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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE FÍSICA PROGRAMA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FÍSICA DE MATERIAIS Crescimento e caracterização de cristais de K com composição mista de Ni e Co da família do sal de Tutton Tiago de Sousa Pacheco Ouro Preto MG Setembro/2015

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

    INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS E BIOLGICAS

    DEPARTAMENTO DE FSICA

    PROGRAMA DE PS- GRADUAO EM

    CINCIAS FSICA DE MATERIAIS

    Crescimento e caracterizao de cristais de K com composio

    mista de Ni e Co da famlia do sal de Tutton

    Tiago de Sousa Pacheco

    Ouro Preto MG

    Setembro/2015

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

    INSTITUTO DE CINCIAS EXATAS E BIOLGICAS

    DEPARTAMENTO DE FSICA

    PROGRAMA DE PS- GRADUAO EM

    CINCIAS FSICA DE MATERIAIS

    Crescimento e caracterizao de cristais de K com composio

    mista de Ni e Co da famlia do sal de Tutton

    Tiago de Sousa Pacheco

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Ps-Graduao em Cincias Fsica de

    Materiais, da Universidade Federal de

    Ouro Preto como parte dos requisitos

    necessrios para a obteno do ttulo de

    Mestre em Cincias.

    Orientador: Prof. Dr. Genivaldo Jlio Perptuo

    Coorientador: Prof. Dr. Carlos Joel Franco

    Ouro Preto MG

    Setembro/2015

  • i

  • ii

  • iii

    Dedico este trabalho aos meus pais e

    irmos. Pessoas a quem tanto devo e tenho

    eterna gratido. E as grandes amizades

    que fiz em Ouro Preto.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Aos professores, Dr. Genivaldo Jlio Perptuo e Dr. Carlos Joel Franco pela orientao

    atenciosa e dedicada, por todo apoio e incentivo, pelas sugestes e crticas construtivas que

    contriburam para o desenvolvimento deste trabalho.

    Ao Dr. Hermnio Arias Nalini Jr., do Laboratrio de Geoqumica Ambiental do Departamento

    de Geologia, Universidade Federal de Ouro Preto, pela colaborao com as anlises ICP-OES,

    e servidora tcnica Adriana Trpia responsvel pelas anlises.

    Ao Dr. Anderson Dias, do Laboratrio de espectroscopia Raman, Universidade Federal de

    Ouro Preto, pela colaborao com as anlises de espectroscopia Raman.

    equipe do Laboratrio de Polmeros e Propriedades Eletrnicas de Materiais LAPPEM,

    Universidade Federal de Ouro Preto, pela colaborao com as anlises de espectroscopia de

    absoro UV-vis.

    Ao pesquisador Joao Batista Santos Barbosa, do Laboratrio de Espectroscopia de

    Fluorescncia de Raios X, CDTN/CNEN - Centro de Desenvolvimento da Tecnologia

    Nuclear, pela colaborao com as anlises de fluorescncia de raios X.

    Ao Dr. Trcio Assuno Pedrosa do Laboratrio de Microscopia Eletrnica, CDTN/CNEN -

    Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, pela colaborao com as anlises de

    microscopia eletrnica de varredura e EDS.

    Dra. Adelina Pinheiro Santos e Dra. Clascdia Aparecida Furtado, do Laboratrio de

    Qumica de nanoestruturas (LQN/CDTN/CNEN) que integra o Sistema Nacional de

    Laboratrios em Nanotecnologia SisNANO, pelas colaboraes com as anlises trmicas

    TG/DTG.

    Ao Dr. Carlos Baslio Pinheiro e ao Dr. Nivaldo Lcio Speziali, do laboratrio de

    cristalografia LabCri, da Universidade Federal de Minas Gerais, pela colaborao com as

    anlises de difrao de raios X por monocristal.

    Aos rgos financiadores dos laboratrios que contriburam para o desenvolvimento deste

    trabalho: CAPES, CNPq e FAPEMIG.

  • v

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Alfred Edwin Howard Tutton .............................................................................................. 17

    Figura 2 Representao da frmula qumica do sal de Tutton, destacando as formas tetradricas do

    sulfato e octadrica do metal bivalente ................................................................................................. 18

    Figura 3 Representao de uma perturbao tetragonal em sistemas octadricos (alongamento,

    esquerda e contrao, direita de um dos eixos octadricos). .............................................................. 19

    Figura 4 Anlise termogravimtrica do cristal NSH ........................................................................... 19

    Figura 5 Anlise termogravimtrica do cristal KNSH ........................................................................ 19

    Figura 6 Anlise termogravimtrica do cristal KCo0,1Ni0,9SH ........................................................... 20

    Figura 7 Espectro de transmisso dos cristais KNSH e KCNSH ....................................................... 20

    Figura 8 Estrutura cristalogrfica do sal KCo0,1Ni0,9SH, vista ao longo do eixo cristalogrfico .

    Linhas tracejadas representam ligaes de hidrognio (H omitidos) ................................................... 21

    Figura 9 Estrutura cristalogrfica do cristal KCSH, vista ao longo do eixo cristalogrfico ........... 22

    Figura 10 Representao do diagrama de Ostwald-Miers .................................................................. 24

    Figura 11 Representao simplificada do processo de crescimento por evaporao do solvente. ...... 25

    Figura 12 Representao do sistema do plasma de um ICP ............................................................... 27

    Figura 13 Esquema do processo que ocorre no interior de um ICP-OES. .......................................... 28

    Figura 14 Representao de um sistema ICP-OES convencional ...................................................... 28

    Figura 15 Esquema de ejeo de um eltron e emisso de raios X caractersticos. ............................ 29

    Figura 16 Representao do efeito Auger. .......................................................................................... 30

    Figura 17 Representao dos nveis atmicos e transies eletrnicas. .............................................. 30

    Figura 18 Representao de um MEV a esquerda e a direita os efeitos provocados na amostra ....... 31

    Figura 19 Representao dos efeitos provocados no tomo pela interao com o feixe de eltrons .. 31

    Figura 20 Representao de padres de curvas TG: a) perda de massa e b) reao de oxidao em

    funo da temperatura .......................................................................................................................... 32

    Figura 21 Representao dos efeitos Stokes, Anti-Stokes e Rayleigh ............................................... 34

    Figura 22 Representao dos modos vibracionais de uma molcula do tipo XY2 ............................. 35

    Figura 23 Representao dos modos vibracionais de uma molcula XY4 ......................................... 35

    Figura 24 Representao dos modos vibracionais de uma molcula XY6 .......................................... 35

    Figura 25 Representao do fenmeno de difrao por planos cristalogrficos ................................ 37

    Figura 26 Representao de um feixe de raios X espalhado por dois centros espalhadores O e M, as

    direes incidente e difratada deferem de um ngulo .................................................................... 38

    Figura 27 Representao das redes recproca e direta, onde , , e a*, b*, c* so vetores. ............. 39

    Figura 28 Fator de espalhamento de alguns tomos e ons. .......................................................... 40

    Figura 29 Representao da esfera de Ewald. ..................................................................................... 41

    Figura 30 Representao da condio de difrao para alguns planos cristalogrficos (hkl) utilizando

    a esfera de Ewald. ................................................................................................................................. 42

    Figura 31 A) cristal puro de cobalto, B) cristal puro de nquel e C) cristal misto de Ni/Co. .............. 48

    Figura 32 Amostra A, cristal puro de cobalto. .................................................................................... 49

    Figura 33 Amostra B, cristal puro de nquel. ...................................................................................... 49

    Figura 34 Amostra C, cristal misto de Co/Ni. ..................................................................................... 49

    Figura 35 Cristais mistos referentes s propores da tabela 4. .......................................................... 50

    Figura 36 Amostra A: ampliao de 500x, tenso de 10kV. ............................................................... 57

    Figura 37 Amostra A: ampliao de 5000x, tenso de 10kV. ............................................................. 57

  • vi

    Figura 38 Amostra B: ampliao de 2000x, tenso de 15kV. ............................................................. 58

    Figura 39 Amostra B: ampliao de 30000x, tenso de15kV. ............................................................ 58

    Figura 40 Amostra C: ampliao de 2000x, tenso de 15 kV. ............................................................ 58

    Figura 41 Amostra C: ampliao de 5000x, tenso de 15kV. ............................................................. 58

    Figura 42 Amostra D: ampliao de 2500x, tenso de 15kV. ............................................................. 59

    Figura 43 Amostra D: ampliao de 5000x, tenso de 15 kV. ............................................................ 59

    Figura 44 Amostra E: ampliao de 2000x tenso de 15kV. .............................................................. 59

    Figura 45 Amostra E: ampliao de 5000x, tenso de 15kV. ............................................................. 59

    Figura 46 Amostra F: ampliao de 1000x, tenso de 15kV. ............................................................. 60

    Figura 47 Amostra F: ampliao de 5000x, tenso de 15kV. ............................................................. 60

    Figura 48 Amostra G: ampliao de 950x, tenso de 15kV. ............................................................... 60

    Figura 49 Amostra G: ampliao de 9400x, tenso de 15kV. ............................................................. 60

    Figura 50 Amostra H: ampliao 2000x, tenso de 15kV. ................................................................. 60

    Figura 51 Amostra H: ampliao de 5000x, tenso de 15kV. ............................................................. 60

    Figura 52 Representao do suporte utilizado nas medidas. ............................................................... 62

    Figura 53 Representao dos efeitos provocados pela geometria das amostras: ................................ 62

    Figura 54 Representao da unidade assimtrica abaixa temperatura (120K). ................................... 69

    Figura 55 Vista da estrutura cristalogrfica ao longo do eixo (verde: eixo ; azul: eixo ). ........... 70

    Figura 56 Representao das ligaes de hidrognio independentes na clula unitria ao longo do

    eixo . ................................................................................................................................................... 71

    Figura 57 Projeo da clula unitria ao longo da direo [101]. ....................................................... 71

    Figura 58 Amostra C. ......................................................................................................................... 78

    Figura 59 Amostra C. ......................................................................................................................... 78

    Figura 60 Amostra E. ......................................................................................................................... 78

    Figura 61 Amostra E. .......................................................................................................................... 79

    Figura 62 Amostra F. .......................................................................................................................... 79

    Figura 63 Amostra F. .......................................................................................................................... 79

    Figura 64 Amostra H. .......................................................................................................................... 80

    Figura 65 Amostra H. .......................................................................................................................... 80

  • vii

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Parmetros de rede de alguns cristais da famlia do sal de Tutton ...................................... 21

    Tabela 2 Reagentes utilizados no preparo das solues. ..................................................................... 43

    Tabela 3 Tempo de crescimento dos cristais. ...................................................................................... 48

    Tabela 4 Tempo de crescimento dos cristais com adio de Li. ......................................................... 50

    Tabela 5 Resultados obtidos no ICP-OES. .......................................................................................... 51

    Tabela 6 Propores de Ni e Co nas amostras dos cristais mistos. ..................................................... 51

    Tabela 7 Propores de Ni e Co, obtidas com a tcnica (WDXRF). .................................................. 53

    Tabela 8 Percentual de Ni e Co em cada amostra. .............................................................................. 53

    Tabela 9 Dados tericos da massa molar e percentual de gua das amostras. .................................... 55

    Tabela 10 Percentual de perda de massa e temperatura de desidratao (Td). ................................... 55

    Tabela 11 Energia dos raios X caractersticos emitidos por alguns elementos presente nas amostras.

    ............................................................................................................................................................... 56

    Tabela 12 Dados das amostras analisadas na espectroscopia UV-vis. ................................................ 63

    Tabela 13 Resultados da coleta de dados cristalogrficos e do refinamento da estrutura. .................. 67

    Tabela 14 Comprimentos e ngulos de ligao, amostra H (120K) (M=Ni, Co). ............................... 69

    Tabela 15 Geometria das ligaes de hidrognio, amostra H (120K). ................................................ 70

    Tabela 16 Coordenadas atmicas (104) e os parmetros de deslocamento isotrpico equivalentes (

    2

    x 103 ). U (eq) definido como um tero do trao do tensor Uij ortogonalizado. ................................ 85

    Tabela 17 Parmetros de deslocamento anisotrpicos (2 x 10

    3 ). O fator de deslocamento

    anisotrpico assume a forma: -22 [ h

    2 (a*)

    2 U11 +... + 2 hk a* b* U12] ............................................ 85

    Tabela 18 Coordenadas do hidrognio (x104) e os parmetros de deslocamento isotrpico (2x103). 85

    Tabela 19Comprimentos das ligaes ................................................................................................ 86

    Tabela 20 ngulos entre as ligaes .................................................................................................. 86

  • viii

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Curvas das perdas de massa das amostras. .......................................................................... 54

    Grfico 2 Derivadas das curvas da perda de massa das amostras. ...................................................... 54

    Grfico 3 Espectros EDS dos resduos da anlise trmica. ................................................................. 56

    Grfico 4 Espectros EDS das amostras. .............................................................................................. 61

    Grfico 5 Espectros de transmisso normalizados das amostras A, B e C. ......................................... 63

    Grfico 6 Espectros de transmisso normalizados de todas as amostras. ........................................... 64

    Grfico 8 Espectro Raman das amostras com indicao dos modos normais de vibrao dos SO4, dos

    M(H2O)6 e dos H2O. ............................................................................................................................. 65

    Grfico 9 Espectro Raman das amostras destacando as regies dos modos normais de vibrao dos

    SO4, dos M(H2O)6. ................................................................................................................................ 65

    Grfico 11 Ajuste da curva DTG, amostra A. ..................................................................................... 81

    Grfico 12 Ajuste da curva DTG, amostra B. ..................................................................................... 81

    Grfico 13 Ajuste da curva DTG, amostra C. ..................................................................................... 82

    Grfico 14 Ajuste da curva DTG, amostra D. .................................................................................... 82

    Grfico 15 Ajuste da curva DTG, amostra E. ..................................................................................... 83

    Grfico 16 Ajuste da curva DTG, amostra F...................................................................................... 83

    Grfico 17 Ajuste da curva DTG, amostra G. .................................................................................... 84

    Grfico 18 Ajuste da curva DTG, amostra H. .................................................................................... 84

  • ix

    RESUMO

    A classe de cristais investigados neste trabalho vem despertando o interesse de muitos

    pesquisadores, especialmente no estudo das propriedades fsicas, compreendem a famlia do

    sal de Tutton. Porm, pouco encontrado sobre os cristais mistos, com ocupao parcial do

    metal bivalente. Neste trabalho foram estudadas amostras inditas crescidas a partir da

    frmula emprica 2+

    2+(1)2+ (4)2 .62, com ocupao parcial dos ctions Co e Ni.

    Acreditamos que amostras dos cristais mistos tambm sejam isomrficos aos sais puros, e

    exibam estrutura cristalina monoclnica e o grupo espacial P21/c. A combinao das

    propriedades fsicas e qumicas dos elementos que formam estes sais, permite obter cristais

    mistos com uma ampla gama de composio. Por meio do mtodo de crescimento de cristais

    por soluo com evaporao isotrmica do solvente, foi possvel obter cristais puros e mistos

    com boa qualidade ptica. Os resultados obtidos por anlise trmica mostram que os cristais

    mistos obtidos possuem temperatura de desidratao acima da temperatura de desidratao de

    alguns cristais puros desta famlia. No processo de decomposio estes cristais sofrem uma

    perda de massa de aproximadamente 24% equivalente s molculas de gua que formam

    octaedros de coordenao dos ons Ni e Co. Atravs da espectroscopia Raman foram

    identificados os modos vibracionais de SO4, H2O e dos octaedros Ni(H2O)6 e Co(H2O)6, e

    com espectroscopia de absoro UV-vis foi possvel identificar as bandas de absoro das

    amostras. Anlises qumicas das propores de Ni e Co foram realizadas por fluorescncia de

    raios X, ICP-OES e EDS. Por meio de difrao de raios X por monocristal foi possvel

    resolver a estrutura cristalogrfica de um cristal misto indito, em duas faixas de temperatura.

  • x

    ABSTRACT

    The type of crystal investigated in this work has attracted the interest of many researchers,

    especially in the study of the physical properties, belongs to the family of Tutton salt.

    However, not much is found about the mixed crystals, with partial occupation of the bivalent

    metal. In this research, samples of the empirical formula 2+

    2+(1)2+ (4)2 .62 will

    be grown with partial occupation of the cations Co and Ni. We believe that samples of mixed

    crystals are also isomorphic to the pure salts and also that they have monoclinic crystalline

    structure and the space group P21/c. The combination of physical and chemical properties of

    the elements that form these salts allows us to obtain mixed crystals with a wide range of

    composition. Utilizing the method based on the growth of crystals per solution with

    isothermal evaporation of the solvent, it was possible to obtain pure and mixed crystals with

    good optical quality. The results of thermal analysis show that the mixed crystals obtained

    have a dehydration temperature above the dehydration temperature of some pure crystals of

    this family. In the decomposition process, these crystals suffer a mass decrease of

    approximately 24%, equivalent to water molecules forming octahedral coordination ions of Ni

    and Co. By Raman spectroscopy the vibrational modes of SO4, H2O and of the octahedral

    Ni(H2O)6 e Co(H2O)6 were identified, and by UV-vis absorption spectroscopy it was possible

    to identify the absorption bands of the samples. Chemical analyses of Ni and Co ratios were

    performed by X-ray fluorescence, ICP-OES, and EDS. By means of X-ray diffraction by

    single crystal it was possible to solve the crystal structure of novel mixed salt in two

    temperature ranges.

  • xi

    SUMRIO

    Captulo 1 : Introduo .......................................................................................................................... 13

    Objetivos ............................................................................................................................................... 16

    Captulo 2 : Reviso Bibliogrfica .......................................................................................................... 17

    2.1. Propriedades dos Cristais da Famlia do Sal de Tutton ............................................................. 17

    2.2. Crescimento de Cristais ............................................................................................................. 22

    Captulo 3 : Mtodos de Caracterizao ............................................................................................... 27

    3.1. Espectroscopia de Emisso ptica por Plasma Acoplado Indutivamente (ICP-OES) ................ 27

    3.2. Fluorescncia de Raios X por Disperso de Comprimento de Onda (WDXRF) ......................... 29

    3.3. Microanlise por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) ................................................. 31

    3.4. Termogravimetria...................................................................................................................... 32

    3.5. Espectroscopia de Absoro UV-Vis .......................................................................................... 33

    3.6. Espectroscopia Raman .............................................................................................................. 33

    3.7. Difrao de Raios X por Monocristal ......................................................................................... 36

    Captulo 4 : Parte Experimental ............................................................................................................ 43

    4.1. Sntese das solues .................................................................................................................. 43

    4.2. Espectroscopia de Emisso ptica por Plasma Acoplado Indutivamente (ICP-OES). ............... 45

    4.3. Fluorescncia de Raios X por Disperso de Comprimento de Onda (WDXRF) ......................... 45

    4.4. Microanlise por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) ................................................. 45

    4.5. Termogravimetria...................................................................................................................... 46

    4.6. Espectroscopia de Absoro UV-VIS ......................................................................................... 46

    4.7. Espectroscopia Raman .............................................................................................................. 46

    4.8. Difrao de Raios X por Monocristal ......................................................................................... 47

    Captulo 5 : Resultados e Discusso ...................................................................................................... 48

    5.1. Crescimento dos Cristais ........................................................................................................... 48

    5.2. Espectroscopia de Emisso ptica por Plasma Acoplado Indutivamente (ICP-OES) ................ 51

    5.3. Fluorescncia de Raios X por Disperso de Comprimento de Onda (WDXRF) ......................... 52

    5.4. Termogravimetria...................................................................................................................... 53

    5.5. Microanlise por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) ................................................. 56

    5.6. Espectroscopia de Absoro UV-vis .......................................................................................... 62

    5.7. Espectroscopia Raman .............................................................................................................. 64

    5.8. Difrao de Raios X por Monocristal ......................................................................................... 66

  • xii

    Captulo 6 : Consideraes Finais .......................................................................................................... 72

    Referncias ............................................................................................................................................ 74

    APNDICE I: Imagens obtidas no MEV dos resduos da TG das amostras C, E, F e H ..................... 78

    APNDICE II: Ajustes das curvas da derivada da perda de massa (DTG) .......................................... 81

    APNDICE III: Dados da difrao da amostra H (120K) .................................................................... 85

  • 13

    Captulo 1 : Introduo

    Atualmente, uma grande variedade de cristais pode ser sintetizada ou modificada

    em laboratrio, dependendo do tipo de interesse e aplicabilidade. Apesar de alguns cristais

    no possurem um valor comercial atrativo, eles podem exibir propriedades que tornam sua

    comercializao e atividade industrial muito importante para a fabricao de joias e outros

    adereos. Do ponto de vista cientfico e tecnolgico, cientistas e pesquisadores buscam a

    compreenso das propriedades fsicas e qumicas de alguns cristais que ainda no esto

    completamente elucidadas e que possam vir a ser teis para aplicaes tecnolgicas, como,

    por exemplo, na fabricao de diodos, transistores, circuitos integrados eletrnicos e

    pticos, memrias pticas, lasers de estado slido, detectores de radiao, defletores

    pticos, guias de onda etc.

    A maior parte da produo de cristais, cerca de 60%, est concentrada na

    fabricao de semicondutores; enquanto a produo de cristais pticos, cristais cintiladores

    e ptico-acstico gira em torno de 10% cada. Em seguida, vem os cristais para aplicaes

    em laser, ptica no-linear, joias e similares, que possuem cerca de 3% cada de toda

    produo de cristais [1].

    A maioria das aplicaes tecnolgicas necessita de cristais com alta perfeio

    estrutural e livre de contaminao por impurezas, exceto em alguns casos em que

    impurezas so adicionadas propositalmente a fim de se obter certas propriedades. Estes

    requisitos podem ser muito bem controlados em laboratrio, ao contrrio dos cristais

    encontrados na natureza que crescem sob condies diversas. Por este motivo, cristais

    produzidos pelo homem em laboratrio, os cristais sintticos, tornam-se cada vez mais

    importantes para a investigao fsica e potenciais aplicaes tecnolgicas.

    O sucesso das aplicaes tecnolgicas que envolvem cristais depende fortemente

    da qualidade dos reagentes utilizados e da qualidade dos cristais obtidos e frequentemente

    do mtodo especfico de crescimento.

    Neste sentido, cristais tm sido cada vez mais investigados, tanto no setor

    industrial, quanto no acadmico. Com o avano das tcnicas de crescimento e da fsica de

    cristais, o estudo das mais variadas propriedades ganhou um grande impulso ao longo dos

    anos, proporcionando, cada vez mais, o desenvolvimento de novas tcnicas de

  • 14

    caracterizao de materiais em geral. Isso vem proporcionando a descoberta ou o

    aprimoramento de vrios fenmenos fsico-qumico e, consequentemente, inovando em

    aplicaes prticas [2].

    Uma classe importante de cristais que vem despertando grande interesse de

    muitos pesquisadores so os cristais da famlia do sal de Tutton, pois estes possuem

    algumas propriedades fsico-qumicas que ainda no foram estudadas, principalmente

    quando se trata dos cristais mistos desta famlia. Os cristais desta famlia apresentam

    frmula qumica do tipo 2+2+(4)2. 62 em que

    + um metal alcalino ou amnia,

    2+ um metal de transio e pode ser ( ). Eles e at mesmo os cristais mistos

    da famlia do sal de Tutton apresentam as mesmas caractersticas, ou seja, cristalizam-se

    com formas idnticas [3]. Por exemplo, os cristais puros de nquel e cobalto possuem

    algumas propriedades bem semelhantes, j os cristais mistos destes materiais apresentam

    propriedades bem distintas, exceto pelo fato de possurem a mesma estrutura

    cristalogrfica [4].

    Dependendo das propriedades e das limitaes intrnsecas de cada material, vrias

    tcnicas de crescimento de cristais podem ser utilizadas, por exemplo, o mtodo de fuso,

    mtodo de Bridgman, mtodo de Czochralski, mtodo de vapor, mtodo de soluo, dentre

    outros. No entanto, cada mtodo possui suas vantagens e desvantagens. Por isso, se faz

    necessrio conhecer as propriedades dos materiais com os quais se pretende trabalhar para

    poder escolher o mtodo que ir favorecer as caractersticas desejadas do cristal a ser

    crescido.

    Neste trabalho, estudamos cristais puros e novos cristais mistos da famlia do sal

    de Tutton com frmula qumica 2 (1) (4)2 62 e onde 0 1. Estes

    cristais foram crescidos atravs de uma soluo slida diluda supersaturada. Cada um

    destes cristais possuem caractersticas prprias e podem vir a ser teis em aplicaes

    tecnolgicas. A vantagem de se trabalhar com esta classe de materiais que os reagentes

    so de baixa toxidade e, por serem bastante solveis em gua, podem ser crescidos a partir

    de soluo aquosa em temperaturas inferiores a 100C por evaporao do solvente.

    Cristais, quando obtidos atravs do mtodo de crescimento por soluo, podem

    apresentar alta perfeio estrutural e faces planas como as dos cristais naturais. Isso ocorre

    devido baixa velocidade de crescimento e s amostras no sofrerem altas variaes de

    temperatura.

  • 15

    O crescimento de cristais por soluo um dos mtodos mais antigos de

    crescimento. Embora demore dias, semanas ou at mesmo meses para se obter um cristal

    por este mtodo, ele bastante utilizado na produo de cristais importantes para

    aplicaes tecnolgicas. De acordo com as leis termodinmicas, quanto mais lento for o

    crescimento, menor sero os nveis de defeitos dos cristais. Estas evidncias podem ser

    observadas em minerais que cristalizaram por perodos de anos ou milnios na natureza.

    Em um ambiente de laboratrio, um cristal pode ser obtido em perodo de poucos

    dias, dependendo das condies de crescimento. Basicamente, crescer um cristal pelo

    mtodo de soluo consiste em diluir uma substncia em um solvente, que pode ser a gua

    ou outro lquido; em seguida, esperar que a soluo evapore at que os cristais se formem

    naturalmente. O que ocorre em um processo de crescimento de cristais por soluo a

    separao de fase controlada com a soluo mantida em um estado de supersaturao

    constante. Isso feito abaixando lentamente a sua temperatura ou com a evaporao do

    solvente.

    Este trabalho est estruturado da seguinte forma: o captulo 1 trs um breve relato

    do mtodo de crescimento de cristais por soluo, juntamente com algumas caractersticas

    bsicas desse mtodo e algumas aplicaes dos cristais em geral. No captulo 2, feita uma

    descrio dos cristais da famlia do sal de Tutton de acordo com a literatura e uma

    abordagem dos conceitos fundamentais do crescimento de cristais. Em seguida, no captulo

    3, apresentamos uma breve abordagem terica sobre as tcnicas experimentais utilizadas

    na caracterizao dos cristais.

    No captulo 4, destacamos a sntese das amostras, as caractersticas dos

    equipamentos utilizados para caracterizao das amostras e os respectivos laboratrios

    colaboradores. No captulo 5, so apresentados os resultados obtidos com o mtodo de

    crescimento de cristais por soluo e os demais resultados obtidos com as tcnicas de

    caracterizao comparados com os previstos na literatura. O trabalho finalizado com o

    captulo 6, onde so apresentadas as consideraes finais.

  • 16

    Objetivos

    O presente trabalho tem por objetivo o crescimento e a caracterizao de cristais

    puros e mistos da famlia do sal de Tutton, com a finalidade de obter informaes que

    sirvam para um melhor entendimento das propriedades fsico-qumicas destes cristais.

    As metodologias que sero utilizadas para o crescimento e caracterizao das

    amostras sero as seguintes:

    Estudo da tcnica de crescimento de cristais por soluo e a preparao de cristais puros

    e novos cristais mistos da famlia do sal de Tutton por meio da tcnica de crescimento

    de cristais por soluo.

    Investigar a presena dos metais Ni e Co nas estruturas cristalinas das amostras, por

    meio das tcnicas: Espectroscopia de emisso ptica por plasma acoplado

    indutivamente (ICP-OES), fluorescncia de raios X por disperso de comprimento de

    onda (WDXRF) e microanlise por espectroscopia de energia dispersiva (EDS).

    Investigar a estabilidade trmica e o processo de decomposio dos cristais na faixa de

    temperatura de 40C a 500C atravs de analise trmica TG/DTG.

    Caracterizar as amostras por mtodos fsicos complementares: UV-Vis e espectroscopia

    Raman.

    Observar as modificaes estruturais causadas pela desordem ocupacional de Ni e Co

    via anlise estrutural por difrao de raios X por monocristais temperatura ambiente e

    a 120K.

  • 17

    Captulo 2 : Reviso Bibliogrfica

    2.1. Propriedades dos Cristais da Famlia do Sal de Tutton

    Entre 1890-1929, o qumico britnico Alfred Edwin Howard Tutton (1864-1938)

    mostrado na figura 1, investigou uma srie de sais de sulfatos e selenatos duplos com

    Magnsio, Zinco, Ferro, Nquel, Cobalto, Mangans, Cobre e Cdmio, e descobriu que esta

    srie de sais cristaliza-se de forma idntica (isoestrutural). Estes sais foram estudados e

    bem descritos, em cerca de cinquenta trabalhos apresentados para as entidades cientficas

    Royal and Chemical Societies, entre os anos de 1890 e 1929.

    Figura 1 Alfred Edwin Howard Tutton [5].

    Durante os primeiros anos desta pesquisa, o mtodo de raios X ainda no tinha

    sido descoberto, o que no permitiu a Alfred Edwin Howard Tutton desenvolver um estudo

    mais detalhado das estruturas cristalogrficas destes sais. At o ano de 1895, seu trabalho

    foi realizado em South Kensington, com o intuito de determinar as dimenses dos cristais.

    No entanto, naquele tempo, essas dimenses no podiam ser determinadas de forma

    experimental direta. As medidas eram realizadas com um aparelho desenhado pelo prprio

    Tutton.

    Durante a sua vida em Londres, Tutton publicou trs livros intitulados:

    Crystalline Form & Chemical Constitution, Crystals, Crystallography and

  • 18

    Practical Crystal Measurement, todos disponveis para acesso em arquivos da internet [6]

    e na Royal Society of London [7]. Estes trabalhos contm um resumo muito completo

    sobre cristalografia, com ilustraes e descries de instrumentos e mtodos experimentais

    da poca, incluindo os que foram construdos pelo prprio Tutton. Dois dos instrumentos

    utilizados por ele so: um dilatmetro de interferncia e um elasmmetro, utilizados para

    determinar a expanso trmica e constante de elasticidade dos cristais. Devido sua longa

    srie de pesquisas sobre os sulfatos e selenatos, para seu grande prazer, os compostos eram

    referidos como "os sais de Tutton" [5].

    Cristais do sal de Tutton possuem frmula geral 2+2+(4)2. 62, em que

    + um metal alcalino ou amnia, 2+ um metal de transio e pode ser , e

    na figura 2 temos uma representao estrutural da frmula geral dos sais de Tutton. Os

    cristais da famlia do sal de Tutton so investigados por apresentar propriedades que ainda

    no foram completamente estudadas, principalmente quando se trata dos cristais mistos

    desta srie.

    Figura 2 Representao da frmula qumica do sal de Tutton, destacando as formas tetradricas do sulfato e

    octadrica do metal bivalente, adaptada de [8].

    Do ponto de vista do estudo de materiais cristalinos, a srie de cristais da famlia

    do sal de Tutton atraente, pois uma das poucas sries em que se consegue ter um grande

    grupo de compostos com a mesma estrutura cristalogrfica temperatura ambiente, e

    consegue-se obter cristais na forma de uma soluo slida diluda. Atravs do mtodo de

    crescimento por soluo, possvel crescer cristais de uma dada srie tipo

    2(1) (4)2 .62, em que A um metal alcalino ou amnia, C e D so metais de

    transio e pode ser S ou Se, onde 0 1 usado para indicar as concentraes de C

    e D. No entanto, os cristais mistos podem apresentar propriedades diferentes das que

    apresentam os cristais puros, pois os raios inicos dos ons so diferentes e isso afeta no

  • 19

    s os parmetros de rede, mas tambm interfere em outras propriedades dos cristais, que

    podem ser verificadas atravs de tcnicas espectroscpicas e trmicas [9, 10, 11].

    Geralmente, os cristais desta srie apresentam distores estruturais do tipo Jahn-

    Teller, principalmente quando o on que ocupa o centro do octaedro possui alguma das

    seguintes configuraes eletrnicas: 1, 2, 4, 5, 6, 7 8. Esta uma distoro

    tetragonal dos octaedros, como mostrado na figura 3, causada pela assimetria na

    distribuio eletrnica do tomo central, que pode causar mudanas de estabilidade no

    espectro UV-vis e nas cores dos cristais.

    Figura 3 Representao de uma perturbao tetragonal em sistemas octadricos (alongamento, esquerda e

    contrao, direita de um dos eixos octadricos).

    Atualmente busca-se, cada vez mais, produzir cristais que tenham maior

    estabilidade trmica. Medidas termogravimtricas mostram que cristais mistos desta srie

    possuem maior estabilidade trmica que os cristais puros. Como, por exemplo, os cristais:

    ()4. 62 (NSH), e 2(4)2. 62 (KNSH) e 20,10,9(4)2. 62

    (KCNSH), que possuem temperatura de desidratao em torno de 73C, 97,2C e 98C,

    respectivamente [12,13], como mostrado a seguir.

    Figura 4 Anlise termogravimtrica do cristal

    NSH [12].

    Figura 5 Anlise termogravimtrica do cristal

    KNSH [12].

  • 20

    Figura 6 Anlise termogravimtrica do cristal KCo0,1Ni0,9SH [13].

    O sulfato de nquel hexahidratado NSH no faz parte da famlia do sal de Tutton.

    Ele usado como um dos reagentes na preparao dos cristais da famlia do sal de Tutton e

    sua temperatura de desidratao cerca de 20C, menor que a dos cristais puros KNSH e

    mistos KCo0,1Ni0,9SH, o que um ganho considervel quando se compara a estabilidade

    trmica destes materiais.

    A busca por cristais que sirvam como janelas para radiao UV tem levado

    pesquisadores a investigar o espectro tico de vrios tipos de cristais da famlia do sal de

    Tutton. Alguns cristais mistos possuem alta eficincia de transmisso ptica na regio do

    UV, sendo em alguns casos utilizados em sistemas de aeronaves em detectores de

    aproximao de msseis [12, 13, 14, 15, 16].

    Figura 7 Espectro de transmisso dos cristais KNSH e KCNSH [13].

    Na amostra da figura 7, a soluo foi preparada usando: 1mol de 24, 1mol de

    ()4. 62 e 0,3mol de ()4. 72. No entanto, a tcnica ICP mostrou que a

    proporo de Co/Ni foi de 0,1: 0,9 [13]. De acordo com [17] os cristais crescidos pelo

  • 21

    mtodo de soluo com a reduo da temperatura em regime esttico possuem melhor

    qualidade e maior eficincia na transmisso de radiao UV, quando comparados com

    cristais crescidos pelo mesmo mtodo no regime dinmico. Neste contexto, os cristais

    mistos ocupam um lugar importante dentre os cristais ticos. Anlises dos espectros ticos

    de cristais mistos da famlia do sal de Tutton mostram que estes podem ser utilizados como

    filtros de radiao.

    Resultados de difrao de raios X por monocristal comprovam que os cristais

    desta famlia possuem uma estrutura cristalogrfica monoclnica e grupo espacial P21/c,

    com duas molculas por clula unitria Z=2, onde o metal de transio ocupa o centro de

    um octaedro, que estruturado por seis molculas de gua, formando um octaedro

    distorcido. A tabela 1 apresenta alguns parmetros dos cristais KCSH, KNSH e KCNSH.

    Tabela 1 Parmetros de rede de alguns cristais da famlia do sal de Tutton [13, 14, 15].

    Cristal KCSH KNSH K Co0,1N0,9SH

    Grupo espacial P2(1)/c, (Z=2) P2(1)/c, (Z=2) P2(1)/c, (Z=2)

    a() 9.0514(6) 8.9915(18) 9.0095(4)

    b() 12.204(1) 12.174(12) 12.1839(6)

    c() 6.1528(4) 6.1291(12) 6.1390(3)

    () 104.825(3) 105.06(3) 105.6(2)

    V(3) 657.1(2) 647.8(2) 650.74(5)

    As seguir, temos as representaes das estruturas cristalogrficas do composto

    misto KCo0,1Ni0,9SH e puro KCSH, respectivamente.

    Figura 8 Estrutura cristalogrfica do sal KCo0,1Ni0,9SH, vista ao longo do eixo cristalogrfico . Linhas

    tracejadas representam ligaes de hidrognio (H omitidos) [13].

  • 22

    Os tetraedros SO42-

    interagem com os ons [Ni(H2O)6]2+

    ou [Co(H2O)6]2+

    , por

    meio de ligaes hidrognio OHO, e os tomos de K+ so coordenados com os tomos

    de O dos ons sulfato [13].

    Figura 9 Estrutura cristalogrfica do cristal KCSH, vista ao longo do eixo cristalogrfico [16].

    Tanto os cristais mistos quanto os puros possuem o mesmo sistema cristalogrfico

    (monoclnico), ou seja, so isoestruturais. No entanto, os cristais mistos so pouco

    investigados e estes podem apresentar propriedades diferentes dos cristais puros, como por

    exemplo: maior estabilidade trmica e maior percentual de transmisso de radiao UV.

    2.2. Crescimento de Cristais

    Resumidamente, as tcnicas de crescimento de cristais so classificadas em trs

    categorias: crescimento pelo mtodo de soluo, crescimento pelo mtodo de fuso e

    refinamento e crescimento pelo mtodo de vaporizao e condensao. A tcnica utilizada

    neste trabalho o mtodo de crescimento de cristais por soluo aquosa. O quadro a seguir

    mostra algumas caractersticas de cada mtodo.

  • 23

    Quadro 1 Mtodos de crescimento de cristais [18].

    Mtodos Fuso Soluo Vapor

    Temperatura de

    Crescimento

    Temperatura de

    fuso

    Menor que a

    temperatura de fuso

    Menor que a

    temperatura de fuso

    Velocidade de

    Crescimento

    Alta (mm/h) Baixa (mm/dia) Baixa (mm/dia)

    Morfologia Determinada

    pelo processo

    Faces naturais Faces naturais

    Pureza e Perfeio

    Estrutural

    Alta pureza Alta perfeio

    estrutural

    Alta pureza e alta

    perfeio estrutural

    O mtodo de crescimento de cristais por soluo ocupa um espao importante

    entre os mtodos de crescimento de cristais por ser relativamente simples e verstil. Este

    mtodo usado, principalmente, para materiais solveis em gua ou outro tipo de solvente.

    Uma soluo formada a partir de dois ou mais compostos, quer seja na fase slida ou na

    lquida. O soluto a substncia ou so substncias em menor quantidade no solvente.

    Em geral, a taxa de crescimento de cristais por soluo baixa. Este mtodo

    permite obter cristais com faces bem definidas e alta perfeio estrutural. O solvente mais

    utilizado a gua. Sempre que possvel, so utilizados reagentes que possibilitam o soluto

    a ter maior solubilidade que, geralmente, eleva com o aumento da temperatura, embora

    existam alguns materiais cuja solubilidade permanea constante, podendo, at mesmo,

    diminu-la com o aumento da temperatura. Estes fatores tornam a solubilidade de uma

    substncia um fator importante no processo de crescimento de cristais por soluo [19].

    Neste mtodo, a mudana na concentrao da soluo provocada pela

    evaporao do solvente temperatura constante, pelo abaixamento lento da temperatura,

    podendo ocorrer, em alguns casos, as duas situaes de modo que a soluo atinja a

    supersaturao.

    A regio instvel, como mostrado na figura 10, onde ocorre facilmente a

    formao dos ncleos devido associao local das molculas (ons) do material diludo.

    No entanto, o crescimento s ocorre quando os ncleos atingem um tamanho crtico

    estvel. Abaixo desse tamanho, os ncleos podem se dissolver na soluo. A regio

    metaestvel onde o crescimento de cristais ocorre apenas pela introduo de sementes.

  • 24

    O diagrama de Ostwald-Miers mostra as regies estvel, metaestvel e instvel

    para um sistema soluto/solvente, com as possveis rotas para o crescimento de cristais.

    Figura 10 Representao do diagrama de Ostwald-Miers [20].

    A linha slida representa a curva de solubilidade, onde no h mudana de

    solubilidade da soluo com o aumento de temperatura. A linha tracejada representa a

    curva de supersolubilidade e indica a supersaturao mxima da soluo.

    Como pode ser observado na figura 10, a supersaturao em uma soluo pode ser

    obtida de trs formas:

    Pela reduo da temperatura, seguindo a rota ABC, sem perda do solvente, a

    cristalizao ocorrer em C. Porm, em alguns casos, necessrio um

    resfriamento extra CD para que ocorra a nucleao e os cristais possam se

    formar.

    Por evaporao do solvente, seguindo a rota ABC, a cristalizao

    ocorre no ponto C. Nesta, a remoo do solvente geralmente feita em

    um recipiente aberto, exposto ao ar dentro de uma estufa com temperatura

    constante quando o solvente gua. Se o solvente um composto txico,

    deve-se escolher outra forma para remoo do solvente.

    Na rota ABC, ocorre, simultaneamente, a evaporao do solvente e o

    abaixamento da temperatura.

    No presente trabalho, a regio de principal interesse para o crescimento dos

    cristais a regio supersaturada instvel, que aparece acima da linha tracejada na figura 10.

  • 25

    Como no foi utilizado nenhum tipo de resfriamento ou adio semente, o crescimento dos

    cristais ocorre por meio da rota ABC (figura 10), por evaporao isotrmica do

    solvente, como representado na figura 11.

    Figura 11 Representao simplificada do processo de crescimento por evaporao do solvente.

    Nesta rota de crescimento a soluo mantida esttica e temperatura constante

    dentro de uma estufa. Inicialmente, os tomos esto distribudos de forma aleatria na

    soluo (insaturada), com a evaporao do solvente a concentrao da soluo aumenta at

    esta se tornar supersaturada o que favorece o surgimento dos primeiros aglomerados

    (nucleao) e em seguida o surge a fase slida (cristais).

    O grau de supersaturao de uma soluo representa o quanto ela se distancia da

    fase de equilbrio sem que aparea uma nova fase (slida) na soluo, e causa efeitos

    significativos na natureza dos fenmenos envolvidos no crescimento. A fora motriz

    envolvida na cristalizao a diferena na energia livre do sistema, geralmente

    representada por:

    =

    Onde representa o potencial qumico de casa fase. O potencial qumico da soluo

    dado em funo da atividade e do potencial qumico padro 0, pela expresso:

    = 0 + ln

    Onde a constante universal dos gases e a temperatura. Para uma soluo ideal, a

    fora motriz de cristalizao, tambm conhecida como afinidade de crescimento, pode ser

    expressa da seguinte forma:

    = ln

    definida termodinamicamente como a supersaturao relativa [20].

  • 26

    No processo de crescimento, aps a soluo atingir o estado de supersaturao,

    comeam a surgir aglomerados ou partculas que ao atingirem o tamanho crtico do incio

    ao fenmeno de crescimento. Os que no atingem este tamanho acabam sendo dissolvidos

    novamente na soluo. Uma vez que atingido o tamanho crtico, alguns destes

    aglomerados ou partculas podem continuar a crescer. O processo que descreve a situao

    at o ponto em que as partculas atinjam um tamanho crtico pode ser chamado fase de

    nucleao.

    A nucleao o aparecimento de uma nova fase em um sistema homogneo, ou

    seja, o estgio inicial de crescimento, onde surge a fase slida. A nucleao homognea

    ocorre em certas condies, quando um sistema sofre flutuaes das condies de

    equilbrio metaestvel, ou seja, quando um sistema se encontra em equilbrio instvel, onde

    sua homogeneidade no se mantem, ento o sistema passa a ser heterogneo, constituindo-

    se, portanto, de duas ou mais fases em equilbrio [21]. Os fenmenos que cercam o

    processo de crescimento, como: a nucleao, o transporte de massa, a difuso, dentre

    outros, no sero abordados neste trabalho.

  • 27

    Captulo 3 : Mtodos de Caracterizao

    3.1. Espectroscopia de Emisso ptica por Plasma Acoplado Indutivamente (ICP-OES)

    Ao longo dos ltimos anos, os espectrmetros ICP-OES, tambm conhecidos

    como ICP-AES ou espectrmetros de plasma ICP, tornaram-se uma ferramenta

    indispensvel para a anlise qumica elementar. Espectrmetros de emisso ptica com

    plasma indutivamente acoplado (ICP) e fontes de excitao por plasma oferecem facilidade

    de uso, alta sensibilidade, preciso e liberdade em relao a interferncias. Os sistemas

    ICP-OES tornaram-se um mtodo analtico, abrangendo uma ampla gama de aplicaes.

    Um equipamento de ICP-OES (Inductively Coupled Plasma Optical Emission

    Spectrometry) consiste em uma fonte de plasma induzido (ICP), que acoplado a um

    espectrofotmetro de emisso ptica (OES). Nesta tcnica, a introduo contnua da

    amostra lquida em um sistema de nebulizao forma um aerossol que transportado at o

    maarico de plasma de argnio.

    Figura 12 Representao do sistema do plasma de um ICP [22].

    Uma fonte Tesla instalada na regio de entrada do gs de refrigerao (Argnio)

    serve de descarga eltrica que acelerada no campo magntico das bobinas para ionizao

    do Argnio (plasma), onde as amostras so atomizadas, ou seja, as altas temperaturas do

    plasma ionizam os tomos da amostra que, ao retornarem do estado excitado para o estado

    fundamental, geram linhas de emisso atmica caracterstica de cada tomo.

  • 28

    Antes de chegar ao plasma, o solvente da amostra evapora-se (dessolvatao). Em

    seguida, a matria da amostra passa ao estado gasoso sob a forma de molculas

    (vaporizao). Posteriormente, ocorre a atomizao e, por fim, a ionizao.

    Figura 13 Esquema do processo que ocorre no interior de um ICP-OES.

    No processo de emisso, ons so excitados termicamente ou eletricamente e

    emitem radiao caracterstica na regio ultravioleta e visvel, o que permite identificar o

    elemento emissor e a sua concentrao na amostra [23].

    Figura 14 Representao de um sistema ICP-OES convencional [22].

    Na zona analtica normal mostrada na figura 12, a temperatura fica em torno de

    6500 6800K e exatamente a radiao emitida nessa regio que direcionada para o

    espectrmetro, para serem analisadas. Os espectros so dispersos por grade, rede ou

    prisma e direcionados a um detector que responsvel para medir as intensidades das

    linhas. A informao processada pelo sistema de computador do espectrofotmetro que

    quantifica cada material na amostra em g/g, que representa a quantidade de elemento por

    quantidade de amostra. Com essa tcnica, podem ser analisados cerca 72 elementos

    qumicos [22].

  • 29

    3.2. Fluorescncia de Raios X por Disperso de Comprimento de Onda (WDXRF)

    A fluorescncia de raios X (XRF-X-Ray Fluorescence) uma ferramenta

    poderosa que permite realizar anlise qualitativa, quantitativa e semi-quantitativa de uma

    ampla faixa de elementos qumicos em minerais, rochas, solos, matrias-primas, produtos

    ambientais, novos materiais (biomateriais, cermicos e nanomateriais) e produtos

    industriais. Portanto, esta tcnica pode ser utilizada por diversas reas, tanto no setor

    acadmico, quanto no industrial.

    A tcnica consiste em expor uma amostra a uma radiao ionizante (raios X) para

    excitar a amostra, detectar a radiao fluorescente resultante da interao da radiao com

    a matria e, com isso, determinar a concentrao de elementos qumicos na faixa do Boro

    ao Urnio, em amostras lquidas, slidas e, em alguns casos, aerossis.

    A XRF baseia-se nos raios X caractersticos emitidos por uma amostra aps ser

    excitada por uma radiao ionizante que, ao interagir com a amostra, arranca eltrons dos

    seus tomos, o que gera uma vacncia na camada eletrnica afetada. Esta vacncia ser

    ocupada por um eltron de uma camada mais externa e estes eltrons emitiro energia na

    forma de radiao [24].

    Figura 15 Esquema de ejeo de um eltron e emisso de raios X caractersticos.

    O que ocorre nesse processo que os ftons da radiao ionizante podem ser

    absorvidos por tomos pelo efeito fotoeltrico. Depois de absorver um fton, o tomo

    excitado e um eltron ejetado. Isso provoca um desequilbrio na distribuio de eltrons

    do tomo ionizado e o tomo volta ao equilbrio quando ocorrem transies eletrnicas de

    eltrons de camadas externas para camadas internas. O tomo pode, em seguida, voltar ao

  • 30

    seu estado fundamental, emitindo radiao que pode ou no ejetar outro eltron de uma

    camada exterior (Efeito Auger) ou, simplesmente, emitir ftons que so de fluorescncia

    de raios X, cujo comprimento de onda caracterstica do tomo excitado.

    Figura 16 Representao do efeito Auger.

    O efeito Auger mais comum em elementos de baixo nmero atmico. Em

    contrapartida, a fluorescncia ocorre mais em elementos de nmero atmico elevado. A

    transio eletrnica L K chamada de K, M K chamada de K, M L chamada

    de L e assim por diante [25, 26].

    Figura 17 Representao dos nveis atmicos e transies eletrnicas.

    A tcnica WDXRF- Wavelength Dispersive X-Ray Fluorescence identifica os raios

    X de fluorescncia por meio do comprimento de onda da radiao caracterstica emitida.

    Sua intensidade est relacionada com a quantidade de cada elemento na amostra. Um

    espectrmetro de fluorescncia de raios X coleta os dados e fornece como resultado a

    concentrao dos elementos constituintes da amostra analisada.

  • 31

    3.3. Microanlise por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS)

    A microanlise eletrnica segue o mesmo princpio da XRF. Porm, ao invs de a

    amostra ser excitada por raios X, ela excitada por um feixe de eltrons. Com essa tcnica,

    possvel realizar anlises em regies muito pequenas (~1). Deve-se destacar que

    possvel visualizar a amostra durante a anlise em diferentes graus de ampliao. O feixe

    de eltrons, ao interagir com a amostra, produz efeitos que carregam consigo informaes

    da composio e da topografia da amostra analisada.

    Na figura a seguir, temos uma representao dos efeitos que ocorrem aps a

    interao do feixe de eltrons com a amostra.

    Figura 18 Representao de um MEV a esquerda e a direita os efeitos provocados na amostra [27].

    Nota-se que os mesmos efeitos observados na XRF so tambm observados na

    EDS. A vantagem de utilizar a tcnica EDS que podem ser analisadas amostras em

    pouca quantidade e pode ser obtido um mapa da composio qumica da regio analisada,

    alm de uma imagem dessa regio da amostra com uma ampliao de 12 vezes at 106

    vezes [28].

    Figura 19 Representao dos efeitos provocados no tomo pela interao com o feixe de eltrons.

  • 32

    As imagens de alta resoluo so formadas pelos eltrons secundrios. Utiliza-se

    tambm os eltrons retrodispersos (eltrons espalhados) para formar imagens com

    resolues menores, que so analisadas juntamente com os raios X caractersticos para

    identificar a composio superficial da amostra. A anlise composicional realizada por

    meio dos raios X emitidos pela amostra, medindo-se seu comprimento de onda e/ou

    energia.

    3.4. Termogravimetria

    Basicamente, com a anlise trmica, verificam-se as mudanas das propriedades

    fsicas e qumicas de uma amostra sob uma atmosfera especfica, provocadas pela variao

    controlada da temperatura. Uma das tcnicas mais comuns de anlises trmicas a

    Termogravimetria (TG). Uma alternativa complementar e usual a derivada da perda de

    massa (DTG).

    Em um analisador TG, analisa-se a mudana de massa devido a interaes com a

    atmosfera, vaporizao e decomposio de uma amostra em funo da temperatura. A

    DTG mostra a taxa de variao de massa da amostra analisada, onde a rea abaixo da curva

    equivalente ao percentual de massa perdida no processo de decomposio da amostra. Na

    tcnica TG, as amostras no necessitam de preparao e podem ser analisadas rapidamente

    em poucas quantidades [29].

    Por meio destas tcnicas possvel compreender melhor o mecanismo de

    decomposio, isto , a perda de massa com dependncia da temperatura, similar curva

    da figura 20.a. Em cristais da famlia do sal de Tutton, podem ser observadas ainda curvas

    com o padro da curva 20.b, dependendo da atmosfera em que realizado o experimento.

    Figura 20 Representao de padres de curvas TG: a) perda de massa e b) reao de oxidao em funo da

    temperatura [29].

  • 33

    As curvas TG podem mostrar diferentes reaes qumicas, por exemplo: a curva

    (a) representaria uma decomposio trmica com a formao de produtos volteis de

    reao; a curva (b) poderia representar processos de corroso ou oxidao (formao de

    xidos no volteis), que podem ocorrer quando a atmosfera utilizada na anlise for um

    gs no inerte.

    3.5. Espectroscopia de Absoro UV-Vis

    Quando a matria interage com a radiao eletromagntica, uma srie de efeitos

    pode ocorrer: espalhamento, fluorescncia, fosforescncia, reflexo, absoro, transmisso,

    dentre outros. Geralmente, quando se trata de espectroscopia na regio do UV-vis, o

    fenmeno fsico de interesse a absorbncia ou transmitncia, ou seja, analisa-se a

    quantidade de luz absorvida ou transmitida pela amostra.

    A energia da radiao UV-vis, dependendo tomos e molculas irradiados,

    suficiente para provocar transies eletrnicas que so observadas nos espectros de

    absoro da amostra. Quando a luz passa atravs de uma amostra ou refletida, a

    quantidade de radiao absorvida a diferena entre a intensidade da radiao incidente 0

    e a transmitida , que expressa como absorbncia ou transmitncia. A transmitncia

    geralmente expressa como uma frao de 1 ou em porcentagem:

    =

    0 , % = (

    0) 100%

    Esta relao conhecida como lei de Beer-Lambert, que relaciona a intensidade

    da radiao incidente 0 com a intensidade da radiao transmitida [30].

    3.6. Espectroscopia Raman

    Basicamente, com a espectroscopia Raman, analisa-se a disperso inelstica de

    uma luz monocromtica (laser) que, aps interagir com uma amostra, absorvida e

    reemitida com frequncias distintas da luz incidente. A diferena na frequncia da radiao

    reemitida fornece informaes a respeito de transies de frequncias vibracional e

    rotacional em molculas.

  • 34

    Cada molcula possui uma espcie de marca caracterstica como uma identidade,

    isto , seus modos vibracionais caractersticos. Quando um fton de energia interage

    com uma molcula, ele pode perder e/ou ganhar energia, ou seja, pode ocorrer ou no uma

    alterao na frequncia do fton. Se a molcula absorve a energia de um fton e emite

    radiao com uma frequncia igual a do fton incidente, esta interao chamada de

    Rayleigh, para uma molcula que absorve a energia de um fton e emite radiao com uma

    frequncia menor que a do fton incidente, esta interao chamada Stokes e se a

    molcula absorve a energia de um fton e emite radiao com uma frequncia maior que a

    do fton incidente, esta interao chamada de Anti-Stokes. Estes efeitos esto

    representados na figura 21.

    Figura 21 Representao dos efeitos Stokes, Anti-Stokes e Rayleigh [27].

    Um cristal, ao ser atravessado por um campo eltrico oscilante de uma radiao

    eletromagntica, sofre uma alterao local da distribuio de cargas eltricas, criando

    dipolos eltricos induzidos e suas vibraes dependem das orientaes dos tomos no

    material. Logo, molculas com orientaes distintas iro responder de forma diferente

    podendo emitir radiao com frequncia maior ou menor que a incidente. O momento de

    dipolo induzido pela radiao incidente leva a molcula a um estado de energia virtual que

    no coincide com algum estado quntico eletrnico da molcula. Ento, esta retorna a um

    estado de menor energia, emitindo radiao [27].

    A seguir, temos representaes dos modos vibracionais de molculas tri-atmicas

    no lineares, tipo: SH2, SeH2, O3, SO2, ClO2, H2O, dentre outras. Os modos 1 so modos

    simtricos, 2 so modos anti-simtricos e 3 so modos de deformaes:

  • 35

    Figura 22 Representao dos modos vibracionais de uma molcula do tipo XY2

    [31].

    Para molculas com geometria tetradrica, tais como, SH4, SiH4, CCl4, SO4 etc.,

    temos as seguintes representaes dos modos de vibrao:

    Figura 23 Representao dos modos vibracionais de uma molcula XY4 [31].

    Para molculas do tipo: AlF6, SbCl6, BiBr6, SeCl6, ou seja, com geometria

    octadrica, temos as seguintes representaes dos modos de vibrao [32]:

    Figura 24 Representao dos modos vibracionais de uma molcula XY6

    [31].

    No caso do H2O, os modos de vibrao 1, 2 e 3 aparecem, aproximadamente,

    na regio de 3.657 cm-1

    , 1.595 cm-1

    e 3.756 cm-1

    , respectivamente. E, para o on tetraedro

    SO42-

    , os modos normais de vibrao 1, 2, 3 e 4 aparecem, aproximadamente, na

    regio de 983 cm-1

    , 450 cm-1

    , 1105 cm-1

    e 611 cm-1

    , respectivamente [31, 32]. Os

    complexos [M(H2O)6]2+

    , presentes nos cristais da famlia do sal de Tutton, possuem seis

    modos vibracionais dos quais somente 1, 2 e 5 so ativos em Raman. Estes modos

  • 36

    vibracionais aparecem na regio abaixo 410 cm-1

    [33], mas estes no so muito bem

    identificados e so encontrados poucos relatos na literatura [34].

    3.7. Difrao de Raios X por Monocristal

    A difrao de raios X em cristais foi descoberta por Max von Laue por volta de

    1912, quase 20 anos aps a descoberta dos raios X pelo fsico alemo Wilhelm Rntgen,

    em 1895, que assim os batizou, por possurem uma natureza at ento desconhecida. Max

    von Laue descobriu que os raios X apresentam propriedades tpicas de ondas, como:

    polarizao, interferncia e difrao, assim como a luz visvel e qualquer onda

    eletromagntica. Alm disso, descobriu que a forma da difrao dos raios X por um cristal

    revela informaes sobre a estrutura do mesmo, ou seja, como o arranjo atmico no

    interior no material [24].

    Atualmente, quando se trata de caracterizao de materiais, esta tcnica possibilita

    obter informaes muito importantes referentes rede cristalina, como: posies atmicas,

    grupo espacial, parmetros de rede, presena de defeitos, estudo de equilbrio de fases,

    medio de tamanho de partculas e anlise da ocupao de stios cristalogrficos por

    dopantes. Por meio da anlise da radiao difratada, pode-se construir uma imagem da

    estrutura do cristal com as respectivas posies dos tomos e, at mesmo, acompanhar

    alteraes da rede cristalina de um material quando sofre uma transio de fase [26]. A

    condio para que ocorra interferncia construtiva proposta por Bragg :

    2 sen = ,

    Onde o comprimento de onda dos raios X incidentes, o ngulo de incidncia, a

    distncia que separa os planos cristalogrficos e um nmero inteiro, que representa a

    diferena de caminho dos raios X espalhados para os quais ocorrer interferncia

    construtiva. A figura 25 representa um fenmeno de difrao de raios X por uma famlia de

    planos cristalogrficos [35].

  • 37

    Figura 25 Representao do fenmeno de difrao por planos cristalogrficos [35].

    A difrao representada na figura 25 geometricamente similar reflexo da luz

    por um espelho plano, j que o ngulo de incidncia igual ao ngulo difratado. O que

    difere os fenmenos de difrao da reflexo especular, alm da definio do ngulo de

    incidncia, que o primeiro ocorre devido interferncia de onda no interior do material

    somente para ngulos que satisfaam a lei de Bragg e a intensidade do feixe incidente

    muito maior que a intensidade do feixe difratado. J a reflexo especular ocorre somente

    na superfcie do material e o fenmeno independe do ngulo de incidncia. Neste sentido,

    cristalgrafos se referem s ondas difratadas como reflexes.

    A intensidade dos raios X difratados depende da densidade de eltrons no

    caminho do feixe e de como os tomos esto distribudos no espao. Como um cristal

    possui vrios planos cristalogrficos, a densidade de eltrons varia no espao ao longo do

    material e isso provoca diferentes intensidades dos raios X difratados [36].

    Considere dois centros espalhadores em M e O, mostrados na figura 26, e

    relacionados pelo vetor . Estes centros espalham raios X (vetor de onda incidente 0) a

    uma direo 2 da direo incidente (vetor de onda ), mantendo o mdulo dos vetores

    incidente e difratados iguais a 2

    , onde o comprimento de onda.

  • 38

    Figura 26 Representao de um feixe de raios X espalhado por dois centros espalhadores O e M, as

    direes incidente e difratada deferem de um ngulo [24].

    A diferena de fase entre os raios difratados em Me O devido a diferena entre

    os caminhos percorridos, + . A diferena de fase =2

    , por definio

    proporcional diferena de caminho ptico entre as duas ondas espalhadas. S pode ser

    observado um feixe difratados na direo 2 se houver interferncia construtiva, e a

    diferena de fase por definio = 2. Expressando = ( 0), podemos obter

    a lei de Bragg:

    Se | 0| = 2 sin e | | = , ento temos que 2 sin = .

    A equao acima mais geral e refere-se difrao causada pela interferncia de

    uma famlia de planos cristalogrficos com separao interplanar d e ndices de Miller

    (hkl). No somente os ndices de Miller, mas o entendimento do fenmeno de

    espalhamento de raios X e os clculos envolvidos na anlise estrutural tornam-se mais

    simples a partir da definio da rede recproca e sua interpretao com relao rede

    direta.

    Na rede direta os vetores , definem os eixos cristalogrficos da clula

    unitria, e entendemos como o espao fsico apropriado para representar entidades

    atmicas e moleculares. A rede recproca, por outro lado, definida pelos vetores

    , . Nesta rede, o vetor = + + , que posio de um ponto de rede da

    rede recproca, representa tambm uma famlia de planos cristalogrficos paralelos,

    interceptando os eixos cristalogrficos respectivamente em 1

    ,

    1

    e

    1

    de qualquer clula

    unitria do espao real. Pode-se mostrar que o vetor ortogonal famlia de planos (hkl)

  • 39

    e tem mdulo inversamente proporcional distncia interplanar. A relao entre a rede

    recproca e direta apresentada na figura 27, onde a* , b* e c* e nas

    relaes matemticas a seguir.

    Figura 27 Representao das redes recproca e direta, onde , , e a*, b*, c* so vetores.

    =( )

    ( )=

    ( )

    =( )

    ( )=

    ( )

    =( )

    ( )=

    ( )

    = ( ) = ( ) = ( )

    (V o volume da clula unitria)

    Vamos agora explorar os centros espalhadores da radiao X. No estudo da

    difrao de raios X por monocristais, o espalhamento dos raios X analisado por meio do

    conceito de fator de espalhamento atmico (que depende da distribuio eletrnica):

    = +

    Onde representa o espalhamento por eltrons das camadas eletrnicas internas

    (caroo) e representa o espalhamento por eltrons das camadas eletrnicas

    externas (camada de valncia). O fator de espalhamento ( ) indica o poder de

    espalhamento de um tomo em uma direo especfica . Tomando a transformada de

    Fourier da densidade eletrnica ( ) de um tomo, temos o fator de espalhamento

    atmico:

    ( ) = ( ) . [2( . )]

  • 40

    Para um tomo livre, ( ) = (), supondo que as camadas eletrnicas so

    esfericamente simtricas. Assim, torna-se:

    () = 42().

    (2)

    2

    1

    Figura 28 Fator de espalhamento de alguns tomos e ons.

    Note que, na equao anterior, se 0, a integral resulta exatamente no nmero

    de eltrons do tomo espalhador, o que consistente com a figura 28 e com o fato de os

    eltrons serem os nicos agentes causadores do espalhamento de raios X.

    Deve-se levar em conta tambm que as vibraes trmicas dos tomos provocam

    alteraes no padro de difrao. Com isso, o sofre mudanas em funo da

    temperatura, de acordo com uma funo ( ) que a distribuio mdia em torno das

    posies de equilbrio. A transformada de Fourrier da funo ( ) fornece o fator de

    temperatura , que descreve a vibrao dos tomos em torno da sua posio de equilbrio:

    ( ) = ( ) . [2( . )]

    Portanto, a amplitude de espalhamento de um tomo com vibraes trmicas ser:

    ( ) = ( ). ( )

  • 41

    O fator de temperatura pode ser escrito como:

    ( ) = [(sin )

    2]

    Onde = 822 o fator de vibrao trmica e 2 amplitude quadrtica mdia das

    vibraes.

    Em uma rede peridica com tomos, na clula unitria, suas posies so dadas

    por , em que a rede recproca formada por um conjunto de pontos (). O fator de

    estrutura definido como o espalhamento da clula unitria:

    = () [2(++)]

    =1

    Onde o fator de espalhamento atmico do j-simo tomo da clula unitria e

    xj, yj e zj representam as coordenadas fracionais do j-simo tomo da clula. O termo

    exponencial complexo depende das posies dos tomos na clula unitria. Na difrao por

    monocristais, as intensidades das reflexes so [37]:

    =

    Na difrao por monocristal, a condio de difrao ocorre sempre quando um

    ponto do espao recproco (hkl) intercepta a superfcie da esfera de Ewald, figura 29. Esta

    superfcie esfrica tem raio 1

    , com o cristal posicionado no seu centro.

    Figura 29 Representao da esfera de Ewald.

  • 42

    A origem da rede recproca pode ser definida quando o feixe difratado forma um

    ngulo nulo com o feixe incidente, 2 = 0, definido a origem da rede recproca.

    medida que o cristal gira, a esfera de Ewald interceptada por planos cristalogrficos

    distintos (hkl), como mostra a figura 30.

    Figura 30 Representao da condio de difrao para alguns planos cristalogrficos (hkl) utilizando a

    esfera de Ewald.

    A interpretao dos ndices de Miller e a representao de Ewald permite

    determinar quais os planos cristalogrficos podero estar em condies de difrao e sob

    que ngulo de difrao; alm disto, o mdulo do vetor no espao recproco

    proporcional ao inverso do espaamento entre os planos cristalogrficos correspondentes

    no espao direto.

  • 43

    Captulo 4 : Parte Experimental

    4.1. Sntese das solues

    Os reagentes utilizados no preparo das solues esto listados a seguir.

    Tabela 2 Reagentes utilizados no preparo das solues.

    Reagentes Sulfato

    de

    Potssio

    Sulfato de

    Nquel

    Hexahidratado

    Sulfato de

    Cobalto

    Heptahidratado

    Sulfato de

    Ltio

    Hidratado

    Frmula K2SO4 Ni(SO4)6H2O Co(SO4)7H2O Li2(SO4)H2O

    Peso Molecular (g/mol) 174,2602 262,8466 281,1037 127,9610

    Solubilidade a 25C

    (g/100g H2O)

    12

    40,4

    38,3

    34,2

    No processo de crescimento por soluo com evaporao lenta do solvente, as

    propores de cada reagente utilizado na preparao das solues esto descritas

    detalhadamente a seguir para cada uma das amostras que foram nomeadas de A-H,

    comeando pelas solues puras de cobalto (amostra A), de nquel (amostra B) e a soluo

    mista de 50% de nquel e 50% de cobalto (amostra C). Segue como exemplo o clculo

    utilizado para obter as propores dos reagentes da amostra A:

    Para 2,5g de K2SO4:

    (X) K2SO4 + (Y) Co(SO4)7H2O

    Peso molecular do reagente X --------- 2,5g

    Peso molecular do reagente Y --------- M

    Assim, a massa M do reagente Y necessria para a o preparo da soluo da amostra A

    dado pela relao:

    M = (2,5)Y

    X

    Amostra A: Cristal puro KCSH.

    K2SO4 + Co(SO4)7 H2O K2 Co(SO4)26H2O + H2O

    Reagente K2SO4 Co(SO4)7H2O

    Massa (g) 2,4999 4,0331

  • 44

    Amostra B: Cristal puro KNSH.

    K2SO4 + Ni(SO4)6H2O K2Ni(SO4)26H2O

    Reagente K2SO4 Ni(SO4)6H2O

    Massa (g) 5,0002 7,5416

    A amostra C foi obtida seguindo a frmula K2NiyCo(1y)(SO4)2. 6H2O, para

    = 0,5, para a proporo de 50% de Ni e 50% de Co.

    Amostra C: Cristal misto KCNSH.

    K2SO4 + Ni(SO4)6H2O + Co(SO4)7H2O K2Ni0,5Co0,5(SO4)26H2O

    Reagente K2SO4 Ni(SO4)6H2O Co(SO4)7H2O

    Massa (g) 5,0002 3,7705 4,0325

    Na etapa seguinte, as solues foram preparadas seguindo a equao

    K1,8LixNi0,5Co0,5(SO4)2. 6H2O, mantendo fixas a proporo de 50% para Ni, 50% para Co

    e 90% para K, onde foram adicionadas em cada soluo as seguintes propores de Ltio

    de: 5% na amostra D, 10% na amostra E, 15% na amostra F, 20% na amostra G e 25% na

    amostra H.

    Amostra D: Cristal misto KLCNSH com 0,10 de Li.

    K2SO4 + Li2(SO4)H2O + Ni(SO4)6H2O + Co(SO4)7H2O K1,8Li0,1Ni0,5Co0,5(SO4)26H2O

    Reagente K2SO4 Li2(SO4)H2O Ni(SO4)6H2O Co(SO4)7H2O

    Massa (g) 4,4634 0,1820 3,3667 3,6021

    Amostra E: Cristal misto KLCNSH com 0,2 de Li.

    K2SO4 + Li2(SO4)H2O + Ni(SO4)6H2O + Co(SO4)7H2O K1,8Li0,2Ni0,5Co0,5(SO4)26H2O

    Reagente K2SO4 Li2(SO4)H2O Ni(SO4)6H2O Co(SO4)7H2O

    Massa (g) 4,4635 0,3642 3,3665 3,6029

    Amostra F: Cristal misto KLCNSH com 0,3 de Li.

    K2SO4 + Li2(SO4)H2O + Ni(SO4)6H2O + Co(SO4)7H2O K1,8Li0,3Ni0,5Co0,5(SO4)26H2O

    Reagente K2SO4 Li2(SO4)H2O Ni(SO4)6H2O Co(SO4)7H2O

    Massa (g) 4,4680 0,5458 3,3673 3,6003

    Amostra G: Cristal misto KLCNSH com 0,4 de Li.

    K2SO4 + Li2(SO4)H2O + Ni(SO4)6H2O + Co(SO4)7H2O K1,8Li0,4Ni0,5Co0,5(SO4)26H2O

    Reagente K2SO4 Li2(SO4)H2O Ni(SO4)6H2O Co(SO4)7H2O

    Massa (g) 4,4638 0,7285 3,3665 3,6000

  • 45

    Amostra H: Cristal misto KLCNSH com 0,5 de Li.

    K2 SO4 + Li2(SO4)H2O + Ni(SO4)6H2O + Co(SO4)7H2O K1,8Li0,5Ni0,5Co0,5(SO4)26H2O

    Reagente K2SO4 Li2(SO4)H2O Ni(SO4)6H2O Co(SO4)7H2O

    Massa (g) 4,4632 0,9192 3,3661 3,6008

    Aps serem medidas as massas dos reagentes, as solues foram preparadas na

    forma de uma soluo slida diluda em gua destilada e deionizada com pH 6 e

    (18,2M. cm1). Posteriormente, as solues foram agitadas temperatura de 35C, at

    que os reagentes fossem totalmente diludos e, em seguida, as solues foram filtradas e

    colocadas em uma estufa, com temperatura mantida a 35C, onde ocorreu o processo de

    crescimento por evaporao lenta do solvente.

    4.2. Espectroscopia de Emisso ptica por Plasma Acoplado Indutivamente (ICP-OES).

    As anlises foram realizadas em um Espectrofotmetro de Emisso ptica com

    Plasma Acoplado Indutivamente (ICP-OES) radial da marca Agilent srie 725, no

    Laboratrio de Geoqumica Ambiental do Departamento de Geologia - Escola de Minas

    (LGqA), da Universidade Federal de Ouro Preto. O equipamento contm um sistema para

    introduo da amostra, uma fonte de plasma, um espectrmetro ptico e um computador.

    Este equipamento capaz de detectar mais de 72 elementos.

    4.3. Fluorescncia de Raios X por Disperso de Comprimento de Onda (WDXRF)

    As anlises foram realizadas no Laboratrio de Espectrometria de Fluorescncia

    de Raios X do CDTN/CNEN, em um espectrmetro de fluorescncia de raios X sequencial

    completamente automtico, por disperso de comprimento de onda, marca Rigaku, modelo

    ZSX Primus II, com gerador de raios X de alta frequncia de 4KW, faixa de deteco do

    boro ao urnio. Tubo de raios-X de Rh de 4KW AFX87L, com janela de 30m.

    4.4. Microanlise por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS)

    As anlises por espectroscopia de energia dispersiva (EDS) foram feitas em um

    Microscpio Eletrnico de Varredura com Emisso por Efeito de Campo (FEG-MEV),

    modelo SIGMA VP, fabricado pela Carl Zeiss Microscopy. O equipamento opera nos

    modos de alto vcuo e de presso varivel (VP). No modo VP, possvel obter imagens de

  • 46

    materiais no condutores de eletricidade, sem a necessidade de aplicao de recobrimentos

    condutores. O microscpio possui tambm um sistema de microanlise constitudo por

    espectrmetro de energia dispersiva de raios X (EDS), modelo XFlash 410-M, fornecido

    pela Bruker Nano GmbH. Especificaes tcnicas de fbrica, Resoluo: 1,3 nm a 20 kV;

    1,5 nm a 15 kV; 2.8 nm a 1 kV e no modo VP 2,5 nm a 30 kV, Tenso de acelerao: 0,1

    30 kV, Corrente na amostra: 4 pA a 20 nA, Magnificao: 12x 1.000.000x.

    4.5. Termogravimetria

    As medidas de Termogravimetria TG/DTA foram realizadas em um equipamento

    de anlises simultneas TG/DTG/DTA, modelo STD2960 da TA Instruments, que pertence

    ao Laboratrio de Qumica de Nanoestruturas do CDTN/CNEN. Em amostras de

    aproximadamente 8mg, seguindo o protocolo: razo de aquecimento de 5C/min, na faixa

    de temperatura de 30C a 500C, sob atmosfera de ar sinttico N2O2, com fluxo de

    100mL/min.

    4.6. Espectroscopia de Absoro UV-VIS

    As medidas de absoro na regio UV-VIS-NIR foram realizadas em um

    espectrmetro de duplo feixe: UV-1650 PC, UV-VIS SPECTROPHOTOMETER

    SHIMADZU, que possui faixa de operao de 190 - 1100 nm, banda de passagem de 1 nm

    e acoplado a um computador para aquisio e tratamento de sinais. Pertencente ao

    LAPPEM- Laboratrio de Polmeros e Propriedades Eletrnicas de Materiais. Dados da

    medida; comprimentos de onda da regio de 190 nm a 1100 nm, modo transmitncia.

    4.7. Espectroscopia Raman

    Os espectros Raman foram obtidos temperatura ambiente em um espectrmetro

    Horiba/Jobin-Yvon LABRAM-HR, com linha de excitao de 632,8 nm (laser He-Ne),

    com potncia nominal de 18 mW, no departamento de Qumica da UFOP. A luz espalhada

    pela amostra foi coletada por um microscpio confocal Olympus (objetiva de 100X) e

    analisada por um espectrgrafo com grades de difrao de 600 e 1800 linhas/mm e um

    detector (CCD) resfriado por efeito Peltier. A resoluo das medidas foi melhor que 2 cm-1

    e os tempos de aquisio foram tipicamente 20 coletas de 10s.

  • 47

    4.8. Difrao de Raios X por Monocristal

    As medidas de difrao de raios X por monocristais foram realizadas no

    laboratrio de cristalografia LabCri do departamento de fsica da UFMG, no difratmetro

    de monocristais GEMINI. Dotado com detector CCD, o difratmetro dispe de acessrios

    para estudos em altas temperaturas (90 K) e altas

    presses (< 3 atm), com possibilidade de uso de radiao de Mo ( = 0,71073 ) ou de Cu

    ( =1,549).

  • 48

    Captulo 5 : Resultados e Discusso

    5.1. Crescimento dos Cristais

    A primeira srie de cristais foi obtida seguindo a frmula qumica

    K2NiCo(1)(SO4)2. 6H2O, para as variaes mostradas a seguir. Os cristais foram

    crescidos por meio do mtodo de evaporao lenta do solvente com a soluo mantida

    esttica em uma estufa, temperatura constante de 35C. A evaporao do solvente foi

    controlada por um orifcio de aproximadamente 0,5cm feito no plstico utilizado para

    cobrir o bquer. Na tabela 3, apresentado tambm o tempo em dias das primeiras

    retiradas dos cristais das solues. Em alguns casos, foram crescidos cristais em uma

    poro menor da mesma soluo. As amostras A e B so dos cristais puros de cobalto e

    nquel, respectivamente. A amostra C, do cristal misto preparado com a proporo de 50%

    para o nquel e para o cobalto.

    Tabela 3 Tempo de crescimento dos cristais.

    Amostra x Tempo de Crescimento

    A 0 35 dias

    B 1 4 dias*, 15 dias

    C 0,5 2 dias*, 30 dias

    *Cristal crescido em uma poro de 10ml da soluo.

    Como mostra a tabela 3, em poucas semanas de crescimento, foram obtidos os

    cristais que apresentam boa qualidade ptica, com dimenses variadas e forma estrutural

    monoclnica que caracterstica dos cristais da famlia do sal de Tutton independentemente

    das concentraes.

    Figura 31 A) cristal puro de cobalto, B) cristal puro de nquel e C) cristal misto de Ni/Co.

  • 49

    Figura 32 Amostra A, cristal puro de cobalto.

    Figura 33 Amostra B, cristal puro de nquel.

    Figura 34 Amostra C, cristal misto de Co/Ni.

    A segunda srie de cristais crescidos, foi obtida seguindo a frmula qumica

    K1,8LixNi0,5Co0,5(SO4)2. 6H2O, onde foram mantidas as propores de Ni e Co em 50%

    cada e variaes de 5, 10, 15, 20, e 25% de ltio na sntese das solues, como mostradas

    na tabela 4.

  • 50

    Tabela 4 Tempo de crescimento dos cristais com adio de Li.

    Amostra K Li Tempo de Crescimento

    D 1,8 0,1 6 dias

    E 1,8 0,2 5 dias

    F 1,8 0,3 6 dias*, 11 dias

    G 1,8 0,4 14 dias

    H 1,8 0,5 8 dias

    *Cristal crescido em uma poro de 10ml da soluo.

    Figura 35 Cristais mistos referentes s propores da tabela 4.

    A diferena no tempo de crescimento de algumas amostras deve-se ao fato de que

    foi utilizada uma quantidade maior de solvente (gua) para diluir os reagentes. Isso no

    afeta a estrutura e as propriedades fsico-qumicas dos cristais obtidos, uma vez que a nica

    diferena est na velocidade do crescimento, pois a evaporao do solvente ocorre de

    forma mais clere em um recipiente com pouca soluo. Sendo assim, a supersaturao

    atingida mais rapidamente.

    Para algumas amostras, logo nas primeiras semanas, aps a preparao das

    solues, surgiram os primeiros cristais. Como podemos observar, os cristais crescidos

    pelo mtodo de soluo por evaporao lenta do solvente apresentam faces bem definidas e

    alta perfeio estrutural, condizente com as informaes bibliogrficas e com o mtodo de

    crescimento.

  • 51

    5.2. Espectroscopia de Emisso ptica por Plasma Acoplado

    Indutivamente (ICP-OES)

    As quantidades de amostra utilizadas para anlise ICP-OES esto indicadas na

    coluna Mc (massa de cristal) da tabela 5. Aps a pesagem das amostras elas foram

    totalmente diludas em uma soluo contendo gua deionizada e cido ntrico (HNO3,

    75%). Todas as amostras utilizadas na anlise ICP-OES eram provenientes da 1 retirada

    dos cristais das solues. Os resultados so apresentados na tabela a seguir para os

    elementos K, Li, Ni e Co, os dados esto expressos como massa de elemento por grama de

    cristal.

    Tabela 5 Resultados obtidos no ICP-OES.

    Amostra Massa (g) K(g/g) Li(g/g) Ni(g/g) Co(g/g)

    A 0,1460 0,1273

  • 52

    resultado, embora adverso, foi reportado por [13], que obteve um cristal com uma

    proporo de 0,1:0,9 Co/Ni em uma soluo preparada para ser de 0,3:1 Co/Ni. Isso

    tambm relatado por [38,39], que obtiveram cristais mistos de K com Zn e Mn, Zn e V,

    respectivamente, em que a proporo de Mn e V, medida em espectrmetro de emisso

    atmica, so muito menores do que a quantidade introduzida no processo de crescimento.

    Aparentemente, tendo o on Ni o raio inico (0,69) menor que o on Co (0,75),

    como reportado por [14], este seria um possvel motivo pelo qual o Ni tem uma maior

    facilidade de acomodao na estrutura cristalina. Acrescentamos o fato de que o Nquel

    possui maior afinidade eletrnica que o Cobalto, embora possa ser substitudo, em alguns

    momentos, pelo on Co. Como ambos formam complexos hidratados [Co(H2O)6]2+ e

    [Ni(H2O)6]2+ alternadamente na estrutura cristalina, detalhes estruturais por difrao de

    raios X podem ajudar na caracterizao dos octaedros e sua conformao em meio

    cristalino.

    As quantidades mnimas ou nulas do on Li na tabela 5 configuram a ausncia do

    elemento em meio cristalino. Um ponto interessante que, para a amostra H, na qual foi

    introduzida a maior quantidade de Li na soluo, a tcnica ICP no detectou a sua presena

    na amostra. Tambm no possvel analisar sua presena antes da cristalizao, ou seja, o

    mtodo no se mostra adequado para propores muito pequenas na estequiometria usada

    para preparo da soluo e obteno dos cristais. At mesmo a tentativa de obtermos um

    cristal puro de Li no foi bem sucedida, pois no houve cristalizao de qualquer sal. Ao

    contrrio, ao evaporar-se a soluo adquire, primeiramente, uma textura oleosa e, quando

    se evapora por completo toma a aparncia de uma cera ou material similar amorfo.

    5.3. Fluorescncia de Raios X por Disperso de Comprimento de

    Onda (WDXRF)

    As amostras foram trituradas e posteriormente preparadas na forma de pastilha

    prensada, utilizando uma base de cido brico (H3BO3). Na tabela 7, temos os resultados

    obtidos com WDXRF, onde esto os respectivos valores percentuais para os elementos

    Nquel e Cobalto presentes nas estruturas dos cristais.

  • 53

    Tabela 7 Propores de Ni e Co, obtidas com a tcnica (WDXRF).

    Elemento C (%) D (%) E (%) F (%) G (%) H (%)

    Co 6,95 6,53 7,17 5,46 5,68 5,11

    Ni 12,48 12,94 12,71 14,27 14,11 14,97

    A seguir, temos a tabela 8, onde constam os percentuais dos elementos para as

    amostras dos cristais mistos obtidos com a tcnica de crescimento por soluo.

    Tabela 8 Percentual de Ni e Co em cada amostra.

    Amostra C *D E **F G H

    % de Ni Ni0.64 Ni0.66 Ni0.64 Ni0.72 Ni0.71 Ni0.75

    % de Co Co0.36 Co0.34 Co0.36 Co0.28 Co0.29 Co0.25

    *7a Retirada, **4

    a Retirada.

    Os resultados para as amostras C, E, G e H esto dentro do esperado conforme

    obtido pela tcnica ICP-OES, entretanto, percebe-se novamente que as prop