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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA PARA O DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE – MPANE O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE DOS PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE PERNAMBUCO (TRE/PE): PARADIGMAS PARA SUA AFERIÇÃO Elias José de Souza Recife 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA PARA O DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE –

MPANE

O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE DOS

PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE

PERNAMBUCO (TRE/PE): PARADIGMAS PARA SUA AFERIÇÃO

Elias José de Souza

Recife

2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO MESTRADO EM GESTÃO PÚBLICA PARA O DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE –

MPANE

Elias José de Souza

O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE DOS

PROCEDIMENTOS LICITATÓRIOS DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE

PERNAMBUCO (TRE/PE): PARADIGMAS PARA SUA AFERIÇÃO

Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste – MPANE, da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. José Francisco Ribeiro Filho

Co-orientadora:

Profa. Dra. Sylvana Brandão de Aguiar

Recife

2010

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Souza, Elias José de O princípio da eficiência como instrumento de controle dos procedimentos licitatórios do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE/PE): paradigmas para sua aferição / Elias José de Souza. - Recife: O Autor, 2010. 204 folhas : tab., gráf., abrev. e siglas. Orientador: Profº. Drº José Francisco Ribeiro Filho. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA. Administração, 2010. Inclui bibliografia. 1. Eficiência. 2. Cidadania. 3. Justiça eleitoral. 4. Licitação. 5. Indicadores. I. Ribeiro Filho, José Francisco (Orientador). II. Título. 658 CDD (22.ed.) UFPE/CSA 2011 - 54

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Para Jorge Vicente, meu pai, in memorian,

de quem recebi importantes lições,

e para Luísa Mariana, minha filha,

a quem tento transmiti-las.

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AGRADECIMENTOS

Sempre que chegamos ao fim de uma longa jornada, a sensação de alívio é inevitável. Mas

a dimensão e a importância da vitória alcançada só o passar dos anos poderá revelar. A alegria

deste momento não faz ainda idéia das implicações que o conhecimento científico carrega em si.

Ao Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, o reconhecimento e a gratidão pela

oportunidade proporcionada, nas pessoas do Desembargador Presidente Roberto Ferreira Lins,

da ex-Diretora-Geral, Cleyde Soriano, e da atual Diretora-Geral, Marília Berquó, que estiveram

ao meu lado, sempre. Para minha honra, este trabalho integrará sua biblioteca.

Aos meus colegas da Assessoria de Editais e Contratos, o meu agradecimento pela

compreensão e pela paciência com a minha pouca disponibilidade durante a elaboração deste

estudo, especialmente à amiga Daniela Andrade Fonseca Santos, pelo incentivo desde a primeira

hora, pelos debates apaixonados e pelas opiniões tão pertinentes e singulares, que sempre

resultam em importantes contribuições.

Aos demais colegas do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, que me permitiram

consultar os procedimentos licitatórios, com a calma e o tempo necessários para o estudo

científico. Aos servidores públicos da Secretaria Regional que me gratificaram e me honraram,

ao participar da pesquisa, respondendo as perguntas propostas com isenção e sinceridade,

acreditando no trabalho que me propus a realizar.

Ao meu orientador, Professor Doutor José Francisco Ribeiro Filho, em cujas aulas

vislumbrei com maior segurança o caminho a seguir, além de ter enriquecido meu aprendizado

com os seus ensinamentos, decorrentes do seu conhecimento ímpar, ofertados a cada encontro.

À Coordenadora do Curso, Professora Doutora Sylvana Brandão de Aguiar, exemplo de

educadora, cujas palavras são sempre encorajadoras. Pelo conforto nos momentos de aflição,

pela paciência com as minhas dificuldades, por sofrer, mais do que eu, nas vezes em que me

respondeu um “não”, pela sua imponente presença durante todo o curso e o seu inesgotável

saber, capaz de intimidar o mais culto dos homens, a minha mais sincera reverência e o meu

muito obrigado!

Aos demais professores, funcionários e estagiários do Mestrado em Gestão Pública para o

Desenvolvimento do Nordeste - MPANE, da Universidade Federal de Pernambuco, e aos meus

colegas de turma, pelos momentos inesquecíveis de convivência, que me trouxeram

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ensinamentos nas mais diversas áreas de atuação profissional, e dos quais guardarei as mais

doces lembranças.

À professora Cecília Machado dos Santos, da Escola Estadual Débora Feijó, que antes e

após o horário de aulas das 7ª. e 8ª. séries do Ensino Fundamental, antigamente chamado de

Primeiro Grau, brindava-me, individualmente, com aulas gratuitas de português e literatura. À

inesquecível Mestra, com todo o meu carinho!

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RESUMO

O Princípio da Eficiência, inserido no caput do artigo 37 da Carta Magna, por meio da Emenda Constitucional n. 19/98, representa um avanço nos direitos de cidadania, que devem ser estendidos além dos tradicionais direitos civis, políticos e sociais, abarcando os chamados direitos republicanos. A eficiência das atividades administrativas passa a ser um direito do cidadão, em sua tríplice interface: a eficiência do procedimento ou eficiência stricto sensu; a eficiência dos custos ou efetividade; e a eficiência dos resultados ou eficácia. Os atos praticados pela Justiça Eleitoral, em sua maioria, são atos administrativos e, dentre eles, merecem destaque os atos administrativos decorrentes dos procedimentos licitatórios porque são os atos que possibilitam a compra de bens e serviços, e envolvem vultosas quantias. Esse cenário de busca da melhoria da eficiência dos serviços públicos se desenvolve juntamente com a Reforma do Estado, que se encontra em um momento de transição do Estado Burocrático para o Estado Gerencial, e ainda conserva alguns traços do Estado Patrimonial, no caso brasileiro. Um dos pilares do Estado Gerencial, a Gestão Pública por Resultados é um instrumento de controle que possibilita, através de indicadores, a avaliação da atividade administrativa pública, com vistas a melhor atender ao interesse público. Sob a ótica dos referenciais teóricos do conceito hodierno de cidadania, da reforma gerencial do Estado e da Gestão Pública por resultados, o Princípio da Eficiência ganha contorno de importante instrumento de controle para avaliação da realização dos objetivos do Estado, através de sua função administrativa, o que passa por uma melhor qualidade dos serviços públicos postos à disposição da sociedade. Neste estudo, buscou-se alcançar parâmetros objetivos, com o uso de indicadores de desempenho, para avaliação da eficiência nos procedimentos licitatórios do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco entre o momento do pedido de compra até a homologação do resultado do certame licitatório, de modo a permitir que os gestores públicos possam melhor planejar suas compras, considerando a utilização de cinco indicadores, que possibilitam chegar a um índice de eficiência do procedimento licitatório. Metodologicamente, foram pesquisados os processos de licitação do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, realizados nos anos de 2008 e 2009, totalizando 189 procedimentos, dos quais foram extraídos dados para aplicação da metodologia proposta para aferição da eficiência. Concomitantemente, foi aplicado questionário em servidores públicos da Corte Regional, lotados nos setores diretamente envolvidos com os certames de compras de bens e serviços, mas escolhidos aleatoriamente, abordando temas ligados aos referenciais teóricos utilizados, ao Princípio da Eficiência, e também à licitação pública, cujas respostas confirmaram a hibridez e o sincretismo atual do Estado brasileiro, entre o modelo burocrático e o modelo gerencial, em um verdadeiro amálgama. Os paradigmas alcançados para aferição da eficiência podem ser utilizados por outros órgãos da Administração Pública, admitindo-se a sua atualização e a sua expansão, bem como o aprimoramento da metodologia proposta.

Palavras-chave: Eficiência. Cidadania. Justiça Eleitoral. Licitação. Indicadores.

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ABSTRACT The Efficiency Principle, inserted in the caput of article 37 of Magna Carta, through the Constitutional Amendment n. 19/98, represents an advance on citizenship rights, which needs to be extended above the traditional civil, political and social rights also covering the so called republican rights. The efficiency of administrative activities becomes a citizen's right in its triple interface: the proceedings efficiency or stricto sensu efficiency; the costs efficiency or effectivity; and the results efficiency, or effectiveness. Most of Electoral Justice's acts are administrative, and among them one must mention the administrative acts resulted from bidding procedures, for these are the ones which allow purchase of goods and services, and involve large amounts. This pursuit to improve the efficiency of public services has been developed along the State Reform, which is passing through a transition from the Bureaucratic State to the Managerial State, still retaining some traces of Patrimonial State, in Brazil's case. One of the pillars of the Managerial State, Public Management by Results is a control instrument that allows, through indicators, the evaluation of public administrative activity, in order to better serve the public interest. Under theoretical references of hodiernal concepts for citizenship’s point of view, New Public Management and Public Management by results, the Efficiency Principle stands as an important tool for outcomes evaluation for the State, through its administrative function, what leads to a better quality of public services, in society's benefit. This study sought to achieve objective parameters, through the use of performance indicators, to evaluate the Regional Electoral Court of Pernambuco's bidding procedures efficiency since the moment of the acquisition order until the final results approval, in order to enable public managers to better plan their purchases, pondering five indicators, and through those achieve an efficiency index of the bidding procedure. Methodologically, Regional Electoral Court of Pernambuco's bidding processes, between the years of 2008 and 2009, were searched for, being displayed a total of 189 processes, from which were extracted data in due to obtain results for measuring efficiency through proposed methodology. Concomitantly, a questionnaire was filled by public servants from the Regional Court, from departments directly involved with purchase disputes of goods and services, but randomly chosen, approaching issues related to the theoretical references used, to the Efficiency Principle, and also to public bidding, whose responses confirmed Brazilian State's current hybridity and syncretism, between the bureaucratic model and management model, forming a real amalgam. The paradigms achieved to measure Efficiency can be used by other Public Administration agencies, admitting updates and expansion, as well as upgrades of the proposed methodology. Key-words: Efficiency. Citizenship. Electoral Justice. Bidding. Indicators.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA – Agência Nacional das Águas

ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil

ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações

ANCINE – Agência Nacional do Cinema

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

ANS – Agência Nacional de Saúde Complementar

ANTAQ – Agência Nacional de Transportes Aquaviários

ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ARENA – Partido da Aliança Renovadora Nacional

ASSDG – Assessoria Jurídica da Diretoria Geral

ASSEC – Assessoria de Editais e Contratos do TRE/PE

BEC – Bom êxito na compra

BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

CE – Código Eleitoral

CEPA – Comissão de Estudos e Projetos Administrativos

CF – Constituição Federal

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

COSB – Comissão de Simplificação Burocrática

CPL – Comissão Permanente de Licitações do TRE/PE

DASP – Departamento Administrativo do Serviço Público

DC – Divulgação da compra

DF – Distrito Federal

DG – Diretoria Geral do TRE/PE

DRP – Duração razoável do procedimento

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DT – Dias corridos entre a data do pedido de compra e a data de homologação

do certame

EC – Economicidade da compra

EPC – Escolha do eficiente procedimento de compra

FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

FMI – Fundo Monetário Internacional

HOMOL – Homologação

IE – Índice de eficiência

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial

INPE – Instituto de Pesquisas Espaciais

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social

ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica

JE – Justiça Eleitoral

MDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro

NILA – Número de itens ou lotes adjudicados

NILL – Número de itens ou lotes licitados

NL – Número de licitantes

NMD – Número médio de dias úteis previstos para o procedimento

OE – Organização Eleitoral

ONU – Organização das Nações Unidas

OS – Organizações Sociais

OSCIP – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

PA – Procedimento Administrativo

PPA – Plano Plurianual

PPP – Parcerias Público-Privada

PREJUD – Prejudicado

RMS – Recurso em Mandado de Segurança

SADP – Sistema de Acompanhamento de Documentos Processuais

SCI – Secretaria de Controle Interno do TRE/PE

SIAFI – Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal

SICAF – Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores

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SICONV – Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse

SOF – Secretaria de Orçamento e Finanças do TRE/PE

SRP – Sistema de Registro de Preços

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TRE/PE – Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco

TRF – Tribunal Regional Federal

TSE – Tribunal Superior Eleitoral

VAC – Valor adjudicado da compra

VEC – Valor estimado da compra

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LISTA DE TABELAS

Quantitativo de eleitores por região – outubro/1988.................................................... 77

Quantitativo de eleitores por região – abril/2010......................................................... 77

Crescimento do eleitoral – 1988/2010......................................................................... 77

Quantidade de zonas eleitorais e municípios por pólo................................................ 95

Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2008 – Lista.......................................... 140

Concorrências do ano de 2008 – Lista......................................................................... 143

Tomada de Preços do ano de 2008 – Lista................................................................... 143

Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2009 – Lista........................................... 143

Concorrências do ano de 2009 – Lista......................................................................... 145

Tomada de Preços do ano de 2009 – Lista................................................................... 146

Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2008 – Dados......................................... 146

Concorrências do ano de 2008 – Dados....................................................................... 148

Tomada de Preços do ano de 2008 – Dados................................................................. 149

Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2009 – Dados......................................... 149

Concorrências do ano de 2009 – Dados....................................................................... 151

Tomada de Preços do ano de 2009 – Dados................................................................. 151

Critérios monetários para escolha da modalidade de licitação..................................... 174

Componentes do EPC................................................................................................... 175

Prazos internos do TRE/PE.......................................................................................... 176

Quantitativo médio de dias úteis por modalidade de licitação..................................... 177

Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2008 – Cálculo dos índices.................... 181

Concorrências do ano de 2008 – Cálculo dos índices.................................................. 186

Tomada de Preços do ano de 2008 – Cálculo dos índices............................................ 186

Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2009 – Cálculo dos índices.................... 186

Concorrências do ano de 2009 – Cálculo dos índices.................................................. 188

Tomada de Preços do ano de 2009 – Cálculo dos índices............................................ 189

Quadro Comparativo por faixa de índice de eficiência................................................ 191

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LISTA DE GRÁFICOS

O que deve ser observado para garantir uma melhor eficiência?................................. 154

Eficiência X Efetividade X Eficácia............................................................................ 156

Porque o Estado precisa cumprir o Princípio da Eficiência?....................................... 158

A cidadania está garantida quando são respeitados quais direitos?............................. 160

Representação da forma de gestão da Instituição........................................................ 162

Melhores procedimentos a adotar na Administração Pública..................................... 164

Indicadores utilizados no TRE/PE.............................................................................. 166

Sugestão de mudanças nos procedimentos................................................................. 168

Sugestão de indicadores.............................................................................................. 170

Sugestões para melhoria da eficiência........................................................................ 172

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................... 18

1 O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

COMO COMPONENTE DO CONCEITO DE CIDADANIA....................... 24

1.1 Administração Pública: conceito básico..................................................... 24

1.1.1 Administração Pública direta e indireta: conceitos subjetivos.... 25

1.2 O Princípio da Eficiência............................................................................ 26

1.2.1 Noções básicas sobre princípios jurídicos................................... 26

1.2.2 Antecedentes históricos............................................................... 27

1.2.3 A eficiência no Direito Constitucional estrangeiro...................... 33

1.2.4 A constitucionalização da eficiência como Princípio da

Administração Pública.................................................................

34

1.2.5 Definição do Princípio da Eficiência........................................... 36

1.2.6 Eficiência, efetividade e eficácia: as três faces de um mesmo

princípio constitucional................................................................ 37

1.3 Cidadania..................................................................................................... 40

1.3.1 A contribuição inglesa................................................................. 42

1.3.2 A contribuição americana............................................................ 44

1.3.3 A contribuição francesa............................................................... 46

1.3.4 A evolução do conceito de cidadania.......................................... 47

1.3.5 A cidadania no Brasil................................................................... 51

1.3.6 O hodierno conceito de cidadania................................................ 56

1.3.7 A eficiência como elemento do conceito de cidadania................ 57

2 A JUSTIÇA ELEITORAL BRASILEIRA E O TRIBUNAL REGIONAL

ELEITORAL DE PERNAMBUCO (TRE/PE)................................................

61

2.1 Governança Eleitoral................................................................................... 61

2.2. Histórico do processo eleitoral brasileiro.................................................... 63

2.2.1 Da formação das vilas e cidades à Independência....................... 63

2.2.2 O processo eleitoral no Império................................................... 66

2.2.3 O processo eleitoral na República Velha..................................... 71

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2.2.4 O surgimento da Justiça Eleitoral................................................ 73

2.2.5 O voto eletrônico......................................................................... 78

2.3 O modelo da Justiça Eleitoral no Brasil...................................................... 80

2.3.1 Funções da Justiça Eleitoral......................................................... 82

2.3.2 Competência da Justiça Eleitoral................................................. 83

2.3.2.1 Competência do Tribunal Superior Eleitoral............. 84

2.3.2.2 Competência dos Tribunais Regionais Eleitorais...... 86

2.3.2.3 Competência dos Juízes Eleitorais............................ 87

2.3.2.4 Competência das Juntas Eleitorais............................ 88

2.4 O Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco........................................... 89

2.4.1 Breve histórico............................................................................. 89

2.4.2 Procedimento de eleição do Presidente da Corte Regional......... 90

2.4.3 Competência do TRE/PE em norma infralegal............................ 91

2.4.4 Organograma e arranjo administrativo da alta direção do

TRE/PE........................................................................................ 91

2.4.5 Missão, visão e valores institucionais do TRE/PE...................... 92

2.4.6 Eleitorado e Pólos Regionais....................................................... 94

2.5 Desafios administrativos para a Justiça Eleitoral........................................ 95

2.5.1 Condições de atendimento ao eleitor........................................... 96

2.5.2 Criação de Magistratura própria.................................................. 97

2.5.3 Fiscalização dos gastos das campanhas eleitorais....................... 97

2.5.4 Meritocracia no preenchimento dos cargos de direção e chefia.. 98

2.5.5 Fim da utilização de servidores públicos de outros órgãos......... 99

3 A NOVA GESTÃO PÚBLICA: UMA VISÃO VOLTADA PARA OS

RESULTADOS................................................................................................... 101

3.1 Reforma do Estado...................................................................................... 101

3.1.1 O Estado Patrimonial................................................................... 102

3.1.2 O Estado Burocrático................................................................... 103

3.1.3 Evolução histórica da Administração Pública no Brasil.............. 104

3.1.4 O Consenso de Washington......................................................... 109

3.1.5 O Estado Gerencial...................................................................... 111

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3.1.5.1 Princípios da Gestão Pública Gerencial.................... 112

3.1.5.2 Impactos da implantação da Gestão Pública

Gerencial...................................................................

114

3.1.5.3 Accountability............................................................ 115

3.1.5.4 Diferenças entre gestão burocrática e gestão

gerencial....................................................................

117

3.1.6 A reforma do Estado no Brasil.................................................... 118

3.2 Gestão Pública por Resultados.................................................................... 121

3.2.1 O abandono de antigos paradigmas e o estabelecimento de

novos princípios........................................................................... 123

3.2.2 Estágios da evolução do serviço público..................................... 124

3.2.3 Desafios para implantação da Gestão Pública por Resultados.... 126

3.2.4 A importância dos indicadores.................................................... 128

3.2.5 Incentivos à busca de resultados.................................................. 129

3.2.6 A contratualização da Administração Pública no Brasil............. 131

3.2.6.1 A contratualização entre órgãos da Administração

Pública Federal..........................................................

131

3.2.6.2 As agências reguladoras............................................ 132

3.2.6.3 O espaço público não estatal..................................... 133

3.2.6.3.1 Organizações Sociais 134

3.2.6.3.2 Organizações da Sociedade Civil de

Interesse Público..................................... 135

3.2.6.3.3 O Sistema de Gestão dos Convênios e

Contratos de Repasse.............................. 136

3.2.6.4 O setor privado.......................................................... 137

4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS

PESQUISADOS....................................................................................................

140

4.1 Procedimentos Licitatórios.......................................................................... 140

4.1.1 Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2008...................... 140

4.1.2 Concorrências do ano de 2008..................................................... 143

4.1.3 Tomada de Preços do ano de 2008.............................................. 143

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4.1.4 Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2009...................... 143

4.1.5 Concorrências do ano de 2009..................................................... 145

4.1.6 Tomada de Preços do ano de 2009.............................................. 146

4.1.7 Dados coletados dos procedimentos licitatórios.......................... 146

4.2 Questionário aplicado aos servidores, apresentação das respostas e

comentários..................................................................................................

152

5 METODOLOGIA PARA AFERIÇÃO DO GRAU DE EFICIÊNCIA......... 173

5.1 Indicadores escolhidos 173

5.1.1 Primeiro indicador: escolha do eficiente procedimento de

compra – EPC..............................................................................

173

5.1.2 Segundo indicador: duração razoável do procedimento – DRP.. 175

5.1.3 Terceiro indicador: economicidade da compra – EC................... 178

5.1.4 Quarto indicador: divulgação da compra – DC........................... 179

5.1.5 Quinto indicador: bom êxito na compra – BEC.......................... 180

5.2 Índice de Eficiência – IE............................................................................. 180

5.3 Análise dos índices de eficiência calculados.............................................. 189

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 192

REFERÊNCIAS.................................................................................................. 194

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18

INTRODUÇÃO

O Estado, através de seus diversos níveis e órgãos, tem por finalidade melhorar a

qualidade de vida das pessoas. Disso resulta que há de existir uma correspondência, um

equilíbrio, entre os valores que são expropriados da sociedade, por meio dos tributos, e os

serviços públicos que são colocados à disposição dos cidadãos, de modo a justificar o gasto

público. Sem esse equilíbrio, o cidadão empobrece a cada dia, ao ter que substituir os serviços

públicos, por serviços privados, na satisfação de suas necessidades.

A eficiência na prestação dos serviços públicos ganha, permanentemente, maior

importância. Através de licitações públicas, o Estado compra bens e serviços, contrata obras de

engenharia, para atender às suas necessidades e às da população. Sem licitar eficientemente, não

há como perseguir uma melhoria dos serviços públicos porque isso depende de compras e

contratos justos. Um Estado preparado para enfrentar as demandas do mundo contemporâneo

deverá comprar e contratar cada vez melhor.

Não é de hoje a preocupação com a eficiência do Estado. Desde a Reforma Burocrática da

década de 30 do século passado, buscou-se a melhoria da qualidade dos serviços públicos. Mas

o aparelho estatal, seja por questões de ordem política – dois grandes períodos de supressão

democrática –, seja por um persistente patrimonialismo, além da arraigada cultura burocrática,

não alcançou, ainda, o grau de excelência que reclama a sociedade, e a convivência atual exige.

O controle restritivo, – conquista da Reforma Desenvolvimentista de 1967,

institucionalizado pelo Decreto-lei nº. 200 (BRASIL, 1967) e aprofundado pela Constituição

Federal de 1988 (BRASIL, 1988), em sua redação original –, contribuiu para aplacar, em parte,

o desperdício dos recursos públicos e reduzir a corrupção, para níveis menores, mas isso não

garantiu a eficiência. Surge, destarte, no fim do século pretérito, o controle por resultados, em

um ambiente de migração do modelo burocrático para o modelo gerencial de Estado, de inserção

do Princípio da Eficiência no rol dos princípios constitucionais da Administração Pública e,

também, do alargamento dos direitos de cidadania.

Assiste-se a um embate de idéias que provoca o aparecimento de dilemas no serviço

público: restrição / liberdade; meios / resultados; interesse do Estado / interesse da sociedade;

burocracia / gerencialismo; exclusão / inclusão, entre outros. O movimento perdurará por mais

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alguns anos, formando o atual estágio de desenvolvimento do Estado brasileiro, híbrido e

sincrético e, por isso, amalgâmico. O estudo desse painel de retraços é um importante passo na

busca pela eficiência das atividades administrativas.

Perquirir pela melhoria do gasto público implica o monitoramento permanente das

licitações públicas, com vistas a atender, em um melhor grau, o Princípio da Eficiência, haja

vista que não há eficiência onde existem corrupção, desperdício, favorecimento pessoal e tráfico

de influência. Melhorias na segurança pública, na saúde, na educação e nas condições gerais de

vida da população dependem de licitações públicas justas, honestas, e, indo mais além,

eficientes.

O Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE/PE) , órgão do Poder Judiciário da

União, e integrante da Administração Pública Direta, está, constitucionalmente, obrigado a

licitar, nos termos do artigo 37 da Carta, aplicando-se a essa Corte Regional, as disposições do

caput do referido artigo, onde são estabelecidos os Princípios Constitucionais da Administração

Pública. E dentre esses princípios, destaca-se, neste estudo, o Princípio da Eficiência, inserido

no texto constitucional por meio da Emenda Constitucional nº. 19/98 (BRASIL, 1998). Deve-se,

pois, licitar com eficiência.

Eis a justificativa para se estudar uma metodologia que possa aferir, quantitativamente, o

cumprimento do Princípio da Eficiência nos procedimentos licitatórios dessa Corte

especializada, responsável por todas as atividades de governança eleitoral no Estado de

Pernambuco.

Ao se propor uma metodologia de aferição do nível de eficiência dos procedimentos

licitatórios do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE/PE), visa-se à realimentação do

aprendizado do corpo de servidores, de modo a permitir que a prática administrativa resulte em

uma constante busca por melhores formas de comprar e contratar, obtendo-se melhores preços,

por bens e serviços de qualidade, em prazo razoável, através da observação dos procedimentos

concluídos, direcionando o aprendizado para os procedimentos futuros.

A ferramenta poderá ser utilizada tanto pelos servidores públicos responsáveis pelas

licitações, como pelos gestores do órgão e, ainda, pela Secretaria de Controle Interno, para aferir

a eficiência dos procedimentos, valendo-se de fórmulas aritméticas de fácil compreensão e

utilização, como instrumento de planejamento e avaliação, em um ambiente administrativo que

tem o dever de atuar com eficiência, uma vez que “é quase impossível obter resultados

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importantes na ação pública obedecendo às formalidades estritas da legislação”

(SCHWARTZMAN, 2008, p. 18).

O estudo objetiva reconhecer os indicadores que estão sendo utilizados no TRE/PE para

aferição do Princípio da Eficiência nos procedimentos licitatórios, e apresentar sugestões para

implemento de outros indicadores, sob o prisma do conceito hodierno de cidadania, da gestão

gerencial do Estado e da gestão pública por resultados, referenciais teóricos que nortearam a

pesquisa, propondo-se uma metodologia de aferição, utilizável e quantificável. Pode-se sintetizar

o questionamento nos seguintes termos: Como mensurar o nível de eficiência dos procedimentos

licitatórios do TRE/PE através de indicadores?

Para obtenção desse desiderato, foram traçados os seguintes objetivos:

a) um estudo da evolução histórica e jurídica do Princípio da Eficiência, na busca por uma

melhor objetivação de sua aferição, como instrumento de controle e acompanhamento gerencial

da atuação pública, para obtenção de melhores resultados na satisfação do interesse público,

efetuando uma revisão da literatura, de forma a possibilitar um melhor entendimento do seu

alcance no âmbito dos procedimentos administrativos analisados;

b) fazer um exame da estrutura administrativa do Tribunal Regional Eleitoral de

Pernambuco, bem como levantar elementos conceituadores da Administração Pública,

vinculando aos atuais estudos de modernização e reforma do Estado, através de um resgate

histórico do processo eleitoral brasileiro, visualizando o contexto histórico em que surgiu a

Justiça Eleitoral - JE;

c) revisar a literatura sobre a reforma gerencial do Estado e sobre a gestão pública por

resultados, com foco nos reflexos de sua implementação nos procedimentos licitatórios, no

Princípio da eficiência e no conceito de cidadania;

d) levantamento de dados processuais e aplicação de questionário a servidores públicos da

Corte Regional Eleitoral, de modo a identificar indicadores e construir um cenário posterior de

aplicação da metodologia proposta;

e) elaboração de uma metodologia para quantificação do cumprimento do Princípio da

Eficiência nos procedimentos licitatórios realizados pelo TRE/PE, durante os anos de 2008 e

2009, propondo, ao mesmo tempo, condutas de análise dos índices encontrados.

No âmbito do TRE/PE, o estudo é inédito e pode representar um avanço no conhecimento

dos servidores públicos sobre o instituto do Princípio da Eficiência e da gestão pública por

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resultados, conhecimento que se percebe ainda pouco explorado no serviço público, para o

avanço e desenvolvimento da gestão pública gerencial, no órgão estudado. A metodologia, se

aceita e se aplicada nos moldes propostos, trará benefícios para o planejamento e para a

avaliação das licitações futuras, e espera-se, com ganhos de produtividade e de economia do

erário.

Para a Academia, representa a possibilidade de melhor conhecer a estrutura administrativa

e o funcionamento da Justiça Eleitoral. A universalidade do tema para os órgãos públicos das

três esferas de poder da Federação é outro aspecto que merece ser destacado, pois o estudo,

quiçá, servirá de inspiração para outros estudos de caso, poderá ser aprofundado por outros

pesquisadores ou, até mesmo, implementado e aproveitado em outros órgãos, pelos resultados

obtidos.

Em termos de organização, optou-se pela divisão da pesquisa em cinco capítulos, cuja

síntese segue disposta.

No Capítulo 1, o Princípio da Eficiência é estudado em uma perspectiva jurídico-histórica

até a obtenção do mais atual entendimento sobre esse princípio da Administração Pública, ainda

pouco utilizado, mas o vinculando ao conceito de cidadania, que vem sendo ampliado,

abrangendo os direitos civis, políticos e sociais, mas também os direitos republicanos. Disso

resulta, para seu cumprimento, a análise de uma tríplice interface: custos, procedimento e

resultado. Agir com eficiência torna-se, sob essa ótica, um dever do Estado e um direito do

cidadão, que pode utilizar-se dos meios políticos e jurídicos para exigir essa satisfação.

No Capítulo 2, o processo político-eleitoral brasileiro é revisitado em suas raízes históricas,

com destaque para o contexto social que determinou o surgimento da Justiça Eleitoral, em 1932.

A atuação dessa Justiça especializada, integrante do Poder Judiciário, contribuiu para uma

consolidação democrática no País, pela ampliação da capacidade eleitoral ativa e passiva,

mormente no final do século XX, aliada à instituição de uma nova ordem jurídico-normativa,

pela Constituição da República (BRASIL, 1988). A evolução do processo eleitoral brasileiro,

desde as eleições paroquiais até o voto biométrico, utilizado, pela primeira vez, no primeiro

turno das eleições de 2010, demonstra o longo caminho percorrido com a aspiração de tornar

mais legítima a representação política, na conquista do poder.

O Tribunal Regional de Eleitoral de Pernambuco é visitado desde a sua criação até um

exame atual de sua estrutura administrativa, com a atenção voltada para o diferencial que

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caracteriza a Justiça Eleitoral brasileira: um órgão do Poder Judiciário responsável por atividades

administrativas, um quase Poder Executivo do Judiciário, necessário para combater, com

isenção, os abusos do poder econômico e político, durante o processo eleitoral. Missão, visão e

valores institucionais da Corte Regional transportam o passado ao presente, e sinalizam o rumo

organizacional. Cento e quarenta milhões de brasileiros são atendidos pela Justiça Eleitoral, e

destes, mais de seis milhões de cidadãos, no Estado de Pernambuco. Ao fim do Capítulo, são

apresentados alguns desafios administrativos que ainda precisam ser superados pela Justiça

Eleitoral.

No Capítulo 3, a nova gestão pública do Estado – o modelo gerencial – é estudada com

ênfase nos diferenciais com o modelo patrimonial e com o esgotado, mas ainda sobrevivente,

modelo burocrático. A evolução histórica da Administração Pública no Brasil mostra que os três

modelos compõem a cultura administrativa brasileira. A Reforma do Estado é, pois, esse

movimento de migração do estado burocrático para o estado gerencial, compondo uma espécie

de amálgama onde convivem institutos antagônicos e contraditórios dos modelos de gestão. São

vistos os pilares de sustentação desse novo modelo, com um destaque voltado à orientação para

resultados, que é abordada em tópico individual, na denominação consagrada pela doutrina: a

gestão pública por resultados.

A contratualização no Brasil é remontada desde as primeiras experiências em empresas

públicas, no início da década de 90 do século passado, percorrendo a criação das agências

reguladoras, a utilização das organizações sociais, a institucionalização das organizações da

sociedade civil de interesse público, através dos contratos de gestão, até a parceria público-

privada, recém iniciada.

No Capítulo 4, são apresentados os procedimentos licitatórios pesquisados, com o elenco

de dados utilizados para quantificação dos indicadores e, por consequência, do índice de

eficiência (IE), compreendendo todos os procedimentos licitatórios realizados pelo egrégio

Tribunal, durante os anos de 2008 e 2009. Em seguida, dados de pesquisa realizada com 35

servidores públicos da Corte Regional são apresentados, abordando temas ligados ao Princípio

da Eficiência, ao conceito contemporâneo de cidadania, aos institutos dos modelos burocrático e

gerencial, e à gestão pública por resultados, cujas respostas, graficamente representadas e

comentadas, confirmaram a tendência atual da Administração Pública no Brasil: um intermédio

entre o modelo burocrático e o modelo gerencial, ainda com prevalência do modelo weberiano.

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Pode-se afirmar, então, que o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco é, atualmente, um

exemplo dessa tendência.

Os servidores públicos participantes da pesquisa foram escolhidos aleatoriamente dentre

aqueles em atividade nos setores que atuam diretamente com licitações. A participação foi

espontânea e garantiu-se o sigilo das respostas e o anonimato dos partícipes.

No Capítulo 5, os cinco indicadores eleitos para aferição da eficiência nos procedimentos

licitatórios do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco são discorridos, com representação

matemática, contendo as justificativas imprescindíveis para o entendimento por parte dos

servidores públicos. Ao final, o Índice de Eficiência proposto é calculado, procedimento a

procedimento, em um total de cento e oitenta e nove certames licitatórios, compondo uma

metodologia simples e eficaz para planejamento e avaliação de licitações, nas modalidades de

pregões eletrônicos e presenciais, tomadas de preços e concorrência, únicas modalidades

utilizadas pela Corte Regional durante os anos de 2008 e 2009. A análise do Índice de Eficiência

permite perceber as arestas que precisam ser aparadas para se atingir um nível crescente de

excelência nos procedimentos de mesma natureza.

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1. O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA COMO

COMPONENTE DO CONCEITO DE CIDADANIA

1.1 Administração Pública: conceito básico

Há na doutrina certo consenso de que o termo Administração Pública pode ser empregado

com duas acepções: a primeira, em sentido objetivo, busca identificá-lo com as atividades que

são exercidas pelo Estado para atingir os fins pretendidos pelo interesse público; a segunda, em

sentido subjetivo, identifica os órgãos, pessoas jurídicas e agentes públicos responsáveis pela

função administrativa do Estado. Disso resulta que ora se utiliza o termo na acepção objetiva ora

na acepção subjetiva, como bem observou Silva (2008, p. 655):

Administração Pública é o conjunto de meios institucionais, materiais, financeiros e humanos preordenados à execução das decisões políticas. Essa é uma noção simples de Administração Pública, que destaca, em primeiro lugar, que é subordinada ao Poder político, em segundo lugar, que é meio e, portanto, algo de que se serve para atingir fins definidos e, em terceiro lugar, denota os seus dois aspectos: um conjunto de órgãos a serviço do Poder político e as operações, as atividades administrativas.

Frisar esse caráter de subordinação à política é importante, pois a atividade administrativa,

desenvolvida pelos diversos órgãos e entidades, pessoas jurídicas e agentes públicos, em todos os

níveis, é a concretização da política pública adotada, esta geralmente definida pelo governo.

Portanto, diferem governo e Administração Pública exatamente neste ponto. O governo atua no

plano político, escolhendo a postura que deverá ser buscada pela Administração Pública, desde

que essa postura esteja dentro do espaço permitido de discricionariedade.

A Constituição Federal utiliza as duas acepções no artigo 37 (BRASIL, 1988). Ao fazer

referência à Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios incorpora a acepção subjetiva, porque a

delimitação direta/indireta tem por distinção a natureza dos órgãos. Ao estabelecer os princípios

da Administração Pública, acata a acepção objetiva, já que os princípios devem ser seguidos na

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atividade administrativa, ou seja, nos atos praticados para atendimento das políticas públicas

instituídas.

Destarte, Administração Pública é o conjunto de órgãos e entidades institucionais, pessoas

jurídicas e agentes públicos incumbidos na execução das atividades de concretização das

políticas públicas, subordinado ao poder político, nas três esferas de governo – federal, estadual

ou distrital, e municipal – compreendendo ainda as ações concretas necessárias para obtenção do

fim almejado.

1.1.1 Administração Pública direta e indireta: conceitos subjetivos

Administração Pública Direta é o conjunto de órgãos que compõem os poderes da União,

dos Estados e Distrito Federal e dos Municípios. Nas esferas federal e estadual, são os órgãos

dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. No plano municipal, os órgãos dos Poderes

Executivo e Legislativo, uma vez que não há Poder Judiciário na esfera municipal. Os órgãos da

Administração Pública Direta são os responsáveis pela atuação centralizada dos serviços

públicos.

Administração Pública Indireta é o conjunto de pessoas jurídicas destacadas da

Administração Pública Direta, mas a ela vinculadas, que respondem por atividades

administrativas. São as autarquias, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as

fundações públicas. Respondem pela atuação descentralizada dos serviços públicos, têm

personalidade jurídica própria e só podem ser instituídas por lei. É o princípio da reserva legal

para criação de órgãos da Administração Pública indireta, contido no artigo 37, inciso XIX da

Constituição Federal (BRASIL, 1988).

À atividade administrativa de todos esses entes da administração direta e indireta, de todas

as esferas da federação, aplicam-se os princípios da Administração Pública previstos no caput do

artigo 37 da Carta Política.

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1.2 O princípio da eficiência

1.2.1 Noções básicas sobre princípios jurídicos

Princípios jurídicos são normas que têm um caráter de finalidade. Ao estabelecer um

princípio, o que se pretende é eleger um objetivo a ser perseguido. Esse objetivo, no entanto,

somente será atingido se o comportamento do grupo social se orientar para a busca almejada.

Passa a ser, então, uma necessidade, agir na busca do fim expresso no comando jurídico, para

atendimento do fim prescrito. Um princípio jurídico denota, assim, o dever de atuar conforme

seu mandamento, ao mesmo tempo em que exclui de validade jurídica os atos praticados sem a

observância dos valores consagrados em seu comando.

Estudar um princípio é, primeiramente, descobrir o seu fim, em que situação se quer

chegar. Quanto mais precisa for a definição do fim, mais possível se torna estabelecer

paradigmas que possam ajudar na descoberta dos comportamentos que precisam ser efetivados

para o seu atendimento. Os comportamentos necessários podem ser divididos em grupos que

apresentem uma mesma característica, sob um determinado critério, que possibilite averiguar a

importância do comportamento para obtenção do resultado.

É da natureza dos princípios, pois, estabelecer um fim ideal, que deve ser,

obrigatoriamente, perseguido, ao máximo. Diferentemente das regras jurídicas que apenas

admitem a bipolaridade cumprido/não cumprido, os princípios permitem uma escala de

efetivação. E a variação dessa escala está diretamente ligada ao caso concreto, às condições

fáticas em que se verificou o ato analisado.

Entre princípios não existe uma hierarquia, mas entre estes e as regras, prevalecem os

primeiros. Portanto, quando um princípio não é observado em determinado ato, este poderá ser

invalidado, mesmo se esse ato foi realizado fundamentado em uma regra, “porque o princípio

jurídico impõe o dever de respeito ao valor nele contido” (MARTINS JÚNIOR, 2009, p. 17).

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1.2.2 Antecedentes históricos

O aprimoramento da atuação da máquina administrativa no Brasil sempre sofreu uma

resistência da classe política. Durante o Império, os serviços públicos eram oferecidos a uma

parcela mínima da área territorial brasileira. Isso fez com que os governos locais se

responsabilizassem pela maioria dos serviços, no vasto território. Não havia um interesse do

governo central em estender seus serviços ao restante do território nacional, ao mesmo tempo em

que os governos locais se utilizavam dos serviços prestados como moeda de troca e barganha

para a manutenção da política local. Essa cultura, patrimonialista e assistencial, características do

Estado oligárquico, enraizou-se na Administração Pública brasileira, e perdura, em menor escala,

até os dias atuais.

Nogueira (1997, p. 8) relata:

Desde cedo, portanto, o setor público esteve instrumentalizado pelas oligarquias locais/regionais e pelos grupos econômicos dominantes. Acabou, então, por se estruturar em função de interesses e hábitos do mundo privado, que buscou formatar o espaço público como uma fonte de privilégios pessoais ou grupais e de distribuição de cargos, benesses e prebendas.

Apenas na década de 30 do século passado, encontra-se a primeira referência à eficiência

da atividade administrativa, na Constituição de 1937 (BRASIL, 1937), em seu artigo 67, - o

início formal da preocupação em dotar o País de um serviço público moderno -, ao prever a

criação de um departamento administrativo, ligado à Presidência da República, tendo, entre

outras atribuições, a de estudar pormenorizadamente as repartições, departamentos e

estabelecimentos públicos, com o fim de determinar, do ponto de vista da economia e eficiência,

as modificações a serem feitas na organização dos serviços públicos. Observe-se que ainda não

há a utilização do termo Administração Pública no texto legal, o que só aconteceria décadas

depois.

O dispositivo constitucional foi efetivado com o Departamento Administrativo do Serviço

Público – Dasp, criado em junho de 1938, através do Decreto-Lei n. 579 (BRASIL, 1938),

responsável por implementar mudanças na Administração Pública brasileira, no período

compreendido entre a sua criação e 1945, chamadas de Reforma Burocrática. Dotado de grande

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prestígio político, conseguiu alguns avanços: melhoria do nível de qualidade do servidor; início

da institucionalização dos orçamentos; padronização dos procedimentos de aquisição de

material; e montagem de um núcleo especializado em desenvolvimento econômico e social.

Aliados à sua atuação, foram criados também o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e o

Ministério da Educação e Saúde Pública.

Mas a tarefa do departamento, de modernização do serviço público, não foi cumprida em

sua integralidade, pois passou a sofrer uma forte concorrência política, decorrente da criação de

diversos órgãos paralelos à administração central – mais tarde, seria criado o termo

administração indireta -, livres então da atuação do departamento, e mais passíveis da influência

política. Lima Júnior (1998, p. 8) afirma que:

O primeiro governo Vargas implicou considerável expansão do número de órgãos no âmbito do Executivo. Até 1939, haviam sido criadas 35 agências estatais; entre 1940 e 1945 surgiram 21 agências englobando empresas públicas, sociedades de economia mista, autarquias e fundações.

A reforma perdeu a luta pela universalização do sistema de mérito no preenchimento dos

cargos públicos. Mesmo assim, não se pode deixar de reconhecer a importância do departamento

na transformação da Administração Pública, na transição do Estado oligárquico do Império e

início da República, para o Estado desenvolvimentista e nacional, com a utilização do modelo

burocrático. Bresser-Pereira (2000, p. 240) confirma que “a burocracia moderna nasceu

formalmente com a Reforma Burocrática de 1936-38, na prática, um longo e sempre inconcluso

processo”. Com a queda de Getúlio Vargas, em 1945, a Reforma Burocrática teve seus efeitos

arrefecidos e as ações do Dasp se tornaram sem importância. A eficiência na Administração

Pública foi postergada para um outro momento.

No período de 1950 a 1963, não há grandes avanços na modernização do Estado. Apesar

de terem existido alguns projetos enviados ao Congresso, nenhum deles foi aprovado. No

entanto, era consenso que o modelo decorrente do período de 1930-1945 havia precocemente se

tornado obsoleto. Não havendo mudanças que pudessem atender aos novos anseios da economia

da época, passou-se a uma proliferação de órgãos independentes da administração direta. Com

isso, deixou-se de lado o aparelho estatal já obsoleto, e tentou-se, através de um “paralelismo

estatal”, atender aos reclamos da sociedade. Passaram a coexistir dois sistemas: um aparelho

estatal obsoleto, burocrático e sem prestígio; e outro, caracterizado por órgãos independentes

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voltados para as necessidades que o processo de industrialização do País reclamava. No final dos

anos 50, existiam cerca de oitenta dessas entidades. “O país passava agora a contar com dois

tipos de burocracia pública moderna: a burocracia de Estado e a burocracia das empresas

estatais” (BRESSER-PEREIRA, 2007, p. 16).

Parecia que a reforma administrativa representava um alto custo para o País, além de

comprometer o seu desenvolvimento. Então, deixou-se de lado o aparelho burocrático central, e

partiu-se para a criação de centros de excelência, relegando a administração direta a um plano

secundário de importância, que coexistia ao lado de estruturas recém-criadas, voltadas para a

implementação do desenvolvimento nacional. Este foi o caminho escolhido pelas classes

dirigentes para fugir do longo percurso que a reforma administrativa requeria.

Deve-se registrar, porém, que o Supremo Tribunal Federal - STF (BRASIL, 1954) em

decisão de 7 de janeiro de 1954, nos autos do Mandado de Segurança n. 2210/DF, publicada no

Diário da Justiça de 22 de julho do mesmo ano, página 42, retomava a questão da eficiência dos

serviços públicos:

O controle administrativo do ensino público permite a interferência oficial na direção dos educandários particulares, para afastar os diretores sem eficiência. Não constitui diminuição moral esse afastamento, pois nem todo cidadão ilibado tem competência para dirigir e administrar.

Em 1967, uma segunda reforma do Estado brasileiro aflorou, já no regime militar, através

do Decreto-lei n. 200, em pleno período de agressivo autoritarismo: é a chamada Reforma

Desenvolvimentista. A administração federal é dividida em administração direta, composta pela

presidência e ministérios, e em administração indireta, compreendendo as autarquias, empresas

públicas, sociedades de economia mista e fundações públicas. Neste ponto, assiste-se à

institucionalização do paralelismo estatal.

São estabelecidos os seguintes princípios da Administração Federal: planejamento,

coordenação, descentralização, delegação de competência e controle. Há um forte estímulo para

a criação de órgãos independentes (fundações públicas), além de autarquias. O controle e a

supervisão da administração indireta seriam exercidos pelo Ministério responsável pela principal

atividade do órgão descentralizado, tendo como um dos parâmetros de supervisão a eficiência

administrativa. No que se refere à administração direta, o Departamento Administrativo do

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pessoal civil (Dasp) fica responsável pelo estudo, formulação de diretrizes, orientação,

coordenação, supervisão e controle dos assuntos concernentes à administração do pessoal civil

da União, sendo uma das importantes tarefas o estudo de medidas para aprimoramento e maior

eficiência dos recursos humanos da União. Foi criada também a demissão ou dispensa de

servidor efetivo ou estável considerado ineficiente no desempenho dos seus encargos, apurado

através de processo administrativo.

Enquanto isso, o País passava por grandes transformações. Até meados dos anos 60, a

população brasileira era predominantemente rural. A partir dessa década, começa a haver uma

inversão da proporcionalidade entre população urbana e rural, sendo hoje a população brasileira,

em sua grande maioria, urbana. Passava-se, assim, de uma sociedade mercantil e rural, para uma

sociedade industrial e urbana. Philippi Junior e Silveira (2004, p. 45) arrematam, ao comentar a

inversão da concentração de população do campo para as cidades, que:

...quando esse processo é examinado no Brasil, onde em quatro décadas houve a inversão de 80% da população rural em relação à população total na década de 1940 para 80% de população urbana no final do século XX, pode-se perceber o alto grau de transformação que a sociedade brasileira vem sofrendo. As implicações advindas desse fato são de ordem social, econômica, política e ambiental.

A concentração da população em centros urbanos obrigou o Estado a atender a um

quantitativo cada vez maior de pessoas, muito mais conscientes de seus direitos e dispostas a

exigir um melhor tratamento por parte dos agentes públicos. No plano político, o regime militar

optou por suprimir os direitos civis e políticos da população, de modo a conter, entre outras

finalidades, a pressão popular pela qualidade do serviço público. Além disso, aprofundou a

estatização dos serviços públicos e o patrimonialismo, sucateando a administração direta. Os

direitos civis e políticos ficaram muito comprometidos neste período.

Aparentemente, utilizando-se do modelo burocrático, na prática, o que se viu foi o

preenchimento dos cargos públicos e a destinação dos recursos para atendimento dos interesses

do regime. Grandes investimentos e vultosos recursos foram entregues às empresas públicas,

administradas por grupos de interesses privados, cientes ainda do grau de liberdade que

dispunham para gerir tais investimentos. Dallari (2006, p. 3) revela que “o corpo central da

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Administração Pública ficou reduzido a cuidar de coisas insignificantes e a exercer atividades

absolutamente indelegáveis”.

O Decreto-lei n. 200, porém, trouxe avanços importantes, em termos formais. Mas o

aprofundamento da administração paralela, agora chamada de administração indireta, acarretou a

criação de centenas de órgãos. Este foi o caminho escolhido pelo Regime Militar: aprofundar o

mecanismo de paralelismo estatal, criado durante os anos 30 e 50, ao invés de reformar o

aparelho estatal central. A administração direta ficou praticamente intocada e relegada a um

plano secundário, esquecida nos desmandos do autoritarismo reinante na época, acumulando

ainda mais o atraso. Suas fraquezas e distorções foram compensadas com a criação de novos

órgãos, dotados de uma maior liberdade administrativa, especialmente no que se refere à

administração de recursos humanos. Isto possibilitou o recrutamento de quadro de pessoal com

alta profissionalização, mais assemelhados a grandes executivos do que a servidores públicos,

cooptados para atuar nesses órgãos. Em 1981, a administração indireta contaria com cerca de

quinhentas e trinta entidades. A descentralização administrativa paralela foi o grande pilar da

reforma de 1967. A eficiência surgiu, pois, nesses centros de excelência técnica criados entre os

anos 50 e 70, mas voltada para o atendimento das necessidades da burguesia industrial, sem um

comprometimento com o atendimento das necessidades da população.

No fim da década de 70 e início da década de 80 do século passado, surge outra onda

reformista, que não vingou, caracterizada pela desburocratização e desestatização, com o nítido

objetivo de combater os excessos trazidos pelo Decreto-lei n. 200, capitaneada pelo Ministro da

Desburocratização do Governo Figueiredo, Hélio Beltrão. As críticas concentravam-se no

formalismo excessivo do processo administrativo e no excesso de regulamentação da burocracia

pública. Tentava-se focar a atuação pública na satisfação do usuário do serviço público.

Contudo, a crise econômica mundial, o processo de redemocratização e as lutas pelas eleições

diretas, com o fim do regime militar, a morte de Tancredo Neves, e os riscos democráticos na

assunção do vice-presidente José Sarney, frearam substancialmente estas iniciativas, que foram

relegadas para um momento posterior. Assim, a administração direta permanecia praticamente

como no período de Getúlio Vargas, até o final dos anos 80.

Mesmo assim, a década de 80 trouxe uma mudança no campo conceitual da agenda

política brasileira, deslocando a atenção para o modus operandi. Há um crescente empenho

voltado para a democratização das políticas públicas, através da descentralização para níveis

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inferiores da federação (Estados e Municípios), eficiência e transparência. Neste contexto, a

participação da sociedade civil, - que é uma tônica desse período -, na implementação das

políticas públicas, passa a ser um pré-requisito necessário para torná-las mais eficientes.

Passava-se, assim, a haver uma preocupação com o impacto das políticas públicas na

sociedade. Porém, após a promulgação da Constituição de 1988, esse debate é temporariamente

abandonado, passando a agenda política a tratar especificamente das questões referentes à

governabilidade. Há, dessa forma, um hiato nas discussões concernentes à eficiência nas

políticas públicas. Melo (1998, p. 21) assim descreve a situação da época:

A paralisia decisória da Nova República resulta da saturação da agenda governamental devido não só ao acúmulo de demandas oriundas da crítica ao regime autoritário, mas também às novas demandas potencializadas pela própria mudança de regime e ao amplo conjunto de iniciativas de reforma global e setorial que foram postas em prática pela nova elite dirigente.

Mesmo que em suspenso, a discussão da eficiência na Administração Pública continuava a

ser um desafio que, pouco a pouco, foi tomando conta da política, à medida que a sociedade

reclamava um melhor resultado na prestação dos serviços. Foram muitas as tentativas dos

constituintes de 1988 no sentido de inserir no texto constitucional o princípio da eficiência como

um dos princípios da Administração Pública. As tentativas sofreram forte resistência política e

foram sempre derrotadas. A eficiência parecia ser algo que ainda assustava a classe política,

acostumada com os serviços públicos deficientes e precários, o que favorecia a corrupção e o

nepotismo.

Ainda que incipiente, a política social, no início da década de 90 do século passado,

iniciava os programas de melhoria contínua, segundo os conceitos e padrões da chamada

qualidade total, sob a influência da reforma de Estado americana. Nessa época, surge o Programa

Nacional de Qualidade e Produtividade. A gestão da qualidade era vista como um instrumento

para modernização do Estado.

Posteriormente à discussão da ingovernabilidade, surge o período de relevância dos

aspectos ligados à governança. Os serviços públicos deveriam assumir uma qualificação

simplificada e de baixo custo, alargando o universo da sociedade beneficiada, para garantir uma

melhor eficiência.

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1.2.3 A eficiência no Direito Constitucional estrangeiro

Na doutrina brasileira, pelo que se pode pesquisar, apenas Moraes (2006, 854) apresentou

um estudo sobre a eficiência no direito comparado, conforme segue.

A Constituição Espanhola de 1978 prevê no artigo 103 o princípio da eficácia na

prescrição de que “a administração pública serve com objetividade aos interesses gerais e atua de

acordo com os princípios de eficácia, hierarquia, descentralização, desconcentração e

coordenação, com obediência plena à lei e ao direito”. A Constituição da República das

Filipinas, de 1986, dispõe, no artigo XI que “a Comissão do Serviço Público, na qualidade de

órgão central do Governo encarregado do funcionalismo público, estabelecerá um plano de

carreira e adotará medidas destinadas a promover a disposição de ânimo, a eficiência, a

integridade, a pronta colaboração, o dinamismo e a cortesia no serviço público”.

Encontra-se ainda referência ao princípio da eficiência, na Constituição da República do

Suriname, de 1987, ao imputar ao Conselho de Ministros o dever de “preparar e executar uma

política eficiente”. Apesar de não haver referência expressa nas constituições de Portugal e

Cuba, percebem-se, na organização da administração pública, elementos que remetem à

eficiência na prestação dos serviços públicos.

Há, porém, na doutrina, entendimento de que o princípio italiano do bom andamento ou da

boa administração, prescrito no artigo 97 da Constituição da Itália, seria um equivalente do

princípio da eficiência, como defende Meirelles (2002, p. 102). No entanto, essa idéia apresenta-

se equivocada. O princípio da boa administração tende a considerar ideal o comportamento

médio do administrador, enquanto que o princípio da eficiência busca a excelência. Oliveira

(2007, p. 34) explica que o princípio da boa administração se contenta “pela média diligência e

média inteligência, a fim de assegurar a eficiência da atividade administrativa”. Portanto,

entende-se que o princípio da eficiência e o princípio italiano da boa administração não se

equivalem, pelas razões expostas.

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1.2.4 A constitucionalização da eficiência como Princípio da Administração Pública

O princípio da eficiência foi inserido no texto constitucional, através da Emenda

Constitucional n. 19/98, que o agregou aos originariamente contidos no art. 37 da Carta Magna:

legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade. A eficiência na Administração Pública

sempre foi, e continua sendo, um desafio de solução inconclusa, desde a Reforma Burocrática da

década de 30 do século passado.

A partir dessa nova perspectiva, o estudo dos impactos das políticas públicas ganha uma

dimensão cada vez mais profunda na ordem da política social atual. E neste aspecto,

compreender o significado do princípio da eficiência é o pressuposto que, necessariamente, os

gestores da máquina administrativa devem ter domínio. Abrúcio (2007, p. 82) lembra com

propriedade que “a eficiência, além de reduzir gastos governamentais, pode otimizar os recursos

à disposição tanto do Estado quanto dos cidadãos”.

A inserção do princípio da eficiência no texto constitucional encerrou com o debate

doutrinário e jurisprudencial existente à época sobre a existência implícita de tal princípio no

ordenamento jurídico, debate que perdurava mesmo diante de decisão proferida pelo Superior

Tribunal de Justiça – STJ, em acórdão proferido no ano de 1996 (BRASIL, 1996):

A Administração pública é regida por vários princípios: legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade (CF88, art. 37). Outros também se evidenciam na Carta Política. Dentre eles, o princípio da eficiência. A atividade administrativa deve orientar-se para alcançar resultado de interesse público. (STJ, 6a. Turma, RMS n. 5.590/95-DF. Relator Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, Diario da Justiça, Seção I, 10 jun. 1996, p. 20.395).

O legislador constituinte derivado, ao inserir no texto da Carta Magna, entre aqueles

princípios originários da Administração Pública, previstos no caput do artigo 37, o princípio da

eficiência, fê-lo com a incontestável intenção de modernizar os elementos de cognição da

atuação do Poder Público. Buscava-se implementar condições para a exigência da melhoria da

qualidade dos serviços públicos colocados à disposição da coletividade, que era e continua a ser

um grande entrave para o desenvolvimento econômico e social do País.

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No entanto, em se tratando de princípio constitucional inteiramente novo na esfera pública

– apesar da discussão sobre eficiência durar desde a década de 30 do século passado -, há uma

natural dificuldade em reconhecer o que vem a ser esse princípio jurídico, e como, através dos

mecanismos de acompanhamento gerencial, tão escassos no serviço público, tornar possível

verificar nos atos administrativos – vinculados e discricionários – a sua satisfação, ou melhor, o

grau de sua efetivação.

Segundo Modesto (2007, p. 2):

Reclama-se do Estado, cada vez com maior impaciência, para que otimize o seu agir e conduza em termos adequados a realização dos fins prezados pela comunidade. Questiona-se a omissão no agir, a aptidão no agir, e a qualidade do agir estatal. Essas exigências não são dirigidas a um Estado liberal, mas a um Estado Democrático e Social, executor e fomentador da prestação de serviços coletivos essenciais. É o Estado Social que não pode se descuidar de agir com eficiência, justificando os recursos que extrai da sociedade com resultados socialmente relevantes. Essas exigências hoje não são mais percebidas em termos meramente políticos ou econômicos. Foram positivadas, foram entronizadas no sistema jurídico, juridicizaram-se como exigências do ordenamento nacional.

Juridicamente, a existência expressa no texto constitucional do princípio da eficiência

importa duas conseqüências: o dever da Administração Pública de buscar sua correta aplicação; e

o direito do cidadão administrado de exigir do poder público a eficiência na prestação dos

serviços públicos. Legitimado também para exigir a eficiência na prestação dos serviços públicos

está o Ministério Público, por força das disposições constitucionais que regem sua atuação. Daí a

importância de expressamente prever tal princípio na Carta Política.

Asseverando este entendimento, França (2007, p. 3) discorre que “quando um princípio

jurídico é encontrado por disposição expressa no texto legal, constitui norma plenamente

exigível e concretizável, vinculando imediatamente o agente público e o cidadão”. Pessoa (1999,

p. 1) complementa que, “à luz da atual redação do art. 37 da Constituição, a atividade

administrativa pode, para fins de controle jurisdicional, ser objeto de três ordens distintas de

consideração, a saber, legalidade, moralidade, e, agora, eficiência”.

A administração burocrática muito se preocupou com a legalidade dos atos praticados

pelos servidores públicos, e isso é um avanço em comparação com períodos anteriores, onde

nem mesmo a legalidade era observada, mas se esqueceu da razão de existência do Estado:

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proporcionar melhores condições de vida para a população. O Estado burocrático, sempre

voltado para si, distanciou-se da coletividade e confundiu interesse público com os seus próprios

interesses. Granjeiro ( 2008, p. 71) assegurou com acerto:

Ao tentar controlar virtualmente tudo na Administração Pública, tornamo-nos tão obsessivos em ditar o modo como as coisas deviam ser feitas - regulando os procedimentos e controlando os insumos – que passamos a ignorar os resultados.

Sabedor o Estado de que não seria capaz de ofertar todos os serviços públicos, executados

pelas empresas públicas durante o regime militar, de modo eficiente, tratou de estabelecer

fundamentos para uma delegação, através de concessões, pela instituição de dois processos: a

desestatização e a regulação. Tentou diminuir sua presença como executor direto dos serviços

públicos, atraindo a iniciativa privada para assumir os serviços onde é possível esta delegação, e

passou a regular as atividades delegadas por meio de agências reguladoras, sob a influência da

reforma de Estado na Grã-Bretanha. Exemplos de tal delegação encontram-se no setor de

telecomunicações e energia elétrica.

Há uma íntima ligação entre a instituição do princípio da eficiência no plano constitucional

com a reforma e modernização do Estado e entre estes e o alargamento do conceito moderno de

cidadania. Barbosa (2002, p. 29) entende que o princípio da eficiência “visa a combater o mau

uso do dinheiro público e a falta de planejamento. Permite avaliar se pelo recurso empregado foi

obtido o melhor resultado. Este princípio fortalece o controle de resultados” que é um pilar da

gestão pública gerencial.

1.2.5 Definição do Princípio da Eficiência

Para efeito deste estudo, acata-se a definição de Moraes (2007, p. 14), eficiência como “a

ação administrativa direcionada para produzir o melhor resultado possível, com o emprego dos

recursos disponíveis, observando-se a racionalização e otimização dos meios”, com algumas

restrições, como se verá adiante. Aragão (2006, p. 1) ratifica esse entendimento, quando afirma:

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A eficiência não pode ser entendida apenas como maximização do lucro, mas sim como um melhor exercício das missões de interesse coletivo que incumbe ao Estado, que deve obter a melhor realização prática possível das finalidades do ordenamento jurídico, com os menores ônus possíveis, tanto para o próprio Estado, especialmente de índole financeira, como para as liberdades dos cidadãos.

Dessa forma, observa-se na definição transcrita a superposição de três aspectos: eficiência

do procedimento (“racionalização e otimização dos meios”), eficiência dos custos (“emprego dos

recursos disponíveis”) e eficiência dos resultados (“produzir o melhor resultado possível”).

Defende-se aqui, portanto, que a eficiência deve resultar da conjunção dessa tríplice interface:

custo, processo e resultado. No entanto, entende-se incompleta a definição acima transcrita, por

não abordar dois aspectos de suma importância: a utilização de recursos indispensáveis ao invés

de recursos disponíveis, e a vinculação dos resultados ao interesse público.

Por conseqüência, define-se o princípio constitucional da eficiência como aquele que rege

toda a Administração Pública, na concretização das políticas públicas, através dos atos

administrativos, vinculados e discricionários, decorrentes da lei, ato ou contrato de direito

público, de forma a observar a legalidade e adequação do procedimento escolhido (eficiência do

procedimento), com o uso dos recursos indispensáveis para sua realização (eficiência dos

custos), para obtenção de resultado que atenda ao interesse público (eficiência dos resultados).

1.2.6 Eficiência, efetividade e eficácia: as três faces de um mesmo princípio constitucional

Oportuno, então, tratar da questão que envolve os termos eficiência, eficácia e efetividade,

muito discutida na doutrina, com defesas acaloradas que defendem tratar-se de termos

sinônimos, e outras não menos veementes que os distinguem completamente, e ainda, se o

princípio da eficiência abarca os três termos (eficiência em sentido amplo) ou a apenas um deles

(eficiência em sentido restrito).

A dificuldade, em estabelecer o significado e a amplitude dos termos eficiência, eficácia e

efetividade, é patente na doutrina. Há casos em que um termo é tomado pelo significado do

outro, não havendo ainda um consenso, o que traduz a necessidade de se estabelecer os

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parâmetros necessários para o correto entendimento. Carvalho Filho (2007, p. 25) apresenta a

seguinte distinção entre os termos:

A eficiência não se confunde com a eficácia nem com a efetividade. A eficiência transmite sentido relacionado ao modo pelo qual se processa o desempenho da atividade administrativa; a idéia diz respeito, portanto, à conduta dos agentes. Por outro lado, eficácia tem relação com os meios e instrumentos empregados pelos agentes no exercício de seus misteres na administração; o sentido aqui é tipicamente instrumental. Finalmente, a efetividade é voltada para os resultados obtidos com as ações administrativas; sobreleva nesse aspecto a positividade dos objetivos. O desejável é que tais qualificações caminhem simultaneamente, mas é possível admitir que haja condutas administrativas produzidas com eficiência, embora não tenham eficácia ou efetividade. De outro prisma, pode a conduta não ser muito eficiente, mas, em face da eficácia dos meios, acabar por ser dotada de efetividade. Até mesmo é possível admitir que condutas eficientes e eficazes acabem por não alcançar os resultados desejados; em consequência, serão despidas de efetividade.

Pereira (2007, p. 12) conclui que “eficácia é entendida como alcance dos objetivos ou

resultados, eficiência como a melhor utilização dos meios e efetividade como a reunião desses

dois atributos”. Correta a explanação porque a autora considera os recursos (custos) incluídos

nos meios. Assim, ao estabelecer a efetividade como a reunião dos atributos de eficiência e

eficácia se aproxima bastante do significado que será adotado neste estudo.

Para efeito deste estudo, adota-se o termo eficiência como a correta escolha e adequação

do procedimento, eficácia como a obtenção do melhor resultado e efetividade como a relação

entre o custo e o resultado obtido. Apesar de não haver consenso na doutrina, entende-se que este

é o melhor significado que se pode dar aos termos, adotando-se essa posição.

No entanto, o que se procura também é a delimitação da amplitude do princípio da

eficiência no texto constitucional. Amaral (2006, p. 6) considera distintos os termos e o sentido

restrito do princípio constitucional, ao proclamar que “o princípio da eficiência, contido no

“caput” do art. 37 de Constituição, refere-se à noção de obrigações de meios”, ou seja, seria a

preocupação com a melhoria dos procedimentos. Esse entendimento implica a dissociação da

eficácia e da efetividade do âmbito de verificação da eficiência, como princípio. Assim, o

princípio da eficiência se resumiria ao correto procedimento e principalmente, à celeridade. É,

pois, uma definição muito restrita, que não contempla os aspectos necessários para a melhoria da

qualidade dos serviços públicos.

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Dallari (2006, p. 9), sem adentrar na discussão do significado dos termos eficácia e

efetividade, adota o princípio da eficiência com sentido ampliado, mas ainda incompleto, pois

não contempla a preocupação com os custos (recursos), concentrando a atuação na forma

(procedimento) e no resultado:

Sua inserção no texto constitucional significa que não basta atuar de maneira conforme a lei. Não faz sentido emperrar a administração para dar estrito cumprimento à literalidade da lei. Agora é preciso mais: a administração deve buscar a forma mais eficiente de cumprir a lei, entre as soluções teoricamente possíveis, aquela que, diante das circunstâncias do caso concreto, permita atingir os resultados necessários à melhor satisfação do interesse público.

Moraes (2006a, p. 90) sustenta o princípio da eficiência com sentido mais amplo ainda,

abarcando inclusive os demais princípios da Administração Pública, o que parece ser um

exagero, pois não haveria sentido, então, na manutenção no texto constitucional dos demais

princípios:

Princípio da eficiência é aquele que impõe à Administração Pública direta e indireta e a seus agentes a persecução do bem comum, por meio do exercício de suas competências de forma imparcial, neutra, transparente, participativa, eficaz, sem burocracia, e sempre em busca da qualidade, primando pela adoção dos critérios legais e morais necessários para a melhor utilização possível dos recursos públicos, de maneira a evitar desperdícios e garantir maior rentabilidade social.

Nessa esteira de pensamento, considera-se que o termo eficiência, como princípio da

Administração Pública, deve ser entendido em seu sentido lato (lato sensu). Pode-se, então, falar

que eficiência lato sensu abrangeria os elementos caracterizadores do termo eficácia, uma vez

que este termo significa uma ênfase no resultado da ação administrativa (eficiência dos

resultados), do termo eficiência em sentido estrito (stricto sensu), que representa uma

predominância dos meios utilizados na ação administrativa (eficiência do procedimento), e

ainda, do termo efetividade, que é a relação entre o resultado esperado e o resultado obtido, ou

seja, a relação entre o custo despendido e o resultado obtido (eficiência dos custos).

À união desses 3 (três) elementos chama-se de eficiência lato sensu, ou simplesmente

eficiência, que é a amplitude que se entende pertinente ao princípio constitucional. O princípio

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da eficiência, então, abarca os três elementos. Cunha Júnior (2010, p. 918) bem atentou para a

esta tripartição:

A idéia que decorre do princípio constitucional da eficiência deve abranger tanto o sucesso dos meios (eficiência), como sucesso dos fins (eficácia), visando atender aquilo que a doutrina contemporânea vem chamando de efetividade administrativa. Isso porque a efetividade surge quando se alcançam os resultados através do emprego dos meios adequados.

Agra (2008, p. 340) salienta:

Os signos do princípio da eficiência são: rendimento, celeridade e perfeição. Rendimento pode ser definido como a utilização do menor dispêndio por parte da administração para a realização do melhor resultado possível. Celeridade significa o pronto atendimento das necessidades da sociedade, evitando-se a ineficácia do serviço devido à sua demora, principalmente em razão de estruturas burocráticas que emperram as atividades administrativas. Perfeição representa que os serviços públicos devem ser realizados de modo a satisfazerem as demandas da coletividade, atendendo aos objetivos para os quais foram criados.

Gasparini (2006, p. 21) também já havia alertado que o princípio da eficiência “impõe à

Administração Pública direta e indireta a obrigação de realizar suas atribuições com rapidez,

perfeição e rendimento”. Compreende-se que a rapidez ou celeridade é o que se chamou aqui de

eficiência do procedimento ou eficiência stricto sensu; perfeição é a eficiência dos resultados ou

eficácia; e rendimento é a eficiência dos custos ou efetividade. Portanto, o princípio da eficiência

na Administração Pública é, necessariamente, melhorar o procedimento, o resultado e o custo,

representados pelo termos técnico-jurídicos eficiência, eficácia e efetividade, respectivamente,

com o significado adotado.

1.3 Cidadania

À medida que o Estado foi diminuindo o grau de autoritarismo, e passou a reconhecer e

garantir direitos à parcela significativa da sociedade, é que se pode falar de um embrião do

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conceito hodierno de cidadania. Tais direitos sempre existiram, mas estavam limitados a uma

minoria, a uma casta de poderosos que detinha o poder político, geralmente fundamentado pela

origem divina. Pela ameaça e violência, a maioria da população era mantida afastada da

participação no poder, obrigada a cumprir as ordens advindas do rei. Questionar o rei era

também questionar Deus. Portanova (2004, p. 57) denuncia as condições de julgamento dos

indivíduos que ousavam discordar:

Todo o tipo de procedimento judicial que viesse a arrancar uma confissão por parte do culpado era válido, incluindo-se aí a tortura e qualquer ato bárbaro que pudesse ser executado pelo carrasco que agia em nome – e por ordens diretas – do supremo mandatário da vontade divina na terra: o Rei. Com isso, não bastava executar a vítima, mas purificá-la através da confissão, que se dava através da tortura e em ato público amplamente divulgado em todas as esferas do reino. Após esses procedimentos, poderia então o acusado ser executado, pois, através de seu sofrimento, havia a purificação de sua alma e a redenção de seus pecados.

Os direitos eram limitados ao clero e à nobreza, que representavam um percentual mínimo

da população. Quanto menor a parcela da sociedade onde os direitos são reconhecidos e

garantidos, maior o grau de autoritarismo do Estado. Portanto, a idéia de cidadania passa pelo

dilema inclusão/exclusão. A relação entre incluídos e excluídos é um indicativo do nível de

democracia do governo e do grau de cidadania que é conferida aos indivíduos. Quando a parcela

de incluídos supera a de excluídos, pode-se falar de democracia, que é um reflexo da cidadania.

A luta física pelos direitos, com o uso da violência, era a única forma de obter um mínimo

de reconhecimento, e apenas os grupos que tinham certo poderio é que, politicamente,

conseguiam postular, ao menos, alguma mudança no comportamento político do reino. Essa

idéia de luta e conquista de direitos é um elemento que perdura no tempo e está ligada à questão

da cidadania. Os direitos da cidadania sempre foram consequências de lutas e conquistas.

Tenório (2007, p. 36) deduz que “tudo começou com a doação de velhos direitos a novos setores

da população”.

O momento de separação dos poderes religioso e político, com a instituição do Estado laico

é um marco de ruptura da estrutura política, dando origem aos primeiros direitos reconhecidos à

população. Para tanto, o Estado precisava se cercar de algumas garantias que possibilitassem sua

emergência como ente absoluto e soberano.

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Discorrendo sobre a origem do Estado moderno, Ortiz (2001, p. 63) expõe:

É claro que historicamente ele teve antes de conquistar alguns elementos fundamentais para o seu funcionamento – centralização do poder, monopólio da violência dentro de uma área geográfica determinada, enfim, dispor de uma série de mecanismos que permitissem a garantia de sua integridade (o que se fez em boa parte por meio das guerras).

Mariano (2003, p. 112) completa:

A secularização do aparato jurídico-político, além de reiterar a autonomia e a supremacia do direito em relação a outras formas de ordens normativas, de reduzir praticamente a pó as pretensões dos grupos religiosos em impor suas normas ao conjunto da sociedade, de submetê-las ao império da lei, relativiza, relega a segundo plano e desqualifica as demais fontes de normatividade.

Essa separação propiciou o surgimento do Estado não mais como origem divina, mas como

uma organização humana, pois não detinha mais a verdade absoluta. Essa mudança propiciou o

questionamento das classes sociais que se viam prejudicadas. No entanto, o Estado continuava a

ser despótico e oligárquico.

1.3.1 A contribuição inglesa

A sociedade hierarquizada baseada em privilégios divinos ou de nascença vai perdendo seu

poder de convencimento, e começa a ser contestada pelo conhecimento científico que vai se

firmando nos séculos XVII e XVIII. As diferenças entre os homens parecem não mais

intransponíveis, como antes fora defendido pela Igreja, ao pregar a resignação e conformação

dos pobres com a vida de miséria, como caminho tranqüilo para o paraíso, ao mesmo tempo em

que acalentava a ociosidade dos nobres, numa vida de riqueza e ostentação. As transformações

estavam para acontecer, e de fato aconteceram durante três séculos: no século XVIII, os direitos

civis são conquistados; no século XIX, os direitos políticos; e no século XX, os direitos sociais.

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O início dessas transformações começa a acontecer com as revoluções inglesas de 1640 e 1688.

A primeira, através da violência, e a segunda, de forma consensual e conciliatória.

A revolução inglesa de 1640 representou uma assunção do poder por uma nova classe

social. De um lado, o absolutismo do Rei Carlos I, apoiado pelos setores tradicionais da Igreja,

que era parte do aparato administrativo, e pelos grandes proprietários de terras, tentava a todo

custo manter o poder estatal e os privilégios milenares. Do outro lado, o Parlamento inglês,

estimulado pelos comerciantes, pelos industriais da cidade, e pelos pequenos proprietários

rurais, além da população pobre. Em outras palavras, a luta pelo poder se dava em várias frentes:

no campo político, atacava-se o despotismo do Rei; no campo religioso, as teorias e práticas

religiosas; e no campo econômico, a ociosidade da classe econômica dominante, ainda baseada

no sistema feudal. É essa nova classe social, a de capitalistas rurais, que tomará o poder e

governará a Inglaterra, nos séculos seguintes, aliada à burguesia urbana que também surgia,

decorrente da produção manufatureira.

Em 1629, o Rei Carlos I resolve dissolver o Parlamento, em decorrência de pressões

políticas dali advindas. Durante 11 anos que se seguiram, a força real tenta destruir a oposição.

Com a crise econômica de 1640, tornou-se impossível para o rei conter as forças oposicionistas.

Estas, por sua vez, impuseram-lhe o atendimento de quatro exigências: a desmontagem da

máquina administrativa; a proibição de existência de exército sob seu comando; a diminuição da

carga tributária; e o controle da Igreja pelo Parlamento. O rei, então, resolveu iniciar uma guerra

civil contra a oposição, incapaz que era de ceder aos reclamos.

O Deputado Oliver Cromwell, liderando a oposição, estrutura um exército revolucionário,

recrutado e organizado por um sistema de mérito, abolindo o tradicional direito dos nobres

comandarem as tropas. E aos poucos, vai tomando o poder em pequenas localidades, que passam

a se submeter às ordens do Parlamento. Durante esse período, coexistem na Inglaterra o poder

real e o poder parlamentar. Até que, em 1645, o exército de Cromwell vence as tropas do rei, o

que resulta em sua prisão, condenação sumária, e finalmente, sua execução, em 1649. Os

domínios feudais são abolidos.

Após disputas com o Parlamento, Cromwell vem a falecer em 1658. O Parlamento então

resolveu convocar o filho do rei executado, Carlos II, para retomar o trono da Inglaterra,

estabelecendo o limite: o rei reinará, mas o Parlamento é quem governa. Em 1688, ocorre uma

tentativa de restauração da monarquia absolutista, mas esta é novamente derrotada pelas forças

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do Parlamento. A partir de então, são estabelecidos os direitos de propriedade e o poder político

é dividido entre os capitalistas. Abria-se, assim, a época dos direitos.

Mondaini (2008, p.131) ressalta a importância da contribuição inglesa, ao falar que “a

cidadania liberal, no entanto, foi um primeiro – e grande – passo para romper com a figura do

súdito que tinha apenas e tão somente deveres a prestar”. A cidadania, porém, ainda se baseava

na propriedade. Apenas os proprietários gozavam de direitos políticos. A sociedade inglesa havia

mudado: da postura absolutista e despótica do rei, passava-se à postura liberal do Parlamento,

dividindo a sociedade em indivíduos com posse e indivíduos sem posse, no plano político, mas

todos gozando, enfim, de um limite à autoridade estatal, de um relativo grau de liberdade.

1.3.2 A contribuição americana

Como o governo inglês, no Século XVII, estava preocupado com as revoltas de 1640 e

1688, que resultaram na monarquia liberal, as 13 colônias americanas tinham certa

independência administrativa, pois não havia um controle do reino inglês sobre as atividades de

colonização que estavam acontecendo. Isso criou nos imigrantes que povoavam as colônias uma

sensação de liberdade e independência que seria determinante para o desenrolar dos fatos no

Século XVIII. A ausência quase que total da Inglaterra possibilitava aos colonizadores exercer o

comércio sem grandes interferências.

Após o processo político, religioso e econômico da Inglaterra ter se estabilizado, há uma

forte mudança de atitude com relação às colônias americanas. As leis mercantilistas, antes não

aplicadas nas colônias, mas existentes, passam a ser executadas, causando grande revolta nos

colonos, que começam a expressar sua insatisfação através de petições. A intransigência do

governo inglês e a postura repressiva provocaram os primeiros conflitos armados entre os

colonos e ingleses. Inicialmente, houve a tentativa dos colonos em reverter a situação do Século

XVIII, retornando às condições do século anterior.

As bases para uma ruptura política entre as colônias e a Inglaterra estavam estruturadas em

algumas diferenças seculares: a primeira, o aspecto de diversidade religiosa que imperava nas

colônias, que nunca aceitaram uma única Igreja ligada ao Estado; a segunda, o pensamento de

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John Locke, estudado pelos norte-americanos nas universidades inglesas, e que traziam esses

ensinamentos para as colônias, reafirmando que a finalidade da existência de governos é

proporcionar a felicidade dos indivíduos; a terceira, o sentimento individual de liberdade que

imperava entre os colonos, e que remontava ao período anterior; a quarta, as constantes guerras

na Europa, que acabavam prejudicando o comércio americano, sempre visto pelos europeus

como um braço da Inglaterra.

A guerra foi inevitável, com a vitória dos norte-americanos, e a inusitada ajuda da França

absolutista. A fundação, pois, dos Estados Unidos da América teve como ponto de partida a

preocupação em repelir a tirania externa. Os colonos, liderados por George Washington, haviam

obtido uma vitória contra um Estado organizado e, ainda, despótico, para os americanos. Foi a

vitória do indivíduo contra o Estado. Daí resultou um traço marcante da política americana: a

supremacia da liberdade individual em relação ao poder político. As primeiras emendas à

Constituição Americana reafirmaram esse compromisso, ao estabelecer a liberdade de expressão

e o direito ao porte de arma, entre outras liberdades.

Os traços de liberdade e democracia, formalmente instituídos na Constituição Americana,

não representavam, no entanto, a realidade do País. As mulheres e brancos pobres não tinham

direitos políticos, além da escravidão, que perduraria ainda por algumas décadas. Além destes

entraves, a independência provocou uma sensível piora na situação dos indígenas, que lutavam

bravamente para impedir o avanço dos colonos em suas terras, a Oeste. A independência, na

verdade, é nitidamente favorecedora de um grupo, assim como foi, na Inglaterra, a Revolução de

1640 e a restauração de 1688.

Nas décadas que se seguiram, gradativamente, os direitos políticos vão sendo estendidos a

cada vez mais pessoas, e passaram a seduzir o mundo, especialmente os países da Europa.

Karnal (2008, p. 149) observa:

A idéia de um país de igualdade e de oportunidades econômicas reforçou o grande sonho americano que atraía milhões de imigrantes europeus e orientais. Repetindo o gesto dos pais peregrinos calvinistas, os russos ortodoxos, irlandeses católicos, judeus, italianos católicos e centenas de outros grupos desembarcavam nos EUA em busca de uma vida melhor.

É certo que muito ainda estava por vir, mas os ideais americanos de direitos civis e

políticos, para a época, mesmo considerando o critério de exclusão escolhido, eram bastante

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avançados e serviram de inspiração para as lutas, as revoltas e as revoluções que se espalharam

pelo mundo.

1.3.3. A contribuição francesa

A impossibilidade de o poder real, na França, conter os conflitos sociais e a violência nas

ruas, levou o Rei a convocar, em maio de 1789, os Estados Gerais. Estes eram uma espécie de

assembléia consultiva, composta por três grupos: os deputados representantes dos Nobres;

religiosos representantes do Alto Clero (bispos e arcebispos); e os representantes do Terceiro

Estado, formado por plebeus advogados, médicos, profissionais liberais, operários, artesãos,

representantes do baixo clero e comerciantes. Os Nobres e o Alto Clero se reuniam e votavam

em local separado, o que provocou uma solicitação do Terceiro Estado para que fosse abolida

essa separação. A proposta foi rejeitada, agravando a desavença entre os grupos. Em reação, o

Terceiro Estado passou a se denominar de Comuns, numa clara referência aos ingleses.

As diferenças entre o grupo do Terceiro Estado e dos Nobres eram aparentes. Hunt (2009,

p. 19), cita que “à frente da procissão de abertura – uma massa de homens vestidos de negro,

com trajes modestos e o pequeno grupo refulgente dos deputados da nobreza, com seus chapéus

de plumas, suas rendas, seus paramentos de ouro”. Enquanto isso, a fome e a miséria

aumentavam nas ruas de Paris. Nos Estados Gerais, o Terceiro Estado declara-se Assembléia

Nacional, visando tomar o poder político para si. O Rei convoca novas tropas para conter o

tumulto em Paris e controlar a revolta do Terceiro Estado. Era junho de 1789. Luís XVI resolve

dissolver os Estados Gerais e convoca os representantes dos Nobres e do Alto Clero para votar

algumas medidas.

Entre essas medidas estavam muitas reivindicações do Terceiro Estado. Pensava-se que,

atendendo aos pedidos mais importantes, sufocar-se-ia a insubordinação do Terceiro Estado e

poder-se-ia usar as tropas para conter a pressão popular que só aumentava. No entanto, as tropas

começaram a desobedecer às ordens de seus superiores em atacar o povo nas ruas. Enquanto

isso, o Terceiro Estado decide que somente iria descansar após dotar o País de uma constituição.

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Pressionado por todos os lados, o Rei decide ceder e convoca nova assembléia, com a

participação dos três segmentos.

Em 14 de julho de 1789, a população enfurecida resolve invadir e tomar a bastilha, local

onde eram aprisionados os inimigos do Rei, num claro sinal de que o poder real estava

definitivamente abalado. Apesar de este fato ser considerado como o ponto crucial da Revolução

Francesa, ela não se encerra aí. Em 26 de agosto do mesmo ano, o Terceiro Estado elabora e

proclama a Declaração dos Direitos do Homem, com 17 artigos que têm um teor universal. Há

uma nítida intenção de expressar alguns valores universais, como se pode apreender pela dicção

de seu artigo primeiro: os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos.

Ao estabelecer certos direitos considerados naturais e imprescritíveis, a Declaração é um

marco muito importante para a consolidação da cidadania como direito universal. Os direitos

civis são garantidos e o direito de propriedade é protegido inclusive da atuação do Estado, que

para se utilizar do bem do particular deverá indenizá-lo em valor correspondente. Odália (2008,

p. 168) infere:

Foram esses 17 artigos, nascidos de uma revolta popular sangrenta, que incendiaram a imaginação dos europeus, fossem eles pobres ou ricos, ignorantes ou intelectuais, trazendo consigo manifestações de júbilo em prosa ou em verso, nas artes plásticas, no teatro e na música.

A cidadania é uma conquista coletiva e lenta, e estes episódios revolucionários, revolução

inglesa, revolução americana e revolução francesa, foram importantes para a sua inicial

consolidação. Mas ela não se encerra aí. A luta pelos direitos vai perdurar até os dias atuais, até

mesmo porque a Revolução Francesa tomou uma direção diversa da imaginada, ao tentar

exportar para os demais países da Europa o modelo adotado após a queda de Robespierre,

impondo, através da guerra, um ideal de liberdade mais assemelhado à dominação e à expansão

do território francês, com caráter nitidamente conquistador e de submissão.

1.3.4 A evolução do conceito de cidadania

A partir do momento em que o Estado deixou de se apropriar do excedente da produção e

permitiu que indivíduos pudessem acumular riqueza, surgiu o capitalismo, e com ele, a

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burguesia. Esta nova classe é responsável, em parte, pelo sucesso das revoluções acontecidas na

Inglaterra, nos Estados Unidos da América e na França, aliando a riqueza ao poder da violência.

A luta por conquistar direitos, agora não estava mais só fundada na força física, mas também na

riqueza.

Em um primeiro momento, consagram-se os direitos civis (direitos garantidores da

liberdade individual); em um segundo, os direitos políticos (direitos garantidores do exercício do

poder político). Estes dois grupos de direitos são voltados para o Estado. Ou seja, são uma

proteção do indivíduo contra o Estado autoritário. É a consagração do limite do poder do Estado.

Em um terceiro momento, são garantidos os direitos sociais (direitos garantidores do bem estar

econômico e social), que é a proteção do indivíduo contra os poderosos e ricos. Os ricos e

poderosos ficam limitados em seu poder, assim como também o Estado. A cidadania pode,

assim, ganhar contornos de direitos universalizados. Os indivíduos, em sua grande maioria,

passam a ser cidadãos.

Com os direitos civis, definidos pelos contratualistas e reconhecidos pelas cortes inglesas

no século XVII e XVIII, houve a conquista à liberdade e à propriedade privada, que serviu de

base para o liberalismo. O Estado despótico sofre uma grande limitação no seu poder. Com os

direitos políticos, definidos pelos democratas do século XIX, vieram as conquistas relativas ao

direito de votar e ser votado, passando o indivíduo a tomar parte do cenário político,

constituindo-se em novo ator. Golpeia-se aí o Estado oligárquico. A base das democracias

liberais do século XX está fundada nestes dois grupos de direitos.

No século XX, a luta por conquista de direitos sai do âmbito da burguesia ou classe média

e se alastra pelos pobres da sociedade, que passam a ser reconhecidos como detentores de

direitos, como cidadãos, em decorrência do conhecimento técnico que passaram a deter. Aqui a

luta se dá por classe trabalhadora. Assim, a violência cedeu lugar à riqueza, e esta, após as suas

conquistas, cede lugar ao conhecimento técnico.

Na segunda metade do século XIX, os socialistas definem os direitos sociais, cuja

repercussão seria consagrada nas constituições e leis dos países democráticos do século XX.

Garante-se aqui o direito dos cidadãos em relação a outros cidadãos ou organizações,

consideradas como empregadoras, mas também direitos do cidadão em face da sociedade civil,

através do estabelecimento de direitos ligados à educação, vida digna e saúde, com repercussões

no Estado. Com o enfraquecimento do Estado despótico e oligárquico, pois, surge o conceito

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moderno de cidadania. Esta tripartição de direitos é o nascedouro desse conceito para os sociais-

democratas.

A questão que se apresenta, no entanto, é a discussão em torno da estanquidade desses

elementos. A cidadania se resume a esta tripartição de direitos (civis, políticos e sociais), ou, ao

contrário, permite a evolução e inclusão de novos direitos. Alia-se, aqui, à corrente que entende

que o conceito de cidadania deve ser alargado, incluindo-se novos direitos, à medida que o

avanço da convivência social assim o exige.

A referência básica inicial para o estudo da cidadania é a obra de T.H. Marshall, Cidadania

e Classe Social (1949), em estudo do caso inglês, que defende o reconhecimento e separação dos

três elementos formadores do conceito de cidadania (civil, político e social). Esta separação seria

decorrente da evolução natural da sociedade. Reis (1997, p. 14) assevera que “Marshall supôs

uma dinâmica evolutiva, generalizável para outras sociedades, e prenunciou o desenvolvimento

ulterior dessa seqüência evolutiva que descreveu historicamente”.

Saes (2000, p. 10) critica a postura evolutiva histórica de Marshall ao defender que:

O desajuste dessa concepção se torna, evidentemente, mais gritante quando testamos o seu poder explicativo na análise do processo de formação da cidadania na França, já que a Revolução francesa fez cair de um modo ruidoso e radical os privilégios senhoriais em 1791.

E continua o autor, na mesma obra, ao dizer que:

...é possível que a instauração de um elenco importante de direitos sociais seja, não a conseqüência natural da implantação de um regime democrático; e sim, um ingrediente importante da estratégia compensatória de um regime ditatorial em busca de legitimidade e de uma base social de apoio. (p. 19)

As críticas ao estudo de Marshall são veementes, até mesmo porque a história desmentiu

algumas afirmações. Porém, não se pode deixar de reconhecer a sua contribuição para definição

de algumas características da cidadania moderna: universalidade da cidadania, qual seja, a

extensão dos direitos às classes sociais; individualização da cidadania, pela construção de um

vínculo direto entre o indivíduo e o Estado; determinação geográfica de seu alcance, ao

condicionar os direitos a um território com um único poder soberano; e construção de um

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vínculo constitutivo entre os direitos de cidadania e o Estado-nação, pois a partir da existência de

um Estado soberano é que se pode pensar na efetivação da cidadania (LAVALLE, 2003).

Importante contribuição de Marshall é, também, a questão que envolve o dilema

igualdade/desigualdade. Como admitir direitos iguais - direitos de cidadania - em uma sociedade

onde a desigualdade faz parte do sistema. Ou seja, até que nível de desigualdade econômica a

cidadania pode resistir. A desigualdade de classes, segundo Marshall, poderia ser tolerada, desde

que houvesse uma igualdade de cidadania. Entendeu assim, que a igualdade de status era mais

importante que a igualdade de renda. A igualdade seria pertencer a uma comunidade cívica, o

Estado-nação. Entendeu que a elite inglesa tinha consciência da necessidade e dependência de

união das classes sociais, seja para efeito de divisão do trabalho, seja por convivência pacífica.

Souki (2006, p. 46) expõe que:

As considerações sobre a trajetória inglesa em relação à formação do estado-nação, a existência de uma burocracia eficiente e o progressivo estabelecimento dos direitos e deveres dos cidadãos (melhor dito: súditos) nos permite inferir cautelosamente que havia uma certa lucidez por parte das elites a respeito da interdependência entre os diversos setores da sociedade.

Em suma, na visão de Marshall, a cidadania teria causado um efeito integrador entre as

classes sociais inglesas, o que contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento do Estado-nação

inglês, na medida que as elites percebiam que a desigualdade econômica também as afetava.

Apesar desse pensamento idílico, que parece querer apagar da história a violenta revolução

inglesa de 1640, a contribuição de Marshall para o desenvolvimento do conceito de cidadania é

reconhecida pela maioria dos autores, mesmo tendo desconsiderado o arsenal de lutas das classes

sociais empreendidas nas cortes inglesas.

Em meados do século passado, a criação da Organização das Nações Unidas – ONU

causou um grande impacto na universalização dos direitos de cidadania, agora chamados de

direitos humanos, ao aprovar em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, com um

rol de valores universalmente admitidos e que deveriam ser seguidos por todos os países

participantes da organização.

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1.3.5 A cidadania no Brasil

Não há como se reconhecer no Brasil um mínimo de cidadania em período anterior à

abolição da escravatura. O tardio fim dessa abominável prática deixou marcas sociais e um

abismo entre negros e brancos que perduraria até os dias atuais. Além dessa ferida, a questão

indígena é outra chaga que macula qualquer tentativa de reconhecer parâmetros de conquista de

direitos pela população, em sua maioria analfabeta. A escravidão indígena foi permitida durante

séculos no Brasil, além da matança indiscriminada. Apesar de existir durante o Império o

reconhecimento formal de alguns direitos civis e políticos, estes estavam restritos a uma parcela

ínfima da população, como o foi em outros países. Quase todos eram excluídos. Um atraso de

pelo menos um século em relação aos países da Europa e Estados Unidos da América, porque

esta situação se verificava no final do século XIX e durante boa parte do século XX. “Os

direitos, que sob os séculos XVI e XVII, vão lentamente se constituindo na Europa sob o signo

das liberdades civis, no Brasil se caracterizavam com uma questão de sangue e traduziam a

origem familiar do indivíduo” (MEKSENAS, 2000, p.13). A abolição da escravatura (1888) e a

proclamação da República (1889) podem, então, ser consideradas como o marco de ruptura da

ordem política e social, apesar do fato de que os primeiros direitos reconhecidos pela República,

e estendidos a toda população, eram apenas formais, não se traduzindo no plano fático.

Oliveira (2001, p. 5) concorda que essa perspectiva perdurou até meados do século

passado:

Tratando-se de uma sociedade onde a escravidão era uma instituição legal até 1888, e onde as classes médias urbanas assim como a classe trabalhadora eram relativamente pequenas e politicamente frágeis até os anos cinquenta, durante muito tempo a maior parte da população estava na realidade excluída do exercício dos direitos civis e políticos, mesmo quando estes já existiam no papel ou já estavam previstos em lei.

A postura governamental na primeira república era nitidamente liberal. O Estado omitiu-se

de qualquer interferência no mercado, deixando, no entanto, livre a associação de trabalhadores

que começava a surgir, com o fim do trabalho escravo, dos negros e dos índios. Observa-se que,

no início do século XX, o Brasil apresentava um déficit de cidadania secular: direitos civis,

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políticos e sociais estavam ainda em processo inicial de lutas e conquistas. Era necessário, pois,

acelerar o processo de construção dos direitos. A postura liberal, no entanto, favorecia o

patronato que passou a se utilizar do trabalho de mulheres e crianças, em difíceis condições.

Carvalho (1990, p. 29) entendeu que a inclusão da população nos direitos de cidadania sempre

passava por uma atuação estatal individualizada, seja pela assunção em cargos públicos ou

através da intervenção no mercado, fenômeno que chamou de estadania:

Bacharéis desempregados, militares insatisfeitos com os baixos salários e com minguados orçamentos, operários do Estado em busca de uma legislação social, migrantes urbanos em busca de emprego, todos acabavam olhando para o Estado como porto de salvação. A inserção de todos eles na política se dava mais pela porta do Estado do que pela afirmação de um direito de cidadão. Era uma inserção que se chamaria com maior precisão de estadania.

Esta afirmação, em menor grau, é verdadeira até hoje. As deficiências do ensino público e

da saúde pública são compensadas pela ação do Estado aos seus servidores, concedendo-lhes

bolsas de estudo e seguro-saúde privado, além de auxílio-creche e alfabetização para seus filhos,

numa clara demonstração de que os serviços públicos, colocados à disposição da população, não

servem para seus servidores. Um grau maior de cidadania é contemplado àqueles que servem ao

Estado. Isso justifica, relativamente, a imensa concorrência que se verifica nos concursos

públicos, criando uma casta de cidadãos de grau superior.

A organização dos trabalhadores, no fim da segunda década do século XX, culminou em

importantes paralisações no Rio de Janeiro e São Paulo. O apoio da sociedade aos movimentos

dos trabalhadores, que apresentavam reivindicações justas, fez com que o Estado abandonasse

sua postura liberal e iniciasse o processo de interferência na ordem trabalhista, pendendo,

inicialmente, para o lado dos patrões, pela repressão ao movimento organizado e ao anarquismo.

A terceira década do século XX viu as primeiras intervenções estatais positivas para a

classe trabalhadora. Surge a obrigação dos empresários de indenização aos trabalhadores por

acidente de trabalho, as férias de 15 dias anuais remuneradas, a proibição do trabalho de menores

com menos de 14 anos e jornada de seis horas até os 18 anos. A reação patronal era forte e

incisiva, porém com argumentos econômicos, já superados em nível internacional. O caminho

encontrado era descumprir as leis.

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O estabelecimento do primeiro sistema previdenciário brasileiro, aplicável aos ferroviários,

assegurando aposentadoria por tempo de serviço, velhice ou invalidez, pensão para os

dependentes em caso de falecimento do trabalhador, cobertura das despesas funerárias e ainda

assistência médica, é um momento decisivo para a conquista dos direitos sociais, pois a iniciativa

de sua instituição partiu do empresariado, e não das classes trabalhadoras ou do Estado, mesmo

que se considere que a classe patronal pretendeu, na verdade, livrar-se do peso financeiro que

acarretava a assistência social aos trabalhadores. Porém, os direitos civis e políticos continuavam

praticamente no mesmo estágio da proclamação da república,

No período seguinte, de 1930 a 1945, há um forte desenvolvimento dos direitos sociais,

com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, a criação das juntas de

conciliação e julgamento, passando as reivindicações da classe trabalhadora a ter sede de

discussão no Poder Judiciário. Em 1943, é aprovada a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT

que traz uma compilação de leis trabalhistas, esparsas e existentes à época para algumas

categorias profissionais e que passam a integrar o conjunto de direitos de todos os trabalhadores.

Nesse período é criado também o salário mínimo. Em contrapartida, há um desvirtuamento dos

sindicatos, pelo estabelecimento do controle de funcionamento e representatividade pelo

Ministério criado, que passam a ser praticamente uma entidade subordinada ao Estado. No

campo dos direitos civis e políticos há um retrocesso. Os direitos civis são limitados pelo

interesse da coletividade. Os direitos políticos são suspensos e o Poder Legislativo é abolido em

todos os níveis. As greves foram proibidas, os partidos políticos dissolvidos, a censura aos meios

de comunicação foi estabelecida, e o regime não poupou violência contra os seus opositores.

Por outro lado, o sistema previdenciário se desenvolveu por classe trabalhadora. Cada

categoria profissional reconhecida pelo Estado possuía sua previdência. Somente os

trabalhadores pertencentes às categorias profissionais oficiais, no entanto, gozavam dos

benefícios. Os demais trabalhadores continuavam completamente desamparados, contando

apenas com as disposições da legislação trabalhista, esta sim, de âmbito universal. A cidadania

social se dava à medida que a categoria profissional era reconhecida e autorizada pelo Estado.

Discorrendo sobre o histórico dos direitos no Brasil, Delgado (2007, p. 112) ensina que:

A última das direções seguidas pela política oficial tendente a implantar o modelo trabalhista corporativista e autocrático da época traduzia-se nas distintas

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ações voltadas a sufocar manifestações políticas ou operárias autonomistas ou simplesmente adversas à estratégia oficial concebida.

O histórico de evolução da cidadania no Brasil não seguia o padrão internacional, que viu o

surgimento dos direitos civis e políticos, para posteriormente adentrar nos direitos sociais. Aqui,

houve uma inversão entre os grupos dos direitos fundamentais: alcançou-se, primeiramente, o

desenvolvimento dos direitos sociais, com inegável avanço nas décadas 30 e 40 do século

passado, mormente aqueles consolidados nas leis do trabalho, enquanto que os direitos políticos,

quando não foram suspensos ou suprimidos, eram postergados para momento posterior, com

períodos em que a supressão dos direitos civis também ocorreu.

Apesar de formalmente, a partir de 1946, ter havido o restabelecimento da democracia, as

práticas estatais continuavam impregnadas de autoritarismo. Os sindicatos não tinham liberdade

para agir, sendo a intervenção governamental um instrumento muito utilizado. Proibição de

greves e paralisações, além da perseguição política de lideranças políticas e sindicais, foram

utilizadas pelo governo para tentar aplacar os opositores. A pressão política, contudo, continuava

a aumentar, o que produziria um acirramento total entre direita e esquerda, do início dos anos 60

do século passado, até o golpe militar de 1964, quando, então, o retrocesso nos direitos civis e

políticos foi notório. Costa (2008, p. 850) recorda:

O endurecimento do regime ocorreu aos poucos. Primeiro, a deposição do presidente e de alguns governadores; em seguida, a cassação de mandatos eletivos e a suspensão de direitos políticos; depois, a extinção dos antigos partidos e a suspensão das eleições diretas. Cumpria-se o mesmo programa autoritário de supressão de garantias, cerceamento do Congresso, centralização de decisões, concentração de recursos e esvaziamento da federação.

Desse período, a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS e do Instituto

Nacional de Previdência Social – INPS foram inovações que centralizaram ainda mais o controle

estatal sobre as relações de trabalho e previdência social. A uniformização dos atendimentos de

saúde e previdência para todas as classes trabalhadoras foi um avanço, mas a continuidade de

exclusão dos trabalhadores rurais, autônomos e empregados domésticos ainda era um problema

que precisava ser resolvido, o que de fato se deu no início da década de 70.

A concessão de direitos sociais pelo regime se contrapunha à limitação da liberdade e às

restrições da atividade política, apesar de formalmente a Constituição vigente à época prescrever

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uma série de direitos e garantias. Os opositores do regime foram perseguidos, torturados,

exilados ou mortos. O que se pode observar é que, na maioria dos países da América Latina, os

direitos de cidadania permaneciam, em parte, “formais”. Consignavam-se tais direitos na

Constituição, mas estes não se transformavam em direitos “reais”. As ditaduras que assumiram o

poder em diversos países na década de 70 do século passado demonstraram esta afirmação.

Descobriu-se, então, que os direitos de cidadania, mesmo sendo inseridos nos textos

constitucionais, não garantiam a aplicabilidade real. Governos de países que os consignavam em

suas ordens jurídicas continuavam a cometer atos autoritários, com o uso de violência contra

seus cidadãos. Chile, Argentina e Brasil são exemplos clássicos do autoritarismo violento da

época, contrariando os elementos formais de cidadania que se encontravam inscritos em suas

constituições. Nestes países, a supressão dos direitos civis e políticos foi uma tônica das

ditaduras implantadas, infirmando a teoria da evolução natural da sociedade de Marshall.

A flexibilização do regime militar, a partir do governo Geisel, e a consequente abertura

política, possibilitou o ressurgimento dos movimentos sindicais no final da década de 70, na

região do ABC paulista, defendendo a autonomia dos sindicatos, em contraponto à política de

intervenção e autorização estatal. Com avanços e retrocessos, a situação da cidadania no Brasil

perdura, no período de 1930 até a Constituição de 1988, quando há uma ruptura da ordem

jurídica vigente nas décadas anteriores, e passa-se a um texto constitucional avançado em

matéria de cidadania. Luca (2008, p. 488) descreve:

Os direitos civis foram amplamente assegurados pelo artigo 5.º e seus mais de setenta incisos, que inovaram ao criar o habeas data, que assegura aos cidadãos o conhecimento de informações constantes em entidades de caráter governamental ou público; ao classificar a prática de racismo como crime inafiançável e condenar expressamente a tortura; ao estabelecer o mandado de injunção, cabível quanto a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades, e ao determinar a defesa do consumidor, cujo código passou a vigorar em março de 1991.

A extensão do voto ao analfabeto e ao menor entre 16 e 18 anos, por exemplo, tem o

objetivo de alargar os direitos políticos a uma parcela da população antes excluída. Pela primeira

vez, o eleitorado tornou-se maioria da população. A nova Carta Magna prenuncia alguns direitos

que vão além dos consagrados civis, políticos e sociais, adentrando nas questões relativas a

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direitos difusos e coletivos, apesar de ainda resistirem alguns enclaves autoritários, como a

unicidade sindical, a Justiça Militar e o voto obrigatório.

1.3.6 O hodierno conceito de cidadania

No final do século XX, com o desenvolvimento da democracia na maioria dos países,

assiste-se a um alargamento do conceito de cidadania, que passa a incluir, além daqueles

defendidos e estudados por Marshall (civis, políticos e sociais), os direitos difusos,

especificamente aqueles ligados ao meio ambiente, aos direitos do consumidor e à defesa do

patrimônio público. É que “o termo cidadania não pode ser compreendido de forma reducionista

em seus aspectos políticos e jurídicos classicamente enquadrados” (FABRIZ, 2007, p. 24).

Bittar (2006, p. 2) também assevera a necessidade de alargamento do conceito de cidadania

ao registrar que:

A ampliação dos horizontes conceituais da idéia de cidadania faz com que se postule, sob este invólucro, a definição de uma realidade de efetivo alcance de direitos materializados no plano do exercício de diversos aspectos da participação na justiça social, de reais práticas de igualdade, no envolvimento com os processos de construção do espaço político, do direito de ter voz e de ser ouvido, da satisfação de condições necessárias ao desenvolvimento humano, do atendimento a prioridades e exigências de direitos humanos, etc.

Recentemente, essa quarta delimitação de direitos vinculados à cidadania tem sido

chamada de direitos difusos, cívicos ou republicanos. Bresser-Pereira (1997, p. 2) define os

direitos republicanos “como os direitos que todo cidadão tem que o patrimônio público — seja

ele o patrimônio histórico-cultural, seja o patrimônio ambiental, seja o patrimônio econômico ou

res publica estrito senso — seja efetivamente público, ou seja, de todos e para todos”.

Campos (2007, p. 136) coloca em relevo que:

Os direitos republicanos são entendidos como sendo o direito ao patrimônio histórico, o direito ao patrimônio ambiental e o direito ao patrimônio econômico, que deverão fazer parte do debate dos movimentos sociais e dos cidadãos, para serem preservados do alcance de alguns gestores públicos e

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grupos de interesses particulares, que se apropriam de vultosas somas do dinheiro do Erário.

Sendo assim, observa-se que, ao contrário dos direitos civis que são individuais, os direitos

republicanos são direitos da coletividade, pertencem a todos os cidadãos, daí porque são,

verdadeiramente, uma proteção da coletividade contra o abuso aos patrimônios histórico-

cultural, ambiental, econômico e, ainda, a res publica, aqui entendida como tudo aquilo que for

de todos e para todos. Portanto, hodiernamente, não se pode pensar em cidadania sem a

efetivação dos quatro grupos de direitos: civis, políticos, sociais e republicanos (ou difusos, ou

cívicos, como se preferir), mas de forma interdependente, complementar. E a partir da garantia e

efetivação de tais direitos é que o regime democrático pode se desenvolver e alcançar um estágio

mais avançado. Impõe-se, novamente, registrar que o alargamento do conceito de cidadania

continuará a ser movido por lutas, muito antes do reconhecimento dos direitos. Sachs (1998, p.

149) lembra com propriedade que:

Nunca é demais insistir no fato de que esse aumento de direitos é o resultado de lutas, e que muitas vezes eles são conquistados nas barricadas, num processo histórico pleno de vicissitudes, por meio do qual as necessidades e as aspirações se articulam em reivindicações e bandeiras de luta antes de serem reconhecidas como direitos.

1.3.7 A eficiência como elemento do conceito de cidadania

Esse quarto grupo de direitos de cidadania representa um engajamento da sociedade na

discussão dos assuntos que dizem respeito a toda a coletividade. Mas esse engajamento deve

acontecer nas práticas cotidianas, no dia a dia da convivência em sociedade, na vigilância sem

alarde. Hopenhayn (2002, p. 9) leciona:

A idéia republicana de cidadania reaparece, mas não no horizonte da participação política ou dos grandes projetos de sociedade, senão numa grande variedade de práticas de low profile, sejam associativas ou comunicativas, que não necessariamente concorrem no público-estatal.

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O que se deseja é que os cidadãos se interessem pelo público, que assumam a

responsabilidade de lutar pela preservação dos patrimônios públicos que lhes são afetos. Daí

porque necessário se faz que o Estado reconheça a legitimidade dos cidadãos para lutarem pela

defesa de tais bens públicos, visando coibir a apropriação indevida de tais recursos por

particulares ou grupos de interesses privados. Fala-se de uma postura cívica do cidadão frente a

tais abusos. É porque se deve travar constantemente uma batalha para defesa do interesse

público. Ou seja, fala-se, pois, de direitos para toda a sociedade. E nesse campo de entendimento,

o princípio da eficiência merece destaque, pois através dele se pode controlar a qualidade do

gasto público, que é um bem de todos, além da eficiência dos serviços que são colocados à

disposição da sociedade.

Serviços públicos melhores e de menores custos poderão ser estendidos a cada vez mais

pessoas, fortalecendo a cidadania. É que o patrimônio público merece e precisa ser preservado,

como condição para assegurar a cidadania. Moreira Neto (2006, p. 55) observa:

Parte-se, portanto, da existência de um direito cidadão, de natureza constitucional, não apenas à rigorosa observância da legalidade estrita, mas à satisfação da legitimidade da pretensão juspolítica garantida que têm as pessoas à eficiência; em síntese - a uma boa administração.

Calderon (2003, p. 5) também adverte para a estreita relação que existe entre a eficiência

dos serviços públicos e a cidadania, afirmando:

O tratamento digno, eficiente e conclusivo, resgata no cidadão, sua importância na sociedade e o poder de transformação que lhe cabe. O indivíduo recebe indiretamente uma aula de cidadania que é incorporada no seu cotidiano de forma sólida, verdadeira, transparente e permanente.

A atuação da sociedade para garantia de tais direitos deve ser coletiva, e através dessa ação

coletiva garante-se o direito de cada cidadão individualmente. O interesse público deve ser

obtido através do consenso cívico, evitando assim que interesses particulares possam desvirtuar o

que se entenderá por interesse público, uma vez que, “quanto maior for o controle popular,

quanto mais capazes de distinguir o Bem Comum, dos interesses privados, mais republicanas

serão essas pessoas, e mais democrático será o poder” (CRUZ e CADEMARTORI, 2009, p. 93).

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O histórico de lutas para garantia dos direitos de cidadania sempre teve seus defensores: os

direitos civis foram defendidos pelos liberais; os direitos políticos, pelos democratas; os direitos

sociais, pelos socialistas. Os direitos cívicos, republicanos ou difusos devem ter defesa

apropriada pela coletividade no sentido de cobrar do aparato administrativo e judicial um pronto

atendimento na defesa do patrimônio público, uma maior eficiência na prestação dos serviços

públicos. Há um déficit de cidadania neste aspecto, e a luta por reduzir este déficit passa por uma

melhor consciência da sociedade em relação a tais direitos.

A Emenda Constitucional n. 45 (BRASIL, 2004) alçou à categoria de direito fundamental,

o princípio da duração razoável do processo judicial ou administrativo, ao inserir no artigo 5.º da

Carta Política de 1988, o inciso LXXVIII, garantindo a todos os meios para a celeridade de

tramitação. E direito fundamental, no dizer de Bobbio (1988, p. 41), “são os direitos que numa

determinada constituição são atribuídos a todos os cidadãos indistintamente, em suma, aqueles

diante dos quais todos os cidadãos são iguais”. Sendo a adequação do procedimento, que se

traduz também pela celeridade, uma das faces do princípio da eficiência, é de se concluir que

cada vez mais, reafirma-se o dever de eficiência da Administração Pública como direito de

cidadania.

A sociedade, porém, precisa ser informada, ter conhecimento dos direitos que a

Constituição Federal lhe garante, inclusive dos meios jurídicos colocados à sua disposição: a

ação popular, o direito de reclamação contra a ineficiente prestação de serviços públicos, o

direito de acesso aos registros e atos de governo e, ainda, o direito de representação contra o

exercício negligente ou abusivo do cargo ou função pública. França (2007, p. 8) abordou com

clareza a ligação entre o princípio da eficiência e o direito de cidadania:

O direito subjetivo do administrado à participação tem forte ligação com o princípio da eficiência, constituindo sua instituição e as garantias constitucionais nele inspiradas um grande instrumental jurídico para a concretização normativa da eficiência. Quem melhor senão o próprio destinatário do serviço público para determinar se existe materialmente a conciliação entre a prática administrativa e o ditame constitucional da eficiência?

Continuar em estado de alerta quanto aos direitos civis, políticos e sociais é necessário,

mas avançar um pouco mais em direção a um Estado mais democrático e justo o é também,

porque “a cidadania não é dada aos indivíduos de uma vez para sempre, não é algo que vem de

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cima para baixo, mas é resultado de uma luta permanente, travada quase sempre a partir de

baixo, das classes subalternas, implicando um processo histórico de longa duração”

(COUTINHO, 2005, p. 2).

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2. A JUSTIÇA ELEITORAL BRASILEIRA E O TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL

DE PERNAMBUCO – TRE/PE

2.1 Governança Eleitoral

Governança eleitoral é o conjunto de regras e instituições que regem o processo político-

eleitoral, nas atividades de competição eleitoral, de obtenção do voto, de eleição dos candidatos

e de adjudicações dos postulantes vencedores. Pode-se destacar três fases ou níveis de atuação no

processo eleitoral: estabelecimento das regras; aplicação das regras; e adjudicação das regras.

Por estabelecimento das regras se entende a definição das normas que regerão a escolha

dos candidatos, as condições de elegibilidade, as datas das eleições, as condições para o

exercício do voto, os distritos eleitorais e os cargos políticos a serem disputados. São as

informações necessárias para que se saiba, de antemão, as condições em que será disputado o

certame político. As regras geralmente estão disciplinadas na Constituição e no Código Eleitoral.

Por isso, são atribuições do poder político. No caso brasileiro, o Congresso Nacional é

responsável pela votação das regras que regem as eleições, através de emendas à Constituição,

apreciação e aprovação de leis complementares e ordinárias. Há, também, uma competência

específica do Tribunal Superior Eleitoral - TSE para regulamentar a aplicação das normas

eleitorais, que é feita através de resoluções do pleno da Corte. A Constituição Federal de 1988

estabelece no artigo 16, no entanto, que qualquer alteração no processo eleitoral apenas será

aplicada nas eleições, se estas ocorrerem pelo menos um ano após a vigência da lei que a

aprovou.

A aplicação das regras diz respeito à constituição e registro de partidos políticos, registro

de candidatos, inscrição de eleitores, preparação e utilização das urnas eleitorais e todas as

atividades concernentes ao dia de votação. A adjudicação das regras é a atividade referente à

apuração, à resolução dos conflitos entre candidatos, e, por fim, à divulgação do resultado final

da eleição. Estes dois últimos níveis de atribuições podem, segundo o sistema escolhido, ser

desempenhados por um mesmo órgão ou por dois órgãos distintos.

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De acordo com a natureza institucional do órgão responsável pelos níveis de aplicação e

adjudicação das regras, pode-se classificar em: governamental, quando estiver vinculado ao

Poder Executivo, como é o caso da Alemanha, Estados Unidos, Itália e Suíça; independente,

quando não estiver vinculado ao Poder Executivo, como é na Austrália, Canadá e na maioria dos

países da América Latina; duplamente independentes quando são distintos os órgãos de

aplicação e adjudicação das regras e ambos são independentes do Poder Executivo, caso do Peru

e Moçambique; e misto, quando existem dois órgãos responsáveis cada um por um dos níveis de

governança eleitoral, e um deles é vinculado ao Poder Executivo e outro não, conforme adotado

na Espanha, França, Holanda, Japão e Argentina.

Outro critério de classificação importante é o de determinação da forma de vínculo dos

membros do órgão de governança eleitoral. Chama-se de órgão de carreira quando todos os seus

membros são recrutados necessariamente do Poder Executivo. Não sendo de carreira, o órgão

poderá ser partidário, especializado ou combinado (ou misto). Quando os membros tiverem

vínculo com partidos políticos e, por essa razão, forem indicados para comporem o órgão

eleitoral, diz-se que é partidário, tendo como exemplos os órgãos da Colômbia e Israel; sendo

condição para o vínculo com o órgão que os membros não exerçam nenhuma atividade político-

partidária, fala-se de órgão especializado, como o é no Canadá e Índia, podendo-se exigir, ainda,

que os membros tenham vínculo com outras instituições, como o Poder Judiciário; será

combinado (ou misto) se parte dos seus membros pertencerem a partidos políticos e parte não,

como é no Uruguai e Rússia.

Segundos os dois critérios de classificação apresentados, a Justiça Eleitoral no Brasil é

independente e especializada, pois um mesmo órgão exerce as atividades de aplicação e

adjudicação das regras, e este órgão não possui vínculo institucional com o Poder Executivo,

compondo o Poder Judiciário, Administração Pública Direta da União, e seus membros

(Ministros, Desembargadores e Juízes) não podem ter atividade político-partidária (artigo 95,

parágrafo único, III, da Constituição Federal), e também seus servidores, conforme se observa do

artigo 366 do Código Eleitoral em vigor (Lei nº. 4.737/65). Pereira (2009, p. 312) defende, com

acerto, que a proibição aos servidores da Justiça Eleitoral de exercerem atividade político-

partidária é inconstitucional, e arremata que “enxergando a vedação constante do Código

Eleitoral como hipótese de inelegibilidade reflexa é de se concluir por sua não recepção pelo

texto constitucional”. No entanto, as Cortes Eleitorais continuam a indeferir a atividade político-

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partidária de seus servidores, confirmando a constitucionalidade do referido artigo, e a sua

consequente recepção pela Carta Magna de 1988.

Essa classificação foi formulada por Marchetti (2008, p. 878), que revela, utilizando a sigla

OE como abreviação do termo organização eleitoral, que “os únicos países que concentram as

atividades da governança eleitoral em um único OE e que excluem o Legislativo da formação

desses OEs são o Brasil e a Costa Rica”.

2.2 Histórico do processo eleitoral brasileiro

2.2.1 Da formação das vilas e cidades à Independência

Nas vilas e cidades brasileiras, as Ordenações do Reino (Manuelinas, Afonsinas e

Filipinas) de Portugal eram utilizadas para regular o processo político-eleitoral, que inicialmente

se restringia ao preenchimento dos cargos nessas localidades. Havia os vereadores, os juízes, os

oficiais e um procurador do conselho (DI PIETRO, 2006). À reunião dos vereadores, dos juízes e

do procurador para tratar de assuntos de interesses da localidade dava-se o nome de câmara.

Nessa forma de organização administrativa, a presidência da vila ou cidade era exercida pelos

Juízes; o Poder Legislativo, pelos vereadores; e o Poder Executivo, pelo procurador. Essas

localidades – vilas e cidades – autodenominavam-se de repúblicas, em contraste com a

monarquia do reino português.

O mandato dos oficiais da câmara era de um ano. As eleições, porém, não eram realizadas

anualmente, mas a cada três anos. Assim, a cada triênio, eram eleitos três conselhos. O conselho

do terceiro ano convocava eleições, geralmente para o mês de dezembro, publicando edital para

chamamento dos oficiais mecânicos, que eram trabalhadores liberais, empregados ou autônomos,

e tinham reconhecido o direito de voto. Eram conhecidos como gente mecânica. Podiam votar,

mas não podiam ser votados. A elegibilidade estava restrita aos nobres das vilas e cidades,

chamados de homens bons ou republicanos (FERREIRA, 1996).

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A eleição se dava em dois graus. Primeiramente, eram eleitos seis representantes. Cada

eleitor de primeiro grau (gente mecânica e homens bons) comparecia à mesa eleitoral e falava

ao ouvido do escrivão eleitoral o nome de seis pessoas. Encerrada essa primeira fase, eram

contados os votos e proclamados os seis vencedores, que eram convocados a fazer o juramento

de que iriam escolher os melhores homens bons, os melhores da nobreza, os melhores

republicanos. Esses seis eleitores de segundo grau eram divididos em três grupos de dois,

ficando um grupo impedido de se comunicar com os outros.

Cada grupo, então, escolhia nomes para ocupar os cargos de vereador, juiz e procurador,

em quantidade igual ao dobro de vagas a preencher. Desse modo, se existiam duas vagas de juiz,

cada grupo indicava quatro nomes. Em seguida, esses nomes eram entregues ao juiz inativo mais

antigo da localidade para apurar a pauta. Desde os primórdios da organização do processo

político-eleitoral, a adjudicação das regras estava consagrada a um membro do judiciário.

O juiz inativo mais velho tinha a função de escrever em uma única folha de papel (pauta)

os nomes de todos os indicados pelos grupos, nas respectivas funções, sem identificar de qual

grupo houvera sido efetuada a indicação. Esse juiz tinha autoridade de escolher os eleitos para os

três anos seguintes, separados por função e por mandato, formando assim três grupos de

governantes (vereadores, juízes e procurador). A escolha do grupo para o primeiro, segundo e

terceiro anos de mandato era feita por sorteio. Em seguida, eram expedidas pelo ouvidor-geral as

cartas de confirmações, que tinham a mesma função dos diplomas atuais de eleito, após

confirmar a elegibilidade dos escolhidos – se eram mesmo homens bons. Tomavam posse no dia

1.o de janeiro do ano seguinte. Impõe-se frisar que todas as funções não eram remuneradas.

Vereadores, juízes e procurador exerciam seus mandatos sem qualquer retribuição da sociedade

(FERREIRA, 1996).

Nas capitais das províncias, a câmara era chamada de senado e nelas os governadores das

capitanias, designados pelo rei de Portugal, tomavam posse. Esse sistema político-eleitoral

permanece, praticamente, intocado de 1532 a 1822, duzentos e noventa anos de prática política

estável.

Havia uma permissividade da Coroa Portuguesa, em troca da lealdade dos senhores rurais,

na defesa dos interesses da Metrópole. O sistema eleitoral utilizado garantia essa troca de

favores, pois facilitava os ajustes de última hora, para salvaguardar os interesses do patriarcado

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nacional, ao tempo em que este ratificava a política vinda de Portugal. Valente Neto (2004, p.

84) percebeu com acuidade esta situação:

Imperioso, salientarmos, neste diapasão, é a preocupação da Metrópole com os ocupantes dos cargos públicos, bem como com a lista dos votantes e eleitores, tudo no sentido de que fossem obedecidas as conveniências da Coroa. Para a consecução dessa arena de manobras, válido era, no âmbito das mesas eleitorais, deixar ao seu arbítrio muitos dos requisitos exigidos para o processo de qualificação e apuração, conceder prerrogativas e benesses aos senhores rurais, principalmente, impedir que os eleitos recusassem o mandato e até mesmo proibir a reeleição, para que não fosse possível o fortalecimento demasiado das Câmaras Municipais, tornando seus poderes praticamente ilimitados.

Essa dupla face da atividade política do período - defesa dos interesses dos latifundiários e

salvaguarda da política de Portugal -, acarretava que os eleitos não possuíam nenhum

compromisso com as causas populares. Defendiam seus próprios interesses e respeitavam a

política de Portugal, que lhes dava sustentação. Essa comunhão entre o público e o privado

perdurará por séculos, enraizando-se na política e no serviço público, com reflexos até os dias

atuais. França (2008, p. 6) bem observa:

O fato que é as câmaras atuavam, por um lado, sob o beneplácito da metrópole; por outro, refletiam o poder dos latifundiários e seu interesse no governo local. Em verdade, não atendiam aos anseios populares. Provavelmente em nenhum outro ponto de nossa história, os interesses público e privado estiveram tão interligados. E os eleitores não estavam suspensos neste mundo de trocas. Formavam um núcleo extenso em torno do senhor rural e seu domínio.

No início do século XVIII, começa a surgir uma nova classe social, além da gente

mecânica e dos homens bons, chamada inicialmente de estado do meio, mas que iria se tornar a

burguesia brasileira. Não havia o reconhecimento da elegibilidade para essa classe.

Com a independência em 1822, os juízes das vilas e cidades, antes eleitos, são extintos e as

suas funções são absorvidas pelo Estado nacional. A mudança mais significativa foi a

transferência da elegibilidade do status social para o voto e a elegibilidade censitários,

exigindo-se certa quantia de renda anual para exercício desses direitos, nitidamente para

favorecer o estado do meio, agora chamado de burguesia, e que havia saído fortalecido

politicamente na Revolta Liberal, ocorrida no início do século XIX. Com isso, muitos integrantes

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da nobreza, que antes eram os únicos a poder ser eleitos, foram excluídos do voto e da

elegibilidade, por não possuírem renda suficiente para participar do processo eleitoral. A

burguesia, que durante décadas se via alijada do processo político-eleitoral, buscou centralizar

em si mesma o direito ao voto e à elegibilidade, estabelecendo requisitos econômicos.

2.2.2 O processo eleitoral no Império

Em 19 de junho de 1822, pouco antes da independência, D. Pedro aprova a primeira lei

eleitoral brasileira, estabelecendo eleições para uma assembléia geral e constituinte, que se

reuniria em 3 de maio de 1823, após a independência. Ainda não existiam partidos políticos no

Brasil. A eleição se deu em dois graus: em um primeiro momento, o eleitorado, sem registro

prévio, elegeu representantes, que foram os eleitores em segundo grau; em um segundo

momento, esses eleitores de segundo grau, devidamente diplomados, elegeram os deputados das

províncias que iriam compor a Assembléia Geral e Constituinte para elaboração da Constituição.

Os párocos das igrejas ficaram responsáveis por publicar os editais com o número de

moradias (fogos) das freguesias. Cada freguesia elegia os seus eleitores de segundo grau, em

número de um para cada cem moradias. A cada fração de cinquenta ou mais moradias,

aumentava-se mais um eleitor de segundo grau. Para freguesias com menos de cem moradias, era

assegurada a eleição de um eleitor de segundo grau, chamados de eleitores de paróquia. O

eleitorado de primeiro grau era composto de altos assalariados e proprietários de bens e terras

que possuíssem renda suficiente, casados de qualquer idade, ou solteiros com pelo menos 20

anos de idade. Aos analfabetos era concedido o direito de voto em primeiro grau (FERREIRA,

1996).

A mesa eleitoral era composta pelo Presidente da Câmara e pelo pároco, e as eleições

aconteciam após a missa. A identidade dos eleitores de primeiro grau era feita pelo pároco. Cada

eleitor entregava uma lista com os escolhidos, que era assinada. Caso não soubesse escrever,

podia ditar os seus escolhidos para a mesa eleitoral e marcar um X na cédula. Os mais votados

eram diplomados como eleitores de segundo grau, cuja lista era encaminhada às autoridades

centrais do Império. Após quinze dias, esses eleitores de segundo grau dirigiam-se aos centros

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distritais, especificados na lei, e lá elegiam, precedida de missa solene, os Deputados de cada

província, cujo número havia sido determinado na própria lei. Os mais votados eram

considerados eleitos deputados.

Em 25 de março de 1824, é outorgada a primeira Constituição do Brasil. Em nível

nacional, são criados a Câmara dos Deputados e o Senado. Em nível local, a Constituição

mantém as Câmaras de Vereadores, cuja presidência ficava com o vereador mais votado, que

exercia as funções dos atuais prefeitos. É mantida a eleição em dois graus para Deputados e

Senadores. A maioridade para ser eleitor é aumentada para vinte e cinco anos, e é estabelecido o

valor de cem mil réis de renda anual para direito ao voto, numa clara demonstração de agrado à

burguesia nacional. A fé católica é condição para o exercício do voto e da elegibilidade

(BRASIL, 1824).

Dolhnikoff (2009, p. 42) vê na limitação do eleitorado um fenômeno presente em vários

países no século XIX, com nítida influência européia e americana, e fenômeno que seria

invertido no século XX:

A conseqüente limitação dos setores da população que participariam do jogo político através do voto era tida como virtuosa, da mesma forma que no século XX, inversamente, se considerará virtuosa a expansão deste eleitorado. Por esta razão, no século XIX muitos defendiam a adoção de critérios de limitação da cidadania política, tanto para votar como para ser eleito, fossem exigências censitárias fossem de alfabetização.

A lei eleitoral de 26 de março de 1824, um dia após a outorga da Constituição, apresenta

uma novidade: a determinação de que as eleições de primeiro grau (escolha dos eleitores de

segundo grau) deveriam ser realizadas nas próprias dependências das igrejas. O juiz da

localidade, auxiliado pelo pároco, propunha aos eleitores dois cidadãos para servirem como

secretários da mesa eleitoral e dois para escrutinadores. A lista de eleitores de primeiro grau

continuava sob a responsabilidade do pároco. Os analfabetos não mais podiam ditar seus

escolhidos para a mesa eleitoral. Deveriam chegar com seu voto escrito, o que poderia e era feito

por outra pessoa. Os eleitores de primeiro grau podiam votar em quem bem entendessem, desde

que o escolhido fosse elegível. O voto tornou-se obrigatório e era permitido o uso de procuração.

A apuração e a diplomação se davam pela mesma forma do sistema anterior (FERREIRA, 1996).

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Os eleitores de segundo grau reuniam-se nas capitais dos distritos e elegiam uma lista

tríplice de Senadores para cada vaga. Os três mais votados para cada vaga eram submetidos ao

Imperador que escolhia, a cada três, um para compor o Senado, cujo mandato era vitalício. Para

ser eleito senador era necessário ter renda líquida anual de, no mínimo, oitocentos mil réis, e ter

pelo menos, quarenta anos de idade. A eleição para Deputados era feita no dia seguinte, entre os

cidadãos que tivessem o mínimo de quatrocentos mil réis de renda anual líquida. Após as

eleições de senadores e deputados, no dia seguinte, eram realizadas eleições para o conselho

provincial da mesma forma e condições, quando então o colégio eleitoral era dissolvido. A

apuração dos votos era realizada pela Câmara da capital da província.

A partir de 1828, através da Lei de 1º de outubro (BRASIL, 1828), exige-se que as eleições

de primeiro grau deveriam ser realizadas, em todas as freguesias de uma província, em um

mesmo dia. Instituiu-se uma multa para todo cidadão que deixasse de votar nas eleições,

penalidade que perdura até os dias atuais. Com o novo diploma legal, passam a coexistir duas

leis eleitorais, uma destinada às eleições de Senadores, Deputados e Conselho Provincial, de

1824, e outra destinada às eleições das Câmaras Municipais, de 1828, substituindo, assim, as

ordenações do Reino, utilizadas, como se viu, desde o século XVI. Fato relevante é a criação da

lista prévia de eleitores de primeiro grau, elaborada pelo Juiz de Paz da paróquia, quinze dias

antes das eleições. É o início do controle do cadastro eleitoral pelo Judiciário. Outra inovação é a

eleição em apenas um grau para as Câmaras Municipais e o mandato de 4 anos para os eleitos,

acabando, destarte, com os eleitores de segundo grau para eleições locais. Permanecia a

inexistência do cargo de prefeito. Suas funções continuavam a ser desempenhadas pelo

Presidente da Câmara.

Em 1834, há uma alteração da Constituição, através da Lei n. 16, de 12 de agosto,

passando a eleição do Regente à competência dos eleitores de segundo grau, na mesma ocasião

das eleições de Senadores e Deputados. Os conselhos provinciais são substituídos pelas

Assembléias Legislativas Provinciais (BRASIL, 1834). A década de 30, do século XIX, vê surgir

os primeiros partidos políticos no Brasil: Restaurador, Republicano, Liberal e Conservador. A

inexistência de alistamento prévio e permanente de eleitores para a escolha dos eleitores de

segundo grau, aptos a escolher Senadores, Deputados e Regente, e a fragibilidade da composição

das mesas receptoras de votos facilitavam as fraudes eleitorais, impondo, pois, uma nova lei

eleitoral em 1842 (FERREIRA, 1996).

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Bercovici (2004, p. 98) abordou esses fatos com precisão:

A mesa eleitoral fazia a eleição primária com o recebimento do sufrágio dos votantes. Não havia qualquer qualificação pré-eleitoral dos votantes, simplesmente a mesa aceitava ou não os votos dos que iam a ela com o pretexto das exclusões previstas na Constituição. Além disso, a mesa eleitoral iniciava e encerrava a votação quando quisesse. O número dos eleitores da paróquia também era fixado pelo arbítrio da mesa. Houve casos em que o número de eleitores de uma paróquia ultrapassou o número de todos os outros da Província.

O Decreto n. 157, de 4 de maio de 1842, apresenta alguns avanços importantes. É criado o

alistamento eleitoral feito perante uma junta de alistamento presidida pelo Juiz de Paz da

paróquia. Eram feitas duas listas: uma de eleitores de primeiro grau, utilizada diretamente nas

eleições locais, e outra de eleitores de segundo grau que poderiam ser votados para as eleições de

segundo grau, que ainda existiam para as eleições nacionais de Senadores, Deputados e Regente.

Não existia, ainda, o título eleitoral. As listas ficavam em poder das autoridades, não tendo o

cidadão nenhum comprovante de sua condição de eleitor. Mas esta lei avançou nas regras para

composição da mesa eleitoral e aboliu o voto por procuração (BRASIL, 1842).

Em 1846, ocorre a aprovação de uma nova lei eleitoral, que reúne em um só diploma legal,

as disposições referentes às eleições locais e nacionais. Permanece, contudo, a eleição em dois

graus para Senadores, Deputados e Assembléias Legislativas provinciais. A novidade é a criação

de uma data fixa para as eleições de primeiro grau, o primeiro domingo do mês de novembro, e a

retirada do pároco da composição da mesa eleitoral. O voto não era secreto, mas é extinta a

assinatura na cédula, colocada na urna sem qualquer identificação do eleitor (BRASIL, 1846).

Em 1855, a lei eleitoral de 1846 é novamente alterada, no que se refere às eleições para

Deputados gerais e provinciais, estabelecendo a eleição por distrito, de forma que cada distrito

tinha direito a eleger o quantitativo fixo de Deputados para as Assembléias Gerais e Assembléias

Provinciais, mantendo-se a eleição em dois graus, exigindo-se a maioria absoluta para ser

considerado eleito (Decreto n. 842, de 19 de setembro de 1855, chamada de Lei dos Círculos).

Caso não se obtivesse a maioria absoluta, a eleição era repetida no dia seguinte entre os mais

votados até obter a maioria (BRASIL, 1855). Em 1860, mais uma vez, a lei é modificada para

criar distritos com direito a eleger três Deputados para as eleições nacionais, acabando com a

exigência de maioria absoluta (BRASIL, 1860).

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Nova lei eleitoral é aprovada em 1875, Decreto n. 2.675, chamado de Lei do Terço,

alterando dispositivos da lei de 1846, e apresenta, entre as principais modificações: a lista de

eleitores de primeiro grau passa à competência de uma junta de eleitores designados

especialmente para esse fim; é instituído o título eleitoral, passando a ser o documento

apresentado pelos eleitores para serem admitidos à votação; o voto passa a ser secreto e não há

nenhuma exigência para que os eleitores assinem qualquer lista ou a própria cédula; o eleitor

indica dois terços da quantidade de eleitores de segundo grau a serem eleitos; as dúvidas e

reclamações passam a ser dirimidas pela Justiça Comum, que acumula essa competência com

sua competência ordinária – não é ainda a criação da Justiça Eleitoral, mas apenas a admissão da

discussão perante o Judiciário comum (BRASIL, 1875).

Em 1881, é aprovada outra lei eleitoral (Decreto n. 3.029, chamada de Lei Saraiva, mas

redigida por Rui Barbosa), estabelecendo novas condições para o processo eleitoral. É abolido o

sistema de eleições em duplo grau para Senadores, Deputados e Assembléias Legislativas

provinciais, passando os eleitores qualificados a votarem diretamente nos seus candidatos. O

alistamento de ofício é abolido, exigindo-se agora o requerimento do eleitor. Alguns enxergam,

equivocadamente, nessa exigência a proibição do voto do analfabeto. Não havia, contudo, uma

proibição legal nesse sentido, o que somente ocorreu com a República, podendo o requerimento

ser feito por outrem. O alistamento e a manutenção da lista de eleitores são deslocados para a

competência dos juízes de direito. São excluídas as práticas religiosas do processo eleitoral. É

mantido o voto distrital para Deputados nacionais, concorrendo, em segundo turno, os dois mais

votados (BRASIL, 1881).

Salgado (2008, p 18) entende que o voto direto favoreceu o surgimento da força política

dos coronéis:

A eleição direta acaba por encarecer o voto como mercadoria de comércio. Não desenvolve o espírito cívico nos cidadãos brasileiros, como esperado. As influências locais assumem maior importância; agora não é necessário conquistar o voto de algumas dezenas de eleitores: a escolha é direta. Surge o cabo eleitoral e o coronel, os potenciais candidatos fazem peregrinações pelas vilas e prometem empregos públicos.

No ano de 1887, encontra-se a última lei do Império, que alterou alguns itens da lei

anterior, fazendo retorno do voto de dois terços para os Deputados nacionais e provinciais. O

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eleitor de um distrito com direito a 12 vagas de Deputados, deveria indicar na cédula o total de 8

deputados. Com essa lei, encerra-se o período monárquico (BRASIL, 1887).

2.2.3 O processo eleitoral na República Velha

A primeira medida da República em matéria eleitoral foi a instituição do voto universal,

abolindo os privilégios de ordem econômica. Por outro lado, os analfabetos foram impedidos de

se alistar, forma encontrada pelos republicanos para não admitir o voto dos escravos recém

libertos, analfabetos quase todos. Apenas os analfabetos que já eram eleitores puderam continuar

com este direito. Em 1890, a maioridade eleitoral foi estabelecida em 21 anos de idade. (LIMA,

2002). O cadastro de eleitores ficou sob a responsabilidade dos juízes de paz, revisado por um

juiz de direito, com o auxílio de eleitores e de representantes da paróquia. As eleições diretas são

mantidas e os juízes de paz passam a acumular a função de fiscais das mesas receptoras de votos,

composta por cinco pessoas. Em 15 de setembro de 1890, realiza-se a primeira eleição indireta

para Presidente e Vice-Presidente, feita pelo Congresso. A Constituição de 1891 mantém a

eleição direta para Deputados e Senadores. Para Presidente e Vice-Presidente, institui-se eleição

direta em primeiro turno e eleição indireta em segundo turno, entre os dois mais bem votados, se

não obtida maioria absoluta no escrutínio direto. O segundo turno tinha lugar no Congresso.

Em 1892, o Congresso aprova a primeira lei eleitoral da República. O voto passa a ser

secreto, ficando a responsabilidade de organização das mesas receptoras de votos e

escrutinadores a cargo do presidente das Câmaras Municipais. Os candidatos voltam a ter o

direito de ter fiscais durante o processo de votação. Os eleitores voltam a assinar a ata de

presença, ao votar. O controle do Judiciário sobre o processo eleitoral é retirado. Além disso, a

lei apenas regulava o processo eleitoral para os cargos federais, facultando aos Estados da

Federação estabelecerem suas próprias regras para as eleições estaduais e municipais

(FERREIRA, 1996).

Nos anos que se seguiram, várias foram as leis eleitorais aprovadas pela República,

estabelecendo datas de eleição, condições de incompatibilidades e de fiscalização perante as

mesas receptoras de voto. Nesse período, uma mudança chama atenção: a instituição do voto

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descoberto, no qual o eleitor apresentava à mesa duas cédulas abertas, depositando uma na urna e

a outra devendo ser datada e rubricada pelos componentes da mesa. Era uma espécie de recibo

comprovante do voto. Essa lei é utilizada para coagir os eleitores a votarem nos candidatos

escolhidos pelos coronéis.

Em 1904, surge outra lei eleitoral (Lei nº. 1.269, conhecida como Lei Rosa e Silva),

revogando toda a legislação eleitoral anterior. O alistamento eleitoral passa a ser

responsabilidade de uma comissão composta pelos maiores contribuintes de impostos do

Município. Continua existindo o voto descoberto. As mesas receptoras de votos são compostas

por cinco membros, dentre os eleitores da própria localidade. Estes mesmos eleitores ficam

também responsáveis pela apuração dos votos. Persistiam, todavia, as facilidades para as fraudes.

Em 1916, é estabelecido o alistamento eleitoral perante o Juiz de direito da localidade, por

requerimento assinado e com assinatura do eleitor reconhecida por tabelião (BRASIL, 1904).

Essa tradição eleitoral, de antes da independência, durante o Império e início da República,

era, na verdade, mais formal do que uma realidade nacional. O percentual da população que

participava das atividades eleitorais era mínimo. Comparato (2000, p. 314), admitindo que, até

1945, não havia uma participação popular significativa no processo político-eleitoral, apresenta

percentuais reveladores do grau de exclusão da população:

Por ocasião do último pleito realizado durante o regime imperial, em 1886 – as primeiras eleições diretas que conheceu o país –, os que compareceram às urnas representavam menos de 1% da população nacional. Durante toda a República Velha, a média dos votantes, em todos os pleitos, foi de 2,6% da população.

Caggiano (2004, p. 82) complementa:

O panorama de barreiras ao sufrágio e de minimização do corpo eleitoral implica grave limitação da cidadania, porquanto, a par de retirar a possibilidade de participação política de grande parcela da população, mascara os resultados eleitorais, inutilizando até mesmo o voto expresso por aqueles admitidos às urnas.

Por isso, a tradição eleitoral brasileira deve ser observada com cautela. Eleições não

significam democracia, uma vez que ocorrem até mesmo em regimes totalitários ou autoritários.

Além disso, não simbolizam o grau da cidadania. A dimensão do corpo eleitoral é um relevante

fator de legitimidade dos eleitos, e que sempre deve ser levada em consideração. Não cabe,

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assim, a enganosa observação de Ferreira (2005, p. 6) de que “o povo brasileiro, desde os

primeiros tempos do Descobrimento, sempre teve a mais ampla liberdade de escolher os seus

governos locais”.

As eleições sempre foram utilizadas para garantir legitimidade à classe dominante: durante

o período anterior à independência, a nobreza patriarcal em regime de favores e trocas com a

Metrópole utilizou-se do sistema político para garantir o poder local; durante o Império, a

burguesia econômica garante a supremacia do poder político, estabelecendo o voto e a

elegibilidade censitários; na República Velha, os coronéis (grandes proprietários rurais), com

apoio do governo federal, em troca de votos na eleição presidencial, detinham o poder político

nos Estados.

Carvalho (1997, p. 2) identifica no coronelismo uma forte ligação com a República Velha,

não mais repetida na história do Brasil:

O governo estadual garante, para baixo, o poder do coronel sobre seus dependentes e seus rivais, sobretudo cedendo-lhe o controle dos cargos públicos, desde o delegado de polícia até a professora primária. O coronel hipoteca seu apoio ao governo, sobretudo na forma de votos. Para cima, os governadores dão seu apoio ao presidente da República em troca do reconhecimento deste de seu domínio no estado. O coronelismo é fase de processo mais longo de relacionamento entre os fazendeiros e o governo. O coronelismo não existiu antes dessa fase e não existe depois dela. Ele morreu simbolicamente quando se deu a prisão dos grandes coronéis baianos, em 1930. Foi definitivamente enterrado em 1937, em seguida à implantação do Estado Novo e à derrubada de Flores da Cunha, o último dos grandes caudilhos gaúchos.

É desse processo político-eleitoral secular, caracterizado por acordos políticos tolerantes à

fraude e à violência, envolvendo os Poderes Executivo e Legislativo, que surgirá a consagração

do controle do processo eleitoral ao Poder Judiciário.

2.2.4 O surgimento da Justiça Eleitoral

O Decreto-Lei n. 21.076, de 24 de fevereiro de 1932, primeiro Código Eleitoral brasileiro,

criou a Justiça Eleitoral, responsável por todos os trabalhos eleitorais - alistamento, organização

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das mesas de votação, apuração dos votos, reconhecimento e proclamação dos eleitos. Além

disso, regulou em todo o País as eleições federais, estaduais e municipais, estabelecendo um

unificado processo para regular a disputa eleitoral (BRASIL, 1932). O excessivo poder político

exercido pelos coronéis e o “voto cabresto” foram fatores determinantes nessa mudança.

Procurava-se eliminar, ou ao menos diminuir, a influência fraudulenta nos pleitos eleitorais, que

eram visíveis em todas as fases. A judicialização do processo eleitoral, portanto, vem como uma

tentativa para garantir a lisura na escolha dos eleitos. Não havia, antes da criação da Justiça

Eleitoral, qualquer segurança social nos resultados das urnas: a coação, a compra de votos, a

fraude na identificação dos eleitores e a troca de cédulas nas urnas após o encerramento da

votação eram denunciadas em todos os Estados do País. Ramayana (2008, p. 19) atesta um

irreversível caminho de controle do processo político-eleitoral pelo Poder Judiciário:

Verifica-se, de forma evidente, a formação irreversível de uma mentalidade jurídico-política voltada, no Brasil, para o controle pelo Judiciário de todo o processo eleitoral, de uma especialidade inadiável no estudo do Direito Eleitoral.

Porém, a confiabilidade do voto colocado na urna e a certeza dos procedimentos de

apuração não esgotam as questões relativas à lisura do pleito eleitoral. É necessário buscar

formas de garantir a liberdade do voto e controlar os métodos utilizados para a formação da

vontade do eleitor. E isso passa por uma melhor fiscalização da propaganda política durante o

período que antecede as eleições, combatendo o abuso dos poderes econômico e político.

Oliveira (2009, p. 20) alerta:

O sistema jurisdicional, assim, foi instituído e se aperfeiçoou no Brasil sob a premência de garantir a correção dos resultados. Tem-se olvidado, contudo, a necessidade de que atue de forma decisiva para assegurar a lisura do processo de formação da vontade do eleitor, o que passa, é certo, pela edição de arcabouço legislativo que assegure o instrumental exigido para tanto, mas também por uma atuação mais efetiva dos agentes estatais incumbidos do controle das eleições.

O Código Eleitoral de 1932 trouxe mudanças importantes ao processo eleitoral: o direito

ao voto foi estendido às mulheres (artigo 2º.); foi instituída a representação proporcional, em

dois turnos (artigo 58); o alistamento poderia ser feito por iniciativa do cidadão ou por ofício,

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através dos dirigentes de repartições públicas, que ficavam obrigados a comunicar ao Juízo

Eleitoral a relação com os nomes dos servidores para fins de alistamento. Procurava-se garantir o

voto secreto (artigo 57) através de duas medidas: a adoção de envelope opaco (sobrecarta) onde

o eleitor colocava a cédula antes de inseri-la na urna; e a determinação de um lugar indevassável

para acomodação da urna eleitoral. Ademais, foi admitida a candidatura avulsa, sem a

necessidade de o candidato estar filiado a partido político.

A Carta Magna de 1934 alçou a Justiça Eleitoral ao plano constitucional e reduziu a

maioridade eleitoral para dezoito anos. O Tribunal Superior da Justiça Eleitoral foi instituído

com a composição de sete ministros, sendo três escolhidos dentre os ministros do Supremo

Tribunal Federal, dois dentre os desembargadores do Distrito Federal, e mais dois cidadãos de

notório saber e ilibada reputação, selecionados pelo Presidente da República, indicados pelo

Supremo em lista sêxtupla. Os Tribunais Regionais Eleitorais foram constituídos em cada Estado

da Federação e no Distrito Federal, com composição análoga à do Tribunal Superior. Foram

criados os Juízes Eleitorais, funções desempenhadas pelos Juízes da Justiça Comum (BRASIL,

1934).

Toda a matéria referente ao processo eleitoral, de natureza administrativa e judiciária,

passou à competência da Justiça Eleitoral, desde o alistamento dos eleitores até a diplomação dos

eleitos. A Lei n. 48, de maio de 1935, instituiu um novo Código Eleitoral, que manteve intacta a

estrutura institucional da Justiça Eleitoral (BRASIL, 1935). No entanto, esse período é

interrompido em 1937, em decorrência do Estado Novo. As eleições para o Senado, Câmara dos

Deputados e Presidente da República passam a ser indiretas.

A Constituição de 1937 provocou um retrocesso no processo político, extinguindo a recém

criada Justiça Eleitoral (BRASIL, 1937). Somente com o desgaste do Estado Novo e o início da

redemocratização do País, em 1945, através do Decreto n. 7.586 (BRASIL, 1945), Getúlio

Vargas restaura a Justiça Eleitoral, que volta a ser constitucionalizada em 1946, pela nova Carta

Política, após a sua destituição do poder.

A Constituição Federal de 1946 trouxe algumas inovações. Ao instituir o sistema de voto

proporcional para a Câmara dos Deputados, com os partidos políticos indicando sua lista de

candidatos, implicou a extinção da candidatura avulsa. O quociente eleitoral passou a ser

utilizado para determinação dos eleitos à Câmara dos Deputados. O voto e o alistamento

obrigatório foram consagrados, e manteve-se o alistamento de ofício (BRASIL, 1946), que só

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veio ser derrogado em 1950, com o novo Código Eleitoral (BRASIL, 1950). Em 1955, é criada a

folha individual de votação, com os dados do eleitor, para conferência na hora do voto, e também

é instituída a cédula oficial, impressa e distribuída pela Justiça Eleitoral, o que facilitou o

processo de apuração e ainda permitiu que candidatos com menor poder econômico pudessem se

candidatar (antes da cédula oficial, o próprio candidato era responsável por imprimir e distribuir

as cédulas a seus eleitores).

Com o regime militar que perdurou de 1964 a 1985, a Justiça Eleitoral permanece com a

mesma estrutura e a mesma competência do período anterior. O processo político-eleitoral,

porém, sofreu várias restrições. Em 1965, os partidos políticos foram extintos, criando-se em seu

lugar dois grupos: a ARENA – Partido da Aliança Renovadora Nacional, composta pelos

integrantes e apoiadores do regime militar e o MDB – Partido do Movimento Democrático

Brasileiro, composto pelos políticos que não haviam sido cassados e que se opunham ao regime,

que perdurou até 1979, quando foram extintos, e os partidos políticos puderam se reestruturar.

As eleições para Presidente e Vice-Presidente, Governadores e Prefeitos de cidades consideradas

de interesse da segurança nacional tornaram-se indiretas, além de outras tantas medidas

autoritárias.

Em 1965, surge um novo Código Eleitoral, Lei nº. 4.737, vigente até os dias atuais, de

nítida inspiração autoritária e antidemocrática. As principais mudanças foram: aprofundamento

da obrigatoriedade do alistamento e do voto, exigindo-se a prova do cumprimento dessas

obrigações como condição para retirada de passaporte, carteira de identidade, inscrição em

concurso público e assunção em cargo público; proibições de coligações partidárias para eleições

proporcionais; obrigatoriedade do eleitor votar em candidatos de um mesmo partido para os

cargos de Deputado Federal e Deputado Estadual; criação de multa pelo não alistamento, pelo

não comparecimento à mesa receptora de votos no dia das eleições, e pelo não atendimento para

trabalhar como mesário, impostas de ofício aos eleitores. Além destas medidas, a utilização de

bens particulares durante o período eleitoral, sem qualquer indenização ao proprietário é uma

prática que sobrevive na Justiça Eleitoral, ainda com fundamento neste Código (BRASIL, 1965).

A obrigatoriedade do alistamento e do voto provocou um forte aumento do quantitativo de

eleitores, também estimulado pela Emenda Constitucional n. 25, de 1985, que devolveu o direito

de voto aos analfabetos (BRASIL, 1985), quase um século após a Constituição de 1891 haver

lhes retirado tal direito, somados à inclusão dos menores entre dezesseis e dezoito anos de idade,

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feita pela Constituição de 1988, acarretou que o eleitorado se tornasse maioria da população. Os

quadros abaixo mostram o eleitorado por região, em outubro/1988 e em abril/2010:

Quantitativo de eleitores Pesquisa por Região - Outubro / 1988 Região EleitoradoCENTRO-OESTE 4.661.568NORDESTE 20.268.690NORTE 4.095.992SUDESTE 34.350.553SUL 12.436.716TOTAL 75.813.519

Quantitativo de eleitores Pesquisa por Região – Abril / 2010

Região EleitoradoCENTRO-OESTE 9.547.231EXTERIOR 169.825NORDESTE 36.091.327NORTE 9.796.530SUDESTE 58.384.124SUL 20.091.480TOTAL 134.080.517

Fonte: TSE

Observa-se um crescimento do eleitorado da ordem de 76,85%, no período. Enquanto isso,

a projeção da população brasileira, de acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –

IBGE, apresenta os seguintes quantitativos, para o mesmo período:

ANO PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO*

1988 141.312.997

2010 193.252.604 *Fonte: Instituto Brasileiro de Geografica e Estatística/IBGE.

Crescimento populacional de 36,75%, bem abaixo do crescimento verificado para o

eleitorado. Em outubro de 1988, o eleitorado representava um percentual de 53,65% do

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contingente populacional, já inclusos os analfabetos, enquanto que em abril de 2010, esse

percentual atinge 69,38% da população.

A Constituição de 1988 reafirmou a continuidade da Justiça Eleitoral, como órgão do

Poder Judiciário, estabeleceu eleições diretas para todos os níveis, em dois turnos por maioria

absoluta para os cargos majoritários federais, estaduais e para os Municípios a partir de duzentos

mil eleitores, manteve o sistema proporcional para Vereadores, Deputados Estaduais e

Deputados Federais. Em 1997, foi aprovada a Emenda Constitucional n. 16, de 4 de junho,

criando a reeleição para os cargos majoritários de Prefeito, Governador e Presidente da

República (BRASIL, 1997).

2.2.5 O voto eletrônico

O artigo 57 do Código Eleitoral de 1932 fez a primeira referência oficial à “máquina de

votar” (BRASIL, 1932). Mas não havia nenhuma tecnologia que pudesse ser aplicada às

eleições. Esperava-se que, no futuro, houvesse condições de implementar uma tecnologia que

pudesse diminuir as fraudes no processo eleitoral. A norma era, então, inócua. Existia uma

preocupação em sinalizar para uma ruptura da prática política até então existente, bem como ao

odioso voto descoberto, que facilitava a coação e a violência dos chamados “coronéis”, na

obtenção dos votos.

As primeiras tentativas de se conceber uma “máquina de votar” se deu no ano de 1937,

quando o Tribunal Superior Eleitoral analisou três modelos: um primeiro, de origem americana,

e os outros dois feitos por engenheiros civis brasileiros. Eram máquinas mecânicas que, para a

época, poderiam ser apenas utilizadas nos grandes centros urbanos, uma vez que o tamanho e o

peso dificultavam o seu transporte. Essas iniciativas pioneiras foram interrompidas pela

decretação do Estado Novo, quando a Justiça Eleitoral foi abruptamente extinta.

Durante décadas, muitas foram as tentativas em se construir uma máquina que pudesse

facilitar o processo de escolha política com maior segurança que o procedimento de cédulas

eleitorais, facilmente manipulável por qualquer cidadão. Mas as tentativas sempre esbarraram em

dificuldades burocráticas, além de enfrentar um endurecimento do processo político-eleitoral,

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com o Regime Militar de 1964, e que durou até 1985. Em alguns Tribunais Regionais Eleitorais,

como o de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, havia algumas demonstrações de máquinas

semelhantes aos cartões de loteria esportiva da década de 70 do século passado, que não foram

em frente, por falta de apoio governamental às iniciativas (RIO GRANDE DO SUL, 2006).

Em 1986, o recadastramento de todo o eleitorado brasileiro, feito com a utilização de

computadores, é o início da informatização para a Justiça Eleitoral. Essa base de dados, com

batimento nacional, permitia uma razoável segurança do cadastro de eleitores de todas as Zonas

Eleitorais do País, ao tempo em que impedia que uma mesma pessoa possuísse mais de um título

eleitoral, em uma mesma Zona Eleitoral, ou entre quaisquer Zonas Eleitorais do País (MACIEL,

2007).

As primeiras votações e totalizações informatizadas aconteceram no Estado de Santa

Catarina, entre os anos de 1989 a 1991, primeiramente na cidade de Brusque, onde em uma

seção eleitoral foi instalado um computador AT-386, e as autoridades locais e os representantes

de partidos políticos puderam votar usando o computador, que após o término da votação,

conseguiu totalizar os votos da seção com rapidez. Em 1994 e 1995, o Tribunal Regional

Eleitoral de Santa Catarina realizou eleições informatizadas em dezenas de seções eleitorais,

envolvendo o processo de votação e totalização dos votos (RIO GRANDE DO SUL, 2006)

Com as experiências exitosas de alguns Tribunais Regionais, utilizando-se de

computadores comuns, o Tribunal Superior Eleitoral resolve, então, realizar estudos para

desenvolvimento e construção da urna eletrônica, auxiliado pelo Instituto de Pesquisas Espaciais

– INPE, Ministério da Ciência e Tecnologia, Instituto Tecnológico da Aeronáutica – ITA, Centro

de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebrás, e ainda, os setores de tecnologia dos Ministérios

Militares. Em agosto de 1996, é feito um grande teste na cidade gaúcha de Caxias com 5.310

eleitores, com sucesso.

Nas eleições de 1996, nos Municípios com mais de duzentos mil eleitores, e no município

de Brusque, com cinqüenta mil eleitores, numa clara homenagem ao pioneirismo, a urna

eletrônica foi utilizada, sem grandes problemas. Em 1998, as cidades com mais de quarenta mil e

quinhentos eleitores utilizaram a urna eletrônica, e em 2000, todo o eleitorado brasileiro.

Há, porém, alguns trabalhos científicos que colocam em dúvida a invulnerabilidade do

sistema utilizado nas urnas eletrônicas. Oliveira (2001, p. 26) destaca:

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Foram importantes os avanços provocados pela modernização das eleições brasileiras. Foram significativas as eliminações de algumas fraudes provocadas pelos sistemas de votação e apuração manual. Entretanto, é necessário resgatar que as vulnerabilidades provocadas pela adoção de sistemas informatizados construídos sem fiscalização e auditoria não podem ser admitidas em prol de uma simples agilidade na divulgação de resultados.

Mesmo sem unanimidade, o voto eletrônico se consolida como um instrumento de

legitimidade no cenário político-eleitoral. Atualmente, o Tribunal Superior Eleitoral inicia a

aplicação do voto biométrico, cuja identificação do eleitor se dá pela digital, com vistas a criar

condições para, no futuro, admitir o voto pela internet, o que trará uma grande economia para os

cofres públicos, eliminando parte dos equipamentos utilizados em Zonas Eleitorais e o enorme

contingente de recursos humanos utilizado no dia do pleito.

2.3 O modelo da Justiça Eleitoral no Brasil

O modelo da Justiça Eleitoral no Brasil tem se mantido o mesmo desde a Constituição de

1946, tendo como principais características: concentração de todas as atividades do processo

eleitoral em um único órgão, o que abrange, inclusive, o controle de criação e de funcionamento

dos partidos políticos; garantias de não interferência política no funcionamento do órgão;

composição dos seus membros através de indicação dos demais órgãos do Poder Judiciário da

União e dos Estados, a chamada regra de interseção, segundo a qual, com exceção dos órgãos da

Justiça do Trabalho e Justiça Militar, os demais Tribunais participam da composição dos

Tribunais Eleitorais, indicando membros (ministros, desembargadores e juízes) para tomarem

assento nas Cortes e nos Juízos Eleitorais.

A Justiça Eleitoral é órgão do Poder Judiciário, conforme dita a Constituição de 1988, em

seu artigo 92. Compõem a Justiça Eleitoral os seguintes órgãos: o Tribunal Superior Eleitoral, os

Tribunais Regionais Eleitorais, os Juízes Eleitorais e as Juntas Eleitorais. O Tribunal Superior

Eleitoral – TSE, com sede na capital do país, é composto por sete membros, sendo três dentre os

ministros do Supremo Tribunal Federal - STF, dois dentre os ministros do Superior Tribunal de

Justiça - STJ, e dois membros nomeados pelo Presidente da República, indicados em lista

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sêxtupla pelo STF, dentre advogados de notório saber jurídico e idoneidade moral. Os ministros

do STF e STJ são indicados através de eleição entre os pares, com direito a voto secreto

(BRASIL, 1988)

Em cada capital de Estado da Federação e no Distrito Federal, há um Tribunal Regional

Eleitoral, composto também por sete membros, indicados da seguinte forma: por voto secreto e

mediante eleição, de dois Desembargadores do Tribunal de Justiça do respectivo Estado ou

Distrito Federal e de dois Juízes de Direito do mesmo Tribunal e de um juiz do Tribunal

Regional Federal – TRF com sede na capital do Estado, ou onde não houver, de um juiz

designado por esse Tribunal; e dois membros nomeados pelo Presidente da República, indicados

em lista sêxtupla pelo Tribunal de Justiça do Estado ou Distrito Federal, dentre advogados de

notório saber jurídico e idoneidade moral (BRASIL, 1988)

Os Juízes Eleitorais e as Juntas Eleitorais são órgãos de jurisdição limitada à Zona

Eleitoral. O Juiz Eleitoral é escolhido pelo Tribunal Regional Eleitoral a que esteja vinculada a

Zona Eleitoral, dentre Juízes de Direito do Tribunal de Justiça do Estado ou Distrito Federal, e

atuam permanentemente, por um biênio. As Juntas Eleitorais são formadas apenas durante o

período das eleições para atuar na apuração dos votos. É um órgão de auxílio aos Juízes

Eleitorais, composto por um juiz e dois a quatro cidadãos de notória idoneidade (BRASIL,

1965).

Com o advento do voto eletrônico, as Juntas Eleitorais perderam importância, pois a

totalização de votos se faz de maneira eletrônica, sem necessidade de verificação dos votos, pela

transferência dos arquivos digitais das urnas eletrônicas. Albuquerque (2009, p. 143) concorda

que “as juntas eleitorais perderam sua razão de existir. A manutenção dessas revela-se inútil aos

trabalhos efetuados pela Justiça Eleitoral”.

Das decisões dos Juízes e Juntas Eleitorais cabe recurso para o Tribunal Regional Eleitoral

respectivo. Das decisões dos Tribunais Regionais cabe recurso para o Tribunal Superior

Eleitoral, cujas decisões são terminativas e irrecorríveis, conforme disposições do Código

Eleitoral, admitindo-se, contudo, três exceções, onde se admite recurso para o Supremo Tribunal

Federal - STF: as que declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e as

denegatórias de habeas corpus e mandado de segurança (BRASIL, 1965). Vê-se que a Justiça

Eleitoral se estrutura em três níveis de jurisdição, mas admite, em regime de exceção, um quarto

nível: o primeiro tem lugar nos limites territoriais da Zona Eleitoral, de competência do Juiz

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Eleitoral ou da Junta Eleitoral; o segundo, abrange todo o Estado, de competência do Tribunal

Regional; o terceiro, compreende todo o território nacional, de competência do Tribunal Superior

Eleitoral; o quarto, também compreende todo o território nacional, de competência do Supremo

Tribunal Federal. A decisão de um nível superior substitui a decisão do nível inferior.

A possibilidade de quatro graus de jurisdição é um fator de retardamento da decisão

definitiva, o que permite a manutenção de políticos condenados nos cargos até a última decisão

do STF. Não raro a decisão final se dá quando transcorrido mais da metade do prazo do mandato

impugnado, sem que o condenado tenha sido afastado do cargo. Nestes casos, o prejuízo para o

candidato prejudicado e que precisou recorrer ao Judiciário Eleitoral é irreparável.

Acrescente-se ainda a possibilidade de utilização de Embargos Declaratórios, em todas as

instâncias, outro recurso muito utilizado que devolve ao mesmo prolator da sentença judicial o

dever de decidir novamente, mantendo-se ou reformando o julgado anterior. Além disso, a

designação de todos os membros da Justiça Eleitoral é temporária, bienal, renovável por outro

biênio, e a assunção não implica no afastamento das funções desempenhadas nos outros

Tribunais. Ou seja, a designação para o serviço eleitoral representa um acúmulo na carga de

trabalho dos juízes designados, tanto na esfera administrativa quanto na contenciosa.

2.3.1 Funções da Justiça Eleitoral

Em decorrência do modelo de sistema de jurisdição eleitoral adotado, com concentração

em um único órgão de todas as atividades concernentes ao processo eleitoral, há uma pluralidade

de funções desempenhadas pela Justiça Eleitoral:

a) função administrativa: é a atuação de ofício, que cuida do eleitorado, dos partidos

políticos, das mesas receptoras de votos, da apuração e da diplomação dos eleitos, nos moldes de

um verdadeiro Poder Executivo, inclusive com poder de polícia. Estas atividades representam a

maioria do conjunto de atividades da Justiça Eleitoral;

b) função judicial: é a solução dos conflitos contenciosos que envolvem matérias eleitorais,

ações eleitorais de natureza cível e ações eleitorais de natureza penal, e os respectivos recursos

processuais;

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c) função consultiva: restrita ao Tribunal Superior Eleitoral e aos Tribunais Regionais. São

consultas formuladas sobre questões em abstrato, para as quais a Justiça Eleitoral estabelece a

norma aplicável. A decisão da consulta vincula um futuro julgamento de um caso concreto. As

decisões do TSE em consulta tem vinculado, na prática, os Tribunais Regionais e os Juízes

Eleitorais, que dificilmente decidem contrariando um julgado do TSE em sede de consulta;

d) função normativa: trata-se da competência do Tribunal Superior Eleitoral para dispor de

normas infralegais que regulamentem a aplicação da legislação eleitoral. Esta competência se

encontra prevista no artigo 23, inciso IX, do Código Eleitoral, e no artigo 105 da Lei nº.

9.504/97. Instrumentaliza-se através das resoluções do TSE (RAMAYANA, 2008).

2.3.2 Competência da Justiça Eleitoral

A Constituição Federal de 1988 conferiu tratamento diferenciado à competência da Justiça

Eleitoral. Enquanto que, para a Justiça Federal e para a Justiça Trabalho, há um rol de matérias,

prescrevendo a competência de cada Justiça, o artigo 121 da Carta Política remeteu à legislação

complementar a organização e a competência dos órgãos da Justiça Eleitoral. Não se encontra na

Carta Magna um rol disciplinando as matérias que estão sob a jurisdição eleitoral. A lei

complementar prevista no artigo 121 nunca chegou a ser discutida pelo Congresso Nacional,

impondo que o Código Eleitoral de 1965 (Lei n. 4.737/65) foi recepcionado pelo ordenamento

jurídico como lei complementar, preenchendo, desse modo, a lacuna legislativa, em tudo o que

não for incompatível com a Constituição Federal. A organização e a competência da Justiça

Eleitoral continuam a ser disciplinadas pelo antigo Código Eleitoral, de caráter autoritário,

elaborado durante o período de regime militar.

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2.3.2.1 Competência do Tribunal Superior Eleitoral

Os artigos 22 e 23 do Código Eleitoral estabelecem a competência do Tribunal Superior

Eleitoral. Essa competência pode ser divida em originária e recursal. A competência originária é

aquela que nasce na Corte Suprema Eleitoral, ou seja, não resulta de matéria apreciada pelos

Tribunais Regionais, Juízes Eleitorais ou Juntas Eleitorais. O processamento dessas matérias

nasce perante o TSE, não havendo necessidade de pronunciamento dos órgãos inferiores. A

competência recursal resulta de revisão de processos julgados nos níveis inferiores de jurisdição

(tribunais, juízes e juntas eleitorais). Esses processos necessariamente precisam de um

pronunciamento inferior como condição para apreciação da matéria perante a Corte máxima. É

uma competência revisional, provocada pelo interessado através de recursos jurídicos.

Em matéria de competência originária é competente o TSE para: o registro e a cassação de

registro de partidos políticos, dos seus diretórios nacionais e de candidatos à Presidência e Vice-

Presidência da República; os conflitos de competência entre Tribunais Regionais e juízes

eleitorais que envolvem jurisdição de mais de um Estado da Federação; a suspeição ou

impedimento aos seus membros, ao Procurador Geral e aos funcionários da sua Secretaria; os

crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos cometidos por seus Ministros e pelos

Desembargadores dos Tribunais Regionais; as reclamações relativas a obrigações impostas por

lei aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e à apuração da origem dos seus recursos; as

impugnações à apuração do resultado geral, proclamação dos eleitos e expedição de diploma na

eleição de Presidente e Vice-Presidente da República; os pedidos de avocação dos feitos não

decididos nos Tribunais Regionais dentro de trinta dias da conclusão ao relator, formulados por

partido, candidato, Ministério Público ou parte legitimamente interessada; as reclamações contra

os seus próprios Ministros que, no prazo de trinta dias a contar da conclusão, não houverem

julgado os feitos a eles distribuídos; a ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que

intentada dentro de cento e vinte dias de decisão irrecorrível, possibilitando-se o exercício do

mandato eletivo até o seu trânsito em julgado (BRASIL, 1965).

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Em matéria de competência recursal, o TSE é competente para julgar os recursos

interpostos das decisões dos Tribunais Regionais nos termos do artigo 276 do Código Eleitoral,

inclusive os que versarem matéria administrativa.

Há, ainda, um rol de matérias privativas do TSE, a maioria de ordem administrativa:

elaborar o seu regimento interno; organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Geral, propondo ao

Congresso Nacional a criação ou extinção dos cargos administrativos e a fixação dos respectivos

vencimentos, provendo-os na forma da lei; conceder aos seus membros licença e férias assim

como afastamento do exercício dos cargos efetivos; aprovar o afastamento do exercício dos

cargos efetivos dos Desembargadores dos Tribunais Regionais Eleitorais; propor a criação de

Tribunal Regional na sede de qualquer dos Territórios; propor ao Poder Legislativo o aumento

do número dos Desembargadores de qualquer Tribunal Eleitoral, indicando a forma desse

aumento; fixar as datas para as eleições de Presidente e Vice-Presidente da República, senadores

e deputados federais, quando não o tiverem sido por lei; aprovar a divisão dos Estados em zonas

eleitorais ou a criação de novas zonas; expedir as instruções que julgar convenientes à execução

deste Código; fixar a diária do Corregedor Geral, dos Corregedores Regionais e auxiliares em

diligência fora da sede; enviar ao Presidente da República a lista tríplice organizada pelos

Tribunais de Justiça nos termos do ar. 25 do Código Eleitoral; responder, sobre matéria eleitoral,

às consultas que lhe forem feitas em tese por autoridade com jurisdição federal ou órgão nacional

de partido político; autorizar a contagem dos votos pelas mesas receptoras nos Estados em que

essa providência for solicitada pelo Tribunal Regional respectivo; requisitar a força federal

necessária ao cumprimento da lei, de suas próprias decisões ou das decisões dos Tribunais

Regionais que o solicitarem, e para garantir a votação e a apuração; organizar e divulgar a

Súmula de sua jurisprudência; requisitar funcionários da União e do Distrito Federal quando o

exigir o acúmulo ocasional do serviço de sua Secretaria; publicar um boletim eleitoral; tomar

quaisquer outras providências que julgar convenientes à execução da legislação eleitoral

(BRASIL, 1965).

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2.3.2.2 Competência dos Tribunais Regionais Eleitorais

Os Tribunais Regionais Eleitorais também possuem competência originária e competência

recursal. Essas competências estão disciplinadas nos artigos 29 e 30 do Código Eleitoral.

Originariamente, são as seguintes: o registro e o cancelamento do registro dos diretórios

estaduais e municipais de partidos políticos, bem como de candidatos a Governador, Vice-

Governadores, e membro do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas; os conflitos de

jurisdição entre juizes eleitorais do respectivo Estado; a suspeição ou impedimentos aos seus

membros, ao Procurador Regional e aos funcionários da sua Secretaria assim como aos juizes

eleitorais; os crimes eleitorais cometidos pelos juizes eleitorais; o habeas corpus ou mandado de

segurança, em matéria eleitoral, contra ato de autoridades que respondam perante os Tribunais de

Justiça por crime de responsabilidade e; ou, ainda, o habeas corpus quando houver perigo de se

consumar a violência antes que o juiz competente possa prover sobre a impetração; as

reclamações relativas a obrigações impostas por lei aos partidos políticos, quanto a sua

contabilidade e à apuração da origem dos seus recursos; os pedidos de avocação dos feitos não

decididos pelos juizes eleitorais em trinta dias da sua conclusão para julgamento, formulados por

partido candidato Ministério Público ou parte legitimamente interessada sem prejuízo das

sanções decorrentes do excesso de prazo (BRASIL, 1965).

Em grau de recurso, a competência dos Tribunais Regionais se restringe a julgar os recursos

dos atos e das decisões proferidas pelos juizes e juntas eleitorais, e das decisões dos juizes

eleitorais que concederem ou denegarem habeas corpus ou mandado de segurança.

A competência privativa dos Tribunais Regionais Eleitorais é a que segue: elaborar o seu

regimento interno; organizar a sua Secretaria e a Corregedoria Regional provendo-lhes os cargos

na forma da lei, e propor ao Congresso Nacional, por intermédio do Tribunal Superior a criação

ou supressão de cargos e a fixação dos respectivos vencimentos; conceder aos seus membros e

aos juizes eleitorais licença e férias, assim como afastamento do exercício dos cargos efetivos

submetendo, quanto aqueles, a decisão à aprovação do Tribunal Superior Eleitoral; fixar a data

das eleições de Governador e Vice-Governador, deputados estaduais, prefeitos, vice-prefeitos ,

vereadores e juizes de paz, quando não determinada por disposição constitucional ou legal;

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constituir as juntas eleitorais e designar a respectiva sede e jurisdição; indicar ao Tribunal

Superior as zonas eleitorais ou seções em que a contagem dos votos deva ser feita pela mesa

receptora; apurar com os resultados parciais enviados pelas juntas eleitorais, os resultados finais

das eleições de Governador e Vice-Governador de membros do Congresso Nacional e expedir os

respectivos diplomas, remetendo dentro do prazo de 10 dias após a diplomação, ao Tribunal

Superior, cópia das atas de seus trabalhos; responder, sobre matéria eleitoral, às consultas que

lhe forem feitas, em tese, por autoridade pública ou partido político; dividir a respectiva

circunscrição em zonas eleitorais, submetendo essa divisão, assim como a criação de novas

zonas, à aprovação do Tribunal Superior; requisitar a força necessária ao cumprimento de suas

decisões solicitar ao Tribunal Superior a requisição de força federal; autorizar, no Distrito

Federal e nas capitais dos Estados, ao seu presidente e, no interior, aos juizes eleitorais, a

requisição de funcionários federais, estaduais ou municipais para auxiliarem os escrivães

eleitorais, quando o exigir o acúmulo ocasional do serviço; requisitar funcionários da União e,

ainda, no Distrito Federal e em cada Estado ou Território, funcionários dos respectivos quadros

administrativos, no caso de acúmulo ocasional de serviço de suas Secretarias; aplicar as penas

disciplinares de advertência e de suspensão até 30 dias aos juizes eleitorais; cumprir e fazer

cumprir as decisões e instruções do Tribunal Superior; determinar, em caso de urgência,

providências para a execução da lei na respectiva circunscrição (BRASIL, 1965).

2.3.2.3 Competência dos Juízes Eleitorais

Todas as competências constantes do artigo 35 do Código Eleitoral para os Juízes

Eleitorais são originárias, uma vez que não existe órgão hierarquicamente inferior. Algumas, no

entanto, não mais se aplicam, em virtude dos procedimentos atuais relativos ao voto eletrônico,

restando as seguintes: cumprir e fazer cumprir as decisões e determinações do Tribunal Superior

e do Regional; processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos,

ressalvada a competência originária do Tribunal Superior e dos Tribunais Regionais; decidir

habeas corpus e mandado de segurança, em matéria eleitoral, desde que essa competência não

esteja atribuída privativamente a instância superior; fazer as diligências que julgar necessárias a

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ordem e presteza do serviço eleitoral; tomar conhecimento das reclamações que lhe forem feitas

verbalmente ou por escrito, reduzindo-as a termo, e determinando as providências que cada caso

exigir; dirigir os processos eleitorais e determinar a inscrição e a exclusão de eleitores; expedir

títulos eleitorais e conceder transferência de eleitor; dividir a zona em seções eleitorais; ordenar

o registro e cassação do registro dos candidatos aos cargos eletivos municiais e comunicá-los ao

Tribunal Regional; designar, até 60 dias antes das eleições os locais das seções; nomear, 60 dias

antes da eleição, em audiência pública anunciada com pelo menos 5 dias de antecedência, os

membros das mesas receptoras; instruir os membros das mesas receptoras sobre as suas funções;

providenciar para a solução das ocorrências que se verificarem nas mesas receptoras; tomar todas

as providências ao seu alcance para evitar os atos viciosos das eleições; fornecer aos que não

votaram por motivo justificado e aos não alistados, por dispensados do alistamento, um

certificado que os isente das sanções legais (BRASIL, 1965).

2.3.2.4 Competência das Juntas Eleitorais

Apesar do Código Eleitoral ainda prevê a existência das Juntas Eleitorais, não existe mais

funcionalidade para estes órgãos, antes responsáveis pela apuração dos votos, conforme

comentado. Para fins de registro histórico, segue a competência: apurar, no prazo de 10 dias, as

eleições realizadas nas zonas eleitorais sob a sua jurisdição; resolver as impugnações e demais

incidentes verificados durante os trabalhos da contagem e da apuração; expedir os boletins de

apuração mencionados no artigo 178 do Código Eleitoral; expedir diploma aos eleitos para

cargos municipais (BRASIL, 1965).

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2.4 O Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco

2.4.1 Breve histórico

O Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco foi instalado, no Estado de Pernambuco, em

2 de agosto de 1932, nas dependências do Superior Tribunal de Justiça, designação

constitucional anterior do atual Tribunal de Justiça de Pernambuco. Apesar do Decreto n. 21.076

ter criado a Justiça Eleitoral no Brasil, com o objetivo primordial de moralizar o voto e a

apuração, a configuração da estrutura organizacional somente veio a ser disciplinada na

Constituição de 1934, quando já havia o funcionamento das Cortes Eleitorais.

A primeira sessão da Corte, realizada no mesmo dia de sua instalação, deu-se sob a

presidência do Desembargador Luiz Cavalcanti Lacerda de Almeida, à época Vice-Presidente do

Superior Tribunal de Justiça, onde foi escolhida uma comissão composta pelos Desembargadores

Nestor Diógenes da Silva e Melo, Domingos Marques Vieira e Osvaldo Guimarães de Souza,

com a finalidade de divisão do Estado de Pernambuco em Zonas Eleitorais e também a

designação dos Juízos e Varas da Justiça Estadual que responderiam pelas funções eleitorais

(LYRA, 1997). Portanto, nesse curto período de cinco anos que vai de sua criação até a extinção

em 1937, pelo Estado Novo, a Justiça Eleitoral esteve quase que totalmente vinculada à Corte

Judiciária Estadual, uma vez que até mesmo os serviços de alistamento eleitoral se davam em

dependências de cartórios vinculados à Justiça Estadual, situação que perduraria por décadas,

mesmo após o retorno da Justiça Eleitoral em 1945. É de se destacar, no entanto, que a sessão da

corte eleitoral que encerra as atividades em 1937, no dia 16 de novembro, foi tombada sob o n.

356, o que demonstra uma grande atividade da Corte, para um período de pouco mais de cinco

anos.

Com o retorno da Justiça Eleitoral, em 1945, o TRE/PE volta a funcionar no primeiro

andar do Tribunal de Justiça de Pernambuco, em sessão de 4 de junho, sob a presidência do

Desembargador João Paes de Carvalho Barros (LYRA, 1997). A forma de composição da Corte

Regional Eleitoral não sofre grandes alterações no período que vai de sua recriação até os dias

atuais, podendo se destacar apenas duas: a Constituição de 1967 consagrou uma vaga da Corte a

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um Juiz Federal; outras duas vagas destinadas a cidadãos de notório saber jurídico e reputação

ilibada, com a Constituição de 1988, passaram a ser destinadas exclusivamente para advogados.

A partir de 30 de abril de 1968, o TRE/PE passou a funcionar na sua antiga sede, situada à

Avenida Rui Barbosa, n. 320, Graças, Recife/PE, onde permaneceu até o mês de janeiro de 2007,

quando foi transferido para o prédio localizado na Avenida Governador Agamenon Magalhães,

nº. 1.160, Graças, Recife/PE.

Somente em 1989 os servidores da Justiça Eleitoral obtiveram paridade de vencimentos

com os demais servidores do Poder Judiciário Federal, sendo importante marco de

reconhecimento da importância da Justiça Eleitoral na nova ordem constitucional que, à época,

iniciava-se.

2.4.2 Procedimento de eleição do Presidente da Corte Eleitoral

A Resolução nº. 120, de 11 de março de 2009, do TRE/PE, Regimento Interno da Corte

Regional (BRASIL, 2009), disciplina todos os procedimentos administrativos e jurisdicionais de

sua competência, além de disciplinar a organização, a composição, a competência e o

funcionamento. Nos termos do artigo 21 da Resolução, o Presidente será eleito dentre um dos

Desembargadores do Tribunal de Justiça de Pernambuco designados para assento na Corte

Eleitoral, ficando o vencido automaticamente no cargo de Vice-Presidente. O mandato é de dois

anos, improrrogável.

O colégio eleitoral é formado pelos sete desembargadores efetivos designados, e a eleição

ocorre na primeira sessão imediatamente posterior ao término do mandato anterior, desde que

presentes os elegíveis. A eleição é por maioria absoluta de votos e o escrutínio é secreto. Não

sendo alcançada maioria absoluta após duas tentativas, é considerado eleito o mais votado.

Permanecendo o empate, será eleito o mais antigo no Tribunal. A competência da Presidência do

Tribunal está disciplinada no artigo 24 da referida Resolução.

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2.4.3 Competência do TRE/PE em norma infralegal

A Resolução n. 120 da Corte Regional atualizou e inseriu um vasto elenco de

competências do TRE/PE, no artigo 24, de modo a adequá-las à estrutura e organização atuais,

necessárias para o cumprimento dos novos procedimentos eleitorais. A par do contido no artigo

121 da Constituição Federal, deve-se, pois, observar com cautela as disposições constantes, pois

a criação de novas competências somente encontraria recepção constitucional se procedida pela

via da legislação complementar.

Atualizar e regulamentar as competências previstas no Código Eleitoral é salutar e

inteiramente necessário, desde que respeitado os limites impostos pela Constituição Federal e

pelo Código Eleitoral. Deixa-se, pois, de elencar o rol de competências previstas na Resolução,

ressaltando, no entanto, que qualquer avanço além do contido no Código Eleitoral poderá sofrer

questionamento de sua validade constitucional.

2.4.4 Organograma e arranjo administrativo da alta direção do TRE/PE

Administrativamente, além da Presidência, o TRE/PE é composto pela Diretoria Geral e

por seis Secretarias: Secretaria de Administração, Secretaria de Controle Interno, Secretaria de

Gestão de Pessoas, Secretaria Judiciária, Secretaria de Orçamento e Finanças e Secretaria de

Tecnologia da Informação, cujos titulares são detentores de cargos comissionados de livre

nomeação e exoneração pelo Presidente. Recentemente, o Conselho Nacional de Justiça impôs

uma importante restrição na nomeação dos ocupantes de cargos do Poder Judiciário, através da

Resolução n. 7, de 18 de outubro de 2005 (BRASIL, 2005), combatendo o nepotismo na

nomeação dos cargos comissionados e funções comisssionadas. Porém, mesmo antes da

determinação do Conselho Nacional de Justiça, impõe-se registrar que a maioria absoluta dos

cargos comissionados e funções comissionadas são exercidos por servidores efetivos e

concursados, do quadro de carreira do TRE/PE.

Segue abaixo organograma da instituição:

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Fonte: Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco

Não há, até o momento, uma formalização normativa das competências da Diretoria Geral

e das Secretarias, sendo, na prática, utilizado o padrão de divisão de competência do Tribunal

Superior Eleitoral. No entanto, encontram-se em andamento estudos para aprovação de um

regulamento próprio que venha a disciplinar a competência de todos os setores do Tribunal.

2.4.5 Missão, visão e valores institucionais do TRE/PE

A missão definida pelo TRE/PE é “garantir a legitimidade do processo eleitoral e o livre

exercício do direito de votar e ser votado, a fim de fortalecer a democracia” (PERNAMBUCO, s.

d.). Como se vê, a missão se reporta aos motivos que justificaram a criação da Justiça Eleitoral

em 1932. Não se pode deixar de reconhecer que parte da missão proposta tem sido cumprida, no

que se refere ao direito de votar e ser votado.

A legitimidade do processo eleitoral representa um desafio sem solução de continuidade. O

abuso do poder econômico e do poder político são práticas presentes nas eleições, mostrando-se

a Justiça Eleitoral, e especificamente, o TRE/PE, incapaz de evitar esses abusos, o que exige uma

melhor estrutura administrativa e funcional. Não há garantia da legitimidade do processo

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eleitoral, apesar dos grandes avanços. Mas o caminho que vem sendo trilhado pela busca dessa

legitimidade está correto. As restrições à propaganda eleitoral, as regras sobre financiamento e

prestação de contas das campanhas eleitorais, impostas pela Lei n. 11.300/2006 (BRASIL,

2006), apesar de insuficientes, concorrem para uma melhoria do controle. E um controle eficaz

da propaganda eleitoral e dos gastos de campanha é fator de alta relevância para a melhoria da

legitimidade do processo eleitoral.

A visão institucional é “ter assegurada a prestação dos serviços eleitorais de qualidade,

através do aperfeiçoamento contínuo dos Processos Eleitorais” (PERNAMBUCO, s. d.). Há uma

justa preocupação com a qualidade dos serviços prestados. E essa preocupação é realmente

necessária, porque confunde-se a qualidade do serviços da Justiça Eleitoral com a qualidade das

atividades no dia das eleições. O reconhecimento da sociedade, então, tem como parâmetro o

processo eletrônico de votação e apuração, que dá a impressão de alta eficiência, de um centro de

excelência. Mas a qualidade dos serviços eleitorais não pode ser considerada restrita às

atividades de votação e apuração. Existem serviços eleitorais de qualidade ainda deficiente,

mormente nos pequenos municípios. As condições de atendimento ao eleitor nos cartórios

eleitorais é um serviço carente de melhorias, apesar de uma crescente preocupação da Corte

Regional em atender aos reclamos da sociedade.

Foram definidos os seguintes valores institucionais (PERNAMBUCO, s. d.):

• Celeridade: desempenho das atividades de forma rápida e efetiva. • Coerência: Alinhamento entre discurso e prática. • Compromisso: Envolvimento pessoal para concretizar a missão

institucional. • Honestidade: Cumprimento dos preceitos éticos e legais no trato da coisa

pública e nas relações interpessoais. • Humildade: Sentimento de igualdade e capacidade de rever opiniões. • Inovação: Busca contínua pela melhoria dos processos e estímulo à

capacidade criativa. • Respeito: Compreender e conviver com as diferenças. • Responsabilidade Social e Ambiental: realização de ações em prol da

sociedade e do meio ambiente. • Transparência: Disponibilizar de forma clara os atos e informações

institucionais.

Os valores institucionais escolhidos devem ser entendidos como intenção programática ou

finalística, porque alguns desses valores, apesar de perseguidos pela instituição, ainda não foram

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efetivados em sua integralidade. De qualquer sorte, o estabelecimento de valores institucionais,

mesmo que em um plano programático, é um sinalizador importante de que, mesmo que esses

valores não representem uma realidade, algo está sendo feito para mudá-la. O reconhecimento

dessa falta de correspondência entre o formal e o real, a par de causar certo incômodo, deve

servir de estímulo para que a instituição busque romper com práticas que contrariem o objetivo

traçado, como vem fazendo.

2.4.6 Eleitorado e Pólos Regionais

De acordo com o último boletim divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral, o Estado de

Pernambuco conta, no mês de maio de 2010, com um eleitorado de 6.259.850, ocupando a

sétima posição entre os maiores colégios eleitorais do País. Este eleitorado divide-se em 151

Zonas Eleitorais, cada uma com um Juiz Eleitoral, um Cartório Eleitoral com pelo menos um

servidor do quadro efetivo do órgão, que necessariamente ocupa a função comissionada de Chefe

de Cartório, e um Promotor Eleitoral, designado entre os Promotores de Justiça vinculados ao

Ministério Público Estadual.

As zonas eleitorais são agrupadas em 18 polos regionais, de acordo com a localização

geográfica. Funcionam 18.728 seções eleitorais no Estado de Pernambuco. Segue abaixo divisão

geográfica do Estado de Pernambuco em pólos regionais, e a relação com as cidades-sede de

cada pólo, quantidade de zonas eleitorais por pólo e quantidade de municípios:

1

4

5

6 2

3

8

7

9

10

11

12

13

17

16

15

14

18

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Pólo Município Sede Qtd Zonas

Qtd Municípios

1 Recife 18 4

2 Vitória de Santo Antão 8 10

3 Carpina 7 14

4 Palmares 11 17

5 Surubim 9 14

6 Caruaru 13 14

7 Garanhuns 12 19

8 Arcoverde 7 9

9 Serra Talhada 6 9

10 Petrolândia 6 10

11 Salgueiro 6 9

12 Ouricuri 6 9

13 Petrolina 5 5

14 Jaboatão dos Guararapes 7 3

15 Igarassu 7 7

16 Limoeiro 8 7

17 Belo Jardim 9 11

18 Afogados da Ingazeira 6 13

Total 151 184

Fonte: TRE/PE

O funcionamento e o controle de todas as unidades administrativas e judiciais da Justiça

Eleitoral no Estado de Pernambuco são de responsabilidade do TRE/PE, que centraliza,

inclusive, os procedimentos licitatórios, detalhados no Capítulo 4 deste estudo.

2.5 Desafios administrativos para a Justiça Eleitoral

O processo eleitoral, que envolve o alistamento, registro de candidatos, votação e

apuração, é eminentemente administrativo. A Justiça Eleitoral então, mais do que outros órgãos

do Poder Judiciário, desenvolve, em sua maior parte, atividade administrativa. A logística que

envolve o processo eleitoral decorre da atividade administrativa, função desempenhada pelos

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órgãos da Justiça Eleitoral, em contraste com sua natureza de órgão do Poder Judiciário. E ainda

assim, e mesmo que não fosse, no dizer de Alves Júnior (2003, p. 112):

Desenvolve o Judiciário uma série de atividades administrativas de suporte à jurisdição, em grande parte semelhantes às atividades administrativas dos outros poderes, a exemplo de elaboração de orçamentos, empenhos, folhas de pagamento, licitações, edificações etc.

Mas a questão da Justiça Eleitoral é diferenciada, pois a sua competência administrativa é

superior a todos os demais órgãos do Poder Judiciário. Além disso, a tarefa reservada a essa

Justiça tem um caráter de direito fundamental da sociedade. Garantir cada vez mais o processo

eletivo democrático é um direito fundamental. A Justiça Eleitoral precisa corrigir alguns entraves

administrativos que dificultam sua atuação, de forma a expandir a eficiência do sistema de

votação e apuração para as outras atividades que desenvolve ininterruptamente.

2.5.1 Condições de atendimento ao eleitor

Alguns Cartórios Eleitorais funcionam em prédios alugados de proprietários privados ou

cedidos pelas administrações municipais, sem condições ideais de uso, por não oferecer conforto

e segurança ao eleitor. Tais prédios são construções antigas e não foram construídos para servir

como órgão público, passando por reformas que geralmente apenas tornam utilizável o imóvel.

Essa deficiência compromete o atendimento ao eleitor, e dificulta o trabalho dos servidores.

Deve-se, pois, reformular a maneira de encarar a população que recorre aos Cartórios

Eleitorais. A busca pelo pronto atendimento deve nortear todos os atos da Administração

Pública, ao reconhecer que o cidadão é o destinatário final de todo o esforço e gasto com a

Justiça. Apesar dos esforços contínuos no sentido de melhorar as condições de atendimento ao

eleitor, através da construção dos chamados fóruns eleitorais, que são imóveis dotados da

infraestrutura para os trabalhos desempenhados pelos Cartórios Eleitorais, é mister, também,

dotá-los de móveis adequados, além de expandir, numa velocidade maior, esta conquista aos

demais Municípios, pois somente as maiores cidades estão sendo beneficiadas com tal iniciativa.

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O Município de Paulista, por exemplo, que conta com duas zonas eleitorais e mais de 181.000

eleitores ainda não conta com uma estrutura adequada para atendimento da população.

2.5.2 Criação de magistratura própria

Como se observou, os Ministros, Desembargadores e Juízes Eleitorais são indicados ou

nomeados por outros Tribunais e acumulam as suas funções habituais com as funções eleitorais.

Isso torna dificultosa uma maior especialização da matéria eleitoral por parte dos Juízes, bem

como uma dedicação maior ao desenvolvimento dos trabalhos, pela impossibilidade física de

atender às demandas jurisdicionais de mais de um Tribunal, e ainda pela transitoriedade da

função eleitoral, que é fixada em, no máximo, dois biênios. A exigüidade dos prazos processuais

eleitorais, inerente à realização das eleições, estorva a situação, acarretando, mesmo com todo o

esforço despendido e com todo o conhecimento que se tenha sobre a legislação eleitoral, uma

diminuição na qualidade dos julgados.

É óbvio que, com o avanço democrático registrado no País, a necessidade de se instituir os

cargos de Juiz Eleitoral, Desembargador Eleitoral e Ministro Eleitoral, como cargo de carreira,

dos quadros efetivos dos Tribunais Eleitorais é uma constatação que, a cada dia reclama solução,

alteração que proporcionará uma especialidade aos julgadores do direito eleitoral. Luz (2009, p.

49) defende, nessa mesma esteira de entendimento, que “uma magistratura própria para este

ramo especializado do Direito, que é a Justiça Eleitoral, seria um passo bastante significativo no

aperfeiçoamento das atividades”.

2.5.3 Fiscalização dos gastos das campanhas eleitorais.

Muito tem sido feito para coibir os abusos nas campanhas políticas, a par da não existência

de uma estrutura administrativa voltada para uma eficiente fiscalização dos gastos da campanha

eleitoral. O caixa “dois”, a boca de urna e a compra de voto continuam a ser utilizados pelos

candidatos. Outro ponto a ser destacado diz respeito aos processos de prestações de contas das

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campanhas eleitorais. Apesar de ter havido um grande avanço na análise de tais processos, como

por exemplo, o sistema informatizado de análise das contas, que muito se assemelha ao

Programa de Ajuste Anual de Imposto de Renda, muito há que se fazer, uma vez que, não há

estrutura para garantir a veracidade dos dados apresentados.

Sobre a questão, Matias-Pereira (2002, p. 12) revela:

No elenco das ações impetradas nos últimos anos junto aos tribunais eleitorais, que uma parcela significativa dessas reclamações referem-se a questões relacionadas ao abuso do poder econômico. Essa prática inadequada de fazer campanha eleitoral, que tem sido denunciado pelos Ministérios Público Federal e Estadual e pela mídia, não tem sido coibida na intensidade necessária. As apurações decorrentes dessas denúncias, em boa parte, mesmo nos casos onde os TREs verificam que houve excesso de poder econômico público ou privado, acabam não resultando em condenações e perda de mandatos em virtude da ausência de poderes legais desses tribunais para coibir abusos.

A criação dos cargos de Fiscal e Auditor de Contas Eleitorais é uma necessidade premente

que precisa ser efetivada pela Justiça Eleitoral, no intuito de melhorar a fiscalização das contas

eleitorais e partidárias, e dos gastos de campanha. Em uma eleição municipal, a prestação de

contas dos candidatos e partidos políticos é analisada pelos servidores de Cartórios Eleitorais

que, em sua maioria, não têm nenhuma intimidade com os procedimentos técnicos de auditoria, o

que torna o procedimento de prestação de contas um processo meramente formal. Não menos

importante é a melhoria do aparelhamento da estrutura administrativa voltada para este tipo de

trabalho, de modo a possibilitar que tais servidores cumpram com melhor eficiência o trabalho

de fiscalização e controle.

2.5.4 Meritocracia no preenchimento dos cargos de direção e chefia

Apesar de já haver elementos norteadores para a nomeação de servidores que ocupam os

cargos de direção e chefia, e algumas restrições impostas pelo Conselho Nacional de Justiça -

CNJ, constata-se a carência de mapeamento das capacidades dos servidores, e em conseqüência,

uma redistribuição de cargos e funções, de modo a relocar os servidores em funções para as

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quais estejam mais preparados para desenvolver as atividades, de acordo com a experiência e o

conhecimento que apresentem.

Bresser-Pereira (2004, p. 15) ressalta:

Já se tornou claro que a reforma da gestão pública visa aprofundar a profissionalização dos servidores públicos e valorizá-los, inclusive no plano da remuneração. A dificuldade tem origem, principalmente, na falta de informação e de conhecimento por parte de boa parte dos dirigentes governamentais, que assimilou apenas parcialmente a nova cultura da gestão pública.

Encontram-se casos em que, mesmo considerando o compromisso com o interesse público

e a capacidade dos servidores, há uma disparidade entre a formação acadêmica do servidor e as

suas atribuições. Isto traz prejuízos para a evolução do órgão, pois geralmente esses servidores

passam por um período de adaptação e aprendizagem do serviço. Caso mais gritante é a

determinação legal de ocupação da chefia dos Cartórios Eleitorais a exclusivamente servidores

efetivos do quadro do Tribunal, sem qualquer outra condição, resultando na maioria dos casos

que servidores recém empossados e sem experiência no serviço eleitoral passem a chefiar.

Outro ponto que merece destaque é implantar requisitos mínimos para a assunção nos

cargos da alta administração do Tribunal, evitando assim, a guisa de exemplo, que um servidor

formado em economia seja designado para chefiar, por exemplo, o setor médico, o que é possível

atualmente. Rezende (2002, p. 114) assevera sem qualquer pudor:

No caso dos países em desenvolvimento, que existe frágil tradição de controle, a regulação ainda constitui-se problema decisivo. A construção de novas formas de delegação e controle na burocracia é fundamental para o desempenho das instituições públicas, e, mais amplamente, para a construção de novo Estado gerencial. Essas mudanças requerem a combinação de dois elementos: a legitimidade política das elites reformadoras e a competência técnica dos gestores públicos. Isso exige a modificação da cultura política e administrativa na direção dos princípios da reforma gerencial.

2.5.5 Fim da utilização de servidores públicos de outros órgãos

Uma parte dos servidores que atuam nos Cartórios Eleitorais e no TRE/PE são servidores

públicos cedidos de outros órgãos da União, do Estado e dos Municípios. Esses servidores,

muitas vezes, são desmotivados e não têm uma ligação maior com o órgão eleitoral, além de

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serem egressos de órgãos os mais diversos, o que acarreta um descompasso com as atividades

antes exercidas.

A presença de servidores não pertencentes ao quadro de pessoal da Justiça Eleitoral e

diretamente envolvidos no pleito eleitoral é uma aberração provocada pelo Código Eleitoral de

1965, que permanece há vários anos e precisa ser corrigida, para possibilitar a especialização e o

compromisso necessários para o exercício das atividades.

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3. A NOVA GESTÃO PÚBLICA: UMA VISÃO VOLTADA PARA OS RESULTADOS

3.1 Reforma do Estado

Encontram-se na história do desenvolvimento das estruturas administrativas estatais três

modelos que merecem destaque: o Estado Patrimonial, o Estado Burocrático e o Estado

Gerencial. Cada um deles apresenta características próprias, em momentos históricos distintos,

com uma tendência de substituição de um modelo por outro, do patrimonial para o burocrático, e

deste para o gerencial. Durante o século XIX e início do século XX, a tendência mundial, e

especialmente no Brasil, foi a transição das estruturas patrimonialistas para as estruturas

burocráticas (BERQUÓ, 2004). O fim do século XX viu o surgimento de uma nova forma de

gestão pública: o Estado Gerencial, como uma necessidade para atingir melhores níveis de

desenvolvimento econômico e social, e também uma melhor eficiência na prestação dos serviços

públicos colocados à disposição da sociedade.

Há um vínculo entre o modelo administrativo estatal e o estágio político-social da

sociedade onde este modelo é utilizado. A transição de estados autoritários e oligárquicos para

estados democráticos - liberais ou sociais -, passa pelo reconhecimento de direitos à população -

a cidadania -, mas também passa pela modificação das estruturas administrativas estatais, do

modelo patrimonialista para o burocrático, pelo menos. Estados autoritários e oligárquicos

precisam de estruturas estatais patrimonialistas e também de restrição aos direitos de cidadania,

ou não se sustentam politicamente. Alargar o conceito de cidadania implica a diminuição do

autoritarismo, aproximando a sociedade da democracia, o que vai exigir uma estrutura

administrativa estatal que reflita essa conquista. Não há como o Estado Patrimonial, como

estrutura administrativa, resistir, pois, à democracia real.

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3.1.1 O Estado Patrimonial

O Estado patrimonial se caracteriza pelo poder político de ordem pessoal. O arranjo

institucional administrativo segue um padrão de obediência senhorial, baseado na figura pessoal

do governante, cujo corpo administrativo é recrutado por critérios subjetivos, de modo a

assegurar o poder político sobre determinada área territorial. Geralmente, esse modelo de

estrutura administrativa tem origem na ordem familiar, pelas relações sanguíneas, segundo uma

hierarquia patriarcal. O desenvolvimento do modelo patriarcal, após a expansão de territórios

onde era exercida a dominação, resultou na necessidade de um aparato administrativo capaz de

garantir a autoridade do governante, o príncipe ou o senhorio.

Essa delegação de competência se deu a partir de laços de parentesco, de laços de

confiança ou de laços de dependência, com uma estrutura de autoridade voltada para o desejo

pessoal do delegante. Não existe uma racionalidade na autoridade exercida pelo governante, nem

uma finalidade social, no Estado Patrimonial. O governo e o aparelho administrativo têm uma

característica de domínio privado, voltado para os interesses pessoais do senhor. Essa estrutura

estatal tem origem nos antigos feudos, e se desenvolve nas monarquias absolutistas européias.

Baseia-se na comunhão entre o público e o privado (MARTINS, 1997). Não há separação entre

os bens privados do senhor e os bens decorrentes da posição hierárquica pública que ocupa. É,

desta forma, uma atividade privada em bens obtidos na esfera pública.

Campante (2003, p. 154) observa:

Em uma sociedade patrimonialista, em que o particularismo e o poder pessoal reinam, o favoritismo é o meio por excelência de ascensão social, e o sistema jurídico, lato sensu, englobando o direito expresso e o direito aplicado, costuma exprimir e veicular o poder particular e o privilégio, em detrimento da universalidade e da igualdade formal-legal. O distanciamento do Estado dos interesses da nação reflete o distanciamento do estamento dos interesses do restante da sociedade.

O nível de recompensa para os participantes do organismo estatal se dá pela concessão de

direitos e privilégios, cumulada ou não com o exercício de funções públicas, sem caráter

objetivo, ou seja, em nível de pessoalidade, em regime de favor, de clientelismo ou de

arbitrariedade. Prevalece sempre o interesse particular em detrimento do interesse público. A

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condução dos assuntos políticos, jurídicos ou econômicos não segue regras estáveis, pois está

vinculada a um subjetivismo senhorial.

3.1.2 O Estado Burocrático

O Estado moderno buscou adotar um modelo em contraponto ao Estado Patrimonial,

abandonando a idéia de confusão entre o privado e o público, ou a interferência do interesse

privado em detrimento do interesse público (BERQUÓ, 2004). Essa nova forma de estruturar o

Estado se baseia numa objetividade racional, através do estabelecimento de normas impessoais e

abstratas, com vistas ao disciplinamento legal da atuação pública. À medida que surgiram as

restrições ao poder do soberano e parcelas da população passaram a gozar de direitos, nasce uma

novel forma de administrar a coisa pública. A burguesia - surgida com o capitalismo, que

permitiu o acúmulo de riquezas pelos particulares -, vencedora nas revoltas dos séculos XVII e

XVIII, passa a exigir uma distinção entre os bens particulares dos ocupantes do governo e os

bens públicos.

Esse modelo, então, precisa ser regido por normas impessoais e aplicáveis a todos. Entre

as suas características, pode-se citar: as competências dos servidores públicos são fixas e

determinadas através de leis ou regulamentos; estabelece-se um rígido controle hierárquico, em

vários níveis, ficando os mais baixos subordinados às determinações dos mais altos, que podem

ser acionados para reavaliação das decisões das instâncias inferiores; há uma necessidade de

especialização do servidor público na área em que atua, ao mesmo tempo em que se requer uma

dedicação quase que exclusiva ao serviço público; os servidores podem ascender a postos

superiores da administração, por tempo de serviço ou merecimento, desde que haja um

atendimento às condições abstratas e genéricas previamente estabelecidas; distingue-se, por

completo, o patrimônio pessoal do servidor do patrimônio público e dos recursos utilizados na

realização dos serviços públicos; a remuneração se dá por salários fixos e o recrutamento, por

concurso público; por fim, exige-se a documentação escrita de todas as atividades realizadas

(SILVEIRA, 2006).

Silveira (2006, p. 55) consagra que:

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Um outro ponto importante a ser discutido é o fato da burocracia moderna propiciar, em última instância, o “nivelamento plutocrático” dos indivíduos, ou seja, permitindo a equiparação dos membros através da redução das disparidades advindas dos meios sociais e econômicos. Neste sentido, em uma administração burocrática altamente desenvolvida, a influência de notáveis, de pessoas que socialmente são portadoras de prestígio, poder e riqueza, é cada vez mais mitigada, dando-se lugar para a execução desembaraçada das tarefas oficiais pelos profissionais.

Pelo que se percebe, a administração burocrática buscou a eficiência dos serviços públicos,

através da celeridade, da redução dos gastos e da melhoria do impacto da atuação pública, que

supunha-se, seriam obtidas através da impessoalidade, da racionalidade e da objetividade. A

burocracia moderna despersonaliza o serviço público, estabelecendo um rol de condutas que

serão seguidas pelos servidores, com vistas ao atendimento das necessidades públicas. Procura-

se reduzir a influência dos poderosos sobre a atuação pública, de modo a abolir o privilégio, pela

adoção de decisões iguais para casos iguais. Combate-se, desta forma, a disparidade social e

econômica. Igualdade e isonomia são pontos de destaque da administração burocrática moderna,

para os governados. Disciplina e hierarquia, para os servidores.

O século XX consagrou a administração burocrática, que passou a ser utilizada pela

maioria das nações, como forma de organização administrativa moderna. Há, porém, de se

registrar que a sua formal adoção não importa, necessariamente, o abandono das práticas

patrimonialistas anteriores. O que se denota é que, a partir de sua instituição como forma de

organização estatal, as práticas baseadas no modelo patrimonial passam a ser consideradas

ilegítimas e ilícitas, sendo passíveis de punição estatal, seja para o particular, seja para o servidor

público.

3.1.3 Evolução histórica da Administração Pública no Brasil

Durante o período colonial, não havia uma racionalidade na administração pública no

Brasil. Geograficamente, o país estava dividido em capitanias, que por sua vez, dividiam-se em

comarcas. As comarcas eram divididas em termos, equivalentes às vilas e cidades. Os termos

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então, eram divididos em freguesias, que correspondiam às paróquias, e estas eram ainda

divididas em bairros. Não havia uma uniformidade de órgãos ou funções públicas entre

freguesias, nem entre comarcas. Determinadas funções que existiam em determinado lugar

sequer existiam em outro. Além disso, havia uma superposição de competências e hierarquias,

respondendo, às vezes, por uma mesma competência, servidores de níveis hierárquicos distintos.

O governante da capitania era chamado de governador ou capitão-general, que exercia,

além da função militar, a função de chefe da administração. Essa administração compreendia a

esfera administrativa, judicial e fazendária. Caracterizava-se por uma centralização de comando,

com um emaranhado elenco de normas e regulamentos, que resultava em um excessivo

formalismo, traduzindo-se em morosidade. Há que se reconhecer, porém, que durante o período

de três séculos, vão sendo adotadas medidas para diminuir os entraves da administração,

mormente aqueles resultantes das superposições de competências. No entanto, o processo

administrativo era circunstanciado e minudente, podendo a autoridade superior avocar qualquer

decisão para si, em primeira ou última instância (COSTA, 2008).

A mudança da sede da Coroa Portuguesa para o Brasil, em 1808, provoca uma revolução

na administração pública. Inicialmente, a alocação de todas as autoridades, no Rio de Janeiro, fez

com que várias edificações fossem cedidas pelos comerciantes ricos e também fossem

desalojados os representantes da Coroa que ali residiam. A dificuldade de alojar todos foi

resolvida pela unificação da residência e do local de trabalho em um mesmo prédio, um traço

marcante do patrimonialismo, que perdura até hoje para os cargos de Presidente da República e

para o cargo de Governador Estadual.

Martins (1997, p. 4) salienta com veemência que:

O Estado e a administração pública brasileiros nasceram patrimonialistas. O patrimonialismo é um traço distintivo deste período prévio às iniciativas deliberadas de implementação de padrões burocráticos de racionalidade administrativa no âmbito do Estado. As formas burocrático-estamentais - tão ricamente descritas por Faoro - são manifestações de uma ética de apropriação da coisa pública e do Estado, que doravante se manifestaria, inclusive, em formas aparentemente mais burocráticas e menos estamentais.

Durante esse período, diversos órgãos foram instituídos, alguns necessários, outros não. Os

cargos e honrarias eram criados para recompensar os que haviam se sacrificado na mudança,

numa clara demonstração do patrimonialismo que regia a Corte Portuguesa. Mas também se

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deve ressaltar como positiva a criação do Banco do Brasil, da Biblioteca Nacional, do Jardim

Botânico, entre tantas outras iniciativas, e a transformação do Brasil em centro político de

Portugal. O desenvolvimento foi intenso durante o curto período, o que trouxe reflexos sociais,

econômicos e políticos, que tornariam irreversível a situação.

Após a independência, as antigas capitanias foram substituídas pelas províncias. Mas o

corpo administrativo permanecia quase que intocado, seguindo, a grosso modo, o modelo

patrimonialista, sustentado pela Monarquia (DI PIETRO, 2006). Durante esse período, começa a

surgir a figura dos coronéis, que iriam dominar a política local na chamada República Velha,

onde o modelo patrimonial atinge o seu ápice. O poder federal, após o fim do Império, ficou

reservado a uma alternância entre São Paulo e Minas Gerais, até a eleição de Júlio Prestes, em

1930, que quebrou o pacto oligárquico, ao repetir uma chapa paulista na sucessão da Presidência.

A partir de 1930 é que se inicia um processo de aceleração da formação da burocracia

estatal brasileira, em substituição, pelo menos formal, ao patrimonialismo. É equivocado afirmar

que antes desse período não havia uma burocracia estatal. Existia, mas restrita a setores

irrelevantes do aparelho administrativo, além de não irromper as fronteiras dos governos

estaduais, cujo domínio repousava na figura dos grandes proprietários rurais. Porém, o

enfraquecimento da monocultura do café e a crise mundial de 1929 levaram o governo federal a

mudar a política, no sentido de encontrar formas de substituir as importações, cujo custo era cada

vez maior para o Estado. Iniciam-se dois processos: na ordem administrativa, a burocratização

do Estado; na ordem econômica, o processo de industrialização do País (BRESSER-PEREIRA,

2007).

O Estado precisava se modernizar para atender aos anseios da burguesia industrial que

começava a se fortalecer. Basicamente isso se deu em duas frentes: o Governo Federal

empreendeu forte intervenção econômica, no sentido de aliviar os efeitos da crise econômica

mundial e possibilitar a aceleração do processo de industrialização; e aprofundou-se a

racionalização das atividades administrativas, com a burocratização do serviço público, cujos

reflexos mais importantes já foram abordados neste estudo. O Estado, oligárquico e

patrimonialista, cedeu lugar, ao menos formalmente, ao Estado burocrático e industrial.

Matias-Pereira (2008, p. 76), porém, lembra com lucidez:

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Na gestão pública, o país nunca chegou a ter um modelo de burocracia pública consolidada. Constata-se a existência de um padrão híbrido de burocracia patrimonial. Há uma trajetória de construção burocrática e outra de construção democrática, mas ambas parecem reciprocamente disfuncionais. É perceptível que o Estado patrimonialista está fortemente presente na cultura política brasileira e se manifesta no clientelismo, no corporativismo, no fisiologismo e na corrupção.

Adotou-se, destarte, o modelo weberiano de organização administrativa. Mas a crescente

separação entre a administração direta, entregue ao clientelismo, da chamada administração

paralela, que se chamaria administração indireta, aprofundou-se nas décadas seguintes, e

impossibilitou todos os projetos de reforma de Estado, com vistas a torná-lo mais eficiente.

A Comissão de Simplificação Burocrática (Cosb) e a Comissão de Estudos e Projetos

Administrativos (Cepa), criadas na década de 50 do século passado, foram iniciativas

infrutíferas, o que mais aprofundou o atraso no campo administrativo estatal. Na década

seguinte, a Comissão Amaral Peixoto também resultou em mais um fracasso de reforma

administrativa. No entanto, o consenso de que havia uma disparidade entre a necessidade do País

e a capacidade da burocracia pública em atender a esses anseios, resultou que muitas das

questões estudadas por essas comissões foram aproveitadas na Reforma Desenvolvimentista de

1967, instituída através do Decreto-lei n. 200 (COSTA, 2008).

A reforma de 1967, de flexibilização do Estado Burocrático, não foi exitosa, e ainda

deixou duas consequências danosas: a possibilidade de contratação de servidores públicos sem

concurso transformou o critério de recrutamento em nova investida do patrimonialismo; e o

quase que total abandono da administração direta. No fim da ditadura militar, a administração

indireta começa a perder o grau excelência anterior que havia atingido, de modo que há uma

piora na qualidade dos serviços públicos durante a década de 80 do século passado.

A Constituição Federal de 1988 estabeleceu critérios rígidos para gestão da máquina

administrativa, preocupada que estava com o reaparelhamento da estrutura central da

Administração Pública, que havia sido sucateada pelo Regime Militar – este preferia utilizar-se

da Administração Indireta para as ações de governo -, com o resistente patrimonialismo, com a

corrupção, com o superfaturamento das compras públicas (BRESSER-PEREIRA, 2001).

Cientificamente, representou um retrocesso na forma de ver o Estado e a máquina administrativa.

Houve uma volta aos padrões burocráticos do início do Século XX.

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Compreende-se que as forças políticas vencedoras na disputa do poder, no período que

antecedeu a nova Carta Magna, estavam, e eram mesmo para estar, mais preocupadas com a

garantia da transição do regime militar e autoritário para o regime civil e democrático. Somente

assim, se pode entender os excessos cometidos pelos constituintes originários. Esses excessos,

passados os primeiros anos de vigência da Constituição, se tornaram incompatíveis com o

desenvolvimento do País e a necessária passagem da estrutura burocrática para a gerencial.

A implantação de um regime jurídico único para todos os servidores civis da União

transmudou, automaticamente, empregados sob o regime celetista em estatutários estáveis, com

direito a aposentadoria integral, sem nunca ter havido qualquer contribuição desses servidores

para o regime previdenciário. O déficit previdenciário no setor público foi elevado a um patamar

inédito, o que tornou impossível para o Estado absorver esse acréscimo sem comprometer

programas e ações governamentais necessários para a retomada do crescimento econômico (DI

PIETRO, 2001). O chamado “crescimento vegetativo” da folha de pessoal, através dos anuênios,

também foi outro excesso cometido, corrigido posteriormente.

Reformas na Constituição foram levadas a efeito, e outras ainda precisam ser

implementadas, como a tributária e a política, com forte resistência dos grupos de interesses da

sociedade civil. Por outro lado, foram criados diversos mecanismos que já possibilitam o

aprofundamento da reforma da máquina administrativa. Nesta seara, encontra-se uma opção

governamental pelo avanço tecnológico, através do uso da informática, numa velocidade bem

maior ao avanço político, social e econômico. É o que se constata com os seguintes exemplos: o

sistema de voto eletrônico; a informatização “on line” do sistema financeiro; a avançada

tecnologia da Receita Federal; o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo

Federal – SIAFI; o sistema de pregão eletrônico; o recém criado Portal dos Convênios, entre

outros. Vê-se, assim, que houve uma prioridade governamental na informatização, como forma

de controle, gestão e combate à corrupção.

Essas iniciativas deram maior segurança aos serviços públicos diretamente executados pelo

Governo Federal. Falta, no entanto, seguir o processo de reformas do Estado brasileiro,

estabelecendo metas, através do planejamento estratégico, que possibilite atingir a população de

baixa renda, porque convivem quase que como vizinhos, os mais ricos e os mais pobres e a

distância econômica entre eles é imensa.

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3.1.4 O Consenso de Washington

O final da década de 80 do século passado viu surgir uma política neoliberal, fulcrada no

chamado Consenso de Washington, imposta pelos organismos internacionais (FMI, BID e Banco

Mundial), bem como pelas nações mais desenvolvidas e fortes do mundo, destinada aos países

pobres e/ou em desenvolvimento (MATIAS-PEREIRA, 2008), especialmente os países latino-

americanos, estabelecendo uma série de condutas macroeconômicas como solução para o

problema do crescimento econômico (STIGLITZ, 2002), na promessa de que haveria uma

solução para a crise em que estavam mergulhados, após a dita “década perdida” (1980-1990).

Na esteira dessa receita, o Brasil, aderindo à política econômica dos órgãos internacionais,

implementou as chamadas reformas, necessárias para o desenvolvimento do País, e a

consequente, dizia-se, diminuição da pobreza.

Pelo Consenso de Washington, as causas da crise dos países latino-americanos foram

agrupadas e uniformizadas em dois grandes grupos. O primeiro dizia respeito ao gigantismo do

Estado e à ineficiência das empresas estatais, com excesso de regulação e protecionismo. O

segundo referia-se à incapacidade de controle do déficit público e das demandas salariais dos

setores privado e público.

As reformas requeriam um ajuste fiscal duríssimo, com a exigência de superávit, a

privatização da maioria dos serviços públicos antes realizados pelo Estado, bem como uma

reforma previdenciária para garantir um regime de aposentadoria sustentável para as próximas

décadas, além do controle prioritário da inflação. Pensava-se que o Estado reduzido seria a

solução para os problemas econômicos das nações em crise. Feitas tais reformas, descobriu-se

que a promessa da “receita mágica” não se concretizou. O crescimento econômico registrado foi

pífio e o pior, como resultado do processo de globalização e dos ajustes defendidos pela política

neoliberal, viu-se o aumento da distância entre os países em desenvolvimento e pobres, dos

chamados países ricos.

Dez áreas foram objeto de regramento pelo Consenso de Washington. São elas: disciplina

fiscal com vistas à eliminação do déficit público; reforma tributária, com o aumento de impostos,

se indispensável; mudança de prioridade nos gastos públicos, com eliminação de subsídios e

aumento dos gastos com saúde e educação; taxas de juros determinadas pelo mercado e sempre

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positivas; liberação do regime cambial, com taxas também determinadas pelo mercado;

liberalização comercial e financeira, com vistas ao mercado externo; possibilidade de

investimento direto estrangeiro; privatização das empresas públicas; desregulação das atividades

econômicas; adoção de regras assecuratórias do direito de propriedade. A política

macroeconômica deveria voltar aos padrões de liberdade de mercado, reduzindo a

preponderância do Estado na economia (SOUZA; ARAÚJO, 2003).

Batista (1994, p. 11) viu na adoção da política econômica do Consenso de Washington um

retorno aos padrões do final do século XIX e início do Século XX:

Em resumo, uma proposta saudosista, tentada sem sucesso e com conseqüências negativas na Europa da década de 20, de retorno ao laissez-faire do final do século XIX e princípio do século atual, da ordem liberal comandada pelo "padrão ouro", que a I Guerra Mundial destruiria.

Diante disso, impôs-se implementar alguns ajustes nas reformas propostas pelo Consenso

de Washington, adequando-as às realidades locais de cada país. Malan (1991, p. 11) alertou para

adequações inevitáveis do modelo, caso a caso:

Não há um caminho único, nem fórmula simples ou modelo simples a ser seguido. Cada país da região deve analisar em profundidade o que poderia ser no futuro, como economia e como sociedade, e adotar, é claro, as “políticas apropriadas”. Mas políticas também apropriadas a uma estratégia de crescimento voltada para o futuro, respaldadas nos setores modernos das estruturas econômicas, social, política e institucional do país em questão.

Entre as reformas, a modernização do Estado passou a ser uma prioridade inadiável,

condição para o desenvolvimento econômico da América Latina, pois a incapacidade do modelo

burocrático em atender às demandas por políticas públicas eficientes e a saturação da política de

substituição das importações representavam um entrave para a retomada do desenvolvimento.

Bresser-Pereira (1991, p. 15) cedo atentou para essa situação:

O Estado se tornou um obstáculo ao desenvolvimento da América Latina depois de ter sido um promotor estratégico desse mesmo desenvolvimento quando, no quadro de um processo cíclico, a estratégia de substituição de importações esgotou-se, quando as distorções provocadas pela intervenção superaram seus objetivos corretores, quando a crise fiscal se desencadeou.

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Destarte, a reforma do Estado ganhou um grau de importância jamais visto na história. A

procura em modificar a forma de gestão dos recursos públicos, saindo de uma estrutura

burocrática para uma gerencial, impunha uma mudança nos critérios de avaliação dos programas

e ações governamentais. Não se podia mais pensar em um Estado voltado apenas para o

oferecimento dos serviços, sem qualquer compromisso com a eficiência, sem o

comprometimento da máquina administrativa com a obtenção dos resultados planejados, sem a

avaliação dos resultados obtidos.

Tudo isso requeria um planejamento estratégico das ações do governo. E também uma

avaliação objetiva dos impactos das ações governamentais na sociedade. Não significa que se

deve abandonar todos os critérios utilizados para verificação da qualidade dos serviços colocados

à disposição da população, principalmente aqueles relativos ao custo dos serviços. Estes critérios

são importantes até mesmo para balizar a escolha política, diante da escassez dos recursos

públicos.

3.1.5 O Estado Gerencial

No final da década de 70 do século passado, o Estado social, em todo o mundo, entrou em

crise. O modelo utilizado pelos países desenvolvidos do pós-guerra de inserir o Estado em todos

os ramos da vida social, como garantidor do bem estar da sociedade, desgastou-se, pois se

mostrou ineficiente para o atingimento da melhoria da qualidade e da competitividade dos

serviços que se propôs a realizar. Veio, então, no início da década de 80, a proposta de política

neoliberal, fundada essencialmente numa redução do tamanho do Estado e numa reafirmação da

liberdade das regras de mercado, entre outras medidas.

Essa proposta foi determinante para a retirada do Estado de diversos ramos de atividades

econômicas que vinha exercendo, o que se chamou de privatização. Pensava-se que a

desmobilização do aparelho estatal resolveria os problemas de desenvolvimento econômico.

Reduzir o Estado a um tamanho mínimo necessário e deixar o mercado resolver os demais

problemas.

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A cartilha, seguida à risca pela maioria dos países em desenvolvimento, mostrou-se

equivocada, pois se observou que a disparidade econômica entre os países desenvolvidos e em

desenvolvimento aumentou ainda mais. E internamente, os países em desenvolvimento viram o

agravamento das disparidades regionais. No entanto, nesse período, o ajustamento fiscal e o

controle da inflação foram conquistas que representam, mesmo assim, um grande avanço.

Percebeu-se que o Estado neoliberal também não correspondia às necessidades, e que mais

reformas precisavam ser feitas. Propôs-se, assim, um modelo de Estado Gerencial, em

substituição ao modelo burocrático, que remontava ao início do século 20. Matias-Pereira (2004,

p. 12) frisa com retidão:

Verifica-se que houve uma tendência, em nível mundial, a partir do início da década de oitenta, em favor da Reforma do Estado, com uma nítida preocupação dos governos em empreender esforços para modernizar e agilizar a administração pública. Em nenhum outro momento da história, o movimento em favor da reforma da administração pública avançou tanto e de forma tão rápida. Este movimento está intimamente relacionado ao novo paradigma de administração pública gerencial. O que se buscou com a Reforma do Estado é a substituição do modelo burocrático pelo modelo gerencial.

O modelo gerencial foi construído a partir de experiências da administração privada, com o

intuito de diminuir o alto custo dos serviços públicos e melhorar o desempenho, considerado

ineficiente. Grã-Bretanha e Estados Unidos foram os países que iniciaram as primeiras reformas

(Tathcher e Ronald Reagan). A política americana foi baseada nos programas de melhoria

contínua pela gestão da qualidade total. A Grã-Bretanha adotou a divisão administrativa do

serviço público em agências que, através de contratos, passaram a se especializar na prestação do

serviço de sua responsabilidade, com estabelecimentos de metas e níveis de desempenho

(MATIAS-PEREIRA, 2005).

3.1.5.1 Princípios da Gestão Pública Gerencial

A Gestão Pública Gerencial se baseia na aplicação de alguns princípios para a sua

implementação. Deve-se ressaltar que não pode haver um abandono total do modelo burocrático.

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O que se pretende é um aprimoramento da gestão pública, que deve partir do modelo weberiano,

com vistas a melhorar a eficiência dos serviços públicos. Alguns paradigmas são mudados, mas

se aproveitam vários institutos do modelo burocrático, que no contexto histórico, foram e são

importantes para a Administração Pública. Os entraves à melhoria de qualidade da atuação

pública devem ser removidos, adequando-se o aparato administrativo às novas realidades. Secchi

(2009, p.354) vislumbra essa busca pela melhoria da qualidade, ao defender que:

A administração pública gerencial ou nova gestão pública (new public management) é um modelo normativo pós-burocrático para a estruturação e a gestão da administração pública baseado em valores de eficiência, eficácia e competitividade.

Pode-se estabelecer, destarte, cinco pilares de sustentação desse novo modelo:

a) mudança de foco na atuação estatal, que passa a ter como finalidade a satisfação do

cidadão, encarada como forma de exercício da cidadania, definindo interesse público como o

interesse da coletividade;

b) flexibilidade administrativa na definição dos meios a serem empregados para obtenção

dos objetivos visados na política pública, através do aumento do rol de atos administrativos

discricionários, possibilitando aos gestores públicos uma maior liberdade na definição do

procedimento a ser adotado;

c) orientação para resultados, o que implica uma mudança cultural de avaliação, saindo do

controle a priori de legalidade e formalismo, para um controle a posteriori de impactos da ação

administrativa, apurada através de níveis de desempenho previamente definidos;

d) permitir a participação da sociedade no controle da atividade administrativa como forma

de pesquisa do nível de satisfação e da verificação dos impactos no ambiente social,

disponibilizando os relatórios de atividades à sociedade civil;

e) profissionalização do servidor público, através da especialização de conhecimentos para

as atividades, dando-lhe incentivo para buscar formas de melhoria da qualidade dos serviços

públicos (FERREIRA, 1999).

A reforma gerencial acarreta mudanças e adequações de três níveis: a reforma jurídico-

institucional, que opera no plano da alteração legislativa, desde o nível constitucional até o nível

de regulamentos, modificando ou extinguindo os obstáculos jurídico-legais em choque com

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quaisquer dos princípios adotados; a reforma de cultura do aparelho administrativo, permitindo

um maior nível de confiança nos servidores públicos, que passam a ser controlados pelo

atendimento de metas e níveis de desempenho, diminuindo o paradigma de controle burocrático

formal e ritual; e, por fim, o estudo e a aplicação de novos métodos e princípios de

administração, para possibilitar maior agilidade no processo decisório, com diminuição de níveis

hierárquicos e ampliação da delegação de poderes a níveis inferiores.

3.1.5.2 Impactos da implantação da Gestão Pública Gerencial

Em um primeiro momento, percebe-se que a implantação do Estado Gerencial acarreta

uma tendência a que a Administração se torne executora apenas dos serviços públicos

indelegáveis. Quanto aos demais serviços, a forma de atuação do Estado se modifica de executor

para promotor/regulador. O Estado passa a garantir que os serviços necessários para a sociedade

sejam prestados, regulando e promovendo, através de agências reguladoras, a prestação desses

serviços por terceiros. Desta feita, a reforma visa não somente a melhoria da qualidade da

prestação dos serviços executados pelo Estado, mas também a ampliação da oferta de serviços de

qualidade à sociedade, garantindo que as demandas sociais sejam satisfeitas (FERREIRA, 1999).

Consequências outras, no entanto, são inevitáveis. O planejamento orçamentário passa a

ser uma ferramenta imprescindível para o sucesso da reforma. Se não há recursos disponíveis ou

se o contingenciamento de recursos se faz por corte linear, o gestor público fica impossibilitado

de se comprometer com o resultado. Portanto, a disponibilidade de recursos nos prazos

estipulados no planejamento é condição para o sucesso da gestão gerencial.

As estruturas administrativas, por sua vez, devem ser modificadas para atender às novas

demandas, mormente no que se refere à diminuição dos níveis hierárquicos. Promove-se também

a flexibilização de competências e a delegação de poderes para níveis inferiores. A política de

recursos humanos, hoje chamada de gestão de pessoas, é outro aspecto que sofre grande impacto,

pois o comprometimento em atingir estágios de desempenho e resultados, restringe a delegação

de poderes a gestores especializados, em patamar de excelência, capazes de promover o

atingimento das metas, reflexo da responsabilização (accountability) (SANTANA, 2002).

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A reorientação do controle administrativo é outro destaque de impacto da gestão gerencial.

Aos poucos, o controle do rito burocrático vai sendo abandonado para surgir o controle de metas

e resultados. Percebe-se que o cumprimento da legalidade deixa de ser um parâmetro de

avaliação. Cumprir a lei é uma obrigação que permanece na gestão gerencial. O que acontece é

que esse ponto deixa de ser destaque para se tornar acessório. O rito, a forma e o procedimento

vão perdendo importância para a eficiência, nos três aspectos já apresentados neste estudo.

3.1.5.3 Accountability

O Estado moderno, gerencial, social e liberal, e, por isso, democrático e participativo,

como se percebe do movimento de reforma do final de século XX, trouxe alguns problemas

ainda não resolvidos. Um dos mais importantes é a questão que envolve a verificação da

legitimidade da conduta dos agentes políticos e dos servidores públicos. Isto é, se se portam em

defesa do interesse público e coletivo que lhes foi confiado. Discute-se a responsabilização

social ou accountability, termo da língua inglesa, significando o dever de prestar contas sobre os

atos da competência conferida aos agentes políticos e servidores públicos.

No plano externo à organização estatal, fala-se em accountability política ou vertical, que é

a exercida pela sociedade, e se traduz nos mecanismos colocados à disposição dos cidadãos para

controle das ações governamentais, sendo o principal deles as eleições. Mas também se pode

citar a ação popular e o direito de reclamação contra a ineficiente prestação de serviços públicos.

No plano interno à organização estatal, diz-se accountability horizontal ou administrativa, que é

a exercida entre os poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário -, por um sistema de freios e

contrapesos (DINIZ, 2001). É a responsabilização funcional do servidor público perante o

aparato administrativo, impondo-lhe o dever de prestar contas por suas condutas, mas não apenas

a consagrada prestação financeira, e sim uma responsividade pelo desempenho da atuação

administrativa que lhe é atribuída.

Ou seja, quer no plano político, quer no plano administrativo, se por um lado aumenta-se a

liberdade de atuação do agente público – político ou servidor -, por outro, agrava-se a

responsabilidade pelas condutas empreendidas. Na accountability horizontal, há um controle

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voltado para a responsabilidade, como o controle interno das administrações e os Tribunais de

Contas (CORRÊA, 2007). Mas a accountability política carece de instrumentos à disposição da

sociedade para o correto acompanhamento da atividade governamental. Eis um problema ainda a

resolver, decorrente da gestão pública gerencial. Mister que haja um procedimento a ser utilizado

para ratificação real, não apenas formal, da atividade administrativa, no dia a dia, pela sociedade.

Azevedo e Anastasia (2002, p. 81) consideram a accountability vertical um importante

elemento para desenvolvimento da governança:

As formas e os graus de accountability e de responsiveness da ordem política afetam, por sua vez, os padrões de governabilidade vigentes nas diferentes sociedades. Sustentamos que a governabilidade democrática é uma variável dependente da capacidade dos governos de serem responsáveis e responsivos perante os governados.

Uma estratégia que pode ser utilizada para possibilitar à sociedade exigir a accountability

vertical dos servidores públicos é oferecer ao cidadão a faculdade de escolher a organização

pública que lhe prestará os serviços, logicamente em um ambiente onde haja uma oferta razoável

(COUTINHO, 2000). Não cabe, pois, numa estrutura monopolista. Se o cidadão puder escolher

qual agência prestadora de serviços será utilizada para resolver sua demanda, fica possível para o

Estado avaliar a qualidade dos serviços prestados, porque o bom atendimento e a solução

satisfatória rapidamente se difundem na sociedade, com reflexos imediatos no quantitativo de

atendimentos. As agências com padrão insatisfatório resultarão em pequenas demandas,

sinalizando que o serviço não está sendo prestado a contento. A sociedade, então, pune

politicamente a ineficiência da agência, abandonando-a. Pode-se aliar, a essa estratégia, um

sistema de recompensa a agências mais procuradas.

Torna-se imperioso, todavia, que a administração estabeleça padrões, regulamentos e

normas a serem observados por todas as agências, mormente no que se refere ao grau de

qualidade dos serviços, pois a competição há que ocorrer em um nível que não comprometa a

qualidade final do produto oferecido. A competitividade provocará a escolha do cidadão pela

melhor prestação de serviços colocada a sua disposição, mas focada na excelência. Para que

funcione, é preciso dotar as agências com recursos idênticos ou aproximados, para que este fator

não seja o de maior influência na eficiente execução do serviço.

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3.1.5.4 Diferenças entre gestão burocrática e gestão gerencial

Podem-se resumir as diferenças da gestão pública burocrática da gestão pública gerencial

nos seguintes pontos:

a) a administração burocrática tende a se concentrar no processo, de acordo com as

necessidades da própria administração, enquanto que a administração gerencial se preocupa com

o oferecimento dos serviços ao cidadão;

b) a administração burocrática tende a controlar a atuação dos servidores, a corrupção e o

nepotismo por um controle total do procedimento, enquanto que a administração gerencial atua

estabelecendo níveis de desempenho e controle de resultados;

c) a administração burocrática não confia nos servidores públicos, por isso estabelece

rigidez nos procedimentos a serem adotados. Na administração gerencial, há uma limitada

confiança nos servidores, deixando certa margem de discricionariedade para o gestor público

atuar, escolher o melhor procedimento que entenda, ao tempo em que foca o controle no

resultado obtido;

d) a administração burocrática tende à centralização e ao autoritarismo, enquanto que a

gerencial aposta na descentralização, através da delegação de poderes a níveis inferiores do

funcionalismo público;

e) enquanto a administração burocrática prega a rigidez, o procedimento formal e a decisão

técnica ou política em níveis superiores, a administração gerencial defende a flexibilização dos

processos, o controle horizontal e a descentralização do comando;

f) na gestão burocrática, a igualdade diz respeito ao procedimento, às normas aplicadas,

diferentemente da gestão gerencial, que busca uma igualdade de resultados (MATIAS-

PEREIRA, 2004).

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3.1.6 A reforma do Estado no Brasil

A implementação da reforma do Estado no Brasil segue o modelo gerencial, através da

criação de agências reguladoras e da descentralização vertical de serviços públicos, cuja

responsabilidade de execução, controle e promoção foi repassada aos Estados e Municípios.

Lubambo (2006, p. 95) descreve dois níveis de transformação decorrente da descentralização:

Assiste-se a dois níveis de transformações: em primeiro lugar, na ampliação do controle social sobre decisões públicas através de mecanismos de participação que envolvem a população diretamente. Em segundo lugar, pelo fortalecimento dos mecanismos de controle de política setorial, mediante a criação de instâncias de deliberação e consulta que aglutinam representantes dos interesses diretamente envolvidos, como também de entidades da sociedade civil, provedores de serviços e clientelas.

Combate-se a ineficiência na prestação dos serviços públicos. Ferreira (1996, p. 4) já

alertava para a questão do desempenho do setor público, ao falar que a reforma do Estado tem os

seguintes objetivos:

• a busca permanente de aumento da eficiência da máquina pública, por intermédio da racionalização e incremento de produtividade (fazer mais com menos); • a melhoria contínua da qualidade na prestação dos serviços públicos, visando atender aos requerimentos da sociedade no que diz respeito ao atendimento das demandas sociais básicas (fazer melhor); • o resgate da esfera pública como instrumento de expressão da cidadania e fórum de aprendizado social (fazer o que deve ser feito).

Em 1995, o Governo Federal adotou o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado,

em um contexto administrativo mesclado entre o patrimonialismo e a arraigada cultura

burocrática, pregando o comprometimento da reforma com a defesa do interesse público

(BRESSER-PEREIRA, 2001). Frise-se que há uma mudança de entendimento do que vem a ser

chamado de interesse público. Na administração burocrática, há uma tendência a considerar o

interesse público como sendo os próprios interesses do Estado. A visão gerencial considera o

interesse público como o interesse da coletividade.

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A proposta apresentou a divisão da Administração Pública em quatro setores: núcleo

estratégico, responsável pela edição de leis e formulação de políticas, representado pelos três

poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário; atividades exclusivas, aquelas onde não há

possibilidade de delegação, uma vez que sua efetivação se dá com o uso do poder do Estado

(polícia, forças armadas, fiscalização de tributos, etc.); serviços não exclusivos, que são aqueles

onde há uma prestação de serviços de alta relevância, mas que prescindem do poder estatal para

sua realização (saúde, educação, etc.); e produção de bens e serviços para o mercado, que é o

setor de infra-estrutura, com atuação das empresas estatais, e forte tendência à privatização

(FERREIRA, 1999).

Em 1999, uma segunda fase da reforma é implementada, com prioridade para o Plano

Plurianual (PPA), através da seleção de 42 projetos considerados prioritários para o

desenvolvimento econômico e social do País. Utilizou-se a denominação de gestão por projetos,

instituindo a figura do gerente e o estabelecimento de metas e prazos a serem atingidos.

Reconhece-se que houve uma série de projetos com resultados favoráveis, principalmente na

área de infra-estrutura, mas o acirramento entre os Ministérios responsáveis pelos projetos e o

Ministério do Meio Ambiente fez arrefecer o impacto das ações planejadas. Outro problema a se

destacar é que, geralmente, o gerente do projeto tinha orientação política diversa do governo

central, acarretando, em alguns casos, que se tornou mero alimentador de dados para o governo,

não possuindo a autonomia política para a tomada de decisões (SANTANA, 2002).

Em um terceiro momento, a partir de 2001, volta-se ao modelo anterior de gestão dos

programas centralizado no Ministério do Planejamento que sucedeu o Ministério de

Administração e Reforma do Estado nas competências, e aos poucos, esvazia-se o PPA, em

decorrência de sua incompatibilidade com a organização, instituindo-se as Agências Executivas.

Discorrendo sobre tal período, Santana (2002, p. 7) conclui:

A experiência brasileira demonstra que essa compatibilização é possível quando se tem no Núcleo Estratégico pessoal bem capacitado tecnicamente. Nesse caso, uma política de recursos humanos consistente que viabilize o ingresso contínuo de pessoas competentes e qualificadas para o exercício da função pública é fundamental para o sucesso da implantação da cultura gerencial e da reconstrução do Estado. E, finalmente, pessoas e organização têm que ser contempladas em qualquer estratégia de mudança.

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A partir de 2003, percebe-se uma paralisação da reforma do Estado. A reforma de 1995, ao

defender que determinadas atividades, - antes realizadas pelo Estado -, fossem transferidas para

organizações sociais que, a princípio, não empregam servidores públicos, dificultava a

acomodação dos partidários da corrente política vitoriosa. Mesmo assim, pode-se afirmar que a

maior política pública, o programa Bolsa Família, conserva uma administração gerencial.

Bresser-Pereira (2007, p. 40), entende que “o fato de que esta é uma reforma que corresponde ao

estágio de desenvolvimento do Estado brasileiro a torna inevitável”.

Com a criação do Sistema de Gestão de Convênios e Contratos de Repasse – SICONV,

através da Portaria Interministerial n. 127, de 29 de maio de 2008, espera-se uma melhoria da

qualidade e controle dos serviços executados de forma descentralizada, através da adoção de

princípios voltados à obtenção de melhores impactos na sociedade. É uma tentativa de

estabelecer condições para o controle gerencial dos convênios e contratos de repasse realizados

pela União, e apresenta um embrião de controle por resultados, que é um dos pilares da

administração gerencial. O art. 54 da Portaria estabelece como critério da fiscalização da

execução do contrato, em seu inciso IV, o cumprimento das metas do Plano de Trabalho nas

condições estabelecidas. Tal disposição, juntamente com o prescrito no art. 21, III, demonstra

que há uma atenção voltada para obtenção de resultados: estabelecem-se as metas no Plano de

Trabalho, fiscaliza-se o cumprimento delas no período de execução, aferem-se os índices de

eficiência e eficácia que servirão para a próxima seleção que a entidade participar. Pode-se

concluir, então, que a Portaria Interministerial n. 127 contribui para o avanço de um modelo de

administração gerencial.

Ademais, observa-se que a administração central ressente-se de uma melhor qualificação

dos servidores públicos responsáveis pela gestão das políticas. Não há como garantir um melhor

resultado dos programas implementados quando se depara com nomeações de gestores com

motivação política.

A Administração Pública, para atingir os objetivos de eficiência e modernização, precisa

contar com servidores públicos cada vez mais qualificados e comprometidos com o interesse

público, porque o patrimonialismo, em menor escala, persiste na Administração Pública, no

Brasil. Motta (2007, p. 94) concorda com essa afirmação:

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A permanência de fortes relações com grupos preferenciais faz a administração brasileira ser retratada ainda como de grande base patrimonialista. As relações patrimoniais contradizem não somente as possibilidades de uma administração modernizada no sentido mais amplo do interesse público como também as práticas liberais tão proclamadas como a opção política dos últimos anos.

Matias-Pereira (2008, p. 80) defende que:

Ficou evidenciado que, em geral, além da ausência de vontade política dos governantes, as reformas — apoiadas em decisões pontuais e casuísticas — se apresentaram desarticuladas e incoerentes. Os custos dessas distorções se refletem na capacidade de competitividade do país, na vida dos cidadãos e na motivação dos funcionários públicos.

Avançar na reforma do Estado é um desafio que se mantém atual e necessário, para

garantia e ampliação dos direitos de cidadania, que estão ligados a um Estado mais democrático

e eficiente, e que passa pela implementação da Gestão Pública Gerencial, com foco nos impactos

das políticas públicas na coletividade.

3.2 Gestão Pública por Resultados

A discussão que envolve a gestão pública por resultados é fruto de uma tentativa de

organizações internacionais em se chegar a um modelo de gestão convergente e válido para a

maioria das nações. Tal tentativa resultou em algumas desilusões, pois se vislumbrou no final do

século passado e início do atual que, apesar de ser uma exigência mundial o rigor da gestão e a

modernidade do Estado, a cultura e as condições específicas de cada região exercem grande

influência sobre o sucesso da reforma, devendo ser levadas em consideração na adoção de

medidas preconizadas como ideais. Modelos prefixados devem ser adaptados às condições

regionais, garantindo a legitimidade das mudanças implementadas. O sucesso verificado em uma

determinada administração não necessariamente significa a garantia de êxito em outra. A

adaptação será sempre necessária, respeitando a singularidade de cada cultura e região.

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Por outro lado, o novo gerenciamento que se propõe, ao invés de desmontar o serviço

público, como alguns pensaram, objetiva fortalecê-lo. Deve-se conhecer os custos e os níveis de

serviços, definir as margens de produtividade, descentralizar as responsabilidades e adaptar

melhor as qualificações e competências dos cargos a serem preenchidos no serviço público.

Some-se a isto uma inversão na forma de agir do Estado: define-se o resultado a alcançar e

deixa-se aos gerentes e aos servidores a escolha dos meios e estratégias, com uma margem de

liberdade ou discricionariedade. Esta mudança, no entanto, não deve ser ilimitada. Deve estar

alicerçada por um acréscimo na responsabilidade dos agentes públicos (accountability), numa

verdadeira prestação de contas, e ainda, por um compromisso proporcional ao aumento da

liberdade (TROSA, 2001).

Segundo Serra (2008, p. 18), “o Estado deve deslocar sua atenção, antes colocada no

procedimento como produto principal de sua atividade, agora voltada para o de serviços e bem-

estar. A gestão por resultados é um dos lemas que melhor representa o novo desafio”. Isto não

significa, no entanto, que “o como se faz” não é importante, mas mais importante ainda deve ser

“o que se faz” para a sociedade. Como confirma Pacheco (2006, p. 7):

Por meio de metas pré-acordadas entre as partes, a serem alcançadas pela entidade prestadora do serviço em troca de algum grau maior de flexibilidade ou apenas de previsibilidade, a contratualização de resultados no setor público substitui o controle clássico político (pela hierarquia) e burocrático (pelo cumprimento de normas) pelo controle baseado em resultados e uma certa competição administrada que dá visibilidade aos resultados alcançados.

Martins (2005, p. 8) segue nessa mesma esteira de pensamento quando prega que a “ênfase

em resultados é colocar os fins acima dos meios; é superar obstáculos processuais para garantir o

alcance dos objetivos”. É que a “a introdução da lógica de resultados muda o enfoque das

políticas públicas dos procedimentos para os resultados, promovendo a flexibilidade na gestão

das atividades e oferecendo um novo conjunto de informações para os cidadãos controlarem os

governantes” (SANO e ABRÚCIO, 2008, p. 68). E assim o é, especialmente no Brasil, porque “o

arranjo institucional sobre o qual se constituíram as políticas sociais brasileiras determinou, em

grande medida, o baixo desempenho de seus programas, comprometidos por problemas de

gestão, desenho e ausência de avaliação dos resultados” (FERRAREZI, 1997, p. 5).

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Esta mudança é necessária para atender a diversos reclamos, entre eles: o desafio

decorrente da globalização, que exige a utilização de todas as possibilidades de tecnologia e a

melhoria da capacidade dos servidores públicos de compreenderem as diferenças entre os países

e a transformação na atitude dos usuários, que não mais se sujeitam a serem tratados como

súditos ou beneficiários. Estes reflexos impõem um novo gerenciamento que pode ser traduzido

por um Estado que administre menos para controlar mais, que conheça a diversidade da

sociedade civil e a gerencie, que escute, que não imponha nem se submeta, que garanta a coesão

social (TROSA, 2001).

3.2.1 O abandono de antigos paradigmas e o estabelecimento de novos princípios

Alguns paradigmas, que durante décadas foram considerados como verdades absolutas,

foram desmontados pela verificação fática. É que o acompanhamento da estrutura estatal na

maioria dos países contradisse e derrubou esses axiomas, acabando com antigos dilemas.

O Estado, mesmo quando é eficiente, sempre vai precisar ser modernizado ou reformado,

porque as mudanças da sociedade e do mundo, que nunca param, acarretam um envelhecimento

precoce da forma de gerenciamento estatal, geralmente dependente de alterações constitucionais

e legislativas, que demandam tempo razoável e esforço político, para sua adequação às novas

exigências sociais. O aspecto cultural do funcionalismo também é outro ponto que pode retardar

as modificações necessárias à modernização do Estado, representando sempre uma resistência a

processos que demandam grandes alterações no status quo. Não existirá estrutura ou modelo

definitivo de aparato administrativo.

Por outro lado, a gestão administrativa do Estado não é uma questão interna à própria

máquina administrativa. Ela perpassa para o ambiente social e causa bons ou maus impactos para

a sociedade, mormente quando sua função primordial é a efetivação das políticas públicas. Se a

máquina administrativa funciona bem, a política causará o impacto desejado. Por isso, defende-

se que há uma ligação entre democracia, cidadania e gestão pública. O aparelho administrativo

acompanha, sempre com um certo atraso, o avanço da sociedade, e esta, ao mesmo tempo em

que influencia o modelo estatal, sofre as consequências da boa ou má gestão.

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A gestão pública por resultados se baseia, dessa forma, em três princípios fundamentais: a

delegação da execução de serviços baseados em contratos entre o Estado e organismos

executores, que podem ser outros órgãos públicos, entidades privadas, ou os chamados

organismos públicos não estatais, estabelecendo condições e níveis de desempenho que deverão

ser buscados, para obtenção de resultados planejados; a avaliação dos resultados obtidos pela

implementação das políticas públicas pelos gestores, através dos critérios pré-definidos nos

contratos; e a responsabilização (accountability) dos gestores pelos resultados obtidos.

3.2.2 Estágios da evolução do serviço público

Historicamente, podemos destacar três estágios na evolução do serviço público: o estágio

hierárquico, o estágio da delegação sem contrapartida e o estágio da contratualização.

No estágio hierárquico, o governo decide as prioridades sem qualquer consulta à sociedade

ou à base de servidores e determina a execução. Quanto mais baixo for o nível hierárquico do

servidor, mas será ele um executor, sem qualquer liberdade de atuação. O controle se dá por

normas, estabelecendo o dirigente todos os procedimentos a serem executados. Os resultados

obtidos podem variar porque não existe a possibilidade de adequação de procedimentos a casos

concretos. É a igualdade de procedimentos que se busca, e o controle funcional se dá apenas no

cumprimento pelo servidor das formalidades normativas. Não há um comprometimento do

servidor com o resultado. O sistema se baseia em um excesso de normas, disciplinando todas as

atividades, de modo que o servidor não terá nenhum controle sobre o resultado alcançado.

No estágio da delegação, ocorre uma desconcentração, deixando uma maior margem para

os servidores inovarem. É uma delegação de responsabilidade aparentemente saudável, mas que

resulta em um isolamento das organizações, cada um fazendo da maneira que entende

conveniente, sem intercâmbio de experiências, e onde os erros geralmente são repetidos, em cada

órgão. Os resultados melhoram, mas não há uma interligação entre as atividades desenvolvidas

pelos diversos órgãos, de modo que se perde o liame social da política pública. Cada um atua no

seu restrito universo, sem a percepção de que a atividade estatal permeia toda a sociedade. Os

ganhos e acertos devem ser levados a outros setores da sociedade, ao mesmo tempo em que os

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erros cometidos em um ambiente devem ser imediatamente evitados em outros. Esse

aprendizado organizacional é um fator que não pode ser desprezado, daí porque a delegação não

funciona para o serviço público.

No estágio da contratualização, a norma é negociada, como em um contrato, implicando

uma transação baseada na escuta, no acordo, no equilíbrio e na equidade, gerando obrigações e

direitos para as partes que o compõem. Acabam os equívocos do tipo “o funcionário tem sempre

razão” ou “os usuários têm sempre razão”. A razão é compartilhada e negociada. Há que se

explicar porque uma decisão foi tomada, ao invés de outra. A verdade será bilateral ou

plurilateral, e não mais unilateral. O Estado assume compromissos, obrigações, ao invés de

apenas impor deveres, como é na delegação. Esse passa a ser um importante diferencial, pois o

Estado durante séculos se limitou a impor deveres e condições, sem uma contrapartida de

obrigações. Ao se obrigar, como condição para exigência da eficiência da política pública, o

Estado poderá exigir e ser exigido, como acontece com as partes de um contrato de direito

privado, resguardada, no entanto, sempre a defesa do interesse público (TROSA, 2001).

Martins (2002, p. 7) percebe que o caminho para a contratualização, no Brasil, enfrenta

alguns entraves. São eles:

a) a cultura da isonomia, que se opõe à meritocracia contratual (Barbosa, 1999), segundo a qual é preferível que todos ganhem o mesmo, que se diferenciem pelos resultados; b) a cultura da conformidade, ilustrada na figura anti-empreendedora do líder Caxias (Carbone, 2000), segundo a qual é necessário cumprir as regras acima de tudo, em absoluta desconsideração aos resultados em questão; c) a cultura do medo patrimonialista, uma variação paranóica da cultura da conformidade em função da qual, face a uma síndrome patrimonialista historicamente adquirida, prevalece o sentimento de que qualquer brecha ou oportunidade discricionária para fins empreendedores será fatalmente utilizada para se promover interesses particularísticos em detrimento do interesse público; d) a prevalência do “código do fracasso”, que dispõe: “art. 1º: não pode; art. 2º: em caso de dúvida, abstenha-se; art. 3º: se é urgente, espere; art. 4º: sempre é mais prudente não fazer nada” (Dromi, 1995: 35).

Sistemas informatizados e integrados com soluções além da norma jurídica, agentes que

prestem contas dos resultados e não dos meios empregados, barreiras financeiras para gasto

global, e decisão colegiada garantem uma melhor qualidade dos serviços prestados. Flexibilidade

nos ajustes com os atores dos serviços descentralizados é condição para se obter melhores

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resultados. Assim, abandona-se a visão legalista contratual e parte-se para a negociação

contratual. Este é o caminho que deve ser trilhado pela administração para se chegar à

modernidade exigida pela sociedade. Prevalece o fim, diminuindo-se a importância do meio.

Trosa (2001, p. 75) ensina que:

A verdade não é mais unilateral. Eis aí o desafio do serviço público de amanhã, que é o de nem impor uma solução pronta, isto é, resultante da experiência acumulada dos funcionários sem se disporem a ouvir os usuários, nem de renunciar e a acreditar que eles estão ali simplesmente para prestar os serviços que lhes são solicitados. A parte de julgamento e de avaliação vai crescer, mas quem diz julgamento e avaliação diz igualmente de prestar contas, o que constituirá uma verdadeira revolução nos costumes administrativos, nos quais prestar contas é algo formal.

3.2.3 Desafios para implantação da Gestão Pública por Resultados

Para Corrêa (2007, p. 498):

A gestão pública por resultados foi, assim, desenvolvida como uma estratégia que tem início no momento do planejamento estratégico e vai até o processo de feedback das políticas públicas, podendo ser considerada uma prática de boa governança e desenvolvimento institucional, respeitando princípios da distribuição eficiente de recursos públicos e accountability.

Mas, para que se tenha êxito nesta mudança, impõe-se a clareza das regras negociadas, e na

dúvida, a negociação do esclarecimento, e após tal definição, a sua sustentação incondicional,

abordando-se com coragem o bom e o mau desempenho. O mau desempenho não deve ser

motivo de punição, mas de aprendizagem. Ou seja, estabelece-se uma parceira entre o

contratante Estado e o prestador dos serviços, que se traduz em um diálogo contínuo, numa

retificação dos problemas no seu surgimento, e não depois da ação realizada, numa cooperação

de conhecimento e habilidades, numa partilha de riscos, lucros e perdas, que perduram em

relações duradouras, realimentando o aprendizado (TROSA, 2001).

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Para Nader (2005, p. 36), a importância da gestão por resultados representa verdadeiro

avanço democrático:

A introdução da lógica de resultados e do ciclo de gestão representa, teoricamente, um apoio à consolidação democrática, na medida em que as ações são definidas em função de demandas identificadas com a participação da sociedade, com resultados quantificados e indicadores de desempenho que possibilitam o acompanhamento da execução. Associadas à vontade política de dar transparência às ações governamentais, essas lógicas facilitam ao cidadão o entendimento de como o dinheiro público está sendo usado.

A implantação da gestão pública por resultados precisa ser compreendida como um

processo que necessita da conjunção de alguns fatores de êxito, tais como, compromisso e

administração das profundas mudanças no sistema de gestão da administração pública,

comprometimento das autoridades políticas na manutenção do processo, gestão do tempo, pois o

processo de mudança cultural da gestão é longo e precisa ser perseverado, adaptação ao contexto

cultural da região e das condições específicas, análise e uso da informação e aprendizado

organizacional e individual (SERRA, 2008). E neste aspecto, entender o real significado do

princípio da eficiência é o pressuposto de que, necessariamente, os condutores da máquina

administrativa deverão ter total domínio, pois como assevera Oliveira (2007, p. 26):

Por esse norte, o vetor eficiência ganhou características próprias, infelizmente desconsideradas pela maioria dos doutrinadores do Direito Administrativo, tema a ser desenvolvido logo mais. Agregou, por exemplo, que a apreciação da atividade pública, seguindo a iniciativa privada, se mede por resultados, embora não aferível pelo sentido da lucratividade. Daí a propositura da figuração administrativa gerencial ou de resultados.

Oliveira (2007, p. 21) concorda sobre a existência de um liame entre a eficiência e o

controle de resultados, pois “prestigiar a eficiência e o controle de resultados significa dar

cumprimento aos ditames constitucionais, principalmente aos preceitos inseridos no caput do art.

37 e no inc. II do art. 74”.

Garces (2002, p. 72) atentou para o desenlace político que a implantação da gestão por

resultados acarreta, e afirmou:

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A gestão orientada para resultados cria percepções de ganhos e perdas. Perdem as estruturas da organização, cujo poder é aparentemente ameaçado pela transparência que decorre da gestão por programas. Ganham os segmentos da sociedade beneficiários dos programas e os gestores de alto nível da administração pública, que são avaliados em função dos resultados percebidos pela sociedade em geral. Nesse contexto, a comunicação com a sociedade assume um papel de melhoria constante dos programas e de transformação da gestão.

3.2.4 A importância dos indicadores

Gestão por resultados, no setor público, é necessariamente avaliar a atividade

administrativa. Não há como perceber a realidade sem eleger alguns elementos de cognição. Daí

porque ganha importância estabelecer indicadores, qualitativos ou quantitativos, para, através

deles, poder efetuar comparações e criar paradigmas. Os indicadores, no entanto, devem se

interligar, tornando possível que, na sua análise, possa-se perceber o reflexo de um indicador

sobre outro, e devem, também, ser sempre interpretados, evitando-se a sua consideração como

valor absoluto. Este é um ponto importante: relativizar o valor do indicador é perceber quais

fatores o influenciam, caso a caso, para poder explicar as razões de sua variação.

Santos e Cardoso (2001, p. 8) revelam a importância dos indicadores:

Um sistema de indicadores de desempenho bem planejado e bem estruturado oferece a possibilidade de um grau maior de compromisso com resultados durante a discussão e a execução de programas mediante a determinação de metas de desempenho que expressem os sucessos esperados em termos da quantidade e qualidade dos serviços prestados à comunidade e da efetividade e eficiência com que são oferecidos.

Alguns cuidados devem ser tomados, porém, na eleição dos indicadores. Evita-se o seu

excesso, pois esse excesso pode tornar infrutífera a avaliação e estabelecer um procedimento

longo e de difícil compreensão. Poucos indicadores, de fácil manipulação e obtenção, vão

favorecer a sua utilização pelos gestores, no dia a dia da administração. Os indicadores precisam

ser utilizados continuadamente, uma vez que só assim poderão ser tomadas as providências que

importem a melhoria da qualidade dos serviços, com rapidez e clareza. Outra cautela relevante é

que os indicadores devem refletir o grau de atendimento aos objetivos da atividade

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administrativa. Não interessa a ninguém indicadores que não representem um fator de obtenção

do resultado perseguido.

Para cada atividade administrativa, e para cada nível hierárquico, deve ser estabelecido um

rol de indicadores. Determinado indicador muito útil para um caso pode ser inútil em outro.

Portanto, o indicador deve estar ligado à atividade que se quer avaliar, de modo que sua apuração

resulte em um dado importante na análise dos resultados. Servirão de apoio à gestão e ao

controle, mas não devem ser motivo de pânico ou ameaça.

Os indicadores possuem dupla função. Encorajar e estimular o gestor para que busque a

sua melhoria, usando os conhecimentos técnicos, é uma delas. Sabendo onde atuar, o gestor

poderá facilmente perceber se as condutas estão atingindo os impactos pretendidos, e poderá

também corrigir alguns rumos equivocadamente empreendidos (TROSA, 2001). É que

“controlar, no sentido de acompanhar indicadores de performance das atividades organizacionais

e implementar correções eventualmente necessárias de procedimentos, é parte relevante das

funções de Gestores” (RIBEIRO FILHO, 1997, p. 6). Para o controlador, permite avaliar o gestor

pelos resultados obtidos (accountability), orientando, repreendendo ou promovendo a correção.

Foge-se, assim, à tradicional verificação de formalidades e cumprimento da legislação, e busca-

se avaliar a atuação do administrador.

3.2.5 Incentivos à busca dos resultados

O sucesso da gestão por resultados, como se pode depreender, estará ligado a um

engajamento do corpo funcional. O que se espera é que os gestores e o corpo de servidores se

empenhem em encontrar soluções que possibilitem a melhoria da qualidade dos serviços

públicos. Mas para que isso aconteça, é importante que a administração encontre uma forma de

estimular, uma política de incentivos que busque um equilíbrio entre a melhoria do serviço e a

recompensa administrativa pelos resultados obtidos. Se a melhoria do serviço for muito superior

à recompensa, o corpo funcional e o próprio gestor ficarão desestimulados a prosseguir. Por

outro lado, se a recompensa for igualmente concedida àqueles que não obtiveram os mesmos

resultados, a busca por resultados fracassará (TROSA, 2001).

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Corrêa (2007, p. 500) discorre que “nesse tipo de acordo, as unidades operativas se

comprometem a cumprir com as metas previamente estabelecidas, enquanto a alta direção

fornece incentivos que favorecem o alcance das metas”.

Destarte, para os que obtiveram melhores resultados, deve-se recompensar

financeiramente, alocando, se possível, mais recursos orçamentários, para a administração.

Reconhecer perante a comunidade administrativa o sucesso e, por consequência, aumentar a

autonomia são formas de retribuição pelo êxito. Aos que não obtiveram os resultados esperados,

aplica-se um rol de sanções que podem ir desde a promoção de cursos de aperfeiçoamento,

focados nos pontos nevrálgicos da atividade administrativa, até a destituição do gestor e equipe.

A política de gestão de pessoas deve estar voltada para interpretar as razões do mau

desempenho, dando oportunidade para que o gestor justifique e apresente sugestões de solução

para as dificuldades encontradas. Somente após uma análise individual e pormenorizada da

situação que levou ao desempenho insatisfatório é que devem ser tomadas as decisões de

mudança. Importante que essa decisão seja colegiada, para evitar os abusos pessoais e

subjetivismo. O que não se pode deixar de fazer é a reorientação dos rumos, mostrando que o

mau desempenho será sempre combatido, com consequências punitivas, mas proporcionais ao

caso, sem um rol prévio de penalidades, haja vista que a verdade, na gestão por resultados é

negociada, e nunca imposta.

Brandão e Guimarães (2001, p. 13) fazem um revelador paralelo entre a gestão de

desempenho e a gestão de pessoas, ao defender que:

Ambas as tecnologias podem empregar indicadores relacionados tanto ao resultado do trabalho como ao comportamento ou processo utilizado para alcançá-lo. Quando a gestão de desempenho ocorre no nível individual, por exemplo, é possível avaliar o trabalhador tomando como parâmetro não só os resultados decorrentes do trabalho executado mas também a manifestação, por parte do indivíduo, de conhecimentos, habilidades e atitudes que se pressupõe serem relevantes para a consecução dos objetivos organizacionais. Da mesma forma, na gestão de competências, uma competência se traduz tanto pelo resultado alcançado como pelo conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para atingi-lo. Observam-se, então, até mesmo semelhanças conceituais entre competência e desempenho. O resultado alcançado (desempenho) representa, em última instância, a própria competência do indivíduo.

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3.2.6 A contratualização da Administração Pública no Brasil

3.2.6.1 A contratualização entre órgãos da Administração Pública Federal

O parágrafo 8.º do artigo 37 da Constituição Federal de 1988, inserido pela Emenda

Constitucional n. 19/98, trouxe ao nível constitucional uma significativa mudança, ao estabelecer

que a autonomia gerencial, orçamentária e financeira da Administração Pública, direta e indireta,

poderá ser ampliada através de contrato a ser firmado entre o administrador e o poder público,

fixando metas de desempenho para o órgão ou entidade. Houve uma constitucionalização do

contrato de gestão na administração pública brasileira, antes restrito às empresas estatais, desde o

ano de 1991, através do Decreto n. 137 (OLIVEIRA, 2007).

A idéia da utilização do contrato de gestão parte do objetivo de utilizá-lo como um elo

entre o núcleo estratégico, responsável pela formulação de políticas públicas, e os demais órgãos

da administração, componentes dos outros setores – atividades exclusivas, serviços não

exclusivos e produção de bens e serviços para o mercado -, de forma a desenvolver a

contratualização das relações entre o Estado e os executores das políticas públicas, possibilitando

um início de implementação do controle por resultados.

A finalidade é criar condições para fixar metas de desempenho, através de indicadores,

permitindo assim a avaliação do desempenho. O controle da eficiência dos serviços públicos

passaria então, a ser implementado, por esse sistema de avaliação de impactos. Vê-se, dessa

forma, a transmudação do Estado prestador dos serviços públicos para o Estado regulador dos

serviços públicos. Há que se registrar que o contrato de gestão previsto constitucionalmente

ainda se encontra sem a regulamentação legal prevista no parágrafo 8.º do artigo 37 da Carta

Magna, dificultando a formalização de contratos de gestão entre órgãos da administração direta.

Na Administração Federal, há uma única entidade qualificada como agência executiva – o

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, que se

relaciona com poder público por meio de contrato de gestão, já com sucessivas renovações.

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Pacheco (2006, p. 3) entende sem receio que “numa visão abrangente, arriscamos afirmar

que a contratualização de resultados, na esfera federal, é tímida e limitada a poucos casos,

iniciados no período 1995-2002”.

3.2.6.2 As agências reguladoras

O processo de privatização dos serviços públicos, ocorrido da última década do século

passado, desencadeou a necessidade de o poder público federal criar agências reguladoras, com o

objetivo de estabelecer regras e fiscalizar a atuação das empresas privadas vencedoras das

concorrências de privatização. Estas entidades, criadas na segunda metade da década passada,

foram criadas sob a forma de autarquia especial, gozando de autonomia financeira, estrutural e

funcional.

São as seguintes: Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL e Agência Nacional do

Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, vinculadas ao Ministério de Minas e Energia;

Agência Nacional de Telecomunicações – ANATEL, vinculada ao Ministério das

Comunicações; Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA e Agência Nacional de

Saúde Suplementar - ANS, vinculadas ao Ministério da Saúde; Agência Nacional de Águas –

ANA, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente; Agência Nacional de Transportes Terrestres –

ANTT e Agência Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ, vinculadas ao Ministério dos

Transportes; Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, vinculada ao Ministério da Defesa; e

Agência Nacional do Cinema – ANCINE, vinculada ao Ministério da Cultura (PACHECO,

2006a).

Não há ainda uma uniformização de tratamento jurídico das Agências Reguladoras,

iniciativa feita pelo executivo ao Congresso Nacional em 2004 (Projeto de Lei n. 3.337/2004),

mas que se encontra ainda sem aprovação legislativa. Cada Agência Reguladora obedece a sua

lei de criação. Desta forma, a contratualização de resultados com as Agências Reguladoras está

limitada a uma decisão administrativa discricionária do poder federal, em decorrência da

inexistência de imposição legal, como previsto no projeto de lei. Há que se registrar, no entanto,

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que a ANS, a ANVISA e a ANEEL se relacionam com a Administração Federal por meio de

contratos de gestão, renovados anualmente (SARAVIA, 2005).

3.2.6.3 O espaço público não estatal

A reforma gerencial trouxe à discussão da sociedade uma forma intermediária entre a

dicotomia público/privado. É o espaço público não estatal, formado por entidades privadas sem

fins lucrativos que atuam em parceira com o Estado, exercendo atividades de interesse público.

Dentro das atividades não exclusivas do Estado, essas entidades atuam, propiciando serviços ao

cidadão, sem a finalidade de obtenção de lucro. Bresser-Pereira (1999, p. 17) aponta a existência

de quatro espaços de atuação:

Em outras palavras, estamos supondo a existência de quatro esferas ou formas de propriedade relevantes no capitalismo contemporâneo: a propriedade pública estatal, a pública não-estatal, a corporativa, e a privada. A pública estatal detêm o poder de Estado e/ou é subordinada ao aparato do Estado; a pública não-estatal está voltada para o interesse público, não tem fins lucrativos, ainda que sendo regida pelo Direito privado; a corporativa também não tem fins lucrativos, mas está orientada para defender os interesses de um grupo ou corporação; a privada, finalmente, está voltada para o lucro ou o consumo privado.

Esse espaço público não estatal, também conhecido como terceiro setor ou setor não

governamental, ganhou importância a partir do momento em que o Estado passou a reconhecer a

sua legitimidade para exercer atividades de interesse público, e estabeleceu regras para a

delegação ou suplementação das atividades também desenvolvidas pelo poder público. O

objetivo consiste em fazer com que essas organizações firmem contrato de gestão com o poder

público, visando à prestação de serviços não exclusivos do Estado para a sociedade.

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3.2.6.3.1 Organizações Sociais

A qualificação de Organização Social - OS foi criada pela Lei Federal n. 9.637/98

(SARAVIA, 2005). São entidades de direito privado, sem fins lucrativos, com finalidade social

nas atividades ligadas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à

proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, que, cumprindo os requisitos

previstos na lei, obtenham do poder público o reconhecimento da condição. Essas entidades

reconhecidas como organizações sociais, através do Ministério a que esteja afeta a sua atividade,

se relacionam com o poder público através de contrato de gestão, obrigatoriamente estipulando

metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução, bem como previsão expressa dos

critérios objetivos de avaliação de desempenho a serem utilizados, mediante indicadores de

qualidade e produtividade.

Ribeiro (2008, p. 17) considera um avanço a utilização do contrato de gestão nas relações

entre o poder público e as organizações sociais:

Deverá ser entendido que o contrato de gestão é um instrumento importante para o desenvolvimento do Estado brasileiro, inobstante as críticas principiológicas, e conclui-se no sentido de ser necessário e até benéfico ao Poder Público o uso do contrato de gestão em sua atividade, porém tal contratação deverá estritamente obedecer os ditames da referida Lei n. 9.637/98, à luz dos demais normativos constitucionais.

Não se trata de uma nova forma de organização, mas de uma qualificação expedida pelo

poder público, conferindo às fundações privadas ou às associações civis o grau de organização

social, de forma que, através dessa qualificação, possa firmar o contrato de gestão previsto na lei,

cujas diretrizes são a ênfase no atendimento ao cidadão-cliente, nos resultados, qualitativos e

quantitativos, nos prazos estipulados, e no controle social das ações de forma transparente.

Encontram-se, assim, presentes alguns princípios da gestão pública por resultados. As

organizações sociais estão dispensadas de participar de licitação para firmar compromissos com

entes públicos, na conformidade do artigo 24, inciso XXXIV da Lei n. 8.666/93 (RIBEIRO,

2008).

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3.2.6.3.2 Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público

A Lei Federal n. 9.790 criou as chamadas Organizações da Sociedade Civil de Interesse

Público – OSCIP (BRASIL, 1999). São organizações de direito privado, sem fins lucrativos, que

necessitam de uma qualificação expedida pelo Ministério da Justiça, cuja finalidade social seja a

atuação em, pelo menos, uma das áreas previstas no artigo 3.º da Lei. São elas: promoção da

assistência social, cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; promoção

gratuita da educação, da saúde, da segurança alimentar e nutricional; defesa, conservação e

preservação do meio ambiente e promoção de desenvolvimento sustentável e do voluntariado;

combate à pobreza, pela promoção do desenvolvimento econômico e social; experimentação de

novos modelos de produção, comércio, emprego e crédito; assessoria jurídica gratuita e

promoção de direitos estabelecidos e também a construção de novos direitos; promoção da ética,

da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e outros valores universais; e estudo,

pesquisa, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos concernentes às

atividades citadas.

A relação com o poder público se dá através de Termo de Parceria, onde são estabelecidas,

em mútuo acordo, as condições para exercício das atividades. Dentre essas condições, é

obrigatório o estabelecimento de metas e resultados a serem atingidos, com o respectivo

cronograma, além de critérios objetivos de avaliação de desempenho, com a utilização de

indicadores de resultado. É, pois, um instrumento de descentralização de serviços, de caráter

suplementar às atividades desenvolvidas pelo poder público, e que busca, dentro dos novos

padrões de gerenciamento público, o estabelecimento de metas e avaliação de resultados

(BRASIL, 1999).

Oliveira (2005, p. 13) revela que:

Cada vez mais, instituições que não são nem do Estado nem do setor privado prestam serviços sociais de caráter público. Em geral, são organizações sem fins lucrativos que promovem atividades relacionadas com os direitos sociais dos cidadãos e que expressam a vitalidade da sociedade civil ao ocupar os espaços vazios deixados pelo mercado e o Estado.

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3.2.6.3.3 O Sistema de Gestão dos Convênios e Contratos de Repasse

O Decreto n. 6.170 (BRASIL, 2007) é um importante marco na estratégia de

contratualização do governo federal com as entidades do chamado terceiro setor. A criação do

Sistema de Gestão dos Convênios e Contratos de Repasse, através de um portal eletrônico

chamado de SICONV, trouxe aos contratos celebrados entre o poder público e o terceiro setor

uma transparência inédita, pois possibilita a consulta remota pela população.

A Portaria Interministerial n.. 127 (BRASIL, 2008) estabelece normas para execução do

disposto no Decreto n◦. 6.170, que dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos

da União mediante convênios e contratos de repasse.

A Portaria estabelece alguns marcos de controle de eficiência. Traz avanços ao conferir

mais transparência ao pagamento dos custos administrativos das organizações sem fins

lucrativos, com recursos de convênio, ao permitir a utilização de 5% dos recursos para tal fim.

No artigo 3.º da Portaria determina-se que os atos e procedimentos relativos à formalização,

execução, acompanhamento, prestação de contas e informações acerca de tomada de contas

especial serão realizados no SICONV, aberto à consulta pública, por meio do Portal dos

Convênios (BRASIL, 2008). A transparência que se quer dar aos instrumentos celebrados é um

bom sinal, pois, ao centralizá-los em um só lugar e permitir o acesso remoto da Sociedade Civil,

torna possível a consulta e o acompanhamento. Tal transparência é condição para o exercício da

cidadania, facilitando assim a accountability.

O § 2º do artigo 4.º do instrumento normativo citado estabelece, na esteira dos mesmos

princípios insculpidos na Lei de Licitações, que a elegibilidade e a prioridade dos programas

deverão obedecer a critérios objetivos, com vistas a atingir melhores resultados na execução do

objeto, pela aferição da qualificação técnica e da capacidade operacional do convenente ou

contratado. O significado de qualificação técnica e capacidade operacional poderá ser melhor

entendido se lido à vista do artigo 30 da Lei de Licitações (BRASIL, 1993). Mas é importante

ressaltar que, ao reverso da Lei de Licitações, não se procura a proposta mais vantajosa

economicamente para a Administração Pública, mas sim melhores resultados, o que deixa

transparecer uma mudança no modo de gerir os recursos. Buscar os melhores resultados é a

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decisão política correta, pois nem sempre o menor preço é o melhor para a sociedade,

principalmente quando se trata de gastos sociais.

Outro relevante ponto a ser destacado é o chamamento público, estabelecido no art. 5.º da

aludida Portaria a que ficam obrigados os órgãos da Administração Pública Federal para

celebração dos instrumentos regulados, para seleção de órgãos ou entidades. Em seu § 2º,

estabelece indicadores de eficiência e eficácia da entidade privada sem fins lucrativos, para

formação do histórico do desempenho, a partir de 1º de julho de 2008 (BRASIL, 2008). O

critério de regularidade fiscal e habilitação jurídica, tão arraigados na Lei de Licitações, cedem

lugar à eficiência e eficácia de desempenho, nos resultados obtidos. A obrigatoriedade dessa

norma dar-se-á a partir de 1º de janeiro de 2011.

Cumpre também ressaltar a mudança na forma de terceirização dos serviços das entidades

sem fins lucrativos estabelecida nos artigos 45 e 46 da Portaria, através de cotação eletrônica no

SICONV com utilização do bando de dados do SICAF, feita automaticamente pelo sistema. Isto

fará com que as terceirizações fiquem registradas e identificadas no Portal, além de contribuir,

certamente, para uma diminuição dos preços dos bens e serviços, além de evitar a burla de

resultados.

Entrementes, a possibilidade de utilização de registro de preços dos entes federados, antes

de ser uma faculdade, como previsto no artigo 48 da Portaria em tela, deveria ser uma obrigação,

pois como admitir que um bem registrado por um preço menor seja adquirido de outro

fornecedor com preço maior, uma vez que não há previsão de cotejo entre os preços obtidos na

cotação de preços com os registrados nos órgãos, como fez para os órgãos e entidades da

Administração Pública, na previsão do artigo 49.

3.2.6.4 O setor privado

A Lei n. 11.079 (BRASIL, 2004a) criou as parcerias público-privada - PPP no direito

administrativo brasileiro. Não é um novo tipo de contrato, mas regras especiais para

instrumentos jurídicos já existentes, como a concessão, a permissão e os contratos de obras

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públicas. Quando sob a égide da nova lei, adquirem excepcionalidades que os diferenciam dos

contratos comumente utilizados pela Administração Pública.

São contratos no qual a entidade privada se responsabiliza pelo levantamento de recursos

iniciais que possibilitem a prestação dos serviços públicos. Espera-se que a indisponibilidade de

recursos de investimentos por parte do poder público seja suplantada pelos investimentos

privados, mormente no setor de infra-estrutura. Por outro lado, tem como outro objetivo a

privatização de serviços públicos constantes das atividades não exclusivas do Estado. Têm

duração de 5 a 35 anos, e o valor contratual deve ser superior a R$ 20.000.000,00 (BRASIL,

2004a).

A definição legal para a parceria público-privada encontra-se no artigo 2.º da Lei n.

11.079/2004. É o contrato administrativo de concessão, apresentado sob duas modalidades: a

patrocinada e a administrativa. Na modalidade patrocinada, o serviço ou a obra pública

envolverá, além da contribuição dos usuários, uma retribuição do parceiro público,

adicionalmente aos valores cobrados dos usuários. Na concessão administrativa, o parceiro

público é usuário direto ou indireto do serviço público privatizado, ainda que haja o

envolvimento de execução de obra ou fornecimento, ou instalação de bens.

Na concessão patrocinada, a contribuição do parceiro público pode se estender até 70% do

valor do serviço, sem necessidade de autorização legislativa. Para percentuais superiores, a lei

prevê uma autorização legislativa específica. A concessão administrativa geralmente se dá

naqueles serviços públicos onde não há a cobrança de tarifa aos usuários, ou onde o governo

central não deseja que a tarifa seja cobrada. Podem ser, por exemplo, construção de escolas ou

hospitais. Esse serviço não será cobrado dos usuários, de modo que a retribuição do parceiro

público será de 100% do valor do serviço, sem necessidade de autorização legislativa.

Alvarenga (2005, p. 3) defende que:

Contratos de obras públicas realizadas sob a égide desta Lei 11.079/04, continuam a ser contratos de obra pública, bem como, as concessões de serviços públicos continuam a ter a mesma natureza. A ressalva é que, quando submetida ao regime jurídico desta Lei, terão regras especiais.

Entre os controles previstos na lei da parceira público-privada que podem ser considerados

como elementos da gestão por resultados, pode-se destacar: consulta pública do edital e da

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minuta do contrato, antes da realização da licitação, possibilitando à sociedade apresentar

sugestões; audiência pública para avaliação do desempenho do parceiro privado, o que

representa a possibilidade de exercício da accountability política pela sociedade civil; controle

exercido pela parceiro pública, através da administração direta ou agência reguladora, de modo a

verificar a qualidade dos serviços prestados e a adequação da tarifa ou contraprestação, com

vistas a obter melhor eficiência dos serviços prestados, conforme disposições constantes do

contrato; disponibilização pública dos relatórios de avaliação da execução contratual.

Em 25 de maio de 2010, foi firmado o primeiro contrato pela Lei da parceira público-

privada, na área federal, para construção de um centro de dados que servirá para o Banco do

Brasil e Caixa Econômica Federal, em Brasília. Pelo que se depreende, pois, a parceria público-

privada pode se tornar um importante instrumento de contratualização dos serviços públicos não

exclusivos do Estado, uma vez que permite que o setor privado com fins lucrativos possa se

tornar parceiro do poder público na obtenção de serviços de melhor qualidade, o que importará

uma melhoria de atendimento das necessidades da população, além de possibilitar a concorrência

de empresas privadas pela conquista do usuário cidadão, com menores tarifas e melhor serviço.

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4. APRESENTAÇÃO DOS DADOS PESQUISADOS

4.1 Procedimentos Licitatórios

Foram pesquisados procedimentos licitatórios dos anos de 2008 e 2009, realizados pelo

Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, nas seguintes modalidades: Concorrência, Tomada

de Preços, Pregão Eletrônico e Pregão Presencial. Não foram encontrados, para o período

supramencionado, licitações na modalidade convite. Assim, segue abaixo tabela com a

identificação de todos os certames pesquisados, onde:

SADP – Registro do Processo no Sistema de Acompanhamento de Documentos Processuais

PA – Tombo do Procedimento Administrativo

Eletrônico – Pregão na forma eletrônica

SRP Eletrônico – Pregão na forma eletrônica para Sistema de Registro de Preços

Presencial – Pregão na forma presencial

SRP Presencial – Pregão na forma presencial para Sistema de Registro de Preços

4.1.1 Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2008

NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 1 Eletrônico 19621/2007 014/08 Manutenção Estabiliz/No breaks 2 CANCELADO3 SRP Eletrônico 9136/2007 159/07 Material Expediente 4 SRP Eletrônico 15402/2007 307/07 Material Consumo (água mineral) 5 Eletrônico Lote 961/2008 025/08 Painel Eletrônico, Impressora 6 Eletrônico 693/2008 026/08 Aquisição de Livros 7 SRP Eletrônico 1539/2008 035/08 Materiais Gráficos 8 Eletrônico 1512/2008 041/08 Serviços de Carga e Descarga 9 Eletrônico 1537/2008 044/08 Mão de Obra - Carga, descarga

10 Eletrônico 1843/2008 046/08 Manut. Central Telefônica

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NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 11 Eletrônico 1740/2008 050/08 Mão de obra - Tecnico Inform. 12 Eletrônico 2046/2008 051/08 Mão de Obra - Instal. Elétricas 13 Eletrônico 2196/2008 053/08 Material Expediente 14 Eletrônico 2233/2008 054/08 Manutenção Elevadores 15 SRP Presencial 2550/2008 057/08 Aquisição de Togas 16 SRP Eletrônico 2618/2008 058/08 Aquisição Material de Expediente 17 Eletrônico 3347/2008 071/08 Aquisição de Camisas 18 SRP Eletrônico 3554/2008 072/08 Material Gráfico 19 SRP Eletrônico 4144/2008 077/08 Bandeiras, Cordas, Fita 20 SRP Eletrônico 4143/2008 078/08 Material de Processamento 21 Eletrônico 4197/2008 080/08 Locação de Mesas e Cadeiras 22 Eletrônico 4285/2008 084/08 Serviços de Reprografia 23 Eletrônico 8997/2009 133/09 Aquisição de Material de Expediente 24 Eletrônico 4497/2008 089/08 Serviços de Táxi 25 SRP Eletrônico 4645/2008 093/08 Material Gráfico 26 SRP Eletrônico 4646/2008 094/08 Material de Expediente 27 Eletrônico 4717/2008 098/08 Interfaces Celulares 28 Eletrônico 4818/2008 099/08 Aquisição de Cartões e envelopes 29 SRP Eletrônico 4952/2008 102/08 Material de Copa e Cozinha 30 Eletrônico 5082/2008 104/08 Locação de Veículos 31 SRP Eletrônico 5447/2008 109/08 Material de Limp., copa e cozinha 32 SRP Eletrônico 5599/2008 116/08 Material Proc. De Dados 33 Eletrônico 5673/2008 115/08 Aquisição de Veículo 34 Eletrônico 5924/2008 117/08 Aquisição de Etiquetas 35 Eletrônico 5963/2008 118/08 Aquisição de fios, tomadas, etc 36 Eletrônico 6175/2008 122/08 Serviços de operador de som 37 Eletrônico 6489/2008 137/08 Aquisição de Cartazes 38 SRP Eletrônico 6745/2008 142/08 Materiais Gráficos 39 Eletrônico 6746/2008 144/08 Material de Limpeza 40 SRP Eletrônico 6932/2008 143/08 Material de Manobra 41 SRP Eletrônico 6933/2008 145/08 Caixas de Papelão 42 Eletrônico 7065/2008 148/08 Telefonia Móvel 43 SRP Eletrônico 7103/2008 150/08 Material para acondicionamento 44 Presencial 7385/2008 154/08 Aquisição de Placas 45 SRP Eletrônico 7532/2008 158/08 Materiais Gráficos 46 SRP Eletrônico 7607/2008 159/08 Açúcar e Café 47 SRP Eletrônico 8046/2008 163/08 Material (caneta, prancheta, etc) 48 Eletrônico 8130/2008 167/08 Filmagem Votação Paralela 49 CANCELADO 50 SRP Eletrônico 8321/2008 172/08 Material de Sinalização 51 Presencial 8457/2008 176/08 Aquisição de Faixas 52 SRP Presencial 8779/2008 180/08 Material Elétrico 53 Eletrônico 7665/2008 190/08 Aquisição de Estantes

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NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 54 SRP Eletrônico 9631/2008 195/08 Escadas, cadeiras e relógios 55 SRP Eletrônico 10251/2008 203/08 Paletó, calça, camisa, gravata 56 SRP Eletrônico 10812/2008 207/08 Filtro de água e elemento filtrante 57 SRP Eletrônico 11022/2008 210/08 Processamento de dados 58 SRP Eletrônico 11258/2008 211/08 Aquisição de Materiais Elétricos 59 SRP Eletrônico 11047/2008 212/08 Material Gráfico 60 Eletrônico 11043/2008 215/08 Locação de Stand 61 Eletrônico 6175/2008 122/08 Serviços de operador de som 62 SRP Eletrônico 12493/2008 226/08 Cadeados, Lonas, Luvas 63 SRP Eletrônico 12356/2008 228/08 Material Elétrico 64 SRP Eletrônico 12714/2008 227/08 Letreiros em aço inoxidável 65 Eletrônico 4717/2008 098/08 Interfaces Celulares 66 SRP Eletrônico 13197/2008 236/08 Aquisição de capachos 67 Eletrônico 14756/2008 259/08 Aquisição de espelhos, brocas 68 SRP Eletrônico 14945/2008 262/08 Aquisição de Tonner 69 Eletrônico 15118/2008 267/08 Aquisição Equipamento Som 70 Eletrônico 15435/2008 269/08 Aquisição de Extintor e Caçamba 71 Eletrônico 15556/2008 273/08 Controle de Pragas 72 SRP Eletrônico 16503/2008 283/08 Aquisição de Microondas 73 SRP Eletrônico 17102/2008 297/08 Material de Construção e Hidráulico 74 Eletrônico 17434/2008 299/08 Serviços de Mensageiro 75 Eletrônico 17229/2008 300/08 Serviços de Motoqueiro 76 Eletrônico 18001/2008 307/08 Produção de Matérias Jornalísticas 77 SRP Eletrônico 8046/2008 163/08 Pranchetas 78 Presencial 18365/2008 311/08 Serviços de Chaveiro 79 Eletrônico 18277/2008 317/08 Manutenção de Bebedouros 80 Eletrônico 18555/2008 318/08 Manutenção de Cabeamento 81 Eletrônico 18955/2008 321/08 Aquisição de Central Telefônica 82 Presencial 18937/2008 320/08 Serviços de Lavanderia 83 Eletrônico 19517/2008 328/08 Serviços de Cópias e encardenação 84 Eletrônico 19723/2008 327/08 Locação de Máquinas Copiadoras 85 Eletrônico 20125/2008 331/08 Seguro de Veículos 86 SRP Eletrônico 20299/2008 334/08 Aquisição de bombas centrífugas 87 Eletrônico 20263/2008 336/08 Impressão do Jornal A Urna 88 Eletrônico 4717/2008 098/08 Interfaces Celulares 89 SRP Eletrônico 21835/2008 352/08 Fita para Impressora Epson LQ590 90 Eletrônico 14756/2008 259/08 Aquisição de espelhos, brocas 91 Eletrônico 22077/2008 353/08 Passagens aéreas 92 SRP Eletrônico 22505/2008 357/08 Aquisição de sacos e filme 93 SRP Eletrônico 22504/2008 358/08 Aquisição de Estopas, Limpador 94 Eletrônico 22588/2008 359/08 Aquisição de Mastros para bandeira 95 SRP Eletrônico 23158/2008 362/08 Aquisição de condicionador de Ar 96 SRP Eletrônico 22622/2008 366/08 Aquisição de Divisórias

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NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 97 SRP Eletrônico 23655/2008 374/08 Aquisição de Cartucho de Fita LTO 98 Eletrônico 24192/2008 386/08 Aquisição da Revista do Tribunal 99 CANCELADO

100 Presencial 24643/2008 388/08 Aquisição de Carimbos 101 CANCELADO 102 Eletrônico 24950/2008 392/08 Aquisição de Água – Garrrafão 103 Eletrônico 24936/2008 395/08 Aquisição de Plataforma Elevatória 104 Eletrônico 24703/2008 399/08 Aquisição de Faxes e Telefones 105 Eletrônico 25544/2008 407/08 Serviços de Análise de Água 106 Eletrônico 25779/2008 410/08 Aquisição de Cadeiras de Rodas 107 Eletrônico 26579/2008 422/08 Aquisição Rádio Transceptor 108 Eletrônico 26681/2008 423/08 Locação de Máquinas Copiadoras 109 Eletrônico 25877/2008 427/08 Auxiliar de Serviços Gerais 110 Eletrônico 27237/2008 431/08 Manutenção de ar condicionado 111 Eletrônico 28491/2008 446/08 Aquisição de Material Gráfico 112 Eletrônico 28490/2008 447/08 Aquisição de Placas 113 SRP Eletrônico 28780/2008 451/08 Aquisição de Cafeteiras, etc

4.1.2. Concorrências do ano de 2008

NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO

1 Preço Global 15576/2008 275/08 Construção Forum Serra Talhada 2 Preço Global 15575/2008 277/08 Construção Forum Palmares

4.1.3 Tomada de Preços do ano de 2008 NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO

1 Preço Global 14978/2008 266/08 Pintura de Imóvel 2 Preço Global 25833/2008 409/08 Reforma Imóvel CE 65a.

4.1.4 Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2009

NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 1 Eletrônico 1553/2009 025/09 Serviços de Limpeza 2 Eletrônico 2204/2009 029/09 Aquisição de armário de aço 3 SRP Eletrônico 2736/2009 038/09 Aquisição de papel a4

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NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 4 SRP Eletrônico 3349/2009 047/09 Aquisição Tonner 5 Eletrônico 3975/2009 057/09 Manutenção Estabilizadores 6 Eletrônico 4037/2009 058/09 Aquisição de cofres eletrônicos 7 SRP Eletrônico 4378/2009 064/09 Aquisição de tonner 8 Eletrônico 4388/2009 070/09 Aquisição de veículos novos 9 Eletrônico 4366/2009 061/09 Serviços de Ginástica Laboral

10 Eletrônico 4365/2009 062/09 Serviços de Gerenciamento do Stress 11 SRP Eletrônico 4907/2009 076/09 Aquisição de açucar e água 12 SRP Eletrônico 5013/2009 077/09 Aquisição de caneta e cinta elástica 13 Eletrônico 5002/2009 079/09 Contratação de Perfilagem Ótica 14 SRP Eletrônico 5240/2009 080/09 Aquisição de switches 15 Eletrônico 5211/2009 081/09 Aquisição de Chá, adoçante, etc 16 Eletrônico 5429/2009 084/09 Aquisição de Persiana 17 Eletrônico 5535/2009 087/09 Serviços de Telefonia 18 SRP Eletrônico 6856/2009 109/09 Aquisição de Tonner p/ copiadora 19 SRP Eletrônico 7378/2009 110/09 Aquisição de móveis de aço 20 CANCELADO 21 SRP Eletrônico 7827/2009 116/09 Aquisição de cadeira 22 SRP Eletrônico 8478/2009 131/09 Aquisição material de limpeza 23 Eletrônico 8997/2009 133/09 Aquisição de Material de Expediente 24 SRP Eletrônico 9064/2009 135/09 Aquisição de Racks 25 SRP Eletrônico 9320/2009 136/09 Aquisição de Material Informática 26 Eletrônico 5002/2009 079/09 Contratação de Perfilagem Ótica 27 SRP Eletrônico 10102/2009 144/09 Aquisição de Quadro Branco e aviso 28 Eletrônico 10134/2009 154/09 Aquisição de Folder e Crachá 29 Eletrônico 10436/2009 155/09 Aquisição camisa pólo 30 Eletrônico 5535/2009 087/09 Serviços de Telefonia 31 Eletrônico 11308/2009 164/09 Serviços de Telefonia 32 Eletrônico 11751/2009 167/09 Serviços Controle de Pragas 33 Eletrônico 11363/2009 169/09 Material Odontológico 34 Eletrônico 4365/2009 062/09 Serviços de Gerenciamento do Stress 35 Eletrônico 12282/2009 179/09 Manutenção Estabilizadores 36 SRP Eletrônico 12721/2009 182/09 Aquisição de Toner 37 SRP Eletrônico 13062/2009 185/09 Aquisição de Patch Panels 38 Presencial 13246/2009 191/09 Serviços de Chaveiro 39 Eletrônico 13101/2009 192/09 Serviços de Reprografia 40 Eletrônico 13615/2009 202/09 Serviços Análise do Poço 41 Eletrônico 13239/2009 207/09 Material Sinalização 42 SRP Eletrônico 14030/2009 214/09 Materiais Gráficos 43 Eletrônico 14070/2009 216/09 Impressão de Edições Jornalísticas 44 Eletrônico 5002/2009 079/09 Contratação de Perfilagem Ótica 45 Presencial 13953/2009 222/09 Serviços de Lavanderia 46 Eletrônico 14346/2009 227/09 Aquisição de Lençois, Jalecos, etc

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NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 47 Eletrônico 14471/2009 226/09 Matérias Jornalísticas em vídeo 48 Eletrônico 14515/2009 225/09 Serviços de Realização de Concurso 49 SRP Eletrônico 15362/2009 241/09 Material de Consumo 50 SRP Eletrônico 15409/2009 246/09 Aquisição Material de Informática 51 CANCELADO 52 SRP Eletrônico 16239/2009 256/09 Faixa de divulgação 53 SRP Eletrônico 15941/2009 257/09 Aquisição material médico 54 SRP Eletrônico 16768/2009 263/09 Aquisição flanela e lenço 55 Eletrônico 17183/2009 277/09 Serviços de Telefonistas 56 SRP Eletrônico 16432/2009 276/09 Material Odontológico 57 Eletrônico 18232/2009 284/09 Passagens Aéreas 58 Eletrônico 18205/2009 293/09 Seguro da Frota de Veículos 59 Eletrônico 18650/2009 294/09 Serviços de Motoqueiro 60 Eletrônico 19688/2009 300/09 Serviços de Mensageiro 61 Eletrônico 11363/2009 169/09 Material Odontológico 62 Eletrônico 21243/2009 303/09 Material Gráfico (revista do TRE) 63 Eletrônico 21424/2009 306/09 Aquisição Ar condicionado 64 CANCELADO 65 Eletrônico 22622/2009 311/09 Manutenção Ar condicionado 66 Eletrônico 24208/2009 324/09 Serviços de Manut. Bebedouros 67 SRP Eletrônico 26368/2009 342/09 Material Odontológico 68 SRP Eletrônico 15941/2009 257/09 Aquisição material médico 69 SRP Eletrônico 25951/2009 351/09 Material Odontológico 70 SRP Eletrônico 28506/2009 353/09 Materiais de Consumo 71 SRP Eletrônico 28914/2009 355/09 Aquisição Centrais Telefônicas 72 SRP Eletrônico 33079/2009 380/09 Aquisição Açúcar 73 Eletrônico 33624/2009 381/09 Água Mineral em Garrafão

4.1.5 Concorrências do ano de 2009

NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 1 Maior Oferta 11058/2009 159/09 Concessão de Uso de Área 2 Preço Global 17038/2009 269/09 Construção Fórum Palmares 3 Preço Global 17971/2009 281/09 Construção Fórum Salgueiro

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4.1.6 Tomada de Preços do ano de 2009

NÚMERO TIPO SADP P.A. OBJETO 1 Preço Global 3081/2009 045/09 Projeto de Arquitetura - Fórum Ouricuri2 Preço Global 11869/2009 171/09 Reforma da CAE 3 Preço Global 24005/2009 317/09 Reforma Fórum Petrolândia 4 Preço Global 25528/2009 325/09 Reforma da antiga sede

4.1.7 Dados coletados dos procedimentos licitatórios

Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2008

NÚMERO DATA DO

PEDIDO QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

1 21-dez-07 1 R$ 90.756,00 5 R$ 16.000,00 0 R$ 0,00 02-abr-082 CANCELADO 3 27-jun-07 3 R$ 48.132,32 7 R$ 448,00 2 R$ 41.815,00 01-abr-084 18-out-07 1 R$ 848,00 1 R$ 720,00 0 R$ 0,00 29-fev-085 18-jan-08 6 R$ 16.345,14 5 R$ 12.258,00 0 R$ 0,00 10-jun-086 15-jan-08 1 R$ 14.800,00 6 R$ 9.020,60 0 R$ 6.317,32 07-abr-087 29-jan-08 31 R$ 79.058,70 10 R$ 34.415,00 0 R$ 0,00 01-abr-088 29-jan-08 1 R$ 429.677,28 10 R$ 410.207,16 0 R$ 0,00 07-out-089 29-jan-08 3 R$ 743.936,17 8 R$ 727.027,91 0 R$ 0,00 04-jul-08

10 7-fev-08 1 R$ 37.665,00 1 R$ 30.000,00 0 R$ 0,00 16-jun-0811 1-fev-08 1 R$ 150.750,20 14 R$ 122.215,68 0 R$ 0,00 08-jul-0812 11-fev-08 1 R$ 243.925,78 6 R$ 158.475,12 0 R$ 0,00 08-jul-0813 14-fev-08 25 R$ 257.793,60 31 R$ 167.451,27 0 R$ 0,00 10-abr-0814 14-fev-08 1 R$ 28.080,00 3 R$ 15.900,00 0 R$ 0,00 04-jun-0815 19-fev-08 1 R$ 9.274,70 1 R$ 9.024,00 0 R$ 0,00 18-jul-0816 20-fev-08 26 R$ 67.170,98 26 R$ 52.576,32 0 R$ 0,00 26-mai-0817 29-fev-08 4 R$ 45.006,00 15 R$ 19.484,99 0 R$ 0,00 26-mai-0818 4-mar-08 2 R$ 26.049,00 11 R$ 13.365,75 0 R$ 0,00 26-jun-0819 11-mar-08 5 R$ 4.192,40 13 R$ 1.929,50 0 R$ 0,00 14-mai-0820 11-mar-08 21 R$ 154.157,99 39 R$ 71.399,06 1 R$ 379,50 19-ago-0821 12-mar-08 1 R$ 119.432,80 3 R$ 108.408,12 0 R$ 0,00 26-mai-0822 13-mar-08 1 R$ 4.507,17 6 R$ 1.970,00 0 R$ 0,00 12-mai-0823 17-mar-08 12 R$ 266.928,00 21 R$ 151.220,00 0 R$ 0,00 02-jun-0824 17-mar-08 1 R$ 40.000,00 1 R$ 38.000,00 0 R$ 0,00 09-jun-0825 18-mar-08 2 R$ 55.040,00 14 R$ 10.440,00 0 R$ 0,00 14-mai-0826 18-mar-08 37 R$ 67.966,70 31 R$ 24.673,56 2 R$ 3.588,10 26-mai-08

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147

NÚMERO DATA DO PEDIDO

QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

27 17-mar-08 1 R$ 4.204,43 5 R$ 0,00 1 R$ 4.204,43 18-jul-0828 24-mar-08 12 R$ 15.925,00 10 R$ 6.310,90 0 R$ 0,00 07-mai-0829 26-mar-08 7 R$ 43.704,00 25 R$ 23.754,00 1 R$ 5.460,00 08-jul-0830 27-mar-08 8 R$ 1.103.080,76 17 R$ 812.305,16 0 R$ 0,00 26-jun-0831 1-abr-08 23 R$ 51.705,90 20 R$ 26.744,00 0 R$ 0,00 21-mai-0832 3-abr-08 17 R$ 686.412,40 68 R$ 289.308,00 6 R$ 15.938,40 23-set-0833 3-abr-08 1 R$ 55.100,00 5 R$ 55.100,00 0 R$ 0,00 11-jul-0834 7-abr-08 11 R$ 2.248,75 4 R$ 1.116,20 5 R$ 644,21 10-jun-0835 8-abr-08 5 R$ 5.125,28 12 R$ 1.947,69 0 R$ 0,00 16-jun-0836 10-abr-08 1 R$ 14.103,24 2 R$ 0,00 1 R$ 14.013,24 09-jul-0837 15-abr-08 3 R$ 24.670,00 19 R$ 3.450,00 0 R$ 0,00 09-jun-0838 18-abr-08 9 R$ 50.257,50 11 R$ 17.575,90 0 R$ 0,00 26-jun-0839 18-abr-08 1 R$ 6.700,00 17 R$ 5.500,00 0 R$ 0,00 10-jun-0840 23-abr-08 2 R$ 96.378,00 10 R$ 61.644,00 0 R$ 0,00 08-jul-0841 23-abr-08 3 R$ 14.690,00 7 R$ 12.060,00 0 R$ 0,00 09-jun-0842 24-abr-08 3 R$ 66.186,80 2 R$ 62.497,48 0 R$ 0,00 30-jul-0843 24-abr-08 8 R$ 39.945,70 13 R$ 28.063,90 1 R$ 2.511,20 18-ago-0844 28-abr-08 1 R$ 8.250,00 3 R$ 0,00 1 R$ 0,00 05-jun-0845 29-abr-08 6 R$ 164.251,25 19 R$ 38.867,01 0 R$ 0,00 09-jul-0846 30-abr-08 2 R$ 48.191,00 22 R$ 28.655,00 0 R$ 0,00 26-jun-0847 6-mai-08 6 R$ 70.530,00 24 R$ 27.760,00 1 R$ 7.530,00 28-jul-0848 7-mai-08 1 R$ 17.279,33 2 R$ 17.279,33 0 R$ 0,00 08-jul-0849 CANCELADO 50 9-mai-08 10 R$ 53.534,06 13 R$ 5.304,75 4 R$ 15.620,01 11-jul-0851 13-mai-08 1 R$ 9.699,00 1 R$ 9.690,00 0 R$ 0,00 04-jul-0852 16-mai-08 125 R$ 232.395,40 3 R$ 151.339,20 3 R$ 1.846,40 28-jul-0853 30-abr-08 2 R$ 332.303,00 11 R$ 148.657,00 0 R$ 0,00 23-jul-0854 27-mai-08 3 R$ 17.412,38 30 R$ 13.715,96 0 R$ 0,00 07-ago-0855 3-jun-08 5 R$ 5.663,24 2 R$ 5.580,00 0 R$ 0,00 08-out-0856 10-jun-08 1 R$ 24.686,10 12 R$ 16.642,80 0 R$ 0,00 01-set-0857 12-jun-08 8 R$ 33.838,00 22 R$ 9.804,30 0 R$ 0,00 30-jul-0858 16-jun-08 17 R$ 19.286,36 27 R$ 11.522,04 1 R$ 31,98 18-ago-0859 12-jun-08 5 R$ 1.428,70 9 R$ 570,00 0 R$ 0,00 24-jul-0860 12-jun-08 1 R$ 26.700,00 4 R$ 26.700,00 0 R$ 0,00 18-ago-0861 10-abr-08 1 R$ 14.103,24 3 R$ 24.066,36 0 R$ 0,00 04-set-0862 7-jul-08 9 R$ 13.369,00 40 R$ 6.472,40 0 R$ 0,00 26-ago-0863 3-jul-08 15 R$ 7.313,10 6 R$ 5.954,95 3 R$ 1.358,15 21-ago-0864 8-jul-08 3 R$ 4.382,66 7 R$ 4.377,16 0 R$ 0,00 29-set-0865 17-mar-08 1 R$ 4.204,43 5 R$ 0,00 1 R$ 4.204,43 22-set-0866 18-jul-08 2 R$ 65.740,00 16 R$ 18.909,00 0 R$ 0,00 09-set-0867 1-ago-08 44 R$ 13.236,69 19 R$ 6.031,37 4 R$ 1.208,73 22-set-0868 5-ago-08 1 R$ 134.089,60 34 R$ 46.392,00 0 R$ 0,00 23-set-0869 5-ago-08 6 R$ 25.724,41 19 R$ 13.665,28 2 R$ 9.663,12 21-out-0870 7-ago-08 6 R$ 6.451,39 7 R$ 5.908,47 0 R$ 0,00 22-set-0871 8-ago-08 1 R$ 61.048,75 7 R$ 14.793,00 0 R$ 0,00 13-nov-0872 18-ago-08 1 R$ 19.489,00 29 R$ 10.645,00 0 R$ 0,00 25-set-0873 21-ago-08 7 R$ 79.976,87 2 R$ 61.999,56 0 R$ 0,00 05-out-0874 25-ago-08 1 R$ 58.470,32 15 R$ 49.579,88 0 R$ 0,00 20-out-0875 22-jun-08 1 R$ 31.041,89 8 R$ 27.396,50 0 R$ 0,00 20-out-0876 29-ago-08 1 R$ 44.963,50 4 R$ 28.500,00 0 R$ 0,00 15-out-08

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148

NÚMERO DATA DO PEDIDO

QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

77 6-mai-08 1 R$ 7.530,00 6 R$ 6.270,00 0 R$ 0,00 22-out-0878 1-set-08 1 R$ 12.880,50 1 R$ 12.878,00 0 R$ 0,00 13-nov-0879 1-set-08 1 R$ 42.681,00 8 R$ 35.349,96 0 R$ 0,00 22-out-0880 3-set-08 1 R$ 15.100,17 2 R$ 14.899,00 0 R$ 0,00 22-dez-0881 6-set-08 2 R$ 11.033,33 8 R$ 7.127,70 0 R$ 0,00 17-nov-0882 5-set-08 1 R$ 39.828,23 1 R$ 39.339,46 0 R$ 0,00 11-nov-0883 9-set-08 1 R$ 28.925,00 3 R$ 17.750,00 0 R$ 0,00 30-out-0884 10-set-08 1 R$ 50.440,00 6 R$ 32.890,00 0 R$ 0,00 14-nov-0885 15-set-08 1 R$ 99.191,50 5 R$ 18.800,00 0 R$ 0,00 19-nov-0886 16-set-08 3 R$ 11.557,24 10 R$ 8.199,96 1 R$ 1.660,44 27-nov-0887 16-set-08 1 R$ 19.694,40 10 R$ 9.072,00 0 R$ 0,00 30-out-0888 17-mar-08 1 R$ 5.295,00 4 R$ 4.150,00 0 R$ 0,00 26-nov-0889 30-set-08 1 R$ 52.248,00 17 R$ 3.840,00 0 R$ 0,00 26-nov-0890 1-ago-08 4 R$ 1.208,73 3 R$ 438,75 3 R$ 730,58 24-nov-0891 2-out-08 1 R$ 129.390,00 19 R$ 118.301,14 0 R$ 0,00 30-dez-0892 6-out-08 3 R$ 18.623,40 7 R$ 10.030,80 1 R$ 694,20 10-dez-0893 6-out-08 3 R$ 8.984,00 11 R$ 5.110,00 0 R$ 0,00 26-nov-0894 7-out-08 2 R$ 6.217,65 2 R$ 5.590,00 0 R$ 0,00 19-nov-0895 13-out-08 2 R$ 479.561,00 21 R$ 384.593,00 0 R$ 0,00 11-dez-0896 8-out-08 20 R$ 65.377,80 9 R$ 45.043,20 1 R$ 1.659,00 11-dez-0897 17-out-08 1 R$ 23.969,40 10 R$ 18.540,00 0 R$ 0,00 10-dez-0898 24-out-08 2 R$ 22.235,50 5 R$ 11.819,00 0 R$ 0,00 23-dez-0899 CANCELADO

100 29-out-08 1 R$ 17.259,24 1 R$ 16.899,92 0 R$ 0,00 15-abr-09101 CANCELADO 102 4-nov-08 1 R$ 27.495,00 5 R$ 18.850,00 0 R$ 0,00 22-dez-08103 3-nov-08 2 R$ 43.089,25 5 R$ 35.676,00 0 R$ 0,00 30-dez-08104 30-out-08 2 R$ 18.367,00 14 R$ 1.729,00 1 R$ 16.362,00 22-dez-08105 10-nov-08 1 R$ 12.840,00 2 R$ 6.999,00 0 R$ 0,00 18-dez-08106 12-nov-08 3 R$ 3.661,41 6 R$ 3.091,81 0 R$ 0,00 23-dez-08107 CANCELADO108 21-nov-08 1 R$ 37.080,00 6 R$ 28.010,00 0 R$ 0,00 27-jan-09109 13-nov-08 1 R$ 463.388,74 30 R$ 424.607,15 0 R$ 0,00 15-jul-09110 27-nov-08 1 R$ 225.259,40 12 R$ 130.000,00 0 R$ 0,00 03-abr-09111 12-dez-08 1 R$ 44.400,00 40 R$ 7.999,00 0 R$ 0,00 30-jan-09112 12-dez-08 4 R$ 13.467,50 7 R$ 11.869,65 0 R$ 0,00 15-abr-09113 16-dez-08 4 R$ 161.375,70 54 R$ 105.740,00 1 R$ 5.379,00 15-abr-09

Concorrências do ano 2008

NÚMERO DATA DO

PEDIDO QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

1 8-ago-08 1 R$ 1.529.250,00 6 R$ 1.357.092,16 0 R$ 0,00 22-dez-08

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149

2 8-ago-08 1 R$ 1.044.070,16 6 R$ 987.701,43 0 R$ 0,00 22-dez-08 Tomadas de Preços do ano 2008

NÚMERO DATA DO

PEDIDO QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

1 5-ago-08 1 R$ 30.454,28 4 R$ 28.360,01 0 R$ 0,00 10-dez-082 13-nov-08 1 R$ 108.100,25 1 R$ 107.018,23 0 R$ 0,00 23-dez-08

Pregões Eletrônicos e Presenciais do ano de 2009

NÚMERO DATA DO

PEDIDO QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

1 26-jan-09 1 R$ 1.511.906,87 22 R$ 1.243.180,56 0 R$ 0,00 16-jun-092 4-fev-09 1 R$ 11.616,70 23 R$ 9.500,00 0 R$ 0,00 23-abr-093 10-fev-09 2 R$ 216.320,00 31 R$ 143.840,00 0 R$ 0,00 15-abr-094 19-fev-09 4 R$ 48.495,60 30 R$ 38.364,00 0 R$ 0,00 29-mai-095 5-mar-09 1 R$ 74.061,24 2 R$ 74.000,00 0 R$ 0,00 13-mai-096 5-mar-09 1 R$ 13.587,86 21 R$ 8.883,60 0 R$ 0,00 14-mai-097 11-mar-09 1 R$ 330.008,00 34 R$ 203.200,00 0 R$ 0,00 16-jun-098 11-mar-09 1 R$ 120.826,67 4 R$ 120.826,00 0 R$ 0,00 16-jun-099 10-mar-09 1 R$ 21.000,00 9 R$ 10.348,80 0 R$ 0,00 15-jul-09

10 10-mar-09 1 R$ 14.000,00 1 R$ 0,00 1 R$ 14.000,00 17-jul-0911 18-mar-09 2 R$ 7.374,00 9 R$ 4.594,40 0 R$ 0,00 11-mai-0912 19-mar-09 2 R$ 10.040,00 21 R$ 3.530,00 0 R$ 0,00 16-jun-0913 19-mar-09 1 R$ 7.000,00 0 R$ 0,00 1 R$ 7.000,00 16-jun-0914 24-mar-09 1 R$ 8.973,20 31 R$ 4.540,00 0 R$ 0,00 26-jun-0915 23-mar-09 10 R$ 6.711,48 23 R$ 3.174,92 0 R$ 0,00 25-mai-0916 26-mar-09 1 R$ 19.935,00 14 R$ 11.280,00 0 R$ 0,00 14-mai-0917 30-mar-09 2 R$ 109.901,36 1 R$ 90.629,60 1 R$ 17.526,00 16-jun-0918 23-abr-09 3 R$ 3.680,00 12 R$ 2.061,00 0 R$ 0,00 17-jun-0919 30-abr-09 3 R$ 437.632,00 46 R$ 162.478,00 0 R$ 0,00 17-ago-0920 CANCELADO 21 7-mai-09 1 R$ 19.400,00 31 R$ 15.500,00 0 R$ 0,00 17-ago-0922 10-mai-09 14 R$ 33.383,00 27 R$ 14.682,00 0 R$ 0,00 5-ago-09

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150

NÚMERO DATA DO PEDIDO

QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

23 25-mai-09 12 R$ 10.298,70 14 R$ 4.472,19 0 R$ 0,00 17-ago-0924 25-mai-09 1 R$ 24.450,40 11 R$ 17.030,40 0 R$ 0,00 28-ago-0925 29-mai-09 11 R$ 136.166,40 44 R$ 91.665,00 0 R$ 0,00 17-ago-0926 19-mar-09 1 R$ 7.000,00 1 R$ 0,00 1 R$ 7.000,00 17-ago-0927 10-jun-09 2 R$ 15.479,50 23 R$ 9.660,00 1 R$ 3.317,50 14-set-0928 12-jun-09 2 R$ 1.245,00 15 R$ 575,00 0 R$ 0,00 17-ago-0929 17-jun-09 1 R$ 5.037,50 23 R$ 2.103,60 0 R$ 0,00 17-ago-0930 30-mar-09 1 R$ 23.224,50 1 R$ 23.953,65 0 R$ 0,00 27-ago-0931 2-jul-09 2 R$ 279.201,80 3 R$ 143.562,69 0 R$ 0,00 1-out-0932 9-jul-09 1 R$ 43.423,33 12 R$ 18.199,00 0 R$ 0,00 23-set-0933 3-jul-09 8 R$ 11.416,35 17 R$ 5.564,85 3 R$ 5.312,24 8-out-0934 10-mar-09 1 R$ 24.651,20 3 R$ 0,00 1 R$ 24.651,20 10-set-0935 20-jul-09 1 R$ 48.338,64 8 R$ 44.301,12 0 R$ 0,00 23-out-0936 24-jul-09 3 R$ 17.103,70 43 R$ 6.965,10 0 R$ 0,00 30-set-0937 29-jul-09 3 R$ 24.642,00 13 R$ 10.932,70 0 R$ 0,00 30-set-0938 31-jul-09 2 R$ 15.148,00 1 R$ 14.960,00 0 R$ 0,00 23-set-0939 30-jul-09 1 R$ 42.697,90 2 R$ 42.697,00 0 R$ 0,00 23-set-0940 6-ago-09 1 R$ 6.763,67 2 R$ 4.998,00 0 R$ 0,00 1-out-0941 31-jul-09 13 R$ 9.124,87 7 R$ 3.777,00 7 R$ 926,57 9-out-0942 13-ago-09 9 R$ 84.418,00 20 R$ 24.269,50 0 R$ 0,00 23-set-0943 14-ago-09 1 R$ 18.004,00 18 R$ 6.645,00 0 R$ 0,00 23-set-0944 19-mar-09 1 R$ 7.000,00 1 R$ 4.480,00 0 R$ 0,00 30-set-0945 12-ago-09 1 R$ 43.569,55 1 R$ 41.120,34 0 R$ 0,00 9-out-0946 18-ago-09 16 R$ 6.311,79 7 R$ 289,35 15 R$ 5.490,84 23-nov-0947 20-ago-09 1 R$ 34.284,85 10 R$ 17.500,00 0 R$ 0,00 26-out-0948 21-ago-09 1 R$ 2.300.000,00 10 R$ 552.000,00 0 R$ 0,00 23-set-0949 1-set-09 7 R$ 35.086,90 22 R$ 17.961,50 1 R$ 2.085,00 26-out-0950 2-set-09 16 R$ 305.048,62 24 R$ 165.792,20 3 R$ 28.434,00 7-dez-0951 CANCELADO 52 14-set-09 2 R$ 58.375,00 7 R$ 40.750,00 0 R$ 0,00 9-nov-0953 9-set-09 4 R$ 9.507,00 6 R$ 0,00 4 R$ 9.507,00 23-nov-0954 21-set-09 2 R$ 9.690,00 15 R$ 7.470,00 0 R$ 0,00 11-nov-0955 25-set-09 1 R$ 77.172,56 41 R$ 58.903,98 0 R$ 0,00 23-dez-0956 16-set-09 48 R$ 10.351,62 7 R$ 5.905,28 0 R$ 0,00 25-nov-0957 1-out-09 1 R$ 219.130,00 25 R$ 194.302,57 0 R$ 0,00 23-dez-0958 1-out-09 1 R$ 27.436,50 3 R$ 24.139,00 0 R$ 0,00 30-nov-0959 5-out-09 1 R$ 36.895,82 25 R$ 30.773,76 0 R$ 0,00 17-dez-0960 8-out-09 1 R$ 68.755,42 31 R$ 58.142,34 0 R$ 0,00 2-fev-1061 3-jul-09 3 R$ 5.312,24 9 R$ 5.146,66 0 R$ 0,00 11-jan-1062 15-out-09 3 R$ 61.447,50 11 R$ 18.779,00 0 R$ 0,00 15-dez-0963 16-out-09 2 R$ 376.907,00 30 R$ 239.500,00 0 R$ 0,00 22-dez-09

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151

NÚMERO DATA DO PEDIDO

QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

64 CANCELADO 65 22-out-09 3 R$ 72.213,40 10 R$ 44.519,00 0 R$ 0,00 28-dez-0966 29-out-09 1 R$ 46.808,00 1 R$ 0,00 1 R$ 46.808,00 13-jan-1067 10-nov-09 52 R$ 62.356,52 7 R$ 33.756,96 10 R$ 12.046,09 22-fev-1068 9-set-09 4 R$ 14.664,06 8 R$ 0,00 4 R$ 14.664,06 1-out-1069 9-nov-09 91 R$ 38.029,54 6 R$ 27.958,36 4 R$ 3.570,64 28-jan-1070 24-nov-09 7 R$ 52.286,30 35 R$ 34.427,58 1 R$ 698,00 22-fev-1071 26-nov-09 1 R$ 13.350,00 6 R$ 9.270,00 0 R$ 0,00 24-mar-1072 15-dez-09 1 R$ 6.150,00 10 R$ 5.910,00 0 R$ 0,00 1-fev-1073 16-dez-09 1 R$ 28.700,00 12 R$ 15.100,00 0 R$ 0,00 1-mar-10

Concorrências do ano 2009

NÚMERO DATA DO

PEDIDO QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

1 30-jun-09 1 R$ 589,55 2 R$ 800,00 0 R$ 0,00 23-set-092 24-set-09 1 R$ 1.240.061,11 12 R$ 1.005.494,65 0 R$ 0,00 19-abr-103 30-set-09 1 R$ 1.461.691,63 7 R$ 1.242.396,18 0 R$ 0,00 5-jan-10

Tomadas de Preços do ano 2009

NÚMERO DATA DO

PEDIDO QUANT. ITENS / LOTES

VALOR ESTIMADO

QUANT. LICITANTES

VALOR ADJUDICADO

ITENS/LOTE PREJUD.

VALOR DOS ITENS

PREJUD.

DATA HOMOL.

1 16-fev-09 1 R$ 92.399,95 7 R$ 69.580,00 0 R$ 0,00 17-ago-092 13-fev-09 1 R$ 327.655,38 4 R$ 313.500,00 0 R$ 0,00 28-dez-093 29-out-09 1 R$ 29.621,28 1 R$ 29.621,26 0 R$ 0,00 22-dez-094 5-nov-09 1 R$ 531.593,86 5 R$ 447.141,58 0 R$ 0,00 30-dez-09

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152

4.2 Questionário aplicado aos servidores, apresentação das respostas e comentários

Foram consultados 35 servidores do quadro do TRE/PE, escolhidos aleatoriamente, em

atividade nos seguintes setores: Diretoria-Geral, Secretaria de Controle Interno, Secretaria de

Administração, Secretaria de Tecnologia da Informação, Secretaria de Gestão de Pessoas,

Comissão Permanente de Licitação, Assessoria de Editais e Contratos, Assessoria Jurídica da

Diretoria-Geral, Coordenadoria de Engenharia e Arquitetura, e Assessoria de Planejamento. Os

quantitativos de servidores consultados, por setor, foram preservados, com o fim de garantir o

anonimato.

O questionário, em um total de 10 perguntas, abordou temas ligados aos referenciais

teóricos utilizados, ao Princípio da Eficiência, e também à licitação pública. As respostas

apresentadas foram dispostas em gráfico de colunas, com o percentual de cada conjunto de

respostas. Segue abaixo o resultado, com os comentários individualizados por pergunta: PERGUNTA 1

O Princípio da Eficiência foi inserido no texto constitucional, através da Emenda Constitucional

n. 19/98, que o agregou aos originariamente contidos no art. 37 da Carta Magna: legalidade,

impessoalidade, moralidade e publicidade. Na sua opinião, marque as alternativas (quantas

desejar) que devem ser observadas para garantir uma melhor eficiência nos procedimentos de

compras de bens e serviços:

a) celeridade no andamento do processo

b) obedecer estritamente ao que determina a Lei

c) preocupar-se com o resultado da compra

d) permitir a participação de uma maior quantidade de licitantes

e) fiscalizar de perto a atuação de cada servidor envolvido

f) planejar compras com altos valores, agregando as de mesma natureza

g) fracionar as compras o máximo que puder

h) garantir que nenhum item licitado seja prejudicado (não tenha vencedor)

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153

i) economizar o máximo que for possível no valor da compra

j) não se preocupar com o valor, mas com a qualidade do produto adquirido

k) avaliar os processos anteriores de mesma natureza

l) repetir sempre os mesmos procedimentos

m) tomar as decisões sempre ouvindo a assessoria jurídica

n) tomar as decisões sempre ouvindo o controle interno

o) preferir sempre a decisão colegiada à monocrática

p) punir exemplarmente o servidor que cometer um erro

q) aprender com os erros para que não se repitam

r) nunca decidir contrariando entendimento do Tribunal de Contas da União

s) Outras (especifique): utilizar doutrina e jurisprudência nas decisões administrativas, criar

bancos de modelos, controlar e programar as compras com o auxílio da informática, decidir

justificadamente quando contrariar decisão do Tribunal de Contas da União ou órgão interno e

observar a qualidade do bem adquirido.

RESPOSTAS

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154

91,43%

31,43%

85,71%

62,86%

17,14%

42,86%

2,86%

57,14%48,57%

20,00%

85,71%

5,71%

34,29%

22,86%

42,86%

11,43%

97,14%

28,57%

17,14%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

90,00%

100,00%PERCENTUAIS

ALTERNATIVAS

O QUE DEVE SER OBSERVADO PARAGARANTIR UMA MELHOR EFICIÊNCIA?

ABCDEFGHIJKLMNOPQRS

Fonte: O Autor COMENTÁRIO

O gráfico mostra que as respostas podem ser agrupadas segundo o nível percentual

alcançado. Destacam-se, em um primeiro grupo, respostas que obtiveram citação em percentual

superior a 80%. Ei-las: “Aprender com os erros para que não se repitam” (97,14%), “celeridade

no andamento do processo” (91,43%), “preocupar-se com o resultado da compra” (85,71%) e

“avaliar os processos anteriores de mesma natureza” (85,71%). Como se vê, todas demonstram

que existe uma percepção dos servidores da necessidade de avaliação e aprendizagem contínua,

bem como, em um primeiro momento, uma nítida vinculação do Princípio da Eficiência com a

celeridade processual e com a economicidade da compra.

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155

Em um segundo grupo, pode-se citar respostas cujos percentuais variaram no intervalo de

40% a 80%. “Permitir a participação de uma maior quantidade de licitantes” (62,86%), “garantir

que nenhum item licitado seja prejudicado (não tenha vencedor)” (57,14%), “economizar o

máximo que for possível no valor da compra” (48,57%), “planejar compras com altos valores,

agregando as de mesma natureza” (42,86%), e “preferir sempre a decisão colegiada à

monocrática” (42,86%) mostram uma justa preocupação com o sucesso do procedimento

licitatório, mas também deixam transparecer dois receios que acometem os servidores públicos

que trabalham com licitações: o superfaturamento de compras, ao impor uma máxima economia,

e a decisão colegiada, como forma de pulverizar a responsabilidade por um possível fracasso ou

uma decisão injusta.

O terceiro grupo de respostas tem percentuais variando acima de 20% a até 40%. “Tomar

as decisões sempre ouvindo a assessoria jurídica” (34,29%), “obedecer estritamente ao que

determina a Lei” (31,43%), “nunca decidir contrariando entendimento do Tribunal de Contas da

União” (28,57%), “tomar as decisões sempre ouvindo o controle interno” (22,86%) apontam

para o cumprimento do Princípio da Legalidade como um fator importante para a segurança dos

servidores, como se entendessem que estariam respaldados em suas condutas, e, portanto,

irresponsabilizáveis. Porém, deve-se enaltecer que o cumprimento da lei deve e precisa continuar

a ser um pressuposto para a atividade administrativa. E mais: apenas isso não basta para

obtenção da excelência que o atual estágio de desenvolvimento exige.

Por último, o quarto grupo tem respostas no intervalo entre 0% e 20%. “Não se preocupar

com o valor, mas com a qualidade do produto adquirido” (20,00%), “fiscalizar de perto a atuação

de cada servidor envolvido” (17,14%), “punir exemplarmente o servidor que cometer um erro”

(11,43%), “repetir sempre os mesmos procedimentos” (5,71%) e “fracionar as compras o

máximo que puder” (2,86%) traduzem uma visão equivocada de gestão pública, que ainda

persiste na Administração Pública. A punição exemplar não é a melhor opção para a melhoria da

qualidade da atividade administrativa, assim como a repetição de procedimentos e a fiscalização

permanente dos servidores, bem como a maximização do fracionamento das compras.

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156

PERGUNTA 2

Na sua opinião, os termos “eficiência”, “efetividade” e “eficácia” (marques apenas uma

alternativa):

a) são sinônimos

b) têm significados diferentes, não havendo ligação entre eles

c) têm significados diferentes, mas se interligam

d) representam três faces de uma mesma realidade

e) são antônimos

f) não sei

RESPOSTAS

2,86% 0,00%

68,57%

25,71%

2,86% 0,00%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

PERCENTUAIS

1ALTERNATIVAS

EFICIÊNCIA x EFETIVIDADE x EFICÁCIA

ABCDEF

Fonte: O Autor

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157

COMENTÁRIO

Observa-se que a maioria dos servidores consultados considera que os termos “eficiência”,

“efetividade” e “eficácia” têm significado diferente, mas apresentam uma ligação entre eles

(68,57%), ou são três faces de uma mesma realidade (25,71%). Portanto, pode-se concluir que

existe um entendimento contemporâneo, até mesmo porque não há, como se viu, um consenso

doutrinário quanto ao sentido de cada termo.

É importante frisar que, para efeito de se buscar um cumprimento do Princípio da

Eficiência, em um elevado grau, necessária se faz a verificação dessa tríplice interface nos casos

concretos postos sob apreciação.

PERGUNTA 3

O Estado precisa cumprir o princípio da eficiência pela seguinte razão (marque apenas uma

alternativa):

a) porque a Constituição Federal determina

b) porque é dever do Estado e direito do cidadão

c) porque é dever do Estado

d) não há como cumprir o princípio da eficiência na Administração Pública

e) porque o Tribunal de Contas da União exige essa observância

f) não sei

RESPOSTAS

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158

11,43%

85,71%

2,86% 0,00% 0,00% 0,00%

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%70,00%80,00%90,00%

PERCENTUAIS

ALTERNATIVAS

PORQUE O ESTADO PRECISA CUMPRIR OPRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA?

ABCDEF

Fonte: O Autor

COMENTÁRIO

Bastante significativo o entendimento da maioria absoluta dos servidores consultados no

sentido de conceber como direito do cidadão o cumprimento pelo Estado do Princípio da

Eficiência. O reconhecimento do corpo de servidores públicos desse importante atributo que se

faz à eficiência nas atividades administrativas possibilita afirmar que há consciência

administrativa quanto ao dever de perseguir a efetivação desse princípio, podendo ser exigido

pelo cidadão seu cumprimento. Isso traz benefícios de ordem social, pois a cobrança exercida

pelo cidadão passa a ser admitida e respeitada pelo corpo funcional da instituição.

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159

PERGUNTA 4

Segundo seu entendimento, a cidadania está garantida quando são respeitados quais direitos

(marque apenas uma alternativa):

a) direitos civis (liberdade, igualdade, direito de propriedade)

b) os anteriores mais os direitos políticos (direitos de votar e ser votado)

c) os anteriores mais os direitos sociais

(saúde, educação, proteção ao trabalhador)

d) os anteriores mais os direitos coletivos, difusos ou republicanos

(proteção ao meio ambiente, proteção ao consumidor, proteção da coisa pública)

e) os anteriores mais os que a convivência social exigir

f) não sei

RESPOSTAS

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160

0,00%

8,57% 5,71%

17,14%

68,57%

0,00%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

PERCENTUAIS

ALTERNATIVAS

A CIDADANIA ESTÁ GARANTIDA QUANDO SÃORESPEITADOS QUAIS DIREITOS?

ABCDEF

Fonte: O Autor

COMENTÁRIO

A amplitude dada ao conceito de cidadania é um fator importante na Administração

Pública, pois sinaliza a forma de tratamento que o cidadão irá receber quando necessitar dos

serviços públicos. Quanto mais amplo for o rol de direitos reconhecidos como integrantes da

cidadania, mais respeito terá o cidadão dos servidores públicos responsáveis pela atividade

administrativa. Observe-se que as respostas apresentadas para esta questão guardam coerência

com as respostas apresentadas para a questão anterior, de forma que se pode concluir que o

Princípio da Eficiência e a amplitude do conceito de cidadania são bem percebidos e aceitos pelo

conjunto de servidores consultados.

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161

PERGUNTA 5

Marque as alternativas (quantas quiser) que melhor representam a forma de gestão de sua

instituição:

a) a administração se preocupa com o processo (procedimento)

b) a administração se preocupa em oferecer melhores serviços ao cidadão

c) a administração controla os servidores para evitar corrupção e nepotismo

d) a administração controla o desempenho e o resultado dos procedimentos

e) a administração não confia nos servidores

f) a administração dá uma certa liberdade aos servidores nas decisões

g) a administração decide através da alta direção

h) a administração delega o poder decisório a níveis inferiores

i) a administração estabelece procedimentos rígidos e formais

j) a administração prefere descentralizar o comando

k) nenhuma das alternativas

RESPOSTAS

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162

Fonte: O Autor

COMENTÁRIO

Inicialmente, destaca-se um grupo formado por duas alternativas que obtiveram o mesmo

percentual (80%) e que bem diagnosticam o atual estágio de desenvolvimento da gestão pública

da instituição: um intermédio entre o modelo burocrático e o modelo gerencial. Isso importa uma

aparente contradição entre as respostas apresentadas. Mas há uma convivência de institutos

antagônicos nesse ambiente que chamou-se de híbrido e sincrético. São elas: “a administração se

preocupa com o processo (procedimento)” e “a administração se preocupa em oferecer melhores

serviços ao cidadão”.

Em um segundo momento, aparecem as seguintes citações: “a administração decide através

da alta direção” (62,86%) e “a administração estabelece procedimentos rígidos e formais”

(57,14%), de cunho em eminentemente burocrático, e que se contrapõem a “a administração dá

uma certa liberdade aos servidores nas decisões” (40,00%) e a “a administração controla o

80,00% 80,00%

28,57%

37,14%

5,71%

40,00%

62,86%

20,00%

57,14%

8,57%2,86%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%PERCENTUAIS

ALTERNATIVAS

REPRESENTAÇÃO DA FORMA DE GESTÃO DA INSTITUIÇÃO

ABCDEFGHIJK

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163

desempenho e o resultado dos procedimentos” (37,14%), que têm uma inclinação para o

gerencialismo. Por outro lado, “a administração controla os servidores para evitar corrupção e

nepotismo” (28,57%) e “a administração delega o poder decisório a níveis inferiores” (20,00%)

acentuam a contradição e o antagonismo.

Dessa forma, as respostas apresentadas confirmam que a administração da instituição

segue padrões delineadores dos dois modelos de gestão pública referidos, com uma tendência

ainda prevalecente da gestão burocrática. PERGUNTA 6

Na sua opinião, quais seriam os melhores procedimentos a adotar na administração pública

(marque quantas alternativas quiser):

a) deve-se conhecer os custos dos procedimentos

b) o custo é irrelevante, pois o Estado não visa o lucro

c) o comando decisório deve sempre ser centralizado

d) descentralizar o comando para servidores inferiores

e) os servidores precisam ser qualificados para os cargos que assumirem

f) não importa a qualificação pessoal do servidor, ele é peça de uma engrenagem

g) o resultado da atuação pública é mais importante

h) o mais importante é cumprir a lei

i) deve-se atender aos interesses da administração

j) deve-se atender ao interesse público

k) o servidor público tem sempre a razão

l) o cidadão tem sempre a razão

m) a razão deve ser negociada

n) as decisões devem ser monocráticas

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164

o) as decisões devem ser colegiadas

p) nenhuma das alternativas

RESPOSTAS

Fonte: O Autor

COMENTÁRIO

Três alternativas obtiveram um nítido destaque: “deve-se atender ao interesse público”

(100,00%), “deve-se conhecer os custos dos procedimentos” (97,14%) e “os servidores precisam

ser qualificados para os cargos que assumirem” (97,14%). O sentimento do corpo funcional

tende, destarte, a buscar institutos da gestão pública gerencial. Merecem também ser citadas: “as

decisões devem ser colegiadas” (54,29%), “a razão deve ser negociada” (40,00%),

97,14%

0,00%

8,57%

37,14%

97,14%

11,43%

34,29%

5,71%

37,14%

100,00%

0,00%

2,86%

40,00%

2,86%

54,29%

0,00%

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%70,00%80,00%90,00%

100,00%PERCENTUAIS

ALTERNATIVAS

MELHORES PROCEDIMENTOS A ADOTAR NAADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A

BCDEFGHIJKLMNOP

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165

“descentralizar o comando para servidores inferiores” (37,14%) e “o resultado da atuação

pública é mais importante” (34,29%).

De outra sorte, sofreram total rejeição por parte dos servidores: “o custo é irrelevante, pois

o Estado não visa o lucro” e “o servidor público tem sempre a razão”.

Pode-se verificar, assim, que os servidores consultados percebem com acerto que há uma

tendência burocrática na forma de gestão da instituição, ao mesmo tempo em que defendem a

adoção de institutos do modelo gerencial de gestão, o que pode representar a possibilidade de, no

caso de uma aceleração na implantação do modelo gerencial, haver um apoio e uma

concordância dos servidores, facilitando o processo de mudança.

PERGUNTA 7

Quais são os indicadores que o Tribunal utiliza para avaliar a eficiência dos processos de

compras? (respostas abertas)

a) não sabe ou não respondeu

b) tempo

c) preço

d) relatório da Secretaria de Controle Interno

e) não existem

f) legalidade

g) informatização dos dados

RESPOSTAS

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166

Fonte: O Autor

COMENTÁRIO

De proêmio, constata-se que a maioria absoluta dos servidores consultados (57,14%) não

sabe ou não respondeu quais indicadores são utilizados pela instituição para verificação da

eficiência nos procedimentos licitatórios. Verificou-se, porém, nos procedimentos licitatórios

consultados, que existem três itens que são considerados: tempo, preço e legalidade. Estes

indicadores foram citados, respectivamente, com 17,14%, 11,43%, e 5,71%, demonstrando que

essa utilização não é conhecida ou devidamente divulgada perante o corpo de servidores.

De qualquer sorte, mesmo considerando a existência dos indicadores citados, observamos

que mesmo havendo uma avaliação com vistas a um aprendizado contínuo, não são efetuadas

57,14%

17,14%

11,43%8,57% 5,71% 5,71% 5,71%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

PERCENTUAIS

RESPOSTAS ABERTAS

INDICADORES UTILIZADOS NO TRE/PE

ABCDEFG

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167

comparações entre processos, ficando o conhecimento adquirido como mera chancela de

validade para o procedimento, individualmente.

PERGUNTA 8

Utilize o espaço abaixo para sugerir mudanças nos procedimentos licitatórios que possam

melhorar a eficiência das compras públicas: (respostas abertas)

a) nenhum comentário

b) preocupar-se com o preço

c) melhorar a celeridade da compra

d) cumprir os procedimentos

e) monitorar os procedimentos

f) capacitar os servidores

g) comunicação entre os setores

h) melhorar a solicitação de compra

i) cumprir a lei

j) avaliar os procedimentos

k) planejar

l) conceder mais de poder de decisão aos setores

m) conhecer os custos

n) melhorar o sistema de registro de preços

o) informatizar os dados

p) preocupar-se com o resultado da compra

RESPOSTAS

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168

25,71%

11,43%

17,14%

31,43%

2,86%

11,43%

8,57%

11,43%

17,14%

8,57%

2,86%

5,71% 5,71%

2,86%

2,86%

5,71%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%PERCENTUAIS

RESPOSTAS ABERTAS

SUGESTÃO DE MUDANÇAS NOSPROCEDIMENTOS

ABCDEFGHIJKLMNOP

Fonte: O Autor

COMENTÁRIO

As sugestões mais citadas foram “cumprir os procedimentos” (31,43%), “melhorar a

celeridade da compra” (17,14%), “cumprir a lei” (17,14%), “preocupar-se com o preço”,

“capacitar os servidores” e “melhorar a solicitação de compra”, estas três últimas com 11,43%, e

ainda, “avaliar os procedimentos” (8,57%), que podem ser justificadas se for considerada a

situação atual de gestão da instituição, que tem uma tendência ao modelo burocrático, seguidas

por três sugestões (“l”, “m” e “p”), com o mesmo percentual, cada uma, de 5,71%, de inspiração

gerencial.

PERGUNTA 9

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169

Utilize o espaço para sugerir quais itens devem ser levados em consideração para avaliar a

eficiência de uma compra pública: (respostas abertas)

a) nenhum comentário

b) o preço

c) celeridade da compra

d) procedimento

e) capacidade dos servidores

f) comunicação entre os setores

g) a solicitação de compra

h) legalidade

i) avaliação dos procedimentos

j) planejamento

k) os custos

l) o resultado da compra

m) qualidade do bem adquirido

RESPOSTAS

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170

22,86%

31,43%

42,86%

5,71%

2,86%

2,86%

2,86%

5,71%

5,71%

14,29%

25,71%

14,29%

51,43%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

PERCENTUAIS

RESPOSTAS ABERTAS

SUGESTÃO DE INDICADORES

ABCDEFGHIJKLM

Fonte: O Autor

COMENTÁRIO

Notou-se uma destacada preocupação com a qualidade do produto (51,43%), que tem um

caráter de pós compra, não sendo, pois, objeto deste estudo, que se limitou a aferir a eficiência da

solicitação até o momento da homologação da compra. Em um segundo plano, percebe-se que a

celeridade (42,86%), o preço (31,43%), os custos (25,71%), o planejamento e o resultado da

compra, ambos com 14,29%, foram os itens mais citados pelos servidores consultados.

Merece ser sublinhado que 22,86% dos servidores não apresentaram qualquer sugestão,

que pode significar um desconhecimento sobre o assunto ou, talvez, um desinteresse. Pelo

conjunto de respostas a este questionamento, permanece a tendência de associar o Princípio da

Eficiência com celeridade e economicidade. Pode-se concluir que existe uma necessidade de,

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171

dentro do ambiente da instituição, implementar ações no sentido de alargar o espectro da

eficiência, como princípio constitucional, para além da celeridade e economicidade, despertando

o corpo funcional para o seu melhor significado.

PERGUNTA 10

Gostaria de contribuir com mais alguma informação ou sugestão? Utilize o espaço abaixo. (respostas abertas)

a) nenhum comentário

b) melhorar a celeridade

c) capacitar os servidores

d) melhorar a comunicação entre os setores

e) avaliar os procedimentos

f) aumentar o poder de decisão dos níveis inferiores

g) preocupar-se com o resultado

h) preocupar-se com a qualidade do bem adquirido

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172

RESPOSTAS

74,29%

2,86% 5,71% 5,71% 2,86% 2,86% 2,86% 2,86%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%PERCENTUAIS

RESPOSTAS ABERTAS

SUGESTÕES PARA MELHORIA DA EFICIÊNCIA

ABCDEFGH

Fonte: O Autor

COMENTÁRIO

Estimulados a oferecerem outra sugestão, a maioria absoluta dos servidores silenciou. Os

demais ofertaram sugestões já abordadas nas outras perguntas, com exceção da sugestão de

melhorar a comunicação entre os setores, que obteve o percentual de 5,71%.

Por derradeiro, cumpre salientar que o questionário atingiu os objetivos propostos, que

foram: avaliar o nível de entendimento do Princípio da Eficiência e do conceito moderno de

cidadania; diagnosticar a forma de gestão da instituição; perquirir sobre quais procedimentos

precisam ser adotados, revelando a tendência atual de passagem da gestão burocrática para a

gerencial; catalogar os indicadores utilizados pela instituição na avaliação de eficiência dos

procedimentos licitatórios e colher sugestões sobre quais indicadores devem ser implementados;

e levantar sugestões para melhoria da eficiência nas licitações.

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173

5 METODOLOGIA PARA AFERIÇÃO DO GRAU DE EFICIÊNCIA

5.1 Indicadores escolhidos

A escolha de indicadores é um importante momento na avaliação de procedimentos.

Deve-se evitar, por um lado, que haja uma multiplicidade de elementos a serem considerados,

pois pode tornar a busca em trabalho cansativo e de alta complexidade, fazendo com que a

viabilidade desse processo de avaliação resulte em um excessivo dispêndio de recursos para o

órgão. Por outro lado, os indicadores escolhidos devem refletir o que se busca compreender e

avaliar, de forma, se possível, simples, e compreensível para a maioria dos servidores públicos,

ou então não se chegará a uma ferramenta utilizável no dia a dia.

Quando se estudou o Princípio da Eficiência no Capítulo 1, considerou-se que esse

princípio apresenta três interfaces: procedimento, custo e resultado. A essas três interfaces

deram-se o nome de eficiência do procedimento ou eficiência stricto sensu, eficiência dos custos

ou efetividade, e eficiência dos resultados ou eficácia, respectivamente. Portanto, os indicadores

deverão abarcar essas três dimensões do Princípio da Eficiência. Bucar-se-á, destarte, estabelecer

um índice de eficiência para os procedimentos licitatórios através do levantamento de cinco

indicadores.

Os dados necessários para cálculo dos indicadores a seguir apresentados foram retirados

dos procedimentos licitatórios pesquisados e representam fatos concretos realizados.

5.1.1 Primeiro indicador: escolha do eficiente procedimento de compra - EPC

O primeiro indicador a ser examinado seria a escolha do eficiente procedimento de

compra. A Lei n. 8.666/93, que trata das licitações na Administração Pública, estabelece algumas

formas de compras: dispensa de licitação, inexigibilidade, convite, tomada de preços e

concorrência. Geralmente, a escolha se dá pelo tipo de objeto licitado e pelo valor estimado da

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174

aquisição. Além destas modalidades, temos ainda o Pregão, em duas formas, presencial e

eletrônico. Estes últimos somente utilizados para compras de bens e serviços comuns.

Nos casos em que o gestor público pode escolher entre mais de uma forma de compra é

que surge a necessidade de se verificar se a sua escolha, além de legal, é adequada para o caso.

Fazer uma concorrência, que tem um custo muito alto para a Administração, somente se justifica

quando o valor da compra e a provável economia daí advinda justifique tal procedimento. Assim,

no caso, seria legal a escolha pela modalidade concorrência, mas não seria o procedimento

adequado.

A Lei n. 8.666/93 estabeleceu critérios monetários para a escolha da modalidade de

licitação, separando-se em compras ou serviços e obras de engenharia, que podem ser resumidos

na tabela abaixo:

MODALIDADE

DE LICITAÇÃO

VALOR MÁXIMO

ESTIMADO DAS COMPRAS

OU SERVIÇOS

VALOR MÁXIMO

ESTIMADO DOS SERVIÇOS

OU OBRAS DE

ENGENHARIA

Convite R$ 80.000,00 R$ 150.000,00

Tomada de Preços R$ 650.000,00 R$ 1.500.000,00

Concorrência Acima de R$ 650.000,00 Acima de R$ 1.500.000,00

Pregão Eletrônico Não há limite mínimo ou máximo Não há limite mínimo ou máximo

Pregão Presencial Não há limite mínimo ou máximo Não há limite mínimo ou máximo

Além desses elementos, a Lei de Licitações permite, no artigo 24, a dispensa de licitação

nas compras ou serviços cujo valor estimado seja de até R$ 8.000,00 (oito mil reais) e nos

serviços e obras de engenharia cujo valor estimado seja de até R$ 15.000,00 (quinze mil reais).

Entende-se que qualquer procedimento licitatório que não resulte em, no mínimo, uma economia

de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) não é adequado, pois o custo do procedimento, se houver o

cômputo de todos os recursos envolvidos (recursos humanos, material de expediente, despesa

com publicação, entre outros), poderá ser muito próximo a esse valor, excentuando-se, porém,

casos em que o objeto da licitação apresente características que dificulte essa economia, como no

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175

caso das telecomunicações, onde há uma pequena quantidades de empresas que prestam os

serviços.

É, pois, um indicador qualitativo, que deve ser mensurado com bom senso, observando-se

se há uma conduta diversa da escolhida que poderia trazer melhor resultado. Será considerado

para este indicador um peso 4 (quatro) na apuração do índice de eficiência, dando importância

igual à legalidade e à escolha do correto procedimento. Cada item desse indicador (legalidade e

adequação do procedimento) representará, portanto, 50% (cinquenta por cento) de sua

contribuição para apuração do índice de eficiência.

A tabela abaixo apresenta, destarte, as possibilidades de quantificação deste indicador:

COMPONENTES DO EPC ATENDIDO NÃO ATENDIDO

Legalidade 50% 0%

Adequação do procedimento 50% 0%

Assim, o indicador varia nos seguintes intervalos: se não atendidos os dois componentes,

valor percentual nulo; se atendido apenas um deles, 50%; e, se atendidos os dois componentes,

obtém-se o percentual de 100%.

A escolha do adequado procedimento interliga-se ao próximo indicador, pois a opção por

um determinado procedimento implica diretamente na sua duração, que é um fator importante

para a avaliação, e será considerada no próximo indicador escolhido.

5.1.2 Segundo indicador: duração razoável do procedimento - DRP

A duração razoável do procedimento seria um índice quantificado em dias úteis e

consideraria o tipo de procedimento adotado, uma vez que os prazos são diversos para cada tipo

de procedimento. Este indicador serviria apenas para comparar duração dos procedimentos de

mesma natureza, se tomado de forma absoluta. No entanto, se tomarmos como referência um

valor atribuído que leve em consideração o tipo de modalidade de licitação sob a avaliação,

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176

torna-se um relevante indicador para determinar em quais procedimentos há uma maior

dificuldade da administração em cumprir com os prazos.

Busca-se avaliar se não houve lentidão no processo de compra. Essa lentidão pode

resultar de diversos fatores, tais como, deficiência do projeto básico ou termo de referência,

retardo nos atos administrativos preparatórios para o certame (fase interna), ou também

provocada pelos licitantes (fase externa), pela apresentação de pedidos de esclarecimentos,

impugnações ou recursos ou pela republicação de editais em decorrência de erros.

O Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco estabeleceu, através da Portaria n.

390/2008, prazos internos para realização dos atos administrativos, considerando a complexidade

dos procedimentos, conforme tabela que segue:

ITEM Evento Prazo

01 Pedido do setor solicitante 5 (cinco) meses, no mínimo, de antecedência do início da execução

02 Para informação de disponibilidade orçamentária – SOF 1 dia útil

03 Instauração do processo licitatório – DG 1 dia útil

04 Elaboração da minuta de Edital e Contrato – ASSEC

10 dias úteis – Pregão 10 dias úteis – Convite 15 dias úteis – Tomada de Preços 20 dias úteis – Concorrência

05 Parecer Jurídico referente à minuta de Edital e Contrato – ASSDG

5 dias úteis – Pregão / Convite 8 dias úteis – Tomada de Preços10 dias úteis – Concorrência

06 Formalização do Instrumento Contratual – ASSEC 5 dias úteis

07 Realização da Licitação – CPL Prazos legais

08 Parecer final da Licitação – SCI

5 dias úteis – Pregão 5 dias úteis – Convite 8 dias úteis – Tomada de Preços10 dias úteis – Concorrência

09 Diligências solicitadas ao setor requisitante, a qualquer tempo, para providenciar documentação ou prestar esclarecimentos.

2 dias úteis (interno) 8 dias úteis (externo)

Fonte: TRE/PE

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177

Os prazos acima fixados, somados aos determinados pela Lei n. 8.666/93, que regula os

procedimentos de convite, tomada de preços e concorrência, e aos determinados pela Lei n.

10.520/02, que regula os procedimentos do pregão, presencial e eletrônico, resultam nos

seguintes quantitativos médios de dias úteis, considerando também os prazos para os recursos

previstos no artigo 109 da Lei n. 8.666/93:

MODALIDE DE LICITAÇÃO QUANTITATIVO DE DIAS ÚTEIS

Convite 50 dias úteis

Tomada de Preços 87 dias úteis

Concorrência 106 dias úteis

Pregão Presencial 65 dias úteis

Pregão Eletrônico 65 dias úteis Fonte: O Autor

Este indicador, de caráter quantitativo, terá peso de 1,5 sobre o índice de eficiência. Se o

procedimento licitatório se dá no exato prazo médio acima considerado, será computado metade

do seu valor. A cada redução ou aumento do quantitativo de dias, será aumentado ou diminuído

o índice, inversamente aos dias úteis utilizados. Para efeito de quantificação dos dias úteis, serão

considerados para cada 30 (trinta) dias corridos, uma média de 21 dias úteis, excluindo-se 8 dias

referentes aos sábados e domingos, e um dia para os feriados, em média. Essa forma de calcular

os dias úteis facilita para o avaliador a obtenção dos dados, mas nada impede que a contagem se

dê pelo calendário, contando-se um a um.

Portanto, podemos resumir a apuração desse indicador pela seguinte fórmula, cujo

resultado será um percentual:

DRP = 1,5 – (DT/30*21)

NMD

Onde:

DRP - Duração razoável do procedimento

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178

DT – Dias corridos entre a data do pedido de compra e a data de homologação do resultado do

certame

NMD – Número médio de dias úteis previstos para o procedimento.

Os percentuais superiores a 100% e os inferiores a 0% devem ser desprezados, grafando-

se, para estes casos, 100% e 0%, respectivamente.

5.1.3 Terceiro indicador: economicidade da compra - EC

Antes de efetuar qualquer compra, a Administração Pública faz uma pesquisa de mercado

onde estabelece um valor estimado para o objeto que está sendo licitado. No caso do indicador

economicidade da compra, de caráter quantitativo, busca-se encontrar o percentual de redução do

preço em relação ao valor estimado pelo órgão licitante. Este indicador terá peso de 1,5 sobre o

índice de eficiência. A cada redução ou aumento do valor adjudicado em relação ao valor

estimado, será aumentado ou diminuído o índice, inversamente.

Considera-se que se a compra foi efetuada pelo valor estimado, o indicador terá como

resultado 50%. À medida que haja diminuição do valor adjudicado, aumenta-se o índice na

mesma proporção, desprezando-se, também, os valores superiores a 100% e os inferiores a 0%,

nos mesmos moldes do anterior indicador.

Segue a fórmula para cálculo do indicador, lembrando que sempre que houver itens

prejudicados, o valor estimado destes itens deve ser abatido do valor estimado da compra (VEC):

EC = 1,5 – (VAC/VEC)

Onde:

EC – Economicidade da compra

VAC – Valor adjudicado da compra

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179

VEC – Valor estimado da compra

Nos casos em que o critério de julgamento do certame licitatório seja o de maior oferta,

há a necessidade de inversão dos fatores da divisão, passando a fórmula a ser:

EC = 1,5 – (VEC/VAC)

5.1.4 Quarto indicador: divulgação da compra - DC

A quantidade de licitantes que comparecem para o certame licitatório é também dado

importante para se saber se houve realmente uma disputa de mercado pelo melhor preço. Assim,

este índice quantitativo avaliaria se o órgão licitante fez uma competente divulgação do processo

de compra, pela quantidade de licitantes que participaram do certame. Geralmente, processos em

que o número de licitantes é pequeno resultam em contratações problemáticas, e podem ter

origem em diversos fatores, tais como: pesquisa de preços mal realizada; ou difíceis condições

para execução do contrato; ou excesso de formalismo no procedimento licitatório.

Este indicador terá peso de 1,5 sobre o índice de eficiência. Para cada licitante que

participou do certame licitatório, 10% é considerado. Portanto, se 8 licitantes participaram, o

índice é de 80%. Aplica-se a seguinte fórmula, desprezando os percentuais superiores a 100%:

DC = NL*10

100

Onde:

DC – Divulgação da compra

NL – Número de licitantes

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180

5.1.5 Quinto indicador: bom êxito na compra - BEC

O bom êxito na compra refletiria o percentual de itens para os quais houve a adjudicação

da licitação, ou seja, os percentuais de itens onde houve vencedor. Quando um item não tem

vencedor é chamado de item deserto, quando não participa nenhum licitante, ou prejudicado,

quando mesmo havendo participantes, todos são desclassificados. Se a Administração conseguiu

vencedores para todos os itens, este indicador, de caráter quantitativo, será de 100%, resultando

em um grau máximo de sucesso da compra. Terá também o peso de 1,5 sobre o índice de

eficiência.

Seu cálculo se dá pela seguinte fórmula:

BEC = NILA/NILL

Onde:

BEC – Bom êxito da compra

NILA – Número de itens ou lotes adjudicados

NILL – Número de itens ou lotes licitados

5.2 Índice de eficiência – IE

Considerando os indicadores acima expostos, tem-se que o índice de eficiência do

procedimento licitatório será o resultante da seguinte fórmula:

IE = (EPC * 4) + (DRP * 1,5) + (EC * 1,5) + (DC * 1,5) + (BEC * 1,5)

10

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181

onde:

IE – Índice de eficiência

EPC – Escolha do eficiente procedimento de compra

DRP – Duração razoável do procedimento

EC – Economicidade da compra

DC – Divulgação da compra

BEC – Bom êxito na compra

Nas tabelas que seguem, apresentam-se os índices por processo pesquisado, calculados

pela aplicação da metodologia proposta, chegando-se ao índice de eficiência pela fórmula acima,

em percentuais:

PREGÕES ELETRÔNICOS E PRESENCIAIS DO ANO DE 2008 NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

1 100,00% 37,54% 100,00% 50,00%

100,00% 83,13%

2 CANCELADO 3

100,00% 0,00% 100,00% 70,00%

33,33% 70,50%4

50,00% 4,15% 65,09% 10,00%

100,00% 46,89%5

50,00% 0,00% 75,01% 50,00%

100,00% 53,75%6

100,00% 59,08% 89,05% 60,00%

100,00% 86,22%7

100,00% 80,62% 100,00% 100,00%

100,00% 97,09%8

100,00% 0,00% 54,53% 100,00%

100,00% 78,18%9

100,00% 0,00% 52,27% 80,00%

100,00% 74,84%10

100,00% 8,46% 70,35% 10,00%

100,00% 68,32%11

100,00% 0,00% 68,93% 100,00%

100,00% 80,34%12

100,00% 0,00% 85,03% 60,00%

100,00% 76,75%13

100,00% 88,15% 85,04% 100,00%

100,00% 95,98%14

100,00% 28,92% 93,38% 30,00%

100,00% 77,84%

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182

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

15 50,00% 0,00% 52,70% 10,00%

100,00% 44,41%

16 100,00% 45,08% 71,73% 10,00%

100,00% 74,02%

17 100,00% 54,77% 100,00% 10,00%

100,00% 79,72%

18 100,00% 25,69% 98,69% 100,00%

100,00% 88,66%

19 50,00% 79,54% 100,00% 100,00%

100,00% 76,93%

20 100,00% 0,00% 100,00% 100,00%

95,24% 84,29%

21 100,00% 67,69% 59,23% 30,00%

100,00% 78,54%

22 50,00% 83,85% 100,00% 60,00%

100,00% 71,58%

23 100,00% 65,54% 100,00% 100,00%

100,00% 94,83%

24 100,00% 58,00% 55,00% 10,00%

100,00% 73,45%

25 100,00% 87,08% 100,00% 100,00% 100,00% 98,06%

26 100,00% 74,15% 100,00% 100,00%

94,59% 95,31%27

50,00% 16,00% 0,00% 50,00%

0,00% 29,90%28

100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

100,00% 100,00%29

100,00% 36,46% 87,89% 100,00%

85,71% 86,51%30

100,00% 50,46% 76,36% 100,00%

100,00% 89,02%31

100,00% 94,62% 98,28% 100,00%

100,00% 98,93%32

100,00% 0,00% 100,00% 100,00%

64,71% 79,71%33

100,00% 41,85% 50,00% 50,00%

100,00% 76,28%34

50,00% 79,54% 80,43% 40,00%

54,55% 58,18%35

50,00% 74,15% 100,00% 100,00%

100,00% 76,12%36

50,00% 51,54% 0,00% 20,00%

0,00% 30,73%37

100,00% 89,23% 100,00% 100,00%

100,00% 98,38%38

100,00% 74,15% 100,00% 100,00%

100,00% 96,12%39

50,00% 91,38% 67,91% 100,00%

100,00% 73,89%

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183

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

40 100,00% 66,62% 86,04% 100,00%

100,00% 92,90%

41 50,00% 97,85% 67,90% 70,00%

100,00% 70,36%

42 100,00% 44,00% 55,57% 20,00%

100,00% 72,94%

43 100,00% 23,54% 75,03% 100,00%

87,50% 82,91%

44 50,00% 100,00% 0,00% 30,00%

0,00% 39,50%

45 100,00% 72,00% 100,00% 100,00%

100,00% 95,80%

46 100,00% 87,08% 90,54% 100,00%

100,00% 96,64%

47 100,00% 59,08% 100,00% 100,00%

83,33% 91,36%

48 50,00% 81,69% 50,00% 20,00%

100,00% 57,75%

49 CANCELADO 50

100,00% 80,62% 100,00% 100,00%

60,00% 91,09%51

50,00% 92,46% 50,09% 10,00%

100,00% 57,88%52

100,00% 69,85% 84,36% 30,00%

97,60% 82,27%53

100,00% 58,00% 100,00% 100,00%

100,00% 93,70%54

50,00% 70,92% 71,23% 100,00%

100,00% 71,32%55

50,00% 11,69% 51,47% 20,00%

100,00% 47,47%56

100,00% 59,08% 82,58% 100,00%

100,00% 91,25%57

100,00% 96,77% 100,00% 100,00%

100,00% 99,52%58

100,00% 80,62% 90,16% 100,00%

94,12% 94,73%59

50,00% 100,00% 100,00% 90,00%

100,00% 78,50%60

50,00% 76,31% 50,00% 40,00%

100,00% 59,95%61

100,00% 0,00% 0,00% 30,00%

100,00% 59,50%62

100,00% 94,62% 100,00% 100,00%

100,00% 99,19%63

50,00% 95,69% 68,57% 60,00%

80,00% 65,64%64

50,00% 59,08% 50,13% 70,00%

100,00% 61,88%

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184

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

65 50,00% 0,00% 0,00% 50,00%

0,00% 27,50%

66 100,00% 91,38% 100,00% 100,00%

100,00% 98,71%

67 100,00% 92,46% 99,86% 100,00%

90,91% 97,48%

68 100,00% 95,69% 100,00% 100,00%

100,00% 99,35%

69 100,00% 65,54% 64,92% 100,00%

66,67% 84,57%

70 50,00% 98,92% 58,42% 70,00%

100,00% 69,10%

71 100,00% 44,00% 100,00% 70,00%

100,00% 87,10%

72 100,00% 100,00% 95,38% 100,00%

100,00% 99,31%

73 100,00% 100,00% 72,48% 20,00%

100,00% 83,87%

74 100,00% 88,15% 65,21% 100,00%

100,00% 93,00%

75 50,00% 19,23% 61,74% 80,00%

100,00% 59,15%

76 100,00% 97,85% 86,62% 40,00%

100,00% 88,67%

77 50,00% 0,00% 66,73% 60,00%

100,00% 54,01%

78 50,00% 69,85% 50,02% 10,00%

100,00% 54,48%

79 100,00% 93,54% 67,18% 80,00%

100,00% 91,11%

80 50,00% 30,00% 51,33% 20,00%

100,00% 50,20%

81 50,00% 70,92% 85,40% 80,00%

100,00% 70,45%

82 50,00% 76,31% 51,23% 10,00%

100,00% 55,63%

83 50,00% 93,54% 88,63% 30,00%

100,00% 66,83%

84 100,00% 78,46% 84,79% 60,00%

100,00% 88,49%

85 100,00% 78,46% 100,00% 50,00%

100,00% 89,27%

86 50,00% 70,92% 67,15% 100,00%

66,67% 65,71%

87 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%

100,00% 100,00%

88 50,00% 0,00% 71,62% 40,00%

100,00% 51,74%

89 100,00% 87,08% 100,00% 100,00%

100,00% 98,06%

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185

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

90 50,00% 24,62% 58,24% 30,00%

25,00% 40,68%

91 100,00% 52,62% 58,57% 100,00%

100,00% 86,68%

92 100,00% 78,46% 94,05% 70,00%

66,67% 86,38%

93 50,00% 93,54% 93,12% 100,00%

100,00% 78,00%

94 50,00% 100,00% 60,09% 20,00%

100,00% 62,01%

95 100,00% 84,92% 69,80% 100,00%

100,00% 93,21%

96 100,00% 79,54% 79,31% 90,00%

95,00% 91,58%

97 50,00% 90,31% 72,65% 100,00%

100,00% 74,44%

98 100,00% 83,85% 96,85% 50,00%

100,00% 89,60%

99 CANCELADO 100

100,00% 0,00% 52,08% 10,00%

100,00% 64,31%101 CANCELADO 102

100,00% 96,77% 81,44% 50,00%

100,00% 89,23%103

100,00% 87,08% 67,20% 50,00%

100,00% 85,64%104

100,00% 91,38% 100,00% 100,00%

50,00% 91,21%105

100,00% 100,00% 95,49% 20,00%

100,00% 87,32%106

50,00% 100,00% 65,56% 60,00%

100,00% 68,83%107 CANCELADO 108

100,00% 76,31% 74,46% 60,00%

100,00% 86,62%109

100,00% 0,00% 58,37% 100,00%

100,00% 78,76%110

100,00% 11,69% 92,29% 100,00%

100,00% 85,60%111

100,00% 95,69% 100,00% 100,00%

100,00% 99,35%112

50,00% 14,92% 61,86% 70,00%

100,00% 57,02%113

100,00% 19,23% 82,22% 100,00%

75,00% 81,47%

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186

CONCORRÊNCIAS DO ANO DE 2008

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

1 100,00% 59,25% 61,26% 60,00% 100,00% 82,08%

2 50,00% 59,25% 55,40% 60,00% 100,00% 61,20%

TOMADAS DE PREÇOS DO ANO DE 2008

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

1 50,00% 46,67% 56,88% 40,00% 100,00% 56,53%

2 50,00% 100,00% 51,00% 10,00% 100,00% 59,15%

PREGÕES ELETRÔNICOS E PRESENCIAIS DO ANO DE 2009

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

1 100,00% 0,00% 67,77% 100,00% 100,00% 80,17%2 50,00% 64,46% 68,22% 100,00% 100,00% 69,90%3 100,00% 79,54% 83,51% 100,00% 100,00% 94,46%4 100,00% 41,85% 70,89% 100,00% 100,00% 86,91%5 50,00% 74,15% 50,08% 20,00% 100,00% 56,64%6 50,00% 73,08% 84,62% 100,00% 100,00% 73,65%7 100,00% 44,00% 88,43% 100,00% 100,00% 89,86%8 100,00% 44,00% 50,00% 40,00% 100,00% 75,10%9 100,00% 11,69% 100,00% 90,00% 100,00% 85,25%10 100,00% 9,54% 0,00% 10,00% 0,00% 42,93%11 50,00% 90,31% 87,69% 90,00% 100,00% 75,20%12 50,00% 52,62% 100,00% 100,00% 100,00% 72,89%13 50,00% 52,62% 0,00% 0,00% 0,00% 27,89%14 50,00% 47,23% 99,40% 100,00% 100,00% 72,00%15 50,00% 80,62% 100,00% 100,00% 100,00% 77,09%16 100,00% 95,69% 93,42% 100,00% 100,00% 98,37%17 100,00% 64,46% 51,89% 10,00% 50,00% 66,45%

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187

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

18 50,00% 89,23% 93,99% 100,00% 100,00% 77,48%19 100,00% 31,08% 100,00% 100,00% 100,00% 89,66%20 CANCELADO21 100,00% 38,62% 70,10% 100,00% 100,00% 86,31%22 100,00% 54,77% 100,00% 100,00% 100,00% 93,22%23 50,00% 58,00% 100,00% 100,00% 100,00% 73,70%24 100,00% 46,15% 80,35% 100,00% 100,00% 88,98%25 100,00% 62,31% 82,68% 100,00% 100,00% 91,75%26 50,00% 0,00% 0,00% 10,00% 0,00% 21,50%27 50,00% 45,08% 70,57% 100,00% 50,00% 59,85%28 50,00% 77,38% 100,00% 100,00% 100,00% 76,61%29 50,00% 82,77% 100,00% 100,00% 100,00% 77,42%30 100,00% 0,00% 46,86% 10,00% 100,00% 63,53%31 100,00% 50,46% 98,58% 30,00% 100,00% 81,86%32 100,00% 66,62% 100,00% 100,00% 100,00% 94,99%33 50,00% 44,00% 58,83% 100,00% 62,50% 59,80%34 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 55,00%35 100,00% 46,15% 58,35% 80,00% 100,00% 82,68%36 100,00% 75,23% 100,00% 100,00% 100,00% 96,28%37 100,00% 80,62% 100,00% 100,00% 100,00% 97,09%38 100,00% 90,31% 51,24% 10,00% 100,00% 77,73%39 100,00% 89,23% 50,00% 20,00% 100,00% 78,88%40 50,00% 88,15% 76,11% 20,00% 100,00% 62,64%41 100,00% 73,08% 100,00% 70,00% 46,15% 83,38%42 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%43 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%44 50,00% 0,00% 86,00% 10,00% 100,00% 49,40%45 100,00% 86,00% 55,62% 10,00% 100,00% 77,74%46 50,00% 44,00% 100,00% 70,00% 6,25% 53,04%47 100,00% 76,31% 98,96% 100,00% 100,00% 96,29%48 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00%49 100,00% 89,23% 95,57% 100,00% 85,71% 95,58%50 100,00% 45,08% 95,28% 100,00% 81,25% 88,24%

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188

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

51 CANCELADO52 100,00% 88,15% 80,19% 70,00% 100,00% 90,75%53 50,00% 67,69% 0,00% 60,00% 0,00% 39,15%54 50,00% 93,54% 72,91% 100,00% 100,00% 74,97%55 100,00% 52,62% 73,67% 100,00% 100,00% 88,94%56 50,00% 73,08% 92,95% 70,00% 100,00% 70,40%57 100,00% 59,08% 61,33% 100,00% 100,00% 88,06%58 100,00% 83,85% 62,02% 30,00% 100,00% 81,38%59 100,00% 69,85% 66,59% 100,00% 100,00% 90,47%60 100,00% 24,39% 65,44% 100,00% 100,00% 83,47%61 50,00% 0,00% 53,12% 90,00% 100,00% 56,47%62 100,00% 82,77% 100,00% 100,00% 100,00% 97,42%63 100,00% 76,31% 86,46% 100,00% 100,00% 94,41%64 CANCELADO 65 100,00% 76,31% 88,35% 100,00% 100,00% 94,70%66 100,00% 66,62% 0,00% 10,00% 0,00% 51,49%67 100,00% 36,46% 82,90% 70,00% 80,77% 80,52%68 100,00% 0,00% 0,00% 80,00% 0,00% 52,00%69 100,00% 62,31% 68,86% 60,00% 95,60% 83,02%70 100,00% 51,54% 83,26% 100,00% 85,71% 88,08%71 50,00% 21,38% 80,56% 60,00% 100,00% 59,29%72 50,00% 96,77% 53,90% 100,00% 100,00% 72,60%73 100,00% 67,69% 97,39% 100,00% 100,00% 94,76%

CONCORRÊNCIAS DO ANO DE 2009

NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

1 100,00% 92,92% 76,31% 20,00% 100,00% 83,38%

2 50,00% 12,36% 68,92% 100,00% 100,00% 62,19%

3 50,00% 85,00% 65,00% 70,00% 100,00% 68,00%

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TOMADAS DE PREÇOS DE 2009 NÚMERO EPC DRP EC DC BEC IE

1 50,00% 2,41% 74,70% 70,00% 100,00% 57,07%

2 100,00% 0,00% 54,32% 40,00% 100,00% 69,15%

3 50,00% 100,00% 50,00% 10,00% 100,00% 59,00%

4 100,00% 100,00% 65,89% 50,00% 100,00% 87,38%

5.3 Análise dos índices de eficiência calculados

A análise dos índices de eficiência calculados mostra que os procedimentos que obtiveram

percentual elevado foram aqueles cujos materiais licitados possuíam uma grande quantidade de

fornecedores no mercado. A grande participação de licitantes provoca uma maior redução do

preço final do produto, ao tempo em que impede que o item licitado não obtenha vencedor.

Pode-se então afirmar que, nas licitações de bens facilmente encontrados no mercado, deve-se

facilitar a participação de uma maior quantidade de licitantes, evitando-se maiores exigências, de

forma a obter uma maior redução de preço e o sucesso da licitação para todos os itens. É o caso

das licitações que envolvem material gráfico, material de informática e material de expediente.

Nas licitações de bens em que haja uma pequena quantidade de fornecedores no mercado,

deve-se aglutinar, no máximo possível, itens a serem licitados, tornando atrativa a disputa para

os poucos fornecedores existentes. Geralmente, nestes casos, os poucos fornecedores são

empresas de grande porte que não têm interesse em participar de certames que envolvem

pequenas quantias, ou participam oferecendo valores, praticamente, sem qualquer redução de

preço. É o caso das licitações que envolvem telefonia.

Nas licitações de obras de engenharia, mostra-se necessário respeitar os limites de

modalidade de licitação previstos na Lei nº. 8.666/93, evitando-se licitar, por exemplo, através de

concorrência, quando o valor estimado da licitação permite que ocorra na modalidade tomada de

preços. Apesar de legal, o procedimento não é adequado, pois demanda um tempo superior, e

envolve maiores despesas para o órgão e para os licitantes, que, em razão disso, oferecem

propostas com valores muito pouco reduzidos.

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Deve-se evitar, também, licitações com valores estimados inferiores a R$ 10.000,00 (dez

mil reais), levando-se em consideração que há um custo praticamente fixo para o órgão, em cada

licitação, decorrente das despesas de recursos humanos (elaboração de edital, parecer jurídico,

realização da sessão pública) e de publicação dos instrumentos exigidos pela lei. Se o valor for

inferior a R$ 8.000,00 (oito mil reais), pode-se optar pela dispensa de licitação. Se for maior, a

licitação não se faz viável economicamente, haja vista que a redução do preço não comporta o

gasto que envolve o certame, impondo a tentativa de se aglutinar outros itens aos licitados, para

elevar o preço estimado da compra.

Diminuir o quantitativo de licitações é uma boa providência. Para tanto, é imprescindível

um melhor planejamento das compras, de forma que se evitem licitações de mesma natureza em

curto espaço de tempo. A aglutinação de várias compras em um só certame, quando possível, é

uma conduta que deve ser estimulada, pois desperta maior interesse no mercado, e evita a

repetição de atos administrativos, diminuindo o custo do procedimento.

A repetição de certames desertos também é um fator que determina um gasto muito alto

para o órgão e acarreta uma forte diminuição no índice de eficiência, principalmente quando a

repetição se dá sem qualquer análise dos fatores que acarretaram a prejudicabilidade da disputa.

Nestes casos, é de bom alvitre verificar a pesquisa de preços, reavaliar as exigências de

qualificação das licitantes ou do produto, ou estudar a possibilidade de arquivamento do

procedimento, com a inclusão dos itens prejudicados em outro certame, antes de se decidir pela

repetição.

Por fim, a análise do índice de eficiência não deve ser absoluta. Somente através do estudo

do caso concreto torna-se possível avaliar se haveria conduta diversa disponível mais adequada.

O conjunto de licitações efetuadas pelo órgão é um fator importante para se saber se determinado

índice, obtido em um procedimento licitatório, poderia ter sido melhor. Se o órgão faz várias

licitações de material gráfico durante o ano, nada mais sensato do que agrupar todos os pedidos

em um único certame. Se não há disponibilidade orçamentária para licitar todos os pedidos, a

opção pelo sistema de registro de preços pode ser a solução, pois este tipo de licitação prescinde

de disponibilidade orçamentária.

A tabela que segue mostra um comparativo entre os anos de 2008 e 2009, por faixa de

índice de eficiência:

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Intervalo

Percentual do

Índice de

Eficiência

2008 2009 Acumulado 2008/2009

Quantidade de

Procedimentos

Percentual Quantidade de

Procedimentos

Percentual Quantidade de

Procedimentos

Percentual

0% a 10% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00%

10,01% a 20% 0 0,00% 0 0,00% 0 0,00%

20,01% a 30% 2 1,78% 2 2,60% 4 2,12%

30,01% a 40% 2 1,78% 1 1,30% 3 1,59%

40,01% a 50% 4 3,58% 2 2,60% 6 3,17%

50,01% a 60% 15 13,39% 11 14,29% 26 13,76%

60,01% a 70% 10 8,93% 7 9,09% 17 8,99%

70,01% a 80% 23 20,54% 16 20,77% 39 20,63%

80,01% a 90% 25 22,32% 20 25,97% 45 23,81%

90,01% a 100% 31 27,68% 18 23,38% 49 25,93%

TOTAL 112 100% 77 100,00% 189 100,00%

Vislumbra-se que há uma estagnação na melhoria da eficiência dos procedimentos

licitatórios, com uma discreta diminuição do índice, mormente na faixa de 90,01% a 100%, nos

procedimentos realizados no ano de 2009, agravada pelo fato de ter sido um ano com um

quantitativo bem inferior de licitações, em relação ao ano de 2008. Pode-se afirmar que,

praticamente, ocorre uma repetição do cenário nos dois anos analisados, que se reporta a uma

reincidência das mesmas condutas que dificultam a elevação do índice.

De qualquer forma, a faixa percentual entre 70,01% a 100% concentra a maioria absoluta

dos procedimentos realizados, representando um considerável avanço. Inobstante, a melhoria do

índice de eficiência precisa ser retomada, na obtenção de um superior patamar de excelência,

ainda não atingido pelo órgão.

No mais, a metodologia deve ser utilizada como instrumento de aprendizado, de um

período para outro, evitando-se que os mesmos erros voltem a se repetir.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No início deste estudo, foram estabelecidos objetivos que puderam ser alcançados por

meio dos Capítulos apresentados. A pergunta problema pode ser respondida através da

apresentação dos indicadores de eficiência escolhidos para os procedimentos licitatórios do

Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE/PE), conforme disposto no Capítulo 5.

Partindo-se do estudo do Princípio da Eficiência, em ilação com os referenciais teóricos

utilizados, ouvindo-se os servidores públicos da Corte Regional e, também, pela análise dos

procedimentos licitatórios, foi possível constatar a utilização de três indicadores – legalidade,

preço e tempo -, mas sem metodologia de avaliação e, principalmente, sem quantificação

objetiva.

Eficiente procedimento de compra – EPC, duração razoável do procedimento – DRP,

economicidade da compra – EC, divulgação da compra – DC e bom êxito na compra – BEC são

os indicadores propostos para avaliação do cumprimento do Princípio da Eficiência, no âmbito

do TRE/PE, formando, juntos, através de cálculos aritméticos singelos, porém, claros e

objetivos, o Índice de Eficiência – IE, capaz de mensurar o nível de eficiência dos procedimentos

licitatórios, em termos percentuais. Cada um dos indicadores propostos remete a uma das três

faces do Princípio da Eficiência: custos, procedimento e resultado. Essas três faces foram

denominadas de eficiência do procedimento ou eficiência stricto sensu, eficiência dos resultados

ou eficácia e eficiência dos custos ou efetividade, percebidas e mensuradas pelos indicadores

apresentados.

O Princípio da Eficiência foi estudado em um retrospecto que remontou à Reforma

Burocrática da década de 30 do século passado, - onde já se percebia a preocupação com a

melhoria da atuação estatal -, e cuja definição foi construída observando-se a evolução do

conceito de cidadania nos últimos séculos de história de civilização humana, com destaque para

o inusitado caso brasileiro.

A história, o funcionamento e os desafios da Justiça Eleitoral foram discutidos com isenção

e liberdade, buscando-se alcançar uma visão panorâmica e atual desse órgão do Poder Judiciário

da União, com os rebates necessários para o caso do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco.

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O modelo gerencial de gestão pública foi dissecado em contraponto ao modelo burocrático,

pontuando-se um dos seus pilares: a gestão pública por resultados. Construiu-se a evolução da

contratualização no Brasil, do início dos anos 90 do século passado até o pioneiro contrato de

parceria público-privada.

Os dados de pesquisa - procedimentos licitatórios e questionários -, colhidos e comentados

com fidelidade, permitiram afirmar o atual estágio de gestão do TRE/PE, ao tempo em que

permitiram estabelecer os elementos para a metodologia de aferição proposta.

O estudo, todavia, não se esgota em si mesmo. Espera-se, pelo contrário, que seja um

embrião de uma nova série de estudos, apontando um caminho cujo percurso dependerá do

aprofundamento da Reforma do Estado, desenvolvendo-se o modelo gerencial, com as

adequações que o caso brasileiro requer. Outros pesquisadores poderão desenvolver e aprimorar

a metodologia proposta, que poderá ser utilizada pelos órgãos da Administração Pública,

compelidos que estão, por força constitucional, a licitar.

No caso do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE/PE), o estudo oferece uma

ferramenta eficaz, mas de simples utilização, que, caso seja adotada, trará benefícios para o

planejamento e para a avaliação das licitações realizadas pelo órgão do Poder Judiciário, com

possibilidade de posterior desenvolvimento do método para as demais atividades administrativas.

A busca por um Estado eficiente, e por isso, justo, social, democrático, defensor e

garantidor dos direitos de cidadania, em todos os níveis e graus, ao invés de ser um sonho, deve

ser um ideal. As gerações que surgirão precisam encontrar um aparato administrativo moderno,

vinculado às causas nobres, em condições de oferecer à sociedade serviços públicos cada vez

melhores, em tempo razoável, e com equilíbrio econômico. Isso é ser eficiente. É cumprir o

mandamento constitucional do Princípio da Eficiência.

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