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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA A Política de Atenção à Saúde do Homem no Brasil: Algumas reflexões a partir do relato de experiência Yuri de Pinho Silveira Polo 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA

A Política de Atenção à Saúde do Homem no Brasil: Algumas reflexões a partir do

relato de experiência

Yuri de Pinho Silveira

Polo 2011

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Yuri de Pinho Silveira

A Política de Atenção à Saúde do Homem no Brasil: Algumas reflexões a partir do

relato de experiência

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de

Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família,

Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito

parcial para obtenção de título de Especialista.

Orientador: Prof. Kleber Rangel Silva

Polo 2011

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Yuri de Pinho Silveira

A Política de Atenção à Saúde do Homem no Brasil: Algumas reflexões a partir

do relato de experiência

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso

de Especialização em Atenção Básica em Saúde da

Família, Universidade Federal de Minas Gerais, como

requisito parcial para obtenção de título de Especialista.

Orientador: Prof. Kléber Rangel Silva

Banca Examinadora

Prof.-------------------------------------- orientador

Prof. -------------------------------------

Aprovado em Belo Horizonte: ____/____/____

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela força nos momentos difíceis, pois o que seria de mim

sem a fé que tenho Nele. Muitos momentos foram cansativos, mas após o

término desse trabalho pode-se notar o quanto é compensador. Agradeço a

todos que de alguma forma passaram por mim e me ajudaram nessa jornada,

em mais essa etapa vencida em minha vida. Que Deus possa recompensá-los.

Agradeço especialmente aos meus pais pelo incentivo e aos tutores e

orientadores desse curso que sempre se colocaram a disposição e me

ajudaram a chegar até aqui.

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SUMÁRIO

1) APRESENTAÇÃO 6

2) RESUMO

7

3) ABSTRACT

8

4) INTRODUÇÃO

9

5) UMA POLÍTICA DE SAÚDE PARA O HOMEM

12

6) A VULNERABILIDADE MASCULINA

15

7) RELATO DE EXPERIÊNCIA (ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO TRABALHO EM UMA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA)

18

8) CONCLUSÕES 20

9) BIBLIOGRAFIA 22

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APRESENTAÇÃO

Neste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do Curso de

Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, da Universidade

Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentamos o esforço de sistematizar a

experiência de trabalho com a Política de Saúde do Homem no Posto de

Saúde de Serraria, localizado no município de Periquito, no estado de Minas

Gerais.

Esta sistematização foi realizada por meio de relato de experiência,

tentando apresentar alguns aspectos teóricos e metodológicos de abordagem

da Saúde do Homem na referida localidade.

Por fim, à guia de conclusão, apresentamos alguns possíveis

desdobramentos para ao aperfeiçoamento das ações relacionadas a essa

relevante política pública de saúde no município de Periquito.

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RESUMO

Esse artigo se refere à política de atenção à saúde do homem, sendo

analisada de uma forma a comparar com um relato de experiência, analisando

assim a importância da criação desse programa nos dias de hoje, para uma

melhor prevenção e promoção à saúde do homem. Examinamos o documento

criado pelo Ministério da Saúde em 2008 – Política Nacional de Atenção à

Saúde do Homem – e a partir desses dados procuramos discutir o modo como

o programa foi criado e colocá-lo em análise às ações realizadas por uma

Equipe de Saúde do Município de Periquito, onde os mesmos atuam com um

grupo de homens realizando ações preventivas e de promoção à saúde,

obtendo ótimos resultado, mesmo sem muitos recursos.

Palavras-chave: Saúde do homem; vulnerabilidade masculina; serviços de saúde.

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ABRTRACT

This article refers to the politics of health care for the human, being

analyzed in order to compare one with an experience report, analyzing the

importance of creating this program today, for better prevention and health

promotion of human. We have examined the document created by the Ministry

of Health in 2008 - National Policy on Health Care of Human - and from these

data is to discuss how the program was created and put it under review the

actions performed by a team of Health of the City of Periquito, where they work

with a group of people performing preventive and health promotion, getting

great results, even without many resources.

Key word: Human health; the men's vulnerability; health services

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INTRODUÇÃO

Entre os programas das políticas de saúde criados pelo Ministério da

Saúde do Brasil, pode-se considerar recente a criação de um sistema voltado

para populações específicas: o programa nacional de saúde do homem, que

visa aperfeiçoar um processo difícil de ser trabalhado, como o fato do homem

cuidar menos de sua saúde do que as mulheres. Sabe-se que entre os

programas de saúde brasileiros, faltava este para completar todos os ciclos de

vida e todos os gêneros.

As campanhas criadas para abrir espaços de sociabilidade entre o sexo

masculino, como alcoolismo, doenças venéreas, tabagismo, tem ajudado muito

na conscientização de prevenção masculina, que apesar de assistir tais

propagandas, ainda não se aderem à prevenção e a cada dia que passa

procura menos os serviços de saúde.

Se a intensidade com que a medicina investiu sobre os corpos femininos

fez com que, já em finais do século XIX, a ginecologia se institucionalizasse (cf.

ROHDEN,2001), a andrologia nunca chegou a ter o mesmo estatuto. Isso

significa que uma ciência sobre o homem, como sujeito generificado e não

como representante universal da espécie humana, encontrou e ainda encontra

grande dificuldade para se implantar. É difícil de dizer hoje, que ao longo do

último século, sanitaristas e médicos não tenham percebido que algumas

indagações de gênero faziam dos homens seres especialmente em perigo do

ponto de vista da saúde pública. (CARRARA,2009).

Também não se pode considerar mera coincidência o fato de ter sido

justamente no âmbito da luta contra as doenças sexualmente transmissíveis

que, nos anos 1930 e 1940, foi proposta pioneiramente no Brasil a criação de

uma andrologia, definida como a “ciência dos problemas sexuais masculinos”

(cf. CARRARA, 1996, 2004).

Apesar disso tudo, não foi possível formular políticas públicas voltadas à

população masculina, tampouco se consolidou uma especialidade médica

voltada exclusivamente aos homens.

Já no início da primeira década do século XXI, esse panorama se alterou

e o processo de objetificação dos homens ganha novo ritmo. Vários processos

contribuíram para isso, como econômicos, políticos, culturais e tecnológicos.

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É importante ressaltar que, essa Política de Saúde, visa qualificar a

saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cuidado que

resguardem a integridade da atenção, enfatizando a necessidade de mudanças

de paradigmas no que diz respeito à percepção masculina em relação ao

cuidado com a sua saúde e a de sua família. (Ministério da Saúde, 2008).

De acordo com o Ministério da Saúde, 2009, uma Unidade de Saúde da

Família, se destina a realizar atenção contínua nas especialidades básicas,

com uma equipe multiprofissional habilitada para desenvolver as atividades de

promoção, proteção e recuperação da saúde, características do nível primário

da atenção.

Sendo assim, isso inclui cuidar de todos os ciclos de vida, e a

enfermagem é parte integrante e fundamental da equipe multidisciplinar de

saúde na atenção primária tendo uma função primordial de organizar e

coordenar toda assistência ao paciente que necessita da atenção especial à

saúde.

Diante de tamanha responsabilidade, toda a equipe precisa possuir

conhecimentos específicos que possam subsidiar os procedimentos e técnicas

necessárias para melhor atender a sua demanda.

O presente artigo procura refletir sobre o modo como programa foi

formulado e como esse mesmo programa tem ajudado os homens no cuidado

de sua saúde. Para isso, analisamos experiências vividas em uma ESF do

Município de Periquito por uma equipe que desenvolve um trabalho preventivo

com um grupo de homens local e analisamos junto às diretrizes e princípios

presentes no documento Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do

Homem, cuja primeira versão foi lançada pelo Departamento de Ações

Programáticas e Estratégicas do Ministério da Saúde, em 2008.

Este trabalho visa mostrar o que leva os homens a não cuidarem melhor

de sua saúde, assim como relatos de como a influência de um profissional ou a

intervenção de vários outros, unidos, podem ajudar e conscientizar os homens

no cuidado e promoção da saúde e levar a uma melhor qualidade de vida e

prevenção de doenças.

Esse estudo é muito importante, pois através dele, podemos descobrir

os homens que estão com problema e ajudá-los a melhorar sua saúde, além

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da realização profissional e papel de dever cumprido. Também podemos dizer

que, para os usuários, isso ajuda muito a fazer com que eles entendam a

importância de se cuidarem para evitar riscos a saúde, prevenindo doenças e

promovendo a saúde.

Sendo assim, esse estudo pode ajudar a solucionar esse problema que

vem afetando tantos homens no local onde trabalhamos.

Portanto, uma nova prática profissional além das que já vem sendo feita

pode ser desenvolvida para melhorar a qualidade de vida desses homens,

como por exemplo, o funcionamento da unidade de saúde em horários

especiais e a preferência desses homens para realizar exames específicos

para sua saúde, que assim contribuirá para a diminuição de complicações na

saúde do homem.

Muitos agravos poderiam ser evitados caso os homens realizassem,

com regularidade, as medidas de prevenção primária. A resistência masculina

à atenção primária aumenta não somente a sobrecarga financeira da

sociedade, mas também, e, sobretudo, o sofrimento físico e emocional do

paciente e de sua família, na luta pela conservação da saúde e da qualidade de

vida dessas pessoas. (ministério da saúde, 2005).

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UMA POLÍTICA DE SAÚDE PARA O HOMEM

O médico sanitarista José Gomes Temporão, em seu discurso de posse

de março de 2007, quando foi nomeado Ministro da Saúde de Lula, em seu

segundo mandato presidencial, listou a implantação de uma “Política Nacional

para Assistência à Saúde do Homem, entre as metas a serem atingidas

durante sua gestão. Após um ano, foi lançado em março de 2008 a Área

Técnica de Saúde do Homem, no âmbito do Departamento de Ações

Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção à Saúde, deixando

Ricardo Cavalcanti - médico ginecologista e um dos fundadores da moderna

sexologia brasileira - sob sua coordenação. Nesse departamento, os homens

passam então a ter um lugar ao lado de outros sujeitos, que antes eram focos

mais antigos de ações de saúde específicas, como mulheres, adolescentes,

idosos, pessoas como deficiências, usuários de serviço de saúde mental e

indivíduos sob custódia do estado. (CARRARA, 2009).

Sendo assim, o Brasil se tornou o segundo país da América Latina a ter

um setor exclusivo para a saúde do homem, ficando atrás apenas do Canadá.

Para José de Albuquerque - médico e sexólogo que se proclamava

criador da andrologia – ao lado da ginecologia, a andrologia devia ser

considerada subespecialidade da sexologia. Entretanto, a urologia devia se

ater aos problemas de sistema urinário de homens e mulheres. (FARO,2009).

Como parte da sexologia, a andrologia deveria articular, além de

conhecimentos biológicos, os de outras disciplinas, como a psicologia e

sociologia (cf. CARRARA, 1996, 2004).

Sabe-se que desde 2004, a Sociedade Brasileira de Urologia – SBU –

vem se dedicando à causa da saúde do homem, e ao longo do ano de 2008,

passa a exercer forte pressão junto a vários setores do governo, a

parlamentares, aos conselhos de saúde para o lançamento de uma política

específica voltada à saúde do homem. A coordenação do grupo que assumiu a

direção da SBU procurou o Ministério da Saúde para discutir a implantação do

programa de saúde do homem e defender a importância da nomeação de um

chefe para a área técnica, instituindo a Campanha Nacional de Esclarecimento

da Saúde do Homem como a primeira campanha criada entre julho e setembro

de 2008. (RUSSO,2009).

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Para justificar a necessidade de uma campanha de esclarecimento do

público em geral, a SBU citou dados do Ministério da Saúde segundo os quais,

em 2007, 16,7 milhões de mulheres consultaram-se com um ginecologista, ao

passo que apenas 2,7 milhões de homens se consultaram com um urologista.

(CARRARA,2009).

Continuando a luta pela implantação da nova política, a SBU mantém ao

longo do ano de 2008, outro momento importante é a audiência pública,

convocada pela Câmara dos Deputados, no âmbito do IV Fórum Políticas

Públicas de Saúde do Homem, realizado em agosto, onde o Ministério da

Saúde apresenta seu projeto para a área. Quase junto, o Ministério divulgaria o

documento “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem”

(PNAISH). Iniciava então uma discussão que envolveria diferentes atores

(setores do governo, conselhos de saúde, associações médicas,

pesquisadores, profissionais de saúde e representantes da sociedade civil) e

se estenderia até maio do ano seguinte, quando a versão final do documento é

oficialmente divulgada. Ao lado da urologia, entre as associações médicas,

participam, sobretudo, aquelas relacionadas aos problemas mais comumente

identificados como “masculinos” (cardiologia, saúde mental, gastroenterologia e

pneumologia). (et al FARO,2009).

Em maio de 2009, a SBU distribui folhetos no XXV Congresso Nacional

de Secretarias Municipais de Saúde, visando a “solicitar apoio para políticas

públicas voltadas para o sexo masculino”. Segundo noticia-se na web site da

sociedade, “o objetivo é sensibilizar os gestores municipais a adotarem

políticas que visem a uma assistência urológica mais efetiva nos hospitais

públicos. Além disso, a SBU quer conscientizá-los sobre a Política Nacional de

Saúde do Homem do Ministério da Saúde e agregá-los na luta para que tal

programa entre em vigor o quanto antes.” (CARRARA, 2009).

Em agosto, realiza-se na Câmara dos Deputados o V Fórum de

Políticas Públicas e Saúde do Homem, cujo objetivo seria, segundo o

presidente da SBU, “manter a lembrança e pressão junto aos órgãos

governamentais e parlamentares sobre a importância da política nacional de

saúde do homem que resgata uma lacuna e inclui o gênero masculino ainda

secundarizado nas políticas públicas”. Durante o Fórum, o presidente da SBU

recebe a notícia do lançamento oficial da política.(FARO,2009).

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Finalmente, em 28 de agosto de 2009, no auditório da Organização Pan-

Americana de Saúde em Brasília, o Ministério da Saúde lança oficialmente a

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Em seu discurso, o

ministro ressaltaria a importância da Sociedade Brasileira de Urologia na

construção da nova política, que, conforme declara o presidente da SBU,

“valoriza o homem brasileiro, fortalece a atividade urológica e o urologista no

Sistema Único de Saúde”. (CARRARA,2009).

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A VULNERABILIDADE MASCULINA

SCHRAIBER, 2008, relata o conceito de masculinidade vigente na

sociedade como uma questão cultural, onde o homem se julga imune às

doenças, consideradas por eles sinais de fragilidade, assim como devido o

homem ser provedor, não deixa de trabalhar para ir a uma consulta. Portanto,

eles não reconhecem a doença como algo inerente à condição do homem, o

que leva a pensarem que os serviços de saúde são destinados às mulheres,

crianças e idosos.

Vários estudos comparativos, entre homens e mulheres, têm

comprovado o fato de que os homens são mais vulneráveis às doenças,

sobretudo às enfermidades graves e crônicas, e que morrem mais

precocemente que as mulheres (Nardi, 2007; Courtenay, 2007; IDB, 2006

Laurenti, 2005; Luck, 2000).

A despeito da maior vulnerabilidade e das altas taxas de

morbimortalidade, os homens não buscam, como as mulheres, os serviços de

atenção básica. (Figueiredo, 2005; Pinheiro, 2002).

Os homens atualmente buscam os serviços de saúde quando já têm que

se internar, o que gera custo para o sistema, custos psicológicos para o

homem e para a família, além de da dor e sofrimento. Devido a isso, não

adianta criar uma política do homem se esses mesmo não vão às unidades de

saúde e se essas não se preocupam com a saúde desses homens.

(SCHRAIBER,2008).

A doença é considerada como um sinal de fragilidade que os homens

não reconhecem como inerentes à sua própria condição biológica. O homem

julga-se invulnerável, o que acaba por contribuir para que ele cuide menos de

si mesmo e se exponha mais às situações de risco (Keijzer, 2003; Schraiber,

2000; Sabo, 2002; Bozon, 2004).

Com isso, cresce o medo em que o médico descubra algum problema

em sua saúde, colocando em risco sua crença de vulnerabilidade, motivo da

não procura por ajuda especialista.

Muitos agravos poderiam ser evitados caso os homens realizassem,

com regularidade, as medidas de prevenção primária. A resistência masculina

à atenção primária aumenta não somente a sobrecarga financeira da

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sociedade, mas também, e, sobretudo, o sofrimento físico e emocional do

paciente e de sua família, na luta pela conservação da saúde e da qualidade de

vida dessas pessoas. (Ministério da Saúde, 2008).

A intervenção da equipe de saúde perante a saúde do homem está se

tornando a cada dia que passa um desafio a ser vencido, devido às

circunstâncias em que se encontram os homens e até mesmo devido à

dificuldade que eles têm no cuidado de sua saúde, como por exemplo, a falta

de tempo devido à jornada de trabalho coincidir com o horário de abertura das

UBS, o que muitas vezes impede que o homem procure os serviços de saúde.

Além disso, outro fator que desfavorece o homem no cuidado de sua

saúde é o pensamento dele ser o provedor da casa, onde não admite faltar um

serviço para realizar uma consulta, ou mesmo se encontrando doente, acaba

procurando outros meios ou deixando ver se a situação melhora sem procurar

ajuda profissional.

A partir de um simples descuido, inicia-se um problema que poderia ter

sido resolvido caso houvesse uma prevenção adequada.

Apesar de muitos enfermeiros considerarem importante a política de

saúde do homem, ainda são frágeis as condições de implementação desta

política, em especial, de conhecimento, incentivo e planejamento de ações

específicas destinadas ao homem. (Julião, 2011).

Para se tratar desse assunto tão importante, é preciso avaliar como se

encontra a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, que tem

como objetivo orientar as ações e serviços de saúde para a população

masculina, respeitando os princípios do SUS: Integralidade, Universalidade e

Equidade.

Diante do exposto, a atuação do profissional na atenção primária (ESF)

é importante para a prevenção e promoção da saúde do homem, que pouco

tem cuidado de sua saúde. Sendo assim, torna-se a principal porta de entrada

e forma de resolução dos problemas enfrentados por esses homens. Essa

atuação dos profissionais envolvidos nesse trabalho torna-se um objetivo a

cumprir para que complicações futuras sejam evitadas. Mas não podemos

também deixar de citar que o próprio homem pode e deve ajudar e

conscientizar-se sobre sua responsabilidade para uma melhor qualidade de

vida.

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“Atualmente, ser do sexo masculino é o maior fator demográfico para

morte prematura". Nesse (2002). Ele acrescenta que se a taxa de mortalidade

masculina puder ser igualada à feminina, estaríamos fazendo mais bem do que

curando o câncer.

Segundo Laurenti (1998), as principais causas de mortes em homens

são as doenças cardiovasculares, as neoplasias malignas (doenças do

aparelho respiratório e da próstata), e as causas externas como, por exemplo,

acidentes de trânsito/trabalho, violências como homicídio e agressões.

Retomando o estudo de Lauren ti (1998), percebe-se que, quanto à taxa de

mortalidade segundo causa de morte, os homens também apresentam índices

mais elevados na comparação com as mulheres, na maioria das causas.

Já para Schraiber (2005) dentre as situações que mais matam o

homem, até os 40 anos, estão as causas externas (violência, agressões e

acidentes de trânsito/trabalho). Depois dos 40 anos, em primeiro lugar estão as

doenças do coração, e em segundo os cânceres, principalmente do aparelho

respiratório e da próstata.

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

A partir do ano de 2009, iniciou-se um trabalho com grupos de discussão

para saúde do homem, no distrito de Serraria, município de Periquito, realizado

pelo enfermeiro Responsável pelo PSF, Yuri de Pinho Silveira, onde uma vez

ao mês, realizavam encontros na Unidade de Saúde local, com a participação

de vários homens, no horário após o fechamento da unidade, pois assim,

vários homens que trabalhavam fora poderiam participar.

No primeiro encontro, ficou estabelecido pelos participantes que as

próximas reuniões, aconteceriam uma vez a cada mês, contando com temas

diversificados.

Sendo assim, vários temas foram apresentados, como tabagismo,

alcoolismo, obesidade, sedentarismo, doenças do aparelho circulatório,

respiratório, digestivo e outros, além de conscientização sobre câncer de

próstata, de pulmão, através de uma dinâmica muito objetiva e simples, com

palestras através de data show, mostrando imagens às vezes chocantes para

que houvesse uma melhor conscientização de todos, além de cartazes,

folhetos informativos, distribuição de preservativos e análise daqueles homens

que nunca ou há tempos não realizavam exames, realizando uma lista onde

depois, junto à equipe, foram reavaliados e agendados esses pacientes para

realização desses exames pendentes.

As informações passadas aos pacientes eram de fácil entendimento de

todos, contando com uma linguagem de fácil compreensão, e ao fim das

palestras, realizavam debates e relatos de experiências entre os participantes e

o profissional, onde eram esclarecidas dúvidas, motivando e incentivando a

participação cada vez mais desses participantes.

Ao acontecerem essas reuniões, notamos uma quantidade significativa

de homens que se encontravam com vários problemas, pois relatavam que

ainda nunca tinha tido oportunidade como essa de exporem suas opiniões e o

que os incomodavam em sua saúde, e também relataram a importância de um

vínculo profissional masculino, melhorando a confiança e liberdade

estabelecida entre eles e o Posto de Saúde.

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Com isso, descobrimos vários casos de complicações que poderiam ter

sido evitáveis como problemas de próstata, caso esses homens tivessem

realizado procedimentos preventivos, como a realização anual do exame de

próstata (o que não era feito devido esses homens não terem as devidas

orientações). Diante disso, foi possível iniciar o tratamento desses homens e

conscientizar vários outros, da importância da prevenção de doenças e

promovendo assim uma melhoria da qualidade de vida, trazendo cada dia

mais, outros homens para participar das reuniões e cuidarem melhor da sua

saúde, sem pressioná-los e deixando-os suas participações por livre e

espontânea vontade, mas transmitindo um trabalho satisfatório e prazeroso a

ser realizado.

Hoje, em nosso PSF, a equipe de saúde realiza um cronograma mensal,

incluindo uma reunião específica para os homens, chamada Saúde do Homem,

como dito anteriormente, após o horário de serviço (às 17:30 hs) para que o

público alvo seja atingido, pois alguns desses só chegam de seus serviços

nesse horário.

Sendo assim, realizamos palestras, ministradas por vários profissionais

homens, tirando dúvidas, explicando sobre exames além de solicitação de

alguns desses autorizados pelo ministério de saúde, contando com o apoio da

Secretaria Municipal de Saúde, que incentiva muito esse trabalho.

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CONCLUSÕES

Para que os homens se conscientizem da importância do cuidado de sua

saúde, é preciso que um bom trabalho seja realizado pelas equipes de saúde

em nosso país, que necessitam revisar as ações que estão realizando para que

se tenha uma boa aceitação e participação dos mesmos, além de possibilitar

um bom acolhimento ou forma de abordagem até um bom planejamento das

ações a serem desenvolvidas, onde de uma maneira geral, faltam estratégias

para sensibilizar e atrair esses homens aos serviços de saúde.

Apesar das ações estabelecidas para o cuidado à saúde do homem,

ainda há muito que se pensar no que diz respeito a isso, pois um programa

bem elaborado necessita ter resultados mais positivos. Portanto, ainda é

preciso uma atenção maior quanto à avaliação da saúde do homem, que ainda

deixa muito a desejar. Mas enquanto isso não acontece, muitos profissionais

ainda atuam como podem, com idéias ótimas e criativas que os ajudam a

melhorar a atenção à saúde do homem, obtendo resultados satisfatórios com o

que tem em mãos.

No município citado, o trabalho realizado com os homens mostra que a

maioria deles não cuidava da própria saúde, devido à falta de tempo e

desinformações. Com isso foi possível descobrir que, casos sérios como

complicações da próstata, faziam parte do público alvo, pois foram encontrados

vários homens com alterações nos resultados de próstata, sendo dois deles

com câncer em estado mais avançado. Daí pode-se entender a inquietação em

relação a esse assunto.

Esse trabalho mostra os homens como vítimas de sua própria

masculinidade, como barreiras socioculturais que se antepõem ao cuidado de

sua saúde. Observamos aqui o programa nacional de atenção à saúde do

homem, que tem papel principal de enfraquecer a resistência masculina à

medicina de uma forma geral. Para isso, é importante que haja uma ação

educativa adequada e bem feita, que modernize os homens brasileiros,

dissipando o pensamento que os torna presas de seus próprios pensamentos e

preconceitos.

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Esperamos que este trabalho possa ajudar outros profissionais em seus

serviços e que o Programa Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem

seja colocado em prática e revisto suas partes mais difíceis de serem

executadas e então mudadas, para que assim possa ser realizado um ótimo

trabalho pelos que estão na ponta, lhe dando no dia-a-dia com a população

masculina e querendo fazer um ótimo trabalho, mas que muitas vezes, não só

por parte do governo, mas por parte das autoridades municipais, não têm

recursos nem acesso aos meios que necessitam para realizar um bom

trabalho. Que essas autoridades se conscientizem e sensibilizem para que

possam ser concluídas as atividades necessárias à melhoria da qualidade de

vida masculina.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do

Homem (princípios e diretrizes). Disponível em:

http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/ Port2008/PT-09-CONS.pdf

Acesso em: setembro 2011.

CARRARA S, RUSSO J A, FARO L. A Política de atenção à saúde do homem

no Brasil: os paradoxos da medicalização do corpo masculino. Physis Revista

de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 19 [3]: 659-678, 2009.

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