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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROGRAMA DE RECURSOS HUMANOS 44 CATALISADOR PARA PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO POR REFORMA DE ETANOL Orientador: Prof. Dr. José Maria Corrêa Bueno Co-orientador: Adriano Henrique Braga Aluna: Mariana Harue Taniguchi Nagahara SÃO CARLOS - SP 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

PROGRAMA DE RECURSOS HUMANOS 44

CATALISADOR PARA PRODUÇÃO DE HIDROGÊNIO POR REFORMA DE

ETANOL

Orientador: Prof. Dr. José Maria Corrêa Bueno

Co-orientador: Adriano Henrique Braga

Aluna: Mariana Harue Taniguchi Nagahara

SÃO CARLOS - SP

2014

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Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Reações do

Departamento de Engenharia Química (DEQ) e no Laboratório de Preparação de

Catalisadores Heterogêneos do Departamento de Química (DQ) da Universidade

Federal de São Carlos (UFSCar) e no Laboratório Nacional de Nanociência e

Nanotecnologia e contou com o apoio financeiro do Programa de Recursos

Humanos da Agência Nacional do Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (PRH-

ANP/MCT Nº 44).

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RESUMO

O aumento da demanda energética gerou um maior consumo de

combustíveis fósseis e assim houve um acréscimo da emissão de gases de efeito

estufa. Dessa forma existe a necessidade de um uso mais racional dos recursos

energéticos, sendo importante a utilização de combustíveis renováveis. Nesse

contexto o hidrogênio possui grande destaque por ser uma fonte energética limpa,

renovável e eficiente, no entanto, atualmente, o H2 é produzido pela reforma de

combustíveis fósseis. Portanto são realizados estudos para produção de hidrogênio

através da reforma a vapor do etanol (RVE). Para que a reforma seja viável se faz

necessária a utilização de um catalisador no processo. Muitos estudos têm sido

desenvolvidos com catalisadores a base de cobalto e níquel suportados em óxidos

metálicos. No entanto, ainda se tem dificuldade em caracterizar o catalisador em

operação, porque as propriedades estruturais e as propriedades eletrônicas estão

correlacionadas, o que dificulta o entendimento do catalisador. Assim, deseja-se

isolar essas contribuições, identificando como elas afetam a RVE. Dessa forma,

neste trabalho objetiva-se investigar o desempenho de catalisadores modelo a base

de níquel e cobalto suportados em MgO com teores metálicos de 1 e 2%. Serão

realizados ensaios catalíticos e o catalisador será caracterizado por medidas de

dispersão e Redução à Temperatura Programada (TPR). Pelos resultados do TPR

nota-se que os catalisadores foram bem reduzidos antes da RVE. Com as medidas

de dispersão observou-se que os catalisadores de Ni apresentaram baixas

dispersões, por apresentarem grandes tamanhos de partícula. A amostra 2Ni se

mostrou pouco ativa para a RVE e as amostras 1Co1Ni e 2Co apresentaram boas

propriedades de oxirredução. No entanto, a impregnação normal não é um bom

método para manter as partículas bem dispersas sobre o suporte.

Palavras-chave: Níquel, cobalto, catalisadores bimetálicos, catalisadores modelo,

reforma a vapor do etanol.

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SUMÁRIO

1 Introdução ......................................................................................................... 6

2 Objetivo ............................................................................................................. 8

3 Revisão Bibliográfica ........................................................................................ 9

3.1 Reforma a Vapor do Etanol (RVE) ............................................................. 10

3.2 Catalisadores Modelo ................................................................................ 16

4 Metodologia ..................................................................................................... 18

4.1 Preparação dos catalisadores .................................................................... 18

4.2 Caracterização dos catalisadores .............................................................. 18

4.3 Ensaios catalíticos ..................................................................................... 19

4.4 Análise dos dados ...................................................................................... 19

5 Resultados e Discussão ................................................................................. 21

6 Conclusão ....................................................................................................... 27

7 Referências Bibliográficas ............................................................................. 28

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Esquema das reações do etanol na presença de água na superfície de

nanopartículas de Co com aumento de temperatura, T .................................... 14

FIGURA 2 – Esquema para a reação do etanol com a água na superfície do Ni com

aumento de temperatura (T) ............................................................................. 16

FIGURA 3 – Resultados de TPR para as amostras de 1% ...................................... 22

FIGURA 4 – Resultados de TPR para as amostras de 2% ...................................... 22

FIGURA 5 – Imagens de microscopia eletrônica de transmissão do catalisador

1Co1Ni calcinado, antes (a) e depois da redução (b) ........................................ 24

FIGURA 6 – Distribuição de produtos para as amostras de 2% ............................... 25

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Comparação das tecnologias de reforma ............................................ 10

TABELA 2 – Rotas reacionais para a reforma a vapor do etanol ............................. 12

TABELA 3 – Dados de dispersão ............................................................................. 23

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1 Introdução

O intenso crescimento populacional gerou um aumento da demanda

energética. No entanto a principal matriz energética mundial provém dos

combustíveis fósseis, portanto há um acréscimo da emissão dos gases de efeito

estufa provenientes da combustão desses combustíveis, gerando preocupações

ambientais já que a natureza não é capaz de absorver todos os gases nocivos

gerados.

Com a necessidade de um uso mais racional dos recursos energéticos

se faz importante a utilização de combustíveis renováveis, possibilitando uma

mudança de matriz energética por uma matriz renovável, ou seja, que tenha tempo

de “renovação” curto, onde o ciclo do carbono se complete.

O Brasil têm se destacado na produção de energia através de fontes renováveis e

segundo o Ministério de Minas e Energia em 2013 a oferta interna de energia foi de

296,2 milhões de toneladas equivalentes de petróleo, sendo 41% fornecida por

fontes renováveis (MME, 2014), tais como: a biomassa, os rios, os ventos, os mares

e oceanos, as ondas, entre outras.

Neste contexto existe um destaque para o hidrogênio por ser uma fonte

de energia limpa, renovável e eficiente, já que possui uma alta capacidade de

armazenamento de energia por unidade de massa, podendo ser utilizado

principalmente em células a combustível, que são capazes de converter a energia

química de um combustível e um oxidante em energia elétrica e calor de forma

contínua (VAIDYA; RODRIGUES, 2006). Além disso, o hidrogênio é uma importante

matéria-prima na produção de fertilizantes e de plásticos, no resfriamento de

motores e geradores e é crucial para o refino do petróleo.

Contudo, atualmente é produzido principalmente pela reforma a vapor

do gás natural, cujo principal composto é o metano, na qual o carbono é convertido

em dióxido de carbono e liberado para a atmosfera (KOTHARI; BUDDHI;

SAWHNEY, 2008). Assim, dado o elevado potencial brasileiro de produção de etanol

a partir da cana de açúcar, existem estudos da produção de hidrogênio por reforma

a vapor do etanol, que é renovável, ou seja, o CO2 gerado na produção de

hidrogênio será absorvido, posteriormente, através da fotossíntese realizada pela

cana. No entanto, para que o processo se torne viável existe a necessidade do

desenvolvimento de um catalisador.

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Neste sentido, existem diversas pesquisas com catalisadores a base de

níquel e cobalto suportados em óxidos metálicos (BENITO et al., 2005; VAIDYA;

RODRIGUES, 2006; LIBERATORI et al., 2007; NI; LEUNG; LEUNG, 2007). No

entanto, ainda se tem dificuldade em caracterizar o catalisador em operação, isso

ocorre porque as propriedades estruturais, como tamanho de partícula e fase

cristalina, e as propriedades eletrônicas, como estado de oxidação e densidade

eletrônica na superfície, estão correlacionadas, o que dificulta o entendimento do

catalisador. Assim, deseja-se isolar essas contribuições, identificando como elas

afetam a RVE em catalisadores a base de níquel e cobalto.

Dessa forma, neste trabalho objetiva-se investigar o desempenho de

catalisadores modelo a base de níquel e cobalto.

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2 Objetivo

Desenvolver um catalisador modelo com baixos teores metálicos à base

de níquel e cobalto suportados em óxido de magnésio de baixa área superficial, com

o intuito de evitar uma forte interação entre o metal e o suporte, e, principalmente,

isolar a contribuição da composição metálica na reforma a vapor do etanol, para um

estudo sistemático da contribuição da composição metálica na RVE.

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3 Revisão Bibliográfica

O hidrogênio é produzido principalmente a partir dos processos de

reforma de hidrocarbonetos. Os principais são: reforma a vapor, oxidação parcial e

reforma autotérmica.

A reforma a vapor consiste na reação do hidrocarboneto com água para

produzir H2 e CO, a reação da reforma é endotérmica.

Na oxidação parcial tem-se uma combustão controlada (oxidação

parcial) do hidrocarboneto para produção de hidrogênio, assim este processo é

exotérmico.

A reforma autotérmica é uma combinação dos outros dois processos,

sendo termicamente neutra, pois o calor necessário para a reação com a água é

fornecido pela combustão controlada do hidrocarboneto.

As reações gerais estão apresentadas a seguir (Eqs. 1-3), bem como a

reação de deslocamento gás-água (Eq. 4). É importante notar que a reação que

apresenta maior rendimento de H2 é a de reforma a vapor.

Reforma a vapor

( ⁄ ) (1)

Oxidação parcial

⁄ (2)

Reforma autotérmica

⁄ ( ⁄ ⁄ ) (3)

Todos os processos apresentam vantagens e desvantagens, as quais

podem ser vistas na tabela abaixo.

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TABELA 1 – Comparação das tecnologias de reforma

Tecnologia Vantagens Desvantagens

Reforma a vapor

Mais utilizada industrialmente Maior emissão Não há necessidade de oxigênio

Menor temperatura de processo Melhor razão de H2/CO

Reforma autotérmica

Temperatura menor que a da oxidação parcial

Pouca experiência comercial

Baixa emissão de metano Requer ar ou oxigênio

Oxidação parcial

Necessidade de dessulfurização reduzida

Baixa razão de H2/CO

Não há necessidade de um catalisador

Temperaturas de processo muito altas

Baixa emissão de metano Formação de fuligem/tratamento aumenta a complexidade do processo

Fonte: Adaptado de HOLLADAY et al. (2009).

Apesar do processo de reforma ser o mais viável existem altos custos

de implantação de plantas industriais, a necessidade de um catalisador estável e de

baixo custo e, ainda, a disponibilidade de matérias primas renováveis. Além disso,

há o problema de armazenagem e estocagem do H2, já que o mesmo é altamente

inflamável e por esse motivo algumas medidas de segurança se fazem

indispensáveis.

Como se pode verificar nas equações das reações gerais a que

apresenta maior rendimento de H2 é a de reforma a vapor, por esse motivo e pelos

citados anteriormente neste trabalho será estudada a reforma a vapor do etanol.

3.1 Reforma a Vapor do Etanol (RVE)

A reforma a vapor do etanol (RVE) pode ser representada pela equação

abaixo (Eq. 4), que juntamente com a reação de deslocamento gás-água (shift) (Eq.

5) possui um rendimento teórico de 6 mols de hidrogênio para cada mol de álcool

etílico (Eq. 6).

(4)

(5)

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(6)

No entanto pode ocorrer a formação de produtos indesejados, através

de outras reações, como a desidratação e degradação do etanol, as quais produzem

etileno e metano respectivamente.

Algumas das possíveis rotas reacionais para a reforma a vapor do

etanol estão apresentadas na tabela 2 abaixo.

A RVE, de forma geral, ocorre em várias etapas e com rotas reacionais

diferentes. Assim, há a formação de intermediários importantes, como o acetaldeído

(Eq. 8), o qual é formado a baixas temperaturas (VAIDYA; RODRIGUES, 2006).

Segundo Vaidya e Rodrigues (2006), o aumento de temperatura e a

diminuição da pressão favorecem a RVE, já que a reação, representada pela Eq. 6,

é endotérmica e resulta em um aumento do número de mols. Os autores ainda

afirmam que a 500K a RVE não ocorre, pois a energia livre de Gibbs é positiva, no

entanto a essa temperatura já se observa a decomposição do etanol, cujo ΔG é

suficientemente negativo. Inclusive a decomposição do etanol a dióxido de carbono

e metano (Eq. 15) é altamente favorecida a baixas temperaturas (<473K).

LIBERATORI et al. (2007) afirmam que a RVE não catalítica, ou seja, a

degradação homogênea do etanol ocorre em temperaturas maiores que 600°C,

formando basicamente monóxido de carbono (CO), metano (CH4) e etileno (C2H4).

Normalmente a RVE catalisada acontece em temperaturas ligeiramente inferiores,

contudo as reações não devem competir, sendo que o rendimento é

consideravelmente maior na reação catalítica.

Um importante fator que influencia na rota reacional da RVE é o

catalisador, assim sua escolha de forma adequada é fundamental para o processo

(HARYANTO et al., 2005).

Segundo HAGA et al. (1998), que estudou as propriedades catalíticas do

cobalto entre outros metais, a seletividade para hidrogênio na RVE segue a ordem:

Co > Ni > Rh > Pt, Ru, Cu. O que justifica a abordagem sobre os catalisadores a

base de cobalto e níquel.

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TABELA 2 – Rotas reacionais para a reforma a vapor do etanol

Eq. Reação Equação Observações

6 Fornecimento de vapor suficiente Rota reacional ideal, a maior produção de H2

4 Fornecimento de vapor insuficiente Produtos indesejados, menor produção de H2

7

8 Desidrogenação Rota reacional para produção de H2 na

prática

9 Desidrogenação oxidativa

10 Decomposição do acetaldeído

11 Reforma a vapor do acetaldeído

12 Desidratação Rota reacional indesejada, principal fonte de

formação de coque

13 Formação de coque

14 Decomposição Formação de coque, baixa produção de H2

14

15

16

17 Reação dos produtos da decomposição

18 Metanação

19

20 Decomposição do metano

21 Reação de Boudouard

5 Reação de deslocamento gás-água Reduz a formação de coque, aumenta a

produção de H2

Fonte: Adaptado de NI; LEUNG; LEUNG (2007).

12

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LLORCA et al. (2002) estudou a RVE em catalisadores a base de

cobalto suportado em diversos óxidos metálicos. Concluiu que a RVE ocorreu de

forma mais significativa nos catalisadores suportados em ZnO-, La2O3-, Sm2O3- e

CeO2-. Além disso, foi possível produzir hidrogênio sem monóxido de carbono. Em

seu estudo com catalisadores de cobalto suportados em ZnO afirmou que ao usar

Co2(CO)8 como precursor do cobalto produziu-se um catalisador altamente estável e

seletivo para a produção de H2 sem CO em baixas temperaturas de reação, como

623K (LLORCA et al., 2003).

HAGA et al. (1997) também estudou catalisadores a base de cobalto

suportado em óxidos metálicos e concluiu que o material do suporte do catalisador

tem forte influência sobre a distribuição de produtos e que a formação de hidrogênio

diminuiu na seguinte ordem: Co/Al2O3 > Co/ZrO2 > Co/MgO > Co/SiO2 > Co/C.

Sugeriu que a seletividade para RVE também diminuiu nesta ordem e que a

diferença na seletividade não estava relacionada com o tamanho médio de partícula,

nem com a área superficial e nem com a dispersão de Co e sim com as

propriedades da área superficial do suporte.

Segundo KADDOURI; MAZZOCCHIA (2004), que estudaram

catalisadores a base de cobalto suportados em Al2O3 e SiO2, a seletividade a

hidrogênio e a distribuição de produtos são dependentes do método de preparação

dos catalisadores e da natureza do suporte utilizado. BATISTA et al. (2004), que

estudaram os mesmos tipos de catalisadores com diferentes teores metálicos,

concluíram que a distribuição de produtos também é afetada pelo teor metálico nas

amostras.

RIBEIRO et al. (2009) avaliaram o desempenho de nanopartículas de

cobalto suportadas em SiO2 utilizando Co2(CO)8 como precursor de Co. Os

catalisadores com menores partículas de Co tiveram maior atividade para a RVE e

sugeriu-se que a fração de sítios ativos de Co acessíveis está relacionada às

condições de preparação do catalisador. Além disso, algumas rotas reacionais para

a RVE na superfície do catalisador foram propostas e estão ilustradas na figura 1

abaixo, onde inicialmente ocorre a adsorção do etanol e desidrogenação, formando

o intermediário CHx---CHO na superfície, com acetaldeído e H2 desadsorvendo em

baixas temperaturas (T1); em seguida ocorre a quebra do intermediário formado na

superfície CHx---CHO, formando –CHx (adsorvido) e –CO (adsorvido) em

temperaturas médias (T2), sendo que duas rotas reacionais podem ocorrer:

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hidrogenação/desidrogenação do –CHx (adsorvido) e –CO (adsorvido), resultando

na desadsorção de CH4 e CO ou quimissorção e decomposição da água em H* e

OH* em paralelo com a decomposição do –CHx (adsorvido) em C (adsorvido) e

H2 (g) com oxidação do C (adsorvido) e CO (adsorvido) pelo O* formando CO2 (g);

por fim tem-se a ativação do CH4 para reforma a vapor através do C (adsorvido) e

oxidação a CO e CO2 pela H2O em temperaturas mais altas (T3).

FIGURA 1 – Esquema das reações do etanol na presença de água na superfície de nanopartículas

de Co com aumento de temperatura, T

Fonte: RIBEIRO et al. (2009).

O níquel é muito utilizado em catalisadores para vários processos

químicos industriais por ter baixo custo e não ser um metal nobre. Na RVE o Ni

também opera bem, pois favorece a quebra da ligação C-C (NI; LEUNG; LEUNG,

2007). Porém relata-se a desativação do catalisador principalmente devido à

sinterização do metal e à formação de coque (FRUSTERI et al., 2006).

Um estudo analisou catalisadores de Ni suportados em alguns óxidos

metálicos, que foram ZnO, La2O3, MgO e γ-Al2O3, e uma conversão praticamente

completa de etanol foi obtida para todos os catalisadores. No entanto a seletividade

para hidrogênio foi afetada pelos diferentes suportes utilizados na seguinte ordem:

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Ni/ZnO ≈ Ni/La2O3 > Ni/MgO > Ni/γ-Al2O3 (YANG; MA; WU, 2006). Além disso, a

distribuição de produtos mostrou que menos subprodutos foram formados utilizando-

se o catalisador Ni/ZnO. Assim, alguns parâmetros da reação foram avaliados para

este catalisador, como temperatura de reação, razão molar de água para etanol e

teor metálico de Ni.

Neste mesmo estudo observou-se que a partir de 603K já se tinha

conversão praticamente completa de etanol. À 803K o consumo de água se

aproximou ao valor estequiométrico e a seletividade para H2 aumento para cerca de

80%. A concentração de metano também diminuiu, a concentração de CO2 chegou

ao seu máximo e a de CO ao seu mínimo.

Para a razão molar de água para etanol, a qual foi variada entre 3 e 12,

concluiu-se que este parâmetro é de grande importância na RVE, principalmente

quanto à seletividade para H2, e que com a razão estequiométrica de 3 obteve-se

81% de seletividade. Com a razão de 9 observou-se 91% de seletividade e com 12

houve um aumento de apenas 1%.

No caso do teor metálico de Ni, avaliado entre 5 e 20% em massa,

observou-se que a seletividade para H2 aumentou e a formação de subprodutos

intermediários diminuiu com o aumento da quantidade de Ni. A formação de metano

atingiu seu mínimo com o catalisador contendo 20% de Ni com a temperatura

reacional de 823K (YANG; MA; WU, 2006).

Segundo FRUSTERI et al. (2006), a formação de coque é mais rápida

no catalisador de Ni suportado em CeO2 do que no suportado em MgO. Isto ocorre,

provavelmente, devido à forte interação do suporte com os compostos intermediários

adsorvidos. Além disso, os testes realizados demonstraram que a natureza básica

do MgO favoreceu a RVE e inibiu a formação de coque.

Uma rota reacional proposta para a reação de RVE, esquematizada na

figura 2, envolve a adsorção do etanol na superfície do catalisador, onde ocorre a

quebra e desidrogenação da ligação C-C, o que resulta na formação de dois radicais

com diferentes reatividades, que são o formil (CHyO) e o metil (CHx). O formil pode

formar CO e o metil, CH4. A seguir ocorre a ativação da água, a qual desidrogena o

metano e produz hidrogênio (LIBERATORI et al., 2007).

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FIGURA 2 – Esquema para a reação do etanol com a água na superfície do Ni com aumento de

temperatura (T)

Fonte: LIBERATORI et al. (2007).

O problema do catalisador de Ni é a sua rápida desativação pela

formação de coque, entretanto a modificação das propriedades eletrônicas da

superfície das partículas de Ni através da adição de um segundo metal pode resultar

em catalisadores resistentes a deposição de carbono, assim, catalisadores

bimetálicos são estudados para evitar esta desativação (BRAGA, 2012).

Especificamente sobre os catalisadores bimetálicos Ni-Co há três

vantagens principais relatadas em literatura: o catalisador bimetálico aumenta a

seletividade para H2 com a diminuição da formação de CH4; a resistência à oxidação

do metal em reação; e a resistência a formação de coque (BRAGA, 2012).

De acordo com TAKANABE et al. (2005) existe a formação de uma liga

neste par Ni-Co sobre TiO2, o que é a principal explicação para as melhoras das

propriedades catalíticas do material.

3.2 Catalisadores Modelo

Visando entender melhor o catalisador a base de Ni e Co e,

principalmente, isolar a contribuição do tamanho de partícula e da formação de ligas,

se faz necessário o estudo da reforma a vapor do etanol com catalisadores modelo.

Alguns trabalhos na literatura (WILLIAMS et al., 2010; SHEKHAR et al.,

2012a; SHEKHAR et al., 2012b) relatam o uso de suportes de baixa área superfial e

porosidade com alta cristalinidade, o que permite que as partículas de óxidos e

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metálicas fiquem na superfície do suporte, evitando o alto recobrimento do mesmo.

Contudo estes estudos foram feitos com metais nobres como Pt e Au, estudos com

metais de transição ainda são pouco explorados.

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4 Metodologia

4.1 Preparação dos catalisadores

As amostras foram preparadas por impregnação incipiente no

Laboratório de Preparação de Catalisadores Heterogêneos da Prof. Dra. Clélia Mara

de Paula Marques localizado no DQ-UFSCar.

Os sais Ni(NO3)2.6H2O e Co(NO3)2.6H2O foram dissolvidos em etanol

(1mL/g de suporte) e a solução foi e gotejada sobre MgO comercial (Aldrich),

previamente calcinado, mantendo-se o teor metálico em 1 ou 2% em massa, o

suporte foi mantido à 70ºC para que se mantivesse seco.

Após, as amostras foram secas em temperatura ambiente em um

dessecador e posteriormente calcinadas à 550ºC sob ar sintético com uma taxa de

aquecimento de 3ºC/min durante 6h.

As amostras foram nomeadas 2Ni, 1Co1Ni, 2Co, 1Ni, 0,5Co0,5Ni e 1Co

onde o número indica o teor metálico.

4.2 Caracterização dos catalisadores

Para caracterizar as amostras foram feitas medidas de Redução à

Temperatura Programada (TPR) e de dispersão. Ambas foram feitas em um

equipamento Micromeritics Pulse Autochem 2920 equipado com um detector de

condutividade térmica (TCD). Um reator de quartzo em U contendo 150mg de

amostra foi acoplado ao equipamento para realizar as análises. Inicialmente a

amostra foi pré tratada sob fluxo de 30 mL/min de N2 à 200ºC por 30 min. Após o

resfriamento, a mistura de 10%H2/N2 passou pela amostra em temperatura ambiente

até estabilização da linha de base. Aqueceu-se a amostra até 1000ºC sob fluxo de

30 mL/min da mistura contendo hidrogênio e se mediu o consumo de H2 através do

detector de condutividade térmica. Um “trap” com gelo também foi acoplado ao

equipamento para evitar que água fosse para o detector.

As medidas de dispersão foram feitas no mesmo equipamento do TPR

com pulsos de N2O, após a redução da amostra à 750ºC por 1h sob fluxo de 30

mL/min de uma mistura contedo 10% de H2. Os pulsos de N2O eram de 1 mL com

intervalos de 5 min, com purga de N2, até saturação da superfície. O N2O foi

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consumido pelos sítios ativos metálicos presentes, produzindo N2 e óxidos

metálicos. Então, foi possível converter a medida de consumo de N2O em dispersão

do metal na superfície do suporte.

As imagens de alta resolução das amostras calcinadas foram obtidas

em um microscópio Jeol JEM 3010, equipado com câmara CCD Gatan de

2000x2000 pixels; fonte de termiônica LaB6, e voltagem de aceleração de 300 kV.

As imagens de High Anular Angular Dark Field (HAADF) no modo

transmissão-varredura (reduzidas) foram obtidas em microscópio Jeol JEM 2010f,

com tamanho do feixe de 1 nm; fonte Field Emission Gun (FEG) e voltagem de

aceleração de 200 kV.

Os microscópios são uma facilidade do Laboratório Nacional de

Nanociência e Nanotecnologia (LNNano), e foram obtidas pelo doutorado Adriano

Henrique Braga.

4.3 Ensaios catalíticos

Os ensaios catalíticos foram realizados no Laboratório de Reações no

DEQ-UFSCar.

Inicialmente a amostra foi reduzida in situ sob fluxo de H2 à 750ºC

durante 1h e em seguida submetida à reação em um reator de quartzo de leito fixo.

As amostras foram submetidas à reação realizada de 250ºC à 750ºC

com passos de 50ºC mantendo-se uma razão de H2O:Etanol de 6:1, alimentados

por saturadores. Assim, a composição na fase vapor foi de 0,44% de etanol, 2,72%

de água e hélio para balanço, sendo diluída com o fim de se ter um alto tempo de

residência do etanol. Para estas amostras utilizou-se 120mg de catalisador.

O efluente das reações foi analisado por um cromatografia gasosa

hifenada com um espectrômetro de massas.

4.4 Análise dos dados

As frações molares para cada analito, em cada injeção foram calculadas

através da área do pico correspondente a determinado produto ou reagente não

convertido, em relação ao somatório das áreas, multiplicada pelo fator de resposta

do analito em questão, como mostra a equação abaixo.

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(22)

onde yi é a fração molar do analito i, Ai é a área do pico no cromatograma do

analito i e fi é o seu fator de resposta; N é o número de espécies analisadas.

A conversão de etanol (XEtOH) foi calculada a partir das equação 23.

(23)

onde, nEtOH 0 e nEtOH é o número de mols de etanol que entram e que saem do reator

respectivamente.

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5 Resultados e Discussão

Na figura 3 abaixo estão apresentados os resultados da Redução à

Temperatura Programada (TPR) das amostras de teor metálico de 1%.

Para a amostra 1Ni observa-se um forte pico em torno de 650ºC, o qual

se deve à redução do NiO, ou seja, o metal se reduziu de Ni2+ para Ni0, como

reportado na literatura (ANDONOVA et al., 2011). O pico, não tão intenso, presente

por volta dos 450ºC provavelmente também se deve à redução do NiO, mas de

partículas fracamente ligadas ao suporte, visto que segundo ZHANG et al. (2009) a

redução do óxido de níquel sem suporte ocorre por volta dos 400ºC.

De acordo com JI et al. (2009) e ANDONOVA et al. (2011) a redução do

cobalto ocorre em duas etapas. De Co3O4 para CoO e, em seguida, de CoO à Co.

Este perfil de redução também pode ser encontrado para a amostra de 1Co na

Figura 3, onde observa-se a redução de Co3+ para Co2+ em torno de 500ºC e a de

Co2+ para Co0 por volta dos 650ºC. O pico de baixa intensidade em 350ºC

provavelmente se deve à redução de partículas fracamente ligadas ao suporte.

Para a amostra bimetálica observam-se dois picos, o mais intenso por

volta dos 650ºC se deve à redução do metal de Me2+ para Me0 e o pico em cerca de

450ºC se deve ao metal reduzindo de Me3+ para Me2+.

Os resultados de TPR das amostras de 2% de teor metálico podem ser

observados na figura 4. Nota-se que os perfis de redução são semelhantes aos

apresentados pelas amostras de 1%, porém com diferentes intensidades de picos.

Na amostra 2Ni o pico por volta dos 700ºC se deve à redução de Ni2+

para Ni0 e o ombro por volta dos 500ºC indica a redução de partículas com diferente

interação com o suporte.

Para a amostra 2Co observa-se um pico devido à redução de Co3O4

para CoO por volta dos 500ºC e um pico mais intenso correspondente à redução de

CoO à Co0 em 650ºC. O pico em torno dos 300ºC também se deve à redução de

partículas interagindo com o suporte mais fracamente, nota-se que este pico é mais

intenso para a amostra de 2% do que para a de 1%.

Na amostra bimetálica observam-se dois picos, o mais intenso por volta

dos 650ºC se deve à redução do metal de Me2+ para Me0 e o pico em cerca de

500ºC se deve ao metal reduzindo de Me3+ para Me2+, este pico é menos intenso

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que o pico correspondente na amostra de 1%, provavelmente devido à grande parte

do metal estar presente na forma MeO.

FIGURA 3 – Resultados de TPR para as amostras de 1%

Fonte: Acervo pessoal.

FIGURA 4 – Resultados de TPR para as amostras de 2%

Fonte: Acervo pessoal.

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É importante ressaltar que por volta dos 750ºC praticamente toda a

amostra já se reduziu em todos os casos, o que indica que as amostras estão bem

reduzidas para a RVE, já que é feita uma redução in situ à 750ºC antes dos ensaios

catalíticos.

Na tabela 3 abaixo estão apresentados os resultados de medida de

dispersão, área metálica e tamanho de partícula, todos calculados a partir do

consumo de N2O.

Para estas medidas nota-se que as amostras de níquel apresentaram

resultados discrepantes quando comparados com os das amostras de cobalto e

bimetálicas.

Segundo FARMER; CAMPBELL (2010) quanto menor a quantidade de

átomos por partícula, mais instável é a ligação com o suporte, ou seja, a estabilidade

da interação com o suporte aumenta com o aumento de partícula. No entanto,

partículas maiores resultam em uma menor quantidade de átomos expostos, assim

há perda de atividade e seletividade.

Desta forma, não é possível diminuir o teor metálico mantendo

partículas pequenas e altas dispersões.

TABELA 3 – Dados de dispersão

Catalisador Dispersão (%) Área metálica

(m2 gcat)

Tamanho

de partícula

(nm)

2Ni 5,29 0,70 19,1

1Co1Ni 13,7 1,84 7,3

2Co 13,4 1,82 7,4

1Ni 2,5 0,17 40,2

0,5Co0,5Ni 17,4 1,16 5,8

1Co 24,5 1,66 4,1

Fonte: Acervo pessoal.

As baixas dispersões de Ni se devem aos grandes tamanhos de

partículas apresentados. A baixa interação com o suporte fez com que o metal se

aglomerasse e formasse partículas maiores. Este processo é conhecido como

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sinterização, o qual ocorre sob condições reacionais ou até mesmo durante o

processo de preparação do catalisador (FARMER; CAMPBELL, 2010).

A ocorrência da sinterização após a redução pode ser observada na

figura 5 abaixo, onde a imagem (a) é a partícula metálica antes da redução, com

aproximadamente 5nm, e a imagem (b) apresenta partículas metálicas após a

redução, com aproximadamente 10nm.

FIGURA 5 – Imagens de microscopia eletrônica de transmissão do catalisador 1Co1Ni calcinado,

antes (a) e depois da redução (b)

Fonte: Acervo pessoal.

Na figura 6 abaixo temos as distribuições de produto em função da

temperatura para as amostras de 2% em teor metálico.

Nota-se que para todas as amostras a formação de produtos ocorre a

partir de 400ºC. No catalisador monometálico de Ni, diferente do bimetálico e

monometálico de Co, ocorre queda de conversão a partir de 550ºC, o que pode ser

devido à formação de óxido de Ni através da ativação da H2O. A partir de 650°C os

produtos obtidos podem ser devidos à decomposição em fase homogênea do etanol.

A elevada formação de acetaldeído para 2Ni mostra que a amostra é

pouco ativa para RVE e ativa para a reação de desidrogenação do etanol. Já o

catalisador bimetálico e o de Co se mostram ativos. Em baixas temperaturas (400°C)

há desidrogenação do etanol a acetaldeído e com o aumento de temperatura

(450°C) ocorre quebra da ligação C-C.

a b

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FIGURA 6 – Distribuição de produtos para as amostras de 2%

Fonte: Acervo pessoal.

Para a amostra 1Co1Ni há a formação de CO e pequenas quantidades

de CO2 e CH4, sendo que é provável que parte do radical metil adsorvido na

superfície do catalisador esteja sofrendo decomposição à H2 e C, o qual se deposita

na superfície, ao invés de ser hidrogenado à CH4.

Na amostra 1Co nota-se um comportamento similar, no entanto a

formação de CO2 é maior, devido à maior ocorrência da reação de deslocamento

gás-água. Por este motivo a formação de CO é menor que no catalisador bimetálico.

A formação de CH4 também é menor, provavelmente devido ao fato de mais carbono

estar se depositando na superfície do catalisador.

Em 550°C tem-se a máxima formação de CO, e para 2Co, observa-se

uma formação expressiva de CO2, embora com queda na fração molar de H2. Tal

queda sugere que o CO2 é proveniente da oxidação do CO ou oxidação do C

acumulado devido à decomposição do radical metil formado.

A elevada formação de H2 em baixas temperaturas (até 500°C), acima

da quantidade de carbono observada na saída do reator, sugere que pode ocorrer

acúmulo de carbono nos catalisadores, como dito anteriormente; com a ativação da

água e formação de óxidos de Ni, CoNi e Ni na superfície, a partir de 550°C esse

carbono acumulado pode ser oxidado a COx, limpando a superfície do catalisador, o

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que explica a alta formação destes produtos, principalmente sobre 2Co. Devido à

esta oxidação a formação de H2 decresce.

As amostras de teor metálico de 1% não foram testadas em reação, pois

não apresentaram resultados de dispersão interessantes, uma vez que os dados

obtidos são similares aos das amostras de teor metálico de 2%.

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6 Conclusão

Através dos resultados obtidos foi possível concluir que os catalisadores

estavam bem reduzidos antes do início da reação, garantindo maior disponibilidade

de sítios ativos para a RVE.

Notou-se também que o catalisador 2Ni se mostrou pouco ativo para a

RVE, provavelmente devido ao tamanho de partícula formado, evidenciando a

necessidade de um novo método de impregnação para a síntese do catalisador

modelo a base de níquel para garantir que as partículas metálicas estejam bem

dispersas na superfície do suporte.

Os catalisadores 2Co e 1Co1Ni mostraram boas propriedades de

oxirredução, mas ainda se faz necessário a realização de alguma técnica para se

determinar a quantidade de deposição de carbono, como por exemplo uma análise

termogravimétrica.

Como se esperava conseguir através do uso de catalisadores modelo,

foi possível identificar as reações ao longo do processo com certa facilidade,

permitindo uma análise mais sistemática das rotas reacionais, sem a influência do

suporte MgO. No entanto, a impregnação normal não é um bom método para manter

as partículas bem dispersas sobre o suporte.

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