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Universidade Federal de Minas Gerais Programa de Formação de Conselheiros Nacionais Curso de Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais As Relações de Representatividade do Fórum do Idoso da Regional Noroeste de Belo Horizonte - Um Estudo de Caso Luciana Maria de Oliveira Mariano Belo Horizonte 2009

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Universidade Federal de Minas Gerais Programa de Formação de Conselheiros Nacionais

Curso de Especialização em Democracia Participativa , República e Movimentos Sociais

As Relações de Representatividade do Fórum do Idoso da Regional Noroeste

de Belo Horizonte - Um Estudo de Caso

Luciana Maria de Oliveira Mariano

Belo Horizonte

2009

Luciana Maria de Oliveira Mariano

As Relações de Representatividade do Fórum do Idoso da Regional Noroeste

de Belo Horizonte - Um Estudo de Caso

Monografia Programa de Formação de Conselheiros Nacionais Curso de Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais

Orientação: Renato Moraes Co-orientação: Heloísa Starling Tutor: Sandro Cerveira

Belo Horizonte 2009

Agradecimentos:

À Secretaria Geral da Presidência da República, que nos concedeu à participação no Programa de Conselheiros Nacionais, marco numa nova trajetória participativa e profissional. Ao Orientador Renato Moraes, que através de seus pontos de vista e pertinência nos comentários nos propiciou um processo elaborativo de monografia seguro e de grande aprendizagem. Ao Tutor Sandro Cerveira, pela constante disponibilidade e esclarecimentos essenciais na condução do curso. À toda equipe do curso, em especial à Amelinha, Eleonora, Juliana, Laura por todo empenho e competência, através dos imediatos esclarecimentos. À toda equipe de professores, pela competência e ricos momentos de aprendizagem. Ao Professor Leonardo Avritzer e equipe de Coordenação Geral, por estruturarem um curso tão essencial, que com certeza resultará em um novo tempo na prática democrática participativa dos multiplicadores de conselheiros e conselheiras tão necessários a esse novo Brasil que se configura mais democrático e inclusivo.

“Cidadão não é quem vive em sociedade. É quem

transforma a sociedade em que vive.”

Augusto Boal

RESUMO

O presente trabalho tem, como foco de pesquisa, a a tuação do Fórum do Idoso

da Regional Noroeste de Belo Horizonte. Inicialment e, é desenvolvido o tema

democracia participativa e elaborada uma síntese do processo evolutivo das

teorias, se atendo um pouco mais no conceito de esf era pública, a linha

conceitual elaborada por Habermas e a ampliação do tema por seus

assistentes diretos, Arato e Cohen. Em seguida, abo rda-se a estruturação da

democracia participativa no Brasil, com uma breve a nálise dos conselhos. O

trabalho abrange ainda a evolução das políticas púb licas voltadas para o

envelhecimento no mundo, no Brasil e na cidade de B elo Horizonte. Busca-se

analisar como são elaboradas as relações de represe ntatividade por parte dos

conselheiros, representantes do fórum, com relação aos idosos representados

e a visão dos gestores do fórum e do Conselho Munic ipal do Idoso, sobre este

tipo de representação. Apresenta como são estrutura dos os fóruns regionais,

com a caracterização do objeto de estudo, no caso o Fórum Regional

Noroeste, demonstrando sua composição e dinâmica e as razões de sua

escolha. A análise da dinâmica e composição do fóru m é realizada a partir da

avaliação das atas e elaboração de entrevistas com conselheiros, gestores e

membros. Conclui-se que há uma assimetria nessa rel ação de

representatividade, cujos conselheiros tendem a atu ar segundo seus

interesses e opiniões pessoais e, na maioria das ve zes, não respondem às

demandas de seus representados.

Palavras chave: Democracia Participativa - Fórum – Conselho –

Representatividade – Protagonismo

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO AO TEMA ................................. ................................................... 1

2. DESENVOLVIMENTO..........................................................................................3

2.1. DEMOCRACIA PARTICIPATIVA....................................................................3

2.2. EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA O

ENVELHECIMENTO.................................................................................................8

2.3. A TRAJETÓRIA DA POPULAÇÃO IDOSA NO MUNICÍPIO DE BELO

HORIZONTE NA CONQUISTA PELA CIDADANIA E POR SEUS DIREITOS........12

2.4. OS FÓRUNS REGIONAIS DOS IDOSOS ....................................................14

2.5. CARACTERIZAÇÂO E LOCALIZAÇÃO DA REGIONAL NOROESTE .........17

2.6. O FÓRUM DO IDOSO DA REGIONAL NOROESTE....................................18

2.7. METODOLOGIA ...........................................................................................21

2.7.1. ENTREVISTAS......................................................................................22

2.7.2. ANÁLISE DAS RESPOSTAS.................................................................23

2.7.3. ANÁLISE DAS ATAS.............................................................................29

3. CONCLUSÃO.......................................... ...........................................................33

4. BIBLIOGRAFIA....................................... ...........................................................35

5. ANEXOS.............................................................................................................39

5.1. ANEXO 1 – CRONOGRAMA DE ATIVIDADES............................................40

5.2. ANEXO 2 – ENTREVISTAS..........................................................................41

5.2.1. QUESTÕES ELABORADAS PARA A GESTORA .................................41

5.2.2. QUESTÕES ELABORADAS PARA A PRESIDENTE DO CMI-BH........41

5.2.3. QUESTÕES ELABORADAS PARA OS CONSELHEIROS

REPRESENTANTES DO FÓRUM REGIONAL ..................................................41

5.2.4. QUESTÕES ELABORADAS PARA OS PARTICIPANTES DO FÓRUM42

- 1 -

1. INTRODUÇÃO AO TEMA

Na atualidade, o tema envelhecimento vem ganhando um espaço crescente nas

discussões da sociedade moderna.

Historicamente, a dinâmica social em relação à fertilidade e à mortalidade reflete

diretamente nas alterações da estrutura etária da população. No caso do Brasil, o

país era, até então, considerado um “país jovem”, título esse que foi absorvido, ao

longo do tempo, pela maior parte da população e dos governantes. No entanto, essa

realidade vem se modificando aceleradamente com o aumento da expectativa de

vida.

O aumento da longevidade é atribuído a diferentes fatores que vão desde novas

formas de organização familiar, social, cultural e política, até avanços da ciência

médica e melhorias no saneamento básico.

A junção destes fatores fez com que o Brasil e vários países em desenvolvimento

passassem a vivenciar um acelerado processo de envelhecimento.

No Brasil, em 1940, a população com 60 anos ou mais era composta por 1,7

milhões de pessoas, em 2000, o número de idosos alcançou a marca de 14,5

milhões, em 2006, já existiam 19,1 milhões de pessoas nesta faixa etária. Estima-se

que, em 2025, o Brasil será o sexto país com maior número de idosos no mundo.

A preocupação progressiva e a tomada de consciência da sociedade em geral sobre

os problemas que sofrem as pessoas que envelhecem explicam-se basicamente

pelo crescimento desse segmento populacional.

Toda a transição demográfica que vem passando, o Brasil e outros países em

desenvolvimento, mostra que o envelhecimento não se trata apenas de uma questão

demográfica, mas envolve também questões sociais e políticas.

O processo de envelhecimento da população demanda um olhar atento às

peculiaridades desse segmento populacional por parte do poder público, da família e

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da sociedade, na proposição de diferentes estratégias, ações e serviços que

atendam às necessidades de atenção, proteção e defesa dos direitos da população

idosa.

Uma das estratégias mais relevantes desse processo é a participação ativa do idoso

que começa a deixar o papel de invisibilidade social para visibilidade e protagonismo

no processo de planejamento, elaboração, monitoramento e acompanhamento das

políticas públicas que atuam na área do envelhecimento.

Como eixo de identidade contemporânea, será estudado, nesse trabalho de

pesquisa, a população idosa na cidade de Belo Horizonte, mais especificamente, os

idosos que participam do fórum do idoso da Regional Noroeste.

Pretende-se melhor entender como são estabelecidas as relações de

representatividade entre os conselheiros da regional Noroeste e os seus

representados, no caso os idosos que participam do fórum do idoso da regional.

Além de avaliar como são construídas as relações de representatividade por parte

dos gestores do fórum da regional e do Conselho Municipal do Idoso de Belo

Horizonte.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1. DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

Quando situamos o debate sobre democracia partindo do que se denomina de

modelos clássicos e contemporâneos, conclui-se que a democracia como forma de

governo é um fenômeno muito recente na história da humanidade, pois, como uma

concepção adequada de organizar a vida política, ela possui menos de cem anos.

Em seus primórdios se consolida como forma de governo alicerçada por autores

clássicos, como Rosseau, que privilegiava o aspecto decisório, no interior do

processo deliberativo. Ele defendia que, uma vez aferida a vontade da maioria, a

posição perdedora nada mais representava que um erro.

A concepção decisionística de deliberação foi amplamente utilizada por todos os

autores que defendiam o elitismo democrático. Entende-se por elitismo democrático,

segundo Avritzer, todas as concepções de democracia que operam com dois

elementos:

1. A redução do conceito de soberania ao processo eleitoral, definida na

seguinte frase de Schumpeter: “A questão central da soberania é

unicamente um método de formação de governos.”

2. A justificação da racionalidade política enquanto decorrente da presença de

elites políticas ao nível de governo.

O elitismo democrático encontra em Max Weber (1864-1920) e em Joseph

Schumpeter (1883-1946) os seus teóricos mais significativos no inicio do século XX.

Esse modelo dominante de representação política, que organiza as democracias

contemporâneas, cristalizado nos séculos XVIII, XIX e meados do século XX,

entrelaçou o legislativo como lócus de representação, tendo políticos eleitos,

eleições e eleitores, e mais tardiamente, partidos políticos de massas como

instâncias de mediação e ordenação da relação entre representantes e

representados (Gurzavalle, Houtzer e Castello, 2006 a).

- 4 -

Entre as décadas de 70 e 90, cresce no interior da teoria democrática uma tendência

à reavaliação do elemento argumentativo dentro do processo deliberativo.

Desde a sua origem, o conceito de esfera pública tem algumas de suas

características centrais relacionadas ao debate democrático contemporâneo. Uma

delas refere-se à idéia de um espaço para a interação face a face, onde os

indivíduos têm a possibilidade de debater as decisões tomadas pela autoridade

política e apresentar demandas em relação ao Estado. Nesse espaço, as pessoas

discutem e deliberam sobre as questões políticas e adotam estratégias para tornar a

autoridade política sensível as suas deliberações.

Esse conceito representou uma ruptura com o método decisional.

O conceito de esfera pública apresentou-se como um dos temas de maior relevância

na reestruturação da teoria crítica. Ao mesmo tempo em que representou uma

continuidade à tradição crítica sobre a cultura de massas iniciada pela Escola de

Frankfurt, impôs a recuperação de um fundamento normativo responsável pela

consolidação de uma nova relação entre a teoria crítica e a teoria democrática.

Primeiramente, esse conceito responde por uma interação legal de associações e

movimentos trazendo uma nova perspectiva dentro da teoria democrática,

introduzindo a relação argumentativa crítica com a organização política, inserindo

uma nova forma de relação entre racionalidade e participação. Avançando um pouco

mais no debate entre elitismo e os democratas participativos.

Segundo Habermas, nota-se uma dimensão argumentativa no interior da relação

Estado - sociedade que ultrapassa à vontade geral, ou seja, através desse processo

argumentativo, a opinião dos indivíduos não se reduz à vontade da maioria, como

defende Rosseau, mas também não representa a vontade de um só indivíduo, como

quer Rawls. Assim, torna-se necessário um processo de debate e argumentação,

onde cada indivíduo expresse suas opiniões (Avritzer, 2000).

Outra linha conceitual, elaborada por Habermas (1990, in Avritzer e Costa, 2004),

refere-se à tensão entre autonomia da crítica cultural e o caráter comercial do

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processo de produção cultural, representada pela infiltração mútua das esferas

pública e privada, em que percebe-se uma perda de autonomia do campo cultural.

O conceito habermasiano de esfera pública propiciou o desenvolvimento de duas

áreas de investigação na teria social contemporânea muito produtivas e, ao mesmo

tempo contraditórias. A primeira área é composta pelas teorias sobre movimentos

sociais e sociedade civil, onde as principais referências são (Melucci, 1985; 1989;

1996; Keane, 1988; Cohen, 1985; Goldfarb, 1989, in Avritzer e Costa, 2004). A

segunda área de investigação da teoria crítica, impulsionada Habermas no livro

“Mudança Estrutural da Esfera Pública”, onde analisa os meios de comunicação de

massa, cujas principais referências são Pascoale, 1972; Keane, 1988a; 1988b;

Deetz, 1992; Tompson, 1990; 1995).

As obras de Jürgen Habermas sempre estiveram vinculadas a uma tentativa de

reintroduzir uma forma de debate argumentativo na análise da política, inerente aos

seus diferentes enfoques, ambas se baseiam no desenvolvimento de uma esfera

dialógica e interativa a que pertencem tantos movimentos sociais e as associações

voluntárias.

Entretanto, percebe-se em Habermas a ausência de mecanismos capazes de

realizar a relação entre a rede de deliberação pública e os sistemas políticos e

administrativos e como institucionalizar esses arranjos deliberativos. Assim, na sua

visão, ao indivíduo caberia influenciar, mas sem adquirir poder político. A influência

pública se transformaria em poder administrativo somente após todos os

procedimentos institucionalizados, por meio dos debates parlamentares, legitimados

pela legislação.

Logo, Habermas não considera a possibilidade de arranjos deliberativos no nível

público, já que a opinião pública é informal e dessa forma deve permanecer, não

requerendo elementos institucionais e/ou decisórios para dar formato à democracia

deliberativa.

Outra crítica ao modelo discursivo relaciona-se com a negligência de Habermas no

que se refere às possibilidades (e a necessidade) de ampliação dos mecanismos

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institucionalizados de formação da vontade política. Isso levou-o a subestimar

completamente as estruturas de participação pública e a necessidade de

horizontalizar os processos decisórios (Schnalz-bruns, 1994, in Avritzer e Costa,

2004) ou a necessidade de promover processos de “alfabetização política” que

permitam, no plano local, a vivência da noção de poder (Epple-Gass, 1992 in

Avritzer e Costa, 2004). Apesar do modelo teórico do espaço público de Habermas

ser o mais detalhado e presente no debate contemporâneo, a concepção discursiva

de esfera pública, desenvolvida por ele aos longos dos anos 90, mereceu críticas e

complementações importantes. Tais complementações foram, na maioria das vezes,

desenvolvidas pelos colaboradores mais próximos de Habermas, especialmente

Claus offe, Andrew Arato e Jean Cohen. Esses autores se encarregaram de explorar

caminhos contidos na teoria da ação comunicativa que apontavam na direção de

uma teoria da democracia mais abrangente do que as teorias desenvolvidas pela

ciência política convencional.

Vários autores têm buscado preencher tal lacuna no modelo discursivo, insistindo na

necessidade de conectar os processos de discussão e deliberação pública, de sorte

a permitir que o debate político gere não apenas possibilidades de consenso, mas

transparência no exercício de poder.

As tentativas de institucionalização da doutrina deliberativa tiveram início com Cohen

e Bohman. Suas teorias transformaram a influência quase fictícia dos públicos no

sistema político, em uma influência real. Nesse sentido, pode-se pensar em um

processo público de institucionalização da deliberação democrática. Resta ainda

saber qual seria a forma e quais seriam os locais dessa institucionalização.

Para Avritzer, os locais da democracia participativa devem ser os fóruns entre

Estado e a sociedade, onde são identificadas três características principais para

argumentação deliberativa. A primeira, seriam os arranjos deliberativos e a forma

como assimilam a informação detida pelos atores sociais, podendo ser pública ou

socializada. A segunda, compreenderia o aspecto peculiar das formas deliberativas,

onde há a possibilidade de se testar múltiplas experiências, dessa forma, o elemento

central dos regimes deliberativos passa a ser a sua diversidade e não a sua

unidade. A terceira e última, seria a necessidade de cessão, por parte do Estado, de

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um espaço decisório em favor de uma forma ampliada e pública de participação.

Essa ampliação da participação contribui para a argumentação, o que torna os

espaços decisórios mais democráticos e local permanente para a manifestação de

interesses minoritários, ou para a justificação de uma ação estatal em favor de um

interesse determinado.

A estruturação da democracia participativa no Brasil foi introduzida com a formação

da assembléia constituinte, que trouxe consigo novos arranjos participativos, a

relevância da iniciativa popular e a participação dos representantes de associações

populares na organização das cidades.

Teve início uma prática participativa, focada ao âmbito local e às questões de

urbanização e gestão de serviços públicos, devolvendo à cidadania e à democracia

o seu sentido mais profundo: A capacidade de cada um, conectado aos outros, de

recobrar o controle da luta por suas necessidades.

Nesse período, começaram a surgir práticas como o orçamento participativo, que se

inicia em Porto Alegre e, logo depois, em Belo Horizonte, sendo implantado

atualmente seu modelo em inúmeras localidades.

O Brasil ainda vive sob as conseqüências da imposição global do modelo neoliberal,

mas começa a ser introduzida, apesar da hostilidade ainda vigente, a participação

ativa dos cidadãos na vida política e, quando aceita, tem se confinado ao nível local.

Essa participação possibilita a construção da articulação e complementaridade da

democracia participativa com a representação, por meio de diferentes práticas como:

os conselhos gestores, as conferências locais e nacionais, as audiências públicas,

os orçamentos participativos.

Quanto mais intensa for a vida associativa, maior será o grau de confiança mútua na

comunidade. Quanto mais intensa for a democracia no interior das associações e

organizações, menor será o espaço para líderes oportunistas e corruptos e mais

eficientes serão as instituições democráticas. A eficiência das instituições tornará

mais competentes os governos democráticos, resultando em um maior

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desenvolvimento social e econômico.

A análise dos conselhos nos mostra que a positivação do direito não garante, por si

só, a efetividade inclusiva. Embora institucionalmente garantidas, a indefinição de

um partilhamento das políticas representam a ausência de simetria entre os

representantes do Estado e da sociedade no que diz respeito à construção de uma

pauta conjunta de discussão e a ausência de qualquer disposição por parte do poder

público de capacitar os atores sociais para participarem de forma mais igualitária.

Esses fatores demonstram, claramente, a resistência de determinados gestores

públicos em partilharem o poder com os conselheiros, inibindo assim, a inclusão

política dos mesmos na definição dessas políticas. A análise das próprias normas

que balizam o funcionamento destas instituições participantes já aponta os limites

deliberativos que elas comportam. (Faria, 2007.b).

Torna-se necessário que sejam fortalecidas as instituições democráticas

participativas, para ampliar as chances de vocalização e expressão de um número

cada vez mais expressivo de diferentes atores, que no exercício democrático de

participação possam ser capacitados nas diversas instâncias participativas

societárias, como fóruns, associações e movimentos.

2.2. EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA O ENVELHECIMENTO

A Organização das Nações Unidas realizou, em agosto de 1982, em Viena, a

primeira Assembléia Mundial do Envelhecimento, onde foi aprovado o Plano

Internacional de Ação para a velhice. Foram estabelecidas 62 recomendações para

ações nas áreas de saúde, nutrição, proteção dos consumidores idosos, habitação,

educação, família, bem estar social, emprego, meio ambiente.

O Brasil tornou-se signatário desse plano, comprometendo-se a implementar

políticas públicas que buscassem assegurar os direitos sociais do idoso. A partir de

uma intensa mobilização da população idosa, foram inseridos artigos na

Constituição de 88 relacionados aos idosos, assegurando o dever da família, da

sociedade e do Estado de amparar as pessoas idosas, a gratuidade dos transportes

coletivos urbanos a maiores de 65 anos, os direitos à previdência, assistência social

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e saúde.

Em 1999, foi instituída, por lei, a concessão de um benefício mensal não

contributivo, no valor de um salário mínimo, às pessoas idosas.

Em 1994, foi sancionada e regulamentada a Política Nacional do Idoso (PNI), que

tornou-se o marco inicial para introdução da questão do envelhecimento da

população brasileira. A política nacional procurou estabelecer e assegurar os direitos

sociais do idoso, com vistas ao seu protagonismo, integração e efetiva participação

social e política.

Após 20 anos da primeira Assembléia Mundial do Envelhecimento, ocorreu, em

Madri, a segunda, em 2002, organizada pela ONU. Nessa assembléia, priorizou-se a

aplicação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, bem como a necessidade

de inclusão do idoso na vida social, cultural, econômica e política da sociedade.

A velhice passa a ser compreendida como um processo que demanda diferentes

ações de caráter intersetorial, envolvendo políticas nas áreas da habitação,

educação, assistência social, trabalho, previdência social, saúde, justiça.

Esse encontro promoveu a elaboração do plano de ação internacional para o

envelhecimento. O plano define diferentes estratégias para o desafio do

envolvimento da população, além de apresentar, aos responsáveis pela formulação

de políticas de todo o mundo, um conjunto de 117 resoluções que abrangem três

esferas prioritárias:

- Pessoas idosas e desenvolvimento;

- Promoção da saúde e bem estar na velhice;

- Ambiente propício e favorável à velhice.

A segunda assembléia de Madri viabilizou a continuidade de políticas voltadas à

pessoa idosa.

No ano de 2004, entrou em vigor a Lei nº 10.741, o Estatuto do Idoso, composto por

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118 artigos, destinados a regular os direitos assegurados às pessoas maiores de 60

anos de idade, como o direito à saúde, à vida, à educação, à habitação, ao

transporte, à alimentação, à convivência familiar e comunitária, à cultura, ao

trabalho, ao lazer, à previdência e assistência social, à assistência judiciária, além

de medidas de proteção específicas aos idosos residentes em ILPI’s (Instituição de

Longa Permanência).

Além de seu importante significado político, uma vez que essa legislação consagra

direitos específicos de um importante segmento da população brasileira, o Estatuto

do Idoso representa uma tomada da consciência do conjunto da sociedade sobre as

rápidas transformações na estrutura demográfica do país.

Estas transformações decorrem do aumento da expectativa média de vida dos

brasileiros e indicam que a sociedade deve se preparar, como um todo para garantir

melhor qualidade de vida e dignidade aos idosos. Torna-se necessário uma melhor

compreensão da velhice, em torno das prioridades para as diferentes áreas nas

quais os Municípios, Estados e União tenham uma atuação determinante.

O Estatuto contribuiu com uma legislação que prevê punições para quem

desrespeitar e violar os direitos do idoso, linhas de ação ao atendimento do idoso,

fiscalização e apuração administrativa de infração às normas de proteção do idoso.

Foram previstos, tanto na política nacional, quanto no estatuto do idoso, a criação e

atuação dos conselhos do idoso nas três esferas, municipal, estadual e federal.

Compreendem órgãos colegiados e paritários, sociedade civil e governo, criados

como mecanismos de controle democrático, que têm como objetivo o

acompanhamento e o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas a essa

parcela da população.

O Conselho Nacional do Idoso está vinculado à Secretaria Especial dos Direitos

Humanos da Presidência da República.

No princípio de sua criação, o conselho possuía caráter consultivo e paritário.

Entretanto, as pressões populares fizeram com que, em 17 de Junho de 2004, o

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Conselho Nacional dos Direitos do Idoso passasse a ter caráter deliberativo.

O conselho nacional aprovou em 2005, a realização da primeira Conferência

Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, de caráter deliberativo, realizada em maio de

2006, tendo por eixo temático “Construindo a Rede de Proteção e Defesa da Pessoa

Idosa - RENADI”.

A conferência foi balizada por 27 conferências estaduais, onde participaram 14 mil

pessoas, em todo o território nacional, de onde saíram 408 delegados

representantes. A participação na conferência nacional foi composta por 60% de

representantes da sociedade civil e 40% governamental e delegados dos poderes

legislativo, executivo e judiciário, especialistas sobre o envelhecimento e membros

de universidades, num total de 750 participantes.

A primeira conferência possibilitou a discussão da questão do envelhecimento, a

partir de suas múltiplas expressões. A velhice passa a ser compreendida como um

processo que demanda diferentes ações, de caráter intersetorial, envolvendo as

políticas setoriais de educação, habitação, trabalho e assistência social, saúde,

justiça, dentre outros.

Pode-se citar como avanços da RENADI, pós-conferência nacional:

- A realização da conferência de Brasília que avaliou o plano internacional sobre o

envelhecimento (Madri+5), dando visibilidade à legislação relativa aos direitos das

pessoas idosas.

- O estabelecimento do plano nacional de implementação das deliberações da

conferência.

A Segunda Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa - 2ª CNDPI,

realizada em março de 2009, em Brasília, foi precedida por conferências municipais

e estaduais, sendo realizada em 1154 municípios brasileiros, com a participação de

aproximadamente 61 mil pessoas.

A segunda CNDPI reiterou os compromissos assumidos pelo estado brasileiro, nos

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planos nacional e internacional, priorizando a promoção e defesa dos direitos da

pessoa idosa e buscando garantir o envelhecimento digno e saudável e a

valorização da pessoa idosa.

Essa conferência contou com 508 delegados e delegadas, eleitos em todo o

território nacional, com a participação de mais de 800 pessoas, com caráter

deliberativo, onde foram discutidas a avaliação da RENADI. Para tanto, foram

estabelecidos 9 eixos temáticos, sendo tratada a compreensão e as perspectivas da

RENADI de forma transversal, em todos os eixos temáticos.

Além da CNDPI, foi elaborado o plano plurianual (2008 - 2011) do governo federal,

que contemplou o programa de promoção e defesa dos direitos da pessoa idosa,

com objetivo de incrementar as ações de promoção e defesa dos direitos das

pessoas idosas e de buscar eliminar todas as formas de discriminação e de

violência. O programa buscou viabilizar o acesso aos bens e serviços pela

comunidade, para garantir um envelhecimento de qualidade. Abrange um

planejamento composto de um plano integrado de ação, entre governo e a

sociedade civil organizada e de um orçamento público anual e plurianual.

2.3. A TRAJETÓRIA DA POPULAÇÃO IDOSA NO MUNICÍPIO D E BELO

HORIZONTE NA CONQUISTA PELA CIDADANIA E POR SEUS DI REITOS

Em Belo Horizonte, foram realizadas várias iniciativas governamentais quanto à

questão dos direitos de cidadania da população idosa, como a criação da Política

Municipal do Idoso, em 1999, do Conselho Municipal do Idoso, em 1992 e, em 2002,

da Coordenadoria de Direitos da Pessoa Idosa, sendo, esses dois últimos órgãos,

fundamentais para a discussão e implementação das políticas públicas específicas

para a população idosa e também responsáveis pela elaboração e convocação das

Pré-conferências regionais e conferências municipais do idoso, ocorridas em março

de 2006 e março de 2008. Foi criado também o Centro de Referência da Pessoa

Idosa, pautado na responsabilidade conjugada da família, comunidade, sociedade

civil, entidades e órgão do poder público voltados para a promoção e defesa dos

direitos da pessoa idosa.

O ideário da criação de um centro de referência da pessoa idosa surge da

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necessidade de se agregar em um só espaço o acervo histórico e cultural sobre o

aspecto biopsicosocial do envelhecimento da população de Belo Horizonte,

favorecendo a participação política do idoso na cidade. Por outro lado, pretende-se

ainda ofertar serviços e programas voltados para a prevenção e promoção da saúde,

além de realização de projetos e ações no campo da educação, cultura, esporte e

lazer.

No ano de 2009, a municipalidade incluiu a “temática do idoso” no rol de 40 projetos

sustentadores escolhidos para nortear as ações governamentais. Além disso,

formou-se um grupo de trabalho, reunindo secretarias, fundações e autarquias que,

de alguma forma, tenham o compromisso com o público idoso, para a construção de

políticas públicas de forma a garantir o atendimento às demandas do

envelhecimento.

De acordo com os dados da Coordenadoria dos Direitos da Pessoa Idosa, Belo

Horizonte possui atualmente:

- 80 instituições de longa permanência que se dividem em particulares e filantrópicas

e nenhuma de equipamentos públicos.

- Aproximadamente 180 grupos de convivência que reúnem cerca de 2,5 mil

pessoas idosas

Os grupos de convivência refletem a instalação de uma nova etapa da história, na

qual o idoso avança em sua organização social, na conscientização dos seus

direitos e na busca de diferentes formas de participação na sociedade.

A grande maioria dos grupos de convivência participa de fóruns regionais, que são

realizados nas nove regionais de Belo Horizonte, que atuam como subprefeituras,

encarregadas dos bairros localizados nas regionais. O município de Belo Horizonte

está dividido em nove administrações regionais (Barreiro, Centro-Sul, Leste,

Nordeste, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova), cada uma delas, por

sua vez, divididas em bairros. Criadas em 1983, a jurisdição das unidades

administrativas regionais levam em conta a posição geográfica e a história de

ocupação.

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Cabe às administrações regionais a desconcentração e descentralização

administrativas no âmbito de suas respectivas jurisdições, para atendimento ao

público.

2.4. OS FÓRUNS REGIONAIS DOS IDOSOS

Os fóruns regionais do idoso surgiram após a promulgação da Lei nª 7.230/99, que

instituiu a Política Municipal do Idoso de Belo Horizonte, e sete anos após a lei de

criação do Conselho Municipal do Idoso de Belo Horizonte – CMI/BH.

Nos fóruns, são discutidos temas de interesse da população idosa e os eixos

temáticos das pré-conferências municipais do idoso. A partir dos fóruns, são eleitos

dois conselheiros (titular e suplente) do Conselho Municipal do Idoso de Belo

Horizonte e também os delegados das conferências Municipais do Idoso.

O Fórum Regional do Idoso têm a função de avaliar as ações regionais relacionadas

ao idoso. As reuniões são instâncias importantes de articulação da intersetorialidade

entre estas políticas. Embora não tenham por competência tomar decisões sobre as

políticas, podem encaminhar propostas ao Conselho Municipal e às suas respectivas

gerências regionais. A atividade envolve todas as políticas sociais: educação, saúde,

assistência social, trabalho, esporte e cultura.

A organização dos fóruns é de responsabilidade das gerências de assistência social

das regionais e cada fórum possui sua própria dinâmica. Os fóruns são realizados

mensalmente em todas as regionais e participam deles todos os coordenadores dos

grupos de convivência, entidades participativas, como Movimento de Luta Pró-Idoso,

governamentais, como a Coordenadoria de Direitos da Pessoa Idosa e gerências de

postos de saúde e de assistência social.

Dos conselhos gestores de BH, apenas os conselhos da Criança e do Adolescente e

do Idoso possuem os fóruns mensais regionais.

A Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social (SMAAS), órgão responsável

pela organização dos Fóruns em todas as Regionais, realizou, em 2007, um

- 15 -

seminário onde foi traçado um quadro geral de todos os Fóruns que ocorrem nas

nove regionais de Belo Horizonte.

Foi elaborada a análise e sistematização dos dados, o que permitiu a elaboração de

uma proposta de funcionamento para os Fóruns. Esta proposta teve como objetivo

reordenar e adequar os Fóruns, tendo em vista sua função social conforme

apresentado pela Profª. Eleonora Schettini.

Propostas de Sistematização para o Funcionamento d os Fóruns Regionais de

Idosos

Como resultado do trabalho do grupo apresentado neste documento, elaborou-se

uma proposta de funcionamento para os Fóruns Regionais de Idosos, cuja diretriz

fundamental é o fortalecimento da participação e organização do segmento para

consolidação de seus direitos.

A sistematização desta proposta representa ainda a contribuição da SMAAS no

sentido de dar visibilidade e organicidade aos Fóruns.

É fundamental criar condições favoráveis para o funcionamento dos Fóruns, através

da socialização da proposta de funcionamento, capacitação continuada dos

coordenadores, acompanhamento técnico mensal, realização de encontros

trimestrais com grupo de participantes dos Fóruns. O objetivo é empoderar os

Fóruns na perspectiva da sua emancipação.

- 16 -

Proposta de Funcionamento dos Fóruns

Participação

• Aberta, organizações formais e indivíduos interessados;

• Utilizar estratégias para garantir participação da rede local e dos

idosos;

Coordenação

• Paritária (poder público e sociedade civil), com vista ao

empoderamento da sociedade civil;

Formato

• Mensal;

• duração de 3 horas;

• dinâmica das discussões: com começo, meio e fim e

encaminhamentos para a próxima reunião;

• Registro;

• Instrumento de comunicação comum;

• Pré-Fórum;

• Planejamento anual das discussões ( 1ª reunião de planejamento

e a última de avaliação);

• Uniformidade de temas a partir da demanda dos envolvidos;

• Encontros trimestrais com a SMAAS de representantes dos

Fóruns Regionais de Idosos para garantir as diretrizes comuns;

• Avaliar a possibilidade de ser itinerante.

Conteúdo

• Discussão das políticas públicas que subsidie e materializa

encaminhamentos concretos na perspectiva dos direitos;

• Socialização de informações;

• Pensar em ação / atividades / responsáveis.

- 17 -

2.5. CARACTERIZAÇÂO E LOCALIZAÇÃO DA REGIONAL NOROE STE

Regionais de Belo Horizonte

REGIONAL POPULAÇÃO ÁREA

(km²)

1 Barreiro 262.194 53,51

2 Centro-

Sul

258.786 31,53

3 Leste 256.311 28,52

4 Nordeste 274.060 39,59

5 Noroeste 337.351 38,16

6 Norte 194.098 33,21

7 Oeste 268.124 33,39

8 Pampulha 145.262 47,13

9 Venda

Nova

242.341 27,80

Belo

Horizonte

2.452.617 330,95

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Regionais_de_Belo_Horizonte

A regional Noroeste, foco do estudo, abriga bairros tradicionais que se localizavam

no entorno da cidade planejada, inserida no perímetro da Avenida do Contorno.

Hoje, reúne várias das referências históricas e culturais da capital. Sua ocupação se

remete à época de fundação da cidade, quando, ao lado da cidade formal, foi

formada uma outra cidade – a dos operários e da boemia. Os primeiros moradores

do local instalaram-se na Pedreira Prado Lopes, em 1907. Na década de 1920, os

imigrantes italianos chegaram aos bairros Carlos Prates e Padre Eustáquio,

alavancando o crescimento dessas áreas. Atualmente, vários outros bairros antigos

da região encontram-se em processo de renovação urbana e substituição de

- 18 -

edificações.

A regional Noroeste é constituída por 67 Bairros e a que abriga a maior população

do município.

2.6. O FÓRUM DO IDOSO DA REGIONAL NOROESTE

No caso do fórum da regional Noroeste, as reuniões ocorrem mensalmente no

Centro de Referência da Pessoa Idosa, do qual participam entre 20 a 40 pessoas:

representantes dos grupos de convivência, do Movimento de Luta Pró-Idoso,

gestores de ILPI’s (Instituições de Longa Permanência), representantes de diversos

setores governamentais municipais.

Antes de cada fórum é realizado um pré-fórum, onde são elaboradas as pautas do

fórum por alguns idosos, representantes dos grupos de convivência, a representante

da Coordenadoria de Direitos da Pessoa Idosa e a gerente da assistência social da

regional, responsável pela organização do fórum.

Em relação ao perfil desses participantes, grande parte dos idosos possui uma

participação ativa em diferentes movimentos e, em sua maioria, são coordenadores

de grupos de convivência, com boa articulação na Câmara Municipal, através de

seus vereadores.

A seguir, serão apresentados os dados referentes às principais características do

Fórum do Idoso da Regional Noroeste, segundo dados da Secretaria Municipal

Adjunta de Assistência Social:

Participantes 1:

Poder Público - 07

Sociedade civil - 50

Total de Participantes no total - 57

Obs.: é a terceira regional de Belo Horizonte, em número de participantes.

1 Conforme dados levantados pela SMAAS

- 19 -

Coordenação do Fórum:

O Fórum é coordenado pelo poder público, especificamente, pela Gerência de

Programas Sociais.

Tempo de Existência do Fórum:

Varia de 06 à 12 anos. Na Regional Noroeste, há uma certa incerteza, tanto por

parte dos idosos, quanto por parte do poder público. A maioria acredita que o fórum

exista há mais de dez anos.

Formato do Fórum

Mensal fixo. As reuniões são organizadas por uma comissão organizadora “Pré-

Fórum”. A primeira reunião do fórum é de planejamento e a última de avaliação. São

feitas: apresentação dos participantes, leitura da ata, boletim de informes com

atividades regionais e lanche.

Conteúdos Programáticos

Atividade de lazer e cultura; conteúdos relacionados às políticas públicas para

discussão da política municipal do idoso e do Estatuto; escolha dos representantes

no fórum para o CMI; orientação jurídica para as entidades; feiras para exposição de

artesanato, feito pelo grupo na regional; além de passeios, festas, participação dos

grupos nas decisões a respeito do projeto filantrópico entre regional e colégio Padre

Eustáquio.

Observa-se que em contraposição às atas, não existiram momentos de

discussão do estatuto.

Qualidade dos Fóruns

Pontos Positivos

Crescimento da participação em quantidade e qualidade. Maior articulação entre os

- 20 -

Grupos de Convivência e as ILPIs da regional.

Pontos Negativos

Insuficiência das ações das políticas setoriais comprometendo a construção de uma

rede de proteção e de garantia de direitos para a pessoa idosa.

Pode-se afirmar que, de certo modo, existe, no interior organizacional do Fórum,

certa resistência, quanto à intersetorialidade dos órgãos gestores, o que realmente

provoca um enfraquecimento da rede de proteção de direitos da pessoa idosa.

As razões que levaram a escolha deste estudo de caso da regional Noroeste são:

• A participação mensal da pesquisadora neste fórum, como representante da

Coordenadoria de Direitos da Pessoa Idosa, há quatro anos consecutivos, o

que proporciona um conhecimento prévio de sua dinâmica;

• A participação ativa dos Idosos oriundos do fórum, em diferentes conselhos,

tais como Conselho de Assistência Social, da Saúde, Conselho Estadual e

Municipal do Idoso, além de diferentes eventos públicos na cidade;

• A própria dinâmica do fórum.

No presente trabalho, foi utilizado o espaço do fórum da regional Noroeste no

sentido de observação de como são estabelecidas as atividades de participação e

representação política, de articulação, de informação, avaliando se há um objetivo

mais formal de mobilização e participação política e sob quais condições os

indivíduos podem representar outros indivíduos com legitimidade.

O estudo se iniciou a partir da análise da dinâmica interna do fórum, as relações de

representatividade entre os idosos participantes e os idosos conselheiros do CMI/BH

e como são estabelecidas as relações de representatividade por parte dos gestores

municipais, a forma de participação dos idosos no fórum e a sua visão de

representação.

Nota-se nessa participação que a população idosa começa a encontrar seus

próprios meios de protagonismo social. Através de ONG’s participação em fóruns e

- 21 -

conferências diversas.

A luta da população idosa pela prática dos seus direitos ainda é muito recente. E

como afirma Matos (2009), torna-se necessário o reconhecimento político das

diferenças e também: a expansão de uma lógica redistributiva, mais universalista,

que permita a plena realização da igualdade, assim como a capacidade de encontrar

canais de vocalização de demandas entre esferas distintas de grupos

subalternalizados.

Ressalta-se que começam a ser construídas políticas que realmente buscam a

expansão de uma lógica redistributiva, mas quando nos deparamos nos eixos de

identidade contemporânea, as mulheres, as crianças e os adolescentes, os negros,

o grupo GLBTS, possuem ainda, aos olhos das políticas públicas, prioridades sobre

os idosos que não são vistos como potenciais votos nas eleições.

Matos (2009) ressalta que na atualidade não há mais possibilidade de negar ou

invisibilizar o pluralismo político vigente e mesmo as dimensões variadas de

expressão política em nossas sociedades crescentemente heterogêneas. O embate

que se inicia, além do reconhecimento das heterogeneidades, é talvez estabelecer

uma lógica necessária na redistribuição desses diferentes grupos na reorganização

das práticas políticas.

2.7. METODOLOGIA

Para melhor conhecer a dinâmica das relações estabelecidas foram feitas pesquisas

de campo, com coleta de dados primários sobre o Fórum da Regional Noroeste,

entrevista com a gerente responsável pela organização do fórum e a presidente do

CMI/BH, com o intuito de serem observados o grau de deliberação, o poder

econômico e social, possibilidades de status como conselheiro, representatividade

da sociedade civil, capacitação de gestores e conselheiros.

Como instrumentos de pesquisa, foram utilizadas a análise das atas das reuniões do

fórum que foram disponibilizadas, entre os meses de Fevereiro a Novembro, nos

anos de 2007 e 2009, e a realização de entrevistas com os diferentes participantes

do fórum a titulo de enriquecimento de dados de observação.

- 22 -

A partir das primeiras impressões obtidas pelas pesquisas de campo e levantamento

secundário, através da bibliografia e documentação disponível, foram elaboradas as

entrevistas.

2.7.1. ENTREVISTAS

Para a coleta de dados primários, foi inicialmente definido o público-alvo, para a

realização de entrevistas que buscassem avaliar a questão em diferentes

perspectivas, buscando construir uma visão integrada do tema.

Foram elaborados quatro tipos de questionários: um primeiro questionário para a

presidente do conselho CMI/BH, outro para a gestora do fórum, os dois conselheiros

(titular e suplente) e dez idosos, participantes do fórum, tendo por objetivo avaliar o

grau de relação do CMI com o fórum, se havia algum tipo de influência do fórum

sobre o conselho. Quais seriam os momentos em que é dada a voz para os

conselheiros trazerem algum tipo de questionamento ou demanda oriundo dos

fóruns. As questões elaboradas encontram-se abaixo relacionadas a saber:

2.7.1.1. QUESTÕES ELABORADAS PARA A GESTORA:

As questões elaboradas para a gestora do fórum obedeceram a alguns critérios que

pudessem esclarecer como a gestora percebe a importância do fórum, em quais

momentos são estabelecidos os relatos dos conselheiros e se havia a percepção de

algum tipo de relação ente o CMI e o fórum.

2.7.1.2. QUESTÕES ELABORADAS PARA A PRESIDENTE DO CMI/BH

As questões voltadas para a presidente do conselho buscaram identificar qual seria

a sua visão quanto ao fórum, a sua relevância e se haveria uma maior preocupação

em estabelecer uma maior relação entre o fórum e o CMI/BH.

- 23 -

2.7.1.3. QUESTÕES ELABORADAS PARA OS CONSELHEIROS

REPRESENTANTES DO FÓRUM REGIONAL

Nas questões elaboradas para os conselheiros procurou-se verificar como o

conselheiro percebe o seu papel representativo, quais seriam as suas atribuições,

como é a relação do CMI com o fórum.

2.7.1.4. QUESTÕES ELABORADAS PARA OS PARTICIPANTES DO

FÓRUM

Nas questões elaboradas para os idosos participantes, o objetivo foi perceber a

importância da participação no fórum, se ele conhecia quem é o conselheiro da

regional Noroeste, se havia o sentimento de representatividade entre o idoso e o

conselheiro e qual seria o tipo de representatividade estabelecida.

2.7.2. ANÁLISE DAS RESPOSTAS

2.7.2.1. RESPOSTAS DA GESTORA

Quanto à importância do fórum, acredita que este seja um espaço de organização,

articulação, defesa de direitos dos idosos. A gestora já participou de assembléias do

CMI/BH e não teceu maiores comentários.

Quanto aos relatos dos conselheiros, do que foi discutido ou votado nas plenárias, a

gestora afirma que sim e que vários assuntos discutidos no CMI/BH são trazidos

pelos atuais conselheiros. Essa afirmação confrontada com as atas não condiz com

a dinâmica do Fórum.

Em relação ao tipo de influência participativa do fórum nas discussões do conselho,

a gestora acredita que os idosos têm feito essa ligação entre os espaços de

participação e contribuído com as discussões do fórum. Quando confrontado com

ata, verifica-se, no entanto, que essa citação não encontra respaldo.

2.7.2.2. RESPOSTAS DA PRESIDENTE DO CONSELHO

A presidente do CMI/BH reconhece a importância do fórum, mas observa que há

- 24 -

uma certa resignação dos idosos, que preferem não se apropriar de um espaço que

seria seu, delegando-o aos gestores da PBH.

Apesar de não ter participado dos fóruns da Regional Noroeste, comenta que nas

outras regionais percebeu pouca demanda de reivindicações, devido à falta de

interesse dos idosos, que estariam mais voltados em “festejar” e não reivindicar.

Quanto ao espaço de participação no conselho, ela afirma que há, mas os

conselheiros representantes não se posicionam como tal, por não haver uma

ressonância entre o CMI/BH e os fóruns e vice-versa. A influência do fórum em

relação ao CMI/BH seria nas pré-Conferências e nas Conferências municipais,

quando escolhe os delegados.

A presidente do CMI/BH defende a necessidade de um trabalho de conscientização,

uma provocação dos fóruns para o CMI/BH e falta convencer o idoso a exercer e a

exigir uma cidadania plena.

Observa-se, nas respostas, uma tendência em eximir o conselho de qualquer

responsabilidade na dinâmica de relação com o fórum, não considerando como

função do conselho articular maior participação dos conselheiros representantes das

regionais, para se envolverem mais com a questão da representatividade.

Talvez, se houvesse um maior empenho no sentido de mostrar a importância de

seus posicionamentos como representantes de um determinado segmento e a

pontuação constante de que a sua posição representa a posição de determinada

regional, os idosos seriam mais atentos a essa questão.

A grande questão em pauta trata-se da dificuldade dos conselhos e das diferentes

formas de participação política da defesa de direitos em incluir setores mais

empobrecidos ou não mobilizados na participação e, ao mesmo tempo, a criação de

novos mecanismos para uma participação mais inclusiva desses segmentos. A

potencialidade de alteração da relação entre Estado e sociedade depende de um

equilíbrio no jogo de forças entre esses atores, visto que, muitas vezes, identifica-se

entre os conselheiros e participantes de fóruns a existência de assimetrias

informacionais e cognitivas que geram uma forte influência no seu potencial de

- 25 -

expressão e argumentação.

Para Dulssel (in Sherer-Warren, 2009), superar as formações discursivas,

discriminatórias e opressivas da “modernidade” seria negar a negação do mito da

modernidade, isto é, “des-cobrir” pela primeira vez, a “outra-face” oculta e essencial

à “modernidade”: o mundo periférico colonial, o índio sacrificado, o negro

escravizado, a mulher oprimida, a criança e a cultura popular alienados (as vítimas

da “modernidade”). Não se trata de negar o princípio da racionalidade da

modernidade, mas sim aplicá-lo a partir de um outro olhar, de um outro lugar, e da

compreensão sobre a cultura, às necessidades e às utopias dos subalternos em

relação aos processos de mudança social.

E ainda como argumenta Farnom (in Sherer-Warren, 2009), a história da

colonização tem que ser reescrita e reinterpretada, mas acima de tudo, é necessário

descolonizar as mentes para “que cesse para sempre a servidão de homem para

homem”.

A ausência de simetria dos atores do Estado e da sociedade, no que diz respeito à

construção de uma pauta conjunta de discussão, e a ausência de maior disposição

por parte do poder público de capacitar os atores sociais para participarem de forma

mais igualitária, mostram em certos conselhos gestores a resistência de

determinados gestores públicos de novas formas de escutas e inclusão política dos

mesmos na definição dessas políticas.

2.7.2.3. RESPOSTAS DOS IDOSOS PARTICIPANTES DO FÓRUM

Foram entrevistados dez idosos que participam do fórum, ressaltando que todos

participam do fórum há mais de dez anos.

A maioria considera o fórum muito importante, dentre os motivos da importância

destacam-se:

• O acesso à informação;

• A participação;

• A possibilidade de falar sobre os problemas do grupo.

- 26 -

Na questão referente à participação na votação do conselheiro, quatro disseram não

terem participado e seis disseram que haviam participado, muitos ficaram confusos,

com troca de nomes ao responderem a questão relativa a eleição dos conselheiros,

realizada em Junho de 2008.

Quando perguntados sobre os nomes dos representantes eleitos, seis idosos não

souberam dizer os nomes e quatro responderam corretamente. Essa questão

repercute algo que acontece com a eleição legislativa no país, quando muitos não se

lembram em quem votou, refletindo a questão da baixa representatividade.

Quanto a se sentirem representados pelos conselheiros, dois responderam que não,

oito responderam que sim, se sentem bem representados. Essa questão torna-se

bastante pertinente e mostra a incoerência na resposta da questão anterior, pois se

a maioria não se lembrava nem quem eram os conselheiros, como poderiam afirmar

serem bem representados?

Quanto aos momentos do fórum cedidos para relatos dos conselheiros, um idoso

respondeu que raramente existem esses momentos, dois responderam que às

vezes e sete responderam que sim. Se comparadas as respostas com o

levantamento das atas, os idosos que responderam às vezes estariam mais

corretos, pois, no ano de 2007, existiram três momentos e, em 2009, dois

momentos.

Com relação às questões a serem votadas no conselho e serem discutidas

previamente no fórum, dois idosos responderam que às vezes, quatro responderam

que sempre e quatro que raramente. A resposta quando comparada às atas

observa-se que em nenhum momento houve esse tipo de discussão

Quanto à existência de alguma relação do fórum com o conselho, sete responderam

que não vêem nenhuma relação, dois acham que deveria existir e um acha que tem

relação. Esse dado talvez tenha sido a constatação mais próxima da dinâmica do

fórum. Essa constatação nos aproxima do conceito de representação de Pitkin

(1967:60-91), quando afirma que representação, por definição, supõe diferença e

- 27 -

distância, não identidade e coincidência, entre a representação e aquilo que é

representado.

O Brasil desde a década de 90, período pós-Constituição, começa a vivenciar uma

abertura do poder executivo à participação de atores societários, investidos

juridicamente como representantes de determinados segmentos e interesses da

população, no desenho, implementação e supervisão de políticas públicas. Isso

representa uma nova reconfiguração da representação, que engloba também o

poder executivo confluindo para uma nova ampliação da democracia, trazendo uma

nova ótica societária ou uma aposta nas potencialidades de controle e

transformação gradual de "baixo para cima". Desta forma, as inovações

institucionais são pensadas, normalmente, a partir das perspectivas analíticas da

participação e da sociedade.

Por essas características, seria fundamental que o fórum se transformasse em local

de formação dos conselheiros atuais e futuros, a partir de uma prática de

representatividade, comprometida com as suas bases e incidiria na construção de

um CMI/BH mais autônomo e com um canal permanente de interlocução com a

sociedade.

Como afirma Cunha e Almeida (2009), “o processo de deliberação envolve o

exercício da argumentação e da decisão e deve ser inclusivo, sendo os conselhos

estruturados em forma de representação de organização de entidades da sociedade

civil e, portanto, a legitimidade dessas experiências, no que diz respeito aos

mecanismos de prestação de contas e autorização, tornando-se um problema a ser

avaliado para que possamos pensar na compatibilidade desses espaços com a idéia

de representação política.

2.7.2.4. RESPOSTAS DOS CONSELHEIROS

Os conselheiros demonstraram estar cientes da atuação e representatividade do

conselheiro em relação à regional que representam. Consideram que o fórum seja o

ponto forte da mobilização e conscientização dos direitos dos idosos. Acreditam que

utilizam bem o espaço tanto do CMI/BH, quanto do fórum e que há uma boa relação

entre o fórum e o CMI/BH.

- 28 -

A resposta dada pelos conselheiros demonstra necessária uma melhor preparação

para uma maior efetividade de suas ações. A sua melhor formação incidiria em

buscar maior espaço tanto no fórum, quanto no conselho e uma importante clareza

sobre sua representatividade.

Avritzer (2000) menciona que para Habermas (1997) existe uma dimensão

argumentativa no interior da relação Estado/sociedade que está além do processo

de formação da vontade geral. Tal formulação faz com que a opinião dos indivíduos

nesse processo argumentativo não possa ser reduzida à vontade da maioria, como

quer Rosseau, ou à representatividade de um só individuo na posição original, como

quer Rawls. É preciso que esse indivíduo expresse suas opiniões em um processo

de debate e argumentação.

Observa-se que quando o exercício da cidadania passa a ser mais ativo, também

passa a surgir a premência de locais de inserção no processo de formação de

opinião que não é unicamente o período eleitoral ou o dia da eleição. Essa

premência propicia o surgimento de novas formas de organização através de

associações da sociedade civil, com maior influência no exercício da cidadania, bem

como no sistema político, redefinindo a relação entre representação e participação.

De acordo com Paterman (1992), a participação é educativa e promove, por um

processo de capacitação e conscientização (individual e coletiva), o

desenvolvimento da cidadania, cujo exercício configura-se como requisito central na

ruptura com o ciclo de subordinação e de injustiças sociais. Com efeito, a

participação conferiria um outro ciclo (virtuoso), ancorado nas relações entre

participação cidadã, mudança da consciência política e redução das desigualdades

sociais (Macpherson,1978).

Completando, segundo Avritzer (2000), a democracia é tão melhor praticada quando

ela é de fato praticada pelos atores sociais. Quando as pessoas começam a

participar mais regularmente, elas começam a ter o aprendizado de todo o processo,

não se deixando ser manipuladas, entendendo o valor do voto, a ter a consciência

de todos os elementos importantes para o bom funcionamento do sistema político,

- 29 -

onde o indivíduo seja um membro de uma sociedade na qual a participação de alta

intensidade se articula com as suas bases representativas.

2.7.3. ANÁLISE DAS ATAS

A técnica utilizada para a avaliação dos documentos baseou-se na análise de

conteúdo, preponderando uma leitura temática, que possibilitasse o acesso aos

temas e sua recorrência ou mesmo ausência.

As atas envolvem, dentro da análise documental, dúvidas com relação à sua

abrangência, tendo em vista, que alguns momentos importantes podem não ter sido

documentados, o que provoca a confiabilidade parcial de seu registro.

O foco dessa análise seria uma leitura que releva uma avaliação qualitativa de seus

diversos atores.

Na análise dos informes e das atas, verificou-se que os fóruns nos anos de 2007 e

2009 obedeceram a uma dinâmica já pré- estabelecida, conforme apresentado a

seguir:

• Distribuição e divulgação de informes escritos e orais de interesse do idoso;

• Leitura e discussão da ata;

• Encaminhamento da pauta já discutida e elaborada no pré-fórum e informada

na carta convite do fórum;

• As questões decisórias ou polêmicas são colocadas em votação (datas do

pré-fórum, alguns procedimentos discutidos);

• Há sempre um estabelecimento de metas no primeiro encontro do ano e que

são retomadas no último dia do fórum anterior;

• No último fórum do ano, há sempre uma avaliação de aspectos positivos e

negativos relacionados ao fórum e as propostas para o ano posterior.

Observa-se que a dinâmica utilizada para a realização dos fóruns cumpre bem o seu

papel, que é de divulgar informações pertinentes aos idosos, o que foi constatado

também na entrevista com os participantes.

- 30 -

Há também a adequação de bons temas que são discutidos previamente no pré-

fórum, com representantes dos grupos mais presentes e entidades civis e estatais

mais comprometidas.

Percebe-se, entretanto, que a construção de um espaço democrático de debate e

participação ainda não foi atingido. Dentre os motivos observados para essa

afirmativa, sobressai o fato de ainda ser uma instância em que as vozes dos

representantes estatais conseguem se sobrepor em muitos pontos de vista.

A discussão sobre a política do idoso em todos os setores apresenta-se incipiente.

Como exemplo, é possível citar dois temas recorrentes: o cartão BHBus e o registro

dos grupos de convivência. O cartão BHBus, que franqueia a passagem do idoso,

apesar de ter sido muito discutido (auditorias públicas, discussão em fóruns

diversos), ainda não apresenta, de forma esclarecedora, seu mecanismo de

utilização para o idoso, ao contrário, as informações de setores governamentais

encontram-se truncadas, causando dúvidas e constrangimentos para o idoso.

Outro ponto é a questão do registro dos grupos de convivência na assistência social,

importante para que possam ser credenciados e registrados na assistência social e,

com isto, terem direito a uma verba per capita, que ajudaria muitos grupos em sua

organização interna.

O fórum Noroeste abriu uma discussão sobre o tema, enviou um abaixo assinado,

pedindo uma ação direta do CMI/BH contra os preços abusivos de registro no único

cartório da cidade que faz esse registro. Contudo, não obteve a mobilização

necessária e nem uma nota mais esclarecedora por parte do conselho, que limitou-

se a responder sobre uma lei já existente, mas que não é respeitada. Dessa forma, a

reivindicação não teve desdobramentos e o assunto não foi encaminhado

devidamente, para instâncias superiores, ou levado ao debate nos outros fóruns da

cidade, perdendo com isto um importante momento de mobilização da população

idosa.

As discussões preparatórias das conferências municipais da Assistência Social, da

- 31 -

Mulher e da Igualdade Racial não são realizadas nos fóruns, mas apesar disso,

verifica-se uma participação considerável dos idosos.

Nos fóruns ocorrem somente as discussões preparatórias para a pré-conferencia do

idoso. A dinâmica compreende dois momentos de discussão: um antes da pré-

conferência da regional e outro durante, onde são estabelecidas, por voto, as

prioridades de cada tema estabelecido da conferência municipal por regional e são

eleitos os delegados que irão representá-los na conferência. Ressalta-se que há

uma importante mobilização dos idosos que participam do fórum e que discutem,

com bastante propriedade, nas conferências municipais do idoso.

Para maior efetividade participativa, seria importante que, na organização do fórum,

fossem encaminhadas discussões nos intervalos (de 2 em 2 anos) das conferências

municipais, sobre o comprometimento das instâncias governamentais no

cumprimento das prioridades, possibilitando para que a conferência possa ter um

bom encaminhamento de seus objetivos.

2.7.3.1. MOMENTOS DOS FÓRUNS RELACIONADOS AO CMI/BH

Na análise das atas, foram levantados também quais seriam os momentos em que

existiu algum tipo de relacionamento entre o CMI/BH e o fórum.

ANO 2007

No mês de Fevereiro, houve uma fala sobre o cadastramento no CMI/BH.

No mês de Agosto, a gerente responsável pelo fórum, juntamente com os idosos,

elaboraram um abaixo assinado com a solicitação ao CMI/BH para que interviesse,

junto ao cartório Jero Oliva, na melhoria do atendimento aos grupos de idosos,

desburocratizando a forma de atendimento e que o mesmo reduzisse as taxas

cobradas ou mesmo isentasse a cobrança das mesmas. Como já supra aludido, o

assunto não foi devidamente encaminhado pelo CMI/BH.

No mês de Novembro, um membro da mesa diretora foi ao fórum falar sobre o

cadastramento no CMI/BH.

- 32 -

ANO DE 2009

Mencionam-se dois momentos:

No mês de Junho, durante uma polêmica do fórum, foi solicitado, por um membro,

que fosse enviada ao conselho uma nota de esclarecimento a respeito de algumas

entidades mantenedoras de certos grupos. Foi deliberado que o conselheiro

encaminharia a questão, durante a assembléia do CMI/BH.

No mês de Agosto, o conselheiro esclareceu que havia apresentado o assunto ao

conselho. Não houve retorno ao esclarecimento solicitado.

- 33 -

3. CONCLUSÃO

Ao finalizar a pesquisa, conclui-se que, apesar da relevância do tema

representatividade, este ainda não é considerado como uma temática de discussão

no interior organizacional da secretaria gestora do Fórum, sendo ignorado sua

influência no processo decisório da escolha dos conselheiros eleitos pelos mesmos.

Por parte dos gestores do fórum e do CMI, não há o sentimento de co-

responsabilidade em se propiciar momentos de publicização das ações do conselho

no fórum e do fórum no conselho, não existindo ainda maior empenho para que

sejam assegurados tais momentos.

A maior parte dos idosos que participam do fórum o consideram muito importante,

devido ao acesso à informação, a participação e a possibilidade de se falar sobre os

problemas de grupos de convivência.

Quanto ao levantamento relativo à identificação dos conselheiros que representam o

fórum Noroeste, verificou-se que a maioria não se lembrava se havia votado no

conselheiro e se confundiam nos nomes dos representantes. Demonstrou-se assim,

em um universo menor, a repetição dos modelos de representatividade das eleições

legislativas, o que na prática deveria ser diferente, devido ao contato mensal desses

conselheiros com os participantes do fórum.

Em relação à percepção de sentir-se representado, a maioria respondeu que sim,

sendo uma questão pertinente, onde observa-se a incoerência, pois se a maioria

não se lembrava em quem votou, como poderia se sentir bem representada. Se

houvesse os momentos de publicização supramencionados, certamente não

existiriam tais incoerências.

Apesar dos conselheiros considerarem estar cientes da atuação e

representatividade em relação à regional, ao confrontar com as atas, nota-se que os

momentos de atuação como representante são escassos e pouco efetivos.

No que diz respeito à análise das atas, percebe-se que a dinâmica utilizada

possibilita a divulgação satisfatória de informações aos idosos, o que foi constatado

- 34 -

também na entrevista com os participantes, e a escolha dos temas é adequada.

Entretanto, observou-se que o espaço democrático de debate e participação ainda

não foi amplamente consolidado, visto que compreende uma instância em que as

vozes dos representantes estatais, na maioria das vezes, conseguem se sobrepor

em muitos pontos de vista.

Segundo Tatagiba (2002, p.65): “De uma forma geral, os conselheiros não-

governamentais têm encontrado pouco respaldo e acompanhamento de suas ações

por parte das entidades que representam”. Isso é resultante de um baixo nível de

interesse de seu público, como conseqüência, os membros de conselhos passam a

atuar conforme seus interesses pessoais, não respondendo às demandas dos fóruns

que representam.

O fato é que os conselheiros acabam emitindo sua própria opinião sobre

determinando tema, não exercendo o seu papel de representante, muitos vezes

compartilhando posições defendidas com maior veemência, por grupos com poder

de argumentação e influência (Tatagiba, 2002, p.66).

Torna-se necessário e fundamental que os gestores, os conselheiros e os

participantes do fórum sejam mais atentos à questão da representatividade,

comprometida com as suas bases, compartilhando, debatendo e argumentando,

dentro desse espaço, a defesa de interesses comuns e não particularizados.

Urge uma ressignificação, por parte dos idosos, do conceito de participação,

reavaliando seu papel e adotando uma visão mais coletiva da participação popular,

em lugar de uma postura individualista. Faz-se, cada vez mais urgente, o

rompimento da visão estereotipada da irrelevância econômica do idoso, por parte de

alguns gestores e da própria sociedade, que vê na população idosa apenas uma

fonte geradora de despesa. Essa concepção despreza a potencialidade da

população idosa, o crescimento contínuo deste segmento populacional e a

importância da qualidade das ações preventivas que levem aos novos conceitos

sobre o envelhecimento e à quebra de preconceitos que estigmatizam o idoso e que

não o colocam como cidadão de direitos.

- 35 -

4. BIBLIOGRAFIA

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- 39 -

5. ANEXOS

- 40 -

5.1. ANEXO 1 – CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

Atividade Quantidade Período

Visita ao fórum regional 01 por mês Agosto a Dezembro

Entrevista com a gerente

e alguns participantes dos

grupos de convivência

Por volta de 10

entrevistas Outubro e novembro

Pesquisa documental Março/2009 a

fevereiro/2010

Pesquisa bibliográfica Agosto/2008 a

fevereiro/2010

Elaboração do texto Outubro/2009 a

fevereiro/2010

Apresentação da pesquisa Abril/2010

- 41 -

5.2. ANEXO 2 – ENTREVISTAS

5.2.1. QUESTÕES ELABORADAS PARA A GESTORA

- Para você, qual a importância do fórum regional?

- Você já participou de alguma assembléia do CMI/BH?

- Existem momentos no Fórum de relatos dos conselheiros do que foi discutido ou

votado nas plenárias do CMI/BH?

- Há algum tipo de influência participativa do fórum regional nas discussões e

votações do CMI/BH?

5.2.2. QUESTÕES ELABORADAS PARA A PRESIDENTE DO CMI -BH

- Para você qual a importância dos fóruns regionais?

- Você já participou de algum fórum regional?

- Durante as plenárias do CMI/BH é dada a voz aos conselheiros representantes dos

fóruns regionais de questionamentos ou reivindicações oriundos dos fóruns?

- Existe algum tipo de influência participativa do fórum nas discussões ou votações

do CMI/BH?

5.2.3. QUESTÕES ELABORADAS PARA OS CONSELHEIROS REPRESENTANTES DO FÓRUM REGIONAL

- Como deve atuar o conselheiro?

- Para você, qual a importância do fórum regional?

- Você possui espaço no fórum de relato do que foi discutido ou votado no CMI/BH?

- 42 -

- No CMI/BH, você possui espaço para levar as reivindicações ou discussões

oriundas do fórum regional?

- Como é a relação do conselho com os fóruns?

5.2.4. QUESTÕES ELABORADAS PARA OS PARTICIPANTES DO FÓRUM

Dados pessoais:

Nome:

Idade:

Entidade que representa:

Bairro:

Grau de escolaridade:

- Há quanto tempo participa do fórum?

- Para você, qual a importância do fórum regional?

- Você votou no conselheiro representante da regional Noroeste no CMI/BH?

- Quais são esses representantes eleitos?

- Você se sente representado pelo conselheiro?

- Já existiu no fórum algum momento em que o conselheiro relata o que foi discutido

ou votado no conselho?

- O conselheiro, em algum momento, procurou conhecer o posicionamento dos

participantes do fórum em algum tipo de votação do conselho?

- Como é a relação do fórum com o conselho?