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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA - NPGFI
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Coercividade de nanopartículas de CoFe2O4 dispersas em
uma matriz de SiO2
Maria Helena Carvalho da Costa
São Cristóvão-SE
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA - NPGFI
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Coercividade de nanopartículas de CoFe2O4 dispersas em
uma matriz de SiO2
Maria Helena Carvalho da Costa
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Núcleo de Pós-Graduação em Física da
Universidade Federal de Sergipe como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Física.
Orientador: Prof. Dr. José Gerivaldo dos
Santos Duque
São Cristóvão-SE
2015
iii
Dedico a Deus e a minha família.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por escutar os meus pedidos e sempre me conceder
coragem e determinação para enfrentar os obstáculos da vida.
Ao Prof. Dr. José Gerivaldo dos Santos Duque pela confiança, orientação, amizade e
acima de tudo por todos os ensinamentos tanto nos trabalhos acadêmicos, quanto na minha vida
pessoal.
Aos meus pais, Bernadete e Francisco e as minhas irmãs, Mª de Lourdes, Mª José e Mª
Luzia, pelo amor incondicional e por terem me dado às condições necessárias para chegar até
aqui.
Ao meu sobrinho Danilo e minha avó Conceição por todo o amor e carinho que sempre
tem comigo. Aos familiares que sempre torceram pelo meu sucesso.
Ao pesquisador Adelino A. Coelho pelas medidas de MvsT e MvsH realizadas no IFGW-
UNICAMP, ao Rodrigo pelas imagens de microscopia eletrônica de transmissão e a Profª
Sandra, Andréa e Daniela pelo auxílio nas medidas de fluorescência de raios X.
A todos os professores da Pós-Graduação em Física da UFS pela contribuição na minha
formação acadêmica e em especial ao Prof. Dr. Cristiano Teles de Meneses pela amizade e
valiosos ensinamentos.
Aos amigos do Grupo de Pesquisa em Materiais (GPMAT): Carla, Cristiane, Fernanda,
Jônathas, Marluce, Mayara, Pablo Pedra, Ricardo, Samuel e com enorme gratidão a Leonardo
pela disponibilidade e Edielma pelo auxílio nos ajustes da função de Langevin.
Aos amigos: Ivani, Erilaine e Thiago que sempre estiveram ao meu lado me dando todo
o apoio e carinho que precisei e aos amigos da turma de estudo no mestrado: Ylla, Yvens,
Heveson, Jorginho, Francisco, Fernando, Fabinara e todos os demais colegas pelos
ensinamentos e momentos de descontração que passamos juntos.
Aos amigos: Mônica, Carla, Ayna, Wilson, Wellisson, Marcos, Andrea e Rosângela
pelo apoio, companheirismo e pelas longas conversas.
A CAPES pelo suporte financeiro.
v
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.”
Albert Einstein
vi
RESUMO
Neste trabalho, nós estudamos as propriedades magnéticas de nanopartículas de
CoFe2O4 dispersas em uma matriz de sílica (SiO2). As amostras foram produzidas através do
método sol-gel para diferentes temperaturas de síntese. A distância média entre as partículas e,
deste modo, a natureza das interações inter-partículas foram controladas utilizando diferentes
concentrações dos sais de ferro e cobalto e do reagente de partida tetraetilortossilicato (TEOS).
As amostras foram caracterizadas através de medidas de termogravimetria (TG), fluorescência
de raios X (FRX), difração de raios X (DRX), microscopia eletrônica de transmissão (MET) e
magnetização em função do campo magnético e da temperatura. As análises
termogravimétricas mostraram que a perda de massa aumenta com o aumento da concentração
dos sais de partida na solução. Os resultados de difração de raios X combinados com as imagens
de microscopia eletrônica de transmissão confirmaram a presença das nanopartículas de
CoFe2O4 dispersas dentro da matriz de SiO2. As medidas de magnetização mostraram um
comportamento típico de um sistema de nanopartículas magnéticas, ou seja, o aparecimento de
um pico na curva de ZFC-FC com uma histerese térmica na região de baixas temperaturas. Em
particular, nós observamos uma dependência do campo coercivo com a temperatura das
nanopartículas de CoFe2O4 que não seguiu as previsões do modelo de Bean–Livingston. Nós
acreditamos que esse fato está ligado muito mais ao efeito da distribuição de tamanhos do que
aos possíveis efeitos de interação entre as nanopartículas. Neste sentido, um modelo que
considera a distribuição de tamanhos de partículas na coercividade das nanopartículas foi
utilizado. O modelo foi capaz de ajustar os dados experimentais para amplo intervalo de
temperatura.
Palavras-chave: Nanocompósitos, campo coercivo, magnetização de saturação, anisotropia
magnética.
vii
ABSTRACT
In this work, we study the magnetic properties of CoFe2O4 nanoparticles dispersed in silica
(SiO2) matrix. Samples were produced by the sol-gel method and synthesized at different
temperatures. The average distance between the particles and thus the nature of inter-particle
interactions were controlled for using different concentrations of iron and cobalt salts and the
starting material tetraethylorthosilicate (TEOS). The samples were characterized by
thermogravimetry (TG), X-ray fluorescence (XRF), X-ray diffraction (XRD), transmission
electron microscopy (TEM) and magnetization as a function of magnetic field and temperature.
Thermogravimetric analysis showed that the weight loss increases with increasing
concentration of salts in the starting solution. The results of X-ray diffraction combined with
the transmission electron microscope images confirmed the presence of CoFe2O4 nanoparticles
dispersed into the SiO2 matrix. Magnetization measurements showed a typical behavior
generally showed by a magnetic nanoparticles system, that is, the observation of a peak in the
curve FC-ZFC with a thermal hysteresis in the low temperature region. In particular, we
observed a dependence of the coercive field with temperature of CoFe2O4 nanoparticles that
did not follow the predictions of the model Bean-Livingston. We believe that this fact is linked
more to the effect of size distribution than the possible effects of interaction between the
nanoparticles. In this regard, a model considering a particle size distribution in the coercivity
of nanoparticles was used. The model was able to fit the experimental data to wide temperature
range.
Keywords: Nanocomposites, coercive field, saturation magnetization, magnetic anisotropy.
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 – Curvas de magnetização de uma substância diamagnética: (a) dependência da
magnetização com a campo aplicado e (b) resposta magnética com a temperatura . ................. 5
Figura 2.2 – Comportamento dos momentos magnéticos com e sem aplicação de um campo
magnético externo para um material paramagnético . ................................................................ 6
Figura 2.3 – Efeito do campo magnético externo sobre o momento orbital . ........................... 7
Figura 2.4 – Representação gráfica da função de Langevin. Para valores altos de T, ou H
pequenos, a função de Langevin se aproxima de uma reta com inclinação 1/3. ........................ 9
Figura 2.5 – Curva da magnetização e do inverso da susceptibilidade para um material
ferromagnético. Ao lado da figura é mostrado o alinhamento dos momentos magnéticos . .... 13
Figura 2.6 – Ilustração da minimização de energia através da criação de estruturas de
multidomínios magnéticos a partir de um único domínio. ....................................................... 14
Figura 2.7 – Ciclo de histerese típico de um material ferromagnético, onde MS é a magnetização
de saturação, Mr é a magnetização remanente e HC é o campo coercivo . ............................... 15
Figura 2.8 – (a) Representação dos momentos magnéticos em um material antiferromagnético
típico e (b) dependência da susceptibilidade χ e de sua inversa χ-1 em função da temperatura T
para um material antiferromagnético na forma policristalino . ................................................ 16
Figura 2.9 – Ordenamento dos momentos magnéticos em um ferrimagnético simples. ......... 17
Figura 2.10 – (a) Representação de uma estrutura cristalina spinel normal. O sítio tetraédrico
está representado em azul e o sítio octaédrico em cinza. As esferas vermelhas representam os
íons divalentes (ex: Fe2+, Co2+, Ni2+ entre outros) e as esferas azuis representam os íons de Fe3+
e (b) Representação da estrutura cristalina e magnética da CoFe2O4. As esferas azuis e
vermelhas representam Fe3+ e Co2+, respectivamente . ............................................................ 18
Figura 2.11 – Inverso da susceptibilidade em função da temperatura para um ferrimagnético
acima da temperatura de Curie . ............................................................................................... 20
Figura 2.12 – Magnetizações espontâneas das sub-redes A e B e a magnetização de saturação
resultante σS . ............................................................................................................................ 21
Figura 2.13 – (a) Representação de uma partícula de monodomínio magnético com anisotropia
uniaxial para uma campo magnético, H, aplicado e (b) variação da energia da barreira em função
do ângulo do vetor magnetização com H = 0 (linha sólida) e com H diferente de zero (linha
pontilhada) . .............................................................................................................................. 23
Figura 2.14 – Dependência da coercividade magnética com o tamanho da partícula . ........... 26
ix
Figura 2.15 – Ilustração de um monodomínio magnético com um campo externo aplicado (H),
fazendo um ângulo com o eixo de fácil magnetização. ........................................................ 27
Figura 2.16 – Curvas de histerese calculadas pelo modelo de Stoner e Wohlfarth . .............. 28
Figura 2.17 – Ilustração geométrica da Lei de Bragg . ........................................................... 30
Figura 2.18 – Processo de ionização do átomo e emissão característica de raios X . ............ 33
Figura 2.19 – Principais transições permitidas por um elétron nas camadas mais internas. ... 34
Figura 4.1 – Medidas de difração de raios X realizadas para CoFe2O4. A linha sólida representa
o padrão calculado usando o refinamento Rietveld. As barras em vermelho correspondem aos
picos do padrão da ferrita de cobalto (CoFe2O4) encontrado na literatura (PDF 01-077-0426)
.................................................................................................................................................. 38
Figura 4.2 – Imagens de microscopia eletrônica de transmissão de alta resolução (HRTEM)
das amostras S2-850 e S13-750. ............................................................................................... 40
Figura 4.3 – Imagens de microscopia eletrônica de transmissão (MET) para as S2-850 e S13-
750. Histograma de tamanhos obtido de diversas imagens MET, ajustado com uma distribuição
de tamanho do tipo log-normal (como mostrado em linhas sólidas vermelha nos histogramas).
.................................................................................................................................................. 41
Figura 4.4 – Espectros de FRX para as amostras S2, S10, S13, S20, S40 e S50 calcinadas em
850. O inset mostra uma ampliação do espectro para melhor visualização das intensidades dos
raios X emitidos pelo silício, cobalto e ferro com a energia característica para cada elemento
químico. .................................................................................................................................... 42
Figura 4.5 – Espectros de FRX para as amostras S10, S13 e S20 calcinadas em 750. O inset
mostra uma ampliação do espectro para melhor visualização das intensidades dos raios X
emitidos pelo silício, cobalto e ferro com a energia característica para cada elemento químico.
.................................................................................................................................................. 42
Figura 4.6 – Medidas termogravimétricas para as amostras S2, S10, S13, S20, S40 e S50. O
inset mostra a perda de massa da amostra S10 feitas em duas corridas. .................................. 44
Figura 4.7 – Curvas de magnetização ZFC-FC medidas em H = 50 Oe para amostras de
CoFe2O4 tratadas em 750 e 850°C. O inset mostra a derivada da diferença entre as curvas ZFC
e FC, e as linhas sólidas são os ajustes a uma função Log-normal. ......................................... 45
Figura 4.8 – Curvas de magnetização em função do campo. O inset mostra as curvas da
magnetização de saturação em função da temperatura para a amostra S2-850 e S20-850. ..... 46
Figura 4.9 – Curvas de magnetização em função do campo medidas em uma temperatura de
300K para as amostras, (a) S2, (b) S10, (c) S13 e (d) S20 calcinadas em 850°C. As linhas sólidas
x
são os ajustes da função de Langevin pesadas por uma distribuição de tamanhos tipo log-
normal. ...................................................................................................................................... 47
Figura 4.10 – Curvas de magnetização em função do campo medidas em uma temperatura de
300K para as amostras, (a) S10, (b) S13 e (c) S20 calcinadas em 750°C. As linhas sólidas são
os ajustes da função de Langevin pesadas por uma distribuição de tamanhos tipo log-normal.
.................................................................................................................................................. 47
Figura 4.11 – Campo coercivo e remanência em função da temperatura para a amostra S10-
850. ........................................................................................................................................... 49
Figura 4.12 – Coercividade em função da temperatura para a amostra CoFe2O4 calcinada a
750ºC. As linhas sólidas são ajustes feitos usando HC(T) = HC(0)[1 – (T/<TB>)1/2] para duas
regiões diferentes de temperatura. ............................................................................................ 50
Figura 4.13 – Contribuição das partículas superparamagnéticas na coercividade . ................ 52
Figura 4.14 – Dependência com a temperatura do campo coercivo para amostras CoFe2O4
calcinadas a 850°C. As linhas sólidas são ajustes feitos usando o modelo generalizado. ....... 53
Figura 4.15 – Dependência com a temperatura do campo coercivo para amostras CoFe2O4
calcinadas a 750°C. As linhas sólidas são ajustes feitos usando o modelo generalizado. ....... 54
Figura 4.16 – Dependência da constante de anisotropia efetiva com a concentração da CoFe2O4
na matriz de SiO2. A linha pontilhada representa o valor da constante de anisotropia para a
ferrita de cobalto na forma massiva. ......................................................................................... 54
Figura 4.17 – Dependência da temperatura de bloqueio TB com a concentração da CoFe2O4 na
matriz de SiO2 para as amostras calcinadas em 850°C. ........................................................... 57
Figura 4.18 – Dependência da temperatura de bloqueio TB com a concentração da CoFe2O4 na
matriz de SiO2 para as amostras calcinadas em 750°C. ........................................................... 58
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 – Valores dos parâmetros de rede, volume da célula unitária e tamanho do cristalito
obtidos por refinamento Rietveld. ............................................................................................ 39
Tabela 4.2 – Resultados da análise de fluorescência de raios X para as amostras de
CoFe2O4/SiO2. ........................................................................................................................... 43
Tabela 4.3 – Parâmetros de saída dos ajustes da função de Langevin para as amostras de
CoFe2O4/SiO2. .......................................................................................................................... 46
Tabela 4.4 – Parâmetros experimentais para as amostras de CoFe2O4 sintetizadas a 750 e
850ºC. O <V>, foi extraído através do ajuste da função de Langevin nas curvas de magnetização
em função do campo, e Tmax corresponde ao valor máximo de temperatura na curva ZFC, TB é
a temperatura de bloqueio extraída da derivada da diferença entre as curvas ZFC e FC e o
encontro destas curvas é a temperatura de irreversibilidade Tirr. As constantes de anisotropia
efetiva as quais foram extraídas dos melhores ajustes usando o modelo generalizado. ........... 55
xii
Sumário
RESUMO ............................................................................................................................... vi
ABSTRACT ......................................................................................................................... vii
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................... viii
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................ 4
2.1 MAGNETISMO E PROPRIEDADES MAGNÉTICAS ........................................... 4
2.1.1 Diamagnetismo ......................................................................................................... 5
2.1.2 Paramagnetismo ....................................................................................................... 5
2.1.3 Ferromagnetismo ................................................................................................... 11
2.1.4 Antiferromagnetismo ............................................................................................. 16
2.1.5 Ferrimagnetismo .................................................................................................... 17
2.2 SUPERPARAMAGNETISMO ................................................................................. 21
2.3 COERCIVIDADE ...................................................................................................... 25
2.3.1 Modelo de Stoner-Wohlfart................................................................................... 26
2.3.2 Modelo de Bean e Livingston ................................................................................ 28
2.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS X ........................................................................................ 29
2.4.1 Método Rietveld de refinamento ........................................................................... 30
2.4.2 Tamanho do cristalito calculado por difração de raios X .................................. 32
2.5 FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X ........................................................................... 33
3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS ......................................................................... 35
3.1 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS.......................................................................... 35
3.2 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO ................................................................... 35
3.2.1 Análises térmicas .................................................................................................... 36
3.2.2 Microscopia eletrônica de transmissão ................................................................ 36
3.2.3 Difração de raios X ................................................................................................. 37
3.2.4 Fluorescência de raios X ........................................................................................ 37
3.2.5 Magnetometria ....................................................................................................... 37
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 38
4.1 EFEITOS DE DISPERSÃO DAS NP’s DE CoFe2O4 NA MATRIZ DE SiO2 ...... 38
4.2 DEPENDÊNCIA DA COERCIVIDADE COM A TEMPERATURA .................. 48
CONCLUSÕES .................................................................................................................. 59
xiii
PERSPECTIVAS ............................................................................................................... 60
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 61
Capítulo 1 – Introdução
1
CAPÍTULO 1
1 INTRODUÇÃO
O estudo de materiais magnéticos nanoestruturados tem despertado grande interesse
tanto do ponto de vista científico como também pelo seu alto potencial em aplicações
tecnológicas. Isso se deve ao fato que eles apresentam propriedades físicas distintas, quando
comparados com as propriedades apresentadas na sua forma massiva [1]. Entre os materiais de
grande interesse tecnológico, uma classe chamada de nanocompósitos vem sendo explorados
devido as suas propriedades únicas, que não são encontradas em materiais em fases separadas.
Os nanocompósitos são materiais que apresentam mais de uma fase sólida, em que pelo menos,
um dos seus componentes tem dimensões nanométricas e serve de matriz, na qual as partículas
do segundo estejam dispersas [2].
Entre as ferritas spinels a ferrita de cobalto (CoFe2O4), é conhecida como um material
magnético duro e tem sido amplamente estudada devido à sua alta coercividade [3,4], alta
anisotropia [5] e moderada magnetização de saturação [6]. No entanto, para o caso de
nanopartículas (NP’s) de CoFe2O4 diferentes valores de coercividade e magnetização de
saturação podem ser encontrados na literatura [7–9]. Essas divergências entre as propriedades
magnéticas em sistemas de nanopartículas são atribuídas aos diferentes métodos de síntese e a
variada gama de tamanhos obtidos dependendo da rota de síntese das nanopartículas.
Devido à alta magnetização de saturação, as nanopartículas de ferrita de cobalto
apresentam forte interação interpartículas, o que propícia uma tendência de atração entre elas
dificultando o estudo das propriedades magnéticas em amostras na forma de pó compactado.
Por esta razão, a dispersão das nanopartículas numa matriz é uma maneira de reduzir as
aglomerações proporcionando um estudo de suas propriedades magnéticas sem a influência dos
efeitos de interação. Assim, a capacidade em controlar essas dispersões através de agentes
químicos, ou por meio da modificação dos métodos de preparação é de suma importância.
Existem vários trabalhos na literatura sobre os estudos de nanopartículas dispersas na
sílica utilizando vários métodos químicos de síntese, tais como o método de reação de
combustão [10], o método Stober [11], o método sol-gel [12–17], o método hidrotérmico [15]
entre outros.
Em diversos trabalhos as NP’s de CoFe2O4 são sintetizadas e posteriormente dispersa
na sílica, o que podem facilitar o surgimento de clusters magnéticos (regiões com aglomerações
de NP’s) devido a dispersão incompleta das NP’s. Em contrapartida, as amostras preparadas e
Capítulo 1 – Introdução
2
estudas neste trabalho foram sintetizadas através do método sol-gel usando o
tetraetilortossilicato (TEOS). A principal vantagem do uso desse reagente de partida é que as
nanopartículas crescem dentro da matriz de óxido de silício. Isso nos possibilitou fazer um
estudo sistemático no que diz respeito ao controle do nível de interações entre as nanopartículas
magnéticas.
Muitos esforços estão voltados para o entendimento das propriedades de NP’s de
CoFe2O4 tais como a magnetização de saturação (Ms), energia de anisotropia (Ek), a
magnetização remanente (Mr) e a coercividade (Hc), sendo a coercividade uma das mais
importantes para aplicação tecnológica que ainda carecem de muitos estudos em sistemas de
NP’s. Um estudo do comportamento magnético para esse tipo de partícula foi feito com base
na teoria superparamagnética [14].
O estudo do campo de reversão da magnetização das partículas, ou coercividade
considerando o efeito da temperatura foi introduzido por Bean e Livingston em 1959 [16]. As
propriedades térmicas destes sistemas foram estudadas com base na probabilidade de reversão
de Néel. Segundo os autores em um dado tempo de observação (obs), existe uma temperatura
crítica, chamada de temperatura de bloqueio a partir da qual as partículas experimentam dois
comportamentos magnéticos distintos: (i) abaixo de TB, (T < TB) ou estado bloqueado as
partículas não possuem energia térmica suficiente para ultrapassar a barreira de energia, e assim
a magnetização total da partícula fica retida em duas ou mais orientações metaestáveis, e (ii)
acima da temperatura de bloqueio (T > TB), a energia térmica kBT (onde kB é a constante de
Boltzmann) é maior do que a barreira de energia (ΔEB = KeffV, onde Keff é a constante de
anisotropia efetiva e V o volume da partícula) e o sistema se comporta como um
superparamagneto, ou seja, o momento magnético da partícula não consegue ficar retido em
um dos mínimos de energia.
Para um sistema de partículas monodispersas e não interagentes, Bean e Livingston [16]
também mostraram com base na relação de Néel que o campo coercivo decai com a raiz
quadrada da temperatura no estado bloqueado e vai a zero quando as partículas estão no
equilíbrio térmico (estado desbloqueado). Este modelo é utilizado em muitos trabalhos
encontrados na literatura, porém, obtém-se um bom acordo com os dados experimentais apenas
na região de baixa temperatura quando a maioria das partículas está bloqueada. Geralmente os
desvios observados são atribuídos aos efeitos da interação interpartículas e distribuição de
tamanho de partículas que sempre está presente em sistemas reais.
Capítulo 1 – Introdução
3
A influência da interação é evidenciada no comportamento das curvas de magnetização
em função da temperatura no modo ZFC-FC. Cangussu et al (2009) [17] observaram um
deslocamento para a região de mais altas temperaturas do pico da curva de ZFC-FC em função
da distância média entre as nanopartículas de -Fe2O3.
Neste trabalho, os dados do campo coercivo não concordaram com as previsões do
modelo Bean-Livingston [16] uma vez que os efeitos de interação e distribuição de tamanho
não foram levados em consideração. Neste sentido, um modelo alternativo que leva em
consideração a distribuição de tamanhos no comportamento do campo coercivo com a
temperatura foi usado. O modelo generalizado mostrou uma boa concordância com os dados
experimentais para um amplo intervalo de temperatura. Por outro lado, nós verificamos um
deslocamento em TB nas curvas de ZFC-FC com o aumento da concentração de CoFe2O4 na
matriz de SiO2. Da mesma forma, nós atribuímos esse fato a influência da interação [18] ou ao
efeito da distribuição de tamanho das NP’s.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
4
CAPÍTULO 2
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 MAGNETISMO E PROPRIEDADES MAGNÉTICAS
A palavra magnetismo está relacionada ao fenômeno pelo qual alguns materiais tem o
poder de atrair ou repelir outros materiais. As observações destes fenômenos sempre
despertaram o interesse da humanidade e já é conhecida há milhares de anos [19]. No entanto,
os princípios e mecanismos subjacentes que explicam os fenômenos magnéticos são complexos
e a compreensão destes, envolve um formalismo da mecânica quântica, física estatística e
eletromagnetismo. Por outro lado, os materiais magnéticos desempenham um papel muito
importante nas aplicações tecnológicas em diversas áreas, atraindo vários pesquisadores. Nos
últimos anos, esses materiais vem sendo usados em gravação magnética de alta densidade,
sendo esta essencial para o funcionamento de computadores e inúmeros equipamentos
acionados por cartões magnéticos [20]. O comportamento desses materiais sob a aplicação de
um campo magnético externo é determinado pela resposta dos seus dipolos magnéticos e pela
natureza da interação entre eles. A grandeza macroscópica que representa o estado magnético
de um material é o vetor magnetização M
:
i
iV
M 1
(2.1)
O efeito da aplicação de um campo magnético pode ser caracterizado pelo vetor indução
magnética, B
, representado matematicamente no Sistema Internacional de unidades pela
relação:
MHB
0 (2.2)
onde é a permeabilidade magnética do vácuo, com o valor de 410-7 (N/A2).
A razão entre M e H é chamada de susceptibilidade magnética :
H
M (2.3)
A susceptibilidade indica como um material responde quando um campo magnético
externo é aplicado, e com base nela podemos classificar os materiais em: diamagnéticos,
paramagnéticos, ferromagnéticos, ferrimagnéticos e antiferromagnéticos.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
5
2.1.1 Diamagnetismo
Os materiais diamagnéticos apresentam uma suscetibilidade magnética, pequena,
negativa e independente da temperatura (ver Figura 2.1). Os materiais que apresentam esse
comportamento são aqueles que não possuem momento de dipolo magnético permanente, ou
seja, são os materiais que seus átomos possuem camadas atômicas completas. A origem do
diamagnetismo está na variação do momento angular orbital do elétron induzido por um campo
magnético externo. A explicação para este fenômeno, do ponto de vista clássico, foi dado por
Lenz o qual estabeleceu que o efeito da aplicação de um campo magnético no movimento
orbital de um elétron é a indução de uma corrente elétrica a qual cria um campo magnético
oposto ao aplicado [21].
Figura 2.1 – Curvas de magnetização de uma substância diamagnética: (a) dependência da magnetização com a
campo aplicado e (b) resposta magnética com a temperatura [21].
De uma maneira geral, podemos dizer que todos os materiais apresentam uma resposta
diamagnética uma vez que a maioria dos materiais são formados por átomos que possuem
camadas atômicas fechadas, porém, esse efeito é desprezível nos materiais que apresentam
momentos magnéticos permanentes (paramagnéticos e ferromagnéticos). Uma classe
importante tanto do ponto de vista das suas propriedades físicas fundamentais quando do ponto
de vista de aplicações são os supercondutores, esses materiais são isolantes magnéticos no
sentido que impedem a passagem do campo magnético aplicado sobre eles (Efeito Meissner) e
por isso são chamados de diamagnéticos perfeitos [4].
2.1.2 Paramagnetismo
O paramagnetismo é encontrado em materiais que têm momentos de dipolos magnéticos
permanentes, resultante da existência de spins desemparelhados nas camadas mais externas dos
átomos, porém estão separados de modo que eles não apresentam uma interação apreciável. Na
H
M
𝜒
(a)
T
𝜒
(b)
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
6
ausência de campo externo os materiais paramagnéticos apresentam momentos atômicos
apontando aleatoriamente de modo que a magnetização resultante é nula. A aplicação de um
campo externo induz um alinhamento dos momentos na direção do campo, mas a energia
térmica se opõe a esse alinhamento, resultando apenas em uma magnetização pequena na
direção do campo. Por esta razão os materiais paramagnéticos exibem um magnetismo fraco
com uma susceptibilidade positiva da ordem de ~ 10-5 - 10-2 [6].
A Figura 2.2 ilustra o comportamento dos momentos de dipolo magnéticos de um
material paramagnético sem e com aplicação de campo magnético H. Uma característica
importante dessa classe de materiais é que seus dipolos magnéticos podem mudar sua direção
sem interferir na orientação dos dipolos vizinhos.
Figura 2.2 – Comportamento dos momentos magnéticos com e sem aplicação de um campo magnético externo
para um material paramagnético [22].
As primeiras medidas de susceptibilidade magnética para um grande número de
substâncias em uma ampla escala de temperatura foram feitas por Pierre Curie. Ele concluiu
que para substâncias diamagnéticas a susceptibilidade é independente da temperatura (ver
Figura 2.1 (b)), mas varia com o inverso da temperatura para paramagnetos de acordo com a
equação:
T
C (2.4)
Essa relação é conhecida como a lei de Curie, onde C é a constante de Curie.
Do ponto de vista clássico, a dependência da magnetização com a temperatura e com o
campo magnético aplicado, pode ser representada pela função de Langevin. Vamos considerar
um material contendo um número n de átomos, cada um tendo um momento magnético μ,
proveniente dos momentos orbitais e de spin. Quando um campo magnético H é aplicado os
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
7
momentos magnéticos giram na direção do campo a fim de diminuir a energia do sistema, ou
seja,
cosHHE p
(2.5)
Assim o número de momentos magnéticos em uma faixa da esfera compreendida entre
θ e θ+dθ é proporcional a dA (ver Figura 2.3), multiplicando pelo fator de Boltzmann:
Figura 2.3 – Efeito do campo magnético externo sobre o momento orbital [4].
dsenTkHKTkEKdAdn BBp )/cosexp(2)/exp( (2.6)
onde K é o fator de proporcionalidade, determinado pelo fato de que:
n
ndn0
Se Tk
Ha
B
temos então que:
ndsenaK
)cosexp(20
(2.7)
Multiplicando o número de momentos magnéticos dn pela contribuição cosde cada
momento, e integrando sobre o número total de momentos, teremos a magnetização total M:
dnM
n
0
cos (2.8)
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
8
0
0
sin)cosexp(
sin)cosexp(cos
da
da
nM (2.9)
Para resolvermos a integral da equação (2.9) foi feita uma mudança de variável onde cosθ = x,
dessa forma a equação pode ser representada da seguinte forma:
1
1
1
1
)exp(
)exp(
dxax
dxaxx
nM (2.10)
Resolvendo as integrais na equação (2.10) temos:
)1
(cotha
anM (2.11)
onde n corresponde ao alinhamento perfeito de todos os momentos magnéticos na direção do
campo, ou seja, representa a magnetização de saturação. Chamaremos esta quantidade de M0,
reescrevendo a equação (2.11) temos que:
)(1
coth0
aLa
aM
M (2.12)
A expressão (2.12) é chamada equação de Langevin. Para conhecermos o comportamento de
)(aL para altos valores de T, faremos uma expansão utilizando uma série de Taylor:
...4531 coth3
aaaa , dessa forma a função de Langevin será representada como:
453
)(3aa
aL (2.13)
A Figura 2.4 mostra a representação gráfica da função de Langevin.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
9
2 4 6 8
0.2
0.4
0.6
0.8
L(a
)
a =H/kBT
L(a) = a/3
L(a)
Figura 2.4 – Representação gráfica da função de Langevin. Para valores altos de T, ou H pequenos, a função de
Langevin se aproxima de uma reta com inclinação 1/3.
Observando a Figura 2.4, percebemos que L(a) tende a 1 para valores grandes de a, ou
seja, o sistema tende a saturação (para H alto ou T pequeno). Já quando a é pequeno, menor do
que aproximadamente 0.5, L(a) é praticamente uma linha reta com coeficiente angular igual a
1/3, e portanto, podemos concluir que a magnetização M varia linearmente com o campo H.
Para a muito menor que 1, L(a) = a/3. Assim, a equação 2.12, torna-se [4]:
Tk
HnanM
B33
2
(2.14)
Portanto, a susceptibilidade reduz a lei de Curie:
T
C
Tk
n
H
M
B
3
2
(2.15)
onde, C é a constante de Curie por grama igual a:
Bk
nC
3
2
(2.16)
Do ponto de vista quântico podemos estudar a dependência da magnetização com a
temperatura e com o campo magnético através de uma função mais geral, conhecida como
função de Brillouin. Neste caso, os momentos clássicos são substituídos por momentos
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
10
magnéticos quantizados e assim a magnetização em função do campo e da temperatura é dada
pela equação [21]:
)'()'( aBMaJBngM JSJBJ (2.17)
Em que
Tk
HJga
B
BJ ' (2.18)
e )'(aBJ é a função de Brillouin, definida por
J
a
Ja
J
J
J
JaBJ
2
'coth
2
1'
2
12coth
2
12)'( (2.19)
No limite quando J a magnetização descrita pela função de Brillouin tende a função
clássica de Langevin.
)()'( aLaB (2.20)
e quando 21J temos que:
)'()'(21 atghaB (2.21)
Análogo ao caso clássico podemos calcular o limite para baixos campos e altas temperaturas.
Para pequenos valores de 'a 1'a podemos expandir a 'coth a em série, logo temos que:
3
'
'
1'coth
a
aa (2.22)
Substituindo na equação (2.19), temos que:
3'
3
' 1)'( aO
J
aJaBJ
(2.23)
Portanto, em baixo campo magnético temos que a magnetização é proporcional a (a’) e
a susceptibilidade magnética é dada por:
Tk
n
H
M
B
eff
3
2
0 (2.24)
onde o momento magnético efetivo é dado por:
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
11
)1( JJg BJeff (2.25)
e Jg é chamado de fator de Landé que podemos escrever da seguinte forma:
)1(2
)1()1(
2
3
JJ
LLSSg J (2.26)
Observe que a equação (2.24) nos leva a lei de Curie ver equação (2.4).
2.1.3 Ferromagnetismo
Os materiais que apresentam uma magnetização espontânea, mesmo na ausência de um
campo aplicado, são classificados como ferromagnéticos. Esta magnetização resulta do
alinhamento paralelo dos momentos magnéticos caracterizando um forte comportamento
magnético com susceptibilidade magnética positiva e de grande magnitude. O entendimento do
ferromagnetismo se deu em 1907 com o modelo teórico proposto por Pierre-Ernest Weiss.
Neste modelo, cada momento magnético está sob a ação de um campo magnético o qual ele
chamou de campo molecular, criado pelos momentos magnéticos vizinhos, responsável pela
magnetização espontânea [6].
O campo molecular era responsável por orientar todos os momentos magnéticos na
mesma direção, e é diretamente proporcional à magnetização:
MH m (2.27)
Onde é uma constante de campo molecular. O campo total agindo sobre o material é [4]:
mt HHH (2.28)
Substituindo a equação (2.28) na lei de Curie temos:
T
C
H
M
T
C
MH
M
) ( (2.29)
Isolando M temos:
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
12
CT
CHM
(2.30)
Logo, a susceptibilidade magnética pode ser escrita como:
T
C
CT
C
H
M
(2.31)
Esta expressão é a chamada Lei de Curie-Weiss. Onde C é uma constante com
dimensões de temperatura e tem valor igual a zero para os materiais que obedecem a Lei de
Curie. Observe que a susceptibilidade magnética é inversamente proporcional a variações de
temperatura entre T e na fase paramagnética de um ferromagnético, ou seja, acima de sua
temperatura de transição de fase cT . Para a região ordenada, a susceptibilidade pode ser
determinada através da função de Brillouin (equação 2.19), em termos da magnetização
específica e da teoria de Weiss do campo molecular representado por 0 , uma função linear
de 'a com inclinação proporcional a temperatura absoluta dado por:
'
00
aTkB
(2.32)
A equação (2.32) representa a magnetização sem campo aplicado, ou seja, apenas o
campo molecular atuando. Aplicando um campo magnético H , temos que o campo total
atuando na substância é dado pela equação (2.28), logo a magnetização espontânea relativa
pode ser escrita como:
000
'
Ha
TkB
(2.33)
Na região próxima à origem a função de Brillouin pode ser aproximada:
'3
1
0
aJ
J
(2.34)
Igualando a equação (2.33) com a (2.34) temos que:
13
1
0
0
JTJk
TkJ
Tk
H
B
B
B
(2.35)
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
13
Logo, temos que a susceptibilidade magnética na fase ordenada de um material ferromagnético
é dada por:
JkJT
TkJ
H B
B
31
31
0
0
(2.36)
a qual tem a forma da Lei de Curie-Weiss equação (2.31), logo podemos inferir que:
Jk
JC
B3
10
(2.37)
Jk
J
B3
10
(2.38)
A Figura 2.5 mostra a variação da magnetização espontânea em função da temperatura.
Na origem, a magnetização tem valor igual a magnetização de saturação, porque todos os
momentos estão alinhados (observe os momentos a esquerda do gráfico). A medida que a
temperatura aumenta diminui gradualmente devido a energia de agitação térmica dos
momentos. A constante TC determina a temperatura que o material sofre uma transição de fase
magnética (ferromagnética – paramagnética). Essa temperatura é conhecida como temperatura
crítica ou temperatura de Curie, TC. Acima de TC (T > TC) a energia térmica prevalece sobre a
energia de ordenamento magnético e o material passa a se comportar como um paramagnético,
dessa forma a magnetização espontânea se anula.
Figura 2.5 – Curva da magnetização e do inverso da susceptibilidade para um material ferromagnético. Ao lado
da figura é mostrado o alinhamento dos momentos magnéticos [4].
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
14
A origem do campo molecular de Weiss foi explicada em 1928, por Heisenberg através
de um tratamento da mecânica quântica de um problema de muitos corpos. Ela está associada
a uma força, sem analogia clássica, responsável por orientar os spins de dois elétrons paralelos
entre átomos vizinhos. Esta força é chamada de força de troca (exchange) e é consequência
direta do princípio de exclusão de Pauli [23].
A energia de troca desempenha um importante papel nos ordenamentos magnéticos.
Considerando dois átomos i e j e seus respectivos spins, Heisenberg mostrou que a energia de
exchange entre os dois spins é dada por [4]:
cos22 jiexjiexex SSJSSJE (2.39)
onde Jex é a integral de troca e é o ângulo entre os dois spins. Se Jex é positivo, o estado de
menor energia corresponde aos dois spins paralelos que é o caso do ferromagnético. Se Jex é
negativo, o estado de mínima energia acontece quando os spins são antiparalelos condição
necessária para os ordenamentos magnéticos: antiferromagnetismo e ferrimagnetismo, que
ainda serão abordados neste capítulo.
Outra particularidade, além da magnetização espontânea, dos materiais ferromagnéticos
a uma temperatura CTT é a divisão espontânea para minimizar a energia total do sistema em
pequenas regiões, chamada de domínios magnéticos. A Figura 2.6 [4,6] mostra o esquema da
formação dos domínios magnéticos em um pedaço de um material ferromagnético.
Figura 2.6 – Ilustração da minimização de energia através da criação de estruturas de multidomínios magnéticos
a partir de um único domínio (Adaptado de [20]).
Observe que a medida que o domínio ilustrado na Figura 2.6 (b) se forma, a energia
magnética do sistema se reduz aproximadamente pela metade. A energia é reduzida ainda mais
com a formação dos domínios de fechamento Figura 2.6 (c e d), com magnetização
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
15
perpendicular à dos outros domínios. Observe que as quatros regiões formadas em (c) tem uma
magnetização de saturação em uma dada direção, de tal forma que à magnetização resultante
total será nula. É importante frisar que a fronteira entre dois domínios não é brusca, existe uma
região intermediaria de largura finita, onde os momentos magnéticos variam gradualmente,
conhecida como parede de domínio, observe a Figura 2.6 (b e c) [20].
Os domínios magnéticos e suas paredes determinam a forma da curva de magnetização
em função do campo magnético aplicado observe a Figura 2.7. Além disso, eles são
responsáveis pelas propriedades magnéticas tais como remanência e coercividade [24].
A Figura 2.7 mostra a curva de magnetização em função do campo para um
ferromagnético, a qual é chamada de ciclo de histerese. A curva tracejada corresponde a um
material que ainda não foi submetido a um campo externo e é chamada de curva virgem.
Quando um pequeno campo é aplicado o processo de magnetização acontece por movimento
reversível das paredes de domínio, ou seja, se o campo for removido os domínios voltam a
configuração inicial. Aumentando a intensidade do campo magnético começam a surgir
deslocamentos irreversíveis devido as impurezas do material. Aumentando ainda mais a
intensidade do campo, ocorrem rotações dos domínios até que todos os momentos magnéticos
estejam apontando na mesma direção do campo, observe a Figura 2.7 (a), neste ponto temos a
magnetização de saturação MS. A medida que reduzimos o campo magnético a magnetização
começa a diminuir, porém mesmo quando nenhum campo for aplicado, o sistema apresentará
uma magnetização resultante dos deslocamentos irreversíveis e das rotações dos domínios, a
qual chamamos de magnetização remanente MR. O campo necessário para levar a magnetização
do sistema a zero é denominado de campo coercivo HC.
Figura 2.7 – Ciclo de histerese típico de um material ferromagnético, onde MS é a magnetização de saturação, Mr
é a magnetização remanente e HC é o campo coercivo [25]
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
16
2.1.4 Antiferromagnetismo
O ordenamento magnético no qual os momentos magnéticos são iguais e se alinham
antiparalelamente, resultando em uma magnetização total igual a zero, como mostrado na
Figura 2.8 (a) é chamado de antiferromagnetismo. A classe destes materiais apresenta uma
susceptibilidade magnética pequena e positiva em todo intervalo de temperatura.
A Figura 2.8 (b) mostra a dependência da susceptibilidade magnética de um material
antiferromagnético em função da temperatura. Quando a temperatura diminui a susceptibilidade
aumenta até uma temperatura crítica, região onde apresenta um máximo no gráfico da Figura
2.8 (b). Esta temperatura crítica é chamada de temperatura de Néel, TN. Acima dessa
temperatura os ordenamentos dos spins desaparecem completamente e o material é
paramagnético, abaixo de TN temos um ordenamento antiferromagnético onde a
susceptibilidade diminui com a diminuição da temperatura [4].
Figura 2.8 – (a) Representação dos momentos magnéticos em um material antiferromagnético típico e (b)
dependência da susceptibilidade χ e de sua inversa χ-1 em função da temperatura T para um material
antiferromagnético na forma policristalino [4].
A susceptibilidade acima de TN tem uma dependência com a temperatura obedecendo a
lei de Curie-Weiss. Podemos notar que o gráfico de 1/χ vs T na Figura 2.8 é uma linha reta
acima de TN e que ela extrapola em um valor negativo de temperatura. A equação para a
susceptibilidade de linha é:
T
C
T
C (2.40)
Um antiferromagnético é constituído de duas sub-redes magnéticas idênticas A e B. Na
ausência de um campo magnético cada uma das subredes tem a mesma magnetização de
saturação, porém em direções opostas resultando uma magnetização total no sistema nula, como
mostrado na acima.
(a) (b)
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
17
2.1.5 Ferrimagnetismo
Os materiais ferrimagnéticos apresentam uma magnetização espontânea abaixo de uma
temperatura crítica, Tc, mesmo na ausência de um campo magnético, assim como os materiais
ferromagnéticos. Porém, do ponto de vista microscópico, os materiais ferrimagnéticos são
semelhantes aos materiais antiferromagnéticos uma vez que a constante de interação é negativa.
Contudo, como os momentos magnéticos em cada sub-rede são diferentes, esse materiais
apresentam uma magnetização não nula abaixo de uma certo valor de temperatura [23] (Figura
2.9).
Figura 2.9 – Ordenamento dos momentos magnéticos em um ferrimagnético simples.
Uma classe de materiais ferrimagnéticos de grande aplicação tecnológica é a dos
ferrites. Os ferrites são assim chamados por apresentarem uma estrutura cristalina semelhantes
ao spinel natural Mg.Al2O4. Se substituímos o alumínio pelo ferro e o magnésio por um metal
divalente, teremos uma estrutura ferro spinel com fórmula química MOFe2O3, também
chamada de ferrita, onde M é um íon metálico divalente tal como o cobalto, manganês, ferro,
níquel entre outros. A estrutura cristalina da ferrita é cúbica e a sua célula unitária é formada
por dois sítios de simetria diferentes. Um conhecido como tetraédrico (ou sítio A), pois o íon
metálico se encontra no centro de um tetraedro cujos vértices são ocupados por íons de oxigênio
e outro conhecido como octaédrico (ou sítio B), com os oxigênios ocupando os cantos de um
octaedro em torno do íon metálico (Figura 2.10 (a)). Porém, os íons metálicos nem sempre
ocupam todos os sítios disponíveis na célula unitária. Somente oito sítios tetraédricos (A) do 64
disponíveis e 16 sítios octaédricos (B) dos 32 disponíveis são realmente ocupados.
A depender de como os íons magnéticos ocupam a célula unitária, podemos classificar
as ferritas como estrutura spinel normal e inversa. Na estrutura spinel inversa os íons divalentes
ocupam os sítios B e os íons trivalentes são igualmente distribuídos entre os sítios A e B. As
ferritas de cobalto (CoFe2O4), de ferro (Fe3O4), e de níquel (NiFe2O4) tem a esse tipo de
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
18
estrutura, e são todas ferrimagnéticas. Na estrutura spinel normal os íons divalentes (M2+)
ocupam os sítios A e os íons trivalentes (Fe3+) ocupam os sítios B. As ferritas de zinco (ZnFe2O4)
e de cádmio (CdFe2O4) tem essa estrutura e são ambas antiferromagnéticas [4]. A Figura 2.10
(a) mostra a representação de uma estrutura cristalina de uma ferrita spinel normal, na qual
podemos visualizar os íons de Fe3+ no sítio octaédrico representado pelas esferas azuis e os íons
divalentes (Fe2+, Co2+, Ni2+ entre outros), no sítio tetraédrico representado pelas esferas
vermelhas. A Figura 2.10 (b) exibe a estrutura cristalina e magnética da ferrita de cobalto, com
a magnetização da sub-rede B na direção oposta à da sub-rede A. As esferas azuis e vermelhas
representam Fe3+ e Co2+, respectivamente.
Figura 2.10 – (a) Representação de uma estrutura cristalina spinel normal. O sítio tetraédrico está representado
em azul e o sítio octaédrico em cinza. As esferas vermelhas representam os íons divalentes (ex: Fe2+, Co2+, Ni2+
entre outros) e as esferas azuis representam os íons de Fe3+ e (b) Representação da estrutura cristalina e magnética
da CoFe2O4. As esferas azuis e vermelhas representam Fe3+ e Co2+, respectivamente [26].
O modelo mais simples desenvolvido por Néel para reproduzir as características do
ferrimagnetismo leva em conta três interações, já que os sítios A e B são cristalograficamente
diferentes. Interações entre os íons dos sítios AA, BB e AB devem ser consideradas [23].
Adotando existir n íons magnéticos idênticos por unidade de volume, com uma fração
λ localizada nos sítios A e uma fração υ (= 1 – λ) nos sítios B. Sendo μA o momento médio de
um íon A na direção do campo em uma temperatura T. Logo, a magnetização na sub-rede A é
MA = λnμA. Fazendo nμA = Ma. Temos MA = λMa e MB = υMb [4]. A magnetização total é
M = MA + MB = λMa + λMb (2.41)
O campo molecular agindo na sub-rede A e na sub-rede B podem serem escrito
respectivamente:
HmA = –γABMB + γAAMA (2.42)
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
19
HmB = –γABMA + γBBMB (2.43)
onde os sinais correspondem a suposição de uma interação negativa (antiparalela) entre os íons
A e B e uma interação positiva (paralela) entre íons A.
Os coeficientes γAA e γBB são diferentes, e são expressos como frações de γAB.
AB
AA
AB
BB
(2.44)
Encontramos que o campo molecular pode ser expresso por:
HmA = –γAB(αλMa – υMb) (2.45)
HmB = γAB(βυMb – λMa) (2.46)
Estas duas equações são válidas ambas acima e abaixo de TC.
Na região paramagnética (acima de TC), assumimos a lei de Curie, para cada sub-rede:
mAa HHCTM (2.47)
mBb HHCTM (2.48)
Eliminando Ma, Mb, HmA e HmB a partir das equação (2.41) e (2.45)-(2.48), encontramos
a relação para a suscetibilidade χ:
1
2 2222
2
CCTT
CCT
H
M
ABAB
AB (2.49)
Assumindo que:
22
0
2 1
AB
2221 1 Cb AB
2CAB
Logo, a equação (2.49), pode ser escrita como:
T
b
C
CT 01 (2.50)
A curva descrita pela eq. (2.50) esta plotada na Figura 2.11. Esta é uma hipérbole e
intercepta o eixo da temperatura no ponto de Curie paramagnético p . Na região de altas
temperaturas o último termo da equação (2.50) torna-se desprezível, e a equação se reduz a lei
de Curie-Weiss 0
CT
C
representada graficamente na Figura 2.11 pela linha tracejada:
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
20
Figura 2.11 – Inverso da susceptibilidade em função da temperatura para um ferrimagnético acima da temperatura
de Curie [4].
Abaixo da temperatura de Curie (região ferrimagnética), cada sub-rede é magnetizada
espontaneamente, e a magnetização resultante é dada por:
|M| = |MA| - |MB|
A magnetização de cada sub-rede é descrita pela função de Brillouin equação (2.19).
Assim, temos a magnetização específica fracional da sub-rede A e B:
TK
HJBaJB
BA
A
,',
0
(2.51)
TK
HJBaJB
BB
A
,',
0
(2.52)
O campo H nas equações acima é igual ao campo molecular HmA agindo sobre a sub-rede A.
Colocando σ(=M/ρ) em vez de M, as equações (2.45) e (2.46), tornar-se
HmA = –γABρ(αλσa – υσb)
HmB = –γABρ(βυσb – λσa)
As magnetizações espontâneas das duas sub-redes são dadas por:
TKJB
B
baAB
A
SA
,
0
(2.53)
TKJB
B
abAB
B
SB
,
0
(2.54)
Estas equações não são independentes, ou seja, a magnetização da sub-rede A depende
da magnetização da sub-rede B e vice versa. As curvas resultantes dessas equações são
mostradas na Figura 2.12. Nota-se que ambas as sub-redes devem ter a mesma temperatura de
Curie. Observe que as formas das de magnetização espontânea para cada sub-rede dependem
dos valores de todas as constantes de campo moleculares, e da distribuição de íons magnéticos
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
21
nas sub-redes A e B, de modo que a magnetização resultante não necessariamente variar com a
temperatura.
Figura 2.12 – Magnetizações espontâneas das sub-redes A e B e a magnetização de saturação resultante σS [4].
2.2 SUPERPARAMAGNETISMO
O comportamento magnético de materiais com dimensões reduzidas foi estudado por
Frenkel e Dorfman em 1930. Eles foram os responsáveis pelos primeiros trabalhos nessa área,
no qual afirmavam que abaixo de um certo tamanho de partícula, chamado de tamanho crítico,
não seria mais favorável energeticamente a divisão em domínios (Figura 2.6), e deste modo, é
preferível energeticamente ter uma estrutura de um único domínio, ou monodomínio [27].
Em 1949, Néel mostrou que flutuações térmicas podem mudar a orientação do momento
magnético dessas partículas quando a energia de anisotropia é pequena em comparação com a
energia térmica, kBT [10], onde kB é a constante de Boltzmann. Ao aplicarmos um campo
magnético, os momentos das partículas tende a alinhar na direção do campo análogo a um
material paramagnético normal, exceto pelo valor relativamente grande do momento magnético
das partículas. Por esta razão, Bean e Livingston [11] chamou de superparamagnetismo a teoria
para descrever o comportamento magnético de sistemas constituídos de partículas
monodomínio. Com base nesta teoria todos os momentos magnéticos atômicos no interior de
uma partícula se movem coerentemente, isto é, o momento magnético total pode ser
representado por um único vetor clássico, com magnitude Nat , onde μat é o momento
magnético atômico e N é o número de átomos magnéticos que compõe a partícula. O
comportamento magnético destas partículas no estado superparamagnético é bem descrito pela
função de Langevin, dada pela equação (2.12). Mas aqui devemos considerar o efeito da
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
22
distribuição de volumes das partículas [12] que deve gerar um distribuição de barreiras de
energia.
dfTk
HLTHM
B
,0
(2.55)
Onde TKHL B é a função de Langevin e a magnetização de saturação é dada:
dfM S 0
(2.56)
Se considerarmos µ = MSV como uma aproximação válida, a magnetização do sistema
levando em conta a distribuição de volume pode ser calculada através da equação:
dVVfV
dVVfTk
VHMVL
MTHMB
S
S
,
0
0
(2.57)
Onde a distribuição de tamanho f(V) obtida por microscopia para nanopartículas possui
uma distribuição log-normal [11]:
2
2
2
1lnexp
2
1
mV
V
VVf (2.58)
onde Vm é o volume médio da partícula e σ é a largura da distribuição de tamanhos.
Para sistema de pequenas partículas consideramos uma anisotropia uniaxial efetiva Keff,
neste caso, a energia associada à anisotropia é dada por:
2sinKVE (2.59)
onde K é constante de anisotropia e V o volume da nanopartículas e é o ângulo entre o eixo
de fácil magnetização da partícula e seu momento magnético.
A Figura 2.13 mostra a variação da energia de anisotropia de uma partícula de um único
domínio com anisotropia uniaxial em função da direção de magnetização sem campo magnético
aplicado (linha sólida) e com um campo aplicado linha pontilhada. Como podemos observar
existem dois valores de ângulos (θ = 0º e θ = 180º) que minimizam a energia da partícula. A
orientação dos momentos magnéticos pode ser alterada com a aplicação de um campo, ou
variando sua temperatura. A altura da barreira, KV, determina o comportamento térmico do
sistema. Quando a energia de anisotropia da partícula for maior que sua energia térmica, ou
seja, KV >> kBT, a partícula se encontra em um dos dois estados de mínima energia (estado
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
23
bloqueado). Quando a partícula possui energia térmica suficiente para vencer a barreira de
energia, ou seja, kBT >>KV a partícula se encontra no estado conhecido como
superparamagnético.
A energia total da partícula na presença de um campo magnético aplicado é dada por:
cos 2
HKVsenE (2.60)
em que e são os ângulos formados, respectivamente, entre a direção do eixo fácil de
magnetização e o momento magnético ()Na presença de um campo magnético a barreira de
anisotropia será menor que KV. Neste caso, o valor da barreira de anisotropia é dado pela
diferença entre o mínimo e o máximo de energia da equação (2.60).
2
21
K
HMKVE S
(2.61)
Figura 2.13 – (a) Representação de uma partícula de monodomínio magnético com anisotropia uniaxial para uma
campo magnético, H, aplicado e (b) variação da energia da barreira em função do ângulo do vetor magnetização
com H = 0 (linha sólida) e com H diferente de zero (linha pontilhada) [28].
Para determinar o comportamento da magnetização das partículas vamos supor um
sistema formado por um conjunto de partículas com anisotropia uniaxial a uma temperatura T,
o qual apresenta uma magnetização Mi devido a aplicação de um campo magnético. Retirando
o campo em um tempo t = 0, a magnetização do sistema irá diminuir devido a reversão das
partículas que apresentam uma energia térmica suficiente para vencer a barreira de anisotropia
à sua orientação de equilíbrio. A dependência da diminuição da magnetização com o tempo é
proporcional a magnetização (Mi) e ao fator de Boltzmann:
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
24
MMe
dt
dM Tk
KV
B
0
1 (2.62)
onde é uma constante de tempo característico, que é na verdade o inverso da frequência de
tentativa da partícula, geralmente adotado na escala de 10-11-10-9 s.
Integrando a equação acima, temos:
tMr
Mi
dt
M
dM
0
(2.63)
Considerando que inicialmente o estado está saturado e utilizando a eq. (2.62) temos:
Tk
KVf
B
exp1
0
(2.64)
esta equação é conhecida como lei de Arrhenius.
O comportamento magnético das partículas no regime superparamagnético depende do
tempo de medição (τm) da técnica experimental utilizada em relação ao tempo de relaxação (τ).
Se τm > τ as partículas se encontram no equilíbrio térmico (estado superparamagnético),
enquanto que, se τm < τ a relaxação do sistema ocorre lentamente e as partículas parecerão
estáticas (estado bloqueado). Em medidas de magnetização, o tempo de medida é de
aproximadamente 100 segundos. Substituindo esse valor e o valor de f0 na equação 2.64
podemos encontrar um volume crítico, abaixo do qual a partícula está no estado
superparamagnético:
K
TkV B
C
25 (2.65)
Podemos determinar também, a partir da equação 2.61, considerando um volume fixo,
a temperatura de bloqueio TB:
B
Bk
KVT
25 (2.66)
A temperatura de bloqueio (TB) depende do tamanho das partículas envolvidas no
sistema. Para temperatura abaixo de TB, (T < TB) o sistema se encontra-se no estado ordenado
(bloqueado), onde sua principal característica é a presença de histerese magnética. Por outro
lado, em temperaturas acima de TB, o sistema se comporta como superparamagnético
(desbloqueado) e as isotermas de magnetização não exibem coercividade e remanência.
Os sistemas de pequenas partículas quando estão no estado superparamagnético, devem
obedecer inicialmente dois pontos: (i) a curva de magnetização em função do campo e
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
25
temperatura H/T deve ser descrita pela função de Langevin; (ii) As curvas de magnetização em
função do campo no equilíbrio termodinâmico apresentam coercividade e remanência nulos
[13].
2.3 COERCIVIDADE
O processo de magnetização de um material ferromagneto típico pela aplicação de um
campo magnético envolve o processo de movimento e/ou rotação de domínios magnéticos. Os
domínios magnéticos e suas paredes determinam a forma da curva de magnetização em função
do campo magnético aplicado observe a Figura 2.7. Além disso, eles são responsáveis pelas
propriedades magnéticas tais como remanência e coercividade [24]. O campo coercivo HC ou
coercividade é definido como o campo no qual a magnetização é reduzida da remanência para
zero [29].
Para partículas multidomínios a reversão da magnetização se dá inicialmente por
movimento das paredes de domínios e depois por rotação dos momentos magnéticos , já para
partículas finas, também chamadas de monodomínio o processo de magnetização acontece
apenas por rotação dos momentos. Para conseguirmos materiais com alta coercividade faz
necessário dois processos: (i) impedir o processo de reversão da magnetização com a
anisotropia magnética (ii) impedir a formação de paredes de domínios [30]. Os materias
ferromagnéticos com alta coercividade são chamados de materiais magneticamente duros e são
usados na fabricação de magnetos permanentes. Já os materiais que apresentam uma baixa
coercividade são chamados de magneticamente mole. Eles são usados em transformadores,
cabeças de gravação, aparelhos de microondas e blindagem magnética [4].
A coercividade de um material magnético, é determinada pela medida da histerese
magnética (ver Figura 2.7). Ela tem uma marcante dependência com o tamanho da partícula,
quando este é reduzido, a coercividade aumenta até um máximo e depois tende a zero. A Figura
2.14 mostra a dependência da coercividade em função do diâmetro da partícula para Fe, Co e
CoFe2O4 no qual este comportamento fica evidente. Essa figura mostra que o campo coercivo
da CoFe2O4 é máximo para um diâmetro de aproximadamente 55 nm.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
26
Figura 2.14 – Dependência da coercividade magnética com o tamanho da partícula [4].
2.3.1 Modelo de Stoner-Wohlfart
Umas das primeiras contribuições importantes para o entendimento da coercividade foi
feito por Stoner e Wohlfart em 1948. Os autores desenvolveram um modelo que descreve a
magnetização em função do campo magnético para sistemas nanoestruturados, considerando
um monodomínio elíptico alongado uniaxial e que a inversão da magnetização ocorre
uniformemente, ou seja, os spins dos átomos em um monodomínio permanecem paralelos entre
si durante a rotação. Além disso, as partículas permanecem sempre bloqueadas, ou seja,
considera T = 0 [31].
Na presença de um campo magnético H que forma um ângulo α com a direção de fácil
magnetização da partícula, a qual forma um ângulo θ com o momento magnético (ver Figura
2.15) a energia total neste caso é a soma da energia de anisotropia e a energia potencial, pode
ser escrito como:
cos2
HMKVsenE S (2.67)
e a magnetização na direção do campo,
cosSMM (2.68)
onde Keff é a constante de anisotropia efetiva, V é o volume da partícula e MS é a magnetização
de saturação.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
27
Figura 2.15 – Ilustração de um monodomínio magnético com um campo externo aplicado (H), fazendo um ângulo
com o eixo de fácil magnetização.
Minimizando a energia dada pela Eq. 2.67 em relação ao ângulo θ, pode-se calcular a
posição de equilíbrio para a magnetização de saturação. Os pontos de máximos e mínimos de
energia são determinados fazendo a derivada dessa equação. Com esta relação para MS e com
a equação da magnetização na direção do campo eq. 2.68, podemos obter a magnetização da
partícula para diversos valores de H e α, ou seja, pode-se determinar a curva de histerese obtida
com a aplicação de um campo magnético em qualquer direção em relação ao eixo de fácil
magnetização.
A Figura 2.16 apresenta as curvas de histerese em função do ângulo α. Podemos
observar que o valor do campo coercivo é máximo nas regiões onde temos os mínimos de
energia, ou seja, quando o campo magnético aplicado é paralelo ou antiparalelo ao eixo de fácil
magnetização (α = 0 e α = 180º). Por outro lado, quando o campo magnético é perpendicular
ao eixo fácil (α = 90º) não é observada a histerese. Stoner e Wohlfarth calcularam a
magnetização resultante para um conjunto de partículas não interagentes, com os eixos fáceis
distribuídos aleatoriamente. O ciclo de histerese calculado apresentou uma remanência igual a
metade da magnetização de saturação e coercividade dada por:
S
CM
KH
248.0 (2.69)
Eles concluíram que o campo necessário para que o monodomínio inverta sua
magnetização via rotação homogênea, é diretamente proporcional a anisotropia efetiva do
material. De acordo com a equação acima se aplicarmos um campo com um valor igual ao
campo de anisotropia e supondo que a magnetização esteja antiparalela ao campo aplicado, os
momentos se inverteram instantaneamente na direção do campo, logo podemos concluir que o
campo coercivo é igual ao campo de anisotropia. Veremos na próxima subseção que além do
campo magnético aplicado a energia térmica pode gerar a inversão dos momentos de spins.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
28
Figura 2.16 – Curvas de histerese calculadas pelo modelo de Stoner e Wohlfarth [31].
2.3.2 Modelo de Bean e Livingston
Um modelo que leva em conta o efeito da temperatura na rotação das partículas em um
sistema superparamagnético foi proposto por Bean e Livingston [16]. Eles consideraram que
uma única partícula com volume V, em uma certa temperatura T, tem energia máxima KV igual
a 25KBT, no qual as flutuações térmicas consegue manter a partícula num comportamento
superparamagnético, ou seja, sem coercividade e remanência. Portanto, para o estado bloqueado
(T < TB) o campo coercivo da partícula será o campo magnético externo necessário para reduzir
a energia da barreira para 25KBT e pode ser escrito como:
TkK
MHVKE B
eff
SCeff 25
21
2
(2.70)
Considerando a equação (2.66) e fazendo algumas manipulações simples na equação acima,
encontramos uma expressão para o campo coercivo HC:
2121
1225
12
)(B
eff
eff
Beff
CT
T
Ms
K
VK
Tk
Ms
KTH (2.71)
Observe que o campo coercivo encontado na equação acima foi calculado considerando
uma única partícula em um volume V. Para obtermos o campo coercivo para um sistema
constituído de um conjunto destas partículas podemos utilizar o modelo de Stoner-Wohlfarth
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
29
(HC(0)=0.48(2K/Ms)). Logo, a coercividade para um sistema de nanopartículas pode ser dado
por:
21
12
48.0)(B
eff
CT
T
Ms
KTH (2.72)
O expoente na temperatura na equação (2.72) nem sempre é usado como sendo 1/2, isso
ocorre quando todos os eixos fáceis das partículas tem a mesma direção do campo magnético
aplicado. Quando os eixos fáceis das partículas apresentam orientação aleatória, o expoente da
temperatura passa a ser 3/4 [32].
Sabemos que sistemas de nanopartículas reais apresentam uma distribuição de tamanho
que não é levado em conta na equação (2.72). Contudo, ela é amplamente utilizada no estudo
da coercividade de pequenas partículas.
Recentemente, um modelo generalizado que será descrito na próxima subseção foi
desenvolvido por Nunes e colaboradores [33], para o estudo do HC(T), considerando uma
distribuição de tamanho de partículas.
2.4 DIFRAÇÃO DE RAIOS X
A difração de raios X (DRX) representa o fenômeno de interação entre o feixe de raios
X incidente e os elétrons dos átomos que compõem um material, relacionado ao espalhamento
coerente do feixe difratado. A primeira expressão matemática que descreve a difração de Raios
X por estruturas cristalinas foi formulada por Bragg em 1912, conhecida como a lei de Bragg,
que relaciona a distância entre os planos cristalográficos com o ângulo de Bragg [34].
Considerando uma onda incidente formando um ângulo θ com o plano (hkl) observe a
Figura 2.17, para que haja interferência construtiva das ondas espalhadas, a diferença de
caminho entre os planos adjacentes (hkl) tem que ser um número inteiro de comprimento de
onda, logo podemos afirmar que está onda espalhada está em fase . Em síntese, o feixe incidente
normal ao plano de reflexão, e o feixe difratado são sempre co-planares e o ângulo entre o feixe
difratado e o feixe transmitido é sempre 2θ.
Algebricamente temos que a diferença de caminho pode ser escrita como:
sendhkl22 (2.73)
No caso de interferência construtiva temos:
n2 (2.74)
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
30
Combinando (2.73) e (2.74) podemos escrever:
sendn hkl2 (2.75)
Figura 2.17 – Ilustração geométrica da Lei de Bragg [35].
A equação (2.75) é conhecida como Lei de Bragg, onde é o comprimento de onda da
radiação incidente, n é um número inteiro, dhkl é a distância interplanar para o conjunto de
planos atômicos da estrutura cristalina e θ é o ângulo de incidência dos raios X, ou ângulo de
Bragg.
2.4.1 Método Rietveld de refinamento
O método de Rietveld é um método matemático que pode ser utilizado para ajustes de
um padrão teórico de difração de raios X a uma medida experimental policristalina, com o
intuito de obter informações estruturais da amostra, por essa razão a diferença entre um padrão
experimental e teórico deve ser mínima.
Com a construção de um padrão de difração através deste método é possível obter
informações sobre diversos parâmetros tais como: posições atômicas, fator de ocupação,
parâmetros de rede, grupo espacial, posições das reflexões dos picos, assimetria do perfil,
background e FWHM entre outros [36].
O método Rietveld faz-se o uso do método estatístico mínimos quadrados a fim
minimizar o resíduo Sy, descrito algebricamente através da equação:
i
ciiiy yywS2
)( (2.76)
onde yi é a intensidade observada para o i-ésimo ponto, yci é a intensidade calculada no i-ésimo
ponto e wi=1/yi.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
31
A intensidade calculada para um ponto i do padrão de difração, Yci é obtida através da
equação abaixo [37]:
birkkik
k
kci ySAPFLSY 22 2
(2.77)
onde:
S é o fator de escala;
K representa os índices de Miller;
Lk contém os fatores de Lorentz, polarização e multiplicidade;
f é a função do perfil de reflexão;
Pk é a função de orientação preferencial;
A é um fator de absorção;
Fk é o fator de estrutura da k-ésima reflexão de Bragg;
Sr é o fator de rugosidade superficial;
ybi é a intensidade da radiação de fundo no i-ésimo passo.
É importante avaliar a qualidade do refinamento através de equações matemáticas, que
podem ser acompanhadas a cada etapa do processo possibilitando avaliar os fatores de
qualidade. Dois fatores de confiança são expressos nas equações como segue [38]:
)(2
2
)(2
obsi
i
i
icaliobsii
wp
yw
yyw
R
(2.78)
i obsi
icaliobsi
Py
yy
R)(
)()(
(2.79)
Um fator de confiança Rwp (erro residual ponderado) é muito importante no processo de
refinamento, pois possui em seu numerador o resíduo que é minimizado. Quando este converge
para valores baixos indica que o refinamento foi obtido com êxito. Já na equação (2.79), o Rp
(R de Bragg), avalia as intensidades integradas, calculadas e observadas dos picos de difração.
Quando o padrão calculado se ajusta com precisão no padrão experimental os fatores de
qualidade tendem para zero. No entanto, segundo Guinebritiere (2007) estes fatores tendendo
para zero na prática são quase impossíveis de serem obtidos, na maioria das vezes coeficientes
Rwp entre 2 e 10% indicam um bom refinamento.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
32
Outro fator de confiança, Rexp (R-esperado) na equação a seguir, baseia na estatística de
contagem e indica o limite mínimo que Rwp pode atingir.
i obsii yw
PNR
2
)(
2
exp (2.8)
onde N é o número de pontos e P é o número de parâmetros refinados.
Podemos também avaliar o refinamento através do fator Goodness-of-fit, que representa
o número de variáveis usadas durante o processo de refinamento.
exp
2
R
RS
wp (2.81)
2.4.2 Tamanho do cristalito calculado por difração de raios X
Um dos métodos mais utilizados para determinarmos o tamanho do cristalito utilizando
a técnica de difração de raios X é através da equação de Scherrer [34]:
B
kD
cos (2.82)
onde D é o tamanho do cristalino, é o comprimento de onda da radiação, B é o ângulo de
Bragg, é a largura a meia altura do pico de difração e k é uma constante que depende da forma
e simetria do cristalito e dos índices de reflexão hkl. Neste trabalho o valor de k utilizado foi
0,89 [39].
Na equação (2.82), o parâmetro β deve ser corrigido para eliminar as contribuições
instrumentais. Uma maneira de fazermos essa correção é utilizando uma amostra padrão com
partícula grande, de modo que as larguras dos picos de difração observados são devido
exclusivamente aos efeitos instrumentais [40]. O parâmetro β foi corrigido através da equação:
ins2
exp2
(2.82)
Neste trabalho utilizamos uma amostra patrão de hexaborato de lantânio (LaB6) para
efetuarmos a correção instrumental.
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
33
2.5 FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X
Fluorescência de raios X (FRX) é um método quali-quantitativo baseado na medida das
intensidades dos raios X característicos emitidos pelos elementos que constituem a amostra, os
quais, por sua vez, emitem linhas espectrais com energias características dos elementos. O
princípio da técnica de FRX baseia-se no uso de uma radiação eletromagnética para produzir
ionização dos átomos das camadas mais internas presentes nas amostras devido a absorção
fotoeletrônica . A Figura 2.18 ilustra o processo de ionização do átomo e emissão característica
de raios X.
Figura 2.18 – Processo de ionização do átomo e emissão característica de raios X [41] .
Observe na figura acima que quando um feixe de raios X incide em uma amostra, este
tende a ejetar os elétrons do interior dos níveis mais internos dos átomos. Quando um elétron é
removido de um átomo, gerando uma vacância, o átomo fica instável e dois processos podem
ocorrer para o átomo voltar ao estado original. O primeiro envolve um rearangamento não
resultando da emissão de um fóton de raios X, mas na emissão de um outro elétron do átomo.
Este efeito é conhecido como efeito Auger e o segundo elétron emitido é chamado elétron
Auger. O segundo processo corresponde a saltos quânticos de elétrons de um nível mais
energético para preencher a vacância. Cada transição eletrônica constitui uma perda de energia
para o elétron, e essa energia é emitida na forma de um fóton de raios X [42].
Todos os fótons de raios X emitidos tem energia proporcional a diferença dos estados
de energia dos elétrons dos átomos. A relação entre o comprimento de onda, de um fóton de
raios X característico e o número atômico, Z, foi primeiro estabelecida por Henry Moseley e
sua lei é matematicamente escrita como:
Capítulo 2 – Fundamentação Teórica
34
2 1
ZK (2.84)
onde K e são constantes e tem valores específicos para a distribuição de níveis e subníveis de
energia envolvidos nas transições. De acordo com os postulados da mecânica quântica nem
todas as transições são possíveis. A Figura 2.19 mostra as transições permitidas de um elétron
nas três camadas mais internas.
Figura 2.19 – Principais transições permitidas por um elétron nas camadas mais internas [43].
Capítulo 3– Procedimentos Experimentais
35
CAPÍTULO 3
3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS
3.1 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS
Os nanocompósitos de ferrita de cobalto (CoFe2O4/SiO2) foram produzidos através do
método sol-gel. A matriz precursora constituída por sílica foi obtida a partir da mistura de
tetraetilortossilicato (TEOS), álcool etílico e água numa proporção molar de 1:3:10,
respectivamente. Essa solução foi agitada à temperatura ambiente durante 40 minutos para
homogeneização dos componentes. Após este processo quantidades estequiométricas dos
nitratos de ferro Fe(𝑁𝑂3)39𝐻2O e de cobalto Co(𝑁𝑂3)26𝐻2O na proporção molar 2:1,
respectivamente, foram adicionados no precursor da matriz de SiO2, para formar
nanocompósitos com 2, 10, 13, 20, 40 e 50 em wt% de ferrita de cobalto na matriz amorfa de
SiO2, as quais serão referidas neste trabalho como S2, S10, S13, S20, S40 e S50,
respectivamente. As soluções foram agitadas durante 1 hora para homogeneização e deixado
em repouso durante a gelificação. Os géis foram secos em uma temperatura de 120°C
conduzindo a formação dos xerogéis e calcinados em atmosfera aberta nas temperaturas de 750
e 850°C.
3.2 TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO
Nesta seção descreveremos brevemente cada uma das técnicas de caracterização
utilizadas neste trabalho. A análise termogravimétrica (TG) foi empregada com a finalidade de
analisar a estabilidade térmica das nanopartículas através das perdas de massas envolvidas.
Através da técnica de difração de raios X foi possível identificar a estrutura cristalina da ferrita
de cobalto, e determinar o tamanho do cristalito para as amostras de maiores concentrações.
Por meio da FRX fizemos uma análise quantitativa e qualitativa da ferrita de cobalto para
confirmar a composição química e estequiométrica das amostras. Para estudar a morfologia e
distribuição de tamanhos das nanopartículas utilizamos a microscopia eletrônica de
transmissão. Para a caracterização magnética utilizamos um magnetômetro com um sensor
SQUID para realizar as medidas de magnetização em função do campo e temperatura.
Capítulo 3– Procedimentos Experimentais
36
3.2.1 Análises térmicas
A análise termogravimétrica fornece uma medida quantitativa da estabilidade térmica
de uma substância em relação a variação de massa, em função do tempo, ou da temperatura.
Estas medidas podem serem realizadas sob condições de alto vácuo ou em diferentes atmosferas
inertes. O princípio de funcionamento consiste em forno ligado a uma balança de precisão onde
a amostra é colocada em um cadinho sob o forno e a variação da massa é medida. Esta medida
é chamada de curva termogravimétrica ou TG e as variações de massa depende do material a
ser medido, mas geralmente ocorrem devido à desidratação ou decomposição térmica de
compostos orgânicos presentes na amostra [44].
As análises térmicas foram realizadas em um analisador termogravimétrico da Shimadzu,
modelo TGA-50, em uma faixa de temperatura de ambiente até 800°C, numa razão de
aquecimento de 10°C min-1, sob atmosfera de argônio com fluxo de 40 mL/min. Em um
cadinho de platina em torno de 20-30 mg das amostras sem tratamento térmico foram utilizada
para as medidas. A variação de massa em função da temperatura é registrada com precisão de
0.1 mg e ocorre devido a fenômenos físicos e químicos. Essas medidas foram realizadas no
Laboratório de Química da UFS Campus Prof. Alberto Carvalho.
3.2.2 Microscopia eletrônica de transmissão
A microscopia eletrônica de transmissão (MET) é uma poderosa técnica para
caracterização de materiais, pois além de possibilitar a aquisição de imagens com alta resolução
da amostra pode realizar análises cristalográficas e espectroscópicas. Isto é possível porque o
comprimento de onda da ordem de Angstrons (Å) do feixe de elétrons é comparado com as
distâncias interatômicas [45].
As análises de Microscopia eletrônica de transmissão foram realizadas em um
microscópio eletrônico de alta-resolução (JEOL-3010), operando em uma voltagem de 300 kV,
no laboratório de Microscopia eletrônica (LME) pertencente ao Laboratório Nacional de Luz
Síncrotron (LNLS). Para o estudo por MET é necessário um espessura muito reduzida das
amostras. Para obter tal finalidade, dispersamos as amostras em isopropanol com ultrassom,
com o intuito de haver uma decantação dos grão maiores da amostra e os grãos menores fiquem
suspensos na solução. Estes grãos suspensos foram depositados em grades de cobre comerciais
para microscopia eletrônica, cobertas por um filme ultra fino de carbono amorfo com espessura
de aproximadamente 3 nm. Depois da evaporação do solvente resta apenas nanopartículas
menores facilitando as análises de MET.
Capítulo 3– Procedimentos Experimentais
37
3.2.3 Difração de raios X
A difração de raios X é uma das técnica amplamente utilizada na determinação da
estrutura cristalina de materiais [5]. As medidas de difração de raios X foram realizadas
utilizando um difratômetro convencional pertencente ao Departamento de Física da UFS,
campus prof. Alberto Carvalho, para amostras policristalinas da marca PANalytical,
configurado numa geometria Bragg-Brentano, no modo contínuo com uma velocidade angular
1/4° min-1, com um passo 0.13° em um intervalo de 25-70° usando radiação CuKα.
A identificação das fases foi feita usando um programa comercial da Phillips (X’Pert
HighScore), e as amostras com maiores concentração de ferrita de cobalto diluída na matriz
SiO2 foram refinadas através do método refinamento Rietveld pelo programa DBWSTools 2.4,
com a finalidade de obter o tamanho do cristalito através da equação (2.82).
3.2.4 Fluorescência de raios X
As medidas de fluorescência de raios X com dispersão por comprimento de onda
(WDXRF) foram realizadas em um espectrômetro Pioneer S4 (Bruker AXS) com tubo de ródio
Rh, pertencente ao Departamento de Ciências e Engenharia de Materiais da UFS. Os dados
foram coletados em uma faixa angular compreendendo o intervalo de energia entre 0,45 e 8
keV com uma abertura de colimador de 1,0°, com um tamanho de passo de 0,1 e um tempo de
exposição de 1s.
As amostras na forma de pó foram misturadas com ácido bórico para serem prensadas
formando pastilhas. As medidas foram analisadas diretamente no espectrômetro de FRX sem
qualquer tratamento prévio. Os raios X característicos foram coletadas usando um cristal PET
para as linhas KaSi e o XS-55 e LiF (200) para o oxigênio e as linhas Ke do Fe e Co.
3.2.5 Magnetometria
A caracterização magnética das amostras foi feita usando um magnetômetro SQUID
(Superconducting Quantum Interference Device) da Quantum Design MPMS SQUID-
EverCool, no instituto de física “Gleb Wataghin” da Universidade Estadual de Campinas –
UNICAMP e no departamento de Física da UFS. Foram realizadas medidas de magnetização
em função da temperatura no modo ZFC-FC (2 < T < 300 K) e do campo magnético (MvsH)
em diferentes temperaturas e com campo magnético variando de (-70 < H < 70 kOe).
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
38
CAPÍTULO 4
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 EFEITOS DE DISPERSÃO DAS NP’s DE CoFe2O4 NA MATRIZ DE SiO2
A dispersão de nanopartículas em matrizes isolantes, condutoras, cristalinas ou amorfas,
vem sendo utilizada, tanto no estudo das propriedades magnéticas básicas, quanto para
aplicações tecnológicas. Em particular, neste trabalho as NP’s de CoFe2O4 foram crescidas em
uma matriz amorfa de SiO2, com o propósito de reduzir as aglomerações interpartículas,
proporcionando um estudo das propriedades magnéticas sem a influência dos efeitos de
interação.
A Figura 4.1 mostra as medidas de difração de raios X realizadas a temperatura ambiente
nas amostras de CoFe2O4-SiO2 calcinadas em 750 e 850oC. As amostras S20, S40 e S50 foram
analisadas através do refinamento Rietveld com o uso do software livre DBWS9807 [46]. Para
essas amostras nós mostramos os padrões calculados e a diferença entre a medida experimental
e o calculado.
30 35 40 45 50 55 60 65 70
(44
0)
(51
1)
(42
2)
(40
0)
(22
2)
(22
0) In
ten
sid
ad
e (
un
id.
arb
s.)
S13-750
S2-850
S10-850
S13-850
S20-850
S40-850
S50-850
Iobs
Ical
Diff.
CoFe2O
4
2 (graus)
(31
1)
32 34 36 38 40
A
Figura 4.1 – Medidas de difração de raios X realizadas para CoFe2O4. A linha vermelha representa o padrão
calculado usando o refinamento Rietveld. As barras em vermelho correspondem aos picos do padrão da ferrita de
cobalto (CoFe2O4) encontrado na literatura (PDF 01-077-0426) [47].
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
39
A Tabela 4.1 apresenta os valores dos parâmetros de rede, volume da célula unitária e
os tamanhos do cristalito obtidos pela equação de Scherrer. Podemos observar que não houve
mudanças significativas dos parâmetros de rede e consequentemente no volume da célula
unitária. Os valores dos tamanhos do cristalito também não apresentaram mudanças
significativas para diferentes temperaturas de tratamento térmico. Por outro lado, houve um
aumento de tamanho em função da concentração de ferrita de cobalto na matriz.
Tabela 4.1 – Valores dos parâmetros de rede, volume da célula unitária e tamanho do cristalito obtidos por
refinamento Rietveld.
Amostras <Draios-X > (nm) Parâmetros de rede (Å) V(Å3)
S20-750 3.6 (1) a = b = c = 8.3704 (7)
α β γ = 90°
585.0 (1)
S20-850 3.9 (9) a = b = c = 8.4010 (5)
α β γ = 90°
592.8 (6)
S40-850 5.5 (6) a = b = c = 8.3865 (2)
α β γ = 90°
589.9 (2)
S50-850 7.6 (9) a = b = c = 8.3870 (1)
α β γ = 90°
589.9 (2)
O refinamento Rietveld para as amostras S20, S40 e S50 permite–nos afirmar que foi
obtido fase única com simetria cúbica pertencente ao grupo espacial Fd-3m. É importante dizer
que para corrigir principalmente a divergência do feixe nós utilizamos uma medida da amostra
padrão de hexaborato de lantânio (LaB6). Nós não observamos o padrão de difração relativo a
matriz de SiO2 devido provavelmente ao seu estado amorfo. Realmente, Silva e colaboradores
[12] observaram um padrão de difração cristalino do SiO2 para esse mesmo sistema somente
para amostras tratadas acima de 1000oC.
Por outro lado, os padrões de difração para as amostras de mais baixas concentrações
de ferrita de cobalto não apresentaram picos intensos. Realmente, uma ampliação feita na região
em torno do ângulo 2 = 35o no padrão de difração da amostra S13-750 mostra um pico pouco
intenso (veja o inset da Figura 4.1). Logo, o uso de técnicas mais sensíveis são necessárias para
evidenciar a presença das nanopartículas embebidas na matriz. Neste sentido, nós utilizamos
medidas de microscopia eletrônica de transmissão, fluorescência de raios X e magnetização. A
confirmação da presença de nanopartículas dispersas na matriz foi primeiramente feita através
das medidas de magnetização em função do campo magnético e da temperatura no modo ZFC-
FC. Em seguida, imagens de microscopia eletrônica de transmissão nas amostras S2-850 e S13-
750 confirmaram que nossas amostras são compostas de nanopartículas de CoFe2O4 embebidas
em sílica. A Figura 4.2 exibem as imagens de alta resolução de microscopia eletrônica de
transmissão (HRTEM) para essas amostras. As imagens forneceram informações sobre a
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
40
estrutura cristalina das amostras e possibilitou a observação da dispersão das nanopartículas na
matriz de SiO2.
Figura 4.2 – Imagens de microscopia eletrônica de transmissão de alta resolução (HRTEM) das amostras S2-850
e S13-750.
O programa Gatan Digital Micrograph foi usado para analisar as imagens. Além disso,
esse programa permitiu fazer uma Transformada de Fourier Rápida (FFT, Fast Fourier
Transform) para extrair informações da estrutura cristalina das amostras. A FFT é uma
representação do espaço recíproco ou espaço das frequências espaciais da imagem, semelhante
a uma difração de elétrons real [45]. Por meio da FFT foi possível observar as franjas de
máximos e mínimos das nanopartículas referente aos planos cristalinos do composto. Assim,
nós verificamos na imagem, planos com espaçamentos de 2.42 Å (Figura 4.2 (a)) e planos com
espaçamento 2.51 Å (Figura 4.2 (b)). Esses valores são equivalentes aos planos cristalinos (222)
e (311), respectivamente, da fase cristalina da CoFe2O4 com simetria cúbica pertencente ao
grupo espacial Fd-3m (PDF 01-077-0426) [47].
A Figura 4.3 mostra as imagens de MET para as amostras S2-850 e S13-750. Podemos
observar que as nanopartículas de ferrita de cobalto estão embebidas na matriz de óxido de
silício. Elas possuem uma forma aproximadamente esférica e, em função da concentração,
surgem regiões que apresentam aglomerados de nanopartículas acarretando no aumento das
interações magnéticas interpartículas. O inset da figura mostra os histogramas de tamanhos das
nanopartículas construídos a partir das imagens de MET de baixa magnificação usando o
software Image-J. Os histogramas foram ajustados a uma distribuição de tamanhos do tipo log-
normal (equação (2.58)), com diâmetro mediano < D > = 3.9 nm e D = 2.5 nm e uma largura
de distribuição de D = 0.3 e D = 0.2 para as amostras S2-850 e S13-750, respectivamente.
(a) (b)
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
41
Como as partículas aparentemente são esféricas, a distribuição log-normal de diâmetro
equivale a uma distribuição log-normal de volumes onde 36 DV e a dispersão v = 3D
[48].
Figura 4.3 – Imagens de microscopia eletrônica de transmissão (MET) para as S2-850 e S13-750. Histograma de
tamanhos obtido de diversas imagens MET, ajustado com uma distribuição de tamanho do tipo log-normal (como
mostrado em linhas sólidas vermelha nos histogramas).
Apesar das análises feitas a partir das medidas de DRX e MET mostrarem que as
nanopartículas de CoFe2O4 estão presentes na matriz de óxido de silício, do ponto de vista das
medidas de magnetização, é preciso conhecer a quantidade de massa de ferrita de cobalto dentro
da matriz de sílica. É preciso dizer que no processo de obtenção dos nanocompósitos a mesma
massa de sais (mantendo a estequiometria) foi usada para todas as amostras, ou seja, a diluição
das nanopartículas foi feita aumentando a quantidade de TEOS. Assim, com o objetivo de
estimar a massa de CoFe2O4 dentro do nanocompósito, nós produzimos por co-precipitação
nanopartículas de CoFe2O4 a partir de uma solução aquosa colocando a mesma massa dos sais,
mas sem adicionar o TEOS. Ao mesmo tempo, nós realizamos medidas de fluorescência de
raios X de comprimento de onda dispersivo (WDXRF) para obter o percentual dos óxidos.
As Figuras 4.4 e 4.5 mostram os espectros de fluorescência de raios X (FRX) para todas
as amostras. Ampliações de regiões específicas dos espectros fez-se necessário para melhor
visualização das intensidades dos raios X emitidos pelo silício, cobalto e ferro com uma certa
energia (ver insets das figuras). É bem conhecido [41] que a altura do pico no espectro de
WDXRF está relacionada com a concentração do elemento químico emissor.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
42
0.4 0.8 1.2 1.6 6 6.5 7 7.5 8
100
101
102
103
104
105
S2
S10
S13
S20
S40
S50
Inte
nsi
dad
e (k
cps)
CoK
1
FeK1
Co
Fe
SiK1
Si
CoL
FeL
O
Energia (keV)
T = 850oC
6.84 6.9 6.96 7.02 7.087.14
103
104
105
1.72 1.73 1.74 1.75 1.76
102
103
104
Figura 4.4 – Espectros de FRX para as amostras S2, S10, S13, S20, S40 e S50 calcinadas em 850. O inset mostra
uma ampliação do espectro para melhor visualização das intensidades dos raios X emitidos pelo silício, cobalto e
ferro com a energia característica para cada elemento químico.
0.4 0.8 1.2 1.6 6.4 6.8 7.2 7.6 8
100
101
102
103
104
105
S10
S13
S20
Inte
nsi
da
de
(kcp
s)
O
FeL
CoL
Si
SiK1
Fe Co
FeK1 CoK
1
Energia (keV)
T = 750oC 6.8 6.9 7 7.1 7.2
103
104
1.72 1.73 1.74 1.75 1.76
102
103
104
Figura 4.5 – Espectros de FRX para as amostras S10, S13 e S20 calcinadas em 750. O inset mostra uma ampliação
do espectro para melhor visualização das intensidades dos raios X emitidos pelo silício, cobalto e ferro com a
energia característica para cada elemento químico.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
43
A Tabela 4.2 apresenta os percentuais de óxidos obtidos das medidas de WDXRF para
todas as amostras de CoFe2O4-SiO2. Os resultados de WDXRF possibilitaram a determinação
da composição química dos nanocompósitos e o peso percentual de óxido de cobalto, óxido de
ferro e de óxido de silício das amostras em todas as concentrações.
Como esperado os espectros identificaram os elementos químicos: Co, Fe, Si e O. Os
percentuais de óxidos obtidos da análise de fluorescência de raios X ver (Tabela 4.2) está de
acordo com os cálculos estequiométricos, uma vez que a fórmula molecular da ferrita de cobalto
(CoFe2O4) fornece uma razão ideal entre as quantidades de ferro e cobalto de 2:1.
Tabela 4.2 – Resultados da análise de fluorescência de raios X para as amostras de CoFe2O4/SiO2.
Amostras %CoO %Fe2O3 %SiO2
S2-850 0.6 (6) 1.3 (5) 98.1 (2)
S10-850 2.8 (2) 6.1 (2) 91.1 (2)
S10-750 2.3 (3) 5.2 (2) 92.5 (2)
S13-850 3.5 (3) 7.3 (2) 89.2 (3)
S13-750 4.0 (2) 8.6 (2) 87.4 (3)
S20-850 5.7 (2) 12.4 (2) 81.9 (3)
S20-750 7.5 (2) 16.0 (1) 76.5 (3)
S40-850 13.9 (1) 29.6 (1) 56.5 (3)
S50-850 16.0 (1) 35.0 (1) 49.0 (3)
Para observar as possíveis perdas de massa e a estabilidade no processo de obtenção dos
nanocompósitos, nós realizamos medidas termogravimétricas (TG) em atmosfera de argônio a
10oC/min. A Figura 4.6 apresenta as curvas TG feitas no precursor do nanocompósito. O inset
mostra a perda de massa para a amostra S10 em duas varreduras consecutivas. Observe que a
segunda varredura não apresenta perda de massa significativa indicando que todo o resíduo
orgânico foi eliminado na primeira varredura.
A primeira perda de massa que ocorre desde a temperatura ambiente até 120°C pode ser
atribuído a evaporação do solvente (água e etanol) e decomposição dos nitratos de ferro e
cobalto [11]. O segundo intervalo de perda 200-350°C pode ser atribuído à decomposição da
molécula de TEOS [12] e também ao início da formação das nanopartículas de CoFe2O4. Acima
de 600°C, nós não observamos perdas de massa significativas, pois nesse intervalo de
temperatura apenas a finalização do processo de formação das nanopartículas de CoFe2O4.
Uma comparação das curvas de TG mostra que as maiores perdas de massa ocorreram
para as amostras que exibem uma maior concentração de CoFe2O4, como pode ser comprovado
na Figura 4.6. A amostra S50 apresenta a maior perda de massa entre todas as amostras
envolvidas, aproximadamente 46%.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
44
100 200 300 400 500 600 70050
60
70
80
90
100
S2
S10
S13
S20
S40
S50
Perd
a d
e m
ass
a (
%)
T (°C)
0 100 200 300 400 500 600 700
78
84
90
962o corrida
S10 amostra
Perd
a d
e m
ass
a (
%)
T (°C)
1o corrida
Figura 4.6 – Medidas termogravimétricas para as amostras S2, S10, S13, S20, S40 e S50. O inset mostra a perda
de massa da amostra S10 feitas em duas corridas.
Outra evidência muito forte da presença de nanopartículas de ferrita de cobalto na matriz
de sílica é a sua resposta magnética como função da temperatura e do campo magnético. Neste
sentido, medidas magnéticas em função da temperatura no modo ZFC (zero-field-cooling) e FC
(field-cooling) foram realizadas nas amostras CoFe2O4-SiO2.
A Figura 4.7 mostra as medidas de magnetização no modo ZFC e FC realizadas em H
= 50 Oe em função da temperatura (2 < T < 300 K) para as amostras S2, S10, S13 e S20
sintetizadas a 850ºC e S10, S13 e S20 a 750ºC. O inset na figura mostra a derivada da diferença
entre as curvas de ZFC e FC (d(ZFC –FC)/dT) e um ajuste a uma função de distribuição do tipo
Log-normal.
As curvas de ZFC-FC mostram claramente um típico comportamento de um sistema de
nanopartículas magnéticas, ou seja, a presença de histerese térmica abaixo de um certo valor de
temperatura chamada de temperatura de bloqueio, TB, que é definida pelo máximo da curva log-
normal (ver inset da Figura 4.7). Além disso, nós observamos que o máximo da curva de ZFC-
FC se desloca para regiões de mais alta temperatura com o aumento da concentração de ferrita
de cobalto na matriz. Uma vez que nem o tamanho médio das nanopartículas nem constante de
anisotropia efetiva, Keff, mudam apreciavelmente, nós atribuímos o aumento em TB aos efeitos
de interação entre as nanopartículas [18] ou/e aos efeitos da distribuição de tamanho das
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
45
nanopartículas. Com relação a esse último, enquanto que as análises das imagens de MET
mostraram um pequeno valor da distribuição de tamanhos, o encontro das curvas de
magnetização ZFC e FC ocorreu para temperaturas, Tirr, muito maiores do que TB e, nesse caso,
o encontro dependeu da concentração de nanopartículas dentro da matriz.
0 50 100 150 200 250 300
0.0
0.3
0.6
0.9
1.2
1.5
1.8
2.1
2.4
Ma
gn
eti
za
çã
o (
em
u/g
)
S2-850
S10-850
S10-750
S13-750
S13-850
S20-850
S20-750
T (K)
x3 x0.6
0 30 60 90 120
0.00
0.01
0.02
0.03
0.04
d/d
T(Z
FC
- F
C)
T (K)
Figura 4.7 – Curvas de magnetização ZFC-FC medidas em H = 50 Oe para amostras de CoFe2O4 tratadas em 750
e 850°C. O inset mostra a derivada da diferença entre as curvas ZFC e FC, e as linhas sólidas são os ajustes a uma
função Log-normal.
A Figura 4.8 mostra as curvas de MvsH medidas em 5, 20, 40 e 300 K com campo
magnético variando de - 70 ≤ H ≤ 70 kOe para a amostra S20-850. Para temperaturas menores
do que a temperatura de bloqueio (TB 95 K), o sistema apresenta coercividade e remanência
e, portanto está no estado bloqueado. Acima dessa temperatura as curvas não apresentam
coercividade e nem remanência característico do estado superparamagnético. O inset na figura
mostra a variação da magnetização de saturação com a temperatura para as amostras S2 e S20-
850. Observe que a curva de MS em função da temperatura para a amostra S2-850 apresentou
uma maior variação da magnetização de saturação comparado com a amostra S20-850. Nós
utilizaremos esse resultado para o ajuste das curvas de coercividade em função da temperatura
na próxima seção.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
46
-60 -40 -20 0 20 40 60-90
-60
-30
0
30
60
90
Ma
gn
etiz
açã
o (
emu
/g)
H (kOe)
5 K
20 K
40 K
300 K
S20-850
0 50 100 150 200 250 300
15
30
45
60
75
90
MS (
emu
/g)
T (K)
S2-850
S20-850
Figura 4.8 – Curvas de magnetização em função do campo. O inset mostra as curvas da magnetização de saturação
em função da temperatura para a amostra S2-850 e S20-850.
Uma vez que nem todas as amostras foi possível observar o padrão de raios X e/ou fazer
imagens de TEM, o volume médio foi obtido dos ajustes das curvas de magnetização em função
do campo medidas a temperatura ambiente (estado superparamagnético) usando a função de
Langevin ponderada por uma distribuição de tamanhos do tipo log-normal [49]. Em seguida o
tamanho médio das partículas foi calculado assumindo uma forma esférica das nanopartículas,
a partir da expressão, 36 DV . Além disso, esse ajuste também forneceu a
magnetização de saturação, largura da distribuição de tamanhose a contribuição
paramagnéticaAs Figuras 4.9 (a) – (d) mostram os ajustes para as amostras S2, S10, S13 e S20
calcinadas em 850°C e as Figuras 4.10 (a) – (c) mostram os ajustes para as amostras S10, S13
e S20 calcinadas em 750°C.
Tabela 4.3 – Parâmetros de saída dos ajustes da função de Langevin para as amostras de CoFe2O4/SiO2.
Amostras Tamanho médio (nm) MS (emu/g)
S2-850 3.85 0.475 14.85
S10-850 4.06 0.600 30.30
S10-750 2.25 0.855 22.43
S13-850 4.24 0.760 37.13
S13-750 2.37 0.285 19.16
S20-850 4.41 0.600 59.42
S20-750 3.85 0.775 37.88
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
47
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
0 1000 2000 3000 4000 5000 60000.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
(b)
Magn
etiz
açã
o (
T)
H (k A/m)
Experimental
Ajuste
(a)
Magn
etiz
açã
o (
T)
H (k A/m)
(d)
Magn
etiz
açã
o (
T)
H (k A/m)
(c)
Magn
etiz
açã
o (T
)
H (k A/m)
Figura 4.9 – Curvas de magnetização em função do campo medidas em uma temperatura de 300K para as
amostras, (a) S2, (b) S10, (c) S13 e (d) S20 calcinadas em 850°C. As linhas sólidas são os ajustes da função de
Langevin pesadas por uma distribuição de tamanhos tipo log-normal.
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
0.12
0.14
0.16
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
0.12
0.14
0.16
Magn
etiz
açã
o (
T)
H (k A/m)
(c)
(b)
Magn
etiz
açã
o (
T)
H (k A/m)
Experimental
Ajuste
Magn
etiz
açã
o (
T)
H (k A/m)
(a)
Figura 4.10 – Curvas de magnetização em função do campo medidas em uma temperatura de 300K para as
amostras, (a) S10, (b) S13 e (c) S20 calcinadas em 750°C. As linhas sólidas são os ajustes da função de Langevin
pesadas por uma distribuição de tamanhos tipo log-normal.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
48
Em resumo, nanopartículas de CoFe2O4 dispersas em sílica (SiO2) foram sintetizadas
através do método sol-gel. Para as amostras com maiores concentrações de CoFe2O4 as medidas
de raios X possibilitaram a identificação da fase e o cálculo do tamanho do cristalito através da
equação de Scherrer. Para as amostras com menores concentrações de CoFe2O4 foram
identificados os planos cristalinos (222) e (311) pertencentes a fase cristalina da CoFe2O4 por
meio das imagens de HRTEM. As imagens de MET confirmaram a dispersão das
nanopartículas na matriz de SiO2 e com o aumento da concentração foi possível observar a
formação de aglomerados de nanopartículas. Cálculos estequiométricos combinados com as
análises das medidas de FRX possibilitaram a determinação da massa total de CoFe2O4 dentro
da matriz. Por último, as curvas de magnetização em função da temperatura e do campo
magnético também comprovaram a presença das nanopartículas dentro da matriz de sílica. Nós
observamos um aumento de TB em função da concentração que pode estar relacionado com os
efeitos de interação entre as nanopartículas e/ou distribuição de tamanhos.
4.2 DEPENDÊNCIA DA COERCIVIDADE COM A TEMPERATURA
É bem conhecido que o efeito da distribuição de tamanhos em um sistema de
nanopartículas é produzir uma distribuição de barreiras de energia (EB = Keff<V>). No entanto,
a maioria dos modelos usados para estudar os sistemas de nanopartículas magnéticas não levam
em consideração o efeito da distribuição de tamanhos. Do mesmo modo, principalmente para
materiais com alta magnetização de saturação, os efeitos de aglomeração devido a interação
magnética também não são levados em consideração. Neste sentido, a obtenção de amostras
onde as nanopartículas estão dispersas em uma matriz pode elucidar o papel da interação nas
propriedades magnéticas. Além disso, a coercividade, remanência e a temperatura de bloqueio
também podem ser afetadas tanto pela distribuição de tamanhos quanto pela distância média
entre as partículas.
A dependência da coercividade e da remanência com a temperatura é mostrada na Figura
4.11 para a amostra S10-850. O campo coercivo e a remanência foram calculados tomando uma
média dos seus valores positivos e negativos nas curvas de MvsH. Como esperado pela teoria
do superparamagnetismo, a remanência e a coercividade diminuem em função da temperatura
e chegam quase à zero para temperaturas acima de TB.
Para um conjunto de nanopartículas magnéticas idênticas e não interagentes, a
dependência da coercividade com a temperatura HC (T) pode ser estudada através do modelo
de Bean e Livingston [16], expresso pela equação (2.72).
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
49
0 50 100 150 200 250 300
0.0
1.5
3.0
4.5
6.0
7.5
9.0
10.5
0
4
8
12
16
20
24
28
Hc (
kO
e)
T (K)
S10-850
MR
(em
u/g
)
Figura 4.11 – Campo coercivo e remanência em função da temperatura para a amostra S10-850.
A Figura 4.12 mostra o campo coercivo em função da temperatura para a amostra S13-
750. A curva de HC em função da temperatura foi ajustada usando HC(T) = HC(0)[1 -
(T/<TB>)1/2], onde HC(0) é o campo coercivo em T = 0 K e TB é a temperatura de bloqueio
média. Essa temperatura foi calculada através da derivada em relação a temperatura da
diferença entre as curvas FC e ZFC, ou seja, d(MFC − MZFC)/dT [28] e ajustadas a uma função
de distribuição do tipo Log-normal (ver inset da Figura 4.7). A linha sólida são os ajustes usando
essa função para dois intervalos distintos de temperatura. Nós podemos notar que esse modelo
está em acordo com os dados experimentais somente na região de baixas temperaturas onde
praticamente todas as partículas estão bloqueadas. No entanto, nós não obtivemos um bom
ajuste para todo o intervalo de temperatura.
Nunes e colaboradores [33] mostraram para um sistema metálico de CuCo e Mendonça
et al [50] para um sistema de nanopartículas de ZnFe2O4 que as interações magnéticas entre as
partículas e a distribuição de tamanhos podem ser responsáveis pela falha do modelo da equação
(2.72). Por esse motivo, nesse trabalho, nós sintetizamos nanocompósitos de nanopartículas de
ferrita de cobalto (MS = 80 emu/g na forma massiva) dispersas em uma matriz de SiO2 para
diferentes níveis de diluição das nanopartículas.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
50
0 50 100 150 200 250 300
-2
0
2
4
6
8
10
1
2
0.96 1eff
C
S B
K TH T
M T
T (K)
Cam
po C
oer
civo (
kO
e)S13-750
Figura 4.12 – Coercividade em função da temperatura para a amostra CoFe2O4 calcinada a 750ºC. As linhas
sólidas são ajustes feitos usando HC(T) = HC(0)[1 – (T/<TB>)1/2] para duas regiões diferentes de temperatura.
Dentre as propriedades magnéticas que podem sofrer a influência dos parâmetros
descritos acima, nós realizamos um estudo sistemático da dependência do campo coercivo com
a temperatura. Uma vez que as nossas amostras podem possuir uma larga distribuição de
tamanhos, nós utilizamos o modelo generalizado desenvolvido por Nunes e colaboradores [33]
o qual considera os dois efeitos que surgem em sistemas que apresentam uma distribuição de
tamanho de partículas: (i) uma distribuição de barreiras de energia gerado pela distribuição de
volumes e (ii) a variação da fração relativa de partículas no regime superparamagnético com a
mudança da temperatura, e seu efeito de diminuir a coercividade média em sistemas de
pequenas partículas. De acordo com esse modelo a temperatura de bloqueio média ⟨𝑇𝐵⟩ do
sistema varia em função da temperatura. Dessa forma, a dependência com a temperatura da
distribuição de temperaturas de bloqueio, ⟨𝑇𝐵⟩𝑇, pode ser calculado por:
T
BB
T
BBB
TB
dTTf
dTTfT
T (4.1)
Substituindo a equação 4.1 em 2.72, o campo coercivo das partículas bloqueadas (HCB)
pode ser calculado através de:
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
51
21
12
TB
eff
CBT
T
Ms
KH (4.2)
No entanto, Kneller e Luborsky [51] mostraram que as partículas no estado
superparamagnético, mesmo não apresentando coercividade, influenciam no campo coercivo
médio do sistema. A Figura 4.13 mostra o campo coercivo das partículas bloqueadas e
superparamagnéticas em uma aproximação linear para um conjunto de nanopartículas
magnéticas, de modo que a superposição das duas contribuições resultam na diminuição da
coercividade. Desde modo, o campo coercivo médio de um conjunto de nanopartículas deve ser
calculado através da equação:
r
C Tr
S
CB
M TH
M T
H T
(4.3)
onde
r S B B
T
M T M f T dT
(4.4)
0
25
3
T
SS B B B
B
MCT f T dT
T k T (4.5)
Se as partículas possuem os eixos fáceis alinhados = 1, ou = 0.48 quando estão
aleatórios [11,12]. Já S é a soma da susceptibilidade dos spins livres, FS, com a
susceptibilidade superparamagnética, SP, em sistemas com distribuição de tamanho não-
homogênea. Por fim, HCB (T) é determinado através das equações (4.1) e (4.2).
Para calcular a função distribuição da temperatura de bloqueio, f(TB), nós fizemos a
derivada da diferença entre as curvas FC e ZFC (d(ZFC –FC)/dT) e ajustamos a uma função de
distribuição do tipo log-normal. As distribuições de TB para as amostras S2-850, S10 e S13
calcinadas em 750 e 850°C foram apresentadas no inset da Figura 4.7.
Nas equações 4.4 e 4.5 a magnetização de saturação das partículas é considerada
constante, e assim, está fora das integrais. Por exemplo, os ajustes do campo coercivo para
nanopartículas de ZnFe2O4 [50] e para nanopartículas metálicas de CuCo [33] foram realizados
considerando um valor constante da magnetização de saturação. Materiais ferro ou
ferrimagnéticos na forma massiva com alto valor da temperatura de ordenamento apresentam
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
52
um valor de magnetização de saturação quase constante no intervalo 0 < T < 300 K
(MS(300)/MS(0) < 7%). Por outro lado, para materiais nanoestruturados, a dependência do MS
com temperatura pode apresentar maiores variações do que as apresentadas pelos materiais na
forma massiva. Em particular, nós observamos para as nossas amostras que o valor do MS (ou
o valor de M para o mais alto campo magnético) pode variar mais do que 10% dependendo da
amostra (ver o inset da Figura 4.8), quanto maior a diluição maior a variação do MS. Deste
modo, para essas amostras, MS foi considerado uma variável (MS(T)) e, deste modo, ele foi
introduzido nas integrando da equações 4.4 e 4.5. Para fins de integração, nós usamos uma
função exponencial para ajustar a sua dependência.
Figura 4.13 – Contribuição das partículas superparamagnéticas na coercividade [33,51].
Finalmente com o valor do campo coercivo das partículas bloqueadas (HCB), da
magnetização remanente (Mr) e da susceptibilidade superparamagnética total (χS) foi possível
obter o campo coercivo médio do sistema (⟨𝐻𝐶⟩𝑇) utilizado no ajuste das curvas experimentais
ao modelo.
A Figura 4.14 mostra a dependência do campo coercivo com a temperatura, HC(T), para
as amostras de CoFe2O4 calcinadas em 850°C e a Figura 4.12 as amostras calcinadas em 750°C.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
53
A linha sólida foi calculada usando o modelo proposto, descrito na equação 4.3, onde a
constante de anisotropia efetiva (Keff) foi considerada um parâmetro livre a ser determinado. Os
resultados apresentados nas Figuras 4.14 e 4.15 apresentam uma boa concordância entre os
dados experimentais em uma ampla faixa de temperatura. Esse resultado mostra a importância
de considerar a distribuição de tamanhos das partículas e a influência das partículas
superparamagnéticas na dependência do campo coercivo de um sistema de nanopartículas
magnéticas.
0 50 100 150 200 250 300
0
2
4
6
8
0 50 100 150 200 250 300
0
2
4
6
8
10
12
0 50 100 150 200 250 300
0
1
2
3
4
0 50 100 150 200 250 300
0
2
4
6
8
10
12
Ca
mp
o C
oerciv
o (
kO
e)
T (K)
S10-850
TB
S20-850
T (K)
Ca
mp
o C
oerciv
o (
kO
e)
TB
TB
S2-850
T (K)
Ca
mp
o C
oerciv
o (
kO
e)
S13-850
T (K)
Ca
mp
o C
oerciv
o (
kO
e)
TB
Figura 4.14 – Dependência com a temperatura do campo coercivo para amostras CoFe2O4 calcinadas a 850°C. As
linhas sólidas são ajustes feitos usando o modelo generalizado.
A Figura 4.16 mostra a dependência da constante de anisotropia efetiva extraída a partir
dos melhores ajustes usando o modelo generalizado em função da concentração de CoFe2O4 na
matriz de SiO2. A linha pontilhada representa o valor da constante de anisotropia para a ferrita
de cobalto na forma massiva obtida na referência [52].
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
54
0 60 120 180 240 300
0
2
4
6
8
10
0 60 120 180 240 300
0
2
4
6
8
10
0 50 100 150 200 250 300
0
3
6
9
12
T (K)
Ca
mp
o C
oer
civ
o (
kO
e)
S20-750
S13-750
TB
TB
T (K)
Ca
mp
o C
oer
civ
o (
kO
e)S10-750
TB
T (K)
Ca
mp
o C
erci
vo
(k
Oe)
Figura 4.15 – Dependência com a temperatura do campo coercivo para amostras CoFe2O4 calcinadas a 750°C. As
linhas sólidas são ajustes feitos usando o modelo generalizado.
0 4 8 12 16 200.8
1.2
1.6
2.0
2.4 7500C
8500C
K (
x10
6erg
/cm
3)
Concentração (%)
CoFe2O
4
Figura 4.16 – Dependência da constante de anisotropia efetiva com a concentração da CoFe2O4 na matriz de SiO2.
A linha pontilhada representa o valor da constante de anisotropia para a ferrita de cobalto na forma massiva.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
55
Os parâmetros experimentais para as amostras de CoFe2O4 são mostrados na tabela 4.4.
Os valores dos volumes médios, <V>, foram extraídos dos ajustes da função de Langevin das
curvas de magnetização em função do campo, Figura 4.10, Tmax corresponde ao valor máximo
de temperatura na curva ZFC, TB é a temperatura de bloqueio extraída da derivada da diferença
entre as curvas ZFC e FC, temperatura onde as curvas se encontram é a temperatura de
irreversibilidade, Tirr e as constantes de anisotropia efetiva as quais foram extraídas dos
melhores ajustes usando o modelo proposto.
Tabela 4.4 – Parâmetros experimentais para as amostras de CoFe2O4 sintetizadas a 750 e 850ºC. O <V>, foi
extraído através do ajuste da função de Langevin nas curvas de magnetização em função do campo, e Tmax
corresponde ao valor máximo de temperatura na curva ZFC, TB é a temperatura de bloqueio extraída da derivada
da diferença entre as curvas ZFC e FC e o encontro destas curvas é a temperatura de irreversibilidade Tirr. As
constantes de anisotropia efetiva as quais foram extraídas dos melhores ajustes usando o modelo generalizado.
Amostras < V > (nm)3 Tmax (K) TB (K) Tirr (K) Keff (erg/cm3)
S2-850 29.88 36.2 15.8 306.0 18.0x105
S10-850 35.04 46.4 18.9 296.0 12.5x105
S10-750 5.96 38.4 14.8 308.0 14.0x105
S13-850 39.91 100.6 24.0 312.0 10.0x105
S13-750 6.97 88.9 25.2 311.0 10.0x105
S20-850 44.91 175.0 94.9 290.0 (12.0 - 13.5)x105
S20-750 29.88 244.4 160.0 288.2 (8.0 – 9.0)x105
Como pode ser observado os valores das constantes de anisotropia efetiva, Keff, extraídos
usando o modelo generalizado, diminuem com o aumento da concentração de ferrita de cobalto
na matriz. Uma vez que as nanopartículas possuem uma forma aproximadamente esférica (ver
Figura 4.2), a constante de anisotropia efetiva deve depender principalmente das contribuições
das anisotropias magnetocristalina e de superfície. Assim, deveria ser esperado um aumento de
Keff em relação ao seu valor na forma massiva [10]. Uma vez que o modelo generalizado leva
em consideração a distribuição de tamanhos, a diminuição da constante de anisotropia com a
concentração de ferrita de cobalto observada em nossas amostras pode ser explicado assumindo
a existência de uma interação entre as nanopartículas. Observe que Keff diminui com o aumento
da concentração. Realmente, as imagens de MET mostram aglomerados de nanopartículas para
a amostra mais concentrada. Os possíveis tipos de interações magnéticas presentes nesses
sistemas são dipolares e de troca. Alguns trabalhos na literatura [53,54] usam o segundo tipo
de interação para discutir os dados experimentais de sistemas de nanopartículas magnéticas
diluídas. Em outras palavras, o efeito da interação faz surgir regiões magneticamente
correlacionadas, onde várias partículas de diferentes tamanhos começam a se comportar como
uma “superpartícula” magnética.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
56
A influência dessa interação na coercividade é bem descrito pelo modelo de anisotropia
aleatória (Random Anisotropy model, RAM) proposto inicialmente por Alben, Becker e Chi
[55]. Este modelo foi utilizado por Herzer para explicar o comportamento de nanocristais
magnéticos doces numa matriz amorfa [56]. Em sua abordagem, Herzer assumiu que os grãos
nanocristalinos se comportavam como momentos magnéticos rígidos com eixos uniaxiais de
anisotropia distribuídos uniformemente em todas as direções e que estavam acoplados pela
interação de troca, dentro de um comprimento de correlação Lex. Uma consequência desta
correlação é a diminuição da constante de anisotropia K por um fator que depende na média do
número grãos N de tamanho D contidos no volume de troca Vex3 proporcional a Lex
3:
3
ex
effL
DK
N
KK (4.6)
O valor de Lex dado por:
K
ALex (4.7)
Onde A é a constante de troca. Note que Lex depende principalmente de K.
Contudo, como o modelo de campo coercivo utilizado em nosso estudo não leva em
conta os efeitos da interação, a constante de anisotropia efetiva obtida é menor do que a
constante de anisotropia real.
As Figuras 4.17 e 4.18 mostram as temperaturas de bloqueio extraídas da derivada das
curvas de ZFC e FC e calculadas usando a expressão, TB = KeffV/25kB (equação 2.66). Os
volumes utilizados nos cálculos foram extraídos dos ajustes da função de Langevin e das
imagens de MET. Além disso, a temperatura de bloqueio foi calculada usando a constante de
anisotropia efetiva encontrada para a amostra mais diluída, onde espera-se que os efeitos de
interação interpartículas são menores. Os insets das figuras mostram a energia calculada usando
os ΔT da diferença entre os valores de TB’s observados experimentalmente e os calculados a
partir da equação 2.66. Para ambos os nanocompósitos tratados a 750 e a 850oC, as temperaturas
de bloqueio observadas nas medidas de magnetização dependem da concentração de
nanopartículas de ferrita de cobalto. Por outro lado, as temperaturas de bloqueio calculadas
usando os volumes extraídos dos ajustes das curvas de MvsH em T = 300 K forneceram valores
muito menores do que aqueles observados nas medidas de magnetização, exceto para a amostra
de menor concentração. Essa diferença aumenta em função da concentração de ferrita de
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
57
cobalto. Do mesmo modo, as TB’s calculadas usando o Keff da amostra mais diluída (menor
interação) e pelas imagens de MET apresentaram resultados similares. Uma vez que os
tamanhos médios das nanopartículas não variam apreciavelmente em função da concentração e
os valores das TB’s calculados usando os valores de Keff extraídos dos ajustes de campo coercivo
para cada amostra, e mantendo o Keff da mais diluída não são muito diferentes, nós acreditamos
que a diferença nos valores de TB é devido aos efeitos de interação. Os insets dos gráficos
mostram que essa energia é da ordem de poucos milieletron-volts.
Por último, é preciso dizer que nós tentamos aplicar o modelo generalizado para a
amostra S50-850, mas não obtivemos sucesso. Isso significa que o limite de interação
magnética para o qual o modelo deve funcionar para as nossas amostras está entre 20 e 50% de
ferrita de cobalto dentro da matriz.
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 220
15
30
45
60
75
90
105
ZFC-FC
Langevin
MET
Keff
= 18x104 J/m
3
CoFe2O
4
850°C
TB (K
)
Concentração (%)
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
0
2
4
6
8
En
ergia
(m
eV)
Concentração (%)
Figura 4.17 – Dependência da temperatura de bloqueio TB com a concentração da CoFe2O4 na matriz de SiO2 para
as amostras calcinadas em 850°C.
Capítulo 4 – Resultados e Discussões
58
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
0
30
60
90
120
150
180
ZFC-FC
Langevin
MET
Keff
=18x104J/m
3
CoFe2O
4
750°C
TB (K
)
Concentração(%)
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 210
2
4
6
8
10
12
14
En
ergia
(m
eV
)
Concentração (%)
Figura 4.18 – Dependência da temperatura de bloqueio TB com a concentração da CoFe2O4 na matriz de SiO2 para
as amostras calcinadas em 750°C.
Em conclusão, nós realizamos um estudo sistemático da dependência do campo
coercivo de nanopartículas de ferrita de cobalto dentro de uma matriz de sílica. Uma vez que
os dados experimentais não ajustaram ao modelo de Bean e Livingston, nós usamos um modelo
generalizado o qual considera o efeito da distribuição de tamanhos na coercividade. Os dados
experimentais foram ajustados para um amplo intervalo de temperatura. No entanto, os valores
da constante de anisotropia efetiva obtidos a partir do modelo diminuíram em função da
concentração. Nós atribuímos esse fato ao efeito da interação magnética entre as nanopartículas.
Capítulo 6 – Conclusões
59
CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES
Neste trabalho, um estudo sistemático da dispersão de nanopartículas de ferrita de
cobalto (CoFe2O4) dentro de uma matriz de sílica (SiO2) foi realizado. As amostras foram
obtidas através do método sol-gel usando o tetraethylorthosilicate (TEOS) como reagente de
partida. Esse método permitiu o controle da dispersão das nanopartículas e, deste modo, nós
controlamos o efeito das interações entre as nanopartículas. Medidas de raios X,
termogravimétricas, fluorescência de raios X, magnetização e as imagens de microscopia
eletrônica de transmissão comprovaram o sucesso da síntese. Para algumas amostras o tamanho
médio das partículas foi determinado das análises dos padrões de raios X usando o método
Reitveld e do tratamento das imagens de MET. As medidas de flourescência de raios X
permitiram determinar a proporção real de ferrita de cobalto dentro da matriz. As curvas de
magnetização em função da temperatura mostraram um comportamento geralmente observados
em sistemas de nanopartículas magnéticas, ou seja, um máximo na curva de ZFC e uma
histerese térmica entre as curvas de ZFC-FC abaixo da temperatura de bloqueio. Além disso, a
temperatura do máximo aumentou em função da concentração de ferrita de cobalto na matriz.
Da mesma forma, as curvas de MvsH mostraram uma diminuição do campo coercivo e da
remanência com a temperatura. Nesse caso, as curvas de MvsH medidas a temperatura ambiente
foram usadas para determinar os tamanhos médios e as distribuições de tamanhos usando a
função de Langevin ponderada por uma função de distribuição do tipo Log-normal.
Uma vez que o campo coercivo não decaiu com a raiz quadrada da temperatura (modelo
de Bean-Livingston) nós usamos um modelo alternativo que considera o papel da distribuição
de tamanhos e, assim, propõe uma dependência de TB com a temperatura do sistema. O estudo
da dependência do campo coercivo com a temperatura permitiu a obtenção da constante de
anisotropia efetiva. Contudo, os valores obtidos dos ajustes foram menores do que os
encontrados na literatura para o mesmo composto na sua forma massiva. Por último, nós
atribuímos a mudança da temperatura de bloqueio com a concentração e a diminuição na
constante de anisotropia efetiva aos efeitos de interação interpartículas.
Perspectivas Futuras
60
PERSPECTIVAS
1- Utilizar diferentes agentes químicos ou outras técnicas de preparação da CoFe2O4,
com o intuito de conseguir controlar a distribuição de tamanho e aplicar o modelo;
2- Dispersar as nanopartículas de CoFe2O4 em diferentes matrizes (ZnO, TiO2 ou Ag);
3- Produzir a MTFe2O4 (MT = Zn, Fe, Ni,) e dispersar na sílica.
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