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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL A aplicação da nova norma NBR 15575:2008 de Desempenho para edifícios habitacionais de até cinco pavimentos. Julio Martinis Marques de Abreu Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil Orientador: Professor Dr. Almir Sales São Carlos 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

A aplicação da nova norma NBR 15575:2008 de Desempenho para edifícios habitacionais de até cinco pavimentos.

Julio Martinis Marques de Abreu

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil Orientador: Professor Dr. Almir Sales

São Carlos 2009

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todas as pessoas que me incentivaram a seguir os caminhos que percorri, me ensinaram quando precisei de ajuda e me levantaram nos momentos em que pensei que não conseguisse ir sozinho. Em especial à Jil Mayumi Moutinho, a pessoa que me fez compreender que existia um mundo diferente do que eu conhecia e deixando minha visão sobre o meu arredor muito mais aberta, me fez pensar em o que é ser feliz e a aceitar as diferenças e entender que na tristeza de um obstáculo há sempre a alegria de se surpreender e se superar para transpor cada pedra no caminho.

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AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos para todos os meus amigos, colegas, professores e familiares. Aos amigos que ficaram na minha cidade de origem que sempre me apoiaram e cujas pessoas eu sempre pude confiar. Cinco deles são diferenciados e merecem ser citados: Andréa R. Rampazio, Bruno Sarmiento dos Santos, João Roberto M. Mamprin, Paulo Alexandre Y. Okuda e Silvia Helena Ferraro. Foram eles que estiveram comigo nos meus melhores e piores momentos desde que entrei na faculdade. Se não fisicamente, era neles que eu pensava quando precisava de alguém para me confortar. Aos meus professores desde o maternal até o professor da aula de Trabalho de Conclusão de Curso, que, eu gostando ou não, querendo ou não me ensinaram não só a ciência como um todo mas me ensinaram a aprender, a procurar, a me dedicar. A todas as pessoas que conheci em São Carlos que me fizeram crescer como pessoa. Aprendendo a dar valor a tudo. Pelas festas, pelos jogos, pela diversão e pelo estudo em conjunto. Desses amigos cuja amizade foi conquistada em São Carlos, três deles em especial, Fernando César A. R. Madia, Eric Felipe Gonçalves e Caio Sérgio de Pádua Kague, que ao longo da minha graduação foram mais que três braços direitos, foram meus irmãos, me auxiliando nos momentos mais difíceis tendo a devida paciência para com as minhas implicâncias, compartilhando as alegrias e vitórias do dia a dia universitário. Ao pessoal da EDIFICar Jr que, desde a sua fundação, há três anos atrás, foram pessoas que me ensinaram muito e que devo a elas muito do meu crescimento organizacional, argumentativo e disciplinar. Ao pessoal do estágio, que me fizeram aprender o que é trabalhar de verdade, o que é ter orgulho de ganhar o salário e dizer que foi um salário suado e que me ensinaram muitas coisas que, mesmo aprendendo na teoria, ainda não havia vivenciado. À minha namorada Jil Mayumi Moutinho, que, como citado na dedicatória, me fez enxergar uma vida diferente, que ser feliz é ser você mesmo, é ser espontâneo e não ter medo de ser o que somos, mas sabendo dos nossos defeitos e sempre lutando para melhorar. Também devo agradecer à minha família que sempre me apoiou nas minhas decisões. Aos meus irmãos Ligia Martinis M. de Abreu e Thiago M. Marques de Abreu que em todos os momentos que compartilhei da companhia deles fui muito bem recebido e só recebi energias boas e renovadoras. Essas energias foram as que me fizeram superar qualquer desgaste que eu pudesse ter perante qualquer obstáculo. Mas o agradecimento mais especial eu direciono a duas pessoas: ao meu pai Paulo Marques de Abreu e à minha mãe Marisa I. Martinis de Abreu. Essas duas simples pessoas que estiveram comigo desde antes do meu nascimento, que ouviram minhas primeiras palavras, que viram meus primeiros tombos, que me ensinaram a levantar, que me ensinaram a caminhar, que me ensinaram a seguir meu caminho. Meus sinceros agradecimentos primeiramente pela educação e cultura que tive desde pequeno e, em segundo lugar, pelo esforço de bancar meus estudos com muito suor e dedicação de forma que eu tivesse a tranqüilidade para seguir nessa caminhada. Sei o quanto vocês se doaram por mim e por meus irmãos. Espero que um dia, eu consiga fazer para com os meus filhos tudo o que vocês fizeram por mim.

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RESUMO

RESUMO

Este trabalho trata do estudo da nova Norma NBR 15575:2008 - Desempenho de edifícios

habitacionais de até 5 pavimentos e trata da aplicação desta norma que entra em vigor no

início de 2010. Foi dividido em duas etapas que se complementam. A primeira é o estudo de

um edifício habitacional de até 5 pavimentos que foi realizado sem levar em consideração

conceitos básicos que acabaram sendo utilizados na norma em questão. O segundo estudo

de caso é sobre um edifício em construção da Gafisa que, assim como algumas outras

construtoras, está apostando em uma tecnologia nova aqui no Brasil. Apesar de entrar em

vigor apenas em maio de 2010 a construtora já está levando em consideração, nesta obra,

alguns critérios e requisitos descritos pela norma. A conclusão se obtém através da

comparação de qualidade dos dois edifícios e este trabalho tenta assim, mostrar a

importância de se utilizar conceitos básicos que melhoram a qualidade das moradias dos

usuário, fazendo com que a moradia adquirida com muito esforço atenda às exigências dos

seus compradores.

Palavras-chave: Norma de desempenho, NBR 15575, sistema construtivo, qualidade de

vida, usuário, edifício, construção, critérios e requisitos.

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ABSTRACT

ABSTRACT

This work is about the study of the new NBR 15575:2008 - Performance of residential

buildings of up to 5 floors and also about the application of this rule that will come into be

obligation in early 2010. It was separated into two steps that are complementary one it other.

The first is the study of a residential building of up to 5 floors that has been built without pain

attention to the basics concepts that were eventually used in the standard. The second case

study is on a building under construction from Gafisa S.A., with is, as some other

construction company, betting on a new technology in Brazil. Despite this new rule just starts

in May 2010 the construction company is already considering in this building, some criteria

and requirements set by the standard. The conclusion is obtained by comparing the quality of

these two buildings and so this document tries to show the importance of using basic

concepts that improve the quality of the house`s users, making houses that are acquired with

great effort meets the requirements of their customers.

Keywords: Standard performance, NBR 15575, construction system, quality of life, User,

building, construction, criteria and requirements.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Fissura no canto da janela ....................................................................................... 16

Figura 2 – Usuário utiliza o botijão de gás ao lado do fogão ................................................... 17

Figura 3 – Esquadria de alumínio semelhante à do quarto estudado........................................ 18

Figura 4 – Caimento do piso .................................................................................................... 19

Figura 5 – Croqui da sala .......................................................................................................... 20

Figura 6 – Registro hidráulico cortado para caber a parede ..................................................... 20

Figura 7 – Detalhe do revestimento cerâmico / Parede fora de esquadro ................................ 21

Figura 8 – Logotipo do empreendimento – Fonte: Obra Brink - Gafisa .................................. 22

Figura 9 – Maquete eletrônica. Fonte: Obra Brink - Gafisa ..................................................... 23

Figura 10 – Fôrma montada ..................................................................................................... 24

Figura 11 – Vista lateral ........................................................................................................... 24

Figura 12 – Uma lateral do pavimento ..................................................................................... 25

Figura 13 – Fôrma específica para fazer o escoramento .......................................................... 26

Figura 14 – Escoramento da Laje ............................................................................................. 26

Figura 15 – Armação, Conduítes e fôrma metálica .................................................................. 27

Figura 16 – Colocação de concreto nas paredes ....................................................................... 27

Figura 17 – Colocação de concreto nas lajes ............................................................................ 28

Figura 18 – Acabamento da Laje .............................................................................................. 28

Figura 19 – Colocação do aditivo ............................................................................................. 30

Figura 20 – Detalhe da gravata ................................................................................................ 32

Figura 21 – Detalhe para a quantidade de gravatas na fachada ............................................... 33

Figura 22 – Detalhe dos vãos fechados com selante ................................................................ 33

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Exigências dos usuários .............................................................................................. 7

.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1

1.1 Apresentação do problema ...................................................................................... 1

1.2 Importância do projeto no contexto atual .............................................................. 1

1.3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 2

1.4 Objetivos .................................................................................................................... 3

1.4.1 Detalhamento dos objetivos ................................................................................... 3

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 4

2.1 Histórico .................................................................................................................... 4

2.2 Metodologia para avaliação de desempenho de habitações .................................. 5

2.2.1 Exigências do Usuário ............................................................................................ 6

2.2.2 Condições de Exposição ......................................................................................... 6

2.2.3 Requisitos e Critérios de desempenho .................................................................... 7

2.2.4 Métodos de Avaliação ............................................................................................ 8

2.3 Desempenho e homologação como instrumentos de melhoria da qualidade na construção habitacional ....................................................................................................... 8

2.4 A melhoria da qualidade do projeto ....................................................................... 9

2.5 NBR 15575:2008 ....................................................................................................... 9

2.5.1 Desempenho estrutural ......................................................................................... 10

2.5.2 Segurança contra incêndio .................................................................................... 11

2.5.3 Segurança e uso na operação ................................................................................ 11

2.5.4 Estanqueidade ....................................................................................................... 11

2.5.5 Desempenho Térmico e Lumínico ....................................................................... 11

2.5.6 Durabilidade e Manutenabilidade ......................................................................... 12

2.5.7 Saúde, higiene e qualidade do ar .......................................................................... 12

2.5.8 Funcionalidade e acessibilidade e Conforto tátil e antropodinâmico ................... 12

2.5.9 Adequação ambiental ........................................................................................... 13

2.6 Avaliação pós-ocupação ......................................................................................... 13

2.6.1 Conceituação de casa, moradia e habitação .......................................................... 13

2.6.2 Metodologia para avaliação pós-ocupação ........................................................... 13

2.7 GAFISA S/A ............................................................................................................ 14

3. METODOLOGIA ............................................................................................................ 15

3.1 Revisão bibliográfica .............................................................................................. 15

3.2 Estudo de caso 1 ...................................................................................................... 15

3.3 Estudo de caso 2 ...................................................................................................... 15

4. ESTUDO DE CASO 1 ..................................................................................................... 16

5. ESTUDO DE CASO 2 ..................................................................................................... 22

5.1 O empreendimento ................................................................................................. 22

5.2 O sistema construtivo ............................................................................................. 24

5.3 atendimento à nbr 15575:2008 .............................................................................. 29

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 36

7. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 38

8. APÊNDICE ...................................................................................................................... 40

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1. INTRODUÇÃO

O trabalho “A aplicação da nova Norma NBR 15575:2008 de Desempenho de

edifícios habitacionais de até cinco pavimentos” é uma obra que pretende demonstrar a

importância da correta aplicação desta norma que entrará em vigor no ano de 2010. Esta

norma especifica os requisitos, critérios e métodos de avaliação necessários para que se

obtenham produtos, no caso edifícios habitacionais de até cinco pavimentos, de qualidade

mínima necessária para garantir que seus usuários se sintam confortáveis dentro de

determinados padrões. Além disso, esses requisitos, critérios e métodos de avaliação

podem auxiliar no desenvolvimento de novas tecnologias que auxiliam a suprir deficiências

técnicas de alguns sistemas. Deve-se atentar que a NBR 15575:2008 também é aplicável a

edificações de mais que 5 pavimentos como descrito na própria norma.

1.1 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

Como é contextualizado durante todo o texto a seguir pode-se verificar que, tanto no

Brasil quanto no exterior, a aplicação de normas de desempenho sempre resulta em

melhorias na qualidade dos produtos finais e garantem, também, uma maior facilidade de

escolha desses produtos pelos seus clientes. E, sendo assim, para a construção civil esta

verdade não tem motivos para ser diferente, ou seja, a nova norma de desempenho de

edifícios habitacionais de até cinco pavimentos contribuirá e, muito, para a melhoria da

qualidade das novas edificações habitacionais. Porém, isto só se tornará uma verdade

irredutível se a nova norma for corretamente utilizada e inserida no mercado de edificações

habitacionais.

1.2 IMPORTÂNCIA DO PROJETO NO CONTEXTO ATUAL

Este trabalho tem como objetivo mostrar sua significante importância para, se

possível, fazer com que esta norma seja bem utilizada e aproveitada. Através de estudos de

caso verificar-se-á a importância da implantação de mudanças de projeto mínimas, como

por exemplo, a colocação de rampas ao invés de algum degrau, a realização de

impermeabilização das fundações, entre outros. A melhoria do desempenho é de um valor

muito maior que o custo destas alterações.

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Com isso, consegue-se ter um produto de qualidade muito maior, e

consequentemente, um usuário muito mais satisfeito. Por esta razão que se deve utilizar um

pouco mais de tempo na elaboração de um projeto com requisitos de desempenho muito

mais elevados já que ao final da confecção do produto, este esforço será recompensado

tanto financeiramente, quanto do ponto de vista da realização profissional do projetista uma

vez que ele terá confeccionado um produto de qualidade muito mais elevada que um projeto

que não considera essas alternativas.

1.3 JUSTIFICATIVA

Historicamente sabe-se que no Brasil, em geral, os usuários são os últimos a serem

ouvidos no momento da concepção de um produto o que acaba gerando um abismo entre o

produto imaginado e comprado por este cliente, e o produto disponibilizado e vendido para

eles. Os responsáveis pela concepção de qualquer produto se preocupam muito mais com

seu lucro do que com a satisfação do cliente. E, com a construção civil não é diferente, os

edifícios eram concebidos e apenas a parte visível como, por exemplo, pintura, pisos,

fachada, era bem feita uma vez que era isto que ajudava a alavancar as vendas. Porém,

com o passar dos anos os usuários começaram a perceber que devem sim reclamar sobre

seus produtos, exigindo que eles tenham qualidade, e com isso, foram pensadas diferentes

maneiras de se conseguir melhorar o desempenho das edificações e, principalmente, de se

conseguir medir essa qualidade de desempenho.

Neste contexto, foi elaborada a NBR 15575:2008 para que se atenda a exigências

mínimas dos usuários e se consiga diferenciar e classificar os diferentes produtos (edifícios

residenciais de até cinco pavimentos) produzidos na construção civil. Como esta norma

entrará em vigor em 2010 e, em tese, todos os engenheiros civis devem seguir suas

recomendações, faz-se necessário fazer uma melhor avaliação da norma e de suas

recomendações técnicas.

Este trabalho tentará provar a importância desta norma e suas principais aplicações

e, além disso, mostrar que as melhorias de alguns detalhes de projeto serão de custo

praticamente desprezível perante a melhoria de qualidade da edificação. É necessário

lembrar também de que a aplicação da nova norma não está restrita apenas para o início de

2010, mas que já existem construtoras interessadas em conquistar clientes com a qualidade

de seus produtos. Assim, este trabalho também mostrará que, antes de qualquer coisa, a

aplicação desta nova norma é, para grande parte dos requisitos, nada mais que uma

aplicação de bom senso na concepção das edificações, isso sem levar em consideração o

número de pavimentos.

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1.4 OBJETIVOS

Os objetivos que serão abordados neste trabalho são:

- Estudar e discriminar os principais parâmetros estabelecidos na nova norma NBR

15575:2008 de Desempenho de edifícios habitacionais de até cinco pavimentos;

- Estudar o caso de um edifício habitacional de até cinco pavimentos já em utilização

para discussão de algumas patologias originadas na pós-ocupação e, posterior discussão

sobre possíveis causas e relações dessas patologias com os parâmetros estabelecidos na

norma NBR 15575:2008; e

- Estudar o caso de um edifício habitacional de até cinco pavimentos em construção

à luz das recomendações de alguns parâmetros estabelecidos na nova norma NBR

15575:2008.

1.4.1 DETALHAMENTO DOS OBJETIVOS

O primeiro objetivo deste trabalho consiste em discriminar os principais requisitos e

parâmetros estabelecidos na norma NBR 15575:2008 identificando quais são os de maior

necessidade e quais são menos importantes dentro das necessidades do usuário quanto a

utilização de uma edificação.

O segundo objetivo é, com base nesta primeira identificação de requisitos mais ou

menos importantes dentro de uma edificação como um todo, realizar um estudo de caso de

uma edificação habitacional de até 5 pavimentos. Neste estudo serão verificadas as

principais queixas dos usuários e tentar-se-á identificar quais devem ter sido as premissas

utilizadas na concepção deste produto que não estariam de acordo com esta nova norma e

quais deveriam ser os requisitos a serem utilizados para que, se a edificação fosse

concebida nos dias atuais, não houvessem as queixas verificadas por parte dos usuários.

O terceiro, e ultimo, objetivo deste trabalho é realizar um estudo de caso onde se

consiga identificar a utilização dos parâmetros estabelecidos na norma NBR 15575:2008

mostrando que, apesar de a nova norma não ter ainda entrado em vigor já existem

construtoras interessadas em investir no conforto dos usuários e no desempenho de seus

produtos.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 HISTÓRICO

Desde quando o Homem começou a, ele próprio, fazer suas próprias moradas até a

Segunda Guerra Mundial os edifícios habitacionais eram construídos com produtos e

sistemas construtivos muito conhecidos pelos seus construtores. Desta forma o

comportamento desses sistemas era bem entendido em função da experiência acumulada.

Esse tipo de conhecimento é conhecido como a arte de bem construir. Após a segunda

grande guerra começou a surgir uma mentalidade mais industrial onde se devia desenvolver

novos materiais, com novas técnicas e conseqüentemente novos sistemas construtivos para

que se conseguisse uma rápida reconstrução das cidades e suas habitações. Isso tornou os

edifícios muito mais complexos e resultou no maior envolvimento de especialistas de

diversas partes do sistema. Criou-se, então, a necessidade de criação de uma retaguarda

tecnológica, começou-se a ter maior consciência da avaliação de desempenho dessas

soluções inovadoras.

Essa expansão deliberada de novas tecnologias começou a resultar em problemas

estruturais como, por exemplo, a explosão de gás do edifício Ronan Point em Londres onde

cinco pessoas morreram quando um lado da torre caiu como se fosse um castelo de cartas.

Peter Kellett apud MITIDIERI F. C. V.; HELENE, P. R. L (1998) conclui que “não se pode

empregar novas tecnologias, novos processos e sistemas de construção, sem antes ter

ensaiado ou avaliado”. Gerou-se assim, certo ceticismo quanto ao uso de novas tecnologias.

No Brasil, os novos sistemas construtivos foram utilizados como alternativas para

suprir o déficit habitacional como, por exemplo, o conjunto habitacional de Itaquera em São

Paulo na década de 70 onde foram construídas trinta mil unidades habitacionais com

diversos sistemas construtivos. Porém, poucos desses novos sistemas foram devidamente

avaliados ou desenvolvidos o que resultou em problemas patológicos que comprometiam a

segurança e habitabilidade.

Isto só serviu para perpetuar o descrédito em novas tecnologias de construção

industrializada. Verificou-se que era necessária nova consciência sobre avaliação de

desempenho e formas de controle de fabricação, execução e montagem. Começou,

também, a surgir a idéia de uma homologação de produtos e sistemas construtivos, pois

tudo isso ajudava os fabricantes, construtores e agentes promotores e financeiros da

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habitação a se precaver-se perante o Código de Defesa do Consumidor. Além disso, essa

idéia de homologação auxiliava os produtos habitacionais a competir contra os produtos

estrangeiros visto que um certificado de qualidade dava um crédito maior aos produtos

nacionais.

Nos Estados Unidos, na década de 70, por esforço de instituições como RILEM

(Reunión Internationale de Laboratoires d´Essais et de recherches sur lês Materiaux et

constructions), ASTM (American Society for Testing and Materials) e CIB (Conseil

International Du Batiment), foi realizado o 1º Simpósio sobre conceito de desempenho

aplicado ao edifício. Os segundo e terceiro simpósios foram realizados em 1982 em Portugal

e em 1986 em Israel respectivamente, sendo que neste último já contou com a participação

da ISO (International Organization for Standardization).

Essa iniciativa foi estendida para outras instituições e, no Brasil, o IPT (Instituto de

Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), na década de 80, sistematizou critérios

para avaliação de desempenho de habitações térreas unifamiliares. Essas iniciativas

facilitaram para os agentes promotores de habitação porque contribuem para que se saibam

quais critérios exigirem em seus programas específicos. Porém, muitas exigências são

prescritivas e é da responsabilidade do projetista definir os parâmetros de desempenho

necessários para atender o nível de satisfação dos usuários.

Assim, os critérios de desempenho foram sendo revisados até que no final de 1995 o

IPT com apoio da FINEP desenvolveu Normas Mínimas de Desempenho que permitia

avaliar um produto ou sistema destinado a construção de habitações populares e, no ano de

2008 foi lançada a norma NBR 15575:2008 de Desempenho de edifícios habitacionais de

até cinco pavimentos que entrará em vigor no ano de 2010.

2.2 METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO DE HABITAÇÕES

Segundo a própria norma NBR 15575:2008, desempenho pode ser pode ser definido

como o conjunto de características ou capacidades de comportamento e rendimento de um

indivíduo, produto, sistema empreendimento ou processo em especial quando comparados

com metas, requisitos ou expectativas. Desta maneira, deve-se seguir um método que faça

com que as exigências dos usuários sejam mensuráveis. Para Souza (1982) a metodologia

para a avaliação de desempenho de habitações pode ser descrita da seguinte forma:

- Identificação das exigências dos usuários;

- Identificação das condições de exposição a que estarão submetidos os edifícios,

seus componentes e elementos;

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- Definição dos requisitos e critérios de desempenho a serem atendidos pelo edifício,

seus elementos, e componentes expressos qualitativa e quantitativamente, respectivamente;

e;

- Definição dos métodos de avaliação a serem adotados.

2.2.1 EXIGÊNCIAS DO USUÁRIO

São as necessidades a serem satisfeitas pelo edifício a fim de que este realize sua

designação como produto, as condições necessárias à segurança e saúde do homem, ao

seu conforto e à satisfação de suas preocupações econômicas. Incluindo, nessa satisfação

econômica, a questão da durabilidade de um produto em função dos rendimentos dos

usuários, uma vez que o usuário que não tem altos rendimentos não poderia gastar mais

com pequenos reparos se comparado a usuários com altos rendimentos.

Essas exigências podem ter caráter absoluto (exigências com relação à estrutura) e

relativo (relação a conforto e durabilidade). Dependem de vários fatores como, por exemplo,

níveis culturais, percepção e região onde o usuário reside. Uma exigência em determinada

região pode ser apenas um simples desejo em outra região menos desenvolvida.

2.2.2 CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO

São, segundo Mitidieri (1998), caracterizados pelo conjunto de influências ou ações

atuantes sobre o edifício durante sua vida útil. No caso de uma habitação, são classificadas

em:

- Naturais: Ventos, chuvas, radiação solar, temperatura, etc;

- Origem externa: Impactos externos; e

- Utilização do edifício: Sobrecargas, choques devido ao uso, focos de incêndio.

Cada exigência dos usuários leva a um conjunto de condições de exposição, por

exemplo: para se garantir o desempenho estrutural devem-se verificar as condições quanto

às cargas permanentes, acidentes, sobrecargas de utilização, ação do vento, etc.

A seguir será apresentada uma tabela de exigências dos usuários produzida por

Mitidieri (1998):

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Tabela 1: Exigências dos usuários

1 - Exigências de segurança estrutural Estabilidade e resistência mecânica

2 – Exigências de segurança ao fogo Limitações do risco de início e propagação de um

incêndio, segurança dos usuários

3 – Exigências de segurança à utilização Segurança dos usuários e segurança a intrusões

4 – Exigências de estanqueidade Estanqueidade aos gases, aos líquidos e aos sólidos

5 – Exigências de conforto higrotérmico Temperatura e umidade do ar, condensação

6 - Exigências atmosféricas Pureza do ar e limitação de odores

7 - Exigências de conforto visual Aclaramento, aspectos dos espaços e das paredes,

vista para o exterior

8 - Exigências de conforto acústico Isolação acústica e níveis de ruído

9 - Exigências de conforto tátil Eletricidade estática, rugosidade, umidade,

temperatura da superfície

10 - Exigências de conforto antropodinâmico Acelerações, vibrações e esforços de manobras

11 - Exigências de higiene Cuidados corporais, abastecimento de água,

eliminação de matérias usadas

12 – Exigências de adaptação à utilização Número, dimensões, geometria e relações de

espaços e de equipamentos necessários

13 – Exigências de durabilidade Conservação do desempenho ao longo do tempo

14 - Exigências de economia Custo inicial e custos de manutenção e reposição

durante o uso

2.2.3 REQUISITOS E CRITÉRIOS DE DESEMPENHO

Para Mitidieri (1998) os requisitos e critérios são traduções das exigências dos

usuários para regras de qualidade definidas objetivamente de modo a serem atendidas pelo

produto. Pode-se saber se eles foram ou não atendidos quando o produto atende a níveis

que são possíveis de serem verificados analiticamente, através de ensaios e medidas,

inspeções em protótipos e em fabricas/ usinas além de julgamentos técnicos.

Caso seja possível medir se o produto atende ou não a esses níveis pode-se

verificar que o produto “atende as regras de qualidade, independentemente de sua natureza,

forma ou procedência.” (MITIDIERI F. C. V.e HELENE, P. R. L., 1998)

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2.2.4 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO

Depois que foram definidos os critérios e requisitos são necessários métodos

uniformizados de avaliação que são associados a:

“- Medidas de propriedade definidas e mensuráveis dos materiais e componentes do

edifício;

- Ensaios e medidas onde se tenta produzir as condições de exposição de uma

maneira simplificada e padronizada;

- Calculo de modelos teóricos que sintetizem o modelo pratico; e

- Julgamento técnico.” (MITIDIERI F. C. V.e HELENE, P. R. L., 1998).

2.3 DESEMPENHO E HOMOLOGAÇÃO COMO INSTRUMENTOS DE

MELHORIA DA QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO HABITACIONAL

“Homologação é um processo de certificação de produtos inovadores na construção

civil” (MITIDIERI F. C. V.e HELENE, P. R. L., 1998). Ele faz com que o controle de

recebimento automaticamente já se integre com o controle de produção, pois o produto

detentor de um documento de homologação é satisfatoriamente avaliado e tem um controle

continuo de produção.

O documento de homologação, produzido por uma empresa ou instituição

independente, também trás informações técnicas muito úteis para o usuário como formas de

execução, instalação, etc. Desta maneira ele serve tanto para o cliente final quanto para o

cliente intermediário de forma que o cliente final, o usuário, vai utilizar-se das informações

técnicas como instalação e utilização enquanto que o cliente intermediário, os construtores,

irá utilizar-se desses documentos para verificação de qualidade do produto.

Além disso, hoje existem programas como o PBQP-H (Programa Brasileiro de

Qualidade e Produtividade da Habitação) que serve para implementar um sistema nacional

de aprovações técnicas e o QUALIHAB (Programa de Qualidade no Sistema Habitacional do

Estado de São Paulo) que torna mais fácil o acesso de pequenas e medias empresas

detentoras de sistemas inovadores.

Assim, a homologação acaba como sendo um divisor de águas, pois as empresas

procuram ter essas certificações para que sejam bem aceitas no mercado e, para isso,

tendem a ter cada vez mais qualidade, o que resulta em um maior desempenho dos seus

produtos.

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2.4 A MELHORIA DA QUALIDADE DO PROJETO

Sabe-se que, para que se obtenham melhores edificações são necessários melhores

projetos e quanto mais detalhados forem eles melhor será o seu resultado. Segundo Novaes

(1998), os procedimentos que têm contribuído para projetos com resultados insatisfatórios

são:

- Má interpretação das necessidades dos usuários;

- Ausência de formas de representação para facilitar ao cliente o entendimento dos

projetos;

- Não consideração, durante a concepção do projeto, das particularidades do

processo de produção das edificações;

- Não integração entre os diversos projetos originando não integração dos sistemas

construtivos;

- Uso incorreto de informações disponíveis ou uso de informações desatualizadas; e

- Má interpretação das normas de projeto.

Pode-se perceber que, tirando o item que fala de má interpretação da norma, a NBR

15575:2008, em teoria, auxilia ao projetista a erradicar praticamente todos esses

procedimentos incorretos deixando os projetos muito melhores e aumentando a qualidade

do produto final.

2.5 NBR 15575:2008

A NBR 15575:2008 visa simplesmente o comportamento em uso do edifício e não a

prescrição de como os sistemas construtivos são executados. Para tanto, são definidos

requisitos, critérios e métodos de avaliação visando incentivar e balizar o desenvolvimento

tecnológico e, ao mesmo tempo, orientar a avaliação da eficiência técnica e econômica das

inovações tecnológicas traduzindo as exigências dos usuários e complementando as

normas prescritivas. Assim, faz-se necessário a utilização de normas prescritivas que fazem

o papel de balizar a utilização dos sistemas construtivos e suas prescrições.

A norma é dividida em seis partes onde a primeira é basicamente referente às

exigências dos usuários e aos requisitos gerais comuns aos diferentes sistemas enquanto

que as outras cinco partes são constituídas por requisitos mais específicos de cada sistema.

Deve-se levar em consideração que, apesar de o nome desta norma ser de

Desempenho de edifícios habitacionais de até cinco pavimentos ela pode ser aplicada em

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edifícios com mais que cinco pavimentos desde que os critérios não dependam diretamente

de sua altura.

Os usuários possuem três diferentes tipos de exigências: segurança. Habitabilidade

e sustentabilidade. As exigências do usuário relativas à segurança são expressas pelos

seguintes fatores: segurança estrutural; segurança contra o fogo; e segurança no uso e na

operação. As exigências do usuário relativas à habitabilidade são expressas pelos seguintes

fatores: estanqueidade; conforto térmico; conforto acústico; conforto lumínico; saúde,

higiene e qualidade do ar; funcionalidade e acessibilidade; e conforto tátil e

antropodinâmico. Por último, as exigências do usuário relativas à sustentabilidade são

expressas pelos seguintes fatores: durabilidade; manutenibilidade; e impacto ambiental.

O bom desempenho de uma edificação começa com os projetistas, de comum

acordo com o contratante, e com o usuário, que devem estabelecer a vida útil de cada

subprojeto. Segundo a norma, é da incumbência do incorporador, a identificação dos riscos

previsíveis na época do projeto, “devendo o incorporador neste caso providenciar os

estudos técnicos requeridos e alimentar os diferentes projetistas com as informações

necessárias.” Aos construtores e incorporadores cabe elaborar o Manual de operação uso e

manutenção que deve ser entregue ao proprietário onde são estabelecidos prazos de

garantia. Por ultimo, ao usuário cabe a incumbência de realizar a manutenção.

Todos os projetos sejam eles de arquitetura, da estrutura, das fundações, entre

outras, devem ser desenvolvidos com base nas características do local da obra, tomando-se

as providências necessárias para que não ocorram prejuízos e, também, devem prever as

interações entre construções próximas. Em caso de necessidade de se realizar medições ou

ensaios laboratoriais esta informação deve estar prevista no projeto.

A seguir serão descritos de maneira generalista os principais itens comentados nesta

norma:

2.5.1 DESEMPENHO ESTRUTURAL

O desempenho estrutural é imprescindível uma vez que ele faz com que a ruína da

estrutura pela ocorrência de algum estado limite último seja evitada. Os estados limites

últimos fazem com que a construção seja paralisada no todo ou em parte e por isso o

comportamento da estrutura ou do sistema no estado limite de serviço deve ser previsto em

projeto, de forma que não causem problemas estruturais que impeçam o uso da construção

ou mesmo comprometam a durabilidade estrutural.

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2.5.2 SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO

Com relação à Segurança ao Incêndio a norma especifica que se deve conseguir

diminuir ao máximo a possibilidade de incêndio e maximizar a probabilidade dos usuários

conseguirem sobreviver no caso de acontecer um incêndio além de que a vizinhança seja a

menos afetada possível. A dificuldade do incêndio se propagar e saídas de emergências são

alguns dos requisitos a serem pensados em projetos para que se atenda a este item.

2.5.3 SEGURANÇA E USO NA OPERAÇÃO

A segurança no uso e operação dos sistemas e componentes do edifício deve ser

considerada. Portanto deve-se assegurar que medidas sejam tomadas para garantir

segurança aos usuários. Estas medidas podem ser desde proteção contra quedas até

proteção acidentes provenientes de vazamentos de gases.

2.5.4 ESTANQUEIDADE

Alguns mecanismos de deterioração que acarretam a perda das condições de

habitabilidade e de higiene do ambiente construído são: a exposição à água de chuva, à

umidade proveniente do solo e àquela proveniente do uso do edifício habitacional. Por isso

que a estanqueidade é outro fator que deve ser muito bem tratado pelo projetista de forma a

se garantir o melhor desempenho. Esta estanqueidade pode ser feita desde a

impermeabilização do solo até medidas como drenar a água proveniente do terreno vizinho.

2.5.5 DESEMPENHO TÉRMICO E LUMÍNICO

A edificação habitacional deve reunir características que atendam as exigências de

conforto para os usuários. O conforto térmico é um importante aspecto de conforto e deve-

se considerá-lo de acordo com a região de implantação da obra e as respectivas

características bioclimáticas. Outra característica com relação ao conforto é o conforto

acústico. Assim, o edifício habitacional deve apresentar adequado isolamento acústico das

vedações externas, no que se refere aos ruídos aéreos provenientes do exterior da

habitação, e adequado isolamento acústico entre ambientes. Além disto, deve-se atender ao

conforto lumínico, ou seja, durante o dia, as dependências da edificação habitacional devem

receber conveniente iluminação natural seja ela oriunda diretamente do exterior ou

indiretamente através de recintos adjacentes. Para o período noturno, o sistema de

iluminação artificial deve proporcionar condições internas satisfatórias para ocupação dos

recintos e circulação nos ambientes com conforto e segurança.

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2.5.6 DURABILIDADE E MANUTENABILIDADE

A durabilidade do edifício e de seus sistemas está diretamente associada ao custo

global do bem imóvel e, por essa razão, é uma exigência econômica do usuário. Ela se

extingue quando o produto deixa de cumprir as funções que lhe forem atribuídas, quer seja

pela degradação que o conduz a um estado insatisfatório de desempenho, quer seja por

obsolescência funcional. O período de tempo compreendido entre o início de operação ou

uso de um produto e o momento em que o seu desempenho deixa de atender as exigências

do usuário preestabelecidas é denominado vida útil. Para que se obtenha esta maior

durabilidade deve-se realizar a confecção de manuais do usuário para que este saiba como

operar e também como realizar a manutenção. Desta forma, a vida útil do empreendimento

será muito mais elevada do que se não for realizada a manutenção. Para se ter uma idéia

de vida útil de projeto tem-se na norma alguns valores mínimos como, por exemplo, 40 anos

para a estrutura ou 20 anos de vida útil para a cobertura.

2.5.7 SAÚDE, HIGIENE E QUALIDADE DO AR

As exigências relativas à saúde são regidas por regulamentos técnicos estabelecidos

pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), porém a norma também estabelece

alguns requisitos (como propiciar condições de salubridade dentro da edificação) para que

se garanta saúde, higiene e qualidade do ar. Desta maneira o desempenho do produto deve

ter qualidade maior que se fosse aplicado apenas os requisitos sugeridos pela ANVISA.

2.5.8 FUNCIONALIDADE E ACESSIBILIDADE E CONFORTO TÁTIL E

ANTROPODINÂMICO

Esta norma também preconiza, em um dos seus itens mais básicos, que a

funcionabilidade e acessibilidade dos cômodos seja respeitado de modo a especificar

dimensões mínimas e disponibilidades de espaços mínimos para que se tenha um ambiente

funcional. Por causa disto este pode ser considerado um item muito simples, mas que é de

enorme importância principalmente para edificações para classes menos desfavorecidas.

Além disto, este item prevê que se devem ser realizadas adaptações (como barras de apoio

e rampas) para que deficientes físicos possam ter fácil acesso às áreas que lhes possam

ser necessárias para uma utilização de maneira eficiente do ambiente.

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2.5.9 ADEQUAÇÃO AMBIENTAL

Porém, apesar de conseguir-se melhorar o desempenho de quase todas as

exigências dos usuários, ainda não é possível estabelecer critérios e métodos de avaliação

relacionados à expressão desse impacto ambiental, porém, de forma geral, os

empreendimentos e sua infra-estrutura devem ser projetados, construídos e mantidos de

forma a minimizar as alterações no ambiente.

2.6 AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO

2.6.1 CONCEITUAÇÃO DE CASA, MORADIA E HABITAÇÃO

Segundo BASSO, A. e MARTUCCI, R. (2002) existem três conceitos próximos que,

não significam a mesma coisa e devem ser aqui explicados. Casa, segundo esses autores,

é a proteção física, o ente material, moradia tem uma ligação forte com o funcionamento da

casa, uma mesma casa pode ter vários tipos de usuários transformando-a em diversos tipos

diferentes de moradias. Já habitação tem uma ligação muito relacionada com a infra-

estrutura urbana instalada, sendo dependente da localização em que se encontra. Portanto,

neste trabalho quando se referirmos ao edifício como um todo, não se pode levar em

consideração os arredores, não sendo possível utilizar o conceito de habitações, mas sim de

moradia, uma vez que levaremos em consideração os usuários.

2.6.2 METODOLOGIA PARA AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO

Os autores Basso e Martucci (2002) sugerem a seguinte metodologia para uma

avaliação pós-ocupação:

- Primeira Parte: Utiliza-se de conceitos técnicos com o auxilio de bibliografia técnica

que, neste trabalho, será a NBR 15575:2008. Nesta primeira parte existem duas etapas. A

primeira é a fase onde se analisa as hipóteses utilizadas em projeto e os métodos de

concepção do edifício além de se observar a seleção e utilização adequada das tecnologias

empregadas. Já na segunda etapa não mais se analisa os sistemas construtivos, mas sim

as características sócio-econômicas das famílias. Ou seja, são utilizados os conceitos de

moradia e, principalmente, habitação na segunda etapa enquanto que na primeira é mais

ligado ao conceito de casa e também ao de moradia.

- Segunda Parte: É um processo de análise e síntese dos dados obtidos que vão

auxiliar na apresentação dos resultados.

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- Terceira Parte: É onde se dará a integração metodológica. Neste trabalho não

trabalharemos com esta parte.

2.7 GAFISA S/A

A construtora e incorporadora Gafisa S/A é considerada líder nacional no mercado

de construções de edifícios residenciais. Sendo assim, esta é uma empresa visada e muito

importante para se entender a tendência de mercado atual. Segundo o site da empresa,

”..desde a sua fundação, em 1954, concluiu mais de 950 empreendimentos e construiu mais

de 10 milhões de metros quadrados em edificações, ou seja, houve um grande trabalho já

feito nesses 55 anos de atuação. Atualmente sediada na cidade de São Paulo, a empresa

atua em todas as regiões do Brasil, sendo no final de 2008, presente 21 dos 26 estados

brasileiros, com um total de 199 obras em andamento na época. “ Estes dados só

corroboram com a afirmação de que esta é uma empresa lançadora de tendências. Sendo

assim, a utilização de uma obra desta empresa neste trabalho pode funcionar para medir a

tendência do mercado para os próximos anos.

Os valores da empresa são, segundo o site da própria Gafisa:

“ - Gente comprometida, focada em resultados e com uma cultura forte;

- Produtos diferenciados em todos os segmentos residenciais;

- Produtos competitivos que atendam às expectativas de qualidade e prazo de

entrega dos nossos clientes. “

Para se conseguir atingir esses valores o grupo Gafisa tem alguns conceitos e,

dentre eles, existem dois que merecem ser citados por ter algo que está muito ligado a esta

norma:

“- Inovação - Inovação de produtos, antecipando-nos às tendências mundiais e às

expectativas e necessidades dos clientes;

- Qualidade - Incorporação e desenvolvimento de tecnologias de ponta para garantir

a qualidade de nossos produtos e processos”

Esses conceitos reforçam ainda mais a importância de se estudar esta empresa para

se conseguir entender como o mercado está e quais são as suas tendências. Foram por

causa desses valores e do tamanho da empresa que se escolheu trabalhar com esta

empresa no estudo de caso 2. Além disso, a empresa está tentando diminuir o tempo de

construção de edifícios habitacionais. Para isso, está desenvolvendo um sistema construtivo

muito utilizado na Colômbia e que no Brasil está em processo de desenvolvimento ainda.

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3. METODOLOGIA

Com intuito de se atingir os objetivos propostos será utilizada a metodologia a seguir

descrita:

3.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A norma NBR 15575:2008 de Desempenho de edifícios habitacionais de até cinco

pavimentos foi estudada e, em seguida, foram discriminados os principais parâmetros nela

estabelecidos. Além disso, já foi realizado um estudo para que se obtenham novas

bibliografias para consulta em caso de dúvidas e para melhor aprofundamento dos temas.

3.2 ESTUDO DE CASO 1

Foi realizado um estudo de caso de um edifício habitacional de até cinco pavimentos

já construído para discussão de algumas patologias originadas na pós-ocupação. Depois do

estudo de caso foi realizada uma comparação com a NBR 15575:2008 para verificação das

possíveis causas das patologias encontradas. Esta etapa do projeto começa com a

realização de um questionário básico para que se consiga melhor avaliar as edificações

junto aos seus usuários.

3.3 ESTUDO DE CASO 2

Esta etapa consiste num estudo de caso de um edifício habitacional de até cinco

pavimentos em construção à luz das recomendações de alguns parâmetros estabelecidos

na nova norma NBR 15575:2008. Mais uma vez lembra-se que não necessariamente

precisaria ser utilizado um edifício de até cinco pavimentos.

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4. ESTUDO DE CASO 1

Após a leitura e melhor discernimento das exigências dos usuários, seus requisitos e

critérios, resolveu-se elaborar um questionário a fim de se conseguir dados estatísticos das

maiores dificuldades encontradas pelos usuários. Esse questionário foi entregue aos

moradores do condomínio a ser estudado. As perguntas foram desenvolvidas de acordo

com os diferentes temas abordados pela NBR 15575:2008 e têm respostas rápidas para

facilitar a associação estatística dos resultados. O questionário encontra-se no apêndice

deste trabalho. Assim que se obteve a resposta identificou-se os pontos a serem melhor

estudados para se comparar com os requisitos da NBR 15575:2008.

Estudou-se um edifício com menos de cinco anos de construção mas que nele

existem problemas com relação a exigências dos usuários que visivelmente não foram

pensadas pelo projetista. Esse edifício é localizado na cidade de São Carlos – SP e

encontra-se em estado de boa conservação. Porém, ele não atende a requisitos básicos

pretendidos pela nova norma e que, mesmo antes dela entrar em vigor já eram pensados

pela maioria dos projetistas.

As exigências estruturais ainda não podem ser exatamente comentadas uma vez

que o edifício não tem muito tempo de utilização. Mas, mesmo assim, percebe-se que

existem falhas estruturais devido a má execução da construção de vergas e contravergas

pois é perceptível pequenas fissuras ao redor das janelas.

Figura 1 – Fissura no canto da janela

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A segurança ao fogo não é atendida já que o edifício não tem nenhum item de

segurança como extintores, saídas de emergência entre outros critérios para prevenção ou

combate à incêndio. Inclusive, no caso de emergência há um enorme risco uma vez que as

portas do térreo são trancadas o que atrasa a fuga. Também é necessário descrever que

não existe sistema de gás encanado para alimentar o fogão. Isso torna obrigatório que os

moradores tenham botijões em sua residência (como na figura a seguir) o que pode

ocasionar explosões gravíssimas em caso de falha na manutenção ou mesmo negligência.

Assim, a segurança de utilização também não é plena já que podem ocorrer explosões com

o vazamento de gás proveniente das cozinhas.

Figura 2 – Usuário utiliza o botijão de gás ao lado do fogão

Quanto a estanqueidade, as reclamações dos usuários são muitas. Alguns

apartamentos apresentam infiltração junto à porta do Box e essa água infiltrada acaba

destruindo o forro de gesso do apartamento abaixo. Isso é algo que tem gerado muitas

reclamações provenientes dos usuários, pois quase todos os apartamentos têm um princípio

de infiltração. As janelas também não foram colocadas de maneira adequada e isso faz com

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que exista vazamento durante chuvas moderadas que deixam a parte interna do

apartamento molhada.

O conforto lumínico é razoável já que as janelas são feitas de forma a se conseguir

uma alta luminosidade e, nos quartos, ainda há a possibilidade de não se permitir a entrada

de luz pelas janelas com o fechamento das mesmas. Porém, as esquadrias são mal

dimensionadas pois acabam deixando que entre apenas 50% de iluminação caso a janela

esteja aberta. A figura a seguir mostra uma esquadria semelhante à comentada neste

trabalho.

Figura 3 – Esquadria de alumínio semelhante à do quarto estudado

– Fonte: Site: www.leroymerlin.com.br

Ou seja, o projeto é de uma janela que tenha 1,20 x 1,20 m. e por causa da

esquadria mal escolhida, a iluminação passa apenas por um vão de 1,20 x 0,60 m.. Já nas

salas e cozinhas o fechamento das janelas apenas interrompe a passagem de ar (as janelas

são de vidro) o que faz com que o apartamento fique muito quente. No inverno os

moradores reclamam que não podem abrir a janela de forma a ventilar apenas. Ou entra

muito ar e fica frio ou não é possível ventilar o ambiente. Portanto ele não atende às

exigências de conforto térmico já que os moradores não se sentem confortáveis em quase

nenhuma época do ano.

Como o edifício é novo, não podemos verificar de forma eficiente a questão de

manutenção e durabilidade. Deve-se esperar algum tempo para saber se será realizada

manutenção preventiva e se a durabilidade atenderá à norma. Porém, o usuário entrevistado

disse que o dono do edifício aparece toda semana para fazer pequenos reparos como

consertar o portão que quebrou ou arrumar lâmpadas queimadas. Isto já demonstra uma

preocupação quanto a manutenção, porém não se pode afirmar que ela será realizada de

forma preventiva.

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Com relação a higiene, saúde e qualidade do ar o edifício em questão atende

parcialmente às exigências dos usuários. Isto porque existem problemas como o caimento

do banheiro que faz com que a água suja do banho fique no canto do Box enquanto que o

ralo é do outro lado, onde o caimento tem seu nível mais alto. A figura a seguir ilustra esse

problema. Além disso, o lixo não tem local de armazenamento dentro do edifício e, a lixeira

onde se coloca os sacos de lixo fica em uma posição que causa mau cheiro a todos os

usuários que entram e saem do edifício.

Figura 4 – Caimento do piso

Com relação à acessibilidade, conforto tátil e antropodinâmico temos alguns

problemas. Nenhum cadeirante consegue acessar nem a entrada do edifício uma vez que

existe um portão que fica cerca de 20 cm do chão, ou seja, para passar por ele existe um

degrau. Além disso, o cadeirante enfrenta degraus para entrar em qualquer uma das 3

torres, ou seja, mesmo que ele entre pelo portão de carros, e que more no térreo ainda terá

problemas de locomoção.

Outra dificuldade encontrada pelos usuários é que os apartamentos têm problemas

na sua concepção arquitetônica. Por exemplo, a sala dos andares superiores: existem

saídas para a cozinha, para a lavanderia, para a porta de saída e uma terceira parede é

uma janela. Ou seja, temos apenas uma parede onde se consegue ter uma parede

relativamente boa para se encostar os móveis como sofá, por exemplo. Isso torna difícil a

acomodação do usuário. Além disso, existe apenas um ponto de tomada na sala que se

localiza nesta parede. Desta maneira, se o usuário colocar o sofá no único local que cabe,

CAIMENTO DO PISO

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ele não tem tomada para colocar a televisão. Isso é um erro grave. A seguir temos um

croqui da sala.

Figura 5 – Croqui da sala

Se o usuário tiver uma televisão, um DVD player e um computador, já estará

exigindo muito da rede elétrica da sua moradia. A moradia de um dos entrevistados, por

exemplo, ficou por um tempo sem iluminação artificial na sala pois segundo ele a instalação

elétrica é muito ruim e acabou dando curto circuito tendo que ser trocada. Isto também pode

acabar em acidentes mais sérios como um incêndio gerado por um curto circuito. Caso o

usuário não tenha instruções quanto a não usar vários aparelhos em um mesmo interruptor

ele pode acabar ligando seus aparelhos na única tomada existente na sala e gerar este tipo

de acidente.

Alguns problemas encontrados neste edifício são peculiares. Por exemplo, no caso

de um usuário precisar, por qualquer que seja o motivo, trocar a torneira da cozinha, ele terá

que fechar o registro, mas, para surpresa dele, ele terá que fechar este registro com o

auxílio de uma chave de fenda já que o registro foi cortado ao meio pois foi colocado em

uma posição onde iria a parede. A seguir temos uma figura que ilustra esse problema:

Figura 6 – Registro hidráulico cortado para caber a parede

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Outra reclamação freqüente dos usuários é que as paredes não estão no esquadro

correto e, portanto, não têm as medidas previstas em projeto. Isso fica fácil de ser

visualizado uma vez que os revestimentos cerâmicos do piso tiveram que ser recortados

para que se conseguisse aplica-los no local. A seguir temos uma imagem ilustrando este

problema:

Figura 7 – Detalhe do revestimento cerâmico / Parede fora de esquadro

Além disso, os usuários reclamam que os pisos são escorregadios. Eles não foram,

obviamente, escolhidos de acordo com o seu PEI (Porcelain Enamel Institute). Todo o

edifício utiliza o mesmo revestimento cerâmico, ou seja, os pisos de cada cômodo não estão

com a resistência a abrasão como deveriam. Sendo assim, os pisos são todos

escorregadios mesmo em locais perigosos como escadas e áreas molháveis como terraços,

banheiros e entradas dos prédios.

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5. ESTUDO DE CASO 2

Conforme descrito anteriormente, apesar de a NBR 15575:2008 ter, em seu título, a

descrição “5 pavimentos” decidiu-se utilizar, como estudo de caso uma obra cujo produto

final serão três edifícios residenciais de 16 pavimentos. Esta obra, de nome Brink

Condomínio Clube, localizada na Estrada do Campo Limpo, no bairro Campo Limpo na

cidade de São Paulo, é da construtora e incorporadora Gafisa. Foi escolhida pela facilidade

de estudo e acesso às informações necessárias para o melhor desenvolvimento do trabalho.

O condomínio, cujo prazo de entrega é previsto para outubro de 2010, é composto

por três torres cujos pavimentos tipos são idênticos, porém os subsolos e o térreo, além do

ático são diferentes e construídos de maneira tradicional. Mas o que fez com que este

empreendimento fosse incluído neste trabalho é que para a confecção dos pavimentos tipos

serão utilizados uma tecnologia nova no país. Muito conhecido na Colômbia, esse sistema

construtivo não será convencional como alvenaria estrutural ou concreto armado com

pilares, vigas e alvenaria de vedação. A estrutura deste edifício será composta por paredes

de concreto que sustentam as lajes confeccionadas com o auxílio de fôrmas metálicas.

A proposta é que, ainda na construção do quinto pavimento da primeira torre já se

atinja o ciclo de uma laje a cada dois dias. Para que se consiga isso se deve atentar a

diversas exigências de forma a se ter uma estrutura que atenda devidamente aos usuários

com um desempenho satisfatório. Para isso, os responsáveis pelo desenvolvimento do

sistema na empresa, utilizaram como base os preceitos da norma aqui estudada.

5.1 O EMPREENDIMENTO

O empreendimento terá três torres de 17 andares cada, dois subsolos, piscina,

campo de futebol e uma ampla área de lazer. O condomínio, cujo prazo de entrega é

previsto para outubro de 2010, terá pavimentos tipos idênticos, porém os subsolos e o

térreo, além do ático são diferentes e construídos de maneira tradicional.

Figura 8 – Logotipo do empreendimento – Fonte: Obra Brink - Gafisa

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Figura 9 – Maquete eletrônica. Fonte: Obra Brink - Gafisa

Cada pavimento terá seis apartamentos sendo que quatro deles são de 69 m² e dois

de 96m². Cada usuário poderá customizar seu apartamento com base em quatro plantas

padrões e com quatro tipos de acabamento. Essas plantas padrões podem ser escolhidas

de acordo com as necessidades do usuário. Por exemplo, uma das plantas possui três

quartos e um quarto de empregada com lavabo. A outra opção de planta é com dois

quartos, deixando a sala um pouco maior e o quarto de empregada é alterado para ser um

home-office. Sendo assim, algumas paredes podem ser deslocadas ou simplesmente não

existirem e, para que se conseguisse isso se utilizou o sistema de dry-wall para fechamento

de algumas delas.

Esta obra é um marco para a empresa, pois sua nova tecnologia pode ser adotada

em caso de sucesso. Como já dito anteriormente, a tecnologia nova consiste em uma forma

metálica que, ao final do seu processo construtivo, quando os operários já estiverem

acostumados com a tecnologia, chega a um ciclo de uma laje a cada 2 dias. Para isso, se

realiza a montagem das fôrmas no primeiro dia de manhã, a concretagem neste mesmo dia

à tarde, a desmontagem e montagem do outro lado no segundo dia de manhã e a

concretagem desta parte a tarde. No dia seguinte já se pode passar a fôrma para a parte de

cima e recomeçar o processo. Caso dê certo este sistema fará com que a empresa ganhe

muita velocidade de construção da estrutura. Mas para que isso seja verdade a empresa

está de olho na obra verificando os custos, e reais dificuldades.

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5.2 O SISTEMA CONSTRUTIVO

As fôrmas são de alumínio e suas dimensões são todas previstas de forma que se

encaixem perfeitamente para que se obtenha uma base para o concreto ser colocado e seja

moldado. Além disso, as fôrmas precisam ser leves o suficiente para que um operário

consiga manuseá-la sem problemas maiores. A seguir tem-se uma imagem da fôrma

montada.

Figura 10 – Fôrma montada

Figura 11 – Vista lateral

A forma metálica é montada de forma que se obtenha metade do pavimento. Assim,

consegue-se colocar as malhas de aço e barras de aço em localizações especiais, de forma

a se garantir resistência aos esforços mecânicos da estrutura e, em seguida pode-se

concretar. Esta montagem e colocação de armação é realizada na parte da manhã do

primeiro dia do ciclo. Na parte da tarde deste primeiro dia do ciclo é realizada a concretagem

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desta metade do pavimento. A seguir temos uma imagem que pode melhor representar

como ficaria esta metade do pavimento montada.

Figura 12 – Uma lateral do pavimento

Na manhã do segundo dia do ciclo consegue-se fazer a desforma e montagem do

outro lado do pavimento. Para facilitar é mais fácil imaginar que a fôrma seria retirada e

seria espelhada para o outro lado. Assim, na parte da tarde do dia já se terá a fôrma

montada e com a armação (telas e barras de reforço) para que se possa concretar tanto as

paredes quanto as lajes. No dia seguinte já se pode montar a fôrma no pavimento superior

e repete-se o processo.

A Figura 12 mostra a fôrma metálica montada em uma plataforma de concreto feita

especialmente para que os operários pudessem realizar o treinamento junto a outro operário

colombiano que, por já estar mais inteirado do processo construtivo por utilizá-lo em seu

país, foi contratado para auxiliar e instruir os operários brasileiros.

Pode-se verificar que, para que se consiga retirar as fôrmas em espaço de tempo tão

pequeno deve-se ter um concreto com alta resistência inicial. Porém, devido ao pequeno

espaço e ao adensamento de aço o concreto deve ser fluido o suficiente para que se

consiga lançá-lo por entre as paredes.

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Além disso, algumas escoras são deixadas para que a estrutura consiga trabalhar no

pavimento superior até que a estrutura adquira a resistência necessária. A seguir temos

uma figura que identifica essas fôrmas que não serão retiradas e ficarão escorando a

estrutura.

Figura 13 – Fôrma específica para fazer o escoramento

Figura 14 – Escoramento da Laje

A conferência das armações, das passagens de elétrica e hidráulica e da fôrma é

fundamental uma vez que, se não acontecer todos os dias pode-se ter um erro na colocação

de armação ou na passagem de fiação elétrica que, passará despercebido já que no dia

seguinte esta parte já é concretada.

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Figura 15 – Armação, Conduítes e fôrma metálica

Assim que se faz a conferência de elétrica, hidráulica, armação, colocação das

“camisinhas” gravatas (as chamadas “camisinhas” são revestimentos que envolvem estas

“gravatas” para facilitar a retirada das mesmas após a concretagem, e as “gravatas” por sua

vez, são chapas metálicas que atravessam as paredes como se fossem as agulhas no

sistema convencional que não deixam a fôrma abrir), pode-se fazer o fechamento da fôrma

para, depois concretar. A concretagem é feita de maneira rápida, durando

aproximadamente 2 horas. Primeiro, coloca-se o concreto apenas nas paredes de um terço

da estrutura. Terminado este trecho pode-se concretar a laje.

Figura 16 – Colocação de concreto nas paredes

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Figura 17 – Colocação de concreto nas lajes

Faz-se desta forma, pois o concreto endurece muito rapidamente e, se não voltarmos

nas paredes que já foram concretadas e começarmos a laje, esse concreto não vai se unir

ao concreto que já está seco. Sendo assim, divide-se em trechos menores a concretagem.

Em seguida, a equipe de acabamento já vai sarrafeando a laje de forma rápida com ajuda

do nível a laser. Se eles demorarem muito não conseguem mais fazer esse sarrafeamento.

Figura 18 – Acabamento da Laje

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Deve-se atentar para a importância da conferência das armações e da fôrma uma

vez que, se essa conferência não acontecer todos os dias pode-se ter um erro na colocação

de armação que, passará despercebido já que no dia seguinte esta parte já é concretada.

Isso faz necessário ter uma equipe de obra esteja sempre muito bem treinada e preparada

para executar o serviço sem dificuldades, além de ser importante a figura dos engenheiros e

estagiários verificando continuamente os serviços.

5.3 ATENDIMENTO À NBR 15575:2008

A seguir serão explicitados os pontos principais de atendimento dos requisitos e

critérios da NBR 15575:2008. Alguns requisitos estão sendo testados conforme o

andamento da obra e, por ela ainda não estar em estágio de acabamento, não se tem um

quadro muito detalhado de cada dificuldade encontrada, mas já se consegue visualizar as

dificuldades que serão ou não enfrentadas pelos futuros usuários desse empreendimento.

Com relação a patologias estruturais espera-se não ter problemas com isso uma vez

que um dos colaboradores da norma em questão é o projetista (Empresa responsável pelo

projeto: PASQUA E GRAZIANO) da estrutura do edifício. Sendo assim, pode-se esperar um

projeto que atenda a todos os requisitos desta norma e, portanto, atinja às exigências dos

usuários.

O concreto (fck=35MPa), por ter que ter uma resistência logo após 12 horas muito

grande para um concreto comum (5MPa), é de alta resistência inicial. Porém, além disso, é

colocado um aditivo que faz com que ele se torne mais fluido por um período de tempo

relativamente pequeno: 40 minutos. Desta maneira, o concreto chega à obra com slump de

140 +/- 20 mm e quando é adicionado o aditivo o slump chega a 200 +/- 30mm. Como ele

vai ter uma “cura” muito rápida é adicionado também fibra de vidro para evitar as fissuras

devido à retração.

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Figura 19 – Colocação do aditivo

Como a resistência estrutural depende muito do concreto, este foi desenvolvido por

uma empresa de controle tecnológico (Empresa responsável pelos testes relativos a

concreto: TESTIN) e pela concreteira (Empresa usineira fornecedora de concreto: CAUÊ).

Desta forma, se atingiu um concreto que, consiga ser barato o suficiente para ser

empregado neste edifício de médio/baixo padrão e seja adequado o suficiente para que se

consiga retirar a fôrma (deixando apenas algumas escoras) em aproximadamente 12 horas

após a concretagem.

Já o aço é formado por barras comuns de 8 a 12,5 mm que servem de reforço das

telas metálicas (a maioria tem diâmetro de 8 mm e espaçamento das malhas de 10 cm).

Desta maneira, nas janelas (no local onde seria vergas e contravergas), quinas e em outros

locais onde apenas a tela não resistiria aos esforços de tração proveniente do peso da

estrutura essas barras são colocadas. Esse processo é a substituição das vergas e

contravergas e espera-se que assim, as fissuras nas janelas, quinas, furações e outros

sejam evitadas.

Deve-se levar em consideração que, como a obra ainda não está em estágio muito

avançado a sua estrutura ainda não apresenta alguns tipos de deformações que podem

ainda ocorrer em caso de mal dimensionamento por parte do projetista ou má execução por

parte da equipe de obra. Isso não é possível medir neste trabalho e só com o tempo

conseguir-se-á saber se os usuários terão suas exigências atendidas.

A preocupação com a segurança contra incêndios também é percebida uma vez que

o empreendimento tem em seu leque de projetos várias pranchas apenas sobre esse

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assunto detalhando cada informação de forma a não restar dúvidas quanto a execução

destes serviços. Eles foram preparados para que os usuários não tenham problemas quanto

a ínicio de incêndio (instalações elétricas calculadas para resistir a determinadas correntes

que os usuários irão normalmente utilizar) e, em caso de problemas, existirão alternativas

como saídas de fácil acesso, portas corta-fogo, escada pressurizada, extintores de incêndio

e hidrantes espalhados e bem localizados pelo edifício.

A segurança de utilização ficará a cargo do condomínio, mas, obviamente, isso será

discutido na primeira assembléia geral do condomínio. Percebe-se, entretanto, que o

empreendimento conta com duas portarias, a primeira que fica na parte do subsolo, é mais

preocupada com a movimentação de carros. Já a segunda portaria, que no caso é a

principal, é a de pedestres e fica na fachada principal do condomínio. Sendo assim, já se

percebe que os moradores estarão com a sensação de segurança garantida.

Além disso, deve-se verificar que existem sistemas de proteção do usuário como

disjuntores para que não ocorram curtos circuitos, (os fios foram dimensionados para isso

também), existem guarda-corpo em todos os locais onde poderia existir um mínimo risco de

acidentes como rampas e sacadas. Os pisos foram comprados e projetados para serem

utilizados de acordo com o seu PEI evitando-se assim quedas por escorregões além de

problemas com o estrago da pintura do próprio piso devido à abrasão em locais onde a

passagem é freqüente como hall do térreo, por exemplo.

Com relação à estanqueidade temos alguns pontos em destaque. Primeiramente, é

interessante considerar que existem inúmeros projetos de detalhamento da

impermeabilização desde os materiais utilizados até como ela será aplicada. Porém, temos

que salientar que a Gafisa tem alguns padrões que podem não ser usuais e, caso o morador

não tome o devido cuidado, pode gerar problemas futuros. Um deles é que o banheiro só

tem impermeabilização no Box. A parte externa do banheiro, onde temos a bacia sanitária e

a pia, não tem impermeabilização e, por conta disso, não pode ser lavada. Isto vai contra o

padrão e a cultura popular. Por conta disso a empresa descreve detalhadamente este caso

no manual do proprietário, mas, caso este não se interesse ou não repasse a informação

para um inquilino ou para sua faxineira, pode ser que lave o seu banheiro resultando em

infiltrações que criarão patologias no andar abaixo. Tirando esse detalhe, pode-se dizer que

os projetos de impermeabilização são bem completos e detalhados de forma que se consiga

atingir o necessário conforto para os usuários.

Deve-se atentar também que, como este processo construtivo está em fase de testes

existem alguns problemas que precisam ser sanados. Um deles é que, para a montagem

adequada das fôrmas das paredes, utilizam-se chapas metálicas, chamadas de gravatas

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que atravessam as paredes como se fossem as agulhas no sistema convencional que não

deixam a fôrma abrir. Essas chapas são revestidas de bainhas, chamadas de forma popular

de camisinhas, que, depois da concretagem ficam na parede e facilitam a retirada destas

chapas. Porém, por causa dessas bainhas ficam alguns buracos na parede. Esses são

possíveis pontos de falha e entrada de água. Desta maneira foi projetado um selante que irá

fechar esses buracos nas paredes a fim de evitar que existam pontos de permeabilidade

que não atendam as exigências dos usuários.

Figura 20 – Detalhe da gravata

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Figura 21 – Detalhe para a quantidade de gravatas na fachada

Figura 22 – Detalhe dos vãos fechados com selante

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Para o desempenho térmico e lumínico foi encomendado um estudo, mas os

resultados ainda não foram apresentados. O mesmo se aplica ao desempenho acústico da

estrutura. Sabe-se que as esquadrias serão com possibilidade de abrir e fechar toda ela, ou

seja, a luminosidade irá passar 100% pela esquadria. Isso garante uma boa luminosidade

natural.

Com relação à duração não podemos afirmar nada sem que deixemos o tempo

passar, mas podemos dizer que tudo o que foi feito neste edifício foi de maneira a se

conseguir atingir uma duração razoável para este empreendimento visto que o edifício será

habitado por centenas de pessoas por anos e, portanto, deve apresentar condições para

isto. A manutenção é periódica e depende muito do usuário, porém existem facilidades no

projeto para que o usuário possa ter acesso às possíveis patologias. Um exemplo disso é

que os sistemas hidráulico-sanitários foram todos desenvolvidos de forma a serem

transferidos de um pavimento para o outro através de shafts uma vez que, assim como a

alvenaria estrutural, não se pode ter tubulações passando dentro da parede estrutural já

que, em caso de patologias com essas tubulações, não se poderá ter acesso ao problema

nem se conseguirá consertá-lo.

Apesar de existirem rampas de acesso para locais como piscina e quadra os

deficientes físicos enfrentam algumas dificuldades em locais como a própria sacada que terá

um desnível de 3 cm. Outro problema enfrentado por pessoas com dificuldades de

locomoção é que não é previsto em local nenhum a mudança do ambiente para adequar às

suas necessidades como colocação de barras de acesso. Ainda com relação a este item, a

área de estacionamento contém piso intertravado o que dificulta bastante a mobilidade do

cadeirante.

As vedações também são um caso a parte neste empreendimento uma vez que as

paredes externas e algumas internas são de concreto. Para evitar trincas e rachaduras

existem algumas telas de reforço estrutural afim de que os locais como portas e janelas

onde existem mais problemas estruturais tenham seus esforços de tração resistidos pela

armação. Mais uma vez não é possível saber se esse reforço terá efeito quanto a evitar

problemas nas vedações uma vez a obra ainda está no seu início e não se consegue fazer

uma análise mais profunda.

Para que se tenha condições de higiene mínimas existirá um sistema de

abastecimento de água da rua que abastecerá as moradias além de um sistema de

abastecimento de esgoto e energia. Parecem dificuldades ultrapassadas e que nem

deveriam ser comentadas neste trabalho, porém existem, ainda hoje, inúmeras residências

com abastecimento de água, luz e esgoto precário. Para se ter uma idéia, o sistema de

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esgoto ainda nem existe na rua e os engenheiros estão tentando resolver este problema

junto à prefeitura.

Para garantir um pequeno impacto ambiental o edifício foi construído de forma a não

agredir o meio ambiente com produtos químicos poluentes. Porém, durante a construção

existe o impacto causado na vizinhança como sujeira nas ruas e ruído intenso das 6:00

horas da manhã até as 20:00 horas.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da comparação dos dois estudos de caso consegue-se verificar a melhoria

que a aplicação da Norma NBR 15575:2008 de Desempenho de edifícios habitacionais de

até cinco pavimentos consegue trazer para as moradias dos usuários. Caso ela seja

realmente aplicada por todos, conseguir-se-á que a maioria dos usuários consiga ter

condições mínimas de habitabilidade, segurança e sustentabilidade. Pode-se verificar com o

auxílio do estudo de caso 1 que, assim como a grande maioria dos edifícios existentes até

hoje, não se atenta para o que o usuário realmente precisa o que faz com que os usuários

sejam os menos favorecidos no processo todo e acabem com um produto de qualidade

inferior ao esperado por ele e sonhado no momento da aquisição do imóvel.

Já no segundo estudo de caso, consegue-se verificar a modificação que acontece

para o usuário se, no momento da concepção do projeto, se atentar para suas exigências.

Verificou-se que esta norma também serve para balizar melhor quando se utiliza de uma

nova tecnologia para desenvolver uma nova moradia. Apesar de ter um custo um pouco

mais elevado essa melhora de qualidade na moradia não tem um valor tão mais alto, mas

acaba sendo muito mais valorizada pelo usuário.

Deve-se lembrar que a maioria dos brasileiros constrói uma casa ou compra um

imóvel com muito esforço e dedicação, pois não consegue, por um período muito grande,

pagar aluguel e ao mesmo tempo investir em outro imóvel. E, depois de tanto esforço, o

mínimo que se espera é que essa moradia atenda a requisitos mínimos que para ele tragam

conforto e tranqüilidade. Afinal, não se muda de residência a qualquer instante o que faz a

aquisição ser algo sonhado por anos. Caso a construção não atenda ao esperado o usuário

terá uma decepção. Por isso é de suma importância a concepção do projeto de acordo com

as exigências dos usuários.

Sendo assim, pode-se perceber que nada melhor do que seguir aos critérios da

norma NBR 15575:2008, pois com ela sabe-se que essas exigências, serão atendidas.

Portanto, a partir de 2010 a Norma NBR 15575:2008 de Desempenho de edifícios

habitacionais de até cinco pavimentos tem de tudo para ser algo que vai mudar e melhorar a

qualidade das edificações. Conclui-se que as novas tecnologias serão balizadas por esta

norma o que acaba facilitando para todos no ramo da construção civil, desde o projetista até

o usuário final, pois o usuário ficará satisfeito com seu conforto garantido pela nova norma e

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as construtoras sairão com um ganho proveniente ao provável crescimento de clientes uma

vez que os mesmo podem ver comprovar o comprometimento das construtoras com os

padrões básicos exigidos pela NBR 15575:2008.

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7. REFERÊNCIAS FABRICIO, Márcio M. (1); MELHADO, Silvio B. Projeto Simultâneo e a qualidade na construção de edifícios. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL: NUTAU 1998 – Arquitetura e Urbanismo: Tecnologias para o Século XXI, Espírito Santo. Anais em CD-ROM: FAU-USP, São Paulo, 1998.

GAFISA . A Gafisa. Disponível em: www.gafisa.com.br, acessado em: 19/09/09. GONÇALVES, O. M; JOHN, V. M.; PICCHI, F. A.; SATO, N. M. N.. Normas técnicas para avaliação de sistemas construtivos inovadores para habitações. Coletânea Habitare, v.3, p. 42-53, cap.3. 2003, Porto Alegre. GRILLO, L. M.; CALMON, J.L. Falhas externas em edificações multifamiliares segundo a percepção dos usuários. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO – ENTAC 2000 – Salvador 2000. 8 pág. Anais. CD-ROM HINO, M. K.; MELHADO, S. B. Melhoria da qualidade do projeto de empreendimentos habitacionais de interesse social utilizando o conceito de desempenho. In: CONGRESSO LATINO-AMERICANO TECNOLOGIA E GESTÃO NA PRODUÇÃO DE EDIFÍCIOS – SOLUÇÕES PARA O TERCEIRO MILÊNIO. Novembro de 1998. Escola Politécnica USP. 1998. São Paulo. INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLOGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Elaboração de Normas Mínimas de Desempenho para Habitações de Interesse Social. São Paulo, IPT, 1995. Relatório Técnico nº 33800. MARTUCCI R.; BASSO, A. Uma visão integrada da análise e avaliação de conjuntos habitacionais: aspectos metodológicos da pós-ocupação e do desempenho tecnológico. Coletânea Habitare, v.1, p. 268-293, cap.10, 2002. MELHADO, S. B. Metodologia de projeto voltada à qualidade na construção de edifícios. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 7. Anais – 1998. ANTAC - Florianópolis, SC. p. 739-748. MITIDIERI FILHO, C. V. Avaliação de desempenho de sistemas construtivos inovadores destinados a habitações térreas unifamiliares – desempenho estrutural. 1988. 219p. Dissertação (mestrado) Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1998. São Paulo. MITIDIERI F. C. V.; HELENE, P. R. L. Avaliação de desempenho de componentes e elementos construtivos inovadores destinados a habitações. Proposições Específicas à Avaliação do desempenho estrutural. São Paulo, 1998. 38p. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, EPUSP, 1998. NOVAES, C. C. A modernização do setor da construção de edifícios e a melhoria da qualidade do projeto. Anais – Volume II. Encontro Nacional de Tecnologia e Ambiente construído. 1998. Florianópolis, SC. p. 169-176.

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SOUZA, R. Avaliação de desempenho aplicada a novos componentes e sistemas construtivos para habitações. In: SIMPÓSIO DA APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA DE CONCRETO – Campinas, 1982. 5. Anais, Campinas, 1982. SOUZA, R., MITIDIERI FILHO, C. V. Avaliação de desempenho de sistemas construtivos destinados à habitação popular. Conceituação e metodologia. In: INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – IPT. Tecnologia de Edificações. São Paulo, PINI, 1988.

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8. APÊNDICE

Segue questionário apresentado aos usuários do condomínio para melhor

identificação das patologias a serem estudadas, sendo que se preservou a identidade e

resposta dos entrevistados.

Nome: Apartamento nº E-mail Telefone:

1 Você está satisfeito (a) com o seu apartamento? Sim Não

2 O custo-benefício do seu imóvel é bom? Sim Não

3 Existem problemas estruturais no seu apartamento? Sim Não

4 Existem problemas estruturais no seu edifício?

Sim Não 5 Existem saídas de emergências?

Sim Não 6 Existem rotas de fuga no caso de incêndio?

Sim Não

7 As rotas de fuga são bem sinalizadas? Sim Não

8 Os extintores de incêndio estão bem visíveis e estão sempre em manutenção?

Sim Não

9 Você acha que os pisos das áreas comuns são escorregadios ou podem causar algum dano?

Sim Não

10 Você considera seu edifício seguro?

Sim Não 11 Existem vazamentos de gases ou líquidos?

Sim Não

12 Existem problemas com relação a temperatura ou umidade do ar?

Sim Não

13 Existem problemas com relação a mau-cheiro? Sim Não

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14 Os tamanhos das janelas atendem às expectativas de forma que se garanta iluminação natural durante o dia?

Sim Não

15 Os ruídos provenientes dos apartamentos vizinhos são frequêntes? Sim Não

16 Os encanamentos fazem ruídos incômodos? Sim Não

17 Existem locais onde é frequente os choques elétricos?

Sim Não

18 Os cômodos têm as dimensões necessárias para garantir sua funcionabilidade?

Sim Não 19 Existem acessos para deficientes físicos? Sim Não

20 O edifício vibra com frequência? Sim Não

21 Existe espaço suficiente para estacionar o carro na garagem? Sim Não

22 É realizada a manutenção do edifício regularmente? Sim Não

23 O custo de manutenção é alto? Sim Não

24 A pressão da água é suficiente? Sim Não

25 O fornecimento de energia é adequado? Sim Não

26 Existe sistema de gás embutido? Sim Não, tenho butijão de gás na cozinha