universidade federal de pernambuco...ao meu orientador, silvio meira, pela confiança em mim...

114
Universidade Federal de Pernambuco Centro de Informática Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação Proposta de um Conjunto de Métricas para a Avaliação da Gestão do Conhecimento e sua Aplicação em um Instituto de Inovação Rafael de Albuquerque Ribeiro Recife – PE Julho de 2009

Upload: others

Post on 11-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Informática Programa de Pós-Graduação em Ciência da

Computação

Proposta de um Conjunto de Métricas para a Avaliação da Gestão do Conhecimento e sua

Aplicação em um Instituto de Inovação

Rafael de Albuquerque Ribeiro

Recife – PE Julho de 2009

Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Informática Programa de Pós-Graduação em Ciência da

Computação

Proposta de um Conjunto de Métricas para a Avaliação da Gestão do Conhecimento e sua

Aplicação em um Instituto de Inovação

Rafael de Albuquerque Ribeiro [email protected]

Orientador: Prof. Ph.D. Silvio Romero Lemos Meira

Dissertação apresentada à Pós-Graduação em Ciências da Computação do Centro de

Informática da Universidade Federal de Pernambuco como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciência da

Computação.

Recife – PE Julho de 2009

Ribeiro, Rafael de Albuquerque Proposta de um conjunto de métricas para a avaliação da gestão do conhecimento e sua aplicação em um instit uto de inovação / Rafael de Albuquerque Ribeiro. - Recife: O Autor, 2009. 111 folhas : il., fig., quadros Dissertação (mestrado) – Universidade Feder al de Pernambuco. CIn. Ciência da Computação, 2009.

Inclui bibliografia e apêndice. 1. Software-Desenvolvimento. 2. Gestão do conhecimento. 3. Software-Medição. I. Título. 005.14 CDD (22. ed.) MEI2010 – 065

Dedico esta dissertação à minha família,

em especial pai, mãe e esposa, pilares

essenciais durante esta longa jornada.

3

Agradecimentos

À minha esposa amada, co-orientadora informal, apoio incondicional e

grande incentivadora.

À minha mãe querida, professora nos meus primeiros anos de vida.

Ao meu pai querido, que tanto me incentivou nos estudos. Inspiração para

minha carreira e para importantes decisões em minha vida.

À minha irmã que tanto ajudou na reta final quando a distância pareceu se

tornar um problema.

A toda equipe do C.E.S.A.R pelas oportunidades de aprendizado que tive.

Agradeço, em particular: Benedito Macedo, João Crisanto, Gerard Toonstra e Silvino

Neto.

Aos colegas do ROCKS, por todo aprendizado sobre gestão do

conhecimento.

A Alan Kelon, grande colega, primeiro co-orientador nesta longa jornada.

A Ricardo Araújo Costa, por ter aceitado o desafio de me co-orientar

neste novo tema. Enorme desafio, levando em consideração meu perfil técnico e o

total desconhecimento do tema até então.

Ao meu orientador, Silvio Meira, pela confiança em mim depositada e pelo

grande incentivo no momento em que me distanciei para investir em minha carreira.

Este trabalho foi apoiado em parte pelo Instituto Nacional de Ciência e

Tecnologia para Engenharia de Software (INES1), financiado pelo CNPq e FACEPE,

processos 573964/2008-4 e APQ-1037-1.03/08.

1 www.ines.org.br

4

“Computadores fazem arte”

Computadores fazem arte

Artistas fazem dinheiro

Computadores avançam

Artistas pegam carona

Cientistas criam o novo

Artistas levam a fama

Zero quatro

5

Resumo

Buscando ampliar a vantagem competitiva, as organizações passaram a dedicar especial atenção a um ativo bastante peculiar: o conhecimento. Todavia, é importante ressaltar que o conhecimento já era utilizado extensivamente há algum tempo nas organizações, sendo a novidade vê-lo como algo que precisa ser gerenciado. Com o objetivo de fomentar o conhecimento nas organizações, surge a gestão do conhecimento, disciplina que, resumidamente, prega o incentivo a criação, o devido armazenamento e o fácil acesso ao conhecimento. Contudo, para que se justifiquem os investimentos nas iniciativas de gestão do conhecimento são necessários mecanismos de medição adequados, do contrário, todo esforço será posto em cheque.

Entretanto, ainda que a disciplina da gestão do conhecimento tenha evoluído bastante, a maioria das iniciativas de medição ainda não atingiram a maturidade. Se por um lado temos propostas na literatura para a gestão do conhecimento com claras limitações no escopo de medição, por outro lado temos propostas para medição do capital intelectual com escopos excessivamente abrangentes, dificultando a aplicação para a medição da gestão do conhecimento.

Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo elaborar um conjunto de métricas para a gestão do conhecimento baseado nas propostas disponíveis na literatura. A validação do sistema proposto ocorreu mediante uma aplicação piloto em um instituto de inovação, onde aconteceram duas grandes iniciativas de gestão do conhecimento. A primeira iniciativa era baseada em um sistema de informação do tipo Wiki. Já a segunda, tinha como base uma ferramenta de rede social baseada na Web. Os resultados obtidos foram confrontados com uma análise qualitativa da percepção dos colaboradores quanto às duas grandes iniciativas de gestão do conhecimento da organização, de forma a validar o sistema proposto. Ainda que a análise das métricas propostas tenha sido limitada, haja vista que a primeira iniciativa não contemplava todos os aspectos mensurados na primeira proposta, o resultado da análise qualitativa apontou uma correlação entre a percepção dos colaboradores e os resultados obtidos pelo sistema proposto.

Por fim, embora o conjunto de métricas proposto tenha sido aplicado, neste estudo, em um instituto de inovação, a proposta oferece um conjunto de métricas de propósito geral potencialmente adequado a ser aplicado, teoricamente, em organizações com as mais distintas iniciativas de gestão do conhecimento.

Palavras-chave: gestão do conhecimento, sistemas de medição, redes sociais.

6

Abstract

In search of increasing competitive advantage, organizations started to give special attention to a very peculiar asset: knowledge. Nevertheless, it is worth mentioning that knowledge was already extensively used for some time in organizations, the novelty is in seeing it as something that needs to be managed. It is with the objective of fomenting knowledge at organizations that the knowledge management appeared, subject that, in summary, encourages knowledge creation, proper storage and easy access. However, proper measuring mechanisms are necessary in order to justify the investments on knowledge management initiatives, otherwise, all the effort will be cast in doubt.

Even though knowledge management faced a huge evolution, the majority of the measurement initiatives are still in its early stages. If on one hand knowledge management measurement initiatives suffer from limitations on their scopes, on the other hand, intellectual capital measurement initiatives have an excessive broad scope that poses difficulties for their application.

Therefore, the present research objective is the elaboration of a metric set for knowledge management based on the current available proposals present on the literature. The validation of the proposal was based on a pilot application in an innovation institute, where we may highlight two major knowledge management initiatives. The first initiative was based on a Wiki like information system. The second one, is based on a web based social network tool. The results were confronted with a qualitative analysis of the employees’ perception regarding the two major knowledge management initiatives, in order to validate the proposed system. Even though not all measures have been collected during both initiatives, as the first initiative was unable to present the data necessary for all measures, the results of the qualitative analysis pointed a correlation between the employees’ perception and the results of the proposed system.

Finally, even though the proposed metric set has been applied, in this research, at an innovation institute, the present proposal offers a metric set of general purpose that can be theoretically applied to a variety of organizations with potentially distinct knowledge management initiatives.

Keywords: knowledge management, intellectual capital, measurement

systems, social networks

7

Sumário 1. Introdução ....................................................................................................... 14

1.1. Motivação ..................................................................................................... 15

1.2. Objetivos ...................................................................................................... 16

1.2.1. Objetivos gerais ..................................................................................... 16

1.2.2. Objetivos específicos ............................................................................. 17

1.3. Estrutura da dissertaçao .............................................................................. 17

2. Conhecimento, gestão do conhecimento e gestão do capital intelectual ........ 18

2.1. Conhecimento .............................................................................................. 18

2.2. Categorias de conhecimento ........................................................................ 19

2.2.1. Conhecimento tácito .............................................................................. 19

2.2.2. Conhecimento explícito ......................................................................... 20

2.2.3. Dualidade do conhecimento .................................................................. 20

2.3. O conhecimento nas empresas .................................................................... 21

2.4. capital intelectual e recursos intangíveis ...................................................... 24

2.5. Gestão do conhecimento e gestão do capital intelectual ............................. 25

2.6. Gestão do conhecimento e Tecnologia da informação ................................ 28

2.7. Processos de gestão do conhecimento ........................................................ 29

2.7.1. A Espiral do conhecimento .................................................................... 29

2.7.2. Outros processos para a gestão do conhecimento................................ 30

2.8. Considerações finais .................................................................................... 33

3. Métricas para a gestão do conhecimento e do capital intelectual.................... 34

3.1. Medida, métrica e indicador ......................................................................... 35

3.1.1. Medida ................................................................................................... 35

3.1.2. Métrica ................................................................................................... 35

3.1.3. Indicador ................................................................................................ 35

3.2. Métricas para a gestão do conhecimento ..................................................... 35

8

3.2.1. Medidas do processo de gestão do conhecimento ................................ 36

3.2.2. O Knowledge Management Performance Scorecard ............................. 37

3.2.3. Medidas para a gestão do conhecimento .............................................. 39

3.3. Métricas para a gestão do capital intelectual ............................................... 42

3.3.1. Métricas para o Capital Intelectual ......................................................... 42

3.3.2. O Skandia Navigator .............................................................................. 44

3.3.3. Weightless wealth tool kit ...................................................................... 47

3.4. Considerações finais .................................................................................... 49

4. Conjunto de métricas proposto ........................................................................ 51

4.1. Etapa de criação .......................................................................................... 53

4.1.1. Número de discussões .......................................................................... 53

4.1.2. O número de novas relações entre colegas .......................................... 54

4.1.3. Presença de processos para a troca de conhecimento entre

indivíduos ............................................................................................................ 54

4.2. Etapa de armazenamento ............................................................................ 54

4.2.1. Quantidade de novos conhecimentos .................................................... 55

4.2.2. Porcentagem de qualificações positivas ................................................ 55

4.2.3. Quantidade de qualificações ................................................................. 55

4.2.4. Proporção de classificações .................................................................. 56

4.3. Etapa de disseminação ................................................................................ 56

4.3.1. Recomendações de conhecimento ........................................................ 56

4.3.2. Acessos aos conhecimentos armazenados ........................................... 57

4.3.3. Proporção dos Acessos através de classificações ................................ 57

4.4. Etapa de aplicação ....................................................................................... 58

4.4.1. Utilização de conhecimento objetivando aumento da eficiência ............ 58

4.4.2. Capacidade de localização e aplicação do conhecimento para

mudar condições de competitividade .................................................................. 59

9

4.4.3. Capacidade de relacionar rapidamente fontes de conhecimento

para solucionar problemas .................................................................................. 59

4.5. Meta-etapa de resultados ............................................................................. 59

4.5.1. Registros de patente e marcas .............................................................. 59

4.5.2. Publicações científicas .......................................................................... 60

4.6. Considerações finais .................................................................................... 60

5. Metodologia para validação da proposta ......................................................... 62

5.1. O C.E.S.A.R ................................................................................................. 62

5.2. Gestão do conhecimento no C.E.S.A.R ....................................................... 62

5.3. Coleta dos dados ......................................................................................... 63

5.4. Análise dos dados ........................................................................................ 64

5.5. Perfil dos entrevistados ................................................................................ 64

5.6. Resultados ................................................................................................... 65

5.1. Considerações finais .................................................................................... 68

6. Aplicação piloto do conjunto de métricas proposto .......................................... 69

6.1. Resultados para etapa de Criação ............................................................... 69

6.1.1. Número de discussões .......................................................................... 69

6.1.2. O número de novas relações entre colegas .......................................... 70

6.1.3. Presença de processos para a troca de conhecimento entre

indivíduos ............................................................................................................ 71

6.2. Etapa de armazenamento ............................................................................ 72

6.2.1. Quantidade de novos conhecimentos .................................................... 72

6.2.2. Porcentagem de qualificações positivas ................................................ 74

6.2.3. Quantidade de qualificações ................................................................. 75

6.2.4. Proporção de classificações .................................................................. 76

6.3. Etapa de disseminação ................................................................................ 77

6.3.1. Recomendações de conhecimento ........................................................ 77

6.3.2. Acessos aos conhecimentos armazenados ........................................... 77

10

6.3.3. Proporção dos Acessos através de classificações ................................ 79

6.4. Etapa de aplicação ....................................................................................... 80

6.4.1. A organização usa conhecimento objetivando aumentar a

eficiência ............................................................................................................. 80

6.4.2. Capacidade de localização e aplicação do conhecimento para

mudar condições de competitividade .................................................................. 81

6.4.3. Capacidade de relacionar rapidamente fontes de conhecimento

para solucionar problemas .................................................................................. 82

6.5. Meta-etapa de resultados ............................................................................. 83

6.5.1. Registros de patente e marcas .............................................................. 83

6.5.2. Publicações científicas .......................................................................... 84

6.6. Considerações finais .................................................................................... 84

7. Conclusão ....................................................................................................... 86

7.1. Contribuições ............................................................................................... 86

7.2. Limitações .................................................................................................... 87

7.3. Trabalhos futuros ......................................................................................... 87

Referências ............................................................................................................... 89

Apêndice A – Medidas para a gestão do conhecimento de Gold, Malhotra e

Segars ....................................................................................................................... 92

Apêndice B – Alguns dos indicadores presentes no Skandia Navigator ................. 100

Apêndice C – Questionário aplicado como parte da coleta das medidas

propostas................................................................................................................. 107

Apêndice D – Roteiro das entrevistas ..................................................................... 109

Apêndice E – Identificação e perfil dos entrevistados ............................................. 110

11

Índice de figuras Figura 1 – Dimensão Tácito/Explícito ........................................................................ 21

Figura 2 – Relação entre capital intelectual, ativos intangíveis e conhecimento ....... 25

Figura 3 – Raizes conceituais do capital intelectual .................................................. 27

Figura 4 – A espiral do conhecimento ....................................................................... 29

Figura 5 – Processo de gestão do conhecimento proposto por Goldoni (2007) ........ 32

Figura 6 – Modelo estrutural das capacidades de infra-estrutura e processo ........... 40

Figura 7 – Correlação entre os elementos de uma iniciativa de gestão do

conhecimento.................................................................................................... 42

Figura 8 – Representação visual do Skandia Navigator ............................................ 45

Figura 9 – Cinco categorias de recursos intangíveis ................................................. 48

Índice de fórmulas Fórmula 1 – Cálculo do valor das competências-chave ............................................ 48

Fórmula 2 – Cálculo do valor da da margem de contribuição ................................... 48

Índice de gráficos Gráfico 1 – Discussões nas listas e no amigos ......................................................... 69

Gráfico 2 – Novos contatos adicionados ................................................................... 71

Gráfico 3 – Presença de processos para a troca de conhecimento entre

indivíduos .......................................................................................................... 72

Gráfico 4 – Quantidade de novos conhecimentos ..................................................... 73

Gráfico 5 – Porcentagem de qualificações positivas ................................................. 74

Gráfico 6 – Quantidade de qualificações ................................................................... 75

Gráfico 7 – Classificações por conteúdo ................................................................... 76

Gráfico 8 – Recomendações de conhecimento ......................................................... 77

Gráfico 9 – Acessos a conhecimentos armazenados ................................................ 78

Gráfico 10 – Quantidade de novos conhecimentos para o último ano ...................... 78

Gráfico 11 – Proporção dos acessos através de classificações ................................ 79

Gráfico 12 – Uso do conhecimento na organização objetivando o aumento da

eficiência organizacional ................................................................................... 80

12

Gráfico 13 – Localização de conhecimento para aumento da competitividade

organizacional ................................................................................................... 81

Gráfico 14 – Rápido relacionamento de fontes de conhecimento na solução de

problemas ......................................................................................................... 82

Gráfico 15 – Marcas submetidas e registradas ......................................................... 83

Gráfico 16 – Publicações .......................................................................................... 84

Índice de quadros Quadro 1 – Valores de Mercado e Contábil .............................................................. 14

Quadro 2 – Os princípios da organização do conhecimento ..................................... 22

Quadro 3 – Balanced scorecard para gestão do desempenho do setor público ....... 38

Quadro 4 – Adaptação dos indicadores do Knowledge Management

Performance Scorecard .................................................................................... 39

Quadro 5 – Exemplos das medidas propostas por Gold, Malhotra e Segars ............ 41

Quadro 6 – Exemplo de valores de intangíveis ......................................................... 49

Quadro 7 – Resumo do conjunto proposto ................................................................ 60

Quadro 8 – Perfis dos entrevistados ......................................................................... 65

Quadro 9 – Comparativo das iniciativas .................................................................... 67

Quadro 10 – Medidas da eficácia organizacional ...................................................... 92

Quadro 11 – Medidas da infraestrutura tecnológica da gestão do conhecimento ..... 93

Quadro 12 – Medidas da infraestrutura estrutural da gestão do conhecimento ........ 94

Quadro 13 – Medidas da infraestrutura cultural da gestão do conhecimento ........... 95

Quadro 14 – Medidas do processo de aquisição da gestão do conhecimento ......... 96

Quadro 15 – Medidas do processo de conversão da gestão do conhecimento ........ 97

Quadro 16 – Medidas do processo de aplicação da gestão do conhecimento ......... 98

Quadro 17 – Medidas do processo de proteção da gestão do conhecimento ........... 99

Quadro 18 – Indicadores da perspectiva com foco no financeiro ............................ 100

Quadro 19 – Indicadores da perspectiva com foco no cliente ................................. 101

Quadro 20 – Indicadores da perspectiva com foco no processo ............................. 102

Quadro 21 – Indicadores da perspectiva com foco na renovação e no

desenvolvimento ............................................................................................. 103

Quadro 22 – Indicadores da perspectiva com foco no humano .............................. 105

Quadro 23 – Questões aplicadas como complementos as medidas das etapas

de criação e aplicação .................................................................................... 107

13

Quadro 24 – Possíveis respostas às perguntas aplicadas no questionário

elaborado para o cálculo das métricas ........................................................... 108

Quadro 25 – Identificação e perfil dos entrevistados ............................................... 110

14

1. INTRODUÇÃO

Nos anos últimos anos, o conhecimento vem ganhando uma atenção

especial dentro das organizações. Ikujiro Nonaka, afirma que:

Em uma economia onde a única certeza é a incerteza, a única fonte remanescente confiável de vantagem competitiva é o conhecimento (NONAKA, 1998, p. 23)

O parágrafo acima é ainda mais relevante em um cenário como o da atual

crise econômica2. Nonaka continua o parágrafo afirmando que: “[...] empresas bem

sucedidas são aquelas que criam novos conhecimentos de forma consistente, os

disseminam na organização, e que rapidamente os embarcam em novas tecnologias

e produtos.”. Esta visão de Nonaka com relação ao conhecimento é partilhada por

autores como Eccles (2000, p. 40) que afirmam que a velocidade de acesso as

informações é fundamental para o sucesso das equipes focadas em novas

oportunidades dentro de uma organização.

Teixeira Filho (2000, p. 23) apresenta outra perspectiva para o interesse

pelo conhecimento no mundo corporativo. Ele afirma que a capacidade que o

conhecimento tem de aumentar o valor de uma empresa para além do seu

patrimônio físico é a razão do crescente interesse pelo conhecimento nas empresas.

Esse atributo dos bens intelectuais, do qual o conhecimento faz parte, pode ser

constatado pela observação do Quadro 1 – adaptado de Joia (2001, p. 55) – onde é

possível perceber que o valor de mercado supera em muito o valor contábil em

organizações intensas em conhecimento como são os casos da IBM e da Microsoft.

Quadro 1 – Valores de Mercado e Contábil

Empresa Valor de mercado (M) Valor contábil (C) M/C

IBM US$ 70,7 bilhões US$ 16,6 bilhões 4,24

Microsoft US$ 85,5 bilhões US$ 930 milhões 91,93

2 FMI: nenhum país está imune à crise econômica global. Disponível em

http://www.estadao.com.br/economia/not_eco122605,0.htm. Acesso em 05 de abril de 2009.

15

1.1. MOTIVAÇÃO

De acordo com Teixeira Filho (2000, p. 51), as formas tradicionais de

gestão onde havia uma “concentração de saber na administração e de ignorância na

produção” estão sendo substituídas por técnicas administrativas que valorizam a

participação e a autonomia. O mesmo autor exemplifica um nicho onde essa

transformação pode ser percebida: “Em organizações intensivas em conhecimento,

como as de tecnologia, a questão do controle passa de forma mais crítica pela

autonomia e participação” (TEIXEIRA FILHO, 2000, p. 46).

Todavia, transformar conhecimento em um diferencial competitivo

demanda planejamento e esforços. É com o objetivo de viabilizar o uso eficaz do

conhecimento na organização que existe a disciplina conhecida como gestão do

conhecimento. Para o Centro Americano de Produtividade e Qualidade (APQC),

gestão do conhecimento é um tipo de estratégia que tem como objetivo entregar o

conhecimento certo à pessoa certa na hora certa (HO, 2009). A visão da APQC, a

respeito da gestão de conhecimento, enfatiza claramente os resultados, mas para

que esta seja eficaz, são necessários processos, ferramentas e estratégias de

aferição que suportem as ações a ela relacionadas. Além da visão da APQC,

existem autores que defendem que “a gestão de conhecimento pode ser

considerada como um conjunto de processos que visa a criação, utilização e

disseminação do conhecimento dentro da organização” (TEIXEIRA FILHO, 2000, p.

22).

Ainda que autores como Stewart (2001, p. 291 apud ANDRIESSEN, 2003,

p. 74) apontem que é possível gerenciar sem medir quando afirmam que as

organizações sempre gerenciaram pessoas, moral e estratégia sem medi-las, a

PricewaterhouseCoopers (1997, p. 203) afirma que: “Indicadores de desempenho

são principal ferramenta para assegurar a implantação de estratégias. [...]

Indicadores de desempenho são também uma força poderosa, capaz de moldar a

cultura da empresa, influenciando diretamente seus valores.”. Neely, Gregory e

Platts (1995, p. 94) vão além quando correlacionam a aplicação de indicadores de

desempenho aos mecanismos de recompensa:

[...] recompensas ou sanções são usadas para reforçar ou modificar o comportamento dependendo do desempenho do empregado e da adequação do curso de ações tomado.

16

Conseqüentemente, para os estrategistas de negócio a base lógica por trás da introdução de uma medida de desempenho é que ela é um dos elementos de um sistema de controle estratégico e pode ser usada para influenciar comportamento.

Embora já exista um vasto conjunto de indicadores para a gestão do

conhecimento na literatura (BOSE, 2004), autores como Liebowitz apontam

deficiências: “várias das métricas citadas carecem de criatividade no que diz respeito

a determinar o tamanho e o crescimento da base de conhecimento da organização”

(LIEBOWITZ, 2000, p. 62).

Este trabalho foi motivado pela necessidade de transmissão dos avanços

da gestão do conhecimento aos responsáveis pela área em um instituto de inovação

situado no Porto Digital em Recife. Ainda que este trabalho tenha sido direcionado

pela premissa de que embora indicadores de desempenho não sejam requisitos

para a implantação de uma iniciativa de gestão do conhecimento os mesmos são

peça fundamental por serem capazes de direcionar a organização a um objetivo

comum. A PricewaterhouseCoopers (1997, p. 202) aponta que “com um conjunto de

indicadores insatisfatórios (ou sem adotar um esquema de indicadores) qualquer

mudança positiva conquistada será perdida enquanto os gerentes perseguem um

conjunto de alvos inconsistentes e conflitantes.”. Bose (2004, p. 459) partilha da

visão da PricewaterhouseCoopers e acrescenta um dado preocupante: a

mensuração da gestão do conhecimento encontra-se ainda em um estágio imaturo,

e, que sem a devida mensuração, os gestores não podem ter a visibilidade que o

esforço está trazendo ganhos para a organização e, dessa forma, apoiar a iniciativa.

1.2. OBJETIVOS

Esta seção apresenta os objetivos gerais e específicos deste trabalho.

1.2.1. OBJETIVOS GERAIS

O objetivo geral deste trabalho é propor um conjunto de métricas para a

avaliação da gestão do conhecimento com base nas propostas disponíveis na

literatura de forma a permitir uma análise da evolução da iniciativa de gestão do

conhecimento por parte dos interessados na organização.

17

1.2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

São enumerados, a seguir, os objetivos específicos deste trabalho:

1. Avaliação das métricas disponíveis na literatura para avaliação da

gestão do conhecimento e da gestão do capital intelectual

2. Aplicação piloto da proposta deste trabalho, que compreende a

coleta e a apresentação dos resultados das métricas propostas em

uma organização

3. Avaliação dos resultados da aplicação piloto

1.3. ESTRUTURA DA DISSERTAÇAO

Esta dissertação está estruturada da seguinte forma: no Capítulo 2 são

apresentados os conceitos relacionados à gestão do conhecimento e a gestão do

capital intelectual. No Capítulo 3 as propostas para avaliação da gestão do

conhecimento presentes na literatura são analisadas. O Capítulo 4 apresenta o

conjunto de métricas proposto neste trabalho. No Capítulo 5 a metodologia adotada

para validação dos resultados é apresentada. O Capítulo 6 relata os resultados do

piloto da aplicação da proposta e os confronta com os resultados da análise

qualitativa desenvolvida. Por último, o Capítulo 7 apresenta as considerações finais.

18

2. CONHECIMENTO, GESTÃO DO CONHECIMENTO E GESTÃO DO

CAPITAL INTELECTUAL

Antes de falar sobre gestão do conhecimento e gestão do capital

intelectual faz-se necessário uma discussão a respeito do que é conhecimento e as

motivações que levam organizações a tentar gerenciá-lo.

2.1. CONHECIMENTO

Alguns autores definem conhecimento a partir de dados e informação.

Ahmed, Lim e Zairi (1999) afirmam que o conhecimento tem origem nos dados e que

estes por sua vez servem como núcleo essencial que, quando combinados, resultam

em informação relevante. O mesmo autor afirma ainda que o conhecimento, apesar

de derivado de dados e informações, existe em um nível acima da informação.

McDermott (1995, p. 105), por sua vez, faz uso de uma abordagem diferente para

explicar o que é conhecimento. Segundo o autor:

Saber é uma ação humana. Discussões sobre gestão do conhecimento normalmente começam com a definição de dado, informação e conhecimento. Eu gostaria de tomar um diferente ponto de partida: uma investigação sobre nossa experiência a respeito do uso, da descoberta e do compartilhamento do conhecimento. [...] Refletindo sobre nossa experiência, a primeira coisa que vem à mente é que nós sabemos. Conhecimento sempre envolve alguém que sabe.

McDermott (1999, p. 106) continua, ainda a respeito do conhecimento,

afirmando:

Conhecimento é o resíduo do pensamento. Conhecimento vem da experiência. Entretanto, não é apenas experiência crua. Ele advém da experiência que nós refletimos, fizemos sentido e testamos contra a experiência de terceiros.

McDermott retrata um importante atributo do conhecimento: ser originado

nas pessoas e derivado das experiências. Sveiby (1997, p. 24) reforça esta visão de

que criar conhecimento é uma ação humana:

Parte da presente confusão relacionada a como fazer negócios na era do conhecimento seria provavelmente eliminada se nós tivéssemos um melhor entendimento das maneiras pelas quais informação e conhecimento são tanto similares quanto diferentes. Uma premissa muito difundida mas altamente

19

inconsciente de que informação é igual a conhecimento e que a relação entre informação e um computador é equivalente à relação entre um cérebro humano e conhecimento humano pode levar a erros perigosos e caros.

Todavia, é importante lembrar que nem todo conhecimento está

embarcado nas pessoas e que existem formas de transmissão de conhecimento

baseadas na codificação destes. Esta distinção entre os conhecimentos codificados,

independentes do indivíduo e os altamente enraizados nos indivíduos é a base de

uma categorização amplamente adotada na literatura que será discutida na próxima

seção.

2.2. CATEGORIAS DE CONHECIMENTO

Além da explanação sobre o que é conhecimento e como ele difere de

dado e informação, faz-se necessário explicar uma subcategorização do

conhecimento. Dentre vários autores, podemos citar Nonaka (1998, p. 27) que aceita

a existência de duas categorias de conhecimento: o tácito e o explícito. O tácito

pode ser resumidamente caracterizado como sendo altamente pessoal e de difícil

formalização. Em contrapartida, o conhecimento explícito é formal e sistemático,

podendo ser facilmente expresso e compartilhado.

2.2.1. CONHECIMENTO TÁCITO

Em sua explicação sobre o que é conhecimento, McDermott (1999, p.

106) retrata claramente as características do conhecimento tácito:

Conhecimento é sempre recriado no presente momento. A maioria de nós não consegue articular o que sabemos. O conhecimento é largamente invisível e normalmente vem à mente apenas quando necessitamos dele para responder um questionamento ou solucionar um problema. Isto não acontece porque é difícil localizar o conhecimento em nossa memória. Isto acontece porque o conhecimento reside em nosso corpo.

A explanação de McDermott a respeito do conhecimento tácito destaca

uma de suas características: ser enraizado no indivíduo, dependente de fatores

culturais. Polanyi em seu livro “The tacit Dimension”, lançado em 1966 e reimpresso

em 2009, reforça a opinião de McDermott com a seguinte afirmação: “Eu devo

reconsiderar o conhecimento humano começando pelo fato de que nós podemos

saber mais que nós podemos dizer” (POLANYI, 2009, p. 4). Polanyi defende ainda

20

que toda descoberta, isto é, todo novo conhecimento tem origem em conhecimentos

tácitos (POLANYI, 2009, p. 22). Nonaka compartilha da opinião de Polanyi quando

afirma que o ponto de partida da inovação descrita na máquina de pães da

Matsushita foi o conhecimento tácito transmitido à equipe da Matsushita pela equipe

do Hotel Osaka (NONAKA, 1998, p. 27).

2.2.2. CONHECIMENTO EXPLÍCITO

O conhecimento explícito, diferente do tácito, caracteriza-se por ter uma

grande aptidão para ser transferido e por ser menos dependente de questões

individuais. De acordo com Nonaka (1998, p. 27) o conhecimento explícito é formal e

sistemático e, por essa razão, pode ser facilmente expresso e compartilhado.

Nonaka continua com um exemplo de conhecimento explícito: as especificações

técnicas da máquina de pães da Matsushita que resultaram do treinamento da

equipe da Matsushita pela equipe do Hotel Osaka. Ahmed (1999, p. 305) cita como

exemplos de conhecimento explícito: manuais, operações padrões documentadas

em livros ou compartilhadas através de cursos.

2.2.3. DUALIDADE DO CONHECIMENTO

Embora a maioria dos autores simplifique a categorização do

conhecimento em tácito ou explícito, o modelo proposto por Polanyi defende que

todo conhecimento é formado por um componente tácito e um explícito e que a

tentativa de se explicitar por completo o conhecimento é um contra-senso

(POLANYI, 2009, p. 20). A Figura 1 – Dimensão Tácito/Explícito – adaptada de

Grant (2007, p. 177) – retrata de forma visual a teoria proposta por Polanyi.

21

Figura 1 – Dimensão Tácito/Explícito

Adaptado de Grant (2007)

A Figura 1 está separada em linhas de forma a representar os vários

conceitos relacionados à classificação do conhecimento. Na linha 1, temos a

representação da predominância de componente tácito e explícito. Por sua vez, a

linha 2 representa a capacidade de expressão do conhecimento com relação à sua

composição entre componentes tácitos e explícitos. A linha 3 expressa o foco do

indivíduo. O autor afirma que indivíduos experientes conseguem focar o objetivo

abstraindo a ferramenta utilizada para alcançá-lo. Por fim, a linha 4 expressa a

linguagem utilizada na codificação do conhecimento explícito, haja vista que quanto

maior explicitação de um conhecimento menor sua dependência do contexto.

Sendo assim, ainda que este trabalho use a categorização simplificada de

tácito e explícito, isso não implica que o conhecimento categorizado como explícito

não carregue nenhum componente tácito.

2.3. O CONHECIMENTO NAS EMPRESAS

O conhecimento se tornou peça fundamental nas empresas da era do

conhecimento. Joia (2001, p. 62) afirma que o conhecimento substituiu a terra, o

Inefável Altamente

Pessoal

Equilibrado Explícito p/

Experts

Explícito p/

Maioria

ExplícitoDominância deTácito

Relevância da Linguagem

Especializada Geral

ImplícitaSecundária ou

Instrumental

1

2

3

4

22

trabalho e o capital nas empresas baseadas em conhecimento. Ho (2009, p. 98)

afirma que o conhecimento se tornou um tipo de recurso estratégico nas empresas.

O mesmo autor ainda argumenta que no atual cenário de competitividade, os fatores

que levam ao sucesso não são mais simplesmente investimentos de capital, força de

trabalho e matéria prima, mas na verdade a habilidade da inovação baseada em

conhecimento proveniente de todos os membros da organização. Sveiby (1997, p.

27) resume as diferenças entre as organizações da era do conhecimento e as da era

industrial com a seguinte tabela:

Quadro 2 – Os princípios da organização do conhecim ento

Ítem Visto de uma perspectiva

industrial

Visto de uma perspectiva do

conhecimento

Pessoas Geradores de custos ou recursos Geradores de receitas

Base de poder dos

gerentes

Nível relativo na hierarquia da

organização

Nível relativo de conhecimento

Luta pelo poder Trabalhadores braçais contra

capitalistas

Trabalhadores do conhecimento contra

gerentes

Tarefa principal da

gerência

Supervisionar subordinados Apoiar colegas

Informação Instrumento de controle Ferramenta para comunicação,

recurso

Produção Trabalhadores braçais processando

recursos físicos para criar produtos

tangíveis

Trabalhadores do conhecimento

convertendo conhecimento em

estruturas intangíveis

Fluxo da

informação

Através da hierarquia da

organização

Através de redes acadêmicas

Principal meio de

receitas

Tangível (dinheiro) Intangível (aprendizado, novas idéias,

novos clientes, P&D)

Gargalos para a

produção

Capital financeiro e habilidades

humanas

Tempo e conhecimento

Manifestação da Produtos tangíveis Estruturas intangíveis (conceitos e

23

produção software)

Fluxo da produção Orientado a máquinas, seqüencial Orientado a idéias, caótico

Efeito do tamanho Economia de escala no processo de

produção

Economia do escopo das redes

Relações com

clientes

Mão única através dos mercados Interativa através de redes pessoais

Conhecimento Uma ferramenta ou recurso como

vários outros

O foco dos negócios

Propósito do

aprendizado

Aplicação de novas ferramentas Criação de novos ativos

Valor das ações Orientado pelos ativos tangíveis Orientado pelos ativos intangíveis

Economia De retornos decrescentes De retornos crescentes e decrescentes

Adaptado de Sveiby (1997)

Outro aspecto interessante dos bens baseados em conhecimento quando

comparados aos bens tradicionais é que eles diferem em vários aspectos

relacionados às capacidades de criar valor. Se por um lado um bem físico,

tradicional, é um bem rival3, conhecimento explícito por outro lado é um bem não-

rival4 que ainda conta com uma grande aptidão para ser transferido além de

apresentar custos marginais próximos a zero (GRANT, 1996). Grant faz uma clara

distinção entre conhecimento tácito e explícito por defender que uma vez que o

conhecimento tácito reside no indivíduo, só podendo ser apropriado quando

aplicado. Grant (1996) ainda sugere que, para evitar problemas de propriedade

relacionados aos conhecimentos explícitos, deve-se fazer uso dos mecanismos de

3 Um Bem é considerado Rival quando ele não pode ser usado (consumido) por muitas

pessoas simultaneamente. Fonte: Jornal da Ciência –Disponível em:

<http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=18583>. Acesso em 02/04/2009.

4 Um Bem é dito Não-Rival quando ele pode ser usado (consumido) por muitas pessoas

simultaneamente. Fonte: Jornal da Ciência –Disponível em:

<http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=18583>. Acesso em 02/04/2009.

24

proteção legal disponíveis, como patentes e direitos autorais. Todas as

peculiaridades citadas acima para os bens baseados em conhecimentos fazem com

que os mesmos demandem formas especializadas de gestão e de mensuração, este

último talvez seja o ponto onde a gestão do conhecimento teve sua menor evolução.

Porém, antes de se explorar a gestão do conhecimento é necessário expor alguns

conceitos periféricos à gestão do conhecimento. A afinidade da gestão do

conhecimento com intangíveis é ainda mais intensa quando o interesse é de se

medir uma iniciativa de gestão do conhecimento, sendo assim, a próxima seção tem

como objetivo desenvolver a relação entre a gestão do conhecimento e alguns de

seus termos correlatos.

2.4. CAPITAL INTELECTUAL E RECURSOS INTANGÍVEIS

Embora alguns destes conceitos não façam parte do escopo primário do

presente estudo, os conceitos de capital intelectual, recursos e ativos intangíveis

serão explanados. A inclusão destes conceitos neste trabalho se dá pela grande

afinidade dos termos, afinidade esta reforçada pela sobreposição de alguns dos

termos supracitados.

Andriessen (2003, p. 62), se referindo aos ativos intangíveis, afirma que

uma grande vantagem da contabilidade é o uso de conceitos bem definidos. O

Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade define ativos intangíveis como

“um ativo, intangível, não monetário, identificável e sem substâncias físicas possuído

para ser usado na produção ou suprimento de bens ou serviços, para ser alugado a

terceiros, ou para propósitos administrativos” (INTERNATIONAL ACCOUNTING

STANDARDS COMMITTEE, 1998, p. 984 apud ANDRIESSEN, 2003, p. 62). O

mesmo comitê define um ativo como: “um recurso controlado por uma empresa

como um resultado de eventos passados e do qual benefícios econômicos futuros

são esperados para a empresa”. Ainda de acordo com o comitê, capital humano e

relacionamento com o cliente não podem ser definidos como ativos intangíveis uma

vez que a empresa não pode exercer controle total sobre estes. Por último, o comitê

ressalta como essenciais para a caracterização de um ativo intangível: a

probabilidade da geração de benefícios econômicos e a possibilidade da medição

25

destes e dos custos (INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS COMMITTEE,

1998, p. 984 apud ANDRIESSEN, 2003, p. 63).

Figura 2 – Relação entre capital intelectual, ativo s intangíveis e conhecimento

É importante mencionar também que nem todo conhecimento pode ser

classificado como ativo intangível como sugere Tissen et al (1998) ao afirmar que

“empresas não precisam de mais conhecimento e sim de conhecimento capaz de

agregar valor” (TISSEN; ANDRIESSEN; LEKANNE DEPREZ, 1998 apud

ANDRIESSEN, 2003, p. 67). Para tal caracterização é necessário que o

conhecimento seja capaz de gerar valor. A Figura 2 retrata de forma visual e

detalhada a relação entre capital intelectual, ativos intangíveis e conhecimento.

Elementos como capital humano, relacionamento com o cliente entre outros foram

omitidos para facilitar o entendimento.

2.5. GESTÃO DO CONHECIMENTO E GESTÃO DO CAPITAL

INTELECTUAL

Buscando formas de se manterem competitivas, as empresas passaram a

dar atenção especial a um recurso bastante peculiar, o conhecimento. Teixeira Filho

(2000, p. 22) afirma que o conhecimento já era utilizado, ao menos de forma

implícita, nas organizações há bastante tempo. A novidade, ainda de acordo com

Teixeira, é ver o conhecimento como um recurso que precisa ser gerenciado.

Foi seguindo a tendência de ver o conhecimento como algo que demanda

gerenciamento que surgiram duas disciplinas: a gestão do conhecimento e a gestão

ConhecimentoAtivos Intangíveis

Capital Intelectual

Recursos Intangíveis

Conhecimento capazde gerar valor

26

do capital intelectual. Embora usados algumas vezes como sinônimos, a gestão do

conhecimento e a gestão do capital intelectual apresentam diferenças significativas.

Wiig (1997, p. 400) afirma que embora exista uma sobreposição

considerável nos escopos da gestão do capital intelectual e na gestão do

conhecimento, a divergência entre os focos e as perspectivas são de maiores

magnitudes. Ariely (2003, p. 4) reforça a sobreposição dos termos, aponta a

confusão a respeito dos termos na literatura, mas argumenta que a relação entre os

dois termos não é simples e merece uma análise cautelosa.

Sullivan tenta resumir os dois termos caracterizando a gestão do

conhecimento como criação de valor e a gestão do capital intelectual como extração

de valor (SULLIVAN apud ARIELY, 2003, p. 4). Wiig (1997, p. 400) afirma que “a

gestão do capital intelectual foca em renovar e maximizar o valor dos ativos

intelectuais da corporação”. O mesmo autor, dessa vez se referindo à gestão do

conhecimento diz:

Gestão do conhecimento (GC) tem perspectivas táticas e operacionais. GC é mais detalhada e foca em facilitar e gerenciar atividades relacionadas ao conhecimento como a criação, captura, transformação e uso. Sua função é planejar, implementar, operar e monitorar todas as atividades relacionadas ao conhecimento e os programas necessários a uma gestão do capital intelectual efetiva.

Bose (2004, p. 459), também se referindo à gestão do conhecimento,

aponta três objetivos que merecem destaque: tirar proveito do conhecimento da

organização, criar conhecimento ou promover inovação e aumentar a colaboração a

fim de incrementar as habilidades dos profissionais.

27

Figura 3 – Raizes conceituais do capital intelectua l

Adaptado de Andriessen (2003)

A definição para a gestão do conhecimento apresentada por Wiig ressalta

um detalhe importante: a gestão do conhecimento é um subconjunto da gestão do

capital intelectual. Roos et al partilham desta visão quando apontam que a gestão do

conhecimento é parte integrante das raízes conceituais do capital intelectual (ROOS

et al apud ANDRIESSEN, 2003). A Figura 3 retrata os vários elementos que

constituem o capital intelectual e como pode ser visto a gestão do conhecimento é

situada ao lado de elementos como: o desenvolvimento do conhecimento através da

inovação e a promoção do conhecimento através do foco nas competências-chave,

todos estes partes integrantes da estratégia empregada para o desenvolvimento do

capital intelectual.

Sendo assim, com base nas argumentações acima, podemos apontar, de

forma resumida, que a gestão do conhecimento tem um foco limitado, limitando-se

ao fomento do conhecimento na organização ao passo que a gestão do capital

intelectual apresenta um escopo relativamente maior que inclui desde aspectos

como o relacionamento com o cliente até a gestão das competências da

organização.

Além dos conceitos citados acima, a tecnologia da informação é outro que

é tão freqüentemente associado à gestão do conhecimento quanto os citados

CapitalIntelectual

Estratégia

Medição

Desenvolverconhecimento

Promover oconhecimento

Contabilidade do capital humano

Scorecards

Organização do aprendizado

Gestão da Conversação

Inovação

Gestão doconhecimento

Competênciaschave

Ativos invisíveis

Balanceados

Financeiros

28

anteriormente. Dessa forma, a próxima seção explora a relação entre a gestão do

conhecimento e a tecnologia da informação.

2.6. GESTÃO DO CONHECIMENTO E TECNOLOGIA DA

INFORMAÇÃO

Apesar da tecnologia da informação ser apontada como peça

fundamental na gestão do conhecimento (HO, 2009, pp. 102, 110; BOSE, 2004, p.

459), não se pode pensar que a gestão do conhecimento se resume a repositórios

de informação. Gold et al (2001, p. 186) afirma que:

Infelizmente, vários projetos de gestão do conhecimento são, na verdade, projetos de informação. Quando estes projetos resultam em alguma consolidação de dados, porém pouca inovação em produtos e serviços, o conceito de gestão do conhecimento é posto em dúvida.

McDermott (1999, p. 104) cita um caso similar, onde o desenvolvimento

de um repositório de conhecimento em uma organização resultou no que o autor

descreveu como um “ferro velho de informações” em que as informações lá contidas

eram irrelevantes.

A PriceWaterhouseCoopers (1997, p. 202) enfatiza a necessidade de

indicadores de desempenho bem elaborados para uma correta transmissão dos

objetivos dentro de uma organização com o exemplo de uma empresa que, por

conta de indicadores obsoletos e mal formulados, perdeu espaço para a

concorrência.

Teixeira Filho (2000, p. 79) partilha da visão de que se não houver

cautela, a tecnologia da informação pode vir a ser apenas uma fonte de gastos em

software e equipamentos, sem a geração de novas vantagens competitivas por meio

da gestão do conhecimento.

Sendo assim, ainda que autores como Choi e Lee (2003) tenham

apontado resultados positivos obtidos a partir de iniciativas de gestão do

conhecimento baseadas em sistemas de informação, não se pode simplesmente

relacionar investimentos em infra-estrutura da tecnologia da informação com

melhorias na gestão do conhecimento.

29

Por último, antes que se fale a respeito de métricas para a gestão do

conhecimento é necessário explorar alguns dos principais processos para a gestão

do conhecimento.

2.7. PROCESSOS DE GESTÃO DO CONHECIMENTO

Bose (2004, p. 458) evidencia a importância de se conhecer os processos

de gestão do conhecimento para que sejam definidos indicadores de desempenho

relevantes. Dessa forma, esta seção tem como objetivo analisar algumas das

propostas de processos disponíveis na literatura.

2.7.1. A ESPIRAL DO CONHECIMENTO

Em “The Knowledge Creating Company”, Nonaka, Ryoko e Noboru

propuseram um processo que retrata a criação e disseminação do conhecimento em

uma organização. A espiral do conhecimento, representada na Figura 4, retrata

quatro principais transformações que o conhecimento sofre dentro de uma

organização: a socialização, a externalização, a combinação e a internalização. Os

autores explicam cada etapa do processo da seguinte forma (NONAKA; RYOKO;

NOBORU, 2000, p. 9-10):

Figura 4 – A espiral do conhecimento

Adaptado de NONAKA; RYOKO e NOBORU (2000)

Socialização

Simpatização

Externalização

Articulação

Incorporação

Internalização

Conexão

Combinação

TácitoTácito

cito

cito

ExplícitoExplícito

Exp

lícitoE

xplícito

30

A socialização é a conversão direta de conhecimento tácito entre

indivíduos a partir de experiências compartilhadas. A socialização retrata, por

exemplo, o processo de tutoria.

O processo de externalização ocorre quando conhecimento tácito é

convertido em explícito através da articulação. A externalização pode ser

exemplificada pela documentação de um procedimento efetuada por um profissional,

permitindo que outros usufruam deste conhecimento.

A combinação ocorre quando conhecimento explícito é convertido em

conjuntos mais complexos e sistemáticos de conhecimento. O processo de

combinação é normalmente facilitado pelo uso de mecanismos computacionais. Um

relatório organizado a partir de dados de vários departamentos em uma

organização, capaz de revelar conhecimentos até então desconhecidos, é um

exemplo do resultado do processo de combinação.

Por último, a internalização é o processo de incorporação de

conhecimento explícito transformando-o em conhecimento tácito. Se tomarmos o

exemplo da externalização, o processo complementar que acontece quando um

colega assimila um conhecimento documentado.

2.7.2. OUTROS PROCESSOS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO

As etapas presentes no processo para a gestão do conhecimento é um

ponto de grande divergência na literatura. Autores como Armistead (1999) defendem

um processo composto por três etapas: criação, transferência e incorporação do

conhecimento, etapas estas descritas em detalhes na Seção 3.2.1.

Bose (2004) por sua vez, propõe um processo composto por seis etapas:

• Criação do conhecimento: etapa que compreende a descoberta

de novos conhecimentos pelos indivíduos que fazem parte da

organização, quando estes, de acordo com o autor, descobrem

novas maneiras de executar atividades ou adquirem know-how.

• Captura do conhecimento: esta etapa é caracterizada pelo

armazenamento do conhecimento bruto em uma base

organizacional.

31

• Refinamento do conhecimento: etapa em que o conhecimento já

armazenado é complementado de forma a acrescentar contexto e

permitir aplicação imediata.

• Armazenamento do conhecimento: etapa responsável pela

codificação do conhecimento de forma a facilitar o entendimento

posterior.

• Gerenciamento do conhecimento: etapa que é responsável pela

manutenção da base de conhecimento. O principal objetivo desta

etapa é remover conhecimentos não mais relevantes da base.

• Disseminação do conhecimento: etapa responsável pela entrega

do conhecimento aos indivíduos que constituem a organização. O

autor destaca a importância de tecnologias como ferramentas de

groupware, intranets e a internet.

Já Liebowitz (1999) defende um processo mais abrangente, composto por

oito etapas que compreende desde a identificação das competências-chave até a

comercialização do conhecimento. Resumidamente, o processo de Liebowitz é

composto pelas seguintes etapas:

• Identificação: etapa responsável pela identificação das

competências-chave da organização.

• Captura: etapa em que o conhecimento existente é formalizado.

• Seleção: etapa responsável pela avaliação da relevância, valor e

corretude do conhecimento capturado.

• Armazenamento: codificação do conhecimento capturado e

selecionado em repositórios organizacionais.

• Compartilhamento: distribuição automática do conhecimento aos

indivíduos baseado em perfis pessoais e de trabalho.

• Aplicação: recuperação e uso do conhecimento no apoio à

decisão, na solução de problemas, na automação de atividades e

no treinamento.

• Criação: descoberta de novos conhecimentos através da

pesquisa, experimentação e do pensamento criativo.

32

• Comercialização: desenvolvimento e comercialização de produtos

e serviços baseados em conhecimento.

A análise das propostas de Armistead (1999), Bose (2004) e Liebowitz

(1999) nos permite concluir que há uma divergência significativa quanto à

composição das etapas de um processo de gestão do conhecimento. Goldoni (2007,

p. 36) analisou os processos disponíveis na literatura e, com base nesta análise,

propôs um processo que contemplasse as semelhanças identificadas nas propostas.

O processo resultante é composto por cinco etapas e está visualmente representado

na Figura 5.

Figura 5 – Processo de gestão do conhecimento propo sto por Goldoni (2007)

O autor define resumidamente cada uma das cinco etapas do processo

da seguinte forma:

• criação – etapa que compreende a adição de novos

conhecimentos e o ajuste nos conhecimentos existentes;

• armazenamento – etapa onde o conhecimento é codificado para

ser armazenado nos repositórios organizacionais de conhecimento;

• disseminação – etapa onde estão incluídos a comunicação e a

distribuição do conhecimento dentro da organização;

• utilização – etapa destinada à aplicação do conhecimento;

• mensuração – etapa horizontal que se propõe a aferir o resultado

das etapas do processo.

Um aspecto interessante da proposta de Goldoni (2007) é que a etapa de

resultados, representada de forma tracejada, é apresentada, mas não é detalhada.

Todavia, Goldoni (2007) afirma que a etapa de mensuração deve compreender

também o momento onde os resultados da gestão do conhecimento são apurados, o

que permite concluir que a etapa de resultados representa o momento onde são

Criação Armazenamento Disseminação Utilização Resultado

Mensuração

33

mensurados os ganhos da corporação com a gestão do conhecimento e que esta

não está diretamente relacionada às atividades da gestão do conhecimento.

2.8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo explorou a gestão do conhecimento e vários de seus

conceitos correlatos. O capítulo iniciou com a definição de conhecimento através das

duas principais abordagens: a que considera que o conhecimento deriva da

informação e a que considera o conhecimento resultado da experiência e do saber,

esta última talvez mais plausível por condicionar a criação de conhecimento aos

indivíduos. Além da definição de conhecimento o capítulo retratou também a gestão

do conhecimento e alguns termos relacionados dos quais merecem destaque: o

capital intelectual, a gestão do capital intelectual e os intangíveis. A Seção 2.5

merece especial atenção por evidenciar os limites que separam a gestão do

conhecimento da gestão do capital intelectual. Por último, o capítulo expôs vários

dos processos disponíveis na literatura para a gestão do conhecimento entre os

quais podemos destacar a “espiral do conhecimento”.

34

3. MÉTRICAS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO E DO

CAPITAL INTELECTUAL

Independente de tratarmos a gestão do conhecimento como processo ou

estratégia, é consenso que a aferição é peça fundamental para que a mesma seja

eficaz. Ahmed, Lim e Zairi (1999, p. 305) afirmam que as empresas precisam medir

para atingir os objetivos.

Todavia, existem claros desafios quando partimos para a medição de

intangíveis, universo este do qual o conhecimento faz parte. Alguns autores

destacam que a valoração dos ativos intangíveis é baseada na percepção de

mercado do potencial de geração de valor (ARIELY, 2003, p. 4; WIIG, 1997, p. 401).

Ariely ainda aponta outra dificuldade: o conhecimento pode ter diferentes valores

quando aplicado em diferentes contextos (ARIELY, 2003, p. 3).

De qualquer forma, já é possível encontrar na literatura sistemas de

análise de desempenho para a gestão do conhecimento. Podemos citar desde

exemplos baseados no Balanced Scorecard desenvolvido por Robert Kaplan e David

Norton, como o Knowledge Management Performance Scorecard (DE GOOIJER,

2000), até propostas como as medidas para a gestão do conhecimento

(ARMISTEAD, 1999) que focam nos processos de gestão do conhecimento.

Um aspecto que merece atenção é que algumas propostas apresentadas

na literatura como indicadores para a gestão do conhecimento são na verdade

indicadores para a gestão do capital intelectual uma vez que além de endereçarem a

gestão do conhecimento incluem elementos como: capital humano, capital de

relação com o cliente entre outros fatores que constituem o capital intelectual

conforme pode ser observado na Seção 2.5.

Neste capítulo algumas das propostas disponíveis na literatura para a

gestão do conhecimento e para a gestão do capital intelectual serão analisadas.

Embora a gestão do capital intelectual não seja escopo do presente estudo, a

considerável sobreposição desta com a gestão do conhecimento combinada com a

grande relevância de propostas como o Skandia Navigator impossibilitam a exclusão

destas de uma pesquisa a respeito de indicadores para a gestão do conhecimento.

35

Um aspecto que merece destaque é a inobservância de evoluções ou

novas propostas posteriores à primeira metade da década atual. A revisão

desenvolvida ao longo deste estudo não foi capaz de determinar a causa, apesar de

terem sido desenvolvidos esforços no sentido de contactar autores das principais

propostas disponíveis na literatura com relação às evoluções das mesmas.

3.1. MEDIDA, MÉTRICA E INDICADOR

Dada a importância do processo de mensuração, faz-se necessário definir

precisamente três conceitos-chave relacionados ao processo de aferição, são eles:

medida, métrica e indicador. Ragland (1995) os define da seguinte forma:

3.1.1. MEDIDA

Cálculo com relação a um padrão; um padrão ou unidade de medida; a

extensão, dimensão ou capacidade de algo como determinado por uma medida.

3.1.2. MÉTRICA

Uma medida quantitativa da gradação pela qual um sistema, componente

ou processo possui um determinado atributo.

3.1.3. INDICADOR

Um dispositivo ou variável que pode ser definido para um estado prescrito

baseado nos resultados de um processo ou na ocorrência de uma condição

especificada.

Dessa forma, indicadores são os instrumentos de aferição mais

adequados para a mensuração das iniciativas de gestão do conhecimento por

permitirem que a situação atual seja confrontada com valores de controle. Todavia,

há a necessidade da definição dos valores de controle inferior e superior e, esta

definição, demanda tempo e esforços.

3.2. MÉTRICAS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO

Esta seção apresenta alguns dos indicadores para a gestão do

conhecimento presentes na literatura.

36

3.2.1. MEDIDAS DO PROCESSO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO

Armisted (1999) apresenta uma proposta de como mensurar o

desempenho da gestão do conhecimento que, de acordo com o autor, é composta

pelos processos de criação, transferência e incorporação do conhecimento. De uma

forma resumida, o autor define cada um dos processos da seguinte forma:

• Processo de criação de conhecimento – processo que objetiva a

criação de novos conhecimentos e descoberta de soluções para

problemas já existentes e potenciais;

• Processo de transferência de conhecimento – assim como o

processo de criação, o de transferência objetiva a criação de novos

conhecimentos além do aumento do desempenho que é motivado

pelo acesso ao conhecimento por partes dos indivíduos na

organização;

• Processo de incorporação de conhecimento – processo focado

na incorporação de conhecimento em perspectivas organizacionais

como: novos produtos, serviços e processos.

Por fim, Armistead (1999) propôs medidas de desempenho para cada um

dos processos descritos. Para o primeiro processo, de criação, foram definidas as

seguintes medidas:

• Confiabilidade do conhecimento;

• Completude do conhecimento;

• Atualidade do conhecimento;

• Aceitabilidade do conhecimento;

• Prontidão do conhecimento;

• Custo de exploração do conhecimento;

• Número de novas patentes.

Por sua vez, para o processo de transferência de conhecimento,

Armistead propôs:

• Atualidade do conhecimento;

• Confiabilidade do conhecimento;

• Completude do conhecimento;

37

• Acessibilidade do conhecimento;

• Custo de transferência do conteúdo.

Por último, foram propostas as seguintes medidas para o processo de

aplicação do conteúdo:

• Aprendizado individual;

• Aprendizado organizacional;

• Proteção de valor do conhecimento;

• Potencial de valor do conhecimento;

• Evidências de melhores práticas.

Um aspecto que merece atenção é que não há detalhes sobre as

medidas na proposta de Armistead, medidas como “confiabilidade do conhecimento”

podem ser expressas tanto como medidas qualitativas quanto como quantitativas

usando uma escala de Likert5.

3.2.2. O KNOWLEDGE MANAGEMENT PERFORMANCE SCORECARD

Com o objetivo de analisar o desempenho da gestão do conhecimento na

administração pública, De Gooijer (2000) elaborou um sistema para análise do

desempenho da gestão do conhecimento baseado no Balanced Scorecard de

Kaplan e Norton. De acordo com De Gooijer (2000, p. 303), as soluções existentes

até então na literatura tinham aplicabilidade limitada ao setor público além de serem

deficientes na aferição da mudança cultural em uma organização. O

desenvolvimento do sistema de análise de desempenho proposto por de Gooijer foi

motivado pela crença de que a gestão do conhecimento era peça fundamental na

implantação de uma nova estratégia do governo Australiano onde a prestação dos

serviços deve ser responsabilidade da iniciativa privada e ao governo cabe apenas o

papel de definição das políticas (DE GOOIJER, 2000, p. 304). De acordo com o

autor, algumas premissas importantes foram levadas em conta durante o

desenvolvimento do sistema, dentre elas merecem destaque:

5 Escala desenvolvida por Rensis Likert onde os entrevistados optam por respostas

objetivas que vão desde “concordo totalmente” até “discordo totalmente”.

38

• Um sistema de análise de desempenho para a gestão do

conhecimento não deve estar isolado do sistema de desempenho

corporativo;

• Os indicadores não devem ser ambíguos;

• Gestão do conhecimento é um princípio do negócio e está

embarcado em todos os aspectos do trabalho desenvolvido na

organização.

Outro aspecto importante no desenvolvimento do sistema proposto por De

Gooijer foi a adequação de algumas das perspectivas com relação ao Balanced

Scorecard de Kaplan e Norton. De acordo com o autor, na atual realidade da

administração pública, o crescimento do quadro de funcionários é algo absurdo (DE

GOOIJER, 2000, p. 306), levando, dessa forma, a substituição da perspectiva

Crescimento pela perspectiva Pessoas. Outra mudança foi na perspectiva Clientes

que, ainda de acordo com De Gooijer (2000), não faz muito sentido quando nos

referimos à administração pública, sendo Stakeholders um termo mais adequado.

Dessa forma, o Quadro 3 apresenta as quatro áreas do Scorecard resultante.

Quadro 3 – Balanced scorecard para gestão do desemp enho do setor público

Desempenho financeiro

Processos de negócio internos

Stakeholders Pessoas

O que devemos fazer para sermos bem sucedidos financeiramente?

Em quais processos de negócio precisamos sobressair?

Como devemos aparecer perante nossos stakeholders?

Como nós iremos manter nossa habilidade de aprender e desenvolver?

Com base nos objetivos e resultados esperados para cada uma das áreas

elencadas no Quadro 3, foram formulados indicadores para algumas das áreas do

Scorecard proposto conforme pode ser observado no Quadro 4.

39

Quadro 4 – Adaptação dos indicadores do Knowledge M anagement

Performance Scorecard

Processos de negócio internos

Interessados

Métricas de uso da página do FAQ;

Atualizações do conteúdo do FAQ;

Número de funcionários treinados em gestão do conhecimento;

Números de participantes em salas de discussão de gestão do conhecimento;

Número de contribuições para as discussões de gestão do conhecimento;

Número de contribuições para os documentos a respeito da gestão do conhecimento.

Número de salas de discussão;

Número de participantes em cada sala.

Conforme pode ser visto acima, por se tratar, à época, de um trabalho em

andamento, o estudo não explora todas as perspectivas do Scorecard proposto.

Entretanto, a proposta de De Gooijer oferece uma boa adaptação das perspectivas

do Balanced Scorecard para a gestão do conhecimento.

3.2.3. MEDIDAS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO

Embora originalmente concebidas para validar a correlação entre as

competências-chave da organização com relação à gestão do conhecimento e a

eficácia de uma organização, as medidas propostas por Gold, Malhotra e Segars

(2001) apresentam uma alternativa interessante para a medição da gestão do

conhecimento em uma organização.

As medidas seguem uma organização hierárquica de três níveis conforme

pode ser observado na Figura 6. A estrutura hierárquica proposta tem como objetivo

permitir uma melhor visualização do que o estudo objetivava verificar: a correlação

40

entre o que o estudo considera peças fundamentais para implantação bem sucedida

de uma iniciativa de gestão do conhecimento e a efetividade organizacional. De

forma resumida, o estudo em questão tentou verificar a correlação entre cada par de

elementos representados como elipses na Figura 6 e interconectados por uma seta,

o que significa dizer, por exemplo, que o estudo objetivou determinar a correlação

entre as capacidades do processo de gestão do conhecimento e a efetividade

organizacional.

Figura 6 – Modelo estrutural das capacidades de inf ra-estrutura e processo

Adaptado de Gold, Malhotra e Segars (2001)

A proposta conta com 94 medidas, disponíveis no Apêndice A,

formatadas seguindo a escala de Likert de sete níveis e dispostas nas categorias

situadas nas extremidades da Figura 6. O

Quadro 5 apresenta algumas das medidas propostas.

Tecnologia

Estrutura

Cultura

Capacidades da infra-estrutura de

conhecimento

Capacidades do processo do

conhecimento

Aquisição

Conversão

Aplicação

Proteção

Efetividade organizacional

41

Quadro 5 – Exemplos das medidas propostas por Gold, Malhotra e Segars

Categorias Medidas

Efetividade organizacional

Nos últimos dois anos, minha organização melhorou sua habilidade de evitar a sobreposição do desenvolvimento de iniciativas corporativas

Tecnologia Minha organização usa tecnologia que permite que funcionários colaborem com outras pessoas dentro da organização

Estrutura Minha organização conta com um sistema padronizado de recompensa para o compartilhamento de conteúdo

Cultura Na minha organização os funcionários entendem a importância do conhecimento para o sucesso corporativo

Aquisição Minha organização tem processos para a troca de conteúdo entre indivíduos

Conversão Minha organização tem processos para a conversão de conteúdo no design de novos produtos e serviços

Aplicação Minha organização relaciona rapidamente fontes de conhecimento à solução de problemas

Proteção Minha organização tem tecnologia que restringe o acesso a algumas fontes de conhecimento

Adaptado de Gold, Malhotra e Segars (2001)

Gold, Malhota e Segars (2001) defendem a escolha por uma escala de

Likert quando afirmam que estas provêem a vantagem de padronizar e quantificar

efeitos relativos.

42

Figura 7 – Correlação entre os elementos de uma ini ciativa de gestão do

conhecimento

A análise estatística desenvolvida por Gold, Malhotra e Segars (2001)

concluiu que há uma correlação positiva entre todos os elementos analisados. Outra

conclusão apresentada foi a de que, sozinho, nenhum dos elementos à esquerda do

gráfico é responsável pela efetividade organizacional. A Figura 7 apresenta os

resultados obtidos pela análise desenvolvida por Gold, Malhotra e Segars (2001)

onde os valores acima das setas representam a correlação identificada entre os

elementos conectados.

3.3. MÉTRICAS PARA A GESTÃO DO CAPITAL

INTELECTUAL

Esta seção apresentará algumas das propostas para a medição das

iniciativas de gestão do capital intelectual presentes na literatura.

3.3.1. MÉTRICAS PARA O CAPITAL INTELECTUAL

Um estudo desenvolvido por Liebowitz (2000) revisou alguns dos

indicadores de desempenho para a gestão do capital intelectual presentes na

literatura. Uma das conclusões apresentada por Liebowitz é que “várias das métricas

citadas carecem de criatividade no que diz respeito à determinação do tamanho e do

crescimento da base de conhecimento da organização”. Ainda de acordo com o

Tecnologia

Estrutura

Cultura

Capacidades da infra-estrutura de

conhecimento

Capacidades do processo do

conhecimento

Aquisição

Conversão

Aplicação

Proteção

Efetividade organizacional

0.70

43

autor, “os indicadores presentes na literatura não endereçam os tipos de

conhecimento que mais agregam valor à organização” (LIEBOWITZ, 2000, p. 62),

das quais podemos citar o aumento da base de conhecimento organizacional, a

captura e a disseminação de conhecimento chave aos indivíduos corretos entre

outras. Foi em face destas limitações que Liebowitz (2000) propôs os seguintes

indicadores para a gestão do capital intelectual listados abaixo:

• O número de novas relações entre colegas;

• O índice de reuso dos conhecimentos freqüentemente

acessados/reusados;

• A captura de expertise chave de forma online;

• A disseminação do conhecimento para os indivíduos corretos;

• O índice de proficiência em compartilhamento de conhecimento

adquirido;

• O número de novas idéias que geram produtos ou serviços

inovadores;

• O número de lições aprendidas e boas práticas aplicadas para

criarem valor agregado;

• O número de livros produzidos somado aos artigos, conferências,

patentes e marcas registradas dividido pelo número de

funcionários;

• Valor investido em treinamento dos funcionários somado ao valor

investido em P&D dividido pelo número de funcionários;

• O número de anedotas sérias6 apresentadas sobre o sistema de

gerenciamento de conteúdo da organização;

• O número de aprendizes e a taxa de sucesso deles na

organização;

• Interações com acadêmicos, consultores e assessores.

6 Robertson (2007, p. 6) sugere que anedotas e histórias de sucesso são peças

fundamentais para iniciativas de gestão do conhecimento por permitirem a transmissão dos

benefícios da iniciativa à organização. Disponível em: http://www.steptwo.com.au. Acesso em:

12/10/2008.

44

Embora os indicadores propostos por Liebowitz apresentem uma maior

maturidade quando comparados com o Knowledge Management Performance

Scorecard, o sistema de Liebowitz carece de uma categorização que permita a

visualização do desempenho nas diversas áreas da gestão do conhecimento.

Outra peculiaridade da proposta de Liebowitz é que se não fosse pelo

título da proposta e pelos indicadores: “Valor investido em treinamento dos

funcionários somado a o valor investido em P&D dividido pelo número de

funcionários” e “O número de aprendizes e a taxa de sucesso deles na organização”,

focados no capital humano, a proposta seria claramente de um sistema para a

medição da gestão do conhecimento.

3.3.2. O SKANDIA NAVIGATOR

Motivada pela constatação de que boa parte dos valores de uma empresa

não era retratada nos balanços fiscais em uso, a Skandia AFS propôs, em 1992, o

Skandia Navigator. A proposta da Skandia foi trazer à tona itens até então

desconsiderados nos balanços fiscais como marcas registradas, concessões, bases

de dados de clientes, profissionais chave, parcerias, entre outros (EDVINSSON,

1997, p. 368).

De acordo com Edvinsson (1997, p. 370), seis grandes etapas descrevem

a trajetória para o desenvolvimento do capital intelectual dentro de uma organização,

são elas:

1. Missionária: etapa focada nos insights e na lógica por trás do

capital intelectual, etapa em que a organização detecta a

necessidade de um novo sistema de medição.

2. Medição: etapa onde há a coleta dos dados e o desenvolvimento

da linguagem para comunicação dos resultados.

3. Liderança: esta etapa é caracterizada pela atuação da liderança,

navegando e realçando o futuro, como sugere a metáfora da

Skandia.

4. Tecnologia: etapa com foco no desenvolvimento de tecnologias

que apóiem o rápido compartilhamento do conhecimento.

45

5. Capitalização: etapa que tem como foco a receita proveniente do

conhecimento empacotado.

6. Futurização: por último, a etapa de futurização visa a renovação e

o desenvolvimento contínuo da organização de forma a manter a

vantagem competitiva.

Foi na segunda etapa deste processo descrito pelo autor que o Navigator

foi desenvolvido na Skandia AFS. O nome Navigator tem origem em uma metáfora

sobre o termo navegação, com o intuito de representar a busca por uma nova forma

de comunicar os resultados nos relatórios fiscais.

O Navigator separa os indicadores, conforme pode ser visto na Figura 7,

nas categorias histórico, atualidade e futuro. A separação tem como objetivo permitir

a análise em separado dos fatores que retratam os resultados passados dos que

resultarão em mudanças no futuro.

Figura 8 – Representação visual do Skandia Navigato r

Adaptado de Schluter, Phillips e Phillips (2002, p. 34)

A perspectiva com foco financeiro tem como objetivo retratar o resultado

decorrente das iniciativas direcionadas ao capital intelectual. Das perspectivas

presentes no Navigator, a financeira é a que apresenta os indicadores mais

tradicionais e tangíveis.

Foco no Financeiro

Foco no

Processo

Foco no

Cliente

Foco no

Humano

Histórico

Atualidade

FuturoFoco na Renovação e no Desenvolvimento

CI

46

A perspectiva com foco no cliente tenta retratar a influência da visão de

colaboração com o cliente nos resultados da empresa. Um detalhe importante é que

nenhum dos indicadores da perspectiva do cliente é expresso em unidades

monetárias.

A perspectiva com foco no humano, de acordo com Schluter, Phillips e

Phillips (2002, p. 39), é a mais dinâmica e difícil das perspectivas disponíveis no

Navigator. Os autores argumentam que a perspectiva é a mais dinâmica por interagir

com todas as outras presentes no modelo e a mais complicada por tentar medir o

que está nas cabeças e nos corações dos funcionários.

A perspectiva de foco no processo é responsável por mensurar a parcela

de influência da tecnologia na criação de valor dentro da empresa. De acordo com

Schluter, Phillips e Phillips (2002, p. 37), um aspecto importante levado em

consideração no desenvolvimento do Navigator é que nem todo investimento em

tecnologia deve ser contabilizado, haja vista que nem todo investimento em

tecnologia é revertido em criação de valor. Dessa forma, a perspectiva de processo

contabiliza apenas os investimentos que resultaram em valor agregado.

Por último, a perspectiva com foco na renovação e no desenvolvimento

tem como objetivo mensurar as iniciativas que serão responsáveis no futuro por

gerar valor agregado à empresa.

Uma das premissas no desenvolvimento do Navigator é que um item

levado em consideração na perspectiva de renovação e desenvolvimento deve

obrigatoriamente acabar por se tornar resultado na perspectiva financeira, do

contrário não há razão para computá-lo nas outras etapas. Além disso, o Navigator

retrata um aspecto importante do capital intelectual: a interdependência existente

entre as várias perspectivas para a obtenção de resultados positivos (SCHLUTER;

PHILLIPS; PHILLIPS, 2002, p. 34, 40-41).

Em sua totalidade, o Navigator conta com 164 indicadores distribuídos em

cada uma das perspectivas da Figura 8. No Apêndice B são apresentados alguns

dos indicadores disponíveis no Navigator. É importante destacar que autores como

Roos (1997 apud ANDRIESSEN, 2003, p. 112) criticam o excesso de indicadores do

Navigator, a PricewaterhouseCoopers (1997, p. 203, 209) afirma, com relação à

47

quantidade de indicadores, que “Excesso de indicadores é contraproducente,

independente da visão e das estratégias da empresa.” e acrescenta: “de modo geral,

uma organização tem de 40 a 60 indicadores de desempenho baseados em suas

atividades e estratégias e mapeados em função de cada elemento de sua cadeia de

valor.”. Por último, Andriessen (2003, p. 111) aponta, também como deficiência do

Navigator, a falta de valores de referência para as medidas propostas – opinião esta

partilhada por Ragland (1995) que afirma que valores de referência permitem uma

melhor análise a respeito de potenciais cursos de ação que precisem ser tomados.

3.3.3. WEIGHTLESS WEALTH TOOL KIT

Motivado por uma solicitação do parlamento holandês, o Weightless

wealth tool kit foi desenvolvido de forma a permitir a valoração dos intangíveis de

uma organização. Embora a solicitação original do governo holandês tenha sido de

um sistema para o relato externo dos valores dos intangíveis da organização, o autor

optou por desenvolver um sistema capaz de relatar também internamente detalhes

dos intangíveis dentro da organização.

O autor afirma que central ao desenvolvimento da proposta estava a

premissa de que o conhecimento era peça fundamental na nova economia do

conhecimento (ANDRIESSEN, 2003, p. 130). Outros dois pressupostos foram

importantes no desenvolvimento do Weightless wealth tool kit: o primeiro é que nem

todo intangível é capaz de agregar valor (ANDRIESSEN, 2003, p. 134) e o segundo

é que alguns intangíveis já eram retratados nos balanços fiscais. Dessa forma, a

missão do sistema proposto era medir os intangíveis até então não retratados nos

balanços fiscais, mas que fossem relevantes, isto é, capazes de agregar valor à

organização.

Assim como o Navigator, o Weightless wealth tool kit tem a proposta de

aferir o passado, presente e futuro dos valores dos intangíveis em uma organização.

Com o desenvolvimento da proposta o conceito de competência-chave foi adaptado

de trabalhos de Leonard-Barton (1992, 1995 apud ANDRIESSEN, 2003), de forma a

incluir apenas intangíveis. A partir das categorias de competência-chave resultantes,

foi possível identificar os intangíveis que fazem parte de cada categoria como pode

ser observado na Figura 9.

48

Figura 9 – Cinco categorias de recursos intangíveis

Adaptado de Andriessen (2003)

O primeiro passo para a aplicação do sistema proposto consiste na

aplicação de entrevistas que permitem a descoberta das competências-chave da

organização. Para o cálculo do valor de cada competência-chave (Vcc), deve-se

usar a seguinte fórmula:

��� = �� �� ∗ 1 + ���

���� ∗ �

Fórmula 1 – Cálculo do valor das competências-chave

Na fórmula acima, S é a sustentabilidade da competência-chave,

expressa em anos, P é o potencial para o futuro, expresso como uma porcentagem,

R é a robustez e CM a variável que representa a margem de contribuição da

competência-chave. Para se calcular CM deve-se usar a seguinte fórmula:

�� = ��� ∗ �����

���

Fórmula 2 – Cálculo do valor da da margem de contri buição

Dons• Base instalada de clientes• Marca e imagem• Rede de fornecedores• Rede de talentos• Propriedade sobre padrões

Intangíveis

Habilidades e Conhecimentos tácitos• Know-how• Competências

Tecnologia e Conhecimentos explícitos• Patentes• Manuais•Procedimentos

Valores coletivos e normas• ex.: foco no cliente, confiabilidade, qualidade

Gerenciamento primário e de processos• Liderança e controle• Comunicação• Gerência da informação

49

Onde Vp é o valor de cada produto da organização e Cp a contribuição da

competência-chave para este produto, expressa como uma porcentagem, e TP o

total de produtos da organização.

Os valores de S, P e R da primeira equação assim como o valor de Cp da

segunda equação são encontrados mediante avaliações mediadas por checklists

entre outras avaliações executadas por uma equipe formada por stakeholders da

organização

Descobertos os valores para o cálculo do valor de cada competência-

chave, o resultado é similar ao apresentado no Quadro 6.

Quadro 6 – Exemplo de valores de intangíveis

Adaptado de Andriessen (2003)

Os resultados apresentados no Quadro 6 permitem concluir que a

organização hipotética em questão tem a maior concentração de capital intangível

na competência-chave “Prover serviços sob-medida focados no cliente”, responsável

por 47% do valor dos intangíveis.

Uma das virtudes do Weightless wealth tool kit é a capacidade de

expressar os valores em unidades monetárias. Todavia, o sistema em questão

apresenta um esforço considerável para ser aplicado uma vez que sua aplicação

envolve, entre outras coisas, a aplicação de um número considerável de entrevistas

e checklists, ponto este apontado pelo autor como fonte de resistência à aplicação

do método (ANDRIESSEN, 2003, p. 195).

3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capítulo, as principais propostas para medição da gestão do

conhecimento e da gestão do capital intelectual disponíveis na literatura foram

Competência CM, t=0 ($) P (%) S (anos) t=1 ($) t=2 ($) t= 3 ($) t=4 ($) t=5 ($) R (%) Vcc ($)Prover serviços sob-medida focados no cliente 7,9 10 5 8,7 9,6 10,5 11,6 12,7 100 53,1Habilidade de investir 8,4 2 3 8,6 8,7 8,9 - - 100 26,2Gerenciar os profissionais 6,0 5 4 6,3 6,6 6,9 7,3 - 80 21,7Pesquisar 5,3 4 2 5,5 5,8 - - - 80 9,0Habilidade de tirar proveitode idéias 3,1 5 2 3,3 3,4 - - - 60 4,0Processamento e gerenciamento de dados 5,8 2 0 - - - - - 80 0,0

50

analisadas. Dentre as propostas para a gestão do conhecimento, a de Armistead

(1999) merece destaque por focar nas etapas do processo de gestão do

conhecimento, já a proposta de De Gooijer (2000), por sua vez, tem como base o

Balanced Scorecard proposto por Kaplan e Norton. Por último foram exibidas as

medidas para a gestão do conhecimento propostas por Gold, Malhotra e Segars

(2001) que, apesar de originalmente desenvolvidas com o objetivo de analisar a

relação entre a efetividade organizacional e os vários fatores que habilitam a gestão

do conhecimento na organização, podem ser aplicadas para a medição da gestão do

conhecimento em uma organização. Conforme já exposto, em virtude da grande

sobreposição perceptível entre a gestão do conhecimento e a gestão do capital

intelectual, foram analisadas também propostas para a gestão do capital intelectual

dentre as quais merece destaque o Skandia Navigator por ser, indiscutivelmente, a

mais conhecida entre as propostas para a gestão do capital intelectual. O Weightless

wealth tool kit (ANDRIESSEN, 2003) se destaca por tentar estabelecer valores

monetários para os ativos intelectuais. Por último, podemos citar as métricas para o

capital intelectual de Liebowitz (2000) que, não fosse pelo título e por duas de suas

medidas, poderia ser facilmente caracterizada como proposta uma para a gestão do

conhecimento.

No próximo capítulo serão apresentadas as métricas que fazem parte do

conjunto proposto, métricas estas fortemente inspiradas nas propostas analisadas

neste capítulo.

51

4. CONJUNTO DE MÉTRICAS PROPOSTO

Este capítulo apresenta o conjunto de métricas proposto com base na

revisão da literatura apresentada no Capítulo 3. O conjunto foi fortemente

influenciado pelas propostas de Armistead (1999), Liebowitz (2000) e a de Gold,

Malhotra e Segars (2001).

A proposta usará as etapas do processo proposto por Goldoni (2007) por

se tratar de uma interseção das etapas mais comuns dos processos de gestão do

conhecimento presentes na literatura, oferecendo, dessa forma, uma conciliação,

ainda que limitada, da visão das etapas que constituem um processo de gestão do

conhecimento. As únicas modificações empregadas na adoção da proposta de

Goldoni (2007) foram: a substituição do termo “Utilização”, usado para designar a

quarta etapa do processo, pelo termo “Aplicação” por melhor transmitir o papel desta

etapa e a oficialização de uma meta-etapa, identificada como “Resultado”, onde

estarão presentes as métricas não diretamente relacionadas ao processo de gestão

do conhecimento.

Inspirado na metáfora proposta pelo Navigator de retratar a relação das

várias categorias de métricas com o passado, presente e futuro da empresa, esta

proposta visualiza uma interdependência entre as várias etapas do processo de

gestão do conhecimento. A diferença desta proposta para o Navigator é que ao

invés de sugerir uma relação temporal com relação à empresa como um todo, a

presente proposta sugere que o desempenho de uma etapa afeta diretamente o da

etapa seguinte, como em uma linha de produção.

Ainda que a PricewaterhouseCoopers (1997, p. 206) afirme, como prática

geral para o desenvolvimento de sistemas indicadores de desempenho, que: “Um

conjunto equilibrado inclui uma combinação de indicadores de desempenho de

cunho financeiro, não financeiro; relativo a custo, não relativo a custo; interno e

externo; de processo e de resultados.”, o conjunto proposto apresenta apenas

métricas quantitativas e não financeiras. A opção por não incluir métricas financeiras

é fundamentada no princípio que

Dinheiro é simplesmente um representante do esforço humano e que o sistema contábil de quinhentos anos de idade pouco ilumina os processos vitais de organizações das quais a

52

maioria dos ativos são amplamente não financeiros e intangíveis.

Ainda não existe um sistema abrangente para a medição de ativos intangíveis que use dinheiro como um denominador comum e que ao mesmo tempo é prático e útil para os gerentes. Dependendo do propósito de se medir, eu não acho que tal sistema é tampouco necessário. Conhecimento flui e ativos intangíveis são essencialmente não financeiros. Nós necessitamos de novos representantes. (SVEIBY, 1997, p. 156).

Podemos citar, ainda a respeito da não inclusão de métricas financeiras, a

argumentação de Ahmed, Lim e Zairi (1999, p. 307) que defendem que:

Medidas de desempenho tradicionais focam nas saídas, enquanto há a necessidade de se olhar para os habilitadores que levam a produção dos resultados. Habilitadores podem ser multifacetados e incluir elementos como liderança, pessoas, estratégia, sistemas, comunicação, etc. É a partir destes habilitadores que os benefícios das melhorias fluem. Infelizmente enquanto os gerentes entendem os conceitos e a necessidade de se aferir, várias organizações falham em desenvolver sistemas de medida de desempenho para suportar os seus desenvolvimentos […]

Por sua vez, a opção pela não inclusão de métricas qualitativas é

fundamentada no princípio que metodologias qualitativas apresentam maior tempo e

esforço para serem aplicadas. Rosenblatt e Fischer (1997, p. 174) apontam que:

Uma limitação das abordagens qualitativas é que elas são intensivas em mão de obra. A pesquisa qualitativa pode custar de longe mais tempo e energia do pesquisador do que uma pesquisa quantitativa, tanto por causa do contato extensivo que é necessário durante a coleta dos dados quanto pelo trabalho envolvido na análise dos dados.

Dessa forma, a presente proposta não considera nenhum indicador

qualitativo ou financeiro. Apoiado na recomendação de Jones (2003, p. 12) que

afirma que a implantação de um programa de medição deve ser em fases e sugere

que se deve começar com um número pequeno de indicadores-chave, foram

selecionadas apenas 15 métricas dentre as analisadas na literatura. A opção por 15

métricas foi resultado da distribuição das métricas propostas por Liebowitz (2000) ao

longo das etapas do processo adotado combinada com a complementação das

53

etapas que não fossem contempladas pelas medidas de Liebowitz (2000). Com isso,

cada etapa do conjunto proposto tem entre duas e quatro medidas.

Como parte da definição das métricas, foram elaboradas sugestões para

a freqüência de coleta das mesmas. A regra geral é que as medidas baseadas em

elementos do processo de gestão do conhecimento sejam coletadas mensalmente,

a fim de permitir uma análise da evolução da iniciativa. As métricas baseadas na

percepção dos colaboradores, por sua vez, devem ser coletadas anualmente, uma

vez que ao contrário das métricas diretamente relacionadas ao processo, as

baseadas na percepção dos colaboradores vão apresentar pequenas evoluções ao

longo do tempo, provavelmente apresentando grandes evoluções apenas após

grandes mudanças organizacionais. Por fim, as métricas da etapa de resultados

deverão ser coletadas anualmente por se tratarem de elementos não diretamente

relacionados ao processo de gestão do conhecimento.

De qualquer forma, ainda que a presente proposta seja melhor adequada

a iniciativas de gestão do conhecimento que sejam caracterizadas como “Orientadas

a sistemas” ou “Dinâmicas” de acordo com a classificação de Choi e Lee (2003),

nada impede que esta seja aplicada a organizações dotadas de iniciativas

“Passivas” ou o “Orientadas a pessoas”, sendo necessário, em tese, apenas a

implementação de formas diferenciadas de coleta para as métricas propostas.

A seguir, serão apresentadas as métricas propostas para cada uma das

etapas do processo de gestão do conhecimento adotado.

4.1. ETAPA DE CRIAÇÃO

Por ser uma etapa onde há a predominância de conhecimento tácito, a

etapa de criação é talvez a que apresente maiores dificuldades para o

desenvolvimento de métricas objetivas. Por essa razão, foram selecionados métricas

da proposta de Gold, Malhotra e Segars que retratem a percepção dos

colaboradores quanto à qualidade do processo de criação de conhecimento dentro

da organização.

4.1.1. NÚMERO DE DISCUSSÕES

Uma vez que autores apontam o conhecimento tácito como fonte de

novos conhecimentos na empresa (POLANYI, 2009, p. 22; NONAKA, 1998, p. 27),

54

se faz necessário medir reuniões de comunidades de prática ou similares dentro de

uma organização. O presente indicador tem como objetivo registrar o potencial de

criação de conhecimento como resultado da interação entre colaboradores. Deve-se

incluir no cálculo deste indicador elementos como discussões em fóruns eletrônicos

ou listas de e-mail. A sugestão é que esta medida seja calculada mensalmente, de

forma a permitir um acompanhamento da evolução das discussões na organização.

4.1.2. O NÚMERO DE NOVAS RELAÇÕES ENTRE COLEGAS

O presente indicador proposto por Liebowitz (2000) e, assim como o

indicador proposto acima, tem como premissa que o conhecimento tácito é a fonte

natural para novos conhecimentos. Fortemente inspirado no processo de

socialização proposto por Nonaka (1998) este indicador se propõe a retratar o

potencial de interação entre os colaboradores da organização. A sugestão é que a

freqüência de coleta desta medida seja mensal.

4.1.3. PRESENÇA DE PROCESSOS PARA A TROCA DE

CONHECIMENTO ENTRE INDIVÍDUOS

Este indicador tem como objetivo medir a percepção dos colaboradores

com relação à presença de processos, infra-estrutura tecnológica ou fatores culturais

que fomentem a troca de conhecimento entre indivíduos, fator chave para a criação

de novos conhecimentos. McDermott (1999, p. 109) afirma que novos

conhecimentos são criados na fronteira de velhos conhecimentos. Dessa forma, é de

extrema importância que a organização facilite o acesso ao conhecimento de forma

a incentivar a criação de novos conhecimentos. Sugere-se que esta medida seja

calculada anualmente com base em um questionário onde as respostas sejam

derivadas de uma escala de Likert de sete níveis que pode ser observada no Quadro

24 do Apêndice C. A opção por uma coleta anual em detrimento de uma mensal se

deve ao fato de que coletas muito freqüentes desta medida não evidenciaria grandes

mudanças na percepção dos colaboradores.

4.2. ETAPA DE ARMAZENAMENTO

A etapa de armazenamento é de fundamental importância para a

qualidade dos conhecimentos presentes na base de conhecimento organizacional. É

durante a etapa de armazenamento que ocorre a externalização do conhecimento

55

tácito de posse do indivíduo. Sendo assim, espera-se que as métricas desta

categoria permitam a visualização da efetividade da conversão de conhecimento

tácito para explícito bem como a qualidade do conhecimento explícito armazenado

no repositório de conhecimentos.

4.2.1. QUANTIDADE DE NOVOS CONHECIMENTOS

Ponto de partida para o enriquecimento da base organizacional de

conhecimento, a publicação de novos conhecimentos concretiza a transformação do

conhecimento tácito em explícito. Embora não retrate exatamente o indicador “a

captura de expertise chave de forma online” proposto por Liebowitz, podemos

afirmar que a publicação de novos conhecimentos contribui com o resultado deste

indicador. O ponto fundamental que impede que o presente indicador seja

completamente equivalente ao proposto por Liebowitz é que nem todo conhecimento

publicado na base organizacional é garantidamente relevante. Dessa forma, fica a

cargo do próximo indicador proposto, porcentagem de qualificações positivas, a

mensuração da relevância do conhecimento disponível na base organizacional. A

sugestão é que a freqüência de coleta desta medida seja mensal.

4.2.2. PORCENTAGEM DE QUALIFICAÇÕES POSITIVAS

Indicador focado em avaliar a relevância do conhecimento disponibilizado

na base de conhecimento organizacional. O objetivo deste indicador é evitar

cenários como o “ferro velho de informações” descrito por McDermott (1999, p. 104),

uma vez que o mesmo permitirá a visualização da qualidade do conhecimento

armazenado na base de conhecimento organizacional, possibilitando o

desenvolvimento de iniciativas organizações que visem a melhoria da qualidade e

relevância dos conhecimentos armazenados na base organizacional. O presente

indicador é baseado no indicador “a captura de expertise chave de forma online”

proposto por Liebowitz (2000). Sugere-se que esta medida seja coletada

mensalmente e preferencialmente apoiado em mecanismos automáticos presentes

na ferramenta de gestão do conhecimento organizacional.

4.2.3. QUANTIDADE DE QUALIFICAÇÕES

Este indicador tem como objetivo reforçar a relevância do indicador

proposto acima, de forma que sejam possíveis inferências a respeito da

56

representatividade das qualificações positivas frente ao universo total de

qualificações. Este indicador é obtido calculando o número de qualificações dos

conhecimentos disponíveis na base organizacional. Sugere-se a coleta mensal da

presente medida.

4.2.4. PROPORÇÃO DE CLASSIFICAÇÕES

Para que se tenha um fácil acesso ao conhecimento disponível na base

organizacional se faz necessário uma classificação adequada dos mesmos. Este

indicador tem como objetivo mensurar quantitativamente a classificação do

conhecimento presente na base de conhecimento organizacional. É importante

destacar que embora este indicador faça parte da etapa de armazenamento, os

resultados nele expressos apresentam forte relação com os resultados da etapa de

disseminação, uma vez que um dos caminhos de acesso ao conhecimento em uma

base organizacional eletrônica é por meio da classificação do mesmo. Uma vez que

a classificação impacta na localização do conteúdo, podemos afirmar que este

indicador foi motivado pelo indicador “Prontidão do conhecimento” proposto por

Armistead (1999) A sugestão para a presente medida é de que a coleta seja

efetuada mensalmente.

4.3. ETAPA DE DISSEMINAÇÃO

Etapa responsável pela entrega do conteúdo aos indivíduos numa

organização, a disseminação tem relação direta com a etapa de internalização

proposta por Nonaka (1998). Dessa forma, podemos destacar a predominância da

conversão de conhecimento explícito, disponível na base organizacional, para

conhecimento tácito.

4.3.1. RECOMENDAÇÕES DE CONHECIMENTO

Baseado na medida “a disseminação do conhecimento para os indivíduos

corretos” proposta por Liebowitz (2000), a presente medida tem como objetivo medir

a eficácia do processo de recomendação de conhecimento organizacional. De suma

importância na gestão de conhecimento organizacional, a recomendação de

conhecimento permite a entrega direcionada de conhecimento aos indivíduos, Dessa

forma, se faz necessário, a contabilização das recomendações de conhecimento

presente na base organizacional. Nos casos de iniciativas de gestão do

57

conhecimento caracterizadas como “Dinâmicas” ou “Orientadas a sistemas”

conforme classificação de Choi e Lee (2003), a presente medida deve ser

contabilizada automaticamente através da ferramenta de gestão do conhecimento

utilizada. Já no caso de iniciativas classificadas, também de acordo com a

categorização de Choi e Lee (2003), como “Passivas” ou “Orientadas a pessoas” a

presente medida deverá ser contabilizada manualmente mediante relato dos

envolvidos nas recomendações. A sugestão é que a presente medida seja coletada

mensalmente.

4.3.2. ACESSOS AOS CONHECIMENTOS ARMAZENADOS

Com base no indicador “o índice de reuso dos conhecimentos

freqüentemente acessados/reusados” proposto por Liebowitz (2000), o presente

indicador tem como objetivo medir o total de acessos a conhecimentos codificados

na base organizacional, de forma a oferecer um total de eficiência da disseminação

do conhecimento. Todavia, este indicador não é capaz de oferecer indícios a

respeito da forma de acesso aos conhecimentos armazenados, isto é, se o

conhecimento foi localizado por meio da busca, recomendação, classificação ou

outro meio qualquer. Dessa forma, esta medida é capaz apenas de fornecer uma

visão macro do quantitativo de acessos aos conhecimentos hospedados na base

organizacional. Assim como a medida proposta na Seção 4.3.1, a presente medida

depende do estilo da iniciativa de gestão do conhecimento para que seu cálculo seja

efetuado. A sugestão é que a coleta desta medida seja efetuada mensalmente.

4.3.3. PROPORÇÃO DOS ACESSOS ATRAVÉS DE CLASSIFICAÇÕES

O presente indicador foi baseado no indicador “acessibilidade do

conhecimento” proposto por Armistead (1999). Diferente do indicador proposto na

Seção 4.3.2, este objetiva analisar a qualidade da classificação do conhecimento

armazenado. Esta análise da qualidade das classificações parte da premissa que

haverá uma proporção considerável de acessos aos mecanismos de classificação

da base organizacional se os conhecimentos armazenados no repositório

organizacional estiverem devidamente classificados. Dessa forma, apesar de ser

uma medida da etapa de disseminação, ela é capaz de mensurar tanto a eficácia do

mecanismo de busca por classificação como a qualidade das classificações dos

58

conhecimentos. A sugestão é que se colete a proporção dos acessos através de

classificações mensalmente.

4.4. ETAPA DE APLICAÇÃO

Última etapa diretamente relacionada ao processo de gestão do

conhecimento, a etapa de aplicação fecha o ciclo de gestão do conhecimento

transformando o conhecimento organizacional em diferencial competitivo. Tendo em

vista que as inovações são originadas a partir de conhecimento tácito aplicado pelo

colaborador como apontou Nonaka (1998, p. 27) com o exemplo da máquina de pão

da Matsushita, é de se esperar que exista uma dificuldade de se medir de forma

objetiva esta etapa. A dificuldade apontada para coleta da presente medida é

decorrente da impossibilidade de se interceptar a utilização de conhecimento tácito

por parte dos colaboradores, de forma que fosse possível contabilizar de forma

transparente a presente medida. Dessa forma, as métricas propostas para esta

etapa são subjetivas e dependentes da percepção dos colaboradores. A sugestão

para aplicação de todas as métricas desta seção é para que sejam calculadas

anualmente a partir da aplicação de um questionário em que as respostas sejam

baseadas em uma escala de Likert de sete níveis conforme a apresentada no

Apêndice C – Quadro 24. Foram selecionadas três medidas propostas por Gold,

Malhotra e Segars (2001) para retratar a percepção dos colaboradores quanto à

aplicação de conhecimento dentro da organização. Embora as três medidas

propostas não sejam capazes de expressar em números a aplicação de

conhecimento na organização, elas apresentam indícios desta etapa por retratarem

a percepção dos colaboradores com relação a três pontos de potencial melhoria em

decorrência de uma iniciativa de gestão do conhecimento: o aumento da eficiência o

aumento da competitividade e melhoria na resolução de problemas.

4.4.1. UTILIZAÇÃO DE CONHECIMENTO OBJETIVANDO AUMENTO DA

EFICIÊNCIA

Métrica que tem como objetivo medir a percepção dos colaboradores

quanto à presença de processos e ferramentas que permitam o uso do

conhecimento armazenado no repositório organizacional para o aumento da

eficiência organizacional.

59

4.4.2. CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO E APLICAÇÃO DO

CONHECIMENTO PARA MUDAR CONDIÇÕES DE

COMPETITIVIDADE

Assim como a métrica proposta acima, esta objetiva medir a percepção

dos colaboradores quanto à presença de processos e ferramentas que facilitem a

localização e aplicação do conhecimento organizacional para criar vantagens

competitivas, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento das atividades

do dia-a-dia como desenvolvimento de novos produtos e serviços.

4.4.3. CAPACIDADE DE RELACIONAR RAPIDAMENTE FONTES DE

CONHECIMENTO PARA SOLUCIONAR PROBLEMAS

Última medida proposta para a etapa de aplicação, a “Capacidade de

relacionar rapidamente fontes de conhecimento para solucionar problemas”, assim

como os outros desta etapa, é baseado nas percepções dos colaboradores. O foco

desta é a percepção quanto à presença de processos e ferramentas capazes de

relacionar de forma eficaz especialistas da organização na resolução de problemas.

4.5. META-ETAPA DE RESULTADOS

Objetivando medir os resultados do processo de gestão do conhecimento,

foi adotada a meta-etapa de resultados proposta por Goldoni (2007). Estão

presentes nesta etapa as métricas que não apresentam relação direta com nenhuma

das etapas do processo de gestão do conhecimento, mas são capazes de

apresentar indícios dos efeitos da gestão do conhecimento na organização.

4.5.1. REGISTROS DE PATENTE E MARCAS

Medida baseada em “O número de livros produzidos somado aos artigos,

conferências, patentes e marcas registradas divididos pelo número de funcionários”

proposto por Liebowitz (2000). Embora Armistead (1999) sugira um indicador similar

na etapa de criação, o presente estudo entende o registro de uma patente ou marca

como resultado do processo de gestão do conhecimento, e não como efeito da

etapa de criação de conhecimento do mesmo.

60

4.5.2. PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

A medida “Publicações científicas” foi baseada, assim como a proposta

acima, na medida “O número de livros produzidos somado aos artigos, conferências,

patentes e marcas registradas divididos pelo número de funcionários” proposta por

Liebowitz (2000). A diferença é que neste o foco é na produção de material científico

como: livros, artigos e conferências, isto é, materiais dotados de mecanismos de

proteção baseados na lei de copyright. Assim como a medida acima, esta parte da

premissa que uma publicação científica é resultado do processo de gestão do

conhecimento como um todo e não simplesmente resultado da etapa de criação de

conhecimento, haja vista que na etapa de criação, os conhecimentos resultantes

são, em sua maioria, tácitos e ainda não estão devidamente codificados e

contextualizados, diferente de um artigo científico.

4.6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este capítulo apresentou o conjunto de métricas proposto neste trabalho,

conjunto este que foi baseado em algumas das principais propostas para medição

da gestão do conhecimento disponíveis na literatura. A proposta é composta por 15

métricas com freqüências de coleta mensais e anuais dispostas através das cinco

etapas do processo adotado.

O Quadro 7 oferece uma visão resumida do conjunto proposto, permitindo

uma rápida visualização das métricas nas várias etapas do processo adotado bem

como a freqüência de coleta sugerida para cada uma das métricas propostas.

Quadro 7 – Resumo do conjunto proposto

Etapa Medida Sugestão de

freqüência de

coleta

Criação Número de discussões Mensal

Criação O número de novas relações entre colegas Mensal

Criação Presença de processos para a troca de

conhecimento entre indivíduos

Anual

61

Armazenamento Quantidade de novos conhecimentos Mensal

Armazenamento Porcentagem de qualificações positivas Mensal

Armazenamento Quantidade de qualificações Mensal

Armazenamento Proporção de classificações Mensal

Disseminação Recomendações de conhecimento Mensal

Disseminação Acessos aos conhecimentos armazenados Mensal

Disseminação Proporção dos Acessos através de

classificações

Mensal

Aplicação Utilização de conhecimento objetivando

aumento da eficiência

Anual

Aplicação Capacidade de localização e aplicação do

conhecimento para mudar condições de

competitividade

Anual

Aplicação Capacidade de relacionar rapidamente fontes

de conhecimento para solucionar problemas

Anual

Resultados Registros de patente e marcas Anual

Resultados Publicações científicas Anual

O capítulo seguinte apresenta a metodologia empregada na validação do

conjunto de métricas proposto.

62

5. METODOLOGIA PARA VALIDAÇÃO DA PROPOSTA

De forma a validar a proposta, o conjunto de métricas foi aplicado no

C.E.S.A.R7, instituto de inovação baseado no Porto Digital – Recife. Combinada à

aplicação da proposta, foi executada uma análise qualitativa da percepção dos

colaboradores com relação ao progresso das iniciativas de gestão do conhecimento

dentro da organização. Esta análise tinha como objetivo determinar a correlação dos

resultados obtidos a partir das métricas com a percepção dos colaboradores,

ampliando dessa forma a sugestão da PricewaterhouseCoopers de que “Indicadores

de desempenho devem mostrar tendência negativa diante de qualquer queda nos

negócios” (PRICEWATERHOUSECOOPERS, 1997, p. 202).

5.1. O C.E.S.A.R

O C.E.S.A.R é um instituto privado de inovação focado no

desenvolvimento de produtos, processos, serviços e empresas baseados na

Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Fundado em 1996, o C.E.S.A.R

tem atuado no âmbito nacional e internacional em projetos de TV digital, aplicações

embarcadas, mobilidade, telecomunicações e reuso. O C.E.S.A.R conta atualmente

com escritórios no Recife, São Paulo e Porto Alegre. Os projetos desenvolvidos no

C.E.S.A.R são, em média, compostos por 3 a 50 colaboradores que podem estar

geograficamente distribuídos entre as várias unidades da organização. Por se tratar

de uma empresa de TI, o C.E.S.A.R optou por adotar uma estratégia de gestão do

conhecimento baseada no modelo de iniciativa “Orientada a sistemas”, proposto por

Choi e Lee (2003). A decisão por adotar uma estratégia “Orientada a sistemas”

deve-se ao fato desta apresentar um excelente desempenho e necessitando,

basicamente, de uma infra-estrutura de TI avançada, elemento este comum a

organizações como o C.E.S.A.R.

5.2. GESTÃO DO CONHECIMENTO NO C.E.S.A.R

O C.E.S.A.R passou por duas grandes iniciativas de gestão do

conhecimento. A primeira foi a implantação de um Wiki8 que seria responsável por

7 www.cesar.org.br

8 pt.wikipedia.org/wiki/Wiki

63

hospedar o repositório de conhecimento organizacional, além do Wiki, na primeira

iniciativa, a organização contava com algumas listas de e-mail responsáveis por

promover a comunicação eletrônica entre os colaboradores. Os papéis das listas de

e-mail com relação à gestão do conhecimento eram: divulgar o conhecimento

explícito armazenado no Wiki e fomentar a troca de conhecimento tácito entre os

colaboradores. Já a segunda iniciativa, apoiada em uma rede social baseada na

Web, conhecida como a.m.i.g.o.s, acrônimo para Ambiente Multimídia para

Integração de Grupos e Organizações Sociais, tinha a proposta de substituir o Wiki e

as listas de e-mail (COSTA et al, 2008). Além das duas iniciativas organizacionais

citadas acima, foi possível constatar, durante as entrevistas, que existiram outras

iniciativas departamentais. Embora uma das iniciativas departamentais ainda esteja

em uso e com relativo sucesso, nenhuma delas conseguiu romper a barreira

departamental e ser utilizada por toda a organização. Dessa forma, apesar de

mencionadas ao longo deste capítulo, as iniciativas departamentais não serão

levadas em consideração na comparação da percepção dos colaboradores quanto

ao sucesso das duas iniciativas organizacionais.

É importante destacar também que não foi possível coletar todas as

métricas desta proposta para a primeira iniciativa, haja vista que, conforme já

mencionado, a primeira iniciativa não oferecia a estrutura necessária à coleta de

todas as métricas propostas. Sendo assim, para efeito da determinação da

correlação entre a percepção dos colaboradores e os resultados das métricas, só

serão levadas em consideração as métricas coletadas em ambas as iniciativas.

5.3. COLETA DOS DADOS

A metodologia de entrevista centralizada no problema foi adotada para a

coleta dos dados. De acordo com Flick (2004, p. 100) a metodologia de entrevista

centrada no problema é caracterizada pela adaptação do processo de pesquisa para

o objeto pesquisado. Flick (2004) cita também que a elaboração do questionário e

do roteiro de entrevistas precedem a coleta dos dados que devem ser executadas

mediante a utilização de gravadores de áudio.

Embora se compreenda que a observação participante poderia ser uma

alternativa viável para a realização deste estudo, isso não foi possível tendo em vista

a distância geográfica entre o pesquisador e o campo de investigação.

64

Durante o processo de coleta dos dados, os colaboradores foram

entrevistados seguindo um roteiro de entrevistas composto por quatro questões. O

roteiro do questionário (disponível no Apêndice D) foi elaborado de forma a

incentivar a reflexão dos colaboradores a respeito das iniciativas de gestão do

conhecimento desenvolvidas no C.E.S.A.R. Os entrevistados eram solicitados a

enumerar as iniciativas de gestão do conhecimento da organização e em seguida

citar os pontos positivos e negativos de cada uma delas. Por último, os entrevistados

deveriam ordenar as iniciativas de acordo com sua percepção de sucesso.

5.4. ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados, a técnica de abreviação da análise do conteúdo

foi aplicada. Flick (2004, p. 202) indica que para aplicação da técnica a primeira

etapa é omitir as passagens menos importantes. Em seguida, as passagens mais

importantes devem ser condensadas de forma que generalizações sejam efetuadas,

obtendo, dessa forma, um material mais resumido e abstrato.

5.5. PERFIL DOS ENTREVISTADOS

Foram selecionados, inicialmente, 19 colaboradores da organização para

as entrevistas, o único pré-requisito imposto foi o de que os entrevistados

estivessem na organização há no mínimo quatro anos. Do universo de

colaboradores que atendiam ao requisito supracitado, foi extraída uma amostra que

apresentasse colaboradores de todos os perfis da organização: gerentes de projeto,

engenheiros de software, engenheiros de qualidade e engenheiros de configuração.

O Quadro 8 apresenta a distribuição dos perfis dos entrevistados.

65

Quadro 8 – Perfis dos entrevistados

Perfil Entrevistados Percentual dos

entrevistados

Engenheiro de qualidade 4 21%

Gerente de projetos 3 16%

Engenheiro de configuração 1 5%

Engenheiro de software 11 58%

A predominância de engenheiros de software é de certa forma esperada

haja vista que o perfil é maioria no quadro de colaboradores do C.E.S.A.R. Até

meados de 2008, a área de qualidade compreendia os engenheiros de qualidade e

os engenheiros de configuração, mas, após uma reformulação, os engenheiros de

configuração passaram a integrar, juntamente com os engenheiros de sistema, a

área de engenharia. O Apêndice E apresenta a lista completa das identificações e

perfis dos entrevistados.

No decorrer da transcrição e análise das entrevistas dos 19 colaboradores

foi revelado a que a “saturação teórica” havia sido atingida significando que “não

está sendo encontrado nenhum dado adicional [...]” (GLASER E STRAUSS, 1967, p.

61 apud FLICK, 2004, p. 80) com relação à percepção dos colaboradores quanto às

iniciativas de gestão do conhecimento. Dessa forma, foi decidido que não seriam

desenvolvidas novas entrevistas com colaboradores de nenhuma das três principais

áreas do C.E.S.A.R.

5.6. RESULTADOS

A primeira conclusão da análise foi a de que paralelo às iniciativas

organizacionais de gestão do conhecimento houve propostas menores, de foco

departamental. Um indício do baixo alcance destas iniciativas é que as mesmas

foram citadas quase que exclusivamente por integrantes dos respectivos

departamentos. Uma destas iniciativas, o Mantis LA, deveria ser responsável por

armazenar as lições aprendidas dos projetos coletadas pelos engenheiros de

66

qualidade da organização em questão. Excetuando-se os integrantes da área de

qualidade entrevistados, apenas um gerente de projetos (entrevistado 2) e um

engenheiro de sistemas (entrevistado 19) citaram o Mantis LA. Além desta iniciativa,

temos o Wiki do suporte que foi citado apenas pelo entrevistado 10, membro do

departamento, e pelo entrevistado 14, externo ao departamento.

Apesar da iniciativa do Wiki institucional ter sido alvo de uma campanha

de divulgação em massa promovida pela organização, fato este inclusive citado pelo

entrevistado 1, alguns dos entrevistados, colaboradores da organização à época da

iniciativa, afirmaram sequer conhecê-la. O limitado alcance da iniciativa baseada no

Wiki fica ainda mais claro em vista das iniciativas de integração da ferramenta como

a citada pelo entrevistado 8, que citou a possibilidade de acesso ao Wiki através da

barra de ferramentas do C.E.S.A.R que podia ser instalada no navegador internet do

colaborador.

Quando questionados sobre o sucesso das iniciativas de gestão do

conhecimento, há um consenso entre os entrevistados de que a segunda iniciativa,

baseada no a.m.i.g.o.s, foi mais bem sucedida que a primeira, baseada no Wiki e

nas listas de e-mail. Excetuando-se os que não citaram ou os que, quando

questionados a respeito, afirmaram não conhecer o Wiki institucional ou as listas de

e-mail, todos os entrevistados que citaram ambas as iniciativas posicionaram o

a.m.i.g.o.s a frente do Wiki e das listas de e-mail. As listas de e-mail, parte da

primeira iniciativa de gestão do conhecimento, foram citadas por apenas três dos

dezenove entrevistados. Ainda que o entrevistado 14 tenha sugerido a integração

com e-mail como melhoria para o a.m.i.g.o.s, o mesmo cita a substituição de

algumas listas por comunidades do a.m.i.g.o.s como ponto positivo desta segunda

iniciativa. A facilidade de utilização das listas de e-mail é citada como um ponto

positivo pelos entrevistados 4 e 13. Entretanto, o entrevistado 4 aponta como

limitação das listas de e-mail a falta de capacidade de preservar históricos. Opinião

esta partilhada pelo o entrevistado 11 que além da ausência de um repositório

central, aponta a falta de capacidade de classificação do conteúdo presente nestas.

O Quadro 9 compara de forma resumida os resultados da análise dos

dados para as iniciativas organizacionais de gestão do conhecimento.

67

Quadro 9 – Comparativo das iniciativas

Iniciativa Primeira Segunda

Wiki Listas de e-mail a.m.i.g.o.s

Principais

pontos positivos

Apoio institucional.

Boa utilização por

parte dos

colaboradores.

Facilidade de uso.

Comunidades.

Facilidade para

publicação de

conhecimento

Principais

pontos negativos

Dificuldade para

publicar

conhecimento.

Publicação

inicialmente

restrita.

Não possuir

histórico.

Usabilidade.

Dificuldade de

entendimento dos

conceitos.

Menções 16 6 19

A unanimidade dos entrevistados com relação ao sucesso da segunda

iniciativa de gestão do conhecimento frente à primeira faz com que sejam esperados

melhores resultados para as métricas coletadas na segunda iniciativa com relação à

primeira. Todavia, é interessante destacar que esta percepção de melhoria por parte

dos colaboradores não permite atribuir o sucesso da segunda iniciativa apenas à

ferramenta adotada – e sim ao avanço da iniciativa como um todo. O direcionamento

da organização com relação à unificação das iniciativas de gestão do conhecimento

combinado à maturidade decorrente da experiência anterior são fatores que não

devem ser descartados. Outro ponto favorável à segunda iniciativa é seu maior

alcance, que pode ser constatado pela total menção por parte dos entrevistados.

Fato este, que a primeira iniciativa não partilha, haja vista que entrevistados citaram

sequer conhecer o Wiki – iniciativa esta que sofreu intensa campanha de divulgação

por parte da organização conforme cita o entrevistado 1.

68

5.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todos os indícios de superioridade da segunda iniciativa frente à

primeira, espera-se que as métricas propostas apresentem o mesmo resultado, de

forma a validar o conjunto de métricas proposto. Do contrário, haverá indícios de que

o conjunto proposto não é capaz de mensurar corretamente uma iniciativa de gestão

do conhecimento. Sendo assim, o próximo capítulo apresenta o resultado da coleta

das métricas propostas bem como a análise destas de forma a validar a corretude

da proposta.

69

6. APLICAÇÃO PILOTO DO CONJUNTO DE MÉTRICAS PROPOST O

Nas próximas seções, os resultados das métricas propostas serão

apresentados e confrontados com as opiniões dos entrevistados, seguindo a ordem

das etapas do processo de gestão do conhecimento adotado.

6.1. RESULTADOS PARA ETAPA DE CRIAÇÃO

A seguir serão apresentados os resultados para as métricas da etapa de

criação.

6.1.1. NÚMERO DE DISCUSSÕES

Para o cálculo do número de discussões, durante a primeira iniciativa de

gestão do conhecimento da organização em questão, foram consideradas as

mensagens enviadas às listas de e-mail da organização. Das listas de e-mail

analisadas, a primeira tinha como objetivo integrar os engenheiros de sistema,

enquadramento funcional predominante na organização. Já a segunda lista, de

propósito geral, era composta por colaboradores das mais diversas áreas.

Durante a segunda iniciativa, o a.m.i.g.o.s, o número de discussões foi

calculado levando em consideração a quantidade de mensagens enviadas aos

fóruns da ferramenta. O Gráfico 1 apresenta o resultado para a coleta do número de

discussões para o período em que as duas iniciativas conviveram na organização.

Gráfico 1 – Discussões nas listas e no amigos

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Men

sage

ns

Mês da coleta

Listas

a.m.i.g.o.s

70

O declínio das mensagens enviadas às listas em novembro de 2007 é

explicado pela substituição da segunda lista por uma comunidade na ferramenta de

rede social recém implantada.

A predominância na utilização das listas de e-mail em face da ferramenta

de rede social pode ser explicada pela facilidade de uso, que foi citada pelos

entrevistados 4 e 13. Além da facilidade de uso das listas de e-mail, os entrevistados

8, 11 e 14 apontaram a interface gráfica como dificuldade para a utilização da

ferramenta usada na segunda iniciativa de gestão do conhecimento, o a.m.i.g.o.s.

Contudo, os entrevistados 4 e 13 concordam que as listas apresentavam limitações

– o potencial de atingir mais colaboradores do que se desejava e a possibilidade de

má utilização por parte de algum colaborador. Além das limitações citadas pelos

entrevistados 4 e 13, o entrevistado 11 apontou a incapacidade de se buscar ou

categorizar informações na solução de listas de e-mail adotada na organização bem

como a impossibilidade de se centralizar essas informações. As limitações

apontadas para as listas combinadas ao apoio institucional dado à ferramenta de

rede social podem explicar o aumento acentuado das discussões mediadas pela

ferramenta de rede social.

6.1.2. O NÚMERO DE NOVAS RELAÇÕES ENTRE COLEGAS

A ferramenta utilizada na primeira iniciativa de gestão do conhecimento

da organização tinha a limitação de não poder rastrear as relações entre os

colaboradores. Conforme já mencionado, as relações entre colegas são ponto

fundamental para a troca de conhecimento tácito – estando incluídas nestas

relações as mediadas por sistemas de informação. Dessa forma, o indicador

“número de novas relações entre colegas” tem a proposta de medir o potencial de

interação dos colaboradores. É interessante citar que os relacionamentos mediados

por redes sociais foram citados como ponto positivo pelo entrevistado 14 enquanto o

mesmo se referia às comunidades de prática hospedadas no a.m.i.g.o.s:

[...]Então tem que existir outros mecanismos, a rede social – o a.m.i.g.o.s – serve pra isso também, pra poder encontrar pessoas que não tão no meu ciclo de convivência diário, do meu projeto. O grupo de estudo serve pra mesma coisa. Eu consigo agregar pessoas que tenham o mesmo interesse, mas que estão em negócios diferentes, que as vezes não se encontrariam, trabalham em prédios diferentes, trabalham em

71

projetos diferentes, tudinho, não tem uma perspectiva de alocação junto mas acabam criando relações.

O Gráfico 2 apresenta o número de contatos adicionados no a.m.i.g.o.s

durante a segunda iniciativa de gestão do conhecimento no C.E.S.A.R. É possível

perceber, com o gráfico, que mesmo após oito meses de implantação, o número de

contatos adicionados mensalmente na ferramenta era elevado, um bom indício da

capacidade que a ferramenta tem de mapear os contatos entre os colaboradores da

organização como apontado pelo entrevistado 14.

Gráfico 2 – Novos contatos adicionados

O declínio acentuado percebido em novembro de 2008 pode ser

justificado pela limitação do número de colaboradores da organização que,

provavelmente, já adicionaram no decorrer dos primeiros meses de utilização da

ferramenta todos os colegas de trabalho conhecidos, quer sejam dos atuais projetos,

projetos anteriores ou até mesmo de outras situações.

6.1.3. PRESENÇA DE PROCESSOS PARA A TROCA DE

CONHECIMENTO ENTRE INDIVÍDUOS

Calculada com base na aplicação do questionário disponível no Quadro

23 –Apêndice C, esta medida que tem por objetivo retratar a percepção dos

colaboradores quanto à presença de processos e ferramentas para a troca de

conhecimento entre os indivíduos da organização. O resultado desta métrica,

050

100150200250300350400450

Con

tato

s ad

icio

nado

s

Mês da coleta

72

apresentado no Gráfico 3, confirma a percepção por parte dos colaboradores de que

a atual iniciativa de gestão do conhecimento oferece tais mecanismos.

Gráfico 3 – Presença de processos para a troca de c onhecimento entre

indivíduos

O resultado apresentado no Gráfico 3 corrobora com o obtido na pesquisa

qualitativa onde os colaboradores afirmaram ser fácil publicar e localizar

conhecimento na atual iniciativa de gestão do conhecimento. A pequena parcela de

discordantes pode ser parcialmente justificada pela ausência de uma presença

maior de ações de gestão do conhecimento como parte do processo de

desenvolvimento de software da empresa conforme citado por alguns dos

entrevistados.

6.2. ETAPA DE ARMAZENAMENTO

Nesta seção, são apresentados os resultados para as métricas da etapa

de armazenamento.

6.2.1. QUANTIDADE DE NOVOS CONHECIMENTOS

Para a primeira iniciativa, o cálculo dos novos conhecimentos foi baseado

na quantidade de atualizações às páginas do Wiki somadas aos arquivos

submetidos ao Wiki. Para o mesmo cálculo na segunda iniciativa, foram somados o

número de novos objetos e o de histórias publicadas. O conceito de histórias e de

objetos na ferramenta de rede social em questão tem como objetivo retratar

conhecimento explícito (COSTA et al, 2008).

0

5

10

15

20

25

30

35

jun-09

Oco

rrên

cias

Mês da coleta

Concordo Totalmente

Concordo Muito

Concordo

Indiferente

Discordo

Discordo Muito

Discordo Totalmente

73

O Gráfico 4 representa a coleta da quantidade de novos conhecimentos

para ambas as iniciativas de gestão do conhecimento. Pode-se observar que havia

uma alternância entre a predominância de publicação de conhecimento nas

ferramentas antes da institucionalização do a.m.i.g.o.s, ferramenta que apóia a

segunda iniciativa de gestão do conhecimento, em novembro de 2007. Anterior a

institucionalização do a.m.i.g.o.s, havia uma determinação que o grupo de

consultores da organização mantivesse o Wiki atualizado, sendo cada consultor

responsável por publicar conhecimentos na área em que atuava (COSTA et al

2008).

Gráfico 4 – Quantidade de novos conhecimentos

Embora tenha evoluído de forma a permitir a colaboração de todos os

funcionários da organização e sido alvo de uma divulgação em massa, como citado

pelo entrevistado 1, o Wiki nunca atingiu toda a organização. Quando questionado a

respeito do Wiki, o entrevistado 6 afirmou nunca tê-lo usado, já o entrevistado 13

afirmou desconhecer o Wiki – ambos funcionários da organização contratados em

data anterior a implantação da iniciativa.

Como parte da implantação da segunda iniciativa de gestão do

conhecimento C.E.S.A.R, foi determinado que o a.m.i.g.o.s seria o novo repositório

de conhecimento organizacional, medida esta que pode explicar o grande aumento

na publicação de conhecimento neste após novembro de 2007. As entrevistas

permitiram a identificação de várias virtudes da segunda iniciativa com relação à

primeira. O entrevistado 4 cita a capacidade de manter histórico e os grupos virtuais.

0

50

100

150

200

250

300

350

Nov

os c

onhe

cim

ento

s

Mês da coleta

Wiki

a.m.i.g.o.s

74

O entrevistado 2 afirma ter percebido uma melhora na busca de informações com

relação ao Wiki. Os entrevistados 11 e 13 apontam a possibilidade de recomendar

conhecimento como vantagem da segunda iniciativa com relação à primeira. Todas

as vantagens enumeradas pelos colaboradores podem ajudar a explicar o

crescimento na publicação de conhecimento que pôde ser visto na segunda

iniciativa de gestão do conhecimento.

6.2.2. PORCENTAGEM DE QUALIFICAÇÕES POSITIVAS

Uma vez que o Wiki, ferramenta que apoiava a primeira iniciativa de

gestão do conhecimento, era incapaz de armazenar as qualificações dos

conhecimentos pelos usuários, a capacidade de se qualificar conhecimentos é um

avanço da segunda iniciativa de gestão do conhecimento com relação à primeira,

apoiado em uma funcionalidade particular do a.m.i.g.o.s. Esta funcionalidade permite

que os colaboradores atribuam notas aos conhecimentos disponíveis no repositório

organizacional.

O Gráfico 5 apresenta a coleta da porcentagem de qualificações positivas

para a segunda iniciativa de gestão do conhecimento.

Gráfico 5 – Porcentagem de qualificações positivas

O resultado apresentado no Gráfico 5 destaca um ponto de atenção com

relação aos conhecimentos armazenados no a.m.i.g.o.s: a percepção dos

colaboradores é de que o conhecimento lá registrado nem sempre é relevante,

0,00%5,00%

10,00%15,00%20,00%25,00%30,00%35,00%40,00%45,00%50,00%

Qua

lific

açõe

s po

sitiv

as

Mês da coleta

75

apontando a necessidade de iniciativas focadas na melhoria da qualidade do

conhecimento presente no a.m.i.g.o.s, repositório organizacional de conhecimento.

6.2.3. QUANTIDADE DE QUALIFICAÇÕES

Conforme citado anteriormente, a ferramenta usada na primeira iniciativa

de gestão do conhecimento não contemplava a capacidade de qualificar o

conhecimento armazenado. Sendo assim, a quantidade de qualificações foi coletada

apenas na segunda iniciativa de gestão do conhecimento. A contabilização da

quantidade de qualificações tem como objetivo ampliar a confiabilidade do resultado

da porcentagem de qualificações positivas por apresentar as dimensões do universo

de colaboradores que avaliaram os conhecimentos armazenados.

O Gráfico 6 apresenta o resultado da coleta da quantidade de

qualificações no a.m.i.g.o.s, durante a segunda iniciativa de gestão do

conhecimento.

Gráfico 6 – Quantidade de qualificações

O resultado apresentado no Gráfico 6 reforça a baixa percepção dos

colaboradores com relação aos conhecimentos armazenados no a.m.i.g.o.s. Os

meses com as piores avaliações foram, coincidentemente, os meses com mais

avaliações, no outro extremo, os meses com as melhores avaliações foram os que

tiveram o menor número de avaliações – o que reduz a confiabilidade das coletas

desses meses.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Qua

lific

açõe

s

Mês da coleta

76

6.2.4. PROPORÇÃO DE CLASSIFICAÇÕES

Ainda que os entrevistados 2 e 16 tenham relacionado o uso de tags9 à

melhoria no processo de busca do conhecimento, pode-se perceber, através dos

resultados do presente indicador, que é preciso conscientizar os colaboradores com

relação à necessidade de se classificar o conhecimento, aplicando-se “tags”, durante

o processo de armazenamento.

Gráfico 7 – Classificações por conteúdo

É possível observar no Gráfico 7 que os objetos armazenados no

a.m.i.g.o.s apresentam uma média elevada de classificações, oscilando entre uma

média mensal de 2 até quase 10 elementos no mês abril de 2009. Já as histórias

tiveram apresentaram sempre uma média mensal mais modesta, oscilando entre

uma média mensal de 1 a 2 elementos apenas. Embora a predominância da

classificação de objetos com relação às histórias apontada pelo Gráfico 7 não

permita conclusões quanto à causa do fenômeno, uma hipótese é a preocupação

por parte dos usuários de que o conhecimento armazenado nos objetos não seja

indexado automaticamente, dificultando, dessa forma, a posterior localização dos

mesmos.

9 Tags – do inglês: etiquetas. Denominação para os metadados que podem ser

adicionados aos conhecimentos armazenados no a.m.i.g.o.s

0,001,002,003,004,005,006,007,008,009,00

10,00

Méd

ia d

e cl

assi

ficaç

ões

Mês da coleta

Por História

Por Objeto

77

6.3. ETAPA DE DISSEMINAÇÃO

A seguir, os resultados obtidos para as métricas da etapa de

disseminação serão apresentados.

6.3.1. RECOMENDAÇÕES DE CONHECIMENTO

Embora citada como ponto positivo pelos entrevistados 11 e 13, a

funcionalidade de recomendação do a.m.i.g.o.s ainda é pouco explorada pelos

colaboradores do C.E.S.A.R. Esta funcionalidade permite que os colaboradores

enviem recomendações de conhecimentos armazenados no repositório

organizacional a outros colaboradores. O Gráfico 8 apresenta o resultado da coleta

da quantidade de recomendações para a segunda iniciativa de gestão do

conhecimento, apoiada pelo a.m.i.g.o.s.

Gráfico 8 – Recomendações de conhecimento

Uma hipótese para os baixos resultados obtidos é a facilidade de se

recomendar, informalmente, conhecimento presente na base organizacional por

meio de e-mails ou ferramentas de mensagem instantânea, impedindo desta forma a

correta contabilização das recomendações dos conhecimentos presentes no

repositório.

6.3.2. ACESSOS AOS CONHECIMENTOS ARMAZENADOS

Sugere-se que a presente medida seja sempre analisada conjuntamente

com a “Quantidade de novos conhecimentos” cujos resultados foram apresentados

0

20

40

60

80

100

120

140

Rec

omen

daçõ

es

Mês da coleta

78

na Seção 6.2.1. Todavia, os resultados da Seção 6.2.1 focavam na comparação

entre as duas iniciativas, de forma a validar o sistema proposto. Dessa forma para a

análise do resultado dos “Acessos aos conhecimentos armazenados” disponível no

Gráfico 9 foi coletado o resultado da “Quantidade de novos conhecimentos” para o

mesmo período, estando este resultado representado no Gráfico 10.

Gráfico 9 – Acessos a conhecimentos armazenados

A análise dos resultados de ambas as métricas permite que se conclua

que há uma relação entre os resultados da visualização e da publicação de

conhecimento.

Gráfico 10 – Quantidade de novos conhecimentos para o último ano

0500

10001500200025003000350040004500

Ace

ssos

Mês da coleta

Tópicos

Histórias

Objetos

0

100

200

300

400

500

600

700

Nov

os c

onhe

cim

ento

s

Mês da coleta

Tópicos

Histórias

Objetos

79

Um aspecto interessante que pode ser observado nos resultados destas

métricas é a predominância de acesso a histórias, sobretudo nos meses

caracterizados por um baixo número de publicações. Este resultado representa um

bom indício da capacidade de disseminação de conhecimento explícito na

organização, haja vista que o conceito de história dentro do a.m.i.g.o.s tem como

objetivo retratar conhecimento explícito armazenado no repositório organizacional.

6.3.3. PROPORÇÃO DOS ACESSOS ATRAVÉS DE CLASSIFICAÇÕES

O resultado da “Proporção dos acessos através de classificações”,

apresentado no Gráfico 11, reforça o resultado apresentado pela medida da

“Proporção de classificações”, que constatou uma deficiência na classificação dos

conhecimentos armazenados no a.m.i.g.o.s, limitando, dessa forma a capacidade de

acesso através das classificações.

Gráfico 11 – Proporção dos acessos através de class ificações

Embora a definição de valores de referência não faça parte do escopo

deste trabalho, um porcento dos acessos é um valor muito baixo para o mecanismo

de classificação da ferramenta de gestão do conhecimento. Este resultado reforça a

necessidade de se promover a classificação dos conhecimentos armazenados como

já havia sido detectado na medida “Proporção de classificações”, apresentado na

Seção 6.2.4.

0,00%

0,50%

1,00%

1,50%

2,00%

2,50%

3,00%

Ace

ssos

por

cla

ssifi

caçõ

es

Mês da coleta

80

6.4. ETAPA DE APLICAÇÃO

Nesta seção são apresentados os resultados obtidos a partir da aplicação

das métricas para a etapa de aplicação.

6.4.1. A ORGANIZAÇÃO USA CONHECIMENTO OBJETIVANDO

AUMENTAR A EFICIÊNCIA

Embora a maioria dos respondentes da entrevista tenha concordado que

existam processos e ferramentas que visem aumentar a eficiência organizacional

através do uso do conhecimento no C.E.S.A.R, uma parcela significativa manifestou

indiferença ou discordância quando responderam ao questionário usado para o

cálculo da medida “A organização usa conhecimento objetivando aumentar a

eficiência”, representada no Gráfico 12.

A discordância pode ser parcialmente justificada pela menção dos

colaboradores à falta de uma política organizacional, citada por vários dos

entrevistados como “a falta de cultura”, que promova a gestão do conhecimento de

fim a fim.

Gráfico 12 – Uso do conhecimento na organização obj etivando o aumento da

eficiência organizacional

A presença de um incentivo maior por parte da organização evitaria

cenários descritos por entrevistados onde a pressão por resultados em curto prazo,

motivadas provavelmente pelos cronogramas dos projetos, impedia que fosse

0

5

10

15

20

25

jun-09

Oco

rrên

cias

Mês da coleta

Concordo Totalmente

Concordo Muito

Concordo

Indiferente

Discordo

Discordo Muito

Discordo Totalmente

81

dedicado esforço na documentação do conhecimento adquirido no decorrer do

projeto.

6.4.2. CAPACIDADE DE LOCALIZAÇÃO E APLICAÇÃO DO

CONHECIMENTO PARA MUDAR CONDIÇÕES DE

COMPETITIVIDADE

O Gráfico 13 apresenta o resultado para a medida da “Capacidade de

localização e aplicação do conhecimento para mudar condições de competitividade”,

calculada a partir da aplicação do questionário disponível no Apêndice C. O índice

relativamente alto de indiferença e discordância pode ser parcialmente justificado

pela falta de cultura organizacional mencionada nas entrevistas.

Gráfico 13 – Localização de conhecimento para aumen to da competitividade

organizacional

Além da falta de cultura, o mau resultado apresentado pela métrica da

“Quantidade de qualificações positivas” pode justificar o alto índice de discordância

apresentado uma vez que a baixa percepção de qualidade do conteúdo do

repositório organizacional pode impactar negativamente a percepção dos

colaboradores quanto às possibilidades de se localizar conhecimento capaz de

ampliar diferencial competitivo. Dessa forma, são necessárias análises qualitativas

para que seja possível determinar a causa do resultado apresentado no Gráfico 13.

0

5

10

15

20

25

jun-09

Oco

rrên

cias

Mês da coleta

Concordo Totalmente

Concordo Muito

Concordo

Indiferente

Discordo

Discordo Muito

Discordo Totalmente

82

6.4.3. CAPACIDADE DE RELACIONAR RAPIDAMENTE FONTES DE

CONHECIMENTO PARA SOLUCIONAR PROBLEMAS

Ainda que a facilidade de localização de especialistas seja facilitada por

ferramentas de rede social baseadas na web como é o caso do a.m.i.g.o.s, fato este

inclusive citado como vantagem pelo entrevistado 14, não foi possível constatar nas

entrevistas uma grande percepção por parte dos colaboradores quanto à capacidade

de localização de especialistas para a resolução de problemas na atual iniciativa de

gestão do conhecimento. O resultado apresentado no Gráfico 14 ressalta esta baixa

percepção dos colaboradores uma vez que as respostas oscilaram, em sua maioria,

entre “Concordo” e “Discordo”.

Gráfico 14 – Rápido relacionamento de fontes de con hecimento na solução de

problemas

Uma possibilidade de se ampliar o acesso dos colaboradores aos

detentores de conhecimentos-chave na organização é com a implantação e o

estímulo ao uso de ferramentas capazes de indicar especialistas como a proposta

por Silva (2009) e alvo de um projeto pilotos em uma instância de pesquisa do

a.m.i.g.o.s. A proposta de Silva (2009) tem como objetivo permitir a indicação de

especialistas por parte da ferramenta de rede social baseada no perfil de cada

membro da rede, permitindo, dessa forma, a localização de pessoas chave em

situações que demandem a intervenção de especialistas.

0

5

10

15

20

25

jun-09

Oco

rrên

cias

Mês da coleta

Concordo Totalmente

Concordo Muito

Concordo

Indiferente

Discordo

Discordo Muito

Discordo Totalmente

83

6.5. META-ETAPA DE RESULTADOS

Por último, as métricas da meta-etapa de resultados retratam a

externalização de conhecimento com relação à organização, quer seja na forma de

marcas e patentes como através de publicações científicas.

6.5.1. REGISTROS DE PATENTE E MARCAS

A coleta da medida do “Registro de patentes e marcas” foi efetuada com

base nos dados disponíveis no site do Instituto Nacional da Propriedade Industrial10

(INPI). Dessa forma, não foi possível coletar os dados relacionados às submissões

de patentes pelo C.E.S.A.R, haja vista que patentes, diferente de marcas, não

apresentam mecanismo de busca a partir de informações públicas como um CNPJ.

A coleta desta medida a partir de 1996, cujo resultado está retratado no Gráfico 15,

teve como objetivo permitir uma determinação do perfil de submissão e registros de

marca apresentado pelo C.E.S.A.R.

Gráfico 15 – Marcas submetidas e registradas

É possível observar no Gráfico 15, que exceto pelo ano de 2005, o

C.E.S.A.R registra normalmente menos que 5 marcas por ano. Não foi possível

determinar, com base no resultado desta medida e na percepção dos colabores,

uma correlação entre o registro de marcas e a gestão do conhecimento.

10 www.inpi.gov.br

0

5

10

15

20

25

Mar

cas

Ano da coleta

Submetidas

Registradas

84

6.5.2. PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS

A medida de “Publicações científicas” foi coletada a partir dos dados

disponíveis no site institucional da organização, na seção “Artigos e whitepapers”.

O Gráfico 16 apresenta o resultado para as publicações científicas onde

pode-se perceber que há um aumento acentuado no número de publicações no ano

em que as iniciativas de gestão do conhecimento ganharam força dentro da

organização, todavia, é importante ressaltar que este resultado não se repetiu no

ano seguinte.

Gráfico 16 – Publicações

Entretanto, se observarmos os resultados para os anos de 2005 até o

resultado parcial de 2009, pode-se perceber que, com exceção de 2007 e 2006, o

C.E.S.A.R tem um volume de publicações anuais que varia entre 15 e 20, resultado

este abaixo do esperado para uma organização envolvida com atividades de

pesquisa como o C.E.S.A.R.

6.6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A aplicação do conjunto proposto no C.E.S.A.R permitiu a identificação de

um aumento considerável no armazenamento e na disseminação de conhecimento

na organização. Uma limitação do piloto apresentado neste capítulo é a ausência

dos resultados para algumas das métricas durante a primeira iniciativa. Os

resultados apresentados apontam também a ausência de relação entre a gestão do

conhecimento e as publicações científicas e os registros de marcas para a

0

5

10

15

20

25

30

35

2005 2006 2007 2008 2009

Pub

licaç

ões

Ano da coleta

85

organização em questão. O próximo capítulo apresenta o direcionamento futuro para

o conjunto proposto bem como as limitações do mesmo.

86

7. CONCLUSÃO

Esta seção apresenta, de forma resumida, as contribuições deste

trabalho, além de apontar limitações do conjunto de métricas proposto no Capítulo 4.

Por último, é apresentado o direcionamento futuro planejado para a proposta

apresentada.

7.1. CONTRIBUIÇÕES

A primeira contribuição deste trabalho é oferecer uma revisão detalhada

de algumas das propostas mais relevantes para a medição das iniciativas da gestão

do conhecimento e da gestão do capital intelectual. A revisão oferece ainda uma

clara categorização das propostas presentes na literatura, de forma a dirimir as

eventuais confusões com relação à categorização das mesmas, confusão esta

bastante comum uma vez que a gestão do conhecimento e a gestão do capital

intelectual, conforme já citado, apresentam consideráveis sobreposições em seus

escopos.

Outra contribuição resultante do desenvolvimento do conjunto de métricas

proposto neste trabalho é a evolução de algumas das iniciativas de medição da

gestão do conhecimento presentes na literatura. Dentre as contribuições podemos

citar o modelo de categorização para as métricas propostas por Liebowitz (2000)

com base no modelo proposto por Armistead (1999), a clara definição da freqüência

e da forma de coleta de todas as métricas propostas, permitindo, dessa forma, a

aplicação da proposta apresentada em outras iniciativas de gestão de conhecimento

que possam ser caracterizadas como “Orientadas a sistemas” ou “Dinâmicas”,

conforme categorização de Choi e Lee (2003), com um esforço relativamente

pequeno. Todavia, ainda que o conjunto proposto apresente uma maior adequação

para iniciativas baseadas em ferramentas tecnológicas para o apoio da iniciativa da

gestão do conhecimento, sua aplicação em iniciativas focadas na disseminação de

conhecimento tácito entre os indivíduos sem o apoio de ferramentas tecnológicas é

possível, demandando apenas um esforço de adequação dos mecanismos de coleta

das métricas propostas.

Indiscutivelmente, a maior contribuição deste trabalho é oferecer uma

análise qualitativa da aplicação do conjunto de métricas proposto. Métricas estas

87

fortemente baseadas nas propostas disponíveis na literatura. A análise qualitativa

desenvolvida permitiu, ainda que de forma limitada, a análise da correlação entre os

resultados apresentados pelas métricas e a percepção dos colaboradores quanto às

iniciativas de gestão do conhecimento presentes na organização estudada,

oferecendo, dessa forma, um forte indício da validade dos resultados apresentados

pelas métricas que constituem o conjunto proposto.

7.2. LIMITAÇÕES

Ainda que a proposta apresentada neste trabalho tenha oferecido um

grande avanço com relação às iniciativas de gestão do conhecimento presentes na

literatura, é possível identificar pontos de melhoria. Sveiby (1997, p. 164) destaca a

importância de valores de referência quando afirma que “[...] são as comparações

que são interessantes. Uma medida não diz nada a menos que ela seja comparada

com algum referencial: uma outra empresa, um ano anterior ou o orçamento

disponível, por exemplo”, dessa forma, a presente proposta apresenta a limitação de

não oferecer valores de referência para as métricas apresentadas. Sendo assim,

tendo em vista a ausência de valores de referência da proposta e para que seja

possível uma análise confiável da iniciativa de gestão do conhecimento em uma

organização com base na proposta, é recomendável que as métricas sejam

coletadas por pelo menos 6 meses, de forma a permitir uma correta identificação de

padrões e outliers nos dados coletados.

Outra limitação deste trabalho é não contemplar uma análise mais

detalhada das iniciativas de gestão do conhecimento no C.E.S.A.R, incluindo dessa

forma o período em que a instituição só contava com o Wiki e as listas de e-mail

como ferramentas de apoio para a iniciativa. Tal análise permitiria uma maior

confiança com relação às conclusões obtidas na análise qualitativa realizada uma

vez que apontaria o desempenho da organização à época do início das grandes

iniciativas de gestão do conhecimento.

7.3. TRABALHOS FUTUROS

Qualquer iniciativa de enumeração de possibilidades de evolução para a

presente proposta teria, quase que indiscutivelmente, de começar com a elaboração

88

de valores de referência para as métricas propostas, de forma a permitir uma melhor

comunicação dos resultados obtidos pelas iniciativas de gestão do conhecimento.

Embora Sveiby (1997) aponte as limitações de se adotar medidas

financeiras para intangíveis, é impossível deixar de considerar como melhoria para a

presente proposta a inclusão de medidas financeiras conforme sugere a

PriceWaterhouse Coopers (1997). Uma alternativa interessante para o

estabelecimento de medidas financeiras para a gestão do conhecimento é adotar

soluções baseadas no conceito utilizado no Weightless wealth tool kit

(ANDRIESSEN, 2003).

Outra importante evolução da presente proposta é a análise da correlação

dos resultados das etapas, de forma a permitir uma melhor visualização do impacto

de um baixo rendimento de uma etapa com relação às outras. Tal análise permitiria

esforços e investimentos direcionados e corretamente dimensionados, aumentando

a eficiência da iniciativa de gestão do conhecimento.

89

REFERÊNCIAS

AHMED, P. K.; LIM, K. K.; ZAIRI, M. Measuremente practice for knowledge management. Journal of Workplace Learning: Employee Counselling Today , v. 11, n. 8, p. 304-311, 1999.

ANDRIESSEN, D. Making Sense of Intellectual Capital : Designing a Method for the Valuation of Intangibles. Oxford: Elsevier, 2004.

ARIELY, G. Knowledge Management as a Methodology Towards Intellectual Capital. European Knowledge Management Summer School. San Sebastian, 2003.

ARMISTEAD, C. Knowledge management and process performance. Journal of Knowledge Management , v. 3 n. 2, p. 143-154, 1999.

BOSE, R. Knowledge management metrics. Industrial Management & Data Systems , v. 104, n. 6, p. 457-468, 2004.

CHOI, B.; LEE, H. An empirical investigation of KM styles and their effect on corporate performance. Information & Management , v. 40, n. 5, p. 403-417, 2003.

COSTA, R. A.; OLIVEIRA, R. Y. S.; SILVA, E. M.; MEIRA, S. R. L.; A.M.I.G.O.S: Uma plataforma para Gestão de Conhecimento através de Redes Sociais. SBSC 2008 – IEEE Computer Society . Vila Velha, ES, Brazil. p. 192-203. 2008.

DE GOOIJER, J. Designing a knowledge management performance framework. Journal of Knowledge Management , v. 4, n. 4, p. 303-310, 2000.

ECCLES, R. G. Manifesto da mensuração do desempenho. In H. B. Review, Medindo o desempenho empresarial , p. 31-49. Rio de Janeiro: Campus, 2000.

EDVINSSON, L. Developing Intellectual Capital at Skandia. Long Range Planning , v. 30, p. 366-373, 1997.

FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa . Porto Alegre: Bookman, 2004.

GLASER, B. G.; STRAUSS, A. L. The Discovery of Grounded Theory : Strategies

for Qualitative Research. New York: Aldine, 1976.

GOLD, A. H.; MALHOTRA, A.; SEGARS, A. H. Knowledge Management: An Organizational Capabilities Performance. Journal of Management Information Systems , v. 18, n.1, p. 185-215, 2001.

GOLDONI, V. Indicadores para avaliação da gestão do conheciment o: o caso de empresas de desenvolvimento de software. Porto Alegre: (Dissertação) Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia – PUC-RS, 2007.

GRANT, K. A. Tacit Knowledge Revisited – We Can Still Learn from Polanyi. Electronic Journal of Knowledge Management , v. 5, n. 2, p. 173-180, 2007.

90

GRANT, R. M. Toward a Knowledge-based Theory of the Firm. Strategic Management Journal , v. 17, p 109-122, 1996.

HO, C. The relationship between knowledge management enablers and performance. Journal of Industrial Management & Data Systems , v. 109, n. 1, p. 98-117, 2009.

INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS COMMITTEE. IAS 38 intangible assets . 1998.

JOIA, L. A. Medindo o Capital Intelectual. RAE - revista da administração de empresas , v. 41, n. 2, p. 54-63. São Paulo: Fundação Getulio Vargas - Escola de Administração de Empresas de São Paulo, 2001.

JONES, C. Implementing a Successful Measurement Program: Tried and True Practices and Tools. Cutter IT Journal , v. 16, n. 11, pp. 12-18, 2003.

LEONARD-BARTON, D. Core capabilities and core rigidities: a paradox in managing new product development. Strategic Management Journal , v. 13, p. 111-125, 1992.

LEONARD-BARTON, D. Wellsprings of knowledge: building and sustaining the sources of innovation. Boston: Harvard Business School Press, 1995.

LIEBOWITZ, J. Key Ingredients to the Success of an Organization’s Knowledge Management Strategy. Knowledge and Process Management , v. 6, n. 1, p. 37-40, 1999.

LIEBOWITZ, J. Developing knowledge management metrics for measuring intellectual capital. Journal of Intellectual Capital , v. 1, n. 1, p. 54-67, 2000.

MCDERMOTT, R. Why Information Technology Inspired But Cannot Deliver Knowledge Management. California Management Review , v. 41 n. 4, p. 103-117, 1999.

NEELY, A.; GREGORY, M.; PLATTS, K. Performance measurement system design. International Journal of Operations & Production Ma nagement , v. 15, n. 4, p. 80-116, 1995.

NONAKA, I. The Knowledge-Creating Company. In Harvard Business Review on Knowledge Management (pp. 21-45). Boston: Harvard Business Review School Press, 1998.

NONAKA, I.; TOYAMA, R.; KONNO, N. SECI, Ba and Leadership: a Unified Model of Dynamic Knowledge Creation. Long Range Planning , v. 33, p. 5-34, 2000.

POLANYI, M. The tacit dimension . Chicago: University of Chicago Press, 2009.

PRICEWATERHOUSE COOPERS. Mudando para melhor : as melhores práticas para transformar sua empresa. São Paulo: Atlas, 1997.

RAGLAND, B. Measure, Metric, or Indicator: What's the Difference? CrossTalk - The Journal of Defense Software Engineering . 1995.

91

ROOS, G.; ROOS, J.; DRAGONETTI, N.; EDVINSSON, L. Intellectual capital : navigating in the new business landscape. New York: New York University Press, 1997.

ROSENBLATT, P. C.; FISCHER, L. C. Qualitative Family Research. In: BOSS, P. G.; DOHERTY, W. J.; LAROSSA, R. (Org.) Sourcebook of Family Theories and Methods : A Contextual Approach. Nova Iorque: Springer, 1993.

SCHLUTER, B. G.; PHILLIPS, P. P.; PHILLIPS, J. J. In Action: Measuring Intellectual Capital . Alexandria: ASTD Press, 2002.

SILVA, E. M. SWEETS: um Sistema de Recomendação de Especialistas aplicado a Redes Sociais . Recife: (Dissertação) Centro de Informática – UFPE, 2009.

SULLIVAN, P. H. Value Driven Intellectual Capital . New York: Wiley, 2000.

SVEIBY, K. E. The new organizational wealth : managing & measuring knowledge-based assets. São Francisco: Berrett-Koehler Publishers, 1997.

STEWART, T. A. The wealth of knowledge : intellectual capital and the twenty-first century organization. New York: Doubleday/Currency, 2001.

TEIXEIRA FILHO, J. Gerenciando Conhecimento . São Paulo: Senac, 2000.

TEIXEIRA, J.; SILVA, R.; POUSA, M. Os indicadores para avaliação da gestão do conhecimento. In: SILVA, R.V.; NEVES, A. (Org.) Gestão de empresas na era do conhecimento . São Paulo: Serinews, 2004, p. 401-432.

TISSEN, R.; ANDRIESSEN, D.; LEKANNE DEPREZ, F. Value based knowledge management : creating the 21st century company: knowledge intensive, people rich. Amsterdam: Addison-Wesley Longmann, 1998.

WIIG, K. M. Integrating Intellectual Capital and Knowledge Management. Long Range Planning , v. 30 n. 3, p. 399-405, 1997.

92

Apêndice A – Medidas para a gestão do conhecimento de Gold, Malhotra e

Segars

As tabelas a seguir apresentam os indicadores presentes na proposta de

Gold, Malhotra e Segars (2001).

Quadro 10 – Medidas da eficácia organizacional

Item Measures of Organizational Effectiveness

Variable

Name

Over the past two years, my organization has improv ed its

ability to…

KE1 Innovate new products/services

KE2 Identify new business oportunities

KE3 Coordinate the development efforts of different units

KE4 Anticipate potential market oportunities for new products/services

KE5 Rapidly commercialize new innovations

KE6 Adapt quickly to unanticipated changes

KE7 Anticipate surprises and crisis

KE8 Quickly adapt its goals and objectives to industry/market changes

KE9 Decrease market response times

KE10 React to new information about the industry or market

KE11 Be responsive to new market demands

KE12 Avoid overlapping development of corporate initiatives

KE13 Streamline its internal processes

KE14 Reduce redundancy of information and knowledge

93

Quadro 11 – Medidas da infraestrutura tecnológica d a gestão do conhecimento

Item Measures of Technological KM Infrastructure

Variable

Name

My organization…

TI1 Has clear rules for formatting or categorizing its product knowledge

TI2 Has clear rules for formatting or categorizing its process knowledge

My organization uses technology that allows…

TI3 It to monitor its competition and business partners

TI4 Employees to collaborate with other persons inside the organization

TI5 Employees to collaborate with other persons outside the organization

TI6 People in multiple locations to learn as a group from a single source

or at a single point in time

TI7 People in multiple locations to learn as a group from a multiple

sources or at a multiple points in time

TI8 It to search for new knowledge

TI9 It to map the location (ie., an individual, specific system, or database)

of specific types of knowledge

TI10 It to retrive and use knowledge about its products and processes

TI11 It to retrive and use knowledge about its markets and competition

TI12 Generate new oportunities in conjunction with its partners

94

Quadro 12 – Medidas da infraestrutura estrutural da gestão do conhecimento

Item Measures of Structural KM Infrastructure

Variable

Name

My organization('s)…

SI1 Structure* of departments and divisions inhibits interaction and

sharing of knowledge

SI2 Structure promotes collective rather than individualistic behavior

SI3 Structure facilitates the discovery of new knowledge

SI4 Structure facilitates the creation of new knowledge

SI5 Bases our performance on knowledge creation

SI6 Has a standardized reward system for sharing knowledge

SI7 Designs processes to facilitate knowledge exchange across

functional boundaries

SI8 Has a large number of strategic alliances with other firms

SI9 Encourages employees to go where they need for knowledge

regardless of structure

SI10 Managers frequently examine knowledge for errors/mistakes

SI11 Structure facilitates the transfer of new knowledge across structural

boundaries

SI12 Employees are readily accessible

*structure is defined as the rules, policies, procedures, hierarchy of reporting,

relationships, incentive systems and departmental boundaries that organizes tasks

within the firm

95

Quadro 13 – Medidas da infraestrutura cultural da g estão do conhecimento

Item Measures of Structural KM Infrastructure

Variable

Name

In my organization…

CI1 Employees understand the importance of knowledge to corporate

success

CI2 High levels of participation are expected in capturing and transferring

knowledge

CI3 Employees are encouraged to explore and experiment

CI4 On-the-job training and learning are valued

CI5 Employees are valued for their individual expertise

CI6 Employees are encouraged to ask others for assistance when

needed

CI7 Employees are encouraged to interact with other groups

CI8 Employees are encouraged to discuss their work with people in other

workgroups

CI9 Overall organizational vision is clearly stated

CI10 Overall organizational objectives are clearly stated

CI11 Shares its knowledge with other organizations (ie, partners, trade

groups)

CI12 The benefits of sharing knowledge outweight the costs

CI13 Senior management clearly supports the role of knowledge in our

firm's success

96

Quadro 14 – Medidas do processo de aquisição da ges tão do conhecimento

Item Measures of KM Acquisition Process

Variable

Name

My organization…

AP1 Has processes for acquiring knowledge about our customers

AP2 Has processes for generating new knowledge from existing

knowledge

AP3 Has processes for acquiring knowledge about our suppliers

AP4 Uses feedback from projects to improve subsequent projects

AP5 Has processes for distributing knowledge throughout the organization

AP6 Has processes for exchanging knowledge with our business partners

AP7 Has processes for interorganizational collaboration

AP8 Has processes for acquiring knowledge about new products/services

within our industry

AP9 Has processes for acquiring knowledge about competitors within our

industry

AP10 Has processes for benchmarking performance

AP11 Has teams devoted to identifying best practice

AP12 Has processes for exchanging knowledge between individuals

97

Quadro 15 – Medidas do processo de conversão da ges tão do conhecimento

Item Measures of KM Conversion Process

Variable

Name

My organization…

CP1 has processes for converting knowledge into the design of new

products/services

CP2 has processes for converting competitive intelligence into plans of

action

CP3 has processes for filtering knowledge

CP4 has processes for transferring organizational knowledge to

individuals

CP5 has processes for absorbing knowledge from business partners into

the organization

CP6 has processes for distributing knowledge throughout the organization

CP7 has processes for integrating different sources and types of

knowledge

CP8 has processes for organizing knowledge

CP9 has processes for replacing outdated knowledge

98

Quadro 16 – Medidas do processo de aplicação da ges tão do conhecimento

Item Measures of KM Application Process

Variable

Name

My organization…

AP1 has processes for applying knowledge learned from mistakes

AP2 has processes for applying knowledge learned from experiences

AP3 has processes for using knowledge in development of new

products/services

AP4 has processes for using knowledge to solve new problems

AP5 matches sources of knowledge to problems and challenges

AP6 uses knowledge to improve efficiency

AP7 uses knowledge to adjust strategic direction

AP8 is able to locate and apply knowledge to changing competitive

conditions

AP9 makes knowledge accessible to those who need it

AP10 takes advantage of new knowledge

AP11 quickly applies knowledge to critical competitive needs

AP12 quickly links sources of knowledge in solving problems

99

Quadro 17 – Medidas do processo de proteção da gest ão do conhecimento

Item Measures of KM Protection Process

Variable

Name

My organization…

PP1 has processes to protect knowledge from inappropriate use inside

the organization

PP2 has processes to protect knowledge from inappropriate use outside

the organization

PP3 has processes to protect knowledge from theft from within the

organization

PP4 has processes to protect knowledge from theft from outside the

organization

PP5 has incentives that encourages the protection of knowledge

PP6 has technology that restricts access to some sources of knowledge

PP7 has extensive policies and procedures for protecting trade secrets

PP8 values and protects knowledge embedded in individuals

PP9 knowledge that is restricted is clearly identified

PP10 clearly communicates the importance of protecting knowledge

100

Apêndice B – Alguns dos indicadores presentes no Sk andia Navigator

As tabelas a seguir apresentam alguns dos indicadores presentes nas

perspectivas do Skandia Navigator citados por Teixeira, Silva e Pousa (2004, p. 420-

423).

Quadro 18 – Indicadores da perspectiva com foco no financeiro

Indicador Tipo

Ativo total Financeiro

Ativo total / colaborador Financeiro

Receita / ativo total Financeiro

Lucros / ativo total Financeiro

Receita resultante de novos negócios Financeiro

Lucros resultante de novos negócios Financeiro

Receita / colaborador Financeiro

Tempo dedicado aos clientes / número de horas trabalhadas Percentagem

Lucros / colaborador Financeiro

Receitas de negócios perdidos em comparação com a média do

mercado

Percentagem

Receitas de novos clientes / receitas totais Percentagem

Valor de mercado Financeiro

Valor de mercado / colaborador Percentagem

Retorno sobre o valor ativo líquido Financeiro

Retorno sobre o ativo líquido resultante da atuação em novos

negócios

Financeiro

101

Valor agregado / colaborador Financeiro

Valor agregado / colaborador em TI Financeiro

Investimentos em TI Financeiro

Valor agregado / cliente Financeiro

Quadro 19 – Indicadores da perspectiva com foco no cliente

Indicador Tipo

Participação no mercado Financeiro

Número de clientes Absoluto

Vendas anuais / cliente Financeiro

Número de clientes perdidos Absoluto

Duração média do relacionamento com o cliente Absoluto

Conta média dos clientes Financeiro

Classificação dos clientes Percentagem

Número de visitas dos clientes à empresa Absoluto

Número de dias empregados em visitas a clientes Absoluto

Número de clientes / número de empregados Absoluto

Número de empregados que geram receitas Absoluto

Tempo médio entre o contato com o cliente e o fechamento da

venda

Absoluto

Contatos de venda / vendas fechadas Percentagem

Índice de satisfação dos clientes Percentagem

102

Investimentos em TI / vendedor Financeiro

Investimentos em TI / empregado do setor de serviços e suporte Financeiro

Conhecimento de TI por parte dos clientes Percentagem

Despesas de suporte / cliente Financeiro

Despesas de serviço / cliente / ano Financeiro

Despesas de serviço / cliente / contrato Financeiro

Quadro 20 – Indicadores da perspectiva com foco no processo

Indicador Tipo

Despesas administrativas / receita total Absoluto

Tempo de processamento dos pagamentos a terceiros Absoluto

Contratos redigidos sem erro Absoluto

Pontos funcionais / colaborador-mês Absoluto

PCs e laptops / colaborador Absoluto

Despesas administrativas / colaborador Financeiro

Despesas com TI / colaborador Financeiro

Despesas com TI / despesas administrativas Percentagem

Despesas administrativas / prêmio bruto Percentagem

Capacidade do equipamento de informática (CPU e Memória) Absoluto

Equipamento de informática adquirido Financeiro

Desempenho corporativos em termos de qualidade (ISO 9000) Absoluto

103

Desempenho corporativo / meta de qualidade Percentagem

Equipamentos de TI descontinuados / equipamento de TI Percentagem

Equipamentos de TI órfãos / equipamento total de TI Percentagem

Capacidade dos equipamentos de TI / colaborador Absoluto

Desempenho dos equipamentos de TI / colaborador Absoluto

Quadro 21 – Indicadores da perspectiva com foco na renovação e no

desenvolvimento

Indicador Tipo

Despesas em desenvolvimento de competência / empregado Percentagem

Índice de satisfação do colaborador Percentagem

Investimentos em relacionamento / cliente Financeiro

Despesas de marketing / cliente Financeiro

Percentagem de horas de formação Percentagem

Percentagem de horas de desenvolvimento Percentagem

Percentagem de oportunidades Percentagem

Despesas de I&D / despesas administrativas Percentagem

Despesas de formação / colaborador Financeiro

Despesas de formação / despesas administrativas Percentagem

Despesas de desenvolvimento de novos negócios / despesas

administrativas

Financeiro

Percentagem de empregados com menos de 40 anos Percentagem

104

Despesas de desnvolvimento de TI / despesas de TI Percentagem

Despesas da área de formação em TI / despesas de TI Percentagem

Recursos investidos em I&D / investimentos total Percentagem

Número de oportunidades de negócio captadas junto à base de

clientes

Absoluto

Idade média dos clientes Absoluto

Nível educacional dos clientes Absoluto

Rendimentos dos clientes Financeiro

Duração média do cliente em meses Absoluto

Investimento em formação / cliente Financeiro

Comunicações diretas com o cliente / ano Absoluto

Despesas não relacionadas ao produto / cliente / ano Financeiro

Investimentos no desenvolvimento de novos mercados Financeiro

Investimentos no desenvolvimento de capital estrutural Financeiro

Valor do sistema EDI Financeiro

Upgrades ao sistema EDI Absoluto

Capacidade do sistema EDI Absoluto

Proporção de novos produtos (com menos de dois anos) em

relação à linha completa de produtos da empresa

Percentagem

Investimentos de I&D em pesquisa básica Percentagem

Investimentos de I&D em projeto de produto Percentagem

Investimentos de I&D em aplicações Percentagem

105

Investimentos em suporte e formação relativos a novos produtos Financeiro

Idade média das patentes da empresa Absoluto

Patentes em fase de registro Absoluto

Quadro 22 – Indicadores da perspectiva com foco no humano

Indicador Tipo

Índice de liderança Percentagem

Índice de motivação Percentagem

Índice de empowerment (por 1000) Absoluto

Número de colaboradores Absoluto

Rotatividade dos colaboradores Percentagem

Tempo médio de casa Absoluto

Número de gestores Absoluto

Número de gestores do sexo feminino Absoluto

Idade média dos colaboradores Absoluto

Tempo de formação (dias/ano) Absoluto

Conhecimento de TI por parte dos colaboradores Absoluto

Número de colaboradores permanentes em tempo integral Absoluto

Rotatividade anual dos colaboradores permanentes em tempo

integral

Absoluto

Custo anual per capita dos programas de formação, comunicação

e suporte para colaboradores permanentes em tempo integral

Financeiro

106

Colaboradores permanentes em período integral que gastam

menos de 50% do tempo de trabalho em instalações da empresa

Absoluto

Percentagem de empregados permanentes em tempo integral Percentagem

Custo anual per capita de programas formação, comunicação e

suporte

Financeiro

Número de empregados temporários em tempo integral Absoluto

Média de tempo de casa dos empregados temporários em tempo

integral

Absoluto

Custo anual per capita de programas de formação e suporte para

empregados temporários a tempo inteiro

Financeiro

Número de empregados em tempo parcial / empregados

contratados em tempo parcial

Absoluto

Duração média dos contratos Absoluto

Colaboradores trabalhando em casa / número total de

colaboradores

Absoluto

Percentagem de gestores da empresa com especialização em

gestão de negócios

Percentagem

Percentagem de gestores da empresa com especialização em

disciplinas científicas e engenharia

Percentagem

Percentagem de gestores da empresa com especialização em

humanas

Percentagem

107

Apêndice C – Questionário aplicado como parte da co leta das medidas

propostas

O questionário aplicado de forma a complementar as medidas das etapas

de criação e aplicação do processo de gestão do conhecimento é composto pelas

seguintes questões conforme ser observado no Quadro 23.

Quadro 23 – Questões aplicadas como complementos as medidas das etapas

de criação e aplicação

Etapa Pergunta

Criação Em sua opinião, o CESAR possui processos/ferramentas que

auxiliam os colaboradores a trocar conhecimentos necessários

à execução de suas atividades?

Aplicação Em sua opinião, o CESAR possui processos/ferramentas

capazes de apoiar o uso efetivo do conhecimento de forma a

aumentar a eficiência da organização?

Aplicação Em sua opinião, o CESAR oferece meios para localizar e

aplicar conhecimentos de

forma a torná-lo mais competitivo?

Aplicação Em sua opinião, o CESAR possui processos/ferramentas

capazes de relacionar

rapidamente fontes de conhecimento para solucionar

problemas?

As respostas às perguntas no Quadro 23 foram formuladas seguindo uma

escala Likert de sete níveis que pode ser observada no Quadro 24.

108

Quadro 24 – Possíveis respostas às perguntas aplica das no questionário

elaborado para o cálculo das métricas

Possíveis respostas

Concordo totalmente

Concordo muito

Concordo

Indiferente

Discordo

Discordo muito

Discordo totalmente

109

Apêndice D – Roteiro das entrevistas

1. Qual seu perfil e tempo de experiência?

2. Quais as iniciativas de Gestão do Conhecimento que você conhece(u) no

C.E.S.A.R? Descreva rapidamente cada uma delas.

3. Para cada iniciativa, quais os pontos positivos e negativos. Por que?

4. Enumere as iniciativas citadas, colocando primeiro as que obtiveram maior

sucesso.

110

Apêndice E – Identificação e perfil dos entrevistad os

O Quadro 25 apresenta a identificação usada nos resultados e o perfil de

cada entrevistado.

Quadro 25 – Identificação e perfil dos entrevistado s

Identificação Perfil

Entrevistado 1 Engenheiro de Qualidade

Entrevistado 2 Gerente de Projetos

Entrevistado 3 Engenheiro de Qualidade

Entrevistado 4 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 5 Engenheiro de Qualidade

Entrevistado 6 Engenheiro de Configuração

Entrevistado 7 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 8 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 9 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 10 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 11 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 12 Gerente de Projetos

Entrevistado 13 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 14 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 15 Engenheiro de Sistemas

Entrevistado 16 Engenheiro de Qualidade

Entrevistado 17 Engenheiro de Sistemas

111

Entrevistado 18 Gerente de Projetos

Entrevistado 19 Engenheiro de Sistemas