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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SANEAMENTO, MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS FATORES QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO FITOPLÂNCTON NA LAGOA DA PAMPULHA - BH, MG Maíra Oliveira Campos Belo Horizonte 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SANEAMENTO,

MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS

FATORES QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO FITOPLÂNCTON NA LAGOA DA

PAMPULHA - BH, MG

Maíra Oliveira Campos

Belo Horizonte

2010

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FATORES QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO FITOPLÂNCTON NA LAGOA DA

PAMPULHA - BH, MG

Maíra Oliveira Campos

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Maíra Oliveira Campos

FATORES QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO

ESPACIAL DO FITOPLÂNCTON NA LAGOA DA

PAMPULHA - BH, MG

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação

em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da

Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em Saneamento,

Meio Ambiente e Recursos Hídricos.

Área de concentração: Meio Ambiente

Linha de pesquisa: Caracterização, prevenção e controle

da poluição de ambientes aquáticos

Orientador: Eduardo von Sperling

Coorientador: Ricardo Motta Pinto-Coelho

Belo Horizonte

Escola de Engenharia da UFMG

2010

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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG iv

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Eduardo von Sperling, por me incentivar e acreditar em mim , mesmo

quando eu mesma não o fazia.

Ao coorientador Ricardo Motta Pinto-Coelho pelo suporte à minha pesquisa e por abrir as

portas para minha caminhada profissional.

Aos colegas do laboratório de Ecologia de Reservatórios pelas ajudas constantes e

indispensáveis e pelos momentos de descontração em meio ao caos. Ao Cid, por ter realizado

as análises de laboratório.

À professora Lúcia Sampaio. Ao professor Paulo Rosman.

Às melhores amigas que alguém poderia ter, em ordem cronológica de aparição, Leonora,

Ana, Soraya, Carolina, Teresa, Fabíola, Flávia, Aline, Sílvia, Dani, Polly, Jarina, Renata,

Lívia, Marcele e Lili por me conhecerem e gostarem de mim assim mesmo, me agüentarem

por todos esses anos e todos que ainda estão por vir.

Aos meus pais e minha grande família, os raça ruim dos Oliveira, os raça ruim dos Campos e

todos “us primu” e à genética, que me ajudou a herdar um pouquinho de cada um deles e me

fazer uma pessoa melhor por isso.

Aos meus sobrinhos Flávio, Isabel, Camila, Luiz Fernando e João Pietro, por tornarem a

minha vida mais doce.

Ao programa de pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da

UFMG, pela infraestrutura e apoio na realização desse trabalho.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), pela bolsa de

estudos concedida.

Finalmente, a todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desse

trabalho, meus sinceros agradecimentos.

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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG v

RESUMO

Reservatórios são ambientes intermediários entre rios e lagos. Apesar da comunidade

fitoplanctônica raramente se distribuir homogeneamente nesses corpos d‟água a maioria dos

estudos se concentra na sua variação vertical e a distribuição horizontal é menos conhecida.

Este trabalho teve por objetivo avaliar a distribuição espacial e temporal do fitoplâncton em

função de fatores abióticos e influência da comunidade zooplanctônica, na Lagoa da

Pampulha, MG. As amostragens foram realizadas em 23 pontos ao longo do eixo longitudinal

do reservatório (zonas fluvial, intermediária e lacustre) no dia 15/09/2009 durante o final do

período de estiagem. Foram identificados 128 táxons, sendo Chlorophyceae o grupo mais

especioso. Os valores de riqueza de espécies, diversidade e equitabilidade foram, em geral,

baixos, não apresentando um padrão claro de distribuição no reservatório. Em geral, a

densidade fitoplanctônica apresentou valores acima de 15000 ind/mL, com os maiores valores

registrados no ponto 17, sendo dominantes espécies microplanctônicas (>100μm) de

Cyanobacteria, Euglenophyceae e Cryptophyceae. A classe Cyanophyceae foi dominante em

todos os pontos de coleta, seguida de Chlorophyceae e Bacillariophyceae na região lacustre e

mais profunda do reservatório. Estas foram substituídas em importância por Cryptophyceae e

Euglenophyceae na região riverina, mais turbida e rasa do sistema. Foram observados valores

de biovolume superiores a 21 mm³/L em todas as regiões, com dominância de Raphidiopsis

sp. e Planktothrix isothrix (Skuja) Komárek & Komárková na região lacustre e Microcystis

aeruginosa Kütz. e Sphaerocavum brasiliense Azevedo & Sant‟Anna. na região riverina. Em

relação ao IET, o reservatório foi enquadrado como eutrófico na região próxima a barragem e

de super a hipereutrófico nas demais regiões. As variáveis físico-químicas evidenciaram a

compartimentação do reservatório. As principais forçantes estruturadoras da comunidade

fitoplanctônica fora a profundidade, a temperatura, a transparência da coluna d‟água, a

concentração de fósforo total e a predação pelo zooplâncton. As maiores concentrações de

clorofila-a coincidiram com a direção dominante do vento no momento da coleta. Os

resultados obtidos sugerem que, em relação ao biovolume das populações fitoplanctônicas, o

reservatório é, de maneira geral, caracterizado por diferentes regiões influenciadas

principalmente pela profundidade e entrada dos tributários, e ainda, que a morfometria e

hidrodinâmica própria desse sistema, bem como a extensão e uso de sua respectiva bacia de

drenagem, provavelmente, constituem os fatores determinantes da estruturação do

fitoplâncton nesse ecossistema.

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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG vi

ABSTRACT

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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG vii

Conteúdo

LISTA DE FIGURAS ...................................................................................................................................... VIII

LISTA DE TABELAS ......................................................................................................................................... IX

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................ 1

2 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................................................... 3

3 OBJETIVOS............................................................................................................................................... 12

3.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................................................... 12

4 ÁREA DE ESTUDOS ................................................................................................................................ 13

4.1 LOCALIZAÇÃO ............................................................................................................................................. 13 4.2 HIDROGRAFIA E MORFOMETRIA ................................................................................................................... 14 4.3 HISTÓRICO ................................................................................................................................................... 16 4.4 PRINCIPAIS ESTUDOS ................................................................................................................................... 21 4.5 PERSPECTIVAS ............................................................................................................................................. 23

5 METODOLOGIA ...................................................................................................................................... 24

5.1 AMOSTRAGEM ......................................................................................................................................... 24 5.2 CARACTERIZAÇÃO LIMNOLÓGICA ............................................................................................................ 25 5.3 COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA ............................................................................................................ 26 5.4 COMUNIDADE ZOOPLANCTÔNICA............................................................................................................. 26 5.5 ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................................................................... 27 5.6 CONFECÇÃO DAS CARTAS TEMÁTICAS .................................................................................................... 28 5.7 MODELAGEM HIDRODINÂMICA ............................................................................................................... 28

5.7.1 Modelo de Circulação Hidrodinâmica .......................................................................................... 30 5.7.2 Modelo de Transporte Lagrangeano ............................................................................................. 30

5.8 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ......................................................................................................................... 31

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................................... 32

6.1 CARACTERIZAÇÃO LIMNOLÓGICA ........................................................................................................... 32 6.2 COMUNIDADE ZOOPLANCTÔNICA .............................................................................................................. 7 6.3 COMUNIDADE FITOPLANCTÔNICA.............................................................................................................. 9 6.4 MODELAGEM HIDRODINÂMICA ............................................................................................................... 16 6.5 ANÁLISES ESTATÍSTICAS ......................................................................................................................... 20

7 CONCLUSÕES .......................................................................................................................................... 24

8 RECOMENDAÇÕES ................................................................................................................................ 25

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 26

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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG viii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 4.1: LOCALIZAÇÃO DA BACIA DE DRENAGEM DA LAGOA DA PAMPULHA. 1 CÓRREGO OLHOS D’ÁGUA; 2 CÓRREGO AABB; 3

CÓRREGO BARAÚNAS; 4 CÓRREGO ÁGUA FUNDA; 5 CÓRREGO SARANDI; 6 CÓRREGO RESSACA; 7 CÓRREGO TIJUCO; 8

CÓRREGO MERGULHÃO E 9 RIBEIRÃO PAMPULHA. CÍRCULO BRANCO NO INTERIOR DA REPRESA CORRESPONDE À ILHA DOS

AMORES (RESCK, 2007). ................................................................................................................................... 13 FIGURA 4.2: EVOLUÇÃO DO ESPELHO D’ÁGUA DA LAGOA DA PAMPULHA EM (A) 1964, (B) 1981, (C) 2000 E (D) 2009. ADAPTADO

DE: CPRM 2001. ............................................................................................................................................ 18 FIGURA 4.3 - EVOLUÇÃO DO VOLUME DA LAGOA DA PAMPULHA. NOTA: VOLUME REFERENTE À COTA 801,3 PARA OS ANOS DE 1957,

1984 E 1989; 801,1 PARA OS ANOS DE 1994 E 1999 E 800,6 PARA O ANO DE 2007. FONTE: RESCK 2007. .................. 19 FIGURA 5.1 - PROFUNDIDADE E LOCALIZAÇÃO DOS PONTOS AMOSTRAIS NO RESERVATÓRIO DA PAMPULHA. ................................ 24 FIGURA 5.2: DOMÍNIO DE MODELAGEM DISCRETIZADO POR MALHA DE ELEMENTOS FINITOS BIQUADRÁTICOS DA LAGOA DA

PAMPULHA. ..................................................................................................................................................... 29 FIGURA 6.1: PROFUNDIDADE DE DESAPARECIMENTO DO DISCO DE SECCHI NOS PONTOS AMOSTRADOS. ...................................... 32 FIGURA 6.2: MAPAS TEMÁTICOS REPRESENTATIVOS DO SECCHI E TEMPERATURA NA LAGOA DA PAMPULHA. ................................. 1 FIGURA 6.3: MAPAS TEMÁTICOS REPRESENTATIVOS DA CLOROFILA - A E OXIGÊNIO DISSOLVIDO NA LAGOA DA PAMPULHA. .............. 1 FIGURA 6.4: MAPAS TEMÁTICOS REPRESENTATIVOS DA TURBIDEZ, DOS SÓLIDOS EM SUSPENSÃO E CONDUTIVIDADE ELÉTRICA NA

LAGOA DA PAMPULHA. ........................................................................................................................................ 3 FIGURA 6.5: MAPAS TEMÁTICOS REPRESENTATIVOS DE NITRITO (NH2

-), NITRATO (NO3

-), AMÔNIA (NH4

+) E NID (NH2

-+ NO3

-+

NH4+) NA LAGOA DA PAMPULHA. .......................................................................................................................... 4

FIGURA 6.6: MAPAS TEMÁTICOS REPRESENTATIVOS DO FÓSFORO TOTAL (PT) E NITROGÊNIO TOTAL (NT) NA LAGOA DA PAMPULHA. . 5 FIGURA 6.7: MAPAS TEMÁTICOS REPRESENTATIVOS DO ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO (IET) E DA RAZÃO NT/PT NA LAGOA DA

PAMPULHA. ....................................................................................................................................................... 5 FIGURA 6.8: ÍNDICE DE ESTADO TRÓFICO DOS PONTOS AMOSTRADOS NA LAGOA DA PAMPULHA. ................................................ 6 FIGURA 6.9: PERFIL VERTICAL DE TEMPERATURA E OXIGÊNIO DISSOLVIDO NA COLUNA D’ÁGUA REALIZADO NA ESTAÇÃO 01 DA LAGOA

DA PAMPULHA. .................................................................................................................................................. 6 FIGURA 6.10: RIQUEZA EM TAXA DOS GRUPOS ZOOPLANCTÔNICOS NOS PONTOS AMOSTRAIS DA LAGOA DA PAMPULHA. ................. 8 FIGURA 6.11: DENSIDADE DOS GRUPOS ZOOPLANCTÔNICOS NOS PONTOS AMOSTRAIS DA LAGOA DA PAMPULHA. .......................... 8 FIGURA 6.12: ABUNDÂNCIA DOS GRUPOS ZOOPLANCTÔNICOS NAS DIFERENTES REGIÕES DA LAGOA DA PAMPULHA. ....................... 9 FIGURA 6.13: RIQUEZA EM TAXA DOS GRUPOS FITOPLANCTÔNICOS NOS PONTOS AMOSTRAIS DA LAGOA DA PAMPULHA. ............... 12 FIGURA 6.14: DENSIDADE DOS GRUPOS FITOPLANCTÔNICOS NOS PONTOS AMOSTRAIS DA LAGOA DA PAMPULHA. ........................ 12 FIGURA 6.15: ABUNDÂNCIA DOS GRUPOS FITOPLANCTÔNICOS NAS DIFERENTES REGIÕES DA LAGOA DA PAMPULHA. ..................... 13 FIGURA 6.16: MAPAS TEMÁTICOS REPRESENTATIVOS DO BIOVOLUME FITOPLANCTÔNICO NA LAGOA DA PAMPULHA. .................... 14 FIGURA 6.17: RELAÇÃO ENTRE OS ÍNDICES DE DIVERSIDADE DE SHANNON-WIENER (H’) E DE EQUITABILIDADE DE PIELOU (J’)

FITOPLANCTÔNICOS NA LAGOA DA PAMPULHA. ....................................................................................................... 15 FIGURA 6.18: ROSA DOS VENTOS EM SETEMBRO DE 2009 NA LAGOA DA PAMPULHA, CARACTERIZANDO UMA SITUAÇÃO DE VENTOS

USUAIS. ........................................................................................................................................................... 16 FIGURA 6.19: SÉRIE DE VENTOS MEDIDOS EM SETEMBRO DE 2009 NA LAGOA DA PAMPULHA, CARACTERIZANDO UMA SITUAÇÃO DE

VENTOS USUAIS. ............................................................................................................................................... 17 FIGURA 6.20: PADRÃO DE CIRCULAÇÃO HIDRODINÂMICA DA LAGOA DA PAMPULHA AS 13H E AS 16H DO DIA 15/09/2009. ........ 18 FIGURA 6.21: TEMPO DE RESIDÊNCIA DA ÁGUA DA LAGOA DA PAMPULHA MEDIDO EM DIAS EM SETEMBRO DE 2009. .................. 19 AFIM DE VERIFICAR O TRABALHO DO VENTO COMO FORÇANTE DO AGREGAMENTO DE CIANOBACTÉRIAS COM

AERÓTOPOS NA SUPERFÍCIE DO RESERVATÓRIO, RODOU-SE O MODELO LAGRANGEANO. PODE-SE OBSERVAR

UM MAIOR ACÚMULO DE PARTÍCULAS NA REGIÃO NORTE DO RESERVATÓRIO, PRINCIPALMENTE NA ZONA

PRÓXIMA A BARRAGEM. ................................................................................................................................ 19 FIGURA 6.22: PADRÃO DE TRANSPORTE DE ESCALARES PASSIVOS NA SUPERFÍCIE DA LAGOA DA PAMPULHA NO DIA 15/09/2009. .. 20 FIGURA 6.22: VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS LIMNOLÓGICOS DE ACORDO COM CADA REGIÃO. EM CADA CAIXA, A LINHA REPRESENTA A

MEDIANA E A CAIXA E O WHISKER REPRESENTAM 75 E 90% DOS DADOS, RESPECTIVAMENTE. ........................................... 21 FIGURA 6.22: DENDOGRAMA DOS PONTOS DE AMOSTRAGEM A PARTIR DA ANÁLISE DE AGRUPAMENTO DO TIPO CLUSTER PARA OS

PARÂMETROS ABIÓTICOS NO FINAL DO PERÍODO DE ESTIAGEM DE 2009, COM DISTÂNCIA EUCLIDIANA MÉDIA E MÉTODO DE

LIGAÇÃO DO TIPO UPGMA................................................................................................................................. 22 FIGURA 6.23: DIAGRAMA DE ORDENAÇÃO DA CCA PARA AS CLASSES FITOPLANCTÔNICAS NO FINAL DO PERÍODO DE ESTIAGEM DE

2009. ............................................................................................................................................................ 23

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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG ix

LISTA DE TABELAS

TABELA 3.1: ANÁLISE PRELIMINAR DO ESTÁGIO DE DEGRADAÇÃO POR ESGOTO DOMÉSTICO A PARTIR DA FORMA PREDOMINANTE DE

NITROGÊNIO NO CORPO HÍDRICO (VON SPERLING, 2005) ........................................................................................... 9 TABELA 4.1: PARÂMETROS CLIMATOLÓGICOS (CPRM, 2001). .......................................................................................... 14 TABELA 4.2: PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS DA LAGOA DA PAMPULHA (RESCK, 2007) ......................................................... 16 TABELA 5.1: ÁREA DE DRENAGEM E VAZÃO MÉDIA DOS TRIBUTÁRIOS DA LAGOA DA PAMPULHA. FONTE: SUDECAP (1997). ........ 25 TABELA 5.2: CLASSIFICAÇÃO DO ESTADO TRÓFICO DE CARLSON ADAPTADO PARA RESERVATÓRIOS TROPICAIS. .............................. 27 TABELA 6.1: VARIÁVEIS LIMNOLÓGICAS MEDIDAS NA SUB-SUPERFÍCIE DAS DIFERENTES ESTAÇÕES AMOSTRAIS DO RESERVATÓRIO, NO

DIA 15/09/2009. .............................................................................................................................................. 1 TABELA 6.2: TAXA ZOOPLANCTÔNICOS ENCONTRADOS NA LAGOA DA PAMPULHA EM 15/09/2009. ........................................... 7 TABELA 6.3: TAXA FITOPLANCTÔNICOS ENCONTRADOS NA LAGOA DA PAMPULHA EM 15/09/2009. CLASSES DE FREQÜÊNCIA (% DAS

AMOSTRAS): (-) = 1 A 10% - ESPORÁDICO; (+) = 10 A 40 % – POUCO FREQÜENTE; (++) = 40 A 70% - FREQÜENTE; (+++) =

70 A 100% - MUITO FREQÜENTE. OS TAXA EM NEGRITO REPRESENTAM ESPÉCIES QUE APARECERAM EM 100% DOS PONTOS. ..................................................................................................................................................................... 10

TABELA 6.4: PRINCIPAIS ASSEMBLÉIAS FITOPLANCTÔNICAS. ................................................................................................ 16 TABELA 6.5: SÍNTESE DOS RESULTADOS DA ACC BASEADA NAS VARIÁVEIS AMBIENTAIS E DOS GRUPOS FITOPLANCTÔNICOS. ............ 23

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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 1

1 INTRODUÇÃO

O barramento de rios é uma atividade praticada pelo homem há séculos, com finalidades

diversas. A construção de reservatórios em grandes centros urbanos normalmente tem como

finalidade o abastecimento público, uma vez que o crescimento exponencial da população

vem aumentando a demanda por água substancialmente. Em muitos casos, uma conseqüência

de sua localização urbana é a conotação turística adquirida pelos reservatórios, que

rapidamente se tornam regiões alvo de atividades recreacionais, aumentando ainda mais sua

importância (Chapman 1996). Independentemente da finalidade, a interação com populações

humanas vem, nas últimas décadas, sendo responsável por processos de degradação ecológica

destes ecossistemas.

Um dos principais impactos causados pela população sobre a água é a eutrofização. O

aumento do aporte de nutrientes provenientes de atividades como agricultura, pecuária,

esgotos domésticos e industriais, entre outras, acarreta uma elevação da produtividade

primária dos cursos d‟água e a diminuição da luminosidade, incrementando os processos de

decomposição e, geralmente, conduzindo a anoxia e mortandade de peixes nesses ambientes.

O aumento dos produtores primários, quando associado à dominância de uma ou poucas

espécies é denominado floração ou “bloom”. Essa dominância muitas vezes é de uma espécie

planctônica potencialmente tóxica, acarretando riscos à saúde das pessoas e animais.

Dentre os componentes bióticos destaca-se a comunidade fitoplanctônica que é composta por

assembléias de pequenos organismos cuja distribuição depende do movimento das águas

(Wetzel 2001). O conhecimento da dinâmica destes microorganismos produtores primários é

relevante por serem as flutuações em suas respectivas composições e biomassa, indicadores

eficientes das alterações, sejam elas naturais ou antrópicas, nos ecossistemas aquáticos. Sendo

assim, essas comunidades são elementos centrais na elaboração de estudos visando o manejo

ambiental e a capacidade de suporte do sistema (Bozelli, 2003). Além da quantidade de

nutrientes da água, outros fatores influenciam a composição e distribuição espacial e temporal

do fitoplâncton, tais como: correntes, intensidade luminosa, temperatura e presença de

substâncias tóxicas (CETESB, 2005).

A abordagem da variável “espaço” em pesquisas ecológicas foi durante muito tempo

negligenciada, havendo preocupação apenas com a dimensão temporal. Entretanto, nos

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Programa de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG 2

últimos dez anos tem sido apontada como um avanço central no sentido de tornar a ecologia

uma ciência mais robusta (Pinto-Coelho et al, 2003).

O diagnóstico completo dos ecossistemas aquáticos impactados pelo processo de eutrofização

é o ponto de partida para que sejam traçadas estratégias de recuperação dos mesmos.

Entretanto esse depende da compreensão de seus processos e funcionamento, que, por sua

vez, podem ser entendidos através da análise da variabilidade dos padrões espaciais e

temporais do sistema (Pinto-Coelho, 1998). Nesse sentido, conhecimentos acerca da

morfometria do ambiente, bem como do seu comportamento limnológico, tornam-se de

grande valia na otimização dessas ações (Resck 2007).

Dentro desse contexto o presente trabalho pretende realizar um estudo limnológico da Lagoa

da Pampulha, com ênfase na variabilidade espacial dos parâmetros físicos, químicos e

biológicos, com o objetivo de identificar os principais fatores que condicionam a distribuição

da comunidade fitoplanctônica do reservatório no período estudado. A partir desse

pressuposto pretende-se contribuir para a caracterização de regiões de maior degradação

ecológica deste ecossistema, fornecendo informações sobre o meio que podem servir como

base para futuros planos de manejo e monitoramento da Lagoa. Além disto, este projeto irá

testar metodologias inovadoras de diagnostico ambiental, disponibilizando este conhecimento

para a sociedade.

Para tanto foram levantadas as seguintes hipóteses:

“Com o aumento do grau de trofia do ambiente, a comunidade fitoplanctônica responde

com uma diminuição da riqueza e diversidade de espécies e aumento de sua densidade”.

“A composição do fitoplâncton é alterada no eixo rio – barragem de acordo com variáveis

físicas, químicas e morfológicas de cada região, favorecendo o predomínio ou dominância de

classes ou grupos de algas adaptadas a essas”.

“A hidrodinâmica do reservatório e a direção e intensidade do vento alteram a distribuição

e composição das comunidades biológicas”.

“A variação da distribuição espacial do fitoplâncton pode indicar fontes pontuais e difusas

de poluição e ser usada como ferramenta para o desenvolvimento de políticas para o

gerenciamento e manejo de lagoas urbanas”.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

A construção de grandes reservatórios no Brasil se iniciou no começo do século 20. Hoje o

Brasil é um país direcionado à construção de barragens, com 85% de sua energia proveniente

de hidroelétricas (Tundisi et al. 1993; Nogueira et al. 1999). Neste sentido trabalhos

limnológicos em reservatórios assumem acentuada importância devido a este expressivo

número de represas de construção relativamente recente. Muitos destes reservatórios estão

localizados na região sudeste, onde a demanda por energia elétrica é maior por causa da

intensa atividade industrial e grande adensamento populacional dessa região (Soares et al.,

2008).

A ecologia de represas e a qualidade das águas nos reservatórios estão, fundamentalmente,

relacionadas com os sistemas integrados que atuam na bacia hidrográfica, incluindo as

múltiplas atividades humanas e seus impactos (Tundisi, 1996).

Um reservatório pode ser visto como um lago muito dinâmico, no qual uma significativa

porção do seu volume possui características e funções biologicamente similares a rios (Wetzel

1990). Devido à sua posição na bacia de drenagem esses sistemas podem receber uma

pequena porção de água através do escoamento superficial. Entretanto, a maior parte da água,

nutrientes e carga de sedimentos são provenientes dos principais tributários, localizados a

considerável distância da barragem (Thorton et al., 1990). Em uma escala local, a

incorporação da descarga de um ou mais tributários gera padrões de circulação vertical que

aumentam a complexidade espacial do sistema (Tundisi, 1993).

A zona inicial, mais distante da barragem, é conhecida como zona riverina. Esta região é

relativamente estreita e bem misturada, as forças advectivas auxiliam no transporte de

significativas quantidades de fino material particulado, como silte e argila. Ela é caracterizada

por uma intensa descarga de nutrientes e reduzida produtividade primária, resultante da alta

turbidez. Sendo rasa e bem misturada essa zona apresenta-se bem oxigenada, embora a

degradação de matéria orgânica alóctone represente significativa demanda de oxigênio

(Thorton et al., 1990). Como há um aumento da sedimentação e da disponibilidade de luz

enquanto a água se move ao longo do eixo rio-barragem, a produtividade primária também

aumenta na segunda região, conhecida como zona de transição. Finalmente, na zona lêntica

do reservatório, próximo à barragem, a limitação por nutrientes causada pela intensa

sedimentação pode inibir o crescimento do fitoplâncton (Tundisi 1999). Muitos fatores podem

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influenciar o tamanho e limites entre essas regiões, incluindo a morfometria, estratificação

térmica, localização geográfica e tempo de retenção da água (Soares, 2008).

Assim, o conjunto das condições ambientais causa heterogeneidade espacial e temporal,

promovendo uma diversidade de “habitats”, que é fundamental para a organização das

comunidades e para a diversidade biológica (Tundisi, 1999; Zanata & Espíndola, 2002).

Sabe-se que as concentrações de nutrientes em lagos e reservatórios flutuam naturalmente

dependendo das características físicas, químicas e biológicas de suas bacias (Cole, 1994). Isso

leva a dificuldades significativas na avaliação do estado de lagos. O fato de essas variáveis

serem determinados por medidas pontuais, enquanto, na verdade, eles possuem variações

horizontais e verticais, agrava ainda mais essas dificuldades, já que essas medidas pontuais

nem sempre são representativas do estado trófico de todo o ecossistema aquático (Godlewska

& Swierzowskia, 2003).

Segundo Goldsborough & Robinson (1996) certos fatores são determinantes na dominância

de espécies em dada área incluindo a natureza do grupo (ex.epipelon, epifíton, metafíton ou

fitoplâncton), a localização geográfica da área (irradiância e temperatura da água), estação do

ano, profundidade da coluna d‟água, hidroperíodo, tipos de macrófitas presentes e

concentração de nutrientes.

Para Müller (1998), a estrutura e a função dos ecossistemas podem ser entendidas através do

estudo dos gradientes de variáveis ecológicas, sendo estes definidos como as diferenças

espaciais ou temporais das variáveis. Por refletirem a ação das forças controladoras para todos

os processos ecológicos, integrando aspectos estruturais e funcionais, os gradientes devem ser

aceitos como importantes aspectos dos ecossistemas e devem ter a aplicabilidade testada com

mais ênfase nos estudos ecológicos.

Neste contexto, o gradiente espacial é importante, pois providencia um dos pré-requisitos

básicos para o desenvolvimento e consolidação dos potenciais ecológicos em um ecossistema

(Müller, 1998). Além disso, o estudo da variação horizontal de parâmetros limnológicos pode

ajudar a obter um delineamento ótimo de amostragem para o monitoramento do ambiente

aquático (Pinto et al., 2003).

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A distribuição longitudinal do fitoplâncton em reservatórios geralmente segue um padrão

comum, com altas concentrações dessa comunidade na zona de transição, uma vez que, na

zona fluvial, ocorre limitação por luz, apesar da disponibilidade de nutrientes, e em seguida, a

relativa fertilidade da zona de mistura diminui em direção à barragem, pois o suprimento de

nutrientes, introduzido por processos advectivos é reduzido com o distanciamento do influxo

do rio, e a produção do fitoplâncton torna-se mais dependente da regeneração in situ dos

nutrientes (Tundisi, 1996).

O conhecimento adequado da sucessão e distribuição espacial do fitoplâncton e do papel das

forças externas que atuam no funcionamento das represas como ecossistemas, permite

predizer, até certo ponto, a ocorrência de espécies e as suas prováveis estratégias, bem como

estabelecer diretrizes para as intervenções, visando o controle da biomassa e distribuição

espacial desta comunidade e ainda, aperfeiçoar o uso dos recursos biológicos e melhorar a

qualidade da água (Bicudo et al., 1999).

Levantamentos taxonômicos e avaliações das alterações na organização estrutural e funcional

das comunidades ou ecossistemas podem ser utilizados como medidas do impacto das

atividades humanas, possibilitando uma estimativa da perda de diversidade de espécies e dos

efeitos sinergéticos das diferentes alterações antropogênicas na bacia hidrográfica (Buss et al.,

2003). Assim, um bom conhecimento dos padrões existentes é essencial para a definição dos

métodos de monitoramento e estratégias de conservação (Declerck et al., 2005).

A ecologia do fitoplâncton está intimamente relacionada às características dominantes, como

estrutura física do ambiente e disponibilidade de recursos, e à freqüência e escala em que

estas características são alteradas (Reynolds, 1993). Devido a essa estreita relação, o

fitoplâncton é considerado um componente-chave na biocenose de lagos e reservatórios

(Sarmento & Descy, 2008), o que justificou a inclusão dessa comunidade entre os elementos

biológicos fundamentais para o conhecimento do estado ecológico dos corpos de água da

Europa (Framework Directive/WFD, European Union 2000).

A heterogeneidade espacial na distribuição dos organismos em seus habitats é considerada um

conceito chave para uma série de teorias ecológicas como competição, diversidade, sucessão,

evolução, adaptação, parasitismo, interações predador-presa, etc. (Legendre & Fortin, 1989).

Na natureza, os organismos se agregam onde condições favoráveis para o crescimento,

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reprodução e sobrevivência são encontradas ou se acumulam em regiões onde são

passivamente transportados pela água em movimento (Begon et al., 1999).

No caso de reservatório de abastecimento, agregados de algas não desejadas ou

potencialmente tóxicas (como cianobactérias e dinoflagelados) podem levar a notórios

problemas na qualidade da água e aumento nos custos de tratamento (Moreno-Ostos et al.,

2006).

Apesar de se saber que a comunidade fitoplanctônica raramente se distribui homogeneamente

nos corpos d‟água a maioria dos estudos se concentra na sua variação vertical e a distribuição

horizontal é menos conhecida. Muito dessa escassez se justifica pelo substancial esforço

envolvido na contagem individual das espécies do fitoplâncton em um grande número de

estações de amostragem e pelo grande consumo de tempo exigido (Moreno-Ostos et al.,

2008).

Em todo o mundo, muitos pesquisadores descrevem os fatores chave que afetam a

distribuição espacial do fitoplâncton (George & Edwards, 1976; George & Heaney, 1978;

Reynolds, 1993; George, 1993; George & Cruz Pizarro, 1994). No Brasil esta abordagem é

mais recente, com estudos de Pompeo et al. (1998), Falco & Calijuri (2002), Moro et al.

(2003) e Cardoso & Mota-Marques (2009) entre outros.

Na Lagoa da Pampulha vários estudos abordando a comunidade fitoplanctônica foram

realizados até hoje, entretanto contemplando apenas uma ou duas estações amostrais no

interior do reservatório. O primeiro trabalho, realizado de novembro de 1984 a dezembro de

1985 contemplou duas estações de coleta (uma próxima à barragem e outra próxima à Ilha dos

Amores) e teve freqüência mensal (Giani & Leonardo, 1988; Pinto-Coelho et al., 1999). De

setembro de 1990 a outubro de 1991 a SUDECAP realizou coletas mensais de fitoplâncton

nestas mesmas estações (SUDECAP, 1992). Em 1992 Pinto-Coelho realizou uma compilação

desses dados diagnosticando a evolução do grau de eutrofização da represa. Entre os anos de

1992 e 1998 o grupo de pesquisadores do departamento de Botânica da UFMG realizou

coletas mensais em uma estação central do reservatório gerando trabalhos sobre a taxonomia

(Eterovick & Giani, 1997; Giani et al., 1999) e diversidade do fitoplâncton (Figueredo &

Giani, 2001) e a dinâmica temporal das cianobactérias na Lagoa (Goodwin, 1997). De maio

de 2000 a abril de 2001 Pinto-Coelho (2001) realizou o monitoramento do fitoplâncton em

uma estação central.

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O primeiro estudo abordando o gradiente espacial do fitoplâncton foi realizado por Campos et

al. (2009) em maio de 2007, abordando a relação deste com parâmetros limnológicos.

A riqueza de espécies e a composição taxonômica representam os principais componentes da

diversidade biológica e são importantes características dos ecossistemas. Os principais fatores

que influenciam a distribuição do fitoplâncton nos ecossistemas aquáticos são:

disponibilidade de luz e nutrientes, temperatura da água, herbivoria (Reynolds, 1987), estado

trófico, freqüência e grau de mistura e estratificação da coluna de água (Matsumura-Tundisi

& Tundisi, 2005), hidrodinâmica do reservatório, tempo de residência da água e velocidade e

direção dos ventos.

Tilman (1982) propôs uma explicação baseada na competição interespecífica entre espécies e

na utilização diferencial de recursos para explicar a diversidade encontrada entre os vegetais

na natureza. Neste modelo, Tilman considera não só a dinâmica do recurso no ambiente, mas

também a dinâmica de utilização dos recursos pelos organismos observados.

A heterogeneidade espacial e temporal na disponibilidade destes recursos em determinado

ambiente podem aumentar o número de espécies que podem coexistir neste ambiente (Tilman

et al, 1982). A presença de microhabitats no ambiente permite a coexistência de um grande

número de espécies que, de outra forma, seriam excluídas competitivamente.

A luz está entre os recursos essenciais ao desenvolvimento do fitoplâncton sendo reconhecida

uma série de características e estratégias que permitem a captura eficiente e a utilização das

diferentes intensidades e domínios espectrais da luz por esta comunidade (Litchman &

Klausmeier, 2008). Por se tratar de um recurso, sua utilização por uma dada espécie reduz sua

disponibilidade para esta espécie e para seus competidores. Dessa forma, a tolerância a baixas

intensidades luminosas pode ser vista como uma importante vantagem competitiva. Essa

tolerância pode ser garantida por atributos associados à capacidade de absorção da luz, como

qualidade e quantidade dos pigmentos fotossintetizantes, ou à capacidade do organismo

regular sua posição para se manter em local de luminosidade favorável, como produção de

mucilagem, óleos, presença de flagelos ou aerótopos (Reynolds, 1997).

Segundo Rosa et al (2003), o fósforo é um elemento fundamental à vida em qualquer

ecossistema, porque participa estruturalmente de moléculas do metabolismo celular, tais como

os fosfolipídios, coenzimas e ácidos nucléicos. Seus grandes reservatórios são as rochas e

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demais depósitos formados nas eras glaciais. O fósforo é tido como elemento-chave na

regulação da produtividade dos ecossistemas e, talvez, seja o nutriente mais importante na

maioria dos ecossistemas dulciaquicolas (Brezonik & Pollman, 1999). Apesar de ser

necessário apenas em pequenas quantidades, representa um dos elementos limitantes do

crescimento do fitoplâncton devido à sua escassez geoquímica em muitas bacias de drenagem.

Este é freqüentemente reportado como nutriente limitante do crescimento algal em diferentes

regiões climáticas do globo (Hecky & Kilham, 1988, Reynolds & Davies, 2001), podendo

atuar de forma indireta sobre vários processos, como sobre o fluxo e dinâmica do nitrogênio

em ecossistemas oligotróficos (Dodds & Priscu, 1990) e ate mesmo levando à limitação por

outros nutrientes, como a sílica (Schelske & Stoermer, 1971).

Na água o fósforo está presente nas formas orgânicas e inorgânicas. Na forma inorgânica,

pode ser dividido em: ortofosfatos e polifosfatos. A maior parte do fosfato inorgânico

presente está na forma de ortofosfatos. Estudos sobre fontes e biodisponibilidade de fósforo

na água doce reportam esse elemento como agente primário do processo de eutrofização, pois

o aumento adicional da biomassa de produtores primários está diretamente ligado à aceleração

antropogênica do aporte das frações de fósforo biologicamente disponíveis (Reynolds &

Davies, 2001). Esgotos domésticos, agrícolas e industriais são as maiores fontes de fosfatos

solúveis, podendo viabilizar fenômenos de eutrofização de lagos, ao promover o crescimento

excessivo de algas na superfície destes corpos d‟água receptores. (Goldman & Horne, 1983).

Feitosa & Filho (1997) afirmam que a concentração de fósforo acima de 1,0 mg/L é,

geralmente, indicativo de águas poluídas.

O nitrogênio encontra-se nos ecossistemas aquáticos nas formas de íons, compostos orgânicos

dissolvidos, estando presente mais abundantemente na forma de gás. As principais formas de

nitrogênio encontradas nestes ecossistemas são: amônia, nitrato, nitrito, uréia e nitrogênio

orgânico, usados principalmente para a síntese de aminoácidos e proteínas pelas algas

(Reynolds, 1984). Segundo Goldman & Horne (1983), o que diferencia os ecossistemas

aquáticos dos demais é a influência do oxigênio nos processos, em especial na fase de

nitrificarão, ao converter amônia em nitrito e este em nitrato, em que há o consumo do

oxigênio dissolvido.

O nitrato representa a forma mais comum de nitrogênio inorgânico combinado em lagos e

riachos. Entretanto, o aporte de esgotos brutos aumenta significativamente as concentrações

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de nitrogênio orgânico e amônia, já que as frações de nitrito e nitrato são tão pequenas, que

podem ser desprezadas. Quando presente em quantidades suficientes, a amônia é a forma

preferida para crescimento do fitoplâncton. Apesar do nitrato também contribuir para o

desenvolvimento, requer energia adicional para sintetizá-lo, tendo a necessidade da presença

da enzima redutora de nitrato.

Através da forma de nitrogênio predominante no corpo hídrico, é possível realizar uma

análise preliminar do seu estágio de degradação. Esta análise é sugerida por von Sperling,

2005 conforme mostrado na Tabela 3.1.

Tabela 3.1: Análise preliminar do estágio de degradação por esgoto doméstico a partir da

forma predominante de nitrogênio no corpo hídrico (von Sperling, 2005)

Estágio de Degradação Forma predominante de Nitrogênio

Poluição Recente Nitrogênio Orgânico Amônia

Estágio Intermediário

Nitrogênio Orgânico Amônia Nitrito (em menores concentrações) Nitrato

Poluição Remota Nitrato

A temperatura da água representa um parâmetro significativo no estudo de qualidade de água

no que concerne os seguintes fatores:

Influencia as reações químicas e biológicas nos ecossistemas aquáticos. Um aumento

na temperatura pode elevar significativamente as taxas de desnitrificação (Golterman

2000), a qual diminui as concentrações de nitrato podendo levar a limitação da

produtividade primária por nitrogênio (Kosten, 2009);

Interfere no teor de oxigênio dissolvido na água;

A variação da temperatura influencia a densidade da água, alterando os processos de

transporte. A elevação da temperatura produz uma redução da viscosidade até a

temperatura crítica de 4ºC. Isto pode provocar um afundamento dos microorganismos,

em especial do fitoplâncton e gerar danos ao ecossistema aquático. (MOTA, 2003).

A variação de temperatura depende das trocas de calor na interface ar-água e,

conseqüentemente, da distribuição de energia através da coluna d água. As principais fontes

de calor natural que atingem a superfície da água são: a radiação solar de ondas curtas, a

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radiação atmosférica de ondas longas, a condução de calor da atmosfera para a água e o

lançamento direto de efluentes com diferentes temperaturas. Os principais processos

dissipativos de calor, a partir da água são: radiação de ondas longas emitidas da superfície da

água, evaporação e condução de calor (Kaufmann, 2009).

Muitos estudos têm mostrado que os movimentos induzidos pelo vento têm um efeito

dominante nos padrões de distribuição básicos dos corpos d‟água. Certas variáveis

ambientais, como turbidez, sólidos em suspensão e nível da água, formam gradientes

espaciais em resposta à ação do vento (Cardoso & Mota-Marques, 2009). A ocorrência da

mistura causada pelo vento depende de fatores como velocidade do vento, profundidade e

tamanho da pista de vento do reservatório e a vegetação de entorno (Townsend, 2006).

O curto tempo de residência da água comumente ocasiona perda de biomassa fitoplanctônica

por lavagem hidráulica e choque mecânico. Por outro lado, um aumento no tempo de

residência favorece o desenvolvimento do fitoplâncton, principalmente, pela redução do fluxo

e maior estabilidade da coluna de água (Tundisi, 1990a; Straškraba et al., 1993; Tundisi et al.,

1993). O efeito do tempo de residência da água no padrão longitudinal dos reservatórios foi

estudado por Straskraba (1999), que observou que todo o reservatório pode se tornar uma

zona riverina quando seu tempo de residência é baixo, ou também pode se converter em uma

zona lacustre quando o tempo de retenção aumenta. Além disto, sabe-se que este influencia

tanto as concentrações de nitrogênio (Windolt et al. 1996) quanto as de fósforo

(Vollenweider, 1976) em ecossistemas aquáticos.

A comunidade zooplanctônica pode afetar negativamente o fitoplâncton pelo consumo direto

de células, ou positivamente por meio da reciclagem de nutrientes (Grigorszky et al., 1998).

Esta relação é dependente de inúmeros fatores, incluindo a morfologia e fisiologia das algas,

bem como a composição do fitoplâncton (James & Forsyth, 1990).

As mudanças na comunidade fitoplanctônica em função das variações ambientais são

tradicionalmente verificadas através das variações na biomassa e na composição em termos de

grandes grupos taxonômicos e espécies dominantes. No entanto, é muito difícil prever a

ocorrência da maioria das espécies, e as condições que favorecem certos grupos taxonômicos

freqüentemente se sobrepõem (Costa et al., 2009). Considerando as diferenças nas demandas

e formas de aquisição dos recursos essenciais observadas entre os organismos fitoplanctônicos

(Falkowski et al., 2004), têm-se assumido que o entendimento e o manejo dos ambientes

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aquáticos se tornam mais fáceis quando as espécies são agrupadas conforme a semelhança de

características ou comportamentos (Salmaso & Padisák, 2008).

A primeira abordagem considerando as características das espécies para prever a composição

da comunidade ao longo de gradientes ambientais foi feita por Margalef em 1978 (Litchman

& Klausmeier, 2008). Mais recentemente, Reynolds (1997) propôs grupos funcionais que

poderiam co-dominar ou dominar, conforme as condições ambientais predominantes. Esse

autor e seus colaboradores (Reynolds et al., 2002; Kruk et al., 2002; Padisák et al., 2003,

Padisák et al., 2009) descreveram 38 grupos morfo-funcionais identificados por caracteres

alfa-numéricos. Foram consideradas as demandas para as combinações de propriedades

físicas, químicas e biológicas do lago como profundidade da zona de mistura, luz,

temperatura, disponibilidade de fósforo, sílica, carbono e pressão de herbivoria (Barros,

2010). Tais grupos, geralmente polifiléticos, foram formados de acordo com as características

adaptativas coincidentes, considerando as sensibilidades e as tolerâncias das espécies

(Reynolds, 2006).

A delimitação de gradientes espaciais em reservatórios permite identificar regiões mais

adequadas para diferentes propósitos, como pesca e captação de água (Borges et al., 2008).

Por causa do escasso número de estudos enfocando a distribuição longitudinal do fitoplâncton

em reservatórios tropicais, este estudo se propõe a investigar os fatores que governam esta

distribuição e se existe um gradiente clássico na Lagoa da Pampulha. Também será verificada

a eficiência dos grupos funcionais na caracterização do gradiente longitudinal em lagos rasos.

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3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

O presente estudo tem como objetivo realizar uma análise da Lagoa da Pampulha

caracterizando a distribuição espacial da comunidade de algas fitoplanctônicas sob a ótica das

suas principais forçantes, como a circulação hidrodinâmica e pista de ventos, fatores físico-

químicos e predadores e utilizá-las como ferramenta para a elaboração de políticas de manejo.

Objetivos específicos

Realização de análises limnológicas da água subsuperficial do reservatório em uma

malha amostral representativa de toda a extensão da Lagoa da Pampulha;

Avaliar a composição de espécies, densidade, biomassa e diversidade fitoplanctônica e

zooplanctônica nos pontos estudados;

Identificar os grupos funcionais descritores do fitoplâncton nas diferentes regiões do

reservatório;

Caracterizar o padrão de circulação hidrodinâmica do final do período de estiagem;

Confeccionar mapas temáticos ilustrativos dos resultados;

Verificar a ocorrência de compartimentação do reservatório no que se refere à

composição e estrutura do fitoplâncton e dos fatores físicos e químicos;

Identificar a resposta do fitoplâncton às variações dos fatores top-down e botton-up na

Lagoa da Pampulha;

Identificar, levando em consideração os dados bióticos e abióticos levantados, fontes

pontuais de degradação do reservatório.

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4 ÁREA DE ESTUDOS

4.1 Localização

A Lagoa da Pampulha é um reservatório urbano, situado na região noroeste de Belo

Horizonte, no Estado de Minas Gerais, Brasil (Coordenadas UTM WGS84 607050; 7804600)

(Fig. 4.1).

Figura 4.1: Localização da bacia de drenagem da Lagoa da Pampulha. 1 Córrego Olhos d’água; 2 Córrego AABB; 3 Córrego Baraúnas; 4 Córrego Água Funda; 5 Córrego Sarandi; 6

Córrego Ressaca; 7 Córrego Tijuco; 8 Córrego Mergulhão e 9 Ribeirão Pampulha. Círculo branco no interior da represa corresponde à Ilha dos Amores (Resck, 2007).

A represa encontra-se em uma região caracterizada por verões quentes e chuvosos,

intercalados a invernos frios e secos, sendo enquadrada na classificação Cwa de Köppen

(Tropical de altitude com inverno seco e verão chuvoso).

As precipitações mensais médias, registradas em uma série histórica entre 1997 e 2000,

indicam uma estação bastante chuvosa, entre novembro e março, onde as médias são sempre

superiores a 100 mm/mês, e outra mais seca, de abril a outubro, especialmente nos meses de

junho, julho e agosto, nos quais as precipitações costumam ser muito baixas, podendo mesmo

inexistir em alguns anos (CPRM, 2001).

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A temperatura média e a umidade relativa do ar média anual para a região giram em torno de

21,5 ºC e 68,6%, respectivamente (Tab. 4.1). O vento predominante na região da Lagoa da

Pampulha é no sentido oeste-leste (31,07% da freqüência) (CPRM, 2001), ou seja, da região

da Ilha dos Amores em direção à barragem.

Tabela 4.1: Parâmetros climatológicos (CPRM, 2001).

PARÂMETROS CLIMATOLÓGICOS

Estação CDTN (1997-2000) Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Média

Temperatura média do ar

compensada (ºC) 23,3 24,1 22,9 21,9 19,5 18,5 18,8 20,1 21,8 22,3 22,2 23,1 21,5

Temperatura média das máximas (ºC) 27,3 28,1 26,8 26,1 23,8 23,1 23,4 25,1 26,5 26,7 26,0 27,1 25,8

Temperatura média das

mínimas (ºC) 19,2 20,6 18,3 17,8 15,6 14,2 14,7 15,8 17,4 17,6 17,8 18,7 17,3

Umidade relativa compensada

(%) 75,6 69,7 75,9 71,0 67,3 65,9 62,9 55,2 61,2 65,2 75,5 77,7 68,6

Velocidade média dos ventos a 10m (km/dia) 187.0 205.0 201.0 194.0 192.0 174.0 214.0 240.0 264.0 261.0 209.0 186.0 210,5

Pressão atmosférica (mb) 918,1 919,7 918,9 921,0 922,3 922,6 924,0 923,9 920,9 920,2 918,5 918,8 920,7

Horas de insolação 357,5 332,7 352,3 312,0 338,0 286,5 309,5 311,0 318,5 356,5 366,8 373,0 334,5

Precipitação (mm) 205,0 126,0 123,9 63,2 28,5 10,1 1,3 6,6 69,6 63,9 189,5 242,2 1.129,6

4.2 Hidrografia e morfometria

A Lagoa da Pampulha deságua no ribeirão homônimo, integrante da bacia do ribeirão do

Onça, afluente do rio das Velhas (Fig. 4.1). Sua bacia hidrográfica compõe a bacia

hidrográfica do Rio das Velhas, que por sua vez é parte da bacia hidrográfica do Rio São

Francisco (Bandeira & Salim, 2006). A bacia de drenagem do reservatório possui área de

97,91 km2, dividida entre os municípios de Belo Horizonte (44,9%) e Contagem (55,1%). Sua

fluviografia inclui 40 córregos, dos quais 19 estão em Belo Horizonte e 21 no município de

Contagem (Fig. 4.1). O ribeirão Pampulha, onde está construído o reservatório, possui oito

tributários diretos, com destaque para os afluentes Ressaca e Sarandi, que, juntos, respondem

por mais de 70% do aporte de água à Lagoa da Pampulha (Torres, 1999).

Os principais tributários da Lagoa da Pampulha são apresentados a seguir (CPRM, 2001):

Córrego Baraúna

Nasce na cota 850 m, em Belo Horizonte, desaguando na Lagoa, após percorrer 2,5 km. Área

de drenagem de 1,9 km².

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Córrego AABB

Nasce na cota 830 m, em Belo Horizonte, em terreno da Associação Atlética do Banco do

Brasil - AABB. Percorre apenas 0,9 km até desaguar na Lagoa. Área de drenagem: 1,2 km².

Córrego Olhos D‘Água

Nasce na cota 850 m, em Belo Horizonte. Possui comprimento de 3,1 km. Área de drenagem:

2,9 km².

Córrego Água Funda

Nasce na cota 920 m, em Contagem. Seu principal afluente é o córrego Bom Jesus, na

margem direita. Percorre 8,2 km até desaguar na Lagoa. Área de drenagem: 16,8 km².

Ribeirão Sarandi

Nasce na cota 940 m, em Contagem. Seus principais afluentes são os córregos Bitácula e

Cabral, na margem esquerda, e João Gomes, na margem direita. Percorre 14,0 km até a

confluência com o córrego da Ressaca, posteriormente desaguando na Lagoa. Área de

drenagem: 41,1 km².

Córrego da Ressaca

Nasce na cota 920 m, em Belo Horizonte. Percorre 8,8 km até a confluência com o ribeirão

Sarandi. Seus principais afluentes são os córregos Ipanema e do Coqueiro, pela margem

esquerda, e Glória e Flor d‟água, pela margem direita. Área de drenagem: 20,6 km².

Córrego Tijuco

Nasce na cota 830 m, em Belo Horizonte. Percorre 1,6 km até a Lagoa. Área de drenagem:

1,8 km².

Córrego Mergulhão

Nasce na cota 950 m, em Belo Horizonte. Percorre 3,9 km até desaguar na Lagoa. Área de

drenagem: 3,4 km².

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Na época de sua construção, a lagoa possuía cerca de 18 milhões de m³ de água, área de 260

hectares, profundidade média de 5 m e profundidade máxima de 16 m (Champs, 1991). Com

a descaracterização de sua morfometria, provocada principalmente pelo intenso assoreamento,

o volume de água, segundo estudos batimétricos realizados pelo CDTN/CNEN em 1999, era

de 8.480.000 m³, isto é, 50% de seu volume original (18.000.000 m3), o espelho d‟água

encontra-se reduzido a apenas 66,7% do seu valor inicial (Fiovorante, 1995). Atualmente a

área do espelho d`água é de 196,84 ha, cerca de um terço menor do que na época de sua

reinauguração (300 ha – 1958), e a capacidade de armazenamento é de 9,9 x 106 m³ (Tab.

4.2). A consolidação da Estação Ecológica na enseada dos córregos Ressaca e Sarandi e o

completo assoreamento da enseada dos córregos Braúnas e Água Funda foram responsáveis

pela supressão desses do cálculo do perímetro da Lagoa, que hoje é de 14,89 km.

Tabela 4.2: Parâmetros morfométricos da Lagoa da Pampulha (Resck, 2007)

PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS

Área (A) 1.968.433,41 m2 196,843 ha

Volume (V) 9.998.240,79 m3 9,99 x 10

6 m

3

Perímetro (P) 14.889,70 m 14,89 Km

Comprimento máximo (Cmax) 2.625,30 m 2,62 Km

Largura máxima (Lmax) 1.520,70 m 1,52 Km

Profundidade máxima (Zm) 16,17 m

Profundidade média (Z) 5,08 m

Profundidade relativa (ZR) 1,02

Largura média (Lmed) 749,79 m

Índice de desenvolvimento de volume (DV) 0,94

Índice de desenvolvimento de erímetro (DP) 2,97

Declividade média (α) 2,04 %

Fator de Envolvimento 49,74

4.3 Histórico

No início de sua ocupação, nas décadas de 20 e 30, a região da Pampulha, fora da Avenida do

Contorno, era considerada zona rural. A construção da barragem, iniciada em 1936 pelo então

prefeito Otacílio Negrão de Lima, e inaugurada em 1938, teve como finalidade, além de ser

um pólo de desenvolvimento do turismo e lazer, o abastecimento de água para a região norte

de Belo Horizonte e o amortecimento de cheias no córrego do Onça e demais regiões a

jusante (Pinto-Coelho 2001).

Já na década de 40, no mandato do prefeito Juscelino Kubitschek a represa, devido à beleza

cênica e paisagística de seu entorno, recebeu nos seus 18 km de orla, obras arquitetônicas de

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vanguarda modernista do arquiteto Oscar Niemayer, jardins de Burle Marx e monumentos de

artistas famosos como Cesquiatti, Portinari, Pedrosa, dentre outros, passando a ser

considerado um dos mais belos cartões postais de Belo Horizonte.

Nas décadas de 40 e 50, houve a implantação do Complexo de Lazer da Pampulha, incluindo-

se a Cidade Universitária, a ampliação do aeroporto da Pampulha, o início da construção do

Mineirão, da BR-040, as Centrais de Abastecimento de Minas Gerais - CEASA e o Centro

Industrial de Contagem - CINCO. No final da década de 50, foram construídos diversos

clubes de lazer e o zoológico.

Em 1954, a barragem se rompeu devido à erosão subterrânea. Em 1958, foi reinaugurada,

elevando-se a cota para 800,4 m. Em 1960, houve outra intervenção no reservatório, desta vez

elevando-se o nível do vertedouro.

Até meados da década de sessenta, a situação ecológica da represa era boa. Até então, o

DEMAE – Departamento Municipal de Água e Esgoto - exercia um controle para evitar a

poluição da lagoa impedindo que se fizessem redes coletoras tendo como destino o lago. As

redes de esgotos deviam lançar seus esgotos à jusante da barragem.

Entretanto, já no final da década de 70, com o processo de ocupação desordenada das bacias

do Ressaca e do Sarandi as águas da Lagoa tornaram-se impróprias para o abastecimento,

inviabilizando outros usos como atividades esportivas e de lazer, até então desfrutadas pela

população de Belo Horizonte (Coutinho et al., 2001). O DEMAE não dispunha de autoridade

legal para regulamentar a questão dos esgotos em Contagem, onde fica a maior parte das

bacias desses tributários. Este processo contribuiu para o assoreamento de parte da represa, e

para a deterioração da qualidade de suas águas, com o incremento quase que anual dos teores

médios e máximos de fósforo, nitrogênio, matéria orgânica associados com crescente déficit

de oxigênio dissolvido e perda de transparência da água (Pinto-Coelho, 1998). Atualmente as

águas da represa se encontram em estado eutrófico registrando freqüentes florações de

cianobactérias.

Em relação à erosão e ao assoreamento, as principais áreas fontes de sedimentos

correspondem às de solo exposto. Segundo estudo da CPRM, Companhia de Pesquisa de

Recursos Minerais, o aporte de sedimentos à Lagoa vem crescendo desde a sua reconstrução

em 1957, com médias anuais de 200.000 m3/ano, até 1999, passando a 387.733 m

3/ano. Esses

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volumes já causaram redução da capacidade original de armazenamento da represa de

18.100.000 m3 para 8.526.864 m

3 reduzindo em 47 % a capacidade original (CPRM, 2001).

Pode-se observar na Figura 4.2, a evolução da ocupação humana na área de entorno do

reservatório da Pampulha e a redução, através dos anos, do volume e espelho d‟água devido

ao assoreamento.

Figura 4.2: Evolução do espelho d’água da Lagoa da Pampulha em (a) 1964, (b) 1981, (c) 2000 e (d) 2009. Adaptado de: CPRM 2001.

Tendo em vista a gravidade dos fatos, os órgãos gestores da Lagoa da Pampulha realizaram

três grandes obras de dragagem entre os anos 1979 e 1996, retirando um volume de

aproximadamente 4,6 x 106 m

3 de sedimentos (CPRM, 2001; Salim et al, 2004). Entre os anos

de 2000 e 2006 novas obras de dragagem foram realizadas, totalizando uma retirada de

aproximadamente 1,8 x 106 m

3 de sedimentos e vegetação flutuante (Resck, 2007).

Este montante de sedimentos dragados da Lagoa da Pampulha foi remanejado no interior do

reservatório, e o resultado deste processo foi o ganho de volume à custa da perda definitiva de

área de espelho d‟água. O sedimento remanejado originou uma ilha, na região de

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desembocadura dos córregos Ressaca e Sarandi, sobre a qual foi inaugurado, em 2004, o

Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego (Bandeira, 2004).

Resck (2007) indicou um aumento de aproximadamente 2,46 x 106 m

3 (28,9 %) no volume da

represa entre 1999 e 2007, se consideradas cotas equivalentes, e um aumento real de 1,47 x

106 m

3 (17,25 %), uma vez que houve um rebaixamento de cota de 50 cm nesse período (Fig.

4.3).

Figura 4.3 - Evolução do volume da Lagoa da Pampulha. Nota: Volume referente à cota

801,3 para os anos de 1957, 1984 e 1989; 801,1 para os anos de 1994 e 1999 e 800,6 para o ano de 2007. Fonte: Resck 2007.

Com a retirada progressiva dos sedimentos, a capacidade do reservatório é aumentada,

melhorando a laminação e o amortecimento das cheias. A tendência futura na bacia

hidrográfica é de ocorrência de cheias maiores, considerando a mesma precipitação

pluviométrica, em função do aumento da impermeabilização de sua superfície, pela ocupação

urbana (Bandeira, 1999).

Atualmente, reside na bacia da Pampulha uma população de cerca de 350.000 pessoas, cujos

esgotos ainda não se encontram totalmente coletados e interceptados, pois cerca de 50% ainda

são lançados nos córregos, principalmente no Ressaca e no Sarandi. Com o programa “Caça–

esgotos”, implementado pela COPASA (Companhia de Saneamento de Minas Gerais),

avanços têm sido alcançados na redução dos impactos dessa fonte de poluição pontual, por

meio do aumento dos índices de coleta e interceptação, tanto dos esgotos domésticos, quanto

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dos efluentes industriais, estes também beneficiados pela certificação ambiental da Norma

ISO 14000, implementada pelas próprias indústrias. Porém, pouco se tem avançado no

controle das fontes de poluição difusas, tendo em vista as dificuldades de diagnóstico e a

complexidade dessa ação.

Ações outras, como modificações nos leitos dos córregos, dragagens, terraplenagens,

desmatamentos das encostas, das matas ciliares e das áreas de nascentes são também

responsáveis pela degradação da qualidade das águas da bacia da Pampulha.

Já na década de 90, diversos pesquisadores (Champs, 1992; von Sperling, 1997; Tôrres, 1999;

Pinto-Coelho, 2001) caracterizaram o processo de eutrofização do reservatório pelo aumento

da concentração de fósforo total e amônia.

Tendo em vista a crescente preocupação com os recursos hídricos o Estado de Minas Gerais

implantou em 1993 um programa integrado que deu início ao processo planejado de

recuperação da qualidade das águas direcionado à bacia do rio das Velhas, denominado

PROSAM - Programa de Saneamento Ambiental das Bacias dos Ribeirões Arrudas e Onça,

decorrente de convênio do Estado de Minas Gerais com os Municípios de Belo Horizonte e

Contagem, e financiado pelo Banco Mundial. O PROSAM realizou o diagnóstico da

qualidade das águas e elaborou o plano diretor destas bacias, além da implantação da Estação

de Tratamento de Esgotos do Onça, que recebe os esgotos gerados nestas.

Complementando as intervenções já realizadas na bacia pelo PROSAM, implantou-se em

1999 o Programa de Recuperação e Desenvolvimento Ambiental da Bacia da Pampulha –

PROPAM, coordenado pela Prefeitura de Belo Horizonte, Consórcio de Recuperação da

Bacia da Pampulha – CRBP, Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA e

Prefeitura de Contagem. Este programa consiste em um conjunto de ações estruturantes, de

planejamento e de controle com objetivo de despoluir a bacia hidrográfica e promover o

desenvolvimento ambiental e socioeconômico da região.

Uma das medidas implementadas pelo PROPAM, para reduzir de imediato o aporte de

poluentes à Represa da Pampulha, consistiu na implantação da Estação de Tratamento das

Águas Fluviais (ETAF) dos córregos Ressaca e Sarandi, utilizando o processo de Flotação a

Ar Dissolvido (FAD). A referida estação não atendeu às expectativas da população, visto que

seu desempenho é adequado apenas para a remoção da turbidez, matéria orgânica e de

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sólidos. Já para a remoção de nutrientes (fósforo e nitrogênio), de coliformes termotolerantes

e de óleos e graxas, a estação não obtêm resultados suficientes para atender ao padrão de

classe 2 (Coutinho, 2007).

Com relação à COPASA registra-se atualmente o monitoramento da qualidade das águas da

região em 9 pontos de amostragem em tributários diretos, próximos ao deságüe na Lagoa, e 3

no ambiente represado, com freqüência mensal e caracterização de parâmetros físicos,

químicos e bacteriológicos. Os resultados obtidos nesse monitoramento indicam que as águas

apresentam-se, em geral, com qualidade inferior aos limites legais da Classe 2 (IGAM 2006).

4.4 Principais Estudos

Um dos primeiros estudos registrados para a Pampulha foi o “Estudo das Condições

Ambientais das Águas da Lagoa da Pampulha - Levantamento Preliminar” realizado pelo

CETEC de Minas Gerais em 1978. Esse trabalho foi uma síntese da história da represa com

caracterização regional.

A partir da década de 80, com a degradação da qualidade das águas do reservatório e a

privação dos seus usos múltiplos, intensificaram-se os estudos na região. Em 1985 foi

realizado o I Simpósio da Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região Metropolitana

de Belo Horizonte pela ABGE. Também neste ano foram feitos dois trabalhos sobre o

problema do carreamento de sedimentos para o reservatório (CPRM, 1985) e especificamente

para a bacia do córrego Mergulhão (Augustim & Saadi, 1985). A ocorrência de moluscos foi

documentada por Carvalho (1986) e a caracterização limnológica e das comunidades

biológicas por Giani et al. (1988a e 1988b) e Pinto-Coelho et al. (1988).

Na década de 90 vários trabalhos abordaram a caracterização hidrológica, geológica e

sedimentológica da região (Silva et al., 1994 e 1995; Carvalho Filho et al, 1997; Fantinel &

Viana, 1998 e SUDECAP, 1999). A situação ecológica da represa ganhou um maior enfoque

com a realização do II Simpósio da Situação Ambiental e Qualidade de Vida na Região

Metropolitana de Belo Horizonte e do Seminário da Bacia Hidrográfica da Pampulha em 1992

com trabalhos de pesquisadores como JRB Champs, MB Batista, VV Cunha, FL Novais entre

outros. Neste mesmo ano Pinto-Coelho (1992) documentou a progressiva eutrofização da

represa.

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A evolução da malacofauna e transmissão da esquistossomose foram acompanhadas por

Freitas et al., 1987; 1992 e 1994. Alguns aspectos da interação entre as comunidades

biológicas e os nutrientes foram estudados no reservatório, focando a produção e respiração

das comunidades planctônicas (Araújo e Pinto-Coelho, 1998; Tôrres et al., 1998; Macedo e

Pinto-Coelho, 1997 e 2000; Von Ruckert e Giani, 2004; Boechat e Giani, 2008), a

participação relevante do zooplâncton e da macrófita Eichhornia crassipes (Pinto-Coelho &

Greco, 1999b), e das bactérias (Pinto-Coelho et al., 1997) na ciclagem de nutrientes, a dieta

do microcrustáceo Daphnia (Eskinazi-Sant‟Anna et al., 2002), seu desaparecimento do lago

(Pinto-Coelho et al., 2003), a estrutura da comunidade fitoplanctônica (Goodwin, 1997;

Figueiredo & Giani, 2001) e a influência do zooplâncton nesta (Von Ruckert e Giani, 2008).

Em 2001 foram realizados dois estudos abrangentes sobre a hidrogeologia da bacia (CPRM,

2001) e o monitoramento limnológico do reservatório e de seus tributários (Pinto-Coelho et

al., 2001). Tôrres (1999) em sua dissertação de mestrado também estudou a qualidade das

águas dos tributários e posteriormente estimou a retenção de nutrientes exercida pelo

reservatório (Tôrres et al., 2007).

A biota de entorno foi enfocada em trabalhos como o de Pimenta et al, (2007), que documenta

a importância da lagoa para a manutenção de populações de espécies de aves migratórias, e

por Araújo (2007) que observou que a população de capivaras no Parque Ecológico da

Pampulha está adaptada às condições locais e possui conformação semelhante à observada em

áreas naturais. Anteriormente, Grandi et al., (1992) e BRANDT (1992) realizaram estudos

ecológicos sobre a vegetação marginal, bem como sua composição de anfíbios e vertebrados

superiores.

A preocupação com a qualidade das águas do reservatório foi avaliada por Souza (1998) que

estudou a contaminação do lençol freático pelo chorume proveniente do Aterro Sanitário da

BR-040 e por Oliveira (1999) por postos de combustível. Sabino (2004) e Trifilio (2006)

diagnosticaram a viabilidade do uso dos sedimentos da represa quanto à presença de metais

pesados e Pinto-Coelho & Greco (1998) a presença destes na biota.

Foram realizadas duas batimetrias recentes no reservatório, apontando um ganho em volume

de uma para a outra (CDTN, 2000 e Resck et al., 2007).

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Atuando no sentido de recuperar a Lagoa para as finalidades para as quais foi construída (área

de lazer e amortecimento de cheias na bacia) foram realizados estudos como o PROPAM

(1999), antecedido por outros, visando o estabelecimento de diretrizes para o uso e ocupação

do solo (Pereira, 1998) e a viabilidade das ações de desassoreamento (1997).

4.5 Perspectivas

Em artigo publicado no Jornal da Associação Pró-Civitas em dezembro de 2009, a assessoria

do Governo mineiro assegura que a Lagoa da Pampulha será totalmente revitalizada para a

Copa de 2014. De acordo com as informações do órgão, a Copasa vai investir, até 2012, R$

60 milhões em obras “que deixarão o local livre de poluição e de micro-organismos nocivos à

saúde”. Essas obras visam eliminar todos os lançamentos indevidos de esgoto na lagoa.

Uma das intervenções já iniciada foi a implantação de 35 quilômetros de redes coletoras e

interceptoras de esgoto na margem esquerda da lagoa. Também serão construídas quatro

estações elevatórias, que possibilitarão que os dejetos lançados na lagoa pelos córregos

Sarandi e Ressaca (maiores poluidores da lagoa), sejam direcionados para a Estação de

Tratamento de Esgoto do Onça (ETE Onça).

De acordo com a Copasa, depois de finalizada a obra, diariamente, cerca de 2,5 milhões de

litros de esgotos deixarão de ser despejados no espelho d'água da lagoa.

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5 METODOLOGIA

5.1 Amostragem

As coletas foram realizadas no dia 15 de setembro de 2009, que coincidiu com o final do

período de seca. Foram coletadas amostras na sub-superfície de 23 pontos nos diferentes

compartimentos ao longo do reservatório assim denominadas: Entrada 1, a montante,

representado pelas entradas dos principais tributários, Ressaca e Sarandi, pelos córregos

Olhos d‟Água, Baraúna, da AABB e Água Funda; Entrada 2, representado pela entrada dos

tributários córregos Tijuco e Mergulhão; Transição e Lacustre (Figura 01).

Figura 5.1 - Profundidade e localização dos pontos amostrais no reservatório da Pampulha.

No ponto 1 foi feito um perfil vertical de temperatura, condutividade e oxigênio dissolvido a

fim de se verificar a condição de mistura do reservatório.

Os dados batimétricos cedidos referem-se a levantamentos realizados no ano de 2007, pela

equipe do Laboratório de Ecologia de Reservatórios Tropicais – ICB/UFMG apresentados em

Resck et al. (2007) e estão ilustrados na Figura 5.1. As vazões dos tributários na estação seca

foram obtidas em SUDECAP (1997) (Tab. 5.1). Não foram considerados efeitos de

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infiltração, pela falta de dados disponíveis. Os dados de evaporação e precipitação utilizados

referem-se aos estudos de CPRM (2001) e foram considerados permanentes ao longo do

tempo e uniformes no espaço. A intensidade média de precipitação foi estimada com a taxa de

0,1mm/h e a evaporação com a taxa de 0,19 mm/h.

Tabela 5.1: Área de drenagem e vazão média dos tributários da Lagoa da Pampulha. Fonte:

SUDECAP (1997).

Tributário Área de Drenagem

(ha) Vazão Média

(m³/s)

Mergulhão 340 0.041

Tijuco 180 0.029

Ressaca/Sarandi 6170 1.632

Água Funda/Baraúna 1870 0.574

AABB 120 0.004

Olhos D'Água 290 0.045

Total 8970 2.325

Os dados de ventos foram obtidos a partir de uma série de registros horários de direção e

intensidade de ventos no mês de setembro de 2009, medidos na estação meteorológica do

Aeroporto da Pampulha – SBBH, operada pela INFRAERO – Empresa Brasileira de Infra-

Estrutura Aeroportuária. Considerou-se o campo de vento uniforme no espaço, mas variando

ao longo do tempo, com valores definidos a cada hora.

5.2 Caracterização limnológica

A transparência da água foi medida a partir da extinção do disco de Secchi. As variáveis

oxigênio dissolvido (mg.L-1

), temperatura (ºC) e condutividade elétrica (μS.cm-1

) tanto para as

coletas de perfil quanto para as de sub-superfície foram obtidas in situ com a sonda YSI 556

(Yellowspring Inc.). A turbidez (UNT) foi analisada em laboratório com o turbidímetro

Digimed modelo DM-C2 e a clorofila a (μg.L-1

) com o fluorímetro portátil SCUFA (Turner

Designs, USA). Para a determinação da concentração de sólidos totais em suspensão (mg/L),

duas réplicas de cada amostra de água foram filtradas, utilizando-se filtros GF/C secos (105

ºC, 1 h) e pré-pesados. A seguir os filtros foram novamente secos (105 ºC, 1 h) e pesados.

Parte da água coletada foi filtrada em filtros Whatman GF/C para obter os nutrientes

dissolvidos e parte congelada para a determinação do nitrogênio e fósforo totais. O nitrogênio

total (NT) foi determinado pelo uso de um método de digestão a quente, uma nova adaptação

do método clássico de Kjeldahl (Mackereth et al., 1978). O método tem como princípio a

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conversão do nitrogênio de compostos orgânicos em amônio na presença de sulfato de

potássio e ácido sulfúrico. O fósforo total (PT) foi obtido pelo método de Murphy & Riley

(1962), após digestão a quente com perssulfato de potássio. A análise das concentrações de

nutrientes foi realizada pela equipe do Laboratório de Ecologia de Reservatórios Tropicais da

UFMG.

5.3 Comunidade fitoplanctônica

As amostras para análise qualitativa (riqueza de espécies) foram coletadas através de arrastos

verticais e horizontais sucessivos com rede de 20µm de abertura de malha e fixadas com

formol a 4%. Os táxons foram analisados e identificados sob microscópio óptico Leica

DMLS, em aumento de até 1000x, equipado com câmara para a captura computadorizada das

imagens das espécies (CoolSNAP-PROcf Color an Integrated Solution). O sistema de

classificação adotado para as classes taxonômicas foi o de Round (1983). Os organismos

foram identificados até o menor nível taxonômico possível, com auxílio de bibliografia

específica: Foster (1969 e 1974), Prescott et al. (1975; 1977; 1981 e 1982), Komárek & Fott

(1983), Sant‟Anna (1984), Komárek & Anagnostidis (1989, 1999 e 2005), Lange-Bertalot

(1991), Menezes et al. (1995), Bicudo & Menezes (2006).

As amostras para a análise quantitativa foram fixadas com lugol acético e armazenadas ao

abrigo da luz. As contagens foram realizadas sob microscópio invertido Olympus CK40, a um

aumento de 400x, pelo método de sedimentação de Utermöhl (1958). O tempo de

sedimentação foi de pelo menos 3h para cada centímetro de altura da câmara (Margalef,

1983). Foram enumerados um mínimo de 100 indivíduos da espécie mais abundante,

garantindo erro de ±20% para um intervalo de confiança de 95% (Lund et al., 1958). Os

cálculos de densidade foram feitos conforme Villafañe & Reid (1995).

O biovolume específico foi obtido associando as unidades contadas (células/colônias) a

formas geométricas (Hillebrand et al., 1999; Sun & Liu, 2003) e multiplicando-se a densidade

da população pelo volume médio obtido. Foram contados sempre que possível pelo menos 25

indivíduos de cada espécie.

5.4 Comunidade zooplanctônica

A coleta da comunidade zooplanctônica foi realizada pelo arrasto vertical na coluna d‟água de

rede de plâncton de 30 cm de diâmetro e 68µm de abertura de malha. As amostras foram

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fixadas com solução de formalina 4%. A análise quantitativa foi realizada em câmaras de

Sedgwick-Rafter com capacidade de 1 mL sob microscópio óptico Leica DMLB em aumento

de 100x. Foram quantificados pelo menos 400 indivíduos em cada amostra. As amostras

foram processadas pelo doutorando Juan Jaramillo no Laboratório de Ecologia de

Reservatórios Tropicais da UFMG.

5.5 Análise dos Dados

O Nitrogênio dissolvido inorgânico (NID) foi definido como a soma dos íons N-NO3-, N-NO2

-

e N-NH4+. A razão NT:PT foi estimada a partir das concentrações totais destes nutrientes. Os

indicadores utilizados para testar a limitação por nutrientes ao crescimento fitoplanctônico

foram os adotados por Kosten (2009).

O estado trófico das lagoas amostradas foi definido através do índice de estado trófico de

Carlson (1977), modificado por Toledo et al. (1990) e Lamparelli (2004). Os dois últimos

autores adaptaram o índice original de Carlson (TSI) para ambientes tropicais. Toledo

basicamente promoveu alterações nas equações de fósforo, clorofila a e transparência,

considerando-os equivalentes na média do TSI. Lamparelli alterou somente alterou as

equações de clorofila a e fósforo total, refinando o índice através de uma grande base de

dados fornecida pela CETESB (Companhia Sanitária e de Tecnologia Ambiental do Estado de

São Paulo) (Crossetti & Bicudo, 2008). Foram considerados para o cálculo os parâmetros PT,

Chl-a e profundidade de desaparecimento visual do disco de Secchi. Os limites para a

classificação do grau de trofia com base no referido índice estão na Tabela 5.2.

Tabela 5.2: Classificação do estado trófico de Carlson adaptado para reservatórios tropicais.

Estado Trófico Critério

Ultraoligotrófico IET < 47

Oligotrófico 47 < IET < 52

Mesotrófico 52 < IET < 59

Eutrófico 59 < IET < 63

Supereutrófico 63 < IET < 67

Hipereutrófico IET > 67

A riqueza de espécies em cada lagoa (diversidade alfa) foi avaliada com base no número de

taxa encontrados considerando os dados provenientes das análises qualitativas e quantitativas.

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A diversidade específica (H‟) foi calculada com base no biovolume algal e estimada através

do índice de Shannon-Wiener (Shannon & Weaver, 1963). A equitabilidade (J‟) foi calculada

através da fórmula sugerida por Pielou (1966).

As espécies que contribuíram com pelo menos 5% da biomassa total em pelo menos uma

amostra foram consideradas descritoras e agrupadas em grupos funcionais, definidos

conforme Reynolds et al. (2002) e Padisák et al. (2003, 2006 e 2009).

O zooplâncton foi agrupado por aproximação do hábito alimentar em: pequenos filtradores

(rotíferos e náuplios), médios filtradores (cladóceros e copépodas calanóidas) e omnivoros –

carnívoros (copépodas ciclopóida).

5.6 Confecção das Cartas Temáticas

A partir dos resultados obtidos, foram confeccionados mapas temáticos ilustrativos da

variação longitudinal de cada uma das variáveis analisadas. Esses mapas foram

confeccionados por meio do programa Surfer 8.0®, (Golden Software Inc.), utilizando a

krigagem (Kriging) como método de interpolação. A linha da margem do reservatório foi

digitalizada, por meio do programa Didger 3.0® (Golden Software Inc.), a partir de imagem

de alta resolução da Lagoa da Pampulha, obtida através do programa Google Earth® (Google

Inc.). Antes da digitalização da margem, a imagem da represa foi novamente

georreferenciada, com 9 pontos controle circundantes ao reservatório, tomados no dia

19/05/2007 com uso do aparelho DGPS GTR-A® (TechGeo Ltda.). Detalhes dessa

metodologia estão descritos em Resck (2007).

5.7 Modelagem Hidrodinâmica

O modelo numérico utilizado foi o SisBaHiA ® (Sistema de Base Hidrodinâmica Ambiental –

http://www.sisbahia.coppe.ufrj.br), desenvolvido na Área de Engenharia Costeira e Oceanográfica do

Programa de Engenharia Oceânica do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa em

Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPE/UFRJ). O SisBaHiA é um sistema

para modelagem de circulação hidrodinâmica e de transporte de escalares passivos em corpos

de águas naturais. Oferece recursos para modelamentos de corpos de água com superfície

livre sem estratificação vertical significativa (Rosman, 2000).

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O modelo hidrodinâmico do SisBaHiA é capaz de calcular campos de velocidades

tridimensionais, 3D, obtendo os perfis de velocidade ao longo da profundidade. Isso é uma

enorme vantagem, pois em corpos de água onde a ação dos ventos é relevante, ocorrem

padrões de circulação superficiais significativamente diferentes dos padrões médios na

vertical.

O modelo SisBaHiA utiliza uma malha de elementos finitos do domínio da modelagem. A

discretização espacial do modelo foi feita via elementos finitos quadrangulares biquadráticos.

A composição da malha de elementos finitos para a discretização do domínio foi realizada de

forma a evitar elementos com grandes distorções geométricas e diferenças significativas de

tamanho entre elementos vizinhos, contribuindo assim para uma boa qualidade dos resultados.

Esta malha foi criada com auxílio do programa Argus One da Argus Holdind Ltda. Os nós da

malha são interpolados com a sua coordenada z (profundidade) a partir de um grid gerado

com a batimetria do local a ser modelado, com auxílio do programa Surfer da Golden

Software. A malha utilizada apresenta 451 elementos quadrangulares e 550 nós. A Figura 5.2

apresenta a malha do domínio geral, com suas principais características geométricas.

Figura 5.2: Domínio de modelagem discretizado por malha de elementos finitos biquadráticos da Lagoa da Pampulha.

Para o presente estudo, foi utilizada a versão 8.1 do SisBaHiA®, com aplicação dos modelos

hidrodinâmico, euleriano e lagrangeano com alguns parâmetros já predefinidos. O domínio de

estudo é a Lagoa da Pampulha.

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O modelo interpola os nós com a rugosidade do fundo, que foi considerada 0.02 para todo o

domínio. O valor de 0.02, segundo referência técnica do SisBaHiA, corresponde a terreno ou

leito com predomínio de areia fina e argila. A profundidade mínima utilizada foi 0.5m.

As condições de contorno no SisBaHiA são basicamente de dois tipos: as fronteiras de terra e

as fronteiras abertas. Foi considerada como fronteira aberta uma região próxima da barragem,

com 10 m de comprimento e 0.2 m de profundidade abaixo da cota. As fronteiras de terra

caracterizam as margens do corpo d'água e as eventuais contribuições afluentes ao longo das

quais é necessário prescrever valores de vazão, descritas na tabela 5.1. As condições iniciais

foram velocidade nula nas direções x e y, e nenhuma elevação da superfície livre do

reservatório.

Não será descrito neste trabalho o modelo matemático usado para simular a circulação

hidrodinâmica tridimensional, bem como o modelo numérico e as condições de contorno

envolvidas. Maiores informações sobre o modelo podem ser obtidas em Rosman, 1987 e

Rosman, 2000.

5.7.1 Modelo de Circulação Hidrodinâmica

Em termos de modelagem computacional, a variação da quantidade de movimento é simulada

pelo modelo hidrodinâmico, que calcula as variáveis determinantes da circulação do corpo

d‟água, constituindo a base para os modelos de transporte. Neste trabalho foi utilizado o

modelo 3D com modo de cálculo via módulo analítico-numérico. Os modelos tridimensionais

se aplicam a corpos d‟água com significativa variação vertical ou quando o movimento da

substância de interesse está relacionado às correntes junto ao fundo, como é o caso de

sedimentos, ou junto à superfície, por exemplo, no cálculo de deriva de corpos flutuantes. Os

dados de elevação da superfície livre e de intensidade de correntes gerados pelo modelo

hidrodinâmico são os dados de entrada dos modelos de transporte no cálculo da advecção e

difusão dos escalares.

5.7.2 Modelo de Transporte Lagrangeano

Este modelo foi empregado para retratar a dispersão das cianobactérias com aerótopos na

superfície da coluna d‟água e para se estimar os tempos de troca e renovação de massas de

água entre os diferentes compartimentos do reservatório. O modelo de transporte lagrangeano

trabalha com a perspectiva de partículas, ou seja, a pluma de poluentes é representada através

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de uma série de pequenas partículas dispersas na massa d‟água, onde são calculadas as

trajetórias individuais de cada partícula. É aplicado a constituintes passivos, que não

influenciam no comportamento hidrodinâmico, são apenas transportados através da massa

d‟água e quando a escala de transporte do constituinte é menor que a escala do modelo

hidrodinâmico.

Neste caso a mancha ou pluma é representada por uma nuvem com inúmeras partículas, e o

problema principal passa a ser o de computar a posição no espaço contínuo de cada partícula.

Como o espaço de posição das partículas é contínuo, o conflito de escalas desaparece, porque

a discretização do modelo hidrodinâmico é usada apenas para interpolações do campo de

velocidades, o que é perfeitamente adequado. Somente nos instantes em que se deseja

computar a concentração, é gerada uma malha dedicada e suficientemente refinada no entorno

da nuvem de partículas, permitindo o cálculo com grande acurácia. Além disso, modelos

Lagrangeanos são absolutamente seguros, não apresentando problemas de conservação de

massa que por vezes ocorrem em modelos Eulerianos.

5.8 Análises Estatísticas

A normalidade dos dados foi verificada pelo teste de Kolmogorov–Smirnov. Como os dados

não apresentaram distribuição normal, as diferenças entre as regiões do reservatório foram

determinadas usando teste de Kruskal-Wallis (Statistica 9 StatSoft®). Se as diferenças foram

significativas (p<0.05), então “post hoc” Mann Whitney foi usado para identificar

similaridades (p<0.05). A similaridade entre os pontos foi medida através da análise de

agrupamento hierárquico (cluster) considerando a distância de Jaccard (Jaccard, 1908) e

utilizando-se o método de ligação Ward (Ward, 1963). Para analisar possíveis relações do

fitoplâncton com algumas variáveis ambientais (controle ascendente) e zooplâncton (controle

descendente) foi usada a Análise de Correspondência Canônica (CCA). Os atributos

fitoplanctônicos testados foram as classes taxonômicas, as principais espécies (contribuições

> 5% para a biomassa total) e as assembléias fitoplanctônicas. Foram eliminadas as variáveis

colineares e/ou de baixa correlação. A CCA foi realizada com o programa CANOCO 4.0

versão 4.0 (Ter Braak e Smilauer, 1998). A significância dos quatro eixos e das variáveis foi

obtida através do teste de permutação de Monte Carlo (considerando 999 repetições

aleatórias, p < 0.05). Todos os dados foram transformados previamente (logaritmo na base 10

do valor adicionado à uma unidade; Log(x+1)).

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6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

6.1 Caracterização Limnológica

As variáveis físicas, químicas e biológicas foram coletadas no período entre 11 e 17 h do dia

15/09/2009. Segundo Pinto-Coelho (1998) em estudo anterior na represa da Pampulha, no

final da estação seca há uma crescente deterioração da água de lagos tropicais, com a

conseqüente formação de gradientes espaço-temporais mais estáveis e que refletem de modo

mais apropriado as ações antrópicas externas. Os valores das variáveis limnológicas coletadas

nas 23 estações amostrais do reservatório da Pampulha estão sumarizadas na Tabela 6.1.

Dentre os valores referentes aos parâmetros físicos e químicos da água, a temperatura e a

transparência foram as que variaram mais significativamente em relação à profundidade. Com

o aumento da profundidade houve um aumento da transparência, que variou de 10 cm no

ponto 13 a 1 m de profundidade de desaparecimento do disco de Secchi no ponto 03 (Fig.

6.1).

Figura 6.1: Profundidade de desaparecimento do disco de Secchi nos pontos amostrados.

A temperatura variou inversamente com a profundidade, atingindo até 28.3ºC na

subsuperfície da região mais rasa do reservatório e 22.7ºC na região mais profunda (Fig. 6.2).

Resck em maio de 2007 encontrou valores bastante uniformes de temperatura - em torno de

23ºC - em toda extensão da represa, sugerindo diferenças temporais na heterogeneidade da

Lagoa.

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Tabela 6.1: Variáveis limnológicas medidas na sub-superfície das diferentes estações amostrais do reservatório, no dia 15/09/2009.

Estação

Amostral Profundidade Secchi Temperatura

Condutividade

Elétrica

Oxigênio

Dissolvido

Clorofila-

a Turbidez

Sólidos em

Suspensão NO2 NO3 NH4 DIN

Nitrogênio

Total

Fósforo

Total NT/PT IET

m m ºC µS/cm mg/L µg/L NTU mg/L µg/L µg/L µg/L µg/L µg/L µg/L

1 14.0 0.8 22.7 399.6 6.5 51.2 37.6 53.9 686.0 9957.1 3561.0 14204.1 4699.0 159.0 29.6 62.043

2 9.0 0.8 23.3 385.0 14.5 49.5 31.8 21.9 686.0 10067.4 3733.0 14486.4 1055.0 116.0 9.1 61.351

3 8.0 1.0 23.9 385.3 7.1 61.2 56.2 40.7 725.0 6485.7 3585.0 10795.7 2603.0 186.0 14.0 61.268

4 9.0 0.5 24.1 385.2 5.3 38.7 24.8 19.7 686.0 8916.8 2016.0 11618.8 5054.0 126.0 40.1 63.065

5 11.0 0.5 24.6 392.5 9.1 43.7 84.7 36.9 776.0 9539.4 1718.0 12033.4 3630.0 228.0 15.9 64.462

6 10.0 0.5 23.6 386.1 5.3 47.1 129.0 50.7 647.0 6213.8 3402.0 10262.8 2926.0 267.0 11.0 64.903

7 9.5 0.5 25.0 391.8 8.5 53.2 104.0 48.3 647.0 6666.9 1863.0 9176.9 6117.0 248.0 24.7 64.953

8 6.0 0.5 25.7 396.6 8.7 55.7 130.0 58.2 647.0 6308.3 1911.0 8866.3 10521.0 274.0 38.4 65.23

9 1.5 0.3 25.9 403.0 6.3 56.6 227.0 104.6 595.0 2207.0 2040.0 4842.0 2328.0 386.0 6.0 69.281

10 1.0 0.3 26.6 424.0 5.5 41.9 175.0 71.4 482.0 1364.7 4454.0 6300.7 4142.0 406.0 10.2 68.892

11 1.5 0.3 26.8 462.6 6.2 43.4 179.0 68.4 97.0 175.2 2093.0 2365.2 8099.0 464.0 17.5 69.219

12 1.5 0.2 27.0 470.1 6.1 41.3 180.0 74.5 49.0 218.6 5555.0 5822.6 7577.0 544.0 13.9 70.532

13 2.0 0.1 28.3 463.0 12.3 68.4 421.0 188.4 65.0 85.9 2093.0 2243.9 10647.0 1230.0 8.7 76.338

14 2.0 0.3 27.7 453.2 10.5 54.7 177.0 80.5 159.0 389.8 5111.0 5659.8 6929.0 451.0 15.4 69.54

15 2.0 0.3 28.2 440.0 8.6 67.1 241.0 109.8 307.0 888.1 2059.0 3254.1 7769.0 341.0 22.8 69.309

16 1.5 0.3 26.4 443.0 9.2 47.9 206.0 79.9 211.0 624.5 2016.0 2851.5 7476.0 300.0 24.9 68.499

17 2.0 0.3 26.9 400.2 10.4 68.0 295.0 116.9 581.0 1756.1 1930.0 4267.1 8430.0 313.0 26.9 69.158

18 2.5 0.5 26.2 400.4 9.3 46.9 97.5 40.5 628.0 6158.6 2093.0 8879.6 7007.0 370.0 18.9 65.555

19 3.0 0.3 26.9 401.8 8.3 48.0 119.0 47.9 610.0 2224.7 2059.0 4893.7 12025.0 352.0 34.2 68.826

20 3.0 0.3 28.5 402.0 8.8 70.0 302.0 142.6 610.0 2144.4 1863.0 4617.4 17989.0 337.0 53.4 69.355

21 3.0 0.3 27.6 403.0 8.5 62.0 66.0 34.9 628.0 2354.1 1707.0 4689.1 6721.0 337.0 19.9 68.279

22 2.0 0.5 27.2 396.2 9.6 59.2 50.5 28.7 610.0 6253.2 1953.0 8816.2 10115.0 278.0 36.4 65.358

23 3.0 0.3 26.7 393.9 8.5 55.4 51.3 44.2 610.0 5760.6 1844.0 8214.6 6276.0 368.0 17.1 68.3

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As águas foram mais transparentes na zona lacustre, onde também ocorreram as maiores

concentrações de nitrato. A relação entre este nutriente e a temperatura se mostrou

significativa, indicando o processo de aumento da denitrificação promovido pelo aumento da

temperatura, levando a diminuição da concentração de nitrato disponível e a possível

limitação por nitrogênio observada nos pontos 9 e 13.

Figura 6.2: Mapas temáticos representativos do Secchi e temperatura na Lagoa da Pampulha.

O oxigênio dissolvido variou entre 14.50 e 5.25 mg/L, não apresentando um padrão de

distribuição definido no reservatório. Essa característica foi igualmente observada para a

clorofila – a, que variou de 70.00 a 38.70 µg/L. Entretanto esses dois parâmetros se

distribuíram de forma semelhante ao longo do reservatório, refletindo a estreita relação entre

eles (Fig:6.3).

Figura 6.3: Mapas temáticos representativos da clorofila - a e oxigênio dissolvido na Lagoa da Pampulha.

O oxigênio dissolvido entra na água por meio de trocas gasosas com a atmosfera e da

fotossíntese dos organismos aquáticos. Em condições normais, as águas constituem ambientes

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bastante pobres em oxigênio devido à baixa solubilidade. A presença de certos poluentes,

principalmente de origem orgânica, provoca a diminuição da concentração de OD, podendo

levar ao seu desaparecimento e, conseqüentemente, à extinção dos organismos aquáticos

aeróbios (Mota 2003). Sendo assim, o oxigênio passa a ser um dos principais parâmetros de

caracterização dos efeitos da poluição das águas por despejos orgânicos e um dos principais

indicadores da qualidade da água.

É interessante notar a existência de certa sincronia espacial entre os sólidos orgânicos (dados

não mostrados) e a clorofila - a. Tal fato indica ser a turbidez no reservatório principalmente

de origem orgânica, especialmente de material pigmentado de origem fitoplanctônica. Esse

padrão tem sido observado em outros anos como típico para os meses de seca (Araújo, 1994;

Torres, 1999).

As variáveis físicas turbidez e sólidos totais em suspensão seguiram o padrão observado para

a condutividade elétrica e também refletiram a importância dos tributários no aporte de

impurezas para o reservatório (Fig. 6.2). Esse resultado significa maior dificuldade de

penetração da radiação nessas regiões, reflexo da alta concentração de partículas suspensas

presente na coluna d‟água.

Os maiores valores de condutividade foram verificados no ponto 12, região de entrada dos

principais tributários sem tratamento, sendo que seus valores variaram de 470.10 a 385.00

µS/cm ao longo do reservatório (Fig. 6.2). O padrão sazonal exibido por essa variável no

reservatório da Pampulha é já bastante conhecido. O máximo anual é verificado nos meses de

seca. Além disso, a cada ano que se passa, esse máximo anual vem sofrendo incrementos

sucessivos (PC 2001).

A condutividade elétrica é considerada um bom indicador de qualidade das águas, uma vez

que altos valores podem indicar poluição antropogênica (Esteves 1988; Brigante et al. 2003).

Valores de condutividade superiores a 200 µS/cm refletem o profundo grau de degradação

ambiental existente em toda a bacia, principalmente considerando o fato de que o teor normal

de condutividade para águas naturais não contaminadas na RMBH fica aquém dos 100 µS/cm

(Freire & Pinto-Coelho, 1987).

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Figura 6.4: Mapas temáticos representativos da turbidez, dos sólidos em suspensão e condutividade elétrica na Lagoa da Pampulha.

Dentre as formas nitrogenadas dissolvidas, o nitrato foi a mais abundante, aumentando suas

concentrações em direção a barragem e chegando a 10067.40 µg/L no ponto 02 (Fig.: 6.5). As

concentrações de nitrito foram relativamente baixas, seguindo padrão semelhante ao nitrato. O

nitrogênio amoniacal distribuiu-se de forma oposta, diminuindo ao longo do reservatório. As

maiores concentrações foram observadas nos pontos 12 e 14, com 5555.0 e 5111.0 µg/L

respectivamente, onde se situam as entradas dos córregos Olhos d‟água e Ressaca/Sarandi. O

NID refletiu o padrão do nitrato embora de forma mais gradual.

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Figura 6.5: Mapas temáticos representativos de nitrito (NH2-), nitrato (NO3

-), amônia (NH4+) e

NID (NH2-+ NO3

-+ NH4+) na Lagoa da Pampulha.

O nitrogênio total variou de 1055.0 µg/L no ponto 02 a 17898.0 µg/L no ponto 20 e o fósforo

total de 116.0 µg/L no ponto 02 a 1230.0 µg/L no ponto 13 (Fig.: 6.6). Pode-se observar que

os pontos próximos ao sistema Ressaca-Sarandi apresentaram concentrações mais elevadas de

fósforo total se comparadas com os pontos próximos à barragem. Essa tendência foi

observada para amônia e também para o nitrogênio total. É muito interessante notar, contudo,

que os tributários Mergulhão e Tijuco são outra fonte importante de aporte de NT para o

sistema.

O gradual abaixamento das concentrações de NT e PT indica que os processos

microbiológicos que ocorrem ao longo do reservatório são responsáveis por uma considerável

depuração das águas que chegam à Lagoa.

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Figura 6.6: Mapas temáticos representativos do fósforo total (PT) e nitrogênio total (NT) na Lagoa da Pampulha.

As razões NT:PT não seguiram um padrão definido no reservatório (Fig.: 6.7). Segundo

critério adotado por Kosten et al. (2009) a maioria dos pontos se encontraram limitados por

nitrogênio e somente os pontos 4, 8 e 20 foram considerados potencialmente limitados por

fósforo. Todos os pontos apresentaram mais de 100 µg/L de DIN não sendo limitado por

nitrogênio neste critério. As razões clorofila-a:NT e clorofila-a:PT foram baixas, não

apresentando limitação por nenhum dos dois parâmetros.

Figura 6.7: Mapas temáticos representativos do índice de estado trófico (IET) e da razão NT/PT na Lagoa da Pampulha.

O IET foi alto em todo o reservatório indicando condições eutróficas na região próxima a

barragem, supereutróficas na região de transição e hipereutróficas na entrada dos tributários

com exceção da entrada do córrego Mergulhão (Fig. 6.8). Essa condição já havia sido

constatada por Giani et al. (1988) a partir de dados de nutrientes e condutividade elétrica.

Entretanto, segundo Nogueira & Ramirez (1998), os valores numéricos gerados através do

Índice de Estado Trófico (IET), não definem a condição de eutrofia e somente podem ser

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considerados como indicadores dela, já que o melhor indicador do estado trófico pode variar

entre lagos e ainda estacionalmente.

Figura 6.8: Índice de Estado Trófico dos pontos amostrados na Lagoa da Pampulha.

O perfil vertical realizado próximo à barragem do reservatório da Pampulha indicou a

presença de uma estrutura térmica caracterizada pelo decaimento da temperatura, logo na

subsuperfície da coluna d‟água, configurando um processo de estratificação térmica

pronunciada dada a amplitude dos valores (Fig. 6.7). O oxigênio dissolvido apresentou perfil

clinógrado, direcionado pela profundidade, com valores superficiais entre 5 e 7 mg/L e

valores inferiores a 2 mg/L a partir dos 3 metros de profundidade. Estruturas semelhantes

foram observadas para condutividade elétrica.

Figura 6.9: Perfil vertical de temperatura e oxigênio dissolvido na coluna d’água realizado na estação 01 da Lagoa da Pampulha.

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Segundo Payne (1986), diferenças de apenas 0.5ºC entre a superfície e a parte inferior da

coluna d‟água, permitem que um corpo d‟água em regiões tropicais apresente estratificação

térmica relativamente estável, visto que as altas temperaturas observadas nestas regiões fazem

com que pequenas diferenças na temperatura da água correspondam a grandes diferenças na

sua densidade.

Embora a estação 1 tenha apresentado-se estratificada termicamente no momento da coleta,

pode-se supor que tal estratificação não seja duradoura. Tal constatação baseia-se no fato de

que a medição foi realizada às 11h da manhã, pico da insolação e da presença considerável de

diatomáceas na região.

6.2 Comunidade Zooplanctônica

Um total de 16 taxa zooplanctônicos foram identificados no reservatório da Pampulha. Deste

total 09 foram de Rotífera, 02 de Copepoda, 04 de Cladócera e 01 de Ostracoda (Tab. 6.2).

No grupo mais diversificado, Rotífera, o gênero Brachionus foi o que mais se destacou,

contribuindo com 03 taxa.

Os Rotífera em sua maioria são oportunistas e possuem grande adaptabilidade a vários locais

e condições da água. Por apresentarem taxas reprodutivas muito rápidas, são fundamentais na

conversão da produção primária em biomassa para consumidores maiores da cadeia alimentar.

Além disto apresentam adaptações ao ambiente lótico como estruturas de fixação ao substrato

e ciclo de vida curto (Lansac-Tôha et al., 1997).

Tabela 6.2: Taxa zooplanctônicos encontrados na Lagoa da Pampulha em 15/09/2009.

Taxa Densidade (ind/L) Taxa Densidade (ind/L)

COPEPODA

ROTIFERA

Metacyclops mendocinus 4523.05 Anuaeropsis colata 2.9

Thermocyclops decipiens 4174.15 Brachionus angularis 218.19

Nauplii 1807.31 Brachionus calyciflorus 1323.23

Copepodito 1057.48 Brachionus falcatus 19.3

Epiphanes sp 7.1

CLADOCERA

Filinia opoliensis 45.75

Bosmina longirostris 176.08 Keratella cochlearis 10.5

Daphnia gessneri 14.3 Keratella tropica 32.4

Diaphanosoma spinolosum 862.46 Trichocerca sp 191.99

Moina minuta 26.2

OSTRACODA S. D. 1343.43

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A riqueza em taxa não apresentou grande variação dentre os pontos amostrados. O ponto 01

foi o mais rico, apresentando 17 taxa e o ponto 13 foi o que apresentou a menor riqueza, com

10 taxa apenas (Fig. 6.10).

Figura 6.10: Riqueza em taxa dos grupos zooplanctônicos nos pontos amostrais da Lagoa da Pampulha.

A densidade zooplanctônica total apresentou uma grande variação entre as estações

amostradas, sendo mais elevada no ponto 09 que apresentou um pico de 2054.2 ind/L. O

ponto 01 apresentou a menor densidade, com 200.9 ind/mL (Fig.6.11).

Figura 6.11: Densidade dos grupos zooplanctônicos nos pontos amostrais da Lagoa da Pampulha.

Copepoda Cyclopoida foi o grupo que mais contribuiu em termos de abundância em todos os

pontos amostrados exceto no ponto 12, onde os Rotíferos foram os mais abundantes (Fig.

6.12).

0

5

10

15

20

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Ind

ivíd

uo

s

Pontos

Riqueza

0,0

500,0

1000,0

1500,0

2000,0

2500,0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23De

nsi

dad

e (

org

/mL)

Pontos

Densidade

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Estudos têm demonstrado que as populações zooplanctônicas de ecossistemas tropicais

mudam em resposta ao aumento dos níveis de nutrientes na água (Pinto-Coelho, 1998).

Copepoda Cyclopoida, Cladocera e Rotífera possuem maior abundância em sistemas

eutrofizados, enquanto que Copepoda Calanoida tendem a desaparecer (Arcifa, 1984). O nível

trófico pode provocar alterações na comunidade fitoplanctônica e, conseqüentemente, nos

grupos zooplanctônicos (Benndorf et al., 2002). O aumento dos teores de nutrientes produz a

substituição de formas palatáveis por impalatáveis, alterando a estrutura e dinâmica dos

consumidores (Wolfingbarger, 1999). A temperatura e luminosidade também são importantes

causas de ajustes bióticos, principalmente em relação ao metabolismo dos organismos

zooplanctônicos e suas relações com a comunidade fitoplanctônica (Threlkeld, 1987).

Figura 6.12: Abundância dos grupos zooplanctônicos nas diferentes regiões da Lagoa da Pampulha.

6.3 Comunidade Fitoplanctônica

Foi registrado um total de 128 taxa nas amostras qualitativas e quantitativas coletadas nos 23

pontos amostrados. Desse total, 22 foram comuns a todos os pontos estudados. Os taxa

identificados foram distribuídos nas seguintes classes: Bacillariophyceae (25), Chlorophyceae

(42), Cyanophyceae (20), Cryptophyceae (05), Dinophyceae (01), Euglenophyceae (18),

Xanthophyceae (02) e Zygnematophyceae (15). Vários trabalhos apontam a classe das

clorofíceas como dominantes em ambientes tropicais (Tab. 6.3).

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Tabela 6.3: Taxa fitoplanctônicos encontrados na Lagoa da Pampulha em 15/09/2009.

Classes de Freqüência (% das amostras): (-) = 1 a 10% - Esporádico; (+) = 10 a 40 % –

Pouco Freqüente; (++) = 40 a 70% - Freqüente; (+++) = 70 a 100% - Muito freqüente. Os

taxa em negrito representam espécies que apareceram em 100% dos pontos.

TAXA FR TAXA FR

BACILLARIOPHYCEAE CRYPTOPHYCEAE

Achnanthidium exiguum (Grunow) Czarnecki + Cryptomonas brasiliensis Castro, C. Bicudo & D. Bicudo +++

Achnanthidium minutissimum (Kütz.) Czarn. + Cryptomonas curvata Ehrengerg emend. Penard ++

Amphora sp. + Cryptomonas erosa Ehrenberg +++

Aulacoseira granulata (Ehrenberg) Simonsen ++ Cryptomonas cf. tetrapyrenoidosa Skuja + Aulacoseira granulata var. angustissima (Müller) Sim. +++ Rhodomonas lacustris Pascher & Ruttner +++

Craticula ambigua (Ehrenberg) Mann + CYANOPHYCEAE

Cyclotella meneghiniana Kütz. +++ Aphanizomenum sp. +

Encyonema neogracile Krammer. - Aphanocapsa delicatissima W. West & G. S. West ++

Eunotia flexuosa (Brébisson) Kützing - Aphanocapsa incerta (Lemmermann) Cronberb & Komárek +++

Fragilaria sp. +++ Aphanotece sp. +

Gomphonema gracile Ehrenberg + Chrooccocales N.I. ++

Gomphonema parvulum (Kützing) Grunow - Chroococcus sp. +

Gomphonema sp. + Chroococcus sp.1 -

Luticola mutica Kützing - Cyanodictyon sp. +++

Navicula cryptocephala Kützing + Geitlerinema sp. +

Navicula cryptotenella Lange-Bertalot - Merismopedia tenuissima Lemmermann +++

Navicula schroeteri Meister. - Microcystis aeruginosa (Kützing) Kützing +++

Navicula sp. + Microcystis protocystis Crow +++

Pinnularia sp. - Oscillatoria sp. -

Pinnularia sp.1 - Phormidium sp. ++

Sellaphora pupula (Kütz.) Mereschk. - Planktolyngbya liminetica (Lemm.) Kom-Leg. & Cronberg -

Sellaphora rectangularis (Greg.) Lange-Bert. & Metzeltin - Planktolyngbya sp. ++

Synedra sp. ++ Planktothrix isothrix (Skuja) Komárek & Komárková +++

Ulnaria acus (Kützing) M. Aboal - Raphidiopsis sp. +++

Ulnaria ulna (Nitzsch) Compère - Romeria elegans Woloszynska ex Geitler +++

CHLOROPHYCEAE Sphaerocavum brasiliense Azevedo & Sant’Anna +++

Actinastrum hantzschii Lagerheim +++ EUGLENOPHYCEAE

Ankistrodesmus bibraianus (Reinsch) KorLsilov +++ Euglena acus Ehremberg -

Ankistrodesmus gracile (Reinsch) Korsikov + Euglena sp. ++

Botryococcus braunii Kützing + Euglena sp.1 -

Chlamydomonas sp. ++ Euglenales N.I. +++

Chlorella vulgaris Beijerink ++ Lepocinclis salina Fritsch +++ Closteriopsis acicularis (G. M. Smith) Belcher et Swale + Lepocinclis sp. ++

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Coelastrum microporum Nägeli +++ Phacus longicauda (Ehrenberg) Dujardin -

Coelastrum pseudomicroporum Korsikov +++ Phacus onyx Pochmann +

Coelastrum reticulatum (Dang.) Senn +++ Phacus sp. +

Crucigenia tetrapedia (Kirchner) W.& G.S. West +++ Phacus tortus (Lemmermann) Skvortsov -

Crucigeniella crucifera (Wolle) Kom. +++ Trachelomonas armata (Ehrenberg) Stein +++

Crucigeniella rectangulares (Wolle) Kom. +++ Trachelomonas bacilifera Playfair -

Desmodesmus bicaudatus Hegewald +++ Trachelomonas curta Cunha ++

Desmodesmus denticulatus (Lagerheim) An et al. + Trachelomonas robusta (Swirenko) Deflandre ++

Desmodesmus opoliensis (P. Richter) Hegewald +++ Trachelomonas sp. +++

Desmodesmus quadricauda (Turpin) Hegewald +++ Trachelomonas sp.1 +

Desmodesmus spinosus (Chodat) Hegewald ++ Trachelomonas volvocina Ehrenberg +++

Dictyosphaerium ehrenberghianum Nägeli - Trachelomonas volvocinopsis Swirenko +++

Dictyosphaerium pulchellum Wood +++ ZYGNEMAPHYCEAE

Elakatotrix gelatinosa Wille + Closterium gracile Brebisson ex Ralfs +++

Eutetramorus planctonicus (Korsikov) Bourrely +++ Closterium sp. +

Keratococcus sp. + Cosmarium bioculatum Brebisson ex Ralfs +

Kirchineriella roselata Hindák - Cosmarium reniforme (Ralfs) W. Archer -

Kirchneriella lunaris (Kirchner) K. Möbius - Cosmarium sp. -

Kirchneriella obesa (W.West) Schmidle + Netrium digitus (Ehrenberg ex Ralfs) Itzigsohn & Rothe -

Micractinium pusillum Fresenius +++ Spirogyra sp. -

Monoraphidium contortum (Thur.) Kom.-Legn +++ Staurastrum chaetoceras (Schr.) G.M.Smith + Monoraphidium griffithii (Berkeley) Komárková-Legnerová +++ Staurastrum hexacerum (Ehrenberg) Wittrock -

Monoraphidium komarkovae Nyg. + Staurastrum rotula Nordstedt -

Oocystis lacustris Chodat +++ Staurastrum smithii (G.M. Smith) Teiling -

Pandorina sp. - Staurastrum sp. -

Pediastrum duplex Meyen +++ Staurastrum volans West & West var. fuquenenseCoesel ++

Pediastrum simplex Meyen +++ Staurodesmus cuspidatus (Brébisson) Teiling -

Scenedesmus acuminatus (Lagerheim) Chodat +++ Xanthidium sp. -

Scenedesmus bernardii G.M. Smith +++ DINOPHYCEAE

Scenedesmus bijugus (Turpin) Kutzing +++ Peridinium umbonatum Stein +

Tetraedron minimum (A. Braun) +++

Tetraedron sp. - XANTHOPHYCEAE

Tetrallantos lagerheimii Teiling + Tetraplektron sp. +

Tetrastrum heteracanthum (Nordstedt) Chodat ++ Pseudostaurastrum sp. -

TreubarIa setigera (Archer) GM Smith ++

A riqueza de espécies pode ser considerada a medida mais simples para expressar e

quantificar a complexidade em uma dada região (Nabout et al., 2007). A riqueza específica

variou de 46 a 71 espécies. Ambos os extremos aconteceram na região mais profunda do

reservatório respectivamente nos pontos 05 e 18 (Fig. 6.13). Não foi encontrado nenhum

padrão longitudinal para esse parâmetro.

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Figura 6.13: Riqueza em taxa dos grupos fitoplanctônicos nos pontos amostrais da Lagoa da Pampulha.

A maior riqueza de Chlorococcales corrobora a idéia de cosmopolitismo do grupo (De-

lamonica-Freire & Sant´Ana, 1993 ), a distribuição de algumas espécies em ambientes com

pH alcalino, baixa profundidade e baixa transparência (Ramírez & Diaz, 1994) e sua

capacidade adaptativa a ambientes oligo a eutróficos (Bicudo & Menezes, 2006), em razão de

sua alta relação área/volume favorecendo sua capacidade em absorver nutrientes.

Em geral a densidade do fitoplâncton aumenta da barragem em direção a região riverina do

reservatório (Fig. 6.14). O menor valor encontrado foi de 21,53 µm³/mL no ponto 18 e a

maior densidade foi de 88.93 µm³/mL no ponto 17.

Figura 6.14: Densidade dos grupos fitoplanctônicos nos pontos amostrais da Lagoa da Pampulha.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Ind

ivíd

uo

s

Pontos

Riqueza

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Den

sid

ade

(µm

³/m

L)

Pontos

Densidade

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A classe Cyanophyceae foi dominante em todos os pontos de coleta, seguida de

Chlorophyceae e Bacillariophyceae na região lacustre e mais profunda do reservatório. Estas

foram substituídas em importância por Cryptophyceae e Euglenophyceae na região riverina,

mais turbida e rasa do ecossistema (Fig. 6.15).

Figura 6.15: Abundância dos grupos fitoplanctônicos nas diferentes regiões da Lagoa da Pampulha.

No reservatório da Pampulha, durante os meses de inverno frio e seco, são observados picos

de densidade máxima de clorofíceas e flagelados (Giani & Figueredo 1999). Entre as espécies

fitoplanctônicas, as cianobactérias são conhecidas como melhores competidoras por nitrogênio

(Tilman et al. 1986, Michard et al. 1996, Giani & Delgado 1997).

É mostrado de forma comparativa nos mapas temáticos (Fig. 6.16) a densidade das diversas

classes constituintes da comunidade fitoplanctônica nos pontos estudados. Na região riverina

verifica-se a diminuição da representatividade da classe Bacillariophyceae e o aumento da

importância das classes Cryptophyceae e Euglenophyceae.

A classe Bacillariophyceae apresentou maior número de espécies na região lacustre. Estas

apresentam altas taxas de colonização e crescimento e são boas competidoras por nutrientes,

podendo ser favorecidas em sistemas com baixas a moderadas concentrações de fósforo

(Rodrigues & Bicudo 2001).

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A relativa abundância da espécie Cryptomonas sp. e de outros flagelados heterotróficos pode

estar relacionada a maior turbidez e temperatura da água. A classe Cryptophyceae, de acordo

com Nabout et al. 2006, é oportunista, encontrada durante todo o ano em vários ambientes

aquáticos, e adaptam-se às condições de turbulência e baixa luminosidade. São mais

abundantes em águas enriquecidas (meso-eu) e possuem baixos requerimentos de luz. Sendo o

alimento favorito do zooplâncton.

Figura 6.16: Mapas temáticos representativos do biovolume fitoplanctônico na Lagoa da Pampulha.

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A diversidade de espécies de Shannon-Wiener também pode ser utilizada como uma

importante ferramenta na avaliação da qualidade das águas. De acordo com esse índice e

seguindo o critério de Branco (1986), os pontos amostrados no final da estação seca, que

apresenta uma maior estabilidade da coluna d‟água, registraram valores de diversidade entre

1,60 e 2,15 em todo reservatório, indicando águas moderadamente poluídas.

Quanto mais as condições de vida de um biótopo se afastar das condições ótimas para a

maioria dos organismos, tanto mais pobres e uniformes em espécies serão as comunidades

(THIENEMANN, 1918 apud ESTEVES, 1998). Ambientes que apresentam índice de

equitabilidade de Pielou (J‟) próximos a um, demonstram que não existe uma forte

dominância de um ou poucos táxons na comunidade estudada. Na Pampulha a avaliação deste

índice apontou valores muito próximos e medianos de equitabilidade, entre 0,38 e 0,53, em

todos os pontos estudados. Isso indica que esses pontos apresentam aproximadamente 40% de

suas diversidades máximas possíveis (Fig. 6.17).

Figura 6.17: Relação entre os índices de diversidade de Shannon-Wiener (H’) e de equitabilidade de Pielou (J’) fitoplanctônicos na Lagoa da Pampulha.

As espécies que contribuíram com pelo menos 5% da biomassa fitoplanctônica, foram

representadas por 07 assembléias (Tab. 6.4). A assembléia M, formada principalmente por

Microcystis e Sphaerocavum, foi a que apresentou maior contribuição para a biomassa.

Também foi importante no estudo, principalmente na região da barragem, a assembléia Sn

formada por Planktotrix isotrix. Já a assembléia Y formada por Cryptomonas foi mais

representativa na região riverina.

0,000,250,500,751,001,251,501,752,002,252,50

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Índices

Diversidade H' (bits/mm³) Equitabilidade J'

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Tabela 6.4: Principais assembléias fitoplanctônicas.

Espécie Descritora (+5%) Classe

Grupo Funcional Descrição

Cryptomonas curvata Cryptophyceae Y Sistemas lênticos com baixa pressão de predação.

Cryptomonas erosa Cryptophyceae Y Sistemas lênticos com baixa pressão de predação.

Cyclotella meneghiniana Bacillariophyceae C Lagos pequenos a médios, eutróficos com espécies sensíveis a estratificação.

Lepocinclis cf. salina Euglenophyceae W1 Lagoas ricas em matéria orgânica proveniente de agricultura ou esgotos.

Microcystis aeruginosa Cyanophyceae M Corpos aquáticos pequenos a médios de eutróficos a hipereutróficos.

Microcystis protocystis Cyanophyceae M Corpos aquáticos pequenos a médios de eutróficos a hipereutróficos.

Planktothrix isothrix Cyanophyceae S1 Ambientes turbidos e misturados.

Raphidiopsis sp. Cyanophyceae Sn Ambientes quentes e misturados. Sphaerocavum brasiliense Cyanophyceae M

Corpos aquáticos pequenos a médios de eutróficos a hipereutróficos.

Trachelomonas volvocina Euglenophyceae W2 Lagoas meso-eutróficas e lagos rasos.

6.4 Modelagem Hidrodinâmica

Ventos - A distribuição dos ventos orientados segundo a rosa dos ventos medidos no mês de

setembro de 2009 é representado na Figura 6.18. Observa-se que o vento reinante, de maior

freqüência, é o vento de Leste, com freqüência de cerca de 30% e picos de intensidade

superiores a 7 m/s, seguido dos ventos do quadrante leste-sudeste e de leste-nordeste.

Figura 6.18: Rosa dos ventos em Setembro de 2009 na Lagoa da Pampulha,

caracterizando uma situação de ventos usuais.

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É ilustrado na Figura 6.19 as ocorrências de ventos no mês de Setembro de 2009. Observa-se

nos períodos vespertinos, entre 10 e 17 horas, a ocorrência de brisas com maiores intensidades

e pela manhã ventos mais fracos.

Figura 6.19: Série de ventos medidos em Setembro de 2009 na Lagoa da Pampulha, caracterizando uma situação de ventos usuais.

Avaliação da Circulação Hidrodinâmica – Foi demonstrado a seguir o mapa de circulação

hidrodinâmica e isolinhas de velocidade na Lagoa da Pampulha no dia da coleta (Fig. 6.20).

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Figura 6.20: Padrão de circulação hidrodinâmica da Lagoa da Pampulha as 13h e as 16h do dia 15/09/2009.

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Num primeiro momento, inicial da coleta, pode-se observar a ocorrência de ventos de menor

velocidade, gerando zonas da estagnação na região riverina do reservatório. Ao final da coleta

a velocidade dos ventos se intensifica, gerando uma maior velocidade de corrente e

diminuindo as zonas de estagnação da água.

Para verificar a influência do tempo de residência da água na composição do fitoplâncton,

rodou-se o modelo lagrangeano. Pode-se observar, na Figura 6.21, que os locais com maior

tempo de retenção coincidem com maior biomassa fitoplanctônica. Sabe-se que um maior

tempo de residência favorece a proliferação de cianobactérias, abundantes no reservatório.

Figura 6.21: Tempo de residência da água da Lagoa da Pampulha medido em dias em Setembro de 2009.

Afim de verificar o trabalho do vento como forçante do agregamento de cianobactérias com

aerótopos na superfície do reservatório, rodou-se o modelo lagrangeano. Pode-se observar um

maior acúmulo de partículas na região norte do reservatório, principalmente na zona próxima

a barragem.

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Figura 6.22: Padrão de transporte de escalares passivos na superfície da Lagoa da Pampulha no dia 15/09/2009.

Os resultados mostram que a variação encontrada pode ser explicada pela interação entre a

flutuabilidade do fitoplâncton e as características de mistura do reservatório (Moreno-Ostos

2008).

6.5 Análises Estatísticas

De acordo com o teste de Kruskall-Wallis as variáveis que melhor explicaram (p<0.005) a

compartimentalização do reservatório da Pampulha em quatro regiões, a saber: Região 01,

próxima à barragem (pontos 01, 02, 03 e 04); Região 02, zona de transição (pontos 05, 06, 07

08 e 18); Região 03, próximo a entrada dos principais tributários Ressaca/Sarandi, Olhos

d‟água/Baraúnas, Água Funda e AABB (pontos 09, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17); e Região

04, na entrada dos tributários Tijuco e Mergulhão (pontos 19, 20, 21, 22 e 23), foram a

profundidade, o Secchi, a temperatura, a condutividade, o nitrito, o nitrato, os sólidos em

suspensão, fósforo total, nitrogênio total, turbidez, riqueza do fito e biovolume do fito

(Fig.6.23).

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Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Pro

f (m

)

Prof (m): KW-H(3;23) = 17.8506; p = 0.0005

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1

Se

cch

i (m

)

Secchi (m): KW-H(3;23) = 18.6605; p = 0.0003

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

380

390

400

410

420

430

440

450

460

470

480

Co

nd

S/c

m)

Cond (µS/cm): KW-H(3;23) = 16.3711; p = 0.0010

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

4

6

8

10

12

14

16

OD

(m

g/L

)

OD (mg/L): KW-H(3;23) = 0.4792; p = 0.9234

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

0

100

200

300

400

500

600

700

800

NO

2 (

µg

/L)

NO2 (µg/L): KW-H(3;23) = 19.586; p = 0.0002

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

-2000

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

NO

3 (

µg

/L)

NO3 (µg/L): KW-H(3;23) = 18.8861; p = 0.0003

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

5500

6000

NH

3 (

µg

/L)

NH3 (µg/L): KW-H(3;23) = 9.0078; p = 0.0292

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

35

40

45

50

55

60

65

70

75

Ch

la S

cu

fa(µ

g/L

)

Chla Scufa(µg/L): KW-H(3;23) = 3.4329; p = 0.3296

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

0

20

40

60

80

100

120

140

So

lid

os e

m S

usp

en

o (

mg

/L)

P. Seco Total (mg/L): KW-H(3;23) = 12.8111; p = 0.0051

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

PT

g/L

)

PT (µg/L): KW-H(3;23) = 15.2592; p = 0.0016

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

18000

20000

NT

g/l )

NT (µg/l ): KW-H(3;23) = 8.0484; p = 0.0450

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

0

50

100

150

200

250

300

350

Tu

rbid

ez(N

TU

)

Turbidez(NTU): KW-H(3;23) = 15.1546; p = 0.0017

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

0

10

20

30

40

50

60

NT

/PT

NT/PT: KW-H(3;23) = 4.7879; p = 0.1880

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

44

46

48

50

52

54

56

58

60

62

64

66

68

70

72

74

Riq

ueza F

ito

Riqueza Fito: KW-H(3;23) = 10.1101; p = 0.0177

Median 25%-75% Non-Outlier Range

Box Plot ( 39v*23c)

1 2 3 4

regiao

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

50000

De

ns F

ito

(in

d/m

L)

Dens Fito(ind/mL): KW-H(3;23) = 6.775; p = 0.0794

Figura 6.22: Variação dos parâmetros limnológicos de acordo com cada região. Em cada caixa, a linha representa a mediana e a caixa e o whisker representam 75 e 90% dos dados,

respectivamente.

A análise de cluster evidenciou a formação de quatro agrupamentos (Fig. 6.22): 1) pontos 01 a

07; 2) pontos 8 a 10 e 17 a 23 ; 3) pontos 11, 12 e 13; e 4) pontos 14, 15 e 16. O valor do

coeficiente de correlação cofenético foi de 0.86, considerado satisfatório para este estudo, já

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que apenas quando este valor é inferior a 80% indica distorções significativas no dendograma

obtido.

Figura 6.22: Dendograma dos pontos de amostragem a partir da análise de agrupamento do tipo Cluster para os parâmetros abióticos no final do período de estiagem de 2009, com

distância euclidiana média e método de ligação do tipo UPGMA.

A análise de agrupamento evidencia a compartimentação do reservatório não em três, como

visto em estudos anteriores, mas em quatro regiões distintas.

Os controles ascendente e descendente do fito foram analisados através da CCA, inicialmente

aplicada ao conjunto (= matriz). Os resultados da análise de correspondência canônica (ACC)

estão apresentados na Tabela 6.5 e na Figura 6.23. O teste de Monte Carlo demonstrou que os

eixos 1 e 2 foram estatisticamente significativos (p≤ 0.05), indicando que houve correlação

entre as variáveis ambientais e a comunidade fitoplanctônica. Os autovalores dos eixos 1 e 2

explicaram 80,1% da variabilidade dos dados.

No eixo 1 ocorreu a separação espacial dos pontos amostrais. O coeficiente canônico mostrou

que a variável mais importante na ordenação desse eixo foram a profundidade e a

temperatura.

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No eixo 2, as variáveis mais importantes conforme as correlações intra-set fósforo total e o

nitrogênio total.

Tabela 6.5: Síntese dos resultados da ACC baseada nas variáveis ambientais e dos grupos

fitoplanctônicos.

Axes 1 2

Autovalores : 0.07 0.019

Species-environment correlations : 0.956 0.831

Cumulative percentage variance of species data : 49 62.6

of species-environment relation: 62.7 80.1

Teste de Monte Carlo (p): F-ratio = 2.478 P-value = .0050

Figura 6.23: Diagrama de ordenação da CCA para as classes fitoplanctônicas no final do período de estiagem de 2009.

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7 CONCLUSÕES

Como era esperado, verificou-se a compartimentação longitudinal na Lagoa da Pampulha.

Entretanto não se pode verificar o padrão clássico de Thorton, com maiores riqueza e

diversidade na região de transição do reservatório.

Os taxa aqui inventariados são, em sua maioria, bastante semelhantes, com espécies

características de ambientes lênticos e tolerantes a altos níveis de poluição. Os principais

forçantes da sua distribuição espacial foram a profundidade, temperatura e transparência da

coluna d‟água, assim como a disponibilidade de nutrientes e a ação do vento.

A distribuição do fitoplâncton e dos parâmetros limnológicos evidenciou a crescente

degradação da qualidade da água do reservatório em função do aporte de nutrientes e

sedimentos dos principais tributários, uma melhoria nessa condição no ponto de saída da

ETAF e uma melhora na qualidade da água em direção a barragem.

Apesar de se verificar uma modificação na estrutura do fitoplâncton da barragem em direção a

montante, os grupos funcionais não foram capazes de evidenciar de forma significativa essa

variação.

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8 RECOMENDAÇÕES

Segundo Von Sperling (2005), ao estudar a qualidade da água de um determinado corpo

hídrico deve-se contrapor dois conceitos importantes da Engenharia Ambiental: o primeiro

seria a qualidade de uma água existente e o segundo a qualidade desejável para uma água. A

qualidade de uma água existente é função das condições naturais e da forma de uso e

ocupação do solo na bacia hidrográfica da qual o corpo hídrico faça parte. Já a qualidade

desejável para uma água é dependente do fim a que se destina a mesma. Contrapondo estes

dois conceitos, é possível propor planos de gerenciamento de rios, baías, lagos, lagoas,

estuários.

Neste sentido, pode-se observar a importância da barragem na melhoria da qualidade da água

a montante, evidenciando sua função ecológica. Entretanto, o aporte de nutrientes

provenientes das atividades antrópicas na bacia de drenagem deve ser mitigado a fim de se

resgatar os usos múltiplos do reservatório perdidos em decorrência da eutrofização deste

ecossistema aquático.

Recomenda-se o estudo do gradiente longitudinal da Lagoa da Pampulha em outros períodos

hidrológicos a fim de se verificar a influência da variável temporal na hidrodinâmica desse

sistema. E também um maior aproveitamento do modelo SisBaHia, com a aplicação do

modelo de qualidade de água.

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