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Universidade Federal de Minas Gerais Programa de Formação de Conselheiros Nacionais Curso de Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais Marisa Jacomini de Sousa A RESPONSABILIDADE SOCIAL DE EMPRESAS PRIVADAS COMO NOVO ELEMENTO NA DINÂMICA DEMOCRÁTICA DO BRASIL Brasília 2010

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Universidade Federal de Minas Gerais

Programa de Formação de Conselheiros Nacionais

Curso de Especialização em Democracia Participativa,

República e Movimentos Sociais

Marisa Jacomini de Sousa

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DE EMPRESAS PRIVADAS COMO NOVO

ELEMENTO NA DINÂMICA DEMOCRÁTICA DO BRASIL

Brasília

2010

2

MARISA JACOMINI DE SOUSA

Monografia apresentada à Universidade

Federal de Minas Gerais como requisito

parcial para obtenção do título de

Especialista em Democracia Participativa,

República e Movimentos Sociais.

Orientadora: Maria de Lourdes Dolabela

Co-orientadora: Flávia Pereira Xavier

Brasília

2010

3

Marisa Jacomini de Sousa

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DE

EMPRESAS PRIVADAS COMO NOVO

ELEMENTO NA DINÂMICA

DEMOCRÁTICA DO BRASIL

Monografia apresentada à Universidade

Federal de Minas Gerais como requisito

parcial para obtenção do título de

Especialista em Democracia Participativa,

República e Movimentos Sociais.

Aprovada em .............../................/................

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________

Componente da Banca Examinadora – Instituição a que pertence

______________________________________________________

Componente da Banca Examinadora – Instituição a que pertence

______________________________________________________

Componente da Banca Examinadora – Instituição a que pertence

4

SUMÁRIO

Pg.

1. Introdução

6

2. Objetivos e justificativa

9

2.1. Objetivos Gerais 9

2.2. Objetivos específicos 9

2.3. Justificativa

9

3. A evolução do debate: da filantropia à Responsabilidade Social

Empresarial

11

4. Mobilização Internacional Norteadora da Responsabilidade Social

Empresarial

15

4.1. Pacto Global 15

4.2. Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

– OCDE

16

4.3. Fórum Social Mundial – FSM

16

5. A Mobilização das Empresas Privadas Instaladas no Brasil em torno

da Responsabilidade Social Empresarial

18

5.1. Instituto Ethos 18

5.2. Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade 18

5.3. Prêmio Objetivo de Desenvolvimento do Milênio Brasil –

Prêmio ODM Brasil

19

5.4. Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE 19

5.5. Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida – COEP 20

5.6. Balanço Social do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e

Econômicas – IBASE

20

5

6. O Potencial democratizante da Responsabilidade Social

Empresarial

22

7. Base Empírica: Pesquisas do IPEA

28

7.1. Análise das pesquisas 29

Quadro 1: Comparação entre as pesquisas “Bondade ou

Interesse? Como e por que as empresas atuam na área social”

(2001) e “A Iniciativa Privada e o Espírito Público - A evolução da

ação social das empresas privadas no Brasil” (2006), ambas do

IPEA

32

7.2. Interpretação dos discursos do setor empresarial, à luz das

contradições apresentadas pelo debate

34

8. Potencial de atuação conjunta entre estado e o setor privado sob a

ótica da responsabilidade social empresarial

38

9. Considerações Finais

41

10. Referências Bibliográficas 44

6

1. INTRODUÇÃO

A ausência de consenso em torno do tema da responsabilidade social

empresarial vai desde a imprecisão de seu conceito até a definição de sua

dimensão. O fato é que a abrangência do tema envolve diferentes opiniões em

relação às especificidades dos papéis do Estado, das empresas privadas e da

sociedade civil.

Sem julgar a motivação, o histórico de exclusão social do Brasil em si já

justifica a importância das ações filantrópicas por parte de pessoas e de empresas.

São ações de alívio imediato que amenizam a miséria dos que vivem à margem dos

direitos garantidos em leis. Entretanto, não fosse a polêmica em torno do tema em

que alguns autores consideram o ativismo social empresarial como uma mera

tentativa de as empresas se legitimarem nos territórios em que atuam, apropriando-

se de um discurso simpático à sociedade em que buscam combater a pobreza que

no fundo elas mesmas criaram.

A Responsabilidade Social Empresarial é um tema recente, inacabado e

polêmico entre os diversos autores que tratam do assunto. Por ser recente, existem

várias expressões que muitas vezes expressam sinônimos ou diferenças, como

filantropia empresarial, cidadania empresarial, responsabilidade social corporativa,

responsabilidade social empresarial, entre outros.

Há, entretanto, um certo consenso entre os autores em situá-lo em uma linha

evolutiva que vai do altruísmo pessoal do proprietário, posteriormente passando à

filantropia empresarial, caracterizada por ações conjuntas com entidades religiosas

ou afins, e finalmente, à responsabilidade social empresarial, expressão ainda não

conclusiva, vista como a incorporação de valores sociais e políticos no

desenvolvimento dos negócios da empresa.

Mas, se os serviços sociais que são ofertados pelas empresas também o são

garantidos em lei, por que então elas os promovem? A resposta é evidente e

dispensa maiores reflexões: apesar de garantidos em leis, muitos cidadãos vivem à

margem do desfrute pleno dos direitos sociais. As restrições orçamentárias, os

obstáculos burocráticos, a ineficiência administrativa, entre tantos outros motivos

podem ser apontados como os grandes vilões da efetivação dos direitos sociais que

7

mantêm uma legião de cidadãos em busca de alternativas para conseguirem usufruir

seus direitos duramente conquistados e garantidos em leis.

Sendo dever do Estado democrático o provimento de serviços sociais a todos

os cidadãos, isso se torna um fato suficientemente relevante para que ele acenda o

alerta em busca das possibilidades que se apresentam como instrumentos para a

formação de uma nova arquitetura administrativa de enfrentamento à exclusão

social.

Chega-se, portanto à seguinte constatação: os direitos sociais estão

garantidos nas leis; é dever do Estado provê-los; em função de inúmeros obstáculos,

o Estado não consegue promovê-los; a sociedade passa a demandar das empresas

o suprimento de serviços púbicos onde o Estado está ausente; as empresas

privadas entram em cena para cobrir o vácuo deixado pelo Estado. Mas por que as

empresas? Por que elas são demandadas e por que elas atendem o chamado?

Os direitos sociais são direitos dos cidadãos e cidadania pressupõe o acesso

democrático aos bens e direitos públicos garantidos na Constituição Federal. Por

sua vez, a Constituição Federal brasileira traduziu em leis os anseios democráticos

da sociedade civil sedenta por direitos sociais, civis e políticos em uma sociedade

democrática protegida por um ambiente participativo, garantido pelo Estado.

Falar de ações sociais empreendidas por empresas privadas sem o

envolvimento do Estado é, no mínimo, reduzir a nada a função precípua do Estado.

A não-participação do Estado no debate representa não somente a perda de força e

potencial em traduzir em transformação social as ações sociais das empresas, mas

principalmente a exclusão política de toda sociedade. Construir uma sociedade livre,

mais justa e politicamente participativa é a grande meta de um Estado Democrático

de Direito. E ambiente democrático perpassa pelas relações transparentes entre

Estado, sociedade civil e mercado, aqui representado pelas empresas privadas.

Este trabalho procura contribuir para investigar a concepção da

responsabilidade social das empresas privadas situadas no território brasileiro, sob a

perspectiva democratizadora que o tema pode conter. Busca-se assim jogar luz

sobre as possibilidades que se desenham para viabilizar a participação de diversos

8

atores sociais, através do rearranjo institucional do Estado para mais uma frente de

combate às desigualdades sociais.

Para isso, este trabalho está estruturado de forma que passemos pela

evolução do debate no contexto do progresso sócio-econômico e político do Brasil e

do mundo na tentativa de contribuir para a compreensão dos reflexos do tema nas

ações das empresas localizadas no Brasil. Para contextualizar os movimentos da

sociedade relativos à responsabilidade social empresarial, voltaremos o olhar para a

mobilização internacional e seus reflexos na sociedade brasileira. Na tentativa de

evitar a dilatação extrema deste trabalho, no que concerne aos atores sociais

envolvidos no tema, tentaremos situar o grau de envolvimento de cada um no atual

contexto democrático. A seguir, tentaremos estabelecer a conexão do tema com o

fortalecimento do processo de democracia participativa vivida pelo país nos últimos

tempos. Como base para constatação da investigação bibliográfica, usaremos duas

pesquisas sobre a ação social das empresas, bastante ricas em detalhes,

produzidas pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Em seguida, serão

apontadas algumas perspectivas baseadas no confronto entre as pesquisas e o

estudo bibliográfico tendo como pano de fundo a experiência brasileira de

participação democrática. Finalmente, serão feitas algumas considerações finais, na

tentativa de delimitar os avanços e as limitações deste estudo.

9

2. OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA

2.1. Objetivo Geral

Contribuir para a compreensão e inserção da temática da responsabilidade

social empresarial no contexto da dinâmica democrática brasileira.

2.2. Objetivos específicos

Apontar as principais iniciativas sociais de mobilização em torno da

responsabilidade social empresarial, a fim de conhecer possíveis parceiros

para a inserção do tema na agenda pública brasileira;

Analisar o pontencial democratizante de inserção do tema na agenda pública

brasileira;

Identificar o potencial de atuação conjunta entre Estado e setor privado, a

partir da interpretação dos discursos do setor empresarial, à luz do debate.

2.3. Justificativa

A polêmica em torno do tema da responsabilidade social não é somente conceitual,

no sentido de compreender o que caracteriza a ação social responsável do setor

empresarial. A questão do ativismo social empresarial tem sofrido ataques quanto a

sua própria existência. Muitos o consideram prejudicial à eficiência do mercado,

outros acreditam que ele fortalece o neoliberalismo e há os que acreditam que ele é

o reflexo de uma nova concepção de cidadania. Por ser um tema recente, sua

concepção não está definida. A formação do juízo social em torno do tema está em

pleno desenvolvimento. Aos que de alguma forma podem ser afetados pela

consolidação e generalização de uma concepção é hora de se moverem e entrarem

no debate, de compreenderem suas potencialidades e suas armadilhas, se é que

existem.

10

Para a empresa, sua inserção social pode credenciá-la a um melhor posicionamento

diante de seus concorrentes. Para a sociedade, o tema passa a ser depositário da

expectativa de ampliação da participação e provimento de demandas sociais,

embaladas desde o início do processo de democratização que culminou com a

Constituição Federal de 1988. Para o Estado, o tema pode colocar em prova sua

capacidade de promover a articulação entre os diversos atores sociais em torno de

projetos concretos para a superação das desigualdades sociais tão enraizadas

quanto combatidas pela sociedade.

11

3. A EVOLUÇÃO DO DEBATE: DA FILANTROPIA À RESPONSABILIDADE

SOCIAL EMPRESARIAL

Este capítulo procura fazer uma breve passagem sobre a evolução do tema

desde a considerada mais clássica compreensão até a atual concepção do

pensamento sobre a responsabilidade social empresarial. Percebe-se que a

evolução do debate acompanha as expectativas relativas às diferentes visões do

papel das empresas ao longo do tempo.

Tenório (2004) divide a questão em dois momentos: o primeiro seria o período

de transição da economia agrícola para a industrial, com o predomínio da ideologia

do liberalismo. Naquele momento, a interferência do Estado era considerada

maléfica ao desenvolvimento econômico. Caberia a ele apenas a proteção da

concorrência, da propriedade privada e a promoção das ações sociais essenciais. A

função social das empresas se resumiria na geração de empregos e ao pagamento

de impostos. Com os recursos dos impostos o Estado deveria promover ações

sociais. Essa idéia teve origem no pensamento do economista Milton Friedman, que

por volta de 1970 escreveu a um artigo a uma importante revista norte-americana,

conforme citado por Oliveira (2008): “a única responsabilidade social das empresas

era gerar lucro para seus acionistas, dentro das regras da sociedade (leis)”.

Enfim, para os autores da corrente essencialmente liberalista, a função social

da empresa se resumia na maximização dos lucros e no recolhimento de impostos.

A prática de ações sociais por empresas seria inclusive condenada por essa

corrente, que considerava a caridade como um entrave ao desenvolvimento da

sociedade. Como conclui Tenório (2004):

“... no início do século XX, a responsabilidade social limitava-se apenas ao

ato filantrópico, que inicialmente assumia caráter pessoal, representado

pelas doações efetuadas por empresários ou pela criação de fundações...”.

Posteriormente, os argumentos de Friedman mostraram-se inconsistentes

uma vez que surgiram como resultado da industrialização, a degradação do meio

ambiente, a baixa qualidade de vida provocada pelo agravamento dos problemas

sociais, e a precariedade das relações trabalhistas, levando a sociedade a

pressionar governos e empresas por melhores condições de vida. Conforme Tenório

(2004), esse fato levou algumas empresas a incorporarem, além da geração de

12

empregos e do pagamento de impostos, a idéia de responsabilidade social,

entendida então como o cumprimento de obrigações legais ligadas a questões

trabalhistas e ambientais.

Já o segundo momento, para Tenório (2004), se dá com o desenvolvimento

da sociedade pós-industrial, caracterizado pela valorização de um novo fator de

produção: o conhecimento técnico. É quando se dá a consolidação do pensamento

Keynesiano, que vai do período dos anos 30 aos anos 70, caracterizado pela

intervenção do Estado na economia. A transição para o Keynesianismo despertou

valores na sociedade que extrapolavam à pura acumulação de riquezas. Essa

sociedade pós-industrial passa a valorizar o ser humano, a qualidade de vida e o

respeito à natureza. Esse novo padrão de pensamento é que será a base para o

atual conceito de responsabilidade social empresarial. Com os requisitos do

conhecimento tecnológico, os proprietários de empresas assistem ao crescimento do

poder daquilo que é intangível aos negócios: ou seja, do conhecimento, da ordem

estrutural de uma empresa, da reunião de diferentes talentos, enfim, na competência

organizacional.

Com o advento da globalização, as empresas passaram a investir cada vez

mais em novas tecnologias a fim de conseguirem produzir produtos e serviços de

melhor qualidade e menores custos, a serem oferecidos a um amplo mercado

internacional. Para essa nova reestruturação produtiva, as empresas também

passaram a buscar trabalhadores com perfil melhor qualificado e polivalente. Aos

trabalhadores de baixa qualificação técnica, restariam os baixos salários e as

condições precárias de emprego.

Paradoxalmente, a globalização que trouxe tanto poder de mercado às

empresas, também as tornou vítimas do próprio benefício. Da mesma forma que

cresceu o mercado consumidor e fornecedor, cresceu também o interesse das

sociedades internacionais em saber as condições de produção de cada produto. A

reação da sociedade contra os efeitos negativos da globalização das empresas que

infringiam os direitos trabalhistas e o meio ambiente foi o movimento de resistência e

de denúncia para o combate a tais práticas.

Assim, o mercado globalizado fez com que as empresas da sociedade pós-

industrial passassem a incluir os objetivos sociais aos negócios, a fim de atender as

13

reivindicações de consumidores, associações civis, movimentos sociais, Ong‟s,

governos, sindicatos e trabalhadores, a fim de legitimarem-se em seus mercados.

Como prefaciado por Heitor Chagas de Oliveira, no livro de Tenório (2004):

“A convivência e as relações com as comunidades, de onde as empresas

retiram tantas energias às quais muitas vezes agridem com o seu

gigantismo ou com fortes impactos na organização de sua vida, terão que

ser objeto de transparentes e legítimas negociações”.

Beghin (2005) relata que no Brasil, o marco fundador da filantropia

empresarial ocorreu em 1910, quando o empresário e escritor Monteiro Lobato criou

o personagem “Jeca Tatu” para um livreto distribuído pelo Laboratório Farmacêutico

Fontoura, para a campanha de combate à ancilostomose. Para a autora, esse

trabalho foi “fortemente marcado por interesses publicitários”. E complementa, que

só a partir da segunda metade dos anos 80 é que o trabalho voluntário de empresas

em atividades de combate à pobreza e à miséria se intensificou. Nesse mesmo

período, relata a autora, surgem novas práticas e instituições empresariais com o

objetivo de promover o ativismo social das empresas privadas.

Beghin (2004, p. 69. SD. Mimeog.) ainda complementa que, frente à nova

ordem social:

“As empresas privadas buscam criar condições para conferir legitimidade à ordem capitalista no Brasil, no sentido do que consideram sua eficiência e a

credibilidade de suas instituições” (p. 69. SD. Mimeog.).

Por sua vez, a legitimidade de uma empresa não é um valor imposto ou

gratuito. Ela é conquistada a partir da construção das relações com os diversos

atores com os quais uma empresa lida. Dessa forma é consenso entre a maioria

dos autores que tratam sobre o tema de que a responsabilidade social surge como

„reação à reação social‟, ou seja, a responsabilidade social vem como resposta

empresarial às reações das sociedades contra as conseqüências sociais nefastas da

globalização. Vem como uma busca pelo alinhamento do objetivo empresarial às

expectativas dos atores sociais. Nesse contexto, o pensamento de Oliveira (2008)

também corrobora para a compreensão da atual mobilização empresarial em torno

do tema:

“Quando indivíduos ou organizações ganham legitimidade perante um grupo ou sociedade, geralmente ganham credibilidade. Isso facilita seu

14

reconhecimento social e a ação na sociedade”. (Oliveira, p. 98. SD. Mimeog.).

A polêmica em torno do tema pode ser resumida com o seguinte trecho de

BEGHIN, ao se referir sobre o ativismo social empresarial:

“Essas diferentes e, mesmo, antagônicas visões reforçam a necessidade de se aprofundar a temática, inclusive porque, no mundo acadêmico, ainda são

pouco numerosas as reflexões sobre o assunto” (2005, p. 12. SD. Mimeog.).

Assim, pode-se extrair três interpretações distintas para a compreensão do

tema:

A abordagem teórica liberalista compreende que o papel social das empresas

se resume no cumprimento das obrigações legais e na distribuição dos lucros aos

acionistas. Por essa abordagem, o que o proprietário fizer além da obrigação legal

poderia ser enquadrado como caridade pessoal, e não haveria nenhum

compromisso e nada que obrigue o proprietário a tal ação.

Pela abordagem da cidadania empresarial, (ainda que não seja uma

expressão consensual, usaremos este apenas para delimitar o conceito), a empresa

estenderia seu compromisso à melhoria da qualidade de vida da comunidade na

qual ela está inserida.

Pela abordagem mais atual que se desenha, ainda sem consenso e ainda de

conceito indefinido, a responsabilidade social empresarial passa a fazer parte do

negócio da empresa e diz respeito ao compromisso da empresa com o

desenvolvimento sustentável e com a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

15

4. A MOBILIZAÇÃO INTERNACIONAL NORTEADORA DA RESPONSABILIDADE

SOCIAL EMPRESARIAL

Com a quebra das fronteiras com a globalização, as empresas se viram mais

poderosas por poderem escolher onde e como quiserem produzir, muitas vezes

aproveitando os baixos padrões ambientais e trabalhistas de alguns países para

diminuir custos de produção, incluindo custos com mão-de-obra, incentivos fiscais,

entre outros benefícios que tornam seus produtos mais baratos e, portanto, mais

competitivos. Mas também, elas podem levar aos países investimentos, geração de

emprego, renda, acesso à tecnologia e serem uma mola propulsora para o

desenvolvimento de países em desenvolvimento. Entretanto, ainda que o mercado

tenha quebrado as fronteiras dos países, não existem regulamentações globais para

proteger as sociedades contra empresas socialmente irresponsáveis. Não existe um

órgão internacional capaz de criar e fiscalizar legislação universal. Ainda que tenham

surgido entidades como Ong‟s fiscalizadoras, suas capacidades são limitadas.

Apesar disso, existem algumas iniciativas para tornarem as empresas mais

socialmente responsáveis. Abaixo, estão mencionadas as mais expressivas

iniciativas internacionais que pautam a regulação das ações das empresas:

4.1 Pacto Global

É um pacto proposto às lideranças empresariais, pelo ex-secretário geral das

Nações Unidas, Kofi Annan no dia 31 de janeiro de 1999, durante a realização do

Fórum Econômico Mundial. O desafio colocado foi para que as empresas

promovessem ações e parcerias para o alcance de metas, conhecidas como os Oito

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, com o objetivo final de conquistar uma

economia global mais sustentável e inclusiva. Conforme afirma Oliveira (2008), o

Pacto Global defende dez Princípios Universais derivados da Declaração Universal

de Direitos Humanos, da Declaração da Organização Internacional do Trabalho, da

Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da Convenção das

Nações Unidas Contra a Corrupção.

16

“O objetivo do Pacto Global é encorajar o alinhamento das políticas e práticas empresariais com os valores e os objetivos fundamentais aplicáveis internacionalmente. Esses valores principais foram separados em dez princípios, nas áreas de direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ambiental e combate à corrupção” ·

Embora seja uma iniciativa com pontos positivos por trazer empresas para

discutir a solução de problemas globais, já existem muitas críticas ao Pacto Global:

a) É de iniciativa voluntária. A empresa descomprometida pode escolher não aderi-

lo; b) Para as empresas que pactuam, não há fiscalização; c) Não há punição para

as empresas que violam o compromisso e; d) mesmo sendo falho, algumas

empresas utilizam o Pacto Global para marketing.

4.2 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE

A OCDE é uma entidade internacional e intergovernamental, da qual fazem

parte as nações mais desenvolvidas, as quais se reúnem periodicamente para trocar

informações e alinhar políticas para o desenvolvimento de seus membros. O Brasil,

apesar de não ser membro também aderiu aos princípios da OCDE. Suas diretrizes

são o estabelecimento de princípios e padrões de conduta que devem ser

fiscalizados por países que aderirem, sendo membro ou não da OCDE. Oliveira

(2008) relata que as empresas devem levar em consideração esses princípios e a

opinião das partes legitimamente interessadas em suas operações. A empresa

citada por quebra dos princípios deve responder, sob pena de ser responsabilizada

nos países envolvidos.

4.3 O Fórum Social Mundial – FSM

Como constata BEGHIN (2005), a temática da responsabilidade social

também está inserida na agenda do Fórum Social Mundial que se apresenta como:

“… um espaço de debate público de propostas, nem sempre consensuais, que acenam com uma possibilidade de uma regulação social da economia pautada pelo reconhecimento e garantia de direitos”. (BEGHIN, 2005, p. 74-75).

A preocupação global com o meio ambiente e os direitos humanos vai aos

poucos tomando corpo, vez e voz entre as nações a partir da propagação das

17

mobilizações internacionais que pressionam empresas e governos pelo respeito e

cumprimento dos princípios consensados e estabelecidos nessas entidades.

18

5. A MOBILIZAÇÃO DAS EMPRESAS PRIVADAS INSTALADAS NO BRASIL EM

TORNO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

A seguir estão referenciadas algumas das mais importantes iniciativas

brasileiras para o incentivo às empresas na adesão do tema da responsabilidade

social empresarial.

5.1 Instituto Ethos

Criado em 1998 pelo empresário Oded Grajew, o Instituto Ethos é uma

entidade “sem fins lucrativos caracterizada como uma OSCIP (organização da

sociedade civil de interesse público) que tem como missão sensibilizar e orientar as

empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as

parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável”. O Instituto Ethos

ganhou visibilidade internacional após a elaboração de um conjunto de indicadores

que orientam as empresas a incorporarem a responsabilidade social em suas

atividades. Seguindo a mesma linha do Ethos, outras entidades ou movimentos afins

foram sendo criados, como por exemplo, a Associação de Dirigentes Cristãos de

Empresas no Brasil (ADCE), o Grupo de Institutos e Fundações Empresas (GIFE), (o

Pensamento Nacional de Bases Empresariais) e o Observatório Brasileiro da

Desigualdade, que desde então vem, cada uma a seu modo, fazendo coro aos

objetivos por justiça social.

5.2 Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade

Numa iniciativa pioneira, o movimento foi formado por um conjunto de

empresas, entidades governamentais e não-governamentais, em 2004, com o

objetivo de conscientizar e mobilizar a sociedade no desenvolvimento de debates e

ações em torno dos Oito Objetivos do Milênio. Atualmente, o movimento vem

trabalhando juntamente com a Secretaria-Geral da Presidência da República e o

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento na mobilização da sociedade

para o alcance dos objetivos do milênio, com destaque para o Prêmio ODM Brasil,

que vem sendo o instrumento de reconhecimento e incentivos às organizações e

prefeituras que trabalham pelos objetivos do milênio.

19

5.3 Prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio Brasil – Prêmio ODM

BRASIL

Em consonância com o compromisso assinado pelo Brasil em setembro de

2000 no documento que ficou conhecido como a Declaração do Milênio, o governo

federal brasileiro, em parceria com o Movimento Nacional pela Cidadania e

Solidariedade e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)

criou, em 2004, o Prêmio ODM Brasil como uma iniciativa pioneira no mundo,

durante a abertura da Primeira Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade,

organizada por aquele movimento. Seu objetivo desde então, é reconhecer

publicamente os esforços dos que, de alguma forma, trabalham em prol dos

Objetivos do Milênio. O Prêmio marca o estabelecimento de parceria entre o Estado,

as empresas e a sociedade civil na busca de solução dos problemas apontados

pelas Nações Unidas, que deram origem ao estabelecimento das Metas do Milênio

que devem ser alcançadas pelos países. O prêmio está em sua 3a edição e vem

contando com a forte mobilização e participação ativa de vários setores da

sociedade civil para sua divulgação e realização.

5.4 Índice de Empresas Sustentáveis da BM&Fbovespa

Atendendo a tendência de investidores procurarem empresas socialmente

mais responsáveis para aplicar seus recursos, a Bolsa Brasileira de Mercadorias,

BM&FBOVESPA, na época Bolsa Valores de São Paulo, elaborou, juntamente com

outras entidades ligadas ao setor empresarial e financeiro, com a participação do

Ministério do Meio Ambiente e colaboração da Fundação Getúlio Vargas (Oliveira,

2008 p. 216), numa iniciativa pioneira na América Latina, o índice de ações que

fosse um referencial para os investimentos socialmente responsáveis, o ISE - Índice

de Sustentabilidade Empresarial. A despeito das críticas à baixa participação da

sociedade civil não ligada ao empresariado na elaboração e gestão do ISE (Oliveira,

2008, p. 216), ainda que de maneira incipiente, o índice também atua como

promotor de boas práticas sociais.

20

5.5 Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida – COEP

O COEP é um desdobramento do “Movimento pela Ética na Política” e da

campanha da “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, que tinha o

sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, na época presidente do Instituto Brasileiro de

Análises Sociais e Econômicas (IBASE) como um dos mais engajados militantes.

Através do IBASE, Betinho lançou ampla campanha nacional chamando empresas

públicas e privadas para o compromisso no combate à fome e à elaboração do

balanço social, no padrão sugerido pelo IBASE.

Em 2008, com 15 anos e após diversas transformações e crescimento de sua

estrutura, o COEP largou de iniciais 30 organizações associadas para a viabilização

da Rede COEP, que passando a contar então com mais de 1.100 organizações

públicas e privadas, espalhadas em todos os estados e no Distrito Federal, com

presença em 20 grandes municípios.

“Assim, a própria criação do COEP pode ser vista como um exemplo de capacidade organizacional e de pensamento e ação estratégicos muito competentes, embora seus fundadores trabalhassem apenas com um conjunto coerente de pressupostos e princípios, e não com um plano formal” (COEP, 2008, p. 264).

O surgimento e a manutenção do COEP é, sem dúvida, um grande exemplo

de esforço conjunto pela construção de caminhos alternativos ao combate às

desigualdades sociais.

5.6 Balanço Social do IBASE

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) é uma

instituição sem fins lucrativos que tem como missão aprofundar a democracia,

baseada nos princípios dos direitos humanos, e no estimulo à participação cidadã.

Em sintonia com o movimento da sociedade internacional iniciado nas décadas de

60 e 70 que exigia uma nova postura ética das empresas, e que como reposta a

essas demandas algumas empresas passaram a elaborar e divulgar o relatório anual

com informações de caráter social, o chamado balanço social. A partir dos anos 80

algumas poucas empresas instaladas no Brasil aderiram à produção de tais

balanços anuais. Entretanto, tal adesão:

21

“só ganhou visibilidade nacional quando o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou, em junho de 1997, uma campanha pela divulgação voluntária do balanço social. Com o apoio e a participação de lideranças empresariais, a campanha decolou e vem suscitando uma série de debates através da mídia, seminários e fóruns. Hoje é possível contabilizar o sucesso desta iniciativa e afirmar que o processo de construção de uma nova mentalidade e de novas práticas no meio empresarial está em pleno curso”.

Acima foram mencionadas algumas iniciativas brasileiras em torno da

mobilização da sociedade e de empresas para o compromisso com uma maior

responsabilidade comportamental das empresas e da sociedade em geral.

22

6. O POTENCIAL DEMOCRATIZANTE DA RESPONSABILIDADE SOCIAL

EMPRESARIAL

A Constituição Federal de 1988 proclamou o “Estado democrático

reconhecedor de direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais” (IPEA,

2009). Tal condição estabeleceu uma prerrogativa e um desafio à governabilidade

institucional. O Estado assume decisivamente o seu reconhecimento e sua

responsabilidade pelos direitos cidadãos. O avanço na construção do arcabouço

institucional dos direitos evidenciou o vácuo entre a norma e seu efetivo exercício

por parte dos cidadãos. Fica nas mãos do Estado a responsabilidade por garantir

direitos, em um ambiente democrático, a uma “sociedade brasileira atravessada por

heterogeneidades estruturais e por um padrão muito acentuado de desigualdades

socioeconômicas” (ANASTASIA, p.225, 2004).

Hoje a grande questão colocada ao Estado não é mais o dever de assegurar

os direitos constitucionais, mas o desafio de como superar os obstáculos à

efetivação desses direitos (Bresser, 1999 p. 55). E poderia complementar esse

raciocínio, a idéia de que, embora o Estado tenha a “titularidade” sobre a

responsabilidade de promover o desenvolvimento social e econômico do país,

sozinho ele não terá capacidade para tal. A emergência de uma parceria

participativa entre Estado, sociedade organizada e iniciativa privada pode ser uma

solução viável para prover serviços de melhor qualidade e efetividade aos excluídos

desses bens.

A participação social deixou de ser um tema relacionado às questões políticas

e vem se consolidando como princípio de condução das políticas públicas do país. O

Estado está no centro do desafio de identificar e resolver, de forma democrática, os

empecilhos à concretização da cidadania. Se os direitos estão assegurados, o

acesso a eles não. Ter direitos não é sinônimo de ter capacidade de exercê-los. Por

essa razão, pode-se dizer que o Estado não está acessível a todos e tem o grande

desafio de fazê-lo estar. MATOS (p.36. SD. Mimeog.) contribui para essa reflexão:

“Está ainda em aberto a questão dos agentes coletivos que deverão prover tais condições de bem-estar inerente à nova configuração democrática. Não existem soluções óbvias, porque os atores capazes de suplementar o Estado e sua burocracia no exercício dessas funções – mercado, associações voluntárias, família e comunidade local – apresentam problemas: o mercado está francamente em crise, as nossas associações

23

voluntárias são ainda fragmentadas e dependentes, as famílias e as comunidades não são unidades suficientemente coesas para oferecer acesso adequado a condições de bem-estar partindo de recursos próprios. Entendo que é o Estado (e seus agentes) que terá de ocupar o papel principal na regulamentação dessas novas condições de vida com vistas a garantir padrão renovado de equidade, cidadania e bem-estar”.

Uma gestão participativa deve levar em conta o que DAGNINO (p. 11. SD.

Mimeog.) revela, em relação à problemática dos espaços públicos, cujo:

“... objetivo central é o debate entre interesses diferenciados que possa conduzir à construção de consensos e à formulação de agendas que venham a se tornar públicas e objeto de consideração por parte do Estado. Nesse sentido, se a referência ao Estado permanece presente, há uma dimensão adicional que enfatiza a organização e o fortalecimento dos

próprios atores da sociedade civil e da sua articulação...” (p. 11. SD. Mimeog.).

Dagnino complementa seu pensamento ao enfatizar que esses espaços de

convivência e debate fortaleceriam o aprendizado e a consolidação do que a autora

chama de “cultura de direitos” por meio do exercício efetivo da cidadania. A autora

considera que a grande novidade que os anos 90 trouxeram foi a “aposta

generalizada na possibilidade de uma atuação conjunta, de „encontros‟ entre o

Estado e a sociedade civil” (p.13. SD. Mimeog.).

Relativamente ao debate em torno da responsabilidade social, o Estado é um

elemento essencialmente importante para compreender, distinguir e lidar com as

potencialidades apresentadas como instrumento de superação dos obstáculos à

efetivação dos direitos sociais. Mas precisa ter a sensibilidade em separar o joio do

trigo para impedir a captura dos espaços públicos por grupos privados. Esse

entendimento encontra eco no pensamento de MATOS (p. 28. SD. Mimeog.):

“A ênfase na multidimensionaliade da cidadania neste sentido supõe um avanço no aprofundamento da democracia e da legitimidade estatal, sempre e quando nos permitir fazer juízos normativos sobre o valor das distintas diferenças, especialmente a partir de critérios que levem essencialmente em consideração a sua relação com as desigualdades reais. Neste sentido, „borrar‟ as fronteiras do privado para a direção do público seria uma „solução‟ novamente porque esta operação se daria, desta vez, para fazer expandir a cidadania e alargar os direitos (e não o contrário como já experimentamos no Brasil)”.

Ao institucionalizar o debate sobre a Responsabilidade Social Empresarial, o

Estado tem a oportunidade de trazer para a arena pública a multidimensionalidade

cidadã dos diversos atores envolvidos no tema. Dessa forma, ao democratizar o

debate, os interesses envolvidos são evidenciados e a oportunidade de defesa é

24

dada a todos os envolvidos. Ao tornar público os interesses, a defesa deles também

se legitima, o que não é verdade se por trás do debate houver a intenção de

confundir os interesses privados com os interesses da sociedade brasileira.

O posicionamento da maior e uma das mais importantes organizações

sindicais do Brasil – a Central Única dos Trabalhadores – é que a verdadeira

responsabilidade social empresarial deve ser entendida como as atitudes que vão

além da coerência com as normas internacionais e nacionais de proteção aos

direitos trabalhistas, sociais e do meio ambiente. A Central é crítica ao unilaterlismo

quanto à decisão e à forma de conduzir as ações sociais porque não envolvem os

sindicatos e sequer discutem com os representantes das partes interessadas. A

definição da atuação daquela Central relativamente ao tema é que ela se

posicionará de forma crítica, a fim de coibir discuros enganosos para a obtenção de

legitimidade junto à sociedade. Ela defende ações responsáveis relativamente às

cadeias produtivas das empresas, pois, consideram que ainda que a empresa

respeite os acordos internacionais do trabalho, em sua cadeia produtiva pode

acontecer a violação de muitos direitos trabalhistas. Acredita também que ações

assistencialistas, apesar de necessárias, não podem se tornar o foco da

responsabilidade social.

Para a CUT, a avaliação das ações sociais empresariais deve considerar que

tipo de contribução a empresa dá para o desenvolvimento sustentável e a promoção

da equidade entre os cidadãos. A responsabilidade social das empresas requer que

elas assumam que provocam impactos na sociedade e que esta seja chamada para

discutir as soluções. Relativamente ao envolvimento dos trabalhadores com a

resopnsabilidade social das empresas, o presidente da CUT, Arthur Henrique da

Silva Santos pronunciou:

“Entre outros, são os trabalhadores dessas empresas que conhecem de perto esses impactos, por isso, podemos dizer que temos um papel importante de monitorar o que é discurso e o que é a prática de Responsabilidade Social Empresarial. Temos décadas de organização e lutas para garantir práticas mais coerentes e responsáveis das empresas, portanto, somos um ator importante neste processo e podemos fazer esse monitoramento de forma efetiva”.

25

MATOS (p. 36. SD Mimeog) considera que o interesse público efetivamente

comum só pode surgir a partir da reflexibilidade humana:

“... no plano subjetivo são os indivíduos que, lenta e trabalhosamente, poderão construir esse interesse comum de forma a que ele não corresponda mais exclusivamente aos interesses dos grupos socialmente dominantes” (MATOS, p.36. SD Mimeog.).

Garantir que o debate seja amplamente difundido e discutido entre as

representações dos envolvidos com a responsabilidade social empresarial pode ser

uma alternativa de proteção do Estado contra a captura por interesses privados,

pois, há anos convivemos com o legado personalista e patriarcal brasileiro que

estendeu sua forma de autoridade indisputada, da respeitabilidade, da obediência e

da coesão entre o homem por uma invasão do público pelo privado, do Estado pela

família, estabelecendo uma perpetuação dos interesses particulares (MATOS, p. 17.

SD. Mimeog.). O Estado está diante de mais uma oportunidade de retratar-se dos

enganos cometidos com os projetos de modernização brasileiros que

sistematicamente afetaram negativamente as classes econômico-socialmente mais

frágeis.

Vivemos um momento de reflexão sobre qual modelo de estado democrático

queremos. O consenso é com o cuidado para que essa reorganização das estruturas

estatais não produza em si mais elementos de desigualdade.

AVRITZER e PEREIRA (p. 1. SD. Mimeog.) escreveram que os anos 90

foram marcados por um conjunto ampliado de formas híbridas participativas de

gestão pública. São híbridas porque envolvem um partilhamento do processo

decisório entre atores representativos do estado e da sociedade. Segundo os

autores, através desses espaços a ação estatal deixa de ser hierárquica e “se

organiza em múltiplos níveis institucionais e numa multipolaridade de centros de

decisão”. Essas formas de organização do Estado:

“... significam mudanças nas ações sociais e coletivas, que assinalam a preponderância das sociedades no que se refere ao „protagonismo‟ do indivíduo e dos movimentos sociais. Estes assumem, concomitantemente, o papel de atores e agentes das novas formas de ação coletivas reivindicativas e de representantes nas formas ampliadas de participação”

(AVRITZER e PEREIRA, p. 5. SD. Mimeog.).

Não há aqui a intenção de se aprofundar na questão dos limites e

possibilidades relativas ao formato institucional necessário ao bom funcionamento

26

desses espaços participativos, quanto à formação de plenário para a tomada de

decisão, quanto à presença de comissões temáticas, a composição de seus

representantes e eleição do presidente, além do efetivo poder deliberativo. Esses

espaços tem se consolidado como elementos fundamentais à gestão e ao controle

democrático das ações estatais.

Voltando à questão do redesenho institucional de elaboração e execução das

políticas públicas, MATOS corrobora com a idéia de Avritzer e Pereira, ao afirmar

que teremos de ter alterações substantivas nos modelos de gestão:

“É possível identificar iniciativas inovadoras dos governos (aqui no Brasil e também fora do país), que têm o efeito de redesenhar políticas públicas e formas de gestão na direção do reconhecimento de tal multidimensionalidade cidadã e também da necessidade de se efetivar

maior inclusão democrática” (MATOS, p. 30. SD. Mimeog.).

A autora vai além ao tratar da nova engenharia institucional que se redesenha

na gestão de políticas públicas:

“Mais do que um „modelo de democracia‟ temos um devir democrático, ação político-crítica sobre o mundo. Teremos de ter também alterações substantivas nos modelos de gestão, de formulação e implementação de

políticas públicas”. (MATOS, p. 39. SD. Mimeog.)

A pesquisa do IPEA (2001) demonstra que as ações de responsabilidade

social desenvolvidas pelas empresas correspondem justamente aos direitos sociais

teoricamente universais, que deveriam ser garantidos pelo Estado.

“Apesar disso, há muito por ser feito para se promover complementaridade estratégica no atendimento social. Falta estreitar as relações entre organizações privadas e governamentais para se obter maior sinergia na prestação de serviços de caráter público”.(IPEA, 2001, p. 58).

Beghin é bem menos moderada ao se referir ao ativismo social empresarial,

pois considera que as ações das empresas se inserem no âmbito de um modelo

filantrópico e clientelista de regulação da pobreza:

“... a atuação empresarial, mesmo contribuindo para melhorar as condições de vida de algumas parcelas da população, não transforma os excluídos em cidadãos: apenas os assiste, tornando-os dependentes da ajuda privada que, por seu turno, depende das flutuações e dos interesses dos empresários” BEGHIN (2005, p. 103).

Contrariando a linha de raciocínio de Beghin, seria insano exigir que as ações

sociais das empresas produzam por si só as transformações sociais necessárias

para a reversão do quadro de exclusão de milhões de brasileiros. Quem tem o dever

27

de transformar os excluídos em cidadãos não é a empresa. Se o Estado se mostra

incapaz de prover os serviços sociais fundamentais, aquele que o faz não pode ser

apedrejado por isso. É justamente neste ponto que a atuação do Estado deve se

fazer presente. É aqui que ele deve entrar como catalizador e condutor do

desenvolvimento. Sua forma de atuar é que precisa ser debatida com a sociedade.

Afora o radicalismo, já é consenso de opiniões de que nenhuma ação isolada, por

parte de empresas ou de governos, pode mudar o quadro de exclusão social.

Programas sociais dos governos lidam com essa questão, interligando ações de

educação às ações de saúde, às ações de nutrição, e assim por diante. Somente o

Estado tem a capacidade e a legitimidade de regular as ações pontuais, integrando-

as com as políticas públicas intersetorializadas. Relativamente à responsabilidade

social, MATOS (SD) revela um interessante desfecho:

“Os direitos sociais, são em larga medida, direitos de receber ajuda dos outros e as responsabilidades sociais se referem a dar essa contrapartida. Saúde e educação, por exemplo, são paradoxalmente direitos sociais individuais e direitos que beneficiam a comunidade como um todo. Além disso, a cidadania social depende tanto da qualidade (interpessoal) dos serviços prestados e recebidos quanto dos direitos e responsabilidades formais positivados. A cidadania social depende, então da disponibilidade de relações sociais e de certo sentimento de identidade e obrigação comuns. É isto que se está construindo no Brasil: um interesse público

renovado na ampliação da participação cidadã”. (MATOS, p. 36. SD. Mimeog.).

Assim, é possível inferir que a responsabilidade social não é incompatível

com a democracia. Ao contrário, ela se apresenta como uma possibilidade de

fortalecimento da cidadania, através da abertura e formação de novas forças

políticas compostas por redes e setores, ong‟s e grupos representativos da

sociedade civil para tratar especificamente sobre o tema. A institucionalização de

uma parceria entre o setor privado, a sociedade e o Estado pode resultar na

regularidade de maior e melhor oferta de bens públicos com a conseqüente

maximização dos direitos sociais. Cabe ao Estado sair da inércia e encampar o

debate. Eis aí uma possibilidade de compartilhar seu papel organizador do

desenvolvimento político e sócio-econômico da sociedade. O bom encaminhamento

da responsabilidade social empresarial pode apresentar ao Estado infinitas

possibilidades, não menores também que os desafios.

28

7. BASE EMPÍRICA: PESQUISAS DO IPEA

Na tentativa de compreender o pensamento do setor empresarial e atingir o

terceiro objetivo, que é Identificar o potencial de atuação conjunta entre Estado e

setor privado, a partir da interpretação dos discursos do setor empresarial, à luz das

contradições apresentadas pelo debate, serão considerados dois estudos

coordenados por Anna Maria T. Medeiros Peliano e publicados pelo Instituto de

Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA - divulgados em 2001 e 2006,

respectivamente.

Em ambos, o conceito utilizado para definir ação social foi o mesmo e

bastante amplo:

“... tendo sido considerada qualquer atividade que as empresas realizaram, em caráter voluntário, para o atendimento de comunidades nas áreas de assistência social, alimentação, saúde, educação, entre outras. Essas atividades incluem desde pequenas doações eventuais a pessoas ou instituições, até grandes projetos mais estruturados. Foram excluídas do conceito de ação social, portanto, as atividades executadas por obrigação legal, como, por exemplo, as contribuições compulsórias às entidades integrantes do chamado Sistema” S “(Sebrae, Sesi, Sesc, Senac, Senai, Senat, Sescoop e Senai)”.

Tais estudos são importantes porque substituem a pesquisa de campo junto

às empresas, com a especificidade de ter pesquisado um universo bem maior, com

melhor qualidade técnica e por isso revelam com maior precisão e fidelidade o

envolvimento das empresas privadas com a questão social.

Alguns pontos da pesquisa qualitativa serão mencionados separadamente,

pois sua característica permite revelar com maior precisão o pensamento dos

empresários. Já os dados da pesquisa quantitativa serão postos em um quadro para

permitir a comparação com a pesquisa qualitativa. Finalmente, serão feitas algumas

interpretações dos dados apurados nas pesquisas à luz das contradições

apresentadas no debate.

O primeiro estudo (2001), “Bondade ou Interesse? Como e por que as

empresas atuam na área social”, traz dados qualitativos, e é feito paralela e

complementarmente à primeira edição da Pesquisa Ação Social das Empresas, que

revelou que a maior parte do setor privado se envolve, de alguma forma, com a área

social. Esse documento revela os motivos e as ações do setor privado na área

social. Participaram da pesquisa 47 empresas de diferentes porte, das quais 53%

29

equivaliam a empresas de grande porte das regiões metropolitanas da região

sudeste. A opção por essa região foi em função dela concentrar a maior parte das

empresas do país. Os dados considerados nesta pesquisa foram relativos às vinte e

cinco maiores empresas (com mais de 500 funcionários) que correspondiam a 53%

do volume de empresas entrevistadas. O objetivo da pesquisa foi o de identificar os

espaços de atuação social das empresas e do terceiro setor para que a ação do

Estado seja compartilhada com outras iniciativas da sociedade civil.

O segundo, mesclando dados quantitativos com qualitativos, intitulado “A

Iniciativa Privada e o Espírito Público - A evolução da ação social das empresas

privadas no Brasil”. Neste documento, publicado em 2006, estão contidos os

principais resultados das duas edições da Pesquisa iniciando uma construção

histórica sobre o comportamento das empresas na área social. A amostra desta

pesquisa é integrada por 9.978 empresas com um ou mais empregados, sendo

aproximadamente um quinto em cada região.

7.1 Análise das pesquisas

Os seguintes pontos levantados na pesquisa “Bondade ou Interesse”

merecem destaque:

Relativamente às motivações para que as empresas operem no campo

social, constatou-se que nem só bondade e nem somente interesse impulsionam as

atividades sociais das empresas. A constatação feita foi que:

“A participação privada na área social foi se inserindo, pois, em um ciclo de relações sociais cada vez mais complexo, que não obedece apenas à lógica filantrópica ou econômica, mas também à tendência de buscar, fora do espaço estatal, uma nova alternativa de combate à pobreza. Assim, desinteresse, interesse ou compromisso cívico não são comportamentos exclusivos e, paradoxalmente, complementam-se no campo contraditório das contribuições privadas à área social”. (IPEA, 2001, p. 34).

Com relação à perspectiva de continuidade ou interrupção da participação da

empresa em ações sociais, a pesquisa é reveladora ao constatar que a meta das

empresas não é apenas continuar, mas também crescer:

“... a continuidade passa a ser uma necessidade e não uma opção. As empresas reconhecem os desgastes inerentes a uma retirada do campo de

30

ação social e declaram manter o atendimento mesmo em momentos de dificuldades econômicas”. (IPEA, 2001, p. 40).

Investigando quais os vínculos das empresas com a comunidade, a pesquisa

constata que a escolha de seu público-alvo depende do conhecimento dos

problemas da comunidade e/ou do reconhecimento da qualidade do trabalho

desenvolvido pela instituição que a empresa pretende apoiar. Com relação à área de

atuação social da empresa, sua abrangência depende:

“... de seu grau de capilaridade e do seu raio de influência e liderança. A vizinhança da empresa, na verdade, relaciona-se com o espaço no qual ela se sente inserida (bairro, município, estado ou país) e guarda estreita relação com a abrangência de sua produção ou serviço prestado”. (IPEA, 2001, p. 45).

Buscando identificar se o tipo de ação desenvolvido pela empresa tem efeito

transformador ou compensatório, a percepção da pesquisadora é que as próprias

empresas estão preocupadas em se afastarem de ações emergenciais e

compensatórias e trabalharem em ações transformadoras. Entretanto, não

conseguem definir que tipo de ação exatamente seria transformadora, mas

identificam ações no campo da educação e da saúde. Considerando a importância

dos serviços prestados ao atendimento das demandas emergenciais das

comunidades, que não podem aguardar “prazos requeridos para as necessárias

transformações sociais”, a pesquisadora conclui:

“Mais construtivo que polemizar a respeito e desqualificar as ações sociais compensatórias é reconhecer a sua importância e buscar o seu permanente aprimoramento” (IPEA, 2001, p. 64).

Na intenção de investigar a sustentabilidade das ações das empresas, se elas

praticam “procedimentos básicos de uma boa gestão, como o planejamento, a

previsão orçamentária, o controle da execução, o acompanhamento, a avaliação e a

divulgação” (IPEA, 2001), a pesquisa revela que:

“Poucas empresas demonstraram preocupar-se verdadeiramente com esses aspectos. Observou-se, sobretudo, que falta a percepção da importância e das vantagens que podem advir de uma gestão social profissionalizada. Isso não significa, entretanto, que não há compromisso com os projetos, mas sim que falta clareza quanto à necessidade da profissionalização”. (IPEA, 2001, p. 85).

Outra questão importante investigada na pesquisa é “até que ponto as

empresas privadas podem partilhar com o Estado o atendimento aos direitos sociais

31

dos cidadãos”. Se suas ações substituem ou complementam a ação do Estado.

Neste ponto, a pesquisa mostrou que:

“As empresas não pretendem substituir o Estado no atendimento social, e sequer querem assumir a responsabilidade formal pela prestação dos serviços sociais básicos”.

“... Apesar das dificuldades de formação de parcerias público/privado, das críticas feitas ao Estado e dos receios das empresas em associarem-se ao governo, a experiência mostra que, na prática, elas apóiam programas e órgãos governamentais, ainda que isso não seja assumido formalmente”. (IPEA, 2001, p. 97).

Finalmente, a pesquisadora constata que na prática, além de não haver nítida

diferença entre filantropia e compromisso social tais atitudes não são,

necessariamente, excludentes.

O quadro a seguir apresenta um comparativo entre as duas pesquisas,

focando as principais dúvidas que permeam os debates sobre responsabilidade

social das empresas, levantadas na pesquisa qualitativa:

32

Quadro 1: Comparação entre as pesquisas “Bondade ou Interesse? Como e

por que as empresas atuam na área social” (2001) e “A Iniciativa Privada e o

Espírito Público - A evolução da ação social das empresas privadas no Brasil”

(2006), ambas do IPEA

Item Primeira pesquisa (2001) Segunda pesquisa (2006)

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Nem só bondade e nem somente interesse impulsionam as atividades sociais das empresas.

Políticas de incentivos fiscais influenciam pouco o investimento social privado.

Há recuo no percentual das empresas que realizam ações sociais para melhorar sua imagem.

A responsabilidade pelas ações é do dono

Os empresários percebem que as ações trazem ganhos para todos: para os promotores e para os beneficiários

Embora registre queda como fator principal impulsionador da ação social, a motivação humanitária ainda é o principal motivo.

Cresce a atuação movida pelo atendimento a demandas.

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A meta das empresas não é apenas continuar, mas também crescer.

Aumentou a proporção de empresas que atua no social.

Cresceu a participação de micro e médias empresas em ações comunitárias.

Perspectivas otimistas de expansão dos recursos e do atendimento para o futuro.

As principais dificuldades para realizar ou expandir o atendimento social são nesta ordem: falta de recursos financeiros da empresa e pouco incentivo por parte do governo.

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Predomina o atendimento à vizinhança, revelando desejo dos empresários na expansão da área de atuação.

A escolha de seu público-alvo depende do conhecimento dos problemas da comunidade e/ou do reconhecimento da qualidade do trabalho desenvolvido pela instituição que a empresa pretende apoiar.

O foco ainda é o público infantil, como na pesquisa anterior da série.

Predomina a atuação na vizinhança.

33

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As empresas estão preocupadas em se afastarem de ações emergenciais e compensatórias e trabalharem em ações transformadoras. Entretanto, não conseguem definir que tipo de ação, exatamente, seria transformadora; mas identificam como sendo ações no campo da educação e da saúde.

Revela expressivo crescimento na proporção de ações sociais para alimentação e abastecimento, em relação ao primeiro ano da série da pesquisa.

Constata que o perfil do atendimento privado é predominantemente emergencial e sob demandas.

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o? A pesquisa revela que falta uma

gestão social profissionalizada A atuação é feita, essencialmente, por

meio de doações, mas cresce a proporção de empresas que apóia organizações (comunitárias, filantrópicas ou religiosas).

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As empresas não pretendem substituir o Estado no atendimento social, e sequer querem assumir a responsabilidade formal pela prestação dos serviços sociais básicos.

A maioria das empresas não realiza qualquer tipo de parceria para realizar as ações sociais.

As principais questões apontadas como os empresários percebem sua atuação na área social são nessa ordem: a obrigação é do Estado, mas as empresas atuam porque ele não cumpre seu papel; e acreditam que hoje as empresas têm maior necessidade de realizar atividades sociais que em anos atrás. No geral, parece haver certo consenso de que a atuação das empresas não deve substituir o Estado.

34

7.2 Interpretação dos discursos do setor empresarial, à luz das contradições

apresentadas pelo debate

Com relação à corrente de pensamento essencialmente liberalista, que

acredita que a função social da empresa se resume na maximização dos lucros e no

recolhimento de impostos, a pesquisa de 2006 revela que apenas uma minoria das

empresas que realizam ações sociais, um terço, se alinham com essa corrente, e só

atuam no social porque são pressionadas.

Pela imprecisão apresentada em ambas as pesquisas, não é possível explicar

exatamente as razões que levam os empresários a investirem em ações sociais.

Mas o fato é que se confirmaram as expectativas dos empresários em aumentar a

atuação social, independentemente do incentivo do Estado. Mas o contraponto é

que grande parte dos empresários aponta os poucos incentivos por parte do governo

como uma das principais dificuldades para realizar ou expandir o atendimento social.

Consideram que os incentivos fiscais embora importantes são poucos. Outro fato

que reafirma a ambigüidade observada por parte dos empresários é que embora os

empresário percebam que suas ações sociais trazem ganhos para eles e para os

beneficiários, em geral, as empresas atuam de maneira eventual, atendendo a

demandas e, mais recentemente, vinculam menos suas ações aos ganhos de suas

imagens. Portanto, fica ainda sem resposta o que realmente move as empresas a

empreenderem no social.

Outro fato interessante na comparação das pesquisas é que, enquanto a

primeira (a qualitativa) revela uma percepção generalizada entre as empresas

pesquisadas de que as ações sociais empreendidas por elas geram retorno positivo

à imagem da empresa, a segunda pesquisa revela que a melhoria da imagem não

impulsiona e nem é percebida como resultado da ação social empresarial. Essa

desarmonia pode ser em função da forma como foram estruturadas as perguntas de

uma e de outra pesquisa. Opções de respostas do tipo socialmente desejáveis

podem influenciar para que o entrevistado responda a que soa politicamente correta.

Assim, tal resposta pode não revelar a atitude e para ser apenas o reflexo de um

discurso socialmente aceito e politicamente correto.

Ambas as pesquisas revelam a intenção de continuidade e de crescimento

das ações voltadas para o social. Entretanto, a segunda pesquisa (2006) registra

35

queda no investimento financeiro nessas ações, apesar do aumento na proporção

de empresas atuantes.

O atendimento à vizinhança é marcante em ambas as pesquisas. Isso pode

se dar em função de prevalecerem ações emergenciais, em atendimento a

demandas. Uma sociedade carente que tem uma empresa por perto, em um

momento emergencial não se hesitaria em pedir ajuda a uma organização melhor

abastada que os demais vizinhos. Sem contar na superficialidade da relação que

dispensaria a prestação de contas a um vizinho específico ou posterior pagamento

pelo serviço.

O crescimento das ações destinadas à alimentação e ao abastecimento,

observado na segunda pesquisa de 2006 pode ser conseqüência das amplas

campanhas desenvolvidas por instituições governamentais e não-governamentais

em torno da mobilização nacional pelo combate à fome e à miséria. Isso mostra que

há uma lacuna a ser preenchida pelo Estado capaz de criar adesão das ações

empresariais às políticas sociais setoriais. Essa mudança de comportamento não

condiz com o constatado na pesquisa qualitativa de 2001, onde os empresários,

embora realizem uma ampla e diversificada gama de ações sociais, revelam desejo

de se afastarem de ações emergenciais e passarem a promover mais ações que

acreditam ser transformadoras, como saúde e educação.

As críticas em voga do setor privado à ineficiência do setor público em

gerenciar os programas governamentais não credibilizam as empresas ao constatar

que em ambas as pesquisas predomina o atendimento pulverizado, pontual e por

demandas. De maneira geral as empresas não aplicam em suas ações sociais as

ferramentas de gestão de seus negócios tão propaladas como racionais e eficientes.

Assim, não se pode proclamar o setor privado como infalível em gestão. Entretanto,

também o Estado não tem se mostrado capaz de um gerenciamento eficaz. Fica

aqui evidenciado que o desafio para solucionar de vez o déficit social não é pequeno

e precisa da convergência de forças, onde um não pode prescindir da competência

do outro para o encontro da solução.

Enfim, as pesquisas são de extrema relevância para elucidar as discussões

em torno do tema pois nos dão as primeiras noções para o processo de

compreensão do comportamento dos empresários frente à pobreza. As pesquisas

36

também demonstram que o ativismo social vem se consolidando, independemente

da ação pública. E o mais importante: elas mostram que há potencial para o

estabelecimento de parcerias e alianças pelo combate à exclusão social.

Algumas suposições são possíveis de serem feitas:

O investimento em ações sociais, além de requerer investimentos financieros

não é garantia de retorno financeiro. Muitas empresas que promovem ações

sociais o fazem por supor que em algum momento da vida da empresa suas

ações serão reconhecidas pela sociedade. Pode ser que se tenha empresas

que embarcaram nessa onda por mera precaução, a fim de se protegerem

contra futuras acusações pois, têm consciência que no mundo globalizado,

qualquer desvio de conduta, por menor que seja, pode transformar-se em

escândalo global, atingindo em cheio a imagem da empresa, provocando

perdas irreparáveis aos sócios. À empresa, há a opção de se envolver ou não

com o tema, cabendo somente a ela a responsabilidade, o ônus e o bônus

por sua decisão;

As pesquisas mostraram que o ativismo social das empresas está a todo

vapor, independentemente da ação estatal. Elas revelam os pensamentos de

boa-vontade do empresariado para o combate da pobreza. As razões não são

conclusas: seja por bondade ou por interesse, o que a pesquisa revela é que

há um grande envolvimento do empresariado com o tema. Isso não pode ser

tão ruim quanto propalado por alguns, como também não pode ser exaltado

como a grande salvação para a inclusão de tantos cidadãos que vivem hoje à

margem dos direitos sociais porque nos momentos de crise econômica, como

já demonstrado na história recente da economia mundial, muitas empresas

não exitam em cortar seus programas sociais em nome do lucro;

As pesquisas confirmam o levantamento bibliográfico ao revelarem que há

potencial de incremento e de estabelecimento de alianças positivas para o

alcance da justiça social. Alianças entre o Estado, as empresas privadas e a

sociedade civil podem apontar para o estabelecimento de uma

complementariedade instrumental de competências, na união de forças para o

que já é consenso: a necessidade de que todo cidadão tenha acesso aos

serviços essenciais e;

37

Uma sugestão para as próximas pesquisas a serem executadas pelo IPEA, a

fim de torná-la mais precisa, seria estender a entrevista aos beneficiados pelas

ações da empresa e aos representantes dos trabalhadores. O motivo disso vai muito

além da oportunidade de checar as informações prestadas pelos empresários, mas

entender por que e em que circunstâncias as pessoas procuram o apoio das

empresas para a solução de seus problemas. É uma oportunidade de compreender

os vazios deixados pelo Estado. Compreender por que a empresa está mais

acessível que o Estado e se realmente ela é acessível. Dadas as limitações da

empresa, em havendo uma negativa da empresa, qual caminho as pessoas

buscam?

38

8. POTENCIAL DE ATUAÇÃO CONJUNTA ENTRE ESTADO E O SETOR

PRIVADO SOB A ÓTICA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

Confrontando os resultados das pesquisas do IPEA com a situação em que

se encontra o tema da responsabilidade social empresarial, podemos apontar para

algumas perspectivas:

Para elevar o debate ao campo político, acredito que se deva mudar a

pergunta quanto à ação da empresa no campo social. No lugar de questionar se a

empresa é movida por interesse ou por altruísmo do proprietário, há que se

perguntar a quem interessa a ação social da empresa. Não creio ser ilegítimo que a

empresa tenha interesse. O que não é legítimo é que suas ações sociais paliativas

sejam artifício para burlar ou encobrir seu dever prioritário com suas obrigações

legais, como por exemplo, no campo do meio-ambiente ou trabalhista. O que importa

é como o Estado, guardião dos direitos dos cidadãos, canalizará o debate para que

as boas práticas e intenções do setor empresarial contribua, efetivamente, para

maior inclusão social.

O debate, que já é feito de maneira difusa na sociedade, pode ser

institucionalizado através dos vários espaços participativos já existentes nas

estruturas governamentais ou ter seu próprio espaço criado. No âmbito do governo

federal, por exemplo, poderia se aproveitar a estrutura do Conselho de

Desenvolvimento Econômico e Social – CDES – para o aprofundamento do debate,

através da formação de um Grupo Temático específico para o tema.

O CDES “é um órgão majoritariamente da sociedade civil, de caráter

consultivo da Presidência da República e em sua composição estão presentes

trabalhadores, empresários, movimentos sociais, governo e lideranças expressivas

de diversos setores”. Os Grupos de Trabalho do CDES analisam e debatem temas

diversos com a sociedade. A proposta consensada, com o maior grau de

informações possível, é encaminhada para municiar as decisões do Presidente da

República.

O CDES poderia estabelecer alianças com os movimentos nacionais, que

trabalham em sintonia com entidades e sociedade internacional, que buscam

estimular que as empresas sejam socialmente mais responsáveis. Estabelecendo

39

alianças, pode-se unir os esforços e eliminar “retrabalhos” e sobreposição de

atividades.

Uma alternativa para a condução do processo seria, além da formação do

Sistema Nacional de Responsabilidade Social, que traria para seu interior entre

outras, as entidades nacionais já mencionadas neste trabalho, ou seja, o Instituto

Ethos, o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade, o Instituto Brasileiro

de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e até mesmo representantes da Bovespa

para ampla e exaustiva discussão com a sociedade.

Uma opção bastante interessante seria seguir as mesmas diretrizes

percorridas pelo Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade (PBQP).

Explicando resumidamente, o PBQP foi criado pelo governo federal, em 1990, com o

objetivo de estimular e fomentar projetos que visam o aumento da competitividade

das organizações e da qualidade de vida da população, mas com a perspectiva de

que, tão logo o programa adquirisse maturidade, sua liderança seria transferida do

governo para a sociedade civil como o foi em 2001, com a criação do “Movimento

Brasil Competitivo”. Hoje, o movimento funciona em parceria com entidades privadas

e órgãos governamentais de diferentes instâncias e vem promovendo diversos

eventos, envolvendo os mais diversos setores da sociedade civil em diversos temas.

A opção referida inicialmente seria, também aproveitando a experiência brasileira e

as estruturas hoje em funcionamento: como um bom exemplo, pode ser o

fortalecimento da parceria em vigor entre o governo federal e a sociedade civil em

torno do Prêmio Objetivo de Desenvolvimento do Milênio Brasil - o Prêmio ODM

Brasil. Atualmente, o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade e o

Governo Federal trabalham em parceria para a promoção e reconhecimento das

entidades e prefeituras que trabalham pelo alcance das metas dos Objetivos do

Milênio, no sentido de chamar a atenção de toda a sociedade para as ações

desenvolvidas por tais entidades e prefeituras. Há elevado potencial para que a

sociedade se empodere de mais esse espaço de debate público, assim como

aconteceu com o Movimento Brasil Competitivo.

Há evidências de um senso comum de que ações sociais da empresa que

extrapolam suas obrigações legais, não podem ser atribuídas como sua obrigação.

Entretanto, no caso de haver entendimento de que a atuação da empresa no campo

40

social é benéfica, suas ações precisam ser conhecidas, reconhecidas, estimuladas e

reguladas pelo Estado. Para a atuação do Estado, há uma infinidade de

possibilidades, como as citadas a seguir, que não tem a pretensão de especificar a

forma e o conteúdo de cada uma:

Estabelecimento do “Selo do Sistema Nacional de Responsabilidade Social

Nacional”, com graduação para distinção do nível de aprofundamento da

empresa com as ações sociais.

Desenvolvimento dos Indicadores Brasileiros de Responsabilidade Social

Empresarial, baseado nos já existentes e aperfeiçoados, sob o olhar do

interesse público.

Estabelecimento de sistema de metas, acompanhamento e monitoramento

dos resultados dos programas sociais empresariais, em parceria com o

Ministério do Planejamento ou órgãos correspondentes nos estados e

municípios.

Concessão, por parte dos governos, de vantagens fiscais ou pontuação em

licitações para empresas participantes do “Sistema Nacional de

Responsabilidade Social Nacional”, conforme o nível de graduação obtido

pela empresa.

Convém ressaltar que acima da discussão da legitimidade das ações sociais

da empresa está a ilegitimidade de milhões de brasileiros viverem condenados à

esmola. Há espaço e boa vontade dos mais diversos setores da sociedade civil em

enfrentar o problema.

Dada a complexidade do tema, não se pode apontar somente Estado ou

empresas ou sociedade civil como sendo algum destes sujeitos, em separado,

responsável pela consolidação do tema na vida social e política do país, mas deve

ser consenso entre os três sujeitos (Estado, Empresas e Sociedade Civil) para que a

democracia se estabeleça, convergindo forças para a efetiva mudança do quadro de

exclusão social vivida por tantos brasileiros.

41

9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda que sem defnição conceitual, o debate sobre a responsabilidade social

empresarial está posto e não tem volta.

Ao Estado, não há opção. Não há mais espaço para justificar que o tema é

eminentemente próprio das corporações privadas. As desigualdades sociais não

permitem que o Estado perca a oportunidade que se apresenta em tentar converter

as boas intenções em políticas sociais. Não fosse o objeto da ação da empresa e

seu público-alvo, poderia haver a opção do Estado retirar-se da discussão. Mas esse

não é o caso e, portanto, é dever do Estado envolver-se e interagir-se com o tema,

que já faz parte das discussões sociais que rogam pelo olhar do Estado.

A introdução do Estado na condução do debate deve além de assegurar a

efetivação dos direitos realmente públicos também pode regular para que os

programas sociais empresariais sejam conjugados com as políticas sociais setoriais,

além de impedir que crises econômicas exterminem tais ações no momento em que

as pessoas mais necessitam de apoio. São justamente em momentos de

desemprego e desequilíbrio econômico que os excluídos do mercado, precisam ser

acolhidos em seus direitos sociais.

Reconhecendo suas limitações técnicas e intelectuais e sem o intuito de

esgotar os estudos sobre o tema, este trabalho procurou contribuir para a

compreensão e inserção da temática da responsabilidade social empresarial no

contexto da dinâmica democrática brasileira. Uma sugestão é para que o poder

público inverta, imediatamente, a vocação de se apartar os discursos pelas crenças

ideológicas e canalizar esforços intelectuais e práticos ao fortalecimento e à

construção da cidadania.

Se a questão é positiva ou negativa, somente um debate contundente com a

sociedade poderá responder. É através da institucionalização do debate que se

configurará a opinião e a vontade pública. Mais que isso: a ausência do Estado no

debate pode significar o enfraquecimento da própria sociedade civil pois, a exclusão

social tanto é causa quanto consequência da exclusão política. O que está em pauta

no debate é a possibilidade e a oportunidade de dar mais um passo em busca da

universalização dos direitos sociais e finalmente, o alcance de maior justiça social.

42

Relativamente aos objetivos deste trabalho:

Apontar as principais iniciativas sociais de mobilização em torno da

responsabilidade social empresarial: As principais iniciativas sociais de

mobilização estão em franco fortalecimento e diversificação. A disseminação

das organizações que vem se engajando no tema é um reflexo da importância

que o assunto vem tomando no debate coletivo. As mobilizações tem pautado

as ações de diversos setores representantivos sociais como Ong‟s,

sindicatos, órgãos de classe e movimentos sociais.

No ambiente social há uma infinidade de instituições com objetivos distintos

entre os que tem e os que não tem interesse no assunto. Mas é consenso

entre as que se envolvem no tema a esperança de que novos esforços

possam contribuir para a inserção social de multidões excluídas.

Analisar o pontencial democratizante de inserção do tema na agenda

pública brasileira: Para valer-se do potencial democratizante das ações

sociais das empresas tais ações precisam estar inseridas sob a ótica de uma

nova relação entre Estado, sociedade e mercado. Os conceitos de

participação e cidadania precisam ser orientadores da atuação daquelas

organizações. Eis aí o potencial democratizante da responsabilidade social de

empresas privadas rumo ao desenvolvimento social brasileiro. Uma conclusão

em torno do debate só será legítima se ela expressar o consenso entre as

diferentes opiniões. E esse consenso só será obtido se houver um amplo

debate envolvendo representantes dos diversos setores sociais - movimentos

sociais, trabalhadores, empresários, associações de classe, entre outros.

Legitimidade democrática só será conseguida se houver o envolvimento e a

condução do assunto por aquele responsável pela promoção da igualdade,

não somente social, mas igualdade política. O tema requer se não o

posicionamento, no mínimo, a condução do debate na sociedade pelo Estado.

O produto promissor do ativismo empresarial é algo que muito interessa

àquele incumbido pela Constituição Federal de 1988: o de prover serviços

públicos - de saúde, educação, moradia, lazer, entre outros – a todos os

cidadãos em um ambiente participativo e democrático.

43

Identificar o potencial de atuação conjunta entre Estado e setor privado,

a partir da interpretação dos discursos do setor empresarial, à luz das

contradições apresentadas pelo debate: É fato que os objetivos do setor

público muitas vezes se divergem dos objetivos do setor privado. No setor

público não se busca a maximização dos lucros e minimização das perdas. As

perdas e os ganhos têm uma dimensão humana não contemplada pela lógica

racional privada. Essa é a principal razão para que o Estado se empodere do

tema. Mas, o provimento dos direitos sociais não deve ser monopólio do

Estado, como também não pode ser dever exclusivo do setor privado. Se

ambos compreenderem suas limitações e trabalhar por uma sinergia positiva

de suas habilidades para que possam finalmente se aliarem à sociedade e

provê-la dos serviços que lhes são garantidos e ainda não efetivados.

Entretanto, o dever de criar condições favoráveis à ampliação do debate, este

sim é precípuo do Estado. Se ao final do debate chegar-se à conclusão de

que a responsabilidade social empresarial não é uma via possível para a

solução de problemas de dimensões sociais, o Estado terá, no mínimo,

promovido a inclusão política de diversos atores sociais ao trazê-los para a

discussão. Todo esse processo pode ser conduzido por uma sucessão de

aprendizagem múltipla, onde aprende o Estado, as empresas e a sociedade

civil. Importante considerar que a inércia estatal pode atrasar a inclusão social

de milhões de miseráveis. A ação do Estado pode levar, simultaneamente, ao

encontro de dois apelos patentes desde o início do processo de

democratização brasileira: a ampliação da participação social na vida política

do país e a efetivação dos direitos sociais.

Há experiências brasileiras suficientes para embasar o agir e o como agir do

Estado. Experiências de espaços participativos que podem inclusive ter suas

estruturas aproveitadas para a institucionalização do debate e posterior

efetivação das deliberações advindas dele.

44

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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