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Universidade Federal de São João del-Rei

Compilação Prévia de Resumos Aprovados para a

XVI Semana de Filosofia da UFSJ

&

I Simpósio Internacional de Ética e Filosofia Política

São João del-Rei 2014

2

SUMÁRIO

Teoria da Sensibilidade na Metaética: uma análise a partir de Jesse Prinz Adelino Ferreira...............................................................................................................5

Esboço para a Subversão do Sujeito de Lacan Alexandre Cherulli Marçal..............................................................................................6

Protágoras e Teeteto: Uma Relação entre Sócrates e a Sofística Aline Apipe de Faria........................................................................................................7

O Liberalismo e a Democracia como Fundamentos do Estado de Direito na Perspectiva Filosófica de Norberto Bobbio André Luiz Alves do Nascimento....................................................................................8

Considerações acerca do texto: “A Serenidade” de Martin Heidegger André Prock Ferreira.......................................................................................................9

Sobre o Desenvolvimento da Retórica: A Passagem da Estética do Discurso à Teoria da Argumentação Arthur Villela Carvalho..................................................................................................10

As Implicações Anti Totalitárias da Faculdade do Pensar na Perspectiva de Hannah Arendt Camila Silva de Paulo.....................................................................................................11

Sobre Arte e Poesia no Tempo do Niilismo: Uma leitura a partir de O homem sem conteúdo, de Giorgio Agamben Carlos Arthur Resende Pereira......................................................................................12 A Democracia como Contrato Moral: Pressupostos da Teoria da Justiça como Equidade Claudio Henrique Marcos..............................................................................................13

Fantasia e Técnica: Notas sobre A Relação entre Razão e Liberdade na Modernidade Cristiane Valéria da Silva...............................................................................................14

A Mentira Útil na Republica de Platão Danielle Ferreira da Rocha............................................................................................15

Intencionalidade: A relação entre sujeito e objeto na Fenomenologia de Edmund Husserl Danilo da Cunha Pontes................................................................................................16 Labirintos da Memória: Terrorismo de Estado e Mal de Arquivo Diego dos Santos Reis....................................................................................................17

Sobre o Desprendimento (Abgescheidenheit): Mestre Eckhart e o cotidiano essencial Douglas Resende da Silva..............................................................................................18

A proposta de um Segundo Humanismo e o amor como fundamento das relações humanas na perspectiva filosófica de Luc Ferry Douglas Willian Ferreira................................................................................................19

O Perspectivismo Nietzschiano

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na Interpretação de Leo Strauss Elvis de Oliveira Mendes...............................................................................................20

O Fetichismo, O Esquematismo e A Conformidade A Fins Sem Fim na Dialética do Esclarecimento Fábio César da Silva.......................................................................................................21

Das Benéfices da Novilíngua Francisco Otávio Veloso de Brito Xavier......................................................................22

Do Sonho à Embriaguez, Apolíneo e Dionisíaco, uma Concepção do Trágico na Filosofia Nietzschiana Gabriela Ferreira de Andrade........................................................................................23

Leo Strauss e o Problema do Melhor Regime Hugo Araújo Prado........................................................................................................24

Escravidão, Natureza e Liberdade em Aristóteles: O que nos torna livres? Isis Bruna da Costa Correia...........................................................................................25

A Correspondência entre Linguagem e Ideias no Nominalismo de Semelhança A Evolução do Problema da Formação dos Termos Gerais Ísis Esteves Ruffo e Claudio Henrique Marcos.............................................................26

Violência nos Campos de Concentração Versus Fenômeno da Banalidade do Mal Jéssica Tatiane Felizardo..............................................................................................27

A Ditadura Brasileira em Questão: Considerações sobre o Regime Militar Brasileiro João Pedro Andrade de Campos...................................................................................28

O trunfo empírico do Homo sapiens em sua capacidade de comunicar-se Jonas Moreira de Andrade Neto...................................................................................29

Ética e Estética na Shoah: entre a Proibição de Representar o Inimaginável e a Necessidade de Representá-lo Jorge Benedito de Freitas Teodoro...............................................................................30

Diante do abismo: arte contemporânea, política e gesto Juliana de Moraes Monteiro.........................................................................................31

O Excursus Filosófico: Metafísica, Política e Educação Segundo a Filosofia de Platão Leander Alfredo da Silva Barros...................................................................................32

Considerações de Norberto Bobbio acerca da Construção da Ditadura Fascista na Itália Ludovyco José Viol Moras e José Luiz de Oliveira.......................................................33

A Questão da Tolerância no Caso Bowers versus Hardwick Marcela Borges Martinez..............................................................................................34

Memórias do Subúrbio: O Cotidiano das Classes Populares Cantado pelo Poeta Marcelo José Silva.........................................................................................................35

Sustentabilidade entre Desenvolver e Preservar Márcia Aparecida de Azara............................................................................................36

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Intencionalidade e materialidade da ação política em Maquiavel: uma perspectiva ético-político Marcone Costa Cerqueira..............................................................................................37

O Conceito de Alienação do Mundo no Pensamento de Hannah Arendt Maria Carolina Mendonça de Resende.........................................................................38

Uma política para a forma-de-vida a partir de Giorgio Agamben Mauro Rocha Baptista...................................................................................................39

Tractatus: Uma abordagem Realista e Algumas Objeções Paulo H. S. Costa...........................................................................................................40 Aspectos da Lógica Hegeliana na Ontologia Relacional em Bourdieu: do “Real é Racional” ao “Real é Relacional” Philippe Augusto Carvalho Campos..............................................................................41

Por uma ética des(cartesiana) da vida: da ocupação à pre(ocupação) Rebeka de Paula Gomes da Silva..................................................................................42

A Teoria na Era do Produtivismo Acadêmico: Notas sobre o Método Científico e o Ensaio como Forma a Partir de Theodor Adorno Rodrigo Siqueira Câmara..............................................................................................43

A Recusa do Dever na Educação de Emílio Terezinha Duarte Vieira................................................................................................44

Semiótica Aplicada de Peirce: Imagem de Duas Pinturas de Natividade Thiago de São José Guimarães......................................................................................45

Ideologia e Terror: Uma Análise acerca da Aniquilação da Liberdade pelo Totalitarismo no Pensamento de Hannah Arendt Valmira de Oliveira Santos...........................................................................................46

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Teoria da Sensibilidade na Metaética: uma análise a partir de Jesse Prinz

Adelino Ferreira

[email protected] Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Orientador: Prof. Dr. Rogério Antônio Picoli Agência de Fomento: FAPEMIG

Eixo Temático: Ética e Filosofia Política

Jesse Prinz, em sua obra The Emotional Construction of Morals, enfatiza o papel das emoções na constituição da moral. Para ele, tanto as propriedades, quanto os conceitos morais, envolvem, essencialmente, emoções. No terceiro capítulo de The Emotional Construction of Morals, intitulado Sensibility Saved, Jesse Prinz afirma defender uma Teoria da Sensibilidade que seria, nas palavras dele, “prima” de teorias como as de McDowell, Wiggins, McNaughton, Wright, entre outros. Para compreender o projeto que Prinz pretende levar a cabo, o presente trabalho pretende analisar aquela que é considerada a primeira formulação de uma teoria desse tipo: a teoria de John McDowell, expressa principalmente nos textos Value and Secundary Qualities (1985) e Projection and Truth in Ethics (1987). Nestes textos estão presentes aquelas que são as bases da Teoria da Sensibilidade, a saber: a analogia entre cores e valores, a visão não-prioritária entre características avaliativas e respostas emocionais e a interdependência entre valores e sentimentos. É importante deixar claro que Prinz tem uma visão bem peculiar da Teoria da Sensibilidade e não comunga com todas as teses de outros teóricos como McDowell e Wiggins, porém sua visão é devedora dos escritos destes filósofos e de suas reflexões sobre a moral. O que se pretende aqui é mostrar como uma série de autores, seguindo a vertente humeana, defende que não é possível compreender a moralidade apenas a partir da racionalidade. A perspectiva sentimentalista abraçada por McDowell, Wiggins, e também por Jesse Prinz, pretende mostrar como os conceitos avaliativos são fundamentalmente response-invoking, ou seja, não podem ser analisados sem o apelo a respostas subjetivas. Prinz é um dos autores contemporâneos mais radicais no que tange à defesa relação entre as emoções e a moralidade. Suas pesquisas são corroboradas por uma série de estudos de casos em psicologia moral além de pesquisas que buscam mensurar o papel da diversidade cultural nas diferentes concepções de moralidade existentes. Uma correta compreensão do pensamento de Prinz passa necessariamente por certos pontos introduzidos especialmente por John McDowell na discussão a cerca da moralidade.

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Esboço para a Subversão do Sujeito de Lacan

Alexandre Cherulli Marçal [email protected]

Universidade Federal Fluminense (UFF) Eixo Temático: História da Filosofia

A noção de sujeito possui uma longa e importante carreira na filosofia ocidental. Com o advento da modernidade a construção, a problematização e, por vezes, a superação deste conceito ganha destaque na agenda filosófica de muitos pensadores, adquirindo amarrações diferenciadas em cada autor e contexto em que aparece. Enquanto havia no pensamento francês do meio do século XX certa atmosfera intelectual que pretendia eliminar o sujeito do cenário filosófico-científico, Lacan aparece como uma exceção nesse contexto. Ao contrário do positivismo científico e de teorias psicológico-cognitivistas da época, Lacan pretende reabilitar a noção de sujeito a partir de um processo de subversão do sujeito hegeliano operada com a ajuda da linguística moderna e de uma certa leitura da psicanálise freudiana. Encontramos no texto Subversão do sujeito e a dialética do desejo no inconsciente freudiano (1960) um momento privilegiado da interlocução entre filosofia e psicanálise promovida por Lacan, ainda se destacando dentro do corpus lacaniano tanto como resultado crítico de uma trajetória de pensamento de mais de trinta anos, quanto anunciador de novas perspectivas teóricas que serão importantes a partir dos Seminários VI e VII. Sendo assim, o objetivo de nosso trabalho será apresentar a noção de sujeito tal como concebida por Lacan tendo em vista o momento singular que esse texto ocupa dentro percurso das formulações conceituais do psicanalista. Para tanto, partiremos da leitura que Lacan faz de Hegel através da ótica kojèveana, centrada na experiência de reconhecimento do desejo do Outro e mostrando como Lacan compreende o limite da formação da consciência e da identidade do sujeito. Em seguida, mostraremos como Lacan aproveita o par conceitual hegeliano de saber e Verdade que o permite conceber uma dialética do desejo. Por último, apresentaremos o reposicionamento do imaginário e do simbólico em vista do sujeito do inconsciente e de sua relação com a noção de falta no Outro

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Protágoras e Teeteto: Uma Relação entre Sócrates e a Sofística

Aline Apipe de Faria

[email protected] Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) Orientador: Prof. Dr. Luiz Paulo Rouanet (UFSJ)

Agência de Fomento: CNPQ Eixo Temático: Metafísica e Epistemologia

A leitura tradicional dos diálogos platônicos estabeleceu uma interpretação negativa acerca do pensamento socrático com relação aos sofistas. Esse fato ocorre até os dias atuais, graças às críticas que Platão e Aristóteles fizeram a eles. Contudo, o destaque negativo dado aos sofistas nos diálogos de Platão os desvaloriza, impedindo a percepção de uma possível relação ideológica entre Sócrates e os sofistas. É evidente que o Sócrates platônico faz suas críticas aos sofistas, no entanto há muitos momentos em que ele os enaltece, como quando afirma que “O homem mais sábio do nosso tempo, se também fores de parecer que Protágoras é o mais sábio dos homens.” Para buscar compreender melhor a relação de Sócrates e os sofistas, partiremos da análise dos diálogos Protágoras e Teeteto. O primeiro, Protágoras, relata o encontro entre Sócrates e o sofista que dá nome ao diálogo. Neste encontro, Sócrates inicia o diálogo com uma crítica a Protágoras e depois passa a utilizar seu método de refutação na conversa. O diálogo termina, porém, com Sócrates em uma situação embaraçosa em relação ao questionamento feito ao sofista. No diálogo Teeteto, por sua vez, Sócrates se incumbe da missão de defender Protágoras e age como se fosse o sofista. Assim, justifica a teoria de Protágoras diante das críticas feitas anteriormente por ele mesmo. Além disso, no referido diálogo pode-se ler a afirmação, “o sofista capaz de educar seus discípulos desse modo é sábio e merece ser muito bem pago por eles, depois de terminado o curso.” Tendo isto em vista, é necessária, portanto, uma maior percepção das sutilezas diante das aparições da figura do sofista no interior dos diálogos platônicos. Não se trata de um abandono total da interpretação canônica herdada pela tradição, mas de uma busca por um olhar atento a certas passagens pouco exploradas e que indicam um diálogo mais benevolente entre os sofistas e o mestre de Platão. Neste trabalho, a leitura atenta dos diálogos acima referidos (Protágoras e Teeteto) pretende lançar luzes a esta discussão.

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8

O Liberalismo e a Democracia como Fundamentos do Estado de Direito na Perspectiva Filosófica de Norberto Bobbio

André Luiz Alves do Nascimento

[email protected] Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Orientador: Prof. Dr. José Luiz de Oliveira (UFSJ) Eixo temático: Ética e Filosofia Política

Norberto Bobbio (Itália, 1909-2004), em sua obra, expõe a relação entre liberdade e democracia como fundamental na formação do Estado democrático de direito. A democracia que se relaciona com a liberdade na relação descrita é: a democracia representativa. Bobbio entende esta como uma forma diferente de democracia comparada à democracia direta. Por mais que seja uma forma diferente, a democracia representativa é a única democracia possível de existir em um Estado com grandes tensões sociais, a exemplo do Estado moderno. Ao tratarmos da liberdade, temos que especificar primeiro de qual liberdade iremos tratar. Pois, na filosofia política de Norberto Bobbio, não há um conceito de liberdade que consiga exaurir todas as liberdades. Dentre as liberdades, duas têm em seus significados maior relevância para a relação entre liberdade e democracia representativa. Elas são: a liberdade de mercado e a liberdade política. Essas duas liberdades encontram-se inclusas nas discussões que perpassam a doutrina liberal. De todo modo, Norberto Bobbio distingue a teoria do liberalismo econômico da teoria do liberalismo político. A teoria do liberalismo econômico, ao desenvolver a concepção do Estado mínimo, cria meios para a menor intervenção possível do Estado. No entanto, além das funções do Estado, há também os poderes do Estado. A limitação desses poderes é desenvolvida pela teoria do liberalismo político ao desenvolver a concepção de Estado de direito Assim, em nosso trabalho, propusemos entender e relacionar dois conceitos, em especial, a saber: democracia e liberdade. E, por fim, compreender o porquê da relação entre esses dois conceitos configurar-se fundamental para a formação do Estado democrático de direito.

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Considerações acerca do texto: “A Serenidade” de Martin Heidegger

André Prock Ferreira [email protected]

Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Orientadora: Profa. Dra. Glória Maria Ferreira Ribeiro (UFSJ)

Agência financiadora: PET - MEC/SESu Eixo Temático: Metafísica e Epistemologia

O presente trabalho visa analisar a conferência intitulada “A Serenidade” proferida por Martin Heidegger no ano de 1959, em comemoração ao centenário de morte do compositor Conradin Kreutzer. A questão norteadora da conferência incide sobre a questão da nossa terra natal e o modo como esse tipo de questionamento acaba por nos levar ao encontro da técnica, que no século XX assume o caráter do pensamento que calcula. Isso decorre porque o cenário daquela sociedade se encontrava marcado pelo uso excessivo da tecnologia, o que para Heidegger acabou caracterizando a chamada “Era Atômica”. Toda a conferência gira em torno dos tipos de pensamento nos quais o homem realiza a sua humanidade, quais sejam: o pensamento que calcula e o pensamento que medita. Esse último tipo de pensamento abre a possibilidade de o homem se manter mais próximo à sua origem (a sua “terra natal”) enquanto que o pensamento que calcula traz no seu bojo a possibilidade de o homem daí (dessa origem) se distanciar. Contudo, nos diz Heidegger, tanto o pensamento que medita quanto aquele que calcula são próprios do homem, e do seu modo de habitar sobre a terra. A questão que emerge é: até que ponto cabe ao homem dizer “sim” e dizer “não” ao uso das tecnologias? Já que a técnica e o tipo de pensamento do qual ela deriva pertencem ao homem? Essa questão se torna preocupante à medida que o uso das tecnologias tem se exacerbado e o homem parece cada vez mais distante da sua origem, expatriado do elemento do pensar. Mas quem é o homem? É o ser que medita, mas ao mesmo tempo é um ser que calcula. O pensamento que medita é aquele que se detêm sobre aquilo que lhe é mais próximo – isto é, à origem, ao elemento do pensar. Já o pensamento calcula encontra-se submetido a regras que visam um determinado objetivo, mas que não se preocupa com o sentido das ações que daí (dessas regras) decorrem. A principal meta de nosso trabalho é precisar o que Heidegger compreende por serenidade, que para esse autor Consiste precisamente em dizer um sim e um não ao pensamento que calcula.

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Sobre o Desenvolvimento da Retórica: A Passagem da Estética do Discurso à Teoria da Argumentação

Arthur Villela Carvalho

[email protected] Graduado em Filosofia pela

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Eixo temático: História da Filosofia

O objetivo desta comunicação é realizar a apresentação do texto de Chaïm Perelman The New Rhetoric: a Theory of Practical Reasoning, privilegiando as sessões the loss of a humanistic tradition e An ornamental or a pratical art?. Esta obra trata das transformações na concepção sobre o que é a retórica, efetuadas no interior das principais correntes de pensamento ocidentais. O autor belga inicia sua explanação através do desenvolvimento da retórica nas tradições da França, Itália, Alemanha, Inglaterra e nos Estados Unidos. A tese sustentada por Perelman é que a partir dessa reconstrução histórica é possível entender não só porque há uma ruptura radical entre o pensamento filosófico e o estudo retórico; como também a formação da retórica moderna, ou o que ele prefere chamar de “estilística”. A importância de se ter consciência do processo que consolida e restringe a retórica moderna a uma área dedicada ao estudo de figuras de estilo, utilizadas no discurso, é a possibilidade de entender a renúncia, na contemporaneidade, deste modelo que concebe a retórica como uma área da “estética do discurso”. Esta abordagem estilística da retórica é considerada por Perelman como a responsável pela identificação da retórica como “verbalism and an empty, unnatural, stilted mode of expression.” [PERELMAN 2000: p. 1387]. Ao citar os momentos, autores e obras, que construíram a retórica moderna, Perelman pretende rejeitar a concepção que fora predominante durante os séculos XVIII e XIX, em detrimento de uma tradição que remonta à antiguidade, mais especificamente, a nomes como Aristóteles, Cícero e Quintiliano. Com isto, o intuito é defender que a retórica antiga, negligenciada e esquecida no decorrer dos séculos, encontrava, no pensamento aristotélico, a mesma importância que a forma de raciocinar analítica – diferenciando-se desta por versar sobre os raciocínios realizados a partir das opiniões, enquanto a analítica abrange os raciocínios necessários. À luz da apresentação tanto da retórica estilista, como da retórica antiga, pretendemos (i) desconstruir uma concepção negativa da retórica, e (ii) apresentar sob qual roupagem este campo de estudo milenar se apresenta na contemporaneidade.

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As Implicações Anti Totalitárias da Faculdade do Pensar na Perspectiva de Hannah Arendt

Camila Silva de Paulo

[email protected] Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Orientador: Dr. José Luiz de Oliveira Eixo temático: Ética e Filosofia Política

A faculdade do pensar é tratada por Arendt de maneira relevante em sua obra A Vida do Espírito, no entanto é ao analisar o julgamento de Eichmann, o partidário do regime totalitário nazista responsável por conduzir milhares de judeus à morte, que ela corroborará em prática as implicações do processo de pensamento reflexivo ou sua ausência. Numa análise dos fatos que poderiam ter levado, não somente Eichmann, mas qualquer um a cometer atos atrozes e inimagináveis, a filósofa alemã pondera sobre as origens e bases necessárias para o surgimento de um sistema totalitário na sociedade. Discorrendo pormenorizadamente desde o processo de massificação do homem, até o momento da obtenção de soldados com obediência “cega e cadavérica”, a filósofa elabora conceitos e análises de suma importância. Arendt salienta que o julgamento e a condenação de Sócrates constituíram um momento decisivo na história do pensamento político, assim como o julgamento e condenação de Jesus constituíram um marco na história da religião. O conceito de banalidade do mal associado a incapacidade de pensar desenvolvido pela autora frente às análises do julgamento de Eichmann, irá configurar a ideia de que a faculdade do julgar se encontra diretamente ligada à faculdade do pensar, se o que se objetiva é um julgamento comedido, sensato e consequentemente sábio, e não um julgamento com bases na alienação. A faculdade do pensar em seu caráter reflexivo, é tal que, pode levar o homem a melhor julgar, e dessa forma abster-se de cometer o mal.

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Sobre Arte e Poesia no Tempo do Niilismo: Uma leitura a partir de O homem sem conteúdo,

de Giorgio Agamben

Carlos Arthur Resende Pereira [email protected]

Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) Orientador: Professor Dr. Bernardo Barros C. Oliveira

Agência de fomento: Capes Eixo Temático: História da Filosofia

Em sua primeira obra, intitulada O Homem sem Conteúdo, de 1970, o filósofo italiano Giorgio Agamben propõe uma discussão sobre a relação entre a entrada da arte no domínio da estética filosófica – evento que pertence à história da modernidade – e a ascensão do niilismo europeu, entendido, grosso modo, como a perda de fundamento para a existência humana, na qual “o ser se destina ao homem como Nada” (AGAMBEN, 2012, p. 100). Aos olhos de Agamben, corresponde a essa perda de fundamento uma modificação no estatuto original da obra de arte, que é mais precisamente uma crise instituída no domínio da poíesis − poesia, especialmente no seu sentido lato de produção do ente na presença. A crise da poíesis pode ter sido preparada pela própria filosofia grega, especialmente com Platão, que não apenas expulsou os poetas de sua cidade ideal, em A República, como também alijou a poesia da esfera do saber. Tal episódio se dá em um diálogo escrito ainda na juventude pelo filósofo grego: o Íon. É a partir do confronto com esse diálogo que se deverá pensar se e como a filosofia pode ter desencadeado a crise que culminou com o que se costuma chamar de "fim da arte": momento no qual a obra, desalojada de seu estatuto original − instaurador de mundo − torna-se mero "objeto" de fruição estética, nos legando, em contrapartida, uma existência desprovida de fundamento e um mundo sem horizonte de transformação. É possível ainda que essa suspeita possa confirmar um pensamento caro ao filósofo alemão Friedrich Nietzsche, para o qual a história do niilismo fora gestada pela própria metafísica ocidental (na contraposição entre arte e conhecimento, por exemplo), além de abrir uma via de entendimento para o seu esforço, que ele partilha com outro filósofo alemão (Heidegger), de pensar o jogo de proximidade e distância entre poesia e filosofia.

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A Democracia como Contrato Moral: Pressupostos da Teoria da Justiça como Equidade

Claudio Henrique Marcos

[email protected] Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Orientador: Luiz Paulo Rouanet Órgão de fomento: Cnpq

Eixo Temático: Ética e Filosofia Política A presente pesquisa investiga a Teoria da Justiça como Equidade de John Rawls com o intuito de descobrir se ela pressupõe um contrato moral. Para isso, precisamos buscar uma visão mais ampla do pensamento do autor. O conjunto da obra rawlsiana, apesar de apresentar uma continuidade, pode ser dividido em dois momentos. O primeiro deles pode ser representado pelo livro Uma Teoria da Justiça e, de forma geral, cultiva uma forte pretensão à universalidade e, ademais, produz a impressão de que Rawls pretende trazer para o escopo da teoria questões e conceitos que ultrapassam o campo da política, em direção a temas como o bem e a natureza humana. O segundo momento é composto pelos escritos que se seguem ao livro O Liberalismo Político, os quais, por motivo de síntese, serão representados pelo artigo A Teoria da Justiça como Equidade: uma teoria política, e não metafísica. Os trabalhos desse segundo momento procuram se restringir ao âmbito político. A pretensão à aplicabilidade universal é abandonada visando especificamente à democracia. Com esse movimento, o autor pretende, aparentemente, evitar a fundamentação de concepções bases para sua teoria, como, por exemplo, a concepção de pessoa, que passa a ser representada pela ideia de cidadão. Assim se evita também a justificação de alguns bens que devem ser defendidos pelas partes contratantes para que a teoria alcance seu objetivo, que é, resumidamente: escolher princípios de justiça que sirvam de guia para reformas nas instituições de uma sociedade minimamente bem ordenada. O próprio autor reconhece, apesar do argumento do véu da ignorância, que defender e saber que defende bens primários como liberdade, igualdade e autorrespeito, é essencial para que se chegue a uma conclusão sobre princípios de justiça. Em ambos os momentos há uma uniformidade quanto às concepções básicas de bem que devem ser defendidas pelas partes contratantes, entretanto, com o movimento apresentado pelo segundo momento do pensamento rawlsiano esse “acordo” se torna mais sutil, algo representado pela simples participação das pessoas na democracia, ou seja, a convivência de pessoas dentro do regime democrático pressupõe a aceitação de certos preceitos, os cidadãos defendem, teoricamente, os bens necessários para que se chegue em uma conclusão na posição original. Assim, após analisarmos ambos os momentos, se ficar estabelecido que há, de fato, um contrato moral do qual a teoria parte como pressuposto, é preciso estabelecer qual a espécie desse contrato e qual sua importância para os fins da teoria.

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Fantasia e Técnica: Notas sobre A Relação entre Razão e Liberdade na Modernidade

Cristiane Valéria da Silva

[email protected] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas –

Universidade Federal de Santa Catarina (PPGICH / UFSC) Orientador: Prof. Dr. Alexandre Fernandez Vaz

Eixo temático: Estética, Filosofia da Arte e Educação A dominação da natureza para o benefício humano tem, desde os seus primórdios, a marca da técnica. É por meio da técnica, primeiramente como meio para um fim, que a espécie humana pôde se desenvolver. Entretanto, na modernidade a relação de dominação do homem sobre a técnica se inverte: para além de mero meio, assume também o lugar de fim e de sujeito da dominação. Neste contexto, partindo das formulações de Horkheimer acerca da instrumentalização da razão na relação entre sujeito e natureza e de Marcuse sobre a faculdade da fantasia – que estabelecem um contraponto com a metapsicologia freudiana –, propõe-se, aqui, tecer algumas considerações acerca das implicações da era da técnica sobre a faculdade da fantasia. No processo de instrumentalização da razão, que estabelece a civilização meio ao princípio da irracionalidade racionalizada, a revolta da natureza é manipulada para manutenção da mesma repressão da natureza por meio da razão – processo de dominação da natureza interna, humana, e da natureza externa, não humana. Nessa dinâmica, a fantasia exerceria, então, uma função crítica frente à repressão, pois, ao mesmo tempo em que recusa aquilo que causa um sofrimento desnecessário, vai em direção às possibilidades da realização da liberdade como fundamento da formação do indivíduo (autoconsciente) – possibilidades que podem estar resguardadas na educação estética. Em uma sociedade que não realiza seu princípio de garantir a segurança e a satisfação de seus membros, a capacidade humana para fantasiar está, por um lado, referida à insatisfação (cisão entre pulsão e objeto) e, por outro, condicionada à capacidade de contato com a realidade que provoca tal cisão. Faculdade acionada no contato com a realidade, quando apenas a primeira condição se faz premente, a fantasia pode levar a um afastamento (fuga) daquilo que faz sofrer, perpetuando tal situação; mas, quando a cisão (pulsão e objeto) e o que a provoca (realidade que dificulta a fruição) são tensionados, esta se potencializa como crítica ao sofrimento, possibilitando ressignificar a própria realidade. Desse modo, cabe questionar, frente à mediação tecnológica, se a tecnização do real transforma a capacidade de fantasiar em mera fuga da realidade – convertendo-se em uma fantasia administrada. Por outro lado, questiona-se ainda se, além de mera fuga, haveria uma possibilidade de fantasiar, no contato com produtos culturais mediados pela técnica, que leve à experiência estética, formativa e não administrada. Assim, pensar as condições que propiciem a fantasia é iluminar pequenos refúgios da liberdade possível na modernidade.

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A Mentira Útil na Republica de Platão

Danielle Ferreira da Rocha [email protected]

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Eixo Temático: Ética e Filosofia Política

Há muito de contemporâneo nos discursos e preocupações propostos por Platão, em suas obras são abordados assuntos até hoje amplamente discutidos, como as relações de amizade, de amor, o que é justiça, importância de um projeto educacional, o papel da política, dentre inúmeros outros. Entre estes temas, destacamos ao longo deste trabalho, a “mentira útil” por vezes chamada de “mentira nobre”, e a pertinência dos estudos deste tema na contemporaneidade Platônica, pois além da compreensão de um tema de enorme relevância em uma obra de extrema importância filosófica, abre-se também a oportunidade de melhor compreensão de como um recurso, pensado há tanto tempo mantém-se instalado em nossa relação com nossos governantes e ainda com a mesma justificativa: a regência da comunidade para um bem comum. Far-se-á também um estudo da relação ou possível quebra de relação que o uso da mentira pode ou não provocar em outros pilares da Republica, como a exemplo a justiça e o saber. Para dar base ao estudo da questão foi utilizado como pilar fundamental a obra “A Republica” da Platão, e um compendio sobre o livro publicado pela universidade de Cambridge, e é baseada na leitura critica e interpretativa destes textos que apresentarei meus argumentos. Fruto dessa analise surgiu a necessidade de delinear em primeiro plano o que seria esse recurso denominado “mentira útil” ou “mentira nobre”, e após a explanação desta questão, uma serie da inflexões referentes a ela começam a se mostrar. O mote final, pra onde ruma a conclusão do trabalho e então uma tentativa de trazer a luz tais questões e justificar o porquê elas serem dignas de questionamento, para posteriormente tentar, dentro da analise critica e interpretativa dos textos, buscar apontamentos que nos mostrem se não uma resposta objetiva delas, ao menos um refinamento de nossas posições diante das mesmas.

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Intencionalidade: A relação entre sujeito e objeto na Fenomenologia de Edmund Husserl

Danilo da Cunha Pontes

[email protected] Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Orientador: Prof. Dr. José Luiz de Oliveira Eixo Temático: Metafísica e Epistemologia

A intencionalidade compreendida dentro da ótica fenomenológica se constitui a partir da relação sujeito objeto, uma vez que esta (intencionalidade) é o “direcionamento para”, isto é, o “visar a alguma coisa”. Deste modo fica evidente que toda consciência é intencional devido ao fato de que sempre visa algo fora de si, propende para algo. Ao postular tais coisas, a fenomenologia vai de encontro à tese de racionalista como Descartes, afirmando que não existe uma consciência pura desmembrada do mundo, uma vez que, toda consciência sempre será sempre consciência de algo. E contrário, aos empiristas, a fenomenologia husserliana preconiza que não existe objeto em si, tendo em vista que todo objeto é para um sujeito que o apreende e lhe significa. Husserl, mesmo reconhecendo o Eu cartesiano como a primeira verdade apodítica, lança fora o modo como Descartes o concebeu, uma vez que, compreende que a consciência é sempre de algum objeto e os objetos só têm sentido para uma consciência. A intencionalidade representa esse direcionamento que a consciência tem em relação ao objeto. Para perceber essa relação, deve-se retornar às intuições originárias, ou seja, ao modo como os fenômenos nos aparecem. Os fenômenos detêm uma multiplicidade de aspectos; no entanto, aparecem na consciência como uma unidade idêntica a si mesma, visto que a consciência tem a capacidade de ligar os aspectos ou estados vividos a outros por meio da síntese. Sendo assim, a proposta desse trabalho consiste em contextualizar as origens do pensamento husserliano, no que tange ao tema da Intencionalidade e das influências recebidas de alguns de seus contemporâneos, bem como, o conteúdo significativo ideal das vivências intencionais. Será abordado o tema intencionalidade e consciência, e como estes apresentam um novo direcionamento de pensar as relações entre homem e mundo (sujeito – objeto). Para tal se fará o uso das obras: Meditações Cartesianas, Investigações Lógicas (quinta investigação) e Krisis.

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Labirintos da Memória: Terrorismo de Estado e Mal de Arquivo

Diego dos Santos Reis

[email protected] Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Agência de Fomento: CAPES Eixo Temático: Ética e Filosofia Política

Apresentado no Colóquio Internacional “Memória, a Questão dos Arquivos”, em 1994, em Londres, Mal de Arquivo, de Jacques Derrida, é o diagnóstico de uma série de sintomas e afetos que envolvem o princípio do arquivo e do arquivamento, bem como a dissimulação, o recalque e a destruição sistemática de arquivos que marcam a construção da narrativa da história recente – e das memórias coletivas -, mormente após as grandes catástrofes que assolaram a humanidade no século XX. A violência experimentada pelos países latino-americanos à ocasião da instauração dos regimes ditatoriais marcou profundamente a singularidade das experiências políticas que se seguiram à restauração democrática. Os golpes de Estado deixaram cicatrizes abertas no corpo social, as quais, mais expostas ou mais escamoteadas, os governos tentam hoje, com maior ou menor eficiência, repará-las. Este trabalho tem por objetivo discutir os processos de constituição das memórias em torno da experiência ditatorial brasileira, de 1964 a 1985, bem como problematizar o golpe de Estado a partir de suas implicações e efeitos nos diversos setores da sociedade civil e na percepção da violência simbólica, sustentáculo da razão de Estado, articulada à prerrogativa da exceção. Desde uma perspectiva genealógica, buscamos trazer à luz algumas questões tangentes à escrita da história e à tensão com as memórias subterrâneas, cujo espaço na historiografia oficial é suprimido, frequentemente, em detrimento das narrativas nacionais, constituidoras de identidades e da coesão social. Tomamos como ponto de partida, nesse sentido, as crises em torno da escrita da história recente do Estado de exceção brasileiro e os debates que gravitam ao redor da Comissão Nacional da Verdade, formada no governo Dilma, em 2012, para a investigação e o esclarecimento de inúmeros episódios de violência ocorridos sob a gestão do governo militar. Nessa comunicação, portanto, trataremos da relação entre arquivos, memória e esquecimento, e suas conexões com o terrorismo de Estado e com a conjuntura de transição do país, desde uma perspectiva histórico-filosófica, considerando a necessidade permanente de uma revisão autocrítica do passado.

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Sobre o Desprendimento (Abgeschiedenheit): Mestre Eckhart e o cotidiano essencial

Douglas Resende da Silva

[email protected] Universidade Federal de Lavras (UFLA)

Orientador: Prof. Dr. Luiz Roberto Takayama Agência Financiadora: CAPES

Eixo Temático: Metafísica e Epistemologia

Ao falar sobre o desprendimento (Abgeschiedenheit), Eckhart fala desde um cotidiano essencial. Pois, o desprendimento, tal como Eckhart o compreende, está radicalmente remetido para a abertura de uma experiência existencial do simples deixar (lassen), isto é, deixar ser o que já sempre se é antes de começar a ser nos modos de apego ao criado. Esse modo do simples deixar ser é “um modo sem modo” (weiselos), desprendido de todo o criado, é um modo que só pode ser apreendido e vivido desde um cotidiano que chamamos aqui de essencial, pois é aquele no qual a criatura é o que ela era antes de começar a ser, isto é, liberdade e desprendimento. Desprendimento cuja essência remete para um abandono existencial, um estar em si, retraído de toda exterioridade do criado. Retraimento que não pode ser compreendido como uma fuga, “saída” do mundo, mas é antes um estar, ser no mundo desde aquilo que lhe é mais próprio e essencial – o desprendimento. Esse modo se constitui como um modo de estar, ser junto as coisas em abandono ao deixar ser o que já sempre se é antes de começar a ser. Modo que pode ser evidenciado e expresso na atitude da cara Marta diante da vida (Sermão 86). Marta é aquela criatura (ser) que “está no mundo, mas o mundo não está nela”, o que significa dizer que ela está no mundo desde uma atitude desprendida de todo o criado. Atitude que é a expressão mesma da interioridade no exterior: um pôr-se no mundo desde o interior, desde aquilo que lhe é mais próprio e essencial. Por isso Marta é aquela criatura que se abre para a existência de modo mais originário, ela acolhe a existência na sua essencialidade, deixando ser pura e simplesmente liberdade e desprendimento. A questão que se abre para nós é a de tentar caracterizar o desprendimento na atitude da cara Marta que se abre para a existência desde o cotidiano essencial.

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A proposta de um Segundo Humanismo e o amor como fundamento das relações humanas na perspectiva filosófica de

Luc Ferry

Douglas Willian Ferreira [email protected]

Mestrando em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Agência de Fomento: FAPEMIG

Eixo temático: Ética e Filosofia Política

Do Iluminismo à contemporaneidade o humanismo mudou suas perspectivas e fundamentos: se a supervalorização da racionalidade humana foi o que caracterizou o humanismo das luzes, com a desconstrução da metafísica efetuada por Nietzsche, Heidegger e Marx houve o fim dos determinismos naturais e históricos, mostrando que o homem, ao se distanciar das limitações naturais, se torna capaz de juízos de valor, de consciência e de realização de um projeto de vida. No entanto, a desconstrução levou o homem a uma total falta de sentido, afinal toda a heteronomia e as imposições morais tradicionais, como a religiosa, se viram findadas. Nesse contexto é que o homem pós-moderno revisitará as propostas humanistas, mas de uma maneira diferente, a saber, a razão cederá espaço para a subjetividade. Nasce assim um Segundo Humanismo, onde o amor se torna o elemento distintivo do homem contemporâneo. Como prova dessa mudança histórica surgem as ações humanitárias no seio das sociedades democráticas, expressão social da mudança radical acontecida no seio familiar, ou seja, o surgimento do matrimônio por amor. Alcançando tal liberdade o homem poderá dar significação à própria vida através da escolha livre de seus projetos, a permanente preocupação com o outro, e ao mesmo tempo, tendo diante de si a triste realidade da finitude. Diante de tais mudanças Luc Ferry propõe um Segundo Humanismo, republicano e laicista, que possibilitará ao homem buscar a resposta à seguinte questão: O que é uma vida boa para nós mortais? Resposta encontrada na transcendência do outro através da vivência de uma espiritualidade laica, sem Deus e sem a religião, pautada na filosofia como soteriologia e na subjetividade humana que culminará na construção da figura do homem-Deus.

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O Perspectivismo Nietzschiano na Interpretação de Leo Strauss

Elvis de Oliveira Mendes

[email protected] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Orientador: Richard Romeiro Eixo Temático: Ética e Filosofia Política

O objetivo da comunicação é refletir acerca do significado perspectivismo nietzschiano, à luz da interpretação proposta pelo filosofo político teuto americano Leo Strauss, em seu ensaio “Note on the Plan of Nietzsche’s Beyond Good and Evil”. Neste sentido, trata-se de observar como, segundo Strauss, o perspectivismo de Nietzsche deve ser compreendido não como a proposição de um relativismo integral (o que seria uma contradição flagrante e pueril), mas como uma concepção filosófica mais complexa e refinada, que, desvelando o caráter essencialmente antropomórfico de todas as valorações e concepções humanas, pretende ter apreendido, ao mesmo tempo, uma verdade que não é mais antropomórfica ou forjada pelo homem, mas sim desumana e cruel, não sujeita, pois, ao relativismo das perspectivas. Isso significa, na leitura elaborada por Strauss, que o perspectivismo nietzschiano atuaria em dois registros diferenciados: por um lado, ele desvelaria o caráter relativo e, portanto, essencialmente interpretativo e perspectivo das verdades humanas, i. e., das verdades relacionadas ao mundo da moral, da ordem e da racionalidade; por outro, ele pretenderia ser um insight filosófico privilegiado que apreende a “verdade de todas as verdades”, i. e., um insight filosófico que, indo além de todas as interpretações, mitos e construções humanas, indo “além do bem e do mal”, atinge a compreensão de que não há um texto por trás das interpretações, de que não há uma coisa em si e de que, portanto, o real é absurdo e irracional. Ora, na ótica straussiana, Nietzsche teria percebido que uma verdade dessa natureza é terrível, absurda e inumana, algo, pois, que pode se converter em um fardo insustentável para o homem. Assumindo esse ponto de vista, o pensamento nietzschiano, na interpretação de Strauss, teria sido conduzido à ideia de que há, pois, um perigo letal inerente à verdade e ao conhecimento, desembocando na concepção de que mesmo que toda ordem, todo valor e toda moral sejam reconhecidos como fruto da criatividade humana, eles têm de ser admitidos, porém, como necessários para a manutenção de uma atmosfera protetora da existência, a fim de garantir a vida humana em sociedade tal como ela é. Na contramão de leituras menos atentas da obra de Nietzsche, Strauss consegue captar, assim, uma dimensão política e construtora de valores no pensamento nietzschiano, que supera totalmente a possibilidade de um relativismo radical ou de um perspectivismo absoluto. Eis o que pretendemos explorar em nossa comunicação.

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O Fetichismo, O Esquematismo e A Conformidade A Fins Sem Fim na Dialética do Esclarecimento

Fábio César da Silva

[email protected] Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG)/ Unidade Ibirité

Eixo Temático: Estética, Filosofia da Arte e Educação Nesta comunicação, apresentarei uma leitura da Dialética do Esclarecimento (1947) de M. Horkheimer (1885-1973) e T. W. Adorno (1903-1969) articulando o conceito de fetichismo com os termos kantianos conformidade a fins sem fim e o esquematismo. Meu o objetivo é esclarecer a afirmação dos autores de que as obras de Arte autêntica não se acomodam devidamente na indústria cultural por suas características especiais. Os autores elaboraram o conceito de fetichismo estabelecendo uma original imbricação entre o fetichismo marxiano e o fetichismo freudiano, além de relacioná-lo ao termo kantiano conformidade a fins sem fim. Para isso, eles se ativeram especificamente às questões da mercantilização dos bens culturais, ao modo de funcionamento da produção e do consumo de mercadorias culturais sob os auspícios da indústria cultural. Logo, o fetichismo seria o modus operandi dessa indústria que sofisticou a reprodutibilidade técnica a patamares até então impensáveis. Seria sob essa perspectiva que se pode afirmar a existência do fetichismo da mercadoria cultural relacionado à crítica cultural, à Arte. Para os autores, estabeleceu-se uma dicotomia entre as obras de Artes autênticas e as mercadorias culturais devido às suas respectivas finalidades serem distintas. A finalidade das obras de Arte se caracteriza pela finalidade sem fim da fruição estética que resulta do esforço próprio do sujeito num “jogo livre” entre as faculdades da imaginação e do entendimento através de juízos reflexionantes. Isso quer dizer que uma fruição estética não seria pautada pela conformidade a fins, ou seja, o objeto belo não seria o efeito de uma utilidade, não teria um conceito que lhe desse causa. Por sua vez, a finalidade das mercadorias culturais se caracteriza pelo fetichismo da mercadoria, pela prevalência do valor de troca sobre o valor de uso, condicionando os sujeitos a receberem passivamente bens culturais para maior lucratividade. Para que isso aconteça, usam-se um tipo de esquematismo como uma pseudomorfose com alta potencialização de reprodutibilidade técnica nas campanhas da indústria cultural, isto é, ela proporciona uma cultura, que deveriam ser moldada por juízos reflexionantes, moldada de maneira similar aos juízos determinantes da ciência. Essa pseudomorfose é patente por que os juízos reflexionantes do âmbito artístico são formulados de maneira dialógica e comunitária, diferentemente dos juízos determinantes do âmbito científico que são formulados através de um conceito que lhes dê causa, que lhes determine, fazendo com que seja improvável postular visões distintas de um objeto sem ferir os pressupostos do objetivismo científico.

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Das Benéfices da Novilíngua

Francisco Otávio Veloso de Brito Xavier [email protected]

Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) Eixo Temático: Linguagem e Mente

O livro 1984, do autor inglês de origem indiana George Orwell, é uma das obras de ficção mais influentes do século XX, tendo servido de inspiração, influência e referência para trabalhos em inúmeras áreas tanto das Artes quanto das Ciências Humanas e na Filosofia. A novilíngua (ou novafala, dependendo da tradução. Newspeak no original em inglês), idioma fictício apresentado no livro, é uma das críticas mais inteligentes feitas por Orwell em sua obra, onde ele mostra uma dominação política de um partido totalitário através do controle da linguagem. A principal questão levantada pelo autor ao trabalhar o conceito da novilíngua é a de que a linguagem é fundamental para a estrutura do pensamento, e por isso ao ser limitada, tornaria aqueles suscetíveis a tal linguagem incapazes de formar pensamentos vistos como transgressores pelo Partido. Limitando-se a quantidade de palavras no vocabulário, limitar-se-ia também o pensamento em si. Entretanto, nossa pretensão nesse trabalho é de demonstrar uma visão diferente da Novilíngua, e de como ela poderia ser benéfica, se aplicada a um contexto diferente daquele vislumbrado por Orwell. Através de uma análise da linguagem como símbolo, a partir da teoria da Gramática Gerativa do linguista e filósofo americano Noam Chomsky, e da escola de pensamento do Imaginário, além de profundas influências da Arquetipologia do psicanalista suíço Carl Gustav Jung, e de alguns conceitos do filósofo francês Jean Baudrillard, pretendemos demonstrar que, ainda que a evolução natural e orgânica de um idioma seja obviamente em direção à expansão e ao acumulo de novos elementos em seu vocabulário, o caminho contrário poderia influenciar os indivíduos afetados por tal linguagem de tal maneira que pudesse aumentar a criatividade e a tenacidade em direção à realização de novos objetivos, além de influenciar uma maior relação de indivíduo com o real, para além das prisões simuladas dos símbolos.

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Do Sonho à Embriaguez: Apolíneo e Dionisíaco, uma Concepção do Trágico na Filosofia Nietzschiana

Gabriela Ferreira de Andrade

Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Orientadora: Profa. Dra. Glória Maria Ferreira Ribeiro (UFSJ)

Agência de Fomento: MEC/SESu Eixo temático: Estética, Filosofia da arte e Educação

O presente trabalho tem como objetivo explicitar os fenômenos do apolíneo e do dionisíaco que, para Nietzsche encontram-se na origem da tragédia grega. Para Nietzsche a tragédia grega deve ser compreendida como sendo “o coro dionisíaco a descarregar-se sempre de novo em um mundo de imagens apolíneo”. Através da análise da obra “O Nascimento da Tragédia ou Helenismo e Pessimismo” (1872), podemos observar que o universo onírico caracteriza o mundo originário de Apolo com toda beleza, harmonia e medida próprias desse deus olímpico. O universo apolíneo se distingue radicalmente da embriaguez que emerge como uma manifestação fisiológica do estado de Baco ou Dionísio – divindade que traz em si a marca da desmedida, do caos e da dissolução do indivíduo. Segundo o nosso autor, é da tensão dessas duas divindades que se origina a tragédia, ou seja: quando os horrores próprios da existência (que encontram a sua expressão mais crua em Dionísio) são dissimulados pela ilusão da beleza e da medida (características que estão presentes em Apolo) é que se torna possível o nascimento da arte - que para Nietzsche é um valor mais radical que a verdade. Segundo Nietzsche, os gregos tinham uma consciência dos elementos reais da vida, tais como os aspectos negativos que se expressam na própria condição do existente humano, cuja única certeza é a morte. Dá a fala do Sileno no começo da obra para nós em questão “Estirpe miserável e efêmera, filhos do acaso e do tormento! Por que me obrigas a dizer-te o que seria para ti mais salutar não ouvir? O melhor de tudo é para ti inteiramente inatingível: não ter nascido, não ser, nada ser. Depois disso, porém, o melhor para ti é logo morrer”. (NIETZSCHE, 2013, p. 33). A morte como inerente ao fenômeno vital é uma das principais características de Dionísio. Daí a necessidade de Apolo estar em constante tensão com essa divindade. Apolo trás a beleza para amenizar o caráter efêmero da existência. Ele é a potência artística. A arte é a ilusão que se sabe ilusão - a ilusão necessária para que o homem possa suportar a sua existência. Dessa maneira, via-se a vida otimizada ao transformar a realidade através da arte, utilizando duas formas em tal processo, a ordem apolínea e o caos dionisíaco, no qual, ambos se relacionam de uma forma equilibrada, sendo que um não pode permanecer sem o impulso do outro.

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Leo Strauss e o Problema do Melhor Regime

Hugo Araújo Prado [email protected]

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Eixo temático: Ética e filosofia política

Leo Strauss se forma no ambiente intelectual alemão, onde assistiu cursos de Heidegger. Tem como ponto de convergência com este a análise da filosofia antiga e sua relevância para contemporaneidade, contudo as diferenças de suas posições são evidentes. Se Heidegger busca um retorno aos pré-socráticos, Strauss busca enfatizar a importância do giro Socrático para a tradição da civilização ocidental como um todo. Desse modo Strauss figura como um crítico veemente do pensamento de Heidegger. A imigração forçada com a ascensão nazista o leva a tornar os Estados Unidos sua casa. Neste país liga-se às instituições: “Universidade de Chicago” e “New School for Social Research” e constitui escola. Uma das posições mais conhecidas de Leo Strauss é aquela da necessidade da filosofia política na contemporaneidade, o que ele toma como um projeto intelectual e, não é forçado dizer, pessoal. Uma das principais posições envolvidas nesse projeto é a da restituição da pergunta sobre o melhor regime. O autor recorda a centralidade conferida pelos clássicos ao fenômeno chamado regime, indicando que o mesmo pode ser tradução do termo politeia. Hodiernamente, o termo civilização passou a atuar como o substituto do regime, o que, no lugar de fornecer diferenciações politicamente relevantes, tratou de embaçá-las (NRH, 138). Além disso, ao se traduzir o termo regime, passou-se a adjetiva-lo com o termo ideal, tornando-o sinônimo daquilo que é conhecido como utopia. Em aberta negação a essa desqualificação, Strauss defende a restituição da validade do termo regime, bem como a necessidade da pergunta pelo melhor regime. A noção de temporalidade que opera na ação política para Strauss é a da eternidade, noção que pode ser lida em aberta polêmica à temporalidade do dasein de Heidegger. Strauss sustenta a existência de parâmetros trans-históricos e de uma normatividade prescritiva. Contudo, não enuncia quais seriam as principais normas de ação. O autor enfrenta essa questão, o problema da mutabilidade do direito natural, por meio de um debate entre Platão e Aristóteles. Não há regras de ação universalmente válidas, mas há uma hierarquia de fins universalmente válida (NRH, p. 162). Nesse contexto aparece a afirmação de Strauss que se tornou objeto de polêmica na literatura secundária, especialmente devido a um texto de Drury, a de que “o melhor regime consiste no governo absoluto do sábio”.

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Escravidão, Natureza e Liberdade em Aristóteles: O que nos torna livres?

Isis Bruna da Costa Correia

[email protected] Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Orientador: Francisco José Dias de Morais Agência de fomento: CNPQ

Eixo temático: Ética e Filosofia Política

A questão da escravidão e da liberdade em Aristóteles não é, de fato, uma questão de direito, pois para ele não basta um contrato estabelecendo o direito de liberdade a todos, para que existam realmente pessoas livres, assim como também não será a condição de alguém como escravo perante a lei que tornará essa pessoa um escravo. O homem livre é livre justamente por não se satisfazer apenas com as metas postas pela natureza, sentindo a necessidade de traçar também suas próprias metas, diferente do escravo, que muita das vezes pode se encontrar até em uma posição social elevada. Para Aristóteles, a escravidão não é uma deficiência natural, muito pelo contrário. Segundo ele, todos possuem a mesma possibilidade dada pela natureza de amadurecerem racionalmente, mas para que essas possibilidades se concretizem em algo real, o crescimento racional deve ser permitido, e no caso do escravo este foi prejudicado em algum momento do seu processo educativo. Nota-se que estamos falando, portanto, de um algo a mais que não é dado pela natureza. Dessa forma, faz sentido ver esta alma servil do homem como algo tão natural, ao ponto que este não se sente desconfortável com esta situação, muito pelo contrário, ele se põe na posição de escravo, sem que haja necessidade de qualquer tipo de violência ou coação, diferente daquele que é escravo por lei. É através dessa compreensão do escravo natural de Aristóteles, que o trabalho pretende pôr em questão toda a crença de liberdade dos dias atuais. Será que a constituição basta para nos considerarmos homens livres? Ou melhor, será que ela possui autoridade para constituir alguém livre? Já que a coisa não está se dando em esferas jurídicas, essa crença de uma lei que assegura a liberdade de todos é derrubada de imediato. Além disso, se torna muito ilusório querer reparar aspectos naturais, por meio de contratos. E quando digo aspectos naturais, me refiro à condição que o homem é colocado de antemão. Sendo assim, a liberdade humana está intrinsecamente ligada à responsabilidade que o homem deve assumir com a sua natureza deliberativa juntamente com seu processo educativo.

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A Correspondência entre Linguagem e Ideias no Nominalismo de Semelhança A Evolução do Problema da Formação dos

Termos Gerais

Ísis Esteves Ruffo Claudio Henrique Marcos

[email protected] Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Eixo temático: Linguagem e Mente O problema dos universais acompanha o pensamento desde seus primórdios e está intrinsecamente ligado com nossa forma de pensar e de construir conhecimento. Pode ser caracterizado pela tentativa de encontrar uma solução para o problema de adequação entre linguagem e ideias. Termos gerais são indispensáveis para o conhecimento e mais ainda para a comunicação, mas como pode uma ideia particular referir-se a inúmeros outros particulares? Apesar de esta questão ter sido mais efetivamente formulada na Idade Média partiremos aqui da discussão ambientada entre alguns modernos e a traremos para a contemporaneidade para conhecer um dos rumos que este problema assumiu. Entre os empiristas as posições que defendiam a existência de universais eram problemáticas, pois estes seriam conhecimentos não derivados da experiência, dentro desta perspectiva teremos George Berkeley abordando a questão por meio de uma posição critica as conclusões alcançadas por John Locke: que as ideias gerais eram formadas por abstração das características particulares, mas que segundo Berkeley seriam impossíveis, em oposição a isso ele sugere então a ideia de grupos de particulares que podem ser incorporados sob o mesmo nome; David Hume assume esta posição de Berkeley acrescentando a ela a noção de “semelhança” como elemento que permite agrupar os particulares em grupos, temos então nessa formulação de Hume nosso principal foco que pode ser expresso como um nominalismo de semelhança. Em seguida analisaremos os argumentos de Bertrand Russell contra este tipo de nominalismo, argumento que ameaça também outras teorias que se ocupam dos universais. Esta famosa objeção se refere à própria origem da ideia de semelhança, sendo que ela própria não pode ser explicada pela formulação de David Hume e que, portanto, exige a admissão de pelo menos um universal, ela própria. No que seria o ápice desta discussão Gonzalo Rodriguez-Pereyra assume uma posição de defesa ao critério de semelhança -atacado por Russel- sem se lançar a um tipo de Universalismo.

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Violência nos Campos de Concentração Versus Fenômeno da Banalidade do Mal

Jéssica Tatiane Felizardo

[email protected] Universidade Federal De São João Del Rei (UFSJ)

Orientador: Prof. Dr. José Luiz de Oliveira Eixo Temático: Ética e Filosofia Política

O presente trabalho almeja explicitar a abordagem arendtiana acerca da violência caracterizada nos campos de concentração versus a tópica do fenômeno da banalidade do mal. Hannah Arendt (1906-1975) aponta, em sua obra “Origens do totalitarismo” (1989), os tipos de violência inerentes aos campos de concentração. Segundo a perspectiva da autora, não existiu nada comparado a esses espaços de dominação total. Trata-se de locais que possuem como referência a desconstrução da humanidade do homem, isto é, no seio desse sistema de dominação, o indivíduo perde a sua identidade no que tange aos seus sentimentos de pertença a um determinado espaço público em meio ao isolamento e à solidão. Interessa-nos demonstrar que a banalidade do mal se encontra presente nos atos e nas ações dos autores das violências cometidas nos campos de concentração. Esse tipo de mal é analisado pela pensadora alemã e é direcionado para a análise acerca da política. Salienta Arendt que, ao perder a capacidade de reflexão devido a ausência de pensamento, o homem tornou-se massa amorfa e, consequentemente, apegou-se a regras de conduta prescritas pela ideologia totalitária. Os atos de violência, nos campos de concentração, eram cometidos por agentes do nazismo desprovidos de reflexão, ou seja, da incapacidade de pensar. Podendo denotar-se com o que ocorreu com o sujeito Eichmann no inquérito em Nuremberg. Eichmann era tomado pelos seus clichês, apresentava-se na condição de um burocrata do nazismo, isto é, cumpria, nitidamente, as ordens que lhe eram prescritas. Sua função como oficial do nazismo era a de transportar os judeus para os campos de concentração, ou seja, para a solução final. A pensadora analisa que este "mal" está relacionado à incapacidade de pensar de Eichmann, pois é o que ela irá chamar de "banalidade do mal". Por essa razão, tal análise nos levará a compreender que a violência vivenciada nos campos de concentração está relacionada com o fenômeno da banalidade do mal enquanto fruto da incapacidade de pensar.

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A Ditadura Brasileira em Questão: Considerações sobre o Regime Militar Brasileiro

João Pedro Andrade de Campos [email protected]

Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Orientador: Prof. Dr. José Luiz de Oliveira (UFSJ)

Agência de Fomento: PIBIC/CNPq. Eixo temático: Ética e Filosofia Política

Durante os 21 anos que compreendem o período de 1964 a 1985 o Estado brasileiro viu-se entregue ao poder militar. O golpe realizado pelos militares em março de 64 redesenhou o cenário político nacional. Em decorrência das abruptas transformações sociais, econômicas e políticas enfrentadas durante “os anos de chumbo” nos propomos neste trabalho a tecer algumas considerações acerca das particularidades deste regime governamental. Como guia para realização de nosso trabalho, nos orientaremos, principalmente, pela ótica da pensadora alemã Hannah Arendt. Iremos investigar, a partir da visão arendtiana, aspectos relativos à massificação dos indivíduos, ao uso excessivo da força, tanto em seu sentido físico como também no psicológico, exercendo assim, um papel coercitivo e de afirmação da ideologia propagada pelo regime ditatorial em estudo. Tendo ainda como norte as reflexões políticas de Arendt, buscaremos expor questões relevantes referentes ao descaso da população em geral para com questões de ordem pública, coletiva e política. Neste sentido, será necessário de nossa parte, apresentar, de maneira clara, o que distingue a estrutura de alguns sistemas de governo e, preferencialmente, o que aproxima e afasta ditadura e totalitarismo, uma vez que os dois sistemas citados parecem confundir-se. Após a feitura das considerações referentes à obra da pensadora alemã, nos direcionaremos a um segundo momento de nosso trabalho. Com o auxílio da obra O que resta da ditadura, composta por textos organizados por Edson Teles e Vladimir Safatle, direcionaremos nosso olhar para elencar possíveis elementos que, mesmo após o fim do governo militar, parecem ainda estar presentes em nossa sociedade. Além das obras já citadas, julgamos necessário, também, a utilização de fragmentos de depoimentos apresentados à Comissão Nacional da Verdade (CNV), bem como do livro Brasil Nunca Mais, Desta forma, desenvolveremos este trabalho, respaldando-nos em uma bibliografia concisa que fornece substrato suficiente para tecermos apontamentos acerca do período no qual o Brasil viveu uma ditadura militar.

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O trunfo empírico do Homo sapiens em sua capacidade de comunicar-se

Jonas Moreira de Andrade Neto

[email protected] Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)

Eixo Temático: Linguagem e Mente Por muitas vezes vimos que os sentidos nos eram enganosos e sua subjetividade sensorial não podia ser dada como forma de validar ou nos certificar acerca dos mais variados objetos de estudo. Essas faculdades sensoriais, principalmente na modernidade, foram perdendo espaço para as faculdades racionais, as quais trabalhavam de maneira muito mais assertiva no instante de se fazer um juízo acerca de algo, contudo, essa capacidade racional que o homem usa ordinariamente, da forma como concebemos a razão, não é uma capacidade inata, mas uma potencialidade que só se torna viável no nível de sofisticação que conhecemos, mediante estímulos oriundos do sensível. Numa perspectiva empirista, embasada na Teoria do Conhecimento proposta pelo filósofo inglês John Locke, o trabalho seguinte se propõe analisar a linguagem num prisma sensorial, em como os sentidos são estimulados e ajudam ao homo sapiens edificar de maneira complexa sua capacidade de pensar, ou seja, de trabalhar com as informações empíricas que seu cérebro recebe mediante os estímulos sensoriais. Partindo da base de dados que o sistema empírico de Locke nos possibilita, vemos a capacidade magnífica que a linguagem carrega consigo no que tange a ampliação das possibilidades de experiência possível que um indivíduo por ter. Sendo esse indivíduo fruto das suas próprias experiências, ele passa a multiplicá-las pelas trocas de experiência com outros indivíduos através da linguagem, sendo essa linguagem pertencente aos mais variados meios de difusão, indo desde pinturas rupestres a codificações binárias, uma vez que cada forma de linguagem possui seus próprios códigos e sistemas de ordenação. A linguagem assim tem papel fundamental na construção do homem, que só é possível mediante ao outro. Trabalhando conjuntamente com as faculdades sensoriais e racionais ela, a linguagem, extrapola as limitações físicas, sensoriais e espaciais que o indivíduo está sujeito, propiciando assim, das mais variadas formas, um caminho para que a troca de experiência entre esses indivíduos, possa propiciar o conhecimento que se forma de maneira exponencial à medida que as gerações passam e novas formas de saber nascem. O trabalho aqui proposto visa identificar como, de acordo com a Teoria do Conhecimento de John Locke, a Linguagem trabalha como fundadora do ser humano, ou como a mesma trabalha no processo de humanização do Homo sapiens, propiciando que o mesmo reproduza as experiências apenas por intermédio da mente e da linguagem, codificada ou não.

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Ética e Estética na Shoah: entre a Proibição de Representar o Inimaginável e a Necessidade de Representá-lo

Jorge Benedito de Freitas Teodoro

[email protected] Doutorando em Teoria Literária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Eixo temático: Estética, Filosofia da Arte e Educação Considerando a Shoah, isto é, o extermínio de judeus na Alemanha Nazista entre os anos de 1933 e 1945, como evento paradigmático que provocou um corte transversal na história da humanidade, essa comunicação objetiva pensar as implicações éticas nas tentativas artísticas de representação do evento. Nesse sentido, pretendemos contrapor duas visões diferentes sobre o ocorrido: 1) a defendida pelos teóricos iconoclastas de que a representação do evento seria impossível, devido a incomensurabilidade da monstruosidade do extermínio organizado e executado à maneira industrial, fator que determinaria a Shoah como algo da ordem do irrepresentável, do inimaginável; e 2) a necessidade de, mesmo frente ao mal em sua escala mais radical, devemos imaginar o ocorrido e, de certo modo, representá-lo. Sendo assim, buscaremos, a luz do dictum apresentado pelo filósofo Theodor W. Adorno no ensaio “Crítica cultural e sociedade”, discutir os argumentos de ambas as correntes acerca da representação da Shoah, levando em consideração não apenas as implicações éticas de uma possível banalização do evento com a massificação da produção de imagens acerca das atrocidades cometidas pelo regime Nazista, como também, o perigo do esquecimento e da repetição do acontecimento devido à escassez de representações da Shoah. Deste modo, circularemos em ambos os campos, isto é, desenvolveremos os argumentos tanto daqueles que teorizam sobre a proibição das imagens, como por exemplo, os argumentos de José Antônio Zamora e a filmografia de Claude Lanzmann, especificamente o filme Shoah (1985), quanto os argumentos que procuram defender a necessidade de representar o acontecimento com a finalidade de que sejam produzidas reflexões sobre a barbárie em seu estado mais extremo, corrente defendida, sobretudo, pelo filósofo e historiador da arte Georges Didi-Huberman, partidário de uma espécie de imperativo da imaginação frente à barbárie, imperativo desenvolvido, principalmente, na obra Imagens apesar de tudo (2012) e no ensaio “Cascas” (2013).

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Diante do abismo: arte contemporânea, política e gesto

Juliana de Moraes Monteiro [email protected]

Universidade Federal Fluminense (UFF) Orientador: Dr. Cláudio Oliveira

Agência de Fomento: FAPERJ Eixo temático: Estética, Filosofia da Arte e Educação

O presente trabalho explora a relação entre o estatuto da obra de arte na contemporaneidade e a obra de Giorgio Agamben, pontuando o gesto, enquanto um conceito privilegiado forjado pelo filósofo, como basilar para compreender a arte no nosso tempo. Assim, ao longo de sua obra, o filósofo italiano mapeia as três dimensões nas quais a atividade humana pode ser compreendida – fazer, agir, gerir- para diferenciá-las e entender cada uma delas se estruturou. A partir de um estudo arqueológico que remonta ao mundo grego, passa pela modernidade e culmina, finalmente, na relevância dessa diferenciação para a contemporaneidade, Agamben sanciona a tese de que é impossível aceder a uma nova política sem levar em conta como as principais categorias nas quais nos constituímos como seres políticos foram organizadas historicamente. Sendo assim, o presente artigo, ao recuperar a exposição de Agamben, investiga a implicação dessa distinção no que diz respeito à atividade artística, enquanto um exemplo eminente de todo fazer humano, a fim de compreender como a arte se mostra como um campo paradigmático para colocarmos em xeque nossas ações no mundo e repensarmos nossos próprios papéis sociais.Desse modo, pretende-se inferir como a formulação do conceito agambeniano de gesto – palavra que deriva do verbo latino gerere(gerir) – é fundamental para pensar a esfera mais própria da arte no mundo contemporâneo.Além disso, o conceito de gesto será exemplificado a partir de um estudo de caso da obra Aliento, do artista colombiano Oscar Muñoz, que consiste em uma série de espelhos circulares que, caso sejam soprados, apresentam fotografias retiradas de obtuários.Sendo assim, pretendo correlacionar o gesto do artista, a recepção do espectador e o fato da obra de arte só poder advir enquanto obra a partir do lugar limítrofe no qual estas três instâncias se situam, apontando assim para o fim do regime estético como horizonte de compreensão da arte.

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O Excursus Filosófico: Metafísica, Política e Educação Segundo a Filosofia de Platão

Leander Alfredo da Silva Barros

Universidade Federal de São João del-Rei (UFS) Orientador: Dr. Luiz Paulo Rouanet (UFSJ)

Órgão de Fomento: FAPEMIG Eixo Temático: História da Filosofia

Considerada por muitos estudiosos como apócrifa, a Carta VII de Platão não deixa de ser um objeto de estudo quando se deseja prosseguir na investigação da filosofia que marca os séculos IV e V a.C. Esta obra é, por alguns, considerada fiel expositora dos ideais que marcam o pensamento platônico. O que torna a Carta VII relevante é a manifesta crítica de Platão à escritura dos assuntos filosóficos, exposta em (341b-c), e que gera discussões quando se detém o investigador na criteriosa questão que envolve o dilema: escrita-oralidade em Platão. Tomando por um lado a defesa de doutrinas esotéricas em Platão, paradigma postulado em grande parte pelos tubingenses no século XX e as suas interpretações acerca de semelhante obra, nosso objetivo é a análise destes paradigmas e a verificação de suas hipóteses a partir da filosofia de Platão exposta também em seus diálogos, lugar no qual ainda hoje estão centradas nossas investigações. A partir de tal análise, poderemos constatar o grau de verificabilidade de tal esoterismo, no que tange aos primeiros princípios da filosofia. Já, por outra vertente, pretendemos aproximar a filosofia platônica daquela de Sócrates, atestando uma possível unidade entre a filosofia deste último: “o professor sem instituição”, que se traduz no exercício da dialética, realizada sob os fins do âmbito público (pólis). De acordo com nossas interpretações, torna-se visível o caráter metafísico, ético, político, e pedagógico da filosofia platônica exposta na Carta VII, que parece estar de acordo com o diálogo Fedro (274d-ss) no qual a crítica à escrita é sobrepujada em vista da oralidade, no caso a filosófica. Esta mesma oralidade que se revela presente propriamente na dialética, distante de qualquer prática escrita/ retórica, como no caso as praticadas amplamente pela sofística na elaboração de seus discursos. Dilema este, que diverge afirmações acerca dos ideais pretendidos por Platão, quando o filósofo faz referências - em sua obra - à impossibilidade da escrita de assuntos filosóficos, e ao mesmo tempo por intermédio de seus diálogos, pela boca do personagem Sócrates, procura forjar um estilo próprio de filosofar que inaugura a metafísica clássica.

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Considerações de Norberto Bobbio acerca da Construção da Ditadura Fascista na Itália

Ludovyco José Viol Moras

[email protected] José Luiz de Oliveira

[email protected] Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ)

Eixo temático: Ética e Filosofia Política

A sociedade italiana do século XX foi marcada pelo advento do autoritarismo fascista. Este tipo de ditadura foi se efetivando com características de governo antiparlamentar, antiliberal e antidemocrático. Norberto Bobbio, pensador italiano de destaque na filosofia política contemporânea, denominou esse processo de facistizzazione dello stato (fascistização do Estado). O presente trabalho tem por objetivo abordar o caminho percorrido por Bobbio no intuito de registrar como ocorreu a construção da ditadura fascista na Itália. Para tanto, explicitaremos que tais abordagens são precedidas pela exposição de Bobbio a respeito da importância que o chamado Estatuto Albertino teve na formação do Estado italiano, fundado por via da unificação daquele país, a partir da segunda metade do século XIX. O processo de destruição das liberdades pelo fascismo foi se constituindo e atingindo aos poucos o conjunto que formava as inúmeras liberdades individuais. Nessa perspectiva, encontramo-nos diante de um lamento de Norberto Bobbio, que ecoa devido ao abandono de elementos referenciais de natureza democrática que foram conquistados pelos italianos, ainda na vigência do chamado Estatuto Albertino, e que deram lugar à construção de um governo ditatorial de natureza fascista na Itália da primeira metade do século XX. Interessa-nos enfatizar que o advento do fascismo representou o fim da era do Estatuto Albertino, bem como, demonstrar as análises encaminhadas por Bobbio no que tange à existência de fundamentação teórica nas abordagens dos críticos à democracia. É importante salientar que, para se contrapor ao Estado ditatorial fascista, Bobbio fundamenta a democracia na liberdade. A filosofia política de Norberto Bobbio enfatiza a democracia, valorizando-a como contraposto aos elementos da ditadura do fascismo. Esse pensador político contemporâneo evita cair no reducionismo hermenêutico. Bobbio segue procurando fazer análises filosófico-politicas que possam contribuir com os princípios norteadores da democracia. Nossa atenção voltar-se-á para aquilo que o pensador de Turim denominou de crítica reacionária à democracia sob o ponto de vista filosófico.

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A Questão da Tolerância no Caso Bowers versus Hardwick

Marcela Borges Martinez

[email protected] PPGFIL da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Orientador: Luiz Bernardo Leite Araujo Agência de Fomento: FAPERJ

Eixo temático: Ética e Filosofia Política

Em A virtude soberana (2005), Ronald Dworkin desenvolve um interessante debate com os comunitaristas em defesa da tolerância liberal. Baseando-se sempre no mesmo caso [Bowers versus Hardwick, quando a Suprema Corte sustentou a lei da Georgia que considera a sodomia crime. 478 U.S. 186 (1986)], ele destaca quatro argumentos utilizados nas críticas comunitaristas. O objetivo da comunicação é investigar se o conceito de tolerância sobrevive aos ataques. Dworkin chega às seguintes questões: “Até que ponto podemos considerar a comunidade política – uma nação ou um Estado – algo que tem vida comunitária na perspectiva prática?” De que é composta a vida comunitária de uma comunidade política? A tese de Dworkin é que ela é apenas uma vida política formal, a qual contém seus atos políticos oficiais (legislar, adjudicar, impor a lei e funções executivas do governo). Veremos que, da forma colocada por Dworkin, a tese liberal da primazia do justo sobre o bem emerge como parte da moralidade política de uma comunidade, com força capaz de integrar. As concepções de tolerância como respeito mútuo e de justificação como sendo o oposto à arbitrariedade de Rainer Forst iluminarão nossa reflexão. O autor diz que a ideia essencial de uma democracia deliberativa é o exercício das razões, isto é, a prática de argumentar e dar razões, a qual acontece entre cidadãos livres e iguais. A noção de justificação intersubjetiva é o núcleo de uma democracia liberal. Assim, a razão pública é o mecanismo de legitimação da democracia. Ser razoável nesse contexto significa ser capaz de “[...] encontrar, aceitar e agir de acordo com princípios e normas que podem ser aceitos igualmente por todos que estão sujeitos a esses princípios e normas.” O que requer a busca de razões que possam superar os inevitáveis desacordos entre as diversas doutrinas abrangentes incompatíveis entre si. Tais razões podem ser neutras de um ponto de vista ético, porém, não podem ser consideradas neutras de um ponto de vista moral, são razões que podem ser reciprocamente e geralmente justificáveis, ou seja, não podem ser razoavelmente rejeitadas, uma vez carregam a legitimidade dos princípios de correção gerais. Pois, se pessoas razoáveis podem discordar sobre o que é eticamente bom, não pode haver nenhum desacordo razoável fundamental sobre o que é moralmente correto.

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Memórias do Subúrbio: O Cotidiano das Classes Populares Cantado pelo Poeta

Marcelo José Silva [email protected]

Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Orientadora: Prof. Dra. Glória Maria Ferreira Ribeiro (UFSJ)

Agência de Fomento: FAPEMIG Eixo Temático: Estética, Filosofia da Arte e Educação

Segundo Vernant, a poesia é uma das formas pela qual a sociedade grega antiga podia conhecer seu passado e vislumbrar seu porvir, neste sentido, o aedo, inspirado pela deusa Mnemosýne e suas filhas, as Musas, possuía um papel de suma importância para aquele grupo social, comparável ao do profeta, pois, a inspiração que lhe concedia a deusa permitia reconhecer “realidades que escapam ao olhar humano” e revelá-las por meio de seu canto. Este era orientado para o “tempo antigo” e não se referia a fatos e experiências individuais do poeta, que, sob a influência dos deuses, podia se transportar ao passado assumindo o papel de testemunha ocular dos acontecimentos pregressos, experimentando-os mesmo estando vivo no presente. É nesta capacidade de se deslocar no tempo e de falar a partir da experiência do outro que o poeta atinge o que podemos chamar de potência da poesia. Neste trabalho pretendemos discutir como o poeta/sambista Adoniran Barbosa, ao cantar os dramas vividos pelos moradores das periferias da cidade de São Paulo em meados do século XX, assume a condição de aedo e através de sua obra preserva a memória das transformações pelas quais a cidade passou. Veremos que, apesar de o sambista não ter vivido muitas das situações narradas em suas músicas, é exatamente pela sua sensibilidade com aqueles que o cercavam e capacidade de assumir a sua posição, que suas composições adquirem a potência poética à medida que o seu canto passa a ser o lugar no qual ganha voz, a memória daquele povo. Deste modo, buscamos demonstrar que ainda hoje o poeta, ou o cantor popular, semelhante ao aedo da antiguidade clássica, possui a importante função social de portador da memória coletiva.

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Sustentabilidade entre Desenvolver e Preservar

Márcia Aparecida de Azara [email protected]

Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Orientador: Prof. Dr. Rogério Antônio Picoli

Eixo temático: Ética e Filosofia Política O desenvolvimento sustentável é uma expressão que carrega consigo um componente ético relativo à maneira como pretendemos desenvolver o sistema que global das interações entre o ser humano, as instituições e a natureza. De um ponto de vista acadêmico, essa expressão tem suscitado um debate entre duas formas de abordagem do problema: ao ponto de vista econômico e o ponto de vista ambiental. Em ambas as perspectivas, a ideia de desenvolvimento sustentável está relacionada com a promoção do bem-estar e da qualidade de vida. As duas perspectivas também estão de acordo quanto ao fato de que a preservação ambiental é a melhor forma de sustentar a humanidade, pois esse elemento é o que garantirá às gerações presentes e futuras o acesso aos recursos. A discordância principal é quanto à forma como o desenvolvimento sustentável deve ser promovido. Na visão dos economistas liberais tradicionais, os mecanismos de mercado que estimulam a inovação, a produção, a distribuição e o consumo, o livre jogo do capital e as inovações tecnológicas são suficientes para assegurar o melhor desempenho social e ambiental. Este sistema tanto produzirá bens para humanidade resolver os problemas ambientais causados no passado, como também promoverá o aproveitamento e o reaproveitamento de recursos, modificando os produtos pela introdução de novas formas de tecnologia e de recursos tecnológicos. A perspectiva ambientalista sustenta que muitos serviços da natureza não podem ser contabilizados monetariamente, tampouco serem substituídos; além disso, a degradação de determinados sistemas ambientais podem atingir um estado de irreversibilidade. Essa crítica deu origem à noção de sustentabilidade forte, por oposição à ideia de sustentabilidade fraca implicada na visão dos economistas liberais. O trabalho examina os pressupostos filosóficos e os valores éticos implicados nas duas perspectivas.

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Intencionalidade e materialidade da ação política em Maquiavel: uma perspectiva ético-político

Marcone Costa Cerqueira [email protected]

Faculdade Pedro II / Faje Eixo Temático: Ética e Filosofia Política

Nossa comunicação abordará a intrínseca relação entre Ética e Filosofia Política no pensamento maquiaveliano, articulando-o à tradição ético-político presente na teoria da Vontade agostiniana, e como superação desta, na forma como ainda se via presente no humanismo cívico italiano. A abrangência do assunto constrange-nos a dar-lhe delimitações de talhe histórico e teórico, ou seja, pensar Ética e Filosofia Política em um campo tão fértil quanto o da filosofia é uma tarefa que exige extrema cautela e sistematização. A nossa hipótese teórica se guia pela relação entre o formal (intencionalidade - querer) e o concreto (materialidade - agir) da ação política. Tal relação entre o formal e o concreto da ação política será analisada, a partir de três eixos: o antropológico (do fim homem), o epistemológico (do fim da lei) e o político (do fim da ação). Partindo desta análise teórica da ação política pretendemos demonstrar que o pensamento maquiaveliano pode ser tomado como inaugurador de uma concepção moderna (e realista) do agir político exatamente porque supera, em termos viscerais, a predominância formal presente na construção ético-político agostiniana - dominante no medievo e ainda percebida no humanismo cívico italiano - assentando novas bases para a materialidade da ação no contexto político. As questões que se põem diante de tal perspectiva são: I - qual tradição teórica criou um antagonismo, uma lacuna, entre intenção e ação, entre prescrição e descrição, no Ocidente? II - como se deu tal processo teórico? III – de que forma esta lacuna estava presente no contexto ao qual Maquiavel se inscreve e como ele busca saná-la a partir de seu realismo político? Estas questões se constituem como espinha dorsal de nosso projeto de pesquisa. A primeira questão será respondida a partir da teoria da Vontade de vertente agostiniana. Seu processo teórico será exposto a partir de três eixos; um eixo antropológico (do fim homem), um eixo epistemológico (do fim da lei) e finalmente, um eixo político (do fim da ação). Em sequência, a segunda questão será respondida a partir da análise da produção teórica existente no humanismo renascentista italiano e de como ela reflete a influência da construção teórica da teoria da Vontade de vertente agostiniana. Por fim, como resultado desde itinerário, pretendemos demonstrar que o realismo político maquiaveliano surge como superação, por via positiva, deste processo de antagonismo entre intencionalidade e materialidade da ação política.

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O Conceito de Alienação do Mundo no Pensamento de Hannah Arendt

Maria Carolina Mendonça de Resende

[email protected] Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Orientador: Prof. Dr. Helton Adverse (UFMG)

Eixo temático: Ética e Filosofia Política

A ideia de alienação do mundo é um elemento de caráter fundamental para a constituição do pensamento acerca do totalitarismo e da crítica à modernidade feita por Hannah Arendt. Em sua vasta obra, destaca-se A Condição Humana, na qual Arendt acusa o encurtamento do espaço da ação política em contrapartida ao desenvolvimento de novos e desconhecidos modos de vida – nos quais, também segundo ela, a própria atividade de pensar é desvalorizada e colocada em um espaço alheio ao mundo. Também nessa obra, Arendt busca compreender, desde o inicio do dito período moderno, a alienação do mundo como uma maneira de escapar da condição humana; seja da Terra para o universo, seja pela individualização; do mundo para si mesmo. Três grandes acontecimentos da modernidade traduzem o conceito de alienação do mundo para Arendt: 1) a exploração de toda a Terra pelo fenômeno das Grandes Navegações (séc. XV-XVII); 2) a Reforma Protestante (séc. XVI) e suas consequências com relação à propriedade e 3) a invenção do telescópio, como uma mudança de perspectiva para o desenvolvimento da ciência. A partir disso, Arendt acusa o desencadeamento do processo de alienação do mundo, uma vez que tais acontecimentos revelam o declínio dos espaços adequados para as atividades humanas. A falta de espaço para a política e para o mundo privado pode então gerar consequências cada vez mais radicais e complexas, como receia Arendt, por meio do advento do espaço social. Mais do que isso, a alienação do mundo compromete a razão de ser da política, pois torna distante o que deve ser próximo e equivalente: a liberdade e a ação. Em termos acadêmicos, portanto, objetiva-se sistematizar o conceito arendtiano de alienação do mundo como parte de um projeto mais amplo de compreender a liberdade em Arendt – a alienação do mundo compõe a via essencialmente negativa deste projeto.

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Uma política para a forma-de-vida a partir de Giorgio Agamben

Mauro Rocha Baptista [email protected]

Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) Eixo Temático: Ética e Filosofia Política

Essa apresentação parte da noção de que a política atual está corrompida por uma série de dispositivos que impossibilitam que a vida se realize uniformemente. Para conduzir esta crítica iremos nos conduzir pelas análises propostas pelo filósofo italiano Giorgio Agamben que apresenta as bases desta dissolução da vida em várias formas de vida ao longo de seu Work in progress o Homo Sacer, sequencia que conta atualmente com sete livros lançados a partir de 1994. Conforme as análises de O que resta de Auschwitz (2008), o mulçumano, aquele que foi completamente dessubjetivado pelo dispositivo de Auschwitz, perde a capacidade de se comunicar, perde sua língua e, com ela, perde sua bios, a capacidade humana de viver; apenas sobrevive em suas funções vitais, em sua zoé. Trata-se de um limiar entre o humano e o inumano. Um estado fundamental para se repensar as implicações éticas da bios e da politização da zoé por meio dos dispositivos de poder, ou seja, o contexto da transformação da vida em vida nua. De acordo com Agamben, a vida nua assume o papel de evento fundante da política moderna porque, por intermédio dela, a clássica política do bem viver aristotélico é revelada como uma biopolítica capaz de assumir o poder sobre a vida e a morte de cada indivíduo. Uma vez que representa a zoé qualificada por sua entrada na polis, a vida nua está intimamente ligada à identidade política da modernidade e à sua vocação para encontrar na vida feliz a justificativa de sua ordenação. Diferentemente de uma política clássica que preservava na oikos o espaço privilegiado da zoé e fazia da emersão da bios o seu elemento fundador, a política moderna se funda na reentrada da zoé no espaço político, o que não significou nem uma imersão da bios nem propriamente uma emersão da zoé. Em seus textos mais recentes, especialmente em Altíssima Pobreza (2012), Agamben procura apresentar os caminhos do que seria uma política que não se restringe a manter a fragilidade das formas de vida, mas que realize a uniformidade da forma-de-vida. A análise dessa política para a forma-de-vida é que nos cabe nessa apresentação.

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Tractatus: Uma abordagem Realista e Algumas Objeções

Paulo H. S. Costa [email protected]

Mestrando pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Eixo Temático: Linguagem e Mente

O argumento da substância, no Tractatus de Wittgenstein, define duas condições: i) se o mundo não tivesse substância, ter ou não sentido uma proposição dependeria de ser ou não verdadeira uma outra proposição (2.0211) e, ii) seria então impossível traçar uma figuração do mundo – verdadeira ou falsa (2.0212). Já o Princípio do Contexto do Tractatus, diz que somente a proposição teria sentido e somente no contexto dela que um nome poderia adquirir significado (3.3). O problema em questão é que essas duas passagens podem ser inconciliáveis, caso se aceite uma posição realista ou antirrealista em relação à tese de que proposições seriam figurações da realidade (4.01). A posição antirrealista defende que a condição para que o mundo tenha alguma forma fixa é obtida pela linguagem que se projeta à realidade. Desse modo, a função da linguagem, sobretudo da lógica, seria descrever esta relação (projeção) e seus limites. Por conseguinte, nomes só significariam algo no contexto da proposição e, logo, no contexto do conjunto das proposições que formam a linguagem. Em contrapartida, a posição realista, a qual será o foco do presente trabalho, defende que os objetos simples tractarianos existiriam de forma independente à representação e que, portanto, seria função da teoria figurativa apenas a nomeação de tais objetos (ponto a ponto), por meio dos signos simples (nomes). A estrutura da lógica tractariana (no contexto realista) seria equiparada à estrutura da realidade. Nesse sentido, conforme Pears (1997), a possibilidade verocondicional da estrutura da linguagem estaria restrita à estrutura do mundo. Algumas objeções à interpretação realista são: i) o argumento da substância no Tractatus é apresentado na forma de um reductio ad absurdum em que ter (ou não) uma forma fixa o mundo, parece ser uma exigência da linguagem, não do mundo; e, ii) explicar (a difícil tarefa) de como é possível que os objetos tractarianos sejam conhecidos (2.0123; 2.01231) sem que com isso se incorra em uma incoerência quanto à natureza (anti-platônica) da lógica assegurada pela tradição realista. O objetivo deste texto, portanto, é analisar introdutoriamente esta interpretação realista (Pears e Hacker) e as respectivas objeções levantas às suas interpretações.

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Aspectos da Lógica Hegeliana na Ontologia Relacional em Bourdieu: do “Real é Racional” ao “Real é Relacional”

Philippe Augusto Carvalho Campos

[email protected] Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ)

Eixo Temático: Metafísica e Epistemologia A abordagem metodológica dos pensadores ditos estruturalistas tem seu antecedente na linguística moderna, radicada em Saussure e seu sistema de valoração diferencial do signo linguístico. Desde então, essa perspectiva tem tido ecos em várias áreas das ciências humanas – história, antropologia, filosofia etc. Na sociologia, Bourdieu, é herdeiro dessa tradição; ao elaborar conceitos como habitus, campo, capital e espaço social, as formulações do pensador francês comungam com alguns aspectos fundamentais do estruturalismo, particularmente a existência de estruturas sociais que direcionam a conduta e o comportamento dos agentes. Entretanto, as fundações epistemológicas bourdiesianas e estruturalistas – num escopo mais amplo – estariam mesmo apenas na linguística moderna saussureana? Sem negar essa influência fundamental, o objetivo do trabalho é apresentar aspectos da lógica e da concepção de lógica de Hegel relacionando-os ao pensamento de Bourdieu, tendo em vista que articulações como sujeito, interioridade/exterioridade, indivíduo/sociedade e subjetivo/objetivo são trabalhados por ambos os pensadores de maneira semelhante. Em Hegel, a lógica lida com o movimento do conceito em oposição a uma relação estática e essencialista ou exclusivista da lógica formal. Em outros termos, contrariamente à lógica tradicional, a lógica hegeliana trata com a descrição do movimento do conceito, este, por definição, inclusivo, contraditório e, principalmente concreto, racional. De modo semelhante, Bourdieu ataca o problema do agente e do social, a tensão entre a esfera objetiva e a esfera subjetiva na explicação sociológica, a partir da concretude, da lógica prática e a organiza a partir de uma série relacional que é também inclusiva, contraditória e dinâmica. Além desses aspectos operacionais semelhantes das teorias de ambos os pensadores, há aspectos meta-teóricos e epistemológicos que, além de convergentes, parecem radicar uma concepção de ontologia, isto é: em Bourdieu, o sujeito é engendrado pela rede de relações que o capturam a partir da teia social, mas não o reduzem a elas. Por seu turno, Hegel, ao negar uma ontologia substancialista, também concebe o sujeito a partir do fenômeno, da exterioridade, mas também não redutível a ela. Sendo assim, tendo em vista a ontologia bourdiesiana, descrita recentemente por “ontologia relacional” e a lógica em Hegel, a qual fora equiparada à sua ontologia, sugerimos que analisar Bourdieu à luz de aspectos epistêmicos e ontológicos da perspectiva hegeliana nos evidencie um aspecto ainda não explorado na obra do pensador francês.

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Por uma ética des(cartesiana) da vida: da ocupação à pre(ocupação)

Rebeka de Paula Gomes da Silva

[email protected] Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

O objetivo deste ensaio é discutir alguns limites da variação possível da ética do cuidado numa concepção cartesiana a partir do conceito dos sentimentos morais desenvolvidos na obra de René Descartes Les Passions de l’Âme (As paixões da alma), em contraponto com uma leitura do conceito de cuidado (Sorge) a luz da ontologia heideggeriana desenvolvida no capítulo sexto da primeira parte do livro Sein und Zeit (Ser e Tempo). Pode-se situar a ética do cuidado numa leitura cartesiana no registro de um dever moral, em que o contexto de generosidade é capaz de apresentar o melhor meio para administrar as paixões em função do cuidado com o outro, delineando-a como o melhor caminho para a vida feliz. Nesse sentido, o cuidado enquanto dever instaura uma ótica de obrigação que tem o objetivo de garantir a harmonia da ordem social por meio da domesticação dos corpos. A “motivação” para se exercer tal prerrogativa é explicada pela própria natureza do ser humano. A partir do tencionamento dessa possibilidade da administração racional das paixões, pretendo discutir em que medida o cuidado, nesta perspectiva cartesiana, se trata de uma ocupação (Besorgen) dos entes que estão ao alcance de nossas mãos e não de uma preocupação (Fürsorgen), que supõe um empenho para que o outro possa efetivar e atualizar suas possibilidades existenciais. Entende-se a partir de uma ótica winnicottina, que a capacidade de cuidar e se deixar ser cuidado pelo outro, não se trata de uma obrigação ou da natureza humana em si mesma, mas de uma constituição de uma tendência natural inata ao amadurecimento humano e a integração. Esta, por sua vez, é compreendida e experimentada desde nossas relações primárias com nossos cuidadores, quando éramos pessoas imaturas e nos foi dado um de ambiente favorável que sustentasse os conflitos naturais da nossa própria vida.

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A Teoria na Era do Produtivismo Acadêmico: Notas sobre o Método Científico e o Ensaio como Forma a Partir de Theodor

Adorno

Rodrigo Siqueira Câmara [email protected]

Mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) Agência de Fomento: CAPES

Eixo temático: Metafísica e Epistemologia Em tempos de produtivismo acadêmico, e de primazia de uma perspectiva epistemológica pautada em um certo pragmatismo, este texto procura recuperar algumas ideias desenvolvidas pelo filósofo alemão Theodor W. Adorno no que diz respeito à uma crítica à ciência administrada. Com base nessas críticas, procuramos demonstrar como o espaço da reflexão filosófica, da teoria, imprescindível para a construção de um conhecimento científico que vá além das aparências, pode se encontrar obstado dadas as condições objetivas de produção científica. Estas condições objetivas são produtos da cada vez maior integração da ciência pelas demandas econômicas do capitalismo tardio. Para tanto recorreremos aos textos Sociologia e investigação social empírica (1973) e Teoria de la sociedad y investigación empírica (1972/2004). Por outro lado, procurando estabelecer uma contraposição a este modo tipificado de produção do conhecimento são trazidas à luz algumas das reflexões de Adorno que podem ser encontradas no texto O ensaio como forma (1974/2003). Neste texto Adorno procura definir a forma ensaística distinguindo-a da ciência, da literatura e da arte. Para ele, ensaio incorpora em sua forma a abertura necessária à reflexão e à compreensão de uma verdade que se funda na transitoriedade, e que abre espaço para uma relação dialética entre o sujeito e objeto do conhecimento. Neste sentido, se distancia do purismo científico que procura eliminar todo vestígio do sujeito, na crença da apreensão da totalidade do objeto. O ensaio pelo contrário, sabe da impossibilidade da apreensão do objeto, bem como da distância entre o pensamento e a coisa. Esta consciência da não-identidade, bem como a valorização do efêmero e do transitório aproximam o ensaio do método dialético, enquanto que o método científico tipificado se aproxima do dogmatismo e do mito. Por fim, levanta-se a questão da necessidade cada vez maior do debate a respeito dos limites do método científico e das relações entre teoria e ciência.

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A Recusa do Dever na Educação de Emílio

Terezinha Duarte Vieira [email protected]

Professora Assistente da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Doutoranda na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas

(UNICAMP) Eixo temático: Ética e Filosofia Política

Sabe-se que O Emílio ou da Educação (1762) é a obra mais conhecida de Jean-Jacques Rousseau que versa sobre seu pensamento educacional. É a proposta de educação que investiga, segundo o próprio autor, um assunto totalmente novo. Visto que constata há infinitos tempos como ainda na educação do século XVIII protestos contra a prática educacional estabelecida, todavia, ninguém propõe nada melhor. Observa ainda que os livros estão cheio de coisas que todos já conhecem e tanto a literatura como o saber são mais destrutivos que construtivos. Apresenta, portanto, o Plano Educacional cujo objetivo é formar o homem livre conforme orientação da marcha da natureza. Nessa perspectiva arquiteta sua proposta fundamentada em princípios e práticas educativas. Entretanto, evidencia-se que são os princípios que direcionam a educação do aluno de modo a mantê-lo desde sua infância à fase adulta, na rota da natureza. Esta comunicação busca, portanto, discutir e analisar a importância do princípio da necessidade, fundamento que direciona a educação do aluno, de modo a guiá-lo e, por conseguinte, mantê-lo distante das noções da sociedade até a adolescência. Para tal, faz-se uma discussão sobre a natureza da criança e sua relação com as ideias sociais a fim de entender em que condições Rousseau recusa da educação inicial de Emílio o ensino dos deveres e obrigações. Do ponto de vista do pensador, os princípios educativos, garante que a educação natural se constitua em uma formação ajustada conforme a ordem da natureza humana. Desse modo, possibilita o aluno conhecimentos úteis que lhe assegure viver de maneira equilibrada em tempos turbulentos. Essa temática dialoga com algumas ideias políticas do autor que estão em outros trabalhos, como Do Contrato social (1762) e O Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens (1755), como também ideias da filosofia da educação do século XVIII.

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Semiótica Aplicada de Peirce: Imagem de Duas Pinturas de Natividade

Thiago de São José Guimarães

[email protected] Mestrando em Ciências da Linguagem pela Universidade do Vale do Sapucaí

(UNIVÁS) Orientadora: Profa. Dra. Mirian dos Santos

Eixo Temático: Linguagem e Mente

O presente trabalho visa à apresentação parcial do projeto de pesquisa que está sendo desenvolvido no Mestrado em Ciências da Linguagem como proposta de aplicar a Semiótica de Charles Sanders Peirce a uma análise de duas pinturas de Joaquim José da Natividade que se encontram no teto da Igreja Matriz de São Tomé na cidade de São Thomé das Letras, Minas Gerais. O projeto de mestrado está divido em três capítulos: o primeiro visa realizar uma rápida abordagem dos fundamentos do Signo e das categorias de Peirce; o segundo, uma abordagem da Imagem na Semiótica de Peirce; e, o terceiro, uma análise aplicada da Semiótica de Peirce das duas pinturas de Natividade. A presente apresentação se aterá, detalhadamente, ao primeiro capítulo, que tem como embasamento teórico a Semiótica de Peirce. Na definição do autor, o signo tem uma natureza triádica: a primeira em si mesmo, em suas propriedades internas, ou seja, em seu poder para significar; a segunda em sua referencia ao que ele indica, se refere ou representa; e a terceira nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus receptores, isto é, nos tipos interpretação que ele tem o potencial de despertar nos seus usuários. Ainda segundo a semiótica peirceana, pretende-se explicitar os constituintes do signo, que são: o signo – ou representante –, o objeto e o interpretante. Segundo Peirce, um signo, ou representante, é algo que, sob certo aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido. Para a pesquisa que está sendo desenvolvida, interessa-nos a noção do signo, ou seja, as fundamentações do signo (objeto, representante e interpretante); as categorias de Peirce (primeiridade, secundidade e terceiridade) e o estudo do Signo (Ícone). É a partir do embasamento teórico a ser exposto neste trabalho que será possível, posteriormente, realizar a análise das duas pinturas de Natividade.

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Ideologia e Terror: Uma Análise acerca da Aniquilação da Liberdade pelo

Totalitarismo no Pensamento de Hannah Arendt

Valmira de Oliveira Santos [email protected]

Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ) Eixo temático: Ética e Filosofia Política

O presente trabalho pretende analisar o papel desempenhado pelo totalitarismo na supressão da liberdade segunda as análises arendtiana. Hannah Arendt, em “Origem do Totalitarismo” (1989), nos aponta para a existência da sociedade de massa. Em suas abordagens sobre os regimes totalitários, a autora nos mostra como a presença do domínio totalitário trouxe implicações para o campo da política. De acordo com a autora, as transformações nas estruturas políticas encontram-se evidenciadas pelo surgimento do totalitarismo, o qual desfez a ligação do homem ao mundo público, uma vez que o terror destruiu a capacidade política do homem ocorreu devido ao uso manifestada pelo exercício da liberdade, pois o medo é o desespero dos indivíduos que se negam a agir de acordo com aquilo que acreditam. A eliminação da liberdade política possibilitou a ascensão do regime totalitário, o qual encontrou, numa sociedade desarticulada, o fundamento para o domínio. Evidencia-se que é por meio do isolamento dos indivíduos que Arendt afirma ser possível a instauração do poder arbitrário. A destruição da capacidade política do homem ocorreu devido ao uso da intensa propaganda ideológica na qual foi inserida a população alemã e soviética, cujo objetivo foi o de desmascarar a lei sobre humana, isto é a eliminação das raças consideradas inferiores. Para a autora o regime Totalitário cuja essência é o terror permitiu a destruição dos espaços públicos, considerando que o indivíduo sozinho excluído da teia das relações humanas encontra-se desprovido da própria dignidade política que se manifesta no exercício da liberdade política. Como tal, a função do terror é estabilizar as ações humanas, a fim de que seja possível estabelecer a lei do movimento. Neste sentido, o regime totalitário é estabelecido por meio do medo na sociedade como forma de permitir que cada um dos indivíduos se torne um membro do poder totalitário.

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