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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO JÉSSICA SANTOS DO NASCIMENTO PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA: qual é o pacto de Recife? RECIFE 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CURSO DE MESTRADO

JÉSSICA SANTOS DO NASCIMENTO

PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA:

qual é o pacto de Recife?

RECIFE

2017

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JÉSSICA SANTOS DO NASCIMENTO

PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA:

qual é o pacto de Recife?

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco como requisito parcial

para obtenção do grau de mestre em Educação,

Linha de Pesquisa: Políticas Educacionais,

Planejamento e Gestão da Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Lúcia Felix dos

Santos.

Recife

2017

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JÉSSICA SANTOS DO NASCIMENTO

PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA:

qual é o pacto de Recife?

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade

Federal de Pernambuco como requisito parcial

para obtenção do grau de mestre em Educação,

Linha de Pesquisa: Políticas Educacionais,

Planejamento e Gestão da Educação.

Aprovada em: 31/08/2017.

__________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Lúcia Félix dos Santos (Presidenta - Orientadora) (UFPE/PPGE)

__________________________________________________________

Profa. Dra. Antonia Almeida Silva (UEFS) (Examinador externo)

__________________________________________________________________

Profa. Dra. Ana Lúcia Borba de Arruda (UFPE/PPGE) (Examinador interno)

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

Ofereço à mainha, mulher forte e guerreira, a

quem devo tudo que sou.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, porque nada aconteceria sem a permissão dele. Agradeço pela oportunidade de viver.

Tudo é por ele e para ele.

Agradeço à pessoa mais importante da minha vida, que com seu caráter e força me ensinou a

buscar no caminho da vida ser apenas feliz e a viver em paz, minha querida mãe Marileide de

Souza Santos, pessoa, que me alfabetizou, mesmo sem ser professora, sem ambição e cobiça,

pois aos filhos se dedicou durante toda a vida. Mainha, sei que você estará sempre presente, a

dor sentida pelo seu falecimento nem se compara à imensidão de amor que sinto viva em

mim. Te amo pela eternidade!

Ainda durante o percurso do Mestrado, Deus sempre tão bondoso comigo me presenteou com

um lindo menino para que no desenvolvimento de uma página e outra eu renovasse as

energias com muito amor e carinho. Denis, o maior e melhor presente que Deus poderia ter

me dado, te amo filho querido!

Agradeço aos meus 3 irmãos que amo muito. Ysnard Santos, obrigada por ser esse homem

digno e equilibrado, sempre disposto a me ajudar. Agradeço à Gisele Santos pelos cuidados e

carinhos que sempre teve comigo. Agradeço à Karina Santos que nunca mediu esforços para

me ajudar no percurso do mestrado e pelo carinho e amor com Denis. Agradeço por ter me

dado o primeiro sobrinho, ao qual posso dar muito carinho e dengo, meu Miguel lindo.

Agradeço ao meu esposo, Adenilson, cúmplice e companheiro, incentivador da minha vida

acadêmica e nos momentos difíceis durante o mestrado, ‘Você é a paz que eu gosto de ter’.

Agradeço ao meu pai, José Vicente, que sempre me orientou a investir nos estudos. Em

especial quando me levava para fazer concursos públicos, logo no início da caminhada.

Obrigada por tudo, te amo!

Agradeço à Ana Lúcia Felix dos Santos, orientadora linda e competente. Um dia em uma

aula, quando ainda era aluna da graduação e Ana Lúcia a professora, pensei: “um dia ainda

quero ensinar como ela...” e essa admiração só ampliou. Pois hoje finalizo o mestrado e

posso dizer: ‘eu tenho a melhor orientadora do mundo’. Muito obrigada!

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Agradeço a Alexandre Viana pelo apoio e incentivos para a seleção do mestrado. Muito

obrigada.

Agradeço ao amigo Edielson pelas parcerias firmadas na graduação. Agradeço à Selma

Ferreira, amiga digna e companheira. Muito obrigada pela caminhada durante a graduação e

pela leitura cuidadosa dessa dissertação.

A Sidney Richards, ex-chefe que me incentivou a prosseguir nos estudos durante a

graduação em Pedagogia. Muito obrigada!

Aos colegas da turma 33B do Mestrado. As aulas foram produtivas e alegres, sensacionais.

A todos os professores da graduação em Pedagogia, especialmente ao professor Vantuil

Barroso, Daniela Ferreira e Ana Lúcia Borba, que contribuíram no meu desenvolvimento e

na formação crítica.

À equipe que integrou o Projeto de Extensão Construindo Saberes na Educação Infantil e

no Primeiro Ciclo: Contos, Música, Brincadeira e Jogos, especialmente as professoras

Ivanilde Monteiro e Fátima Ribeiro pelas aprendizagens vividas e experimentadas. Muito

obrigada!

Agradeço aos professores da Pós-graduação em educação da UFPE, em especial a Alfredo

Macedo e Janete Azevedo, pelas contribuições nessa dissertação.

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RESUMO

O presente trabalho trata sobre o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic).

Buscou olhar para esse Programa a partir da perspectiva da gestão municipal e do regime de

colaboração. O Pnaic tem por objetivo assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas

até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental, e para isso propõe uma

ação colaborativa entre as instâncias governamentais envolvidas no processo. Desse modo, a

pesquisa teve como objetivo analisar como se deu o processo de implementação do Pnaic na

cidade do Recife, entre o período de 2013 a 2015, considerando o regime de colaboração na

gestão desse programa educacional. Partiu-se da hipótese de que o regime de colaboração

atuou como elemento importante no desafio à implementação do Programa no município em

relação ao que está posto na regulamentação básica do Pnaic. A metodologia foi do tipo

qualitativa e utilizou como procedimentos de coleta de dados entrevistas semiestruturadas e

análise de documentos. Para o tratamento dos dados utilizou a análise de conteúdo de Bardin

(1989). Os dados revelaram que a cooperação seguiu o disposto na legislação própria do

Pnaic, que define as ações que são de responsabilidade de cada instância administrativa

envolvida. O controle do poder central via sistema de monitoramento apareceu como um forte

elemento da constituição das ações do Programa. Junto a isso o MEC se responsabilizou pelas

questões de financiamento, observando-se atrasos constantes no pagamento de bolsas. A

UFPE atuou em sua função de oferecimento da formação, e contribuiu fortemente com o

sistema de monitoramento. No entanto, foi possível observar também um protagonismo do

poder local referente à colaboração em ações, que inclusive não estavam previstas nos

documentos normativos, como a identificação do espaço de formação dos professores

alfabetizadores. Elementos indicados na legislação do Programa também não foram

efetivados, como, por exemplo, a parceria com outros programas e o vínculo mais específico

com as escolas. A parceria na implementação do Pnaic em Recife se mostrou fragmentada

entre o município, UFPE e MEC dada a ausência de espaços de diálogos, pois o MEC, pelas

portarias e resoluções, prestigiou o sistema de monitoramento como meio de comunicação em

detrimento de acompanhamento.

Palavras-Chaves: Política educacional. Regime de colaboração. Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa (Pnaic). Recife.

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ABSTRACT

This research addresses the National Pact for Literacy at the Right Age (Pnaic). It aimed to

look at this Program from the perspective of municipal management and the collaboration

regime. The Pnaic, which seeks to ensure that all children are literate until the age of eight, at

the end of the 3rd year of elementary school. To achieve this, it requires the formal

commitment assumed by the federative entities. The purpose of this research was to analyze

how the process of implementation of the Pnaic in the city of Recife was carried out, within

the period from 2013 to 2015, considering the collaboration regime in the management of this

educational program. The study was based in the hypothesis that the collaboration regime

acted as an important element in the challenge of the implementation of the Program in the

municipality regarding what is required in the basic regulations of the Pnaic. The

methodology applied was the qualitative type and it used as procedures of data collection 10

semi-structured interviews and analysis of normative documents referring to the Program. For

data treatments, the content analysis of Bardin (1989) was used. The term of commitment to

join the Pnaic in Recife was one of the documents to be analyzed, however, the 10 (ten)

interviewees did not have any information about it. Therefore, the analysis of the normative

documents pointed to the non-realization of several points of partnership foreseen in the

legislation of the Program that were fundamental for the implementation of the Pnaic in

Recife. The representatives of the MEC, from their statements, evidently expressed greater

congruence with the guidelines that were foreseen in the ordinance that instituted the Pnaic.

But the elements of the legislation that were possible to be effective in Recife were restricted

to the control of the central power (in the figure of the MEC and UFPE). The implementation

of the Pnaic in Recife received boundaries that implied a fragmented partnership between the

municipality and the central power. The results related to the speeches of the subjects

interviewed revealed relationships with different scope and intensity of impacts of the

implementation of the Educational Program in the entities, being characterized in

coordination in the relation between federated entities instead of a collaboration in the

implementation of the Pnaic in Recife resulting from the distribution of powers of the Pnaic

forming chain.

Keywords: Educational policy. Regime of collaboration. National Pact for Literacy at the

Right Age (Pnaic). Recife.

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LISTA DE SIGLAS

ABALF Associação Brasileira de Alfabetização

ANA Avaliação Nacional da Alfabetização

ANPAE Associação Nacional de Política e Administração da Educação

ANPED Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações

BM Banco Mundial

BNCC Base Nacional Comum Curricular

CEEL Centro de Estudos em Educação e Linguagem

CENSED Conselho Nacional de Secretários da Educação

CF Constituição Federal

EC Emenda Constitucional

EDUCERE Congresso Nacional de Educação

EJA Educação de Jovens e Adultos

FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC Ministério da Educação

MPB Música Popular Brasileira

NEMAT Núcleo de Educação Matemática

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMC Organização Mundial do Comércio

PAIC Programa de Alfabetização na Idade Certa

PDE Plano de Desenvolvimento da Educação

PE Pernambuco

PIB Produto Interno Bruto

PMER Plano Municipal de Educação de Recife

PNAIC Plano Nacional de Alfabetização pela Idade Certa

PNBE Programa Nacional Biblioteca da Escola

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PNE Plano Nacional de Educação

PNLD Programa Nacional do Livro Didático

PRALER Programa de Apoio a Leitura e Escrita

PROFA Programa de Formação de Professores Alfabetizadores

RBE Revista Brasileira de Educação

RENAFOR Rede Nacional de Formação de Professores

SCIELO Scientific Electronic Library Online

SEA Sistema de Escrita Alfabética

SISPACTO Sistema de Monitoramento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade

Certa

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UFSM Universidade Federal de Santa Maria

UNDIME União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

UTEC Unidade de Tecnologia na Educação

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Os sujeitos da pesquisa ............................................................................................ 27

Figura 2 - Objetivos das ações e suas incumbências ................................................................ 72

Quadro 1 – Levantamento da produção – Pnaic no Scielo ....................................................... 31

Quadro 2 – Levantamento da produção – Pnaic nos Anais dos eventos da Anpae .................. 32

Quadro 3 – Levantamento da produção – Pnaic nos anais dos eventos da Anped ................... 33

Quadro 4 – Levantamento da produção – Pnaic nos Anais do Educere ................................... 36

Quadro 5 – Levantamento da produção – Pnaic na BDTD ...................................................... 40

Quadro 6 - Incumbências dos entes federativos ....................................................................... 72

Quadro 7 – Deliberações do PMER ......................................................................................... 79

Quadro 8 – Programas e projetos do município de Recife ....................................................... 80

Tabela 1- Índice de Desenvolvimento Humano ....................................................................... 76

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 14

1.1 Objetivo Geral: ......................................................................................................... 21

1.2 Objetivos específicos: ............................................................................................... 21

1.3 Aportes metodológicos ............................................................................................. 22

1.4 Referencial para análise de política pública .......................................................... 24

1.5 Atitudes procedimentais .......................................................................................... 25

1.6 Organização da pesquisa ......................................................................................... 28

2 OS ESTUDOS SOBRE O PNAIC ........................................................................... 30

3 POLÍTICAS EDUCACIONAIS, PROGRAMAS E PODER LOCAL ............... 50

3.1 Políticas públicas e relações de poder ..................................................................... 50

3.2 Federalismo e Regime de Colaboração .................................................................. 57

3.3 O Poder Local e a descrição do objeto empírico ................................................... 63

3.4 O Pnaic – descrevendo nosso objeto de estudo ...................................................... 67

4 O PNAIC NA CIDADE DO RECIFE – CONTEXTO DE ADESÃO ................. 76

4.1 Características gerais do município ........................................................................ 76

4.2 O contexto de adesão do Pnaic no município de Recife ........................................ 77

4.3 Plano municipal de educação de Recife (PMER) e o Pnaic .................................. 78

4.4 A implementação do Pnaic: elementos sobre sua origem e formas de adesão .... 82

4.5 A realidade da implementação: materiais, professores, formação ...................... 90

4.6 A parceria estabelecida no Município de Recife – Programa Mais Educação ... 94

4.7 A parceria estabelecida no Município de Recife – Governo do Estado de

Pernambuco .............................................................................................................. 96

4.8 A parceria estabelecida no Município de Recife – Constituição da Equipe Local

.................................................................................................................................... 98

5 CONCEPÇÕES DE COLABORAÇÃO: O QUE PENSAM OS SUJEITOS DA

PESQUISA .............................................................................................................. 102

5.1 As responsabilidades municipais: deslocamento, alimentação e acomodação de

professores alfabetizadores e orientadores de estudos ........................................ 105

5.1.1 Acompanhamento das implementações das ações na rede ...................................... 110

5.2 As obrigações do MEC: pagamento das bolsas e oferecimento do material

didático .................................................................................................................... 115

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5.3 A responsabilidade da IES: gestão da formação (estrutura física para formação

e execução da formação) ........................................................................................ 117

5.4 Limites e Possibilidades na implementação do Pnaic em Recife........................ 119

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 126

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 130

APÊNDICE A – Levantamento da produção completo...................................... 143

APÊNDICE B – ROTEIROS DE ENTREVISTAS............................................ .149

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1 INTRODUÇÃO

A escolha deste objeto surgiu do interesse em compreender a persistente ausência ou/a

fragilidade no oferecimento de alguns serviços de responsabilidade do Estado,

principalmente, os que se constituem como direito educacional, como é o caso da necessidade

que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade.

Assim, movida pelo desejo de compreender as ações de políticas públicas brasileiras

para o enfrentamento dessa questão, bem como incomodada diante da conjuntura nacional que

ainda conta com grande número de crianças sem atingirem esse direito, fui motivada a

pesquisar na graduação o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) no

município de Camaragibe1. Dando prosseguimento com esta temática no curso de mestrado,

elegi desta vez como campo de pesquisa o município do Recife, capital do estado de

Pernambuco.

O Pnaic foi instituído pela portaria nº 867 de 4 de julho de 2012, que explica no Art. 1:

Fica instituído o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, pelo qual o

Ministério da Educação (MEC) e as secretarias estaduais, distrital e municipais de

educação reafirmam e ampliam o compromisso previsto no Decreto no 6.094, de 24

de abril de 2007, de alfabetizar as crianças até, no máximo, os oito anos de idade, ao

final do 3º ano do ensino fundamental, aferindo os resultados por exame periódico

específico, que passa a abranger (BRASIL, 2012a, grifos nossos).

Esse fragmento da Portaria nº 867 de julho de 2012 expressa claramente que a garantia

dessa educação depende necessariamente de um compromisso que envolve o Ministério da

Educação (MEC), as secretarias estaduais, distrital e municipais de educação, já previsto no

decreto 6.094 de abril de 20072. Incorporado a este propósito do decreto, o Pnaic se

caracteriza por incentivar estados e municípios a tornar efetiva a alfabetização das crianças

com base na justificativa que “Muitas crianças brasileiras concluem o ciclo destinado à sua

alfabetização sem estarem plenamente alfabetizadas” de acordo com o manual do pacto

(BRASIL, 2012b, p. 04).

Este compromisso é reforçado pela inserção do termo pacto na nomenclatura do

programa, no sentido de assimilarmos que esse termo esclarece a estrutura política na oferta

do programa a partir, necessariamente, da pactuação, ou seja, exige a colaboração entre os

1 Pesquisa realizada pela autora e por Selma da Silva Ferreira no Trabalho de Conclusão Final (TCC) para

conclusão do curso de graduação em Pedagogia em 2014. 1. 2 Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em

regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e a participação das famílias e da

comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela

melhoria da qualidade da educação básica

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entes federados na sua efetivação. Desse modo, o termo pacto aparece como o guia de

interesse nesta pesquisa, já que estamos interessados em analisar o programa do ponto de vista

de sua materialização enquanto política que exige cooperação entre os entes federados. Na

verdade, compreendemos o termo pacto para além de um simples contrato por adesão; sugere-

nos um princípio norteador para os entes federados, que os impulsiona fundamentalmente

para o processo de andamento e da implementação do Programa, que é o foco de nossa

pesquisa.

Inseridos nesse contexto de compromisso, como consta no documento que o institui,

Portaria nº 867 de 4 de julho de 2012, no Art. 2, parágrafo único. “A pactuação [...] é

condição para a adesão de Estados, Distrito Federal e Municípios às ações do Pacto”

(BRASIL, 2012a). Traduzindo, esse texto significa que o Pnaic possui sua base na

colaboração. Inclusive em 2015, na articulação entre as secretarias de educação e a escola,

dentro do eixo que trata da Gestão e Mobilização, o MEC passou a disponibilizar o caderno -

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - Gestão Escolar no Ciclo de Alfabetização,

reafirmando que a meta da alfabetização se respalda no conjunto de atribuições dos entes,

inclusive contando com a participação dos gestores escolares. A informação logo no início do

Caderno reintera essa intenção:

Gestores municipais e escolares têm um papel fundamental no Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Essa não é apenas uma dimensão formal do

PNAIC, mas traduz o reconhecimento da parceria que efetivamente se tem

materializado nas diferentes regiões do país em torno de uma meta comum:

mobilizar esforços para assegurar a alfabetização de todas as crianças no período dos

três anos que compõem o Ciclo de Alfabetização (BRASIL, grifos nossos, 2015, p.

07).

Com a inclusão detalhada do segmento de gestão no desenvolvimento do Pnaic3 no

ano de 2015, percebe-se o campo onde o MEC localiza esta alfabetização pelo Pnaic,

agregando gestores municipais e os escolares na parceria para a efetivação do Programa. Esta

organização contempla o planejamento político no município, o envolvimento e a

predisposição do ente que adere, sendo isto um elemento impulsionador para que brotem

outras ações em prol da alfabetização. Destarte, os efeitos produzidos se transformarão em

maximização dos resultados almejados pelo Pnaic, que estão vinculados às propostas de

unidade federativa, visto que as ações serão desenvolvidas em cooperação (ABRUCIO,

2007).

3 O PNAIC foi lançado em 2012, porém apenas no ano de 2015 foi lançado o caderno Gestão Escolar no Ciclo

de Alfabetização, fornecendo maiores subsídios referentes à gestão municipal e escolar.

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O Pnaic para ser implementado se apoia na cadeia de formação, constituída pela

coordenação nacional que gerencia o coordenador institucional; esse coordenador

institucional gerencia o coordenador adjunto e o supervisor. O supervisor do Pnaic gerencia o

coordenador local de Recife, esse coordenador local, por sua vez, gerencia os orientadores de

estudos, esses orientadores de estudos formam os professores alfabetizadores.

Não podemos deixar de resumidamente problematizar a questão da alfabetização,

meta a ser alcançada no decorrer desse programa educacional, a qual é preponderante na

apropriação de habilidade de leitura, escrita e matemática, segundo o manual do Pacto

(BRASIL, 2012b, p. 17)4. O MEC espera que após as crianças saírem do ciclo de

alfabetização, ao final do terceiro ano do ciclo de alfabetização, os reflexos das ações do

Programa possam ser apurados nos dados das avaliações que orientam o Pnaic: Provinha

Brasil e Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) no que diz respeito ao domínio da

leitura, escrita e da matemática5. Com estas referências, nota-se que há urgência na garantia

mais consistente ligada ao domínio da leitura, escrita e matemática.

Os problemas decorrentes das “deficiências graves em leitura, escrita e operações

matemáticas básicas tendem a se agravar ao longo da vida escolar, em que esses

conhecimentos são indispensáveis para seguir aprendendo e avançando” (GOMES, 2013, p.

04). No campo legal destacamos a Meta 5 do Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº

13.005, que estabelece como meta entre 2014 a 2024 que se deva “alfabetizar todas as

crianças, no máximo, até o final do 3o (terceiro) ano do ensino fundamental” (BRASIL,

2014). Assim, essa legislação confere consistência à necessidade da alfabetização até os oito

anos de idade pautada pela colaboração entre municípios, estados e União.

Também despertou nosso interesse em pesquisar o Pnaic quando observamos o

contexto global de avanços educacionais e notoriedade que o país vem conquistando junto a

conceituados grupos internacionais. Como salientado pela Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) exposto pelo discurso do Inep (2014), “O gasto

público brasileiro total em educação, em 2012, representava 6,4% do Produto Interno Bruto

4 Tomamos como referência para esta afirmação os objetivos específicos do PNAIC: I ‐ Garantir que todos os

estudantes dos sistemas públicos de ensino estejam alfabetizados, em Língua Portuguesa e em Matemática, até

o final do 3º ano do ensino fundamental; II ‐ reduzir a distorção idade‐série na Educação Básica; III ‐ melhorar

o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB);

5 O Manual do Pnaic justifica a existência do programa em decorrência de dados que evidenciam que as crianças

não sabiam ler e compreender um simples bilhete. E para que elas avancem, define-se pela portaria nº 867 de

julho de 2012, no Art. 5, que os municípios devem melhorar o índice de desenvolvimento da educação (Ideb).

E no Art. 9, explica que o eixo da avaliação terá como referência a Provinha Brasil e a Avaliação Nacional da

Alfabetização.

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(PIB). O percentual está acima da média do OCDE (5,6%)”, bem como são notificados pela

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), no

Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos6 2013-2014 divulgado pelo

INEP (Janeiro de 2014):

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), indicador utilizado pelo

governo brasileiro para aferir a qualidade do ensino em escolas nas redes pública e

privada, teve todas as metas atingidas em 2011, sendo que em algumas etapas a meta

estabelecida foi superada.

Contudo, esta representatividade do Brasil diante destas agências internacionais

compõe um cenário um tanto quanto complexo, se revelando inclusive contraditório. Ou seja,

esta notoriedade diante dos organismos internacionais nem sempre transparece a realidade que

o país enfrenta; uma realidade que ainda apresenta significativamente indivíduos não

alfabetizados.

Além disso, principalmente, instigou-me ter prosseguido estudando uma política de

porte nacional pelo conhecimento de que a efetivação das políticas educacionais em meio ao

nosso desenho federativo dialoga de forma complexa no enfrentamento das demandas do país.

De acordo com Abrucio e Franzese (2007, p. 02),

Nos últimos vinte anos, ao mesmo tempo em que a provisão dos serviços públicos e

as demandas sociais cresciam, as relações intergovernamentais tornavam-se mais

complexas. Com graus variados de autonomia, mas com maior raio de ação do que

no passado, há gestores municipais, estaduais e federais em Educação, Saúde,

Assistência Social e noutras políticas públicas relevantes. Assim, a coordenação

entre os níveis de governo se torna cada vez mais necessária, contudo, nem sempre a

decisão de um ente federativo se coaduna com a dos demais. Entender este

intrincado jogo é tarefa fundamental para aqueles que se dedicam a estudar e a

trabalhar com programas governamentais.

Embora tenhamos que considerar as dificuldades presentes nos municípios como

elementos de análise da política, devemos analisar sobretudo, as intervenções do Estado que

pesem estas questões, que ofereçam o suporte necessário, que sejam capazes de incidir na

essência do problema, enfim, que deem condições do exercício legítimo da autonomia. Pois

inversamente, mesmo dentro de um acordo, de uma colaboração, temos como suporte legal

para a implementação nos municípios a figura da União com o maior peso dentre os entes.

6 O relatório é desenvolvido periodicamente pela Unesco (2003/4) e analisa o cumprimento, até 2015, de seis

metas na área educacional, estabelecidas por 164 países signatários da Conferência Mundial de Educação, que

ocorreu em Dacar (Senegal), no ano 2000.

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Foi necessário fazermos o levantamento de estudos realizados a respeito deste

programa educacional a fim de compreendermos o debate produzido sobre o programa,

delimitamos o período entre o momento da implantação do programa em 2013 até final de

2016. Este levantamento foi significativo, pois de acordo com Souza (2014b) de fato existe

uma trajetória de programas destinados à alfabetização em âmbito nacional sob instituição do

MEC, entre o período 1999 a 2014 em que a autora destaca os antecedentes do Pnaic.

Para Souza (2014b), o país já teve outros programas enfatizando as aprendizagens e

cobrando a efetiva alfabetização das crianças e jovens aos entes federativos, a saber:

Programa Parâmetros em Ação (1999-2000); Programa de Formação de Professores

Alfabetizadores (PROFA, 2001); Pró-Letramento: Mobilização pela qualidade da educação

(2005-2012); Programa de Apoio a Leitura e Escrita (PRALER, 2009). Além disso, essa

autora afirma que “Estados e municípios, muitas vezes, têm programas ou projetos próprios

na busca por superar o problema da alfabetização”, até porque os debates em torno da

alfabetização não são recentes.

Nas décadas que antecederam a Proclamação da República brasileira, o ensino e a

aprendizagem iniciais da leitura e escrita começaram a se tornar objeto de

preocupação de administradores públicos e intelectuais da Corte e de algumas

províncias brasileiras, especialmente São Paulo. Entretanto, foi somente a partir da

primeira década republicana, com as reformas da instrução pública, especialmente a

paulista, que as práticas sociais de leitura e a escrita se tornaram práticas

escolarizadas, ou seja, ensinadas e aprendidas em espaço público e submetidas à

organização metódica, sistemática e intencional, porque consideradas estratégicas

para a formação do cidadão e para o desenvolvimento político e social do país, de

acordo com os ideais do regime republicano (MORTATTI, 2010, p. 330).

Dessa forma, a preocupação com a alfabetização surgiu bem antes que aos municípios

fossem delegada a obrigatoriedade de oferecer o ensino fundamental. No entanto, atualmente,

o foco deste debate com o oferecimento deste programa se insere com muito mais ênfase sob

princípios da descentralização administrativa, principalmente no que se refere à execução,

dado que a sua implementação se dá nos estados e municípios.

É importante destacar que fizemos um levantamento das pesquisas que tomaram o

PNAIC como objeto, as produções do PNAIC7 sobre pesquisas que tratam do Pnaic desde

2013 no banco de produções da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Educação (Anped), Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae),

7 Realizada pela autora no período de 2012 a agosto de 2015. O trabalho completo encontra-se no APÊNDICE

A.

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19

na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), no Scientific Electronic

Library Online (Scielo) e no Congresso Nacional de Educação (Educere).

Chama-nos a atenção, como um dos resultados encontrados na BDTD, a tese de

Salomão (2014), que objetivou analisar o processo de implantação do Pnaic, mas a partir da

consolidação do Pró-letramento. Em um de seus apontamentos na análise, ele coloca que “Os

programas [...] precisam se constituir em sintonia com as reais necessidades dos professores,

onde eles tenham a oportunidade de participar ativamente das decisões às quais são

submetidos” (SALOMÃO, 2014, p. 84).

Esta é uma das pesquisas que indicam a necessidade de investigar quais são as

estruturas reais que possibilitam um programa ser implementado no local. Sabemos que

dentre os entes federativos, os da região Nordeste se destacaram, como verificamos no manual

do Pacto (BRASIL, 2012b), por abarcar dados expressivos de pessoas que saem do ciclo de

alfabetização sem estarem plenamente alfabetizadas:

Apesar deste avanço, constata-se no mesmo Censo (IBGE 2010) que há variações

regionais importantes, chegando a taxa de analfabetismo a 27,3% na região Norte e

25,4% no Nordeste. Cabe ressaltar, entretanto, que os dados utilizados pelo IBGE

para apurar estas taxas são provenientes de uma pergunta simples, feita ao

informante do domicílio recenseado: “a criança sabe ler e escrever?”. Esta pergunta

não reflete o que entendemos por alfabetização, indica que o problema é mais amplo

e manifesta-se em diferentes intensidades em todo o país (BRASIL, 2012b, p. 18).

Outras fontes ratificam a maior atenção que se deve direcionar para consolidar a

alfabetização das crianças nesta região, como relata Beltrão (2012, p. 01) que “quanto ao

Nordeste, informa que Dados do Censo 2010 indicam que 15,2% das crianças brasileiras não

sabem ler nem escrever aos 8 anos”.

Por fim, a última justificativa pela escolha deste objeto foi o interesse por

compreender o próprio papel impulsionador da União, que deve atuar em suas funções

redistributiva e supletiva na cooperação com os demais entes federativos, ter o respaldo legal

por meio do Programa de um maior controle e regulação através dos resultados obtidos das

avaliações externas, com o sistema de monitoramento, além da influência dos investimentos

financeiros via Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na rede de

formação nos municípios e estados brasileiros, para tutelar um programa destinado ao ensino

fundamental8. Deste modo, a União reforça a necessidade do empenho dos entes na garantia

8 Pela Portaria nº 867 de 4 de julho de 2012, no Art. 11 se refere “a aplicação das avaliações externas do nível de

alfabetização em Língua Portuguesa e em Matemática, para alunos concluintes do 3º ano do ensino

fundamental” de responsabilidade do MEC. E a Resolução 4 de 27 de fevereiro de 2013, no Art. 7, trata do

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20

dos direitos previstos no ensino fundamental I, etapa de responsabilidade prioritária do

município. De acordo com o MEC (2015, p. 156),

Lançado em fevereiro de 2013, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

(PNAIC) constitui um compromisso formal assumido pelos Governos Federal, do

Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios de assegurar que todas as crianças

estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino

fundamental. Em 2014, o PNAIC completou seu segundo ano de vigência, tendo

agora como foco a formação continuada de professores em Matemática,

complementando a capacitação em Língua Portuguesa, ofertada em 2013. Em 2014,

o PNAIC teve a adesão dos 26 Estados e do Distrito Federal e de 5.421 Municípios,

envolvendo 311.916 professores alfabetizadores e 15.072 orientadores de estudos,

com concessão de bolsas que alcançou um montante superior a R$ 560 milhões.

Ademais, cerca de seis milhões de alunos foram beneficiados pelo Pacto, em

108.733 escolas.

Nesse sentido, os altos investimentos da União via FNDE no Programa e o sistema de

monitoramento inscreveram a problemática deste projeto de compreendermos até que ponto

está havendo um efetivo exercício do Regime de Colaboração, dado que todos os aportes

legais apontam o MEC com maior peso em campos como o do financiamento e da avaliação

nas deliberações do programa, refletido principalmente numa capital de Estado do Nordeste,

região brasileira de maior déficit na alfabetização. Desse modo, importou-nos investigar as

questões da colaboração na execução do Pnaic.

Elegemos a capital do segundo maior estado nordestino, com a maior população dessa

região – Recife9, como campo de investigação a fim de identificarmos como se articulam os

membros da equipe técnica do programa, que são os sujeitos alocados da secretaria de

educação do município de Recife, da Universidade Federal de Pernambuco e do MEC. Temos

como meta final verificarmos como esta capital vem oferecendo a contrapartida prevista nos

documentos do Pnaic para o fortalecimento do princípio do Regime de Colaboração.

Recife é a capital do estado de Pernambuco, que em 2016 teve uma população

estimada de 9.410.336 habitantes. O estado fica atrás apenas da Bahia que possui 15.276.566

na região Nordeste.

A cidade do Recife também é o município onde se localiza o Centro de Estudos em

Educação e Linguagem (CEEL), grupo situado na Universidade Federal de Pernambuco,

formado por acadêmicos e técnicos, responsáveis pela organização e construção dos primeiros

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE que regulamenta o financiamento das bolsas da

rede de formação e o sistema de monitoramento, o Sispacto.

9 https://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=261160

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materiais didáticos do Pnaic. O Ceel vem contribuindo na realização de formações docentes

em algumas redes em Pernambuco desde sua inauguração há mais de 10 anos.

Enfim, a partir dos referentes e das inquietações acima destacadas, listamos nossas

questões centrais: quais os acordos feitos entre o MEC e a gestão municipal para a

institucionalização do Pnaic no município de Recife? Quais são as ações que viabilizam ou

impedem a execução da proposta do Pacto no município? De que modo a rede municipal de

Recife está oferecendo a contrapartida prevista no momento da adesão?

Nossa hipótese foi a de que o regime de colaboração atuou como elemento importante

no desafio à implementação do Programa no município em relação ao que estava posto na

adesão. Além disso, temos como hipótese que Recife já compreenda e se mobilize em direção

à alfabetização das crianças na idade certa, movimento legitimado pela autonomia prevista na

LDB (Lei 9.394/1996), imprimindo um arranjo característico à capital pernambucana. Assim,

definimos como:

1.1 Objetivo Geral:

Analisar como se deu o processo de implementação do Pnaic entre o período de 2013

a 2015, considerando o regime de colaboração na gestão desse programa educacional.

1.2 Objetivos específicos:

Caracterizar o contexto social, econômico e educacional em que o município de Recife

aderiu ao Pnaic;

Compreender como se estabeleceram as parcerias entre os membros da cadeia de

formação que implementam o programa no município recifense após a adesão ao

Pnaic;

Analisar a concepção dos sujeitos envolvidos na cadeia de formação sobre a

colaboração na implementação do Pnaic;

Analisar como os sujeitos da cadeia de formação percebem os limites e as

possibilidades na implementação do Pnaic no município de Recife.

Pensamos neste objetivo geral devido à participação dos municípios se configurar por

adesão e, com o levantamento e análise das ações de colaboração, poderemos perceber como

e em que medida esta articulação está sendo fundamental para efetivar a meta do Pnaic,

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22

acreditando que o contexto de formulação e implementação devem se articular sempre. Sobre

a implementação, Perez (2010, p. 1181) explica que

Implementação distingue etapas da policy, pelo menos duas, antecedendo a

implementação: a fase da formação da política, implicando a constituição da agenda,

a definição do campo de interesse e a identificação de alternativas; e a fase da

formulação da política, quando as várias propostas se constituem em política

propriamente dita, mediante a definição de metas, objetivos, recursos e a

explicitação da estratégia de implementação. Pressman e Wildavsky (1984), em

trabalho seminal para a área, delimitam o início do processo de implementação no

momento da transformação da política em programa, isto é, quando, por ação de

uma autoridade, são criadas as “condições iniciais” à implementação. Porém, esses

mesmos autores discutem as dificuldades de se distinguir a implementação da

própria política e do programa.

Essa argumentação de Perez (2010) satisfaz a nossa compreensão para esta dissertação,

entendendo que analisamos como se deu o processo de implementação do Pnaic entre o

período de 2013 a 2015, considerando o regime de colaboração na gestão desse programa

educacional. Para dar conta desses objetivos, adotamos uma pesquisa de tipo qualitativa.

Esta pesquisa foi inserida no âmbito das ciências sociais, pois este objeto de pesquisa

possui a intensidade do teor político inerente às ações relativas à política social. Partimos da

abordagem qualitativa, mas sem desconsiderar que o fenômeno em análise também pode ser

analisado a partir dos dados quantitativos, e esses foram utilizados sempre que necessário. A

pesquisa envolveu estratégias de coleta de dados diversas, como análise documental e

aplicação de entrevistas, conforme detalharemos mais adiante.

Temos como intenção colocar no debate a atuação desse município no modelo

federalista cooperativo, que pela decisão da Secretária de Educação de Recife em aderir ao

Pacto revela interesse em solucionar o problema da alfabetização.

1.3 Aportes metodológicos

Dada a especificidade do nosso objeto de estudo - um programa educacional - e dos

nossos objetivos de pesquisa é que, do ponto de vista do método, inserimos nossa pesquisa no

âmbito das Ciências Sociais, ou Ciências Humanas ou ciências do homem. Para Japiassu

(2012, p. 35), tais variações são assumidas como “as definições dependem muito mais dos

recortes acadêmicos e institucionais que de uma terminologia propriamente rigorosa".

Falamos das relações intrinsecamente humanas. Independente, portanto, da nomenclatura aqui

adotada, esta ciência se configurou por diferentes objetivos na trajetória histórica. Segundo

Japiassu (2012, p. 9),

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23

Com o início da modernidade, surge uma nova maneira de se conceber o homem.

Começa a se libertar das tutelas tradicionais que pensa sobre seu destino. Doravante,

ousa dizer: "EU". O mundo social muda de centro de gravidade. O indivíduo se

torna o objetivo e a norma de tudo. Toma consciência de que, doravante, o poder

não deve mais ser exercido em nome de deuses, mas em nome dos homens e fora de

toda referência ao transcendente. Ao promover o culto de si, passa a constituir o

valor central da existência: “o indivíduo é o ser social”.

Notamos que, com a Modernidade, as Ciências Humanas ganharam novos contornos,

direcionando a atenção ao homem e seu entorno. Ainda segundo Japiassu (2012, p. 09),

Gianbattista Vico (+1744) foi o primeiro filósofo que em vez de partir da Razão para

apreender a natureza humana no que ela possui de permanente e universal, busca

compreender as identidades reveladas pelo exame atento do devir histórico dos

diferentes povos: seus variados modos de sentir e pensar comuns, independente de

toda especulação.

Mas, este caminho percorrido pelas ciências humanas não é retilíneo e uniforme, há

momentos de crise, numa demonstração inclusive da vitalidade contida na própria ciência,

dispondo de relações vivas e dinâmicas é que as ciências “humanas tratam de situações nas

quais desempenham um importante papel as significações e intenções” (JAPIASSU, 2012, p.

56), pois “a desgraça das ciências humanas reside no fato de lidarem com um objeto que

fala”. Em decorrência de tais características as ciências positivistas criticam o caráter político

impregnado pelas ciências humanas, onde o entendimento objetiva alcançar o sentido.

Com efeito, tomando as Ciências Sociais como referente, o caminho teórico-

metodológico adotado será a abordagem qualitativa, no seu sentido mais amplo, na tentativa

de explicar este fenômeno educativo, que, segundo Chizzotti (2003, p. 02), “O termo

qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de

pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são

perceptíveis a uma atenção sensível”.

Sobre esta abordagem, Minayo (2002, p. 22) informa que a “a abordagem qualitativa

aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não

perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas”.

A partir dessa opção metodológica mais ampla é que inserimos nossa discussão no

escopo de referenciais que analisam a política pública, como em Hofling (2001, p. 31):

As políticas públicas são aqui compreendidas como as de responsabilidade do

Estado – quanto à implementação e manutenção a partir de um processo de tomada

de decisões que envolve órgãos públicos e diferentes organismos e agentes da

sociedade relacionados à política implementada.

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24

Agora as políticas que são destinadas a diminuírem as diferenças entre os sujeitos de

uma determinada localidade são as políticas de corte social:

E políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social

implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos

benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais

produzidas pelo desenvolvimento socioeconômico (HOFLING, 2001, p. 31).

Assim, as políticas públicas são as de responsabilidade do Estado, e sendo estas

direcionadas a minimizar as desigualdades estruturais, são políticas públicas sociais. O Pnaic,

objeto dessa dissertação, é “uma política pública de corte social” (HOFLING, 2001, p. 31). E

especificamente a política educacional é considerada, para Saviani (2008, p. 07), quando “[...]

diz respeito às decisões que o Poder Público, isto é, o Estado, toma em relação à educação”.

Foi dessa forma que tomamos o Pnaic como uma política pública para educação que vem

sendo implementada em contextos sociais diversos (dada a dimensão territorial do nosso

país). Assim, é necessário definir nossa posição em relação aos procedimentos para sua

análise.

1.4 Referencial para análise de política pública

Dado o momento em que olhamos para nosso objeto de estudo e procuramos captar

possíveis nuances da realidade, foi que optamos por uma análise de implementação. Tal

análise faz parte do conjunto de estudos que compreendem que uma política é colocada em

ação por fases e estágios não estanques, mas dinâmicos. Possuindo cada fase propriedade

sobre a política, a análise da implementação é uma das formas de se desvendar as intenções

dos formuladores políticos.

Este tipo de análise surgiu para romper com a tradição de estudos focados na

compreensão dos resultados da ação do Estado. Surgiram para compreender de forma ampla

“a partir do momento em que a dimensão técnica (no sentido mais amplo do termo) da ação

pública aumenta fortemente, a tal ponto que termina por colocar-se o problema da

reintegração do cidadão na ‘rede da decisão’” (MULLER; SUREL, 2002, p. 12).

É nesta fase que, de acordo com Baptista e Resende (2011, p. 150-151),

Admite-se na literatura que, nesta fase, uma proposta política pode se modificar ou

se alterar no seu argumento principal; que novas negociações podem ser processadas

e, por consequência, novas decisões e formulações podem ser apresentadas,

reiniciando, por vezes, o ciclo da política. Tais mudanças se apresentam como

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25

desafios para a análise dos processos de implementação e têm pressionado por

mudanças nos enfoques de análise utilizados.

Por isto, optamos pela análise de implementação do Pnaic, para verificarmos em que

medida vem ocorrendo o regime de colaboração acordado entre o município de Recife e a

União.

Assim, a implementação faz parte de uma forma de abordagem que contempla as fases

de uma política de maneira articulada. Compreendemos, por isso, que a análise da

implementação de um programa educacional não se trata de uma perspectiva de produto do

Programa, consequência da prática, mas, antes, de entender como ela é ressignificada no

espaço e no tempo pelos sujeitos interessados. Concordamos com isso

Pelo fato de ainda os tomadores de decisão tenderem a assumir que as decisões

trazem automaticamente a mudança, conclui-se que a implementação não é vista

como uma parte integral da formulação da política, mas como algo a ser feito

depois, por acréscimo (PEREZ, 2010, p. 1181-1182).

Isso que Perez (2010, p. 1182) ratifica é importante porque insere nosso interesse de

pesquisa como uma discussão necessária, entendendo que, segundo esse autor, “a chamada

‘caixa preta’ do processo da política firmou-se como um campo muito fértil de pesquisa”.

Assim, analisar a implementação de um programa configura-se como uma tentativa de

elucidarmos os liames que uma política pública pode alcançar no espaço e no tempo. Para

Gomes (2011, p. 19),

As políticas públicas são construções sociais e históricas cujos determinantes são

necessariamente complexos. [...]. Ao pesquisador interessado no estudo das políticas

públicas faz importante conhecer como tais determinantes operam e compõem, em

dimensão espaço-tempo, a contextura fundamental das disputas sociais que

exprimem a distribuição do poder social na sociedade.

1.5 Atitudes procedimentais

Os procedimentos de pesquisa envolveram a aplicação de diferentes técnicas de coleta

de dados: levantamento e análise de documentos; aplicação de entrevistas; observação

sistemática.

Realizamos estudos documentais que, para Pimentel (2001, p. 178), “extraem deles

toda a análise, organizando-os e interpretando-os segundo os objetivos da investigação

proposta”. Realizamos o levantamento e a análise do Plano Municipal de Educação de Recife

(PMER) e de documentos normativos que orientaram o Programa até 2015:

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26

Plano Municipal de Educação de Recife (PMER) de ensino da rede municipal

do Recife em vigência.

Portaria nº 867, de 4 de julho de 2012, institui o Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa e as ações do Pacto e define suas diretrizes gerais.

Portaria nº 1.458, de 14 de dezembro de 2012, define categorias e parâmetros

para a concessão de bolsas de estudo e pesquisa no âmbito do Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa

Lei nº 12.801, de 24 de abril de 2013, que trata do apoio financeiro as

formações.

Resolução nº 4 de 27 de fevereiro de 2013, que estabelece orientações e

diretrizes para o pagamento de bolsas de estudo e pesquisa para a Formação

Continuada de Professores Alfabetizadores.

Resolução nº 12 de 8 de maio de 2013, altera dispositivos da Resolução

CD/FNDE nº 4, de 27 de fevereiro de 201310

.

Tínhamos a intenção de analisar o termo de compromisso e adesão ao Pnaic em Recife

em 2012, entretanto não conseguimos ter acesso ao mesmo. Após realizadas as 10 entrevistas,

as falas dos sujeitos não indicaram o conhecimento sobre o termo de adesão.

A escolha por entrevista e por análise dos documentos está vinculada aos objetivos

específicos. A análise do PMER nos deu suporte para entendermos o primeiro objetivo. Para

os demais objetivos tomamos por referência a legislação disponibilizada pelo MEC junto ao

Programa e as entrevistas realizadas com os membros da cadeia de formação.

Realizamos entrevistas que, segundo Bourdieu (2003, p. 695),

É efetivamente sob a condição de medir a amplitude e a natureza da distância entre a

finalidade da pesquisa tal como é percebida e interpretada pelo pesquisado, e a

finalidade que o pesquisador tem em mente, que esse pode tentar reduzir as

discussões que dela resultam, ou, pelo menos, de compreender o que pode ser dito e

o que não pode, as censuras que o impedem de dizer certas coisas e as incitações que

o encorajam a acentuar outras.

Aplicamos as entrevistas semiestruturadas com 2 membros ligados ao MEC, 3 da

Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e 5 da Secretaria de Educação de Recife, que

são os membros da cadeia de formação do Pnaic:

2 (dois) Representantes do MEC: Representante do MEC 1, Representante do MEC 2;

3 (três) Representantes da UFPE: Representante da UFPE 1, Representante da UFPE

2, Representante da UFPE 3;

10

Todos esses documentos normativos foram analisados, entretanto eles foram apontados nessa dissertação

mediante necessidade.

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27

5 (cinco) Representantes da Secretaria de Educação de Recife: Representante local 1,

Representante local 2, orientador de estudos, professor alfabetizador 1 e professor

alfabetizador 2.

Como critérios que utilizamos para definir os sujeitos que seriam entrevistados, foram

os que pertenciam ao MEC, à UFPE e à equipe local, abrangendo a coordenadora local, um

sujeito de apoio à equipe local, um orientador de estudos que mantiveram o vínculo com o

Pnaic durante o período de 2013 a 2015. Escolhemos, também, um professor alfabetizador

que apenas cursou a formação em 2013 e outro que permaneceu no período de 2013 a 2015,

totalizando 10 sujeitos de entrevistas. Vejamos a figura abaixo:

Figura 1 - Os sujeitos da pesquisa

Para Bourdieu (2003, p. 695), a entrevista “deve-se construir cientificamente esse

discurso de tal maneira que ele forneça os elementos necessários à sua própria explicação”.

A análise dos dados levantados foi feita pela técnica de análise de conteúdo de Bardin

(1989), que se consiste em "descobrir os diferentes núcleos de sentido que constituem a

comunicação, e posteriormente, realizar o seu reagrupamento em classes ou categorias

empíricas", implicando no encontro das unidades existentes na comunicação.

A análise do conteúdo de Bardin (1989) é interessante porque não é técnica pela

técnica; se trata como ela mesma escreve (BARDIN, 1989, p. 38) de “a intenção da análise de

conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou

eventualmente, de recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não)”.

Coordenação Local

Apoio da Coordenação Local

Orientador de Estudos

2 Professores Alfabetizadores

Coordenação Nacional

Apoio da Coordenação

Nacional

Coordenação Institucional

Coordenação Adjunta

Supervisora

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28

Então, estamos nos apoiando nesta ideia ao utilizarmos a técnica de análise de conteúdo de

Bardin (1989). Implicou para esta dissertação compreender a realidade da implementação do

Programa do ponto de vista das falas dos sujeitos e com isto desvendar as nuances que

forjaram esta realidade.

Além disso, analisamos dados coletados em observações que realizamos no período

entre 2014 e 2015, das formações dos orientadores de estudos e professores alfabetizadores

realizadas na UFPE em março de 2015. Tais observações nos foram úteis para entender

previamente o panorama de compreensão dos orientadores de estudos e professores

alfabetizadores de Recife sobre os efeitos da colaboração entre a União e o município e

posteriormente para construção do nosso instrumento de coleta11

. Dois dos elementos

importantes foram que:

Tivemos informações ofertadas nas observações que as professoras apenas mantenham

contato com a orientadora para falar sobre as questões do Pnaic. Isso foi evidenciado

nas entrevistas.

Informações sobre a dificuldade de acesso dos professores ao SISPACTO, o que foi

também apontado nas falas dos orientadores como dos professores.

Assim, diante desse registro de observações, buscamos com elas ampliar o

conhecimento sobre o Pnaic, o que nos foi útil na definição das perguntas contidas nos

instrumentos de coletas.

1.6 Organização da pesquisa

Para concluir essa introdução, apresentamos a seguir a organização da pesquisa. A

primeira seção foi composta pela introdução, onde realizamos a apresentação do nosso

trabalho. Na segunda seção trouxemos o resgate das produções que tiveram o Pnaic como

objeto. Na terceira seção contemplamos a discussão sobre políticas públicas, programa e

poder local, situando o Programa no debate maior, e realizamos discussões acerca do desenho

federativo, considerando as suas incumbências e necessidades. A quarta seção foi

contemplado com a discussão do poder local, para que pudéssemos interpretar como o

município ofereceu a contrapartida para auxiliar a solucionar o problema da não alfabetização.

11

Os instrumentos de coleta estão no APÊNDICE B.

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29

Aqui, nessa seção, apresentamos as análises que fizemos sobre os documentos, mas já

também com o auxílio de trechos de entrevistas. E, por fim, a quinta seção foi composta pela

análise das entrevistas à luz da discussão teórica. Para fechar a dissertação, apresentamos

nossas considerações finais, as referências e os apêndices.

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30

2 OS ESTUDOS SOBRE O PNAIC

Percebemos como necessário para a avaliação de um programa o levantamento das

produções acadêmicas que o tomaram como objeto, com finalidade de entender o debate em

que o objeto dessa dissertação vinha sendo inserido. Além disso, estes estudos são bons

referenciais para possíveis ajustes e encaminhamentos a respeito dos próprios programas.

Utilizamos como palavras chave para a busca em bancos: Pnaic e Pacto Nacional na Idade

Certa.

As buscas foram feitas em 5 bancos de referência. No site da Anpae, em seu conteúdo,

buscamos na Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, nos artigos

publicados nos Congressos Ibero-Americanos, nos Congressos Internacionais, nos Simpósios,

nos Seminários Regionais e nos Encontros Regionais desde 2013.

No site da Anped realizamos a busca na Revista Brasileira de Educação (RBE), nas

publicações trimestrais da Anped e nos artigos publicados nos 23 grupos de trabalhos (GT’s)

temáticos apresentados a partir de 2013.

Na BDTD, no Scielo e no Educere fizemos a busca em todos os trabalhos publicados

desde 2013.

Os trabalhos da BDTD possuem relevância na divulgação de pesquisas acadêmicas,

dada sua abrangência nacional. A Anpae é uma associação civil, que luta pelo direito à

educação de qualidade para todos. A Anped é a associação mais importante na divulgação de

pesquisas em educação envolvendo e reunindo programas de pós-graduação stricto sensu em

educação. Já os trabalhos apresentados e publicados no Educere decorrem da participação de

Professores da Educação Superior e da Educação Básica, Pesquisadores, Estudantes de

Graduação e Pós-Graduação nacionais e internacionais. Por fim, temos o Scielo que é uma

biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos

brasileiros. Sobre o Scielo,

É o resultado de um projeto de pesquisa da FAPESP - Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de São Paulo, em parceria com a BIREME - Centro Latino-

Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. A partir de 2002, o

Projeto conta com o apoio do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (SCIELO, 2017).

Nessa busca, foram encontrados 14 dissertações e 2 teses na BDTD, 4 trabalhos no

Scielo integrado, 4 trabalhos na Anpae, 17 trabalhos na Anped, 12 trabalhos no Educere,

totalizando 53 trabalhos achados e analisados. Utilizamos uma abordagem que identificasse

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os objetivos das pesquisas, resultados alcançados, áreas de interesse, campo de pesquisa

escolhido, concepção de alfabetização. Tentamos tecer possíveis aproximações e

distanciamentos entre os autores sobre o Pnaic nestas buscas. O levantamento mostra um

panorama desde 2013, o qual apresentaremos a partir dos quadros abaixo apresentados.

Quadro 1 – Levantamento da produção – Pnaic no Scielo AUTOR TÍTULO ANO

Santos Alfabetizar até o final do 3º ano: reflexões sobre a proposta do pacto

nacional pela alfabetização na idade certa – Pnaic

2014

Minatel, Santos,

Guimarães

Avaliação dos professores no Pacto Nacional pela Alfabetização na

Idade Certa (Pnaic)

2015

Amaral Formação continuada de professores: reflexões sobre a participação no

pacto nacional pela alfabetização na idade certa

2015

Frangella Um pacto curricular: o pacto nacional pela alfabetização na idade certa

e o desenho de uma base comum nacional

2016

Fonte: Formulação própria.

O trabalho de Santos (2014) objetivou entender a relação entre as aprendizagens

efetivas dos alunos e avanços no ciclo de alfabetização em escolas que aderiram ao Pnaic. Os

resultados revelaram que não há articulação entre as professoras do 1º, 2º e do 3º ano na

rede estadual da Zona Leste de Porto Alegre/RS, comprometendo a meta do Pnaic.

O artigo de Minatel, Santos e Guimarães (2015) objetivou analisar como ocorre a

avaliação dos professores alfabetizadores no ano de 2013. Os resultados mostraram que

naquele momento era prematuro tecer uma relação entre a avaliação docente e avaliação de

desempenho dos alunos. Porém, o artigo conclui que é fundamental assimilar uma maior

compreensão acerca da avaliação.

O trabalho de Amaral (2015) teve como objetivo relatar a experiência vivida pela

formadora no Pnaic em Viçosa. Os resultados apontaram a importância da reflexão da

atividade pedagógica.

O trabalho de Frangella (2016) teve como objetivo analisar o Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa (Pnaic) identificando-o como ações preliminares, parte do

contexto de discussão e defesa de uma Base Nacional Comum Curricular. Assim, os

resultados mostraram que mesmo o currículo do Pnaic estando relacionado à perspectiva do

letramento, na verdade ocorre uma uniformização, em que as mudanças são apenas na

aprendizagem e na metodologia.

Os trabalhos encontrados no Scielo expõem a vigilância na prática docente, nos

resultados dessa prática e no impacto sobre as crianças, especialmente em Minatel, Santos e

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Guimarães (2015), no qual se verificou ser fundamental para os docentes assimilarem uma

maior compreensão acerca da avaliação.

Quadro 2 – Levantamento da produção – Pnaic nos Anais dos eventos da Anpae AUTOR TÍTULO ANO

Souza Atuação da coordenação pedagógica na implementação do Pacto

Nacional pela alfabetização na idade certa no Município de Cametá/PA

2015

Nascimento O pacto nacional pela alfabetação na idade certa (Pnaic): analisando a

efetivação no município de Camaragibe (PE)

2015

Abreu e Santos Investigando concepções de formação continuada no contexto do Pnaic 2014

Luz e Ferreira Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: formação, avaliação e

trabalho docente em análise.

2014

Fonte: Formulação própria.

O artigo de Souza (2015) objetivou analisar se o coordenador pedagógico planeja,

orienta, executa, avalia os docentes que atuam na alfabetização de crianças de 06 a 08 anos. O

resultado apontou que o programa não vem possibilitando aos coordenadores pedagógicos

formação continuada com a perspectiva de incentivar o acesso aos conhecimentos que

embasam o fazer pedagógico dos professores alfabetizadores.

O nosso trabalho (NASCIMENTO, 2015) também foi um que mapeamos ao realizar o

levantamento da produção da pesquisa. O mesmo objetivou verificar e analisar como o Pnaic

foi implementado no município de Camaragibe. Um dos resultados alcançado no trabalho de

pesquisa se configurou nos desdobramentos percebidos em decorrência do exercício da

autonomia municipal. O município de Camaragibe organizava os dias e horários das

formações do Pnaic, sem comprometer integralmente os finais de semana, dias de descanso

dos professores alfabetizadores. No entanto, essa rede não contava com os coordenadores

pedagógicos, responsáveis por contribuir no exercício docente escolar, implicando numa

maior responsabilidade dos professores daquele município com o Pnaic.

O trabalho de Abreu e Santos (2014) teve apenas o seu resumo publicado no site da

Anpae. Objetivou refletir as bases teórico-conceituais das proposições do Pnaic sobre a

formação continuada de professores. Como resultados apontou que mais do que melhorar os

resultados do IDEB, a formação deve buscar entender a complexidade do trabalho docente,

além de capacitar os professores para buscar soluções para as problemáticas que as escolas

vivem, entendendo que elas são específicas de cada comunidade escolar.

O trabalho de Luz e Ferreira (2014) ressaltou que há o destaque do programa na

formação e a atuação docente, considerados pelo governo federal aspectos estratégicos no

alcance da qualidade do ensino, o que tem contribuído para a responsabilização do professor

pelos resultados nas avaliações nacionais.

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Os trabalhos encontrados na Anpae, principalmente em Luz e Ferreira (2014),

Nascimento (2015) e Abreu e Santos (2014), apontaram que as ações do Programa se

centralizam na atuação do professor alfabetizador para o alcance de resultados. Contudo, não

depende exclusivamente do docente a meta a ser atingida.

Quadro 3 – Levantamento da produção – Pnaic nos anais dos eventos da Anped AUTOR TÍTULO ANO

Viegas Políticas para a alfabetização no Brasil: do ensino fundamental de nove

anos ao pacto pela alfabetização até os oito anos de idade

2014*

Sousa,

Nogueira;

Melim;

Um cenário, duas técnicas: análise dos pressupostos teóricos dos

programas ALFA E BETO e PNAIC

2015

Souza

A formação no pacto nacional pela alfabetização na idade certa (PNAIC)

2014

Hermes;

Richter

O pacto nacional pela alfabetização na idade certa e o tempo

das infâncias na escola pública contemporânea

2014

Santos A formação do professor alfabetizador e o pacto nacional pela

alfabetização na idade certa

2016

Guidi; Auada A influência do pacto nacional pela alfabetização na idade certa na

formação continuada dos professores paranaenses

2016

Korn; Koerner

A produção científica sobre o pacto nacional pela alfabetização na idade

certa (PNAIC) e a contribuição dessa formação aos professores

alfabetizadores sobre o sistema de escrita alfabética (SEA)

2016

Correa A voz das professoras alfabetizadoras no pacto nacional pela alfabetização

na idade certa (PNAIC) em um município do estado de minas gerais

2016

Loose; Schwartz Apropriações de concepções de leitura do pacto nacional pela

alfabetização na idade certa

2016

Costa Cadernos de formação do PNAIC em língua portuguesa: concepções de

alfabetização e de letramento

2016

Conceição; Menezes,

Rodrigues; Silva e

Gonçalves

Contribuições e desafios do pacto nacional pela alfabetização na idade

certa

2016

Emilião; Lontra (Des) formação continuada de professores no/do PNAIC: a potência do

encontro subvertendo a lógica de homogeneização

2016

Lima (a) O ensino da leitura de literatura no pacto nacional pela alfabetização na

idade certa (PNAIC)

2016

Lima (b) O trabalho com a literatura infantil no pacto nacional pela alfabetização na

idade certa (PNAIC)

2016

Lamêda

PNAIC e alfabetização científica: limites e possibilidades de

transformação de um curso de formação continuada nas práticas docentes

de professores dos anos iniciais do ensino fundamental em ciências

2016

Axer; Rosário

PNAIC e suas traduções – desafios e negociações envolvendo os

processos culturais do currículo

2015

Islabão; Jardim;

Nörnberg

Heterogeneidade em sala de aula

Entendimentos das Orientadoras de Estudo do PNAIC

2016

Fonte: Formulação própria.

*O artigo “Políticas para a alfabetização no Brasil: do ensino fundamental de nove anos ao pacto pela

alfabetização até os oito anos de idade”, de autoria de Elis Regina dos Santos Viegas, no levantamento realizado

naquele período não constava o texto no site do XII Encontro de Pesquisa em Educação da Região Centro-oeste –

Reunião Científica Regional da Anped.

A pesquisa de Sousa, Nogueira e Melim (2015) teve como objetivo analisar a base

teórica dos programas e os impactos das ações da Secretaria na prática dos professores

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alfabetizadores. Os resultados mostraram que há diferentes dimensões envolvidas na

alfabetização e na formação de alfabetizadores, que as matrizes teóricas dos dois programas

não são compatíveis, não havendo coerência em serem adotados ao mesmo tempo como

políticas públicas em uma rede de ensino.

O estudo de Souza (2014a) objetivou pensar a formação continuada do professor

alfabetizador na proposta do governo federal do Pnaic tendo em vista seus desdobramentos e

implicações no complexo educacional. Os resultados apontam que a alfabetização é um

processo lento e contínuo e não caminha apressadamente como as mudanças de políticas de

governo, como o Pnaic, que foca na alfabetização no decorrer de apenas um ano.

O artigo de Hermes e Richter (2014) analisou o processo de escolarização das crianças

no Pnaic, concluindo não ser a escola capaz de atender ao tempo de infância, tornando

legítima a necessidade do acordo assumido entre o Governo Federal, Estadual e Municipal

para garantir o direito à alfabetização.

O trabalho de Santos (2016) teve como objetivo dialogar a formação do professor

alfabetizador frente aos programas de formação continuada propostos pelo Poder Público tal

como o Pnaic. Como resultado mostrou que ainda há professores com ausência de formação

inicial e que muitos não são formados na área em que atuam na docência.

Com o objetivo de analisar o aporte que a formação continuada do Pnaic presta aos

professores orientadores, Guidi e Auada (2016) chegaram à conclusão de que os orientadores

apontaram obstáculos de estarem em sala de aula e não terem tempo de recolher as atividades

dos alfabetizadores do município. Destacaram também a inflexibilidade nos cadastros de

professores integrantes do Pnaic.

O artigo de Correa (2016) teve como objetivo expor reflexões parciais de uma

pesquisa de mestrado. Os resultados mostraram que apesar do Programa possuir alguns

empecilhos, como a distância entre o planejado e o desejado, e a falta de apoio da Secretaria

Municipal de Educação do município pesquisado, ele contribuiu para a reflexão da prática

pedagógica das professoras cursistas.

Loose e Schwartz (2016) tiveram como objetivo compreender as concepções de

leituras orientadas pelo Pacto, a partir da formação continuada e dos cadernos do Pnaic

enviados pelo MEC, no ano de 2013, para a implementação da formação continuada em

Língua Portuguesa. Como resultados as autoras obtiveram o entendimento que a concepção de

leitura defendida pelo Pacto (linguagem) não é mero código ou uma compreensão mecânica

ou decodificação. Porém defende que a linguagem (o texto ou o discurso) em movimento

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deixa de ser compreendido apenas como instrumento de comunicação e passa a ser visto

como o objeto de interação dos sujeitos.

Costa (2016) teve como objetivo entender os conceitos de alfabetização e de

letramento que balizam a formação de professores alfabetizadores no âmbito do Pacto. Os

resultados mostraram que os textos presentes nos cadernos do Pnaic apontam que a teoria

construtivista tem orientado as políticas de alfabetização no Brasil principalmente a partir da

década de 1990, norteando as práticas de alfabetização desenvolvidas nos sistemas que

implantaram o Ciclo Básico de Alfabetização.

Na pesquisa de Conceição, Menezes, Rodrigues, Silva e Gonçalves (2016), o objetivo

foi de entender como as professoras que participaram do processo de formação do pacto e estão

atuando no ciclo de alfabetização percebem as colaborações dessa política e seus limites na sua

prática. Os resultados mostraram que a partir das falas das professoras participantes é possível

evidenciar que os encontros do Pnaic propiciaram o repensar sobre a prática docente.

O artigo de Emilião e Lontra (2016) teve como objetivo buscar outros novos sentidos e

significados da participação docente no contexto dos programas nacionais de formação

continuada a partir das narrativas de um grupo de professores da rede pública da Região

Metropolitana do Rio de Janeiro. Os resultados mostraram que os professores são percebidos

como sujeitos de conhecimentos, emoções, valores, escolhas políticas e histórias de vida que

tecem redes de saberes fazeres durante/com/contra/apesar das formações continuadas.

Lima (2016a) objetivou caracterizar a abordagem de ensino da leitura de literatura no

Pnaic, a fim de analisar seus fundamentos teóricos e metodológicos. Os resultados mostraram

o impasse entre os partidários do método eclético de ensino e os defensores dos métodos

tradicionais sintéticos e analíticos. Além disso, o cenário apresentava os defensores do

escolanovismo preocupados com o “como aprender” e as contribuições de Freire (1993)

sobre o “ato de ler”.

Lima (2016b) teve como objetivo compreender como acontece o processo de

aprendizagem da leitura na fase inicial de alfabetização. O resultado mostrou a importância da

construção de um percurso metodológico condizente com o modelo de ensino da leitura de

literatura do Pnaic.

O artigo de Lamêda (2016) teve como objetivo perceber as práticas dos professores

dos anos iniciais do ensino fundamental durante as aulas de Ciências no município de São

João Del-Rei. O resultado mostrou que é possível observar, até mesmo nas práticas de

Ciências, a possibilidade de uma Alfabetização Científica, através deste programa de

formação continuada.

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O Pnaic e suas traduções – desafios e negociações envolvendo os processos culturais

do currículo, tem o objetivo de problematizar que toda e qualquer produção curricular será

sempre um processo contínuo de sentidos incompletos, logo uma tarefa sem conclusão,

continuamente vivenciada (AXER; ROSÁRIO, 2015). O resultado mostrou que propostas e

compromissos carecem de uma vontade partilhada para alfabetizar.

As autoras Islabão, Jardim e Nörnberg (2016) na pesquisa: Heterogeneidade em sala

de aula: entendimentos das Orientadoras de Estudo do Pnaic objetivaram expor uma

categorização inicial sobre o que entendem por heterogeneidade. O resultado mostrou que

existem ambiguidades, contradições e complementaridades entre os textos, e numa mesma

produção.

Os trabalhos da Anped mostram que há os enfoques dos pesquisadores sobre a

concepção de alfabetização e sobre a prática docente. Apenas o trabalho de Conceição,

Menezes, Rodrigues, Silva e Gonçalves (2016) se direcionou a entender a colaboração a partir

da fala dos professores.

Interessante notar que a pesquisa de Korn e Koerner (2016) teve como objetivo

apontar as pesquisas voltadas para o Pnaic e a sua contribuição aos professores

alfabetizadores sobre o Sistema de Escrita Alfabética (SEA), ou seja, um estudo do tipo de

levantamento da produção. O resultado do trabalho de Korn e Koerner (2016), que se tratava

de um levantamento de estudos sobre o Pnaic, nos mostrou que a leitura dos resumos,

palavras-chave, títulos e, por vezes, a leitura da introdução e conclusões de parte deles (maior

frequência nos trabalhos da Abalf e Educere) não continham as informações necessárias para

o critério de seleção dos trabalhos, tais como: tema de pesquisa, objetivos, metodologia e

resultados que satisfizessem ao objetivo proposto.

Quadro 4 – Levantamento da produção – Pnaic nos Anais do Educere AUTOR TÍTULO ANO

Guidi; Shimazaki O pacto nacional pela alfabetização na idade certa e a influência na

formação do professor alfabetizador 2013

Winkeler; Mantagute A experiência da orientação no PNAIC 2014: o que os relatórios

manifestam

2015

Silva; Veleda; Mello Concepções epistemológicas: uma reflexão acerca dos processos

formativos do PNAIC

2015

Silva; Veleda;

Oliveira

Políticas públicas educacionais para a formação docente e as

contribuições dos programas PNAIC e PIBID

2015

Lovato; Maciel A formação continuada de professores alfabetizadores no Brasil, a

partir das duas últimas décadas: um olhar sobre o PROFA, pró-

letramento e PNAIC

2015

Winkeler O pacto nacional pela alfabetização na idade certa (PNAIC) e a

formação continuada do professor alfabetizador

2015

Furtado Um estudo sobre a implementação do eixo de formação continuada do

PNAIC para professores alfabetizadores de turmas multisseriadas no

2015

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município de Cametá-PA

Garcez; Pereira;

D’Andrea

Formação continuada de professoras e professores alfabetizadores:

saberes experienciais e o PNAIC

2015

Arruda A formação e o saber do professor alfabetizador no pacto nacional pela

alfabetização na idade certa - PNAIC, na rede municipal de educação

de Aquidauana/MS

2015

Nascimento;

Hernandes; Santos

Formação de professores leitores: um estudo sobre o PNAIC

2015

D’Andrea; Antunes Caminhar para si...trilhar para o outro... histórias de vidas cruzadas

entre alfabetizadoras do PNAIC

2015

Nascimento; França;

Sabóia; Girão

O processo de formação continuada do PNAIC: reflexões sobre a

experiência

2015

Fonte: Formulação própria.

O trabalho de Guidi e Shimazaki (2013) objetivou refletir como se deu a implantação

do Pacto e como está sendo realizada a formação continuada dos professores paranaenses.

Apontou como resultado que é fundamental que o professor alfabetizador assuma no processo

de apropriação da escrita pela criança, com finalidade de desenvolver de maneira competente,

situações significativas de aprendizagem.

O artigo de Winkeler e Mantagute (2015) objetivou debater as tensões que os

professores formadores do alfabetizador enfrentam especificamente no processo de formação

do Pnaic. O resultado mostrou que para além das formações muitas ações foram multiplicadas

e criadas. Por mais que tenhamos um material como eixo de nossas formações, a práxis pede a

criação, pede a reinvenção de outras possibilidades para a prática pedagógica.

Silva, Veleda e Mello (2015) objetivaram apontar as concepções epistemológicas que

fomentam a formação de professores no Pnaic. O resultado mostrou que os desafios

encontrados impulsionaram os professores a repensar as propostas pedagógicas, servindo de

suporte para chegar ao objetivo traçado.

Silva, Veleda e Oliveira (2015) objetivaram tratar de políticas públicas educacionais

voltadas para a formação de professores, dando ênfase às contribuições dos programas Pnaic e

Pibid. O resultado foi compreender que sua efetivação está influenciando diretamente o

processo de formação no que tange a reflexão-ação-reflexão, bem como no processo de

repensar a ação pedagógica, pois estes momentos de formação estão causando certa

desacomodação no que antes era visto como um espaço constituído por verdades absolutas.

Lovato e Maciel (2015) tiveram o objetivo de analisar três programas instituídos nas

duas últimas décadas, a partir de 2001, pelo governo federal. Apresentaram como resultado

principalmente mudanças na prática docente, já que as propostas de trabalho pedagógico

apresentadas pelos programas determinavam como os professores tinham que atuar em sala de

aula.

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O trabalho de Winkeler (2015) objetivou investigar as contribuições da formação do

Pnaic e suas determinações nas opções de 27 professores do 1º ao 3º ano de uma rede

municipal de ensino. O resultado mostrou que temos um predomínio de professores iniciantes

que assumem o ensino das classes alfabetizadoras, sendo mais do que necessários programas

de formação continuada paralelos ao trabalho do professor de maneira que subsidiem a prática

pedagógica e amplifiquem as condições de ações práticas.

O artigo de Furtado (2015) objetivou refletir como o Eixo de Formação Continuada de

professores alfabetizadores do Pnaic está sendo posto em prática para professores de classes

multisseriadas no município de Cametá-PA. O resultado mostrou que por meio da pesquisa o

educador indaga a sua realidade questionando sobre os meios e os fins do seu trabalho.

O artigo de Garcez, Pereira e D’Andrea (2015) teve como objetivo descrever e analisar

a trajetória da experiência como formadoras da UFSM, no polo de formação localizado no

extremo Norte do RS - município de Santa Rosa - e os desdobramentos da formação enquanto

ação continuada na qualificação dos professores alfabetizadores. O resultado evidenciou que a

recontextualização da proposta às atividades cotidianas dos docentes, com a reflexão e a

discussão necessária ao aprofundamento teórico, têm promovido práticas que se configuram

na grande avaliação diária do sucesso do programa.

O artigo que objetivou investigar como se constitui a identidade do professor

alfabetizador no município de Aquidauana/MS e quais os saberes mobilizados por esses

profissionais foi de autoria de Arruda (2015). O resultado é que há necessidade de formações

continuadas que possam auxiliar o fazer pedagógico dos professores alfabetizadores e

coordenadores pedagógicos, na busca de situações que desenvolvam práticas eficazes e

significativas.

O trabalho de Nascimento, Hernandes e Santos (2015) teve como objetivo o estudo e a

análise de como o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – Pnaic – investe (ou

não) na formação do professor leitor. O resultado mostrou que há uma distância entre aquilo

que se pretende que o professor alfabetizador realize em sua sala de aula e o que ocorre com a

proposta de formação do professor, como leitor assíduo e proficiente.

O trabalho de D’Andrea e Antunes (2015) teve como objetivo desvendar em que

tempo/movimento as experiências de formação passam a ser incorporadas nas trajetórias

destas professoras para transformar o cotidiano. O resultado mostrou que por meio do Diário

de Bordo e das narrativas de si tornamo-nos protagonistas da nossa formação, o que é atraente

na perspectiva da forma metodológica de operacionalizar as transformações que promovemos

ao longo da vida escolar nossa e dos nossos alunos.

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O trabalho de Nascimento, França, Sabóia e Girão (2015) teve como objetivo debater

sobre esta proposição de formação pela análise dos seus pressupostos teóricos. Os resultados

mostraram que os momentos são pensados para unir teoria e prática de forma que as duas se

complementem. Esse modelo formativo é eficiente, em especial considerando-se o fator

tempo, pois se chega a várias regiões do país de maneira rápida e quase simultânea. Outra

vantagem é auxiliar no fortalecimento das lideranças regionais e locais, colaborando para a

consolidação da excelência do trabalho das Secretarias de Educação.

Os estudos achados no Educere estiveram direcionados à atuação do professor,

especialmente em Garcez, Pereira e D’Andrea (2015), que tiveram como resultados a

recontextualização da proposta às atividades cotidianas dos docentes, com a reflexão e a

discussão necessárias ao aprofundamento teórico. E em Silva, Veleda e Mello (2015) que os

desafios encontrados impulsionaram aos professores repensar as propostas pedagógicas.

Então, os interesses dos pesquisadores encontrados no Educere recaíram sobre os professores

alfabetizadores.

Ademais, os artigos como vimos referem-se, em sua maioria, a uma possível

verticalidade que a proposta do Pnaic confere para a prática docente, se configurando como

uma espécie de monitoramento do fazer docente, indicando, segundo a análise dos artigos, o

conteúdo pedagógico a ser trabalhado para se efetivar a alfabetização. Este entendimento a

que chegam os resultados dos artigos sobre o Programa coloca o currículo do Pnaic como uma

estratégia do governo central, que na premissa de que os entes federados melhorem a

qualidade da educação básica, entre outras medidas, direciona a responsabilidade aos

professores por via do oferecimento de formação continuada, principalmente, quando há um

foco na prática docente, colocando-os como decisivos para a qualidade da alfabetização.

Consideramos claro que dentro da análise desses artigos, encontramos pesquisas frutos

de dissertações e teses, como a da pesquisadora Souza (2014b) que publicou a sua dissertação

no BDTD e dele fez um recorte para publicação na Anped. Ambos são considerados nesta

pesquisa. Ademais, todos os achados são de suma importância para entendermos melhor o

campo de pesquisa sobre essa temática. Na seqüência abordaremos os trabalhos de dissertação

e tese que encontramos com vistas a complementar e referendar com mais elementos o

levantamento da produção dos estudos sobre o Pnaic.

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Quadro 5 – Levantamento da produção – Pnaic na BDTD

AUTOR TÍTULO ANO

Tedesco Formação continuada de professores: experiências integradoras de políticas

educacionais – PNAIC e PROUCA – para Alfabetização no ensino

fundamental de uma escola pública

2015

Souza A Formação Continuada do Professor Alfabetizador nos Cadernos do Pacto

Nacional Pela Alfabetização Na Idade Certa (PNAIC) 2014 (b)

Santos, N. Entre o proposto e o almejado: da proposta do Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa às expectativas almejadas pelos docentes

participantes

2015

Salomão A formação continuada de professores alfabetizadores: do pró-letramento ao

PNAIC

2014

Barletta (RE) Ensinando a alfabetizar: um estudo sobre os livros de orientação

pedagógica do PNAIC (2012)

2016

Mélo Interrogações sobre o Pacto Nacional na Idade Certa e a Formação inicial do

pedagogo na Paraíba: “Compromisso, “adesão ao pacto,” na produção do

professor alfabetizador

2015

Silva, L, Tensões entre a retenção escolar e a progressão continuada 2015

Mindiate Uma compreensão da alfabetização matemática como política pública no

pacto nacional pela alfabetização na idade certa.

2015

Manzano Formação Continuada de professor alfabetizadores do pacto nacional pela

alfabetização na idade certa (PNAIC) no município de São Paulo: proposições

e ações

2015

Santos, C. O papel do coordenador pedagógico no processo formativo dos professores do

ciclo de alfabetização: o pacto nacional pela alfabetização na idade certa -

PNAIC

2015

Ferreira O que os professores da rede pública estadual do semiárido sergipano dizem

sobre o PNAIC _ eixo matemática

2015

Martins Pacto nacional pela alfabetização na idade certa (PNAIC): a educação como

legitimação e dominação social.

2016

Silva, Maria Formação continuada do professor alfabetizador: o papel do orientador de

estudo no processo formativo do PNAIC

2015

Silva, Micaela Aprendizagem social no jogo equilíbrio geométrico (PNAIC): por uma

analítica existencial do movimento

2015

Moraes Construção de práticas de alfabetização no contexto dos programas alfa e Beto

e PNAIC

2015

Resende Análises dos pressupostos de Linguagem nos Cadernos de Formação em

Língua Portuguesa do Pacto Nacional Pela Alfabetização Na Idade Certa –

PNAIC

2015

Fonte: Formulação própria.

A dissertação de Tedesco (2015) objetivou verificar se a formação continuada de

professores alfabetizadores contribui na reflexão e tomada de atitude para melhoria da prática

pedagógica utilizada no ambiente da sala de aula dos anos iniciais. Os resultados desta

pesquisa foram:

A natureza prática dessa formação predomina quando os docentes dão maior ênfase à

atualização de conhecimentos para melhorar a sua prática;

Segundo a autora, a origem do Pnaic é marcada pela experiência do pró-letramento

que teve seu início em 2005 e pela constituição em 2004 da Renafor – Rede Nacional

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de Formação de Professores, que reuniu centros de referências para formação de

professores e hoje agrega IES, dentre outros fatores de ordem estrutural e legal.

A dissertação de Souza (2014b) objetivou investigar os cadernos da formação

continuada do professor alfabetizador do Pnaic. Alguns dos resultados foram:

As prioridades do Pnaic não se propuseram a responder: o que significará uma

formação que visa à prática? Questões que poderão nortear novas pesquisas sobre a

implementação do Pnaic após esses dois anos de formação;

A solução da não alfabetização plena dos alunos não se resolverá na escolha específica

de métodos de alfabetização. O processo de alfabetização envolve pensar na

concepção de mundo que estão sendo atreladas a essas formações, estando, então, a

política do Pnaic inserida em um projeto político na sociedade capitalista.

A não alfabetização das crianças é um problema de cunho social e, fundamentalmente

está associada ao modelo capitalista e à luta de classes. O Pnaic não considera que os

sujeitos envolvidos na formação são sujeitos histórico-culturais, focalizando a solução

na melhoria do ensino. Os conhecimentos teóricos contidos nos cadernos da formação

não estimulam a percepção crítica sobre os processos de desenvolvimento e

aprendizagem na infância.

Com o objetivo de investigar a proposta do Pacto Nacional pela Alfabetização da

Idade Certa, evidenciando aspectos concernentes à sua estruturação e ao contexto histórico e

político de sua nacionalização, a dissertação de Santos, N. (2015) apresentou como resultados:

Esclareceu que de acordo com a ex-secretária de educação do estado do Ceará, a

origem do Pnaic tem relação com a do Paic (SOBRAL- 2001). Por não explicitarem

esta relação entre Pnaic e Paic, da mesma forma que não se esclarecem a necessidade

de compreensão do Sistema Nacional de Educação, constitui-se barreira para a

compreensão dos profissionais da educação a respeito da intencionalidade dos

formuladores políticos.

O que o Paic tem em comum com o Pnaic é a articulação colaborativa dos entes.

Difere-se que no Paic há a participação da sociedade civil e os objetivos de acordo

com os do Estado, o que revela uma configuração de política de estado.

No Pnaic foram estabelecidos um nível de autonomia e as condições para que o

município fizesse ajustes necessários ao atendimento de suas especificidades,

respaldando a articulação entre o poder local e o poder central.

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A formação continuada de professores alfabetizadores: do pró-letramento ao Pnaic

(SALOMÃO, 2014) foi a dissertação que objetivou analisar o processo de implantação do

Pnaic a partir da consolidação do Pró-letramento:

Há limites percebidos pela autora na estrutura do Pnaic: em relação à participação dos

professores na decisão das políticas de formação dos profissionais da educação; por

mensurar a aprendizagem dos alunos nas avaliações; na ausência nos objetivos do

Pnaic do entendimento sobre as demais áreas do conhecimento; a fragmentação e a

descontinuidade de ações nas políticas estatais voltadas às necessidades dos

profissionais da educação;

São reconhecidos na dissertação características do contexto neoliberal e os interesses

da sociedade capitalista na ênfase da formação continuada de alfabetizadores: a

necessidade do contínuo aperfeiçoamento dos conhecimentos do professor; as

modificações nos cursos de formação inicial para garantia da qualidade; o destaque do

professor como o agente estratégico para a melhoria da qualidade educacional; os altos

investimentos do Governo Federal nas bolsas de estudos aos professores

alfabetizadores e orientadores de estudos; o controle da articulação entre os domínios

teóricos e práticos nas ações educativas.

Com o objetivo de investigar como os livros do Pnaic ordenam docentes em serviços e

que, portanto, já são alfabetizadores, quanto a um modelo específico de ensinar a ler e

escrever, tivemos a dissertação de Barletta (2016). Um dos resultados que se chegou foi que

os entendimentos e as proposições da coleção de livros não podem ser confundidos com

palavras que são simplesmente reproduzidas e aceitas.

A dissertação de Mélo (2015) teve como objetivo analisar a articulação entre as

proposições expressas no Pnaic com relação à formação continuada do professor alfabetizador

e as propostas de formação inicial dos cursos de Pedagogia das universidades públicas da

Paraíba. O resultado mostrou que diante do pacto o processo inicial de formação é

praticamente desprezado em virtude da importância política do Pnaic para os sujeitos.

A dissertação de Silva, L. (2015) teve como objetivo analisar a tensão entre as

perspectivas sobre a retenção escolar e a instituição da progressão continuada no contexto da

prática do Pnaic. O resultado mostrou que

O termo pacto significa acordo, compromisso. Ao aderir ao Pacto Nacional pela

Idade Certa, sem a prévia discussão dos princípios norteadores junto aqueles que

seriam os (as) principais agentes pactuantes, o município de Santa Helena – PB

colocou os seus professores em posição de passividade. Contudo, isso não significa

que os (as) professores (as) se mantiveram na posição ao qual foram relegados.

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43

Embora não tenham participado ativamente do processo de adesão, os (as) mesmos

(as) não poderiam ser impedidos (as) de interpretar e reinterpretar o programa

(SILVA, L., 2015, p. 146).

Percebemos que, do ponto de vista desta autora, a pactuação ocorreu lateralmente, sem

envolver todos do programa, impregnando uma forma específica de pacto do Pnaic. No

entanto, isto não impediu a mobilização docente diante do programa.

Com o objetivo de ampliar a compreensão sobre as políticas públicas educacionais,

com particular incidência sobre a alfabetização de crianças dos primeiros anos do ensino

fundamental, se constituiu a dissertação de Mindiate (2015). Os resultados mostraram que

diferentemente do currículo para a educação proposto no início dos anos 80, o programa se

propõe a garantir a permanência dos alunos, não apenas a matrícula.

Manzano (2015) objetivou compreender como ocorreu a formação continuada de

professores alfabetizadores na Rede Municipal de Ensino de São Paulo em 2013 por meio da

implementação do Pnaic que entrou em vigor a partir de 2013. Um dos resultados mostrou

que

A estratégia federal adotada pelo governo federal “é uma forma de governo

caracterizada pela intensificação do controle dos níveis locais pelo nível central de

decisão, sendo o PNAIC mais um dentre os inúmeros programas criados para a

regulação da formação e das práticas docentes no Brasil (MANZANO, 2015, p. 38).

Dito isto, verificamos um dos movimentos que o programa fez no âmbito local,

expressando, para todos os efeitos, o tipo de pactuação existente entre governo central e a

Rede Municipal de Ensino de São Paulo em 2013.

A dissertação de Santos, C. (2015) teve por objetivo elaborar recomendações aos

coordenadores pedagógicos para auxiliá-los a promover (ou a ressignificar) a formação em

serviço junto aos professores do ciclo de alfabetização, apoiados nos conhecimentos e

habilidades construídos pelos professores nos processos de formação realizados no Pnaic,

para qualificar a aprendizagem dos alunos em sala de aula. Um dos resultados mostrou que

coordenadores pedagógicos ainda não compreenderam que devem atuar no sentido de

mobilizar uma pluralidade de saberes de naturezas diversas (saberes gerenciais, profissionais,

éticos, políticos, relacionais, entre outros).

A dissertação de Ferreira (2015) teve como objetivo investigar as contribuições do

Pnaic - eixo matemática - desenvolvido pelo MEC, na construção da prática pedagógica de

um grupo de professores dos anos iniciais do ensino fundamental no semiárido sergipano. Os

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resultados mostraram associação por parte dos professores entre o cotidiano dos alunos e os

conteúdos matemáticos.

A dissertação de Martins (2016) teve por objetivo a análise crítica do Pnaic, política

estabelecida em resposta às prescrições do Grupo Banco Mundial para o sistema educacional

brasileiro, e tem por objetivo central localizá-lo como mecanismo de legitimação e de

dominação social. Um dos resultados mostrou que

O surgimento do PNAIC como um programa do Ministério da Educação (MEC) do

Brasil em resposta às recomendações do Grupo Banco Mundial e de sua política de

formação de capital humano. Compondo o bojo das prescrições do Banco como

medida de investimento na área da educação, o referido programa, objeto dessa

dissertação, contribui para a formação e qualificação de mão de obra na perspectiva

do desenvolvimento das competências e habilidades (bem como da polivalência),

tão necessárias à nova ordem mundial que se instaurou na transição entre os séculos

XX e XXI (MARTINS, 2016, p. 71).

Esta percepção do Pnaic que está em atendimento ao Grupo Banco Mundial pressupõe

um interesse de mercado, que tem por finalidade alfabetizar as crianças até os 8 anos de idade,

contribuindo para a formação de capital humano.

Com o objetivo de analisar a prática do orientador de estudo no processo de formação

continuada dos professores alfabetizadores a partir do Pnaic, Silva, Maria (2015) elaborou sua

dissertação. Um dos resultados que se chegou é que a atuação dos orientadores de estudo está

associada a um contexto de mediação entre o campo teórico, representado pela academia, e

prático (representado pela escola) e por isso requer muito equilíbrio na maneira como essa

relação é materializada nas formações.

Silva, Micaela (2015) em sua dissertação teve como objetivo analisar a aprendizagem

social pelos modos de comunicação corporal presentes na situação dos jogos. Um dos

resultados a que se chegou é de muito embora as crianças participarem do jogo na posição de

juízes/as e de terem um movimento padronizado, repetido, preocupam-se em interagir com as

demais crianças.

A tese de Moraes (2015) teve como objetivo compreender a construção das práticas de

alfabetização de um professor no contexto dos Programas Alfa e Beto e Pnaic, em suas

diferentes orientações pedagógicas, em dois anos consecutivos, e o desenvolvimento das

aprendizagens da leitura e da escrita pelos seus alunos. Um dos resultados mostrou que o

professor viveu conflitos em relação aos conteúdos e à metodologia do Programa Alfa e Beto,

tendo em vista a recusa dos textos e das atividades oferecidos pelo programa e pela seleção de

outros textos que para ele garantia o letramento.

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A tese de Resende (2015) objetivou analisar os pressupostos de linguagem, explícitos

ou não, ao longo dos Cadernos de Formação em Língua Portuguesa dos Anos 1, 2 e 3 das

Unidades 1 e 3 do Pnaic. Teve como resultados que:

O pressuposto de alfabetização do Pnaic não considera as indagações das crianças. E o

professor alfabetizador recebe a formação continuada de acordo com o ano de atuação,

o que não possibilita ter uma visão ampla do programa;

Abordou a importância para o MEC do termo Pacto, presente na nomenclatura do

programa, para consolidar o objetivo de que todas as crianças fossem alfabetizadas até

os 8 anos de idade. Porém prevaleceu-se o termo Pnaic quando na apropriação de cada

ente federado, sendo então necessário o lançamento do Manual do Pacto, explicando

as diretrizes básicas do Pnaic.

Entre as teses e dissertações encontradas no banco do BDTD, verificamos numa

análise panorâmica12

, a reincidência de interesses de pesquisas ligados à formação docente,

alfabetização, prática pedagógica e política educacional permeando a discussão dos

trabalhos13

.

As teses e as dissertações em sua maioria são da região Sul-Sudeste do Brasil, sendo

apenas 7 oriundas do Nordeste. As opções metodológicas dos autores, em grande parte, foram

pelo referencial teórico metodológico nos pressupostos do materialismo histórico dialético.

Houve a ocorrência de Paradigma Indiciário (RESENDE, 2015) e tivemos ainda, no

levantamento da produção, a escolha pela investigação qualitativa exploratória14

(TEDESCO,

2015).

É importante destacar que a maioria dos trabalhos acadêmicos15

utilizou nas palavras-

chaves o termo formação, mesmo quando o recorte se destinou a compreender outro aspecto

específico do Programa. Parece-nos que os autores reconhecem o programa, prioritariamente

ligado à formação, o que nos parece bastante lógico, já que o Pnaic toma como característica

principal a implementação de uma cadeia de formação de professores alfabetizadores.

Os resultados apontaram fragilidades de maneira geral na proposta e estrutura do

programa. A crítica à formação docente dos professores alfabetizadores apontou para a falta

de uma formação que eleve a capacidade reflexiva, havendo, ainda, a falta de articulação do

Programa com a comunidade.

12

Verificar APÊNDICE A.

13 Dado obtido pela autora no levantamento da produção. Verificar APÊNDICE A.

14 Essas informações se encontram no APÊNDICE A: quadro com todas as informações.

15 Verificar APÊNDICE A.

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As escolhas metodológicas dos pesquisadores mantiveram relação entre a estrutura

política do Pnaic como uma possibilidade de manutenção de classe social, principalmente por

responsabilizar os professores alfabetizadores do sucesso escolar das crianças, sendo eles

considerados como agentes estratégicos para uma educação de qualidade. Segundo Salomão

(2014, p. 89),

Diante do contexto neoliberal e os interesses da sociedade capitalista esboça-se as

possibilidades para a formação continuada de alfabetizadores, dentre as quais se

destacam: o aprofundamento e atualização dos conhecimentos do professor; a

adequação dos cursos de formação inicial para garantia da qualidade na formação do

professor; a superação do “recuo da teoria”, valorizando o processo de construção

dos saberes formais para a profissionalização do professor; o papel de protagonista

para o professor nas intenções dos projetos dos programas de formação continuada,

fazendo parte de um fazer contínuo ao longo da constituição de sua vida

profissional; o apoio financeiro do Governo Federal para o desenvolvimento dos

programas de formação continuada do professor, bem como a concessão de bolsas

de estudos aos professores alfabetizadores e orientadores de estudos; a equidade ao

acesso à formação e a articulação entre os domínios teóricos e práticos nas ações

educativas.

Esse conjunto de medidas do MEC como sabemos tem por pano de fundo o fervor de

discussões muito mais amplas, ligadas às estruturas que possibilitam ou impedem

determinados fenômenos acontecerem no campo educacional, principalmente porque os

modos de produções capitalistas definem as políticas educacionais e para quem serão

ofertadas.

Neste contexto, não se alcança a melhoria da qualidade educacional por ajustes

particulares, desarticulados e pontuais, sem visibilizar questões mais amplas, como as

condições reais dos locais, percebendo no local, se são ou não possíveis de serem efetivadas.

Por isso, a importância de avivarmos o debate sobre o Poder Local, elencando a partir desse

espaço elementos que freiem concepções homogeneizadoras, decorrentes da demanda do

capitalismo neoliberal, que não dão conta da particularidade presente em cada local. Para

Salomão (2014, p. 16),

Políticas neoliberais da educação inserem-se em um projeto maior de modelo de

estado neoliberal, o qual visa à construção de uma nova hegemonia ideológica,

jurídica, cultural e educacional para os ajustes necessários ao reordenamento do

capitalismo, à luz de um novo paradigma o da flexibilidade econômica e intervenção

mínima do Estado para as ações sociais.

Ainda assim, as análises do levantamento da produção indicam que as propostas de

alfabetização contidas no Pnaic nem sempre provocam o desenvolvimento do sujeito crítico

da sociedade. Isto ocorre quando se cobra dos professores mudanças na prática de

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alfabetização dos alunos, indicando um modelo específico. Com base na análise dos estudos

sobre o Pnaic, temos como suspeita que as ações do Programa sejam percebidas como

arbitrárias, imperativas na implementação do Programa, tendo em vista que o currículo,

pautado, majoritariamente, em português e matemática, alinhando a expectativa do

desempenho estimulado pelas avaliações em larga escala, Provinha Brasil e ANA, enquadram

este processo de alfabetização, acontecimento que estreita o poder dos municípios.

As colocações feitas a partir do levantamento de estudos sobre o Pnaic indicam que a

sua proposta é unificadora em propor os métodos e conteúdos para os docentes. Atualmente o

debate acerca da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) atinge diretamente a demarcação

de quais conhecimentos os professores devem trabalhar em sala.

A carta produzida por uma equipe interinstitucional de pesquisadores vinculados à

Anped e pesquisa em educação16

, com o assunto Exposição de Motivos sobre a BNCC,

recrimina a proposição posta na BNCC:

Os direitos de aprendizagem apresentam-se como eixos nos quais se desdobram os

objetivos conteudinais a serem alcançados pelos professores, reduzindo-se o direito

à educação ao direito à aprendizagem, passando-se a concebê-la apenas como

escolarização. Há uma naturalização dos direitos tomados como absolutos, de forma

que a busca da igualdade social, posta como objetivo da discussão em torno dos

direitos transmuta-se em homogeneização e normatividade. As diferenças são vistas

como particularidades, especificidades concretas, que não devem interferir nas

propostas idealizadas de construção de uma igualdade que se torna “mesmidade”

(ANPED, grifos nossos, 2015, p. 2015).

Esta relação entre a garantia do direito e os objetivos conteudinais reflete, apenas,

parte da crítica que as pesquisas levantadas neste projeto colocam. Ao que parece, os direitos

de aprendizagens presentes na carta de manifestação delimitam os conteúdos, reduzem a

compreensão da criança ao espaço de sala, semelhante ao que acontece com o Pnaic.

Ao mesmo tempo em que o Pnaic possui a cadeia de formação como característica

fundamental, para que ele seja viabilizado requer o fortalecimento do compromisso entre

União, estados e municípios. O processo de municipalização, ocorrido em 1990, vem se

constituindo como provocador aos gestores municipais, pois a autonomia delegada aos

municípios pela CF (1988) se reflete com muito mais peso pela dependência, principalmente

financeira, do Poder Central do que na capacidade de administração autônoma. Em

16

A Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação-Anped, por meio do Grupo de Trabalho 12:

Currículo, e com o apoio da ABdC Associação Brasileira de Currículo, manifesta-se contrariamente ao

documento orientador de políticas para Educação Básica apresentado pela SEB MEC à consulta pública como

Base Nacional Comum Curricular por meio do documento Exposição de Motivos sobre a Base Nacional

Comum Curricular

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decorrência da falta de fundos econômicos municipais para gerir a etapa da educação básica,

que agrega maior quantitativo de alunos do ensino fundamental a ele delegada na

municipalização, esta questão será posteriormente aprofundada.

A referência consistente ao termo pacto apareceu apenas em Resende (2015) e Silva,

L. (2015): “todos ‘pactuarem’ em favor de um objetivo único – toda criança alfabetizada até

os 8 anos de idade” (RESENDE, 2015, p, 33). Mesmo o programa partindo de uma

compreensão de pactuação para implementação nas redes, explicitando as incumbências dos

entes federados, não observamos, além destes trabalhos, pesquisas que se apropriassem do

termo como objeto de pesquisa, dada a relevância desta articulação entre os entes federados

para o andamento do programa.

Este fato reiterou a nossa vontade de analisar como está se dando o processo de

implementação do Pnaic, considerando o regime de colaboração presente entre os membros

da equipe técnica. Temos por referenciais a ideia colaborativa presente no pacto federativo,

instituído em 1988, organização que pressupõe partilha das responsabilidades educacionais,

em que os entes federados atuam em regime de colaboração, com vistas a compreender o

pacto, primeiro termo da nomenclatura do Pnaic.

Nota-se que os estudos analisados não assumiram como objeto de investigação a

questão do regime de colaboração na efetivação dessa política. Ou seja, não encontramos

estudos que buscam/buscaram apreender como vem sendo efetivado o “pacto colaborativo”

para a implementação do Programa, já que o discurso do programa está vinculado diretamente

com o desenho federativo brasileiro, sendo o Pnaic considerado pela portaria que o institui –

nº 867 de julho de 2012 - “um compromisso formal assumido pelo governo federal, o Distrito

Federal, os estados e municípios de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até

os oito anos de idade” (BRASIL, 2012a). Então ao propor analisar a implementação do Pnaic

em Recife, estamos nos referindo à análise da articulação colaborativa presente no Pnaic,

sendo a cooperação parte fundante da implementação em qualquer município.

Todos os artigos encontrados trazem relevantes discussões, porém, cabe aqui

privilegiar algumas discussões encontradas, porque nos forneceram subsídios para o debate

desta dissertação: o primeiro se refere às avaliações e ao monitoramento oriundo das ações do

Programa sobre os professores, revelando os protagonistas e responsáveis do Programa; isso

podemos observar em Manzano (2015), Salomão (2014). O segundo se refere à influência da

concepção neoliberal no Programa na elaboração e estrutura do Pnaic, como em Martins

(2016), Souza (2014b), Salomão (2014). O terceiro foi apontado especificamente em Silva, L.

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(2015), em que os professores do município por ela pesquisado não tomaram conhecimento

dos critérios contidos no termo de adesão ao Pnaic.

Então esses apontamentos feitos pelas dissertações e teses nos ajudaram a tecer o olhar

frente à análise da implementação do Pnaic, além evidentemente de justificar a importância

dessa dissertação e de apresentar dados que possam interessar aos pesquisadores em políticas

educacionais.

Como verificamos no Quadro I, há 53 trabalhos encontrados nos 5 (cinco) bancos17

.

Contudo, apenas 9 trabalhos são de autores da região Nordeste, incluindo um trabalho de

nossa autoria apresentado no XXVII Simpósio Brasileiro de Política e Administração da

Educação em Pernambuco (PE), em 2015, Olinda, aue inclusive investigou a efetivação do

Pnaic em Camaragibe (PE).

Nesse sentido, foi necessário divulgarmos resultados de pesquisas do Nordeste, que o

tenha como campo de pesquisa. Anteriormente, já havíamos citado na introdução desta

dissertação que o Nordeste possui ainda maior taxa de pessoas analfabetas. Assim, ressaltando

a relevância de estudos feitos na Região Nordeste, delimitamos o campo de pesquisa na

capital de Pernambuco.

Os trabalhos encontrados e aqui apresentados, em sua maioria, colocam foco nas

aprendizagens das crianças, nas perspectivas de alfabetização e no trabalho docente, havendo

incipientes trabalhos que envolvam a discussão do Pnaic no contexto das políticas públicas.

Diante desse levantamento, a presente dissertação busca contribuir para a construção

do conhecimento por objetivar identificar e caracterizar o processo de organização e

implantação do Pnaic no município de Recife, buscando mapear ações de cooperação entre o

município e a União, sendo este um novo recorte diante dos já realizados.

17

Verificar o panorama do levantamento da produção no APÊNDICE A. Nele, tivemos todos os trabalhos com

informações detalhadas sobre o objeto, em diferentes áreas de interesse.

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3 POLÍTICAS EDUCACIONAIS, PROGRAMAS E PODER LOCAL

O Pnaic é um programa educacional, que visa alfabetizar as crianças até os oito anos

de idade. Como tal, parte da concepção de política pública que busca diminuir as

desigualdades existentes entre os brasileiros no que diz respeito à alfabetização. Como

qualquer política pública implica em disputa de poder. Inicialmente esta seção estabelecerá o

debate a respeito das políticas públicas e relações de poder. Posteriormente discutiremos o

federalismo e regime de colaboração, contexto em que essas políticas públicas se

desenvolvem e por fim traremos a discussão do poder local e descrição do objeto empírico.

3.1 Políticas públicas e relações de poder

O Pnaic em termos de abrangência e de cobrança ao fortalecimento do regime de

colaboração entre os entes, para mobilizar a efetivação da alfabetização, revela inovação,

principalmente por este formato de intervenção política (RESENDE, 2015), ao passo que em

termos de meta, o programa objetiva alfabetizar as crianças até os oito anos de idade, ao final

do terceiro ano do ensino fundamental, tema que não é recente tanto nas discussões sobre

alfabetização quanto na abordagem na Música Popular Brasileira (MPB).

Programas educacionais como o Pnaic mobilizam e envolvem toda sociedade numa

determinada problemática, no caso do Pnaic sobre a alfabetização, pois além dos políticos e

gestores municipais que são responsáveis pelo andamento dos programas, os sujeitos das

escolas na maioria dos casos, se não estão envolvidos na execução pelo menos têm

conhecimento acerca dos objetivos propostos pelos programas. A questão da alfabetização é

uma preocupação agregada ao Pnaic, que privilegia uma maior discussão e atenção a essa

demanda na sociedade de maneira geral.

Todavia, esse destaque na alfabetização já esteve presente também quando um dos

representantes da MPB, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga do Nascimento, de Fazenda Caiçara,

em Exu, situada junto à Serra do Araripe, Pernambuco, compôs em 1953 com Zé Dantas a

música ABC DO SERTÃO (RECIFE, 2014), denunciando e publicizando o retrato da

apropriação do alfabeto pelos nordestinos, especialmente os caboclos do Sertão, respeitando-

se nesta apropriação, especialmente a cultura nordestina.

Então, tal como retratou Luiz Gonzaga e Zé Dantas por meio da música, uma das

formas de interpretação e divulgação de uma questão social, equiparando-se a ação humana,

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que eleva os interesses políticos a elaborar políticas públicas educacionais, que retrata

também as manifestações sociais. Azevedo e Aguiar (2000, p. 71), explicam que elas

Foram tratadas na qualidade de componentes do conjunto das políticas públicas de

corte social, entendidas como a expressão da ação (ou não-ação) social do Estado e

que têm como principal referente à máquina governamental, no movimento de

regulação do setor educação.

Azevedo (2004, p. 07) explica que há um descompasso entre “os graves problemas

que continuam a cercar a educação como prática social” e as políticas públicas educacionais

“que estão sendo postas em ação para equacioná-los”. Então fundamentalmente falamos de

políticas públicas de educação como uma questão social, seja por suas finalidades, seja por

seus desdobramentos. Luiz Gonzaga e Zé Dantas tiveram como referência uma questão social

tal qual a proposta pelo Pnaic, diferenciando-se apenas o prisma de interesse social.

As percepções dos compositores foram, naquela época, um avanço para a cultura

pernambucana, expondo que os nordestinos entendiam sim a cultura socialmente valorizada,

sem perderem de vista as exigências mais universais. Falavam do ABC direto do Sertão e

assim trazemos esta música - “ABC do Sertão” - para o debate reconhecendo não apenas este

local, o Nordeste, mas no sentido de estabelecer uma maior aproximação entre as regiões

brasileiras quando se pensa a apropriação da alfabetização entre as regiões brasileiras. Bem

como questionar, minimamente, a comunicabilidade constante entre as culturas regionais, pois

nosso interesse nesta pesquisa foi a colaboração que precede e é necessária à implementação.

Nesse sentido, concordamos com Santos (1993, p. 31): “Quem pergunta pela sua identidade

questiona as referências hegemônicas”; então, exatamente, sobre esta música, Costa e

Rodrigues (2014, p. 71) afirmam que em seu conteúdo há

No interstício dessa espacialidade desloca-se e forma-se uma interlocução com o

Sudeste do Brasil, produzindo um discurso musical suscetível de decodificação e de

interpretação por seu público receptor. Essa linguagem discursiva musical instaura e

agrega valores e regras institucionais e territoriais do Nordeste.

Nesse sentido, esta música, que representa um elemento cultural e social, possui em

seu conteúdo intento similar ao que Santos (2002, p. 75) expressa na sociologia: “temos o

direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza e a ser diferentes quando a igualdade

nos descaracteriza”, sendo este um debate para além da importância do poder local, mas,

sobretudo, do seu potencial cultural inter e entre as regiões.

De alguma forma os compositores já indicavam que a alfabetização não deveria ter o

mesmo sentido e representação em todo o país. As mensagens da música “Lá no meu sertão

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pro caboclo lê/Têm que aprender um outro ABC; A, bê, cê, dê, fê, guê, lê, mê, nê, pê, quê, rê,

tê, vê e Zé” expressavam também o modo como este local - o Nordeste - apreendia o alfabeto,

diferente das demais regiões. Eles provocaram rupturas com possíveis preconceitos

linguísticos (BAGNO, 2002). O Rei do Baião, em parceira com Zé Dantas, falava de espaços

locais, valorizava as opiniões dos sujeitos que deles faziam parte para pensar a alfabetização.

Para Santos (2002, p. 74), “O global acontece localmente. É preciso fazer com que o local

contra-hegêmonico também aconteça globalmente. [...] é preciso criar inteligibilidade

recíproca entre as diferentes lutas locais”.

Acontece que esta percepção é mais complexa do que possamos imaginar no contexto

das políticas públicas. As tomadas de decisões nos âmbitos das políticas públicas são

sustentadas pela compreensão e pelo uso racional do poder, sendo a intervenção política ou a

sua ausência decorrentes do claro entendimento dos desdobramentos ou não das medidas

escolhidas. Sobre isto, Muller e Surel (2002, p. 23-24) afirmam:

A não decisão intencional corresponde a uma situação em que é possível mostrar

que com certeza houve vontade da parte dos atores políticos-administrativos de não

decidir. [...]. A não decisão controvertida corresponde a uma situação em que o

problema em causa é objeto de controvérsia pública muito viva, para que possa gerar

as condições de produto e/ou de legitimidade de uma ação pública [...]. A não

execução corresponde a um caso no qual uma política, decidida num certo nível,

deve ser objeto de decisões especificas tomadas por um ou mais níveis políticos

administrativos diferentes.

Se o Rei do Baião em 1953 já publicizava a apropriação do “ABC” pelo poder local, a

abordagem desta questão, então, não é recente. Mas persistiu, sendo o não solucionamento

parte de um processo decisório político, em que prevaleceram, com maior força,

encaminhamentos políticos que não surtiram os efeitos que precisávamos para suprir a

necessidade da alfabetização (MORTATTI, 2006, 2010, 2011). Momentos históricos como

estes marcam a forma de preocupação com a educação, a escola, e principalmente com as

finalidades do ensino, que estão atreladas às decisões políticas e econômicas no país

(VIEIRA; FARIAS, 2007).

O processo histórico nacional, como veremos no tópico que trata do federalismo,

possui processos de continuidades e descontinuidades políticas que influenciaram/influenciam

os objetivos educacionais do país (REGIS, 2009). Desde o período colonial até os dias atuais,

questões como centralização e descentralização política e fiscal se tornaram os elementos de

organização política significativos para compreendermos como ocorre a oferta do ensino em

nosso país, mascarando o monopólio do poder (REGIS, 2009; VIEIRA; FARIAS, 2007).

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Isto decorre do fato que o processo histórico da política educacional é marcado pelos

duelos da alternância da posse do poder político, ora centralizando, ora descentralizando a

forma de oferta. Com isto, se alteram no cenário político os objetivos da educação, bem como

sua organização. Se referindo as intenções que os constituintes tiveram em 1988, Oliveira

(2011, p. 326) infere:

Da tensão entre os interesses nacionais e subnacionais foi gerado um federalismo de

todo singular. Isto é, a norma legal que preceitua a descentralização não é entendida

como uniformizadora, garantindo que todos os estados e municípios desfrutem o

mesmo poder. Ao contrario, o jogo político desenvolve-se no interior de

processos extraconstitucionais que refletem a força relativa dos distintos atores

políticos, particularmente dos governadores, dos prefeitos, e seus controles

sobre as bancadas de deputados e os cargos no Executivo Federal. Dessa forma,

o espaço da negociação passou a desempenhar papel decisivo (grifos nossos).

E neste sentido, em meio aos clamores de relações mais democráticas, a negociação é

utilizada como ferramenta de controle conduzida por meio da disparidade de poder existente

entre os atores. Para Oliveira (2011, p. 326),

A preocupação muito mais com a participação popular que com a obtenção de um

consenso social sobre o que deve ser conseguido com a descentralização, resultando

em que o fortalecimento dos governos subnacionais impeça que o governo federal

reúna sozinho as condições para propor e efetivar políticas que objetivem a solução

de problemas nacionais.

Isto nos permite inferir que, assim como que já tivemos a centralização das decisões

sobre a educação nas mãos da União, atualmente, convivemos com a exploração exacerbada

do discurso sobre a autonomia dos municípios com finalidade muito mais de controlar do que

de partilha de poder. Sem falar que já vivenciamos com maior intensidade o monopólio da

oferta desse ensino diretamente centrado nos estados (VIEIRA; FARIAS, 2007), sendo

centralização descentralização usados como “massa de manobra” a serviço do poder.

Tomando por referência Regis (2009) e Vieira e Farias (2007), inferimos que nessa

disputa pelo poder político que permeou o processo histórico educacional, há ainda fortes

marcas oriundas das alianças políticas realizadas ora para a descentralização, ora para a

centralização política. Exemplo disso foi a investida que FHC fez para sustentar o Plano Real,

restringindo a participação econômica dos estados por meio dos bancos estaduais o que

provocou cada vez mais a limitação da atuação estadual. Assim, o governo federal criou

condições para expandir a Reforma Econômica e Fiscal. Com a restrição nos estados, só

restava aos que precisassem de recursos econômicos se submeterem às condições do governo

central (REGIS, 2009).

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54

Estes entendimentos das políticas ganham organicidade, muitas vezes, para os

cidadãos entre e nos espaços, quando adentram, exatamente os espaços da cidade,

contemplando a compreensão que remete mesmo ao termo pólis, origem mesmo do termo

política, que significa cidade (ARENDT, 2002; BOBBIO et al., 1998). Estes autores, quando

se referem à pólis, localizam o espaço (cidade) próprio da ocorrência de uma política, a policy

(ou policies, mesmo que Políticas), que significa o conjunto de programas de ação

(MULLER; SUREL, 2002; AZEVEDO, 2004).

Estas terminologias amparam a compreensão da polity, que significa o universo

político (SOUZA, 2006; MULLER; SUREL, 2002), âmbito que possibilita a atividade

política, a politics (SOUZA, 2006; MULLER; SUREL, 2002). Assim, as políticas públicas

são as ações que visam possibilitar a solução de determinados problemas sociais. Souza

(2006, p. 24) apresenta o conceito de política pública como sendo os entendimentos: em Lynn

(1980), é definida como um conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos

específicos; em Dye (1984), seria o que o governo escolhe fazer ou não fazer. Já em Perters

(1986) diz que política pública “é a soma das atividades dos governos, que agem diretamente

ou através de delegação, e que influenciam a vida dos cidadãos”. Com isto notamos que há

indispensabilidade da intervenção governamental nestas formas de política, e que isto irá se

repercutir no local da ação, sendo esta intervenção resultado e resultante da relação de

domínio dos governantes sobre os governados.

Chegamos à compreensão de que Jobert e Muller (1987, citado em AZEVEDO, 2004,

p. 45) conceituam política pública como sendo o “Estado em ação”. Compartilhamos desta

última representação de política em decorrência da necessidade da intervenção do Estado na

mobilização da sociedade, a fim de solucionar os problemas que conseguem ganhar a pauta na

inscrição de uma agenda política por meio do uso do poder.

Os problemas são diversos e peculiares em cada cidade, entendendo que a cidade “tem

a faculdade de se bastar a si mesma, sendo organizada não apenas para conservar a existência,

mas também para buscar o bem-estar” (ARISTÓTELES, 2002, p. 10). Certamente, torna-se

necessário que o homem por precisar viver em pares tenha por destino a sociedade política.

Os atributos, imprescindíveis aos sujeitos participarem da política, neste caso, diferem do que

pensa Arendt (2002): para Aristóteles eles não são inatos. A política surgiu pela necessidade

de conviver em sociedade; e, nesta perspectiva, de conduzir à virtude e não à liberdade, como

trata Arendt.

Apesar de divergirem dos conceitos, o que há em comum entre os autores é a questão

territorial. Para Arendt (2002), a política tem sentido de liberdade entre os sujeitos da pólis e

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para Aristóteles o próspero convívio. Já para Bobbio et al. (1998), o conceito de política está

implicado com o de poder, significando a relação sempre desigual, em que pelo uso do poder

se obtém “vantagem” ou “efeitos desejados”. A referência de política de Arendt (2002) parte

de uma ideia de manutenção e preservação do convívio de diferentes, uma espécie de

manutenção da ordem, que para ela é “natural”. Cabe ressaltar ainda que

Distinguindo-se da interpretação geral comum do homem enquanto um zoon

politikon (Aristóteles), em consequência da qual o político seria inerente ao ser

humano, Arendt acentua que a política surge não no homem, mas sim entre os

homens, que a liberdade e a espontaneidade dos diferentes homens são pressupostos

necessários para o surgimento de um espaço entre homens, onde só então se torna

possível a política, a verdadeira política. “O sentido da política é a liberdade

(ARENDT, 2002, p. 03).

Segundo a autora, o pressuposto do sentido da política parte do uso de característica

inata do ser humano para a promoção da liberdade, sendo para ela “ser evidente que o homem

é dotado, de uma maneira altamente maravilhosa e misteriosa, do dom de fazer milagre”

(ARENDT, 2002, p. 03). Acrescenta a autora que o homem pode agir, tomar iniciativas, impor

“um novo começo”, sendo então a política nesta concepção de Arendt (2002) uma vontade

individual, diga-se de passagem, não determinista.

Esta concepção prevista por Arendt (2002) dialoga com a de Locke (2006), para o qual

constam no indivíduo duas opções de existência, uma pertencente ao estado de natureza e

outra a vida em sociedade civil. A primeira é desprovida de leis que legislam e executam a

proteção aos direitos à vida; a segunda forma de existência é por consentimento e não tem a

pretensão de alterar a ordem “natural” dos fracos e dos fortes, de forma que, para Locke

(2006, p. 61),

Se todos os homens são, como se tem dito, livres, iguais e independentes por

natureza, ninguém pode ser retirado deste estado e se sujeitar ao poder político de

outro sem o seu próprio consentimento. A única maneira pela qual alguém se

despoja de sua liberdade natural e se coloca dentro das limitações da sociedade civil

é através de acordo com outros homens para se associarem e se unirem em uma

comunidade para uma vida confortável, segura e pacífica uns com os outros,

desfrutando com segurança de suas propriedades e melhor protegidos contra aqueles

que não são daquela comunidade.

No entanto, para que isto se tornasse verdade, no mínimo, precisaríamos que todos os

homens tivessem e pertencessem aos mesmos padrões sociais e que partissem de condições

iguais, ficando esta hipótese realmente a depender de cada um para o exercício dessa

liberdade. Por este motivo que advogamos pela compreensão a que chegam Bobbio et al.

(1998) que política está ligada diretamente ao poder, sendo suas tipologias clássicas: o poder

paterno, o poder despótico e o poder político; na moderna: o poder econômico, o poder

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ideológico e poder político. Ambas as tipologias interagem no mesmo sentido, em direção à

dominação por meio do poder.

Tomamos por referência duas tipológicas e formas de poder político (clássica e

moderna): a clássica representa o “poder de quem governa e de quem é governado, o que

ocorre apenas nas formas corretas de Governo, pois, nas viciadas, o característico é que o

poder seja exercido em beneficio dos governantes” (BOBBIO et al., 1998, p. 955), podendo

ainda ser por outra tipologia o poder político exercido pelo consenso, que em todo caso ocorre

apenas nos “bons governos”. Esta conceituação é refinada pela última tipologia, especificando

que “O poder político se baseia na posse dos instrumentos mediante os quais se exerce a força

física (as armas de toda a espécie e potência): é o poder coator no sentido mais estrito da

palavra” (BOBBIO et al., 1998, p. 955).

Essas tipologias desfrutam do entendimento de que poder está ligado ao usufruo em

benefício de quem já dispõe de meios para se sobressair diante os demais, implicando em

relações desiguais. Ampliando o sentido em Bobbio et al. (1998, p. 955), temos que

Todas as formas de poder fundamentam e mantêm uma sociedade de desiguais, isto

é, dividida em ricos e pobres com base no primeiro, em sabidos e ignorantes com

base no segundo, em fortes e fracos, com base no terceiro: genericamente, em

superiores e inferiores.

Para a ocorrência da política se requer o exercício do poder, não com finalidades de

poder pelo poder, mas de se obter vantagem. Já o poder é exercido, na concepção de Luhmann

(1985), como a capacidade de dispor de alternativas.

Assim, não há relação no âmbito político neutra, sem intenção. Pois, como já

ressaltamos, para alguns autores a política mantém íntima relação com a questão do poder

(GOMES, 2011; POULANTZAS, 2000; BOBBIO et al., 1998). Segundo Bobbio et al. (1998,

p. 954),

O conceito de Política, entendida como forma de atividade ou de práxis humana,

está estreitamente ligado ao de poder. [...] tradicionalmente defendido como

“consistente nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem” (Hobbes) ou,

analogicamente, como “conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos

desejados” (Russel). Sendo um destes meios, além do domínio da natureza, o

domínio sobre os homens, o poder é definido por vezes como uma relação entre dois

sujeitos, dos quais um impõe ao outro a própria vontade e lhe determina malgrado

seu, o comportamento.

Verificamos que a ideia de poder quando tratamos sobre política consiste, pois, em

uma espécie de disputa do espaço – pólis, o que, também, não deixa de ser o “[E] estado” da

posse do poder.

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Em meio a estas conjecturas de poder próprio do campo político, o movimento feito

pelos dois compositores, no início deste texto, por meio da Música Popular Brasileira (MPB),

em 1953, é um exemplo, no mínimo, de que o local se constitui como um elemento presente

em nossa sociedade, mas buscando, paulatinamente, estatuto de poder. Assim, os grupos

sociais locais, os atores políticos, reivindicam suas vontades e seus desejos, e falam de algum

lugar. Santos (2002, p. 73) então coloca que

O paradigma da localização não implica necessariamente a recusa de resistências

globais ou translocais. Põe, no entanto, o acento tônico, na promoção das

sociabilidades locais, [...] é necessário distinguir entre estratégias para pôr freio à

expansão descontrolada da globalização e estratégias que promovam soluções reais

para as populações reais.

Neste sentido, ao tratar das políticas públicas, sobretudo, as educacionais apenas por

referenciais universais, há a chance de dispersão de fundamentos ligados diretamente aos

indivíduos, que em tese seriam os mais interessados nos desdobramentos que tais políticas

poderão oferecer à sociedade local, sendo este local, também, o público entendido como “a

res pública ou a ‘coisa pública’, entendendo de forma restrita, como “o estoque de ativos e

principalmente o fluxo de recursos que o Estado e as entidades públicas não-estatais

controlam” (PEREIRA, 1997, p. 02).

Substancialmente, pensamos para os programas educacionais o mesmo que Dowbor

(2008, p. 19):

Quando se tomam as decisões muito longe do cidadão, estas correspondem

muito pouco as suas necessidades. Assim, a dramática centralização do poder

político e econômico que caracteriza a nossa forma de organização como sociedade

leva, em última instância, a um divórcio profundo entre as nossas necessidades e o

conteúdo do desenvolvimento econômico e social (grifos nossos).

Desta forma, a política pública, entendida como o Estado em ação, ganha notoriedade

quando se insere na forma de organização do federalismo em nosso país, em que os entes

federados possuem estruturas sociais desiguais, produzindo diferentes efeitos em cada local.

Por isso, passaremos a abordar o debate sobre o federalismo e regime de colaboração,

tentando compreender como o poder local é percebido no cenário político brasileiro.

3.2 Federalismo e Regime de Colaboração

Cabe, de início, trazermos referências ao conceito do termo federalismo, em

consonância com Abrucio e Franzese (2007, p. 02) que, citando Elazar (1987), nos dizem que

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“a essência da definição de federalismo aparece na própria constituição da palavra, derivada

do latim foedus que significa pacto”. Essas são inferências preliminares, expressando-se como

justificativas plausíveis ao regime federativo, responsável pela organização em nosso país das

políticas públicas. Há o regime federalista cooperativo, centrífugo e centrípeto.

Criado na América do Norte, Estados Unidos, em 1787, o federalismo constitui-se

pela vontade de colônias independentes instituírem a União, uma forma de se interligarem

sem abrirem mão da autonomia (ABRUCIO; FRANZESE, 2007). Já no Brasil, o federalismo

foi concebido a partir do poder central para os estados, numa forma de descentralização, o que

acabou fortalecendo esses últimos, tornando-se num modelo centrífugo, a exemplo da época

de seu surgimento, período do Café-Com-Leite, com a disputa entre os dois grandes poderes

estaduais, São Paulo e Minas Gerais.

Entende-se por federalismo centrífugo segundo Siqueira (2003, p. 409) a “resultante

da concepção do Constituinte que se volta para a preservação do poder estadual”.

Contrariamente ao modelo centrífugo, o modelo federalista centrípeto se caracteriza pela

expressão de maior poder por parte da União sobre os estados e municípios. No nosso caso, a

CF (1988) optou pelo modelo federalista de cooperação. Federalismo de cooperação, segundo

Cunha, Costa e Araújo (2010, p. 18),

Busca um equilíbrio de poderes entre a União e os Estados membros, estabelecendo

laço de colaboração na distribuição das múltiplas competências por meio de

atividades planejadas e articuladas entre si, objetivando fins comuns. Esse

federalismo político é o registro jurídico de nossa atual constituição.

Convém esclarecer que coordenação, diferentemente de cooperação, é para Bercovici

(2002, p. 15), “procedimento que busca um resultado comum e do interesse de todos. A

decisão comum, tomada em escala federal, é adaptada e executada autonomamente por ente

federado, adaptando-a às suas peculiaridades e necessidades”. Enquanto na cooperação “nem

a União nem qualquer ente federado pode atuar isoladamente, mas todos devem exercer sua

competência conjuntamente com os demais” (BERCOVICI, 2002, p. 16). Esta cooperação

pode ser concebida nos países como: obrigatória ou facultativa ou, ainda, voluntária. No

Brasil, o regime federalista é o cooperativo, dado o Art. 23 da CF (1988), que no Parágrafo

único define: “Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e

do bem-estar em âmbito nacional”.

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Evidentemente que existem outras acepções sobre a cooperação. Vejamos que, para

Cury (2009, p. 24), trata-se quando “os poderes de governo são repartidos entre instâncias

governamentais por meio de campos de poder e de competências legalmente definidas”.

Assim, a educação brasileira está organizada por divisão de níveis educacionais, com a

distribuição das competências entre os entes federados, seguindo a orientação do sistema

federativo; estas responsabilidades estão inseridas em diferentes conjunturas

intergovernamentais.

O federalismo brasileiro, segundo Regis (2009), resultou pela descentralização das

políticas públicas educacionais. Para Azevedo (2002, p. 67),

Em síntese, os processos de descentralização das políticas educativas, tal como

impulsionados pelo poder central, aparentam desconhecer as diversidades que

caracterizam a sociedade brasileira. Esses processos, que têm na participação um dos

seus pressupostos, tendem a se assentar numa representação da nossa sociedade que

afirma a existência de estruturas e relações sociais democraticamente consolidadas

como uma estratégia de transferir para o poder local encargos e decisões

previamente tomadas, para tão-somente serem executadas.

O debate atual a respeito do federalismo implica contextualizar a responsabilidade de

cada ente por etapa de ensino e a necessidade de cooperação para a oferta do ensino. Nossa

legislação apresenta de forma clara a responsabilidade de cada ente federado. A CF (1988), no

Art. 211, coloca que

Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em

regime de colaboração seus sistemas de ensino:

§ 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na

educação infantil. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996);

§ 3º Os Estados e o Distrito Federal atuarão prioritariamente no ensino

fundamental e médio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996) (grifos

nossos).

A educação básica será acobertada pelos estados e pelos municípios. A LDB 9.394 no

Art. 10 define que os estados incumbir-se-ão de

II - Definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do ensino

fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcional das

responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos

financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público (BRASIL,

1996, grifos nossos).

VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o ensino médio

a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei (BRASIL,

1996, grifos nossos).

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Assim, também consta no Art. 11, Inc. V, que os municípios devem oferecer a

educação infantil e, com prioridade, o ensino fundamental. Na LDB 9.394, Art. 11, Inc. V, o

município deve

Oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o

ensino fundamental, permitida a atuação em outros níveis de ensino somente

quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência

e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal

à manutenção e desenvolvimento do ensino (BRASIL, 1996, grifos nossos).

Assim, verificamos que a educação infantil é responsabilidade dos municípios, mas

que este ente tem o atendimento prioritário direcionado para o ensino fundamental. Os estados

são responsáveis pelo Ensino Médio, mas devem colaborar na oferta do Ensino Fundamental.

Pautadas por estes referenciais, desde a década de 1990, as políticas educacionais vêm

orientando a organização da educação. Em 2002, o cenário do país em relação aos municípios,

para Azevedo (2002, p. 53), era de que

Os municípios vêm, sobretudo, absorvendo os alunos das séries iniciais (1ª à 4a), ao

passo que as redes estaduais vêm se encarregando do ensino de 5a à 8a série. Do

total das matrículas efetivadas nas redes municipais brasileiras em 2001, 63,2%

ocorreram nas séries iniciais, ao passo que as redes estaduais matricularam 60,0%

dos alunos de 5a à 8a série, e no Nordeste as municipalidades matricularam 75% dos

alunos de 1a à 4a série dessa região.

Em 2013, as matrículas em todo o ensino fundamental registraram 29.069.281 no país

(BRASIL, 201318

). Vale ressaltar que o ensino fundamental agrega a maior parcela de alunos

da rede pública de ensino (BRASIL, 2015).

Vê-se que apesar dos municípios terem sido incorporados recentemente como entes, e

de possuírem menores receitas, eles desde o processo de municipalização vêm absorvendo a

quantidade de alunos do ensino fundamental. Como bem abordado em Cunha, Costa e Araújo

(2010, p. 19), após 1988 nos municípios “Elevou-se consideravelmente o volume de recursos

próprios dos municípios e em consequência, importantes tarefas, antes assumidas pela União

ou pelo Estado, passaram a ser de responsabilidade do município”.

Este estatuto pós CF conferiu ao município, de acordo com Cunha, Costa e Araújo

(2010, p. 16),

A autonomia política se deparou com condições administrativas desfavoráveis em

grande parte dos municípios brasileiros, comprometendo a implementação de

18

Fonte: INEP/MEC, Censo Escolar 2013

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políticas de forma articulada, reservando a estes a função de executores de propostas

instituídas pela União.

Deste modo, com a organização posta pelo federalismo brasileiro, as políticas públicas

enfrentam grandes desafios nos municípios, no sentido que as barreiras na consolidação do

federalismo, indicadas por Cury, estão postas quando se desconsideram as desigualdades

sociais presentes entre os municípios. A respeito do país, argumenta Cury (2008, p. 1194)

que,

Raramente a face da desigualdade social foi tão clara: o indivíduo em estado de

pobreza está privado das virtudes de um direito proclamado como essencial para a

vida social. Mas certamente não está excluído de continuar sendo mantido

clientelisticamente nos espaços de um trabalho rural. Também o cidadão cujo

município ou região do estado careça de recursos para abertura de escolas ou de

vagas para todos também pode ser desobrigado da frequência à escola. Seus

cidadãos, contudo, não estão proibidos de serem sujeitos a um trabalho precário.

Este modelo se arrisca a minimizar esses impactos, “não podendo nenhum dos entes

da Federação se eximir de implementá-la, pois o custo político recai sobre todas as esferas de

governo” (BERCOVICI, 2002, p. 17).

Com isso o Estado deve realizar ações que oportunizem condições equitativas que

minimizem as desigualdades entres os indivíduos. Semeghini (2004, p. 03) ainda argumenta

que

Um dos desequilíbrios regionais, características históricas faziam com que o alunado

se distribuísse de forma muito desigual entre redes estaduais e municipais. A

capacidade de investimento da esfera estadual sempre se mostrou maior que a de

municípios, principalmente nos Estados mais pobres da federação. Mas era

justamente nos Estados mais pobres que os municípios arcavam com a maioria dos

alunos do Ensino Fundamental. Nos municípios nordestinos, principalmente do

interior, onde os recursos são mais escassos, as Prefeituras tinham que arcar com a

despesa de manutenção do ensino, já que o Governo Estadual não estava presente,

enquanto nas regiões mais ricas, a presença dos Governos Estaduais predominava.

Como percebemos nas localidades a atuação do Estado não é suficiente, torna-se

distante pensar em atingir o objetivo de qualidade da educação para todos, esquecendo-se que

cada município parte de uma realidade. Essa situação não é algo recente. Cury (2008, p. 1188)

ainda argumenta que do ponto de vista da educação para todos, advento iniciado com o

Manifesto dos Pioneiros, persiste no contexto atual um impasse em se conseguir alcançar de

fato essa educação como direito de todos, fundamentalmente, quando se desconsideram as

desigualdades de renda dos municípios, lócus de materialização das políticas públicas.

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Como forma estratégica de reduzir as disparidades sociais entre seus entes, o regime

de colaboração confere um sentido de cooperação e de compartilhamento entre os entes,

sendo desta forma que o Estado Federativo mantém suas políticas organizadas. Sendo o

regime de colaboração, para Cunha, Costa e Araújo (2010, p. 20), ser “recíproco, supõe

normas e finalidades gerais, mediante ações articuladas e compromissadas entre os entes

federados, na repartição de responsabilidades e competências na prestação de serviços, neste

caso, educacionais”. Cabe ressaltar que o considerado “novo federalismo” mantém estreitas

relações com o Poder Local, a saber, segundo Andrade e Gomes (2012, p. 137),

O novo federalismo brasileiro fundamentado pela Constituição de 1988, sendo aqui

realçados os impactos no campo educacional, como a emergência de formas de

regulação e o protagonismo do poder local no âmbito da concepção sistêmica da

gestão da educação.

Nesta perspectiva se parte de uma concepção de gestão sistêmica, em que há uma

proposta de unidade dentro desse novo federalismo, precisando sempre do fortalecimento do

regime de colaboração, que, para Andrade (2013, p. 02),

Estabelecida a coresponsabilidade entre Estados, Municípios e União, o que se

constata é a indefinição do que cabe a cada instância de poder, sobretudo quando se

refere à constituição de instrumentos que explicitem os papéis específicos de cada

esfera administrativa, assim como as ações que serão pactuadas entre os sistemas de

educação com o fim de atingir o atendimento de toda a educação básica no âmbito

municipal.

Nesse sentido, cabe ressaltar no âmbito do novo federalismo as ações dentro do regime

de pactuação, em uma perspectiva colaborativa. Tal discussão coloca em relevo a importância

do poder local nesse espaço de definição de poderes, sabendo que a “assunção de

responsabilidades pelos municípios, ademais, não significou necessariamente uma

democratização do poder local” (ABRUCIO; FRANZESE, 2007, p. 07). Daí a necessidade de

discutirmos a questão do poder local. Isso porque entendemos que o município, para atuar

com sua parcela de autonomia, deve exercer suas funções a partir do poder que lhe compete.

O nosso objeto de estudo, o Pnaic, na Portaria nº 867 de 04 de julho de 2012, que o

institui, coloca:

Art. 1o Fica instituído o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, pelo

qual o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias estaduais, distrital e

municipais de educação reafirmam e ampliam o compromisso previsto no

Decreto no 6.094, de 24 de abril de 2007, de alfabetizar as crianças até, no

máximo, os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental, aferindo

os resultados por exame periódico específico;

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Como vimos nessa portaria, o MEC ao instituir o Programa faz referência ao Decreto

6.094, de 24 de abril de 2007, que zela pela “implementação do Plano de Metas Compromisso

Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios,

Distrito Federal e Estados”. Então a investigação sobre a implementação do Pnaic parte da

ideia de compromisso, de colaboração entre os entes federados previsto na portaria, e isso

subentende a relevância dessa pesquisa no contexto local.

3.3 O Poder Local e a descrição do objeto empírico

Discutir a questão do poder local é colocar em relevo o debate sobre a participação de

grupos minoritários nas questões políticas e sociais. De forma ampla, podemos entender o

poder local como capacidade de reação organizada dos membros de um local, bairro,

comunidade, município, unidos por um sentimento de pertencimento e de reconhecimento

identitário daquele grupo, frente às tendências de deliberações imperativas oriundas de

poderes mais centralizadores. Sendo então, reconhecida esta atuação do grupo do poder local,

ela é capaz de provocar a admissão de suas especificidades como elemento importante na

formulação de políticas públicas (SANTOS, 2002; HALL, 1997; DOWBOR, 2008).

Isto significa termos espaços cada vez mais permeados por expressões participativas

democráticas, decidindo sobre o rumo das próprias vidas dos sujeitos pertencentes a estes

espaços, o que também fortalece princípios democráticos de inserção dos diferentes

indivíduos na decisão da política local.

A relevância da discussão sobre o local emerge em meio ao debate sobre os processos

de globalização. Para Santos (2002, p. 75), quando trata da globalização, espera-se que o local

ocorra pela “transformação contra-hegemônica, que consiste na construção do

multiculturalismo emancipatório, ou seja, na construção democrática das regras de

reconhecimento recíproco entre identidades e entre culturais distintas”. Percebe-se que

quando esse autor se refere à globalização, ele também ressalta, por contraposição, a

valorização do conjunto de símbolos dos indivíduos locais balizado por um sentimento de

pertença comum. Esta luta se faz necessária quando “numa economia e numa cultura cada vez

mais desterritorializada, a resposta contra os seus malefícios não pode deixar de ser

reterritorização, a descoberta do sentido do lugar e da comunidade” (SANTOS, 2002, p. 72),

desencadeando, diante das influências globais, um “retorno” compatível às características dos

municípios, comunidades, bairros e escolas, e não um afastamento entre o local e o global. O

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poder local “[...], trata-se, portanto, de um esforço do município sobre si mesmo” (DOWBOR,

p. 79-80).

Visto que este sentimento de cada local constitui um sentido, uma cultura, todas as

práticas sociais que possuem significado têm sua dimensão cultural, têm um determinado

significado para cada grupo (HALL, 1997). Nestes termos é que esse autor coloca que o

político tem sua dimensão cultural, sendo o conjunto de significados atribuídos a cada espaço,

em que

Assim sendo, certamente, há práticas políticas que se referem ao controle e ao

exercício do poder, da mesma forma que existem práticas econômicas, que se

referem à produção e distribuição dos bens e da riqueza. Cada uma está sujeita às

condições que organizam e regem a vida política e econômica destas sociedades.

Agora, o poder político tem efeitos materiais muito reais e palpáveis. Contudo, seu

verdadeiro funcionamento depende da forma como as pessoas definem politicamente

as situações (HALL, 1997, p. 13).

Nos mesmos termos, em que pode haver a existência de práticas políticas que podem

exercer controle e o exercício do poder entre os sujeitos num determinado espaço, não deixa

de ser verdade também que isto se expressa como manifestações de resistências, em maior ou

menor grau. Quer dizer, em meio ao exercício do poder, são reconhecidas formas de

resistências dos sujeitos locais, mesmo que suas brigas e causas não cheguem à pauta da

definição de um programa político.

Assim, a formulação de um programa educacional que objetive a qualidade da

educação pública deve pressupor um debate que seja possível de cooptar estas nuances de

sujeitos localizados, sendo estas aproximações viabilizadas quando verificamos as intenções

dos programas, sua estrutura, seus objetivos, os documentos e a sua implementação em

consonância com os parâmetros possíveis à comunidade local.

A necessidade das crianças estarem alfabetizadas parte da ideia que a condição das

crianças não alfabetizadas satisfatoriamente deixa de contribuir para o progresso do país e por

isso os investimentos na implementação do Pnaic (BRASIL, 2012b). Decorre que a educação

no Brasil, sobretudo a etapa que caracteriza o ensino fundamental, vem afinando suas relações

com organismos internacionais por meio de processos de globalização, nesse âmbito Dale

(2010, p. 1108) coloca que

A globalização transformou a ideia de que a educação ocorre apenas em sistemas

nacionais instaurados para tanto. O lugar e a força dos Estados nacionais foram

amplamente alterados, com uma consequência muito expressiva para uma sociologia

da educação que partiu do princípio de que a base da “educação” é nacional.

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65

Assim, tecer considerações acerca das políticas educacionais, antes realizadas,

sobretudo pelos estados-nações, agora, postula outra abordagem decorrente das influências

dos preceitos globais. Nesse contexto, podemos encontrar nas políticas educacionais

brasileiras influências de organismos internacionais, como a Unesco, o Unicef (como agências

especializadas) e o Banco Mundial – BM, Organização Mundial do Comércio – OMC e a

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE (como agências

internacionais significativas). Segundo Akkari (2011), tais agências influenciam na concepção

das políticas educacionais, nas avaliações dos sistemas educacionais e no financiamento.

Estas influências não se dão de maneira igual entre os estados-nações, e nem da mesma

forma, há níveis de influências que são definidos por circunstâncias diversas (DALE, 2010).

Antes da intensificação dos princípios de globalização, tínhamos diretamente a figura

dos estados-nações como as instituições que regulamentavam e organizam suas políticas

públicas de forma mais independente. “A relação entre o capitalismo e os problemas centrais

era mediada pela ideia de que os piores efeitos do capitalismo tinham de ser compensados por

uma ação do Estado” (DALE, 2010, p. 1105). No campo social e educacional, o Estado

tentava então equilibrar fracasso escolar e acesso ao mercado de trabalho; desemprego e

miséria. Porém, “a ordem de prioridades foi invertida sob a globalização neoliberal, na qual a

“competitividade” se tornou a característica dominante e a educação estando profundamente

implicada em consegui-la” (DALE, 2010, p. 1105).

Esse entendimento sobre as influências globais nas políticas nacionais é apresentado

como manifestações verticalizadas e forçosas da influência global. De todo modo, tais

influências nos países em desenvolvimento decorrem dos acordos obtidos nos processos de

governança, um processo de negociação entre as agências internacionais e os estados-nações.

Segundo Dale (2010) e Akkari (2011), a influência das agências internacionais no contexto da

globalização está distante de ser o resultado de uma imposição internacional; na verdade há

muito mais uma disponibilidade voluntária destes estados.

Tomando a questão da globalização e sua relação com o local, Santos (2002, p. 74)

nos diz que

Uma teoria da tradução que permita criar inteligibilidade recíproca entre as

diferentes lutas locais, aprofundar o que tem em comum de modo a promover o

interesse em alianças translocais e a criar capacidades para que estas possam

efetivamente ter lugar e prosperar.

Validando o que trata Santos (2002), Dowbor (2008, p. 40) infere que “não se trata de

inverter os processos, substituindo o poder central pelo poder local, mas de equilibrar os

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diversos níveis de processos decisórios”. Tentamos, com isto, superar as argumentações de

valorização do local pelo global apenas pelo víeis econômico. Por este viéis, ocorre a

desterritorialização, que é a perda de sentido das especificidades locais em favor do retorno

econômico.

Quando temos situações como o localismo globalizado, que representa a visibilidade

do local, as especificidades entre o local e global se desconstituem também em favor de

dispositivos econômicos tangíveis, ou seja, o reconhecimento do global ou local decorre da

estimativa de retorno econômico.

As decisões políticas pautadas nos sujeitos locais têm por natureza mobilizar

determinado local a solucionarem seus problemas, sendo as especificidades dos sujeitos locais

umas das referências para o planejamento. Como sabemos, isso na maioria das vezes, não

acontece, pois as políticas acabam por empurrar verticalmente as deliberações do eixo central.

As decisões políticas deveriam representar um diálogo entre o poder central e o local.

Um exemplo da diversidade de contextos é a situação do Nordeste brasileiro: a dívida

da Nação para com a região em relação ao descaso no campo educacional, onde se destacam

índices mais acentuados de sujeitos analfabetos, cenário esse que demanda uma maior

cooperação por parte do poder central. Quanto ao Nordeste, Beltrão (2012, p. 01) informa que

Dados do Censo 2010 indicam que 15,2% das crianças brasileiras não sabem ler

nem escrever aos 8 anos. O problema se mostra ainda mais complexo quando se

consideram os resultados por região: no Norte, o índice chega a 27,3%, e no

Nordeste, a 25,4% — uma desigualdade brutal em relação à Região Sul, que

apresenta as melhores taxas do país, com 5,4% de crianças não alfabetizadas na

faixa etária adequada.

Assim, para a dissertação, delimitamos nossas discussões na região Nordeste, pois ela

apresenta um processo histórico no qual a alfabetização e a educação de qualidade não se

constituíram como prioridades na definição da agenda política nacional, apesar dos

destacados índices avaliativos bem abaixo da média nacional.

É nesse contexto que optamos por realizar essa pesquisa tomando como campo

empírico a cidade do Recife, uma capital nordestina. É nossa intenção investigar a relação

entre o regime de colaboração e as prerrogativas do poder local para o êxito de uma política

gestada em âmbito nacional.

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3.4 O Pnaic – descrevendo nosso objeto de estudo

O Pnaic é um programa de âmbito nacional. Ele tem como objetivo assegurar que

todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do Ensino

Fundamental, previsto na Portaria Nº 867, de 4 de julho de 2012. O Pnaic é executado a partir

de um compromisso formal assumido pelos entes federados (Governo Federal, Distrito

Federal, Estados e Municípios).

O Pnaic constitui-se por uma rede de formação, na qual estão incluídas a coordenação

geral do programa, uma representante da Instituição Federal (IF’s), as formadoras dos

orientadores de estudos, também das IF’s, os orientadores de estudos (os quais devem,

preferencialmente, ter sido tutores do Pró-letramento segundo a legislação do período em que

investigamos, entre 2013 a 2015).

O Pacto apoia suas ações em quatro eixos de atuação:

Formação continuada presencial para os professores alfabetizadores e seus

orientadores de estudo;

Materiais didáticos, obras literárias, obras de apoio pedagógico, jogos e tecnologias

educacionais;

Avaliações sistemáticas;

Gestão, mobilização e controle social.

O primeiro eixo acima citado, Formação continuada presencial para os professores

alfabetizadores e seus orientadores de estudo, está organizado conforme demonstraremos.

Os Professores Alfabetizadores frequentam um curso presencial conduzido pelos

orientadores de estudo. Este curso tem a duração de 2 anos, com uma carga horária de 120

horas por ano. Baseado no programa Pró-Letramento, sua metodologia propõe estudos e

atividades práticas.

I – cada turma conterá 25 (vinte e cinco) professores alfabetizadores, podendo

chegar a 34 (trinta e quatro) docentes, dependendo do total de professores

alfabetizadores da rede.

II – cada turma de professores alfabetizadores deverá ter um orientador de estudo,

responsável por formar os cursistas. Somando-se todos os anos e turmas, no caso de

não haver um número suficiente para compor uma turma, poderão ser formadas

turmas mistas. No caso de haver menos que 10 (dez) professores alfabetizadores no

município ou localidade, será facultada a indicação de 1 (um) orientador de estudo

da rede estadual ou a solicitação de inclusão desses professores às turmas da rede

estadual, condicionada à aceitação da secretaria estadual demandada (BRASIL,

2015, p. 42).

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Até 2015, a referência para os professores alfabetizadores participarem do curso de

formação era ter passado pelo último censo escolar e homologado pelo INEP. Os dados do

INEP seriam a referência para o cálculo da quantidade máxima de professores alfabetizadores

e orientadores de estudo que poderão participar da Formação. Recomendava-se que os

encontros presenciais fossem distribuídos em momentos de 4 ou 8 horas, ao longo do ano

letivo, em que não poderiam ultrapassar mais que 12 horas mensais.

Das turmas de Orientadores de Estudo:

A formação das turmas de orientadores de estudos corresponderia a 25 (vinte e cinco)

orientadores de estudo, podendo chegar a 34 (trinta e quatro), atendidos pela IES; cada turma

de Orientadores de estudo conteria um formador, incumbido por formar os cursistas. O curso

de formação para os Orientadores de Estudos, de 200 horas, será ministrado pela universidade

parceira, e será composto da seguinte forma: Um (01) encontro de 40 horas (imersão),

podendo ter variações a critério da universidade; Quatro (04) encontros de 24 horas cada um,

totalizando 96 horas, podendo ter variações a critério da universidade; Seminários, atividades

de monitoramento e planejamento, totalizando 64 horas.

Ainda é importante destacar o papel das universidades nesse processo formativo.

Segundo a Portaria nº 867 de julho de 2012, Art. 12, caberá às IES: I - realizar a gestão

acadêmica e pedagógica do curso de formação; II - selecionar os formadores que ministrarão

o curso de formação aos orientadores de estudo; III - assegurar espaço físico e material de

apoio adequados para os encontros presenciais da formação dos professores orientadores de

estudo; IV - certificar os professores orientadores de estudos e os professores alfabetizadores

que tenham concluído o curso de formação; V - apresentar relatórios parciais e finais sobre a

execução do curso de formação, no modelo e dentro dos prazos estipulados nos planos de

trabalho pelo MEC.

No eixo Materiais didáticos, obras literárias, obras de apoio pedagógico, jogos e

tecnologias educacionais, o MEC distribui os materiais didáticos para as formações dos

professores alfabetizadores e manda materiais para as escolas que são:

Livros didáticos (entregues pelo PNLD) e respectivos manuais do professor;

Obras pedagógicas complementares aos livros didáticos e acervos de dicionários de

Língua Portuguesa (também distribuídos pelo PNLD);

Jogos pedagógicos de apoio à alfabetização; obras de referência, de literatura e de

pesquisa (entregues pelo PNBE);

Obras de apoio pedagógico aos professores;

Jogos e softwares de apoio à alfabetização

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O MEC distribui materiais didáticos, apostando que os livros paradidáticos incentivem

a utilização dos materiais já disponíveis nas escolas.

O eixo de avaliação do Pnaic tem referência na Provinha Brasil, aplicada no início e

final do segundo ano e no terceiro ano; finalizando o Ciclo de Alfabetização, o MEC institui a

Avaliação Nacional da Alfabetização – ANA. Essa tinha a finalidade de produzir indicadores

que contribuam para o processo de alfabetização nas escolas públicas brasileiras.

O Pnaic ainda fornece o sistema de monitoramento (SisPActo)19

aos membros que

compõem a cadeia de formação do Programa como ferramenta de monitoramento das

atividades e frequências das formações; ainda são utilizados como monitoramento reuniões e

relatórios, que são compulsórios para terem liberadas as bolsas de formação.

A avaliação indicada pelo programa sugere possíveis explicações da real necessidade

do governo federal retomar a discussão sobre efetivar a alfabetização. O objetivo desta

avaliação universal seria de avaliar o nível de alfabetização alcançado pelas crianças ao final

do ciclo. São subsídios que indicam possíveis intenções ligadas a organismos internacionais.

As avaliações que o Pnaic tem por referência, sobretudo a ANA, apontam, segundo

Viegas e Scaff (2015, p. 121), que

Essa avaliação servirá para coletar e sistematizar dados e produzir índices sobre o

nível de alfabetização e letramento dos alunos do ciclo de alfabetização do Ensino

Fundamental, além de revelar informações sobre as condições do ambiente escolar

que incidem sobre o processo de ensino e aprendizagem. Cada escola deve receber

seu resultado global, como acontece com o IDEB. Nesse sentido, observa-se uma

progressiva estruturação da política educacional por meio da avaliação em larga

escala, cuja finalidade é garantir monitoramento das metas de qualidade no ensino

público, além do financiamento educacional atrelado aos resultados obtidos nas

avaliações. De forma geral, essas avaliações pretendem “medir a qualidade do

ensino” e articular ações visando, por exemplo, “à qualificação dos docentes” que

atuam na educação pública.

Como vimos em Viegas e Scaff (2015), essa proposta de avaliação está atrelada ao

recebimento de financiamento mediante resultados. Inclusive esses autores ainda realizam

uma análise conjunta entre a ANA e as demais avaliações educacionais. Vejamos:

Pode-se considerar que a regulação do sistema educacional brasileiro apresenta

iniciativas de responsabilização que têm respaldo, principalmente, na

descentralização das ações, acompanhada da avaliação dos resultados e da

centralização de decisões relativas ao processo pedagógico, como o currículo e as

formas de certificação, que implicam diretamente na formação docente, apontando

19

O SisPacto é o sistema de monitoramento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

disponibilizado no SIMEC (http://simec.mec.gov.br). Os principais atores envolvidos na execução das ações

do Pacto terão acesso ao SisPacto, de forma gradativa.

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para uma formação vinculada à lógica de mercado (VIEGAS; SCAFF, 2015, p.

119).

Assim, avaliações como a ANA podem revelar a intenção do governo federal em

retomar na sociedade a discussão sobre a efetivação da alfabetização. Avaliações como a

Provinha Brasil e a ANA juntam-se ao SAEB, com o objetivo de “reajustar a regulação

estatal” (COELHO, 2008, p. 233). Para esse autor, após 1988,

Esse primeiro movimento da avaliação da educação básica no Brasil se relaciona

também com o que ocorre e impulsiona a avaliação educacional no contexto

internacional. Constituem parte desse contexto de influência, a aprovação do

Primary and Secondary Education Act, em 1965, nos Estados Unidos e a publicação

do Informe Coleman em 1968, que se conjugam com a criação da Internacional

Association for the Evaluation of Educacional Achievement - IEA, que se propõe a

promover e realizar estudos internacionais de avaliação educacional, e ainda com a

experiência de construção, nos anos de 1970, de indicadores internacionais de

qualidade da educação pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico - OCDE (2008, p. 233).

Estas informações consistem na relação de referências que os indicadores dos países

da OCDE vêm estabelecendo para países como o Brasil. Essa referência de investimentos

públicos em educação por meio dos programas da avaliação se traduz em investimentos em

programas com base em resultados das avaliações em larga escala. Por meio desse parâmetro

externo, países que compõem a OCDE podem classificar os demais países.

Vale salientar que o nosso país não faz parte dos 34 países membros da OCDE, é

apenas parceiro. Inclusive a garantia da universalização do ensino fundamental de acordo com

a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, da Conferência Mundial sobre Educação

para Todos, reunidos em Jomtien, Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990, estabelece que “A

educação fundamental deve ser universal, garantir a satisfação das necessidades básicas de

aprendizagem de todas as crianças, e levar em consideração a cultura, as necessidades e as

possibilidades da comunidade” (UNESCO, 1998, p. 05). E nesse mesmo documento delimita

quais conteúdos devem nortear estas aprendizagens:

Os programas de alfabetização são indispensáveis, dado que saber ler e escrever

constitui-se uma capacidade necessária em si mesma, sendo ainda o fundamento de

outras habilidades vitais. A alfabetização na língua materna fortalece a identidade e

a herança cultural (UNESCO, 1998, p. 05).

Essa declaração especifica quais os conteúdos que são indispensáveis: saber ler e

escrever. E essa exigência foi, também, deliberada na reunião em que se decidiu sobre o Plano

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de Desenvolvimento da Educação (PDE), em 2007 (BRASIL, 2007b). De acordo com Camini

(2010, p. 538), a

Elaboração do PdE/Plano de Metas Compromisso apresentado oficialmente à

sociedade pelo presidente Lula e pelo ministro da educação Fernando Haddad (abril

de 2007), em solenidade que contou com a participação de convidados especiais,

representantes de entidades dos setores educacionais, sindicais, estudantis,

empresariais...

Então essas alianças junto aos empresários tornavam permissíveis “a adoção nas

instâncias estatais da lógica mercantil, visando a torná-las mais eficientes e produtivas”

(CAMINI, 2010, p. 542). Assim para compreender a garantia ao direito mínimo no contexto

atual, “ser alfabetizado” requer discutir alguns elementos sobre o contexto de produção desta

política.

Já o Eixo Gestão, mobilização e controle social, possui a seguinte organização: um

Comitê Gestor Nacional e uma Coordenação Institucional em cada estado e no Distrito

Federal, composta por diversas entidades, com atribuições estratégicas e de mobilização em

torno dos objetivos do Pacto; uma Coordenação Estadual, responsável pela implementação e

monitoramento das ações em sua rede e pelo apoio à implementação nos municípios; e uma

Coordenação Municipal, responsável pela implementação e monitoramento das ações na sua

rede. O próprio manual do Pnaic (2012b, p. 03) diz:

A equipe central, no âmbito da Secretaria Municipal de Educação (SMED), deve

agir na definição de princípios gerais e construção de orientações globais de

trabalho, atuando na articulação entre as unidades escolares. As equipes das escolas

devem definir planos de ação por unidade escolar e coordenar o trabalho coletivo, no

universo dessas unidades. Para a articulação entre estas duas instâncias, sugere-se a

criação de um Conselho ou um Núcleo de Alfabetização que se responsabilize e

discuta as políticas da rede de ensino destinadas ao atendimento das crianças dos

anos iniciais.

Este eixo de gestão e mobilização é importante e contempla as instituições de ensino e

a fundamental articulação com a escola.

O Pnaic disponibiliza a opção dos municípios aderirem apenas o comprometimento do

alcance da meta, sem a implementação das ações propostas pelos 4 (quatro) eixos do

Programa. Nesse caso trata-se de uma adesão política no sentido de compromisso de fato com

a alfabetização das crianças até os oito anos no respectivo município, podendo esse ente

buscar outra estratégia diferente em seu município.

Entretanto, não percebemos nos documentos legais do Pnaic orientações mais

sistemáticas quanto aos municípios que assinam o contrato de adesão ser apenas da meta. Ou

seja, aqueles que não se filiaram às regras pautadas pelos eixos.

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Para quem aderir às ações do Pnaic, seguem abaixo as ações e sua abrangência:

Figura 2 - Objetivos das ações e suas incumbências

Fonte: Elaborada pela autora com base na portaria do MEC Art. 5 da Portaria nº 867 (BRASIL, 2012a)

O Pnaic tem a configuração de um programa por adesão, o que de alguma maneira

coloca as estratégias do governo federal passíveis de menor ou maior peso de barganha no

âmbito das secretarias de educação, no que diz respeito à efetivação das ações e de sua

abrangência propostas nos documentos normativos do Programa.

Para essas ações serem efetivadas é necessária comunicação entre os entes federados,

fortalecendo a nomenclatura do Pnaic - o pacto, revigorando o pacto da CF (1988), a do

PACTO federativo cooperativo. Sendo a colaboração garantida pela LDB (9.394), no Art. 8º,

nela se infere que a “União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em

regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino”. Semelhante relação colaborativa

temos no Pnaic, na Resolução nº 12 de 8 de maio de 2013 (BRASIL, 2013c), que alterou a de

nº 4 de 27 de fevereiro de 2013 (BRASIL, 2013a), no Art. 7º, que trata das atribuições e

responsabilidades dos agentes da Formação do Pnaic.

Quadro 6 - Incumbências dos entes federativos

União (MEC) Municípios

a) definir junto às instituições de ensino superior (IES),

o conteúdo da Formação;

a) gerenciar e monitorar a implementação da

Formação em sua rede;

b) articular os agentes envolvidos e promover, em

parceria com as IES, a formação dos orientadores de

estudo e dos professores alfabetizadores nas redes de

ensino que aderirem às ações do Pacto;

b) designar o coordenador ou os coordenadores das

ações do Pacto no estado, Distrito Federal ou

município, obrigatoriamente servidor(es)

público(s), que será(ao) responsável(is) pelo

gerenciamento de sua respectiva rede,

OBJETIVOS DAS AÇÕES ABRANGÊNCIA DO PNAIC

I ‐ Garantir que todos os estudantes dos

sistemas públicos de ensino estejam

alfabetizados, em Língua Portuguesa e em

Matemática, até o final do 3º ano do ensino

fundamental;

I. Alfabetizar todas as crianças em língua

portuguesa e em matemática.

II ‐ reduzir a distorção idade‐série na

Educação Básica; II. Realizar avaliações anuais universais,

aplicadas pelo Inep, junto aos concluintes do

3º ano do ensino fundamental.

III ‐ melhorar o Índice de Desenvolvimento

da Educação Básica (IDEB); III. No caso dos estados, apoiar os municípios

que tenham aderido às Ações do Pacto, para

sua efetiva implementação.

IV ‐ contribuir para o aperfeiçoamento da

formação dos professores alfabetizadores;

V ‐ construir propostas para a definição dos

direitos de aprendizagem e desenvolvimento

das crianças nos três primeiros anos do

ensino.

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encaminhando à SEB/MEC, via SisPacto, uma

cópia devidamente assinada e autenticada de seu

Termo de Compromisso;

d) garantir os recursos financeiros para a realização

dos cursos pelas IES;

c) indicar os orientadores de estudo de sua rede, a

serem formados pelas IES, e custear o seu

deslocamento, alimentação e hospedagem para os

eventos da formação, sempre que necessário;

e) definir os critérios de seleção dos bolsistas que

atuarão como supervisores e formadores no âmbito das

IES;

d) fomentar e garantir a participação dos

professores alfabetizadores de sua rede nas

atividades da Formação, sem prejuízo da carga

horária em sala de aula, custeando seu

deslocamento, alimentação hospedagem, sempre

que necessário;

f) conceder bolsas de estudo e pesquisa aos

formadores, supervisores e coordenadores da

Formação Continuada de Professores

Alfabetizadores junto às IES;

e) monitorar a aplicação das avaliações diagnósticas

e da avaliação externa, a entrega e o uso dos

materiais didáticos, literários e dos recursos de

apoio à alfabetização, componentes das ações do

Pacto;

g) conceder bolsas de estudo aos coordenadores das

ações do Pacto no Distrito Federal, nos estados e

municípios, aos orientadores de estudo e aos

professores das redes públicas participantes

Formação Continuada de Professores

Alfabetizadores no âmbito do Pacto Nacional pela

Alfabetização na Idade Certa;

f) disponibilizar assistência técnica às escolas e, no

caso dos estados, também aos municípios com

maiores dificuldades na implementação do Pacto e

na obtenção de resultados positivos de

alfabetização.

h) garantir os recursos financeiros para o

pagamento das bolsas tanto aos formadores,

supervisores e coordenadores quanto aos

professores das redes públicas participantes da

Formação;

i) fornecer às redes de ensino que aderirem às ações do

Pacto os materiais didáticos, literários, jogos e

tecnologias previstos nos artigos 6º, 7º e 8º da Portaria

MEC nº 867/2012;

j) fomentar as ações de mobilização e gestão da

comunidade escolar;

k) desenvolver e transferir metodologia para

monitoramento e avaliação da Formação;

l) apoiar a gestão e o monitoramento local das ações

do Pacto;

Fonte: Autoria própria. Quadro elaborado com base no Art. 7, incisos I e VI da resolução nº 4 de 27 de fevereiro

de 2013.

Desta forma observamos que esta resolução marca legalmente as tarefas do MEC,

salientado nas alíneas d, g, h, que tratam, fundamentalmente, do financiamento do Pnaic: da

concessão como da garantia dos recursos para o curso de formação das IES quanto das bolsas

para toda a rede de formação. O MEC ainda ficou responsável diretamente, de acordo com as

“alíneas K, m, n, o”, com o desenvolvimento e a manutenção do sistema de monitoramento

pelo programa. Já os municípios, de acordo com as “alíneas b, c, d e f”, possuem a tarefa de

indicar os coordenadores e os orientadores, além de garantir às escolas assistência técnica

com maiores dificuldades de implementação, entre outras atividades ligadas à execução do

programa.

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74

O princípio de compromisso do pacto, conforme a Resolução nº 12 de 8 de maio de

2013, que trata das deliberações, está substancialmente arranjado da seguinte forma: o MEC

dispõe do poder de financiamento e monitoramento e, os municípios encarregados, sobretudo,

das funções operacionais ligadas à seleção dos profissionais e execução da formação. Dessa

forma, destacamos como uma das características da descentralização das políticas públicas

A iniciativa da União, por meio da indução do financiamento de ações, programas e

políticas, nem sempre tem se realizado de modo orgânico, na medida em que se

caracteriza pela superposição e pela ingerência direta nas escolas vinculadas

aos sistemas de ensino, entre outros. Nesse cenário, assiste-se a um discurso

marcadamente voltado à descentralização do ensino, por meio do regime de

colaboração entre os entes federados, e à proposição de políticas centralizadas

no âmbito de programas e ações do MEC, nem sempre articuladas e cuja

adesão por estados e municípios se efetiva, historicamente, sem clara conexão

com prioridades estabelecidas pelos respectivos sistemas de ensino (DOURADO,

2007, p. 939).

Concordamos com a afirmação de Dourado (2007), principalmente após discutirmos

essas deliberações contidas na Resolução nº 12 de 8 de maio de 2013, em que observamos a

descentralização das políticas públicas, em que o governo federal se sobrepõe ao municípios,

enquadrando-os nessa colaboração nas atividades ligadas à execução, cabendo à União as

decisões sobre programas que irão ser implementados nos locais. E essa divisão de tarefas

caracteriza também a forma em que o poder é estabelecido nessa colaboração.

Esse programa tomou relevância nacional, a tal ponto que entre os anos de 2014 e

2015 ocorreram mobilizações em nível nacional. Uma das mobilizações foi da Associação

Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae), que divulgou no mês de setembro

de 2015 uma carta aberta em defesa do Pnaic, argumentando sobre a originalidade do Pnaic

para a melhoria da educação, como verificamos na Carta aberta em defesa do Pnaic:

A formação continuada dos professores alfabetizadores no âmbito do PNAIC foi

iniciada em 2013, com continuidade em 2014 e 2015. Foram atendidos, em cada

ano, mais de 300.000 professores. Nunca houve, na história da educação brasileira,

uma ação com tamanha abrangência e tão fortemente voltada para o fazer

pedagógico do professor. Desse modo, podemos apontar um primeiro aspecto

positivo: a garantia do direito à formação continuada a todos os professores

alfabetizadores, tendo como referência a realidade da sala de aula (ANPAE,

setembro, 2015)20

.

20

Disponível no endereço eletrônico: http://www.anpae.org.br/website/documentos/CartaAbertaem

DefesadoPNAIC.pdf.

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Ainda na mesma mensagem é evidenciada a inovação histórica que o programa faz,

uma política nacional que contempla o aspecto de formação continuada no país com tamanha

amplitude. Aponta também Resende (2015, p. 27) que

O PNAIC é um programa de significativo investimento de recursos financeiros e de

alta cobertura nacional, envolvendo os quatro eixos de atuação – formação

continuada de professores alfabetizadores; materiais didáticos, literatura e

tecnologias educacionais; avaliações sistemáticas; gestão, controle e mobilização

social.

Então, não podemos negar a relevância desse Programa quanto aos investimentos

técnicos e financeiros, dada a estrutura do Programa por eixos, e a ampla cobertura no país

que vem sendo logrado por ele, demandando nos dois direcionamentos altos recursos

financeiros da União no seu oferecimento.

A seguir, na próxima seção, analisaremos as características do processo de

organização e implantação do Pnaic no município de Recife.

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4 O PNAIC NA CIDADE DO RECIFE – CONTEXTO DE ADESÃO

Nesta seção podemos compreender o cenário em que o Programa foi efetivado em

Recife, em que tomamos por referência os documentos normativos do Pnaic pela parceria

estabelecida na implementação de Recife. Inicialmente caracterizaremos o contexto de adesão

do município ao Pnaic e posteriormente identificaremos o que foi implementado após adesão,

de forma que aqui já iniciamos análises sobre os dados levantados.

4.1 Características gerais do município

Recife passa a ser capital do Estado pela Portaria de 29-12-1825, confirmado pela

Resolução de 15-02-1827, registrado na Lei Municipal n.º 1, de 06-04-1892. Em 2017, o

estado de Pernambuco registrou o quantitativo populacional de 9.473.266 pessoas, ficando

atrás apenas do estado da Bahia com 15.344.447 pessoas. Recife, a capital de Pernambuco,

em 2017 registrou o quantitativo de população de 1.633.697 em uma área da unidade

territorial de 218.435 km².

Localizada na região nordeste do Brasil, a Capital foi fundada no dia 12 de março de

1534, no contexto das capitanias hereditárias. Recife servia de porto onde eram carregadas e

descarregadas as produções locais e as que vinham da metrópole. Ganhou este nome em

referência à quantidade de recifes que existia na região litorânea.

De acordo com os dados do IBGE, o IDHM do município de Recife vem desde 1991

aumentando entre o período de 2000 e 2010, igualmente as outras duas capitais nordestinas

com maior quantitativo de população21

. Vejamos tabela abaixo:

Tabela 1- Índice de Desenvolvimento Humano Recife Salvador Fortaleza

IDHM 1991 0,576 0,563 0,546

IDHM 2000 0,660 0,654 0,652

IDHM 2010 0,772 0,759 0,754

Fonte: https://cidades.ibge.gov.br/brasil

O município dispõe de 320 unidades de ensino, que atendem a cerca de 90 mil

estudantes. São 232 escolas de ensino fundamental - das quais cinco oferecem ensino integral,

53 creches e 21 creches-escolas, além de 14 Unidades de Tecnologia na Educação (UTECs),

21

De acordo com o IBGE (2010): Ceará contém 9.020.460 pessoas; Pernambuco contém 9.473.266 pessoas e a

Bahia: 15.344.447 pessoas.

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77

isto tudo distribuído pelas 6 Regiões Político Administrativa (RPA), contabilizando 94 bairros

na cidade22

. A capital de Pernambuco conta ainda com o atendimento de ensino

profissionalizante e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

As matrículas no ensino fundamental em 2012 registraram 211.549 e em 2015 o

número de matrículas passou para 184.445, uma redução de 27.104 matrículas. Desse

quantitativo em 2015, os alunos do 1º ao 5º ano, representaram 49.868 alunos matriculados

(IBGE)23

, ou seja, mais de 25% das matrículas em 2015 estavam entre 1º ao 5º do ensino

fundamental do município.

4.2 O contexto de adesão do Pnaic no município de Recife

Para compreender o contexto de adesão do Pnaic em Recife tomamos como referência

2013, primeiro ano de implementação do Pnaic. No primeiro ano em Pernambuco, apenas

dois municípios não aderiram ao Pacto (Santa Teresinha e Petrolina), ou seja, o programa

abrangeu 183 municípios do nosso estado, incluindo a capital, Recife. Esses dois municípios

optaram por não aderirem ao Pnaic em decorrência de desenvolverem outras propostas em

seus municípios.

O Pnaic , após a adesão de Recife, passou a ser atribuição da Secretaria de Educação

Municipal de Recife, composta pelo Gabinete do Secretário de Educação e pelas cinco

Secretarias Executivas: a de Gestão da Rede, a de Gestão Pedagógica, a de Infraestrutura, a de

Administração e Finanças e a de Tecnologia na Educação. A Secretaria é composta pelos

Conselhos: de Alimentação Escolar e o Municipal de Educação.

Em 2013, já com o Pnaic, a Secretaria Municipal de Educação do Recife passou a

atender 210 escolas do 1º ao 5º ano, atendendo a um total de 14.493 turmas do ciclo de

alfabetização. Para cada turma do ciclo de alfabetização havia um professor alfabetizador. A

Secretaria de Educação disponibilizava, então, naquela época, um total de 58 orientadores de

estudos. A equipe local foi composta pela coordenadora, que já integrava a Divisão de

Alfabetização e Letramento (DAL)24

e outros técnicos da mesma Divisão, que auxiliaram nas

formações dos professores alfabetizadores do Pnaic. Assim, a equipe local, que eram todos os

22

Dados encontrados no site da Prefeitura da Cidade de Recife: http://www2.recife.pe.gov.br/pagina/secretaria-

de-educacao

23 http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=261160

24 O DAL faz parte da Gerência Geral de Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental –

GGEIAIEF.

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membros da cadeia de formação do Pnaic que atuaram até 2015 em Recife, foi composta

pelos técnicos da Secretaria de Educação de Recife25

.

Essa equipe local foi responsável pela estrutura do espaço de formação, frequência e

pela formação dos professores alfabetizadores que atuam nos três primeiros anos do ciclo de

alfabetização e pela frequência dos orientadores de estudos à formação, devido ao vínculo

deles com a Secretaria de Educação de Recife, enquanto a UFPE foi responsável pelo

gerenciamento do Programa em Recife e das formações dos orientadores de estudos, a

maioria realizada em Caruaru até 201526

.

4.3 Plano municipal de educação de Recife (PMER) e o Pnaic

Passaremos então, após a caracterização do Município de Recife, campo de pesquisa

dessa dissertação, à análise de elementos contidos no documento que sinalizam a conjuntura

de metas e programas com os quais estão em andamento no município de Recife

concomitantemente a implementação Pnaic, o Plano Municipal de Educação de Recife

(PMER) com vigência de 2015 a 2025. Esse plano “trata do conjunto da educação, [...],

expressando uma política educacional para todos os níveis, bem como as etapas e

modalidades de educação e de ensino” (RECIFE. PMER, 2015, p. 19).

O PMER possui 20 metas, dentre as quais há duas que se aproximam do debate desta

dissertação, como a meta 2 que trata especificamente do atendimento ao ensino fundamental:

Meta 2 – Universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população

de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garantir que, no mínimo, 95% (noventa e cinco por

cento) dos estudantes concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano

de vigência deste PME (PMER, 2015, p. 104).

Esta meta 2 se alinha à faixa etária que o Pnaic abarca, que são as crianças maiores de

6 (seis) anos de idade, e da vontade que o município tem que os estudantes concluam esta

etapa da escolarização. Para efetivar esse objetivo que se mantém em comunhão ao Pnaic, o

município de Recife se utiliza inclusive do “Regime de colaboração com o Estado de

25

A equipe local foi composta pelos técnicos da Secretaria de Educação de Recife: pela coordenadora local,

pelos orientadores de estudos e pelos professores alfabetizadores que recebiam bolsas. Dentre eles apenas a

coordenadora local era solicitada a prestar contas durante o andamento do PNAIC.

26 Segundo informações da UFPE, em 2013, a prefeitura do Recife foi questionada sobre conceder o espaço para

a formação dos orientadores de estudos. Entretanto, a UFPE obteve como resposta da prefeitura não dispor de

um local capaz de comportar todos os orientadores de estudos do estado de Pernambuco. Então, Caruaru

passou a realizar as formações motivado pelo aquecimento no comércio que a concentração de pessoas durante

as formações iria proporcionar, além de proporcionar melhores condições aos seus orientadores de estudos.

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Pernambuco e com a União e em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde e de

Assistência Social, Ministério Público, Conselho Tutelar, dentre outras instituições” (PMER,

2015, p. 104).

Temos ainda no PMER a Meta 5 “Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final

do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental”, que é idêntica à Meta 5 do PNE (2014-2024) e

guarda estreita relação com os objetivos do Pnaic, indicando, assim, que de acordo com as

metas contidas no planejamento do PMER, esta rede se mantém afinada às metas de âmbito

nacional e se alinha aos seus programas e suas políticas, a exemplo, o Pnaic. A maior parte

dessas metas possui o regime de colaboração entre os entes federativos para organizar as

deliberações do plano. Tal característica representa a envergadura da gestão municipal de

Recife por este tipo de organização. Vejamos o Quadro 7:

Quadro 7 – Deliberações do PMER META DELIBERAÇÕES ESPECIFICIDADE

1 Universalizar, até 2016, a educação infantil na pré-escola

para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade e

ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma

a atender, no mínimo, 70% (setenta por cento) das crianças

de até 3 (três) anos até o final da vigência deste PME.

Universalização da educação infantil

na pré-escola para as crianças de 4

(quatro) a 5 (cinco) anos de idade;

2 Universalizar o ensino fundamental de 9 (nove) anos para

toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e garantir

que, no mínimo, 95% (noventa e cinco por cento) dos

estudantes concluam essa etapa na idade recomendada, até o

último ano de vigência deste PME.

Universalizar o ensino fundamental

de 9 (nove) anos para toda a

população de 6 (seis) a 14

(quatorze);

5 Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º

(terceiro) ano do ensino fundamental.

Alfabetizar todas as crianças, no

máximo.

Como verificamos, há três metas correlacionadas à meta nacional do Pnaic das 20

metas disponíveis no PMER (2015-2025), de alfabetizar até os oito anos de idade. Se

observarmos os trechos destacados em negrito, para dar conta dessa meta, o governo

municipal optou pela organização política pautada no regime de colaboração, o que nos

permite também, tendo este documento por referência, afirmar que essa organização de inter /

intra dependência federativa transita, claramente, do planejamento educacional da cidade do

Recife a LDB (9394), que é uma referência nacional.

Essa disposição colaborativa juntamente com a meta de alfabetizar as crianças até os

oito anos de idade encontrada no PMER situa o tipo de comunicação desejada na rede Recife

entre as demandas a nível nacional e nível local.

O PMER ainda em seu texto elenca os projetos e programas que revelam de que

maneira a rede planeja suas ações. Vejamos o quadro:

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Quadro 8 – Programas e projetos do município de Recife Programas e Projetos

Desenvolvidos

Objetivo Público

Proler - programa de

letramento do recife

Desenvolver habilidades de

leitura e escrita;

Estudantes da Educação Infantil dos

Grupos IV e V, e Ensino Fundamental

do 1º, 2º e 3º anos;

Correção do fluxo escolar Corrigir o fluxo escolar de

estudantes do ensino

fundamental com 2 ou mais

anos de distorção do ano que

cursam e a idade que deveria

estar cursando;

Os estudantes do Ensino Fundamental

Anos Iniciais;

Jornada ampliada de

aprendizagem

Promover oportunidades de

ensino e aprendizagem

diferenciadas aos estudantes

das escolas regulares e a todos

os estudantes das escolas

integrais, garantindo

progressão competente ao ano

seguinte, prevenindo a situação

de distorção idade/série e

efetivando as aprendizagens

relativas aos conteúdos

curriculares específicos em

Língua Portuguesa e

Matemática;

Estudantes do 4º, 5º, 8º e 9º Anos do

Ensino Fundamental.

Nas ondas da leitura Objetiva mobilizar escolas e

familiares para estimularem a

formação de estudantes

leitores e escritores;

Os estudantes e professores (as) do 1º ao

9º Anos do Ensino Fundamental.

Quali escola I e II

Melhorar a qualidade do ensino

e da aprendizagem dos

estudantes do Ensino

Fundamental, foco nos

componentes de Matemática e

Língua Portuguesa;

Professores e estudantes do Ensino

Fundamental Anos Iniciais, 4º e 5º Anos e

Anos Finais (6º ao 9º Anos);

Programa lição de vida/EJA

Reduzir o analfabetismo e

garantir a continuidade dos

estudos;

Jovens, adultos e idosos.

Os dados apresentados no quadro 8 pertencem ao PMER (2015-2025)

No Quadro 8, observamos 6 projetos e programas que constam no PMER que são

destinados à área da leitura, escrita e matemática, a alfabetização de modo geral. Ou seja, pelo

PMER, os investimentos nesta área aparecem como relevantes. Assim, além da adesão ao

Pnaic, o município vai revelando, através da análise do seu documento oficial, uma

preocupação com ações que buscam avançar nos processos de alfabetização das crianças e

jovens.

O PMER é considerado pelo grupo que o elaborou por:

Demandas atuais e as perspectivas para a educação de Recife nos próximos dez

anos, constituindo-se no Plano Municipal de Educação, com temas e conteúdos

específicos construídos e discutidos a partir da ampla participação da sociedade e

sob a coordenação da Secretaria Municipal de Educação (PMER, 2015, p. 16).

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Desse modo, vejamos a importância desse documento para os membros políticos que

estavam à frente da rede educacional e aprovaram esse plano.

O grupo que estava à frente no contexto de elaboração do PMER, em Recife, 2015,

era o prefeito Geraldo Julio de Mello Filho, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), vitorioso

nas eleições que teve o 1º turno no dia 7 de outubro e o 2º turno no dia 28 de outubro de 2012.

Como Secretário de Educação, estava Jorge Luis Miranda Vieira. Já o Pnaic foi aderido por

Recife no momento em que o prefeito era João da Costa, filiado naquele momento ao Partido

dos Trabalhadores (PT). Assim, o grupo que estava à frente para implementar e acompanhar o

Programa era a Secretaria de Educação liderada por outra orientação partidária.

Então, de acordo com o cenário político vivido entre o contexto de adesão e o de

implementação do Pnaic, percebemos que houve mudanças partidárias no cargo de prefeito

em Recife e consequentemente os grupos que acompanhavam João da Costa e Geraldo Julio.

O primeiro aderiu ao Pnaic, programa do governo federal e o segundo elaborou o PMER,

adotando projetos e programas destinados à alfabetização sob orientação de empresas como o

Instituto Airton Senna.

Para Saviani (2010, p. 385), a política de Estado “é uma tarefa de toda a sociedade,

na medida em que o Estado, enquanto guardião do bem público, expressa, ou deveria

expressar, os interesses de toda a sociedade”. Portanto, as metas do PMER coadunam para o

objetivo do Pnaic, que por sua vez estão em consonância com uma política de Estado que é o

PNE (Lei nº 13.005), mesmo que o grupo que elaborou o PMER tenha utilizado pacotes

privados para alfabetizar as crianças.

Na próxima seção retomaremos nosso objeto e discutiremos o processo de adesão ao

Pnaic. Buscamos esclarecer esse processo, o papel dos sujeitos e a perspectiva da colaboração

que aparecem no processo de adesão. Buscamos diferenciar e esclarecer a consolidação da

parceria e colaboração devido ao que explica Raic (2009, p. 92):

De acordo com a Constituição Federal de 1988, artigo 211, e a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional nº. 9.394, artigo 8º, ‘A união, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos

sistemas de ensino’. Entretanto, os documentos oficiais não trazem em seu texto

como deve acontecer essa colaboração, cabendo aos sistemas de ensino a sua

devida regulamentação. Nesse caso, vale a pergunta: o que se entende por

regime de colaboração? (grifos nossos).

Ainda sim, compreendemos que há possibilidade de consolidação da parceria pelo

cumprimento do que consta em documentos normativos do Pnaic, sem necessariamente tal

ação se configurar como colaboração nos pressupostos de colaboração recíproca.

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4.4 A implementação do Pnaic: elementos sobre sua origem e formas de adesão

Inicialmente, fomos à busca de identificar o interesse do governo federal em lançar o

Pnaic, a fim de contextualizar esse programa que é de âmbito nacional. Posteriormente,

traremos os elementos que estavam previstos nos documentos normativos do Pnaic válidos até

2015, que foram consolidados na parceria da implementação do Pnaic em Recife.

Conforme trecho da entrevista da Representante Nacional, que fez parte da

coordenação que formulou o Pnaic desde o início no MEC:

O Ministro queria naquele momento (logo após a divulgação dos dados do IBGE em

2010) uma proposta, porque a gente tinha tido resultados de 2005 desastrosos de

alfabetização. [...].E uma diferença regional dramática e ele inicialmente pensou

numa proposta para o Nordeste. [...].E ai a gente entrou em contato com o CEEL,

porque era o CEEL responsável pela formação do Pró-Letramento. [...]. Então

nós já tínhamos uma experiência nas universidades, a partir da colaboração

com o MEC de um programa muito bom, que tinha partido da formulação de

varias universidades, entre elas a Universidade Federal de Pernambuco, que desde

2003 se tentava implementar uma relação nova de formação de professores, não a

partir de programas isolados, trabalhando com energias...etc.. Mas criando uma rede

de formação de professores baseado nas universidades (Representante do MEC 1).

Duas coisas chamaram atenção neste trecho de entrevista: a primeira foi a contribuição

de um programa de sucesso que estava sob responsabilidade do CEEL (o Pró-Letramento)

sobre a experiência para a elaboração do Pnaic; a segunda foi a similaridade no formato de

colaboração, entre as universidades no Pnaic, herdada desse mesmo programa, mas que já

vinha apresentando dados insatisfatórios ao MEC. Então, como foi no Pró-Letramento, o

planejamento do Pnaic foi endereçado às universidades. Sobre isso, nossos entrevistados

ressaltam:

Todo programa tem um ciclo, aí vai chegando determinado momento que ele vai

precisando de uma renovação, e o Pró-Letramento foi um pouco isso. Ele tendeu

durante um período, satisfez e aí assim o mundo muda, o processo de educação

muda, a gente precisa fazer uma releitura, uma reavaliação, colocar... então, eu

entendo que o CEEL chegou com uma proposta, mas que também já era uma

ansiedade do MEC (Representante do MEC 2).

Então a gente pediu a eles para fazerem uma proposta, porque por coincidência o

CEEL tinha feito uma proposta que tava aprovada de focar o Pró-Letramento

nos anos iniciais, e já tinha uma ideia para essa produção (Representante do MEC

1).

Esses extratos de entrevistas confirmam que a proposta inicial do Pnaic transitava pelo

CEEL, com formato semelhante ao Pró-Letramento; inclusive, a Representante da UFPE

difere o Pnaic dos programas anteriores:

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83

Os programas que eu já vinha participando o Pró Letramento, o PAR, eles são um

pontapé para o PNAIC. Eles tinham a mesma lógica, tinham o mesmo

funcionamento, só que o Pacto o que ele trouxe de importante... porque outros

programas era por adesão, por exemplo: os estados que queriam participar, os

municípios que queriam participar do Pró-Letramento, do PAR, então era por

adesão, o Pacto chegou com uma nova característica. Entedeu? Agora a adesão

continuava, a ideia de adesão, só que de uma pactuação, onde não era diminuída a

responsabilidade dos municípios, não era diminuída a responsabilidade dos

estados (Representante da UFPE 2).

Os trechos acima nos levam a identificar a origem do Pnaic, fruto de uma proposta do

CEEL, que seria o Pró-Letramento. A contribuição do Pró-Letramento para o Pnaic foi com

relação ao formato de colaboração. Os formuladores do Pnaic, segundo a fala da

Representante do MEC, dentro dessa colaboração definiram precisamente que a adesão

precedia da divisão de responsabilidades. Ou seja, ao aderir ao Pnaic, cada ente “aderia”

responsabilidades. Essa adesão partiu da ideia que as responsabilidades dos estados não

facultavam as dos municípios. Porém, esta adesão não obrigatória ao Pnaic em Pernambuco

foi exitosa, abrangendo quase 100% dos municípios, entes que precisam recorrentemente de

apoio técnico e financeiro.

A proposta do Pnaic, em 2013, foi apresentada aos estados e municípios, e sua

elaboração foi comparada ao Paic do Ceará (SANTOS, N., 2015), o que pode ser visto como

outra influência para o surgimento do Pacto para além do Pró-Letramento, sendo o objetivo

do Paic, pela Lei nº 14.026, de 17 de dezembro de 2007:

Art.2º O Programa Alfabetização na Idade Certa – PAIC, tem por finalidade o

estabelecimento de condições necessárias, para que todos os alunos cearenses

cheguem ao 5º ano do ensino fundamental sem distorção de idade, série e com o

domínio das competências de leitura, escrita e cálculo adequados à sua idade e ao

seu nível de escolarização.

Porém, um dos trabalhos encontrados e analisados no levantamento da produção dessa

dissertação, o de Santos, N. (2015), que realizou uma comparação entre o Paic e o contexto

histórico de surgimento do Pnaic apresenta um estranhamento quanto à falta de clareza dessa

relação na origem do Pnaic. Na verdade, ela mesma reitera “a estranheza que lhe causa a

ausência dessa referência nos documentos, bem como a necessidade de investigação do

porquê dessa falta” (SANTOS, N., 2015, p. 61).

Avançando na compreensão sobre o contexto de elaboração do Pnaic, depois que se

definiu a alfabetização como prioridade do Pnaic, a representante afirma:

E aí começou-se a se ter a ideia primeiro de como era a proposta e coisa mais

importante: como é que a gente articulava isso com as secretarias do estado e

com as secretarias municipais. Foi no sistema de adesão, né? ao programa. Pois

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é.... Primeiro do lado das universidades, a partir da proposta inicial do CEEL, se

chamou todas as universidades que já trabalhavam no Pró-Letramento para

participar da elaboração do programa. A partir desse momento não só proposto pelo

CEEL. Teve participação de até 15 universidades (Representante do MEC 1).

Ou seja, o surgimento do Pnaic aconteceu em um contexto de relações entre o MEC, o

CEEL e outras universidades que foram convidadas para se envolverem no processo, num

movimento em que um determinado programa (Pró-Letramento) apresentou limites e precisou

ser superado por uma nova proposta (o Pnaic). A decisão pelo Pnaic como novo programa foi

seguida de um processo de sensibilização para os estados e municípios entenderem melhor a

proposta, seguida da abertura do SisPacto:

Depois dessa sensibilização. A gente abriu um sistema, que foi o SisPacto. Foi um

trabalho construir porque tinham, vamos dizer assim, ser capaz de agregar os

municípios, eles se reconhecerem, na hora que eles entrarem, que aderiram o

programa. Então se aderiu ao programa, ele dizia que estava assumindo as

responsabilidades (Representante do MEC 1).

A preocupação expressa pela Representante do MEC está vinculada a que os entes

federados pudessem entender e assumir suas responsabilidades frente ao Pacto. Logo após

fazer a adesão, o ente firmou o compromisso, sabendo que o Pnaic disponibilizou uma

legislação que orientaria a responsabilidade de cada ente.

Sobre o processo de formação, as duas Representantes do MEC apontaram as

universidades como promotoras do processo inicial de formação do Pnaic. No caso do nosso

campo de pesquisa que é Recife, a UFPE era responsável.

Na edição de 2014 (porque em 2013, a UFPE, por exemplo, era responsável por três

estados: João Pessoa, Alagoas e Pernambuco), cada universidade já era

responsável por sua formação, no estado. Mas quando abre a edição do programa

no ano, existe um processo interno, de universidades que vão dar formação, colocam

o projeto dentro do sistema, que a gente analisa quantos formadores? quantos

professores? (Representante do MEC 2).

Além disso, na UFPE se situa o CEEL:

O CEEL também era responsável pelos jogos de alfabetização. Por que tinha

sido produzido em parceria com o MEC também. Ele fez uma proposta muito no

perfil que o Ministério queria que era focado em sala de aula, com materiais assim,

que a professora pudesse utilizar em tudo, tudo o que ela sabia. Sobretudo os

materiais que já tinha parceria com o MEC com o programa do livro didático, o programa da biblioteca escolar, biblioteca do professor. Todos os programas

que o MEC gastava milhões...chegava na sala de aula e não tinha um foco nessas

utilizações... (Representante do MEC 1).

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85

Interessante destacar que uma das preocupações contidas no Pnaic foi a de articular o

Programa com outros que oferecessem material didático para as escolas, especialmente

material bibliográfico, conforme é possível destacar na fala acima. Para articulação entre os

entes e ainda nos primeiros contatos com estados e municípios, verificamos a parceria com o

Conselho Nacional de Secretários da Educação (CENSED) e com a União Nacional dos

Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME) como relevante no percurso inicial do Pnaic

visto como um elemento importante para a Representante do MEC e para a Representante da

universidade, respectivamente:

Depois... nessa etapa que foi fundamental, de sensibilização, tivemos

várias reuniões com o CONSED, que é o conselho de secretários de

educação estaduais e com a UNDIME também (Representante do MEC 1).

Quando a gente começava, sempre que a gente começava, a gente convidava

UNDIMES e secretarias municipais, então a gente começava com uma reunião com

elas, então aí nós articulávamos quais eram as necessidades. A gente ia muito

também para a reunião das UNDIMES, porque que a UNDIMES convocavam para a

gente discutir?, quais são os problemas nos municípios ? como eles não estão

conseguindo operacionalizar ?, porque que esta difícil de mandar ?...e paralelamente

a isso a gente tinha um Comitê Gestor do Pacto, que era formado pela

Representante da UNDIME, pela Representante da secretaria de educação, pelas

coordenações geral e adjuntas do PNAIC (Representante da UFPE 2).

Esses fragmentos são interessantes porque anunciam o tipo de vínculo entre a equipe

técnica do Pnaic a nível nacional, UFPE e entidades sociais. Essa parceria com entidades

sociais deveriam chegar aos estados, dado o Art. 10 da Portaria nº 867, em que a “UNDIME

deve prezar pela mobilização e a proposição de soluções para temas estratégicos, no âmbito

do estado” (BRASIL, 2012a). Ainda no Art. 10:

d) Coordenação Municipal: a cargo da Secretaria Municipal de Educação,

responsável pela gestão, supervisão, monitoramento das ações do Pacto no âmbito

da rede municipal e pela interlocução com a coordenação estadual.

II - definição e disponibilização, pelo MEC, de um sistema de monitoramento das

referidas ações do Pacto;

III - promoção, por meio do Conselho Municipal, dos conselhos escolares, dos

conselhos de acompanhamento e controle social da educação e organizações da

sociedade civil, do acompanhamento e monitoramento das ações do Pacto, bem

como de todas as demais ações de caráter suplementar com impacto direto na

aprendizagem e permanência da criança na escola;

IV - fortalecimento dos conselhos de educação e escolares envolvidos no

acompanhamento e monitoramento das ações do Pacto, visando garantir as

condições necessárias para o seu pleno e eficaz desenvolvimento;

V - mobilização da comunidade escolar, dos conselhos de educação e da

sociedade local em torno das ações do Pacto (BRASIL, 2012a, grifos nossos);

Sendo assim, verificamos aparatos normativos do Pnaic que incluem estas diferentes

associações como também incluem os conselhos e outros órgãos que segundo a portaria nº

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867/2012 são de “acompanhamento e monitoramento das ações do Pacto, bem como de todas

as demais ações de caráter suplementar com impacto direto na aprendizagem e permanência

da criança na escola” (BRASIL, 2012a).

Após essa discussão ampla sobre a origem do Pnaic, passaremos a focar a

implementação do mesmo no Recife.

Um dos documentos que nos propusemos nessa dissertação a analisar foi o termo de

adesão do Pnaic em Recife, porém os entrevistados não souberam informar detalhes do termo.

Então tivemos apenas os documentos normativos como referência em que buscamos através

das entrevistas elementos que nos ajudassem a entender o processo de adesão do município de

Recife ao Pnaic.

Questionando sobre esse processo de adesão, uma das entrevistadas informou-nos que

É feito tudo no sistema. Tudo no Sispacto. O primeiro ato do secretario de educação

assinar é indicar o coordenador. Aí a partir daí quem ia ficar trabalhando era o

coordenador local e indicando os orientadores... (Representante do MEC 1).

O termo de adesão estaria no SisPacto, que é uma ferramenta de monitoramento que

todos os membros que atuam no Pnaic deveriam ter acesso. Agora nos pareceu que isso não

ficou claro para os membros que gerenciavam o Pnaic. Vejamos:

O que é esse processo? a adesão? já recebia dentro do sistema, o projeto com a

parte orçamentária e ai cruzamos os nomes das pessoas que havia sido selecionado.

O primeiro termo de adesão não era no sistema. A primeira adesão, se eu não estou

enganada foi de três anos, que se concluiu no final de 2014. Então em 2015 foi tudo

pelo sispacto, pelo sistema. Eu não me lembro de se a adesão esta salva no sistema.

Não, o projeto a gente tem. Agora o termo de compromisso é que eu não me

lembro se tem cada prefeitura fez a sua. O projeto que a Universidade manda fica

no sistema, ele fica lá registrado, agora o que eu não me lembro de é se depois de

2014 o termo de adesão ele fica dentro do sistema ou ele esta físico, isso é que eu

não consigo. Agora que existe o modelo existe, assim, assinado tudo. Inclusive

tinha alguns casos de prefeituras que pela troca de prefeito, eles não sabiam onde

estavam, a gente mandou cópia de adesão para eles (Representante do MEC 2).

Na adesão, exatamente, porque tem adesão tem um... um contrato dessa adesão né,

se firma um acordo e essas partes sabem cada uma, qual é a sua responsabilidade

(Representante do UFPE 3).

Vejamos que o próprio desenho do Pacto mudou. Na segunda versão, a adesão passa a

ser diretamente no Sispacto. No entanto, também é possível observar que os elementos

específicos do termo de adesão não são de conhecimento das Representantes do MEC e da

UFPE. Inclusive, um Orientador de estudos de Recife pondera que “a prefeitura faz a adesão,

ela deixa lá nos adendos que custearia a ida do professor aonde fosse à formação”

(Orientador de estudos), sujeito que pertence à equipe técnica da Secretaria de Educação de

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Recife e que não nos detalhou elementos contidos no termo. Além disso, talvez por não ter

clareza sobre o que se trata o termo, ele põe em dúvida a efetivação pela Secretaria de

Educação de Recife do que se firmou na adesão ao Pnaic. Ainda assim, a Representante do

MEC especifica a relevância do termo de adesão:

A parte de sistema de adesão deveria ser à base de todo sistema de colaboração.

Porque se eu tenho autonomia dos entes federados, eu só posso trabalhar junto, se a

pessoa decide que vai participar daquela colaboração, não é verdade?

(Representante do MEC 1).

Vejamos que a Representante do MEC levanta uma relação de encadeamento: ‘se há

adesão, há interesse em colaborar’. Mas essa adesão só esteve ao alcance do gestor municipal

que aderiu em 2012 o termo, pois para os sujeitos que pertencem ao MEC, a UFPE e o

Orientador de estudos desconhecem o termo de adesão. Esses sujeitos desconhecem os

acordos contidos no termo.

O Pnaic foi aderido em meados de 2012 por uma conjuntura política diferente da que

implementou o Programa. Essa transição política PT (2012) – PSB (2013) nos pareceu ter

influenciado na clareza e importância do Pnaic para os sujeitos políticos que ficaram

responsáveis por implementar o Programa em Recife.

Muito embora possamos considerar que tais informações seriam importantes para

manutenção da transparência do processo, constatamos, sobretudo, fragilidade na

organicidade entre quem participa da formulação e quem participa da implementação dessa

política pública em Recife, relação necessária ao fortalecimento das políticas de estado. Para

Andrade (2012, p. 329),

Políticas de Estado são aquelas que envolvem mais de uma agência do Estado,

passando em geral pelo Parlamento ou por instâncias diversas de discussão,

resultando em mudanças de outras normas ou disposições preexistentes, com

incidência em setores mais amplos da sociedade.

Com isso, políticas de estado ganham organicidade por vincular a participação de

diferentes extratos da sociedade, com finalidade de que se perdurem seus efeitos nas políticas

públicas.

Inclusive, os professores alfabetizadores tiveram sua adesão (“convite”) de acordo

com o resultado apontado na dissertação defendida no fim de 2016 de Santos, R., (2016, p.

46) de forma que “A condição de adesão não está explícita nos documentos do MEC” para

que o professor alfabetizador de Recife conhecesse os critérios antes da adesão. Dados dessa

dissertação revelam ainda que

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Foi feita uma consulta através de e-mails, aos professores sobre o interesse ou não

em participar das formações do PNAIC. Os professores que revelaram não ter

interesse, ou condições de participar, não foram inscritos, porém, muitos professores

não responderam a consulta. Não sabemos se não responderam por não terem tido

acesso à consulta ou se não tiveram interesse em responder. Esta ausência de

resposta fez com que muitos professores que não tinham interesse ou

disponibilidade para participar das formações fossem inscritos. Não poderíamos

deixar de inscrever quem não se pronunciou pelo sim ou pelo não (SANTOS, R.,

grifos nossos, 2016, p. 46).

Assim, muitos professores que estavam no ciclo de alfabetização na época foram

inseridos involuntariamente no Pnaic. Aliás, as condições de “adesão” de Recife ficou apenas

sob domínio do prefeito que estava à frente do município na época, em 2012. Os demais

sujeitos que compõem a Secretaria de Educação do Recife, os do Pnaic, não dispunham de

informações sobre este termo.

A participação dos professores alfabetizadores, que se constitui por adesões, foi um

aspecto importante na parceria da implementação do Pnaic em Recife dada a escolha sobre o

dia das formações dos professores alfabetizadores ser aos sábados. Isso implicou na adesão e

permanência dos professores alfabetizadores no curso de formação oferecido pelo Programa.

Uma das principais obrigações dos municípios e estados, no Art. 14 e no Art. 13,

respectivamente, prevista na portaria nº 867/2012, é de garantir a participação dos professores

alfabetizadores nas formações:

Fomentar e garantir a participação dos professores alfabetizadores de sua rede de

ensino nas atividades de formação, sem prejuízo da carga-horária em sala de aula,

custeando o deslocamento e a hospedagem, sempre que necessário (BRASIL,

2012a).

A Representante local sobre a escolha do dia de formação informa que

Tinha de outro jeito, mas o próprio MEC, nas primeiras palestras, que ele foi dando,

ele sinalizou para o sábado, para não comprometer o dia letivo. É claro que a rede

poderia ter abraçado e ter dito: não, eu vou fazer de acordo com minha realidade, ele

teria essa autonomia, mas 2013 foi um ano muito atípico, não é? Foi um ano de

mudança de gestão, foi um ano político, de adesão, a adesão foi em 2012, em 2013 a

gente estava com uma nova gestão na rede, entendeu ? foi um ano bem conturbado

(Representante local 1)

Como vimos, não foi uma “escolha” do município de Recife as formações serem aos

sábados; ocorreu por orientações do MEC. Essa orientação dada pelo MEC favorece a

desvalorização docente desses professores, pois ao trabalharem aos sábados, eles têm seus

assuntos particulares cerceados. Sobre a discussão da precarização do trabalho docente, para

Souza (2015, p. 92),

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Os programas de formação continuada de professores surgem para melhorar os

resultados da alfabetização nas avaliações externas, ou seja, para mostrar para a

sociedade que os índices educacionais estão melhorando, que as crianças estão

aprendendo dentro da meta estipulada pelo governo, mas não consideram as

condições de trabalho das quais os professores gozam para realizar seu trabalho e,

assim, contribuir para que essas metas sejam atingidas. Esses professores, muitas

vezes, precisam dobrar ou até triplicar sua jornada de trabalho para compensar os

baixos salários, enfrentam salas de aulas superlotadas, alunos desrespeitosos,

infraestrutura precária e, além de tudo isso, precisam se submeter a programas de

formação continuada que não levam em conta suas necessidades.

Essas formações continuadas fora do horário do trabalho são vinculadas pelas políticas

educacionais ao alcance de metas, o que de alguma maneira acaba pressionado os professores

a se alinharem a esse tipo de política. Mas como bem apontou Souza (2015), as formações

continuadas fora do horário do trabalho são um dos vários fatores que desestimulam a atuação

dos professores.

As adesões aos programas como o Pnaic que oferecem recursos financeiros, muitas

vezes acontecem com certa indução de ações. Sobre essa indução, Silva (2010, p. 7) infere

que

As políticas públicas, sobretudo as de financiamento da educação, são responsáveis

diretamente pela sobrevivência de municípios com poucas opções estruturais para o

atendimento das faixas educacionais que lhes cabem – a educação infantil e, em

muitos casos o ensino fundamental – sem a intervenção direta da União.

Essas políticas que partem da indução de suas ações, por vezes, reforçam as limitações

dos municípios, que já contam com limitações financeiras. Quer dizer, se por um lado há

ofertas de bolsas e materiais didáticos aos professores e formação, por outro, limita e controla

os sujeitos locais. Vejamos as repercussões:

Aí eu só tinha o sábado e o domingo para colocar as coisas em dia. Organizar né a

minha vida? e quando começou o PNAIC, ficou aquela coisa muito cansativa, por

conta de você ter uma demanda de duas redes, e ainda o sábado que era as cobranças

dos trabalhos.Para a maioria dos professores do PNAIC não continuar... foi por

canta de ser aos sábados (Professora alfabetizadora 1).

Na verdade o grande problema do PNAIC era aos sábados, apesar de ser

remunerada, a remuneração não pesava tanto quanto o dia de sábado, teve gente que

saiu por conta disso (Orientador de estudos).

O PNAIC é por adesão, é aos sábados, infelizmente a gente não conseguiu fazer com

que todos os professores aderissem, por conta da especificidade aos sábados, outros

tem suas demandas (Representante local 1).

Essa escolha pesou na adesão e na continuidade dos professores alfabetizadores do

município de Recife no Pnaic, como bem explicou um Orientador de estudos de Recife que

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está desde 2013 no Programa: “A gente pediu uma vez: ‘será que a gente pode fazer no dia de

semana?’ Algumas podiam outras não, tinha gente com horário em outra rede, aí não dava,

porque tem professor que trabalha os três horários” (Orientador de estudos). Tivemos ainda a

Professora alfabetizadora relatando que:

Eles diziam porque como era um projeto que vocês estão recebendo uma bolsa, e aí

se for tirar todos os professores de sala de aula vai ter que ter uma demanda muito

grande de professores para substituir, entendeu ? só que se for levado para o lado

pedagógico o professor tá fazendo algo que vai melhorar a sala de aula (Professora

alfabetizadora 2).

Tal decisão por sábado se expressou como outra fragilidade (por falta de professores

para substituir, possivelmente durante a semana, os que iam fazer a formação) na

implementação do Pnaic no município de Recife. Mas para a Representante da UFPE,

membro que gerenciava o conjunto de município de Pernambuco, diz:

Essa organização da formação não eram dadas pela gente. Essa organização dos

encontros nos municípios eram dadas pelos próprio municípios (de Pernambuco).

Então por exemplo, tinha município que começava a fazer as formações no sábado.

Tinha município que fazia noturno (Representante da UFPE 2).

Interessante perceber que a Representante da UFPE foi enfática ao apontar a

responsabilidade sobre os dias de formações. Observamos, por tabela, os transtornos que os

municípios também vieram a enfrentar nessa organização. Para Silva (2010, p. 16), “Os

programas além de verbas carregam consigo sistemáticas que, em geral, denotam uma veia

gerencialista da educação pública, provocando certo gradiente de clientelização tanto de

gestores escolares quanto municipais e, quiçá, estaduais”.

Nesse sentido, essa indução ao invés de ampliar o horizonte dessa subnacionalidade, o

cerca impecavelmente com obrigações e restrições.

4.5 A realidade da implementação: materiais, professores, formação

As ações do Pnaic, além de envolverem os membros da cadeia de formação, seriam

“uma articulação com todos os envolvidos da escola” (Representante do MEC 1). Muito

embora os professores alfabetizadores tivessem suas inscrições no Pnaic compulsoriamente, a

Representante do MEC indicou precisamente os destinos das ações do Pnaic:

E desde primeiro momento a ideia é que deveria ter formação do PNAIC para os

gestores e coordenadores pedagógicos nas escolas. Mas é o aprendizado é lá na

ponta. Quando chegou lá na ponta ninguém entendeu que o direito de aprender

até os oito anos não é responsabilidade do professor que está lá, mas da escola

como um todo (Representante do MEC 1).

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A fala da Representante do MEC se alinha ao que consta na portaria nº 867/2012, no

Art.10, inciso I, que a coordenação municipal do Programa, que é formada pela Secretaria

Municipal de Educação de Recife, responsável pela gestão, supervisão, monitoramento das

ações do Pacto no âmbito da rede municipal e pela interlocução com a coordenação estadual,

deve promover a “mobilização da comunidade escolar, dos conselhos de educação e da

sociedade local em torno das ações do Pacto” (BRASIL, 2012a, grifos nossos).

Então a escola seria um espaço importante para implementação das ações do Pnaic. E

uma das ações que estavam previstas nas escolas foram as distribuições de materiais didáticos

pelo MEC; pela resolução nº 4 de 27/02/2013 (BRASIL, 2013b), Art. 7, inciso i, cabe

fornecer às redes de ensino que aderirem às ações do Pacto os materiais didáticos, literários,

jogos e tecnologias previstos nos artigos 6º, 7º e 8º da Portaria MEC nº 867/2012:

Para mim a história mais comum era a falta de apoio dos municípios, para que os

orientadores dessem continuidade à formação, isso é recorrente na maior parte dos

cursos de professores em exercício. Escola de Gestor e tudo... atraso na

distribuição dos materiais pelo MEC, então ocorreram alguns atrasos assim.

Porque no primeiro ano foi porque a gente encerrou muito tarde até fazer a

licitação, chegar e distribuir. Depois no segundo ano também atrasou, então

como demorou muito a chegar nos municípios, as universidades ficou difícil,

ficou difícil, esse é ... (Representante do MEC 1).

Primeiro ano só chegou depois, a gente começou sem material didático né, acho

que pelo menos a primeira aula, primeiro mês, mas depois chegou né, tudo certinho,

ai o último ano ao invés de 10 livros, como só houve cinco encontros chegaram os

dez livros (Professora alfabetizadora 2).

Além dos atrasos do MEC no envio dos materiais utilizados pelos professores

alfabetizadores de Recife, quando eles chegavam às escolas, eram organizados de tal maneira

que impediam os professores de utilizá-los. Essa organização ocorria de tal maneira que de

acordo com trechos das entrevistas:

Eu lembro que esses cadernos eles, os professores alfabetizadores, não tinha

acesso ao Kit completo. Eles tinham acesso a depender da situação deles, eles

estavam no ano recebiam do ano, entendeu? E vinham um numero a mais para

ficar na escola, acho biblioteca alguma coisa assim. Mas era o MEC que mandava

direto para os municípios. O ano passado que teve uma reprodução de cadernos

didáticos pela editora daqui, e aqui a gente mandou fazer e entregou. Mas

geralmente é o MEC que manda para as cidades. Foi uma excepcionalmente em

2015 a reprodução dos cadernos pela UFPE, porque antes viam direto do MEC

(Representante da UFPE 3);

Aí eu senti assim, muitos relatos nacionalmente, que diretora de escola, muitos

materiais que eram previstos para serem usados na formação do Pacto, os

professores não tinham nem informação que tinham chegado na escola [

material necessário aos professores alfabetizadores cursistas]. [...] eles chegaram

à formação e disseram: “olha aquele jogo de alfabetização que chegou na escola, foi

distribuído em 2011, o curso começou em 2013, então dois anos depois...” [ a

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entrevistada dá risadas]. “A minha escola não tem não”. Aí a pessoa disse: Tem...

(Representante do MEC 1).

Então, temos a explicação de membros de cada esfera da cadeia de formação sobre a

organização do material destinado à implementação do Pnaic em Recife. Inclusive uma

Representante do MEC confirma essa ocorrência:

Eles chegaram no almoxarifado da escola, a caixa lacrada do jogo de alfabetização.

Ou então os pacotes do PNLD, de livros lindos, maravilhosos numa caixa fechada

na sala da diretora porque ela disse que não podia estragar. Então, de repente,

teve diretor que se incomodou: como é que é isso vem a universidade agora para

dizer que o material tem que ficar onde ???... quando foi dito que o material de

formação. [...]. Não foi muito poucas diretoras não. Então, a gente sabe que ainda

tem uma relação patrimonialista da diretora com os materiais, com a escola, né?

(Representante do MEC 1).

Pelo que podemos entender de acordo com o que foi colocado nas entrevistas, nas

escolas os materiais eram administrados pela gestão escolar, que até 2015 não participava das

formações do Pnaic. Essa ausência de “parceria” entre os professores alfabetizadores de

Recife e a gestão escolar na administração dos materiais didáticos é reflexo do foco das ações

do Pnaic. Um orientador de Recife afirma que

A gente [orientador] trabalhava focando no professor, a gente não estava tão focado

na escola. [...]. O PNAIC não projetou a escola, projetou aquelas turmas, é muito

difícil trabalhar assim. [...]. Não era a escola toda, não eram todos os 3º anos que

estavam lá. Nos não visualizamos por escola, e sim por turma (Orientador de

estudos).

O foco das ações sendo nos professores alfabetizadores provocou desarticulação entre

os demais segmentos da comunidade escolar nas decisões sobre as ações do Pnaic. No caso de

Recife, isso ficou evidente, pois além dos materiais didáticos serem restritos à administração

escolar, havia também um vácuo nas relações entre gestão escolar, coordenação pedagógica e

professores alfabetizadores para a troca de experiências sobre o Pnaic nas escolas,

considerando-se que “se não for à colega de escola para conversar, ninguém vem olhar o

nosso trabalho. Se o professor não se colocar, como o pessoal da escola fica sabendo desse

Pnaic? no caso, conteúdo mesmo” (Professora alfabetizadora 1).

Um elemento importante que o MEC sugeriu27

para auxiliar no desenvolvimento das

ações do Pnaic nas escolas foi o Núcleo de Alfabetização, mas esse Núcleo não chegou a se

estruturar nas escolas de acordo com todos os entrevistados. Outra professora relata que

27

Verificar maiores detalhes sobre a formação dos núcleos de Alfabetização em manual do Pnaic (2012b, p. 03).

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“encontros mesmo não” do Pnaic na escola em que trabalhava (Professora alfabetizadora 2),

bem diferente do planejamento do MEC:

Então assim, se eu tenho uma secretária que me apoia, se eu tenho um

coordenador pedagógico na minha escola, que esta atento, que esta o tempo

todo trocando, que tá me ajudando no processo, se eu tenho políticas... não

políticas de formação esperando do governo federal que... mas políticas que

internas dentro do município, né?. Dentro das escolas, de funcionamento de tudo

isso... eu tenho um outro grupo de professor, eu tenho professores mais estimulados,

eu tenho professoras mais motivadas, eu tenho todo um investimento, mas eu não

posso esperar que o professor sozinho dê conta de tudo... (Representante do

MEC 2).

Claro que quando você chega para o professor e diz eu vou dar para sua sala de aula,

um kit de jogos, vou dar para você um material de formação, obvio que isso é

positivo para eles. [...]. O coordenador local e os professores, ninguém vem falar

com o coordenador da escola, nem com o diretor da escola, faltou muito na

formação do coordenador local. Não gosto muito da palavra, mas vou usar:

empoderado pela secretaria de educação, para estabelecer uma relação seria,

profícua com a gestão da escola e a coordenação pedagógica, então ele tinha

que ter pelo menos uma vez por mês uma reunião, ele é responsável por

quantas escolas aquele professor orientador ? por 10 ? por 20? Ele tem que ter

uma reunião uma vez por mês reunião com os coordenadores ou com os diretores da

escola ou a cada dois meses. Para acompanhar o que esta acontecendo a cada dois

meses, para informar para esse diretor, o coordenador pedagógico quais são os

passos do Pacto, o que vai acontecer com o professor, à constituição dos cantinhos

de leituras, como é que isso esta funcionando? (Representante do MEC 1).

Assim, no âmbito das parcerias para implementar as ações do Pnaic, que é no chão da

escola, evidentemente que o Representante do MEC se pronuncia em favor de maiores

aproximações entre o coordenador local, professores alfabetizadores e o coordenador da

escola, dada compreensão, talvez, a proximidade com o Ministério da Educação, última

instância que valida o Sispacto para o repasse das bolsas de estudos.

A portaria nº 867/2012 ainda previa no Art. 14, Inc. IV, que o município fosse

“gerenciar e monitorar a implementação das ações do Pacto em sua rede” (BRASIL, 2012a).

Para uma Professora alfabetizadora quando questionada sobre o acompanhamento da

coordenação nas escolas: “Não [sobre visitas as escolas], a gente tem uma inspeção, uma

técnica pedagógica, mas que trata dos assuntos pedagógicos da rede mesmo, nada tem a ver

com o Pnaic” (Professora alfabetizadora 2). Dessa forma, verificamos que a desarticulação

não se limitou à administração escolar sobre os materiais didáticos e a interação entre os

membros da comunidade escolar; a própria coordenação local do Pnaic em Recife esteve

ausente das escolas. Para Santos (2006, p. 44),

O processo de descentralização da educação impostos pela política brasileira é

classificado, [...], como sendo ‘economicista-instrumental’, devido as suas ações se

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constituírem muito mais em transferência de responsabilidades para com a educação

para níveis cada vez mais micros, inclusive a escola, do que de partilha de poder.

Esse concepção economicista-instrumental partilha da concepção de diminuição da

ação do Estado, em que a escola que é o local de implementação da política pública “é

considerado como uma unidade administrativa a quem cabe colocar em ação políticas no nível

do poder central” (AZEVEDO, 2002, p. 56), sendo a escola um espaço segregado ao

Programa, objeto dessa dissertação.

Essa desarticulação entre a política educacional e a escola se configura como exemplo

de descontinuidade dos investimentos do Estado na educação, como já tivemos na história da

educação no Brasil. Na colonização, a coroa portuguesa, para manter o ensino, enviava verbas

para a manutenção e a vestimenta dos jesuítas; não para construções das escolas (SAVIANI,

2008). No Primeiro Império (1827), as províncias ficavam encarregadas pelo ensino primário,

todavia não dispunham de estrutura suficiente, um dos fatores que contribuíram para a não

educação pública nessa época.

Dessa forma, ao que nos pareceu mesmo havendo documentos normativos do Pnaic

que preveem articulação entre os membros da comunidade escolar e acompanhamento da

equipe local, os professores alfabetizadores em Recife estiveram às margens nas escolas

durante a implementação até 2015.

Isso quer dizer que o texto da política difere da política implementada, porque “a

interpretação da estrutura normativa de uma política pública é influenciada pelas concepções

de mundo dos atores que irão executá-la e de suas condições materiais. Desse amálgama

nasce à ação, a política pública de fato” (LIMA; D'ASCENZI, 2013, p. 105).

4.6 A parceria estabelecida no Município de Recife – Programa Mais Educação

Em meio a este cenário em que o Programa vinha sendo efetivado, o MEC orientou

aos estados e municípios que promovessem a articulação do “Mais Educação” às ações do

Pnaic pela portaria nº 867/2012. Vejamos o Art. 14 dessa portaria:

X - promover a articulação das ações do Pacto com o Programa Mais Educação,

onde houver, priorizando o atendimento das crianças do 1º, 2º e 3º ano do ensino

fundamental como garantia de educação integral e complementação e apoio

pedagógico àquelas com maiores dificuldades (BRASIL, 2012a).

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O MEC solicitou por uma de suas portarias básicas que os estados e municípios se

articulassem com o programa Mais Educação, para que esse desse suporte às escolas que

apresentassem dificuldades, como bem confirmou a Representante do MEC, “muitas escolas,

tem o Mais Educação como apoio pedagógico [...] como é que esta dialogando com o Mais

Educação?” (Representante do MEC 1). Para Leclerc e Moll (2012, p. 106),

Desafios advindos da alfabetização no primeiro ciclo do ensino fundamental, dos

jovens de 15 a 17 anos retidos no ensino fundamental, das Escolas de Fronteira, da

Escola Aberta e do Ensino Médio Inovador como tarefas que nos impõem um fazer

orgânico nessa ação indutora. Portanto, a experiência constituída em termos de

ampliação de jornada escolar, nestes anos de trabalho no Programa Mais Educação,

pode ser enriquecedora tanto do ponto de vista da construção compartilhada de uma

política pública, quanto em relação aos inéditos viáveis produzidos em termos de

currículo escolar com a legitimação de saberes e práticas sociais e culturais

“normalmente” estranhas à escola.

Entretanto, quando perguntamos aos sujeitos locais qual era a relação entre o Mais

Educação na implementação do Pnaic em Recife, obtivemos como respostas que:

Não. Eu estava numa escola que tinha o mais educação e o PNAIC e não existia uma

relação entre o eles (Orientador de estudos).

Não. Porque eu acho que o PNAIC esta sendo implantado aos poucos, ele ainda não

foi implantado na integra. Porque tem eixos, por exemplo, realmente, se eu não me

engano o Mais Educação é sinalizado (pelas portarias iniciais do PNAIC). Só que

está vindo orientações específicas agora em 2016, ta entendo? Também a questão do

eixo Gestão e Mobilização, que ao meu vê, é um eixo que não colocado em prática,

na integra, entendeu? . No ano passado começou aquele caderno todo... Que eu acho

que foi uma ação muito boa, mas muito pequena, não teve aquele desdobramento

todo... Eu acho que muitas coisas, eu acho que muitas coisas do PNAIC vão se

expandir. Mas a relação entre o Mais Educação e o PNAIC nas escolas em

Recife não tem não (Representante local 1).

Antes do PNAIC tinha o Mais educação aqui que vinha umas meninas e a gente

retirava os alunos de sala. E ela pegava um aluno pequeno com três alunos, aí no

segundo momento ela levava aquele aluno e já trazia mais três. E agente viu que

surtiu efeito. Que acriança despertou. Mas agora, relacionada as ações do PNAIC,

não vi. Hoje, é diferente de você esta com um turma grande. Porque ali você tem

vários níveis, o barulho. Aí tem aqueles que estão alfabetizados e termina rápido.

Tem aquele que esta intermediário, tem aquele que esta sem saber quase nada

(Professora alfabetizadora 1).

Como verificamos, estes trechos de entrevistas são de segmentos diferentes da cadeia

de formação, onde a falta de parceria entre o Mais Educação na implementação do Pnaic nas

escolas em Recife permeou os trechos. A recomendação aos estados e municípios do MEC na

implementação do Pnaic em Recife nos remonta à discussão sobre o contexto de surgimento

do Mais Educação vinculado ao PDE.

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O programa Mais Educação é um dos programas do PDE, plano que Saviani (2007, p.

1233) denominou de guarda-chuva de quase todos os programas do MEC. Este plano que deu

origem ao Mais educação, era:

Para dar organicidade e coesão aos vários programas que já vinham sendo

desenvolvidos, pela União, o governo Lula da Silva, institui o Plano de

Desenvolvimento da Educação (PDE), que, de acordo com documentos elaborados

pelo MEC, pode ser considerado um plano executivo ou um conjunto de programas

que visam dar consequência às metas estabelecidas pelo Plano Nacional de

Educação, objetivando, sobretudo, a melhoria da educação brasileira (NETO et al.,

2014, p. 61).

O PDE, plano que contemplou o Mais Educação, segundo Saviani (2007, p. 1239),

Ele se define, antes, como um conjunto de ações que, teoricamente, se constituiriam

em estratégias para a realização dos objetivos e metas previstos no PNE. Com efeito,

o PDE dá como pressupostos o diagnóstico e o enunciado das diretrizes,

concentrando-se na proposta de mecanismos que visam à realização progressiva de

metas educacionais. Tive, porém, que introduzir o advérbio “teoricamente” porque,

de fato, o PDE não se define como uma estratégia para o cumprimento das metas do

PNE. Ele não parte do diagnóstico, das diretrizes e dos objetivos e metas

constitutivos do PNE, mas se compõe de ações que não se articulam organicamente

com este.

O Mais Educação parte de um contexto de formulação que ignora a articulação como

proposta do PNE (Lei nº 13.005), que é uma política de Estado (SAVIANI, 2007). Logo, essa

desarticulação é refletida nas escolas que aderem a esses programas.

Dessa forma, o Mais Educação esteve longe de ser uma alternativa aos professores

alfabetizadores nas dificuldades mediante implementação do Pnaic, de modo que na medida

em que as barreiras na efetivação das ações do Pnaic em Recife fossem acontecendo, os

professores alfabetizadores pudessem acionar algum apoio pedagógico, como consta na

portaria e nas falas da Representante do MEC.

4.7 A parceria estabelecida no Município de Recife – Governo do Estado de Pernambuco

O outro ponto de parceria que esteve ausente durante a implementação do Pnaic em

Recife, o qual está previsto na Portaria nº 867 de julho de 2012, foi a parceria junto ao

governo do estado de Pernambuco pelas principais deliberações na implementação do

Programa nessa portaria no Art. 13:

V - gerenciar e monitorar a implementação das ações do Pacto em sua rede;

VIII - fomentar e garantir a participação dos professores alfabetizadores de sua rede

de ensino nas atividades de formação, sem prejuízo da carga-horária em sala de aula,

custeando o deslocamento e a hospedagem, sempre que necessário;

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X - disponibilizar Assistência Técnica às escolas e aos municípios com maiores

dificuldades na implementação das ações do Pacto e na obtenção de resultados

positivos de alfabetização;

XI - promover a articulação das ações do Pacto com o Programa Mais Educação,

onde houver, priorizando o atendimento das crianças do 1º, 2º e 3º ano do ensino

fundamental como garantia de educação integral e complementação e apoio

pedagógico àquelas com maiores dificuldades (BRASIL, 2012a).

Dessa forma, há regulamentação na portaria que institui o Pnaic especificamente com

as incumbências para o estado, ente federado importante para a implementação desse

Programa que foi lançado no país como sendo “um compromisso formal assumido pelos

entes federativos” (BRASIL, 2012a). Segundo os sujeitos envolvidos na implementação do

Pnaic em Recife, eles desconheciam a atuação do governo do estado de Pernambuco:

Aqui em Pernambuco eu não me recordo.... Talvez as prefeituras tivessem um

envolvimento maior, não tenho lembranças do envolvimento do estado. Uma

lembrança forte eu não tenho não (Representante do MEC 2).

Pronto... em relação a presença do estado no PNAIC: em 2013 a gente recebeu uma

Representante do estado que veio se inteirar como o PNAIC era desenvolvido no

Recife e também se inteirar de algumas informações, né? pronto... a gente teve

essa experiência em 2013, com o estado (Representante local 1).

Para ser sincero, não (sobre a participação do governo do estado de Pernambuco).

Olhe o contato é federal direto para o municipal, olhe nunca, nunca, para não

dizer havia uma Representante do governo estado, que nunca se pronunciou,

que nunca falou, nunca esteve nas salas, entendeu ? nunca houve uma

representação de alguém do estado, nunca. Eu nem sabia, que o estado se metia na

história. Havia muita interação entre os próprios municípios, trocavam muitas

informações, elo só era dois, federal e municipal. Aquela bolinha da olimpíada não

existia não. Você nem vai vê citações de estado pelos demais participantes. Se ele

fez não mandou dizer não (RISOS) (Orientador de estudos).

O envolvimento do governo do estado de Pernambuco nas ações do Pnaic expressou o

que acontece na maioria das efetivações de programas educacionais destinados à educação

básica, após os municípios terem se tornado entes autônomos. Para Palotti (2009, p. 103),

O fortalecimento dos estados mais fracos economicamente desde o final da ditadura,

aliado às acentuadas desigualdades regionais e à descrença generalizada de uma

saída coordenada para o dilema da distribuição equitativa de recursos, apontariam

para estados que possuem fortes incentivos para agir individualmente do que para

cooperar.

Dessa forma, com o início da redemocracia e entrada dos municípios para a condição

de ente autônomo, as atuações dos estados no jogo federativo passou a ser mais competitiva

do que colaborativa. A autonomia que os municípios obtiveram após esse período de

redemocratização tem muito mais peso de desresponsabilização sobre os municípios do que

para os estados na implementação de políticas públicas do que como legitimação desse

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princípio. Por isso que “Embora fosse um Pacto a gente não teve o apoio do Estado”

(Representante da UFPE 3). Para Palotti (2009, p. 100),

O jogo federativo desdobra-se em barganhas e movimentos cooperativos e

competitivos entre os entes constituintes, o que torna a implementação de políticas

sociais um fenômeno complexo, que se desenvolve em diversas arenas e etapas.

A atuação dos entes federativos vem se dando, segundo Cury (2002),

O avançado e conceituado regime de colaboração de nossa Lei Maior, em seu modus

operandi, vem se revelando muito mais um regime de decisões nacionalmente

centralizadas e de execuções de políticas sociais subnacionalmente desconcentradas

em que se percebe uma situação de competitividade recíproca (guerra fiscal) entre os

subnacionais (CURY, grifos do autor, 2002, p. 198).

Concordamos com Cury (2002), sobretudo porque para a Representante da UPFE:

Ta aqui acontecendo na cidade (Recife), pode? não pode?, deve? coisas aqui, sabe?

Eles queriam tirar duvida. Então tinha coisa que eu dizia olha vocês tem

autonomia e tinha coisa que eu dizia não, o programa orienta dessa, dessa

forma, eles (os membros da cadeia) tinham os números da gente, tinha e-mails da

gente, eu mesma disponibilizava o meu numero de celular (Representante do UFPE

3).

A autonomia no município de Recife se estabelecia e se restringia apenas à execução

das deliberações da UFPE e do MEC. Vemos no contexto das políticas públicas com maior

incidência competitividade entre as instâncias subnacionais, que implica na ausência de uma

colaboração mais efetiva dos estados nas políticas educacionais que privilegiem os

municípios.

4.8 A parceria estabelecida no Município de Recife – Constituição da Equipe Local

O último elemento, que trouxemos da parceria, está previsto na portaria nº 867/2012,

nos Art. 13 e Art. 14, de responsabilidade dos estados e municípios, respectivamente era de

“designar coordenador (es) para se dedicar(em) às ações do Pacto e alocar equipe necessária

para a sua gestão, inclusive em suas unidades regionais” (BRASIL, 2012a, grifos nossos).

A Representante da UFPE expressa a relação que mantém com a equipe local: “A

gente não tem problema com os coordenadores locais não. Que é que faz as coisas acontecer

no município” (Representante da UFPE 2 ). Mas, na implementação do Pnaic em Recife,

segundo a fala de um dos sujeitos locais:

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99

Tem não. Essa equipe que o PNAIC, tem um objetivo que diz né que será

alocado uma equipe para acompanhar a coordenação, né ? Essa equipe ela não

é alocada. Não tem uma equipe específica para o PNAIC, entendeu ? tem uma

coordenadora, que é a específica e tem uma equipe da Divisão que já trabalha ali

com todos os programas (Representante local 1).

Aliás, a equipe local, que estamos mencionando, cujo Pnaic não estruturou em

Recife, na verdade foi constituída por técnicos da Secretaria de Educação de Recife, que já

trabalhavam com outros projetos ligados à alfabetização e que a Secretaria acolheu também,

implementou o Programa durante o período, entre 2013 a 2015. Mesmo diante de tantas

ausências de parcerias previstas na portaria elencados nessa seção, inclusive a própria falta de

estruturação da equipe local específica para o Pnaic, a Representante local, que faz parte dessa

equipe, considera ainda que

Então não houve problemas desse tipo assim, de escolas que tiveram problemas a

enfrentar. Mesmo também porque Recife já vivenciou experiência de formação

antes do PNAIC, o Pró-Letramento foi uma experiência parecida, o NEMAT foi

uma experiência parecida também. Só que a diferença foi que esses dois foram

desenvolvidos no horário de trabalho do professor, aí foi mais amplo o atendimento

(Representante local 1).

Esta Representante local além de afirmar a ausência de dificuldades na implementação

do Programa, dada a experiência da rede com outros projetos implementados em Recife,

relativiza os desdobramentos vinculados à implementação do Pnaic. Tal relativização decorra

da falta de alocação de uma equipe que se dedicasse às ações do Pnaic como indica na

portaria.

Posteriormente, essa mesma Representante local, ainda na mesma fala, deixa escapar

que “a gente vai administrando, e que a gente enquanto rede não pode falar em minúcias,

detalhes que são próprios da rede” (Representante local 1). Dessa forma, evidenciamos uma

contradição na própria fala da Representante local enquanto as barreiras enfrentadas na

implementação do Pnaic em Recife, onde por trás dessa última fala “descompromissada”, ela

omite muito mais interferentes para a implementação do Pnaic do que ela revelou.

E de que maneira essa equipe local fazia esse acompanhamento na implementação do

Pnaic em Recife? “Tinha a formação né? tinha a frequência que a gente acompanhava, e tinha

o acompanhamento do trabalho do orientador, que o orientador fazia a cobrança do professor,

né?” (Representante local 1). Já a Representante da UFPE até argumenta porque não

ocorreram problemas na implementação do Pnaic em Recife. Vejamos:

Não há destaque para Recife, o Programa [PNAIC] não funciona desta forma.

O programa funciona envolvendo as instituições, então a gente tem uma ação

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100

envolvendo os municípios, através dos coordenadores locais. Recife tinha mais de

um coordenador local por que ele tinha uma maior quantidade de turmas. Recife

particularmente não se destacou por ter deixado de cumprir nada do que

estava previsto nesta parceria. Sempre responderam nas atividades do

seminário. Tivemos trabalhos apresentados por professores de Recife, né? Nas

ações que a gente realiza de acompanhamento. No monitoramento Recife

sempre está presente. Em nossos pontos de avaliação se a gente olhar, eles têm

uma participação efetiva. Eu não tenho o que dizer especificamente. Eles estão

inseridos, e a partir do momento que eles aderiram eles colocam os profissionais...

de acordo com alguns critérios, quem vai ser o Orientador de estudos...

(Representante da UFPE 1).

Vejamos que a Representante da UFPE elege como parâmetro, na sua fala, o

monitoramento proposto pelo Pnaic e que, de acordo com ele, o município de Recife vinha

dando conta de suas obrigações. A equipe local não foi mencionada na fala, logo acreditamos

que o monitoramento, para a Representante da UFPE, seja a via de interlocução entre quem

delibera e quem executa.

Nessa seção verificamos a não concretização de vários pontos da parceria previstos na

legislação do Programa que eram fundamentais para a implementação do Pnaic em Recife e

suas implicações.

As Representantes do MEC, por suas falas, expressaram evidentemente maior

congruência com as orientações que estavam previstas na portaria que instituiu o Pnaic.

Porém, o poder local nos revelou que houve muitos problemas referentes às condições do

exercício de colaboração.

As ações que estavam previstas na legislação básica do Pnaic, que precisavam de

espaços de diálogos e negociações entre o Pnaic e a comunidade escolar e o programa, e entre

o Pnaic e o Mais educação, por exemplo, foram fragilizadas em Recife. Pois, como vimos nos

dados da pesquisa, o foco das ações do Pnaic era nos professores alfabetizadores.

Vimos inclusive que as decisões de adesão e continuidade dos orientadores de estudos

estiveram sob o alvo da desresponsabilização, em muitos momentos da parceria, entre o poder

central e o município, tendo em vista que as bolsas atrasavam e as diárias também,

respectivamente responsabilidade de cada ente.

A implementação do Pnaic em Recife ganhou contornos que implicaram numa

parceria fragmentada entre município e o poder central, mas este último ente manteve maior

concentração de deliberações. E ao município de Recife restou apenas a execução do Pnaic.

Para Costa (2010, p. 113),

O regime de colaboração materializa-se, pelo menos na educação, na forma de ações

complementares, suplementares, supletivas, seguindo o princípio da subsidiariedade,

o que nos leva a ponderar que aí estaria contemplado o sentido de regime de

colaboração. Portanto, o problema das limitações para o estabelecimento de um real

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101

sistema federativo não seria somente a falta de definição, mas, também, a própria

forma que o Estado tem assumido após a reforma observada nos anos 1990, em que

ele delega às instâncias regionais, em matéria de educação, poderes restritos à

gerência das verbas e da estrutura, deixando de compartilhar o poder decisório.

Dessa forma, além da indefinição da colaboração, na descentralização das políticas

públicas em muitos casos, há a tendência de “transferência para outras esferas de governo de

responsabilidades pela implementação e gestão de políticas e programas definidos no nível

federal” (ALMEIDA, 2005, p. 30). E nesse sentido, percebemos que a parceria na

implementação do Pnaic em Recife, em muitos elementos previstos nos documentos, não foi

firmada mediante as dificuldades de negociação que emergiam.

Veremos na próxima seção que o acompanhamento proposto pelo Pnaic não serviu de

aporte para superar os problemas na realidade.

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5 CONCEPÇÕES DE COLABORAÇÃO: O QUE PENSAM OS SUJEITOS DA

PESQUISA

Essa seção tem como objetivo apresentar as análises que fizemos das entrevistas

especificamente no que diz respeito às concepções dos sujeitos envolvidos na cadeia de

formação sobre a colaboração intergovernamental para a implementação do Pnaic. Na mesma

perspectiva, buscamos entender como os sujeitos da cadeia de formação percebem os limites e

as possibilidades dessa colaboração na implementação desse programa no município de

Recife.

Primeiro vamos retomar um pouco as origens do Pnaic e relembrar que a sua

existência está atrelada ao nosso Plano Nacional de Educação, em sua Meta 5, que explicita a

“necessidade de alfabetizar todas as crianças até, no máximo, os oito anos de idade”

(BRASIL, 2014).

Ao lançar o Pnaic, o governo federal explicitou na legislação que os estados e os

municípios participantes, como contrapartida, deveriam oferecer condições de estruturas

físicas e reserva de dias no calendário escolar para que os professores alfabetizadores

pudessem participar do processo de formação. Destacamos abaixo o trecho que se refere aos

municípios:

Os municípios devem fomentar e garantir a participação de sua rede de ensino nas

atividades de formação, sem prejuízo de sua carga-horária, custeando o

deslocamento e hospedagem, sempre que necessário (Portaria nº 867 de junho de

2012, Art.14, inciso VIII)

O oferecimento de condições para garantia de efetivação do Pacto é, portanto, parte da

responsabilidade dos municípios. Na medida em que estamos interessados no processo de

colaboração para efetivação desse programa, é importante destacarmos aqui as

responsabilidades de cada instituição na implementação do mesmo (portaria nº 867, de

4/07/2012):

Art. 11. Caberá ao MEC:

[...] IV - promover, em parceria com as Instituições de Ensino Superior (IES), a

formação dos orientadores de estudo e dos professores alfabetizadores nas

redes de ensino que aderirem às ações do Pacto; V - conceder bolsas de apoio

para incentivar a participação dos orientadores de estudo e dos professores

alfabetizadores nas atividades de formação nas redes de ensino que aderirem às

ações do Pacto; VI - fornecer os materiais didáticos, literários, jogos e

tecnologias previstos nos artigos 6º, 7 º e 8º desta Portaria, nas redes de ensino que

aderirem às ações do Pacto; VII - fomentar as ações de mobilização e de gestão.

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Art. 12. Caberá às IES:

I - realizar a gestão acadêmica e pedagógica do curso de formação; II -

selecionar os formadores que ministrarão o curso deformação aos

orientadores de estudo; III - assegurar espaço físico e material de apoio

adequados para os encontros presenciais da formação dos professores

orientadores de estudo; IV - certificar os professores orientadores de estudos e os

professores alfabetizadores que tenham concluído o curso de formação; V -

apresentar relatórios parciais e finais sobre a execução do curso de formação, no

modelo e dentro dos prazos estipulados nos planos de trabalho pelo MEC.

Art. 13. Caberá aos Estados e ao Distrito Federal:

[...] IV - instituir e viabilizar o funcionamento da coordenação institucional no

âmbito do Estado ou Distrito Federal; V - gerenciar e monitorar a implementação

das ações do Pacto em sua rede; VI - designar coordenador(es) para se

dedicar(em) às ações do Pacto e alocar equipe necessária para a sua gestão,

inclusive em suas unidades regionais; VII - indicar orientadores de estudo de sua

rede de ensino e custear o seu deslocamento e a sua hospedagem para os

eventos de formação; VIII - fomentar e garantir a participação dos professores

alfabetizadores de sua rede de ensino nas atividades de formação, sem prejuízo

da carga-horária em sala de aula, custeando o deslocamento e a hospedagem,

sempre que necessário;IX - monitorar, em colaboração com os municípios e com o

MEC, a aplicação da Provinha Brasil e da avaliação externa, a entrega e o uso dos

materiais de apoio à alfabetização, previstos nesta Portaria; X - disponibilizar

Assistência Técnica às escolas e aos municípios com maiores dificuldades na

implementação das ações do Pacto e na obtenção de resultados positivos de

alfabetização; [...]

Art. 14. Caberá aos Municípios:

[...] IV - gerenciar e monitorar a implementação das ações do Pacto em sua rede;

V - designar coordenador(es) para se dedicar(em) às ações do Pacto e alocar

equipe necessária para a sua gestão, inclusive em suas unidades regionais, se

houver;VI - indicar os orientadores de estudo de sua rede de ensino e custear o

seu deslocamento e a sua hospedagem para os eventos deformação;VII - fomentar

e garantir a participação dos professores alfabetizadores de sua rede de ensino

nas atividades de formação, sem prejuízo da carga-horária em sala de aula,

custeando o deslocamento e a hospedagem, sempre que necessário;VIII -

monitorar, em colaboração com o MEC, a aplicação da Provinha Brasil e da

avaliação externa, a entrega e o uso dos materiais de apoio à alfabetização

previstos nesta Portaria; IX - disponibilizar assistência técnica às escolas com

maiores dificuldades na implementação das ações do Pacto e na obtenção de

resultados positivos de alfabetização;[...]28

Vejamos acima que para todos os entes federados e para as instituições de ensino

superior são deliberados diferentes deveres para que o Pnaic possa ser implementado. Ou seja,

para o Programa dar certo foi necessário que ocorresse um processo de colaboração entre os

pactuados. Buscamos entender como isso vem acontecendo na cidade do Recife, a partir da

perspectiva dos sujeitos envolvidos.

Uma das integrantes da UFPE que gerenciava todo o Pnaic em Recife até 2015 definiu

com clareza seu ponto de vista a respeito da concepção de colaboração que envolve os

membros da cadeia:

28

Grifos nossos.

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O MEC já vinha se colocando nesta função de articulador de programas de

formação de professores, então essa não é a primeira ação que o MEC se coloca, né?

Dessa forma, chamando para si essa responsabilidade, que pela LDB, é mais

dos estados e municípios. Inclusive em 2004, quando amplia a rede de formação de

professores, ele se coloca nesse lugar de um articulador de políticas de

formação, com uma intervenção mais direta sobre os estados e municípios. Entendendo a necessidade de uma forma de equiparação, que não fique a cargo de

cada estado, garantir um patamar nacional (Representante da UFPE 1).

Como se vê, a Representante da UFPE ressalta que essa tarefa do MEC de articulador

não foi nova quando se trata de programas de formação. Aqui podemos destacar os programas

anteriores ao Pnaic como, por exemplo, o Pró-Letramento que também contou com a ação de

articulação do Ministério.

Outro trecho de entrevista vai reforçar o que está expresso nos documentos e na

legislação sobre a responsabilidade de cada ente pactuado:

Todos os níveis tinham responsabilidades diferentes: os estados, os municípios e as

universidades. Todos eles tinham uma parcela de responsabilidade, nesse processo.

Só que a universidade centralizava tudo, todo o processo de formação, né? O estado

era responsável pelas coisas do orientador de estudos, pelo acompanhamento das

formações e da gestão. E os municípios do mesmo jeito (Representante da UFPE 2).

A colaboração expressa um elemento necessário de um Programa com formato de

cadeia de formação, mesmo que a maior responsabilidade pelo oferecimento da formação

ficou a cargo das instituições de ensino superior. No entanto, não haveria processo formativo

se os estados e os municípios não cumprissem suas tarefas.

Ao MEC coube a função de articular as ações entre estados e municípios, tarefa que

nem sempre foi fácil, conforme foi possível observar na fala abaixo:

Em alguns lugares sim, o Ministério teve que sentar com o município. Às vezes, o

município não conseguia, o estado conseguia fazer... até porque em alguns lugares

nós tivemos troca de prefeito, eleição, teve um período de eleição, então nesse

processo quem era secretário, não era secretário, era o secretario novo, e ele

não sabia que teria essa obrigação. Teve casos que a gente conseguia resolver

tranquilamente assim, ligar, informar, repassar o termo do pacto. Teve momentos

mesmo que a gente teve que sentar e renegociar (Representante da MEC 2).

Como se vê acima, a função de articulação do MEC enfrentou alguns problemas em

função das próprias condições políticas dos municípios. Podemos nos arriscar a dizer também

que tais dificuldades se devem à grande diversidade de municípios que temos no estado de

Pernambuco (e no restante do país também, claro).

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105

5.1 As responsabilidades municipais: deslocamento, alimentação e acomodação de

professores alfabetizadores e orientadores de estudos

Para o deslocamento dos orientadores de estudos, a Secretaria de Educação do Recife

optou pela alocação de ônibus para levá-los a Caruaru:

O transporte coletivo, eu penso que é a melhor pedida, entendeu?. Porque se fosse

particular iria depender de quem iria levar, iria ser maior valor, a ajuda de custo. Em

tempo de crise, né? O recurso nem sempre saem... às vezes nem saem em tempo

certo. O professor teria que arcar com o seu dinheiro (Representante local 1).

Pelo visto, a opção pelos ônibus foi calcada por ser menos custo para rede e também

para evitar maiores transtornos para os orientadores de estudo. De todo modo, o município

estava buscando dar conta da sua responsabilidade. Mesmo contando com o ônibus que a

Secretaria de Educação cedia, essa alternativa se refletiu nas formações do Pnaic em Caruaru,

porque gerou muitos atrasos.

O ônibus que chegava com atraso tremendo na formação [dos orientadores de

estudos de Recife] porque eles [a prefeitura de Recife] mandavam um ônibus, no

primeiro dia era um atraso, devia ser isso, né? Vendo nos relatórios e também

assim na turma de Recife, porque cheguei a dar formação a.... a um grupo de

Recife e ai o que.... que a gente via né?, Essa, essa resistência para Recife, pra

Caruaru, ou para qualquer outra cidade, ou seja sai de Recife .[...]. Porque era todo

mundo no ônibus, então pra se deslocar, depender do lugar que fosse almoçar

podiam atrasar. Entende, então o grupo de Recife, era sempre isso, quando tinha um

atraso era geral, eles chegavam juntos, eles atrasavam juntos, ne? (Representante

da UFPE 3).

Essas formações que duravam 200h aconteciam principalmente em Caruaru, antes das

formações dos professores alfabetizadores. Como vimos foram realizadas com atrasos em

consequência da opção da Secretaria de Educação de Recife. Isso pode ser visto como um

ponto negativo dessa estratégia da política local, já que o tempo pedagógico do processo

formativo foi prejudicado em diversos momentos.

Outra responsabilidade municipal consistiu no pagamento de diárias para os

orientadores de estudos:

Existe um acordo ai, é um pacto firmado e essa contrapartida do município é

viabilizar que esses orientadores virem pra essa formação, mas o município custear,

vai custear isso: sim.(Representante da UFPE 3).

A prefeitura pagava como diária, de 12h de um dia ao 12h de outro. Se você ficasse

4 dias vocês tinha direito a três diárias, foi um ponto discutível porque esses

valores demoravam muito a chegar, isso eu digo como orientador, o impacto era

esse, ou seja, pagava do seu para depois receber. Eu falo pessoal porque minhas

colegas desacreditaram um pouquinho, porque você tinha que pagar do seu bolsa

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para poder receber. [...]. E quando atrasava tinha que esperar seis meses para

receber, só ia receber no fim do ano (Orientador de estudos).

É, é... e apesar da gente ter essa pactuação, muitas das dificuldades que a gente

encontrava pelo caminho era que os municípios, por exemplo, eles não assumiam

um pouco dessa pactuação, que era ajuda de custos para eles se deslocarem.

Muitas vezes, os orientadores iam para a formação e tinham que pagar um professor

para ficar na sala dele. Então tinha essas questões, que faltava um apoio de certa

forma (Representante da UFPE 2).

Essa questão das diárias dos orientadores de estudos estava diretamente implicada com

a adesão e permanência desses orientadores, uma vez que esses auxílios fornecidos pela

Secretaria de Educação de Recife, que serviam para custear as despesas dos orientadores nos

processos formativos, constantemente atrasavam e, com isso, os orientadores de estudos

assumiam esta responsabilidade. Para Santos, R. (2016, p. 42-43),

A Secretaria de Educação também pagava ajuda de custo para garantir os gastos com

hospedagem e alimentação, embora esse auxílio se constituísse em momentos de

desentendimentos e insatisfações entre a equipe de Orientadores de Estudo e a

Secretaria de Educação. Os desentendimentos e as insatisfações se davam pelo fato

de que essas ajudas de custo eram pagas mediante comprovação da frequência no

Seminário, portanto não poderia ser pago antes da viagem e também mesmo após

comprovação da frequência o pagamento não era imediato. Alguns/as

Orientadores/as chegaram a deixar a função alegando que não tinham

condições de se manterem em outra cidade, pagando hotel e alimentação, sem a

devida ajuda. Outros Orientadores/as conseguiram se organizar e se manter no

grupo, embora não satisfeitos com a situação (grifos nossos).

Vejamos que as diárias eram utilizadas pelos orientadores de estudos para cobrir

despesas referentes às formações em Caruaru, que por diversas vezes atrasaram. Vejam o

impasse: “essas ajudas de custo eram pagas mediante comprovação da frequência no

Seminário”! (SANTOS, R., 2016, p. 42-43). Então nos inquietou saber como os orientadores

poderiam ir ao Seminário sem as ajudas de custos? E como a secretaria de educação poderia

comprovar a despesa sem a comprovação de participação do orientador no seminário ou na

formação? Certamente, essas foram questões burocráticas e administrativas, mas que refletem

diretamente no aproveitamento da formação.

Assim, nesse ponto, o impacto que essa contrapartida ofertada pelo município de

Recife causou pode ter contribuído para que alguns orientadores de estudos chegassem a

desistir do Pnaic. Até porque, por outro lado, as bolsas liberadas pelo MEC diretamente na

conta desses profissionais não cumpriam um calendário regular. Ou seja, é possível perceber

que houve problemas de efetivação desse compromisso pelas duas instâncias administrativas:

o MEC e o município.

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107

O impacto da contrapartida nas diárias que os municípios ficaram encarregados de

assegurar para os orientadores de estudos (Portaria nº 867 de junho de 2012, Art.14, inciso

VIII) se assemelhou ao ofertado para os professores alfabetizadores na alimentação e

acomodação nas formações em Recife. Dessa forma,

No começo começaram a entregar os lanches nos intervalos, mas depois

suspenderam, depois não tinha mais lanche. Em 2013 não tivemos lanche o ano

todo. Aí na sala a gente fez uma cotinha. A professora levou uma cafeteira. Um

colega levava um pacote de biscoito. O outro levava tapioca para passar o dia. A

gente sai para a Boa Vista para almoçar. A prefeitura não dava nenhum ajuda. Só a

bolsa mensal que vinha da União. A assistência nas formações foi fragilizada

demais, demais... Muita gente pensou em desistir... (Professora alfabetizadora 1).

Vimos os professores alfabetizadores suprirem as fragilidades decorrentes da “oferta”

da contrapartida da Secretaria de Educação de Recife na alimentação durante as formações em

Recife. Em meio a esta situação, as bolsas vindas da União (MEC), como veremos ainda

nessa seção, atrasaram. Então mais uma articulação que se mostra como desresponsabilização

na pactuação entre os entes.

Esse jogo de responsabilidades mantém estreita afinidade entre a relação nacional e

local. Para Werle (2005, p. 28), esta relação se dá de forma que “O Estado constantemente

remodela, redefine, homogeneiza suas numerosas estruturas e instâncias e as recoloca sob o

prisma de uma nova divisão de poder tendo em vista a unidade nacional”.

Então, diante dessa concentração na unidade nacional, o Estado assume papéis que

variam segundo os interesses que se concentram no poder, atuando por meio dos “órgãos

legislativos, tribunais, exército e outras que não formam um bloco monolítico

necessariamente – que possibilitam a ação do governo” (HOFLING, 2001, p. 31), mas que

para Araújo (2010, p. 232),

Analisar a relação entre o federalismo e o direito à educação implica tomar a

descentralização como parâmetro necessário, mas não suficiente. Isto porque a

federação não se caracteriza apenas pela descentralização, supondo-se uma

autoridade central, que descentralize ou “recentralize” poderes e atribuições, mas

sim pela não-centralização, ou seja, pela existência de poderes difusos em que o

governo nacional disponha de poder para muitas decisões, mas que não controle

todas elas, configurando um compromisso entre difusão e concentração de poder

político.

Dessa forma, a federação se caracteriza pela partilha do poder entre o local e o

nacional, não significa apenas atribuição de responsabilidade, ou seja, apenas direcionamento

de obrigações. A federação contempla partilha também de autonomia entre os poderes.

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108

Diferentemente do que vimos acontecer na garantia da pactuação no Pnaic em Recife. Tal

pactuação na implementação do PNAIC em Recife se revelou:

O papel do Estado para com as políticas sociais [foi] alterado, pois com este

diagnóstico duas são as prescrições: racionalizar recursos e esvaziar o poder das

instituições, já que instituições democráticas são permeáveis às pressões e

demandas da população, além de serem consideradas como improdutivas, pela

lógica de mercado. Assim, a responsabilidade pela execução das políticas sociais

deve ser repassada para a sociedade: para os neoliberais, por meio da privatização

(mercado), e para a Terceira Via pelo público não-estatal (sem fins lucrativos)

(PERONI, grifos nossos, 2006, p. 14).

Dessa forma, mediante essa alternância de papéis, o Estado vem, ao longo do tempo,

se expressando gradativamente pelo repasse das políticas sociais à sociedade.

Por hora, compreendemos que tanto os orientadores de estudos quanto os professores

alfabetizadores foram prejudicados pela forma como a prefeitura de Recife se organizou para

dar conta da sua contrapartida.

Esses elementos certamente fragilizaram o processo formativo do Pnaic, gerando

impactos negativos no que se diz respeito aos objetivos gerais desse Programa. Esses

elementos revelam as dificuldades e as fragilidades encontradas na implementação de

políticas que exigem cooperação interinstitucional ou intergovernamental. Isso se deve, em

parte, à própria autonomia dos entes federados, que possuem suas próprias regras de

funcionamento.

A definição do local de formação dos professores alfabetizadores restou a cargo do

município29

, acreditamos que em virtude desse ente ser responsável pela etapa do ensino

fundamental que o Programa abrange. Isso foi apenas uma suposição, pois não há nos

documentos normativos definição dessa responsabilidade aos municípios. Dessa forma, cada

município ofereceu um tipo de estrutura:

Só que o espaço físico atrapalhava demais, que era quente, as carteiras muito

desconfortáveis em fim, e a gente. [...]. Foi o [colégio] Luis Delgado lá no centro

da cidade. Ai no ano seguinte a gente foi pra [Faculdade] Mauricio de Nassau, ai

depois a gente foi pra uma faculdade não lembro agora fica em Apipucos, na subida,

ele é bem legal, uma faculdade é religiosa, tal, é bem antiga a gente vê pelo espaço,

mas ela é bem confortável. [...] (Professora alfabetizadora 2).

Sobre a estrutura houve vários problemas, a prefeitura não se empenhou em oferecer

o mínimo de conforto. Minha sala de aula não tinha ventilador, era muito quente. O

banheiro era dos alunos da rede estadual, daquele jeito que você sabe. Tudo alagado.

Sanitário quebrado, tinha papel e pessoas para limpar, mas daquele jeito. Mas, assim

29

Até 2015 não havia legislação que definisse exatamente quem era responsável pela estrutura do espaço físico

da formação dos professores alfabetizadores. Acreditamos que os formuladores apostavam que se os

municípios são responsáveis por esta etapa da educação, a fundamental, logo eles arcariam com esta

responsabilidade.

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o espaço físico era horrível. Sala quente, banheiro sujo. ...(Professora alfabetizadora

1).

Como se vê pelas falas acima, as condições ofertadas para a formação não foram

boas, ou pelo menos, variaram. O impacto proporcionado foi que

Em 2015 nós buscamos um lugar mais central, as formações aconteceram no

Americano Batista, bem central, agora o estacionamento tinha que ser pago pelo

professor, estacionar com segurança. [...]. E aí o que a prefeitura ofertava o local,

salas todas com multi mídias, com data-show, o computador não, o orientador

levava. Em 2014 a prefeitura botou computador, data-show e caixa de som. [...]. Em

2015, nós só tivemos o data-show e a caixa de som, o computador o professor

levava porque todo professor [orientador] tem seu computador. Então tinha as salas

climatizadas e essas multimídias, e tinha a questão do lanche, do professor recebia o

lanche, o lanche geralmente era o suco, uma fruta, um bolo e um salgado, alguma

coisa desse tipo. [...]. Em 2015, nós tentamos não fazer um sábado dentro do outro,

tentar fazer um cronograma que fizesse direitinho, e eu acho que foi legal, acontecia

a greve aí tivemos reposição de aula no sábado e o professor não aguentava mais.

Em 2015 a gente conseguiu que a evasão fosse pouca, acredito que pela localidade

por ser um local central, por ter o calendário sido amarrado logo no início quais

seriam as datas previstas, também sem ser todo mês, era uma formação por mês, só

teve um mês que foi outubro, ate porque outubro é um mês atípico, de feriados essas

coisas... mas no mais (Representante local 2).

Ainda sobre o oferecimento pela Secretaria de Educação de Recife da acomodação nas

formações dos professores alfabetizadores, Santos, R. (2016, p. 42) acrescenta:

No primeiro ano o local não tinha o conforto necessário [climatização das salas,

salas amplas, acessibilidade] para o desenvolvimento das formações, já nos anos

seguintes tomando como base a experiência de 2013, esses aspectos foram tomados

como critérios essenciais para a locação (SANTOS, R., 2016, p. 42).

Segundo Santos, R. (2016), pessoa essa que ocupou a função de coordenadora local

do Pnaic em Recife, entre 2014 e 2015, as condições da acomodação em 2013 teriam sido

referências para posteriores escolhas desses espaços de formação.

Sem estar previsto na legislação o responsável pela indicação do espaço físico para as

formações dos professores alfabetizadores, verificamos que a Secretaria de Educação de

Recife foi progressivamente, em parte, ajustando o local de formação dos professores

alfabetizadores. O fato do município de Recife ter definido o local para a formação, isso do

ponto de vista da colaboração, se traduz numa posição de presteza municipal, colaboração,

fundamental para o entendimento de que “a relação entre federalismo e política pública é uma

relação de reciprocidade” (FRANZESE; ABRUCIO, 2009, p. 23).

Tal movimento de reciprocidade, realizado pelos sujeitos locais, nos lembrou da

imprecisão na LBD (9.394) dos responsáveis pela Educação Infantil, em que os municípios

devem ofertar a educação infantil, mas com prioridade o ensino fundamental e, os estados

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devem assegurar o ensino fundamental e ofertar com prioridade o ensino médio, ou seja,

mesmo a educação infantil compondo a educação básica, na LDB (9.394) está indisponível o

ente responsável por esta etapa da educação como prioridade, o que secundariza a oferta da

educação infantil. Dessa forma, no âmbito do regime de colaboração, a “indefinição das

normas de cooperação, a falta de regulamentação do regime de colaboração” (ARAÚJO,

2010, p. 237) abrangem conjunturas na implementação de Programas a nível local quanto aos

parâmetros normativos nacionais, como a LDB (9.394).

Sinalizamos o fator do tempo utilizado na logística de identificação do espaço físico

pelo município como significativo na implementação de políticas públicas. Vejamos no caso

do Pnaic em Recife:

Recife teve um ano que, eu não lembro qual o foi o ano, se foi 2014, 2014 eu acho,

que quando todos os municípios, um, dois, três encontros, Recife ainda não tinha

começado.!. Entendeu?!!! Eles ainda não tinham começado. Porque que eles não

tinham começado? o que eles diziam para gente era que eles não tinham escolas para

fazer a formação, então uma formação que seria no sábado, as escolas tudo vazias,

né?. Então como assim não tinha o espaço, a gente sabe que teve muitas questões

políticas, e aí eles foram empurrando para a frente, o que a gente podia fazer era

segurar as bolsas. Como as bolsas estavam vinculadas a realização das formações, se

não teve formação, não tem como liberar a bolsa. Então a gente foi segurando as

bolsas, naquele período as bolsas podiam ser seguradas (Representante da UFPE 2).

Nesse sentido, o impacto do tempo utilizado na definição da municipalidade incidiu

nas formações dos professores alfabetizadores em Recife, importante na concretização da

política pública entre as instâncias governamentais (FRANZESE; ABRUCIO, 2009), mas que

de maneira geral, na ausência dos responsáveis pela definição do espaço para a formação dos

professores alfabetizadores, o município se mostrou mais solícito para que o Programa se

desenvolvesse.

5.1.1 Acompanhamento das implementações das ações na rede

O acompanhamento de programas educacionais pelos sujeitos que as formulam e os

que executam propicia indicadores referentes ao contexto da prática (PEREZ, 2010). À vista

disso, deliberações como as que o MEC definiu pela portaria nº 867/2012, Art. 14, IV, para

que o município de Recife se encarregasse de “gerenciar e monitorar a implementação das

ações do Pacto em sua rede” (BRASIL, 2012a) poderiam ser suportes na identificação dos tais

indicadores.

Ao município foi disponibilizado, pelo MEC, o monitoramento pelo SisPacto,

relatórios e reuniões com os professores alfabetizadores. Esses seriam os únicos canais de

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comunicação entre os professores alfabetizadores, orientadores de estudos, equipe da UFPE e

MEC para possíveis acompanhamentos. O que foi possível observar a partir dos dados da

pesquisa foi que, nas escolas, os professores alfabetizadores contavam apenas com o SisPacto

como suporte de monitoramento. Vejamos:

Em relação à escola não. Ele [o MEC] não vem ver como é a rotina dos

alfabetizadores. Não há acompanhamento na prática. Em Recife tem inspeção, é

mais para olhar a parte administrativa. É a questão de ponto, de diário online, não

chegam a ir para a sala de aula não. [...]. Assim... né? na época a gente ficou um

pouco assim solto. Acho assim que mensalmente uma pessoa vinha, entendeu? Para

conversar com a gente para vê a realidade que a gente trabalha, vê a faixa etária, vê

as crianças que são de inclusão, com necessidades especiais, que estão incluídas no

projeto, como é que esta o desenvolvimento dessa criança no desenvolvimento

pedagógico, cognitivo, eu acho que deveria ter mesmo uma pessoa que viesse aqui

mesmo para dar um suporte (Professora alfabetizadora 1).

Para os professores alfabetizadores restava alimentar os dados no SisPacto, dados que

eram trabalhados por toda cadeia de formação, inclusive pelo MEC. Vejamos como acontecia:

Às vezes, o professor descobriu o telefone de lá da coordenação e ligava lá direto na

minha mesa. Obvio que a gente estava a atenta a ligação, ao conteúdo daquela

ligação, mas a gente não tentava quebrar a linha de comunicação, né? porque

existia uma gestão gestada e ela precisa ser respeitada assim... e pelo sistema do

SISPACTO tudo é muito atrelado, uma coisa na outra, um perfil no outro, do

professor, do orientador, do coordenador, do coordenador geral... a movimentação

de todas as atividades, inclusive conseguem visualizar a inserção pelo professor

alfabetizador de notas (Representante da MEC 2).

Nas escolas, locais de atuação dos professores alfabetizadores, nos pareceu que

prevaleceu, ao invés de acompanhamento sobre a implementação do contexto da prática,

apenas o monitoramento através do Sispacto sobre os professores alfabetizadores viabilizados

pelo suporte disponibilizado pelo MEC. Monitoramento para Fernandes (2014, p. 57) é

“ferramenta para subsidiar a gestão das políticas sociais, situa-se numa etapa de

acompanhamento de políticas em fase de execução”.

Sendo assim, o monitoramento seria ferramenta de acompanhamento, não parte

isolada, dissociada de um contexto que integrasse o contexto de formulação ao contexto de

implementação, centrada apenas nos professores alfabetizadores, como vimos acontecer pelas

falas das professoras alfabetizadoras de Recife. Até os depoimentos dos representantes da

UFPE, instituição que gerenciava as ações do Pnaic, expõem qual o foco das ações do Pnaic,

assim:

O trabalho da gente não é um acompanhamento por escola, a gente faz um trabalho

por Orientador de estudos. Até porque a lógica de organização das turmas é de 25

professores por turma. As turmas não são por escola. [...]. A gente não faz uma

avaliação em cima de escolas. [...]. A gente [a UFPE] tem dados de avaliação das

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turmas. A gente não tem monitoramento por escolas. A gente faz avaliação em cima

das turmas de orientadores de estudos (Representante da UFPE 1).

Constatamos, também, que as informações eram pelo Sispacto, repassadas de forma

escalonadas de acordo com as funções, em que os “principais atores envolvidos na execução

das ações do Pacto terão acesso ao SisPacto, de forma gradativa” (BRASIL, 2012a, grifos

nossos). O Sispacto, então, se constituiu num dos mais fortes meios de monitoramento

disponibilizados pelo Pnaic.

O SisPacto ainda cumpria uma função extremamente importante para a obtenção das

bolsas, onde satisfeitas as exigências e os prazos definidos por ele, seriam liberadas as bolsas

pelo FNDE para todos os membros da cadeia de formação. De acordo com a resolução nº 4 de

27/02/2013, Art. 7, inciso III, alínea K, a UFPE deve “encaminhar à SEB MEC, por meio do

SisPacto, relatórios de ocorrência relativos à interrupção ou cancelamento do pagamento de

bolsas ou substituição de bolsista(s)”. Este processo se deu

Automático pelo sistema, os perfis no SISPACTO estão hierarquicamente ligados,

você que é professor faz sua parte e tem o OK, tem o OK do Orientador de estudos e

tem o OK do coordenador local, o OK do coordenador da universidade, o OK do

MEC que vai para o financeiro, quando o financeiro do FNDE visualiza todos os

OK’s, tudo bem. Se tiver faltando algum OK, não passa para frente. Existe várias

etapas, isso é tudo informatizado, é tudo sistema. Os OKs são visualizados ainda no

MEC depois repassados ao FNDE (Representante da MEC 2).

E esses mesmos professores alfabetizadores que não monitoram, pois as informações

são direcionadas de acordo com a hierarquia de cada sujeito dentro do programa, e que não

liberam esses ‘OK’s’ são dependentes de uma sequência de avaliações que validam a

liberação das bolsas. Evidentemente que estas informações diante dessa hierarquia ditarão o

domínio entre os membros da cadeia de formação, pois o MEC, a UFPE, a coordenação local

e os orientadores possuem acesso aos perfis dos professores alfabetizadores, os membros da

cadeia de formação que atuam no chão da escola, que são de responsabilidade do município30

.

Até mesmo um Orientador de estudos de Recife relata que

Sispacto? a sim... (RISOS). Fazia tanto tempo que eu pensei que você estava falando

de algum programa daqui. Primeiro que nós aprendemos a mexer com ele a

duras penas. Inclusive gente que nem sabia mexer em informática teve que

aprender com ele. Ele tinha uma carência assim: ou era ou não era. Mas, algum

espaço para fazermos a avaliação dos professores. Devia ter mais nuances, mais

coisas subjetivas. Tinha as opções de fazer, ou não fazer, completamente, não

compareceu, compareceu e fez uma parte, compareceu e se fez tudo

completamente, era 10. Se comparecesse e fizesse metade, ficava na media. E para

30

Pela portaria nº 867 de julho de 2012 e pela LDB (9.394) devido aos professores atuarem na primeira etapa do

ensino fundamental.

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você atribuir a bolsa a presença era muito subjetivo... se tivesse algum

professor que tivesse feito 75%, não tinha como colocar (Orientador de estudos).

As alfabetizadoras, sobre o SisPacto, informam que

Foi difícil só naquele periodozinho de conhecer o sistema né?, mas, depois ficou

fácil. [...]. Objetivo, sabe ? [...]. Não tinha muita coisa pra gente perder muito

tempo com ele não (Professora alfabetizadora 2).

É complicado... a gente ficava com a demanda de muita coisa, as vezes

entregava por escrito, porque a gente lá, a nossa formadora do PNAIC, ela pedia

para a gente aplicar muitos trabalhos na sala de aula com os alunos, elas [as

orientadoras] diziam: “Vocês aplicam e depois trazem uma produção de texto, um

texto com rimas, um poema. Apliquem a tragam para cá os trabalhos que vocês

desenvolveram com as crianças em sala de aula”. A gente levava por escrito quando

não dava para enviar por email. No SisPacto, a gente só enviava. Só inseria

(Professora alfabetizadora 1).

Nesse caminho, outra Representante da UFPE responde que “Ele [o alfabetizador]

sabe que o orientador fez a avaliação dele” (Representante da UFPE 1). Verifica-se nesse caso

que o Sispacto acaba por ter uma função de controle, o que vai para além do monitoramento

no sentido de que o professor fica pressionado por uma avaliação que se faz sobre ele a partir

das informações que ele coloca no sistema. Notamos também que, de fato, mesmo os

orientadores pertencendo à Secretaria de Educação de Recife, os alfabetizadores são os únicos

que estão na ponta da cadeia de formação, principalmente pela forma de monitoramento.

Além do Sispacto, o acompanhamento das ações dos membros da cadeia de formação

acontecia por relatórios e reuniões, estes últimos eram feitos pelos orientadores de estudos

juntamente com a equipe da UFPE sobre as turmas de professores alfabetizadores. As

representantes da UFPE informam sobre os relatórios:

Relatórios sobre orientadores de estudos:

Eles eram lidos por nós, né? E não só lidos, como a gente fazia muitas vezes um,

uma síntese de cada relatório pra que a coordenação geral também lesse. Então os

supervisores eles liam os relatórios dos formadores que ele acompanhava, mas a

coordenação geral sabia de tudo. Líamos tudo, tinha conhecimento de tudo e são

muitos municípios. [...].Tinha esse acompanhamento de perto (nas reuniões) e

tinha os relatórios também dos coordenadores locais que iam direto para,

coordenador adjunto (Representante da UFPE 3).

Relatórios sobre os professores alfabetizadores:

A gente tinha um mecanismo de controle.... os coordenadores locais entregavam

uma lista de frequência e um relatório com as atividades de formação. Além disso,

os orientadores de estudos entregavam para os formadores e os formadores

encaminhavam para os supervisores os relatórios com os conteúdos da formação. O

nosso acompanhamento acontecia através desses relatórios, e também nos encontros

presenciais com os orientadores de estudos, eles relatavam como havia sido a

formação naquele período. [...]. Recife, eu não trabalhei Recife de uma forma

diferenciada dos outros municípios, acho que a gente tinha 186 municípios, e no

conjunto dos municípios a gente acompanhava as questões dos municípios, através

dos relatórios, das pesquisas e muitos contatos via email e nos encontros presenciais,

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os coordenadores locais e orientadores relatavam para gente avanços e impasses

(Representante da UFPE 1 ).

Como vimos, havia o monitoramento sobre os professores alfabetizadores e

orientadores de estudos além do Sispacto, com reuniões e relatório. Segundo a Representante

da UFPE, tanto os relatórios quanto as reuniões:

Relatórios: Existe especificidades em cada município, eles vão fazendo as

adequações de cada município, e esse planejamento volta para esse formador, ele é

entregue ao formador, e aí a gente bate com o relatório. Assim como os

relatórios que os formadores entregam para gente, a gente tem o planejamento, a

gente vai ter o planejamento como parâmetro, e tem o relatório para saber o que foi

vivenciado (Representante do UFPE 3).

Reuniões: A gente escutava muito [na reunião] que tava acontecendo justamente

pra alimentar a essa conversa que ia ter com os coordenadores locais e também o

próprio comunicado o que é que vai circular, o que é pertinente colocar e ai eu digo

pra você: é um programa que envolve muita gente mais de oitocentas (800) pessoas,

mas que se tem um acompanhamento muito de perto, pelo desenho dele (Representante da UFPE 3).

Segundo a Representante da UFPE, os relatórios e as reuniões seriam utilizados como

ferramentas de aproximações entre os membros da cadeia de formação que implementam o

Pnaic em Recife. Observamos que essas ferramentas eram pensadas como meio de

aproximação entre a IES e a realidade dos municípios, mas acabavam por se constituir

demasiadamente em mecanismo de controle, até de coação. A própria equipe da UFPE

informa que

Porque foi o que aconteceu de algumas situações de uma pessoa vir denunciar:

olha tal município tá trazendo tal relatório, mas não é isso que acontece. Ai

aparece dessa forma [nos relatórios]. Então como é que e a gente trabalha isso?

Nos encontros com os coordenadores e os municipais e os secretários se colocam:

olha gente ta sabendo de algumas situações... não pode acontecer.... quer dizer, as

vezes, a gente até é direto. Não pode acontecer isso, isso, isso, então a carapuça

caia, né?. Agente não ia...: ‘a gente ficou sabendo de tal município, não, não era

assim que funcionava, a gente reforçava’(Representante da UFPE 3).

Entretanto, os relatórios e as reuniões postos como ferramentas de acompanhamento

nos pareceram que tiveram finalidades em si, pois a intervenção da UFPE ficava condicionada

aos registros das reuniões e dos relatórios. Havia uma distância entre quem gerenciava o Pnaic

e os professores alfabetizadores, em que a equipe da coordenação da UFPE só legitimava

como dificuldade a ponto de intervir quando havia dados registrados nos relatórios. Caso

contrário, mesmo que a UFPE tivesse conhecimento de grandes dificuldades e até

comprometimento da formação não motivaria a intervenção no processo. De certo, a

utilização do SisPacto - relatórios e reuniões - contribui para que

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A gente ficou sobrecarregada porque além do planejamento da escola, que a gente

tinha que dar conta, a gente tinha que mandar para elas por email os trabalhos que

eram feitos e cobrados da gente para elas, e enviar durante a semana. Então de lá

[organização do PNAIC] era uma questão de exigir, entendeu? Então se você

não mandasse o trabalho você ficava com essa pendência lá, como se você fosse

um professor inadimplente, tá entendendo? Foi muita cobrança (Professora

alfabetizadora 1).

Vimos que as professoras se sobrecarregaram, passaram por dificuldades, mas que

isso não se manifestou pelo acompanhamento proposto pelo MEC na portaria nº 867/2012.

Assim, o município analisado não construiu uma estratégia de monitoramento específica da

sua gestão, optando por utilizar o Sispacto como ferramenta específica para esse fim. Não

conseguimos levantar dados que pudessem evidenciar que em Recife houve acompanhamento

específico nas escolas, restando ao município apenas prestar contas aos demais membros da

cadeia apenas pelo prisma da burocratização. Para Dourado (2007, p. 927),

As políticas focalizadas propiciaram a emergência de programas e ações orientados

pelo governo federal aos estados e municípios, [...] destacando-se a implementação

de uma política de avaliação fortemente centralizada, em detrimento de um sistema

que propiciasse a colaboração recíproca entre os entes federados para Dourado.

Nos parece que esse foi o caso do município de Recife no que se refere às estratégias

de monitoramento e avaliação no interior do Pnaic. O SisPacto, as reuniões e os relatórios

foram utilizados como monitoramento, não deram contam do acompanhamento proposto por

Fernandes (2014) anteriormente.

5.2 As obrigações do MEC: pagamento das bolsas e oferecimento do material didático

Entre algumas das obrigações do MEC, estava o fornecimento de bolsas de estudos,

pela resolução nº 4 de 27/02/2013, Art. 7, inciso I, alínea f: conceder bolsas de estudo e

pesquisa aos formadores, supervisores e coordenadores da Formação Continuada de

Professores Alfabetizadores junto às IES. Por meio do FNDE os recursos eram liberados e

destinados aos pagamentos das bolsas aos professores e orientadores de estudos, após a

validação da UFPE pelo SisPacto:

Para gente receber a bolsa mensal, tinha que ser enviado tudo que ela pedia para

nós. E aí eu acho que é um dos grandes impasses (Professora Alfabetizadora 1).

Essas bolsas têm um prazo para serem liberadas no sistema. Não necessariamente

chegar no banco. Então a gente quando cumpre esses prazos, o que acontece, as

vezes, gera um prazo maior de uma pessoa para outra: Já passou o prazo de

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liberação de bolsas, e a pessoa entregou as atividades com atraso. Então ela vai

ter a bolsa liberada mais para frente (Representante da MEC 2).

As bolsas consideradas como auxílios se traduziram nessa implementação como

objetos de regulação para o cumprimento dos critérios do SisPacto, segundo as entrevistas. As

bolsas eram utilizadas como objeto de barganha para quem não cumpriu as obrigações

exigidas pelo sistema de monitoramento. Isso atingia tanto os municípios, como os próprios

participantes individualmente. Para as representantes da UFPE:

Aquele município que acumulou formação [e com isto não realizou as atividades do

SisPacto] também acumulou bolsa em atraso tinha, a única forma de, digamos assim

de punição se é que é punição mais e, é como eu disse a gente poderia, eu poderia

chegar lá, olha vocês tem que fazer, então tem, vocês tem que fazer assim, assim,

assado porque eles tinha autonomia pra determinadas questões e isso tava posto

também no, no acordo (representante do UFPE 3).

O que a gente podia fazer era segurar as bolsas. Como as bolsas estavam

vinculadas a realização das formações, se não teve formação, não tem como

liberar a bolsa. Então a gente foi segurando as bolsas, naquele período as bolsas

podiam ser seguradas, agora em 2015 elas não podiam ser mais seguradas,

porque elas só podiam ser liberadas após 60 dias, se fosse naquela época [em

2014, os municípios que acumulavam encontros, Recife] os professores podiam

ter pedido a bolsa e os orientadores de estudos. [...]. Então eles seguraram a

formação e quando eles foram fazer, para ter as bolsas liberadas, fizeram tudo de

uma vez só (Representante da UFPE 2).

Entretanto, o desdobramento dessa correlação entre as obrigações do SisPacto e o

recebimento das bolsas não se traduziu, exatamente, em atrativo para os professores

alfabetizadores e orientadores de estudos permanecerem nas formações do Pnaic em Recife.

Sobre o ponto de vista das bolsas, que são umas das formas de colaboração oferecida pelo

Governo Federal, vejamos:

Para os orientadores de estudos:

O grupo de orientadores era um grupo muito bom assim. Mesmo, às vezes, com

bolsa atrasada eles nunca deixaram de ir, e a prefeitura dava uma ajuda de custo

(Representante local 2).

Para os professores alfabetizadores:

Aconteceu como eu disse que acumulou, tipo eu passava, já cheguei a receber três

bolsas de uma vez só. Então, nesses três meses eu continuei frequentando as aulas

normalmente (Professora alfabetizadora 2).

Portanto, as bolsas financiadas pelo MEC atrasavam, porém isso não desestimulou os

professores e orientadores de estudos; quer dizer, um dos principais meios do MEC pressionar

o município a “cooperar” não funcionou de tal forma. As implicações das bolsas em Recife

foram:

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Muitos professores que não ganharam bolsas aderiram, né? Mesmo sem bolsa

eles participavam, agora outros desistiram, né? O motivo... quando a gente fez

uma pesquisa, nunca saiu que era por questões de não ter bolsa. Sai mais a

questão de falta de disponibilidade. Mas, infelizmente não houve uma ação mesmo

porque se a rede tivesse garantido que todos tivessem participando. E apenas esses

que não tem bolsa não tivessem talvez né? Os motivos eram outros... (Representante

local 1);

É muito gratificante você perceber o interesse das pessoas estarem ali, e não é pela

bolsa porque é pouco. Mas é pela formação. Depoimento de gente dizendo assim:

eu estou tendo.. eu não estou tendo formação continuada, essa é a minha formação.

Então assim... belíssimo, os depoimentos (Representante da UFPE 3);

Atrasava (a bolsa) e assim eu não me importei né?, Tinha gente que tava contando

com aquele dinheiro ali naquela data, mas eu no meu caso não, eu achei até bom

porque pegava uma soma maior (Professora alfabetizadora 2);

Vejamos que as bolsas, segundo as falas dos que implementaram o Programa em

Recife, não foram decisivas para que os professores alfabetizadores e orientadores de estudos

aderissem ao Pnaic em Recife, bem como não os preservaram nas formações. Se observarmos

detalhadamente as falas dos entrevistados, eles conceberam outros motivos que os faziam

desistirem ou permanecerem no Programa, como no caso da fala da professora alfabetizadora,

que não visualizou vantagem em receber a bolsa dada a cobrança por tantos trabalhos. As

bolsas que o MEC disponibilizava dos orientadores também atrasavam.

Analisando o caso das bolsas, foi possível inferir que o MEC também falhou na sua

parte de cooperação com o Programa. Pois, mesmo que os professores e orientadores afirmem

que a bolsa não era o principal elemento que os mantinha no Pnaic, temos clareza que a

situação atual de baixos salários da classe dos professores indica que uma bolsa é sempre bem

vinda para reforçar os rendimentos mensais. Desse modo, a irregularidade do pagamento

também gera constrangimentos à implementação do programa.

5.3 A responsabilidade da IES: gestão da formação (estrutura física para formação e

execução da formação)

Uma das principais obrigações da UFPE foi o gerenciamento do Pnaic até 2015 e,

especificamente pela portaria nº 867, Art. 12, inciso III, assegurar espaço físico e material de

apoio adequados para os encontros presenciais da formação dos professores orientadores de

estudo, e pela resolução nº 4 de 27/02/2013, Art. 7, inciso III, alínea d: assegurar espaço físico

e material de apoio adequados para os encontros presenciais da formação dos orientadores de

estudo.

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118

Sobre o espaço de formação para os orientadores de estudos, para a Representante

local:

A gente solicitou isso... a gente solicitou a universidade que tentasse organizar pelo

menos, os grupos daqui da Região Metropolitana, houve até uma pergunta, uma

consulta, se Recife teria um espaço para abranger. Recife não tem um espaço para

abranger seus próprios professores, Recife loca os espaços, em 2013 foi em duas

escolas públicas, mas 2014 e 2015 foi em prédios particulares, entendeu ?. [...]. O espaço que Recife tem para a formação, é o EFAE, mas não abrange, ao mesmo

tempo, como a universidade encontrou lá na FAFICA, mas se, talvez, tivessem

desmembrados, assim: Região Metropolitana fica em um canto, aí viria Recife,

Jaboatão, Camaragibe, .... Talvez se encontrava alguma coisa, mas para abranger...

aí teve que ser lá mesmo...Várias vezes a gente pediu isso... a gente entende o lado

da universidade que quer fazer trabalhar todo mundo junto, mas foi um contratempo

mesmo. (Representante local 1).

Mesmo havendo essa justificativa da Representante local, não podemos perder de vista

que a responsabilidade pela definição do local de formação dos orientadores de estudos era da

UFPE. A própria Representante local explica quais foram os impactos desse transtorno na

definição do local:

Os atrasos maiores das bolsas fizeram alguns professores desistirem, e fez alguns

orientadores desistirem também. Mas o peso maior da desistência foi o

deslocamento para Caruaru, essa questão de você passar alguns dias distante de

sua casa, né? (Representante local 1).

Ainda sim, a UFPE redireciona essa tarefa, conforme as falas abaixo:

Na verdade houve uma resistência de Recife para Caruaru [enviar os orientadores de

estudos], primeiro eles queriam que a formação fosse aqui em Recife, houve

primeiro essa resistência, gente que deixou de ir, né? .[...]. E eles [a prefeitura de

Recife] disponibilizavam espaço para aqui, mas o espaço para o grupo de Recife. Ou

um pouquinho mais de sala, porque é de Paulo Freire, certo, que foi espaço viável

para algumas situações, a gente chegou da formação de Paulo Freire, [...]. Em fim,

agora fazer essa formação, e fez a formação aqui na Universidade no período de

recesso. Mas, Recife resiste, resistia a ir pra fora da cidade, e quando oferecia outro

espaço a não ser esse que era limitado né? o número de vagas. Então realmente não

houve, um movimento de se dizer não a gente tem tal espaço. [...] È, uma parceria

com, com alguns entraves. (Representante da UFPE 3).

Aqui cabe também uma explicação para o leitor entender melhor. A UFPE ficou

responsável pela formação de todos os orientadores de estudos do estado de PE. Essa

universidade foi selecionada pelo MEC31

em 2012 desenvolver a estrutura de formação,

compondo os cadernos que seriam utilizados nas formações.

Mais de 180 municípios pernambucanos envolvidos. Um grande desafio foi o de

encontrar um espaço para acomodar todos os orientadores e um espaço que fosse acessível

31

O MEC abriu seleção e várias universidades do país concorreram com propostas para formação de professores

sobre alfabetização.

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119

para todos os municípios. Muito difícil agradar a todos. A solução encontrada foi realizar a

maior parte das formações no município de Caruaru, Região Agreste do estado, o que exigiu

deslocamento e acomodação de todos os orientadores que moravam em outros municípios.

Então vejamos que do ponto de vista da legislação a Secretaria de Educação de Recife

não tinha obrigação na definição do prédio dos orientadores de estudos, mas quando a

Representante da UFPE argumenta o porquê dessa formação ocorrer no Agreste Pernambuco

a 130km de distância da capital, Recife, ela coloca a discussão a nível de parceria, de

pactuação, como se ela “dividisse” o impasse, que na verdade era de incumbência da

instituição de ensino superior.

5.4 Limites e Possibilidades na implementação do Pnaic em Recife

Dos 10 sujeitos entrevistados, 5 fazem parte da Secretaria de Educação de Recife e

que também pertencem à cadeia de formação do Pnaic. Ao serem questionados sobre como

perceberam os limites de implementação do Pnaic, duas respostas foram que:

[...]. [as maiores dificuldades que se enfrentavam para implementar o PNAIC] eram

mais as questões de logística mesmo, organizar, encontrar os espaços para abranger

todo mundo, os calendários também, alinhar os calendários, porque as instituições

nos dias de sábados usavam os prédios para alguma atividade, a gente fazer alguma

coisa para o calendário não ficar tão sufocado para o professor, eu acho que foi

mais questão de logística, né? (Representante local 1).

Em Recife tudo é mais complicado, eu me lembro que um secretário dizia: “eu

pensava que aqui a gente podia fazer as coisas mais rápido, mas tudo aqui é

multiplicado por 5 mil”. Que é o numero de professores que a gente tem na rede,

mais ou menos o que a gente tem na rede, isso é um numero real, então multiplique

tudo isso por 5 mil. [..]. Existia a dificuldade de executar o PNAIC (Orientador de

estudos).

As questões apontadas como limites estão calcadas na operacionalização do Pnaic, na

logística. Esse aspecto levantado como limite não foi novidade nessa dissertação. Esse limite

foi desdobramento da falta de regulamentação na colaboração visto que “administração

pública federal foi perseguida por meio da descentralização, o que em certa medida atendia

também aos anseios de outros setores, expressos na Constituição Federal de 1988, que alterou

significativamente o Pacto Federativo brasileiro” (OLIVEIRA, 2011, p. 325).

Durante essa dissertação alguns pontos previstos nos documentos normativos

(portarias e resoluções) disponibilizados pelo MEC não se estabeleceram e, em alguns

momentos, talvez em decorrência da prematuridade do Programa, não observamos legislações

sobre alguns aspectos importantes para implementação de um programa educacional que

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120

envolveu financiamento público. E nesse sentido muitas ações foram executadas

principalmente em decorrência da colaboração recíproca, que parte da ideia de que os entes

fortalecem a unidade federativa (ANDRADE, 2013), principalmente do ponto de vista que o

município de Recife ofertou para além de suas obrigações em algumas situações tendo em

vista alcançar a meta de âmbito nacional.

No caso do município de Recife, para Costa (2010, p. 117),

Nesse sentido, a descentralização se restringe, de fato, ao aspecto técnico, tendo em

vista o aumento da eficiência das instituições, sem que isto signifique

necessariamente democratização das relações no interior das unidades escolares, da

qual fazem parte, além dos administradores, os professores, os pais, os alunos e os

funcionários. A comunidade escolar como um todo não participa do âmbito da

concepção das políticas, mas é, por vezes, convocada a participar do âmbito da

execução.

Compreendemos que o fato da relação de reciprocidade por parte da Secretaria de

Educação de Recife existiu, e isso foi muito positivo, sobretudo porque foi alicerçada nas

ações de caráter operacional da implementação.

Os materiais apostilados utilizados, concomitantemente, pela rede foram apontados

como um dos limites pelos membros da cadeia de formação na implementação do Pnaic:

São vários projetos, a gestão recebeu uma bolsa de livro do “Onda da Leitura” para

trabalhar um livro mensal que são os contos, os livros didáticos não vieram

suficientes, eu tenho que está xerocando para cada um, não veio para cada um.

Receberam também essa palavra cantada. [...]... são muito projetos (Professora

alfabetizadora 1).

Como vimos pelas últimas falas, a professora apontou como limite o montante de

matérias para dar conta. Os materiais citados por ela são os materiais apostilados. Esse limite

perpassa o debate entre o público e o privado.

A Representante da MEC que participou da Secretaria de Educação de Recife e já

compôs a coordenação nacional do Pnaic acredita que em Recife

Você aderiu, você recebeu. Se você aderiu e recebeu, se você compra alguma coisa

errada tem inclusive esta duplicando custos, eu só posso entender que seja,

primeiro oposição, a dificuldade de você fazer promover um programa que tem

uma marca do governo federal, no seu estado, no seu município. Mas o governo

federal nunca obrigou você a não dar um nome para o estado, ta entendendo? Você

pode dizer esse é o Pacto Nacional pela Alfabetização que faz parte no estado do

projeto maior, aqui no estado de Pernambuco eles não abriram mão do

“Alfabetizar com Sucesso”, o governo do estado tem o “Alfabetizar com

Sucesso”, eles foram até bem corretos, a pessoa que coordena o “Alfabetizar

com Sucesso” é que ficou assumindo a coordenação do PNAIC, para poder

articular a formação e ficar trabalhando junto, né? Para poder garantir o foco na

alfabetização, mas não é fácil não porque existia muito essa necessidade de

protagonismo da rede, porque eles não sabem fazer isso de maneira competente,

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121

porque você pode ter um enorme protagonismo na sua gestão, usufruindo da melhor

forma possível de todos os recursos federais que você puder conseguir, não é

verdade ? (Representante da MEC 1).

A Representante do MEC insere o debate da compra de materiais estruturados na falta

de compromisso fiscal referente ao desperdício de recursos públicos, quando o município que

já aderiu ao Pnaic e vai receber materiais didáticos emprega recursos públicos com diversos

projetos, podendo, ainda, esses pacotes divergirem, enquanto proposta pedagógica, das que o

governo federal envia ao município. Em concordância, a Representante local se manifesta:

Agora a questão financeira, teoricamente deveria ser desnecessário, nesse

sentido, porque já tem o principal, [...]. agora eu não sei dar uma opinião sobre

esse material porque eu não trabalhei, eu nem fiz parte dessa equipe que trabalhou

esses livros paradidáticos, nem dessas turmas, então eu não sei falar com tanta

segurança, como eu sei falar desses outros projetos que a gente trouxe para integrar

o PNAIC, esses outros projetos que a gente trouxe envolveu outras turmas, aí eu não

sei dar opinião. [...]. Teoricamente não haveria necessidade, se já existe um livro

do PNLD, diante da questão financeira, da crise econômica, tem muitos lados ai por

traz, que eu penso que não é só assim do mal, existe uma boa intenção ali por traz

(Representante local 1).

Interessante perceber que essa Representante local que possui vasta experiência de

mais de 20 anos na rede de Recife, pós-graduada há 10 anos, infira que a obtenção pela rede

de materiais apostilados tenha no mínimo um caráter do “bem”. Essa neutralidade para Dantas

e Almeida (2014, p. 248),

As escolas que adotaram o sistema apostilado acreditam estar num patamar superior

de competência e modernidade. Foram convencidas pelos empresários e pela mídia

— que os enaltece — de que escolheram o melhor e agora não têm com que se

preocupar. [...]. ao adotar os “pacotes didáticos” padronizados (que pretendem ser

completos e resolver todos os seus problemas), em vez de investir na qualificação

dos professores, reforçam o desprestígio docente e enriquecem ainda mais uma

empresa prestadora de serviços educacionais . [...]. E todas as tentativas de se livrar

desse engodo parecem estar condenadas ao fracasso.

Sobre a parceira público e privado, autores como Adrião e Silva (2013) e Freitas

(2014) tecem consideráveis críticas. Freitas (2014, grifos nossos, p. 56) esclarece que “O

apostilamento das redes contribui para que o professor fique dependente de materiais

didáticos estruturados retirando dele a qualificação necessária para fazer a adequação

metodológica segundo requer cada aluno”.

Com a ampliação da entrada da família e da sociedade, partilha-se, também, do

consentimento à participação da iniciativa privada nas orientações pedagógicas da escola.

Com esta abertura, “o compartilhamento da tarefa educacional e de sua provisão, [...],

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122

ampliam a possibilidade da devolução de tarefas para as famílias” (FREITAS, 2014, p. 32),

até mesmo porque o decreto 6.094 é permissivo com tal questão:

Dispõe sobre a implementação do Plano de Metas Compromisso Todos pela

Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito

Federal e Estados, e a participação das famílias e da comunidade, mediante

programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização

social pela melhoria da qualidade da educação básica (BRASIL, grifos nossos,

2007a).

Estendendo esse envolvimento com a iniciativa privada, os investimentos do

município para contribuir na alfabetização das crianças até os oito anos de idade acontecem.

No entanto, em Recife está calcado na parceria público e privado, habilitada pela política do

PDE, se expressando como efeito colateral ainda mais devastador na educação local do

município, uma vez que desqualifica as experiências dos sujeitos em detrimento da lógica de

mercado presente cada vez mais na oferta de serviços públicos. Para Dourado (2007, p. 927),

Tal adesão, contudo, não provocou, necessariamente, a mudança da cultura

institucional dos sistemas e das escolas. Em muitos casos, resultou em ajustes e

arranjos funcionais dos processos em curso nesses espaços, alterando, por vezes, a

lógica e a natureza das escolas e, em alguns casos, a sua concepção pedagógica, a

fim de cumprir obrigações “contratuais” com o governo federal no âmbito da

prestação de contas.

Em decorrência dos ajustes das ações do município às do governo federal, observamos

o uso da força ou do consentimento, em que a União apoia financeiramente e tecnicamente

programas que “influenciam no direcionamento de projetos e ações educacionais com o

consentimento das mesmas, condicionadas, no entanto, pelos critérios de adesão

estabelecidos” (CAMINI, 2010, p. 540). Dourado (2007, p. 924-925) reforça que

A articulação entre as políticas educacionais e as concepções de formação enquanto

processos de construção coletiva. Implica, também, resgatar as experiências

implementadas por estados e municípios como passos importantes no

fortalecimento das ações do MEC, em apoio às políticas de formação de

professores e aos processos de organização, gestão educacional (grifos nossos).

Como acompanhamos, Recife vem buscando manter em sua rede, no conjunto das

demais ações, projetos e programas, financiados por iniciativas privadas, que possuem

objetivos semelhantes ao Pnaic. O Pnaic, que se coloca como sendo um “compromisso formal

assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar

que todas as crianças estejam alfabetizadas...” (BRASIL, 2012a), tem em vista a meta 5 do

PNE (Lei nº 13.005).

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123

Nessa parceria, a União exerce autoridade diante dos estados e municípios, uma vez

que, perante a LDB (9394), Art. 9, aponta a assistência técnica e financeira aos entes no que

se refere à oferta à escolaridade obrigatória, agindo redistributivamente e supletivamente. Por

essa assistência técnica e financeira, a União pode financiar Programas e Projetos como estes

que o município de Recife mantém juntamente ao Pnaic. Camini (2010, p. 540) esclarece que

Na medida em que os municípios e estados aderirem ao Plano de Metas

Compromisso com diretrizes e metas já estabelecidas (decreto n. 6.094/2007),

assumindo a responsabilidade de implementá-las como condição de acesso à

assistência técnica e financeira disponibilizada pelo Ministério de Educação, pode

estar ocorrendo, simultaneamente, ingerência e permeabilidade político-

administrativas de uma instância sobre a outra. Por meio das diretrizes estabelecidas

e assumidas pelas instâncias estaduais e municipais, a união estaria exercendo

influência no direcionamento de projetos e ações educacionais com o consentimento

das mesmas, condicionadas, no entanto, pelos critérios de adesão estabelecidos.

A União, ao abrir espaço para o Plano de Metas Compromisso, acaba por corroborar

que as municipalidades, que têm obrigação de oferecer o direito ao ensino fundamental para a

população da cidade, participem de programas e projetos orientados por iniciativas privadas,

tendo em vista a carência que os municípios enfrentam. Isso também contribui para o modelo

de Estado que antes era de provedor passasse a ser

Com a política federal de "reordenação" da gestão impôs-se ao município a tarefa de

perseguir uma qualidade cujo conteúdo, método e significado são fundamentalmente

definidos pela lógica econômica – [...] - na qual cabe a qualidade de gestão que

faz restrição a direitos subjetivos e sociais, mediante formas diversas de

privatização. No entanto, a gestão educacional municipal - alheia às proposições

privatizantes federais seguiu se efetivando de modo a prevalecerem às

estratégias do Estado provedor direto, sendo o aprimoramento destas estratégias a

expectativa da escola, no tocante à melhoria da gestão (FREITAS, 1998, p. 40,

grifos nossos).

Apontamos como limites também os atrasos nos fornecimentos das diárias pela

Secretaria de Educação de Recife e os atrasos nas disponibilizações das bolsas pelo MEC aos

orientadores de estudos concomitantemente, que incidiu no desejo dos orientadores de estudos

aderirem ou permanecerem no Pnaic:

Não é fácil não, administrar um grupo de 58 orientadores no primeiro ano, 47 no

segundo e depois baixou para 42 no segundo aí baixou, no último ano 37, mas

desistiram no meio do caminho aí a gente teve que reorganizar as turmas entendeu?

Por conta de motivos pessoais mesmo. Mas era um esforço. Mas outro município

tinha 3 orientadores, outro 5 orientadores, poxa 10. Recife era, eu acho que Recife

era para ter um reconhecimento. Pelo esforço, apesar... aí o pessoal fala dos pesares,

tem outros entravesinhos, mas são coisas que esta em todas as políticas. Que a gente

vai administrando, e que a gente enquanto rede não podemos falar em minunciais,

detalhes que são próprio da rede (Representante local 1).

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124

Vejamos que o grupo de orientadores de fato foi reduzindo, o que necessitou

reorganizar as turmas em consequência.

Tivemos ainda como limite do MEC a falta de disponibilização pela legislação de

instrumentos de acompanhamento nas ações da rede, mas que se desdobrou na centralização

da responsabilidade de obter a meta de se alfabetizar na idade apenas nos professores, se

configurando com maior intensidade em monitoramento. O MEC disponibilizou o SisPActo

como instrumento de acompanhamento, mas que se caracterizou pelas falas das entrevistas

como controle principalmente dos professores alfabetizadores.

Outro limite da contrapartida ofertada pelo município foi ausência de fornecimento

da alimentação dos professores alfabetizadores em Recife, mas em contraponto o município

realizou várias ações para além do que estava previsto na legislação. Duas dessas ações,

extremamente importantes, diga-se de passagem, foram o acolhimento das ações de formação

do Pnaic pela Divisão de Alfabetização e Letramento e a outra foi a alocação dos prédios das

formações dos professores alfabetizadores.

Essa última ação ultrapassou as expectativas da colaboração, pois como observamos

nos trechos das entrevistas, a Secretaria de Educação de Recife tentou ao longo dos 3 (três)

anos se adequar às necessidades dos docentes cursistas.

Os dados de pesquisas mostraram como um fator muito positivo a questão da bolsa

não ser decisiva para a adesão/ou permanência dos professores alfabetizadores e orientadores

de estudos.

Outra questão que permeou principalmente as falas dos que implementaram o Pnaic

a nível local foram as contribuições na aprendizagem dos alunos e professores. Algumas falas

expressam que

Assim, na, na questão pedagógica foi bem legal eu mesmo aproveitei muito até hoje

eu ponho em prática algumas coisas que eu vi lá. né?. E, e os livros também viraram

material de pesquisa pra mim (Professora alfabetizadora 2).

O positivo foi que a gente aprendeu muito. Foi muito bom, apesar de todo o cansaço.

[...]. Aí assim, foi algo assim que foi bom, eu não deixei de participar, aprendi muita

coisa (Professora alfabetizadora 1).

De modo geral, os efeitos decorrentes da falta de comprometimento das instâncias

governamentais, principalmente a União e o estado, exigiram maior comprometimento dos

sujeitos locais, professores alfabetizadores e orientadores de estudos na implementação do

Pnaic em Recife.

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125

Dessa forma, nessa colaboração na implementação do Pnaic em Recife, nos pareceu

visível existir diferentes níveis de autonomia, mas

A diferença de graus de autonomia não significa redução de importância para as

instâncias que detêm menor autonomia. É comum afirmar-se que o município é a

instância mais importante, pois é aí que, concretamente, vivem as pessoas

(SAVIANI, 2010, p. 383).

Com isso, nessa seção podemos compreender que a concepção de colaboração

impressa nas falas dos sujeitos locais aponta a forte presença do sistema de monitoramento

disponibilizado pelo MEC, o Sispacto. Pois ao invés de acompanhamento, o MEC, que como

vimos se colocou na função de articulador das responsabilidades que eram sobretudo dos

estados e municípios, na sua legislação, orientou que esses entes acompanhassem as ações nas

redes, entretanto indisponibilizou assistência aos orientadores de estudos e aos professores

alfabetizadores que estavam implementando o Pnaic na escola, além de sabermos que ao

Sispacto estava atrelado o recebimento das bolsas do governo federal.

Nesse caminho, os municípios são estruturas dos estados e da União, e

consequentemente eles permearam as três instâncias federativas. Assim, vimos que mesmo

diante de uma frágil pactuação, o município de Recife ainda se mostrou solícito a alcançar a

meta onde atuou “simultaneamente nas três instâncias que, obviamente, se fortalecem

reciprocamente na medida em que se estreitam os laços de articulação que as unem em torno

de propósitos e interesses comuns” (SAVIANI, 2010, p. 383).

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A alfabetização foi uma preocupação recorrente para os formuladores políticos.

Estudiosos indicam que houve um desinteresse em garanti-la à população. Essa relação foi

apontada, também, na análise das entrevistas nessa dissertação, de forma que o Pnaic parte um

pouco dessa herança.

O Pnaic, que tem por objetivo assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas

até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental, requer o compromisso

formal assumido pelos entes federativos.

O governo federal já havia lançado diversos programas e projetos, como o Pró-

Letramento, que foi pensado pela UFPE e que foi a referência para o MEC na formulação do

Pnaic. O Pró-Letramento partiu dessa ideia de colaboração, mas o Pnaic, segundo os dados

levantados, sistematizou as responsabilidades entre os entes. Um dos interesses que nos

instigou a traçar o Pnaic como objeto de pesquisa surgiu desse cenário em que este programa

reforça o compromisso dos entes.

Então, a nossa problemática decorreu de que o governo federal, que possui a função

redistributiva e supletiva, disponibilizou altos investimentos da União, via FNDE, no

Programa. O Pnaic é direcionado à etapa de responsabilidade dos municípios, sobretudo;

então, nos interessamos em entender até que ponto houve um efetivo exercício do Regime de

Colaboração, refletido, principalmente numa capital de Estado do Nordeste, região brasileira

de maior déficit na alfabetização.

Desse modo, importou-nos investigar as questões da colaboração na implementação

do Pnaic, ou seja, tivemos como objetivo analisar como se deu o processo de implementação

do Pnaic entre o período de 2013 a 2015, considerando o regime de colaboração na gestão

desse programa educacional. Dessa forma, o campo de pesquisa adotado foi o município de

Recife.

Para cercar nosso objeto, realizamos um levantamento da produção dos estudos que

tomavam o Pnaic como objeto em cinco bancos de pesquisas (Anped, Anpae, Scielo, BDTD e

Educere) entre 2015 até o fim de 2016. Os estudos mostraram que não existiu pesquisa que

tivesse o interesse em investigar o regime de colaboração na implementação numa capital

nordestina. Os estudos até o final de 2016 tinham como objetivo, em sua maioria, áreas como

formação, aprendizagem e alfabetização. Estes resultados reforçaram a necessidade dessa

pesquisa que teve como objetivo analisar como se deu o processo de implementação do Pnaic

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entre o período de 2013 a 2015, considerando o regime de colaboração na gestão desse

programa educacional.

Durante a pesquisa, verificamos que o PMER, um dos documentos analisados, se

apresentou por suas metas e programas, expressou-se um contexto de adesão compatível com

a meta do Pnaic. Isso nos mostrou a disponibilidade do município quando da adesão ao Pnaic

de acordo com este plano.

No entanto, a análise dos demais documentos, os normativos, apontou a não

concretização de alguns pontos da parceria previstos na legislação do programa que eram

fundamentais para a implementação do Pnaic em Recife. Um exemplo foi a falta de

estruturação específica da equipe local no município. Outro ponto que está previsto nos

documentos normativos básicos do Pnaic e que não se efetivou foi a contribuição na

articulação entre o programa Mais Educação e as escolas, parceria mencionada pela portaria

disponibilizada pelo MEC como apoio na superação das barreiras nas ações do Pnaic nas

escolas pesquisadas. Ambos os exemplos eram de responsabilidade do estado e do município.

A propósito, o governo do estado de Pernambuco foi, de acordo com os dados da

pesquisa, um ente inexistente na parceria, tal como previsto nas portarias e resoluções do

Pnaic.

A contrapartida do município se efetivou na maioria dos pontos que estavam previstos

nas portarias de maneira prestativa, especialmente quando, na acomodação nas formações dos

professores alfabetizadores no período entre 2013 a 2015, a Secretaria de Educação de Recife

(na figura da equipe local) foi adequando o espaço às necessidades desses docentes.

Mas a participação do município se limitou às ações que precisavam de espaços de

diálogo com instâncias como a comunidade escolar, isso devido à legislação dessa parceria

disponibilizada pelo MEC que em vez de acompanhamento na implementação do Programa

privilegiou o monitoramento, como vimos por meio de dados. Sem contar com as orientações

que os orientadores de estudos recebiam nas formações da UFPE, que tinham por foco os

professores alfabetizadores, não as escolas, reforçando a intenção de monitoramento do Pnaic

em Recife, uma vez que não abrangia elementos do contexto em que o Programa vinha se

desenvolvendo.

Então, esta contrapartida do município foi limitada em decorrência mesmo das

ingerências que a UFPE e o MEC, enquanto responsáveis pelas deliberações e orientações das

formações até 2015, projetaram, além, é claro, como bem vimos, da falta de orçamento do

município, apontada na escolha, por exemplo, do ônibus dos orientadores de estudos no

percurso a Caruaru.

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128

Nesse sentido, a colaboração do município, estabelecida na pactuação, se configurou

positivamente, no sentido mesmo de cooperação em vários pontos, que inclusive não estavam

previstos na legislação do Pnaic, como a alocação do prédio de formação dos professores

alfabetizadores em Recife.

Já as colaborações do MEC e da UFPE se efetivaram, de acordo com os dados,

sobretudo no que diz respeito à formação, principalmente, na oferta da formação, no

cumprimento do sistema de monitoramento. Já as bolsas disponibilizadas pelo MEC a todos

os membros da cadeia atrasavam repercutindo no andamento do Programa.

Essas bolsas cedidas pelo MEC estavam vinculadas ao cumprimento das obrigações

do município monitorado pelo Sispacto, um monitoramento que o MEC e a UFPE tinham

total acesso. A implementação das ações do Programa no município não contava com

acompanhamento e assistência às barreiras vivenciadas nas escolas; os orientadores de

estudos e os professores alfabetizadores não dispunham de espaço de diálogos sobre as

questões do Pnaic. Inclusive, o MEC indicou que nas escolas tivessem Conselho ou um

Núcleo de Alfabetização que se responsabilizasse e discutisse as políticas da rede de ensino

destinadas ao atendimento das crianças dos anos iniciais. Entretanto não foi relatada a

existência desses segmentos. Logo, muitas dessas barreiras que os impediam de executar

essas obrigações estiveram relacionadas a essa ausência de acompanhamento, que facilitasse

algum tipo de assistência.

O MEC definiu o acompanhamento do Programa via sistema de monitoramento, pelo

Sispacto, o que se mostrou, de certa forma, limitado dada a ausência de diálogo entre os

professores, a escola e os processos de formação. Desse modo, a parceria na implementação

do Pnaic em Recife se mostrou fragmentada entre o município, UFPE e MEC, dada a ausência

de espaços de diálogos, pois o MEC, pelas portarias e resoluções, optou por uma maior ênfase

no sistema de monitoramento como meio de comunicação.

Nesse sentido, verificamos ainda uma necessidade de uma maior sistematização da

colaboração na implementação do Pnaic em Recife, como apontamos na dissertação. Há

estudos que sinalizam essa fragilidade na instituição do regime colaboração na pactuação

entre os entes para implementação de programas educacionais, ficando visível a atuação da

União sobremaneira nas deliberações na pactuação.

Foi relevante a experiência na construção dessa dissertação em compreender que a

responsabilidade do poder local na colaboração esteve ligada à operacionalização do

Programa. Entretanto, sua participação superou as expectativas na pactuação para que o Pnaic

desse certo.

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A construção dessa dissertação também vem cumprir um papel acadêmico, servindo

na busca por referência de um levantamento da produção que congregue os estudos sobre o

Pnaic bem como no estudo sobre a colaboração na implementação de um programa

educacional numa capital nordestina.

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Page 144: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

143

APÊNDICE A – Levantamento da produção completo

BANCO

DE

DADOS

NIVEL

ACADÊMICO

ANO AUTOR TÍITULO

01 SCIELO

TCC 2014 Santos

Alfabetizar até o final do 3º ano: reflexões sobre a

proposta do pacto nacional pela alfabetização na

idade certa– PNAIC

02 SCIELO

Artigo 2015

Minatel;

Santos;

Guimarães

Avaliação dos professores no pacto nacional pela

alfabetização na idade certa (PNAIC)

03 SCIELO

Artigo 2015 Amaral

Formação continuada de professores: reflexões

sobre a participação no pacto nacional pela

alfabetização na idade certa

04 SCIELO

Artigo 2016 Frangella

Um pacto curricular: o pacto nacional pela

alfabetização na idade certa e o desenho de uma

base comum nacional

05 ANPAE

Artigo 2015 Souza

Atuação da coordenação pedagógica na

implementação do pacto nacional pela alfabetização

na idade certa/município de Cametá/PA.

06 ANPAE

Artigo 2015 Nascimento

O pacto nacional pela alfabetação na idade

certa (PNAIC): analisando a efetivação no

município de Camaragibe (PE)

07 ANPAE

Artigo 2014 Abreu e

Santos

Investigando concepções de formação

continuada no contexto do PNAIC

08 ANPAE

Artigo 2014 Luz;

Ferreira

Pacto nacional pela alfabetização na idade

certa: formação, avaliação e trabalho docente

em análise

09 ANPED

Artigo 2014 Texto não

disponível

Políticas para a alfabetização no Brasil: do

ensino fundamental de nove anos ao pacto

pela alfabetização até os oito anos de idade

10 ANPED

Artigo 2015

Sousa;

Nogueira,

Melin

Um cenário, duas técnicas: análise dos

pressupostos teóricos dos programas ALFA E

BETO E PNAIC

11 ANPED

Artigo 2014 Souza

A

formação no pacto nacional pela alfabetização

na idade certa (PNAIC)

12 ANPED

Artigo 2014 Hermes;

Richter

O

pacto nacional pela alfabetização na idade cert

a e o tempo

das infâncias na escola pública contemporânea

13 ANPED

Artigo 2016 Santos

A formação do professor alfabetizador e o

pacto nacional pela alfabetização na idade

certa

14 ANPED

Artigo 2016 Guidi;

Auada

A influência do pacto nacional pela

alfabetização na idade certa na formação

continuada dos professores paranaenses

15 ANPED

Artigo 2016 Korn;

Koerner

A produção científica sobre o pacto nacional

pela alfabetização na idade certa (PNAIC) e a

contribuição dessa formação aos professores

alfabetizadores sobre o sistema de escrita

alfabética (SEA)

Page 145: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

144

16 ANPED

Artigo 2016 Correa

A voz das professoras alfabetizadoras no

pacto nacional pela alfabetização na idade

certa (PNAIC) em um município do estado de

minas gerais

17 ANPED

Artigo 2016 Loose;

Schwartz

Apropriações de concepções de leitura do

pacto nacional pela alfabetização na idade

certa

18 ANPED

Artigo 2016 Costa

Cadernos de formação do PNAIC em língua

portuguesa: concepções de alfabetização e de

letramento

19 ANPED

Artigo 2016

Conceição;

Menezes;

Rodrigues;

Silva e

Gonçalves

Contribuições e desafios do pacto nacional

pela alfabetização na idade certa

20 ANPED

Artigo 2016 Emilião;

Lontra

(Des) formação continuada de professores

no/do pnaic: a potência do encontro

subvertendo a lógica de homogeneização

21 ANPED

Artigo 2016

Islabão;

Jardim;

Nörnberg

Heterogeneidade em sala de aula

Entendimentos das Orientadoras de Estudo do

PNAIC

22 ANPED

Artigo 2016(a) Lima

O ensino da leitura de literatura no pacto

nacional pela alfabetização na idade certa

(PNAIC)

23 ANPED

Artigo 2016(b) Lima

O trabalho com a literatura infantil no pacto

nacional pela alfabetização na idade certa

(PNAIC)

24 ANPED

Artigo 2016 Lamêda

PNAIC e alfabetização científica: limites e

possibilidades de transformação de um curso

de formação continuada nas práticas docentes

de professores dos anos iniciais do ensino

fundamental em ciências

25 ANPED

Artigo 2015 Axer;

Rosário

PNAIC e suas traduções – desafios e

negociações envolvendo os processos

culturais do currículo

26 EDUCERE

Artigo 2013 Guidi;

Shimazaki

O pacto nacional pela alfabetização na idade

certa e

a influência na formação do professor

alfabetizador

27 EDUCERE

Artigo 2015 Winkeler;

Mantagute

A experiência da orientação no PNAIC 2014:

o que os relatórios manifestam

28 EDUCERE

Artigo 2015

Silva;

Veleda;

Mello

Concepções epistemológicas: uma reflexão

acerca dos processos formativos do PNAIC

29 EDUCERE

Artigo 2015

Silva;

Veleda;

Oliveira

Políticas públicas educacionais para a

formação docente e as contribuições dos

programas PNAIC e PIBID

30 EDUCERE

Artigo 2015 Lovato;

Maciel

A formação continuada de professores

alfabetizadores no Brasil, a partir das duas

últimas décadas: um olhar sobre o PROFA,

pró-letramento e PNAIC

Page 146: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

145

31 EDUCERE

Artigo 2015 Winkeler

O pacto nacional pela alfabetização na idade

certa (PNAIC) e a formação continuada do

professor alfabetizador

32 EDUCERE

Artigo 2015 Furtado

Um estudo sobre a implementação do eixo de

formação continuada do pnaic para professores

alfabetizadores de turmas multisseriadas no

município de cametá-pa

33 EDUCERE

Artigo 2015

Garcez;

Pereira;

D’Andrea

Formação continuada de professoras e

professores alfabetizadores: saberes

experienciais e o PNAIC

34 EDUCERE

Artigo 2015 Arruda

A formação e o saber do professor

alfabetizador no pacto nacional pela

alfabetização na idade certa – pnaic, na rede

municipal de educação de aquidauana/ms

35 EDUCERE

Artigo 2015

Nascimento;

Hernandes;

Santos

Formação de professores leitores: um estudo

sobre o PNAIC

36 EDUCERE

Artigo 2015 D’Andrea;

Antunes

Caminhar para si...trilhar para o outro...

histórias de vidas cruzadas entre

alfabetizadoras do PNAIC

37 EDUCERE

Artigo 2015

Nascimento;

França;

Sabóia;

Girão

O processo de formação continuada do pnaic:

reflexões sobre a experiência

38 BDTD

Dissertação 2015 Tedesco

Formação continuada de professores: experiências

Integradoras de políticas educacionais – PNAIC e

PROUCA – para

Alfabetização no ensino fundamental de uma escola

pública

39 BDTD

Dissertação 2014

(b) Souza

A Formação Continuada do Professor Alfabetizador

nos Cadernos do Pacto Nacional Pela Alfabetização

Na Idade Certa (PNAIC)

40 BDTD

Dissertação 2015 Santos, N.

Entre o proposto e o almejado: da proposta do Pacto

Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa às

Expectativas almejadas Pelos docentes participantes

41 BDTD

Dissertação 2014 Salomão A formação continuada de professores

Alfabetizadores: do pró-letramento ao PNAIC

42 BDTD

Dissertação 2016 Barletta (RE) Ensinando a alfabetizar: um estudo sobre os

livros de orientação pedagógica do PNAIC (2012)

43 BDTD

Dissertação 2015 Mélo

Interrogações sobre o Pacto Nacional na Idade

Certa e a Formação inicial do pedagogo na Paraíba:

“Compromisso, “adesão ao pacto,” na produção na

produção do professor alfabetizador.

44 BDTD

Dissertação 2015 Silva, L,. Tensões entre a retenção escolar e a progressão

continuada

45 BDTD

Dissertação 2015 Mindiate

Uma compreensão da alfabetização matemática

como política pública no pacto nacional pela

alfabetização na idade certa.

46 BDTD

Dissertação 2014 Manzano

Formação Continuada de professor alfabetizadores

do pacto nacional pela alfabetização na idade certa

(PNAIC) no município de São Paulo: proposições e

ações

47 BDTD

Dissertação 2015 Santos, C.

O papel do coordenador pedagógico no processo

formativo dos professores do ciclo de alfabetização:

o pacto nacional pela alfabetização na idade certa –

PNAIC.

48 BDTD

Dissertação 2015 Ferreira

O que os professores da rede pública estadual do

semiárido sergipano dizem sobre o PNAIC _ eixo

matemática

Page 147: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

146

Palavras chaves

Local

da

pesquisa

Ref. Teórico metodológico

01 Alfabetização; Pacto nacional pela alfabetização na idade

certa; práticas pedagógicas. RS

Abordagem qualitativa no estudo

de caso, e entrevistas

semiestruturadas

02 Avaliação de professores. Pacto Nacional Pela

Alfabetização na Idade Certa. Formação continuada. PR Exploratório Descritiva

03 Formação continuada de professores. PNAIC.

Alfabetização. MG Relato de Experiência

04 Política curricular. Conhecimento. Direito RJ Análise Documental

05 Professores alfabetizadores; coordenador Pedagógico,

Formação PA

Abordagem qualitativa, por meio

de questionário

06 Política Educacional. PNAIC. Camaragibe. PE Abordagem qualitativa. Entrevista

semiestruturada

07 Formação em serviço; PNAIC; trabalho docente RJ ---------------------------

08 Políticas Educacionais; Formação Docente; Avaliações

Nacionais PA -------------------------------

09 Texto não disponível GO Texto não disponível

10 Alfabetização. Políticas Públicas de Formação de

Professores. PNAIC. Instituto Alfa e Beto MS

Análise da matriz teórica do

PNAIC

11 Formação continuada. Pacto Nacional Pela

Alfabetização na Idade Certa SC Materialismo histórico dialético

12 Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade

Certa; Linguagem oral e escrita; Tempo; Produção das infâ RS

Investigação documental pelo

pensamento de Edgar Morin

13 Didática; formação de professores SP análise documental

14 Formação continuada; Pacto Nacional pela Alfabetização

na Idade Certa; Professores PR

Questionário com questões pré-

estruturadas abertas e fechadas

15 PNAIC, Formação Continuada, Sistema de Escrita

Alfabética (SEA). PR Pesquisa documental

16 Alfabetização; Leitura; Escrita MG Análise documental e entrevistas.

17 Alfabetização; Leitura; Escrita ES Análise documental

18 Política de formação; Alfabetização; formação PR

Pesquisa qualitativa, estratégia de

questionário

19 Currículo; Alfabetização RJ A abordagem epistemológica

teóricometodológica

20 Heterogeneidade; formação continuada; orientadoras de

estudos do PNAIC PR

Relato de experiência, método de

análise temática

21 Ensino; Literatura; PNAIC ES Abordagem qualitativa, análise

49 BDTD

Dissertação

2016 Martins

Pacto nacional pela alfabetização na idade certa

(PNAIC): a educação como legitimação e

dominação social.

50 BDTD

Dissertação 2014 Silva, Maria

Formação continuada do professor alfabetizador: o

papel do orientador de estudo no processo

formativo do PNAIC

51 BDTD

Dissertação 2015 Silva,

Micaela

Aprendizagem social no jogo equilíbrio geométrico

(PNAIC): por uma analítica existencial do

movimento

52 BDTD

Tese 2015 Moraes Construção de práticas de alfabetização no contexto

dos programas alfa e Beto e PNAIC

53 BDTD

Tese 2015 Resende

Análises dos pressupostos de Linguagem nos

Cadernos de Formação em Língua Portuguesa do

Pacto Nacional Pela Alfabetização Na Idade Certa –

PNAIC

Page 148: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

147

documental

22 Trabalho; Literatura; PNAIC ES Abordagem metodológica de

caráter qualitativo. Estudo de caso

23 Didática; formação de professores MG

Metodologia mista: pesquisas

qualitativas e quantitativas.

Questionários e Análise

qualitativa

24

Produção Curricular; Tradução; Política

JR Análise documental, teoria

discursiva.

25 Heterogeneidade; Orientadoras; PNAIC PR Relato de experiência, método de

análise temática

26 Formação continuada. Pacto Nacional pela Alfabetização

na Idade Certa. Alfabetização PR

27

Formação de professores; Alfabetização; Leitura RS

A abordagem desta pesquisa é

qualitativa, análise documental.

28 Formação Docente. Práticas Pedagógicas. Epistemologia RS Abordagem qualitativa e estudo

bibliográfico

29 Políticas Educacionais. Formação Inicial. Formação

Continuada. Ação Docente. RS Relato de experiência

30 Formação continuada. PROFA. Pró-letramento. PNAIC MG Análise documental.

31 Formação de professores. Alfabetização e letramento.

Professor iniciante PR

Abordagem qualitativa.

Entrevistas narrativas e

documentos para análise.

32

Formação continuada. PNAIC. Multissérie. Práxis PA

Abordagem teórico-metodológica

adota-se o materialismo histórico-

dialético

33 Formação continuada. Alfabetização. PNAIC. Saberes

docentes. PA Relato de experiência.

34 Formação docente. Alfabetização. Letramentos. Saberes PA Abordagem qualitativa. Análise

documental e bibliográfica

35

Formação de Professores. Professor Leitor. PNAIC SP Análise bibliográfica

36 PNAIC. Formação de Professores. (Auto) biografia. Diário

de Bordo. MS Relato de Experiencia

37 Formação de professores. Alfabetização. PNAIC. CE Relatos de experienciais.

38

Formação Continuada de Professores Programa Um

Computador por Aluno, Pacto Nacional pela Educação na

Idade Certa, Alfabetização, Tecnologias Digitais

RS Investigação qualitativa

exploratória

39

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

Formação do professor alfabetizador. Ensino.

Aprendizagem. Desenvolvimento infantil

SC Materialismo Histórico Dialético

40 PNAIC; políticas educacionais para alfabetização e

formação continuada. SP Materialismo histórico dialético

41 Políticas educacionais; Pró-letramento; PNAIC; formação

continuada. PR Materialismo histórico dialético

42 Livros do PNAIC; leituras escolares; formação de

professores em serviço SP

Análise documental dos livros

didáticos

43 Políticas educacionais; formação docente; professor

alfabetizador PB

Estudo documento, feita numa

perspectiva foucaultiana na trama

do discurso..

44 Retenção Escolar; Políticas Públicas; Pacto Nacional pela

Idade Certa. PB

Questionário fechado, observação

livre, entrevista semi-estruturada.

Abordagem qualitativa.

45 Políticas Públicas. Educação. Educação Matemática.

Alfabetização Matemática. PNAIC PR

Documentos oficiais, fontes

bibliográficas, e história oral

temática, com entrevistas.

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148

46 Formação continuada de professores alfabetizadores;

Secretaria de Educação Municipal de São Paulo; PNAIC SP

Abordagem qualitativa. Análise

documental e entrevistas

47

coordenador pedagógico; alfabetização matemática;

PNAIC;

aprendizagem do professor; formação permanente

SP

Abordagem qualitativa.

Pesquisa documental e

bibliográfica

48

Formação, Mudança, Professor dos anos iniciais do Ensino

Fundamental; Ensino de Matemática, Prática Pedagógica;

PNAIC.

SE

Abordagem quantitativa e

qualitativa. Questionário e

entrevistas semiestruturadas.

49 Banco Mundial. Igualdade de Oportunidades.

Emancipação da Classe Trabalhadora. CE

Pesquisa documental e

bibliográfica apoiada no eixo

teórico marxista.

50 Formação continuada. Alfabetização. Orientador de

estudo. Professor alfabetizador. Estratégias formativas. PE

Abordagem qualitativa. Análise

documental. Questionários e

entrevistas

51 Jogo; Aprendizagem Social; Comunicação Corporal;

Escola; PNAIC. PB

Abordagem descritiva e analítica,

com abordagem qualitativa.

Estudo de caso.

52 Alfabetização. Letramento. Práticas docentes. Saberes

docentes PE

análise qualitativa documental;

Materialismo histórico dialético

53 PNAIC. Linguagem. Alfabetização. Letramento. Escrita.

Formação de professores SP

Princípios e procedimentos do

Paradigma Indiciário, proposto

por Ginzburg

Page 150: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

149

APÊNDICE B

ROTEIROS DE ENTREVISTAS

Equipe Local

Dados de identificação:

Instituição: _____________________________________________________

Entrevistado:____________________________________________________

Cargo/função atual (PNAIC) _______________________________________

Sexo: □ Masc. □ Fem.

Faixa etária:

□ até 25 anos □ de 26 a 35 anos □ de 36 a 45 anos □ acima de 46 anos

Formação profissional:

Graduação – Área: _____________________________ Ano de conclusão:____________

Pós-Graduação – Área: _____________________________ Ano de conclusão: _______

Tempo de atuação na área de educação:

□ até 5 anos □ de 5 a 10 anos □ de 11 a 20 anos □ mais de 21 anos

Questões abertas:

1. Você pode iniciar falando um pouco sobre a importância do PNAIC?

2. De que maneira se asseguram a questão do espaço físico e material de apoio adequados

para os encontros presenciais da formação?

3. Você tem conhecimento sobre a forma de seleção dos orientadores de estudo na rede de

ensino de Recife?

4. Você tem conhecimento das atividades de gerenciamento e monitoramento para a

implementação das ações do Pacto na rede Recife?

Page 151: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

150

5. O município de Recife tem cumprido com suas obrigações de garantir a participação

dos professores alfabetizadores de sua rede de ensino nas atividades de formação, sem

prejuízo da carga-horária em sala de aula, custeando o deslocamento e a hospedagem,

sempre que necessário?

6. Como vem sendo feita a assistência técnica às escolas com maiores dificuldades na

implementação das ações do Pacto e na obtenção de resultados positivos de

alfabetização? Como o MEC tem se colocado?

7. Você tem conhecimento de como vem ocorrendo a concessão de bolsas de apoio para

incentivar a participação dos orientadores de estudo e dos professores alfabetizadores

nas atividades de formação nas redes de ensino que aderirem às ações do Pacto? Se há

problemas, você nota se isso impacta no processo de formação?

8. De que forma vem ocorrendo o fornecimento e distribuição dos materiais didáticos,

literários, jogos e tecnologias na rede de Recife?

9. Quais foram os desdobramentos ocorridos após a descentralização para os municípios

da distribuição destes materiais?

10. Você tem conhecimento de algum tipo de estímulo oferecido para o reconhecimento

das escolas que alcançam as metas ?

11. Como você percebeu a autonomia na implementação das ações do PNAIC ?

12. Como ocorrem os momentos de encontros nas escolas para tratar da alfabetização ?

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151

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Universidade Federal de Pernambuco

Dados de identificação:

Instituição: _____________________________________________________

Entrevistado:____________________________________________________

Cargo/função atual (PNAIC) _______________________________________

Sexo: □ Masc. □ Fem.

Faixa etária:

□ até 25 anos □ de 26 a 35 anos □ de 36 a 45 anos □ acima de 46 anos

Formação profissional:

Graduação – Área: _____________________________ Ano de conclusão:____________

Pós-Graduação – Área: _____________________________ Ano de conclusão: _______

Tempo de atuação na área de educação:

□ até 5 anos □ de 5 a 10 anos □ de 11 a 20 anos □ mais de 21 anos

Questões abertas:

1. Você pode iniciar falando um pouco sobre a importância do PNAIC?

2. Como ocorre a gestão acadêmica e pedagógica do curso de formação?

3. De que forma é realizada a seleção dos formadores que ministrarão o curso de

formação aos orientadores de estudo?

4. Que tipo de interação acontece entre o MEC, a IFs e o município de Recife para a

realização da formação?

5. De que maneira se asseguram a questão do espaço físico e material de apoio adequados

para os encontros presenciais da formação?

Page 153: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

152

6. Você considera que há uma boa parceria entre a IF e a gestão municipal no que diz

respeito ao processo de formação do PNAIC? Pode dar exemplos?

7. Você tem conhecimento sobre a forma de seleção dos orientadores de estudo na rede de

ensino de Recife?

8. Você tem conhecimento de atividades de gerenciamento e monitoramento para a

implementação das ações do Pacto na rede Recife?

9. O município de Recife tem cumprido com suas obrigações de garantir a participação

dos professores alfabetizadores de sua rede de ensino nas atividades de formação, sem

prejuízo da carga-horária em sala de aula, custeando o deslocamento e a hospedagem,

sempre que necessário?

10. Como vem sendo feita a assistência técnica às escolas com maiores dificuldades na

implementação das ações do Pacto e na obtenção de resultados positivos de

alfabetização? A IF tem sido chamada para colaborar nesse processo?

11. Você tem conhecimento de como vem ocorrendo a concessão de bolsas de apoio para

incentivar a participação dos orientadores de estudo e dos professores alfabetizadores

nas atividades de formação nas redes de ensino que aderirem às ações do Pacto? Se há

problemas, você nota se isso impacta no processo de formação?

12. De que forma vem ocorrendo o fornecimento e distribuição dos materiais didáticos,

literários, jogos e tecnologias na rede de Recife?

13. Quais foram os desdobramentos ocorridos após a descentralização para os municípios

da distribuição destes materiais?

14. Você tem conhecimento de algum tipo de estímulo oferecido para o reconhecimento

das escolas que alcançam as metas?

Page 154: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

153

15. ROTEIRO DE ENTREVISTA

Ministério da Educação (MEC)

Dados de identificação:

Instituição: _____________________________________________________

Entrevistado:____________________________________________________

Cargo/função atual (PNAIC) _______________________________________

Sexo: □ Masc. □ Fem.

Faixa etária:

□ até 25 anos □ de 26 a 35 anos □ de 36 a 45 anos □ acima de 46 anos

Formação profissional:

Graduação – Área: _____________________________ Ano de conclusão:____________

Pós-Graduação – Área: _____________________________ Ano de conclusão: _______

Tempo de atuação na área de educação:

□ até 5 anos □ de 5 a 10 anos □ de 11 a 20 anos □ mais de 21 anos.

Questões abertas:

1. Você pode iniciar falando um pouco sobre a importância do PNAIC?

2. Como ocorre a gestão acadêmica e pedagógica do curso de formação?

3. De que maneira se asseguram a questão do espaço físico e material de apoio adequados

para os encontros presenciais da formação?

4. Você considera que há uma boa parceria entre a IF e a gestão municipal no que diz

respeito ao processo de formação do PNAIC? Pode dar exemplos?

5. Você tem conhecimento de atividades de gerenciamento e monitoramento para a

implementação das ações do Pacto na rede Recife?

Page 155: UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE …‡… · Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para obtenção do grau de mestre

154

6. O município de Recife tem cumprido com suas obrigações de garantir a participação

dos professores alfabetizadores de sua rede de ensino nas atividades de formação, sem

prejuízo da carga-horária em sala de aula, custeando o deslocamento e a hospedagem,

sempre que necessário?

7. Como vem sendo feita a assistência técnica às escolas com maiores dificuldades na

implementação das ações do Pacto e na obtenção de resultados positivos de

alfabetização? A IF tem sido chamada para colaborar nesse processo?

8. Você tem conhecimento de como vem ocorrendo a concessão de bolsas de apoio para

incentivar a participação dos orientadores de estudo e dos professores alfabetizadores

nas atividades de formação nas redes de ensino que aderirem às ações do Pacto? Se há

problemas, você nota se isso impacta no processo de formação?

9. De que forma vem ocorrendo o fornecimento e distribuição dos materiais didáticos,

literários, jogos e tecnologias na rede de Recife?

10. Você tem conhecimento de algum tipo de estímulo oferecido para o reconhecimento

das escolas que alcançam as metas?