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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CURSO DE ZOOTECNIA
ANA PAULA GOMES BARONI
ANALISE DA PRODUÇÃO LEITEIRA EM MATO GROSSO
CUIABÁ 2015
ANA PAULA GOMES BARONI
ANALISE DA PRODUÇÃO LEITEIRA EM MATO GROSSO
Trabalho de Conclusão do Curso de Gradação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Zootecnia. Orientadora: Profª Dra. Rosemary Laís Galati
CUIABÁ 2015
AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar, pois sem a sua ajuda, a sua direção e o seu agir
eu não teria capacidade para estar aqui, por se fazer presente em todos os momentos,
por me ter dotado de saúde, sabedoria e disposição para alcançar mais uma vitória
em minha vida.
Aos meus pais Sérgio Baroni e Elaine Cristina Leite Gomes Baroni, pessoas
as quais serei eternamente grata pela educação que até hoje vem me dando, que
sempre estiveram ao meu lado sem medir esforços para me ajudar nesta minha
jornada, eles foram a peça fundamental para a concretização do meu trabalho. A
vocês expresso o meu maior agradecimento.
Ao meu namorado Rafael Ferrato, por seu companheirismo, por sua
paciência, compreensão e pelo incentivo que sempre me dedicou.
A minha orientadora Rosemary Laís Galati, pela orientação, por todo o apoio
e incentivo durante toda faculdade, pela confiança e dedicação, por toda liberdade no
desenvolvimento deste estudo e ter acreditado em meu potencial, me conduzindo para
esta realização. Acima de tudo, por trás dessa função que você desempenha
exemplarmente, está um ser humano admirável sempre disposta a apoiar e orientar.
Palavras de gratidão serão sempre escassas para quem dá tanto de si mesmo e de
forma tão constante.
A minha co-orientadora Maria Fernanda Queiroz, pela paciência, pelos
ensinamentos passado em aula e pela sua amizade.
A Géssy Caetano, muito obrigada pelos preciosos conselhos que na hora
certa me soube oferecer, obrigada pelo chamamento à razão sempre que foi
necessário obrigado pelo carinho, por toda essa dedicação, obrigado pelas horas de
confidências e pela confiança que em mim depositou, obrigada por nunca me censurar
e mesmo na loucura não ter duvidado de mim. Obrigada por tudo, minha eterna
“mana” rsrsrs.
Agradeço imensamente ao Instituto Mato-grossense de Economia
Agropecuária (IMEA), por ter me acolhido durante os três meses de estagio, pela
disponibilização dos dados, sem os quais teria sido impossível a realização do
trabalho, aos amigos que por lá conquistei Tainá Heinzmann, Sâmyla Cristina, Paulo
Ozaki, Ângelo Ozelame, Rafael Chen, e a todos os demais amigos que fiz durante
este período no IMEA.
A minha eterna amiga e irmã do peito, Alana Alessi, que mesmo seguindo
caminhos diferentes, nunca deixamos de preservar a verdadeira amizade.
A Deus por ter me presenteado com duas irmãs em Mato Grosso, que sempre
me apoiaram e nunca me deixaram na mão, Camila Toyota e Amanda Brum muito
obrigada por esses 5 anos que passamos juntas, por confiarem em mim, sempre me
dando forças para não desistir.
Aos amigos que tive a oportunidade de conquistar, Lucas Rocha, Morgana
Zanchetin, Sharmilla Godinho, Marcos Fachin, Kênia Alves, Sérgio Pereira, Thuanny
Alves, Edvania Vasconcelos, e a todas as pessoas que contribuíram direta ou
indiretamente para a realização deste trabalho.
E a todos aqueles que conheci, nesse período, e que me ajudaram a
prosseguir positivamente.
“Dizem que a vida é para quem sabe viver, mas ninguém nasce
pronto. A vida é para quem é corajoso o suficiente para se arriscar e
humilde o bastante para aprender.”
Clarice Lispector
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Produção de leite no Brasil (1990-2013). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 2 – Captação de leite em Mato Grosso.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 3 – Preço médio pago ao produtor em Mato Grosso. . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 4 – Sede do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. . . 43
Figura 5 - Representação percentual do pagamento por qualidade, volume e
qualidade e volume nas regiões de Mato Grosso. . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 6 – Boletim mensal do leite. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Mapa 1 – Uso e ocupação do solo mato-grossense. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Mapa 2 – Produção de leite por regiões no Mato Grosso (mil litros). . . . . . . . 39
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Requisitos físico-químicos para o leite cru resfriado (Instrução Normativa n. 62) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Tabela 2 - Requisitos microbiológicos de contagem de células somáticas
para o leite cru resfriado (Instrução Normativa n. 62) . . . . . . . . . . . 15
Tabela 3- Requisitos microbiológicos de unidade formadora de colônia para o leite cru resfriado (Instrução Normativa n. 62) . . . . . . . . . . . . . . 15
Tabela 4 - Estimativa da redução na produção de leite por vaca, associada com a média do escore linear da contagem de células somáticas (ECS) e com a média da contagem de células somáticas (CCS) durante a lactação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Tabela 5 - Alterações na composição do leite associadas à mastite subclínica: quantidades médias (g / 100g) encontradas no leite normal e no leite com altas contagens de células somáticas . . . . . 18
Tabela 6 - Efeito do leite com altas contagens de células sobre os produtos lácteos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Tabela 7 – Percentual de amostras que atenderam os limites dos indicadores composicionais estabelecidos na Instrução Normativa 51/2002 nas diferentes regiões do Brasil no período de 2007 a 2010 . . . . . 22
Tabela 8 – Percentual de amostras que atenderam os limites dos indicadores higiênico-sanitários estabelecidos na Instrução Normativa 51/2002 nas diferentes regiões do Brasil no período de 2007 a 2010 . . . . . 22
Tabela 9 – Número de amostras de leite cru analisadas no período de janeiro de 2014 a maio de 2015 no laboratório de qualidade do leite de Goiás . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Tabela 10 - Produção de leite, vacas ordenhas e produtividade no Brasil (1990 - 2013) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Tabela 11 - Produção de leite por Região no Brasil (1990 - 2013) . . . . . . . . . 34
Tabela 12 - Maiores estados brasileiros produtores de leite (2014) . . . . . . . . 35
Tabela 13 - Mato Grosso – Vacas ordenhadas, produção total de leite, produção vaca/ano e produção vaca/dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Tabela 14 – Produção e produtividade em Mato Grosso, segundo o Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite no Estado de Mato Grosso – 2010 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Tabela 15 – Áreas dos produtores no Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
LISTA DE ABREVIATURAS/SIGLAS
CEPEA Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada
CCS Contagem de Células Somáticas
CBT Contagem Bacteriana Total
UFC Unidade Formadora de Colônia
CMT Califórnia Mastitis Test
UHT Ultra High Temperature
IN Instrução Normativa
PNQL Plano Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite
RBQL Rede Brasileira de Laboratórios de Controle de Qualidade do
Leite
RIISPOA Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDF Federação Internacional de Laticínios
INDEA Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso
IMEA Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária
MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
OMS Organização Mundial de Saúde
USDA United States Department of Agriculture
FAO Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2 OBJETIVOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3 REVISÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1 Qualidade do leite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.1.1 Contaminação microbiana do leite cru . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.1.2 Células somáticas - 16 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.1.3 Importância de baixas contagens de células . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.2 Legislações de identidade e qualidade do leite de vaca . . . . . . . . . . . . . 19
3.2.1 Portaria n. 56 de 07/12/1999 do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2.2 Instrução Normativa n. 51 de 18/09/2002 do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.2.3 Evolução dos indicadores de qualidade do leite de 2006 a 2010 . 21
3.2.5 Instrução Normativa n. 62 de 29/12/2011 do Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.3 Programa de pagamento por qualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3.1 Pagamento por qualidade no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.4 Qualidade do leite mato-grossense . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.5 Pagamento do leite por qualidade em Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.6 Mercado lácteo brasileiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.6.1 Histórico do setor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.6.2 Histórico da produção de leite no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
3.7 Panorama da pecuária leiteira no Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.7.1 Produção e produtividade em Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.7.2 Bacias leiteiras do Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.7.3 Sazonalidade na produção leiteira no estado de Mato Grosso . . . 39
3.7.4 Preço do leite em Mato Grosso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4 RELATÓRIO DE ESTÁGIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.1 Levantamento de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.2 Tratamento e análises dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.3 Boletim do leite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
6 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
RESUMO
O presente trabalho analisa as transformações ocorridas na atividade leiteira no que
se refere à qualidade do leite, produção, pagamento por qualidade e a participação no
mercado externo de lácteos, após a desregulamentação do setor ocorrida no Brasil
em 1990. O trabalho privilegia a análise do estado do Mato Grosso, por meio de dados
coletados e analisados durante o período de estágio supervisionado, que foi realizado
no IMEA – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária no período de abril e
maio. O estágio foi realizado com o objetivo de adquirir e aprimorar conhecimentos ao
exercício da Zootecnia. A experiência possibilitou o contato com os problemas reais
da cadeia leiteira do estado, permitindo uma análise crítica do setor.
Palavras-chaves: pagamento por qualidade, produção de leite, qualidade do leite.
11
1 INTRODUÇÃO
O agronegócio do leite ocupa um espaço de destaque na economia mundial.
Este sistema industrial é um dos mais expressivos do Brasil pela sua importância
social, e a atividade leiteira é praticada em todo país, em cerca de um milhão de
propriedades rurais. Gera mais de três milhões de empregos diretos na produção
primária e agrega mais de seis bilhões de reais ao valor da produção agropecuária
nacional (MÜLLER, 2002).
Com base em dados disponibilizados pela Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA, 2014), o Brasil é o quinto maior produtor de leite. Em 2014
foram produzidos 33,3bilhões de litros, o que mostra a importância desta atividade
para o país. Costa (2005) ressaltou que a Organização Mundial de Saúde (OMS)
recomenda o consumo diário mínimo de 500 ml de leite por dia pelo adulto e no mínimo
de um litro durante a adolescência e terceira idade. Entretanto, no Brasil, o consumo
médio do produto per capita é inferior a um copo diário, cerca de 170 ml.
Paralelamente a sua importância como fonte nutricional indispensável à saúde
humana, o leite e seus derivados também são excelentes meios para o
desenvolvimento de micro-organismos desejáveis, e outros patogênicos e
deteriorantes (TEUBER, 1992), havendo a necessidade de cuidados desde a sua
produção, ordenha, beneficiamento e estocagem. Ruegg (2003) destacou que riscos
à saúde humana relacionados ao consumo de leite e derivados, podem decorrer do
consumo de produtos lácteos crus, de erros na pasteurização, da contaminação
destes por patógenos termos resistentes emergentes ou da seleção de agentes de
zoonoses resistentes a antimicrobianos, além da sua adulteração.
A mastite é a principal afecção de bovinos destinados à produção leiteira, que
impacta negativamente a economia, considerando-se a sua alta prevalência nos
rebanhos. As perdas econômicas se devem a vários fatores, tais como a diminuição
da produção, custos com mão de obra, honorários profissionais, gastos com
medicamentos, morte ou descarte precoce de animais e queda na qualidade do
produto final, com diminuição no rendimento industrial (LANGONI et al., 1998).
A contagem de células somáticas (CCS) no leite é uma ferramenta importante
no diagnóstico da mastite subclínica, aceita internacionalmente como medida padrão
para determinar a qualidade do leite cru e, consequentemente, para monitorar a
sanidade da glândula mamária (HARMON, 1998; PHILPOT, 1998; SMITH;
12
HOGAN,1998; SANTOS, 2006). Para melhorar a qualidade do leite e garantir um
alimento seguro e de alto valor nutricional, é fundamental o controle da mastite nos
rebanhos. Muitos esforços têm sido empregados para o seu controle. Tem-se adotado
o estabelecimento de pagamento por qualidade, baseado na redução da contagem de
células somáticas por mililitro de leite, que reflete o nível de ocorrência de mastite.
No Brasil, o Programa Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNQL)
quer mudar a forma de se produzir o leite no Brasil com o objetivo de melhorar sua
qualidade e garantir à população o consumo de produtos lácteos mais seguros,
nutritivos e saborosos, além de proporcionar condições para aumentar o rendimento
dos produtores. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
publicou, em 2002, a Instrução Normativa n. 51, todavia, após constatação do não
cumprimento das metas, publicou em 2011 a Instrução Normativa n.62, onde
regulamenta a produção, identidade, qualidade, coleta e transporte do leite tipo A leite
cru refrigerado e leite pasteurizado. A IN 62 altera basicamente o cronograma que
rege os parâmetros de qualidade do leite. Dessa forma, espera-se que o Brasil
assegure melhor alimento à população e busque novos mercados internacionais. Para
isso, todos os elos da cadeia devem estar integrados no esforço comum de produzir
leite com qualidade.
13
2 OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho foram descrever as atividades realizadas durante
o período de estágio realizado no Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária
que permitiu analisar de forma critica os dados coletados, além de proporcionar
conhecimento da cadeia leiteira do estado de Mato Grosso, cuja experiência
possibilitou o contato com os laticínios e produtores do estado, permitindo uma análise
crítica do setor; e descrever a situação atual da produção de leite do Brasil e Mato
Grosso, fazendo-se uma análise da cadeia, com relação à qualidade do leite,
pagamento por qualidade e preço médio do leite pago ao produtor.
14
3 REVISÃO
3.1 Qualidade do leite
A qualidade do leite é definida por parâmetros de composição química,
características físico-químicas e higiene. A presença e os teores de proteína, gordura,
lactose, sais minerais e vitaminas determinam a qualidade da composição, que, por
sua vez, é influenciada pela alimentação, manejo, genética e raça do animal. Fatores
ligados a cada animal, como o período de lactação, o escore corporal ou situações de
estresse também são importantes quanto à qualidade composicional.
As exigências de qualidade e higiene para o leite cru e derivado lácteos são
definidas com base em postulados estabelecidos para a proteção da saúde humana
e preservação das propriedades nutritivas desses alimentos.
Do ponto de vista de controle de qualidade, o leite e os derivados lácteos estão
entre os alimentos mais testados e avaliados, principalmente devido à importância que
representam na alimentação humana e à sua natureza perecível. Os testes
empregados para avaliar a qualidade do leite fluido constituem normas
regulamentares em todos os países, havendo pequena variação entre os parâmetros
avaliados ou tipos de testes empregados. De modo geral, são avaliadas
características físico-químicas e sensoriais como sabor, odor e são definidos
parâmetros de baixa contagem de bactérias, ausência de microrganismos
patogênicos, baixa contagem de células somáticas, ausência de conservantes
químicos e de resíduos de antibióticos, pesticidas ou outras drogas.
No Brasil, as análises realizadas pelo RBQL propostas por intermédio da
Instrução Normativa n°62, são testes de determinação da concentração de gordura,
acidez titulável, densidade relativa, crioscopia, redutase e estabilidade ao alizarol
rotineiramente empregados pelas indústrias, outras análises quantitativas. Estas
últimas incluem a determinação dos teores de proteína, sólidos totais, contagem de
células somáticas, contagem total de bactérias e detecção de resíduos de antibióticos
(Tabelas 1,2 e 3).
15
Tabela 1- Requisitos físico-químicos para o leite cru resfriado (Instrução Normativa n. 62)
Requisitos (periodicidade das análises) Limites
Matéria Gorda (g /100 g) Mínimo 3,0
Acidez em, g de ácido lático/100mL 0,14 a 0,18
Densidade relativa, 15/15°C g/mL 1,028 a 1,034
Índice Crioscópico Máximo 0,550ºC(Equivalente a – 0,530ºH)
Sólidos Não-Gordurosos(g/100g): Mínimo 8,4
Proteína Total (g/100 g) Mínimo 2,9
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2011.
Tabela 2 - Requisitos microbiológicos de contagem de células somáticas para o leite cru
resfriado (Instrução Normativa n. 62)
A partir de 01/01/2012 a 30/06/2014 - Regiões
Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A partir de 01/01/2013
a 30/06/2015 - Regiões Norte e Nordeste
A partir de 01/07/2014 a 30/06/2016 regiões Centro-
Oeste, Sudeste e Sul. A partir de 01/07/2015 a
30/06/2017 - Regiões Norte e Nordeste
A partir de 01/07/2016 Regiões Centro-Oeste,
Sudeste e Sul. A partir de 01/07/2017 - Regiões Norte
e Nordeste
600.000 células/ml 500.000 células/ml 400.000 células/ml
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2011.
Tabela 3- Requisitos microbiológicos de unidade formadora de colônia para o leite cru
resfriado (Instrução Normativa n. 62)
A partir de 01/01/2012 a 30/06/2014 - Regiões
Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A partir de 01/01/2013
a 30/06/2015 - Regiões Norte e Nordeste
A partir de 01/07/2014 a 30/06/2016 regiões
Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A partir de 01/07/2015
a 30/06/2017 - Regiões Norte e Nordeste
A partir de 01/07/2016 Regiões Centro-Oeste,
Sudeste e Sul. A partir de 01/07/2017 - Regiões
Norte e Nordeste
600.000 UFC/ml 300.000 UFC/ml 100.000 UFC/ml
Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2011.
3.1.1 Contaminação microbiana do leite cru
O leite ao ser sintetizado e secretado nos alvéolos da glândula mamária é
estéril, mas ao ser retirado, manuseado e armazenado pode se contaminar com
microrganismos originários do interior da glândula mamária, da superfície das tetas e
do úbere, de utensílios, como os equipamentos de ordenha e de armazenamento e
de várias fontes do ambiente da fazenda. Esta contaminação pode atingir números da
ordem de milhões de bactérias por ml, podendo incluir tanto microrganismos
patogênicos como deterioradores. A contaminação microbiana prejudica a qualidade
do leite, interfere na industrialização, reduz o tempo de prateleira do leite fluido e
derivados lácteos e pode colocar em risco a saúde do consumidor. O estado de saúde
16
e higiene da vaca, o ambiente do estábulo e da sala de ordenha e os procedimentos
usados para limpeza e desinfecção dos equipamentos de ordenha, tanque de
refrigeração e utensílios que entram em contato com o leite, são importantes com
respeito à contaminação microbiana do leite cru. De grande importância é também a
temperatura e o período de tempo em que o leite é armazenado. Se o leite não é
refrigerado (4°C) rapidamente após a ordenha, a população bacteriana poderá
aumentar, atingindo números elevados que podem levar à deterioração. No Brasil a
refrigeração do leite na fazenda e a coleta por meio de caminhões isotérmicos (coleta
a granel) está regulamentada pela IN n. 62.
3.1.2 Células somáticas
Células somáticas (CCS) são primariamente leucócitos ou células brancas do
sangue (macrófagos, linfócitos e neutrófilos), que passam para o leite em resposta a
uma agressão sofrida pela glândula mamária. Estudos que identificaram os tipos de
células no leite mostraram que as células epiteliais não são frequentemente
encontradas nas secreções do úbere, e variam de 0 a 7% de todo o conjunto de
células.
A principal causa do aumento da contagem de (CCS) do leite é devido à
resposta inflamatória da glândula mamária, que na maioria dos casos, é resultado de
uma infecção bacteriana. Essa inflamação é a mastite. Como resultado da inflamação,
as paredes dos vasos sanguíneos se tornam dilatadas e diversas substâncias do
sangue passam junto com os leucócitos para o leite. Entre essas estão íons de cloro
e sódio, que deixam o leite com sabor salgado, e enzimas que causam alterações na
proteína e na gordura. Devido às lesões no tecido mamário, as células secretoras se
tornam menos eficientes, isto é, com menor capacidade de produzir e secretar o leite.
Isso explica a perda de qualidade e a redução na produção do animal.
Atualmente não existe regulamentação para a CCS no leite para o comércio
internacional. Entretanto, muitos países têm adotado limites máximos de células
somáticas como parte de seus padrões nacionais de regulamentação, visando
preservar a qualidade higiênica do leite. Países como a Nova Zelândia e a Austrália,
assim como a União Europeia adotam o limite de 400 mil células/mL. No Canadá o
limite é de 500 mil células/mL e nos Estados Unidos da América é de 750 mil/mL
(GODKIN, 2000).
17
No Brasil, a IN n. 62 que regulamenta o Programa Nacional de Melhoria da
Qualidade do Leite estabelece o limite de 400 mil células/ml para 2017.
A CCS no leite de animais individuais ou de tanque é uma ferramenta valiosa
na avaliação do nível de mastite subclínica no rebanho, na estimativa das perdas
quantitativas e qualitativas de produção do leite e derivados, como indicativo da
qualidade do leite produzido na propriedade e para estabelecer medidas de prevenção
e controle da mastite. Segundo Kitchen (1981), o leite obtido de quartos mamários de
animais sadios contém de 50 a 200 mil células/ml. Na dependência da severidade e
extensão da infecção e, do tipo de microrganismo envolvido, as contagens podem
variar de 200 a 5.000 x 103 células/ml de leite.
A contagem de células somáticas é influenciada por vários fatores, mas
especialmente pela presença de infecções intramamárias, tornando-se um indicador
bastante confiável de sanidade da glândula mamária. Outros fatores que podem
interferir na CCS são a época do ano, raça, estágio de lactação, produção de leite,
número de lactações, estresse causado por deficiências no manejo, problemas
nutricionais, efeito rebanho, condições climáticas e doenças intercorrentes (VIANA,
2000; OSTRENSKY, 1999).
3.1.3 Importância de baixas contagens de CCS
O efeito da inflamação na redução da produção de leite já é bem conhecido e
é consequência das lesões nas células alveolares que produzem e secretam o leite.
O nível desta redução depende da gravidade da inflamação. Estimativas sobre perdas
de produção relacionadas com a mastite podem ser feitas considerando-se a (CCS)
no leite. De modo geral, para vacas de segunda lactação em diante, à medida que a
CCS duplica, há uma perda aproximada de 0,6 kg de leite por dia, ou de cerca de 180
kg por lactação (Tabela 4). Por exemplo, a estimativa de perda de produção na
segunda lactação quando há um aumento da CCS de 200.000 para 400.000 é de 180
kg (de 360 para 540 kg). Inversamente, a redução na CCS em 50% irá incrementar a
produção de leite em uma quantidade estimada de 180 kg por vaca na lactação.
18
Tabela 4 - Estimativa da redução na produção de leite por vaca, associada com a média do escore linear da contagem de células somáticas (ECS) e com a média da contagem de células somáticas (CCS) durante a lactação
ECS CCS (x1000/ml)
Redução na produção de leite (kg/305 dias)
Lactação 1 Lactação 2
0 1 2 3 4 5 6 7
12,5 25 50
100 200 400 800
1.600
- - -
90 180 270 360 450
- - -
180 360 540 720 900
Fonte: National Mastitis Council, 1996. (Adaptado)
Além da redução na produção, há também diminuição na produção dos
principais elementos do leite. Existe uma correlação negativa significativa entre a CCS
e o conteúdo de matéria seca do leite; quando a CCS está elevada, pode haver uma
redução de 5 a 10% da matéria seca do leite. Na Tabela 5 são apresentados exemplos
de alterações nos componentes do leite causados pela mastite. A concentração das
proteínas totais permanece relativamente estável, mas o teor de caseína decresce,
enquanto os de albumina e imunoglobulina aumentam. Há aumento de cloretos, sódio
e do pH, que tende para a alcalinidade.
Tabela 5 - Alterações na composição do leite associadas à mastite subclínica: quantidades médias (g/100g) encontradas no leite normal e no leite com altas contagens de células somáticas
Componentes Leite normal Leite com altas contagens de células
Sólidos não-gordurosos 8,90 8,80 Gordura 3,50 3,20 Lactose 4,90 4,40 Proteína total 3,61 3,56 Caseína total 2,80 2,30 Proteínas do soro do leite 0,80 1,30 Soro-albumina 0,02 0,07 Lactoferrina 0,02 0,10 Imunoglobulinas 0,10 0,60 Sódio 0,06 0,11 Cloreto 0,09 0,15 Potássio 0,17 0,16 Cálcio 0,12 0,04
Fonte: National Mastitis Council, 1996. (Adaptado)
Todas as alterações que a inflamação da glândula mamária causa nos
componentes do leite terminam por afetar os produtos lácteos. Na indústria, mesmo
19
quando se mistura o leite de várias origens em grandes tanques de armazenamento
para o processamento, o leite final poderá apresentar uma composição que não é
inteiramente satisfatória para a manufatura de determinados produtos.
Na Tabela 6 são apresentados os principais problemas decorrentes de altas
contagens de células somáticas nos produtos lácteos.
Tabela 6 - Efeito do leite com altas contagens de células sobre os produtos lácteos
Produto Problema
Leite condensado Leite evaporado
- estabilidade ao calor diminui
Leite em pó - gosto de queimado ou outros sabores estranhos
Queijo - aumento do tempo de coagulação - diminuição da firmeza do coágulo - queda no rendimento
Leite fluido - alteração do sabor na estocagem Produtos fermentados - inibição do crescimento das culturas
lácteas Manteiga - diminuição do rendimento
- aumento da rancificação
Fonte: A autora, 2015. (Compilada de diversos autores)
3.2 Legislações de identidade e qualidade do leite de vaca
3.2.1 Portaria n. 56 de 07/12/1999 do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento
A preocupação com a qualidade na cadeia produtiva do leite no Brasil surgiu
quando ocorreram mudanças políticas e econômicas no início dos anos 90. O fim do
tabelamento dos preços abriu o mercado para a economia internacional, mais
globalizado e competitivo. Ao mesmo tempo, a cadeia láctea passou por uma
reestruturação, devido à desregulamentação do setor lácteo, abertura do mercado,
ajuste macroeconômico, fluxo de investimentos estrangeiros, estabelecimento de
empresas multinacionais e pela consolidação do Mercosul (FARINA et al., 2005;
MARGARIDO; BUENO; MARTINS, 2004). A redução dos preços para o consumidor,
a elevação e diferenciação de produtos e sua segmentação de mercado se devem a
investimentos externos que foram concentrados nas indústrias de transformação e no
setor varejista. A fixação de padrões de identidade e qualidade dos produtos lácteos
para países do Mercosul foi publicada em 1992 (MERCOSUL, 1992). Com isto, tornou-
20
se absolutamente clara e inadiável a tomada de decisões rápidas que pudessem
alterar o perfil qualitativo do setor produtivo de laticínios do País, de modo a se poder
oferecer resistência, via qualidade, produtividade e competitividade. Sendo assim,
iniciaram-se estudos visando diagnosticar os principais problemas da cadeia láctea
brasileira e trabalhar no intuito de aprimorá-la, no que se refere à qualidade do leite.
Em dezembro de 1999, o Mapa submeteu à consulta pública a Portaria nº 56,
a qual modificava diversas normas referentes a obtenção de matéria-prima,
transformação, transporte e comercialização do leite fluido, alterando o Regulamento
de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA),
acarretando mudanças em toda a cadeia produtiva, percebendo-se, assim, o esforço
de algumas entidades e do governo em melhorar a qualidade do leite, e, por outro
lado, a dificuldade dos pequenos produtores e das agroindústrias de pequeno porte e
médio de se adaptarem aos novos regulamentos técnicos.
A consequência de maior impacto foi a substituição dentro de determinados
prazos do leite cru tipo B e C por matéria-prima resfriada na propriedade rural e
transportada a granel até a indústria processadora. Os parâmetros de qualidade
higiênico-sanitários estabelecidos teriam seus limites reduzidos progressivamente
tanto pela sua aplicação nas diferentes regiões do País, quanto pelos valores
máximos dos diferentes indicadores a medir (OLIVEIRA, 2002).
3.2.2 Instrução Normativa n. 51 de 18/09/2002 do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
Após consulta pública da Portaria nº 56, a versão definitiva das novas normas
de produção leiteira foi publicada na Instrução Normativa n. 51 (IN 51), de 18 de
setembro de 2002 (BRASIL, 2002b), que determinou novas normas na produção,
identidade e qualidade do leite.
Os pontos estabelecidos na IN 51 são relativos a sanidade animal, a higiene,
a refrigeração e a nutrição animal (DURR, 2004). A qualidade do leite cru que chega
à empresa deve ser garantida pela ordenha higiênica de vacas sadias e bem
alimentada, ser seguida de imediata refrigeração do leite na propriedade rural e de
seu transporte a granel em tanques isotérmicos até a indústria.
Dentre as modificações preconizadas pela IN 51 (BRASIL, 2002b), pode ser
citada a permissão de comercialização de leites pasteurizados tipos A e B com
21
diferentes percentagens de gordura (integral, padronizado, semidesnatado e
desnatado), visando atender a um mercado consumidor cada vez mais crescente.
Quanto à qualidade composicional, a IN 51 (BRASIL, 2002b) determina os teores
mínimos de proteína (2,9%), gordura (3,0%) e extrato seco desengordurado (8,4%).
Entretanto, uma das principais alterações diz respeito ao leite tipo C; até então, o leite
cru destinado ao beneficiamento desse tipo de leite pasteurizado não possuía
parâmetros microbiológicos específicos. De acordo com a IN 51 (BRASIL, 2002b), o
leite deve apresentar contagem de células somáticas (CCS) e contagem total de
bactérias (CTB) abaixo dos limites estabelecidos, sendo estes reduzidos ao longo do
tempo de acordo com as regiões do Brasil.
Outro importante ponto descrito na IN 51 (BRASIL, 2002b) trata da
regulamentação de conservação, coleta e transporte de leite cru refrigerado,
independentemente do tipo, que deve ser feito a granel. Nas propriedades, o leite deve
ser refrigerado até atingir a temperatura de 4ºC (tanques de expansão) ou de 7ºC
(tanques de imersão), num período não superior a três horas após o término da
ordenha. Também é prevista a permissão de tanques resfriadores comunitários,
visando atender pequenos produtores. Caminhões tanque coletam o leite refrigerado
e transportado para os laticínios para processamento. Na recepção dos laticínios, o
leite desses tanques não deverá apresentar temperatura superior a 7ºC. O
atendimento a esta normativa representaria um importante passo para atendimento
ao PNQL, que busca a melhoria da qualidade do leite cru produzido no Brasil,
resultando em benefícios para todos os elos da cadeia.
3.2.3 Evolução dos indicadores de qualidade do leite de 2006 a 2010
Segundo dados do Mapa (INSTRUÇÃO, 2011), foi feito um levantamento do
percentual de atendimento dos indicadores composicionais e higiênico-sanitários de
acordo com a IN 51, conforme resultados apresentados nas Tabelas 7 e 8 (BRASIL,
2002b). Observe-se que no período de 2007 a 2010, em média 92,4% das amostras
atenderam o limite mínimo de 3% para gordura. Para proteína, 95,1% das amostras
atenderam o limite mínimo de 2,9% e, do total das amostras, 79,1% atenderam os
limites de sólidos não gordurosos que, de acordo com a norma, deveriam ser de 8,4%
(Tabela 7).
22
Tabela 7 – Percentual de amostras que atenderam os limites dos indicadores composicionais estabelecidos na Instrução Normativa 51/2002 no período de 2007 a 2010
Ano/Indicadores Gordura Proteína ESD
2007 91,1 94,4 75,7
2008 92,5 94,5 78,4
2009 92,1 94,9 78,5 2010 93,8 96,7 83,8
Média total 92,4 95,1 79,1 Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2011.
As médias no período de 2007 a 2010, para os indicadores higiênico-
sanitários que atenderam os limites, foram de 79,8% e 58,3% para CCS e CTB,
respectivamente, conforme o Tabela 8.
Tabela 8 – Percentual de amostras que atenderam os limites dos indicadores higiênico-sanitários estabelecidos na Instrução Normativa 51/2002 nas diferentes regiões do Brasil no período de 2007 a 2010
Ano/Indicadores CCS CBT
2007 82,2 55,7 2008 81,6 56,1 2009 78,4 57,6 2010 77,1 63,8
Média total 79,8 58,3 Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2011.
3.2.5 Instrução Normativa n. 62 de 29/12/2011 do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
Com base nos resultados dos indicadores de qualidade do leite de 2007 a
2010, considera-se que não houve melhoria substancial dos percentuais de amostras
abaixo dos limites de CCS e CTB durante os últimos anos. Em 2007, cerca de 10 e
25% dos produtores analisados não atendiam aos padrões de 1.000.000 para CCS e
CTB, respectivamente. Em 2009, um levantamento feito pela RBQL mostrou que, de
aproximadamente 1,7 milhões de amostras, 21% e 42% não atenderam ao limite de
750.000 de CCS e CTB, respectivamente. Estes números indicam que,
provavelmente, a qualidade higiênica sanitária do leite parece não ter sido encarada
como questão estratégica para uma parcela significativa da cadeia produtiva
(SANTOS, 2011).
Desta forma, foi observado que um porcentual significativo dos produtores não
atendeu à redução proposta pela IN 51 (BRASIL, 2002b). Por isso, foi instituída a
23
Instrução Normativa nº 62 (IN 62) (BRASIL, 2011), buscando níveis de redução para
CCS e CTB, porém mais gradativa em termos de limite e com mais quatro anos para
o atendimento do menor limite estabelecido para todo o País.
O Mapa publicou a IN 62 (BRASIL, 2011), alterando a IN 51 (BRASIL, 2002b),
e começou a vigorar em 1º de janeiro de 2012.
Com a atualização, os índices de CCS e CTB, que podiam chegar a 750.000
células/ml e 750.000 UFC/ml, respectivamente, foram reduzidos para ter como limites
600.000 células/ml e 600.000 UFC/ml que acontece em três etapas para possibilitar a
adaptação de produtores e de laticínios: na primeira fase, que entrou em vigor em
01/01/2012 nas regiões sul, sudeste e centro-oeste e em 01/01/2013 nas regiões norte
e nordeste (MAPA, 2011), tornou-se obrigatória a refrigeração do leite na propriedade
e o transporte a granel até o laticínio. O produto podia apresentar no máximo 600 mil
unidades formadoras de colônias/ml e 600 mil de células somáticas/ml.
Na segunda etapa, que entrou em vigor em 01/07/2014 para o primeiro grupo
de regiões e entrará em 01/07/2015 para o segundo, essas contagens deverão ser de
no máximo 350 mil unidades formadoras de colônia/ml e 500 mil de células
somáticas/ml.
Na fase final, que entrará em vigor a partir de 01/07/2016 no primeiro grupo
de regiões e em 01/07/2017 no segundo, os limites fixados serão de 100 mil unidades
formadoras de colônias/ml e 400 mil células somáticas/ml (MAPA, 2011).
Além disso, esta norma substitui os Regulamentos Técnicos de Identidade e
Qualidade dos leites tipos B e C para o cru refrigerado. A referida Instrução Normativa
também cria a obrigatoriedade da realização de análise para pesquisa de resíduos de
inibidores e antibióticos no leite em uma unidade operacional do RBQL.
3.3 Programa de pagamento por qualidade
Os programas de pagamento do leite pela qualidade são aplicados em
diversos países, onde se mostraram um dos fatores responsáveis pelo sucesso da
atividade leiteira. Dentre estes parâmetros, a gordura se destaca por ser o critério mais
comumente utilizado no mundo inteiro. Basicamente, o fundamento em que se baseia
o pagamento de bonificação extra para elevados teores de gordura reside no fato de
que esta gordura extra resulta, na empresa, na produção de derivados lácteos de valor
agregado no mercado tais como manteiga e creme de leite. Além disso, de acordo
24
com (FONSECA, 2004) o teor de gordura do leite está intrinsecamente relacionado
com o rendimento industrial e tem importância fundamental sobre as características
organolépticas para fabricação de queijos e outros derivados lácteos. No
levantamento realizado pela Federação Internacional de Laticínios (IDF), de 29 países
analisados, 28 apontaram a utilização do teor de gordura como critério de pagamento
do leite (BULLETIM, 2006).
Com relação ao teor de proteína, que vem crescendo em importância nos
sistemas de pagamento diferenciado do leite no mundo todo, basicamente pode-se
atribuir essa valorização em grande parte ao crescente aumento no consumo de
queijos, uma vez que o teor de proteína do leite é um dos fatores que apresenta maior
correlação com o rendimento industrial para fabricação de queijos (FONSECA, 2004).
No estudo do IDF mencionado anteriormente, entre os 29 países analisados, 22
utilizavam o teor de proteína total e 03 o de teor de proteína verdadeira para efeito de
definição do valor a ser pago pelo leite (BULLETIM, 2006). Entre os países que pagam
por proteína verdadeira estão os Estados Unidos, a Austrália e a França.
Ressalta-se que existem basicamente duas formas para se avaliar o teor de
proteína do leite, sendo a proteína total e proteína verdadeira. A proteína total é obtida
pela multiplicação do teor de nitrogênio encontrado no produto pelo fator 6,38. Já a
proteína verdadeira é obtida descontando-se o teor de nitrogênio não proteico do valor
da proteína total.
Os parâmetros relacionados com a qualidade higiênica são muito variados e
incluem CTB e CCS. Dada a importância dos parâmetros associados à qualidade
higiênica do leite, observa-se que todos os países utilizam tais parâmetros para efeito
de pagamento do leite. Isso se reflete claramente no estudo feito pela IDF, no qual
todos os 29 países estudados adotam critérios de higiene para efeito de remuneração
do produtor (BULLETIM, 2006).
A FAO recomenda que a introdução de um novo sistema de pagamento deve
seguir oito passos: definir os objetivos; realizar uma pesquisa participativa; definir
preço base do leite; determinar parâmetros; definir níveis de aceitação e dedução;
estabelecer o cronograma de testes; determinar outros pagamentos; e determinar a
frequência e o modo de pagamento (FAO, 2009). Apontamos o básico da grande
maioria dos programas de bonificação do leite por qualidade: preço básico mais
fatores de composição (gordura, proteína, sólidos totais), mais ou menos os
parâmetros de qualidade higiênica (CCS, CTB), mais ou menos os ajustes de preço
25
em função de sazonalidade/volume de produção. E existem os parâmetros
desclassificatórios que causam a rejeição do leite que são a presença de inibidores,
antibióticos, contaminantes e crioscopia (aguagem do leite).
3.3.1 Pagamento por qualidade no Brasil
A experiência internacional de cooperativas e de grandes empresas que
implantaram sistemas de valorização da qualidade (pagamento por qualidade) no
Brasil, desde 2005, indica que os produtores respondem de forma imediata aos
incentivos de bonificação e penalização com base na qualidade do leite. Convém
lembrar que tais programas devem ter como princípios a transparência das análises
(realizadas em laboratório oficial), o recebimento de extratos mensais de qualidade do
leite, bem como a possibilidade de acesso a assistência técnica. A lógica do
pagamento por qualidade é estimular via bonificação sobre um preço base o produtor
de leite de alta qualidade, assim como penalizar o leite de qualidade inferior.
Os programas de pagamento por qualidade têm influenciado em grande parte
pela melhoria da qualidade do leite. Estes programas representam maneiras de
bonificar ou penalizar o pagamento do leite ao produtor, em função da qualidade do
leite entregue à indústria (ÁLVARES, 2005). Os incentivos por qualidade variam entre
indústrias ou cooperativas, porém níveis baixos de CCS, CTB, ausência de resíduos
de antibióticos e ausência de fraude por adição de água são sempre contemplados.
Cada indústria ou cooperativa estabelece seus próprios padrões, que geralmente são
mais rígidos que os oficiais (BRITO et al., 2007).
No Brasil, muitas empresas já adotam a valorização pela qualidade do leite,
classificando seus fornecedores em função de parâmetros de composição e
qualidade. Estas empresas utilizam os programas de bonificação com o objetivo de
estimular os produtores a fornecerem um produto de melhor qualidade e,
indiretamente, para obter um produto de maior rendimento industrial (ROMA JÚNIOR
et al., 2009).
De acordo com Machado 2011, ao analisar dados de 362 empresas, com 48
adotantes de programa de valorização por qualidade e 314 não adotantes, num total
de 32.395 produtores de leite, dos quais 11.093 participam do programa de
valorização por qualidade e 21.302 não participam. Foi observado em relação à CCS
que os produtores que recebem por qualidade e que produziam um leite menor que
26
400.000 células/ml em 2008, 55% atendiam este limite. Porém em 2010 houve uma
redução para 49%. Já os que produziam no limite de 1.000.000 células/ml
permaneceram estáveis. O mesmo caso aconteceu para os que não recebem por
qualidade, houve uma redução, pois em 2008 foi de 58% e em 2010 foi de 54% para
o limite de 400.000 células/mL.
Para CTB foi observado que houve um aumento nos produtores que recebem
por qualidade no limite abaixo de 100.000 UFC/ml, em 2008 foi de 55%, em 2010 foi
de 66%, atingiram este limite, e houve uma redução, no limite de 750.000 UFC/ml, em
2008 foi de 12% e 2010 foi de 6%, atingiram este limite. Já para os produtores que
não recebem por qualidade houve um aumento no limite abaixo de 100.000 UFC/ml,
pois em 2008 foi de 19% e em 2010 foi de 25%, atingiram este limite, porém o limite
de 750.000 ficou estável, pois em 2008 foi de 7% e em 2010 foi de 6% (MACHADO,
2011).
No Brasil já existem empresas efetuando pagamento em função da
qualidade. Em levantamento feito pelo Conselho Brasileiro de Qualidade de Leite
(CBQL), em 2005, das 15 maiores empresas processadoras de leite, 12 afirmaram
que pagava por qualidade. Os critérios utilizados eram bastante variáveis: cem por
cento pagavam em função do volume, 42% em função dos sólidos e 17% em função
de CTB. O montante pago a mais chegava a mais de 10% para 42% das empresas,
de 5,1% a 10% para 17% das empresas e menos de 5% para 17% das empresas.
A criação do programa de melhoria na qualidade do leite é fundamental para
a indústria que recebe leite cru, para que esta possa melhorar a qualidade de seus
produtos e rendimento. Para que esta ação atinja seus objetivos é preciso que haja
um incentivo: o Sistema de Pagamento pela Qualidade do Leite é uma das formas de
realizar este processo. Segundo Horta (2006), cooperativas e laticínios independentes
já começam a pagar de modo diferenciado. Em algumas regiões, o leite ainda é pago
por volume entregue. Quanto mais o produtor entregar, mais receberá por litro, já que
há uma redução nos custos administrativos e de logística do comprador. Mas nas
regiões que abrigam as maiores bacias leiteiras, o pagamento por volume vem
recebendo um adicional relativo à qualidade. Em várias regiões já se pagam
bonificações por qualidade, considerando itens como teor de proteína, gordura e
extrato seco total. Também há bonificações por valores baixos de CBT e CCS. Em
alguns casos, as bonificações podem aumentar o valor recebido pelo produtor em
mais de 20%. Tal sistemática de pagamento ainda não é a regra em todo o País, mas
27
é crescente o número de indústrias que adotam. Para o produtor, a melhoria da renda,
em razão das bonificações pela qualidade, não é o único benefício.
3.4 Qualidade do leite mato-grossense
Ainda existe sérios problemas quanto à qualidade do leite cru recebido pelas
indústrias no Mato Grosso. As razões destas dificuldades são muitas: a.- A escala de
produção da grande maioria dos nossos produtores não permite que os investimentos
mínimos necessários em tecnologia sejam realizados; b.- Não há uma política oficial
de incentivo ao setor bem definida, como no caso de outros produtos agrícolas
voltados à exportação; c.- Historicamente, os sistemas de pagamento do leite no Mato
Grosso não têm exigido a qualidade como critério de remuneração, ou seja, as
indústrias têm deixado de sinalizar ao produtor que precisam de uma matéria prima
melhor; d.- Falta de laboratórios credenciados à RBQL, permitindo que a cadeia do
leite no estado possa avançar em busca por eficiência e competitividade; e.- A
sanidade dos rebanhos leiteiros é preocupante em algumas regiões onde ainda tem-
se que lutar com enfermidades como a brucelose e a tuberculose, sendo urgente
medidas rígidas de controle; f.- A baixa qualificação da mão-de-obra em todos os
níveis da cadeia produtiva, desde o ordenhador até o executivo da indústria e do
varejo dificultam um comprometimento integrado com a qualidade.
A monitorização dos requisitos mínimos de qualidade do leite cru prevista nas
normas criou a demanda por uma estrutura laboratorial nacional capaz de processar
um grande número de amostras e manter bases de dados centralizadas que possam
suprir o MAPA com as informações necessárias para implementar sua política de
profissionalização do setor leiteiro. Os laboratórios credenciados à RBQL estão
ligados às seguintes entidades: Universidade de Passo Fundo, RS; Universidade
Federal do Paraná/Associação de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, PR;
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, SP; Embrapa Gado de Leite,
MG; Universidade Federal de Goiás, GO; Universidade Federal de Minas Gerais, MG;
e Universidade Federal Rural de Pernambuco, PE.
As análises a serem realizadas pelos laboratórios credenciados à RBQL são:
CCS, contagem global de microrganismos, pesquisa de resíduos de antibióticos e
determinação dos teores de gordura, proteína, lactose e sólidos totais do leite. Os
resultados de análise terão que ser padronizados e um software que integre as bases
28
de dados dos participantes da RBQL e permita que o MAPA tenha acesso a uma base
de dados sempre atualizada terá que ser desenvolvido.
Hoje o maior entrave para obter a análise de qualidade do leite em Mato
Grosso é a falta dos investimentos necessários para conseguir trazer para o estado o
laboratório credenciado da RBQL. O laboratório mais próximo do estado fica a 931km
de distância em Goiânia, GO, e um dos maiores problemas segundo os
representantes de laticínios/cooperativas do estado é a logística, em muitos casos, as
amostras de leite chegam até este laboratório a uma temperatura inadequada ou até
mesmo danificadas, fora a demora do laboratório para enviar as análises. Nesse caso,
o programa de qualidade do leite cai rapidamente em descrédito e se perde uma
grande oportunidade de avançar no estado, visto que a maioria das indústrias não
consegue obter resultados das amostras enviadas.
Diante deste cenário, no qual não temos dados consistentes fica cada vez
mais difícil avaliar a qualidade da matéria-prima em Mato Grosso, mapear os
problemas e adotar programas corretivos direcionados para cada região, planejar os
investimentos em treinamentos e infraestrutura e avaliar os resultados desses
investimentos após um período de tempo.
Analisando os relatórios do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), disponibilizados pelo IMEA, a Tabela 9 na qual apresenta o
quantitativo de amostras de leite cru analisado no período de janeiro de 2014 a maio
de 2015 no laboratório de qualidade do leite da Universidade Federal de Goiás (UFG),
para os parâmetros de CCS e CBT. Vale ressaltar que essas amostras se originam
do estado de Mato Grosso.
Tabela 9 – Número de amostras de leite cru analisadas no período de janeiro de 2014 a maio de 2015 no laboratório de qualidade do leite de Goiás
CCS CBT
Mês N° de
amostras Média Aritmética
(CS/ml) N° de
amostras Média Aritmética
(UFC/ml)
jan/14 4669 283.000 4472 1.340.000
fev/14 4564 301.000 4764 1.664.000
mar/14 3867 319.000 3950 1.897.000
abr/14 4151 341.000 4252 1.745.000
mai/14 4545 337.000 4624 1.810.000
jun/14 5273 332.000 5334 1.876.000
jul/14
ago/14 5230 298.000 5290 1.491.000
set/14 4882 322.000 4961 1.335.000
29
out/14 5210 343.000 5280 1.693.000
nov/14 4289 368.000 5081 1.693.000
dez/14 4728 345.000 4874 2.069.000
jan/15 5802 342.000 5994 2.125.000
fev/15 4333 338.000 4490 1.819.000
mar/15 5061 349.000 5151 1.607.000
abr/15 4837 349.000 4948 1.469.000
mai/15 5206 358.000 5239 1.622.000
Fonte: IMEA, 2015. (Banco de dados)
Ao constatar o número mensal de amostras de leite cru analisadas no LQL –
Goiânia (Tabela 16) com padrões estabelecidos pela IN 62 do MAPA verifica-se que
para o parâmetro CCS, Mato Grosso está dentro do padrão estabelecido pela
Instrução Normativa n°62, ou seja, abaixo de 600.000 células/mL. Embora as médias
sejam baixas vale lembrar que muitos produtores ainda têm problemas com CCS
elevada no leite devido a mastite subclínica.
Para os parâmetros de CBT, o leite mato-grossense não se enquadra nos
padrões exigidos pela IN 62, extrapolando os limites que são de 600.000 UFC/mL.
Esses resultados confirmam que a qualidade do leite para o parâmetro CBT, está
muito elevada, despertando um alerta importante para todos os elos da cadeia
produtiva. Os altos índices de CBT, está intimamente relacionada à saúde da glândula
mamária, as condições de manejo do rebanho, a higiene na ordenha, e de
equipamentos e utensílios, a higiene do ordenhador e as condições de estocagem e
transporte do leite enviado a indústria.
O estado de Mato Grosso deve-se pensar com urgência em um programa
estadual de capacitação de mão-de-obra que envolva todos os elos da cadeia
objetivando reduzir drasticamente a CBT, soma-se a isto a necessidade das empresas
e órgãos oficiais utilizarem racionalmente os resultados analíticos laboratoriais da
RBQL como ferramenta indispensável na melhoria efetiva da qualidade do leite no
estado.
3.5 Pagamento do leite por qualidade em Mato Grosso
A criação do programa de melhoria na qualidade do leite é fundamental para
a indústria que recebe leite cru, para que esta possa melhorar a qualidade de seus
produtos e rendimento. Para que esta ação atinja seus objetivos é preciso que haja
30
um incentivo: o Sistema de Pagamento pela Qualidade do Leite é uma das formas de
realizar este processo.
No Mato Grosso algumas cooperativas e laticínios independentes já
começaram a pagar de modo diferenciado, de acordo com levantamento mensal
realizado no IMEA, porém, a tendência de pagamento por qualidade não é muito
animadora segundo as expectativas dos representantes de laticínios/cooperativas do
estado, a principal reclamação deles é com relação à falta de laboratório credenciado
da RBQL no Mato Grosso e segundo estes representantes, torna-se inviável o envio
das amostras de leite para serem analisadas em Goiânia, devido aos problemas.
Assim, na maior parte das regiões do estado, o leite ainda é pago por volume
entregue. Quanto mais o produtor entregar, mais receberá por litro, já que há uma
redução nos custos administrativos e de logística do comprador. Em outras regiões
do estado, o pagamento por volume vem recebendo um adicional relativo à qualidade.
A bonificação para leite com baixa CCS e CBT seria equivalente a R$0,02/L.
3.6 Mercado lácteo brasileiro
3.6.1 Histórico do setor
O leite é um dos alimentos mais importantes na dieta da população. Frente a
este fato nota-se a relevância deste segmento em todo o mundo. No Brasil, a produção
de leite é praticada em todo território e tem grande representatividade no valor da
produção agropecuária nacional.
O mercado do leite brasileiro foi marcado por forte intervenção do governo
federal, que mantinha tabelado os preços do leite desde 1946 e permaneceu dessa
forma por 45 anos. A partir de 1990 a cadeia agroindustrial do leite sofreu várias
mudanças devido às transformações que ocorreram no cenário nacional, como a
abertura comercial, a desregulamentação do mercado do leite e a estabilização da
economia (WILKINSON, 1993).
O Plano Real, implantado pelo governo em 1994, influenciou o setor
positivamente, pois ao proporcionar aumento de renda da população elevou o
consumo de lácteos. Outro fator determinante para o incremento da demanda de leite
e derivados foi a incorporação do leite UHT nos hábitos alimentares do brasileiro.
Apesar de o produto ter sido lançado no Brasil em 1972, foi na década de 90, e
31
principalmente depois da implantação do Plano Real que as vendas desse produto
alcançaram patamares elevados, superando as do leite pasteurizado.
O fim do controle estatal sobre os preços do leite proporcionou um ambiente
de competitividade acirrada entre as empresas, o que contribuiu para o lançamento
de novos produtos com melhor qualidade (JANK; GALAN, 1998). Segundo os mesmos
autores, o primeiro efeito da estabilização da economia foi o aumento do consumo por
derivados lácteos pelas classes de menor poder aquisitivo. Isso gerou um estímulo
aos produtores que já atuavam na atividade leiteira bem como a novos produtores que
ingressaram nesse ramo.
3.6.2 Histórico da produção de leite no Brasil
O monitoramento da produção de leite por agentes do setor lácteo é
importante, pois influencia no preço do leite e seus derivados (EMBRAPA, 2006).De
acordo com o IBGE (2013), a produção de leite no Brasil vem apresentando uma
crescente evolução desde 1990, exceto em 1993 quando houve uma leve redução.
(Figura 1). Isso se deve às várias transformações ocorridas no setor e, principalmente,
pelo aumento da demanda por leite e derivados que estimulou a produção no país.
Nota-se que a produção em 1990 girou em torno de 15 bilhões de litros e em 2013 foi
de 34,2 bilhões de litros, ou seja, um aumento de aproximadamente 136%. Em 23
anos a produção de leite no Brasil triplicou e a tendência é que esse aumento continue,
tanto pela ocupação de novas áreas, quanto pelos ganhos de produtividade que é um
dos principais fatores responsáveis pelo aumento da produção no país.
32
Figura 1 – Produção de leite no Brasil (1990 – 2013).
Fonte: IBGE, 2013. (Pesquisa Pecuária Municipal 1990-2013).
Apesar dos ganhos no decorrer dos anos, a produtividade ainda se encontra
muito aquém do que pode ser conquistado pelo Brasil. Se na produção o Brasil ocupa
o quinto lugar no ranking mundial, na produtividade ocupa o décimo quarto lugar com
a marca de 1.381 litros/vaca/ano, perdendo espaço para países como a Argentina,
por exemplo, que tem produtividade de 4.496 litros/vaca/ano (FAO, 2010).
Pode-se verificar por meio da Tabela 10 que a quantidade de vacas
ordenhadas não sofreu mudança significativa ao longo dos anos. A produtividade,
porém, passou de 759 para 1.492 litros/vaca/ano entre os anos 1990 e 2013, um
aumento de aproximadamente 97%.
Nota-se, então, a importância que o aumento da produtividade tem para o
aumento da produção de leite. Mesmo não havendo a expansão do rebanho leiteiro
ou a utilização de novas áreas na produção de leite, o Brasil pode conseguir melhores
ganhos de produtividade se investir de maneira intensiva na atividade leiteira, seja
através de melhoramento genético para as vacas em lactação ou pelas técnicas de
manejo de solo, pastagens e alimentação para o rebanho.
0
5.000.000
10.000.000
15.000.000
20.000.000
25.000.000
30.000.000
35.000.000
40.000.000
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
Pro
du
ção
de
leit
e (m
il lit
ros)
Ano
33
Tabela 10 - Produção de leite, vacas ordenhas e produtividade no Brasil (1990 - 2013)
Ano Produção de leite
(mil litros) Vacas ordenhadas
(mil cabeças) Produtividade
(litros/vaca/ano)
1990 14.484.414 19.072.907 759 1991 15.079.187 19.964.126 755 1992 15.784.011 20.476.010 771 1993 15.590.882 20.023.120 779 1994 15.783.557 20.068.266 786 1995 16.474.365 20.579.211 801 1996 18.515.391 16.273.667 1.138 1997 18.666.011 17.048.232 1.095 1998 18.693.915 17.280.606 1.082 1999 19.070.048 17.395.658 1.096 2000 19.767.206 17.885.019 1.105 2001 20.509.953 18.193.951 1.127 2002 21.642.780 18.792.694 1.152 2003 22.253.863 19.255.642 1.156 2004 23.474.694 20.022.725 1.172 2005 24.620.859 20.625.925 1.194 2006 25.398.219 20.942.812 1.213 2007 26.137.266 21.122.318 1.237 2008 27.585.346 21.585.281 1.278 2009 29.085.495 22.435.289 1.296 2010 30.715.460 22.924.914 1.340 2011 32.096.214 23.229.193 1.382 2012 32.304.421 22.803.519 1.417 2013 34.255.236 22.954.537 1.492
Fonte: IBGE, 2013. (Pesquisa Pecuária Municipal 1990 - 2013).
A pequena expansão do rebanho é explicada, principalmente, pela inserção
de novas fronteiras de produção e pelos aumentos da capacidade de suporte das
pastagens que passam a comportar um maior número de animais por hectare. A
Tabela 11 mostra a evolução da produção nas regiões brasileiras. Constata-se que
nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste a produção apresentou um aumento
significativo, merecendo maior atenção as regiões Sul e Centro-Oeste. O aumento da
produção na região Sul entre os anos de 1990 (3,26 bilhões de litros) e 2013 (11,77
bilhões de litros) foi de 261%. Na região Centro-Oeste a produção passou de 1,6
milhões de litros em 1990 para 5 bilhões em 2013, o que representa um aumento de
195%.
O aumento da produção de leite das regiões brasileiras decorreu
principalmente do aumento, em alguns sistemas de produção, tanto do volume
produzido por fazenda, quanto da produtividade, em razão do uso de novas
tecnologias. Aliado a este fator tem-se a expansão da atividade para as regiões de
34
cerrado, que possui como vantagem competitiva o menor custo de oportunidade da
terra e de mão-de-obra. Nestas regiões é dada prioridade ao pasto como alimento
volumoso no verão, além de ser uma grande região produtora de grãos, o que reduz
o custo de alimentação concentrada.
Tabela 11 - Produção de leite por Região no Brasil (1990 - 2013)
Produção por Região (mil litros) Ano Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
1990 555.216 2.045.268 6.923.301 3.262.255 1.698.374
1991 684.354 2.174.500 6.990.638 3.389.354 1.840.341
1992 684.354 2.174.500 6.990.638 3.389.354 1.840.341
1993 725.498 2.266.926 7.216.494 3.585.639 1.989.454
1994 715.132 1.682.911 7.344.116 3.685.567 2.163.156
1995 651.982 1.772.817 7.351.889 3.830.620 2.176.249
1996 706.696 1.886.614 7.539.464 4.102.597 2.238.994
1997 770.788 2.355.009 8.338.198 4.241.531 2.809.865
1998 840.882 2.389.062 8.395.743 4.345.133 2.695.191
1999 903.427 2.069.959 8.465.198 4.410.592 2.844.739
2000 958.382 2.041.819 8.540.203 4.606.121 2.923.524
2001 1.049.768 2.159.230 8.573.731 4.904.356 3.080.121
2002 1.236.607 2.266.111 8.573.152 5.187.765 3.246.318
2003 1.566.783 2.362.973 8.745.553 5.507.640 3.459.832
2004 1.498.265 2.507.793 8.933.782 5.779.489 3.534.533
2005 1.662.888 2.704.988 9.240.957 6.246.135 3.619.725
2006 1.743.253 2.972.130 9.535.484 6.591.503 3.778.490
2007 1.699.467 3.198.039 9.740.310 7.038.521 3.721.881
2008 1.676.568 3.338.638 9.803.336 7.510.245 3.808.478
2009 1.666.368 3.454.696 10.140.778 8.268.360 4.055.144
2010 1.672.820 3.813.455 10.419.679 8.957.284 4.222.255
2011 1.737.406 3.997.890 10.919.686 9.610.739 4.449.738
2012 1.675.284 4.109.527 11.308.143 10.226.196 4.777.064
2013 1.846.419 3.598.249 12.019.946 11.774.330 5.016.291 Fonte: IBGE, 2014. (Pesquisa Pecuária Municipal 1990 - 2013).
Dentre os estados, Minas Gerais é o maior produtor do país, produzindo em
2014 um total de 6,58 bilhões de litros de leite, com participação de 26,63%, seguido
pelo Rio Grande do Sul (13,87%), Paraná (11,99%) e Goiás (10,85%) (Tabela 12).
O estado de Mato Grosso ocupou, em 2014, a 8ª posição no ranking da
produção de leite no país, participando com apenas 3% da produção nacional.
35
Tabela 12 - Maiores estados brasileiros produtores de leite (2014)
Estado Produção de leite (mil
litros) Participação na produção
nacional (%)
Minas Gerais 6.589.223 26,63% Rio Grande do Sul 3.430.747 13,87%
Paraná 2.966.734 11,99%
Goiás 2.685.137 10,85%
São Paulo 2.524.754 10,20%
Santa Catarina 2.339.723 9,46%
Rondônia 760.087 3,07%
Mato Grosso 618.000 2,50%
Rio de Janeiro 511.718 2,07%
Bahia 363.449 1,47% Fonte: IBGE, 2014. (Pesquisa Pecuária Municipal 2014).
3.7 Panorama da pecuária leiteira no Mato Grosso
Mato Grosso é um Estado de dimensões continentais. Possui 906.806 km²,
que corresponde a 10,61% da área total do país.
A grandeza do Estado não se traduz apenas no seu tamanho, hoje Mato
Grosso detém o maior rebanho bovino do país, com 28,487 milhões de cabeças de
acordo com o Indea (Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso,
2014) e é o segundo maior produtor nacional de grãos, com 9.118,6 mil hectares
segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
36
Mapa 1 – Uso e ocupação do solo mato-grossense.
Fonte: IMEA, 2015. (Banco de dados)
A produção agropecuária do estado de Mato Grosso convive com dois
extremos, de um lado, a produção de leite que tem pequena expressão em termos de
mercado nacional, e, de outro, as produções de soja, milho, algodão e pecuária de
corte, que ocupam locais destacados no cenário nacional. No entanto a cadeia leiteira
mato-grossense está em expansão no estado, favorecida não somente pela
disponibilidade de terras, como mostra o Mapa 1, mas também pela elevada
produtividade dos pastos e pela disponibilidade de ingredientes alternativos de baixo
custo (MATOS, 2007).
3.7.1 Produção e produtividade em Mato Grosso
O estado conta com um rebanho leiteiro de aproximadamente 1,2 milhões de
cabeças, com 550 mil vacas em lactação, segundo informações disponibilizadas pelo
Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.
De acordo com os dados do IBGE, Mato Grosso é o oitavo produtor nacional
de leite, registrando uma produção anual de 618 milhões de litros, o que representa
3% da produção brasileira. Pode-se observar na Tabela 13 a evolução do estado,
37
onde houve um aumento no número de vacas ordenhadas, assim como na produção
total de leite.
Tabela 13 - Mato Grosso – Vacas ordenhadas, produção total de leite, produção vaca/ano e
produção vaca/dia
Ano N° de vacas ordenhadas
Produção (mil litros)
Produção vaca/ano (L)
Produção vaca/dia (L) *
1990 311.648 213.644 686 2,25
1991 357.484 239.127 669 2,19
1992 374.252 250.704 670 2,20
1993 382.756 268.850 702 2,30
1994 426.923 286.431 671 2,20
1995 452.524 307.426 679 2,23
1996 353.240 375.397 1.063 3,48
1997 359.061 380.517 1.060 3,47
1998 382.027 406.374 1.064 3,49
1999 385.937 411.391 1.066 3,49
2000 401.427 422.743 1.053 3,45
2001 412.780 442.803 1.073 3,52
2002 435.716 467.095 1.072 3,51
2003 461.185 491.676 1.066 3,50
2004 474.120 551.370 1.163 3,81
2005 524.982 596.382 1.136 3,72
2006 519.178 583.854 1.125 3,69
2007 565.281 644.205 1.140 3,74
2008 578.229 656.558 1.135 3,72
2009 595.394 680.589 1.143 3,75
2010 617.585 708.481 1.147 3,76
2011 633.782 743.191 1.173 3,84
2012 589.971 722.348 1.224 4,01
2013 557.104 681.694 1.224 4,01
Fonte: IBGE, 2013. (*Produção vaca/dia considerando uma lactação de 305 dias)
Pode-se observar na Tabela 13 que o número de vacas ordenhadas no estado
de Mato Grosso entre os anos de 1990 a 2013, aumentou 79%, consequentemente
ocasionou um aumento na produção vaca/ano de 78%. Porém a produtividade leiteira
mato-grossense, quando comparada com outros estados, pode ser considerada
baixa, tendo em vista que no Rio Grande do Sul, por exemplo, a produção média por
vaca/dia é de 8,31 litros e no Paraná a produção média é de 7,88 litros vaca/dia, ou
seja, o dobro da produção vaca/dia de Mato Grosso.
Os dados do Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite no Estado de Mato
Grosso – 2010 demonstraram que 51,3% dos produtores entrevistados produzem até
38
50 litros por dia; 22,4% produzem de 51 a 100 litros e 18,9% dos produtores produzem
de 101 a 200 litros por dia (Tabela 14).
Tabela 14 – Produção e produtividade em Mato Grosso, segundo o Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite no Estado de Mato Grosso – 2010
Especificação Unidade Estratos de produção de leite (l/dia) Mato
Grosso
Até 50 De 50,1 a 100
De 100,1 a 200
De 200,1 a 500
Acima de 500
Produção de leite Litros/dia 37,9 75,08 135,46 281,67 820,52 92,59
Produção/vaca em lactação Litros/dia 4,06 5,13 6,14 7,2 12,16 5,92
Produção/total de vacas Litros/dia 2,13 2,55 3,3 3,85 6,65 3,11
Produção por área Litros/ha/ano
636,12 1012,34 1289,59 1724,41 3111,9 1143,66
Fonte: Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite no Estado de Mato Grosso, 2010.
3.7.2 Bacias leiteiras do Mato Grosso
As bacias leiteiras do estado são divididas em Noroeste, Norte, Oeste, Médio-
Norte, Nordeste, Centro-Sul e Sudeste. Na região Oeste mato-grossense localiza-se
a maior produção de leite, sendo responsável por 43% da produção, equivalente a
219.066 milhões de litros por ano, seguida pela região Norte que tem uma participação
de 16% na pecuária leiteira do estado, com uma produção de 80.776 milhões de litros
por ano, de acordo com os dados levantados mensalmente no IMEA.
39
Mapa 2 – Produção de leite por regiões no Mato Grosso (mil litros) em 2014.
Fonte: IMEA, 2015. (Banco de dados)
3.7.3 Sazonalidade na produção leiteira no estado de Mato Grosso
Mato Grosso apresenta um clima tropical o que é bem característico do
estado, com verão quente e chuvoso, e inverno seco. Esses períodos são
caracterizados por abundância (safra) e escassez de forragem nas pastagens
(entressafra), que influenciam diretamente no volume de leite produzido. A escassez
de chuvas no período de seca torna-se o principal causador da queda do volume de
leite no período de entressafra, sobretudo nos sistemas menos especializados e com
menor preocupação com a alimentação do rebanho. Essa queda é motivada
principalmente pela redução da disponibilidade e qualidade nutricional das pastagens,
o que exige aumento da suplementação do rebanho com volumoso e/ou concentrado.
De acordo com as informações do Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite
no Estado de Mato Grosso (2010), pode-se verificar que essa suplementação
volumosa é feita com pequenas quantidades de forrageiras, visto que a área média
com cana-de-açúcar foi de 0,75 ha, com capineira, 0,04ha, e com milho ou sorgo para
silagem, 0,24ha, segundo relatos dos produtores entrevistados (Tabela 15).
40
Tabela 15 – Áreas dos produtores no Mato Grosso
Especificação Unidade Estratos de produção de leite (l/dia) Mato
Grosso Até 50
De 50,1 a 100
De 100,1 a 200
De 200,1 a 500
Acima de 500
Pastagem ha 21,75 27,07 38,34 59,62 96,24 29,55
Cana para o gado ha 0,43 0,92 1,03 1,62 2,35 0,75
Capineira ha 0,02 0,04 0,08 0,02 0,14 0,04 Milho e sorgo para silagem ha 0,01 0,21 0,36 1,55 2 0,24
Outros usos ha 1,82 1,79 2,23 2,07 2,17 1,91 Área total para o gado ha 24,09 30,06 42,08 64,9 102,91 32,54
Fonte: Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Leite no Estado de Mato Grosso, 2010.
Nesse sentido, fica claro que os produtores mato-grossenses não têm a
preocupação em fornecer alimentos de qualidade e em quantidade suficiente para
todo o rebanho durante o ano todo.
A Figura 2 mostra claramente as variações que ocorre durante no período da
entressafra no estado, que seguem a mesma rotina, no período das águas há alta no
volume captado em Mato Grosso e no período das secas, quando os animais são
submetidos à estacionalidade da produção forrageira, há uma queda no volume
captado de leite.
Figura 2 – Captação de leite em Mato Grosso.
Fonte: IMEA, 2015. (Banco de dados)
30
35
40
45
50
55
Milh
ões
de
litro
s/m
ês
41
Devido à falta de estrutura do setor leiteiro o clima é um dos fatores que exerce
grande influência na produção leiteira, causando redução da quantidade de leite
produzido nos meses compreendido entre março e setembro. Quando há
profissionalização da atividade, os produtores procuram trabalhar no sentido de
garantir um nível de produtividade constante independente de fatores climáticos.
3.7.4 Preço do leite em Mato Grosso
De todas as cadeias produtivas do setor agropecuário, a do leite foi a que mais
se transformou, nos últimos anos. Esta nova dinâmica do setor lácteo provocou várias
consequências na atividade leiteira, como aumento significativo da produção e
variação de preços.
A evolução dos preços é importante para viabilizar a atividade leiteira,
fomentar sua expansão e garantir rentabilidade. Consequentemente dando um
entendimento significativo como os preços pagos ao produtor que evoluíram com o
decorrer do tempo. Podemos observar na Figura 3, uma série histórica do preço do
leite pago ao produtor em Mato Grosso de acordo com os dados do Instituto Mato-
grossense de Economia Agropecuária (IMEA).
Figura 3 – Preço médio pago ao produtor em Mato Grosso.
Fonte: IMEA, 2015. (Banco de dados)
0,60
0,65
0,70
0,75
0,80
0,85
0,90
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
R$
/lit
ro
2013 2014 2015
42
Na evolução dos preços pagos ao produtor mato-grossense houve um grande
progresso, pois no ano de 2013 o preço pago ao produtor era de 0,66 R$/Litro
centavos, já em 2014 oscilou entorno de 0,80 R$/Litro. Os preços pagos ao produtor
foram maiores entre abril e junho de 2014 devido à seca no Sudeste, que afetou a
produção nacional, em momento de demanda elevada.
Dos estados brasileiros, o Mato Grosso é um dos estados com o preço mais
baixo do país, pois em termos de logística o Mato Grosso está mais longe do mercado
consumidor. A diferença entre os preços de Mato Grosso e dos mercados principais
de acordo com os dados disponibilizados pelo (IMEA) e Brasil (Cepea) foi próximo a
26,9% em maio de 2015. O estado de São Paulo é o que detém o preço mais alto
pago ao produtor brasileiro seguido de Minas Gerais, no entanto os mesmos estão no
centro do mercado consumidor e com isso conseguem barganhar um preço melhor.
43
4 RELATÓRIO DE ESTÁGIO
O estágio supervisionado foi realizado no Instituto Mato-grossense de
Economia Agropecuária (IMEA), localizado no prédio da Federação da Agricultura e
Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), durante o período de 1° de abril a 29
de maio de 2015, que correspondeu a 320 horas.
O IMEA é um instituto privado sem fins lucrativos do sistema Famato em
parceria com a Aprosoja, Ampa e Acrimat, criado em 1998 e reestruturado em 2008,
com sede em Cuiabá-MT (Figura 4). O Instituto realiza estudos e projetos
socioeconômicos e ambientais em todo o território mato-grossense, através de um
sistema de coleta, processamento e análise de dados produzindo informações
estratégicas do agronegócio para as entidades mantenedoras.
Atualmente, o Instituto conta com oito analistas que atuam em diferentes
áreas, como soja, milho, algodão, bovinocultura de corte, bovinocultura de leite, custo
de produção, geoprocessamento e estatístico; estes são responsáveis pela cadeia do
qual fazem parte, analisando todos os dados coletados pelos estagiários para
elaboração dos boletins, além de realizarem estudos e projetos.
Durante o período de estágio, atuou-se na área de pecuária de leite,
realizando atividades de análise de mercado, coleta de preço de leite e derivados na
indústria, tratamento dos dados levantados, atualização mensal de importação e
exportação de lácteos, análise mensal dos relatórios disponibilizados pelo MAPA e
elaboração de boletins do leite que são divulgados mensalmente no site do IMEA.
Figura 4 – Sede do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.
Fonte: A autora, 2015. (Arquivo pessoal)
44
5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO
Durante todo o período de permanência no IMEA, as atividades foram
desenvolvidas conforme a rotina da cadeia do leite.
As atividades de levantamento e tratamento dos dados começavam a partir
do 15° dia do mês, conforme as exigências dos laticínios pelo fato de fecharem a folha
de pagamento; com isso disponibilizavam todos os dados necessários. Atualmente, o
IMEA faz levantamento de mercado com 42 laticínios no estado de Mato Grosso,
sendo estes estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF).
5.1 Levantamento de dados
Mensalmente, entrava-se em contato com os laticínios, cujas informações
relevantes estavam disponíveis no banco de dados do IMEA. Por telefone, o
responsável pelo estabelecimento passava as informações questionadas, sendo o
preço médio do leite pago ao produtor, volume de leite captado no mês referente à
ligação, preço dos derivados no qual tal laticínio produzia, perguntava-se sobre
pagamento por qualidade ou volume de leite e expectativas de mercado para o
próximo mês.
Além das ligações realizadas para os laticínios, faziam-se também ligações
aos produtores de leite no estado; o contato feito com os produtores, a fim de se terem,
no levantamento de dados, informações sobre o perfil de cada produtor em
determinada região do estado, bem assim para saber os principais problemas e
dificuldades enfrentados por eles na pecuária leiteira.
5.2 Tratamento e análises dos dados
Após o levantamento de dados, todas as informações coletadas eram
registradas no banco de dados do Instituto, cujas análises, posteriormente, gerariam
gráficos, tabelas e textos informativos sobre o mercado lácteo no estado de Mato
Grosso.
Faziam-se também analises dos relatórios que o MAPA disponibilizava, com
informações do volume de leite captado pelos laticínios e médias mensais com relação
à qualidade do leite (CCS e CBT).
45
Na figura 5 é possível observar um gráfico elaborado à partir da coleta de
dados realizada durante o estágio. Para a pesquisa sobre formas de pagamento por
qualidade, volume e qualidade e volume, entramos em contato com 42 cooperativas/
laticínios com SIF (Serviço de Inspeção Federal) das sete regiões do estado de Mato
Grosso, esses dados foram disponibilizados pelo IMEA.
Figura 5 - Representação percentual do pagamento por qualidade, volume e qualidade e volume nas regiões de Mato Grosso.
Fonte: IMEA, 2015. (Banco de dados)
Das regiões pesquisadas, o maior percentual de cooperativas/laticínios que
pagam por qualidade foi observado nas regiões Sudeste e Médio-Norte, não foram
encontradas cooperativas/laticínios que paguem exclusivamente por qualidade a
maioria deles pagam por volume (Figura 1).
O programa de pagamento pela qualidade do leite no Mato Grosso tem muito
a ser melhorado, visto que é muito importante possuir uma estrutura capaz de garantir
a correta coleta das amostras na propriedade, assim como o seu envio para um dos
laboratórios da (RBCQL) - Rede Brasileira de Laboratórios de Controle de Qualidade
do Leite. E este ponto é fundamental, pois garante a agilidade da coleta e envio das
amostras, do processamento das análises e do recebimento e processamento dos
resultados, garantindo assim a confiabilidade e imparcialidade dos resultados que
serão utilizados na composição da bonificação pela qualidade.
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
% d
as c
oo
per
ativ
as/l
atic
ínio
s
QUALIDADE QUALIDADE E VOLUME VOLUME
46
5.3 Boletim mensal do leite
As informações após terem sido coletadas, tratadas e analisadas, eram
direcionadas à elaboração do boletim mensal do leite. Quanto mais informações sobre
a cadeia no estado, maiores eram as possibilidades de inovações a cada mês no
preparo dos boletins.
Durante o período de estágio, a elaboração do boletim ficou sob a
responsabilidade desta autora, passando por correções pelo gestor de mercado do
IMEA antes de ser publicado no site do Instituto.
Pode-se observar, na figura 6, o boletim mensal do leite, que traz informações
atualizadas sobre o mercado lácteo em Mato Grosso, gráfico e tabelas que trazem
informações de preço médio pago ao produtor, volume captado do leite, preço dos
derivados que foram preparados conforme as informações disponibilizadas pelos
laticínios respondentes ao IMEA.
Embora Mato Grosso ainda não colabore com as exportações brasileiras, o
boletim também traz notícias de importação e exportação de lácteos brasileiros de
acordo com os dados da Secretaria de Comercio Exterior (Secex).
Por meio da confecção do boletim (Figura 6) foi possível expor e discutir as
informações das atividades realizadas durante o período do estágio realizado no
IMEA.
57
6 CONCLUSÃO
A experiência do estágio proporcionou melhor conhecimento sobre o mercado
lácteo no Brasil e no Mato Grosso, entender sobre balança comercial, preços, ter
acesso às informações de qualidade do leite, entender o perfil dos produtores do
estado, além de buscar cada vez mais informações novas e inovadoras para
elaboração do boletim mensal do leite.
Fazer o estágio no Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária
mostrou como a coleta de dados mensal é importante para gerar informações
relevantes para o estado, tendo em vista que o IMEA hoje é referência nacional.
De maneira geral, a pecuária leiteira no Estado de Mato Grosso avançou
consideravelmente em 2013. Ano em que a cadeia produtiva do leite se estrutura
como um todo refletindo uma melhora tanto em quantidade como em qualidade
produzida.
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mato Grosso possui um enorme potencial a ser explorado frente à
disponibilidade de grãos e seus subprodutos podendo atender a nutrição na
bovinocultura de leite.
A busca por eficiência na produtividade, envolvendo melhores critérios de
nutrição, sanidade, manejo, genética do rebanho, uso de tecnologias, administração
da atividade, atuação de técnicos competentes no campo e logística, precisam se
tornar prioridade na busca de uma revolução da cadeia leiteira do estado, esses são
os primeiros passos para nosso leite ganhar espaço no mercado nacional e
internacional.
59
REFERÊNCIAS
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