontados como favorecedores do abaixamento de o em posiccedilatildeo pretocircnica a saber os

informantes com ateacute 25 anos de idade e os que possuem mais de 60 anos Os informantes

entre 30 e 50 anos optaram por alccedilar ou por conservar a vogal meacutedia alta Com relaccedilatildeo ao

dialeto teresinense Silva (2009) constatou que os informantes entre 35 e 50 anos e os

[ɔ]

Faixa etaacuteria AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 15 e 25 anos de idade 63799 79 029

Entre 26 e 49 anos de idade 77771 100 040

Com mais de 49 anos de

idade

262742 353 079

TOTAL 4022312 174

103

informantes acima de 50 anos de idade aplicaram a regra do abaixamento de o com maior

frequecircncia enquanto os jovens (entre 20 e 35 anos) inibiram o processo em estudo

Tabela 10 ndash Escolaridade

Input 0096 Significacircncia 0010

A Tabela 10 refere-se aos resultados obtidos para o abaixamento de o na siacutelaba

pretocircnica de acordo com a variaacutevel escolaridade Novamente os resultados expostos na

tabela acima assemelharam-se aos que encontramos para a vogal e e confirmaram a hipoacutetese

que tiacutenhamos sobre a influecircncia dessa variaacutevel no processo em estudo Apesar de terem

apresentado um nuacutemero superior de ocorrecircncias os informantes com mais de onze anos de

estudo tiveram apenas 122 dos dados realizados com a vogal meacutedia baixa em posiccedilatildeo

pretocircnica o que acarretou em um peso relativo de 038 bem abaixo do ponto neutro

Por sua vez os informantes entre zero e onze anos de estudo tiveram quase o dobro de

dados realizados com a vogal [ɔ] na siacutelaba pretocircnica Com peso relativo de 065 e 242 dos

dados que apresentaram a vogal meacutedia aberta esses informantes foram considerados pelo

programa estatiacutestico os favorecedores do abaixamento de o no dialeto carmelitano Silva

(2009) obteve um resultado semelhante no dialeto teresinense uma vez que os informantes

com Ensino Meacutedio foram os que mais favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

Segundo Viana (2008) em Paraacute de Minas-MG os informantes com ensino superior

tambeacutem preferiram manter a vogal meacutedia alta em vez de abaixaacute-la No estudo de Graebin

(2008) sobre o dialeto de Formosa-GO essa variaacutevel foi selecionada para a variaccedilatildeo de

orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica mas natildeo apresentou valores significativos para o abaixamento da

vogal meacutedia posterior

Sobre a vogal o podemos afirmar com base na anaacutelise exposta acima que os

resultados foram semelhantes aos encontrados para a vogal e inclusive as variaacuteveis

referentes agrave altura e agrave qualidade da vogal da siacutelaba tocircnica tambeacutem apresentaram resultados

[ɔ]

Escolaridade AplicaccedilatildeoTotal de aplicaccedilatildeo Peso Relativo

Entre 0 e 11 anos de estudo 241996 242 065

Com mais de 11 anos de

estudo

1611316 122 038

TOTAL 4022312 174

104

surpreendentes para a vogal meacutedia posterior Assim como ocorreu para a vogal e a anaacutelise

de o revelou que as vogais nasais e as vogais meacutedias baixas em posiccedilatildeo tocircnica favoreceram

a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que representa novamente um caso de harmonia

vocaacutelica

Portanto por ser a principal motivadora do abaixamento de e e de o o capiacutetulo

seguinte trata da representaccedilatildeo da regra de harmonia vocaacutelica pelo modelo teoacuterico da

Geometria de Traccedilos

105

5 ANAacuteLISE FONOLOacuteGICA REPRESENTACcedilAtildeO PELA GEOMETRIA DE TRACcedilOS

Com base nos preceitos da Geometria de Traccedilos neste capiacutetulo apresentamos uma

breve anaacutelise do processo de abaixamento das vogais meacutedias altas e e o que podem ser

realizadas como vogais meacutedias baixas [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte

Carmelo-MG Para essa descriccedilatildeo consideramos apenas os resultados que obtivemos para a

variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica para ambas as vogais meacutedias uma vez que este

parece ser um caso de harmonia vocaacutelica com contexto explicitamente motivado

Essa implementaccedilatildeo da Fonologia Autossegmental cuja uacuteltima versatildeo eacute da autoria de

Clements e Hume (1995) permite que vejamos o processo fonoloacutegico acontecendo na palavra

por meio do espraiamento ou assimilaccedilatildeo de traccedilos Na Geometria de Traccedilos o segmento

manteacutem as suas propriedades e ao perder alguma adquire uma nova que o transformaraacute em

outro segmento De acordo com esses autores a assimilaccedilatildeo eacute um dos processos mais comuns

nas liacutenguas do mundo e eacute caracterizada pela associaccedilatildeo (ou ldquoespraiamentordquo) de traccedilos ou noacutes

especiacuteficos de um segmento por um segmento vizinho como podemos visualizar na figura 22

A B ou B A

F F

Figura 22 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica do processo de assimilaccedilatildeo

Fonte CLEMENTS HUME (1995 p 258)

Sobre a figura acima Clements e Hume (1995) explicam que um traccedilo ou noacute F de um

segmento A espraia-se para um segmento vizinho B que assimila esse traccedilo e passa a ter as

mesmas propriedades de A Com relaccedilatildeo agrave harmonia vocaacutelica Bisol (2009 p 78-79) a define

como ldquo[] um caso legiacutetimo de assimilaccedilatildeo ou seja expansatildeo de um traccedilordquo A autora afirma

que nesse processo ldquo[] os traccedilos de abertura da vogal meacutedia pretocircnica satildeo desligados

independentemente da intermitecircncia de consoantes e preenchidos pelos traccedilos de abertura da

vogal alta44

seguinterdquo como podemos ver na Figura 23

44

Bisol (2009) considerou apenas os casos de vogais meacutedias pretocircnicas que se tornaram altas devido agrave presenccedila

de uma vogal alta na siacutelaba tocircnica como em acr[i]dito para acredito

106

Figura 23 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da harmonia vocaacutelica

Fonte BISOL (2009 p 79)

Ao ser desligado o noacute de abertura da vogal meacutedia pretocircnica eacute preenchido pelo noacute de

abertura da vogal alta tocircnica e por essa razatildeo passa a ser realizada como uma vogal alta na

posiccedilatildeo pretocircnica por exemplo em b[u]nito para bonito Portanto para Bisol (2009 p 79)

a harmonia vocaacutelica pode ser entendida como ldquo[] uma regra de assimilaccedilatildeo que em

conformidade com a Fonologia Lexical compreende dois mecanismos desligamento e

preenchimentordquo

Apesar de Bisol (2009) ter tratado da harmonia vocaacutelica por alccedilamento a explicaccedilatildeo

que a autora daacute para a elevaccedilatildeo da vogal meacutedia pretocircnica por meio da harmonia tambeacutem eacute

vaacutelida para se referir ao abaixamento dessas vogais A diferenccedila eacute que em vez de a vogal

meacutedia pretocircnica assimilar o traccedilo de altura de uma vogal alta tocircnica no estudo que

desenvolvemos em Monte Carmelo-MG a vogal meacutedia pretocircnica vai assimilar o traccedilo de uma

vogal meacutedia baixa tocircnica

A seguir nas Figuras 24 e 25 as representaccedilotildees mostram como se daacute a assimilaccedilatildeo de

traccedilo da vogal tocircnica pela vogal meacutedia pretocircnica Na Figura 24 a vogal pretocircnica e e a vogal

tocircnica ɔ estatildeo representadas pela Geometria de Traccedilos para exemplificar a palavra melhor

que eacute pronunciada como m[ɛ]lhor

107

Figura 24 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɔ tocircnica

pela vogal e pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

Antes de passarmos para a anaacutelise da figura acima eacute preciso lembrar que para a

Fonologia Autossegmental no caso das vogais os traccedilos de abertura e de altura satildeo

sinocircnimos Por isso natildeo eacute necessaacuterio representar o traccedilo de altura Desse modo conforme

vimos em Wetzels (1991) na seccedilatildeo 24 deste texto as sete vogais do Portuguecircs Brasileiro satildeo

classificadas de acordo com o grau de abertura em trecircs traccedilos [aberto 1] [aberto 2] e [aberto

3] Assim quanto mais alta for a vogal mais fechada ela seraacute

Portanto todos esses traccedilos seratildeo negativos para as vogais altas i u que satildeo

classificadas como [- aberto 1] [- aberto 2] e [- aberto 3] ou simplesmente [- aberto 3] por

serem as vogais mais altas e mais fechadas da liacutengua portuguesa falada no Brasil Ao

contraacuterio das vogais altas a vogal a que eacute a mais baixa e a mais aberta tem todos os traccedilos

108

positivos [+ aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] ou apenas [+ aberto 3] pois nenhuma outra

vogal do nosso sistema vocaacutelico possui todos os traccedilos de altura positivos Jaacute as vogais

meacutedias diferenciam-se apenas pelo traccedilo [aberto 3] Enquanto as vogais meacutedias baixas ɛ ɔ

satildeo representadas por [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3] as vogais meacutedias altas e tambeacutem

mais fechadas possuem apenas um traccedilo positivo [- aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3]

Assim conforme a Figura 24 eacute no noacute de abertura mais especificamente no traccedilo [+

aberto 3] que ocorre a assimilaccedilatildeo de traccedilo de altura pela vogal pretocircnica Isso porque a vogal

e pretocircnica assimila apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica ɔ Entatildeo ocorre o

desligamento do traccedilo [- aberto 3] da vogal meacutedia fechada e segundo a definiccedilatildeo de Bisol

(2009) esse traccedilo eacute preenchido pelo traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia tocircnica

Como consequecircncia desse processo aplica-se a regra da harmonia vocaacutelica visto que

conforme os resultados que encontramos para a variaacutevel altura da vogal da siacutelaba tocircnica a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o principal motivador da realizaccedilatildeo de

[ɛ] em posiccedilatildeo pretocircnica no dialeto de Monte Carmelo-MG

Esse ambiente tambeacutem favoreceu a realizaccedilatildeo de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica e foi o

principal condicionador do abaixamento dessa vogal pois conforme os dados mostraram a

presenccedila de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica foi o fator que mais favoreceu a variaccedilatildeo

de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica na fala dos habitantes carmelitanos Diante disso a Figura

25 representa o abaixamento da vogal pretocircnica o em uma palavra como novela realizada

como n[ɔ]vela

109

Figura 25 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura da vogal ɛ tocircnica

pela vogal o pretocircnica

Fonte Adaptado de MATZENAUER (2005 p 51)

A representaccedilatildeo acima mostra para a vogal o pretocircnica o mesmo processo que

ocorreu para a vogal e uma vez que a vogal meacutedia posterior da siacutelaba pretocircnica assimila

apenas o traccedilo [+ aberto 3] da vogal tocircnica [ɛ] e perde o traccedilo [- aberto 3] Por isso a vogal

meacutedia alta passa a ter os mesmos traccedilos de uma vogal meacutedia baixa isto eacute [- aberto 1] [+

aberto 2] e [+ aberto 3] o que caracteriza o processo fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica

Diante das representaccedilotildees hieraacuterquicas expostas acima para e e para o eacute importante

ressaltar que em casos como esses o resultado do processo natildeo seria diferente se a vogal

pretocircnica tivesse assimilado todo o noacute de abertura da vogal tocircnica em vez de assimilar apenas

o traccedilo [+ aberto 3] Seria apenas mais custoso para o modelo explicar a assimilaccedilatildeo de todo o

noacute do que de um uacutenico traccedilo

110

Embora e e o estejam submetidas agrave mesma regra variaacutevel apresentamos a seguir

duas figuras que mostram as vogais meacutedias pretocircnicas representadas pela Geometria de

Traccedilos com destaque ao noacute de abertura onde se daacute a assimilaccedilatildeo de traccedilo que resultaraacute na

realizaccedilatildeo das vogais meacutedias abertas nesta posiccedilatildeo de siacutelaba

Na Figura 26 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Diante de ɛ ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal e ndash classificada de acordo com os traccedilos [-

aberto 1] [+ aberto 2] e [- aberto 3] ndash perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o traccedilo [+ aberto 3]

da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos (ie [- aberto 1] [+ aberto 2] e

[+ aberto 3]) e portanto a mesma altura de uma vogal meacutedia aberta

e ɛ ɔ [ɛ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 26 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de erarr[ɛ] na siacutelaba pretocircnica

Jaacute na Figura 27 temos a representaccedilatildeo da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na posiccedilatildeo pretocircnica

Assim como ocorreu para a vogal e os dados mostraram que quando houver uma vogal ɛ

ou ɔ na siacutelaba tocircnica a vogal o tende a ser realizada como [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica Como

resultado do processo de harmonia vocaacutelica a vogal o perde o traccedilo [- aberto 3] e assimila o

traccedilo [+ aberto 3] da vogal meacutedia baixa tocircnica passando a ter os mesmos traccedilos de uma vogal

meacutedia aberta ou seja [- aberto 1] [+ aberto 2] e [+ aberto 3]

111

o ɛ ɔ [ɔ]

V V

Ponto de V Ponto de V

Abertura Abertura

[- aberto 1] [+ aberto 2] [- aberto 3] [- aberto 1] [+ aberto 2] [+ aberto 3]

Figura 27 - Representaccedilatildeo hieraacuterquica da variaccedilatildeo de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica

Em siacutentese o modelo da Geometria de Traccedilos foi fundamental para mostrar pela

representaccedilatildeo hieraacuterquica que a variaccedilatildeo de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] na siacutelaba pretocircnica no

dialeto de Monte Carmelo-MG foi engatilhada pelo mesmo processo fonoloacutegico a harmonia

vocaacutelica uma vez que a assimilaccedilatildeo do traccedilo de altura de uma vogal meacutedia baixa tocircnica

mostrou-se como um fator preponderante para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] em posiccedilatildeo

pretocircnica

112

6 CONCLUSAtildeO

As variaccedilotildees de erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica foram o foco desse

estudo cujo corpus foi constituiacutedo pela fala espontacircnea de 24 habitantes nascidos e crescidos

no municiacutepio mineiro de Monte Carmelo A anaacutelise estatiacutestica dos 6963 dados obtidos sendo

635 realizaccedilotildees de [ɛ] e 402 de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica o que corresponde a 311 do total ndash

137 para [ɛ] e 174 para [ɔ] ndash pocircde confirmar ou refutar algumas hipoacuteteses que

aventamos no iniacutecio dessa pesquisa

Verificamos por exemplo que houve mais ocorrecircncias de abaixamento de e do que

de o na posiccedilatildeo pretocircnica provavelmente em razatildeo de a quantidade de dados de e ter sido

superior a de o Entretanto com uma vantagem de quase quatro pontos percentuais no total

de ocorrecircncias os dados revelaram que a vogal o favoreceu mais a aplicaccedilatildeo da regra de

abaixamento do que a vogal e

Aleacutem disso como jaacute era esperado a manutenccedilatildeo das vogais meacutedias altas na siacutelaba

pretocircnica foi bem mais frequente do que o abaixamento no dialeto carmelitano pois com

base em outras pesquisas e em autores como Teyssier (2007) acreditaacutevamos que a realizaccedilatildeo

das vogais meacutedias baixas pretocircnicas seria mais comum nas regiotildees Norte e Nordeste do

Brasil

Portanto cumprindo um dos objetivos especiacuteficos definidos para este trabalho com

relaccedilatildeo agraves vogais meacutedias podemos afirmar com base nos resultados que obtivemos que o

sistema vocaacutelico pretocircnico de Monte Carmelo-MG eacute constituiacutedo por cinco vogais a saber a

e i o u em que e e o variam em determinados contextos para [ɛ] e para [ɔ]

respectivamente

Assim confirmando uma de nossas hipoacuteteses sobre a aplicaccedilatildeo do processo

fonoloacutegico da harmonia vocaacutelica no abaixamento de e e de o verificamos que a presenccedila

de uma vogal meacutedia baixa na siacutelaba tocircnica favoreceu a realizaccedilatildeo tanto de [ɛ] quanto de [ɔ] na

siacutelaba pretocircnica Diante disso podemos afirmar que no dialeto carmelitano as vogais meacutedias

pretocircnicas estatildeo submetidas agrave mesma regra variaacutevel

Entretanto eacute importante ressaltar que conforme Lee e Oliveira (2008) afirmam a

pronuacutencia das vogais meacutedias baixas pretocircnicas natildeo depende apenas de haver [ɛ] ou [ɔ] na

siacutelaba tocircnica posto que como mostraram os resultados encontrados em Monte Carmelo-MG

esse ambiente natildeo levaraacute todos os informantes a aplicarem a regra do abaixamento em todas

as palavras Nem mesmo um mesmo informante carmelitano optou sempre pelas variaccedilotildees de

113

erarr[ɛ] e de orarr[ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica quando a vogal da siacutelaba tocircnica era uma meacutedia

baixa

Ainda assim apesar de o programa estatiacutestico natildeo ter selecionado as mesmas variaacuteveis

para e e para o houve mais semelhanccedilas do que diferenccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para o abaixamento das duas vogais meacutedias pretocircnicas

pesquisadas As variaacuteveis ponto de articulaccedilatildeo do contexto seguinte e distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba pretocircnica por exemplo natildeo foram selecionadas para

ambas as vogais meacutedias Aleacutem disso as vogais nasais tocircnicas favoreceram a realizaccedilatildeo de [ɛ]

e de [ɔ] bem como as siacutelabas pretocircnicas pesadas Jaacute as siacutelabas pretocircnicas leves e as vogais

orais tocircnicas desfavoreceram o abaixamento de e e de o

Outra variaacutevel que apresentou um resultado semelhante para e e para o foi a que

trata da distacircncia da vogal meacutedia pretocircnica com relaccedilatildeo agrave siacutelaba tocircnica Enquanto o fator

distacircncia zero ndash quando natildeo haacute nenhuma siacutelaba entre a siacutelaba que conteacutem a vogal meacutedia e a

siacutelaba tocircnica ndash favoreceu o abaixamento tanto da vogal meacutedia frontal quanto da vogal meacutedia

posterior o fator distacircncia de duas siacutelabas inibiu o processo para as duas vogais No caso da

vogal o o fator distacircncia maior que duas siacutelabas tambeacutem mostrou-se desfavorecedor do

abaixamento

Por sua vez as trecircs variaacuteveis extralinguiacutesticas consideradas neste estudo foram

selecionadas pelo GoldVarb X para e e para o e apresentaram os mesmos fatores como

favorecedores e como desfavorecedores do abaixamento dessas vogais na siacutelaba pretocircnica

Sobre a variaacutevel sexo a hipoacutetese que traccedilamos para este estudo foi confirmada visto que os

informantes do sexo masculino foram os que mais realizaram [ɛ] e [ɔ] em posiccedilatildeo pretocircnica

se comparados ao nuacutemero de ocorrecircncias de abaixamento registrado pelas informantes do

sexo feminino

Com relaccedilatildeo agrave faixa etaacuteria tambeacutem confirmamos a hipoacutetese de que os informantes

com idade superior a 49 anos teriam mais ocorrecircncias de vogais meacutedias baixas na posiccedilatildeo

pretocircnica do que os mais jovens (entre 15 e 25 anos de idade) e foi o que aconteceu para e e

para o No que se refere ao grau de escolaridade esperaacutevamos que essa variaacutevel natildeo seria

relevante para o abaixamento de nenhuma das duas vogais em estudo Entretanto ela foi

selecionada pelo programa estatiacutestico e apresentou o mesmo resultado para o abaixamento das

vogais meacutedias pretocircnicas uma vez que os informantes com escolaridade superior a onze anos

de estudo optaram por manter a vogal meacutedia alta (e ou o) em vez de abaixaacute-la Jaacute os

informantes com escolaridade entre zero e onze anos de estudo apresentaram resultados mais

114

significativos para o abaixamento de e e de o e por isso foram considerados favorecedores

da regra na anaacutelise dessa variaacutevel

Embora tenhamos encontrado muitas semelhanccedilas entre as variaacuteveis e os fatores

selecionados como relevantes para a realizaccedilatildeo de [ɛ] e de [ɔ] na siacutelaba pretocircnica tambeacutem

houve diferenccedilas Sobre o segmento seguinte agrave vogal meacutedia (e ou o) pretocircnica analisada

por exemplo o programa estatiacutestico selecionou a variaacutevel modo de articulaccedilatildeo para ambas as

vogais mas se as consoantes nasais as liacutequidas e o tepe seguintes favoreceram o

abaixamento de e apenas o tepe mostrou-se significativo para a realizaccedilatildeo de [ɔ] na posiccedilatildeo

pretocircnica

Quanto ao contexto precedente o modo e o ponto de articulaccedilatildeo foram selecionados

para a vogal o sendo que para o modo de articulaccedilatildeo as consoantes nasais e a pausa foram

considerados os fatores favorecedores do abaixamento dessa vogal Para o ponto de

articulaccedilatildeo os fatores condicionadores do processo foram as consoantes poacutes-alveolares as

palatais e as labiodentais Na anaacutelise da vogal e apenas o modo de articulaccedilatildeo do contexto

precedente foi selecionado pelo GoldVarb X e apontou as consoantes liacutequidas como as uacutenicas

favorecedoras do abaixamento da vogal meacutedia frontal

Outra diferenccedila encontrada na anaacutelise dos resultados obtidos para e e para o foi na

variaacutevel item lexical que foi selecionada apenas para a vogal meacutedia frontal Enquanto os

adjetivos tiveram os iacutendices mais significativos para o abaixamento de e na siacutelaba pretocircnica

os adveacuterbios desfavoreceram o processo para essa vogal

Diante desses resultados o Quadro 1 abaixo retoma as variaacuteveis independentes

linguiacutesticas selecionadas para cada uma das duas vogais analisadas e os contextos que

favoreceram e que desfavoreceram o processo para e e para o

Variaacuteveis

analisadas

Abaixamento da vogal

pretocircnica e

Abaixamento da vogal

pretocircnica o

Contexto precedente

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes liacutequidas

Desfavorecem a pausa e as

consoantes fricativas

Favorecem consoantes nasais e a

pausa

Desfavorecem consoantes

fricativas

Contexto precedente

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Favorecem consoantes poacutes-

alveolares palatais e labiodentais

Desfavorecem consoantes velares

e labiais

115

Contexto seguinte

(modo de

articulaccedilatildeo)

Favorecem consoantes nasais

liacutequidas e o tepe

Desfavorecem consoantes

africadas e fricativas

Favorecem o tepe e as consoantes

liacutequidas

Desfavorecem as consoantes

nasais

Contexto seguinte

(ponto de

articulaccedilatildeo)

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Altura da vogal da

siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais meacutedias

baixas tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias

altas tocircnicas

Favorecem vogais meacutedias baixas

tocircnicas

Desfavorecem vogais meacutedias altas

tocircnicas

Qualidade da vogal

da siacutelaba tocircnica

Favorecem vogais nasais

tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Favorecem vogais nasais tocircnicas

Desfavorecem vogais orais

tocircnicas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo agrave siacutelaba

tocircnica

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas

siacutelabas

Favorece distacircncia zero

Desfavorece distacircncia de duas ou

de mais de duas siacutelabas

Distacircncia da vogal

meacutedia pretocircnica com

relaccedilatildeo ao iniacutecio da

palavra

Essa variaacutevel natildeo foi

selecionada pelo GoldVarb X

para o abaixamento de e

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Tipo de siacutelaba

pretocircnica

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Favorecem siacutelabas pesadas

Desfavorecem siacutelabas leves

Item lexical

Favorecem adjetivos

Desfavorecem adveacuterbios

Essa variaacutevel natildeo foi selecionada

pelo GoldVarb X para o

abaixamento de o

Sexo Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Favorecem informantes do sexo

masculino

Desfavorecem informantes do

sexo feminino

Faixa etaacuteria Favorecem informantes com

mais de 49 anos de idade

Favorecem informantes com mais

de 49 anos de idade

116

Desfavorecem informantes

entre 15 e 25 anos de idade

Desfavorecem informantes entre

15 e 25 anos de idade

Escolaridade Favorecem informantes entre 0

e 11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Favorecem informantes entre 0 e

11 anos de estudo

Desfavorecem informantes com

mais de 11 anos de estudo

Quadro 1 - Resumo das variaacuteveis linguiacutesticas e extralinguiacutesticas analisadas para o abaixamento de e e

de o em Monte Carmelo-MG e dos fatores que favorecem e desfavorecem a aplicaccedilatildeo

da regra

E por fim acreditamos que essa pesquisa vai enriquecer o banco de dados que

estamos construindo da regiatildeo do Triacircngulo Mineiro aleacutem de contribuir para a histoacuteria

linguiacutestica de Monte Carmelo-MG Esperamos que esse estudo sirva de motivaccedilatildeo para outros

pesquisadores e que possa ser somado sobretudo para a ampliaccedilatildeo dos estudos foneacutetico-

fonoloacutegicos do Portuguecircs Brasileiro

117

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120

ANEXOS

121

ANEXO 1

ROTEIRO DE PERGUNTAS

A) Origem e habitaccedilatildeo

1 O que vocecirc acha de morar em Monte Carmelo Do que vocecirc mais gosta aqui

2 Conte um pouco da histoacuteria de sua cidade como ela era e como ela eacute hoje

3 Vocecirc vecirc diferenccedilas na cidade desde o tempo que vocecirc era crianccedila ateacute os dias atuais Quais

4 O que vocecirc nota de diferente entre Monte Carmelo e outras cidades que vocecirc conhece

5 Conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (boa) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

6 Agora conte uma experiecircncia inesqueciacutevel (ruim) que vocecirc jaacute teve nesta cidade

7 O que vocecirc acha da administraccedilatildeo da cidade Como vocecirc vecirc serviccedilos puacuteblicos como a

educaccedilatildeo e a sauacutede no municiacutepio

8 O que vocecirc acha que falta para Monte Carmelo ser uma cidade melhor

9 Em sua opiniatildeo o que deveria ser prioridade em Monte Carmelo no proacuteximo governo

B) Infacircncia

1 Vocecirc sente falta da sua infacircncia Do que vocecirc mais tem saudade

2 Conte uma histoacuteria inesqueciacutevel de sua infacircncia

3 Como eram e quais eram as brincadeiras de que vocecirc gostava

4 Vocecirc acha que foi uma crianccedila muito levada Por quecirc

5 Quando vocecirc era crianccedila o que te levava a brigar Conte uma briga da infacircncia que vocecirc

nunca esqueceu

6 Conte uma festa inesqueciacutevel de sua infacircncia

7 Fale de alguma travessura que vocecirc fez quando era crianccedila e lembra ateacute hoje

8 Vocecirc acha que a infacircncia das crianccedilas dos dias atuais eacute muito diferente da sua infacircncia Por

quecirc

C) Escola

1 Fale de alguma lembranccedila dos tempos em que vocecirc estudava na escola no primaacuterio

2 Algum de seus professores marcou profundamente a sua vida escolar Fale de algo que

esse professor fez que deixou marcas

3 De qual mateacuteria vocecirc mais gostava na escola Por quecirc E a que vocecirc menos gostava

4 Vocecirc pretende voltar a estudar Se sim o que

122

5 Vocecirc parece ter tido muitos amigos no tempo de escola Conte para noacutes uma histoacuteria de

amizade que vocecirc nunca esqueceu

5 Hoje em dia vocecirc tem algum contato com seus amigos de infacircncia Onde eles estatildeo

6 Conte algum fato engraccedilado de sua eacutepoca de escola

7 O que vocecirc sente ao falar de sua infacircncia Por quecirc

8 Se vocecirc pudesse gostaria de voltar aos tempos de escola Por quecirc

9 O que vocecirc acha melhor os tempos de infacircncia ou a vida de hoje

10 Vocecirc teve algum (a) namoradinho (a) nos tempos de escola Conte para noacutes um pouco

disso

D) Atividades profissionais

1 Vocecirc gosta do que faz Por quecirc

2 Vocecirc jaacute trabalhou em uma profissatildeo diferente Por que mudou de profissatildeo

3 Vocecirc gostaria de ter outra profissatildeo Qual

4 Dos empregos que vocecirc teve qual vocecirc mais gostou Por quecirc

5 Com quantos anos vocecirc comeccedilou a trabalhar O que o fez comeccedilar tatildeo cedo (ou tarde)

6 Vocecirc acha que as pessoas deveriam comeccedilar trabalhar cedo ou deveriam estudar primeiro

7 Vocecirc jaacute esteve desempregado em alguma eacutepoca de sua vida Conte para noacutes como foi esse

momento

8 Vocecirc acha que eacute faacutecil ter um emprego hoje em dia

9 E aqui em ldquonome da cidaderdquo eacute muito difiacutecil conseguir um emprego Por quecirc

10 Como vocecirc vecirc a ascensatildeo da mulher no mercado de trabalho

E) Lazer

1 O que vocecirc costuma fazer nas horas vagas

2 Como as pessoas costumam se divertir aqui

3 Qual tipo de muacutesica vocecirc gosta de ouvir Por quecirc

4 Vocecirc tem algum cantor (a) favorito (a) Qual

5 Vocecirc se lembra de alguma viagem que marcou a sua vida Conte para noacutes

6 Se algum dia vocecirc ganhasse em uma promoccedilatildeo uma viagem para qualquer lugar do mundo

e pudesse levar uma uacutenica pessoa para onde vocecirc iria e quem vocecirc levaria Por que iria a este

lugar e por que levaria esta pessoa

7 Qual tipo de programa de televisatildeo vocecirc gosta de ver Por quecirc E qual vocecirc detesta Por

quecirc

123

8 O que vocecirc acha que deveria passar na TV e natildeo passa

9 Vocecirc torce por algum time de futebol Qual Costuma assistir todos os jogos do seu time

10 Vocecirc pratica ou gostaria de praticar algum esporte Qual

11 Vocecirc gosta de ler Qual livro vocecirc gostou mais de ler Por quecirc

12 E filmes haacute algum que vocecirc gostaria de assistir novamente Qual Por quecirc

13 Vocecirc gosta de cozinhar O que vocecirc mais gosta de fazer na cozinha

14 Qual eacute o seu prato favorito E o que vocecirc natildeo gosta de comer de jeito nenhum

F) Relacionamentos

1 Vocecirc tem namorado (a) Como vocecircs se conheceram

2 Vocecirc jaacute teve outros (as) namorados (as) Por que vocecircs se separaram

3 Vocecirc estaacute casado haacute quanto tempo

4 Como vocecirc conheceu o seu (sua) esposo (a)

5 Para vocecirc o casamento eacute indispensaacutevel na vida de uma pessoa Por quecirc

6 Como vocecirc vecirc a imagem da mulher na atual sociedade do Brasil

7 Vocecirc eacute a favor ou contra o divoacutercio Por quecirc

8 Vocecirc jaacute perdoou ou perdoaria uma traiccedilatildeo

9 O Brasil eacute um paiacutes com uma populaccedilatildeo de 40 de negros Em sua opiniatildeo existe muito

preconceito aqui Que outro tipo de preconceito existe por aqui (contra a mulher contra

gays preconceito religioso etc)

10 Vocecirc jaacute presenciou ou sofreu preconceito racial ou social Conte para noacutes

11 Vocecirc parece ser uma pessoa que tem muitos amigos Quem eacute o seu melhor amigo Como

e onde vocecircs se conheceram

12 Vocecirc concorda com beijo entre dois homens ou entre duas mulheres em novelas Por quecirc

G) Perigo de vida

1 Vocecirc ou algueacutem da sua famiacutelia jaacute teve alguma doenccedila grave Qual foi essa doenccedila e como

vocecircs enfrentaram essa situaccedilatildeo

2 Vocecirc jaacute esteve em alguma situaccedilatildeo em que pensou que iria morrer Conte para noacutes como

foi isso

3 Vocecirc tem medo da morte Por quecirc

4 Vocecirc jaacute presenciou algum acidente seacuterio Como foi

5 Se vocecirc soubesse que iria morrer amanhatilde o que vocecirc faria

124

H) Religiatildeo

1 Qual a sua religiatildeo Por que vocecirc escolheu seguir essa religiatildeo

2 Haacute algueacutem da sua famiacutelia que pertence agrave outra religiatildeo

3 Vocecirc vai com frequecircncia nas celebraccedilotildees de sua igreja

4 Vocecirc acredita em milagres Por quecirc

5 Vocecirc jaacute presenciou algum milagre

6 Vocecirc acredita que existe vida apoacutes a morte Acredita na reencarnaccedilatildeo

I) Sobrenatural

1 Em alguma ocasiatildeo vocecirc jaacute sentiu a presenccedila de algo que natildeo parecia real Conte como foi

isso

2 Havia algum lugar aonde vocecirc natildeo ia ou natildeo tinha coragem de ir quando crianccedila Por quecirc

3 Vocecirc jaacute sentiu a sensaccedilatildeo de estar fazendo algo que jaacute foi feito antes exatamente da mesma

maneira Como vocecirc explica isso

4 Jaacute aconteceu de alguma vez vocecirc (ou uma pessoa que vocecirc conhece) dizer ou sonhar com

algo e depois isso vir a acontecer realmente Como foi

5 Vocecirc acha possiacutevel adivinhar o futuro lendo cartas bolas de cristal ou as linhas da matildeo O

que vocecirc pensa das pessoas que fazem isso

6 Para vocecirc o que eacute anjo da guarda

7 Vocecirc acha que uma pessoa pode estar acompanhada de um espiacuterito mau

8 Vocecirc acredita em discos-voadores Por quecirc

9 Vocecirc jaacute viu ou conhece algueacutem que tenha visto um disco-voador Conte como foi isso

10 Vocecirc acredita ou jaacute viu um ET

J) Aspiraccedilotildees

1 Se vocecirc ganhasse sozinho o precircmio da Mega Sena o que vocecirc faria

2 Vocecirc acha que o dinheiro traz felicidade

3 Qual eacute o maior sonho de sua vida

4 Se algum dia vocecirc encontra-se uma lacircmpada maacutegica igual a do Aladim e tivesse direito a

trecircs pedidos o que vocecirc pediria ao gecircnio da lacircmpada

5 Se vocecirc tivesse a oportunidade de governar Monte Carmelo ou ateacute mesmo o Brasil o que

vocecirc gostaria de fazer por vocecirc e pela populaccedilatildeo

125

ANEXO 2

COacuteDIGO PARA A CODIFICACcedilAtildeO DOS DADOS

VARIAacuteVEIS DEPENDENTES e e o

VARIANTES [ɛ] e [ɔ]

Para a realizaccedilatildeo de e melhor 1

Para a realizaccedilatildeo de ɛ mɛlhor 2

Para a realizaccedilatildeo de o colega 3

Para a realizaccedilatildeo de ɔ cɔlega 4

VARIAacuteVEIS INDEPENDENTES

VARIAacuteVEIS LINGUIacuteSTICAS

1 CONTEXTO PRECEDENTE

consoante ([m]enor es[k]olaridade) k

vogal (r[e]eleito v[i]olecircncia) v

pausa (elenco olhar) p

2 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (MODO)

nasal ([m]elhor [n]ovela) n

oclusiva ([p]eroba [k]ortar) o

fricativa ([s]eracircmica [ʒ]ogar) f

liacutequidas ([x]eligiatildeo [l]ocal) l

pausa (elenco olhar) p

tepe (escu[ɾ]ecer) t

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (v[i]olecircncia) h

3 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO PRECEDENTE (PONTO)

velares ([x]eceber [k]oraccedilatildeo) r

126

alveolar ([d]efende [t]omada) e

labiais ([p]eroba [b]olada) b

palatal (co[ɲ]ecimento me[ʎ]orar) d

pausa (evangeacutelica operou) p

labiodentais (di[f]erente in[v]ocado) s

poacutes-alveolares ([ʒ]esus [ʃ]ocada) j

vogal baixa (a) v

vogal meacutedia-baixa (ɛ ɔ) w

vogal meacutedia-alta (r[e]eleito) g

vogal alta (pr[i]oridade) h

4 CONTEXTO SEGUINTE

consoante (re[s]posta pro[m]essa) k

vogal (re[a]lizar re[e]leito) v

5 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (MODO)

nasal (ave[n]ida mo[m]ento) n

oclusivos (de[p]ressatildeo pro[b]lema) o

fricativos (re[v]er atro[f]iado) f

liacutequidas (me[ʎ]ora co[l]ega) l

tepe (pode[ɾ]ia o[ɾ]accedilatildeo) t

africadas (acre[dʒ]itar me[dʒ]icina) a

vogal baixa (ide[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

6 ESPECIFICACcedilAtildeO DO CONTEXTO SEGUINTE (PONTO)

velar (ne[g]oacutecio to[k]ar) r

alveolares (deze[s]eis go[s]tar) e

labial (de[b]ater co[m]unitaacuterio) b

palatal (acre[dʒ]itar o[ʎ]ada) d

labiodentais (e[l]evado pro[f]essor) s

poacutes-alveolares (fe[ʃ]ado) j

127

vogal baixa (re[a]l abenccedilo[a]do) v

vogal meacutedia-baixa (core[ɔ]grafa) w

vogal meacutedia-alta (re[e]leito) g

vogal alta (ve[i]culo) h

7 ALTURA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

altas i u (acred[i]to Jes[u]s) a

meacutedias-altas e o (conhec[e]r gost[o]so) m

meacutedias-baixas ɛ ɔ (rem[ɛ]dio rel[ɔ]gio) y

baixa a (deleg[a]do) b

8 POSICcedilAtildeO ARTICULATOacuteRIA DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

frontais ɛ e i q

central a c

posteriores ɔ o u p

9 QUALIDADE DA VOGAL DA SIacuteLABA TOcircNICA

oral (proc[ɛ]sso) o

nasal (oraccedil[ɐ ]o) n

10 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO Agrave SIacuteLABA

TOcircNICA

Distacircncia zero (remeacutedio costura) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (evangeacutelica cochilar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (precisaria movimentado) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (recuperaccedilatildeo possibilidade) 3

11 DISTAcircNCIA DA VOGAL MEacuteDIA PRETOcircNICA COM RELACcedilAtildeO AO INIacuteCIO DA

PALAVRA

Distacircncia zero (Jesus oraccedilatildeo) 0

Distacircncia de uma siacutelaba (leucemia melhorar) 1

Distacircncia de duas siacutelabas (acontecer) 2

Distacircncia de mais de duas siacutelabas (aposentadoria) 3

128

12 TIPO DE SIacuteLABA PRETOcircNICA

leves V (orar) CV (cobranccedila) CCV (prefeitura) v

pesadas VC (hospital) CVC (gostar) c

13 ITEM LEXICAL

substantivo (pessoa local) s

verbo (levar prometer) v

adjetivo (diferente invocado) a

pronome (vocecirc comigo) p

numeral (sessenta dezesseis) n

adveacuterbio (depois) b

conjunccedilatildeo (entretanto portanto) j

VARIAacuteVEIS EXTRALINGUIacuteSTICAS

1 SEXO

Masculino m

Feminino f

2 IDADE

Entre 15 e 25 anos de idade j

Entre 26 e 49 anos de idade a

Com mais de 49 anos de idade e

3 ESCOLARIDADE

Entre 0 e 11 anos de estudo (ensinos primaacuterio fundamental e meacutedio) p

Com mais de 11 anos de estudo (ensino superior) s