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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA Relatório Final: Aplicação de superestruturas na integração energética de uma biorrefinaria de cana-de-açúcar Aluna: Kênia Fernandes de Oliveira Orientadora: Profa. Dra. Caliane Bastos Borba Costa Abril de 2015 São Carlos-SP

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

Relatório Final:

Aplicação de superestruturas na integração energética de uma biorrefinaria de cana-de-açúcar

Aluna: Kênia Fernandes de Oliveira

Orientadora: Profa. Dra. Caliane Bastos Borba Costa

Abril de 2015

São Carlos-SP

Este trabalho foi desenvolvido no Laboratório Kyatera da Área de Pesquisa em

Simulação e Controle de Processos do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da

Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e contou com o apoio financeiro do

Programa de Recursos Humanos da Agência Nacional do Petróleo, Gás natural e

Biocombustíveis (PRH-ANP/MCT Nº 44).

Resumo

O setor sucroalcooleiro apresenta importância não só na produção de açúcar e

etanol a partir da cana-de-açúcar, mas também na geração de energia elétrica. Em

muitos casos, a quantidade de energia gerada pela queima do bagaço supre as

necessidades internas da planta industrial e possibilita a comercialização de excedentes.

Porém, o mesmo bagaço pode ser utilizado para produzir o chamado etanol de segunda

geração, aumentando a produção da empresa. Para que essa produção seja mais

vantajosa do que a geração de energia elétrica, é necessário o desenvolvimento de uma

tecnologia eficiente e que seja economicamente viável. Um aspecto importante a ser

considerado para viabilizar este novo modo de produção de etanol diz respeito à

integração energética. A partir de uma rede de trocadores de calor (RTC), haverá o

aproveitamento de energia térmica entre as correntes do processo, o que provoca uma

diminuição no consumo de energia e na demanda de utilidades quentes e frias. Assim,

com a necessidade de uma menor quantidade de energia, menos bagaço precisará ser

queimado e o excedente poderá ser destinado para a produção de etanol de segunda

geração. O trabalho em questão tinha como meta final integrar energeticamente uma

biorrefinaria de cana-de-açúcar, de modo que uma superestrutura fosse formada e, a

partir dessa, pudesse se levantar qual a melhor integração em termos energéticos, que

otimizaria um critério a ser estipulado para avaliar a RTC. Até o presente momento foi

realizada uma revisão bibliográfica dos principais conceitos envolvidos no trabalho e

iniciada a implementação da primeira etapa de otimização necessária para sintetizar a

RTC ótima para a biorrefinaria. O projeto não foi concluído pois a elaboração do

programa que torna possível levantar esta rede estava prevista para o segundo ano de

trabalho.

Sumário:

1.Introdução ..................................................................................................................... 5

1.1 Objetivos .................................................................................................................. 7

2.Revisão bibliográfica .................................................................................................... 8

3.Atividades realizadas .................................................................................................. 18

4.Materiais e métodos .................................................................................................... 20

5.Resultados e discussão ................................................................................................ 24

6.Considerações finais ................................................................................................... 30

Referências Bibliográficas ............................................................................................ 32

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1. Introdução

Um dos maiores desafios para a sociedade atual é atender a demanda crescente

de energia para diversos processos industriais e de transporte, de maneira

ambientalmente sustentável e economicamente viável.

Diante desta necessidade, as atenções do mundo se voltam para fontes

alternativas de energia, em especial para os biocombustíveis, como o etanol. Os

biocombustíveis são combustíveis produzidos a partir de fontes renováveis (biomassa),

seja esta produzida especificamente com esse propósito, nos chamados cultivos

energéticos, ou obtida a partir de resíduos orgânicos de algum processo, caracterizando

a biomassa residual.

O etanol como biocombustível líquido aparece como um dos mais importantes

recursos alternativos aos combustíveis fósseis. Sua produção no Brasil é feita a partir do

processamento e fermentação do caldo da cana-de-açúcar.

O consumo de energia não só na indústria do etanol, mas como em qualquer

outra, é um fator importante na composição final dos custos dos produtos. Por esse

motivo, as empresas procuram de forma intensa a redução no seu consumo energético.

Como todo processo industrial apresenta correntes que precisam ser resfriadas e

correntes que precisam ser aquecidas, uma possível solução é a integração energética da

planta, de maneira que o consumo de utilidades quentes e frias seja reduzido e as

necessidades energéticas da planta sejam supridas pelas próprias correntes do processo,

a partir de uma rede de trocadores de calor.

Um dos principais desafios encontrados para se realizar integração energética é a

escolha de quais correntes devem ser combinadas e qual deve ser a sequência de

trocadores na rede (o problema apresenta uma natureza combinatorial). Esta dificuldade

cresce com o aumento do número de correntes no processo.

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Para sintetizar uma rede de trocadores de calor, utilizam-se métodos

matemáticos, por meio de programações lineares e não lineares, ou métodos baseados

em conceitos termodinâmicos, como a Tecnologia Pinch. A obtenção de uma rede de

trocadores de calor envolve determinar o consumo de utilidades, a área de transferência

de calor, o número de trocadores e o custo global anual, bem como as combinações de

correntes de processo em cada trocador de calor.

O setor sucroalcooleiro apresenta importância não só na produção de açúcar e

etanol a partir da cana-de-açúcar, mas também na geração de energia elétrica. O bagaço

da cana é queimado em caldeiras e o vapor produzido movimenta turbinas, provocando

tal geração. Desta maneira, os gastos da usina são reduzidos e em muitos casos há um

excedente de energia gerada pela queima (isto é, a quantidade de energia produzida

excede as necessidades internas da planta industrial), que pode ser comercializado.

Assim, a queima do bagaço para geração de energia elétrica é, atualmente, um

procedimento favorável para a indústria deste setor de biocombustíveis. Porém, o

mesmo bagaço pode ser utilizado para produzir o chamado etanol de segunda geração,

aumentando a produção da empresa. Para que essa produção seja mais vantajosa do que

a geração de energia elétrica, é necessário o desenvolvimento de uma tecnologia

eficiente e que seja economicamente viável.

Deste modo, várias pesquisas vêm sendo realizadas e a integração energética da

biorrefinaria certamente tem um papel fundamental para que este novo método de

produção de etanol seja implantado. Isso porque, a partir de uma rede de trocadores de

calor, haverá o aproveitamento de energia térmica entre as correntes do processo, o que

provoca uma diminuição no consumo de energia e na demanda de utilidades quentes e

frias. Assim, com a necessidade de uma menor quantidade de energia, menos bagaço

7

precisará ser queimado e o excedente poderá ser destinado para a produção de etanol de

segunda geração.

Vale ressaltar que, além dos aspectos econômicos que envolvem a redução no

gasto com energia e utilidades e o aumento no lucro devido à maior produção de etanol,

os benefícios ambientais são de suma importância, uma vez que as indústrias devem

atender à legislação vigente, evitando impactos ambientais e buscando que seus

processos sejam os mais sustentáveis possíveis.

1.1. Objetivo

O presente trabalho tinha como meta final integrar energeticamente uma

biorrefinaria de cana-de-açúcar, pela otimização do critério estipulado para avaliar a

rede de trocadores de calor e estruturar a rede ótima.

Os objetivos específicos envolviam a aquisição de dados das correntes que

deveriam sofrer troca térmica, como: temperatura final e inicial, vazão mássica, tipo de

corrente, capacidade calorífica, variação de entalpia e capacidade térmica; determinação

da função objetivo que seria otimizada; seleção da plataforma para simulação e criação

de superestruturas na mesma; avaliação da integração energética na biorrefinaria e

projeto da configuração da rede de trocadores de calor.

É válido ressaltar que os objetivos não foram plenamente cumpridos visto que o

projeto foi programado para ser executado em um período de 2 anos, o que não foi

possível diante do encerramento antecipado do mesmo.

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2. Revisão bibliográfica

O etanol como biocombustível líquido aparece como um dos mais importantes

recursos alternativos aos combustíveis fósseis. Sua produção no Brasil é feita a partir do

processamento e fermentação do caldo da cana-de-açúcar.

A produção de etanol a partir da cana-de-açúcar se inicia com a colheita e

limpeza da matéria-prima. A colheita da cana pode ser realizada manualmente ou por

cortadeiras mecânicas. Após esta operação, a cana é transportada para a usina

predominantemente por meio de caminhões. A cana chega à usina com terra e outras

impurezas, que podem diminuir o rendimento do processo ao aumentar a proliferação de

microorganismos concorrentes e prejudicar as etapas de purificação do caldo. Assim,

inicialmente, a cana passa por uma lavagem com água ou ar. A cana limpa é

encaminhada para mesas de distribuição, sendo nivelada pela ação dos niveladores. Em

seguida, as células da cana são abertas utilizando-se desfibradores, que são uma série de

martelos giratórios que promovem o esmagamento da cana com o objetivo de facilitar a

extração dos açúcares na etapa seguinte.

A extração dos açúcares contidos nos colmos da cana-de-açúcar pode ser

realizada tanto pelo emprego de moendas quanto difusores. O bagaço gerado no

processo segue para a caldeira onde será queimado para produzir energia para toda a

usina, com possibilidade de excedente de energia, dependendo da pressão e da

eficiência da caldeira utilizada.

As etapas seguintes de tratamento físico e químico do caldo têm o objetivo de

purificar e concentrar os açúcares presentes neste, para possibilitar alto rendimento na

etapa de fermentação. O processo envolve eliminar os compostos que atuam como

inibidores na fermentação, mantendo os açúcares em uma faixa de concentração na qual

o substrato não esteja excessivamente concentrado, de modo a inibir o processo, nem

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muito diluído, tornando necessário um volume maior das dornas de fermentação e

dando origem a um vinho de baixo grau alcoólico, o que demanda maior energia na

etapa de destilação. No tratamento físico são eliminadas as partículas em suspensão, a

partir do uso de peneiras (que visam remover os sólidos insolúveis de maior diâmetro) e

de hidrociclones (que permitem eliminar as partículas menores). O tratamento químico

visa remover as impurezas presentes no caldo na forma solúvel, coloidal e insolúvel. O

processo consiste na coagulação e floculação destas e posterior eliminação por

processos de separação física. Normalmente, isso é realizado mediante aquecimento do

caldo, ajustes no pH e adição de agentes coagulantes e floculantes. Outra função do

tratamento químico é a neutralização do caldo.

O caldo clarificado obtido após o tratamento químico deve ser concentrado antes

de seguir para a etapa de fermentação. A concentração é feita em evaporadores múltiplo

efeito com cinco ou seis estágios operando de forma co-corrente (na qual vapor e caldo

fluem na mesma direção), contra-corrente (na qual vapor e caldo fluem em sentidos

opostos) ou mista. Na sequência, o caldo é enviado para as dornas de fermentação.

O processo de fermentação alcoólica da sacarose nas plantas industriais utiliza a

levedura Saccharomyces cerevisiae. A formação do etanol ocorre em condições

anaeróbicas e serve como meio de obtenção de energia para a levedura. De forma

resumida, pode-se dizer que a sacarose, na presença de levedura, forma etanol e CO2. A

fermentação alcoólica, em geral, é realizada nas usinas em um processo de batelada

alimentada, conhecido como processo Melle-Boinot, ou em um processo contínuo.

Ambos os processos apresentam vantagens e desvantagens, porém, por questões

históricas, o processo Melle-Boinot é mais amplamente utilizado nas usinas brasileiras.

O vinho oriundo do processo Melle-Boinot possui concentração de etanol entre 7

e 10% em massa. Já o oriundo do processo contínuo apresenta concentração e entre 8 e

10

12% em massa. Para ser comercializado como etanol hidratado combustível (EHC), este

deve possuir teor alcoólico entre 92,5 e 93,8% em massa (BRASIL, 2011). Por esse

motivo, o vinho é enviado para um trem de colunas de destilação, no qual será obtido o

EHC, além da vinhaça, do álcool de segunda, do óleo fúsel e da flegmaça.

Como visto anteriormente, o bagaço da cana é utilizado para geração de vapor e

energia elétrica, a partir da queima em caldeiras. Porém, este mesmo bagaço pode ser

utilizado para produzir o chamado etanol de segunda geração. Esse é produzido a partir

de materiais lignocelulósicos, como é o caso do bagaço da cana-de-açúcar. O bagaço é

constituído principalmente por celulose, hemicelulose e lignina. A hidrólise da

biomassa lignocelulósica visa a quebrar a celulose e, possivelmente, a hemicelulose em

seus açúcares constituintes (pentoses e hexoses). Estes açúcares podem ser fermentados,

gerando etanol. Tal hidrólise pode ser realizada de duas maneiras distintas: hidrólise

ácida (empregando ácido diluído ou ácido concentrado) e enzimática. Na hidrólise

enzimática empregam-se enzimas que ocorrem na natureza, chamadas celulases.

Entretanto, para o processo ser efetivo, as enzimas devem ter acesso ao material

(celulose). Para isso, é necessário que a biomassa passe por um pré-tratamento para

retirar a lignina e expor a celulose ao ataque da enzima. Existem diversos tipos de pré-

tratamento e alguns são apresentados a seguir:

Explosão a vapor: Neste método a biomassa é tratada com vapor saturado a alta

pressão e então submetida a uma descompressão explosiva. Neste processo, a

lignina e a hemicelulose se degradam, aumentando o acesso a celulose (SUN;

CHENG, 2002). A adição de H2SO4 ou CO2 ao vapor pode aumentar a eficiência

da hidrólise, diminuir a formação de compostos inibidores e aumentar a remoção

da hemicelulose.

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Explosão com vapor de amoníaco: Neste processo emprega-se amônia líquida a

alta pressão e temperatura e, após um período de tempo, a pressão é reduzida

drasticamente. A composição do material permanece inalterada após o

tratamento com amônia, dado que esta não solubiliza nenhum composto. Este

tratamento tem a vantagem de não gerar compostos inibidores do processo de

fermentação.

Organosolv: O método originou-se na indústria de celulose, na qual há o

interesse em separar a lignina da madeira. O emprego de solventes orgânicos

passíveis de serem recuperados foi adotado visando eliminar o uso de compostos

químicos agressivos. A fase líquida obtida no processo contém o solvente, a

lignina dissolvida, a hemicelulose e outros compostos solúveis que foram

gerados durante o processo de degradação da celulose e da hemicelulose. O

solvente pode ser recuperado em um flash, no qual se obtém também os demais

compostos na forma sólida. Estes compostos são dissolvidos em água e a lignina

é separada em filtros (por ser insolúvel em água). Os açúcares da hemicelulose

podem ser purificados e utilizados (PAN et al., 2005).

Extração alcalina: Na extração alcalina a lignina é removida pela ação de uma

base, normalmente NaOH. Acredita-se que a remoção ocorra pela saponificação

dos ésteres que ligam a hemicelulose à lignina e outros componentes.

Desta maneira, nota-se que o bagaço da cana pode ser utilizado para gerar

energia elétrica e também para produzir etanol, o que consequentemente aumenta a

produção e lucro da indústria deste setor. Para que essa produção seja mais vantajosa do

que a geração de energia elétrica, é necessário o desenvolvimento de uma tecnologia

eficiente e que seja economicamente viável. A fim de desenvolver esta nova tecnologia

de produção, pode-se utilizar o conceito de integração energética.

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A integração energética visa o aproveitamento da energia térmica das correntes

do processo, a partir da utilização de equipamentos denominados trocadores de calor.

Esses podem ser classificados de diversas maneiras. De forma básica, duas

classificações são interessantes: a que divide os trocadores de acordo com o modo de

transferência de calor (contato direto e indireto) e a que os classifica de acordo com o

modo de construção do equipamento.

Em um trocador de calor de contato indireto, os fluidos permanecem separados e

o calor é transferido continuamente através de uma parede que apresenta alta

condutibilidade térmica. Os trocadores de contato indireto classificam-se em: trocadores

de transferência direta e de armazenamento. Nos de transferência direta, há um fluxo

contínuo de calor do fluido quente ao frio através da parede que os separa. Este trocador

é designado como um trocador de calor de recuperação, ou simplesmente como um

recuperador. Alguns exemplos de trocadores de transferência direta são trocadores de:

placa, tubular, e de superfície estendida. Nos trocadores de armazenamento, os fluidos

percorrem alternativamente as mesmas passagens de troca de calor. A superfície de

transferência de calor geralmente é de uma estrutura chamada matriz. Em caso de

aquecimento, o fluido quente atravessa a superfície de transferência de calor e a energia

térmica é armazenada na matriz. Posteriormente, quando o fluido frio passa pelas

mesmas passagens, a matriz “libera” a energia térmica (na refrigeração ocorre o

inverso). Este trocador também é chamado regenerador.

Já nos trocadores de contato direto, os fluidos se misturam. Aplicações comuns

destes trocadores envolvem transferência de massa além de transferência de calor.

Aplicações que envolvem apenas transferência de calor são raras.

Quanto ao modo de construção, pode-se citar o trocador tubular, de placas, de

superfície estendida, regenerativos, entre outros. Os trocadores tubulares são geralmente

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construídos com tubos circulares, existindo uma variação de acordo com o fabricante.

São usados para aplicações de transferência de calor líquido/líquido. Eles trabalham de

maneira ótima em aplicações de transferência de calor gás/gás, principalmente quando

pressões e/ou temperaturas operacionais são muito altas e nenhum outro tipo de

trocador pode operar. Estes trocadores podem ser classificados como casco e tubo, tubo

duplo e de espiral. O tipo mais utilizado industrialmente é o trocador casco e tubo,

devido a sua construção resistente, flexibilidade de projeto e fácil adaptação às

condições operacionais do processo. Este trocador é construído com tubos e uma

carcaça. Um dos fluidos passa por dentro dos tubos, e o outro pelo espaço entre a

carcaça e os tubos. Já o trocador de tubo duplo consiste de dois tubos concêntricos, onde

um dos fluidos escoa pelo tubo interno e o outro pela parte anular entre tubos.

O primeiro passo no projeto de um trocador de calor, antes do dimensionamento

termo-hidráulico, consiste no estabelecimento dos requisitos a serem obedecidos pela

unidade. Quanto à transferência de calor, deve-se conhecer as especificações do fluido,

as temperaturas de entrada e saída (ou faixas de temperaturas possíveis). Quanto à perda

de carga, essa deve ficar dentro dos limites estabelecidos, procurando-se sempre, para

melhor troca de calor, usar toda perda de carga disponível. Além disso, pode haver

restrições quanto ao comprimento, altura, largura, volume ou peso de um trocador.

Critérios como manutenção e custo também devem ser considerados. Após a

especificação preliminar do trocador, procura-se dimensioná-lo de modo que satisfaça

simultaneamente os requisitos de transferência de calor e as perdas de carga

admissíveis. Maiores velocidades dos fluidos, que implicam em maiores perdas de carga

e potências de bombeamento, resultam em maiores coeficientes de película, melhor

troca de calor e, consequentemente, menor necessidade de área de troca (o que demanda

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trocadores menores e mais baratos). De maneira geral, o dimensionamento de um

trocador de calor envolve determinar o coeficiente de película e a perda de carga.

A síntese de uma rede de trocadores de calor (RTC) envolve estruturar as trocas

térmicas entre as correntes do processo, escolher quais fluidos irão trocar calor e

configurar a rede dos equipamentos envolvidos. O problema a ser resolvido para a

síntese de uma RTC pode ser elaborado da seguinte maneira: diante de um conjunto de

correntes que precisam ser aquecidas, um conjunto de correntes que precisam ser

resfriadas e um número de utilidades quentes e frias disponíveis para aquecimento e

resfriamento de correntes, qual a melhor combinação possível entre as diferentes

correntes e utilidades que proporciona o ótimo de algum critério, como: consumo

mínimo de utilidades, área mínima de transferência de calor, número mínimo de

trocadores, custo global anual mínimo, dentre outros? Nota-se que o problema apresenta

natureza combinatorial e quanto maior o número de correntes envolvidas no processo,

mais complexo ele se torna. Existe ainda a possibilidade de ocorrer mudança de fase em

uma ou mais correntes do processo, o que pode ser um fator complicador, já que as

condições de operação para um trocador envolvendo gases e líquidos são muito

diferentes.

Diante da importância das redes de trocadores de calor no custo global dos

processos industriais, muito se tem estudado sobre o assunto. Houve, no passado, duas

escolas para síntese de RTC. A primeira utilizava princípios termodinâmicos somados a

regras heurísticas, com destaque para a Tecnologia Pinch. Já a segunda utilizava

técnicas matemáticas de programação linear e não linear (programação matemática). No

final dos anos 1990 e início do novo século, surgiu um terceiro grupo de métodos: os

métodos heurísticos. Algumas técnicas como os Algoritmos Genéticos e Simulated

Annealing foram empregadas. Atualmente, outras técnicas heurísticas têm sido

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propostas, como método do enxame de partículas e colônia de formigas, dentre outras.

Também surgiram métodos híbridos, combinando programação matemática, Análise

Pinch e métodos heurísticos (RAVAGNANI; SUÁREZ, 2012).

Para classificar os diferentes métodos de síntese de RTC é conveniente dividi-los

em dois grupos: o dos métodos sequenciais e o dos métodos simultâneos.

Os métodos sequenciais consistem na decomposição do problema da síntese em

uma série de subproblemas com o objetivo de reduzir o esforço computacional na

solução, podendo ainda ser divididos em duas subcategorias: (1) método da Análise

Pinch, que utiliza conceitos termodinâmicos e regras heurísticas, (2) métodos de

programação matemática, que são baseados na solução sequencial de subproblemas

lineares e não lineares.

Inicialmente o problema é dividido em uma série de subproblemas com

diferentes metas, baseadas em regras heurísticas. Geralmente, as metas dos

subproblemas são apresentadas na seguinte ordem de importância: (1) mínimo consumo

de utilidades, (2) número mínimo de unidades de troca térmica, (3) mínimo custo de

área, ou seja, mínimo custo fixo da rede. Para a solução do terceiro subproblema, uma

superestrutura pode ser montada com base na resposta ótima obtida do segundo

subproblema. É importante ressaltar que esta heurística não garante a síntese de uma

rede com o custo total anual mínimo, uma vez que a rede final será a soma de todas as

sub-redes ótimas, o que não necessariamente fornece uma rede global ótima. (SILVA,

20031 apud SILVA, 2009).

Já os métodos simultâneos não utilizam a decomposição do problema e baseiam-

se unicamente na definição de superestruturas para a síntese da rede de trocadores de

1 SILVA, A. P., 2003, Síntese de Redes de Trocadores de Calor Utilizando Algoritmos Genéticos.

Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, Universidade Estadual de

Maringá, Maringá, PR, Brasil.

16

calor. O problema é formulado e resolvido em uma única etapa, considerando a

importância dos custos de utilidades e de equipamentos simultaneamente. Portanto, para

um dado espaço de soluções, definido pela superestrutura, é possível obter-se uma

solução ótima ou muito próxima da ótima. Nos métodos simultâneos, via de regra, a

função objetivo a ser minimizada é a custo total anual mínimo.

Para sintetizar a rede de trocadores de calor, além de conceitos termodinâmicos e

técnicas de programação matemática, utilizam-se métodos de otimização. Em uma

definição simples, otimizar consiste em encontrar a melhor solução (o valor ótimo) para

problemas em que a qualidade de sua resposta pode ser medida por um número. Estes

problemas aparecem em praticamente todas as áreas do conhecimento e a quantidade de

ferramentas disponíveis para auxiliar nesta tarefa é quase tão grande quanto o número

de aplicações. (VIEIRA; BISCAIA, 20022 apud SILVA, 2009).

Para resolver um problema deste tipo, é preciso considerar dois componentes. O

primeiro é o espaço de busca, no qual são consideradas todas as possibilidades de

solução de um determinado problema. O outro é a função objetivo, que é uma função

matemática que associa cada ponto no espaço de soluções a um número real,

possibilitando avaliar os membros do espaço de busca. Este número permite medir a

qualidade de uma resposta: no problema de minimização, quanto menor o valor da

função objetivo, melhor a resposta. No problema de maximização, o inverso ocorre.

A questão fundamental está no fato de que nem sempre o "ótimo" é encontrado

facilmente, num único cálculo. É necessário um processo sistemático de busca. Um

procedimento iterativo de cálculos que, passo a passo, de candidato a candidato, seja

possível ir melhorando a seleção até que o valor ótimo seja encontrado, ou até que um

critério de parada esteja satisfeito. Esse procedimento nada mais é do que um método de

2 VIEIRA, R. C. e BISCAIA JR., E. C., 2002, Métodos Heurísticos de Otimização. Notas de aula da

Escola Piloto Virtual do PEQ/COPPE/UFRJ, Disponível sob consulta: [email protected].

17

otimização descrito por um algoritmo. A construção de bons algoritmos é uma das

principais etapas da otimização.

Para validar a integridade de um projeto e sua operabilidade prática é necessária

a simulação de toda a planta industrial com a utilização de modelos rigorosos. À medida

que um processo torna-se mais complexo, é demandado um número maior de técnicas

para análise dos problemas associados com seu projeto e operação. Análises modernas

de problemas de processos envolvem alguma forma de modelagem matemática.

Existem vários modelos matemáticos para um mesmo sistema, cada um ajustado para

resolver um problema particular associado ao sistema, onde o grau de detalhe requerido

varia de acordo com o problema a ser resolvido e a quantidade de dados disponíveis.

Quanto mais rigorosa for a descrição de um processo, maior e mais complexo será o

conjunto de equações e mais difícil seu tratamento. Neste caso, é possível reduzir as

equações para um conjunto menos complexo que, em termos práticos, fornecerá

soluções dentro da precisão dos dados proporcionados.

As técnicas de otimização e simulação, quando aliadas, podem assegurar que as

soluções implementadas são ou estão próximas dos resultados ótimos.

18

3. Atividades realizadas

Durante o período coberto pelo relatório em questão, foram estudados de

maneira detalhada os seguintes temas:

Processos envolvidos na produção de etanol de primeira e segunda geração;

Operações unitárias de trocas térmicas;

Integração energética: principais conceitos envolvidos, métodos utilizados (com

ênfase nos métodos matemáticos que foram aplicados neste trabalho), síntese de

uma rede de trocadores de calor;

Otimização de processos;

Simulação de processos;

Estudo de processo específico e determinação das correntes a participarem da

integração energética, com suas propriedades, além da definição de qual critério

seria utilizado para a função objetivo da otimização;

Determinação da plataforma utilizada para simulação e estudo da linguagem de

programação da mesma;

Definição da estratégia de programação utilizada.

O cronograma proposto para o primeiro ano de pesquisa é apresentado na Tabela

1.

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Tabela 1 – Cronograma proposto para as atividades a serem realizadas no período a

que esse relatório se refere.

ATIVIDADE

TRIMESTRE

1º 2º 3º 4º

Estudo dos processos envolvidos na produção de etanol de

primeira e segunda geração

Estudo das operações unitárias de trocas térmicas

Estudo dos conceitos envolvidos na integração energética

Elaboração do Relatório Parcial

Estudo sobre otimização e simulação de processos

Determinação das correntes a serem integradas, suas

propriedades e definição do critério a ser otimizado

Determinação da plataforma a ser utilizada e estudo da

linguagem de programação da mesma

Definição da estratégia de otimização a ser utilizada

Elaboração do Relatório Final

Nota-se que todas as atividades foram devidamente realizadas e, além disso, foi

possível iniciar a elaboração do programa, o que estava previsto apenas para o segundo

ano de pesquisa.

Determinou-se que, inicialmente, seria utilizado o método seqüencial via

programação matemática para síntese da rede de trocadores de calor (RTC). Desta

maneira, a implementação do programa na plataforma selecionada foi iniciada e a etapa

que diz respeito à modelagem e otimização do primeiro critério (mínimo consumo de

utilidades) foi quase concluída.

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4. Materiais e métodos

A plataforma utilizada para elaboração do programa foi o EMSO (Environment

for Modeling, Simulation, and Optimization). O termo EMSO significa Ambiente de

Modelagem, Simulação e Otimização. É um ambiente gráfico completo, no qual o

usuário pode modelar complexos processos dinâmicos ou em estado estacionário pela

simples seleção e conexão de blocos dos modelos. O usuário, ainda, pode desenvolver

novos modelos utilizando a linguagem de modelagem do EMSO ou utilizar outros que

foram feitos a partir do EMSO Library (EML). A EML é uma biblioteca de código

aberto de modelos escritos na linguagem de modelagem do EMSO. Dentre as vantagens

da utilização do EMSO é possível citar: a linguagem de programação orientada a

objetos, que permite o usuário criar modelos complexos ou específicos a partir dos

padrões, disponibilidade do simulador em plataformas do Windows®, Linux® e Unix®

e licença gratuita (OLIVEIRA, 2014). Como será apresentado no item de Resultados e

Discussão, a plataforma EMSO não se mostrou plenamente adequada para os passos da

programação.

Para obter a RTC ótima para a biorrefinaria, foi utilizado o método sequencial

via programação matemática. Este método, como citado anteriormente, apresenta as

seguintes regras de prioridade em objetivos: 1) mínimo consumo de utilidades, 2)

mínimo número de trocadores de calor e 3) mínimo custo fixo da rede. Seguindo a

heurística apresentada e sabendo que as regras possuem precedência uma sobre as

outras (regra 1 tem precedência sobre a regra 2, que, por sua vez, tem precedência sobre

a regra 3), o objetivo era considerar primeiramente uma rede candidata com mínimo

custo de utilidades. Entre as redes com este mínimo custo seriam selecionadas aquelas

com mínimo número de unidades de troca térmica e, entre estas, seria selecionada

aquela com menor custo de investimento.

21

No período coberto pelo relatório, foi iniciada a implementação do modelo que

diz respeito à otimização do primeiro critério: custo mínimo de utilidades. O modelo

utilizado foi proposto por Papoulias e Grossmann (1983) (PAPOULIAS;

GROSSMANN, 19833 apud RAVAGNANI; SUÁREZ, 2012).

O programa foi implementado de maneira que se encontre a RTC ótima

independente do número de correntes fornecidas pelo usuário, que deve fornecer ao

programa a temperatura inicial, a temperatura final e a capacidade térmica de cada

corrente, além da variação mínima de temperatura entre as correntes (∆Tmin). Dispondo

de tais informações e seguindo o modelo já mencionado, a primeira etapa consistiu na

elaboração da tabela problema (RAVAGNANI; SUÁREZ, 2012), que mostra a

quantidade de energia envolvida para cada corrente, em cada intervalo de temperatura.

Inicialmente, definiu-se o tipo de corrente: quente (quando a temperatura inicial

é maior que a final) ou fria (quando a temperatura inicial é menor que a final).

Para calcular os intervalos de temperatura consideraram-se as escalas de

temperatura quentes e frias de maneira que sua separação final fosse igual a ∆Tmin.

Neste caso, a escala de temperaturas para as correntes quentes foi diminuída em ∆Tmin/2

e a escala para as correntes frias aumentada em ∆Tmin/2.

As quantidades de calor (Qi,k) que cada corrente (i) cede ou elimina em cada

intervalo de temperatura (k) foram calculadas por:

TkCPikQi , (1)

Onde:

CPi: capacidade térmica da corrente i;

∆Tk : incremento de temperatura que forma o intervalo k.

3 PAPOULIAS, S. A.; GROSSMANN, I. E. A structural optimization approach in process synthesis. Part

II: Heat recovery networks. Computers & Chemical Engineering, New York, v.7, no.6, p. 707, 1983.

22

Elaborada a tabela problema, a etapa seguinte consistiu na otimização do

primeiro critério (custo mínimo de utilidades). Neste caso, é formulado um problema de

programação linear que toma a forma de um problema de transbordo (RAVAGNANI;

SUÁREZ, 2012), no qual as correntes quentes são os nós fonte, as frias são os nós

destino e o calor pode ser considerado uma mercadoria que deve ser transportada das

fontes aos destinos através de armazéns intermediários, que neste caso dizem respeito a

cada um dos intervalos de temperatura que garantem uma troca de calor.

Em determinado intervalo, o calor que não pode ser transferido para uma

corrente fria (porque esta corrente já obteve todo calor que precisava) é transferido

como calor residual (Rk) ao intervalo de temperatura seguinte. Nos intervalos em que

esteja disponível uma utilidade quente, se as correntes do processo disponíveis não são

capazes de fornecer o calor suficiente para satisfazer termicamente as correntes frias,

então a utilidade quente é quem deve fornecer tal calor. Se no último intervalo de

temperatura existe um calor residual, este deverá ser transferido para a utilidade fria.

A Figura 1 mostra a representação matemática do modelo.

Figura 1: Balanço de energia no intervalo de temperatura k.

Fonte: Reproduzido de RAVAGNANI; SUÁREZ, 2012.

23

O objetivo é, portanto, minimizar o custo das utilidades quentes e frias, sujeito

aos balanços de energia, como é mostrado nas equações a seguir:

WknSkm

CnQWnCmQSmZmin (2)

CkjCkjHkiWknSkm

kk kQCjkQCjkQHiQWnQSmRR ,,,1 k ∊ INT (3)

0;1...1;0;0;0 RKKkRkQWnQSm (4)

Onde:

𝑄𝐻𝑖, 𝑘: calor cedido pela corrente quente i no intervalo de temperatura k;

𝑄𝐶𝑗, 𝑘: calor retirado pela corrente fria j no intervalo de temperatura k;

𝐶𝑚: custo unitário da utilidade quente m;

𝐶𝑛: custo unitário da utilidade fria n;

𝑄𝑆𝑚: calor disponível na utilidade quente m;

𝑄𝑊𝑛: calor retirado pela utilidade fria n;

𝑅𝑘: calor residual que abandona o intervalo de temperatura k;

𝐾: número de intervalos de temperatura.

24

5. Resultados e discussão:

Para construção da tabela problema deve-se definir o tipo de corrente, deslocar

as temperaturas das correntes quentes e frias em menos ∆Tmin/2 e mais ∆Tmin/2,

respectivamente, unir as temperaturas deslocadas em um único vetor, eliminar as

temperaturas repetidas e ordenar o vetor de maneira decrescente. Desta maneira, os

intervalos de temperatura são definidos e é possível calcular as quantidades de calor que

cada corrente absorve ou elimina nestes intervalos, a partir da Equação 1.

Iniciando a implementação no EMSO, foi encontrado um problema. Por ser um

simulador orientado a equações (não ser uma linguagem de programação), não seria

possível realizar a ordenação do vetor, uma vez que a ordenação de um vetor não

descreve um equacionamento. Por exemplo, a Figura 2 mostra a lógica desenvolvida

para ordenar o vetor. Foi criada uma variável denominada Contador A que vai do

primeiro elemento do vetor até o penúltimo e outra variável denominada Contador B

que vai do segundo elemento do vetor até o último, de maneira que seja possível

comparar os valores das posições do vetor 1 e 2, 2 e 3, 3 e 4 e assim por diante. Como o

objetivo é ordenar o vetor de maneira decrescente, se o valor presente na posição

superior for menor que o valor presente na posição inferior, então este valor menor será

atribuído a uma variável auxiliar, o valor maior à posição superior e o valor menor à

posição inferior. Caso contrário, os valores são mantidos em suas posições originais. O

EMSO não entende as relações de atribuição, já que não é uma linguagem de

programação propriamente dita. Ele não consegue atribuir valores a uma variável e

atualizá-los de acordo com a iteração que está se realizando (isto é, a variável auxiliar –

aux na Figura 2 – é uma variável de um sistema de equações e as duas linhas de

equações acima e abaixo do “else” criam um conflito).

25

Figura 2: Problema no EMSO.

Fonte: Acervo pessoal, 2015.

Desta maneira, uma possível solução para o problema seria utilizar algum

programa que forneça Plug in ao EMSO e resolver no EMSO apenas as etapas de

otimização. Ao término do período a que esse relatório se refere ainda não havia sido

decidida a solução a ser adotada, mas, para resolver a questão, a lógica de programação

para elaboração da tabela problema foi desenvolvida e deverá ser adaptada,

posteriormente (na continuidade desse trabalho), para a linguagem de programação do

programa selecionado.

A fim de verificar o funcionamento da lógica desenvolvida, utilizou-se o

programa Scilab e um exemplo resolvido pela literatura. Os dados fornecidos pelo

usuário são apresentados na Tabela 2.

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Tabela 2: Dados fornecidos pelo usuário segundo o exemplo utilizado.

Corrente CP (kW/K) Ten (K) Tsai (K) h (kW/m²K) Custo ($/kW-

ano)

H1 (quente)

10 650 370 1.0 ---

H2 (quente)

20 590 370 1.0 ---

C1 (fria) 15 410 650 1.0 ---

C2 (fria) 13 353 500 1.0 ---

vapor --- 680 680 5.0 80

água --- 300 320 1.0 20

Temperatura de aproximação mínima = 10K

Fonte: RAVAGNANI; SUÁREZ, 2012.

Na Figura 3, observam-se os valores de temperaturas de entrada (Tin), saída

(Tout), capacidade térmica (CP) e variação mínima de temperatura (DeltaTmin)

fornecidos pelo usuário. Cada posição dos vetores de entrada corresponde aos dados de

uma corrente específica. Observa-se que T, que diz respeito ao vetor de temperaturas

deslocadas ordenadas, possui dimensão 8x1 e a tabela envolvendo as quantidades de

energia é representada por uma matriz 6x4.

27

Figura 3: Dados envolvidos no Scilab.

Fonte: Acervo pessoal, 2015.

O objetivo é obter a tabela problema que, segundo a referência utilizada, deve

assumir a seguinte forma:

Tabela 3: Tabela problema do exemplo utilizado.

T* QH1 QH2 QC1 QC2

655 150

645 600 900

585 800 1600 1200

505 900 1800 1350 1170

415 500 1000 650

365 91

358

Fonte: RAVAGNANI; SUÁREZ, 2012.

Na tabela acima, T* corresponde ao vetor de temperaturas deslocadas ordenado

de maneira decrescente, QH as quantidades de energia envolvidas, em cada intervalo de

temperatura, para as correntes quentes e QC as quantidades de energia envolvidas, em

cada intervalo de temperatura, para as correntes frias.

28

Os resultados obtidos no Scilab são apresentados nas Figuras 4 e 5.

Figura 4: Vetor temperaturas deslocadas e ordenadas de maneira decrescente.

Fonte: Acervo pessoal, 2015.

Figura 5: Tabela problema gerada no Scilab.

Fonte: Acervo pessoal, 2015.

Pode-se verificar que a lógica desenvolvida gera a tabela problema necessária

para se iniciar as etapas de otimização.

Para que as atividades não fossem interrompidas diante da não decisão de qual

programa seria utilizado para fornecer Plug in ao EMSO, iniciou-se a implementação

neste ambiente do modelo que diz respeito à primeira etapa de otimização (custo

mínimo de utilidades). O modelo implementado não apresentou erros quanto à

29

linguagem ou sintaxe. Porém, ao executar o programa, o EMSO não consegue resolvê-

lo e acusa que existe um número maior de equações do que de variáveis. Isto acontece

porque estão faltando dados referentes às utilidades utilizadas (uma tabela semelhante à

tabela problema apresentada deve ser elaborada para as utilidades). É válido ressaltar

que, neste caso, os dados da tabela problema foram inseridos diretamente no EMSO.

Não foi possível elaborar a tabela necessária para as utilidades e finalizar a

primeira etapa de otimização dentro do período que envolve este relatório. Porém, todas

as atividades planejadas para o exercício de março de 2014 a fevereiro de 2015 foram

devidamente executadas.

As etapas seguintes necessárias para que se possa levantar a RTC ótima para a

biorrefinaria de cana-de-açúcar consistem em: otimizar o custo mínimo de utilidades via

modelo de transbordo expandido, no qual é possível adicionar restrições ao processo,

como trocas proibidas (por motivos de localização, manutenção da integridade de cada

uma das seções da planta, risco de contaminação) e limitar a troca de calor entre

correntes; minimizar o número de trocadores de calor; e minimizar o custo da rede de

trocadores de calor.

30

6. Considerações finais

O consumo de energia não só na indústria do etanol, mas como em qualquer

outra, é um fator importante na composição final dos custos dos produtos. Por esse

motivo, as empresas procuram de forma intensa a redução no seu consumo energético.

Como todo processo industrial apresenta correntes que precisam ser resfriadas e

correntes que precisam ser aquecidas, uma possível solução é a integração energética da

planta, de maneira que o consumo de utilidades quentes e frias seja reduzido e as

necessidades energéticas da planta sejam supridas pelas próprias correntes do processo,

a partir de uma rede de trocadores de calor.

Um dos principais desafios encontrados para se realizar integração energética é a

escolha de quais correntes devem ser combinadas e qual deve ser a sequência de

trocadores na rede (o problema apresenta uma natureza combinatorial). Esta dificuldade

cresce com o aumento do número de correntes no processo.

Para sintetizar uma rede de trocadores de calor, utilizam-se métodos

matemáticos, por meio de programações lineares e não lineares, ou métodos baseados

em conceitos termodinâmicos, como a Tecnologia Pinch. A obtenção de uma rede de

trocadores de calor envolve determinar o consumo de utilidades, a área de transferência

de calor, o número de trocadores e o custo global anual, bem como as combinações de

correntes de processo em cada trocador de calor.

O presente trabalho tinha como objetivo final integrar energeticamente uma

biorrefinaria de cana-de-açúcar. Para a síntese da RTC, escolheu-se a metodologia

sequencial via programação matemática. Este método divide o problema de síntese em

uma série de subproblemas com o objetivo de reduzir o esforço computacional na

solução e apresenta as seguintes regras, as quais possuem precedência uma sobre as

31

outras: 1) mínimo consumo de utilidades, 2) mínimo número de trocadores de calor e 3)

mínimo custo fixo da rede.

No período coberto pelo relatório em questão, foi iniciada a otimização do

primeiro critério. As etapas seguintes necessárias para que se possa levantar qual a RTC

ótima para a biorrefinaria de cana-de-açúcar envolvem otimizar o custo de utilidades via

modelo de transbordo expandido, minimizar o número de trocadores de calor; e

minimizar o custo fixo da rede.

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Referências Bibliográficas:

BRASIL. Resolução ANP n.7, de 9.2.2011. [S.l.], 2011. Publicada no diário oficial da

nação em 10.2.2011.

OLIVEIRA, C. M. Integração energética da biorrefinaria de cana-de-açúcar para

produção de etanol de primeira e segunda geração e energia elétrica. 2014. Dissertação

(Mestrado em Engenharia Química) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia

Química, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2014.

PAN, X.; ARATO, C.; GILKES, N.; GREGG, D.; MABEE, W.; PYE, K.; XIAO Z.;

ZHANG, X.; SADDLER, J. Biorefining of softwoods using ethanol organosolv

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RAVAGNANI, M. A. S. S.; SUÁREZ, J. A. C. Redes de trocadores de calor. Maringá:

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determinísticas. 2009. 122p. Tese (Doutorado em Engenharia Química) - Programa de

Pós-Graduação em Engenharia Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio

de Janeiro. 2009.

SUN, Y.; CHENG, J. Hydrolysis of lignocellulosic materials for ethanol production: a

review. Bioresource Technology, v.83, n.1, p.1-11, 2002.